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OGLOBO TERÇA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2016 ANO XCI - Nº 30.150 Irineu Marinho (1876-1925) (1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO oglobo.com.br LAVA-JATO E ACARAJÉ Cedae perde no tribunal Cobrança de esgoto é proibida _ Prisão de marqueteiro de Lula e Dilma alarma Planalto EXCLUSIVO Decisão do Tribunal de Justiça do Rio beneficia consumidores que não têm esgoto tratado mas são obrigados a pagar pelo serviço à Cedae. A tese acolhida pelos juízes para tomar essa decisão foi a de que a empresa agride o meio ambiente. PÁGINA 7 Santana recebeu US$ 7,5 milhões no exterior Referendo na Bolívia Acusado reage: país vive clima de perseguição JOSÉ LUCENA/FUTURA PRESS Morales põe culpa em redes sociais Para Moro, dinheiro está vinculado a campanhas do PT O presidente Evo Morales atribuiu às redes sociais a rejeição à sua tentativa de obter o 4º mandato na Bolívia. Sem admitir derrota, ele disse que vai respeitar o resultado. PÁGINA 21 E-SOCIAL Entre, mas reze para sair O e-Social, sistema criado há quatro meses pelo governo para recolher FGTS de domésticas, ainda não tem campo para informar demissões. Trabalhadores demoram a conseguir sacar o Fundo. PÁGINA 15 Otimismo no mercado Petrobras e Vale disparam na Bolsa Publicitário das duas campanhas de Dilma Rousseff à Presidência e da de reeleição do ex-presidente Lula, João Santana e sua mulher, Mônica Moura, tiveram a prisão decretada ontem pela Operação Acarajé, 23ª fase da Lava-Jato. Santana é suspeito de receber US$ 7,5 milhões ilegalmente no exterior, parte enviada pela Odebrecht. No Planalto, ministros próximos à presidente classificaram a situação como “grave e muito ruim” Guerra ao ‘Aedes’ Drones mapearão criadouros no Rio Novidade no combate ao Aedes, drones passarão a ser usados pelos bombeiros para mapear áreas críticas de criadouros do mosquito no estado. PÁGINA 9 Relatório da PF afirma que o ex-presidente Lula precisa ser investigado, “com parcimônia”, pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”. Cientistas descobrem como as bactérias se defendem dos antibióticos. PÁGINA 23 ESPORTES ARNALDO BRANCO Com humor, nova coluna lembra que futebol não é ciência exata. PÁGINA 24 DIVULGAÇÃO/SHAHRAM AZIMI PÁGINA 19 SEM RESISTÊNCIA Patinhas Ele trabalhou com Duda Mendonça, abatido pelo mensalão, e em seis anos foi de marqueteiro a conselheiro político de Dilma. PÁGINA 4 MERVAL PEREIRA A repetição de métodos criminosos do PT. PÁGINA 4 JOSÉ CASADO Anotações de Odebrecht guiam investigação. PÁGINA 13 Delegado fala em ‘possível envolvimento em práticas criminosas’ na relação com a Odebrecht BTG vende o banco suíço BSI Superbactéria PERFIL PF diz que Lula deve ser investigado Após a prisão de Esteves SOCIEDADE para o governo. O PSDB vai pedir ao TSE que anexe a investigação ao processo contra a campanha de 2014 de Dilma. Para o juiz Sérgio Moro, Santana e a mulher sabiam que os recursos recebidos no exterior, atribuídos por ele a serviços prestados ao PT, tinham origem espúria. O marqueteiro, que estava a trabalho na República Dominicana, disse que as acusações são infundadas e lamentou “clima de perseguição”. PÁGINAS 3 a 5 AILTON DE FREITAS/7-10-2014 Operador. Zwi Skornicki (de camisa vermelha) chega à sede da PF no Rio: polonês foi preso na 23ª fase da Lava-Jato por suspeita de ter repassado dinheiro ilícito para João Santana A alta nos preços do petróleo e do minério de ferro fez as ações de Petrobras e Vale subirem 16% e 11% na Bolsa. A prisão de João Santana também influenciou. PÁGINA 19 Documentos apreendidos na Odebrecht, segundo a PF, mostram valores associados à inscrição “Prédio IL”, que, para os investigadores, seria Instituto Lula. Os valores seriam referência a R$ 12,4 milhões supostamente gastos em obras. No celular de Marcelo Odebrecht havia menção SEGUNDO CADERNO Censura AMEAÇAS E ATAQUES A QUEM FAZ ARTE EXCLUSIVO Casos de violações à liberdade artística no mundo, como as ameaças de morte ao cantor iraniano Shahin Najafi (foto), dobraram em um ano, revela ANDRÉ MIRANDA. 2ª Edição - Preço deste exemplar no Estado do Rio de Janeiro R$ 4,00 - Circula com esta edição: Segundo Caderno a “prédio novo”. Em nota, o Instituto Lula argumentou que em 2010, “ano indicado na planilha” apreendida, a entidade ainda não existia. PÁGINA 5 CHICO 2 l O GLOBO Terça-feira 23 .2 .2016 Página 2 Conte algo que não sei _ ‘Com o vinho, invariavelmente, fazemos amigos’ | Panorama político | _ Luís de Castro _ Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em Portugal, está no Brasil para a Semana dos Vinhos do Tejo “Nasci em Lisboa e tenho 61 anos. Cheguei a cursar advocacia, mas não acabei, porque veio a Revolução dos Cravos, em 1974. Comecei a trabalhar muito cedo, em hotelaria e no ramo imobiliário. E, depois, mesmo sem formação em enologia ou agronomia, surgiu esta aventura comercial, há 12 anos.” Um tiro no governo O impacto com a prisão de João Santana foi grande e surpreendeu o Planalto. A esperança, diz um integrante do governo, é que o fato se perca no turbilhão da Lava-Jato. O objetivo agora é manter o cinturão de proteção à presidente Dilma. O bordão já existe: “Não encontrarão nada contra mim”. Admite-se que a oposição ganhou gás e que a revelação mina o esforço para obter apoio no Congresso e no mercado. _ A ofensiva conservadora ENTREVISTA A: MÁRVIO DOS ANJOS [email protected] Conte algo que não sei. O produtor mais velho de Portugal é um senhor de origem europeia-oriental: tem 105 anos. Sabe quando ele começou a plantar vinhas? Aos 85. Um dia, meu colega de Lisboa me contou que ele lhe telefonou indignado, porque tinha de preencher um formulário na internet, e havia aquelas casinhas para os números. Só que, no campo idade, só havia duas casinhas. E ele lhe perguntou: “E agora, como é que vou resolver isso?” l l No Brasil conhecemos algumas regiões vinhateiras, como o Douro, o Minho, o Alentejo. Onde se situa a zona que o senhor preside? É a zona conhecida como Ribatejo. Começa onde termina Lisboa e acompanha o Tejo. Os primeiros vinhedos creio que vêm dos romanos, mas, como zona de origem controlada, é mais recente, de 2010. Durante milhões de anos, o rio fez o vale e construiu os três terroirs que existem lá: o campo, o bairro — que, como o nome diz, tem a ver com o barro — e a charneca, onde as terras mais pobres são mais propícias aos tintos. O rio tem grande influência no clima, muito quente no verão, mas as noites são frescas, úmidas, e essa calma alivia o estresse das uvas. Quais são as uvas mais importantes da região? Das tintas, a principal é a castelão, que também se chama periquita; touriga nacional, tinta-roriz, o alicante-bouchet, uma casta nacionalizada. Entre as brancas, a Fernão Pires. midor brasileiro hoje? O Brasil nos é muito estratégico. Já de saída, o brasileiro entende que a origem portuguesa do vinho é sinônimo de qualidade. Estamos sempre em terceiro lugar nas importações, sempre considerando que os nossos concorrentes sul-americanos não têm os nossos custos de transporte. l Adoro os nomes das uvas de Portugal. Há a esgana-cão, rabo-de ovelha, roupeiro... certa vez um amigo inglês me pediu que traduzisse os nomes. Ele se espantava. “Sheep’s Tail? Closet?” l l Como vê o mercado consu- Em outros países a percepção da qualidade não é tão clara? Tivemos o vinho mais vendido do mundo, marca que hoje é quase maldita, o Mateus Rosé, nos anos 40. Mas não soubemos fazer o dever de casa e colocar debaixo desse guardachuva outros vinhos portugueses. Somos o décimo produtor mundial, mas não somos sempre o décimo em importações. Nos EUA e na Inglaterra, estamos entre o 13º e o 15º lugares. Mas, nos EUA, o vinho português está a subir a escada em dois lances de cada vez. l Como o vinho começa em sua vida? Minha família tinha uma quinta, produzia vinho e vendia a granel. Depois casei-me com uma quase vinhateira: meu sogro é produtor de vinhos. Tenho dois cunhados produtores. l Se os romanos encontravam a verdade no vinho, o senhor encontrou o quê? Encontrei um ambiente fantástico. As reuniões começam sempre com um almoço ou um jantar, e não são ascéticas como nos outros negócios, em que metes a gravata e sais sem conhecer com quem negocias. Com o vinho, invariavelmente, fazemos amigos. l Aqui se diz que “nunca fiz amigos bebendo leite”. Há um poema alentejano, que de poema não tem nada, mas que diz: “O vinho é bom, mas a água, enquanto pura e cristalina, o vinho é melhor.” l MICHEL FILHO O GLOBO _ Elas nas redações O prêmio de jornalismo dedicado exclusivamente a mulheres jornalistas, que têm de fazer como a logo do troféu sugere: matar um leão por dia no exercício da profissão — comemora Catarina Alencastro, setorista no Palácio do Planalto da sucursal em Brasília. Pelas regras do prêmio, cada e-mail registrado pode votar apenas uma vez em cada uma das categorias. Os votos só são considerados válidos quando o votante clicar na confirmação enviada ao e-mail registrado. O prêmio foi idealizado como uma forma de homenagear as mulheres das redações no Dia Internacional da Mulher. A repórter Maria Lima ven- Finalistas. Catarina e Maria, na sucursal do GLOBO em Brasília ceu o prêmio em 2011, pela cobertura da primeira campanha da presidente Dilma à Presidência. Em 2015 e agora, em 2016, foi novamente indicada como finalista do prêmio. — Sem nenhum caráter sexista, o prêmio é uma homenagem legal e dá visibilidade ao trabalho de excelentes profissionais, mulheres que estão lado a lado com os homens nessa labuta diária das redações — agradece Maria Lima. No GLOBO, recentemente, das principais editorias, apenas a de Esportes não era comandada por uma mulher. l _ País Economia Em janeiro, houve redução de salário em um quinto dos acordos firmados por sindicatos PÁGINA 16 Rio Publicitário que presidia Suderj assume Transporte do estado em meio à crise na obra do metrô PÁGINA 8 Loterias l LOTOFÁCIL _ “Eles (PSDB) dizem que, se o PT concordar, eles também concordam. A posição deles lá atrás já era esta: criar o fator previdenciário. Queriam botar a idade mínima para 65 anos” Paulo Paim Senador (PT), contrário à reforma da Previdência _ Fazendo água O PDT ganhou um ministério, mas a sigla perde cadeiras no Senado. Reguffe e Cristovam Buarque deixaram o partido na semana passada. O próximo pode ser Zezé Perella, de Minas, que está insatisfeito com o apoio ao governo Dilma. Água morna ANDRÉ COELHO/16-7-2014 Corpo-fechado Leia também Levantamento mostra que oito jornalistas foram mortos e 64 agredidos no país em 2015 PÁGINA 6 A bancada evangélica na Câmara vai lançar campanha nacional para que os pais pressionem as escolas a excluir o ensino da ideologia de gênero. Seus representantes vão espalhar um modelo de procuração extrajudicial contra instituições de ensino que contrariem essa linha. Caso o tema, apoiado pela ONU, seja mantido no currículo, a recomendação é entrar com ação na Justiça contra as escolas, privadas ou públicas. Na semana passada, a bancada evangélica conseguiu retirar, do texto de medida provisória, o termo “perspectiva de gênero” das atribuições do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos. A despeito da eclosão de nova bomba na Operação Lava-Jato (João Santana), a cúpula do PMDB não acredita que isso levará a confrontos na convenção de março. Ela avalia que não houve mudança na correlação de forças na sigla. Por isso, considera que a convenção não se afastará de seu objetivo: reeleger seu presidente, o vice Michel Temer. Por Dentro GLOBO tem três jornalistas como finalistas do Troféu Mulher Imprensa 2016. F L ÁVIA O LI VEIRA concorre na categoria colunistas de Jornalismo Impresso, e C ATARINA ALENCAS TRO e M ARIA L IMA foram indicadas como repórteres. As finalistas foram escolhidas numa primeira votação, entre 60 profissionais de todas as áreas. Agora, na segunda fase do prêmio realizado pela Imprensa Editorial — que edita a revista e o portal Imprensa —, a votação nas finalistas em 17 categorias é feita pela internet. — Eu me sinto honrada de estar entre as finalistas de um ILIMAR FRANCO [email protected] _ MÔNICA IMBUZEIRO Mundo Braço do Estado Islâmico na Líbia se alastra pela África e recruta jihadistas de países até então imunes PÁGINA 22 1.326 01 l 03 l 04 l 06 l 08 l 09 l 10 l 17 l 18 l 19 l 20 l 21 l 22 l 24 l 25 l Sociedade Anel vaginal com medicamento antirretroviral evita contágio por HIV em 30% das mulheres PÁGINA 23 Esportes Em grande forma no Fla, Willian Arão ignora briga com Botafogo e diz que só pensa em jogar PÁGINA 26 QUINA 4.015 03 l 22 l 41 l 46 l 65 l O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados. Maior partido do país, dirigentes regionais do PMDB não acreditam que ganhem novos deputados na janela para troca de partidos. Explicam que o PMDB está estabelecido em todos os estados e não tem espaço para abrir. Recordar é viver O ex-secretário Carlos Roberto Osório, que pode ser candidato do PSDB à prefeitura, já virou alvo até de aliados de tucanos. Eles citam o caso do metrô (Olimpíadas), mas preferem explorar sua presença na campanha da presidente Dilma. Um dos episódios é o de carreata onde, lado a lado, ele e Pedro Paulo entoavam o jingle de Dilma. Os motivos A movimentação para troca de partidos na Câmara tem pouca relação com o apoio ou não ao governo Dilma. A maioria das mudanças que estão sendo negociadas está relacionada às disputas e aos interesses na política local. Os dois lados Candidato a líder do PP, Cacá Leão tem o apoio do atual, Eduardo da Fonte. Seu adversário, Aguinaldo Ribeiro, que foi ministro do governo, tem ao seu lado o presidente da CCJ, Arthur Lira, um ferrenho aliado de Eduardo Cunha. _ O EX-PRESIDENTE DA PETROBRAS Sérgio Gabrielli, reunido com os senadores do PT, ontem à noite, atacou o projeto de José Serra sobre a exploração do pré-sal. _ Com Amanda Almeida, sucursais e correspondentes [email protected] Terça-feira 23 .2 .2016 2ª Edição O GLOBO País l 3 ESCÂNDALOS EM SÉRIE A vez do marqueteiro _ Decretação da prisão de João Santana assusta Planalto; oposição quer incluir provas em ação no TSE SIMONE IGLESIAS, MARIA LIMA, ISABEL BRAGA E LETICIA FERNANDES OPERAÇÃO ACARAJÉ [email protected] A decretação da prisão do marqueteiro João Santana deixou o Palácio do Planalto muito preocupado ontem. Santana é o alvo principal da 23ª fase da Operação Lava-Jato, que apura pagamentos irregulares no exterior ao marqueteiro por empreiteiros que mantinham contratos com a Petrobras, como a Odebrecht. Ele só não foi preso ainda porque está na República Dominicana a trabalho, mas avisou que voltará ao Brasil para se entregar à Polícia Federal. A situação foi descrita por ministros e assessores próximos da presidente Dilma Rousseff como “grave e muito ruim” para o governo. Além de marqueteiro das duas campanhas da presidente, Santana é uma das pouquíssimas pessoas em quem Dilma confia plenamente, e única que ela ouve antes de qualquer exposição pública relevante, como anúncio de medidas e pronunciamentos de TV. Por isso, a simbologia da possível prisão do marqueteiro e de sua mulher e sócia, Mônica Moura, é considerada péssima para o governo. — Ele é a pessoa que mais cuida da imagem de Dilma. E essa prisão, com ou sem motivo, afeta diretamente essa imagem. É péssima — resumiu um assessor do Planalto próximo à petista. ODEBRECHT -BRASÍLIA- MORO RESSALTA VINCULAÇÃO Além da preocupação com a imagem de Dilma e do governo, a avaliação é de que a decretação da prisão, com direito a alerta vermelho da Interpol, poderá ser mais um combustível no pedido de impeachment de Dilma, que já parecia assunto superado para o Planalto, além de influenciar o julgamento das ações do PSDB contra a presidente que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os partidos de oposição anunciaram que hoje vão pedir ao TSE a inclusão do assunto na investigação contra Dilma. O PSDB enviará uma petição à ministra Maria Thereza, relatora da ação de impugnação do mandato da chapa Dilma/Michel Temer no TSE, para que as provas da Operação Acarajé, como a PF batizou a 23ª fase da Lava-Jato, sejam anexadas ao processo. O PSDB vai pedir também que seja colhido o depoimento do operador Zwi Skornicki, suspeito de repassar a Santana US$ 4,5 milhões em contas no exterior entre 2012 e 2014, de recursos desviados da Petrobras. Para o juiz Sérgio Moro, “é extremamente improvável que a destinação de recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras” a Santana e sua mulher, no exterior, esteja “desvinculada dos serviços que prestaram à aludida agremiação política”. Segundo o juiz, “por mais que tenha declarado ao Fisco” os valores, o casal “tinha conhecimento da origem espúria dos recursos” e ocultou valores no exterior “mediante expedientes notoriamente fraudulentos”. Apesar do temor que se abateu sobre Dinheiro de propina da Odebrecht, envolvida no esquema da Petrobras OFFSHORES EM NOME DA ODEBRECHT US$ 500 mil CAMINHO DO DINHEIRO João Santana e a mulher, Mônica Moura, receberam US$ 7,5 milhões em duas contas que estão em nome da offshore panamenha Shellbill Finance SA. As contas foram abertas em Londres e Nova York OPERADOR US$ 4,5 milhões KLIENFELD US$ 2,5 milhões SHELLBILL FINANCE SA INNOVATION DOCUMENTOS Suspeito de arrecadar propina da Petrobras Zwi Skornicki US$ 7,5 milhões OFFSHORE DE JOÃO SANTANA CONTA NA SUÍÇA João Santana PUBLICITÁRIO Carta endereçada a Zwi Skornicki deu início à investigação sobre João Santana. Foi escrita pela mulher do marqueteiro, Mônica Moura. O documento orienta sobre como deveria ser feito um contrato entre empresas suspeitas de repassar propina. Na carta, Mônica diz que, “por motivos óbvios”, apagou o nome da offshore de um modelo de contrato. Mas a força-tarefa conseguiu recuperar este nome No celular de Marcelo Odebrecht apreendido pela PF, há uma anotação com menção a uma conta na Suíça (“cta. suíça”). João Santana seria o “Feira” (apelido por conta da cidade de Feira de Santana). “Campanha dela” seria a campanha de Dilma Editoria de Arte Moro vê vinculação de “recursos espúrios” pagos a João Santana com campanhas do PT os governistas, em sua defesa o Planalto vai alegar que não há prova alguma de que exista vínculo do dinheiro dado pela Odebrecht a Santana no exterior com a campanha à reeleição de Dilma. — Precisa ter vínculo e, até agora, não há vínculo das contas dele com a campanha dela — afirmou um ministro. O presidente do PT, Rui Falcão, disse que as denúncias não afetam o PT e que a legenda “não tem marqueteiro”, apenas contrata pessoas para produzir seus programas partidários. — Não diz nada com relação ao PT. Quem acusa tem que provar, continuo defendendo que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário — disse Falcão. — O PT não tem marqueteiro, con- trata as pessoas para fazerem programas. Falcão comparou com a situação do PSDB, dizendo que as doações de campanha feitas à legenda foram legais e apresentadas à Justiça Eleitoral, e que as transações foram “muito semelhantes” às realizadas pelos tucanos. Segundo relatos, apesar da nova crise, Dilma está “tranquila” porque pagou legalmente ao marqueteiro por seus serviços durante a campanha de 2014. Dos R$ 318 milhões gastos para reelegê-la, R$ 89 milhões foram pagos a Santana. O auxiliar diz que não houve pagamentos por meio de caixa dois. A última participação de Santana aconteceu no pronunciamento de Dilma sobre o vírus zika, este mês. O pronunciamento foi gravado pela equipe de Santana. O texto teve o dedo do marqueteiro. Na abertura do ano Legislativo, Santana colaborou no discurso e no convencimento da presidente de que seria importante ir ao Congresso. — Ficou muito claro que a campanha da presidente Dilma veio para dentro da Lava-Jato com a prisão de seu marqueteiro João Santana — disse o coordenador jurídico do PSDB, Carlos Sampaio, que decidiu pedir ao TSE a juntada das novas provas, em conjunto com o presidente do partido, Aécio Neves. AÉCIO: “MUDANÇA DE PATAMAR” Aécio disse que a apresentação do conjunto de provas documentais na Operação Acarajé irá “mudar de patamar” o julgamento da ação no TSE. — Houve muita picaretagem na campanha, mas para mim essa Operação Acarajé é o que de mais grave ocorreu até aqui em níveis de contaminação da presidente Dilma e sua campanha. A operação é a comprovação de que houve dinheiro desviado da Petrobras através do operador Zwi Skornicki — disse Aécio. Segundo o tucano, durante a disputa eleitoral ele percebia “que tinha dinheiro demais” circulando na campanha da adversária, a começar pelos valores pagos a João Santana, cerca de R$ 90 milhões. O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), disse que agentes públicos estão agindo de forma parcial para tentar encontrar provas que incriminem Dilma e o ex-presidente Lula: — Certamente instituições de Estado devem investigar, mas tem gente vestindo a camisa do PSDB quando passou em um concurso para agir em nome do Estado e está agindo em nome de interesses políticos específicos. Segundo o advogado da campanha de Dilma, Flávio Caetano, foi pago ao marqueteiro dinheiro legal e contabilizado: “Este valor, por si só, demonstra que o pagamento feito ao publicitário se deu de forma legal e absolutamente transparente”, escreveu Caetano, em nota. (Colaborou Catarina Alencastro) l NA WEB glo.bo/1oYJ7GF O bilhete da mulher de Santana que deu origem à operação Mulher de Santana tentou apagar em bilhete nome de empresa offshore Marqueteiro se queixa de perseguição e diz que acusações ‘são infundadas’ Para pedir a prisão do marqueteiro João Santana, que comandou as últimas três campanhas do PT ao Planalto — a do ex-presidente Lula em 2006 e as da presidente Dilma em 2010 e 2014 — a Polícia Federal descobriu que o publicitário recebeu US$ 7,5 milhões em uma conta não declarada na Suíça. Os pagamentos saíram de empresas offshores controladas pela construtora Odebrecht e pelo operador de propina Zwi Skornick, que foi preso ontem na casa dele, no Rio. Para a LavaJato, o dinheiro foi desviado da Petrobras. As investigações contra Santana partiram de um bilhete -SÃO PAULO, RIO E CURITIBA- apreendido na casa de Zwi Skornick no ano passado. O papel assinado pela mulher e sócia do publicitário, Mônica Moura, orientava sobre como o operador deveria ter feito um contrato: “Apaguei, por motivos óbvios, o nome da empresa. Não tenho cópia eletrônica, por segurança”, escreveu Mônica. Apesar do cuidado, o nome da empresa não foi bem apagado no documento, e a força-tarefa da Lava-Jato conseguiu identificar o nome das offshores Klienfeld e Innovation, as mesmas usadas pela Odebrecht para efetuar pagamentos de propina no exterior a ex-diretores da Petrobras. Junto com o bilhete, Mônica enviou também os números das contas onde Zwi deveria fazer os depósitos. Uma delas era da offshore ShellBill Finance, constituída no Panamá e com conta na Suíça. Foi nela que o operador pagou US$ 4,5 milhões a Santana, entre abril de 2013 e novembro de 2014. A conta também recebeu US$ 3 milhões da Klienfeld e da Innovation, entre abril de 2012 e março de 2013. No despacho de prisão, o juiz Sérgio Moro disse que a conta ShellBill foi usada para transferir recursos à filha de João Santana, que mora nos Estados Unidos. Suria Santana recebeu US$ 442 mil entre 2008 e 2015, e o marido dela, Matthew Pacinelli, US$ 75 mil em 2009. NA REPÚBLICA DOMINICANA Santana e Mônica tiveram prisão temporária decretada. Os dois estavam na República Dominicana, onde comandavam uma campanha de reeleição do presidente Gabriel Medina. Através de advogados, o casal informou à Justiça que chega hoje a São Paulo para se entregar à PF. Os dois foram incluídos na lista vermelha da Interpol. Moro decretou o bloqueio de até R$ 100 milhões de Santana, da mulher e das duas empresas de publicidade do casal, a Pólis, que fez a campanha de Dilma, e a Santana & Associados. Ao saber do pedido de prisão, o marqueteiro renunciou ao comando da campanha de de Medina. Na carta que encaminhou ontem ao comitê nacional do Partido de la Liberación Dominicana (PLD), o publicitário assumiu a própria defesa e disse que o Brasil está vivendo um clima de “perseguição” e que as acusações contra ele “são infundadas”. Os demais alvos da operação são ligados à Odebrecht. O principal deles é Benedito Barbosa, atual presidente da construtora, acusado de comandar o pagamento de propinas no exterior ao lado do empresário Marcelo Odebrecht, que está preso e foi transferido para a sede da PF de Curitiba ontem. Outros dois executivos da Odebrecht tiveram prisão temporária decretada: Hilberto Silva, que assinou uma das contas usadas pela construtora na Suíça, e Fernando Migliaccio. De acordo com os investigadores, Migliaccio era o principal gerenciador das contas usadas pela empreiteira no exterior para pagar propina. Quando Marcelo Odebrecht foi preso, em julho do ano passado, Migliaccio e a família foram morar nos Estados Unidos. Para acelerar o processo, a Odebrecht teria cuidado da obtenção de vistos e da escolha da casa onde morariam nos Estados Unidos. Segundo Moro, uma planilha controlada por Migliaccio retrata pagamentos a João Santana e ao PT e “há fundada suspeita de que esses pagamentos são ilícitos”, considerando que a função dele era administrar as contas secretas da Odebrecht usadas para repasses de propinas a agentes públicos. Moro também bloqueou até R$ 50 milhões de Zwi e R$ 25 milhões de Migliaccio. O juiz afirma no despacho que os valores seriam “doações eleitorais subreptícias”, comparando os pagamentos a João Santana aos que foram feitos a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT preso na Lava-Jato. Moro lembra que uma das anotações de Marcelo Odebrecht — “900 via Bonus PT” — em setembro de 2010, mostrou correspondência com o registro de doação oficial ao PT no valor de R$ 900 mil feita naquele mês. No caso, “bônus” seriam as doações oficiais. Em nota, a defesa de Santana informou que vai mostrar que todos os valores recebidos no exterior estão ligados a campanhas realizadas por ele fora do país. Também em nota, a Odebrecht informou que a empresa só vai se manifestar nos autos. l l O GLOBO 4 l País l Terça-feira 23 .2 .2016 ESCÂNDALOS EM SÉRIE [email protected] MERVAL PEREIRA _ PERFIL João Santana ERBS JR./FRAME PHOTO/AE/02-10-2014 | | Crime repetido A desconfiança de que o PT mantinha contas secretas no exterior, de onde retirava dinheiro para financiar suas campanhas eleitorais, inclusive as do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, sempre esteve presente na crônica política. D esde que o marqueteiro Duda Mendonça, em 2005, confessou que fora pago em uma conta não declarada no Caribe aberta a mando o lobista Marcos Valério, até hoje, de acordo com as investigações da Lava-Jato, esse procedimento continuou sendo usado para pagar o marqueteiro João Santana. Isso significa que o PT atua na ilegalidade pelo menos desde a primeira eleição de Lula, em 2002, e os métodos de lavagem de dinheiro foram sendo aperfeiçoados para tentar esconder as contas secretas. A teia de contas e bancos pelo mundo montada pela Odebrecht e, segundo as investigações, controlada pessoalmente por Marcelo Odebrecht, serviu para lavar dinheiro desviado da Petrobras para o PT, e pagou os serviços do marqueteiro do momento, assim como Marcos Valério pagou Duda Mendonça no mensalão. A repetição de métodos criminosos já devidamente comprovados impede que a questão seja tratada pelo Tribunal Superior Eleitoral como banal, pois vários políticos já perderam seus mandatos, de prefeito e governador, devido a abusos do poder econômico muito menos evidentes e sofisticados do que o que agora está sendo desvendado sobre as campanhas da presidente Dilma Rousseff em 2010 e em 2014. Mesmo que tentem analisar de maneira burocrática a situação posta, interpretando a lei ao pé da letra e sem contextualizar o que representa esse imenso esquema criminoso que está sendo revelado nos detalhes pela Lava-Jato, será um ônus enorme para ministros do TSE fingir que não se depararam com um escândalo sem precedentes na história política brasileira. Em 2005, tudo era novidade para o mundo político, tanto que provocou choro e ranger de dentes entre os petistas mais sensíveis às questões éticas, que àquela altura já não eram obstáculo à ascensão meteórica do PT ao comando central do país. Muito antes disso, a ação criminosa de que foram vítimas prefeitos petistas — Toninho, de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André — já demonstrava que o caminho do poder petista não seria barrado por pudores de nenhuma espécie. A consequência da descoberta de grossa corrupção na campanha eleitoral de Lula em 2002 só não teve maior repercussão por um erro estratégico do PSDB, que considerou o então presidente como carta fora do baralho na sucessão presidencial U de 2006 e decidiu deixáOs pontos-chave lo “sangrar” até o final de seu primeiro mandato. A recuperação da economia produziu um A desconfiança de que o PT efeito contrário e ajumantinha contas secretas dou Lula a recuperar o no exterior sempre esteve fôlego que parecia ter presente na crônica política perdido no início do escândalo. Adaptandose à situação como o caO PT atua na ilegalidade maleão político que pelo menos desde a sempre foi, Lula saiu de primeira eleição de Lula, uma posição de humilem 2002 dade, dizendo-se traído e pedindo desculpas na televisão, para negar até O mundo político já joga mesmo que tenha exiscom a alternativa de o tido o mensalão. PMDB decidir-se pelo Desta vez, não apenas impeachment a repetição, mas o aprofundamento do esquema criminoso demonstram que não se deve ter complacência com um partido político que usa de todos os artifícios criminosos possíveis para obter vantagem sobre seus adversários, desde a calúnia e a infâmia, até mesmo desviar dinheiro público para a manutenção de suas atividades político-eleitorais. O juiz Sérgio Moro já enviou ao TSE os documentos da primeira condenação do ex-tesoureiro do PT João Vaccari, em que está provado o uso do dinheiro desviado da Petrobras para campanhas do PT. A continuidade dessa sistemática utilização de dinheiro público para o caixa de suas campanhas, seja pelo uso de caixa dois, seja pela lavagem através de doações “legais” registradas no TSE, está confirmada em várias delações que confirmam que a campanha presidencial de 2014 também foi irrigada com dinheiro desviado da Petrobras. Se em 2005 Duda Mendonça acabou sendo absolvido pelo STF, que não viu dolo na sua ação, e safou-se pagando uma multa à Receita Federal, hoje a situação é diferente: a intenção de fraudar as leis está configurada, segundo a PF e os procuradores da Lava-Jato. Agora, fecha-se o círculo com o esquema da Odebrecht para o marqueteiro João Santana, que pode também ter ajudado o PT em outra circunstância, igualmente criminosa: a Polícia Federal apura a suspeita de que empresas dele trouxeram de Angola para o Brasil cerca de US$ 16 milhões, em 2012, numa operação de lavagem de dinheiro para beneficiar o PT. Não há como negar as evidências, e o mundo político já joga com a alternativa de o PMDB, diante da realidade, decidir-se pelo impeachment da presidente Dilma para evitar a cassação da chapa pelo TSE. l 1 2 3 Em ação. João Santana orienta a presidente Dilma, então candidata à reeleição, antes de debate da TV Globo: marqueteiro foi alvo de críticas de petistas Marqueteiro virou conselheiro e homem de confiança de Dilma Bem-sucedido no marketing político, Santana ajudou a eleger seis presidentes no Brasil e no exterior. Como jornalista, ele foi crucial para o impeachment de Fernando Collor FERNANDA KRAKOVICS [email protected] Ao longo dos últimos seis anos, João Santana tornouse mais do que o marqueteiro da presidente Dilma Rousseff, passando a conselheiro político e uma das poucas pessoas a quem a petista ouvia. Além de fazer as duas campanhas presidenciais de Dilma e de redigir os discursos mais importantes, Santana era chamado ao Palácio da Alvorada em momentos de crise, como as manifestações de junho de 2013. Pesquisas qualitativas e quantitativas feitas pelo marqueteiro eram utilizadas pelo governo para traçar estratégias políticas. Desde o ano passado San- tana está afastado do governo e do PT, fazendo campanhas no exterior, como na Argentina. Ele passou a dar contribuições pontuais. Em abril do ano passado, por exemplo, quem fez o programa de TV do PT foi Maurício Carvalho, marqueteiro da campanha derrotada de Alexandre Padilha (PT) ao governo de São Paulo. Desde 2006, Santana ajudou a eleger seis presidentes: Luiz Inácio Lula da Silva; Mauricio Funes, de El Salvador; Dilma; Danilo Medina, da República Dominicana; José Eduardo dos Santos, de Angola; e Hugo Chávez, na Venezuela. Antes de se tornar marqueteiro, ainda como jornalista, Santana foi importante para o impeachment de Fernando Collor com a reportagem “Eriberto, testemunha-chave”. Ele dirigia a sucursal da revista “IstoÉ”, em Brasília, e ganhou o Prêmio Esso de Reportagem em 1992, junto com os jornalistas Augusto Fonseca e Mino Pedrosa. No marketing político, após trabalhar com Duda Mendonça, com quem rompeu posteriormente, Santana o substituiu na campanha de Lula à reeleição, em 2006. Mendonça havia saído de cena no escândalo do mensalão, após admitir em 2005, em CPI, ter recebido do PT dinheiro de caixa dois no exterior. Baiano da cidade de Tucano, a 250 quilômetros de Salvador, Santana é filho de um fazendeiro, beneficiador de sisal. Na escola, ganhou o apelido de Patinhas, quando era tesoureiro do grêmio estudantil. Foi com essa alcunha que, nos anos 1970, fundou e foi um dos letristas da banda Bendegó. Santana já se casou sete vezes e sua atual mulher, Mônica, é sua sócia. O marqueteiro é apreciador de vinhos e, quando não está trabalhando, um de seus destinos preferidos é Paris. Considerado um “gênio” desde a campanha de 2006, quando reelegeu Lula no auge do mensalão, Santana tem sido alvo de críticas, inclusive no PT, depois da difícil campanha de 2014. O discurso adotado para reeleger Dilma é apontada como responsável por parte das dificuldades enfrentadas pela petista em seu primeiro ano do segundo mandato. Ao discursar em reunião do Diretório Nacional do PT, em outubro do ano passado, Lula admitiu que o PT reelegeu Dilma com um discurso diferente do que está sendo praticado. Na campanha, Dilma disse que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”, mas ao ser reeleita mudou as regras de acesso a benefícios como o seguro-desemprego, o que foi considerado quebra de palavra pelas centrais sindicais. Santana também criou o boneco “Pessimildo” para rebater as previsões do candidato do PSDB, Aécio Neves. O país, no entanto, enfrenta recessão econômica e aumento do desemprego. A principal tarefa de Dilma tem sido um ajuste fiscal para tentar amenizar os efeitos da crise. Essa não foi a primeira vez que Santana foi alvo de críticas. Em 2008, a propaganda da então candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, perguntava ao eleitor se ele sabia se o então prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição, era casado ou tinha filhos, insinuando que ele seria homossexual. A peça foi um tiro no pé de Marta, que acabou derrotada. O marqueteiro também causou polêmica, em outubro de 2013, ao afirmar à revista “Época” que Dilma seria reeleita em primeiro turno porque ocorreria uma “antropofagia de anões”. Ele se referia aos então pré-candidatos Marina Silva, que tentava criar a Rede; Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Marina acabou disparando nas pesquisas após a morte de Campos. Dilma investiu no ataque a Marina, e foi para o segundo turno com Aécio. l U Memória O DIA EM QUE PETISTAS CHORARAM Onze anos depois de o publicitário Duda Mendonça, que ajudou a construir a imagem do PT e assinou a campanha vitoriosa de 2002 do ex-presidente Lula, revelar em depoimento à CPI dos Correios que abriu uma conta nas Bahamas para receber R$10,5 milhões referentes a dívidas eleitorais — desencadeando uma série de baixas de petistas históricos que não concordavam com o esquema —, outro marqueteiro do PT é envolvido num esquema de pagamentos suspeitos. Coordenador de campanhas eleitorais de Lula e Dilma, o publicitário João Santana é suspeito de receber US$ 7,5 milhões em contas no exterior, provenientes de propinas da empreiteira Odebrecht e da Petrobras, como pagamento a serviços eleitorais à legenda. Em agosto de 2005, Duda fez muitos petistas chorarem ao admitir à CPI dos Correios que tinha aberto uma conta no exterior para receber dívidas da campanha de 2002. Admitiu que, para receber ilegalmente os repasses do PT, participou de um esquema de lavagem de dinheiro e de caixa dois. A ida do publicitário à CPI foi sem aviso prévio, e as revelações sobre a conta para receber pagamentos do operador do mensalão, Marcos Valério de Souza, por serviços ao PT caíram como uma bomba. Após passar dias negando que tivesse recebido qualquer centavo de Valério, o publicitário assumiu o comando do depoimento que seria de sua sócia, Zilmar Fernandes. Entre lágrimas, contou o caminho do dinheiro do caixa dois transferido pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e por Valério para a conta, que afirmou ter aberto a pedido do operador. Dizendo no depoimento que AILTON DE FREITAS/11-8-2005 Duda. Publicitário chora na CPI resolveu acabar com seu pesadelo, Duda Mendonça contou que, para receber do PT uma dívida de R$11,5 milhões, foi obrigado, em 2003, a abrir uma conta no exterior, na qual foram depositados cerca de R$10,5 milhões. Em outubro de 2012, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) absolveram, por maioria, Duda Mendonça e Zilmar Fernandes pelos crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro no julgamento do mensalão. Sobre a acusação de lavagem, Mendonça e sua sócia foram absolvidos pelo placar de 7 a 3; já sobre evasão de divisas, foram 10 votos a favor da absolvição e nenhum em favor da condenação. Os primeiros contatos de Duda Mendonça com o PT ocorreram em 1998, quando foi convidado a fazer a campanha de Lula à Presidência — o publicitário tinha conseguido eleger Paulo Maluf e, depois, Celso Pitta prefeitos de São Paulo. O PT, porém, vetou. Em 2001, acabou contratado, por R$590 mil, para fazer os programas eleitorais do PT. Em 2002, fechou um pacote de R$ 25 milhões para fazer as campanhas de Lula à Presidência, as de governador de José Genoino (SP) e de Benedita da Silva (RJ) e a do senador Aloizio Mercadante (SP). Em 2002, o publicitário recebeu cerca de R$ 14 milhões do diretório nacional do PT e dos comitês financeiros das campanhas estaduais, ficando com um crédito de R$ 11,5 milhões. l País l Terça-feira 23 .2 .2016 2ª Edição O GLOBO l 5 ESCÂNDALOS EM SÉRIE _ PF aponta ‘possível envolvimento’ de Lula em ‘práticas criminosas’ Relatório liga gasto da Odebrecht a instituto do ex-presidente, mas diz que pode haver equívoco FLÁVIO FREIRE E TIAGO DANTAS [email protected] -SÃO PAULO- Relatório da Polícia Federal diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser investigado “com parcimônia” pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”. O documento, revelado durante a 23ª fase da Operação Lava-Jato, coloca sob suspeita o financiamento de obras do prédio do Instituto Lula, em São Paulo, feitas pela Odebrecht. Segundo a PF, R$ 12,4 milhões foram gastos na obra. Ao analisar documentos apreendidos na empreiteira, a polícia identificou como sendo Instituto Lula a sigla “IL”, que aparece em uma planilha. Diz o texto dos investigadores: “Em relação à anotação ‘Prédio (IL)’ e ao valor a ela referido de R$ 12.422.000,00, (...) a Equipe de Análise consignou ser possível que tal rubrica faça referência ao Instituto Lula”. “O possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional”, diz o relatório. A sigla “IL” aparece em planilha criada em 2 de agosto de 2010 por Maria Lucia Guimarães Tavares. De acordo com a PF, a administradora tinha um telefone criptografado para conversar com Marcelo Odebrecht e auxiliava o presidente da empresa “nas suas práticas criminosas”. O documento foi salvo pela última vez em 31 de julho de 2012 por Fernando Migliaccio da Silva, administrador de contas offshores. Chamou a atenção dos investigadores a indicação na planilha que o valor foi dividido: três parcelas de R$ 1.057.000, e outras de R$ 8.217.000 e 1.034.000. “Valores ‘quebrados’ foram identificados em duas situações: quando a vantagem indevida era calculada a partir de percentuais — no caso dos contratos da Petrobras — e quando a vantagem se travestia na disponibilização de serviços, bens e outras benesses passíveis de serem valoradas precisamente”, afirma o texto. Os policiais dizem que, seguindo essa lógica, “caso a rubrica ‘Prédio (IL)’ refira-se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva”. Mas o texto alerta que as conclusões “podem estar equivocadas” e sugere que o depoimento de pessoas investigadas nesta fase da operação possa ajudar a revelar o significado de cada uma das anotações. Os investigadores tentaram cruzar a planilha com informações encontradas em blocos de notas do celular de Marcelo Odebrecht. Não há nenhuma menção à sigla IL, mas a palavra prédio aparece algumas vezes. Em 22 de outubro de 2010, há uma referência a “prédio novo”, mas sem detalhes do que poderia ser. A outra citação é de 9 de janeiro de 2013. Por fim, a PF afirma que “a investigação não se presta a buscar a condenação e a prisão de ‘A’ ou ‘B’. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. (...) Se os fatos indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada”. Em nota, o Instituto Lula refutou as acusações: “O Instituto Lula (IL) foi fundado em agosto de 2011, na mesma casa onde antes funcionava o Instituto Cidadania, ao qual sucedeu, e antes desse o IPET (Instituto de Estudos e Pesquisas dos Trabalhadores). A sede fica em um sobrado adquirido em 1991. Em 2010, ano indicado na planilha, o Instituto Lula não existia ainda. Tanto o Instituto Lula quanto o Instituto Cidadania não construíram nenhum prédio”. A Odebrecht disse que não conhece os termos do inquérito e que não poderia se manifestar. l U PROGRAMA DO PT NA TV SEM DILMA, DEFESA DO EX-PRESIDENTE -SÃO PAULO- O empresário Marcelo Odebrecht sabia dos repasses a João Santana por meio de contas no exterior, de acordo com relatório da Polícia Federal. Em anotações encontradas em seu celular, apreendido em julho de 2015, ele também orienta dois funcionários da Odebrecht, que a PF acredita serem Hilberto Silva e Luiz Eduardo da Rocha, a fugirem para o exterior e a “fechar todas as contas sob risco”. O primeiro é o funcionário da Odebrecht responsável por abrir contas fora do país, que foram usadas para pagar propina. O segundo é um empregado suspeito de operar contas. De fato, os dois foram para o exterior com o avanço da Lava-Jato. No relatório, os investigadores afirmam ainda que “não restam dúvidas” de que a construtora realizou pagamentos a João Santana em contas não declaradas à Receita Federal. Numa das anotações encontradas no celular de Marcelo, ele se refere a Santana como “Feira”. Seria uma referência ao fato de o marqueteiro ser da região de Feira de Santana, na Bahia. O empreiteiro lista possíveis “argumentos” que o ex-diretor da empreiteira Rogério Araújo poderia usar caso decidisse colaborar com as investigações. Marcelo afirma que Rogério poderia dizer que era amigo de Santana e, orientado pelo PT, fez os pagamentos ao empreiteiro: “Era amigo e orientado por eles (PT) pagou-se Feira em cta (conta) que eles mandaram. ODB (Odebrecht) pagava campanha a priori, mas é certo que aceitava algumas indicações a título de bom relacionamento. Campanha incluindo caixa 2 se houver era só com MO (Marcelo Odebrecht), que não aceitava vinculação”. “Não restam dúvidas de que o Grupo Odebrecht efetuou depósitos no exterior de recursos espúrios em favor do publicitário e coordenador, e também de sua esposa e sócia, das principais e recentes campanhas eleitorais do PT”, afirma o relatório da PF, assinado pelo delegado Filipe Hille Pace. A PF encontrou registros de liberação de dinheiro para Santa- RESULTADOS DA OPERAÇÃO ATÉ AGORA 23 fases 109 prisões efetuadas já foram realizadas Número que aumentará com prisões pedidas ontem e ainda não cumpridas 1 ano e 11 meses 62 já duram as investigações Em programa de TV que vai hoje ao ar, o PT defenderá o ex-presidente Lula contra o que chama de “preconceituosos” que querem “manchar sua história”. A presidente Dilma Rousseff não participa. Segundo o presidente do PT, Rui Falcão, ela foi convidada, mas disse que estava “com a agenda cheia”. Enquanto o locutor diz que os adversários do partido nunca aceitaram as “ideias e origens” de Lula, o vídeo mostra imagens do ex-presidente sendo abraçado e beijado por eleitores. Lula aparece em seguida e diz que o legado petista “incomoda essa gente que não gosta de dividir a poltrona dos aviões” com os mais pobres. Mensagens indicam depósitos para marqueteiro no exterior No celular, Marcelo Odebrecht chama Santana de ‘Feira’ e menciona pagamento OS NÚMEROS DA LAVA-JATO na: “Liberar p/Feira...”. Na mesma frase, há menção ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, no entendimento da PF: “40 para Vaca (parte para Feira)”. No celular de Marcelo Odebrecht há também uma menção sobre o risco de uma conta na Suíça chegar à “campanha dela”. Para os investigadores, trata-se de possível referência à campanha da presidente Dilma. Ontem, a PF identificou novos operadores de contas da Odebrecht no exterior. Em nota, a Odebrecht informou “não conhecer os termos dos inquéritos”, e não se manifestou. l réus condenados entre eles: Alberto Youssef Doleiro João Vaccari Neto Ex-tesoureiro do PT Fernando Baiano Lobista 42 réus condenados têm hoje algum tipo de restrição de liberdade 20 4 réus condenados permanecem presos Ex-diretores da Petrobras condenados Paulo Roberto Costa Nestor Cerveró Renato Duque Jorge Zelada PERFIL Zwi Skornicki REPRODUÇÃO DO FACEBOOK Viagens, carros e lancha: a rotina de um operador Apontado como um dos operadores do esquema de corrupção na estatal, polonês trabalhou em empresas envolvidas na Lava-Jato JULIANA CASTRO [email protected] O calendário marcava 21 de janeiro de 1974 quando um jovem polonês de nome incomum chegou à Petrobras para o primeiro dia de trabalho como engenheiro de perfuração. Mais de quatro décadas depois, Zwi Skornicki, de 66 anos, viu a estatal cruzar novamente seu destino. Dessa vez, de forma amarga. Ele foi preso ontem na 23ª fase da operação que investiga corrupção na empresa. No início da década de 1970, Skornicki fazia parte das equipes que ficavam embarcadas por 14 dias nas plataformas. Em 1977, num tempo em que ninguém deixava o emprego na estatal, o engenheiro que vivia no Brasil desde os 5 anos jogou tudo para o alto e se aventurou como representante de empresas da área petrolífera. Dois anos depois, foi convidado a trabalhar na Odebrecht, onde ficou até 1995. Na empresa, também envolvida na Operação Lava-Jato, ele começou como engenheiro e terminou como diretor superintendente da área de perfuração, tomando conta de oito plataformas. Pela companhia, morou na Índia. Em 2000, Skornicki virou representante comercial no Brasil do estaleiro Keppel Fels. Desde que foi citado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco em delação premiada como um dos operadores do esquema, esteve na mira da Polícia Federal. Escapou da prisão no início de 2015 e foi apenas levado para depor. Ficou calado. Em entrevista ao GLOBO pouco depois da fase “My Way”, a 9ª fase da Lava-Jato, a mesma que prendeu o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o engenheiro disse que as denúncias de envolvimento no escândalo não passavam de “fantasia”. — Nunca (paguei propina) porque nossos preços sempre foram os menores — afirmou à época o representante comercial do estaleiro Keppel Fels. Na operação “My Way”, a PF apreendeu na casa dele 48 obras de arte e cinco carros. Skornicki garantiu que foram os anos de trabalho no setor petrolífero que lhe renderam o patrimônio que tem. Dessa vez, os policiais levaram até uma lancha. Morador da Barra da Tijuca, ele é dono de uma casa em Angra dos Reis e de um terreno de mais de 4 mil metros quadrados no Condomínio Portogalo, um dos mais sofisticados da região. Nas férias, gosta viajar com a família para fora do Brasil e posta as fotos no Facebook. Em uma delas, aparece em Paris com sacolas de uma loja de grife. l NA WEB glo.bo/1LD1YvK Vídeo: PF apreende veículos do operador 3 Políticos condenados e presos André Vargas (ex-PT) Luiz Argôlo (ex-SD) Gosto por viagens. Zwi Skornicki na London Eye, na capital britânica Pedro Corrêa (PP) U FROTA VALIOSA REPRODUÇÃO DE VÍDEO Outros dois aguardam julgamento 10 empreiteiros condenados, entre eles: Léo Pinheiro (OAS) Sérgio Cunha Mendes (Mendes Junior) Coleção de carros. O Corvette (prateado) e o Mercedes Pagoda Dalton Avancini (Camargo Corrêa) ESPORTIVOS CLÁSSICOS NA GARAGEM A coleção de automóveis antigos de Zwi Skornicki não chega a ser suntuosa, mas tem modelos com boa cotação no mercado de esportivos clássicos. O destaque é o Mercedes-Benz 280 SL “Pagoda”, modelo da década de 60 que tem se valorizado. No Brasil, um carro desses em bom estado passa dos R$ 350 mil. Outro modelo interessante é o Corvette 1966 conversível, esportivo americano que, por aqui, vale algo entre R$ 250 mil e R$ 300 mil. O Porsche 911 Targa, de 1978, também é de encher os olhos e custa em torno de R$ 180 mil. A coleção inclui ainda outro Mercedes SL, só que mais moderno (modelo R107 dos anos 70 e 80) e menos valioso. Os mais exóticos da garagem são um Chevrolet 1955 hot rod (com mecânica modificada) e um Alfa Romeo Spider, dos últimos fabricados com tração traseira. (Jason Vogel) Dario Queiroz Galvão Filho (Grupo Galvão) 2 empreiteiros aguardam julgamento Marcelo Odebrecht (Odebrecht) Otávio Marques de Azevedo (Andrade Gutierrez) l O GLOBO 6 l País l Terça-feira 23 .2 .2016 ENTREVISTA Carlos Roberto Osorio ‘Proximidade do PMDB com o PT me incomodava’ MARCELO CARNAVAL O senhor quer ser prefeito? Eu me sinto preparado e em condições de ser um bom prefeito. Mas isso não está acima do projeto do partido. Se eu não for o nome ideal, será outro. l Sem espaço no PMDB para disputar a prefeitura do Rio, Carlos Roberto Osorio deixou a Secretaria estadual de Transportes e vai migrar para o PSDB. A filiação será formalizada nesta quinta-feira, em um ato na sede do partido, em Brasília. MARCO GRILLO [email protected] O senhor fez parte da atual administração. Como se diferenciar? Com um projeto voltado ao atendimento das necessidades dos cidadãos e reconhecendo o que foi feito. Fiz parte da administração e participei dos avanços dos últimos anos. É preciso defender as conquistas e agregar outra visão, de mais proximidade com o cidadão. Para construir uma cidade, não bastam tijolo, cimento, pontes e viadutos. l l O ato de quinta-feira será só de filiação ou de lançamento de sua pré-candidatura? Ato de filiação. A gestão atual peca nesse quesito? Entendo que pode ser melhorado. l O que motivou o senhor a sair do governo e se filiar ao PSDB? A primeira motivação foi o convite do PSDB. Há uma identificação grande. Por outro lado, fui o deputado estadual mais votado pelo PMDB na capital, mas é um partido com muitas lideranças. O espaço para uma pessoa nova não é muito grande, porque o PMDB tem uma fila. Entendi que, com a definição (do PMDB) da candidatura à prefeitura do Rio, o espaço para mim talvez não fosse o que imaginava. l A proximidade do PMDB do Rio com o PT incomodava o senhor? Fui convidado por um partido que tem uma visão de mundo diferente da do PMDB,que está alinhado estritamente ao governo federal. Eu não concordo. Essa proximidade incomodava. É o único ponto fraco da gestão? É prematuro entrar em discussão de avaliação da atual administração. Dentro do PMDB, o senhor manifestou a intenção de ser candidato? Sim. Respeito a hierarquia partidária e entendo que prefeito tenha direito de coordenar processo de sua sucessão. Se houve decisão, não me cabe questionála, mas sim meu posicionamento dentro da instituição. O fato de o prefeito ter dito ao COI que a Linha 4 do Metrô pode não ficar pronta para as Olimpíadas acelerou a saída? Acabou precipitando, mas a saída já estava definida. l O senhor se sentiu traído? Não. Tenho que tratar do que sei. Quando tomei conhecimento, liguei para o governador e mandei um WhatsApp ao prefeito, dizendo que as obras estavam no prazo e me colocando à disposição para esclarecer qualquer dúvida. l l Ficou alguma mágoa do prefeito? De maneira nenhuma. O prefeito deve ter tido seus motivos. Com as responsabilidades que tem, entendeu por bem fazer essa alerta. l “Obviamente, qualquer agressão a mulher ou a qualquer outro ser humano é condenável. Acredito que essa é a posição majoritária na sociedade” Carlos Roberto Osorio Sobre Pedro Paulo, seu provável adversário na disputa pela prefeitura do Rio e acusado de ter agredido a ex-mulher Brasil registrou morte de oito jornalistas ano passado, no exercício da profissão JORGE WILLIAM Só quatro países tiveram mais assassinatos: Síria, Iraque, México e França, alerta Abert -BRASÍLIA- Em 2015, oito jornalistas foram mortos e 64, agredidos no país, no exercício da profissão. O balanço foi divulgado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Segundo a Abert, os números põem o Brasil entre os locais mais perigosos para o jornalismo, à frente de países em guerra. O levantamento aponta 116 registros de violações à liberdade de expressão, o que inclui casos de ameça e intimidação. Para a Abert, os principais agressores são os alvos da apuração jornalística, como políticos suspeitos de corrupção. Depois, vêm policiais e manifestantes. Esse é o primeiro relatório da Abert que cobre o período de janeiro a dezembro. Os anteriores iam de outubro de um ano a outubro do ano seguinte. O relatório 2013/2014 registrara 139 violações de liberdade de expressão, incluindo sete mortes de jornalistas. O relatório 2012/ 2013 listou cinco assassinatos. Slaviero, da Abert. Ano passado foi “cruel” para o exercício do jornalismo A Abert cita relatórios de entidades internacionais, como o Press Emblem Campaign, segundo o qual só quatro países tiveram mais jornalistas mortos que o Brasil: Síria, Iraque, México e França (no ano anterior, o Brasil era o décimo mais perigoso). Já o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) situa o Brasil em terceiro, atrás de Síria e França. A Síria vive uma guerra civil e a França registrou em 2015 o massacre de jornalistas da revista “Charlie Hebdo”. — A Abert considera o ano de O senhor volta a exercer o mandato de deputado estadual. Como fará oposição ao governo que integrava? Estarei afinado com a posição do PSDB, que é correta: não fazer oposição por oposição. Vou defender o governo Pezão nos pontos importantes neste momento de crise. Não serei um deputado do quanto pior melhor. l l l O senhor vai ser o candidato do PSDB à prefeitura do Rio? Apresentei meu nome, mas entendo que é uma coisa que tem que ser construída. Meu nome está à disposição, mas o partido tem outros bons nomes. Motivo. Osorio diz que o alerta de Paes ao COI, dizendo que a Linha 4 do Metrô pode não ficar pronta, antecipou sua saída do PMDB l 2015 cruel para o exercício do jornalismo — disse o presidente da Abert, Daniel Slaviero. Sexta-feira passada, a Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil, em nota, alertou para o roubo de equipamentos da jornalista Juliana Barbassa e do fotógrafo Bear Guerra em Rondônia. Segundo a nota, isso ocorreu “logo depois do governo do estado ordenar que a polícia não cooperasse com a cobertura que os profissionais faziam em uma área violenta e politicamente sensível”. l Eventualmente, se for a orientação do partido, votar contra o governo... Se for necessário, votar contra o governo, mas votar a favor nos pontos que eu entender meritórios. mulher. Na campanha, o senhor se sentiria confortável para tocar nesse assunto ? Primeiro, tenho que me tornar candidato e depois responder. Entendo que quem vai fazer essa avaliação é a população. É um fato de domínio público. Evidentemente, esse vai ser um tema do debate eleitoral. l Já circula uma foto sua com Pedro Paulo (secretário municipal de Coordenação de Governo e possível candidato do PMDB) dizendo que, na campanha, vocês vão se dizer adversários, mas que sempre estiveram juntos. Fomos do mesmo governo. Mas vou representar uma visão diferente, se for escolhido o candidato. A cidade teve ganhos nos últimos anos e tenho orgulho de ter participado de alguns projetos. Mas tenho uma visão crítica. Eu sou eu, e o Pedro Paulo é o Pedro Paulo. l l Ele é acusado de ter agredido a ex- Com o surgimento do tema, qual seria sua posição? Obviamente, qualquer agressão a mulher ou a qualquer outro ser humano é condenável. Acredito que essa é a posição majoritária na sociedade. Caberá a ele explicar e se defender. l Foi um erro o PMDB insistir na candidatura dele? Acho que é antiético falar de decisão de um partido do qual estou saindo. l l NA WEB glo.bo/1Xop7c5 do Rio Saiba quem são os pré-candidatos à Prefeitura Decisão do STF pode agilizar Justiça bloqueia R$ 500 milhões repatriação de recursos Para procurador, com prisão após sentença em 2ª instância, R$ 911 milhões devem ser liberados -BRASÍLIA- A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determina o cumprimento de pena a partir de condenação em segunda instância, terá forte impacto na recuperação de dinheiro desviado dos cofres públicos, segundo análise da Procuradoria-Geral da República. A Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional da procuradoria estima repatriar a curto prazo US$ 230 milhões (R$ 911 milhões). Esse valor corresponde a recursos de brasileiros ou residentes no Brasil bloqueados em contas no exterior, a partir de investigações criminais. Os titulares dessas contas já tiveram condenações confirmadas em segunda instância, mas, sem a ordem de cumprimento imediato de sentença condenatória, poderiam estender por prazo indefinido a repatriação dos recursos. Estados Unidos e países europeus só aceitam a repatriação quando o condenado é obrigado a pagar pelos crimes cometidos. A soma de recursos a serem repatriados pode ser maior ainda, com a inclusão dos valores bloqueados partir de condenações fixadas por tribunais de Justiça dos estados e do Distrito Federal. Ao todo, esse montante chegaria a US$ 370 milhões (R$ 1,4 bilhão). Segundo o secretário de Cooperação Jurídica Internacional, Vladimir Aras, a repatriação do dinheiro dependerá agora da comunicação formal de que os titulares das contas bloqueadas tiveram condenação confirmada em segunda instância. — O Estado brasileiro passa a ter melhores condições de alcançar ativos bloqueados e vinculados a condenações que nunca transitam em julgado O processo sem fim também levava a bloqueios cautelares de ativos no exterior sem fim. Isso poderá ser enfrentado graças a essa nova decisão do Supremo — disse o procurador. Aras diz que o país não podia mais conviver com um sistema crivado de brechas, que permitia a um réu, sabidamente culpado, recorrer indefinidamente contra a condenação até a prescrição do crime. (Jailton de Carvalho) l da Samarco Objetivo é garantir recuperação de cidades atingidas por rejeitos A 2ª Vara Cível da Comarca de Ponte Nova (MG) determinou ontem, a pedido do Ministério Público do estado, o bloqueio de R$ 500 milhões nas contas bancárias da mineradora Samarco e de suas controladoras Vale e BHP Billiton Brasil. A liminar tem como objetivo garantir recursos para recuper as comunidades de Barretos, Gesteira e do município de Barra Longa, atingidos pelo rompimento de barragem da Samarco em 2015. Em novembro, a Justiça já havia bloqueado R$ 300 milhões da mineradora. As companhias devem elaborar e apresentar em 30 dias projetos básicos, estruturais e executivos para recuperar os locais. O plano deve ser executado em seis meses. A Justiça também determinou a elaboração e execução de obras de contenção no leito do Rio do Carmo, atingido por rejeitos. Em nota, a Samarco confirmou o bloqueio e disse que está adotando medidas judiciais para revertê-lo. l Terça-feira 23 .2 .2016 O GLOBO Rio l 7 DIREITO A UM AMBIENTE SAUDÁVEL A natureza como aliada _ HERMES DE PAULA/2-12-2015 Decisão da Justiça proíbe Cedae de cobrar por esgoto onde não há tratamento adequado Saneamento precário. Canal no Recreio dos Bandeirantes que recebe lançamento de esgoto sem tratamento: decisão da Justiça determina que cobrança da Cedae não pode ser feita quando serviço não é prestado adequadamente LUIZ ERNESTO MAGALHÃES [email protected] A Cedae só pode cobrar taxa de esgoto nos casos em que coleta, trata e dá uma destinação adequada aos dejetos. De outra forma, a cobrança seria irregular porque, de acordo com o artigo 225 da Constituição, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida”. Este foi o entendimento unânime dos desembargadores da 11ª Câmara Cível do Rio ao julgarem um processo, no fim do ano passado, no qual um advogado questionava a cobrança da taxa de um imóvel em Magalhães Bastos, Zona Oeste do Rio, cujos resíduos eram descartados na rede de águas pluviais do bairro. A decisão favorece a luta de consumidores que não têm esgoto, mas são obrigados a pagar pelo serviço à empresa. Os desembargadores acolheram uma tese diferente, já que, nos últimos anos, o tema vinha sendo tratado principalmente com base no Código de Defesa do Consumidor. A Cedae informou que está recorrendo da sentença. “A questão ultrapassa o necessário saneamento básico, alcançando o direito fundamental à saúde dos cidadãos e a garantia do mínimo existencial”, observou, na sentença, o desembargador Claudio de Mello Tavares, que relatou o processo. Nos últimos anos, a Cedae e outras empresas de saneamento do estado foram alvo de várias ações na Justiça com base no Código de Defesa do Consumidor. Depois de decisões conflitantes sobre o tema, o Tribunal de Justiça do Rio chegou a editar uma súmula aceitando a tese de que não bastava apenas coletar, mas dar um destino adequado para os resíduos, tomando como base o Código de Defesa do Consumidor, por configurar uma quebra de contrato. A súmula 255, de 16 de janeiro de 2012, considerava “incabível a cobrança de tarifa pela simples captação e transporte do esgoto sanitário". No entanto, acabou sendo revogada por decisão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça em 16 de abril do mesmo ano. AUTOR DIZ QUE SE SURPREENDEU No acórdão do fim do ano passado, os desembargadores da 11ª Câmara Cível entenderam que o proprietário do imóvel tem direito a ser ressarcido pelo pagamento da taxa retroagindo por dez anos em relação à data em que propôs a ação. Nesse caso, os cálculos devem ser feitos desde 2001 (a ação começou a tramitar em 2011). Além disso, a Justiça determina que a Cedae suspenda as cobranças. — Com a mudança da interpretação, muitos clientes meus acabaram perdendo ações. No meu caso, eu mesmo me surpreendi com a interpretação dos desembargadores de que a cobrança é indevida pela questão ambiental — disse o advogado Wander Moreira, autor da ação. Wander também é o dono do imóvel beneficiado pela decisão. Trata-se do Trechos que mostram novos fundamentos que impedem a cobrança de esgoto onde não há tratamento adequado DECISÃO Justiça determina que a CEDAE deixe de cobrar o serviço e ainda faça o ressarcimento das cobranças indevidas Editoria de Arte DIVULGAÇÃO Indignação. Wander Moreira: “o esgoto acaba caindo na rede de águas pluviais" “Cobrar por um serviço não prestado é um absurdo” Wander Moreira Advogado, autor de ação contra Cedae escritório de advocacia que mantém na Rua Libéria, em Magalhães Bastos. O advogado estima que tenha a receber cerca de R$ 40 mil pelo que pagou em suas contas de consumo desde 2001. No entanto, ainda não há prazo para o reembolso ou suspensão da cobrança porque ainda cabe recurso. — Cobrar por um serviço não prestado é um absurdo. A taxa é para que o esgoto tenha uma destinação correta. Não é o que acontece na maioria das ruas de Magalhães Bastos. O esgoto acaba caindo na rede de águas pluviais e contamina rios da região. Quando há uma enchente, as ruas são tomadas pelos resíduos. Isso aconteceu, por exemplo, num temporal que caiu no bairro na quarta-feira da semana passada — disse o advogado. Morador do Recreio, bairro que até hoje conta com ruas sem sistema de coleta e tratamento de esgoto, o advogado José Alfredo Lion, especializado em direito do consumidor, avaliou que a tese ambiental acende a esperança de milhares de proprietários de imóveis que convivem com uma situação semelhante à enfrentada pelo colega de Magalhães Bastos. — A tese está certíssima. Se a Cedae liga o esgoto à rede pluvial, ela está cometendo um crime ambiental. E a Cedae ainda admite? Sem dúvida, essa sentença representa uma mudança de mentalidade do Judiciário — disse Lion. No processo movido por Wander, a Cedae argumentou que o consumidor pagava a taxa pela coleta de esgotos porque o serviço seria prestado de fato, com os dejetos sendo jogados na rede de águas pluviais. A empresa também alegou que, desde 2007, não teria mais responsabilidade pela cobrança em razão de uma parceria com a prefeitura, que se comprometeu a sanear a região através de uma parceria público-privada. Os desembargadores, no entanto, entenderam que a Cedae ainda era responsável por prestar o serviço de coleta. Eles também se basearam em perícia judicial que confirmou não haver tratamento adequado para os resíduos. Em nota, a Cedae informou que está recorrendo da decisão, ainda na 11ª Câmara Cível. A empresa afirma que a cobrança da taxa segue o determinado pela lei federal 11.445/2007, que esta- beleceu o Marco Regulatório do Saneamento. Segundo a empresa, com base nessa lei, o STJ já proferiu decisões que consideravam perfeitamente cabível a cobrança da taxa mesmo que as companhias não dessem um tratamento final adequado aos resíduos. “O acórdão foi objeto de embargos de declaração (usados para esclarecer pontos da sentença), pendentes de julgamento". ESPERANÇA PARA OUTROS MORADORES Segundo a companhia de saneamento, a mesma Câmara Cível teria tido uma interpretação diferente ao julgar processos anteriores e negado recurso a ações que reivindicavam a suspensão do pagamento. Por isso, a empresa decidiu recorrer: “Trata-se de decisão ainda pendente de recurso, que contraria entendimento do próprio colegiado que o prolatou, assim como do Superior Tribunal de Justiça”, informou por nota. A decisão da Justiça, no entanto, foi recebida com otimismo por moradores de regiões da cidade onde a coleta não é adequada. O síndico do condomínio Meta Office Building 2, na Freguesia (Jacarepaguá), Sérgio Bittencourt, acredita que a taxa é abusiva: — Estamos com uma ação contra a Cedae por causa disso. No condomínio, o esgoto vai para uma fossa e temos que pagar uma empresa para limpá-la a cada seis meses com bomba de sucção. No prédio, com 80 salas comerciais pequenas, pagamos conta de R$ 51 mil, da qual a metade é por um serviço que não é prestado — disse Sérgio. l Colaborou Márcio Menasce 8 l O GLOBO l Rio l De volta para o inferno Com a apimentada Operação Acarajé, ontem, relatórios de consultorias internacionais de avaliação de risco apontam o agravamento da crise brasileira. A saída apontada no relatório da consultoria Eurasia, uma das mais respeitadas do mundo, com sede em Nova York, seria a antecipação das eleições presidenciais. Será? Terça-feira 23 .2 .2016 ANCELMO GOIS Sabe o filme brasileiro “O menino e o mundo”, de Alê Abreu, que foi indicado ao Oscar de melhor animação? Apenas 3% dos brasileiros sabem da escolha dele para concorrer à estatueta, segundo pesquisa do Datascript, de Guto Graça. É a primeira vez que o país é indicado para essa categoria. ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, DANIEL BRUNET E TIAGO ROGERO DIVULGAÇÃO/PRODUTORA CURUPIRA Chave de cadeia Agentes da PF chamaram um chaveiro para abrir a porta de uma cobertura no Leblon, no Rio, que está em nome da mulher de João Santana, Mônica Regina Cunha Moura. A fechadura do apartamento funciona com um tipo de chave codificada. Sonho da firma própria Veja que legal. O Brasil atingiu seu maior índice na pesquisa anual GEM, feita por Sebrae e IBPQ, que mede a taxa de empreendedorismo pelo mundo. No ano passado, 39,3% dos brasileiros adultos já possuíam ou estavam envolvidos na criação de uma empresa. É quase o quase o dobro do índice de 2002, quando a taxa era de 20,9%. Menos mal Jim Yong Kim, 55 anos, o americano de origem coreana que preside o Banco Mundial, é especialista em saúde pública. O Banco já liberou US$ 150 milhões para o combate ao zika e diz estar convencido de que o vírus não terá impacto negativo maior na economia mundial. Tomara. Arte roubada O ateliê do escultor português Ascânio MMM, 74 anos, radicado no Rio desde 1958 e que investiu na revitalização do Estácio, foi furtado no fim de semana. Levaram todos os equipamentos, mas as obras de arte, que bom!, ficaram. Os bandidos ainda deixaram uma assinatura, falsa ou não, em uma das portas. REPRODUÇÃO Que menino? Que mundo? www.oglobo.com.br/ancelmo Calma, Tonico! Chuva de merda De Tonico Pereira, 67 anos, o magistral ator, o Ascânio de “A regra do jogo”, em vídeo postado em seu Facebook, num desabafo contra certos colegas artistas que usufruem de dinheiro público: — Considerando que a Lei Rouanet patrocina, de forma indireta, projetos artísticos, eu vou preparar o meu projeto para patrocinar a reposição da minha prótese peniana. Porque eu acho... tenho certeza... que meu pau é arte! No evento-teste de saltos ornamentais, sábado, no Maria Lenk, na Barra, uma das arenas dos Jogos, um cano de esgoto estourou em cima do pessoal que trabalhava numa sala emprestada pela equipe de judô que treina por lá. Sempre ele O empresário Omar Peres comprou a Pavelka, criada em 1952 e famosa pelo pão com linguiça e pelo mil-folhas. O pajé de Gisele Bailes de carnaval O pajé Sapaim, considerado médico da tribo kamayurá, do Alto Xingu, está internado no Hospital de Ipanema, no Rio. Ele tem alguns clientes no Rio, mas ficou muito conhecido após atender a Leonardo DiCaprio e Gisele Bündchen, à época do namoro dos dois, em 2004. O OCASO DO ROQUEIRO A juíza Maria Paula Gouvêa Galhardo condenou o presidente da Riotur, Antônio Pedro, e a L21 Participações, de Luiz Calainho, a devolverem aos cofres públicos R$ 5 milhões, investidos em bailes de carnaval, em 2011 e 2012. Segundo a sentença, os contratos favoreceram a empresa privada. U Serguei, apelido dado a Sérgio Augusto Bustamante, 82 anos, considerado o roqueiro mais antigo do país, passa pelo momento mais difícil de sua vida. Ele ganha R$ 880 (bruto) de aposentadoria, além de uma ajuda de custo de R$ 1.200 da prefeitura de Saquarema, cidade do Rio de Janeiro onde mora, para manter o Templo do Rock. Assim como a maioria dos aposentados do país, o dinheiro mal dá para pagar seus remédios, que custam mais de mil reais mensais. O lendário Serguei, conhecido por ter ido ao Festival de Woodstock e ter virado amigo de Jimi Hendrix e Janis Joplin, tem passado até fome, segundo amigos. Aliás, eles estão fazendo um mutirão para recuperar o acervo e o casarão onde o roqueiro mora (veja o estado na foto ao lado). Mas ele precisa de mais ajuda: “Serguei poderia ser garoto-propaganda de motos ou até, quem sabe?, de um estimulante sexual. A gente abre a geladeira dele e só tem água”, conta o produtor Rogério Silva, que tenta arrecadar dinheiro para fazer um filme sobre o cantor, “O último beatnik”, a ser estrelado por Eriberto Leão. Boa sorte l Ana Cláudia Guimarães Zona Franca Kramer vs. Kramer A Rede D’Or não está fazendo nenhum projeto Maria Prestes, viúva do líder comunista, voltou a defender seu encontro com Capitão Guimarães — criticado ontem por um grupo de “prestistas”, entre eles Anitta, filha de Prestes com Olga Benário: “É mais uma tentativa de macular minha vida de luta dedicada ao socialismo”. Ela lembra que foi cumprimentá-lo pela homenagem da Vila a Miguel Arraes. em Tocantins. Trata-se de iniciativa de parentes distantes de Jorge Moll Filho, criador da rede. O videomaker André Auler finaliza o documentário “Fotografia, resistência e vida” sobre a experiência de seu primo, o repórter-fotográfico Alexandro Abadie Auler, em Kobane, na Síria. Stone Age lança Deep Dig para organizar diferentes tipos de dados em banco único. Adriano Guimarães e Emanuel Aragão fazem debate amanhã, no CCBB, sobre “Hamlet, processo de revelação”, em cartaz até domingo. Alex Lima inaugura loja no Casa Shopping. Projeto Pedaleiros estará na Baixada, sábado, das 9h às 14h, no campus da Unig. Duo Revestimentos estará na Gift Fair, domingo. Alerj terá audiência pública, sexta, para discutir a PEC 20/16, que afeta o Fecam. “American idiot” Após o sucesso de “Verdades secretas”, o diretor Mauro Mendonça Filho voltará ao teatro. Ele comprou os direitos de “American idiot”, musical da Broadway. Estreará em janeiro de 2017, no Rio. NOVO POINT NO CENTRO Uma ‘maison’ de livros | Opinião | RISCOS Fechada há um ano e meio para reforma, biblioteca do Consulado Geral da França, inaugurada em 1961, reabre amanhã com cinema, teatro e ares de complexo cultural DANIEL GULLINO DANIEL GULLINO [email protected] U m espaço de encontro entre a França e o Brasil, com atividades culturais, gastronômicas e intelectuais. Esse é o objetivo da Maison, biblioteca do Consulado Geral da França, no Centro. O local reabre amanhã transformado em um complexo cultural, depois de uma reforma de um ano e meio. A biblioteca, inaugurada em 1961, tem um história rica. Durante a ditadura militar, serviu como refúgio para quem queria ter acesso a livros censurados pelo regime. Lá, estudantes e intelectuais procuravam obras de filósofos franceses, como Michel Foucault e Gilles Deleuze, e referências aos protestos de Maio de 1968, iniciados em Paris. — Era um espaço de liberdade. Para muitos intelectuais cariocas, esse lugar ficou conhecido pela possibilidade de conseguir livros que não foram traduzidos no Brasil — define o cônsul-geral da França no Rio de Janeiro, Brice Roquefeuil. Com mais de 780 metros quadrados e vista para a Baía de Guanabara, a biblioteca conta com um acervo de mais de 20 mil títulos, incluindo livros físicos e digitais, revistas, jornais, CDs e DVDs. Cerca de 90% das obras estão em francês, mas também há material em português. Em abril, está prevista a inauguração de um café e um bar, na varanda. O prédio já conta com cinema e teatro. —É um espaço multiuso. Vai ser um espaço de leitura, de trabalho, de estudo. Mas também um espaço de eventos — diz o cônsul. Já estão programados para as próximas semanas seminários, palestras e até uma degustação de vinho. Todos os eventos serão em português ou contarão com tradução simultânea. — Vamos convidar escritores fran- NÃO SE pode atribuir a causas pontuais, no caso um temporal, o risco de um acervo precioso como o da Biblioteca Nacional sofrer danos irreparáveis. O alagamento de sextafeira passada não foi o primeiro que atingiu a instituição. HÁ REGISTROS de pelo menos outros dois episódios semelhantes no prédio, que abriga um patrimônio com uma das coleções de livros mais importantes do mundo, além de documentos com registros históricos do país. O PODER público tem obrigação de manter esse tesouro a salvo das intempéries do tempo e da própria leniência. Publicitário comandará as obras da Linha 4 do metrô Rodrigo Vieira, que passou oito anos na Casa Civil, estava há sete meses na presidência da Suderj RENAN FRANÇA [email protected] Biblioteca nova. As arquitetas Ligia Tammela e Julia Abreu, com o cônsul Brice Roquefeuil ceses, historiadores, para organizar encontros com intelectuais brasileiros — acrescenta Brice. TAÇAS PARA POPULARIZAR O CHAMPANHE O desafio por trás da reforma foi, além de tornar o local mais convidativo, unir a biblioteca, o café e o bar. Para isso, foram demolidos o antigo hall de entrada e algumas paredes. — O conceito do projeto foi a integração. Acabei com qualquer barreira. É possível circular livremente — define Julia Abreu que, junto com a arquiteta Ligia Tammela, desenvolveu o projeto. Entre as novidades, estão um espaço infantil e um ambiente multimídia, onde será possível ouvir músicas e assistir a filmes. O local também tem salas de reuniões e vai abrigar uma agência de apoio a estudantes que queiram realizar intercâmbio na França. E não podia faltar na Maison (“casa", em francês) um dos maiores símbolos da França: sua culinária. Brice destaca que o bar, além de contar com um chef francês, vai proporcionar um prazer pouco comum no Brasil: a compra de taças de champanhe, e não apenas garrafas. — Em Paris, em cada bistrô você pode tomar uma taça de champanhe, como uma cerveja. Aqui, o champanhe é muito elitizado. A ideia é democratizar o produto — diz o cônsul. A consulta aos livros é aberta ao público. Quem quiser levar uma obra para casa precisa se cadastrar. A Maison fica no 11º andar do Consulado da França, na Av. Antônio Carlos 58. l Após saber que o deputado estadual Carlos Roberto Osorio iria entregar o cargo de secretário estadual de Transporte, o governador Luiz Fernando Pezão teve uma semana para decidir sobre o novo comandante da pasta. O que pesou a favor do nome de Rodrigo Vieira, de 40 anos, presidente da Suderj por sete meses, garante Pezão, foram os oito anos (2007-2015) em que ele trabalhou na Secretaria estadual da Casa Civil. Ingressou no governo como assessor e depois foi promovido a subsecretário de Projetos Especiais, quando passou a acompanhar, por exemplo, a execução de obras do governo, como a do metrô. A presença no quadro técnico do governo não reflete, porém, sua formação. Depois de cursar o ensino médio no Colégio Santo Inácio, Rodrigo se formou em publicidade, na PUC. Além do diploma, tem dois MBAs: um em marketing, pelo Ibmec; outro em empreendedorismo e gestão, na Fundação Getulio Vargas. Rodrigo se sentará na cadeira de secretário com a missão de desatar alguns nós. O mais urgente deles é justamente a obra da Linha 4 do metrô, que chegou aos 90% de execução, segundo o governo, mas que ainda carrega dúvida sobre sua conclusão a tempo das Olimpíadas. — Ele é bom com cronograma, cobra retorno sempre dos administradores. Tem qualidade como gestor — afirma um companheiro de trabalho, que pediu para não ter o nome divulgado. — Ele não é muito de ficar fazendo piada, de rir em reunião. É um cara sério. No comando de uma das secretarias mais complicadas do governo, outros dois assuntos espinhosos também vão merecer atenção especial do novo secretário. Um deles é a obra do Bondinho de Santa Teresa, que se arrasta desde 2013. O outro é a entrega da concessão das barcas, uma vez que a CCR já formalizou a intenção de rescindir o contrato com o governo. l l Rio l Terça-feira 23 .2 .2016 RENATO MANGOLIN O GLOBO l 9 Bombeiros agora usam drones no combate ao ‘Aedes aegypti’ Militares entraram ontem na força-tarefa do estado contra o mosquito CÉLIA COSTA CÉLIA COSTA [email protected] A LUTA DE NISE DA SILVEIRA Glória Pires, 52 anos, a talentosa atriz, aparece aqui numa cena de “Nise, o coração da loucura”, no qual interpreta Nise da Silveira, a médica alagoana que lutou para humanizar os hospitais psiquiátricos. O filme estreia em 21 de abril. Sucesso DIVULGAÇÃO/TV GLOBO MARIS... LINDA DO GOIS Antes de entrar no estúdio para mais um dia de gravação como a sua Maristela, a manicure platinada de “Totalmente demais”, Aline Fanju, a atriz, 36 anos, manda um sorriso para a turma da coluna. Agradecido REPRODUÇÃO U Ponto Final Todo dia, um escândalo novo. É uma agonia sem fim. A ziquizira não cede. Aliás, como disse certa vez o poeta Carlos Drummond de Andrade, se você vir a luz no fim do túnel, “certifique-se de que não é o trem”. Que fase! e-mail: [email protected] Fotos: [email protected] PARA GESTANTES REPRODUÇÃO/INTERNET Os militares do Corpo de Bombeiros, que desde ontem participam da força-tarefa do estado contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, da febre chicungunha e do vírus zika, vão contar com uma ajuda extra para combater o inseto: antes de realizarem as visitas domiciliares, drones vão sobrevoar a região para identificar possíveis criadouros. Técnicos da Secretaria estadual de Saúde capacitaram 800 pessoas para realizarem o trabalho. Esta não é a primeira vez que os bombeiros participam de uma campanha do estado contra o Aedes. A ação deste ano foi lançada pelo governador Luiz Fernando Pezão, ontem, no Quartel Central da corporação. Para ele, o engajamento dos militares nas operações anteriores foram extraordinárias; — Com a entrada do Corpo de Bombeiros vamos vencer essa guerra — disse o governador. TRABALHO ATÉ O FIM DO VERÃO Segundo o coronel Marcelo Hess, superintendente operacional da Defesa Civil, cem militares vão por atuar por dia, até o fim do verão, reforçando municípios considerados prioritários. Ontem, os trabalhos começaram em Belford Roxo. Também serão alvos das ações as cidades de São Gonçalo, Itaboraí, Itaguaí e Duque de Caxias. Comandante do Corpo de Bombeiros e secretário estadual de Defesa Civil, o coronel Ronaldo Alcântara disse que a atuação dos militares é facilitada pela boa imagem que a corporação tem junto à população. — O Corpo de Bombeiros é Reforço. Drone será usado pelos bombeiros para mapear áreas de criadouros a instituição pública de maior credibilidade junto à sociedade. A nossa presença vai abrir portas. No entanto, se os drones localizarem possíveis focos e, mesmo assim, a entrada dos agentes não for permitida, usaremos a força da lei para fazer a entrada compulsória — frisou o comandante. O treinamento dos bombeiros incluiu informações sobre o ciclo reprodutivo do mosquito, principais criadouros e formas de eliminação mecânica, além de esclarecimentos sobre as dúvidas mais frequentes, relacionadas ao vírus zika, à dengue e à chicungunha. A atuação dos militares também será voltada para a conscientização da população: — O governador Pezão determinou que o estado dê apoio aos municípios que estão precisando de ajuda. O reforço dos bombeiros vai aumentar a capacidade das prefeituras para as vistorias em imóveis urbanos — disse Luiz Antônio Teixeira Júnior, secretário estadual de Saúde. A estratégia de atuação dos bombeiros foi traçada com base em critérios técnicos, como o índice de infestação pelo mosquito e a capacidade dos municípios para a cobertura dos imóveis urbanos. — Os militares estão capacitados para abordar corretamente os moradores, identificar os focos do mosquito e alertar a população sobre os perigos da proliferação dos focos. A expectativa é que cada vez mais as pessoas se sensibilizem com a causa e colaborem com o poder pú- blico neste combate — acrescentou o coronel Ronaldo Alcântara. Também na luta contra o mosquito, o Ministério Público estadual, em conjunto com o Instituto de Educação e Pesquisa (IEP-MPRJ), criou uma nova ferramenta para combater o Aedes aegypti: o projeto MP em Mapas, que tem ainda a parceria com o governo do estado e o município do Rio. O objetivo do órgão é apresentar periodicamente informações atualizadas sobre o que está sendo feito em cada município fluminense, permitindo diagnósticos mais rápidos e precisos para a atuação dos promotores de Justiça e dos gestores de saúde pública. MAPA COM AS INCIDÊNCIAS Esse mapeamento foi idealizado após reunião entre representantes do MP e do Executivo, na qual foi estabelecido o fornecimento de um fluxo contínuo de informações necessárias ao combate às doenças transmitidas pelo Aedes em cada localidade. Por meio de mapas, será possível saber, em cada município, as incidências das doenças, notificações de gestantes com exantema (manchas vermelhas na pele), casos notificados de microcefalia, imóveis vistoriados e com visita pendente pelas equipes de vigilância em saúde, entre outros números sobre serviços de relevância. O primeiro boletim, elaborado pelo IEP-MP e pela Coordenadoria de Apoio Operacional de Saúde do Ministério Público, já está liberado para consulta desde ontem, na instituição: www.mprj.mp.br. Basta clicar na área localizada à direita da página principal do órgão, onde está escrito IEP-MPRJ/ Informativos. l Instituto Butantã quer fazer soro contra o zika Oferta. O site da Women on Web : abortivos para mulheres com zika ONG holandesa oferece abortivo Por causa do vírus zika, Women on Web recebe três vezes mais e-mails DANDARA TINOCO E SIMONE CANDIDA [email protected] D esde que lançou no início do mês uma campanha para enviar gratuitamente comprimidos abortivos para grávidas contaminadas com o vírus zika em países da América do Sul, a organização holandesa Women on Web viu triplicar a quantidade de e-mails pedindo ajuda e informações. Além do Brasil, a ONG vem recebendo mensagens de lugares como Colômbia, Bolívia, Venezuela, Argentina, Honduras, El Salvador, Panamá, Haiti, República Dominicana e México. Segundo a ONG, ainda não é possível afirmar quantas brasileiras efetivamente contaminadas já solicitaram e receberam o medicamento, mas o crescimento do número de mensagens dá uma dimensão do problema nos países onde a interrup- ção de gestação é proibida ou sofre restrições. Em média, a entidade recebe cerca de dez mil e-mails em português por ano. Em espanhol são outros dez mil. Diante dos casos de bebês com microcefalia associada ao vírus zika, a ONG decidiu oferecer medicamentos abortivos a grávidas com a doença. As interessadas precisam preencher um questionário on-line e enviar os exames comprovando a contaminação. As que se encaixam no perfil (com até nove semanas de gestação) recebem pelos Correios o envelope com comprimidos de mifepristona e misoprostol (substância do Cytotec, medicamento para úlcera proibido no país e usado clandestinamente em aborto). De acordo a ONG, no Brasil os pacotes vêm sendo interceptados pela alfândega e enviados à Anvisa. Por email, a instituição disse que pediu ao governo brasileiro para liberar as remessas. Segundo os Correios, encomendas passam vistoria, e pacotes suspeitos podem ser abertos para controle e enviados à Anvisa. l Instituição e governos assinaram convênio para realizar estudos sobre a doença TIAGO DANTAS [email protected] -SÃO PAULO- O Instituto Butantã pretende desenvolver, dentro de um ano, um soro contra o zika, que seria capaz de tratar pessoas já infectadas e evitar que o vírus passe de mulheres grávidas para seus bebês. A iniciativa preveniria casos de microcefalia. Os pesquisadores também estudam incluir a prevenção à doença na vacina contra a dengue, que já chegou ao terceiro estágio da pesquisa e pode ficar pronta em 2018. Ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e o secretário de Saúde de São Paulo, David Uip, assinaram dois convênios com o Instituto Butantã, na presença da presidente Dilma Rousseff. De acordo com ela, o Brasil busca vários caminhos para combater a dengue e o zika e que, enquanto vacinas não estiverem prontas, a população deve continuar combatendo focos de mosquito. DILMA CONVOCA A SOCIEDADE A presidente lembrou que, em até dois terços dos casos, o mosquito está dentro das residências. Ela convocou a sociedade para procurar pontos de água parada em suas casas pelo menos uma vez por semana. — Entre o momento em que não temos a vacina e o soro e o momento em que eles estão prontos, só temos uma coisa a fazer: combater o mosquito — disse Dilma. O primeiro acordo entre o governo e a instituição prevê investimentos de R$ 300 milhões para pesquisa e produção da vacina contra a dengue nos próximos anos. Nesta terceira fase do estudo, as doses serão aplicadas em 17 milhões de pessoas. Na segunda fase, com 360 voluntários, a taxa de sucesso foi de cerca de 80%, de acordo com o governo do estado de São Paulo. O segundo convênio estabe- lece o envio de R$ 8,5 milhões da União para o soro que combate o zika. — Assim como aconteceu com a Aids, quando tivermos uma droga eficaz, interromperemos a passagem do vírus zika entre a mãe e o bebê — afirmou David Uip, que evitou dar prazos para que sejam apresentados resultados. — Ainda estamos muito no começo dos trabalhos, mas deve ser mais rápido. O governo paulista acredi- U PARA CASOS DE MICROCEFALIA BENEFÍCIO DE UM SALÁRIO-MÍNIMO -BRASÍLIA- O governo determinou aos profissionais da saúde e da assistência social que orientem todas as gestantes que tiveram zika — e cujos bebês nasceram com microcefalia — sobre a possibilidade de receberem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), de um salário-mínimo, caso se enquadrem nas regras previdenciárias. A medida faz parte de uma instrução operacional baixada pelos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social. Para receber o BPC, é preciso ser maior de 65 anos ou ter deficiência severa, independentemente da idade, e ter renda familiar per capita inferior a um quarto do salário-mínimo. Embora a microcefalia tenha entrado em evidência recentemente, a doença é responsável por incapacitar ao menos 4.120 brasileiros, que recebem o BPC, segundo dados de dezembro levantados pelo INSS, a pedido do GLOBO. Há ainda 14 pagamentos relacionados à malformação cerebral, sendo 13 pensões por morte e um auxílio-doença. No total, os 4.134 benefícios associados à microcefalia no país consomem R$ 2,1 milhões ao mês. A instrução interministerial também autoriza que os recursos federais destinados à gestão do programa Bolsa Família possam ser usados pelo municípios em ações de combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus zika, da dengue e da febre chicungunha. Entre as medidas que poderão ser custeadas por esses recursos estão a aquisição de material para campanhas de conscientização, a realização de oficinas direcionadas às gestantes e famílias com filhos com microcefalia, deslocamento de equipes assistenciais para visitas e acompanhamento familiar. (Renata Mariz) ta que a elaboração do soro é mais rápida do que o desenvolvimento de uma vacina contra a zika, já que o Instituto Butantã tem experiência de mais de cem anos na produção de soros. Segundo o diretor do Instituto, Jorge Kalil, o trabalho duraria um ano. Outra frente dos pesquisadores de São Paulo tem o objetivo de testar se a prevenção ao vírus zika pode ser incluída no desenvolvimento de uma vacina contra a dengue. — A gente ainda não sabe se a vacina contra a dengue vai funcionar para zika, mas vamos testar. Como os estudos sobre a doença são muito parecidos com a pesquisa sobre a dengue, a vacina contra a zika deve ser mais rápida — afirma Kalil. VERBA PARA FÁBRICA DE VACINAS Do financiamento garantido pelo governo federal, R$ 100 milhões serão repassados pelo Ministério da Saúde e R$ 100 milhões virão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para fazer os testes em voluntários. Os outros R$ 100 milhões, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), serão usados para instalar uma fábrica de vacinas quando a pesquisa terminar. A presidente Dilma Rousseff deve se reunir hoje com a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, e com a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne. Após o encontro, em Brasília, as duas irão para o Recife, na quarta-feira. l 10 l O GLOBO l Rio l RIO Previsão O sol predomina, a temperatura sobe rápido e faz calor na maior parte do estado. O aquecimento da tarde causa pancadas isoladas de chuva na Costa Verde, no Vale do Paraíba e na Região Serrana. HOJE Ontem Mínima Máxima 22,6˚ Marambaia 35,3˚ Marambaia ZONA SUL ZONA NORTE ZONA OESTE SENSAÇÃO TÉRMICA/RIO PROBABILIDADE DE CHUVA 23°/33° 22°/36° 23°/36° 24°/39° Baixa 23°/35° 22°/38° 22°/38° 23°/40° Baixa 35° QUINTA 24°/35° 23°/38° 23°/38° 25°/42° Alta 21° Santo Antônio 21° de Pádua SEXTA 24°/33° 23°/36° 24°/36° 25°/40° Alta SÁBADO 24°/34° 23°/37° 24°/37° 25°/41° Alta DOMINGO 28°/30° 22°/36° 23°/36° 24°/39° Alta SEGUNDA 26°/25° 23°/34° 24°/34° 24°/38° Alta 20° do Sul 26° Visconde Lua 16° de Mauá Impróprias (Inea): Flamengo, Botafogo, Urca, Ipanema, Leblon, Vidigal, São Conrado, Pepino e Barra (Quebra-Mar). Marés RIO DE JANEIRO Alta Baixa Alta Baixa Hora 3h09m 9h45m 15h06m 22h02m 0,2m 1,3m 0,0m Altura 1,2m ANGRA DOS REIS Alta Hora 3h25m Altura 1,2m Baixa Alta Baixa 9h20m 15h18m 21h35m 0,3m 1,2m 0,1m CABO FRIO Alta Baixa Alta Baixa Hora 2h54m 9h14m 14h42m 21h32m 0,3m 1,2m 0,1m Altura 1,1m Valença 31° Volta 30° 37˚/40˚ 17° 34° Teresópolis SERRANA 29° Nova Friburgo 15° 22° MUNDO 21° AMÉRICA DO SUL Mín. Máx. Campos 24° São João da Barra 22° 35° 23° Casimiro 35° de Abreu 24° 23° Vento de nordeste a sudeste/leste, entre 10km/h e 30km/h. Rajadas de até 55km/h. Pressão atmosférica de 1.015Pa. Ondas de 0,5 metro. Ondulação de leste. Melhores locais: Prainha, Grumari e Recreio (informações Ricosurf). Macaé BRASIL Risco de temporal entre São Paulo 21°/ 27° Porto Alegre 23°/ 33° 24° 9° 25° 18° 4° 23° 20° 10° 12° 35° 16° 30° 27° 10° 28° 35° 29° 34° Amanhã Mín. Máx. C S S C C S S S S 24° 9° 26° 20° 4° 23° 21° 10° 13° 0h 34° 18° -2h 0h 32° 27° -1,5h 10° -1h 28° -2h 0h 36° 27° -2h 0h 34° AMÉRICA DO NORTE/CENTRAL Santa Maria 30° Madalena 19° 35° C C S S C S S S S Assunção Bogotá Buenos Aires Caracas La Paz Lima Montevidéu Quito Santiago 34° 34° 35° Hoje 33° São Francisco de Itabapoana NORTE São Fidélis 21° TEMPERATURAS MÁXIMAS Acima de 40˚ 29° Itaperuna Bom Jesus do Itabapoana Redonda Barra 33° 33° Cachoeiras 35° Rio das Santa Catarina, São Paulo e Resende 21° 28° 22° de Macacu do Piraí 22° Petrópolis 21° Mato Grosso do Sul e no 23° Ostras 16° 31° Barra SUL Amazonas. Sol no litoral do Silva Jardim 34° 33° Mansa 21° 36° Duque 25° Rio e do Espírito Santo, no Búzios 23° LAGOS de Caxias 34° norte de Minas e no oeste 34° 23° 33° Niterói 24° Araruama Cabo Frio 33° da Bahia. Calor e pancadas 23° 23° Mangaratiba 36° Rio de 23° de chuva nas demais áreas. 34° Janeiro Saquarema 34°Maricá 22° 24° Angra 33° 24° METROPOLITANA Macapá Fortaleza dos Reis Boa Vista 23° 33° 25° / 34° 25°/ 31° Natal 24°/ 34° Paraty 23° 24°/ 30° São Luís Belém 23°/ 32° Manaus João Sol 24°/ 33° 24°/ 33° Pessoa Nascente Poente 24°/ 30° Porto Velho Teresina 5h46m 18h27m Recife 24°/ 31° 24°/ 33° 24°/ 30° Palmas Rio Branco Maceió 36° 25°/ 37° 24°/ 31° 23°/ 31° Aracaju Salvador Brasília Cuiabá 25°/ 31° 23°/ 32° 19°/ 31° 25°/ 35° Vitória Campo Grande 25°/ 34° 21°/ 29° Belo Horizonte 20°/ 32° Goiânia Rio de Janeiro 21°/ 33° Ondas Ventos 22°/ 36° 31° Praias 32° Porciúncula 20° AMANHÃ 34° Paraíba Crescente Cheia Minguante Nova 15/03 22/02 1/03 8/03 Terça-feira 23 .2 .2016 Florianópolis 22°/ 30° Cid. do México Havana Los Angeles Miami Montreal Nova York Orlando Washington DC S S S S S S S C 10° 19° 15° 19° -22° 0° 18° 5° 25° 30° 28° 29° -10° 8° 28° 8° S S S S Ne C C C 10° 22° 14° 21° -12° 1° 18° 5° 24° 32° 27° 30° -2° 8° 28° 11° -3h -2h -5h -2h -2h -2h -2h -2h S S S N C C C S S S S C S 6° 9° 6° 2° 3° 3° 4° 7° 2° 2° -2° 3° 12° 7° 20° 18° 7° 8° 10° 10° 17° 8° 16° 1° 11° 14° C C S S S S C C S S S S S 4° 11° 6° 0° 1° 0° 3° 8° 0° 4° -3° 1° 11° 6° 17° 18° 5° 7° 6° 9° 15° 6° 14° 1° 8° 15° +4h +5h +4h +4h +4h +4h +4h +3h +3h +4h +6h +4h +4h EUROPA Amsterdã Atenas Barcelona Berlim Bruxelas Frankfurt Genebra Lisboa Londres Madri Moscou Paris Roma ÁSIA Jerusalém Pequim Tóquio C 7° 13° S -5° 1° S 6° 10° S 8° 18° +5h S -6° 4° +11h S 1° 9° +12h Cairo S 9° 21° Johannesburgo C 16° 26° S 11° 24° +5h C 17° 28° +5h ÁFRICA OCEANIA Sydney S: sol S 18° 32° N: nublado S 18° 35° +14h C: chuvoso Ne: neve Mais informações sobre o tempo NA INTERNET Curitiba 19°/ 27° oglobo.com.br/servicos/tempo/ PREVISÃO 34˚/36˚ 31˚/33º 28˚/30˚ 25˚/27˚ 22˚/24˚ 18˚/21˚ 13˚/17˚ Abaixo de 12˚ Sol Parcialmente nublado Nublado Sol com pancadas de chuva Nublado com chuvas Chuvas com trovoadas Jovem morre durante operação na Maré REPRODUÇÃO Polícia diz que houve confronto; moradores alegam que adolescente trabalhava Um jovem de 19 anos foi morto ontem de manhã durante um intenso tiroteio entre bandidos e policiais no Complexo da Maré. Segundo moradores, a vítima, identificada como Igor Silva, trabalhava numa farmácia no Parque União e não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Ele foi baleado no peito, segundo relatos de testemunhas, durante uma operação da Polícia Civil, e chegou a ser levado, numa caminhonete da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), ao Hospital Geral de Bonsucesso, mas não resistiu. De acordo com o delegado da especializada, Fabrício Oliveira, o jovem foi morto durante confronto com a polícia. DELEGADO: VÍTIMA ESTAVA ARMADA O delegado disse ao site “G1” que foram encontrados com Igor uma pistola calibre 40, um rádio e três coletes à prova de bala. — São pessoas que desde novas estão acostumadas a trocar tiros. Hoje não foi diferente. Tivemos diversos confrontos e, em um deles, um policial conseguiu reagir e alvejou esse garoto. O caso agora está com a Polícia Civil, que vai fazer o procedimento padrão, ouvir testemunhas e fazer a perícia — disse o delegado, que afirmou ainda que um traficante identificado como Almir Carlos Júnior foi preso na operação. De acordo com o delegado-adjunto da 21ª DP (Bonsucesso), Neilson Nogueira, um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte de Igor. Os policiais envolvidos no caso prestaram depoimento e tiveram as armas apreendidas.. Nas redes sociais, moradores da Ma- Vítima: Igor Silva: tiro no peito na Maré Pelas redes sociais, moradores reclamaram de operações policiais realizadas durante horário escolar ré contestaram as informações do delegado da Core: “‘Estamos revoltados!! A policia vem, mata e vai embora. Hoje mais um adolescente foi morto pelo estado nessa cidade que dizem ser maravilhosa”, diz um trecho de uma das publicações, para, em seguida, continuar afirmando que o jovem era inocente. “Igor Silva trabalhava na farmácia e não tinha envolvimento com o tráfico e mesmo assim foi sentenciado à morte. Não que uma pessoa envolvida com o crime mereça morrer, ninguém merece ser assassinado, mas nesse caso a revolta toma conta do meu peito grandemente. A vontade é de ir pra pista e gritar, gritar e gritar. Quebrar tudo para ver se alguém olha aqui pra gente!” SALA DE AULA ATINGIDA POR TIROS Também no Facebook, moradores reclamaram das operações em horário escolar: “Isso é uma falta de consideração com moradores e crianças por causa das escolas. Na semana passada, todos os professores foram na 4ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação) para que essas operações mudem de horário por causa das crianças. Na semana do carnaval, que teve a primeira operação do ano, duas balas atingiram uma sala de aula no (Ciep) Vicente Mariano. Isso não pode continuar ”, relatou uma moradora. Outra classificou a situação como revoltante: “As crianças tiveram dois meses e meio de férias, e não teve uma operação nesse período, pelo menos que eu saiba. Agora que finalmente as aulas começaram, as crianças não podem ir à escola”. Segundo a Secretaria municipal de Educação, o conteúdo das aulas de ontem será reposto nas escolas que não abriram por conta do tiroteio. l BRAZ MONTEIRO CAMPOS 1 ANO DE PERMANENTE SAUDADE JORGE CARLOS CORRÊA DA SILVA ★ 26.06.1948 ✝ 17.02.2016 Marcia,Mariana e Octavio Espírito Santo,Patricia e Pedro Paulo de Barros Barreto,Helena, Sofia, Olivia, Ana Teresa e Jorge Paulo, viúva, filhas, genros e netos, respectivamente, convidam para a Missa de Sétimo Dia de seu querido Jorge Carlos, a realizar-se no dia 24.02.2016, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, situada na Rua Sete de Setembro, nº 14, Centro (esquina com Rua Primeiro de Março), às 11h. Avisos Fúnebres e Religiosos 2534-4333 Plantão sábado / domingo 2534-5501 Geada MARCELO CARNAVAL Chuva forte. Motoristas ficam ilhados na Rua da Relação, no Centro Temporal alaga ruas e afeta a volta para casa de cariocas Vias ficaram cheias no Centro e na Zona Sul. Sirenes da prefeitura tocaram em 6 favelas Um temporal na noite de ontem atrapalhou, mais uma vez, a volta para casa dos cariocas. A cidade entrou em estágio de atenção por volta das 19h30m e, uma hora depois, várias vias já estavam alagadas. Na Zona Sul, a Rua Paissandu virou um r io e motoristas tiveram dificuldade para trafegar na correnteza. A Praia de Botafogo também foi tomada pela água. Motoristas foram obrigados a andar em fila, pelo meio da pista, para tentar escapar do alagamento. As ruas Mena Barreto e do Catete também ficaram inundadas. Na região da Lapa, foram registrados vários bolsões d’água. Sirenes da prefeitura tocaram em seis favelas, entre elas os morros do Chapéu Mangueira e Santo Amaro, para alertar sobre riscos de deslizamento. Segundo o Centro de Operações da Prefeitura, os bairros da Urca e de Santa Teresa foram os mais atingidos. Em 15 minutos, foram registrados 19,8 mm de chuva na Urca, e 18,6 mm em Santa Teresa. Os bairros de Laranjeiras, São Cristóvão e Tijuca também sofreram com as pancadas de chuva. Na Baixada Fluminense, os rios Saracuruna e Pavuna, em Duque de Caxias e São João de Meriti, respectivamente, também entraram ontem em estágio de atenção, devido à possibilidade de transbordamento. O rio Barra Mansa, na região do Médio Paraíba, entrou em alerta máximo. l Terça-feira 23 .2 .2016 Dos Leitores | oglobo.com.br/participe Eu-repórter O GLOBO Autocrítica | Das redes sociais _ NA EDIÇÃO DE ONTEM: facebook.com/jornaloglobo facebook.com/jornaloglobo REPRODUÇÃO “O problema acontece desde dezembro passado. Enviei fotos e há seis meses a prefeitura fez uma vistoria com a promessa de que não haveria mais água empoçada” twitter.com/jornaloglobo URBANO ERBISTE REPRODUÇÃO Leonardo Rangel, sobre o medo da proliferação do mosquito Aedes aegypti na obra de uma construtora na Rua Retiro dos Artistas 909, no Pechinha, Jacarepaguá. A Secretaria municipal de Saúde afirmou que o local é vistoriado a cada 15 dias por agentes. | “Quem representa uma ameaça para a sociedade é ela” “O problema é chocolate de qualidade e preço acessível” Justiça nega pedido de Suzane Von Richthofen para fazer faculdade Consumo regular de chocolate melhora funções cerebrais, diz estudo Felipe Sonaglio Cartas e e-mails André Luís de Barros “Tomara que o coveiro não resolva se enterrar...” @cadrix5 Personal engorda 32 quilos para incentivar cliente a emagrecer com ele | As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Dos Leitores. O GLOBO, Rua Irineu Marinho 35, CEP 20233-900. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail [email protected] _ REFORMA DA PREVIDÊNCIA a Novas pesquisas demonstram que a Previdência pública faliu e que possui recursos só para mais um ano de pagamento das aposentadorias. Mas uma outra reportagem do GLOBO mostra o quanto os fundos de previdência aplicaram mal os recursos e faliram. No caso do Rio, será que foi diferente com o Rioprevidência? O que foi feito quando o barril de petróleo estava acima de US$ 100 e os royalties abundavam? Ainda sobre o Estado do Rio de Janeiro, o número de aposentados é superior ao de funcionários na ativa, mas, mesmo que fossem iguais, pelo modelo atual, dá para acreditar que um servidor concursado, recebendo o piso, sem reposição e sem ascensão, vai manter um aposentado que recebe o teto? Se é para reformar, que se faça uma reforma decente e perene, rediscutindo modelo de sustentação, cálculo de proventos e outras questões atuariais. CELSO FREDERICO FREITAS RIO _ MARQUETEIRO DO PT a O marqueteiro João Santana, que comandou as campanhas presidenciais de Lula e Dilma, está com mandado de prisão para explicar os milhões de dólares recebidos de empreiteiras no exterior. Sua declaração é de que voltará da Republica Dominicana, mas que “as acusações são infundadas” e causadas por “um clima de perseguição no Brasil”. O rótulo apropriado para essa reação do marqueteiro é “vitimose hipócrita”. CLAUDIO JANOWITZER RIO _ a Esse marqueteiro precisa também responder pelo crime de propaganda enganosa. Ele conseguiu enganar o eleitorado menos avisado, para não dizer menos outras coisas, e jogou o Brasil no buraco. O estrago foi tão grande, que as crianças de hoje vão chegar à terceira idade tentando colocar o Brasil nos trilhos e talvez não consigam. Cadeia nesses enganadores. JEOVAH FERREIRA TAQUARI, DF _ LULA NA BERLINDA a A rejeição ao petista Lula, o mais honesto ser do Brasil, aumentou seis Hoje no Acervo O GLOBO pontos desde outubro, segundo pesquisa inédita do Ibope. Sessenta e um por cento dizem que não votariam de jeito nenhum em Lula para presidente. É a maior taxa de rejeição entre seis presidenciáveis testados pelo Ibope e, pelo andar da carruagem, já que ele não fala a verdade sobre o tríplex e o sítio de 140 mil metros quadrados, a coisa deve piorar e muito. Fora as novidades na Operação Lava-Jato e a boca do Delcídio, agora livre, leve e solto para botar a boca no mundo. Qual será o fim disso? ANTONIO JOSÉ G. MARQUES RIO _ a A telefônica Oi instalou uma antena de celular perto do enigmático sítio de Atibaia. Segundo um ditado popular, não existe almoço de graça. O Ministério Público de Portugal descobriu que, em 2010, Lula e José Dirceu convenceram o primeiro-ministro José Sócrates a autorizar a compra de 23% da Oi pela Portugal Telecomunicações. A transação custou 3,7 bilhões de euros aos cofres públicos lusitanos. Vários políticos portugueses participaram da ilicitude e, atualmente, Sócrates está preso por corrupção. Gostaria muito que o Ministério Público Federal brasileiro se pronunciasse sobre o fato. LUIZ FELIPE SCHITTINI RIO DE JANEIRO _ CONFIANÇA NOS POLÍTICOS a O caso de um vereador apanhado em flagrante gastando dinheiro público num bordel foi relatado recentemente pela mídia. Não é o primeiro, nem será o último. Recente pesquisa na China indica que as prostitutas são mais confiáveis que os políticos. É óbvio que, se essa pesquisa fosse feita no Brasil, daria o mesmo resultado, considerando o caráter licencioso de nossa classe política. IRIA DE SÁ DODDE RIO _ DELCÍDIO a A ameaça do PT ao senador Delcídio é puro blefe. Ele tem, imaginamos nós, informações que desnudariam o partido do avesso. Essa ameaça nunca se consolidará, e ele será protegido, como estão sendo José Dirceu, Genoino, Vaccari e todos os tesoureiros do partido. EDSON RODRIGUES DA SILVEIRA FILHO RIO MÁRCIA FOLETTO/4-2-1995 HÁ 35 ANOS, TENTATIVA DE GOLPE Tenente-coronel Tejero Molina e 200 homens ocupam Parlamento e detêm 350 deputados. Trens do Rio EM 1998, SÓ 10% ERAM SEGUROS Após 3 acidentes, SuperVia admitia situação precária da rede que acabara de assumir. NIXON FAZ VISITA HISTÓRICA Presidente americano encontra Mao Tsé-tung e Chu En-lai, em 22 de fevereiro de 1972. acervo.oglobo.globo.com _ CUMPRIMENTO DE PENA a A decisão para que condenados em segunda instância iniciem o cumprimento da pena é muito bem-vinda. Como disse o juiz Sérgio Moro, fecha-se uma janela da impunidade. Falta, agora, entre outras ações, rever os critérios de prescrição das penas. Por qual motivo se continua contando tempo para prescrição após iniciado o processo? Só interessa ao apenado. É sabido que juízes não têm prazo para julgamento e que o Código do Processo Penal admite um número excessivo de recursos. Se a contagem de tempo para a prescrição se encerrar no início do processo penal, outro passo importante será dado no sentido de diminuir a impunidade. A parcela honesta da sociedade muito agradeceria. ROBERTO PINHO LUZ RIO _ NOVA CONSTITUIÇÃO a A propósito do tema, já abordado recentemente neste jornal por um leitor (20/2), lembrei-me de reforçá-lo com um pensamento exposto pelo grande historiador brasileiro Capistrano de Abreu (1853-1927), que disse, com muita propriedade, já naquela época, simplesmente o seguinte: “Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição por: Artigo único — Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”. Será que não valeria a pena perseguir esse objetivo, após tantos anos de corrupção e mentiras? CARLOS CLAUDIO MIGUEZ BELO HORIZONTE, MG _ SOLUÇÕES PARA A PETROBRAS a Em artigo publicado no GLOBO (22/2), o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, diz que tem a fórmula para fazer a empresa crescer juntamente com o país. Citou três formas que resolveriam a questão em curto prazo, mas não mencionou uma quarta, que a grande maioria dos contribuintes gostaria de ver lembrada: a privatização, a exemplo do que aconteceu com Vale e Embraer, entre outras, que sozinhas independem de recursos públicos. Os contribuintes agradeceriam. GILSON CARLOS DE SOUZA MARTINS RIO Para a grande maioria do povo brasileiro que paga impostos e não vive de benesses do governo, a solução para o Brasil é simples: basta privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e outras tantas empresas estatais. É bom que fique claro que privatizar significa vender apenas o controle acionário. Com essas empresas bem geridas e sem malfeitos para desviá-las dos seus objetivos, só com os dividendos provenientes das ações nas mãos do Estado (máximo de 49%), o governo poderia bancar programas sociais e ainda reduzir inúteis e inchados órgãos de controle. MARCOS PAULO FERNANDES DE LUCENA RIO _ JUROS ALTOS a Diz-se que a taxa de juros no Brasil é a maior do mundo, inclusive alguns que se afirmam economistas. Mas a verdade é que ela é muito baixa. Façamos as contas. A Selic paga 14,25% ao ano. O imposto de renda leva 22,5% desse rendimento nominal, o que é um erro, pois está taxando capital. Deveria incidir somente sobre o ganho real. Assim, se retirarmos dos 14,25% o imposto de renda e a inflação anual de cerca de 10,67%, vamos chegar a um rendimento anual real de 0,3%. Ora, convenhamos, isso não é nada, ainda mais se considerarmos que esse índice não espelha a verdade inflacionária total. Começou o grande calote para diminuir a dívida pública. MAURICIO MIRANDA RIO _ USO IRREGULAR DE SIRENES a Será que existe algum ser humano favorável ao uso exacerbado de sirene nos veículos de socorro? Acionamentos sem nenhuma razão, ultrapassando os decibéis máximos permitidos; utilizações com o único propósito de beneficiar o condutor do automóvel, onde está apenas o motorista, sem ordem de serviço... Raciocinando bem, quando o acionamento das sirenes ajuda no socorro? Acredito que nunca, com os serviços hospitalares que temos. Se tivéssemos um atendimento eficaz, daqueles de seriados americanos, aí sim o uso se justificaria. Sou ex-agente de trânsito e fiz socorros em que, ao chegar ao hospital, sequer havia maqueiros para me ajudar a atender a vítima. ARAGUAIR PEREIRA IGUABA GRANDE, RJ _ P. 10: “Tudo se transforma.” “Ela transformou o véu do casório de uma cliente em uma... tela anti-mosquito.” Erro de grafia (o prefixo “anti-” tem hífen antes de “h” e “i”; nos demais casos, escreve-se junto). Certo: “...tela antimosquito. Na página 3 do Caderno Esportes: “Brasil tem grupo fácil...” “No D, cuja cabeçade-chave era a Argentina...” Erro de grafia (já não se usam os hifens nas palavras compostas em que há elemento de ligação). Certo: “...cabeça de chave era...” P. 5: “Desfile das zebras.” “Eliminada na estreia em 2014, no Jockey, em sua primeira participação, a italiana, dessa vez, teve...” Mau uso do demonstrativo (a vez atual). Certo: “...desta...” P. 5: “César Castro se garante nos Jogos do Rio.” “Conquistou ali a medalha de prata que conquistou no mesmo local nos Jogos...” Repetição de “conquistou”. Melhor: “Conquistou ali a medalha de prata que obteve no mesmo local...” _ NA EDIÇÃO DE DOMINGO: _ P. 3: “Inimigo há três décadas.” “Agora, o valor previsto é de R$ 2,37 bilhões.” Crítica: “de” a mais. Certo: “...o valor previsto é R$ 2,37 bilhões.” P. 9: “Marqueteiro de Lula e Dilma se põe...” “Tofic pede para que eles sejam ouvidos...” Erro de regência: “para” a mais. Certo: “Tofic pede que eles sejam...” P. 22: “Uma empresa que desceu para o ‘play’.” “Uma dia ela foi chamada na escola do filho...” Erros de concordância e de regência. Certo: “Um dia ela foi chamada à escola do filho...” P. 34: “Tecnologia que põe fim ao silêncio.” Na legenda: “...um implante coclear que a permitiu voltar a ouvir.” Erro de regência no emprego do pronome pessoal. Certo: “...que _ lhe permitiu...” NA EDIÇÃO DE SÁBADO: _ P. 6: “O que sei (ou acho que sei) sobre o caso FHC-Mirian Dutra.” “...Mônica revelou que a pensão devida por Renan à ela era paga...” Mau uso do acento grave. Certo: “...devida por Renan a ela...” P. 22: “Geração perdida.” “...a tendência contrária a de outros grupos...” Falta do acento grave (indicador da crase). Certo: “...à de outros...” P. 24: “Novos olhos no Universo.” “...a Nasa deu sinal verde para o projeto observatório espacial para ajudar a responder justamente estes mistérios...” Erro de regência. Certo: “...responder justamente a estes...” Este é o resumo da crítica realizada e supervisionada pelo professor Ozanir Roberti, sob a coordenação do jornalista Aluizio Maranhão, editor de Opinião do GLOBO. A crítica completa é distribuída todos os dias na Redação. LEIA A ÍNTEGRA DA COLUNA NA WEB oglobo.com.br Espanha EUA e China l 11 Fotogaleria ROLLING STONES NO BRASIL Visitante desde 1968, banda fez dois shows no Maracanã em 1995. Há 50 anos 23 de fevereiro de 1966 Carnaval teve ponto alto no desfile das escolas de samba Casou-se Pelé e já está em lua-de-mel na Alemanha As Escolas de Samba foram mais uma vez o ponto alto do carnaval carioca, trazendo vibração às ruas e atraindo ao Rio milhares de turistas estrangeiros e do interior, numa demonstração eloqüente do prestígio da maior festa popular do Brasil. O desfile da Presidente Vargas, em que se salientaram as tradicionais Salgueiro, Império Serrano, Mangueira e Portela, emocionou os espectadores, que lotaram as arquibancadas. A cidade teve um dos carnavais mais tranqüilos de todos os tempos, devido à campanha preventiva desencadeada um mês antes pela polícia. Edson Arantes do Nascimento, que casou anteontem em Santos, com Rosemary Reis Cholby, está em lua-de-mel na cidade de Munique, Alemanha, para onde se dirigiu ao desembarcar em Francoforte, ovacionado por uma multidão de fãs no aeroporto. Em Santos, tentou o maior drible de sua vida, que seria a realização do casamento sem que os torcedores e os jornalistas soubessem, mas houve vigília de 36 horas e, no momento da cerimônia, pelo menos quinhentas pessoas estavam na calçada de sua residência. Os noivos seguiram para a Alemanha na segunda-feira mesmo, à tarde. 12 l O GLOBO Terça-feira 23 .2 .2016 OGLOBO | Opinião | Dilma não fará o ajuste fiscal necessário O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, passa a semana na China, onde participará da reunião do G-20, na qual falará sobre as reformas da Previdência e fiscal que o governo Dilma pretende executar. No caso das mudanças no quadro fiscal, explicadas por Barbosa na sexta-feira em Brasília, quem não estiver acompanhando o cotidiano das resistências do governo a de fato reduzir gastos poderá chegar à falsa conclusão de que, enfim, a crise brasileira será estancada. E não é bem assim. O próprio anúncio dos “cortes”, na sexta, beirou a bizarrice, pois, ao reduzir, no Orçamento deste ano, R$ 23,4 bilhões em despesas, e, ao mesmo tempo, pedir ao Congresso que lhe permita abater da meta fiscal da União R$ 84,2 bilhões — certamente devido à frustração de arrecadação —, na prática o que o governo Dilma deseja é converter Governo anuncia cortes, mas quer acumular novo déficit primário, e apresenta programa de medidas fiscais ‘de longo prazo’ que já deveriam ter sido tomadas Mas a proposta de reforma fiscal exposta por Barbosa faz sentido. O governo, enfim, admite que a correção de grande parte das despesas previdenciárias e ditas sociais pelo salário mínimo, 43% dos gastos primários do Orçamento, é inviável. Por isso, inclui entre as medidas a tomar, quando os gastos ultrapassarem a previsão inscrita na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a suspensão do reajuste real do salário de base. A reforma prevê cortes e congelamento de despesas por estágios. O projeto de Barbosa é bem-vindo e merece ser aprovado. Mas chega muito tarde, e ainda é apresentado pelo ministro como de “longo prazo”. A presidente Dilma deveria ter assumido o segundo mandato e logo estabelecido meta para os gastos e adotado o arsenal de ações para manter os dispêndios sob controle. Porém, certamente por falta de o objetivo de um superávit primário de 0,5% do PIB, em todo o setor público, num déficit de 1%. Confirma-se, então, que o Planalto não executará mesmo o ajuste fiscal necessário para recuperar a confiança no país. Empresas não voltarão a investir e consumidores, a consumir. O Brasil ruma, assim, para a situação dramática e inédita de dois anos seguidos de crise profunda, talvez até mesmo três, com inevitáveis reflexos no quarto. Uma enorme tragédia. convicção e também de condições políticas de contrariar o PT e os movimentos ditos sociais, empurrou para frente o inevitável — o ajuste —, e agora assiste impassível a agências internacionais de avaliação de risco cortarem sucessivamente a nota do Brasil. O tempo passa, e o país troca de lugar com a Argentina nas avaliações mundiais das economias do continente, algo lamentável. Outro erro é resgatar da “contabilidade criativa”, que se pensava escanteada, artifícios para maquiar a execução orçamentária. Agora, Dilma e Barbosa contabilizam como receita da União R$ 12 bilhões que são na realidade dinheiro para pagar precatórios (dívidas públicas já reconhecidas na Justiça). Assim é que começou a ser corroída, em 2013/14, a percepção da economia brasileira. l Acordo para manter Reino Unido na UE é sensato O acordo alcançado no fim da semana passada entre líderes europeus e o premier David Cameron, garantindo o apoio do líder britânico à permanência do Reino Unido na União Europeia, é um passo importante para o projeto de integração e benéfico para ambos. De um lado, o bloco preserva em seu seio uma potência estratégica e historicamente importante e, de outro, o Reino Unido garante que sejam respeitadas as diferenças inconciliáveis, e mantém sua autonomia em áreas cruciais, como a City londrina, o centro financeiro mundial que dá a Londres o status de uma “cidade global”, como Nova York e Tóquio. Ao explicar o acordo aos parlamentares na Câmara dos Comuns, Cameron destacou exatamente o aspecto mutuamente vantajoso, lembrando que os países do bloco avançam em ritmos distin- A permanência da Grã-Bretanha no bloco é vantajosa para os dois lados, sobretudo nos termos do acordo do fim de semana, que preserva autonomia britânica tos: “Nosso status especial significa que o Reino Unido pode ter o melhor dos dois mundos. Nas partes da Europa que funcionam para nós, influenciando as decisões que nos afetam. Mas estaremos fora das áreas da Europa que não funcionam para nós.” Trata-se de um avanço importante que caminha coerentemente com o projeto de construção de uma federação europeia unificada. As pesquisas mais recentes apontam uma vantagem a favor da permanência do país no bloco europeu, embora também seja grande o número de indecisos, o que não permite apontar uma tendência para o referendo, a ser realizado no próximo dia 23 de junho. A perspectiva de uma saída do Reino Unido da UE, definida pelo neologismo “Brexit”, seria desastroso para o projeto de integração, que já passa por complexos desafios, como o intenso fluxo de refugiados do Oriente Médio que chegam ao continente, alimentando reações nacionalistas, sobretudo na Europa do Leste. Alguns países, por exemplo, propuseram o fim do tratado de Schengen, que permite a livre circulação nos países do bloco. No fim de semana, Boris Johnson, prefeito de Londres e provável sucessor de Cameron como líder dos conservadores, defendeu em um artigo no “Daily Telegraph” o voto pela saída dos britânicos da UE, para forçar uma nova negocia- ção (e um segundo referendo). A sugestão gerou polêmica e uma pronta resposta de Cameron. Johnson argumentou que o voto pela saída obrigaria as autoridades europeias a oferecerem mais vantagens aos britânicos. Em sua resposta, o premier britânico disse que proposta de Johnson equivalia a um casal entrar com um pedido de divórcio como melhor maneira de reatar a relação. A posição de Johnson, avaliam analistas, poderá ter impacto no referendo entre os indecisos e isso fez a libra despencar ontem para o menor patamar em sete anos. A saída dos britânicos da UE, sobretudo depois do acordo alcançado no último fim de semana, seria desastrosa para os dois lados, representando um risco para a integração europeia e o enfraquecimento do Reino Unido, como nação isolada. l DANIEL AARÃO REIS A primavera americana ‘B asta quer dizer basta! Este país e nosso governo pertencem a todos, e não a um punhado de bilionários!”. Com estas palavras, Bernie Sanders rompe com os padrões bem comportados da política e entusiasma aliados e simpatizantes. O candidato vai direto aos pontos essenciais: “Não representamos os interesses de Wall Street e das grandes corporações, nem queremos o dinheiro deles. O povo americano está dizendo não a uma economia baseada na fraude. Vamos criar uma economia que funcione para as famílias que trabalham, e não para os bilionários”. Sanders formula propostas concretas: sistemas de saúde e de educação gratuitos, financiados por taxações às grandes fortunas, à especulação financeira e às heranças. Regulamentação do sistema bancário, quebrando os mamutes financeiros em proveito de pequenas instituições que se dediquem ao sistema produtivo e não a especular com papéis sem lastro na economia real. “Se um banco é muito grande para falir”, gosta de dizer, “também é muito grande para existir”. Para deslanchar a economia, um plano de investimentos públicos, no valor de US$ 1 trilhão, gerando cerca de cinco milhões de novos empregos em cinco anos. Reajuste substantivo do salário minimo federal, que passaria dos atuais US$ 7,25 para US$ 15 dólares/hora. Legalização dos imigrantes que já entraram e nada de muros entre os EUA e os vizinhos. Impostos sobre as emissões de carbono e estímulos às tecnologias baseadas em ener- gias limpas. Na política externa, parcerias internacionais, em vez dos EUA como “polícia do mundo”. O candidato condena a promiscuidade obscena entre políticos e empresas, autorizada pela Suprema Corte, mas que falseia a democracia. Não aceita doações empresariais e sua campanha registra uma contribuição média de US$ 27. Na vida pessoal, Sanders multiplica gestos simbólicos, como viajar de avião como um cidadão comum, em classe econômica, fazendo recordar os hábitos modestos de José Mujica, ex-presidente do Uruguai. Palavras e promessas surpreendentes. Mais surpreendentes têm sido os resultados. Nas três eleições primárias realizadas, nos estados de Iowa (virtual empate, com pequena vantagem para a Sra. Clinton, 49,8% X 49,6%), New Hampshire (vitória folgada de Sanders, 60% X 38%) e Nevada (nova vitória apertada de Hillary, 52,6% X 47,3%), a animação dos partidários de Sanders aguentou bem o tranco da milionária campanha da adversária. O que o “fenômeno” Sanders evidencia é o desgaste da hegemonia do capital financeiro e a descrença no establishment político. Segundo pesquisas recentes, o candidato alternativo, entre os eleitores democratas de 17-24 anos, tem 86% das intenções voto. Na faixa entre 25-29 anos, dispõe de 81%. Retém a maioria também na faixa de 30-39 anos (65%). Entre os quarentões, Hillary inverte a tendência, mas ganha por magros Fale com O GLOBO PRESIDENTE Roberto Irineu Marinho VICE-PRESIDENTES João Roberto Marinho - José Roberto Marinho _ OGLOBO é publicado pela Infoglobo Comunicação e Participações S.A. DIRETOR - GERAL: Frederic Zoghaib Kachar _ DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR RESPONSÁVEL AGÊNCIA O GLOBO DE NOTÍCIAS Venda de noticiário: (21) 2534-5656 Banco de imagens: (21) 2534-5777 Pesquisa: (21) 2534-5779 Atendimento ao estudante: (21) 2534-5610 PUBLICIDADE Noticiário: (21) 2534-4310 Classificados: (21) 2534-4333 MARCELO ‘Fenômeno’ Sanders evidencia desgaste da hegemonia do capital financeiro e a descrença no ‘establishment’ cinco pontos percentuais e só amplia a vantagem entre os maiores de 50 anos, onde se distancia de Sanders por mais de 20 pontos. Como registra John Cassidy, com este tipo de apoio, é difícil Hillary apresentar-se como a “voz do futuro”. Geral e Redação (21) 2534-5000 Jornais de Bairro: (21) 2534-4355 Missas, religiosos e fúnebres: (21) 2534-4333. Plantão nos fins de semana e feriados: (21) 2534-5501 Loja: Rua Irineu Marinho 35, Cidade Nova International sales: Multimedia, Inc. (USA). Tel: +1-407 903-5000 E-mail: [email protected] Thomas Piketty sublinhou que Sanders retoma uma tradição inaugurada nos anos 1930, para lidar com uma outra crise provocada também pela sanha da especulação financeira. Assim, entre os anos 1930 e 1970, os EUA teriam empreendido uma “ambiciosa política de redução das desigualdades”, baseada num imposto “fortemente progressivo sobre as rendas e as heranças”. No período, o salário mínimo federal atingiu US$ 11/hora, e os impostos sobre as grandes fortunas e as heranças alcançaram picos entre 70% a 82% e estavam nestes pa- Classifone (21) 2534-4333 ASSINATURA/Central de atendimento: www.oglobo.com.br/centraldoassinante ou pelos telefones 4002-5300 (capitais e grandes cidades) e 0800-0218433 (demais localidades), de 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 12h Twitter: @falecom_OGLOBO. Facebook: facebook.com/espacodoassinanteoglobo Assinatura mensal com débito automáti- tamares quando Ronald Reagan assumiu a Presidência, em 1980, e começou a revogar estas políticas. Resultados? Explosão das desigualdades, remunerações mirabolantes, crescimento débil e estagnação das rendas das maiorias. As gestões de Bill Clinton e de Barack Obama quase nada fizeram para corrigir estas distorções. A campanha eleitoral mal começou, e a grande maioria dos analistas continua apostando no “realismo político” e nos dinheiros da Sra. Clinton. Ela se orgulha de ser capaz de “fazer as coisas funcionarem”. Do que se trata, porém, é saber de que modo, e para quem, as coisas estão “funcionando”. Nos anos 1960, era conhecido o slogan maoísta: “O vento do leste vencerá o vento do oeste”. Uma metáfora para dizer que a China revolucionária venceria o Ocidente capitalista. Não venceu. E de lá, há décadas, sopram apenas ventos associados ao bezerro de ouro. Nos EUA de hoje, ainda é cedo para dizer que sopra um vento reformista vitorioso. Mas já há ali mais do que uma aragem, e vai se transformando numa brisa forte. As próximas primárias dirão se teremos uma ventania, um tornado ou mesmo um tufão. Mas as folhagens das árvores da primavera americana que se aproxima parecem anunciar-se mais viçosas do que nunca, cativando o entusiasmo dos jovens e suscitando renovadas esperanças. l Daniel Aarão Reis é professor de História Contemporânea da UFF [email protected] Para assinar (21) 2534-4315 ou oglobo.com.br/assine co no cartão de crédito, ou débito em contacorrente (preço de segunda a domingo), para RJ/MG/ES: normal, R$ 95,33; promocional, R$ 83,90 VENDA AVULSA/Estados Dias úteis: RJ, MG e ES: R$ 4,00; SP e DF: 4,00; demais estados: 5,50; Domingos: RJ, MG e ES: R$ 5,00; SP: R$ 5,50; DF: 7,00; demais estados: 10,00 Carga tributária federal aproximada de 20% ATENDIMENTO AO LEITOR De 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 12h, Tel: (21) 2534 5200 oglobo.com.br/faleconosco O GLOBO é associado: ANJ - IVC - GDA - SIP - WAN Ascânio Seleme EDITORES EXECUTIVOS Chico Amaral, Paulo Motta e Silvia Fonseca _ Rua Irineu Marinho 35 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ CEP 20.230-901 Tel: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535 _ Princípios editoriais do Grupo Globo: http://glo.bo/pri_edit a EDITORES - País: Alan Gripp - [email protected] Rio: Rolland Gianotti - [email protected] Economia: Flávia Barbosa - fl[email protected] Mundo: Sandra Cohen [email protected] Sociedade: William Helal [email protected] Segundo Caderno: Fátima Sá - [email protected] Esportes: Márvio dos Anjos - [email protected] Fotografia: Claudio Versiani - [email protected] Arte: Rubens Paiva - [email protected] Opinião: Aluizio Maranhão - [email protected] Acervo e Qualificação: Gustavo Villela - [email protected] a SUPLEMENTOS - Boa Viagem: Léa Cristina - [email protected] Rio Show: Inês Amorim - [email protected] Ela: Renata Izaal - [email protected] Revista O GLOBO: Ana Cristina Reis - [email protected] Bairros: Milton Calmon Filho - [email protected] Site: Eduardo Diniz - [email protected] Videojornalismo: Roberto Maltchik - [email protected] Desenvolvimento de Plataformas: Maíra Carvalho - [email protected] a SUCURSAIS - Brasília: Sergio Fadul - [email protected] São Paulo: Aguinaldo Novo - [email protected] O GLOBO Terça-feira 23 .2 .2016 l 13 OGLOBO JOSÉ CASADO _ Na memória do telefone A prisão de “Vaca” o deixou inquieto. Àquela altura de abril de 2015, porém, mais preocupante era a situação de “RA”, um de seus principais assessores. Sempre dissera ao próprio e às famílias — inclusive à sua — que se algum dia pegassem alguém dele, iria “lá” para proteger. Assim fez no outono. Achou que “RA” seria preso, levou-o para casa. Aumentava o perigo, agora precisava pensar num Plano B. Na madrugada de uma quinta-feira da primavera passada, pegou seu iPhone preto de bordas cinzas, abriu a pasta “Calendário” e começou — era um homem que anotava: “Delação/fallback (RA)” — escreveu. O registro “fallback” era para não esquecer: alternativa extrema em cenário de prisão de “RA”, esgotados todos os recursos para livrá-lo. Acrescentou: “— Livrar todos e soh eu.” Ou seja, nessa hipótese, “RA” aceitaria o acordo de delação, mas em bastes restritas: livraria todos, deixando-o exposto, sozinho, diante do juiz, procuradores e policiais federais. Mostraria o plano a “RA”, e, com ele, passaria a todos a mensagem devida: no limite, era com ele — e, como até as crianças em casa sabiam, não entregava ninguém. Continuou desenhando um roteiro sobre o que “RA” diria num acordo. Por exemplo, sobre “Vaca”: “— Era amigo e orientado por eles pagou-se Feira de cta que eles mandaram. ODB pagava campanha a priori, mas eh certo que aceitava indicações a título de bom relacionamento.” A organização (“ODB”) adotara a prática de adiantar financiamentos de campanha, mas só das principais. Aceitava sugestões, eventuais. Seguiu, pensando na voz de “RA” em depoimento: “Campanha incluindo caixa 2 se houver era soh com MO, que não aceitava vinculacao.” Outra vez, ele posto no alvo. E se, nessa altura, o inquiridor argumentasse sobre “PRC”, o diretor da estatal, primeiro preso e delator premiado do caso? Então, “RA” poderia retrucar: “PRC soh se foi rebate de cx2”. Agora anotava em espasmos: “Nosso risco eh a prisão” ... “Acordo Leniência CGU?” — sim, era preciso cogitar. E ver com advogados: “Risco Swiss? E EUA?” Porém, ainda mais urgente, era a conversa com o mineiro, governador, com quem previa logo se encontrar. Registrou: “FP: — Ela cai eu caio; — Dar a dimensao”. Essas notas na memória de um telefone celular são de Marcelo Odebrecht (“MO”), ex-presi- Preso, o empreiteiro Marcelo Odebrecht não fala, mas suas anotações orientam a investigação que, agora, passou a ter a colaboração direta do governo dos Estados Unidos JOSEPH E. STIGLITZ E HAMID RASHID Contendo a fuga de capital dos emergentes O s países emergentes caminham para uma grande desaceleração este ano. Segundo o relatório da ONU “Perspectivas e Situação Econômica Mundial 2016”, seu crescimento será em média de apenas 3,8% este ano — a menor taxa desde a crise financeira global em 2009 e só comparável neste século com o ano recessivo de 2001. E é preciso ter em mente que a desaceleração na China e as recessões profundas na Federação Russa e no Brasil explicam apenas parte da ampla queda do crescimento. A preocupação não é apenas a queda dos preços das commodities, mas igualmente as volumosas fugas de capital. Entre 2009 e 2014, os países em desenvolvimento receberam um fluxo líquido de capital de US$ 2,2 trilhões, em parte devido às políticas de afrouxamento monetário nas economias desenvolvidas, que empurraram as taxas de juros para patamares próximos a zero. A busca por maiores lucros direcionou os investidores e especuladores para os países emergentes, onde os fluxos elevaram as alavancagens, os preços de ações e, em alguns casos, estimularam um boom dos preços de commodity. A capitalização de mercado nas Bolsas de Mumbai, Johannesburg, São Paulo e Xangai, por exemplo, quase triplicou nos anos que se seguiram à crise financeira. Os mercados de ações e outros países em desenvolvimento também testemunharam similares aumentos dramáticos neste período. Mas agora os fluxos de capital estão invertidos, tornando-se negativos pela primeira vez desde 2006, com a fuga líquida dos países em desenvolvimento em 2015 ultrapassando US$ 600 bilhões — mais de um quarto dos influxos que receberam nos seis anos prévios. As maiores fugas têm ocorrido mediante canais bancários, com os bancos internacionais reduzindo suas exposições brutas de crédito nos países em desenvolvimento em mais de US$ 800 bilhões em 2015. Fugas de capital dessa magnitude tendem a ter uma miríade de efeitos: acabar com a liquidez, elevar o custo dos empréstimos e dos juros de dívida, enfraquecendo as moedas, acabando com as reservas e levando a declínios de preços de ações e outros ativos. Há contágio na economia real, inclusive abatendo as perspectivas de crescimento dos emergentes. Esta não é a primeira vez que os países em desenvolvimento enfrentam os desafios de lidar com os ciclos do capital especulativo, mas as magnitudes desta vez são esmagadoras. Durante a crise financeira asiática, as fugas de capital das economias do Leste da Ásia foram de apenas US$ 12 bilhões em 1997. Claro, as economias do Leste da Ásia estão hoje mais bem preparadas para enfrentar tais fugas de capital, graças às reservas internacionais acumu- IGOR MACHADO A s Olimpíadas do Rio se aproximam, e já é possível fazer as primeiras avaliações sobre o desempenho das três esferas de governo, diante do desafio que foi — e ainda está sendo — preparar a cidade para um evento tão grande. Muito se discutiu sobre o legado dos Jogos, e não cabe agora pleitear muita coisa. A Perimetral foi derrubada, viadutos e pontes estaiadas mudam a paisagem da cidade, e a construção de mais e mais pistas para ônibus foi executada. O traçado do metrô, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e a modernização dos trens do subúrbio, que deveriam ter ficado assim, ficaram assado. Mas vamos ver... A engenharia nacional venceu os obstáculos. As grandes construtoras faturaram alto, criaram postos de trabalho e dinamizaram a economia regional. Os governos enxergaram bem este aspecto do empreendimento olímpico. Mas, por outro lado, não deram a devida atenção a determinados detalhes, como a gestão do dia a dia de serviços públicos essenciais. A rigor, os governos negligenciam as rotinas: a Prioridade relegada REYNALDO BARROS A ladas desde a crise financeira de 1997. O estoque global de reservas mais do que triplicou. A China, por exemplo, usou quase US$ 500 bilhões em 2015 para combater as fugas de capital e evitar uma forte depreciação do yuan; mas o país ainda tem mais de US$ 3 trilhões em reservas. Os estoques de reservas podem explicar em parte por que as grandes fugas de capital não desencadearam uma crise financeira em escala total nos emergentes. Mas nem todos os países têm a sorte de possuir um grande arsenal. Mais uma vez os defensores da livre mobilidade dos fluxos de capital de curto prazo estão sendo desmentidos. Muitos mercados emergentes reconheceram os perigos e tentaram reduzir a entrada de capital. A Coreia do Sul, por exemplo, vem usando uma série de medidas macroprudenciais desde 2010, voltadas para moderar os ciclos internacionais de passivos do setor bancário. As medidas adotadas foram apenas em parte bem-sucedidas. A questão é: o que eles devem fazer agora? Os setores corporativos em emergentes que aumentaram sua alavancagem com os fluxos de capital pós-2008 estão vulneráveis. A fuga de capitais vai afetar negativamente a cotação de suas ações, aumentar a relação dívida-capital, e elevar a probabilidade de calotes. O problema é mais grave nos emergentes exportadores de matérias-primas, onde as empresas se endividaram na perspectiva de que os altos preços das commodities fossem se manter. Muitos países em desenvolvimento não aprenderam a lição de crises anteriores, que deveriam ter gerado regulamentações e restrições tributárias, desencorajando exposições. Agora os governos precisam agir para não se tornarem passíveis des- sas exposições. Processos céleres de concordata poderiam garantir uma rápida reestruturação e gerar um modelo de renegociação de dívidas. Os países em desenvolvimento também deveriam encorajar a conversão de tais dívidas vinculando-as ao PIB ou outros tipos de bônus indexados. Aqueles com altos níveis de endividamento externo, porém com reservas, deveriam considerar resgatar suas dívidas soberanas, aproveitando a queda dos preços dos bônus. Embora as reservas possam prover algum colchão para minimizar os efeitos adversos da fuga de capitais, na maioria das vezes elas não serão suficientes. Os países emergentes deveriam resistir à tentação de elevar as taxas de juros para conter a fuga de capitais. Historicamente, esses aumentos tiveram efeito limitados. Na verdade, porque eles são nocivos para o crescimento econômico, reduzindo ainda mais a capacidade dos países de pagar os serviços das dívidas, taxas de juros elevadas podem ser contraproducentes. Medidas macroprudenciais podem desencorajar ou atrasar a fuga de capitais, mas estas medidas também podem ser insuficientes. Em alguns casos, poderá ser necessário aplicar controles de capital seletivos, direcionados e com prazos limitados para conter a fuga de capitais. l Joseph E. Stiglitz é vencedor do Prêmio Nobel de Economia, professor da Universidade de Columbia e economista-chefe do Roosevelt Institute. Hamid Rashid é chefe do Monitoramento Econômico Global do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU © Project Syndicate A cidade olímpica onde falta o básico ANDREA GOUVÊA VIEIRA dente da empreiteira homônima, e orientam a investigação judicial. Ele está preso há oito meses. “Vaca” é João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso em 15 de abril do ano passado. “RA” e “MF” são Rogério Araújo e Marcio Faria, ex-assessores de Marcelo na Odebrecht e seus companheiros de cela por quatro meses — foram soltos em outubro. “FP” é Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, segundo a polícia. “Ela” não teve a identidade sugerida no inquérito. Os riscos sobre as contas na Suíça, temidos por ele, se tornaram fatos nas cortes de Curitiba, Brasília e Berna. Ontem surgiu uma novidade: o Ministério Público Federal anunciou a ativa cooperação judiciária do Departamento de Justiça dos Estados Unidos na investigação sobre lavagem de dinheiro em que a Odebrecht é personagem central, com transferências a partir de bancos em Nova York. Na prática, significa a abertura de processo contra a empresa nos EUA, onde a Petrobras já se defende em tribunais. l rotina de fiscalizar, de garantir a segurança pública, limpar, conservar, não deixar a compra do material escolar e dos insumos hospitalares para a última hora... Enfim, ações que podem não ter o mesmo glamour de grandes obras de engenharia a inaugurar, mas que fazem toda a diferença na vida do cidadão. E, mais, deveriam funcionar no automático! Ora, parece que o castigo veio a cavalo, por ainda não termos aprendido que o diabo mora justamente nos detalhes, como dizia o gênio Guimarães Rosa, e que grandes festas correm risco se não os observarmos com muita atenção. E é, justamente, um pequeno detalhe que está gerando pânico nos organizadores dos Jogos: um detalhe que voa e pica — velho conhecido de todos nós, mas que nunca mereceu a devida atenção dos governos, que ora dizem que é municipal, ora é estadual ou federal: Sua Excelência, o Aedes aegypti, que, ao proliferar na água parada e na inércia dos governos, tem provocado doenças seriíssimas, medo na população e na comunidade de atletas que poderão passar algumas semanas perto do seu... criadouro. Aliás, como, desde outubro, a prefeitura do Rio abandonou o mapeamento dos focos do mosquito, sequer sabemos onde se concentram os nossos inimigos. Ao se arvorar com iniciativas espetaculares, o poder público no Brasil negligencia o básico. Quer o trem-bala antes de consertar os trens de subúrbio, quer construir refinarias de petróleo até onde não há jazidas próximas do óleo, tem uma legislação ambiental super avançada, mas não a cumpre. Não faltam exemplos! E, novamente, quis sediar a maior festa do esporte do planeta sem ter feito o essencial. Esqueceu-se, por exemplo, repito, do mosquito e da despoluição de rios e lagoas, que também provocam muitas doenças. Lembremo-nos que tuberculose está logo ali, na Rocinha... Nesta semana, o Ministério da Saúde apresentou estudo sobre o crescimento dos casos de sífilis, de consequências graves e cujo combate, segundo técnicos do ministério, requer medicamentos que estão em falta. Será que já providenciaram a compra?! Mas, que coisa (!), tudo isso são apenas detalhes. l Andrea Gouvêa Vieira é jornalista e ex-vereadora previsão de não cumprimento, em 2033, da meta de universalização do saneamento prevista no Plano Nacional de Saneamento Básico é uma miopia dos gestores públicos brasileiros. O problema não é a falta de engenheiros, projetos e muito menos de recursos financeiros. O que não há é uma gestão pública comprometida. Historicamente, o saneamento ambiental no país nunca foi prioridade de investimento para a manutenção da sadia qualidade de vida da população, como garante a legislação vigente. Embora a Organização Mundial de Saúde afirme que, para cada unidade de dinheiro investido em saneamento, se economize até cinco em saúde, o país continua ignorando esta conta. Dados do Instituto Trata Brasil mostram que, para atingir a universalização do saneamento, seriam necessários investimentos de R$ 270 bilhões. Porém, segundo a Confederação Nacional da Indústria, o investimento em saneamento manteve uma média de R$ 7,6 bilhões por ano no período de 2002-2012 e, se considerarmos este mesmo ritmo de investimento para as próximas décadas, estima-se que toda a população do país só seja atendida com água encanada em 2043 e, com acesso à rede de esgoto, somente em 2054. O problema é que não se pode atribuir este déficit de saneamento apenas à ausência de investimentos, pois mesmo quando os recursos são destinados de forma concentrada em algumas regiões do Brasil, os resultados se mostram insatisfatórios. Isto pode ser comprovado Índices de analisarmos tratamento de ao os resultados pífiesgoto são os do Programa de Despoluição vexatórios da Baía de Guanabara, que se iniciou ainda na década de 80, no qual já foram gastos mais de R$ 10 bilhões, e que não foi concluído, sendo alvo de inúmeras críticas, principalmente em função das ameaças ao projeto olímpico de 2016. Outro debate importante é que a água tratada se tornou um dos mais importantes ativos públicos, com 93,2% da população atendidos, segundo os dados oficiais do Ministério das Cidades. O problema é o esgoto, que atende apenas à metade da população e tem uma perspectiva de mais de 40 anos de atraso para a sua universalização. Isto está relacionado ao fato de o esgoto ser considerado, há décadas, a metade pobre e oculta do saneamento, sendo tratado pelos gestores públicos com descaso e sem o devido retorno esperado pelos contribuintes, que pagam pelos dois serviços. Infelizmente, estes índices de tratamento de esgoto são vexatórios e somos, cada vez mais, o país dos rios poluídos, das praias impróprias para banho e do esgoto a céu aberto. Não faltam engenheiros capacitados e qualificados para planejar, executar as obras e para operar os sistemas. Podemos afirmar que temos uma das melhores formações em Engenharia Sanitária do mundo. O reconhecimento antecipado do governo federal de não atingir as metas de universalizar o saneamento é uma vergonha nacional! l Reynaldo Barros é presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) 14 l O GLOBO l Rio l Terça-feira 23 .2 .2016 Austrália proíbe atletas de irem a favelas durante as Olimpíadas REPRODUÇÃO País diz que mulheres devem ter US$ 10 no bolso para caso de ameaça REPRODUÇÃO GUILHERME RAMALHO [email protected] A chefe da delegação olímpica australiana, Kitty Chiller, afirmou ao jornal “Herald Sun” que os atletas do país não poderão circular por favelas e outras áreas consideradas perigosas durante os Jogos no Rio, em agosto. A reportagem, publicada no site do veículo no último domingo, afirma que especialistas em segurança estão preparando uma lista de “locais perigosos” da cidade. Kitty citou o assassinato da turista argentina Laura Pamela Viana, morta a facadas na Praia de Copacabana, na semana passada. Segundo o jornal, nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, os atletas australianos puderam circular livremente pela cidade, o que não acontecerá este ano no Rio. Nem mesmo os passeios oficiais dentro de favelas serão permitidos. “Não queremos atletas trancados em seus quartos a partir das 20h, mas temos o dever de cuidar deles. Algumas áreas serão banidas. Não permitiremos que qualquer pessoa entre nas favelas. É a recomendação do Departamento de Relações Exteriores e Comércio da Austrália”, disse Kitty ao jornal. No ano passado, a secretária-geral do Comitê Olímpico Australiano, Fiona de Jong, também fez críticas à segurança na cidade. Afirmou ainda que os australianos “terão que ser cuidadosos na escolha dos lugares aonde vão, especialmente à noite e depois das competições”. De acordo com Kitty, haverá protocolos de segurança para os competidores: “As atletas do sexo feminino não devem viajar fora do grupo por conta própria, não podem vestir nada que não possa ser perdido e devem sempre ter US$ 10 no bolso em caso de ameaça”, disse. O alerta veio acompanhado de outra preocupação, com o vírus zika. A chefe da delegação afirmou que as atletas que estiverem pensando em engravidar terão liberdade para decidir se participarão ou não das Olimpíadas. DO HOTEL PARA A PISCINA E VICE-VERSA As recomendações parecem não ser tão severas para os dez atletas australianos que estão no Rio para participar da Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, realizada no Centro Aquático Maria Lenk, na Barra. A competição, que começou na última sexta-feira e termina amanhã, serve de evento-teste para os Jogos. Segundo a atleta Samantha Mills, de 23 anos, não há qualquer tipo de proibição para a equipe. Ela contou que a rotina dos integrantes do grupo tem sido basicamente sair do hotel, ir para a piscina (a seis quilômetros) e voltar. — Só recebemos recomendações básicas, como não falar com estranhos. Mas o hotel é seguro. Vamos embora na sexta-feira de manhã e só conheceremos outras partes da cidade na quinta- Preocupação. A reportagem, publicada pelo “Herald Sun”: especialistas em segurança estão preparando uma lista de “locais perigosos” da cidade para atletas evitarem feira, quando faremos um grande passeio guiado, de ônibus, pelos principais pontos turísticos — disse Samantha, que já garantiu sua vaga para os Jogos. — Concordo com a preocupação com a segurança. Entendo por que querem evitar a ida a favelas. O ideal é fazer tudo perto da vila. Não sabemos o que vai acontecer nas Olimpíadas. Haverá muito mais atletas e delegações. A atleta Teju Williamson, de 16 anos, também concorda com a recomendação de não entrar em favelas. — Há lugares que não parecem seguros e que podemos evitar. A embaixada da Austrália no Brasil disse que o governo do seu país disponibiliza recomendações para os viajantes no site http://smartraveller.gov.au/countries/brazil. Na parte sobre segurança, está dito que a incidência de crimes violentos, como assaltos à mão armada, é significativa, principalmente no Rio, em São Paulo, Recife, Salvador e outras cidades grandes. A Secretaria de Segurança e o comitê organizador dos Jogos foram procurados para falar sobre o assunto, mas não responderam à solicitação. l Sujeira. Vídeo em reportagem mostra atletas navegando em águas marrons Vídeo satiriza poluição da Baía e da Lagoa para os Jogos Animação mostra atletas remando em águas marrons e com diarreia e vômito após competição As condições das águas da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, onde serão realizadas provas de vela e remo, ainda causam polêmica às vésperas das Olimpíadas. Um vídeo do site Taiwan TomoNews, que ilustra uma reportagem sobre a poluição dos dois locais, mostra atletas em meio a lixo e águas marrons por causa do esgoto despejado. Em pouco mais de um minuto, a animação não poupa sequer o Cristo Redentor, que aparece defecando. O desenho também explora os supostos riscos que os competidores poderiam enfrentar ao entrar na água. Atletas são mostrados sofrendo de diarreia e vômito. O vídeo diz ainda que houve orientação para que os participantes dos Jogos sejam vacinados contra Hepatite A e tomem banho ao saírem das provas. Segundo a publicação, que confundiu a promessa de despoluição da Baía com a da Lagoa, “quando se candidatou a ser sede dos Jo- gos, o Rio prometeu ao COI eliminar 80% de esgoto da Lagoa que receberá eventos de remo e canoagem e revitalizá-la. Mas isso não acontecerá porque faltaram comprometimento, fundos e energia. A água não está apenas cheia de lixo, mas também com vírus e bactérias. Atletas receberam recomendação para tomarem vacina contra Hepatite A, pólio e pílulas contra tifo. Barcos serão constantemente limpos com água sanitária”, diz o site. O vídeo gerou indignação entre brasileiros. Em redes sociais, usuários postaram fotos de praias limpas. Procurado ontem, o prefeito Eduardo Paes não comentou o vídeo. O Comitê Rio 2016 não retornou os pedidos do GLOBO. A Cedae afirmou, em nota, que o vídeo não expressa a opinião de um governo ou entidade ligada aos Jogos. Também disse, que nos últimos oito anos e meio, o governo do Rio fez com que o índice de esgoto tratado saltasse de 11% para 51%, e que superará os 80% nos próximos três anos. Lembrou ainda que, durante eventos-teste, as raias olímpicas estavam dentro dos padrões exigidos para a prática esportiva. l Terça-feira 23 .2 .2016 O GLOBO Economia ARND WIEGMANN/REUTERS Renegociação de dívidas PÁG. 18 R$ 9,4 bi l 15 Fazendo caixa PÁG. 19 BTG VENDE BANCO SUÍÇO BSI POR R$ 4 BI É o alívio que os estados vão ter, em 12 meses, com o alongamento das dívidas renegociadas com a União, desde que se comprometam a cortar gastos Após a prisão do banqueiro André Esteves, grupo busca se desfazer de ativos. Comprador foi grupo financeiro EFG PROBLEMAS SEM FIM NO E-SOCIAL Difícil entrar, impossível sair _ Sistema para pagar FGTS de domésticas não registra demissão. Na Caixa, falta informação MARCOS ALVES MARCELLO CORRÊA [email protected] Se fazer o cadastro de empregados domésticos no e-Social — sistema criado para recolher as novas contribuições — já causou dor de cabeça para muitos patrões no ano passado, dar baixa de um funcionário em caso de demissão pelo novo sistema tem sido uma missão impossível. Isso porque, quatro meses após seu lançamento, a plataforma ainda não tem uma função para formalizar o desligamento de empregados. Sem o recurso, as guias para pagamento das contribuições continuam sendo geradas, mesmo após a saída da doméstica. Quando decidiu demitir a empregada, em dezembro, a fisioterapeuta Patrícia Macedo não tinha ideia de como proceder. Ela dispensou a empregada no dia 18 daquele mês e teve de pesquisar muito. Hoje, acha que conseguiu acertar as contas, mas ainda tem dúvidas. — Este mês de fevereiro, que pagaria relativo ao trabalho de janeiro, o nome dela ainda estava lá no sistema. Fiz tudo direitinho, paguei o 13º salário. Mas não sei se em março agora vai gerar de novo — conta Patrícia, que acha o sistema tão confuso que sequer sabe explicar como fez. — Mexi em muita coisa. O maior problema citado pelos usuários é que, sem a previsão de demissão no sistema, o cálculo da verba rescisória é mais complicado. Se o empregado tiver direito à multa de 40% sobre o FGTS, como nos casos de demissão sem justa causa, é preciso gerar uma guia separada no site da Caixa Econômica Federal. O documento, chamado Guia de Recolhimento Rescisório do FGTS (GRRF), calcula o valor da multa e demais verbas a serem pagas, como salário, férias e 13º proporcionais. Depois disso, é preciso ir ao e-Social para gerar a guia de recolhimento relativa ao último mês de trabalho. Nesse caso, é preciso editar o Documento de Arrecadação (DAE), para desmarcar as linhas de contribuição do FGTS relativo àquele mês, porque esses valores já devem ter sido lançados na GRRF. Além disso, o patrão precisa imprimir o termo de rescisão do contrato de trabalho e entregar ao funcionário. Ainda assim, o trabalhador continua constando como funcionário, já que é impossível dar baixa no empregado. A Receita Federal, responsável pelo sistema, admite que o e-Social ainda não conta com a “funcionalidade” de demissão. O manual disponível no site da ferramenta avisa que a opção só será lançada “no futuro”. Segundo o Fisco, a previsão é que a função entre no ar em março. “Melhorias no e-Social estão sendo implantadas continuamente. Como qualquer sistema, as funcionalidades são adicionadas aos poucos”, afirmou o órgão, em resposta ao GLOBO. A Receita informou ainda que o sistema tem hoje 1,2 milhão de empregados cadastrados. A Receita Federal admite que o e-Social ainda não conta com a “funcionalidade” de demissão DOMÉSTICAS DEMORAM A CONSEGUIR SACAR FUNDO Por enquanto, para evitar que as guias para pagamento continuem a ser geradas mesmo com o empregado demitido, a solução é alterar o salário para R$ 0,00 mensalmente, a partir do mês seguinte à demissão. O empregado continuará constando como funcionário, mas não haverá cobrança de encargos. Caso o doméstico tenha filhos com direito a salário-família, também é preciso editar a área de dados cadastrais e, na guia “Dependentes para Fins de Recebimento de Salário-Família”, marcar a opção “não”. Um erro comum dos patrões é tentar clicar no botão “excluir”, ao lado do nome do empregado demitido. A Receita explica que esse não é o procedimento correto. O comando apenas faz com que as informações sobre o empregado fiquem indisponíveis, mas não as elimina do sistema nem interrompe a geração de débitos. — Se excluir, acaba com todo o histórico. Isso não é recomendado. O problema é que o governo lançou o sistema sem a função — explica Mario Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal, que enviou uma lista ao Comitê Gestor do e-Social com sugestões para melhorar o sistema. Enquanto a função de demitir não é criada, domésticos que conseguirem um novo emprego po- Dúvidas sem resposta. A fisioterapeuta Patrícia Macedo teve dificuldades para demitir sua empregada em dezembro. Até agora, não sabe se terá encargos em março U A VIA-CRÚCIS PARA ENCERRAR O CONTRATO DE TRABALHO ELABORE O TERMO DE RESCISÃO: Não basta uma carta escrita a mão. É preciso baixar um arquivo no site do e-Social e preencher informações como quantidade de horas extras, 13º proporcional e deduções para o Imposto de Renda. O cálculo dos valores deve ser feito manualmente. É importante que o documento siga o modelo oficial. Do contrário, não será aceito pela Caixa Econômica Federal, quando o empregado for sacar o Fundo GERE A GUIA DA CAIXA: Em casos de demissão sem justa causa, é preciso ainda gerar a Guia de Recolhimento Rescisório do FGTS (GRRF). O documento será usado para recolher a multa sobre as verbas rescisórias, como o 13º salário e o aviso-prévio indenizado. A guia também serve para encerrar as cobranças mensais relativas ao FGTS PREENCHA A GRRF: O empregador deve informar o valor da remuneração no mês da rescisão. O campo “valor remuneração mês anterior à rescisão” deve ser deixado em branco, caso o patrão esteja em dia com o e-Social, ou seja, já tenha recolhido o FGTS daquele mês. O espaço “saldo da conta FGTS Trabalhador” também deve ficar zerado, se o empregador só passou a contribuir para o Fundo a partir de outubro, quando o recolhimento passou a ser obrigatório. Ao pagar o e-Social nos meses anteriores, já houve uma cobrança para cobrir a multa de demissão dem ficar cadastrados como funcionários de dois empregadores diferentes ao mesmo tempo. Segundo a Receita, isso não impede que o empregado seja recontratado. E o Ministério do Trabalho informou que a permanência no e-Social não impede o demitido de requerer o seguro-desemprego. Para conseguir o benefício, basta apresentar o termo de rescisão e a carteira de trabalho. O advogado Otavio Pinto e Silva, sócio do escritório Siqueira Castro, explica: — A legislação não exige exclusividade na prestação de serviços. Em tese, a pessoa pode ter dois empregos e pode ter dois registros. Isso não inviabilizaria a recontratação. Mas é lógico que é importante que exista essa funcionalidade no sistema, para que o empregado se sinta confortável com a extinção de um contrato que não existe mais. Para os empregadores, a existência de dois SAQUE DA MULTA PELO EMPREGADO: A GRRF deve quitada em qualquer agência da Caixa. A partir do quinto dia útil após o pagamento, o empregado pode ir ao banco para sacar o fundo e a multa rescisória. O funcionário do banco não pode exigir a homologação PREENCHA O DAE NO E-SOCIAL: No e-Social, o empregador deve informar, como remuneração do mês, a soma das verbas rescisórias — o mesmo valor informado na guia da Caixa. Nesse caso, o valor será usado para calcular a contribuição ao INSS do último mês trabalhado pelo empregado doméstico. EXCLUA O PAGAMENTO DE FGTS: Normalmente, a guia do e-Social calcula a contribuição para o FGTS. No mês da rescisão é diferente. Essa cobrança é feita por meio da guia da Caixa. Para não contribuir duplamente, o empregador deve desmarcar a linha “FGTS”, antes de gerar o DAE. Só devem ser mantidos os valores relativos ao INSS. SALÁRIO ZERO NO E-SOCIAL NOS MESES SEGUINTES: O empregado continuará no sistema, mesmo após a demissão. Para evitar cobranças, é preciso lançar salário R$ 0,00 nos meses seguintes à rescisão. Nos casos em que houver contribuição para o salário família, é necessário ainda marcar “não” na opção do sistema sobre o pagamento do benefício, para que também não seja gerada a cobrança. sistemas trabalhando separadamente aumenta o risco de de erros e pagamentos indevidos, como aconteceu com Renata Maia, que acabou pagando o FGTS duas vezes: — Consegui (fazer a demissão), mas tive um estresse enorme. Fiz muita pesquisa para encontrar informações de como pagar a rescisão. Depois que paguei, minha funcionária foi à Caixa, mas não conseguiu sacar porque o recibo que eu dei não era o oficial. Lógico, eu não tinha ideia de que era preciso tal documento. Então encontrei o documento correto na internet e demorei mais um tempão para descobrir os códigos para preenchimento. Mas o que mais me incomodou foi pagar mensalmente a porcentagem para rescisão, embutida no Simples, e ter de pagar de novo à Caixa a multa total. O problema também atinge as domésticas, que acabam demorando mais para receber. No Sindoméstica, sindicado das empregadas de São Paulo, os problemas têm sido constantes. — A Caixa não está muito bem informada sobre esse programa. Muitas vezes eles não localizam o depósito, a empregada vem aqui. Aí a gente fala para irem a outra agência, e conseguem — relata Maria Sirlene de Souza, auxiliar administrativa que trabalha no atendimento do sindicato. Procurada, a Caixa informou que todo o procedimento pode ser feito pelo site do banco, por meio da GRRF. Segundo a instituição, além de servir para calcular as verbas rescisórias, a ferramenta informa quando o empregado pode comparecer à agência para sacar o dinheiro. O banco destacou que não é preciso apresentar a homologação, apenas o termo de rescisão e o comprovante de pagamento do e-Social. A complexidade do sistema tem feito profissionais como a administradora Claudia Sepulveda, especializada em consultoria para empregadores domésticos, ampliar a clientela. Ela conta que dobrou o número de atendimentos desde que o eSocial foi ao ar: — Não é que o o sistema seja malfeito. Ele é relativamente bom para uma pessoa que tenha uma noção. Além disso, você precisa ter conhecimento básico da legislação. ‘IMPOSSÍVEL CALCULAR SOZINHA’ Uma de suas clientes, a psicóloga Monique Leal, simplesmente desistiu de tentar entender a nova plataforma. Ela acabou ficando no prejuízo ao não conseguir lançar corretamente as informações de sua empregada, que entrou em licença-maternidade. O e-Social não prevê essa situação e acaba descontando a contribuição ao INSS total. Por lei, a parte da empregada deve ser deduzida diretamente de seu salário-maternidade. Para evitar isso, também é preciso alterar manualmente a guia do e-Social, o que Monique não fez. — O sistema é uma entidade. Quando é o salário, é tranquilo. Mas em qualquer evento trabalhista, você fica perdido — queixa-se Monique. A empresária Patricia Guarnieri também está insatisfeita com o sistema: — Impossível fazer sozinha os cálculos dos impostos a serem pagos por ocasião do desligamento da funcionária, quer demitida ou demissionária. l A WEB http://bit.ly/1KOzvEF Calculadora de encargos sobre salário da empregada doméstica 16 l O GLOBO l Economia l Terça-feira 23 .2 .2016 Em janeiro, um quinto dos acordos coletivos teve redução de salário [email protected] MÍRIAM LEITÃO Trabalhadores aceitaram ter jornada menor e ganhar menos, mostra Fipe DAIANE COSTA | | COM ALVARO GRIBEL (DE SÃO PAULO) O Plano Barbosa No Plano Barbosa, o aumento do déficit é imediato, e o limite para a despesa é uma possibilidade futura. A reforma da Previdência é só uma lista do que será discutido no Fórum e na qual não há a idade mínima. O sistema de limitar os gastos será anunciado depois, e a ameaça mais dura, a de não dar aumento real para o salário mínimo, é factoide, porque já não haverá aumento real do mínimo até 2019. O ministro Nelson Barbosa quis dar ao seu plano um ar de reforma estrutural, mas é o mais escancarado projeto de aumentar o desequilíbrio fiscal do país. Na prática, o Ministério da Fazenda joga a toalha e empurra com a barriga. O que ele chama de “reforma fiscal” é uma coleção de ideias preliminares de projetos ainda não formulados. Mas o que ele chama de “espaço fiscal” é o eufemismo para déficit, que vai se tornar realidade já, em 2016. Quem achou alto o rombo de 1% do PIB deve ler o “Valor Econômico” de ontem, em que o ministro mostra que há mais déficit por aí. Quando os jornalistas Ribamar Oliveira e Leandra Peres perguntaram se o impacto da renegociação da dívida dos estados e municípios está incluído nos R$ 84 bilhões de gastos excedentes às receitas que o governo anunciou na sexta-feira, ele respondeu: “seria preciso fazer o recálculo e adicionar isso aos R$ 84 bilhões”. E “isso" é um custo de R$ 36 bilhões. Quanto à reforma fiscal, ela funcionará assim: será formulado um projeto de lei para incluir na Lei de Responsabilidade Fiscal um limite plurianual de gastos federais que fique abaixo dos atuais 19% do PIB. Quando estiver aprovado, o Plano Plurianual será alterado para incluir esse limite. A Lei de Diretrizes Orçamentárias estabelecerá, então, um valor nominal de teto de despesas, que será seguido no Orçamento dos U anos vindouros. Os pontos-chave E se o limite estiver sob ameaça de não ser cumprido será disparado um gatilho que Única certeza que se tem imporá uma série de no plano econômico de restrições em três estáNelson Barbosa é que o gios. Parece bom, mas déficit público vai aumentar vejamos as restrições. Elas começam impedindo ampliação das Governo ameaçou não dar desonerações, aumenaumento real ao mínimo, to dos gastos de cusmas ele já não terá teio, aumento de desaumento real até 2019 pesas discricionárias. No segundo estágio, tem, entre outras coisas, o “impedimento Déficit aumentará porque o de aumento de subsícusto da renegociação da dios”. Convenhamos, dívida dos estados não tudo isso tinha que esentrou na conta tar cortado desde já, este é o terceiro ano de déficit primário. O último ponto do terceiro estágio — ou seja, a pior das ameaças — é a “suspensão do aumento real do salário mínimo”. Mas o fato é que o salário mínimo já não terá aumento real até 2019 porque a fórmula estabelece que ele sobe de acordo com a inflação do ano anterior e o crescimento de dois anos antes. Como se sabe, o país teve recessão no ano passado, terá este ano e deve ficar em zero em 2017. Aplicando-se a fórmula, só há possibilidade de aumento real, ou seja, acima da inflação, em 2020, e se o país crescer em 2018. Resta apenas uma dúvida: o governo anunciou isso porque pensa que somos todos bobos? Sobre a reforma da Previdência, o que houve até agora é o seguinte: foi criado o Fórum há tempos. Falou-se muito dele, mas ele só fez uma reunião, a da semana passada. E tudo o que aconteceu é que foram listados itens de discussão. Nestas conversas preliminares já houve um desfalque importante: sumiu a proposta do ministro Nelson Barbosa de que seja incluída a idade mínima de aposentadoria, como existe na maioria absoluta dos países. Ele já entrou perdendo a discussão. O governo promete para até o final de abril uma proposta de reforma da Previdência, mas o ministro disse que ela só terá impacto fiscal positivo daqui a 10 anos. O problema é que o déficit está explosivo. Nos últimos dois anos deu um salto ornamental. Só o déficit do INSS foi de R$ 56,6 bilhões em 2014, pulou para R$ 85,8 bilhões no ano passado e a projeção deste ano é de R$ 120 bilhões. O ministro Nelson Barbosa disse que o gasto com a Previdência e com os benefícios de longo prazo (Loas) consomem 44% do Orçamento. Os benefícios para servidores civis e militares consomem outros 10%. E ele ainda acha que temos 10 anos para resolver isso. Barbosa promete que através do seu plano o país conseguirá “conter a pressão pelo aumento de carga (tributária)”. Como se diz hoje em dia: é brincadeira. l 1 [email protected] Quase um quinto dos acordos salariais firmados em janeiro resultou em redução de jornada e salários para o trabalhador. É o que mostra o “Salariômetro”, estudo elaborado desde 2007 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O levantamento aponta que houve um salto no número de negociações com imposição de perdas: de dois, em janeiro de 2015, para 50, de um total de 261 negociações firmadas no mês passado. Destes 50, 39 utilizaram o Programa de Proteção ao Emprego, criado pelo governo federal em 2015. A proposta permite a redução da jornada de trabalho em até 30%, com a respectiva diminuição do salário. — De janeiro de 2015 a janeiro deste ano, foram feitos mais de 300 acordos com redução salarial. É um número pequeno no universo de 20 mil acordos coletivos que são feitos por ano, mas esse crescimento verificado entre os meses de janeiro mostra que há uma tendência de alta. A maior parte dos acordos de redução é na indústria metalúrgica, mas a tendência já está se espalhando para outras indústrias e agora para serviços — explica o economista Hélio Zylberstajn, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do estudo. REAJUSTE MÉDIO DE 10% Com o poder de barganha afetado pela recessão, que já extinguiu 1,5 milhão de vagas formais nos últimos 12 meses, os trabalhadores começaram o ano com dificuldades para obter ganho real nas negociações salariais. Segundo Zylberstajn, mais da metade dos 261 acor- _ oglobo.com.br/economia/miriamleitao NOS ÚLTIMOS 12 MESES, EM 311 ACORDOS FIRMADOS, TRABALHADORES TIVERAM REDUÇÃO DE SALÁRIO 13 2 Jan 0 0 Fev Mar Abr 46 42 45 30 28 23 21 11 Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 2015 Fonte: FIPE Jan 2016 Editoria de Arte “Há um ano, a negociação começava com a taxa de inflação e a negociação do ganho real. Agora, é quanto a menos vão ganhar. Hoje, o jogo é esse” Hélio Zylberstajn Coordenador do “Salariômetro” dos coletivos negociados em janeiro não conseguiram sequer obter a reposição da inflação. O “Salariômetro” indica que a mediana dos reajustes com vigência em janeiro foi de 10%, 1,3 ponto percentual abaixo da inflação acumulada nos 12 meses anteriores, que foi de 11,3%, segundo o INPC, que serve como base para essas negociações. — Durante mais de dez anos, observamos aumentos reais nas negociações coletivas. As empresas repunham a inflação e davam algo a mais. Mas, com a recessão que estamos vivendo, elas não estão conseguindo nem repor o INPC. O resultado é trabalhadores ganhando menos do que um ano atrás em termos reais. Há um ano, a negociação começava com a taxa de inflação e a negociação do ganho real. Agora, é quanto a menos vão ganhar. Hoje, o jogo é esse — ressalta o coordenador do estudo. É o terceiro mês consecutivo em que, na média, os trabalhadores não obtêm aumento real. Há um ano, a realidade era exatamente oposta: como as expectativas para a economia eram menos pessimistas e a alta de preços, menor, os trabalhadores tiveram, em média, reajuste real de 1,3% sobre uma inflação acumulada de 6,2%. Como as empresas estão pressionadas por aumento de custos e queda da demanda, o trabalhador fica sem alternativas e sem poder de barganha, complementa Zylberstajn: — Quando as coisas estão bem, o trabalhador pressiona, e a empresa pode dar, porque está vendendo. Mas, agora, ela tem de cortar os custos. A posição da empresa é essa: ou vocês concordam com um ajuste mais modesto, ou vamos ter de demitir. Esse é o jogo na mesa da negociação. Infelizmente. REVERSÃO SÓ COM CRESCIMENTO Para o economista, a trajetória de queda do ganho real ainda está longe de ser revertida: — Isso é consequência da situação da economia. Essa tendência só se reverterá quando a economia voltar a crescer. Daí as empresas vendem, contratam. Mas isso não é imediato. Para a gente ver essa reversão, o primeiro ponto é o Brasil voltar a crescer. Ainda de acordo com o estudo da Fipe, a mediana dos pisos com vigência em janeiro de foi R$ 940 (6,8% maior que o salário mínimo, de R$ 880). l JATINHO ‘ON DEMAND’ 2 3 50 NEGOCIAÇÕES SALARIAIS COM PERDAS Sauditas investem em ‘Uber dos ares’ VICTOR J. BLUE Família real faz segundo aporte milionário na empresa BLOOMBERG NEWS -MOSCOU- V oar em um jatinho particular está ganhando ares de Uber. E a família real da Arábia Saudita está apostando alto na iniciativa. Ela fez um aporte de US$ 26,1 milhão na JetSmarter, empresa que permite agendar voos nesse tipo de avião pelo smartphone. Esse não é o único investidor de peso da companhia, que também obteve capital do rapper Jay-Z. A realeza saudita já tinha investido US$ 20 milhões na JetSmarter em julho do ano passado. A empresa ganha com uma espécie de característica dos Descomplica. JetSmarter oferece assentos e voos em jatinhos particulares aviões particulares. Essas aeronaves não são muito usadas, explica Sergey Petrossov, fundador da JetSmarter. Ou ficam paradas em aeroportos ou voam vazias para buscar clientes. Os assentos desocupados e os voos podem ser oferecidos a viajantes por menos do que o preço típico para fretar um jatinho sem muita complicação e por uma taxa semelhante a uma passagem de primeira classe. Petrossov compara a JetSmarter ao Uber Black. Só que, em vez de embarcar num luxuoso Mercedes-Benz, a viagem é feita em um jatinho. A ideia surgiu a partir da experiência pessoal. Em 2009, o empresário quis fre- tar um avião particular e precisou preencher vários formulários e enviar faxes. A demora e burocracia deram a dica para o empreendimento. Uma passagem em um voo em um Learjet 45 em trajetos populares nos EUA, como Nova York-Miami, para o início de março custa US$ 1.990, com compra mínima de quatro lugares. A JetSmarter também tem seu lado Netflix. Ela oferece espaço em voos que partiriam vazios e faz vendas de último minuto sem cobrar a membros que pagam taxa anual. Mas, a tarifa é um “pouco” mais cara do que a do serviço de streaming: US$ 9 mil por ano. A JetSmarter, que transportou 35 mil pessoas em 2015, já voa de Riad para Dubai e vai oferecer voos na Europa a partir de abril. Os planos incluem novos destinos, como Hong Kong e Moscou. l Classificados do Rio. Achou de verdade. classificadosdorio.com.br 2534-4333 Terça-feira 23 .2 .2016 l Economia l O GLOBO l 17 18 l O GLOBO l Economia l Terça-feira 23 .2 .2016 Estados terão alívio de até R$ 12,5 bilhões Renegociação das dívidas com a União e o BNDES deve ampliar déficit nas contas públicas este ano ANTONIO SCORZA/12-11-2014 MARTHA BECK [email protected] -BRASÍLIA- O rombo nas contas públicas de 2016 po- derá ser maior que os R$ 60,2 bilhões, ou 0,97% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), sinalizados pela equipe econômica na semana passada. Isso porque o Ministério da Fazenda está negociando com os governadores um alongamento da dívida dos estados com a União por um prazo de 20 anos. Assim, quando esse processo se concretizar, a contribuição que eles dão para a meta fiscal a cada mês será menor e aumentará o déficit primário previsto para o setor público. Segundo os técnicos da equipe econômica, ainda não há um cálculo preciso de qual será o impacto da renegociação na meta de 2016. As contas do Tesouro Nacional mostram apenas que, num período de 12 meses, o alongamento das dívidas daria um alívio de R$ 9,4 bilhões aos governadores. Somando a esse número outros R$ 3,1 bilhões da ampliação por dez anos do prazo das dívidas com o BNDES (que também está em curso), o total chega a R$ 12,5 bilhões. Assim, se as negociações já tivessem sido concluídas, o impacto no resultado primário poderia ser nesse mesmo montante. Segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em vigor, o compromisso da área econômica é realizar uma meta de superávit primário (poupança para o pagamento de juros da dívida pública) de R$ 30,55 bilhões, ou 0,5% do PIB. Deste total, R$ 24 bilhões cabem à União e R$ 6,55 bilhões a estados e municípios. No entanto, o governo federal já anunciou que vai pedir ao Congresso autorização para mudar a LDO e abater R$ 84,2 bilhões com frustração de receitas e aumentos de gastos de sua meta. Isso transformaria o número num déficit de R$ 60,2 bilhões. Do total de R$ 84,2 bilhões que o governo prevê descontar da meta fiscal, R$ 30,5 bilhões são de frustração de receitas administradas e R$ 41,7 bilhões de receitas extraordinárias. Há também previsão de descontar eventuais aumentos de gastos com saúde (R$ 3 bilhões) e investimentos prioritários (R$ 9 bilhões). CORTE DE GASTOS AFETA MAIS O PAC Apesar do alívio potencial de R$ 12,5 bilhões nas contas estaduais, os técnicos do Tesouro alertam que o impacto será muito inferior. Primeiro porque a renegociação dos contratos depende de uma alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que precisa ser aprovada pelo Congresso. Além disso, as conversas com cada estado têm ritmos diferentes e estão atreladas a uma série de condicionantes. Para se beneficiarem, os governadores precisam, entre outras coisas, aprovar leis de responsabilidade fiscal estaduais, implementar regimes próprios de Previdência e conter gastos com pessoal. Eles também têm de assumir o compromisso de aderir à reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e dar apoio a iniciativas da presidente Dilma Rousseff, como a recriação da CPMF e a Desvinculação de Receitas da União (DRU), que também pode ser Impacto. Tanque de tratamento de água da Estação do Guandu, uma das obras do PAC. Corte de gastos afeta investimentos ampliada para estados e municípios. classificação A ou B na avaliação do Tesouro (o — Tudo está amarrado para que não haja um que significa ter um selo de bom pagador) e esdesequilíbrio. Não é simplesmente abrir espaço tar com os indicadores da LRF dentro dos limipara gastos. Os estados podem até reduzir um tes, ou seja, não gastar mais de 60% das receitas pouco sua contribuição para o (resultado) pri- com pessoal. mário no início, mas, no médio prazo, o resultaEnquanto o Congresso não se posicionar sobre do será mais austeridade — afiras mudanças na LDO, no entanto, a U mou um integrante da equipe ecometa em vigor, de 0,5% do PIB, tem nômica. — Além disso, o Tesouro de continuar a ser perseguida. Por isNúmeros não está reduzindo as dívidas que so, o governo anunciou na semana os estados têm que pagar. Ele está passada um corte de R$ 23,4 bilhões dando um prazo maior para que no Orçamento de 2016. Nessa tesouR$ 3,1 elas sejam pagas. rada, os investimentos do Programa BILHÕES Esse técnico afirmou que a prode Aceleração do Crescimento (PAC) É o alívio dos estados posta que será encaminhada ao foram os maiores prejudicados. Seu com a ampliação por Congresso para alterar a LDO de contingenciamento foi de R$ 4,234 dez anos do prazo das 2016 não trará uma estimativa de bilhões. Nos ministérios, o principal dívidas com o BNDES quanto a meta de estados e municícorte foi na pasta de Minas e Energia, pios ficará menor. Mas o texto terá R$ 3,146 bilhões, seguida por Saúde, uma previsão afirmando que, caso R$ 2,530 bilhões, e Educação, R$ R$ 4,234 os estados assinem os contratos de 1,303 bilhão. Como Saúde e EducaBILHÕES renegociação das dívidas ao longo ção têm os maiores orçamentos enÉ o valor do do ano, o esforço fiscal desses entes tre os ministérios, eles têm o maior contingenciamento de poderá ser menor que o previsto. corte proporcionalmente. investimentos do PAC Além do alongamento da dívida, Procurados pelo GLOBO, os minisno corte de gastos a Fazenda negocia outras benesses térios do Planejamento, responsável com os governadores. Os limites para operações pela gestão do PAC, Minas e Energia e Educação de crédito com aval da União subirão de R$ 12 ainda não informaram quais áreas serão mais bilhões para R$ 17 bilhões este ano. Também afetadas pelos cortes. A pasta da Saúde assegurou será dado um limite extra de R$ 3 bilhões para que não haverá impacto sobre programas estratéfinanciamentos sem garantia do Tesouro, so- gicos como o de combate ao vírus zika, mas informando um total de R$ 20 bilhões. Para terem di- mou que ainda está definindo onde os cortes sereito a esses benefícios, os governos regionais rão feitos. Hoje, os secretários executivos dos miterão de obedecer a alguns critérios, como ter nistérios se reúnem no Ministério do Planeja- mento para discutir o cenário fiscal e os impactos do contingenciamento sobre as pastas. Embora o contingenciamento de 2016 tenha sido inferior ao realizado em anos anteriores (o total registrado em 2015 chegou a quase R$ 80 bilhões), a equipe econômica destaca que ele é significativo, considerando que o Orçamento de agora é muito mais enxuto. Os técnicos lembram que as despesas contingenciáveis do poder Executivo — aquelas que o governo efetivamente pode cortar — vêm caindo desde 2013. Há quatro anos, elas respondiam por 2,8% do PIB. Em 2014, passaram para 2,6% do PIB. Em 2015, para 2% do PIB, e, agora, para 1,8% do PIB. — A margem ficou muito menor. Esse não é um corte pequeno para as condições atuais — afirmou um técnico. EM ÚLTIMO CASO, CONGELAMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO Na tentativa de mostrar ao mercado que não deixou de lado o compromisso com o equilíbrio fiscal, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, anunciou, junto do corte de gastos e da redução da meta fiscal para 2016, uma reforma de longo prazo que prevê um teto para as despesas públicas. A ideia é estipular um limite para os gastos, proporcional ao PIB, e acionar uma série de gatilhos que fechem a torneira dos gastos, à medida que esse teto for ultrapassado. Em último caso, o governo propõe até mesmo congelar o aumento real (acima da inflação) do salário mínimo para garantir o controle das contas públicas. A proposta será enviada ao Congresso até março e prevê uma alteração na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), para obrigar o governo a fixar um limite para as despesas no Plano Plurianual (PPA), que determina a programação fiscal dos quatro anos seguintes. Nos últimos anos, esses gastos se mantiveram num patamar entre 18% e 19% do PIB. Já o valor nominal dos gastos seria apresentado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de cada ano e definiria, assim, os parâmetros para elaboração do Orçamento. Caso o teto seja descumprido, o texto prevê que o governo faça um contingenciamento de gastos no ano corrente, ou seja, suspenda algumas despesas. E, se houver indícios de que o desequilíbrio continuará, o projeto define uma série de medidas que seriam acionadas automaticamente no ano subsequente, em três estágios. Em um primeiro momento, o governo interromperia, de imediato, a concessão de novas desonerações fiscais, a realização de concursos e contratações, o aumento real (acima da inflação) de salários de servidores, das despesas de custeio e das demais despesas discricionárias, ou seja, aquelas que não são obrigatórias. Os estágios seguintes seriam acionados à medida que o anterior não for suficiente para colocar as despesas dentro do limite fixado. Assim, o segundo bloco de medidas suspende a ampliação de subsídios e aumentos nominais de despesas e salários de funcionários públicos. Por último, o governo congelaria o salário mínimo e reduziria despesas com benefícios para servidores e com funcionários temporários da União. l Conta de luz pode ter redução maior em março, diz ONS DIVULGAÇÃO/30-8-2013 Volume de chuvas permitiria desligar mais termelétricas RAMONA ORDOÑEZ [email protected] As tarifas de energia elétrica poderão ter redução ainda maior que o esperado a partir de março, informou o diretor-geral da Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp. Segundo ele, isso será possível caso o volume de chuvas permita o desligamento de um número maior de termelétricas. O assunto será discutido em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), no próximo dia 2 de março. O debate levará em conta a avaliação da afluência dos rios e das condições dos reservatórios das usinas. O governo já havia anunciado que, a partir de 1º de março, a cobrança extra da bandeira tarifária nas contas de luz cairá dos atuais R$ 3, do nível 1 da bandeira vermelha, para R$ 1,50, da bandeira amarela, a cada cem quilowatts-hora (kWh) consumidos. A redução será possível com o desligamento das termelétricas mais caras, que tem custo acima de R$ 420 por megawatt-hora (MWh). IMPACTO EM ENCARGOS SETORIAIS Chipp explica que mesmo que um número maior de termelétricas seja desligada, isso não significará mudança da bandeira para a cor verde a partir de março. Segundo ele, os estudos do ONS que serão encaminhados ao comitê ainda não foram concluídos: — Fevereiro não foi tão favorável em termos de afluência hidrológica como janeiro. Mas, dependendo da evolução da hidrologia na primeira quinzena de março, pode-se ter uma redução nas tarifas, Tarifa menor. Hermes Chipp diz que desconto será discutido em reunião em março “Dependendo da evolução da hidrologia, pode-se ter redução nas tarifas, com o desligamento de mais termelétricas” Hermes Chipp Diretor-geral do ONS com o desligamento de mais termelétricas, mas mantendo a bandeira amarela. A decisão de tirar mais termelétricas de operação dependerá, segundo Chipp, das estimativas do volume de água nos reservatórios até novembro, quando começa o período de chuvas. A conta de luz pode ter um desconto maior — mesmo sem uma alteração na bandeira amarela — porque os custos de geração de energia termelétrica são mais altos e incidem em alguns encargos setoriais embutidos na conta de luz de todos os consumidores, como a Conta de Consumo de Combustível (CCC) e a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). No último domingo, segundo dados do ONS, foram gerados 7.514 megawatts médios de energia térmica, o que representa 13,14% do consumo total, de 57.189 megawatts médios. Nessa data, o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estava em 49,6%, o maior patamar desde agosto de 2013, quando foi de 55%. Já no Nordeste, o nível dos reservatórios das usinas está em 30,5%, o maior desde julho de 2014, quando foi de 32,3%. EFEITO DO HORÁRIO DE VERÃO Chipp destacou os resultados obtidos durante o horário de verão, que terminou à meia-noite de domingo. Nesse período, o menor consumo de energia nos horários de pico resultou em redução de gastos de R$ 162 milhões com a geração de termelétricas. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste houve redução da demanda no horário de pico de cerca de 2.600 MW. Deste total, 1.950 MW são referentes ao subsistema Sudeste e Centro-Oeste e 650 MW referentes ao Sul. De acordo com Chipp, a redução representou 4,5% da demanda no horário de pico nessas regiões. Quando se considera o resultado durante todo o horário de verão — não apenas nas horas de pico — a redução no consumo foi de 1.040 megawatts médios nessas regiões. — Além do benefício econômico com a redução de gastos com as termelétricas, o horário de verão permitiu armazenar mais água nos reservatórios das usinas, com redução no consumo de 1.040 megawatts médios, que seriam gastos independentemente da retração da economia — disse. Chipp defende que os resultados obtidos no horário de verão representam economia significativa nos investimentos para ampliar a capacidade de oferta do sistema elétrico. Somente para oferecer os 2.600 MW economizados em horário de pico, seriam necessários R$ 7,7 bilhões: — Deixo de ter a necessidade de fazer esses investimentos elevados para atender à demanda nos horários de pico. O horário de verão é benéfico para o setor elétrico e para o consumidor, pois melhora a qualidade dos serviços do sistema. l Analistas preveem retração de 3,4% na economia este ano Foi a quinta semana seguida de piora nas projeções do mercado financeiro para 2016 e 2017 Pela quinta semana seguida, os analistas do mercado financeiro pioraram a projeção para o desempenho da economia em 2016 e 2017. A estimativa de retração neste ano passou de 3,33% para 3,4%. Em 2017, o país deve voltar a crescer, mas menos do que se esperava antes. A expectativa caiu de 0,59% para 0,5%, de acordo com a pesquisa semanal Focus, do Banco Central (BC). Essas novas previsões pioram o cenário para a atividade econômica por mais dois anos. Os cálculos do BC divulgados na semana passada mostraram que a recessão brasileira é mais grave do que o imaginado. A economia encolheu nada menos que 4,1% no ano passado, segundo o Índice de Atividade Econômica da autoridade monetária (IBC-Br). -BRASÍLIA- ESTIMATIVA DE INFLAÇÃO DE 7,62% Já o quadro para a inflação deste ano teve apenas uma leve deterioração. A estimativa subiu de 7,61% para 7,62%. Apesar de ser um pequeno aumento, marcou a oitava piora seguida da aposta dos analistas, que estão cada vez mais longe da meta estabelecida pelo governo de 4,5%, com uma margem de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo. Para 2017, a projeção está exatamente no teto da meta, que é de 6%. A variação aceita será menor que a deste ano, de apenas1,5 ponto para cima ou para baixo. A previsão para os juros básicos ficou estável. O mercado acredita em manutenção da taxa básica nos atuais 14,25% ao ano. (Gabriela Valente) l l Economia l Terça-feira 23 .2 .2016 O GLOBO Bolsa de SP sobe 4% por petróleo e minério l 19 SIMON DAWSON/BLOOMBERG/18-11-2015 Petrobras salta 16% com avanço da ‘commodity’, e Vale tem ganho de 11%. Dólar cai 1,78%, a R$ 3,951 RENNAN SETTI [email protected] Seguindo o clima de otimismo nos mercados globais e o salto das commodities, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve ganho de 4,07% ontem, aos 43.234 pontos, enquanto o dólar comercial caiu quase 2%. O índice de referência Ibovespa foi puxado pelas ações de Petrobras e Vale, que dispararam 16% e 11%, respectivamente. Com o movimento, a estatal ganhou R$ 10,9 bilhões em valor de mercado durante o pregão (para R$ 83,4 bilhões), e a Vale, R$ 5,6 bilhões (a R$ 61,3 bilhões). Segundo alguns analistas, também contribuiu para o bom humor dos investidores no mercado brasileiro a nova fase da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, com a expedição de mandado de prisão temporária para o marqueteiro João Santana, que coordenou as campanhas da presidente Dilma Rousseff. O dólar comercial fechou em queda de 1,78%, a R$ 3,951. A moeda americana perdeu força contra a maior parte das divisas de países emergentes. Contra a cesta com as dez principais moedas globais, porém, o dólar subiu 0,21%, segundo o índice Dollar Spot, da Bloomberg. O minério de ferro com teor de 62%, referência no mercado internacional, subiu 6,2% ontem, para US$ 51,52 — maior patamar desde 27 de outubro do ano passado — a tonelada, dando continuidade ao processo de valorização desencadeado pelo aumento de produção das siderúrgicas chinesas e pela redução de produção das maiores mineradoras do mundo. No ano, o minério acumula alta de 18%, contra queda de 39% em 2015. EXPECTATIVA COM ACORDO O petróleo do tipo Brent, por sua vez, avançava 4,82%, a US$ 34,60 o barril, uma hora antes do fechamento das negociações em Londres. Em Nova York, o barril do WTI subiu 6,21%, a US$ 31,48. A alta deveu-se à especulação de que o excesso de oferta do produto nos mercados internacionais deve finalmente ser reduzido com um acordo para o congelamento da produção. A Rússia e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estão buscando convencer outros produtores a aderirem ao congelamento. As ações ordinárias (ON, como direito a voto) da Petrobras saltaram 16,14%, a R$ 7,41 — a maior alta diária do papel desde 10 de março de 1999 —, enquanto as preferenciais (PN, sem voto) avançaram 13%, a R$ 5,04. Já os papéis ON da Vale subiram 11,07% (R$ 13,14), e os PN, 8,17% (R$ 9,40). — O mercado local hoje está sendo mais influenciado pelo desempenho externo. Teve uma notícia na China sobre a renúncia do presidente do órgão equivalente à nossa CVM, e outra sobre a redução do imposto de venda para determinados imóveis no país. Os movimentos foram vistos como positivos para o mercado — disse Paulo Gomes, economista-chefe da Azimut. Entre os bancos, o Banco do Brasil ON subiu 4,61% (R$ 13,61). O Bradesco PN avançou 5,23% (R$ 20,92). O Itaú Unibanco ON teve alta de 4,03% (R$ 25,22). — Nos próximos dias, o comportamento da Bolsa vai depender também dos preços dessas commodities. O importante porém é que, no caso do petróleo, aparentemente, o patamar de US$ 30 não deve ser rompido com muita facilidade depois da iniciativa de redução da produção — disse Ricardo Zeno, sócio-diretor da AZ Investimentos, no Rio. O dia começou em alta na Ásia, com a substituição do chefe do órgão regulador dos mercados chineses e Pequim sinalizando estímulos econômicos. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, avançou 2,2%, enquanto o principal indicador da Bolsa de Xangai subiu 2,37%. Na Europa, Londres ganhou 1,47%, enquanto Paris e Frankfurt tiveram alta de 1,79% e 1,98%, respectivamente. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 1,40%, e o S&P 500, 1,45%. l Aposta quente. Siderúrgica britânica: preço do minério de ferro acumula valorização de 18% este ano graças à China U TEMOR DE ‘BREXIT’ LIBRA REGISTRA MAIOR QUEDA DESDE 2009 -LONDRES- A libra registrou ontem sua maior queda desde 2009, recuando 1,75% frente ao dólar, para US$ 1,4154. O estopim foram as declarações do prefeito de Londres, Boris Johnson — um dos políticos britânicos mais populares —, de que fará campanha para que o Reino Unido deixe a União Europeia (UE), um cenário apelidado de “Brexit”. O referendo ocorrerá no dia 23 de junho. — O fato de membros eminentes dos Partido Conservador terem anunciado que farão campanha para que o país deixe a UE provavelmente intensificou o temor dos investidores de um maior risco de “Brexit” — disse Valentin Marinov, diretor de Estratégia Cambial da unidade de banco de investimentos do Credit Agricole em Londres. Na mínima do dia, a libra foi negociada a US$ 1,4058, a menor cotação desde 18 de março de 2009. Naquele dia, o governo havia informado que o número de desempregados no Reino Unido ultrapassara os dois milhões, o que não ocorria desde 1997. Apesar de a decisão sobre a data do referendo eliminar um dos fatores de volatilidade, o mercado agora terá de lidar com meses de campanhas e pesquisas, o que deve elevar a pressão sobre o câmbio. — Estamos projetando mais volatilidade nos próximos quatro meses e, consequentemente, a faixa de negociação da libra, a depender das pesquisas, será muito mais ampla que hoje — disse Alan Wilde, diretor de Renda Fixa e Câmbio do Baring Asset Management. No início deste mês, o banco Goldman Sachs afirmou em relatório que um “Brexit” pode levar a libra para entre US$ 1,15 e US$ 1,20 — um patamar que não é registrado desde 1985. (Da Bloomberg News) BTG anuncia venda de unidade suíça para gestor de recursos EFG Operação com BSI, de R$ 4 bi, reforçará caixa do banco ANA PAULA RIBEIRO [email protected] Pouco mais de cinco meses após anunciar a aquisição do BSI, o BTG Pactual fechou ontem a venda do banco suíço para o gestor de recursos também suíço EFG International. Com a transação, o BTG receberá cerca de um bilhão de francos suíços (aproximadamente R$ 4 bilhões) e ficará com uma participação entre 20% e -SÃO PAULO- 30% na instituição que resultará da combinação dos dois negócios. A compra ainda precisa do aval dos órgãos reguladores. A venda ao EFG — que avaliou o BSI entre 1,5 bilhão e 1,6 bilhão de francos suíços — foi a forma encontrada pelo BTG para obter recursos para fortalecer seu caixa e, ao mesmo tempo, manter os planos de internacionalização. “O EFG representa uma alternativa excelente para o BSI, e a combinação das duas instituições é um grande desenvolvimento da nossa visão da consolidação do mercado de private banking suíço”, disse em nota Marcelo Kalim, copresidente executivo do BTG Pactual. Ao comprar o BSI, operação anunciada em 2014 e concluída em setembro de 2015, a intenção do BTG era diversificar as receitas vindas do exterior e ter de fato uma plataforma global. No entanto, a prisão de André Esteves, em 25 novembro, jogou uma pá de cal nesse plano. Com a forte desconfiança de clientes e investidores, o banco passou a enfrentar forte movimento de perda de recursos. A saída foi vender ativos. Agora, o banco crê já estar em situação mais confortável. — A nossa estratégia de internacionalização via BSI era muito clara. Agora, trouxemos um pouco de liquidez para a Hoje na web casa, mas mantivemos a estratégia com uma participação relevante no novo banco — explicou Pedro Lima, sócio do BTG Pactual e chefe da área de relações com investidores. LUCRO LÍQUIDO SOBE EM 2015 A combinação do BSI com o EFG resultará em uma instituição com 171 bilhões de francos suíços em ativos — metade vinda do banco que era do BTG. Ambas as instituições são especializadas na gestão de fortunas. Antes do BSI , o BTG já havia vendido outros ativos numa corrida para colocar a casa em ordem e sinalizar a investidores e clientes que o banco não teria problemas de liquidez. A Recovery, de recuperação de créditos, foi vendida ao Itaú Unibanco por R$ 1,2 bilhão, e, por sua participação na Rede D’Or, um fundo soberano de Cingapura pagou mais de R$ 2,38 bilhões. O banco ainda busca comprador para sua participação na Pan Seguros, em que é sócio da Caixa Econômica Federal. — A nossa liquidez está bastante confortável. Já comunicamos as negociações para a venda da participação da Pan Seguros. Os outros negócios vão acontecer no curso normal. Não temos pressa. Conseguimos tempo para fazer tudo com calma — afirmou Lima, observando que não há previsão para a conclusão da venda da participação na seguradora. Há interessados também na rede de estacionamentos Estapar. A participação do BTG na joint venture com a Petrobras na África é outra à venda. Outros negócios com participação do banco são ainda mais difíceis de vender, como a varejista Leader e a Brasil Pharma. Ontem, o BTG anunciou que fechou 2015 com lucro líquido de R$ 4,616 bilhões, alta de 35,2% ante 2014. Os ativos sob sua administração, porém, encolheram: R$ 266,1 bilhões no fim de dezembro, contra R$ 302,8 bilhões em setembro. l ANTECIPE SEU ANÚNCIO oglobo.com.br/economia l RICAÇOS NA ÁFRICA Número de milionários africanos deve ultrapassar 257 mil em 2024, alta de 53% em relação aos 169 mil de 2014, diz consultoria l ALÉM DAS MULTAS Ambientalistas exigem despoluição do ar pela Volkswagen devido aos veículos afetados pela fraude nos testes de emissões Devido ao processo de modernização dos sistemas operacionais da INFOGLOBO, informamos que nossos canais de atendimento (telefone, email e portais) l PRÁTICA ABUSIVA Procon notifica BodyTech por exigir pagamento de aluguel de armário com cartão de crédito estarão fora do ar das 16h do dia 26 de fevereiro às 12h do dia 29 de fevereiro. Classifone: 8h às 16h 2534-4333 FEITA POR VOCÊ Classificados do Rio. 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As poucas pessoas que não os usavam estavam tão fascinadas com o espetáculo oferecido pelos outros, com aqueles óculos esquisitos na cabeça, que nem repararam no moço de jeans e camiseta cinza que entrou discretamente durante a apresentação, e que causou comoção quando o povo finalmente voltou à realidade real. ZUCKERBERG FOI FALAR para a plateia presente ao lançamento dos novos Galaxy S7 e S7 Edge sobre realidade virtual, o grande assunto deste Mobile World Congress. O Gear VR, produzido pela Samsung como acessório para alguns de seus celulares, roda software de uma empresa chamada Oculus, adquirida há dois anos pelo Facebook, e é, segundo Zuckerberg, o campeão entre os headsets RÓNAI DIGITAL 2016, ano da realidade virtual Redes sociais apostam na popularização dos ‘headsets’ e sua conexão com celulares para mudar nossa forma de comunicação de realidade virtual móveis, ou seja, movidos a smartphones. Ainda não existem muitos exemplares da espécie disponíveis, mas este é um mercado em franco crescimento. Um pouco antes do evento da Samsung, a LG já havia mostrado, entre suas cartas para 2016, um produto parecido com o Gear VR, mas que funciona de forma diferente: enquanto no set da Samsung o celular é acoplado diretamente em frente aos óculos, como no Cardboard da Google, no da LG ele se conecta por um cabo USB, o que alivia o peso, mas prejudica a mobilidade. Zuckerberg acredita que a realidade virtual vai mudar a forma como vivemos, trabalhamos e nos comunicamos; ele aposta nessa tecnologia como próximo passo das mídias sociais. Mais de 20 mil vídeos em 360 graus já foram compartilhados pelo Facebook, que pretende levar a experiência um passo à frente, oferecendo streaming 360 através do Gear VR. É uma proposta audaciosa que, trocada em miúdos, significa o seguinte: as pessoas poderão com- Britânicos ganharão novo jornal impresso REPRODUÇÃO DA INTERNET ‘The New Day’ é voltado para quem não tem muito tempo para ler Trinta anos após o último surgimento de um jornal nacional no Reino Unido, uma nova publicação chegará ao mercado na próxima segunda-feira, 29 de fevereiro. O lançamento do “The New Day” foi anunciado dias após o também britânico “The Independent” divulgar que sua versão impressa deixaria de circular, mantendo apenas seu site. O “New Day” será um tabloide de 40 páginas que não terá site próprio, mas promete ter forte presença nas redes sociais, segundo o diretor-geral da Trinity Mirror, Simon Fox — a publicação já tem páginas no Facebook e no Twitter. A Trinity Mirror, que já edita os jornais “Daily Mirror” e “Sunday Mirror”, anunciou que o “New Day” chegará às bancas com um “enfoque alegre, otimista e politicamente neutro” — o “Daily Mirror”, por sua vez, assume posições mais favoráveis ao Partido Trabalhista. Ainda de acordo com o comunicado da empresa, não haverá notícias sensacionalistas no novo tabloide. Em uma demonstração de sua linha editorial, o jornal postou em sua página do Facebook que teve acesso a fotos da modelo e apresentadora Heidi Klum de roupas íntimas, mas ressaltou que as imagens não eram apropriadas para a publicação, e pediu que os leitores mostrassem sua opinião votando em uma enquete ou comentando a postagem. -LONDRES- POSSÍVEL ‘DANO ESTRUTURAL’ O novo jornal será gratuito no primeiro dia e, durante as duas primeiras semanas, será vendido a 25 pence (centavos de libra, ou cerca de R$ 1,40). Depois o preço dobrará a 50 pence (aproximadamente R$ 2,80), 10 pence a menos que o “Daily Mirror”. Colin Morrison, consultor de mídia e ex-executivo da indústria, disse ao diário financeiro britânico “Financial Times” que o baixo preço do “New Day” 17/02 0,1604% 18/02 0,1681% 19/02 0,1694% Selic: 14,25% Correção da Poupança Até 03/05/12 DIA 05/03 06/03 07/03 08/03 09/03 10/03 11/03 12/03 13/03 14/03 15/03 16/03 17/03 18/03 19/03 pode ter um impacto negativo na indústria jornalística de todo o Reino Unido. Segundo Morrison, teme-se que “o lançamento possa causar uma guerra de preços e acelerar a tendência de queda” do setor. Para ele, o lançamento poderia danificar “estruturalmente” a indústria. Em entrevista à Rádio 4 da BBC, Alison Phillips, editora do “New Day”, disse que uma pesquisa realizada pela empresa mostrou que a maioria dos entrevistados só tem 30 minutos para ler notícias e que é isso que eles querem: publicações que sejam consumidas nesse tempo. “Revitalizar o impresso é o cerne da nossa estratégia, paralelamente à transformação digital” afirmou o diretor executivo da Trinity, Simon Fox, em nota. O comunicado apresenta o “New Day” como uma publicação com “estilo e tom modernos, focada em um amplo público de homens e mulheres que querem algo diferente do que está atualmente disponível” e como “o primeiro jornal desenhado para os estilos de vida modernos”. A empresa também frisou que o novo A partir de 04/05/12 ÍNDICE 0,6165% 0,5931% 0,5931% 0,6216% 0,6603% 0,6658% 0,6918% 0,6841% 0,6456% 0,6456% 0,6678% 0,6949% 0,6612% 0,6689% 0,6702% DIA 05/03 06/03 07/03 08/03 09/03 10/03 11/03 12/03 13/03 14/03 15/03 16/03 17/03 18/03 19/03 ÍNDICE 0,6165% 0,5931% 0,5931% 0,6216% 0,6603% 0,6658% 0,6918% 0,6841% 0,6456% 0,6456% 0,6678% 0,6949% 0,6612% 0,6689% 0,6702% Obs: Segundo norma do Banco Central, os rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem ao dia 1º do mês subsequente. Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Novo tempos. Tuíte de Alison Phillips, editora do “The New Day". Jornal não terá site próprio, mas garante que terá forte presença nas redes sociais Juíza não aceitou argumentos da agência. Artistas fazem campanha nas redes sociais ALESSANDRO GIANNINI [email protected] -8,33% -3,36% +1,8% -1,63% -3,9% -6,79% R$ 788 R$ 788 R$ 788 R$ 788 R$ 788 R$ 880 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 Obs: * O valor do salário mínimo a partir de 1º de janeiro de 2016 é de R$ 880. ** Piso para empregado doméstico, entre outros. IMPOSTO DE RENDA IR NA FONTE FEVEREIRO 2016 Base de cálculo R$ 1.903,98 De R$ 1.903,99 a 2.826,65 De R$ 2.826,66 a 3.751,05 De R$ 3.751,06 a 4.664,68 Acima de R$ 4.664,68 Alíquota Parcela a deduzir Isento 7,5% 15% 22,5% 27,5% — R$ 142,80 R$ 354,80 R$ 636,13 R$ 869,36 AÇÕES FECHAM EM ALTA De acordo com o “FT”, a Trinity não revelou o quanto está sendo investido no novo título, que terá uma equipe formada por de 20 a 30 profissionais. Mas, para ser lucrativo, precisará vender pelo menos 300 mil exemplares por dia, disse Morrison ao “FT”. Na semana passada, o “FT” havia argumentado que o lançamento seria uma tentaviva de repetir o sucesso do “i”, tabloide lançado em 2010 pelo “Independent”. Com tiragem diária de 275 mil exemplares, o “i” vendia cinco vezes mais que sua publicação irmã, ainda de acordo com o “FT”. A venda do tabloide à concorrente Johnston Press por 24 milhões de libras foi anunciada no mesmo dia do fim da versão impressa do jornal que lhe deu origem. As ações da Trinity Mirror, negociadas na Bolsa de Londres, encerraram o pregão de ontem em alta de 3,35%, a 146,75 libras. l Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) dedução especial para aposentados, pensionistas e transferidos para a reserva remunerada com 65 anos ou mais: R$ 1.903,98; c) contribuição mensal à Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido a acordo ou sentença judicial. Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa. Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRPF este ano. O parcelamento do IRPF de 2015 foi encerrado em 30 de novembro. Salário de contribuição (R$) Até 1.556,94 de 1.556,95 a 2.594,92 de 2.594,93 a 5.189,82 Alíquota (%) 8 9 11 Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa (artigo 22 do regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social). Trabalhador autônomo Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da contribuição deverá ser de 20% do salário-base. Contribuição mensal mínima de R$ 176,00 (para o piso de R$ 880,00) e máxima de R$ 1.037,96 (para o teto de R$ 5.189,82) Fevereiro R$ 1,0641 Obs: foi extinta TELES VEEM ALTA ‘ABUSIVA’ Em reação, o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel (SindiTeleBrasil), que representa as ope- INFLAÇÃO Trabalhador assalariado UFIR o setor de telecomunicações e os representantes da indústria nacional do audiovisual ganhou novos capítulos no início desta semana. Depois de a desembargadora Ângela Catão, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, manter no fim da semana a liminar que permite às operadoras de telefonia suspender o pagamento da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), a Agência Nacional do Cinema (Ancine), que gere o Fundo Setorial Audiovisual (FSA), para o qual são repassados os recursos da contribuição, avisou ontem que vai recorrer novamente na Justiça. Também ontem, atores, atrizes e cineastas iniciaram uma campanha nas redes sociais em protesto contra a decisão da magistrada. Com a hashtag #EuConsumoAudiovisualNoMeuCelular, vários artistas postaram fotos no Facebook, Twitter e Instagram mostrando seus aparelhos em páginas de vídeos ou aplicativos de streaming. O roteirista Luiz Bolognesi, o diretor Paulo Caldas, a atriz Guta Stresser e o diretor de fotografia José Roberto Eliezer fazem parte do grupo que se manifestou. título não será uma espécie de publicação irmã ou versão mais leve do “Daily Mirror”. No entanto, vai aproveitar a estrutura de distribuição e impressão do “irmão mais velho”. INSS/FEVEREIRO BOVESPA SAL. MÍNIMO SAL. MÍNIMO (FEDERAL)* (RJ)** TR Ancine vai recorrer para manter contribuição de teles -SÃO PAULO- A disputa jurídica entre ÍNDICES Indicadores partilhar virtualmente os mesmos ambientes, usando a rede social como local de encontro. Digamos que alguém viaja e quer mostrar para a família onde está: enquanto passeia, manda as imagens da câmera 360 para o Facebook, onde os parentes poderão acompanhar o trajeto. O que já é comum com qualquer vídeochamada ganha status de experiência imersiva com headsets de realidade virtual. Há muitas novas câmeras 360 chegando ao mercado, entre elas uma da Samsung, também apresentada durante o evento. O lançamento dos novos Galaxy foi um ótimo showcase para o Gear VR, que chegou às lojas no fim do passado (R$ 799 no Brasil), mas ainda não é suficientemente conhecido pelos consumidores. Mergulhados cada qual no seu próprio espaço, os convidados viram o teto e o chão do auditório se abrirem para os novos S7 e S7 Edge, apresentados em dimensões gigantescas em um espetáculo muito mais envolvente e bem resolvido do que os clássicos passeios entre dinossauros a que nos habituamos nas demos de RV. A nota prática da noite ficou com o anúncio da chegada do Samsung Pay, sistema de pagamentos por celular, a uma série de novos países, entre os quais o Brasil. Ainda não foi divulgada a data em que isso vai acontecer, mas, em tese, o novo sistema pode entrar em funcionamento assim que os novos Galaxy chegarem ao país, dentro de alguns meses.l UFIR/RJ Fevereiro R$ 3,0023 IPCA (IBGE) Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08 Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj = 44,2655 Ufir-RJ) DÓLAR Índice Variações percentuais (12/93=100) Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro 4346,65 4370,12 4405,95 4450,45 4493,17 4550,23 No mês No ano Últ. 12meses 0,22% 7,06% 0,54% 7,64% 0,82% 8,52% 1,01% 9,62% 0,96% 10,67% 1,27% 1,27 % 9,53% 9,49% 9,93% 10,48% 10,67% 10,71% IGP-M (FGV) Índice Variações percentuais (8/94=100) Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro 588,042 593,606 604,832 614,051 617,044 624,060 No mês No ano Últ. 12meses 0,28% 5,34% 0,95% 6,34% 1,89% 8,35% 1,52% 10,00% 0,49% 10,54% 1,14% 1,14% 7,55% 8,35% 10,09% 10,69% 10,54% 10,95% IGP-DI (FGV) Índice Variações percentuais (8/94=100) UNIF CÂMBIO Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro 581,618 589,897 600,269 607,441 610,128 619,476 No mês No ano Últ. 12meses 0,40% 5,53% 1,42% 7,03% 1,76% 8,91% 1,19% 10,21% 0,44% 10,70% 1,53% 1,53% 7,80% 9,31% 10,58% 10,64% 10,70% 11,65% Dólar comercial (taxa Ptax) Paralelo (São Paulo/CMA) Diferença entre paralelo e comercial Dólar-turismo esp. (Banco do Brasil) Dólar-turismo esp. (Bradesco) EURO Euro comercial (taxa Ptax) Euro-turismo esp. (Banco do Brasil) Euro-turismo esp. (Bradesco) Compra R$ Venda R$ 3,9612 3,75 - 5,33% 3,86 3,9618 4,13 4,24% 4,04 3,79 4,23 Compra R$ Venda R$ 4,3672 4,2515 4,18 4,3695 4,4589 4,66 OUTRAS MOEDAS Cotações para venda ao público (em R$) Franco suíço Iene japonês Libra esterlina Peso argentino Yuan chinês Peso chileno Peso mexicano Dólar canadense 3,94891 0,0349494 5,58003 0,258157 0,604164 0,00569643 0,218365 2,87710 FONTE: MERCADO Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e www.oanda.com. radoras, divulgou uma “Carta aberta à indústria do Audiovisual e à sociedade brasileira”. O sindicato argumenta que o setor não quer um enfrentamento e atribui sua ação a um aumento “abusivo” da carga tributária no país, particularmente o reajuste no valor da Condecine promovido em outubro de 2015 pelo governo. “O aumento de 28,5% na Condecine Teles foi a gota d’água de uma verdadeira sanha arrecadatória com a qual não podemos mais conviver como setor e como cidadãos”, diz o comunicado. Em reunião na noite de ontem, a Associação Brasileira de Cineastas (Abraci) discutiu estratégias para tentar reverter a situação. A presidente da entidade, Carolina Paiva, disse que será um “retrocesso muito grande” se as teles não pagarem a contribuição, porque o setor “cresceu muito com a criação do FSA”. Ela está em contato com outras associações regionais para mobilizar o setor: — Nós queremos dar força para a negociação — explicou. — Estamos avaliando a possibilidade de contratar um escritório de advocacia para analisar a liminar e ver se vale a pena entrar na Justiça. Além disso, queremos também tentar uma negociação direta com as operadoras. Pouco antes do carnaval, o SindiTeleBrasil obteve na Justiça liminar contra a contribuição prevista na lei 12.485, de 2011, conhecida como Lei da TV Paga, sob a alegação de que as teles não fazem parte da cadeia produtiva do audiovisual. Segundo a Ancine, com a manutenção da liminar, cerca de R$ 1,1 bilhão deixará de ser recolhido e repassado ao FSA este ano. l BOLSA DE VALORES: Informações sobre cotações diárias de ações e evolução dos índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser obtidas no site da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI podem ser consultadas nos sites de Anbima (www.anbima.com.br) e Cetip (www.cetip.com.br). A Taxa Básica Financeira (TBF) está disponível no site do Banco Central (www.bc.gov.br). Para visualizá-la, clicar em “Economia e finanças” e, posteriormente, em “Séries temporais” FUNDOS DE INVESTIMENTO: Informações disponíveis no site da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), www.anbima.com.br. Clicar em “Fundos de investimento” IDTR: Pode ser consultado no site da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na barra “Serviços” e, posteriormente, em FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados ÍNDICE DE PREÇOS: Outros indicadores podem ser consultados nos sites da Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da Anbima (www.anbima.com.br) Terça-feira 23 .2 .2016 3ª Edição O GLOBO Mundo l 21 REFERENDO NA BOLÍVIA Culpa das redes sociais _ Sem admitir derrota, presidente se diz vítima e propõe debate sobre internet JUAN KARITA/AP Não à reeleição. Evo Morales canta o hino nacional durante cerimônia em La Paz: com mais de 80% das urnas apuradas, resultado parcial indica derrota nas maiores cidades do país, incluindo antigos redutos como Potosi MARINA GONÇALVES [email protected] U Depois de uma década no poder, o governo do presidente boliviano, Evo Morales, recebeu seu primeiro não. Com mais de 85% das urnas apuradas, o resultado do referendo que poderia dar a chance de uma nova reeleição para Morales confirmou as primeiras pesquisas de boca de urna: a vitória do Não, 53,8% dos votos contra 46,2% para o Sim. Sem admitir a derrota, o presidente já tem um culpado: as redes sociais. Em entrevista, Morales afirmou que seria necessário debater o papel da internet — a oposição fez amplo uso de mídias como Facebook e Twitter para rejeitar a proposta de extensão do mandato, além de divulgar memes sobre sua vida pessoal e escândalos de corrupção no Movimento ao Socialismo (MAS). — Em alguns países, a má informação derruba governos e prejudica a nação — criticou. — Sinto muito que os que usam as redes sociais com mentiras estejam fazendo os valores das novas gerações se perderem. Para o sociólogo Fernando Mayorga, da Universidade Mayor San Simón, em Cochabamba, as redes acabaram definindo as eleições: — O governo fez escasso uso das redes sociais, que teve tanta importância. Foram elas que terminaram definindo a agenda midiática que, sem regulação, tende ao sensacionalismo. Isso predominou, mas não diria que foi uma iniciativa cidadã, que nasceu espontaneamente, como na Primavera Árabe ou nos protestos brasileiros de 2013. A iniciativa veio dos partidos da oposição, que depois saíram para comemorar a vitória. Daniel Moreno, da ONG Ciudadanía, por sua vez, acredita que foi a própria sociedade civil quem se manifestou com uso maciço das redes: — Diferentemente das eleições de 2014, esta não foi sobre partidos políticos. Do lado do Não foi a sociedade civil quem se manifestou, de Com 85% das urnas apuradas, às 21h (hora -LA PAZ E RIO- Números local), o Não vencia por 7,6 pontos percentuais: 53,8% NÃO 46,2% SIM maneira espontânea. Mais do que um trunfo da oposição, o resultado é uma derrota do governo — disse. — De toda maneira, foi uma campanha muito agressiva, de muita tensão entre as distintas propostas. Em oito anos, nunca houve um um momento de polarização tão grande. BUSCA POR UM SUCESSOR O Não se impôs nas maiores capitais do país, em cidades como La Paz, Santa Cruz e Potosí — antigo reduto do presidente. Já o Sim venceu na área rural e em cidades como Oruro e Cochabamba. O Tribunal Supremo Eleitoral tem sete dias para divulgar os números oficiais, mas a maioria dos analistas acredita que dificilmente a margem de diferença será revertida. — É possível, mas não muito provável. Não creio que a diferença a favor do Sim na área rural seja suficiente para reverter os pontos de vantagem. De qualquer forma, a margem deve ser muito apertada — explicou Moreno. Mesmo assim, durante todo o dia, Morales defendeu um empate técnico, lembrando que os votos da área rural e do exterior poderiam mudar a tendência dos resultados, como já aconteceu em outras eleições. No total, seis dos nove departamentos do país votaram contra as mudanças constitucionais. Mas, enquanto as cidades escolheram o Não, as áreas rurais permaneceram fiéis ao presidente Morales, com 65% de apoio. O cenário, no entanto, representa uma perda em relação a votação de 2014. Uma das derrotas mais marcantes foi em Potosi, onde o presidente conseguiu apenas 14% dos votos — a região deu a ele sua maior porcentagem de votos, em 2005. Se os resultados forem mesmo confirmados, governo e oposição precisam agora pensar em um substituto. Mayorga acredita que Morales deve optar por apoiar um sucessor, mas sem sair totalmente de cena — para que possa voltar a concorrer em 2025. — Tenho a impressão de que será um modelo parecido com o brasileiro, similar ao que Lula fez ao indicar Dilma. A convocação de um referendo como esse é baseado em um cálculo político. Caso Evo Morales perca, ainda dispõe de três anos para forjar um candidato que tenha força. Antes mesmo dos resultados oficiais, Evo admitiu que ainda é cedo para escolher um sucessor e lembrou que sua vida política não acabou. — Vamos respeitar os resultados, seja o Não ou o Sim. Vamos nos preparar. Seguramente vamos debater (um sucessor) com as organizações sociais quando chegue a hora. No MAS há muitas lideranças — afirmou. — É um erro da oposição pensar que minha vida terminou. A oposição começou a comemorar o resultado ainda no domingo, quando saíram as primeiras pesquisas de boca de urna. — Faltam quatro anos de governo. Este não é um momento de pensar em candidatos — disse ao GLOBO o líder da Unidad Nacional (UN), Samuel Doria Medina. — Foi uma vitória de muitas pessoas, dos jovens nas redes. Ficou claro que, por mais recursos que tenha um governo, ele nunca pode vencer a ação cidadã. l NA WEB glo.bo/1PThisf Lista: Seis presidentes que tentaram mudar a Constituição para se reeleger Corpo a corpo MARCELO VARNOUX ‘Não há sucessor para Morales’ Para o diretor da Associação Boliviana de Ciência Política, resultado também é revés para oposição CAROLINA LIMA [email protected] O que representa a vitória do “não”? O resultado representa a primeira derrota de Morales em uma eleição após dez anos de governo. É um grande golpe ao presidente, mas também ao partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), que tem que repensar suas metas e objetivos. É preciso mudar o governo, muito abalado pelos recentes escândalos de corrupção e ligado a grupos criminosos. Além disso, os movimentos sociais foram sequestrados por dirigentes políticos. l Com a impossibilidade de Morales concorrer em 2019, quem o substituiria no partido? Não há ninguém para substituí-lo. O MAS é um partido caudilhista — modelo implantado em outros países latino-americanos —, com todos os holofotes voltados para Morales: um líder carismático, mas também autoritário. Ele fica numa situação bem difícil nesse papel de indicar alguém para ocupar seu lugar. l E a oposição, como fica? A situação também é muito complicada para a oposição, ainda muito dispersa, mas que deve aproveitar o momento para propor um modelo alternativo para o governo. Eles têm que combater a ineficiência atual, mas recuperando as conquistas sociais do MAS. O ideal é encontrar um candidato mais democrático, voltado para os jovens e que atenda as demandas da população. No entanto, até agora, não há uma pessoa despontando nesse sentido. l Análise O populismo perde força na América Latina O primeiro grande golpe aconteceu há pouco mais de dois meses, em 6 de dezembro do ano passado, quando os venezuelanos foram às urnas para votar os representantes da Assembleia Nacional. E naquele domingo, algo mudou: foi o primeiro não que a revolução e o sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, receberam desde a morte de seu líder, em 2013. A Mesa de Unidade Democrática (MUD), aliança opositora, recebeu a maior parte do apoio da população, convencida de que o modelo havia fracassado. Foram 16 anos de predomínio chavista inquestionável e autorregulado. Mas a decisão de buscar uma mudança e plantear novos jo- gadores parece ser uma ficha a mais, e fundamental, no caminho de mudança, que tem agora novo impulso na região. O que aconteceu na Venezuela não foi algo isolado. A amizade política entre o ex-presidente argentino Néstor Kirchner e Chávez era uma demonstração fiel das afinidades econômicas e sociais dos dois governos no continente. E as eleições argentinas de 22 de novembro do ano passado mostraram que a proposta do atual presidente, Mauricio Macri, também havia convencido mais a população do que a da Frente para a Vitória, que esteve 12 anos no poder. Agora, se produz o terceiro grande golpe. Evo Morales convocou o povo boliviano a votar se queria ou não lhe dar a oportunidade de continuar na presidência. De acordo com a Consti- tuição atual, Evo não poderia voltar a concorrer, mas, se recebesse o sim da população, estava disposto a fazê-lo. Queria se postular a um quarto mandato e, caso ganhasse, converter-se no único presidente democrático do continente no poder por quase duas décadas. Mas não conseguiu. O povo disse chega. Até 2019 já é suficiente. Rafael Correa, chefe de Estado equatoriano, outra das grandes personalidades populistas da América Latina, mudou a Constituição no fim do ano para habilitar a reeleição indefinida. No entanto, garante que não se apresentará para as próximas eleições e que não pretende estender seu mandato. Sua gestão termina em 2017, dez anos depois que assumiu. (La Nación) l O que abalou a popularidade do presidente? Lamentavelmente, Morales é uma figura autoritária, que não dialoga com a oposição. O resultado mostra que a população está cansada desse modelo. Os escândalos de corrupção pioram a situação, com a percepção que até mesmo os cabeças no governo estão envolvidos nos esquemas ilegais. Há ainda os vínculos com grupos mafiosos, entre eles o caso da empresária Gabriela Zapata (a ex-namorada do presidente, que conquistou contratos avaliados em US$ 566 milhões do governo). l l 22 l O GLOBO l Mundo l Terça-feira 23 .2 .2016 EUA e aliados lutam contra expansão do EI na África AFP/21-2-2016 Objetivo de grupo extremista é construir um califado na Líbia ERIC SCHMITT Do New York Times -THIES, SENEGAL- O braço do Estado Islâmico (EI) na Líbia está se alastrando sobre uma ampla área da África, atraindo novos recrutas de países como o Senegal, que estavam em grande parte imunes à propaganda jihadista. Autoridades africanas, junto aos aliados ocidentais, aumentam os esforços para combater a ameaça. Os ataques aéreos americanos no Noroeste na Líbia, na sexta-feira, que destruíram um campo de treinamento do EI, com o objetivo de matar o extremista tunisiano Noureddine Chouchane — “provavelmente morto” na operação, segundo o Pentágono — sublinharam o problema. Os mais de 40 combatentes do EI mortos no bombardeio foram recrutados da Tunísia e de outros países africanos, segundo militares americanos, e estariam ensaiando um ataque contra alvos ocidentais. Enquanto as agências da Inteligência dos Estados Unidos dizem que o número de combatentes do EI no Iraque e na Síria caiu de 31.500 para cerca de 25 mil, em parte por causa da campanha aérea liderada pelos EUA, fileiras do grupo na Líbia praticamente dobraram — para cerca de 6.500 combatentes. Pedindo anonimato porque as discussões envolvem planejamento militar e de Inteligência, mais de uma dezena de funcionários americanos e aliados falaram da crescente preocupação com a expansão da organização militante na Líbia e outras partes da África. Líderes do EI na Síria estão avisando a recrutas que vêm de nações do Oeste africano, como Senegal e Chade, bem como do Sudão, na África Oriental, para que não rumem ao Oriente Médio. Em vez disso, são orientados a ir para a Líbia. A Inteligência dos EUA afirma que o objetivo imediato do EI é constituir um novo califado neste país: há sinais de que o grupo estabelece instituições de governança por lá. — O EI na Líbia tornou-se um ímã que atrai pessoas não só no país, mas do continente africano, bem como de fora — enfatiza o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, John Brennan. US$ 200 MILHÕES PARA TREINAMENTO Enquanto cresce a ameaça na Líbia, muitos dos principais conselheiros militares e de Inteligência do presidente dos EUA, Barack Obama, pedem a aprovação do uso mais amplo da força militar americana no país para abrir uma nova frente contra o EI. Antes de recorrer a qualquer ação militar, no entanto, a Casa Branca e os aliados ocidentais, como o Reino Unido, a Itália e a França, tentam ajudar na formação de um governo de unidade no país africano. O objetivo é usar uma nova autoridade central para reunir dezenas de milícias rebeldes na luta contra um inimigo comum: o EI. Forças especiais americanas e europeias poderiam ajudar e assistir as milícias, segundo militares. — Nossa preferência é treinar líbios para lutar — afirmou Obama na semana passada. — Boa parte da população líbia é constituída de combatentes que não se submetem ao EI ou à ideologia pervertida do grupo. Mas eles têm de ser organizados, e não podem lutar entre si. O governo dos EUA, junto aos aliados, está se preparando para treinar tropas líbias, assim que o recém-formado governo de unidade requisitar o auxílio. Os países também correm para reforçar parceiros africanos cruciais na luta contra a expansão do EI no continente. O Pentágono propôs gastar US$ 200 milhões (R$ 790 milhões) este ano para ajudar a treinar e equipar os Exércitos e as forças de segurança de países do Norte e Oeste africano. Os EUA estão prestes a construir uma nova base de drones, ao custo de US$ 50 milhões, em Agadez, no Níger, que permitirá que aviões de vigilância decolem centenas de milhas mais próximos do Sul líbio. O coronel Mahamane Laminou Sani, principal oficial da Inteligência do Níger, afirmou que o país aumentou as patrulhas de fronteira contra a ameaça na nação vizinha, e as tropas francesas estacionadas no extremo Norte do Níger estão fazendo o mesmo. O EI na Líbia é agora a mais perigosa das oito filiais do grupo, de acordo com funcionários de contraterrorismo americanos, que acrescentam: meia dúzia dos altos oficiais do EI chegaram da Síria nos últimos meses para reforçar o braço líbio. — É uma ameaça global que não é restrita por fronteiras — afirma o tenente-coronel Moussa Mboup, do Exército senegalês, com treinamento nos Estados Unidos e na França. l NYT/12-2-2016 União antijihadista. Militares senegaleses fazem um exercício militar orientados por oficiais americanos: aliança busca conter o Estado Islâmico Corpo a corpo MITCHELL ZUCKOFF ‘Houve falhas de segurança naquela noite’ Escritor de ‘13 horas’ reconta ataque ao consulado dos EUA em Benghazi, em 2012, e diz que seu livro, lançado enquanto Hillary Clinton disputa a indicação à Casa Branca, não é político MARINA GONÇALVES [email protected] Foram 13 horas de tensão praticamente desconhecidas por grande parte da população americana — que concentrou as atenções na morte do embaixador Chris Stevens durante o ataque ao complexo diplomático dos EUA em Benghazi, na Líbia, em 2012. Mas, naquele 11 de setembro, uma equipe de seis soldados evitou que a tragédia fosse maior, defendendo durante a madrugada o anexo ao lado do posto, onde trabalhava uma equipe da CIA. O escritor Mitchell Zuckoff escolheu este ponto de vista para recontar os eventos em “13 horas — Os soldados secretos de Benghazi” (Bertrand Brasil), que até hoje ecoam na política americana com a pré-candidatura de Hillary Clinton, secretária de Estado à época. Por que escrever sobre o aconteceu tantos anos depois? Tanto foi dito e escrito sobre Benghazi que o episódio se tornou um jogo político. Mas o que as pessoas não sabiam era o que aconteceu no terre- l Estado à época, Hillary Clinton, assumiu a responsabilidade. Acho que é uma conclusão justa do livro, de que houve falhas de segurança antes dos eventos daquela noite. no. Quando eu tive a oportunidade de trabalhar com os caras que estavam de fato lá, que lutaram durante toda aquela noite, me pareceu uma oportunidade de contar o que realmente aconteceu, não a política por trás daquilo, mas a verdade sobre a linha de frente. l Um dos personagens mais criticados é “Bob”, chefe da CIA ali à época. Por que não identificá-lo? Ele construiu toda sua carreira como funcionário da Inteligência americana, muitas vezes arriscando a própria pele. Para mim, não haveria qualquer propósito em revelar sua identidade. l l O livro expõe a grande vulnerabilidade do complexo diplomático. Mas, no prólogo, o senhor deixa claro que não quer apontar culpados. Não foram apontados culpados? É uma pergunta muito justa e a resposta é simplesmente sim. Mas quero deixar claro que aqueles erros ocorreram antes de o ataque acontecer. Não sou o único a dizer isso. Há um relatório do Departamento de Estado dos EUA que chega a conclusões parecidas e a secretária de l O senhor acredita que haverá algum impacto na pré-candidatura de Hillary Clinton? Aprendi a não especular. Certamente Hillary está no livro porque estava envolvida naquela noite e falou sobre o que aconteceu depois. Mas o livro não é político. Uma das versões mais divulgados após o ataque é que ele teria sido motivado pela exibição de um filme satírico sobre o profeta Maomé. O livro questiona essa versão... Claramente havia muita coisa acontecendo naqueles dias. Houve protestos no Cairo, na Tunísia e em outros lugares. Mas não havia protestos em Benghazi. Ao mesmo tempo, posso entender que demora um tempo para as coisas ficarem claras. O objetivo do meu livro é tentar ajudar a esclarecer o que aconteceu. l Em primeiro. Trump é aclamado na Georgia, e lidera com folga em Nevada Trump é favorito nas prévias em Nevada Com 27,8 % da população latina, estado será teste para republicanos HENRIQUE GOMES BATISTA Correspondente [email protected] -WASHINGTON- A quarta etapa da es- colha do Partido Republicano para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro, será realizada hoje, com o caucus (reunião de eleitores) de Nevada. A disputa será um teste do partido entre eleitores latinos. Pesquisas apontam, contudo, o bilionário Donald Trump na liderança, com os senadores de origem cubana Marco Rubio (Flórida) e Ted Cruz (Texas) brigando pela segunda posição. O estado — que no sábado deu uma vitória a Hillary Clinton por cinco pontos sobre Bernie Sanders na disputa Democrata — tem 27,8% de sua população de origem latina. Segundo o Centro para América Latina, Caribe e Estudos Latinos (Clacs, na sigla em inglês) da City University de Nova York, os eleitores latinos no estado de 2,8 milhões de habitantes já somam 332 mil, sete vezes mais do que em 1990. A pesquisa da CNN realizada entre os dias 10 e 15 — ou seja, antes da primária da Carolina do Sul, no sábado, vencida por Trump, com Rubio e Cruz praticamente empatados em segundo lugar —, apontava o bilionário com 45% das intenções de votos em Nevada, seguido por Rubio, com 19%, e Cruz, com 17%. O neurocirurgião aposentado Ben Carson aparecia com 7% das intenções de votos e o governador de Ohio, John Kasich, tinha a preferência de 5% dos entrevistados. Trump cresceu na disputa nacional com a polêmica proposta de deportar até 11 milhões de imigrantes sem papéis e propon- do a construção de um muro na fronteira dos EUA com o México, que seria, segundo ele, pago pelos mexicanos e que teria custo de US$ 12 bilhões (cerca de R$ 48 bilhões, ou o equivalente a quase cinco vezes o custo da extensão do metrô do Rio até a Barra). No seu discurso, após a vitória de sábado, Trump disse que “amava o México e os mexicanos”, mas que tem de defender seu país. LATINOS PREFEREM DEMOCRATAS Cruz e Rubio, por sua vez, são de origem latina, mas não são muito populares fora da colônia cubana, mais conservadora e concentrada no Sul da Flórida. No penúltimo debate entre os pré-candidatos, Cruz, de extrema-direita, acusou Rubio de ter, no passado, defendido posições mais “abertas” sobre imigração, defendendo um caminho que poderia passar por uma anistia. Cruz também foi culpado de, no passado, não ser tão duro contra os imigrantes como agora. — O voto latino é muito importante neste estado, mas está majoritariamente apoiando os democratas. Contudo, pode ser uma mostra de como este grupo vai se posicionar na disputa republicana — disse o advogado Ben Ginsberg, cofundador da Presidential Commission on Election Administration, criada por Barack Obama, em 2013, com membros dos dois partidos, para ampliar a democracia. Com a proximidade da Super Terça, na próxima semana, quando 13 estados republicanos escolhem candidatos, os pré-candidatos não deram a Nevada a mesma dedicação que dispensaram aos três estados que fizeram escolhas até agora. Muitos dividiram suas agendas com apresentações em outros estados. l NA WEB glo.bo/1LCHnru ‘Os Simpsons’ faz piada com briga entre os pré-candidatos à Casa Branca Walesa diz que acusação de ser informante foi forjada ‘Por hora, estou devastado’, lamenta ex-presidente após divulgação de papéis -VARSÓVIA- Após a revelação de centenas de documentos que atestariam o vínculo de Lech Walesa, ex-presidente polonês e líder do movimento Solidariedade, com o regime soviético que dominava o país nos anos 1970, ele reagiu e negou as acusações. A divulgação foi feita ontem pelo Instituto de Memória Nacional da Polônia. Walesa alegou, em uma rede social polonesa, que os documentos foram forjados: — Eu perdi. Mas perdi apenas porque quase todos acreditaram que houve qualquer colaboração traiçoeira de minha parte, mesmo que fosse ocasional e curta, com o serviço de segurança, 46 anos atrás. Pelo menos por hora, estou devastado. Obrigado. Eu não traí vocês. Vocês me traíram — publicou Walesa, em seu blog. Segundo os documentos, Walesa teria servido às autoridades soviéticas como informante comunista pago, sob o codinome de “Bolek”, entre 1970 e 1976 — período em que liderava protestos trabalhistas no estaleiro da cidade de Gdansk. Ganhador do Nobel da Paz em 1983, Walesa, de 72 anos, foi declarado inocente de acusações semelhantes, no ano 2000. Ele enfrenta denúncias de que seria informante do regime comunista há mais de 20 anos. l Terça-feira 23 .2 .2016 O GLOBO Sociedade l 23 MECANISMO DE DEFESA _ FABIAN BIMMER/REUTERS/2-6-2011 Cultura em laboratório. Análise da bactéria E. coli, que pode causar infecção urinária, respiratória e pneumonia, mostrou que ela se defende de antibióticos graças a uma membrana externa que impede a entrada dos medicamentos Ponto fraco das superbactérias Cientistas desvendam sistema que torna os micro-organismos resistentes a antibióticos CLARISSA PAINS [email protected] A guerra contra as superbactérias ganhou um capítulo importante ontem, com a publicação na revista “Nature” de uma pesquisa que revela o método usado por esses micro-organismos para resistir aos antibióticos que temos hoje no mercado. O estudo explica que as superbactérias são reforçadas por uma espécie de barreira que fica do lado de fora da célula, como uma membrana externa, impedindo que medicamentos entrem nela e façam efeito. O grande achado dos pesquisadores foi descobrir o ponto fraco dessa barreira: ela é formada por uma engrenagem de proteínas, que para de funcionar quando uma de suas peças é deslocada. Desenvolvido pela Universidade de East Anglia, no Reino Unido, o estudo analisa a Escherichia coli, da classe das bactérias gram-negativas — aquelas com membrana interna e externa, enquanto as gram-positivas têm somente uma interna. Com esse reforço na parede celular, as bactérias gram-negativas são muito mais difíceis de serem tratadas e podem causar doenças como meningite e cólera. Nem todas se transformam em superbactérias, mas elas são as que mais causam infecções hospitalares, sendo, por isso, as mais preocupantes para os médicos. A E. coli, especificamente, é capaz de provocar pneumonia, doenças respiratórias e infecção urinária — cerca de 80% dos casos desse tipo de infecção, por exemplo, são causados por E. coli. Ela é fundamental para a nossa sobrevivência, sendo uma das bactérias mais importantes do sistema gastrointestinal, mas justamente por para as bactérias gram-negativas sobreviverem. ser tão prevalente no nosso organismo, pode Interromper esse mecanismo de defesa faz com adquirir resistência com mais facilidade. que o antibiótico penetre na célula e a mate. AgoNa membrana externa dessa bactéria, os pes- ra, temos que fazer testes para descobrir antibióquisadores encontraram o que chamaram de ticos que possam fazer isso — afirma ele. complexo BAM, sigla em inglês paExistem no mundo aproximadara mecanismo de montagem barril mente 40 classes de antibióticos, a beta, nome que se refere à forma última delas registrada em 1987. adotada pelas proteínas. Esse comDe lá para cá, o corpo humano plexo é o responsável por abrir ou vem desenvolvendo resistência a fechar “portões” na membrana, muitas delas, especialmente por permitindo ou não que moléculas conta do uso indiscriminado desentrem na célula. Os cientistas brises medicamentos, sem prescritânicos foram os primeiros a desção médica adequada. crever como esse complexo é divi— Este é um desafio de saúde dido em cinco partes — chamadas global. Muitos antibióticos atuais de BamA, BamB, BamC, BamD e estão se tornando inúteis, o que BamE — e como essas subunidades causa centenas de milhares de trabalham juntas para controlar o mortes a cada ano. O número de que a bactéria absorve. superbactérias aumenta a um rit— Nossa pesquisa mostra o commo inesperado — avalia Dong. plexo BAM inteiro, nos estágios iniSurtos de infecções hospitalares cial e final — destaca o principal aupor superbactérias têm ocorrido tor do estudo, Changjiang Dong, da com certa frequência no Brasil peFaculdade de Medicina da Univer- Changjiang Dong lo menos desde o início desta désidade de East Anglia. — Descobri- Universidade de East cada. O primeiro caso a chamar mos que as cinco subunidades for- Anglia, Reino Unido atenção foi no Distrito Federal, em mam uma estrutura em forma de 2010, quando 163 pacientes foram anel que trabalha em conjunto para inserir pro- contaminados em hospitais diferentes e 18 deteínas na membrana externa por meio de um les morreram. Todos por causa da superbactémecanismo de rotação. ria KPC, que também é gram-negativa. Segundo ele, a descoberta abre caminho para Os olhos da comunidade médica internacioa criação de uma nova classe de antibióticos, nal estão cada vez mais voltados para este procapazes de burlar essa engrenagem. blema, que, de acordo com um relatório enco— O complexo BAM é absolutamente essencial mendado pelo governo britânico e divulgado “Este é um desafio de saúde global que causa milhares de mortes” Anel vaginal reduz em 30% infecção por HIV Produto libera droga antirretroviral no organismo das mulheres Um anel vaginal trocado mensalmente e contendo a droga antirretroviral dapivirina pode reduzir em cerca de 30% a infecção de HIV em mulheres. Desenvolvido pela ONG Parceria Internacional para os Microbicidas (IPM, na sigla em inglês), o anel é a primeira medida de prevenção ao vírus a longo prazo projetada para as mulheres, as maiores vítimas da epidemia global de Aids na África. Em outro estudo, conduzido pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, em inglês) usando o mesmo método de prevenção, a infecção pelo vírus caiu 27%. Esta é a primeira vez que duas pes- quisas em estágio avançado confirmaram a eficácia do uso de microbicidas contra o HIV. As duas entidades divulgaram seus resultados ontem, na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas, nos EUA. Ambas as pesquisas constataram diferenças importantes na eficácia do anel, dependendo de sua consistência, adesão e da idade da mulher. Segundo a NIH, o risco de infecção por HIV diminuiu 56% em mulheres com idade média de 21 anos. No exame da IPM, a redução para a mesma faixa etária foi de 37%. As duas instituições não constataram efeitos significativos do anel vaginal entre usuárias menores de 21 anos. Por isso, os pesquisadores ainda tentam compreender o uso da nova tecnologia e os fatores biológicos que precisam ser superados. — Estes resultados dão uma nova esperança para muitas mulheres que precisam de mais e diferentes tipos de proteção contra a infecção por HIV — comemora Zeda Rosenberg, diretora da IPM. — Vamos buscar a aprovação do anel mensal de dapirivina e trabalhar com parceiros para determinar seu papel no fortalecimento dos esforços para prevenção ao HIV. ADAPTAÇÃO DE TECNOLOGIA O anel mensal de dapivirina adapta uma tecnologia médica comumente usada em contraceptivos que liberam hormônios para, em vez disso, enviar uma droga antirretroviral para combater o vírus HIV. As mulheres na África Subsaariana permanecem em alto risco de contrair HIV, apesar do progresso global contra a doença. A corrida para erradicação da epidemia incentivou, nos últimos anos, o desenvolvimento de novas opções de prevenção, como microbicidas vaginais e vacinas. As participantes dos estudos divulgados ontem foram distribuídas aleatoriamente em dois grupos: um que usou o anel de dapivirina, outro que recebeu um anel de placebo, sem a droga. Os pesquisadores chegaram a índices de eficácia semelhantes. Na IPM, entre as 1.300 participantes que receberam o anel de dapivirina, 77 contraíram HIV; entre as 650 com o objeto de placebo, 56 contraíram o vírus — a eficácia, portanto, foi de 31%. Na análise final do NIH, apenas 71 das 1.308 usuárias do anel de dapivirina foram contaminadas pelo vírus. Entre as 1.306 com o placebo, 97 foram infectadas. Neste caso, a eficácia do produto foi de 27%. l em meados do ano passado, deve custar a vida de 10 milhões de pessoas por ano a partir de 2050, caso as pesquisas não consigam avançar na produção de novas drogas. Segundo o documento, as perdas econômicas totalizariam US$ 100 trilhões, de 2014 a 2050. Para Carlos Kiffer, pesquisador do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a estrutura da membrana externa de outras bactérias gramnegativas que tendem a ser resistentes, como a KPC, deve ser parecida com a descrita pelo estudo. Sendo assim, a pesquisa ajuda a entender melhor a “arquitetura” de todas essas bactérias, um importante passo para combatê-las. Pode parecer contraditório que superbactérias formadas a partir do uso excessivo de antibióticos sejam atacadas com mais antibióticos. No entanto, segundo o professor, são necessárias novas drogas — ou novas formulações para as que existem — para tratar os tipos de resistência que já temos e, em paralelo, passar a consumir esses medicamentos com cuidado, na dose certa e seguindo o tratamento até o fim. Isso tornaria nosso corpo menos propício a criar resistência. — De certa forma, existe um círculo vicioso, mas necessário. A Humanidade ainda precisa de antibióticos, a questão é o uso racional deles — pontua Kiffer. — Além dos remédios que ingerimos, um grande problema é que muitos alimentos também são repletos de antibióticos. Para que os vegetais não tenham determinado tipo de fungo ou para que os frangos cresçam rapidamente, pagamos com nossa própria saúde. Seria preciso uma legislação que proibisse isso. l ANDREW LOXLEY Anel com dapivirina. Estratégia pode conter avanço do HIV na África 24 l O GLOBO Terça-feira 23 .2 .2016 Esportes ARNALDO BRANCO | FUTEBOL Neymar recorre para não ser cobrado TÊNIS [email protected] Recompensa | Cartão de visita SALTO ALTO Principal surpresa do Rio Open, Thiago Monteiro sobe 60 posições no ranking após vitória histórica sobre Tsonga DANIEL MARENCO Prazer, Arnaldo. Escrevo minhas primeiras linhas neste jornal me sentindo mais ou menos em casa: meu pai, Aloisio Gentil Branco, foi secretário de redação do GLOBO por dezessete anos, até sua morte. Antes disso, trabalhou no extinto “Correio da Manhã”, onde por um breve período foi obrigado a assumir o horóscopo, embora mal soubesse seu signo. Felizmente (os adeptos da astrologia já eram tão ferozes naquela época quanto hoje) nunca foi descoberto. L embro de uma crônica do Luis Fernando Verissimo em que o escritor confessava o mesmo delito (o acúmulo de funções em uma redação vem desde essa época), embora não tenha tido a mesma sorte: foi flagrado por uma leitora atenta, em uma tecnicalidade. Moral da história: leigos podem escapar impunes, mas nem sempre. Futebol e horóscopo são parecidos: passam longe de ser ciências exatas, mas atraem um bando de dogmáticos que insistem existir um jeito certo de ler o quadro geral. E assim como nos casos em que a personalidade contradiz o signo e você pode culpar o ascendente, no futebol também existem variáveis que servem de justificativa nas vezes em que você erra o prognóstico. É com elas que conto pra livrar a minha cara quando falar bobagem aqui — percebam que nem assumi direito essa coluna e já estou preparando minha defesa. De qualquer forma, queria agradecer ao professor Márvio dos Anjos pela oportunidade. Faço questão de dizer o nome do editor responsável pela minha escalação: essa é uma das maravilhas do futebol, o técnico costuma levar a culpa pelo perna de pau. _ Aventureiros Quando o Eike Batista estava com a moral (e o crédito) lá em cima, tocando a reforma (melhor dizer destruição) do Hotel Glória, recebeu Madonna, que elogiou um lustre original da casa. O hoje exbilionário não teve dúvidas: mandou tirar do teto e embrulhar para a cantora, que hoje em dia deve estar usando o presente para decorar seu porão. Lembrei desse gesto muito jeca domingo, enquanto acompanhava pela TV um Fla-Flu disputado a mil e duzentos quilômetros do Maracanã: é isso que dá entregar um cartão postal da cidade para aventureiros. _ País da bolinha Nossa moral no futebol foi seriamente abalada pelo 7 x 1, mas seguimos campeões na modalidade sorteio: a chave do Brasil na fase de grupos da Copa América é uma teta que tem Peru, Haiti e Equador. O problema de ser tão claramente favorecido pela sorte é que os maus resultados só podem ser explicados pela incompetência. Novo desafio. Após melhor semana da carreira, Thiago Monteiro estreia hoje no Brasil Open contra Nicolas Almagro GUSTAVO LOIO [email protected] Na carreira de um tenista profissional, subir no ranking mundial abre as portas e dá mais visibilidade. E ontem, o cearense Thiago Monteiro, de 21 anos, colheu os frutos da vitória histórica sobre o francês Jo-Wilfried Tsonga, nono do mundo, no Rio Open, semana passada. Por ter vencido na estreia no único ATP 500 do país, o brasileiro subiu nada menos que 60 posições. Agora, o jogador, que, em 2015, ficou três meses e meio fora das quadras, devido a uma lesão no joelho esquerdo, é o 278º do mundo. Com os pés no chão, Monteiro, que estreia hoje no Brasil Open, por volta das 20h (com transmissão do Sportv 3 e do BandSports), no Clube Pinheiros, em São Paulo, contra o espanhol Nicolas Almagro (tricampeão do torneio), não tem pressa para seguir galgando posições entre os melhores. — Mais um passo no meu retorno. Quero ir subindo passo a passo para poder jogar os torneios maiores. Meu próximo objetivo é o top 200 e vou caminhando pouco a pouco, sabendo que ainda há bastante a melhorar — diz Thiago, que, desde outubro de 2014, faz parte da Tennis Route, no Recreio dos Bandeirantes. TOP 100 É O OBJETIVO No Rio Open, o brasileiro perdeu uma partida equilibrada para o uruguaio Pablo Cuevas, que seria campeão, na segunda rodada. Mas saiu de cabeça erguida do Jockey Club: — Os jogos no Rio me deram muita confiança e provaram que posso chegar ao top 100. Para o Brasil Open, o cearense sabe a pedreira que terá pela frente logo mais: — Almagro é um ótimo joga- dor, especialista no saibro. Entro sem pressão e focado em dar o meu melhor e seguir evoluindo meu tênis nesse nível. Fisioterapeuta que foi fundamental para a recuperação de Monteiro após a lesão do ano passado, como o próprio jogador reconhece, Paulo Carvalho elogia a postura do jovem tenista. Inicialmente, o rompimento parcial nos ligamentos no joelho indicaria uma cirurgia, o que deixaria o cearense fora de combate por cerca de um ano e meio. Mas Carvalho desde o começo se mostrou contra a intervenção cirúrgica, que acabou descartada. — A recuperação foi muito boa porque que tive a sorte de estar na frente de um ser humano diferenciado, que aceitou a proposta de tratamento. Em certo momento ele disse: “Esta lesão veio para mudar a minha vida”. E os resultados estão aí — conclui. l Estratégia é evitar pagamento de multas enquanto caso é julgado Neymar tenta uma cartada derradeira na Receita Federal. O jogador, que tem nada menos do que nove processos por lá, recorreu de auto de infração no Imposto de Renda de 2014 ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf ), última instância do Fisco, como revelou ontem o blog “Panorama Esportivo”, do GLOBO. O craque entra em campo pelo Barcelona contra o Arsenal, hoje (16h45m), na Liga dos Campeões. O Ministério da Fazenda não revelou os valores que o atacante deve neste caso, mas o processo já foi expedido ao Serviço de Controle de Julgamento (Secoj). Como o Leão prometeu acelerar os processos em relação a Neymar, que já teve quase R$ 193 milhões bloqueados em bens pela Justiça devido a sonegação de impostos entre 2006 e 2013, ele pode ter que enfrentar nova batalha judicial se o Carf indeferir seu recurso. A nova estratégia de Neymar pode estar relacionada à dupla derrota na Justiça Federal, à qual ele e seu pai recorreram para suspender o pagamento de multas de R$ 459.671,25 aplicadas pela Receita em 2012. Antes mesmo de se esgotarem os recursos na esfera administrativa, eles tentaram suspendê-las judicialmente. Mas o juiz Bruno César da Cunha Teixeira, da 4ª Vara de Santos, negou os pedidos e manteve as multas. O advogado tributarista Felipe Renault explica o benefício de recorrer ao Carf. — Enquanto se discute administrativamente, ele não pode ser cobrado. A exigibilidade de tributo ou multa fica suspensa. O único lado ruim é que ele sofre com o acúmulo de juros — diz Renault. A pedido da Espanha, a Justiça Federal intimou os pais do craque a depor em 16 de março na 15ª Vara (Santos). l _ Desfalque Falando em incompetência, Dunga vai tentar a liberação de Neymar junto ao Barcelona por tempo suficiente para disputar a Copa América, Olimpíadas e Eliminatórias — competições onde o jogador vai ter várias chances de reencontrar o joelho de Zúñiga. É meio como pedir a câmera de um vizinho emprestada para ir cobrir a guerra no Iraque. E do jeito que as coisas estão, deve ter mais brasileiro lamentando o desfalque do Barcelona do que uma possível ausência do Neymar na Seleção — a começar pelo próprio Neymar, condenado a tabelar com o Hulk, se o lobby do técnico da seleção der certo. l Aos 35 anos, a quinta participação olímpica Juliana Veloso garante vaga nos saltos ornamentais durante Copa do Mundo da modalidade Até então um sonho, o desejo de disputar as Olimpíadas em casa virou realidade para Juliana Veloso. A saltadora, de 35 anos, garantiu, ontem, sua quinta participação em Jogos Olímpicos ao ficar em nono lugar nas eliminatórias do trampolim de 3 metros na Copa do Mundo de saltos ornamentais, que vai até amanhã no Parque Aquático Maria Lenk, na Barra. Com 315 pontos, ela ultrapassou a pontuação mínima necessária (299 pontos) para garantir a vaga na equipe brasileira. Hoje, das 16h às 18h, ela disputa as eliminatórias da prova. Se ficar entre as 12 melhores, vai à final, das 20h às 21h30m. — Esta vaga é minha. Estou feliz de ter garantido na piscina e não por ser país-sede — comemorou ela que, no domingo, ao lado de Tammy Galera, errou no trampolim sincronizado, caiu de costas na água e recebeu a nota zero. — Estou garantida em minha quinta Olimpíada. Talvez eu sinta este SATIRO SODRÉ/SSPRESS/DIVULGAÇÃO De novo. Juliana vai aos Jogos negócio de recorde de participação quando parar, mas agora, nem penso nisto, é apenas mais uma. Juliana é a primeira atleta da modalidade a disputar cinco Olimpíadas. Sua primeira participação foi nos Jogos de Sidney, em 2000, e o melhor resultado no trampolim de 3m veio em Atenas-2004, quanto terminou em 18º. A Copa do Mundo é um dos eventos-teste das Olimpíadas, e é aberto ao público. Os ingressos custam R$ 30. A programação de hoje começa às 10h, com as eliminatórias da plataforma masculina. l Basquete Varejão acerta com Golden State O pivô Anderson Varejão acertou, no domingo, sua ida para o Golden State Warriors, da Califórnia, atual campeão da NBA. Varejão, de 33 anos, atuará com Leandrinho, seu companheiro na seleção. O jogador ficou 12 anos no Cleveland Cavaliers, mas perdeu espaço recentemente por conta de lesões. A estreia pelo novo time já pode ser amanhã, contra o Miami Heat. l Esportes l Terça-feira 23 .2 .2016 O GLOBO l 25 FUTEBOL Criatividade NELSON ALMEIDA/AFP EXISTE AMOR EM SP Clubes paulistas lideram ranking de torcedores associados, com programas calcados em experiências exclusivas L AURO NETO [email protected] -SÃO PAULO- Enquanto o presidente Eurico Miranda estuda um “bolsa-ingresso” para o novo programa de sócio-torcedor do Vasco e os outros times cariocas ainda engatinham no tema, os paulistas lideram o ranking de associados com diferentes estratégias. Pesa muito ter um estádio próprio, como os quatro grandes clubes de São Paulo têm, mas ações de marketing exclusivas também estimulam o crescimento. No Corinthians, que assumiu a liderança do “torcedômetro”, com mais de 132 mil sócios e o maior crescimento em 2015 (67.751 novas adesões), não basta o ingresso, já que a procura é maior do que a oferta na maioria dos jogosno Itaquerão. Os dados são do Movimento Por Um Futebol Melhor, que Multidão. A torcida do Corinthians, que lota a maioria dos jogos no Itaquerão, lidera o ranking dos programas de sócios-torcedores, com mais de 132 mil desde 2013 informa os números dos clubes participantes. Diretor de marketing do Corinthians, Gustavo Herbetta, que reformulou o programa Fiel Torcedor, explica que são necessárias experiências exclusivas. — O principal produto que temos para atrair o torcedor é o ingresso, dando prioridade na compra. Mas, por ter uma demanda maior que a disponibilidade, é necessária uma contrapartida para que ele continue pagando por mais que não consiga ingresso. O segundo motivo são experiências exclusivas. Toda sexta-feira, levamos torcedores para assistir ao treino no CT. Além da entrevistas com a imprensa, temos coletivas com os fiéis torcedores. No vestiário, há uma sala de aquecimento a que eles têm acesso, assim como ao gramado antes do jogo — diz Herbetta. Com estratégia parecida, o “Avanti”, do Palmeiras, conseguiu atrair 62.452 novos sócios em 2015, assumindo a vice-liderança este ano, com quase 127 mil. O presidente do clube, Paulo Nobre, explica que há um programa de milhagem com troca por experiências “que o dinheiro não pode comprar”, como entrar em campo e cantar o hino junto com o time e colocar poltronas a um metro da lateral. Além disso, para atrair torcedores jovens, há desconto de 25% em uma universidade. — O “Avanti”, independente de o Palmeiras ser o primeiro ou segundo, é um supersucesso. Ganho com sócio-torcedor praticamente o que se ganha com dois patrocínios master na camisa e acredito que possa ser superior a uma cota de TV. Isso dá ao administrador a possibilidade de fazer investimentos diferentes. O grande segredo é ganhar a confiança do torcedor, a credibilidade de que 100% do valor é investido no futebol. Quando o programa foi de 60 para 90 mil, tivemos poder de fogo para fazer contratações que não estavam ao alcance — diz Nobre. O São Paulo, que firmou uma parceria com a Copa Airlines para dar 50% de desconto a seus sócios e teve o terceiro maior crescimento em 2015 (43.452), está em quinto lugar e começa a encostar no Grêmio (veja o ranking ao lado). O Flamengo, carioca mais bem colocado, em 8ª, uma posição atrás do Santos, teve o 6º maior crescimento no ano passado (12.392), atrás de Remo e Sport. Para Rafael Pulcinelli, diretor do Movimento Para um Futebol Melhor, os clubes cariocas deveriam explorar melhor as “experiências intangíveis”: — O Flamengo, por exemplo, poderia estender esses benefícios às suas “embaixadas” em outros estados. l SÓCIO-TORCEDORES 1. Corinthians, com 132.481 2. Palmeiras, com 126.903 3. Internacional, com 112.756 4. Grêmio, com 90.246 5. São Paulo, com 82.815 8. Flamengo, com 61.084 11. Fluminense, com 31.846 13. Vasco, com 17.466 16. Botafogo, com 13.521 INSCREVA SUA ESCOLA Regulamento e tudo sobre a competição: intercolegial.com.br Inscrições até 13 de março Informações: (21) 2497-0026 ou 7839-4140 Modalidades: Futsal | Vôlei | Basquete | Natação Tênis de Mesa | Atletismo | Judô | Polo Aquático Karatê | Vôlei de Praia | Hóquei na Grama | Xadrez Basquete 3x3 | Badminton | Luta Olímpica | Handebol Patrocínio Master: Parceria: Apoio: Realização: ESPORTES THIAGO MONTEIRO VITÓRIA VALE 60 POSIÇÕES O desejo de Dunga TERÇA-FEIRA 23.2.2016 oglobo.com.br Arnaldo Branco PÁGINA 24 PÁGINA 24 Em alta Volante do Flamengo não deixa que briga jurídica com Botafogo atrapalhe boa fase A EDUARDO ZOBARAN [email protected] utor do primeiro gol do Fla-Flu, Willian Arão é o melhor jogador rubro-negro na temporada. Com 23 anos, o volante tem mostrado maturidade para não deixar um entrave jurídico que se arrasta com o Botafogo, seu ex-clube, atrapalhá-lo em campo. Já são quatro gols (um em amistoso) e frequentes elogios de Muricy Ramalho. Na última quarta-feira, horas antes de enfrentar o América-MG — entrou apenas no segundo tempo —, Arão teve uma audiência com o Botafogo. Nela, não houve acordo com o clube, que cobra indenização de R$ 20 milhões. As duas partes aguardam a decisão do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT-RJ), ainda sem data para acontecer. — Não procuro saber. Deixo na mão deles (advogados) — disse Arão, ontem, no Sportv. — Tenho que me preocupar dentro das quatro linhas. Não adianta nada eu me preocupar e não render. AMEAÇA ALVINEGRA O Botafogo alega que os R$ 400 mil depositados na conta de Arão em 30 de novembro de 2015 seriam suficientes para assegurar a compra de 20% dos direitos econômicos que estavam sob posse do atleta. Com eles, esperava renovar o contrato. O clube detinha 50% dos direitos; e o jogador, os outros 50%. Em ação conduzida por Flávio Arão, pai do volante, o valor foi integralmente devolvido — mas nem chegou a voltar aos cofres alvinegros, já que foi penhorado para pagar dívidas com o zagueiro Rafael Marques. — O atleta, ilicitamente, se recusou a cumprir a cláusula contratual que, por livre e espontânea Goleiro uruguaio vive expectativa pela marca: ‘Motivo de orgulho’ MARCELO CARNAVAL TEORIA DE ARÃO Concentrado. Willian Arão bate bola em treino rubro-negro Martín Silva se aproxima do 100º jogo pelo Vasco vontade, havia assinado — afirma o vice-presidente jurídico do Botafogo, Domingos Fleury, que usou em sua argumentação na Justiça o caso entre o atacante Leandro Amaral, que, após assinar com o Fluminense, teve que voltar ao Vasco. — Se o jogador não pagar ou o Flamengo, que é solidariamente responsável, ele vai ter que ficar treinando separado até ser negociado. Ele não veste mais a camisa do Botafogo. MUDANÇA DA LEGISLAÇÃO A defesa de Arão — que não é feita pelo departamento jurídico rubro-negro — afirma que uma mudança nas regras da Fifa modificou o cenário. Desde maio, apenas os clubes em que os atletas estão vinculados podem deter os direitos econômicos. Assinado em 12 de janeiro de 2015, o contrato de Arão com o alvinegro foi feito em um momento de transição da legislação. — Se pagasse R$ 400 mil, o Botafogo iria adquirir 20% dos direitos econômicos do atleta. Como a Fifa determinou o fim dos direito econômicos a partir de maio, essa cláusula ficou prejudicada. O Botafogo não tinha mais o direito de comprar — argumenta o advogado Bichara Neto. Brigas jurídicas à parte, Arão recebe elogios de René Simões, que com frequência é citado como um dos responsáveis pela boa fase iniciada no ano passado. Para o ex-treinador do Botafogo, mais difícil que a briga judicial é a ida para um clube rival. — O problema maior é na cabeça, e isso ele já superou. É o melhor jogador do Flamengo no ano. Existe uma dificuldade em sair de um clube e ir para outro da mesma cidade, as pessoas já o conhecem e têm conceitos formados sobre você, alguns gostam, outros, não — analisa René. Depois de elogiar Volta Redonda, Muricy fez o mesmo com Brasília, que pode ser tornar a casa rubro-negra no Brasileiro. l “ (Arão) É mais forte na frente do que na marcação. É um jogador muito perigoso quando vem de trás e faz gols. Hoje não cabe mais aquele volante brucutu” Muricy Ramalho Técnico do Flamengo A expectativa pelo centésimo jogo com a camisa do Vasco já toma conta de Martín Silva. O goleiro, que soma 97 partidas pelo clube carioca, segundo o site NetVasco, pode atingir a marca na última rodada da primeira fase do Campeonato Carioca, contra o Bonsucesso, no próximo dia 6. — É um motivo de orgulho. Ser titular 100 vezes com essa camisa não é fácil para ninguém. Só tenho que agradecer à torcida, que ficou perto de mim como pessoa e como atleta. No ano em que cheguei (2014), tive um problema de saúde com minha filha e os torcedores me deram força — agradeceu o goleiro uruguaio, em depoimento ao site oficial do Vasco. Depois de vencer o Tigres por 2 a 0 no sábado, o elenco voltou aos trabalhos ontem, em São Januário. O Vasco entra em campo novamente na quinta-feira, contra o Friburguense, às 19h, em sua casa. Curiosamente, é o mesmo adversário da estreia de Martín Silva, em 2014. Naquela ocasião, o Vasco goleou por 6 a 0. Com 100% de aproveitamento no Campeonato Carioca e já garantido matematicamente na segunda fase, o técnico Jorginho pode aproveitar a vantagem para fazer experiências no time titular. Uma delas será encontrar um substituto para o meia Nenê, suspenso pelo terceiro cartão amarelo. — É até interessante o Nenê não jogar, para a equipe ver como se comporta sem ele. É estranho porque ele é um líder, mas temos jogadores que podem responder — afirmou o lateral Madson. l CLÁSSICO Botafogo e Flu buscam futebol convincente MÁRCIO ALVES/20-02-2016 Apesar de 100% de aproveitamento, alvinegro sofre com falta de organização N TATIANA FURTADO [email protected] O Botafogo é líder do Grupo B, ganhou os cinco jogos e levou apenas dois gols — a melhor defesa, ao lado do Vasco. Mesmo assim, o alvinegro é contestado a cada rodada, a cada vitória, todas elas diante de times de menor expressão. Agora, a equipe terá duas provas de fogo: o Fluminense, amanhã; e o Vasco, no domingo. A torcida ainda não sentiu confiança no time montado para o Carioca e para o retorno à Série A. Os triunfos vieram, mas, muitas vezes, na sorte e no último suspiro. JORGE WILLIAM/21-2-2016 Tricolor paga caro por erros da defesa neste início de temporada Não encantou. Airton e Gegê (7) tabelam na vitória sobre a Cabofriense À equipe de Ricardo Gomes falta organização no meiocampo. Por ser um elenco recheado de novidades, o entrosamento está prejudicado. Um dos pecados do time tem sido a ligação entre o setor de criação e o ataque. A bola não chega com facilidade aos atacantes. A chegada de Juan Salgueiro é uma esperança de melhoria na qualidade do futebol do Bo- tafogo. A diretoria já enviou a documentação do uruguaio, que assinou contrato na semana passada, para a Federação. Se o nome do jogador aparecer hoje no Boletim Informativo de Registro dos Atletas, ele terá condições de estrear amanhã. Para o clássico, o time pode ter o desfalque do zagueiro Renan Fonseca, com dores musculares. Carli entraria na vaga. l ão vai dar muito tempo para corrigir os erros até amanhã, quando o Fluminense enfrentará o Botafogo, em Cariacica (ES). Porém, o problema tricolor já foi detectado: é a defesa. Desde o início da temporada, o técnico Eduardo Baptista busca a melhor formação da zaga. Já passaram por ali Gum, Nogueira, Marlon, Renato Chaves e Henrique. Em quase todas as tentativas, a marcação mano a mano ou na cobertura não correspondeu. Erros individuais ou de colocação não ficaram impunes. O Fluminense sofreu oito gols no Carioca. Os dois últimos, no clássico com o Confusos. Wellington Silva e Henrique não evitam a finalização de Guerrero Flamengo, são bons exemplos. No primeiro gol rubro-negro, faltou marcação no primeiro pau, após escanteio cobrado por Mancuello. No segundo, ninguém foi ao combate de Rodinei, que cruzou para Guerrero. O atacante se antecipou facilmente a Henrique. Detalhes que explicam o quarto lugar no Grupo A, com sete pontos, oito a menos que o líder Vasco. A posição ainda garante o tricolor na zona de classificação para a fase seguinte — os quatro primeiros de cada chave formarão um grupo de oito. Mas não é uma posição confortável. — Jogamos para a frente e esquecemos de marcar — admitiu o técnico Eduardo Baptista após a derrota. l SEGUNDO CADERNO OGLOBO MÚSICA ‘Vynil’ garante nova temporada com fórmula que trata de glamour e decepção EM NOVO DISCO, JOÃO DONATO SOA MODERNO AOS 81 ANOS pág. 5 PATRÍCIA KOGUT TERÇA-FEIRA 23.2.2016 oglobo.com.br pág. 6 Ataques e ameaças a artistas dobraram no mundo entre 2014 e 2015, segundo levantamento de organização internacional ligada à ONU; maioria dos casos ocorre por pressões políticas e religiosas Suécia VIOLAÇÕES EM 2015 Reino Unido Canadá Letônia Bielorrússia Rússia Ucrânia Bélgica Polônia Coreia Turquia Azerbaijão Alemanha do Norte Uzbequistão Síria Espanha Macedônia 146 32 China Líbano Coreia Japão Afeganistão Irã Marrocos Israel do Sul Tunísia Kwait Bangladesh Bahrein Paquistão Catar Argélia Egito Emirados Arábia Mianmar Árabes Saudita Índia Nigéria Sudão Vietnã Eritréia Tailândia Gâmbia Burkina Somália Faso Malásia Etiópia Camarões Uganda Singapura Quênia França Nº DE NOTIFICAÇÕES EUA ACIMA DE 20 DE 11 A 20 DE 2 A 10 1 CASO 32 Dinamarca México 21 Cuba Costa Rica Venezuela Equador Angola América Latina é a região com o pior monitoramento, por falta de fontes confiáveis para os registros de censura Bolívia Paraguai Argentina Brasil não aparece com nenhum caso em 2015, mas é citado em relatórico por opressão ao funk Burundi Indonésia Zâmbia Malawi Austrália Zimbábue África do Sul Nova Zelândia Editoria de Arte ANDRÉ MIRANDA [email protected] A mensagem apareceu na internet em maio e tinha como alvo não apenas o cantor iraniano Shahin Najafi, como todos os seus fãs — só no Facebook ele tem mais de 1 milhão de seguidores, e mais de 11 milhões já viram seus vídeos no YouTube. O texto, nada simpático, oferecia recompensa de cerca de US$ 155 mil para quem aceitasse o desafio de “explodir o local de seu concerto como uma resposta final a seus insultos”. Em dois dias, o valor ainda foi acrescido de cinco quilos em barras de ouro, com a promessa de que a oferta subiria mais até Najafi, hoje com 35 anos, ser morto. Os tais “insultos” promovidos pelo cantor, e que motivaram um grupo radical islâmico a ameaçá-lo, foram canções que criticam a misoginia, a homofobia, a falta de liberdade e a violência em seu país, num som que varia entre o rock e o rap. Enfim, Najafi foi ameaçado apenas por fazer música. — Eu sonho em voltar ao Irã, mas esse sonho é sobrepujado pelo medo — diz o cantor, por Skype, direto da Alemanha, onde vive desde 2005. — Saí de lá porque era perseguido, e, como eu, centenas de artistas vêm deixando o Irã. Mas minha vida teve uma virada interessante. A atmosfera política mudou tanto na Europa, há tantos fascistas vivendo aqui, que, como estrangeiro, tenho ainda mais medo de ser vítima de xenofobia do que de algum muçulmano. A recompensa pela morte de Najafi infelizmente não foi uma atitude isolada em 2015, muito menos foi uma exclusividade iraniana. Por todos os continentes, em democracias ou ditaduras, artistas sofreram com censuras e ataques devido à sua arte. Em comparação a 2014, no ano passado houve um aumento de 98% de casos registrados de violações contra a liberdade artística, segundo um levantamento que acaba de ser divulgado pela organização internacional Freemuse. No total, foram 469 ações no ano passado, incluindo seis sequestros, 46 prisões, 24 agressões e três artistas assassinados. O caso mais emblemático foi o aten- tado contra a casa de shows Bataclan, em Paris, quando 89 pessoas foram mortas por extremistas do Estado Islâmico durante a apresentação da banda americana Eagles of Death Metal. O país líder de notificações, porém, é a China, com 146, entre elas a proibição por parte do governo de 120 músicas consideradas imorais ou com mensagens de violência. Nesse grupo, aparecem canções cujos títulos em português seriam “Peido” (sobre isso aí mesmo que você está pensando) e “Eu amo garotas taiwanesas” (em que se aborda gravidez acidental), ambas do cantor pop taiwanês Chang Csun Yuk. — A política e a religião sempre foram as maiores forças por trás da censura contra artistas. Mas há outras situações mais difíceis de se perceber, como a censura motivada por interesses comerciais e a autocensura — afirma Ole Reitov, diretor executivo da Freemuse. — As pessoas têm que entender que não é apenas a proibição de uma música ou um filme. Uma obra banida traz consequências financeiras para produtores e limitações para você e para mim como consumidores. Além disso, um ataque pode, no futuro, fazer com que um artista se autocensure em sua criação pelo temor do que pode acontecer. CUBANO PRESO POR DEZ MESES A Freemuse foi criada em 1998, na Dinamarca, e desde 2012 é consultora do Conselho Econômico e Social da ONU. Sua principal atividade é oferecer apoio a artistas ameaçados pelos vários tipos de censura. Ela também tenta montar uma rede de informações que ajude a relatar e coibir os casos de opressão. São muitas as histórias, de várias naturezas. Em março, uma casa noturna de uma universidade da pequena cidade de Oberlin, em Ohio, EUA, cancelou um show da banda indie canadense Viet Cong porque seu nome poderia “ofender profundamente as comunidades vietnamitas” da região. Em abril, na cidade de Giza, no Egito, livros de várias procedências foram queimados por autoridades do governo num pátio de uma escola, sob alegação de que incentivariam o ódio. Em junho, na Rússia, 469 CASOS EM 2015 3 artistas assassinados 6 sequestrados 15 novas prisões 23 detidos 24 ataques físicos 31 condenados em outros anos ainda presos 33 perseguidos ou ameaçados 42 processados 292 atos de censura 98% foi o aumento em relação a 2014, que registrou 237 casos RANKING DE PAÍSES Em registros de mortes, prisões, sequestros, ataques e ameaças em 2015 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º China Irã Rússia Burundi Síria Turquia Índia Egito Marrocos Cuba Fonte: Freemuse 20 16 15 10 10 10 9 7 7 6 uma galeria de arte foi invadida pela polícia, e as obras da exposição “Ser você mesmo: histórias de adolescentes LGBT” foram destruídas. Já o artista visual cubano El Sexto ficou preso de dezembro de 2014 até outubro de 2015. Seu “crime” foi planejar uma performance em que soltaria dois porcos no Parque Central de Havana, batizados de Raúl e Fidel. Com direito ao nome bem grande escrito nos animais, para as pessoas verem, é claro. — Já perdi as contas das vezes em que fui detido pela polícia — diz, por telefone, Danilo Maldonado Machado, o cubano por trás do alter ego El Sexto. — O governo tenta controlar a criação. Eles perseguem e reprimem os artistas. Eu me preocupo muito com essa recente aproximação entre EUA e Cuba. Os EUA não deveriam negociar com Cuba enquanto não houver mudanças reais. Hoje, o governo cubano é corrupto. E, se você faz negócios com um ladrão de bancos, isso o torna cúmplice do roubo. Cuba aparece em décimo no ranking da Freemuse de países com mais casos de violações contra as artes. Depois da líder China, a lista é seguida por Irã, Rússia, Burundi, Síria, Turquia, Índia, Egito e Marrocos. Os registros dos três artistas mortos, contudo, não vêm de nenhum desses países. Dois foram no Paquistão, em abril: ao retornar de uma apresentação, um grupo de músicos e dançarinas transgênero foi atacado, e uma dançarina e um percursionista, assassinados. Já a outra morte aconteceu no México, numa tragédia comum entre os artistas de um gênero musical conhecido como narcocorrido. Enquanto os corridos são baladas folclóricas que falam de amor, vida cotidiana e outras fontes de inspiração, as variações dos narcocorridos abordam a cultura criminosa dos cartéis mexicanos. Numa comparação simples para os brasileiros, é como se os corridos fossem o funk melódico, e os narcocorridos, o proibidão. Os ataques contra os artistas do estilo costumam vir de policiais ou de integrantes de cartéis de cidades inimigas de onde os grupos são baseados. Assim, em novembro, no município de Taray, o quarteto de narcocorridos Los 4 Herederos foi sequestrado na saída de um show. Levados para uma região afastada, eles foram espancados, até que seu vocalista, Francisco Hernández, de 22 anos, fosse morto sem explicações. — A violência dos cartéis é recorrente em nossos relatórios. Mas nosso monitoramento mais fraco ainda é na América Latina. Sei que um problema crescente é a pressão religiosa para evitar que artistas lidem com homossexualidade e nudez. Só que é difícil encontrar fontes confiáveis para mapear casos na região — afirma Reitov. — Nós não temos o tamanho da rede que a imprensa tem. Qualquer violação contra jornalistas é publicada em todo o mundo. Na comunidade artística, isso não existe. As organizações que poderiam fazer esse levantamento estão focadas em debater o direito autoral no ambiente digital. RELATÓRIO CITA O FUNK BRASILEIRO O Brasil, por exemplo, não aparece nas estatísticas da Freemuse nem com um único registro de censura em 2015, mas mesmo assim o país é citado em seu relatório. Sob o cabeçalho “Gênero musical cria polêmica”, o documento lembra a repressão de autoridades, “especialmente em nível local”, ao funk. — O funk hoje é o gênero preferido da juventude pobre do Brasil, então deve ser respeitado — afirma o ministro da Cultura, Juca Ferreira. — Depois de termos passado pela ditadura, hoje a censura de estado é completamente rejeitada. Mas ainda existe uma censura mais estrutural, menos evidente. Artistas de vanguarda, por exemplo, têm dificuldade de se apresentar, e quem exerce essa censura diz que a razão é a “qualidade” ou o “bom gosto”. É um escândalo. No passado, o samba foi proibido porque não era de bom gosto. Isso é marca de elitismo e discriminação. l NA WEB oglobo.com.br/cultura Fotos e vídeos de artistas censurados pelo mundo BB LEIA AMANHÃ... A censura política l O GLOBO 2 l Segundo Caderno l [email protected] MARCUS FAUSTINI | Terça-feira 23 .2 .2016 Gente Boa CLEO GUIMARÃES | Email: [email protected] e Blog: http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/ COM MARIA FORTUNA E FERNANDA PONTES | A palavra utopia O livro “Utopia”, a emblemática obra de Thomas More, completa 500 anos agora em 2016. Dividido em duas partes, a primeira faz uma crítica à Inglaterra e à França do século XVI e seu belicismo; a segunda parte relata uma comunidade ideal, uma ilha, aos olhos de um viajante europeu. A efeméride, que já disparou eventos de comemoração e ações anunciadas em diversos lugares, traz à cena o debate sobre a ideia de utopia — que vai além do livro de More. Frequentemente associada a grupos de esquerda, utopia é um conceito de fabulação sobre passados e futuros ideais que influenciou visões de sociedades. Tenho uma relação poderosa mas também conflituosa com a palavra em questão. COMEÇOU A MARATONA Atores estreiam projeto em que chegam a encenar duas peças de Shakespeare por dia FOTOS DE MARCOS RAMOS JOSÉ EDUARDO AGUALUSA 3ª MARCUS FAUSTINI 4ª 5ª 6ª FRED FLÁVIA ZÉLIA COELHO OLIVEIRA DUNCAN SAB MARCIO TAVARES D'AMARAL DOM FERNANDO GABEIRA Cassino na Barra O presidente da Embratur, Vinicius Lummertz, vem ao Rio esta semana para uma reunião com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ). O assunto: a instalação de um cassino na Barra. Como se sabe, a legalização de jogos de azar no Brasil está sendo discutida no Senado e na Câmara dos Deputados, em Brasília. “Além de ser uma atração interessante para a cidade, teremos muitos hotéis ociosos na Barra depois dos Jogos, e isso nos preocupa”, diz Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ. Aliás e a propósito O grupo que opera o cassino de Estoril, em Portugal, já demonstrou interesse em administrar uma casa de jogos na Barra caso o projeto saia mesmo do papel. “Eles estão loucos para vir para cá”, diz Alfredo. O selo do Chico Chico C O próximo músico a ter um disco lançado pelo selo Porangareté, de Chico Chico e Maria Eugênia (filho e companheira de Cássia Eller, respectivamente), é Carlos Posada. Sueco criado no Recife, Posada teve sua canção “Castanho” gravada recentemente por Lenine. Julia Vargas e Pietá, além do próprio Chico Chico, são outros artistas do selo. Foucault sabia das coisas Camarim. Giulia Gam: últimos preparativos antes de interpretar Lady Macbeth no teatro Ele. Thiago Lacerda: mais um texto de Shakespeare no currículo Aquele papo de que “intelectual não vai à praia, intelectual bebe” não colava com Michel Foucault, um dos mais respeitados filósofos do século XX. Quem garante é Roberto Machado, professor de filosofia que vai dar um curso no POP sobre o francês. Ele conta que Foucault tinha especial interesse pelo Brasil, onde esteve cinco vezes, nos anos 70. “Ele era simpático. No Rio, fomos juntos muitas vezes à Praia de Ipanema, ele adorava, não era um intelectual recluso.” E mais Roberto lembra que em 1975 Foucault interrompeu uma aula na USP em solidariedade à morte de Herzog pelos militares. “No ano seguinte, voltou ao Brasil para conhecer Recife, Salvador e Belém, como um desafio à ditadura que desejava expulsá-lo do país”, afirma. A amizade entre os dois também será assunto de livro, que será publicado ainda este ano. Noite. Luana Piovani também esteve lá Novidade em Copacabana O ponto na Avenida Atlântica com Francisco Sá, no Posto Seis, onde funcionou o bar Atlântico (saudades...) vai virar filial da casa de tapas Venga! Antes do Maracanã... DIVULGAÇÃO onheci a palavra utopia antes da complexidade do seu significado conceitual. Comecei a frequentar rodas de ativismo e arte da cidade na segunda metade dos anos 1980 e lembro de ter ficado encasquetado com a força da danada da tal utopia, essa palavra que estava na boca de tanta gente, naqueles ambientes. Para um moleque da periferia, que tentava criar formas de sobreviver numa escolha tão difícil — fazer arte e ativismo —, ela dava uma força interna por acreditar numa jornada coletiva que trazia a emoção de ver tanta gente crendo que a vida poderia ser melhor para todos. Porém, pra encasquetar a minha mufa, quem usava a palavra utopia por vezes era desqualificado. “Fulano está sendo utópico, acha que a realidade vai se adaptar aos seus ideais” ou “deixa de ser utópico” eram frases disparadas em debates calorosos. Ou seja: os utópicos eram taxados, no popular, de viverem no mundo da lua. Por sua vez, quem era alvo dessa desqualificação também dava o troco pra quem a fazia — são vendidos, traidores, perderam a utopia, adaptaram-se ao sistema, eram as respostas que dividiam campos. Em casa, falar de utopia era quase um sinal de vagabundagem, “uma vida meio hippie, meio Bob Marley” que vinha sempre taxada como uma coisa que não daria futuro pra ninguém. “Tu tem é que ter profissão na vida”, sentenciava minha mãe. Mas eu já havia determinado que a utopia seria uma das bússolas da vida. Tanto nos grupos de vivência da Teologia da Libertação como nos grupos de teatro que participava, a utopia era um valor comum: a utopia de viver da arte, de fazer dela um impulso para mudar o estado das coisas. Assim, foi a aproximação juvenil e conflituosa com a tal palavra. De lá pra cá, muito coisa aconteceu em nossas vidas e no Brasil. Da melhoria de vida dos mais pobres até a visão de transformar nosso país em grande nação desenvolvida que regeu diversos governos, ambos os fatos estão permeados por vários aspectos do conceito de utopia. No livro “Utopia — A história de uma ideia”, de Gregory Claeys com tradução de Pedro Barros pelas Edições Sesc, o autor faz um inventário histórico da utopia, assumindo a dificuldade de uma definição utilizável e de uma síntese. A amplitude do conceito é imensa, demonstrada no livro. O desenvolvimento de seu pensamento passou por fases míticas, religiosas, positivistas e institucionais. Todas baseadas em faróis de modelos ideais de sociedades. Desde sua base mitológica, ligada à visão de um paraíso perfeito de origem da humanidade, onde homens viviam como deuses, até a presença deste conceito nas raízes do liberalismo, que propunha uma organização “de opulência utópica” — como chama o autor — baseada na divisão do trabalho e no crescimento do comércio. Não há dúvida, entretanto, que a operação do conceito de utopia mais eficaz no pensamento moderno foi a marxista. Sendo base para muitas vidas e lutas contra desigualdades, imaginou a destinação ideal da humanidade como uma sociedade sem classes. Porém, a leitura do consistente livro de Gregory Claeys, que possui uma narrativa de bom fluxo diante do tema difícil, faz entender também que muitos projetos autoritários de sociedade tiveram na ideia de perfeição — prima da utopia — sua base para censuras e exclusão das diferenças. Algumas delas influenciadas pelo pensamento marxista, inclusive. Alguns podem dizer que os desvios da ideia de utopia está naqueles que erraram em sua maneira de concretizá-la. Entretanto, essa visão moral de que existiriam homens mais apropriados que outros para carregar a missão utópica é a base desses erros. Apertando pra juntar palavra e conceito, nos 500 anos da publicação do seminal livro de More, arriscamos dizer que o sumo da utopia é aquilo que ela nos traz como sentido de busca de igualdade, para uma sociedade melhorada. Mas ela não é uma sociedade perfeita ou uma comunidade idealizada — esses dois sentidos deram espaço a sociedades de exclusão e até mesmo autoritarismo. Melhorar as condições de igualdade no mundo foi o maior uso histórico do conceito. Perceber os diversos usos da utopia, compreender sua história, não é enfraquecê-la. Torna a palavra uma flecha mais certeira. Sigamos com ela. l 2ª | Casal. Cris Vianna e Luiz Roque: na plateia Na Lapa. Karl Denson em ação: “Água de beber” Quem apareceu sexta-feira no Carioca da Gema, na Lapa, foi Karl Denson, o saxofonista dos Rolling Stones, que, no dia seguinte mandaria ver num solo durante “Brown sugar”, no show do Maracanã. Supersimpático, Denson se misturou ao público, tomou caipirinha e deu canja. Ele pegou uma flauta emprestada e tocou “Água de beber” e “Samba de uma nota só”, ao lado do músico Dudu Oliveira. Luz. Juliana Didone: chuva não a desanimou A sensação de Giulia Gam e Thiago Lacerda antes da estreia de “Macbeth”, dias atrás, na Cidade das Artes, era a de que estavam “voltando para casa”. Foi lá que eles ensaiaram tanto “Macbeth” quanto a comédia “Medida por medida” — as peças compõem o projeto “Repertório Shakespeare”, em que o elenco praticamente emenda um espetáculo no outro, aos sábados. l Antes de chegar à Barra, Giulia e Thiago estrearam em Belo Horizonte e depois fizeram uma elogiada temporada em São Paulo. Nos dias em que fazem sessão dupla, é uma maratona de mais de quatro horas em cena. “Sinto como se estivésse- mos estreando todos os dias”, dizia Giulia, que vive Lady Macbeth na tragédia, e uma prostituta na comédia. O desafio de montar dois textos de Shakespeare surgiu em uma conversa de Thiago com o Ron Daniels, brasileiro radicado em Londres e um dos principais diretores da Royal Shakespeare Company. l Ron (que nasceu Ronaldo Daniel, em Niterói) havia dirigido Thiago em “Hamlet” e a dupla queria continuar montando Shakespeare. Thiago sonhava em fazer “Macbeth”, e Ron queria “Medida por medida”, pouco montada por aqui. “E se fizermos as duas?”, propôs. Thiago aceitou e assina também a produção. U Curtinhas Renato Bairros, e não Ricardo Bairros, é o autor das fotos publicadas ontem na coluna. O espetáculo “Desde que o samba era semba” faz curta temporada no Teatro João Caetano, nos dias 26 e 27, às 19h. Flavia Sampaio inaugura primeira loja física do Powerlook, em Ipanema. Noite Faro MPB tem BondeSom e Anna Ratto, às 19h30, no Botafogo Praia Shopping. Terzetto Café tem novidades no cardápio. Adriano Guimarães e Emanuel Aragão encontram o público amanhã, no CCBB, às 19h30, em debate sobre “Hamlet — Processo de revelação”, em cartaz até domingo. l Segundo Caderno l Terça-feira 23 .2 .2016 Cinema ‘Norte, o fim da história’ Show Pietá Uma epopeia psicológica Três não é demais Filmes sobre O RIO VISTO mulheres artistas PELAS na Caixa Cultural LENTES Começa hoje, na Cinemateca do MAM, uma mostra dedicada a filmes baseados em textos de Nelson Rodrigues. A estreia é com “Ninguém ama ninguém... por mais de dois anos..” (2015), de Clóvis Mello, que trata da intimidade de cinco casais (entre eles Michel Melamed e Gabriela Duarte) nos anos 1960. Aplaudido de pé pelo Bonequinho, o longa do filipino Lav Diaz, de 2013, tem sessões hoje e amanhã, no IMS. Com mais de quatro horas de duração e inspirado em “Crime e castigo”, de Dostoiévski, conta a história de um homem que é preso injustamente, enquanto o verdadeiro criminoso segue solto (personagem de Sid Lucero, na foto). Formado por Frederico Demarca, Juliana Linhares e Rafael Lorga, o trio Pietá apresenta o show do disco “Leve o que quiser”, no Beco das Garrafas. Além das faixas autorais do CD, o grupo tocará também releituras para sucessos da MPB. ONDE: Cinemateca do Museu de Arte Moderna. Av. Infante Dom Henrique 85, Parque do Flamengo (3883-5600). QUANDO: Ter, às 18h30m. QUANTO: R$ 8. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos. ONDE: Instituto Moreira Salles. Marquês de São Vicente 476, Gávea (3284-7400). QUANDO: Ter e qua, às 14h30m. QUANTO: R$ 22. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos. ONDE: Beco das Garrafas. Rua Duvivier 37, lojas J e K, Copacabana (2543-2962). QUANDO: Ter, às 21h. QUANTO: R$ 30. CLASSIFICAÇÃO: 18 anos. Pelo buraco da fechadura Show ‘Rodas do samba carioca’ Tradição das ruas para o palco 2016 marca o centenário do samba — contado a partir da primeira gravação de uma música do gênero, “Pelo telefone”, de Donga, em 1916. Entre as comemorações pela data, o Sesc Ginástico abriga o projeto “Rodas do samba carioca”, que leva tradicionais rodas de rua para o palco do teatro. A estreia, hoje, é com o Samba da Ouvidor, que terá participação do bamba Monarco. Amanhã, tem Pedra do Sal e Teresa Cristina. Até o dia 9 de março, passarão por lá ainda, sempre às l 3 VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR OU ACESSE NO SITE: rioshow.com.br OS DESTAQUES DE HOJE DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL Cinema ‘Nelson, moderno e contemporâneo’ O GLOBO terças e quartas, as rodas do Candongueiro e do Samba do Trabalhador, entre outras. — É muito bom participar de um evento desses, que reúne os movimentos populares da cidade — conta Gabriel Cavalcante, que há oito anos comanda a roda que agita a esquina das ruas do Ouvidor e do Mercado, aos sábados. O repertório, improvisado quando tocado na calçada, foi organizado para o show. — Tentaremos levar o que fazemos na rua para o palco. Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola e Candeia estão garantidos — adianta Gabriel, que comemora a presença de Monarco para abrilhantar a festa. — Ele caiu como uma luva para a gente, porque é um cara que tem muito a ver com a nossa roda. (Patricia Espinoza) ONDE: Sesc Ginástico. Av. Graça Aranha 187, Centro (2279-4027). QUANDO: Ter e qua, às 19h30m. QUANTO: R$ 20. CLASSIFICAÇÃO: 12 anos. FOTOS DE DIVULGAÇÃO Show BondeSom Teatro ‘O impecável’ Música instrumental de graça Piadas de salão Teatro ‘Processo de conscerto do desejo’ O projeto Noite Faro MPB está de volta e convida o BondeSom, hoje, para um show gratuito no Botafogo Praia Shopping. O grupo instrumental promoverá uma ressaca de carnaval com músicas autorais e sucessos da MPB e contará com a participação especial da cantora Anna Ratto. Os sete pecados capitais podem ser encontrados em um típico salão de beleza carioca. Quem dá vida aos “desvios” da humanidade é Luiz Fernando Guimarães, que interpreta oito personagens no monólogo cômico de Charles Moeller e Claudio Botelho. A peça, que encerra temporada quinta-feira, tem direção de Marcus Alvisi. ONDE: Botafogo Praia Shopping. Praia de Botafogo 400, 8º piso, Botafogo (3171-9872). QUANDO: Ter, às 19h30m. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre. ONDE: Teatro dos Quatro. Shopping da Gávea, 2º piso. Rua Marquês de São Vicente 52, Gávea (2239-1095). QUANDO: Ter a qui, às 21h. Até quinta. QUANTO: R$ 80. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. DRAMA DRAMA Um espetáculo de homenagem Dirigida por Matheus Nachtergaele, a peça “Processo de conscerto do desejo”, que teve a sua primeira apresentação em julho de 2015, encerra sua temporada amanhã no Teatro Poeirinha. No espetáculo, Matheus recita poemas de sua mãe, Maria Cecília Nachtergaele, morta em 1968. ‘CENTRO 2013’, ALEX GAUDÊNCIO A mostra “Carioca-se”, que abre hoje no Palácio Tiradentes, reúne 41 imagens do Rio feitas pelos fotógrafos do coletivo “6por6”, com seus olhares críticos e apaixonados pela cidade. ‘The life and times of Frida Kahlo’, de Amy Stechler 1 A exposição “Frida Kahlo — Conexões entre mulheres surrealistas no México”, na Caixa Cultural, exibe seis filmes, como este longa de 2005 sobre a estrela da mostra. Às 15h. ‘Alice Rahon’, de Dominique e Julien Ferrandou 2 ‘CATETE 2010’ Além dos s fotógrafos do coletivo, formado por ex-alunos da UCAM, três artistas convidados exibem seus trabalhos na exposição: Adriana Medeiros, Carolina Souza de Almeida e Larrion Nascimento (foto). ‘CINELÂNDIA 2013’ A exposição, que apresenta imagens de um Rio que foge do estereótipo turístico, como registros de protestos populares (foto de Adriana Medeiros), segue até o dia 18 de março no Palácio Tiradentes (Rua Primeiro de Março s/nº, Centro). Grátis. ONDE: Teatro Poeirinha. Rua São João Batista 103, Botafogo (2537-8053). QUANDO: Ter e qua, às 21h. Até amanhã. QUANTO: R$ 40. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos. O média-metragem relembra a trajetória da pintora e poeta francesa. A convite de Frida Kahlo, Alice instalou-se no México, onde morreu em 1987, na capital. Às 10h30m. ‘Leonora Carrington’, de Julien e Dominique Ferrandou 3 O longa francês aborda a vida e a obra da escritora e artista plástica inglesa Leonora Carrington (19172011), consagrada por suas pinturas surrealistas. Às 17h. ‘Remedios Varo’, de Tufic Makhlouf 4 Também influenciada pelo movimento surrealista, a artista espanhola chegou ao México em 1941, onde ganhou nova nacionalidade e reconhecimento. Às 19h. ‘Jacqueline Lamba’, de Fabrice Maze 5 O longa narra a história da artista francesa. Às 12h30m. Os filmes, com sessões diárias, são exibidos paralelamente à mostra, de graça. Até 27 de março. O Bonequinho viu DOCUMENTÁRIO 'O abraço da serpente' ‘Chico — Artista brasileiro’ DRAMA ‘Filho de Saul’ DRAMA ‘O lobo do deserto’ DRAMA ‘A ovelha negra’ AÇÃO ‘O quarto de Jack’ DRAMA ‘Deadpool’ ‘Noites brancas no píer’ Dividido em dois planos, o instigante filme de Ciro Guerra ambiciona uma amplitude de tempo bem maior ao mostrar personagens que caminham em direção ao contato com a ancestralidade. A fotografia de David Gallego é destaque. Encontro privilegiado com um artista visto por ele mesmo na maturidade. Levando em conta a extensão, diversidade e genialidade de sua obra e o grau de intimidade obtido por Miguel Faria Jr., não há como deixar de aplaudir de pé. É claustrofóbico e incômodo, a antítese do queridinho ‘‘A vida é bela’’, outra produção que abordou paternidade e Holocausto. Mas, tanto por sua originalidade quanto pela força da história que narra, deve ser visto por todos. O longa de Naji Abu Nowar soma pontos com a expressividade do menino Jacir Eid Al-Hwietat, que imprime credibilidade ao protagonista, a trilha sonora de Jerry Lane e a fotografia de Wolfgang Thaler, que aproveita a exuberância do deserto. Não espere encontrar fofices no longa-metragem “A ovelha negra”, dirigido por Grímur Hákonarson. Com pitadas de humor negro na relação de rivalidade entre os irmãos, a narrativa é seca e fria como o inverno islandês que se aproxima. O enredo parece menos importante do que os sentimentos que ele quer mostrar. O foco é o amor de mãe e filho, e apenas “por acaso” sua história se passa numa situação em que até os 5 anos o menino nunca deixou o quartinho que divide com a mãe. Por mais que insista em ser diferente, acaba com os mesmos problemas dos filmes de heróis: muitos músculos e nem tanto cérebro. Algumas piadas são, sim, divertidas, mas ainda estão longe de resgatar o interesse nesse gênero de cinema. É preciso coragem para filmar uma obra de Dostoiévski já levada à tela por cineastas da envergadura de Luchino Visconti e Robert Bresson. Paul Vecchiali, veterano de trajetória fascinante porém irregular, dá conta do recado apenas pela metade. Daniel Schenker Susana Schild André Miranda Daniel Schenker Marcelo Janot André Miranda André Miranda Ruy Gardnier .com.br VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR OU NAVEGUE PELO SITE: 4 l O GLOBO l Segundo Caderno l Terça-feira 23 .2 .2016 Os destaques de hoje na TV FOTOS DE DIVULGAÇÃO BBB Earth, 23h55m Várias formas de comer Em “Comer para viver para sempre”, o crítico gastronômico inglês Giles Coren vai aos Estados Unidos experimentar três das dietas mais radicais do mundo e investigar o comportamento dos adeptos. Natalia Castro [email protected] GNT, 21h30m Discovery, 22h20m Canal Brasil, 0h Globo, 21h25m ‘Mais cor, por favor’ ‘Nos confins do Alasca’ ‘Transando com Laerte’ ‘A regra do jogo’ No episódio inédito, a apresentadora Thalita Carvalho (foto) e Carol Costa, especialista em plantas decorativas, transformam a varanda de um casal em um lugar ideal para festas na piscina. Em episódios de uma hora, a série acompanha quatro homens que se aventuram pela região. Na estreia, eles precisam terminar a construção de suas casas antes de o inverno chegar. A cartunista (foto) conversa com o roteirista Hilton Lacerda, de “Febre do rato” (2012). Ele faz críticas ao moralismo vigente na arte e diz que a tolerância é essencial para que se viva em harmonia. Hoje o público acompanha a falsa morte de Romero (Alexandre Nero). Ele supostamente morre durante incêndio causado por Atena (Giovanna Antonelli) e Toia (Vanessa Giácomo, foto). Horóscopo POR CLAUDIA LISBOA (21/3 a 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Libra. Regente: Marte. A espontaneidade é uma maneira de experimentar a liberdade. Mas é preciso distinguir da tentativa de impor aos outros a sua verdade. É tempo de se expressar sem se esquecer de respeitar os demais. LIBRA (23/9 a 22/10) Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Áries. Regente: Vênus. Ao temer expor suas opiniões, isso pode abalar suas relações e torná-las mais frágeis. É tempo de se expressar com naturalidade, ficando atento ao que fala, para construir relações de confiança. TOURO (21/4 a 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Escorpião. Regente: Vênus. Se a impaciência estiver dominando, você pode ter resistência em entender as limitações de outras pessoas. É tempo de cultivar a tolerância e ser respeitoso ao lidar com as diferenças. ESCORPIÃO (23/10 a 21/11) Elemento: Água. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Touro. Regente: Plutão. É possível que você acorde sentindo a necessidade de dar um passo além do habitual. Isso para ter a chance de conhecer coisas que ainda não experimentou. É tempo de vivenciar algo novo. GÊMEOS (21/5 a 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio. Uma boa argumentação pode fazer você alcançar os objetivos. O poder de comunicar deve ser sempre aperfeiçoado. É tempo de fazer as mudanças necessárias ao seu crescimento pessoal. SAGITÁRIO (22/11 a 21/12) Elemento: Fogo. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Gêmeos. Regente: Júpiter. Ainda que esteja entusiasmado com relação aos seus planos, você pode sentir algumas restrições ao tentar realizá-los. É tempo de ser comedido nas suas ações para evitar surpresas por empecilhos. CÂNCER LEÃO (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Capricórnio. Regente: Lua. (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Aquário. Regente: Sol. Quando os conflitos dão os primeiros sinais de desconforto, talvez seja a hora de tratá-los seriamente. É tempo de ter autoconfiança para reduzir danos que vêm das dificuldades emocionais. Se a exigência é alta, o medo de falhar pode levá-lo à paralisação e à frustração. É tempo de ser mais flexível consigo mesmo, admitindo os erros que não comprometem a obtenção de bons resultados. CAPRICÓRNIO (22/12 a 20/1) Elemento: Terra. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Câncer. Regente: Saturno. AQUÁRIO Ao perceber que as opiniões já não se encaixam no contexto atual, o mais adequado seria reformulá-las. É tempo de entender que o processo de amadurecimento inclui superar as limitações. (21/1 a 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Leão. Regente: Urano. Para que possa atender as necessidades de seu parceiro, é preciso que a relação tenha como base a responsabilidade. É tempo de assumir compromissos que facilitam a manutenção das relações. Logodesafio POR SÔNIA PERDIGÃO VIRGEM (23/8 a 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Peixes. Regente: Mercúrio. O que era feito sem hesitação, agora pode lhe causar algum tipo de desconforto. É tempo de compreender que nem tudo pode ser planejado e que o imprevisto deve ter lugar na sua organização. PEIXES (20/2 a 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Virgem. Regente: Netuno. Nem sempre sua dedicação aos demais é compreendida e, por isso, você pode ficar ressentido. É tempo de esclarecer mal-entendidos, aprofundando-se naquilo que for mais relevante. Foram encontradas 62 palavras: 38 de 5 letras, 15 de 6 letras, 8 de 7 letras, 1 de 8 letras, além da palavra original. Com a sequência de letras ÇO foram encontradas 8 palavras. Instruções: Encontrar a palavra original utilizando todas as letras contidas apenas no quadro maior. Com estas mesmas letras formar o maior número possível de palavras de 5 letras ou mais. Achar outras palavras (de 4 letras ou mais) com o auxílio da sequência de letras do quadro menor. As letras só poderão ser usadas uma vez em cada palavra. Não valem verbos, plurais e nomes próprios. Solução: aceso, ático, átimo, casto, césio, cesta, cesto, cetim, cisma, cisto, coesa, coisa, costa, cotia, ética, ético, imota, ístmo, macio, meião, meios, mista, misto, moída, moita, mosca, ótica, ótima, seita, simão, símio, sítio, sócia, somiê, teima, tesão, timão, tosca; aceito, aético, cometa, comitê, estima, meiota, micose, mítica, mítico, semita, sétima, sétimo, semota, tísica, tísico; ateísmo, esticão, estoica, iatismo, mascote, mística, místico, teimosa; teimosia; SEMIÓTICA. Com a sequência de letras ÇO: açoite, castiço, começo, maciço, maço, mestiço, moço, timaço. ÁRIES Expediente EDITORA: FÁTIMA SÁ [email protected] l EDITORES ASSISTENTES: CRISTINA FIBE [email protected], EDUARDO FRADKIN [email protected], EDUARDO RODRIGUES [email protected], GABRIELA GOULART [email protected], HELENA ARAGÃO [email protected] l DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MORGADO, PAULA FABRIS E TOMÁS BREVES l TELEFONES: REDAÇÃO: 2534-5703 l PUBLICIDADE: 2534-4310 [email protected] l CORRESPONDÊNCIA: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. CEP: 20233-900 l Segundo Caderno l Terça-feira 23 .2 .2016 ‘Vinyl’ é renovada para a segunda ANNA E temporada e merece a sua atenção VRONSKY O amigo Artur Xexéo [email protected] PATRÍCIA KOGUT Crítica COM FLORENÇA MAZZA, ANNA LUIZA SANTIAGO E RAFAELA SANTOS O MATRIMÔNIO Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank apresentaram o projeto de um quadro para o “Fantástico”. Ainda sem título, o programa é sobre a vida conjugal. A ideia é falar com humor sobre a rotina de quem é casado. Entre outras coisas, Bruno e Giovanna entrevistarão anônimos nas ruas. 10 0 Para o “Amor & sexo” do último sábado, com o desfecho do “BiShow”. O programa foi emocionante, aboliu fronteiras e mostrou que é importante. Além, claro, de ser bom entretenimento. Para as legendas de “Breaking bad” na Netflix. Para você ver o grau do ridículo, Hello Kitty (a personagem do desenho) virou “Olá Kitty”. Ofensivo até para o Google Tradutor. Literatura As roupas eram coloridas, a liberdade sexual, um fato, o som, pesado. O ambiente de “Vinyl” é o das gravadoras nos anos 1970. Não faz tanto tempo assim, mas, de lá para cá, a indústria fonográfica ruiu. Depois, foi recomposta sem jamais, entretanto, recuperar 100% daquele vigor. Esse é um dos choques que sofre o espectador da era digital ao assistir à produção assinada por ninguém menos que Martin Scorsese e Mick Jagger. Aquele rock and roll — no sentido amplo — ficou no passado. Já a série da HBO foi renovada para a segunda temporada. Acompanhamos Richie Finestra (o excelente Bobby Cannavale), dono de uma gravadora em Nova York. Cheirador de cocaína com uma capacidade de consumo impressionante, ele é um self made man à beira da pindaíba. Sua empresa tem o passe de bandas importantes, mas, nos tempos mais recentes, errou muito a mira na captação de artistas. Apavorado, ele aperta sua equipe para que ela ache talentos. Em reu- BELAS COZINHAM niões tensas, todos fumam, há gritaria. Nos escritórios rola um farto estoque de pó, maconha e remedinhos. Para sair do buraco, Finestra tenta vender a empresa para a Polygram. O problema é que os compradores contam com um contrato que, ele promete, fechará com o Led Zeppelin. Só que o empresário da banda, inglês, diz que não fará negócio com alemães (o nazismo era bem recente àquela altura). Quem assistiu a “Boardwalk Empire” (também da HBO) vai lembrar da reconstituição de época grandiosa daquela série igualmente de Scorsese. Lá como cá, há um certo formalismo que se expressa no rigor com a fidelidade aos detalhes. Ninguém está brincando de reencenar uma época e o espírito de um tempo. É rock figadal. “Vinyl” se arrasta um pouco, mas é boa. Tem tristeza, desespero e seus personagens, uma dimensão humana que comove. Fora que não alivia ao tratar de glamour e decepção. É mais ou menos como diz “Stairway to heaven”, maior hit de Jimmy Page e Robert Plant: nem tudo o que reluz é ouro e talvez a escadaria para o paraíso seja só uma ilusão. ARQUIVO PESSOAL Amora Mautner deixou o estúdio de “A regra do jogo” por algumas horas e motivo nobre: gravar com Bela Gil seu programa no GNT RENATO PARADA/DIVULGAÇÃO O FIM É OUTRO INÍCIO Livro de Noemi Jaffe, o último da Cosac Naify, traz ensaios poéticos sobre os começos LEONARDO CAZES [email protected] P or uma ironia do destino, o último livro a ser publicado pela editora Cosac Naify é o “Livro dos começos”, da escritora e tradutora Noemi Jaffe. Não se trata de uma obra tradicional. O livro é uma caixa que guarda várias lâminas, cada uma com um ensaio poético sobre começar. Sem ordem pré-definida e numeração, a ideia surgiu a partir de conversas de Noemi com Umberto Eco Livro póstumo será lançado nesta sexta O novo livro de Umberto Eco, morto no dia 19, teve o lançamento na Itália antecipado para sexta-feira. Intitulada “Pape Satan Aleppe”, a obra ainda não tem data para sair no Brasil. l aCorreções Diferentemente do que foi publicado na capa do Segundo Caderno de domingo, o filme “Ghost” é de 1990. Na mesma edição, no resumo das novelas, o nome correto daquela exibida na faixa das 18h é “Êta mundo bom”. O GLOBO Origens. No Twitter, Noemi Jaffe aponta relações curiosas da etimologia das palavras l 5 REPRODUÇÃO corrige a nota publicada aqui de ontem sobre a série da Globo “Nada será como antes”. Dissemos que “Anna Karenina” nunca virou novela no Brasil. “Em 1967, a TV Rio adaptou ‘Anna Karenina’ numa novela. Chamava-se ‘A mulher que amou demais’, e era com Tônia Carrero. O galã era Milton Rodrigues (na foto ao lado)”, esclarece OUTRA TELA Rafinha Bastos, que vai estrear no Multishow, tem projetos para o cinema. Sua produtora, a Rafael Bastos Hocsman Comunicações, foi autorizada pela Ancine a captar para o filme “Batalha de domingo”. É a história de um motorista convidado a apresentar um programa dominical numa grande emissora de TV. O preço Perdoa tudo A indefinição da grade da Record atrapalha a vida dos atores também. Milena Toscano vinha negociando com o SBT para fazer “Carinha de anjo”, mas acabou perdendo a chance. Tudo porque a emissora de Edir Macedo ainda não definiu a data de estreia de “Escrava mãe”, novela em que ela tem um papel de destaque. Receoso com a perspectiva de a atriz entrar no ar ao mesmo tempo na concorrência, o SBT desistiu dela. Alexandra Richter vai conciliar a reta final de “A regra do jogo” com as primeiras leituras de “O amor perdoa tudo”. Na peça de Fabricio Carpinejar com direção de Ary Coslov, ela fará par romântico com Mouhamed Harfouch. Números 1 O “The voice kids” voltou a bater recorde de audiência, com 25 pontos (RJ) e 18 (SP). Números 2 “Amor & sexo” também repetiu recorde com 19 pontos (RJ) e 16 (SP). a editora Heloísa Jahn. Afinal, é possível começar de qualquer lugar, não necessariamente da primeira página. — No “Livro dos começos”, você começa na ordem que quiser. A ideia é não ter um começo só. Até porque todo começo é diferente — explica Noemi. — O último livro da Cosac se chamar “Livro dos começos” é como se fosse um augúrio. Uma coisa que está terminando, mas pode começar. E vários dos ensaios falam sobre isso. Se você começa algo é porque aquilo vai acabar. Começar é estar condenado ao fim. A escritora conta que escrever sobre os começos foi uma forma de refletir sobre algo que a aflige durante toda a produção de um livro. Ela argumenta que os começos são sempre artificiais porque, na vida, as coisas nunca começam, mas seguem um fluxo. “Mais do que nomear, designar um começo é localizar algo no tempo e condená-lo à temporalidade, já que o começo é um elemento da tríade composta de passado, presente e futuro. O que agora é começo, em muito ou pouco tempo já será passado”, escreve Noemi. — O tempo todo eu penso nisso. Ao longo da escrita de um livro, você está o tempo todo começando. Eu tento fazer com que o leitor sinta um fluxo de simultaneidade, mais do que uma série de causas e consequências, tal como é a vida. O desafio é fazer o tempo narrati- Comportamento Andreia Horta, Ricardo Pereira e Nathalia Dill, entre outros atores de “Liberdade, liberdade”, tiveram um dia de aula com as consultoras de etiqueta Katia Mindlin e Martha Carneiro da Rocha, no Projac. Tudo para aprenderem os modos do século XVIII, quando se passa a novela. NA WEB patriciakogut.com O mundo da televisão passa por aqui. Visite. vo soar natural — afirma a escritora. Noemi é bastante ativa no Twitter. No seu perfil na rede social e em seu blog, ela escreve sobre a origem das palavras, estabelecendo relações curiosas entre elas. No domingo passado, a escritora mostrou que “idiota” e “idioma” têm a mesma raiz: próprio, peculiar. “São peculiaridades dos falantes de uma língua e dos limítrofes mentais”, escreveu. Já na sexta-feira, ela apontou um parentesco mais inusitado, entre “caralho” e “caráter”. Ambas vêm do ferro pontiagudo utilizado para marcar bois. Seu interesse pela etimologia das palavras é muito antigo e está relacionado ao seu ofício de tradutora. Noemi diz que a história de cada palavra já dá um conto. — Quem vai fundo nas origens das palavras passa a conhecer segredos sobre a vida. Somos mais capazes de compreender alguns mistérios de como as coisas funcionam. É como se eu buscasse um tempo em que as palavras e as letras tivessem um motivo para ser do jeito que são, e não arbitrárias como hoje — explica a escritora. l “LIVRO DOS COMEÇOS” AUTOR: Noemi Jaffe. EDITORA: Cosac Naify. PÁGINAS: 38. PREÇO: R$ 39,90. LANÇAMENTO: Hoje, às 19h30m, na Livraria da Travessa de Ipanema — Rua Visconde de Pirajá, 572 (3205-9002), junto com “Quem quando queira” (Cosac Naify), de João Bandeira. 6 l O GLOBO l Segundo Caderno l O Terça-feira 23 .2 .2016 [email protected] povo brasileiro está aparvalhado diante da gigantesca roubalheira no país. Mas, para além do escândalo da opinião pública, precisamos entender por que nossos políticos ladrões são tão vorazes e boçais. Como se formaram, em que escola de picaretagens estudaram, o que os move com tanta gula assaltando a Petrobras e fundos de pensão, roubando merendas escolares e remédios contra o câncer? Por que tanta sordidez? Há muitas razões socioeconômicas para explicar sua formação, sua evolução, mas há neles a prevalência da volúpia do Mal. A sedução do Mal. Sinto nesses parlamentares o prazer de ir contra o senso comum, contra o que a maioria pensa. Há uma ética sádica, de contrariar a população, de proteger uma obscuridade secreta, de defender o direito ao roubo, o direito à mentira como um bem precioso, um direito natural. Eles mentem com gargalhadas cínicas ou arranjam razões que os explicam: se vingam e roubam por uma infância humilhante, com mães lavadeiras ou prostitutas que trabalharam duro para eles subirem na vida. Eles se banham na beleza de um “baixo maquiavelismo”, na lábia dos conchavos e atribuem uma destreza de esgrima às chantagens e manipulações. “Esperteza” é um elogio muito mais doce do que “dignidade”. Eles curtem o “frisson” de se sentirem superiores aos medíocres honestos que se sentem “dignos”; eles acham que a mentira é um dom de seres superiores e a honestidade, uma fraqueza de servos. A resistência espantosa de Eduardo Cunha em enfrentar o óbvio de queixo erguido ARNALDO JABOR A SEDUÇÃO DO MAL se explica como um “bastião quase heroico” em defesa do personalismo colonial mais sujo. Cunha retrata em nível violento e quase épico as práticas tradicionais que eram mais matreiras, cheias de vaselina, comandadas por homens como o Sarney e seus seguidores das hostes oligárquicas que desejam a continuidade do atraso brasileiro, para manter nossa paralisia no pântano colonial. Eles sabem, como ninguém, como é doce uma quadrilha, como é bela a confiança no fio do bigode, o trânsito cordial entre a lei e o crime. Eles se refazem como rabo de lagarto; vejam Renan, Collor, Roriz, Lobões, Maluf. São hábeis em criar um labirinto de “falsas verdades”, formando uma rede de desmentidos, protelações que desqualificam investigações. Por isso, descobrir a verdade hoje em dia é simples: a verdade está sempre no avesso do que eles negam. A estupidez lhes fornece uma estranha forma de inteligência, uma rara esperteza para golpes sujos e sacos puxados. Eles foram fabricados entre angus e feijoadas do interior, em pequenos furtos municipais, em conluios perdidos nas veredas dos grandes sertões. Vivem de sobras de campanha, de canjica de aniversários e água benta de batismos. E comemoram o maná que lhes caiu do céu: a milagrosa multiplicação de propinas em todos os entes do Estado. A tempestade de gorjetas que o lulopetismo nos doou. Para eles, “interesse nacional” não existe. Quase todos vieram para lucrar; se não, qual a vantagem da política? Eles têm um tempo diferente do nosso. Eles são contra qualquer urgência, emergência, pois isso os faria servidores da sociedade, tudo que eles não querem ser. Para eles a sociedade é muito apressadinha, por isso come cru. Detestam “governar”. Não é apenas preguiça — é por amor ao fixo, ao eterno. É doce morar lentamente dentro daquelas cúpulas redondas verdes e azuis; eles querem viver seus mandatos com mansidão, pastoreando eleitores, sentindo a delícia dos ternos novos, dos bigodes pintados, das amantes nos contracheques, das imunidades para humilhar garçons e policiais. Para eles, a única “democracia” é a poética camaradagem congressual, a troca de favores, sempre com gestos risonhos, abraçando-se pela barriga, na doce pederastia de uma sociedade secreta. A amizade é mais importante que esta bobagem de interesse nacional! A democracia é para eles apenas um pretexto para a zorra absoluta. Para explicar suas mentes brasílicas, precisamos entender que em nossa história o atraso sempre foi um desejo, uma torta ideologia. Se a democracia se impusesse, se a transparência prevalecesse, como iriam ser felizes as famílias oligárquicas, com suas fazendas imaginárias, os rituais das defraudações, as escrituras e contratos superfaturados? Que seria da indústria da seca, não só da seca do solo, mas a seca mental, onde a estupidez e a miséria são cultivadas para o conforto da burguesia política? O que seria dos almoços gordurosos, das cervejadas de bermudão e gargalhadas? Que seria do “sistema” cafajeste e careta que rege o país? Eles pouco se lixam ao serem chamados de “canalhas”, pois adoram o orgasmo de se sentirem “superiores” a xingamentos, superiores à ridícula moralidade de classe média. Sua única moralidade é vingar-se de inimigos, cobrar lealdade dos corruptores ativos, exigir pagamentos de propina em dia. Eles cultivam a secular beleza do clientelismo, onde um amigo vale mais que a dura impessoalidade dos cruéis saxões. Por vezes, alguns fracotes têm uns “frissons” de honestidade, de responsabilidade política e berram discursos mais acesos no Congresso, mas tudo se dilui na molenga rotina dos quóruns, nas piadas dos cafezinhos, nas coxas de uma secretária que passa. Parecem defender conscientemente uma cultura e preservam 400 anos de patrimonialismo. Para eles, país não se governa apenas por novos slogans da moda; são séculos de hábitos e cacoetes sagrados onde vicejam as cópulas entre o público e o privado, desde as capitanias hereditárias que existem até hoje — vejam o Maranhão ou Alagoas. Na calada das noites de Brasília, nos goles de uísque do Piantella, eles sussurram euforicamente entre si: “Grande Lula! Que bem que ele nos fez! Nunca fomos tão sólidos e cínicos nesse país, desde Cabral!”. l Música BERNARDO ARAUJO, EDUARDO FRADKIN E LEONARDO LICHOTE ‘Bad’, muito à vontade aOutros Lançamentos “Victorious” Wolfmother Cotação: Bom Praticamente uma banda de um homem só (Andrew Stockdale, que toca tudo menos bateria e teclados), o lobo australiano aparece em boa forma em seu quarto disco, em que mistura influências como Led Zeppelin e The Who em composições vigorosas como “Best of a bad situation”. (B.A.) Em seu primeiro disco de inéditas em 14 anos, João Donato revisita o espírito e a sonoridade de grandes álbuns seus, cercado de jovens seguidores como o Bixiga 70 DIVULGAÇÃO / ALEXANDRE NUNIS Disco Crítica “DONATO ELÉTRICO” João Donato COTAÇÃO: Ótimo “Baile das formigas” Noites do Norte Cotação: Regular LEONARDO LICHOTE A banda, originária da festa homônima, lança seu álbum de estreia repleto de carimbós, guitarradas e outros gêneros amazônicos. O resultado diverte um tanto, mas mesmo calcado em repertório próprio não consegue escapar do tom de pastiche ou paródia. Funciona melhor no baile. (L.L.) M [email protected] uito se falou nos últimos dias do vigor de Mick Jagger, aos 72 anos, exibido no palco do Maracanã. Justo. Aos 81 anos, João Donato deve olhar para o vocalista dos Rolling Stones e pensar que o menino está no caminho certo para chegar jovial à maturidade. Em “Donato elétrico” (Selo Sesc), o pianista soa como um moleque — com todas as manhas e sabedorias trazidas pela idade levadas sem empolação de “mestre” — em meio aos moleques que o cercam (como os músicos do Bixiga 70 e outros que costumam acompanhar nomes como Céu, Curumin, Tulipa Ruiz e Metá Metá). Com sonoridade (como explicita o título) elétrica, de Fender Rhodes, Farfisa, Clavinet, Pro-One e Moog, ele apresenta seu primeiro disco de inéditas em 14 anos. Um álbum de hoje, grande como “Muito à vontade” e “A bad Donato” — aliás, aproximando a intenção timbrística do primeiro com a maciez do segundo. Um álbum que Daft Punk e Kendrick Lamar ouviriam com um sorriso no rosto. Moleque. Aos 81 anos, Donato soa moderno em disco no qual toca sintetizadores, órgãos e pianos elétricos Produzido por Ronaldo Evangelista, o álbum já começa com a carta de apresentação “Here’s JD”, que deixa claro que (discípulos à parte) o que há de mais moderno ali é o próprio Donato. Nadando de costas na piscina de sintetizadores, órgãos e pianos elétricos de que dispõe, ele emula cuíca (“Urbano”) e o groove vagaroso de uma tartaruga (“Tartaruga”) — a certa altura solando freneticamente sobre o passo lento do bicho, numa velocidade/calma que poderia sintetizar o álbum. No disco gravado praticamente ao vivo, Donato passeia por todos os gêneros que calham de passar por suas mãos — sem estabelecer fronteiras entre eles. Puxa para si a sala de reboco (“Xaxado “Water”Hélène Grimaud Cotação: Ótimo de Hércules”) e a pista disco (“Frequência de onda”, com grande arranjo de cordas de Laércio de Freitas), bossas solares (“Espalhado”) e voltas benditas pra Cuba (“Combustão espontânea”, nome que se explica a partir de 1m30s da faixa). Em cordas, sopros e eletricidades mil, Donato expõe no disco o melhor do futurismo e do vintage — aquele ponto, os moleques sábios conhecem, onde os dois se encontram. l Não espere romantismo exacerbado, clima new age ou um repertório óbvio como o prelúdio “Gota d’água” de Chopin. A pianista francesa Hélène Grimaud foge de lugares-comuns e consegue resultados poéticos e originais em “Water”, com peças nada aguadas de Liszt, Berio, Takemitsu, Albéniz, Ravel e outros. (E.F.) NA WEB ÁUDIO oglobo.com.br/cultura Ouça “Frequência de onda” Agenda da semana HOJE O show feminista “Primavera das mulheres” reúne canções inéditas de compositoras como Elisa Addor e Manuela Trindade e clássicos de Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran e Adriana Calcanhotto, entre outras. No Solar de Botafogo (2543-5411), às 21h. l Marcos Sacramento canta no Rio Scenarium (3147-9000), às 19h30m. O repertório inclui canções l próprias, incluídas em seu álbum mais recente, “Autorretrato”. l O BondeSom convida Anna Ratto na “Noite Faro MPB”, às 19h30m, no Botafogo Praia Shopping (3171-9872). AMANHÃ O compositor e guitarrista Gabriel Muzak é a atração do Verão Musical no Castelinho do Flamengo (2205-0655), às 20h. l O violonista Julião Pinheiro l lança seu álbum de estreia, “Pulsação”, que traz parcerias suas com o pai Paulo César Pinheiro. No Solar de Botafogo, às 21h. l O Grupo Semente volta ao berço e faz show no Bar Semente (2507-5188), às 21h. l A fadista Maria Alcina se apresenta no Imperator (2597-3897), às 16h. faz show na Audio Rebel (3435-2692), às 19h30m. Ex-backing vocals da Blitz, Patricia Mellodi e Germana Guilherme se apresentam no Bar Semente, às 22h. l As cantoras Tatiana Dauster, Liza K e o rapper Vinícius Terra unem forças no show “Artefatos”, na Casa da Gávea (2239-3511), às 21h. l QUINTA, DIA 25 SEXTA, DIA 26 l l O baterista e percussionista norueguês Paal Nilssen-Love Gal Costa leva o show “Estratosférica”, de seu mais recente álbum, para o Circo Voador (2222-2916), às 23h. Também no sábado. l A banda Maglore é a atração do festival Veraneio, no Oi Futuro Ipanema (3131-9399), às 21h, em show que se repete no sábado. l Com os cantores Sérgio Pererê e Carla Gomes e roteiro de Haroldo Costa, o show “Desde que o samba era semba” conta a história do gênero no teatro João Caetano (2332-9257), às 19h. Também no sábado. O violinista francês Nicolas Krassik celebra 15 anos de sua chegada no Brasil, às 22h, no Bar Semente. l Toquinho lembra seus sucessos no Vivo Rio (2531-1227), às 22h. Tiê, Roberto Menescal e Carlos Lyra participam do show. l As bandas Maldita e Kita tocam no Solar de Botafogo, às 22h. l SÁBADO, DIA 27 A dupla sertaneja Jorge & Mateus se apresenta no Metropolitan (t4f.com.br), às 23h. No domingo, às 20h. l Bibi Ferreira comemora 75 anos de carreira com o show inédito “4 X Bibi”, no Vivo Rio, às 21h. Também no domingo. l DOMINGO, DIA 28 A banda Viper toca o repertório dos discos “Soldiers of sunrise” e “Theatre of Fate” no Circo Voador, às 19h30m. l SEGUNDA, DIA 29 O violonista Zé Paulo Becker comanda (ao lado de Caio Marcio, Tiago do Bandolim e Carlos Cesar) a tradicional noite de choro no Bar Semente, às 21h. l O saxofonista Edgard Duvivier toca músicas próprias e de compositores como Astor Piazzolla, Michel Legrand, Burt Bacharach, Jacques Brel, Django Reinhardt e Charlie Chaplin na Casa da Gávea, às 21h. l