OGLOBO

Transcrição

OGLOBO
OGLOBO
TERÇA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2016 ANO XCI - Nº 30.150
Irineu Marinho (1876-1925)
(1904-2003) Roberto Marinho
RIO DE JANEIRO
oglobo.com.br
LAVA-JATO E ACARAJÉ
Cedae perde no tribunal
Cobrança
de esgoto
é proibida
_
Prisão de marqueteiro de
Lula e Dilma alarma Planalto
EXCLUSIVO Decisão do
Tribunal de Justiça do Rio
beneficia consumidores que
não têm esgoto tratado mas
são obrigados a pagar pelo
serviço à Cedae. A tese
acolhida pelos juízes para
tomar essa decisão foi a
de que a empresa agride
o meio ambiente. PÁGINA 7
Santana recebeu
US$ 7,5 milhões
no exterior
Referendo na Bolívia
Acusado reage:
país vive clima
de perseguição
JOSÉ LUCENA/FUTURA PRESS
Morales põe culpa
em redes sociais
Para Moro, dinheiro
está vinculado a
campanhas do PT
O presidente Evo Morales
atribuiu às redes sociais a
rejeição à sua tentativa de obter
o 4º mandato na Bolívia. Sem
admitir derrota, ele disse que vai
respeitar o resultado. PÁGINA 21
E-SOCIAL
Entre, mas
reze para sair
O e-Social, sistema criado há quatro meses pelo governo para recolher FGTS de domésticas, ainda não tem campo para informar demissões. Trabalhadores
demoram a conseguir
sacar o Fundo. PÁGINA 15
Otimismo no mercado
Petrobras e Vale
disparam na Bolsa
Publicitário das duas campanhas de
Dilma Rousseff à Presidência e da de
reeleição do ex-presidente Lula, João
Santana e sua mulher, Mônica Moura, tiveram a prisão decretada ontem
pela Operação Acarajé, 23ª fase da
Lava-Jato. Santana é suspeito de receber US$ 7,5 milhões ilegalmente
no exterior, parte enviada pela Odebrecht. No Planalto, ministros próximos à presidente classificaram a situação como “grave e muito ruim”
Guerra ao ‘Aedes’
Drones mapearão
criadouros no Rio
Novidade no combate ao Aedes,
drones passarão a ser usados
pelos bombeiros para mapear
áreas críticas de criadouros do
mosquito no estado. PÁGINA 9
Relatório da PF afirma que o ex-presidente Lula precisa ser investigado,
“com parcimônia”, pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”.
Cientistas descobrem
como as bactérias se defendem
dos antibióticos. PÁGINA 23
ESPORTES
ARNALDO BRANCO
Com humor, nova
coluna lembra que
futebol não é ciência
exata. PÁGINA 24
DIVULGAÇÃO/SHAHRAM AZIMI
PÁGINA 19
SEM RESISTÊNCIA
Patinhas
Ele trabalhou com Duda Mendonça, abatido
pelo mensalão, e em
seis anos foi de marqueteiro a conselheiro político de Dilma. PÁGINA 4
MERVAL
PEREIRA
A repetição
de métodos
criminosos
do PT. PÁGINA 4
JOSÉ CASADO
Anotações de
Odebrecht guiam
investigação.
PÁGINA 13
Delegado fala em ‘possível envolvimento em práticas criminosas’ na relação com a Odebrecht
BTG vende o
banco suíço BSI
Superbactéria
PERFIL
PF diz que Lula deve ser investigado
Após a prisão de Esteves
SOCIEDADE
para o governo. O PSDB vai pedir ao
TSE que anexe a investigação ao processo contra a campanha de 2014 de
Dilma. Para o juiz Sérgio Moro, Santana e a mulher sabiam que os recursos recebidos no exterior, atribuídos
por ele a serviços prestados ao PT, tinham origem espúria. O marqueteiro, que estava a trabalho na República Dominicana, disse que as acusações são infundadas e lamentou “clima de perseguição”. PÁGINAS 3 a 5
AILTON DE FREITAS/7-10-2014
Operador. Zwi Skornicki (de camisa vermelha) chega à sede da PF no Rio: polonês foi preso na 23ª fase da Lava-Jato por suspeita de ter repassado dinheiro ilícito para João Santana
A alta nos preços do petróleo
e do minério de ferro fez as
ações de Petrobras e Vale
subirem 16% e 11% na Bolsa.
A prisão de João Santana
também influenciou. PÁGINA 19
Documentos apreendidos na Odebrecht, segundo a PF, mostram valores associados à inscrição “Prédio IL”,
que, para os investigadores, seria
Instituto Lula. Os valores seriam referência a R$ 12,4 milhões supostamente gastos em obras. No celular
de Marcelo Odebrecht havia menção
SEGUNDO CADERNO
Censura
AMEAÇAS
E ATAQUES A
QUEM FAZ ARTE
EXCLUSIVO Casos de violações à
liberdade artística no mundo, como as
ameaças de morte ao cantor iraniano
Shahin Najafi (foto), dobraram em
um ano, revela ANDRÉ MIRANDA.
2ª Edição - Preço deste exemplar no Estado do Rio de Janeiro R$ 4,00 - Circula com esta edição: Segundo Caderno
a “prédio novo”. Em nota, o Instituto
Lula argumentou que em 2010, “ano
indicado na planilha” apreendida, a
entidade ainda não existia. PÁGINA 5
CHICO
2
l O GLOBO
Terça-feira 23 .2 .2016
Página 2
Conte algo que não sei
_
‘Com o vinho, invariavelmente, fazemos amigos’
|
Panorama
político
|
_
Luís de Castro
_
Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em Portugal, está no Brasil para a Semana dos Vinhos do Tejo
“Nasci em Lisboa e tenho
61 anos. Cheguei a cursar
advocacia, mas não acabei,
porque veio a Revolução dos
Cravos, em 1974. Comecei a
trabalhar muito cedo, em
hotelaria e no ramo
imobiliário. E, depois,
mesmo sem formação em
enologia ou agronomia,
surgiu esta aventura
comercial, há 12 anos.”
Um tiro no governo
O impacto com a prisão de João Santana foi
grande e surpreendeu o Planalto. A esperança,
diz um integrante do governo, é que o fato se
perca no turbilhão da Lava-Jato. O objetivo agora
é manter o cinturão de proteção à presidente
Dilma. O bordão já existe: “Não encontrarão
nada contra mim”. Admite-se que a oposição
ganhou gás e que a revelação mina o esforço
para obter apoio no Congresso e no mercado.
_
A ofensiva conservadora
ENTREVISTA A:
MÁRVIO DOS ANJOS
[email protected]
Conte algo que não sei.
O produtor mais velho de Portugal é um senhor de origem europeia-oriental: tem 105 anos.
Sabe quando ele começou a
plantar vinhas? Aos 85. Um dia,
meu colega de Lisboa me contou que ele lhe telefonou indignado, porque tinha de preencher um formulário na internet,
e havia aquelas casinhas para os
números. Só que, no campo idade, só havia duas casinhas. E ele
lhe perguntou: “E agora, como é
que vou resolver isso?”
l
l No Brasil conhecemos algumas regiões vinhateiras,
como o Douro, o Minho, o
Alentejo. Onde se situa a zona que o senhor preside?
É a zona conhecida como Ribatejo. Começa onde termina
Lisboa e acompanha o Tejo. Os
primeiros vinhedos creio que
vêm dos romanos, mas, como
zona de origem controlada, é
mais recente, de 2010. Durante
milhões de anos, o rio fez o vale
e construiu os três terroirs que
existem lá: o campo, o bairro —
que, como o nome diz, tem a ver
com o barro — e a charneca, onde as terras mais pobres são
mais propícias aos tintos. O rio
tem grande influência no clima,
muito quente no verão, mas as
noites são frescas, úmidas, e essa
calma alivia o estresse das uvas.
Quais são as uvas mais importantes da região?
Das tintas, a principal é a castelão, que também se chama
periquita; touriga nacional, tinta-roriz, o alicante-bouchet,
uma casta nacionalizada. Entre
as brancas, a Fernão Pires.
midor brasileiro hoje?
O Brasil nos é muito estratégico. Já de saída, o brasileiro
entende que a origem portuguesa do vinho é sinônimo de
qualidade. Estamos sempre
em terceiro lugar nas importações, sempre considerando
que os nossos concorrentes
sul-americanos não têm os
nossos custos de transporte.
l
Adoro os nomes das uvas de
Portugal.
Há a esgana-cão, rabo-de ovelha, roupeiro... certa vez um
amigo inglês me pediu que traduzisse os nomes. Ele se espantava. “Sheep’s Tail? Closet?”
l
l
Como vê o mercado consu-
Em outros países a percepção
da qualidade não é tão clara?
Tivemos o vinho mais vendido do mundo, marca que hoje
é quase maldita, o Mateus Rosé, nos anos 40. Mas não soubemos fazer o dever de casa e
colocar debaixo desse guardachuva outros vinhos portugueses. Somos o décimo produtor
mundial, mas não somos sempre o décimo em importações.
Nos EUA e na Inglaterra, estamos entre o 13º e o 15º lugares.
Mas, nos EUA, o vinho português está a subir a escada em
dois lances de cada vez.
l
Como o vinho começa em
sua vida?
Minha família tinha uma
quinta, produzia vinho e vendia
a granel. Depois casei-me com
uma quase vinhateira: meu sogro é produtor de vinhos. Tenho
dois cunhados produtores.
l
Se os romanos encontravam
a verdade no vinho, o senhor
encontrou o quê?
Encontrei um ambiente fantástico. As reuniões começam
sempre com um almoço ou um
jantar, e não são ascéticas como
nos outros negócios, em que
metes a gravata e sais sem conhecer com quem negocias.
Com o vinho, invariavelmente,
fazemos amigos.
l
Aqui se diz que “nunca fiz
amigos bebendo leite”.
Há um poema alentejano,
que de poema não tem nada,
mas que diz: “O vinho é bom,
mas a água, enquanto pura e
cristalina, o vinho é melhor.”
l
MICHEL FILHO
O GLOBO
_
Elas nas redações
O
prêmio de jornalismo dedicado exclusivamente a mulheres
jornalistas, que têm de fazer
como a logo do troféu sugere:
matar um leão por dia no exercício da profissão — comemora Catarina Alencastro, setorista no Palácio do Planalto da
sucursal em Brasília.
Pelas regras do prêmio, cada
e-mail registrado pode votar
apenas uma vez em cada uma
das categorias. Os votos só são
considerados válidos quando
o votante clicar na confirmação enviada ao e-mail registrado. O prêmio foi idealizado como uma forma de homenagear
as mulheres das redações no
Dia Internacional da Mulher.
A repórter Maria Lima ven-
Finalistas. Catarina e Maria, na sucursal do GLOBO em Brasília
ceu o prêmio em 2011, pela cobertura da primeira campanha
da presidente Dilma à Presidência. Em 2015 e agora, em
2016, foi novamente indicada
como finalista do prêmio.
— Sem nenhum caráter sexista, o prêmio é uma homenagem legal e dá visibilidade ao
trabalho de excelentes profissionais, mulheres que estão lado a lado com os homens nessa labuta diária das redações
— agradece Maria Lima. No
GLOBO, recentemente, das
principais editorias, apenas a
de Esportes não era comandada por uma mulher. l
_
País
Economia
Em janeiro, houve redução de
salário em um quinto dos acordos
firmados por sindicatos PÁGINA 16
Rio
Publicitário que presidia Suderj
assume Transporte do estado em
meio à crise na obra do metrô PÁGINA 8
Loterias
l
LOTOFÁCIL
_
“Eles (PSDB) dizem que, se
o PT concordar, eles também
concordam. A posição deles lá
atrás já era esta: criar o fator
previdenciário. Queriam botar
a idade mínima para 65 anos”
Paulo Paim
Senador (PT), contrário à reforma da Previdência
_
Fazendo água
O PDT ganhou um ministério, mas a sigla perde
cadeiras no Senado. Reguffe e Cristovam Buarque
deixaram o partido na semana passada. O
próximo pode ser Zezé Perella, de Minas, que está
insatisfeito com o apoio ao governo Dilma.
Água morna
ANDRÉ COELHO/16-7-2014
Corpo-fechado
Leia também
Levantamento mostra que oito
jornalistas foram mortos e 64
agredidos no país em 2015 PÁGINA 6
A bancada evangélica na Câmara vai lançar
campanha nacional para que os pais pressionem
as escolas a excluir o ensino da ideologia de
gênero. Seus representantes vão espalhar um
modelo de procuração extrajudicial contra
instituições de ensino que contrariem essa linha.
Caso o tema, apoiado pela ONU, seja mantido no
currículo, a recomendação é entrar com ação na
Justiça contra as escolas, privadas ou públicas. Na
semana passada, a bancada evangélica conseguiu
retirar, do texto de medida provisória, o termo
“perspectiva de gênero” das atribuições do
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da
Juventude e dos Direitos Humanos.
A despeito da eclosão de
nova bomba na Operação
Lava-Jato (João Santana), a
cúpula do PMDB não
acredita que isso levará a
confrontos na convenção
de março. Ela avalia que
não houve mudança na
correlação de forças na sigla. Por isso, considera
que a convenção não se afastará de seu objetivo:
reeleger seu presidente, o vice Michel Temer.
Por Dentro
GLOBO tem três jornalistas como finalistas do Troféu Mulher
Imprensa 2016. F L ÁVIA O LI VEIRA concorre na categoria
colunistas de Jornalismo Impresso, e C ATARINA ALENCAS TRO e M ARIA L IMA foram indicadas como repórteres. As finalistas foram escolhidas
numa primeira votação, entre 60 profissionais de todas
as áreas. Agora, na segunda
fase do prêmio realizado pela
Imprensa Editorial — que
edita a revista e o portal Imprensa —, a votação nas finalistas em 17 categorias é feita
pela internet.
— Eu me sinto honrada de
estar entre as finalistas de um
ILIMAR FRANCO
[email protected]
_
MÔNICA IMBUZEIRO
Mundo
Braço do Estado Islâmico na Líbia se
alastra pela África e recruta jihadistas
de países até então imunes PÁGINA 22
1.326
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25
l
Sociedade
Anel vaginal com medicamento
antirretroviral evita contágio por
HIV em 30% das mulheres PÁGINA 23
Esportes
Em grande forma no Fla, Willian
Arão ignora briga com Botafogo e
diz que só pensa em jogar PÁGINA 26
QUINA
4.015
03 l
22 l
41 l
46 l
65
l
O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
Maior partido do país, dirigentes regionais do
PMDB não acreditam que ganhem novos
deputados na janela para troca de partidos.
Explicam que o PMDB está estabelecido em
todos os estados e não tem espaço para abrir.
Recordar é viver
O ex-secretário Carlos Roberto Osório, que pode
ser candidato do PSDB à prefeitura, já virou alvo
até de aliados de tucanos. Eles citam o caso do
metrô (Olimpíadas), mas preferem explorar sua
presença na campanha da presidente Dilma. Um
dos episódios é o de carreata onde, lado a lado,
ele e Pedro Paulo entoavam o jingle de Dilma.
Os motivos
A movimentação para troca de partidos na
Câmara tem pouca relação com o apoio ou não
ao governo Dilma. A maioria das mudanças que
estão sendo negociadas está relacionada às
disputas e aos interesses na política local.
Os dois lados
Candidato a líder do PP, Cacá Leão tem o apoio
do atual, Eduardo da Fonte. Seu adversário,
Aguinaldo Ribeiro, que foi ministro do governo,
tem ao seu lado o presidente da CCJ, Arthur Lira,
um ferrenho aliado de Eduardo Cunha.
_
O EX-PRESIDENTE DA PETROBRAS Sérgio Gabrielli, reunido
com os senadores do PT, ontem à noite, atacou o
projeto de José Serra sobre a exploração do pré-sal.
_
Com Amanda Almeida, sucursais e correspondentes
[email protected]
Terça-feira 23 .2 .2016 2ª Edição
O GLOBO
País
l 3
ESCÂNDALOS EM SÉRIE
A vez do marqueteiro
_
Decretação da prisão de João Santana assusta Planalto; oposição quer incluir provas em ação no TSE
SIMONE IGLESIAS, MARIA LIMA,
ISABEL BRAGA E LETICIA FERNANDES
OPERAÇÃO ACARAJÉ
[email protected]
A decretação da prisão do marqueteiro João Santana deixou o Palácio
do Planalto muito preocupado ontem.
Santana é o alvo principal da 23ª fase da
Operação Lava-Jato, que apura pagamentos irregulares no exterior ao marqueteiro por empreiteiros que mantinham contratos com a Petrobras, como
a Odebrecht. Ele só não foi preso ainda
porque está na República Dominicana a
trabalho, mas avisou que voltará ao Brasil para se entregar à Polícia Federal.
A situação foi descrita por ministros e
assessores próximos da presidente Dilma Rousseff como “grave e muito ruim”
para o governo. Além de marqueteiro
das duas campanhas da presidente,
Santana é uma das pouquíssimas pessoas em quem Dilma confia plenamente, e única que ela ouve antes de qualquer exposição pública relevante, como anúncio de medidas e pronunciamentos de TV. Por isso, a simbologia da
possível prisão do marqueteiro e de sua
mulher e sócia, Mônica Moura, é considerada péssima para o governo.
— Ele é a pessoa que mais cuida da
imagem de Dilma. E essa prisão, com
ou sem motivo, afeta diretamente essa
imagem. É péssima — resumiu um assessor do Planalto próximo à petista.
ODEBRECHT
-BRASÍLIA-
MORO RESSALTA VINCULAÇÃO
Além da preocupação com a imagem de
Dilma e do governo, a avaliação é de que
a decretação da prisão, com direito a
alerta vermelho da Interpol, poderá ser
mais um combustível no pedido de impeachment de Dilma, que já parecia assunto superado para o Planalto, além de
influenciar o julgamento das ações do
PSDB contra a presidente que tramitam
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os
partidos de oposição anunciaram que
hoje vão pedir ao TSE a inclusão do assunto na investigação contra Dilma.
O PSDB enviará uma petição à ministra Maria Thereza, relatora da ação de
impugnação do mandato da chapa Dilma/Michel Temer no TSE, para que as
provas da Operação Acarajé, como a PF
batizou a 23ª fase da Lava-Jato, sejam
anexadas ao processo. O PSDB vai pedir
também que seja colhido o depoimento
do operador Zwi Skornicki, suspeito de
repassar a Santana US$ 4,5 milhões em
contas no exterior entre 2012 e 2014, de
recursos desviados da Petrobras.
Para o juiz Sérgio Moro, “é extremamente improvável que a destinação de
recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras” a Santana e sua
mulher, no exterior, esteja “desvinculada
dos serviços que prestaram à aludida
agremiação política”. Segundo o juiz,
“por mais que tenha declarado ao Fisco”
os valores, o casal “tinha conhecimento
da origem espúria dos recursos” e ocultou valores no exterior “mediante expedientes notoriamente fraudulentos”.
Apesar do temor que se abateu sobre
Dinheiro de propina
da Odebrecht,
envolvida no
esquema da
Petrobras
OFFSHORES
EM NOME DA
ODEBRECHT
US$ 500
mil
CAMINHO DO DINHEIRO
João Santana e a
mulher, Mônica
Moura, receberam
US$ 7,5 milhões
em duas contas que
estão em nome da
offshore panamenha
Shellbill Finance SA.
As contas foram
abertas em Londres
e Nova York
OPERADOR
US$ 4,5
milhões
KLIENFELD
US$ 2,5
milhões
SHELLBILL
FINANCE SA
INNOVATION
DOCUMENTOS
Suspeito de
arrecadar
propina da
Petrobras
Zwi
Skornicki
US$ 7,5
milhões
OFFSHORE DE
JOÃO SANTANA
CONTA
NA SUÍÇA
João Santana
PUBLICITÁRIO
Carta endereçada a Zwi Skornicki deu início
à investigação sobre João Santana. Foi escrita
pela mulher do marqueteiro, Mônica Moura.
O documento orienta sobre como deveria ser
feito um contrato entre empresas suspeitas de
repassar propina. Na carta, Mônica diz que,
“por motivos óbvios”, apagou o nome da
offshore de um modelo de contrato. Mas a
força-tarefa conseguiu recuperar este nome
No celular de Marcelo Odebrecht apreendido
pela PF, há uma anotação com menção a uma
conta na Suíça (“cta. suíça”). João Santana
seria o “Feira” (apelido por conta da cidade
de Feira de Santana). “Campanha dela” seria
a campanha de Dilma
Editoria de Arte
Moro vê vinculação
de “recursos
espúrios” pagos a
João Santana com
campanhas do PT
os governistas, em sua defesa o Planalto vai alegar que não há prova alguma
de que exista vínculo do dinheiro dado
pela Odebrecht a Santana no exterior
com a campanha à reeleição de Dilma.
— Precisa ter vínculo e, até agora, não
há vínculo das contas dele com a campanha dela — afirmou um ministro.
O presidente do PT, Rui Falcão, disse
que as denúncias não afetam o PT e
que a legenda “não tem marqueteiro”,
apenas contrata pessoas para produzir
seus programas partidários.
— Não diz nada com relação ao PT.
Quem acusa tem que provar, continuo
defendendo que as pessoas são inocentes
até que se prove o contrário — disse Falcão. — O PT não tem marqueteiro, con-
trata as pessoas para fazerem programas.
Falcão comparou com a situação do
PSDB, dizendo que as doações de campanha feitas à legenda foram legais e
apresentadas à Justiça Eleitoral, e que
as transações foram “muito semelhantes” às realizadas pelos tucanos.
Segundo relatos, apesar da nova crise, Dilma está “tranquila” porque pagou legalmente ao marqueteiro por
seus serviços durante a campanha de
2014. Dos R$ 318 milhões gastos para
reelegê-la, R$ 89 milhões foram pagos a
Santana. O auxiliar diz que não houve
pagamentos por meio de caixa dois.
A última participação de Santana
aconteceu no pronunciamento de Dilma sobre o vírus zika, este mês. O pronunciamento foi gravado pela equipe
de Santana. O texto teve o dedo do marqueteiro. Na abertura do ano Legislativo, Santana colaborou no discurso e no
convencimento da presidente de que
seria importante ir ao Congresso.
— Ficou muito claro que a campanha
da presidente Dilma veio para dentro
da Lava-Jato com a prisão de seu marqueteiro João Santana — disse o coordenador jurídico do PSDB, Carlos Sampaio, que decidiu pedir ao TSE a juntada das novas provas, em conjunto com
o presidente do partido, Aécio Neves.
AÉCIO: “MUDANÇA DE PATAMAR”
Aécio disse que a apresentação do conjunto de provas documentais na Operação Acarajé irá “mudar de patamar” o
julgamento da ação no TSE.
— Houve muita picaretagem na campanha, mas para mim essa Operação
Acarajé é o que de mais grave ocorreu até
aqui em níveis de contaminação da presidente Dilma e sua campanha. A operação
é a comprovação de que houve dinheiro
desviado da Petrobras através do operador Zwi Skornicki — disse Aécio.
Segundo o tucano, durante a disputa
eleitoral ele percebia “que tinha dinheiro
demais” circulando na campanha da adversária, a começar pelos valores pagos a
João Santana, cerca de R$ 90 milhões.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), disse que agentes públicos
estão agindo de forma parcial para tentar encontrar provas que incriminem
Dilma e o ex-presidente Lula:
— Certamente instituições de Estado
devem investigar, mas tem gente vestindo a camisa do PSDB quando passou em um concurso para agir em nome do Estado e está agindo em nome
de interesses políticos específicos.
Segundo o advogado da campanha de
Dilma, Flávio Caetano, foi pago ao marqueteiro dinheiro legal e contabilizado:
“Este valor, por si só, demonstra que o
pagamento feito ao publicitário se deu
de forma legal e absolutamente transparente”, escreveu Caetano, em nota.
(Colaborou Catarina Alencastro) l
NA WEB
glo.bo/1oYJ7GF
O bilhete da mulher de Santana
que deu origem à operação
Mulher de Santana tentou apagar em bilhete nome de empresa offshore
Marqueteiro se queixa
de perseguição e diz
que acusações
‘são infundadas’
Para pedir a prisão do marqueteiro João Santana, que comandou as
últimas três campanhas do PT
ao Planalto — a do ex-presidente Lula em 2006 e as da presidente Dilma em 2010 e 2014
— a Polícia Federal descobriu
que o publicitário recebeu US$
7,5 milhões em uma conta não
declarada na Suíça. Os pagamentos saíram de empresas
offshores controladas pela
construtora Odebrecht e pelo
operador de propina Zwi Skornick, que foi preso ontem na
casa dele, no Rio. Para a LavaJato, o dinheiro foi desviado da
Petrobras.
As investigações contra Santana partiram de um bilhete
-SÃO PAULO, RIO E CURITIBA-
apreendido na casa de Zwi Skornick no ano passado. O papel assinado pela mulher e sócia do
publicitário, Mônica Moura, orientava sobre como o operador
deveria ter feito um contrato:
“Apaguei, por motivos óbvios, o
nome da empresa. Não tenho
cópia eletrônica, por segurança”,
escreveu Mônica. Apesar do cuidado, o nome da empresa não
foi bem apagado no documento,
e a força-tarefa da Lava-Jato conseguiu identificar o nome das
offshores Klienfeld e Innovation,
as mesmas usadas pela Odebrecht para efetuar pagamentos de
propina no exterior a ex-diretores da Petrobras.
Junto com o bilhete, Mônica
enviou também os números
das contas onde Zwi deveria
fazer os depósitos. Uma delas
era da offshore ShellBill Finance, constituída no Panamá e
com conta na Suíça. Foi nela
que o operador pagou US$ 4,5
milhões a Santana, entre abril
de 2013 e novembro de 2014. A
conta também recebeu US$ 3
milhões da Klienfeld e da Innovation, entre abril de 2012 e
março de 2013.
No despacho de prisão, o juiz
Sérgio Moro disse que a conta
ShellBill foi usada para transferir recursos à filha de João
Santana, que mora nos Estados Unidos. Suria Santana recebeu US$ 442 mil entre 2008 e
2015, e o marido dela, Matthew
Pacinelli, US$ 75 mil em 2009.
NA REPÚBLICA DOMINICANA
Santana e Mônica tiveram prisão temporária decretada. Os
dois estavam na República Dominicana, onde comandavam
uma campanha de reeleição do
presidente Gabriel Medina.
Através de advogados, o casal informou à Justiça que chega hoje
a São Paulo para se entregar à PF.
Os dois foram incluídos na lista
vermelha da Interpol. Moro decretou o bloqueio de até R$ 100
milhões de Santana, da mulher e
das duas empresas de publicidade do casal, a Pólis, que fez a
campanha de Dilma, e a Santana & Associados.
Ao saber do pedido de prisão, o marqueteiro renunciou
ao comando da campanha de
de Medina. Na carta que encaminhou ontem ao comitê nacional do Partido de la Liberación Dominicana (PLD), o publicitário assumiu a própria
defesa e disse que o Brasil está
vivendo um clima de “perseguição” e que as acusações
contra ele “são infundadas”.
Os demais alvos da operação
são ligados à Odebrecht. O
principal deles é Benedito Barbosa, atual presidente da construtora, acusado de comandar
o pagamento de propinas no
exterior ao lado do empresário
Marcelo Odebrecht, que está
preso e foi transferido para a
sede da PF de Curitiba ontem.
Outros dois executivos da
Odebrecht tiveram prisão temporária decretada: Hilberto
Silva, que assinou uma das
contas usadas pela construtora
na Suíça, e Fernando Migliaccio. De acordo com os investigadores, Migliaccio era o principal gerenciador das contas
usadas pela empreiteira no exterior para pagar propina.
Quando Marcelo Odebrecht
foi preso, em julho do ano passado, Migliaccio e a família foram morar nos Estados Unidos. Para acelerar o processo, a
Odebrecht teria cuidado da
obtenção de vistos e da escolha da casa onde morariam
nos Estados Unidos.
Segundo Moro, uma planilha
controlada por Migliaccio retrata pagamentos a João Santana e ao PT e “há fundada suspeita de que esses pagamentos
são ilícitos”, considerando que
a função dele era administrar
as contas secretas da Odebrecht usadas para repasses de
propinas a agentes públicos.
Moro também bloqueou até
R$ 50 milhões de Zwi e R$ 25
milhões de Migliaccio.
O juiz afirma no despacho
que os valores seriam “doações
eleitorais subreptícias”, comparando os pagamentos a João
Santana aos que foram feitos a
João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT preso na Lava-Jato.
Moro lembra que uma das
anotações de Marcelo Odebrecht — “900 via Bonus PT” —
em setembro de 2010, mostrou
correspondência com o registro de doação oficial ao PT no
valor de R$ 900 mil feita naquele mês. No caso, “bônus”
seriam as doações oficiais.
Em nota, a defesa de Santana
informou que vai mostrar que
todos os valores recebidos no
exterior estão ligados a campanhas realizadas por ele fora do
país. Também em nota, a Odebrecht informou que a empresa
só vai se manifestar nos autos. l
l O GLOBO
4
l País l
Terça-feira 23 .2 .2016
ESCÂNDALOS EM SÉRIE
[email protected]
MERVAL
PEREIRA
_
PERFIL João Santana
ERBS JR./FRAME PHOTO/AE/02-10-2014
|
|
Crime repetido
A desconfiança de que o PT mantinha contas
secretas no exterior, de onde retirava dinheiro para
financiar suas campanhas eleitorais, inclusive as
do ex-presidente Lula e da presidente Dilma,
sempre esteve presente na crônica política.
D
esde que o marqueteiro Duda Mendonça, em
2005, confessou que fora pago em uma conta
não declarada no Caribe aberta a mando o lobista Marcos Valério, até hoje, de acordo com as investigações da Lava-Jato, esse procedimento continuou sendo usado para pagar o marqueteiro João Santana.
Isso significa que o PT atua na ilegalidade pelo menos desde a primeira eleição de Lula, em 2002, e os
métodos de lavagem de dinheiro foram sendo aperfeiçoados para tentar esconder as contas secretas.
A teia de contas e bancos pelo mundo montada pela
Odebrecht e, segundo as investigações, controlada
pessoalmente por Marcelo Odebrecht, serviu para lavar dinheiro desviado da Petrobras para o PT, e pagou
os serviços do marqueteiro do momento, assim como
Marcos Valério pagou Duda Mendonça no mensalão.
A repetição de métodos criminosos já devidamente
comprovados impede que a questão seja tratada pelo
Tribunal Superior Eleitoral como banal, pois vários
políticos já perderam seus mandatos, de prefeito e governador, devido a abusos do poder econômico muito menos evidentes e sofisticados do que o que agora
está sendo desvendado sobre as campanhas da presidente Dilma Rousseff em 2010 e em 2014.
Mesmo que tentem analisar de maneira burocrática a
situação posta, interpretando a lei ao pé da letra e sem
contextualizar o que representa esse imenso esquema
criminoso que está sendo revelado nos detalhes pela
Lava-Jato, será um ônus enorme para ministros do TSE
fingir que não se depararam com um escândalo sem
precedentes na história política brasileira.
Em 2005, tudo era novidade para o mundo político,
tanto que provocou choro e ranger de dentes entre os
petistas mais sensíveis às questões éticas, que àquela
altura já não eram obstáculo à ascensão meteórica do
PT ao comando central do país.
Muito antes disso, a ação criminosa de que foram
vítimas prefeitos petistas — Toninho, de Campinas, e
Celso Daniel, de Santo André — já demonstrava que o
caminho do poder petista não seria barrado por pudores de nenhuma espécie.
A consequência da descoberta de grossa corrupção na
campanha eleitoral de Lula em 2002 só não teve maior
repercussão por um erro estratégico do PSDB, que considerou o então presidente como carta fora do baralho
na sucessão presidencial
U
de 2006 e decidiu deixáOs pontos-chave
lo “sangrar” até o final de
seu primeiro mandato.
A recuperação da economia produziu um
A desconfiança de que o PT
efeito contrário e ajumantinha contas secretas
dou Lula a recuperar o
no exterior sempre esteve
fôlego que parecia ter
presente na crônica política
perdido no início do
escândalo. Adaptandose à situação como o caO PT atua na ilegalidade
maleão político que
pelo menos desde a
sempre foi, Lula saiu de
primeira eleição de Lula,
uma posição de humilem 2002
dade, dizendo-se traído
e pedindo desculpas na
televisão, para negar até
O mundo político já joga
mesmo que tenha exiscom a alternativa de o
tido o mensalão.
PMDB decidir-se pelo
Desta vez, não apenas
impeachment
a repetição, mas o aprofundamento do esquema criminoso demonstram que não se deve ter complacência com um partido político que usa de todos
os artifícios criminosos possíveis para obter vantagem sobre seus adversários, desde a calúnia e a infâmia, até mesmo desviar dinheiro público para a manutenção de suas atividades político-eleitorais.
O juiz Sérgio Moro já enviou ao TSE os documentos
da primeira condenação do ex-tesoureiro do PT João
Vaccari, em que está provado o uso do dinheiro desviado da Petrobras para campanhas do PT. A continuidade
dessa sistemática utilização de dinheiro público para o
caixa de suas campanhas, seja pelo uso de caixa dois,
seja pela lavagem através de doações “legais” registradas no TSE, está confirmada em várias delações que
confirmam que a campanha presidencial de 2014 também foi irrigada com dinheiro desviado da Petrobras.
Se em 2005 Duda Mendonça acabou sendo absolvido pelo STF, que não viu dolo na sua ação, e safou-se
pagando uma multa à Receita Federal, hoje a situação
é diferente: a intenção de fraudar as leis está configurada, segundo a PF e os procuradores da Lava-Jato.
Agora, fecha-se o círculo com o esquema da Odebrecht para o marqueteiro João Santana, que pode
também ter ajudado o PT em outra circunstância,
igualmente criminosa: a Polícia Federal apura a suspeita de que empresas dele trouxeram de Angola para
o Brasil cerca de US$ 16 milhões, em 2012, numa operação de lavagem de dinheiro para beneficiar o PT.
Não há como negar as evidências, e o mundo político já joga com a alternativa de o PMDB, diante da realidade, decidir-se pelo impeachment da presidente
Dilma para evitar a cassação da chapa pelo TSE. l
1
2
3
Em ação. João Santana orienta a presidente Dilma, então candidata à reeleição, antes de debate da TV Globo: marqueteiro foi alvo de críticas de petistas
Marqueteiro virou conselheiro e
homem de confiança de Dilma
Bem-sucedido no
marketing político,
Santana ajudou a
eleger seis presidentes
no Brasil e no exterior.
Como jornalista, ele
foi crucial para
o impeachment de
Fernando Collor
FERNANDA KRAKOVICS
[email protected]
Ao longo dos últimos seis
anos, João Santana tornouse mais do que o marqueteiro da presidente Dilma
Rousseff, passando a conselheiro político e uma das
poucas pessoas a quem a
petista ouvia. Além de fazer
as duas campanhas presidenciais de Dilma e de redigir os discursos mais importantes, Santana era chamado ao Palácio da Alvorada
em momentos de crise, como as manifestações de junho de 2013. Pesquisas qualitativas e quantitativas feitas pelo marqueteiro eram
utilizadas pelo governo para
traçar estratégias políticas.
Desde o ano passado San-
tana está afastado do governo
e do PT, fazendo campanhas
no exterior, como na Argentina. Ele passou a dar contribuições pontuais. Em abril do ano
passado, por exemplo, quem
fez o programa de TV do PT foi
Maurício Carvalho, marqueteiro da campanha derrotada
de Alexandre Padilha (PT) ao
governo de São Paulo.
Desde 2006, Santana ajudou
a eleger seis presidentes: Luiz
Inácio Lula da Silva; Mauricio
Funes, de El Salvador; Dilma;
Danilo Medina, da República
Dominicana; José Eduardo
dos Santos, de Angola; e Hugo
Chávez, na Venezuela.
Antes de se tornar marqueteiro, ainda como jornalista, Santana foi importante para o impeachment de Fernando Collor
com a reportagem “Eriberto,
testemunha-chave”. Ele dirigia a
sucursal da revista “IstoÉ”, em
Brasília, e ganhou o Prêmio Esso de Reportagem em 1992,
junto com os jornalistas Augusto Fonseca e Mino Pedrosa.
No marketing político, após
trabalhar com Duda Mendonça,
com quem rompeu posteriormente, Santana o substituiu na
campanha de Lula à reeleição,
em 2006. Mendonça havia saído
de cena no escândalo do mensalão, após admitir em 2005, em
CPI, ter recebido do PT dinheiro
de caixa dois no exterior.
Baiano da cidade de Tucano,
a 250 quilômetros de Salvador,
Santana é filho de um fazendeiro, beneficiador de sisal. Na
escola, ganhou o apelido de
Patinhas, quando era tesoureiro do grêmio estudantil. Foi
com essa alcunha que, nos
anos 1970, fundou e foi um dos
letristas da banda Bendegó.
Santana já se casou sete vezes
e sua atual mulher, Mônica, é
sua sócia. O marqueteiro é
apreciador de vinhos e, quando
não está trabalhando, um de
seus destinos preferidos é Paris.
Considerado um “gênio”
desde a campanha de 2006,
quando reelegeu Lula no auge
do mensalão, Santana tem sido alvo de críticas, inclusive no
PT, depois da difícil campanha
de 2014. O discurso adotado
para reeleger Dilma é apontada como responsável por parte
das dificuldades enfrentadas
pela petista em seu primeiro
ano do segundo mandato.
Ao discursar em reunião do
Diretório Nacional do PT, em
outubro do ano passado, Lula
admitiu que o PT reelegeu Dilma com um discurso diferente
do que está sendo praticado.
Na campanha, Dilma disse
que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”,
mas ao ser reeleita mudou as regras de acesso a benefícios como o seguro-desemprego, o que
foi considerado quebra de palavra pelas centrais sindicais.
Santana também criou o
boneco “Pessimildo” para rebater as previsões do candidato do PSDB, Aécio Neves. O
país, no entanto, enfrenta recessão econômica e aumento
do desemprego. A principal
tarefa de Dilma tem sido um
ajuste fiscal para tentar amenizar os efeitos da crise.
Essa não foi a primeira vez
que Santana foi alvo de críticas. Em 2008, a propaganda
da então candidata do PT à
prefeitura de São Paulo,
Marta Suplicy, perguntava
ao eleitor se ele sabia se o
então prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição, era casado ou tinha
filhos, insinuando que ele
seria homossexual. A peça
foi um tiro no pé de Marta,
que acabou derrotada.
O marqueteiro também
causou polêmica, em outubro de 2013, ao afirmar à revista “Época” que Dilma seria reeleita em primeiro turno porque ocorreria uma
“antropofagia de anões”. Ele
se referia aos então pré-candidatos Marina Silva, que
tentava criar a Rede; Aécio
Neves (PSDB) e Eduardo
Campos (PSB).
Marina acabou disparando
nas pesquisas após a morte
de Campos. Dilma investiu
no ataque a Marina, e foi para
o segundo turno com Aécio. l
U
Memória
O DIA EM QUE
PETISTAS
CHORARAM
Onze anos depois de o
publicitário Duda Mendonça, que
ajudou a construir a imagem do PT
e assinou a campanha vitoriosa de
2002 do ex-presidente Lula,
revelar em depoimento à CPI dos
Correios que abriu uma conta nas
Bahamas para receber R$10,5
milhões referentes a dívidas
eleitorais — desencadeando uma
série de baixas de petistas
históricos que não concordavam
com o esquema —, outro
marqueteiro do PT é envolvido
num esquema de pagamentos
suspeitos. Coordenador de
campanhas eleitorais de Lula e
Dilma, o publicitário João Santana
é suspeito de receber US$ 7,5
milhões em contas no exterior,
provenientes de propinas da
empreiteira Odebrecht e da
Petrobras, como pagamento a
serviços eleitorais à legenda.
Em agosto de 2005, Duda fez
muitos petistas chorarem ao admitir
à CPI dos Correios que tinha aberto
uma conta no exterior para receber
dívidas da campanha de 2002.
Admitiu que, para receber
ilegalmente os repasses do PT,
participou de um esquema de
lavagem de dinheiro e de caixa dois.
A ida do publicitário à CPI foi sem
aviso prévio, e as revelações sobre a
conta para receber pagamentos do
operador do mensalão, Marcos
Valério de Souza, por serviços ao PT
caíram como uma bomba.
Após passar dias negando que
tivesse recebido qualquer centavo
de Valério, o publicitário assumiu
o comando do depoimento que
seria de sua sócia, Zilmar
Fernandes. Entre lágrimas, contou
o caminho do dinheiro do caixa
dois transferido pelo ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares e por Valério
para a conta, que afirmou ter
aberto a pedido do operador.
Dizendo no depoimento que
AILTON DE FREITAS/11-8-2005
Duda. Publicitário chora na CPI
resolveu acabar com seu pesadelo,
Duda Mendonça contou que, para
receber do PT uma dívida de
R$11,5 milhões, foi obrigado, em
2003, a abrir uma conta no
exterior, na qual foram depositados
cerca de R$10,5 milhões.
Em outubro de 2012, ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF)
absolveram, por maioria, Duda
Mendonça e Zilmar Fernandes pelos
crimes de evasão de divisas e
lavagem de dinheiro no julgamento
do mensalão. Sobre a acusação de
lavagem, Mendonça e sua sócia
foram absolvidos pelo placar de 7 a
3; já sobre evasão de divisas, foram
10 votos a favor da absolvição e
nenhum em favor da condenação.
Os primeiros contatos de Duda
Mendonça com o PT ocorreram em
1998, quando foi convidado a fazer a
campanha de Lula à Presidência — o
publicitário tinha conseguido eleger
Paulo Maluf e, depois, Celso Pitta
prefeitos de São Paulo. O PT, porém,
vetou. Em 2001, acabou contratado,
por R$590 mil, para fazer os
programas eleitorais do PT. Em
2002, fechou um pacote de R$ 25
milhões para fazer as campanhas de
Lula à Presidência, as de governador
de José Genoino (SP) e de Benedita
da Silva (RJ) e a do senador Aloizio
Mercadante (SP). Em 2002, o
publicitário recebeu cerca de R$ 14
milhões do diretório nacional do PT e
dos comitês financeiros das
campanhas estaduais, ficando com
um crédito de R$ 11,5 milhões.
l País l
Terça-feira 23 .2 .2016 2ª Edição
O GLOBO
l 5
ESCÂNDALOS EM SÉRIE
_
PF aponta ‘possível envolvimento’
de Lula em ‘práticas criminosas’
Relatório liga gasto da Odebrecht a instituto do ex-presidente, mas diz que pode haver equívoco
FLÁVIO FREIRE E TIAGO DANTAS
[email protected]
-SÃO PAULO- Relatório da Polícia
Federal diz que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva deve
ser investigado “com parcimônia” pelo “possível envolvimento em práticas criminosas”. O
documento, revelado durante a
23ª fase da Operação Lava-Jato,
coloca sob suspeita o financiamento de obras do prédio do
Instituto Lula, em São Paulo, feitas pela Odebrecht.
Segundo a PF, R$ 12,4 milhões
foram gastos na obra. Ao analisar documentos apreendidos na
empreiteira, a polícia identificou como sendo Instituto Lula a
sigla “IL”, que aparece em uma
planilha. Diz o texto dos investigadores: “Em relação à anotação ‘Prédio (IL)’ e ao valor a ela
referido de R$ 12.422.000,00,
(...) a Equipe de Análise consignou ser possível que tal rubrica
faça referência ao Instituto Lula”.
“O possível envolvimento do
ex-presidente da República em
práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia, o que
não significa que as autoridades
policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional”,
diz o relatório.
A sigla “IL” aparece em planilha
criada em 2 de agosto de 2010
por Maria Lucia Guimarães Tavares. De acordo com a PF, a administradora tinha um telefone
criptografado para conversar
com Marcelo Odebrecht e auxiliava o presidente da empresa “nas
suas práticas criminosas”. O documento foi salvo pela última vez
em 31 de julho de 2012 por Fernando Migliaccio da Silva, administrador de contas offshores.
Chamou a atenção dos investigadores a indicação na planilha que o valor foi dividido: três
parcelas de R$ 1.057.000, e outras de R$ 8.217.000 e 1.034.000.
“Valores ‘quebrados’ foram
identificados em duas situações:
quando a vantagem indevida era
calculada a partir de percentuais
— no caso dos contratos da Petrobras — e quando a vantagem
se travestia na disponibilização
de serviços, bens e outras benesses passíveis de serem valoradas
precisamente”, afirma o texto.
Os policiais dizem que, seguindo essa lógica, “caso a rubrica ‘Prédio (IL)’ refira-se ao
Instituto Lula, a conclusão de
maior plausibilidade seria a de
que o Grupo Odebrecht arcou
com os custos de construção da
sede da referida entidade e/ou
de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva”. Mas o texto alerta que as
conclusões “podem estar equivocadas” e sugere que o depoimento de pessoas investigadas
nesta fase da operação possa
ajudar a revelar o significado de
cada uma das anotações.
Os investigadores tentaram
cruzar a planilha com informações encontradas em blocos de
notas do celular de Marcelo
Odebrecht. Não há nenhuma
menção à sigla IL, mas a palavra
prédio aparece algumas vezes.
Em 22 de outubro de 2010, há
uma referência a “prédio novo”,
mas sem detalhes do que poderia ser. A outra citação é de 9 de
janeiro de 2013.
Por fim, a PF afirma que “a investigação não se presta a buscar
a condenação e a prisão de ‘A’ ou
‘B’. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. (...) Se os fatos
indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada”.
Em nota, o Instituto Lula refutou as acusações: “O Instituto
Lula (IL) foi fundado em agosto
de 2011, na mesma casa onde
antes funcionava o Instituto Cidadania, ao qual sucedeu, e antes desse o IPET (Instituto de Estudos e Pesquisas dos Trabalhadores). A sede fica em um sobrado adquirido em 1991. Em
2010, ano indicado na planilha,
o Instituto Lula não existia ainda. Tanto o Instituto Lula quanto o Instituto Cidadania não
construíram nenhum prédio”.
A Odebrecht disse que não conhece os termos do inquérito e
que não poderia se manifestar. l
U
PROGRAMA DO PT NA TV
SEM DILMA, DEFESA
DO EX-PRESIDENTE
-SÃO PAULO- O empresário Marcelo
Odebrecht sabia dos repasses a
João Santana por meio de contas no exterior, de acordo com
relatório da Polícia Federal. Em
anotações encontradas em seu
celular, apreendido em julho de
2015, ele também orienta dois
funcionários da Odebrecht, que
a PF acredita serem Hilberto Silva e Luiz Eduardo da Rocha, a
fugirem para o exterior e a “fechar todas as contas sob risco”.
O primeiro é o funcionário da
Odebrecht responsável por
abrir contas fora do país, que foram usadas para pagar propina.
O segundo é um empregado
suspeito de operar contas. De
fato, os dois foram para o exterior com o avanço da Lava-Jato.
No relatório, os investigadores afirmam ainda que “não
restam dúvidas” de que a construtora realizou pagamentos a
João Santana em contas não
declaradas à Receita Federal.
Numa das anotações encontradas no celular de Marcelo, ele
se refere a Santana como “Feira”.
Seria uma referência ao fato de o
marqueteiro ser da região de
Feira de Santana, na Bahia. O
empreiteiro lista possíveis “argumentos” que o ex-diretor da empreiteira Rogério Araújo poderia
usar caso decidisse colaborar
com as investigações.
Marcelo afirma que Rogério
poderia dizer que era amigo de
Santana e, orientado pelo PT,
fez os pagamentos ao empreiteiro: “Era amigo e orientado
por eles (PT) pagou-se Feira
em cta (conta) que eles mandaram. ODB (Odebrecht) pagava campanha a priori, mas é
certo que aceitava algumas indicações a título de bom relacionamento. Campanha incluindo caixa 2 se houver era só com
MO (Marcelo Odebrecht), que
não aceitava vinculação”.
“Não restam dúvidas de que
o Grupo Odebrecht efetuou
depósitos no exterior de recursos espúrios em favor do publicitário e coordenador, e também de sua esposa e sócia, das
principais e recentes campanhas eleitorais do PT”, afirma o
relatório da PF, assinado pelo
delegado Filipe Hille Pace.
A PF encontrou registros de liberação de dinheiro para Santa-
RESULTADOS DA
OPERAÇÃO ATÉ AGORA
23 fases
109
prisões efetuadas
já foram realizadas
Número que aumentará
com prisões pedidas ontem
e ainda não cumpridas
1 ano e 11 meses
62
já duram as investigações
Em programa de TV que vai hoje
ao ar, o PT defenderá o
ex-presidente Lula contra o que
chama de “preconceituosos” que
querem “manchar sua história”.
A presidente Dilma Rousseff não
participa. Segundo o presidente
do PT, Rui Falcão, ela foi
convidada, mas disse que estava
“com a agenda cheia”. Enquanto
o locutor diz que os adversários
do partido nunca aceitaram as
“ideias e origens” de Lula, o
vídeo mostra imagens do
ex-presidente sendo abraçado e
beijado por eleitores. Lula
aparece em seguida e diz que o
legado petista “incomoda essa
gente que não gosta de dividir a
poltrona dos aviões” com os
mais pobres.
Mensagens indicam depósitos para marqueteiro no exterior
No celular, Marcelo
Odebrecht chama
Santana de ‘Feira’ e
menciona pagamento
OS NÚMEROS
DA LAVA-JATO
na: “Liberar p/Feira...”. Na mesma frase, há menção ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, no entendimento da PF: “40
para Vaca (parte para Feira)”.
No celular de Marcelo Odebrecht há também uma menção
sobre o risco de uma conta na
Suíça chegar à “campanha dela”.
Para os investigadores, trata-se
de possível referência à campanha da presidente Dilma.
Ontem, a PF identificou novos operadores de contas da
Odebrecht no exterior. Em nota, a Odebrecht informou “não
conhecer os termos dos inquéritos”, e não se manifestou. l
réus condenados
entre eles:
Alberto Youssef
Doleiro
João Vaccari Neto
Ex-tesoureiro do PT
Fernando Baiano
Lobista
42
réus condenados
têm hoje algum tipo de
restrição de liberdade
20
4
réus condenados
permanecem presos
Ex-diretores da
Petrobras condenados
Paulo Roberto Costa
Nestor Cerveró
Renato Duque
Jorge Zelada
PERFIL Zwi Skornicki
REPRODUÇÃO DO FACEBOOK
Viagens, carros e lancha:
a rotina de um operador
Apontado como um
dos operadores do
esquema de
corrupção na estatal,
polonês trabalhou em
empresas envolvidas
na Lava-Jato
JULIANA CASTRO
[email protected]
O calendário marcava 21 de
janeiro de 1974 quando um
jovem polonês de nome incomum chegou à Petrobras
para o primeiro dia de trabalho como engenheiro de perfuração. Mais de quatro décadas depois, Zwi Skornicki,
de 66 anos, viu a estatal cruzar novamente seu destino.
Dessa vez, de forma amarga.
Ele foi preso ontem na 23ª fase da operação que investiga
corrupção na empresa.
No início da década de
1970, Skornicki fazia parte
das equipes que ficavam
embarcadas por 14 dias nas
plataformas. Em 1977, num
tempo em que ninguém deixava o emprego na estatal, o
engenheiro que vivia no Brasil desde os 5 anos jogou tudo
para o alto e se aventurou como representante de empresas da área petrolífera. Dois
anos depois, foi convidado a
trabalhar na Odebrecht, onde
ficou até 1995.
Na empresa, também envolvida na Operação Lava-Jato,
ele começou como engenheiro
e terminou como diretor superintendente da área de perfuração, tomando conta de oito
plataformas. Pela companhia,
morou na Índia. Em 2000,
Skornicki virou representante
comercial no Brasil do estaleiro Keppel Fels. Desde que foi
citado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco em delação premiada como um dos
operadores do esquema, esteve na mira da Polícia Federal.
Escapou da prisão no início de
2015 e foi apenas levado para
depor. Ficou calado.
Em entrevista ao GLOBO
pouco depois da fase “My Way”,
a 9ª fase da Lava-Jato, a mesma
que prendeu o ex-tesoureiro do
PT João Vaccari Neto, o engenheiro disse que as denúncias
de envolvimento no escândalo
não passavam de “fantasia”.
— Nunca (paguei propina)
porque nossos preços sempre
foram os menores — afirmou à
época o representante comercial do estaleiro Keppel Fels.
Na operação “My Way”, a PF
apreendeu na casa dele 48
obras de arte e cinco carros.
Skornicki garantiu que foram
os anos de trabalho no setor
petrolífero que lhe renderam o
patrimônio que tem. Dessa
vez, os policiais levaram até
uma lancha.
Morador da Barra da Tijuca,
ele é dono de uma casa em Angra dos Reis e de um terreno de
mais de 4 mil metros quadrados
no Condomínio Portogalo, um
dos mais sofisticados da região.
Nas férias, gosta viajar com a família para fora do Brasil e posta
as fotos no Facebook. Em uma
delas, aparece em Paris com sacolas de uma loja de grife. l
NA WEB
glo.bo/1LD1YvK
Vídeo: PF apreende
veículos do operador
3
Políticos
condenados e presos
André Vargas (ex-PT)
Luiz Argôlo (ex-SD)
Gosto por viagens. Zwi Skornicki na London Eye, na capital britânica
Pedro Corrêa (PP)
U
FROTA VALIOSA
REPRODUÇÃO DE VÍDEO
Outros dois aguardam
julgamento
10
empreiteiros
condenados, entre eles:
Léo Pinheiro
(OAS)
Sérgio Cunha Mendes
(Mendes Junior)
Coleção de carros. O Corvette (prateado) e o Mercedes Pagoda
Dalton Avancini
(Camargo Corrêa)
ESPORTIVOS CLÁSSICOS NA GARAGEM
A coleção de automóveis antigos
de Zwi Skornicki não chega a ser
suntuosa, mas tem modelos com
boa cotação no mercado de
esportivos clássicos. O destaque
é o Mercedes-Benz 280 SL
“Pagoda”, modelo da década de
60 que tem se valorizado. No
Brasil, um carro desses em bom
estado passa dos R$ 350 mil.
Outro modelo interessante é o
Corvette 1966 conversível,
esportivo americano que, por
aqui, vale algo entre R$ 250 mil
e R$ 300 mil. O Porsche 911
Targa, de 1978, também é de
encher os olhos e custa em
torno de R$ 180 mil.
A coleção inclui ainda outro
Mercedes SL, só que mais
moderno (modelo R107 dos
anos 70 e 80) e menos valioso.
Os mais exóticos da garagem
são um Chevrolet 1955 hot rod
(com mecânica modificada) e
um Alfa Romeo Spider, dos
últimos fabricados com tração
traseira. (Jason Vogel)
Dario Queiroz
Galvão Filho
(Grupo Galvão)
2
empreiteiros
aguardam julgamento
Marcelo Odebrecht
(Odebrecht)
Otávio Marques
de Azevedo
(Andrade Gutierrez)
l O GLOBO
6
l País l
Terça-feira 23 .2 .2016
ENTREVISTA Carlos Roberto Osorio
‘Proximidade do
PMDB com o PT
me incomodava’
MARCELO CARNAVAL
O senhor quer ser prefeito?
Eu me sinto preparado e em condições de ser um bom prefeito. Mas isso
não está acima do projeto do partido.
Se eu não for o nome ideal, será outro.
l
Sem espaço no PMDB para
disputar a prefeitura do Rio,
Carlos Roberto Osorio deixou
a Secretaria estadual de
Transportes e vai migrar para
o PSDB. A filiação será
formalizada nesta
quinta-feira, em um ato na
sede do partido, em Brasília.
MARCO GRILLO
[email protected]
O senhor fez parte da atual administração. Como se diferenciar?
Com um projeto voltado ao atendimento das necessidades dos cidadãos e
reconhecendo o que foi feito. Fiz parte
da administração e participei dos avanços dos últimos anos. É preciso defender as conquistas e agregar outra visão,
de mais proximidade com o cidadão.
Para construir uma cidade, não bastam
tijolo, cimento, pontes e viadutos.
l
l
O ato de quinta-feira será só de filiação ou de lançamento de sua
pré-candidatura?
Ato de filiação.
A gestão atual peca nesse quesito?
Entendo que pode ser melhorado.
l
O que motivou o senhor a sair do
governo e se filiar ao PSDB?
A primeira motivação foi o convite
do PSDB. Há uma identificação grande. Por outro lado, fui o deputado estadual mais votado pelo PMDB na capital, mas é um partido com muitas lideranças. O espaço para uma pessoa nova não é muito grande, porque o
PMDB tem uma fila. Entendi que, com
a definição (do PMDB) da candidatura
à prefeitura do Rio, o espaço para mim
talvez não fosse o que imaginava.
l
A proximidade do PMDB do Rio
com o PT incomodava o senhor?
Fui convidado por um partido que
tem uma visão de mundo diferente da
do PMDB,que está alinhado estritamente ao governo federal. Eu não concordo. Essa proximidade incomodava.
É o único ponto fraco da gestão?
É prematuro entrar em discussão de
avaliação da atual administração.
Dentro do PMDB, o senhor manifestou a intenção de ser candidato?
Sim. Respeito a hierarquia partidária
e entendo que prefeito tenha direito de
coordenar processo de sua sucessão. Se
houve decisão, não me cabe questionála, mas sim meu posicionamento dentro da instituição.
O fato de o prefeito ter dito ao COI que
a Linha 4 do Metrô pode não ficar pronta para as Olimpíadas acelerou a saída?
Acabou precipitando, mas a saída já
estava definida.
l
O senhor se sentiu traído?
Não. Tenho que tratar do que sei.
Quando tomei conhecimento, liguei para o governador e mandei um WhatsApp
ao prefeito, dizendo que as obras estavam no prazo e me colocando à disposição para esclarecer qualquer dúvida.
l
l
Ficou alguma mágoa do prefeito?
De maneira nenhuma. O prefeito deve ter tido seus motivos. Com as responsabilidades que tem, entendeu por
bem fazer essa alerta.
l
“Obviamente,
qualquer agressão
a mulher ou a
qualquer outro ser
humano é
condenável.
Acredito que essa é
a posição
majoritária na
sociedade”
Carlos Roberto Osorio
Sobre Pedro Paulo, seu provável
adversário na disputa pela
prefeitura do Rio e acusado de ter
agredido a ex-mulher
Brasil registrou morte de oito jornalistas
ano passado, no exercício da profissão
JORGE WILLIAM
Só quatro países tiveram
mais assassinatos: Síria,
Iraque, México e
França, alerta Abert
-BRASÍLIA- Em 2015, oito jornalistas
foram mortos e 64, agredidos no
país, no exercício da profissão. O
balanço foi divulgado pela Associação Brasileira de Emissoras
de Rádio e Televisão (Abert).
Segundo a Abert, os números
põem o Brasil entre os locais
mais perigosos para o jornalismo, à frente de países em guerra.
O levantamento aponta 116 registros de violações à liberdade
de expressão, o que inclui casos
de ameça e intimidação.
Para a Abert, os principais
agressores são os alvos da apuração jornalística, como políticos
suspeitos de corrupção. Depois,
vêm policiais e manifestantes.
Esse é o primeiro relatório da
Abert que cobre o período de janeiro a dezembro. Os anteriores
iam de outubro de um ano a outubro do ano seguinte.
O relatório 2013/2014 registrara 139 violações de liberdade de
expressão, incluindo sete mortes
de jornalistas. O relatório 2012/
2013 listou cinco assassinatos.
Slaviero, da Abert. Ano passado foi “cruel” para o exercício do jornalismo
A Abert cita relatórios de entidades internacionais, como o
Press Emblem Campaign, segundo o qual só quatro países tiveram mais jornalistas mortos que
o Brasil: Síria, Iraque, México e
França (no ano anterior, o Brasil
era o décimo mais perigoso).
Já o Comitê para a Proteção
de Jornalistas (CPJ) situa o Brasil em terceiro, atrás de Síria e
França. A Síria vive uma guerra
civil e a França registrou em
2015 o massacre de jornalistas
da revista “Charlie Hebdo”.
— A Abert considera o ano de
O senhor volta a exercer o mandato
de deputado estadual. Como fará
oposição ao governo que integrava?
Estarei afinado com a posição do
PSDB, que é correta: não fazer oposição por oposição. Vou defender o governo Pezão nos pontos importantes
neste momento de crise. Não serei um
deputado do quanto pior melhor.
l
l
l
O senhor vai ser o candidato do
PSDB à prefeitura do Rio?
Apresentei meu nome, mas entendo
que é uma coisa que tem que ser construída. Meu nome está à disposição,
mas o partido tem outros bons nomes.
Motivo. Osorio diz que o alerta de Paes ao COI, dizendo que a Linha 4 do Metrô pode não ficar pronta, antecipou sua saída do PMDB
l
2015 cruel para o exercício do jornalismo — disse o presidente da
Abert, Daniel Slaviero.
Sexta-feira passada, a Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil, em
nota, alertou para o roubo de
equipamentos da jornalista Juliana Barbassa e do fotógrafo Bear
Guerra em Rondônia. Segundo a
nota, isso ocorreu “logo depois
do governo do estado ordenar
que a polícia não cooperasse
com a cobertura que os profissionais faziam em uma área violenta e politicamente sensível”. l
Eventualmente, se for a orientação
do partido, votar contra o governo...
Se for necessário, votar contra o governo, mas votar a favor nos pontos que
eu entender meritórios.
mulher. Na campanha, o senhor se
sentiria confortável para tocar
nesse assunto ?
Primeiro, tenho que me tornar
candidato e depois responder. Entendo que quem vai fazer essa avaliação é a população. É um fato de
domínio público. Evidentemente,
esse vai ser um tema do debate
eleitoral.
l
Já circula uma foto sua com Pedro
Paulo (secretário municipal de Coordenação de Governo e possível candidato do PMDB) dizendo que, na campanha, vocês vão se dizer adversários, mas que sempre estiveram juntos.
Fomos do mesmo governo. Mas vou
representar uma visão diferente, se for
escolhido o candidato. A cidade teve
ganhos nos últimos anos e tenho orgulho de ter participado de alguns projetos. Mas tenho uma visão crítica. Eu sou
eu, e o Pedro Paulo é o Pedro Paulo.
l
l
Ele é acusado de ter agredido a ex-
Com o surgimento do tema, qual
seria sua posição?
Obviamente, qualquer agressão a
mulher ou a qualquer outro ser humano é condenável. Acredito que
essa é a posição majoritária na sociedade. Caberá a ele explicar e se defender.
l
Foi um erro o PMDB insistir na
candidatura dele?
Acho que é antiético falar de decisão de um partido do qual estou
saindo. l
l
NA WEB
glo.bo/1Xop7c5
do Rio
Saiba quem são os
pré-candidatos à Prefeitura
Decisão do STF pode agilizar Justiça bloqueia
R$ 500 milhões
repatriação de recursos
Para procurador, com
prisão após sentença em 2ª
instância, R$ 911 milhões
devem ser liberados
-BRASÍLIA- A decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF), que
determina o cumprimento de
pena a partir de condenação
em segunda instância, terá forte impacto na recuperação de
dinheiro desviado dos cofres
públicos, segundo análise da
Procuradoria-Geral da República. A Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional da
procuradoria estima repatriar
a curto prazo US$ 230 milhões
(R$ 911 milhões).
Esse valor corresponde a recursos de brasileiros ou residentes no Brasil bloqueados
em contas no exterior, a partir
de investigações criminais. Os
titulares dessas contas já tiveram condenações confirmadas em segunda instância,
mas, sem a ordem de cumprimento imediato de sentença
condenatória, poderiam estender por prazo indefinido a
repatriação dos recursos.
Estados Unidos e países europeus só aceitam a repatriação
quando o condenado é obrigado
a pagar pelos crimes cometidos.
A soma de recursos a serem
repatriados pode ser maior
ainda, com a inclusão dos valores bloqueados partir de
condenações fixadas por tribunais de Justiça dos estados e
do Distrito Federal. Ao todo,
esse montante chegaria a US$
370 milhões (R$ 1,4 bilhão).
Segundo o secretário de Cooperação Jurídica Internacional,
Vladimir Aras, a repatriação do
dinheiro dependerá agora da
comunicação formal de que os
titulares das contas bloqueadas
tiveram condenação confirmada em segunda instância.
— O Estado brasileiro passa
a ter melhores condições de alcançar ativos bloqueados e
vinculados a condenações que
nunca transitam em julgado O
processo sem fim também levava a bloqueios cautelares de
ativos no exterior sem fim. Isso
poderá ser enfrentado graças a
essa nova decisão do Supremo
— disse o procurador.
Aras diz que o país não podia
mais conviver com um sistema
crivado de brechas, que permitia
a um réu, sabidamente culpado,
recorrer indefinidamente contra
a condenação até a prescrição do
crime. (Jailton de Carvalho) l
da Samarco
Objetivo é garantir
recuperação de cidades
atingidas por rejeitos
A 2ª Vara Cível da Comarca de
Ponte Nova (MG) determinou
ontem, a pedido do Ministério
Público do estado, o bloqueio
de R$ 500 milhões nas contas
bancárias da mineradora Samarco e de suas controladoras
Vale e BHP Billiton Brasil.
A liminar tem como objetivo
garantir recursos para recuper
as comunidades de Barretos,
Gesteira e do município de Barra Longa, atingidos pelo rompimento de barragem da Samarco
em 2015. Em novembro, a Justiça já havia bloqueado R$ 300
milhões da mineradora.
As companhias devem elaborar e apresentar em 30 dias projetos básicos, estruturais e executivos para recuperar os locais.
O plano deve ser executado em
seis meses. A Justiça também
determinou a elaboração e execução de obras de contenção no
leito do Rio do Carmo, atingido
por rejeitos. Em nota, a Samarco confirmou o bloqueio e disse
que está adotando medidas judiciais para revertê-lo. l
Terça-feira 23 .2 .2016
O GLOBO
Rio
l 7
DIREITO A UM AMBIENTE SAUDÁVEL
A natureza como aliada
_
HERMES DE PAULA/2-12-2015
Decisão da Justiça proíbe Cedae de cobrar por esgoto onde não há tratamento adequado
Saneamento precário. Canal no Recreio dos Bandeirantes que recebe lançamento de esgoto sem tratamento: decisão da Justiça determina que cobrança da Cedae não pode ser feita quando serviço não é prestado adequadamente
LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
[email protected]
A Cedae só pode cobrar taxa de esgoto
nos casos em que coleta, trata e dá uma
destinação adequada aos dejetos. De
outra forma, a cobrança seria irregular
porque, de acordo com o artigo 225 da
Constituição, “todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à qualidade de vida”. Este foi o
entendimento unânime dos desembargadores da 11ª Câmara Cível do Rio ao
julgarem um processo, no fim do ano
passado, no qual um advogado questionava a cobrança da taxa de um imóvel
em Magalhães Bastos, Zona Oeste do
Rio, cujos resíduos eram descartados
na rede de águas pluviais do bairro. A
decisão favorece a luta de consumidores que não têm esgoto, mas são obrigados a pagar pelo serviço à empresa.
Os desembargadores acolheram uma
tese diferente, já que, nos últimos anos,
o tema vinha sendo tratado principalmente com base no Código de Defesa
do Consumidor. A Cedae informou que
está recorrendo da sentença.
“A questão ultrapassa o necessário
saneamento básico, alcançando o direito fundamental à saúde dos cidadãos e a garantia do mínimo existencial”, observou, na sentença, o desembargador Claudio de Mello Tavares, que relatou o processo.
Nos últimos anos, a Cedae e outras
empresas de saneamento do estado foram alvo de várias ações na Justiça com
base no Código de Defesa do Consumidor. Depois de decisões conflitantes sobre o tema, o Tribunal de Justiça do Rio
chegou a editar uma súmula aceitando
a tese de que não bastava apenas coletar, mas dar um destino adequado para
os resíduos, tomando como base o Código de Defesa do Consumidor, por
configurar uma quebra de contrato. A
súmula 255, de 16 de janeiro de 2012,
considerava “incabível a cobrança de
tarifa pela simples captação e transporte do esgoto sanitário". No entanto,
acabou sendo revogada por decisão do
Órgão Especial do Tribunal de Justiça
em 16 de abril do mesmo ano.
AUTOR DIZ QUE SE SURPREENDEU
No acórdão do fim do ano passado, os desembargadores da 11ª Câmara Cível entenderam que o proprietário do imóvel
tem direito a ser ressarcido pelo pagamento da taxa retroagindo por dez anos
em relação à data em que propôs a ação.
Nesse caso, os cálculos devem ser feitos
desde 2001 (a ação começou a tramitar
em 2011). Além disso, a Justiça determina
que a Cedae suspenda as cobranças.
— Com a mudança da interpretação,
muitos clientes meus acabaram perdendo
ações. No meu caso, eu mesmo me surpreendi com a interpretação dos desembargadores de que a cobrança é indevida
pela questão ambiental — disse o advogado Wander Moreira, autor da ação.
Wander também é o dono do imóvel
beneficiado pela decisão. Trata-se do
Trechos que mostram novos fundamentos que impedem a
cobrança de esgoto onde não há tratamento adequado
DECISÃO
Justiça determina que a CEDAE deixe de
cobrar o serviço e ainda faça o
ressarcimento das cobranças indevidas
Editoria de Arte
DIVULGAÇÃO
Indignação. Wander Moreira: “o esgoto acaba caindo na rede de águas pluviais"
“Cobrar por um
serviço não prestado
é um absurdo”
Wander Moreira
Advogado, autor de ação
contra Cedae
escritório de advocacia que mantém
na Rua Libéria, em Magalhães Bastos.
O advogado estima que tenha a receber cerca de R$ 40 mil pelo que pagou
em suas contas de consumo desde
2001. No entanto, ainda não há prazo
para o reembolso ou suspensão da cobrança porque ainda cabe recurso.
— Cobrar por um serviço não prestado é um absurdo. A taxa é para que o
esgoto tenha uma destinação correta.
Não é o que acontece na maioria das
ruas de Magalhães Bastos. O esgoto
acaba caindo na rede de águas pluviais
e contamina rios da região. Quando há
uma enchente, as ruas são tomadas
pelos resíduos. Isso aconteceu, por
exemplo, num temporal que caiu no
bairro na quarta-feira da semana passada — disse o advogado.
Morador do Recreio, bairro que até hoje conta com ruas sem sistema de coleta
e tratamento de esgoto, o advogado José
Alfredo Lion, especializado em direito
do consumidor, avaliou que a tese ambiental acende a esperança de milhares de
proprietários de imóveis que convivem
com uma situação semelhante à enfrentada pelo colega de Magalhães Bastos.
— A tese está certíssima. Se a Cedae liga o esgoto à rede pluvial, ela está cometendo um crime ambiental. E a Cedae
ainda admite? Sem dúvida, essa sentença representa uma mudança de mentalidade do Judiciário — disse Lion.
No processo movido por Wander, a
Cedae argumentou que o consumidor
pagava a taxa pela coleta de esgotos
porque o serviço seria prestado de fato,
com os dejetos sendo jogados na rede
de águas pluviais. A empresa também
alegou que, desde 2007, não teria mais
responsabilidade pela cobrança em razão de uma parceria com a prefeitura,
que se comprometeu a sanear a região
através de uma parceria público-privada. Os desembargadores, no entanto,
entenderam que a Cedae ainda era responsável por prestar o serviço de coleta. Eles também se basearam em perícia judicial que confirmou não haver
tratamento adequado para os resíduos.
Em nota, a Cedae informou que está
recorrendo da decisão, ainda na 11ª
Câmara Cível. A empresa afirma que a
cobrança da taxa segue o determinado
pela lei federal 11.445/2007, que esta-
beleceu o Marco Regulatório do Saneamento. Segundo a empresa, com base
nessa lei, o STJ já proferiu decisões que
consideravam perfeitamente cabível a
cobrança da taxa mesmo que as companhias não dessem um tratamento final adequado aos resíduos. “O acórdão
foi objeto de embargos de declaração
(usados para esclarecer pontos da sentença), pendentes de julgamento".
ESPERANÇA PARA OUTROS MORADORES
Segundo a companhia de saneamento, a
mesma Câmara Cível teria tido uma interpretação diferente ao julgar processos
anteriores e negado recurso a ações que
reivindicavam a suspensão do pagamento. Por isso, a empresa decidiu recorrer: “Trata-se de decisão ainda pendente de recurso, que contraria entendimento do próprio colegiado que o prolatou, assim como do Superior Tribunal de
Justiça”, informou por nota.
A decisão da Justiça, no entanto, foi
recebida com otimismo por moradores
de regiões da cidade onde a coleta não
é adequada. O síndico do condomínio
Meta Office Building 2, na Freguesia
(Jacarepaguá), Sérgio Bittencourt,
acredita que a taxa é abusiva:
— Estamos com uma ação contra a
Cedae por causa disso. No condomínio,
o esgoto vai para uma fossa e temos que
pagar uma empresa para limpá-la a cada seis meses com bomba de sucção.
No prédio, com 80 salas comerciais pequenas, pagamos conta de R$ 51 mil,
da qual a metade é por um serviço que
não é prestado — disse Sérgio. l
Colaborou Márcio Menasce
8
l O GLOBO
l Rio l
De volta para o inferno
Com a apimentada Operação
Acarajé, ontem, relatórios de
consultorias internacionais de
avaliação de risco apontam o
agravamento da crise brasileira.
A saída apontada no relatório da
consultoria Eurasia, uma das mais
respeitadas do mundo, com sede
em Nova York, seria a antecipação
das eleições presidenciais. Será?
Terça-feira 23 .2 .2016
ANCELMO
GOIS
Sabe o filme brasileiro “O menino e o
mundo”, de Alê Abreu, que foi indicado
ao Oscar de melhor animação?
Apenas 3% dos brasileiros sabem da
escolha dele para concorrer à estatueta,
segundo pesquisa do Datascript, de
Guto Graça. É a primeira vez que o país
é indicado para essa categoria.
ANA CLÁUDIA GUIMARÃES,
DANIEL BRUNET E TIAGO ROGERO
DIVULGAÇÃO/PRODUTORA CURUPIRA
Chave de cadeia
Agentes da PF chamaram um
chaveiro para abrir a porta de uma
cobertura no Leblon, no Rio, que está
em nome da mulher de João Santana,
Mônica Regina Cunha Moura. A
fechadura do apartamento funciona
com um tipo de chave codificada.
Sonho da firma própria
Veja que legal. O Brasil atingiu
seu maior índice na pesquisa anual
GEM, feita por Sebrae e IBPQ, que
mede a taxa de empreendedorismo
pelo mundo. No ano passado,
39,3% dos brasileiros adultos já
possuíam ou estavam envolvidos na
criação de uma empresa.
É quase o quase o dobro do índice
de 2002, quando a taxa era de 20,9%.
Menos mal
Jim Yong Kim, 55 anos, o americano
de origem coreana que preside o
Banco Mundial, é especialista em
saúde pública. O Banco já liberou US$
150 milhões para o combate ao zika e
diz estar convencido de que o vírus
não terá impacto negativo maior na
economia mundial. Tomara.
Arte roubada
O ateliê do escultor português
Ascânio MMM, 74 anos, radicado no
Rio desde 1958 e que investiu na
revitalização do Estácio, foi furtado no
fim de semana. Levaram todos os
equipamentos, mas as obras de arte,
que bom!, ficaram. Os bandidos ainda
deixaram uma assinatura, falsa ou
não, em uma das portas.
REPRODUÇÃO
Que menino? Que mundo?
www.oglobo.com.br/ancelmo
Calma, Tonico!
Chuva de merda
De Tonico Pereira, 67 anos, o magistral
ator, o Ascânio de “A regra do jogo”, em
vídeo postado em seu Facebook, num
desabafo contra certos colegas artistas
que usufruem de dinheiro público:
— Considerando que a Lei Rouanet
patrocina, de forma indireta, projetos
artísticos, eu vou preparar o meu projeto
para patrocinar a reposição da minha
prótese peniana. Porque eu acho... tenho
certeza... que meu pau é arte!
No evento-teste de saltos ornamentais,
sábado, no Maria Lenk, na Barra, uma
das arenas dos Jogos, um cano de esgoto
estourou em cima do pessoal que
trabalhava numa sala emprestada pela
equipe de judô que treina por lá.
Sempre ele
O empresário Omar Peres comprou a
Pavelka, criada em 1952 e famosa pelo
pão com linguiça e pelo mil-folhas.
O pajé de Gisele
Bailes de carnaval
O pajé Sapaim, considerado médico
da tribo kamayurá, do Alto Xingu, está
internado no Hospital de Ipanema, no
Rio. Ele tem alguns clientes no Rio, mas
ficou muito conhecido após atender a
Leonardo DiCaprio e Gisele Bündchen,
à época do namoro dos dois, em 2004.
O OCASO DO ROQUEIRO
A juíza Maria Paula Gouvêa Galhardo
condenou o presidente da Riotur,
Antônio Pedro, e a L21 Participações, de
Luiz Calainho, a devolverem aos cofres
públicos R$ 5 milhões, investidos em
bailes de carnaval, em 2011 e 2012.
Segundo a sentença, os contratos
favoreceram a empresa privada.
U
Serguei, apelido dado a Sérgio Augusto Bustamante, 82
anos, considerado o roqueiro mais antigo do país, passa
pelo momento mais difícil de sua vida. Ele ganha R$ 880
(bruto) de aposentadoria, além de uma ajuda de custo de
R$ 1.200 da prefeitura de Saquarema, cidade do Rio de
Janeiro onde mora, para manter o Templo do Rock.
Assim como a maioria dos aposentados do país, o
dinheiro mal dá para pagar seus remédios, que custam
mais de mil reais mensais. O lendário Serguei, conhecido
por ter ido ao Festival de Woodstock e ter virado amigo de
Jimi Hendrix e Janis Joplin, tem passado até fome,
segundo amigos. Aliás, eles estão fazendo um mutirão
para recuperar o acervo e o casarão onde o roqueiro mora
(veja o estado na foto ao lado). Mas ele precisa de mais
ajuda: “Serguei poderia ser garoto-propaganda de motos ou até, quem sabe?, de um
estimulante sexual. A gente abre a geladeira dele e só tem água”, conta o produtor
Rogério Silva, que tenta arrecadar dinheiro para fazer um filme sobre o cantor, “O último
beatnik”, a ser estrelado por Eriberto Leão. Boa sorte l
Ana Cláudia Guimarães
Zona Franca
Kramer vs. Kramer
A Rede D’Or não está fazendo nenhum projeto
Maria Prestes, viúva do líder comunista,
voltou a defender seu encontro com
Capitão Guimarães — criticado ontem
por um grupo de “prestistas”, entre eles
Anitta, filha de Prestes com Olga Benário:
“É mais uma tentativa de macular minha
vida de luta dedicada ao socialismo”. Ela
lembra que foi cumprimentá-lo pela
homenagem da Vila a Miguel Arraes.
em Tocantins. Trata-se de iniciativa de parentes
distantes de Jorge Moll Filho, criador da rede.
O videomaker André Auler finaliza o documentário “Fotografia, resistência e vida” sobre a experiência de seu primo, o repórter-fotográfico
Alexandro Abadie Auler, em Kobane, na Síria.
Stone Age lança Deep Dig para organizar
diferentes tipos de dados em banco único.
Adriano Guimarães e Emanuel Aragão fazem
debate amanhã, no CCBB, sobre “Hamlet,
processo de revelação”, em cartaz até domingo.
Alex Lima inaugura loja no Casa Shopping.
Projeto Pedaleiros estará na Baixada, sábado,
das 9h às 14h, no campus da Unig.
Duo Revestimentos estará na Gift Fair, domingo.
Alerj terá audiência pública, sexta, para discutir a PEC 20/16, que afeta o Fecam.
“American idiot”
Após o sucesso de “Verdades secretas”,
o diretor Mauro Mendonça Filho voltará
ao teatro. Ele comprou os direitos de
“American idiot”, musical da Broadway.
Estreará em janeiro de 2017, no Rio.
NOVO POINT NO CENTRO
Uma ‘maison’ de livros
| Opinião |
RISCOS
Fechada há um ano e meio para reforma, biblioteca do Consulado Geral da França,
inaugurada em 1961, reabre amanhã com cinema, teatro e ares de complexo cultural
DANIEL GULLINO
DANIEL GULLINO
[email protected]
U
m espaço de encontro entre a França e o Brasil,
com atividades culturais,
gastronômicas e intelectuais. Esse é o objetivo da Maison,
biblioteca do Consulado Geral da
França, no Centro. O local reabre
amanhã transformado em um complexo cultural, depois de uma reforma de um ano e meio.
A biblioteca, inaugurada em 1961,
tem um história rica. Durante a ditadura militar, serviu como refúgio para quem queria ter acesso a livros
censurados pelo regime. Lá, estudantes e intelectuais procuravam
obras de filósofos franceses, como
Michel Foucault e Gilles Deleuze, e
referências aos protestos de Maio de
1968, iniciados em Paris.
— Era um espaço de liberdade. Para muitos intelectuais cariocas, esse
lugar ficou conhecido pela possibilidade de conseguir livros que não foram traduzidos no Brasil — define o
cônsul-geral da França no Rio de Janeiro, Brice Roquefeuil.
Com mais de 780 metros quadrados e vista para a Baía de Guanabara,
a biblioteca conta com um acervo de
mais de 20 mil títulos, incluindo livros físicos e digitais, revistas, jornais, CDs e DVDs. Cerca de 90% das
obras estão em francês, mas também
há material em português. Em abril,
está prevista a inauguração de um
café e um bar, na varanda. O prédio
já conta com cinema e teatro.
—É um espaço multiuso. Vai ser
um espaço de leitura, de trabalho, de
estudo. Mas também um espaço de
eventos — diz o cônsul.
Já estão programados para as próximas semanas seminários, palestras e
até uma degustação de vinho. Todos
os eventos serão em português ou
contarão com tradução simultânea.
— Vamos convidar escritores fran-
NÃO SE pode atribuir a causas
pontuais, no caso um temporal, o risco de um acervo precioso como o da Biblioteca
Nacional sofrer danos irreparáveis. O alagamento de sextafeira passada não foi o primeiro que atingiu a instituição.
HÁ REGISTROS de pelo menos outros dois episódios
semelhantes no prédio, que
abriga um patrimônio com
uma das coleções de livros
mais importantes do mundo,
além de documentos com
registros históricos do país.
O PODER público tem obrigação de manter esse tesouro
a salvo das intempéries do
tempo e da própria leniência.
Publicitário comandará as
obras da Linha 4 do metrô
Rodrigo Vieira, que passou
oito anos na Casa Civil,
estava há sete meses na
presidência da Suderj
RENAN FRANÇA
[email protected]
Biblioteca nova. As arquitetas Ligia Tammela e Julia Abreu, com o cônsul Brice Roquefeuil
ceses, historiadores, para organizar encontros com intelectuais brasileiros —
acrescenta Brice.
TAÇAS PARA POPULARIZAR O CHAMPANHE
O desafio por trás da reforma foi, além
de tornar o local mais convidativo, unir
a biblioteca, o café e o bar. Para isso, foram demolidos o antigo hall de entrada
e algumas paredes.
— O conceito do projeto foi a integração. Acabei com qualquer barreira. É
possível circular livremente — define
Julia Abreu que, junto com a arquiteta
Ligia Tammela, desenvolveu o projeto.
Entre as novidades, estão um espaço
infantil e um ambiente multimídia, onde será possível ouvir músicas e assistir
a filmes. O local também tem salas de
reuniões e vai abrigar uma agência de
apoio a estudantes que queiram realizar intercâmbio na França.
E não podia faltar na Maison (“casa", em francês) um dos maiores
símbolos da França: sua culinária.
Brice destaca que o bar, além de
contar com um chef francês, vai proporcionar um prazer pouco comum
no Brasil: a compra de taças de
champanhe, e não apenas garrafas.
— Em Paris, em cada bistrô você pode tomar uma taça de champanhe, como uma cerveja. Aqui, o champanhe é
muito elitizado. A ideia é democratizar
o produto — diz o cônsul.
A consulta aos livros é aberta ao público. Quem quiser levar uma obra para casa precisa se cadastrar. A Maison
fica no 11º andar do Consulado da
França, na Av. Antônio Carlos 58. l
Após saber que o deputado estadual Carlos Roberto Osorio iria
entregar o cargo de secretário
estadual de Transporte, o governador Luiz Fernando Pezão teve
uma semana para decidir sobre
o novo comandante da pasta. O
que pesou a favor do nome de
Rodrigo Vieira, de 40 anos, presidente da Suderj por sete meses,
garante Pezão, foram os oito
anos (2007-2015) em que ele trabalhou na Secretaria estadual da
Casa Civil. Ingressou no governo
como assessor e depois foi promovido a subsecretário de Projetos Especiais, quando passou a
acompanhar, por exemplo, a
execução de obras do governo,
como a do metrô.
A presença no quadro técnico do governo não reflete, porém, sua formação. Depois de
cursar o ensino médio no Colégio Santo Inácio, Rodrigo se
formou em publicidade, na
PUC. Além do diploma, tem
dois MBAs: um em marketing,
pelo Ibmec; outro em empreendedorismo e gestão, na
Fundação Getulio Vargas.
Rodrigo se sentará na cadeira
de secretário com a missão de
desatar alguns nós. O mais urgente deles é justamente a obra
da Linha 4 do metrô, que chegou
aos 90% de execução, segundo o
governo, mas que ainda carrega
dúvida sobre sua conclusão a
tempo das Olimpíadas.
— Ele é bom com cronograma, cobra retorno sempre dos
administradores. Tem qualidade como gestor — afirma um
companheiro de trabalho, que
pediu para não ter o nome divulgado. — Ele não é muito de
ficar fazendo piada, de rir em
reunião. É um cara sério.
No comando de uma das secretarias mais complicadas do
governo, outros dois assuntos
espinhosos também vão merecer atenção especial do novo
secretário. Um deles é a obra do
Bondinho de Santa Teresa, que
se arrasta desde 2013. O outro é
a entrega da concessão das barcas, uma vez que a CCR já formalizou a intenção de rescindir
o contrato com o governo. l
l Rio l
Terça-feira 23 .2 .2016
RENATO MANGOLIN
O GLOBO
l 9
Bombeiros agora usam drones
no combate ao ‘Aedes aegypti’
Militares entraram ontem na força-tarefa do estado contra o mosquito
CÉLIA COSTA
CÉLIA COSTA
[email protected]
A LUTA DE
NISE DA
SILVEIRA
Glória Pires, 52 anos, a talentosa atriz, aparece aqui
numa cena de “Nise, o coração da loucura”, no qual
interpreta Nise da Silveira, a médica alagoana que
lutou para humanizar os hospitais psiquiátricos. O
filme estreia em 21 de abril. Sucesso
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
MARIS... LINDA
DO GOIS
Antes de entrar
no estúdio para
mais um dia de
gravação como a sua
Maristela, a manicure
platinada de
“Totalmente demais”,
Aline Fanju, a atriz,
36 anos, manda um
sorriso para a turma
da coluna.
Agradecido
REPRODUÇÃO
U
Ponto
Final
Todo dia, um escândalo
novo. É uma agonia sem
fim. A ziquizira não cede.
Aliás, como disse certa
vez o poeta Carlos
Drummond de Andrade,
se você vir a luz no fim do
túnel, “certifique-se de
que não é o trem”.
Que fase!
e-mail: [email protected]
Fotos: [email protected]
PARA GESTANTES
REPRODUÇÃO/INTERNET
Os militares do Corpo de
Bombeiros, que desde ontem
participam da força-tarefa do
estado contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da
dengue, da febre chicungunha e do vírus zika, vão contar com uma ajuda extra para
combater o inseto: antes de
realizarem as visitas domiciliares, drones vão sobrevoar a
região para identificar possíveis criadouros. Técnicos da
Secretaria estadual de Saúde
capacitaram 800 pessoas para realizarem o trabalho.
Esta não é a primeira vez
que os bombeiros participam
de uma campanha do estado
contra o Aedes. A ação deste
ano foi lançada pelo governador Luiz Fernando Pezão, ontem, no Quartel Central da
corporação. Para ele, o engajamento dos militares nas
operações anteriores foram
extraordinárias;
— Com a entrada do Corpo
de Bombeiros vamos vencer
essa guerra — disse o governador.
TRABALHO ATÉ O FIM DO VERÃO
Segundo o coronel Marcelo
Hess, superintendente operacional da Defesa Civil, cem
militares vão por atuar por
dia, até o fim do verão, reforçando municípios considerados prioritários. Ontem, os
trabalhos começaram em Belford Roxo. Também serão alvos das ações as cidades de
São Gonçalo, Itaboraí, Itaguaí
e Duque de Caxias.
Comandante do Corpo de
Bombeiros e secretário estadual de Defesa Civil, o coronel Ronaldo Alcântara disse
que a atuação dos militares é
facilitada pela boa imagem
que a corporação tem junto à
população.
— O Corpo de Bombeiros é
Reforço. Drone será usado pelos bombeiros para mapear áreas de criadouros
a instituição pública de maior
credibilidade junto à sociedade. A nossa presença vai abrir
portas. No entanto, se os drones localizarem possíveis focos e, mesmo assim, a entrada
dos agentes não for permitida, usaremos a força da lei para fazer a entrada compulsória — frisou o comandante.
O treinamento dos bombeiros incluiu informações sobre o ciclo reprodutivo do
mosquito, principais criadouros e formas de eliminação mecânica, além de esclarecimentos sobre as dúvidas
mais frequentes, relacionadas ao vírus zika, à dengue e à
chicungunha. A atuação dos
militares também será voltada para a conscientização da
população:
— O governador Pezão determinou que o estado dê
apoio aos municípios que estão precisando de ajuda. O
reforço dos bombeiros vai
aumentar a capacidade das
prefeituras para as vistorias
em imóveis urbanos — disse
Luiz Antônio Teixeira Júnior,
secretário estadual de Saúde.
A estratégia de atuação dos
bombeiros foi traçada com base em critérios técnicos, como
o índice de infestação pelo
mosquito e a capacidade dos
municípios para a cobertura
dos imóveis urbanos.
— Os militares estão capacitados para abordar corretamente os moradores, identificar os focos do mosquito e
alertar a população sobre os
perigos da proliferação dos
focos. A expectativa é que cada vez mais as pessoas se
sensibilizem com a causa e
colaborem com o poder pú-
blico neste combate — acrescentou o coronel Ronaldo
Alcântara.
Também na luta contra o
mosquito, o Ministério Público estadual, em conjunto
com o Instituto de Educação
e Pesquisa (IEP-MPRJ), criou
uma nova ferramenta para
combater o Aedes aegypti: o
projeto MP em Mapas, que
tem ainda a parceria com o
governo do estado e o município do Rio. O objetivo do órgão é apresentar periodicamente informações atualizadas sobre o que está sendo
feito em cada município fluminense, permitindo diagnósticos mais rápidos e precisos para a atuação dos promotores de Justiça e dos gestores de saúde pública.
MAPA COM AS INCIDÊNCIAS
Esse mapeamento foi idealizado após reunião entre representantes do MP e do Executivo, na qual foi estabelecido o
fornecimento de um fluxo contínuo de informações necessárias ao combate às doenças
transmitidas pelo Aedes em cada localidade. Por meio de mapas, será possível saber, em cada município, as incidências
das doenças, notificações de
gestantes com exantema
(manchas vermelhas na pele),
casos notificados de microcefalia, imóveis vistoriados e
com visita pendente pelas
equipes de vigilância em saúde, entre outros números sobre
serviços de relevância.
O primeiro boletim, elaborado pelo IEP-MP e pela Coordenadoria de Apoio Operacional de Saúde do Ministério Público, já está liberado para consulta desde ontem, na instituição: www.mprj.mp.br. Basta clicar na
área localizada à direita da
página principal do órgão,
onde está escrito IEP-MPRJ/
Informativos. l
Instituto Butantã quer fazer soro contra o zika
Oferta. O site da Women on Web : abortivos para mulheres com zika
ONG holandesa
oferece abortivo
Por causa do vírus zika,
Women on Web recebe
três vezes mais e-mails
DANDARA TINOCO
E SIMONE CANDIDA
[email protected]
D
esde que lançou
no início do mês
uma campanha
para enviar gratuitamente comprimidos
abortivos para grávidas contaminadas com o vírus zika
em países da América do
Sul, a organização holandesa Women on Web viu triplicar a quantidade de e-mails
pedindo ajuda e informações. Além do Brasil, a ONG
vem recebendo mensagens
de lugares como Colômbia,
Bolívia, Venezuela, Argentina, Honduras, El Salvador,
Panamá, Haiti, República
Dominicana e México.
Segundo a ONG, ainda
não é possível afirmar quantas brasileiras efetivamente
contaminadas já solicitaram
e receberam o medicamento, mas o crescimento do
número de mensagens dá
uma dimensão do problema
nos países onde a interrup-
ção de gestação é proibida
ou sofre restrições. Em média, a entidade recebe cerca
de dez mil e-mails em português por ano. Em espanhol são outros dez mil.
Diante dos casos de bebês
com microcefalia associada
ao vírus zika, a ONG decidiu
oferecer medicamentos
abortivos a grávidas com a
doença. As interessadas
precisam preencher um
questionário on-line e enviar os exames comprovando
a contaminação. As que se
encaixam no perfil (com até
nove semanas de gestação)
recebem pelos Correios o
envelope com comprimidos de mifepristona e misoprostol (substância do Cytotec, medicamento para
úlcera proibido no país e
usado clandestinamente
em aborto).
De acordo a ONG, no Brasil os pacotes vêm sendo interceptados pela alfândega e
enviados à Anvisa. Por email, a instituição disse que
pediu ao governo brasileiro
para liberar as remessas.
Segundo os Correios, encomendas passam vistoria,
e pacotes suspeitos podem
ser abertos para controle e
enviados à Anvisa. l
Instituição e governos
assinaram convênio
para realizar estudos
sobre a doença
TIAGO DANTAS
[email protected]
-SÃO PAULO- O Instituto Butantã
pretende desenvolver, dentro
de um ano, um soro contra o
zika, que seria capaz de tratar
pessoas já infectadas e evitar
que o vírus passe de mulheres grávidas para seus bebês.
A iniciativa preveniria casos
de microcefalia. Os pesquisadores também estudam incluir a prevenção à doença na
vacina contra a dengue, que
já chegou ao terceiro estágio
da pesquisa e pode ficar
pronta em 2018.
Ontem, o ministro da Saúde,
Marcelo Castro, e o secretário
de Saúde de São Paulo, David
Uip, assinaram dois convênios
com o Instituto Butantã, na
presença da presidente Dilma
Rousseff. De acordo com ela, o
Brasil busca vários caminhos
para combater a dengue e o
zika e que, enquanto vacinas
não estiverem prontas, a população deve continuar combatendo focos de mosquito.
DILMA CONVOCA A SOCIEDADE
A presidente lembrou que, em
até dois terços dos casos, o
mosquito está dentro das residências. Ela convocou a sociedade para procurar pontos de
água parada em suas casas pelo menos uma vez por semana.
— Entre o momento em
que não temos a vacina e o
soro e o momento em que
eles estão prontos, só temos
uma coisa a fazer: combater
o mosquito — disse Dilma.
O primeiro acordo entre o
governo e a instituição prevê
investimentos de R$ 300 milhões para pesquisa e produção da vacina contra a dengue nos próximos anos. Nesta
terceira fase do estudo, as doses serão aplicadas em 17 milhões de pessoas. Na segunda
fase, com 360 voluntários, a
taxa de sucesso foi de cerca
de 80%, de acordo com o governo do estado de São Paulo.
O segundo convênio estabe-
lece o envio de R$ 8,5 milhões
da União para o soro que
combate o zika.
— Assim como aconteceu
com a Aids, quando tivermos
uma droga eficaz, interromperemos a passagem do vírus
zika entre a mãe e o bebê —
afirmou David Uip, que evitou
dar prazos para que sejam
apresentados resultados. —
Ainda estamos muito no começo dos trabalhos, mas deve
ser mais rápido.
O governo paulista acredi-
U
PARA CASOS DE MICROCEFALIA
BENEFÍCIO DE UM SALÁRIO-MÍNIMO
-BRASÍLIA- O governo determinou
aos profissionais da saúde e da
assistência social que orientem
todas as gestantes que tiveram
zika — e cujos bebês nasceram
com microcefalia — sobre a
possibilidade de receberem o
Benefício de Prestação
Continuada (BPC), de um
salário-mínimo, caso se
enquadrem nas regras
previdenciárias. A medida faz
parte de uma instrução
operacional baixada pelos
ministérios da Saúde e do
Desenvolvimento Social.
Para receber o BPC, é preciso
ser maior de 65 anos ou ter
deficiência severa,
independentemente da idade, e
ter renda familiar per capita
inferior a um quarto do
salário-mínimo. Embora a
microcefalia tenha entrado em
evidência recentemente, a
doença é responsável por
incapacitar ao menos 4.120
brasileiros, que recebem o BPC,
segundo dados de dezembro
levantados pelo INSS, a pedido do
GLOBO.
Há ainda 14 pagamentos
relacionados à malformação
cerebral, sendo 13 pensões por
morte e um auxílio-doença. No
total, os 4.134 benefícios
associados à microcefalia no país
consomem R$ 2,1 milhões ao
mês.
A instrução interministerial
também autoriza que os recursos
federais destinados à gestão do
programa Bolsa Família possam
ser usados pelo municípios em
ações de combate ao Aedes
aegypti, mosquito transmissor do
vírus zika, da dengue e da febre
chicungunha. Entre as medidas
que poderão ser custeadas por
esses recursos estão a aquisição
de material para campanhas de
conscientização, a realização de
oficinas direcionadas às gestantes
e famílias com filhos com
microcefalia, deslocamento de
equipes assistenciais para visitas
e acompanhamento familiar.
(Renata Mariz)
ta que a elaboração do soro é
mais rápida do que o desenvolvimento de uma vacina
contra a zika, já que o Instituto Butantã tem experiência de mais de cem anos na
produção de soros. Segundo
o diretor do Instituto, Jorge
Kalil, o trabalho duraria um
ano. Outra frente dos pesquisadores de São Paulo tem
o objetivo de testar se a prevenção ao vírus zika pode ser
incluída no desenvolvimento de uma vacina contra a
dengue.
— A gente ainda não sabe se
a vacina contra a dengue vai
funcionar para zika, mas vamos testar. Como os estudos
sobre a doença são muito parecidos com a pesquisa sobre
a dengue, a vacina contra a
zika deve ser mais rápida —
afirma Kalil.
VERBA PARA FÁBRICA DE VACINAS
Do financiamento garantido
pelo governo federal, R$ 100
milhões serão repassados
pelo Ministério da Saúde e
R$ 100 milhões virão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para fazer os
testes em voluntários. Os outros R$ 100 milhões, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), serão usados para
instalar uma fábrica de vacinas quando a pesquisa terminar.
A presidente Dilma Rousseff
deve se reunir hoje com a diretora-geral da Organização
Mundial da Saúde (OMS),
Margaret Chan, e com a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa
Etienne. Após o encontro, em
Brasília, as duas irão para o Recife, na quarta-feira. l
10
l O GLOBO
l Rio l
RIO
Previsão
O sol predomina, a temperatura
sobe rápido e faz calor na maior
parte do estado. O aquecimento da
tarde causa pancadas isoladas de
chuva na Costa Verde, no Vale do
Paraíba e na Região Serrana.
HOJE
Ontem
Mínima
Máxima
22,6˚
Marambaia
35,3˚
Marambaia
ZONA
SUL
ZONA
NORTE
ZONA
OESTE
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
PROBABILIDADE
DE CHUVA
23°/33°
22°/36°
23°/36°
24°/39°
Baixa
23°/35°
22°/38°
22°/38°
23°/40°
Baixa
35°
QUINTA
24°/35°
23°/38°
23°/38°
25°/42°
Alta
21°
Santo Antônio
21°
de Pádua
SEXTA
24°/33°
23°/36°
24°/36°
25°/40°
Alta
SÁBADO
24°/34°
23°/37°
24°/37°
25°/41°
Alta
DOMINGO
28°/30°
22°/36°
23°/36°
24°/39°
Alta
SEGUNDA
26°/25°
23°/34°
24°/34°
24°/38°
Alta
20° do Sul
26° Visconde
Lua
16° de Mauá
Impróprias (Inea): Flamengo, Botafogo,
Urca, Ipanema, Leblon, Vidigal, São
Conrado, Pepino e Barra (Quebra-Mar).
Marés
RIO DE JANEIRO
Alta
Baixa
Alta
Baixa
Hora 3h09m 9h45m 15h06m 22h02m
0,2m
1,3m
0,0m
Altura 1,2m
ANGRA DOS REIS
Alta
Hora 3h25m
Altura 1,2m
Baixa
Alta
Baixa
9h20m 15h18m 21h35m
0,3m
1,2m
0,1m
CABO FRIO
Alta
Baixa
Alta
Baixa
Hora 2h54m 9h14m 14h42m 21h32m
0,3m
1,2m
0,1m
Altura 1,1m
Valença
31° Volta
30°
37˚/40˚
17°
34°
Teresópolis
SERRANA
29°
Nova
Friburgo 15°
22°
MUNDO
21°
AMÉRICA DO SUL Mín. Máx.
Campos
24°
São João
da Barra 22°
35°
23°
Casimiro 35°
de Abreu 24°
23°
Vento de nordeste a sudeste/leste,
entre 10km/h e 30km/h. Rajadas de
até 55km/h. Pressão atmosférica de
1.015Pa.
Ondas de 0,5 metro. Ondulação de
leste. Melhores locais: Prainha,
Grumari e Recreio (informações
Ricosurf).
Macaé
BRASIL
Risco de temporal entre
São Paulo
21°/ 27°
Porto Alegre
23°/ 33°
24°
9°
25°
18°
4°
23°
20°
10°
12°
35°
16°
30°
27°
10°
28°
35°
29°
34°
Amanhã
Mín. Máx.
C
S
S
C
C
S
S
S
S
24°
9°
26°
20°
4°
23°
21°
10°
13°
0h
34°
18° -2h
0h
32°
27° -1,5h
10° -1h
28° -2h
0h
36°
27° -2h
0h
34°
AMÉRICA DO NORTE/CENTRAL
Santa Maria 30°
Madalena
19°
35°
C
C
S
S
C
S
S
S
S
Assunção
Bogotá
Buenos Aires
Caracas
La Paz
Lima
Montevidéu
Quito
Santiago
34°
34°
35°
Hoje
33°
São Francisco
de Itabapoana
NORTE
São Fidélis
21°
TEMPERATURAS MÁXIMAS
Acima
de 40˚
29°
Itaperuna
Bom Jesus do
Itabapoana
Redonda Barra 33°
33° Cachoeiras
35° Rio das
Santa Catarina, São Paulo e
Resende 21°
28° 22° de Macacu
do Piraí 22° Petrópolis
21°
Mato Grosso do Sul e no
23° Ostras
16°
31° Barra SUL
Amazonas. Sol no litoral do
Silva Jardim 34°
33°
Mansa
21°
36° Duque
25°
Rio e do Espírito Santo, no
Búzios
23°
LAGOS
de Caxias
34°
norte de Minas e no oeste
34°
23°
33°
Niterói 24°
Araruama
Cabo Frio 33°
da Bahia. Calor e pancadas
23°
23° Mangaratiba
36° Rio de
23°
de chuva nas demais áreas.
34°
Janeiro
Saquarema
34°Maricá
22°
24°
Angra
33°
24°
METROPOLITANA
Macapá
Fortaleza
dos Reis
Boa Vista
23°
33°
25° / 34°
25°/ 31°
Natal
24°/ 34°
Paraty
23°
24°/ 30°
São Luís
Belém
23°/ 32°
Manaus
João
Sol
24°/ 33°
24°/ 33°
Pessoa
Nascente
Poente
24°/ 30°
Porto Velho
Teresina
5h46m
18h27m
Recife
24°/ 31°
24°/ 33°
24°/ 30°
Palmas
Rio Branco
Maceió
36°
25°/ 37°
24°/ 31°
23°/ 31°
Aracaju
Salvador
Brasília
Cuiabá
25°/ 31°
23°/ 32°
19°/ 31°
25°/ 35°
Vitória
Campo Grande
25°/ 34°
21°/ 29°
Belo Horizonte
20°/ 32°
Goiânia
Rio de Janeiro
21°/ 33°
Ondas
Ventos
22°/ 36°
31°
Praias
32°
Porciúncula 20°
AMANHÃ
34° Paraíba
Crescente Cheia Minguante Nova
15/03 22/02
1/03
8/03
Terça-feira 23 .2 .2016
Florianópolis
22°/ 30°
Cid. do México
Havana
Los Angeles
Miami
Montreal
Nova York
Orlando
Washington DC
S
S
S
S
S
S
S
C
10°
19°
15°
19°
-22°
0°
18°
5°
25°
30°
28°
29°
-10°
8°
28°
8°
S
S
S
S
Ne
C
C
C
10°
22°
14°
21°
-12°
1°
18°
5°
24°
32°
27°
30°
-2°
8°
28°
11°
-3h
-2h
-5h
-2h
-2h
-2h
-2h
-2h
S
S
S
N
C
C
C
S
S
S
S
C
S
6°
9°
6°
2°
3°
3°
4°
7°
2°
2°
-2°
3°
12°
7°
20°
18°
7°
8°
10°
10°
17°
8°
16°
1°
11°
14°
C
C
S
S
S
S
C
C
S
S
S
S
S
4°
11°
6°
0°
1°
0°
3°
8°
0°
4°
-3°
1°
11°
6°
17°
18°
5°
7°
6°
9°
15°
6°
14°
1°
8°
15°
+4h
+5h
+4h
+4h
+4h
+4h
+4h
+3h
+3h
+4h
+6h
+4h
+4h
EUROPA
Amsterdã
Atenas
Barcelona
Berlim
Bruxelas
Frankfurt
Genebra
Lisboa
Londres
Madri
Moscou
Paris
Roma
ÁSIA
Jerusalém
Pequim
Tóquio
C 7° 13°
S -5° 1°
S 6° 10°
S 8° 18° +5h
S -6° 4° +11h
S 1° 9° +12h
Cairo
S 9° 21°
Johannesburgo C 16° 26°
S 11° 24° +5h
C 17° 28° +5h
ÁFRICA
OCEANIA
Sydney
S: sol
S 18° 32°
N: nublado
S 18° 35° +14h
C: chuvoso
Ne: neve
Mais informações sobre o tempo
NA INTERNET
Curitiba
19°/ 27°
oglobo.com.br/servicos/tempo/
PREVISÃO
34˚/36˚
31˚/33º
28˚/30˚
25˚/27˚
22˚/24˚
18˚/21˚
13˚/17˚
Abaixo
de 12˚
Sol
Parcialmente
nublado
Nublado
Sol com pancadas
de chuva
Nublado
com chuvas
Chuvas com
trovoadas
Jovem morre durante operação na Maré
REPRODUÇÃO
Polícia diz que houve
confronto; moradores alegam
que adolescente trabalhava
Um jovem de 19 anos foi morto ontem de
manhã durante um intenso tiroteio entre
bandidos e policiais no Complexo da Maré. Segundo moradores, a vítima, identificada como Igor Silva, trabalhava numa
farmácia no Parque União e não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Ele foi
baleado no peito, segundo relatos de testemunhas, durante uma operação da Polícia
Civil, e chegou a ser levado, numa caminhonete da Coordenadoria de Recursos
Especiais (Core), ao Hospital Geral de
Bonsucesso, mas não resistiu. De acordo
com o delegado da especializada, Fabrício
Oliveira, o jovem foi morto durante confronto com a polícia.
DELEGADO: VÍTIMA ESTAVA ARMADA
O delegado disse ao site “G1” que foram encontrados com Igor uma pistola
calibre 40, um rádio e três coletes à prova de bala.
— São pessoas que desde novas estão
acostumadas a trocar tiros. Hoje não foi
diferente. Tivemos diversos confrontos e,
em um deles, um policial conseguiu reagir e alvejou esse garoto. O caso agora está
com a Polícia Civil, que vai fazer o procedimento padrão, ouvir testemunhas e fazer a perícia — disse o delegado, que afirmou ainda que um traficante identificado
como Almir Carlos Júnior foi preso na
operação.
De acordo com o delegado-adjunto
da 21ª DP (Bonsucesso), Neilson Nogueira, um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte de
Igor. Os policiais envolvidos no caso
prestaram depoimento e tiveram as armas apreendidas..
Nas redes sociais, moradores da Ma-
Vítima: Igor Silva: tiro no peito na Maré
Pelas redes sociais,
moradores reclamaram
de operações policiais
realizadas durante
horário escolar
ré contestaram as informações do delegado da Core: “‘Estamos revoltados!!
A policia vem, mata e vai embora. Hoje mais um adolescente foi morto pelo
estado nessa cidade que dizem ser
maravilhosa”, diz um trecho de uma
das publicações, para, em seguida,
continuar afirmando que o jovem era
inocente. “Igor Silva trabalhava na farmácia e não tinha envolvimento com
o tráfico e mesmo assim foi sentenciado à morte. Não que uma pessoa envolvida com o crime mereça morrer,
ninguém merece ser assassinado, mas
nesse caso a revolta toma conta do
meu peito grandemente. A vontade é
de ir pra pista e gritar, gritar e gritar.
Quebrar tudo para ver se alguém olha
aqui pra gente!”
SALA DE AULA ATINGIDA POR TIROS
Também no Facebook, moradores
reclamaram das operações em horário escolar: “Isso é uma falta de consideração com moradores e crianças
por causa das escolas. Na semana
passada, todos os professores foram
na 4ª CRE (Coordenadoria Regional
de Educação) para que essas operações mudem de horário por causa
das crianças. Na semana do carnaval, que teve a primeira operação do
ano, duas balas atingiram uma sala
de aula no (Ciep) Vicente Mariano.
Isso não pode continuar ”, relatou
uma moradora. Outra classificou a situação como revoltante:
“As crianças tiveram dois meses e
meio de férias, e não teve uma operação nesse período, pelo menos que
eu saiba. Agora que finalmente as
aulas começaram, as crianças não
podem ir à escola”.
Segundo a Secretaria municipal de
Educação, o conteúdo das aulas de
ontem será reposto nas escolas que
não abriram por conta do tiroteio. l
BRAZ MONTEIRO CAMPOS
1 ANO DE PERMANENTE SAUDADE
JORGE CARLOS CORRÊA DA SILVA
★ 26.06.1948 ✝ 17.02.2016
Marcia,Mariana e Octavio Espírito Santo,Patricia e Pedro Paulo de Barros Barreto,Helena,
Sofia, Olivia, Ana Teresa e Jorge Paulo, viúva, filhas, genros e netos, respectivamente,
convidam para a Missa de Sétimo Dia de seu querido Jorge Carlos, a realizar-se no dia
24.02.2016, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, situada na Rua Sete
de Setembro, nº 14, Centro (esquina com Rua Primeiro de Março), às 11h.
Avisos Fúnebres e
Religiosos
2534-4333
Plantão sábado / domingo
2534-5501
Geada
MARCELO CARNAVAL
Chuva forte. Motoristas ficam ilhados na Rua da Relação, no Centro
Temporal alaga ruas e afeta
a volta para casa de cariocas
Vias ficaram cheias no
Centro e na Zona Sul.
Sirenes da prefeitura
tocaram em 6 favelas
Um temporal na noite de ontem atrapalhou, mais uma
vez, a volta para casa dos cariocas. A cidade entrou em
estágio de atenção por volta
das 19h30m e, uma hora depois, várias vias já estavam
alagadas. Na Zona Sul, a Rua
Paissandu virou um r io e
motoristas tiveram dificuldade para trafegar na correnteza. A Praia de Botafogo
também foi tomada pela
água. Motoristas foram obrigados a andar em fila, pelo
meio da pista, para tentar escapar do alagamento.
As ruas Mena Barreto e do Catete também ficaram inundadas. Na região da Lapa, foram
registrados vários bolsões d’água. Sirenes da prefeitura tocaram em seis favelas, entre elas
os morros do Chapéu Mangueira e Santo Amaro, para alertar
sobre riscos de deslizamento.
Segundo o Centro de Operações da Prefeitura, os bairros da Urca e de Santa Teresa
foram os mais atingidos. Em
15 minutos, foram registrados 19,8 mm de chuva na Urca, e 18,6 mm em Santa Teresa. Os bairros de Laranjeiras,
São Cristóvão e Tijuca também sofreram com as pancadas de chuva.
Na Baixada Fluminense, os
rios Saracuruna e Pavuna, em
Duque de Caxias e São João
de Meriti, respectivamente,
também entraram ontem em
estágio de atenção, devido à
possibilidade de transbordamento. O rio Barra Mansa, na
região do Médio Paraíba, entrou em alerta máximo. l
Terça-feira 23 .2 .2016
Dos Leitores
|
oglobo.com.br/participe
Eu-repórter
O GLOBO
Autocrítica
|
Das redes sociais
_
NA EDIÇÃO DE ONTEM:
facebook.com/jornaloglobo
facebook.com/jornaloglobo
REPRODUÇÃO
“O problema acontece desde
dezembro passado. Enviei
fotos e há seis meses a prefeitura fez uma vistoria com
a promessa de que não haveria mais água empoçada”
twitter.com/jornaloglobo
URBANO ERBISTE
REPRODUÇÃO
Leonardo Rangel,
sobre o medo da proliferação do mosquito Aedes
aegypti na obra de uma construtora na Rua Retiro dos
Artistas 909, no Pechinha,
Jacarepaguá. A Secretaria
municipal de Saúde afirmou
que o local é vistoriado a
cada 15 dias por agentes.
|
“Quem representa uma ameaça para a sociedade é ela”
“O problema é chocolate de
qualidade e preço acessível”
Justiça nega pedido de
Suzane Von Richthofen para
fazer faculdade
Consumo regular de
chocolate melhora funções
cerebrais, diz estudo
Felipe Sonaglio
Cartas e e-mails
André Luís de Barros
“Tomara que o coveiro não
resolva se enterrar...”
@cadrix5
Personal engorda 32 quilos
para incentivar cliente a
emagrecer com ele
|
As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Dos Leitores. O GLOBO, Rua Irineu Marinho 35, CEP 20233-900. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail [email protected]
_
REFORMA DA PREVIDÊNCIA
a Novas pesquisas demonstram que a
Previdência pública faliu e que
possui recursos só para mais um ano
de pagamento das aposentadorias.
Mas uma outra reportagem do
GLOBO mostra o quanto os fundos
de previdência aplicaram mal os
recursos e faliram. No caso do Rio,
será que foi diferente com o
Rioprevidência? O que foi feito
quando o barril de petróleo estava
acima de US$ 100 e os royalties
abundavam? Ainda sobre o Estado
do Rio de Janeiro, o número de
aposentados é superior ao de
funcionários na ativa, mas, mesmo
que fossem iguais, pelo modelo atual,
dá para acreditar que um servidor
concursado, recebendo o piso, sem
reposição e sem ascensão, vai manter
um aposentado que recebe o teto? Se
é para reformar, que se faça uma
reforma decente e perene,
rediscutindo modelo de sustentação,
cálculo de proventos e outras
questões atuariais.
CELSO FREDERICO FREITAS
RIO
_
MARQUETEIRO DO PT
a O marqueteiro João Santana, que
comandou as campanhas
presidenciais de Lula e Dilma, está
com mandado de prisão para explicar
os milhões de dólares recebidos de
empreiteiras no exterior. Sua
declaração é de que voltará da
Republica Dominicana, mas que “as
acusações são infundadas” e causadas
por “um clima de perseguição no
Brasil”. O rótulo apropriado para essa
reação do marqueteiro é “vitimose
hipócrita”.
CLAUDIO JANOWITZER
RIO
_
a Esse marqueteiro precisa também
responder pelo crime de propaganda
enganosa. Ele conseguiu enganar o
eleitorado menos avisado, para não
dizer menos outras coisas, e jogou o
Brasil no buraco. O estrago foi tão
grande, que as crianças de hoje vão
chegar à terceira idade tentando
colocar o Brasil nos trilhos e talvez não
consigam. Cadeia nesses enganadores.
JEOVAH FERREIRA
TAQUARI, DF
_
LULA NA BERLINDA
a A rejeição ao petista Lula, o mais
honesto ser do Brasil, aumentou seis
Hoje no
Acervo O GLOBO
pontos desde outubro, segundo
pesquisa inédita do Ibope. Sessenta e
um por cento dizem que não
votariam de jeito nenhum em Lula
para presidente. É a maior taxa de
rejeição entre seis presidenciáveis
testados pelo Ibope e, pelo andar da
carruagem, já que ele não fala a
verdade sobre o tríplex e o sítio de
140 mil metros quadrados, a coisa
deve piorar e muito. Fora as
novidades na Operação Lava-Jato e a
boca do Delcídio, agora livre, leve e
solto para botar a boca no mundo.
Qual será o fim disso?
ANTONIO JOSÉ G. MARQUES
RIO
_
a A telefônica Oi instalou uma antena
de celular perto do enigmático sítio de
Atibaia. Segundo um ditado popular,
não existe almoço de graça. O
Ministério Público de Portugal
descobriu que, em 2010, Lula e José
Dirceu convenceram o
primeiro-ministro José Sócrates a
autorizar a compra de 23% da Oi pela
Portugal Telecomunicações. A
transação custou 3,7 bilhões de euros
aos cofres públicos lusitanos. Vários
políticos portugueses participaram da
ilicitude e, atualmente, Sócrates está
preso por corrupção. Gostaria muito
que o Ministério Público Federal
brasileiro se pronunciasse sobre o fato.
LUIZ FELIPE SCHITTINI
RIO DE JANEIRO
_
CONFIANÇA NOS POLÍTICOS
a O caso de um vereador apanhado
em flagrante gastando dinheiro
público num bordel foi relatado
recentemente pela mídia. Não é o
primeiro, nem será o último. Recente
pesquisa na China indica que as
prostitutas são mais confiáveis que os
políticos. É óbvio que, se essa
pesquisa fosse feita no Brasil, daria o
mesmo resultado, considerando o
caráter licencioso de nossa classe
política.
IRIA DE SÁ DODDE
RIO
_
DELCÍDIO
a A ameaça do PT ao senador Delcídio é puro blefe. Ele tem, imaginamos
nós, informações que desnudariam o
partido do avesso. Essa ameaça
nunca se consolidará, e ele será
protegido, como estão sendo José
Dirceu, Genoino, Vaccari e todos os
tesoureiros do partido.
EDSON RODRIGUES DA SILVEIRA FILHO
RIO
MÁRCIA FOLETTO/4-2-1995
HÁ 35 ANOS, TENTATIVA DE GOLPE
Tenente-coronel Tejero Molina e 200 homens
ocupam Parlamento e detêm 350 deputados.
Trens do Rio
EM 1998, SÓ 10% ERAM SEGUROS
Após 3 acidentes, SuperVia admitia situação
precária da rede que acabara de assumir.
NIXON FAZ VISITA HISTÓRICA
Presidente americano encontra Mao Tsé-tung
e Chu En-lai, em 22 de fevereiro de 1972.
acervo.oglobo.globo.com
_
CUMPRIMENTO DE PENA
a A decisão para que condenados em
segunda instância iniciem o
cumprimento da pena é muito
bem-vinda. Como disse o juiz Sérgio
Moro, fecha-se uma janela da
impunidade. Falta, agora, entre
outras ações, rever os critérios de
prescrição das penas. Por qual
motivo se continua contando tempo
para prescrição após iniciado o
processo? Só interessa ao apenado. É
sabido que juízes não têm prazo para
julgamento e que o Código do
Processo Penal admite um número
excessivo de recursos. Se a contagem
de tempo para a prescrição se
encerrar no início do processo penal,
outro passo importante será dado no
sentido de diminuir a impunidade. A
parcela honesta da sociedade muito
agradeceria.
ROBERTO PINHO LUZ
RIO
_
NOVA CONSTITUIÇÃO
a A propósito do tema, já abordado
recentemente neste jornal por um
leitor (20/2), lembrei-me de
reforçá-lo com um pensamento
exposto pelo grande historiador
brasileiro Capistrano de Abreu
(1853-1927), que disse, com muita
propriedade, já naquela época,
simplesmente o seguinte: “Eu
proporia que se substituíssem todos
os capítulos da Constituição por:
Artigo único — Todo brasileiro fica
obrigado a ter vergonha na cara”. Será
que não valeria a pena perseguir esse
objetivo, após tantos anos de
corrupção e mentiras?
CARLOS CLAUDIO MIGUEZ
BELO HORIZONTE, MG
_
SOLUÇÕES PARA A PETROBRAS
a Em artigo publicado no GLOBO
(22/2), o vice-presidente da
Associação dos Engenheiros da
Petrobras, Fernando Siqueira, diz
que tem a fórmula para fazer a
empresa crescer juntamente com o
país. Citou três formas que
resolveriam a questão em curto
prazo, mas não mencionou uma
quarta, que a grande maioria dos
contribuintes gostaria de ver
lembrada: a privatização, a exemplo
do que aconteceu com Vale e
Embraer, entre outras, que sozinhas
independem de recursos públicos.
Os contribuintes agradeceriam.
GILSON CARLOS DE SOUZA MARTINS
RIO
Para a grande maioria do povo
brasileiro que paga impostos e não
vive de benesses do governo, a solução
para o Brasil é simples: basta
privatizar a Petrobras, o Banco do
Brasil, a Caixa Econômica e outras
tantas empresas estatais. É bom que
fique claro que privatizar significa
vender apenas o controle acionário.
Com essas empresas bem geridas e
sem malfeitos para desviá-las dos seus
objetivos, só com os dividendos
provenientes das ações nas mãos do
Estado (máximo de 49%), o governo
poderia bancar programas sociais e
ainda reduzir inúteis e inchados
órgãos de controle.
MARCOS PAULO FERNANDES DE LUCENA
RIO
_
JUROS ALTOS
a Diz-se que a taxa de juros no Brasil é
a maior do mundo, inclusive alguns
que se afirmam economistas. Mas a
verdade é que ela é muito baixa.
Façamos as contas. A Selic paga
14,25% ao ano. O imposto de renda
leva 22,5% desse rendimento nominal,
o que é um erro, pois está taxando
capital. Deveria incidir somente sobre
o ganho real. Assim, se retirarmos dos
14,25% o imposto de renda e a
inflação anual de cerca de 10,67%,
vamos chegar a um rendimento anual
real de 0,3%. Ora, convenhamos, isso
não é nada, ainda mais se
considerarmos que esse índice não
espelha a verdade inflacionária total.
Começou o grande calote para
diminuir a dívida pública.
MAURICIO MIRANDA
RIO
_
USO IRREGULAR DE SIRENES
a Será que existe algum ser humano
favorável ao uso exacerbado de
sirene nos veículos de socorro?
Acionamentos sem nenhuma razão,
ultrapassando os decibéis máximos
permitidos; utilizações com o único
propósito de beneficiar o condutor
do automóvel, onde está apenas o
motorista, sem ordem de serviço...
Raciocinando bem, quando o
acionamento das sirenes ajuda no
socorro? Acredito que nunca, com os
serviços hospitalares que temos. Se
tivéssemos um atendimento eficaz,
daqueles de seriados americanos, aí
sim o uso se justificaria. Sou
ex-agente de trânsito e fiz socorros
em que, ao chegar ao hospital,
sequer havia maqueiros para me
ajudar a atender a vítima.
ARAGUAIR PEREIRA
IGUABA GRANDE, RJ
_
P. 10: “Tudo se transforma.”
“Ela transformou o véu do
casório de uma cliente em
uma... tela anti-mosquito.”
Erro de grafia (o prefixo
“anti-” tem hífen antes de “h”
e “i”; nos demais casos,
escreve-se junto). Certo:
“...tela antimosquito.
Na página 3 do Caderno
Esportes: “Brasil tem grupo
fácil...” “No D, cuja cabeçade-chave era a Argentina...”
Erro de grafia (já não se
usam os hifens nas palavras
compostas em que há
elemento de ligação). Certo:
“...cabeça de chave era...”
P. 5: “Desfile das zebras.”
“Eliminada na estreia em
2014, no Jockey, em sua
primeira participação, a
italiana, dessa vez, teve...”
Mau uso do demonstrativo (a
vez atual). Certo: “...desta...”
P. 5: “César Castro se garante nos Jogos do Rio.” “Conquistou ali a medalha de
prata que conquistou no
mesmo local nos Jogos...”
Repetição de “conquistou”.
Melhor: “Conquistou ali a
medalha de prata que
obteve no mesmo local...”
_
NA
EDIÇÃO DE DOMINGO:
_
P. 3: “Inimigo há três décadas.” “Agora, o valor previsto
é de R$ 2,37 bilhões.” Crítica:
“de” a mais. Certo: “...o valor
previsto é R$ 2,37 bilhões.”
P. 9: “Marqueteiro de Lula e
Dilma se põe...” “Tofic pede
para que eles sejam ouvidos...” Erro de regência:
“para” a mais. Certo: “Tofic
pede que eles sejam...”
P. 22: “Uma empresa que
desceu para o ‘play’.” “Uma
dia ela foi chamada na
escola do filho...” Erros de
concordância e de regência.
Certo: “Um dia ela foi chamada à escola do filho...”
P. 34: “Tecnologia que põe
fim ao silêncio.” Na legenda:
“...um implante coclear que a
permitiu voltar a ouvir.” Erro
de regência no emprego do
pronome pessoal. Certo:
“...que
_ lhe permitiu...”
NA EDIÇÃO DE SÁBADO:
_
P. 6: “O que sei (ou acho que
sei) sobre o caso FHC-Mirian
Dutra.” “...Mônica revelou que
a pensão devida por Renan à
ela era paga...” Mau uso do
acento grave. Certo: “...devida
por Renan a ela...”
P. 22: “Geração perdida.” “...a
tendência contrária a de
outros grupos...” Falta do
acento grave (indicador da
crase). Certo: “...à de outros...”
P. 24: “Novos olhos no
Universo.” “...a Nasa deu sinal
verde para o projeto observatório espacial para ajudar
a responder justamente
estes mistérios...” Erro de
regência. Certo: “...responder
justamente a estes...”
Este é o resumo da crítica
realizada e supervisionada
pelo professor Ozanir
Roberti, sob a coordenação do
jornalista Aluizio Maranhão,
editor de Opinião do GLOBO.
A crítica completa é distribuída
todos os dias na Redação.
LEIA A ÍNTEGRA DA
COLUNA NA WEB
oglobo.com.br
Espanha
EUA e China
l 11
Fotogaleria
ROLLING STONES NO BRASIL
Visitante desde 1968, banda fez
dois shows no Maracanã em 1995.
Há 50 anos 23 de fevereiro de 1966
Carnaval teve ponto alto no
desfile das escolas de samba
Casou-se Pelé e já está em
lua-de-mel na Alemanha
As Escolas de Samba foram mais uma
vez o ponto alto do carnaval carioca,
trazendo vibração às ruas e atraindo ao
Rio milhares de turistas estrangeiros e
do interior, numa demonstração eloqüente do prestígio da maior festa popular do Brasil. O desfile da Presidente
Vargas, em que se salientaram as tradicionais Salgueiro, Império Serrano,
Mangueira e Portela, emocionou os espectadores, que lotaram as arquibancadas. A cidade teve um dos carnavais
mais tranqüilos de todos os tempos,
devido à campanha preventiva desencadeada um mês antes pela polícia.
Edson Arantes do Nascimento, que casou anteontem em Santos, com Rosemary Reis Cholby, está em lua-de-mel na
cidade de Munique, Alemanha, para onde se dirigiu ao desembarcar em Francoforte, ovacionado por uma multidão de
fãs no aeroporto. Em Santos, tentou o
maior drible de sua vida, que seria a realização do casamento sem que os torcedores e os jornalistas soubessem, mas
houve vigília de 36 horas e, no momento
da cerimônia, pelo menos quinhentas
pessoas estavam na calçada de sua residência. Os noivos seguiram para a Alemanha na segunda-feira mesmo, à tarde.
12
l O GLOBO
Terça-feira 23 .2 .2016
OGLOBO
|
Opinião
|
Dilma não fará o ajuste fiscal necessário
O
ministro da Fazenda, Nelson Barbosa,
passa a semana na China, onde participará da reunião do G-20, na qual falará
sobre as reformas da Previdência e fiscal que o governo Dilma pretende executar. No
caso das mudanças no quadro fiscal, explicadas
por Barbosa na sexta-feira em Brasília, quem não
estiver acompanhando o cotidiano das resistências do governo a de fato reduzir gastos poderá chegar à falsa conclusão de que, enfim, a crise brasileira será estancada. E não é bem assim.
O próprio anúncio dos “cortes”, na sexta, beirou
a bizarrice, pois, ao reduzir, no Orçamento deste
ano, R$ 23,4 bilhões em despesas, e, ao mesmo
tempo, pedir ao Congresso que lhe permita abater
da meta fiscal da União R$ 84,2 bilhões — certamente devido à frustração de arrecadação —, na
prática o que o governo Dilma deseja é converter
Governo anuncia cortes, mas quer
acumular novo déficit primário, e
apresenta programa de medidas
fiscais ‘de longo prazo’ que
já deveriam ter sido tomadas
Mas a proposta de reforma fiscal exposta por
Barbosa faz sentido. O governo, enfim, admite que
a correção de grande parte das despesas previdenciárias e ditas sociais pelo salário mínimo,
43% dos gastos primários do Orçamento, é inviável. Por isso, inclui entre as medidas a tomar,
quando os gastos ultrapassarem a previsão inscrita na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a
suspensão do reajuste real do salário de base.
A reforma prevê cortes e congelamento de
despesas por estágios. O projeto de Barbosa é
bem-vindo e merece ser aprovado. Mas chega
muito tarde, e ainda é apresentado pelo ministro como de “longo prazo”. A presidente Dilma
deveria ter assumido o segundo mandato e logo estabelecido meta para os gastos e adotado
o arsenal de ações para manter os dispêndios
sob controle. Porém, certamente por falta de
o objetivo de um superávit primário de 0,5% do
PIB, em todo o setor público, num déficit de 1%.
Confirma-se, então, que o Planalto não executará mesmo o ajuste fiscal necessário para
recuperar a confiança no país. Empresas não
voltarão a investir e consumidores, a consumir. O Brasil ruma, assim, para a situação dramática e inédita de dois anos seguidos de crise
profunda, talvez até mesmo três, com inevitáveis reflexos no quarto. Uma enorme tragédia.
convicção e também de condições políticas de
contrariar o PT e os movimentos ditos sociais,
empurrou para frente o inevitável — o ajuste
—, e agora assiste impassível a agências internacionais de avaliação de risco cortarem sucessivamente a nota do Brasil. O tempo passa,
e o país troca de lugar com a Argentina nas
avaliações mundiais das economias do continente, algo lamentável.
Outro erro é resgatar da “contabilidade criativa”, que se pensava escanteada, artifícios para maquiar a execução orçamentária. Agora,
Dilma e Barbosa contabilizam como receita da
União R$ 12 bilhões que são na realidade dinheiro para pagar precatórios (dívidas públicas já reconhecidas na Justiça). Assim é que
começou a ser corroída, em 2013/14, a percepção da economia brasileira. l
Acordo para manter Reino Unido na UE é sensato
O
acordo alcançado no fim da semana
passada entre líderes europeus e o premier David Cameron, garantindo o
apoio do líder britânico à permanência
do Reino Unido na União Europeia, é um passo
importante para o projeto de integração e benéfico para ambos. De um lado, o bloco preserva em
seu seio uma potência estratégica e historicamente importante e, de outro, o Reino Unido garante
que sejam respeitadas as diferenças inconciliáveis, e mantém sua autonomia em áreas cruciais,
como a City londrina, o centro financeiro mundial
que dá a Londres o status de uma “cidade global”,
como Nova York e Tóquio.
Ao explicar o acordo aos parlamentares na Câmara dos Comuns, Cameron destacou exatamente o aspecto mutuamente vantajoso, lembrando
que os países do bloco avançam em ritmos distin-
A permanência da Grã-Bretanha
no bloco é vantajosa para os dois
lados, sobretudo nos termos do
acordo do fim de semana, que
preserva autonomia britânica
tos: “Nosso status especial significa que o Reino
Unido pode ter o melhor dos dois mundos. Nas
partes da Europa que funcionam para nós, influenciando as decisões que nos afetam. Mas estaremos fora das áreas da Europa que não funcionam
para nós.” Trata-se de um avanço importante que
caminha coerentemente com o projeto de construção de uma federação europeia unificada.
As pesquisas mais recentes apontam uma vantagem a favor da permanência do país no bloco
europeu, embora também seja grande o número
de indecisos, o que não permite apontar uma tendência para o referendo, a ser realizado no próximo dia 23 de junho. A perspectiva de uma saída
do Reino Unido da UE, definida pelo neologismo
“Brexit”, seria desastroso para o projeto de integração, que já passa por complexos desafios, como o
intenso fluxo de refugiados do Oriente Médio que
chegam ao continente, alimentando reações nacionalistas, sobretudo na Europa do Leste. Alguns
países, por exemplo, propuseram o fim do tratado
de Schengen, que permite a livre circulação nos
países do bloco.
No fim de semana, Boris Johnson, prefeito de
Londres e provável sucessor de Cameron como
líder dos conservadores, defendeu em um artigo no “Daily Telegraph” o voto pela saída dos
britânicos da UE, para forçar uma nova negocia-
ção (e um segundo referendo). A sugestão gerou
polêmica e uma pronta resposta de Cameron.
Johnson argumentou que o voto pela saída
obrigaria as autoridades europeias a oferecerem mais vantagens aos britânicos. Em sua resposta, o premier britânico disse que proposta de
Johnson equivalia a um casal entrar com um
pedido de divórcio como melhor maneira de reatar a relação. A posição de Johnson, avaliam
analistas, poderá ter impacto no referendo entre
os indecisos e isso fez a libra despencar ontem
para o menor patamar em sete anos.
A saída dos britânicos da UE, sobretudo depois do acordo alcançado no último fim de semana, seria desastrosa para os dois lados, representando um risco para a integração europeia e o enfraquecimento do Reino Unido, como nação isolada. l
DANIEL AARÃO REIS
A primavera americana
‘B
asta quer dizer basta! Este
país e nosso governo pertencem a todos, e não a
um punhado de bilionários!”. Com estas palavras, Bernie Sanders rompe com os padrões bem
comportados da política e entusiasma aliados e simpatizantes. O candidato vai direto aos pontos essenciais:
“Não representamos os interesses de
Wall Street e das grandes corporações, nem queremos o dinheiro deles.
O povo americano está dizendo não a
uma economia baseada na fraude.
Vamos criar uma economia que funcione para as famílias que trabalham,
e não para os bilionários”.
Sanders formula propostas concretas: sistemas de saúde e de educação
gratuitos, financiados por taxações às
grandes fortunas, à especulação financeira e às heranças. Regulamentação do sistema bancário, quebrando os mamutes financeiros em proveito de pequenas instituições que se
dediquem ao sistema produtivo e não
a especular com papéis sem lastro na
economia real. “Se um banco é muito
grande para falir”, gosta de dizer,
“também é muito grande para existir”.
Para deslanchar a economia, um plano de investimentos públicos, no valor de US$ 1 trilhão, gerando cerca de
cinco milhões de novos empregos em
cinco anos. Reajuste substantivo do
salário minimo federal, que passaria
dos atuais US$ 7,25 para US$ 15 dólares/hora. Legalização dos imigrantes
que já entraram e nada de muros entre os EUA e os vizinhos. Impostos sobre as emissões de carbono e estímulos às tecnologias baseadas em ener-
gias limpas. Na política externa, parcerias internacionais, em vez dos EUA
como “polícia do mundo”.
O candidato condena a promiscuidade obscena entre políticos e empresas, autorizada pela Suprema Corte, mas que falseia a democracia. Não
aceita doações empresariais e sua
campanha registra uma contribuição
média de US$ 27. Na vida pessoal,
Sanders multiplica gestos simbólicos,
como viajar de avião como um cidadão comum, em classe econômica,
fazendo recordar os hábitos modestos de José Mujica, ex-presidente do
Uruguai.
Palavras e promessas surpreendentes.
Mais surpreendentes têm sido os
resultados. Nas três eleições primárias realizadas, nos estados de Iowa
(virtual empate, com pequena vantagem para a Sra. Clinton, 49,8% X
49,6%), New Hampshire (vitória folgada de Sanders, 60% X 38%) e Nevada (nova vitória apertada de Hillary,
52,6% X 47,3%), a animação dos partidários de Sanders aguentou bem o
tranco da milionária campanha da
adversária.
O que o “fenômeno” Sanders evidencia é o desgaste da hegemonia do
capital financeiro e a descrença no establishment político. Segundo pesquisas recentes, o candidato alternativo, entre os eleitores democratas de
17-24 anos, tem 86% das intenções
voto. Na faixa entre 25-29 anos,
dispõe de 81%. Retém a maioria também na faixa de 30-39 anos (65%). Entre os quarentões, Hillary inverte a
tendência, mas ganha por magros
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Roberto Irineu Marinho
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Marinho - José Roberto Marinho
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MARCELO
‘Fenômeno’ Sanders
evidencia desgaste da
hegemonia do capital
financeiro e a descrença
no ‘establishment’
cinco pontos percentuais e só amplia
a vantagem entre os maiores de 50
anos, onde se distancia de Sanders
por mais de 20 pontos. Como registra
John Cassidy, com este tipo de apoio,
é difícil Hillary apresentar-se como a
“voz do futuro”.
Geral e Redação (21) 2534-5000
Jornais de Bairro: (21) 2534-4355
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Thomas Piketty sublinhou que Sanders retoma uma tradição inaugurada
nos anos 1930, para lidar com uma
outra crise provocada também pela
sanha da especulação financeira. Assim, entre os anos 1930 e 1970, os EUA
teriam empreendido uma “ambiciosa
política de redução das desigualdades”, baseada num imposto “fortemente progressivo sobre as rendas e
as heranças”. No período, o salário
mínimo federal atingiu US$ 11/hora,
e os impostos sobre as grandes fortunas e as heranças alcançaram picos
entre 70% a 82% e estavam nestes pa-
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Assinatura mensal com débito automáti-
tamares quando Ronald Reagan assumiu a Presidência, em 1980, e começou a revogar estas políticas. Resultados? Explosão das desigualdades, remunerações mirabolantes, crescimento débil e estagnação das rendas
das maiorias. As gestões de Bill Clinton e de Barack Obama quase nada fizeram para corrigir estas distorções.
A campanha eleitoral mal começou,
e a grande maioria dos analistas continua apostando no “realismo político” e
nos dinheiros da Sra. Clinton. Ela se orgulha de ser capaz de “fazer as coisas
funcionarem”. Do que se trata, porém,
é saber de que modo, e para quem, as
coisas estão “funcionando”.
Nos anos 1960, era conhecido o slogan maoísta: “O vento do leste vencerá o vento do oeste”. Uma metáfora
para dizer que a China revolucionária
venceria o Ocidente capitalista. Não
venceu. E de lá, há décadas, sopram
apenas ventos associados ao bezerro
de ouro.
Nos EUA de hoje, ainda é cedo para dizer que sopra um vento reformista vitorioso. Mas já há ali mais do
que uma aragem, e vai se transformando numa brisa forte. As próximas primárias dirão se teremos uma
ventania, um tornado ou mesmo um
tufão. Mas as folhagens das árvores
da primavera americana que se
aproxima parecem anunciar-se mais
viçosas do que nunca, cativando o
entusiasmo dos jovens e suscitando
renovadas esperanças. l
Daniel Aarão Reis é professor de História
Contemporânea da UFF
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O GLOBO
Terça-feira 23 .2 .2016
l 13
OGLOBO
JOSÉ CASADO
_
Na memória
do telefone
A
prisão de “Vaca” o deixou inquieto.
Àquela altura de abril de 2015, porém,
mais preocupante era a situação de “RA”,
um de seus principais assessores. Sempre dissera ao próprio e às famílias — inclusive à
sua — que se algum dia pegassem alguém dele,
iria “lá” para proteger. Assim fez no outono.
Achou que “RA” seria preso, levou-o para casa.
Aumentava o perigo, agora precisava pensar num
Plano B.
Na madrugada de uma quinta-feira da primavera passada, pegou seu iPhone preto de
bordas cinzas, abriu a pasta “Calendário” e começou — era um homem que anotava:
“Delação/fallback (RA)” — escreveu. O registro “fallback” era para não esquecer: alternativa
extrema em cenário de prisão de “RA”, esgotados
todos os recursos para livrá-lo.
Acrescentou: “— Livrar todos e soh eu.” Ou
seja, nessa hipótese, “RA” aceitaria o acordo de
delação, mas em bastes restritas: livraria todos,
deixando-o exposto, sozinho, diante do juiz,
procuradores e policiais federais.
Mostraria o plano a “RA”, e, com ele, passaria
a todos a mensagem devida: no limite, era com
ele — e, como até as crianças em casa sabiam,
não entregava ninguém. Continuou desenhando um roteiro sobre o que “RA” diria num acordo. Por exemplo, sobre “Vaca”:
“— Era amigo e orientado por eles pagou-se Feira de cta que eles mandaram. ODB pagava campanha a priori, mas eh certo que aceitava indicações
a título de bom relacionamento.”
A organização (“ODB”) adotara a prática de
adiantar financiamentos de campanha, mas só
das principais. Aceitava sugestões, eventuais.
Seguiu, pensando na voz de “RA” em depoimento: “Campanha incluindo caixa 2 se houver
era soh com MO, que não aceitava vinculacao.”
Outra vez, ele posto no alvo. E se, nessa altura, o inquiridor argumentasse sobre “PRC”, o
diretor da estatal, primeiro preso e delator premiado do caso? Então, “RA” poderia retrucar:
“PRC soh se foi rebate de cx2”.
Agora anotava em espasmos: “Nosso risco eh a
prisão” ... “Acordo Leniência CGU?” — sim, era
preciso cogitar. E ver com advogados: “Risco
Swiss? E EUA?” Porém, ainda mais urgente, era a
conversa com o mineiro, governador, com quem
previa logo se encontrar. Registrou:
“FP: — Ela cai eu caio; — Dar a dimensao”.
Essas notas na memória de um telefone celular são de Marcelo Odebrecht (“MO”), ex-presi-
Preso, o empreiteiro Marcelo
Odebrecht não fala, mas suas
anotações orientam a investigação
que, agora, passou a ter a colaboração
direta do governo dos Estados Unidos
JOSEPH E. STIGLITZ E HAMID RASHID
Contendo a fuga de capital dos emergentes
O
s países emergentes caminham para
uma grande desaceleração este ano. Segundo o relatório da ONU “Perspectivas
e Situação Econômica Mundial 2016”,
seu crescimento será em média de apenas 3,8% este ano — a menor taxa desde a crise financeira global em 2009 e só comparável neste século com o
ano recessivo de 2001. E é preciso ter em mente que
a desaceleração na China e as recessões profundas
na Federação Russa e no Brasil explicam apenas
parte da ampla queda do crescimento.
A preocupação não é apenas a queda dos preços
das commodities, mas igualmente as volumosas
fugas de capital. Entre 2009 e 2014, os países em
desenvolvimento receberam um fluxo líquido de
capital de US$ 2,2 trilhões, em parte devido às políticas de afrouxamento monetário nas economias
desenvolvidas, que empurraram as taxas de juros
para patamares próximos a zero.
A busca por maiores lucros direcionou os investidores e especuladores para os países emergentes, onde os fluxos elevaram as alavancagens, os
preços de ações e, em alguns casos, estimularam
um boom dos preços de commodity. A capitalização de mercado nas Bolsas de Mumbai, Johannesburg, São Paulo e Xangai, por exemplo, quase
triplicou nos anos que se seguiram à crise financeira. Os mercados de ações e outros países em
desenvolvimento também testemunharam similares aumentos dramáticos neste período.
Mas agora os fluxos de capital estão invertidos,
tornando-se negativos pela primeira vez desde
2006, com a fuga líquida dos países em desenvolvimento em 2015 ultrapassando US$ 600 bilhões
— mais de um quarto dos influxos que receberam
nos seis anos prévios. As maiores fugas têm ocorrido mediante canais bancários, com os bancos internacionais reduzindo suas exposições brutas de
crédito nos países em desenvolvimento em mais
de US$ 800 bilhões em 2015. Fugas de capital dessa magnitude tendem a ter uma miríade de efeitos: acabar com a liquidez, elevar o custo dos empréstimos e dos juros de dívida, enfraquecendo as
moedas, acabando com as reservas e levando a
declínios de preços de ações e outros ativos. Há
contágio na economia real, inclusive abatendo as
perspectivas de crescimento dos emergentes.
Esta não é a primeira vez que os países em desenvolvimento enfrentam os desafios de lidar
com os ciclos do capital especulativo, mas as
magnitudes desta vez são esmagadoras. Durante a crise financeira asiática, as fugas de capital
das economias do Leste da Ásia foram de apenas US$ 12 bilhões em 1997.
Claro, as economias do Leste da Ásia estão hoje
mais bem preparadas para enfrentar tais fugas de
capital, graças às reservas internacionais acumu-
IGOR MACHADO
A
s Olimpíadas do Rio se aproximam, e
já é possível fazer as primeiras avaliações sobre o desempenho das três esferas de governo, diante do desafio
que foi — e ainda está sendo — preparar a cidade para um evento tão grande. Muito se discutiu
sobre o legado dos Jogos, e não cabe agora pleitear muita coisa. A Perimetral foi derrubada, viadutos e pontes estaiadas mudam a paisagem
da cidade, e a construção de mais e mais pistas
para ônibus foi executada. O traçado do metrô,
o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e a modernização dos trens do subúrbio, que deveriam ter
ficado assim, ficaram assado. Mas vamos ver...
A engenharia nacional venceu os obstáculos.
As grandes construtoras faturaram alto, criaram
postos de trabalho e dinamizaram a economia
regional. Os governos enxergaram bem este aspecto do empreendimento olímpico. Mas, por
outro lado, não deram a devida atenção a determinados detalhes, como a gestão do dia a dia de
serviços públicos essenciais.
A rigor, os governos negligenciam as rotinas: a
Prioridade
relegada
REYNALDO BARROS
A
ladas desde a crise financeira de 1997. O estoque
global de reservas mais do que triplicou. A China,
por exemplo, usou quase US$ 500 bilhões em
2015 para combater as fugas de capital e evitar
uma forte depreciação do yuan; mas o país ainda
tem mais de US$ 3 trilhões em reservas.
Os estoques de reservas podem explicar em
parte por que as grandes fugas de capital não
desencadearam uma crise financeira em escala
total nos emergentes. Mas nem todos os países
têm a sorte de possuir um grande arsenal.
Mais uma vez os defensores da livre mobilidade
dos fluxos de capital de curto prazo estão sendo
desmentidos. Muitos mercados emergentes reconheceram os perigos e tentaram reduzir a entrada
de capital. A Coreia do Sul, por exemplo, vem usando uma série de medidas macroprudenciais desde
2010, voltadas para moderar os ciclos internacionais de passivos do setor bancário. As medidas adotadas foram apenas em parte bem-sucedidas. A
questão é: o que eles devem fazer agora?
Os setores corporativos em emergentes que aumentaram sua alavancagem com os fluxos de capital pós-2008 estão vulneráveis. A fuga de capitais vai
afetar negativamente a cotação de suas ações, aumentar a relação dívida-capital, e elevar a probabilidade de calotes. O problema é mais grave nos emergentes exportadores de matérias-primas, onde as
empresas se endividaram na perspectiva de que os
altos preços das commodities fossem se manter.
Muitos países em desenvolvimento não aprenderam a lição de crises anteriores, que deveriam
ter gerado regulamentações e restrições tributárias, desencorajando exposições. Agora os governos
precisam agir para não se tornarem passíveis des-
sas exposições. Processos céleres de concordata
poderiam garantir uma rápida reestruturação e
gerar um modelo de renegociação de dívidas.
Os países em desenvolvimento também deveriam encorajar a conversão de tais dívidas vinculando-as ao PIB ou outros tipos de bônus indexados. Aqueles com altos níveis de endividamento externo, porém com reservas, deveriam
considerar resgatar suas dívidas soberanas,
aproveitando a queda dos preços dos bônus.
Embora as reservas possam prover algum colchão para minimizar os efeitos adversos da fuga
de capitais, na maioria das vezes elas não serão
suficientes. Os países emergentes deveriam resistir à tentação de elevar as taxas de juros para conter a fuga de capitais. Historicamente, esses aumentos tiveram efeito limitados. Na verdade, porque eles são nocivos para o crescimento econômico, reduzindo ainda mais a capacidade dos países de pagar os serviços das dívidas, taxas de juros elevadas podem ser contraproducentes. Medidas macroprudenciais podem desencorajar ou
atrasar a fuga de capitais, mas estas medidas também podem ser insuficientes. Em alguns casos,
poderá ser necessário aplicar controles de capital
seletivos, direcionados e com prazos limitados
para conter a fuga de capitais. l
Joseph E. Stiglitz é vencedor do Prêmio Nobel de
Economia, professor da Universidade de Columbia
e economista-chefe do Roosevelt Institute. Hamid
Rashid é chefe do Monitoramento Econômico
Global do Departamento de Economia e Assuntos
Sociais da ONU
© Project Syndicate
A cidade olímpica onde falta o básico
ANDREA GOUVÊA VIEIRA
dente da empreiteira homônima, e orientam a
investigação judicial. Ele está preso há oito
meses. “Vaca” é João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso em 15 de abril do ano passado. “RA” e “MF” são Rogério Araújo e Marcio
Faria, ex-assessores de Marcelo na Odebrecht
e seus companheiros de cela por quatro meses — foram soltos em outubro. “FP” é Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais,
segundo a polícia. “Ela” não teve a identidade
sugerida no inquérito.
Os riscos sobre as contas na Suíça, temidos por
ele, se tornaram fatos nas cortes de Curitiba, Brasília e Berna.
Ontem surgiu uma novidade: o Ministério Público Federal anunciou a ativa cooperação judiciária do Departamento de Justiça dos Estados Unidos na investigação sobre lavagem de dinheiro
em que a Odebrecht é personagem central, com
transferências a partir de bancos em Nova York.
Na prática, significa a abertura de processo contra
a empresa nos EUA, onde a Petrobras já se defende em tribunais. l
rotina de fiscalizar, de garantir a segurança pública, limpar, conservar, não deixar a compra do
material escolar e dos insumos hospitalares para a última hora... Enfim, ações que podem não
ter o mesmo glamour de grandes obras de engenharia a inaugurar, mas que fazem toda a diferença na vida do cidadão. E, mais, deveriam
funcionar no automático!
Ora, parece que o castigo veio a cavalo, por
ainda não termos aprendido que o diabo mora
justamente nos detalhes, como dizia o gênio
Guimarães Rosa, e que grandes festas correm
risco se não os observarmos com muita atenção. E é, justamente, um pequeno detalhe que
está gerando pânico nos organizadores dos Jogos: um detalhe que voa e pica — velho conhecido de todos nós, mas que nunca mereceu a
devida atenção dos governos, que ora dizem
que é municipal, ora é estadual ou federal: Sua
Excelência, o Aedes aegypti, que, ao proliferar
na água parada e na inércia dos governos, tem
provocado doenças seriíssimas, medo na população e na comunidade de atletas que poderão
passar algumas semanas perto do seu... criadouro. Aliás, como, desde outubro, a prefeitura
do Rio abandonou o mapeamento dos focos do
mosquito, sequer sabemos onde se concentram
os nossos inimigos.
Ao se arvorar com iniciativas espetaculares, o
poder público no Brasil negligencia o básico.
Quer o trem-bala antes de consertar os trens de
subúrbio, quer construir refinarias de petróleo
até onde não há jazidas próximas do óleo, tem
uma legislação ambiental super avançada, mas
não a cumpre. Não faltam exemplos! E, novamente, quis sediar a maior festa do esporte do
planeta sem ter feito o essencial. Esqueceu-se,
por exemplo, repito, do mosquito e da despoluição de rios e lagoas, que também provocam
muitas doenças. Lembremo-nos que tuberculose está logo ali, na Rocinha...
Nesta semana, o Ministério da Saúde apresentou estudo sobre o crescimento dos casos de sífilis, de consequências graves e cujo combate,
segundo técnicos do ministério, requer medicamentos que estão em falta. Será que já providenciaram a compra?! Mas, que coisa (!), tudo
isso são apenas detalhes. l
Andrea Gouvêa Vieira é jornalista e ex-vereadora
previsão de não cumprimento,
em 2033, da meta de universalização do saneamento prevista
no Plano Nacional de Saneamento Básico é uma miopia dos gestores
públicos brasileiros. O problema não é a
falta de engenheiros, projetos e muito menos de recursos financeiros. O que não há
é uma gestão pública comprometida.
Historicamente, o saneamento ambiental no país nunca foi prioridade
de investimento para a manutenção
da sadia qualidade de vida da população, como garante a legislação vigente. Embora a Organização Mundial de
Saúde afirme que, para cada unidade
de dinheiro investido em saneamento, se economize até cinco em saúde,
o país continua ignorando esta conta.
Dados do Instituto Trata Brasil mostram
que, para atingir a universalização do saneamento, seriam necessários investimentos de R$ 270 bilhões. Porém, segundo a
Confederação Nacional da Indústria, o investimento em saneamento manteve uma
média de R$ 7,6 bilhões por ano no período de 2002-2012 e, se considerarmos este
mesmo ritmo de investimento para as próximas décadas, estima-se que toda a população do país só seja atendida com água
encanada em 2043 e, com acesso à rede de
esgoto, somente em 2054.
O problema é que não se pode atribuir
este déficit de saneamento apenas à ausência de investimentos, pois mesmo
quando os recursos são destinados de forma concentrada em algumas regiões do
Brasil, os resultados se mostram insatisfatórios. Isto pode
ser comprovado
Índices de
analisarmos
tratamento de ao
os resultados pífiesgoto são
os do Programa
de Despoluição
vexatórios
da Baía de Guanabara, que se iniciou ainda na década de
80, no qual já foram gastos mais de R$ 10
bilhões, e que não foi concluído, sendo alvo de inúmeras críticas, principalmente
em função das ameaças ao projeto olímpico de 2016.
Outro debate importante é que a água
tratada se tornou um dos mais importantes ativos públicos, com 93,2% da
população atendidos, segundo os dados oficiais do Ministério das Cidades.
O problema é o esgoto, que atende apenas à metade da população e tem uma
perspectiva de mais de 40 anos de atraso para a sua universalização.
Isto está relacionado ao fato de o esgoto ser considerado, há décadas, a metade pobre e oculta do saneamento,
sendo tratado pelos gestores públicos
com descaso e sem o devido retorno esperado pelos contribuintes, que pagam
pelos dois serviços.
Infelizmente, estes índices de tratamento de esgoto são vexatórios e somos, cada vez mais, o país dos rios poluídos, das praias impróprias para banho e do esgoto a céu aberto.
Não faltam engenheiros capacitados
e qualificados para planejar, executar as
obras e para operar os sistemas. Podemos afirmar que temos uma das melhores formações em Engenharia Sanitária
do mundo.
O reconhecimento antecipado do governo federal de não atingir as metas de
universalizar o saneamento é uma vergonha nacional! l
Reynaldo Barros é presidente do Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia do
Rio de Janeiro (Crea-RJ)
14
l O GLOBO
l Rio l
Terça-feira 23 .2 .2016
Austrália proíbe atletas de irem
a favelas durante as Olimpíadas
REPRODUÇÃO
País diz que mulheres devem ter US$ 10 no bolso para caso de ameaça
REPRODUÇÃO
GUILHERME RAMALHO
[email protected]
A chefe da delegação olímpica australiana, Kitty Chiller, afirmou ao jornal “Herald Sun” que os atletas do país não poderão circular por favelas e outras áreas
consideradas perigosas durante os Jogos
no Rio, em agosto. A reportagem, publicada no site do veículo no último domingo, afirma que especialistas em segurança estão preparando uma lista de
“locais perigosos” da cidade. Kitty citou
o assassinato da turista argentina Laura
Pamela Viana, morta a facadas na Praia
de Copacabana, na semana passada.
Segundo o jornal, nos Jogos Olímpicos
de 2012, em Londres, os atletas australianos puderam circular livremente pela cidade, o que não acontecerá este ano no
Rio. Nem mesmo os passeios oficiais dentro de favelas serão permitidos.
“Não queremos atletas trancados em
seus quartos a partir das 20h, mas temos o dever de cuidar deles. Algumas
áreas serão banidas. Não permitiremos
que qualquer pessoa entre nas favelas.
É a recomendação do Departamento
de Relações Exteriores e Comércio da
Austrália”, disse Kitty ao jornal.
No ano passado, a secretária-geral do
Comitê Olímpico Australiano, Fiona de
Jong, também fez críticas à segurança na
cidade. Afirmou ainda que os australianos “terão que ser cuidadosos na escolha dos lugares aonde vão, especialmente à noite e depois das competições”.
De acordo com Kitty, haverá protocolos de segurança para os competidores:
“As atletas do sexo feminino não devem
viajar fora do grupo por conta própria,
não podem vestir nada que não possa
ser perdido e devem sempre ter US$ 10
no bolso em caso de ameaça”, disse.
O alerta veio acompanhado de outra
preocupação, com o vírus zika. A chefe
da delegação afirmou que as atletas
que estiverem pensando em engravidar terão liberdade para decidir se participarão ou não das Olimpíadas.
DO HOTEL PARA A PISCINA E VICE-VERSA
As recomendações parecem não ser tão
severas para os dez atletas australianos
que estão no Rio para participar da Copa
do Mundo de Saltos Ornamentais, realizada no Centro Aquático Maria Lenk, na
Barra. A competição, que começou na última sexta-feira e termina amanhã, serve
de evento-teste para os Jogos. Segundo a
atleta Samantha Mills, de 23 anos, não há
qualquer tipo de proibição para a equipe.
Ela contou que a rotina dos integrantes
do grupo tem sido basicamente sair do
hotel, ir para a piscina (a seis quilômetros) e voltar.
— Só recebemos recomendações básicas, como não falar com estranhos.
Mas o hotel é seguro. Vamos embora na
sexta-feira de manhã e só conheceremos outras partes da cidade na quinta-
Preocupação.
A reportagem,
publicada pelo
“Herald Sun”:
especialistas em
segurança estão
preparando uma
lista de “locais
perigosos” da
cidade para
atletas evitarem
feira, quando faremos um grande passeio guiado, de ônibus, pelos principais
pontos turísticos — disse Samantha,
que já garantiu sua vaga para os Jogos.
— Concordo com a preocupação com a
segurança. Entendo por que querem
evitar a ida a favelas. O ideal é fazer tudo perto da vila. Não sabemos o que vai
acontecer nas Olimpíadas. Haverá
muito mais atletas e delegações.
A atleta Teju Williamson, de 16 anos,
também concorda com a recomendação de não entrar em favelas.
— Há lugares que não parecem seguros e que podemos evitar.
A embaixada da Austrália no Brasil disse
que o governo do seu país disponibiliza
recomendações para os viajantes no site
http://smartraveller.gov.au/countries/brazil. Na parte sobre segurança, está dito que
a incidência de crimes violentos, como assaltos à mão armada, é significativa, principalmente no Rio, em São Paulo, Recife,
Salvador e outras cidades grandes.
A Secretaria de Segurança e o comitê
organizador dos Jogos foram procurados para falar sobre o assunto, mas não
responderam à solicitação. l
Sujeira. Vídeo em reportagem mostra atletas navegando em águas marrons
Vídeo satiriza poluição da Baía
e da Lagoa para os Jogos
Animação mostra atletas
remando em águas
marrons e com diarreia e
vômito após competição
As condições das águas da Baía
de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, onde serão realizadas provas de vela e remo,
ainda causam polêmica às vésperas das Olimpíadas. Um vídeo do site Taiwan TomoNews,
que ilustra uma reportagem sobre a poluição dos dois locais,
mostra atletas em meio a lixo e
águas marrons por causa do esgoto despejado. Em pouco mais
de um minuto, a animação não
poupa sequer o Cristo Redentor, que aparece defecando.
O desenho também explora os
supostos riscos que os competidores poderiam enfrentar ao entrar na água. Atletas são mostrados sofrendo de diarreia e vômito. O vídeo diz ainda que houve
orientação para que os participantes dos Jogos sejam vacinados contra Hepatite A e tomem
banho ao saírem das provas. Segundo a publicação, que confundiu a promessa de despoluição
da Baía com a da Lagoa, “quando
se candidatou a ser sede dos Jo-
gos, o Rio prometeu ao COI eliminar 80% de esgoto da Lagoa
que receberá eventos de remo e
canoagem e revitalizá-la. Mas isso não acontecerá porque faltaram comprometimento, fundos
e energia. A água não está apenas
cheia de lixo, mas também com
vírus e bactérias. Atletas receberam recomendação para tomarem vacina contra Hepatite A,
pólio e pílulas contra tifo. Barcos
serão constantemente limpos
com água sanitária”, diz o site.
O vídeo gerou indignação
entre brasileiros. Em redes sociais, usuários postaram fotos
de praias limpas. Procurado
ontem, o prefeito Eduardo Paes não comentou o vídeo. O
Comitê Rio 2016 não retornou
os pedidos do GLOBO.
A Cedae afirmou, em nota,
que o vídeo não expressa a opinião de um governo ou entidade ligada aos Jogos. Também
disse, que nos últimos oito anos
e meio, o governo do Rio fez
com que o índice de esgoto tratado saltasse de 11% para 51%, e
que superará os 80% nos próximos três anos. Lembrou ainda
que, durante eventos-teste, as
raias olímpicas estavam dentro
dos padrões exigidos para a
prática esportiva. l
Terça-feira 23 .2 .2016
O GLOBO
Economia
ARND WIEGMANN/REUTERS
Renegociação de dívidas
PÁG. 18
R$ 9,4 bi
l 15
Fazendo caixa
PÁG. 19
BTG VENDE BANCO
SUÍÇO BSI POR R$ 4 BI
É o alívio que os estados
vão ter, em 12 meses, com
o alongamento das dívidas renegociadas com a
União, desde que se comprometam a cortar gastos
Após a prisão do banqueiro André Esteves, grupo busca
se desfazer de ativos. Comprador foi grupo financeiro EFG
PROBLEMAS SEM FIM NO E-SOCIAL
Difícil entrar, impossível sair
_
Sistema para pagar FGTS de domésticas não registra demissão. Na Caixa, falta informação
MARCOS ALVES
MARCELLO CORRÊA
[email protected]
Se fazer o cadastro de empregados domésticos no
e-Social — sistema criado para recolher as novas
contribuições — já causou dor de cabeça para muitos patrões no ano passado, dar baixa de um funcionário em caso de demissão pelo novo sistema tem
sido uma missão impossível. Isso porque, quatro
meses após seu lançamento, a plataforma ainda
não tem uma função para formalizar o desligamento de empregados. Sem o recurso, as guias para pagamento das contribuições continuam sendo geradas, mesmo após a saída da doméstica.
Quando decidiu demitir a empregada, em dezembro, a fisioterapeuta Patrícia Macedo não tinha ideia de como proceder. Ela dispensou a
empregada no dia 18 daquele mês e teve de pesquisar muito. Hoje, acha que conseguiu acertar
as contas, mas ainda tem dúvidas.
— Este mês de fevereiro, que pagaria relativo
ao trabalho de janeiro, o nome dela ainda estava
lá no sistema. Fiz tudo direitinho, paguei o 13º
salário. Mas não sei se em março agora vai gerar
de novo — conta Patrícia, que acha o sistema
tão confuso que sequer sabe explicar como fez.
— Mexi em muita coisa.
O maior problema citado pelos usuários é que,
sem a previsão de demissão no sistema, o cálculo
da verba rescisória é mais complicado. Se o empregado tiver direito à multa de 40% sobre o FGTS, como nos casos de demissão sem justa causa, é preciso gerar uma guia separada no site da Caixa Econômica Federal. O documento, chamado Guia de Recolhimento Rescisório do FGTS (GRRF), calcula o
valor da multa e demais verbas a serem pagas, como salário, férias e
13º proporcionais.
Depois disso, é preciso ir ao e-Social para
gerar a guia de recolhimento relativa ao
último mês de trabalho. Nesse caso, é
preciso editar o Documento de Arrecadação (DAE), para
desmarcar as linhas
de contribuição do
FGTS relativo àquele
mês, porque esses
valores já devem ter
sido lançados na GRRF. Além disso, o patrão precisa imprimir o termo de rescisão do contrato de trabalho e entregar ao funcionário.
Ainda assim, o trabalhador continua constando como funcionário, já que é impossível dar
baixa no empregado. A Receita Federal, responsável pelo sistema, admite que o e-Social ainda
não conta com a “funcionalidade” de demissão.
O manual disponível no site da ferramenta avisa que a opção só será lançada “no futuro”.
Segundo o Fisco, a previsão é que a função entre no ar em março. “Melhorias no e-Social estão
sendo implantadas continuamente. Como qualquer sistema, as funcionalidades são adicionadas
aos poucos”, afirmou o órgão, em resposta ao
GLOBO. A Receita informou ainda que o sistema
tem hoje 1,2 milhão de empregados cadastrados.
A Receita
Federal admite
que o e-Social
ainda não
conta com a
“funcionalidade”
de demissão
DOMÉSTICAS DEMORAM A CONSEGUIR SACAR FUNDO
Por enquanto, para evitar que as guias para pagamento continuem a ser geradas mesmo com o
empregado demitido, a solução é alterar o salário
para R$ 0,00 mensalmente, a partir do mês seguinte à demissão. O empregado continuará
constando como funcionário, mas não haverá
cobrança de encargos. Caso o doméstico tenha filhos com direito a salário-família, também é preciso editar a área de dados cadastrais e, na guia
“Dependentes para Fins de Recebimento de Salário-Família”, marcar a opção “não”.
Um erro comum dos patrões é tentar clicar no
botão “excluir”, ao lado do nome do empregado
demitido. A Receita explica que esse não é o procedimento correto. O comando apenas faz com que
as informações sobre o empregado fiquem indisponíveis, mas não as elimina do sistema nem interrompe a geração de débitos.
— Se excluir, acaba com todo o histórico. Isso
não é recomendado. O problema é que o governo
lançou o sistema sem a função — explica Mario
Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal,
que enviou uma lista ao Comitê Gestor do e-Social com sugestões para melhorar o sistema.
Enquanto a função de demitir não é criada, domésticos que conseguirem um novo emprego po-
Dúvidas sem resposta. A fisioterapeuta Patrícia Macedo teve dificuldades para demitir sua empregada em dezembro. Até agora, não sabe se terá encargos em março
U
A VIA-CRÚCIS PARA ENCERRAR O CONTRATO DE TRABALHO
ELABORE O TERMO DE RESCISÃO: Não basta uma
carta escrita a mão. É preciso baixar um arquivo no
site do e-Social e preencher informações como
quantidade de horas extras, 13º proporcional e
deduções para o Imposto de Renda. O cálculo dos
valores deve ser feito manualmente. É importante
que o documento siga o modelo oficial. Do contrário,
não será aceito pela Caixa Econômica Federal,
quando o empregado for sacar o Fundo
GERE A GUIA DA CAIXA: Em casos de demissão sem
justa causa, é preciso ainda gerar a Guia de
Recolhimento Rescisório do FGTS (GRRF). O
documento será usado para recolher a multa sobre as
verbas rescisórias, como o 13º salário e o aviso-prévio
indenizado. A guia também serve para encerrar as
cobranças mensais relativas ao FGTS
PREENCHA A GRRF: O empregador deve informar o
valor da remuneração no mês da rescisão. O campo
“valor remuneração mês anterior à rescisão” deve ser
deixado em branco, caso o patrão esteja em dia com o
e-Social, ou seja, já tenha recolhido o FGTS daquele
mês. O espaço “saldo da conta FGTS Trabalhador”
também deve ficar zerado, se o empregador só
passou a contribuir para o Fundo a partir de outubro,
quando o recolhimento passou a ser obrigatório. Ao
pagar o e-Social nos meses anteriores, já houve uma
cobrança para cobrir a multa de demissão
dem ficar cadastrados como funcionários de dois
empregadores diferentes ao mesmo tempo. Segundo a Receita, isso não impede que o empregado seja recontratado. E o Ministério do Trabalho
informou que a permanência no e-Social não impede o demitido de requerer o seguro-desemprego. Para conseguir o benefício, basta apresentar o
termo de rescisão e a carteira de trabalho.
O advogado Otavio Pinto e Silva, sócio do escritório Siqueira Castro, explica:
— A legislação não exige exclusividade na prestação de serviços. Em tese, a pessoa pode ter dois empregos e pode ter dois registros. Isso não inviabilizaria a recontratação. Mas é lógico que é importante
que exista essa funcionalidade no sistema, para que
o empregado se sinta confortável com a extinção de
um contrato que não existe mais.
Para os empregadores, a existência de dois
SAQUE DA MULTA PELO EMPREGADO: A GRRF deve
quitada em qualquer agência da Caixa. A partir do
quinto dia útil após o pagamento, o empregado pode ir
ao banco para sacar o fundo e a multa rescisória. O
funcionário do banco não pode exigir a homologação
PREENCHA O DAE NO E-SOCIAL: No e-Social, o
empregador deve informar, como remuneração do
mês, a soma das verbas rescisórias — o mesmo valor
informado na guia da Caixa. Nesse caso, o valor será
usado para calcular a contribuição ao INSS do último
mês trabalhado pelo empregado doméstico.
EXCLUA O PAGAMENTO DE FGTS: Normalmente, a
guia do e-Social calcula a contribuição para o FGTS.
No mês da rescisão é diferente. Essa cobrança é feita
por meio da guia da Caixa. Para não contribuir
duplamente, o empregador deve desmarcar a linha
“FGTS”, antes de gerar o DAE. Só devem ser
mantidos os valores relativos ao INSS.
SALÁRIO ZERO NO E-SOCIAL NOS MESES SEGUINTES:
O empregado continuará no sistema, mesmo após a
demissão. Para evitar cobranças, é preciso lançar
salário R$ 0,00 nos meses seguintes à rescisão. Nos
casos em que houver contribuição para o salário
família, é necessário ainda marcar “não” na opção do
sistema sobre o pagamento do benefício, para que
também não seja gerada a cobrança.
sistemas trabalhando separadamente aumenta
o risco de de erros e pagamentos indevidos, como aconteceu com Renata Maia, que acabou
pagando o FGTS duas vezes:
— Consegui (fazer a demissão), mas tive um estresse enorme. Fiz muita pesquisa para encontrar
informações de como pagar a rescisão. Depois que
paguei, minha funcionária foi à Caixa, mas não
conseguiu sacar porque o recibo que eu dei não era
o oficial. Lógico, eu não tinha ideia de que era preciso tal documento. Então encontrei o documento
correto na internet e demorei mais um tempão para
descobrir os códigos para preenchimento. Mas o
que mais me incomodou foi pagar mensalmente a
porcentagem para rescisão, embutida no Simples, e
ter de pagar de novo à Caixa a multa total.
O problema também atinge as domésticas,
que acabam demorando mais para receber. No
Sindoméstica, sindicado das empregadas de
São Paulo, os problemas têm sido constantes.
— A Caixa não está muito bem informada sobre
esse programa. Muitas vezes eles não localizam o
depósito, a empregada vem aqui. Aí a gente fala
para irem a outra agência, e conseguem — relata
Maria Sirlene de Souza, auxiliar administrativa
que trabalha no atendimento do sindicato.
Procurada, a Caixa informou que todo o procedimento pode ser feito pelo site do banco, por
meio da GRRF. Segundo a instituição, além de servir para calcular as verbas rescisórias, a ferramenta
informa quando o empregado pode comparecer à
agência para sacar o dinheiro. O banco destacou
que não é preciso apresentar a homologação, apenas o termo de rescisão e o comprovante de pagamento do e-Social.
A complexidade do sistema tem feito profissionais como a administradora Claudia Sepulveda,
especializada em consultoria para empregadores
domésticos, ampliar a clientela. Ela conta que dobrou o número de atendimentos desde que o eSocial foi ao ar:
— Não é que o o sistema seja malfeito. Ele é relativamente bom para uma pessoa que tenha
uma noção. Além disso, você precisa ter conhecimento básico da legislação.
‘IMPOSSÍVEL CALCULAR SOZINHA’
Uma de suas clientes, a psicóloga Monique Leal,
simplesmente desistiu de tentar entender a nova
plataforma. Ela acabou ficando no prejuízo ao não
conseguir lançar corretamente as informações de
sua empregada, que entrou em licença-maternidade. O e-Social não prevê essa situação e acaba
descontando a contribuição ao INSS total. Por lei,
a parte da empregada deve ser deduzida diretamente de seu salário-maternidade. Para evitar isso, também é preciso alterar manualmente a guia
do e-Social, o que Monique não fez.
— O sistema é uma entidade. Quando é o salário, é tranquilo. Mas em qualquer evento trabalhista, você fica perdido — queixa-se Monique.
A empresária Patricia Guarnieri também está
insatisfeita com o sistema:
— Impossível fazer sozinha os cálculos dos impostos a serem pagos por ocasião do desligamento
da funcionária, quer demitida ou demissionária. l
A WEB
http://bit.ly/1KOzvEF
Calculadora de encargos sobre salário da
empregada doméstica
16
l O GLOBO
l Economia l
Terça-feira 23 .2 .2016
Em janeiro, um quinto dos acordos
coletivos teve redução de salário
[email protected]
MÍRIAM
LEITÃO
Trabalhadores aceitaram ter jornada menor e ganhar menos, mostra Fipe
DAIANE COSTA
|
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COM ALVARO GRIBEL (DE SÃO PAULO)
O Plano Barbosa
No Plano Barbosa, o aumento do déficit é
imediato, e o limite para a despesa é uma
possibilidade futura. A reforma da Previdência é
só uma lista do que será discutido no Fórum e
na qual não há a idade mínima. O sistema de
limitar os gastos será anunciado depois, e a
ameaça mais dura, a de não dar aumento real
para o salário mínimo, é factoide, porque já não
haverá aumento real do mínimo até 2019.
O
ministro Nelson Barbosa quis dar ao seu
plano um ar de reforma estrutural, mas é o
mais escancarado projeto de aumentar o
desequilíbrio fiscal do país. Na prática, o Ministério
da Fazenda joga a toalha e empurra com a barriga.
O que ele chama de “reforma fiscal” é uma coleção de ideias preliminares de projetos ainda não
formulados. Mas o que ele chama de “espaço fiscal” é o eufemismo para déficit, que vai se tornar
realidade já, em 2016. Quem achou alto o rombo de
1% do PIB deve ler o “Valor Econômico” de ontem,
em que o ministro mostra que há mais déficit por
aí. Quando os jornalistas Ribamar Oliveira e Leandra Peres perguntaram se o impacto da renegociação da dívida dos estados e municípios está incluído nos R$ 84 bilhões de gastos excedentes às receitas que o governo anunciou na sexta-feira, ele respondeu: “seria preciso fazer o recálculo e adicionar
isso aos R$ 84 bilhões”. E “isso" é um custo de R$ 36
bilhões.
Quanto à reforma fiscal, ela funcionará assim: será formulado um projeto de lei para incluir na Lei
de Responsabilidade Fiscal um limite plurianual
de gastos federais que fique abaixo dos atuais 19%
do PIB. Quando estiver aprovado, o Plano Plurianual será alterado para incluir esse limite. A Lei de
Diretrizes Orçamentárias estabelecerá, então, um
valor nominal de teto de despesas, que será seguido no Orçamento dos
U
anos vindouros.
Os pontos-chave
E se o limite estiver
sob ameaça de não ser
cumprido será disparado um gatilho que
Única certeza que se tem
imporá uma série de
no plano econômico de
restrições em três estáNelson Barbosa é que o
gios. Parece bom, mas
déficit público vai aumentar
vejamos as restrições.
Elas começam impedindo ampliação das
Governo ameaçou não dar
desonerações, aumenaumento real ao mínimo,
to dos gastos de cusmas ele já não terá
teio, aumento de desaumento real até 2019
pesas discricionárias.
No segundo estágio,
tem, entre outras coisas, o “impedimento
Déficit aumentará porque o
de aumento de subsícusto da renegociação da
dios”. Convenhamos,
dívida dos estados não
tudo isso tinha que esentrou na conta
tar cortado desde já,
este é o terceiro ano de déficit primário. O último
ponto do terceiro estágio — ou seja, a pior das ameaças — é a “suspensão do aumento real do salário
mínimo”.
Mas o fato é que o salário mínimo já não terá aumento real até 2019 porque a fórmula estabelece que
ele sobe de acordo com a inflação do ano anterior e o
crescimento de dois anos antes. Como se sabe, o país
teve recessão no ano passado, terá este ano e deve ficar em zero em 2017. Aplicando-se a fórmula, só há
possibilidade de aumento real, ou seja, acima da inflação, em 2020, e se o país crescer em 2018. Resta
apenas uma dúvida: o governo anunciou isso porque
pensa que somos todos bobos?
Sobre a reforma da Previdência, o que houve até
agora é o seguinte: foi criado o Fórum há tempos.
Falou-se muito dele, mas ele só fez uma reunião, a
da semana passada. E tudo o que aconteceu é que
foram listados itens de discussão. Nestas conversas
preliminares já houve um desfalque importante:
sumiu a proposta do ministro Nelson Barbosa de
que seja incluída a idade mínima de aposentadoria, como existe na maioria absoluta dos países. Ele
já entrou perdendo a discussão.
O governo promete para até o final de abril uma
proposta de reforma da Previdência, mas o ministro
disse que ela só terá impacto fiscal positivo daqui a
10 anos. O problema é que o déficit está explosivo.
Nos últimos dois anos deu um salto ornamental. Só o
déficit do INSS foi de R$ 56,6 bilhões em 2014, pulou
para R$ 85,8 bilhões no ano passado e a projeção
deste ano é de R$ 120 bilhões. O ministro Nelson Barbosa disse que o gasto com a Previdência e com os
benefícios de longo prazo (Loas) consomem 44% do
Orçamento. Os benefícios para servidores civis e militares consomem outros 10%. E ele ainda acha que
temos 10 anos para resolver isso.
Barbosa promete que através do seu plano o país
conseguirá “conter a pressão pelo aumento de carga
(tributária)”. Como se diz hoje em dia: é brincadeira. l
1
[email protected]
Quase um quinto dos acordos
salariais firmados em janeiro
resultou em redução de jornada e salários para o trabalhador. É o que mostra o “Salariômetro”, estudo elaborado desde 2007 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
(Fipe). O levantamento aponta
que houve um salto no número
de negociações com imposição de perdas: de dois, em janeiro de 2015, para 50, de um
total de 261 negociações firmadas no mês passado. Destes 50,
39 utilizaram o Programa de
Proteção ao Emprego, criado
pelo governo federal em 2015.
A proposta permite a redução
da jornada de trabalho em até
30%, com a respectiva diminuição do salário.
— De janeiro de 2015 a janeiro deste ano, foram feitos mais
de 300 acordos com redução
salarial. É um número pequeno no universo de 20 mil acordos coletivos que são feitos por
ano, mas esse crescimento verificado entre os meses de janeiro mostra que há uma tendência de alta. A maior parte
dos acordos de redução é na
indústria metalúrgica, mas a
tendência já está se espalhando para outras indústrias e
agora para serviços — explica o
economista Hélio Zylberstajn,
professor da Universidade de
São Paulo (USP) e coordenador do estudo.
REAJUSTE MÉDIO DE 10%
Com o poder de barganha afetado pela recessão, que já extinguiu 1,5 milhão de vagas
formais nos últimos 12 meses,
os trabalhadores começaram o
ano com dificuldades para obter ganho real nas negociações
salariais. Segundo Zylberstajn,
mais da metade dos 261 acor-
_
oglobo.com.br/economia/miriamleitao
NOS ÚLTIMOS 12 MESES, EM
311 ACORDOS FIRMADOS,
TRABALHADORES TIVERAM
REDUÇÃO DE SALÁRIO
13
2
Jan
0
0
Fev
Mar
Abr
46
42
45
30
28
23
21
11
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
2015
Fonte: FIPE
Jan
2016
Editoria de Arte
“Há um ano, a
negociação
começava com a
taxa de inflação e a
negociação do
ganho real. Agora, é
quanto a menos vão
ganhar. Hoje, o
jogo é esse”
Hélio Zylberstajn
Coordenador do “Salariômetro”
dos coletivos negociados em
janeiro não conseguiram sequer obter a reposição da inflação. O “Salariômetro” indica
que a mediana dos reajustes
com vigência em janeiro foi de
10%, 1,3 ponto percentual
abaixo da inflação acumulada
nos 12 meses anteriores, que
foi de 11,3%, segundo o INPC,
que serve como base para essas negociações.
— Durante mais de dez anos,
observamos aumentos reais
nas negociações coletivas. As
empresas repunham a inflação
e davam algo a mais. Mas, com
a recessão que estamos vivendo, elas não estão conseguindo
nem repor o INPC. O resultado
é trabalhadores ganhando menos do que um ano atrás em
termos reais. Há um ano, a negociação começava com a taxa
de inflação e a negociação do
ganho real. Agora, é quanto a
menos vão ganhar. Hoje, o jogo
é esse — ressalta o coordenador do estudo.
É o terceiro mês consecutivo
em que, na média, os trabalhadores não obtêm aumento real.
Há um ano, a realidade era exatamente oposta: como as expectativas para a economia
eram menos pessimistas e a alta
de preços, menor, os trabalhadores tiveram, em média, reajuste real de 1,3% sobre uma inflação acumulada de 6,2%.
Como as empresas estão
pressionadas por aumento de
custos e queda da demanda, o
trabalhador fica sem alternativas e sem poder de barganha,
complementa Zylberstajn:
— Quando as coisas estão
bem, o trabalhador pressiona,
e a empresa pode dar, porque
está vendendo. Mas, agora, ela
tem de cortar os custos. A posição da empresa é essa: ou vocês concordam com um ajuste
mais modesto, ou vamos ter de
demitir. Esse é o jogo na mesa
da negociação. Infelizmente.
REVERSÃO SÓ COM CRESCIMENTO
Para o economista, a trajetória
de queda do ganho real ainda
está longe de ser revertida:
— Isso é consequência da situação da economia. Essa tendência só se reverterá quando
a economia voltar a crescer.
Daí as empresas vendem, contratam. Mas isso não é imediato. Para a gente ver essa reversão, o primeiro ponto é o Brasil
voltar a crescer.
Ainda de acordo com o estudo da Fipe, a mediana dos pisos com vigência em janeiro de
foi R$ 940 (6,8% maior que o
salário mínimo, de R$ 880). l
JATINHO ‘ON DEMAND’
2
3
50
NEGOCIAÇÕES
SALARIAIS COM PERDAS
Sauditas investem em ‘Uber dos ares’
VICTOR J. BLUE
Família real faz
segundo aporte
milionário na empresa
BLOOMBERG NEWS
-MOSCOU-
V
oar em um jatinho
particular está ganhando ares de
Uber. E a família
real da Arábia Saudita está
apostando alto na iniciativa.
Ela fez um aporte de US$
26,1 milhão na JetSmarter,
empresa que permite agendar voos nesse tipo de avião
pelo smartphone. Esse não é
o único investidor de peso
da companhia, que também
obteve capital do rapper
Jay-Z. A realeza saudita já tinha investido US$ 20 milhões na JetSmarter em julho do ano passado.
A empresa ganha com uma
espécie de característica dos
Descomplica. JetSmarter oferece assentos e voos em jatinhos particulares
aviões particulares. Essas aeronaves não são muito usadas, explica Sergey Petrossov, fundador da JetSmarter. Ou ficam paradas em aeroportos ou voam
vazias para buscar clientes. Os
assentos desocupados e os voos
podem ser oferecidos a viajantes por menos do que o preço típico para fretar um jatinho sem
muita complicação e por uma
taxa semelhante a uma passagem de primeira classe.
Petrossov compara a JetSmarter ao Uber Black. Só que, em
vez de embarcar num luxuoso
Mercedes-Benz, a viagem é feita
em um jatinho. A ideia surgiu a
partir da experiência pessoal.
Em 2009, o empresário quis fre-
tar um avião particular e precisou preencher vários formulários e enviar faxes. A demora e burocracia deram a
dica para o empreendimento.
Uma passagem em um
voo em um Learjet 45 em
trajetos populares nos EUA,
como Nova York-Miami, para o início de março custa
US$ 1.990, com compra mínima de quatro lugares.
A JetSmarter também tem
seu lado Netflix. Ela oferece
espaço em voos que partiriam vazios e faz vendas de último minuto sem cobrar a
membros que pagam taxa
anual. Mas, a tarifa é um
“pouco” mais cara do que a
do serviço de streaming:
US$ 9 mil por ano.
A JetSmarter, que transportou 35 mil pessoas em 2015,
já voa de Riad para Dubai e
vai oferecer voos na Europa a
partir de abril. Os planos incluem novos destinos, como
Hong Kong e Moscou. l
Classificados do Rio.
Achou de verdade.
classificadosdorio.com.br
2534-4333
Terça-feira 23 .2 .2016
l Economia l
O GLOBO
l 17
18
l O GLOBO
l Economia l
Terça-feira 23 .2 .2016
Estados terão alívio de até R$ 12,5 bilhões
Renegociação das dívidas com a União e o BNDES deve ampliar déficit nas contas públicas este ano
ANTONIO SCORZA/12-11-2014
MARTHA BECK
[email protected]
-BRASÍLIA- O rombo nas contas públicas de 2016 po-
derá ser maior que os R$ 60,2 bilhões, ou 0,97%
do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e
serviços produzidos no país), sinalizados pela
equipe econômica na semana passada. Isso porque o Ministério da Fazenda está negociando
com os governadores um alongamento da dívida
dos estados com a União por um prazo de 20
anos. Assim, quando esse processo se concretizar, a contribuição que eles dão para a meta fiscal
a cada mês será menor e aumentará o déficit primário previsto para o setor público. Segundo os
técnicos da equipe econômica, ainda não há um
cálculo preciso de qual será o impacto da renegociação na meta de 2016. As contas do Tesouro Nacional mostram apenas que, num período de 12
meses, o alongamento das dívidas daria um alívio
de R$ 9,4 bilhões aos governadores. Somando a
esse número outros R$ 3,1 bilhões da ampliação
por dez anos do prazo das dívidas com o BNDES
(que também está em curso), o total chega a R$
12,5 bilhões. Assim, se as negociações já tivessem
sido concluídas, o impacto no resultado primário
poderia ser nesse mesmo montante.
Segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) em vigor, o compromisso da área econômica é realizar uma meta de superávit primário
(poupança para o pagamento de juros da dívida
pública) de R$ 30,55 bilhões, ou 0,5% do PIB.
Deste total, R$ 24 bilhões cabem à União e R$
6,55 bilhões a estados e municípios. No entanto,
o governo federal já anunciou que vai pedir ao
Congresso autorização para mudar a LDO e
abater R$ 84,2 bilhões com frustração de receitas e aumentos de gastos de sua meta. Isso
transformaria o número num déficit de R$ 60,2
bilhões. Do total de R$ 84,2 bilhões que o governo prevê descontar da meta fiscal, R$ 30,5 bilhões são de frustração de receitas administradas e R$ 41,7 bilhões de receitas extraordinárias.
Há também previsão de descontar eventuais
aumentos de gastos com saúde (R$ 3 bilhões) e
investimentos prioritários (R$ 9 bilhões).
CORTE DE GASTOS AFETA MAIS O PAC
Apesar do alívio potencial de R$ 12,5 bilhões nas
contas estaduais, os técnicos do Tesouro alertam
que o impacto será muito inferior. Primeiro porque a renegociação dos contratos depende de
uma alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), que precisa ser aprovada pelo Congresso.
Além disso, as conversas com cada estado têm ritmos diferentes e estão atreladas a uma série de
condicionantes. Para se beneficiarem, os governadores precisam, entre outras coisas, aprovar leis de
responsabilidade fiscal estaduais, implementar regimes próprios de Previdência e conter gastos com
pessoal. Eles também têm de assumir o compromisso de aderir à reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e dar
apoio a iniciativas da presidente Dilma Rousseff,
como a recriação da CPMF e a Desvinculação de
Receitas da União (DRU), que também pode ser
Impacto. Tanque de tratamento de água da Estação do Guandu, uma das obras do PAC. Corte de gastos afeta investimentos
ampliada para estados e municípios.
classificação A ou B na avaliação do Tesouro (o
— Tudo está amarrado para que não haja um que significa ter um selo de bom pagador) e esdesequilíbrio. Não é simplesmente abrir espaço tar com os indicadores da LRF dentro dos limipara gastos. Os estados podem até reduzir um tes, ou seja, não gastar mais de 60% das receitas
pouco sua contribuição para o (resultado) pri- com pessoal.
mário no início, mas, no médio prazo, o resultaEnquanto o Congresso não se posicionar sobre
do será mais austeridade — afiras mudanças na LDO, no entanto, a
U
mou um integrante da equipe ecometa em vigor, de 0,5% do PIB, tem
nômica. — Além disso, o Tesouro
de continuar a ser perseguida. Por isNúmeros
não está reduzindo as dívidas que
so, o governo anunciou na semana
os estados têm que pagar. Ele está
passada um corte de R$ 23,4 bilhões
dando um prazo maior para que
no Orçamento de 2016. Nessa tesouR$ 3,1
elas sejam pagas.
rada, os investimentos do Programa
BILHÕES
Esse técnico afirmou que a prode Aceleração do Crescimento (PAC)
É o alívio dos estados
posta que será encaminhada ao
foram os maiores prejudicados. Seu
com a ampliação por
Congresso para alterar a LDO de
contingenciamento foi de R$ 4,234
dez anos do prazo das
2016 não trará uma estimativa de
bilhões. Nos ministérios, o principal
dívidas com o BNDES
quanto a meta de estados e municícorte foi na pasta de Minas e Energia,
pios ficará menor. Mas o texto terá
R$ 3,146 bilhões, seguida por Saúde,
uma previsão afirmando que, caso
R$ 2,530 bilhões, e Educação, R$
R$ 4,234
os estados assinem os contratos de
1,303 bilhão. Como Saúde e EducaBILHÕES
renegociação das dívidas ao longo
ção têm os maiores orçamentos enÉ o valor do
do ano, o esforço fiscal desses entes
tre os ministérios, eles têm o maior
contingenciamento de
poderá ser menor que o previsto.
corte proporcionalmente.
investimentos do PAC
Além do alongamento da dívida,
Procurados pelo GLOBO, os minisno corte de gastos
a Fazenda negocia outras benesses
térios do Planejamento, responsável
com os governadores. Os limites para operações pela gestão do PAC, Minas e Energia e Educação
de crédito com aval da União subirão de R$ 12 ainda não informaram quais áreas serão mais
bilhões para R$ 17 bilhões este ano. Também afetadas pelos cortes. A pasta da Saúde assegurou
será dado um limite extra de R$ 3 bilhões para que não haverá impacto sobre programas estratéfinanciamentos sem garantia do Tesouro, so- gicos como o de combate ao vírus zika, mas informando um total de R$ 20 bilhões. Para terem di- mou que ainda está definindo onde os cortes sereito a esses benefícios, os governos regionais rão feitos. Hoje, os secretários executivos dos miterão de obedecer a alguns critérios, como ter nistérios se reúnem no Ministério do Planeja-
mento para discutir o cenário fiscal e os impactos
do contingenciamento sobre as pastas.
Embora o contingenciamento de 2016 tenha sido inferior ao realizado em anos anteriores (o total registrado em 2015 chegou a quase R$ 80 bilhões), a equipe econômica destaca que ele é significativo, considerando que o Orçamento de
agora é muito mais enxuto. Os técnicos lembram
que as despesas contingenciáveis do poder Executivo — aquelas que o governo efetivamente pode cortar — vêm caindo desde 2013. Há quatro
anos, elas respondiam por 2,8% do PIB. Em 2014,
passaram para 2,6% do PIB. Em 2015, para 2% do
PIB, e, agora, para 1,8% do PIB.
— A margem ficou muito menor. Esse não é
um corte pequeno para as condições atuais —
afirmou um técnico.
EM ÚLTIMO CASO, CONGELAMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO
Na tentativa de mostrar ao mercado que não
deixou de lado o compromisso com o equilíbrio
fiscal, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa,
anunciou, junto do corte de gastos e da redução
da meta fiscal para 2016, uma reforma de longo
prazo que prevê um teto para as despesas públicas. A ideia é estipular um limite para os gastos,
proporcional ao PIB, e acionar uma série de gatilhos que fechem a torneira dos gastos, à medida que esse teto for ultrapassado. Em último caso, o governo propõe até mesmo congelar o aumento real (acima da inflação) do salário mínimo para garantir o controle das contas públicas.
A proposta será enviada ao Congresso até março e prevê uma alteração na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), para obrigar o governo a fixar
um limite para as despesas no Plano Plurianual
(PPA), que determina a programação fiscal dos
quatro anos seguintes. Nos últimos anos, esses
gastos se mantiveram num patamar entre 18% e
19% do PIB. Já o valor nominal dos gastos seria
apresentado na Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) de cada ano e definiria, assim, os parâmetros para elaboração do Orçamento.
Caso o teto seja descumprido, o texto prevê
que o governo faça um contingenciamento de
gastos no ano corrente, ou seja, suspenda algumas despesas. E, se houver indícios de que o desequilíbrio continuará, o projeto define uma série de medidas que seriam acionadas automaticamente no ano subsequente, em três estágios.
Em um primeiro momento, o governo interromperia, de imediato, a concessão de novas
desonerações fiscais, a realização de concursos
e contratações, o aumento real (acima da inflação) de salários de servidores, das despesas de
custeio e das demais despesas discricionárias,
ou seja, aquelas que não são obrigatórias.
Os estágios seguintes seriam acionados à medida que o anterior não for suficiente para colocar
as despesas dentro do limite fixado. Assim, o segundo bloco de medidas suspende a ampliação
de subsídios e aumentos nominais de despesas e
salários de funcionários públicos. Por último, o
governo congelaria o salário mínimo e reduziria
despesas com benefícios para servidores e com
funcionários temporários da União. l
Conta de luz pode ter redução maior em março, diz ONS
DIVULGAÇÃO/30-8-2013
Volume de chuvas
permitiria desligar
mais termelétricas
RAMONA ORDOÑEZ
[email protected]
As tarifas de energia elétrica poderão ter
redução ainda maior que o esperado a
partir de março, informou o diretor-geral
da Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS), Hermes Chipp. Segundo ele, isso
será possível caso o volume de chuvas permita o desligamento de um número maior
de termelétricas. O assunto será discutido
em reunião do Comitê de Monitoramento
do Setor Elétrico (CMSE), no próximo dia
2 de março. O debate levará em conta a
avaliação da afluência dos rios e das condições dos reservatórios das usinas.
O governo já havia anunciado que, a
partir de 1º de março, a cobrança extra
da bandeira tarifária nas contas de luz
cairá dos atuais R$ 3, do nível 1 da bandeira vermelha, para R$ 1,50, da bandeira amarela, a cada cem quilowatts-hora
(kWh) consumidos. A redução será possível com o desligamento das termelétricas mais caras, que tem custo acima de
R$ 420 por megawatt-hora (MWh).
IMPACTO EM ENCARGOS SETORIAIS
Chipp explica que mesmo que um número maior de termelétricas seja desligada, isso não significará mudança da
bandeira para a cor verde a partir de
março. Segundo ele, os estudos do ONS
que serão encaminhados ao comitê
ainda não foram concluídos:
— Fevereiro não foi tão favorável em
termos de afluência hidrológica como janeiro. Mas, dependendo da evolução da
hidrologia na primeira quinzena de março, pode-se ter uma redução nas tarifas,
Tarifa menor. Hermes Chipp diz que desconto será discutido em reunião em março
“Dependendo da
evolução da
hidrologia, pode-se
ter redução nas
tarifas, com o
desligamento de
mais termelétricas”
Hermes Chipp
Diretor-geral do ONS
com o desligamento de mais termelétricas, mas mantendo a bandeira amarela.
A decisão de tirar mais termelétricas
de operação dependerá, segundo Chipp,
das estimativas do volume de água nos
reservatórios até novembro, quando começa o período de chuvas. A conta de
luz pode ter um desconto maior — mesmo sem uma alteração na bandeira
amarela — porque os custos de geração
de energia termelétrica são mais altos e
incidem em alguns encargos setoriais
embutidos na conta de luz de todos os
consumidores, como a Conta de Consumo de Combustível (CCC) e a Conta de
Desenvolvimento Energético (CDE).
No último domingo, segundo dados
do ONS, foram gerados 7.514 megawatts médios de energia térmica, o
que representa 13,14% do consumo total, de 57.189 megawatts médios. Nessa
data, o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estava em
49,6%, o maior patamar desde agosto
de 2013, quando foi de 55%. Já no Nordeste, o nível dos reservatórios das usinas está em 30,5%, o maior desde julho
de 2014, quando foi de 32,3%.
EFEITO DO HORÁRIO DE VERÃO
Chipp destacou os resultados obtidos
durante o horário de verão, que terminou à meia-noite de domingo. Nesse
período, o menor consumo de energia
nos horários de pico resultou em redução de gastos de R$ 162 milhões com a
geração de termelétricas.
Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste houve redução da demanda no horário de pico de cerca de 2.600 MW. Deste
total, 1.950 MW são referentes ao subsistema Sudeste e Centro-Oeste e 650 MW
referentes ao Sul. De acordo com Chipp,
a redução representou 4,5% da demanda
no horário de pico nessas regiões.
Quando se considera o resultado durante todo o horário de verão — não
apenas nas horas de pico — a redução
no consumo foi de 1.040 megawatts
médios nessas regiões.
— Além do benefício econômico com a
redução de gastos com as termelétricas, o
horário de verão permitiu armazenar mais
água nos reservatórios das usinas, com redução no consumo de 1.040 megawatts
médios, que seriam gastos independentemente da retração da economia — disse.
Chipp defende que os resultados obtidos no horário de verão representam economia significativa nos investimentos para ampliar a capacidade de oferta do sistema elétrico. Somente para oferecer os
2.600 MW economizados em horário de
pico, seriam necessários R$ 7,7 bilhões:
— Deixo de ter a necessidade de fazer
esses investimentos elevados para atender à demanda nos horários de pico. O
horário de verão é benéfico para o setor
elétrico e para o consumidor, pois melhora a qualidade dos serviços do sistema. l
Analistas preveem
retração de 3,4% na
economia este ano
Foi a quinta semana seguida de
piora nas projeções do mercado
financeiro para 2016 e 2017
Pela quinta semana seguida, os
analistas do mercado financeiro pioraram a projeção para o desempenho da
economia em 2016 e 2017. A estimativa
de retração neste ano passou de 3,33%
para 3,4%. Em 2017, o país deve voltar a
crescer, mas menos do que se esperava
antes. A expectativa caiu de 0,59% para
0,5%, de acordo com a pesquisa semanal
Focus, do Banco Central (BC).
Essas novas previsões pioram o cenário para a atividade econômica por mais
dois anos. Os cálculos do BC divulgados
na semana passada mostraram que a recessão brasileira é mais grave do que o
imaginado. A economia encolheu nada
menos que 4,1% no ano passado, segundo o Índice de Atividade Econômica da
autoridade monetária (IBC-Br).
-BRASÍLIA-
ESTIMATIVA DE INFLAÇÃO DE 7,62%
Já o quadro para a inflação deste ano teve apenas uma leve deterioração. A estimativa subiu de 7,61% para 7,62%. Apesar de ser um pequeno aumento, marcou a oitava piora seguida da aposta dos
analistas, que estão cada vez mais longe
da meta estabelecida pelo governo de
4,5%, com uma margem de tolerância de
dois pontos para cima ou para baixo.
Para 2017, a projeção está exatamente
no teto da meta, que é de 6%. A variação
aceita será menor que a deste ano, de
apenas1,5 ponto para cima ou para baixo.
A previsão para os juros básicos ficou
estável. O mercado acredita em manutenção da taxa básica nos atuais 14,25%
ao ano. (Gabriela Valente) l
l Economia l
Terça-feira 23 .2 .2016
O GLOBO
Bolsa de SP sobe 4%
por petróleo e minério
l 19
SIMON DAWSON/BLOOMBERG/18-11-2015
Petrobras salta 16% com avanço da ‘commodity’, e
Vale tem ganho de 11%. Dólar cai 1,78%, a R$ 3,951
RENNAN SETTI
[email protected]
Seguindo o clima de otimismo
nos mercados globais e o salto
das commodities, a Bolsa de
Valores de São Paulo (Bovespa) teve ganho de 4,07% ontem, aos 43.234 pontos, enquanto o dólar comercial caiu
quase 2%. O índice de referência Ibovespa foi puxado pelas
ações de Petrobras e Vale, que
dispararam 16% e 11%, respectivamente. Com o movimento,
a estatal ganhou R$ 10,9 bilhões em valor de mercado durante o pregão (para R$ 83,4 bilhões), e a Vale, R$ 5,6 bilhões
(a R$ 61,3 bilhões).
Segundo alguns analistas,
também contribuiu para o
bom humor dos investidores
no mercado brasileiro a nova
fase da Operação Lava-Jato, da
Polícia Federal, com a expedição de mandado de prisão
temporária para o marqueteiro
João Santana, que coordenou
as campanhas da presidente
Dilma Rousseff.
O dólar comercial fechou em
queda de 1,78%, a R$ 3,951. A
moeda americana perdeu força
contra a maior parte das divisas
de países emergentes. Contra a
cesta com as dez principais moedas globais, porém, o dólar subiu 0,21%, segundo o índice
Dollar Spot, da Bloomberg.
O minério de ferro com teor
de 62%, referência no mercado
internacional, subiu 6,2% ontem, para US$ 51,52 — maior
patamar desde 27 de outubro
do ano passado — a tonelada,
dando continuidade ao processo de valorização desencadeado pelo aumento de produção das siderúrgicas chinesas e pela redução de produção das maiores mineradoras
do mundo. No ano, o minério
acumula alta de 18%, contra
queda de 39% em 2015.
EXPECTATIVA COM ACORDO
O petróleo do tipo Brent, por
sua vez, avançava 4,82%, a US$
34,60 o barril, uma hora antes
do fechamento das negociações
em Londres. Em Nova York, o
barril do WTI subiu 6,21%, a
US$ 31,48. A alta deveu-se à especulação de que o excesso de
oferta do produto nos mercados
internacionais deve finalmente
ser reduzido com um acordo
para o congelamento da produção. A Rússia e a Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estão buscando
convencer outros produtores a
aderirem ao congelamento.
As ações ordinárias (ON, como direito a voto) da Petrobras
saltaram 16,14%, a R$ 7,41 — a
maior alta diária do papel desde 10 de março de 1999 —, enquanto as preferenciais (PN,
sem voto) avançaram 13%, a
R$ 5,04. Já os papéis ON da Vale subiram 11,07% (R$ 13,14), e
os PN, 8,17% (R$ 9,40).
— O mercado local hoje está
sendo mais influenciado pelo
desempenho externo. Teve
uma notícia na China sobre a
renúncia do presidente do órgão equivalente à nossa CVM,
e outra sobre a redução do imposto de venda para determinados imóveis no país. Os movimentos foram vistos como
positivos para o mercado —
disse Paulo Gomes, economista-chefe da Azimut.
Entre os bancos, o Banco do
Brasil ON subiu 4,61% (R$
13,61). O Bradesco PN avançou 5,23% (R$ 20,92). O Itaú
Unibanco ON teve alta de
4,03% (R$ 25,22).
— Nos próximos dias, o comportamento da Bolsa vai depender também dos preços
dessas commodities. O importante porém é que, no caso do
petróleo, aparentemente, o patamar de US$ 30 não deve ser
rompido com muita facilidade
depois da iniciativa de redução
da produção — disse Ricardo
Zeno, sócio-diretor da AZ Investimentos, no Rio.
O dia começou em alta na
Ásia, com a substituição do
chefe do órgão regulador dos
mercados chineses e Pequim
sinalizando estímulos econômicos. O índice CSI300, que
reúne as maiores companhias
listadas em Xangai e Shenzhen, avançou 2,2%, enquanto
o principal indicador da Bolsa
de Xangai subiu 2,37%.
Na Europa, Londres ganhou
1,47%, enquanto Paris e Frankfurt tiveram alta de 1,79% e
1,98%, respectivamente. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 1,40%, e o S&P 500, 1,45%. l
Aposta quente. Siderúrgica britânica: preço do minério de ferro acumula valorização de 18% este ano graças à China
U
TEMOR DE ‘BREXIT’
LIBRA REGISTRA MAIOR QUEDA DESDE 2009
-LONDRES- A libra registrou ontem
sua maior queda desde 2009,
recuando 1,75% frente ao dólar,
para US$ 1,4154. O estopim
foram as declarações do prefeito
de Londres, Boris Johnson — um
dos políticos britânicos mais
populares —, de que fará
campanha para que o Reino
Unido deixe a União Europeia
(UE), um cenário apelidado de
“Brexit”. O referendo ocorrerá no
dia 23 de junho.
— O fato de membros
eminentes dos Partido
Conservador terem anunciado
que farão campanha para que o
país deixe a UE provavelmente
intensificou o temor dos
investidores de um maior risco de
“Brexit” — disse Valentin Marinov,
diretor de Estratégia Cambial da
unidade de banco de investimentos
do Credit Agricole em Londres.
Na mínima do dia, a libra foi
negociada a US$ 1,4058, a
menor cotação desde 18 de março
de 2009. Naquele dia, o governo
havia informado que o número de
desempregados no Reino Unido
ultrapassara os dois milhões, o
que não ocorria desde 1997.
Apesar de a decisão sobre a data
do referendo eliminar um dos fatores
de volatilidade, o mercado agora
terá de lidar com meses de
campanhas e pesquisas, o que deve
elevar a pressão sobre o câmbio.
— Estamos projetando mais
volatilidade nos próximos quatro
meses e, consequentemente, a
faixa de negociação da libra, a
depender das pesquisas, será
muito mais ampla que hoje —
disse Alan Wilde, diretor de Renda
Fixa e Câmbio do Baring Asset
Management.
No início deste mês, o banco
Goldman Sachs afirmou em
relatório que um “Brexit” pode
levar a libra para entre US$ 1,15 e
US$ 1,20 — um patamar que não
é registrado desde 1985. (Da
Bloomberg News)
BTG anuncia venda de unidade suíça para gestor de recursos EFG
Operação com BSI,
de R$ 4 bi, reforçará
caixa do banco
ANA PAULA RIBEIRO
[email protected]
Pouco mais de cinco
meses após anunciar a aquisição do BSI, o BTG Pactual fechou ontem a venda do banco
suíço para o gestor de recursos
também suíço EFG International. Com a transação, o BTG receberá cerca de um bilhão de
francos suíços (aproximadamente R$ 4 bilhões) e ficará com
uma participação entre 20% e
-SÃO PAULO-
30% na instituição que resultará
da combinação dos dois negócios. A compra ainda precisa do
aval dos órgãos reguladores.
A venda ao EFG — que avaliou
o BSI entre 1,5 bilhão e 1,6 bilhão de francos suíços — foi a
forma encontrada pelo BTG para obter recursos para fortalecer
seu caixa e, ao mesmo tempo,
manter os planos de internacionalização. “O EFG representa
uma alternativa excelente para o
BSI, e a combinação das duas
instituições é um grande desenvolvimento da nossa visão da
consolidação do mercado de
private banking suíço”, disse em
nota Marcelo Kalim, copresidente executivo do BTG Pactual.
Ao comprar o BSI, operação
anunciada em 2014 e concluída em setembro de 2015, a intenção do BTG era diversificar
as receitas vindas do exterior e
ter de fato uma plataforma global. No entanto, a prisão de
André Esteves, em 25 novembro, jogou uma pá de cal nesse
plano. Com a forte desconfiança de clientes e investidores, o
banco passou a enfrentar forte
movimento de perda de recursos. A saída foi vender ativos.
Agora, o banco crê já estar em
situação mais confortável.
— A nossa estratégia de internacionalização via BSI era
muito clara. Agora, trouxemos
um pouco de liquidez para a
Hoje
na web
casa, mas mantivemos a estratégia com uma participação
relevante no novo banco — explicou Pedro Lima, sócio do
BTG Pactual e chefe da área de
relações com investidores.
LUCRO LÍQUIDO SOBE EM 2015
A combinação do BSI com o
EFG resultará em uma instituição com 171 bilhões de francos
suíços em ativos — metade vinda do banco que era do BTG.
Ambas as instituições são especializadas na gestão de fortunas.
Antes do BSI , o BTG já havia
vendido outros ativos numa
corrida para colocar a casa em
ordem e sinalizar a investidores
e clientes que o banco não teria
problemas de liquidez. A Recovery, de recuperação de créditos, foi vendida ao Itaú Unibanco por R$ 1,2 bilhão, e, por sua
participação na Rede D’Or, um
fundo soberano de Cingapura
pagou mais de R$ 2,38 bilhões.
O banco ainda busca comprador para sua participação na
Pan Seguros, em que é sócio da
Caixa Econômica Federal.
— A nossa liquidez está bastante confortável. Já comunicamos as negociações para a
venda da participação da Pan
Seguros. Os outros negócios
vão acontecer no curso normal. Não temos pressa. Conseguimos tempo para fazer tudo
com calma — afirmou Lima,
observando que não há previsão para a conclusão da venda
da participação na seguradora.
Há interessados também na
rede de estacionamentos Estapar. A participação do BTG na
joint venture com a Petrobras na
África é outra à venda. Outros
negócios com participação do
banco são ainda mais difíceis
de vender, como a varejista Leader e a Brasil Pharma.
Ontem, o BTG anunciou que
fechou 2015 com lucro líquido
de R$ 4,616 bilhões, alta de
35,2% ante 2014. Os ativos sob
sua administração, porém, encolheram: R$ 266,1 bilhões no
fim de dezembro, contra R$
302,8 bilhões em setembro. l
ANTECIPE
SEU ANÚNCIO
oglobo.com.br/economia
l RICAÇOS NA ÁFRICA
Número de milionários africanos
deve ultrapassar 257 mil em
2024, alta de 53% em relação aos
169 mil de 2014, diz consultoria
l ALÉM DAS MULTAS
Ambientalistas exigem despoluição
do ar pela Volkswagen devido aos
veículos afetados pela fraude nos
testes de emissões
Devido ao processo de modernização dos sistemas
operacionais da INFOGLOBO, informamos que nossos
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l PRÁTICA ABUSIVA
Procon notifica BodyTech por
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20
l O GLOBO
l Economia l
Terça-feira 23 .2 .2016
[email protected]
CORA
-BARCELONA-
M
ark Zuckerberg, ele mesmo, o homem do Facebook, dono de US$ 46
bilhões, nome mais conhecido da
indústria e ubercelebridade com um dos rostos
mais familiares da internet, conseguiu entrar
absolutamente despercebido no auditório lotado do Centro de Convenções onde, domingo à
noite, a Samsung apresentava seus novos
smartphones. Pudera: os cinco mil convidados
presentes estavam todos mergulhados em uma
outra realidade, usando os headsets Gear VR
que encontraram nas cadeiras ao chegar. As
poucas pessoas que não os usavam estavam tão
fascinadas com o espetáculo oferecido pelos
outros, com aqueles óculos esquisitos na cabeça, que nem repararam no moço de jeans e camiseta cinza que entrou discretamente durante
a apresentação, e que causou comoção quando
o povo finalmente voltou à realidade real.
ZUCKERBERG FOI FALAR para a plateia presente ao
lançamento dos novos Galaxy S7 e S7 Edge sobre
realidade virtual, o grande assunto deste Mobile
World Congress. O Gear VR, produzido pela Samsung como acessório para alguns de seus celulares, roda software de uma empresa chamada Oculus, adquirida há dois anos pelo Facebook, e é, segundo Zuckerberg, o campeão entre os headsets
RÓNAI
DIGITAL
2016, ano da realidade virtual
Redes sociais apostam na popularização dos ‘headsets’ e sua
conexão com celulares para mudar nossa forma de comunicação
de realidade virtual móveis, ou seja, movidos a
smartphones. Ainda não existem muitos exemplares
da espécie disponíveis, mas este é um mercado em
franco crescimento. Um pouco antes do evento da
Samsung, a LG já havia mostrado, entre suas cartas
para 2016, um produto parecido com o Gear VR, mas
que funciona de forma diferente: enquanto no set da
Samsung o celular é acoplado diretamente em frente
aos óculos, como no Cardboard da Google, no da LG
ele se conecta por um cabo USB, o que alivia o peso,
mas prejudica a mobilidade.
Zuckerberg acredita que a realidade virtual vai
mudar a forma como vivemos, trabalhamos e nos
comunicamos; ele aposta nessa tecnologia como
próximo passo das mídias sociais. Mais de 20 mil vídeos em 360 graus já foram compartilhados pelo Facebook, que pretende levar a experiência um passo
à frente, oferecendo streaming 360 através do Gear
VR. É uma proposta audaciosa que, trocada em miúdos, significa o seguinte: as pessoas poderão com-
Britânicos ganharão novo jornal impresso
REPRODUÇÃO DA INTERNET
‘The New Day’ é voltado
para quem não tem muito
tempo para ler
Trinta anos após o último surgimento de um jornal nacional no Reino Unido, uma nova publicação chegará ao mercado na próxima segunda-feira, 29 de fevereiro. O lançamento do
“The New Day” foi anunciado dias após
o também britânico “The Independent” divulgar que sua versão impressa
deixaria de circular, mantendo apenas
seu site.
O “New Day” será um tabloide de 40
páginas que não terá site próprio, mas
promete ter forte presença nas redes sociais, segundo o diretor-geral da Trinity
Mirror, Simon Fox — a publicação já tem
páginas no Facebook e no Twitter.
A Trinity Mirror, que já edita os jornais “Daily Mirror” e “Sunday Mirror”,
anunciou que o “New Day” chegará às
bancas com um “enfoque alegre, otimista e politicamente neutro” — o
“Daily Mirror”, por sua vez, assume posições mais favoráveis ao Partido Trabalhista. Ainda de acordo com o comunicado da empresa, não haverá notícias
sensacionalistas no novo tabloide.
Em uma demonstração de sua linha
editorial, o jornal postou em sua página
do Facebook que teve acesso a fotos da
modelo e apresentadora Heidi Klum de
roupas íntimas, mas ressaltou que as
imagens não eram apropriadas para a
publicação, e pediu que os leitores mostrassem sua opinião votando em uma
enquete ou comentando a postagem.
-LONDRES-
POSSÍVEL ‘DANO ESTRUTURAL’
O novo jornal será gratuito no primeiro dia e, durante as duas primeiras semanas, será vendido a 25 pence (centavos de libra, ou cerca de R$ 1,40).
Depois o preço dobrará a 50 pence
(aproximadamente R$ 2,80), 10 pence
a menos que o “Daily Mirror”.
Colin Morrison, consultor de mídia e
ex-executivo da indústria, disse ao diário financeiro britânico “Financial Times” que o baixo preço do “New Day”
17/02 0,1604% 18/02 0,1681% 19/02 0,1694%
Selic: 14,25%
Correção da Poupança
Até 03/05/12
DIA
05/03
06/03
07/03
08/03
09/03
10/03
11/03
12/03
13/03
14/03
15/03
16/03
17/03
18/03
19/03
pode ter um impacto negativo na indústria jornalística de todo o Reino
Unido. Segundo Morrison, teme-se que
“o lançamento possa causar uma guerra de preços e acelerar a tendência de
queda” do setor. Para ele, o lançamento
poderia danificar “estruturalmente” a
indústria.
Em entrevista à Rádio 4 da BBC, Alison Phillips, editora do “New Day”, disse que uma pesquisa realizada pela
empresa mostrou que a maioria dos
entrevistados só tem 30 minutos para
ler notícias e que é isso que eles querem: publicações que sejam consumidas nesse tempo.
“Revitalizar o impresso é o cerne da
nossa estratégia, paralelamente à
transformação digital” afirmou o diretor executivo da Trinity, Simon Fox,
em nota.
O comunicado apresenta o “New
Day” como uma publicação com “estilo
e tom modernos, focada em um amplo
público de homens e mulheres que
querem algo diferente do que está atualmente disponível” e como “o primeiro jornal desenhado para os estilos de
vida modernos”.
A empresa também frisou que o novo
A partir de 04/05/12
ÍNDICE
0,6165%
0,5931%
0,5931%
0,6216%
0,6603%
0,6658%
0,6918%
0,6841%
0,6456%
0,6456%
0,6678%
0,6949%
0,6612%
0,6689%
0,6702%
DIA
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0,6678%
0,6949%
0,6612%
0,6689%
0,6702%
Obs: Segundo norma do Banco Central, os
rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem ao
dia 1º do mês subsequente.
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Novo tempos.
Tuíte de Alison
Phillips, editora
do “The New
Day". Jornal não
terá site próprio,
mas garante que
terá forte
presença nas
redes sociais
Juíza não aceitou
argumentos da agência.
Artistas fazem campanha
nas redes sociais
ALESSANDRO GIANNINI
[email protected]
-8,33%
-3,36%
+1,8%
-1,63%
-3,9%
-6,79%
R$ 788
R$ 788
R$ 788
R$ 788
R$ 788
R$ 880
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
Obs: * O valor do salário mínimo a partir de 1º de
janeiro de 2016 é de R$ 880. ** Piso para
empregado doméstico, entre outros.
IMPOSTO DE RENDA
IR NA FONTE FEVEREIRO 2016
Base de cálculo
R$ 1.903,98
De R$ 1.903,99 a 2.826,65
De R$ 2.826,66 a 3.751,05
De R$ 3.751,06 a 4.664,68
Acima de R$ 4.664,68
Alíquota Parcela a deduzir
Isento
7,5%
15%
22,5%
27,5%
—
R$ 142,80
R$ 354,80
R$ 636,13
R$ 869,36
AÇÕES FECHAM EM ALTA
De acordo com o “FT”, a Trinity não revelou o quanto está sendo investido no novo título, que terá uma equipe formada
por de 20 a 30 profissionais. Mas, para
ser lucrativo, precisará vender pelo menos 300 mil exemplares por dia, disse
Morrison ao “FT”.
Na semana passada, o “FT” havia argumentado que o lançamento seria
uma tentaviva de repetir o sucesso do
“i”, tabloide lançado em 2010 pelo “Independent”. Com tiragem diária de 275
mil exemplares, o “i” vendia cinco vezes mais que sua publicação irmã, ainda de acordo com o “FT”. A venda do tabloide à concorrente Johnston Press
por 24 milhões de libras foi anunciada
no mesmo dia do fim da versão impressa do jornal que lhe deu origem.
As ações da Trinity Mirror, negociadas na Bolsa de Londres, encerraram o
pregão de ontem em alta de 3,35%, a
146,75 libras. l
Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) dedução
especial para aposentados, pensionistas e
transferidos para a reserva remunerada com 65 anos
ou mais: R$ 1.903,98; c) contribuição mensal à
Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido
a acordo ou sentença judicial.
Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a
alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa.
Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRPF
este ano.
O parcelamento do IRPF de 2015 foi encerrado em 30
de novembro.
Salário de contribuição (R$)
Até 1.556,94
de 1.556,95 a 2.594,92
de 2.594,93 a 5.189,82
Alíquota (%)
8
9
11
Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa
(artigo 22 do regulamento da Organização e do
Custeio da Seguridade Social).
Trabalhador autônomo
Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da
contribuição deverá ser de 20% do salário-base.
Contribuição mensal mínima de R$ 176,00 (para o piso
de R$ 880,00) e máxima de R$ 1.037,96 (para o teto de
R$ 5.189,82)
Fevereiro
R$ 1,0641
Obs: foi extinta
TELES VEEM ALTA ‘ABUSIVA’
Em reação, o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia
e de Serviço Móvel (SindiTeleBrasil), que representa as ope-
INFLAÇÃO
Trabalhador assalariado
UFIR
o setor de telecomunicações e os
representantes da indústria nacional do audiovisual ganhou
novos capítulos no início desta
semana. Depois de a desembargadora Ângela Catão, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, manter no fim da semana a
liminar que permite às operadoras de telefonia suspender o pagamento da Contribuição para o
Desenvolvimento da Indústria
Cinematográfica Nacional (Condecine), a Agência Nacional do
Cinema (Ancine), que gere o
Fundo Setorial Audiovisual
(FSA), para o qual são repassados os recursos da contribuição,
avisou ontem que vai recorrer
novamente na Justiça.
Também ontem, atores, atrizes e cineastas iniciaram uma
campanha nas redes sociais em
protesto contra a decisão da
magistrada. Com a hashtag
#EuConsumoAudiovisualNoMeuCelular, vários artistas postaram fotos no Facebook, Twitter e Instagram mostrando seus
aparelhos em páginas de vídeos
ou aplicativos de streaming. O
roteirista Luiz Bolognesi, o diretor Paulo Caldas, a atriz Guta
Stresser e o diretor de fotografia
José Roberto Eliezer fazem parte do grupo que se manifestou.
título não será uma espécie de publicação irmã ou versão mais leve do “Daily
Mirror”. No entanto, vai aproveitar a estrutura de distribuição e impressão do
“irmão mais velho”.
INSS/FEVEREIRO
BOVESPA SAL. MÍNIMO SAL. MÍNIMO
(FEDERAL)*
(RJ)**
TR
Ancine vai recorrer para
manter contribuição de teles
-SÃO PAULO- A disputa jurídica entre
ÍNDICES
Indicadores
partilhar virtualmente os mesmos ambientes,
usando a rede social como local de encontro. Digamos que alguém viaja e quer mostrar para a família onde está: enquanto passeia, manda as
imagens da câmera 360 para o Facebook, onde os
parentes poderão acompanhar o trajeto. O que já
é comum com qualquer vídeochamada ganha
status de experiência imersiva com headsets de
realidade virtual. Há muitas novas câmeras 360
chegando ao mercado, entre elas uma da Samsung, também apresentada durante o evento.
O lançamento dos novos Galaxy foi um ótimo
showcase para o Gear VR, que chegou às lojas no
fim do passado (R$ 799 no Brasil), mas ainda não
é suficientemente conhecido pelos consumidores. Mergulhados cada qual no seu próprio espaço, os convidados viram o teto e o chão do auditório se abrirem para os novos S7 e S7 Edge, apresentados em dimensões gigantescas em um espetáculo muito mais envolvente e bem resolvido
do que os clássicos passeios entre dinossauros a
que nos habituamos nas demos de RV.
A nota prática da noite ficou com o anúncio
da chegada do Samsung Pay, sistema de pagamentos por celular, a uma série de novos países,
entre os quais o Brasil. Ainda não foi divulgada
a data em que isso vai acontecer, mas, em tese, o
novo sistema pode entrar em funcionamento
assim que os novos Galaxy chegarem ao país,
dentro de alguns meses.l
UFIR/RJ
Fevereiro
R$ 3,0023
IPCA (IBGE)
Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08
Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser
pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e
depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj
= 44,2655 Ufir-RJ)
DÓLAR
Índice Variações percentuais
(12/93=100)
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
4346,65
4370,12
4405,95
4450,45
4493,17
4550,23
No mês
No ano Últ. 12meses
0,22% 7,06%
0,54% 7,64%
0,82% 8,52%
1,01% 9,62%
0,96% 10,67%
1,27% 1,27 %
9,53%
9,49%
9,93%
10,48%
10,67%
10,71%
IGP-M (FGV)
Índice Variações percentuais
(8/94=100)
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
588,042
593,606
604,832
614,051
617,044
624,060
No mês
No ano Últ. 12meses
0,28% 5,34%
0,95% 6,34%
1,89% 8,35%
1,52% 10,00%
0,49% 10,54%
1,14% 1,14%
7,55%
8,35%
10,09%
10,69%
10,54%
10,95%
IGP-DI (FGV)
Índice Variações percentuais
(8/94=100)
UNIF
CÂMBIO
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
581,618
589,897
600,269
607,441
610,128
619,476
No mês
No ano Últ. 12meses
0,40% 5,53%
1,42% 7,03%
1,76% 8,91%
1,19% 10,21%
0,44% 10,70%
1,53% 1,53%
7,80%
9,31%
10,58%
10,64%
10,70%
11,65%
Dólar comercial (taxa Ptax)
Paralelo (São Paulo/CMA)
Diferença entre paralelo e comercial
Dólar-turismo esp. (Banco do
Brasil)
Dólar-turismo esp. (Bradesco)
EURO
Euro comercial (taxa Ptax)
Euro-turismo esp. (Banco do Brasil)
Euro-turismo esp. (Bradesco)
Compra R$
Venda R$
3,9612
3,75
- 5,33%
3,86
3,9618
4,13
4,24%
4,04
3,79
4,23
Compra R$
Venda R$
4,3672
4,2515
4,18
4,3695
4,4589
4,66
OUTRAS MOEDAS
Cotações para venda ao público (em R$)
Franco suíço
Iene japonês
Libra esterlina
Peso argentino
Yuan chinês
Peso chileno
Peso mexicano
Dólar canadense
3,94891
0,0349494
5,58003
0,258157
0,604164
0,00569643
0,218365
2,87710
FONTE: MERCADO
Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras
podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e
www.oanda.com.
radoras, divulgou uma “Carta
aberta à indústria do Audiovisual e à sociedade brasileira”. O
sindicato argumenta que o setor não quer um enfrentamento e atribui sua ação a um aumento “abusivo” da carga tributária no país, particularmente o reajuste no valor da
Condecine promovido em outubro de 2015 pelo governo.
“O aumento de 28,5% na Condecine Teles foi a gota d’água de
uma verdadeira sanha arrecadatória com a qual não podemos
mais conviver como setor e como cidadãos”, diz o comunicado.
Em reunião na noite de ontem, a Associação Brasileira de
Cineastas (Abraci) discutiu estratégias para tentar reverter a
situação. A presidente da entidade, Carolina Paiva, disse que
será um “retrocesso muito
grande” se as teles não pagarem
a contribuição, porque o setor
“cresceu muito com a criação
do FSA”. Ela está em contato
com outras associações regionais para mobilizar o setor:
— Nós queremos dar força
para a negociação — explicou.
— Estamos avaliando a possibilidade de contratar um escritório de advocacia para analisar a liminar e ver se vale a pena entrar na Justiça. Além disso, queremos também tentar
uma negociação direta com as
operadoras.
Pouco antes do carnaval, o
SindiTeleBrasil obteve na Justiça
liminar contra a contribuição
prevista na lei 12.485, de 2011,
conhecida como Lei da TV Paga,
sob a alegação de que as teles
não fazem parte da cadeia produtiva do audiovisual. Segundo
a Ancine, com a manutenção da
liminar, cerca de R$ 1,1 bilhão
deixará de ser recolhido e repassado ao FSA este ano. l
BOLSA DE VALORES: Informações sobre
cotações diárias de ações e evolução dos
índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser
obtidas no site da Bolsa de Valores de São
Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br
CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI
podem ser consultadas nos sites de
Anbima (www.anbima.com.br) e Cetip
(www.cetip.com.br). A Taxa Básica
Financeira (TBF) está disponível
no site do Banco Central (www.bc.gov.br).
Para visualizá-la, clicar em “Economia e
finanças” e, posteriormente, em “Séries
temporais”
FUNDOS DE INVESTIMENTO:
Informações disponíveis no site da
Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima), www.anbima.com.br. Clicar em
“Fundos de investimento”
IDTR: Pode ser consultado no site da
Federação Nacional das Empresas de
Seguros Privados e de Capitalização
(Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na
barra “Serviços” e, posteriormente, em
FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados
ÍNDICE DE PREÇOS: Outros indicadores
podem ser consultados nos sites da
Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br),
do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da
Anbima (www.anbima.com.br)
Terça-feira 23 .2 .2016 3ª Edição
O GLOBO
Mundo
l 21
REFERENDO NA BOLÍVIA
Culpa das redes sociais
_
Sem admitir derrota, presidente se diz vítima e propõe debate sobre internet
JUAN KARITA/AP
Não à reeleição. Evo Morales canta o hino nacional durante cerimônia em La Paz: com mais de 80% das urnas apuradas, resultado parcial indica derrota nas maiores cidades do país, incluindo antigos redutos como Potosi
MARINA GONÇALVES
[email protected]
U
Depois de uma década no poder, o
governo do presidente boliviano, Evo Morales,
recebeu seu primeiro não. Com mais de 85% das
urnas apuradas, o resultado do referendo que
poderia dar a chance de uma nova reeleição para Morales confirmou as primeiras pesquisas de
boca de urna: a vitória do Não, 53,8% dos votos
contra 46,2% para o Sim. Sem admitir a derrota,
o presidente já tem um culpado: as redes sociais. Em entrevista, Morales afirmou que seria
necessário debater o papel da internet — a oposição fez amplo uso de mídias como Facebook e
Twitter para rejeitar a proposta de extensão do
mandato, além de divulgar memes sobre sua vida pessoal e escândalos de corrupção no Movimento ao Socialismo (MAS).
— Em alguns países, a má informação derruba governos e prejudica a nação — criticou. —
Sinto muito que os que usam as redes sociais
com mentiras estejam fazendo os valores das
novas gerações se perderem.
Para o sociólogo Fernando Mayorga, da Universidade Mayor San Simón, em Cochabamba, as redes acabaram definindo as eleições:
— O governo fez escasso uso das redes sociais,
que teve tanta importância. Foram elas que terminaram definindo a agenda midiática que, sem
regulação, tende ao sensacionalismo. Isso predominou, mas não diria que foi uma iniciativa cidadã, que nasceu espontaneamente, como na Primavera Árabe ou nos protestos brasileiros de
2013. A iniciativa veio dos partidos da oposição,
que depois saíram para comemorar a vitória.
Daniel Moreno, da ONG Ciudadanía, por sua
vez, acredita que foi a própria sociedade civil
quem se manifestou com uso maciço das redes:
— Diferentemente das eleições de 2014, esta
não foi sobre partidos políticos. Do lado do Não
foi a sociedade civil quem se manifestou, de
Com 85% das urnas apuradas, às 21h (hora
-LA PAZ E RIO-
Números
local), o Não vencia por 7,6 pontos percentuais:
53,8%
NÃO
46,2%
SIM
maneira espontânea. Mais do que um trunfo da
oposição, o resultado é uma derrota do governo
— disse. — De toda maneira, foi uma campanha
muito agressiva, de muita tensão entre as distintas propostas. Em oito anos, nunca houve um
um momento de polarização tão grande.
BUSCA POR UM SUCESSOR
O Não se impôs nas maiores capitais do país, em
cidades como La Paz, Santa Cruz e Potosí — antigo reduto do presidente. Já o Sim venceu na
área rural e em cidades como Oruro e Cochabamba. O Tribunal Supremo Eleitoral tem sete
dias para divulgar os números oficiais, mas a
maioria dos analistas acredita que dificilmente
a margem de diferença será revertida.
— É possível, mas não muito provável. Não
creio que a diferença a favor do Sim na área rural
seja suficiente para reverter os pontos de vantagem. De qualquer forma, a margem deve ser muito apertada — explicou Moreno.
Mesmo assim, durante todo o dia, Morales defendeu um empate técnico, lembrando que os
votos da área rural e do exterior poderiam mudar
a tendência dos resultados, como já aconteceu
em outras eleições. No total, seis dos nove departamentos do país votaram contra as mudanças
constitucionais. Mas, enquanto as cidades escolheram o Não, as áreas rurais permaneceram fiéis
ao presidente Morales, com 65% de apoio.
O cenário, no entanto, representa uma perda
em relação a votação de 2014. Uma das derrotas
mais marcantes foi em Potosi, onde o presidente
conseguiu apenas 14% dos votos — a região deu a
ele sua maior porcentagem de votos, em 2005.
Se os resultados forem mesmo confirmados,
governo e oposição precisam agora pensar em
um substituto. Mayorga acredita que Morales deve optar por apoiar um sucessor, mas sem sair totalmente de cena — para que possa voltar a concorrer em 2025.
— Tenho a impressão de que será um modelo
parecido com o brasileiro, similar ao que Lula fez
ao indicar Dilma. A convocação de um referendo
como esse é baseado em um cálculo político. Caso Evo Morales perca, ainda dispõe de três anos
para forjar um candidato que tenha força.
Antes mesmo dos resultados oficiais, Evo admitiu que ainda é cedo para escolher um sucessor e
lembrou que sua vida política não acabou.
— Vamos respeitar os resultados, seja o Não ou
o Sim. Vamos nos preparar. Seguramente vamos
debater (um sucessor) com as organizações sociais quando chegue a hora. No MAS há muitas lideranças — afirmou. — É um erro da oposição
pensar que minha vida terminou.
A oposição começou a comemorar o resultado
ainda no domingo, quando saíram as primeiras
pesquisas de boca de urna.
— Faltam quatro anos de governo. Este não é
um momento de pensar em candidatos — disse
ao GLOBO o líder da Unidad Nacional (UN), Samuel Doria Medina. — Foi uma vitória de muitas
pessoas, dos jovens nas redes. Ficou claro que,
por mais recursos que tenha um governo, ele
nunca pode vencer a ação cidadã. l
NA WEB
glo.bo/1PThisf
Lista: Seis presidentes que tentaram
mudar a Constituição para se reeleger
Corpo a corpo
MARCELO VARNOUX
‘Não há sucessor
para Morales’
Para o diretor da Associação
Boliviana de Ciência Política, resultado
também é revés para oposição
CAROLINA LIMA
[email protected]
O que representa a vitória do “não”?
O resultado representa a primeira derrota de
Morales em uma eleição após dez anos de governo. É um grande golpe ao presidente, mas
também ao partido governista Movimento ao
Socialismo (MAS), que tem que repensar suas
metas e objetivos. É preciso mudar o governo,
muito abalado pelos recentes escândalos de
corrupção e ligado a grupos criminosos. Além
disso, os movimentos sociais foram sequestrados por dirigentes políticos.
l
Com a impossibilidade de Morales concorrer em 2019, quem o substituiria no
partido?
Não há ninguém para substituí-lo. O MAS é
um partido caudilhista — modelo implantado
em outros países latino-americanos —, com
todos os holofotes voltados para Morales: um
líder carismático, mas também autoritário. Ele
fica numa situação bem difícil nesse papel de
indicar alguém para ocupar seu lugar.
l
E a oposição, como fica?
A situação também é muito complicada para a oposição, ainda muito dispersa, mas que
deve aproveitar o momento para propor um
modelo alternativo para o governo. Eles têm
que combater a ineficiência atual, mas recuperando as conquistas sociais do MAS. O ideal é
encontrar um candidato mais democrático,
voltado para os jovens e que atenda as demandas da população. No entanto, até agora, não
há uma pessoa despontando nesse sentido.
l
Análise
O populismo perde força na América Latina
O
primeiro grande golpe aconteceu
há pouco mais de dois meses, em
6 de dezembro do ano passado,
quando os venezuelanos foram às
urnas para votar os representantes da Assembleia Nacional. E naquele domingo, algo
mudou: foi o primeiro não que a revolução e
o sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, receberam desde a morte de seu líder, em 2013. A
Mesa de Unidade Democrática (MUD), aliança opositora, recebeu a maior parte do
apoio da população, convencida de que o
modelo havia fracassado.
Foram 16 anos de predomínio chavista inquestionável e autorregulado. Mas a decisão
de buscar uma mudança e plantear novos jo-
gadores parece ser uma ficha a mais, e fundamental, no caminho de mudança, que tem agora
novo impulso na região. O que aconteceu na Venezuela não foi algo isolado. A amizade política
entre o ex-presidente argentino Néstor Kirchner e
Chávez era uma demonstração fiel das afinidades
econômicas e sociais dos dois governos no continente. E as eleições argentinas de 22 de novembro do ano passado mostraram que a proposta do
atual presidente, Mauricio Macri, também havia
convencido mais a população do que a da Frente
para a Vitória, que esteve 12 anos no poder.
Agora, se produz o terceiro grande golpe. Evo
Morales convocou o povo boliviano a votar se
queria ou não lhe dar a oportunidade de continuar na presidência. De acordo com a Consti-
tuição atual, Evo não poderia voltar a concorrer, mas, se recebesse o sim da população, estava disposto a fazê-lo. Queria se postular a
um quarto mandato e, caso ganhasse, converter-se no único presidente democrático do
continente no poder por quase duas décadas.
Mas não conseguiu. O povo disse chega. Até
2019 já é suficiente.
Rafael Correa, chefe de Estado equatoriano,
outra das grandes personalidades populistas da
América Latina, mudou a Constituição no fim
do ano para habilitar a reeleição indefinida. No
entanto, garante que não se apresentará para as
próximas eleições e que não pretende estender
seu mandato. Sua gestão termina em 2017, dez
anos depois que assumiu. (La Nación) l
O que abalou a popularidade do presidente?
Lamentavelmente, Morales é uma figura
autoritária, que não dialoga com a oposição. O resultado mostra que a população
está cansada desse modelo. Os escândalos
de corrupção pioram a situação, com a percepção que até mesmo os cabeças no governo estão envolvidos nos esquemas ilegais. Há ainda os vínculos com grupos mafiosos, entre eles o caso da empresária Gabriela Zapata (a ex-namorada do presidente, que conquistou contratos avaliados em
US$ 566 milhões do governo). l
l
22
l O GLOBO
l Mundo l
Terça-feira 23 .2 .2016
EUA e aliados lutam contra
expansão do EI na África
AFP/21-2-2016
Objetivo de grupo extremista é construir um califado na Líbia
ERIC SCHMITT
Do New York Times
-THIES, SENEGAL- O braço do Estado Islâmico
(EI) na Líbia está se alastrando sobre uma
ampla área da África, atraindo novos recrutas de países como o Senegal, que estavam em grande parte imunes à propaganda jihadista. Autoridades africanas,
junto aos aliados ocidentais, aumentam
os esforços para combater a ameaça.
Os ataques aéreos americanos no Noroeste na Líbia, na sexta-feira, que destruíram um campo de treinamento do EI,
com o objetivo de matar o extremista tunisiano Noureddine Chouchane — “provavelmente morto” na operação, segundo o
Pentágono — sublinharam o problema.
Os mais de 40 combatentes do EI mortos
no bombardeio foram recrutados da Tunísia e de outros países africanos, segundo
militares americanos, e estariam ensaiando um ataque contra alvos ocidentais.
Enquanto as agências da Inteligência
dos Estados Unidos dizem que o número de combatentes do EI no Iraque e na
Síria caiu de 31.500 para cerca de 25 mil,
em parte por causa da campanha aérea
liderada pelos EUA, fileiras do grupo na
Líbia praticamente dobraram — para
cerca de 6.500 combatentes. Pedindo
anonimato porque as discussões envolvem planejamento militar e de Inteligência, mais de uma dezena de funcionários americanos e aliados falaram da
crescente preocupação com a expansão
da organização militante na Líbia e outras partes da África.
Líderes do EI na Síria estão avisando a
recrutas que vêm de nações do Oeste africano, como Senegal e Chade, bem como
do Sudão, na África Oriental, para que não
rumem ao Oriente Médio. Em vez disso,
são orientados a ir para a Líbia. A Inteligência dos EUA afirma que o objetivo imediato do EI é constituir um novo califado
neste país: há sinais de que o grupo estabelece instituições de governança por lá.
— O EI na Líbia tornou-se um ímã que
atrai pessoas não só no país, mas do continente africano, bem como de fora — enfatiza o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, John Brennan.
US$ 200 MILHÕES PARA TREINAMENTO
Enquanto cresce a ameaça na Líbia, muitos dos principais conselheiros militares e
de Inteligência do presidente dos EUA,
Barack Obama, pedem a aprovação do
uso mais amplo da força militar americana no país para abrir uma nova frente
contra o EI. Antes de recorrer a qualquer
ação militar, no entanto, a Casa Branca e
os aliados ocidentais, como o Reino Unido, a Itália e a França, tentam ajudar na
formação de um governo de unidade no
país africano. O objetivo é usar uma nova
autoridade central para reunir dezenas
de milícias rebeldes na luta contra um
inimigo comum: o EI. Forças especiais
americanas e europeias poderiam ajudar
e assistir as milícias, segundo militares.
— Nossa preferência é treinar líbios
para lutar — afirmou Obama na semana
passada. — Boa parte da população líbia
é constituída de combatentes que não se
submetem ao EI ou à ideologia pervertida do grupo. Mas eles têm de ser organizados, e não podem lutar entre si.
O governo dos EUA, junto aos aliados,
está se preparando para treinar tropas líbias, assim que o recém-formado governo de unidade requisitar o auxílio. Os
países também correm para reforçar
parceiros africanos cruciais na luta contra a expansão do EI no continente. O
Pentágono propôs gastar US$ 200 milhões (R$ 790 milhões) este ano para ajudar a treinar e equipar os Exércitos e as
forças de segurança de países do Norte e
Oeste africano. Os EUA estão prestes a
construir uma nova base de drones, ao
custo de US$ 50 milhões, em Agadez, no
Níger, que permitirá que aviões de vigilância decolem centenas de milhas mais
próximos do Sul líbio.
O coronel Mahamane Laminou Sani,
principal oficial da Inteligência do Níger, afirmou que o país aumentou as
patrulhas de fronteira contra a ameaça
na nação vizinha, e as tropas francesas
estacionadas no extremo Norte do Níger estão fazendo o mesmo. O EI na Líbia é agora a mais perigosa das oito filiais do grupo, de acordo com funcionários de contraterrorismo americanos,
que acrescentam: meia dúzia dos altos
oficiais do EI chegaram da Síria nos últimos meses para reforçar o braço líbio.
— É uma ameaça global que não é
restrita por fronteiras — afirma o tenente-coronel Moussa Mboup, do
Exército senegalês, com treinamento
nos Estados Unidos e na França. l
NYT/12-2-2016
União antijihadista. Militares senegaleses fazem um exercício militar orientados por oficiais americanos: aliança busca conter o Estado Islâmico
Corpo a corpo
MITCHELL ZUCKOFF
‘Houve falhas de segurança naquela noite’
Escritor de ‘13 horas’ reconta ataque ao consulado dos EUA em Benghazi, em 2012, e diz que
seu livro, lançado enquanto Hillary Clinton disputa a indicação à Casa Branca, não é político
MARINA GONÇALVES
[email protected]
Foram 13 horas de tensão praticamente desconhecidas por grande parte da
população americana — que concentrou as atenções na morte do embaixador Chris Stevens durante o ataque ao
complexo diplomático dos EUA em
Benghazi, na Líbia, em 2012. Mas, naquele 11 de setembro, uma equipe de
seis soldados evitou que a tragédia fosse maior, defendendo durante a madrugada o anexo ao lado do posto, onde trabalhava uma equipe da CIA. O
escritor Mitchell Zuckoff escolheu este
ponto de vista para recontar os eventos
em “13 horas — Os soldados secretos
de Benghazi” (Bertrand Brasil), que até
hoje ecoam na política americana com
a pré-candidatura de Hillary Clinton,
secretária de Estado à época.
Por que escrever sobre o aconteceu tantos anos depois?
Tanto foi dito e escrito sobre Benghazi que o episódio se tornou um jogo político. Mas o que as pessoas não
sabiam era o que aconteceu no terre-
l
Estado à época, Hillary Clinton, assumiu a responsabilidade. Acho que é
uma conclusão justa do livro, de que
houve falhas de segurança antes dos
eventos daquela noite.
no. Quando eu tive a oportunidade de
trabalhar com os caras que estavam de
fato lá, que lutaram durante toda aquela noite, me pareceu uma oportunidade de contar o que realmente aconteceu, não a política por trás daquilo, mas
a verdade sobre a linha de frente.
l
Um dos personagens mais criticados é “Bob”, chefe da CIA ali à época.
Por que não identificá-lo?
Ele construiu toda sua carreira como
funcionário da Inteligência americana,
muitas vezes arriscando a própria pele.
Para mim, não haveria qualquer propósito em revelar sua identidade.
l
l
O livro expõe a grande vulnerabilidade do complexo diplomático. Mas,
no prólogo, o senhor deixa claro que
não quer apontar culpados. Não foram apontados culpados?
É uma pergunta muito justa e a resposta é simplesmente sim. Mas quero deixar
claro que aqueles erros ocorreram antes
de o ataque acontecer. Não sou o único a
dizer isso. Há um relatório do Departamento de Estado dos EUA que chega a
conclusões parecidas e a secretária de
l
O senhor acredita que haverá algum impacto na pré-candidatura
de Hillary Clinton?
Aprendi a não especular. Certamente Hillary está no livro porque
estava envolvida naquela noite e falou sobre o que aconteceu depois.
Mas o livro não é político.
Uma das versões mais divulgados
após o ataque é que ele teria sido
motivado pela exibição de um filme
satírico sobre o profeta Maomé. O
livro questiona essa versão...
Claramente havia muita coisa
acontecendo naqueles dias. Houve
protestos no Cairo, na Tunísia e em
outros lugares. Mas não havia protestos em Benghazi. Ao mesmo tempo, posso entender que demora um
tempo para as coisas ficarem claras.
O objetivo do meu livro é tentar ajudar a esclarecer o que aconteceu. l
Em primeiro. Trump é aclamado na Georgia, e lidera com folga em Nevada
Trump é favorito nas
prévias em Nevada
Com 27,8 % da
população latina,
estado será teste
para republicanos
HENRIQUE GOMES BATISTA
Correspondente
[email protected]
-WASHINGTON- A quarta etapa da es-
colha do Partido Republicano
para as eleições presidenciais
dos Estados Unidos, em novembro, será realizada hoje, com o
caucus (reunião de eleitores) de
Nevada. A disputa será um teste
do partido entre eleitores latinos.
Pesquisas apontam, contudo, o
bilionário Donald Trump na liderança, com os senadores de
origem cubana Marco Rubio
(Flórida) e Ted Cruz (Texas) brigando pela segunda posição.
O estado — que no sábado deu
uma vitória a Hillary Clinton por
cinco pontos sobre Bernie Sanders na disputa Democrata —
tem 27,8% de sua população de
origem latina. Segundo o Centro
para América Latina, Caribe e Estudos Latinos (Clacs, na sigla em
inglês) da City University de Nova York, os eleitores latinos no estado de 2,8 milhões de habitantes
já somam 332 mil, sete vezes
mais do que em 1990.
A pesquisa da CNN realizada
entre os dias 10 e 15 — ou seja,
antes da primária da Carolina
do Sul, no sábado, vencida por
Trump, com Rubio e Cruz praticamente empatados em segundo lugar —, apontava o bilionário com 45% das intenções de
votos em Nevada, seguido por
Rubio, com 19%, e Cruz, com
17%. O neurocirurgião aposentado Ben Carson aparecia com
7% das intenções de votos e o
governador de Ohio, John Kasich, tinha a preferência de 5%
dos entrevistados.
Trump cresceu na disputa nacional com a polêmica proposta
de deportar até 11 milhões de
imigrantes sem papéis e propon-
do a construção de um muro na
fronteira dos EUA com o México,
que seria, segundo ele, pago pelos mexicanos e que teria custo
de US$ 12 bilhões (cerca de R$ 48
bilhões, ou o equivalente a quase
cinco vezes o custo da extensão
do metrô do Rio até a Barra). No
seu discurso, após a vitória de sábado, Trump disse que “amava o
México e os mexicanos”, mas que
tem de defender seu país.
LATINOS PREFEREM DEMOCRATAS
Cruz e Rubio, por sua vez, são de
origem latina, mas não são muito
populares fora da colônia cubana, mais conservadora e concentrada no Sul da Flórida. No penúltimo debate entre os pré-candidatos, Cruz, de extrema-direita,
acusou Rubio de ter, no passado,
defendido posições mais “abertas” sobre imigração, defendendo um caminho que poderia
passar por uma anistia. Cruz
também foi culpado de, no passado, não ser tão duro contra os
imigrantes como agora.
— O voto latino é muito importante neste estado, mas está majoritariamente apoiando os democratas. Contudo, pode ser
uma mostra de como este grupo
vai se posicionar na disputa republicana — disse o advogado
Ben Ginsberg, cofundador da
Presidential Commission on
Election Administration, criada
por Barack Obama, em 2013,
com membros dos dois partidos,
para ampliar a democracia.
Com a proximidade da Super
Terça, na próxima semana, quando 13 estados republicanos escolhem candidatos, os pré-candidatos não deram a Nevada a
mesma dedicação que dispensaram aos três estados que fizeram
escolhas até agora. Muitos dividiram suas agendas com apresentações em outros estados. l
NA WEB
glo.bo/1LCHnru
‘Os Simpsons’ faz piada
com briga entre os
pré-candidatos à Casa Branca
Walesa diz que acusação de
ser informante foi forjada
‘Por hora, estou
devastado’, lamenta
ex-presidente após
divulgação de papéis
-VARSÓVIA- Após a revelação de
centenas de documentos que
atestariam o vínculo de Lech
Walesa, ex-presidente polonês
e líder do movimento Solidariedade, com o regime soviético
que dominava o país nos anos
1970, ele reagiu e negou as
acusações. A divulgação foi feita ontem pelo Instituto de Memória Nacional da Polônia.
Walesa alegou, em uma rede
social polonesa, que os documentos foram forjados:
— Eu perdi. Mas perdi apenas porque quase todos acreditaram que houve qualquer
colaboração traiçoeira de minha parte, mesmo que fosse
ocasional e curta, com o serviço de segurança, 46 anos atrás.
Pelo menos por hora, estou devastado. Obrigado. Eu não traí
vocês. Vocês me traíram — publicou Walesa, em seu blog.
Segundo os documentos,
Walesa teria servido às autoridades soviéticas como informante comunista pago, sob o
codinome de “Bolek”, entre
1970 e 1976 — período em
que liderava protestos trabalhistas no estaleiro da cidade
de Gdansk.
Ganhador do Nobel da Paz
em 1983, Walesa, de 72 anos, foi
declarado inocente de acusações semelhantes, no ano 2000.
Ele enfrenta denúncias de que
seria informante do regime comunista há mais de 20 anos. l
Terça-feira 23 .2 .2016
O GLOBO
Sociedade
l 23
MECANISMO DE DEFESA
_
FABIAN BIMMER/REUTERS/2-6-2011
Cultura em laboratório. Análise da bactéria E. coli, que pode causar infecção urinária, respiratória e pneumonia, mostrou que ela se defende de antibióticos graças a uma membrana externa que impede a entrada dos medicamentos
Ponto fraco das superbactérias
Cientistas desvendam sistema que torna os micro-organismos resistentes a antibióticos
CLARISSA PAINS
[email protected]
A guerra contra as superbactérias ganhou um
capítulo importante ontem, com a publicação
na revista “Nature” de uma pesquisa que revela
o método usado por esses micro-organismos
para resistir aos antibióticos que temos hoje no
mercado. O estudo explica que as superbactérias são reforçadas por uma espécie de barreira
que fica do lado de fora da célula, como uma
membrana externa, impedindo que medicamentos entrem nela e façam efeito. O grande
achado dos pesquisadores foi descobrir o ponto
fraco dessa barreira: ela é formada por uma engrenagem de proteínas, que para de funcionar
quando uma de suas peças é deslocada.
Desenvolvido pela Universidade de East Anglia, no Reino Unido, o estudo analisa a Escherichia coli, da classe das bactérias gram-negativas
— aquelas com membrana interna e externa, enquanto as gram-positivas têm somente uma interna. Com esse reforço na parede celular, as bactérias gram-negativas são muito mais difíceis de
serem tratadas e podem causar doenças como
meningite e cólera. Nem todas se transformam
em superbactérias, mas elas são as que mais causam infecções hospitalares, sendo, por isso, as
mais preocupantes para os médicos.
A E. coli, especificamente, é capaz de provocar
pneumonia, doenças respiratórias e infecção
urinária — cerca de 80% dos casos desse tipo de
infecção, por exemplo, são causados por E. coli.
Ela é fundamental para a nossa sobrevivência,
sendo uma das bactérias mais importantes do
sistema gastrointestinal, mas justamente por para as bactérias gram-negativas sobreviverem.
ser tão prevalente no nosso organismo, pode Interromper esse mecanismo de defesa faz com
adquirir resistência com mais facilidade.
que o antibiótico penetre na célula e a mate. AgoNa membrana externa dessa bactéria, os pes- ra, temos que fazer testes para descobrir antibióquisadores encontraram o que chamaram de ticos que possam fazer isso — afirma ele.
complexo BAM, sigla em inglês paExistem no mundo aproximadara mecanismo de montagem barril
mente 40 classes de antibióticos, a
beta, nome que se refere à forma
última delas registrada em 1987.
adotada pelas proteínas. Esse comDe lá para cá, o corpo humano
plexo é o responsável por abrir ou
vem desenvolvendo resistência a
fechar “portões” na membrana,
muitas delas, especialmente por
permitindo ou não que moléculas
conta do uso indiscriminado desentrem na célula. Os cientistas brises medicamentos, sem prescritânicos foram os primeiros a desção médica adequada.
crever como esse complexo é divi— Este é um desafio de saúde
dido em cinco partes — chamadas
global. Muitos antibióticos atuais
de BamA, BamB, BamC, BamD e
estão se tornando inúteis, o que
BamE — e como essas subunidades
causa centenas de milhares de
trabalham juntas para controlar o
mortes a cada ano. O número de
que a bactéria absorve.
superbactérias aumenta a um rit— Nossa pesquisa mostra o commo inesperado — avalia Dong.
plexo BAM inteiro, nos estágios iniSurtos de infecções hospitalares
cial e final — destaca o principal aupor superbactérias têm ocorrido
tor do estudo, Changjiang Dong, da
com certa frequência no Brasil peFaculdade de Medicina da Univer- Changjiang Dong
lo menos desde o início desta désidade de East Anglia. — Descobri- Universidade de East
cada. O primeiro caso a chamar
mos que as cinco subunidades for- Anglia, Reino Unido
atenção foi no Distrito Federal, em
mam uma estrutura em forma de
2010, quando 163 pacientes foram
anel que trabalha em conjunto para inserir pro- contaminados em hospitais diferentes e 18 deteínas na membrana externa por meio de um les morreram. Todos por causa da superbactémecanismo de rotação.
ria KPC, que também é gram-negativa.
Segundo ele, a descoberta abre caminho para
Os olhos da comunidade médica internacioa criação de uma nova classe de antibióticos, nal estão cada vez mais voltados para este procapazes de burlar essa engrenagem.
blema, que, de acordo com um relatório enco— O complexo BAM é absolutamente essencial mendado pelo governo britânico e divulgado
“Este é um
desafio de
saúde global
que causa
milhares de
mortes”
Anel vaginal reduz em 30% infecção por HIV
Produto libera droga
antirretroviral no
organismo das
mulheres
Um anel vaginal trocado mensalmente e contendo a droga
antirretroviral dapivirina pode
reduzir em cerca de 30% a infecção de HIV em mulheres. Desenvolvido pela ONG Parceria
Internacional para os Microbicidas (IPM, na sigla em inglês),
o anel é a primeira medida de
prevenção ao vírus a longo prazo projetada para as mulheres,
as maiores vítimas da epidemia
global de Aids na África.
Em outro estudo, conduzido
pelos Institutos Nacionais de
Saúde dos Estados Unidos
(NIH, em inglês) usando o mesmo método de prevenção, a infecção pelo vírus caiu 27%. Esta
é a primeira vez que duas pes-
quisas em estágio avançado
confirmaram a eficácia do uso
de microbicidas contra o HIV.
As duas entidades divulgaram
seus resultados ontem, na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas, nos EUA.
Ambas as pesquisas constataram diferenças importantes
na eficácia do anel, dependendo de sua consistência, adesão
e da idade da mulher. Segundo
a NIH, o risco de infecção por
HIV diminuiu 56% em mulheres com idade média de 21
anos. No exame da IPM, a redução para a mesma faixa etária foi de 37%. As duas instituições não constataram efeitos
significativos do anel vaginal
entre usuárias menores de 21
anos. Por isso, os pesquisadores ainda tentam compreender
o uso da nova tecnologia e os
fatores biológicos que precisam ser superados.
— Estes resultados dão uma
nova esperança para muitas
mulheres que precisam de
mais e diferentes tipos de proteção contra a infecção por
HIV — comemora Zeda Rosenberg, diretora da IPM. —
Vamos buscar a aprovação do
anel mensal de dapirivina e
trabalhar com parceiros para
determinar seu papel no fortalecimento dos esforços para
prevenção ao HIV.
ADAPTAÇÃO DE TECNOLOGIA
O anel mensal de dapivirina
adapta uma tecnologia médica
comumente usada em contraceptivos que liberam hormônios para, em vez disso, enviar
uma droga antirretroviral para
combater o vírus HIV.
As mulheres na África Subsaariana permanecem em alto
risco de contrair HIV, apesar
do progresso global contra a
doença. A corrida para erradicação da epidemia incentivou,
nos últimos anos, o desenvolvimento de novas opções de
prevenção, como microbicidas
vaginais e vacinas.
As participantes dos estudos
divulgados ontem foram distribuídas aleatoriamente em
dois grupos: um que usou o
anel de dapivirina, outro que
recebeu um anel de placebo,
sem a droga. Os pesquisadores
chegaram a índices de eficácia
semelhantes. Na IPM, entre as
1.300 participantes que receberam o anel de dapivirina, 77
contraíram HIV; entre as 650
com o objeto de placebo, 56
contraíram o vírus — a eficácia, portanto, foi de 31%.
Na análise final do NIH,
apenas 71 das 1.308 usuárias
do anel de dapivirina foram
contaminadas pelo vírus.
Entre as 1.306 com o placebo, 97 foram infectadas. Neste caso, a eficácia do produto
foi de 27%. l
em meados do ano passado, deve custar a vida
de 10 milhões de pessoas por ano a partir de
2050, caso as pesquisas não consigam avançar
na produção de novas drogas. Segundo o documento, as perdas econômicas totalizariam US$
100 trilhões, de 2014 a 2050.
Para Carlos Kiffer, pesquisador do Laboratório
Especial de Microbiologia Clínica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a estrutura
da membrana externa de outras bactérias gramnegativas que tendem a ser resistentes, como a
KPC, deve ser parecida com a descrita pelo estudo. Sendo assim, a pesquisa ajuda a entender
melhor a “arquitetura” de todas essas bactérias,
um importante passo para combatê-las.
Pode parecer contraditório que superbactérias
formadas a partir do uso excessivo de antibióticos
sejam atacadas com mais antibióticos. No entanto,
segundo o professor, são necessárias novas drogas
— ou novas formulações para as que existem —
para tratar os tipos de resistência que já temos e,
em paralelo, passar a consumir esses medicamentos com cuidado, na dose certa e seguindo o tratamento até o fim. Isso tornaria nosso corpo menos
propício a criar resistência.
— De certa forma, existe um círculo vicioso,
mas necessário. A Humanidade ainda precisa de
antibióticos, a questão é o uso racional deles —
pontua Kiffer. — Além dos remédios que ingerimos, um grande problema é que muitos alimentos também são repletos de antibióticos. Para que
os vegetais não tenham determinado tipo de fungo ou para que os frangos cresçam rapidamente,
pagamos com nossa própria saúde. Seria preciso
uma legislação que proibisse isso. l
ANDREW LOXLEY
Anel com dapivirina. Estratégia pode conter avanço do HIV na África
24
l O GLOBO
Terça-feira 23 .2 .2016
Esportes
ARNALDO
BRANCO
|
FUTEBOL
Neymar
recorre
para não
ser cobrado
TÊNIS
[email protected]
Recompensa
|
Cartão de visita
SALTO ALTO
Principal surpresa do Rio Open, Thiago Monteiro sobe 60
posições no ranking após vitória histórica sobre Tsonga
DANIEL MARENCO
Prazer, Arnaldo. Escrevo minhas primeiras
linhas neste jornal me sentindo mais ou
menos em casa: meu pai, Aloisio Gentil
Branco, foi secretário de redação do GLOBO
por dezessete anos, até sua morte. Antes
disso, trabalhou no extinto “Correio da
Manhã”, onde por um breve período foi
obrigado a assumir o horóscopo, embora mal
soubesse seu signo. Felizmente (os adeptos
da astrologia já eram tão ferozes naquela
época quanto hoje) nunca foi descoberto.
L
embro de uma crônica do Luis Fernando Verissimo em que o escritor confessava o mesmo delito (o acúmulo de funções em uma redação vem desde essa época), embora não tenha tido a mesma sorte: foi flagrado por uma leitora
atenta, em uma tecnicalidade. Moral da história:
leigos podem escapar impunes, mas nem sempre.
Futebol e horóscopo são parecidos: passam longe de ser ciências exatas, mas atraem um bando de
dogmáticos que insistem existir um jeito certo de
ler o quadro geral. E assim como nos casos em que
a personalidade contradiz o signo e você pode culpar o ascendente, no futebol também existem variáveis que servem de justificativa nas vezes em que
você erra o prognóstico. É com elas que conto pra
livrar a minha cara quando falar bobagem aqui —
percebam que nem assumi direito essa coluna e já
estou preparando minha defesa.
De qualquer forma, queria agradecer ao professor
Márvio dos Anjos pela oportunidade. Faço questão
de dizer o nome do editor responsável pela minha
escalação: essa é uma das maravilhas do futebol, o
técnico costuma levar a culpa pelo perna de pau.
_
Aventureiros
Quando o Eike Batista estava com a moral (e o crédito) lá em cima, tocando a reforma (melhor dizer
destruição) do Hotel Glória, recebeu Madonna,
que elogiou um lustre original da casa. O hoje exbilionário não teve dúvidas: mandou tirar do teto e
embrulhar para a cantora, que hoje em dia deve estar usando o presente para decorar seu porão.
Lembrei desse gesto muito jeca domingo, enquanto acompanhava pela TV um Fla-Flu disputado a mil e duzentos quilômetros do Maracanã: é isso que dá entregar um cartão postal da cidade para
aventureiros.
_
País da bolinha
Nossa moral no futebol foi seriamente abalada pelo 7 x 1, mas seguimos campeões na modalidade
sorteio: a chave do Brasil na fase de grupos da Copa
América é uma teta que tem Peru, Haiti e Equador.
O problema de ser tão claramente favorecido pela
sorte é que os maus resultados só podem ser explicados pela incompetência.
Novo desafio. Após melhor semana da carreira, Thiago Monteiro estreia hoje no Brasil Open contra Nicolas Almagro
GUSTAVO LOIO
[email protected]
Na carreira de um tenista profissional, subir no ranking
mundial abre as portas e dá
mais visibilidade. E ontem, o
cearense Thiago Monteiro, de
21 anos, colheu os frutos da vitória histórica sobre o francês
Jo-Wilfried Tsonga, nono do
mundo, no Rio Open, semana
passada. Por ter vencido na estreia no único ATP 500 do país,
o brasileiro subiu nada menos
que 60 posições. Agora, o jogador, que, em 2015, ficou três
meses e meio fora das quadras,
devido a uma lesão no joelho
esquerdo, é o 278º do mundo.
Com os pés no chão, Monteiro, que estreia hoje no Brasil
Open, por volta das 20h (com
transmissão do Sportv 3 e do
BandSports), no Clube Pinheiros, em São Paulo, contra o espanhol Nicolas Almagro (tricampeão do torneio), não tem
pressa para seguir galgando
posições entre os melhores.
— Mais um passo no meu retorno. Quero ir subindo passo
a passo para poder jogar os torneios maiores. Meu próximo
objetivo é o top 200 e vou caminhando pouco a pouco, sabendo que ainda há bastante a
melhorar — diz Thiago, que,
desde outubro de 2014, faz
parte da Tennis Route, no Recreio dos Bandeirantes.
TOP 100 É O OBJETIVO
No Rio Open, o brasileiro perdeu uma partida equilibrada
para o uruguaio Pablo Cuevas,
que seria campeão, na segunda rodada. Mas saiu de cabeça
erguida do Jockey Club:
— Os jogos no Rio me deram
muita confiança e provaram
que posso chegar ao top 100.
Para o Brasil Open, o cearense sabe a pedreira que terá pela
frente logo mais:
— Almagro é um ótimo joga-
dor, especialista no saibro. Entro sem pressão e focado em
dar o meu melhor e seguir evoluindo meu tênis nesse nível.
Fisioterapeuta que foi fundamental para a recuperação de
Monteiro após a lesão do ano
passado, como o próprio jogador reconhece, Paulo Carvalho
elogia a postura do jovem tenista. Inicialmente, o rompimento parcial nos ligamentos
no joelho indicaria uma cirurgia, o que deixaria o cearense
fora de combate por cerca de
um ano e meio. Mas Carvalho
desde o começo se mostrou
contra a intervenção cirúrgica,
que acabou descartada.
— A recuperação foi muito
boa porque que tive a sorte de
estar na frente de um ser humano diferenciado, que aceitou a proposta de tratamento.
Em certo momento ele disse:
“Esta lesão veio para mudar a
minha vida”. E os resultados estão aí — conclui. l
Estratégia é evitar
pagamento de multas
enquanto caso é julgado
Neymar tenta uma cartada
derradeira na Receita Federal.
O jogador, que tem nada menos do que nove processos
por lá, recorreu de auto de infração no Imposto de Renda
de 2014 ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
(Carf ), última instância do
Fisco, como revelou ontem o
blog “Panorama Esportivo”, do
GLOBO. O craque entra em
campo pelo Barcelona contra
o Arsenal, hoje (16h45m), na
Liga dos Campeões.
O Ministério da Fazenda
não revelou os valores que o
atacante deve neste caso, mas
o processo já foi expedido ao
Serviço de Controle de Julgamento (Secoj). Como o Leão
prometeu acelerar os processos em relação a Neymar, que
já teve quase R$ 193 milhões
bloqueados em bens pela Justiça devido a sonegação de
impostos entre 2006 e 2013,
ele pode ter que enfrentar nova batalha judicial se o Carf
indeferir seu recurso.
A nova estratégia de Neymar pode estar relacionada à
dupla derrota na Justiça Federal, à qual ele e seu pai recorreram para suspender o
pagamento de multas de R$
459.671,25 aplicadas pela Receita em 2012. Antes mesmo
de se esgotarem os recursos
na esfera administrativa, eles
tentaram suspendê-las judicialmente. Mas o juiz Bruno
César da Cunha Teixeira, da
4ª Vara de Santos, negou os
pedidos e manteve as multas. O advogado tributarista
Felipe Renault explica o benefício de recorrer ao Carf.
— Enquanto se discute administrativamente, ele não
pode ser cobrado. A exigibilidade de tributo ou multa fica
suspensa. O único lado ruim é
que ele sofre com o acúmulo
de juros — diz Renault.
A pedido da Espanha, a Justiça Federal intimou os pais
do craque a depor em 16 de
março na 15ª Vara (Santos). l
_
Desfalque
Falando em incompetência, Dunga vai tentar a liberação de Neymar junto ao Barcelona por tempo suficiente para disputar a Copa América, Olimpíadas e
Eliminatórias — competições onde o jogador vai ter
várias chances de reencontrar o joelho de Zúñiga. É
meio como pedir a câmera de um vizinho emprestada para ir cobrir a guerra no Iraque. E do jeito que as
coisas estão, deve ter mais brasileiro lamentando o
desfalque do Barcelona do que uma possível ausência do Neymar na Seleção — a começar pelo próprio
Neymar, condenado a tabelar com o Hulk, se o lobby
do técnico da seleção der certo. l
Aos 35 anos, a quinta participação olímpica
Juliana Veloso garante
vaga nos saltos
ornamentais durante Copa
do Mundo da modalidade
Até então um sonho, o desejo
de disputar as Olimpíadas em
casa virou realidade para Juliana Veloso. A saltadora, de 35
anos, garantiu, ontem, sua
quinta participação em Jogos
Olímpicos ao ficar em nono lugar nas eliminatórias do trampolim de 3 metros na Copa do
Mundo de saltos ornamentais,
que vai até amanhã no Parque
Aquático Maria Lenk, na Barra.
Com 315 pontos, ela ultrapassou a pontuação mínima necessária (299 pontos) para garantir a vaga na equipe brasileira. Hoje, das 16h às 18h, ela
disputa as eliminatórias da
prova. Se ficar entre as 12 melhores, vai à final, das 20h às
21h30m.
— Esta vaga é minha. Estou
feliz de ter garantido na piscina
e não por ser país-sede — comemorou ela que, no domingo, ao lado de Tammy Galera,
errou no trampolim sincronizado, caiu de costas na água e
recebeu a nota zero. — Estou
garantida em minha quinta
Olimpíada. Talvez eu sinta este
SATIRO SODRÉ/SSPRESS/DIVULGAÇÃO
De novo. Juliana vai aos Jogos
negócio de recorde de participação quando parar, mas agora, nem penso nisto, é apenas
mais uma.
Juliana é a primeira atleta da
modalidade a disputar cinco
Olimpíadas. Sua primeira participação foi nos Jogos de Sidney, em 2000, e o melhor resultado no trampolim de 3m veio
em Atenas-2004, quanto terminou em 18º.
A Copa do Mundo é um dos
eventos-teste das Olimpíadas,
e é aberto ao público. Os ingressos custam R$ 30. A programação de hoje começa às
10h, com as eliminatórias da
plataforma masculina. l
Basquete
Varejão acerta com Golden State
O pivô Anderson Varejão
acertou, no domingo, sua
ida para o Golden State
Warriors, da Califórnia,
atual campeão da NBA.
Varejão, de 33 anos, atuará
com Leandrinho, seu
companheiro na seleção. O
jogador ficou 12 anos no
Cleveland Cavaliers, mas
perdeu espaço recentemente
por conta de lesões. A estreia
pelo novo time já pode ser
amanhã, contra o Miami Heat.
l Esportes l
Terça-feira 23 .2 .2016
O GLOBO
l 25
FUTEBOL
Criatividade
NELSON ALMEIDA/AFP
EXISTE
AMOR
EM SP
Clubes paulistas lideram ranking de
torcedores associados, com programas
calcados em experiências exclusivas
L AURO NETO
[email protected]
-SÃO PAULO- Enquanto o presidente Eurico
Miranda estuda um “bolsa-ingresso”
para o novo programa de sócio-torcedor do Vasco e os outros times cariocas
ainda engatinham no tema, os paulistas lideram o ranking de associados
com diferentes estratégias. Pesa muito
ter um estádio próprio, como os quatro
grandes clubes de São Paulo têm, mas
ações de marketing exclusivas também
estimulam o crescimento.
No Corinthians, que assumiu a liderança do “torcedômetro”, com mais de
132 mil sócios e o maior crescimento
em 2015 (67.751 novas adesões), não
basta o ingresso, já que a procura é maior do que a oferta na maioria dos jogosno Itaquerão. Os dados são do Movimento Por Um Futebol Melhor, que
Multidão. A torcida do Corinthians, que lota a maioria dos jogos no Itaquerão, lidera o ranking dos programas de sócios-torcedores, com mais de 132 mil
desde 2013 informa os números dos
clubes participantes. Diretor de marketing do Corinthians, Gustavo Herbetta,
que reformulou o programa Fiel Torcedor, explica que são necessárias experiências exclusivas.
— O principal produto que temos para atrair o torcedor é o ingresso, dando
prioridade na compra. Mas, por ter
uma demanda maior que a disponibilidade, é necessária uma contrapartida
para que ele continue pagando por
mais que não consiga ingresso. O segundo motivo são experiências exclusivas. Toda sexta-feira, levamos torcedores para assistir ao treino no CT. Além
da entrevistas com a imprensa, temos
coletivas com os fiéis torcedores. No
vestiário, há uma sala de aquecimento
a que eles têm acesso, assim como ao
gramado antes do jogo — diz Herbetta.
Com estratégia parecida, o “Avanti”,
do Palmeiras, conseguiu atrair 62.452
novos sócios em 2015, assumindo a vice-liderança este ano, com quase 127
mil. O presidente do clube, Paulo Nobre, explica que há um programa de
milhagem com troca por experiências
“que o dinheiro não pode comprar”, como entrar em campo e cantar o hino
junto com o time e colocar poltronas a
um metro da lateral. Além disso, para
atrair torcedores jovens, há desconto
de 25% em uma universidade.
— O “Avanti”, independente de o Palmeiras ser o primeiro ou segundo, é um
supersucesso. Ganho com sócio-torcedor praticamente o que se ganha com
dois patrocínios master na camisa e
acredito que possa ser superior a uma
cota de TV. Isso dá ao administrador a
possibilidade de fazer investimentos
diferentes. O grande segredo é ganhar a
confiança do torcedor, a credibilidade
de que 100% do valor é investido no futebol. Quando o programa foi de 60 para 90 mil, tivemos poder de fogo para
fazer contratações que não estavam ao
alcance — diz Nobre.
O São Paulo, que firmou uma parceria
com a Copa Airlines para dar 50% de
desconto a seus sócios e teve o terceiro
maior crescimento em 2015 (43.452), está em quinto lugar e começa a encostar
no Grêmio (veja o ranking ao lado). O
Flamengo, carioca mais bem colocado,
em 8ª, uma posição atrás do Santos, teve
o 6º maior crescimento no ano passado
(12.392), atrás de Remo e Sport.
Para Rafael Pulcinelli, diretor do Movimento Para um Futebol Melhor, os
clubes cariocas deveriam explorar melhor as “experiências intangíveis”:
— O Flamengo, por exemplo, poderia
estender esses benefícios às suas “embaixadas” em outros estados. l
SÓCIO-TORCEDORES
1. Corinthians, com 132.481
2. Palmeiras, com 126.903
3. Internacional, com 112.756
4. Grêmio, com 90.246
5. São Paulo, com 82.815
8. Flamengo, com 61.084
11. Fluminense, com 31.846
13. Vasco, com 17.466
16. Botafogo, com 13.521
INSCREVA SUA ESCOLA
Regulamento e tudo sobre a competição:
intercolegial.com.br
Inscrições até 13 de março
Informações: (21) 2497-0026 ou 7839-4140
Modalidades: Futsal | Vôlei | Basquete | Natação
Tênis de Mesa | Atletismo | Judô | Polo Aquático
Karatê | Vôlei de Praia | Hóquei na Grama | Xadrez
Basquete 3x3 | Badminton | Luta Olímpica | Handebol
Patrocínio Master:
Parceria:
Apoio:
Realização:
ESPORTES
THIAGO
MONTEIRO
VITÓRIA VALE 60
POSIÇÕES
O desejo de Dunga
TERÇA-FEIRA 23.2.2016
oglobo.com.br
Arnaldo Branco PÁGINA 24
PÁGINA 24
Em alta
Volante do Flamengo não deixa que briga
jurídica com Botafogo atrapalhe boa fase
A
EDUARDO ZOBARAN
[email protected]
utor do primeiro gol do Fla-Flu, Willian Arão é o melhor jogador rubro-negro na temporada. Com 23 anos, o volante tem mostrado maturidade para
não deixar um entrave jurídico que se
arrasta com o Botafogo, seu ex-clube,
atrapalhá-lo em campo. Já são quatro
gols (um em amistoso) e frequentes
elogios de Muricy Ramalho.
Na última quarta-feira, horas antes
de enfrentar o América-MG — entrou apenas no
segundo tempo —, Arão teve uma audiência com
o Botafogo. Nela, não houve acordo com o clube,
que cobra indenização de R$ 20 milhões. As duas
partes aguardam a decisão do Tribunal Regional
do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT-RJ), ainda sem
data para acontecer.
— Não procuro saber. Deixo na mão deles (advogados) — disse Arão, ontem, no Sportv. — Tenho
que me preocupar dentro das quatro linhas. Não
adianta nada eu me preocupar e não render.
AMEAÇA ALVINEGRA
O Botafogo alega que os R$ 400 mil depositados na
conta de Arão em 30 de novembro de 2015 seriam
suficientes para assegurar a compra de 20% dos direitos econômicos que estavam sob posse do atleta. Com eles, esperava renovar o contrato.
O clube detinha 50% dos direitos; e o jogador, os
outros 50%. Em ação conduzida por Flávio Arão,
pai do volante, o valor foi integralmente devolvido
— mas nem chegou a voltar aos cofres alvinegros,
já que foi penhorado para pagar dívidas com o zagueiro Rafael Marques.
— O atleta, ilicitamente, se recusou a cumprir a
cláusula contratual que, por livre e espontânea
Goleiro uruguaio vive
expectativa pela marca:
‘Motivo de orgulho’
MARCELO CARNAVAL
TEORIA DE
ARÃO
Concentrado.
Willian Arão bate
bola em treino
rubro-negro
Martín Silva
se aproxima
do 100º jogo
pelo Vasco
vontade, havia assinado — afirma o vice-presidente jurídico do Botafogo, Domingos Fleury, que
usou em sua argumentação na Justiça o caso entre
o atacante Leandro Amaral, que, após assinar com
o Fluminense, teve que voltar ao Vasco. — Se o jogador não pagar ou o Flamengo, que é solidariamente responsável, ele vai ter que ficar treinando
separado até ser negociado. Ele não veste mais a
camisa do Botafogo.
MUDANÇA DA LEGISLAÇÃO
A defesa de Arão — que não é feita pelo departamento jurídico rubro-negro — afirma que uma
mudança nas regras da Fifa modificou o cenário.
Desde maio, apenas os clubes em que os atletas
estão vinculados podem deter os direitos econômicos. Assinado em 12 de janeiro de 2015, o contrato de Arão com o alvinegro foi feito em um momento de transição da legislação.
— Se pagasse R$ 400 mil, o Botafogo iria adquirir
20% dos direitos econômicos do atleta. Como a Fifa determinou o fim dos direito econômicos a partir de maio, essa cláusula ficou prejudicada. O Botafogo não tinha mais o direito de comprar — argumenta o advogado Bichara Neto.
Brigas jurídicas à parte, Arão recebe elogios de
René Simões, que com frequência é citado como
um dos responsáveis pela boa fase iniciada no ano
passado. Para o ex-treinador do Botafogo, mais difícil que a briga judicial é a ida para um clube rival.
— O problema maior é na cabeça, e isso ele já superou. É o melhor jogador do Flamengo no ano.
Existe uma dificuldade em sair de um clube e ir
para outro da mesma cidade, as pessoas já o conhecem e têm conceitos formados sobre você, alguns gostam, outros, não — analisa René.
Depois de elogiar Volta Redonda, Muricy fez o
mesmo com Brasília, que pode ser tornar a casa
rubro-negra no Brasileiro. l
“ (Arão) É mais forte
na frente do que na
marcação. É um
jogador muito
perigoso quando
vem de trás e faz
gols. Hoje não cabe
mais aquele
volante brucutu”
Muricy Ramalho
Técnico do Flamengo
A expectativa pelo centésimo jogo com a camisa do
Vasco já toma conta de Martín Silva. O goleiro, que soma 97 partidas pelo clube
carioca, segundo o site NetVasco, pode atingir a marca
na última rodada da primeira fase do Campeonato Carioca, contra o Bonsucesso,
no próximo dia 6.
— É um motivo de orgulho.
Ser titular 100 vezes com essa
camisa não é fácil para ninguém. Só tenho que agradecer à torcida, que ficou perto
de mim como pessoa e como
atleta. No ano em que cheguei (2014), tive um problema de saúde com minha filha e os torcedores me deram
força — agradeceu o goleiro
uruguaio, em depoimento ao
site oficial do Vasco.
Depois de vencer o Tigres
por 2 a 0 no sábado, o elenco
voltou aos trabalhos ontem,
em São Januário. O Vasco
entra em campo novamente
na quinta-feira, contra o Friburguense, às 19h, em sua
casa. Curiosamente, é o
mesmo adversário da estreia de Martín Silva, em
2014. Naquela ocasião, o
Vasco goleou por 6 a 0.
Com 100% de aproveitamento no Campeonato Carioca e já garantido matematicamente na segunda fase, o
técnico Jorginho pode aproveitar a vantagem para fazer
experiências no time titular.
Uma delas será encontrar
um substituto para o meia
Nenê, suspenso pelo terceiro
cartão amarelo.
— É até interessante o Nenê não jogar, para a equipe
ver como se comporta sem
ele. É estranho porque ele é
um líder, mas temos jogadores que podem responder —
afirmou o lateral Madson. l
CLÁSSICO
Botafogo e Flu buscam futebol convincente
MÁRCIO ALVES/20-02-2016
Apesar de 100% de
aproveitamento,
alvinegro sofre com
falta de organização
N
TATIANA FURTADO
[email protected]
O
Botafogo é líder
do Grupo B, ganhou os cinco jogos e levou apenas dois gols — a melhor
defesa, ao lado do Vasco.
Mesmo assim, o alvinegro é
contestado a cada rodada, a
cada vitória, todas elas diante de times de menor expressão. Agora, a equipe terá duas provas de fogo: o
Fluminense, amanhã; e o
Vasco, no domingo.
A torcida ainda não sentiu
confiança no time montado
para o Carioca e para o retorno à Série A. Os triunfos
vieram, mas, muitas vezes,
na sorte e no último suspiro.
JORGE WILLIAM/21-2-2016
Tricolor paga caro
por erros da defesa
neste início de
temporada
Não encantou. Airton e Gegê (7) tabelam na vitória sobre a Cabofriense
À equipe de Ricardo Gomes
falta organização no meiocampo. Por ser um elenco recheado de novidades, o entrosamento está prejudicado. Um
dos pecados do time tem sido a
ligação entre o setor de criação
e o ataque. A bola não chega
com facilidade aos atacantes.
A chegada de Juan Salgueiro
é uma esperança de melhoria
na qualidade do futebol do Bo-
tafogo. A diretoria já enviou a
documentação do uruguaio,
que assinou contrato na semana passada, para a Federação.
Se o nome do jogador aparecer
hoje no Boletim Informativo
de Registro dos Atletas, ele terá
condições de estrear amanhã.
Para o clássico, o time pode ter
o desfalque do zagueiro Renan
Fonseca, com dores musculares. Carli entraria na vaga. l
ão vai dar muito
tempo para corrigir os erros até
amanhã, quando
o Fluminense enfrentará o
Botafogo, em Cariacica (ES).
Porém, o problema tricolor
já foi detectado: é a defesa.
Desde o início da temporada, o técnico Eduardo
Baptista busca a melhor formação da zaga. Já passaram
por ali Gum, Nogueira, Marlon, Renato Chaves e Henrique. Em quase todas as tentativas, a marcação mano a
mano ou na cobertura não
correspondeu.
Erros individuais ou de
colocação não ficaram impunes. O Fluminense sofreu
oito gols no Carioca. Os dois
últimos, no clássico com o
Confusos. Wellington Silva e Henrique não evitam a finalização de Guerrero
Flamengo, são bons exemplos.
No primeiro gol rubro-negro,
faltou marcação no primeiro
pau, após escanteio cobrado
por Mancuello. No segundo,
ninguém foi ao combate de
Rodinei, que cruzou para
Guerrero. O atacante se antecipou facilmente a Henrique.
Detalhes que explicam o
quarto lugar no Grupo A, com
sete pontos, oito a menos que
o líder Vasco. A posição ainda garante o tricolor na zona de classificação para a
fase seguinte — os quatro
primeiros de cada chave
formarão um grupo de oito.
Mas não é uma posição
confortável.
— Jogamos para a frente e
esquecemos de marcar —
admitiu o técnico Eduardo
Baptista após a derrota. l
SEGUNDO
CADERNO
OGLOBO
MÚSICA
‘Vynil’ garante
nova temporada
com fórmula que
trata de glamour
e decepção
EM NOVO
DISCO, JOÃO
DONATO SOA
MODERNO
AOS 81 ANOS
pág. 5
PATRÍCIA KOGUT
TERÇA-FEIRA 23.2.2016
oglobo.com.br
pág. 6
Ataques e ameaças a artistas dobraram no mundo entre 2014 e 2015, segundo levantamento de
organização internacional ligada à ONU; maioria dos casos ocorre por pressões políticas e religiosas
Suécia
VIOLAÇÕES
EM 2015
Reino
Unido
Canadá
Letônia
Bielorrússia
Rússia
Ucrânia
Bélgica Polônia
Coreia
Turquia Azerbaijão
Alemanha
do Norte
Uzbequistão
Síria
Espanha
Macedônia
146
32
China
Líbano
Coreia Japão
Afeganistão
Irã
Marrocos
Israel
do Sul
Tunísia
Kwait
Bangladesh
Bahrein
Paquistão
Catar
Argélia
Egito
Emirados
Arábia
Mianmar
Árabes
Saudita
Índia
Nigéria
Sudão
Vietnã
Eritréia
Tailândia
Gâmbia Burkina
Somália
Faso
Malásia
Etiópia
Camarões Uganda
Singapura
Quênia
França
Nº DE NOTIFICAÇÕES
EUA
ACIMA DE 20
DE 11 A 20
DE 2 A 10
1 CASO
32
Dinamarca
México
21
Cuba
Costa Rica
Venezuela
Equador
Angola
América Latina
é a região com
o pior monitoramento, por
falta de fontes
confiáveis para
os registros de
censura
Bolívia
Paraguai
Argentina
Brasil não
aparece com
nenhum caso
em 2015, mas
é citado em
relatórico por
opressão ao
funk
Burundi
Indonésia
Zâmbia Malawi
Austrália
Zimbábue
África do Sul
Nova Zelândia
Editoria de Arte
ANDRÉ MIRANDA
[email protected]
A
mensagem apareceu na internet
em maio e tinha como alvo não
apenas o cantor iraniano Shahin
Najafi, como todos os seus fãs — só no Facebook ele tem mais de 1 milhão de seguidores, e mais de 11 milhões já viram
seus vídeos no YouTube. O texto, nada
simpático, oferecia recompensa de cerca
de US$ 155 mil para quem aceitasse o desafio de “explodir o local de seu concerto
como uma resposta final a seus insultos”.
Em dois dias, o valor ainda foi acrescido
de cinco quilos em barras de ouro, com a
promessa de que a oferta subiria mais até
Najafi, hoje com 35 anos, ser morto.
Os tais “insultos” promovidos pelo
cantor, e que motivaram um grupo radical islâmico a ameaçá-lo, foram canções que criticam a misoginia, a homofobia, a falta de liberdade e a violência
em seu país, num som que varia entre o
rock e o rap. Enfim, Najafi foi ameaçado
apenas por fazer música.
— Eu sonho em voltar ao Irã, mas esse
sonho é sobrepujado pelo medo — diz o
cantor, por Skype, direto da Alemanha,
onde vive desde 2005. — Saí de lá porque
era perseguido, e, como eu, centenas de
artistas vêm deixando o Irã. Mas minha
vida teve uma virada interessante. A atmosfera política mudou tanto na Europa, há tantos fascistas vivendo aqui, que,
como estrangeiro, tenho ainda mais medo de ser vítima de xenofobia do que de
algum muçulmano.
A recompensa pela morte de Najafi
infelizmente não foi uma atitude isolada em 2015, muito menos foi uma exclusividade iraniana. Por todos os continentes, em democracias ou ditaduras,
artistas sofreram com censuras e ataques devido à sua arte. Em comparação
a 2014, no ano passado houve um aumento de 98% de casos registrados de
violações contra a liberdade artística,
segundo um levantamento que acaba
de ser divulgado pela organização internacional Freemuse. No total, foram
469 ações no ano passado, incluindo
seis sequestros, 46 prisões, 24 agressões
e três artistas assassinados.
O caso mais emblemático foi o aten-
tado contra a casa de shows Bataclan,
em Paris, quando 89 pessoas foram
mortas por extremistas do Estado Islâmico durante a apresentação da banda
americana Eagles of Death Metal. O país líder de notificações, porém, é a China, com 146, entre elas a proibição por
parte do governo de 120 músicas consideradas imorais ou com mensagens de
violência. Nesse grupo, aparecem canções cujos títulos em português seriam
“Peido” (sobre isso aí mesmo que você
está pensando) e “Eu amo garotas
taiwanesas” (em que se aborda gravidez acidental), ambas do cantor pop
taiwanês Chang Csun Yuk.
— A política e a religião sempre foram
as maiores forças por trás da censura
contra artistas. Mas há outras situações
mais difíceis de se perceber, como a censura motivada por interesses comerciais
e a autocensura — afirma Ole Reitov, diretor executivo da Freemuse. — As pessoas têm que entender que não é apenas
a proibição de uma música ou um filme.
Uma obra banida traz consequências financeiras para produtores e limitações
para você e para mim como consumidores. Além disso, um ataque pode, no futuro, fazer com que um artista se autocensure em sua criação pelo temor do
que pode acontecer.
CUBANO PRESO POR DEZ MESES
A Freemuse foi criada em 1998, na Dinamarca, e desde 2012 é consultora do
Conselho Econômico e Social da ONU.
Sua principal atividade é oferecer apoio
a artistas ameaçados pelos vários tipos
de censura. Ela também tenta montar
uma rede de informações que ajude a relatar e coibir os casos de opressão.
São muitas as histórias, de várias naturezas. Em março, uma casa noturna
de uma universidade da pequena cidade de Oberlin, em Ohio, EUA, cancelou
um show da banda indie canadense Viet Cong porque seu nome poderia
“ofender profundamente as comunidades vietnamitas” da região. Em abril, na
cidade de Giza, no Egito, livros de várias procedências foram queimados por
autoridades do governo num pátio de
uma escola, sob alegação de que incentivariam o ódio. Em junho, na Rússia,
469 CASOS EM 2015
3 artistas assassinados
6 sequestrados
15 novas prisões
23 detidos
24 ataques físicos
31 condenados em outros
anos ainda presos
33 perseguidos
ou ameaçados
42 processados
292 atos
de censura
98%
foi o aumento em
relação a 2014, que
registrou 237 casos
RANKING DE PAÍSES
Em registros de mortes, prisões,
sequestros, ataques e ameaças
em 2015
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
China
Irã
Rússia
Burundi
Síria
Turquia
Índia
Egito
Marrocos
Cuba
Fonte: Freemuse
20
16
15
10
10
10
9
7
7
6
uma galeria de arte foi invadida pela
polícia, e as obras da exposição “Ser você mesmo: histórias de adolescentes
LGBT” foram destruídas.
Já o artista visual cubano El Sexto ficou preso de dezembro de 2014 até outubro de 2015. Seu “crime” foi planejar
uma performance em que soltaria dois
porcos no Parque Central de Havana,
batizados de Raúl e Fidel. Com direito
ao nome bem grande escrito nos animais, para as pessoas verem, é claro.
— Já perdi as contas das vezes em que
fui detido pela polícia — diz, por telefone, Danilo Maldonado Machado, o cubano por trás do alter ego El Sexto. — O
governo tenta controlar a criação. Eles
perseguem e reprimem os artistas. Eu
me preocupo muito com essa recente
aproximação entre EUA e Cuba. Os EUA
não deveriam negociar com Cuba enquanto não houver mudanças reais. Hoje, o governo cubano é corrupto. E, se você faz negócios com um ladrão de bancos, isso o torna cúmplice do roubo.
Cuba aparece em décimo no ranking
da Freemuse de países com mais casos
de violações contra as artes. Depois da líder China, a lista é seguida por Irã, Rússia,
Burundi, Síria, Turquia, Índia, Egito e
Marrocos. Os registros dos três artistas
mortos, contudo, não vêm de nenhum
desses países. Dois foram no Paquistão,
em abril: ao retornar de uma apresentação, um grupo de músicos e dançarinas
transgênero foi atacado, e uma dançarina
e um percursionista, assassinados.
Já a outra morte aconteceu no México, numa tragédia comum entre os artistas de um gênero musical conhecido
como narcocorrido. Enquanto os corridos são baladas folclóricas que falam
de amor, vida cotidiana e outras fontes
de inspiração, as variações dos narcocorridos abordam a cultura criminosa
dos cartéis mexicanos. Numa comparação simples para os brasileiros, é como se os corridos fossem o funk melódico, e os narcocorridos, o proibidão.
Os ataques contra os artistas do estilo
costumam vir de policiais ou de integrantes de cartéis de cidades inimigas
de onde os grupos são baseados.
Assim, em novembro, no município de
Taray, o quarteto de narcocorridos Los 4
Herederos foi sequestrado na saída de
um show. Levados para uma região afastada, eles foram espancados, até que seu
vocalista, Francisco Hernández, de 22
anos, fosse morto sem explicações.
— A violência dos cartéis é recorrente
em nossos relatórios. Mas nosso monitoramento mais fraco ainda é na América
Latina. Sei que um problema crescente é
a pressão religiosa para evitar que artistas lidem com homossexualidade e nudez. Só que é difícil encontrar fontes
confiáveis para mapear casos na região
— afirma Reitov. — Nós não temos o tamanho da rede que a imprensa tem.
Qualquer violação contra jornalistas é
publicada em todo o mundo. Na comunidade artística, isso não existe. As organizações que poderiam fazer esse levantamento estão focadas em debater o direito autoral no ambiente digital.
RELATÓRIO CITA O FUNK BRASILEIRO
O Brasil, por exemplo, não aparece nas
estatísticas da Freemuse nem com um
único registro de censura em 2015, mas
mesmo assim o país é citado em seu relatório. Sob o cabeçalho “Gênero musical cria polêmica”, o documento lembra
a repressão de autoridades, “especialmente em nível local”, ao funk.
— O funk hoje é o gênero preferido da
juventude pobre do Brasil, então deve
ser respeitado — afirma o ministro da
Cultura, Juca Ferreira. — Depois de termos passado pela ditadura, hoje a censura de estado é completamente rejeitada. Mas ainda existe uma censura mais
estrutural, menos evidente. Artistas de
vanguarda, por exemplo, têm dificuldade de se apresentar, e quem exerce essa
censura diz que a razão é a “qualidade”
ou o “bom gosto”. É um escândalo. No
passado, o samba foi proibido porque
não era de bom gosto. Isso é marca de
elitismo e discriminação. l
NA WEB
oglobo.com.br/cultura
Fotos e vídeos de artistas
censurados pelo mundo
BB
LEIA AMANHÃ...
A censura política
l O GLOBO
2
l Segundo Caderno l
[email protected]
MARCUS
FAUSTINI
|
Terça-feira 23 .2 .2016
Gente
Boa
CLEO GUIMARÃES
|
Email: [email protected] e Blog: http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/
COM MARIA FORTUNA E FERNANDA PONTES
|
A palavra utopia
O livro “Utopia”, a emblemática obra de
Thomas More, completa 500 anos agora em
2016. Dividido em duas partes, a primeira
faz uma crítica à Inglaterra e à França do
século XVI e seu belicismo; a segunda parte
relata uma comunidade ideal, uma ilha, aos
olhos de um viajante europeu. A efeméride,
que já disparou eventos de comemoração e
ações anunciadas em diversos lugares, traz
à cena o debate sobre a ideia de utopia —
que vai além do livro de More.
Frequentemente associada a grupos de
esquerda, utopia é um conceito de
fabulação sobre passados e futuros ideais
que influenciou visões de sociedades.
Tenho uma relação poderosa mas também
conflituosa com a palavra em questão.
COMEÇOU A MARATONA
Atores estreiam projeto em que chegam a
encenar duas peças de Shakespeare por dia
FOTOS DE MARCOS RAMOS
JOSÉ
EDUARDO
AGUALUSA
3ª
MARCUS
FAUSTINI
4ª
5ª
6ª
FRED
FLÁVIA ZÉLIA
COELHO OLIVEIRA DUNCAN
SAB
MARCIO
TAVARES
D'AMARAL
DOM
FERNANDO
GABEIRA
Cassino na Barra
O presidente da Embratur, Vinicius
Lummertz, vem ao Rio esta semana para
uma reunião com a Associação Brasileira
da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ). O
assunto: a instalação de um cassino na
Barra. Como se sabe, a legalização de
jogos de azar no Brasil está sendo
discutida no Senado e na Câmara dos
Deputados, em Brasília. “Além de ser uma
atração interessante para a cidade,
teremos muitos hotéis ociosos na Barra
depois dos Jogos, e isso nos preocupa”, diz
Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ.
Aliás e a propósito
O grupo que opera o cassino de Estoril,
em Portugal, já demonstrou interesse em
administrar uma casa de jogos na Barra
caso o projeto saia mesmo do papel. “Eles
estão loucos para vir para cá”, diz Alfredo.
O selo do Chico Chico
C
O próximo músico a ter um disco lançado
pelo selo Porangareté, de Chico Chico e
Maria Eugênia (filho e companheira de
Cássia Eller, respectivamente), é Carlos
Posada. Sueco criado no Recife, Posada
teve sua canção “Castanho” gravada
recentemente por Lenine. Julia Vargas e
Pietá, além do próprio Chico Chico, são
outros artistas do selo.
Foucault sabia das coisas
Camarim. Giulia Gam: últimos preparativos antes de interpretar Lady Macbeth no teatro
Ele. Thiago
Lacerda: mais
um texto de
Shakespeare
no currículo
Aquele papo de que “intelectual não vai à
praia, intelectual bebe” não colava com
Michel Foucault, um dos mais
respeitados filósofos do século XX. Quem
garante é Roberto Machado, professor
de filosofia que vai dar um curso no POP
sobre o francês. Ele conta que Foucault
tinha especial interesse pelo Brasil, onde
esteve cinco vezes, nos anos 70. “Ele era
simpático. No Rio, fomos juntos muitas
vezes à Praia de Ipanema, ele adorava,
não era um intelectual recluso.”
E mais
Roberto lembra que em 1975 Foucault
interrompeu uma aula na USP em
solidariedade à morte de Herzog pelos
militares. “No ano seguinte, voltou ao
Brasil para conhecer Recife, Salvador e
Belém, como um desafio à ditadura que
desejava expulsá-lo do país”, afirma. A
amizade entre os dois também será
assunto de livro, que será publicado
ainda este ano.
Noite. Luana Piovani também esteve lá
Novidade em Copacabana
O ponto na Avenida Atlântica com
Francisco Sá, no Posto Seis, onde
funcionou o bar Atlântico (saudades...)
vai virar filial da casa de tapas Venga!
Antes do Maracanã...
DIVULGAÇÃO
onheci a palavra utopia antes da complexidade do seu significado conceitual. Comecei a frequentar rodas de ativismo e arte da
cidade na segunda metade dos anos 1980 e lembro
de ter ficado encasquetado com a força da danada
da tal utopia, essa palavra que estava na boca de
tanta gente, naqueles ambientes. Para um moleque da periferia, que tentava criar formas de sobreviver numa escolha tão difícil — fazer arte e ativismo —, ela dava uma força interna por acreditar
numa jornada coletiva que trazia a emoção de ver
tanta gente crendo que a vida poderia ser melhor
para todos. Porém, pra encasquetar a minha mufa,
quem usava a palavra utopia por vezes era desqualificado. “Fulano está sendo utópico, acha que a realidade vai se adaptar aos seus ideais” ou “deixa de
ser utópico” eram frases disparadas em debates
calorosos. Ou seja: os utópicos eram taxados, no
popular, de viverem no mundo da lua. Por sua vez,
quem era alvo dessa desqualificação também dava
o troco pra quem a fazia — são vendidos, traidores,
perderam a utopia, adaptaram-se ao sistema,
eram as respostas que dividiam campos.
Em casa, falar de utopia era quase um sinal de vagabundagem, “uma vida meio hippie, meio Bob
Marley” que vinha sempre taxada como uma coisa
que não daria futuro pra ninguém. “Tu tem é que ter
profissão na vida”, sentenciava minha mãe. Mas eu já
havia determinado que a utopia seria uma das bússolas da vida. Tanto nos grupos de vivência da Teologia da Libertação como nos grupos de teatro que
participava, a utopia era um valor comum: a utopia
de viver da arte, de fazer dela um impulso para mudar o estado das coisas. Assim, foi a aproximação juvenil e conflituosa com a tal palavra.
De lá pra cá, muito coisa aconteceu em nossas vidas e no Brasil. Da melhoria de vida dos mais pobres
até a visão de transformar nosso país em grande nação desenvolvida que regeu diversos governos, ambos os fatos estão permeados por vários aspectos do
conceito de utopia. No livro “Utopia — A história de
uma ideia”, de Gregory Claeys com tradução de Pedro Barros pelas Edições Sesc, o autor faz um inventário histórico da utopia, assumindo a dificuldade
de uma definição utilizável e de uma síntese. A amplitude do conceito é imensa, demonstrada no livro.
O desenvolvimento de seu pensamento passou por
fases míticas, religiosas, positivistas e institucionais.
Todas baseadas em faróis de modelos ideais de sociedades. Desde sua base mitológica, ligada à visão de
um paraíso perfeito de origem da humanidade, onde homens viviam como deuses, até a presença deste conceito nas raízes do liberalismo, que propunha
uma organização “de opulência utópica” — como
chama o autor — baseada na divisão do trabalho e
no crescimento do comércio.
Não há dúvida, entretanto, que a operação do conceito de utopia mais eficaz no pensamento moderno foi a marxista. Sendo base para muitas vidas e lutas contra desigualdades, imaginou a destinação
ideal da humanidade como uma sociedade sem
classes. Porém, a leitura do consistente livro de Gregory Claeys, que possui uma narrativa de bom fluxo
diante do tema difícil, faz entender também que
muitos projetos autoritários de sociedade tiveram
na ideia de perfeição — prima da utopia — sua base
para censuras e exclusão das diferenças. Algumas
delas influenciadas pelo pensamento marxista, inclusive. Alguns podem dizer que os desvios da ideia
de utopia está naqueles que erraram em sua maneira de concretizá-la. Entretanto, essa visão moral de
que existiriam homens mais apropriados que outros
para carregar a missão utópica é a base desses erros.
Apertando pra juntar palavra e conceito, nos 500
anos da publicação do seminal livro de More, arriscamos dizer que o sumo da utopia é aquilo que ela nos
traz como sentido de busca de igualdade, para uma
sociedade melhorada. Mas ela não é uma sociedade
perfeita ou uma comunidade idealizada — esses dois
sentidos deram espaço a sociedades de exclusão e
até mesmo autoritarismo. Melhorar as condições de
igualdade no mundo foi o maior uso histórico do
conceito. Perceber os diversos usos da utopia, compreender sua história, não é enfraquecê-la. Torna a
palavra uma flecha mais certeira. Sigamos com ela. l
2ª
|
Casal. Cris Vianna e Luiz Roque: na plateia
Na Lapa. Karl Denson em ação: “Água de beber”
Quem apareceu sexta-feira no Carioca da
Gema, na Lapa, foi Karl Denson, o
saxofonista dos Rolling Stones, que, no
dia seguinte mandaria ver num solo
durante “Brown sugar”, no show do
Maracanã. Supersimpático, Denson se
misturou ao público, tomou caipirinha e
deu canja. Ele pegou uma flauta
emprestada e tocou “Água de beber” e
“Samba de uma nota só”, ao lado do
músico Dudu Oliveira.
Luz. Juliana Didone: chuva não a desanimou
A
sensação de Giulia Gam e Thiago
Lacerda antes da estreia de “Macbeth”, dias atrás, na Cidade das Artes, era a de que estavam “voltando para
casa”. Foi lá que eles ensaiaram tanto
“Macbeth” quanto a comédia “Medida
por medida” — as peças compõem o
projeto “Repertório Shakespeare”, em
que o elenco praticamente emenda um
espetáculo no outro, aos sábados.
l
Antes de chegar à Barra, Giulia e Thiago
estrearam em Belo Horizonte e depois fizeram uma elogiada temporada em São
Paulo. Nos dias em que fazem sessão dupla, é uma maratona de mais de quatro
horas em cena. “Sinto como se estivésse-
mos estreando todos os dias”, dizia Giulia, que vive Lady Macbeth na tragédia, e
uma prostituta na comédia. O desafio de
montar dois textos de Shakespeare surgiu em uma conversa de Thiago com o
Ron Daniels, brasileiro radicado em Londres e um dos principais diretores da
Royal Shakespeare Company.
l
Ron (que nasceu Ronaldo Daniel, em Niterói) havia dirigido Thiago em “Hamlet”
e a dupla queria continuar montando
Shakespeare. Thiago sonhava em fazer
“Macbeth”, e Ron queria “Medida por
medida”, pouco montada por aqui. “E se
fizermos as duas?”, propôs. Thiago aceitou e assina também a produção.
U
Curtinhas
Renato Bairros, e não Ricardo Bairros, é o
autor das fotos publicadas ontem na coluna.
O espetáculo “Desde que o samba era semba”
faz curta temporada no Teatro João Caetano,
nos dias 26 e 27, às 19h.
Flavia Sampaio inaugura primeira loja física
do Powerlook, em Ipanema.
Noite Faro MPB tem BondeSom e Anna Ratto,
às 19h30, no Botafogo Praia Shopping.
Terzetto Café tem novidades no cardápio.
Adriano Guimarães e Emanuel Aragão encontram o público amanhã, no CCBB, às 19h30,
em debate sobre “Hamlet — Processo de revelação”, em cartaz até domingo.
l Segundo Caderno l
Terça-feira 23 .2 .2016
Cinema ‘Norte, o fim da história’
Show Pietá
Uma epopeia
psicológica
Três não é demais
Filmes sobre
O RIO VISTO
mulheres artistas
PELAS
na Caixa Cultural
LENTES
Começa hoje, na Cinemateca do MAM, uma
mostra dedicada a filmes baseados em textos
de Nelson Rodrigues. A estreia é com “Ninguém ama ninguém... por mais de dois
anos..” (2015), de Clóvis Mello, que trata da
intimidade de cinco casais (entre eles Michel
Melamed e Gabriela Duarte) nos anos 1960.
Aplaudido de pé pelo
Bonequinho, o longa
do filipino Lav Diaz, de 2013, tem sessões
hoje e amanhã, no IMS. Com mais de quatro
horas de duração e inspirado em “Crime e
castigo”, de Dostoiévski, conta a história de
um homem que é preso injustamente, enquanto o verdadeiro criminoso segue solto
(personagem de Sid Lucero, na foto).
Formado por
Frederico Demarca, Juliana
Linhares e Rafael
Lorga, o trio
Pietá apresenta o
show do disco
“Leve o que
quiser”, no Beco das Garrafas. Além das faixas autorais do CD, o grupo tocará também
releituras para sucessos da MPB.
ONDE: Cinemateca do Museu de Arte Moderna. Av. Infante Dom
Henrique 85, Parque do Flamengo (3883-5600). QUANDO: Ter, às
18h30m. QUANTO: R$ 8. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos.
ONDE: Instituto Moreira Salles. Marquês de São Vicente 476, Gávea
(3284-7400). QUANDO: Ter e qua, às 14h30m. QUANTO: R$ 22.
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos.
ONDE: Beco das Garrafas. Rua Duvivier 37, lojas J e K, Copacabana
(2543-2962). QUANDO: Ter, às 21h. QUANTO: R$ 30.
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos.
Pelo buraco da
fechadura
Show ‘Rodas do samba carioca’
Tradição das ruas para o palco
2016 marca o centenário do samba — contado a partir da primeira gravação de uma
música do gênero, “Pelo telefone”, de Donga,
em 1916. Entre as comemorações pela data,
o Sesc Ginástico abriga o projeto “Rodas do
samba carioca”, que leva tradicionais rodas
de rua para o palco do teatro. A estreia, hoje,
é com o Samba da Ouvidor, que terá participação do bamba Monarco. Amanhã, tem
Pedra do Sal e Teresa Cristina. Até o dia 9 de
março, passarão por lá ainda, sempre às
l 3
VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR
OU ACESSE NO SITE: rioshow.com.br
OS DESTAQUES DE HOJE DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL
Cinema
‘Nelson, moderno e
contemporâneo’
O GLOBO
terças e quartas, as rodas do Candongueiro e
do Samba do Trabalhador, entre outras.
— É muito bom participar de um evento desses, que reúne os movimentos populares da
cidade — conta Gabriel Cavalcante, que há oito
anos comanda a roda que agita a esquina das
ruas do Ouvidor e do Mercado, aos sábados.
O repertório, improvisado quando tocado na
calçada, foi organizado para o show.
— Tentaremos levar o que fazemos na rua
para o palco. Paulo César Pinheiro, Paulinho
da Viola e Candeia estão garantidos — adianta Gabriel, que comemora a presença de Monarco para abrilhantar a festa. — Ele caiu
como uma luva para a gente, porque é um
cara que tem muito a ver com a nossa roda.
(Patricia Espinoza)
ONDE: Sesc Ginástico. Av. Graça Aranha 187, Centro (2279-4027).
QUANDO: Ter e qua, às 19h30m. QUANTO: R$ 20. CLASSIFICAÇÃO:
12 anos.
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Show BondeSom
Teatro ‘O impecável’
Música instrumental de graça
Piadas de salão
Teatro ‘Processo de
conscerto do desejo’
O projeto Noite Faro MPB está de volta e convida o BondeSom, hoje, para um show gratuito
no Botafogo Praia Shopping. O grupo instrumental promoverá uma ressaca de carnaval
com músicas autorais
e sucessos da MPB e
contará com a
participação
especial da
cantora
Anna Ratto.
Os sete pecados capitais
podem ser encontrados
em um típico salão de
beleza carioca. Quem dá
vida aos “desvios” da humanidade é Luiz Fernando
Guimarães, que interpreta
oito personagens no monólogo cômico de Charles Moeller e Claudio
Botelho. A peça, que encerra temporada
quinta-feira, tem direção de Marcus Alvisi.
ONDE: Botafogo Praia Shopping. Praia de Botafogo 400, 8º piso,
Botafogo (3171-9872). QUANDO: Ter, às 19h30m. QUANTO: Grátis.
CLASSIFICAÇÃO: Livre.
ONDE: Teatro dos Quatro. Shopping da Gávea, 2º piso. Rua Marquês
de São Vicente 52, Gávea (2239-1095). QUANDO: Ter a qui, às 21h.
Até quinta. QUANTO: R$ 80. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos.
DRAMA
DRAMA
Um espetáculo de
homenagem
Dirigida por Matheus
Nachtergaele, a peça
“Processo de conscerto do desejo”, que teve a
sua primeira apresentação em julho de 2015,
encerra sua temporada amanhã no Teatro
Poeirinha. No espetáculo, Matheus recita
poemas de sua mãe, Maria Cecília Nachtergaele, morta em 1968.
‘CENTRO
2013’, ALEX
GAUDÊNCIO
A mostra
“Carioca-se”,
que abre hoje
no Palácio
Tiradentes,
reúne 41
imagens do
Rio feitas
pelos
fotógrafos do
coletivo
“6por6”, com
seus olhares
críticos e
apaixonados
pela cidade.
‘The life and times of Frida
Kahlo’, de Amy Stechler
1
A exposição “Frida Kahlo
— Conexões entre mulheres surrealistas no
México”, na Caixa Cultural, exibe seis filmes, como
este longa de 2005 sobre a
estrela da mostra. Às 15h.
‘Alice Rahon’, de Dominique
e Julien Ferrandou
2
‘CATETE
2010’
Além dos s
fotógrafos do
coletivo,
formado por
ex-alunos da
UCAM, três
artistas convidados exibem
seus trabalhos na exposição: Adriana
Medeiros,
Carolina
Souza de
Almeida e
Larrion Nascimento (foto).
‘CINELÂNDIA
2013’
A exposição,
que apresenta
imagens de
um Rio que
foge do estereótipo turístico, como
registros de
protestos
populares
(foto de Adriana Medeiros),
segue até o
dia 18 de
março no
Palácio Tiradentes (Rua
Primeiro de
Março s/nº,
Centro).
Grátis.
ONDE: Teatro Poeirinha. Rua São João Batista 103, Botafogo
(2537-8053). QUANDO: Ter e qua, às 21h. Até amanhã.
QUANTO: R$ 40. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos.
O média-metragem
relembra a trajetória
da pintora e poeta
francesa. A convite de
Frida Kahlo, Alice instalou-se
no México, onde morreu em
1987, na capital. Às 10h30m.
‘Leonora Carrington’, de Julien
e Dominique Ferrandou
3
O longa francês
aborda a vida e a
obra da escritora e
artista plástica inglesa Leonora Carrington (19172011), consagrada por suas
pinturas surrealistas. Às 17h.
‘Remedios Varo’, de Tufic
Makhlouf
4
Também influenciada
pelo movimento
surrealista, a artista
espanhola chegou ao
México em 1941, onde ganhou nova nacionalidade e
reconhecimento. Às 19h.
‘Jacqueline Lamba’, de
Fabrice Maze
5
O longa narra a
história da artista
francesa. Às 12h30m.
Os filmes, com
sessões diárias, são exibidos
paralelamente à mostra, de
graça. Até 27 de março.
O Bonequinho viu
DOCUMENTÁRIO
'O abraço
da
serpente'
‘Chico —
Artista
brasileiro’
DRAMA
‘Filho de
Saul’
DRAMA
‘O lobo do
deserto’
DRAMA
‘A ovelha
negra’
AÇÃO
‘O quarto de
Jack’
DRAMA
‘Deadpool’
‘Noites
brancas no
píer’
Dividido em dois planos, o instigante filme
de Ciro Guerra ambiciona uma amplitude de
tempo bem maior ao
mostrar personagens
que caminham em
direção ao contato
com a ancestralidade.
A fotografia de David
Gallego é destaque.
Encontro privilegiado
com um artista visto
por ele mesmo na
maturidade. Levando
em conta a extensão,
diversidade e genialidade de sua obra e o
grau de intimidade
obtido por Miguel Faria
Jr., não há como deixar
de aplaudir de pé.
É claustrofóbico e
incômodo, a antítese
do queridinho ‘‘A vida é
bela’’, outra produção
que abordou paternidade e Holocausto.
Mas, tanto por sua
originalidade quanto
pela força da história
que narra, deve ser
visto por todos.
O longa de Naji Abu
Nowar soma pontos
com a expressividade
do menino Jacir Eid
Al-Hwietat, que imprime
credibilidade ao protagonista, a trilha sonora
de Jerry Lane e a
fotografia de Wolfgang
Thaler, que aproveita a
exuberância do deserto.
Não espere
encontrar fofices no
longa-metragem “A
ovelha negra”, dirigido
por Grímur Hákonarson. Com pitadas de
humor negro na relação de rivalidade entre
os irmãos, a narrativa é
seca e fria como o
inverno islandês que
se aproxima.
O enredo parece menos
importante do que os
sentimentos que ele
quer mostrar. O foco é o
amor de mãe e filho, e
apenas “por acaso” sua
história se passa numa
situação em que até os
5 anos o menino nunca
deixou o quartinho que
divide com a mãe.
Por mais que insista em
ser diferente, acaba com
os mesmos problemas
dos filmes de heróis:
muitos músculos e nem
tanto cérebro. Algumas
piadas são, sim, divertidas, mas ainda estão
longe de resgatar o
interesse nesse gênero
de cinema.
É preciso coragem para
filmar uma obra de
Dostoiévski já levada à
tela por cineastas da
envergadura de Luchino
Visconti e Robert Bresson. Paul Vecchiali,
veterano de trajetória
fascinante porém irregular, dá conta do recado
apenas pela metade.
Daniel Schenker
Susana Schild
André Miranda
Daniel Schenker
Marcelo Janot
André Miranda
André Miranda
Ruy Gardnier
.com.br
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4
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
Terça-feira 23 .2 .2016
Os destaques de hoje na TV
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
BBB Earth, 23h55m
Várias formas
de comer
Em “Comer para viver para
sempre”, o crítico gastronômico inglês Giles Coren vai aos
Estados Unidos experimentar
três das dietas mais radicais
do mundo e investigar o comportamento dos adeptos.
Natalia Castro
[email protected]
GNT, 21h30m
Discovery, 22h20m
Canal Brasil, 0h
Globo, 21h25m
‘Mais cor, por favor’
‘Nos confins do Alasca’
‘Transando com Laerte’
‘A regra do jogo’
No episódio inédito, a apresentadora Thalita Carvalho
(foto) e Carol Costa, especialista em plantas decorativas, transformam a varanda
de um casal em um lugar
ideal para festas na piscina.
Em episódios de uma hora,
a série acompanha quatro
homens que se aventuram
pela região. Na estreia, eles
precisam terminar a construção de suas casas antes
de o inverno chegar.
A cartunista (foto) conversa
com o roteirista Hilton Lacerda, de “Febre do rato” (2012).
Ele faz críticas ao moralismo
vigente na arte e diz que a
tolerância é essencial para
que se viva em harmonia.
Hoje o público acompanha a
falsa morte de Romero (Alexandre Nero). Ele supostamente morre durante incêndio causado por Atena (Giovanna Antonelli) e Toia (Vanessa Giácomo, foto).
Horóscopo
POR CLAUDIA LISBOA
(21/3 a 20/4)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Libra. Regente: Marte.
A espontaneidade é uma maneira
de experimentar a liberdade. Mas
é preciso distinguir da tentativa de
impor aos outros a sua verdade. É
tempo de se expressar sem se
esquecer de respeitar os demais.
LIBRA
(23/9 a 22/10)
Elemento: Ar. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Áries. Regente: Vênus.
Ao temer expor suas opiniões,
isso pode abalar suas relações e
torná-las mais frágeis. É tempo de
se expressar com naturalidade,
ficando atento ao que fala, para
construir relações de confiança.
TOURO
(21/4 a 20/5)
Elemento: Terra. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Escorpião.
Regente: Vênus.
Se a impaciência estiver dominando, você pode ter resistência em
entender as limitações de outras
pessoas. É tempo de cultivar a
tolerância e ser respeitoso ao lidar
com as diferenças.
ESCORPIÃO
(23/10 a 21/11)
Elemento: Água. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Touro.
Regente: Plutão.
É possível que você acorde sentindo a necessidade de dar um
passo além do habitual. Isso para
ter a chance de conhecer coisas
que ainda não experimentou. É
tempo de vivenciar algo novo.
GÊMEOS
(21/5 a 20/6)
Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário.
Regente: Mercúrio.
Uma boa argumentação pode
fazer você alcançar os objetivos. O
poder de comunicar deve ser
sempre aperfeiçoado. É tempo de
fazer as mudanças necessárias ao
seu crescimento pessoal.
SAGITÁRIO
(22/11 a 21/12)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Gêmeos. Regente: Júpiter.
Ainda que esteja entusiasmado
com relação aos seus planos, você
pode sentir algumas restrições ao
tentar realizá-los. É tempo de ser
comedido nas suas ações para
evitar surpresas por empecilhos.
CÂNCER
LEÃO
(21/6 a 22/7)
Elemento: Água. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Capricórnio. Regente: Lua.
(23/7 a 22/8)
Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Aquário.
Regente: Sol.
Quando os conflitos dão os primeiros sinais de desconforto,
talvez seja a hora de tratá-los
seriamente. É tempo de ter autoconfiança para reduzir danos que
vêm das dificuldades emocionais.
Se a exigência é alta, o medo de
falhar pode levá-lo à paralisação e
à frustração. É tempo de ser mais
flexível consigo mesmo, admitindo
os erros que não comprometem a
obtenção de bons resultados.
CAPRICÓRNIO
(22/12 a 20/1)
Elemento: Terra. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Câncer. Regente: Saturno.
AQUÁRIO
Ao perceber que as opiniões já
não se encaixam no contexto
atual, o mais adequado seria
reformulá-las. É tempo de entender que o processo de amadurecimento inclui superar as limitações.
(21/1 a 19/2)
Elemento: Ar. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Leão.
Regente: Urano.
Para que possa atender as necessidades de seu parceiro, é preciso
que a relação tenha como base a
responsabilidade. É tempo de
assumir compromissos que facilitam a manutenção das relações.
Logodesafio
POR SÔNIA PERDIGÃO
VIRGEM
(23/8 a 22/9)
Elemento: Terra. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Peixes. Regente: Mercúrio.
O que era feito sem hesitação,
agora pode lhe causar algum tipo
de desconforto. É tempo de compreender que nem tudo pode ser
planejado e que o imprevisto deve
ter lugar na sua organização.
PEIXES
(20/2 a 20/3)
Elemento: Água. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Virgem. Regente: Netuno.
Nem sempre sua dedicação aos
demais é compreendida e, por
isso, você pode ficar ressentido. É
tempo de esclarecer mal-entendidos, aprofundando-se naquilo que
for mais relevante.
Foram encontradas 62 palavras: 38 de 5 letras, 15
de 6 letras, 8 de 7 letras, 1 de 8 letras, além da
palavra original. Com a sequência de letras ÇO
foram encontradas 8 palavras.
Instruções: Encontrar a palavra original utilizando
todas as letras contidas apenas no quadro maior.
Com estas mesmas letras formar o maior número
possível de palavras de 5 letras ou mais. Achar
outras palavras (de 4 letras ou mais) com o auxílio
da sequência de letras do quadro menor. As letras
só poderão ser usadas uma vez em cada palavra.
Não valem verbos, plurais e nomes próprios.
Solução: aceso, ático, átimo, casto, césio, cesta, cesto, cetim, cisma, cisto, coesa, coisa,
costa, cotia, ética, ético, imota, ístmo, macio, meião, meios, mista, misto, moída, moita,
mosca, ótica, ótima, seita, simão, símio, sítio, sócia, somiê, teima, tesão, timão, tosca;
aceito, aético, cometa, comitê, estima, meiota, micose, mítica, mítico, semita, sétima,
sétimo, semota, tísica, tísico; ateísmo, esticão, estoica, iatismo, mascote, mística,
místico, teimosa; teimosia; SEMIÓTICA. Com a sequência de letras ÇO: açoite, castiço,
começo, maciço, maço, mestiço, moço, timaço.
ÁRIES
Expediente
EDITORA: FÁTIMA SÁ [email protected] l EDITORES ASSISTENTES: CRISTINA FIBE [email protected],
EDUARDO FRADKIN [email protected], EDUARDO RODRIGUES [email protected], GABRIELA GOULART
[email protected], HELENA ARAGÃO [email protected] l DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MORGADO, PAULA
FABRIS E TOMÁS BREVES l TELEFONES: REDAÇÃO: 2534-5703 l PUBLICIDADE: 2534-4310 [email protected] l
CORRESPONDÊNCIA: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. CEP: 20233-900
l Segundo Caderno l
Terça-feira 23 .2 .2016
‘Vinyl’ é renovada para a segunda ANNA E
temporada e merece a sua atenção VRONSKY
O amigo Artur Xexéo
[email protected]
PATRÍCIA
KOGUT
Crítica
COM FLORENÇA MAZZA, ANNA LUIZA SANTIAGO
E RAFAELA SANTOS
O MATRIMÔNIO
Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank
apresentaram o projeto de um quadro
para o “Fantástico”. Ainda sem título,
o programa é sobre a vida conjugal. A
ideia é falar com humor sobre a rotina
de quem é casado. Entre outras
coisas, Bruno e Giovanna
entrevistarão anônimos nas ruas.
10
0
Para o “Amor & sexo” do
último sábado, com o
desfecho do “BiShow”. O
programa foi emocionante,
aboliu fronteiras e mostrou
que é importante. Além,
claro, de ser bom
entretenimento.
Para as legendas de
“Breaking bad” na Netflix.
Para você ver o grau do
ridículo, Hello Kitty (a
personagem do desenho)
virou “Olá Kitty”. Ofensivo até
para o Google Tradutor.
Literatura
As roupas eram coloridas, a liberdade sexual, um fato, o
som, pesado. O ambiente de
“Vinyl” é o das gravadoras nos
anos 1970. Não faz tanto tempo assim, mas, de lá para cá, a
indústria fonográfica ruiu. Depois, foi recomposta sem jamais, entretanto, recuperar
100% daquele vigor. Esse é um
dos choques que sofre o espectador da era digital ao assistir à
produção assinada por ninguém menos que Martin Scorsese e Mick Jagger. Aquele rock
and roll — no sentido amplo —
ficou no passado. Já a série da
HBO foi renovada para a segunda temporada.
Acompanhamos Richie Finestra (o excelente Bobby Cannavale), dono de uma gravadora em Nova York. Cheirador de
cocaína com uma capacidade
de consumo impressionante,
ele é um self made man à beira
da pindaíba. Sua empresa tem
o passe de bandas importantes, mas, nos tempos mais recentes, errou muito a mira na
captação de artistas. Apavorado, ele aperta sua equipe para
que ela ache talentos. Em reu-
BELAS
COZINHAM
niões tensas, todos fumam, há
gritaria. Nos escritórios rola
um farto estoque de pó, maconha e remedinhos. Para sair do
buraco, Finestra tenta vender a
empresa para a Polygram. O
problema é que os compradores contam com um contrato
que, ele promete, fechará com
o Led Zeppelin. Só que o empresário da banda, inglês, diz
que não fará negócio com alemães (o nazismo era bem recente àquela altura).
Quem assistiu a “Boardwalk
Empire” (também da HBO) vai
lembrar da reconstituição de
época grandiosa daquela série
igualmente de Scorsese. Lá como cá, há um certo formalismo
que se expressa no rigor com a
fidelidade aos detalhes. Ninguém está brincando de reencenar uma época e o espírito
de um tempo. É rock figadal.
“Vinyl” se arrasta um pouco,
mas é boa. Tem tristeza, desespero e seus personagens, uma
dimensão humana que comove. Fora que não alivia ao tratar
de glamour e decepção. É mais
ou menos como diz “Stairway
to heaven”, maior hit de Jimmy
Page e Robert Plant: nem tudo
o que reluz é ouro e talvez a escadaria para o paraíso seja só
uma ilusão.
ARQUIVO PESSOAL
Amora Mautner
deixou o
estúdio de “A
regra do jogo”
por algumas
horas e motivo
nobre: gravar
com Bela Gil
seu programa
no GNT
RENATO PARADA/DIVULGAÇÃO
O FIM É
OUTRO
INÍCIO
Livro de Noemi Jaffe, o último
da Cosac Naify, traz ensaios
poéticos sobre os começos
LEONARDO CAZES
[email protected]
P
or uma ironia do destino, o último livro a ser publicado pela editora Cosac Naify é o “Livro dos
começos”, da escritora e tradutora Noemi Jaffe. Não se trata de uma obra tradicional. O livro é uma caixa que guarda
várias lâminas, cada uma com um ensaio poético sobre começar. Sem ordem
pré-definida e numeração, a ideia surgiu a partir de conversas de Noemi com
Umberto Eco
Livro póstumo será
lançado nesta sexta
O novo livro de Umberto Eco,
morto no dia 19, teve o lançamento na Itália antecipado para
sexta-feira. Intitulada “Pape Satan Aleppe”, a obra ainda não
tem data para sair no Brasil. l
aCorreções
Diferentemente do que foi publicado na capa do Segundo
Caderno de domingo, o filme
“Ghost” é de 1990.
Na mesma edição, no resumo
das novelas, o nome correto
daquela exibida na faixa das
18h é “Êta mundo bom”.
O GLOBO
Origens. No Twitter, Noemi Jaffe aponta relações curiosas da etimologia das palavras
l 5
REPRODUÇÃO
corrige a nota publicada
aqui de ontem sobre a
série da Globo “Nada será
como antes”. Dissemos
que “Anna Karenina”
nunca virou novela no
Brasil. “Em 1967, a TV Rio
adaptou ‘Anna Karenina’
numa novela.
Chamava-se ‘A mulher
que amou demais’, e era
com Tônia Carrero. O
galã era Milton Rodrigues
(na foto ao lado)”,
esclarece
OUTRA
TELA
Rafinha
Bastos, que
vai estrear no
Multishow,
tem projetos
para o
cinema. Sua
produtora, a
Rafael Bastos
Hocsman
Comunicações, foi
autorizada
pela Ancine a
captar para o
filme “Batalha
de domingo”.
É a história de
um motorista
convidado a
apresentar
um programa
dominical
numa grande
emissora
de TV.
O preço
Perdoa tudo
A indefinição da grade da
Record atrapalha a vida dos
atores também. Milena
Toscano vinha negociando
com o SBT para fazer
“Carinha de anjo”, mas
acabou perdendo a chance.
Tudo porque a emissora de
Edir Macedo ainda não
definiu a data de estreia de
“Escrava mãe”, novela em
que ela tem um papel de
destaque. Receoso com a
perspectiva de a atriz entrar
no ar ao mesmo tempo na
concorrência, o SBT
desistiu dela.
Alexandra Richter vai
conciliar a reta final de “A
regra do jogo” com as
primeiras leituras de “O
amor perdoa tudo”. Na peça
de Fabricio Carpinejar com
direção de Ary Coslov, ela
fará par romântico com
Mouhamed Harfouch.
Números 1
O “The voice kids” voltou a
bater recorde de audiência,
com 25 pontos (RJ) e 18 (SP).
Números 2
“Amor & sexo” também
repetiu recorde com 19
pontos (RJ) e 16 (SP).
a editora Heloísa Jahn. Afinal, é possível
começar de qualquer lugar, não necessariamente da primeira página.
— No “Livro dos começos”, você começa na ordem que quiser. A ideia é não
ter um começo só. Até porque todo começo é diferente — explica Noemi. — O
último livro da Cosac se chamar “Livro
dos começos” é como se fosse um augúrio. Uma coisa que está terminando,
mas pode começar. E vários dos ensaios
falam sobre isso. Se você começa algo é
porque aquilo vai acabar. Começar é estar condenado ao fim.
A escritora conta que escrever sobre os começos foi uma
forma de refletir sobre algo que
a aflige durante toda a produção de um livro. Ela argumenta
que os começos são sempre artificiais porque, na vida, as coisas nunca começam, mas seguem um fluxo. “Mais do que
nomear, designar um começo
é localizar algo no tempo e condená-lo
à temporalidade, já que o começo é um
elemento da tríade composta de passado, presente e futuro. O que agora é começo, em muito ou pouco tempo já será passado”, escreve Noemi.
— O tempo todo eu penso nisso. Ao
longo da escrita de um livro, você está o
tempo todo começando. Eu tento fazer
com que o leitor sinta um fluxo de simultaneidade, mais do que uma série
de causas e consequências, tal como é a
vida. O desafio é fazer o tempo narrati-
Comportamento
Andreia Horta, Ricardo
Pereira e Nathalia Dill, entre
outros atores de “Liberdade,
liberdade”, tiveram um dia
de aula com as consultoras
de etiqueta Katia Mindlin e
Martha Carneiro da Rocha,
no Projac. Tudo para
aprenderem os modos do
século XVIII, quando se
passa a novela.
NA WEB
patriciakogut.com
O mundo da televisão passa
por aqui. Visite.
vo soar natural — afirma a escritora.
Noemi é bastante ativa no Twitter. No
seu perfil na rede social e em seu blog,
ela escreve sobre a origem das palavras, estabelecendo relações curiosas
entre elas. No domingo passado, a escritora mostrou que “idiota” e “idioma”
têm a mesma raiz: próprio, peculiar.
“São peculiaridades dos falantes de
uma língua e dos limítrofes mentais”,
escreveu. Já na sexta-feira, ela apontou
um parentesco mais inusitado, entre
“caralho” e “caráter”. Ambas vêm do
ferro pontiagudo utilizado para marcar bois. Seu interesse
pela etimologia das palavras é
muito antigo e está relacionado ao seu ofício de tradutora.
Noemi diz que a história de cada palavra já dá um conto.
— Quem vai fundo nas origens das palavras passa a conhecer segredos sobre a vida.
Somos mais capazes de compreender alguns mistérios de como as
coisas funcionam. É como se eu buscasse um tempo em que as palavras e as
letras tivessem um motivo para ser do
jeito que são, e não arbitrárias como
hoje — explica a escritora. l
“LIVRO DOS COMEÇOS”
AUTOR: Noemi Jaffe. EDITORA: Cosac Naify. PÁGINAS:
38. PREÇO: R$ 39,90. LANÇAMENTO: Hoje, às 19h30m,
na Livraria da Travessa de Ipanema — Rua Visconde de
Pirajá, 572 (3205-9002), junto com “Quem quando
queira” (Cosac Naify), de João Bandeira.
6
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
O
Terça-feira 23 .2 .2016
[email protected]
povo brasileiro está
aparvalhado diante
da gigantesca roubalheira no país. Mas,
para além do escândalo da opinião pública, precisamos entender por que nossos políticos ladrões são tão vorazes e boçais. Como se formaram, em que escola de
picaretagens estudaram, o que os move
com tanta gula assaltando a Petrobras e
fundos de pensão, roubando merendas escolares e remédios contra o câncer? Por que
tanta sordidez? Há muitas razões socioeconômicas para explicar sua formação, sua
evolução, mas há neles a prevalência da volúpia do Mal. A sedução do Mal.
Sinto nesses parlamentares o prazer de ir
contra o senso comum, contra o que a maioria pensa. Há uma ética sádica, de contrariar a população, de proteger uma obscuridade secreta, de defender o direito ao roubo, o direito à mentira como um bem precioso, um direito natural. Eles mentem com
gargalhadas cínicas ou arranjam razões que
os explicam: se vingam e roubam por uma
infância humilhante, com mães lavadeiras
ou prostitutas que trabalharam duro para
eles subirem na vida.
Eles se banham na beleza de um “baixo
maquiavelismo”, na lábia dos conchavos e
atribuem uma destreza de esgrima às chantagens e manipulações. “Esperteza” é um
elogio muito mais doce do que “dignidade”.
Eles curtem o “frisson” de se sentirem superiores aos medíocres honestos que se sentem
“dignos”; eles acham que a mentira é um
dom de seres superiores e a honestidade,
uma fraqueza de servos.
A resistência espantosa de Eduardo Cunha em enfrentar o óbvio de queixo erguido
ARNALDO JABOR
A SEDUÇÃO DO MAL
se explica como um “bastião quase heroico”
em defesa do personalismo colonial mais sujo.
Cunha retrata em nível violento e quase épico
as práticas tradicionais que eram mais matreiras, cheias de vaselina, comandadas por homens como o Sarney e seus seguidores das
hostes oligárquicas que desejam a continuidade do atraso brasileiro, para manter nossa paralisia no pântano colonial. Eles sabem, como
ninguém, como é doce uma quadrilha, como é
bela a confiança no fio do bigode, o trânsito
cordial entre a lei e o crime. Eles se refazem como rabo de lagarto; vejam Renan, Collor, Roriz, Lobões, Maluf. São hábeis em criar um labirinto de “falsas verdades”, formando uma rede de desmentidos, protelações que desqualificam investigações. Por isso, descobrir a verdade hoje em dia é simples: a verdade está
sempre no avesso do que eles negam.
A estupidez lhes fornece uma estranha forma de inteligência, uma rara esperteza para
golpes sujos e sacos puxados. Eles foram fabricados entre angus e feijoadas do interior, em
pequenos furtos municipais, em conluios perdidos nas veredas dos grandes sertões. Vivem
de sobras de campanha, de canjica de aniversários e água benta de batismos. E comemoram o maná que lhes caiu do céu: a milagrosa
multiplicação de propinas em todos os entes
do Estado. A tempestade de gorjetas que o lulopetismo nos doou.
Para eles, “interesse nacional” não existe.
Quase todos vieram para lucrar; se não, qual a
vantagem da política? Eles têm um tempo diferente do nosso. Eles são contra qualquer urgência, emergência, pois isso os faria servidores da
sociedade, tudo que eles não querem ser. Para
eles a sociedade é muito apressadinha, por isso
come cru. Detestam “governar”. Não é apenas
preguiça — é por amor ao fixo, ao eterno.
É doce morar lentamente dentro daquelas cúpulas redondas verdes e azuis; eles querem viver seus mandatos com mansidão, pastoreando
eleitores, sentindo a delícia dos ternos novos,
dos bigodes pintados, das amantes nos contracheques, das imunidades para humilhar garçons e policiais.
Para eles, a única “democracia” é a poética
camaradagem congressual, a troca de favores,
sempre com gestos risonhos, abraçando-se
pela barriga, na doce pederastia de uma sociedade secreta. A amizade é mais importante
que esta bobagem de interesse nacional! A democracia é para eles apenas um pretexto para
a zorra absoluta.
Para explicar suas mentes brasílicas, precisamos entender que em nossa história o atraso
sempre foi um desejo, uma torta ideologia. Se a
democracia se impusesse, se a transparência
prevalecesse, como iriam ser felizes as famílias oligárquicas, com suas fazendas imaginárias, os rituais das defraudações, as escrituras e contratos superfaturados? Que seria
da indústria da seca, não só da seca do solo,
mas a seca mental, onde a estupidez e a miséria são cultivadas para o conforto da burguesia política? O que seria dos almoços gordurosos, das cervejadas de bermudão e gargalhadas? Que seria do “sistema” cafajeste e
careta que rege o país?
Eles pouco se lixam ao serem chamados de
“canalhas”, pois adoram o orgasmo de se sentirem “superiores” a xingamentos, superiores
à ridícula moralidade de classe média. Sua
única moralidade é vingar-se de inimigos,
cobrar lealdade dos corruptores ativos, exigir
pagamentos de propina em dia. Eles cultivam a secular beleza do clientelismo, onde
um amigo vale mais que a dura impessoalidade dos cruéis saxões.
Por vezes, alguns fracotes têm uns “frissons” de honestidade, de responsabilidade
política e berram discursos mais acesos no
Congresso, mas tudo se dilui na molenga
rotina dos quóruns, nas piadas dos cafezinhos, nas coxas de uma secretária que passa. Parecem defender conscientemente
uma cultura e preservam 400 anos de patrimonialismo.
Para eles, país não se governa apenas por
novos slogans da moda; são séculos de hábitos e cacoetes sagrados onde vicejam as cópulas entre o público e o privado, desde as
capitanias hereditárias que existem até hoje
— vejam o Maranhão ou Alagoas.
Na calada das noites de Brasília, nos goles
de uísque do Piantella, eles sussurram euforicamente entre si: “Grande Lula! Que bem
que ele nos fez! Nunca fomos tão sólidos e cínicos nesse país, desde Cabral!”. l
Música
BERNARDO ARAUJO, EDUARDO FRADKIN E LEONARDO LICHOTE
‘Bad’, muito à vontade
aOutros Lançamentos
“Victorious” Wolfmother
Cotação: Bom
Praticamente
uma banda de
um homem só
(Andrew
Stockdale, que
toca tudo menos
bateria e
teclados), o lobo
australiano aparece em boa forma em
seu quarto disco, em que mistura
influências como Led Zeppelin e The
Who em composições vigorosas como
“Best of a bad situation”. (B.A.)
Em seu primeiro disco de inéditas em 14 anos, João Donato revisita o espírito e a
sonoridade de grandes álbuns seus, cercado de jovens seguidores como o Bixiga 70
DIVULGAÇÃO / ALEXANDRE NUNIS
Disco
Crítica
“DONATO ELÉTRICO”
João Donato
COTAÇÃO: Ótimo
“Baile das formigas” Noites do Norte
Cotação: Regular
LEONARDO LICHOTE
A banda,
originária da festa
homônima, lança
seu álbum de
estreia repleto de
carimbós,
guitarradas e
outros gêneros
amazônicos. O resultado diverte um
tanto, mas mesmo calcado em
repertório próprio não consegue
escapar do tom de pastiche ou paródia.
Funciona melhor no baile. (L.L.)
M
[email protected]
uito se falou nos últimos dias do vigor
de Mick Jagger, aos
72 anos, exibido no
palco do Maracanã.
Justo. Aos 81 anos,
João Donato deve
olhar para o vocalista dos Rolling Stones e pensar que o menino
está no caminho certo para chegar jovial à
maturidade. Em “Donato elétrico” (Selo
Sesc), o pianista soa como um moleque —
com todas as manhas e sabedorias trazidas
pela idade levadas sem empolação de “mestre” — em meio aos moleques que o cercam
(como os músicos do Bixiga 70 e outros que
costumam acompanhar nomes como Céu,
Curumin, Tulipa Ruiz e Metá Metá).
Com sonoridade (como explicita o título)
elétrica, de Fender Rhodes, Farfisa, Clavinet,
Pro-One e Moog, ele apresenta seu primeiro
disco de inéditas em 14 anos. Um álbum de
hoje, grande como “Muito à vontade” e “A bad
Donato” — aliás, aproximando a intenção
timbrística do primeiro com a maciez do segundo. Um álbum que Daft Punk e Kendrick
Lamar ouviriam com um sorriso no rosto.
Moleque. Aos 81 anos, Donato soa moderno em disco no qual toca sintetizadores, órgãos e pianos elétricos
Produzido por Ronaldo Evangelista, o álbum já
começa com a carta de apresentação “Here’s JD”,
que deixa claro que (discípulos à parte) o que há
de mais moderno ali é o próprio Donato. Nadando de costas na piscina de sintetizadores, órgãos e
pianos elétricos de que dispõe, ele emula cuíca
(“Urbano”) e o groove vagaroso de uma tartaruga
(“Tartaruga”) — a certa altura solando freneticamente sobre o passo lento do bicho, numa velocidade/calma que poderia sintetizar o álbum.
No disco gravado praticamente ao vivo, Donato
passeia por todos os gêneros que calham de passar por suas mãos — sem estabelecer fronteiras
entre eles. Puxa para si a sala de reboco (“Xaxado
“Water”Hélène Grimaud
Cotação: Ótimo
de Hércules”) e a pista disco (“Frequência de onda”, com grande arranjo de cordas de Laércio de
Freitas), bossas solares (“Espalhado”) e voltas
benditas pra Cuba (“Combustão espontânea”, nome que se explica a partir de 1m30s da faixa).
Em cordas, sopros e eletricidades mil, Donato
expõe no disco o melhor do futurismo e do vintage — aquele ponto, os moleques sábios conhecem, onde os dois se encontram. l
Não espere
romantismo
exacerbado, clima
new age ou um
repertório óbvio
como o prelúdio
“Gota d’água” de
Chopin. A pianista
francesa Hélène Grimaud foge de
lugares-comuns e consegue resultados
poéticos e originais em “Water”, com
peças nada aguadas de Liszt, Berio,
Takemitsu, Albéniz, Ravel e outros. (E.F.)
NA WEB
ÁUDIO
oglobo.com.br/cultura
Ouça “Frequência de onda”
Agenda da semana
HOJE
O show feminista
“Primavera das mulheres”
reúne canções inéditas de
compositoras como Elisa
Addor e Manuela Trindade e
clássicos de Chiquinha
Gonzaga, Dolores Duran e
Adriana Calcanhotto, entre
outras. No Solar de Botafogo
(2543-5411), às 21h.
l Marcos Sacramento canta
no Rio Scenarium
(3147-9000), às 19h30m. O
repertório inclui canções
l
próprias, incluídas em seu
álbum mais recente,
“Autorretrato”.
l O BondeSom convida Anna
Ratto na “Noite Faro MPB”, às
19h30m, no Botafogo Praia
Shopping (3171-9872).
AMANHÃ
O compositor e guitarrista
Gabriel Muzak é a atração do
Verão Musical no Castelinho
do Flamengo (2205-0655),
às 20h.
l O violonista Julião Pinheiro
l
lança seu álbum de estreia,
“Pulsação”, que traz
parcerias suas com o pai
Paulo César Pinheiro. No
Solar de Botafogo, às 21h.
l O Grupo Semente volta ao
berço e faz show no Bar
Semente (2507-5188), às 21h.
l A fadista Maria Alcina se
apresenta no Imperator
(2597-3897), às 16h.
faz show na Audio Rebel
(3435-2692), às 19h30m.
Ex-backing vocals da Blitz,
Patricia Mellodi e Germana
Guilherme se apresentam no
Bar Semente, às 22h.
l As cantoras Tatiana Dauster,
Liza K e o rapper Vinícius
Terra unem forças no show
“Artefatos”, na Casa da Gávea
(2239-3511), às 21h.
l
QUINTA, DIA 25
SEXTA, DIA 26
l
l
O baterista e percussionista
norueguês Paal Nilssen-Love
Gal Costa leva o show
“Estratosférica”, de seu mais
recente álbum, para o Circo
Voador (2222-2916), às 23h.
Também no sábado.
l A banda Maglore é a
atração do festival Veraneio,
no Oi Futuro Ipanema
(3131-9399), às 21h, em show
que se repete no sábado.
l Com os cantores Sérgio
Pererê e Carla Gomes e
roteiro de Haroldo Costa, o
show “Desde que o samba era
semba” conta a história do
gênero no teatro João
Caetano (2332-9257), às 19h.
Também no sábado.
O violinista francês Nicolas
Krassik celebra 15 anos de
sua chegada no Brasil, às 22h,
no Bar Semente.
l Toquinho lembra seus
sucessos no Vivo Rio
(2531-1227), às 22h. Tiê,
Roberto Menescal e Carlos
Lyra participam do show.
l As bandas Maldita e Kita
tocam no Solar de Botafogo,
às 22h.
l
SÁBADO, DIA 27
A dupla sertaneja Jorge &
Mateus se apresenta no
Metropolitan (t4f.com.br), às
23h. No domingo, às 20h.
l Bibi Ferreira comemora 75
anos de carreira com o show
inédito “4 X Bibi”, no Vivo Rio,
às 21h. Também no domingo.
l
DOMINGO, DIA 28
A banda Viper toca o
repertório dos discos
“Soldiers of sunrise” e
“Theatre of Fate” no Circo
Voador, às 19h30m.
l
SEGUNDA, DIA 29
O violonista Zé Paulo
Becker comanda (ao lado de
Caio Marcio, Tiago do
Bandolim e Carlos Cesar) a
tradicional noite de choro no
Bar Semente, às 21h.
l O saxofonista Edgard
Duvivier toca músicas
próprias e de compositores
como Astor Piazzolla, Michel
Legrand, Burt Bacharach,
Jacques Brel, Django
Reinhardt e Charlie Chaplin
na Casa da Gávea, às 21h.
l

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