Evangelho segundo S. Lucas 5,1-11.

Transcrição

Evangelho segundo S. Lucas 5,1-11.
Evangelho segundo S. Lucas 5,1-11. – cf.par. Mt 4,18-22; Mc 1,16-20
Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para
escutar a palavra de Deus, Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os
pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. Entrou num dos barcos, que era de
Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a
multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes
para a pesca.» Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada
apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.» Assim fizeram e apanharam uma
grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, e eles fizeram sinal aos
companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e
encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. Ao ver isto, Simão Pedro caiu aos
pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» Ele e
todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham
feito; o mesmo acontecera a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão.
Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» E, depois
de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus.
„Simão respondeu: „Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar, mas
porque mandas, lançarei as redes“ – Lu 5,5
1. Pedro lançou a rede no mar / junto com seus companheiros / quando puxaram a rede
do mar / a rede estava vazia.
2. Foi outra vez a rede no mar / os pescadores aflitos / quando puxaram a rede do mar / a
rede estava vazia!
3. Mais uma vez a rede no mar / os pescadores cansados! / Quando puxaram a rede do
mar / a rede estava vazia.
4. [:“Lança outra vez a rede no mar“ / falou Jesus a Pedro. / A estranha ordem obedeceu /
porque confiava em Jesus.
5. E quando puxaram a rede do mar / que coisa maravilhosa! / Ela veio cheínha de peixes
do mar/ foi a pesca milagrosa:].
Cantemos ….. n° 1310
Santo Ambrósio (cerca de 340 - 397), bispo de Milão e doutor da Igreja
Tratado sobre o evangelho de S. Lucas
"Avança para o largo e lançai as redes"
"Avança para o largo", quer dizer, para o mar alto dos debates. Haverá profundidade
comparável ao "abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência do Filho de Deus" (Ro 11,33), à
proclamação da sua filiação divina?... A Igreja é conduzida por Pedro para o mar alto do
testemunho, para contemplar o Filho de Deus ressuscitado e o Espírito Santo derramado.
Quais são as redes dos apóstolos que Cristo manda lançar? Não será o encadeado das
palavras, as voltas do discurso, a profundidade dos argumentos, que não deixam escapar
aqueles que são agarrados? Estes instrumentos de pesca dos apóstolos não fazem morrer a
presa, mas guardam-na, retiram-na dos abismos para a luz, conduzem-na lá de baixo até às
alturas...
"Mestre, diz Pedro, trabalhámos toda a noite sem nada apanhar mas, à tua palavra, lançarei as
redes". Também eu, Senhor, sei que para mim se faz noite quando tu não me dás ordens.
Ainda não converti ninguém com as minhas palavras, ainda é noite. Falei no dia da Epifania:
lancei a rede e não apanhei nada. Lancei a rede durante o dia. Espero que tu me ordenes; à tua
palavra, tornarei a lançá-la. A confiança em si mesmo é vã, mas a humildade dá muito fruto.
Aqueles que até então não tinham apanhado nada, eis que, à palavra do Senhor, capturam uma
enorme quantidade de peixes.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hippone (África do Norte) e doutro da Igreja
Sermão 43, 5-6
“Não temas, de ora avante serão homens que tu apanharás”
Como é grande a bondade de Cristo! Pedro foi pescador, e agora um orador merece um
grande elogio se é capaz de compreender este pescador. Por isso o apóstolo Paulo disse ao
dirigir-se aos primeiros cristãos: “Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação; não há entre vós
muitos sábios, segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas o que é
louco segundo o mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; o que é fraco segundo
o mundo, é que Deus escolheu para confundir o que é forte. O que é vil e desprezível no
mundo, é que Deus escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que
são” (1 Cor 1, 26-28).
Porque se Cristo tivesse escolhido em primeiro lugar um orador, o orador teria podido dizer:
“Fui escolhido pela minha eloquência”. Se ele tivesse escolhido um senador, o senador teria
podido dizer: “Fui escolhido por causa do meu cargo”. Enfim, se tivesse escolhido um
imperador, o imperador teria podido dizer: “Fui escolhido devido ao meu poder”. Que essas
pessoas esperem um pouco, que se mantenham tranquilas. Não serão esquecidas nem
rejeitadas; que esperem um pouco, porque elas se podem glorificar do que são por si próprias.
“Dá-me, disse Cristo, este pescador, dá-me este homem simples e sem instrução, dá-me
aquele com o qual o senador não se digna falar, mesmo quando lhe compra um peixe. Sim,
dá-me este homem. Assim que eu o tiver preenchido, ver-se-á claramente que sou apenas eu
que ajo. É verdade, concluirei também a minha obra no senador, no orador e no imperador…,
mas a minha acção será mais evidente no pescador. O senador, o orador e o imperador podem
gloriar-se daquilo que são: o pescador, unicamente de Cristo. Que o pescador venha ensinarlhes a humildade que procura a salvação. Que o pescador passe primeiro.”
São Patrício (c. 385-c. 461), monge missionário, bispo
Confissão § 38-40
“Não temas, de hoje em diante serás pescador de homens”
Tenho uma grande dívida para com Deus, que me deu a graça de, por meu intermédio,
“povos numerosos” (Ez 38, 6) terem voltado a nascer para Deus: “Vou fazer de ti a luz
das nações, a fim de que a Minha salvação chegue até aos confins da terra” (Is 49, 6). É
assim que quero “esperar o Prometido” (Act 1, 4), Aquele que nunca falha, como garante
No Evangelho: “Do Oriente e do Ocidente muitos virão sentar-se à mesa com Abraão,
Isaac e Jacob” (Mt 8, 11). Sabemos, por isso, que os crentes virão de todo o mundo.
É por isso que vale a pena dedicarmo-nos à pesca, vigilantes, segundo a exortação e o
ensinamento do Senhor, que diz: “Vinde após Mim e Eu farei de vós pescadores de
homens” (Mt 4, 19). E diz ainda, pelos profetas: “Vou mandar pescadores em grande
número […]. Depois disto, enviarei numerosos caçadores” (Jer 16, 16). É por isso que é
muito importante lançarmos as redes, a fim de que “uma grande quantidade de peixe” (Lc
5, 6), “uma grande multidão” (Lc 6, 17) seja apanhada para Deus e de que haja por toda a
parte sacerdotes que baptizem e exortem o povo, segundo a palavra do Senhor: “Ide, pois,
ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E Eu estarei sempre convosco,
até ao fim do mundo” (Mt 28, 19).
São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo
Sermão 39, atrib.
“De futuro, serás pescador de homens”
Quando o Senhor, sentado na barca, diz a Pedro: “Faz-te ao largo; e vós lançai as redes para a
pesca”, aconselha-o menos a lançar os instrumentos da pesca às profundezas das águas, do
que a difundir as palavras da pregação pelo fundo dos corações. São Paulo penetrou neste
abismo dos corações, para onde lançou a palavra: “Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da
ciência de Deus!” (Rom 11, 33) […] Assim como a rede traz nas dobras, para o navio, os
peixes que apanhou, assim também a fé conduz ao seu seio, ao repouso, todos os homens que
reuniu.
Ainda para dar a compreender que o Senhor falava da pesca espiritual, Pedro diz: “Mestre,
trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos, mas, porque Tu o dizes, lançarei as
redes.” […] O Verbo, a Palavra de Deus, é o Senhor, nosso Salvador. […] Lançando as redes
segundo o Verbo, Pedro difunde por toda a parte a sua eloquência segundo Cristo. Estende as
redes tecidas de acordo com as prescrições do Mestre; lança, em nome do Senhor, palavras
claras e eficazes, que permitirão salvar homens, e não criaturas desprovidas de razão.
“Trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos.” Sim, Pedro tinha trabalhado toda a
noite […]; quando brilhou a luz do Salvador, dissiparam-se as trevas e a fé permitiu-lhe
distinguir, nas profundezas das águas, aquilo que os seus olhos não podiam ver. Pedro sofreu
efectivamente a noite, até que o dia que é Cristo veio em seu auxílio. Foi isso que levou o
apóstolo Paulo a dizer: “A noite vai adiantada e o dia está próximo” (Rom 13, 12).
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa,
teólogo
Sermões paroquiais simples
"Chama-te pelo teu nome"
Ao longo de toda a nossa vida, Cristo chama-nos. Seria bom que tivéssemos consciência
disso, mas somos lentos para compreender esta grande verdade, que Cristo caminha de
alguma forma no meio de nós e que, com a sua mão, os seus olhos, a sua voz, nos ordena que
o sigamos. Ora nós sem sequer nos damos conta do seu apelo que se faz ouvir neste mesmo
instante. Pensamos que ele teve lugar no tempo dos apóstolos; mas não acreditamos que é
também para nós, não o esperamos. Não temos olhos para ver o Senhor e, nisso, somos muito
diferentes do discípulo amado que distinguiu a voz de Cristo, mesmo quando os outros
apóstolos não foram capazes de O reconhecer (Jo 21,7).
Contudo, podes ter a certeza: Cristo olha para ti, sejas tu quem fores. Chama-te pelo teu
nome. Vê-te e compreende-te, Ele que te criou. Tudo o que há em ti, Ele o sabe: todos os teus
sentimentos e os pensamentos que te são próprios, as tuas inclinações, os teus gostos, a tua
força e a tua fraqueza. Vê-te nos teus dias de alegria, tal como nos dias de sofrimento.
Interessa-se por todas as tuas angústias e recordações, por todos os entusiasmos e desânimos
do teu espírito. Envolve-te com os seus braços e ampara-te; levanta-te e faz-te descansar.
Contempla o teu rosto, quer sorrias, quer chores, na saúde ou na doença. Olha para as tuas
mãos e para os teus pés, ouve a tua voz, o batimento do teu coração, até mesmo o teu sopro.
Tu não te amas mais do que Ele te ama.
S. José Maria Escrivá de Balaguer (1902-1975), presbítero, fundador
Homilia em "Amigos de Deus"
"Doravante, serás pescador de homens"
"Eis que vou enviar grande número de pescadores que os pescarão, oráculo do Senhor" (Jr
16,16). Mostra-nos assim a nossa grande missão: a pesca. Diz-se ou escreve-se por vezes que
o mundo é como um mar. Há muita verdade nesta comparação. Na vida humana, como no
mar, há períodos de calma e de tempestade, tranquilidade e ventos violentos. Os homens
encontram-se frequentemente em águas amargas, entre grandes vagas; avançam no meio de
tormentas quais tristes navegadores, até quando parecem alegres, mesmo exuberantes: as suas
gargalhadas tentam dissimular o seu desencorajamento, a sua decepção, a sua vida sem
caridade nem compreensão. Devoram-se uns aos outros, como os peixes.
Fazer de modo a que todos os homens entrem, de boa vontade, nas redes divinas e se amem
uns aos outros, eis a tarefa dos filhos de Deus. Se somos cristãos, devemos transformar-nos
nestes pescadores que descreve o profeta Jeremias com a ajuda de uma metáfora que Jesus
Cristo igualmente empregou por várias vezes: "Vinde após mim e farei de vós pescadores de
homens", disse ele a Pedro e a André.
Vamos acompanhar Cristo nesta pesca divina. Jesus está "à beira do lago de Genesaré e as
pessoas acotovelam-se à sua volta, desejosas de escutar a palavra de Deus" (Lc 5,1). Tal como
hoje! Não o vêem?
Evangelho segundo S. Lucas 5,12-16. – cf.par. Mt 8,2-4; Mc 1,40-45
Encontrando-se Jesus numa das cidades, apareceu um homem coberto de lepra. Ao ver Jesus,
caiu com a face por terra e dirigiu-lhe esta súplica: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.»
Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado.» E imediatamente a lepra
o deixou. Ordenou-lhe, então, que a ninguém o dissesse; no entanto, acrescentou: «Vai
mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés ordenou, para lhe servir
de prova.» A sua fama espalhava-se cada vez mais, juntando se grandes multidões para o
ouvirem e para que os curasse dos seus males. Mas Ele retirava-se para lugares solitários e aí
se entregava à oração.
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia e, depois, de Constantinopla, doutor da
Igreja
Homilia sobre São Mateus
«Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: “fica limpo”»
Jesus não diz simplesmente: «Quero, sê curado». Mas ainda mais: «Estendeu a mão e tocouo». É isto o que chama a atenção. Já que o curava por um ato da sua vontade e com uma
palavra, porque lhe tocou com a mão? Não por outro motivo, parece-me, senão para mostrar
que Ele não é inferior mas superior à Lei, e que doravante nada é impuro para quem é puro…
A mão de Jesus não ficou impura pelo contato com o leproso; pelo contrário, o corpo do
leproso foi purificado pela santidade dessa mãos. É que Cristo veio não só curar os corpos,
mas elevar as almas à santidade; ensina-nos aqui a ter cuidado com a nossa alma, a purificála, sem nos preocuparmos das abluções exteriores. A única lepra a temer é a da alma, isto é, o
pecado…
Quanto a nós, demos continuamente graças a Deus. Agradeçamos-Lhe não só pelos bens que
nos deu, mas ainda pelos que concede aos outros: poderemos, deste modo, destruir a inveja,
manter e aumentar o nosso amor ao próximo.
Santo Efrém (c. 306-373), diácono da Síria, doutor da Igreja
Hinos sobre o Paraíso, IV, 3-5
“Quero, fica limpo”
No povo hebraico, Deus deu-nos a imagem:
Quem fosse atingido pela lepra, estando no acampamento,
Seria expulso e banido para fora dele.
Mas se, curado da lepra, tivesse encontrado a graça,
Então, com o hissope, purificado pelo sacerdote com o sangue e a água,
Voltava para sua casa, recuperando a sua herança.
Adão era totalmente puro no Jardim esplêndido,
Mas foi-lhe transmitida a terrível pelo hálito da serpente.
O Jardim puro o rejeitou, o expulsou de seu seio,
Mas o Sumo Sacerdote (Heb 9, 11), vendo lá do alto
Que ele fora expulso, dignou-Se descer até junto dele,
Purificou-o com o Seu hissope (cf. Jo 19,29) e reabriu-lhe as portas do Paraíso.
Nu, Adão era belo; mas sua diligente esposa
Esforçou-se por lhe tecer um manto de máculas.
Ao avistá-lo, o Jardim achou-o hediondo e expulsou-o.
Para ele, porém, fez Maria uma nova túnica.
Envergando essa veste, e segundo a promessa, o Ladrão resplandeceu;
E o Jardim, revendo Adão na sua imagem, foi abraçá-lo.
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano do século XIII, Doutor da Igreja
Sermões para o domingo e as festas dos santos (trad. Bayart, Ed. franciscanas 1944, p. 71)
«Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado»».
Oh, como admiro esta mão! Esta mão do meu amado, de ouro engastado de rubis (Cant 5, 14).
Esta mão cujo contacto solta a língua do mudo, ressuscita a filha de Jairo (Mc 7, 33; 5, 41) e
purifica o leproso. Esta mão da qual o profeta Isaías nos diz: «Todas estas coisas fez a Minha
mão» (66, 2).
Estender a mão é dar um presente. Oh Senhor, estende a Tua mão – essa mão que o carrasco
estenderá sobre a cruz. Toca o leproso e concede-lhe essa graça. Tudo aquilo em que a Tua
mão tocar será purificado e curado. «E tocando na orelha do servo», diz São Lucas, «curou-o»
(22, 51). Estende a mão para conceder ao leproso o dom da saúde. Ele diz: «Quero, fica
purificado» e imediatamente a lepra se cura; «faz tudo o que Lhe apraz» (Sl 113B, 3). NEle
nada separa o querer do realizar.
Ora, esta cura instantânea opera-a Deus cada dia na alma do pecador pelo ministério do
sacerdote. Este tem um triplo ofício: estender a mão, quer dizer, rezar pelo pecador e ter
piedade dele; tocar-lhe, consolá-lo, prometer-lhe o perdão; querer esse perdão e dar-lho
através da absolvição. Tal é o triplo ministério pastoral que o Senhor confiou a Pedro, quando
lhe disse por três vezes: «Apascenta as Minhas ovelhas» (Jo 21, 15-17).
Evangelho segundo S. Lucas 5,17-26. – cf.par. Mt 9,2-8; Mc 2,2-12
Um dia, quando Jesus ensinava, estavam ali sentados alguns fariseus e doutores da Lei, que
tinham vindo de todas as localidades da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do
Senhor levava-o a realizar curas. Apareceram uns homens que traziam um paralítico num
catre e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. Não achando por onde introduzi-lo,
devido à multidão, subiram ao tecto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o
meio, em frente de Jesus. Vendo a fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão
perdoados.» Os doutores da Lei e os fariseus começaram a murmurar, dizendo: «Quem é este
que profere blasfémias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?» Mas Jesus, penetrando
nos seus pensamentos, tomou a palavra e disse-lhes: «Que estais a pensar em vossos
corações? Que é mais fácil dizer: 'Os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te e
anda'? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar
pecados, ordeno-te disse ao paralítico: Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» No
mesmo instante, ergueu-se à vista deles, pegou na enxerga em que jazia e foi para a sua casa,
glorificando a Deus. Todos ficaram estupefatos e glorificaram a Deus, dizendo cheios de
temor: «Hoje vimos maravilhas!»
Santo Ireneu de Lião (c.130-c. 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias III, 2, 2
«Hoje vimos coisas extraordinárias»
O Verbo de Deus veio habitar no homem; fez-se «Filho do Homem» para habituar o homem a
receber Deus e para habituar Deus a habitar no homem, como foi vontade do Pai. Eis por que
o sinal da nossa salvação, Emanuel nascido da Virgem, foi dado pelo próprio Senhor (Is 7,14).
É de facto o próprio Senhor que salva os homens, pois estes não podem salvar-se a si
próprios. […] Disse o profeta Isaías: «Revigorai, ó mãos abatidas, ó vacilantes joelhos! Dai
ânimo à vossa coragem, corações pusilânimes! Tomai ânimo, não temais! Eis o nosso Deus,
que vem para nos vingar; Ele vem em pessoa, e vem para nos salvar» (35,3-4). Porque é pela
intervenção de Deus, e não pela do homem, que recebemos a salvação.
Eis outro texto onde Isaías prediz que Quem nos salvará não é homem nem ser incorpóreo:
«Não será um mensageiro, não será um anjo, será o próprio Senhor a salvar o seu povo.
Porque o ama, perdoar-lhe-á; Ele próprio o libertará» (63,9). Mas tal Salvador é homem
também, verdadeiramente, e portanto visível: «Eis, Cidade de Sião, que os teus olhos verão o
nosso Salvador» (33,20). […] Disse um outro profeta: «Ele próprio virá, far-nos-á
misericórdia, e lançará os nossos pecados ao fundo do mar» (Mi 7,19). […] De Belém, aldeia
da Judeia (Mi 5,1), é que deverá sair o filho de Deus, que é Deus também, para difundir o seu
louvor por toda a terra […]. Portanto Deus fez-se homem; e o próprio Senhor nos salvou, ao
dar-nos o sinal da Virgem.
S. Gregório de Agrigento (cerca de 559 - cerca de 594), bispo
Sobre o Eclesiastes, livro 10, 2
"Hoje vimos coisas extraordinárias"
Doce é a luz e é bom contemplar o sol com os nossos olhos da carne...; por isso, já Moisés
dizia: "E Deus viu a luz e disse que ela era boa" (Gn 1,4)...
Como é bom para nós pensar na grande, verdadeira e indefectível luz "que ilumina todo o
homem que vem a este mundo" (Jo 1,9), isto é, Cristo, o Senhor do mundo e seu libertador.
Após ter-se manifestado aos olhos dos profetas, fez-se homem e penetrou até aos últimos
recônditos da condição humana. É dele que fala o profeta David: "Cantai a Deus um salmo ao
seu nome, preparai um caminho para aquele que sobe até ao ocidente; o seu nome é Senhor,
exultai na sua presença" (Sl 67, 5-6). E também Isaias, com a sua grande voz: "Povos que
estais nas trevas, olhai para esta luz. Para vós que habitais no país da sombra da morte, uma
luz resplandecerá" (cf 9,1)...
Assim, pois, a luz do sol vista pelos nossos olhos de carne anuncia o Sol espiritual de justiça
(Ml 3,20), o mais doce que alguma vez se ergueu para os que tiveram a felicidade de por ele
serem instruidos e de o olharem com os olhos de carne, no tempo em que ele habitava entre os
homens como um hoimem vulgar. E, no entanto, ele não era apenas um homem vulgar, uma
vez que tinha nascido verdadeiro Deus, capaz de dar a vista aos cegos, de fazer andar os
coxos, de fazer ouvir os surdos, de purificar os leprosos e de, com uma palavra, trazer os
mortos de volta à vida (Lc 7,22).
S. Pedro Crisólogo (cerca de 406 - 450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 50
"Que estais a pensar em vossos corações?"
Por causa da fé de um outro, a alma do paralítico ia ser curada antes do seu corpo. "Vendo a
fé daquelas pessoas", diz o evangelho. Notai aqui, irmãos, que Deus não se preocupa com o
que querem os homens insensatos, nem espera encontrar fé entre os ignorantes..., entre os que
se portam mal. Pelo contrário, não recusa vir em socorro da fé de um outro. Esta fé é um
presente da graça e está de acordo com a vontade de Deus... Na sua divina bondade, este
médico que é Cristo tenta atrair à salvação, mesmo contra a vontade, aqueles que foram
atingidos pelas doenças da alma, esmagados até ao delírio pelo peso dos seus pecados e das
suas faltas. Mas eles não querem deixar-se levar,
Ó meus irmãos, se nós quiséssemos, se quiséssemos todos ver até ao fundo a paralisia da
nossa alma! Notaríamos que, privada das suas forças, ela jaz num leito de pecados. A acção
de Cristo ser-nos-ia fonte de luz. Compreenderíamos que ele olha todos os dias para a nossa
falta de fé tão prejudicial, que nos conduz para os remédios da salvação e pressiona
veementemente a nossa vontade rebelde. "Meu filho, diz ele, os teus pecados te são
perdoados."
Evangelho segundo S. Lucas 5,27-32. – cf.par. Mt 9,9-13; mc 2,13-17
Depois disto, Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no posto de
cobrança. Disse-lhe: «Segue-me.» E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o. Levi
ofereceu-lhe, em sua casa, um grande banquete; e encontravam-se com eles, à mesa, grande
número de cobradores de impostos e de outras pessoas. Os fariseus e os doutores da Lei
murmuravam, dizendo aos discípulos: «Porque comeis e bebeis com os cobradores de
impostos e com os pecadores?» Jesus tomou a palavra e disse-lhes: «Não são os que têm
saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim
chamar ao arrependimento, mas os pecadores.»
Liturgia Latina
Hino "Audi benigne Conditor"
"Não vim para chamar os justos mas os pecadores, para que se convertam"
Benigno Criador, ouvi clemente
As nossas orações e o nosso pranto;
Neste sagrado tempo da Quaresma,
Compadecido olhai-nos, ó Deus santo.
Justíssimo juiz das nossas almas,
Vós conheceis a enfermidade humana:
Voltando para Vós arrependidos,
Pedimos vossa graça soberana.
Confessamos que somos pecadores,
Mas, em vez do castigo, perdoai-nos.
Por vosso nome santo e vossa glória,
Da nossa vil miséria libertai-nos.
Aceitai o jejum e a penitência
Que em nossa própria carne suportamos;
Por eles, nossas almas se libertem
Dos erros e misérias que choramos.
Estas nossas humildes oferendas
Aceitai, ó Santíssima Trindade,
E levai-nos, no amor purificados,
Ao esplendor da vossa eternidade.
Richard Rolle (c. 1300-1349), ermita inglês
O Cântico do Amor, 32
"Eu vim para chamar... os pecadores, para que se convertam"
Na cruz, Cristo chama com grandes gritos... Ele oferece a paz e dirige-se a ti, desejando ver-te
abraçar o amor...:
«Pensa só nisto, meu bem-amado! Eu, que sou o Criador sem limite, desposei a carne para ser
capaz de nascer de uma mulher. Eu, que sou Deus, apresentei-me aos pobres como seu
companheiro. Foi uma mãe humilde, a que escolhi. Foi com os publicanos que comi. Os
pecadores nunca me inspiraram aversão. Quanto aos perseguidores, pude suportá-los.
Experimentei o chicote e "humilhei-me até à morte, e morte de cruz" (Fl 2,8). "Que deveria
ter feito e não fiz?" (Is 5,4) Abri o meu lado com a lança. A minha carne ensanguentada,
porque não olhas para ela? A minha cabeça inclinada (Jo 19,30), porque não lhe prestas
atenção? Aceitei que me contassem no número dos condenados e eis que, submergido em
sofrimentos, morro por ti, para que tu vivas para mim. Se não fazes grande caso de ti mesmo,
se não procuras libertar-te dos laços da morte, arrepende-te, pelo menos agora, por causa de
mim, que derramei por ti o bálsamo tão precioso do meu próprio sangue. Olha-me a morrer e
pára nessa encosta de pecado. Sim, deixa de pecar: custaste-me tão caro!
Por ti encarnei, por ti também nasci, por ti me submeti à Lei, por ti fui baptizado, esmagado
de opróbrios, preso, amarrado, coberto de escarros, escarnecido, flagelado, ferido, pregado na
cruz, embebedado com vinagre e, por fim, imolado. Por ti. O meu lado está aberto: agarra o
meu coração. Corre, abraça-te ao meu pescoço: ofereço-te o meu beijo. Eu adquiri-te como
minha parte da herança, por forma a que nenhum outro te tenha em seu poder. Entrega-te todo
a mim que me entreguei totalmente por ti.»
João Paulo II
Mensagem para a Quaresma de 1997
«Segue-me»
O tempo da Quaresma recorda-nos os quarenta anos que Israel passou no deserto a caminho
da Terra prometida. Durante esse tempo, o povo aprendeu o que significava viver em tendas,
sem morada permanente, numa total ausência de segurança. Muitas vezes, sentiu a tentação de
regressar ao Egipto: lá, pelo menos, estava certo de que tinha para comer, mesmo que fosse
comida de escravos. Na precariedade do deserto, é o próprio Deus quem proporciona água e
alimento ao seu povo e o protege de todos os perigos. Assim, a experiência de total
dependência em relação a Deus transforma-se, para os hebreus, em marcha de libertação da
escravatura e da idolatria dos bens materiais.
O tempo da Quaresma pretende ajudar os crentes a reviver, num esforço de purificação
pessoal, o mesmo itinerário espiritual, ao tomarem consciência da pobreza e da precariedade
da existência, descobrindo a intervenção do Senhor, que convida a abrirmos os olhos às
necessidades dos nossos irmãos mais necessitados... É mostrando-se abertos e generosos que
os cristãos podem servir, comunitária ou individualmente, a Cristo presente no pobre e
testemunhar o amor do Pai. Cristo precede-nos neste caminho. A sua presença é força e
coragem: torna-nos livres e converte-nos em testemunhas do seu amor.
João Paulo II
Mensagem aos jovens com vista ao 20º Dia Mundial da Juventude
“Abandonando tudo, o homem levantou-se e seguiu-o”
Escutar Cristo e adorá-lo conduz a fazer escolhas corajosas, a tomar decisões por vezes
heróicas. Jesus é exigente porque ele quer o nosso verdadeiro bem. Chama alguns a deixar
tudo para o seguir na vida sacerdotal ou consagrada. Que os que ouvirem este convite não
tenham medo de lhe responder “sim” e que se ponham generosamente a segui-lo. Mas, fora
das vocações particulares de consagração, há a vocação própria de todo o baptizado: ela
também é uma vocação a este “alto grau” da vida cristã vulgar que se exprime na santidade
(No início do novo milénio, 31).
Tantos dos nossos contemporâneos não conhecem o amor de Deus ou procuram encher o seu
coração com sucedâneos insignificantes. É pois urgente ser-se testemunhas do amor
contemplado em Cristo... A Igreja tem necessidade de testemunhas autênticas para a nova
evangelização: de homens e de mulheres cuja vida foi transformada pelo encontro com Jesus,
de homens e de mulheres capazes de comunicar esta experiência aos outros. A Igreja tem
necessidade de santos. Nós somos todos chamados à santidade e só os santos podem renovar a
humanidade.
Evangelho segundo S. Lucas 5,33-39. – cf.par. Mt 9,14-17; Mc 2,18-22
Disseram-lhe eles: «Os discípulos de João jejuam frequentemente e recitam orações; o mesmo
fazem também os dos fariseus. Os teus, porém, comem e bebem!» Jesus respondeu-lhes:
«Podeis vós fazer jejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? Virão
dias em que o Esposo lhes será tirado; então, nesses dias, hão-de jejuar.» Disse-lhes também
esta parábola: «Ninguém recorta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha;
aliás, irá estragar-se a roupa nova, e também à roupa velha não se ajustará bem o remendo que
vem da nova. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho novo rompe os
odres e derrama-se, e os odres ficarão perdidos. Mas deve deitar-se vinho novo em odres
novos. E ninguém, depois de ter bebido o velho, quer do novo, pois diz: 'O velho é que é
bom!'»
João Cassiano (c. 360-435), fundador de mosteiro em Marselha
Sermões
"Podem os convidados da boda jejuar, enquanto o Esposo está com eles?"
Tínhamos deixado a Síria e aproximávamo-nos da província do Egipto, desejosos de aí
aprender os princípios dos monges antigos, e espantávamo-nos com a grande cordialidade
com que éramos recebidos. Contrariamente ao que nos tinham ensinado nos mosteiros da
Palestina, não observavam ali a regra de se esperar o momento fixado para as refeições mas,
excepto à quarta e à sexta-feira, onde quer que fôssemos, quebravam o jejum. Um dos anciãos
a quem perguntámos porque é que, entre eles, se omitiam tão frequentemente os jejuns
quotidianos, respondeu-nos: "O jejum está sempre comigo, mas quanto a vós, de quem em
breve me vou despedir, não poderei guardar-vos constantemente comigo. E o jejum, embor
útil e necessário, é, contudo, a oferenda de um presente voluntário, ao passo que o
cumprimento de uma obra de caridade é a exigência absoluta do preceito. É por isso que,
acolhendo em vós a Cristo, eu devo restabelecê-lo e, depois de me ter despedido de vós,
poderei compensar em mim, através de um jejum mais estrito, a cortesia que vos manifestei
em atenção a Cristo. Na verdade, 'os amigos do Esposo não podem jejuar enquanto o Esposo
está com eles'. Mas, logo que ele se afastar, então poderão fazê-lo".
S. Pascácio Radbert (?-c. 849), monge beneditino
Comentário sobre o evangelho de Mateus
«E serão ambos uma só carne. É grande este mistério: aplica-se a Cristo e à Sua Igreja»
(Ef 5, 31)
Uma união estranha e extraordinária teve lugar logo que «O Verbo encarnou» no seio da
Virgem e assim « habitou entre nós» (Jo 1, 14). Da mesma forma que todos os eleitos
ressuscitaram em Cristo quando Ele ressuscitou, assim também nEle foram celebradas as
núpcias: a Igreja foi unida a um Esposo pelos laços do matrimónio quando o homem-Deus
recebeu em plenitude os dons do Espírito Santo e toda a divindade veio habitar num corpo
semelhante ao nosso... Cristo tornou-se homem pelo Espírito Santo e, «como um esposo que
sai do seu quarto» (Sl 18, 6), saiu do seio da Virgem que foi o seu quarto nupcial. Mas a
Igreja, renascendo da água no mesmo Espírito, torna-se um só corpo em Cristo, de tal modo
que «os dois são uma só carne» (Mt 19, 5), o que «em relação a Cristo e à Igreja, é um grande
mistério» (Ef 5, 31).
Esse casamento dura desde o princípio da Encarnação de Cristo até ao momento em que
Cristo virá e em que todos os ritos da união nupcial se realizarão. Então, aqueles que esti
verem prontos e que tiverem observado convenientemente as condições de uma tão grande
união, entrarão com Ele, cheios de respeito, na sala das núpcias eternas (Mt 25, 10). Enquanto
espera, a esposa prometida a Cristo caminha para o seu Esposo, e observa a aliança com Ele,
todos os dias, na fé e na ternura, até que Ele venha.
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão 83 sobre o Cântico dos Cânticos
«O Esposo está com eles»
De entre todos os movimentos da alma, de entre todos os sentimentos e os afectos da alma, o
amor é o único que permite à criatura corresponder ao seu Criador, senão de igual para igual,
pelo menos de semelhante para semelhante. [...] O amor do Esposo, ou antes, o Esposo que é
amor, apenas pede amor recíproco e fidelidade. Que seja, pois, permitido à esposa
corresponder a esse amor. E como podia ela não amar, sendo como é esposa, e esposa do
Amor? Como poderia o Amor não ser amado? Ela tem, pois, razões para renunciar a todos os
outros afectos, para se entregar a um único amor, uma vez que lhe foi dado corresponder ao
Amor com um amor recíproco. [...]
Mas, mesmo que ela se fundisse por completo no amor, o que seria isso em comparação com
a torrente de amor eterno que brota da própria fonte? O fluxo não corre com a mesma
abundância daquele que ama e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, da
criatura e do Criador; não existe a mesma abundância na fonte e naquele que vem beber à
fonte. [...] Quer dizer então que os suspiros da esposa, o seu fervor amoroso, a sua espera
cheia de confiança, que tudo isso é em vão, porque ela não pode rivalizar na corrida com um
campeão (Sl 18, 6), não pode querer ser tão doce como o mel, terna como o cordeiro, branca
como o lírio, luminosa como sol, e tão amorosa como Aquele que é o próprio Amor? Não.
Porque, se é certo que a criatura, na medida em que é inferior ao Criador, ama menos do que
Ele, também é certo que pode amar com todo o seu ser; e, onde há totalidade, nada falta.
É esse o amor puro e desinteressado, o amor mais delicado, pacífico e sincero, mútuo, íntimo,
forte, que reúne os dois amantes, não numa só carne, mas num único espírito, de modo que
eles se tornam um só, nas palavras de São Paulo: «Aquele que se une ao Senhor constitui com
Ele um só espírito» (1Cor 6, 17).
Catecismo da Igreja Católica
§ 313 - 314
“Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam” (Rm 8,28).
O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade:
Assim, Santa Catarina de Sena diz aos “que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes
acontece”: “Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem. Deus não
faz nada senão com esse fim” (Diálogo sobre a Providência, cap.IV, 138).
E S. Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras: “Nada
pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos
pareça, é, em verdade, muito bom.” (Carta da prisão; LH: memória de S. Tomás Moro a 22 de
Junho, Ofício de Leitura).
E Juliana de Norwich: «Compreendi, pois, pela graça de Deus, que me era necessário ater-me
firmemente à fé, e crer, com não menos firmeza, que todas as coisas serão para
bem…».(«Thou shalt see thyself that all MANNER of thing shall be well”).
Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os
caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso
conhecimento parcial e virmos Deus “face a face” (1 Co 13,13), é que nos serão plenamente
conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido
a Criação ao repouso desse Sabbat definitivo, em ordem ao qual criou o Céu e a Terra.