ZEN E A ARTE DE REINVENTAR MIKE TYSON

Transcrição

ZEN E A ARTE DE REINVENTAR MIKE TYSON
M u lh eres
PLAYGROUND
x
M otor
x
Tecnolog ia
x
Comida
x
Cu ltu ra
x
De si gn
x
C ar re i ra
EDIÇÃO AILIN ALEIXO
“Sou um grão
de poeira,
assim como
todo mundo”
M UN D O AN I MAL
ZEN E A
ARTE DE
REINVENTAR
MIKE TYSON
O ex-pugilista vira bom moço, lança
o documentário Taking Tyson, sobre
corrida de pombos, e fala a ALFA sobre
sua nova vida: “Odeio o cara que eu era”
POR BROOKE LEWY
A L FA J U N H O 2 0 1 1
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PLAYGROUND
Q
mundo animal
uando você ouve pela primeira vez, até parece piada. Mike
Tyson num programa do Animal Planet sobre corrida de
pombos? O que é uma corrida de
pombos, pelo amor de Deus? E este
Mike Tyson é aquele que lutava boxe
como um animal? Bom, é o mesmo.
Mas ao mesmo tempo não é.
Hoje em dia, quando Tyson entra numa sala, está sempre sorrindo.
Anda de braços abertos e faz piadas,
como um garoto acostumado a ser
o centro das atenções. Ele diz “Sou
Mike Tyson”, como se achasse melhor deixar logo claro que se trata
dele mesmo. Vendo de perto essa figura quase amável, é difícil imaginálo mandando pessoas à lona. Mas de
repente não é. Mesmo em seu modo
falante, dizendo como é bom estar
casado e com filhos, vejo a massa de
músculos sob a camisa polo verde e
não consigo tirar os olhos da tatuagem Maori que cobre metade de seu
rosto. Quando ele me diz que é tarde
e já falou demais, deixa transparecer
um pouco de sua antiga atitude confrontadora. O sorriso desaparece e
os olhos se apertam. Esse é o Mike
Tyson que falou com exclusividade
a ALFA, em Nova York, um homem
tentando desesperadamente se reapresentar ao mundo, mas com um
diabinho sentado em seu ombro.
Após a morte trágica de sua filha
de 4 anos (Exodus se enforcou acidentalmente em uma cinta presa a
uma esteira de corrida) em maio de
2009, Tyson tomou a decisão de mudar de vida. Aos 44 anos, passou 11
meses numa clínica de reabilitação,
tornou-se vegano (não come nada de
origem animal), perdeu 65 quilos e
trabalha para alcançar a redenção.
Malha horas por dia e cria sete filhos,
entre 1 e 21 anos, no subúrbio de Las
Vegas, ao lado da mulher, Kiki, 34
anos. “Tenho de viver por ela agora”,
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diz Tyson sobre a filha morta. “Eu
precisava largar meus vícios ou sairia
na rua e mataria algumas pessoas.”
O tom de voz de Tyson hoje
assemelha-se ao de um homem
místico. Ele absorveu a linguagem
das clínicas de rehab: fala o tempo
todo em “liberdade”, “felicidade” e
“impotência”. Diz estar trabalhando
para ser mais humilde: “sou um grão
de poeira, assim como todo mundo”.
Saindo da boca daquele que um dia
foi “o cara mais mau do mundo”, essas palavras parecem especialmente
idiotas. Mas dá gosto vê-lo tentar ser
A primeira vez em
que ele bateu em
alguém foi aos 10 ou
11 anos, quando um
garoto quebrou o
pescoço de um de
seus pombinhos
uma versão pasteurizada de si mesmo. Principalmente porque isso ressalta suas escorregadas. Por exemplo,
quando alguém na sala o elogiou,
dizendo que foi o melhor boxeador
da história, ele respondeu que “não
tinha porra de ideia nenhuma” do
próprio tamanho.
Junto à sua nova atitude zen, Tyson diz que desenvolveu um senso
de humor inédito em sua vida. Estrelando o documentário de seis partes sobre corrida de pombos (Taking
Tyson vai ao ar no Animal Planet a
partir do dia 16 de junho, às 20 horas), você realmente pensa que ele
Tyson em cena
do documentário:
“Estou feliz por
estar vivo”
tirou algum peso das costas. “Odeio
o cara que eu era”, diz. “Não quero comer como ele nem pensar do
jeito que ele pensava.” O campeão
dos pesos-pesados mais jovem da
história, que venceu as 19 primeiras
lutas por nocaute e chegou ao topo
do mundo. Claro que depois vieram
a acusação de estupro, a prisão, a
mordida na orelha de Holyfield, a
falência, as drogas. Seu retorno de
fato começou em 2008, com Tyson,
um documentário em que ele revela detalhes sobre sua luta contra as
drogas, e se estabeleceu com uma
participação insólita na comédia Se
Beber, Não Case! (Tyson também
está em Se Beber, Não Case! 2).
Mas se havia algo que ninguém
sonhava era que Tyson fosse dono
de milhares de pássaros, alojados em
Las Vegas, Nova Jersey e no bairro
nova-iorquino do Brooklyn. “A gente costumava vir aqui quando queríamos fugir”, diz seu amigo Mario
Costa, referindo-se às gaiolas sobre o
ginásio Ringside Lounge, o primeiro
lugar em que Tyson treinou. “Depois
de uma luta, ele pulava num carro,
atravessava o túnel e ficava com seus
pombos.” Sua intensidade nos ringues parece ter se transformado em
devoção pelas aves. Quando se aproxima delas, fica como uma criança.
No programa, Tyson limpa as gaiolas, alimenta os pombos, lhes dá remédio e até conversa com eles para
que durmam. Segundo o próprio, a
primeira vez em que bateu em alguém foi quando, aos 10 ou 11 anos
de idade, um garoto quebrou o pescoço de um de seus pombinhos.
Para o documentário, Tyson coloca os pombos para correr. É uma
modalidade curiosa que adora descrever em detalhes — acorda cedo,
dirige alguns quilômetros e os solta,
para que achem o caminho de casa.
Cada dia os leva mais longe, aumentando a resistência dos bichos. Como
são monitorados por GPS, um computador diz qual chegou primeiro.
Tyson parece feliz tanto os vendo
encontrar o caminho de casa quanto
por ter reinventado sua vida.
Talvez o ex-pugilista saiba que
tudo parece uma grande piada. Mas
não importa — ele está de volta,
fazendo algo que ama. Se você perguntar onde estará em dez anos, Tyson encolhe os ombros. “Estou feliz
por estar vivo”, diz. “Poderia pegar
câncer ou aids... ou ganhar 1 bilhão
de dólares, quem sabe?” A
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