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ISSN 1519-0412 vol. XV nº 57 maio/ago. 2013 Um Estudo Sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A. Formação de Recursos Humanos: Uma Análise entre as Linhas de Pesquisa dos Cursos Stricto Sensu em Ciências Contábeis e o Perfil do Contabilista Brasileiro Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados nos Periódicos da Área Contábil: Uma Análise Longitudinal Um Estudo sobre a Aplicação dos Conteúdos da Contabilidade Gerencial e de Custos nos Exames de Suficiência de 2011 e 2012 A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptação 1 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Co ntábil Corpo Editorial Francisco José dos Santos Alves (Rio de Janeiro – RJ) Editor Doutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP, Professor da UNISUAM, Professor e Coordenador do PPGCC da UERJ Adriano Rodrigues (Rio de Janeiro – RJ) Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ, Professor da área de Contabilidade e Finanças da UFRJ, dos Programas de Pós-Graduação da FACCe COPPEAD Expediente Conselho Diretor do CRCRJ Antonio Miguel Fernandes (Rio de Janeiro – RJ) Diva Maria de Oliveira Gesualdi Aroldo José Planz (Rio de Janeiro – RJ) Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ, Professor da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio, da EPGE da FGV Management e do CPGE da UCAM Presidente Contador, Perito Judicial e Professor Universitário Diva Maria de Oliveira Gesualdi (Rio de Janeiro – RJ) Vitória Maria da Silva Contadora, Pós-Graduada em Gestão Financeira pelo ISEP e em Contabilidade Empresarial pela UniverCidade e Professora da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio, da UniverCidade, do MBA de Perícia e de Auditoria e Compliance da Universidade Cândido Mendes Vice-presidente Aroldo José Planz João Antonio da Silva Cardoso (Rio de Janeiro – RJ) VP de Desenvolvimento Profissional Contador, Economista, Advogado, Mestre em Sistema de Gestão pela UFF, Professor da FGV, Professor e Coordenador do Curso de Ciências Contábeis da Trevisan Escola de Negócios Francisco José dos Santos Alves Jorge Ribeiro dos Passos Rosa (Rio de Janeiro – RJ) VP de Pesquisa e Estudos Técnicos Regina Célia Vieira Ferreira Contador, Administrador, Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior, Coordenador do Curso de Graduação em Ciências Contábeis da UFF VP Operacional Doutor em Contabilidade – USP e Professor da UFSC José Alonso Borba (Florianópolis – SC) Carlos Alberto do Nascimento Josir Simeone Gomes (Rio de Janeiro – RJ) VP de Registro Profissional Maria Thereza Pompa Antunes (São Paulo – SP) Pós-doutor em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de Madrid e Professor da UNIGRANRIO Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP e Professora Adjunta da Universidade Presbiteriana Mackenzie/FAAP João Bosco Lopes VP de Fiscalização, Ética e Disciplina Nahor Plácido Lisboa (São Paulo – SP) Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Professor da FEA/USP e Pesquisador da FIPECAFI Claudio Vieira Santos VP de Interior Sandra Maria dos Santos (Fortaleza – CE) Pós-Doutora em Economia Regional e Urbana pela UFPE/PIMES, Doutora em Economia Industrial pelaUFPE/PIMES e Editora Chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão Ana Cláudia Lima Corrêa VP de Controle Interno Waldir Jorge Ladeira dos Santos (Rio de Janeiro – RJ) Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ, Mestre em Contabilidade Financeira pela UERJ, Professor da UERJ, da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio e da EPGE da FGV Management Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – Rio de Janeiro – RJ CEP: 20.010-000 • tel.: (21) 2216-9595 • fax: (21) 2216-9607 www.crc.org.br Envio de artigos e assinatura: [email protected] Data de impressão: agosto/2013 Tiragem: 2.000 exemplares Consultores Ad Hoc ISSN 1519-0412 Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00) Atendimento ao assinante •tel.: (21) 2216-9608 / fax: (21) 2216-9607 “As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.” Produção Editorial e Design: Cajá – Agência de Comunicação Jornalista responsável: Bruno Chuairi (Mtb15963/97/79) Impressão: Gráfica Sumaúma Apoio administrativo: Maria de Fátima Gomes Bacelo, Alex da Silva Peccini e Patrícia Silva Adolfo Henrique Coutinho e Silva (Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Adjunto da FAF/UERJ), Andre Carlos Busanelli de Aquino (Doutor em Ciências Contábeis - FEA/USP, Professor Associado da FEA-RP/USP), André Paula Osório Duque (Doutora em Ciência da Informação pela UFF), Aracéli Cristina de Sousa Ferreira (Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professora Titular da UFRJ), Francisco Antônio Bezerra (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Permanente no PPGCC/FURB), Jorge Vieira da Costa Junior (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP), Jose Augusto Veiga da Costa Marques (Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Associado da FACC/UFRJ), José Maria Dias Filho (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA), Marcelo Coletto Pohlmann (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da PUC-RS), Miguel Ângelo Caçoilo Gonçalves (Doutorando em Contabilidade da Universidade do Minho) Natan Szuster (Doutor em Contabilidade pela USP, Pós-Doutor pela University of Illinois at Urbana-Champaign, Professor da FACC/ UFRJ), Poueri do Carmo Mario (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto do Departamento de Ciências Contábeis da UFMG), Ricardo Lopes Cardoso (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto da EBAPE/FGV e da FAF/UERJ, Pesquisador Produtividade CNPQ nível 2), Simone Silva da Cunha Vieira (Doutora em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professora Adjunta da UERJ),Vinícius Aversari Martins (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Doutor da FEA-RP/USP) CONCEITO QUALIS/CAPES: B3 Esta revista está indexada em www.atena.org.br, www.latindex.org e www.sumarios.org. Ficha catalográfica P418 Pensar Contábil, v. 1, n.1, ago. 1998-. - Rio de Janeiro: CRCRJ, 1998-. Quadrimestral ISSN 1519-0412 1.Contabilidade. I.Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro CDU – 657 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Editorial Prezados leitores, Neste número do periódico Pensar Contábil, o artigo “Um Estudo sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A.” buscou evidenciar os custos decorrentes de um processo de recuperação judicial, tendo como objeto de estudo a recuperação da Varig durante os anos de 2005 e 2006. No segundo artigo temos a oportunidade de refletir sobre a formação de recursos humanos, sob a ótica das linhas de pesquisa dos cursos stricto sensu em Ciências Contábeis e de uma pesquisa sobre o perfil do profissional contábil brasileiro, elaborada pelo CFC. Já no terceiro artigo, “Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina”, os resultados revelaram, dentre outros achados de pesquisa, que o orçamento é amplamente praticado pelas indústrias da região, sendo útil como suporte para o planejamento e controle. O quarto texto da publicação discorre sobre a avaliação das características psicométricas dos instrumentos de média utilizados nos artigos veiculados nos periódicos da área contábil. Nesse trabalho, os autores tiveram como objetivo principal avaliar o rigor metodológico instituído para os instrumentos de medidas psicossociais utilizados nas pesquisas em contabilidade, no que concerne às características psicométricas. Em suas análises, os autores apontam que as investigações são desenvolvidas com ausências ou relatos parciais de evidências estatísticas que comprovem a legitimidade dos resultados encontrados. Sumário Um Estudo sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação judicial da Varig S.A. 4 15 24 34 Carlos José Guimarães Cova 15 Budget Practices in Industries of West of Santa Catarina 24 Evaluation Features Psychometric of Measuring Instruments Used In Articles Published In the Journal of Accounting Area: A Longitudinal Analysis 34 Roseane Patrícia de Araújo Silva, Izabela Lorena Ribeiro da Silva and Larissa Cristina Basílio de Macêdo 43 Leonardo Barboza Pinheiro, Mariana Pereira Bonfim e Guilherme Teixeira Portugal A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptaçãos Training Human Resource Function Critical Analysis of Research Areas of Stricto Sensu Courses in Accounting Cristian Báu Dal Magro, Carlos Eduardo Facin Lavarda, Juliana Alves, Juliana Stein Schmitz and Karini de Freitas Vieira Roseane Patrícia de Araújo Silva, Izabela Lorena Ribeiro da Silva e Larissa Cristina Basílio de Macêdo Um Estudo sobre a Aplicação dos Conteúdos da Contabilidade Gerencial e de Custos nos Exames de Suficiência de 2011 e 2012 4 Claudia Marchioti Nicolau dos Reis, Eduardo Felicíssimo Lyrio, Leonardo Lehnemann Agostinho Martins, Warley Francisco de Araújo Pereira and Branca Regina C. dos S. e Silva Riscado Terra Cristian Báu Dal Magro, Carlos Eduardo Facin Lavarda, Juliana Alves, Juliana Stein Schmitz e Karini de Freitas Vieira Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados nos Periódicos da Área Contábil: Uma Análise Longitudinal A Study on Costs of Bankruptcy: The Case of Varig S.A. Reorganization Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe and Poueri do Carmo Mário Claudia Marchioti Nicolau dos Reis, Eduardo Felicíssimo Lyrio, Leonardo Lehnemann Agostinho Martins, Warley Francisco de Araújo Pereira e Branca Regina C. dos S. e Silva Riscado Terra Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina Prof. Dr. Francisco José dos Santos Alves Editor Summary Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe e Poueri do Carmo Mário Formação de Recursos Humanos: Uma Análise entre as Linhas de Pesquisa dos Cursos Stricto Sensu em Ciências Contábeis e o Perfil do Contabilista Brasileiro O Exame de Suficiência também foi contemplado nesta edição, por meio do artigo “Um Estudo sobre a Aplicação dos Conteúdos da Contabilidade Gerencial e de Custos nos Exames de Suficiência de 2010 e 2012”. A pesquisa concluiu, entre outros resultados, que o Exame de Suficiência enaltece os assuntos pertinentes à contabilidade de custos e gerencial. No entanto, têm sido pouco explorados os artefatos modernos de contabilidade gerencial. Cabe aos formuladores do Exame de Suficiência uma reflexão sobre o assunto além, é claro, de todos os docentes que ministram aulas nesta área. No sexto e último artigo “A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptação”, o autor verificou se um processo de convergência para um padrão internacional seria plenamente satisfeito por meio da introdução de nova legislação, ou se demandaria esforço adicional por parte dos atores envolvidos no processo para permitir a sua adequação: a principal conclusão apontou no sentido de que o ajuste à norma internacional é um processo dinâmico, em permanente adaptação aos novos imperativos que se apresentam à Ciência Contábil no ambiente de mercado. Em síntese, estes seis artigos merecem ser lidos e analisados por todos os que buscam compreender um pouco mais a respeito de nossa realidade. Boa leitura. A Study on the Application of the Contents of Management Accounting and Costs in Proficiency Test of 2011 and 2012 43 Leonardo Barboza Pinheiro, Mariana Pereira Bonfim and Guilherme Teixeira Portugal 50 The Trajectory of Accounting Convergence in Brazil: An Example of the Ability to Adapt and Overcome 50 Carlos José Guimarães Cova Uma publicação do Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 3 , maio/ago. 2013 3 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A. Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe São Paulo – SP Mestranda em Controladoria e Contabilidade da USP1 [email protected] Poueri do Carmo Mário Belo Horizonte – MG CRC MG 068964/o-6 Doutor em Ciências Contábeis pela USP1 Professor Adjunto do Centro Universitário UNA2 Professor Adjunto da UFMG3 Professor Adjunto do Ibmec Minas Gerais4 [email protected] Resumo A recuperação judicial tem como objetivo permitir a restauração de empresas em crise econômico-financeira por meio de melhores negociações de dívidas com seus credores. Apesar de poder trazer benefícios à sociedade, enquanto processo jurídico, a recuperação gera custos. Esses custos podem ser diretos, despesas exigidas pelo próprio processo, ou indiretos, relativos aos possíveis custos de oportunidade em que a empresa incorre pelo fato de estar numa recuperação. A fim de evidenciar os custos decorrentes de um processo de recuperação judicial, nesta pesquisa foi analisada parte do processo de recuperação judicial da Varig durante os anos de 2005 e 2006. Foram identificados e analisados os possíveis custos em que a Varig incorreu durante esse processo e as possíveis consequências dos mesmos para a empresa e para o andamento de sua recuperação. Identificou-se que a proporção dos custos diretos em relação ao ativo salvaguardado pela empresa e em relação a sua dívida é proporcionalmente pequena. No entanto, em valores absolutos eles se mostraram significativos. Por sua vez, os custos de oportunidade foram gerados principalmente pela venda da Unidade Produtiva Varig, fato que afetou fortemente os resultados da empresa e comprometeu o seu soerguimento. Palavras-chave: Custos de Falência, Crise Financeira, Recuperação Judicial Abstract The judicial reorganization aims to allow the restoration of companies in financial and economic crisis through better debt negotiations with your creditors. Although it can bring benefits to society, while the legal process, generates cost by the reorganization. These costs may be direct costs required by the process itself, or indirectly, related to the possible opportunity costs that the company incurs because of being in recovery. In order to highlight the costs of a judicial reorganization, this research was analyzed part of this process of Varig during the years 2005 and 2006. Were identified and analyzed the possible costs that Varig incurred during this process and the possible consequences thereof for the company and for the progress of his recovery. It was found that the proportion of direct costs in relation to the assets protected by the company and in relation to its debt is proportionately small, however, in absolute terms they were significant. As for opportunity costs, they were mainly generated by the sale of the Varig Productive Unit, a fact that strongly affected the results of the company and pledged their uplift. Key words: Costs of Bankruptcy, Financial Crisis, Judicial Reorganization 1. Introdução A recuperação empresarial (reorganização) tem por objetivo oferecer à empresa que se encontra em crise financeira a oportunidade de negociar com os seus credores e, assim, continuar operando. O mecanismo foi instituído no Brasil por meio da Lei 11.101 de 2005 e substituiu a concordata que também tinha o objetivo de auxiliar empresas em dificuldades financeiras; esta porém era bem mais restrita, se comparada à recuperação. Segundo Araújo e Lundberg (2003), a recuperação empresarial mantém o objetivo de restaurar as empresas em dificuldades financeiras, entretanto de uma maneira mais ampla e flexível, aumentando as chances de as empresas superarem a crise. O instrumento da recuperação empresarial mostra-se importante para a sociedade como um todo, por viabilizar a continuidade de empresas, que estando em operação propiciam geração e manutenção de empregos, arrecadação fiscal, desenvolvimento econômico de regiões (ALVES, 2001), oferta de serviços e produtos. Assim, é de interesse do Estado oferecer a elas um mecanismo legal que favoreça a sua continuidade em momentos de crise. USP – Universidade de São Paulo - CEP 05508-070 - São Paulo - SP. Centro Universitário UNA – CEP 30160-001 - Belo Horizonte - MG. 3 UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais – CEP 31270-901 - Belo Horizonte - MG. 4 Ibmec Minas Gerais – Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de Minas Gerais – CEP 30130-130 - Belo Horizonte - MG. 1 2 4 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 Artigo recebido em 16/07/2013 e aceito em 23/07/2013. Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo Sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A. No entanto, a utilização de leis, embora necessária, traz consequências. Primeiro, gera custos de transação relativos à criação, manutenção e transferência de recursos, conforme Furubotn e Richter (2000). Segundo, concede ao Judiciário (aos juízes) o poder de influenciar a economia, uma vez que as decisões judiciais interferem na alocação de recursos. Considerando-se esses fatores, é importante analisar o impacto econômico da aplicação das leis e a sua eficiência na resolução dos conflitos, pois o Direito não possui fim em si mesmo e deve funcionar de modo que os custos superem os benefícios da sua elaboração e aplicação. Em relação à condução de processos de recuperação, os custos inerentes a eles são denominados custos de falência e geralmente são classificados em custos diretos (despesas administrativas do processo) e custos indiretos (custos de oportunidade). Estimar e mensurar esses custos torna-se relevante na análise da aplicação da legislação falimentar, uma vez que tais custos podem prejudicar o andamento e o sucesso desses processos. Diante do contexto apresentado, surge como problema de pesquisa investigar se os custos gerados em função do processo de recuperação empresarial podem comprometer o andamento e o sucesso do mesmo. Para responder a tal questão, o presente artigo busca estimar os custos, tanto diretos quanto indiretos, em que a Varig S.A. incorreu em função do seu processo de recuperação judicial — a fim de analisar as suas possíveis consequências para a empresa e para o andamento da sua recuperação. Esta pesquisa justifica-se pela importância do instituto da recuperação e pela reduzida quantidade de estudos nacionais que tratem desse tema na perspectiva dos custos. 2. Referencial Teórico 2.1. Insolvência, Crise Financeira e Falência Segundo Kayo e Famá (1996), é comum a dificuldade em fazer-se a distinção entre crise financeira e insolvência, que possuem significados diferentes. De acordo com Ross, Westerfield e Jaffe (1995), a crise financeira se caracteriza pela incapacidade de os fluxos de caixa operacionais serem suficientes para cobrir obrigações correntes. Diante dessa situação, os gestores da empresa devem avaliar e buscar modificar os fatores que levaram a empresa a tais dificuldades. Em relação à insolvência, Altman (1993) afirma que, com frequência, os termos insolvency (insolvência) e bankruptcy (falência) são usados como substitutos, apesar de não serem sinônimos. O autor define insolvência como um dos termos que indicam mau desempenho de uma empresa. Geralmente o termo é utilizado de maneira técnica e se refere à incapacidade de pagamento pela empresa, iliquidez, que pode ser temporária, mas geralmente a conduz à falência. Já o termo falência se refere ao processo judicial que encerrará as atividades da empresa. Diante de uma situação adversa, a empresa pode ter a sua falência requerida. Por este processo, a devedora encerra as suas atividades e liquida seus ativos a fim de ressarcir, pelo menos em parte, os seus credores. Nos casos de a empresa, apesar da crise, possuir condições de continuar operando, ela poderá recorrer à recuperação empresarial, por meio da qual será elaborado um plano para a superação da crise, evitando que vá á falência. Para ter acesso a esse recurso é necessário que a entidade ofereça condições de superação (FAZZIO JR, 2005). Se a empresa mostrar-se inviável, não poderá recorrer a esse instituto. 2.3. Custos de Falência Custos de falência são os incorridos no processo de recuperação ou de liquidação empresarial. Tais custos geralmente são classificados em dois tipos: os custos diretos e os custos indiretos (FISHER e MARTEL, 2005; WEISS, 1990; WARNER, 1977). Os custos diretos de falência são os consumidos no processo de recuperação empresarial ou de liquidação: são os custos administrativos do processo (CAMPBEL, 1997; WEISS, 1990), tais como honorários do administrador judicial, contador, advogado (BRIS, WELCH e ZHU, 2004; CAMPBEL, 1997), taxas com arquivamento e com demais especialistas (CAMPBEL, 1997). Por sua vez, os custos indiretos são mais difíceis de definir e mensurar (BRIS, WELCH e ZHU, 2004), por se tratar de custos de oportunidade (WEISS, 1990; FISHER e MARTEL, 2005; CAMPBEL, 1997). São exemplos desses custos o tempo despendido no processo (BRIS, WELCH e ZHU, 2004), a perda de vendas, a diminuição da produtividade, perda de competitividade (FISHER e MARTEL, 2005), a redução de lucros, a incapacidade de obter crédito, a perda de oportunidade de investimento (CAMPBEL, 1997) e o aumento do custo operacional (WEISS, 1990). 3. Metodologia Quanto aos seus objetivos, este trabalho classifica-se como descritivo, por buscar descrever as características de determinado fenômeno (GIL, 2002), no caso, a recuperação da Varig S.A. Quanto aos procedimentos técnicos, enquadra-se em uma pesquisa documental que teve como principal fonte parte dos processos de recuperação e de falência da empresa. A escolha pelo caso da Varig S.A. justifica-se por sua relevância no setor de aviação, conforme demonstrado na Tabela 1, e por ter sido a primeira empresa desse setor e do Brasil a iniciar um processo de recuperação judicial, dado que a Lei de Falência anterior (Dec. Lei 7.661/45) não concedia concordata para empresas do setor aéreo. Tabela 1: Participação na receita do setor aéreo nacional 2004-2005 Empresa 2004 2005 2.2. Institutos Jurídicos da Falência e da Recuperação VARIG 48,84% 41,47% No Brasil, os institutos da falência e da recuperação empresarial são regulados pela Lei 11.101, de nove de fevereiro de 2005. Esses institutos jurídicos têm por objetivo, conforme Mário (2002), colaborar com a recuperação de empresas em crise financeira, a fim de beneficiar a sociedade e otimizar o uso de recursos econômicos. GOL 12,61% 16,71% TAM 26,46% 33,41% Demais Empresas 12,10% 8,41% 100,00% 100,00% Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 TOTAL Fonte: ANAC – Adaptado pelos autores 5 Pensar Contábil Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Poueri do Carmo Mário Para atingir os objetivos desse artigo, parte da documentação processual da recuperação e da falência da Varig foi analisada a fim de se obterem informações pertinentes aos custos despendidos na recuperação da empresa. As informações quanto aos custos diretos foram colhidas substancialmente do processo de número 20050010728877, o principal da recuperação da Varig, e do processo de número 02604471620108190001, o de falência da Varig — obtidos na 1ª Vara Empresarial do Fórum da Comarca do Rio de Janeiro onde foi impetrada a recuperação judicial da empresa. A consulta à documentação processual foi de extrema importância, uma vez que, de acordo com a Lei de Falência e Recuperação (LFR), todos os gastos consumidos no processo de recuperação devem ser aprovados pelo juiz responsável pelo caso. A análise dos processos ocorreu em dois períodos distintos. O primeiro ocorreu em janeiro de 2006, quando se teve acesso aos volumes e apensos (anexos) do processo de recuperação judicial. Mais de 12.000 (doze mil) folhas nos volumes do processo de recuperação foram compulsadas, além dos anexos, em três dias de trabalhos, para a retirada de cerca de 2.000 cópias, as quais foram posteriormente analisadas e os dados retirados das mesmas. No segundo momento, em novembro de 2011, o processo de falência foi objeto de análise e obtenção de dados. O processo de recuperação não estava disponível e por isso não foi possível a sua análise. Deste último processo foram extraídas aproximadamente 250 cópias, impressas e digitalizadas, de cerca de 1500 folhas totais, até o período da última movimentação processual (junho de 2011). Foram colhidas e analisadas informações financeiras e operacionais da Varig, a fim de se observar a incidência, ou não, de custos indiretos para a empresa durante a recuperação no processo de falência. Em relação às informações pertinentes aos custos indiretos, além dos processos, foram consultadas as informações econômicas e financeiras da Varig fornecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC por meio dos Anuários de Transporte Aéreo dos anos de 2004 a 2008. Para alcançar o propósito de estimar os custos diretos da recuperação da Varig S.A., algumas variáveis foram utilizadas para a obtenção desses custos, sendo elas: •Valor pago ao administrador judicial (BRIS, WELCH e ZHU, 2004; CAMPBEL, 1997); •Honorários pagos a especialistas (CAMPBEL, 1997). Devido à dificuldade de acesso a toda documentação que contém os valores dos serviços deferidos pelo juiz durante o processo, e se eles foram pagos, neste trabalho os custos diretos foram estimados utilizando-se as informações contidas na parte da documentação processual a que se teve acesso, e, em alguns momentos, nos valores das propostas das empresas para execução dos serviços referentes à recuperação da Varig. Quanto aos custos indiretos, defini-los e atribuir-lhes valores financeiros é tarefa difícil; por isso, nesta pesquisa foram considerados como tais os fatores caracterizados por custo de oportunidade. Estes serão descritos e acompanhados de evidências de que a sua incidência causou, ou não, algum tipo de perda para a Varig ou para o sucesso da sua recuperação, sendo eles: • Tempo despendido no processo (BRIS, WELCH e ZHU, 2004); • Diminuição da produtividade (FISHER e MARTEL, 2005) - estimada por meio da análise da variação: do número de assentos oferecidos por empresa por quilômetro (km) voado, dos km voados, das horas voadas, do número de aeronaves e da quantidade de empregados mantida em cada empresa por ano; • Perda de vendas (FISHER e MARTEL, 2005) - obtida pela observação da variação da receita operacional e do número de passageiros transportados; • Aumento do custo operacional (WEISS, 1990) - para evidenciar este fator, foram analisados os custos médios por empresa por período; • Redução dos lucros (CAMPBEL, 1997) – foi observada pelo índice de lucratividade por empresa, calculado pela divisão do resultado operacional pela receita operacional; • Incapacidade de obter crédito (CAMPBEL, 1997). Nos trabalhos consultados, os fatores anteriores foram indicados como proxies para a mensuração dos custos indiretos da falência; no entanto, eles não foram medidos. Assim, foi feita uma tentativa de evidenciar os custos de oportunidade incorridos por uma empresa em recuperação seguindo a proposição desses estudos. Para buscar evidências quanto à existência de perdas para a companhia — devido ao fato de ela estar em um processo de recuperação —, foi utilizado o método de comparação com outras duas empresas do setor, a Gol e a TAM, que não se apresentavam insolventes à época do processo da Varig. Os valores dos fatores indicados como sinalizadores de perdas, tais como receita e número de voos, são apresentados para as três companhias, permitindo a análise do efeito da recuperação na empresa em análise. 4. Caso Varig 4.1. Descrição do Processo de Recuperação A Varig apresentou no seu processo de recuperação que uma das principais causas para a sua situação de crise foi a política do Governo Federal que, no período de 1985 a 1991, controlou os preços através do Decreto nº 91.149 de 15 de março de 1985, o qual dizia que qualquer fixação ou alteração de preços teria de ser submetida à aprovação do Ministério da Fazenda, o que gerou prejuízos para todo o setor aéreo4. Outro fator para a crise foi a cobrança de tarifa aeroportuária, com sobretaxa de 50%, prevista na Lei Esse evento levou à Varig a entrar com uma ação judicial de reparação de perdas monetárias que, neste ano de 2013, foi julgada procedente. Por isso, o Superior Tribunal de Justiça autorizou o retorno da empresa ao regime de recuperação judicial, cessando sua falência. Assim, a Varig vivenciou um regime de recuperação judicial no período de 2005 a agosto de 2010, o de falência entre agosto de 2010 e 2013, retornado em 2013 à condição do regime de recuperação judicial. Destaca-se que o objeto de estudo foi apenas o primeiro período da recuperação, de acordo com os dados obtidos. 4 6 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo Sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A. nº 7.920 de 12 de dezembro de 1989. Também são apontadas como causas para a má situação financeira da Varig: a moratória brasileira de 1982, o aumento da tributação do serviço de transporte aéreo, o custo interno do querosene de aviação, os inúmeros desequilíbrios do câmbio e as mudanças na política governamental para a distribuição de linhas internacionais. Outros fatores que abalaram a indústria de transporte aéreo foram os atentados terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, as guerras regionais no Oriente Médio e subsídios oferecidos pelos EUA para as suas empresas de aviação, impactando negativamente os resultados das concorrentes. Diante desses fatores, a Varig impetrou pedido de recuperação juntamente com as suas coligadas Rio Sul Linhas Aéreas S.A. e Nordeste Linhas Aéreas S.A. (doravante compreenda-se a expressão Varig como referente às três empresas) em 17 de junho de 2005 na 8º Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro. No dia 22.06.2005, houve deferimento do processamento pelo juiz, que dentre outras determinações exigidas pela LFR, ratificou a Cysneiros Vianna Advogados Associados como administrador judicial do processo, empresa posteriormente substituída pela Deloitte Touche Tohmatsu Consultores S.A.. Ainda no início do processo, antes mesmo da apresentação do plano de recuperação judicial, a Varig entregou proposta de venda de 95% das ações da Varig Logística S.A. (Varilog), sua subsidiária, para a Matlin Patterson, pelo valor de US$ 38 milhões. Após alguns protestos, a assembléia geral aprovou a alienação das ações da Variglog e de 90% das ações da Varig Engenharia e Manutenção (Vem), também subsidiária da Varig, ao BNDES pelo valor de US$ 62 milhões. Quanto ao plano de recuperação, uma das propostas era a criação de uma Unidade Produtiva Isolada, uma Nova Companhia, para a qual seria transferida, inicialmente, apenas parte dos negócios da Varig, Rio Sul e Nordeste por meio de um contrato de consórcio. Por essa operação não haveria sucessão das obrigações, inclusive as de natureza tributária (benefício concedido pelo artigo 60 da LFR), viabilizando a obtenção de dinheiro novo e a implementação pelas companhias em recuperação do plano de reestruturação operacional. De acordo com o plano, depois de resolvido o passivo tributário e previdenciário, seria feita a reunificação das operações de modo a obter o maior valor possível para o negócio Varig. O plano, a princípio, foi rejeitado por alguns credores que contestaram principalmente a criação de uma nova empresa. O plano passou por modificações e em 19.12.2005 foi aprovado pela assembléia geral, viabilizando a concessão da recuperação judicial deferida no dia 22.12.2005. Em dezembro de 2005, a Varig anunciou que a Fundação Rubens Berta (FRB), controladora da Varig, alienou 25% das ações ordinárias representativas do capital social da FBR-Par e deu em usufruto oneroso 42% das ações ordinárias representativas do capital social para a Docas Investimentos S.A., que dessa maneira passou a participar da administração da FBR-Par e, por conseguinte, também da Varig. Em julho de 2006, a assembléia geral de credores autorizou a alienação judicial da Unidade Produtiva Varig (UPV), também chamada de Nova Varig, tendo como compradora a Aéreo Transportes Aéreos S.A. (Aéreo), subsidiária da Variglog. Nesse período, a Varig demitiu cinco mil e quinhentos funcionários. A Antiga Varig passou a operar utilizando o nome Flex e reiniciou suas operações através de voos fretados. Próximo ao término do prazo de recuperação, o juiz responsável pelo caso negou o pedido de encerramento do processo pela empresa e determinou que a Flex permanecesse em recuperação até todas as obrigações com os credores serem cumpridas. 5. Custos da Recuperação 5.1. Custos Diretos Conforme Campbel (1997) e Weiss (1990), os custos diretos são os custos administrativos do processo de recuperação. Esses custos são mais facilmente identificados por se tratar de valores gastos em decorrência do processo, tais como remuneração do administrador judicial, de advogados, de contadores. Devido à dificuldade de acesso a todos os dados do processo, alguns dos valores aqui utilizados referem-se à proposta apresentada pelo prestador do serviço, não se podendo afirmar que de fato foram estes os valores finais aprovados pela Justiça e pagos pela devedora. Similarmente aos trabalhos desenvolvidos por Weiss (1990) e por Campbel (1997), nesta pesquisa, além do levantamento dos gastos, foi estimada a proporção do valor dos custos diretos do processo em relação ao valor do ativo salvaguardado pela empresa. Essa relação permitiu melhor visualização da dimensão desses custos. Os custos também foram relacionados com a dívida da empresa, a fim de mostrar a sua proporção em relação às obrigações contraídas até o pedido da recuperação. Foi considerado como valor das obrigações o passivo apresentado pela Varig no ano de 2004. A seguir, na Tabela 2, são apresentadas as despesas identificadas nas partes dos processos de recuperação e de falência da Varig a que se teve acesso. Ressaltando que, por não ter sido possível analisar os processos por completo, os custos diretos da recuperação podem ter sido superiores aos apresentados nesta pesquisa. Tabela 2: Custos diretos do processo de Recuperação da Varig S.A. (R$) Descrição Valor (R$) Honorário de perícia para início do processo 3.000 Assessoria FGV ao plano fiscal e tributário FASE I 600.000 Assessoria Lufthansa ao plano operacional 2.431.000 Assessoria Banco UBS ao plano financeiro 2.251.500 Perícia Deloite para avaliação da Variglog e Vem 380.000 Honorário do administrador judicial (Deloitte) 10.781.750 TOTAL 16.447.250 Fonte: Elaborado pelos autores Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 7 Pensar Contábil Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Poueri do Carmo Mário Somando-se essas despesas, chega-se à cifra de R$ 16.447.250,00 (dezesseis milhões, quatrocentos e quarenta e sete mil e duzentos e cinquenta reais). A proporção desse valor em relação ao ativo apresentado pela Varig em 2004 é de 0,53%, conforme Tabela 3. Já em relação à dívida, foi de 0,16%, conforme Tabela 4. O ano de 2004 foi utilizado como parâmetro para os valores do ativo e do passivo, por ser o último ano em que as companhias não estavam em recuperação. Assim, o valor apresentado não sofreu influência desse fato. Tabela 3: Proporção dos custos sobre o ativo (R$) Valor do ativo da Varig em 2004 Custos diretos Proporção dos custos 3.120.566.000 16.447.250 0,53% Fonte: Elaborado pelos autores Tabela 4: Proporção dos custos sobre a dívida (R$) Valor da dívida da Varig em 2004 Custos diretos Proporção dos custos 10.045.100.000 16.447.750 0,16% Fonte: Elaborado pelos autores A porcentagem dos custos despendidos no processo é relativamente pequena, em relação ao ativo total e ao passivo da Varig. Os percentuais encontrados para a companhia são pequenos — inclusive se comparados aos valores encontrados nos estudos de Weiss (1990) e Campbel (1997). Weiss encontrou um percentual médio dos custos diretos sobre o ativo de 2,8% (variando entre 0,9% e 7,0%), e Campbel, percentual médio de 8,5%. Em relação à dívida total da empresa, Weiss encontrou percentual médio de 3,1% (variando entre 1,0% e 6,6%). Apesar de os custos diretos terem sido percentualmente pequenos, em valores absolutos tornam-se bastante significativos. Isto pode ser demonstrado por meio do pedido da própria Varig de desistência da recuperação, alegando como um dos motivos as altas despesas e os constantes desembolsos exigidos pelo processo. É comum que nos processos as partes reclamem dos gastos e desembolsos gerados. Considerando-se o valor absoluto, essa motivação é bem provável. 5.2. Custos Indiretos Para verificação de possíveis perdas decorrentes da recuperação judicial, fez-se uma comparação dos dados da Varig com os de outras duas significativas empresas do setor: a Gol Transportes Aéreos e a Tam Linha Aéreas. Estas empresas foram escolhidas como parâmetro por comporem, juntamente com a Varig, à época da sua recuperação, a lista das três maiores empresas aéreas brasileiras, conforme Tabela 1. O método comparativo foi adotado por permitir uma análise mais coerente e confiável. 8 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 Uma observação a ser feita sobre os dados analisados é que, devido ao fato de a Nordeste, a Rio Sul e a Varig Operacional terem encerrado as suas atividades no ano de 2006, suas informações financeiras só foram divulgadas até esse ano. A seguir serão descritos os possíveis custos de oportunidade em que a Varig incorreu durante o processo e algumas consequências geradas por eles para a empresa. 5.2.1. Tempo Despendido no Processo O tempo considerado despendido no processo de recuperação da Varig, nesta pesquisa, foi o período entre a data do pedido da recuperação, 17.06.2005, e o encerramento do processo pelo juiz em agosto de 2010, devido à decretação da falência (o administrador judicial à época entrou com o pedido de autofalência, que foi acatado pelo juiz). Desse modo, o processo perdurou por mais de cinco anos, e a lei de falência permite que a recuperação se estenda por no máximo dois anos. O fato de a recuperação ter durado mais que o dobro do tempo proposto legalmente já evidencia que não se tratou de um procedimento de fácil execução. Próximo à data prevista para o término do processo, a Varig pediu pelo seu encerramento, porém o juiz negou o pedido sob pretexto de que a devedora ainda não havia cumprido suas obrigações para com os credores. O período no qual a empresa permanece em recuperação é relevante, se observado sob a ótica dos custos de oportunidade, pelo fato de a recuperação poder gerar consequências negativas para empresa. No caso da Varig, durante o processo o juiz responsável pelo caso afastou o acionista controlador de qualquer gerência político-administrativa, impedindo-o de destituir qualquer membro do Conselho Administrativo, devendo, ainda, manter a composição da Diretoria. Tal fato implica que, por estar em recuperação, a empresa não possuía autonomia para compor seu quadro de gestores. Isto pode ter gerado custos de oportunidade: primeiro porque a empresa pode ter tido perda de informações devido ao distanciamento do acionista controlador, que em princípio tinha conhecimento de todo o contexto no qual a Varig estava inserida, o que auxiliava nas tomadas de decisões; segundo, caso algum membro do Conselho ou da Diretoria passasse a agir de maneira dissonante com os objetivos da empresa, permaneceria ocupando o mesmo cargo, podendo agir em interesse dos credores e prejudicar o soerguimento da empresa. Outro malefício gerado pela recuperação, segundo declaração da própria Varig, é que a empresa não conseguia obter crédito suficiente, especialmente o de curto prazo, desde que pediu pela recuperação judicial, tendo como solução para este problema a venda de duas das suas subsidiárias. Por essa decisão a Varig pode ter incorrido em perda de oportunidade, pois foi pressionada a se desfazer de ativos relevantes para dar continuidade às suas operações. Mesmo após a decisão da Varig de vender a Variglog e a Vem, suas subsidiárias, foi necessária a aprovação dos credores para a realização do negócio. Isto demonstra que as decisões dos gestores da empresa em recuperação, principalmente as relativas ao patrimônio da Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo Sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A. devedora, não foram autônomas, devendo sempre passar pelo crivo dos credores por exigência legal. Esses fatos corroboram com o pensamento de Bris, Welch e Zhu (2004) de que, quanto maior o tempo do processo, maiores são os custos indiretos. É importante ressaltar que em julho de 2006 a Unidade Produtiva Varig foi vendida, o que justifica a queda brusca nas operações da companhia. Ainda em 2006, o Brasil passou por séria crise estrutural no setor aéreo. A quebra da Varig parece ter influenciado diretamente tal situação, uma vez que as demais companhias demoraram a absorver a demanda deixada pela Varig. A dificuldade de adaptação do setor à inoperância da companhia pode ser observada pela Tabela 6, a qual mostra que o ganho de produtividade obtido pela Gol e pela Tam juntas não superou a queda da oferta de serviços da Varig. A propósito, em reportagem divulgada pela Agência Brasil, a ministra do turismo à época, Marta Suplicy, chegou a afirmar que a crise da Varig afetou mais o turismo do que a crise aérea (ALBUQUERQUE, 2007), principalmente em consequência de rotas operadas pela Varig que deixaram de ser utilizadas. 5.2.2. Diminuição da Produtividade A variação da produtividade das empresas analisadas pode ser observada por diversos meios. Foram considerados nesta pesquisa: o número de assentos oferecidos por empresa por quilômetro (km) voado, os km voados e as horas voadas, conforme as Tabelas 5 e 6. Na Tabela 5 é possível notar que a variação da produtividade das companhias devedoras é inversa à das demais empresas consideradas: enquanto Nordeste, Rio Sul e Varig têm redução, Gol e TAM têm aumento de produção. Tabela 5: Produtividade por empresa (2004-2006) Empresa Unidade 2004 2005 2006 NORDESTE Assento.Km Oferecido ASS/KM 258.244 63.325 17.734 KM 3.844.743 521.896 143.744 H 6.397,00 826 225 ASS/KM 360.711 239.025 49.053 KM 2.449.914 1.964.705 396.602 H 9.635 3.357 695 Km Voados Horas Voadas RIO SUL Assento.Km Oferecido Km Voados Horas Voadas VARIG Assento.Km Oferecido ASS/KM 38.604.887 38.998.698 18.522.777 KM 213.115.697 203.242.749 98.066.134 H 291.855 280.101 134.809 ASS/KM 8.853.841 13.293.017 19.443.716 KM 58.939.822 88.843.340 136.549.678 H 92.627 139.212 212.248 ASS/KM 20.355.700 27.608.253 34.750.670 KM 132.488.340 179.436.428 216.319.007 H 228.576 313.304 374.452 ASS/KM 68.433.383 80.202.318 72.783.950 KM 410.838.516 474.009.118 451.475.165 H 629.090 736.799 722.429 Km Voados Horas Voadas GOL Assento.Km Oferecido Km Voados Horas Voadas TAM Assento.Km Oferecido Km Voados Horas Voadas TOTAL Assento.Km Oferecido Km Voados Horas Voadas Fonte: ANAC – Adaptado pelos autores Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 9 Pensar Contábil Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Poueri do Carmo Mário 5.2.3. Perda de Vendas Pode-se observar tanto pela queda no número de passageiros transportados quanto pela redução das receitas de voo que as companhias em recuperação apresentaram diminuição de suas vendas. Também é possível notar que, apesar de as outras duas A perda de vendas pode ser observada pela comparação da receita operacional, Tabela 7, antes e depois do pedido de recuperação pela empresa. Tabela 6: Variação de produtividade (2005-2006) Ganho GOL e TAM Perda VARIG Variação Total Assento.Km Oferecido 13.293.116 -20.711.484 -7.418.368 Km Voados 84.588.917 -107.122.870 -22.533.953 134.184 -148.554 -14.370 Horas Voadas Fonte: ANAC – Adaptado pelos autores Tabela 7: Receitas, despesas e resultados por 2004-2006 (R$) Empresa 2004 2005 2006 NORDESTE Receita de Voo 73.906.986 13.281.811 1.518.608 Despesa de Voo 92.499.422 12.504.660 4.807.688 -18.592.436 777.150 -3.289.081 -25% 6% -217% Resultado de Voo Lucratividade RIO SUL Receita de Voo 117.861.800 52.208.656 9.706.609 Despesa de Voo 143.005.143 66.780.377 18.940.253 Resultado de Voo -25.143.344 -14.571.721 -9.233.644 -21% -28% -95% Lucratividade VARIG Receita de Voo 7.568.310.906 6.636.474.083 2.667.363.078 Despesa de Voo 7.325.948.926 7.068.989.009 3.533.478.416 242.361.980 -432.514.927 -866.115.337 3% -7% -32,47% Resultado de Voo Lucratividade GOL Receita de Voo 1.953.673.028 2.673.731.064 3.794.828.775 Despesa de Voo 1.482.629.933 2.192.417.904 3.374.516.453 471.043.095 481.313.160 420.312.322 24% 19% 11% Resultado de Voo Lucratividade TAM Receita de Voo 4.100.024.669 5.346.311.093 6.704.898.469 Despesa de Voo 3.933.824.838 5.138.100.522 6.187.739.266 166.199.831 208.210.571 517.159.203 4% 4% 8% Resultado de Voo Lucratividade TOTAL Receita de Voo 13.813.777.389 14.722.006.707 13.178.315.539 Despesa de Voo 12.977.908.262 14.478.792.472 13.119.482.076 835.869.126 243.214.233 58.833.463 -15% -6% -325% Resultado de Voo Lucratividade Fonte: ANAC – Adaptado pelos autores 10 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo Sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A. principais companhias do setor terem aumentado suas vendas, esse aumento não foi o bastante para absorver as perdas causadas pela crise da Varig e suprir a demanda do setor. sentado pelas empresas em relação às atividades desenvolvidas, como pode ser observado na Tabela 8. Nesta tabela é possível perceber que os custos médios da Varig aumentaram ao longo do tempo. A Gol manteve seus custos relativamente estáveis e a TAM também os manteve constantes, com exceção dos custos referentes ao assento por quilômetro oferecido, que também sofreram elevação. 5.2.4. Aumento do Custo Operacional O comportamento dos custos, ao longo do período analisado, pode ser observado pelas variações do custo médio apreTabela 8: Receita e custo médios por empresa em R$ (2004-2006) Empresa 2004 2005 2006 NORDESTE Por Hora de Voo Receita Média 11.553,36 16.087,46 6.750,57 Custo Médio 14.459,79 15.146,15 21.371,30 Receita Média 19,22 25,45 10,56 Custo Médio 24,06 23,96 33,45 Receita Média 0,29 0,21 85,63 Custo Médio 0,36 0,20 271,10 Receita Média 12.233,08 15.551,71 13.976,00 Custo Médio 14.842,75 19.892,28 27.271,00 Receita Média 48,11 26,57 24,47 Custo Médio 58,37 33,99 47,76 0,33 0,22 197,88 0,40 0,28 386,12 Receita Média 25.931,75 23.693,18 19.786,25 Custo Médio 25.101,33 25.237,33 26.211,01 Receita Média 35,51 32,65 27,20 Custo Médio 34,38 34,78 36,03 Por Quilômetro Voado Por Assento Quilômetro Oferecido RIO SUL Por Hora de Voo Por Quilômetro Voado Por Assento Quilômetro Oferecido Receita Média Custo Médio VARIG Por Hora de Voo Por Quilômetro Voado Por Assento Quilômetro Oferecido Receita Média 0,20 0,17 0,14 Custo Médio 0,19 0,18 0,19 Receita Média 21.091,80 19.081,20 17.879,20 Custo Médio 16.006,50 15.545,80 15.898,90 33,10 29,90 27,80 GOL Por Hora de Voo Por Quilômetro Voado Receita Média Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 11 Pensar Contábil Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Poueri do Carmo Mário Custo Médio 25,20 24,40 24,70 Receita Média 0,22 0,20 0,20 Custo Médio 0,17 0,16 0,17 Receita Média 17.937,24 17.064,30 17.905,90 Custo Médio 17.210,13 16.399,74 16.524,79 Receita Média 30,95 29,80 31,00 Custo Médio 29,69 28,63 28,60 Receita Média 0,20 0,19 192,94 Custo Médio 0,19 0,19 178,06 Por Assento Quilômetro Oferecido TAM Por Hora de Voo Por Quilômetro Voado Por Assento Quilômetro Oferecido Fonte: ANAC - Adaptado pelos autores Comparando-se os percentuais do custo médio em relação à receita média por período, observa-se que as empresas em recuperação obtiveram, relativamente, custos maiores do que as receitas obtidas, indicando ter havido prejuízo em suas Para facilitar a análise dos custos médios das empresas, eles foram estruturados na forma de proporção dos custos médios em relação às receitas médias do período, conforme Tabela 9. Tabela 9: Proporção dos custos em relação à receita (2004-2006) Empresa 2004 2005 2006 NORDESTE Por Hora de Voo 125,16% 94,15% 316,59% Por Quilômetro Voado 125,18% 94,15% 316,76% Por Assento Quilômetro Oferecido 124,14% 95,24% 316,59% RIO SUL Por Hora de Voo 121,33% 127,91% 195,13% Por Quilômetro Voado 121,33% 127,93% 195,18% Por Assento Quilômetro Oferecido 121,21% 127,27% 195,13% VARIG Por Hora de Voo 96,80% 106,52% 132,47% Por Quilômetro Voado 96,82% 106,52% 132,46% 95,00% 105,88% 135,71% Por Assento Quilômetro Oferecido GOL Por Hora de Voo 75,89% 81,47% 88,92% Por Quilômetro Voado 76,13% 81,61% 88,85% Por Assento Quilômetro Oferecido 77,27% 80,00% 85,00% TAM Por Hora de Voo 95,95% 96,11% 92,29% Por Quilômetro Voado 95,93% 96,07% 92,26% Por Assento Quilômetro Oferecido 95,00% 100,00% 92,29% Fonte: Elaborado pelos autores 12 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo Sobre Custos de Falência: O Caso da Recuperação Judicial da Varig S.A. operações. O mesmo não foi observado nas demais empresas, que obtiveram proporção dos custos menor que das receitas, acenando para um resultado operacional positivo. 5.2.5. Redução dos Lucros A análise da redução dos lucros foi realizada por meio da comparação do índice de lucratividade das companhias em recuperação com os da Gol e da TAM. A lucratividade foi obtida pela divisão do resultado de voo pela receita de voo. Agrupando-se os índices de lucratividade por empresa, apresentados na Tabela 7, tem-se a Tabela 10. Pelos índices apresentados, pode-se inferir que, no período de 2004 a 2006, as companhias em recuperação tiveram índices de lucratividade significativamente menores em relação aos da Gol e aos da TAM. Tabela 10: Índice de lucratividade por empresa 2004-2006 Empresa 2004 2005 2006 NORDESTE -25% 6% RIO SUL -21% -28% -95% 3% -7% -32,47% GOL 24% 19% 11% TAM 4% 4% 8% VARIG -217% Fonte: ANAC – Adaptado pelos autores A redução dos lucros da Varig pode ser vista como consequência da junção de vários fatores operacionais e financeiros, como a redução da produtividade e das vendas, o aumento dos custos, a dificuldade em obter créditos e também devido à alienação da Unidade Produtiva Varig. Todos esses condicionantes reunidos contribuíram para que a empresa tivesse seus lucros diminuídos durante o período de sua recuperação. 5.2.6. Incapacidade de Obtenção de Crédito Na documentação processual, a Varig declarou ter passado por dificuldades financeiras e para obter crédito, afirmando que o ineditismo da Lei de Recuperação e Falência estava dificultando a obtenção de novos recursos. A empresa relatou que após a impetração do processo passou a sofrer restrições de crédito, comprometendo o seu fluxo de caixa, e que devido a esse problema estava correndo risco de perder algumas aeronaves por descumprimento de pagamento do contrato de arrendamento das mesmas. A Varig expôs que, logo após a divulgação do seu pedido de recuperação, seus principais fornecedores no Brasil (Petrobras, Shell, Esso, Infraero e IBM), e também fornecedores no exterior, passaram a exigir pagamentos à vista, sendo que antes do processo estas mesmas empresas concediam prazos para o pagamento das compras de insumos e serviços. Também afirmou que, após o anúncio da recuperação, as administradoras de cartões de crédito no Brasil, que correspondiam a uma parcela significativa das vendas de passagens aéreas da Varig, passaram a requerer aumento dos depósitos em garantia, gerando im- Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 4 - 14, maio/ago. 2013 pacto de aproximadamente R$ 25 milhões mensais no seu fluxo de caixa. A Varig teve problemas com funcionários e aeronaves devido à escassez de caixa. Por não cumprir com os pagamentos de salários dos seus empregados, era iminente o risco de greve e paralisação total de suas operações. Em relação às aeronaves, houve retenção de alguns motores pela GE Celma Ltda, empresa pertencente ao Grupo GE responsável pela manutenção de motores e turbinas utilizados nos aviões da Varig. A ausência desses motores estava gerando perda de receita pela inoperância das aeronaves que dependiam deles. A Varig também teve várias aeronaves paralisadas devido à falta de recursos para reposição de peças e realização de manutenção, aumentando a sua perda de receita operacional e, consequentemente, colaborando para a redução dos seus lucros. De acordo com o processo de recuperação, a Varig contatou várias instituições financeiras, porém nenhuma se dispôs a fornecer recursos suficientes e de curto prazo para a empresa melhorar a sua situação financeira. Diante desse contexto, a empresa viu como saída para os problemas imediatos de caixa a venda das ações de duas de suas subsidiárias, a Varilog e a Vem. Posteriormente, houve a venda da Unidade Produtiva Varig e também do acervo de obras de arte que a companhia acumulou durante sua existência. 6. Considerações Finais Este trabalho teve como objetivo principal estimar e evidenciar os custos diretos e indiretos em que a Varig incorreu, devido ao seu processo de recuperação judicial. Após análise do caso e considerando as limitações de acesso às informações, é possível afirmar que o custo direto do processo em relação ao ativo salvaguardado pela Varig, assim como em relação à sua dívida, é relativamente baixo (materialidade): 0,53% e 0,16%, respectivamente. No entanto, para uma companhia que se encontrava em crise, os valores absolutos se tornam significativos, agravados pelo fato de os desembolsos terem sido constantes para permitir o andamento do processo. Tais desembolsos pioraram a situação da recessão financeira pela qual a empresa passou. Quanto aos custos indiretos da recuperação da Varig, nesta pesquisa o objetivo foi identificá-los e descrevê-los. Após a exposição e análise dos dados obtidos, pode-se afirmar que a Varig incorreu em perdas devido ao fato de estar em recuperação, que podem ser caracterizadas como custos indiretos – custos de oportunidade. Durante o período analisado, os resultados operacionais da Varig pioraram. Houve redução da produtividade, suas vendas diminuíram, seus custos operacionais aumentaram e, consequentemente, seus resultados foram impactados negativamente. Além da conjuntura operacional, a empresa enfrentou restrições à obtenção de créditos, o que limitou ainda mais as tentativas de superação da crise e pressionou a administração a tomar decisões que provavelmente não tomaria, caso a empresa não estivesse em recuperação, como por exemplo a venda de subsidiárias e da própria Unidade Produtiva Varig. Neste sentido, a sua recuperação pode indicar que houve apenas um processo de procrastinação na liquidação de ativos, fato que ocor- 13 Pensar Contábil Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Poueri do Carmo Mário reria em menor tempo se o pedido de recuperação tivesse sido negado e a falência tivesse sido instalada diretamente. O andamento da recuperação judicial da Varig também foi prejudicado pelos custos indiretos em que a empresa incorreu durante o processo, principalmente, devido à venda da Unidade Produtiva Varig (UPV) que reduziu substancialmente a sua capacidade operacional e comprometeu a principal fonte de obtenção de recursos da empresa. Sem a UPV e com grandes dificuldades para obtenção de crédito, não havia fontes de recursos suficientes para o pagamento dos credores, tornando a recuperação inviável. Para a Varig, a recuperação não atingiu o seu propósito, se considerados todos os fatos e dados analisados nesta pesquisa. A empresa incorreu em grandes despesas; parte considerável do seu patrimônio foi liquidada, bem como a UPV, duas subsidiárias e 25% das ações da sua controladora; mais de cinco mil funcionários foram demitidos e, para os credores, restou uma companhia limitada operacionalmente e com dívida de mais de cinco bilhões de reais (R$ 5 bi). Se a recuperação tivesse sido negada e a falência decretada, ao menos a taxa de recuperação dos credores poderia ter sido maior à época. Tal análise se baseou apenas nos dados e período analisado, sendo esta uma oportunidade de nova pesquisa, tendo em vista o desdobramento do referido caso, que culminou no retorno ao processo de recuperação da Varig. Analisar o contexto e o impacto desta decisão, bem como o efeito do tempo em decisões judiciais de processos de recuperação, pode aclarar mais a relação da legislação e do Judiciário no resultado desses e seus consequentes custos. Referências AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL - ANAC. Anuário do Transporte Aéreo (2004-2008). Disponível em: <http://www2.anac.gov.br/ estatistica/anuarios.asp>. Acesso em: 28.03.2011. ALBUQUERQUE, Flávia. Quebra da Varig causou mais prejuízo ao turismo que crise aérea diz-ministra. Agência Brasil, São Paulo, 13 de ago. 2007. 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Neste contexto, a qualificação e a especialização da formação dos recursos humanos da classe contábil tornam-se fundamentais na estruturação dos atuais procedimentos contábeis. Com isso, o presente estudo tem como objetivo investigar se a produção científica desenvolvida nos cursos stricto sensu em Ciências Contábeis condiz com o perfil profissional do contador brasileiro. Esta pesquisa faz uso da técnica descritiva através do método bibliográfico qualitativo em sua coleta e desenvolvimento. Os achados apontam para a concentração dos cursos stricto sensu na região Sudeste, uma maior quantidade dos mestrados acadêmicos em relação ao mestrado profissional, carências de linhas de pesquisas na área tributária e baixo índice de profissionais registrados com títulos de mestre e/ou doutores. Este estudo divide-se em cinco seções: introdução, revisão de literatura, metodologia, resultados, e conclusão. A sua relevância reside em contribuir para o mapeamento dos cursos de mestrado e doutorado e suas respectivas áreas de concentração, linhas de pesquisa e avaliação junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); a descrição do perfil do profissional contábil; e a correlação das conformidades, carências e tendências entre a literatura acadêmica e a prática do contabilista. Palavras-chave: Stricto Sensu em Ciências Contábeis, Áreas de Concentração, Linhas de Pesquisa, CAPES, Contabilidade UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – CEP 20550-013 – Rio de Janeiro – RJ. UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 21941-972 – Rio de Janeiro – RJ. 1 2 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 Artigo recebido em 28/03/2013 e aceito em 26/06/2013. 15 Pensar Contábil Claudia Marchioti Nicolau dos Reis Eduardo Felicíssimo Lyrio Branca Regina C. dos S. e Silva Riscado Terra CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Leonardo Lehnemann Agostinho Martins Abstract The recent processes of standardization and harmonization of accounting through the International Financial Reporting Standards (IFRS) and its interpretations by the Accounting Pronouncements Committee (CPC) requires a professional improvement. In this context, qualification and specialization of human resources of the accounting class become critical in the structure of current accounting procedures. Thus, this study aims to investigate whether the scientific production of stricto sensu courses in Accounting matches the professional profile of the Brazilian accountant. This research uses the descriptive technique through bibliographic qualitative method to collect and development. The findings indicate a higher concentration of stricto sensu courses in the Southeast, a greater amount of academic masters in relation to master professional, shortages lines of research in the area of taxation and a low rate of registered professionals with master's degrees and / or doctors. This study is divided into five sections: introduction, introduction, literature review, methodology, results, and conclusion. The relevance of this study is to contribute to the mapping of master's and doctoral degrees and their respective areas of concentration, lines of research and evaluation by the Coordination of Improvement of Higher Education Personnel (CAPES the description of the profile of the professional accounting and correlation of compliance, trends and gaps between the academic literature and practice of accounting. Key words: Stricto Sensu in Accounting, Research Areas, Lines of Research, CAPES, Accounting 1. Introdução Nos últimos 10 anos, o mercado corporativo dos negócios vem passando por uma série de transformações econômicas, sociais e tecnológicas de impacto nacional e internacional. Na Contabilidade, podem-se destacar alterações relevantes como a implementação da Lei 11.638/07, os escândalos financeiros envolvendo fraudes contábeis em 2008 e os pronunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Estes fatores impulsionaram o rigor na legislação do mercado acionário e, consequentemente, alterações nos procedimentos de controles e gestão da atuação dos contabilistas. Neste ambiente, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) — órgão da classe contábil no Brasil — procura acompanhar a evolução nos cenários internos e externos. Com isto, visa a integrar o conhecimento teórico à prática do mercado. Neste contexto, o CFC tanto regula e fiscaliza a profissão, como investe na sua qualificação e especialização. O CFC relata na pesquisa do Perfil do Contabilista Brasileiro, conforme Biblioteca (2012, p.5): O estudo visa a conhecer o perfil do profissional da Contabilidade em todos os aspectos (socioeconômico, profissional, cultural e político-classista) e suas percepções sobre a profissão e a Contabilidade e, ainda, avaliar as atribuições do Sistema CFC/CRCs1 sob o ponto de vista do contabilista. [...] São dados e informações significativas que, certamente, contribuirão para aperfeiçoar as ações do Sistema CFC/CRCs na busca contínua por promover o desenvolvimento do profissional contábil e o fortalecimento do Sistema perante a classe e a sociedade. 16 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 Warley Francisco de Araújo Pereira A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com o objetivo de expandir e consolidar os cursos de pós-graduação stricto sensu , desempenha atividades relacionadas ao acesso e divulgação de estudos científicos, e também investe em recursos nos programas junto às instituições de ensino, alunos e professores. De acordo com a CAPES, Área (2012, p. 14) diz: A(s) área(s) de concentração visa(m) a apontar, de maneira clara, a área do conhecimento do programa, os contornos gerais de sua especialidade na produção intelectual e na formação de seus mestres ou doutores. As linhas de pesquisa devem expressar a especificidade de produção de conhecimento da respectiva área de concentração, ou seja, representar um recorte específico e bem delimitado desta. Na ficha de avaliação para o triênio 2007 – 2009 são definidos os itens a ser considerados pelas instituições de ensino em sua produção científica, ou seja, é necessário que as áreas de concentração e linhas de pesquisas tenham formulação e aplicação coerente, consistente, abrangente e atual. Conforme aponta Cunha et al. (2001), a contribuição dos doutores em Ciências Contábeis está muito abaixo do esperado, e isto revela que um terço dos citados nunca publicou um artigo após a sua titulação; desta forma, não contribuem com a profissão contábil em expor os conhecimentos obtidos durante o curso. Santos (2011) levantou o perfil dos profissionais contábeis na cidade de Curitiba/PR, e constatou que as instituições de ensino superior (IES) desta localidade estão alinhadas com o perfil dos profissionais. Também se verificou a carência na demanda por linhas de pesquisas com enfoque nas normatizações internacionais e na legislação tributária. Para que o estágio atual da produção intelectual da área represente os conhecimentos consolidados como ciência, tecnologia e inovação e possa gerar benefícios para a sociedade, faz-se necessário atender às expectativas do perfil profissional do contador brasileiro. Diante do exposto, elaborou-se a seguinte pergunta de pesquisa: a produção científica desenvolvida nos cursos stricto sensu em Ciências Contábeis condiz com o perfil profissional do contador brasileiro? Desta maneira, o presente artigo tem por objetivo exatamente investigar se a produção científica desenvolvida nos cursos stricto sensu em Ciências Contábeis alinha-se com o perfil profissional do contador brasileiro. Como objetivos específicos, buscou-se listar os cursos stricto sensu em Ciências Contábeis no Brasil reconhecidos pela CAPES, reproduzir as áreas de concentração e as linhas de pesquisa adotadas pelos cursos de mestrado e doutorado em Ciências Contábeis e, em seguida, comparar se esta produção científica dos cursos stricto sensu apresentada sob a forma de dissertações e teses condiz com o perfil do contabilista brasileiro relatado pelo CFC em 2009. Como se frisou acima, este estudo divide-se em quatro seções, iniciando com esta introdução. Na sequência, apresenta a fundamentação teórica do estudo, com destaque para a descrição dos cursos stricto sensu em Ciências Contábeis, com suas respectivas linhas de pesquisa, área de concentração e avaliação junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Formação de Recursos Humanos: Uma Análise entre as Linhas de Pesquisa dos Cursos Stricto Sensu em Ciências Contábeis e o Perfil do Contabilista Brasileiro de Nível Superior (CAPES), como também relata um breve histórico do perfil do contabilista brasileiro divulgado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em 2009. Em seguida, aborda a metodologia adotada para o desenvolvimento das pesquisas. A partir do estudo comparativo das produções acadêmicas produzidas nos cursos stricto sensu com o perfil do profissional contábil, faz-se a descrição e análise dos dados. 2. Revisão de Literatura Esta seção aborda as instituições de ensino superior (IES) dos cursos stricto sensu e suas respectivas linhas de pesquisa, área de concentração e avaliação junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), assim como descreve o perfil do contabilista brasileiro conforme pesquisa do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em 2009. 2.1. Instituições de Ensino Superior (IES) O estudo utilizou-se das informações contidas nas páginas eletrônicas das IES da CAPES. Visualizam-se no Quadro 1 as IES utilizadas neste trabalho: No Quadro 1 enumeram-se as IES que ministram cursos de doutorado, mestrado profissional e mestrado aca- dêmico no Brasil reconhecidos pela CAPES. O item 2.2 demonstra os cursos de doutorado e suas respectivas IES; no item 2.3 visualizam-se os cursos de mestrado profissional; e, no item 2.4, os cursos de mestrado acadêmico. 2.2. Cursos de Doutorado Os cursos de doutorado apresentaram 4 cursos em IES diferentes e 12 linhas de pesquisas. A seguir tem-se o resumo das linhas de pesquisa em cada IES apurada. A Universidade de Brasília (UNB), conforme Sobre (2012), está situada na região Centro-Oeste e possui área de concentração em mensuração contábil, com as linhas de pesquisa em Contabilidade e Mercado Financeiro — onde estuda as normas e os procedimentos das demonstrações contábeis, bem como a influência dessas informações no processo decisório do usuário externo; Contabilidade para Tomada de Decisão, que estuda a geração de informações sobre as ações de uma entidade para o processo decisório do usuário interno; e Impactos da Contabilidade na Sociedade, que aborda a influência da contabilidade para o desenvolvimento de sociedade. A UNB possui nota 4 para as duas pós-graduações. Quadro 1 : Lista de IES utilizadas nesta pesquisa. Ordem Região UF Nome da instituição Sigla 1 Centro-Oeste DF Universidade de Brasília 2 Sudeste ES FUCAPE Business School 3 Sul SC Universidade Regionalde Blumenal 4 Sudeste SP Universidade do Estado de São Paulo 5 Norte AM Universidade Federal do Amazonas 6 Sudeste ES FUCAPE Business School 7 Sudeste SP Universidade Presbiteriana Mackenzie UPM 8 Nordeste BA Universidade Federal da Bahia UFBA 9 Centro-Oeste DF Universidade de Brasília UnB FUCAPE FURB USP UFAM FUCAPE UnB 10 Sudeste ES Universidade Federal do Espírito Santo 11 Sudeste ES FUCAPE Business School 12 Sudeste MG Universidade Federal Minas Gerais 13 Nordeste PE Universidade Federal de Pernambuco UFPE 14 Sul PR Universidade Federal do Paraná UFPR 15 Sudeste RJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ 16 Sudeste RJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro 17 Sul RS Universidade do Vale do Rio dos Sinos 18 Sul SC Universidade Regionalde Blumenal 19 Sul SC Universidade Federal de Santa Catarina 20 Sudeste SP Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado FECAP 21 Sudeste SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP 22 Sudeste SP Universidade do Estado de São Paulo 23 Sudeste SP Universidade do Estado de São Paulo - Ribeirão Preto UFES FUCAPE UFMG UERJ UNISINOS FURB UFSC USP USP/RP Fonte: Dados da Pesquisa, 2012 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 17 Pensar Contábil Claudia Marchioti Nicolau dos Reis Eduardo Felicíssimo Lyrio Branca Regina C. dos S. e Silva Riscado Terra CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Leonardo Lehnemann Agostinho Martins Na Fucape Business School (FUCAPE), conforme Doutorado (2012a), o seu doutorado possui Controladoria e Finanças como área de concentração. As linhas de pesquisa utilizadas são duas: Contabilidade e Gestão Estratégica, que congrega estudos sobre a utilização da informação contábil por usuários internos das organizações públicas e privadas, utilizada por gestores das organizações nos mecanismos de avaliação de desempenho, motivação e controle; e Finanças e Avaliação de Empresas, que verifica as pesquisas e a produção de conhecimentos e tecnologias em temas que compõem a principal vertente da moderna pesquisa em Finanças: finanças corporativas, precificação de ativos, governança corporativa e avaliação de empresas com base em informações contábeis. O curso de Doutorado em Ciências Contábeis e Administração da FUCAPE apresenta avaliação 4. Na Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), segundo Doutorado (2012b), o doutorado apresenta Controladoria e Gestão das Organizações como áreas de concentração, e as linhas de pesquisa Contabilidade Gerencial compreendem o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre aspectos da contabilidade relacionados ao suporte no processo de gestão. A linha de pesquisa Planejamento e Controle Organizacional abrange estudos e pesquisas relacionados ao planejamento e controle focalizados na estratégia de competitividade organizacional; e a linha de pesquisa Estratégia de Competitividade envolve campo de pesquisa e desenvolvimento de estudos acerca da estratégia de competitividade das organizações. Ambos os cursos de pós-graduação apresentam nota 4 pela CAPES. A Universidade do Estado de São Paulo (USP) possui área de concentração em Controladoria e Contabilidade, assim como as linhas de pesquisa Controladoria e Contabilidade Gerencial, as quais envolvem “campo de pesquisa e desenvolvimento de estudos sobre instrumentos de apoio ao processo de planejamento e controle das organizações.” (DESCRIÇÃO, 2012). Por sua vez, Contabilidade para usuários externos “aborda o desenvolvimento de estudos e pesquisas relacionados aos aspectos de identificação, mensuração e divulgação da informação contábil.” (DESCRIÇÃO, 2012). Mercados financeiro, de crédito e de capitais “abrange estudos e pesquisas voltados aos aspectos conceituais e empíricos dos respectivos mercados, bem como a aplicação de recursos sob a ótica dos desempenhos empresariais passados e projetados”. (DESCRIÇÃO, 2012). Educação e pesquisa em Contabilidade “estuda modelos, métodos, técnicas e instrumentos que visam ao aprimoramento e melhoria de todo o processo ensino-aprendizagem e as construções de trabalhos científicos em todas as áreas do campo de conhecimento das Ciências Contábeis”. (DESCRIÇÃO, 2012). Tanto o mestrado quanto o doutorado apresentam nota 6 pela CAPES. 2.3. Cursos de Mestrado Profissional Os cursos de mestrado profissional concentram-se em 3 IES distintas e possuem 9 linhas de pesquisas diversificadas. A seguir, tem-se o resumo das linhas de pesquisa em cada IES apurada. A Universidade Federal do Amazonas (UFAM), conforme Linhas (2012c), possui área de concentração em Contabilidade e Controladoria em organizações públicas e privadas, com as linhas de pesquisa em Controladoria e Contabilidade Organiza- 18 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 Warley Francisco de Araújo Pereira cional. Esta linha de pesquisa destina-se ao estudo das questões teórico-metodológicas inerentes aos principais sistemas, métodos, modelos de decisão e instrumentos que forneçam subsídio ao planejamento e controle organizacional. Por sua vez Gestão do Desenvolvimento Sócio-ambiental tem como foco a realização sócio-ambiental da região amazônica. A linha destina-se à realização de estudos das formas de registro, controle e divulgação dos impactos sócio-ambientais decorrentes das atividades organizacionais desenvolvidas na região amazônica. Por fim, Gestão Estratégica Organizacional direciona-se a pesquisas e orientações em torno dos diversos processos estratégicos de gestão, modelos organizacionais e governança empresarial. O mestrado possui nota 3 na CAPES. Na Fucape Business School (FUCAPE), conforme Cursos (2012), o mestrado profissional possui Contabilidade e Finanças como área de concentração. Suas linhas de pesquisa abordam Contabilidade e Controladoria Aplicadas ao Setor Público, que busca compreender e reduzir as diferenças entre as gestões de entidades públicas e as privadas, suportadas por meio dos instrumentos de administração e de contabilidade, seja na busca da eficácia da aplicação dos recursos, seja na prestação de contas (accountability); Contabilidade Gerencial e Tributária, que visa a estudar como a informação contábil é utilizada pelos gestores das organizações (usuários internos) nos mecanismos de avaliação de desempenho, motivação e controle, além dos estudos relacionados ao planejamento tributário; e, por último, Finanças e Mercado Financeiro, que discute temas que compõem a principal vertente da moderna pesquisa em Finanças: finanças corporativas, precificação de ativos, governança corporativa, economia da evidenciação, volatilidade e avaliação de empresas com base em informações contábeis. O curso de Mestrado Profissional em Ciências Contábeis e Administração da FUCAPE apresenta avaliação 4. A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), conforme Programa (2012b), possui área de concentração em Controladoria Empresarial desdobrada em duas linhas de pesquisas, Contabilidade para Usuários Internos, que procura identificar e mensurar as informações contábeis buscando potencializar o uso de informações que possam otimizar recursos e agregar valor para as organizações; e a linha de pesquisa Contabilidade para Usuários Externos, a qual compreende a identificação e mensuração das informações contábeis e financeiras destinadas aos usuários externos da informação contábil. Possui nota 4 na CAPES. 2.4. Cursos de Mestrado Acadêmico Os cursos de mestrado acadêmico distribuem-se por 16 IES com 35 linhas de pesquisas. A identificação desta produção científica é apurada em seguida. Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), conforme Mestrado (2012c), a área de concentração é Controladoria, articulada em duas linhas de pesquisas, Contabilidade de Gestão, que agrupa estudos e investigação sobre a elaboração e comunicação de informações pertinentes ao processo de gestão, englobando, Contabilidade de Custos, Comportamental, Custos para Decisões, Contabilidade Decisorial, Controladoria e Controles Estratégicos; e Contabilidade Financeira, que compreende estudos e pesquisas relacionadas à identificação, mensuração e evi- Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Formação de Recursos Humanos: Uma Análise entre as Linhas de Pesquisa dos Cursos Stricto Sensu em Ciências Contábeis e o Perfil do Contabilista Brasileiro denciação de eventos relacionados às entidades, abrangendo, Contabilidade Societária e Tributária, Teoria da Contabilidade, Contabilidade Internacional Contabilidade Terceiro Setor. Este mestrado possui nota 3 na CAPES. A Universidade de Brasília (UNB), conforme Sobre (2012), possui área de concentração em mensuração contábil, com as seguintes linhas de pesquisa: Contabilidade e Mercado Financeiro, que estuda as normas e os procedimentos das demonstrações contábeis, bem como a influência dessas informações no processo decisório do usuário externo; e Contabilidade para Tomada de Decisão, que estuda a geração de informações sobre as ações de uma entidade para o processo decisório do usuário interno; por último, a linha de pesquisa Impactos da Contabilidade na Sociedade estuda a influência da contabilidade para o desenvolvimento de sociedade. A UNB possui nota 4 para as duas pós-graduações. Na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), conforme Programas (2012), a área de concentração é Contabilidade e Controladoria, com as linhas de pesquisa em Contabilidade Financeira e Tributária, que desenvolve estudos teóricos e empíricos relacionados aos temas que abordam as implicações da contabilidade financeira e tributária para seus usuários externos (fora das instituições ou empresas em análise, tais como: investidores, governo e o público em geral); e Contabilidade Gerencial e Controladoria, a qual desenvolve estudos teóricos e empíricos relacionados aos temas que abordam as implicações da contabilidade gerencial e controladoria para seus usuários internos (dentro das instituições ou empresas tais como: executivos, diretores, gerentes e empregados). Possui nota 3 na CAPES. Na Fucape Business School (FUCAPE), conforme Cursos (2012), o mestrado acadêmico possui como área de concentração: Contabilidade e Finanças. Suas linhas de pesquisa estão divididas em Contabilidade e Gestão Estratégica, congregadora de estudos que tratam da utilização da informação contábil por usuários internos das organizações públicas e privadas, conforme utilizada por gestores das organizações nos mecanismos de avaliação de desempenho, motivação e controle; e Finanças e Avaliação de Empresas, que abrange pesquisas e a produção de conhecimentos e tecnologias em temas que compõem a principal vertente da moderna pesquisa em Finanças: finanças corporativas, precificação de ativos, governança corporativa e avaliação de empresas com base em informações contábeis. O curso de Mestrado Acadêmico em Ciências Contábeis e Administração da FUCAPE apresenta avaliação 4. A Universidade Federal Minas Gerais (UFMG), conforme Área (2012), apresenta concentração em Contabilidade e Controladoria e desenvolve duas linhas de pesquisa: Contabilidade Financeira, que verifica padrões de contabilidade financeira nacionais e internacionais, implicações para usuários externos, atendimento das exigências legais de empresas e governos, abordagem positiva e necessidade de informações para segmentos específicos; e Controle Gerencial, que usa tópicos relacionados ao Controle Gerencial, como foco da controladoria e contabilidade gerencial, além dos modelos de avaliação de desempenho e de empresas, análise financeira, sistemas de informações, finanças corporativas e custos para decisões. A UFMG obteve nota 4 conforme avaliação CAPES. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), como mostra Mestrado (2012e), adota a área de concentração em Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 Informação Contábil em dois tópicos: Informações Contábeis para Usuários Externos, que discute a forma como a informação contábil afeta os mercados, explana sobre estruturas conceituais promotoras da governança corporativa, descreve eventos e reações de investidores face à informação contábil, visando a projeções; e Informações Contábeis para Usuários Internos, a qual discorre sobre o perfil dos usuários da informação contábil, descreve a importância da informação contábil no aperfeiçoamento e continuidade de arranjos organizacionais e econômicos, além de modelar abordagens conceituais de informação contábil. Apresenta nota 3 dada pela CAPES. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolve a área de concentração em Contabilidade e Finanças com enfoque nas seguintes linhas de pesquisa, conforme Mestrado (2012d): Contabilidade Gerencial, foco em Controladoria (terceiro setor, aplicada a logística e empresas privadas), Contabilidade Gerencial, Teoria dos Custos, ABC/ABM, Gestão Econômica [Gecon], Gestão Conhecimento, Orçamento, Controle Gestão, pesquisas ensino da contabilidade Gerencial; e, na outra linha, tem-se Finanças Corporativas, que estuda a relação entre a teoria das finanças e gestão corporativa nos seguintes aspectos: Investimento, financiamentos e análise de projetos de investimentos, fusões e aquisições, análise e avaliação do desempenho de empresas e Governança corporativa. O programa de Mestrado em Ciências Contábeis da UFPR apresenta nota 3 conforme avaliação da CAPES. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conforme Linhas (2012a), o mestrado possui área de concentração em Contabilidade e Controladoria com a linha de pesquisa Contabilidade e Sociedade, a qual visa a oferecer maior compreensão das organizações que atuam na sociedade, desenvolver instrumentos que aumentem a eficiência das organizações privadas e públicas e realizar uma auto-reflexão que permita identificar os limites da contabilidade como ciência. Este programa apresenta nota 4 conforme avaliação da CAPES. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), segundo Linhas (2012b), o mestrado tem Controle de Gestão como área de concentração, com duas linhas de pesquisa: Controladoria em Entidades Públicas e Privadas, que tem como objetivo estudar o estado da arte na área de Controladoria, por meio da confrontação da teoria com a prática em entidades públicas e privadas; e Planejamento e Controle em Ambiente Internacional, com o objetivo básico de estudar o processo de internacionalização de empresas brasileiras procurando identificar o impacto da internacionalização sobre os sistemas de planejamento e Controle projetados por empresas brasileiras. Este programa apresenta nota 3 conforme avaliação da CAPES. Na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), o mestrado tem área de concentração em Contabilidade e Controladoria, e se subdivide em duas linhas de pesquisa, conforme Programa (2012a): Finanças Corporativas e Controle de Gestão, abordando investigação de práticas financeiras correntes nas empresas, desenvolvimento de modelos teóricos e empíricos, investigação de processos de gestão utilizados nas empresas, desenvolvimento de modelos teóricos e empíricos de controle de gestão; e Teoria da Contabilidade, linha de pesquisa que estuda a forma pela qual a Teoria Contábil é útil no entendimento do funcionamento da prática contábil no mundo real e avalia o poder preditivo das demonstrações contábeis. Além disso, trabalha 19 Pensar Contábil Claudia Marchioti Nicolau dos Reis Eduardo Felicíssimo Lyrio Branca Regina C. dos S. e Silva Riscado Terra CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Leonardo Lehnemann Agostinho Martins e pesquisa o poder de comunicação da informação contábil. O programa possui nota 4 conforme avaliação da CAPES. Na Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), segundo Mestrado (2012a), o mestrado acadêmico apresenta Controladoria como área de concentração e as linhas de pesquisa em Contabilidade Financeira, que envolve estudos e pesquisas relacionados à identificação, mensuração e evidenciação de fatos contábeis nas organizações; e Contabilidade Gerencial, que compreende o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre aspectos da contabilidade relacionados ao suporte no processo de gestão. Ambos os cursos de pós-graduação apresentam nota 4 pela CAPES. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), como mostra PPGC (2012), possui área de concentração em Controladoria, onde suas duas linhas de pesquisa são apresentadas como Controle de Gestão e Avaliação de Desempenho, que desenvolve pesquisas teóricas e empíricas sobre contabilidade e controladoria relacionadas ao processo controle das organizações, métodos de avaliação de desempenho, sistemas de informações gerenciais e empresariais; e Contabilidade Financeira e Pesquisa em Contabilidade, a qual desenvolve pesquisas teóricas e empíricas sobre normas, procedimentos e aspectos concernentes à transparência, à governança e à divulgação das demonstrações contábeis, bem como os processos de pesquisa, ensino e aprendizagem em Ciências Contábeis. O mestrado apresenta nota 4 conforme avaliação da CAPES. Na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), o mestrado, conforme mostra Mestrado (2012b), tem área de concentração em Controladoria e Contabilidade composta por duas linhas de pesquisa: Contabilidade Financeira, que abrange a contabilidade para usuários externos, desenvolve estudos sobre reconhecimento, mensuração e evidenciação da informação contábil e seu uso no processo decisório de usuários externos, assim como temas de pesquisa nas normas reguladoras do programa; e, na outra linha, Controladoria Aplicada e Gestão, que aborda pesquisas sobre abordagens para controle de gestão nas empresas, sua eficácia no suporte ao processo decisório, e a formação de competências. Esta linha realiza estudos sobre Controladoria e Contabilidade Gerencial e temas de pesquisa nas normas reguladoras. Mestrado nota 4 pela avaliação da CAPES. Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC – SP), segundo Pós-graduação (2012), o mestrado tem área de concentração em Ciências Contábeis e Financeiras, e possui duas linhas de pesquisa: Contabilidade e Auditoria aborda a mensuração e avaliação patrimonial e do lucro empresarial, tanto em relação aos princípios e convenções da teoria contábil e aos ditames da legislação fiscal, como também aos sistemas que criam a informação contábil; e a outra linha, Controladoria e Finanças Corporativas, elenca a avaliação do desempenho econômico dos negócios e suporte de informações econômico-financeiras ao planejamento e controle empresarial, e gestão dos recursos financeiros requeridos para a continuidade empresarial. Possui nota 3 na CAPES. A Universidade do Estado de São Paulo (USP) possui área de concentração em Controladoria e Contabilidade, com quatro linhas de pesquisa: Controladoria e contabilidade gerencial, que “envolve campo de pesquisa e desenvolvimento de estudos sobre instrumentos de apoio ao processo de planejamento e controle das organizações.” (DESCRIÇÃO, 2012). Contabilidade 20 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 Warley Francisco de Araújo Pereira para usuários externos, por sua vez, “aborda o desenvolvimento de estudos e pesquisas relacionados aos aspectos de identificação, mensuração e divulgação da informação contábil.” (DESCRIÇÃO, 2012). Mercados financeiro, de crédito e de capitais, que “abrange estudos e pesquisas voltados para os aspectos conceituais e empíricos dos respectivos mercados, bem como a aplicação de recursos sob a ótica dos desempenhos empresariais passados e projetados”. (DESCRIÇÃO, 2012). Educação e pesquisa em Contabilidade “estuda modelos, métodos, técnicas e instrumentos que visam ao aprimoramento e melhoria de todo o processo ensino-aprendizagem e às construções de trabalhos científicos em todas as áreas do campo de conhecimento das Ciências Contábeis”. (DESCRIÇÃO, 2012). Tanto o mestrado quanto o doutorado apresentam nota 6 pela CAPES. Na Universidade do Estado de São Paulo - Campus Ribeirão Preto (USP/RP), como mostra Pesquisas (2012), o curso tem área de concentração em Controladoria e Contabilidade e possui duas linhas de pesquisa: Contabilidade para usuários externos e finanças abrange a pesquisa que envolve diferentes pontos de vista e interfaces com a contabilidade, para fins de divulgação aos usuários externos à entidade, incluindo elaboração e impacto da informação, ensino e pesquisa interagindo com finanças e outras áreas; e Contabilidade para usuários internos, controladoria e ensino, que compreende a pesquisa relacionada aos diversos aspectos da contabilidade, para fins de análise e tomada de decisão pelos usuários internos das entidades, incluindo modelos e sistemas de informação, de desempenho e de eficiência econômica e operacional. Mestrado nota 4 na CAPES. 2.5. Pesquisa do Perfil do Contabilista Brasileiro em 2009 – CFC O propósito deste artigo é analisar um panorama que demonstre a abrangência dos cursos stricto sensu em função da profissão contábil brasileira. Para atender a este objetivo, utiliza-se a fundamentação da pesquisa do Perfil do Contabilista Brasileiro 2009, conforme verificado em Biblioteca (2012). Este perfil compreende o período de 1º de dezembro de 2008 a 30 de março de 2009, e descreve o profissional da Contabilidade. Os destaques deste artigo são o grau de instrução, a situação profissional em relação à contabilidade, as áreas de atuação na contabilidade, as outras ocupações, as principais dificuldades enfrentadas pelos contabilistas no exercício da profissão e, finalmente, os principais instrumentos de atualização utilizados. Percebeu-se que é elevado o grau de instrução da maioria dos profissionais: cerca de 60,09% possuem curso superior em Contabilidade. Dentre aqueles que têm formação superior, a maior parte (18,1%) são Pós-Graduados, uma pequena parcela (1,6%) são Mestres e há um percentual irrelevante (0,2%) de Doutores (BIBLIOTECA, 2012, p.16). Verificou-se que os contabilistas atuam em média de 38,7% como proprietários ou sócios de escritório de contabilidade, seguidos de uma parcela de 22,8% como autônomos e, na mesma proporção (22,2%), funcionários de empresa privada. Estas três categorias, juntas, representam 83,7% do total do universo dos contabilistas (BIBLIOTECA, 2012, p.26). As áreas de atuação na contabilidade demonstram haver diversas áreas de atuação do profissional da Contabilidade no Brasil, com ênfase para a Contabilidade Comercial, com Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Formação de Recursos Humanos: Uma Análise entre as Linhas de Pesquisa dos Cursos Stricto Sensu em Ciências Contábeis e o Perfil do Contabilista Brasileiro 51,2%; e Contabilidade Tributária e Contabilidade Gerencial, com 33% aproximadamente. Já as áreas com menor índice de atuação são: Auditoria, Finanças e Perícia. Neste universo profissional, a atuação em Contabilidade Comercial é ainda mais visível no grupo dos Técnicos em Contabilidade, se comparado ao de Contadores. As outras ocupações que merecem destaque são de variadas atividades, tais como: administrativa, financeira, advocacia, informática e outras; estas substanciam cerca de 20,8% (BIBLIOTECA, 2012, p.33-36). No decorrer deste estudo, algumas dificuldades são compartilhadas pelos contabilistas como sendo os principais obstáculos no exercício da profissão: constantes mudanças na legislação, com 59,4%; falta de valorização profissional, com 35,6%; e a concorrência desleal abordando 34,7% dos profissionais contábeis (BIBLIOTECA, 2012, p.42). Os contabilistas, visando a superar tais dificuldades, fazem uso de informações como principal instrumento de atualização. Entre as fontes de informação para se atualizarem na área merece destaque a internet: o percentual de contabilistas que a utiliza com esse fim é de 81,2%. Outras formas de informação relevantes são os boletins informativos e as revistas técnicas, com 49,1% e 36,6%, respectivamente. Estes profissionais utilizam a internet como principal fonte de atualização (BIBLIOTECA, 2012, p.45). A pesquisa Perfil do Contabilista Brasileiro 2009, conforme Biblioteca (2012), teve como foco a descrição dos profissionais nos diversos segmentos de atuação. A partir da análise destes resultados, foi possível apurar um perfil formado por profissionais com ampla experiência profissional contábil, na qual a maioria atua há mais de 15 anos, e, ao mesmo tempo, de pessoas dedicadas à prática contábil, haja vista que a carga de trabalho é em torno de 41 a 60 horas semanais. 3. Metodologia Considerando o objetivo proposto, o procedimento metodológico adotado foi concebido como uma pesquisa descritiva, que segundo Collis e Hussey (2005) trata de descrever o comportamento dos fenômenos, sendo realizada com a identificação e obtenção das informações inerentes ao assunto do estudo. O procedimento refere-se a uma pesquisa bibliográfica. Para Cervo e Bervian (1983), este método é utilizado para explicar um problema a partir de referências já publicadas. Beuren et al. (2003) consideram a população como a totalidade de elementos distintos que possuem certas características em comum definidas para determinado estudo. A população desta pesquisa refere-se aos cursos nacionais de mestrado e doutorado reconhecidos pela CAPES, bem como o resultado da pesquisa do CFC onde elenca o perfil do profissional contabilista brasileiro de 2009. A amostragem foi promovida por acessibilidade. O levantamento de dados, para esta pesquisa ocorreu da seguinte forma: lista dos cursos stricto sensu em Ciências Contábeis reconhecidos pela CAPES; e obtenção das informações dos cursos e das linhas de pesquisa nos sites das instituições de ensino. Em seguida, adotamos o Caderno de Indicadores da CAPES e a Análise do perfil do contabilista brasileiro em 2009, por meio de pesquisa elaborada pelo CFC, delimitando o estudo para os profissionais contadores. Esta coleta de dados ocorreu entre os meses de abril a junho de 2012 e, logo após depurações, obteve-se a amostra para este estudo de 16 cursos de mestrado acadêmico, 3 de Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 mestrados profissionais e 4 de doutorados em Ciências Contábeis no Brasil. Por último, foram identificados os pontos comuns e contraditórios entre o perfil profissional e a produção intelectual dos cursos de mestrado e doutorado. 4. Resultados Estes resultados e análises foram divididos em duas seções. A primeira contém as respectivas IES embasadas pela CAPES, e a segunda trata da pesquisa realizada pelo CFC em 2009 sobre o perfil do contabilista brasileiro. 4.1. Das IES e seus Respectivos Cursos Pelos dados apresentados pode-se apurar o número total de 16 cursos de mestrado acadêmico, 3 de mestrados profissionais e 4 de doutorados em Ciências Contábeis no Brasil. Verificou-se que os cursos estão articulados por estados da União, sendo a região Sudeste a com o maior índice de concentração dos cursos (com 56%). Em seguida vem a região Sul, com 22%. Apesar da expansão quantitativa dos cursos pelo sistema de consórcios as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste apresentam baixa ou, em alguns cursos, nenhuma representatividade. Outro achado do estudo refere-se ao predomínio dos cursos de mestrado acadêmico, com 70%. Este curso reflete a necessidade da instituição de ensino em abordar um programa mais abrangente e satisfazer tanto o público com objetivos de estudos profissionais quanto os acadêmicos e pesquisadores. A oferta dos cursos de mestrado pode gerar crise de identidade nas suas dissertações, pois se verifica no mestrado acadêmico um expressivo número de estudos empíricos com essência profissional, e, em contrapartida, os cursos de mestrado profissional apresentam produções científicas de interesse acadêmico. Os estudos indicam que a natureza qualitativa das linhas de pesquisa e área de concentração apresenta foco principalmente na área de concentração em controladoria. As áreas de concentração ficaram restritas a 10 áreas que abrangeram as 42 diferentes linhas de pesquisa levantadas. Foram classificadas conforme a quantidade de linhas de pesquisa que estas abrangem; assim, por ordem obteve-se a seguinte disposição: controladoria e contabilidade (31,82%), controladoria (18,18%), contabilidade e finanças (15,91%), contabilidade e controladoria em organizações públicas e privadas (6,82%), mensuração contábil (6,82%), controladoria empresarial, controladoria e finanças, controle de gestão, informação contábil (todas com 4,55%) e gestão das organizações (2,27% do total da amostra). As três áreas que mais possuem linhas de pesquisa, conforme este mapeamento, são as de controladoria e contabilidade, controladoria, contabilidade e finanças, respectivamente. As linhas de pesquisas contabilidade financeira e contabilidade gerencial apareceram em grupos distintos. Assim, para uma melhor classificação da amostra, estas foram inclusas gerando o total de 44 linhas em função das áreas de concentração. Em se tratando da análise, as linhas de pesquisa foram excluídas de suas respectivas áreas de concentração, e apresentaram 42 linhas distintas de pesquisa. Foram as seguintes: contabilidade aplicada para usuários externos; contabilidade de gestão; contabilidade e auditoria; contabilidade e controladoria aplicadas ao setor público; contabilidade e gestão estratégica; contabilidade e mercado financeiro; contabilidade e sociedade; contabilidade financeira; contabilidade financeira e pesquisa em contabilida- 21 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Claudia Marchioti Nicolau dos Reis Eduardo Felicíssimo Lyrio Branca Regina C. dos S. e Silva Riscado Terra Leonardo Lehnemann Agostinho Martins de; contabilidade financeira e tributária; contabilidade gerencial; contabilidade gerencial e controladoria; contabilidade gerencial e tributária; contabilidade para tomada de decisão; contabilidade para usuários externos; contabilidade para usuários externos e finanças; contabilidade para usuários internos; contabilidade para usuários internos, controladoria e ensino; controladoria aplicada e gestão; controladoria e contabilidade gerencial; controladoria e contabilidade organizacional; controladoria e finanças corporativas; controladoria em entidades públicas e privadas; controle de gestão; controle de gestão e avaliação de desempenho; controle gerencial; educação e pesquisa em contabilidade; estratégia de competitividade; finanças corporativas; finanças corporativas e controle de gestão; finanças e avaliação de empresas; finanças e mercado financeiro; gestão do desenvolvimento socioambiental; gestão estratégica organizacional; impactos da contabilidade para a sociedade; informações contábeis para usuários externos; informações contábeis para usuários internos; mercados financeiros, de crédito e de capitais; planejamento e controle em ambiente internacional; planejamento e controle organizacional; tecnologias de gestão e subjetividades; e teoria da contabilidade. Esta pesquisa comprovou a concentração dos cursos na região Sudeste e a baixa oferta de cursos na região Norte. Neste caso, a maioria dos cursos refere-se ao mestrado acadêmico, onde ocupam 70% do total dos cursos stricto sensu oferecidos no Brasil e reconhecidos pela Capes. Na Figura 1, é demonstrado o total e os tipos de cursos oferecidos por região no Brasil. Podem-se verificar o predomínio e a carência de alguns cursos, como por exemplo o número reduzido de mestrados profissionais e de doutorado em Ciências Contábeis, independentemente da região. Nota-se que a maioria dos profissionais é de técnicos, seguidos por profissionais graduados. O número de mestres e doutores representam menos de 2% da amostra, do que se pode concluir a qualificação disforme por parte dos profissionais de contabilidade. Na Figura 2, têm-se os dados referentes ao grau de instrução dos contabilistas. Figura 2: Grau de Instrução dos Profissionais 7 Recusou responder 1,6% Mestrado Superior Completo ou em curso Pós-Graduação 31,4% Superior Completo 38,8% Técnico Fonte: Adaptado de CFC (2009) Pela figura 2 pode-se constatar que, embora 31,4% dos profissionais possuam nível superior, existe uma reduzida participação de doutores e mestres, ou seja, não há continuidade acadêmica proporcional entre a graduação, o mestrado e o doutorado. Quanto ao contexto das áreas de atuação dos profissionais da contabilidade, prevalecem a contabilidade comercial, contabilidade tributária e contabilidade gerencial. Na Figura 3 verificam-se os dados da área de atuação. Figura 3: Áreas de atuação dos Profissionais 2,5% 3% 4,5% 5,2% 9,7% 9,8% 11,8% 15,1% 33,1% 33,3% 6 5 Doutorado 18,1% Mestrado Acadêmico Mestrado Profissional Doutorado 8 0,2% 0,3% 9,6% Figura 1: Total de cursos por região 9 Warley Francisco de Araújo Pereira 51,2% Recusou responder Perícia Auditoria Finanças Contabilidade de Custos Contabilidade Pública Outros Escrituração Contábil Contabilidade Gerencial Contabilidade Tributária Contabilidade Comercial 4 Fonte: Adaptado de CFC (2009) 3 2 1 l Su de st e Su or te N oe st e or N C en tro -O es te 0 De acordo com a Figura 3, a área de atuação profissional concentra-se em Contabilidade Comercial, Tributária e Gerencial, respectivamente, com totalidade superior a 100%. Sendo assim, é possível a prática profissional do contabilista em mais de uma especialidade. Já nas atividades de Perícia e Auditoria percebe-se baixa concorrência em relação às demais funções. Fonte: Dados da Pesquisa (2012) Também se observa na Figura 1 a escassez de cursos na região Norte e a concentração do curso de mestrado acadêmico na região Sudeste. 4.2. Da Pesquisa Sobre o Perfil do Contabilista Brasileiro CFC 2009 A pesquisa realizada pelo CFC no ano de 2009 com a finalidade em descrever o perfil dos contabilistas brasileiros apontou dados relevantes sobre este profissional e suas dificuldades. 22 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 5. Conclusão Esta pesquisa conseguiu atender ao objetivo proposto de investigar se a produção acadêmica desenvolvida nos cursos stricto sensu em Ciências Contábeis condiz com o perfil profissional do contador brasileiro. Apurou-se que estes dois contextos estão complementando-se e correspondendo-se. Dentre as 10 áreas de concentração oferecidas nestes cursos, identificou-se o predomínio da controladoria e contabilidade, controladoria, contabilidade e finanças em relação às demais áreas. Ao correlacionar o escopo da produção acadêmica com Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Formação de Recursos Humanos: Uma Análise entre as Linhas de Pesquisa dos Cursos Stricto Sensu em Ciências Contábeis e o Perfil do Contabilista Brasileiro o campo de atuação do contabilista, sendo a Contabilidade Comercial e Contabilidade Gerencial as mais concorridas, pode-se afirmar que existe harmonia entre a literatura produzida nos cursos de mestrado e doutorado e o exercício profissional contábil. No entanto, averiguou-se no perfil do contabilista a necessidade de pesquisas acadêmicas em legislação tributária, pois a área de atuação desses profissionais corresponde a 33,33% e são oferecidas apenas duas linhas de pesquisa relatadas nas IES, de um total de 42 linhas. Foram listados 16 cursos de mestrado acadêmico, 3 de mestrado profissional e 4 cursos de doutorado concentra- dos principalmente na região Sudeste. A partir destes dados é possível relacionar o baixo grau de mestres e doutores no Brasil (que, juntos, não ultrapassam a 2% dos contabilistas), com a reduzida oferta dos cursos stricto sensu. Esta pesquisa limitou-se a examinar as perspectivas do ensino das IES nos cursos de stricto sensu. Desconsiderou-se o âmbito das graduações, o que sugere pesquisas futuras e também indica estudos baseados em dados a ser coletados do triênio 2010 a 2012 — como também a coleta e análise de dados direcionados para cada região brasileira. Referências ÁREA e Linhas de Pesquisas. Disponível em: <http://www.cepcon.face.ufmg.br/ informacoes/area-e-linhas-de-pesquisas.php>. Acesso em: 27 maio 2012. BEUREN, Maria Ilsen; et al. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática, São Paulo: Atlas, 2003. BIBLIOTECA e Edições do CFC. Disponível em < http://www.cfc.org.br/uparq/ perfil_web.pdf >. Acesso em: 30 jun. 2012. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 3 ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. COLLIS, J.; HUSSEY R. Pesquisa em Administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação, 2 ed. Porto Alegre, Bookman, 2005. CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves da et al. Contribuições científicas dos doutores em ciências contábeis: uma análise dos curriculos Lattes. Revista Universo Contábil, FURB, Blumenau, v. 7, n. 2, p. 85-96, abr./jun., 2011. CURSOS do mestrado. Disponível em: <http://www.fucape.br/mestrado.php>. Acesso em: 27 maio 2012. DESCRIÇÃO do Curso. Disponível em: <http://www.fea.usp.br/conteudo.php?i=323>. Acesso em: 26 maio 2012. DOCUMENTOS de Área. Disponível em: <www.capes.gov.br>. Acesso em: 30 jun. 2012. DOUTORADO em Ciências Contábeis e Administração (Vitória). Disponível em: <http://www.fucape.br/doutorado. php?codigo=2&sk=det>. Acesso em: 27 maio 2012a. DOUTORADO em ciências contábeis e administração. Disponível em: <http://www.furb.br/web/1855/cursos/doutorado/ciencias-contabeis-e-administracao/apresentacao>. 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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 15 - 23, maio/ago. 2013 23 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina Cristian Báu Dal Magro Quilombo – SC Mestre em Ciências Contábeis pela FURB1 Professor de Ciências Contábeis da UCEFF2 [email protected] Carlos Eduardo Facin Lavarda Blumenau – SC Doutor em Contabilidade pela UV3 Professor e Coordenador do Mestrado/Doutorado em Ciências Contábeis pela UCEFF2 [email protected] Juliana Alves Chapecó – SC Graduanda em Ciências Contábeis da UCEFF2 [email protected] Juliana Stein Schmitz Chapecó – SC Graduanda em Ciências Contábeis da UCEFF2 [email protected] Karini de Freitas Vieira Chapecó – SC Graduanda em Ciências Contábeis da UCEFF2 [email protected] Resumo O mercado em constante desenvolvimento tem transformado o ambiente empresarial. Essas mudanças provocam implicações nos sistemas de gestão. Assim, o objetivo do estudo é identificar as práticas de orçamento nas indústrias do oeste de Santa Catarina. A metodologia utilizada quanto aos objetivos é descritiva; quanto aos procedimentos de levantamento e quanto à abordagem do problema, quantitativa. Foi utilizado o instrumento de pesquisa validado pelo estudo de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e pelo estudo de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). É a amostra composta por 19 indústrias, e os resultados Blumenau - SC, 89012-900 revelam semelhanças nas práticas do orçamento das empresas na Nova Zelândia, Reino Unido, Malásia e no oeste de Santa Catarina. Conclui-se que o orçamento é amplamente praticado pelas indústrias do oeste de Santa Catarina como suporte para o planejamento e como mecanismo de controle. Palavras-chave: Práticas do Orçamento; Participação Orçamentária; Avaliação de Desempenho Abstract The market in constant development has transformed the business environment. These changes cause implications in management systems. Thus, the objective of this study is to identify budget practices in industries of West of Santa Catarina. The methodology used for the goals is descriptive, as for lifting procedures and how to approach the problem. The research instrument was validated by the study of Guilding, Lamminmaki and Drury (1998) and by the study of Ahmad, Sulaiman and Alwi (2003) is the sample is composed of 19 industries. The results reveal similarities in budget practices of businesses in New Zealand, United Kingdom, Malaysia and in the West of Santa Catarina. It is concluded that the budget is widely practiced by Western industries of Santa Catarina as support for planning and as a mechanism of control. Key words: Budget Practices; Budgetary Participation; Performance Evaluation 1. Introdução O desenvolvimento dos mercados, intensa competição, constantes avanços tecnológicos e produtos com menor ciclo de vida têm transformado o ambiente empresarial. Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) comentam que o resultado deste processo é um maior enfoque nos sistemas de gestão, incluindo o orçamento. As mudanças no ambiente organizacional provocam implicações nos sistemas de gestão. Deste modo, empresas que desejam permanecer competitivas devem utilizar controles de gestão adaptáveis e susceptíveis às mudanças do mundo corporativo (JOHNSON; KAPLAN, 1987). Assim, no passado o orçamento foi considerado elemento integrante do sistema de gestão. Hoje é utilizado pelas organizações FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau – CEP 89012-900 - Blumenau – SC. UCEFF – Faculdade Empresarial Chapecó – CEP 89801-600 - Chapecó - SC. 3 UV - Universidade de Valência – CEP 46022 - Valência - Espanha. 1 2 24 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 Artigo recebido em 19/03/2013 e aceito em 20/06/2013. CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina para diversas finalidades, que incluem: medição e avaliação de desempenho, motivação do pessoal, decisões de preços e controle de custos (AHMAD; SULAIMAN; ALWI, 2003). Além disso, o orçamento é um instrumento que formaliza as metas e os objetivos estabelecidos no planejamento e focaliza a atenção da empresa para as operações (FREZATTI, 2009). Libby e Lindsay (2010) comentam que as empresas utilizam o orçamento para fins de controle, salientando que os benefícios de fazê-lo superam os custos. Desta forma, a prática do orçamento acrescenta valor às organizações. Em contrapartida, apesar de comprovada a importância do orçamento, este vem sendo criticado como um controle de gestão que não é mais útil ou apropriado e tem sido associado a problemas comportamentais (STEWART, 1990; JENSEN, 2001). Assim, Pandolfi et al. (2005) salientam que o orçamento é a ferramenta de gestão mais criticada, devido as dúvidas sobre a sua real contribuição para o desenvolvimento das empresas. Hope e Fraser (1999) comentam que o orçamento é visto como incapaz de atender às demandas do ambiente competitivo na era da informação. O orçamento tem sido considerado coisa do passado (GURTON, 1999), um mal desnecessário (WALLANDER, 1999) e quebrado (JENSEN, 2001). Hope e Fraser (2001) reconhecem que os problemas do orçamento impedem as empresas de competir em mercados globalizados. A existência de dois pontos de vista divergentes sobre a prática do orçamento como ferramenta de controle da gestão foi propulsora para a criação da seguinte questão de pesquisa: quais são as práticas de orçamento nas indústrias de médio porte do oeste de Santa Catarina (Brasil)? Assim, o objetivo deste estudo é identificar as práticas de orçamento nas indústrias de médio porte do oeste de Santa Catarina. Para tanto, as divergências sobre a prática do orçamento como ferramenta de controle da gestão foi a principal motivação para o presente estudo. Além disso, Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) salientam haver uma carência de pesquisa envolvendo a prática do orçamento nos países em desenvolvimento. A maioria das pesquisas nesta área tem incidido sobre os EUA, Reino Unido e Austrália. O estudo buscou examinar três aspectos relacionados às práticas de orçamento. O primeiro deles trata das técnicas utilizadas para previsão do orçamento; o segundo é relacionado à participação orçamentária, incluindo a propensão para criar folga; e por fim, o terceiro aborda o uso do orçamento como ferramenta para medição de desempenho. Além disso, os resultados deste estudo serão comparados com os relatados na pesquisa de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), que verificou a prática do orçamento nas indústrias da Nova Zelândia e Reino Unido, e também com o estudo de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003), o qual investigou a prática do orçamento nas indústrias da Malásia. 2. Práticas do Orçamento As práticas constituem-se na forma como a organização realiza o seu orçamento. Frezatti (2009, p. 46) comenta que o orçamento “contém as prioridades e a direção da entidade para um período e proporciona condições de avaliação do desempenho da entidade em suas áreas internas e de seus gestores.” Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 O orçamento é a ferramenta de gestão mais utilizada pelas organizações (DAVILA; WOUTERS, 2005). Integra o processo de gestão e representa o plano financeiro para viabilizar o alcance da estratégia em determinado período, sendo um dos pilares da gestão e uma das ferramentas para o alcance do accountability (FREZATTI, 2009). Covaleski et al. (2003) salientam que o orçamento desempenha papel importante na coordenação das atividades e proporciona incentivos adequados aos proprietários e gestores dentro da organização. É possível utilizar o orçamento para vários propósitos: planejamento, coordenação e organização das atividades, alocação de recursos e motivação de funcionários, conforme Covaleski et al. (2003). Hansen e Van der Stede (2004) complementam que o orçamento pode cumprir as funções de planejamento operacional, avaliação de desempenho corroborados por Hopwood (1972), comunicação de objetos e formulação de estratégias. O orçamento é parte do processo de gestão e permite traduzir em quantidades físicas e valores monetários os planos das unidades operacionais e demais unidades administrativas da empresa (BRAGA, 1995). Garrison, Noreen e Brewer (2007) ampliam argumentando que o orçamento é um plano detalhado de aquisições e uso de recursos financeiros durante determinado período. É argumentado por Abernethy e Brownell (1999) que o orçamento é o maior atributo do sistema de gestão, sendo utilizado para coordenar e comunicar as prioridades estratégicas em conjunto com os sistemas de recompensa, aumentando o comprometimento da equipe. Na mesma percepção, Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) enfatizam que o orçamento é considerado como integrante do sistema de gestão e utilizado para medição do desempenho, motivação do pessoal, controle de preços e tomada de decisões sobre custos. Almeida et al. (2009) ressaltam que o orçamento desenvolve a interação entre os diversos níveis hierárquicos, devido à sua capacidade de junção dos segmentos distintos em um plano abrangente que pode servir como fonte de planejamento e avaliação do desempenho (HANSEN; OTLEY; VAN DER STEDE, 2003). O sistema orçamentário auxilia as empresas na alocação dos recursos, coordenação das operações e medição de desempenho (BLOCHER; CHEN; LI, 2002). É a técnica mais utilizada para planejamento e controle das atividades organizacionais (HILTON; MAHER; SELTO, 2000). É também um instrumento essencial e pode ser incorporado como componente para o equilíbrio financeiro (CLARKE; TOAL, 1999). Para a eficácia do orçamento, é necessário que haja o envolvimento dos superiores e subordinados no processo de elaboração, que pode ser de cima para baixo, de baixo para cima, ou de forma participativa (ZAINUDDIN et al., 2008). Assim, orçamento participativo é defino por Shields e Shields (1998) como o processo em que o gerente está envolvido e tem influência na determinação das metas orçamentais. Milani (1975) menciona que a participação orçamentária é um conceito usado para apresentar a medida em que um subordinado tem permissão para selecionar seus próprios caminhos. De acordo com Kyj e Parker (2008), a participação é utilizada para compartilhar informação, coordenar as interdependências entre as subunidades da organização, aumentar a motivação e satisfação dos funcionários. 25 Pensar Contábil Cristian Báu Dal Magro CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos Eduardo Facin Lavarda Juliana Alves Portanto, Tung (1994) afirma que o elemento humano é condição básica para a implantação, operação e controle do orçamento. Assim, para alcançar o resultado desejado é preciso levar em conta a motivação e a disposição dos elementos envolvidos, desenvolvendo a participação voluntária e consciente na implantação e execução do orçamento. A participação orçamentária permite maior comprometimento dos funcionários, com motivação para atingir as metas e manter-se dentro do orçamento. De acordo com Hilton, Maher e Selto (2000), a abordagem participativa do orçamento é eficaz e as pessoas ficam mais motivadas na tentativa de alcançar as metas orçamentais, se tiverem sido consultadas na elaboração do orçamento. Em contrapartida, apesar de comprovada a utilidade da prática orçamentária, os críticos argumentam que o orçamento não é apropriado para as empresas devido às mudanças tecnológicas e no ambiente dos negócios (JOHNSON; KAPLAN, 1987; HOPE; FRASER, 1999; WALLANDER, 1999; GURTON, 1999; JENSEN, 2001; HOPE; FRASER, 2001). McNally (2002) argumenta que o orçamento é ruim para os negócios e fundamentalmente falho como mecanismo de planejamento e controle em ambientes complexos e altamente incertos. O processo orçamentário consome muito tempo e incorre em elevados custos (MCNALLY, 2002). Para Prendergast (2000), o orçamento possui disfunções para as finalidades de planejamento e controle. Dugdale e Lyne (2006) apontam que o orçamento é problemático e os gestores poderiam ser constrangidos pelo seu atraso. 3. Estudos Anteriores Chenhal e Brownell (1988) estudaram os efeitos da participação orçamentária. Procuraram explicar o processo pelo qual a definição da participação orçamentária afeta o desempenho dos gestores e a satisfação no trabalho. Os resultados empíricos indicam que a participação orçamental atua indiretamente para influenciar a satisfação e o desempenho no trabalho. O estudo de Ekholm e Wallin (2000) investigou a percepção dos diretores financeiros e outros membros da equipe de alta gestão em grandes empresas finlandesas sobre a validade das críticas ao orçamento. Os resultados indicam que poucas empresas estão planejando abandonar completamente o orçamento anual. Mesmo assim, considerável número de entrevistados que indicam não abandonar o orçamento concorda com algumas das críticas ao orçamento tradicional. Vários entrevistados informam já utilizar previsões dinâmicas e sistemas de monitoramento semelhantes ao Balanced Scorecard, correndo em paralelo ao orçamento. Sivabalan et al. (2009) encontrou evidências de que as organizações consideram o orçamento importante para planejamento, controle e avaliação. Também encontrou evidências de que as previsões dinâmicas são usadas em conjunto com o orçamento anual. Estudos apontam evidências de prática extensiva do orçamento pelas empresas. Libby e Lindsay (2010) encontraram evidências de que 80% das empresas canadenses e 77% das empresas dos EUA indicam usar o sistema orçamentário com a finalidade de controle. 26 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 Juliana Stein Schmitz Karini de Freitas Vieira 4. Procedimentos Metodológicos Os procedimentos metodológicos servem para melhorar o direcionamento da pesquisa. Desta forma, a pesquisa quanto aos objetivos caracteriza-se como descritiva. Andrade (2002, p. 124) menciona que “nesse tipo de pesquisa, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados sem que o pesquisador interfira neles. Isto significa que os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não manipulados pelo pesquisador”. No que se refere aos procedimentos, caracteriza-se como pesquisa de levantamento ou survey. Martins e Theóphilo (2009, p. 60) descrevem que “os levantamentos são próprios para os casos em que o pesquisador deseja responder a questões acerca da distribuição de uma variável ou das relações entre características de pessoas ou grupos, da maneira como ocorrem em situações naturais”. Para Gil (2002), a pesquisa de levantamento é caracterizada por interrogar diretamente as pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. A abordagem do problema é caracterizada de cunho quantitativo, por utilizar dados numéricos para a análise e interpretação dos resultados. Para Richardson (1999, p. 70), esse método “caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas”. Martins e Theóphilo (2009, p.103) mencionam que nesse tipo de pesquisa “o pesquisador, dependendo da natureza das informações, dos dados e das evidências levantadas, poderá empreender uma avaliação quantitativa, isto é: organizar, sumarizar, caracterizar e interpretar os dados numéricos coletados”. A população da pesquisa compreende 81 (oitenta e uma) das indústrias de médio porte localizadas no oeste de Santa Catarina, associadas à Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC). A distinção das indústrias de médio porte foi realizada de acordo com os parâmetros estabelecidos pela classificação empresarial do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE/SC, 2012). De acordo com o SEBRAE/SC (2012), as indústrias classificadas como de médio porte são as que possuem de 100 a 499 funcionários. Portanto, utilizando parâmetros preestabelecidos, a seleção das indústrias de médio porte do oeste de Santa Catarina associadas ao FIESC foi feita a partir do sistema FIESC (2012). A escolha é baseada na importância do FIESC para o setor industrial catarinense, o qual tem como principal atribuição coordenar e defender de forma articulada os interesses das indústrias, além de promover a difusão de conhecimentos essenciais à competitividade do setor produtivo catarinense. Para a coleta de dados foi utilizado o instrumento de pesquisa já validado pelo estudo de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), que pesquisou a prática do orçamento nas empresas do Reino Unido e Nova Zelândia, e pelo estudo de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003), que pesquisou o orçamento nas empresas da Malásia. O questionário foi elaborado no Google Docs. e enviado por correio eletrônico para os gestores do orçamento das empresas pesquisadas. Juntamente com o questionário foi enviada uma carta de apresentação explicando a importância da pesquisa e instruções para conclusão do questionário. Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina O instrumento de pesquisa validado por Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) está dividido em 4 (quatro) seções. A primeira seção contém 3 (três) perguntas objetivas sobre a caracterização os respondentes; a segunda seção possui 2 (duas) perguntas em escala likert de 5 (cinco) pontos que abordam sobre as técnicas para previsão do orçamento; a terceira seção contém 2 (duas) perguntas em escala likert de 5 (cinco) pontos e 1 (uma) pergunta objetiva, ambas sobre a participação orçamentária; por fim, a quarta seção contém 1 (uma) pergunta em escala likert de 5 (cinco) pontos e 2 (duas) perguntas objetivas que tratam do orçamento como ferramenta para medição de desempenho. Após a coleta de dados que perdurou entre o período de setembro a outubro de 2012, a amostra da pesquisa ficou delineada em 17 respondentes, tendo em vista a disposição dos pesquisados em responder ao instrumento de pesquisa. Para o tratamento e análise dos dados, foram utilizadas planilhas eletrônicas que auxiliam na análise e interpretação dos resultados. Posteriormente, os dados tabulados receberam tratamento por meio da estatística descritiva e os resultados encontrados estão apresentados no tópico de apresentação e análise dos resultados. 5. Apresentação e Análise dos Resultados O presente estudo tem como objetivo identificar as práticas de orçamento nas indústrias de médio porte do oeste de Santa Catarina. Assim, serão apresentados os resultados do presente inquérito, bem como os resultados de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e de Ahmad, Sulaiman, Alwi (2003) para permitir comparações entre as práticas orçamentárias das indústrias do oeste de Santa Catarina, da Nova Zelândia, do Reino Unido e da Malásia. Primeiramente são apresentadas as Tabelas 1, 2 e 3, que caracterizam os respondentes da pesquisa. Desta forma, a Tabela 1 apresenta o ramo de atuação das empresas pesquisadas. Tabela 1: Ramo de atuação Ramo de atuação Número Percentual Alimentício 4 21,06% Construção Civil 2 10,52% Metalurgia 3 15,80% Mobiliário 2 10,52% Tecnológico 2 10,52% Têxtil 6 31,58% TOTAL 19 100,00% Fonte: Dados da pesquisa Observa-se na Tabela 1 que a indústria têxtil apresentou maior número de respondentes, totalizando 31,58%. A indústria alimentícia apresentou um total de 21,06% dos respondentes. Verifica-se que os ramos de atuação que apresentaram menor número de respondentes foram a indústria da construção civil, com 10,52%, a indústria do mobiliário, com 10,52%, e a indústria tecnológica, com 10,52% dos respondentes. A Tabela 2 mostra o valor do patrimônio líquido das empresas estudadas. A Tabela 2 mostra que 47,37% dos respondentes possuem patrimônio líquido acima de R$ 1.000.000,00 (hum milhão). Portanto, Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 Tabela 2: Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido (valor Contábil) Respondentes Percentual 0 – 100 Mil 4 101 – 200 Mil 1 5,26% 201 – 500 Mil 2 10,53% 501 – 1.000 Milhão 3 15,79% 21,05% Acima de 1.000 Milhão 9 47,37% TOTAL 19 100,00% Fonte: Dados da pesquisa grande parte das empresas pesquisadas tem patrimônio líquido significante e representativo. Observa-se que 21,05% dos respondentes possuem patrimônio líquido menor que R$ 100.000,00 (cem mil). A Tabela 3 apresenta o número de empregados das empresas respondentes. A tabela acima demonstra que 57,89% dos respondentes empregam entre 100 a 200 funcionários. Verifica-se que 26,32% dos respondentes empregam entre 301 a 499 funcionários, e, por fim, 15,79% empregam entre 201 a 300 funcionários. A seguir serão apresentadas as práticas do orçamento pelas empresas pesquisadas. Assim, primeiramente são demonstradas as técnicas utilizadas mais utilizadas pelas empresas para previsão do orçamento. Tabela 3: Número de empregados Número de empregados Respondentes Percentual 100 – 200 11 57,89% 201 – 300 3 15,79% 301 – 499 5 26,32% TOTAL 19 100,00% Fonte: Dados da pesquisa 5.1. Técnicas para Previsão do Orçamento A seção que aborda sobre as técnicas de previsão do orçamento apresentou duas perguntas. A primeira pergunta do instrumento de pesquisa verifica o uso de três diferentes técnicas para previsão do orçamento de vendas. As técnicas são a previsão estatística, pesquisa de mercado e estimativas subjetivas baseadas na experiência pessoal. Os pesquisados eram obrigados a responder sobre uma escala likert de cinco pontos, variando de (1) nunca utilizado a (5) sempre utilizado. Assim, a Tabela 2 apresenta os resultados da pesquisa. A Tabela 4 mostra que as técnicas usadas para prever o nível de vendas orçado são utilizadas de forma contraditória entre as empresas pesquisadas e os outros três países. Assim, observa-se que a “estimativa subjetiva” é a mais popular para estimar as vendas futuras na Nova Zelândia, Reino Unido e Malásia. Por outro lado, é menos popular para as empresas do oeste de Santa Catarina. Verifica-se que a técnica de “previsão estatística” é a menos popular na Nova Zelândia, Reino Unido e Malásia, e a mais popular no oeste de Santa Catarina. 27 Pensar Contábil Cristian Báu Dal Magro CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos Eduardo Facin Lavarda Juliana Alves Juliana Stein Schmitz Karini de Freitas Vieira Tabela 4: Técnicas usadas para prever o nível de vendas orçado Média da Escala Técnicas de previsão das vendas Nova Zelândia Reino Unido Malásia Oeste Santa Catarina (Brasil) Previsão estatística 2,64 2,93 3,65 3,63 Pesquisa de Mercado 2,85 3,13 3,76 3,52 Estimativas subjetivas com base na experiência de pessoal 4,30 4,24 3,88 3,21 Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa Os meios para estimar as venda futuras são mais estreitamente agrupados entre as empresas da Malásia e do oeste de Santa Catarina, em comparação com aqueles do Reino Unido e da Nova Zelândia. Assim, as empresas da Malásia e do oeste de Santa Catarina fazem uso semelhante dos três métodos de previsão de vendas. Portanto, Blocher, Chen e Li (2002) mencionam que a combinação de uso da previsão estatística, pesquisa de mercado e estimativa subjetiva leva, muitas vezes a uma melhor previsão do que o uso de uma única técnica. A segunda pergunta da seção que aborda as técnicas para previsão do orçamento verificou as técnicas mais utilizadas para classificar custos fixos de custos variáveis. Assim, a Tabela 5 apresenta os resultados das técnicas mais utilizadas para classificar custos fixos e variáveis. Verificou-se na tabela acima que 68% e 63%, respectivamente, das empresas da Malásia e do oeste de Santa Catarina classificam as despesas gerais como custos fixos, e os custos diretos como custos variáveis. Em contrapartida, observa-se que 58% das empresas do Reino Unido classificam os custos fixos e variáveis de forma subjetiva, baseadas na experiência profissional. Por fim, 44% das empresas da Nova Zelândia classificam as despesas gerais em custos fixos e os custos diretos em custos variáveis, e 40% classificam de forma subjetiva, baseadas na experiência profissional. Outro aspecto interessante observado na Tabela 5 é o fato de as empresas da Malásia apresentarem maior uso de técnicas sofisticadas, como a regressão estatística para classificar os custos fixos e variáveis. Apresentados os aspectos relacionados à previsão do orçamento, o próximo tópico aborda sobre a participação orçamentária. 5.2. Participação Orçamentária A participação orçamentária oferece aos gestores um sentimento de compromisso e aumenta a possibilidade de que alcancem as metas orçamentárias. Assim, estudos descobriram que uma abordagem participativa do orçamento tem impacto positivo no desempenho (BROWNELL, 1982; CHENHAL; BROWNELL, 1988). Hilton, Maher e Selto (2000) comentam que a abordagem participativa na elaboração do orçamento pode ser mais eficaz e as pessoas podem estar mais comprometidas em tentar atingir as metas. Por outro lado, salienta-se que, para a eficácia das projeções obtidas no orçamento participativo, certas medidas de precaução devem ser adotadas. O estudo apresentou três perguntas sobre participação orçamentária. A primeira examinou o grau de importância de diferentes posições organizacionais na determinação do orçamento final. Foi utilizada uma escala likert de cinco pontos, variando de (1) não importante e (5) vital importância. Assim, a Tabela 6 apresenta o grau de influência de diferentes posições organizações na determinação do orçamento final. Os resultados apresentados na tabela acima mostram que as indústrias da Nova Zelândia, Reino Unido, Malásia e do oeste de Santa Catarina sugerem uma filosofia da posição dominante, de cima para baixo. Isto é comprovado pelos resultados apresen- Tabela 5: Técnicas utilizadas para classificar os custos fixos e variáveis Técnicas para classificar custos fixos e variáveis Percentagem Nova Zelândia Técnicas de regressão estatística Reino Unido Malásia Oeste Santa Catarina (Brasil) 0% 2% 8% 5% Classificação em uma base subjetiva baseada na experiência de gestão 40% 58% 19% 21% Todas as despesas gerais são classificadas como custos fixos e os custos diretos são classificados como custos variáveis 44% 28% 68% 63% Custos fixos e variáveis não são separados 16% 10% 5% 11% Outros Total 0% 2% 0% 0% 100% 100% 100% 100% Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa 28 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina Tabela 6: Grau de influência de diferentes posições organizacionais na determinação do orçamento final Posições Organizacionais Média da Escala Nova Zelândia Reino Unido Malásia Oeste Santa Catarina (Brasil) Supervisores 2,30 2,09 2,97 4,00 Gerentes de Departamento 3,52 3,57 4,04 4,11 Detentores do orçamento 3,64 3,89 3,84 4,05 Gerencia Sênior 4,67 4,58 4,70 4,31 Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa tados na Tabela 6, em que a posição de gerencia sênior obteve média de 4,31 nas indústrias do oeste de Santa Catarina. Por outro lado, verifica-se que as posições de nível inferior, incluindo, supervisores, gerentes de departamento e detentores do orçamento, também têm influência na determinação do orçamento final. Percebe-se que as empresas do oeste de Santa Catarina apresentam menor desvio entre as médias de influência das posições organizacionais. Os achados desta pesquisa são consistentes com os encontrados no estudo de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), e com os do estudo de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). Isto indica que as empresas da Nova Zelândia, Reino Unido, Malásia e do oeste de Santa Catarina determinam o orçamento final utilizando uma abordagem participativa. A segunda pergunta é objetiva e buscou identificar qual das três razões melhor descreve a ação do superior ao receber um orçamento que parece ser excessivo. As razões listadas foram “redução automática de um percentual fixo”, “redução de valores que o superior considera adequado” e “redução através de negociação entre o gerente e seu superior”. Os resultados estão apresentados na Tabela 7. Observa-se na tabela acima que os resultados do estudo corroboram o estudo de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e o estudo de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). Destaca-se que as empresas da Nova Zelândia, Reino Unido, Malásia e do oeste de Santa Catarina gerenciam as estimativas de custos excessivos do orçamento por meio da negociação entre o gerente e seu superior, respectivamente com, 62%, 57%, 72% e 74%. A terceira pergunta do estudo verifica a percepção das empresas sobre a medida segundo a qual os titulares do orçamento não devem ter muita influência na determinação do seu próprio orçamento, pois existe o perigo de que procurem obter orçamentos fáceis. Foi utilizada uma escala likert de cinco pontos, variando de (1) discorda fortemente a (5) concorda fortemente. Os resultados foram apresentados na Tabela 8. Observa-se na tabela acima que 48% dos respondentes acreditam que a propensão para criar folga diante da influência do titular na determinação de seu próprio orçamento é incerta. Observa-se que 29% das empresas percebem a propensão para criar folga diante da influencia do titular do orçamento, e 23% não percebem esta propensão. Tal resultado contraria os resultados de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e também os resulta- Tabela 7: Abordagem ao gerenciamento de estimativas de custo de orçamento excessivo Percentagem Gestão de Custo do Orçamento Excessivo Nova Zelândia Reino Unido Malásia 0% 3% 4% Redução automática de um percentual fixo Oeste Santa Catarina (Brasil) 5% Redução de valores que o superior considera adequado 38% 40% 24% 21% Redução através de negociação entre o gerente e seu superior 62% 57% 72% 74% 100% 100% 100% 100% Total Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa Tabela 8: Propensão para criar folga orçamental Propensão para criar folga orçamental Percentagem Discorda fortemente Discorda Incerto Concorda Concorda fortemente Titulares do orçamento não devem ter muita influencia na determinação de seus próprios orçamentos porque existe o perigo de que eles vão procurar obter orçamentos fáceis Nova Zelândia 19% Reino Unido 21% 48% 7% 22% 1% 3% 15% 24% 40% 18% 13% 10% 48% 19% 10% Malásia Oeste Santa Catarina (Brasil) 45% 9% 27% 0% Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 29 Pensar Contábil Cristian Báu Dal Magro CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos Eduardo Facin Lavarda Juliana Alves dos de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). Apresentados os aspectos relacionados à participação orçamentária, o próximo tópico aborda o orçamento como ferramenta para medição de desempenho. 5.3. Orçamento como Ferramenta para Medição de Desempenho O orçamento oferece informações úteis para a medição de desempenho dos gestores e da organização. Assim, são apresentadas quatro perguntas relacionadas ao orçamento como ferramenta para medição de desempenho. A primeira e a segunda pergunta verificam o grau de ênfase colocado no orçamento para medição de desempenho. Desta forma, a primeira pergunta identifica a importância das variações do orçamento como padrão para avaliação do desempenho. E a segunda verifica o julgamento do desempenho de um gerente com base na capacidade de atingir o orçamento. Em ambas as perguntas foram utilizadas escalas likert de cinco pontos, variando de (1) não importante a (5) vitalmente importante. Os resultados estão demonstrados na Tabela 9. Verifica-se na tabela acima que 68% das empresas do oeste de Santa Catarina acreditam na importância das variações do orçamento como padrão para avaliação de desempenho. Os resultados são consistentes com os apresentados no estudo de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e no estudo de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). Também é observado na Tabela 9 que 58% das empresas do oeste de Santa Catarina entendem que o superior deve julgar o desempenho de um gerente com base na capacidade de atingir o orçamento. Os resultados corroboram os achados de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). Em contrapartida, apresentam-se algumas particularidades em relação ao estudo de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), o qual apontou que 44% das empresas da Nova Zelândia e 40% das empresas do Reino Unido não acham importante julgar o desempenho de um gerente com base na capacidade de atingir o orçamento. A terceira pergunta da seção do orçamento como ferramenta para medição de desempenho é objetiva e buscou verificar o Juliana Stein Schmitz Karini de Freitas Vieira estilo dos relatórios de desempenho recebido pelos titulares do orçamento. Os estilos listados foram: “são apresentados somente os custos controláveis pelo gerente”, “são apresentados os custos controláveis e não controláveis, mas eles são distinguidos”, “são apresentados os custos controláveis e não controláveis, mas eles não se distinguem” e “detentores do orçamento não recebem relatórios de desempenho”. Assim, os resultados estão apresentados na Tabela 10. Verifica-se na Tabela 10 que as empresas do oeste de Santa Catarina apresentam semelhanças com as empresas da Nova Zelândia, Reino Unido e Malásia. Desta forma, observa-se que 42% das empresas do oeste de Santa Catarina apresentam custos controláveis e não controláveis de forma distinguida. Por fim, a quarta pergunta é objetiva e identifica o uso do orçamento flexível. Os resultados são apresentados na Tabela abaixo. Os resultados da Tabela 11 demonstram que 69% das empresas do oeste de Santa Catarina usam o orçamento flexível. Este resultado corrobora o estudo de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003), em que se apresentam resultados semelhantes aos das empresas da Malásia. Resultados condizentes foram encontrados nos estudos de Ekholm e Wallin (2000) e de Sivabalan et al. (2009). Em contrapartida, os resultados são divergentes aos apresentados no estudo de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), demonstrando que a maioria das empresas da Nova Zelândia e Reino Unido não utilizam o orçamento flexível. Apresentados os aspectos que tratam sobre as práticas do orçamento nas empresas do oeste de Santa Catarina, o próximo tópico aborda as conclusões recomendações para estudos futuros. 6. Conclusões e Recomendações Os resultados do estudo revelam grandes semelhanças nas práticas do orçamento das empresas na Nova Zelândia, Reino Unido, Malásia e oeste de Santa Catarina. No entanto, houve cinco perguntas em que os resultados do estudo mostraram diferenças significativas com relação às relatadas por Guilding, Lamminmaki e Drury Tabela 9: Grau de ênfase colocada sobre o orçamento na medição de desempenho Percentagem Não Importante Abaixo da Média Importância Média Importância Acima da Média Importância Vitalmente Importante Importância das variações do orçamento como padrão para avaliação do desempenho Nova Zelândia 0% 7% 22% 45% 26% Reino Unido 1% 4% 14% 39% 28% Malásia 1% 1% 14% 51% 32% 0% 7% 24% 47% 21% Oeste Santa Catarina (Brasil) O superior deve julgar o desempenho de um gerente com base na capacidade de atingir o orçamento Nova Zelândia 5% 39% 14% 37% Reino Unido 3% 37% 14% 40% 6% Malásia 0% 10% 26% 38% 25% Oeste Santa Catarina (Brasil) 0% 10% 32% 32% 26% Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa 30 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 5% Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Práticas do Orçamento nas Indústrias do Oeste de Santa Catarina Tabela 10: Estilo dos relatórios de desempenho recebidos pelos titulares do orçamento Percentagem Estilo dos relatórios de desempenho Nova Zelândia Reino Unido Malásia Oeste Santa Catarina (Brasil) Somente são apresentados os custos controláveis pelo gerente 26% 23% 13% 32% São apresentados os custos controláveis e não controláveis (por exemplo, atribuídos), mas eles são distinguidos 31% 52% 48% 42% São apresentados os custos controláveis e não controláveis, mas eles não se distinguem 40% 23% 36% 21% Detentores do orçamento não recebem relatórios de desempenho Total 3% 2% 3% 5% 100% 100% 100% 100% Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa Tabela 11: Uso do orçamento flexível Percentagem Nova Zelândia Reino Unido Malásia Oeste Santa Catarina (Brasil) Orçamentos flexíveis são usados 27% 42% 66% 69% Orçamentos flexíveis não são usados 73% 58% 34% 31% 100% 100% 100% 100% Total Fonte: Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003) e dados da pesquisa (1998) e Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). Assim, a primeira pergunta da seção sobre as técnicas para previsão do orçamento abordou a utilização de técnicas para previsão do nível de vendas, demonstrando que a “previsão estatística” é a técnica mais popular nas empresas do oeste de Santa Catarina, e a menos popular nos relatos de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e nos relatos de Ahmad, Sulaiman e Alwi (2003). A segunda pergunta da seção sobre as técnicas para previsão do orçamento, que abordou a técnica mais utilizada para classificar os custos fixos e variáveis, mostra que 63% das empresas do oeste de Santa Catarina classificam as despesas gerais como custos fixos e os custos diretos como custos variáveis, contrapondo os achados de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998), onde 58% das empresas do Reino Unido classificam os custos fixos e variáveis de forma subjetiva, baseadas na experiência profissional. A terceira pergunta da seção sobre a participação orçamentária abordou a propensão de criar folga orçamental. Foi encontrado que 48% das empresas do oeste de Santa Catarina percebem como incerta a propensão de criar folga. Já 29% percebem a influência do titular do orçamento na propensão de criar folga. Estes resultados contrariam os estudos de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998) e Ahmad, Sulamain e Alwi (2003). Por fim, a quarta pergunta da seção do orçamento como ferramenta para medição de desempenho, que abordou sobre o uso do orçamento flexível, demonstra que 69% das empresas do oeste de Santa Catarina usam o orçamento flexível, contrariando os achados de Guilding, Lamminmaki e Drury (1998). Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 Os resultados sugerem que o orçamento é amplamente praticado pelas empresas do oeste de Santa Catarina como suporte para o planejamento e como mecanismo de controle. Portanto, considerando os aspectos estudados, contrariam-se as afirmações de HOPE; FRASER, 1999; GURTON, 1999; WALLANDER, 1999; PRENDERGAST, 2000; HOPE; FRASER, 2001; JENSEN, 2001; MCNALLY, 2002; e DUGDALE; LYNE, 2006. De acordo com elas os orçamentos seriam obsoletos ou inservíveis para as empresas de hoje, dada a rápida alteração do ambiente. Conclui-se que grande parte das empresas estudadas elabora a previsão do nível de vendas do orçamento com base na previsão estatística e classifica as despesas gerais como custos fixos e os custos diretos como custos variáveis. No que tange à participação orçamentária, os resultados apontam que as empresas estudadas são sugestivas de uma filosofia de posição dominante, em que a influência da gerência sênior sobre a determinação do orçamento final é maior que as demais posições organizacionais expostas no estudo. Grande parcela das empresas estudadas gerencia as estimativas de custos excessivos do orçamento por meio da negociação entre o gerente e seu superior, e a maioria das empresas pesquisadas acredita ser incerta a propensão de criar folga orçamental. Por fim, a maioria das empresas do estudo entende a importância das variações do orçamento como padrão para avaliação de desempenho; as empresas indicam que o superior deve julgar o desempenho de um gerente com base na capacidade de atingir o orçamento; as empresas apresentam aos titulares do orçamento relatórios com custos controláveis e não controláveis distinguidos; e a maioria das empresas estudadas usa o orçamento flexível. 31 Pensar Contábil Cristian Báu Dal Magro CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos Eduardo Facin Lavarda Juliana Alves Os resultados deste estudo estão sujeitos a limitações. Primeiramente, sempre existe algum viés nas pesquisas do tipo levantamento. A amostra é composta por 19 empresas distribuídas entre os setores: alimentício, construção civil, metalurgia, mobiliário, tecnológico e têxtil, o que também é um limitador. Consequentemente, os resultados representam a opinião de somente uma parcela do setor industrial e apenas a visão dos gestores responsáveis pelo orçamento. Juliana Stein Schmitz Karini de Freitas Vieira Finalmente, o presente estudo limitou-se a uma análise das indústrias de médio porte localizadas no oeste de Catarina. Recomenda-se a realização de pesquisas futuras com o intuito de observar as razões subjacentes às práticas do orçamento. Por exemplo, verificar as razões que fazem com que empresas utilizem práticas do orçamento em detrimento de outras. Também é sugerido que o estudo seja expandido para todas as indústrias brasileiras de médio e grande porte. Referências ABERNETHY, M. A.; BROWNELL, P. The role of budgets in organizations facing strategic change: an exploratory study. 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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 24 - 33, maio/ago. 2013 33 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados nos Periódicos da Área Contábil: Uma Análise Longitudinal Roseane Patrícia de Araújo Silva Campina Grande -PB Doutora pela Universidade de Granada-Espanha1 Professora da UEPB2 [email protected] Izabela Lorena Ribeiro da Silva Campina Grande -PB Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da UEPB2 [email protected] Larissa Cristina Basílio de Macêdo Campina Grande -PB Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da UEPB2 [email protected] Resumo O desenvolvimento deste trabalho traz como objetivo principal avaliar o rigor metodológico instituído para os instrumentos de medidas psicossociais, utilizados nas pesquisas em contabilidade, no que concerne às suas características psicométricas. Foram avaliados 5 periódicos da área contábil, categorizados como Qualis Capes A, por um período de 5 anos, e encontrou-se um total de 27 artigos que utilizaram o questionário como instrumento de coleta de dados para medidas comportamentais. Metodologicamente, este trabalho, caracteriza-se como exploratório descritivo e de caráter longitudinal. Utilizou-se o protocolo de validação de Kim (2009) para averiguar as etapas de validação utilizadas, quais sejam: validade de conteúdo, pré-teste, confiabilidade e validade de construto. Dos 27 artigos selecionados, nenhum deles apresenta relato descritivo sobre a validade de conteúdo. Entre estes, 12 não fazem nenhuma consideração sobre pré-teste, confiabilidade ou validade de construto. A confiabilidade foi a etapa mais evidente, estando presente em 41% dos artigos; a validade de construto se fez presente em 30% da amostra; e o pré-teste foi diagnosticado em 22% dos artigos. Observa-se a existência de preocupação e conhecimento por parte dos investigadores no que tange ao processo de validação dos instrumentos de medidas psicossociais. No entanto, preciosas investigações são desenvolvidas com ausências ou relatos parciais de evidências estatísticas que comprovem a legitimidade dos resultados encontrados. Sugere-se que as pesquisas baseadas em medidas psicossociais no âmbito corporativo descrevam qual o processo de validação que legitimou os resultados encontrados, conscientes de que, quanto maior a incorporação de inferências que comprovem a validade dos questionários, maior a legitimidade associada à pesquisa. Palavras-chave: Características Psicométricas; Instrumentos de Medida; Periódicos da Área Contábil Abstract The development of this work has as main objective to evaluate the methodological rigor introduced to the instruments of psychosocial measures used in research in accounting, with respecto its psychometric characteristics. We evaluated five accounting journals, categorizados as Qualis Capes A, for a period of five years and have been found a total of 27 articles the used the questionnaire as an instrument of data collection for behavioral measures. Methodologically, this work is characterized as exploratory, descriptive and longitudinal character. We used the validation protocol of Kim (2009) to ascertain the validation steps used, namely: content validity, pre-test, reliability and construct validity. Of the 27 selected, none of them presents descriptive report on the content validity. Among these, 12 make no consideration of pre-test, reliability and construct validity. Reliability was the most obvious step, being present in 41% of articles; construct validity was present in 30% of the sample, and the pre-test was diagnosed in 22% of articles. It is observed that there is concern and knowledge among researchers that adds to the validation process of tools psychosocial measures, however Universidade de Granada – CEP 18012 - Granada - Espanha. UEPB – Universidade Estadual da Paraíba – CEP 58429-500 – Campina Grande – PB. 1 2 34 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 Artigo recebido em 06/06/2013 e aceito em 23/07/2013. Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados nos Periódicos da Área Contábil: Uma Análise Longitudinal precious investigations are developed with absences or partial reports of statistical evidence to prove the legitimacy of the results. It is suggested that research based psychosocial measures at the corporate level which describe the validation process that legitimized the results, knowing that the greater incorporation of inferences that prove the validity of the questionnaires, the greater the legitimacy associated with research. Key words: Psychometric Characteristics; Measuring Instruments; Accounting Journals 1. Introdução A preocupação com a aferição de medidas psicossociais no âmbito contábil remonta há algum tempo. De maneira mais específica, esta preocupação está centrada nas características psicométricas dos instrumentos de medida, quais sejam: a confiabilidade e a validade. A validação psicométrica de instrumentos de medida em pesquisas acadêmicas constitui-se em um esforço sistemático para assegurar a medição do comportamento, sendo este explicado, teoricamente, pelo método científico. A psicometria tem como base construções teóricas, as quais denominam-se construtos, que por sua vez têm o objetivo de organizar e atribuir significados ao ambiente. Os construtos ou variáveis latentes não podem ser diretamente observados; no entanto, podem ser mensurados pelos atributos ou indicadores provenientes da clarificação e definição dos construtos (PASQUALI, 2009). Vários autores atestam a fragilidade dos resultados das pesquisas que utilizam medidas comportamentais no âmbito organizacional, especialmente investigações inerentes à pesquisa em educação contábil e contabilidade gerencial. Consideram, no entanto, a existência de complexidades e desafios a serem superados no processo de validação destas medidas e concordam com a ausência de procedimentos difundidos na literatura que apontem para um conjunto de best practices que devem ser seguidas pelos pesquisadores (SCHREISHEIM ET AL., 1993; HINKIN, 1995; DUFF, 2002; YOUNG, 2006; VAN DER STEDE, YOUNG & CHEN, 2005). Os referidos autores apresentam em suas investigações críticas e sugestões para mitigar os efeitos prejudiciais ocasionados por desenhos incoerentes dos questionários avaliados em suas pesquisas, objetivando maximizar a credibilidade dos dados obtidos por meio de melhores indícios de confiabilidade e validade. Diante destes aspectos e alicerçado nas evidências empíricas relatadas pelos estudos que fundamentam o desenvolvimento desta pesquisa, buscou-se, nesta investigação, avaliar as características psicométricas dos instrumentos de medidas psicossociais utilizados nos artigos publicados nos periódicos brasileiros Qualis Capes A. A opção por esta categoria de periódicos parte da premissa de que artigos publicados em revistas de máxima qualificação possuem maior rigor metodológico na construção de seus questionários, atestando maior veracidade aos resultados apresentados. Assim, a seguinte questão problema foi proposta: Os artigos científicos publicados em revistas Qualis Capes A da área contábil apresentam rigor metodológico no que concerne à comprovação das características psicométricas de confiabilidade e validez das escalas psicossociais utilizadas nas investigações? Neste sentido, o desenvolvimento deste trabalho apresenta os seguintes objetivos fundamentais: 1. Oferecer aporte teórico para as características fundamentais dos testes psicométricos e, Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 2. Avaliar como os artigos propagados pelos periódicos da área contábil, classificados como Qualis Capes A, estão atuando no processo de validação de medidas das respostas psicossociais. Quanto aos aspectos metodológicos, este trabalho possui características descritivas, exploratórias, de caráter empírico e longitudinal. A amostra consiste nos periódicos, veiculados por instituições acadêmicas nacionais, categorizados como Qualis Capes A, e a avaliação compreende um período de cinco anos. Com o intuito de atingir os objetivos propostos, a presente investigação apresenta, sequencialmente, considerações sobre relatos empíricos anteriores que pautam o desenvolvimento desta pesquisa, aportes teóricos sobre a confiabilidade e validade das medidas psicológicas, descrição do desenho da pesquisa, resultados encontrados, considerações finais e, por fim, as referências bibliográficas. 2. Investigações Prévias Algumas investigações trazem expressamente a dificuldade encontrada pelos pesquisadores no processo de demonstração das características de confiabilidade e validade dos instrumentos psicométricos. Consubstanciadas na observação sobre construção de instrumentos de medidas não observáveis, as pesquisas reportam críticas inerentes aos resultados gerados nos estudos, os quais carecem de cientificidade por não oferecerem suporte sobre a validade das medidas subjetivas geradas (SCHREISHEIM ET AL., 1993; HINKIN, 1995; YOUNG, 1996; ROBERTS, 1999; DUFF, 2002; YOUNG, 2006; VAN DER STEDE, YOUNG & CHEN, 2005; KIM, 2009). A investigação de Duff (2002) faz menção à ampla utilização de instrumentos psicométricos na pesquisa em educação contábil. Enfatiza que a construção de questionários para avaliar atitudes, percepções ou opiniões de estudantes sobre estilos de aprendizagem, criatividade, ansiedade, entre outros aspectos comportamentais do meio acadêmico, carecem, frequentemente, de indícios que atestem a confiabilidade e validade das escalas produzidas. Afirma que o aspecto mais fraco da pesquisa baseada em questionário diz respeito à precisão da medição dos construtos que estão sendo investigados, e, neste sentido, esclarece que muitos estudiosos fizeram importantes previsões em suas pesquisas usando instrumentos invalidados em pesquisas posteriores. Tomando como base a avaliação de dois importantes periódicos: Accounting Education: an International Journal e Issues in Accounting Education, por um período de 5 anos, conclui que as pesquisas em educação contábil apresentam resultados comprometidos por falhas cometidas pelos pesquisadores na determinação da confiabilidade e validade dos dados produzidos pelos testes. Van der Stede, Young e Chen (2005) avaliaram oito periódicos de contabilidade por um período de 20 anos (1982-2001), focando na qualidade dos questionários utilizados nas pesquisas em contabilidade gerencial. Ao examinarem questões relacionadas à confiabilidade e validade, eles concluíram que, com o passar do tempo, a pesquisa survey em contabilidade gerencial, através do uso de questionário, apresentou evolução, mas é necessária uma atenção especial para melhorar ainda mais o caminho no qual o desenvolvimento dos questionários é realizado. Este é um fator essencial, uma vez que há evidências de que a credibilidade dos dados das pesquisas deixa a desejar. 35 Pensar Contábil Roseane Patrícia de Araújo Silva CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Izabela Lorena Ribeiro da Silva Ao propor a revisão das práticas utilizadas no desenvolvimento de escalas de medidas comportamentais, tendo como amostra seis periódicos representativos da área de comportamento organizacional, entre os quais destaca o Journal of Management e o Academy of Management Journal, em um período de 5 anos, Hinkin (1995) relata, ao considerar o conjunto de estudos analisados, que é evidente a existência de problemas no processo e divulgação do desenvolvimento destas medidas. Destaca a existência de excelentes exemplos de desenvolvimento de escalas, mas que estes fatos isolados não devem servir como exemplo para outros estudiosos. Defende que as escalas devem ser desenvolvidas para medir com precisão a dinâmica do aspecto investigado e que a pesquisa de qualidade deve começar com a medição de qualidade, atribuindo, neste sentido, responsabilidade tanto para o pesquisador como para o revisor. Acrescenta a estas considerações que se alguém acredita que os problemas decorrem de ignorância em vez de negligência, a solução é a educação, em vez da advertência. Roberts (1999) propõe em seu trabalho evidências descritivas e críticas inerentes ao desenvolvimento de uma pesquisa survey, por meio de questionário, através da construção de uma escala de medidas para mensurar a satisfação dos usuários do sistema de informação gerencial de uma organização do âmbito industrial australiano. Oferece subsídios para mitigar os problemas decorrentes deste tipo de pesquisa, demonstrando como superá-los. Abarca, principalmente, os seguintes aspectos: validade de conteúdo, pré-teste, seleção e tamanho da amostra e taxas de não resposta. Conclui sua investigação com uma discussão sobre as vantagens e desvantagens do método survey nas pesquisas que propõem estudar as características e interrelações entre as variáveis sociológicas e psicológicas. Schreisheim et al. (1993) defendem que a demonstração do desenvolvimento de práticas de validação de conteúdo é uma propriedade psicométrica essencial da medida de um construto, assegurando que graves deficiências de medidas podem ser mitigadas quando os pesquisadores reportam adequadamente o conteúdo do construto investigado. Ao considerarem que não existem métodos quantitativos bem estabelecidos para a validade de conteúdo, sugerem a técnica de redução de dados para auxiliar no processo. Isto por intermédio da avaliação de 4 periódicos, quais sejam: Academy of Management Journal, Journal of Management, Strategic Management Journal e Journal of International Business Studies, durante o período de um ano, relatam a debilidade inerente aos seguintes aspectos investigados: seleção e modificação dos itens, modificação da escala resposta e falhas para reportar a confiabilidade. Centrada nos artigos das principais revistas de contabilidade no período 1985-1994 que utilizaram o questionário como instrumento de coleta de dados, a investigação de Young (1996) encontrou um pobre padrão na aplicação do uso de questionário na investigação em contabilidade de gestão. O referido autor observou que a maioria dos estudos apresentava falhas ao usar métodos de amostras rigorosas, não averiguava os erros de não resposta e sofria de baixas taxas de respostas — o que, consequentemente, resultava em amostras não representativas e de 36 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 Larissa Cristina Basílio de Macêdo baixo poder estatístico, dificultando as inferências dos investigadores e a solidez das conclusões apresentadas nas pesquisas. O estudo de Kim (2009) estabelece seis etapas a ser colocadas em prática no processo de validação de instrumentos de medidas psicométricas, e as denomina “protocolo de validação”. São elas: validade de conteúdo, pré-teste, teste piloto, manipulação de validade, confiabilidade e validade de construto. Ao focar seu estudo na ciência da informação, avalia o periódico Journal of the American Society for Information Science and Technology por um período de 25 anos (1982-2007), e, tomando como base o referido protocolo, observa maior ênfase na existência de relatórios de validação nos artigos do último período avaliado na pesquisa (2007), fornecendo indícios para comprovação de avanço promissor para prática de métodos de pesquisa que enfatizam a importância dos testes de validade na área objeto de estudo. As técnicas mais amplamente empregadas foram teste piloto, confiabilidade e validade de construto, enquanto que a validade de conteúdo, pré-teste e a manipulação de validade foram pouco utilizadas pelos pesquisadores. Considerando não haver um único critério compartido entre os investigadores a respeito do processo de validação de medidas psicométricas, optou-se, neste estudo, por seguir o protocolo de validação proposto por Kim (2009), alicerçado na tipificação de etapas propostas pelo autor, a qual permite detalhar de maneira mais explícita o processo de validade dos instrumentos que aferem atributos subjetivos. Assim, utilizou-se da investigação do referido autor com algumas adaptações, conforme exposto na Tabela 1, a qual associa para cada categoria do protocolo de validação as técnicas correspondentes. Abordar-se-á, em seguida, cada uma das etapas descritas na Tabela 1. Além destas considerações, far-se-á menção aos aspectos reportados pela literatura no que concerne à validação de instrumentos de medidas subjetivas. 3. Considerações sobre Confiabilidade e Validade das Medidas Psicológicas A utilização de questionários permite aos investigadores trabalhar com amostras amplas e estabelecer comparações estatísticas, sempre e quando se realize um bom processo de construção, distribuição e análise do questionário (DILLMAN, 2000; IBERT ET AL., 2001). Robert (1999) e Dillman (2000) afirmam que as desvantagens decorrentes do uso de questionários podem ser minimizadas com um bom planejamento, um cuidadoso desenho, distribuição e detalhada análise psicométrica dos dados coletados. Brownell (1995) considera que, quando o instrumento de medida utilizado nas investigações é cuidadosamente desenvolvido e validado antes de ser efetivamente usado, os resultados apresentarão grande confiabilidade e validade, sendo estas as duas qualidades fundamentais dos testes psicométricos. Neste sentido, Muñiz et al. (2005) esclarecem que a elaboração e a análise dos itens de um instrumento de medida devem ser alicerçadas em critérios que permitam satisfazer às características de confiabilidade e validade. Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados nos Periódicos da Área Contábil: Uma Análise Longitudinal Tabela 1: Adaptação do protocolo de validação proposto por Kim (2009) Validação Técnicas Validade de conteúdo Julgamento de experts Pretest Abordagem pessoal (face a face, entrevista por telefone), abordagem impessoal (questionário). Confiabilidade Teste-reteste; split-half (Alfha de Cronbach) Validade de construto Varia de acordo com os objetivos da pesquisa. Principais técnicas: validade convergente, validade discriminante, análise fatorial exploratória e confirmatória. Fonte: Adaptado da investigação de Kim (2009) Para os autores, na prática, estes aspectos são frequentemente esquecidos, convertendo-se a análise de itens em uma acumulação desregrada de indicadores estatísticos, cuja relação com as propriedades globais do teste é normalmente pouco clara ou ignorada. No que diz respeito à validade, Navas Ara (2007, p. 266) considera que esta “é um critério métrico de qualidade que proporciona informação acerca da adequação da interpretação das pontuações do teste em termos do construto psicológico que se está medindo ou de sua utilização para o fim proposto”. Para Cronbach (1955), a validação é um processo; validar é investigar, o que consiste na acumulação de dados e análises, o que vai dar credibilidade a uma interpretação determinada à utilidade de testes e escalas. De acordo com a revisão da literatura se pode estabelecer que os procedimentos fundamentais para a validação são: validade de conteúdo, validade de construto e a validade referida ao critério (MARTÍNEZ ARIAS, 1995; ABAD ET AL., 2006; BARBERO GARCÍA ET AL., 2003; SÁNCHEZ & SARABIA, 1999; LUQUE, 1997). Aos referidos procedimentos denominam-se “santíssima trindade da validade” (Muñiz et al., 2005) ou “modelo trinitário” (PASQUALI, 2009). 3.1. Validade de Conteúdo Segundo Luque (1997) a validade de conteúdo trata de saber se a medida representa os diferentes aspectos ou facetas do fenômeno que se deseja medir. Aconselha que para a obtenção de uma melhor validade de conteúdo, o investigador, deve tentar minimizar as possíveis críticas sobre o aspecto investigado por meio da revisão da literatura existente, especificando, através de uma correta definição conceitual, o que é ou não é objeto de medida. Além desses aspectos, deve-se gerar ampla relação de itens que representem todas as dimensões relevantes do fenômeno estudado e solicitar uma avaliação de juízes e expertos que informem sobre o âmbito do conteúdo a abarcar. Não há formas de garantir a comprovação da validade de conteúdo, tendo em vista que ela depende do grau de revisão da literatura, de juízos de valor do investigador, além de supor que foram consideradas todas as possíveis dimensões e conteúdos do conceito, fenômeno ou comportamento investigado (NUNNALLY, 1987; SÁNCHEZ, 1999; LUQUE, 1997). 3.2. Pré-Teste Martín Arribas (2004) ao aludir sobre a prova piloto a denomina também de pré-teste, sendo, pois, termos intercambiáveis. Considera, igualmente à concepção de Kim (2009), a prova piloto/pré-teste como a segunda etapa do processo de validação. O pré-teste permite averiguar se o instrumento de medida avaliado comunica aos entrevistados uma parte ou todos os aspectos que ele tem a intenção de comunicar. Avalia aspectos como: tempo de duração para administrar o questionário, resistências psicológicas, compreensão dos enunciados, correta categorização das respostas, tipos de perguntas mais adequadas, entre outros. Para Wikman (2006), a comunicação é a chave para garantir a confiabilidade. É importante, neste sentido, destacar que a confiabilidade é precondição necessária à validade (Nunnally, 1978). Assim, a definição de um bom teste traz as seguintes características, segundo Cohen et al. (1996): 1. Ter instruções claras e ser econômico na sua administração, pontuação e interpretação; 2. Medir o que pretende medir; 3. Os resultados devem proporcionar melhor qualidade de vida aos entrevistados e outros. O pré-teste pode ser conduzido pessoalmente ou impessoalmente, dependendo do objetivo do pré-teste. Ao estabelecer uma diferença entre o pré-teste e o teste piloto, Lewis et al. (2005) afirma que este é precedido de uma série de pré-testes e é realizado tomando como base uma amostra conveniente. Ainda neste contexto, Yin (2003) caracteriza o teste piloto como uma versão em pequena escala da pesquisa final, que permite aos investigadores antecipar resultados do estudo e determina se o instrumento construído mede de forma eficaz o construto da pesquisa. No desenvolvimento deste trabalho optou-se por averiguar a utilização do pré-teste ou teste piloto como procedimentos equivalentes no âmbito da validação de questionários, mesmo reconhecendo a existência destes distintos momentos no processo de validade de instrumentos, uma vez que o teste piloto, conforme explicitado, é concebido como a primeira versão de uma escala de medidas, com características que permitem inferir resultados em decorrência de satisfatórios atributos de qualidades psicométricas. 3.3. Confiabilidade A confiabilidade de um teste se define como critério métrico de qualidade relacionado à quantidade de erro aleatório3 contido nas medidas que foram obtidas ao aplicar o teste a um grupo de sujeitos (ALIAGA, 2006). Também chamado erro sistemático. Está relacionado às circunstâncias transitórias ou aleatórias. Este erro está relacionado à saúde, fadiga, motivação, tensão emocional, humidade, ventilação, calor, entre outros fatores que podem dar lugar a flutuações aleatórias nas pontuações dos sujeitos (LUQUE, 1997). 3 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 37 Pensar Contábil Roseane Patrícia de Araújo Silva CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Izabela Lorena Ribeiro da Silva Uma medida é confiável quando, ao ser aplicada repetidas vezes, se obtêm medições semelhantes, ou seja: quando uma escala permite obter medidas similares em diferentes momentos de tempo, pode-se caracterizar como uma escala confiável (SÁNCHEZ & SARABIA, 1999). Uma medida pode ser confiável, mas não ser válida; o contrário não é possível. A falta de confiabilidade pode ser razão para questionar a validade de um instrumento de medida. As técnicas comumente utilizadas para avaliar a confiabilidade são: provas repetidas ou teste-reteste e o método split-half (KIM, 2009; MUÑIZ ET AL., 2005; SÁNCHEZ & SARABIA, 1999; LUQUE, 1997). A confiabilidade através do teste-reteste é realizada pela administração da escala em dois intervalos de tempo separados. Neste contexto, considera-se que se dois ou mais testes realizados aos mesmos sujeitos em momento diferentes e em circunstâncias similares proporcionam a mesma medida ou medidas muitos correlacionadas; então o instrumento é estável. Há ressalvas quanto ao uso deste método, tendo em vista que o intervalo de tempo entre a aplicação do primeiro para o segundo teste, assim como as possíveis alterações nas circunstâncias em que os mesmos foram aplicados, pode afetar os resultados encontrados — recomendando-se, desta forma, outras formas de avaliação. O método split-half é também conhecido como confiabilidade por consistência interna. A técnica mais evidente nas investigações acadêmicas para obter esta avaliação é a utilização do coeficiente alfa de Cronbach. Para interpretação deste coeficiente, se esclarece que não existe um único critério compartido por todos os investigadores a respeito da magnitude real do seu valor (Peterson, 1994; Morales Vallejo et al., 2003). Seus valores variam entre 0 e 1, e, à medida que se incremente seu valor, maior é a consistência interna e consequentemente menor é a variância. No entanto, um valor mínimo aceitável para fins de investigação, de acordo com Nunnally (1978), é de 0,70. Na investigação básica pode ser suficiente um valor em torno de 0,60 ( MORALES VALLEJO ET AL., 2003). Registre-se que a construção de escalas mais longas e a existência de um maior número de respostas aos itens formulados são fatores que aumentam a confiabilidade das escalas. No entanto, deve-se considerar que escalas longas, apesar de gerarem altos valores do coeficiente alfa, ocasionam fadiga aos respondentes e levam mais tempo para ser administradas. Neste sentido, Morales Vallejo et al. (2003) recomenda que aumentar o número de respostas nos itens pode ser mais prático em algumas ocasiões investigatórias, tendo em vista que este procedimento aumenta a covariância entre os itens. A confiabilidade composta e a variância extraída são apresentadas por Hair et al. (2005) como coeficientes de consistência interna, sendo estabelecido um valor mínimo aceitável de 0,70 para o primeiro e de 0,50 para o segundo. 3.4. Validade de Construto A validade de construto, também denominada validade de conceito, é o tipo de validação que dá significado às Larissa Cristina Basílio de Macêdo pontuações dos testes, pois aponta para a obtenção de evidências de que as condutas observáveis escolhidas como indicadores do construto realmente o representam (Barbero García et al., 2003). A validade de construto determina se os itens operacionalizados, ou seja, as perguntas do questionário, medem o conceito pretendido para análise (CAMPBELL & FISKE, 1959). Ao definir “construto”, Abad et al. ( 2006, p.62) transcrevem “um conceito elaborado pelos teóricos da psicologia para explicar o comportamento humano”. Acrescentam, além disso, que para o estudo de um construto é indispensável a existência de indicadores observáveis. Em muitas ocasiões, esses indicadores são os itens de um teste, os quais devem comprovar empiricamente se são adequados para representar o construto em questão. As concepções de Morales Vallejo et al. (2003) sobre a validade de construto enfatizam a existência de dois tipos de estratégias complementares para provar as hipóteses instituídas referentes ao construto estudado: a validade convergente e a validade divergente. Na validade convergente se estudarão as relações esperadas e plausíveis com outras medidas relacionadas a dois tipos de variáveis: 1. Relações estabelecidas com variáveis medidas por outros instrumentos que, intencionalmente, medem o mesmo construto; 2. Relações com instrumentos que medem outros aspectos com os quais se espera existir uma relação positiva ou negativa. A validade divergente, normalmente denominada validade discriminante, consiste no grau em que uma medida não se correlaciona com outras medidas das quais se supõe que deve divergir (SÁNCHEZ, 1999). Morales Vallejo et al. (2003) orientam que deve ser realizado um criterioso planejamento do processo de validação durante a preparação do instrumento para coletar simultaneamente os dados necessários. As correlações entre as medidas envolvidas neste processo podem ser apresentadas pela denominada matriz multiconceito-multimétodo4 ou multimétodo-multirrasgo. Assim, no processo de validação é necessário especificar as hipóteses previstas entre as variáveis envolvidas, indicando: 1. O sentido que se espera da relação, seja positivo, negativo ou ausência de relação; e 2. A magnitude relativa esperada da relação, pela qual se pode comprovar a existência de relações maiores e mais claras. As análises fatoriais exploratória e confirmatória também são indicadas como técnicas que podem comprovar a validade de construto. Ambas são utilizadas objetivando provar hipóteses anteriormente estabelecidas acerca da estrutura interna do construto investigado e das relações deste com outras variáveis (Barbero García, 2003). Utilizada desde um enfoque exploratório, não se podem estabelecer hipóteses prévias acerca do número de dimensões resultantes do uso da técnica. Quando se concebem hipóteses a priori acerca da estrutura subjacente e do número de dimensões, utiliza-se a análise fatorial confirmatória para confirmar tais hipóteses. Método proposto por Campbell e Fiske (1959) e permite a análise da estrutura externa do teste ou conjunto de testes. 4 38 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados nos Periódicos da Área Contábil: Uma Análise Longitudinal A análise fatorial permite comprovar se o instrumento realmente está medindo o que pretende medir ao proporcionar: 1. Nitidez relativa aos aspectos subjacentes a uma série de variáveis; 2. Auxílio na definição de que variáveis ou itens definem cada fator e; 3. Como estes fatores estão correlacionados entre si (MORALLES VALLEJO ET AL., 2003). Nunnally (1978) defende que a análise fatorial está no centro da medição dos construtos psicológicos. Ressalta-se a indispensável necessidade do conhecimento da teoria subjacente das construções que estão sendo testadas, tendo em vista que a interpretação dos resultados da análise fatorial será menos subjetiva, à medida que exista maior domínio sobre este conhecimento. Uma utilização indicada para técnica de análise fatorial confirmatória é para comprovar se a estrutura de um instrumento adaptado de outro idioma é semelhante à estrutura original, mas normalmente a referida técnica é utilizada para confirmar estruturas fatoriais previamente encontradas na análise fatorial exploratória. 3.5. Validade Referida ao Critério ou Preditiva A validade referida ao critério se refere ao fato de que uma escala de medida seja capaz de predizer outras variáveis, denominadas variáveis critérios, as quais podem ser qualquer tipo de variável obtida com outras escalas e que podem ser estimadas com a escala objeto de estudo. Luque (1997) estabelece que a validade referida ao critério se centra na habilidade que tem o instrumento para refletir se as relações estabelecidas entre as medidas de uma variável e as de outras estão ou não de acordo com o que estabelece a teoria. Na validade de critério, o investigador correlaciona sua escala com algum critério que esteja correlacionado com a mesma, e, ao avaliar o coeficiente de correlação de acordo com hipóteses previamente estabelecidas, observa a existência ou não de validade. As principais técnicas para determinação da validade preditiva são: análise discriminante, análise de correlações e equações de regressão (Sánchez & Sarabia, 1999). Ao apresentar a manipulação de validade como uma das etapas do protocolo de validação, Kim (2009) a define como um teste realizado para determinar relações causais entre variáveis dependentes e independentes, podendo esta etapa da validação estar associada ao processo de validade preditiva. Este tipo de validade se distingue desde duas perspectivas, de acordo com a temporalidade do critério: validade preditiva simples e validade concorrente. O desenho de um estudo de validação referida ao critério segue os seguintes passos (Barbero García et al. 2003; Martinez Arias, 1995): 1. Definir um critério relevante e estabelecer um método para sua medição; 2. Selecionar uma amostra de sujeitos representativa da população na qual será usado o teste posteriormente; 3. Aplicar o teste e obter uma pontuação para cada sujeito; 4. Obter uma medida de cada sujeito no momento da aplicação do teste, o que caracteriza a validade concorrente, ou em um momento posterior, o que caracteriza a validade preditiva; 5. Determinar o grau ou a relação entre as pontuações obtidas pelos sujeitos no teste e a medida critério. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 4. Metodologia da Pesquisa Empírica 4.1. Delineamento da Pesquisa A amostra selecionada para o estudo consiste nos artigos publicados nos periódicos brasileiros qualificados como Qualis Capes A da área contábil na última avaliação da Capes, que trazem em suas investigações empíricas questionários que aferem percepções concernentes ao âmbito organizacional. Foram identificados 5 periódicos com qualificação A2. São eles: Revista de Administração Contemporânea (Eletrônica), Revista de Administração Contemporânea (Versão impressa), Revista de Administração de Empresas, Brazilian Business Review-BBR e Revista Contabilidade e Finanças. A opção por revistas com qualificação Qualis Capes A deu-se por considerar uma maior rigidez nos processo de avaliação advinda dos revisores e editores das mesmas. O período avaliado compreende o segundo semestre de 2007 até o primeiro semestre 2012, abarcando 5 anos. Durante o período avaliado foram encontrados 27 artigos, nos cinco periódicos estudados, com uso de questionários que aferiam medidas psicossociais. Este estudo caracteriza-se metodologicamente como estudo descritivo, exploratório e de caráter longitudinal. Neste sentido, compreende-se como estudo longitudinal toda pesquisa direcionada à análise dos processos de mudança e desenvolvimento, nos quais o passar do tempo é fator fundamental (Martínez Arias, 1995). Uma vez selecionados os artigos, buscou-se, pela leitura das características dos procedimentos metodológicos, averiguar a existência de procedimentos de validação dos questionários utilizados, selecionando as principais técnicas utilizadas e comparando-as com o protocolo de validação de Kim (2009), conforme disposto na Tabela 1. 5. Resultados Encontrados A etapa referente à validade de conteúdo não é explicitada no corpo dos artigos como uma etapa do processo de validação, mas os investigadores das referidas pesquisas discorrem que a construção dos questionários utilizados foi fundamentada na revisão de amplo arcabouço teórico, o que implica uma ação preliminar do processo, sem, no entanto, oferecer real comprovação da validade ou confiabilidade, conforme exposto na literatura. Neste sentido, ao averiguar as etapas do processo de validação conforme proposto por Kim (2009), omitiu-se, dos resultados expostos no quadro 2, a etapa referente à validade de conteúdo. Apresenta-se, em seguida, a quantidade de artigos publicados nos periódicos estudados que utilizaram instrumentos psicométricos em suas pesquisas (Quadro 1). É importante frisar que, ao avaliar o conteúdo dos artigos, se comprova que a maioria deles atua na área de contabilidade gerencial, e, na sequência, observam-se pesquisas sob o escopo da educação contábil, ética e auditoria. As Revistas Contabilidade e Finanças e a Brazilian Business Review-BBR são as que apresentam maior número de artigos publicados com uso de questionários para aferir medidas corporativas comportamentais. 39 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Roseane Patrícia de Araújo Silva Izabela Lorena Ribeiro da Silva Larissa Cristina Basílio de Macêdo Quadro 1: Nº de artigos publicados nas revistas Qualis Capes A que utilizaram instrumentos psicométricos no período de 2007 (2º sem.) a 2012 (1º sem.) Nº de artigos por revista que usaram instrumentos psicométricos. Revista de Administração Contemporânea (eletrônica) Rev. Adm. Contemporânea (versão impressa) Rev. de Adm. de Empresas (RAE) BBR Brazilian Business Review Revista Contabilidade Finanças Total de artigos 2007.2 ------------ ------------ ------------ ------------ 3 3 2008 ------------ 1 ------------ 1 4 6 Períodos analisados 2009 1 1 1 4 ------------ 7 2010 ------------ ------------ 1 1 2 4 2011 ------------ ------------ ------------ 1 3 4 2012.1 ------------ 1 ------------ 2 ------------ 3 1 3 2 9 12 27 Total de artigos por revista Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa Ao avaliar o uso de procedimentos de validação por revista pesquisada, pode-se comprovar que a Revista de Administração Contemporânea (versão impressa) apresenta, simultaneamente, em seus 3 artigos selecionados, os processos de confiabilidade e validade de construto, sem menção ao pré-teste. Em relação às demais revistas observaram-se os seguintes aspectos: a Revista de Administração Contemporânea (eletrônica) publicou apenas 1 artigo, sem nenhuma menção de validação; a Revista de Administração de Empresas (RAE) publicou 2 artigos, mas apenas 1 apresenta confiabilidade e validade de construto; a Revista Contabilidade e Finanças publicou 12 artigos, dos quais 50% não mencionam nenhum aspecto de validade ou confiabilidade, 2 apresentam confiabilidade (tendo um deles usado pré-teste), 3 reportam apenas uso do pré-teste e 1 descreve o processo de validação de construto e confiabilidade; a Revista Brazilian Business Review-BBR publicou 9 artigos, dos quais 4 não fazem nenhuma consideração sobre o processo de validação, 3 apresentam validade de construto e confiabilidade, sendo que um deles inclui o pré-teste, 1 inclui apenas consistência interna e 1 descreve apenas o uso do pré-teste. O Quadro 2 apresenta as etapas do processo de validação utilizadas pelos artigos investigados de acordo com o protocolo de validação utilizado nesta pesquisa, excetuando-se a etapa de validação de conteúdo com justificativa anteriormente reportada. Seguindo o roteiro traçado para pesquisa, exposto na Tabela 1, constatou-se que 22% (6) dos artigos da amostra descreveram o uso do pré-teste, denominado similarmente de teste piloto, como uma das etapas do processo de validação. Ao tratar da confiabilidade, 41% (11) dos artigos investigados demonstraram o uso da técnica split half para determinação da consistência interna, tendo como coeficientes utilizados o alfa de Cronbach e a confiabilidade composta. Há predominância quanto ao uso do alfa de Cronbach em detrimento da determinação da confiabilidade composta sendo encontrados 7 artigos com o uso do primeiro coeficiente e 4 com o uso do segundo. No processo de validação de construto, as principais técnicas destacadas foram: análise fatorial exploratória (AFE) e análise fatorial confirmatória (AFC), e, com o uso destas técnicas, destacaram-se a validade convergente e divergente. Ao total, 30% dos artigos apresentaram a vali- Quadro 2: Evidência quantitativa dos artigos que apresentaram etapas do protocolo de validação proposto na pesquisa Quantidade de artigos que ofereceram evidências sobre etapas do processo de validação por período avaliado Etapas do processo de validação % de artigos por etapa avaliada em relação à amostra total 2007.2 2008 2009 2010 2011 Pré-teste/Teste piloto 0 0 2 2 2 0 6/27 22% Confiabilidade 0 4 2 3 0 2 11/27 41% Validade de Construto 0 2 2 2 0 2 8/27 30% Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa 40 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 2012.1 Quantificação das etapas do processo de validação por amostra total CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil Avaliação das Características Psicométricas dos Instrumentos de Medida Utilizados nos Artigos Publicados nos Periódicos da Área Contábil: Uma Análise Longitudinal dação de construto de forma explícita, sendo proporcional o uso das técnicas destacadas pelos autores na amostra investigada, ou seja: dos 8 artigos identificados, 4 usaram a AFE e 4 utilizaram AFC. A validade de construto obtida através da AFC determinou a validade convergente por meio da variância média extraída e da análise das cargas fatoriais — esta última objetivando determinar a unidimensionalidade, a qual representa o grau em que um conjunto de itens representa apenas um construto. Hair et al. (2005) apontam que o contraste de unidimensionalidade consiste em que os itens apresentem valores elevados em um único fator. Esta evidência pode ser obtida através da AFC ou AFE. Sobre a variância média extraída, Hair et al. (1998) destacam que ela mede a variância da variável relacionada com a variância devida a um erro de medição e que o nível mínimo recomendado é de 0,5. Acrescenta-se que a validade convergente mede a extensão em que a escala se correlaciona positivamente com outras medidas do mesmo construto (Malhora, 2001). Assim, correlações significativas e positivas provenientes da matriz de correlação das dimensões (medidas) de um questionário garantem a existência da validade convergente. Atendendo ao critério de Bagozzi (1994), a validade divergente pode ser verificada pela existência de correlações com valores inferiores a 0,8 entre as referidas medidas. Alguns dos artigos avaliados propõem hipóteses entre variáveis dependentes e independentes no escopo do construto teórico investigado, e neste sentido utilizam a caracterização das variáveis para estabelecer relações que remetem à averiguação de validade convergente e divergente. Neste sentido, os principais procedimentos estatísticos utilizados foram: o teste qui-quadrado e os testes de regressão. Outras duas evidências estatísticas encontradas nos artigos foram: o teste exato de Fischer e a regressão logística, objetivando confirmar hipóteses entre variáveis dependentes e independentes. Ressalta-se que, neste último caso, nenhum dos dois artigos faz qualquer consideração sobre validação de instrumentos de medida, estando, pois, na composição dos 12 artigos que não apresentam nenhuma consideração por escrito sobre o processo de validade. 6. Considerações Finais A presente pesquisa objetivou oferecer um aporte teórico sobre as principais características dos testes psicométricos, quais sejam: a confiabilidade e a validade, assim como avaliar de que maneira os artigos científicos publicados em revistas brasileiras Qualis Capes A do âmbito contábil estão atuando no processo de validação de instrumentos que aferem medidas psicossociais, tomando-se como base o protocolo de validação de Kim (2009). Durante o seu desenvolvimento, fez um relato das principais etapas e técnicas utilizadas no processo de validação dos testes psicométricos. Assim, descreveu características indispensáveis para atestar a cientificidade dos resultados das pesquisas baseadas no uso de questionários que aferem medidas subjetivas no meio corporativo, enfatizando: a Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 34 - 42, maio/ago. 2013 validade de conteúdo, o uso do pré-teste, a confiabilidade, a validade de construto e a validade preditiva. Ao averiguar a utilização do protocolo de validação de Kim (2009) nos artigos delimitados na amostra, encontrou que, do universo dos 27 artigos investigados, nenhum deles fazia menção à validade de conteúdo, conforme explicitado na literatura, e 12 não faziam nenhuma consideração sobre pré-teste, confiabilidade ou validade de construto. Dos 15 restantes, houve maior evidência do processo de confiabilidade por meio do uso do alfa de Cronbach e da confiabilidade composta, sendo 7 incidências para o primeiro coeficiente e 3 para o segundo. O processo inerente à validade de construto ficou em segundo lugar, com 8 incidências, sendo 4 artigos destacados com o uso da AFE e 4 com AFC. E por fim, o pré-teste, o qual apareceu em 6 artigos. Apenas 8 artigos apresentaram evidências de confiabilidade e validade simultaneamente, e destes, 4 também incluíram a etapa do pré-teste. Observa-se a existência de preocupação e conhecimento por parte dos investigadores no que concerne ao processo de validação dos instrumentos de medidas psicométricas. No entanto, preciosas investigações são desenvolvidas com ausências ou relatos parciais de evidências estatísticas que comprovem a legitimidade dos resultados encontrados. Algumas razões podem estar atreladas aos resultados encontrados, como: 1. O desenvolvimento de escalas é um processo difícil e demorado, e o desejo de concluir a pesquisa e submetê-la à publicação pode não ser compatível com o tempo disponível pelo investigador para realizar tal processo (Schimit & Klinoski, 1991); 2. Parece não existir estrutura bem definida para orientar os pesquisadores nos vários estágios do processo de validação (Hinkin, 1995); 3. A profissão pode colocar uma ênfase muito grande na análise estatística (SCHIMIT, 1989). Compactuando com as considerações de Cronbach (1955), o qual assegura que a validação é um processo e que consiste na acumulação de dados e análises, sugere-se — diante do relato exposto no marco teórico deste trabalho sobre as características dos testes psicométricos, assim como dos resultados encontrados na investigação empírica — que as pesquisas baseadas em medidas psicossociais no âmbito corporativo descrevam qual processo de validação legitimou os resultados encontrados, conscientes de que, quanto maior a incorporação de inferências que comprovem a validade dos questionários, maior a legitimidade associada à pesquisa. Este trabalho oferece como contribuição principal um indicador concernente à avaliação do nível de comprometimento por parte dos investigadores quanto à descrição das características psicométricas dos instrumentos de medidas nos artigos Qualis Capes A, traçando um perfil de como os resultados destas pesquisas apresentam conclusões sólidas, inferências pertinentes e poder estatístico relevante. A amostra compreendida em um período de cinco anos é uma das suas principais limitações. Para futuras investigações sugere-se confrontar estes resultados com periódicos internacionais da mesma área e com a mesma qualificação Qualis Capes, assim como se sugere ampliar a amostra aumentando o espaço de tempo para coleta de dados. 41 Pensar Contábil Roseane Patrícia de Araújo Silva CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Izabela Lorena Ribeiro da Silva Larissa Cristina Basílio de Macêdo Referência ABAD, F. J.; GARRIDO, J.; OLEA, J.; POSANDA, V. Introducción a la psicometría. 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Palavras-chave: Contabilidade de Custos; Contabilidade Gerencial; Artefatos Modernos; Exame de Suficiência Abstract Guilherme Teixeira Portugal Rio de Janeiro – RJ Doutor em Engenharia pela COPPE/UFRJ2 [email protected] Resumo A retomada da aplicação dos Exames de Suficiência pelo Conselho Federal de Contabilidade e a necessidade de sua aprovação para exercer a profissão de contador motivaram o estudo desta pesquisa, que tem como principal objetivo verificar a aplicação dos conteúdos da contabilidade gerencial e de custos predominantes nas provas do CFC aplicadas em 2011 e 2012 para bacharéis em Ciências Contábeis. Além disso, também se buscou verificar se estes estão em consonância com os artefatos modernos da contabilidade gerencial. Para isso, foi realizada uma pesquisa exploratória, documental e qualitativa, onde as questões relativas à contabilidade de custos e gerencial foram analisadas e, posteriormente, classificadas de acordo com os seus conteúdos e com os artefatos gerenciais (modernos e tradicionais), a fim de verificar a predominância nos exames. The resumption of applying proficiency tests by the Federal Accounting Council (CFC) and the need to pass them to the counter practice motivated this research study that has as main objective the verification of the contents of the application of Management Accounting and Costs prevailing in the CFC tests applied in 2011 and 2012 for graduates in Accounting. In addition, we intend to determine whether they were in line with the modern tools of Management Accounting. In order to do this, we conducted an exploratory research, documentary and qualitative investigation, where the issues of Cost and Management Accounting were analyzed and then classified according to their content and management tools (traditional and modern) in order to confirm what predominated in the exams. It was found that the Proficiency Exam extols the issues pertaining to Cost and Management Accounting, however, it has been slight explored the modern tools of Management Accounting. Finally, the tests applied in this second phase of the exam were quite complete for the content not only about Accounting, but also about the relevant subjects to the study in Accounting, as Financial Mathematics, Law and Statistics. Key words: Cost Accounting; Management Accounting; Modern Tools; Proficiency Test UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – CEP 20050-013 – Rio de Janeiro – RJ. COPPE/UFRJ - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 21941-972 – Rio de Janeiro – RJ. 1 2 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 43 - 49, maio/ago. 2013 Artigo recebido em 24/10/2013 e aceito em 26/06/2013. 43 Pensar Contábil Leonardo Barboza Pinheiro CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Mariana Pereira Bonfim 1. Introdução Guilherme Teixeira Portugal Em uma economia globalizada, as constantes evoluções tecnológicas e o aumento da diversidade de negócios proporcionam transformações significativas aos diversos setores da economia e aos respectivos ambientes de trabalho. Alinhado a essas mudanças, o profissional contábil necessita assumir novos desafios e manter-se atualizado, conhecendo e cumprindo as instruções e normas emitidas pelos órgãos reguladores. Neste processo de mudanças, a contabilidade vem apresentando uma série de evoluções, dentre elas o desenvolvimento de novos artefatos de contabilidade gerencial, como o Custeio Baseado em Atividades (ABC) e o Balanced Scorecard (BSC). Com o objetivo de alcançar um nível mínimo de conhecimento necessário ao desempenho das atividades atribuídas aos contadores, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) instituiu o Exame de Suficiência em 1999 como requisito para obtenção de Registro Profissional no Conselho Regional de Contabilidade. O primeiro exame ocorreu no ano seguinte à sua instituição e se manteve ativo até 2005, quando foi suspenso por falta de sustentação legal. No entanto, em 2010, por meio da Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010, o Exame de Suficiência foi regulamentado, sendo atribuída ao Conselho Federal de Contabilidade a função de regulá-lo. “Considerando que a instituição do Exame de Suficiência vem sendo analisada e discutida [...] como uma necessidade decorrente do interesse da Classe de resguardar a qualidade dos serviços prestados aos seus usuários” (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, Resolução nº 853/99). O exame também é útil para avaliar o grau de conhecimento dos recentes contadores sobre determinado assunto. Com base na situação apresentada, surge o seguinte problema de pesquisa: será que o exame de suficiência vem avaliando o conhecimento dos futuros profissionais de contabilidade na área de contabilidade gerencial e de custos? Para responder a esta pergunta, o presente estudo tem por objetivo principal verificar a aplicação dos conteúdos da contabilidade gerencial e de custos predominantes nas provas do CFC aplicadas em 2011 e 2012 para bacharéis em Ciências Contábeis, e se estes estão em consonância com os artefatos modernos da contabilidade gerencial. A relevância deste estudo pode ser explicada por intermédio de pesquisas empíricas como a de Guerreiro, Cornachione Júnior e Soutes (2010), que relatam um grau moderado de implementação dos artefatos modernos nas organizações brasileiras. Desse modo, o trabalho busca identificar se nas provas do CFC para bacharéis em Ciências Contábeis vem sendo exigido dos futuros contadores o conhecimento mínimo necessário a respeito de contabilidade gerencial e de custos, e ainda se estes conteúdos abordam os artefatos modernos de contabilidade ou apenas os tradicionais. Esta pesquisa é importante, visto que somente está habilitado a exercer a profissão de contador quem obtiver aprovação no teste. O trabalho está dividido em cinco seções, além desta introdução. O referencial teórico apresenta uma breve descrição acerca do surgimento do Conselho Federal de Contabilidade, do Exame de Suficiência, bem como dos artefatos da contabilidade gerencial. A seguir, é descrita a metodologia por meio dos processos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa. Na seção posterior, é apresentado o estudo feito em todas as provas, identifi- 44 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 43 - 49, maio/ago. 2013 cando-se os conteúdos explorados, como também os resultados encontrados. E, por último, são tecidas considerações finais. 2. Referencial Teórico 2.1. Conselho Federal de Contabilidade e o Exame de Suficiência Em 27 de maio de 1946, por meio do Decreto-Lei nº 9.295, foram instituídos o Conselho Federal de Contabilidade e os Conselhos Regionais de Contabilidade, com a finalidade de fiscalizar o exercício da profissão contábil, entendendo-se como profissionais habilitados os contadores e técnicos de contabilidade. Posteriormente, alguns dispositivos da lei supracitada foram alterados pela Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010, dentre eles o artigo 6º, atribuindo uma nova função ao CFC, a saber: “Regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional”. Também a partir da publicação da Lei nº 12.249, a aprovação no Exame de Suficiência passou a ser obrigatória para os bacharéis e os técnicos em ciências contábeis exercerem a profissão no mercado, conforme descrito na própria lei: Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão contábil após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de Contabilidade a que estiverem sujeitos. (BRASIL, LEI Nº 12.249, DE 11 DE JUNHO DE 2010). Assim, o CFC foi designado como o órgão responsável pela elaboração e aplicação dos exames de suficiência em território brasileiro. Devido à impossibilidade de aplicar as provas em todos os estados, o CFC designa esta atribuição aos Conselhos Regionais. Contudo, desde o ano 2000 o Conselho Federal de Contabilidade — embasado pela Resolução CFC nº 853, de 28 de julho de 1999 — já aplicava o Exame de Suficiência aos bacharéis em ciências contábeis no Brasil. Sua aplicação porém foi motivo de diversas discussões, tanto no mundo acadêmico quanto no mercado profissional. A primeira fase do exame durou apenas cinco anos (de 2000 até 2005), quando foi extinta por meio das decisões judiciais proferidas nos processos 2005.34.00.006.208-4 da 14ª Vara Federal do Distrito Federal e 2004.72.00.015564-0 da Justiça Federal de Florianópolis, as quais tinham como principal argumento o fato de o Exame de Suficiência ser instituído apenas por uma resolução do CFC, e não por lei, contrariando o Princípio Constitucional do Livre Exercício Profissional. De acordo com o inciso XIII, do artigo 5º da Constituição Federal “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Assim, por não haver uma lei que regulamentasse o Exame de Suficiência da classe contábil, ele permaneceu extinto até o ano de 2011, apesar do crescente número de graduados em cada semestre pelas universidades espalhadas no país. Sem nenhum tipo de teste de suficiência, não era possível nivelar a Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo sobre a Aplicação dos Conteúdos da Contabilidade Gerencial e de Custos nos Exames de Suficiência de 2011 e 2012 qualidade dos profissionais da área contábil, ficando este serviço nas mãos do mercado — que continuou avaliando os recém-formados, recompensando melhor aqueles com maior conhecimento e aptidão profissional. Com a publicação da Lei nº 12.249, anteriormente citada, nasceu a segunda fase do Exame de Suficiência da classe contábil, desta vez instituída por lei assim como o exame da OAB3, não ferindo, portanto, a Constituição Federal. Com a finalidade de avaliar os conhecimentos adquiridos pelos estudantes nas universidades, o conteúdo programático do exame é bastante amplo, abrangendo diversos tópicos de contabilidade. São eles: Contabilidade Geral; Contabilidade de Custos; Contabilidade Aplicada ao Setor Público; Contabilidade Gerencial; Controladoria; Noções de Direito; Matemática Financeira e Estatística; Teoria da Contabilidade; Legislação e Ética Profissional; Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade; Auditoria Contábil; Perícia Contábil; e Língua Portuguesa. Importante ressaltar que não existem apenas disciplinas de contabilidade, mas também acerca de conhecimentos relevantes para o estudo da Ciência Contábil, como Direito, Matemática Financeira e Estatística. 2.2. Contabilidade de Custos e Gerencial e os Artefatos Gerenciais Dentre as disciplinas que constam do Exame de Suficiência, destacam-se a contabilidade de custos e a contabilidade gerencial. A contabilidade de custos, segundo Cittadin e Ritta (2010, p. 48), tem como função auxiliar o: [...] planejamento e controle dos fatores de produção e na identificação da rentabilidade dos produtos fabricados ou nos serviços prestados. Isso possibilita uma gestão voltada à redução dos custos nos produtos e serviços, bem como o aperfeiçoamento dos processos de produção e na oferta dos melhores preços. Desta forma, a contabilidade de custos é o ramo da contabilidade que torna possível a alocação, de forma criteriosa, dos custos aos produtos fabricados e serviços prestados com a finalidade de produzir informações aos níveis gerenciais de uma empresa. Por isso, o conceito de contabilidade de custos está inserido na contabilidade gerencial, que por sua vez é mais amplo. Já a contabilidade gerencial tem como um de seus objetivos primordiais saber como melhor interpretar os resultados da empresa. Iudícibus (1998, p. 21) a descreve como: [...] o procedimento, técnica, informação ou relatório contábil feito “sob medida” para que a administração os utilize na tomada de decisões entre alternativas conflitantes, ou na avaliação de desempenho. Conforme Famá e Bruni (2006) a contabilidade gerencial está voltada à administração das empresas, com o objetivo de gerar informações úteis ao processo de gestão empresarial. Como o único objetivo é fornecer subsídios para a tomada de decisões dos gestores, ela deve procurar criar e manter um sistema de informações que utilize conceitos amplamente aceitos. Desta forma, em virtude das mudanças ocorridas no mundo dos negócios, a contabilidade gerencial vem passando por alterações no seu foco e objetivo, dando origem a novas práticas, de forma a poder acompanhar essas transformações na maneira de administrar essas novas organizações e os seus sistemas operacionais (SOUTES; ZEN, 2005; BEUREN; GRANDE, 2009). Em março de 1998, a International Federation of Accountants (IFAC) divulgou um pronunciamento intitulado International Management Accounting Practice I (IMAP 1), que tinha como objetivo descrever o campo da atividade organizacional conhecido como contabilidade gerencial. Uma das principais contribuições do IMAP 1 foi a definição dos quatro estágios da contabilidade gerencial e o respectivo foco de atuação, conforme descrito no quadro 1: Segundo Beuren e Grande (2009), no estágio 1 a tecnologia de produção era relativamente simples, tendo a contabilidade gerencial voltado seu foco basicamente para orçamentos e controle financeiro dos processos de produção. No segundo estágio, a contabilidade gerencial assumiu papel reativo, ou seja, identificava problemas e ações somente Quadro 1: Estágios da contabilidade gerencial segundo o IMAP 1 Estágio Período Foco de atuação na contabilidade gerencial Estágio 1 Antes de 1950 Foco na determinação de custos e controle financeiro, por meio do uso de orçamentos e tecnologias de contabilidade de custos. Estágio 2 1950-1965 Foco no fornecimento de informações para planejamento e controle gerencial, através do uso de tecnologias, tais como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade. Estágio 3 1965-1985 Atenção na redução de desperdício dos recursos utilizados nos processos da empresa, através do uso da análise de processos e tecnologias de gerenciamento de custos. Estágio 4 1985 até hoje Atenção na geração de valor por meio do uso efetivo de recursos, de tecnologias que examinam os direcionadores de valor para o cliente e para o acionista, e de inovação organizacional. Fonte: Beuren e Grande (2009, p. 3) 3 O Exame da Ordem dos Advogados do Brasil é realizado três vezes ao ano e destinado aos bacharéis em Direito, que só poderão exercer a profissão mediante aprovação na mesma. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 43 - 49, maio/ago. 2013 45 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Leonardo Barboza Pinheiro Mariana Pereira Bonfim Guilherme Teixeira Portugal quando os desvios ocorriam. Os controles gerenciais eram orientados para a manufatura e seus recursos eram utilizados para alcançar os objetivos da organização. O estágio 3 foi marcado pelo aumento da competição e do desenvolvimento tecnológico que se deu na época, afetando o setor industrial. Dessa maneira, tornou-se necessário o uso de técnicas de gestão de qualidade, a fim de se obter uma gestão estratégica de custos. Já no quarto estágio, as indústrias enfrentaram enormes avanços em manufaturas e em tecnologias de processamento de informações, valendo mencionar, por exemplo, o surgimento do e-commerce4. Criou-se também um grupo de novas técnicas de contabilidade gerencial, como o balanced scorecard e as medidas de valor econômico voltada aos acionistas. Importante observar que, no estudo do IFAC, não são descritas as práticas de contabilidade gerencial utilizadas em cada estágio. Contudo, é possível efetuar correlação entre os estágios e os artefatos de Contabilidade Gerencial, conforme apresentado no quadro a seguir: No quadro 2, Beuren e Grande, além de distribuírem os artefatos da contabilidade gerencial nos estágios evolutivos do IMAP 1, também os separaram em métodos de sistema de custeio, métodos de mensuração e avaliação de medidas de desempenho e filosofia de gestão. 3. Metodologia Segundo Silva (2010) a escolha da metodologia varia conforme o problema que está sendo investigado e os objetivos traça- dos na pesquisa. Como mencionado anteriormente, esta pesquisa tem como objetivo verificar a aplicação dos conteúdos da contabilidade gerencial e de custos predominantes nas provas do CFC aplicadas em 2011 e 2012 para bacharéis em Ciências Contábeis, e se estes estão em consonância com os artefatos modernos da contabilidade gerencial. De acordo com a definição de Vergara (2007), a pesquisa exploratória é realizada em uma área onde há pouco ou nenhum conhecimento acumulado e sistematizado sobre o assunto. Por conta disso, não contém hipóteses, que poderão surgir durante ou ao final da pesquisa. Como até o presente momento há poucos estudos sobre o Exame de Suficiência do CFC, principalmente no que concerne à sua relação com a contabilidade de custos e a gerencial, esta pesquisa é caracterizada como exploratória. Para o alcance do objetivo ora mencionado, foram selecionadas as quatro últimas provas aplicadas pelo CFC, posteriormente à publicação da Lei nº 12.249, que obrigou os bacharéis e técnicos em contabilidade a obter aprovação no exame de suficiência para exercer a profissão no mercado. Refere-se, portanto, ao 1º exame de 2011, ao 2º exame de 2011, ao 1º exame de 2012 e ao 2º exame de 2012. O conteúdo das provas foi obtido no sítio na internet do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro, onde elas estão disponíveis para download, bem como seus gabaritos. Como a principal fonte dos resultados foram as provas aplicadas pelo CFC, esta pesquisa também é classificada como pesquisa documental, pois como afirma Vergara (2007, p. 48): Quadro 2: Segregação dos artefatos da contabilidade gerencial por estágio evolutivo 1º Estágio Foco Métodos e sistemas de custeio 2º Estágio 3º Estágio Determinação do custo Informação para controle e controle financeiro e planejamento gerencial Redução de perdas de recursos no processo operacional Custeio por Absorção Custeio baseado em atividades (ABC) Custeio Variável Custeio Meta (Target Costing) 4º Estágio Criação de valor através do uso efetivo de recursos Custeio Padrão Métodos de mensuração e avaliação de medidas de desempenho Retorno sobre investimento Preço de transferência Benchmarking Valor Presente Orçamento Filosofias e modelos de gestão Economic Value Added (EVA) Moeda Constante Descentralização Kaizen Simulação Just in time (JIT) Gestão Econômica (GECON) Teoria das Restrições Balanced Scorecard Planejamento estratégico Gestão Baseada em Valor (VBM) Gestão baseada em atividades (ABM) Fonte: Beuren e Grande (2009) 4 E-commerce ou comércio eletrônico é um conceito aplicável a qualquer tipo de negócio ou transação comercial feita por meio de um equipamento eletrônico, como, por exemplo, o computador. 46 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 43 - 49, maio/ago. 2013 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo sobre a Aplicação dos Conteúdos da Contabilidade Gerencial e de Custos nos Exames de Suficiência de 2011 e 2012 Uma investigação documental é realizada em documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas: registros, anais, regulamentos, circulares, ofícios, memorandos, balancetes, comunicações informais, filmes, microfilmes, fotografias, videoteipe, informações em disquetes, diários, cartas pessoais e outros. Posteriormente, foram separadas as questões que abordavam a contabilidade de custos e a contabilidade gerencial — e identificadas as matérias específicas de cada questão. Mais adiante, também foi verificado se as questões enquadravam-se nas definições de artefatos tradicionais ou modernos da contabilidade gerencial, conforme exposto no referencial teórico. 4. O Conteúdo dos Exames A prova do CFC é composta por 50 questões que englobam 13 disciplinas diferentes. Em todas as edições analisadas, é possível perceber a grande diferença existente entre o número de questões que exploram a contabilidade geral em comparação com as demais disciplinas. Em todas as provas estudadas, a contabilidade geral foi a disciplina com o maior número de questões, seguida da contabilidade de custos nas duas edições de 2011, e na segunda de 2012, e da Legislação e Ética Profissional, na primeira edição de 2012. No Gráfico 1, as questões aplicadas nos Exames de Suficiência da segunda fase – a partir da promulgação da Lei nº 12.249 – foram classificadas de acordo com as disciplinas contidas no conteúdo programático disponível nos editais de cada exame, a saber: Contabilidade Geral; Contabilidade de Custos; Contabilidade Aplicada ao Setor Público; Contabilidade Gerencial; Controladoria; Noções de Direito; Matemática Financeira e Estatística; Teoria da Contabilidade; Legislação e Ética Profissional; Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade; Auditoria Contábil; Perícia Contábil; e Língua Portuguesa. Através da análise do Gráfico 1, podem ser observadas as diferenças existentes entre os percentuais de cada disciplina do conteúdo programático, mostrando claramente que a maior quantidade de questões (cerca de 25%, e mais de 35% na última edição) foi sobre contabilidade geral, que engloba temas como procedimentos de escrituração, consolidação e análise das demonstrações contábeis e combinação de negócios. Na Tabela 1, pode ser observado com mais detalhes o percentual de questões aplicadas em cada exame: Importante ressaltar que, ao longo dos anos, a porcentagem de questões sobre contabilidade de custos vem diminuindo gradativamente: no 1º exame de 2011 era 20%, no 2º exame de 2011 passou para 12%, no 1º exame de 2012 caiu um pouco mais, para 8%, e na última edição voltou para 12%. Já no que diz respeito à contabilidade gerencial, em nenhuma das edições houve mais de 10% de questões sobre o assunto. No entanto, se somarmos o percentual aplicado à contabilidade gerencial com o aplicado à contabilidade de custos e considerarmos que esta última está contida no universo na primeira, observa-se que a contabilidade gerencial é a segunda disciplina com maior peso no Exame de Suficiência. Gráfico 1: Comparativo entre edições do Exame de Suficiência do CFC aplicado a bacharéis em Ciências Contábeis – número de questões 40% 2011.1 2011.2 35% 2012.1 2012.2 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% l era bil nta Co de ida il tab C on l bil a e e da da tic cia ad ntá ira ca as eÉ ilid Co ren ce pli m b e o r n a A i a ã o nt or ina eG de o laç al eN dit Co ad aF ida lic gis ion Au ios ade ilid da tic bil Púb Le fiss p b á a í a t i a d c o n ili or nt or in tem tica Pr Co Set Pr ntab Te Co Ma tatís ao Co Es s d u eC bil ntá sto eG d ida a íci Co r Pe a gu Lín sa ue ug rt Po Fonte: Elaborado pelos autores Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 43 - 49, maio/ago. 2013 47 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Leonardo Barboza Pinheiro Mariana Pereira Bonfim Guilherme Teixeira Portugal Tabela 1: Porcentagem de questões aplicadas em edições do Exame de Suficiência do CFC para bacharéis em ciências contábeis Disciplinas 2011.1 2011.2 2012.1 2012.2 Contabilidade Geral 24% 28% 26% 36% Contabilidade de Custos 20% 12% 8% 12% Contabilidade Aplicada ao Setor Público 4% 6% 8% 8% Contabilidade Gerencial 4% 8% 6% 4% Matemática Financeira e Estatística 8% 6% 4% 6% Teoria da Contabilidade 6% 6% 2% 0% 12% 10% 14% 10% 6% 4% 10% 8% Gráfico 3: Porcentagem de questões aplicadas de contabilidade custos em edições do Exame de Suficiência do CFC para bacharéis em ciências contábeis – 2011 e 2012 4% 4% 4% Custeio por Absorção Análise de custo-volume-lucro 15% Valor Presente ABC Legislação e Ética Profissional Princípios e Normas de Contabilidade Auditoria Contábil 6% 10% 10% 6% Perícia Contábil 4% 4% 6% 4% Língua Portuguesa 6% 6% 6% 6% 100% 100% 100% 100% Total Fonte: Elaborado pelos autores Analisando o conteúdo específico das questões de contabilidade gerencial foi elaborado o Gráfico 2, conforme pode ser visto abaixo: Gráfico 2: Porcentagem de questões aplicadas de contabilidade gerencial em edições do Exame de Suficiência do CFC para bacharéis em ciências contábeis – 2011 e 2012 9% 28% 18% Ponto de Equilíbrio Margem de Segurança 27% 4% Custeio por Absorção e Variável 69% Custeio padrão Fonte: Elaborado pelos autores Mais da metade das questões de contabilidade de custos, 69%, exige dos respondentes conhecimentos acerca de custeio por absorção, seguido com 15% de custeio por absorção e variável. Efetuando a soma de todas as perguntas sobre custeio por absorção e variável, obtém-se um resultado de 84%, o que expressa que praticamente a totalidade da prova de contabilidade de custos exige conhecimentos sobre custeio por absorção e custeio variável. Com relação à análise dos artefatos tradicionais e modernos de contabilidade gerencial, por meio da Tabela 2 observou-se que apenas uma questão, dentre as 37 aplicadas nas quatro provas mais recentes, exprimiu sobre os artefatos modernos de contabilidade gerencial. Essa questão encontra-se no 2º exame de 2011 e aborda sobre o Custeio Baseado em Atividades (ABC). As demais, só utilizam os artefatos tradicionais, destacando-se o custeio por absorção e o custeio variável. Tabela 2: Questões dos Exames de Suficiência classificadas por artefatos de contabilidade gerencial Classificação dos Artefatos Artefatos Questões Tradicional Custeio por absorção Orçamento Tradicional Custeio variável 6 Sistemas gerenciais Tradicional Custeio por absorção e variável 4 Tradicional Orçamento 2 Margem de Contribuição 9% 9% Também foram analisados os conteúdos das questões de contabilidade de custos, como pode ser visualizado no Gráfico 3: Prazos de recebimentos 20 Tradicional Custeio padrão 1 Fonte: Elaborado pelos autores Tradicional Valor presente 1 O Gráfico 2 mostra que os assuntos mais exigidos de contabilidade gerencial, de acordo com os dispostos no conteúdo programático presente no edital de cada Exame de Suficiência, são Ponto de Equilíbrio e Margem de Contribuição. Não muito distante, representando 18% do conteúdo de contabilidade gerencial, está o conceito de Sistemas Gerenciais. Por fim, com 9%, é exigido o conhecimento em matérias como Orçamento, Margem de Segurança e Prazos de Recebimentos. Tradicional Análise de custovolume-lucro 1 Tradicional Sistemas Gerenciais 1 Moderno Custeio Baseado em Atividades (ABC) 1 48 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 43 - 49, maio/ago. 2013 Total de Questões Fonte: Elaborado pelos autores 37 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Um Estudo sobre a Aplicação dos Conteúdos da Contabilidade Gerencial e de Custos nos Exames de Suficiência de 2011 e 2012 Dessa maneira, foi possível classificar as questões de contabilidade de custos e contabilidade gerencial nos artefatos tradicionais e modernos, conforme descrito no referencial teórico. 5. Considerações Finais A presente pesquisa teve como principal objetivo verificar a aplicação dos conteúdos da contabilidade gerencial e de custos predominantes nas provas do CFC aplicadas em 2011 e 2012 para bacharéis em Ciências Contábeis. Além disso, também se buscou verificar se estes estão em consonância com os artefatos modernos da contabilidade gerencial. Por intermédio da análise das provas, foram separadas e verificadas as questões de contabilidade gerencial e contabilidade de custos e, posteriormente, classificadas nos artefatos da contabilidade gerencial (tradicionais e modernos). Dessa maneira pode-se observar que o Exame de Suficiência tem exigido alto conhecimento dos futuros contadores sobre contabilidade de custos e contabilidade gerencial. Apesar de a porcentagem dessas questões estar diminuindo com o tempo, ainda assim elas possuem papel de extrema importância nas provas, ficando atrás apenas da contabilidade geral. Também foi verificado que as provas pouco têm abordado os artefatos modernos da contabilidade gerencial: nas qua- tro edições estudadas houve apenas uma questão na qual se solicitava do respondente conhecimento sobre ABC. As demais apenas abordavam os artefatos tradicionais, destacando-se o custeio por absorção e o custeio variável. No entanto, apesar de as provas terem abordado pouco sobre os artefatos modernos, o Exame de Suficiência vem contribuindo significativamente para o conhecimento da contabilidade gerencial e de custos dos contadores, pois representa a segunda disciplina mais aplicada nos exames. Além disso, as provas mostraram-se bastante completas em seu conteúdo, pois abordaram disciplinas não só de contabilidade como também de outras matérias relacionadas como Matemática Financeira, Estatística e Direito. Futuras pesquisas podem aumentar o levantamento realizado por esse estudo, analisando não só as provas do Exame de Suficiência aplicadas na segunda fase, como também as que foram aplicadas entre 2000, ano de sua primeira edição, e 2005, quando ocorreu sua paralisação — permitindo uma análise da evolução do que é exigido no Exame desde a sua criação. Ou ainda, verificar se o conteúdo programático da contabilidade de custos e da contabilidade gerencial das instituições de ensino superior do Brasil está em consonância com o que é exigido no exame do CFC. Referências BEUREN, Ilse Maria; GRANDE, Jefferson Fernando. Mudanças de práticas de contabilidade gerencial identificadas com aplicações da análise de discurso crítica no RA de empresa. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 3., 2009, São Paulo. Anais..., São Paulo, 2009. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em: 28 jun.2012. BRASIL. Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946. Cria o Conselho Federal de Contabilidade, define as atribuições do Contador e do Guarda-livros, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/uparq/decretolei_9295_1946.pdf>. Acesso em: 28 jun.2012. BRASIL. Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010. Institui o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste - REPENEC; cria o Programa Um Computador por Aluno - PROUCA e institui o Regime Especial de Aquisição de Computadores para Uso Educacional - RECOMPE; prorroga benefícios fiscais; constitui fonte de recursos adicional aos agentes financeiros do Fundo da Marinha Mercante - FMM para financiamentos de projetos aprovados pelo Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante - CDFMM; institui o Regime Especial para a Indústria Aeronáutica Brasileira - RETAERO; dispõe sobre a Letra Financeira e o Certificado de Operações Estruturadas; ajusta o Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12249.htm#art76>. Acesso em: 28 jun.2012. BRASIL. Resolução CFC nº 853, de 28 de julho de 1999. Institui o Exame de Suficiência como requisito para obtenção de Registro Profissional em CRC. Disponível em: <http://www.crcsp.org.br/portal_novo/legislacao_contabil/resolucoes/ Res853.htm>. Acesso em: 04 jul.2012. CITTADIN, Andréia; RITTA, Cleyton de Oliveira. O desempenho dos estudantes ingressantes e concluintes dos cursos de Ciências Contábeis das universidades de Santa Catarina nas questões pertinentes à contabilidade de custos nas prova do Enade 2006. Revista Catarinense da Ciência Contábil, v. 9, n. 25, p. 47-64, dez./mar. 2010. FAMÁ, Rubens; BRUNI, Adriano Leal. A Contabilidade Empresarial. São Paulo: Atlas, 2006. GUERREIRO, Reinaldo; CORNACHIONE JÚNIOR, Edgard Bruno; SOUTES, Dione Olesczuk. Empresas que se Destacam pela Qualidade das Informações a seus Usuários Externos Também se Destacam pela Utilização de Artefatos Modernos de Contabilidade Gerencial?. Revista de Contabilidade & Finanças - USP, v. 22, n. 55, p. 88-113, jan./abr. 2011. IUDÍCIBUS, Sérgio. 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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 43 - 49, maio/ago. 2013 49 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptação Carlos José Guimarães Cova Niterói – RJ Diretor de Pós-graduação da ALEPH Educacional1 Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ2 Mestre em Engenharia de Produção pela UFF3 exploratory research. His main conclusion points to the effect that the adjustment to the international standard is a dynamic, constantly adapting to the changing needs that arise in the market environment. Key words: Accounting Standards, International Accounting Standard, Accounting Convergence. 1. Introdução Resumo Este trabalho pretende verificar se um processo de convergência para um padrão internacional seria plenamente satisfeito por meio da introdução de nova legislação, ou se demandaria esforço adicional por parte dos atores envolvidos no processo, para permitir sua adequação. Para tanto, tem o objetivo de descrever os aspectos ontológicos da Ciência Contábil, para permitir uma caracterização da contabilidade como ciência em processo dinâmico e permanente de assimilação das transformações sociais, além de assinalar aspectos relevantes do processo de convergência contábil internacional e apresentar situações específicas com que se deparou a contabilidade brasileira, após a introdução das alterações na legislação, que tinham por objetivo adequar o padrão contábil adotado no Brasil ao padrão IFRS. Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo e exploratório. Sua principal conclusão aponta no sentido de que o ajuste à norma internacional é um processo dinâmico, em permanente adaptação aos novos imperativos que se apresentam à Ciência Contábil no ambiente de mercado. Palavras-chave: Padrões de Contabilidade, Padrão Contábil Internacional, Convergência Contábil Abstract This study aimed to assess whether a process of convergence towards an international standard, would be fully satisfied by the introduction of new legislation, or require an additional effort by the actors involved in the process to allow their adequacy. For this purpose, achieves the objectives of describing the ontological aspects of Science Accounting, to allow a characterization of science in accounting as a dynamic process of assimilation and permanent social transformation, and describe some aspects of the process of international accounting convergence and present some situations Specific encountered the Brazilian accounting, after the introduction of changes in legislation that aimed to bring the accounting standard adopted in Brazil to IFRS. This is a descriptive and O ambiente de negócios tem experimentado profundas transformações desde o último quartel do Século XX, em virtude do fenômeno complexo e multifacetado que se costumou designar por globalização. A dinâmica dessas transformações muitas vezes supera a nossa capacidade de assimilação de novos conceitos e paradigmas, o que aumenta o desafio para todos os campos do conhecimento e seus pesquisadores. Trata-se de um fato inexorável, quer aceitemos isso ou não. Com relação à Ciência Contábil isto não se manifestou de forma distinta de outros ramos do saber humano. O vórtice das transformações da Ciência Contábil situa-se na busca permanente de aperfeiçoamento na sua capacidade de bem informar os stakeholders das organizações acerca dos atos e fatos da gestão. Nesse sentido, considerando a integração de múltiplas dimensões da atividade humana, que o fenômeno da globalização acarreta, não poderia ser diferente o seu impacto no âmbito da contabilidade, que deve ser capaz de atender às necessidades informacionais dos agentes econômicos e governamentais, em escala global e de forma integrada. No bojo dessas transformações situa-se a trajetória de convergência da contabilidade, no sentido da adesão a princípios e normas comuns, de forma a evitar ambiguidades na interpretação de suas demonstrações e relatórios. Passaremos a tentar descrever este processo de convergência. Em especial discorreremos sobre o processo de assimilação pelo qual ainda está passando a contabilidade brasileira, e traremos à luz alguns dos múltiplos questionamentos que vieram na esteira das inovações de caráter jurídico-legal introduzidas no ambiente contábil brasileiro a partir de 2007. O presente trabalho pretende inicialmente descrever os aspectos ontológicos da Ciência Contábil — para propiciar a caracterização do objeto sob análise e gerar reflexões que tragam maior compreensão dos fatos apresentados em seguida. Dessa forma, o trabalho tem os seguintes objetivos: caracterizar a contabilidade como ciência em processo dinâmico e permanente de assimilação das transformações sociais; descrever aspectos relevantes do processo de convergência ALEPH Educacional Ltda. – CEP 24230-136 – Niterói – RJ. COPPE/UFRJ - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 21941-972 – Rio de Janeiro – RJ. 3 Artigo recebido em 17/05/2013 e aceito em 13/08/2013. UFF – Universidade Federal Fluminense – CEP 24220-008 – Rio de Janeiro – RJ. 1 2 50 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptação contábil internacional; e apresentar situações específicas com que se deparou a contabilidade, no campo fático, após a introdução das alterações na legislação positiva, que tinham por fulcro adequar o padrão contábil adotado no Brasil às normas internacionais. Assim, o problema que este trabalho procura investigar é: no padrão contábil brasileiro, sujeito ao imperativo da lei, um processo de convergência para um padrão internacional seria plenamente satisfeito por meio da promulgação de novo dispositivo legal? A nossa suposição inicial aponta para a circunstância de que a simples introdução de nova norma positiva no complexo das relações jurídicas brasileiras não é capaz de abarcar a complexidade e a extensão das possíveis situações no campo fático da contabilidade, devendo ocorrer um contínuo e sistemático processo de ajuste entre os atores envolvidos na sua operacionalização. 2. Revisão da Literatura 2.1. Aspectos Ontológicos da Ciência Contábil A Contabilidade é uma ciência complexa que exige muita reflexão por parte de seus doutrinadores e estudiosos. Sob o aspecto ontológico desse ramo do conhecimento, é preciso, em primeiro lugar, estabelecer a distinção entre os princípios de contabilidade e as normas e práticas de contabilidade. De acordo com Muller (2009, p.1), os princípios de contabilidade constituem o campo conceitual no qual a contabilidade se fundamenta para atingir os seus propósitos. Por sua vez, as normas e práticas de contabilidade representam a operacionalização prática desses princípios. Neste sentido, a contabilidade brasileira contempla a admissibilidade de obediência a princípios contábeis, por meio das disposições contidas na Resolução CFC nº 750/93, art.2º. Por sua vez, as normas e práticas contábeis derivam dos princípios de contabilidade. A legislação brasileira materializa uma série de institutos jurídicos de fulcro contábil, tais como a Lei das S.A. e suas alterações posteriores. E paralelo a este arcabouço legal operam normas e práticas de natureza técnica e profissional, tais como as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Existem também normas práticas de caráter especial, aplicáveis apenas a um conjunto específico de entidades, como é o caso das instruções normativas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para as empresas de capital aberto, e as resoluções do Banco Central (BC), para as instituições financeiras. Há ainda procedimentos estabelecidos pela legislação tributária (em especial, aquela referente ao Imposto de Renda) que também influenciam a prática contábil. Merece destaque, haja vista a consideração dos aspectos ontológicos da Ciência Contábil, a Resolução CFC N.º 1.374/11, que trata da estrutura conceitual básica da contabilidade, alinhada a estruturas conceituais de contabilidade construídas por organismos normatizadores internacionais. O documento em questão trata de uma hierarquização dos conceitos ontológicos da Ciência Contábil, com a seguinte ordenação: (1) Objetivos da Contabilidade; (2) Cenários Contábeis; (3) Postulados, Princípios e Convenções Contábeis. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 Com relação ao aspecto relativo ao objetivo, a aludida norma dispõe que a Contabilidade é um sistema de informação e avaliação com a finalidade de prover os seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, relativas à entidade que é objeto da contabilização. Este objetivo pode ser atingido na medida em que dois elementos estejam contemplados: a ênfase na evidenciação e a informação que privilegie a essência em vez da forma. Assim, as empresas devem enfatizar a evidenciação de todas as informações que permitam uma avaliação da sua situação patrimonial, bem como das mutações desse patrimônio, permitindo, inclusive, a realização de inferências com relação ao futuro. Ademais, é nítido que a contabilidade possui grande relacionamento com os aspectos jurídicos que envolvem o patrimônio; contudo, eventualmente a forma jurídica pode deixar de refletir a essência econômica. Nesses casos, é preciso que a Contabilidade oriente-se pelos seus objetivos de bem informar, observando, se preciso for, a essência em vez da forma. No texto da referida deliberação encontramos um exemplo desse conflito entre a essência e a forma, que é o caso de uma empresa que vende um ativo, mas assume o compromisso de recomprá-lo por um valor determinado em uma data futura estabelecida. Essa formalidade, que estaria consubstanciada num contrato, com forma jurídica definida, deve provocar a contabilização de uma operação de financiamento, pois esta seria a essência da operação e não um contrato puro e simples de compra e venda, conforme sugeria a forma. Com relação aos cenários contábeis, há a consideração de que a contabilidade é uma ciência claramente social, no tocante às suas finalidades. Contudo, como metodologia de mensuração, compreende tanto o aspecto social quanto o quantitativo. Ela é social com relação às finalidades porque, através de suas avaliações acerca do progresso de entidades, permite o conhecimento da situação financeira e de rentabilidade, ao mesmo tempo em que auxilia os acionistas e os investidores na tomada de decisão. Não obstante, a contabilidade é parcialmente social como metodologia, em virtude do fato de que os seus critérios valorativos são baseados em preços, valores e apropriações, elementos que envolvem grande dose de julgamento, subjetividade e incerteza, derivados do próprio ambiente econômico e social em que as entidades operam. Por fim, a contabilidade é em parte uma ciência quantitativa, haja vista que a sua forma de materialização na equação patrimonial básica não admite descolamentos de sua lógica formal. No que concerne aos princípios da contabilidade, num sentido amplo, eles podem ser subdivididos em três categorias: Postulados; Princípios contábeis propriamente ditos; e Convenções contábeis. Os Postulados correspondem às premissas básicas que traduzem o contexto econômico em que a contabilidade opera. Eles constituem o termo inicial do encadeamento lógico-dedutivo da contabilidade, e sua relevância decorre do fato de que, sem a admissibilidade de sua validade, a contabilidade deixaria de existir. Basicamente, os Postulados dizem respeito a aspectos amplos do arcabouço contábil e são em número de dois: o Postulado da Entidade e o Postulado da 51 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos José Guimarães Cova Continuidade. De acordo com o primeiro Postulado, a entidade pode ser caracterizada por meio de quatro dimensões, sendo a primeira de ordem econômica, a segunda de caráter organizacional, uma outra sob a ótica jurídica e, por fim, uma sob o enfoque social. Já com relação ao Postulado da Continuidade, há um sentido mais profundo que é o de considerar a entidade como algo capaz de produzir riqueza e gerar valor continuadamente, sem interrupções. Os Princípios Contábeis propriamente ditos derivam dos Postulados e representam o núcleo da contabilidade, haja vista que estão vinculados à elaboração das demonstrações financeiras, funcionando como guias de orientação do registro contábil. Os Princípios da contabilidade usualmente conhecidos são: o Princípio da entidade, o Princípio da continuidade, o Princípio da oportunidade, o Princípio do registro pelo valor original, o Princípio da atualização monetária, o Princípio da competência e o Princípio da prudência. Destacamos que as ideias de entidade e continuidade aparecem tanto no elenco dos Postulados quanto no dos Princípios, em virtude de sua relevância para a Ciência Contábil. Nas normas brasileiras de contabilidade, os Princípios contábeis são acolhidos expressamente por meio da Resolução CFC 1.282/2010, que dispõe sobre os Princípios de Contabilidade (PC). As Convenções contábeis são as restrições com relação à aplicação dos Princípios contábeis, em especial com relação ao reconhecimento e à mensuração de eventos econômicos. Embora as normas brasileiras de contabilidade não enunciem expressamente essas Convenções contábeis, quando tratam dos Princípios Contábeis, sua substância encontra acolhida no meio contábil brasileiro, pois essas convenções são universalmente aceitas, haja vista a importância que elas representam para os registros contábeis como um todo. Em face dessas considerações, a Ciência Contábil experimenta natural evolução, resultante da dinâmica das relações sociais em que está inserida. É possível encontrar doutrinadores que aludam à sua trajetória epistemológica secular, que antecedem à conhecida contribuição de Luca Pacioli (as partidas dobradas). Nesse sentido, a contabilidade deve responder aos anseios e demandas de seus principais usuários, ou seja, os agentes da organização ou externos a ela, que necessitam de informações capazes de promover a materialização de seus objetivos maiores, evidenciando a essência dos atos praticados pelos gestores nas organizações. Dias Filho & Machado (2004, p.31) assinalam que, em vez de tratar a contabilidade como disciplina estática e puramente técnica, a pesquisa contábil se orienta por meio de uma metodologia institucional e social, procurando investigá-la como um mecanismo conectado à vida das organizações e ao contexto em que ela opera. Esta metodologia tem como objetivo auxiliar a explicar os fenômenos contábeis a partir dos padrões de comportamento, normas, crenças e procedimentos adotados pelas organizações, para que elas se legitimem no ambiente em que operam. O fundamento dessa perspectiva institucional é a percepção de que as aplicações e características dos mecanismos contábeis nem sempre são definidas em razão de motivações objetivas e racionais, sobretudo quando se trata de fixação de normas, escolha de métodos, etc., mas sim se são relevantes no contexto em que são empregados. 52 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 2.2. A Gradativa Assimilação da Necessidade de Convergência Contábil no Brasil As teorias e práticas contábeis devem se originar tomando como referência a necessidade de atender aos imperativos de registro e informação, que as diversas empresas atuantes no ambiente de mercado demandam. Não obstante, em virtude da existência de uma grande variedade de organizações distintas, cujas dimensões e escopo de atuação variam desde as empresas multinacionais e transacionais até as empresas de capital aberto de médio e grande portes, existe uma miríade de aspectos a ser ajustados, para que se possa tornar operacional e efetivo o emprego da contabilidade. Desta forma, para viabilizar a interpretação dos dados por parte de eventuais acionistas, de investidores, de instituições financeiras e da comunidade internacional de negócios, foi sendo observado o consenso quanto aos princípios contábeis geralmente aceitos. De acordo com Schrickel (1997, p.101), um sistema de informações contábeis é bastante influenciado pelas condições macroeconômicas do país onde são geradas. Na medida em que os países vivenciam diferentes estágios de desenvolvimento, também são diferentes as exigências de contabilização. Tais disparidades não foram muito sentidas até que a globalização disseminou a presença de empresas estrangeiras nos diversos países do mundo. Para melhor enfrentar a concorrência e manter a competitividade, as empresas transnacionais passaram a ter que elaborar um novo conjunto de demonstrações contábeis, baseadas em princípios contábeis mundialmente aceitos. Para viabilizar tal exigência, foi criado em 1973 o Comitê Internacional de Procedimentos Contábeis (IASC – International Accounting Standards Committee), que então passou a desenvolver procedimentos que fossem aceitos internacionalmente. A evolução conceitual e as novas tecnologias determinaram que o IASC, a partir de 1º de abril de 2001, fosse sucedido pelo International Accounting Standards Board (IASB), ou Junta de Normas Internacionais de Contabilidade, que passou a ter os seguintes objetivos, segundo Perez Júnior (2005, p.43): desenvolver um conjunto único de normas contábeis, compreensível, transparente e de qualidade; promover o uso e a aplicação rigorosa das normas internacionais de contabilidade; provocar convergências de normas nacionais e internacionais. Por sua vez, ainda de acordo com o mesmo autor, em outubro de 2002, a Financial Accounting Standards Board (FASB), que constitui a Junta de Padrões de Contabilidade Financeira dos EUA, e a IASB anunciaram a emissão de um memorando de entendimento, com vistas a formalizar um compromisso de convergência entre as normas americanas e os padrões internacionais de contabilidade. Foi por essa razão que o USGAAP, ou United States Generally Accepted Accounting Principles, passou a ser uma referência para a padronização contábil internacional. Em 2005, aproximadamente 90 países já adotavam as normas da IASB, dentre eles todos os 25 países da União Européia. Seguindo a tendência internacional, a Bovespa passou a exigir as demonstrações contábeis em USGAAP para as empresas listadas no Novo Mercado e no Nível 2 de Governança Corporativa. Apesar das peculiaridades das normas brasileiras, estavam sendo lançadas as bases para uma contínua e progressiva trajetória de assimilação dos princípios contábeis internacionais. Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptação No Brasil, conforme registra Campos Filho (1999, p. 16), a interferência da legislação fiscal nos sistemas de informações contábeis no Brasil era muito mais acentuada do que no restante do mundo. Algumas das informações obrigatórias antes do advento da lei 11.638/07, tais como a DOAR, se prestavam mais a atender ao fisco do que à gestão. Por sua vez, a DFC, ao reclassificar a estrutura de contas em apenas quatro grupos (disponibilidades, operacional, investimentos e financiamentos), permite um rápido entendimento acerca do que está ocorrendo em termos de desajustes financeiros, e estimula a tomada de decisões financeiras corretas, sem que a real situação fique oculta por um lucro contábil num regime de competência. Um dos grandes promotores do aperfeiçoamento institucional da contabilidade no Brasil foi o avanço experimentado pelo Mercado de Capitais e a adesão às práticas de Governança Corporativa, ao longo da década dos anos 2000. Neste contexto, encontramos muitos esclarecimentos acerca do processo de convergência contábil no Brasil, a partir do teor do Ofício-Circular/CVM nº 01/2006, encaminhado aos Diretores de Relações com Investidores e Auditores Independentes, contendo orientações sobre a elaboração de Informações Contábeis pelas Companhias Abertas. No documento em questão, está declarado que o objetivo da regulação contábil voltada ao Mercado de Capitais está associado ao funcionamento das empresas na forma corporativa, ou seja, de acordo com as relações com os agentes interessados no funcionamento da empresa, que é capaz de produzir efeitos econômicos e sociais. O mesmo objetivo também está relacionado ao papel dos administradores, que têm responsabilidade primária sobre a gestão da companhia, assim como vincula-se ao papel dos auditores, que emitem a sua opinião sobre as demonstrações contábeis e assumem corresponsabilidade pública acerca dessa informação. Com isto, a regulação se configura no arcabouço formal sobre o qual se verifica a produção das informações contábeis e estabelece as condições mínimas para que se conheça a situação econômico-financeira de uma empresa. No entanto, tais fontes de informação não esgotam as possibilidades de atendimento das necessidades informacionais dos agentes externos à companhia aberta, tampouco oferecem a velocidade com que essas informações devem chegar aos interessados. Para suprir esta demanda adicional é preciso que as companhias abertas realizem um esforço permanente de aperfeiçoamento dessas informações e procurem garantir uma adequação e razoabilidade de seus procedimentos neste esforço, sobretudo se for considerada a questão da globalização das informações contábeis, associada ao livre fluxo de capitais. As múltiplas soluções possíveis para mitigar o problema do registro e divulgação das informações contábeis no âmbito global podem ser sintetizadas no elenco de alternativas a seguir apresentado: 1º - A reciprocidade, ou reconhecimento mútuo das normas e práticas estrangeiras, fato que acarreta problemas de compreensão e entendimento do ambiente contábil de outros países. 2º - A reconciliação, cuja predominância pode ser verificada nas notas explicativas de reconciliação de resultados e patrimônio. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 3º - O uso de padrões internacionais, que é buscado de forma consensual pelos países e mercados. O propósito principal da evolução regulatória no Brasil estava na convergência com os pronunciamentos internacionais. Para tanto, ao longo da década dos anos 2000, o Ibracon e a CVM vinham empenhando-se na adaptação das regras emitidas pelo IASB, os International Financial Reporting Standards - IFRS, para o ambiente contábil brasileiro. Essas ações implicavam a superação de alguns óbices para a integração dos Mercados de Capitais e a consequente necessidade de harmonização contábil. O primeiro óbice residia no ambiente jurídico brasileiro, no qual a Lei é a principal fonte do direito (conforme a base epistemológica do direito romano, ou code law), ao contrário dos países cujas relações jurídicas estão fundamentadas no direito jurisprudencial (também conhecido como direito consuetudinário ou common law) baseado, portanto, em decisões judiciais (precedentes com força obrigatória). Nesses últimos países, a estrutura conceitual com relação aos princípios contábeis geralmente aceitos buscou a referência do investidor como usuário principal e a substância econômica sobre a forma jurídica como referência conceitual. Ao contrário, nos países com base no Direito Romano, nos quais os usuários principais da contabilidade foram os credores e o fisco, a referência principal baseou-se na conformidade à Lei, ou orientação pela norma (rules oriented). Assim, existe um problema originário no ambiente contábil brasileiro, que é o fato de que qualquer mudança deve feita a partir do aperfeiçoamento da lei, sob a égide do direito romano. Trata-se de um processo que é de tramitação demorada e não consegue acompanhar a evolução dos negócios. Com base no princípio de autorregulação, que permite à CVM compartilhar com as instituições privadas alguns papéis e atividades com o objetivo de aumentar a eficiência da atividade regulatória, foi encaminhado o Projeto de Lei nº 3.741 (que originou a Lei 11.638/07), o qual criava a possibilidade do exercício das funções de pesquisa e emissão de pronunciamentos contábeis por parte de uma entidade multirrepresentativa. Essa entidade deveria contemplar os representantes dos diversos segmentos impactados pela informação contábil das companhias abertas e ser capaz de produzir normas contábeis para aplicação no Mercado de Capitais brasileiro. A produção das normas teria como referência as normas internacionais, fato que propiciaria maior flexibilidade ao processo de normatização contábil. Um segundo obstáculo relevante dizia respeito às questões econômico-fiscais e à necessidade de separação de fato das escritas para conciliar os interesses do Fisco e da informação prestada aos investidores. O Projeto de Lei nº 3.741 /2000, sem prejuízo da segregação contida na lei vigente, apresentava outra forma de separação para a conciliação desses interesses. Além disso, havia a barreira cultural, fato que era um aspecto importante, pois se constituía em fator fundamental para a compreensão de regras internacionais, cujo teor apenas poderia ser compreendido a partir de uma base de educação e treinamento sofisticados. Neste sentido, os pronunciamentos contábeis escritos em inglês e a complexidade das normas es- 53 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos José Guimarães Cova tabeleciam um nível de exigência alto que, naquela ocasião, somente alguns centros eram capazes de atender, em especial com relação à formação do profissional de contabilidade apto a compreender e aplicar essas normas. Tratava-se de uma barreira que concorria para o desinteresse pelo assunto, apesar da inevitável necessidade de enfrentamento da convergência com as normas internacionais num futuro imediato. Ademais, a aplicabilidade das normas internacionais no Mercado de Capitais brasileiro também deveria ser escalonada, em virtude da existência de empresas com acesso restrito ao mercado brasileiro e de outras companhias que já obtiveram acesso ao mercado global de capitais. Assim, as exigências sobre as informações deveriam ser diferentes para atender às distintas condições de porte e natureza dessas companhias. Por essas razões, antes do advento da Lei 11.638/07, existiam vários pontos de divergência entre as normas brasileiras e internacionais, entre os quais, conforme o entendimento da área técnica da CVM, podiam destacar-se os seguintes: a introdução e aplicação do método do valor justo (fair value), em especial nas empresas não financeiras; o tratamento contábil dos instrumentos financeiros, também associado ao método do valor justo; a contabilização e evidenciação das operações de arrendamento mercantil nas demonstrações financeiras; o tratamento contábil das reestruturações societárias (fusões, incorporações e aquisições); o tratamento contábil das subvenções governamentais; e a divulgação por segmento de negócios. Não obstante, para que pudesse ser enfrentado o desafio de promover a convergência contábil, era necessário identificar as principais diferenças entre procedimentos contábeis nacionais e internacionais. Destaca-se que havia o reconhecimento da referência internacional alcançada pelo IASB (IFRS/IAS) e o compromisso — e consequente esforço — dos órgãos reguladores e emissores de normas em alinhar a convergência às mesmas. Por esta razão, recomendava-se que as companhias abertas divulgassem em notas explicativas os procedimentos adotados para a conciliação das diferenças entre as práticas contábeis adotadas no Brasil e as práticas contábeis internacionais. Ao decidir pela divulgação da conciliação, a administração da entidade deveria observar o grau de equivalência dessas práticas. Em regra, as demonstrações contábeis elaboradas de acordo com determinada prática contábil podem ser consideradas equivalentes às demonstrações preparadas em conformidade com as práticas contábeis adotadas no Brasil. O importante a ser considerado é o fato de que estas análises, de ambos os conjuntos de demonstrações, devem possibilitar aos investidores uma tomada de decisão similar em termos de investimentos ou alienação de investimentos anteriormente detidos. Se as práticas contábeis de ambos os conjuntos fossem equivalentes e, portanto, não induzissem conclusões ambíguas nas decisões dos investidores, não haveria necessidade de inclusão de notas explicativas, conciliação ou reclassificações de números. O problema emergiria caso os princípios e/ou as práticas não fossem equivalentes, indicando falta de similaridade nas decisões do investidor. Nesta última hipótese, a apresentação da conciliação das diferenças entre as práticas contábeis adotadas no Brasil e outras práticas contábeis deveria ser realizada tanto numa 54 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 abordagem quantitativa, quanto numa qualitativa. Assim, a divulgação da conciliação implicaria ao menos a preparação e a divulgação das seguintes informações: conciliação entre os lucros (prejuízos) líquidos do período e/ou exercício; conciliação entre os patrimônios líquidos na data do balanço; e explicação da natureza dos principais itens de conciliação. Eventualmente, seria possível que as divergências entre as práticas contábeis fossem de tal monta, que apenas a preparação de novas demonstrações contábeis, segundo outro conjunto de princípios contábeis que não os prevalecentes no Brasil, constituísse solução apropriada. Adicionalmente, havia a possibilidade que se verificassem algumas instâncias de parcial equivalência que poderiam ser resolvidas ou remediadas, dependendo da natureza das divergências. Essas divergências poderiam incluir divulgações adicionais, reconciliações, etc. Não obstante, todas essas ponderações deveriam ser realizadas pela administração e ratificadas pelos auditores independentes da companhia aberta, e fundamentadas em procedimentos aceitos pelos órgãos reguladores e emissores de normas contábeis. É preciso registrar que a adesão às IFRS constitui um movimento muito forte, no âmbito da contabilidade internacional. Mesmo nos EUA, existe a tendência de assimilação desse padrão. A SEC (Security and Exchange Comission), órgão que possui funções análogas às da CVM, aprovou, no dia 27 de agosto de 2008, a instalação de uma audiência pública acerca da adesão para o padrão contábil internacional (IFRS), por parte das companhias listadas nos Estados Unidos. A ideia consistia em fazer com que as grandes multinacionais adotassem o padrão internacional voluntariamente em 2010, numa espécie de teste. Posteriormente, a SEC faria uma análise dos prós e contras e decidiria, por votação, se estenderia a aplicação do IFRS a todas as companhias do país. 2.3. O Processo de Ajuste da Norma no Campo Fático Com o advento de Lei 11.638/07, resultante da aprovação do Projeto de Lei 3.741, discutido no Congresso Nacional, e com a contribuição de várias entidades, complementada pela Lei 11.941/09, que atendia ao propósito do legislador na neutralização dos impactos fiscais dos novos métodos e critérios contábeis (criados para harmonizar as normas brasileiras às regras internacionais - IFRS), aparentemente estavam sendo resolvidas as principais questões relativas à convergência contábil no Brasil. Não obstante, a aderência da norma no campo fático compreende uma miríade de aspectos que transcende aos objetivos daqueles que as concebem. Passaremos a enumerar algumas das particularidades e situações cridas com o advento da nova legislação. Por exemplo, com relação à busca de maior transparência, algumas metas começaram a ser alcançadas, merecendo destaque as demonstrações de fluxo de caixa (DFCs), que fornece informações fundamentais para que os analistas e investidores possam avaliar o potencial de geração de caixa de uma empresa. Essas informações hoje são mais explícitas e comparáveis. Nesse sentido, não houve qualquer problema com a introdução da norma. Inicialmente, as dúvidas mais recorrentes diziam respeito aos aspectos fiscais. Yukoi (2008) nos lembra que, ao adaptar a contabilidade nacional aos princípios internacionais, a lei modificava itens do balanço altamente sensíveis do ponto Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptação de vista tributário. Um dos exemplos mais significativos era o emprego do ágio pago em operações que envolviam combinações de empresas. Pela regra até então vigente em uma aquisição, o ágio pago pelo comprador era amortizado ao longo dos anos, conforme a rentabilidade do ativo adquirido fosse incorporada ao balanço. Dessa forma, ao entrar na demonstração de resultado como despesa, a parcela do ágio amortizada reduzia a base do lucro tributável e se transformava em benefício fiscal para o adquirente. Em consequência, quanto maior fosse o ágio, maior era o potencial de geração de créditos tributários pelo comprador. Neste quesito surgiu a primeira dúvida decorrente do advento da nova lei. De acordo com a regra anterior, o ágio seria obtido pela diferença entre o valor pago pelo ativo e o valor patrimonial pelo qual estava registrado no balanço. Sob a ótica fiscal, este fato poderia representar um benefício para o comprador. Como o valor patrimonial do ativo, em geral, não representa o seu valor real, o ágio tinha grande probabilidade de atingir um montante atrativo para fins de abatimento de imposto. Com o advento da nova lei, o ágio não seria mais obtido a partir da diferença em relação ao valor patrimonial contábil, mas sim a diferença com relação ao valor do patrimônio calculado com base em preço de mercado. Isto poderia, de acordo com a situação, reduzir bastante o seu valor, diminuindo a perspectiva de ganho fiscal. Se a questão fosse analisada apenas com base nesta consideração, havia forte convicção de que a mudança geraria montantes menores de ágio e respectivo benefício fiscal. Contudo, façamos uma análise da regra contida no parágrafo 7º, do artigo 177 da nova lei, que dizia: “Os lançamentos de ajuste efetuados exclusivamente para harmonização de normas contábeis, nos termos do parágrafo 2º deste artigo, e as demonstrações e apurações com eles elaboradas não poderão ser base de incidência de impostos e contribuições nem ter quaisquer outros efeitos tributários”. No caso em tela, a mudança no cálculo do ágio visaria a alinhar os princípios de contabilidade brasileiros aos princípios internacionais. Aparentemente, estava posta uma lacuna com relação aos aspectos tributários. Interpretações das mais variadas foram concebidas, sem que a Receita Federal fosse capaz de se posicionar rapidamente, para preencher a lacuna gerada. Apenas com a Lei 11.941 é que esta situação se definiu. Essa lei revogou o parágrafo 7º do artigo 177 da Lei das S.A., que havia sido introduzido pela Lei 11.638/07, estabelecendo que os lançamentos de ajuste efetuados exclusivamente para a harmonização de normas contábeis e as demonstrações e apurações com eles elaboradas não poderiam ser base de incidência de impostos e contribuições nem ter quaisquer outros efeitos tributários. Na realidade, como confirmado na própria exposição de motivos da MP 449/08 (que originou a Lei 11.941), esse dispositivo tornou-se inócuo em face do advento do RTT (Regime Tributário de Transição), que garantia a neutralidade fiscal da adaptação das regras contábeis brasileiras aos padrões internacionais. Surgiu uma dúvida também com relação às operações de leasing financeiro. De acordo com a regra anterior, lançava-se a depreciação do bem arrendado junto com a despesa do aluguel somente durante o período de vigência do financiamento. A nova lei determinava que o ativo arrendado fosse incluído na conta de Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 imobilizado (o que significa que a sua depreciação passaria a ser computada durante todo o período de vida útil do bem). Dessa forma, a questão que se apresentava era: como a depreciação era dedutível do imposto, isso significa que o benefício fiscal ficaria diluído por mais tempo? Para responder esta indagação, várias proposições foram lembradas. Em princípio, não pode existir obrigação ou benefício tributário sem que uma lei específica os estabeleça. Além disso, no caso do leasing, havia legislação específica, independentemente da Lei das S.A. Outro problema dizia respeito às operações de leasing financeiro. Em primeiro lugar havia a questão da exigência de publicação dos balanços. Depois havia o problema relativo à elaboração de demonstrações financeiras nos mesmos moldes das companhias abertas. Embora existisse claramente a exigência de elaboração do balanço, a legislação não falava sobre prazos e, sem isso, não seria possível determinar se a empresa cumpriu a exigência. Outra dúvida era com relação à fiscalização, uma vez que a nenhum órgão foi atribuída essa função. Um aspecto que merece destaque, com relação ao primeiro ano em que as companhias brasileiras tiveram de publicar suas demonstrações financeiras consolidadas de acordo com a Lei 11.638, é o fato de que informações até então inéditas sobre as empresas começaram a se apresentar. Yokoi (2009) relata que a Cesp, empresa concessionária de energia elétrica do estado de São Paulo, constitui-se em um dos mais relevantes exemplos do impacto da linguagem internacional na percepção que os analistas e investidores têm acerca das empresas. Para a elaboração do balanço do ano passado, a Cesp realizou o teste de impairment de seus ativos. Trata-se de uma prática prevista no primeiro pronunciamento do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão que edita as normas internacionais traduzidas para o Brasil. Esta prática tem como objetivo assegurar que os ativos não sejam registrados contabilmente por um valor superior ao que seria recuperado por meio do uso ou da venda deles. A reavaliação da Cesp evidenciou que cinco de suas seis usinas hidrelétricas representam cerca de R$ 9,5 bilhões em valor recuperável. Este montante representa as receitas que as unidades são capazes de gerar ou o total que a empresa receberia se os contratos de concessão não fossem renovados, e as hidrelétricas fossem devolvidas ao poder público. Já faz algum tempo que as incertezas sobre a permanência da Cesp no comando das usinas afetam a sua cotação em bolsa. O impairment ofereceu, inclusive, uma notícia ótima para os seus acionistas. O efeito disso foi que, nos três dias seguintes à divulgação do resultado, em 31 de março de 2009, as ações da empresa subiram quase 10%. Uma conclusão que podemos extrair deste fato: os investidores perceberam que o valor potencial de ressarcimento era na realidade maior do que o estimado antes da divulgação, demonstrando a importância que a contabilidade tem para a correta avaliação dos ativos. Não obstante, o mesmo teste de impairment que valorizou as ações da Cesp revelou que a usina de Porto Primavera, na divisa entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, não tinha potencial para gerar o retorno previsto. Num caso de superavaliação como esse, a contabilidade exige a retirada do excesso por meio da constituição de provisão de perdas. A companhia obedeceu à regra e apurou um prejuízo de R$ 2,35 bilhões em 2008. Não fosse a adoção do IFRS, o lucro seria de R$ 115 milhões, fato que ensejaria a distribuição de dividendos. 55 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos José Guimarães Cova O teste de impairment também produziu novas informações sobre a Vale. A adoção desta prática evidenciou que o valor de uso da Inco, equivalente à estimativa dos benefícios futuros a serem produzidos pela subsidiária canadense comprada em 2006, era inferior ao valor contábil somado ao goodwill (ágio pago na aquisição). Isso equivale a afirmar que, no fim de 2008, a Inco valia menos do que a Vale desembolsou para a sua aquisição. Tal constatação fez com que a mineradora deduzisse R$ 2,4 bilhões do lucro líquido. A baixa contábil refletiu a desvalorização do níquel no mercado internacional e evidencia como o padrão contábil adotado no Brasil é, atualmente, mais fidedigno como fonte de informação. Porém, enquanto algumas empresas tiveram seus lucros reduzidos pela adoção do IFRS, outras registraram efeito oposto. Com o fim da amortização do ágio, instituído pela Lei 11.638, algumas companhias tiveram seus resultados incrementados no primeiro trimestre. Por exemplo, o lucro líquido da administradora de shopping centers Multiplan evidenciou um aumento de 240% perante o mesmo período do ano anterior. O mesmo se verificou com a BRMalls, que obteve lucro líquido 262% maior do que o mesmo período do ano anterior. Não obstante, conforme assinala Yokoi (2010), existem limites à adoção das IFRS por parte das empresas brasileiras, na medida em que elas não poderão usar previsões da norma internacional vedadas pela Lei das S.A. Com relação a esta situação, uma vez que tenha se encerrado o extenso trabalho de edição das regras que ajustaram a contabilidade brasileira ao padrão internacional de contabilidade, criando um novo BR Gaap, a Comissão de Valores Mobiliários se prepara para a etapa de fiscalização. A partir do primeiro trimestre de 2010, as companhias passaram a divulgar os balanços individuais em conformidade com o novo BR Gaap, e os balanços, consolidados de acordo com as IFRS. Uma das primeiras investigações da CVM será direcionada às companhias que se anteciparam em elaborar os balanços consolidados em IFRS. De acordo com a regra 37 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), as companhias não poderão adotar previsões do IFRS que sejam vedadas pela Lei das S.A. brasileira. Essa norma possui validade somente a partir deste ano, mas a CVM pretende avaliar também os balanços já divulgados em IFRS, para verificar a ocorrência desta vedação. Há uma preocupação com relação a esta questão, pois eventuais diferenças entre IFRS e o novo BR Gaap podem gerar dados significativamente distintos nos balanços. Por exemplo: a prática da reavaliação de ativos, prevista pelo IFRS, porém vedada pela lei brasileira. A preocupação é de que alguma empresa tenha deliberadamente optado pela norma internacional para melhorar seus resultados. Existem eventuais adequações às normas internacionais capazes de produzir impactos significativos, tanto nos resultados, quanto na apresentação das demonstrações financeiras das empresas brasileiras. Ainda Yukoi (2009) lembra que a CEMIG, uma das maiores empresas do setor elétrico no Brasil, estava em franca atividade para se antecipar e aderir integralmente às normas contábeis internacionais já no fim de 2008. Havia indícios de que a meta seria alcançada, mas o processo foi interrompido por um obstáculo de grande magnitude: uma orientação do IFRS específica para as concessionárias de serviços públicos, produzida pelo International Financial Reporting Interpretations Committee (Ifric). Editado pelo International Accounting Standards Board, em 2006, 56 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 o Ifric 12 aguardava aprovação do parlamento para entrar em vigor na Comunidade Européia. Entrementes, a versão brasileira seguia em fase de elaboração pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), rendendo muitas dúvidas nos bastidores do ambiente corporativo. A grande questão posta pelos agentes do mercado dizia respeito à forma pela qual os órgãos reguladores de cada setor lidariam com as mudanças contábeis. Havia uma expectativa de que a avaliação do fluxo de dividendos e da taxa de retorno de cada empreendimento se alterasse. Ainda de acordo com Yukoi (2009), para a CEMIG, estas dificuldades complicaram o cumprimento dos prazos. A aderência total ao modelo contábil internacional, prevista para ocorrer ainda em 2009, seria adiada para 2010, na data final determinada pela Instrução 457 da CVM. Um dos problemas decorria da nova forma de depreciação dos ativos usados para a prestação do serviço contratado. As distribuidoras de energia elétrica, por exemplo, possuem ativos operacionais classificados como imobilizados e depreciados ao longo da sua vida útil (que pode ser maior do que o período de prestação do serviço). Se, ao fim do contrato, existisse qualquer valor residual, era previsto um reembolso dessa parcela por parte do poder público. De acordo com o Ifric 12, as contas deveriam ser feitas de forma inversa. No momento inicial, a empresa teria que estimar a condição de uso e o valor justo do bem ao final do contrato para chegar à fatia do investimento que lhe retornará na forma de ressarcimento. Apenas o restante seria depreciado, e somente ao longo do prazo de concessão. Este formato ofereceria uma vantagem aos investidores: a possibilidade de conhecer antecipadamente quanto a companhia teria a receber do Estado como reembolso. Um impacto imediato para as companhias seria o esforço de mudar todos os procedimentos internos para avaliação dos contratos e a dúvida acerca de quais informações seriam repassadas à agência reguladora (que usa os balanços como base para renegociação de tarifas, por exemplo). As incertezas sobre os impactos da mudança (que supostamente deveria estar restrita à esfera contábil) nos múltiplos aspectos do ambiente de negócios geraram muita apreensão. Além do fato de tais mudanças de procedimentos implicarem um custo de adaptação, havia a suposição de que também fosse necessário elaborar outro balanço exclusivamente para atender às exigências de cada agência reguladora, em virtude de eventuais incompatibilidades entre as regras setoriais e a nova contabilidade. Havia também uma questão relativa à alteração no tratamento contábil dos ativos operacionais utilizados pelas concessionárias públicas. Anteriormente, os postes e os transformadores comprados por uma distribuidora de energia, as estradas e as cabines de pedágio construídas pela concessionária de rodovia ou uma estação de tratamento construída pela empresa de saneamento eram contabilizados como ativos imobilizados. De acordo com as IFRS, esta metodologia não poderia mais ser empregada, pois esses bens deveriam ser classificados como ativos intangíveis ou financeiros. A essência contida na norma seria deixar claro que esses ativos não pertenceriam à concessionária, mas sim ao Estado, ainda que tenham sido construídos por ela. A distinção se verificaria a partir do agente que deveria pagar pelo objeto da concessão. Quando o usuário pagasse pelo uso da infraestrutura por meio da tarifa cobrada, o ativo deveria ser classificado como intangível. Quando fosse Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ A Trajetória da Convergência Contábil no Brasil: Um Exemplo de Capacidade de Superação e Adaptação o Estado que pagasse ao concessionário pela oferta do serviço correspondente, o ativo seria financeiro. O grande óbice consistia em identificar que concessionárias deveriam seguir o novo tratamento. Da forma como foi aprovado pelo IASB, o Ifric 12 aplicava-se às concessionárias cujo preço do serviço é regulado pelo governo. Uma concessionária de rodovias, por exemplo, se enquadraria na norma, pois o intervalo de variação dos valores dos pedágios é determinado pelo poder público. Em outros casos, como no da telefonia fixa, a resposta não seria tão óbvia. Apesar de serem concessionárias de serviço público, essas operadoras funcionam, atualmente, sobretudo como centrais de soluções de comunicação. Dessa forma, todos os serviços adicionais oferecidos, tais como internet banda larga, por exemplo, não são regulados pelo governo. Estas particularidades fazem com que a possibilidade de não enquadramento seja grande. Adicionalmente, na medida em que provoca alterações no resultado das concessionárias de serviços públicos, o Ifric 12 altera também o cenário dos dividendos a ser distribuídos aos acionistas. Há casos em que ele poderia antecipar despesas, tais como na manutenção de rodovias, por exemplo. A camada asfáltica, em geral, é refeita em intervalos de seis anos. Até então, esse custo só era contabilizado quando ocorria. De acordo com o IFRS, a despesa com a manutenção deve ser computada ano a ano, conforme ocorre a deterioração. Para o investidor, o resultado pode se configurar em lucros menores, em face da antecipação de gastos. Em contrapartida, haveria casos em que as diferenças entre a contabilidade até então praticada e o IFRS poderiam antecipar o pagamento de dividendos. Tal situação aconteceria no período de construção de uma usina de geração de energia elétrica. De acordo com a norma até então praticada, a construção era considerada uma fase pré-operacional do contrato. Dessa forma, a concessionária registrava contabilmente apenas os custos, sem considerar quaisquer receitas. De acordo com o Ifric 12, a companhia também deveria apurar, no período considerado, o faturamento correspondente à prestação do serviço de construir um ativo para o Estado. A lógica subjacente consiste no fato de que este valor deveria gerar caixa em momento futuro, uma vez que seria incorporado à tarifa. Ou seja, o Ifric 12 determina que as companhias desmembrem a receita. Para tanto, é preciso calcular uma margem justa pela prestação do serviço de engenharia e construção. E como a receita do serviço de construção seria confrontada com o custo, a companhia passaria a gerar lucros durante a fase de construção e, dessa forma, poderia ensejar o pagamento de dividendos. Outra possibilidade no que diz respeito ao pagamento de dividendos poderia configurar-se no âmbito das empresas transmissoras de energia. Neste segmento do setor elétrico, muitos contratos estabelecem arrecadação maior no começo da concessão. Existem casos em que a receita apurada na primeira metade do contrato é o dobro da registrada na etapa final. No Brasil, até então, contabilizava-se a receita com essa variação. O IFRS, contudo, considera a concessão como um período único e exige que a receita seja uniformizada ao longo dos anos. O fato é que, ao mesmo tempo em que traz uma série de novidades e impõe um custo para a sua assimilação, o Ifric 12 não contribui muito com respostas para dúvidas antigas que se Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 manifestam na contabilidade das concessionárias de serviços públicos no Brasil. Por exemplo, como ocorre no caso do reconhecimento do direito de outorga nos contratos de execução, situação comum no segmento de concessões rodoviárias. Uma situação típica se configura quando a empresa adquire o direito de explorar um trecho rodoviário mediante valor a ser pago em parcelas, ao longo do período da concessão. Até então, usavam-se formas distintas para contabilizar esse passivo. Uma possibilidade consistia em reconhecer, no momento inicial, todos os ativos e passivos relacionados ao contrato, antecipando o custo futuro. Outra variante para o reconhecimento do direito de outorga seria contabilizar esses custos conforme os pagamentos fossem sendo realizados. O princípio consiste em refletir contabilmente que o passivo apenas passaria a existir conforme o serviço fosse explorado. Havia grande indefinição acerca do melhor procedimento a ser adotado. Ainda em 2002, conforme assinala Yukoi (2009), a CCR Rodovias consultou a CVM sobre como proceder em relação a duas de suas concessões. A autarquia reconheceu, na ocasião, que não havia dispositivo legal versando sobre o assunto e impôs apenas que a companhia promovesse as adaptações necessárias quando a matéria fosse regulada. Havia a expectativa de que a lacuna regulatória não se estenderia por muito tempo, tanto que uma minuta de normatização foi levada para uma Audiência Pública. Quase na mesma ocasião, o Iasb começou a preparar o Ifric 12, fato que resultou na interrupção da elaboração da norma brasileira para evitar divergências. Contudo, o Ifric12 não tratou desse aspecto e a indagação persistiu. Diante deste elenco extenso de aspectos geradores de conflitos e questionamentos, parece-nos razoável o convencimento de que a introdução de um arcabouço legal para a promoção da convergência contábil entre as normas brasileiras e as normas internacionais não se constitui em solução trivial para resolver este problema. 3. Conclusão Com base no que foi apresentado, verificamos que um padrão contábil como o brasileiro, fortemente dependente de fundamentação legal, não consegue transitar para outro padrão, como o contido nas IFRS, sem que se estabeleça um longo processo de ajuste. Nesse sentido, existem muitos elementos de convicção que apontam para a evidência de que é preciso uma enorme dose de esforço, por parte dos atores envolvidos, para conciliar os imperativos de uma Ciência Contábil moderna, calcada em pilares doutrinários consagrados, tais como o princípio da essência sobre a forma. Para a realização dessa tarefa, faz-se mister a atuação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, cumprindo o papel de entidade multirrepresentativa capaz de produzir uma rara convergência de interesses e pontos de vista. Por fim, haja vista que foi possível constatar no novo arcabouço jurídico-contábil uma série de lacunas quanto aos procedimentos no campo fático, é possível afirmar que nossa suposição inicial se confirmou. Ou seja: uma simples introdução de nova norma positiva no complexo das relações jurídicas brasileira não é capaz de abarcar a complexidade e a extensão das possíveis situações no campo fático da contabilidade, devendo ocorrer um contínuo e sistemático processo de ajuste entre os atores envolvidos na sua operacionalização. 57 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Carlos José Guimarães Cova Referências CAMPOS FILHO, Ademar. Demonstração dos fluxos de caixa: uma ferramenta indispensável para administrar sua empresa. – São Paulo: Atlas, 1999. 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Sítios visitados: http://www.fasb.org/home http://www.cemig.com.br/pt-br/Paginas/homepage.aspx 58 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 50 - 58, maio/ago. 2013 CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil 59 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ On-Line [email protected] 60 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Lançamento Livro: Educação por Competências Autor: Antonio Carlos Ribeiro da Silva A obra “Educação por Competências” contribuirá para preencher uma lacuna existente na discussão da Educação por Competências dentro de uma perspectiva curricular. Aborda-se, com ênfase no Ensino Superior, o cenário encontrado pelos profissionais graduados, que se deparam com um mundo do trabalho que, atualmente, valida as competências e não somente os conhecimentos restritos adquiridos de forma sistemática na academia. Os profissionais de recursos humanos estão cada dia mais interessados por esse tema, pois já faz parte de sua rotina diária a Gestão por Competências. Esta obra abre essa discussão por entender que a própria legislação do ensino brasileiro sinaliza que os cursos sejam estruturados por competências e que, muitas vezes por falta de conhecimento, alguns não percebem a importância e dinâmica desta mudança de paradigma educativo. Mediante o exposto, este livro faz uma retrospectiva do conceito de competência e sua própria história. Logo depois, pontuamos o conceito de currículo e sua trajetória polissêmica, visitamos a sua história dos estudos curriculares, apresentamos as teorias que a explicam e confrontamos a pedagogia por objetivos e a pedagogia por competências. No intuito de situar o nosso espaço discursivo, realizamos um breve histórico do ensino com ênfase no Ensino Superior brasileiro. Daí então delineamos como poderia ser desenvolvida uma abordagem curricular por competências, elaborando referenciais teóricos e roteiro de dicas práticas para que tanto as empresas como as instituições de ensino possam sair de um modelo reprodutor de conhecimento para uma dinâmica construtiva de aprendizagem. As ideias de metodologias e ações são colocadas de maneira sistemática para desenvolver com clareza o ritual de passagem entre um currículo convencional para uma abordagem por competências. Dados do autor Antonio Carlos Ribeiro da Silva – Doutor em Educação na área de Desenvolvimento Curricular pela Universidade do Minho, em Portugal, pedagogo, psicopedagogo clínico, licenciado em Técnicas Comerciais, especialista em educação a Distância, Bacharel em Ciências Contábeis. Mestre em Contabilidade. Professor adjunto da UFBA, UNEB, FVC. Diretor Acadêmico e Coordenador de Curso da FVC. Pesquisador sobre Competências, Educação Corporativa. Professor de Metodologia do Ensino Superior de pós-graduação Lato Sensu e Mestrado. Acesse o site da revista www.crc.org.br/revista/menu Editora Paco Editorial www.editorialpaco.com.br 61 Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ PENSAR CONTÁBIL Assinatura anual (03 edições) - Condição: 1 - ASSINATURA 2 - PEDIDO DE RENOVAÇÃO 3 - ALTERAÇÃO DE DADOS Preço da assinatura R$ 16,00 DESEJO RECEBER A PARTIR DA PRÓXIMA EDIÇÃO COMPLEMENTO DO NOME NOME COMPLETO PESSOA FÍSICA SEXO ESTADOCIVIL DATA DE NASCIMENTO NATURALIDADE NACIONALIDADE CATEGORIA TÉC. CONTABILIDADE CONTADOR REGISTRO NO CRC Nº ESTUDANTE IDENTIDADE Nº OUTROS UF ÓRGÃO EMISSOR CPF RAZÃO SOCIAL PESSOA JURÍDICA CONTATO CATEGORIA INSTIT. DE ENSINO ESCRIT. CONTÁBIL CNPJ EMPRESA INSCRIÇÃO MUNICIPAL OUTROS INSCRIÇÃO ESTADUAL ENDEREÇO PARA A REMESSA BAIRRO CAIXA POSTAL TELEFONE FAX CEP UF CIDADE RESID E-MAIL Forma de pagamento DEPÓSITO BANCÁRIO Em nome do CRCRJ - Banco do Brasil - Agência 1769-8 (Candelária) - Conta Corrente nº 347.729-0 - CNPJ 33.287.806/0001-61 Enviar a ficha e o comprovante de depósito escaneados para o e-mail [email protected] CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – CEP 20.010-000 – Rio de Janeiro – RJ – Tel.: (21 ) 2216-9608 e-mail: [email protected] – home-page: www.crc.org.br 62 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 COM Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Orientações aos colaboradores da Revista Pensar Contábil Perfil temático e objetivos da publicação: A Revista Pensar Contábil é um periódico trimestral do Conselho Regional de Contabilidade, existente desde agosto de 1998 e tem como missão a divulgação de artigos relevantes na área de Contabilidade, com o objetivo de fomentar a pesquisa. Mecanismo de avaliação de artigos: Podem encaminhar artigos para a revista colaboradores do Brasil e do exterior. Os artigos recebidos são avaliados pelo Corpo Editorial e consultores externos, através do sistema double blind review, não sendo conhecidos os autores durante a avaliação. Os artigos são apreciados e pontuados para uma edição específica da revista. Envio e regras para publicação de artigos: Os artigos deverão ser inéditos, podendo estar no idioma português, espanhol ou inglês. Devem ser encaminhados para o e-mail [email protected], nos prazos e características a seguir: Para publicação na Revista número 58 – set./dez. – 59 – jan./abr. – 60 – maio./ago. – Prazo para receber artigos 2013 2014 2014 31/08/2013 31/12/2013 30/04/2014 a) em folha de rosto, deverá constar: – o título do artigo; – identificação e qualificação do(s) autor(es) constando: o nome completo, número de registro (se for o caso), formação e qualificação profissional e/ou acadêmica (no caso de citar instituição de ensino, informar também o CEP, Cidade e UF correspondente); – endereço completo, telefone, fax e e-mail do(s) autor(es); b) a estrutura de apresentação do artigo deverá conter: título do artigo, resumo e palavras-chave, bem como os mesmos tópicos em inglês (title, abstract, key words), introdução, desenvolvimento e conclusão; c) a bibliografia completa deverá ser apresentada em ordem alfabética no fim do texto, de acordo com as normas da ABNT (NBR-6023 revisada); d) a formatação do artigo deve ser: – digitado em Word, tamanho A4, fonte Times New Roman; – fonte tamanho 12 para texto e tamanho menor para citações de mais de 3 linhas, notas de rodapé, paginação e legendas das ilustrações e tabelas; – as folhas devem apresentar margem esquerda e superior de 3 cm; direita e inferior de 2 cm; – entrelinhas simples; – alinhamento justificado; e) os artigos deverão estar redigidos em português. Os artigos de autores do exterior serão publicados em inglês, espanhol ou português, conforme o caso; f) os artigos deverão ter no mínimo 10 e no máximo 15 páginas; g) os artigos deverão ter sido completa e perfeitamente revisados; h) os direitos autorais dos artigos publicados nesta revista são dos autores, sendo concedidos por eles os direitos da primeira publicação ao Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 63 Ad IV Cont Congresso Nacional de Administração e Ciências Contábeis Congresso Nacional de Administração e Ciências Contábeis e Outorga do Prêmio Contador Américo Matheus Florentino (CRCRJ) De 2 a 4 de outubro de 2013 Informações: [email protected] (21) 3873-5262 XV 17 e 18 de outubro de 2013 EMeCC UERJ Tendências de Pesquisa em Contabilidade Encontro de Mestrado em Ciências Contábeis e Outorga do Prêmio Contador Geraldo de La Rocque (CRCRJ) Mais informações: [email protected]