O cine-teatro Odeon foi construído da rua da
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O cine-teatro Odeon foi construído da rua da
Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929) José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira Programa de Pós-Doutorado – Bolsista do CNPq-Brasil http://www.arquivohistorico.sp.gov.br http://www.cinemateca.org.br Código: Denominação padrão: 00387 ODEON - rua da Consolação, 40-42 O cine-teatro Odeon foi construído da rua da Consolação, 40-42, em parte se adaptando para isso uma antiga agência de automóveis, o Coliseu-Palácio e, de outro lado, construindo-se um prédio de quatro pavimentos. Entre os dois imóveis, abria-se a entrada do Odeon. O Escritório Técnico Júlio de Abreu Júnior, instalado na rua Barão de Itapetininga, 65, ficou encarregado da obra. O prédio do número 40 seria de quatro pavimentos (térreo mais três andares) sob sete colunas de cimento armado de 0,30x0,30 cm. O de número 42 seria aumentado em um pavimento, adaptando-se o Coliseu-Palácio para dois cine-teatros, que mais tarde levaram o nome de Odeon Sala Vermelha e Odeon Sala Azul (Lícia de Oliveira engana-se ao apontar que este seria o primeiro cinema com duas salas de projeção, já que o Central, de 1916, também tinha duas salas). A frente do cinema ocuparia 16 metros, contando com três portas de entrada, com 30 metros de fundo, sendo ladrilhada e coberta por uma estrutura de ferro sustentada por oito colunas de cimento armado, criando um vão livre para cada um dos palcos. Cada um deles teria platéia, camarotes e três escadas de acesso aos camarotes. Janelas em arcos se abriam neste piso para a rua. Nos dois últimos pavimentos seriam construídos apartamentos. Mandado para análise de Benjamin Egas em 15 de março, ele informou que era proibida a construção de cinemas com pavimentos superiores (art. 167 do ato 1235), estando em desacordo com a legislação o piso da platéia e as portas de acesso à platéia obstaculizadas por cadeiras. O engenheiro Júlio Pacheco, do escritório técnico, foi convocado para dar explicações suplementares. Ele anotou no processo que os dois cine-teatros tinham “[...] entradas amplas e independentes por meio de largos planos inclinados, sem nenhum degrau, e saídas para as ruas Consolação e Epitácio Pessoa. E bom notar que esta grande segurança dadas pelas amplas e fáceis saídas é ainda aumentada por ser toda a construção de concreto armado e se acharem as cabines dos operadores cinematográficos [projecionistas] externas às salas de espetáculos”. Sobre o art. 167 nenhuma palavra. Dito isto, ele entrou com um pedido de reconsideração do despacho. Em 23 de março, provavelmente Arthur Saboya e o diretor da Diretoria de Obras foram em vistoria ao prédio. Ambos declararam “bem impressionados” com o projeto de adaptação, “[...] verificando que os diversos planos terão acesso inteiramente independentes. Quanto à superposição de pavimentos [os destinados a apartamentos], tratando-se de destinos equivalentes – Cinema e Teatro – não é o caso previsto na lei”. A Administração já era bem flexível quanto à construção de apartamentos ou escritórios sobre cinemas doze anos depois da lei. O alvará de construção foi concedido em 11/4/1928 (nº. 875, série 1), pagando-se custas em 19 de abril (nº. 718, série 8), no valor de Rs 1:405$100 (um conto e quatrocentos e cinco mil e cem réis). 1/3 Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929) José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira Programa de Pós-Doutorado – Bolsista do CNPq-Brasil http://www.arquivohistorico.sp.gov.br http://www.cinemateca.org.br O Odeon foi arrendado para a Sociedade Anônima Empresa Serrador, sendo inaugurado em 11/10/1928 com os filmes Lírio de Granada, com Lily Damita (Programa Serrador), na Sala Vermelha, e Quarteto de amor, com Florence Vidor, na Sala Azul (Programa Paramount). Nesse mesmo dia a empresa exibidora pediu a licença para funcionamento, cuja informação foi dada pelo engenheiro Antonio Fereira. Ele se limitou a dar a capacidade das salas: o Salão Vermelho tinha 30 frisas, 32 camarotes, 400 balcões e 1.680 poltronas; a Sala Azul era menor, com 18 camarotes, 240 balcões e 1600 poltronas. O alvará foi emitido no mesmo dia. Os ingressos para a estréia custavam dois mil réis e meia-entrada a Rs 1$500, somente na platéia porque frisas e camarotes estavam todos vendidos Segundo o site Almanack Paulistano, ele foi construído onde está hoje o estacionamento do edifício Zarvos, contando com 15 mil m2, cinco salões (dois cinemas, um bar, uma confeitaria-sorveteria com 300 mesas, dancing e uma sala de exposições), intitulando-se o “maior centro de diversões da América Latina”, com capacidade para 15 mil pessoas. A Sala Vermelha seria mais requintada que a Azul, exigindo roupa de gala. Teria orquestra com 30 “professores”, uma Eletrola Ortofônica Auditorium para música de discos fabricada pela Victor Talking Machines, e apresentaria somente filmes em lançamento. Havia sessões especiais para as senhoritas nas quintas-feiras. As duas salas de projeções davam lugar a grandes bailes de carnaval, durante os festejos de Momo. O maestro da inauguração foi Antonio Giammarusti, apresentando-se no palco a cantora Ermelinda Cichero. Uma jazz-band animou o hall de entrada. Os escritórios da Empresa Serrador em São Paulo também foram transferidos para o prédio da rua da Consolação, 42, conforme pedido do gerente Júlio Llorente em 11/12/1928 (antes estavam na rua do Triunfo, 34). A capacidade de público da Sala Vermelha em 1939 era de 2.510 espectadores (1.740 na platéia, 315 nas frisas e 455 nos balcões); na Sala Azul cabia 2.020 espectadores (1.675 na platéia, 90 nas frisas e 255 nos balcões). MEMÓRIA Comentário do cronista Guilherme de Almeida: “Naturalmente para um cronista cinematográfico, gostosamente forçado a ‘torcer’ dia a dia pelo cinema, a inauguração de qualquer nova casa de exibições só pode ser motivo de júbilo. Ora, com a inauguração hoje, do ‘Odeon’, esse júbilo é particularmente grande, enorme, na mesma proporção da nova grande, enorme propriedade da Empresa Serrador. O ‘Odeon’ significa para o cinema e para São Paulo, um triunfo. Teatros, ‘bar’, confeitaria, ‘dancing’, galerias para exposições... tudo aí se reúne, tudo aí se confunde num microcosmo delicioso onde a vida correrá fácil e bonita entre as coisas gostosas e que são as únicas que justificam o inevitável sacrifício de viver... Ao cinema, o ‘Odeon’ dedica duas salas majestosas: a ‘Vermelha’ e a “Azul’. Aquela mais ‘rafinée’, mais feita para o ‘grand monde’... que, por sinal, é bem 2/3 Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929) José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira Programa de Pós-Doutorado – Bolsista do CNPq-Brasil http://www.arquivohistorico.sp.gov.br http://www.cinemateca.org.br pequenininho; esta, mais ampla, mais popular, mais para todo mundo. Com duas sessões em cada uma das salas – uma às 19,15 outra às 21,45 – exibindo-se na ‘Vermelha’, o filme “Lírio de Granada’, com Lily Damita, e, na ‘Azul’, a interessante produção da Paramount, ‘Quarteto do Amor’, com Florence Vidor, - é que se dará, hoje, a inauguração do grande e alegre palácio da rua Consolação” (O Estado de S. Paulo, 11/10/1928, p.2). José Inácio de Melo Souza 3/3
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