ARTE F1

Transcrição

ARTE F1
FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira
Presidente
Diretoria Corporativa Operacional
Augusto César Franco de Alencar
Diretor
SESI / Rio de Janeiro
Fernando Sampaio Alves Guimarães
Diretor Superintendente
Diretoria de Educação
Andréa Marinho de Souza Franco
Diretora
Gerência de Educação Básica
Hozana Cavalcante Meirelles
Gerente
Gerência de Educação a Distância
Maria Antonieta Pires dos Santos
Gerente
Série SESIeduca
2010
SESI • Rio de Janeiro
FICHA TÉCNICA
Gerência de Educação Básica
Lorelei Guanabara Baliosian
Coordenação
Carmem Lúcia de Freitas Siqueira
Redação Técnica
Adriana Pires Portella
Leitor Crítico
Ana Maria Brasil Perillo
Tratamento Pedagógico
Kátia Lúcia de Oliveira Barreto
Revisão Ortográfica
Lilia Zanetti Freire / Formas Consultoria
Revisão Editorial
Jaqueline Damas de Oliveira
Supervisão de Produção Gráfica
Lienice Silva de Souza
Projeto Gráfico
Ana Monteleone • Engenho & Arte
Diagramação
Sylvio Nogueira • Engenho & Arte
Normalização Bibliográfica
Biblioteca do Sistema Firjan
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema FIRJAN
Divisão de Documentação - Biblioteca
S491ea
SESI – RJ
Ensino Médio para Jovens e Adultos :
Educação Artística
Rio de Janeiro : GEB / GED, 2004.
174 p.
edição atualizada, 2010.
1. Educação de Jovens
2. Educação de Adultos
I- Educação Artística/ Fase 1
CDD 373.011
Propriedade do SESI - Rio de Janeiro
Reprodução total ou parcial sob expressa autorização.
SESI • Rio de Janeiro
DIRETORIA DE EDUCAÇÃO
Avenida Graça Aranha, 1 - Centro
20.030-002 - Rio de Janeiro - RJ
SUMÁRIO
Apresentação
7
Capítulo 1
Um passeio pelo mundo da arte
9
Capítulo 2
Identidade:
Expressão, comunicação e auto realização
25
Capítulo 3
Conhecimento:
Descobertas e conquistas do universo musical
41
Capítulo 4
Em contexto:
O espaço da música na cultura
55
Capítulo 5
Hora da música:
Explorando a diversidade
71
Capítulo 6
Identidade:
Expressão, comunicação e autorrealização
89
Capítulo 7
Conhecimento:
Descobertas e conquistas do universo visual
103
Capítulo 8
Em contexto:
O espaço da imagem na cultura
119
Capítulo 9
Hora da Imagem:
Explorando a diversidade
137
Capítulo 10
Mídia e registro
155
Gabaritos
169
APRESENTAÇÃO
“Seu caminho cada um terá que descobrir por
si. Descobrirá caminhando. Contudo, jamais
seu caminho será aleatório. Cada um parte
de dados reais, apenas o caminho há de lhe
ensinar como os poderá colocar e como com
eles irão lidar.
Caminhando saberá. Andando, o indivíduo
configura o seu caminho. Cria formas, dentro
de si e ao redor de si. E assim como na arte
o artista se procura nas formas de imagem
criada, cada indivíduo se procura nas formas
do seu fazer, nas formas do seu viver. Chegará
ao seu destino. Encontrando, saberá o que
buscou.Beto.”
Fayga Ostrower (1987)
Prezado(a) aluno(a),
Estamos começando aqui a série de Módulos de Educação
Artística.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Educação
Artística não pretende formar artistas, ainda que trabalhe diretamente com arte e sensibilidade. Através da arte as pessoas podem
interpretar emoções e externar sentimentos. Isso não quer dizer
que ao ter contato com a arte e conhecê-la melhor, um aluno não
possa ver despertado o artista que existia dentro de si.
Ao permitir que a arte faça parte da sua vida você irá redescobrir o mundo, compreendendo uma série de acontecimentos e
deixando que seu “eu criativo” saia do esconderijo e desperte
para a liberdade.
Haveria muitas formas de organizar nosso conteúdo. Há inúmeros
livros que apresentam sequências cronológicas ou ordenam o material
por grau de dificuldade. Poderíamos separar o material por assunto ou
até mesmo por campo da arte...
Mas isso não nos bastava.
Ao pensarmos em cada item que compõe esta coleção, pen-
samos em você, aluno, cidadão, leitor, trabalhador, pai ou mãe,
filho ou filha, marido ou esposa...
Ao escolhermos os temas que integrariam este material,
nos lembramos de você, brasileiro, que canta no chuveiro, que
desenha no asfalto em tempos de Copa do Mundo, que dança
nas festas de São João, que entoa cantigas de fé nas igrejas e que
representa no grande teatro da vida!
Você vai encontrar a arte em luminosos “flashes”. Mais do que
aprender sobre o que a humanidade vem construindo desde os
tempos mais remotos, queremos que haja emoção e significado
em cada novo assunto em questão.
Fizemos como as bordadeiras, que com cores diferentes formam belos desenhos... Ou como as rendeiras, que entremeiam
seus pontos e formam maravilhoso trabalho. Fizemos como as
nossas avós e bisavós emendando quadrados coloridos em aconchegantes colchas de retalho.
Mas nosso trabalho não está pronto.
Ele não começa e termina em nós... Ele só se justifica se ao
nosso painel de retalhos, rendas e cores você juntar o seu trabalho
e a sua emoção.
Oswaldo Montenegro, em uma de suas canções, disse:
“Que a arte nos aponte uma resposta,
Mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.”
Seremos sempre aprendizes. Este grande mundo que nos
abriga tem muito a nos revelar e nós temos muito a desvendar.
Mesmo que nem todas as respostas sejam encontradas, teremos
prazer em vivenciar momentos felizes de muitas descobertas
durante cada passo do percurso.
E o melhor de tudo é saber que sempre haverá novos caminhos!
CAPÍTULO 1
um passeio pelo mundo da arte
CAPÍTULO 1
um passeio pelo mundo da arte
A N O T A Ç Õ E S
C
onheça agora como serão organizados os capítulos de Educação
Artística.
Você sempre terá a indicação da disciplina, da área, da unidade e
do número do capítulo.
Em seguida você conhece o tema que será abordado no capítulo.
Por exemplo:
Tema: Ingredientes da imagem • Da Pré-História ao Egito
Chegam então as seções que fazem parte dos capítulos e você saberá
o que estará contido em cada uma delas a seguir:
Sumário
É o resumo do conteúdo do capítulo. Em breves palavras você ficará
sabendo o que estará sendo abordado no material e compreenderá por que
é interessante saber mais a respeito daquele assunto.
Muitas vezes você verá que o Sumário é um verdadeiro convite!
Planejando a rota
Esta seção “aquece os motores” para o que virá a seguir.
Ao planejar uma rota durante uma viagem, você faz investigações, lê,
pesquisa, pergunta e aprende.
É por esse motivo que guardamos para esta área uma série de conteúdos
que deixarão um gancho para o tema principal, mas que são essencialmente
importantes e certamente serão do seu agrado.
A “Rota” que planejaremos juntos trará uma variedade enorme de
conteúdos, que podem ser relacionados à vida de um artista, à obra de um
compositor ou até mesmo a um lugar interessante.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Importante é saber que por mais amplo que seja o assunto, procuramos
extrair dele o que há de mais interessante e que poderá lhe preparar para
o que vier adiante.
Investigando caminhos
Assim como explicamos anteriormente, é de rotas, caminhos e descobertas que vai sendo construído este trabalho. O nosso objetivo maior está
sempre ligado a você e ao seu processo de transformação, de informação
em conhecimento.
Na seção “Investigando caminhos” você terá os mais variados conteúdos relacionados à arte e perceberá que pincéis, tintas, argila, lápis, sons e
expressões encontram-se muito bem acompanhados. Ao estudar arte você
conhecerá os caminhos da ciência, da literatura, da filosofia e de uma série
de outras áreas que, de mãos dadas, compõem o maravilhoso universo da
criatividade humana ao longo de sua história.
Desafios do percurso
É sempre bom exercitar.
Se planejamos rotas e investigamos caminhos, precisamos parar,
descansar, avaliar. Não há caminhos errados nesta jornada. Há caminhos
mais interessantes e ao olhar para o horizonte longínquo você consegue
avaliar se seus passos o estão conduzindo pelo melhor trajeto rumo ao
melhor destino.
Sendo assim, esta é a seção onde você aquece os músculos e faz algumas atividades desafiadoras.
Ampliando o horizonte
Como bom viajante, você não se contenta com as rotas previstas nos
guias e quer ir além.
Seus novos horizontes lhe trazem mais descobertas e lhe provam que
a viagem realmente valeu a pena.
Depois de ter entrado em contato com o vasto mundo de pintores,
escultores e músicos, você provavelmente ficará com aquela sensação de
que ainda há muito mais em algum lugar.
Na seção “Ampliando o horizonte” nós o ajudamos a ir além, muito
além do planejado!
Memórias da viagem
Com os músculos aquecidos, com novos horizontes conquistados e
com a mente repleta de conhecimentos que você acaba de adquirir, nada
mais justo do que uma nova paradinha para outra avaliação.
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UM PASSEIO PELO MUNDO DA ARTE
É hora de sentar e olhar para este trecho do caminho, analisar o trajeto, identificar os melhores atalhos, retornar aos pontos mais críticos e
redescobrir o que você não viu na primeira viagem.
Ao registrar suas memórias, você reconta a história vivida e revive
as emoções que artistas, compositores e poetas trouxeram até os nossos
capítulos.
O Artista é você
Após tanta inspiração, nada mais justo do que vivenciar o processo
criativo da melhor maneira possível: criando!
Aceite o desafio!
Você pode!
Você é capaz!
Glossário
Na arte como na vida, há palavras meio complicadas que fazem com
que nosso caminho fique ligeiramente pedregoso, meio difícil de seguir.
Sempre haverá dicionários e eles são nossos melhores aliados em
qualquer exercício de aprendizagem, especialmente porque não há como
garantir a compreensão de um conteúdo se forem ficando umas lacunas
de dúvida durante o percurso.
Mesmo assim, facilitamos seu trajeto e trazemos até você algumas
palavras e suas definições.
Referências bibliográficas
Assim como você, também fazemos pesquisas e vamos em busca dos
melhores conteúdos para compor os capítulos.
Como se fosse um garimpo, vamos investigando autores e livros,
combinando ideias e organizando o material do modo que acreditamos
ser o mais interessante e completo para você.
No entanto, qualquer autor, quando citado, recebe seus créditos e todo
livro, quando pesquisado, é citado.
Para isso existem as Referências bibliográficas.
Você também irá ter acesso a muitas imagens...
Elas falam muito e lhe trarão informações preciosas.
Mozart
Aleijadinho
Hermeto Pascoal
Djavan
Catedral de Pinturas
Notre-DameRupestres
Picasso
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Será apresentado a artistas como Aleijadinho e Mozart...
A cantores como Djavan e instrumentistas como Hermeto Pascoal;
conhecerá catedrais daqui e de muito longe;
desvendará os mistérios da arte de todos os tempos...
Como você pôde observar, cada pedacinho do capítulo tem seu objetivo
e pretende fazer com que sua experiência de aprendizagem seja, ao mesmo
tempo, prazerosa, viável e útil para a sua vida.
Antes de começarmos os temas específicos da área de artes, gostaríamos de trazer até você o pensamento de E.H. Gombrich, um dos maiores
estudiosos da área.
Em uma reflexão interessante, Gombrich nos leva a pensar a arte antes
mesmo de imaginarmos sua variedade de técnicas e estilos.
Acreditamos que essa provocação, ainda que sem resposta, seja importante para embasar seu contato com conteúdos futuros.
“Uma coisa que realmente não existe é aquilo a que se dá o nome
de Arte. Existem somente artistas. Outrora eram homens que apanhavam terra colorida e modelavam toscamente as formas de um bisão na
parede de uma caverna; hoje, alguns compram suas tintas e desenham
cartazes para os tapumes; eles faziam e fazem muitas outras coisas.
Não prejudica ninguém chamar a todas essas atividades arte, desde
que conservemos em mente que tal palavra pode significar coisas
muito diferentes, em tempos e lugares diferentes, e que Arte com A
maiúsculo não existe. Na verdade, Arte com A maiúsculo passou a
ser algo de um bicho-papão e de um fetiche. Podemos esmagar um
artista dizendo que o que ele acaba de fazer pode ser muito bom no
seu gênero, só que não é “Arte”. E podemos desconcertar qualquer
pessoa que esteja contemplando com prazer um quadro, declarando
que aquilo de que ela gosta não é arte, mas algo muito diferente.
Na realidade, não existem quaisquer razões erradas para gostar de
um quadro ou de uma escultura. Alguém pode gostar de uma paisagem porque ela lhe recorda seu berço natal, ou de um retrato porque
lhe lembra um amigo. Nada há de errado nisso. Todos nós, quando
vemos um quadro, estamos fadados a recordar mil e uma coisas que
influenciam o nosso agrado ou desagrado. Na medida em que essas
lembranças nos ajudam a fruir do que vemos, não temos por que nos
preocupar. Somente quando alguma recordação irrelevante nos torna
parciais e preconceituosos, quando instintivamente voltamos as costas
a um quadro magnífico de uma cena alpina porque não gostamos de
praticar o alpinismo, é que devemos prescrutar o nosso íntimo para
desvendar as razões da aversão que estraga um prazer que de outro
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UM PASSEIO PELO MUNDO DA ARTE
modo poderíamos ter. Há razões erradas para não se gostar de uma
obra-de-arte.
Muitas pessoas gostam de ver em quadros o que também lhes
agradaria ver na realidade. Isso é uma preferência muito natural. Todos gostamos de beleza na natureza e somos gratos aos artistas que a
preservaram em suas obras. (...)
O problema com a beleza é que gestos e padrões do que é belo
variam imensamente. O que ocorre com a beleza ocorre também com
a expressão. De fato é freqüentemente a expressão de uma figura na
pintura que nos leva a gostar da obra ou detestá-la. Algumas pessoas
gostam de uma expressão que possam facilmente entender e que,
portanto, as comove profundamente. (...)
Assim como alguns preferem pessoas que usam poucas palavras e
gestos, deixando algo para ser adivinhado, também há os que gostam
de pinturas ou esculturas que deixem alguma coisa que se possa conjeturar e meditar. Nos períodos mais “primitivos”, quando os artistas
não eram tão habilidosos quanto hoje na representação de rostos e
gestos humanos, é tanto mais comovente, com freqüência, ver como
eles tentaram, não obstante, expressar os sentimentos que queriam
transmitir.
Mas, neste ponto, os principiantes defrontam-se amiúde com outra
dificuldade. Querem admirar a perícia do artista em representar as coisas que eles vêem. Gostam mais de pinturas que “parecem reais”. Sem
negar, nem por um instante, que isso é uma importante consideração.
A paciência e a habilidade que contribuem para a reprodução fiel do
mundo visível são, por certo, dignas de admiração. Grandes artistas do
passado dedicaram muito labor a obras em que todos os pormenores,
ainda que minúsculos, estão cuidadosamente registrados.(...)
Mas não é o esquematismo gráfico que aborrece, principalmente as
pessoas que gostam que seus quadros pareçam “reais”. Elas são ainda
mais repelidas por obras que consideram incorretamente desenhadas,
sobretudo quando pertencem a um período mais moderno em que o
artista “tinha a obrigação de não fazer semelhantes tolices”. De fato,
não há mistério algum a respeito dessas distorções da natureza, sobre
as quais ainda ouvimos queixas e protestos em discussões acerca
da arte moderna. Quem já viu um filme de Disney ou um cartoon
sabe tudo a esse respeito. Sabe que, por vezes, está certo desenhar
coisas de um modo diferente do que elas se apresentam aos nossos
olhos, modificá-las ou distorcê-las de uma forma ou de outra. O camundongo Mickey não se parece muito com um rato verdadeiro; no
entanto, as pessoas não escrevem cartas indignadas aos jornais sobre
o comprimento do apêndice caudal do Mickey. Os que penetram no
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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mundo encantado de Disney não estão preocupados com Arte com
A maiúsculo. Não vão para seus espetáculos armados dos mesmos
preconceitos com que visitam uma exposição de pintura moderna.
Mas se um artista moderno desenha alguma coisa à sua maneira, está
sujeito a que o considerem um trapalhão, incapaz de fazer melhor do
que isso. Ora, seja o que for que pensemos sobre artistas modernos,
podemos seguramente creditá-los com suficientes conhecimentos para
desenharem “corretamente”. Se não o fazem, suas razões devem ser
muito semelhantes às de Walt Disney. (...)
Existem duas coisas, portanto, que nos devemos perguntar sempre
se acharmos falhas na exatidão de um quadro. Uma é se o artista não
teria suas razões para mudar a aparência daquilo que viu. A outra é que
nunca deveríamos condenar uma obra por estar incorretamente desenhada, a menos que tenhamos a profunda convicção de estarmos certos
e o pintor errado. Somos todos propensos ao veredicto precipitado de
que “as coisas não se parecem com isso”. Temos o curioso hábito de
pensar que a natureza deve parecer-se sempre com as imagens a que
estamos acostumados. (...)
Todos nós somos inclinados a aceitar formas ou cores convencionais como as únicas corretas. Por vezes, as crianças pensam que as
estrelas devem ter o formato estelar, embora não o tenham naturalmente. As pessoas insistem em que, num quadro, o céu deve ser azul e
a grama verde, não são muito diferentes dessas crianças. Indignam-se
se vêem outras cores num quadro, mas se tentarmos esquecer tudo
o que ouvimos a respeito de grama verde e céu azul, e olharmos o
mundo como se tivéssemos acabado de chegar de outro planeta numa
viagem de descoberta e o víssemos pela primeira vez, talvez concluíssemos que as coisas são suscetíveis de apresentar as cores mais
surpreendentes. Ora, os pintores sentem, às vezes, como se estivessem
empreendendo tal viagem de descoberta. Querem ver o mundo como
se fosse uma novidade e rejeitar todas as noções aceitas e todos os
preconceitos sobre a carne ser rosada e as maçãs serem amarelas ou
vermelhas. Não é fácil libertarmo-nos dessas idéias preconcebidas, mas
os artistas que melhor conseguem fazê-lo produzem freqüentemente
as obras mais excitantes. São eles que nos ensinam a ver na natureza
novas belezas, de cuja existência nunca havíamos sonhado. Se os
acompanharmos e aprendermos através deles, até mesmo um relance
de olhos para fora de nossa própria janela poderá converter-se numa
aventura emocionante.(...)
O que é ainda mais importante é que aquilo a que chamamos “obrasde-arte” não é fruto de uma atividade misteriosa, mas são objetos
feitos por seres humanos para seres humanos. Um quadro parece tão
distante quando, emoldurado e envidraçado, o vemos pendurado em
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UM PASSEIO PELO MUNDO DA ARTE
uma parede. E em nossos museus é proibido - muito apropriadamente
- tocar nos objetos expostos. Mas, originalmente, eram feitos para
serem tocados e manipulados, eram motivo de negócio, de discussão
e de preocupação. Lembremos que cada uma de suas características
é o resultado de uma decisão pessoal do artista; que este pode ter
meditado sobre elas e decidido alterá-las repetidas vezes, que pode
ter hesitado sobre se deixar aquela árvore ao fundo ou pintá-la de
novo, que pode ter ficado satisfeito com uma pincelada feliz que deu
um súbito e inesperado brilho a uma nuvem iluminada pelo Sol, e
que incluiu relutantemente esta ou aquela figura por insistência de
um comprador. Pois a maioria das pinturas e esculturas que hoje se
alinham ao longo das paredes dos nossos museus e galerias não se
destinava a ser exibida como Arte. Foram feitas para uma ocasião
definida e um propósito determinado, que estavam na mente do artista
quando meteu mãos à obra.(...)
A verdade é que é impossível estabelecer regras, pois nunca se
pode saber de antemão que efeito o artista pretenderá realizar; não
existem regras para nos dizer quando um quadro ou uma estátua está
correto, é usualmente impossível explicar com palavras exatamente
por que sentimos que é uma obra-de-arte. Mas isso não significa que
uma obra é tão boa quanto qualquer outra, ou que não se pode discutir
questões de gosto.(...)
Nunca se acaba de aprender acerca da arte. Há sempre novas
coisas a descobrir. As grandes obras de arte parecem ter um aspecto
diferente cada vez que nos colocamos diante delas. Parecem ser tão
inexauríveis e imprevisíveis quanto seres humanos de carne e osso.
É um mundo tão excitante, com suas próprias entranhas e leis, e suas
próprias aventuras. Ninguém deve pensar que sabe tudo a respeito, pois
ninguém sabe. Talvez nada exista de mais importante do que isto: que
para nos deleitarmos com essas obras devemos ter um espírito fresco,
pronto a captar todo e qualquer indício sugestivo e a reagir a todas as
harmonias ocultas, sobretudo, um espírito que não esteja atravancado
de palavras bombásticas e frases feitas. É infinitamente melhor nada
saber sobre arte do que possuir uma espécie de meio conhecimento
propício ao esnobismo. O perigo é muito real (...) pois todos somos
suscetíveis de sucumbir a tais tentações. (...) Falar argutamente sobre
arte não é difícil, porque as palavras que os críticos usam têm sido
empregadas em tantos contextos diferentes que perderam toda a sua
precisão. Mas olhar um quadro com olhos de novidade e aventurarse numa viagem de descoberta é uma tarefa muito mais difícil, mas
também mais compensadora. É incalculável o que se pode trazer de
volta de semelhante jornada.”
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Uma série de artistas e pensadores também têm comentários e frases
a respeito da arte, seja ela composta por um borrão de tinta ou pela complicada engrenagem de um computador.
Achamos que conhecer o pensamento dessas pessoas pode fazer com
que você compreenda melhor o que virá nos capítulos que se seguem.
“Não há imagens na natureza. A imagem é própria do
homem, pois só é imagem a partir de sua consciência.”
Pierre Reverdy
“Estou satisfeito e continuo acreditando na minha Santíssima Trindade estritamente pessoal: creio em Deus, na
pintura e na música de Mozart.”
Marc Chagall
“O desenho não reproduz as coisas, mas traduz a
Visão que delas se tem.”
Pierre Francastel
“Minha linha quer me lembrar constantemente
que é feita de tinta.”
Steinberg
“A liberdade gráfica é conquistada no desenrolar de um
processo onde os gestos se desvencilham da atitude gráfica
adquirida na escrita, e em todos os processos de aculturação pelos quais a mão passou.”
Sílvio Dworecki
“Nunca se acaba de aprender acerca da arte. Há sempre
novas coisas a descobrir. As grandes obras-de-arte parecem
ter um aspecto diferente cada vez que nos colocamos diante
delas.”
E. H. Gombrich
“O papel é território livre e sem lei. E é importante que a
emoção seja o único critério.”
Alex Cerveny
“Este simples ato de ir registrando as coisas com um lápis
sobre um papel tem o maior valor, é onde me vejo e me
mostro intimamente.”
Ana Tatit
“Desenhar é um ato prematuro. Por ser tão simples é que
surge tão cedo e é, com toda certeza, a maneira mais direta
de se registrar o que quer que seja.”
Alex Cerveny
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UM PASSEIO PELO MUNDO DA ARTE
“Para nos deleitarmos com essas obras devemos ter um
espírito fresco, pronto a captar todo e qualquer indício
sugestivo e a reagir a todas as harmonias ocultas; sobretudo um espírito que não esteja atravancado de palavras
bombásticas e frases feitas.”
E. H. Gombrich
“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo.”
Toquinho
“Deve-se ter audácia ao extremo; sem ousadia, sem
extrema ousadia, não há beleza.”
Eugène Delacroix
“Quando desenho uma pessoa ou objeto, tento estar mais
aberto aos fragmentos de sensações que descubro, do que
às memórias e desejos de ‘como deveria ser’ aquele ser.”
Tarcísio Sapienza
“O verdadeiro limite do desenho não implica de forma alguma o limite do papel, nem mesmo pressupondo margens.”
Mário de Andrade
“– Nunca vi uma mulher de barriga verde...
– Minha senhora, isto não é uma mulher;
é uma pintura.”
Henri Matisse
“Uma imagem que sempre me vem à cabeça quando desenho ou vejo outras pessoas desenharem, é a de que a linha é
um ser vivo e sonhador.”
Tacus
“Ao exagerar nas cores, quero expressar-me com força.”
Van Gogh
“O problema com a beleza é que gostos e padrões do que é
belo variam imensamente.”
E.H. Gombrich
“Todo artista tem que ir aonde o povo está.”
Milton Nascimento
“É tão fácil pintar um bom quadro como encontrar um
diamante ou uma pérola. Significa obstáculos e você arrisca
a sua vida por isso.”
Van Gogh
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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“Faz parte da natureza humana desafiar a imaginação. Eu
acredito que, no fundo, todo artista deseja nada mais do
que contar ao mundo o que pensa.”
Maurice Escher
“A superfície branca do papel aciona os sentidos e estimula
a memória. Cada elemento que surge pede a presença de
outro, até que seja necessário começar outra vez, um novo
papel.”
Alex Cerveny
“A arte não imita o visível, torna visível.”
Paul Klee
“As emoções são, por vezes, tão fortes que trabalho sem ter
consciência de estar trabalhando... e as pinceladas acodem
com uma seqüência e coerência idênticas às da palavra
numa fala ou numa carta.”
Van Gogh
“Para que olhar para trás, no momento em que é preciso
arrombar as portas do impossível. O tempo e o espaço morreram ontem. Vivemos já no absoluto, pois criamos a eterna
velocidade onipresente.”
Manifesto Futurista, Marinetti
O Jogador: “Giramos com o sol. Não existe mais noite nem
dia. Não existe mais tempo, de hoje em diante vivemos no
puro instante.”
O Outro: “Quer dizer que estamos mortos?”
O Jogador: “Não, é o território, o planeta que está morto.
Se não existe mais tempo, não existe mais espaço: só essa
imagem. Tudo se tornou mapa para nós.”
Jeu de l’Oie, Raul Ruiz
“Antes, o futuro era apenas a continuação do presente e
avistavam-se transformações no horizonte. Mas agora o
futuro e o presente se fundiram.”
Stalker, Andrei Tarkovski
“Não mais representar o visível, mas tornar visível.”
Paul Klee
“Para poder lidar com a forma, as matemáticas e a física
dispõem de um conjunto de regras a observar ou a desrespeitar. É salutar, a esse respeito, a obrigação de ocupar-se
antes de tudo das funções e não, em primeiro lugar, da
forma acabada.”
Paul Klee
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UM PASSEIO PELO MUNDO DA ARTE
A N O T A Ç Õ E S
“O papel da percepção é trazer o mundo aqui.”
Pierre Lévy
“A função simétrica da percepção é a projeção no mundo,
tanto da ação como da imagem.”
Pierre Lévy
“Os sistemas de realidade transmitem mais que imagens:
uma quase presença.”
Pierre Lévy
“Se acaso alguém me houvesse alertado o interesse, se antes de cada matéria lesse um prefácio estimulante, que me
despertasse a inteligência, me oferecesse fantasias em lugar
de fatos, me divertisse e intrigasse com o malabarismo dos
números, romantizasse mapas, me desse um ponto de vista
a respeito da história, e me ensinasse a música da poesia,
talvez eu tivesse sido um erudito.”
Charles Chaplin
“Mais que nunca, a imagem e o som podem tornar-se os
pontos de apoio de novas tecnologias intelectuais. Uma vez
digitalizada, a imagem animada, por exemplo, pode ser
decomposta, recomposta, indexada, ordenada, comentada,
associada no interior de hiperdocumentos multimídias.”
Pierre Lévy
“Em breve estarão reunidas todas as condições técnicas
para que o audiovisual atinja o grau de plasticidade que fez
da escrita a principal tecnologia intelectual.”
Pierre Lévy
“Estamos na fronteira, cada vez mais tênue, entre o
domínio da imagem e o da informática, esperando a livre
associação das interfaces.”
Pierre Lévy
Para finalizar, queremos propor a você a leitura de um texto escrito
por um artista das letras: o mineiro Bartolomeu que, com suas rimas e
imagens, nos leva a viajar por recantos inimagináveis, nos apresenta paisagens inusitadas e nos faz sentir as mais variadas emoções.
É um pouco do que os capítulos que você conhecerá farão com você.
Assim como um viajante você habitará outros mundos, conhecerá
pessoas diferentes, experimentará sensações nunca antes vivenciadas.
Tal como um garimpeiro você descobrirá, a custa de muito trabalho,
suas pedras preciosas, seus tesouros, sua riqueza. Arriscamos dizer que
ela já está dentro de você!
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A N O T A Ç Õ E S
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Com a arte, nós o ajudaremos a fazê-la brotar para que, daqui para
frente, todos os caminhos sejam mais felizes, mais plenos, mais belos!
Minerações
Há que se afinar o corpo até o último
Sempre. Exercer-se como
Instrumento capaz de receber a
Poesia do mundo. Poesia suspensa
Em rotação e translação. Movimentos
Moderados alinhavando dias e
Luares, estações e colheitas, minutos
E milênios provisoriamente.
Há que se ter ouvido incapaz de
Olvidar ruídos de asa e bússola que
Arranham o silêncio com viagens. Ler
No vento notícia de aroma e sumo.
Pisar a terra sem sufocar a semente
Grávida de árvore e fruto.
Há que se ter os carecimentos da terra
– sem luz e aquecida por estrela
de grandeza menor – onde eliminar
uma névoa é subtrair-se em aurora.
Há que se chorar com lágrimas
Invisíveis como choram os peixes.
Nutrir-se de limo e lodo umedecidos
Pelo próprio pranto. Nadar em
Mágoas, repousar sob a sombra da
Lua – cercar-se dessa faiscante farsa
Do céu se mirando em espelho de água e noite.
Depois dormir, fechado
Sobre si, como concha, sonhando pérolas.
Há que se apreender do rio o ritmo.
Ao buscar o sal, seu curso não desfaz
Paisagem, mas se refaz em paisagem.
Percorrendo o exato limite das
Montanhas e planícies, o rio cumpre
A rota original esculpida pelo tempo,
Pacientemente.
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UM PASSEIO PELO MUNDO DA ARTE
Há que se existir sem sede como a
Chuva. Crina e cauda de nuvem em
Relâmpago e galope, destilando
Macios espinhos de cristais. Chicote
Acariciando pétalas, pontuando
Flores na superfície dos mares.
Desprender-se pautando o nada.
Enxaguar cansaços e entremear-se,
Sem incômodo, nos poros da terra.
Regar raízes e outros mistérios
Sigilosos do nascimento,
Silenciosamente.
Há que se ser frágil o suficiente e
Reconhecer-se inábil para inferir
Emendas na lei que equilibra as
Águas. Inábil para decretar outros
Ministérios ao destino das constelações.
Inábil para encolher as
Cores dos crepúsculos.
Há que se vicejar como fazem as
Florestas. Unir-se em copas para
Aniversariar com sombra o esforço
Das raízes suportando tronco, galho,
Fruto e flor, que tudo abraçam
Desinteressadamente. Como as
Árvores há que se receber a gota
Do orvalho sem se molhar, preservando
O extrato da noite.
Há que se queimar em calor e luz
Como faz o fogo. Chama
Desenhando votivas sombras em
Ouro e fumaça. Lume que arde
Enquanto consome as causas.
Há que se escrever a vida em flauta e
Vôo como cantam os pássaros.
Buscar na memória a lembrança e a
Direção. Ocultar os rastros
Percorridos para perder-se no
Encontro e ninho. Decifrar o alfabeto
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Rabiscando nas linhas do vento,
Gravado no fruto maduro,
Embaraçado na pena trocada. Como
Os pássaros, há que se escrever
Enquanto é dia e para todos.
Há que se Ter a discrição dos
Minérios entretidos com os tons do
Ar, da água, do fogo – e tão somente –
Sem desconfiar fortunas. Ser na
Terra o útero e o filho, sem sinais de
Medo, nascimento, morte. E como
Os minérios ignorar o até quando.
Há que se dormir como dormem as
Noites. Aninhando, do poente ao
Nascente, o mundo e seus pertences,
Apenas para o repouso. Baixar as
Pálpebras – asas que acordam
Sonhos. E sem se surpreender com
Os enigmas da treva, dormir. Dormir
Como dorme a noite: sem se assustar
Com os pios inusitados que cortam
o escuro até aos fantasmas.
Há que se Ter a paciência dos caramujos
Visitando veredas e várzeas sem se
Ferir. Vagar sem pressa, polindo com
Prata e alma o percurso. Sem se
Desviar do acaso, vestido de espiral
E compasso, passear desejos em fio
E luz serenamente. Estar assim, sem
Perdas e heranças. Ser sem volta.
Há que se morrer como morrem as
Sempre-vivas. Escapar-se de si sem
Furtar-se aos olhares alheios. Ser, a um
Tempo, presença e ausência.
Sorvê-la como seiva que inaugura no
Homem um destino vertical. Há que
Se somar à natureza até o último
Sempre.
Bartolomeu Campos Queirós
CAPÍTULO 2
identidade
• expressão, comunicação e autoRrealização
CAPÍTULO 2
identidade
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
o
capítulo “Identidade: Expressão, comunicação e autorrealização” traz até você uma reflexão a respeito da importância da identidade
cultural.
A música será o centro das nossas atenções e você irá conhecer
seus elementos essenciais.
Antes, porém, um pequeno passeio por uma das cidades mais
importantes de um estado muito querido do nosso país, com direito a
aprender um pouco sobre um de seus artistas mais famosos!
queM é vOCê?
Abra sua carteira. Dentro dela você guarda fotografias, algum dinheiro, um talão de cheques, anotações importantes, cartões de crédito
ou de banco, seu CPF, um pedaço antigo de papel com um bilhete
de uma pessoa querida... E, muito provavelmente, a sua carteira de
identidade.
Olhando para ela você irá encontrar uma foto. Ela representa um
rosto que só você tem. Prestando um pouco mais de atenção, você
encontra sua impressão digital. Ela é única e, assim como o seu rosto,
só você tem!
Outros dados compõem a identidade: seus dados pessoais como nome,
filiação, data de nascimento.
Eles podem ser comuns a outras pessoas, mas o conjunto deles faz com que aquele documento
identifique você e apenas você.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Sua assinatura determina que todos aqueles itens são capazes de comprovar que aquela pessoa é um indivíduo, identificado por um documento
oficial, com valores legais e solicitado centenas e centenas de vezes durante
toda a sua vida.
Entretanto, sua identidade vai além de um pedaço de papel.
Você é mais do que aqueles dados frios, pois você é parte de um contexto maior que começa na sua casa e amplia-se para a sua comunidade, sua
cidade, seu estado, seu país. Pode ramificar-se ainda mais, considerandose a sua religião, seu time de futebol ou sua escola de samba preferida.
Quando você observa a sua própria história de vida, verifica que ao
longo dos anos, foi sendo construída a sua identidade. Ela irá mostrar como
pequenos detalhes ou fatos muito importantes determinam a sua maneira
peculiar de ver o mundo e reagir ao que está ao seu redor.
As diferentes origens dos ingredientes que o tornam um indivíduo e
as múltiplas influências do meio onde você está interagindo fazem com
que você busque grupos para que neles adquira um papel cultural e uma
representatividade ideológica.
É uma grande engrenagem... Ou poderia ser um cristal de muitas faces...
Na realidade, é um complexo e maravilhoso universo capaz de nos
permitir percebermos a nós mesmos.
Lugares também têm identidade!
Cidades são conhecidas por pontos turísticos e pratos típicos. Também
podem ser conhecidas por serem o berço de um grande artista ou de um
político importante.
Veja o exemplo da Capela de Bom Jesus do Matosinhos, na Cidade de
Congonhas do Campo, no Estado de Minas Gerais e aproveite para saber
um pouco mais sobre o lugar.
“A construção do Santuário de Bom Jesus do Matosinhos foi iniciada em 1757, na então Freguesia de Nossa Senhora da Conceição
das Congonhas, hoje Congonhas do Campo, Minas Gerais, pelo
português Feliciano Mendes, em cumprimento de um voto professado quando acometido de grave moléstia adquirida nas lides da
mineração. Inspirado nos santuários do Bom Jesus do Matosinhos,
nas imediações da Cidade do Porto, e do Bom Jesus de Braga, ambos
em Portugal, o conjunto arquitetônico levou mais de 60 anos para
ser erguido, contando com a participação dos mais notáveis artistas e
artífices da região do ouro – contribuições diversas, que respondem
pela singular configuração alcançada no tempo e que o tornou um dos
mais extraordinários monumentos brasileiros.
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IDENTIDADE
A N O T A Ç Õ E S
As obras da igreja seguiram as do adro
terraceado, movimentado pelos lances da
escadaria, sob a responsabilidade de Thomaz
da Maia Brito, realizadas de 1777 a 1790.
As estátuas dos 12 Profetas do Antigo
Testamento, talhadas em pedra sabão e distribuídas simetricamente pelos supedâneos
do adro, foram contratadas a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e executadas no
período de 1800 a 1805. O conjunto é uma
das últimas obras do mais notável artista
mineiro, compondo um conjunto escultórico
de admirável efeito cênico.
Aleijadinho é também responsável pelas
imagens dos Passos da Paixão, realizadas
entre 1796 e 1799, que integram as estações da Via-Crucis, dispostas
nas seis pequenas capelas que se sucedem ao longo da encosta do
Morro do Maranhão, fronteiras ao adro da igreja. O artista foi auxiliado
por seus oficiais e aprendizes na produção do conjunto de 66 figuras,
reservando aos seus cuidados as imagens mais expressivas.”
Fonte: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/index.htm
Você viu?
É impossível falar em Minas Gerais sem lembrar das cidades históricas. Congonhas do Campo é uma delas, bem
como Mariana, Barbacena, São João Del Rey
e a famosa Ouro Preto.
Ao lembrar das cidades históricas, o Barroco (importante período da História, da Filosofia e da Arte) é algo que vem imediatamente
ao pensamento. Também é praticamente impossível falar em Barroco mineiro sem trazer
à tona o nome de Antônio Francisco Lisboa,
o Aleijadinho.
Ao mesmo tempo, Minas Gerais tem cheiro de boa comida, mesa farta, bem servida.
Aleijadinho
Junto com as imagens das cidades e a Arte de Aleijadinho está a tradição da culinária.
O país inteiro conhece a fama da boa cozinha mineira, com quitutes
caseiros e cozinheiras muito especiais!
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Licores, bolos, os famosos queijos e um tempero que parece ter ficado
preservado nas antigas fazendas e guardado a sete chaves pelas pessoas
do lugar.
Quem resiste?
Este é um típico exemplo da identidade de um lugar e a sua relação
com ícones que definem seu perfil.
Conheça um dos pratos mais famosos da culinária mineira:
FEIJÃO TROPEIRO
Ingredientes:
1 quilo de feijão preto. 1 xícara de chá de farinha de mandioca.
1 quilo de linguiça (Tropeira). 2 ovos cozidos. Temperos a gosto
(cebola, alho, o que quiser). 1 quilo de toucinho para torresmos.
Preparo:
Cozinhe o feijão (não deixe desmanchar).
Deixe escorrer o caldo numa peneira.
À parte, picar o toucinho, temperar com sal e fritar os torresmos
até ficarem amarelinhos.
Fritar a linguiça numa panela tampada com um pouco de água.
Destampar logo que a água secar, para corar.
Em meia xícara da gordura deixada pelos torresmos ao fritar,
refogar os temperos e o feijão cozido sem caldo.
Adicionar a farinha e os torresmos. Transferir para uma travessa.
Guarnição:
Enfeitar o feijão tropeiro com rodelas de ovo cozido e contorná-lo
com pedaços de linguiça frita. Servir a couve refogada (aproveite
a gordura dos torresmos) em uma travessa separada e o arroz
branco, assim como molho acebolado.
Assim como o exemplo dado mostra a identidade de um estado do
Brasil, países são citados por suas cores ou pelo idioma falado por seus
habitantes.
Mesmo sem dominar um idioma é relativamente fácil identificar a fala
de um francês ou de um japonês. A melodia presente na língua falada por
essas pessoas traz aos nossos ouvidos a marca registrada daquela terra.
Até mesmo continentes inteiros podem ter uma identidade e uma linha
em comum que nos induzem a incríveis generalizações.
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IDENTIDADE
Bandeiras e hinos também são símbolos de lugares.
Imagens criadas com cores e formas podem, junto com notas musicais,
representar toda uma nação.
Um jogo de futebol entre dois países não tem início antes de serem
executados os respectivos hinos. Você, certamente, conhece o Hino Nacional Brasileiro e, aos primeiros acordes, sente a emoção de ser filho da
nossa Pátria verde-amarela.
O poder da música é enorme e, através dela, as pessoas também criam
símbolos que poderiam ser definidos como “extraoficiais”, mas que acabam
por ter tanta ou mais representatividade do que muitos outros.
Voltando ao primeiro exemplo que mencionava Minas Gerais, sabemos
que é comum ver pessoas cantando para os mineiros a famosa musiquinha:
“Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria
Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria
Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a sua,
Sem a sua,
Sem a sua companhia”
Neste capítulo nós conversaremos sobre os elementos que compõem
a música, entendendo as formas de expressão, comunicação e autorrrealização presentes nas manifestações artísticas.
INVESTIGANDO CAMINHOS
Para compreender um pouco melhor o sentido da música no contexto
da arte enquanto identidade de um grupo ou de uma nação é importante
conhecer a origem da música.
Renato Roschel afirma que “a origem mecânica e não-mitológica da
música divide-se em duas partes: a primeira, na expressão de sentimentos através da voz humana; a segunda, no fenômeno natural de soar em
conjunto de duas ou mais vozes; a primeira seria a raiz da música vocal;
a segunda, a raiz da música instrumental.”
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Ele também define a origem física e os elementos que compõem a
música dizendo que “segundo a teoria musical”, a música “é formada
de três elementos principais. São eles o ritmo, a harmonia e a melodia”.
Se formos criar uma hierarquia entre esses três elementos podemos
afirmar que o ritmo é a base e o fundamento de toda expressão musical.
Sem ritmo não há música.
Estudos apontam para a ideia de que foram os movimentos rítmicos
do corpo humano que originaram a música. O ritmo é de tal maneira
mais importante que é o único elemento que pode existir independente
dos outros dois.
O Brasil é muito conhecido pelo ritmo de nossa música.
Também o ritmo e a cadência dos brasileiros tornaram-se uma marca
registrada de nosso povo ao redor do mundo.
Somos um país onde alguém é capaz de tirar som de uma pequenina
caixa de fósforos e, em segundos, um batuque numa mesa de bar se transforma em uma autêntica e inconfundível roda de samba.
A harmonia, segundo elemento mais importante, é responsável pelo
desenvolvimento da arte musical. Foi da harmonia de vozes humanas que
surgiu a música instrumental.
Em nossa grande maioria, não somos educados para apreciar a pura
música instrumental. Nossa cultura descartável nos torna relativamente
insensíveis a este tipo de manifestação.
É comum ver pessoas “torcendo o nariz” para as lindas Sonatas, as
Sinfonias ou até mesmo para músicas contemporâneas que não se utilizam
do recurso da voz.
É preciso sensibilidade e exercício para que possamos ao menos tentar
penetrar no maravilhoso universo dos instrumentos, entendendo que também eles têm uma voz que nos diz muito em suas nuances e combinações.
A melodia, por sua vez, é a primeira e imediata expressão de capacidades musicais, pois se desenvolve a partir da língua, da acentuação das
palavras, e forma uma sucessão de notas característica que, por vezes,
resulta num padrão rítmico e harmônico reconhecível.
Ela é mais “familiar” a todos nós. Crianças aprendem a cantar desde
muito cedo. Todo mundo já vivenciou a experiência de cantar no chuveiro,
no karaokê do bar da esquina ou até mesmo nos famosos videokês. Pode
ser uma simples cantiga aprendida na infância, uma música da parada de
sucessos, uma canção religiosa ou o hino de um time. Exercitando o ato
de cantar exteriorizamos sentimentos, crenças, ideologias. Fazemos o que
diz o ditado: “Quem canta, seus males espanta.”
Veja uma definição, em forma de música, do maravilhoso ato de cantar:
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IDENTIDADE
A N O T A Ç Õ E S
CANTAR
Se numa noite eu viesse ao clarão do luar
Cantando e aos compassos de uma canção
Te acordar
Talvez com saudade cantasses também
Relembrando aventuras passadas
Ou um passado feliz com alguém
Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora saudade que mora no
meu coração
Godofredo Guedes
Tomando por base todos esses dados e tentando criar uma definição
mais sintética, poderíamos dizer que a música seria a capacidade que
consiste em saber expressar sentimentos através de sons artisticamente
combinados ou a ciência que pertence aos domínios da acústica, modificando-se esteticamente de cultura para cultura.
A música e a identidade de Minas Gerais
Tanto foi dito a respeito de Minas Gerais e suas peculiaridades...
Tanto foi dito a respeito da música e de seus principais elementos...
Mas em que lugar combinamos tudo isso? Através da descoberta da
identidade musical das Minas Gerais.
É sabido que nas partituras compostas em Minas ou nas letras escritas
pelos artistas locais, o sagrado e o profano não se misturavam. Mas caminhavam bem, lado a lado. O sincretismo se deve também à influência afro.
Por ter nascido em berço popular, a música-mãe tocada com chocalhos,
pandeiros, reco-recos e o ritmo marcado pelos batedores pontuaram a
cultura mineira antes mesmo que a música barroca.
Os registros históricos mais antigos descrevem principalmente a ação
dos mulatos na atividade musical colonial. Sem ocupação nas minas e
sem posses, a música era antes de tudo uma aspiração para essas classes
mais pobres.
Fazer parte de uma orquestra era uma forma de ascensão social pelo
trabalho. Essa situação ficaria claramente definida com a chegada das irmandades religiosas na primeira parte do século XVIII, que introduziram
a música no culto e, além do mais, pagavam aos mulatos “para tanger o
cravo no dia de festa”, conforme escrito no Livro dos Termos da Irmandade
de Nossa Senhora do Amparo, na Sabará de 1739.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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A grande produção musical em Minas ocorreu no último quartel do
século XVIII, prolongando-se até 1840. Unia religiosidade, criatividade e
até política, como demonstram as marchinhas utilizadas mais tarde pelas
bandas nas disputas políticas de cidades importantes.
Por seu caráter popular, também acabou fortalecendo a formação de
músicos, maestros e compositores entre as classes sociais mais simples.
Os músicos formados eram, portanto, um fruto de vocação e autodidatismo
praticado nos coretos de Diamantina, nas serenatas de Montes Claros e
nas cantigas dos barqueiros do São Francisco.
A cultura que nascia das ruas também foi o mote na formação dos escritores mineiros. Para isso contribuiu o florescimento da fértil vida urbana
para os bem-nascidos e os estudados naquela Minas do Ouro.
O grupo mineiro – expressão com que se designa os poetas daquele
período liderados por Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga – abastecia-se do modelo europeu que os havia gerado, mas criava,
inspirado nas novas trilhas vislumbradas na Metrópole, a Vila Rica dos
Inconfidentes.
Minas Gerais é, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes berços da cultura brasileira. De certa forma, conhecer sua história é revelar a
história de todo um país, suas nuances criadas pela miscigenação e, acima
de tudo, o incomparável talento da nossa gente.
DESAFIOS DO PERCURSO
1. Considerando as imagens apresentadas, procure identificar os países
que a elas se relacionam:
R.
2. Entendendo que a música é um canal que o ser humano usa para
exteriorizar pensamentos e sentimentos, defina com as suas palavras o que
você imagina que os compositores quiseram expressar com os trechos das
canções que se seguem:
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IDENTIDADE
a) Maria, Maria, de Milton Nascimento e Fernando Brant
Maria, Maria, é um dom/ Uma certa magia, uma força que
nos alerta/ Uma mulher que merece/ Viver e amar como outra
qualquer do planeta
b) Passarim, de Tom Jobim
Passarim quis pousar não deu voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho me conte então me diz
Por que que eu também não fui feliz
Me diz o que eu faço da paixão
Que me devora o coração
Que me devora o coração
Que me maltrata o coração
Que me maltrata o coração
3. Leia com atenção o texto que se segue.
PAISAGEM DA JANELA
Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade e um velho sinal
Mensageiro natural, de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou
Você não quis acreditar, mas isso é tão normal
Você não quis acreditar e eu apenas era
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Eu olhava da janela lateral
Do quarto de dormir
Você não quis acreditar, mas isso é tão normal
Você não quis acreditar, mas isso é tão normal
Um cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Você não quis acreditar que eu apenas era...
Lô Borges e Fernando Brant
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Observe que a visão dos compositores incluiu sentimentos na paisagem
daquela janela. Ao trabalhar com a riqueza da música, um artista pode ver
o que existe e “ver” o que se sente.
Preencha as lacunas com a paisagem da sua janela. Com as palavras
criadas, produza o seu próprio texto, tendo a letra de “Paisagem da Janela”
como inspiração.
Você vê
Você sente
4. A rima é um elemento muito comum na letra de várias canções.
Complete a tabela com as rimas encontradas na letra de “CANTAR”, de
Godofredo Guedes.
luar______________________________
alguém___________________________
violão____________________________
embora___________________________
AMPLIANDO O HORIZONTE
Quem sabe você e seus amigos visitarão Minas Gerais?
Se você quiser ter um bom motivo, aqui vai uma dica:
Julho, mês dos Festivais de Inverno.
A arte e a cultura de Minas Gerais ganham destaque em julho, com
os Festivais de Inverno, que acontecem em 12 cidades do interior
do Estado.
O mais tradicional é o Festival de Inverno da Universidade Federal
de Minas Gerais, (...), na cidade de Diamantina.
Estes encontros promovem oficinas de artes plásticas, cênicas,
visuais, gastronomia, música popular e erudita, artesanato,
diversos shows e espetáculos teatrais. Além de Diamantina, os
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IDENTIDADE
Festivais de Inverno se estendem por Ouro Preto, Mariana, São
João Del Rey, Itabira, Vale do Jequitinhonha, Milho Verde, Uberlândia, Montes Claros, Grão Mogol, Araxá, Itajubá e Juiz de Fora.
Os Festivais de Inverno fazem parte do Circuito Minas de Festivais, com apoio da Secretaria de Estado da Cultura. O Circuito
envolve 35 eventos culturais que acontecem durante todo o ano
em todas as regiões mineiras, fazendo arte, divulgando idéias,
promovendo atrações e movimentando milhares de pessoas.
Só Minas tem tradição, história e vocação para abrigar tantos
acontecimentos que, por sua diversidade e riqueza, formam um
conjunto único no Brasil e raro no mundo.
Fonte da Informação: http://www.cultura.mg.gov.br/sec/comemor/comemorjulho.html
Dica de leitura:
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, aprendeu a desenhar e a
esculpir observando a arte que chegava do exterior e pesquisando
ilustrações na Bíblia.
Transformou a pedra bruta em admiráveis formas esculturais, que até
hoje podem ser vistas em vilas, ruas e igrejas de cidades mineiras.
Nada interrompeu o seu trabalho, nem mesmo a terrível doença
que aos poucos o deformava. Deixou para a humanidade o exemplo
de que, para o homem determinado e com grande espírito de luta,
obstáculos não existem.
Se você quiser saber mais, leia Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, de Lígia Rego e Angela Braga – Coleção Mestres das Artes
– Editora Moderna.
GLOSSÁRIO
Acometer – Manifestar-se de repente (doença, desejo, sono, etc.)
em; atacar.
Adro – Terreno em frente e/ou em volta da igreja, plano ou escalonado, aberto ou murado; períbolo, átrio.
Artífice – Operário ou artesão que trabalha em determinados
ofícios; artista.
Lide – Trabalho.
Moléstia – Incômodo ou sofrimento físico; doença, achaque, mal.
Supedâneo – Banco para descanso dos pés; escabelo. Estrado de
madeira onde o padre põe os pés enquanto diz a missa; estrado.
Base, pedestal, peanha.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, Angela. Antônio Francisco Lisboa: O Aleijadinho. São
Paulo: Moderna, 1999.
OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. Aleijadinho, Passos e
Profetas. Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia: EDUSP, 1984.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. Ao longo da vida um indivíduo constrói sua identidade:
a) indo ao órgão responsável pela expedição do documento.
b) observando atentamente os detalhes de sua impressão digital.
c) descobrindo suas preferências e interagindo com o meio em que
está inserido.
d) meramente repetindo os modelos de comportamento presentes
em sua comunidade.
e) obedecendo as regras de conduta determinadas pelos meios de
comunicação.
II. O verdadeiro nome de Aleijadinho era:
a) Antônio Francisco Lisboa.
b) Antônio Manoel Lisboa.
c) Feliciano Mendes.
d) Thomaz da Maia Brito.
e) Thomaz Francisco Lisboa.
III. O exemplo da obra de Aleijadinho na Capela de Bom Jesus do
Matosinhos nos faz concluir que:
a) Aleijadinho é o único artista conhecido em Minas Gerais.
b) a obra de um artista pode ser um dos ingredientes que compõem
a identidade de um lugar.
c) Congonhas do Campo é a cidade mais importante de Minas
Gerais.
d) O Aleijadinho foi o responsável pela criação das cidades históricas
de Minas Gerais.
e) sem a Capela de Bom Jesus de Matosinhos não haveria barroco
mineiro.
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IDENTIDADE
IV. As imagens da Via Crucis presentes nas seis capelas do Santuário
de Bom Jesus do Matosinhos:
a) foram todas confeccionadas por Aleijadinho.
b) foram confeccionadas apenas pelos auxiliares de Aleijadinho.
c) não ficaram prontas pela falta de auxiliares para o trabalho de
Aleijadinho.
d) foram executadas por Aleijadinho e seus auxiliares.
e) não foram executadas porque os auxiliares de Aleijadinho não
apreciavam o estilo do artista.
V. O exemplo do feijão tropeiro, famoso item da lista de quitutes
da culinária mineira, nos mostra que:
a) um lugar só tem identidade se possuir uma variedade grande
de pratos típicos regionais.
b) a culinária mineira é baseada nas receitas que utilizam feijão
como ingrediente principal.
c) o feijão foi a base da culinária mineira no período barroco.
d) sem o feijão tropeiro o Estado de Minas Gerais perde a sua
identidade cultural.
e) junto com licores e queijos, o feijão tropeiro faz parte do que
poderíamos considerar a identidade cultural do Estado de Minas
Gerais.
VI.Um menino brincando de batucar em uma lata vazia está demonstrando o seguinte elemento que compõe a música:
a) melodia.
b) harmonia.
c) ritmo.
VII. A partir da língua, da acentuação das palavras e da formação
de uma sucessão de notas temos a criação:
a) do ritmo.
b) da melodia.
c) da harmonia.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito do Santuário de Bom Jesus do
Matosinhos, em Minas Gerais.
a) A construção do Santuário de Bom Jesus do Matosinhos foi
iniciada no século XVIII.
b) À época da construção do Santuário, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Congonhas era conhecida pelo nome
de Congonhas do Campo.
c) Foi necessário mais de meio século para que o Santuário de Bom
Jesus do Matosinhos fosse erguido.
d) Os doze profetas foram parte da contribuição da arte de Aleijadinho ao conjunto arquitetônico do Santuário.
e) Por estar com a saúde debilitada, Aleijadinho não pôde esculpir
as imagens que compõem os seis passos da Via Crucis.
3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( )A expressão dos sentimentos através da voz é a origem da
música instrumental.
( )O ritmo é um elemento essencial da música.
( )A harmonia de vozes originou a música instrumental.
( )Ritmo e melodia são os únicos componentes necessários à
criação musical.
4. Compreendendo que a música pode ser um dos elementos a identificar um país, um time ou um grupo, numere os parênteses de acordo
com a numeração.
(1) Trecho do Hino Nacional Brasileiro
(2) Trecho de um samba-enredo
(3) Trecho do Hino de um time de futebol
( ) Liberdade, Liberdade
Abre as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz
( ) Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
( ) … De um povo heróico o brado retumbante
E o sol da liberdade em raios fúlgidos
Brilhou no céu da Pátria nesse instante
CAPÍTULO 3
conhecimento
• descobertas e conquistas do universo musical
CAPÍTULO 3
CONHECIMENTO
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
D
epois de ter conhecido um pouco sobre a importância da identidade cultural na vida de um povo, você irá, através do capítulo “Conhecimento: Descobertas e conquistas no universo musical”, desvendar
o que existia por trás das mais belas canções da MPB, compostas em
um momento complicado da vida política do nosso país.
Para compreender o que havia nas entrelinhas das letras de várias
músicas você vai ter o prazer de passear por um outro mundo, onde
pessoas, e não ideias, se escondem por trás de lindas máscaras!
A Itália é um país situado na Europa.
Berço de história e de cultura, o país tem uma série de elementos
que o tornam conhecido no planeta inteiro. A famosa culinária, a música, o idioma e várias cidades formam um conjunto de ícones que
identificam um dos países mais especiais do velho mundo.
Mesmo que você
nunca tenha ido à Itália,
já deve ter ouvido falar
em Roma, Florença e
Veneza.
Estas são cidades
turísticas, com peculiaridades que atraem
visitantes de todas as
partes do globo.
Veneza é uma cidade
maravilhosa e fica no
coração da Itália.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Além de ter conhecimento da beleza da paisagem, quem conhece Veneza também sabe que a
cidade é famosa por sua
paisagem, suas gôndolas
e seus bailes de Carnaval.
Tendo a estação do ano
oposta à nossa, o continente europeu atravessa dias
frios e baixas temperaturas
e, ao contrário do que se
vê no Brasil, normalmente
o Carnaval é cercado por
roupas longas e máscaras.
As máscaras venezianas
são maravilhosas e conhecidas em todo o mundo.
A História nos conta que o Carnaval de Veneza era um momento mágico
que envolvia toda a cidade; era a “transgressão” de todas as regras sociais
e do estado, era satisfazer a necessidade típica dos homens de festejarem
e beberem muito nas festas.
Os mascarados viviam intensamente este período, saíam pelas ruas e
iam aos bailes com capas e máscaras, de modo a não permitir que pessoas
fossem reconhecidas, nem tampouco seu sexo ou sua posição social.
O mais antigo documento sobre o uso das máscaras em Veneza data
de 2 de maio de 1268. Um outro documento, datado de 22 de fevereiro
de 1339, conta que era proibido aos mascarados andar à noite pelas ruas
da cidade.
As máscaras têm origem bastante antiga e seu uso era permitido durante
todo o carnaval, exceto nas festas religiosas ou ao se entrar nas igrejas.
Durante todas as manifestações importantes, como as festas republicanas,
era consentido o uso dos trajes venezianos em conjunto com o uso das
máscaras.
Hoje em dia, o carnaval veneziano está muito mais moderno, mas
conserva a tradição do uso de máscaras maravilhosas confeccionadas
manualmente. Estas verdadeiras peças de arte embelezam os bailes e
trazem aquele glamour que, juntamente com o cenário de Veneza, tornam
o Carnaval inesquecível.
Como você observou, as máscaras foram usadas com o propósito de
não revelar a identidade daquelas pessoas.
Com arte, com requinte e com beleza foi possível esconder a realidade
e transformar rostos e pessoas em algo diferente.
45
CONHECIMENTO
No entanto, a função da máscara não era apenas de camuflar. Se assim
fosse não haveria tanto empenho dos artesãos em criar algo que fosse além
do rosto escondido, da face não revelada.
Também com palavras é possível criar “máscaras”.
Durante um tempo difícil da história do Brasil, escritores e compositores usaram “máscaras” em seus textos.
Você vai descobrir que “máscaras” são essas, o que obrigou a classe
artística a ter que usá-las e o impacto deste recurso no panorama musical
brasileiro.
INVESTIGANDO CAMINHOS
O panorama musical brasileiro é, sem sombra de dúvida, um grande
painel que representa a grandeza e a multiplicidade de um país, em seus
diferentes momentos da história.
Mas o que teria feito com que, em determinado período, compositores tivessem problema para expressar suas ideias?
O que teria causado a censura de várias músicas?
Por que razões artistas foram exilados?
Uma retrospectiva na história da música brasileira irá nos permitir
entender um pouco melhor as causas que levaram os artistas a utilizar o
artifício da linguagem figurada para “mascarar” a verdadeira face de suas
canções. A principal mensagem das letras estava camuflada por figuras
de linguagem que impediam que os censores proibissem sua veiculação,
pois as palavras escritas tinham uma outra conotação, davam margem a
outras interpretações, mas eles não eram capazes de provar isso.
Façamos uma volta no tempo
O ano de 1958 registra o surgimento da Bossa Nova. Sua estrutura
harmônica influenciada pelo jazz e o refinamento na instrumentação são
diferentes de tudo o que havia sido produzido até então. Entre os nomes
mais importantes do movimento estão Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Nos anos 60, o clima de militância política é propício à criação de
músicas que abordam temas relativos à situação social e política do país.
Grande parte dos compositores da época ingressa nas canções de protesto,
como Geraldo Vandré e Edu Lobo. Veja a cronologia da década
Em meados dos anos 60 explode a Jovem Guarda, o reflexo brasileiro
do rock internacional, com músicas românticas e descontraídas que fazem sucesso entre os jovens. O conteúdo das letras da Jovem Guarda,
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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mostrava uma falsa rebeldia, irritando os militantes de esquerda, que as
consideravam alienadas.
A partir de 1965, com o início dos festivais, a sigla MPB passa a
identificar a música popular brasileira, ou seja, a música que surge após
a Bossa Nova, rompe com os regionalismos e se projeta nacionalmente.
A MPB diferencia-se da Bossa Nova pelo abandono do intimismo,
com apresentações em grandes espaços públicos, e pela temática, ligada
à situação política do país.
Em 1965 a TV Excelsior, de São Paulo, organiza o primeiro Festival
de Música Popular Brasileira. Os parceiros Edu Lobo e Vinícius de Morais vencem com Arrastão, interpretada por Elis Regina.
No ano seguinte, a TV Record, também de São Paulo, produz o segundo
festival. Chico Buarque de Holanda, com A Banda, e Geraldo Vandré, com
Disparada, empatam em primeiro lugar. Em 1967, no Festival de MPB da TV Record, Edu Lobo e Capinan
vencem com Ponteio, e Roda Viva, de Chico Buarque, fica em quarto lugar.
No mesmo festival, Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, e Domingo
no Parque, de Gilberto Gil, lançam as sementes do Tropicalismo, movimento que incorpora à MPB elementos do rock, dos ritmos estrangeiros
e da cultura de massa.
Em 1968, Geraldo Vandré vai ao Maracanãzinho somente com o seu
violão e canta Pra não dizer que não falei de flores, levando o público ao
delírio e deixando os militares revoltados.
É o ano de Roda Viva, a peça teatral cuja apresentação foi invadida pelo
Comando de Caça aos Comunistas. Também é o ano de É Proibido Proibir, de Caetano Veloso, e do Ato Institucional Nº5, o AI-5, que inaugura
o período mais negro da história brasileira. A partir daí, a Censura será
muito severa e as perseguições e exílios serão constantes. A decretação
do AI-5 faz com que toda a produção cultural do país entre em crise, com
o exílio de muitos artistas.
Em 1969 Emílio Garrastazu Médici assume a Presidência do Brasil,
inaugurando o maior período de horror da ditadura.
Nos anos 70, o rock desenvolve-se com Rita Lee e Raul Seixas. Voltando à ideia das máscaras e tentando mostrar como os compositores criaram, vamos analisar alguns exemplos de letras, compostas por
Chico Buarque e seus parceiros, para entender de que forma as mensagens
tornavam-se ocultas em textos aparentemente simples, mas que tinham
um pouco mais a contar do que o meramente escrito:
47
CONHECIMENTO
Exemplo 1:
A N O T A Ç Õ E S
Pedro Pedreiro
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Desde o ano passado
Para o mês que vem
Chico Buarque/1965
A repetição de palavras com a mesma sílaba dão uma ideia de pouca
mobilidade, traduzindo a intenção do artista de mostrar que nada acontecia, que Pedro tinha sua vida estagnada, com poucas perspectivas de
mudança ou de melhora.
Observe a repetição logo no primeiro verso:
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
A repetição da palavra “esperando” dá a mesma sensação.
Exemplo 2:
Cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Gilberto Gil / Chico Buarque – 1973
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Chico e Gil brincam com as palavras de um trecho bíblico, com a
intenção de representar o que está escrito e de sugerir uma palavra não
dita, mas pronunciada: a palavra “cálice” e a expressão “cale-se” são
pronunciadas da mesma forma, ainda que escritas de maneira diferente.
Ao imaginarmos os compositores sugerindo que se afaste deles o
“cale-se”, compreendemos ser este um protesto contra a ditadura, que os
impedia de expressar livremente suas ideias.
O mesmo acontece com a imagem de uma “arquibancada” e um “monstro da lagoa”. Na verdade os autores se confessavam impotentes para
fazer alguma coisa, eram meros espectadores assistindo ao “espetáculo”
da força de algo maior que eles. No caso, as forças militares da ditadura.
DESAFIOS DO PERCURSO
1. Observe as imagens ao lado. As três são exemplos de máscaras usadas no Carnaval da cidade de Veneza. Preencha os espaços com palavras
que, segundo a sua opinião, traduzem a expressão presente na máscara.
a)__________________________________
b)__________________________________
c)__________________________________
d)__________________________________
e)__________________________________
f)___________________________________
g)__________________________________
h)__________________________________
i)___________________________________
2. O que existe em comum entre os foliões de Veneza em suas máscaras
e a linguagem figurada usada por compositores brasileiros no tempo da
ditadura militar?
R.
49
CONHECIMENTO
3. Preencha as lacunas de acordo com as informações obtidas no texto
sobre o panorama musical brasileiro.
Dentro de um cenário político complicado, o Brasil viveu, na década de
60, um importante momento dentro da música. Três estilos marcaram este
período: ________________________, __________________________
e ___________________________.
4. Uma das marcas registradas de Chico Buarque é a perspicácia com
que escolhe as melhores palavras para criar as melhores letras de música.
Leia este trecho de Roda Viva e responda as perguntas que se seguem:
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ser voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a Roda Viva
e carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda gigante
roda moinho, roda pião
o tempo rodou num instante
as voltas do meu coração
a) O que faria com que as pessoas estivessem com a sensação de
partida ou morte?
R.
b) O que impedia que as pessoas tivessem voz ativa?
R.
c) O que o autor simbolizou quando chamou a causa do problema
de Roda Viva?
R.
d) O que significava, naquele momento, ter o destino carregado?
R.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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AMPLIANDO O HORIZONTE
Você pôde ver a beleza do Carnaval de Veneza.
É interessante saber que uma das técnicas que pode ser usada na confecção
de máscaras é o papier maché.
Aqui está a receita e algumas dicas.
Aproveite!
• Dentro de um balde coloque:
- dois rolos de papel higiênico desenrolados;
- um copo de Lisoform;
- água suficiente para cobrir toda a mistura;
- 50 ml de formol.
• Misture bem e dissolva todos os grumos.
• Escorra até quase toda a água escoar.
• Derrame a mistura (úmida) numa bacia junto com:
- um copo de cola branca;
- dois copos de gesso cré;
- um copo de mingau de farinha de trigo/ água e azeite, em
consistência gelatinosa.
• Misture bem até obter uma massa boa de modelar. Caso a massa fique
muito molhada acrescente, aos poucos, gesso cré.
• Para aplicar a massa, forre todas as superfícies com jornal colado.
• Depois de seco o papier maché deve receber uma demão de gesso cré
/cola/ e água para dar-lhe plasticidade.
• Deixe secar e aplique uma camada de tinta PVA branca, para valorizar
as cores que você for aplicar.
• É interessante aplicar uma camada de verniz náutico depois da peça
terminada para lhe garantir vida longa e resistência em locais abertos.
Dica de leitura:
Você sabe que além de compor, Chico Buarque também escreveu
vários livros?
O primeiro livro de Chico Buarque, publicado em 1966, trazia os
manuscritos das primeiras composições e o conto Ulisses, e ainda
uma crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre A Banda.
Em 1974, escreve a novela pecuária Fazenda modelo e, em 1979,
Chapeuzinho Amarelo, um livro-poema para crianças. A bordo do
Rui Barbosa foi escrito em 1963 ou 1964 e publicado em 1981. Em
91, publica o romance Estorvo e, quatro anos depois, escreve o livro
Benjamim, também um romance.
Uma linda homenagem feita a Chico no belo texto de
Ruy Guerra.
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CONHECIMENTO
Vale a pena conferir e compartilhar a admiração por este artista incomparável!
Chico de Hollanda, de aqui e de alhures
“Parceiro de euforias e desventuras, amigo de todos os segundos,
generosidade sistemática, silêncios eloqüentes, palavras cirúrgicas,
humor afiado, serenas firmezas, traquinas, as notas na polpa dos dedos, o verbo vadiando na ponta da língua – tudo à flor do coração, em
carne viva... Cavalo de sambistas, alquimistas, menestréis, mundanas,
olhos roucos, suspiros nômades, a alma à deriva, Chico Buarque não
existe, é uma ficção – saibam.
Inventado porque necessário, vital, sem o qual o Brasil seria mais
pobre, estaria mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem
construção.”
Ruy Guerra, cineasta e escritor, outubro de 1998.
GLOSSÁRIO
Alhures – Noutro lugar, noutra parte.
Censor – Aquele que censura. Crítico.
Conotação – Relação que se nota entre duas ou mais coisas. Sentido translato, ou subjacente, às vezes de teor subjetivo, que uma
palavra ou expressão pode apresentar paralelamente à acepção
em que é empregada.
Eloquente – Expressivo, significativo, persuasivo, convincente.
Estagnado – Que se estagnou, que não corre; parado. Inativo,
inerte, paralisado.
Exílio – Expatriação, forçada ou voluntária; degredo, desterro. O
lugar onde reside o exilado.
Gôndola – Embarcação comprida, de pequena boca, com as extremidades um tanto levantadas, movida por um remo na popa,
característica dos canais de Veneza.
Ícone – Coisa, fato, pessoa, etc., que evoca fortemente certas qualidades ou características de algo, ou que é muito representativo
dele.
Militância – Ação de militante; exercício, prática, atuação.
Mobilidade – Qualidade ou propriedade do que é móvel ou obedece às leis do movimento. Facilidade de mover-se ou de ser
movido.
Nômade – Diz-se de indivíduo que leva vida errante; vagabundo.
Transgressão – Ato ou efeito de transgredir; infração, violação.
A N O T A Ç Õ E S
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PAIANO, Enor. Tropicalismo, Bananas ao vento no coração do
Brasil.
HERMANN, Beto. A MPB após 64.
CAMPEDELLI, Samira Youssef. Poesia Marginal dos anos 70.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário
da Língua Portuguesa.
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1.Marque com um X a alternativa correta.
I. As famosas máscaras fazem parte da tradição:
a) do Carnaval de todas as cidades da Itália.
b) dos países europeus cujo Carnaval é comemorado no verão.
c) das celebrações de Páscoa em Veneza.
d) de toda a Europa, especialmente nos meses de frio.
e) do Carnaval de Veneza, uma importante cidade italiana.
II. No início dos tempos, os foliões usavam máscaras porque:
a) sentiam frio no rosto.
b) precisavam de proteção especial.
c) queriam ocultar sua identidade.
d) eram modelos para artistas.
e) só com máscaras poderiam ir à igreja.
III. Tom Jobim e Vinícius de Morais foram nomes que marcaram:
a) A Bossa Nova.
b) A Jovem Guarda.
c) O Tropicalismo.
d) A Censura.
e) A Ditadura.
IV. A Jovem Guarda irritava os militantes de esquerda porque:
a) os cantores eram excessivamente rebeldes.
b) as músicas tinham temas militares.
c) não havia sentido nas letras das músicas da jovem guarda.
d) o conteúdo das letras mostrava uma falsa rebeldia.
e) os compositores atendiam aos pedidos dos censores.
53
CONHECIMENTO
V. Na década de 60, que tipo de atração foi responsável pela divulgação de grandes nomes e grandes obras da música brasileira?
a) Os Festivais de MPB das TVs Record e Excelsior.
b) Os periódicos publicados pelos militares.
c) As revistas publicadas pelos censores.
d) O Ato Institucional nº 5.
e) As notícias dos artistas exilados pela ditadura.
VI. Por que o AI-5 afetou o panorama artístico brasileiro?
a) Porque só artistas militares podiam se apresentar.
b)Porque através dele vários artistas consagrados tiveram que
deixar o país, indo buscar exílio no exterior.
c) Porque o ato proibiu qualquer manifestação artística no Brasil.
d) Porque só podia haver apresentação pública a cada cinco anos.
e) Porque ele autorizava artistas estrangeiros a se apresentarem
em lugar dos brasileiros.
VII. Junto com Caetano Veloso foi responsável pelo movimento
Tropicalista:
a) Elis Regina.
b) Roberto Carlos.
c) Geraldo Vandré.
d) Edu Lobo.
e) Gilberto Gil.
2. Leia o trecho da canção “Apesar de Você”, de Chico Buarque, e
assinale apenas as afirmativas que correspondem fielmente ao texto.
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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a) O título da música indica uma falta de esperança por parte do compositor.
b) O segundo e o terceiro verso nos remetem à situação da censura determinada pela Ditadura Militar.
c) Chico, nos versos 4, 5 e 6, se lamenta pela atual condição do povo,
oprimido e sem liberdade.
d) Chico está em busca do inventor do pecado e mostra isso no verso 10.
e) Ao mencionar que alguém inventou “toda a escuridão” o compositor
usa o recurso da linguagem figurada.
3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( ) Alegria, Alegria é uma canção de autoria de Geraldo Vandré.
( ) Caetano Veloso ganhou o festival em 1967 com a música Ponteio.
( ) A Banda e Disparada empatam no festival de 1966.
( ) Pra não dizer que não falei de flores é a canção de Vandré que irritou
os militares.
4. Compreendendo que a música pode ser um dos elementos a identificar um país, um time ou um grupo, numere os parêntesis de acordo
com a numeração.
(1)Bossa Nova
(2)Jovem Guarda
(3)Tropicalismo
( ) Movimento que incorpora à MPB elementos do rock, dos ritmos
estrangeiros e da cultura de massa.
( )Reflexo brasileiro do rock internacional, com músicas românticas
e descontraídas.
( )Estrutura harmônica influenciada pelo jazz e instrumentação
refinada.
CAPÍTULO 4
Em contexto
• O ESPAÇO DA MÚSICA NA CULTURA
CAPÍTULO 4
em contexto
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
O
capítulo “Em contexto: O espaço da música na cultura” monta
um mosaico musical composto por três nomes que estão gravados na
história de nosso país.
Conhecer um pouco cada um deles irá permitir que você tenha,
mesmo que em pequena dose, uma noção da plasticidade, da versatilidade, da riqueza e da identidade da nossa música, feita por gente
que é nossa, verde-amarela de verdade!
Antes, porém, a chance de entender o que é um mosaico e de que
forma três grandes raças deram início à obra de arte chamada Brasil!
A afirmação pode parecer exagerada, mas a grande verdade é que...
...Somos todos afro-brasileiros (por Jacob Gorender).
Podemos ser brasileiros de primeira geração, filhos de pais vindos
do Minho, da Toscana ou da Calábria, da Baviera, de países eslavos,
escandinavos ou árabes, do Japão ou de outro país do extremo Oriente. Embora nenhuma gota de sangue de raça negra circule em nossas
veias, ainda assim somos afro-brasileiros.
Porque a cultura brasileira inclui fortíssimo componente de ascendência africana. Esta cultura, o ar espiritual que respiramos e que, em
todos os meios sociais, nos educa e forma nossas personalidades, não
pode deixar de nos impregnar de variadíssimos elementos africanos
abrasileirados.
Africanizam-se os nossos sentidos. A estética visual se orienta para
as formas negras e para os coloridos da preferência do olhar africano. É só observar a pintura, a escultura, todas as artes plásticas. É só
refletir sobre os motivos de atração sexual, sobre os padrões eróticos,
conscientes ou inconscientes, de homens e mulheres do Brasil.
-
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Que dizer, então, de nossa estética auditiva? Os ritmos e as melodias
que estruturam o gosto musical dos brasileiros de todas as regiões foram
criados por descendentes africanos. Ritmos e melodias dominantes da
música popular e inspiradores da música erudita.
E se falarmos do paladar? Podemos apreciar comovidamente a cozinha
italiana, árabe ou japonesa, mas infalivelmente prestamos tributo à genialidade criativa das cozinheiras cor de ébano, que inventaram pratos e doces
de sabor maravilhoso, misturando a experiência africana aos ingredientes
nacionais. Nosso paladar é afro-brasileiro.
Diz-se que o Brasil é um país de imigração. Afora os quatro milhões
de estrangeiros residentes no país, algumas dezenas de milhões são brasileiros de primeira ou segunda geração. Em muitos casos, seus ancestrais
emigraram porque viviam em condições difíceis em sua terra natal, porque
sofriam perseguições religiosas, raciais ou políticas. Voluntariamente
escolheram o Brasil porque aqui esperavam reconstruir suas vidas na paz
e na felicidade.
Os africanos foram os únicos trazidos ao Brasil pela força mais brutal:
acorrentados, marcados a fogo, jogados nos infectos porões dos naviostumbeiros. Em vez de escolherem o Brasil, foi o Brasil que os escolheu.
Aqui, milhões de negros escravizados não esperavam a paz e a felicidade,
mas a vida infernal no cativeiro dos engenhos de açúcar e das minas de
ouro.
Nas condições mais adversas da escravidão – forma fundamental do
trabalho durante três séculos –, os africanos e seus descendentes souberam
resistir e preservar sua dignidade de seres humanos. Construíram o Brasil
sem se deixar destruir. Mostraram admirável plasticidade ao assimilar a
cultura luso-brasileira de origem europeia, mas introduziram nela sua
riquíssima contribuição original. Graças a isto, o Brasil é um dos países
mais multiculturais do mundo. Um país em que as matrizes culturais se
fundem sem coações e no qual cada uma delas pode conservar sua identidade e se desenvolver criativamente.
A extinção da escravidão eliminou o grande obstáculo que impedia a
difusão do trabalho livre e afastava do Brasil as correntes da imigração
de trabalhadores europeus. A Abolição possibilitou a industrialização, a
urbanização, a expansão demográfica. A Abolição abriu caminho ao Brasil
moderno, cheio de contrastes às vezes chocantes, mas já uma potência
econômica e política emergente.
Contudo, os brasileiros de ascendência africana ficaram à margem dos
aspectos vantajosos deste progresso. A escravidão se associava ao racismo,
ao preconceito anticientífico sobre a inferioridade intelectual do negro. A
Abolição eliminou a escravidão, porém não eliminou o racismo. O preconceito racial difuso contra o negro continuou a se traduzir em formas
59
EM CONTEXTO
objetivas de discriminação social. Os brasileiros de ascendência africana
engrossam os extratos da população de mais baixa renda, de menor grau
de instrução e de inferior qualificação profissional. Um círculo vicioso: a
pobreza acentua o preconceito e o preconceito acentua a pobreza.
É preciso quebrar o círculo vicioso. Negros e brancos devem unir-se
para impedir as práticas objetivas da discriminação racial e combater, por
meios educativos, o preconceito ostensivo ou encoberto. O Brasil não pode
prescindir da plenitude do talento de milhões de homens e mulheres que
orgulhosamente exibem os traços físicos da raça mais antiga da espécie
humana.
Como você pôde concluir, nosso país é composto por pequeninas
unidades que, ao serem colocadas juntas, formam a vasta realidade sociocultural que nos torna especialmente ricos e maravilhosamente múltiplos
e criativos.
Se fôssemos procurar algo que pudesse representar esta imagem, poderíamos pensar num mosaico.
Veja o que diz o dicionário Aurélio:
Mosaico: 1. Pavimento de ladrilhos variegados. 2. Embutido de
pequenas pedras, ou de outras peças de cores, que pela sua disposição aparentam desenho. 3. Fig. Qualquer trabalho intelectual
ou manual composto de várias partes distintas ou separadas.
Aqui vão algumas informações que serão capazes de fazer você entender um pouco sobre a arte do mosaico:
Há 5.000 anos, os Sumérios (povos da antiga região da baixa Mesopotâmia, na Ásia) criaram pilastras revestidas com cones de argila coloridos
e fixadas em massa. Esse parece ser o primeiro trabalho em mosaico
registrado pela humanidade.
Os motivos presentes na obra eram geométricos e mostravam inspiração na arte da tapeçaria. Aproximadamente no século III a.C., os gregos
formavam quadros de pequenos seixos brancos, pretos e de vários tons de
vermelho, com cenas de luta e caça, além de motivos mitológicos. Desde
esta época, o homem tem usado pedaços de pedra, cerâmica, vidro, conchas, plástico e os mais diferentes materiais para criar mosaicos.
Alguns impressionam pela variedade de cores e pela riqueza de detalhes.
Como num grande quebra-cabeças, as peças têm seu espaço próprio,
num encaixe elaborado e minucioso. Caso contrário, não se têm a verdadeira dimensão das formas e nem o volume que deve estar presente no
trabalho.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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entenDenDO COMO Se CRIAvA O MOSAICO
A técnica do trabalho em mosaico
consistia na colocação, sobre o piso de
cimento, de várias camadas de lama
misturadas com seixos e gesso, resultante de fragmentos de mármore ou de
pasta vítrea de diferentes cores, as quais
faziam o desenho.
O artista procurava as linhas do desenho esboçado sobre a última camada
de gesso e demonstrava sua perícia em
desenvolver formas e cores, além de
conseguir contraste de sombra e luz.
Na maioria das vezes, os mosaicos eram executados no local, embora a
figura central (o motivo, que exigia uma mão de obra acurada em materiais
mais refinados) fosse preparada sobre o desenho de um painel especial na
oficina do artesão e depois inserida dentro do pavimento.
E assim, de pedacinho em pedacinho, primando pela “melodia das
cores” e pela “harmonia dos encaixes”, grandes peças de arte podem ser
criadas. Igrejas, palácios, castelos e uma série de outros monumentos
espalhados pelo mundo dão um show de imagens na minuciosa arte dos
mosaicos!
INVESTIGANDO CAMINHOS
Em nosso mosaico musical faremos uma colagem com três histórias:
três talentos, três presenças, três símbolos da diversidade viva na música
brasileira.
Com vocês, o genial Pixinguinha, o iluminado luiz Gonzaga e o
versátil hermeto Pascoal!
PIXINGUINHA: GENIAL É POUCO!
“Se você tem 15 volumes pra falar de toda a música popular
brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe do espaço de
uma palavra, nem tudo está perdido. Escreva
depressa: Pixinguinha.”
Ary Vasconcelos
A imagem mais conhecida de Alfredo da
Rocha Vianna Filho é a de um senhor pacato,
simpático, elegante, um vovô bonachão que
levava a vida na flauta. Entretanto, depois dele,
61
EM CONTEXTO
nossos ouvidos acostumaram-se a uma nova forma de perceber harmonias
e melodias.
A família de Pixinguinha era quase toda de músicos.
O menino nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1897. O apelido
veio da avó, que o chamava de “Pizindim”, que significava “menino bom”
em dialeto africano. Seu apelido na rua era Bexiguinha por causa das marcas de varíola deixadas em seu rosto. Sendo assim, ele virou Pixinguinha.
Foi o pai quem arranjou amigos que pudessem ensinar música ao garoto
que, aos 20 anos, era conhecido na cidade.
Na época do cinema mudo, músicos negros não eram aceitos nas salas
de espera dos luxuosos cinemas. Pelo seu talento e genialidade, Pixinguinha formou o grupo chamado “Os Oito Batutas” e foi tocar no Cine
Palais. Eram aplaudidos de pé!
Em 1922 o grupo foi convidado a viajar para Paris e tocar na boate
Sherazade, mas Pixinguinha não aguentou: a saudade era grande!
Os anos se seguiram e a fama e o talento de Pixinguinha só aumentavam!
Em meados da década de 40 ele trocou a flauta pelo saxofone.
Sua vida foi toda marcada por sucesso e grandes conquistas profissionais, todas elas fruto de muito trabalho!
Morreu em 1973, na sacristia de uma igreja onde ele seria padrinho
de um casamento.
Levava, de presente, uma partitura de Carinhoso. Era sábado de carnaval, dia 17 de fevereiro.
Embora você não possa ouvir aqui a maravilhosa melodia de Carinhoso,
de Pixinguinha e João de Barro, delicie-se com sua poesia:
Meu coração, não sei por que
Bate feliz, quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim, foges de mim
Ah! Se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito e muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor
Dos lábios meus
À procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Luiz Gonzaga: cimento da nacionalidade
Com a sanfona, acompanhada de zabumba e triângulo, vestido de cangaceiro, ele
encheu os ares do país de sons e cantos de
sua terra, nossa terra.
Luiz é o segundo filho de Januário e
Santana. Nasceu a 13 de dezembro de 1912.
Aos dez anos ele já revezava no fole com
o pai.
Alista-se no Exército mais tarde e, com a
Revolução de 1930, é transferido para o Rio
de Janeiro. Nove anos mais tarde, depois de dar baixa no Exército, Luiz
Gonzaga passa a tocar em bares e recolhe dinheiro no pires.
Foi no programa de calouros de Ary Barroso que Gonzaga tirou nota
máxima após ter sido desafiado a cantar algo lá “da terra dele”.
Nascia o baião, que acabaria por transformar-se em música
erudita!
Virou trilha de filmes, rompeu fronteiras, ganhou o mundo.
Foi Gonzaga que criou o que hoje poderíamos chamar de “tipo nordestino”. Ele pôs zabumba e triângulo junto com a sanfona e vestiu-se
de cangaceiro.
Gonzaga foi proclamado o Rei do Baião em 1950.
Com a industrialização e com a Bossa Nova, Gonzaga perdeu prestígio.
Mas ele já havia corrido mundo e sua música estava impregnada na alma
do povo: xaxado, forró, xote, baião. Suas letras celebravam toda forma
de amor, o respeito aos mais velhos, às crianças, aos bichos, à natureza,
à dignidade humana.
Na sanfona de Luiz Gonzaga os dizeres: “É do povo.”
“Fui um sanfoneiro que lutou pelo seu povo e foi feliz com isso”, dizia
Gonzaga.
Morreu, de pneumonia, aos 76 anos.
Deixou seu filho, cantor e compositor, o Gonzaguinha, morto um ano
e meio depois do pai.
A marca de Luiz Gonzaga está por toda a música nordestina, mas nada
o define melhor do que Asa Branca.
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EM CONTEXTO
Quando olhei a terra ardendo,
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação?
Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hermeto Pascoal
Ponha qualquer coisa na
mão de Hermeto, que sai música!
“O verdadeiro instrumentista não encontra as notas na
música, mas dentro de si.”
Arturo Toscanini
Lagoa da Canoa, Alagoas. O menino branquelo, cabelos de fogo, medroso da luz do sol, ouve a sanfona do pai dentro de casa. Presta atenção
nos movimentos e no som maravilhoso. Aos 7 anos pega o instrumento e
toca. Era Hermeto Pascoal, o autodidata.
Aos 11 anos toca em bailes e forrós com o irmão. Quando vai para o
Recife, atua em programas de rádio. Em São Paulo apresenta-se em boates
e outras casas noturnas.
Na década de 60 passa a instrumentos de sopro e forma o conjunto
Som Quatro.
O compositor, arranjador, maestro e instrumentista nasceu em 22 de
junho de 1936. Música é o seu dom.
Hermeto toca violão, viola, cravo, órgão, piano, harmônica, gaita,
flauta, chaleira, calota de automóvel, máquina de costura, talo de abóbora.
De tudo tira som.
Hermeto desvenda e traduz o som das coisas. Tudo é música, até a fala
humana, que ele batizou de “som da aura”.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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DESAFIOS DO PERCURSO
1. Considerando as imagens apresentadas, assinale com um X as que
exibem um mosaico.
2. O que faz o autor Jacob Gorender afirmar com tanta convicção que
somos todos afro-brasileiros?
R.
3. Que exemplos você daria para comprovar a influência africana na
cultura brasileira?
na música: __________________________________________
na culinária: _________________________________________
na religião: __________________________________________
nas artes plásticas: ___________________________________
no vocabulário: ______________________________________
4. No nosso mosaico musical, quem...
... toca calota de automóvel e chamou a voz humana de som da
aura?
R.
... recebeu da avó um apelido em dialeto africano?
R.
... foi proclamado Rei do Baião?
R.
VocêachaqueaartedomosaicoficouperdidanaAntiguidade?
nada disso!
Aqui vão algumas dicas para que você crie o seu próprio trabalho:
65
EM CONTEXTO
AMPLIANDO O HORIZONTE
Você irá precisar de:
• Restos de azulejos, pisos ou outro tipo de cerâmica que possa
ser quebrada.
• Uma toalha velha ou uma sacola plástica resistente.
• Um pequeno martelo.
• Massa usada na aplicação de azulejos.
• Massa usada para rejuntar azulejos.
• Corante para o rejunte, se for da sua opção.
1. Há duas formas para quebrar a cerâmica. A primeira é cobrindo as peças com uma toalha grossa e ir dando marteladas. A
segunda é colocando as peças dentro de uma sacola plástica
resistente e quebrá-las da mesma forma. A segunda técnica
é mais segura pois, garante que os cacos menores, que não
serão usados, fiquem dentro da sacola.
Se possível, use luvas e óculos de segurança para evitar que
cacos perfurem suas mãos ou machuquem os seus olhos.
2. Espalhe todas as peças do seu mosaico para que você possa
vê-las. Faça uma composição harmoniosa para os seus olhos
ou deixe que as peças trabalhem por si. Escolha a superfície
na qual você irá fazer a aplicação. Você pode trabalhar uma
mesa antiga, um banco do seu jardim, a barra de uma das
paredes da sua cozinha ou um simples vaso de flores.
Aplique a massa que irá prender os cacos.
Se o seu desenho for demandar um longo tempo de aplicação,
espalhe a massa aos poucos para que ela não seque.
Aplique as peças com firmeza sobre a massa.
3. Após estarem firmes, aplique a massa que irá rejuntar as peças
do mosaico. Se for do seu desejo, aplique corante nela antes
de realizar este passo. À medida que for aplicando, use uma
toalha ou um trapinho para ir retirando o excesso. Espere
secar e limpe completamente o excesso de massa que tiver
sobrado.
4. Limpe com sabão e água usando uma esponja ou uma toalhinha umedecida. Você também pode usar uma escova para
completar a limpeza.
Aqui está um exemplo de uma peça que recebeu
nova roupagem através da aplicação da técnica do mosaico.
Você certamente tem alguma coisa em casa que pode ser valorizada.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Dependendodafinalidadedapeçatrabalhada,useumvernizà
prova d’água, e que impermeabilize o seu trabalho.
Fonte da Informação: http:www.hgtv.com
Dica de leitura:
Assim como você conheceu um pouco sobre
Pixinguinha, Luiz Gonzaga e Hermeto Pascoal, pode saber muito mais sobre nomes
e momentos da música consultando a Enciclopédia da Música
Popular, Erudita e Folclórica – Art Editora-Publifolha, 1988.
GLOSSÁRIO
Afora – Além de outro(s); além de.
Autodidata – Que ou quem aprendeu ou aprende por si, sem
auxílio de professores.
Bonachão – Que ou aquele que tem bondade natural e é simples,
ingênuo e paciente; bonacheirão.
Ébano – Árvore da família das ebenáceas (Diospyros tesselaria),
que fornece madeira escura, pesada e muito resistente. Aquilo
que é negro como ébano.
Escandinavo – Da, ou pertencente ou relativo à Escandinávia
(Suécia, noruega, Islândia e Dinamarca).
Eslavo – Indivíduo dos eslavos, cada um dos diversos povos da
Europa central e oriental de língua eslava.
Impregnar – Infiltrar-seem;penetrar,repassar,imbuir.
Prescindir – Separar mentalmente; não fazer caso; não levar em
conta; abstrair. Pôr de lado; renunciar; abrir mão de; dispensar.
Seixo – Fragmento de rocha dura; pedra solta; calhau.
Versátil – Que tem qualidades variadas e numerosas em um determinado gênero de atividades, ou mesmo de modo geral.
Vítreo – Relativo a, ou próprio do vidro. Feito de vidro. Que tem a
natureza ou o aspecto do vidro.
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EM CONTEXTO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almanaque Brasil de Cultura Popular.
BIGGS, Emma. The Encyclopedia of Mosaic Techniques: A Step-by-Step Visual Directory, with an Inspirational Gallery of
Finished Works. Running Press Book Publishers. 1999
DUNBABIN, Katherine N. Mosaics of the Greek and Roman
World. Cambridge University Press. 2001
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. Os primeiros trabalhos de mosaico registrados pela humanidade
foram criados:
a) pelos povos africanos de uma região rica em argila.
b) pelos sumérios, habitantes da antiga Mesopotâmia.
c) pelos eslavos e escandinavos.
d) pelos sumérios, povo de cultura ibérica.
e) pelos gregos que praticavam a caça.
II. Na composição de seus mosaicos os gregos usaram:
a) mármore de todas as cores.
b) pedras preciosas e semipreciosas.
c) argila nas cores vermelha, preta e branca.
d) mármore em vários tons de vermelho.
e) seixos brancos, pretos e em vários tons de vermelho.
III. Rompendo as regras da época:
a) Pixinguinha aprendeu a tocar música com os amigos de seu pai.
b) A avó de Pixinguinha deu a ele um apelido.
c) Pixinguinha teve varíola, que deixou marcas em seu rosto.
d) O grupo “Os Oito Batutas” foi aceito para tocar no cinema da
cidade.
e) Pixinguinha não quis ficar em Paris.
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IV. Pixinguinha fez uma troca:
a) a do saxofone pela flauta.
b) a da flauta pelo saxofone.
c) a da flauta pelo trombone.
d) a do trombone pelo saxofone.
e) a da flauta pelo trompete.
V. A criação do “tipo nordestino” no cenário musical foi obra de
Luiz Gonzaga. Na composição deste tipo, ele:
a) Obrigava todos os artistas a usarem roupa de couro.
b) Passou a tocar triângulo ao invés de sanfona.
c) Uniu triângulo, zabumba e sanfona, além de roupa de cangaceiro.
d) Chamou os cangaceiros do nordeste para se apresentarem em
programas de calouros.
e) Venceu todos os concursos de calouros.
VI. Por ter aprendido música sozinho, Hermeto Pascoal é considerado um:
a)autônomo.
b)autodidata.
c)autoritário.
d)automático.
e)autômato.
VII. Numa demonstração de criatividade e sensibilidade, Hermeto
Pascoal chama a voz humana de:
a) som da aura.
b) som da aurora.
c) dom do som.
d) som do bom.
e) aura do bem.
2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito dos três grandes artistas homenageados neste capítulo.
a) Alfredo era o verdadeiro nome de Pixinguinha.
b) Hermeto Pascoal é considerado o Rei do Baião.
c) Luiz Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se para o nordeste.
d) Som Quatro é o nome de um conjunto criado por Hermeto Pascoal.
e) Carinhoso é uma composição de Pixinguinha e Ary Barroso.
69
EM CONTEXTO
3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( ) Depois de Pixinguinha a música brasileira adquiriu nova melodia
e harmonia.
( ) Luiz Gonzaga tirou nota máxima em um programa de calouros.
( ) Hermeto Pascoal prefere os sons dos instrumentos tradicionais.
( )Luiz Gonzaga era filho de Gonzaguinha.
4. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira coluna com
base no que você leu sobre os três expoentes da música brasileira.
(1) Asa Branca
( ) Pixinguinha
(2) Carinhoso
( ) Luiz Gonzaga
(3) Talo de abóbora
( ) Hermeto Pascoal
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CAPÍTULO 5
hora da música
• explorando a diversidade
CAPÍTULO 5
hora Da mÚsica
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
n
o capítulo anterior você teve a oportunidade de conhecer uma
arte composta por minúsculas peças capazes de compor uma grande
obra e compreendeu que a diversidade cultural de nosso país pode criar
um rico e colorido mosaico. O capítulo “Hora da música: Explorando
a diversidade” traz uma outra experiência – a arte do vitral.
Assim como no mosaico, pequenos pedaços – desta vez ricamente
pintados em vidro – fazem obras monumentais.
Após conhecer o que existe por trás da história dos vitrais você será
apresentado a três grandes compositores da música de todos os tempos.
Como um vitral, que deixa a luz atravessá-lo e mostrar sua beleza,
você irá ter a chance de cruzar as portas do passado e visitar – mesmo
que rapidamente – a história de Heitor Villa-Lobos, Wolfgang Amadeus Mozart e Johann Sebastian Bach.
Você certamente já viu um vitral.
Bastante comuns na maioria das igrejas,
os vitrais estão há muito tempo entre nós.
Formas, cores e luz são três dos ingredientes essenciais para esta arte de proporções gigantescas que vem acompanhando
o processo criativo da humanidade há
longos anos.
Popularizado em técnicas mais simples de artesanato, nem assim o vitral
perde sua magia. E, por esta razão, vale
a pena saber um pouco mais a respeito
do assunto.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Vidros e vitrais
Ainda que o surgimento dos vitrais seja usualmente identificado com
o Mundo Medieval, constituindo uma forma de expressão plástica quase
que em exclusivo ligada à arte religiosa cristã, a sua proveniência pode
ser traçada desde épocas bem mais remotas.
Antes de nos referirmos ao vitral em si, abordaremos a origem do vidro
como material fabricado intencionalmente.
Considera-se hoje provável que o vidro tenha sido acidentalmente
descoberto por oleiros mesopotâmios ou egípcios enquanto coziam as suas
peças em barro. E, de fato, os exemplos mais antigos que se conhecem de
vidro fabricado por mãos humanas são contas de colar egípcias, datadas
de entre 2750 e 2625 a.C. Só passados mais de dois milênios e meio, já
no primeiro século da era cristã, é que o uso de vidro nas janelas seria
adotado pelos Romanos, muito embora se tratasse ainda de vidraças pouco
transparentes e com uma superfície bastante irregular.
Descobriram-se também formas de dar cor ao vidro, recorrendo a óxidos de metais, e sabe-se da existência de janelas ornamentais em alabastro
às quais eram por vezes aplicadas peças em vidro colorido.
Mas se há quem considere estes exemplos como o marco do início da
arte do vitral, o certo é que existe no registro histórico um lapso de vários
séculos até que surjam novamente indícios da sua utilização.
De fato, até pouco depois de cumprido o primeiro milênio da nossa
Era, são raros os vestígios de vitrais. Um dos mais antigos encontrados na
Europa é composto por uma coleção de vidros de várias cores, descobertos
em escavações no Mosteiro de São Paulo, fundado em Jarow, Inglaterra,
no ano de 686. Mas este tipo de achado constitui uma exceção. Depois
desse, o mais antigo vitral figurativo conhecido no Ocidente parece ser
uma imagem de Cristo, pertencente à Abadia de Lorsch, na Alemanha,
datada do século X. Tal fato traduz, assim, um dos mistérios com que os
historiadores se têm deparado ao tentarem estabelecer o percurso evolutivo desta arte, pois a vitralaria parece surgir, de forma aparentemente
espontânea, agregada à arquitetura europeia por volta dos séculos X-XI,
mas numa fase já madura, o que constitui natural motivo de perplexidade,
pois não se conhecem períodos intermediários de desenvolvimento.
As grandes catedrais da Cristandade
Curiosamente, a grande expansão da arte do vitral surgiu marginalmente, como consequência da evolução arquitetônica na construção de
catedrais, que ocorreu de forma mais sistematicamente a partir de meados
do século XII, numa transição que assinala a passagem do estilo românico
para o gótico.
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HORA DA MÚSICA
A arquitetura religiosa do período
românico era dominada por construções
maciças, com sólidas paredes em pedra,
nas quais as janelas eram raras e de reduzidas dimensões. A altura dos edifícios,
relativamente limitada em altura devido
ao emprego dos arcos redondos romanos,
tornava arriscado o assentamento de estruturas demasiado pesadas sobre as colunas
que os suportavam. Sendo as paredes
espessas e as janelas pequenas, não fazia
sentido filtrar excessivamente a pouca luz
que estas deixavam passar para o interior.
A vulgarização dos arcos em ponta – que permitiam uma melhor distribuição da tensão exercida sobre os pilares – permitiu que as grossas
colunas românicas fossem substituídas por outras mais finas, possibilitando
aos arquitetos não só construírem templos mais espaçosos, mas sobretudo
projetarem literalmente para o alto os seus devaneios mais fantásticos e
grandiosos.
Resultado direto desta nova solução para a repartição do peso foi a
possibilidade de as paredes entre colunas ligadas por arcos ogivais se
converterem em superfícies de grandes dimensões, onde poderiam ser
rasgadas altas janelas, por forma a iluminar o interior das catedrais, realçando assim a sua imponência. Daí à constatação de que tais aberturas
constituíam igualmente amplas telas de luz, particularmente adequadas a
serem preenchidas com vitrais, em coloridos tributos à glorificação divina,
foi um passo natural.
Assim, enquanto que a escuridão no interior das igrejas românicas
tinha de ser compensada por vistosas tapeçarias (penduradas como adorno
de austeras e nuas paredes, também elas pintadas com cores claras), por
estatuetas votivas revestidas a ouro, nas quais se refletia a luz de suntuosos
candelabros, e por livros de culto ricamente iluminados, revestidos com
encadernações gravadas em dourado e incrustadas com reluzentes joias
e pedras preciosas, a luminosidade das catedrais góticas foi aproveitada
para tirar o melhor partido da arte do vitral, considerada um dos triunfos
artísticos desse período.
O APOGeu DA vItRALARIA MeDIevAL
Para além dos conhecimentos técnicos necessários à fabricação do
vidro, que era manufaturado segundo receitas que cada mestre mantinha
em segredo, e à montagem do vitral propriamente dito, os artistas pareciam possuir um conhecimento instintivo, talvez fruto da experiência, das
potencialidades desta forma de arte tão peculiar, que deve entrar em linha
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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de conta com as variações
da intensidade luminosa ao
longo do dia, manipulando-a deliberadamente a fim de
acentuar os efeitos pretendidos. Podemos assim verificar
que a escolha das cores para
os vitrais a colocar nas paredes das igrejas não era feita ao
acaso, mas sim tomando em
consideração o movimento
do sol nos céus do hemisfério norte, sendo as imagens
de cores predominantemente
frias colocadas nas paredes
viradas a Oeste e a Norte, enquanto que aquelas que exibiam cores quentes
ornamentavam as janelas apontadas para Leste e para Sul.
O fabrico dos vitrais, sobretudo quando se recorria aos melhores
artesãos, era dispendioso. Compreende-se, por isso, que o seu período
de maior esplendor e pujança tenha coincidido com o da edificação das
grandes catedrais góticas, patrocinadas com as riquezas do alto clero, de
reis e de nobres, mas igualmente com as dádivas do próprio povo, quer se
tratasse de simples mercadores ou de artífices agrupados em ligas.
O declínio de uma arte singular
A transição para o Renascimento prenuncia uma perda de prestígio
da arte vitraleira, pois o trabalho em vidro não se presta às representações
mais realistas que então começam a despontar na pintura.
Também com o progressivo desaparecimento das grandes encomendas
de outros tempos (muitas igrejas nunca chegam a ser terminadas, por falta
de dinheiro), a vitralaria passa para uma posição relativamente secundária.
Apesar de tudo, novos países assumem protagonismo no trabalho de
vitral. Foi o caso da Itália, onde esta arte recebeu a atenção de pintores
de renome, como Donatello ou Giotto.
Mas os dias de verdadeira glória tinham já terminado, acentuando-se
a decadência do ofício a partir de finais da Idade Média, devido principalmente a motivos de ordem religiosa e política.
A Igreja de Roma, que havia sido a principal patrona dos artífices,
conhece divisões internas. O Protestantismo emergente mostra-se avesso
à ostentação decorativa e às artes em geral, e a Contrarreforma católica
que se lhe segue, proclama igualmente a singeleza nos edifícios religiosos.
Tais circunstâncias, às quais se podem acrescentar os efeitos econômicos
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HORA DA MÚSICA
e sociais da Guerra dos Trinta Anos, levam à destruição de templos e de
inúmeros vitrais. Foi a miséria generalizada para as oficinas e mestres
vitralistas.
A partir de então nunca mais a arte do vitral recuperaria na Europa o
prestígio de outrora.
As tentativas mais sérias para retomar a vitralaria só viriam a surgir do
outro lado do Atlântico, já no século XIX, porém num contexto completamente diverso daqueles em que nascera e atingira o seu apogeu.
Em nosso vitral da música faremos uma composição com três gênios:
três mestres, três seres de luz, três marcos na história da música de todos
os tempos!
INVESTIGANDO CAMINHOS
Com a singeleza da luz que brinca com as cores num belo vitral, descubra a maestria de Villa-Lobos, Mozart e Bach!
Heitor Villa-Lobos
“Sim, sou brasileiro e bem brasileiro.”
Na minha música eu deixo cantar os rios e os mares deste
grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância
tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que eu transponho instintivamente para tudo que escrevo.
O incomparável Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro no dia 5
de maio de 1896. Era maestro e compositor, resultado de uma excelente
orientação musical recebida quando criança.
Em 1915 Villa-Lobos começou
sua vida profissional como instrumentista e aos 19 anos fez suas primeiras
composições.
Em 1922 participou da semana de
arte realizada em São Paulo, evento de
imensa representatividade no panorama
artístico cultural brasileiro.
No ano de 1923 o maestro viajou
para a Europa e só retornou ao Brasil
seis anos mais tarde.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Muitas orquestras foram dirigidas por Heitor Villa-Lobos.
Escrevendo várias composições, também organizou um coral de 12.000
vozes em São Paulo, no ano de 1931.
O maestro fez várias viagens pelo mundo dirigindo, com entusiasmo
e incrível personalidade, suas obras como compositor.
Villa-Lobos também viajou várias vezes pelo Brasil fazendo inúmeras
pesquisas e anotando em seus apontamentos as muitas nuances musicais do
folclore brasileiro. Estes dados eram analisados posteriormente e serviam
de grande inspiração para suas futuras composições.
São muitas as peças compostas por Heitor Villa-Lobos. As que mais
se destacaram foram os Choros, compostos no período de 1920 a 1929.
As Bachianas Brasileiras nº 5 e o Trenzinho do Caipira são alguns
exemplos do grande talento do maestro.
Durante sua vida recebeu inúmeros títulos que mostravam o reconhecimento de seu talento pelo mundo.
Villa-Lobos faleceu no dia 17 de novembro de 1959.
Mozart
Em 1756, na cidade de Salisburgo, nascia
o fenomenal talento musical: Wolfgang Amadeus Mozart.
Seu brilhantismo foi propositadamente
estimulado por seu pai, Leopold Mozart, o
primeiro violino da Orquestra Sinfônica de
Salisburgo.
Leopold era um homem extremamente educado e um partidário dos ideais do Iluminismo.
No início de 1762 ele embarcou numa jornada artística a Munique e Viena,
levando consigo seu filho Wolfgang.
Wolfgang foi apresentado, ainda criança, não só como um pianista e
violinista prodígio, mas também como um compositor brilhante.
Nos anos seguintes, Leopold Mozart levou seu filho em viagens artísticas e educacionais à Alemanha, Inglaterra, França e repetidas vezes à
Itália, sendo ele mesmo seu professor em diversos assuntos.
Essas viagens tiveram um benefício inestimável para Wolfgang, pois
colocaram o garoto em contato direto com a fonte das ideias e tendências
musicais da época. Mas o excessivo esforço físico e as diversas moléstias
que o menino sofreu durante os percursos feitos em carruagens dos correios
foram, em parte, responsáveis por sua morte prematura.
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HORA DA MÚSICA
Aos treze anos, Wolfgang foi nomeado primeiro violino da orquestra
do arcebispo príncipe de Salisburgo. Já nesta época ele dominava com
facilidade a arte da composição, conforme demonstrava em suas missas,
óperas, quartetos de cordas e outros trabalhos. O arcebispo, entretanto,
considerava Mozart como um lacaio musical, e aos dezesseis anos de idade
Wolfgang se sentia cada vez mais constrangido com suas condições de
trabalho. Todas as esperanças de obter uma nomeação em outras cidades
fracassaram.
Finalmente, o sucesso de sua ópera “Idomeneo”, em Munique, deu a
Mozart a coragem de abandonar o seu trabalho em Salisburgo.
Mozart organizou concertos assumindo todos os riscos e ganhou dinheiro com comissão em trabalhos e lições de piano ministradas a crianças
da aristocracia.
Todo esse sucesso lhe possibilitou uma vida confortavel durante os
primeiros seis anos em Viena. Seus últimos quatro anos, entretanto, foram
marcados por dificuldades financeiras.
Infelizmente, apesar de tanto brilhantismo durante sua vida, Mozart
foi enterrado em uma sepultura para indigentes, em dezembro de 1791.
Bach
Descendente de uma família de músicos
que vivia de seu ofício desde o início do século
XVI, Johann Sebastian Bach nasceu no dia 21
de março de 1685 em Eisenach, pequena cidade
da Turíngia, no centro da Alemanha.
Johann Ambrosius, seu pai, era músico
municipal de Eisenach e, seguindo a tradição
familiar, criou Bach seguindo uma profunda fé
protestante, além de lhe ensinar a tocar violino
e viola e a escrever as notas musicais.
Seus pais morreram antes que completasse 10 anos e sua formação musical ficou a cargo de seu irmão, Johann
Cristoph.
Aos 15 anos, ingressou no coral da igreja de São Miguel de Lüneburg
e passou a frequentar a escola de São Miguel para jovens nobres.
Em suas viagens de férias aos centros culturais mais próximos, conheceu e familiarizou-se com a obra de Jean-Baptiste Lully e François
Couperin. Em Hamburgo, conheceu a grande tradição alemã de Jan Adams
Reinken e Vincent Lübeck.
Seu primeiro trabalho como organista foi na igreja Neukirche, de
Arnstadt, onde permaneceu de 1703 a 1707. Durante este período, esteve
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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com Dietrich Buxtehude, de quem recebeu lições que modificariam completamente sua maneira de interpretar o órgão.
De volta a Arnstadt, tais mudanças não foram bem-vistas pelos fiéis,
que, em função do costume de não permitir intérpretes femininos no
templo, perderam por completo a paciência ao ouvirem a voz de uma
mulher no coro.
A hostilidade fez com que Bach aceitasse o cargo de organista na igreja
de São Blásio de Mühlhausen. Nesses dois locais começou a compor suas
primeiras obras religiosas.
Casou-se com sua prima Maria Bárbara (a voz feminina que indignara
os fiéis Arnstadt) em outubro de 1707. Ela morreria em 1719.
Daquele casamento, Bach teve sete filhos. Três deles se tornaram
músicos.
Em 1721, casa-se pela segunda vez, agora com Anna Magdalena
Wülken, cantora da corte de Köethen, para onde Bach havia se mudado
em fins de 1717. Com ela teve treze filhos, dos quais dois também se
tornaram músicos.
Em maio de 1723 assume o posto de diretor do coro da igreja de São
Tomás de Leipzig, onde passou a ganhar menos e cumprir tarefas que não
eram de seu agrado. No entanto, foi em Leipzig que compôs a maioria de
suas cantatas, missas, oratórios e as paixões mais conhecidas.
De suas composições, duas das mais popularmente conhecidas são
Tocata e Fuga e Jesus, Alegria dos Homens.
Bach começou a viver isoladamente a partir de 1747, refugiando-se
em seu contato com Deus e sua música.
Operado de catarata em 1749, ficou praticamente cego. Dez dias antes
de morrer, em 28 de julho de 1750, recuperou a visão.
DESAFIOS DO PERCURSO
1. Observe os três exemplos da arte do vitral, assinale o que for de sua
preferência e escreva um parágrafo descrevendo a obra:
R.
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HORA DA MÚSICA
2. Leia o texto abaixo e transforme-o na imagem de um vitral no
espaço que se segue.
Dica: use lápis de cor, caneta hidrocor ou lápis cera para preencher
os espaços. Use hidrocor preta para os contornos que darão a impressão
de um vitral.
“Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar
sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao
contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada
momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é
uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um
único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira.”
Rubem Alves
3. O maestro Heitor Villa-Lobos afirmou:
“Na minha música eu deixo cantar os rios e os mares deste
grande Brasil”.
Como rios e mares podem cantar em uma música?
R.
4. Mozart e Bach tinham algo em comum no que dizia respeito à influência de suas famílias em suas vidas. De que forma esta relação interferiu
no destino dos dois?
R.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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AMPLIANDO O HORIZONTE
On-line
A Internet é hoje, sem sombra de dúvida, um dos mais eficazes meios
de difusão de informação. Múltiplas mídias formam um cenário
capaz de nos permitir o acesso a conteúdos variados, incluindo a
música.
Para saber um pouco mais sobre música clássica, aqui vão duas
dicas para você:
www.movimento.com
O portal movimento.com tem a missão de dar o devido espaço
à música clássica no Brasil. Além disso, também tem o intuito de
difundir a música clássica dentre os brasileiros.
www.vivamusica.com.br
Uma agência de comunicação e notícias especializada em música
clássica do Brasil. Esta é a melhor definição para as múltiplas atividades desenvolvidas por VivaMúsica!
Dica de leitura:
Arthur Nestrovsky
Desvenda os Mistérios da Música Clássica
Músico e colunista da “Folha de São Paulo”, Arthur Nestrovsky escreveu o livro, “Notas Musicais – Do Barroco ao Jazz”. A obra é
uma espécie de introdução ao universo da música clássica e do jazz,
trazendo uma lista com obras de referência e um pequeno vocabulário de termos técnicos. “Eu uso alguns desses termos para que a
pessoa que não está familiarizada comece a ter contato”, esclarece.
Conheça um pouco mais as ideias do autor:
Vamos começar falando de Notas Musicais. No que consiste
e qual o objetivo?
Arthur Nestrovski - O livro é composto basicamente por 77
resenhas, sendo 75 publicadas pelo jornal Folha de São Paulo,
uma na Revista Bravo e uma na Internet. Notas Musicais tem
papéis distintos, por um lado ele serve como referência de obras
musicais clássicas de todos os tempos, de outro serve como uma
introdução para quem não é familiarizado com o assunto.
Há quanto tempo você escreve para a Folha de São Paulo?
Arthur Nestrovski - Escrevo para a Folha desde 1992, mas
minhas resenhas são desde 1994. Eu comento, também, tudo
que foi produzido de música clássica nesses seis anos em que
acompanhei esse universo mais de perto.
83
HORA DA MÚSICA
Como Notas Musicais está organizado?
Arthur Nestrovski - No início do livro há uma introdução básica
ao universo da música clássica e do jazz. No final se encontra
uma lista com 120 obras divididas por períodos musicais e gêneros. São obras que podem ser consideradas uma referência
para o resto da vida. Quem se interessa pelo assunto precisa
ter esses CDs. Já o miolo do livro é composto pelas resenhas
que eu escrevi.
O livro traz uma linguagem técnica ou mais simplificada?
Arthur Nestrovski - Um pouco das duas, pois há um vocabulário com termos técnicos e musicais para o leitor que não está
habituado com esse universo. Dentro do livro eu uso alguns deles
para o leitor se acostumar a ouvi-los e identificá-los.
Então qualquer pessoa que se interessa por música pode
comprar esse livro?
Arthur Nestrovski - Sim, afinal não é um livro direcionado exclusivamente para músicos, qualquer um que se interessar pelo
assunto pode ler, pois vai entender tranqüilamente.
Como você vê o jazz e a música clássica hoje? Eles ainda
são tratado como estilos elitizados?
Arthur Nestrovski - O problema não é que o jazz ou a música
clássica sejam elitizados, na minha opinião eles não são divulgados. Afinal, um CD de jazz ou música clássica custa o mesmo,
ou às vezes é até mais barato, que um CD de pagode ou sertanejo, a diferença está na divulgação destes gêneros e as formas
como eles são tratados na mídia. Se você analisar vai ver que
o espaço oferecido para esses gêneros musicais, por exemplo,
nas rádios e nas TVs é muito curto ou, em algumas emissoras,
praticamente nulo.
Você atribuiria isso à chamada “falta de cultura do povo”,
de um modo geral?
Arthur Nestrovski - A música clássica em si é um grande
elemento que contribui para a formação do cidadão e de sua
cultura, assim como o livro. A música, a meu ver, tem o mesmo
papel no processo de educação que a literatura, a questão é que
não se pode cobrar dessas áreas o fato de parte da população
não ter contato com isso.
Fonte de informação: www.saraiva.com.br
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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GLOSSÁRIO
Alabastro – Rocha pouco dura e muito branca, translúcida, finamente granulada, constituída de gipsita.
Austero – Escuro, sombrio.
Clero – A corporação dos sacerdotes.
Devaneio – Capricho da imaginação; fantasia, sonho, quimera.
Dispendioso – Que obriga a grandes dispêndios; custoso, caro.
Imponência – Arrogância, altivez, sobranceria.
Lacaio – Criado de libré, que acompanha o amo em passeio ou
jornada.
Lapso – Espaço de tempo.
Moléstia – Incômodo ou sofrimento físico; doença, achaque, mal.
Oleiro – Ceramista. Aquele que trabalha em olaria.
Prenunciar – Anunciar antecipadamente, predizer, profetizar.
Pujança – Robustez, força, vigor, possança.
Singeleza – Qualidade de singelo, simplicidade.
Votivo – Ofertado em cumprimento de voto ou promessa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. Concerto para corpo e alma. Campinas, Editora
Papirus,1998.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
FREEMANTLE, ANNE. Age of Faith, Coleção Great Ages of Man, 5ª.
edição em língua inglesa européia, Time-Life Books, Inc., Amsterdam, 1983. Encyclopædia Britannica CD 2000 De Luxe Edition
© 1994-2000 by Encyclopædia Britannica, Inc. and its licensors.
GOMBRICH, Ernest Hans. Story of Art. Phaidon Press. Setembro,
1995.
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HORA DA MÚSICA
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. A teoria a respeito do surgimento do vidro afirma que:
a) por causa de um acidente na Mesopotâmia, matando vários
egípcios, o vidro foi descoberto.
b) só os cristãos da Era Medieval conheciam o vidro.
c) a Era Medieval era famosa por acidentes envolvendo os cristãos
que trabalhavam com vidro.
d) o vidro e o barro foram inventados pelos mesopotâmios.
e) é provável que o vidro tenha sido acidentalmente descoberto
por oleiros mesopotâmios ou egípcios enquanto coziam as suas
peças em barro.
II. As escuras igrejas românicas eram decoradas com vistosas tapeçarias, estatuetas votivas revestidas a ouro e livros de culto
ricamente iluminados, enquanto as catedrais góticas:
a) eram todas feitas de vidro.
b) foram construídas em barro.
c) eram luminosas e repletas de vitrais.
d) eram apenas decoradas com colunas.
e) eram vazias e sem qualquer decoração.
III. Em relação à obra do maestro Heitor Villa-Lobos você pode
afirmar que:
a) a maioria das composições foi feita em viagens de trem.
b) só temas internacionais eram motivo de inspiração.
c) ela foi influenciada pelo folclore brasileiro.
d) era comum o maestro chorar enquanto compunha.
e) só havia composições sobre a natureza.
IV. São exemplos de composições de Villa-Lobos:
a) O Trenzinho do Caipira e a Aquarela do Brasil.
b) As Bachianas Brasileiras nº 5 e o Trem das Onze.
c) O Trenzinho do Caipira e Jesus, Alegria dos Homens.
d) As Bachianas Brasileiras nº 5 e o Trenzinho do Caipira.
e) Tocata e Fuga e As Bachianas Brasileiras nº 5.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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V. As viagens que Mozart fez em companhia de seu pai influenciaram sua carreira porque:
a) colocaram o garoto em contato direto com a fonte das ideias e
tendências musicais da época.
b) ele foi nomeado primeiro violino da orquestra do arcebispo
príncipe de Salisburgo.
c) Mozart organizou concertos assumindo todos os riscos.
d) ele pôde viver confortavelmente em Viena.
e) fizeram com que o arcebispo considerasse Mozart como um lacaio
musical.
VI. Johann Ambrosius, pai de Bach:
a) morreu sem interferir na carreira do filho.
b) não teve qualquer representatividade no talento de Bach por ter
morrido muito cedo.
c) era músico, mas não pôde ensinar nada ao filho por ser extremamente ocupado.
d) só tinha tempo para os compromissos com a igreja.
e) era músico e o ensinou a tocar violino e viola e a escrever as
notas musicais.
VII. Bach, em seus últimos anos de vida:
a) começou a viver isoladamente, refugiando-se em seu contato
com Deus e sua música.
b) passou a fazer viagens por toda a Europa para divulgar seu
trabalho.
c) fez campanhas em benefício dos doentes de catarata.
d) casou-se pela terceira vez.
e) ficou definitivamente cego.
87
HORA DA MÚSICA
2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito da arte dos vitrais.
a) A arquitetura religiosa do período românico era dominada por
belíssimos vitrais.
b) A escolha das cores para os vitrais a colocar nas paredes das
igrejas não era feita ao acaso, mas sim tomando em consideração
o movimento do sol nos céus.
c) O fabrico dos vitrais, sobretudo quando se recorria aos melhores
artesãos, era extremamente caro.
d) A transição para o Renascimento ocasionou uma perda de prestígio da arte vitraleira, pois o trabalho em vidro não se presta às
representações mais realistas que então começam a despontar
na pintura.
e) A França foi o país que assumiu protagonismo no trabalho de
vitral na época em que a arte tornava-se decadente.
3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( ) Villa-Lobos recebeu excelente orientação musical quando
criança.
( ) Mozart deu aulas de piano para crianças da aristocracia.
( ) Cinco filhos de Bach tornaram-se músicos.
4. Releia as informações sobre os três compositores e correlacione
as colunas.
1) Heitor Villa-Lobos
te.
( ) Foi enterrado como indigen-
2) Wolfgang Amadeus Mozart ( ) Começou a compor aos
19 anos.
3) Johann Sebastian Bach
( ) Ingressou no coral da igreja
aos 15 anos.
A N O T A Ç Õ E S
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CAPÍTULO 6
identidade
• expressão, comunicação e autorrealização
CAPÍTULO 6
identidade
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
N
o capítulo 2 você aprendeu que pessoas e lugares têm uma
identidade. Através da música você pôde perceber que elementos da
cultura de um lugar ou de um determinado grupo social são utilizados
no processo de criação.
O capítulo “Identidade: Expressão, comunicação e autorrealização”
traz agora uma outra abordagem do mesmo assunto.
Agora, no entanto, as artes visuais serão o centro das nossas atenções e você irá conhecer rostos e ideias que marcaram a história.
Antes, porém, uma pequena pitada de poesia na letra de “O meu
guri”, de Chico Buarque!
Ser pessoa é mais do que ter um nome ou uma nacionalidade.
Para ser completo, um ser humano precisa integrar-se ao meio
que habita, seja ele qual for. A outra opção seria, ao longo do tempo,
transformar este meio, com trabalho, pensamento crítico e ética.
Nós somos parte de uma complexa estrutura chamada sociedade.
Ela é composta por regras e símbolos; carrega dentro de si toda uma
história e, com os pés no presente, usa raízes do passado e constrói
o seu futuro.
Entretanto, nem só de riqueza cultural e progresso é composta a
nossa sociedade.
Estar à margem dela pode provocar em um indivíduo um comportamento exatamente oposto ao que dele é esperado. Num círculo
vicioso as situações de conflito geram novos conflitos e, na maior parte
das vezes, os desfechos não são os melhores.
O grande compositor Chico Buarque nos mostra, em poesia, o retrato de um desses rostos “sem face”, uma dessas histórias marginais
que povoam as páginas dos nossos jornais todos os dias!
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Leia atentamente e deixe que seu olhar e sua emoção compreendam
a mensagem do texto.
O meu guri
Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega
Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
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IDENTIDADE
A N O T A Ç Õ E S
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
Chico Buarque
Fonte de informação: www.chicobuarque.com.br
Você olha o seu rosto no espelho todos os dias.
INVESTIGANDO CAMINHOS
Ajeita o cabelo, avalia se os dentes estão todos limpos, observa a pele...
Aquela imagem é sua, só sua!
Há dias em que o rosto está mais amigável, as feições mais leves com
um ar descansado. Há outros em que existem pesadas olheiras, o cabelo
não se ajeita, a pele parece irritada.
Você vê coisas que as outras pessoas nem reparam. Sua autoimagem é
fruto do que você vê no espelho e do que você tem por dentro. A imagem
que você cria não é apenas a reprodução fiel do que está estampado no
espelho, mas a combinação daquelas formas e cores com o seu pensamento
e seu sentimento.
Se você fosse capaz de reproduzir estas imagens, como seria?
Que traços você gostaria de ressaltar e que detalhes você iria omitir?
Será que seu estado de espírito seria capaz de transformar o resultado
final do seu trabalho?
Pois muitos artistas quiseram experimentar.
Unindo talento e sensibilidade, muitos deles viraram grandes nomes
da arte do autorretrato.
Veja três diferentes exemplos, criados por três dos maiores artistas que
a humanidade já conheceu: Auguste Renoir, Vincent van Gogh e Pablo
Picasso.
Aproveitando a oportunidade, saiba um pouco mais sobre cada um
deles!
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Pierre Auguste Renoir (1841 – 1919)
Pintor e escultor francês, impressionista. Iniciou sua carreira como decorador de porcelana, mas passou a ganhar
a vida através da pintura de retratos.
Paralelamente desenvolveu habilidade
para pintar cenas de exterior, de forma
alegre e luminosa.
Percebendo que traço firme e riqueza
de colorido eram coisas incompatíveis,
Renoir concentrou-se em combinar o
que tinha aprendido sobre cor, durante seu período impressionista, com
métodos tradicionais de aplicação de tinta. A sensualidade de suas cores e
a profunda admiração que nutria pelos mestres italianos o conduziu além
do Impressionismo.
Vincent van Gogh (1853 – 1890)
Pintor holandês cujas primeiras obras
retratam a vida na sombra e a utilização
de cores escuras. Seus últimos trabalhos,
incluindo uma série de autorretratos e
girassóis, são caracterizados não só por
pinceladas ritmadas e inclinadas, mas
também pelo uso de cores vivas. Seu estilo abusa da coloração da construção de
figuras, divididos na tela e recompostos
pela visão. A luz ‘que vem de dentro’
também é fundamental em seu trabalho.
Pablo Picasso (1881 – 1973)
Artista espanhol, um dos mais influentes do século XX, superou-se na escultura, pintura, cenografia e cerâmica. Com
George Braque criou o cubismo (19061925) e introduziu a técnica da colagem.
Entre seus trabalhos mais famosos está
a tela Guernica (1937), uma condenação
à guerra e ao fascismo. Até seus últimos
anos Picasso explorou sua visão pessoal
acerca da arte.
95
IDENTIDADE
Agora, conheça um pouco mais sobre esta arte...
Autorretrato é uma forma de registro em que o modelo é o próprio
artista. O retratado é quem se retrata.
Na realidade, o autorretrato sempre acompanhou o ser humano em
seu desejo de deixar uma marca, de carimbar o mundo com sua presença,
contrapondo-se à efemeridade da vida.
Essa autorrepresentação foi tomando formas diferentes no decorrer do
tempo e dos contextos históricos.
Já na Pré-História, homens e mulheres desenhavam suas identidades
com a marca das mãos dentro das cavernas. Colocavam as mãos contra a
parede e sopravam pó colorido ao redor, demarcando suas formas nesses
locais protegidos, para que ficassem gravados para a posteridade.
No final da Idade Média,
Giotto di Bondone (1267-1337)
foi um dos precursores da prática do autorretrato. O artista
incluiu sua própria imagem
dentro da obra Juízo Final, um
dos afrescos que compõem a
obra realizada na Capela Arena, em Pádua, na Itália, feita
entre 1304 e 1306. O artista se
retrata em meio aos homens
que são julgados e conduzidos
ao paraíso em razão de sua boa
conduta em vida.
Particularmente a partir do
Renascimento, o ser humano
Juízo Final, afresco de Giotto (Capela Arena, Pádua, Itália).
passou a ser o grande foco das
preocupações da vida e do imaginário dos artistas. O retrato, então, tornou-se um dos gêneros mais populares da pintura, utilizado para o registro
de pessoas e famílias nobres e burguesas, que encomendavam trabalhos
aos artistas.
Dentro desse universo de imagens humanas, o autorretrato se estabelece como um subgênero repleto de peculiaridades. Nele, o artista se retrata e
se expressa, numa tentativa de leitura e transmissão de suas características
físicas e interioridade emocional. Ali também, na maneira como utiliza
cores e pinceladas, no modo como desenha suas próprias formas e lhes
atribui volumes, o artista constrói seus próprios comentários sobre a arte.
O primeiro artista do Renascimento a realizar uma série de autorretratos
foi o alemão Albrecht Dürer (1471-1528).
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Ele se encantou com sua própria
imagem já quando tinha 13 anos e assim
desenhou seu primeiro autorretrato, em
1484. Em 1500, pintou seu autorretrato
com Casaco de Peles, evocando a imagem
de Jesus Cristo, atribuindo ao artista uma
importância transcendental, espiritual.
Alguns pintaram a si mesmos repetidamente. Foi Rembrandt Harmeszoon
van Rijn (1609-1669), quem realizou o
maior número de autorretratos de que se
tem notícia na história ocidental. Foram
cerca de cem, entre desenhos e pinturas.
Rembrandt deixou imagens para o mundo, desde a de um jovem de 23 anos até
a de um senhor rechonchudo, de cabelos
brancos e pele marcada, em seus últimos
dias de vida. Ele fazia essas autoimagens
para investigar não apenas as particularidades de cada ser humano como também
as diversas possibilidades de se lidar com
as tintas, as pinceladas, os traços no papel.
“Quererão saber que espécie de pessoa eu
fui”, Rembrandt dizia.
Modigliani, pelo contrário, ao que tudo
indica, o fez numa única ocasião. Outros,
como Francis Bacon, ocuparam-se de sua
própria imagem quando tiveram a sensação de já ter abordado todos os outros
temas possíveis.
Dürer
Rembrandt
O autorretrato é o espelho do artista. Ali
se reflete sua imagem externa, assim também como estados emocionais, contextos
sócio-históricos que circunscrevem a obra,
além de questionamentos sobre maneiras
de se ver e de se lidar com arte. São essas
variáveis que lhe conferem força e uma
eterna capacidade de nos intrigar.
Modigliani
97
IDENTIDADE
A N O T A Ç Õ E S
DESAFIOS DO PERCURSO
1. As imagens abaixo são autorretratos de Tarsila do Amaral, Paul
Cézanne e Frida Kalo. Escolha uma delas e faça a sua análise de modo a
contemplar a obra enquanto peça de arte e os artistas como seres humanos.
Faça com que suas palavras traduzam o que as imagens fizeram você sentir.
R.
2. Você conheceu a história do “guri”, narrada por Chico em sua
poesia. Conheça agora a história de outros personagens na famosa letra
de “A Banda.”
Após ler e reler o texto, escolha três dos vários tipos citados por
Chico e crie seus retratos.
Lembre-se: você pode usar a técnica que quiser. Havendo possibilidade,
procure usar materiais variados para expressar sua emoção.
A banda
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Chico Buarque / 1996
3. Procure uma foto sua e cole-a aqui. Ao lado dela crie o seu autorretrato usando a técnica que lhe for mais interessante. Lembre-se que seu
trabalho não tem qualquer intenção de representar a realidade tal qual ela
é no sentido de precisar ser um produto figurativo. Como foi dito anteriormente, um autorretrato contém muito mais do que uma simples imagem!
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IDENTIDADE
4. Procure um artigo de jornal cujo tema tenha relação direta com a
música “Meu Guri”, de Chico Buarque.
Cole o artigo aqui e escreva seus comentários comparando-o ao texto
do Chico.
R.
Você já pensou que retratos sempre merecem lugares especiais em
nossas vidas? Alguns deles até mesmo em nossas casas! Aqui, algumas
dicas para que você use toda a sua criatividade para produzir, a baixo
custo, porta-retratos à altura das fotos!
Referência das imagens: www.asiacraftmarket.com
AMPLIANDO O HORIZONTE
GLOSSÁRIO
Afresco – Técnica de pintura aplicada em paredes e tetos que consiste em pintar sobre camada de revestimento recente, fresco,
de nata de cal, gesso ou outro material apropriado ainda úmido,
de modo que possibilite o embebimento da tinta.
Efêmero – De pouca duração; passageiro, transitório.
Patuá – Objeto conhecido por afastar o mal, objeto bento.
Precursor – Que vai adiante. Que anuncia um sucesso, ou a chegada de alguém. Que faz prever, prepara os atos, o surto de
outrasfiguras.
Rebento – Filho; descendente.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANTON, Kátia. Auto-retrato, Espelho de Artista. Editora Cosac
& Naif.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
Coleção “Os Grandes Artistas”. Editora Nova Cultural, 1986.
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. Os versos “Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro / Chave,
caderneta, terço e patuá / Um lenço e uma penca de documentos
/ Pra finalmente eu me identificar, olha aí” fazem com que você
conclua que:
a) a mãe havia perdido sua carteira.
b) na bolsa roubada não havia objetos de valor.
c) a mãe não tinha identidade.
d) a bolsa era pesada e difícil de carregar.
e) era aniversário da mãe, que ganhou a bolsa de presente.
II. Os versos “Chega estampado, manchete, retrato / Com venda
nos olhos, legenda e as iniciais” mostram uma realidade comum
das grandes cidades:
a) menores infratores sendo mortos pela polícia ou por outros infratores.
b) crianças aparecendo nas propagandas de jornais.
c) crianças fotografadas para impressionar o público.
d) jornais exagerando na quantidade de reportagens com crianças.
e) jovens fazendo de tudo para aparecer na mídia.
III. O exemplo de “autorretrato” do período Pré-Histórico era:
a) a gravação da imagem da pessoa em pedras lapidadas por
artífices.
b) imagens de animais, tais como bisões e cavalos.
c) impressões digitais nas pedras.
d) as mãos estampadas nas paredes das cavernas.
e) pegadas gravadas no barro molhado.
101
IDENTIDADE
IV. Giotto, um dos precursores da arte do autorretrato:
a) pintou sua imagem em todas as catedrais góticas.
b) começou a pintar sua obra-prima quando tinha treze anos.
c) foi julgado e não pôde ser enviado ao paraíso.
d) espalhou suas impressões digitais ao longo da nave da Capela
da Arena.
e) incluiu sua própria imagem dentro da obra Juízo Final.
V. Renoir iniciou sua carreira de artista:
a) decorando cavernas.
b) como pintor de porcelana.
c) pintando afrescos nas igrejas.
d) criando imagens eróticas.
e) esculpindo rostos de pessoas famosas.
VI. Foram marcas do trabalho de Van Gogh:
a) a pintura de porcelana e as esculturas em mármore.
b) pinceladas ritmadas e inclinadas, assim como cores vivas.
c) a luminosidade dos afrescos góticos.
d) o contraste claro-escuro na pintura de imagens religiosas.
e) a técnica da colagem.
VII. Movimento criado por Picasso e Georges Braque:
a) cubismo.
b) fascismo.
c) nazismo.
d) impressionismo.
e) romantismo.
2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito da arte do autorretrato:
a) A partir do Renascimento, o ser humano passou a ser o grande
foco das preocupações da vida e do imaginário dos artistas.
b) Em 1500, Picasso pintou seu autorretrato com Casaco de Peles,
evocando a imagem de Jesus Cristo, atribuindo ao artista uma
importância transcendental, espiritual.
c) Rembrandt foi um dos artistas que pintou seu autorretrato repetidamente.
d) O autorretrato é o espelho do artista.
e) Modigliani foi um dos artistas que pintou várias versões diferentes
do seu autorretrato.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( ) Renoir foi um artista impressionista.
( ) Van Gogh foi um artista cubista.
( ) Picasso foi um artista renascentista.
( ) Renoir, Van Gogh e Picasso pintaram seus autorretratos.
4. Compreendendo que a música pode ser um dos elementos a identificar um país, um time ou um grupo, numere a segunda coluna de acordo
com a primeira.
1) Renoir
( ) Pintor espanhol, autor de Guernica.
2) Van Gogh
( ) Pintor e escultor francês.
3) Picasso
( ) Pintor holandês que usou girassóis como tema.
CAPÍTULO 7
conhecimento
• descobertas e conquistas no universo visual
CAPÍTULO 7
conhecimento
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
O
capítulo “Conhecimento: Descobertas e conquistas no universo
visual” irá tratar da arte pré-histórica, numa viagem ao interior das
cavernas, com direito a tentar entender o que passava pela mente do
homem primitivo, autor das pinturas rupestres.
Mas nem só de pintura é feito este capítulo... Seguindo a inspiração
pré-histórica, faremos uma rápida visita a uma família e tanto...
Diretamente da Idade da Pedra, os Flintstones!
Não é novidade nenhuma que a presença dos desenhos animados
influenciou a vida da maioria dos adultos de hoje. As pessoas com
idade um pouco mais avançada tiveram, antes da TV, os quadrinhos
e os personagens dos almanaques.
Mas para todos aqueles que tiveram a televisão como um objeto
comum em suas casas, os desenhos animados representaram um papel
muito importante na construção do imaginário e no jogo da fantasia
que faz parte da vida de qualquer criança.
Temáticas variadas foram utilizadas na criação de nossos heróis
coloridos! Famílias que moravam no espaço, ursos que não resistiam
a cestas de piquenique, um gato que morava numa lata de lixo... Isso
sem falar em outros personagens mais poderosos com seus raios e
seus truques mirabolantes.
A mídia tem nos desenhos animados excelentes aliados. Não só
na disseminação de valores e símbolos da sociedade, mas como um
excelente canal gerador de recursos, à medida que crianças e jovens,
empolgados com as divertidas aventuras de seus personagens favoritos,
movimentam uma engrenagem bilionária. Nela podem estar bonecos,
jogos, camisetas, tênis, mochilas, capas de caderno, iogurtes, picolés,
biscoitos... E uma infinidade de produtos que a mente humana – e
capitalista – pode criar.
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Mas tudo acaba em diversão...
Portanto, façamos uma viagem no tempo dentro do universo dos desenhos animados...
Junto conosco, uma família muito especial!
Os Flintstones!
O desenho animado Os
Flintstones, conta as aventuras
de duas famílias aparentemente
comuns: os Flintstones e os Rubbles. Os membros dos dois clãs
vivem na Idade da Pedra... uma
moderna Idade da Pedra, repleta
de todas as conveniências do
mundo atual, em versões toscas
e muito divertidas.
Mamutes-aspiradores de pó,
dinossauros-depósitos de lixo,
entre outros, fazem parte dos
utensílios domésticos. Brontossauros-guindastes e estegossauros-tratores permitem ao homem
da Idade da Pedra trabalhar na
extração de granito.
Vivendo em modernas casas-caverna e locomovendo-se
pela cidade de Bedrock em
seu Flintmóvel, movido a pé,
os Flintstones e os Rubbles
levam a vida como bons amigos, frequentando o Bronto Burger e
assistindo aos filmes do Pedra Cine.
Uma vida relativamente simples, não fosse pelo fato de Fred estar
sempre metido em encrencas acompanhado por Barney.
Para sorte dos rapazes, Wilma e Betty sempre estão lá para livrá-los
das enrascadas.
Os Flintstones estrearam nas telas da TV em 30 de setembro de 1960
e este foi o primeiro desenho animado da dupla Hanna-Barbera.
Anos mais tarde o desenho foi adaptado para uma versão cinematográfica em longa-metragem. Dessa vez, não mais os desenhos, mas atores
de verdade assumindo as características muito peculiares de cada um dos
personagens.
107
CONHECIMENTO
Relembrando:
• Fred Flintstones é o líder do grupo. Fanfarrão e atrapalhado,
gosta de jogar boliche e comer brontossauro. É dele o grito de
alegria: Yabadabadoo!
• Wilma é esposa de Fred e mãe da Pedrita. Muito moderna para a
Idade da Pedra, adora ir ao shopping e tem como melhor amiga
Betty Rubble.
• Pedrita é filha de Fred e Wilma, vive engatinhando pela casa.
Tem um ossinho prendendo seus cabelos, ruivos como os de sua
mãe. Nas séries mais atuais, Pedrita tornou-se uma jovem muito
bonita e casou-se com seu eterno admirador: Bam-bam.
• Barney Rubble é o melhor amigo de Fred. Tem uma voz engraçada. É mais inteligente e sensível, mas também mais medroso
que seu companheiro de aventuras.
• Betty é esposa de Barney e mãe do Bam-bam. É meiga e carinhosa. Também é a melhor amiga de Wilma.
• Bam-bam foi deixado na porta dos Rubble depois que Barney e
Betty pediram um filho à estrela cadente. Mas só tiveram permissão de adotá-lo, após uma desagradável batalha judicial.
Tem uma força fora do comum. Ao ficar adulto apaixona-se por
Pedrita. Não se separa de seu cajado e, quando criança, só falava
“bam, bam”.
• Dino, o cachorro da família Flintstones, é alegre e guloso.
Quando Fred chega em casa depois do trabalho, Dino o recebe
com muita alegria.
Em alguns episódios, Dino ganhou uma companheira: Holly.
Mas o que teria feito com que uma dupla tão competente na arte dos
desenhos animados tivesse escolhido a Idade da Pedra para cenário de um
de seus trabalhos de maior sucesso?
O que havia de tão curioso na realidade do Homem das Cavernas capaz de estimular a criatividade dos artistas e fazê-los produzir inúmeros
episódios que nos renderam deliciosas gargalhadas?
Você vai poder descobrir parte desta história, neste capítulo, ao conhecer um pouco sobre a arte rupestre.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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INVESTIGANDO CAMINHOS
Desde o início dos tempos, a linguagem visual desempenha papel
fundamental na história da humanidade.
Artistas de hoje e de sempre revelam seus sentimentos e pensamentos,
transformando-os e expressando-os através de uma enorme variedade
de linguagens artísticas. A arte possibilita a demonstração de diferentes
sentimentos.
A partir do momento em que um ser humano decide observar uma obra
de arte, ele precisa preparar-se para um exercício de leitura, exploração e
interpretação de cada elemento presente nas produções em suas diferentes
linguagens. É nessa hora que nossos sentidos nos mostram que há um
universo a ser desvendado, repleto de surpresas e conhecimentos. Através
destas experiências e da leitura de cada elemento, o indivíduo se permite
entender de forma única os significados de uma obra de arte.
Entretanto, onde tudo isso tem origem?
Que registros nos apontam o início da produção artística da humanidade?
Há várias opiniões a respeito deste assunto.
Para compreendermos melhor algumas delas, precisaremos fazer uma
volta ao passado, chegando
até a Pré-História, na Idade
da Pedra.
ARte RuPeStRe
Não existe um ponto no
tempo, onde se possa assinalar a origem da arte, assim como não há um marco
onde se indique o fim da
arte primitiva e o começo da arte dita civilizada ou adulta. Estudam-se
épocas prováveis para tais acontecimentos, através de pesquisas, coletas
de fósseis, estudos científicos. De uma coisa certa sabemos: os povos
primitivos, por mais isolados que estivessem, desenvolviam a ornamentação e, em geral, a representação gráfica igualmente, o
que é justificável: o instinto
artístico é universal.
As primeiras representações datam entre 40.000
109
CONHECIMENTO
a 10.000 a.C. (final do Paleolítico). Essas
representações significam a tentativa do
homem primitivo de dominar um mundo,
cujas forças de medo e benefício se personificavam nos animais e seriam maneiras de afugentar os seus medos. Essas representações
eram tão bem transcritas para as paredes das
cavernas (locais mais comuns onde se encontravam os desenhos), que mesmo depois das
descobertas, arqueólogos e críticos se recusaram a aceitá-las como obras
de arte deixadas pelos pré-históricos. Insistiam que algum excêntrico as
pintara ou alguém que tivesse querido fazer uma “piada”. Justificavam
que nenhum artista, antes da invenção da fotografia, teria condições de
compreender daquele modo e perceber com tanta segurança as posições
somente perceptíveis pelo instantâneo.
Durante anos os murais nas cavernas de Altamira, na Espanha, foram
questionados quanto à sua autenticidade.
As representações da pré-história receberam o nome de arte rupestre,
devido ao fato de terem sido desenvolvidas quase que exclusivamente em
pedras, no interior das cavernas e grutas.
Existem várias teorias para explicar o motivo que levaria o homem
primitivo a pintar nas paredes das cavernas. Das várias teses, apresentaremos as quatro mais difundidas, mas é provável que nenhuma esteja
totalmente certa. Na realidade elas são, quase que certamente, interpretações complementares.
teORIA DA ORnAMentAçÃO: “ARte PARA O PRAzeR DOS OLHOS”
A primeira teoria que surgiu defendia a ideia de que o homem primitivo tinha um impulso instintivo de tornar-se belo, para agradar a si e aos
semelhantes. Os ornamentistas acreditam que a mais simples expressão
de arte, seja ela pintura, tatuagens sobre o corpo, fora tão somente inventada pelo prazer do adorno e consequentemente pelo desejo de provocar
admiração. Leva-se em conta também a intenção de impulsionar a atração
sexual para desbancar os demais membros da coletividade.
teORIA DA utILIDADe: “A ARte APLICADA”
Existem teses complicadas para afirmar que a arte só nasce da utilidade.
Devemos, contudo, acreditar nos utilitaristas, que afirmam, na maioria
dos casos, que a arte tende a nascer dentro de uma certa relação com os
objetos de uso. Ou ainda, mais além, que a arte surge para facilitar o uso
dos objetos.
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teORIA DA ReLIGIOSIDADe: “ARte PeLA Fé”
A arte, afirmavam esses teóricos, evidenciava uma conjuntura mágica
e religiosa; acreditavam eles que as figuras encontradas poderiam ter sido
ídolos, totens e fetiches. Percebemos que as forças da natureza gradualmente se transformaram em divindades, à medida que a capacidade de
abstração do homem pré-histórico se aproxima de uma organização divina
do mundo. As próprias pinturas das cavernas, quase exclusivamente de
animais, eram, sem dúvida, oferendas simbólicas aos deuses. As pinturas
eram, quase todas, parte de um ritual que precedia a caça devido à relação
de dependência entre o caçador e sua presa.
teORIA DA CRIAçÃO PuRA: “ReALISMO”
Essa quarta importante teoria prega que o homem havia criado arte em
virtude de uma necessidade inata, como querer exprimir algo instintivamente dentro de si. Os realistas veem a sua origem no instinto da imitação,
da reprodução de objetos e gestos observados na natureza. Foi muito
combatida com o pensamento de haver arte, mesmo antes da imitação.
DESAFIOS DO PERCURSO
1. Considerando as quatro teorias a respeito da arte rupestre, escolha
uma das imagens abaixo e, segundo uma das teorias, faça sua apreciação.
R.
111
CONHECIMENTO
2. A linguagem dos cartuns está presente entre nós nas páginas dos
jornais, revistas e também na televisão.
Faça a sua interpretação dos cartuns abaixo, onde os desenhistas tratam
com humor a realidade da idade da pedra.
Fonte: www.geocities.com/blindfools/toondig.htm
a)
Fonte: www.internetcafeole.com/tonin/cave.htm
b)
R.
R.
3. Você leu o texto a respeito dos desenhos animados e da importância
que estes têm dentro da sociedade, especialmente no que se refere ao seu
poder de influência no mundo capitalista. Procure em revistas ou jornais
exemplos de produtos que utilizem a imagem de algum personagem de
desenho animado e cole-os aqui.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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4. Ainda que seja bem provável que as quatro teorias sobre a arte
rupestre sejam complementares, qual delas é, na sua opinião, mais convincente? Justifique sua resposta.
R.
5. Anos e anos se passaram desde que os primeiros registros fossem
feitos nas paredes das cavernas. Hoje há inúmeras formas de representação
e, sem sombra de dúvida, elas traduzem símbolos presentes na sociedade
atual.
Imagine que esta é a sua caverna.
Nela você irá fazer seu registro, deixar sua mensagem, representar
seus símbolos. Pense que sua arte será analisada daqui a milhares de anos.
O que você gostaria que as pessoas encontrassem?
Hoje em dia vem sendo muito difundido o turismo em cavernas.
Quem sabe você e seus amigos visitarão uma caverna?
AMPLIANDO O HORIZONTE
Entretanto, como qualquer ecossistema, uma caverna possui suas
peculiaridades que precisam ser respeitadas. Caso contrário, o
que parecia ser um simples passeio pode comprometer o equilíbrio
ambiental de um complexo habitat. Saiba mais:
113
CONHECIMENTO
Cavernas começam a receber
tratamento adequado
Os primeiros planos de manejo específicos para cavernas estão
saindo do papel, graças aos esforços de espeleólogos voluntários e
técnicos do Ibama.
Campinas – Não existe visita à caverna que não interfira em seu
ambiente interno. Mas podem existir planos de manejo do turismo
em cavernas como alternativas para minimizar esta interferência.
As soluções são diferentes para cada caverna e até para cada galeria
de uma mesma caverna, por isso os planos de manejo dependem de
avaliações técnicas de espeleólogos, especialistas que, no Brasil, não
têm profissão regulamentada, nem formação acadêmica específica e,
via de regra, trabalham voluntariamente, por amor às cavernas.
Os primeiros planos de manejo estão saindo do papel, graças ao
trabalho destes espeleólogos e dos esforços do Centro Nacional de
Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Cecav-Ibama).
A prioridade são as áreas com maior concentração de cavernas e
mais visitação na Bahia (Chapada da Diamantina), Mato Grosso do
Sul (Bonito) e Minas Gerais (circuito de cavernas em torno de Belo
Horizonte). “Existem cavernas com espaço e conformação para receber
cinqüenta pessoas de uma vez só, no que chamamos de turismo de
massa, mas outras cavernas ou algumas galerias comportam apenas
o turismo de aventura, outras só os especialistas e, em alguns casos,
como o de ocorrência de espécies endêmicas, a visitação deve ser proibida”, classifica o engenheiro ambiental José Ayrton Labegalini, que
nas horas vagas é secretário da Federação Espeleológica da América
Latina e Caribe (FEALC) e da União Internacional de Espeleologia.
Os três tipos de visitação demandam infra-estruturas diversas e têm
impactos diferentes. No turismo de massa é preciso preparar a caverna
com passarelas, escadas, pontes e iluminação. No turismo de aventura
ou na exploração espeleológica, os visitantes já não se importam de pôr
o pé na água, sentar no chão e sujar a roupa. Também não dependem
de iluminação fixa, preferindo lanternas ou carbureto. O impacto de
construções é menor, mas deve existir um corpo de guias para acompanhar os visitantes e evitar depredações e acidentes.
“Na elaboração do plano de manejo, é preciso estudar quais galerias podem ser abertas, onde as passarelas e construções terão menos
impacto e como vai ser feita a iluminação”, comenta Labegalini.
Leva-se em consideração a localização dos espeleotemas (“enfeites”
naturais das paredes e teto das cavernas), a existência de vestígios de
animais pré-históricos ou ocupação humana (sítios paleontológicos ou
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arqueológicos), a fauna e a flora nativas, a
fragilidade ecológica
(desequilíbrio entre
espécies ou entre o
ambiente e as espécies que o utilizam), a
fragilidade geológica
(risco de desabamentos, erosão, destruição
ou poluição de elementos importantes) e o microclima interno, entre outros fatores.
“Em algumas galerias, a simples passagem de três pessoas altera a
temperatura, o grau de umidade do ar e a concentração de gás carbônico
sendo suficiente, por exemplo, para ocasionar a formação de neblina”,
diz o especialista. A iluminação fixa também produz calor e luz suficientes para favorecer o crescimento de musgo, cogumelos, fungos e
a instalação de algumas espécies animais não nativas. Por isso, não
se deve espalhar refletores em toda a caverna, é preciso estudar o tipo
de lâmpada, a localização dos refletores e sua quantidade, de modo a
interferir o menos possível e preservar ao máximo o ambiente original
da caverna. Mesmo o uso dos lampiões de carbureto deve ser regulamentado, pois eles geram fuligem e podem causar poluição visual.
Pelo menos um bom exemplo de iluminação já existe no Brasil,
em Botuverá, no Paraná, onde se optou por lâmpadas fluorescentes
compactas, de alto rendimento e baixa produção de calor. O número
e localização das lâmpadas também foi cuidadosamente estudado,
apontando um caminho alternativo ao costume de chamar um técnico
em iluminação para encher a caverna de luzes, depois de montar uma
lanchonete na boca da cavidade e sair anunciando um novo ponto
turístico, como ocorreu, historicamente, na grande maioria das cavernas de turismo de massa brasileiras. “Os planos de manejo indicam
como usar e como proteger as cavernas, para que a visitação seja
permanente”, acrescenta José Ayrton Labegalini.
Liana John
Fonte da Informação: http://www.estadao.com.br
Dica de navegação:
Um dos estados brasileiros conhecido por suas montanhas e cavernas é Minas Gerais.
Se você ainda não teve a oportunidade de visitá-lo, pode começar
sua viagem pela Internet.
Descubra Minas é o nome do site, que você acessa em www.descubraminas.com.br
115
CONHECIMENTO
GLOSSÁRIO
Carbureto – Qualquer composto binário de carbono e outro elemento; carbeto, carboneto.
Clã – Unidade social formada por indivíduos ligados a um ancestral
comum por laços de descendência demonstráveis ou putativos.
Disseminar – Difundir, divulgar, propagar; espalhar.
Endêmico – Peculiar à determinada população ou região.
Espeleólogo – Especialista em espeleologia (Estudo e exploração
das cavidades naturais do solo: grutas, cavernas, fontes etc.).
Excêntrico – Diz-se de, ou indivíduo original, extravagante, esquisito.
Fanfarrão – Indivíduo fanfarrão; alardeador, arrotador, balandrão,
bazófio, blasonador, bufador, bufão, chibante, farfante, farofeiro,
farroma, farrombeiro, farromeiro, farronca, farsola, ferrabrás,
gabarola(s), gabola(s), garganta, goela, gomeiro, pabola, pábulo,
pimpão, prosa, rebolão, roncador.
Fetiche – Objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou
produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural
e se presta culto; ídolo, manipanço.
Inato – Que nasce com o indivíduo; congênito, conato.
Manejar – Mover ou executar com as mãos; manusear, manear.
Mídia – O conjunto dos meios de comunicação, e que inclui, indistintamente, diferentes veículos, recursos e técnicas, como,
por exemplo, jornal, rádio, televisão, cinema, outdoor, página
impressa, propaganda, mala-direta, balão inflável, anúncio em
site da Internet, etc.
Peculiar – Que é atributo particular de uma pessoa ou coisa; especial, próprio.
Rupestre – Gravado ou traçado na rocha.
Tosco – Tal como veio da natureza. Não lapidado nem polido.
Bronco, grosseiro, rude.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Encyclopædia Britannica CD 2000 De Luxe Edition © 1994-2000
by Encyclopædia Britannica, Inc. and its licensors.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
GOMBRICH, Ernest Hans. Story of Art. Phaidon Press. Setembro,
1995.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. A relação da mídia com a sociedade capitalista pode ser percebida:
a) No comportamento de todos os personagens, que habitualmente
vão a shopping centers.
b) No comércio de produtos contendo a imagem dos personagens
mais conhecidos.
c) Desde o tempo da idade da pedra, quando surgiu o dinheiro.
d) Em todos os desenhos animados da Família Flintstones.
e) Nos programas sobre as pinturas das cavernas.
II. A linguagem visual desempenha papel fundamental na história
da humanidade:
a) apenas na idade da pedra.
b) desde a criação dos Flintstones.
c) a partir da invenção da televisão.
d) apenas dentro das cavernas.
e) desde o início dos tempos.
III. A partir do momento em que um ser humano decide observar
uma obra de arte, ele precisa preparar-se:
a) para um exercício de leitura, exploração e interpretação de cada
elemento presente nas produções em suas diferentes linguagens.
b) para um exercício de leitura que o tornará capaz de explorar o
comércio de produtos.
c) para a exploração e interpretação de cada elemento presente
na mídia, com o objetivo de estimular o capitalismo.
d) para um exercício de exploração de cavernas e seus elementos.
e) para um exercício de interpretação de cada elemento presente
na sociedade primitiva.
IV. São elementos capazes de auxiliar na definição do início da
produção artística da humanidade:
a) Pesquisas, coletas de fósseis, produtos da mídia.
b) Coletas de fósseis, estudos científicos e o instinto do homem das
cavernas.
c) Estudos científicos exclusivamente ligados à pintura.
d) Pesquisas, coletas de fósseis, estudos científicos.
e) Pesquisas, coletas de fósseis, estudos capitalistas.
117
CONHECIMENTO
V. As primeiras representações da arte rupestre eram:
a) A dominação do homem primitivo pela natureza.
b) Uma tentativa do homem primitivo de dominar o mundo.
c) A dominação da arte pelo homem primitivo.
d) A única forma de sobrevivência do homem primitivo.
e) Uma das formas do homem primitivo captar recursos.
VI. Muitos estudiosos duvidaram da autenticidade das pinturas
rupestres devido:
a) à perfeição com que as imagens eram representadas.
b) à quantidade de desenhos.
c) ao número reduzido de assinaturas dos artistas.
d) à falta de assinatura das obras.
e) ao estado de má conservação das cavernas.
VII. As quatro teorias apresentadas a respeito da arte rupestre:
a) são contraditórias.
b) são incoerentes.
c) são mentirosas.
d) são complementares.
e) são completamente absurdas.
2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito da preservação das cavernas:
a) Não existe visita à caverna que não interfira em seu ambiente
interno.
b) As soluções de preservação são idênticas para todos os tipos de
caverna.
c) Em algumas galerias de cavernas, a simples passagem de três
pessoas altera a temperatura, o grau de umidade do ar e a
concentração de gás carbônico.
d) A caverna de Botuverá, no Paraná, é um excelente exemplo de
preocupação com o equilíbrio do ecossistema das cavernas.
e) No turismo de aventura ou na exploração espeleológica, os
visitantes se incomodam por terem de pôr o pé na água, sentar
no chão e sujar a roupa.
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3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( ) O carbureto é usado pelos espeleólogos como forma de iluminação na exploração de cavernas.
( )É indicada a distribuição de vários refletores no interior das
cavernas para evitar que elas sejam danificadas.
( ) Instalar lanchonetes nas entradas das cavernas pode ajudar na
captação de recursos que impedirão sua degradação.
( )Espeleotemas são “enfeites” naturais das paredes e teto das
cavernas.
4. Analisando as teorias que tentam explicar a arte primitiva e as
pinturas rupestres, numere a segunda coluna de acordo com a primeira.
1) Teoria da ornamentação ( ) “A arte aplicada”
2) Teoria da utilidade
( ) “Arte para o prazer dos olhos”
3) Teoria da religiosidade
( ) “Arte pela Fé”
4) Teoria da criação pura
( ) “Realismo”
CAPÍTULO 8
em contexto
• o espaço da imagem na cultura
CAPÍTULO8
EM CONTEXTO
PLANEJANDO A ROTA
O
dia amanhece, você acorda, espanta a preguiça e dá conta da
enorme quantidade de coisas que existem ao seu redor... Todas elas
repletas de formas e de cores.
Ao pensar nas cores você pode se lembrar da paleta de um artista,
do arco-íris ou das penas de um pavão... Você também pode pensar na
cor dos seus olhos, dos cabelos da menininha que acaba de atravessar
a rua ou ainda na camiseta que você vai escolher para combinar com
a calça que está usando.
A verdade é: as cores estão por toda parte!
O capítulo “Em contexto: O espaço da imagem na cultura” irá
criar as bases para que você compreenda a importância da cor dentro
de um mundo repleto de imagens e símbolos. Para isso, preparamos
um rápido passeio pelo mundo animal até que você chegue a entender
direitinho este fenômeno chamado cor!
As cores do reino animal
Uma das primeiras coisas que nos chama a atenção num animal e
que nos auxilia a identificá-lo como membro de uma determinada espécie é sua cor. Ele pode
ser o nosso cachorrinho
de estimação, um tigre
de bengala ou um pequenino inseto que acaba de
pousar em sua janela. E
as aves? Existe colorido
mais exuberante do que
o das nossas araras?
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Dificilmente, porém, nos perguntamos o papel que a coloração desempenha na vida dos animais. Se nos detivermos a observar essas cores,
poderemos fazer descobertas interessantes.
Além de constituírem características marcantes, as cores dos animais
têm diversas funções: reconhecimento, proteção, repulsão etc. De fato,
muitas vezes as cores são um dos fatores da sobrevivência das espécies.
Estamos habituados a uma outra relação com o “mundo das cores”, já que
o ser humano deu a elas outra dimensão e diferentes significados.
Como surgem as cores
As cores dos animais devem-se a substâncias químicas denominadas
pigmentos. O pigmento mais comum é a melanina, de cor marrom-escura
ou preta; encontra-se na pele, nos pelos, nas pernas, na tinta da sépia e
de outros cefalópodes. A melanina é responsável por todos os “pretos”
do mundo animal, o preto dos cabelos humanos, por exemplo. A maior
ou menor presença desse pigmento faz com que a pele humana seja mais
ou menos escura.
Outros pigmentos muito difundidos são os carotenoides (abundantes na
cenoura), de cor amarela, alaranjada e vermelha. Comuns nos crustáceos
e em outros animais marinhos.
As cores e o namoro
Outro fator responsável
pelo colorido da natureza é a
diferença da coloração entre
machos e fêmeas de uma mesma espécie. Essa diferença
pode ter vários significados.
Em muitos animais a cor é
um meio fundamental de
reconhecimento do sexo. O
macho de muitas espécies de ave, por exemplo, ostenta colorido vistoso;
em geral, é a fêmea que escolhe o companheiro e a escolha recai naturalmente no mais atraente.
Em outros casos, a cor serve para proteger o animal. Nas aves, por
exemplo, a fêmea costuma apresentar plumagem de cor uniforme, quase
sempre castanha. Como a fêmea passa longos períodos chocando os ovos,
essa cor serve para mimetizá-la com as ervas e moitas em que se localiza
o ninho.
Em muitos animais, principalmente mamíferos e aves, a cor dos filhotes
difere da dos adultos. A plumagem cinza da maioria das aves permite que
esses filhotes passem despercebidos aos olhos dos pássaros predadores.
Referência de pesquisa: www.saudeanimal.com.br • www.nwf.org/keepthewildalive
123
EM CONTEXTO
A cor faz parte do nosso mundo e das nossas vidas. Todos os dias
estamos em contato com as cores. Escolhendo as roupas para vestirmos,
tentamos combinar as meias com o terno, a saia com a blusa, a fivela do
cabelo com a roupa, a camiseta com o jeans... As cores estão nas ruas,
nos parques, nas pessoas, nos objetos, na natureza...
A natureza está repleta de cores.
Mas só podemos perceber as cores na presença da luz.
Cor é luz.
Sem luz, nossos olhos não podem ver as cores.
A luz branca é formada pela reunião de numerosas radiações coloridas
que podem ser separadas. A cor é o resultado do reflexo da luz que não
é absorvida por um pigmento. Assim podemos estudar as cores sob dois
aspectos que estão diretamente relacionados embora sejam aparentemente
opostos: a cor-luz e a cor-pigmento.
Cor-Luz
A cor é uma sensação provocada pela luz sobre o órgão da visão, isto
é, sobre nossos olhos. A cor-luz pode ser observada através dos raios luminosos. Cor-luz é a própria luz que pode se decompor em muitas cores.
A luz branca contém todas as cores.
Você já viu um arco-íris? O arco-íris é um belo fenômeno da natureza.
Ao incidirem nas gotas de água da chuva que passa, os raios da luz
solar que atravessam as nuvens se decompõem em várias cores. São
radiações coloridas. E quanta alegria nos dá essa visão...
Em 1664, Isaac Newton fez surpreendentes descobertas sobre a luz e
as cores. São muitas as experiências relatadas e que constam até hoje dos
estudos feitos pela Física elementar. Seus estudos partiram da observação
do arco-íris. Newton “reproduziu” um arco-íris dentro de casa. Com alguns
prismas e lentes onde fez incidir a luz
do sol, separou as cores para estudá-las. A faixa colorida que obteve
ao separar as cores é chamada
de “espectro solar”. Mas nem
todas as cores podem ser
vistas por nossos olhos.
O infravermelho e o ultravioleta, por exemplo,
não são cores visíveis no
arco-íris.
Assim o que vemos
é o espectro das seis
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cores visíveis: azul-violeta, azul-ciano, verde, amarelo-limão, vermelho-alaranjado e vermelho-magenta. Alguns estudos consideram também o
azul-anil como cor visível, o que dá um total de sete cores.
Outros estudos foram feitos com a cor-luz. As cores podem ser somadas
e, assim, surgem novas cores. Três cores visíveis do espectro são chamadas
de cores primárias: o vermelho-alaranjado, o verde e o azul-violeta. Ou
em linguagem técnica: Red, Green e Blue. (RGB)
Misturando apenas essas três cores, em proporções e intensidades
variadas, podemos obter todas as outras, mesmo as que não estão no
espectro solar como os tons de marrom, por exemplo. Note que ao misturarmos o vermelho-alaranjado com o verde temos o amarelo-limão; o
azul- violeta com o vermelho-alaranjado, o vermelho-magenta; e o verde
com o azul-violeta, o azul-ciano. Somando as três, temos o branco. E o
preto? Bem... Se o branco é a soma de todas as cores, então o preto... É a
ausência delas. Ou seja, o preto é a ausência da luz. O preto é aquilo que
qualquer criança conhece como “o escuro”. Essa mistura é chamada de
aditiva, pois estamos somando as cores. Usamos também a intensidade
da cor para completar uma mistura, ou seja, a maior ou menor intensidade
da luminosidade da cor também forma outras cores.
Esse sistema aditivo de mistura das cores conhecido como RGB é o
que forma as cores dos sistemas de comunicação visual, como a televisão
e até mesmo o monitor do seu computador.
Cor-Pigmento
É só descuidar da caneta e lá foi o bebê deixando suas impressões pelas
paredes da sala. A mamãe pode até ficar muito brava, mas o bebê sorri de
alegria e satisfação. Faz o mesmo quando está com as mãos lambuzadas
da sopinha, do chocolate, da geleia ou com a espuma do sabonete no
espelho do banheiro. Descobre que a cor do morango fica em suas mãos
quando o aperta e a língua fica vermelha depois de comer gelatina. A
criança descobre o mundo experimentando tudo o que está a seu alcance.
E você? Já experimentou descobrir as cores? Esfregue as cascas das
frutas, folhas verdes, sementes, pétalas de flores até sentir o sumo com
sua cor. Algumas suaves, outras mais intensas, mas tudo tem alguma cor.
Essas são as cores-pigmento.
O pigmento é o que dá cor a tudo o que é material. As folhas das plantas são verdes por terem clorofila; a terra tem cores diferentes em cada
região por apresentar composição mineral diferente, e cada mineral tem
um pigmento com sua cor própria: o óxido de ferro pode ser amarelo ou
vermelho; o de cobre é verde; o de manganês é marrom; o de cobalto é
azul... Até a nossa pele tem pigmentos, como a melanina que dá a cor da
pele de cada um de nós. Você aprendeu sobre isso quando leu o texto que
125
EM CONTEXTO
trazia informações sobre as cores dos
animais.
Os índios brasileiros usam
semente de urucum para colorir de vermelho o corpo,
cabelos e outros artefatos;
do jenipapo, que é um
fruto, extraem o azul;
também usam carvão
e terra para pintar de
preto, branco e amarelo.
Assim como as crianças, os homens primitivos descobriam as cores pela experiência. Encontramos seus registros nas
paredes das cavernas. Essas pinturas rupestres eram feitas com os mais
variados tipos de pigmentos naturais: plantas, terra, carvão, e até o sangue
dos animais que caçavam. Você viu alguns exemplos no capítulo anterior.
Desenhar, pintar, colorir são formas de expressão, de comunicação
e isso é natural do ser humano. Com o tempo, o homem percebeu que
podia extrair os pigmentos da natureza e utilizá-los em forma de tinta
misturando-os com resina das árvores, com a clara e a gema de ovos e
diferentes tipos de óleo para conservar, transportar e fixar as cores. Pintou
sobre pedra, peles de animais e madeira e desenvolveu suportes próprios
para a pintura: preparou as paredes com massas especiais, os afrescos;
modelou cerâmica e fez azulejos decorados; fez mosaicos com vidros
coloridos; telas com tecidos para pintar usando pincéis...
As técnicas de pintura se desenvolveram, se industrializaram e a tecnologia criou os pigmentos sintéticos. Cores “artificiais”, feitas em laboratório, mas tão intensas e belas como as cores naturais que tentam imitar.
Muitas tintas industrializadas ainda são feitas com pigmentos naturais,
mas já existem pigmentos sintéticos de todas as cores.
Os corantes também são pigmentos. Você já percebeu quantos corantes
consumimos em nossas refeições? É porque a cor dos alimentos também é
um atrativo para aguçar o paladar: a gente também come “com os olhos”.
As crianças adoram brincar com as cores. Experimentando misturar as
tintas logo descobrem que podem formar novas cores. Esticam o plástico
rosa e transparente do bombom e descobrem que “tudo ficou rosa”... Na
verdade, ao olharmos através do plástico colorido e transparente estamos
misturando as cores do mesmo modo que fazemos com as tintas. Essa
mistura de pigmentos altera a quantidade de luz absorvida e refletida pelos
objetos. O pigmento branco não absorve, mas reflete todas as cores. Estamos falando da COR-LUZ que é refletida pelos objetos quando iluminados
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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pela luz branca, que é a soma de todas as cores. Quando misturamos um
pigmento preto a uma tinta branca, aos poucos vamos obtendo diferentes
tons de cinza. Quanto mais pigmento preto, mais escuro é o tom de cinza
que obtemos até chegar ao preto. O que acontece é que o pigmento preto,
ao contrário do branco, absorve todas as cores. Já vimos antes que o preto
é a ausência de luz. O pigmento preto “esconde” todas as cores e, por isso,
o preto que vemos é o “escuro”, é a ausência de luz refletida.
O mesmo acontece com os pigmentos coloridos. Cada um reflete
somente a cor que não é absorvida. Por exemplo: o pigmento amarelo
absorve da luz branca as cores azul-violeta, azul-ciano, verde, vermelhoalaranjado e vermelho-magenta, e reflete somente a luz amarela, que é a
cor que podemos ver.
Seguindo os estudos de Newton, podemos classificar a cor-pigmento
inversamente à cor-luz, pois é assim que nossos olhos podem ver, perceber
e misturar as tintas. Essa mistura de cor-pigmento é chamada de mistura
subtrativa, por ser oposta à mistura aditiva que acontece com a cor-luz. Na
mistura subtrativa (mistura de pigmentos, tintas etc.) as cores primárias
são o azul-ciano, o amarelo-limão e o vermelho-magenta.
Note que aqui ao misturarmos o vermelho-magenta com o amarelolimão temos o vermelho-alaranjado; o azul-ciano com o amarelo-limão,
temos o verde; e o azul-ciano com o vermelho-magenta, temos o azulvioleta. Misturando as três em proporções iguais temos o preto-cromático.
Ciano, magenta, yellow e black ou CMYK. O sistema CMYK é usado nas
gráficas para impressão por fotolitos, nos jornais, revistas, livros, cartões e
tudo o que é impresso, pois a impressão é obtida por pintura de superfície,
assim como a impressora do microcomputador, que tem os três cartuchos
de tinta com as cores-pigmento primárias e outro cartucho preto.
HIStóRIA DA teORIA DA COR
Antes de Newton, muitos
cientistas já haviam estudado a cor.
No séc. XIV, um gênio da “ciência artística” fazia suas anotações
para que pudéssemos apreciá-las
e admirá-las. Leonardo da Vinci
(1452-1519), que se aventurou
em invenções e experiências absurdamente avançadas para seu
tempo, não pintava somente para
retratar ou copiar a natureza, mas
sim para estudá-la, aplicando sua
genialidade à ciência da visão, da
cor e da luz.
127
EM CONTEXTO
Em suas pinturas, desenvolveu a técnica do “chiaroscuro” e o “sfumato”
(em Português, claro-escuro e esfumaçado), método de trabalho com a luz
e a sombra, fazendo que as formas mais iluminadas ganhassem volume
e suavizando cores e contornos com sombras esfumaçadas. Explorou
também a perspectiva aérea (ou atmosférica) nas paisagens de fundo que
aplicava nas pinturas, imitando a natureza que faz com que a cor pareça
mais pálida e mais azulada em direção ao horizonte.
Leonardo afirmava que os princípios da pintura primeiramente estabelecem o que é um corpo sombreado (forma e volume) e o que é luz.
O escritor e pintor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
se opôs à descoberta de Newton de que existem sete cores no espectro,
com a teoria de que existem somente seis cores visíveis sob as condições
naturais de luz do dia. Para ele, a cor era composta de luminosidade ou
sombra. Goethe era um pintor e seu interesse na forma em que realmente
vemos e experimentamos a cor estimulou os teóricos e os artistas posteriores. Em suas observações descreveu os efeitos do “positivo” e “negativo”
da cor sobre a mente.
Baseado nas pesquisas de Newton, Goethe mostra em aquarela os
resultados de dois experimentos de luz passando através de um prisma: as três cores principais do espectro de Newton – laranja, verde
e azul-violeta – seriam percebidas em um quarto escuro, através de
um raio controlado de luz; no espectro de Goethe, as cores principais
seriam azul-ciano, vermelho (que ele chamou de púrpura) e amarelo –
vistos pelo olho a luz do dia. Juntando as seis cores, formou a base do
círculo das cores.
Goethe havia observado
em uma paisagem: “Durante o dia, devido aos tons
amarelados, as sombras
tendem à cor violeta... ao
pôr do sol, quando seus
raios difusos são do mais
bonito vermelho, a cor da sombra torna-se verde”. Já havia observado a
complementaridade das cores.
O pintor alemão Philipp Otto Runge (1777-1810) partilhou do interesse de Goethe pela maneira como a cor podia ser usada na pintura.
Elaborou com a esfera das cores um meio de medir a cor-pigmento, não
só mostrando a relação entre os matizes, mas também graduando cada cor
numa escala que vai do mais claro ao escuro e da saturação ao acinzentado.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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DESAFIOS DO PERCURSO
1. Observe as duas imagens abaixo. Certamente você vê diferenças
entre elas. Escreva um parágrafo demonstrando a sua percepção não só
em relação ao que você enxerga, mas comentando o que você verdadeiramente sente.
F
R.
2. Entendendo que a música é um canal que o ser humano usa para
exteriorizar pensamentos e sentimentos, retire do texto abaixo palavras
que comprovem a presença da poesia das cores na obra de Djavan.
AZUL
Eu não sei se vem de Deus
Docéuficarazul
Ou virá dos olhos teus
Essa cor que azuleja o dia?
Se acaso anoitecer
Do céu perder o azul
Entre o mar e o entardecer
Alga marinha vá na maresia
Buscar ali um cheiro de azul
Essa cor não sai de mim
Bateefincapé
A sangue de rei
Até o sol nascer amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho, cedinho, cedinho
Corre e vá dizer pro meu benzinho
Um dizer assim:
129
EM CONTEXTO
O amor é azulzinho
A N O T A Ç Õ E S
Até o sol nascer amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho, cedinho, cedinho
Corre e vá dizer pro meu benzinho
Um dizer assim:
O amor é azulzinho
Djavan
© 1982 Luanda Edições Musicais Ltda.
R.
3. Claude Monet foi um pintor impressionista que estudou profundamente a luz e as transformações que esta provocava na paisagem e nos
objetos em diferentes horas do dia e em diferentes estações do ano. Monet
passou muito tempo analisando o efeito da luz nos montes de feno.
Você vê abaixo quatro diferentes momentos dos mesmos montes de
feno.
Traduza em palavras a sua percepção atentando para as modificações
que a luz causou no resultado final do trabalho do artista.
Tela 1 Tela 2 Tela 3 Tela 4 -
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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4. Cores e sentimentos se aproximam muito. Hoje é comum ouvir
notícias a respeito de uma série de terapias que utilizam as cores. Até na
decoração de um ambiente – um restaurante, um consultório médico, a
sala de aula de uma escola – há necessidade de um profundo estudo para
a escolha das cores certas.
E você? Que emoções você sente em relação às cores abaixo?
Amarelo: _________________________________
Azul: _____________________________________
Branco: ___________________________________
Cinza: ____________________________________
Laranja: __________________________________
Preto: ____________________________________
Rosa: _____________________________________
Verde: ____________________________________
Vermelho: ________________________________
Violeta: ___________________________________
5. Você vê ao lado três exemplos diferentes de representação da natureza. Rene Magritte, Georges Braque e Pablo Picasso emprestam seu
talento e retratam pombas em versões extremamente belas.
Referência de imagens: www.art.com
Use agora o seu poder de criação e represente a sua pomba!
Lembre-se: você é o artista e, depois do que aprendeu sobre as cores,
pode fazer as melhores escolhas.
Djavan não ficou apenas no Azul na sua vasta paleta musical...
131
EM CONTEXTO
A N O T A Ç Õ E S
AMPLIANDO O HORIZONTE
Confira a poesia de Lilás. Se possível, procure por mais detalhes
sobre a discografia do artista em seu site www.djavan.com.br.
LILÁS
Amanhã
Outro dia
Lua sai
Ventania abraça
Uma nuvem que passa no ar
Beija
Brinca
E deixa passar
E no ar
De outro dia
Meu olhar
Surgia nas pontas
De estrelas perdidas no mar
Pra chover de emoção
Trovejar...
Raio se libertou
Clareou
Muito mais
Se encantou
Pela cor lilás
Prata na luz do amor
Céu azul
Eu quero ver
O pôr-do-sol
Lindo como ele só
E gente pra ver
E viajar
No seu mar
De raio
Djavan
© 1984 Luanda Edições Musicais Ltda.
Fonte da Informação: www.djavan.com.br
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Dica de leitura:
“Em nenhuma outra época a cor foi tão largamente empregada
como em nosso século. As grandes indústrias de corantes e de iluminação tornam cada vez mais ricas as possibilidades cromáticas,
por meio de novas tintas sintéticas, plásticas e acrílicas e de luzes
incandescentes comuns, gás néon, luzes de mercúrio, fluorescentes,
acrílicas, etc., ao mesmo tempo que no emprego estético da cor
surgem novas especialidades na comunicação visual.”
Se você quiser saber mais, leia Da cor à cor inexistente, de Israel
Pedrosa. Rio de Janeiro: Leo Christiano Editorial, 1999, p.107.
GLOSSÁRIO
Cefalópodes – Classe de animais moluscos, marinhos. Corpo com
uma concha externa, ou interna, ou ausente; cabeça grande,
com olhos, rodeada de oito, 10 ou mais braços ou tentáculos.
São os polvos, lulas, sépias e argonautas.
Mimetismo – Fenômeno que consiste em tomarem diversos animais a cor e configuração dos objetos em cujo meio vivem, ou
de outros animais de grupos diferentes. Ocorre no camaleão,
em borboletas, etc.
Ostentar – Mostrar ou exibir com aparato; pompear, alardear.
Paleta – Placa oval ou retangular, em geral de madeira, que tem
um orifício onde se enfia o polegar, e sobre a qual os pintores
dispõem e misturam as tintas; palheta.
Partilhar – Tomar ou ter parte em; compartir, compartilhar.
Pigmento – Designação comum a várias substâncias, de natureza
diversa, que dão coloração aos líquidos ou aos tecidos vegetais
ou animais que as contêm.
Repulsão – Força com que dois corpos ou duas partículas se repelem mutuamente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Conhecer 2000. Editora Nova Cultura. 1995.
Enciclopédia Cultural. Editora Abril Cultura. 1972.
Enciclopédia da Ciência. Editora Globo, 1993.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
Mil Bichos, Editora Abril Cultural, 1978.
PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Leo
Christiano Editorial, 1999.
133
EM CONTEXTO
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. As cores dos animais têm diversas funções em sua sobrevivência,
dentre elas:
a) comparecimento, proteção, repulsão.
b) convencimento, proteção, revitalização.
c) reconhecimento, provocação, repulsão.
d) reconhecimento, proteção, recreação.
e) reconhecimento, proteção, repulsão.
II. O pigmento mais comum responsável pela cor nos animais é
chamado de:
a) fenolftaleína.
b) estricnina.
c) hemoglobina.
d) melanina.
e) penicilina.
III. Uma das mais importantes funções práticas da cor nos animais é:
a) a possibilidade de serem mais belos do que os filhotes.
b) a diferença entre machos e fêmeas de uma mesma espécie.
c) a facilidade de escolherem alimento.
d) a variedade de opções de alimentos.
e) a diferença entre fortes e fracos de uma mesma espécie.
IV. A diferente cor dos filhotes das aves é importante para sua preservação porque:
a) permite que esses filhotes tornem-se mais fortes do que os pássaros predadores.
b) permite que esses filhotes passem despercebidos aos olhos dos
pássaros predadores.
c) permite que esses filhotes deixem de ser presa e passem a ser
predadores.
d) facilitam a localização dos filhotes em seus ninhos.
e) facilitam a alimentação.
A N O T A Ç Õ E S
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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V. A cor faz parte do nosso mundo porque:
a) Sem cor não existiria oxigênio.
b) Sem pigmentos não haveria alimento.
c) A natureza está repleta de cores.
d) Na natureza há restrições em relação a várias cores.
e) A natureza impede a percepção das cores.
VI. Apesar da variedade de cores, nem todas elas são percebidas
por nossos olhos, como por exemplo:
a) O infravermelho e o ultravioleta.
b) O vermelho e o ultravioleta.
c) O infravermelho e o violeta.
d) O vermelho-alaranjado e o ultravioleta.
e) O infravermelho e o azul-violeta.
VII. Vários pesquisadores demonstraram interesse no estudo da
cor, entre eles:
a) Leonardo da Vinci, Newton e Gandhi.
b) Leonardo di Caprio, Newton e Goethe.
c) Leonardo da Vinci, Wellington e Goethe.
d) Leonardo da Vinci, William e Goethe.
e) Leonardo da Vinci, Newton e Goethe.
2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito da História da Teoria da Cor.
a) A técnica do “chiaroscuro” e do “sfumato” foi desenvolvida por
Leonardo da Vinci.
b) A perspectiva aérea ou atmosférica foi explorada por Leonardo
da Vinci.
c) Goethe usou as pesquisas de Newton como base de seus estudos.
d) Newton usou as pesquisas de Goethe como base de seus estudos.
e) Contrário aos princípios da natureza, Goethe preferia fazer seus
estudos apenas em laboratório.
135
EM CONTEXTO
3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( )Segundo os princípios da cor-luz, são três as cores primárias:
o vermelho-alaranjado, o verde e o azul-violeta.
( )O pigmento preto esconde todas as cores.
( )O pigmento amarelo absorve todas as cores e reflete apenas
a cor amarela.
( ) O espectro das cores visíveis do arco-íris é formado por azul-violeta, azul-ciano, verde, amarelo-limão, vermelho-alaranjado e
vermelho-magenta.
4. Compreendendo o resultado da mistura das cores-pigmento, numere
a segunda coluna de acordo com a primeira.
1) vermelho-magenta e amarelo-limão( ) verde
2) azul-ciano e amarelo-limão
( ) vermelho-alaranjado
3) azul-ciano e vermelho-magenta
( ) azul-violeta
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CAPÍTULO 9
hora da imagem
• explorando a diversidade
CAPÍTULO 9
hora da imagem
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
F
rase conhecida de qualquer um de nós é “Olha o passarinho!”.
Na verdade, ela não se refere a nenhuma ave que esteja passeando
pelas redondezas, nem tampouco a qualquer estudo ornitológico.
A frase é célebre na hora em que os sorrisos se congelam para
maravilhosas fotos de família.
Um bebê que acaba de nascer, o casamento da prima do seu pai, o
aniversário da sua avó... Tudo é motivo para um novo filme de vinte
e quatro poses, novas baterias... E lá vem a maquininha sem deixar
passar um momento sequer!
O capítulo “Hora da Imagem: Explorando a diversidade” fará com
que, do lambe-lambe à câmera digital, você descubra as múltiplas
possibilidades da arte da fotografia. Você terá também uma série de
informações a respeito da evolução das técnicas, desde as primeiras
descobertas!
Portanto... Sorria!!!
Nosso país é de uma riqueza sem comparações quando nos referimos aos jeitos de ser de nosso povo, à cultura, ao folclore.
Cada cantinho escondido, cada cidade distante, cada lugarejo
apertadinho do mapa pode revelar um sem-número de histórias, protagonizadas por personagens anônimos, mas com muito para contar.
Se cada um desses personagens pudesse ter sua imagem eternizada,
não usaríamos o equipamento mais moderno da fotografia. Para que
cada imagem tivesse a verdadeira essência da rica ingenuidade dessa
gente toda, certamente precisaríamos de um lambe-lambe...
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140
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Lambe-lambe? Ora, ora... O que vem a ser isso?
Para alguns pode parecer normal, outros com certeza não sabem do
que estamos falando...
Sendo assim, fica o convite para um passeio pelo mundo da fotografia
“informal”...
Lambe-lambe e fotógrafo ambulante
Há dois tipos de fotógrafo trabalhando nas áreas de lazer em São
Paulo. Um é a figura conhecidíssima do lambe-lambe e a outra é a do
fotógrafo jovem que anda de um lado para outro, carregando duas ou
mais máquinas a tiracolo.
O lambe-lambe tem ponto fixo para fotografar; tem licença para
trabalhar em áreas estabelecidas pela prefeitura. O outro é um fotógrafo
ambulante que trabalha onde quer, nos fins de semana e nos dias festivos,
para obter um ganho extra.
O trabalho de ambos é folclórico, pois decorre de aprendizado espontâneo. A venda e a promoção de seus serviços decorrem da experiência
de vida, adquirida no dia a dia.
Os lambe-lambes são aposentados sem qualificação profissional, descendentes de italianos e de espanhóis. Os que trabalham com máquinas
modernas procedem de vários estados do Brasil; há predominância de
mineiros, nortistas e nordestinos. Trabalham como operários assalariados;
nos fins de semana e feriados fotografam empregadas domésticas, casais
de namorados e crianças que costumam passear em logradouros públicos.
Alguns atendem também chamados a domicílio, para fotografar batizado,
aniversário, noivado e casamento.
Os dez lambe-lambes que trabalham nos logradouros públicos em São
Paulo não gostam de se identificar nem de falar sobre a profissão. São
homens carrancudos, esquivos ao diálogo. O mais jovem (cinquenta anos)
e menos retraído que encontrei foi Ângelo Morales.
O termo lambe-lambe provém do velho costume de colocar a chapinha de vidro, que continha o formato da fotografia a ser batida, entre os
lábios, de modo que o fotógrafo, na hora de bater a fotografia, reconhecesse
facilmente verso e anverso. Afirma que era necessário fazer essa prova,
porque a chapa era e ainda é colocada na máquina com o lado sensível
para a frente da pessoa que vai ser fotografada. Hoje se usa a chapa de
plástico rígido, para fotografias; para se reconhecer avesso e frente é só
colocar o polegar sobre a chapinha. O lado emulsionado marca o dedo.
Desse modo, o fotógrafo evita bater fotografias erradas.
Ângelo conta que por volta de 1930 a 1940, o Jardim da Estação da
Luz e o Parque Dom Pedro II eram frequentados por moças ricas da
141
HORA DA IMAGEM
Avenida Paulista e Jardim Europa. Hoje, diz ele: “Só dá gente de fora,
gente esquisita, às vezes, chego ter medo de trabalhar por essas bandas
(Jardim da Estação da Luz), pois aqui tem um vaivém terrível; gente que
namora, que toca violão e canta debaixo das árvores, largada no gramado
ou sobre os banquinhos. Outros trazem crianças e animais para brincar e
passear. Há marreteiros que vendem de tudo, fazendo uma gritaria dos
diabos. Mas o problema é que nós fomos esquecidos, desde que surgiram
os jovens com as máquinas fotográficas modernas e as lojas. As lojas, essas
sim, são nossas concorrentes e tiram o pão da boca da gente. Foram elas
que liquidaram com o lambe-lambe, pode crer”.
Apesar dos concorrentes, é procurado para fotografar noivas antes de ir
à igreja e até mesmo para fazer todas as fotografias do casamento. Segundo
explica, há uma posição certa para fixar a máquina-caixote num parque;
é fixada numa área ou ângulo, levando-se em conta a posição do sol, da
paisagem, do trânsito e da circulação de pedestres e carros. Escolhido o
local, monta-se a máquina sobre um tripé e ela está pronta para fotografar.
A máquina dos lambe-lambes é conhecida entre eles por máquinacaixote, por ser semelhante a um pequeno caixote.
Máquina caixote
As máquinas são externamente revestidas com couro cru, madeira ou
metal. Na parte interna, há um tanque onde são colocados os líquidos para
revelar as fotos. Há ainda a camisa preta, espécie de saco negro dependurado na máquina, com três aberturas: dois orifícios para os braços e um
para enfiar a cabeça, na hora de bater e revelar as fotografias. A função da
camisa é proteger as fotografias de qualquer tipo de claridade.
A máquina é usada para tirar fotografias e para mostruário. Suas laterais
são cobertas de fotos. É comum chegar um freguês dizendo que precisa
de tantas fotografias, cujas dimensões não sabe precisar; nesse caso, o
fotógrafo chama-lhe a atenção para o mostruário.
Todo fotógrafo lambe-lambe estende próximo à máquina uma cordinha,
onde coloca as fotos para secar. Num balde de plástico contendo água limpa, ela dá banho de água doce nas fotografias, lava-as quando retiradas do
fixador e revelador. Uma tesoura é essencial para separar uma fotografia
da outra e acertar o tamanho a gosto do freguês. Há ainda um paletó e
uma gravata, para serem emprestados aos jovens que não dispõem dessas
peças, para tirarem fotografia de carteira de reservista.
Freguês
Os fregueses dos fotógrafos ambulantes são pessoas humildes ou provenientes das cidades interioranas. Destacam-se as empregadas domésticas,
elementos da classe operária, moradores dos subúrbios que se encontram
em São Paulo a passeio ou em busca de trabalho.
A N O T A Ç Õ E S
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142
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Propaganda e venda
Os fotógrafos ambulantes, para arrumarem fregueses, precisam de
muita astúcia. A concorrência entre eles é grande e, além dela, têm que
enfrentar a concorrência dos fotógrafos amadores.
Para chamar a atenção dos transeuntes, os fotógrafos expõem fotografias em galhos de árvores, em cordas amarradas a estacas improvisadas,
em barracas, nas laterais das máquinas-caixote, no chão e até nos botões
das próprias roupas.
Entre as técnicas de venda e de promoção encontradas destacam-se
a dos monóculos. Há fotógrafos que amarram uma fileira de monóculos
nos botões da camisa e saem a oferecer fotografias já prontas ou usando-as como mostruário. Uma outra técnica muito usada é aquela de aplicar
fotografias de pessoas e de paisagens sobre pedaço de papelão branco, de
aproximadamente cinquenta centímetros por quarenta. Esses cartazes são
fixados a um tripé exposto em ângulos bem visíveis. Sobre os cartazes
são postos espelhos, para que os interessados se penteiem e se ajeitem.
É comum também encontrar nos cartazes os preços das fotografias ali
expostas, bem como onde achar o fotógrafo.
No Parque do Ipiranga há duas barracas armadas na área próxima ao
Museu; ali estão expostos chapéus de feltro, de vaqueiro, revólveres de
plástico, cartucheiras vazias, cinturões de couro, porta-retratos com fotografias de personalidades do mundo artístico. Esse material é para ser
vendido ou usado pelos clientes que desejam ser fotografados vestidos à
moda de vaqueiro.
Os fotógrafos andam entre os transeuntes, a fim de oferecer seus préstimos, para promoverem e venderem porta-retratos e fotografias já prontas.
Durante esses contatos, oferecem serviços a domicílio e vão distribuindo
folhetos promocionais. Enquanto caminham dizem: “Olha a foto. Quem
vai fazer fotografia? Olha a fotografia! O moço trabalha bem e baratinho!
Olha a fotografia para mandar para a namorada!”
Maria Rita da Silva Lubatti
Referência de imagens: http://www.google.com http://www.nwf.org/keepthewildalive
INVESTIGANDO CAMINHOS
O ser humano sempre desenhou o ser humano. Mesmo nos períodos
mais distantes da história da humanidade, procurou maneiras de registrar
ou eternizar a sua figura. A representação gráfica nos possibilita conhecer
um pouco da história dos povos que a fizeram e até imaginar como viveram.
143
HORA DA IMAGEM
Retratos, no entanto, tornaram-se com o passar dos anos, magníficos
meios de se reviver a história. Você já leu bastante a respeito do papel dos
autorretratos no contexto artístico mundial.
A fotografia, por sua vez, pode ser meramente documental – um registro
– ou uma obra de caráter artístico como um meio de expressão pessoal.
Mas que grande “milagre” é este que nos permite “guardar” tantas imagens dentro daquela caixinha chamada máquina fotográfica?
Durante muito tempo, alguns escritos reverenciaram o francês Louis
Daguerre como o “inventor” ou descobridor da fotografia, ou seja, aquele
que primeiro produziu uma imagem fixa pela ação direta da luz.
Diz a história que, em 1835, ao fazer pesquisa em seu laboratório, Daguerre estava manipulando uma chapa revestida com prata e sensibilizada
com iodeto de prata, que não apresentava nenhum vestígio de imagem. No
dia seguinte, a chapa, misteriosamente, revelava formas difusas. Estava
criada uma lenda: o vapor de mercúrio proveniente de um termômetro
quebrado teria sido o misterioso agente revelador.
Rapidamente, Daguerre aprimorou o processo, passando a utilizar
chapas de cobre sensibilizadas com prata e tratadas com vapores de iodo.
O revelador era o mesmo mercúrio aquecido e o fixador uma solução de
sal de cozinha. Já em 1839, sua invenção, batizada de daguerreótipo –
nome pelo qual a fotografia foi conhecida durante décadas – foi vendida
ao governo francês em troca de uma polpuda pensão vitalícia.
Daguerre, mais do que um competente pesquisador, era um hábil comerciante. Provavelmente, a lenda do acaso na descoberta do revelador foi
apenas uma jogada de marketing. Sem dúvida, Daguerre vinha trabalhando
na idéia há muito tempo, acompanhando de perto, desde 1829, seu sócio
na pesquisa da heliografia (gravação através da luz): Joseph Nicéphore
Niépce, este sim o primeiro a obter uma verdadeira fotografia.
Ao contrário de seu colega, Niépce era arredio, de poucas falas, compenetrado na invenção de aparelhos técnicos e na idéia de produzir imagens
por processos mecânicos através da ação da luz. O apego à produção de
imagens começou com a litografia em 1813, curiosamente uma atividade
ligada às artes, outra das áreas dominadas por Daguerre, talentoso pintor
e desenhista de cenários.
Em 1816, Niépce iniciou os estudos com a heliografia. Só dez anos
depois conseguiu chegar à primeira imagem inalterável: uma vista descortinada da janela do sótão de sua casa. Os resultados, porém, não foram
nada auspiciosos. Utilizando verniz de asfalto sobre vidro e uma mistura
de óleos fixadores, o processo não era muito prático para se popularizar.
Daí os méritos inegáveis de Daguerre. Seus experimentos podiam ser
repetidos sem grandes dificuldades por qualquer pessoa e o resultado era
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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melhor. O primeiro daguerreótipo foi obtido dois anos após a morte de
Niépce, mas, sem suas descobertas, talvez não tivesse acontecido.
Talbot, o princípio do negativo
Outros dois nomes devem ser lembrados na história daquilo que se
entende hoje por fotografia. Daguerre e outros continuaram a aperfeiçoar
as chapas sensíveis, os materiais de revelação e fixação e até mesmo as
objetivas. Mas foi uma invenção de Josej Petzval, matemático húngaro,
que libertou os primeiros fotógrafos dos absurdos tempos de exposição,
que chegavam a 30 minutos nos primórdios: uma lente dupla, formada
por componentes distintos, com abertura f 3.6, trinta vezes mais rápida
do que as tradicionais lentes Chevalier, adotadas até então.
Mesmo assim, o invento não resolvia o problema final para a total popularização da fotografia: a reprodução, pois todos os processos produziam
um só positivo. Foi o inglês Fox Talbot que resolveu a pendenga, ao criar
o sistema para reprodução infindável de uma imagem fotográfica a partir
da chapa exposta, o negativo. Isto ocorreu na década de 40 do século XIX.
De lá para cá, todas as demais invenções foram aperfeiçoamentos de um
mesmo sistema. Outra revolução igual só aconteceria com o advento da
câmera digital.
O Brasil na rota dos pioneiros
Se não em todas as áreas, com certeza na das invenções e descobertas,
a história não tem sido justa com muita gente. A França, sem dúvida, foi
a mãe da fotografia. Mas não se pode definir precisamente o pai.
Hoje, graças ao trabalho incansável e obstinado do jornalista e professor Boris Kossoy, um terceiro nome disputa a paternidade da fotografia:
Antoine Hercule Romuald Florence, francês de nascimento, mas brasileiro
de mulher (duas), filhos (20), netos, bisnetos e tataranetos.
Kossoy investiu, de 1972 a 1976, numa das mais ardorosas pesquisas
e reconstituições de métodos, técnicas e processos já realizadas no Brasil
para levar uma pessoa do anonimato ao pódio da história.
Hercule Florence, como ficou internacionalmente conhecido a partir da
publicação do livro de Kossoy, 1833: a Descoberta Isolada da Fotografia
no Brasil (Editora Duas Cidades, 1980), nasceu em 1804, em Nice, e, com
a ajuda do pai, pintor autodidata, estudou artes plásticas. Aos 20 anos, sua
natureza inquieta e uma insistente falta de emprego o conduzem a um desconhecido Rio de Janeiro, onde passa um ano como modesto caixeiro de
uma casa comercial e, depois, vendedor de livros. Pelos jornais descobre
a vinda do famoso naturalista russo Langsdorff e é aceito como segundo
desenhista daquela que viria a ser uma das maiores e mais profícuas expedições científicas realizadas no Brasil dos séculos passados.
145
HORA DA IMAGEM
A contribuição de Florence à ciência, às artes e à história estava apenas
começando. Em 1829, com o fim da expedição, ruma para São Paulo, e,
em 1830, inventa seu próprio meio de impressão, a Polygrafie, já que não
dispunha de um prelo*. Gosta da idéia de procurar novos meios de reprodução e descobre isoladamente um processo de gravação através da luz,
que batizou de Photografie, em 1832, três anos antes de Daguerre. A ironia
histórica, oculta por 140 anos, é que o processo era mais eficiente do que
o de Daguerre. Já em 1833 utilizou uma chapa de vidro em uma câmara
escura, cuja imagem era passada por contato para um papel sensibilizado.
O livro e o trabalho de Kossoy, incluindo a reprodução dos métodos registrados por Florence nos laboratórios do Rochester Institute of
Technology, levaram ao reconhecimento internacional do pesquisador
franco-brasileiro, e até a França assimilou que a fotografia tem múltiplas
paternidades.
Fonte do Texto: http://www.fujifilm.com.br
DESAFIOS DO PERCURSO
1. As duas imagens abaixo são, respectivamente, uma fotografia e
uma criação livre (tinta acrílica). Ambas representam o líder indiano
Mahatma Gandhi.
Usando seu poder de observação, compare as duas e faça seus comentários a respeito das semelhanças e diferenças que podem existir entre
uma foto e uma pintura.
Fonte das imagens: http://jeffreykbedrick.com/thumbnails/gandhi.htm.
R:
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2. Tom Jobim chamou de Fotografia uma música na qual ele representa
várias cenas, múltiplas imagens.
Cite três das paisagens que você enxerga na “foto tirada” pelo maestro
Jobim.
Fotografia
Eu, você, nós dois
Aqui neste terraço à beira-mar
O sol já vai caindo
E o seu olhar
Parece acompanhar a cor do mar
Você tem que ir embora
A tarde cai
Em cores se desfaz
Escureceu
O sol caiu no mar
E a primeira luz lá embaixo se acendeu
Você e eu
Eu, você, nós dois
Sozinhos neste bar à meia-luz
E uma grande lua saiu do mar
Parece que este bar
Já vai fechar
E há sempre uma canção para contar
Aquela velha história de um desejo
Que todas as canções têm pra contar
E veio aquele beijo
Aquele beijo
Aquele beijo
Antonio Carlos Jobim
1. _________________________________________________________
2. _________________________________________________________
3. _________________________________________________________
147
HORA DA IMAGEM
3. Fotógrafos profissionais podem fazer de sua obra um produto artístico ou simplesmente cumprir com seu papel de registrar um acontecimento.
No entanto, várias vezes as fotos capturam um momento único, que
pode ser engraçado, constrangedor, revelador. Junto com o que se chama
“furo de reportagem” pode estar o fotógrafo capturando, com sua lente,
a magia dos acontecimentos.
Procure em jornais e/ou revistas duas fotos interessantes que registrem
a rapidez ou a perspicácia de um fotógrafo e cole-as aqui. Escreva abaixo
seus comentários.
Foto 1______________________________________________________
Foto 2______________________________________________________
4. Com a ajuda de um dicionário, defina o vocabulário que se segue e
aprenda um pouco mais sobre a arte da fotografia.
Flash -_____________________________________________________
Diafragma -________________________________________________
Negativo -__________________________________________________
Acromático -________________________________________________
Policromático -______________________________________________
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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5. Você vê ao lado um
exemplo da famosa técnica
da fotomontagem.
Use a sua criatividade,
tesoura, cola e revistas velhas (ou até mesmo suas
fotos) e componha seu trabalho no espaço dado.
Você pode escolher entre
ser crítico, irônico, bemReferência de imagem: http://www.periferica.org/numero01/tigre.jpg.
-humorado, romântico, sonhador... Ou juntar tudo isso num produto só!
AMPLIANDO O HORIZONTE
Tom Jobim compôs, em parceria com outro artista, uma versão em
inglês da mesma canção que você conheceu acima.
Veja:
PHOTOGRAPH
You and I we two alone
In this terrace by the sea
The sun is going down
And in your eyes
I see the changing colors of the sea
It’s time for you to go
The day is done
149
HORA DA IMAGEM
And shadows stretch their arms to bring the night
The sun falls in the sea
And down below a window light we see
Just you and me
You and I we two alone
Here in this bar with dimming lights
A full and rising moon comes from the sea
And soon the bar will close for you and me
But there will always be a song
To tell a story you and I cannot dismiss
The same old simple story of desire
And suddenly that kiss, that kiss
That kiss, that kiss
That kiss
Antonio Carlos Jobim / Ray Gilbert - 1965
Fonte da Informação: http://www2.uol.com.br/tomjobim/ml_photograph.htm
Para o seu deleite, uma crônica.
Pelo fato de o autor ter nascido em Moçambique e morar em Portugal,
você sentirá um “tempero” diferente no texto. Aproveite!
A fotografia dentro do livro
“Quando, muito depois, se abre / um livro, tudo o que ele /
guardar está ressequido / flor, fotografia, bilhete (...)”
Pedro Mexia, in Em Memória
Não atendeu ao telefone, mesmo apesar da insistência com que
aquele som se erguia pelo ar, não atendeu ao telefone, limitou-se a
olhá-lo ao longe, cada vez mais ao longe, afastava-se a cada vez que
ele tocava, porque, talvez por isso, porque tinha a sensação de que,
quanto mais longe tivesse, menos tocaria aquele telefone. Mas não
parava de tocar, aliás, tocava cada vez mais e, mesmo apesar da distância, cada vez soava mais alto, talvez fosse uma nova tecnologia que
providencia toques cada vez mais audíveis para que ninguém fuja da
sua ditadura e do seu chamado. Então, tapou os ouvidos, sentou-se,
cruzou as pernas, tapou ainda mais os ouvidos, fechou os olhos. E por
um momento o telefone deixou de tocar e tudo era silêncio e calma.
Não sabe quanto tempo ficou assim, mas quando tirou as mãos
dos ouvidos tudo continuava silencioso. De repente teve medo: de ter
ficado surdo, assim ridiculamente surdo, sem poder ouvir mais nada.
Levantou-se num salto e gritou. Alto. Suspirou de alívio ao ouvir a
sua própria voz, afinal não estava surdo, ouvia bem, tinha sido apenas
o telefone que parara de tocar. Finalmente.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Correu para a porta e tirou o casaco do bengaleiro. Vestiu-o rapidamente. Queria sair dali o mais depressa possível, tentar, por alguns
minutos, por horas, por dias, fosse por quanto tempo fosse, esquecerse de tudo o que o rodeava e do que o esperava. Correu então pelas
escadas abaixo, abriu a porta sem qualquer cuidado, chocando e quase
fazendo cair a vizinha do terceiro andar, ignorou os seus insultos,
e andou, andou pela cidade até já ser noite e todas as ruas estarem
inundadas pelas luzes horizontais dos faróis dos automóveis e os
brilhantes néons das lojas.
Regressou à casa num passo lento, mais calmo, mais cansado
também, muito cansado, de andar, de fugir, tão cansado, baixou a
cabeça de vergonha quando a vizinha o reencontrou à entrada e voltou
a comentar a má educação de que fora autor durante a tarde, abriu
devagar a porta de casa. Como temia, o telefone tocava outra vez.
Aproximou-se dele, sentindo-se derrotado, e levantou o auscultador.
Não entendia para que o fazia, se sabia o que lhe iam dizer. A voz
do outro lado, pesarosa, deu-lhe a notícia que já adivinhara. Pousou
o auscultador. Sentou-se ao lado da mesa. Chorou, como se fosse
novidade e se tivesse enchido de espanto.
Quando voltou da cerimônia, ainda vestido de preto e cambaleante
pela dor, estendeu-se na cama. Olhou em volta, na semi-escuridão do
compartimento. Caída, debaixo de um móvel, vislumbrou uma forma.
Levantou-se e espreitou para baixo do móvel. Um livro, parecia um
livro. Esticou o braço na sua direção, suportou o toque desagradável
das teias de aranha e do pó acumulado, e tateou a capa maltratada.
Puxou o livro até si. Um livro antigo, de poemas de Pablo Neruda,
que perdera de vista há tanto tempo. Era ali que se escondera, após a
noite do grande recital que partilhara com alguém.
Ansioso, limpou o pó da capa e da lombada, virou-o e desvirou-o,
apreciando a edição e o cheiro a antigüidade. Sentia algum receio de o
abrir. Finalmente, ganhou coragem e folheou-o. Das suas páginas caiu
uma fotografia que, como uma pena, descreveu um caminho mágico
até aterrar calmamente, de frente para baixo, no chão. Ficou algum
tempo assim, a folhear o livro, sem voltar a olhar para a fotografia.
Lia poemas ao acaso. “De outro. Será de outro, como antes foi dos
meus beijos”, recitava, “já não a amo, mas talvez a ame ainda, é tão
curto o amor, tão longo o esquecimento”, até que, sentindo-se cansado,
deixou-se cair na cama e adormeceu.
Quando acordou, a fotografia ainda estava no chão. Não sei se
esperava que ela tivesse desaparecido, que fosse assim como a noite,
que foge quando os primeiros raios de luz surgem no horizonte, mas
evitou olhar para ela e não lhe tocou. Não voltou a casa durante todo
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HORA DA IMAGEM
o dia. Entrou numa pensão e alugou um quarto. “Tem alguma preferência?”, perguntou a recepcionista. “Sim”, respondeu, “Quero um
quarto sem fotografias”.
Ficou três dias a dormir na pensão, sem falar com ninguém e pensando em muitas coisas diferentes, tentando não se lembrar de nada.
Ao fim do terceiro dia, quando lá fora ouvia uma grande algazarra
(era uma procissão, parecia-lhe, uma procissão onde um santo de
barro era elevado aos céus), achou que já não se lembrava de nada.
Aqueles três dias de clausura tinham-lhe apagado a memória. Sem
ela, poderia sorrir outra vez. É a memória que nos mostra as lágrimas.
Andou alegremente até a casa. Assobiava, de tanta alegria. Ao longe, a
procissão continuava. Comprou rifas aos escoteiros que o abordaram
e desejou-lhes boa sorte.
A fotografia estava no mesmo sítio. Não acendeu a luz do quarto
e também não levantou os estores. Foi na semi-escuridão que se
ajoelhou e pegou nela. Virou-a devagar. Olhou-a, na penumbra, as
sombras acentuadas, como se também dentro da imagem todas as
luzes estivessem apagadas.
Que figura tão estranha aquela que sorria na imagem que tinha na
mão! Não era parecida com nada do que se lembrasse. Aquele sorriso,
aquele rosto, a posição das mãos! Não, não se lembrava de mãos assim.
Muito menos daquela expressão, tão amarelecida pelo tempo passado dentro de um livro. Talvez fosse mais sábia agora, talvez aquele
amarelado fosse igual à cor pálida que têm os idosos, a da sabedoria,
talvez pairasse naquele sorriso o som dos versos de Neruda.
Não se lembrava de nada assim, nem das mãos, nem do sorriso. Era
por isso que não compreendia por que razão é que as lágrimas haviam
invadido o seu rosto e sentia nos lábios um gosto salgado a mar.
Luís Costa Pires
GLOSSÁRIO
Anverso – A parte anterior ou principal de qualquer objeto que
tenha dois lados opostos.
Arredio – Que vive longe dos lugares que frequentava ou das companhias que tinha. Que se afasta do trato ou do convívio social.
Astúcia – Habilidade em enganar; lábia, solércia, manha, artimanha, ardil.
Auspicioso – De bom augúrio. Prometedor.
Célebre – Que tem grande fama; afamado, famigerado. Muito
notório; notável.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Difuso – Em que há difusão; disseminado, divulgado.
Emulsionar – Fazer a emulsão (camada de gelatina que contém
halogenetos de prata, sensível à ação de radiação luminosa e
utilizada em chapas e filmes fotográficos; gelatina.)
Heliografia – Designação comum aos processos de decalque fotográfico de desenhos a traço, plantas, mapas etc.
Litografia – Processo de gravura em plano, executado sobre pedra
calcária, chamada pedra litográfica, ou sobre placa de metal (em
geral, zinco ou alumínio), granidas, e baseado no fenômeno de
repulsão entre as substâncias graxas e a água, usadas na tiragem, o qual impede que a tinta de impressão adira às partes que
absorveram a umidade, por não terem sido inicialmente cobertas
pelo desenho, feito também à tinta oleosa.
Logradouro – Espaço livre, inalienável, destinado à circulação
pública de veículos e de pedestres, e reconhecido pela municipalidade, que lhe confere denominação oficial. São as ruas,
travessas, becos, avenidas, praças, pontes etc.
Marreteiro – Trapaceiro, vigarista; ladrão.
Monóculo – Que tem um só olho. Lente, provida ou não de aro,
que se usa encaixada entre os músculos da cavidade orbitária,
geralmente para correção visual.
Ornitologia – Parte da zoologia que trata das aves.
Prelo – Aparelho constituído de mármore e rolo movido à mão, e
usado para tirar provas tipográficas, litográficas etc.
Profícuo – Útil, proveitoso, vantajoso, proficiente.
Protagonizar – Exercer o papel de protagonista (pessoa que desempenha ou ocupa o primeiro lugar num acontecimento).
Transeunte – Indivíduo que vai andando ou passando; passante,
caminhante, andante, viandante. Indivíduo que circula no trânsito, no tráfego.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONHECER 2000. Editora Nova Cultural, 1995.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
LUBATTI, Maria Rita da Silva. Vendedor ambulante, profissão
folclórica: pesquisa nas ruas, parques e jardins de São
Paulo. Escola de Folclore: Secretária de Estado da Cultura, 1982.
153
HORA DA IMAGEM
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. Maria Rita Lubatti considera como folclórico o trabalho do lambe-lambe e do fotógrafo ambulante porque ambos:
a) usam roupas coloridas.
b) cantam enquanto trabalham.
c) são de estados diferentes.
d) aprenderam espontaneamente.
e) tiveram aulas em escolas de fotografia.
II. A máquina dos lambe-lambes é conhecida como:
a) máquina digital.
b) máquina-serrote.
c) máquina-caixote.
d) caixote-fotográfico.
e) caixote-digital.
III. O mostruário dos lambe-lambes é:
a) a lateral da sua câmera, onde ficam expostos exemplos de fotos.
b) distribuído pelos fotógrafos ambulantes.
c) pendurado em cordas pelas árvores.
d) divulgado em documentos impressos.
e) publicado nos jornais locais.
IV. Para fazer sua propaganda os fotógrafos ambulantes:
a) andam entre os transeuntes.
b) expulsam os lambe-lambes.
c) anunciam o produto no rádio.
d) tiram fotografias gratuitamente.
e) pagam agências de publicidade.
V. O nome pelo qual a fotografia foi conhecida durante anos foi:
a) monocromia.
b) daguerreótipo.
c) policromático.
d) litografia.
e) heliografia.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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VI. O criador do negativo (sistema para reprodução infindável de
uma imagem fotográfica a partir da chapa exposta) foi:
a) Joseph Nicéphore Niépce.
b) Fox Daguerre.
c) Joseph Talbot.
d) Fox Talbot
e) Josej Petzval.
VII. Vários pesquisadores usaram seus conhecimentos no estudo da
fotografia, o que nos permite afirmar que:
a) não se conhecem os nomes dos principais estudiosos.
b) a fotografia tem múltiplas paternidades.
c) a maioria estava errando em suas tentativas.
d) não há garantia de qualidade dos estudos.
e) a fotografia não faz parte das técnicas que mereçam reconhecimento.
2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito da participação brasileira na
História da Fotografia.
a) Boris Kossoy inventou a fotografia.
b) Um terceiro nome disputa a paternidade da fotografia: Antoine
Hercule Romuald Florence.
c) Antoine Hercule Romuald Florence era brasileiro de nascimento,
casado com uma francesa.
d) Antoine Hercule Romuald Florence criou a Polygrafie.
e) A Polygrafie foi um passo anterior à Photografie.
3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( ) Josej Petzval era um matemático húngaro.
( ) Daguerre era um talentoso pintor e desenhista de cenários.
( ) Niépce era arredio, de poucas falas.
( ) Fox Talbot era um pesquisador francês.
4. Conhecendo a história da fotografia e os inúmeros acasos que cercaram a vida de seus pesquisadores, numere a segunda coluna de acordo
com a primeira.
1) Daguerre
( ) vapor de mercúrio
2) Niépce
( ) heliografia
3) Talbot
( ) negativo
C A P Í T U L O 10
mídia e registro
C A P Í T U L O 10
mídia e registro
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S
O
capítulo “Mídia e registro” apresenta a você a dois fenômenos
da arte universal. Dois mestres que, esbanjando talento, fizeram com
que notas musicais pudessem ser ouvidas a partir de um simples olhar...
Ou ainda, o farfalhar das saias das bailarinas, em movimentos ritmados
e disciplina rígida. Também copos tilintando, bebidas escorrendo,
segredos contados nos bares.
Algum aparato tecnológico para que o quadro tivesse som?
Não... Nada disso...
A arte pode falar, tocar, cantar... É só você deixar!
E, também, se você deixar, a música pode fazer com que você fale,
compre, mude, sonhe...
Descubra como!
Cantar o quadro ou pintar a melodia?
Não há começo ou fim quando expressões diferentes se encontram
em nome da arte.
Conhecer um pouco mais sobre dois grandes pintores irá ampliar
seus horizontes musicais. Ainda que com estilos diferentes, descubra
o som e o movimento que saltam da obra de Degas e Lautrec.
-
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A N O T A Ç Õ E S
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Degas
Edgar Degas nasceu em Paris
em 19 de julho de 1834. Provindo
de rica família de banqueiros, teve
a educação padrão da classe alta no
Lycée Louis le Grand. Depois de
estudar Direito por pouco tempo,
decidiu tornar-se um artista, trabalhando com mestres conceituados
e passando muitos anos na Itália,
considerada então a “escola de
aperfeiçoamento” das artes.
Na década de 1860, Degas já estava produzindo excelentes retratos,
mas as ambições do artista ainda
trilhavam os caminhos do sucesso
convencional. Na França do século
XIX, isto significava ter suas pinturas aceitas para serem mostradas no
Salão Oficial, que era o único lugar
onde um artista poderia tornar-se
conhecido do grande público.
Consequentemente, Degas pintava o tipo de trabalho que tinha
maior prestígio no Salão: grandes
peças detalhadas e convencionais
sobre tópicos históricos, tais como
“Os jovens Espartanos” e “Semíramis fundando uma cidade”.
Somente no final da década de 1860 Degas começou a explorar temas
“modernos”, que eram considerados pelo sistema da arte como um tanto
triviais e sem nobreza. Entretanto, Degas estava um pouco atrás de seu
amigo e rival Édouard Manet no que se refere a ser um “pintor da vida
moderna”, e sempre se restringiu a um punhado de temas – retratos, as
corridas, o teatro, a orquestra, senhoras na chapelaria, lavadeiras, o nu e,
sobretudo, o balé.
Atacava cada tema repetidamente, muitas vezes durante longos períodos, com frequência experimentando novas abordagens; provavelmente, a
analogia mais próxima é com os compositores que produzem conjuntos
de variações sobre um único tema.
Milagrosamente, Degas é sempre atual, e suas pinturas têm uma semelhança familiar sem jamais serem muito parecidas.
159
MÍDIA E REGISTRO
As técnicas de Degas eram altamente originais, embora devessem algo
à grande moda de gravuras japonesas do século XIX e à emergente arte
da fotografia. Retratando seus temas a partir de ângulos incomuns (muitas
vezes de um ponto de vista bem elevado), quase sempre posicionava de
forma descentralizada; e, em vez de inserir os objetos periféricos de modo
organizado no enquadramento da pintura, fazia cortes diretamente sobre
eles. O efeito é o de uma fotografia, capturando um momento fugaz; os
objetos semiaparentes nas bordas do quadro fornecem a ilusão de que a
cena continua para além da moldura.
Embora as pinturas de Degas aparentem ser espontâneas, elas eram na
verdade produções de estúdio cuidadosamente planejadas, construídas a
partir de muitos croquis e estudos. Sua arte era do tipo que ocultava sua
artificialidade.
Degas era um homem intensamente introspectivo e fechado, e externamente sua vida nada tinha de especial, exceto por seu serviço na Guarda
Nacional durante o cerco prussiano de Paris em 1870-1871. Fez uma
visita prolongada a Nova Orleans para ver seus irmãos em 1872-1873,
mas, embora tenha pintado diversos quadros enquanto lá esteve, ignorou
os lados exóticos e especificamente americanos da vida em Louisiana,
acreditando que um artista apenas poderia produzir bons trabalhos em
seu ambiente adequado.
Em 1874, Degas fez seu gesto público mais célebre, tornando-se um
dos principais organizadores de uma exposição independente, realizada
em oposição ao Salão. Mais tarde, ela se tornaria conhecida como a
primeira Exposição Impressionista*, por causa do destaque obtido por
Monet, Renoir e outros artistas que pintavam paisagens um tanto fugidias
e atmosféricas ao ar livre.
Degas desaprovava seus trabalhos (ele via a exposição como um “Salão
Realista”), mas não deixou de participar de todas as mostras impressionistas – exceto uma – entre 1874 e 1886. Ironicamente, hoje é frequentemente
considerado como um dos impressionistas.
Já no início da década de 1870, Degas apresentava problemas com
sua visão, e nos anos 1880 ela se deteriorava alarmantemente. Mas ele
continuou a trabalhar muito, embora cada vez mais com o pastel, meio
menos desgastante fisicamente. Encontrou uma variedade não imaginada
de efeitos de cores e texturas, e seus trabalhos feitos com pastel são tão
reconhecidos quanto suas pinturas a óleo. Isto também é verdadeiro para
as esculturas de Degas: traduziu as bailarinas e os nus que tão frequentemente desenhou para estatuetas lindamente modeladas.
Degas sempre foi uma personalidade amarga, de humor cruel, distante e
com consciência de classe social. Embora tivesse um dom para a amizade
com umas poucas felizardas, nunca se casou. Na década de 1890 tornou-
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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se cada vez mais ranzinza e isolado, mas foi capaz de trabalhar até cerca
de 1912. Seus últimos anos foram patéticos: passou muito de seu tempo
vagando pelas ruas de Paris, famoso, mas indiferente à sua fama e quase
alheio à Guerra Mundial que assolava o norte.
Morreu em 27 de setembro de 1917.
Impressionismo
Escola de pintura surgida na França por volta de 1870, que visava a
captar, em princípio, a impressão visual produzida por cenas e formas
derivadas da natureza, e as variações nelas ocasionadas pela incidência
da luz, e que se baseava especialmente no emprego das cores e de suas
relações e contrastes, a fim de obter efeitos plasticamente dinâmicos
e objetivos. Esta escola, por suas inovações, influiu marcantemente
a pintura do séc. XX.
Lautrec
Henri de Toulouse-Lautrec era um aristocrata, um boêmio alcoólatra
e um grande artista. Afligido por tristes deficiências físicas, ele descobriu
um ambiente que o distraía e divertia e tornou-se o mais vívido cronista
desse meio. Os prazeres e vícios da vida noturna parisiense, seus artistas
célebres e as esquecidas mulheres da vida vivem para sempre na obra de
Lautrec.
Além de ser pintor, ele era um grande artista popular, tendo sido um
pioneiro do ousado e chamativo novo meio, o pôster. Trabalhador prodigioso, dedicou-se simultaneamente a um estilo de vida autodestrutivo,
que o matou com a idade de 36 anos.
Lautrec nasceu em 24 de novembro de 1864, em Albi, no sudoeste
da França. Sua família era tradicional, distinta e rica. Diferentemente de
muitos outros grandes artistas, Lautrec nunca teve sérias preocupações
com dinheiro, exceto quando seu comportamento imprevisível provocava
ameaças de corte em sua generosa mesada.
161
MÍDIA E REGISTRO
O lado negativo da ascendência de Lautrec eram os excessivos casamentos consanguíneos que haviam acontecido durante gerações, culminando com o casamento de seus pais, que eram primos em primeiro
grau. Como resultado, Lautrec sofria de uma doença degenerativa dos
ossos, que foi responsável por dois acidentes em 1878-1879, quando quebrou ambos os fêmures em quedas aparentemente inofensivas. Os ossos
demoraram muito tempo para se consolidar, e afinal tornou-se claro que
as pernas do adolescente não estavam crescendo corretamente. Lautrec
estava condenado a tornar-se um homem baixo e desproporcional, movimentando-se desajeitadamente com uma bengala – uma figura que ele
iria frequentemente caricaturar em seus desenhos, usando tipicamente a
autozombaria para combater a autopiedade.
A família de Lautrec encorajou sua paixão de infância pelo desenho,
mas ele provavelmente teria permanecido um talentoso amador se suas
deficiências não o tivessem cortado do círculo social e esportivo da
aristocracia. Nessas circunstâncias, os pais de Lautrec pouco resistiram
quando ele anunciou o desejo de se tornar um pintor – embora dificilmente
pudessem ter previsto o tipo de pintor que ele viria a ser.
Em 1882, Lautrec foi a Paris como estudante, inicialmente trabalhando
com mestres bem-sucedidos, enquanto desenhava e pintava retratos incansavelmente. Em torno dos 25 anos, já havia desenvolvido seu próprio estilo
pessoal, baseado em seu talento soberbo de desenhista: o traço rápido,
incisivo e expressivo tornou-se a marca registrada de Lautrec, qualquer
que fosse o meio no qual estivesse trabalhando.
‘Nessa época, já havia encontrado seu tema mais célebre: Montmartre.
Não muito tempo antes uma vila, mas agora um distrito, cada vez mais
espalhafatoso e dirigido ao prazer, no limite norte de Paris. Em suas primeiras inconfundivelmente grandes obras, Lautrec registrou a vida do
circo, o salão de dança, o cabaré e o teatro de variedades, cujas estrelas
retratou repetidamente. O lado mais amargo das noites parisienses também
o atraiu, e ele até mudou-se para as maisons closes (bordéis) por longos
períodos, retratando seus moradores de um modo desencantado e “pé no
chão”. Usou um estilo que era tudo, menos pornográfico.
A maior atração de Montmartre era o Moulin Rouge, onde as dançarinas como La Goulue realizavam performances frenéticas da quadrilee,
mais tarde renomeada cancã. Foi para o Moulin Rouge que Lautrec fez
seu primeiro (e ainda o mais famoso) pôster, usando o relativamente novo
processo da litografia. Em contraste com técnicas, como a gravação, a
litografia permitia ao artista desenhar fluentemente direto na pedra a partir
da qual a impressão seria feita. Lautrec compreendeu logo que linhas grossas e fortes cores chapadas eram necessárias para ter um efeito e chamar a
atenção dos passantes; e assim surgiram seus primeiros pôsteres clássicos.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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INVESTIGANDO CAMINHOS
Nesse ínterim, ele paulatinamente se destruiu. Já em 1897, a sífilis
e o alcoolismo afetavam seu comportamento, e em 1899 ele foi “desintoxicado” em um sanatório. Mas logo teve uma recaída e voltou a beber,
apesar de uma série de ataques paralisantes. Após um ataque final, ele foi
levado para a casa de sua mãe, onde morreu em 9 de setembro de 1901.
Como você pôde ver, Degas e Lautrec tinham mais do que formas
e cores em suas criações. Ambos traziam para suas telas, esculturas ou
desenhos a riqueza presente num ambiente musical: fosse ele a sala de
ensaio de uma companhia de dança ou o mais agitado cabaré francês. A
verdade é que a música praticamente “salta” das telas e passa a coexistir
em harmonia com as cores das imagens ali presentes.
Não só Degas e Lautrec se aproveitaram disso... “Caravaggio amava a
música das adegas, Giotto preferia a música das catedrais e dos mosteiros.
A obsessão dos grandes pintores por uma fantasia pictórica provocada
pela música vem desde a Antigüidade”.
Assim como as obras atingem seus objetivos dentro do papel da comunicação, a música pode fazer muito mais do que entreter.
Música é linguagem e como tal pode extrapolar suas próprias fronteiras
e atingir uma infinidade de propósitos.
A música relata acontecimentos, como fatos históricos, problemas
sociais ou aspectos da vida de determinadas sociedades. Além disso, por
meio dela, os seres humanos se comunicam entre si e a utilizam em sua
vida cotidiana para expressar sentimentos e vontades, assim como protestos e insatisfações.
A música que acompanha o ser humano desde as mais antigas civilizações, atualmente está presente nos mais diferentes lugares: lojas, ônibus,
cinemas, bares, restaurantes, praças, parques, etc.
Diferentes meios são utilizados para que a música chegue até nós –
rádio, televisão, shows, concertos, aparelhos de som, toca-fitas, dentre
outros recursos. Quanto mais a escutamos, mais podemos compreender
seu gênero, ritmo, melodia e letra.
É muito importante que, além de ouvir, você procure saber mais sobre
a música que está ouvindo: quem é o seu compositor, em que época foi
composta, ideias e sentimentos presentes na letra, instrumentos que acompanham, quem é o cantor, se é um conjunto e muitas outras informações
que poderão ser por você pesquisadas.
Mas você também já deve ter percebido que a música pode ir além de
163
MÍDIA E REGISTRO
simplesmente existir enquanto arte. Pode ter propósitos muito específicos,
principalmente comerciais, dentro da atual sociedade de consumo.
Você provavelmente já deve ter ouvido falar em jingle.
Jingles são versos simples e fáceis de gravar, com melodia breve. Geralmente são usados em propaganda, associados a uma imagem.
Muitas vezes cantarolamos a música que acompanha uma propaganda
desde a hora em que acordamos. O jingle estabelece uma empatia com os
consumidores e usuários.
Cada vez que ouvimos o jingle, imediatamente nos lembramos do produto, do serviço, da instituição ou da ideia nas suas mais variadas formas.
A música é uma linguagem que, se usada com criatividade, bom gosto,
clareza e adequação, certamente fará o sucesso do produto anunciado.
Uma outra forma de trabalhar com a linguagem musical na propaganda é utilizar o som que a imagem sugere. Na TV, o fundo musical vem
acompanhado da imagem, enriquecendo a mensagem.
Como o rádio não conta com imagem visual, o som deve ser utilizado
eficientemente, fazendo com que cada ouvinte construa suas imagens.
Algumas propagandas utilizam músicas eruditas para divulgar o seu
produto.
DESAFIOS DO PERCURSO
1. Você vê abaixo duas obras criadas, respectivamente, por PierreAuguste Renoir e Juarez Machado.
Considerando o texto lido a respeito da música que se revela em obras
de arte, faça seus comentários expondo suas sensações a partir da comparação dos quadros.
R.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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2. Observe as obras de arte abaixo e crie para cada uma delas um jingle que faça o anúncio de algum produto. Você pode parodiar um jingle
já existente.
R.
R.
3. Crie um produto que possa ser anunciado a partir da música Bola de
meia, bola de gude, de autoria de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Para completar sua tarefa, componha o pôster que irá anunciá-lo.
“Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado
no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão”
Limpe a garganta...
Respire fundo...
E cante com a gente!
165
MÍDIA E REGISTRO
AMPLIANDO O HORIZONTE
Hoje é o novo dia
De um novo tempo
Que começou
Nossos novos sonhos
Serão verdade
O futuro já começou
Hoje a festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
Quem vier
Dica de leitura:
Um livro cheio de ilustrações que pode ser, ao mesmo tempo, deleite
para você e para uma criança bem pequena. Estamos falando de
Amores de Artistas, escrito por Sonia Rosa e publicado pela Editora
Paulinas.
A belíssima poesia retrata muito do que apresentamos neste
capítulo!
GLOSSÁRIO
Analogia – Ponto de semelhança entre coisas diferentes. Semelhança, similitude, parecença.
Assolar – Arrasar; devastar; talar; destruir, arruinar.
Frenético – Que tem frenesi; delirante, desvairado, furioso. Arrebatado, veemente, exaltado. Impaciente, inquieto; rabugento.
Convulso, agitado.
Fugidio – Propenso a fugas; acostumado a fugir. Esquivo, arisco.
Incisivo – Que corta ou é próprio para cortar. Decisivo, pronto,
direto, sem rodeios.
Introspectivo – Relativo à introspecção (Observação da vida
interior pelo próprio sujeito; exame que alguém faz dos próprios
pensamentos e sentimentos).
Litografia – Processo de gravura em plano, executado sobre pedra
calcária, chamada pedra litográfica, ou sobre placa de metal (em
geral, zinco ou alumínio), granidas, e baseado no fenômeno de
repulsão entre as substâncias graxas e a água, usadas na tiragem, o qual impede que a tinta de impressão adira às partes
que absorveram a umidade, por não terem sido inicialmente
cobertas pelo desenho, feito também à tinta oleosa.
Patético – Que comove a alma, despertando um sentimento de
piedade ou tristeza; confrangedor, tocante.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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Paulatino – Feito aos poucos. Lento, vagaroso.
Pictórico – Referente a, ou próprio da pintura; pictorial, pitoresco, pictural.
Soberbo – Que é mais alto ou está mais elevado que outro. Orgulhoso ao
extremo;arrogante,altivo,presunçoso,sobranceiro.Grandioso,sublime,
magnífico.
Trivial – Sabido de todos; notório, comum, vulgar, corriqueiro.
Vívido – Que tem vivacidade. Ardente, intenso, vivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa.
HARRIS, Nathaniel. Vida e obra de Lautrec. Ediouro Publicações
S.A.
Jornal O Estado de São Paulo: O jeito como os pintores retrataram
a música – Caderno 2, 29/04/2001.
MANNERING, Douglas. Vida e obra de Degas. Ediouro Publicações S.A.
MEMÓRIAS DA VIAGEM
1. Marque com um X a alternativa correta.
I. Apesar de estar produzindo obras de qualidade, Degas tinha uma ambição maior:
a) inscrever suas novas esculturas no Salão Oficial.
b) voltar para a Itália, onde acontecia o Salão Oficial.
c) estudar Direito no Salão Oficial.
d) ter suas pinturas aceitas para que elas cancelassem o Salão Oficial.
e) ter suas pinturas aceitas para serem mostradas no Salão Oficial.
II. A música estava presente na obra de Degas:
a) na representação de vários instrumentos musicais.
b) no movimento e nas cores de suas bailarinas.
c) na pintura de orquestras com seus músicos em ação.
d) na escolha das cores que estimulavam a audição.
e) em seu ateliê, que sempre tinha música alta enquanto ele pintava.
167
MÍDIA E REGISTRO
III.Apesar da vida complicada, Toulouse-Lautrec foi pioneiro em um
tipo de criação:
a) a pintura de bailarinas.
b) o pôster.
c) a pintura de mulheres dançando em bares.
d) a escultura.
e) a litogravura.
IV. A música estava presente na obra de Toulouse-Lautrec:
a) no movimento frenético das dançarinas de cancã.
b) na representação de músicos de orquestras tradicionais.
c) nos desajeitados movimentos de sua bengala.
d) nas esculturas de prostitutas.
e) nas serenatas em noites em que estava bêbado.
V. Jingles são:
a) versos simples e fáceis de gravar, com melodia breve.
b) versos longos e fáceis de gravar, com melodia rebuscada.
c) músicas apresentadas em cabarés.
d) músicas usadas para o ensaio de balé clássico.
e) a única forma de transformar uma pintura em música.
VI. Um jingle é para uma empresa e seus consumidores:
a) uma forma de criar antipatia.
b) uma forma de criar empatia.
c) a música de um concurso de simpatia.
d) a melodia de um festival de antipatia.
e) a melhor forma de criar melodia.
VII. Na TV, o som que a imagem sugere chama-se:
a) propaganda.
b) jingle.
c) fundo musical.
d) melodia.
e) harmonia.
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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
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2. Assinale com um X apenas as alternativas que correspondem às
informações que você adquiriu a respeito da trajetória artística de Degas
e Toulouse-Lautrec.
a) Lautrec nasceu em 24 de novembro de 1864, em Albi, no sudoeste da Itália.
b) Henri de Toulouse-Lautrec era um democrata.
c) Degas era um homem intensamente introspectivo e fechado.
d) Os últimos anos de Degas foram patéticos, pois o artista passou
muito de seu tempo vagando pelas ruas de Paris.
e) Já no início da década de 1870 Degas apresentava problemas
com sua audição, e nos anos 1880 ela se deteriorava alarmantemente.
3. Preencha os parênteses usando F para as afirmações falsas e V para
as verdadeiras.
( )A música é uma linguagem que, se usada com criatividade,
bom gosto, clareza e adequação, certamente fará o sucesso
do produto anunciado.
( )Uma outra forma de trabalhar com a linguagem musical na
propaganda é utilizar o som que a imagem sugere. Na TV, o
fundo musical vem acompanhado da imagem, enriquecendo
a mensagem.
( )Como o rádio não conta com imagem visual, o som deve ser
utilizado aleatoriamente, fazendo com que cada ouvinte construa suas imagens.
( )Praticamente todas as propagandas utilizam músicas eruditas
para divulgar o seu produto.
4. A partir do que foi lido e do que você aprendeu sobre a relação destes
pintores com a música, numere a segunda coluna de acordo com a primeira.
1) Caravaggio
( ) Adegas
2) Giotto
( ) Bailarinas
3) Degas
( ) Dançarinas de cabaré
4) Toulouse-Lautrec
( ) Mosteiros
GABARITO
CAPÍTULO 2
Desafios do percurso
1. Estados Unidos, Itália e Japão.
2. a) Resposta subjetiva.
b) Resposta subjetiva.
3. Resposta subjetiva.
4.
luar – acordar, recordar.
alguém – também.
violão – canção, coração.
embora – mora.
Memórias da viagem
1.
I. c) II. a) III. b) IV. d) V. e) VI. c) VII. b)
2. a) c) d)
3. (F) (V) (V) (F)
4. (2) (3) (1)
CAPÍTULO 3
Desafios do percurso
1. Respostas subjetivas.
2. Em ambos os casos havia uma tentativa de ocultar a realidade. No caso de Veneza, a identidade dos foliões.
No caso das letras das músicas, a única forma de driblar a censura.
3. Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropicalismo.
170
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
4.
a) As poucas perspectivas de mudança, as notícias de pessoas sendo exiladas, o desaparecimento
de vários líderes, a cassação de intelectuais e artistas. Tudo isso dentro da onda de incidentes
políticos que faziam com que o poder fosse exercido pela força bruta.
b) A ditadura militar que cerceava a liberdade de expressão e impedia que o pensamento fosse
manifestado de forma natural, sem censura.
c) Um sistema vicioso, corrupto, voraz e muito poderoso, que “engolia” as pessoas e as tornava
incapazes de definir seus próprios destinos ou suas mais simples escolhas.
d) Ver-se nas mãos dos poderosos que decidiam o presente e o futuro das pessoas com base em
suas próprias decisões e não na liberdade de escolha inerente a qualquer indivíduo. Impossibilitado de expressar-se, o homem não exerce seu direito de ser pensante e dono de seu próprio
destino.
Memórias da viagem
1.
I. e) II. c) III. a) IV. d) V. a) VI. b) VII. e)
2. b) c) e)
3. (F) (F) (V) (V)
4. (3) (2) (1)
CAPÍTULO 4
Desafios do percurso
1. Imagens 2 e 3. As duas outras representam a técnica dos vitrais, que usam tinta sobre vidro.
2. Porque a cultura brasileira inclui fortíssimo componente de ascendência africana. Esta cultura,
o ar espiritual que respiramos e que, em todos os meios sociais, nos educa e forma nossas
personalidades, não pode deixar de nos impregnar de variadíssimos elementos africanos abrasileirados.
3.Na música: instrumentos de percussão, ritmos como o samba, uso de elementos simbólicos dos
escravos.
Na culinária: a feijoada, pratos relacionados às crenças afro-brasileiras, principalmente os
usados em oferendas a entidades espirituais reverenciadas por algumas religiões.
Na religião: o culto às entidades do candomblé, umbanda, dentre outras manifestações religiosas:
Nas artes plásticas: a estética relacionada aos padrões de beleza relacionados ao estilo africano.
No vocabulário: palavras como umbanda, quimbanda, samba, dentre outras.
4.
Hermeto Pascoal
Pixinguinha
Luiz Gonzaga
171
GABARITO
Memórias da viagem
1.
I. b) II. e) III. d) IV. b) V. c) VI. b) VII. a)
2. a) d) e)
3.
(V) (V) (F) (F)
4.
(2) (1) (3)
CAPÍTULO 5
Desafios do percurso
1. Resposta subjetiva.
2. Criação livre.
3. Mares e rios têm sons muito particulares. A natureza, em sua totalidade, é muito rica e capaz de
ser representada no universo sonoro. A música pode traduzir sensações e fazer com que aqueles que a apreciam sejam levados a perceber sons específicos. Sons também podem descrever
imagens, provocar sentimentos e evocar lembranças.
4. Ambos tinham em suas famílias a raiz musical. Influenciados por um ambiente onde a música
esteve sempre presente, os dois compositores seguiram suas carreiras. O papel da família na
vida de um ser humano é preponderante e aqueles que dela fazem parte podem estimular o
desenvolvimento de várias habilidades.
Memórias da viagem
1.
I. e) II. c) III. c) IV. d) V. a) VI. e) VII. a)
2. b) c) d)
3. (V) (V) (V)
4. (2) (1) (3)
CAPÍTULO 6
Desafios do percurso
1. Resposta subjetiva.
2. Produção artística livre.
3. Produção artística livre.
4. A reportagem deverá conter algum texto que nos remeta à realidade de meninos de rua, problemas de violência urbana causados por menores, instituições que abrigam menores infratores
ou à realidade da classe menos favorecida, principalmente moradores de favelas ou bairros de
periferia.
172
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
Memórias da viagem
1.
I. c) II. a) III. d) IV. e) V. b) VI. b) VII. a)
2. a) c) d)
3. (V) (F) (F) (V)
4. (3) (1) (2)
CAPÍTULO 7
Desafios do percurso
1. Resposta subjetiva.
2.
a) Resposta subjetiva.
b) Resposta subjetiva.
3. A pesquisa deve ter exemplos de produtos anunciados nos atuais meios de comunicação.
4. Resposta subjetiva, mas que deve estar coerente com a descrição da teoria escolhida.
5. Produção subjetiva.
Memórias da viagem
1.
I. b) II. e) III. a) IV. d) V. b) VI. a) VII. d)
2. a) c) d)
3. (V) (F) (F) (V)
4. (2) (1) (4) (3)
CAPÍTULO 8
Desafios do percurso
1. Resposta subjetiva, mas que deve conter um texto que diferencie as imagens em relação à variedade de cores da primeira em contraste com o branco e preto da segunda.
2. azul, azuleja, cor, anoitecer, entardecer, amarelinho, azulzinho.
3. Resposta subjetiva, mas que deve conter um texto que diferencie as quatro imagens, constatando
que a luz altera as cores e, consequentemente, define uma nova visão de um mesmo objeto.
4. Resposta subjetiva.
5. Produção individual.
173
GABARITO
Memórias da viagem
1.
I. e) II. d) III. b) IV. b) V. c) VI. a) VII. e)
2. a) c)
3. (V) (V) (V) (V)
4. (2) (1) (3)
CAPÍTULO 9
Desafios do percurso
1. Resposta subjetiva, mas que deve conter um texto que diferencie as imagens em relação à representação da realidade contida na primeira em contraste com a liberdade de expressão contida
na segunda, mas que, apesar disso, não descaracterize o modelo.
2. Um terraço à beira-mar; o sol caindo ao fim da tarde; a noite caindo; as luzes da cidade se
acendendo; um casal sentado, à meia-luz, num bar; a lua surgindo etc.
3. Resposta subjetiva, mas que deve conter um texto que tenha relação com as fotografias.
4. Flash - Clarão rápido e intenso, capaz de fornecer a luz necessária para se fazer uma fotografia
em ambiente onde a luz natural não é bastante. Aparelho que produz esse clarão.
Diafragma - Anteparo opaco, provido de um orifício, para limitar a abertura de uma lente ou
de um sistema óptico. Diafragma que limita o campo de um instrumento óptico. Diafragma íris.
Negativo - Imagem formada ao impressionar-se um filme, na qual os tons claros e escuros
do assunto aparecem invertidos (negativo preto e branco), ou na qual as cores e matizes são
complementares em relação às do original (negativo colorido).
Acromático - Que não toma cor. Que não distingue as cores. Destituído de cromatina. Diz-se
de elemento que deixa passar ou refrata a luz, sem a decompor em suas cores fundamentais.
Policromático - Que tem várias cores ou várias radiações com diferentes comprimentos de onda.
5. Produção individual.
Memórias da viagem
1.
I. d) II. c) III. a IV. a) V. b) VI. d) VII. b)
2. b) d) e)
3. (V) (V) (V) (F)
4. (1) (2) (3)
174
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
CAPÍTULO 10
Desafios do percurso
1. Resposta subjetiva, mas que aponte a diferença de estilos entre os dois artistas e as diferentes
expressões que eles usaram para retratar o contexto escolhido.
2. Resposta subjetiva, desde que em consonância com as imagens apresentadas.
3. Produção livre, desde que em consonância com o texto apresentado.
Memórias da viagem
1.
I. e) II. b) III. b) IV. a) V. a) VI. b) VII. c)
2. c) d)
3. (V) (V) (F) (F)
4. (1) (3) (4) (2)

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