Meatoplastia. Nova Técnica Simplificada

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Meatoplastia. Nova Técnica Simplificada
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Meatoplastia. Nova Técnica Simplificada. Estudo Comparativo
Meatoplasty. New Simplified Technique. Comparative Study
Gustavo Guagliardi. Pacheco - Staff do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da
Lagoa,
Everton de Souza Ameno - Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da
Lagoa,
Marcio Niemeyer de Souza - Residente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da
Lagoa,
Hospital da Lagoa, Rio de Janeiro.
Gustavo Guagliardi Pacheco
Avenida das Américas, 700, bloco 01, sala 211, Barra da Tijuca
Rio de Janeiro - RJ. CEP: 22640-100
Tel.: (0xx21) 2494-9170 FAX (0xx21) 25673395
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Meatoplastia: Nova Técnica Simplificada. Estudo Comparativo.
Gustavo Guagliardi Pacheco∗∗, Everton de Souza
Ameno***, Marcio Niemeyer de Souza∗.
RESUMO
INTRODUÇÃO: Os autores apresentam uma modificação na técnica básica de
meatoplastia, que a torna mais rápida e de mais fácil execução, além de trazer bons
resultados pós-operatórios.
OBJETIVO: Descrever uma nova técnica de execução deste tempo cirúrgico
presente nas mastoidectomias, bem como demonstrar seus bons resultados.
MATERIAL E MÉTODO: Foram incluídos 52 pacientes submetidos à
mastoidectomia, com indicação de meatoplastia complementar, operados em nosso serviço.
Excluímos aqueles com história prévia de outra cirurgia otológica.
RESULTADO: Observamos, no grupo de pacientes estudados, além do menor
tempo cirúrgico dispendido e da facilidade técnica, uma menor incidência de estenose
meatal pós-operatória, naqueles operados com a nova variante técnica (0/23), em
comparação com aqueles em cujas orelhas utilizamos a técnica tradicional (3/29).
CONCLUSÃO: Concluímos que, a facilidade de execução da técnica, resultou em
um menor tempo cirúrgico e a segurança e eficácia da nova variante técnica, foi
comprovada através de menor incidência de estenose pós-operatória e bom estado das
cavidades em controle à longo prazo.
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SUMMARY
INTRODUCTION: The authors present a change in the basic technique of
meatoplasty, that made it faster and easier to do, bringging good post operative results as
well.
OBJECTIVE: Describe a new execution technique of this surgical time, present in
the mastoidectomies, as well as show its good results.
MATERIAL AND METHOD: 52 patients submitted to mastoidectomy, with
indication of complementary meatoplasty, operated on in our department were included.
We excluded those who had a previous story of an other otologycal surgery.
RESULT: We observed, in the group of studied patients, lesser surgical time
spended and easiness technique. We also observed a lower incidence of post operative
meatal stenosis on those operated with the new variety technique (0/23), in comparison
with those, whose ears we used the traditional technique as well (3/29).
CONCLUSION: We concluded that, easiness on technique execution, resulted in
lesser surgical time and security and effectiveness of the new technique variety, was
proved by the lower incidence of post operative stenosis and the good state of the cavities
in a long term follow-up.
Unitermos: Meatoplastia, técnica cirúrgica.
Uniterms: Meatoplasty, surgical techinique.
∗∗Médico Staff do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa,
∗∗∗Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa,
∗Médico Residente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa,
Hospital da Lagoa, Rio de Janeiro.
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INTRODUÇÃO
As cavidades mastóideas raramente são isentas de problemas. A pele que reveste a
cavidade pode ser normal, mas não é capaz de migrar, em comparação com a pele normal
do meato acústico. A pele descamada de uma cavidade mastóidea acumula-se em camadas
e o resultado é a formação de crostas epiteliais que devem ser desbridadas mecanicamente.
A incapacidade de limpar a cavidade mastóidea geralmente resulta em infecção. Um meato
pequeno também pode impedir o desbridamento adequado da mastóide. Por essas razões, é
imperativo realizar uma meatoplastia, se for planejado realizar uma cavidade mastóidea.
A meatoplastia foi primeiramente descrita por Stacke em 1893. Tal procedimento
cirúrgico, tem como finalidade ampliar a abertura da orelha externa, criando um retalho de
pele que servirá de matriz de epitelização da neocavidade. Apresenta como vantagens uma
abertura meatal adequada que permite acesso fácil ao conduto auditivo externo (CAE),
membrana timpânica e às neocavidades, sendo essencial para manter tais cavidades em
bom estado e facilitar o devido toillet pós-operatório. Tornou-se um procedimento
complementar imprescindível nas timpanomastoidectomias de cavidade aberta e nas
cirurgias do CAE estenosado, mas é um coadjuvante nas canaloplastias, timpanoplastias,
timpanomastoidectomias
de
cavidade
fechada
e
em
alguns
procedimentos
otoneurocirúrgicos.
Além da incapacidade de auto-limpeza da neocavidade, a meatoplastia apresenta
outras limitações. Uma delas está no fator estético, fundamental para a maioria dos
pacientes, uma vez que, quase invariavelmente, tal procedimento culmina com a confecção
de meatos amplos e extremamente anti-estéticos. Estreitamentos pós-operatórios, que
podem levar à estenose do canal e distúrbios vestibulares causados por uma maior
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exposição ao frio e aos sons altos também engrossam esta lista, tal como dor pósoperatória de origem obscura, infecção local e condrites.
O presente estudo, tem como objetivo, descrever uma nova variante técnica deste já
conhecido procedimento, comparando os seus resultados pós-operatórios com os de um
grupo de pacientes-controle, submetidos à meatoplastia tradicional.
MATERIAL E MÉTODO
Foram incluídos 52 pacientes submetidos à mastoidectomia, com indicação de
meatoplastia complementar, operados em nosso serviço. Excluímos aqueles com história
prévia de qualquer outra cirurgia otológica, devido ao viés no qual se constituiria fibrose
cicatricial pós-operatória, com conseqüente prejuízo à cicatrização e ao resultado funcional
de uma meatoplastia. Todos os pacientes tiveram a parede posterior do conduto auditivo
externo derrubada, como parte de mastoidectomia com cavidade aberta (radical com
microcaixa). Deste total de pacientes incluídos, 29, submetemos à meatoplastia pela
tradicional técnica dos retalhos em “Y”, enquanto aos demais 23, nos restou empregar a
nova técnica proposta.
TÉCNICA OPERATÓRIA
A meatoplastia pode ser realizada sob anestesia local, quando constitui-se em uma
intervenção isoladamente. Entretanto, estará o paciente sob narcose, quando no decurso de
uma mastoidectomia. Faz-se necessária infiltração local das partes moles retroauriculares
com 10ml de solução de lidocaína à 2% e epinefrina 1:100000, de modo a se obter um
campo cirúrgico o mais exsangue possível, realizada no início do ato operatório.
Realizamos todo este tempo cirúrgico sob visão direta, sem a necessidade, portanto,
de microscopia óptica binocular.
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Compartilhamos da opinião de que o tempo ideal para a execução da meatoplastia
situa-se entre o término do broqueamento, com rebaixamento do muro e limpeza das
cavidades mastóidea e timpânica, e os tempos funcionais. Desta forma, permitimos,
inclusive, uma melhor exposição da cavidade neoformada, facilitando as reconstruções
ossiculares e a passagem de enxertos.
Procedemos à retirada dos afastadores autostáticos, com eversão do pavilhão
auricular sobre a região parotídea. Realizamos basicamente duas incisões horizontais e
paralelas acerca do trago, de modo a confeccionar um retalho e liberar toda a concha (prérequisito para o sucesso de uma meatoplastia). A primeira é supratragal, tendo como
referência o tubérculo supratrágico e a raiz do hélix, sendo, a segunda, infratragal,
referenciada pela incisura intertrágica,. ambas de 1,5cm. Em seguida, retiramos eventuais
excessos de partes moles do retalho e suturamos à catgut cromado 2.0, a porção posterior
da concha aural liberada, de modo à evertê-la contra o pavilhão auricular. Segue-se fixação
das bordas do retalho evertido às partes moles retroauriculares com o mesmo fio de sutura,
fechando-se a incisão por planos ao final do ato cirúrgico.
Utilizamos como parâmetro de boa amplitude da meatoplastia a introdução e
acomodação do dedo indicador do cirurgião na cavidade neoformada.
RESULTADO
Observamos, no grupo de pacientes estudados, além do menor tempo cirúrgico
dispendido e da facilidade técnica, uma menor incidência de estenose meatal pósoperatória, naqueles operados com a nova variante técnica (0/23), em comparação com
aqueles em cujas orelhas utilizamos a técnica que denominamos tradicional (3/29).
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Na avaliação subjetiva do examinador, no que tange à qualidade da cavidade
neoformada e a sua aeração, foram adotadas as possibilidades “boa”, “regular” e “ruim”.
Não verificamos grandes diferenças no parâmetro funcional da meatoplastia, uma vez que:
Dos 29 pacientes do grupo “meatoplastia tradicional”, 21 obtiveram o escore cavidade boa
(72,4%), 5 regular (17,2%) e 4 ruim (13,7%). Enquanto que no grupo dos 23 “meatoplasia
nova”, foram 17 as cavidades classificadas como boas (73,9%), 3 as regulares (13,0%) e 3
ruins (13,0%).
DISCUSSÃO
Existem várias técnicas para realizar a meatoplastia, desde as que utilizam meatos
excessivamente amplos aos mais conservadores, mantendo meatos reduzidos ao mínimo. E
há ainda aqueles que chegam a utilizar stents para manutenção da abertura meatal. Todas
devem ter a finalidade de aumentar as dimensões do orifício externo de comunicação da
cavidade com o meio ambiente.
Nesta nova variação da técnica apresentada, mantemos alguns preceitos básicos,
como a remoção de tecidos subcutâneos (excessos) apenas da porção posterior do meato
acústico externo, respeitando-se, desta feita, a inviolabilidade da pele do meato
anteriormente, que, quando abordada, representa risco potencial de estenose.
A grande vantagem desta técnica não advém do acréscimo de uma incisão, sutura
ou mesmo da exérese de mais tecido. Muito pelo contrário, trata-se de técnica simplificada
em que eliminamos a necessidade de várias incisões e remoções excessivas de cartilagem
conchal, sem prejuízo ao desejado e adequado arejamento da cavidade.
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CONCLUSÃO
A presença de um meato largamente aberto é fundamental para o sucesso da
mastoidectomia. Quando inadequadamente aberto, interfere com a autolimpeza da
cavidade mastóidea e pode também dificultar o exame clínico e limpeza periódicos.
Acúmulos de debris podem, ainda, piorar a condução auditiva, resultar em infecção crônica
e mesmo recidiva da doença colesteatomatosa.
Concluímos que, a facilidade de execução da técnica apresentada, resultou em um
menor tempo cirúrgico e, a segurança e eficácia da nova variante técnica, foi comprovada
através de menor incidência de estenose pós-operatória e bom estado das cavidades em
controle à longo prazo.
Observamos, no grupo de pacientes estudados, além do menor tempo cirúrgico
dispendido e da facilidade técnica, uma menor incidência de estenose meatal pósoperatória naqueles operados com a nova variante técnica, em comparação com aqueles em
cujas orelhas utilizamos a técnica tradicional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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