A festa dos laçadores no palco da Rio Bonito

Transcrição

A festa dos laçadores no palco da Rio Bonito
34 | MAIO DE 2010
Tiro de Laço
CAVALO CRIOULO
FOTOS JOSÉ GUILHERME MARTINI
A festa dos laçadores no palco da Rio Bonito
Cultura do Laço já se espalhou pelo Brasil
E
le desceu do norte ao sul e praticamente cortou o País com o laço e os
arreios na bagagem para aportar em
Ponta Grossa, no Paraná. Pedro Roberto
Neves Furtado, 62 anos, é catarinense e está
em Rondônia desde 1974, onde tem uma
fazenda e seis éguas Crioulas. Há 50 anos
se dedica ao Tiro de Laço. E este ano foi um
dos 473 laçadores que, entre os dias 26 e 28
de março correram boi e largaram o braço
na armada no 13º Crioulaço da Cabanha
Rio Bonito, em Ponta Grossa. Pista embarrada, tempo que se revezou entre a chuva e
um céu cinza, tudo exigiu muita cautela na
hora da prova. “Não tem que enfeitar, o que
vale é a armada no chifre. Antes eu laçava
na cortada, que é cortar o rastro do boi e
largar o laço, mas agora já laço na paleta,
no costado do boi, abro menos o cavalo e
tem menos risco”, afirma Pedro, que traz de
família esse gosto pela tradição e as coisas
do campo. Seu pai, Fulvio Furtado, fundou
o primeiro CTG em terras catarinenses: o
CTG Fronteira Campobelense, em 1957,
na cidade de Campo Belo do Sul.
Pedro veio de Rondônia, mas veio gente
de outras partes do Brasil, em especial
Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do
Sul, num evento que já virou marca da Rio
Bonito. Um esporte chamado Laço vingou
muito por ali, atrai famílias inteiras que armam barracas, improvisam casas em motor
homes, assam churrasco e ouvem música
num grande acampamento a céu aberto. É o
campo da convivência que se abre. E, com
ele, um meio mais democrático e prazeroso
de utilizar o cavalo. “O Freio de Ouro é
uma coisa importantíssima, foi o grande
impulso como selecionador da raça. Mas é
excludente, só saem quatro. O proprietário
do cavalo não consegue participar do Freio,
mas consegue do Crioulaço. Nas nossas
reuniões digo: vamos fabricar eventos,
uma vaca gorda, uma cavalgada, mas que o
proprietário tenha o que fazer com o cavalo,
tenha utilidade, monte a cavalo”, afirma Rui
Demeterco, o proprietário da Rio Bonito,
que há 13 anos vem abrindo porteiras para
o Crioulaço, e que vem também acompanhado de um remate.
Ao lado de seu Rui, Ronaldo Arhanitsch, administrador da Rio Bonito, gaúcho
da cidade de Taquara, ajuda a tornar o
Crioulaço uma referência para os laçadores.
“O Laço não é algo só na nossa região, mas
um segmento que aumenta ano a ano”,
avalia. Assim, tudo começa na quinta-feira,
com a “vaca gorda”, um torneio informal
de Laço improvisado na hora, que serve
como um aquecimento para o Crioulaço.
E quando abre cancha, cada um solta ali
suas habilidades no correr da armada e na
precisão da rédea.
Nicole Andreassa Wilsek, 22 anos, e a
irmã Franciele, 19, de Curitiba, se dedicam
a isso há praticamente dez anos. Passaram
o fim da infância, a adolescência e o início
da idade adulta sempre laçando. Mais por
esporte do que propriamente por lida, é
verdade. “Moramos no Batel, no centro de
Curitiba, mas o pai sempre teve chácara em
Araucária. Estudo veterinária, mas no final
de semana sempre vou pra lá”, diz ela. Nicole diz que prefere laçar na pista e não no
campo, onde exige mais força. No Crioulaço, junto com o pai Eduardo, e o irmão
Eduardo Wilzek Júnior, ela se orgulha de
dizer que o Paraná é o estado que tem mais
“meninas laçando”. A família dos Wilzek
integra a primeira região tradicionalista
do Paraná, uma das 17 regiões do estado.
A cultura gaúcha, representada pela tradição e pelo cavalo, é na verdade um fenômeno que se espalha pelo Brasil. Barbosa
Lessa, um dos fundadores do movimento
tradicionalista, dizia que há uma aura simples que atrai as pessoas: a conversa à beira
do fogo, a convivência, o diálogo onde um
fala e o outro escuta, a música. Quase um
sentido tribal que é capaz de unir gente
em qualquer parte do mundo. Há CTGs
no Japão, mas mais do que um carimbo
do que é ou não tradição, há um modo de
vida capaz de cativar – e que talvez esteja
na simplicidade aberta de um Tiro de Laço,
onde todos podem participar.
Pai e filho enlaçados por uma espécie de
orgulho, José Ademir Pereira, empresário do
ramo do comércio, nascido em Canoinhas,
SC, e o filho Antônio Augusto, de 19 anos,
se dedicam ao supermercado da família
durante a semana. Mas desde cedo, Antônio
Augusto descobriu a vocação. “Laço desde
os cinco anos, sou apaixonado por laçar”,
conta Antônio Augusto, que no ano passado
levou o carro de prêmio no Crioulaço.
O pai, José Ademir, já monta a Cabanha
Espigão, onde investe em animais que estão
competindo rumo ao Freio de Ouro, como
os cavalos Oriundo do Purunã e Quem Te
Vê da Água Funda. “Tenho um campo
pequeno, mas gosto muito de laço e tenho
paixão pelo cavalo”, diz. Ele é um dos que
pegou a influência da cultura gaúcha que
veio através do oeste catarinense, especialmente de Lages.
Ronaldo, o administrador da Rio Bonito, lembra, no entanto, que apesar dessa
influência gaúcha, o Laço vem tomando
um rumo próprio – é um esporte, por exemplo, em São Paulo. E vai contabilizando
gente também de Mato Grosso e das mais
diversas profissões – de comerciantes a
ex-pilotos de avião. “Aqui na Rio Bonito,
a gente está nesse segmento há mais de 13
anos. No início, era por um gosto pessoal,
mas vimos que está crescendo muito”.
Tanto que hoje, na Cabanha, há campeiros especializados em treinar cavalos para
Laço. Quem é aficcionado nesse esporte
sabe que treino é tudo. Lá na distante Roraima, por exemplo, seu Pedro mandou fazer, meticulosamente, uma vaca mecânica
onde regula o chifre e a altura da cabeça
para treinar intensivamente e não perder
armada. Braço calibrado, depois ele faz
mala dos arreios e desce para o Sul. Este
ano laçou num cavalo emprestado pelo
pessoal da Rio Bonito, mas volta e meia sai
Rio Grande afora percorrendo cabanhas e
olhando cavalos. Já esteve pela Fronteira,
em Uruguaiana, conheceu gente e prometeu voltar para “passar uns dias”. E talvez
atire um pouco de corda por lá. Aprendeu a
ser um laçador que não escolhe geografia.
O troféu Ginete Destaque foi para Osmar Telles, de Irati, PR. João da Silva Neto
foi o juiz oficial e Marcos Gomes Antunes
fez a supervisão pela ABCCC.
Renato Dalto
Eduardo ganhou moto pela Individual Força A
Tatu conquistou moto pela vitória no
Inédito da Rio Bonito
RESULTADOS
MARCA DA RIO BONITO
Corsa 0 km- Ivan Barbosa, SP, com Nativo II da Rio Bonito; Francisco Ricardo Kuczera
(Ricardinho), PR, com Primadona da Rio Bonito e Vanderlei Vaz, SP, com Moleca da Rio Bonito
INÉDITO DA RIO BONITO
Moto Sundown 125 CC - Aldino Rodrigues (Tatu), CTG Cupim Imbituva, PR, com Safira da
Rio Bonito
INDIVIDUAL
Força A - Moto Sundown 125 CC - Eduardo Rocha, CTG Tropeiros de Telêmaco Borba, PR, com
Caracolero da Rio Bonito
Força B - Três Vaquilhonas - Leandro Peres, Piquete Don Juan, Campo Largo, PR, com Pataca da
Rio Bonito
Força C - Três Novilhas - Gustavo Bastos, Piquete Potro Chucro, Colombo, PR, com Última de
Ibiraquera
VACA GORDA
Moto Sundown 125 CC - Francisco Ricardo Kuczera (Ricardinho), PR, com Benvida da Rio
Bonito
Eduardo Rocha, CTG Tropeiros de Telêmaco Borba, PR, com Caracolero da Rio Bonito
JUVENIL
Potranco da Rio Bonito - Matheus Gonçalves, Cabanha GR, Araucária, PR, com Orientales da Rio
Bonito
PRENDAS
Potranco da Rio Bonito – Amanda Rossa, Cabanha Mirante, Campo Largo, PR, com Firula da Rio
Bonito
DUPLAS - CLASSIFICADAS PARA FINAL ESTEIO RS - 2010
José Anilto Ramos (Polaco) .........................................................Patroncito da Rio Bonito RP 83
Luis Felipe Roldão Ramos............................................................... Fiador da Rio Bonito RP 158
Antenor Silva .............................................................................. Carinhosa Pam Peira RP 1275
Luciano Silva ................................................................................Chalana da Rio Bonito RP 242
Luis Felipe Roldão Ramos................................................................Nativo da Rio Bonito RP 189
Gustavo Muniz ................................................................................. Catito da Rio Bonito RP 398
Gustavo Muniz ..........................................................................Panqueque da Rio Bonito RP 345
Edinei Souza .............................................................................................Diva do Minueto RP 07