Criação de camarões é atividade em franco desenvolvimento no

Transcrição

Criação de camarões é atividade em franco desenvolvimento no
Criação de camarões é atividade em
franco desenvolvimento no Ceará
Shrimp Farming - a rapidly developing
activity in Ceará
10_Animal Business-Brasil
Sumário
Um setor com capacidade para quintuplicar sua
produção. Essa é a situação da criação de camarões (carcinicultura) cearense, uma atividade que
surgiu em meados da década de 70 e consolidou
sua escala de produção e maturidade no início dos
anos 2000. Junto com os demais estados nordestinos, a produção de camarão marinho representa
atualmente, o segmento mais organizado do setor
pesqueiro nacional. Só os estados do Ceará e do Rio
Grande do Norte participaram com 70% da produção brasileira de camarão cultivado, em 2011. Os
30% restantes foram distribuídos entre os estados
de Pernambuco, Paraíba, Piauí, Sergipe, Bahia, Maranhão, Pará e Santa Catarina.
O presidente da Associação Cearense dos Produtores de Camarão, Cristiano Peixoto Maia, anuncia
que a expectativa para o aumento da produção de
camarão para 2012, em relação ao cultivo do ano
anterior, seja de nove e meio por cento. Já o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão, Itamar Rocha, adverte que a falta de crédito
para o desenvolvimento tecnológico, prospecção de
mercado e investimentos estruturantes concorre
para o atraso da carcinicultura brasileira.
Summary
A sector capable of witnessing a fivefold increase of
its production. That’s the situation of shrimp farming
in Ceará, an activity that emerged in the mid-70s and
saw its production and maturity scale consolidate in
the beginning of the 2000s. Along with other Northeast
states, the production of marine shrimp currently
represents the best organized segment of the national
fishing sector. The states of Ceará and Rio Grande do
Norte alone were responsible for 70% of the Brazilian
production of farmed shrimp in 2011. The other 30%
were distributed among the states of Pernambuco,
Paraíba, Piauí, Sergipe, Bahia, Maranhão, Pará and Santa
Catarina.
The president of the Ceará Association of Shrimp
Farmers, Cristiano Peixoto Maia, announces that
shrimp production, in 2012, is expected to increase
nine and a half percent in relation to the previous year.
The president of the Brazilian Association of Shrimp
Farmers, on the other hand, warns that the lack of credit
for technological development, market prospection and
structural investments contribute to the delay of the
Brazilian shrimp farming.
Animal Business-Brasil_11
Durante o período de 2000 a 2004, quando as exportações brasileiras de camarão chegaram a representar 75% da produção nacional, os centros
de processamento foram utilizados em sua plena
capacidade. Atualmente, com o crescimento da demanda interna para o camarão in natura, parte da
capacidade instalada está ociosa.
No Brasil, pesquisas realizadas durante 15 anos
com a espécie de camarão Litopeneus vannamei,
oriundo da costa sul-americana do Oceano Pacífico, apontou para a maior viabilidade técnica e econômica desse tipo de crustáceo, sendo atualmente
a espécie que domina 100% da carcinicultura brasileira.
Essas mesmas pesquisas apontaram para a especial vocação do cultivo do camarão marinho
para promover a inclusão social no Nordeste e a
distribuição da riqueza no campo. Os centros de
processamento do camarão antes de seu envio
ao mercado consumidor, que operam em recintos
protegidos e resfriados, oferecem também oportunidades de trabalho para a mão de obra feminina, considerado o segmento de maior potencial
do Nordeste em relação à demanda dessa mão de
obra. No auge das exportações setoriais, em 2003,
as mulheres participaram com 14 por cento dos
50.000 empregos diretos gerados pela carcinicultura no Nordeste.
Na região nordestina, são cerca de 20 mil hectares
cultivados de produção de camarão em cativeiro, o
que representa 98 por cento de sua infraestrutura
produtiva. Já no Ceará, a extensão da área atual
voltada para a atividade da Carcinicultura é de
5.760 hectares, divididos em cinco polos produtores e 180 empreendimentos.
É por isso que um dos desafios do setor foi sempre
o de buscar um modelo de produção sustentável
que integre geração de emprego e renda e a otimização do uso do capital e dos recursos naturais e
desenvolvimento humano.
Evolução
Com expectativa de produção de 35 mil toneladas
para este ano de 2012, o que representa um aumento de cerca de 9,5% em relação ao ano passado, o Ceará ocupa, desde 2010, a liderança na
criação de camarão em cativeiro. Um ótimo resultado já que no momento atual, o setor da carcinicultura brasileira, praticamente concentrado na
região Nordeste e em especial no Ceará, passa por
um processo de plena reativação e a quase totali12_Animal Business-Brasil
dade de sua produção, cerca de 99% das 70 mil
toneladas produzidas no Brasil, em 2011, foram
destinadas ao mercado interno.
Os produtores do setor advertem para a importância da carcinicultura instalada no meio rural do
Nordeste, sendo a produção de camarão em cativeiro uma atividade do setor primário da economia
regional que mais gera emprego por unidade de
área trabalhada. Para se ter uma ideia da importância da atividade para o setor primário nordestino, 37.800 é o total de empregos diretos gerados
em 20 mil hectares de área cultivada, na região.
No Ceará, que tem uma extensão de 5.760 hectares de cultivo, são gerados 10.886 empregos diretos, de acordo com estudos realizados pela Universidade Federal de Pernambuco e confirmados pela
Associação Cearense dos Criadores de Camarão.
Durante o período de 2000 a 2004, quando as
exportações brasileiras de camarão chegaram a
representar 75% da produção nacional, os cen-
Animal Business-Brasil_13
tros de processamento de camarão foram utilizados em sua plena capacidade. Atualmente, com o
crescimento da demanda interna para o camarão
in natura, parte da capacidade instalada está ociosa. “A plena utilização dessa capacidade instalada,
pelo fato de demandar o uso de intensiva mão de
obra, somente se viabilizará caso sejam adotados
incentivos, especialmente a desoneração da folha
de pagamento e a isenção do PIS/COFINS nas vendas internas e na aquisição de insumos”, alertam
os produtores.
Em 2003, ano de maior volume do camarão exportado, 58.455 toneladas, as indústrias de processamento de camarão geraram cerca de 7 mil
empregos diretos para a mão de obra feminina
no meio rural do Nordeste. O que correspondeu a
14% do total de emprego direto gerado pelo setor.
O presidente da Associação Cearense dos Criadores de Camarão, Cristiano Peixoto Maia, informa
que praticamente toda a produção nacional do
camarão cultivado foi absorvida pelo mercado interno, somente uma quantidade inexpressiva foi
exportada, cerca de 108 toneladas. Segundo ele,
até 2006, 80% da produção de camarão eram exportados, das quais 70% se destinavam aos Es14_Animal Business-Brasil
tados Unidos. Com a ação antidumping imposta
pelos Estados Unidos, os produtores redirecionaram a produção para o mercado interno, o que
resultou na baixa de preço. O valor médio do camarão, na fazenda, atualmente, gira em torno de
R$ 10,00.
Sustentabilidade
O engenheiro de Pesca e professor do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE
– Acaraú), Márcio Bezerra, reconhece que o debate sobre a sustentabilidade ambiental da carcinicultura marinha brasileira encontra-se ideologizado há pelo menos dez anos. “Sem dúvida,
essa discussão tem sido um dos grandes responsáveis no impedimento da racionalização desse
debate entre os grupos de interesse envolvidos,
em detrimento da utilização de fundamentação
técnica e científica para subsidiar acusações e
defesas destes grupos”. Segundo Márcio Bezerra,
essa posição acarreta diretamente no comprometimento da gestão executiva pelo poder público
dos recursos naturais onde a carcinicultura está
inserida, além de confundir a opinião pública.
O pesquisador afirma que estudos técnico-científicos recentes têm mostrado, claramente, que
novas informações de uso e ocupação de áreas
pela atividade e a qualidade das águas dos viveiros de produção, trazem conclusões e evidências
que comprovam que os impactos de natureza ambiental da carcinicultura no Ceará não indicam
comprometimento das funções ambientais dos
seus ecossistemas dos quais a própria atividade
depende para seu sucesso.
Ainda sobre o tema, o estudo indica que tais evidências científicas contrapõem o estigma ou o
mito criado de “grande vilão” da zona costeira do
Ceará e do Brasil que foi ideologicamente transferido para a atividade sem a devida fundamentação.
Numa discussão de cunho técnico e científico, é
importante distinguir entre posicionamentos técnicos e opiniões leigas, observar com atenção as referências e os critérios utilizados para a avaliação
correta dos reais impactos da atividade.
Márcio Bezerra conclui que o mais importante “é
buscar nesse processo de consolidação da aquicultura, em especial, da carcinicultura, uma cultura periódica que identifique problemas relativos à
atividade”. Essas questões, segundo o professor,
podem ser minimizadas, através da busca de soluções sustentáveis com informações técnico-cientí-
ficas que existem sobre o assunto. Essas medidas
possibilitam aproveitar melhor o potencial ambiental e desfrutar com prudência e desenvolvimento
essa reconhecida atividade produtiva em nossa
zona costeira brasileira.
O Presidente da Associação Cearense de Criadores de Camarão (ACCC), Cristiano Maia, destaca o
quanto o setor tem gerado em crescimento econômico importante nas regiões em que se cultivam
o camarão. Ele informa que a Associação se preocupa em acompanhar as fazendas produtoras do
crustáceo e o que ele percebe é que os produtores
têm melhorado a eficiência da produção.
A carcinicultura é uma atividade que tem se expandido no interior do Estado. O potencial empregatício, segundo o presidente da ACCC, é promissor.
São 180 produtores cadastrados no Ceará, gerando cerca de 11 mil empregos diretos.
Da empregabilidade se beneficiam homens e
mulheres que moram nas comunidades no entorno das fazendas de cultivo de camarão em
cativeiro. O maior município produtor é Aracati,
seguido de Acaraú. Em todo o Estado são cinco principais polos produtivos: Coreaú, Acaraú,
Curu, Baixo e Médio Jaguaribe.
Animal Business-Brasil_15