Vibrações de Miami Beach

Transcrição

Vibrações de Miami Beach
Volume XII
Issue 2
May 2003
Newsletter of the
Portuguese Language Division of the
American Translators Association -ATA
Vibrações de Miami Beach
Lúcia Leão e Clarisse Mello
An overview of the 9th Spring Meeting of the PLD in Miami Beach this year, including topics, speakers and
“happenings”. The abstracts and names of presenters are listed following this article, for the benefit of
those who could not attend or didn’t read the final program.
Hora da piada, exercícios de
relaxamento contra o estresse
cotidiano, exercícios de respiração,
terapia do abraço, a importância de
viver o momento...
Você deve estar se
perguntando se vamos falar de um
congresso da PLD em Miami
Beach ou de um curso de autoajuda e meditação. Talvez um
pouco de cada um.
O 9º encontro anual da
Portuguese Language Division da
ATA, realizado no Roney Palace
Resort, nos dias 25 e 26 de abril,
teve novidades e propostas de
novidade.
Reginaldo
Alcântara
propôs a criação da “hora da piada”
para que em todas as reuniões da
PLD haja um momento designado para os participantes que
desejarem contar piadas – sempre com temática
“lingüística” apropriada, ou seja, piadas ligadas ao nosso
ofício.
Durante a apresentação de Sandra Schamas, no
sábado de manhã, todos os 37 participantes levantaram-se
literalmente da cadeira sob o comando impecável da
palestrante para aprender a fazer circular a energia interna e
responder com tranqüilidade às influências do mundo
exterior. Em uma apresentação cativante e revelando um
talento excepcional para o palco, Sandra abordou o tema
sempre tão presente do estresse na vida de todos nós,
sejamos tradutores e/ou intérpretes. Deu dicas espertas e
pertinentes, que todos anotamos mentalmente para colocar
em prática no momento certo, sem
pressa, sem perfeccionismo... sem
estresse!!!
As apresentações de
John Jensen, John Rock e Ines
Bojlesen, na sexta-feira, abordaram
temas bem variados. John falou sobre
interpretação para serviços sociais,
parte de um programa que desenvolveu
para a Secretaria de Serviços de Saúde
da Flórida. John Rock mostrou alguns
detalhes no uso do inglês que fazem
uma grande diferença no resultado final
de uma tradução. Ines descreveu os
desafios da interpretação por telefone,
em que o intérprete participa de
situações de frustração, tristeza, dor e
alegria vividas com a distância e a
proximidade de uma ligação telefônica
e características também da profissão.
Bons equipamentos e preparação são
fundamentais para esse tipo de atividade.
A brisa do mar que temperou o jantar no Lario’s na
sexta à noite foi uma mostra da atmosfera de South Beach
para os participantes que vieram de outros estados ou
cidades. No sábado, a chuva forte mudou a paisagem de
mais um dia de excelentes palestras. Gladys Wiezel falou
sobre sua experiência com tradução de software na J.D.
Edwards. Arlene Kelly, depois de relembrar sua temporada
no rio Xingu, levou-nos às paisagens de Massachussets.
Vimos o dia-a-dia de Arlene e os bastidores da
interpretação em tribunais.
Continua na página 2
Nesta edição
Vibrações de Miami Beach.. 1,2-11,12
Administrator's Corner ...................... 3
Maria Chaves de Mello..................... 4
Brazilian Polyglot ............. 4,6-14,16
Canto Legal ............................... 7-8
The Samba & The Fado 9,10-16,17
O que eu aprendi ........................ 11
Engineering Dictionary Review... 12
Humor - Urucubaca's Law .......... 13
Events .................18
PLData
Volume XII
Issue 2
May, 2003
Editor
Tereza Braga
Assistant Editor
Ines N. Bojlesen
Design
Ines N. Bojlesen
Final proof
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PLData is a quarterly publication
Portuguese Language Division - PLD
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those of their authors. Articles submitted become
the property of PLData and are subject to editing.
Submissions for publications are invited and may
be mailed, faxed or e-mailed to the editor.
Continuação da capa
Depois de um delicioso almoço mexicano no hotel, Mark Gimson
divertiu a platéia com exercícios sobre as diferenças entre os vários tipos de
inglês e mostrou que há muito mais significados diferentes entre diversas
culturas do planeta do que imagina nosso suposto profundo conhecimento.
O encerramento, com a apresentação de Paulo Lopes, foi a escolha
certa para fechar a reunião organizada com os talentos combinados de Kátia
Iole, Tereza Braga, Arlene Kelly e Ines Bojlesen. Paulo provocou boas
gargalhadas na platéia sem que ninguém tirasse os olhos do motor de um
carro. Nunca mais esqueceremos o “virabrequim”, “girabrequim”ou “árvore
de manivela” (em carioquês). E uma coisa é certa: até os mais resistentes a
uma tradução técnica passaram a adorar parafusos, cilindros e mancais.
O encontro em Miami teve a dose certa de graça, conteúdo bem
elaborado e informações novas e úteis, características de todos os encontros
anuais da nossa Divisão. Os participantes se divertiram, se reencontraram, e
muitos fizeram novos amigos. Todos receberam dos colegas contribuições
importantes sobre sua experiência profissional e pessoal de forma divertida
e competente.
A terapia do abraço, idéia original de Adriana Giovanini, surtiu um
efeito especial nos participantes desse já tradicional evento da primavera, ao
final da palestra de Sandra Schamas. A proposta de abraçar demoradamente
os colegas que estivessem mais perto aproximou ainda mais o grupo.
Deixamos aqui um abraço virtual para os que estiveram lá e para os que não
puderam comparecer.
Merecem um abraço especial, é claro, as organizadoras do evento.
Até a próxima!
Lúcia Leão has a B.A. in English and literature from UERJ, a Master’s in
comparative literature from UERJ and a Master’s in print journalism from
the University of Miami. Her first collection of short stories – Ensaios a
dois - was published in Brazil in 2002. Contact: [email protected]
Clarisse Mello has been translating and interpreting since 1983 and
teaches Portuguese and Translation at FIU (Florida). She has B.A. and M.A
degrees in Portuguese and English and studied translation and
interpretation both at UERJ and PUC, in Brazil, and at FIU. She was a
teacher and coordinator of translation/interpretation courses at UERJ and
Universidade Estácio de Sá, in Rio. Contact: [email protected]
Abstracts - see page 11
A Terapia do Abraço!
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organization and a division of the
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PLData
Errata: PLData de fevereiro de 2003
O Mundo Lusófono em Números (pág. 10) Os dados sobre o número de
habitantes de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste referem-se a
milhares, e não a milhões.•
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May 2003
The Administrator's
FROM THE ADMINISTRATOR
Corner
South Beach and the Hudson River: two conferences back to back
down the Hudson on Sunday morning (identified
Our 9th Annual
correctly by Donna Sandin, a cruise expert).
Spring Meeting in
Miami Beach was a
In the Portuguese segment, the celebrity speaker was
success and a
Maria Chaves de Mello, a lawyer practicing in Rio de
pleasure to
Janeiro and author of the well-known and bilingual
organize. We had
Law Dictionary. Tamara Barile, PLD member and
37 participants and
tradutora juramentada from São Paulo, was another
8 speakers. Please
outstanding presenter. The surprise speaker was a very
see a list of
young lawyer from São Paulo called Vera Scarpinella,
presenters and
also a law professor at PUC, who conducted a lively
abstracts at the bottom of the conference review by
Lúcia Leão and Clarisse Mello in this edition of the
and extremely useful session called “Comprehensive
PLData. We took many photographs, which can be
Overview of Administrative Law in Brazil and a
seen in our website. Participant evaluation was highly
Comparison of the U.S. Administrative Law System”.
positive and there was a wide variety of topics for
The suggestion to invite Vera (and Cassio, her
linguists working on both specialties - from and into
husband and partner at the law practice) had come
Portuguese. The famous Lario’s, on
from another speaker at the conference,
South Beach, was the venue for our
who works with Spanish and knew her
Check out our site!
informal dinner on Friday night. It was a
from Columbia University.
little bit too noisy for some of us, but the
See the photos of our 9th
Cuban cuisine and music were
In the words of Maria Chaves de Mello,
annual meeting in Miami
outstanding.
“Vera e Cassio conseguiram transformar
Beach!
algo tão solene e grave numa coisa tão
On the weekend immediately following
leve e agradável de ver, ouvir e
Many thanks to our
the PLD meeting, we had the first ATA
aprender.”
volunteer photographers
Legal Translation Conference in New
Márcia Frias, Gabe Bokor
Jersey, with rave reviews. This
From Miami Beach to the Hudson
and Arlene Kelly and
conference gathered a top-notch group
River, we learned much and networked
special thanks to our
of speakers for three full days of
much. I found it hard to come back
volunteer webmaster
sessions and workshops. Many
home and face the market reality most
Nelson Laterman.
languages were represented, with a very
of us are facing now. It has been
The website of the
strong Portuguese component.
specially hard to keep swimming and
Portuguese Language
Organized by Marian Greenfield, ATA
stay afloat. Let’s continue to share our
Division
is:
Director & Professional Development
experiences.
Committee Chair, with help from ATA
www.ata-divisions.org/PLD
staff, this conference had been a dream
A nominating committee has been
of ATA President Tom West since he
assigned to prepare for our board
took office. It brought together leading
elections in November. I encourage all
experts and provided a high-level forum for legal
of you to consider serving on the PLD board. It’s
translators to exchange ideas and market their
rewarding and fun.
services.
We are preparing a surprise celebrity interview for the
The conference venue was the amazing Hyatt Regency
next PLData, in August. Stay tuned!
in Jersey City, located literally on the Hudson River,
with beautiful views of the NYC skyline. From the
Tereza d’Ávila Braga
restaurant, we saw the Queen Elizabeth II floating
PLD Administrator•
PLData
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May 2003
Maria Chaves de Mello
na ATA Legal Translation Conference
em New Jersey
Tamara Barile, Maria
Chaves de Mello e
Donna Sandim
A recém-ocorrida ATA Legal Translation
Conference, em Jersey City, NJ, contou com a
presença de Maria Chaves de Mello, do Rio de
Janeiro, advogada e autora do amplamente
utilizado Dicionário Jurídico Port-Ing e Ing-Port,
agora em sua 7ª edição no Brasil e 8ª em
Portugal.
A palestra da Dra. Maria foi “Do Direito Romano
versus o Direito Anglo-Saxão: Rumo à tradução
do jargão jurídico”, dividida em duas sessões,
uma pela manhã e outra à tarde.
Tereza Braga, Maria
Chaves e Liane Lazoski
Huet de Bacellar
Outros palestrantes da seção de português do congresso foram Tamara Barile, tradutora juramentada de
São Paulo, e Vera Scarpinella, advogada e professora da PUC, também de São Paulo.•
Brazilian polyglot translates poems from 60 languages
(Poliglota brasileiro traduz poemas de 60 idiomas)
Entrevista com Carlos do Amaral Freire
Janer Cristaldo
Editor’s Note: This is an Interview with Carlos do Amaral Freire, one of the two thousand erudites of the
21st century, according to Cambridge University (quoted from the interviewer). Now in his seventies, Mr.
Freire lives in Florianópolis, Brazil. He has translated poetry from 60 languages (from Sanskrit to Chinese)
into Portuguese.
Janer Cristaldo is an author, literary translator, lawyer, philosopher and journalist based in São Paulo.
Contact: [email protected]
Considerado pela Universidade de Cambridge
como um dos dois mil eruditos do século XXI,
Carlos do Amaral Freire já estudou
sistematicamente mais de cem línguas, das
quais domina sessenta. Há mais de quarenta
anos vem desenvolvendo o projeto de estudar
sistemática e cientificamente duas novas línguas
por ano. Traduziu para o português poesias de
60 idiomas, desde o sanscrito até o chinês,
reunidos na antologia multilíngüe Babel de
Poemas, cuja edição está sendo negociada com
a editora gaúcha L&PM. Uma monografia sua,
PLData
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Los fonemas oclusivos y africados del aymara y
del georgiano, foi publicada em espanhol pela
Universidade de Sucre e traduzida ao russo e ao
serbo-croata. Nasceu em Dom Pedrito, RS, há
setenta anos e estudou nos Estados Unidos,
Espanha, Itália, China, na ex-Iugoslávia, na exTchecolosváquia e na ex-URSS. Chama-se Carlos
do Amaral Freire e vive atualmente em
Florianópolis.
Continua na próxima página
May 2003
JC - Onde e como surgiu o teu interesse por línguas?
Sim, tenho dificuldade de encontrar um editor. Algumas
editoras (universitárias, principalmente) disseram-me
que havia problemas técnicos – doze alfabetos
diferentes, necessidade de criar vários sinais diacríticos
e símbolos diferentes – creio porém que a razão
principal foi a constatação de que semelhante edição
poderia ser onerosa e com pouco retorno financeiro.
O meu interesse pelo estudo das línguas estrangeiras
surgiu cedo, quando era ainda estudante ginasiano, ao
dar-me conta de que ler os clássicos estrangeiros em
traduções representava uma enorme desvantagem, isto
é, que somente lendo no original eu poderia usufruir
do prazer estético que só o original oferece
plenamente. Depois, o fascínio pelo estudo, pela
JC - Onde aprendeste línguas não-latinas, como chinês,
descoberta, através das línguas, de
russo e árabe?
outros tantos mundos, culturas e
As línguas latinas e as germânicas
maneiras diferentes de pensar
Em resumo, poderia
estudei-as em Porto Alegre, na PUC.
tomaram conta de mim,
As eslavas estudei nos Estados Unidos,
principalmente com as muitas viagens
dizer que estudei
Itália, Iugoslávia, Tchecolosváquia e na
que realizei mais tarde. O
umas 30 línguas em
ex-URSS. O russo eu já tinha iniciado
conhecimento de muitas línguas
cursos regulares,
aqui no Brasil, com emigrantes, durante
estrangeiras deu-me a oportunidade de
oficiais ou
a época que estava na universidade.
fazer amizades com muitas pessoas
universitários. As
Com o russo criei um método que
em vários lugares do mundo. O
considero muitíssimo eficiente. Fui
domínio de línguas estrangeiras nos
demais, estudei-as
morar com uma família russa para ter a
fornece, talvez, a ferramenta mais
autodidaticamente.
possibilidade de aprendê-lo na prática,
eficiente para o conhecimento e a
na necessidade de cada dia. A parte
aceitação do diferente.
teórica eu estudava sozinho.
JC - Te dedicaste nos últimos anos a um
O chinês, que tinha começado aqui no Brasil, com
empreendimento insólito em língua portuguesa e
nativos dessa língua (o mandarim) tive, mais tarde, a
mesmo nas demais línguas, a tradução de 60 poemas
oportunidade de seguir um curso regular na
de sessenta idiomas diferentes. Tens dificuldades para
Universidade de Madri e, depois, na Universidade do
a publicação desse trabalho?
Texas. Bem mais tarde, por volta de 1985, fiz um curso
intensivo na Universidade de Pequim. Estudei o árabe,
Há mais de 20 anos venho fazendo traduções, tanto
principalmente, com os muitos amigos palestinos que
prosa como poesia, de muitíssimas línguas
tinha aqui no Brasil. Depois tive a oportunidade de
estrangeiras ao português. Primeiramente, comecei a
seguir um curso teórico-prático dessa língua, também na
fazer traduções de contos, principalmente, e de
Universidade de Madri.
poemas como hobby. Ou melhor, como um desafio
lingüístico para testar minha própria habilidade e
Em resumo, poderia dizer que estudei umas 30 línguas
conhecimento das línguas que vinha estudando
em cursos regulares, oficiais ou universitários. As
sistematicamente há mais de 40 anos. Me explico...
demais, estudei-as autodidaticamente. Alguém já disse
quando estudo uma determinada língua, me proponho
que as dez primeiras são as mais difíceis. Depois, de
como objetivo final chegar ao ponto de poder traduzir
acordo com o objetivo em vista ou a necessidade
algo dessa língua ao português. E, se possível,
momentânea, a gente inventa o seu próprio método.
conseguir comunicar-me nela oralmente. Comecei
com as traduções de pequenos poemas das línguas
latinas, germânicas e eslavas. Depois... as demais.
JC - Julgas ser o chinês uma língua simples. Fala.
Mais tarde, aconselhado por amigos, resolvi reunir
Sim, o chinês é muito simples, no sentido lingüístico do
todas as traduções a fim de fazer uma antologia
termo. Isto é, uma língua simples em contraste com as
multilingüe, na qual constasse o original vis-à-vis com
indo-européias, por exemplo, que são línguas
a respectiva tradução ao português. E, como apêndice,
complexas. Creio que esta é, justamente, a razão
pequenas notas biográficas e lingüísticas onde dou
principal porque a sua aprendizagem se torna tão difícil
algumas informações sobre algumas línguas exóticas
para nós, ocidentais. Estamos acostumados às estruturas
ou pouco conhecidas do leitor brasileiro, como
lingüísticas complexas, como a do português. O chinês é
georgiano, maltês, romani, papiamento, romanche,
extremamente conciso, não tem gêneros nem números
indonésio, sauíli, albanês. Etc.
Continua na próxima página
PLData
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Continuação das páginas 5 e 6
Brazilian polyglot
gramaticais e o verbo não se conjuga. Simples não é
sinônimo de fácil e, no caso do chinês, é antônimo. As
estruturas simples tornam-se difíceis, confusas, pois
não sabemos como compará-las com as nossas.
JC - Na Bolívia, encontraste um futuro "nãoaristotélico" no aimara. Conta melhor essa
descoberta.
Durante minha longa estada (dez anos) na Bolívia,
onde dirigi o Centro de Estudos Brasileiros em La
Paz, nomeado pelo Itamaraty, tratei logo de estudar as
línguas altiplânicas, com falantes nativos. Essa
experiência me foi muito valiosa, pois pouco mais
tarde fui convidado a lecionar Lingüística Contrastiva
na Universidade Mayor de San Andrés, em La Paz.
Foi comparando as estruturas lingüísticas dessas
línguas com várias outras, indo-européias ou não, que
cheguei a algumas conclusões interessantes sobre as
notáveis semelhanças fonéticas delas com as línguas
caucásicas e das características estruturais com as
línguas altaicas.
Quanto ao aimara, como demonstrou cabalmente o
matemático e aimarista boliviano Guzmán de Rojas,
“existe uma lógica lingüística diferente, nãoaristotélica, claramente incorporada na sintaxe dessa
língua”.
A comunicação deficiente, ou melhor, o
desentendimento multissecular entre os indígenas e os
conquistadores e seus descendentes explica-se, em
grande parte, devido a sua diferente cosmovisão que,
no caso dos aimaras, reflete-se nitidamente em sua
sintaxe através de morfemas especiais bem definidos.
Nós que falamos línguas indo-européias estamos
imbuídos da concepção aristotélica, dicotômica, de
verdadeiro X falso, certo X errado, sim X não, e temos
certa dificuldade em aceitar ou compreender a
concepção trivalente: certo-errado-verossímil, do
aimara, onde a ambigüidade ou o terceiro não incluído
tem valor de verdade.
A fim de tornar mais claro o tipo de lógica trivalente
do aimara usarei dois exemplos da notável monografia
de Guzmán de Rojas, Problemática Lógico-lingüística
de la Comunicación Social en el Pueblo Aimara.
Quando um falante nativo aimara, expressando-se em
espanhol, diz: “- Mañana he de venir nomás”, as
palavras usadas não coincidem com o significado que
as mesmas têm em espanhol, ou teriam em português.
A expressão “nomás”, muito típica do espanhol
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popular da Bolívia e do Peru, em situações
semelhantes, revela, na verdade, o pensamento aimara
maltraduzido ao espanhol. Em sua língua materna usaria
a frase: “- Qharürux jutätki”, onde o morfema “ki”
traduz ou expressa a dúvida simétrica, o terceiro valor
da verdade, o que simplesmente não existe em nossas
línguas. Usa, pois, a expressão 'nomás” para traduzir o
sufixo “ki”, indicativo apenas de verosimilhança.
Na realidade, ele quer dizer o seguinte: “amanhã pode
ser que eu venha ou pode ser que eu não venha. Não
estou me compromentendo”. Quando diz, porém “Mañana he de venir pues”, usa o “pues” para traduzir o
sufixo “pi” do aimara, que indica certeza. Assim, “Qharüru jutätpi” é a forma aimara que corresponderia ao
nosso “- Amanhã eu virei certamente, me comprometi”.
Vemos, portanto, que o aimara tem um futuro positivo,
um futuro negativo e um futuro de dúvida simétrica.
Assim que, se os nossos políticos falassem em aiamara,
teriam de escolher bem o tipo de futuro a que se
referem.
JC - Andei pesquisando sobre o Guzmán de Rojas. Não
sei se sabes, mas ele criou o Qopuchawi, um ICQ que
traduz instantaneamente mensagens a seis idiomas.
Durante minha longa estada em La Paz, tive o privilégio
de fazer amizade com Guzmán de Rojas e de
acompanhar, de perto, o seu projeto. E sabes qual é a
língua que usa como base para a tradução das restantes
cinco? É o aimara, uma língua aglutinante de
extraordinária regularidade sufixal.
JC - Tens um estudo sobre as afinidades fonológicas
entre o aimara e as línguas caucásicas, publicado pela
Universidade de Sucre e traduzido ao russo.
A minha monografia se chama Los fonemas oclusivos y
africados del aymara y del georgiano, publicado pela
Universidade de Sucre. Pouco depois foi traduzido ao
russo, pois a comparação com o georgiano sempre
interessou os lingüistas soviéticos. Mais tarde, entre
1968-88, período em que exerci a função de Leitor de
Língua Portuguesa na Universidade de Belgrado, esse
trabalho foi traduzido ao servo-croata, pois despertara
muito interesse não apenas aos lingüistas mas também a
alguns antropólogos e outros profissionais que
assistiram às minhas conferências. Estou convencido de
que tanto o quíchua como o aimara são línguas
tipologicamente altaicas. Contudo, fonologicamente se
assemelham às línguas caucásicas e, particularmente, ao
georgiano, a língua materna de Stalin.
Continua na página 14
May 2003
Canto Legal
(The Legal Corner)
by Enéas Theodoro
Prejuízo sem Preconceito
estaria prejudicado pela intenção (animus)
da parte ou pela intempestividade
(“untimeliness”) da medida. Um despacho
sobre questão incidente do processo—não a
questão principal—pode ser prejudicial a
esta por formar (e firmar) um julgamento
antecipado da lide, determinando a
existência ou inexistência de um direito.
“A
questão
da
‘interpretive
resemblance’ argumenta que as
discrepâncias na tradução são
geralmente devidas aos efeitos entre
o que é codificado e o que é
comunicado.” (Teoria da Relevância
em Lingüística Cognitiva)
Traduzindo: “quem não
trumbica” (Chacrinha)
se
comunica
se
Se esse problema já é altamente prejudicial na
tradução em geral, quanto mais quando conceitos e
expressões jurídicas estão em jogo. Trocando em
miúdos, na Tradução no Direito, o contexto é tudo.
Vale a reiteração pois, afinal de contas, o que abunda
não prejudica.
O conceito de prejuízo (com os correlatos prejudicar,
prejudicial) requer uma análise bem estruturada.
Portanto, como dizia Jack, o Estripador, vamos por
partes.
Prejuízo – “do latim praejudicium, originariamente
significa o julgamento prévio ou o prejulgamento.
(...)” De Plácido e Silva
Prejudice – “a forejudgment; bias; partiality;
preconceived opinion. (...)” Black’s
Conclusões preliminares: (a) ambos os conceitos
existem em inglês e português, talvez com maior
conotação de viés ou parcialidade em inglês; e (b)
existem os óbvios falsos cognatos com o sentido de
“loss” ou damnum e com a idéia de, por exemplo, uma
situação ser prejudicada (“impaired”, “hampered”
etc.).
Quando se diz que algum ato prejudicaria o direito da
parte, isso significa que haveria um “pré-juízo”
(praejudicium) de tal direito, o qual se veria reduzido
(“impaired”) ou se tornaria inoperante (“void”) mas
que seria, de toda forma, prejudicado. É o caso de a
parte não alegar ou requerer algo no devido momento,
durante o andamento do processo, e intentar fazê-lo
mais tarde. Conforme a circunstância, esse direito
PLData
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Deixando a erudição de lado por uns instantes, voltemos
à vaca fria do enunciado preambular acima
(“interpretive resemblance”), concentrando-nos na
prática e nas—como sempre indefectíveis—diferenças
entre o conceito de “prejuízo” e “prejudice” nos
ordenamentos jurídicos (“legal systems”) do Brasil e do
EUA.
No Brasil: a idéia de “prejuízo” está muito mais
arraigada (Direito Civil, codificado) e é bem mais
corriqueira. Haja vista as disposições contratuais do
gênero “sem prejuízo do disposto nesta cláusula, as
obrigações da outra parte...” ou “o direito do credor não
será prejudicado pela falta de interpelação”. Muito
embora não seja incorreto, estritamente falando, dizer
“without prejudice to the provisions of this section, the
other party’s obligations...” e “creditor’s right shall not
be prejudiced by failure to serve notice”, os puristas –
mormente tradutores com formação de Direito nos EUA
ou native speakers – talvez clamem por algo como “the
provisions of this section notwithstanding...” e
“creditor’s right shall not be impaired...”
Nos EUA: a idéia de “prejudice” aparece menos nesses
conceitos de Direito Civil e bem mais no Direito
Processual (Judge-made Law)—no “practice and
procedure” dos advogados e juízes americanos. É o caso
de “dismissal without prejudice”, quando o magistrado
deixa claro que os direitos da parte não ficam
prejudicados pela extinção do processo (“dismissal of
the case”), ou de “prejudicial error”, quando os direitos
e obrigações da parte são prejudicados (“prejudiced”
mais do que “impaired”).
Isso não quer dizer que a teoria na prática seja a outra
mas sim que, ao lidar com palavras representativas de
conceitos fundamentais do Direito, convém ficar com
Continua na próxima página
May 2003
um olho no Black’s e o outro no De Plácido (e nunca
fechar o terceiro).
Consultas sobre dúvidas
•
(Versão para o inglês) Em carteira de identidade
profissional: “[aqueles que fizerem anotações
desautorizadas] estarão sujeitos a sanções
disciplinares, legais e regimentais”.
A dúvida do colega paira sobre “regimentais”
(seria regimento interno?). Com efeito, a
referência é a “disciplinary, legal [or statutory]
and regulatory sanctions”. É bom sempre lembrar
que o Poder Legislativo tem as suas normas
jurídicas (statutory provisions) e o Poder
Executivo as suas normas, regimentos,
regulamentos, regulamentações etc. (regulatory
provisions); daí a diferença entre a “norma
jurídica” e a “norma regimental”. Além do que, a
redação brasileira usa e abusa de toda a sinonímia
permissível na nossa querida “Latium’s late
blossom”.
•
REAL-LIFE COURT TRANSCRIPT
Prosecutor: “Did you observe anything?”
Witness: “Yes, we did. When we found the vehicle, we
saw several unusual items in the car in the right front
floorboard of the vehicle. There was what appeared to
be a Molotov cocktail, a green bottle—”
Defense lawyer: “Objection. I’m going to object to that
word, Molotov cocktail.”
Judge: “What is your legal objection, Counsel?”
Defense lawyer: “It’s inflammatory, Your Honor.”
***
Enéas Theodoro Jr. is based in Tucson, Arizona, and has 20
years of experience in legal translation. From 1980 to 1990
he was a partner with several attorneys in São Paulo’s first
specialized legal translation agency. Any questions or
suggestions? Just write to: [email protected]•
(Tradução para o português) Em cláusula
contratual dispondo sobre a legislação aplicável
(“governing law”), ou seja, em sede de Direito
Internacional Privado (conflito de leis ou “conflict
of laws”), menção é feita a “[irrespective of any]
mandatory provision under local law (...)”
O colega—poliglota—indaga se a expressão não
seria traduzível como “disposição de direito
imperativo”, já que em francês usar-se-ia “droit
impératif”. Após consulta junto a colega formada
e militante em direito (a practicing lawyer), a
solução foi em favor de “disposição [ou
dispositivo] legal obrigatória”, uma vez que a
expressão “direito imperativo” seria alienígena ao
Direito brasileiro, pelo menos nesse contexto.
QUOTABLE QUIPS
“Doctors and lawyers must go to school for years and
years, often with little sleep and with great sacrifice to
their first wives.” (ROY G. BLOUNT, Jr.)
“I know of no method to secure the repeal of bad or
obnoxious laws so effective as their stringent
execution.” (ULYSSES S. GRANT)
Curiosidades… português de Portugal
Em directo de Bagdade
(contribution by e-mail from Tom West – ATA
President)
Quando o telejornal da Rede de Televisão Portuguesa
acionava seu correspondente de guerra no Iraque, o
âncora do noticiário anunciava: “e agora, em directo de
Bagdade...”
Na denominação portuguesa, Stuttgart, Alemanha, vira
Estugárdia. Quebec, Canadá, é Quebeque. Bancoc,
Tailândia, vira Bancoque. Ottawa, Canadá, é Otava.
Oxford, Inglaterra, é Oxónia. A capital da Dinamarca,
Copenhaga.
Geórgia, estado americano, em Portugal é designado
Jórgia.•
PLData
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May 2003
The Samba and the Fado
John Fitzpatrick
(Reprinted with permission from the Brazzil (www.brazzil.com) magazine, Feb. 2003)
The attachment to the Portuguese language among Brazilians is more related to the fact that it makes them
stand out from their Spanish-speaking neighbors. Despite the obvious connections, one can say that the
average Brazilian cares little for Portugal.
A recent Brazzil article featured an extremely
interesting article by Ray Vogensen on the differences
between the Portuguese spoken in Brazil and in
Portugal itself. I would like to complement this by
adding a few brief personal comments on the rather
ambiguous relationship between Brazil and its socalled mother country.
On September 7, 1822, Dom Pedro I made his famous
declaration of independence: "Independência ou
morte" (Independence or death) during a visit to São
Paulo. On December 1, he was officially crowned
Emperor of Brazil and three years later, after much
bloodshed, Portugal was forced to recognize Brazil's
independence. Not only did the Portuguese lose the
jewel in the crown of their empire but they also lost
most of their economic influence in Brazil, to the
British.
Since then, the Portuguese influence has remained,
principally in terms of language, religion and
architecture. In some places you still find beautiful
colonial-style buildings and churches and since names
like da Silva, dos Santos, Nascimento, Mello etc. are
common, this influence will remain for as long as
Brazil remains.
A special relationship undeniably still exists, formally
and informally. For example, Portuguese citizens
enjoy privileges under the Constitution denied to
other foreigners. Relations at government level are
good and there is a constant coming and going of
political leaders. If you have ever had the misfortune
to attend a ceremony between representatives of either
country at which speeches were made, then you will
have been exposed to the gushy, sentimental myth of
eternal Luso-Brazilian togetherness.
There is a large Portuguese community here and a
large Brazilian community in Portugal. Portuguese
have been coming here for 500 years so there are still
many family links although not nearly as close as at
periods of mass immigration. Many Brazilians
making their first visit to Europe stop off in Lisbon
where they have, at least, the reassurance of a (more
or less) common language.
PLData
Page 9
The language forms a strong bond with other
Portuguese-speaking countries. A few months ago, I
attended a concert in São Paulo at which the guest of
honor was the recently-elected president of East Timor.
The warmth of the reception he was given by the
audience, most of which had probably never heard of
East Timor until recently, was quite astonishing. One of
the reasons for this admiration may have been the
decision by the East Timor government to make
Portuguese the official language. This was an odd
decision, since most Timorese do not speak it and the
country's nearest democratic neighbor is Englishspeaking Australia, which will probably be its big
brother for a long, long time.
However, I believe this attachment to the Portuguese
language among Brazilians is more related to the fact
that it makes them stand out from their Spanishspeaking neighbors rather than any innate love for
Portugal. In fact, had history developed differently,
Portuguese may not have been the language spoken by
Brazilians at all.
In the early 19th century, Portuguese was only spoken in
the Northeast, with a variant of the Tupi Indian language
spoken elsewhere. The gold rush, which brought in more
Europeans and African slaves and led to the opening of
the interior changed this1. While the Portuguese
language eventually linked all of Brazil, unfortunately it
led to the suppression of native languages, like Guarani,
which thrive in places like Paraguay.
Overall, Portugal's links with Brazil are much weaker
than those which Britain still has with, say, Canada,
Australia, New Zealand, South Africa and other former
colonies, including the U.S.. In political terms, for
example, there is no Portuguese equivalent of the
Commonwealth, which still links virtually every former
British territory. Nowadays the Commonwealth even
includes Mozambique, an ex-Portuguese colony.
Just Talk
One often reads reports that a Portuguese-speaking
political group will be formed but nothing ever comes of
it. Even if such a body were formed it would have little
Continua na próxima página
May 2003
Continuação da página 9
Spain, exploited rather than developed its overseas
political or economic weight. Apart from Brazil and
territories. Of course, all imperialist powers have
Portugal, the others are among the world's poorest
exploited the lands and peoples they conquered but the
states with only begging bowls to offer. In the 20th
Iberians seem to have been particularly ruthless and, as a
century, all the British territories voluntarily sent
result, left little good will in their
troops to fight alongside British forces
former colonies. The Portuguese
Most places in Brazil seem
in two world wars. It would be to be indigenous Indian names seem to have been particularly
difficult to imagine Brazil sending (Ipiranga, where Dom Pedro inept. The east Timorese are just
forces to assist Portuguese forces in declared independence or death), the latest example of a people being
have religious origins (São Paulo)
any armed conflict.
abandoned by their so-called
Portugal fought the wars in its African or were named after geographical protectors even though technically
colonies alone, even though the features by practically-minded they were Portuguese citizens
military was in charge of Brazil at that sailors or travelers (Rio de Janeiro, living in what were supposed to be
time. Brazil has actually helped clear Porto Seguro etc.) or heroes parts of Portugal overseas.
(Benjamin Constant).
up the mess left by Portugal's
The same happened to the
incompetent imperialism in Africa and
inhabitants
of
Goa
when India annexed it in the 60s
Asia. Brazilian troops are currently in East Timor and
although
fortunately
the Indians treated the locals more
have also acted as peace monitors in places like
humanely
than
the
Indonesians
did the Timorese. With
Angola and Mozambique, which collapsed into
the return of Macao to China in 1999, fortunately the
anarchy and barbarism after the Portuguese simply
age of Portuguese colonialism has ended and no other
walked out in the mid-70s.
people, except the Portuguese themselves, will suffer
So despite the obvious connections, I think one can
their incompetent rule.
fairly say that the average Brazilian cares little for
Portugal. Let us start with one or two small examples.
Ingratitude and Arrogance
In his book The Brazilians, Joseph Page makes an
interesting point when he says: "Brazilian
Portugal has also proved to be a poor role model,
municipalities named after Portuguese cities and
especially for Brazil. While Brazil was large, Portugal
towns are exceedingly rare." Most places in Brazil
was small. While Brazil was rich, Portugal was poor.
seem to be indigenous Indian names (Ipiranga, where
While Brazilians were developing the samba the
Dom Pedro declared independence or death), have
Portuguese were listening to the gloomy fado. Portugal
religious origins (São Paulo) or were named after
benefited not only in material terms from Brazil but also
geographical features by practically-minded sailors or
politically. In fact, it was the colony which came to the
travelers (Rio de Janeiro, Porto Seguro etc.) or heroes
rescue of the mother country when the Portuguese court
(Benjamin Constant).
fled to Brazil to escape Napoleon's troops.
There is, indeed, a remarkable shortage of New
The fact that most of the court eventually went back to
Lisbons and New Portos. I noticed recently that a
Lisbon is seen by the Brazilians as a sign of ingratitude
square in São Paulo called Praça Portugal had been
and arrogance. By refusing orders to return to Portugal,
recently defaced and someone had scrawled "This is
Dom Pedro I won the hearts of the Brazilians. His
Brazil" on the signpost. Another example of this
declaration of independence was, in fact, done in the
resentment is that even today many Brazilians still
spontaneous, cavalier manner of the true Brazilian as
express annoyance that the Portuguese sent criminals
opposed to the mote cautious Portuguese.
to Brazil as though the country was a dustbin for
Portuguese rubbish.
As E. Bradford Burns puts it: "Pedro unsheathed his
sword right there on the bank of the Ipiranga River and
Brazilians also believe that the Portuguese looted
gave the cry "Independence or Death". One man, then,
Brazil of its gold, which was sent to Lisbon but ended
without the backing of a congress or junta declared the
up in London since Portugal was indebted to the
independence of Latin America's largest nation. He left
English. Less seriously, the Portuguese are the butts
no formal, written document of his accomplishment. His
of a million jokes and, in an untypically cruel jest for
declaration was solely verbal. In that solitary act, the
the easy-going Brazilian, a Portuguese woman is
personable prince accurately reflected public
always said to have a moustache.
sentiment."2
I think the reason for this lack of respect and, at times,
hostility to Portugal lies in the fact that Portugal, like
Continua na página 16
PLData
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May 2003
Continuação da página 2 - Abstracts
O que eu aprendi
Sandra Schamas
Friday, April 25th INTERPRETATION FOR THE SOCIAL SERVICES
John Jensen, Ph.D.
Social Services is a new area between medical and legal
interpreting. It is a growing field necessitated by recent
legislation that requires that all social service agencies
receiving or benefiting from federal funds must provide
interpretation to LEP clients. We will examine its
background, procedures and ethics. Comments specific to
Portuguese for Social Services.
LITTLE THINGS MEAN A LOT – ERRORS AND OVERSIGHTS
John Rock, Ph.D.
An otherwise good translation can often be rejected because
of a transgression which happens to be the client's pet
peeve. Small errors torpedo a translation! The most
frequently encountered errors and oversights in translation
from the Romance languages and more specifically from
Portuguese into English.
MUTE THE PARROT AND TURN OFF THE STEREO!
TELEPHONE INTERPRETING
Ines Bojlesen
An overview of Telephone Interpreting. The different types
of work agreements, who uses Telephone Interpreting, and
the ideal workstation. How to stage a courtroom, an
emergency room, a police station, or even a Coast Guard
Rescue Center right in your home office and render a
seamless interpretation. Telephone interpreting is a growing
business!
Saturday, April 26th
THE
IN-HOUSE
EXPERIENCE
TRANSLATION IN THE U.S.
WITH
SOFTWARE
Gladys Wiezel
Imagine joining a team working in 21 different languages!
Personal experiences of a Brazilian working for the first
time inside a U.S. corporation. The challenge of
“educating” your company about translation and what it
involves. Software translation – the process. What is
localization and its specific problems. Terminology
management. Tools demonstration. Content Manager for
building manuals. Databases. TDB for storing terms,
definitions, usage and context.
CUIDADO COM O ESTRESSE! STRESS MANAGEMENT FOR
LINGUISTS
Sandra Schamas
Freelancers face long working hours, either at the computer
or in very tense interpreting situations. They need 100% of
their attention and concentration capabilities and still have
to do all their own marketing, accounting and customer
service. Based on personal testimonies and interviews with
physicians, psychologists and professionals of alternative
medicine, this presentation offers useful information and
exercises. Learn how to create restorative breaks, relax and
relieve stress!
Sandra Schamas was a speaker and participant at our 9th Spring
Meeting in Miami Beach. She is a Portuguese teacher, writer and
translator of English and Spanish into Portuguese. Contact:
[email protected]
De todo livro que lemos, todo filme que assistimos e todo
congresso de que participamos, sempre há algo que fica, que nos
acompanha e nos ajuda em nossa vida profissional ou pessoal.
Tudo depende da nossa receptividade e da maneira como as
novas informações foram transmitidas. Quando há uma
combinação feliz das duas coisas, o resultado é muito bom, muito
gratificante e o que aprendemos passa a fazer parte do nosso
arquivo de experiência de vida.
Na minha experiência pessoal durante a 9º Reunião de Primavera
da PLD, a feliz combinação aconteceu e, recorrendo apenas à
minha memória, eu aprendi que:
• é muito importante conversar, ouvir e ser ouvido, declarar
nosso valor, reconhecer o valor dos colegas e sentir orgulho em
fazer parte do grupo. O relógio foi implacável durante a
apresentação inicial dos participantes, mas não impediu a
alegria de compartilhar experiências de trabalho e a maneira
com que elas enriquecem nossa vida pessoal.
• uma apostila com glossários e sugestões de websites como
fontes de terminologia é um material preciso e útil.
• “Little Things Mean a Lot”, ou seja, os detalhes são muito
importantes. Os erros tendem a ocorrer onde as línguas têm
estruturas diferentes. Síntese, clareza e consistência são
fundamentais. Ninguém é perfeito, mas é melhor estar sempre
preparado para defender sua escolha.
• na Inglaterra, milk float é um carrinho de leiteiro, na África do
Sul robot é semáforo e trolley, em Calcutá, é carrinho de chá.
• ser intérprete por telefone pode ser uma aventura emocionante
ou uma experiência dramática, mas sempre exige o máximo de
concentração, profissionalismo, eficiência e imparcialidade.
• a tradução de software é muito mais técnica e sofisticada do
que se pode imaginar e trabalhar com tradutores de 21 idiomas
diferentes num mesmo escritório pode ser uma experiência
ímpar.
• em Massachussets, os sinais de trânsito são confusos e a
paisagem é linda, mas o mais importante foi ver com detalhes o
que se passa dentro de um tribunal em sessão, conhecer o
vocabulário específico e saber dos imprevistos que um
intérprete enfrenta.
• é fácil e divertido entender, em inglês e em português, como
funciona o motor de um carro e prestar muita atenção e revisar
mil vezes é imprescindível no trabalho de tradução.
• o sucesso de um bom congresso está na eficiência da sua
organização e, principalmente, na dedicação e empenho de
seus organizadores.
• abraçar é muito bom, sempre!
Valeu!•
Continua na página 12
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May 2003
Engineering Dictionary Review
Naomi de Moraes
I
would
like
to
bring
two
wonderful
English<>Brazilian Portuguese dictionaries to the
attention of all engineering translators. They were
both self-published by Emmanuel J. Peralta, a retired
engineer and former professor at ITA (once a very
good engineering school, falling into decay due to
poor professor salaries.) During his many years in
industry, he was involved with the implementation of
the USIBA (Usina Siderúrgica da Bahia and the
COSIPA (Usina Siderúrgica Paulista), the first
General Motors and Ford factories, and projects in the
areas of shipping, agriculture, and construction. I
spoke to him on the telephone and he said that early in
his career, everything arrived with foreign names and
he had to coin new words as he went along. It is a pity
the computer engineers did not take the time to do
this—now we are stuck with mouses next to our
keyboards.
The two dictionaries are Dicionário de Eletricidade
(1997) and Dicionário de Máquinas e Ferramentas
(2000), both published by "Tech Books", his own
company. Both books have over 300 pages. The cover
of the first says it includes: equipment, components,
installations, tools, materials, circuits, diagrams, and
protection. The cover of the second claims it includes:
industry, mining, agriculture, construction, transport,
gardening (a hobby perhaps?), machine parts, and
instruments. The electricity dictionary has some
pictures, but the machines one has many more. Page
205 of the second dictionary shows 12 types of valves,
including a pressure reducing valve, a needle valve, a
globe valve, a gate valve, and a butterfly valve. The
names are given in English in the figures and the
reader must then search for the individual entry in the
dictionary. The entry for pressure reducing valve is:
(hid.) válvula redutora de pressão; uma válvula
utilizada para reduzir a pressão do fluído de uma
tubulação. 201 – 1
where hid. indicates hydraulics and the number at the
end indicates that the entry is shown on page 201,
figure 1. Each entry usually contains a translation
followed by a description.
Another page shows 28 types of screws, bolts and
washers! An example from the electricity dictionary
is:
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knob insulator: isolador roldana; um isolador de
porcelana ou de material plástico utilizado em forros de
residências sobre estruturas de madeira, providos de um
furo para fixação por parafuso (entry accompanied by
figure).
Both dictionaries contain reverse glossaries at the end so
the dictionary can be used from Portuguese into English.
The books can be purchased in Brazilian bookshops, but
his distributor is not very efficient, so contact him
directly for faster service (and you can tell him I sent
you!):
Av. Piassanguaba, 946
04060-001 São Paulo-SP
(11) 5581-1445
[email protected]
Naomi James Sutcliffe de Moraes was born in Detroit,
Michigan, and completed a B.S. in mechanical engineering and
her M.S in physics, both at UCLA. After graduation, she
worked in the defense industry on radar and tracking projects
before moving to Brazil. There, she began translating technical
documents (Portuguese↔English), fell in love with languages,
and is now working towards a Ph.D. in Lusophone African
literature at the University of São Paulo. She has a diploma in
translation/interpreting from Associação Alumni and now
teaches Scientific, Engineering and Medical Translation in the
same program. She is one of the two principals in the
translation agency Just Right Communications, based in São
Paulo, Brazil. Contact: [email protected].•
Continuação da página 11
COURT INTERPRETING: DEALING WITH THE UNEXPECTED
Arlene Kelly, Ph.D.
For anyone thinking about working as a court interpreter, there
is more to consider than being able to interpret for witnesses or
defendants during trials. This is a look at "the rest of the story!"
DIFFERENT VERSIONS OF ENGLISH AND HOW THEY AFFECT
OUR WORK
Mark Gimson
In our work, we deal mostly with American English. Should
we know anything about other versions of our most important
working language? U.K. English and versions close to it are
widespread in the world and many mistakes happen because
we ignore some important, and sometimes subtle, differences
between standard US English and standard UK English. Come
ready for a fun test!
NUTS AND BOLTS FROM BUMPER TO BUMPER
Paulo Roberto Lopes
Our own “car talk” show! Both translators and interpreters will
benefit from this automotive overview of major car
parts/assemblies, working its way up from simple screws (or is
it ‘bolts’?) to wishbones, gearboxes, and crankshafts, in a very
visual and essentially practical way. You never thought car talk
could be this fun! •
May 2003
Humor....
URUCUBACA'S LAW (or Murphy’s Laws Updated)
(contributed by PLD member Edméa McCarty)
Lei da relatividade documentada:
Nada é tão fácil quanto parece e nem tão difícil quanto
a explicação do manual.
Lei da administração do tempo:
Tudo leva mais tempo do que todo o
tempo que você tem disponível.
Lei da procura indireta:
· O modo mais rápido de encontrar uma coisa é
procurar outra.
· Você sempre encontra aquilo que não está
procurando.
Lei da telefonia:
Quando te ligam:
- se você tem caneta, não tem papel.
- se tem papel, não tem caneta.
- se tem ambos, ninguém liga.
Quando você liga para um número de telefone errado,
ele nunca está ocupado.
Parágrafo Único: Todo corpo
mergulhado numa banheira faz tocar o
telefone.
Lei da gravidade
Se você consegue manter o seu juízo enquanto à sua
volta todos estão perdendo o deles, provavelmente
você não entendeu a gravidade da situação.
Lei da experiência
Só sabe a profundidade do buraco quem nele cai.
Lei das unidades de medida:
Se estiver escrito "tamanho único", é porque não serve
em ninguém.
Lei da queda livre:
Qualquer esforço para agarrar um objeto em queda
provocará mais destruição do que se deixássemos o
objeto cair naturalmente.
· A probabilidade do pão cair com o lado da manteiga
virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.
· O gato sempre cai em pé.
· Não adianta amarrar o pão com manteiga nas costas do
gato e jogá-lo no carpete; o gato comerá o pão antes de
cair. Em pé.
Lei das filas e engarrafamentos:
A fila do lado sempre anda mais rápido.
Parágrafo Único: Não adianta mudar de
fila. A outra é sempre mais rápida.
Lei do esparadrapo:
Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o
que não sai.
Regulamentação do especialista:
· Especialista é aquele cara que sabe cada vez mais
sobre cada vez menos.
· Superespecialista é aquele que sabe absolutamente
tudo sobre absolutamente nada.
Lei da vida:
· Pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente
examinada.
· Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.
Guia prático para a Ciência Moderna:
· Se se mexe, pertence à Biologia.
· Se cheira mal, pertence à Química.
· Se não funciona, pertence à Física.
· Se ninguém entende, é Matemática.
· Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.
PLData
Lei dos cursos, provas e afins:
· Se o curso que você mais desejava fazer
só tem "n" vagas, pode ter certeza de que
você será o aluno "n + 1" a tentar se
matricular.
· 80% do exame final será baseado na única aula que
você perdeu, baseada no único livro que você não leu.
· Cada professor parte do pressuposto de que você não
tem mais nada a fazer senão estudar a matéria dele.
Parágrafo Único: A citação mais valiosa para a sua
redação será aquela cujo autor você não consegue
lembrar.
Lei da atração de partículas:
Toda partícula que voa sempre encontra um olho
aberto.•
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May 2003
Continuação da página 6
mantenho a tradição de começar a estudar,
sistematicamente, ao menos uma nova língua
estrangeira no início de cada ano. Já escolhi a próxima,
wolof (uólofe), que comecei a estudar no dia 1° de
janeiro passado.
Brazilian polyglot translates poems from 60
languages
JC - Podes nos contar como chegaste lá?
Como cheguei lá? Por acaso... Eu estava
dando uma aula de fonologia aos meus alunos de
Línguas Latinas da Universidade de La Paz.
Apresentei-lhes uma fita gravada numa língua
desconhecida para eles (e para mim mesmo, naquela
ocasião). Depois de terem ouvido o texto várias vezes
no laboratório lingüístico eu lhes pedi que
transcrevessem com o alfabeto fonético internacional
(IPA) as palavras que tinham escutado repetidas
vezes. Terminado o trabalho, verifiquei que aqueles
alunos, cujas línguas maternas eram o quíchua e o
aimara, acertaram mais de 80% o exercício, enquanto
que os falantes nativos de outras línguas tiveram um
acerto de, no máximo, 20%. A conclusão? Quem ouve
pela primeira vez uma língua desconhecida e consegue
identificar mais de 80% de seus fonemas é porque,
quase seguramente, esses mesmos fonemas existem
nas suas línguas maternas.
Depois disso prossegui com minhas investigações,
entrei em contato com colegas da Universidade de
Tbilissi, capital da Geórgia e, para minha surpresa, fui
convidado a fazer pesquisas de campo in loco pela
Academia de Ciências da então República Socialista
da Geórgia. O meu trabalho, Los fonemas oclusivos y
africados del quecha y del aymara é o resultado
prático dessas pesquisas. E, de fato, o georgiano,
aquela língua desconhecida das aulas de fonologia,
tem notável semelhança fonológica com o aimara.
JC - Quantas línguas dominas atualmente e quais são
teus critérios para dar uma língua por dominada?
Dominar completamente uma língua, até mesmo a
própria língua materna, é uma empresa extremamente
difícil. Pra mim, contudo, dominar uma língua é
possuir um conhecimento teórico-prático que me
permita comunicar-me nela e de poder traduzir, ainda
que com dificuldade, um texto literário. Baseado neste
critério, um tanto pessoal, eu poderia dizer que
domino umas 30 línguas. Outras tantas posso traduzir,
mas tenho pouco conhecimento prático. Quando me
perguntam quantas línguas falo (ou domino) prefiro
responder que conheço, isto é, que já estudei, com
critérios filológicos-lingüísticos, mais de 100 línguas
durante um período de mais de 50 anos consecutivos.
Depois de me ter formado em Línguas Neolatinas e
em Línguas Anglo-germânicas (PUC, 1958),
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JC - Traduzir é impossível. Mas é necessário. Como é
que fica um texto traduzido do chinês para o português?
Não creio que a tradução seja impossível e, a prova
disso é que há traduções realmente notáveis, excelentes,
principalmente quando a língua-fonte e a língua-alvo
pertencem ao mesmo grupo lingüístico e as culturas que
elas veiculam são próximas. Na introdução que faço à
minha antologia Babel de Poemas, tento mostrar que a
poesia clássica chinesa é quase intraduzível. Pode-se
traduzir parte dela, não o todo. Por que? Porque a poesia
chinesa é escrita em ideogramas, verdadeira arte
plástica. É língua tonal, portanto música. É lirismo,
literatura por seu conteúdo poética. O poema chinês é
uma combinação dessas três artes: pintura, música e
literatura.
A caligrafia chinesa é uma arte que não consiste apenas
em caracteres ou palavras para transmitir uma
mensagem, mas deve compreender, além disso, um
elemento visual que expresse um significado por meio
da forma. Os ideogramas têm, portanto, alto valor
simbólico, intraduzíveis a outras línguas. A descoberta
do imenso valor estético dos ideogramas pelos poetas
ocidentais, principalmente Ezra Pound e, depois pelos
nossos poetas concretistas, foi uma fonte fecunda de
inspiração.
Concluindo, poderíamos dizer que o verdadeiramente
intraduzível da poesia chinesa não se escreve, mas se
pinta com pincel, arte plástica, ou se ouve, quando se lê
em voz alta, combinação de tons, música. O que resta,
ao traduzir, é algo abstrato e genérico. É como tirar
dessa poesia algo consubstancial ao seu corpo. É
justamente essa harmonia intrínseca entre conteúdo,
forma e um estilo extremamente conciso o que torna a
poesia clássica chinesa quase intraduzível.
JC - Segundo o lingüista francês Claude Hagège, uma
língua desaparece todos os quinze dias. Ou seja, 25
línguas morrem por ano. Mais da metade das 600
línguas indonésias seriam moribundas. O ritmo de
extinção de línguas, que já se havia acelerado no século
passado, deve atingir grandes proporções neste. Isto
empobrece a humanidade? Ou torna mais fácil a
comunicação entre os homens?
Continua na próxima página
May 2003
Continuação da página 14
O caso das línguas malaio-polinésicas é muito
ilustrativo. Elas são faladas desde Madagascar até a
Polinésia. Só na República da Indonésia falam-se mais
de duzentas línguas diferentes. Como todas essas
línguas pertencem à mesma família lingüística foi
relativamente fácil elevar o indonésio á categoria de
língua oficial do país, pois ela é uma língua veicular,
resultado da simplificação e assimilação de muitas
outras línguas locais. Somente aquelas línguas antigas
indonésias, que têm história e literatura importantes,
como o javanês (60 milhões de falantes), o sudanês, o
batak, o madurês, o balinês e poucas outras poderão
subsistir por muito tempo. O ritmo de extinção das
línguas deverá continuar enquanto os países
interessados não tiverem políticas lingüísticas
definidas, as condições econômicas necessárias e,
acima de tudo, contar com lingüistas competentes que
possam estudar e classificar as línguas minoritárias em
via de extinção. Para que não desapareçam
completamente é absolutamente fundamental que elas
não continuem como línguas não-escritas e que haja
escolas onde possam ser ensinadas. Teoricamente, é
claro que a comunicação entre os homens seria
facilitada se houvesse apenas umas poucas línguas,
porém é igualmente certo que isso acarretaria um
Já esqueci muitas línguas, ou melhor,
muitas das línguas que estudei estão
bastante desativadas. Contudo, com um
pouco de esforço elas poderão ser
reativadas novamente. Traduzir, por
exemplo, é uma das melhores maneiras
de não esquecê-las.
A expansão do anglo-americano, assim como a de todas
as grandes línguas internacionais, é a conseqüência
lógica das conquistas militares e econômicas, tanto no
passado como no presente. A língua do conquistador,
geralmente, prevalece.
JC - Teu atual projeto é estudar o wolof. Consta que
esta língua é tão perigosa para as línguas minoritárias
do Senegal como o inglês ou o francês, pois não é
considerada língua estrangeira e possui o prestígio das
grandes línguas africanas. Tens opinião sobre a
polêmica?
No Senegal existem dez línguas nativas, das quais seis
foram promovidas a línguas nacionais. O wolof é
compreendido por 80% da população. As seis línguas
nacionais – peul, serere, diola, malinke e soninke, além
do wolof – são ensinadas nas escolas primárias e
difundidas através do rádio e da televisão. O Senegal
tem, portanto, uma política lingüística definida e não
creio que as outras restantes corram o risco de extinção,
não como em outros países. A tendência no Senegal é a
de continuar o francês como língua oficial e o wolof
como língua veicular mais importante entre as demais
etnias.
JC - Por toda a parte, há esforço de lingüistas tentando
salvar línguas faladas por comunidades de até 50 ou
100 pessoas. Vale a pena o esforço?
enorme empobrecimento do espírito. As línguas são
aspectos fundamentais, únicos e irrepetíveis da
experiência humana. E, aliás, a característica maior de
nossa espécie. Cada língua que desaparece –
principalmente sem deixar vestígios, sem ter sido
estudada e documentada – significa a extinção de uma
espécie.
JC - Há um estudo alarmante da Unesco, segundo o
qual nada menos 5.500 línguas, entre seis mil,
desaparecerão dentro um século. Acreditas nesta
possibilidade?
Se não tomarem, ao menos, as providências acima
enumeradas, o desaparecimento de centenas de línguas
será inexorável a curto prazo.
PLData
JC - A expansão do anglo-americano e de outras
grandes línguas pode ser responsabilizada por este
massacre de línguas?
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Foi justamente o conhecimento de uma das mais antigas
línguas pré-colombianas, o aimara, falado por uns dois
milhões de pessoas na Bolívia e no Peru, que levou
Guzmán de Rojas a constatar que essa língua nativa tem
uma lógica do Terceiro Incluído imbuída em sua
sintaxe, isto é, uma lógica trivalente e não a lógica
dicotômica (verdadeiro x falso), aristotélica, de todas as
línguas indo-européias, de toda a cultura ocidental. Há
séculos os falantes dessa língua raciocinam segundo
esse princípio, hoje reconhecido e defendido por um
grande número de cientistas e filósofos: Lobachewsky,
Vasilev e J. Lukasiewicz, na matemática. Planck na
física, J. Lacan na psicanálise e muitos outros. Esse é
apenas um exemplo eloqüente para comprovar o quanto
a lingüística aplicada ao estudo de línguas minoritárias e
exóticas poderá contribuir para a ciência, para o
conhecimento do homem.
Continua na próxima página
May 2003
Continuação da página 15
Estou plenamente convencido de que o
aprofundamento dos estudos de línguas que expressam
culturas não-aristotélicas poderá trazer ainda muitas
contribuições nesse campo de investigação do
Terceiro Incluído. Creio que a investigação sobre a
Weltanschaaung, sobre a cosmovisão de falantes de
línguas indígenas, assim como a de falantes do chinês,
do japonês e do coreano – e de outras línguas não
tributárias do princípio da contradição e da lógica
clássica – poderá confirmar, definitivamente, a tese do
Terceiro Incluído num futuro próximo. É pertinente
lembrar que o próprio Einstein admitiu que o princípio
do Terceiro Excluído, da ciência clássica, é apenas um
postulado metafísico.
Não há dúvida! Vale a pena o esforço. Essa é uma
tarefa absolutamente prioritária da lingüística.
JC - No País Basco e na Catalunha, as escolas estão
dando mais ênfase ao basco e ao catalão que
propriamente ao espanhol. Na Espanha, há pais que
já não conseguem se comunicar com os filhos. A teu
ver, há algum lucro em renunciar a um idioma falado
por centenas de milhões de pessoas e encerrar-se em
uma língua minoritária, falada apenas por centenas
de milhares?
O caso do basco (euskera) e do catalão é de outra
natureza. O basco continua sendo um enigma para a
lingüística. Não tem parentesco cientificamente
comprovado com nenhum grupo lingüístico. É uma
língua única, amada, estudada e difundida por seus
falantes. Ao contrário das centenas de línguas
africanas, asiáticas e ameríndias, está longe de
desaparecer. Ao contrário, o interesse por ela tem
crescido enormemente e está sendo ensinada e
difundida pela mídia, em todos os níveis.
O catalão é uma língua de riquíssima história e
magnífica literatura. Está fadado a um crescimento
constante. Se a política lingüística do governo
espanhol continuar democrática como está sendo
atualmente, reconhecendo autonomia às províncias
com língua e cultura próprias, a sorte delas estará
garantida. Somente se houver ruptura do Estado e
essas províncias se tornarem independentes, aí sim os
seus falantes preferirão a língua materna em
detrimento do espanhol.
JC - Está sendo proposta uma nova língua na Europa,
o europanto. To speakare europanto, tu basta mixare
alles wat tu know in extranges linguas. Seria a única
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língua do mundo que se aprende quase sem estudá-la.
Teria 42% de inglês, 38% de francês, uns 15% de um
misto de outras línguas européias e uns 5% de fantasia.
No est englado, non est espano, no est franzo, no est
keine known lingua aber du understande. Wat tu know
nicht, keine worry, tu invente. Terá futuro?
JC - Não creio que o europanto tenha futuro. Aliás, a
questão de aceitação de uma língua artificial
internacional é mais política do que lingüística. Do
ponto de vista puramente lingüístico, o esperanto é uma
obra-prima e, no entanto, ainda não conseguiu impor-se
como deveria.
JC - Quantas línguas já esqueceste?
É uma boa pergunta... Já esqueci muitas, ou melhor,
muitas das línguas que estudei estão bastante
desativadas. Contudo, com um pouco de esforço elas
poderão ser reativadas novamente. Traduzir, por
exemplo, é uma das melhores maneiras de não esquecêlas. Por outro lado a idade – estou com 70 anos – é um
fator negativo inexorável.•
Continuação da página 9
The Samba and the Fado
In more modern times, Portugal was one of the
most backward countries in Europe and offered
little to inspire Brazilians. Not only was it poor
but, in places, primitive. I recall visiting northern
Portugal as recently as 12 years ago and seeing wagons
pulled by oxen. A trip from Porto to Bragança became a
nightmare after a sudden storm flooded the poorly
constructed main road and required a massive detour.
Lisbon, at that time, with its faded beauty, and cramped
Alfama district around the São Jorge castle, its crippled
black beggars, reminders of the defeats in Africa, had an
almost medieval feel.
It may sound like a cliché but on my first visit to Lisbon
I felt I was in an African rather than a European city.
Even when Brazilians visited other parts of Europe,
such as France or Germany, any Portuguese they met
were probably immigrants working as low-paid waiters
or construction workers. The drab, bad-tempered
concierge in Paris was typically a Portuguese woman.3
Portugal's small size could not cope with a place as
immense as Brazil. There were never enough soldiers or
Continua na próxima página
May 2003
Continuação da página 16
colonizers to penetrate it in depth. The Portuguese
were always in a minority, outnumbered by native
Indians or imported black slaves. In 1822, for
example, the population of Brazil amounted to around
three million, of whom one-third were slaves, a
quarter Indians and most of the rest of mixed race4.
Finally, I would like to stress that the point of this
article is not to downplay the Portuguese contribution to
the development of Brazil in any way but one cannot
stop wondering how this continental-sized country
would have developed had other powers been the
colonizers.
1
Since enslaved Indians and Africans were named after
their owners this gives a false impression of the
Portuguese influence, since most had no Portuguese
blood. At the same time, intermixing with Africans
and Indians resulted in a huge mixed-race population,
which, once again, had Portuguese names. Until the
mass immigration of the late 19th century and early
20th century the population of Brazil was
overwhelmingly of mixed race. Even the most recent
census showed that around 45 percent of the people
said they were of mixed race. The result of this is that
a Brazilian bearing the most traditional Portuguese
name can easily have no idea about Portugal or
affinity with it. 5
As well as being outnumbered physically by the
Indians and blacks, the Portuguese culture absorbed
native and African elements. Since the population was
mainly of mixed race it adopted the languages and
traditions of the three main groups. In terms of coping
with the environment the Indian element was
obviously the most reliable. It is interesting to note
that the Brazilian national dish, feijoada, combines
inferior cuts of meat destined for slaves with farinha,
a coarse floury accompaniment made from mandioca
(manioc), a staple food of the Indians.
African Legacy
Whereas the Portuguese have tended to be rather selfeffacing and introverted, the Brazilian became the
opposite, thanks to the African influence. The slaves
may have lost their names and languages, but they
kept many of their cultural and religious traditions.
Their dancing and singing helped create the culture,
which the whole world recognizes as uniquely
Brazilian.
In religious terms as well, the Africans combined their
traditional beliefs with Catholicism to such an extent
that many white Brazilians adopted them. I have twice
welcomed in the New Year by walking into the sea
and throwing flowers on the waves accompanied by
hundreds of others, of all races, everyone dressed in
white, all of us enacting a ritual the slaves brought
from their African homeland.
PLData
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História do Brasil, Jorge Caldeira
A History of Brazil, E. Bradford Burns
3
Having said that, in recent years Portugal has grown
richer, thanks to the return of democracy and its
membership of the European Union, and Portuguese
businesses have started investing once again in Brazil.
4
História do Brasil, Jorge Caldeira
5
(I cannot let this point go without recalling an incident
in Bruce Chatwin's book In Patagonia where he meets a
red-haired Argentinean gaucho called Robbie Ross who
announces that he is Scottish but has absolutely no idea
about his Scottish roots. As Chatwin puts its rather
plaintively: "He peered at me with milky blue eyes,
feeling out affinities of race and background with a
mixture of curiosity and pain.")
2
John Fitzpatrick is a Scottish journalist who first visited
Brazil in 1987 and has lived in São Paulo since 1995. He
writes on politics and finance and runs his own company,
Celtic Comunicações, which specializes in editorial and
translation services for Brazilian and foreign clients. You can
reach him at [email protected]
© John Fitzpatrick 2003 •
September in Rio!
A New Event
Attention all Portuguese Linguists
A brand-new event announced by
ABRATES
I Congresso Nacional da ABRATES
September 27-28, 2003, Rio de Janeiro
Information:
Email
[email protected]
Web
www.abrates.com.br
May 2003
EVENTS
3rd International Conference on Maritime Terminology, Lisbon, 16th. and 17th. June 2003
International Association for Language Learning Technology - IALLT 2003, University of Michigan Ann Arbor,
MI June 19-21, 2003
ATA/TermNet annual Terminology Summer Academy, Kent State University, Kent, Ohio, June 17-21.
8th Euronext Paris Financial Translation Workshop 8e séminaire sur la traduction financière. Rencontres
traduction financière, 70 rue de Rome, 75008 Paris, France. Email: [email protected].
Third Annual Meeting of the Association of Portuguese- and Spanish-based Creoles, A Coruna, Spain 26-Jun2003 - 27-Jun-2003
3rd International Conference on Maritime Terminology. Communication and Globalization. Fundação
Calouste Gulbenkian. Lisbon, Portugal. 23-24 June 2003
14th European Symposium on Language for Special Purposes: "Communication, Culture, Knowledge"
.University of Surrey, Guildford, UK. 18-22 August 2003
3rd Translation and Interpretation Conference Cordoba, Argentina, August 16-18, 2003
Globalisation, localisation, and international accounting practice: economic and linguistic effects on
international business XXVIII Annual Conference of the International Association Language and Business Rennes,
France Contact: [email protected] 12-13 September 2003
Machine Translation Summit IX New Orleans, La 23-28 September 2003
I Congresso Nacional da ABRATES, O Profissional da Tradução na Atualidade. Local: Rio Atlântica Hotel – Av.
Atlântica, 2964, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ. 27 e 28 de setembro de 2003 [email protected]
50th Anniversary of the International Federation of Translators – Unesco Building, Paris, France - 20 November
2003 - Multiple versions of Harry Potter- 21 November 2003 - Translation and Copyright - 22 November 2003 - Translators'
Rights and official ceremony
American Translators Association
225 Reinekers Lane, Suite 590
Alexandria, VA 22314
FIRST CLASS MAIL