Qualquer gato encararia essa
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Qualquer gato encararia essa
102 ValeViver 103 Cinema Qualquer gato encararia essa A bela Cleo Pires vive sua primeira protagonista no cinema com o longa “Qualquer Gato Vira Lata”, uma comédia romântica que trata seus personagens com sinceridade darwinista; em entrevista exclusiva à revista valeparaibano, a jovem atriz conta um pouco sobre essa experiência e sobre a sua carreira D entre todas as artes, o cinema talvez seja a mais cara e a mais arriscada. Afinal de contas, levam-se meses para organizar o pré-projeto e a equipe, outros meses para captar o dinheiro, algumas semanas para filmar e mais tempo para editar e esperar uma brecha para poder lançar o produto. E quando o filme chega às salas, impossível prever a reação do espectador antes da estreia. Já houve até estudos acadêmicos em renomadas universidades norte-americanas que concluíram ser impossível prever o sucesso e o fracasso de um filme. Em tempos de crise financeira mundial, a melhor maneira de diminuir as chances de fracasso é apostando naquilo que já deu certo, ou seja, fazendo remakes ou adaptando para o cinema produtos de grande apelo popular na TV, literatura e teatro. É o caso de “Qualquer Gato Vira Lata Tem Uma Vida Sexual Mais Sadia que a Nossa”, filme que estreia dia 10 de junho e cujo título é tão longo quanto o sucesso da peça homônima que o originou. Escrito por Juca de Oliveira, o espetáculo ficou em cartaz em diversas cidades do Brasil entre os anos de 1998 e 2002, levando mais de 1 milhão de espectadores ao teatro. Com tal cifra –absolutamente incomum na dramaturgia brasileira– era de se esperar que a peça chamasse a atenção de uma produtora. Dirigido por Tomas Portella, o filme conta a história de um triângulo amoroso formado por Tati (Cleo Pires), jovem abandonada por Marcelo (Dudu Azevedo) que busca ajuda com Conrado (Malvino Salvador), cético professor de biologia. Para reconquistar o garoto, Conrado sugere que a moça mude totalmente de comportamento perante Marcelo e qualquer outro homem. Tudo isso levando-se em consideração o comportamento de machos e fêmeas de outras espécies, nas quais as fêmeas são mais recatadas e os machos mais audaciosos. O problema é que Tati não se aguenta, quebrando as regras, e o próprio professor se apaixona por ela. Cleo Pires é a grande estrela do filme. A atriz de 29 anos está começando a trilhar seu caminho pelo cinema, após críticas negativas e sucessos na televisão. Quando começou na TV, em 1994, na série “Memorial de Maria Moura”, foi bombardeada pela crítica, especialmente porque fazia Maria Moura jovem, cuja versão adulta era feita por sua mãe, Glória Pires. Comparações foram inevitáveis, o que fez com que a moça se distanciasse da vida artística, ficando quase 11 anos longe da TV. Voltou na novela “América”, em 2005, com novas críticas. Mas desta vez, mais madura, aguentou as comparações, seguindo com outras produções televisivas, como “Cobras & Lagartos” e “Caminho das Índias”, culminando em várias críticas positivas em seu último trabalho, a novela “Araguaia”. No cinema, fez pontas como em “Lula, o Filho do Brasil”, atuou ao lado de Selton Mello em “Meu Nome não é Johnny”, mas é em “Qualquer Gato Vira Lata” que Cleo conquista sua primeira protagonista, sobre a qual ela fala em entrevista exclusiva à revista valeparaibano. <Como você define sua personagem no filme? A Tati, inicialmente, é muito insegura, e ao mesmo tempo faz de tudo para acertar e ser feliz, e com essa busca ela se encontra, se descobre –isso tem a ver comigo como atriz e mulher, a busca. E o arco da personagem para mim é muito interessante. Ela deixar de ser essa menina insegura e histérica para se encontrar, ficar mais serena, mais segura, mais madura. <Você acha que as mulheres são mais suscetíveis às fórmulas e teorias sobre amor e relacionamento que os homens? Daí tantos livros de auto-ajuda sobre o assunto? Eu acho que as mulheres em geral, por vivermos numa sociedade paternalista, são criadas, consciente ou inconscientemente, com a meta de casar e ter filhos, programadas social e culturalmente para isso. Os homens são educados para ter uma carreira de sucesso, dinheiro, poder, e para serem deuses do sexo. Acho que por isso a mulher se concentra tanto nesse assunto, assim como os homens em geral adoram ler sobre sexo, carros, negócios e política. Fotos: divulgação Franthiesco Ballerini São Paulo Protagonista Cleo Pires é Tati, uma jovem abandonada pelo namorado e que busca ajuda profissional para reconquistar o parceiro 104 Domingo 5 Junho de 2011 ValeViver Acho que todos nós sofremos um condicionamento do qual muitas vezes nem nos damos conta. <Você não considera o filme um pouco machista por conta das teorias do personagem, ligadas a outras espécies de animais? Não acho que o filme julgue o que é certo ou errado, como você deve agir sendo homem ou mulher. Muito pelo contrário, o filme passa a ideia de que não existe uma regra no amor, ou para o sexo feminino e masculino; existe sim, a busca e a descoberta do que é bom para você ou não. Não acho que seja um filme moralista. <As leis de Darwin podem se aplicar a casos amorosos humanos? O Marcelo, para mim, é o típico garoto gente boa, mas raso, completamente manipulado pelas regras sociais do que um jovem adulto deve ser, e por isso, o jogo que Conrado ensina Tati a jogar para reconquistar o namorado faz sentido para o Marcelo mesmo. A Tati não quer ganhar ou perder, ela quer amar, viver <Quais comédias-românticas você assistiu e gostou? Gosto de algumas. “O amor não tira férias”, “Jerry Maguire – a grande virada”, “Alguém tem que ceder”, “Armações do Amor”. de verdade. Por isso, quando ela ganha perde a graça: porque ela mesma passou a se ver de verdade e a ver seus verdadeiros desejos e suas verdadeiras aspirações. Acho que a biologia é, de fato, grande parte do indivíduo e de como ele se comporta, mas tão importante quanto ela são a consciência, o poder de raciocínio, o bom senso, o ambiente que cerca esse indivíduo, as aspirações e dons que nascem com ele antes mesmo de haver qualquer interferência social, econômica, ou cultural. <Sua primeira protagonista no cinema é em uma comédia-romântica. Acha que o gênero é o grande filão de bilheteria hoje, transformando nosso cinema em indústria autossustentável? Não consigo pensar em algo que seja um empecilho para que isso aconteça. Talvez só há pouco tempo o nosso cinema tenha tido mais espaço para ser um veículo de diversão e entretenimento, tanto quanto uma forma de falar sobre política e dramas sócio-econômicos, mas talento para isso acho que o país tem de sobra. 105 <Está pensando agora em dar um tempo de TV e migrar para o cinema? O cinema é o que realmente fala mais à minha alma. Eu amo o estudo profundo que se pode fazer em todas as áreas de um filme que vai ser realizado, o estudo do personagem, os ensaios, e o tempo intenso e relativamente curto em que rodamos o filme. Eu sinto uma facilidade maior para me aprofundar no universo do personagem, e expressar esse novo mundo que eu absorvi durante o estudo do personagem. Regras Dudu Azevedo e Malvino Salvador contracenam com Cleo Pires, que interpreta a Tati no filme de Tomas Portella <Quem te inspira no cinema? Inspirações não tenho, mas admiro muito Meryl Streep, Laura Cardoso, minha mãe [Glória Pires], Diane Keaton, Wagner Moura, Tony Ramos, e mais alguns, poderia fazer uma lista bem grande (risos). •