Jornal Unifolha 74 - Universidade Anhanguera

Transcrição

Jornal Unifolha 74 - Universidade Anhanguera
-
Campo Grande-MS | Abril de 2008 | Ano XI | Edição 75
Tráfico de animais silvestres é um crime que, além de movimentar muito dinheiro ilegal, contribui para o desequilíbrio ambiental
Fauna em perigo
O
tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade ilegal do mundo e
só perde para o tráfico de armas
e drogas. É rentável pela facilidade com que o traficante captura os
animais, como se fossem pedaços
inanimados que não sentem dor
ou fome.
Nesta edição do Unifolha, o leitor tem a oportunidade de conhecer detalhes sobre a atividade criminosa que movimenta milhões de
dólares por ano. Muitos animais
brasileiros, vários deles com origem no Pantanal de Mato Grosso
do Sul, figuram na lista de “produtos” mais caros, mais cotados e
traficados, levados para diversas
partes do mundo.
Conheça a definição completa
do crime; o perfil das pessoas que
traficam animais; como os órgãos
de defesa trabalham na fiscalização; a legislação vigente; histórias
de quem já combateu o tráfico de
fauna, e, o mais importante: como
os animais, entre aves, mamíferos
e répteis, são transportados de forma tão precária, motivo pelo qual
parte não sobrevive.
PÁGINAS 13
IZABEL ESCOBAR
Mato Grosso do Sul é um estado em que é comum a captura de espécies, principalmente aves, e que está na rota de comercialização, segundo informações da Polícia Ambiental e do Ibama
ERIC SACCO
Por trás dos muros do
Presídio Federal de MS
ADRIANO HANY
Marco Aurélio (esq.), que faz dupla com Paulo Sérgio: paixão pelo regional
Mato Grosso do Sul é
a terra de sertanejo?
A
cultura sul-mato-grossense mantém vínculos
fortes com sua raiz rural, inclusive, no campo
musical. Mas, será que, de fato, somos realmente a terra da música sertaneja? Confira uma cobertura
completa sobre esse tema bastante conflitante em nosso
estado. Veja qual é a visão dos músicos, das rádios e dos
proprietários de bares da cidade, sobre o cenário musical
de Mato Grosso do Sul que se mostra bastante eclético.
PÁGINA 9
ELIS REGINA NOGUEIRA
Entrada do Presídio Federal, que é considerado inviolável. No dia 13 de abril, ação, ainda cercada de mistérios, teve por objetivo resgatar presos
O
Presídio Federal
de Campo Grande, considerado inviolável, sofreu um
ataque no dia 13 de abril,
quando pessoas ainda
não identificadas teriam
disparado tiros contra o
local, enquanto um helicóptero sobrevoava a
área. Trata-se, provavelmente, segundo a própria
diretoria, de uma tentativa de resgate de detentos.
A equipe do Unifolha teve acesso ao interior do
Aprenda a
investir na Bolsa
de Valores
Falta de espaço é o que leva o Bando do Velho Jack para fora do estado
PÁGINA 5
presídio e desvenda para
o leitor o funcionamento
da estrutura que mantém
incomunicáveis, atualmente, 158 presos de alta
periculosidade. Conheça
o trabalho dos agentes
penitenciários, em sua
maioria (80%) com cursos universitários e a tecnologia para isolar criminosos ,como Fernandinho
Beira-Mar e o traficante
colombiano Juan Carlos
Abadia.
PÁGINA 7
Reformulação na grade escolar
O estudo da Filosofia e da Sociologia foi excluído do currículo escolar dos
estudantes brasileiros, durante a ditadura militar. Hoje, essas ciências voltam a ser obrigatórias na grade dos alunos do ensino Médio. Confira como
alunos e professores estão lidando com essa obrigatoriedade.
PÁGINA 6
02
Unifolha
OPINIÃO
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
Quase exclusivamente mães
EDITORIAL
10 anos de
prática ética
O
curso de Jornalismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp) está completando 10 anos de
existência. Neste período, foi possível agrupar uma equipe de professores que conjuga a experiência profissional adquirida em anos de mercado de trabalho em suas respectivas áreas com a necessária formação
em mestrado e doutorado. Assim, os docentes conseguem estimular nos acadêmicos a
reflexão crítica aliada à prática profissional.
Na sua história, um dos principais diferenciais do curso sempre foi o oferecimento de
laboratórios modernos. Todos os acadêmicos são chamados a participar do site Unifolha On-Line, da TV Pantanal, do estúdio pedagógico de radiojornalismo e do laboratório
de fotojornalismo, o que ajuda a preparar um futuro profissional alicerçado em um
aprendizado prévio, devidamente acompanhado.
Este também é um ano especial para os laboratórios. A TV Pantanal está completando
10 anos, mantendo no ar 12 novos programas, com participação ativa dos acadêmicos
em todas as áreas de produção, inclusive especializados em cultura (.cult), mundo rural e meio ambiente (Agroambiente) e esportes (Uniesporte), transmitidos em horários
variados no canal da 14 da Net. Também apaga velinhas em outubro de 2008, com a
mesma idade, o jornal Unifolha impresso, produzido pelos acadêmicos do terceiro e
quarto semestres.
Outra novidade é o retorno do site www.unifolha.com.br, que está completando cinco
anos de existência, totalmente reformulado. O novo visual é resultado de um projeto de
interatividade proposto pelos próprios acadêmicos, coordenados por uma ação interdisciplinar de professores de várias áreas. No novo site, o leitor tradicional da versão impressa vai encontrar matérias novas de segunda à sexta-feira, produzidas pelos próprios
acadêmicos, que treinam formas diferenciadas de produção de notícias para internet,
investindo no jornalismo literário e quebrando a obrigação de notas curtas e o postadas
a cada minuto. Inclusive a versão em PDF do jornal que está em suas mãos também
estará, em breve, disponível no mesmo site.
Toda produção dos acadêmicos costuma ser coordenada de forma multidisciplinar
e resulta em discussões posteriores em sala de aula. Para o curso de Jornalismo da
Uniderp, a prática deve estar sempre acompanhada da reflexão ética. E que venham os
próximos anos.
LUCIENE FRATINI
LETÍCIA WINCLER
3º. SEMESTRE
Na época da inquisição, a Medicina considerava que o corpo feminino era inferior
ao masculino e que a sua síntese estava no
útero: cheio ou vazio, era este que media a
saúde da mulher. Esta perspectiva priorizava o papel de mãe à mulher. É o que relata a
pesquisadora Silvana Colomballi Parra Sanches, na monografia “Envelhecimento e Saúde das Profissionais de Sexo em Mato Grosso
do Sul”, apresentada em 2008.
A pesquisadora lembra que o sangue menstrual era tido como o líquido mais infecto do
corpo humano, pois saía de um útero sem
feto e a mulher menstruada era associada à
morte, à destruição e ao diabólico. Para Silvana Colomballi, a mulher costumava ser qualificada de duas formas: prostituta ou mãe.
As mulheres prostitutas e mães, segundo
demonstra a sua pesquisa, mostram para todos o grande sucesso com a maternidade,
uma grande realização pessoal. Chegam a
afirmar, também, que a dimensão de ser mãe
é a única que traz total felicidade para elas.
Em algumas situações, a mãe deixa a identidade de lado e se sente obrigada a utilizar o
lado mulher prostituta, para cuidar de seus
filhos, poder garantir o sustento do lar, aponta a pesquisa. Sofre, com isso, até algum tipo
de conseqüência negativa perante sua saúde.
A mulher ainda continua na luta com o homem, para ter seu espaço, mas, mesmo assim, é colocada como mulher do lar, que tem
de cuidar de seus filhos. Alguns até entendem o lado de mulher prostituta, da própria
mãe, porque sabem que é para o seu bem,
conforme relata a pesquisadora, mas, também, manifestam consciência de que isso “seja errado”.
O fato de a mãe prostituta prestar serviços,
como costumam classificar os filhos, é algo
que estes fazem questão até de esconder da
sociedade, para proteger a progenitora da descriminação, que, às vezes, vem muito forte
até mesmo de forma agressiva, de acordo com
a pesquisa. Segundo constatou a pesquisadora, as mães temem que seus filhos sofram perante os amigos deles, devido à sua profissão,
que envolve a comercialização do sexo.
CHARGE
GUILHERME DE ALMEIDA
Prostituição e vivência
da sexualidade
ALYNNE GUEDES
RAFAELA ALVES
3º. SEMESTRE
A história do sexo relaciona-se profundamente, com a experiência de todas as mulheres e da sexualidade. Em sociedades antigas, muitas mulheres eram sacerdotisas, que
serviam a deusas, cujo ritual de purificação
era a relação sexual. A partir da revolução da
década de 1960, as mulheres passaram a ter
outra relação com a sexualidade, se tornando
mais independentes, e o conceito de prostituição adulta foi se tornando mais complexo,
envolvendo, inclusive, homens.
O estudo da sexualidade das prostitutas
adultas comprova que as práticas homoeróticas (relações com indivíduos do mesmo sexo)
são cada vez mais comuns. Prostitutas maiores de 18 anos dizem aos pesquisadores que
existem outras formas de relações sexuais
que não sejam calcadas apenas na heterossexualidade.
Essa preferência pelo mesmo sexo, mesmo
nas relações de prostituição, justifica-se pelo fato de as mulheres costumarem ser mais
carinhosas que homens. Mas não quer dizer
que elas sintam prazer após a relação paga,
mesmo que tenha sido com outra mulher.
Para elas, é fundamental a separação entre
trabalho e lazer.
Essas novas pesquisas fazem com que o antigo tabu de que garotas de programa adultas
se relacionem somente, com homens, ou seja,
a predominância da heterossexualidade na
figura da prostituta, caia por terra.
Atualmente, começamos, também, a conhecer melhor o mundo dos garotos de programa, ou michês. Temos a idéia de que as mulheres também estão procurando uma vida
sexual mais fantasiosa, pelo mesmo motivo
que os homens: falta de conversa no tradicional modelo de relacionamento, em que não
costuma caber a realização de fetiches.
Mas, como as mulheres, os garotos de programa adultos também estão manifestando
uma preferência maior pelo mesmo sexo.
Por causa de relacionamentos homossexuais
frustrados, eles buscam, na nova vida sexual,
um modo de extravagar essa ausência. Tanto
o profissional do sexo, como o cliente.
Até hoje, a prostituição é vista como alternativa momentânea à realização de fantasias,
o território do prazer ilegítimo, onde homens
têm um modelo de relacionamento em que
não cabe o compartilhamento de fantasias sexuais, e nem a possibilidade de ousar.
Um bom exemplo é a transformação cultural do fenômeno da iniciação sexual ao longo
da história. As prostitutas passaram a ter um
papel importante, “a responsabilidade” de
ensinar ao jovem como ter prazer. É a oportunidade que eles têm de extravasar o desejo.
Percebemos que as prostitutas adultas, a cada dia, desenvolvem uma vivência sexual, ao
ensinarem os jovem a ter prazer e a ter relação sexual com pessoas de mesmo sexo, tanto
garotos de programa, quanto prostitutas.
Futuro trágico
BRUNA NÁSSER
3º. SEMESTRE
Dados, estatísticas e referências são elementos que não faltam quando o assunto
é a prostituição infantil. O que falta, no
entanto, é uma atitude que faça mudar,
de verdade, essa triste realidade. Atualmente, em Mato Grosso do Sul, cidades
como Coxim, Três Lagoas, Corumbá e
Aquidauana são conhecidas nacionalmente, devido ao tráfico e exploração sexual de crianças e adolescentes.
Festas tradicionais dessas cidades passaram a ser palco para negociações e
abusos, recebendo turistas de todos os
cantos do país. Muitos deles interessados somente no “turismo sexual”, em vez
de aproveitarem os muitos atrativos da
região.
Segundo diversas pesquisas, os motivos
que levam os jovens a se prostituírem têm
como base a falta de dinheiro em casa e o
desemprego dos pais, que gera, por tabela, o baixo nível de educação e a falta de
oportunidade para os filhos. Os infantojuvenis vêem na prostituição uma chance
de trazerem dinheiro para sustentar toda
a família, cabendo a eles responsabilidades de “gente grande”.
Em casos mais freqüentes, os pais preferem ficar “cuidando” dos afazeres do-
mésticos, enquanto os filhos vão para as
ruas. Fato que deveria ser condenado.
Não é humano ver crianças de 11 ou 12
anos fazendo sexo por dinheiro. Tampouco, o é se conformar com essa situação.
Lugar de criança é na escola. Convivendo com outras da mesma faixa etária,
com os mesmos interesses. A educação
é, realmente, capaz de mudar o mundo,
alterar a realidade de jovens que já não
acreditam mais em uma vida melhor. A
escola faz com que eles ocupem a mente
com coisas boas, adquiram conhecimento, troquem experiências e acreditem que
nem tudo está perdido.
O futuro dessas jovens não está nas ruas ou festas, em que a prostituição é algo
banal (e “lucrativo”), mas, sim, nas mãos
de todos os cidadãos que se preocupam
com as nossas crianças. Fato este, que
não se limita, apenas, ao estado de Mato Grosso do Sul, mas que se estende a
todo o país. A luta por uma pátria melhor e mais justa, principalmente, para
as crianças, é uma atitude que depende
de todos e de cada um. Faça sua parte
em busca de um futuro brilhante para
esses jovens.
Para denunciar a exploração sexual
em qualquer parte do Brasil, basta ligar,
gratuitamente, para o número 100. Consciência é a base de tudo.
Coordenador do curso de Jornalismo:
Professor Marcos Rezende Morandi DRT/MS 067
- Cândida Piesanti - Edilaine Maira - Élika Gonçalves - Emídio Denardi - Evllyn
Jornalista responsável: Professor Alexandre Maciel (DRT/MS 172).
Chaves - Jucyllene da Silva Castilho - Juliano Salles - Laila Carriel - Marco Aurelio
Unifolha – Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade para o
Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp)
Ano XI - Nº 75- abril de 2008 - Tiragem 5 mil exemplares.
Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicação foram produzidas pelos
acadêmicos do 3ª semestre do curso de Jornalismo da Uniderp (N 30)
Editores: Opinião: Bruna Nasser; Política: Aline Leque; Cidades: Rosália Prata;
Economia: Roberto Belini; Educação: Tharyana Durigon; Segurança: Sérgio Pavão;
Esporte: Renan Campos; Cultura: Gustavo de Deus; Ciências & Tecnologia:
Wagner Jean; Saúde: Geysa Rodrigues; Rural: Ernandes Bazzano; Meio Ambiente:
Daiane Líbero; Entrevista: Leonardo Macbeth; Comportamento: Giselle Ribeiro
tália Souza - Paulo Donato - Pedrina Gomes - Priscila Evaristo Teixeira - Renato
Reitora: Profa. Ana Maria Costa de Sousa
Vice-Reitora: Professora Leocádia Aglaé Petry Leme
Pró-Reitor Administrativo: Professor Antonio Fonseca de Carvalho
Pró-Reitora de Graduação: Professora Heloisa Helena Gianotti Pereira
Pró-Reitor de Extensão: Professor Ivo Arcângelo V. Busato
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Professor Raimundo Martins Filho
Revisão: Professor Mario Marcio Cabrera (DRT/MS 109)
Edição de fotos: Professora Elis Regina Nogueira (DRT/MS 090)
Projeto Gráfico, Diagramação e Tratamento de Imagens:
Professor Carlos Kuntzel DRT/MS 041
Estagiário de Diagramação: Acadêmico Wagner Jean
Projeto Gráfico 2005: Ana Paula Novaes - Andréa Roselle - Brasleif Adriano
Rabelo - Flaviane Bueno - Gildo Araújo - Gizelli Xavier - Isabel Rodríguez - Janiel
Ribeiro - Mariana Conte - Mario Daude - Marithê Côgo - Michelly de Alencar - NaLima - Reneide Casagrande - Rodrigo Gordin - Simone Prieto - Thiago Ferreira Viviane Cunha - Viviany Gomes - Yvelaine
Isabela e professor Carlos Kuntzel
Criação da logomarca do caderno Cenário: Elton Tamiozzo, Ducely Reis, Franciele Caldart, Maurício Picarelli Jr, Nirley Peterossi Jr e José Cabad. (Acadêmicos
de Publicidade e Propaganda)
Impressão: Gráfica A Crítica
Unifolha - Rua Ceará, 333, bairro Miguel Couto, Campo Grande-MS. Cep: 79.003-010
– Tel:(067) 3348-8096. www.unifolha.com.br E-mail: [email protected]
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
POLÍTICA
03
JUVENTUDE-INICIATIVA
Índice do Tribunal Superior Eleitoral indica queda no número de novos eleitores
ADRIANO HANY
Cai a participação dos
jovens nas eleições
DOUGLAS QUEIROZ
LIANA FEITOSA
3º. SEMESTRE
Com base nos dados do
Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), o número de jovens
que retirou seu título de
eleitor entre 16 e 17 anos
está sendo menor no início
desse ano, em relação ao
mesmo período de 2007.
Em março do ano passado,
6,2 mil jovens se alistaram.
Foram 4.038 em março de
2008. Tállisson Tauan, que
só completa 18 anos no início de 2009, faz parte do
grupo de jovens não-votantes. Ele não vê necessidade
de iniciar sua vida eleitoral
antes de ser obrigado a fazê-lo.
“Eu tomei a decisão de
não votar agora, por vários
motivos. Não acredito muito nessa coisa de que meu
voto vai mudar a nação. Até
porque, não acredito que
exista político honesto pra
votar. Também acho ma-
çante ir lá votar, ficar em pé
numa fila”. O jovem Tállisson, assim como Mariana
Fernandes, de 16 anos, vê
nos maus políticos o principal impedimento para votar
antes de completar a maioridade e acredita, ainda, que
a maior parcela dos jovens
pensa como eles. “A maioria
das pessoas da minha idade
não estão ‘nem aí’ pra política. ‘Pra quê? ’ Já que não
é obrigado tirar (o título), vamos tirar só depois dos 18”,
afirma Mariana.
Mas há os que pensam diferentemente, como Bárbara da
Rosa Queiroz, 16 anos e que,
em 2008, vota pela primeira
vez. Bárbara crê que seu voto,
somado ao de outras pessoas,
pode ajudar o país. “Os adolescentes estão vindo com uma
nova consciência, querendo
mudança, querendo ajudar
o país”, idealiza a estudante.
“Eu achei importante fazer
meu título logo. No passado,
minha mãe lutou pelo direito
de votar”, comenta Bárbara, ao
mencionar a importância do
seu voto em relação aos anos
em que não existia o direito ao
sufrágio direto no Brasil, período da ditadura militar.
Muitos jovens são levados
a uma consciência política
diferenciada da maioria, alguns devido à influência familiar. Hélder Moehlecke, de
19 anos, acredita que muitos
estão “perdidos”, sem saber
“o que fazer de suas vidas”.
“A nova geração, assim como a minha, não tem consciência do que fazem, não
freqüentam mais igrejas, não
respeitam ninguém e, muito
menos, querem saber da importância do voto. Sem generalizar, mas os jovens de
hoje estão perdidos”, enfatiza Moehlecke.
Em muitos casos, são os
pais que motivam, ou até
determinam, que seus filhos
participem da vida eleitoral, como, por exemplo, Élton Paim, 18 anos. Ele conta
que resolveu fazer seu título
quando ainda era menor de
idade. “Pra ficar livre da
responsabilidade logo e,
também, porque meu pai
falou para eu tirar (o título)”, explica.
Já os pais de Tállisson o
deixaram livre para decidir.
“Eles acham que eu tenho
que votar logo, quando posso; pois meu voto faz a diferença, e que nós, jovens,
temos que saber de política
e correr atrás dos nossos direitos. Minha mãe é geógrafa. Sempre está informada
e me cobra um pouco disso
também. Mas, eles me deixam livre pra decidir se devo votar ou não”, relata.
Fernando Kun, estudante,
18 anos, pensa ser melhor
que os jovens que não querem votar, não vivam a experiência imediatamente.
“Se eles não querem votar,
é porque não entendem o
que esse ato significa. Isso é bom, porque não vão
atrapalhar, escolhendo um
político qualquer”, acredita
Fernando.
RODRIGO OSTEMBERG
Enquanto Bárbara da Rosa (esquerda) defende o primeiro voto antes da maioridade, Mariana Fernandes acredita que votar aos 16 anos não é uma necessidade
Márcio Fernandes é o deputado estadual mais jovem entre os eleitos
Política se renova
com novos nomes
DIANNA MALVES
MAZZIO NANTES
3º SEMESTRE
Os jovens sempre tiveram seu percentual de culpa nas grandes decisões
do nosso país em relação
à política. Estavam lá, contra a ditadura militar, em
1964, sendo rotulados de
comunistas. Estavam no
movimento das Diretas
Já, em 1984, lutando pelo
direito do voto livre e direto. Estavam na luta pelo
impchemeant de Fernando
Collor de Melo, os “caras
pintadas”, mostrando que
ainda existe amor pelas
cores da nossa bandeira.
Os jovens sempre mostraram interesse pelo futuro,
utilizando toda a energia
acumulada em assuntos até então dominados
adultos.
Hoje o jovem quer o
poder, quer estar lá, decidindo o destino. A Constituição Federal de 1988,
no artigo 14, determina a
idade mínima para cada
cargo, desde presidente da
República até vereador e
juiz de paz. Aos 18 anos,
um jovem pode tomar posse do cargo de vereador.
Deputado federal e estadual, prefeito e vice-prefeito,
a partir dos 21 anos. Para
governador e vice, após os
30 anos. A presidência da
Gritos pela liberdade
ADRIANO HANY
Jovens participam ativamente da 1ª Conferência Estadual de Políticas Públicas da Juventude, na capital
ALINE LEQUE
3º. SEMESTRE
Em 1984, ouviam-se os
primeiros gritos de liberdade: “Diretas já!” Uma das
maiores contribuições democráticas para o país. Cerca
de 1,5 milhão de pessoas no
vale do Anhangabaú, em São
Paulo-SP, lutando pelo direito
de votações diretas e limpas.
Após 20 anos de repressão do
regime militar, estudantes, civis, líderes sindicais saíam às
ruas, exigindo cidadania.
Hoje, 2008, no dia 29 de
março, ouvem-se novos gritos
e liberdade: Conferência de
Políticas Públicas de Juventude. Jovens representantes de
instituições de ensino, institutos sociais, Organizações
Não-Governamentais (ONGs),
projetos sociais e juventudes
partidárias. Jovens reunidos
em grupos de discussão,
apresentando desafios para
educação, transporte, saúde,
entre outras necessidades da
juventude.
Uma grande jornada para o movimento estudantil,
que estava adormecido após
o movimento das Diretas Já,
que agitou o Brasil em 1984.
Com reuniões, projetos foram
criados grupos fortes e com
credibilidade para lutar em
prol dos jovens. Há mais jovens reunidos e organizados
hoje, do que nas décadas de
60, 70 e 80. Por que não se
ouvem os gritos de liberdade?
A juventude está mais organizada e política.
O Movimento Estudantil
divide-se em várias vertentes. Nos classistas, há sindicatos, executivas, conselhos,
cada um cuidando de uma
respectiva profissão. No Movimento Político, reúnem-se
as juventudes partidárias, batalhando pelos ideais de um
determinado partido. No Movimento Jovem, há as ONGs,
República, vice-presidência e senador somente aos
35 anos.
Atualmente, cresce o número de jovens eleitos para
mandatos executivos e legislativos. Em Mato Grosso do Sul, temos diversos
exemplos, como os vereadores Edmar Neto, eleito em 2004, aos 19 anos,
pelo PSDB; Thais Helena,
atualmente com 22 anos,
eleita vereadora pelo PT
e Grazielle Machado, aos
28 anos, é vereadora eleita
pelo PL. Deputado estadual, Marcio Fernandes, aos
27 anos, hoje atuante no
PSDB.
Que caminhos percorrer?
Para se tornar um jovem
candidato, o primeiro passo é estar filiado a algum
partido. No período que
vai de 10 a 30 de junho do
ano eleitoral ocorrem as
convenções partidárias em
todo o país. As regras e o
método como ela ocorre é
definida segundo o estatuto de cada partido. Podem
haver algumas regras estipuladas pela diretoria nacional das legendas.
Assim que passa por todo este processo, o jovem
se torna um candidato e
irá concorrer a um cargo
político, podendo vencer e
trabalhar nas áreas executivas e legislativas do seu
município e estado.
os institutos, a ordem e os
grupos universitários, religiosos ou idealistas, como
a Ordem Demolay. E, no
Movimento Estudantil,
concentra-se a massa de
estudantes secundaristas
e universitários, em órgãos
como a União Estadual
dos Estudantes (UEE),
os Centros Acadêmicos
(CAs), Diretórios Centrais
Estudantis (DCEs), grêmios estudantis, União
Sul-Mato-Grossense de
Estudantes, entre outros,
integrados por jovens formadores de opinião.
As novas batalhas são
por igualdade, por cumprimento da lei. Reflexões,
por exemplo, sobre o direito de todo jovem ter
direito à educação, saúde
transporte e lazer. Jovens
que saem de suas rotinas
em busca de projetos e
soluções para sua sociedade. Guerras travadas
com as impossibilidades
diárias, em busca de um
ideal: um país de todos.
04
Unifolha
CIDADES
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
Repórter investe R$ 2,10 para vivenciar uma experiência inesquecível, em um misto de algazarra e poesia
Aventura no ônibus das crianças
LUCAS JUNOT
3º SEMESTRE
Foi um investimento de R$
2,10 que me rendeu uma grande
experiência. A proposta era viver,
ao menos um dia, a rotina do
transporte coletivo de Campo
Grande e seus passageiros mais
curiosos. Surpreendi-me!
Percebi que, se quisesse entender como as coisas funcionavam ali, teria que ir onde tudo
começa. Compareci no terminal
General Osório e resolvi acompanhar a linha 070, uma das mais
movimentadas de Campo Grande.
A viagem estava para começar! O
motorista e a cobradora fumavam
um cigarro e olhavam para o ônibus sem trocar palavra.
O olhar do motorista era
quase que um protesto e sei que
minha vivência de um dia não
iria fazer-me compreender a
grande aventura cotidiana que
ele vivia. A cobradora carregava um broche de uma santinha
da qual parecia gostar muito.
Enquanto ainda estava em terra
firme olhava e acariciava aquele
objeto, talvez imaginando como
seria o seu dia.
EXPRESSÕES
Mas já era hora de partir.
Adentrei o ônibus por volta das
6h30 e acompanhei o itinerário
até às 7h30. As pessoas invadiam
o veículo como se suas vidas dependessem daquilo e procuravam
sedentas por lugares vagos a fim
de se acomodar. A euforia durara
pouco e logo o carro gigante começou a andar.
Nesse momento as pessoas
abaixaram suas cabeças e demonstraram um grande vazio.
Porém, havia uma senhora de
aparentes 70 anos de idade que
entoava uma música de uma
bonita melodia e parecia estar se
divertindo à beça. Apesar de ainda
ser cedo, o sol já castigava as pessoas dentro da caixa ambulante.
O local era apertado, quente e as
pessoas sentadas pareciam ver
em suas poltronas uma extensão
tosca de sua confortável cama.
De modo que se deixavam levar,
como um bebê embalado nos
Aquela música melódica que a
senhora cantava já não se ouvia
mais.
CRIANÇAS
Repentinamente, pequenos
seres foram adentrando o grande
veículo e tratando de conquistar
seu espaço. Eram pequenos, mas
Crianças invadem o ônibus, empurrando como gente grande, falando em voz alta sobre vários assuntos e tratando de conquistar o seu espaço
empurravam como gente grande,
tamanha a habilidade que tinham
e propriedade no conhecimento
da situação.
Os pequeninos falavam demasiadamente alto e sobre os
mais variados assuntos. Então,
percebi que tinha que apurar
meus ouvidos para compreender
o universo deles, até que ouvi
um garotinho moreno dizer ao
seu colega: “Rodrigo! Sabe a
Ana Clara da 3ª? Ela agora é
minha namorada!”. O amigo
Rodrigo respondeu-lhe dizendo
que se ele quisesse também a
namorava, mas não gostava dela.
Fiquei pensando no conceito que
os pequenos tinham do assunto
e lembrei-me com saudade de
como era boa aquela idade.
O ônibus fez uma curva bem
acentuada e involuntariamente
houve um forçado remanejamento
de lugares e fui parar do outro lado
do veículo, quase no colo de uma
senhora que estava pendurada nos
ferros acima de sua cabeça. Chamou-me a atenção uma pequena
criatura que estava sentada em
uma espécie de degrau no chão
do grande liquidificador. Resolvi,
com muito custo, me aproximar
e vi um garoto ruivo, com não
mais que oito anos, empunhando
um livro. Lutei um pouco mais e
cheguei mais perto para ver o que
ele lia. Quase perdi os sentidos
ao perceber que se tratava de um
livro de poesias. No entanto, não
eram poemas inocentes de criança. Tentei acompanhar ao menos
um verso e constatei que falavam
de amor, dor e solidão.
Fiquei imaginando como
aquilo surtia efeito na mente
daquele pequeno garoto ruivo,
de comportamento diferente dos
demais e, confesso, invejei não ter
despertado tão cedo quanto ele.
Novos terminais na capital
Expresso leva
profissionais do lar
Faço um singelo sinal
com o polegar, e o motorista
do “Expresso 072” logo
entende. Com as portas
arreganhadas, a lotação
pára. Meu trajeto começa
no Cachoeira, bairro nobre
da cidade, onde muitas empregadas domésticas tiram
seu sustento.
Assim que entro no ônibus lotado, posso escutar o
burburinho das inúmeras
vozes femininas matraqueando dentro da abafada
caixa metálica. “Isabel!
Tudo bem?!”, grita uma voz
aguda no fundo da “lata de
sardinhas”. As profissionais
do lar, são, literalmente,
a esmagadora maioria na
condução.
Tento encontra um lugar
para me acomodar. Desejo
impossível de se realizar.
E a essa altura já estou
na avenida Eduardo Elias
Zahran. Ao lado de uma mulher morena que tenta, com
muito esforço, se concentrar
na leitura de uma revista.
Ela, curiosamente, traz um
terço enrolado nas mãos e
outro na bolsa. Em seu rosto
marcado por algumas poucas rugas, vê-se, claramente,
que é a fé que a faz encarar
a vida, dia após dia.
Enquanto isso, uma outra figura de calças apertadas
tavam quase que uma leitura do
pensamento de seus donos.
Olhei no relógio, eram 7h45.
O vermelhão, como muitos chamavam, parou para apanhar mais
gente apesar de não haver mais
espaço nem para uma mosca! Foi
então que o silêncio foi quebrado
por um barulho ensurdecedor!
MICHELE NAKAZATO
Vivência
ANAHI ZURUTUZA
3º SEMESTRE
braços de sua mãe, por aquele
balanço insistente.
Os que estavam de pé tinham
uma expressão séria e o desconforto era notório através das
gotas de suor que escorriam em
seus rostos. Observei muito as
fisionomias e espantei-me com
a variedade delas. Elas possibili-
e umbigo para fora, me distrai a atenção com sua fala
em alto e bom tom. Rose
desabafa críticas ferrenhas
a uma colega, por ela cobrar
pouco por suas faxinas, e
duras queixas que faz sobre
sua patroa. “Você ta louca!
Só isso pra trabalha o dia
todo?! Nem pensar”.
Os assuntos são variados, os comentários são
muitos, e o cansaço das
trabalhadoras é visível. Algumas cochilam, depois do
dia exaustivo, em qualquer
canto do berço automotivo,
sem se incomodar com o
barulho, nem com o sol que
bate em seus rostos.
Chego ao Terminal Morenão. “Tchau Márcia!”. São
muitos os gritos de despedida. A massa vai se ajeitando
para sair do aperto. E, finalmente o coletivo esvazia
como se fosse o estouro de
uma boiada.
Daí por diante o trajeto
é mais tranqüilo, o calor
humano já não castiga tanto e o silêncio toma conta.
Aos poucos, o ônibus vai
parando em determinados
pontos, e pessoas, das mais
variadas, vão tomando conta
do espaço novamente. Mas a
agitação já não é a mesma.
Aquela grande família por
mais um dia se desmembrou. Já são 17 horas. Fim
da linha.
CHARLINE PRESTES
ROSÁLIA PRATA
3º SEMESTRE
Pesquisa realizada pela Logística Engenharia e Transportes (Logitrans) constatou a
necessidade da construção imediata de dois novos terminais,
São Francisco e Tiradentes, o
que completaria o sistema de
integração entre os demais já
existentes. O transporte coletivo
realizado em Campo Grande é
denominado de Sistema Integrado de Transporte (SIT), que
proporciona ao usuário a co-
modidade de deslocamento em
vários terminais de transbordo,
com o pagamento de uma única
tarifa.
O diretor-geral da Agência
Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), Carlos Alfredo
Lanteri informou que o primeiro terminal a ser construído
será o Tiradentes, em frente ao
colégio Hércules Maymone. Já
o terminal São Francisco ficará
na rua Tamandaré com a Euler
de Azevedo.
A diferença destes dois novos projetos, explica o diretor-
geral é que não serão fechados,
como os demais e, sim, abertos.
Plano que terá característica de
um “grande ponto de ônibus”,
onde o embarque acontecerá
pela porta dianteira e não pela
traseira, como é organizada
nos terminais fechados. Carlos
Lanteri ressalta que este projeto
também conta com a parceria
da iniciativa privada, que, em
troca do local para comercio,
contribuirá para a conservação
dos ambientes, zelando pela
limpeza, segurança e manutenção dos banheiros, entre outros
ANDRÉ
MESSIAS
Investimento para a construção de um dos novos terminais, o Tiradentes, gira em torno de R$ 2 milhões
aspectos. Em principio, segundo Lanteri, será apenas uma
nova experiência, com o intuito
de ser verificada a adaptação
dos usuários da região e das
imediações.
Para o terminal Tiradentes,
está previsto o início das obras
no primeiro semestre do ano.
Com um investimento de R$ 2
milhões, o projeto deve ser concluído em setembro, próximo à
Semana Nacional do Trânsito.
Já o terminal São Francisco
será construído em uma outra
etapa, pois existe o projeto,
embora a obra ainda não tenha
sido licitada, conforme explicou
Carlos Lanteri. A minuta já foi
aprovada em Brasília em outubro do ano passado. O Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES)
já sinalizou positivamente. O
diretor-geral da Agetran esclarece que apenas se aguarda
a liberação dos recursos, que,
tudo indica, deverá acontecer
ainda neste ano.
“Com as construções destes
dois novos terminais de transbordo, teremos a dinâmica na
distribuição, maior efetividade
e uma considerável redução no
tempo das viagens”, prevê Carlos Lanteri. Por estes terminais
estarem localizados próximos
a locais de grande fluxo de
pessoas, como universidades,
escolas e, no caso do terminal
Tiradentes, o Shopping Campo
Grande, haverá uma melhoria
no tempo de espera e lotação
dos ônibus, acrescenta.
Estes terminais funcionarão
como troncos alimentadores que
trazem usuários dos bairros e do
centro, proporcionando a eles, na
opinião do diretor-geral, uma quantidade maior de desejos de viagens,
e diminuindo a concentração de
ônibus na região central.
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
ECONOMIA
05
MERCADO - AÇÕES
Especialista no mercado de Bolsa de Valores, Adriano Neres, afirma que está aumentando a procura por qualificação na área
Entenda as ações e ganhe dinheiro
ROBERTO BELINI
3º. SEMESTRE
Investir seu dinheiro na
bolsa de valores é vantajoso,
por gerar boa rentabilidade.
O Brasil possui uma das
mais rígidas formas de regular a contabilidade nessa
área. Esse serviço é feito pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). É o órgão
responsável por “proteger o
mercado”, impondo critérios
para aceitar as empresas que
desejam vender suas ações.
A firma que abre seu capital na Bolsa de Valores vende
seus papéis e pode trabalhar
com esse dinheiro, sem ficar
com dívidas. A empresa só
pode vender cada ação uma
vez, sendo que, nas outras
ocasiões, os negócios são feitos entre investidores. Para a
firma, é vantagem ter ações
em alta, pois, quando ela
quiser vender mais papéis,
estes darão mais lucro.
O Unifolha consultou um
especialista que veio de São
Paulo. Adriano Neres Rodrigues é analista de mercado,
administrador de empresas,
investidor há dez anos e,
desde 2006, viaja pelo Brasil,
com cursos e palestras sobre
o assunto. Ele disse que, em
Campo Grande-MS, a procura por capacitação no mercado financeiro é alta. Isso
acontece porque aqui, assim
como em outras regiões afastadas do centro econômico
do país, a disponibilidade
desse tipo de treinamento é
pequena.
QUALIFICAÇÃO
A base para quem tem
vontade de se tornar um
investidor é procurar orientação especializada. Neres
afirma que existem mitos
sobre o mercado. Um deles
é que seria preciso muito dinheiro para aplicar. Outro,
que se deve acompanhar as
oscilações minuto a minuto.
E, ainda, a crença de que só
podemos contar com a sorte
para ter bons ganhos.
Para o especialista, alguns
veículos de comunicação
contribuem para reforçar
estas falsas idéias. Todas as
decisões a serem tomadas
dentro desse negócio dependem da estratégia adotada
pelo investidor. Por exemplo: caso a pessoa só tenha
tempo de fazer consultas
semanais em sua carteira, é
possível obter lucro e operar
com segurança se souber as
técnicas de análise que se
enquadrem no seu perfil.
Quem pensa em rendimentos de longo prazo também pode comprar alguns tipos de ações, destaca Neres.
O fator emocional é o que
exerce mais influência em
uma atitude, e quanto mais
disciplina tiver no controle,
melhor. Sabendo fazer as
corretas leituras das tendências, Adriano garante que é
possível reduzir em até 90%
a exposição ao risco de gran-
PERFIL JOVEM
Nos treinamentos de Neres, a maioria dos alunos são
homens entre 20 e 40 anos
de idade. A juventude tem
fatores positivos, na sua opinião, pois ela faz o investidor ter interesse em aprender e ganhar experiência
no mercado. Mas é preciso
atenção para não “ir com
muita sede ao pote”, como
SLIDE DA TDS INVESTIMENTOS, ANALISTA DE SISTEMAS, ADRIANO NERES RODRIGUES
Termo Stop, na Bolsa de Valores, é um mecanismo que compra ou vende as ações automaticamente, de acordo com o plano de ação do investidor
Investimentos na bolsa de
valores merecem cautela
EVELYN IBRAHIM
GUILHERME DE ALMEIDA
3º. SEMESTRE
“Estando lá dentro, você
vê o dinheiro passando para lá e para cá. E você vai
aprendendo os macetes de
dentro da Bolsa de Valores.
Tem muita coisa que as pessoas que estão de fora, não
conhecem. Só quem está lá
dentro é que sabe. Mas, se
você começa, acaba entrando na onda e investindo”.
O ex-operador de ações da
Bolsa de Valores de São
Paulo, Nilson Narezi descreve, desta forma, a rotina dos
novos investidores.
Paulista, ele trabalhou 22
anos na Bolsa de Valores
de São Paulo, a princípio,
como auxiliar e, logo após,
como operador. Hoje, lida
com serviço administrativo
em uma clínica fisioterápica. “Olha, Bolsa é um vício,
quanto mais você põe, mais
você investe, essa história
de – Ah, vamos investir um
pouquinho, vamos perder
um pouquinho, a gente limita... Não tem limite!”, considera.
Narezi relata que, se um
investidor, novo ou mais experiente, está lidando com o
pregão em um dia fatídico
como o ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center,
em Manhattan, no dia 11 de
setembro de 2001, em movimento de compra de ações,
com o limite de baixa todos
os dias, é praticamente impossível limitar as suas perdas. “É bem arriscado. Bom
ou ruim, não é mil maravi-
des prejuízos.
ADRIANO HANNY
Para Nilson, Bolsa é um vício, pois, um dia você está rico e, no outro, está pobre
lhas igual a gente acha, não”,
alerta o ex-investidor.
No entanto, a experiência
com as diversas situações só
vem com o tempo, conforme
relata Narezi. “Isso vem de
escola de Bolsa mesmo, do
Pregão. Dia-a-dia, você vai
fazendo conta. Toma uma
HP na sua mão e se vira. Daí,
você aprende as coisas na
marra e, assim, vamos indo”,
ensina. Ele conta que adquiriu alguns bens no período e
que não perdeu tudo antes de
deixar o mundo dos investidores. “Eu consegui segurar
os rumos bem. E, assim, me
ajudou a crescer. Conheci o
lado rico e o pobre”.
CONSELHOS
Narezi afirma, ainda, que
aqueles que pretendem se
arriscar, trabalhando nesta
área do mercado financeiro
devem estar alerta com relação a questões como análises
de tendências de mercado,
apostas em altas quantias de
dinheiro e, mesmo, ter noções exatas sobre os reflexos
da estabilização econômica.
“Acontece o seguinte: um
dia está rico, no outro está
pobre. Esse é o nosso dia-adia, a gente está acostumado.
Agora, esse pobre você tem
que limitar para não quebrar
de uma vez...”.
Após trabalhar tantos anos
no mercado financeiro, Nilson Narezi também conseguiu verificar situações de
corrupção. “O mercado e o
sistema financeiro são podres de verdade. Vaza muita
informação, tem muita lavagem de dinheiro. Tudo é um
ninho de cobra. Saí por puro estresse”. O ex-investidor
revela que “um funcionário
por mês tem síndrome
do pânico” e que muitas
questões problemáticas
não vêm à público, pois
é preciso transmitir uma
imagem de segurança.
“Então, se você divulgar
no jornal isso que estou
falando para você, por
exemplo, o que eles vão
fazer? Se, no caso, eu fosse
operador, eles iriam me expulsar. Eles iriam mandar a
corretora mandar me tirar
do pregão. Não tenho nada
a perder, pois não tenho
mais vínculo nenhum com
a Bolsa, sem problemas”.
Para finalizar, Nilson
Narezi aconselha os caminhos para um novo investidor. “A bolsa é um ótimo
investimento. Mas, que tenha alguém de confiança,
mas confiança de verdade,
sabe? Não é chegar, vou
investir, acabou. É uma
boa, mas conheça primeiro”, alerta. Nilson diz que
não bastam “esses cursos
de três dias que fazem nas
universidades”, pois só a
experiência vai trazer o conhecimento necessário. E
compara o mundo da Bolsa de Valores a um reality
show. “O pessoal que adora
o Big Brother, pode trabalhar no pregão, pois tem 94
câmeras. Tem zoom também. Se você cochichar na
orelha de alguém, a Bolsa
consegue ouvir o que aconteceu, tudo o que você faz.
Porque, qualquer coisa em
falso, os telefones são todos
grampeados. E, então, para
quem gosta, está beleza”.
diz Adriano. Isso significa
que não se deve achar que,
por ser jovem, pode comprometer todo seu patrimônio,
porque dará tempo de recuperá-lo. O esperado é que se
forme um capital de risco e
procure empresas com liquidez. Existem universitários
que já investem em ações. A
maioria deles o faz pensando na aposentadoria.
O especialista também
argumenta que as pessoas
tendem a acreditar que, ficar um tempo sem investir
é prejudicial, pois deixa seu
dinheiro parado. Adriano dá
um exemplo, dizendo que,
quando o mercado está com
muita oscilação, compensa
você apenas “ficar de fora”
e observar o que vai acontecer, evitando, assim, um prejuízo maior. Se você compra
mil reais em ações e, com
uma baixa acentuada, perde
R$ 250. Caso não tivesse entrado, continuaria com seu
valor inicial.
Mas, é preciso lembrar que
há até forma correta de perder. Os grandes investidores
adotam a teoria de que, para
cada três, perdas há um ganho. Vale lembrar que esse
lucro deve ser superior às
três perdas. E, se, mesmo
depois de todas as análises,
você realizar duas perdas
consecutivas e crescentes, é
recomendável a venda das
ações e redefinição do seu
plano de ação.
Dicionário de termos técnicos
KLÍCIA MAGALHÃES
3º SEMESTRE
Carteira: Lista de empresas em que se tem ações;
Mercado: Conjunto das empresas que abrem seu
capital na Bolsa de Valores. Quando dizemos que o
mercado está em baixa, é porque a maioria dessas
empresas está com papéis desvalorizados;
Liquidez: Quantidade de gente negociando ações
daquela empresa. Se a firma não tem liquidez,
quando for preciso vender suas ações, corre-se o
risco de não haver ninguém interessado em comprá-las;
Capital de risco: Dinheiro para investir. E que, se
você o perder, não comprometerá suas economias.
Sociedade Anônima: É como são classificadas as
empresas que desejam captar recursos repartindo
a empresa em pequenos “lotes” que são chamados
de ações ou papéis. Cada pessoa que compra
ações torna-se uma pequena sócia da firma. Como
nem todos os sócios se conhecem, chama-se Sociedade Anônima. Os negócios que são sociedade
anônima têm a sigla S/A em seu nome.
Livros sobre educação financeira
BRUNA GALINA
3º SEMESTRE
O autor americano Robert T. Kiyosaki, famoso
por seu best-seller “Pai Rico, Pai Pobre”, afirma
que investir em ações é um dos componentes da
riqueza. E que você sabe que está rico quando
acumulou um patrimônio que lhe permita viver sem
precisar trabalhar. Outro autor do gênero, também
estrangeiro, é T. Harv Ecker de “Os segredos da
mente milionária”. Pendendo para o lado da autoajuda, Ecker tem outro argumento sobre riqueza.
Ele diz que sabemos que estamos ricos quando
não podemos medir com exatidão a quantidade
de dinheiro que temos. Os livros sobre educação
financeira estão se popularizando e ganhando
autores exclusivos. Uma famosa obra também é
“Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”, de Gustavo Cerbasi.
Unifolha
EDUCAÇÃO
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
06
Filosofia e Sociologia no ensino Médio
ISABELA FERREIRA
THARYANA DURIGON
THAYANA FREITAS
3º SEMESTRE
A Filosofia e a Sociologia, disciplinas que foram
excluídas da grade escolar
na época da ditadura no
Brasil (1964-1984) por militares que não queriam que
a população despertasse o
pensamento crítico quanto
à realidade social brasileira
daquele momento, voltam às
salas de aula dos estudantes
brasileiros que cursam atualmente o ensino Médio.
Conforme o Parecer Federal nº 38/2006 e a Resolução
nº 04/2006, e a Lei Estadual n° 2787/2003 (que dispõe
sobre o Sistema Estadual
de ensino de Mato Grosso
do Sul), as Instituições de
Ensino públicas e privadas
obrigatoriamente devem incluir as matérias de Filosofia
e Sociologia no currículo escolar do ensino Médio.
Segundo as leis citadas, é
importante incluir essas matérias no currículo escolar,
pois, elas despertam o pensamento crítico dos alunos
quanto às transformações da
sociedade, formando, assim,
alunos cidadãos e éticos.
A técnica pedagógica da
disciplina de Sociologia da
Secretária Estadual de Educação, Fátima de Carvalho,
informa que todas as escolas
públicas de Mato Grosso do
Sul já incluíram essas matérias em suas grades curriculares, ao contrário das
particulares. A reportagem
apurou que, ainda, existem
escolas privadas que desconhecem tal obrigatoriedade.
REGRAS
Fátima disse, ainda, que
fica a critério dos estabelecimentos de ensino a escolha de em qual série aplicar
as duas matérias. Mas, ela
acredita que é importante
implantar a Filosofia no 1° e
2° ano do Ensino Médio porque essa disciplina introduz
o estudo da Sociologia, que
é uma matéria abstrata.
Como a implantação dessas leis é recente, o número
de profissionais ligados à
área ainda é pequeno. Diante disso, professores de História, Geografia e até mesmo
de Química, conforme esclareceu Fátima de Carvalho,
vêm assumindo o cargo de
docentes de Sociologia e de
Filosofia.
Em Mato Grosso do Sul,
é mais difícil encontrar um
professor de Sociologia do
que um de Filosofia, pois,
nenhuma universidade do
estado oferece o primeiro
curso em Licenciatura plena. Somente a Universidade
Federal de Mato Grosso do
Sul possibilita o acesso ao
curso de Ciências Sociais
porém, com habilitação em
bacharelado.
Com a introdução destas
diciplinas, as pessoas que se
interessam pela Sociologia
voltada para a área de Educação, deverão exigir das
universidades cursos nesta
área, com habilitação em licenciatura plena.
É importante ressaltar que
todas as unidades da federação já se adaptaram a essa
nova inserção. Somente o
estado de São Paulo, ao contrário, através da indicação
62/2006 decidiu pela não
obrigatoriedade das disciplinas no currículo escolar
das escolas paulistas, tanto
públicas quanto privadas. O
Conselho Estadual de Educação (CEE) alegou que esta
medida “interfere na autonomia das unidades escolares e
tem implicações não desprezíveis quanto aos recursos
humanos e financeiros”.
Professores aprovam inclusão na grade escolar
ISABELA FERREIRA
VANESSA MENDONÇA
THAYANA FREITAS
3º SEMESTRE
Com a inclusão da Sociologia e da Filosofia no currículo do ensino Médio, os
profissionais ligados à área
estão sendo mais valorizados. Diante dessa situação,
entrevistamos professores de
escolas públicas e privadas,
para saber a opinião destes
mestres quanto a esta inserção obrigatória.
Ministrando aulas em uma
escola particular de Campo
Grande, o professor de Filosofia, Kelly Lúcio Queiroz
Pereira, gostou da implantação dessas duas matérias na
grade curricular. Porém, ele
critica a maneira pela qual a
prática de ensino vem sendo
recomendada pelos órgãos
responsáveis, pois acredita
que não é só o estudo desta
disciplina que “levará os alunos a pensarem”. Afinal, na
sua opinião, as outras matérias, como Língua Portuguesa
e Matemática, por exemplo,
também despertam o raciocínio crítico do educando.
Além disso, para Kelly Queiroz, aula somente uma vez por
semana é muito pouco para o
estudo desta disciplina.
O professor de Sociologia,
Fortunato Lopes Bennett, que
trabalha neste mesmo colégio
particular da capital, também
apreciou a inclusão das disciplinas na grade curricular. Ele
pensa que com o estudo da
Sociologia os educandos desenvolvem melhor a capacidade de
interpretar os fatos históricos, as
transformações políticas e até
as científicas que foram modificando os modelos da sociedade
ao longo do tempo.
A partir de debates, eleições
de líderes e questionamentos com base em exibição de
filmes, o professor Fortunato
procura chamar a atenção dos
seus alunos. Contudo, há certos
temas em que os estudantes já
têm um pensamento formado.
Nestes casos ele sente dificuldades para demonstrar aos adolescentes as variações de interpretação do tema em questão.
REDE PÚBLICA
As escolas públicas vêm
abordando nas aulas de Sociologia e Filosofia, a questão
ética de sua cidadania. Oficinas, peças de teatros e exibição de filmes didáticos são
os métodos que os docentes
utilizam com o objetivo de
incentivar a aprendizagem.
O professor de Filosofia do
ensino Médio de uma escola pública Marcelo Winckler,
afirma que já era em tempo
a implantação das matérias.
Ele ressalta que a sociedade
tem uma extrema preguiça de
pensar. “Ninguém quer queimar a pestana para resolver
problema nenhum. Isso porque somos filhos da ditadura,
que abraçou uma ideologia”.
Quando o governo ditatorial resolveu excluir dos currículos o estudo dessas disciplinas, foi para impossibilitar
a sociedade de refletir por si
mesma, conforme acredita
Marcelo Winckler. Quanto a
esse aspecto, o professor cita a música “Admirável Gado
Novo” de Zé Ramalho, que
compara ao gado um povo que deixa que os outros
pensem por ele. Realidade
ainda presente, pela falta de
interesse e de concentração.
Para tentar amenizar este
problema, o professor organiza, dentro de sala de aula,
seminários de leitura, com o
intuito de auxiliar os alunos
que tem dificuldades na interpretação de textos.
Tanto a técnica pedagógica
da disciplina de Sociologia
da Secretaria Estadual de
Educação Fátima Aparecida,
quanto o professor Marcelo Winckler acreditam que,
dentro de quatro a cinco
anos essas disciplinas avaliativas serão incluídas nos
processos seletivos, como
ocorre em vestibulares de
IZABEL ESCOBAR
Professor Marcelo Winckler utiliza metodos diferenciados para prender a atenção dos alunos da escola pública
outros estados. Afinal, como
diz Marcelo: “Já que outras
matérias estão inseridas nos
processos seletivos, porque
não ter a Filosofia e Socio-
logia, que auxiliam o aluno
ao discursar sobre um problema como o aquecimento
global, que reflete problemas ideológicos e econô-
micos?” Ele acredita que o
estudo da causa destes problemas podem ser buscadas
via discussão de ambas disciplinas.
Alunos discutem a nova lei
ISABELA FERREIRA
GISLAINE GIRONDE
THAYANA FREITAS
3º SEMESTRE
Foi com o intuito de enriquecer a bagagem cultural
dos estudantes brasileiros,
que a Filosofia e Socio-
logia foram inseridas na
grade. Mas o que será que
eles pensam quanto a esta
obrigatoriedade? Os alunos
Letícia Santos de Oliveira
e Cláudio Douglas Veiga,
do 1° ano do ensino Médio
de uma escola pública de
Campo Grande, dizem que
o estudo da Filosofia vem
se enquadrando de forma
interessante na grade escolar. Eles afirmam que a disciplina os ajuda na maneira
de proceder no dia-a-dia,
tornando-os mais críticos.
Além disso, eles acreditam que a matéria é im-
portante para expandir o
conhecimento. Letícia e
Cláudio dizem, ainda, que
não enfrentam dificuldades
quanto à matéria e que o
método utilizado pelo seu
professor vêm chamando a
atenção dos alunos.
Já os estudantes Gustavo
IZABEL ESCOLBAR
Alunos da disciplina de Sociologia participam de oficina com um diretor. A idéia é enriquecer a bagagem cultural e estimular o pensamento crítico
Henrique da Silva e Mayara Corrêa Moura, alunos
do 3° ano do Ensino Médio desta mesma instituição pública, afirmam que,
apesar de acreditarem que
a matéria de Sociologia
é importante para a sua
interação social, as aulas
são monótonas, o que dificulta a aprendizagem e
o interesse deles por essa
disciplina.
Mayara pensa também,
que antes de incluir essas
disciplinas na grade escolar, os órgãos responsáveis
pela implantação desta
lei, deveriam ter buscado
a opinião dos estudantes
sobre a importância ou
não da implantação destas
matérias. “É importante
estudar a Filosofia e a Sociologia, pois essas matérias desenvolvem o espírito crítico do jovem, que
hoje se preocupa mais em
como ganhar em um jogo
de computador do que
se ligar nos assuntos que
assolam o nosso país e a
nossa cidade”, comenta a
aluna do 3° ano do ensi-
no Médio de uma escola
particular da capital, Ana
Karine Vilela.
Ana, que aprova a nova Lei, acredita que, sem
essas matérias, no futuro
ela se tornaria uma profissional que só olha para
o seu próprio campo de
trabalho. Pois, segundo a
jovem, a Filosofia e a Sociologia trabalham com o
seu consciente, fazendo-a
entender a sociedade e desenvolver críticas quanto
aos assuntos que hoje são
prioridade.
Eduardo Cândido Ogusuku de Oliveira, do 1°ano
do ensino Médio da mesma escola particular, (apesar de ter somente a matéria de Filosofia), acha válida a implantação destas
matérias na grande curricular, pois elas acrescentam em seu conhecimento. “É importante estudar
Filosofia, pois esta matéria instiga você a pensar
e procurar respostas para
determinados assuntos
que no dia-a-dia passam
despercebidos por nós”.
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
SEGURANÇA
07
MODELO - ANTI-FUGA
Estrutura de saúde, alimentação e equipamentos de segurança custa aos cofres públicos cerca de R$ 4 mil/mês por detento
Presídio Federal isola elite do crime
SÉRGIO PAVÃO
3º SEMESTRE
Todos temiam. Os criminosos e a população. Mas
o modelo de presídio antifugas, o Presídio Federal de
Campo Grande foi instalado
na capital e inaugurado em
dezembro de 2006. O modelo de presídio construído
para combater as principais
lideranças do crime, fez as
organizações criminosas sofrerem um duro golpe.
Para o delegado da Polícia
Federal e atual diretor do
Presídio Federal de Campo
Grande, Arcelino Damasceno, “este modelo eficaz e seguro, surge como um grande
auxílio para os presídios estaduais, pois o atual sistema
carcerário brasileiro perdeu
o controle sobre os criminosos detidos e amontoados
nos presídios do país”.
Com o objetivo de isolar e
enfraquecer o crime organizado, o Presídio Federal de
Campo Grande é apenas um
dos modelos implantados
no país e que estão localizados em pontos estratégicos.
Catanduvas (PR), Mossoró (RN), Porto Velho(RO) e
Brasília(DF), além de Campo
Grande são as cidades que
receberam ou irão receber a
“elite” do crime.
ESTRUTURA
O hóspede de um presídio federal tem que possuir
um vasto currículo criminal.
O detento, na sua chegada,
passa por uma triagem. Posteriormente será avaliado
por uma equipe de psicólogos e médicos para poder ter
o seu perfil traçado. A par-
tir desta avaliação, o preso é
encaminhado ao setor determinado setor para o cumpri-
mento da sua pena.
O Sistema de custódia federal destes presos faz com
que, em cada ala, com capacidade para 13 presos, não
apresentem detentos com o
ADRIANO HANY
Campo Grande é uma das quatro cidades do Brasil que recebeu a estrutura modelo do Presídio de Segurança Máxima Federal, ainda considerada inviolável
mesmo ramo de atividade.
Ou seja, um traficante não
pode estar na mesma ala que
outro envolvido com drogas.
Cada detento fica em uma
cela individual, com cinco
refeições diárias, livros à
disposição (cinco por semana, previamente escolhidos
pela administração que não
contenham nenhuma conotação com o crime).
Alguns dos nomes mais
famosos da criminalidade
estão detidos em Campo
Grande. Fernandinho BeiraMar, o traficante colombiano Juan Carlos Abadia e o
comendador Arcanjo são os
mais conhecidos pela mídia,
infelizmente pelas ações no
crime. Atualmente estão detidos em Campo Grande 158
presos, mas este número é
muito rotativo, pois depende
da solicitação da justiça e da
movimentação de algumas
lideranças do crime pelas penitenciárias do país. O total
de vagas que dispõe Campo
Grande é de 206 presos.
Toda esta estrutura para
os atendimentos aos detentos custa aos cofres públicos
em média, R$ 4 mil mensais, por preso. “É um preço
que compensa, pois tiramos
de circulação um indivíduo
que nas ruas causa mortes,
extorsões e onera o estado
com atendimentos nos hospitais públicos. Se fizermos
a conta deste custo ao estado, um preso isolado custa
menos”, pondera o agente
Napoleão, responsável pela
escolta dos presos .
Agentes penitenciários descrevem estrutura
SÉRGIO PAVÃO
3º SEMESTRE
“Todos os direitos e a condição humana dos detentos são preservados, o que
implica em um sistema de
atendimento médico exemplar, com alguns médicos
disponíveis 24 horas por dia
em caso de necessidade”, garante o agente Arruda, que
cuida do setor médico do
Presídio Federal de Campo
Grande.
O contato com os presos é
feito sempre por uma dupla
de agentes penitenciários
federais, que na sua maioria
(80%), possuem curso superior. Este atendimento e o
forte esquema de segurança,
aliado ao bom salário, torna
o agente um servidor quase
incorruptível, na opinião do
delegado Damasceno, diretor
do Presídio Federal de Campo Grande.
Se houver qualquer tentativa de corromper um funcionário, agentes da central
de Brasília, que monitoram o
presídio com 240 câmeras estão atentos 24 horas por dia e
podem frustrar qualquer tentativa de fuga. Todas as celas
e grades são controladas por
esta central. Uma passagem
só será aberta quando uma
outra estiver fechada.
Não seria um exagero comparar o presídio federal a um
reality show, mas este programa não oferece um prêmio ao vencedor. O prêmio
maior será o seu cumprimento da pena e provável volta à
sociedade para novamente
colaborar com ela.
Toda esta estrutura à dis-
posição dos detentos não os
exime de algumas obrigações. Todos conhecem e devem cumprir os regulamentos internos, sob pena de sofrerem sanções punitivas. O
Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) é o castigo para
aqueles detentos que não se
enquadram nas normas do
presídio. Cabe ao juiz federal
impor e determinar esta punição e, a partir disso, o preso não tomará o seu banho
de sol, não receberá visita íntima ou não irá ler um livro.
O detento que está a mais
tempo cumprindo o RDD é
o traficante Fernandinho
Beira-Mar, pois continuava
a comandar a sua organização criminosa através da sua
esposa (recentemente presa
também) e de seus advogados.
ADRIANO HANY
Cela-padrão, que atende as necessidades mínimas exigidas pelas organizações que lutam pelos direitos humanos
Tentativa de libertar presos permanece um mistério
LUANA D’ARK
PRISCILA BARBIÉRI
THALITA RODRIGUES
YURI RODRIGUES
3º SEMESTRE
No dia 13 de abril, domingo, ocorreu, por volta das 22
horas, um ataque ao Presídio
Federal. Pessoas ainda não
identificadas teriam disparado
tiros contra o local enquanto
um helicóptero sobrevoava
a área. As informações continuavam sigilosas até o fechamento desta edição. Mas
o objetivo da ação, segundo o
diretor Arcelino Damasceno,
que não quis prestar mais explicações, seria para libertar
detentos. Como conseqüência,
os prisioneiros foram proibidos de receber visitas, incluin-
do os advogados.
O presidente do Centro de
Documentação de Movimentos Populares (Cedampo), Haroldo Borralho, reforça que,
pelo fato de o presídio ser
mantido sob segurança 24 horas por dia, os autores do ataque não obtiveram êxito em
tal ação. “É a primeira vez que
acontece e vai acontecer novamente. Porém, os detentos são
cidadãos e tem atividades a
realizar, inclusive sexual, não
podendo ficar sem visitas”.
Borralho lembrou, ainda, de
uma polêmica histórica envolvendo o presídio, antes mesmo de sua construção. “Na
época em que estava sendo
construído o Presídio Federal,
o Ministério Público Federal
embargou a obra por três meses. Hoje, ela está lá, ao lado
do lixão e não dá para mudar,
afinal foram investidos para
tamanho “hotel”, R$ 31 milhões”. A Cedampo lida, entre
outras questões, com temas ligados ao meio ambiente.
“Não é recomendado construir próximo ao lixão, por
ser considerado um local insalubre, que põe em risco, no
caso, a saúde dos detentos”,
ressaltou Borralho. Ele revelou, ainda, que todos os dias o
Cedampo recebe reclamações
de que há brigas no presídio,
mas fez questão de reforçar
que não pode desenvolver
trabalho junto aos detentos, já
que esta é uma função da Pastoral Carcerária.
Quando questionado sobre
o “privilégio” dos “hóspedes”
do presídio em questão, Haroldo expõe: “Acredito que
não pode se considerar privilégio, uma vez que eles estão
presos. Agora, pelo lado da
ociosidade, realmente. Levando em conta o alto valor que
eles custam, eu acho que eles
tinham que produzir, seja em
uma colônia agrícola, seja
como sociedade. É claro que
com bastante segurança e sem
corrupção, com uma vigilância rigorosa e reforçada”.
VIZINHO RARO
Ao pesquisar nas proximidades do Presídio Federal,
em um raio de 500 metros
são localizadas chácaras e
propriedades particulares.
Diante do caminho que dá
acesso às chácaras, em frente
da sua propriedade, próximo
ao órgão federal, a reportagem encontreou um senhor
que preferiu não se identificar e buscou saber quais
eram as suas opiniões diante da construção do presídio
perto de sua propriedade.
O senhor, aparentemente
com seus 70 anos, aproximadamente, disse que, antes, em questões de ponto
de referência, a região era
conhecida como “próxima
ao lixão”, o que denegria um
pouco a imagem da localidade. Hoje, em sua opinião,
tudo mudou. A região agora
leva a informação de que é
situada próximo ao Presídio
Federal, eximindo a imagem
ruim que o lixão transmitia
às proximidades.
Interessante destacar que,
ao conversar com o mesmo
senhor, sentado em um pedaço de tronco de arvore
caído na entrada de sua humilde moradia, o velhinho
calmamente, ao fumar seu
cigarro de palha disse: “Essa prisão nos trouxe segurança”, ao embalo de longas
gargalhadas naquele rosto
marcado com o tempo.
A valorização foi um fator
de importância também na
região, antes esquecida, e
que agora está sendo visada, para a aquisição de terras para o uso particular
08
Unifolha
ESPORTE
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
ESTRUTURA - DIFICULDADES
Federações precisam de apoio
RENAN CAMPOS
3º SEMESTRE
Mato Grosso do Sul sedia
40 federações de esportes.
Um número grande para uma
estrutura mediana. A estrutura para o esporte da região
vem crescendo, mas mesmo
assim, ainda é muito inferior
aos grande pólos do Brasil.
Em Campo Grande são raros
os esportes que conseguem
atrair eventos de nível internacional, e até nacional, a
grande maioria são regionais.
O presidente da Federação
de Tênis, Valdemar Scacalossi, afirmou que a prefeitura e o governo diminuíram
o apoio dado ao esporte e
que isso tem atrapalhado a
realização dos torneios. Valdemar também comentou
que a estrutura do tênis em
Campo Grande é boa, mas que
falta mais capacitação para os
treinadores.
Questionado sobre o apoio
oferecido aos atletas, o presidente destacou que há um
torneio nacional realizado anualmente em Brasília e que a
federação cobre os gastos, mas
admite que, apesar da iniciativa, isso ainda é muito pouco.
RECONHECIMENTO
O atleta de futsal, Rodrigo
Teixeira, de 28 anos é hoje
ala/armador da equipe Modugno Calcio a 5, da série
A2, da Itália. Revelado em
Campo Grande, já atuou em
times do Paraná e conquistou até o titulo da série A
italiana. Ele mensurou a diferença do esporte em Campo Grande com o Paraná e a
Itália. Na opinião de Rodrigo
Teixeira, no Paraná há um
maior senso de profissionalismo, a federação apresenta
projetos que atraem o patrocínio de indústrias para o
esporte e, com a participação de empresas, fica mais
fácil estruturar uma equipe
e montar competições fortes.
No Paraná existem três divisões no futsal: Ouro, Prata e
Bronze, sendo que a última
conta com a participação de
40 equipes.
Ainda, segundo relata Rodrigo Teixeira, a federação
paranaense apóia o comparecimento do publico nos ginásios e isso chama atenção
dos meios de comunicação e
valoriza o clube e os atletas.
De acordo com Tex, como
Rodrigo é chamado pela imprensa italiana, a principal
diferença é que no Paraná
os clubes dão a condição do
atleta mostrar seu valor e tra-
balhar apenas com o esporte. O jogador já conseguiu a
cidadania italiana e comenta
que a Itália, apesar de não ser
grande, é muito organizada e
apóia muito os atletas. “Lá se
um time acaba, a federação
dá apoio para que ele não fique sem jogar”.
Questionado sobre como
mudar este cenário no Mato Grosso do Sul, o jogador
respondeu que não é fácil
mas, que tudo deveria começar do zero. Campeonatos
organizados, times fortes e
interessados na competição, apoio da imprensa e de
empresas e órgãos públicos,
projetos sociais em conjunto com entidades esportivas
para apoiar as modalidades
em todos os locais e, principalmente, campanhas para
conscientizar as pessoas de
que o esporte é saudável
Federações de MS
LIGA SUL-MATO-GROSSENSSE DE FUTEBOL FEMININO - LIGA SULMATO-GROSSENSSE DE FUT-VOLEI - LIGA SUL-MATO-GROSSENSSE
DE BIRIBOL - LIGA INDEPENDENTE DE PROFISSIONAIS DA ÁREA
AQUÁTICA DE MS - FEDERAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE ESPORTE DE MS
- FEDERAÇÃO SUL-MATOGROSSENSSE DE GINÁSTICA - FEDERAÇÃO
SUL-MATO-GROSSENSSE DE XADREZ - FEDERAÇÃO SUL-MATOGROSSENSSE DE SINUCA E BILHAR - FEDERAÇÃO SUL-MATOGROSSENSSE DE FULL CONTACT E KICK BOXING - FEDERAÇÃO DE
VOLEIBOL DE MS - FEDERAÇÃO DE TRUCO DE MS - FEDERAÇÃO
DE TIRO ESPORTIVO DE MS - FEDERAÇÃO DE TÊNIS DE MS FEDERAÇÃO DE TÊNIS DE MESA DE MS - FEDERAÇÃO DE TAE KWONDO DE MS - FEDERAÇÃO DE PUGILISMO DE MS - FEDERAÇÃO DE
PARAQUEDISMO DE MS - FEDERAÇÃO DE MOTONÁUTICA DE MS FEDERAÇÃO DE MOTOCICLISMO DE MS - FEDERAÇÃO DE MALHA DE
MS - FEDERAÇÃO DE LUTA DE BRAÇO DE MS - FEDERAÇÃO DE KUNGFU E KUO SHU DE MS - FEDERAÇÃO DE KARATE DE MS - FEDERAÇÃO
DE JUDÔ DE MS - FEDERAÇÃO DE HANDEBOL DE MS - FEDERAÇÃO
DE FUTEBOL DE SALÃO DE MS - FEDERAÇÃO DE FUTEBOL DE MS
- FEDERAÇÃO DE DESPORTO DE MS - FEDERAÇÃO DE DESPORTO
AQUÁTICO DE MS - FEDERAÇÃO DE DAMA DE MS - FEDERAÇÃO DE
CICLISMO DE MS - FEDERAÇÃO DE CAPOEIRA DE MS - FEDERAÇÃO
DE CANOAGEM DE MS - FEDERAÇÃO DE BOLICHE DE MS
FEDERAÇÃO DE BOCHA DE MS - FEDERAÇÃO DE BICICROSS
DE MS - FEDERAÇÃO DE BEISEBOL E SOFTBOL DE MS FEDERAÇÃO DE BASQUETEBOL DE MS - FEDERAÇÃO DE
AUTOMOBILISMO DE MS - CLUBE VÔO LIVRE – TUIUIU
Atleta sonha com futuro
ANDRÉ MESSIAS
Renata Pinheiro, de 11 anos, já conquistou o 3º lugar no Campeonato Brasileiro e obteve 1º lugar nos Jogos Abertos
LUIS COPPOLA
VINÍCIUS PEREIRA
3º SEMESTRE
Renata Tereza do Santos
Pinheiro, 11 anos, é um fruto do projeto “Atleta do Futuro”, realizado pela Prefeitura
Municipal de Campo Grande, juntamente com a Fundação Municipal do Esporte
(Funesp). Desta iniciativa participam cerca de 350 crianças
de 5 a 14 anos de idade. Renata faz ginástica olímpica e divide o seu tempo entre treinamento e escola. Está cursando
o sétimo ano do Ensino Fundamental. Treina diariamente,
quatro horas por dia.
Questionada se o treinamento atrapalha o seu rendimento na escola, ela responde
que não e garante que tira ótimas notas. Essa paixão pela
ginástica olímpica começou
desde cedo. Renata sempre
gostou de ginástica e decidiu,
com a ajuda de seus pais, a
praticar este esporte. A ginástica olímpica já rendeu vários
títulos, mas os principais foram: Campeonato Brasileiro
de Ginástica Olímpica, onde
conseguiu o 3° lugar e os Jogos Abertos, onde conquistou
o 1º lugar.
Atualmente, o seu local de
treino passou por uma grande
reforma, com a ajuda dos pais
das crianças, que participam
do projeto, e com um apoio
da própria prefeitura. “Conta
com novos aparelhos de ginástica olímpica, mas ainda
encontramos aparelhos com
até 11 anos de uso”, segundo
informa o seu treinador, Alexandre Carvalho. Ele já foi
atleta profissional, disputou
dois campeonatos brasileiros,
quatro mundiais, campeonatos carioca e paulista.
‘Hoje a estrutura do esporte
olímpico está muito melhor
se formos comparar com algum tempo atrás”, acredita
Carvalho. Ele relatou, também, que falta muita coisa
para se igualar aos grandes
centros esportivos como São
Paulo e Rio de Janeiro, mas
vê uma grande melhora e
incentivo dos governantes e
principalmente da prefeitura
de Campo Grande. “Uns dos
grandes obstáculos que ainda
existem na ginástica olímpica
ainda é a própria cultura da
nossa região”, opina.
Segundo Alexandre Carvalho, alguns pais de crianças
questionam o horário de treinamento. Para esses pais, pode “forçar muito a criança”.
Mas, na escola do Flamengo
do Rio de Janeiro, na qual ele
já treinou como atleta, “as
crianças treinam de manhã,
vão para a escola no período da tarde e de noite ainda
participam do treinamento”.
Diante disso, o treinador não
vê problema nenhum nessa
rotina. “Claro que a ginasta não tem a mesma vida de
uma criança da mesma idade,
e comparada com a de outras
cidades na qual a estrutura é
adequada. Porém, brinca, estuda, apenas tem um esporte
que ocupa o seu tempo de
forma sadia”.
PROJETO
Criado em 1987, o projeto
“Atleta do Futuro” é dividido
em 2 partes: rendimento e
projeto social. No primeiro
caso, são organizadas as seletivas das atletas que possuem um biotipo especifico
para o esporte, e são realizadas duas vezes ao ano. A
outra etapa é o projeto social, que visa propiciar lazer
e atividade física relacionada a ginástica olímpica para
aquelas pessoas que não visam um futuro profissional
na ginástica olímpica.
Os professores são capacitados e ex-atletas e também
são divididos duas equipes
para atuarem no projeto
social onde se tem menos
cobrança e oito para o rendimento .Eles buscam o desenvolvimento, coordenação , elasticidade , prática
e aprendizagem. O centro
de treinamento é composto por: cama elástica, barra
assimétrica, trave de equilíbrio, pista de tumbling (solo), espaldares, argolas, barra fixa (masculino), paralela
(masculino),mesa de salto e
cavalos.
Funesp reclama da falta de investimentos
PEDRO ZIMMERMANN
RAFAEL GORDO
3º SEMESTRE
O Chefe de Divisão de
Apoio ao Esporte e Rendimento da Fundação Municipal de Esportes (Funesp), Jairo
Ricardes Rodrigues deixou
claro a falta de apoio existente por parte da iniciativa privada e mesmo dos governos
federal e estadual e reivindica
a constituição de uma lei de
incentivo aos esportes. Relatou, também, que a principal
causa para a deficiência de estrutura do esporte em Campo
Grande é a falta de financiamento para que os atletas possam viajar, benefícios médicos
e investimento na área.
Segundo Jairo Rodrigues, a
da não suporta grandes eventos devido à falta de estrutura
quanto a meio de transporte
rodoviário, de rede hoteleira, locais projetados para
esporte e de infra-estrutura
adequada.
Contudo, ele esclarece que
há projetos na Caixa Econômica Federal para construírem
pistas e locais adequados para
treinamentos e realizações de
eventos esportivos. “O orçamento deste projeto é de R$
3 milhões, visando melhor estrutura esportiva”.
Muitos eventos são retirados do calendário devido à
retenção de gastos, e o esporte é obrigado a sobreviver à
“migalhas”, na opinião do representante da Funesp. Jairo
Rodrigues informa que a Fu-
Futuro” que, há quatro anos,
mantém 47 escolinhas de
futebol, quatro de handball,
quatro de basquete, além de
outros projetos sociais.
Rodrigues ressalta que, a
partir destas iniciativas, surgem talentos, porém, estes são
prejudicados pela falta de orçamento. “No futuro terá início o Projeto Geração de Campeões, que é parceiro de universidades, Unimed, Plaenge
e Comper. Todavia, as empresas que investem visam retorno”. Para canalizar melhor
esses investimentos, segundo
Rodrigues, seria necessário
criar uma lei de incentivo aos
esportes. Um exemplo citado
pelo entrevistado é a cidade
de São Caetano do Sul (SP),
que cumpre bem este papel,
ANDRÉ MESSIAS
Ex-judoca Jairo Rodrigues afirma que o esporte em Mato Grosso do Sul é obrigado a viver de “migalhas”
Mais informação, muito
mais entretenimento
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
JOSÉ RAUL VALÉRIO
IZABEL ESCOBAR
RURAL
ADRIANO HANY
ENTREVISTA
SAÚDE
Rastreabilidade bovina:
como a tecnologia vem
ajudando a vida no campo
e o combate contra as
pragas na pastagem.
Aleixo Paraguassu fala em
entrevista sobre racismo e
o papel do negro na
sociedade brasileira.
Conquistas na luta contra o
câncer. História de pessoas
que estão vivendo com a
doença que mais mata no
Brasil.
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Página 15
Página 16
Estado do Sertanejo?
ELIS REGINA NOGUEIRA
“Corvo” diz que pessoas buscam movimento
GUSTAVO DE DEUS
3º SEMESTRE
Mato Grosso do Sul é mais
conhecido pelas criações de gado,
pelas plantações de soja e pelo
turismo. Temos a nossa cultura
profundamente ligada aos costumes
rurais, inclusive no gosto musical.
Mas será que realmente somos a
terra da música sertaneja?
Há anos que músicos sul-matogrossenses empunham suas
guitarras, baixos e baterias, em
busca de espaço para mostrar
suas músicas. Em um estado onde
praticamente toda a população
gosta de música sertaneja, o
espaço para shows de rock sempre
foi muito limitado, assim como
é restrito o interesse do público.
Até que ponto essa supremacia da
música sertaneja atrapalha a cena
roqueira?
Para o guitarrista do Bando do
Velho Jack, Fábio Terra, esse rótulo de
que aqui é a terra da música sertaneja
dificulta o trabalho da banda. “Se em
dois bares bem próximos, um estiver
tocando rock, e o outro sertanejo, o
cara que sai à toa de casa para azarar,
passa na frente e vê que o rock está
devagar e o sertanejo está mais cheio,
com certeza ele vai para o sertanejo”.
Já para um dos integrantes do Filho
dos Livres, Guilherme Cruz, o rótulo
não atrapalha, pelo contrário, ajuda.
“A nossa música atinge o público
sertanejo, que é muito grande, é o
maior do estado. Tudo bem que eles
nem imaginam quem somos nós”.
As baladas mais concorridas de
Campo Grande no momento são
as “Violadas”. Uma multidão de
jovens estudantes se reúne para
paquerar, se divertir e é claro, ouvir
música sertaneja. Se a respeito do
rótulo sertanejo, Fábio e Guilherme
têm opiniões diferentes, sobre a
violada, o pensamento dos dois
músicos é semelhante. “A moda
agora é violada, todo mundo vai,
não são todos que gostam, mas o
cara pensa: se todo mundo vai,
eu também vou...Essa moda vai
passar, assim como o pagode
Viola atropela a guitarra
ALINE CIQUEIRA
ELZA RECALDES
3 SEMESTRE
“Violada” é o lugar onde se encontra pessoas de todos os estilos
e classes, dos que preferem camiseta listrada e calça jeans até o típico cow-boy. Local definido pelo
técnico em comunicações, Diego
Navarro, 24 anos, como ambiente
com um povo muito bonito e com
as músicas “que nos fazem remeter ao passado”. Assim, entramos
no universo do sertanejo, para entendermos melhor esse movimento que pretende ser a cara de Mato
Grosso do Sul.
Tendência do momento, as violadas são um sucesso de público,
espaço onde rola “um ritmo que
cativa e envolve principalmente
os universitários”, conforme classifica Vitor, da dupla Vitor e Vinicius. Os cantores lembram que a
parceria com promoters e empresários do ramo garantem maior
divulgação.
“Mato Grosso do Sul é um estado bem eclético, no entanto o
favoritismo está no sertanejo”, relata o locutor da rádio FM Capital, Jhonny Love. Com toda a sua
experiência, tanto na área de radialista quanto de apresentador de
festas, ele garante que o sertanejo é
recorde de público em Mato Grosso do Sul. Porém, existem aqueles
que preferem o rock. Jhonny aproveita a oportunidade para manifestar seu descontentamento em
relação às poucas opções de casas
de rock e à desvalorização destes
músicos.
Marco Aurélio, que faz dupla
com Paulo Sergio, confessa: “Sou
sertanejo mesmo, sou apaixonado
pela música regional”. Ele revela
que é uma música de ritmo simples e contagiante, que ao longo
dos anos evoluiu e vem sofrendo
mudanças para se adaptar ao gosto da “moçada”
Também é um estilo musical
passou”, afirma Fábio. Guilherme
salienta um outro aspecto. “Para
mim, sinceramente, é um termo
puramente mercadológico. É
legal, você vai lá, vê um bando de
show, mas não é uma coisa presa
à viola. Se fosse a viola do Aurélio
Miranda, por exemplo, aí é outra
coisa”.
Mesmo com todo esse
cenário contrário, o movimento
rock’n’roll vem se solidificando,
principalmente em Campo Grande,
onde algumas bandas já têm um
público fiel, que lota os poucos
bares abertos ao estilo. Aliás, a falta
de espaço, continua sendo uma
grande dificuldade para as bandas
de rock. “Não podemos culpar
os donos de bar. Não podemos
esquecer que tem o lado financeiro,
mas seria demais se existisse um
lugar onde dez bandas pudessem
tocar no mesmo dia”, considera
Guilherme.
Ao mesmo tempo em que buscam
maior reconhecimento na sua
terra, algumas bandas da capital
tocam com certa freqüência em
outros estados. É o caso do Bando
do Velho Jack, que já fez inúmeros
shows no Paraná, Minas Gerais,
São Paulo e Mato Grosso. “Quando
não tem um lugar para tocar, a
gente busca uma vazante, procura
outros lugares. Se nós tivéssemos
mais lugares para tocar aqui, não
estaríamos preocupados em ir tocar
em São Paulo”, desabafa Fábio.
O Filho dos Livres não toca tanto
fora do estado, mas Guilherme tem
uma situação interessante para
contar: “Quando a gente foi para
Porto Alegre, um dono de bar nos
convidou para tocar. A gente falou
que o nosso repertório era autoral
e ele disse que lá só rolavam
bandas autorais. Já em Presidente
Prudente nos convidaram, mas
pediram para a gente colocar dez
músicas sertanejas meio rock, no
nosso repertório. Eu não vou tocar
lá assim! Se eu fizer eu mato o
meu trabalho”.
que movimenta financeiramente
todo o país, com shows, apresentações e feiras agropecuárias, como
a Expogrande, por exemplo. Como
compositor, Marco Aurélio diz
apreciar a boa música, faz menção aos músicos do rock e pede
união de “classe” para divulgar
canções de qualidade e garantir
seu meio de sobrevivência.
Existe uma polêmica sobre o
fato dos músicos não tocarem
o estilo que gostam e, sim, nas
duplas sertanejas, sendo esta
mais rentável. É o que confirma
o integrante do grupo Batidão e
músico de apoio de vários cantores sertanejos, Heber Sorria.
Criticado por uns, idolatrado por
outros, assim é a música sertaneja em nosso estado, onde o
sucesso obtido por esse tipo de
evento é evidente, apresentando
público recorde nas noites sulmato-grossense.
STUDIO GALVÃO
Victor e Vinícius: sertanejo cativa universitários
Rádios e bares colaboram para sucesso
DANIELA DAMAZIO
FABIANO PASCHOALOTTO
3º SEMESTRE
Se para chegar ao estrelato fosse
necessário apenas ter força de vontade e talento, estaria tudo muito
fácil para os artistas regionais do
estilo pop/rock. Contudo, não bastam somente esses requisitos, o
apoio e a divulgação das rádios são
de fundamental importância para o
reconhecimento desses músicos.
A linha da rádio Uniderp FM
103,7 é categórica: não toca música
sertaneja e nem pagode. Visa um
público variante entre as classes A,
B e C, que tenham de 18 a 45 anos,
e a sua programação não é dividida
de acordo com o gênero musical, o
espaço é igual para todos. Toca-se
de tudo, a todo momento, no fluxo de programação. “Divulgamos
e apoiamos os eventos dos nossos
artistas regionais, principalmente
os que tenham um trabalho pró-
prio”, ressalta o programador da
rádio Uniderp, Marcelo Pettengill,.
Ele ressalta, ainda, que não dá para
atender todos os pedidos dos ouvintes. As solicitações são “filtradas” para se encaixar no perfil da
programação.
Na Rádio Mega FM 94,3, os pedidos de músicas regionais do estilo
sertanejo com certeza são muitos,
porém, o pop/rock vem ganhando
cada vez mais preferência. Tanto que os responsáveis procuram
encaixar na programação da rádio alguns repertórios de bandas
como Olho de Gato, Filho dos Livres, Casa4, entre outros. “Nossos
ouvintes tem entre 10 e 35 anos, e
pertencem a todas as classes. Nós
ouvimos todos os pedidos musicais
feitos por eles, pois precisamos saber selecionar e atender o gosto do
nosso público”, afirma Evandro
Gasparetto, programador da rádio,
que ainda alega ser fundamental
haver um programador musical
bem qualificado e informado, para
que busque e toque o que é sucesso
no mundo da música nacional e internacional. Evandro também acha
que é preciso saber encaixar esses
hits no padrão de programação da
rádio, uma vez que a TV contribui,
lançando uma trilha sonora do ator
principal da novela.
Lucas Lima, radialista da FM Cidade 97,9, relata que a rádio tem
ouvintes de todas as idades, e que
os mesmos pertencem principalmente às classes B, C e D. Destinam 80% da programação ao estilo
sertanejo, que é campeão de pedidos e de audiência. Comenta ainda
que, praticamente nenhum espaço
é destinado às musicas regionais,
e que para a música tocar, tem que
ser de muito sucesso mesmo. Já os
pedidos dos ouvintes são selecionados de acordo com o padrão de
qualidade e o estilo da rádio. “Hoje, em Campo Grande, todas as rádios têm programadores, diretores
artísticos, pessoas que cuidam da
programação. Acho que a TV estabelece o que é sucesso em nível nacional. A internet também colabora
muito”.
BARES
Campo Grande tem várias opções de baladas durante os finais
de semana, não necessariamente
sertanejos. Muitos desses lugares
são freqüentados, em sua maioria,
por estudantes universitários em
busca de ritmos diversos. É o que
informam dois proprietários de
bares com este perfil de público.
Elbio Soares, atualmente responsável pelo Vinte e Um Bar,
comentou que os universitários
buscam as chamadas “baladas alternativas”. “No Vinte e um, como
seus freqüentadores mesmo falam,
os estilos musicais mais tocados
são o rock , o reggae , o pop, forró e até mesmo blues”, informou
Elbio Soares. Para ele, a casa não
tem nenhum “preconceito musical”, mas também procura algum
que mais o identifique.
Além do Vinte e um, existem
outras opções de lazer noturno na
capital, o Bar Toca por exemplo. O
responsável, Eduardo Afonso Cruzetta, afirma que o local sempre
contou com um público diversificado, mas os estudantes universitários sempre são maioria nos
eventos de maior porte.
Nas quintas-feiras, o pop/rock lidera o espaço, que tem um público
composto por jovens, profissionais
liberais, estudantes e boêmios. Nas
sextas-feiras, o forró toma conta da
casa, atraindo outro público. Já aos
sábados, os estudantes universitários são maioria. Segundo Eduardo
Cruzetta, o bar está sempre aberto
a todas as manifestações culturais e
ritmos musicais. Mas, atualmente,
o sertanejo é a sua atração principal.
10
Unifolha
CIÊNCIAS & TECNOLOGIA
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
MUDANÇAS – FAMÍLIA
Educadores utilizam MSN para manter contato com seus alunos no ambiente fora das salas de aula
Tecnologias fazem professores se adaptarem
WAGNER JEAN
3º SEMESTRE
Diante do uso constante de
novos recursos em salas de
aula e com esses meios sendo agregados na educação
dos jovens, os professores tiveram que se adaptar a essa
nova realidade. “As mudanças já ocorrem e continuarão
ocorrendo, e todos devemos
estar antenados com elas
a fim de não ficarmos para
trás”, afirma a professora
Ausdy dos Santos, mestra
em Educação e professora
da rede particular e em uma
universidade.
Com a popularização de
sites de relacionamento e o
MSN, cada vez mais os jovens navegam na internet
apenas por diversão. Em
2007, esse número cresceu
53% com relação ao ano
anterior. A solução encontrada pelos professores de
escola pública, Valter Marques e particular, Ausdy dos
Santos, é a de utilizar esses
meios como uma forma de
complementar o seu contato
com os alunos no ambiente
fora da escola.
Quando perguntada sobre
o assunto dessas conversas
com os alunos, a professora
explica que a pluralidade
dos temas varia desde os
relacionados às aulas até as
festas que estão acontecendo
na cidade. A professora diz,
manter, em média, 200 amigos virtuais e informa que a
maioria são alunos. Ela ainda possui diversas comunidades no Orkut, criadas por
ela ou por alunos e que seu
endereço virtual fica a disposição para manter o contato.
“É tanta a relação de parceria via internet que, às vezes,
me obrigo a aparecer off-line, principalmente quando
estou trabalhando, pois não
consigo responder a todos os
pedidos para uma conversinha”, afirma.
Com o professor Valter
Marques, os assuntos abordados com os alunos no
ambiente virtual são pare-
cidos. Porém, ele ainda declara que às vezes o MSN se
transforma em uma espécie
de consultório psicológico.
Quanto ao comportamento
dessa geração que convive
diariamente com essas tecnologias, a professora Ausdy
diz acreditar que “tudo em
demasia é prejudicial, de todas as maneiras e em todos
os casos”.
RICARDO CAMPOS
Professor Válter Marques afirma que convidar alunos para ler livros não é tão divertido para eles quanto o Orkut
Nos dias de hoje a leitura
de obras literárias por parte
dos alunos é um assunto delicado a ser tratado nas salas
de aula. “Garanto que não
é algo tão bem visto como
convida-lo a ir à sala de informática e acessar o orkut”,
afirma, ironicamente, o professor Valter.
No século passado a televisão era vista como a grande vilã para os jovens que
acompanhavam a programação de forma contínua.
Hoje a internet está sendo
o centro das discussões dos
educadores, deixando um
pouco de lado o real papel
de outros veículos, tais como a televisão, na formação
educacional dos estudantes.
Valter Marques ressalta a
importância das escolas utilizarem a internet como um
recurso a mais no aprendizado, explorando os conteúdos dos sites e ainda discutindo com os alunos a credibilidade do que a escola está
oferecendo.
PAIS X FILHOS
Inovações ajudam no comportamento familiar
VANESSA MENEZES
WÁGNER JEAN
3º. SEMESTRE
A convivência familiar é
o ponto- chave para determinar como pais e filhos
devem lidar com a tecnologia no cotidiano. Novos recursos estão sendo acoplados no dia-a-dia dos jovens,
para fins de estudos, ou
lazer. Em contrapartida, os
pais estão redobrando sua
atenção para ver como os
filhos ocupam seu tempo.
Muitas vezes, os pais estipulam limites, dizendo de
que forma e quando o filho
pode utilizar determinados recursos tecnológicos.
“Acho que isso acontece
por medo ou falta de conhecimento dos pais sobre
os recursos que os jovens
usam”, opina o acadêmico
de engenharia da computação, Anderson Coimbra. A
rigidez nessa relação é desnecessária quando se estimula o controle do tempo
para cada atividade, acredita o acadêmico. Ele afirma,
ainda, nunca ter tido esse
tipo de problema com seus
pais.
Tema bastante conflitante
no âmbito familiar é o uso
dos novos recursos nos estudos. Para alguns pais, a
utilização dessas tecnologias, tais como a internet,
pode desviar facilmente a
atenção das crianças e dos
adolescentes. Enquanto isso, na visão de alguns jovens, essa se faz necessária.
“Eu, particularmente, me
concentro melhor quan-
do estou estudando na internet e ouvindo música”,
informa Anderson. Porém,
essa visão não é compartilhada por todos os jovens.
A estudante do segundo
ano do ensino Médio, Michelly Rodrigues, acredita
que, devido à diversidade
apresentada pela internet, é
mais fácil os jovens se distraírem durante os estudos.
Quanto a essa proteção,
que costuma acontecer de
uma forma maior que antigamente, os jovens concordam que a nova visão
lançada pelos pais está certa. “Com tantas tentações
que a internet, hoje em dia,
oferece, os filhos se tornam
uma presa fácil para pedófilos e outras pessoas mal
intencionadas que nave-
gam na grande rede”, afirma Michelly.
PAIS
Diante de um mercado de
trabalho cada vez mais tecnológico, muitas famílias
optam por adquirir novos
“aparelhos” como o computador, que, hoje, é uma ferramenta essencial para realizar trabalhos, conversar
e conhecer pessoas. A empresária Micheline Soares
de Freitas Cardoso, mãe de
um casal de adolescentes,
costuma impor algumas regras e proporcionar certas
liberdades aos filhos. Esta
é uma maneira que os pais
encontram de fazer com
que aqueles tenham uma
visão de mundo diferente
da qual estão acostuma-
dos: na internet, TV digital
e videogame, por exemplo.
“Temos que fazer com que
os filhos descubram por si
mesmos o certo e o errado,
sem proibir. É muito importante acompanhá-los,
procurar saber quem são
seus amigos; enfim, estar
sempre pronto a aprender
coisas novas, para poder
ser procurado para conversar. E, dessa maneira,
ganhar a confiança deles”,
analisa Micheline.
Todas essas novidades
tecnológicas acabam prendendo, de alguma maneira,
a atenção dos jovens. Muitas
vezes, a situação acaba fugindo do controle da própria
pessoa e, sem que ela perceba, o seu mundo se torna
“virtual”. “Mesmo com to-
dos esses avanços, a família
ainda é a base de qualquer
pessoa, e conciliar o trabalho com a família é fundamental. Com isso, é possível
impor respeito, limites e
valores. Desta forma, tornase fácil conseguir a atenção
dos filhos e fazer com que
estes participem das atividades familiares que são simples e fundamentais para
um bom crescimento”, diz
Micheline.
Ela acredita que é preciso ensinar aos filhos que
a realidade do mundo não
é uma tarefa fácil, pois requer muita disposição e
habilidade. “Hoje, o que
vemos é que os jovens
querem ter direitos de
adultos, mas, não, deveres de adultos”.
Leis regulamentam uso de cybers e lan houses
MARI GARCIA
WILL SOARES
3º. SEMESTRE
Com a importância que a
internet assumiu na sociedade atual, as pesquisas e os
trabalhos escolares são, em
sua maioria, feitos por meio do
computador. Os cybers e as lan
houses são responsáveis por
boa parte dessas atividades, já
que parcela considerável da
população não possui essa máquina em casa, restando como
alternativa esses locais.
Os estabelecimentos são
obrigados, pela Lei número
3.103/05, a efetuar o cadastro
dos usuários - que, independentemente da idade - deve
conter o número do RG, CPF
e telefone. Todos esses dados
devem ser arquivados por um
período de cinco anos. “Esse
cadastro serve para ter controle sobre nossos clientes. E, se
acontecer alguma coisa, logo
conseguimos identificar o infrator”, afirma o dono (Charles
Camargo) de um cyber café localizado no centro da capital.
Ele ressalta, também, que é
proibida a venda de bebidas
alcoólicas nesses estabeleci-
mentos, sendo que a maior
parte dos freqüentadores são
crianças ou jovens que devem
vir acompanhados de um responsável ou com autorização
contendo os dados do usuário.
O documento não precisa ser
reconhecido em cartório.
Proprietário de lan house
em um dos bairros de Campo
Grande, Valério Araújo afirma que, se o cadastro for de
alguém que necessite de autorização do responsável para
permanecer no espaço, deve
ser informado o horário em
que estuda. Por lei, é proibida a permanência em horário de aula.
A respeito dos jogos, Valério
Araújo diz que, no local de sua
propriedade, as crianças e os
adolescentes comparecem para fazer pesquisas; só jogam, se
forem autorizados pelos pais,
que os acompanham até o término do jogo. Em sua lan house, não é permitido a menores
de 18 anos o acesso a sites de
pornografia. O acompanhamento é feito por monitores,
nos horários de maior movimento. “A maioria que acessa
esse tipo de sites são maiores
ADRIANO HANY
de idade, fica mais fácil controlar”, explica Valério.
CONFIANÇA
Para o proprietário, a confiança dos pais no ambiente
que os filhos freqüentam é
muito importante. “Os pais,
na maioria das vezes, deixam
seus filhos aqui e vêm buscar
depois”. Reconhece que é uma
grande responsabilidade, mas
nunca teve problemas em relação a isso. “Tenho o telefone
de todos os freqüentadores.
Então, ligo para os pais, que
deixam os filhos para virem
buscar quando a hora estipulada por eles acaba”.
A preocupação com o estabelecimento é freqüente.
“Quando sai alguma reportagem sobre problemas em lan
houses, o movimento logo cai.
E os pais proíbem os filhos de
virem até o meu estabelecimento”.
No mês de março, esses
pontos comerciais passaram
por uma fiscalização rigorosa, operação conjunta da Prefeitura Municipal de Campo
Grande (PMCG), Conselho
Tutelar, Delegacia Especializa-
Para preservar os principais freqüentadores, que são crianças e jovens, cybers devem seguir várias determinações
da de Proteção à Criança e ao
Adolescente (DEPCA) e Delegacia Especializada de Ordem
Política e Social (DEOPS),
com o objetivo de identificar
locais que não atuam dentro
das regras e leis estabelecidas.
Dentre elas, a permanência
de menores de 18 anos sem a
presença do responsável ou a
autorização. “A fiscalização é
precária, raramente acontece.
Ainda não existe um sindicato
constituído, o que dificulta a
defesa dos estabelecimentos”,
contesta Charles.
As lan houses e cybers localizados no centro da capital
são mais freqüentados por trabalhadores da região. Acessam
a internet para enviar e-mails e
para navegar em sites que são
proibidos, em seu local de trabalho.
Os jovens freqüentam aqueles localizados nos bairros,
pela proximidade de suas residências, o que facilita a vigilância dos pais. O fato é que esses
pontos comerciais se multiplicam pelo fato de poucos ainda
possuírem essa tecnologia em
casa. Algo que já vem mudando com as facilidades de créditos nas lojas que vendem os
equipamentos. Para Valério, o
uso com responsabilidade só
traz benefícios. “Meu filho só
joga nos fins de semana”.
Unifolha
SAÚDE
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
11
Hospital Alfredo Abrão atende
todo o Mato Grosso do Sul
CATARINA CABRAL
GEYSA RODRIGUES
3º SEMESTRE
Desde 1996, o Hospital do
Câncer Dr. Alfredo Abrão
(HCAA) oferece atendimento
diferenciado e especializado
aos pacientes com câncer.
Considerando a dedicação
dos profissionais, que possibilita vitórias, a prestação de
serviços é oferecida à população de Mato Grosso do Sul
e aos estados vizinhos.
Após dois anos de fundação, o HCAA foi credenciado ao Sistema Único de
Saúde (SUS) e à Secretaria
Municipal de Saúde Pública
(Sesau), para o atendimento
de quimioterapia e radioterapia. O HCAA, hoje, conta
quase que, em sua totalidade,
com auxílio das doações da
comunidade e de parceiros.
“Quem não vem pelo amor,
vem pela dor”, argumenta
Marlene de Carvalho Ganica, voluntária do hospital
desde 1998. Ela foi secretária
do seu esposo na Associação
Comercial Representante de
Firmas e, atualmente, é presidente da Rede Feminina,
criada em 1956, por Sarah
Abussaf Figueiró.
A Rede Feminina se estruturou com uma equipe de
mulheres voluntárias, na capital e em algumas cidades
do interior. Durante 12 anos,
foi o único meio de prevenção e esclarecimento do trabalho prestado. As dificuldades que a rede tem é encontrar voluntárias disponíveis
para dar apoio aos pacientes.
O número de voluntários é
de 30 pessoas, mas os atuantes são em média 20, somente na capital. No interior,
cada rede tem seu número
específico de voluntários.
Marlene diz ter mudado
sua vida. Decidiu se dedicar,
inteiramente, aos pacientes,
junto com a Rede Feminina.
“Eu digo que o dia eu tiver
que abandonar, vai ser difícil” confessa, emocionada.
No Hospital do Câncer, segundo Marlene de Carvalho,
a notícia da doença ocorre
com os acompanhamentos
psicoterapêuticos. Durante
o tratamento, o diagnóstico
do tumor é transmitido pelo
médico. Se a doença causar
danos à saúde, principalmente mental, o paciente é
encaminhado para o setor de
Psicologia, pra passar por um
acompanhamento posterior.
TRATAMENTO
Com hierarquia do SUS,
o hospital é terceirizado. O
paciente já teria que vir com
o diagnóstico definido e ser
encaminhado pelo médico
generalista ou pelo médico de
especialidade. Mas, pela falta
de condições do paciente, isso
não acontece na maioria das
vezes. A situação ocorre com
maior freqüência, principalmente, no interior do estado e,
em algumas vezes, na capital.
“A cura impossível existe
para alguns pacientes; pois,
hoje, na Medicina, tudo está
baseado em evidência. Não
existe mais o médico que faz
o que ele acha e o que está
certo”, afirma o vice-diretor
clínico do Hospital do Câncer,
Jeferson Bagio Cavalcanti.
O médico explica que o
quimioterapêutico deve analisar as seguintes situações:
deve ver o perfil do indivíduo e da doença, e o estadiamento clínico do indivíduo.
“É o paciente que suporta
bem, ou seja ele deve ter um
estado clínico bom. Apesar
de ter um câncer e nutrido a
doença, deve responder bem
à quimioterapia”. Tudo, em
sua opinião, funciona na base de estatísticas.
Jeferson Bagio Cavalcanti
conta que o Hospital do Câncer atendeu um jovem de 16
anos, da capital, há quatro
anos. Ele teve um osso sarcoma (tipo comum de tumor
ósseo canceroso primário).
Naquela situação, segundo
o médico, o procedimento
cogitado foi fazer uma amputação de membro. Neste
caso, ele iria perder a perna,
pois só tinha o tumor naquele local. “Começaram a fazer
a quimioterapia neodisiovante, que é um tratamento
antes da cirurgia. Com esta
ação, o tumor regrediu de 80
a 90 por cento, surpreendendo a todos. Como o tumor
ficou pequeno, a cirurgia foi
curativa. Então, não houve
amputação”, explica. Atualmente, o adolescente é jogador de vôlei e acadêmico de
Educação Física.
ADRIANO HANY
Para manter o atendimento, o Hospital Alfredo Abrão conta, principalmente, com o Sistema Único de Saúde (SUS) e as doações realizadas pelos voluntários
Vitória e luta no combate ao câncer
ADRIANO HANY
Aparelho comum no tratamento do câncer: pacientes costumam relatar histórias de angústia, dor e superação
DANIELE RAMOS
3º SEMESTRE
Os pacientes de câncer
costumam ter histórias de
dor e superação para compartilhar. Francimar Tadeu
da Silva, 24 anos, se internou no dia 4 de abril, no
Hospital do Câncer Dr. Alfredo Abrão (HCAA), pelo
Sistema Único de Saúde
(SUS), para mais uma cirurgia no reto. Já tendo sido operado de outro câncer
maligno, no rim, ele diz
contar com a sua fé e com
o apoio da sua família.
Francimar da Silva mora
na saída para Sidrolândia,
é casado e tem um filho
de dois anos, nascido em
Campo Grande-MS.
A primeira cirurgia do
reto aconteceu no dia 29
de julho de 2007, e a segunda foi a do rim, no dia
20 de fevereiro de 2008. Só
que os dois cânceres eram
malignos, e Francimar não
se curou totalmente, com a
retirada dos tumores. Agora, surgiram novamente os
mesmos sintomas, e ele
terá que ser operado novamente. Atualmente, ele
diz sentir dores nas pernas
e só fica deitado na maca.
Não consegue se mover
muito, sente muita febre
também. Francimar da Silva está usando sonda, pois
o rim não está funcionando
como antes.
No entanto, em nenhum
momento da entrevista,
ele mostrou desânimo ou
medo. “Tem que se apegar
muito a Deus e acreditar
que pode vencer. Levantar
a cabeça e estar sempre sorrindo”, conclui, como forma
de auto-estima para quem está
sofrendo dessa doença chamada câncer.
Zenilde, 57 anos, de Bauru,
interior de São Paulo, já há
cinco anos se curou de um
câncer de mama maligno.
Após todo o tratamento, está
curada. “Por um momento,
achei que fosse morrer. Estava
internada e muito fraca, quando vi Jesus e, na hora, prometi
que, se me curasse e me desse
mais um tempo de vida, eu
serviria a Ele”, conta, emocionada.
Desde então, organiza trabalhos sociais, na igreja e em
hospitais, levando fé, apoio
para o paciente e sua família. Nesse dia, Zenilde estava
aguardando a chegada do padre para sua irmã de 72 anos,
internada há 11 dias, com tumor maligno no fígado. Zenilde, que é católica, insistiu para
levar o padre, mesmo sabendo
que sua irmã era espírita. Sua
irmã concordou e permitiu
a presença do representante
católico. Um tempo depois,
sua irmã havia falecido. A comoção era inevitável naquele
momento. Não deu tempo de
o padre dar a última bênção.
AACC: dez anos pela vida
DANIELE RAMOS
CAROLINE QUEIROZ
3º SEMESTRE
Com 10 anos de existência, a Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC) é uma organização sem fins lucrativos, que
serve como abrigo para as
famílias que se deslocam do
interior do estado, para fazer
seu tratamento na capital.
Segundo a coordenadora
de Comunicação e Marketing da Casa de Apoio, Alessandra de Almeida, a instituição auxilia no tratamento
de crianças de 0 a 18 anos de
idade. As famílias ficam no
abrigo, por tempo indeterminado e recebem todo tipo de
assistência necessária. Os pacientes atendidos pela AACC
fazem seu tratamento no
Hospital Regional, que possui
uma ala responsável só para
as crianças, o Centro de Tratamento Onco-Hematológico
Infantil (Cethoi).
As famílias recebem alimentação, participam de palestras
e orientações de como higienizar e reaproveitar alimentos.
Além das conferências, a instituição oferece salas de aulas
para as crianças, e o programa
Educação para Jovens e Adultos (EJA), para as mães.
Durante os 10 anos de atu-
ação, a instituição já atendeu
750 crianças. Hoje, composta
por um grupo de 20 funcionários, e com a disposição de 411
voluntários, a AACC atende
314 crianças. O abrigo possui
dez apartamentos que comportam duas crianças e dois acompanhantes do sexo feminino.
Cada um deles é duplo.
A Casa de Apoio vive de doação de pessoas físicas e jurídicas e do auxílio dos voluntários. Todo tipo de colaboração
é aproveitada pela instituição.
O que não tem serventia direta
para as casas é comercializado
nas feiras e nos bazares realizados no Hospital Regional e
na própria AACC.
12
Unifolha
RURAL
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
PRODUÇÃO-TECNOLOGIA
Rastreabilidade é a norma
RAQUEL RODRIGUES
3º. SEMESTRE
Segurança, qualidade
e satisfação são o desejo de todo consumidor ao
comprar um produto. E a
principal ferramenta para
garantir tais atributos, no
mundo rural, é a rastreabilidade. Segundo definição
da ISO 8402, do Ministério
da Ciência e Tecnologia, rastreabilidade é a habilidade
de descrever a história, aplicação, os processos ou eventos e a localização de um
produto, a uma determinada
organização, por meio de registros e identificações.
Em Mato Grosso do Sul,
o sistema de rastreamento
atualmente vigente é o Sisbov Eras. Segundo dados do
Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
(Mapa), estão cadastrados
no Banco Nacional de Dados
do sistema 6.958,950 de cabeças e 4.350 propriedades
rurais.
O Sistema Brasileiro de
Origem Bovina e Bubalina
(Sisbov) foi originalmente
criado em 2002 e tem como objetivo regular ações,
normas e procedimentos
adequados ao registro dos
bovinos e bubalinos brasileiros. Pelo sistema, exige-se
o registro do animal na Base
Nacional de Dados (BND),
sendo o animal identificado
com um brinco auricular
padrão Sisbov em uma das
orelhas e um bottom. Este
rastreamento era realizado
por lotes, ou seja, não era a
totalidade do rebanho que
era identificada.
Para melhorar o rastreamento brasileiro, o Mapa
instituiu em 2006 a Instrução Normativa Nº. 17, um
novo sistema, de adesão
voluntária, que preconiza
basicamente a identificação
individual dos animais e de
todos os insumos utilizados
na propriedade durante a
produção.
Para a médica veterinária,
Gládis Rachel, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário, da Produ-
JOSIMAR LIMA DO NASCIMENTO
Custo dos brincos e bottons ainda desperta reclamações por parte dos pecuaristas
ção, da Indústria, do Comércio e do Turismo, o sistema
é de extrema importância
para garantir a qualidade
dos alimentos, tanto da carne, como de seus derivados.
“Tendo controle absoluto do
rebanho, você controla a gestão de toda a propriedade”.
CONTROVÉRSIA
No entanto, produtores rurais de Mato Grosso do Sul
têm encontrado dificuldades
ao implementar o sistema.
“Chico”, que prefere não se
identificar, alega que o custo onera a produção. “Temos
muitos entraves para realizar
o sistema, posso enumerar
as dificuldades. Em primeiro
lugar, a falta de assistência
técnica. Em segundo, não
há política de subsídios aos
produtores. Em terceiro, há
muitos papéis de cadastro
e guias de controle. Em
quarto, o uso de brinco
e bottom não segue uma
seqüência lógica de produtores, e por aí vai”,
comenta. Ele também
acredita ser importante
acrescentar que 80% das
fazendas não têm tronco
de contenção”.
A produtora rural “Gisele”, que prefere não
mencionar o sobrenome,
também compartilha a
opinião de “Chico”. “O
rastreamento que o governo quer, só funcionará
quando houver incentivo
para os fazendeiros. Acabamos sem lucro na hora
do abate”. O mesmo alegou o produtor “Carlos”,
que, além de reclamar do
custo com os brincos e
bottons, revela sua preocupação com o preço das
vistorias a serem realizadas na propriedade.
Já Daniela Maciel, zootecnista e auditora, rebate
as queixas dos produtores, afirmando que a nova
instrução normativa, ape-
sar de ser mais exigente,
só tem a contribuir para a
visão do mercado externo
diante da carne brasileira.
O fato é que apesar
dos avanços da pecuária de corte, o sistema
ainda não é o adequado.
Percebe-se que, além do
descontentamento dos
produtores, há a omissão dos mesmos. Ou seja,
além do sistema de rastreamento enfrentar fortes queixas de omissão
e apontar desajustes, há
uma certa pressão sobre
os fazendeiros, ao falarem do assunto.
“Quem elaborou a Normativa 17 não conhece
a realidade do campo. É
muito difícil rastrear individualmente, em propriedades grandes e com
um rebanho como o nosso. Na Europa, dá certo,
porque as propriedades
são em média seis vezes
menores”, concluiu Lucas Monteiro, proprietário de uma fazenda na
região do Pantanal.
Mecanização melhora vida no campo
ERNANDES BAZZANO
3º. SEMESTRE
A mecanização do campo
tem como objetivo princi-
pal o conforto e a segurança
daqueles que ali vivem. Nos
últimos anos, o Brasil tem
presenciado um aumento
considerável nas vendas de
ELIS REGINA NOGUEIRA
Produtores afirmam que investimentos em equipamentos modernos têm retorno
produtos e máquinas agrícolas. Não que os agricultores
estejam esbanjando capital.
É que o comércio está mais
viável em relação a financiamentos, sem contar os juros,
que diminuíram.
A expansão dessa nova fase agrícola nem sempre foi
assim. Entre 1995 e 1997,
agricultores passaram pela
pior crise, segundo eles. Por
isso, comemoram tanto em
relação às novas tecnologias
introduzidas na área dos
equipamentos agrícolas.
O foco principal são os tratores, as plantadeiras, os caminhões e, principalmente,
as colheitadeiras. Vendedor
de máquinas agrícolas que
preferiu não se identificar,
afirma que o alto valor não
assusta, pois a não necessidade de uma mecânica rigorosa
compensa. “Uma máquina
nova faz serviço de três. Sem
contar que o prejuízo é mínimo”, complementa.
Carlos Suko, fazendeiro na
região de Sidrolândia, afirma que a produção melhorou em 30%, mesmo pagando mais caro pela máquina
e, conseqüentemente, pelo
trabalho do operador. No entanto, em atividades que exigiam três empregados, agora,
com a mecanização do campo, basta um trabalhador.
“Estou apenas seguindo a tendência de mercado. Ninguém
quer ficar no prejuízo”.
Para o desenvolvimento, seja ele em que proporção for,
o mercado consumidor tem
seus pós e contras. A vida no
campo deixa de ser pacata e a
concorrência e desconfiança tornam-se mais comuns.
Fábio Nunes, funcionário de
uma grande fazenda de Mato Grosso do Sul, afirma que
“para trabalhar com uma
nova máquina, o patrão escolhe o melhor subordinado, pois a confiança tem que
ser recíproca”.
Ele acrescenta que, ao
comprar a máquina, um curso de manuseio vem incluso.
Assim, a concorrência entre
os agricultores acaba sendo
comparada à existente entre
grandes empresas. “Quem
não tiver qualificação, até
no campo, será excluído.
Agora, quem manda é o jeito, e não a força”, explica
Fábio Nunes.
MODERNIDADE
Por anos, no Brasil, segundo lembra Nunes, muitos
trabalhadores não usavam
proteção, mesmo contra
simples fenômenos naturais.
Hoje, as modernas máquinas presentes no campo são
comparadas a carros de passeio, com ar condicionado,
direção hidráulica e freios
sofisticados. Assim, a perda
do produto torna-se menor,
na opinião dos produtores.
Logo, segundo Nunes, a função de funcionário agrícola
é competitiva para pessoas
de ambos os sexos. Basta
lembrar o passado remoto,
em que, muitos funcionários, sem equipamentos de
segurança, tinham membros
amputados ou, até mesmo,
morriam.
No entanto, para alguns,
como Anderson Caçarola, as
máquinas não são tão fáceis
de manusear. Ele afirma que,
se o colocassem em cima de
uma máquina nova, não saberia nem ligar. “Tudo é digital. Botão para todo canto. E,
se der uma pane, o que fazer?
Tenho experiência de muitos
anos, pouco importa”. Anderson Caçarola dá como
exemplo a colheitadeira moderna. “Tem um computador
que prova o local onde precisa de maior atenção. Retira-se o cartão, e coloca-se no
trator. O que precisar, a máquina resolve, seja maior ou
menor a quantidade de calcário”, comenta.
Tecnologia ajuda no combate às pragas de pastagens
BRUNO NASCIMENTO
RICARDO CAVALHEIRO
3º. SEMESTRE
Como qualquer outra
cultura, as pastagens também estão sujeitas a ataques
de pragas. Preocupados com
as condições das pastagens,
pesquisadores e pecuaristas
procuram solucionar este problema, sem prejudicar o meio
ambiente e, mantendo o gado
saudável com sua alimentação. Os insetos-praga-de- pastagens mais conhecidos são
as cigarrinhas-das-pastagens,
o percevejo-castanho, lagartas,
cupins, formigas cortadeiras,
gafanhotos, cochonilha-dos-capins, percevejo-das-gramíneas
e larvas de besouros, conhecidas como corós.
Segundo o pesquisador da
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), doutor José Raul Valério, PhD em
entomologia, dentre as diversas
pragas de pastagens, as mais
importantes são as cigarrinhas.
“Sua maior importância se dá
em função da ocorrência generalizada, pelos altos níveis
populacionais e pelos severos
danos que causam. São insetos
sugadores que afetam o crescimento e, portanto, a produção
da forrageira, bem como a sua
qualidade”. Segundo José Valério, o produtor se vê sem pasto
para alimentar todo seu rebanho, “justamente, no período
em que os animais deveriam
adquirir condições para a reprodução e o abate”.
Conforme o José Valério, as
pastagens são culturas consideradas de baixo valor por
unidade de área. “Isso limita a
adoção de medidas curativas,
como, por exemplo, a simples
aplicação de um inseticida
químico, prática comum na
maioria das outras culturas”,
explica. No caso das pastagens,
o controle recomendado pelo
especialista para essas pragas
deve ter um enfoque preventivo. “A melhor alternativa para
se minimizar os danos causados pelas pragas é através do
uso de gramíneas resistentes a
esses insetos; a diversificação
de pastagens e, também, o controle cultural, através do mane-
JOSÉ RAUL VALÉRIO
Cigarrinhas são uma das muitas pragas que podem atingir as pastagens, gerando perdas significativas para o produtor rural
jo das pastagens’’, ensina.
Há, também, o controle biológico, com inimigos naturais,
como predadores, fungos, bactérias e vírus. São recomendadas, ainda, iniciativas por meio
de feromônios, assim como
na área de resistência de plantas, onde se avaliam coleções
de plantas, “objetivando-se a
identificação daquelas naturalmente mais resistentes aos
insetos-praga em estudo”, de
acordo com o pesquisador.
Entre os meios de maior eficiência de combate às pragas
desenvolvidos pela Embrapa, o
doutor José Valério cita o controle biológico. Neste campo,
destaca-se o Baculovirus anticarsia, desenvolvido na Embrapa Soja, visando ao controle
da lagarta da soja Anticarsia
gemmatalis. Outro exemplo
de cultivar resistente, lançamento da Embrapa Gado de
Corte, é o da Brachiaria brizantha (cultivar Marandu),
altamente resistente a várias
espécies de cigarrinhas-daspastagens.
Unifolha
MEIO AMBIENTE
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
13
CRIME-ANIMAIS
Lei de 1995 determina que o traficante da fauna silvestre cumpra de seis meses a um ano de prisão ou pena alternativa
Controle do tráfico se torna mais complicado
ANDRÉ MESSIAS
BRUNO CHAVES
RAUSTER MONTEIRO
3° SEMESTRE
Traficar animais silvestres
não é crime inafiançável.
Mas já foi. A Lei Federal
N.º7.653, de 1988, tornava
crime grave caçar e traficar animais e a pena era de
dois a cinco anos de prisão,
sem direito a fiança. Porém,
anos mais tarde, de acordo
com Lei 9.099, de 1995, ela
se tornou menos rígida e o
crime deixou de ser inafiançável, podendo o traficante
ter pena de reclusão de seis
meses a um ano em juizado
especial ou pena alternativa, como por exemplo, o pagamento de cestas básicas.
De acordo com a legislação brasileira, o tráfico de
animais é todo comércio
ilegal de espécies que vivem
fora do cativeiro, formando
a fauna silvestre. A fiscalização da Polícia Ambiental
de Mato Grosso do Sul ocorre de maneira difícil, e as
condições de trabalho são limitadas. Segundo o capitão
Ednílson Queiroz, responsável pelo setor de comunicação da Polícia Ambiental,
Tráfico de animais silvestres, terceira maior economia ilegal do mundo, visa, principalmente, o comércio de aves
o traficante é sempre reincidente, pois a penalidade
para o crime de tráfico de
animais silvestres é amena.
O que ocorre com freqüência são as multas aplicadas
Atividade ilegal
prejudica a fauna
DAIANE LÍBERO
EMANUEL CAIRES
3 SEMESTRE
Um animal, quase sempre
filhote, é tirado de seu habitat e transportado para outro
lugar, onde será vendido como um simples objeto. Essa
é uma descrição superficial
da terceira maior atividade
ilegal e comercial do mundo, que perde apenas para
o tráfico de drogas e de armas e que é também a que
possui a lei mais branda. O
problema não está apenas
na ilegalidade desta prática, mas, também, nas suas
conseqüências que são os
maus-tratos aos animais,
a depredação da natureza
e a ameaça às espécies em
extinção.
O mercado de tráfico de
fauna se movimenta como
qualquer outro, com altos
e baixos, produtos mais
procurados e mais caros,
remessas, matéria-prima.
Mato Grosso do Sul é caracterizado, segundo a analista ambiental Renata Vargas, do Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), como um estado
de rota. Por aqui, passam
muitos animais destinados
a suprir o mercado internacional ou do sudeste do
país. Porém, quem são as
pessoas que traficam?
“Existem dois tipos de
criminosos: os traficantes,
que operam de maneira
organizada; e as pessoas
de baixa renda, que participam eventualmente do
tráfico de animais silvestres”, diz Inácio de Mattos
Santos, analista ambiental
e agente de fiscalização do
Ibama. Ainda segundo ele,
essa população de baixa
renda, que reside em lugares onde é comum os animais viverem, acaba capturando, como forma de
aumentar a renda familiar,
atuando como fornecedores.
Segundo o capitão Ednílson Queiroz, há 11 anos,
no 15º. Batalhão da Polícia
Ambiental de Mato Grosso
do Sul, existem também
os chamados “atravessadores”, pessoas que levam
os animais por estradas e
até por aeroportos. O consumidor final geralmente é
uma pessoa instruída e de
alto poder aquisitivo, que
gosta de ter os animais para demonstrar ostentação e
luxo.
Outra constatação dos
órgãos que fiscalizam e
apreendem esses animais,
é que existe um mercado
para canários, inclusive de
outros países, com a finalidade de fazer rinhas. Isso
é bastante comum em regiões como o Nordeste e,
também, em Minas Gerais.
O capitão Ednílson conta
que já ouviu falar de uma
pessoa que, com uma cruza de um canário peruano com o canário-da-terra
(bastante traficado), conseguiu ganhar uma camionete numa rinha de canários.
Entre os animais traficados, 70% são aves. Segundo o relatório da Organização Não-Governamental
Rede Nacional de Combate
ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), essa preferência não é só pela facilidade de captura e domesticação de uma ave, mas,
também, pelo alto valor
comercial, transporte fácil,
além da comercialização
de ovos e penas. É relativamente “fácil” transportar
centenas de filhotes de arara ou papagaio em uma mala ou gaiola adaptada por
estradas, que são as principais vias de escoamento
do produto do tráfico. Com
isso, o crime torna-se mais
viável e comum, a despeito
do sofrimento dos animais
que, muitas vezes, são colocados em fundos falsos
de porta-malas ou bancos.
A maioria não sobrevive.
ao infrator, podendo chegar
a R$ 500, por exemplar do
animal em extinção. A multa é alta; porém, não chega a
intimidar quem comete esse
tipo de infração.
Conforme relatório elaborado pela Rede Nacional
de Combate ao Tráfico de
Animais Silvestres (Renctas) “a comercialização em
pet shops é o fator que mais
incentiva o tráfico de animais silvestres no Brasil”.
De acordo com esse estudo,
são 38 milhões de espécimes retirados de seus hábitats por ano. Desses, apenas
10% chegam ao seu destino
com vida, pois a maior parte
morre de fome, sede, calor,
asfixia ou outras condições
estressantes.
REABILITAÇÃO
Financiado pelo governo
do Estado de Mato Grosso do
Sul, o Centro de Reabilitação
de Animais Silvestres (CRAS)
tem por base o tratamento
de animais apreendidos pela Polícia Ambiental e pelo
Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os
animais, em sua maioria, são
encontrados doentes; porém,
nem todos são produto do
tráfico. A maior parte deles
é proveniente de apreensões,
capturas na cidade e devolução feita por particulares. O
CRAS é o primeiro centro de
triagem de animais selvagens,
criado há 20 anos, no Brasil
e, hoje, é modelo para outros
estados brasileiros.
Chegando ao centro, o animal é atendido por uma equi-
pe de profissionais composta
por três veterinários, três biólogos e um zootecnista. Os
bichos recebem um número
de registro, e as informações
são armazenadas em um banco de dados específico. Depois, seguem para um setor
isolado, onde permanecem
por um período de 40 dias.
Os que não têm condições de
retorno à natureza são encaminhados a instituições de
pesquisas e zoológicos. Os
animais reabilitados são levados para uma das 130 fazendas sul-mato-grossenses que
são cadastradas no CRAS.
As aves, grande parte proveniente do tráfico, são os
animais em maior quantidade no centro. Algumas, como arara, tucano e papagaio
chegam ao local com asas,
patas e bicos parcialmente
mutilados, sendo o papagaio
brasileiro mais visado para o
tráfico. Conforme disse o coordenador do CRAS, Vinícius
Andrade Lopes, o financiamento do governo não é o
suficiente, e a verba destinada à manutenção é pequena.
Um papagaio, por exemplo,
custa em média, para o estado, cerca de R$ 1,5 mil ao
ano.
RELATO
“Polícia Ambiental já foi tão
respeitada quanto a Federal”
IZABEL ESCOBAR
WESLEY ANTONIO
DAIANE LÍBERO
3º SEMESTRE
O crime de traficar
animais data de séculos
passados, com a entrada
clandestina dos primeiros
contrabandistas no Brasil
– que vinham em busca
de riquezas e levavam animais nativos também – e
parece nunca ter solução,
como outras atividades
criminosas, tais quais o
tráfico de drogas e armas.
Porém, a diferença entre
esses tipos de crimes é
simples, mas extremamente importante: não são objetos sem vida, sem feição
ou que não sentem dor.
São animais.
Apesar de pouco se falar sobre a crueldade com
que é cometido este tipo
de crime, existem pessoas que já viram de perto
o que os traficantes fazem
com os animais que capturam em matas e cerrados.
Uma dessas testemunhas
é o policial reformado do
Batalhão da Polícia Ambiental de Mato Grosso
do Sul, Marcos Vinicius
Rodrigues da Silva, de 44
anos, que trabalhou durante 22 anos, antes de se
aposentar, em 2004.
Marcos relata que, nas
décadas de 80 e 90, a Polícia Ambiental era tão
respeitada quanto a Federal,
porque eles viviam sempre
em confrontos intensos com
contrabandistas de fauna e
flora, cujo principal alvo no
tráfico de animais eram (e
ainda são) aves. Elas são
justamente as mais cotados no “mercado”, com
maior facilidade de captura e transporte, porém,
maior vulnerabilidade à
viagem. Tanto, que os criminosos tentam capturar o
Transporte de animais geralmente é feito em gaiolas disfarçadas, nas quais os animais dificilmente sobrevivem
máximo possível de filhotes, justamente porque a
maioria não sobrevive. Porém, segundo relata Marcos
Vinicius, mesmo assim,
ainda é um mercado rentável, já que o traficante não
tem quase nenhum gasto
para obter aquele “produto”.
A caça aos criminosos
era tamanha que os integrantes da equipe do expolicial ambiental eram
obrigados a passar até 20
dias por mês fora de casa. A fronteira do estado,
principalmente Paraguai e
Bolívia, por sua vez, eram
rotas comuns de comboios
com animais escondidos,
geralmente em direção ao
sudoeste do Brasil.
Marcos Vinicius ainda
relata que, para prender os
contrabandistas, em muitos
casos ele e sua equipe tinham que passar várias horas escondidos dentro de um
rio com metade do corpo
submerso na água. O armamento utilizado pela polícia
era pesado, e ele lembra-se
de casos de tráfico bastante
absurdos, como o caminhão
de carvão que certa vez eles
pararam em uma estrada.
Em meio de inúmeras pilhas de carvão amontoado
coberto por lona, por onde
não entrava luz, tampouco
ar, havia várias gaiolas com
aves, pássaros e até felinos.
Muitos tinham asas, unhas
e bicos cortados, para não
fazerem barulho. Isso sem
falar nas gaiolas pequenas e
apertadas, onde mais de um
animal era colocado.
O trabalho dos órgãos
responsáveis pela proteção
da fauna e flora brasileira
é minucioso e complexo,
principalmente em regiões
como o Pantanal ou a Amazônia, onde existem relatos
de animais como ariranhas
e macacos selvagens sendo
criados como bichos domésticos. É como pegar fumaça
com as mãos.
CONSCIENTIZAÇÃO
Não ter um papagaio ou
outro bicho silvestre em
casa já é uma forma direta
de contribuição para que
esse mercado paralelo e
ilegal definhe, e essa cultura de não-conservação
de espécies e da natureza
acabe de uma vez por todas, acredita o ex-policial.
Para que isso aconteça, na
opinião de Marcos Vinicius, precisamos nos conscientizar de algo que é dita
há anos: os animais devem
ficar em seus meios naturais de vida, e não sofrendo
maus-tratos nas mãos de
seres humanos.
As provas cabais do sofrimento impingido aos
animais contrabandeados é
facilmente exemplificada:
O 15º Batalhão de Polícia
Ambiental de Campo Grande possui um acervo com
diversas gaiolas de “transporte” de animais para
educação ambiental. Uma
delas é uma mala apreendida no aeroporto de Campo Grande que possui diversos buracos pequenos,
onde os pássaros eram colocados, sem ar, água, comida ou luz. Somente em
companhia da morte.
14
Unifolha
UNIVERSIDADE
CAMPO GRANDE - MS - ABRIL - 2008
O evento reunirá participantes do Brasil, Reino Unido, África do Sul e Índia e discutirá educação, eqüidade e justiça social
MS sedia Simpósio Internacional
ASCOM - UNIDERP
De 23 a 27 de abril, Mato Grosso do Sul sedia o 2º
Simpósio Internacional e
Fórum Público sobre Educação, Eqüidade e Justiça
Social. O evento deve reunir
mais de 190 pessoas entre
pesquisadores, professores,
secretários de educação, deputados, senadores, governadores, representantes de
ministérios e governos do
Brasil, Reino Unido, África
do Sul e Índia.
O evento é realizado
por meio de parceria entre a Anhanguera/Uniderp,
Instituto de Educação da
Universidade de Londres
(IOE), Conselho Britânico,
Ministério da Educação e
Governo Federal. O tema
central das discussões é
O uso das tecnologias na
educação e a promoção da
inclusão social.
A programação começa
em Brasília, DF, no dia 22
de abril, no auditório Petrônio Portela do Senado Federal. Às 9h30min, acontece a
solenidade de abertura com
a presença do presidente do
Senado Garibaldi Alves, do
governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, do
presidente da Comissão de
Educação do Senado Federal
Cristóvam Buarque, do presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia e
do presidente da Comissão
de Educação da Câmara dos
Deputados João Matos. Em
seguida, falará o ministro da
Educação do Brasil Fernando Haddad, o embaixador do
Reino Unido no Brasil Peter
Collecott, o ministro para o
Desenvolvimento de Recursos Humanos na Índia Arjun
Singh e a ministra da Educação da África do Sul Naledi Grace Mandisa Pandor.
Como presidente da mesa de
trabalhos estará o senador
Cristóvam Buarque.
No dia 23 de abril, as atividades acontecem no auditório Germano Barros de
Souza, no Centro de Con-
venções Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande,
MS. Às 18h30, o chanceler
da Anhanguera/Uniderp Pedro Chaves dos Santos Filho
dá as boas-vindas. Em seguida, ministram palestras
o ministro da Educação do
Brasil Fernando Haddad, a
diretora geral do Departament For Children, Schools
and Families do Ministério
da Educação Britânico Dra.
Lesley Longstone, o minis-
tro para o Desenvolvimento de Recursos Humanos
na Índia Arjun Singh e a
ministra da Educação da
África do Sul Naledi Grace
Mandisa Pandor. O encerramento deve ser feito pelo
governador de MS André
Puccinelli. Os trabalhos serão coordenados pelo secretário de Educação Superior
do MEC Ronaldo Mota.
Já no dia 24 de abril, as atividades acontecem no audi-
tório do bloco 7, no campus
I da Anhanguera/Uniderp.
Serão realizados debates acadêmicos em grupos de representantes de governo e de universidades dos quatro países.
Às 8h30, a reitora da Uniderp
Ana Maria Costa de Sousa inicia as discussões. Das 8h40 às
12h, serão realizadas palestras
sobre o uso das tecnologias
para a educação e a inclusão
social em cada um dos países
participantes. Pelo Brasil fala
Paulo Speller, pela Índia fala
Ved Prakash, pela África do
Sul fala Peliwe Lolwana e pelo
Reino Unido fala Neil Selwin.
Às 14h, acontecem seminários
e às 17h30 está programado
plenário. O encerramento será
feito pelo chanceler da Uniderp Pedro Chaves dos Santos
Filho, às 18h30.
Nos dias 25 e 26, os participantes do Simpósio realizarão viagem ao Pantanal
Sul-mato-grossense para
conhecer o Instituto de Pesquisas do Pantanal (Ippan)
mantido pela Anhanguera/
Uniderp na região do Pantanal do Rio Negro, no local
serão apresentadas as principais pesquisas desenvolvidas pela Universidade.
Grupos de dança e música da Anhanguera/Uniderp
se preparam para representar MS em evento nacional
ASCOM - UNIDERP
A Cia de Artes e Quarteto
de Cordas da Anhanguera/
Uniderp ensaiam em ritmo
acelerado para a apresentação que irão realizar no Salão Nacional de Turismo de
São Paulo, que acontece de
18 a 22 de junho, no Centro
de Eventos São Luís. Os grupos de dança e música da
Universidade estão entre as
atrações selecionadas para
representar o Estado de Mato Grosso do Sul no evento
nacional.
Com as músicas Trem do
Pantanal, Sonhos Guaranis,
Cunhataiporã, Recuerdos
de Iparacary e Mercedita, a
Cia de Artes e Quarteto de
Cordas ilustrarão o cenário
musical de MS. “Realizamos
ensaios três vezes por semana”, informou a diretora
da Cia de Artes Anhanguera/Uniderp Maria Helena
Pettengil, lembrando que a
expectativa para o evento é
grande, uma vez que estarão
representando Mato Grosso
do Sul e mostrando um pouco do trabalho dos grupos
artísticos da Instituição.
“Não é a primeira vez que
a Cia se une ao Quarteto
de Cordas. A parceria teve início com o espetáculo
Corpos e Cordas, dentro do
Projeto Cena Som, realizado em Campo Grande, MS,
em agosto do ano passado.
A novidade é a participação
do cantor Gilson Espíndola
nas músicas Cunhataiporã,
Sonhos Guaranis e Recuerdos de Iparacary”, revelou
Maria Helena.
Para a apresentação em
São Paulo, o figurino foi cuidadosamente escolhido. Na
coreografia de Mercedita os
bailarinos estarão com vestidos exclusivos pintados
em tinta silk nos tons verde,
roxo e lilás, representando
os camalotes do Pantanal.
Já para apresentar Cunhataiporã e Sonhos Guaranis
será utilizada como base
a cor terra, com calças em
musseline de seda e cocares indígenas. Os músicos
estarão vestindo túnicas em
tons bege, com estampas exclusivas do Pantanal, cedidas pelo artista plástico Cid
Vallim. “As demais músicas
serão tocadas pelo Quarteto
de Cordas”, explicou
Segundo a diretora da Cia
de Artes, a participação no
Salão Nacional de Turismo
WAGNER GUIMARÃES
de São Paulo vem como reconhecimento do trabalho
realizado com tanta dedicação. “Isso nos orgulha muito. É também uma responsabilidade, já que estaremos
representando a dança e a
classe artística do nosso Estado”, observou. Ela disse
ainda que “valorizar a cultura regional sempre foi o
objetivo principal da Cia de
Artes e a oportunidade de
poder mostrar em São Paulo
o nosso trabalho nos deixa
muito feliz”.
SELEÇÃO
Nos dias 22 e 23 de março, por meio do projeto Arte, Cultura e Turismo, artistas do Estado fizeram suas
apresentações no Teatro de
Arena da Concha Acústica
Helena Meireles, em Campo
Grande. Filho do Livres (229
votos), Cia de Artes e Quarteto de Cordas da Anhanguera/Uniderp (185 votos) e
Tostão e Guarany (123 votos) foram os grandes vencedores na votação do público. O projeto Arte, Cultura
e Turismo foi realizado pela
Fundação de Turismo, Seprotur, Fundação de Cultura
e Governo de MS.
Clínica de Psicologia da Anhanguera/Uniderp
desenvolve projeto de atendimento à população
ASCOM - UNIDERP
Desde o mês de fevereiro,
a Clínica de Psicologia da
Anhanguera/Uniderp possui
um núcleo de atendimento
voltado à população em situação de violência. Segundo
a coordenadora do projeto,
psicóloga e psicanalista Marlene Ingold, pessoas de todas
as faixas etárias e sexo podem
ter acesso ao atendimento.
A proposta surgiu a partir
de outros trabalhos já desen-
volvidos com vítimas de violência. “Eu era a supervisora
dos alunos de Psicologia em
um trabalho que envolvia
mulheres vítimas de violência, com atendimento emergencial no Instituto Médico
Legal. Depois, realizamos o
mesmo tipo de atuação junto às delegacias especializadas. A partir dessas ações,
sentimos a necessidade de
dar continuidade a este serviço. Surgiu assim, a idéia
de criar o núcleo, oportu-
nizando plantão semanal e
atendimentos individuais e
em grupo”, explicou.
De acordo com a psicóloga Maristela Lemes de Souza, que também participa
das atividades do núcleo,
o plantão está disponível à
comunidade no período das
13h30 às 17h, sempre às
quartas-feiras. Ela lembrou
sobre a necessidade de apoio
àqueles que passam por uma
situação de violência. “Como
a violência deixa a pessoa
muito fragilizada, ela precisa
de um acolhimento imediato”, lembrou Maristela. “Se
for ficar na fila de espera,
pode acabar desistindo”, reforça Marlene.
Segundo as psicólogas, a
prevenção é um dos principais objetivos do projeto. “A
partir do momento que você
atende alguém em situação
de violência, se previne novos episódios. Há um ciclo e
é importante fazer com que
ele deixe de existir”, comen-
tam. Elas ressaltaram ainda
que estudos revelam a possibilidade de crianças em situação de violência tornaremse pessoas violentas.
Os acadêmicos do último
ano de Psicologia participam
dos atendimentos, sob a supervisão das profissionais.
“Esses alunos já passaram
por várias experiências. Não
é a primeira vez que estão
em contato com atendimento, até pelo próprio método
de ensino do curso. Eles já
atenderam crianças, adolescentes e adultos. Agora, especificamente, pessoas em
situação de violência”, comentou a coordenadora do
projeto, ressaltando que o sigilo faz parte da ética dos estudantes e profissionais que
prestam os atendimentos.
Serviço – A Clínica de
Psicologia da UNIDERP está localizada a Av. Ricardo
Brandão, 900. Mais informações pelo telefone (67)
3348-8258.
ENTREVISTA
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
15
IZABEL ESCOBAR
"Há como que no
nosso imaginário,
uma concepção
de que o lugar
do negro é o pior
lugar. E não dá
para mudar isso. É
assim mesmo, desse
jeito, e as pessoas
fazem isso. Alguns,
conscientemente.
E outros,
inconscientemente,"
"A iniciativa da
Universidade dos
Palmares é elogiável
e corajosa. Foi como
dizer assim: já que
vocês não nos dão
oportunidades nas
universidades de
modo geral, nós
vamos criar nosso
próprio espaço, como
o negro americano
criou universidades."
"Não falta quem vai dizer: racistas são eles"
Aleixo Paraguassu Neto - Fundador do Instituto Luther King
J
uiz aposentado, presidente e fundador do Instituto Luther King de Pesquisas e Ações Afirmativas, Aleixo Paraguassu Neto, depois de ter
sido secretário de Estado em três governos, é
disputado por diversos partidos políticos. Bem como
Gabriel Neris
Leonardo Macbeth
Odil Santana
Vicenzzo Mandeta
3º semestre
O Brasil é a segunda nação
negra do mundo, mas as pesquisas demonstram histórica
desigualdade entre negros e
brancos. Os negros compõem
46% da população, mas,
quando chegam ao âmbito
acadêmico, são apenas 2%.
O Brasil tem o Índice de Desenvolvimento Humano comparável aos países mais desiguais. Há divergências com relação aos índices, mas os afrodescendentes são, no mínimo,
45% da população. Há quem
sustente que somos 60%, se
levados em conta outros critérios, mas ficamos no índice
mínimo fixado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) e acolhido pelo
IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), um órgão governamental ligado ao
Ministério do Planejamento,
que recepciona o índice de
45%. Já a sua pergunta traz a
informação da desigualdade
do que diz respeito ao item escolaridade, especificamente ao
acesso do mundo acadêmico.
De fato, se você considerar negros propriamente ditos, o percentual é de 2%.
O que fazer para mudar esse cenário?
Com relação ao acesso às
universidades, prefiro um outro percentual, mais abrangente que o citado, e que leva em
conta negros e afrodescendentes, de um modo geral. Segundo dados estatísticos do IPEA,
tomando por base o ano de
2002, o índice de afrodescendentes nas universidades públicas é de 17,06%. E o recorte
para negros, de fato, era de 2%.
Eu espero, porque não conheço
pesquisas recentes, que esses
números desfavoráveis tenham
sido revertidos, a partir de uma
série de iniciativas, que, ainda
bem, apesar das resistências,
têm sido postas em prática no
Brasil. Por exemplo: sistema
de cotas estabelecido em algumas universidades públicas, a
partir da iniciativa pioneira na
Universidade Estadual do Rio
de Janeiro, e o Pró-Uni, agora,
mais recentemente, são iniciativas que, por certo, resultaram
em um maior ingresso de negros ou afrodescendentes na
universidade pública.
Não está um pouco paralisada a discussão sobre cotas
para negros no mercado de
trabalho? Nos Estados Unidos,
há cotas em cargos de prestígio, mando e poder.
As iniciativas aqui são, ainda, muito pálidas neste sentido. Cotas para emprego aqui
nós temos com relação à melhoria social, os chamados
portadores de deficiência. O
artigo 37.26/8 da Constituição
da República prevê a possibi-
também é cotado para ser um dos próximos integrantes
do Grupo de Trabalho Interministerial para Valorização
da População Negra (GTI), em Brasília-DF.
Com um histórico de luta em favor das minorias
sociais, “doutor” Aleixo, como costuma ser chama-
lidade de um percentual para
portadores de deficiência para
ingresso no serviço público.
Lei de 1990, que é a 8.112, do
Estatuto do Funcionário Civil
Público Federal, estabeleceu
que esta cota para portadores
de deficiência pode ser de até
20%. Faço essa menção para
dizer assim: com relação aos
portadores de deficiência, já
há esse avanço de cotas. Para
os negros, as cotas encontram
uma fortíssima resistência da
sociedade. Uma curiosidade fácil de a gente decifrar. Vou dar
um exemplo: Existe uma lei além dessa que eu citei, para
os portadores de deficiência existe a Lei 9.504, de 1997, que
estabelece cota para as mulheres para serem escolhidas nas
convenções partidárias, como
candidatas. A Lei 9.504 estabeleceu a cota de, no mínimo, de
30% e, no máximo, de 70%. E
veja bem: ninguém, absolutamente ninguém, neste país, fez
qualquer resistência a este tipo
de cota.
Aqui, no Brasil, a gente quase não ouve falar uma discussão nesse sentido.
O Banco de Boston, por
exemplo, tem cotas para negros no emprego. Mas, por que
tem estas cotas? São multinacionais que trazem essa influência, sobretudo das suas sedes nos Estados Unidos, onde
mantêm uma política mais ou
menos tranqüila com relação
às cotas no emprego e trazem
isso na sua cultura, a Johnson
& Johnson, por exemplo. Mas
no Brasil há uma grande resistência. Não conseguimos emplacar, ainda, na mentalidade
do mundo empresarial brasileiro, que a necessidade de estabelecimento de cotas dá emprego para o fim de compensar
desigualdades. É pena que os
empresários brasileiros não
tenham visão. Não, por razões
humanitárias só, nem apenas
políticas ou filosóficas. Deveriam ter esta visão pelo menos,
por razões mercadológicas.
Eu explico isso, dando outro
exemplo. Os norte-americanos
têm 12% de negros em seu
contingente populacional. Ao
passo que o Brasil tem 45%,
no mínimo. Os norte-americanos, que gostam muito de
estatísticas, e assim acontece
com os países mais adiantados do mundo, a despeito dos
negros serem apenas 12% da
população, eles consumiam
35% do refrigerante produzido. O que fizeram? Passaram a
adotar os quadros diretivos da
empresa, diretores, coordenadores negros, e mostraram na
sua publicidade negros como
diretores. O que aconteceu? O
consumo de refrigerante pelos negros saltou de 35% para
43% da produção. Isso é uma
razão mercadológica e econômica. Aqui, a gente torce para
que o mundo empresarial, pelo menos, por razões de interesse econômico, faça política
de inclusão.
O senhor acredita, então,
que há uma cultura no Brasil
de que a boa aparência que
se exige hoje nos empregos é
você ser branco?
Estamos próximos de uma
possibilidade de ter um negro
na presidência da nação que
há 40 anos praticava segregação racial, o pré-candidato
do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos,
Barack Obama. Não é curioso
isso? Que o Brasil, que nunca teve segregação, no sentido
formal da palavra, que diz que
aboliu a escravatura em 1888,
diz que é um país de democracia racial, seja impensável
que o negro seja escolhido
na convenção de qualquer
partido para disputar a presidência brasileira? Veja esse
dado comparativo, para saber
como uma nação, que é tida
como racista, trata esta questão, e como tratava antes. E
como uma nação dita “democraticamente” racial, como o
Brasil, trata os seus filhos. Há
uma diferença muito grande.
Bom, este quadro se reflete
em todos os segmentos da sociedade, e, portanto, no segmento empresarial. Se você
perguntar para qualquer um
que aponte, num estado como
o nosso, de vocação agrícola,
parte da agricultura, você não
encontra um negro fazendeiro. Você não encontra um negro participando dessa cadeia
produtiva. Você não encontra
um negro no mundo empresarial, de empresas significativas. Se você perguntar de
empresas médias, eu vou ter
dificuldades para te apontar
um. Quer dizer, aquilo que já
é trivial numa nação, antes segregacionista; aqui, é uma coisa raríssima. Aqui, se aponta
um Joaquim Barbosa como
ministro do Supremo Tribunal Federal, que o presidente
Lula nomeou como primeiro
negro a ocupar uma cadeira
no Supremo Tribunal Federal.
E, nos Estados Unidos, um negro já ocupa uma cadeira do
Supremo, desde o tempo de
Lyndon Johnson.
O programa do SBT “Realidade”, que foi ao ar no dia 19
de março, falou sobre o preconceito contra os negros. E
mostrou a primeira turma de
formandos da Universidade
da Cidadania Zumbi dos Palmares. O senhor acha que a
divulgação destas atividades
ajuda a diminuir o preconceito?
Quero dizer, em primeiro lugar, que a iniciativa da
Universidade dos Palmares é
elogiável e corajosa. Foi como
dizer assim: já que vocês não
nos dão oportunidades nas
universidades de modo geral,
nós vamos criar nosso próprio
espaço, como o negro americano criou universidades.
Mas eu tenho dúvidas com relação a este tipo de iniciativa,
porque você acaba fornecendo
do, comenta, nesta entrevista ao Unifolha, questões
polêmicas, como o racismo no Brasil, as cotas para
negros nas universidades, além de se dispor a comentar o estágio atual das denominadas ações afirmativas.
munição para o inimigo. O
que quer dizer isso? Não falta
quem vai dizer “Está vendo?
Racistas são eles. Criaram a
universidade deles”. Quer
dizer, negam-nos espaços democráticos para a nossa realização pessoal. Estudo, emprego, sobrevivência digna e,
quando a gente cria o espaço
próprio, “Racistas são vocês”.
Então, eu tenho dúvida desta
estratégia, prefiro que a nossa
luta seja centrada numa intenção de integrarmos todos
IZABEL ESCOBAR
"Aqui, a gente torce
para que o mundo
empresarial,
pelo menos, por
razões de interesse
econômico,
faça política de
inclusão."
os espaços disponíveis. Eu
penso assim. Tenho dúvidas
com relação a esta estratégia,
mas ela tem um efeito político. Ela serve para provocar
um debate. E fazer com que
a sociedade reflita sobre essa
questão. Pegando um gancho
nessa questão da Universidade Zumbi dos Palmares; ela,
por si só, não vai constituir
a panacéia que vai resolver
todos os males da discriminação racial do Brasil. Não
vai constituir, mas ela está
prestando um serviço que, às
vezes, as pessoas não percebem, um serviço enorme, a
conscientização da sociedade
para o problema em si.
ONGs, como a Uni Palmares, têm patrocínios de grandes empresas, como Bradesco e Itaú. São essas Organizações Não-Governamentais
ferramentas melhores do que
os órgãos políticos na construção de uma ponte entre o
negro e os cargos de prestigio, mando e poder?
Desde que elas tenham o
compromisso decorrente do
seu objetivo institucional.
Tenham isso na sua missão,
na sua filosofia, no seu estatuto. É evidente que ela tem a
sua ação, permanentemente,
voltada para isso. Eu dou o
exemplo aqui, com o Instituto
Luther King. Nós somos uma
instituição plural. Nascemos
como um curso pré-vestibular. Não temos cotas para mulher, até porque, nem precisa.
Em todas as turmas, aqui, as
mulheres são majoritárias.
Essa é uma inclusão que se
dá naturalmente.
(De repente, um silêncio.
Uma lágrima rola no rosto do
Juiz. Ele a enxuga e retoma a
entrevista após quase um minuto, pedindo desculpas por
não conter a emoção). Então,
somos uma instituição plural,
mas com forte compromisso,
até porque, nosso patrono se
chama Martin Luther King.
Um forte compromisso com
a inclusão de pessoas excluídas da sociedade. O movimento negro luta para que
haja instrumentos jurídicos
que assegurem políticas de
Estado. Quer dizer, tanto faz
um conservador na direção
do governo quanto um progressista. Então, eu acho que
essas ONGs têm uma vantagem sobre o ponto de vista de
compromisso.
Apesar de atitudes como a
do Banco de Boston e o PróUni, ainda não são poucas as
decisões tomadas?
Sem dúvida. Isso é uma cultura do Brasil. Está impregnada no nosso imaginário,
vamos dizer assim. Que lugar
de negro é realmente, na periferia da sociedade e na periferia, não só das cidades em si,
mas na sociedade como um
todo. Você vê que os espaços
habitacionais ocupados pelos
negros são espaços na periferia destinados às palafitas
e, também, à periferia como
um todo. No subemprego, no
desemprego, no analfabetismo. Em matéria de empregados domésticos, a mulher
negra é majoritária com 76%
ocupando este espaço. Há,
como que no nosso imaginário, uma concepção de que o
lugar do negro é o pior lugar.
E não dá para mudar isso.
É assim mesmo, desse jeito,
e as pessoas fazem isso. Alguns, conscientemente. E outros, inconscientemente, nem
percebem. Não fazem até por
mal. Porque isso se banalizou.
Tornou-se hábito e as pessoas,
então, aceitam isso como uma
coisa, se acomodaram. Ao
mesmo tempo, a grande parcela dos negros não tem uma
posição ideológica quanto a
essas questões. E isso se explica pela baixa escolaridade,
porque, na medida em que as
pessoas excluídas sejam brancas, negras, índios, mulheres,
ou portadores de deficiência
e adquirem maior grau de
escolaridade e compreensão,
elas aguçam seu senso critico. Isso lhes permite perceber
a dimensão dos seus direitos
e, portanto, lutar por eles.
"Segundo dados estatísticos do IPEA, tomando por
base o ano de 2002, o índice de afro-descendentes nas
universidades públicas é de 17,06%."
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Unifolha
COMPORTAMENTO
CAMPO GRANDE-MS | ABRIL - 2008
HISTÓRIAS-VIDAS
“Consegui dar a volta por cima”
GISELLE RIBEIRO
HUGO CRIPPA
3º. SEMESTRE
Há 29 anos, Antônio Carlos
Leal trabalha com um Siena, carro que já o fez passar
por muitos momentos bons
e ruins. Ele é taxista. Após
três tentativas de entrevista
com outros taxistas, um deles
aponta para “Toninho”, dizendo “esse gosta de falar”.
Foi assim que Carlos, 49
anos, casado, pai de 11 filhos
e ex-policial militar nos contou um pouco mais sobre o
que já viveu, porque escolheu
uma vida de aventuras e, muitas vezes, perigosa. Jeito tranqüilo e confiante de ser, nos
passou muito orgulho de sua
profissão, que exige dele 24
horas por dia.
Já teve muitas mulheres.
Mas foi no táxi que conheceu a sua atual esposa. Muito
companheira, ela entende seu
trabalho e aceita que ele esteja
em casa dia sim e não. “Eu e
minha mulher, a gente é igual
o sol e a lua. Eu tô chegando
em casa, e ela tá saindo para
trabalhar.”
Ex-alcoólatra, passou por
muitos desafios na vida. “Eu
descobri uma frase e coloquei
em prática. Foi com o Zé Ramalho, que dizia assim: Eu sou
o veneno pra mim, eu sou o remédio pra mim. É um orgulho
porque eu consegui dar a volta
por cima de muita coisa.”
Hoje, além de todo taxista
levar e buscar as mais diversas e esquisitas pessoas, eles
também exercem um papel
importante para a sociedade.
“Logo que vemos um acidente,
acionamos o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu) e, se precisar, a polícia
também.”
Histórias curiosas não fal-
tam, como, por exemplo, não
pagar no fim da corrida. Isso
Carlos já se acostumou, pois
acredita que foi amadurecendo e aprendendo a lidar
com a vida. Comenta que já
foi muito valente, bravo, mas,
com o tempo, passou a relevar esse tipo de acontecimento. “A gente carrega pessoas
de diferentes classes sociais,
e o importante é entrar no
carro. Eu levo ela pro destino
e, depois, ela acerta comigo.”
Perigo e Medo. Toninho se
lembra do pior momento que
já passou. Há três anos, ele foi
assaltado por três homens, e
um deles estava armado. Um
amigo desconfiou dos passageiros e solicitou a Central.
Os homens forçaram o taxis-
ta a entrar no porta-malas do
carro, onde ele permaneceu
durante 15 minutos. Para Antônio, no entanto, foi tudo
muito rápido. Sorte não acontecer nada com ele.
Mais entusiasmado, relatou um momento marcante,
mostrando que, realmente,
o destino é capaz de unir as
pessoas. Em março de 1980,
na avenida Calógeras, passou
por um momento de muita
adrenalina. Levou para o hospital uma mulher em pleno
trabalho de parto e, no caminho, a bolsa estourou. Antônio, naquela hora “se tornou”
médico e acabou auxiliando
no parto ali mesmo. O taxista lembra, ainda, da camisa
preta de bolinhas brancas em
que embrulhou o recém-nascido. “Tenho guardada ela até
hoje”.
Para sua surpresa, após 28
anos, o destino o reencontrou. Dessa vez, levava em
seu táxi um homem. O mesmo que trouxe ao mundo, em
1980. “São coisas assim que,
de repente, acontecem e fazem nosso dia-a-dia.”
JEANNE MATTOS
Histórias, como a de um parto durante uma corrida de taxi, um assalto, no qual foi carregado no porta-malas e, até mesmo, o encontro com sua atual esposa, quebraram a rotina de Toninho
DETERMINAÇÃO
Enfermeiro enfrenta
difícil rotina pelo
amor aos pacientes
GISELLE RIBEIRO
HUGO CRIPPA
3º. SEMESTRE
O local é escuro. As portas têm grades. As janelas
são minúsculas e a sensação é de frio. Do fundo do
corredor, surge em nossa direção um homem de roupas
brancas, trazendo em suas
mãos algo que faz barulho.
Com seu jaleco branco, traz
escrito no seu crachá: Carlos Henrique, enfermeiro.
Carrega apenas algumas
chaves que, supostamente,
abrem a porta com grades,
que dificultam nossa visão.
Carlos Henrique Vera-
nézio, 29 anos, formado na
Faculdade Associadas de
Ensino (FAE), em Presidente
Prudente-SP, mudou-se para Campo Grande-MS, em
2004, para trabalhar. Após
uma experiência no Serviço
Social do Comércio (SESC),
começou no Hospital Nosso
Lar, antigo Sanatório Mato
Grosso. Desde então, trabalha em noites alternadas.
Sua função é coordenar, atender medicações e
supervisionar os cerca de
180 pacientes. Entre eles,
dependentes químicos, alcoólatras, depressivos e
esquizofrênicos. “Gosto de
trabalhar à noite”, diz Carlos. Trabalhar neste turno
lhe deu a oportunidade de
conciliar dois empregos, já
que, no período matutino,
também atua na área de primeiros socorros, no Hospital Miguel Couto.
Muito serviço para pouco
tempo. Carlos chega ao hospital Nosso Lar às 18 horas
e sai às 6 horas. Logo em
seguida, às 6h30, entra no
Miguel Couto, saindo só às
16 horas. “Com essa correria, todo o corpo cria uma
resistência maior e se acos-
tuma fácil”. Nos dias em
que não trabalha, conta que
é um pouco difícil dormir
cedo, pois o organismo já
acostumou.
Carlos está casado há um
ano e dez meses. Nas poucas horas vagas, fica em
casa com a mulher e, sempre que dá tempo, pratica
futebol. “Apesar da correria
ainda dá tempo de passar
em casa, dar um beijo na
mulher e ir pro trabalho.”
Houve momentos em que
até pensou em sair do Hospital Nosso Lar, mas afirma
que não pode desistir no
primeiro obstáculo. Relata
que, em seu terceiro dia de
trabalho, ao convencer um
paciente a não suicidar-se,
acabou sendo agredido, ficando muito machucado.
“É necessário um psicológico muito forte para acom-
panhar os acontecimentos
noturnos do hospital”. Carlos lembra que já passou
por momentos marcantes e
presenciou vários motins,
várias tentativas de suicídio
e relata que houve, inclusive, fugas de pacientes.
“Os dependentes de drogas são os mais difíceis de
lidar, eles não aceitam regras
e são mais manipuladores”.
Confessa que nunca pensou
em trabalhar nesta área, mas,
hoje, gosta do que faz. Já recebeu propostas para largar
o trabalho noturno, que não
tem uma remuneração muito boa; porém, mesmo assim,
preferiu continuar. Um de
seus planos é permanecer no
Hospital Nosso Lar. Carlos
afirma que o tempo o fez ter
muito afeto e muita consideração por todos que passam
por lá.
Lembranças que abalam e perturbam
DIOGO RIBEIRO
MARIANA BIANCHI
3º. SEMESTRE
“Aí, galera! Enquanto vocês tão aqui dentro, os PMs
tão lá fora com... sua mulher.. Vô jogá sangue de
AIDS em você, filho da p...”
Esse é um exemplo do que
Antônio Carlos Dias ouvia
durante o antigo trabalho
no Estabelecimento Penal de
Segurança Máxima (EPSM).
Hoje, com 45 anos, trabalha como segurança de uma
farmácia na avenida Ceará.
Relata que foi agente peni-
tenciário por 12 anos e trabalhou em vários presídios,
como os de Ponta Porã, Dourados e Corumbá.
Conta que alguns agentes
sabem quem fornece as drogas na cadeia. Mas, acredita
que era melhor que as drogas circulassem e o presídio
ficasse sossegado, do que os
detentos organizarem rebeliões. Antônio afirma que,
antes, os presos tinham certo
medo dos agentes. Em sua
opinião, esse temor diminuiu atualmente, pois existem as grandes organizações,
como o Primeiro Comando
de Mato Grosso do Sul, facção do PCC e grupos muito
fortes que conseguem tudo.
“Ao invés de judiarem dos
agentes, eles dão o troco em
nossas famílias.”
Bastante abalado e com
muitos detalhes, conta uma
das situações por que passou.
Na Colônia Penal, para onde
foi remanejado, sofreu ataque
de um detento ou, como diz,
“reeducando”, com uma enchada, o que fez com que ele
perdesse alguns dentes. Por
causa disso, já passou por três
cirurgias e foi afastado com licença médica. “Na cadeia, não
tem santo não.” Depois do que
passou, mudou para uma pequena chácara, onde criava galinhas e pescava todos os dias.
Ele relata, ainda, como os estupradores são recepcionados na
cadeia. “Já chega arregaçado e
é chamado de duque 13, que é
o artigo do Código Penal: 213.”
Carlos denuncia que,
quando os detentos ficam sabendo que está chegando um
duque 13, alguns pedem para o agente deixá-lo cerca de
20 minutos na cela para “fazê
ele”. A expressão quer dizer
“depilar o cara todo, até as
sobrancelhas e mandar vestir
calcinha para virar mulherzinha”. Depois, o estuprador
também sofre estupro em sua
própria cela. “Existem os xerifes. São eles que estipulam
o que o duque 13 tem que fazer. O xerife co... ele, manda
ele ch... todos da cela, e também limpar o ‘boi’, que significa banheiro”.
Carlos não quis voltar a
ser agente e seu maior motivo foi sua família. Todos
são contra e têm medo. “Era
um dinheiro bom. Mas o que
você sofre lá dentro... Às vezes, você não volta nem a
ser o mesmo, pois o psicológico fica muito abalado”.
Ele ainda lembra que seu
irmão, homossexual, faleceu
no mês de março, na avenida Zahran, com um tiro no
pescoço, que atravessou a
jugular, levando à morte instantânea. O segurança afirma que não gosta muito do
serviço atual, pois também
acha muito perigoso, trabalha à noite, apenas por necessidade.

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