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O Caminho do Bem a saúde nas suas mãos Ano 7 - Nº 70 Março 2016 Mensal Gratuito jornal Director Editorial: Rui Moreira de Sá aude A da N G O L A Ainda que se saiba que o stresse crónico tem efeitos devastadores na saúde, será o mais puro engano pensarmos que, na sociedade actual, poderemos sobreviver sem conseguirmos geri-lo. Foi esta a pergunta que José Sayovo fez a si próprio quando, um certo dia, o secretáriogeral do Comité Paralímpico o convidou para praticar atletismo. A sua biografia está prestes a ser publicada. Como dificilmente temos as opções de deixar de trabalhar, de arranjar profissões "mais saudáveis", ou compatíveis com eventuais problemas de coluna, é fundamental adoptar estratégias de prevenção e de compensação. O lixo acumulado nas ruas, águas paradas, incipiente saneamento básico, dificuldades dos hospitais com falta de medicamentos e gastáveis e as fortes chuvas que se fizeram sentir, nomeadamente em Luanda, ajudam a explicar a rápida propagação da malária (500 mil pessoas afectadas) e febre amarela nos últimos meses (493 casos confirmados, dos quais 350 na capital, até 31 de Março). Presidente da República cria comissão para limpar a província. O ministro da Saúde de Angola, Luís Gomes Sambo, inicia vacinação em massa contra a febre amarela (5,8 milhões vacinados até ao final de Março), avança com o recrutamento de até dois mil médicos e paramédicos angolanos e anuncia a disponibilização de mais de 30 milhões de dólares para a compra de vacinas, medicamentos e outro material. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que Angola vai ter de imunizar com urgência 19,3 milhões de pessoas, em 12 províncias, para travar a epidemia que já provocou pelo menos 218 mortes. A infecção silvática de hu- manos ocorre quando estes entram na floresta para caçar, recolher alimentos, proceder ao abate de árvores, etc. Os indivíduos infectados na floresta podem dar início a transmissão entre humanos se houver a presença de vectores peridomésticos adequados nas cidades e aldeias. No ambiente urbano, o Aedes aegypti é um vector extremamente eficaz para o vírus da febre-amarela. Este mosquito é também o principal vector urbano para o dengue e a chikungunya. A febre-amarela distribuise a oeste, centro e este de África e na América do Sul, do Panamá à região norte da Argentina. Nunca foi detectada na Ásia. Já foram registadas epidemias catastróficas, com dezenas de milhar de mortes, na África rural. O vector Aedes aegypti já foi endémico na Europa e responsável por grandes epidemias de febre-amarela e dengue. A razão para o seu desaparecimento após a II Guerra Mundial nunca foi explicada. Ainda está presente nos Estados Unidos e já foi registado em 21 estados. É possível que o vector volte a estabelecer-se na Europa, à semelhança do que aconteceu com outro potencial vector, o Ae. albopictus. Caraterísticas clínicas O início dos sintomas é súbito, geralmente 3 a 5 dias após a infecção. A doença pode causar um amplo espectro de sintomas, de ligeiros a fatais. Nos casos clínicos verifica-se um início abrupto de febre e dor de cabeça forte, artralgias e dores musculares. Pode surgir icterícia no terceiro dia, o que é possível indicador de caso grave. Neste cenário, podem ocorrer hemorragias espontâneas, falência renal, delírio, coma e morte. A mortalidade destes casos clínicos pode chegar aos 80%, a par de doenças como o Ébola, Marburgo e outras infeções virais hemorrágicas. A convalescença é longa, geralmente com sequelas graves. Transmissão Reservatório Sendo uma infecção característica de primatas, o vírus circula entre macacos e mosquitos na floresta, e entre humanos e mosquitos nas aldeias e zonas urbanas. Nos macacos africanos a infecção é assintomática ou ligeira; as epizootias são sinalizadas quando os seres humanos adquirem a doença. Por contraste, o vírus é letal nos primatas do hemisfério ocidental; as epizootias são evidentes quando a selva fica silenciosa devido à elevada mortalidade dos macacos uivadores. Modo de transmissão As picadas de mosquitos infectados são o único modo de transmissão. Os mosquitos adquirem o vírus quando se alimentam de um hospedeiro virémico, após o que (numa espécie susceptível) o vírus infecta muitos tecidos, incluindo as glândulas salivares. Apesar de poder levar semanas (e muitas refeições sanguíneas) até um mosquito ficar infectado, essa infecção é para a vida. Novas infecções em humanos podem ocorrer quando a saliva do mosquito, que contém o vírus, é injectada num hospedeiro não imune durante refeições sanguíneas subsequentes. O período de incubação extrínseco, ou seja, o tempo necessário para o mosquito se tornar infeccioso, é de cerca de 10 dias, dependendo da temperatura. Também existem provas de transmissão vertical (transmissão diretamente da fêmea adulta via ovos para os adultos da próxima geração). A virémia atinge o pico mais elevado no dia antes ao início dos sintomas, e geralmente é suficientemente elevada para infectar mosquitos nos 4 dias seguintes. A imunidade é provavelmente para toda a vida. Todas as pessoas não vacinadas correm risco nas zonas com transmissão activa da doença. Medidas de prevenção Existe uma vacina atenuada de febre-amarela, considerada segura, eficaz e de baixo custo, que é administrada há mais de 50 anos. Apesar da vacina ser extremamente eficiente, a vacinação por rotina foi implementada em muito poucos países. Um certificado de vacinação da febre-amarela é agora o único certificado que deverá ser requerido em viagens internacionais. Áreas de incerteza Apesar da riqueza de informação a nível da ecologia, epidemiologia e patologia da doença, há uma elevada probabilidade de ocorrência de grandes surtos em populações não vacinadas em áreas onde se regista a presença de Aedes aegypti. Foram registados eventos adversos (viscerotrópicos ou neurotrópicos) após imunização com vacinas da febreamarela sobretudo em indivíduos idosos e imunocomprometidos. Estes casos terão de ser melhor investigados para reunir e verificar evidências de associação entre a vacina e a doença clínica para poder apoiar decisões em relação à vacinação contra a febre-amarela. A directora-geral da OMS disse ter recebido garantias do Presidente José Eduardo dos Santos de mais apoio ao sector da saúde, quer em termos financeiros, quer em pessoal. Margaret Chan encorajou as autoridades a prosseguirem com o mesmo empenho e lançou ela própria um repto às empresas para que se associem nessa luta para acabar com a febreamarela. Dados do Ministério da Saúde indicam que foram re- gistados em 16 províncias cerca de 1562 casos de febreamarela, com uma mortalidade de cerca de 14 por cento. A OMS mobilizou 65 técni- cos, vindos tanto do escritório regional como da sede, que participam nos esforços empreendidos pelo Governo angolano para combater a febre-amarela. Acompanhada da directora regional da OMS, Matshidiso Moeti, Margaret Chan esteve em Angola, a convite do Governo angolano, para analisar e apoiar a resposta à epidemia da febre-amarela que afecta o país desde Dezembro do ano passado. A visita serviu também para acompanhamento dos progressos e desafios na área da saúde em Angola. O ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo disse que a província de Luanda está à beira de completar a campanha de vacinação contra a febre-amarela e existem perspectivas de se estender a campanha para outras pro- víncias tão cedo quanto possível. “Fizemos a encomenda de vacina anti-amarílica e já chegou uma parte, cerca de três milhões de doses”, disse o ministro, antes de confirmar o pedido feito à OMS no sentido de facilitar a compra dessa vacina no exterior para que chegue a Angola o mais cedo possível. O papel das famílias O êxito da campanha está também na mãos das famílias. De acordo com a directora-geral da OMS, cerca de dois terços dos mosquitos vectores da febre-amarela e também da malária reproduzem-se em casa. Daí a necessidade de um engajamento sério de todas as famílias para acabarem com essa doença, através das medidas que recomendamos nestas páginas. a doença estiver avançada po- pelo mesmo vector – o mos- No encontro, a directora na- cional de saúde pública, Adelaide Carvalho, explicou que o principal causador da febre amarela é o mosquito, e que consiste numa doença que se manifesta com febres altas, dores de cabeça e cansaço. No seu estado avançado podem surgir complicações mais graves como a icterícia, incluindo a coloração amarelada dos olhos. Se a pessoa for de pele clara é mais facilmente reconhecida. Disse ainda que no caso se de provocar a lesão de muitos órgãos no corpo, como o fígado, rins e podem levar à morte. No quadro das hemorragias é frequente surgir a hemorragia do tubo digestivo, pelo que a pessoa pode vomitar sangue, defecar fezes com sangue e apresentar urina com sangue. Na ocasião, a directora alertou os terapeutas no sentido de sensibilizarem os cidadãos a usarem todas as medidas de prevenção que estão ao seu alcance para lutarem contra a chicungunha, febre-amarela e o paludismo “por se tratarem de doenças que são causadas quito Aedes aegypti”. Disse ainda que, em Angola, a faixa etária mais afectada pela doença, desde Dezembro de 2015 até Março do corrente ano, foi a dos 15 aos 45 anos, dado “ser constituída por pessoas em idade activa”. Acrescentou que o Ministério da Saúde quer um envolvimento de todos, sobretudo dos terapeutas, “por terem um papel muito importante na sociedade, o que irá ajudar na implementação de todas as medidas que serão certamente benéficas no controlo da doença no país, dado que também para não manterem no consultório pacientes com febres altas durante três dias porque “podem necessitar de cuidados intensivos, pelo que devem encaminhá-los para uma unidade hospitalar mais próxima”. atendem nos seus consultórios um número elevado de pacientes que podem apresentar sintomas desta doença”. Alerta máximo Adelaide Carvalho alegou que deve estar-se em “alerta máximo, e saber quais as medidas certas a tomar para não criar inúmeras complicações prejudiciais para a saúde”. A directora deixou um alerta à população para não permanecerem com doentes em casa. Aos terapeutas disse Vacina eficaz A responsável garantiu que a vacina é eficaz pois quem estiver vacinado não corre nenhum risco de contrair a doença. Afirmou também que não existe no país a quantidade de vacinas que se pretende, porque são produzidas com antecipação, motivo porque não será possível vacinar de imediato toda a população. “Fomos surpreendidos pelo surto da febre-amarela”, confessou. +“À medida que forem sendo recebidas as vacinas, iremos estendendo a campanha de vacinação aos municípios onde ainda não houve vacinação”,garantiu. “Não se deve ficar de braços cruzados pois a luta contra o mosquito é importante”,sensibilizou. A directora recomendou também que “as comunidades se organizem para venceremos esta doença que tanto fragiliza e causa vítimas mortais”. Terapeutas tradicionais colaboram O Presidente da Câmara Profissional dos Terapeutas de Medicina Tradicional, Natural, Alternativa e não Convencional de Angola, Kitoko Maiavanga, disse que o encontro foi bastante satisfatório para todos os terapeutas que exercem a profissão no país. De acordo com este responsável, tratou-se de “um evento que visou instruir o terapeuta no sentido de informar, educar e sensibilizar a população com o intuito de se travar o surto da febre-amarela que abala a sociedade angolana”. Acrescentou que o terapeuta “não está fora do sistema nacional de saúde, pelo contrário, é um activista que tem e deve contribuir para o combate desta doença, levando a mensagem junto das comunidades”, por se tratar de uma “entidade fazedora de opinião”. Kitoko Maiavangau garantiu que, “face à situação, a Câmara irá levar avante um conjunto de acções de informação e sensibilização junto às comunidades de forma a que a população conheça a doença e se previna”. Actualmente, a Câmara dos Terapeutas de Angola, tem cerca de 61 mil membros, dos quais 14 mil no Uíge, sendo a maior parte parteiras tradicionais. No âmbito da Campanha Stop Malária, e com o intuito de contribuir de forma efectiva para a luta contra esta doença em Angola, a Unitel assinou, em 18 de Março, um Memorando de Entendimento no Hospital Pediátrico de Luanda David Bernardino, o qual prevê um conjunto de acções de apoio da operadora a esta instituição, visando a prevenção e o combate à doença. Neste sentido, a Unitel tem disponiblizado ao Hospital Pediátrico de Luanda um conjunto de meios necessários para uma actuação mais eficaz na prevenção e no combate à Malária, nomeadamente no apoio à construção de infraestruturas que promovam um melhor atendimento hospitalar, no apoio à criação e divulgação de campanhas de sensibilização e educação da população sobre temas relacionados com cuidados básicos de saúde e com a prevenção da malária, e da disponibilização de um corpo de voluntários Unitel para apoiar as acções sociais regulares do Hospital, entre outras necessidades. O memorando foi rubricado pela presidente do conselho de administração da Unitel, Isabel dos Santos, e pela directora do Hospital Pediátrico, Vitória do Espírito Santo. A família das Leptospira spp tem vários subgrupos. Sob o ponto de vista epidemiológico, as mais importantes (mais comuns e agressivas) para a maior parte dos animais e, também, para o homem são as seguintes: Leptospira icterohemorragiae, L.pomona e L.canicola. O agente transmissor desta doença é habitualmente o rato (grande expressão nas zonas urbanas). O rato, ao caminhar sobre as superfícies onde vive, defeca e urina com frequência e, como tal, deixa esta bactéria nos locais, através da urina. As infecções podem ser assintomáticas (com fracos sinais) ou, pelo contrário, os animais apresentarem febre, icterícia, hemoglobinúria (aspecto de sangue digerido na urina – urina muito escura), falha renal, infertilidade, aborto e morte. Após a fase aguda da doença, e no caso dos animais que não morrem, as bactérias vão localizar-se nos rins, no sistema reprodutivo e são eliminadas pela urina por longos períodos (meses ou mesmo anos). Estas bactérias são resistentes no meio ambiente com a presença da humidade. Vão contagiar outros animais e também o Homem. A infecção é normalmente contraída pelo contacto da urina com a pele (entrando no organismo por feridas da pele – soluções de continuidade) e com as mucosas (sobretudo conjuntiva ocular e mucosa vaginal) e, também, pela ingestão de água ou alimentos contaminados. A doença espalha-se rapidamente num efectivo animal. Os abortos com retenção placentária e infecções posteriores ou partos permaturos (no meio ou no terço final da gestação) são fre- quentes. Quando as fêmeas sobrevivem, há uma percentagem elevada de infertilidade que se segue. A Leptospirose em espécies animais Daremos uma breve ideia sobre a Leptospirose em algumas espécies animais: Bovinos Os bovinos apresentam falta de ar (dispneia), falta de apetite (anorexia) e febre na ordem de 40,5 a 41 graus centígrados. Aparece hemoglobinúria (que não ultrapassa as 48-72 horas). Surge icterícia imediatamente, seguida de anemia. Nesta fase, se a carne for ingerida mal cozinhada, há forte risco de contágio para o ser humano. A mortalidade é normalmente maior em animais jovens do que na fase adulta. Nos animais mais velhos, a crise hemolítica (com o apa- recimento da icterícia e da anemia) por vezes não ocorre, aparecendo somente abortos e diminuição ou cessação da produção de leite com alteração da cor e consistência (a produção de leite por vezes retorna à normalidade). Este leite deve ser fervido e deitado fora. Suínos No porco, a manifestação mais evidente da Leptospirose é o aborto habitualmente entre a segunda e a quarta semana de gestação. Os leitões que nascem de porcas com a doença nascem mortos, ou morrem pouco depois de nascerem. Ovinos e Caprinos A prevalência nestes pequenos ruminantes é menor que nos bovinos. No entanto, os sintomas são semelhantes aos que ocorrem nos bovinos. Solípedes (cavalos, burros e muares) Esta doença, nos solípedes, sobretudo nos cavalos, está comumente associada a uveítes (infecções numa parte do olho) e a abortos. A doença sistémica é mais rara. Canídeos A Leptospirose é uma doença comum nos cães não vacinados. Podem adoecer em qualquer idade. O período de incubação é de quatro a doze dias após a infecção. Aqui, surgem sintomas não específicos, como febre, anorexia (falta de apetite), vómito, dor generalizada e, também, alterações na coagulação do sangue com o aparecimento, por vezes, de pequenas manchas hemorrágicas na pele (petéquias e sufusões). Podem aparecer hemorragias também em alguns órgãos. Com o passar do tempo, o vómito intensifica-se, surge urémia devido à insuficiência renal aguda, desidratação e aparecimento de úlceras (fe- ridas) na boca. O fígado é também afectado e aparece icterícia. Também pode surgir meningite e uveíte. Diagnóstico Laboratorialmente, o teste de aglutinação em microscópio (MAT) é o teste serológico mais utilizado. Mede a titulação de anticorpos – IgM (aparecem cerca de seis a doze dias após a infecção) e IgG (aparecem duas a três semanas após a infecção). Os anticorpos persistem por vários meses e valores moderados podem persistir por vários anos. No entanto, estas titulações podem ser originadas pelo processo vacinal, mas nunca atingem valores elevados como os obtidos pela doença activa. Hoje em dia, já nos podemos servir das técnicas moleculares, como o PCR, que nos fornecem resultados definitivos. Definitivos são também os resultados obtidos pela observação directa das Leptospira na urina ou nos tecidos infectados. Como a cultura laboratorial destas bactérias não é fácil, é muito importante que o material colhido seja obtido quando há uma forte suspeita da doença, de acordo com o quadro clínico avaliado pelo médico veterinário no acto de consulta. Esta entidade de que tanto se fala o que é na realidade e onde se localiza? A Inês, o Luís e o Pedro todos tiveram sensações comuns: o coração acelerou, a respiração tornou-se mais profunda, e os músculos ficaram mais tensos. Para além destas reacções, a Inês ficou ruborizada na cara e o Luís sentiu-se a suar e até ficou nauseado, tal era a importância da decisão! Do ponto de vista biológico, estas manifestações associadas ao stresse resultam da activação de um sistema de alarme situado no cérebro - o hipotálamo. Esta estrutura é responsável por diferentes funções orgânicas tais como a temperatura, o sono e o apetite. Durante uma situação de stresse intenso, o hipotálamo segrega uma hormona factor de libertação da cortico- tropina - que "viaja" até à glândula pituitária para ser produzida a hormona adrenocorticotrófica. Esta hormona entra na corrente sanguínea, estimulando as glândulas adrenais para ser libertada adrenalina e cortisol. Estas duas hormonas são responsáveis por fazer "despertar" o nosso corpo para enfrentar o stresse através de uma reacção chamada "luta ou foge" ("fight or flight"). Pelos efeitos da acção do cortisol e da adrenalina poderemos inferir da importância destas substâncias químicas na sobrevivência da humanidade - foram elas as responsáveis pelo estado de prontidão fisiológica que nos tem permitido, ao longo da História, enfrentarmos todas as adversidades da vida. Ou seja, umas vezes escolhemos "lutar", outras "fugir". Na vida selvagem ou nos negócios, o stresse pode ser decisivo na nossa capacidade de enfrentar adversidades. Neste contexto, o denominado "efeito de treino" assume uma relevância particular. Poderíamos resumir o princípio desta lei biológica através da seguinte frase: quando fazemos alguma coisa, alguma coisa acontece! Nenhuma das nossas acções é inócua. Tal como a terceira lei de Newton - para cada acção há uma reacção oposta de igual magnitude - quando agimos promovemos uma resposta indissociável da sua origem, da sua génese. No caso em apreço, se optarmos por fugir sistematicamente dos problemas, nunca vamos proporcionar ao nosso organismo uma capacidade de reagir a situações que, por diferentes razões, não conseguimos escapar. O nosso sistema neuro-endócrino (sistema nervoso e hormonal) vai interpretar o confronto com uma situação de stresse como algo de novo e para a qual não está treinado, não está habituado. Tal como numa resposta alérgica, o sistema vai reagir exagerando. E uma resposta fisiológica exagerada, não só é pouco económica, como é muito pouco eficaz. É o princípio do erro. E este está na base da relação entre elevadas quantidades de cortisol na corrente sanguínea e o insucesso na Bolsa descrito num recente estudo publicado no Proceedings of National Academy of Sciences New York. Fuga versus treino Em oposição à fuga permanente, o efeito do treino diz-nos que se nos expusermos de forma controlada e repetida a situações de stresse, o que acaba por acontecer é como que um reconhecimento (tal como o sistema imunitário identifica um agente agressor conhecido) da agressão e uma resposta adequada e não exagerada. Se pensarmos que a melhor forma de nos protegeremos contra o stresse é vivermos afastados dos possíveis agentes desencadeadores, como diz o efeito do treino "alguma coisa acontece" desadaptação. Ainda que se saiba que o stresse crónico tem efeitos devastadores na saúde, será o mais puro engano pensarmos que, na sociedade actual, poderemos sobreviver sem conseguirmos gerir o stresse. Teremos de, através da exposição, aprendermos e fazermos aprender o nosso organismo a encarar estes desafios emocionais como alicerces para uma forma de estar mais actuante, mais predisposta, mais disponível. É assim com o treino físico ao fim de alguns dias corridas ligeiras, as nossas pernas parece que resistem melhor às subidas e ao aumento da velocidade. É assim com o treino mental exercícios de concentração, de "engagement", tornam-nos mais centrados na tarefa, mais produtivos - é enfim, assim com a vida. Não é a "fuga" que nos mantém ainda no nosso planeta como uma espécie que resistiu. Foi a "luta" contra a agrura do clima e do meio. Tal como agora, é a luta, a resiliência, que nos manterá capazes de responder ao stresse dos negócios, ou do nosso emprego, de forma ajustada, controlada e, acima de tudo, eficaz e saudável. De acordo com nota da Angop – que cita dados do relatório anual desta unidade sanitária – 210 foram nados mortos, o que representa uma taxa de cerca de 6,2 por cento. Neste período, foram in- ternadas 9.670 crianças, entre recém-nascidos e provenientes de consultas de pediatria, de que resultaram 308 óbitos. O hospital efectuou 30.164 consultas externas, entre 11.104 de puericultura, 5.435 de ginecologia-obstetrícia e 4.501 de planeamento familiar. De registar ainda 28.894 consultas de urgência, das quais 24.627 de pediatria e 4.267 de ginecologia. A malária, as doenças diarreicas e respiratórias agudas, malnutrição, a febre tifoide e as cardiopatias foram as principais causas de internamento nesta unidade sanitária. Durante 2015, realizou 937 cirurgias no seu bloco operatório, entre cesarianas e de ginecologia em geral. O Hospital procedeu, no mesmo período, a 38.054 análises clínicas nas áreas de hematologia, urina, fezes, bacteriologia e serologia. Vocacionada para o atendimento médico de crianças e mulheres grávidas, esta unidade de saúde comporta 149 camas e dispõe de 170 funcionários, entre enfermeiros, parteiras e médicos que atendem, diariamente, mais de 50 pacientes. O hospital dispõe de serviços de pré-natal, ginecologia, obstetrícia, puericultura, pediatria e PAV, entre outros. Na edição do Jornal da Saúde nº 50, de Maio de 20141, publicámos uma experiência na aplicação do aloé vera e mel nos queimados, no Hospital 17 de Setembro, no Sumbe. Entre os pacientes tratados, observámos, no entanto, em três deles, que a sua doença tinha outra etiopatogenia, diferente das queimaduras por inflamáveis. São as denominadas toxidermias: doenças que surgem a partir de produtos químicos, medicamentos e infecções secundárias, ou primárias, sobre tudo a partir do estafilococo aureus. A propósito deste facto, procedemos a uma revisão bibliográfica do ano 2002 que não fora publicada. Entretanto, a partir do conhecimento desta experiência no hospital 17 de Setembro, fui contactado, em 2013, por um familiar de um doente que apresentava lesões similares à toxidermia, ou, como referiu na ocasião, tinha "Cobra Seca". Ora, este acontecimento levou-nos fazer uma nova revisão deste tema, que, embora pouco frequente, é sumamente grave, e precisa de assistência médica imediata e do nível máximo assistencial. Frequentemente não pensamos nela quando a enfrentamos de início, e, portanto, também se deixam de aplicar as medidas pertinentes assistenciais e de evacuação estabelecidas. Acresce que os terapeutas tradicionais muitas vezes se vêem impossibilitados de gerir adequadamente esta doença, razão pela qual é tão temida no seu seio. PARTE I Revisão da literatura até o ano 2000 (nos 10 anos anteriores) Toxidermias. conceitos e definições de Necrólise Epidérmica Tóxica (NET), Síndrome de StevensJohnson (SSJ), Síndrome da Escaldadura da Pele (SSSS), Eritema Multiforme major (EMm) e outras. Historicamente, considera-se que a SSJ foi descrita, pela primeira vez, por dois médicos norte-americanos, Stevens e Johnson, em dois jovens do sexo masculino que apresentavam conjuntivites purulentas graves, estomatite associada a necroses da mucosa oral e exantema cutâneo. Contudo, já em 1878 e 1899, respectivamente, Ritter Von Ritterstain e Jonathan Hutchinson haviam descrito quadros clínicos semelhantes associados à toma de certos fármacos. A NTE foi descrita a primeira vez em 1956 pelo dermatologista escocês Allan Lyell que relatou quatro doentes com lesões cutâneas semelhantes a queimaduras após a ingestão de fármacos e que ele cunhou de Necrose Epidérmica Tóxica. Esta doença, que veio a ser conhecida por Síndroma de Lyell, foi designada de tóxica porque se pensava, na altura, que os sintomas sistémicos se deviam a toxinas em circulação. Lyell utilizou o termo necrolisis pela combinação das características clínicas de epidermólisis com as características histopatológicas de necrose. A Síndroma de StevensJohnson (SSJ), a Síndroma de Sobreposição (SS) e a Necrolisis Tóxica Epidérmica (NTE) são emergências médicas raras, mas com elevada morbilidade e mortalidade. Estas entidades nosológicas caracterizam-se pelo atingimento difuso da pele e mucosas. A literatura referente às características destas doenças é normalmente escassa. As relações existentes entre a Necrolisis Epidérmica Tóxica (NET), o Síndrome da Escaldadura da Pele (SSSS2), e a Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e o Eritema Multiforme major (EMm), representam temas da medicina que continuam gerando polémica e controvérsia. No presente trabalho, faz-se uma revisão actuali- zada da bibliografia disponível no período 1994-2000. Neste período a controvérsia envolve questões conceituais, o que inclui o estabelecimento dos critérios diagnósticos que permitam diferenciar melhor estas entidades nosológicas; também nas questões relacionadas aos factores desencadeantes e mecanismos etipatogénicos, ou ainda nas questões de conduta terapêutica, como por exemplo a indicação/contra-indicação de corticosteróides sistémicos. Acresce o facto de participarem do atendimento aos pacientes, médicos de diferentes especialidades que analisam os casos de ângulos diferentes: dermatologistas, pediatras, intensivistas, internistas, infectologistas e, mais recentemente, profissionais da área de atendimento a queimados. Cada qual tem uma abordagem própria do tema o que certamente contribui para dificultar um consenso. Uma outra especialidade que também se enrola é a oftalmologia. Uma questão, que já provocou polémica mas em torno da qual se estabeleceu consenso, é que devem ser separadas a SSSS (Staphylococcal Scalded Skin Syndrome) e NET. Estudos realizados em camundongos permitiram a reprodução da SSSS a partir da injecção de toxina estafilocócica. Estes argumentos levaram a separar da NET o quadro que ocorre em crianças de tenra idade, desencadeado pela toxina bacteriana, o qual tem curso relativamente mais benigno, com recuperação da grande maioria dos pacientes, e que corresponderia à SSSS. Mas, não podemos esquecer a presença da SSSS em adultos imuno suprimidos e que tem curso também relativamente mais benigno. Já a NET é geralmente desencadeada por drogas, ocorre principalmente em adultos, tem curso mais grave e óbito frequente (30 a 40%). Ambas apresentam extensas necroses epidérmicas, de todas as camadas, justos por em baixo da capa granulosa, levando ao aspecto de grande queimado. Igualmente há participação sistémica no paciente apresentando doença muito séria. Em consequência de tantas dificuldades, uma boa orientação seria manter o diagnóstico sindrómico tradicional de Necrose Epidérmica Tóxica (NET), admitindo duas variedades: uma seria do tipo SSSS e a outra simplesmente a denominada “ Síndrome de Ritter –Lyell”. Uma segunda dificuldade conceptual ocorre quando se procura estabelecer uma linha divisória clara para separar o EMm com lesões cutâneas e mucosas disseminadas, da SSJ. Tanto do ponto de vista clínico, como anatomopatológico, esta diferenciação pode ser impossível. Tanto EMm como SSJ podem apresentar lesões em placas eritematoedematosas, ou ainda lesões “em alvo”. A participação mucosa será indistinguível. Na microscopia óptica, em ambas as doenças (EMm e SSJ), pode ser encontrado um processo predominante dérmico (edema, vasodilação, infiltrado linfo-histiocitário), com quase nenhuma participação epidérmica; ou, ao contrário, um processo essencialmente epidérmico (necrose de queratinócitos, isoladamente ou em faixas extensas), com menor participação dérmica; também pode haver uma combinação de ambos os aspectos microscópicos. Não haven- do elementos seguros para o diagnóstico diferencial entre EMm e SSJ a partir das lesões cutânea-mucosas, seja pela clínica, seja pela histopatologia, o dado principal passa a ser a existência, ou não, de sintomas sistémicos significativos. Na SSJ há febre elevada, persistente, além da marcada prostração, caracterizando uma enfermidade de curso grave, factos que não ocorrem no EMm. Ainda na SSJ outros órgãos podem ser envolvidos, como é o caso do pulmão (pneumonites ocorrem em até 25% dos casos), sobrevindo até mesmo a falência de múltiplos órgãos, o que leva a morte. O prognóstico é então totalmente diferente, em ambas as entidades, com recuperação sem maiores consequências, no EMm, enquanto o curso é grave, com sequelas até mesmo óbitos, na SSJ. Por todos os argumentos apresentados, o conceito actual é separar a SSJ do na EM na sua forma disseminada, dita “major”. Todo o hospital que recebe estes pacientes tem uma percentagem de casos em torno de 15 a 20% do total de atendidos, onde a separação entre as duas entidades nosológicas é impossível de ser feita. Na experiência pessoal do autor, alinhamos neste modo de ver a questão, pois efectivamente têm sido tratados pacientes em que, até o momento da cura (ou do óbito), não foi possível saber exactamente se eram casos de SSJ ou de NET. Em último lugar, é preciso considerar as dificuldades decorrentes do facto de uma mesma droga produzir diferentes reacções medicamentosas, o que é particularmente observado com anti convulsivantes. Reacções a esta droga surgem logo nas primeiras semanas de tratamento. Mas há também casos em que há febre, aumento proeminente de linfonodos, com alterações que sugerem um quadro de linfoma, além de alterações hepáticas. Este conjunto de sintomas caracteriza mais a síndrome de hipersensibilidade a drogas, SHD. As manifestações cutâneas e sistemáticas vão se agravando se a droga continuar a ser administrada e, inversamente, a suspensão da mesma é acompanhada de uma melhoria do quadro clínico. Não obstante, há casos publicados em que o início se deu como se fora um EM, mas que, posteriormente, evoluíram para SHD; há também comunicações de casos que iniciaram com as características da SHD e posteriormente evoluíram para SSJ ou para NET. Isto indica que o espectro precisa se alargar um pouco mais, para abranger também a SHD. É didáctico que todas estas entidades sejam estudadas no conjunto de doenças denominadas como TOXIDERMIAS. EPIDEMIOLOGIA O conceito epidemiológico começou a mudar a partir dos anos noventa em consequência da constituição de grupos de estudo, em diferentes países, o que permitiu a colecta de dados através de protocolos. Um exemplo desse trabalho é dado pelo protocolo alemão, organizado para colectar dados sobre as três enfermidades que compõem o referido especto. A esse protocolo aderiram 100% das clínicas de queimados, de pediatria, de dermatologia e de medicina interna. A tendência actual é admitir algo em torno de dois casos de SSJ por um milhão de habitantes / ano, e 1 caso NET para cada dois milhões / ano. Aceitando-se como provável esta incidência anual, para a região da grande São Paulo, com seus 18 milhões de habitantes, a estimativa seria de ocorrem 36 casos de SSJ e 9 de NET, anualmente. Não obstante, estes valores têm de ser aceites com certa reserva, pois resultaram de protocolos voltados para o estudo das severas reacções adversas produzidas por drogas, se levarmos em conta que Mycoplasma pneumoniae é causa frequente de SSJ, é claro que a ocorrência deve aumentar durante as epidemias provocadas por esse microrganismo. Onde a SIDA é fortemente endémica, como em África, deve esperar-se uma ocorrência anual das doenças desse complexo, em níveis superiores à dos países europeus. ETIOLOGIA As drogas representam o mais importante factor etiológico, no caso da NET. Na SSJ e no EMm elas são importantes, mas aqui ganha relevância a presença de agentes infecciosos. Em 1994, um levantamento das drogas mais frequentes relacionadas ao complexo NET/SSJ/EMm está reproduzido na Tabela I. Do 1994-2000, além das drogas antes já conhecidas, ganharão relevância as seguintes: o anti convulsivante lamotrigina, o antibiótico Ciprofloxacina e, ainda, a Nevirapine um antiviral empregados no tratamento da SIDA (Tabela II). Além das drogas, diversos microorganismos podem desencadear os quadros ora estudados. Seu papel etioló- gico é particularmente importante em EMm e SSJ, sendo de menor relevância na NET. Quanto aos vírus envolvidos, destaca-se o do herpes simples, Nos infectados pelo VIH, as reacções adversas mais graves são justamente a SSJ e a NET. O Mycoplasma pneumoniae continua ocupando seu lugar entre os agentes etiológicos de EMm e SSJ, sobretudo em crianças, como responsável etiológico maior. O Stafilococcus Aureus penicilino-resistente encontra-se nas crianças com lesões dermatológicas que tomam as capas superficiais da pele nomeadamente até o nível dos queratinócitos, o que classicamente é conhecido como Síndrome da Stafilococcus Aureus B-Lactamassa (SSSS). Leia na próxima edição a continuação deste artigo – patogenia, diagnóstico, tratamento e a Parte II Decidido a superar-se e a afastar a tristeza e a angústia de perda de visão aos 25 anos, na flor da vida, semanas depois estava a treinar e no mês seguinte a correr a sua primeira prova. Ficou em segundo, porque fumava e perdeu o fôlego com a meta à vista. Nesse dia largou o tabaco. E as bebidas alcoólicas. Tornou-se num campeão paralímpico. O nosso campeão. A sua biografia, contada na primeira pessoa, vai em breve ser publicada pela mão de Abílio da Conceição, da editora Manuscritus, com o apoio da BP Angola. “Um testemunho para as futuras gerações de angolanos”, conforme assegura no prefácio da obra o Presidente do Comité Paralímpico Angolano, Leonel da Rocha Pinto. Enquanto não chega às bancas, com o provável título “O céu pode esperar”, oferecemos aos nossos leitores um breve trecho, com a devida vénia ao autor. A primeira prova A minha primeira prova pedestre aconteceu no dia 20 de Outubro de 1999, cinco dias depois de iniciar os treinos! Foi um percurso de três quilómetros, do Kinaxixi à Rádio Nacional de Angola, para assinalar o aniversário da ADDA. Lembro-me de ter corrido com uns ténis Converse e de vestir uns calções brancos. Colocaram-nos números no peito e tudo! Pareceu-me coisa séria. Como era militar, fumava muito – hábito adquirido nas casernas. Enquanto esperava pelo tiro de partida, acendi um cigarro e pus-me a fumar descontraidamente. Não sabia que, como atleta, não devia fumar. Amador, eu ignorava isso. Entretanto, senti que alguém me deu uma palmada na mão e o cigarro, um Kingsport, caiu no chão. – Quem me bateu na mão?! – gritei, enquanto procurava, às cegas, saber de onde veio o ataque. – Não fume! Vai correr e está a fumar! Reconheci a voz do treinador Zé Manuel e respondi: – Oh, treinador, eu sempre fumei na tropa… Até à data, eu era um fumador mais ou menos compulsivo. O quartel transforma os militares em fumadores compulsivos. Mas o treinador não estava para brincadeiras: – Você vai correr e, portanto, não pode fumar; isso prejudica, não sabia?! Não, eu não sabia. Acatei a ordem do meu treinador e agradeci o conselho. Desde o primeiro dia estabeleceu-se uma química entre mim e o treinador Zé Manuel. O meu último cigarro jazia no chão como uma lembrança de um passado que não voltaria a incomodarme. A partir daquele dia deixei de fumar. Não passou mais de cinco minutos, deram o tiro de largada. O meu guia nesta prova foi um certo Nelson. Não voltei a ouvir falar dele. O Ângelo Londaca, que já treinava há muito tempo, tinha experiência no atletismo paralímpico. Era o paratleta da actualidade e o favorito na prova. Mas, surpreendentemente, eu liderava a competição até faltarem uns duzentos metros para cortar a meta. E foi aí que o fôlego me faltou. Perdi o embalo e não ganhei. O Ângelo, que vinha atrás de mim a uma considerável distância, ultrapassoume e cortou a meta em primeiro lugar. Eu saí em segundo lugar! O cigarro fez o seu estrago: perder a corrida a duzentos metros da meta numa prova de três quilómetros foi como morrer na praia. O treinador tinha razão. O tabaco cobrou-me um preço muito alto: perdi a chance de ser o vencedor logo na minha prova de estreia. Por causa do cigarro, fiquei sem fôlego; claudiquei quando tinha a prova ganha, a vitória nas minhas mãos. A partir desse dia, deixei de fumar. Era a opção certa se eu quisesse fazer carreira no atletismo, se quisesse ser um campeão, um vencedor. Hoje, não fumo, nem bebo bebidas alcoólicas! No entanto, senti-me um vencedor por ter acabado a prova, por ter chegado à meta com escassos cinco dias de treino. Foi promissora a minha estreia numa competição. Quando soube dos prémios fiquei regozijado. Não sabia que davam prémios! Até ali, julgava que apenas corria por passatempo, para fugir da rotina e do tédio do hospital. Fiquei muito feliz porque comecei a entender que, afinal, vale a pena sair à rua, correr. Davam prémios! Isso compensava, era uma forma de contrabalançar os insultos que ouvia nas ruas: “Você é cego porque não vai descansar”; “Está a cansar-se à toa” e outras coisas nada moralizantes para nós. As pessoas pensavam que cego deve ficar em casa, ou pedir esmolas pelas ruas da cidade. Naquele tempo do pós-guerra civil, muitos exmilitares portadores de deficiência ficavam pelos cantos e ruas da capital a pedir esmolas. A guerra cortou-lhes o caminho de regresso às suas zonas de origem e o destino trocou-lhes os passos e o futuro. Desmobilizados e mutilados – sem pernas ou sem braços, cegos ou com outro tipo de mutilação – davam uma imagem macabra da guerra civil. Com os seus rostos cacimbados, olham com um misto de fúria e gratidão para as pessoas a quem estendiam a mão pedinte à caridade, pretendendo que elas fossem condescendentes, que lhes dessem a tão almejada esmola. Podia-se vê-los na Mutamba, no Largo da Independência, nos mercados formais e informais e nas grandes superfícies comerciais. Eles haviam vencido uma guerra e a paz pretendia derrotá-los. (Felizmente, à medida que o país, dia após dia, se distanciava da guerra, os programas do Governo e de determinadas organizações não governamentais permitiram que as famílias se fossem reestruturando e os mutilados começaram a desaparecer das ruas de Luanda.) Cegos de preconceitos A opinião pública nacional, na generalidade, pensava que o destino dos mutilados de guerra, daqueles que se sacrificaram no cumprimento do dever militar, era ficar pelas ruas como pedintes e indigentes. Na altura, diziase que no país estavam enterradas cerca de 15 milhões de minas terrestres, mais de uma mina para cada ho- mem, mulher e criança de nacionalidade angolana. Havia minas de todos os tipos e de muitas nacionalidades: israelitas, sul-africanas, chinesas, francesas, russas, coreanas, norte-americanas… O país contava com cerca de 70 mil mutilados, entre civis e militares. A maioria era – claro – militar como eu. Eu estava a correr, tam- bém, contra essa opinião pública e contra o preconceito de certas pessoas. Contra a pobreza de espírito, eu corria, treinava. Não desanimava; pensava no doutor Pedro Albuquerque: “Sayovo, não perca a esperança”. Cegas de preconceitos, as pessoas nada viam onde eu via um mar de oportunidades, uma saída para acabar com ostracismo social, uma janela para a cidadania. Mais tarde, a todos daria uma convincente lição de superação e de cidadania. Hoje, eu sei por que corria: para a superação e para a cidadania. Sim era uma questão de superação e de cidadania… Apenas o que chegou em primeiro lugar recebeu um prémio. Quem chegou em segundo lugar, era o meu caso, não levou nada. O Ângelo recebeu um DVD – que ironia! –, um presente de luxo naquela época. Mesmo não recebendo nada, não fiquei desmotivado, antes pelo contrário, fiquei muito incentivado. Recebi apoio e encorajamento de muita gente que esteve no evento. Todos diziam que eu seria, um dia, campeão porque treinava havia apenas cinco dias. O segundo lugar era promissor. Sim, um dia eu haveria de ser campeão. E comecei a alimentar uma secreta certeza de que um dia desses haveria de conquistar muitos primeiros lugares, prémios e medalhas. – Desde o primeiro dia, notei que Deus nos havia agraciado: o Sayovo tinha uma fé inabalável na vitória, era movido por uma força de vontade de vencer – garante o guia Victor. Mas, nessa prova, eu, de certo modo, fui um grande vencedor: larguei o cigarro (e a bebida, de seguida), comecei a treinar todos os dias; impus-me uma disciplina e um ritmo de treino, como se já fosse um campeão. Doravante só poderia pensar no primeiro lugar; só poderia ser vencedor! Existem vários estudos acerca do peso das mochilas transportadas que concluíram que cargas superiores a 15% do peso da criança provocam alterações da postura e da marcha. Com uma carga superior a 15% do peso da criança verifica-se a projecção da cabeça para a frente, os ombros elevados e rodados para dentro, uma menor capacidade em inspirar fundo e expandir a caixa torácica e uma inclinação do tronco para a frente, ou seja, alterações a nível de toda a coluna vertebral. O peso correcto de uma mochila nunca deve ultrapassar os 10% do peso corporal da criança. No caso de ultrapassar, os pais devem optar por uma mochila de rodinhas, evitando o peso ao nível das cos-tas. No entanto, na mochila de rodinhas é muito importante verificar se a alça da mochila de rodas está ao nível da cintura da criança de forma a evitar inclinações do tronco durante o seu transporte. A forma como os materiais são arrumados no seu interior é muito im- portante sendo que, os objectos mais volumosos e mais pesados devem estar na vertical e o mais próximo possível das costas. Os bolsos da mochila podem ser utilizados para transporte de materiais como porta-lápis e carteira. O transporte da mochila deve ser sempre feito em ambos os ombros com as duas alças em simultâneo permitindo, assim, a distribuição mais homogénea de peso. Alças ajustáveis As alças devem ser ajustáveis em altura e almofadadas. O fundo da mochila deve ficar próximo da região lombar, nunca mais de 10 cm abaixo da cintura. Se for possível, a mochila deve ter cinto para prender à cintura ajudando na distribuição de carga por toda a coluna e não só a nível cervical. Os sacos desportivos de só uma alça produzem uma curvatura lateral da coluna com elevação do ombro o que resulta numa alteração da postura e da marcha nas crianças. A hipótese neste caso será a preferência por mochilas com duas alças ou com rodinhas. No caso de ter que transportar duas mochilas é importante dividir o peso pelos dois hemicorpos (direito e esquerdo), ou seja, tal como quando carregamos as compras do supermercado, dividir os sacos pelas duas mãos. É importante que os pais ensinem os filhos a retirar da mochila o material que não necessitam para as aulas no dia seguinte. A criança deve pousar a mochila durante os intervalos e na viagem. Os cacifos na escola deveriam ser acessíveis a todas as crianças. As aulas sempre na mesma sala permitem que a criança não tenha que andar com a mochila nos intervalos. A maioria das dores nas costas não é provocada por grandes esforços, mas aparece como consequência de atitudes posturais incorrectas ou esforços pequenos mas repetidos. Desta forma, os grandes vilões da nossa coluna são os designados micro-traumatismos de repetição. Estes são provocados por situações repetidas, associadas à nossa profissão ou dia-a-dia, geradoras de traumatismos que, mesmo sendo pequenos, assumem uma enorme proporção quando realizados continuadamente ao longo dos dias, meses e anos. Vamos apresentar um conjunto de cuidados a ter no local de trabalho que devem ser entendidos como propostas para uma "higiene regular". Eles são importantes para todas as pessoas, mas essenciais para aqueles que sofrem e procuram evitar crises futuras. Cuidados a ter para uem passa muito tempo de pé Na posição de pé, parada, assumindo que as curvaturas da coluna estão no seu correcto alinhamento, a actividade muscular é quase nula. Neste caso, é o sistema nervoso que a assegura, através do tónus postural - uma força que se opõe ao efeito da gravidade. Os músculos, que nos permitem ficar na posição vertical, praticamente sem fazermos esforço, são designados de anti-gravíticos. Embora económica, em termos de actividade muscular, a postura de pé não se consegue manter durante muito tempo, pois há músculos que ficam cansados, particularmente os da zona lombar. A alternativa é procurar compensar, isto é, de tempos em tempos, sentar ou, preferencialmente, deitar um pouco, para relaxar a musculatura das costas e das pernas. Chama-se à atenção para a importância de quebrar a rotina, alterando o factor traumático repetitivo. Postura de pé Esta postura, quando prolongada, é bem mais exigente do que a posição de sentado. Na posição de pé, o cansaço leva a que se procurem posturas assimétricas de compensação, que podem dar lugar a desequilíbrios de coluna. Assim é importante ter em conta o seguinte: – Quando se trabalha sobre uma bancada ou uma mesa, a altura desta deve estar ligeiramente abaixo do cotovelo. Se estiver demasiado baixa, provoca dores lombares; se for muito alta, provoca dores nos ombros e/ou pescoço. – Quem fica muito tempo de pé, para além dos problemas de coluna, tem grandes probabilidades de ficar com derrames e/ou varizes. – Procure evitar rotações ou torções de coluna em tarefas como varrer, aspirar, ou passar a ferro. O movimento deve ser realizado com o corpo todo e não apenas à custa da rotação ou torção do tronco pois estas provocam um grande esforço da coluna lombar. – Sempre que o trabalho exige uma postura estática, deve procurar ficar o menos parado(a) possível, alternando com uns passos, elevando o peso do corpo sobre as pontas dos pés ou fazendo movimentos de reforço e estiramento. As "bombas" que fazem o sangue elevar-se, isto é, responsáveis pelo retorno venoso, estão por baixo dos pés e na região dos gémeos, a barriga das pernas, e, por isso é importante solicitar estas regiões. – Se tiver de ficar muito tempo de pé e parado procure, pelo menos de vez em quando, encostar-se a uma parede, ou algo semelhante, para descansar os músculos das costas. – Uma atenção especial deve ser dada ao tipo de calçado que se usa. Se tem problemas de coluna, deve evitar utilizar sapatos de sola dura e, para a mulher, o salto não deve ter uma altura superior a 2 dedos.