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Transcrição

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RODRIGO SANTOS
Prefácio de Maria Emmir O. Nogueira
Rodrigo Santos
Prefácio de Maria Emmir O. Nogueira
COORDENAÇÃO GERAL
Filipe Cabral
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Carolina Fernandes
REVISÃO
Eunice dos Santos Sousa Silvestre
Neide Oliveira
Amanda Cividini
DIAGRAMAÇÃO E CAPA
Kelly Cristina
Edições Shalom
Estrada de Aquiraz – Lagoa do Junco
CEP: 61.700-000 – Aquiraz/CE
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incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de
dados sem permissão escrita da Editora.
ISBN: 978-85-7784-033-5
© Edições Shalom, Aquiraz, Brasil, 2013 (2ª edição)
Sumário
PREFÁCIO ...................................................................................... 7
INTRODUÇÃO .......................................................................... 25
CAPÍTULO 1: Alargai os espaços de intercessão
1.1 O que é intercessão .......................................................... 33
1.2 Porque interceder ............................................................. 34
CAPÍTULO 2: Quem é o intercessor
2.1 Amigo das virtudes .......................................................... 41
2.2 Intercessão e fé .................................................................. 41
2.3 Intercessão e esperança .................................................... 43
2.4 Intercessão e caridade ...................................................... 45
2.5 O intercessor e o Amor Esponsal .................................. 46
CAPÍTULO 3: Uma estratégia de guerra
3.1 Formas de intercessão ...................................................... 51
3.2 O intercessor, a Palavra de Deus e a oração pessoal ......... 53
3.3 O intercessor e a Eucaristia ............................................ 55
3.4 A intercessão nas orações comunitárias e na Liturgia
das Horas .................................................................................. 59
3.5 Louvor é intercessão? ...................................................... 60
5
CAPÍTULO 4: O corpo como lugar de intercessão
4.1 Autoridade Espiritual, abertura à graça ....................... 67
4.2 O poder do jejum ............................................................. 68
CAPÍTULO 5: O Triunfo de Jesus por Maria
5.1 Cerco de Jericó: Eucaristia e Rosário ........................... 73
CAPÍTULO 6: Solidariedade e identificação
6.1 Moisés, o intercessor ........................................................ 79
6.2 A intercessão de Cristo ................................................... 85
CAPÍTULO 7: Quem intercederá por nós?
7.1 Intercessão dos santos ..................................................... 91
7.2 Intercessão dos anjos ....................................................... 93
7.3 A intercessão de Maria .................................................... 97
CAPÍTULO 8: Mesmo enfermo eu sou guerreiro
8.1 O sofrimento-Intercessão ............................................. 107
8.2 O reparador de brechas ................................................. 113
CAPÍTULO 9: Tentações do intercessor
9.1 Orai e vigiai ..................................................................... 119
9.2 Falsa piedade ....................................................................119
9.3 Falta de fé ......................................................................... 120
9.4 Falta de fervor ................................................................. 121
9.5 Falta de compromisso ................................................... 122
CAPÍTULO 10: A intercessão das crianças
10.1 Confunde vossos adversários .................................... 125
6
Prefácio
No dia 1º de junho de 2011, o Papa Bento XVI dedicou
uma de suas catequeses sobre a oração ao poder da intercessão.
Na ocasião, ajudou-nos a contemplar a figura de Moisés, o
intercessor pelo povo eleito a ele confiado em meio às agruras da
longa caminhada pelo deserto rumo à Terra Prometida. O Santo
Padre descortina para nossa contemplação um intercessor que
apela à fidelidade e amor de Deus para com seu povo e que está
disposto a entregar sua própria vida para que seja feita a vontade
do seu Senhor.
Quão distante está essa realidade de nossa pobre compreensão
do que seja um intercessor e do valor da intercessão diante de Deus!
O intercessor descrito pelo papa é um homem valente, em pleno
vigor físico e espiritual, que não só se identifica com seu povo,
mas une-se a ele e a Deus fazendo de sua própria vida ponte, via,
caminho, oferenda em favor da vontade de Deus para Seu povo.
O ponto alto da intercessão de Moisés dá-se no momento em
que o povo de Deus adora um bezerro de ouro de 3 cm, trocando
a adoração do Deus eterno, único e verdadeiro pela idolatria a
uma estatueta ínfima construída por suas próprias mãos. É o
momento crítico em que o povo se afasta mais radicalmente de
Deus. Nessa ocasião de imensa ofensa a Deus, Moisés oferece sua
vida – e não somente suas palavras – para que sejam cumpridos os
desígnios do Senhor sobre seu povo, sua idolatria seja perdoada
7
Intercessores, Reparadores de Brechas
e se salve da destruição continuando sua marcha rumo à terra
prometida por Deus, conforme o Senhor desejava. Ao colocar-se
como intercessor nesse momento crítico para a história de Israel,
Moisés falava com Deus face a face, como um amigo a um amigo.
Graças à intercessão vivencial, visceral, vital e generosa de Moisés,
o povo foi perdoado e a vontade de Deus foi feita, como se pode
ler em Nm 11, 10-31.
Moisés colocou em xeque sua própria vida para que o mal fosse
destruído e a vontade de Deus cumprida. Sabia perfeitamente
que a felicidade para o povo era a fidelidade a Deus, irrestrita
confiança nele e conquista da Terra Prometida. Não fora sua
intercessão, o povo teria sido destruído e os desígnios eternos de
Deus frustrados devido à sua livre opção pela idolatria.
A intercessão de Moisés, porém, não foi somente crucial para
o perdão ao povo eleito e a retomada da caminhada segundo a
vontade de Deus. Ela foi, também, de altíssima qualidade e valor
por dois fatores: a oferta da própria vida em favor do povo e a
intercessão face a face, na intimidade de dois amigos que se amam.
Em termos atuais, diríamos que a excelência da intercessão
de Moisés advém da intercessão do próprio Cristo, que se fez
homem, identificado conosco para interceder por nós e nos salvar
colocando-nos de volta nos caminhos do Pai. Advém, igualmente,
da contemplação e adoração a Cristo face a face no Santíssimo
Sacramento, como dois amigos que vivem a confiança mútua.
Oração, oferta de vida, adoração. Eis o trinômio do segredo da
intercessão eficaz.
Significado do termo “interceder”
É famosa a canção americana que alude a uma ponte sobre
águas turbulentas como metáfora para uma pessoa que se estende
8
Prefácio
entre duas margens e se faz passagem para o amigo em sofrimento:
“When you’re weary, feeling small, when tears are in your eyes I will
dry them all. I’m on your side when times get rough and friends just
can’t be found. Like a bridge over troubled water, I will lay me down”
(Quando você estiver cansado, sentindo-se impotente, quando
houver lágrimas em seus olhos, vou secá-las todas. Estarei ao seu
lado quando os tempos se tornarem difíceis e você não conseguir
encontrar amigos. Serei para você como uma ponte lançada sobre
águas turbulentas).
Famosa, também, a que fala da pessoa que coloca sobre os
ombros o amigo que sofre e o faz direcionar a vida a partir de
perspectiva mais elevada: “When I am down and, oh, my soul so
weary, when troubles come and my heart burdened be, then I am
still and wait here in the silence until you come and sit a while with
me. You raise me up so I can sand on mountais, you raise me up to
walk on stormy seas, I am strong when I am on your shoulders, you
raise me up to more than I can be” (Quando estiver triste e minha
alma muito cansada, quando surgirem problemas e meu coração
ficar pesado, então ficarei quieto e esperarei aqui, no silêncio, até
que você venha e se sente um pouco comigo. Você me eleva para
que eu fique de pé sobre montanhas, você me eleva para andar
sobre mares revoltos, torno-me forte quando estou em seus
ombros, você me eleva e me faz melhor).
A primeira canção remete ao sentido etimológico da palavra
“intercessor”. Em hebraico, aquele que “coloca-se no meio”, que
“entra em contato com”, que “suplica, ora e corre”. Em outras palavras,
aquele que se faz ponte segura colocando à disposição a própria vida.
No grego, “interceder” pode significar “ser ouvido pelo rei
no lugar de outros, encontrar-se com alguém”, “trocar ideias com
alguém, tratar com, rogar em favor de alguém”, “ir acima, além,
9
Intercessores, Reparadores de Brechas
através, mais do que, em lugar de”, o que nos remete à segunda
canção, “Você me eleva”.
Em português, a palavra significa “pedir por outrem, intervir
a favor de alguém ou alguma coisa, fazer-se intermediário”.
Segundo a Palavra e o Magistério da Igreja, interceder:
1. É apresentar dia e noite reivindicações da humanidade
e da criação diante do Deus Todo Poderoso – Não há
passividade na intercessão; nela nós nos agarramos a Deus e nos
apresentamos diante dele dia e noite com Sua própria Palavra
em nossos lábios, como atalaias, sentinelas em favor do mundo.
Is 62.6:
“E tu, Jerusalém, sobre os teus muros pus atalaias, que não se
calarão nem de dia, nem de noite; ó vós, os que fazeis lembrar ao
Senhor, não descanseis, e não lhe deis descanso até que estabeleça
Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra”.
2. É servir a Deus na evangelização do mundo numa
“espiritualidade geográfica”, como a chamava o Beato João
Paulo II, percorrendo todas as nações com a intercessão por
sua evangelização. Sl 2.8:
“Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades
da terra por tua possessão”.
3. É orar o que está no coração de Deus. Para tanto, é
preciso conhecê-lo intimamente, conhecer, amar e praticar Sua
Palavra, falar com Ele face a face no Santíssimo Sacramento
com a confiança, intimidade e amor de um amigo. Foi assim que
fizeram Moisés em Nm 11,10-15 e Abraão em Gn 18, 22, ambos
sabendo que não estava no coração de Deus destruir seu povo;
ambos argumentando humildemente diante do Senhor:
10
Prefácio
“Os homens partiram de lá e foram para Sodoma. Abraão se
mantinha ainda diante do Senhor.”
4. É ser colaborador de Cristo que intercede por nós
sem cessar. Jesus é o Intercessor por excelência em virtude
de Sua vida ofertada por nossa salvação. Como Seu Corpo,
participamos do Seu ministério. Lc 22,31:
“Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para te
joeirar como trigo. Eu, porém, intercedi por ti para que tua fé não
desfaleça”.
5. É participar ativamente da batalha espiritual em favor
de Deus e dos homens. Nessa batalha, não somos chamados a
condenar o mundo, mas interceder em favor da humanidade e da
vontade de Deus para Seus filhos e toda a criação, como fez Jesus
com relação a Pedro. Lc 22,31:
“Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para te
joeirar como trigo. Eu, porém, intercedi por ti para que tua fé não
desfaleça”.
6. É participar ativamente dos três gemidos de Romanos 8.
No oitavo capítulo de sua Carta aos Romanos, Paulo fala de três
gemidos: o da criação, o do povo e o do Espírito Santo que vem
em socorro de nossa incapacidade de orar, de interceder como
convém e ora em nós com gemidos inefáveis, inexprimíveis.
Dessa forma, o próprio Espírito vem em socorro do intercessor
fazendo-o interceder segundo o pensamento e sentimentos de
Cristo, segundo a necessidade da criação e dos homens e segundo
a vontade do Pai. Rm 8, 22. 26:
“A criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente.
E não somente ela. Mas também nós, que temos as primícias do
11
Intercessores, Reparadores de Brechas
Espírito, gememos interiormente, suspirando pela redenção do
nosso corpo (...) Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza.
Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito
intercede por nós com gemidos inefáveis e aquele que perscruta os
corações sabe qual o desejo do Espírito: pois é segundo Deus que ele
intercede pelos santos.”
7. É abrir caminho para o Senhor através da busca de
santidade, como recomenda Pedro; da incessante oração e desejo
do coração, como aconteceu a Maria; e tudo isso mais a ascese,
como aconteceu a João Batista. Lc 1, Pd 3,11-13:
“Se todo este mundo está fadado a desfazer-se assim, qual não
deve ser a santidade do vosso viver e da vossa piedade, enquanto
esperais e apressais a vinda do Dia de Deus (...). O que esperamos
são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça.”
8. É ter a visão alargada sobre a realidade e sobre a vontade
de Deus. Quem se envolve profundamente na vida de intercessão
passa a ter uma visão cada vez mais ampla do Reino de Deus e de
Sua vontade. Aproxima-se da visão do próprio Senhor. Sai de seu
mundo limitado e vai crescendo em seu amor até ver e amar a
humanidade como Cristo a vê e ama. Lc 1,46-55: o Magnificat,
no qual Maria, anunciando a salvação a Isabel, refere-se não
somente a si mesma e sua alegria, mas ao futuro, à Igreja, à sempre
presente misericórdia de Deus, ao Seu poder, à forma como se
relaciona com os orgulhosos e os humildes, ao cumprimento da
promessa feita a Abraão centenas de anos antes.
9. É ter a fé edificada. À medida que vemos Deus agindo
e mudando circunstâncias, nossa fé é edificada. Quanto mais
oramos a Deus, tanto mais Deus se move na vida dos homens.
12
Prefácio
Para tanto, conforme vimos no item 6, deve-se recorrer
frequentemente aos Carismas do Espírito a fim de trazer à luz a
vontade de Deus. Lc 10,17-19:
“Os setenta e dois voltaram com alegria dizendo: ‘Senhor, até
os demônios se nos submetem em teu nome!’ Ele lhes disse: ‘Eu via
Satanás cair do céu como um relâmpago. Eis que vos dei o poder de
pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do Inimigo, e nada poderá
vos causar dano’”.
10. É como se nosso espírito se transformasse em um
útero onde as sementes das promessas de Deus fossem lançadas e
cobertas pelo Espírito Santo até o momento de virem à luz, como
em Maria enquanto figura de Israel em Lc 1, 26-38 e Jó em seu
fecundo sofrimento. Jó, 42, 1-2.5:
“Reconheço que tudo podes e que nenhum dos teus desígnios fica
frustrado. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora meus olhos te veem.”
11. É produto de semeadura e ceifa. Aquilo que
semeamos colheremos. Se semearmos discórdia, críticas, falta
de misericórdia, é isso o que colhemos. Mas se semeamos amor,
tolerância e misericórdia na vida e na oração pelos irmãos, é isso
o que colheremos. Jó 42.10 e Os 8, 7a:
“Então, o Senhor mudou a sorte de Jó quando intercedeu por
seus companheiros, e duplicou todas as suas posses.”
“Porque semeiam ventos, colherão tempestade!”
12. É viver de fé, esperança e caridade. Fé no cumprimento da
vontade de Deus; esperança de que a intercessão seja ouvida; caridade
de doar a vida, unida à de Cristo, a todos os homens. Lc 1, 80:
“O menino crescia e se fortalecia em espírito. E habitava nos
desertos, até o dia em que se manifestou a Israel.”
13
Intercessores, Reparadores de Brechas
13. É unir-se em amor a toda a Igreja, Esposa de Cristo. A
Igreja intercede pela santificação do mundo dia e noite em cada
Eucaristia, na Liturgia das Horas, na adoração ao Santíssimo
Sacramento. Intercede como Esposa que se sabe muito amada
pelo Esposo. Esposa por quem Ele deu a vida. At 12, 12:
“Dando-se conta da situação, dirigiu-se à casa de Maria, a mãe
de Joao, o que tem o cognome de Marcos. Ali se encontravam muitos,
reunidos em oração.”
14. É unir-se em amor a Maria, Mãe de Deus, a “Súplica
Onipotente”. No céu em corpo e alma, mais próxima da
Trindade que todos os anjos e santos, a Mãe de Deus e nossa não
cessa de suplicar para que os desígnios de Deus se cumpram na
humanidade. Ela mesma nos pede para participar dessa intercessão
em suas aparições e convida a uma consagração de nossa vida a
ela como intercessores que abrem mão de todo mérito. É este o
espírito da consagração à Imaculada Conceição segundo São Luís
Grignon de Montfort que o Beato João Paulo II viveu com tanto
amor e fidelidade durante toda sua vida:
“A definitiva intercessão ante o Pai, somente a faz Jesus Cristo,
que é o nosso único Mediador (1 Tm 2,5), nosso advogado, nosso
Pontífice. Mas, a Maria “a Igreja invoca com os títulos de Advogada,
Auxiliadora, Socorro, Medianeira. O que, não obstante, há que se
estender de tal maneira que não se retire nem acrescente à dignidade
é eficácia de Cristo, único Mediador”. Este é o ensinamento do
Concílio Vaticano II, que ainda afirma: “A Igreja não duvida
em confessar esta função subordinada de Maria, experimenta-a
continuamente e recomenda-a à piedade dos fiéis, para que,
apoiados na proteção maternal, se unam com maior intimidade ao
Mediador e Salvador” (Marialis cultus, 62).
14
Prefácio
15. É unir-se a toda a Igreja Gloriosa, os santos do céu que,
diante do Trono de Deus intercedem, em incessante adoração, pela
salvação e santificação de cada homem e de toda a humanidade.
“Pelo fato que os do céu estão mais intimamente unidos com
Cristo, consolidam mais firmemente a toda a Igreja na santidade...
Não deixam de interceder por nós ante o Pai. Apresentam por meio
do único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, os méritos
que adquiriram na terra... Sua solicitude fraterna ajuda, pois,
muito a nossa debilidade.” (CIC 956)
16. É unir-se à Igreja Padecente, as almas do purgatório, que
intercedem por nós na fé e na esperança, movidos pela caridade
que anseiam viver plenamente:
A Igreja ensina que o purgatório é um estado de purificação e para
lá vão os que se esforçaram muito para realizarem a vontade de Deus.
Nesse sentido as almas do purgatório, após passarem pela purificação,
irão para o céu. Assim se expressa o Catecismo da Igreja Católica:
“Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas
imperfeitamente purificados, estão certos da sua salvação eterna,
todavia sofrem uma purificação após a morte, a fim de obter a
santidade necessária para entrar na alegria do céu.” (CIC
parágrafo 1030).
O catecismo também deixa claro que nós devemos rezar pelas
almas do purgatório e que elas também intercedem por nós quando
as invocamos (Obs.: Não confundir invocar: contar com o auxílio e
evocar: chamar para perto de si).
“A nossa oração por eles [no Purgatório] pode não somente ajudálos, mas também torna eficaz a sua intercessão por nós” (CIC, § 958).1
1. Disponível em:<http://fortalecendoanossafe.blogspot.com.br/2008/04/as-almas-do-purgatriopodem-interceder.html>
15
Intercessores, Reparadores de Brechas
A esses exemplos bíblicos e do Magistério, poderíamos
adicionar centenas de ocasiões quando os santos intercederam e
foram atendidos pelo Senhor, como Santa Teresinha e o assassino,
Pranzini ou as muitas dezenas de testemunhos da vida de Padre Pio
Deus busca intercessores-adoradores
Conhecemos a passagem em que Jesus declara a seus
discípulos que não são mais servos, mas amigos, pois o servo não
sabe o que faz o seu Senhor, enquanto que ao amigo o Senhor abre
Seu coração e revela Suas intenções. A esses amigos, escolhidos
por Ele e pelo Pai, o Senhor garante ouvi-los em sua intercessão,
sob a condição de que cumpram o mandamento do amor: “Já
não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor.
Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de
meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos
constitui para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça.
Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em
meu nome, ele vos conceda. O que vos mando é que vos amei uns aos
outros” ( Jo 15,15-17).
O intercessor é o amigo que conhece intimamente o coração
do seu Senhor, o Esposo, até mesmo o que existe aí de mais sublime
e íntimo: sua relação com o Pai. Essa realidade de conhecimento
mútuo e íntimo salta aos olhos na vida de João Batista.
Purificado do pecado original ainda no ventre de Isabel
pela presença de Jesus no ventre de Maria, João direciona toda
a sua vida à vinda do Messias, à chegada do Esposo. Faz de
sua vida ascética e de sua pregação intercessão contínua para
que o povo de Deus, sua Esposa, reconheça e acolha o Esposo
quando Ele se manifestar. Intercede com oração, com vida, com
palavra, com o testemunho extremo do martírio. Graças a essa
16
Prefácio
poderosíssima e caridosíssima intercessão, tão escondida quanto
generosa, milhões de pessoas através dos séculos, inclusive nós,
reconhecemos o Messias, o Esposo e corremos ao Seu encontro.
João foi amado por Jesus como amigo que conhece o noivo em
suas mais íntimas intenções e desejos. Foi amado também como
adorador que, julgando-se ínfimo diante do Messias, julgou-se
indigno até mesmo de desatar Suas sandálias. Desse mútuo amor
e de sua minoridade vem o poder de sua intercessão e sua adoração
que varam os milênios em favor da Igreja de Cristo.
João 4,23s ensina que o Pai busca pessoas que o adorem em
espírito e verdade. Com essa passagem aprendemos três coisas
muito importantes sobre a intercessão e adoração:
1. Nos seus mistérios de amor, o Pai quis precisar, para o nosso
bem, de adoradores que colaborem com a Sua obra de salvação e
santificação da humanidade como ato de fé, esperança, caridade,
profunda humildade e confiança em Seu amor misericordioso,
salvífico e santificador.
2. Tais adoradores do Novo Testamento e da Igreja são
chamados a adorá-lo não somente prestando-lhe culto de
adoração, mas com toda a alma e o engajamento de toda a vida,
em espírito e verdade, com convicção, coerência e fidelidade.
3. O adorador não somente ama o seu Deus, como um amigo
que conhece Sua vontade mais íntima, mas reconhece que Ele é
infinitamente superior, mais poderoso, amoroso e misericordioso
do que sua pobre humanidade pode entender e conter. Esse
humilde reconhecimento o faz prostrar-se profundamente diante
Dele, a confiar unicamente em Sua misericórdia e no insuperável
poder do Seu amor. Ao adorar, confia, espera e crê unicamente
nesse amor infinito e eterno. Fá-lo como pobre, pequeno,
necessitado, um nada diante do Senhor Altíssimo, Perfeitíssimo
17
Intercessores, Reparadores de Brechas
e Todo Poderoso. Eis porque o intercessor-adorador atrai tanto
o poder de Deus. Eis porque todo adorador é intercessor e todo
intercessor-adorador dispõe do beneplácito de Deus de forma
tão diferenciada, tão especial. Eis porque Aquele que não escuta
os soberbos e orgulhosos, mas se curva para ouvir o balbucio dos
pequeninos atende as suas preces.
Ao contemplar a necessidade de Seus filhos amados nos dias
de hoje, não estaria o Pai buscando adoradores que lutem na
adoração e intercessão, não para condenar o mundo ou contra
ele, mas em favor da santificação da humanidade? Não estaria
o Pai buscando, madrugadas adentro, intercessores-adoradores,
atalaias cheios de fé, esperança e caridade, plenos de humilde
confiança no Deus Altíssimo para lutar ao Seu lado e ao lado de
Maria e todos os santos do céu em favor dos homens?
Pequeninos adoradores
Falar de intercessores-adoradores pequeninos, humildes,
conscientes de sua impotência, prostrados diante da Majestade
do Senhor Todo Poderoso remete-nos necessariamente às
crianças. Não é de admirar que em Fátima, La Salette, Lourdes
e Medjugorje, Nossa Senhora as tenha escolhido para pedir-lhes
intercessão pela humanidade. Afinal, são elas os puros de coração
que verão a Deus. São também elas os pobres de espírito a quem
pertence o Reino dos Céus. Elas, os mansos que herdarão a terra.
Elas, os misericordiosos, os que promovem a paz ao desarmar
adultos enfurecidos e poderosos com um simples sorriso. A elas
devemos toda a justiça e todo respeito, a elas devemos a Verdade,
porque a elas pertence o Reino dos Céus.
O Senhor, que escolhe seus amigos e os faz intercessores
(cf. Jo 15,15ss), escolhe pessoalmente as crianças. Não somente
18
Prefácio
as escolhe, repreendendo, indignado com os discípulos que as
querem afastar, mas as chama a si, demonstrando alegrar-se com
sua presença.
No Colégio Shalom, onde leciona o autor deste livro, e na
Comunidade temos tido inumeráveis experiências do poder
de intercessão de crianças-intercessoras-adoradoras. Diante do
Santíssimo, são tudo o que o Senhor pensa delas e, já possuindo
o Reino dos Céus, o implantam com suas orações simples e bem
concretas. Com elas, o que conta é o coração, o desejo, a ternura,
a reivindicação confiante das coisas mais impossíveis para a lógica
humana. Livres do orgulho, da presunção e das complicações
racionais dos adultos, percebem com mais facilidade a “lógica de
Deus” tão próxima à delas próprias.
Diante do Santíssimo exposto, do Senhor Ressuscitado a quem
veem face a face, sem o negro véu do pecado, conseguem tudo o
que pedem, muitas vezes com insistência impressionante. Ter sua
intercessão atendida, porém, passa a ser mero detalhe diante da
realidade bíblica e espiritual que se cumpre na adoração: o sorriso
retribuído, o beijo na alma, o abraço e bênção de Jesus Eucarístico
que as purifica, santifica, envia e, fiel à Sua Palavra, atende!
A origem deste livro
A realidade da batalha espiritual que envolve a Nova
Evangelização é muito mais crua e ferrenha do que possamos
imaginar. Evangelizar o homem de hoje com novo ardor, novo
fervor, nova criatividade, novos meios e novos métodos; alcançálo e conquistá-lo para Cristo e Sua Igreja com parresia e pleuroforia
(com ardor, destemor, ousadia e com convicção e coerência) exige
uma potência de intercessão inusitada, ardorosa, fiel, disposta a
19
Intercessores, Reparadores de Brechas
comprometer a própria vida, uma vez que “a nova evangelização
deve se desenvolver começando pela própria fé”.
Tal batalha se trava dentro de nós, que estamos no mundo e
sofremos suas influências e as da carne, ambos a martirizar nosso
desejo de santidade. Trava-se, também, fora de nós, como nos diz
Bento XVI no documento preparatório para o Sínodo da Nova
Evangelização no qual apresenta cenário da realidade com os quais
a nova evangelização deve lidar: a secularização, a grande migração,
a mídia, o aspecto econômico-científico-tecnológico e a política.
Inseridos nesse cenário e suscitados por Deus no tempo de hoje
exatamente para evangelizá-lo estão os Novos Carismas, novas
realidades eclesiais suscitados pelo Espírito Santo e espalhados
pelo mundo inteiro. O Brasil ocupa lugar privilegiado tanto pelo
número quanto pela qualidade das Novas Comunidades aqui
nascidas.
Ao orar com o cenário da Nova Evangelização e os desafios
implicados neste novo tempo de anúncio e formação da fé para toda
a Igreja e, nela, as Comunidades Novas, entre elas a Comunidade
Católica Shalom, o Senhor nos apresentou uma imensa batalha.
Nela, todos combatiam, ainda que feridos, marcados pelo pecado.
Sadios e enfermos se auxiliavam mutuamente para continuar o
combate sem desencorajamento.
Todos, sem exceção, tinham os olhos fixos em Jesus
Eucarístico levantado bem alto no centro do campo de batalha.
Era este o fato que lhes garantiria a vitória: olhos fixos em Jesus
Eucarístico em intercessão e adoração. O grande combate da
fé nos era apresentado como uma imensa batalha vencida pela
adoração e intercessão. A profecia veio, clara: “Alarguem os
espaços de adoração e intercessão”.
20
Prefácio
Desejando obedecer, alargamos, literalmente, os espaços de
intercessão em nossos Centros de Evangelização, seja pela ampliação
de capelas para adoração ao Santíssimo Sacramento, seja pelo
aumento das horas em oração diante dele, tendo como meta a
adoração perpétua e, nela, a perpétua intercessão para que os desígnios
de Deus sobre a Nova Evangelização se cumpram incontinente.
Percebemos, então, a necessidade de escrever sobre o assunto a
fim de, segundo a graça de Deus, termos um batalhão de intercessores
fiéis, atalaias valentes que se disponham a colocar-se nas brechas
abertas pelo inimigo, ainda que ao custo da própria vida.
Atendendo ao nosso pedido e à necessidade da Igreja e da
Comunidade, Rodrigo Santos dispôs-se a elaborar este livro, de
linguagem fácil, leitura leve e encantadora. Filósofo formado pela
Faculdade Católica de Fortaleza, Rodrigo é professor de Formação
Cristã no Colégio Shalom, onde forma a juventude na fé e no
conhecimento da verdade. Além de servir no acompanhamento
pessoal de irmãos da Comunidade e de inúmeras pessoas que buscam
sua oração e conselho é, coerentemente, fiel intercessor adorador.
Encantou-me ver a simplicidade e objetividade com que
Rodrigo redigiu este livro, assim como a narrativa de episódios
de sua vivência pessoal como intercessor. Confesso que, ao
ler o original, senti renovada minha atração a este serviço de
fé, esperança e caridade que é a intercessão. Terminei a leitura
fortemente convencida de que a intercessão diante do Santíssimo
Sacramento é um dos serviços mais belos em que podemos
empenhar nossa vida de forma evangélica, pequena, humilde,
suplicante, ascética e escondida como Maria, Mãe e modelo
de todos os intercessores. Estou convencida de que a oração de
íntima amizade e intercessão diante do Senhor tem, de fato, o
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Intercessores, Reparadores de Brechas
poder não só de evitar guerras, como ensina Nossa Senhora em
Fátima, mas de, literalmente, salvar a humanidade de tantos
descaminhos em que se meteu.
“Orai uns pelos outros!” (Tg 5.16) Sim, oremos! Nossa
intercessão pode fazer toda a diferença na santificação da
humanidade e na nossa!
Maria Emmir O. Nogueira
Cofundadora da Comunidade Católica Shalom
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Prefácio
Ao Moysés, homem de oração e fé inabalável.
À Emmir Nogueira, que confiou em mim, porque confia em Deus.
À Amanda Cividini, por sua ajuda oportuna.
À Verônica Diegues, grande reparadora de brechas.
Ao Sr. Antonio Vicente (in memorian), reparador de brechas na
terra, agora mais plenamente no Céu.
Aos amigos, que partilham de minhas lutas
e as assume comigo diante de Deus.
Aos intercessores-reparadores de brechas, que foram sustento
espiritual para a Obra Shalom ao longo desses 30 anos.
Shalom!
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Introdução
O livro que você tem em mãos tem um objetivo muito
simples: recordar a todos quantos a Providência Divina
permitir ter acesso a ele que “os dias sãos maus” (cf. Ef 5,16). É
hora de despertarmos do sono (cf. Ef 5,14), vivemos uma guerra
espiritual declarada há muito tempo. Entretanto, não é preciso
temer, pois a Palavra de Deus nos promete: “Todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo” (cf. Jl 3,5).
Acerca da batalha espiritual que travamos pelo mero fato
de pertencermos ao Senhor pelo Batismo, mas ainda mais por
procurarmos segui-lo com amor e fidelidade, escreve Moysés
Azevedo: “Ao escrever [sobre a Obra Nova que o Senhor deseja
realizar em nosso meio], lembro-me da seguinte passagem: ‘Ouve
Israel. Ides combater: que vossa coragem não desfaleça! Não temais
nem vos perturbeis, nem vos deixeis amedrontar por eles. Por que o
Senhor nosso Deus marcha convosco para combater contra os vossos
inimigos e para vos dar a vitória. Os oficiais dirão ao povo: ‘Há
alguém medroso e de coração tímido? Que esse volte para casa, não
suceda que o coração de seus irmãos desfaleça como o seu”’2 (cf. Dt
20,3-4 e 8). Essas palavras são constante inspiração no tema da
intercessão e adoração abordado neste livro.
2. AZEVEDO FILHO, Moysés Louro. Escritos: Comunidade Católica Shalom. Fortaleza: Edições
Shalom, 2007, p. 13.
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Intercessores, Reparadores de Brechas
Porque o título “Intercessores, reparadores de brechas?” Qual
sua relação com a batalha espiritual e a necessidade premente de
intercessão e adoração para que nossa coragem não desfaleça,
nosso coração não se torne medroso nem tímido e o Senhor
marche conosco para combater contra nossos inimigos?
A inspiração veio do Antigo Testamento. “Entrar na brecha
em favor de Israel” (cf. Ez 13,5; 22,30; Sl 106,23). Nas guerras das
narrativas bíblicas é comum encontrar alguns personagens que
os autores sagrados intitulam “valentes”. Os “valentes” eram os
guerreiros mais valorosos. Combatiam sempre na dianteira onde
a luta era mais acirrada. Quando as cidades ou aldeias do povo de
Deus eram invadidas por inimigos, Israel construía trincheiras.
Caso um flanco fosse aberto nas fileiras de Israel, fazendo uma
brecha por onde o inimigo pudesse entrar, os “valentes” eram
enviados ao local como “reparadores de brechas”. Sua missão era
simples, mas exigia que estivessem dispostos a tudo inclusive a
perder a vida. Sua missão era fechar o flanco – a brecha – aberta
pelo inimigo e fazê-lo retroceder, impedindo-o de sitiar a cidade.
Assim como as cidades bíblicas, a Igreja, a Obra Shalom, todo
apostolado e a humanidade inteira carecem dos seus “valentes”
reparadores de brechas. Esses novos guerreiros do Espírito
combatem na oração, fortalecidos e armados com o poder de
Deus. Cabe a eles, intercessores e adoradores de prontidão diante
do Senhor, fechar os flancos por ventura abertos durante a batalha
espiritual a fim de que a vitória seja dada ao Senhor.
O mal não tem a última palavra
O objetivo deste livro é reavivar a fé no poder do nome de
Jesus e na necessidade de uma contínua intercessão e adoração ao
Santíssimo Sacramento como expressão de caridade, esperança e
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Introdução
fé de que o mal não tem a última palavra! É isso o que proclama
Bento XVI acerca da ressurreição de Cristo e que, a cada Páscoa,
é repetido por Moysés Azevedo a plenos pulmões: “Não! O mal
não tem a última palavra!”
É inegável que o ódio, a corrupção, a degradação do corpo
e da família, a falta de fé parecem grassar por toda parte.
Percebe-se uma investida bem articulada, bem financiada e em
nível mundial contra os valores da fé, da moral cristã e da vida
humana. Entretanto, Jesus Cristo ressuscitou, venceu o mal e é o
Senhor. Nisso nós cremos, isso anunciamos. Ainda que em alguns
momentos precisemos mastigar a erva amarga do Seu silêncio
pedagógico e da Sua aparente apatia diante do mal, sabemos e
cremos que o mal já foi vencido e não tem a última palavra.
Assistimos à cobiça que explora sem responsabilidade os
recursos naturais, deixando o planeta à beira de um colapso.
Espantamo-nos diante do relativismo que não reconhece nada
como absoluto. O homem se impõe de forma cada vez mais altiva
como a medida de todas as coisas.
Essas e outras realidades desafiantes dos nossos tempos são os
flancos abertos nas fileiras da Igreja, as brechas a serem reparadas pelos
“valentes”. Ciente do grande valor e necessidade do seu apostolado,
o intercessor longe de deixar-se abater pela situação que ameaça a
alma humana, vê nela um chamado do Senhor. É preciso interceder
e adorar o Santíssimo Sacramento para “fechar os flancos”, “reparar
as brechas” a fim de proteger a humanidade de sucumbir sob tantos
flagelos e evidenciar a glória de Deus, o Shalom do Pai.
Intercessão e evangelização
A paz que o mundo almeja não é fruto de uma concordata
humana simplesmente, mas é uma pessoa viva, Jesus Cristo, o
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Intercessores, Reparadores de Brechas
Shalom do Pai. “Não poderá jamais existir a verdadeira paz nas
almas dos homens e do mundo se essa paz não estiver embasada em
um amor incondicional a Jesus Cristo3” (Escrito Amor Esponsal, 04)
A mesma humanidade sofrida pelo desconhecimento ou
distanciamento de Deus clama por uma poderosa intercessão
e suplica por uma Nova Evangelização. Evangelizadores e
intercessores necessitam avançar em uníssono, alinhados,
organizados, “compactados”, como disse Moysés Azevedo. Sem
unidade a evangelização ficaria seriamente comprometida.
Nos nossos ambientes de Igreja e Obra, entretanto, vemos
entrar, não raramente, o ranço da divisão, murmuração, falatório,
busca de poder. Somos pecadores, fracos, vasos de argila. Inúmeras
vezes abrimos brechas, fissuras de divisões no meio de nós ao
cedermos, por fraqueza ou negligência, justamente aos males que
tentamos combater pela intercessão e evangelização. Espantoso
mistério da iniquidade que nos acompanha!
Também essas adversidades clamam pelo trabalho silencioso,
escondido e eficaz de intercessores. Nossa missão é dar cobertura
pela oração à Igreja, que desliza no mar da história, militando por
Cristo e à humanidade que caminha à beira de abismos ignorando
o resgate amoroso por Seu sangue. Somos chamados a reparar as
brechas causadas pelo pecado de modo a neutralizar as investidas
malignas. Ora fazemos isso de modo ofensivo, como espadas
afiadas nas mãos de hábeis guerreiros, ora de modo defensivo,
como um poderoso escudo de aço.
Nem sempre as brechas são feitas pelo inimigo, embora ele
exista. As grandes fissuras que encontramos no meio de nós são
3. AZEVEDO FILHO, 2007, p. 21.
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Introdução
causadas por nossos pecados e decisões cujo critério nem sempre
é a soberana vontade de Deus.
Todas essas realidades de constante batalha espiritual são
assumidas pelo intercessor diante de Deus. Assume-as orando,
sofrendo, ofertando. O intercessor vai à frente tirando os obstáculos
para que a Igreja e a Obra prosperem nos seus empreendimentos.
Não lutamos contra os homens, mas contra o príncipe deste mundo
tenebroso (cf. Ef 6,11). E não lutamos sós, ao nosso lado lutam
grandes reparadores de brechas, os anjos, os santos e a Gloriosa
Virgem Maria, que em todas as aparições clama por intercessão.
Uma multidão de intercessores
Este livro não é destinado somente aos membros de ministérios
de intercessão ou unicamente à Obra Shalom. Embora utilizemos
vastamente referências aos Escritos da Comunidade Católica
Shalom, o livro foi escrito para todos os batizados. Irmãos na fé que
acreditam no poder da intercessão, que, longe de ser paliativo, atinge
com precisão cirúrgica a raiz do problema. É esse o testemunho
de alguns dos grandes intercessores das Sagradas Escrituras que
você encontrará nas próximas páginas. Moisés, a rainha Ester,
Jesus e Maria, incomparáveis reparadores de brechas que, com sua
profética intimidade com Deus, convidam você a engrossar suas
fileiras em favor do homem sofredor de hoje.
A situação do nosso tempo exige o levantar de um exército de
intercessores comprometidos, bem formados, ungidos. De todo
coração, intercedo para que todos quantos forem alcançados por
esse livro sintam-se impelidos sem demora a alistar-se no exército
dos reparadores de brechas e, assim, dar à luz, em Cristo, aos
planos e projetos de Deus em favor da Igreja e da humanidade.
Shalom! Oremos uns pelos outros!
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