REVISTA III CBPAEMH 2012 - Psicologia Aplicada ao Esporte e à
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REVISTA III CBPAEMH 2012 - Psicologia Aplicada ao Esporte e à
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 ISSN 2238-8001 Prof. M.Sc. Altair Moioli (Org) A RBPAEMH é orgão orficial de divulgação do Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana São José do Rio Preto-SP Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 04 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 ISSN 2238-8001 Comissão Científica Prof. Dr. Afonso Antonio Machado - UNESP Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine - FAMERP Prof. Drª. Mara Rosana Pedrinho - UNIRP Prof. M.Sc. Lucas Portilho Nicoletti - UNIFEV Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti - UNESP Prof. M.Sc. Altair Moioli - UNIRP Prof. Esp. Hugo Celso Fortti - UNIP O conteúdo e a redação dos trabalhos são de inteira responsabilidade dos respectivos autores. III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA Editoração Henrique Marques Consultoria Técnica Paulo Resende Capa Renata Sbrogio Periodicidade Anual Endereço Av. José Munia Nº 5650 - Chácara Municipal CEP - 15.090.500 - São José do Rio Preto-SP Telefone (17) 3016.1101 Fax (17) 3201.8890 www.psicologiadoesporte.esp.br Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 05 SUMÁRIO EDITORIAL ................................................................................................................................................. 9 COMISSÃO ORGANIZADORA ................................................................................................................ 10 PROGRAMA ............................................................................................................................................. 11 RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS .................................................................. 19 Psicologia do Esporte e novas tecnologias Prof. Mauro Klebs Schiavon ...................................................................................................................... 21 Mundos virtuais e educação de ‘’corpo e alma’’ Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti ............................................................................................................ 22 O constrangimento nas expressões de amor do sujeito contemporâneo: a exposição dos corpos e a negação dos afetos Prof. M.S.c. Ligia Adriana Rodrigues ........................................................................................................ 24 Os contextos de vulnerabilidade em homem que faz sexo com homens (HSH) vivendo com HIV Prof. M.S.c. Roberto Garcia; Drª Denise Gimenez Ramos ....................................................................... 28 Academias de ginástica e Psicologia do Esporte: como fidelizar os clientes com treinos divertidos e eficientes? Prof. M. S.c. André Aroni ........................................................................................................................... 31 Qual Psicologia do Esporte para quais Jogos Olímpicos? análise do contexto atual Prof. Dr. Afonso Antonio Machado ............................................................................................................ 32 CURSOS ................................................................................................................................................... 41 Pedagogia do Esporte: aspectos didáticos e metodológicos Prof. M.S.c. Osmar Moreira de Souza Júnior ............................................................................................ 43 Modalidades aquaticas: princípios e fundamentos Prof. M.S.c. Sergio Henrique Braz ............................................................................................................ 47 ARTIGOS .................................................................................................................................................. 49 A visão de técnicos em relação ao seu papel no esporte Aline Dessupoio Chaves; Andrezza Papini; Carolina Morais de Araújo; Vilma Leni Nista-Piccolo – USP São Paulo; UFTM – Universidade Federal do Triangulo Mineiro .............................................................. 51 A inclusão do aluno surdo nas aulas de educação física no ensino fundamental II: um estudo de caso Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi; Lídia Marques Figueiredo; Silvana Farias Lopes; Vinícius Martins Marcos | UNIFEV – Votuporanga-SP .................................................................. 57 Esporte universitário: caracterização e intencionalidades de alunos-atletas à prática esportiva. Cláudio Gomes Barbosa; Afonso Antônio Machado | UNESP – Rio Claro-SP ......................................... 64 Efeitos do foco de atenção na aprendizagem da bandeja Danilo Pedersen dos Santos; Matheus Ribeiro Cecarelli; Alaercio Perotti Junior | FHO-UNIARARAS – Araras-SP .................................................................................................................................................. 71 A educação física na escola: reflexões sobre a função do professor Luana Cristine Franzini da Silva; Eliane Paganini da Silva; Guilherme Rocha Britto; Sandra Regina Domingos de Brito | UNESP - Marília-SP | UNIRP - Rio Preto-SP |UNILAGO – Rio Preto-SP ................ 75 A identidade e a escolha profissional docente Eliane Paganini da Silva | UNESP – Marília-SP ....................................................................................... 84 Currículo do estado de São Paulo: análise da aceitação do currículo de educação física pelos alunos do 3º ano do ensino médio Denise Ferraz Lima Veronezi; Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | UNIFEV – Votuporanga-SP ......... 91 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 06 O jovem-atleta de futebol: a desmotivação na relação conjunta do treinamento e da vida escolar. João André Bernini Monteiro; Paulo José Moraes de Paula Santos; Paulo Gerson Caetano Filho; Pedro Ferreira Rigotti Chaves; Rayama Dwija Szajnweld da Silva | ESC – Cruzeiro-SP .................................. 98 Estudo das interferências da ansiedade no estado psicológico de atletas juniores de futebol Lucas Ribeiro Cecarelli; Altair Moioli; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP .................... 103 Prática de esportes e atividades físicas: aspectos motivacionais Luciana Botelho Ribeiro; Afonso Antonio Machado | UNESP- Rio Claro-SP ......................................... 111 Jogo e ludicidade: repensando possibilidades para a educação física no E.J.A. Marcela Campos de Avellar |ESC – Cruzeiro-SP ................................................................................... 115 Sintomas mais frequentes de estresse pré-competitivo em competidores de Taekwondo Marcos Armani Ramírez; Marisa Mendes Götze | ULBRA - Canoas-RS ............................................... 121 As contribuições da pedagogia do esporte para as aulas de educação física Maria Emilia Nunes Rodrigues Arenas; Danithielli Bezerra; Lucas Portilho Nicoletti | UNIFEV – Votuporanga-SP .................................................................................................................................... 125 A influência da sociedade moderna na aquisição das habilidades motoras fundamentais Paulo Neves de Oliveira Junior; Alaércio Perotti Junior | UNIARARAS – Araras-SP | UNIP – CampinasSP | FIEL-Limeira-SP ............................................................................................................................. 131 Motivos e dificuldades para a prática de atividade física: uma comparação entre academias de ginástica e estúdios de treino personalizado André Luis Aroni; Marcelo Callegari Zanetti; Afonso Antonio Machado | USF - Bragança Paulista-SP |UNIP – S.J. Rio Pardo-SP | UNESP de Rio Claro-SP .......................................................................... 137 RESUMOS DE TEMAS LIVRES............................................................................................................ 143 RESUMOS DE PAINÉIS..........................................................................................................................155 ÍNDICE DE AUTORES........................................................................................................................... 174 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 07 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 08 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 09 EDITORIAL Este ano chegamos à 3ª edição do Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana. Trata-se de uma conquista importante, se comparado a curta vida de outros eventos com o mesmo perfil. Alguns mais otimistas dizem que passar pelo terceiro evento, corresponde ao momento de maioridade e assim, marcar definitivamente este acontecimento no calendário de eventos acadêmicos. Desde a edição passada, projetou-se que este encontro se daria de dois em dois anos. Coincidência ou não, esta acomodação no calendário nos coloca frente a frente aos dois maiores eventos esportivos mundiais, quais sejam, as Olimpíadas e a Copa do Mundo de Futebol. Esses eventos ilustram uma rica oportunidade para discutir o efeito do fenômeno esportivo no dia a dia da população. Mesmo que possa representar uma grande distância separando o mundo do alto rendimento e a realidade de grande parte dos profissionais ligados ao esporte, existe uma relação direta com nossas ações pedagógicas. Portanto, reside na compreensão do papel que cada um desempenha para o desenvolvimento e a formação humana, a justificativa e a relevância dos temas propostos para este encontro. A discussão dos principais problemas relacionados ao momento atual da educação, do esporte, e sua relação com áreas afins como a psicologia, a fisioterapia, a educação física, a pedagogia, entre outras, requer do profissional da saúde e da educação um posicionamento crítico frente às investidas do mercado atual de consumo, da moda, das tecnologias e das novas mídias que se utilizam do corpo como produto erotizado e da sua exposição midiática. Ainda, o padrão atual de beleza e as transformações do corpo promovidas pelas novas tecnologias despertam a atenção pela possibilidade de deslocar o homem pós-moderno a elevados índices de vulnerabilidade física, social e psicológica. Sempre pensando na integração das diferentes áreas de atuação, a proposta multidisciplinar do Congresso privilegia este ano em seu primeiro dia de atividades uma imersão em práticas pedagógicas com a oferta de cursos de aprofundamento para a aplicação desses recursos no momento de intervenção do profissional. Nos demais dias, a programação está voltada para as discussões acadêmicas em torno de temas que interferem no rendimento do praticante de atividade esportiva, seja ela como ferramenta para a educação, para o bem estar ou para a participação em eventos internacionais. Assim, a Conferência de Abertura propõe uma reflexão da atuação profissional nesse momento em que ocorre um chamamento nacional (ou nacionalista?) por uma posição relevante no cenário olímpico, tendo em vista que as próximas Olimpíadas acontecem no Brasil. Assim, qual o papel do professor cuja área de atuação é a iniciação esportiva ou a escola? Nesse cenário, outros elementos se associam ao desenvolvimento humano, como por exemplo, o uso e abuso das tecnologias que cria um novo perfil para esse homem cibernético. Aqui, a cibercultura invalida e modifica os antigos paradigmas de educação, atuação profissional e as relações humanas. As mudanças provocadas por essa revolução serão abordadas nas mesas temáticas de tecnologias e educação, transição de carreira, corpo e novas mídias. No encerramento do evento, merece apresentar apontamentos para o futuro. Nessa perspectiva, e ainda sob os efeitos da participação brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, vale uma reflexão a respeito da trajetória e do planejamento para a participação no Rio 2016. Essas contribuições não são modelos fechados, mas considerações que possam auxiliar e compor o desempenho esportivo. Ao finalizar este preâmbulo, vale ressaltar a dedicação e confiança de todos os parceiros para a realização e organização de mais este evento. Esperamos que todos tenham uma excelente estada em nossa cidade para desfrutar do III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA. Sejam bem-vindos. Prof. Dr. Afonso Antonio Machado Prof. M.Sc. Altair Moioli Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte - LEPESPE - UNESP- Rio Claro- SP Presidente da Comissão Organizadora CBPAEMH Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 10 III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA Organização Presidente Prof. M.Sc. Altair Moioli Assessoria Técnico-Pedagógica Prof. Esp. Arlete Guisso Scaramuzza Portilho Nicoletti Prof. Esp. Guilherme Rocha Britto Comissão Científica Prof. Dr. Afonso Antonio Machado - UNESP Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine - FAMERP Prof. Drª. Mara Rosana Pedrinho - UNIRP Prof. M.Sc. Lucas Portilho Nicoletti - UNIFEV Prof. M.Sc. Ednei Previdente Sanches - UNILAGO Prof. M.Sc. Ligia Adriana Rodrigues - FAFICA Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti - UNESP Prof. Esp. Hugo Celso Fortti - UNIP Secretaria Geral Profª Jaqueline Oliveira Marques Profª Ana Paula Barrenha Profª Beatriz Ramirez Profª Carla Lemos Valério Ramos Sobrinho Tesouraria Prof. Esp. Marcos Antonio Favarin Prof. Esp. Robinson Simões Gavassi Assessoria de Imprensa Jornalista Paulo Rezende Relações Públicas Prof. Marco Antonio de Mello Franco Marketing | Publicidade | Fotografia Renata Sbrogio Prof. Luciana Barcelos Divulgação | Informática | Filmagem Marcus Fabiano Franco da Gama Prof. Ronaldo Adriano Marino Hospedagem | Alojamento Prof. Silvio Renato Silveira Alimentação | Transporte | Recursos Materiais Prof. Esp. Manoel Brandão Filho Prof. Paulo Estevão Alves da Silva Prof. Lucas Milani Franco Prof. Renato Alex Cioca Prof. Rodnei Marcelino Rodrigues Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 11 III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA PROGRAMA 06.09.2012 | QUINTA FEIRA UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II 08h30 – ÁREA DE CONVIVÊNCIA DO TEATRO Abertura da Secretaria Geral | Cadastramento e entrega de material 09h00 – Cursos de aprofundamento e extensão 09h00 às 12h00 - BLOCO “F” - SALA 01 Curso 1 - Coaching no Futebol: Características de um treinador efetivo Convidado: Prof. Dr. Varley Teoldo da Costa | UFMG – Belo Horizonte-MG Coordenador: Prof. Marco Paolo Diniz Correa Ceraldi | UNILAGO – S.J.Rio Preto-SP Ementa: Versará os princípios básicos para a formação profissional. As características fundamentais para a conduta, a intervenção e a atuação do técnico no ambiente esportivo. Os desafios e as atribuições de um técnico formador e educador. 09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 02 Curso 2- Pedagogia do Esporte: aspectos didáticos e metodológicos Convidado: Prof. M.Sc. Osmar Moreira de Souza Junior | UFSCAR – São Carlos-SP Coordenador: Prof. Alexandre Sassaki Rosa – USP - Bauru-SP Ementa: Encontro com o objetivo de refletir as diferentes possibilidades metodológicas do ensino dos esportes e dos jogos. Estratégias para o ensino dos esportes coletivos e individuais com base nos jogos desportivos coletivos, na pedagogia da rua e outras metodologias. Para tanto, considerar o esporte como fenômeno da sociedade contemporânea, componente da cultura corporal de movimento. 09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 03 Curso 3 – Treinamento Funcional Convidado: Prof. Vinícius Napolitano | CORE 360º - São Paulo-SP Coordenador: Prof. Cássio Gustavo Santana Gonçalves | UNORP – S.J.Rio Preto-SP Ementa: O curso enfatiza uma introdução ao sistema e metodologia do CORE 360° (treinamento funcional) feita por meio de um conteúdo composto por exposição de referências, fundamentos e vivência prática. Aborda também aspectos cinesiológicos, treinamento do CORE, progressão, sistematização, avaliação e prescrição do treinamento funcional. 09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 04 Curso 4 - Modalidades Aquáticas: princípios e fundamentos Convidado: Prof. M. Sc. Sérgio Henrique Braz | UNIP – S.J. Rio Pardo-SP Coordenador: Prof. Ronaldo Alvarez | SMEL – S.J.Rio Preto-SP Ementa: O curso aborda os aspectos didático-metodológicos e psicopedagógicos aplicados às modalidades aquáticas, bem como, princípios físicos; metodologias de ensino (adaptação ao meio líquido, aperfeiçoamento e treinamento); gerenciamento e atendimento ao cliente e atividades aquáticas para populações especiais. 09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - TEATRO Curso 5 - Recreação, Jogos e Brincadeiras Convidado: Prof. Tiago Aquino da Costa e Silva [Paçoca] UNIBAN/FMU - São Paulo Coordenador: Prof. Elisclaudia Catini Coutinho | UNIRP – S.J.Rio Preto-SP Ementa: A atuação profissional na área do lazer. Preparação e conhecimento pedagógico. Atividades Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 12 práticas para diversos ambientes e estruturas, como hotéis, resorts, empresas, escolas, festas, cruzeiros, etc. Aspectos motivacionais, técnicas de intervenção e planejamento das atividades. 14h00 – Cursos de aprofundamento e extensão 14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 01 Curso 6 – Psicomotricidade aplicada ao contexto escolar Conviddo: Prof. Esp. Arlete Guisso Scaramuzza Portilho Nicoletti | Faculdades Dom Bosco - Monte Aprazível-SP Coordenador: Prof. Cesar Antonio Parro | UNIP – S.J.Rio Preto-SP Ementa: Toda ação humana envolve múltiplas atividades que se complementam. Nesse sentido, a psicomotricidade se apresenta como possibilidade fundamental para o desenvolvimento global, integral e uniforme da criança. No contexto escolar, implica conhecimento de seus mecanismos e estruturas como forma de auxiliar a aprendizagem dos alunos nas várias etapas do crescimento. 19h30 às 20h00 – TEATRO Cerimônia de Abertura 20h00 às 22h00 – TEATRO Conferência de Abertura: Psicologia do Esporte: olhares para a iniciação esportiva Convidado: Prof. Dr. Varley Teoldo da Costa – UFMG – Belo Horizonte-MG Moderador: Prof. M.Sc. João Anderson da Silva –| UNILAGO – S.J.Rio Preto-SP Resumo: A importância do fenômeno esportivo na vida de crianças e adolescentes. As diferentes abordagens para a iniciação esportiva na visão da psicologia do esporte. Os diferentes papéis e interesses no processo formativo: professor, técnico, pais, clube, atleta, empresários, agentes. As condutas dos técnicos formadores. A escola como campo de formação esportiva. 22h00 - Área de Convivência Teatro Apresentações artísticas | Coquetel de boas vindas 07.09.2012 | SEXTA FEIRA UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II 08h30 às 10h00 – TEATRO Mesa redonda: Psicologia do Esporte e as novas tecnologias Prof. M.Sc. Mauro Klebs Schiavon - UNIANHANGUERA Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti – UNIP Campus Rio Pardo Prof. M.Sc. Leonardo Pestillo de Oliveira – CESUMAR - Maringá-PR Moderador: Profª Arlete Guisso Scaramuzza P. Nicoletti | Dom Bosco – Mt. Aprazível-SP Resumo: A exposição consiste na exploração de temáticas da Psicologia do Esporte frente às novas tecnologias. Serão abordados aspectos como: relações sociais, distúrbios de imagem corporal, emoções nos jogos virtuais, moralidade, ansiedade, medo e vergonha. 10h00 às 10h30 - Área de Convivência Teatro Coffee break 10h30 às 12h00 – TEATRO Mesa redonda: Transição de carreira esportiva: implicações psicológicas Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine | FAMERP – S. J. Rio Preto-SP Prof. M.Sc. José Roberto Andrade do Nascimento Junior | UEM Maringá-PR Moderador: Prof. M.Sc. Ednei Previdente Sanches | UNILAGO - S.J. Rio Preto-SP Resumo: As diferentes fases e atenuantes para a transição na carreira esportiva. Aspectos psicológicos e sociais da mudança de categoria, mudança de esporte, transferência de clube ou país, abandono da atividade, encerramento da carreira. O contexto cultural e social na transição da carreira esportiva. A preparação para desempenhar outro papel social e outra profissão após o encerramento da carreira. 14h30 às 16h00 - TEATRO Mesa redonda: Novas Redes de Comunicação: corpo, esporte e vulnerabilidades Prof. M.Sc. Flavio Rebustini | LEPESPE – Rio Claro-SP Prof. M.Sc. Ligia Adriana Rodrigues | IMES – FIPA - Catanduva-SP Prof. M.Sc. Roberto Garcia | São Paulo Moderador: Prof. Dr. Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 13 Resumo: A discussão abordará a influência das novas redes de comunicação, com ênfase nas redes sociais, sobre as dinâmicas de projeção corporal, relações interpessoais, bem como, os aspectos positivos e negativos que incidirão no desempenho do indivíduo (atleta ou não) à partir da exposição e uso das novas redes. 16h00 às 16h30 – Área de Convivência Teatro Coffee break 16h30 às 18h00 – TEATRO Mesa redonda: Fitness: Psicologia do Esporte de rendimento Fisioterapeuta Ricardo Alexandre de Andrade Junqueira – BM&F-SMEL Prof. M.Sc. André Aroni – Instituto Corpo Ativo – Campinas Moderador: Prof. M.Sc. Valter Brighetti | UNIFEV – Votuporanga-SP Resumo: A mesa redonda discute a aplicação dos conceitos e temáticas da Psicologia do Esporte nos ambientes de atividade física de manutenção, academias de ginástica e dos esportes de alto rendimento esportivo, apontando propostas de intervenção e manejo dos estados emocionais de atletas e praticantes de atividade física por meio de seus técnicos, treinadores e personal trainners. 18h00 às 19h00 - TEATRO Mesa Temática – Corpo, Esporte e Mídia. Moderador: Profª M.Sc. Denise Ferraz Lima Veronezi | UNIFEV – Votuporanga-SP; Prof. M.Sc. Lucas Portilho Nicoletti | UNIFEV - UNICAMP Resumo: Contextualiza a influência midiática nas dinâmicas corporais e sua relação com os esportes contemporâneos. Aborda as possibilidades de manejo, ensino e intervenção psicológica por parte dos treinadores e profissionais envolvidos no contexto esportivo e de atividades físicas. 01. Netnografia: um estudo sobre os ideais de beleza masculino Flavio Francisco Dezan; Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP 02. Imagem e a corporeidade aplicada ao esporte Roberto Borges Filho | UFG – Goiania-GO 03. Belo e eterno: constatações no second life Marcelo Callegari Zanetti; Mauro Klebis Scahiavon; Altair Moioli; Flavio Rebustini; Afonso Antonio Machado | UNESP - Rio Claro-SP 04. A influência da sociedade moderna na aquisição das habilidades motoras fundamentais Paulo Neves de Oliveira Junior; Alaércio Perotti Junior | UNIARARAS – Araras-SP |UNIP – Campinas-SP | FIEL-Limeira-SP 18h00 às 19h00 - Apresentação de Trabalhos Artigos e Temas Livre - Apresentação Oral BLOCO “F” - SALA 01 Moderador: Prof. Gabriela Blasquez | UNIRP – S.J.Rio Preto-SP 01. Jogo e ludicidade: repensando possibilidades para a educação física no E.J.A. Marcela Campos de Avellar |ESC – Cruzeiro-SP 02. Esporte universitário: caracterização e intencionalidades de alunos-atletas à prática esportiva. Cláudio Gomes Barbosa; Afonso Antônio Machado | UNESP – Rio Claro-SP 03. A concentração e a prática do atletismo: a percepção dos homens Gustavo Lima Isler; Mauro Klebis Schiavon; Lucas Ribeiro Cecarelli; Cláudio Gomes Barbosa; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP | Claretianas - Rio Claro-SP | UFU – Uberlândia-MG 04. Liga de Medicina Esportiva de Catanduva: entidade acadêmica de aprofundamento teóricoprático e extensão comunitária. Arthur Silva Botelho; Marcos B. de Freitas Junior; Alberto Hamra; Ligia Adriana Rodrigues | FIPA – LIMESP – Catanduva-SP Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 14 BLOCO “F” - SALA 02 Moderador: Prof. Alessandre Sassaki Rosa | USP – Bauru-SP 01. Fatores motivacionais em equipe de futsal feminino do programa escola da família Tiago Marcelino Alves; Maxshuel Donizetti Leme; Marcelo Callegari Zanetti | UNIP – S.J. Rio Pardo-SP 02. Violência na educação física Lucas Ribeiro Cecarelli; Michele Cristina Pedroso; Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP 03. O jovem-atleta de futebol: a desmotivação na relação conjunta do treinamento e da vida escolar. João André Bernini Monteiro; Paulo José Moraes de Paula Santos; Paulo Gerson Caetano Filho; Pedro Ferreira Rigotti Chaves; Rayama Dwija Szajnweld da Silva | ESC – Cruzeiro-SP 04. Prática de esportes e atividades físicas: aspectos motivacionais Luciana Botelho Ribeiro; Afonso Antonio Machado | UNESP- Rio Claro-SP. BLOCO “F” - SALA 03 Moderador: Profª. Elisclaudia Catini Coutinho | UNIRP – S.J.Rio Preto-SP 01. O plano nacional de formação de professores da educação básica (PARFOR) e a importância do componente curricular de educação física para os alunos do PARFOR da UNIFEV Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi |UNIFEV – Votuporanga-SP 02. A identidade e a escolha profissional docente Eliane Paganini da Silva | UNESP – Marília-SP 03. A educação física na escola: reflexões sobre a função do professor Luana Cristine Franzini da Silva; Eliane Paganini da Silva; Guilherme Rocha Britto; Sandra Regina Domingos de Brito | UNESP - Marília-SP | UNIRP - S.J.Rio Preto-SP |UNILAGO – S.J.Rio Preto-SP. 04. A visão de técnicos em relação ao seu papel no esporte Aline Dessupoio Chaves; Andrezza Papini; Carolina Morais de Araújo; Vilma Leni Nista-Piccolo – USP - São Paulo; UFTM – Universidade Federal do Triangulo Mineiro 19h00 - Pátio Central Happy Hour - Programação Social e Cultural 08.09.2012 | SÁBADO UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II 08h30 às 09h30 – Apresentação de Trabalhos Artigos e Temas Livre – Apresentação Oral TEATRO Moderador: Prof. M.Sc. Mauro Klebs Schiavon 01. Efeitos do foco de atenção na aprendizagem da bandeja Danilo Pedersen dos Santos; Matheus Ribeiro Cecarelli; Alaercio Perotti Junior | FHO-UNIARARAS – Araras-SP 02. O esporte como fator de inclusão e exclusão: uma análise social Roberto Matioli Junior e Marden Ivan Negrão Filho | S.J.Rio Preto-SP 03. Motivos e dificuldades para a prática de atividade física: uma comparação entre academias de ginástica e estúdios de treino personalizado André Luis Aroni; Marcelo Callegari Zanetti; Afonso Antonio Machado | USF - Bragança Paulista-SP |UNIP – S.J. Rio Pardo-SP | UNESP de Rio Claro-SP 04. Auxílio psicológico transmitido pelos familiares: um estudo no futebol e no basquete Eric Matheus Rocha Lima; Lucas Ribeiro Cecarelli; Guilherme Bagni; Kauan Galvão Morão; Renato Henrique Verzani e Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 15 BLOCO “F” - SALA 01 Moderador: Prof. Gustavo Isler | Claretianas - Rio Claro-SP 01. Frequência cardíaca em idosos ativos: estudo comparativo Maicon José Jacinto; Andréa Carla Machado; Cecília Candolo; Anderson Souza; Karla Klahold |UFSCar – São Carlos-SP 02. Futebol e bullying: quando a brincadeira ultrapassa os limites Kauan Galvão Morão; Eric Matheus Rocha Lima; Guilherme Bagni; Lucas Ribeiro Cecarelli; Renato Henrique Verzani; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP 03. Bullying no contexto futebolístico: uma análise de juniores Renato Henrique Verzani; Kauan Galvão Morão; Lucas Ribeiro Cecareli; Guilherme Bagni; Eric Lima; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP 04. Análise dos estados emocionais de atletas de voleibol Guilherme Bagni; Kauan Galvão Morão; Renato Henrique Verzani; Eric Matheus Rocha Lima; Lucas Ribeiro Cecarelli e Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP BLOCO “F” - SALA 02 Moderador: Prof. M.Sc. Ednei Previdente Sanches – UNILAGO – S.J. Rio Preto-SP 01. Sintomas mais frequentes de estresse pré-competitivo em competidores de Taekwondo Marcos Armani Ramírez; Marisa Mendes Götze | ULBRA - Canoas-RS 02. Estudo das interferências da ansiedade no estado psicológico de atletas juniores de futebol Lucas Ribeiro Cecarelli; Altair Moioli; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP 03. Um novo olhar sobre a ansiedade Lucas Ribeiro Cecarelli; Kauan Galvão Morão; Matheus Ribeiro Cecarelli; Renato Henrique Verzani; Eric Matheus Rocha Lima; Guilherme Bagni; Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP | UNIARARASAraras-SP 04. Efeitos psicológicos da realidade virtual em crianças com dificuldades motoras Franz Fischer | LABORDAM – UNESP - Rio Claro-SP BLOCO “F” - SALA 03 Moderador: Prof. Cesar Antonio Parro | UNIP – S.J.Rio Preto-SP 01. A inclusão do aluno surdo nas aulas de educação física no ensino fundamental II: um estudo de caso Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi; Lídia Marques Figueiredo; Silvana Farias Lopes; Vinícius Martins Marcos | UNIFEV – Votuporanga-SP 02. Currículo do estado de São Paulo: análise da aceitação do currículo de educação física pelos alunos do 3º ano do ensino médio Denise Ferraz Lima Veronezi; Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | UNIFEV – Votuporanga-SP 03. A utilização da variável “tempo”: como recurso motivacional no jogo cooperativo Marcela Campos de Avellar | ESC – Cruzeiro-SP 04. As contribuições da pedagogia do esporte para as aulas de educação física Maria Emilia Nunes Rodrigues Arenas; Danithielli Bezerra; Lucas Portilho Nicletti | UNIFEV – VotuporangaSP 08.09.2012 | SÁBADO UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II 08h30 às 09h30 – Apresentação de Trabalhos Saguão do Teatro - Resumos – Apresentação Pôster 01. Avaliação dos níveis de ansiedade pré-competitiva (ansiedade traço-estado) de pais de atletas de futsal; da categoria mirim (sub onze) Telma Sara Queiroz Matos Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 16 02. As couraças musculares de Reich e a abordagem das cadeias musculares sob o prisma da reeducação postural global preconizada por Meziéres aplicadas ao esporte Roberto Borges Filho | UFG – Goiania-GO 03. Correlações entre posse de bola e resultado das partidas: análise das principais seleções em copas do mundo José Antonio Bruno da Silva | UNIMEP – Piracicaba-SP 04. Ansiedade e performance no tênis de alto rendimento Roberto Roque Monteiro; Guilherme Rodrigues Moreno; Eder Emanuel Barboza; Eliane Tiemi Miyazaki | UNORP – S.J. Rio Preto-SP | Clube Monte Libano | FAMERP – S.J. Rio Preto-SP 05. A história da educação e a profissão docente: reflexões iniciais Claudia Moreira Arroio; Elisandra dos Santos Lima; Silene Fontana | UNIRP-S.J.Rio Preto-SP 06. A importância dos jogos cooperativos no ambiente escolar Cristiano Patrício de Souza; Altair Moioli; Rodinei Marcelino Rodrigues; Luiz Matheus Ramos | SMEL – S.J. Rio Preto-SP | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP 07. Características da motivação para o exercício físico de adolescentes participantes de projetos sociais Poliana Sandim Bispo; Diego Itibere Cunha Vasconcellos | UNESP | UNIBAVE. 08. Aspectos motivacionais de praticantes de mergulho autônomo recreativo do Estado do Rio de Janeiro Marcia Maria Marcondes Costa Meinicke; Antonio Roberto Rocha Santos | UNFP 09. Prevenção da violência por meio de projetos esportivos Luiz Matheus Ramos; Altair Moioli; Rodinei Marcelino Rodrigues; Cristiano Patrício de Souza | SMEL – S.J. Rio Preto-SP | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP 10. Circo social: os dois lados da mesma moeda Leandro Dias dos Santos | UNIP 11. Circo na escola: sala de aula ou picadeiro Leandro Dias dos Santos | UNIP 12. A psicologia do esporte no cenário do Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana – UNESP – Rio Claro: uma análise dos anais de 1999 a 2011. Fernanda Carolina Pereira | UNESP – Rio Claro-SP. 13. Repercussão nacional e internacional do Congresso de Psicologia Aplicada Ao Esporte e à Motricidade Humana: uma análise dos anais de 2009 e 2010. Fernanda Carolina Pereira | UNESP – Rio Claro-SP. 14. Observações da psicologia do esporte sobre as competições esportivas escolares Francisco Galvão do Amaral Pinto Barciela; Renan Mendes Garcia; Marta Aurélia Campos Silveira; Fernando César Gouvea e Afonso Antonio Machado | UNESP - Rio Claro-SP 15. Os jovens-atletas de futebol: a família como motor do desempenho escolar e outras perspectivas João André Bernini Monteiro; Paulo José Moraes De Paula Santos; Paulo Gerson Caetano Filho; Pedro Ferreira Rigotti Chaves; Rayama Dwija Szajnweld da Silva | ESC – Cruzeiro-SP 16. Motivação e interação social no esporte – um aprendizado para a vida Maria Celina Trevisan Costa; Alexandre Patrício Nogueira; Daniélli Giachetto Borges; Leandro Cimonetti de Almeida; Maíra Rodrigues Braga Nascimento; Marcos Vinícius Flores Furlaneto; Ricardo Alves de Almeida | UNIFEV – Votuporanga-SP 17. Desenvolvimento do comportamento motor da criança na natação. Tiago Rodrigo Alves Nunes | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP 18. Diferenças entre os sexos no futebol: a luta para o reconhecimento social e fim do preconceito Tamiris Aparecida Coltro; Gabriela Blasquez | UNIP – S.J. Rio Preto-SP Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 17 19. Indicadores de capacidade e potencia anaeróbia em atletas de Taekwondo Renato Miguel; Cesar Antonio Parro | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 20. Análise e comparação das aptidões físicas entre crianças e adolescentes praticantes de Ginástica Artística feminina de 7 a 13 anos. Pollyana Carla da Silva; Cleide Monteiro | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 21. A utilização do Tai Chi Chuan como atividade para fortalecimento dos membros inferiores para evitar quedas na terceira idade Paulo Henrique Siqueira | UNIP – S.J.Rio Preto-SP 22. Relações técnico-atleta no basquetebol de alto rendimento Mauro Klebis Schiavon; Claudio Gomes Barbosa; Gustavo Lima Isler; Marcelo Calegari Zanetti; Afonso Antonio Machado | Claretianas – Rio Claro-SP | Anhanguera – Rio Claro-SP | UNESP - Rio Claro-SP 23. Preparação física dos peões de rodeio em montaria em touros Jéssica Sbrissa; Hugo Celso Forti | UNIP – S.J.Rio Preto-SP 24. Distanciamento familiar: aspecto relevante na desistência da carreira de jogador de futebol das equipes de base. Jefferson Luis Molina Rodrigues; Meison dos Santos Ribeiro Soares; Altair Moioli | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP | UNESP – Rio Claro-SP 25. Relação entre o mando de campo, o vencedor do primeiro tempo e a volta para o segundo tempo: uma análise estatística de súmulas Guilherme Bagni; Gustavo Bagni; Afonso Antonio Machado | UFSCar – São Carlos-SP | UNESP – Rio ClaroSP 26. O sentido da dança e suas possibilidades na escola Danila Alves Sodré | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 27. A utilização de esteroides anabólicos em academias: a visão do educador físico Carlos Vinicius da Silva | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 28. Musicalização e alfabetização da criança com deficiência intelectual: possibilidades de estratégias de ensino-aprendizagem Andréia Aparecida Ferraz; Mayara Gabriele da Silva Lourenzini; Thais da Silva Ramos | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP 29. Pedagogia do esporte: uma ferramenta educativa Andréa de Oliveira Pardal; Cintia da Silva Barbeiro; Daniela Aparecida Maurity dos Santos | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 30. Futebol para deficientes visuais Vinícius Facchini Alvares; Claudia Lacerda Vicente | UNIRP – S.J. Rio Preto -SP 31. Atividade física no ambiente escolar como prevenção da obesidade infantil Alessandra Nicoletti Avelino; Gabriela Blasquez | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 32. A evolução feminina no esporte Sheila Costa Ramos Neves | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 33. Aspectos físico e sócio psicológicos da prática da caminhada Iraceles Gonçalves dos Santos | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 34. Alteração dos hábitos de alimentação por meio da atividade física em crianças do ensino fundamental: aspectos psicossociais Iara Tocico Ito; Altair Moioli | UNIP – S.J. Rio Preto-SP 35. A Imortância do treinamento individualizado na performance de uma equipe Wander Marques; Rogério Simões Singh Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 18 08.09.2012 | SÁBADO UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II 09h30 às 11h00 - Mesa redonda Londres 2012 – Rio 2016: reflexões a partir da psicologia do esporte Prof. Aristides de Andrade Junqueira Neto - Técnico da BM&F-SMEL Prof. Dr. Afonso Antônio Machado – UNESP Campus Rio Claro Moderador: Prof. Karina Younan | RPAC – S.J.Rio Preto-SP Resumo: As expectativas frente a participação do Brasil nos eventos esportivos. O papel do professor, do técnico e do dirigente na formação e na competição. As demandas técnicas e psicológicas para o desempenho dos atletas de alto rendimento. Os manejos e as rotinas no ciclo olímpico. O planejamento, a execução de tarefas e a convivência entre os profissionais de uma equipe multidisciplinar. 11h00 às 11h30 - TEATRO Cerimônia de Encerramento 11h30 – Saguão do Teatro - Secretaria Geral Certificação Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 19 III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA CONFERÊNCIAS MESAS REDONDAS Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 20 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 21 PSICOLOGIA DO ESPORTE E AS NOVAS TECNOLOGIAS Prof. Ms. Mauro Klebis Schiavon | Faculdades Integradas Claretianas Anhanguera Educacional Hoje em dia existe um crescimento notável de crianças que se utilizam de videogames para se divertirem, quer seja com amigos, familiares ou mesmo sozinhas. Em 2011, o Brasil foi o quarto país do mundo em número de usuários de videogames com mais de 35 milhões de pessoas. A explosão do número de novos artefatos digitais e videogames postos em funcionamento nos últimos anos, bem como a proliferação de aplicativos computacionais e de suas possibilidades de uso é um fenômeno muito recente. Os jogos eletrônicos fazem parte da cultura contemporânea, são baseados em tecnologias da microinformática, ou, conforme termo utilizado por Mendes (2006), tecnologias do silício. O jogo em si não é novidade, tanto na vida animal quanto humana: gatos ou cachorros já vivenciam situações dos jogos, e os homens, desde o seu nascimento, vivem o universo do jogo em suas interações com o outro – haja vista que a maioria das pessoas possui ao menos uma imagem de alguém que jogue ou tenha jogado um jogo digital. Borja (1980) salienta que o jogo, assim como a linguagem, é uma constante antropológica que pode ser encontrada em todas as civilizações e em todas as suas etapas. Os estados emocionais são pouco estudados na relação entre criança e videogame. As emoções são imprescindíveis nas tomadas de decisões, das mais simples as mais complexas. Elas são fundamentais também para a sociabilidade, além de organizar a forma como as informações e os acontecimentos são armazenados na memória. Além de mais complexas fisiologicamente, as emoções humanas, não seriam humanas não fossem moldadas também por influências sociais, culturais e morais. No ponto de vista de Prensky (2001), as razões que mais levam as pessoas a jogarem videogames são as seguintes: - Os videogames são uma forma de divertimento e, como tal, é uma fonte de satisfação e prazer; - É uma forma de jogo capaz de nos transmitir doses intensas e apaixonadas de envolvimento; - Funciona sobre um sistema que reside num conjunto de regras a serem cumpridas, o que nos fornece estruturação; - Contem objetivos a atingir, fato que nos mantém motivados; - São uma fonte de interatividade, que dá a sensação de termos de realmente desempenhar tarefas; - Possuem consequências e feedback, transmitindo-nos, deste modo, algum ensinamento; - São adaptativos, o que nos proporciona a sensação de fluxo; - Os videogames exigem condições para se alcançar a vitória. Este aspecto é gratificante para o ego; - Possuem conflitos, competições, desafios e oposições que fazem subir a adrenalina dos jogadores; - Existe sempre um problema para ser resolvido, apelando, deste modo, à criatividade; - A interação que compõe os jogos de videogames contribui para construção da socialização e de grupos sociais; - Os videogames possuem uma história e uma representação capazes de transmitir emoções aos jogadores. Em estudo recente verificamos que, o divertimento parece ser uma razão sempre apontada, por quem se dedica a esta temática, o desejo de se sentir emoções diferentes daquelas que sentimos no nosso dia-a-dia; a possibilidade da alternância dos estados emocionais; a sensação de sermos capazes de alcançar objetivos e, deste modo, sentirmos que somos bons em alguma coisa; a possibilidade de interação com os outros, fator que permite a construção de grupos sociais com interesses em comum; a possibilidade de resolvermos enigmas, momentos que nos permitem esquecer, nem que sejam por alguns minutos, as tarefas ou problemas que temos por resolver, são as razões mais evidentes para as crianças jogarem videogames (SCHIAVON, 2012). REFERENCIAS: BORJA, S. M. El Juego Infantil (organizacion de Ludotecas). Barcelona> Oikos-tau,1980. MENDES, C. L. Jogos eletrônicos: diversão, poder e subjetivação. São Paulo: Papirus, 2006. PRENSKY, M. Why Games Engage Us. Digital Game-Based Learning McGraw-Hill, 2001. Url: http://www.marcprensky.com/writing/Prensky (consultado em 07/ 2012). SCHIAVON, M. K. . Estados emocionais e motivos apresentados por crianças que jogam wii: um estudo entre o real e o virtual. Dissertação de Mestrado. UNESP, Instituto de Biociências. Rio Claro, 2012. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 22 MUNDOS VIRTUAIS E EDUCAÇÃO DE “CORPO E ALMA” Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti – UNIP Campus Rio Pardo Introdução Muito tem se falado sobre a importância de se pensar novas diretrizes educacionais frente às novas tecnologias. Uma educação que permita aos alunos fazer uso das tecnologias como forma de emancipação e ampliação de conhecimentos. Porém, boa parte dos professores e pensadores da educação dita contemporânea ainda tem usado de maneira bastante tímida e restrita os recursos tecnológicos em prol de uma educação mais ampla, que tratarei aqui de “Educação de Corpo e Alma”. Esta tal Educação de Corpo e Alma não se prenderia apenas a conhecimentos de ordem conceitual, que são abordados exaustivamente nos bancos escolares, mas, abordaria questões que permeiam a vida humana como: relações sociais, controle emocional, discussão da imagem corporal e de temas relacionados à sexualidade humana, moralidade, medo e vergonha. Porém, a pergunta que fica é: Como pensar em uma educação que englobe temas tão complexos e relevantes em um ambiente que a maioria dos professores pouco domina? Realmente, este é um desafio muito grande, mas, de extrema importância, já que muitos alunos fazem uso destas novas tecnologias, principalmente participando de ambientes virtuais de sociabilidade (redes sociais) que remetem a todo momento à dilemas de ordem existencial, moral e comportamental. Fingir que os mesmos não existem ou renegá-los à segundo plano parece um tanto quanto arriscado, pois a utilização dos mesmos sem a mediação e educação do uso poderá trazer problemas ainda mais sérios. Falando ainda sobre a possibilidade de utilização destes ambientes, Kamienski, Fernandes e Silva (2008) sugerem que estes mundos sempre foram amplamente utilizados na área de jogos e simuladores, mas atualmente são vistas outras possibilidades para os mesmos, como socialização, educação e entretenimento. Para Pita (2008), em um destes ambientes, o Second Life, que é um ambiente virtual de sociabilidade em 3D, que permite altos níveis de interação, graças às suas potencialidades de comunicação, bem como a colaboração virtual e a criação de conteúdos há possibilidade de proporcionar entre outras coisas: · Afetividade: este indicador alude às afirmações que embora não estejam diretamente relacionadas com o tópico desenvolvido durante a discussão, se revelam essenciais para pelos participantes nos diálogos de interação. Destas demonstrações de afetividade fazem parte não só as saudações, como também os emoticons, os apoios verbais, as expressões que demonstram o estado de espírito, as onomatopéias, entre outros; · Coesão: este princípio tem por fim analisar as reações espontâneas no sentido de construir e sustentar o espírito de grupo e a presença social, como, cumprimentos, expressões evocativas, referências de grupo e partilha de informações de âmbito social. Na análise atentar-se-a utilização do vocativo, visto que este traduz com mais clareza a relação que se estabelece entre os indivíduos, revelando um notório sentido de comunidade; · Interação: o presente critério visa o reconhecimento e assentimento do ponto de vista dos outros de comunidade. Assim sendo, a afetividade refere-se, mormente, a expressões pessoais de emoção, sentimentos, crenças e valores participantes, o espírito de aprovação e o convite à participação. Para a excelência da interação é fundamental pelos seres humanos desenvolver o espírito de tolerância e respeito pelas opiniões pessoais, resultando numa partilha de saberes. Como esta troca não ocorre exclusivamente do debate de um assunto em discussão, daremos também atenção à demonstração de apreço pelas afirmações formuladas pelos diversos intervenientes. Para além destes fatos, este critério reflete sobre a colocação de questões, que são contributos primordiais para a continuação de um debate. Por fim, esta análise centra-se na referência explícita aos comentários de outros indivíduos, o que demonstra interesse pelas afirmações já pronunciadas e estimula a comunicação; · Socialização: este parâmetro refere-se à ocorrência de afirmações de caráter social, que não estão diretamente relacionadas com o conteúdo científico abordado durante os encontros. Neste sentido, o conjunto de afirmações sociais proferidas incide na exposição de acontecimentos externos ao SL, ou seja, fatos que se reportam unicamente a aspectos da vida pessoal do indivíduo; · Participação: esta dimensão diz respeito à contabilização do número geral de afirmações formuladas pelos avatares. Uma vez estudado o volume de mensagens, focase no número de afirmações relacionadas Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 23 com determinado tema, bem como a diversidade temática que se proporcionou ao longo dos encontros. Pretendemos, assim, compreender, a partir destes cálculos, o nível de participação ativa dos indivíduos e a qualidade das suas intervenções. Imaginemos então que além daquela educação formal, no qual, nossos alunos estão fartos de nos ouvir falar temos a oportunidade de educar-los de maneira mais ampla por meio daquilo que eles mais têm feito uso na contemporaneidade, jogos, redes sociais, entre outros recursos tecnológicos. O desafio está lançado... Referências KAMIENSKI, C. A. ; FERNANDES, Stenio ; SILVA, C. K. R. . Mundos Virtuais: Histórico, Avaliação e Perspectivas. In: Marcos Broges. (Org.). Minicursos Webmedia 2008. 1 ed. : , 2008, v. 1, p. 201-250. Pita, S. T. de O. As Interações no Second Life : a comunicação entre avatares. Revista de Ciências da Informação e da Comunicação do CETAC. n. 6, 2008. Prof. Dto. Marcelo Callegari Zanetti Graduado em Educação Física pela FFCL - São José do Rio Pardo (2002), mestre em Ciências da Motricidade Humana pela UNESP - Rio Claro (2007), doutorando em Desenvolvimento H u m a n o e Te c n o l o g i a s p e l a m e s m a universidade, onde é membro do LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte). Pós-graduado em Tecnologias e Educação a Distância (UNICID). Atualmente é Professor do Curso de Educação Física da Unip de São José do Rio Pardo, professor efetivo da Escola Estadual Achiles Rodrigues, na cidade de Vargem Grande do Sul SP, sócio-proprietário da Ducorpo Personal Training & Assessoria Esportiva, coordenador de futsal do Departamento de Esportes de São José do Rio Pardo - SP Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 24 O CONSTRANGIMENTO NAS EXPRESSÕES DE AMOR DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO: A EXPOSIÇÃO DOS CORPOS E A NEGAÇÃO DOS AFETOS. Pro. M.Sc. Ligia Adriana Rodrigues | IMES-FIPA “É dentro do próprio homem que é preciso libertar a vida, pois o próprio homem é uma maneira de aprisioná-la.” (Gilles Deleuze) O universo contemporâneo anuncia novas formas de relações e cuidados, consigo e com o outro, amparadas em novas tecnologias de controle dos desejos e modos de expressão dos afetos. No entanto, ainda que as idéias pretendidas nesse texto voltem-se para a contemporaneidade, de início serão utilizadas duas referências à modernidade, em diferentes espaços de enunciação artística – a música e o cinema: os “Tempos Modernos”, ora do compositor e cantor brasileiro Lulu Santos (obra que será utilizada em diversas partes do texto), ora do cineasta e ator Charles Chaplin. Comecemos com a música: “eu vejo a vida melhor no futuro, eu vejo isso por cima de um muro, de hipocrisia, que insiste em nos rodear...”. A palavra hipocrisia deriva do latim e do grego, significava a representação no teatro, o movimento dos atores, o uso de máscaras, o desdobramento necessário para cada papel que representavam em uma peça. Ou seja, “o hipócrita é alguém que oculta a realidade através de uma máscara de aparência.” Escapar da hipocrisia, portanto, indica a necessidade de agir com autenticidade, escapar das representações, dos perfis alienados, impostos pelas formas de controle e biopoder que produzem as subjetividades. Para Foucault, a disciplina age sobre os indivíduos e o biopoder se direciona para a espécie, “no corpo-espécie, no corpo transpassado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos biológicos” (1988, p. 152), ao cuidar de processos como nascimentos e mortalidades, da saúde da população, da longevidade, e outras formas de controle social. O biopoder gesta a vida, com técnicas de poder sobre o biológico, centro das discussões políticas. Se a disciplina foi necessária para a docilização do corpo produtivo das fábricas e instituições modernas, o biopoder foi importante instrumento para o desenvolvimento do capitalismo, ao controlar a população e adequá-la aos processos econômicos. “O investimento sobre o corpo vivo, sua valorização e a gestão distributiva de suas forças foram indispensáveis naquele momento” (Ibid., p. 154). O poder, sob essa perspectiva, é uma relação de forças e não um centro estático e atravessa os lugares e indivíduos numa multiplicidade de fluxos. Ao cruzá-los não só destrói como também produz; produz objetos e verdades, numa economia política que se interessa por gerir e controlar os homens por meio dessas verdades (DELEUZE, 2005). “Os relacionamentos de forças que compõem o poder atravessam os agenciamentos - estruturas ou sistemas que se compõem, a partir das relações entre as pessoas e o mundo, e que compõem essas mesmas relações de forma difusa e estratégica. Na construção desses agenciamentos, as formas de expressão, nas quais as coisas se mostram, e as formas de conteúdo, se diferenciam e se encontram, formando lugares distintos para o visível e o enunciável, o discursivo e o nãodiscursivo.” (RODRIGUES, 2001, p. 12) Ou seja, o poder produz coisas, induz ao prazer, forma saberes, produz discursos. “Deve−se considerá−lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir” (FOUCAULT, op. cit., p. 8). Para Foucault e Deleuze, portanto, os processos de subjetivação acompanham as transformações históricas e sociais. E o sujeito se compõe a partir dessas formações, de forma alienada e domesticada, movimentando-se de acordo com o que se espera dele, mesmo que de maneira diferente a cada espaço-tempo. Associando tais referências com a música citada, implica-se ser uma difícil tarefa essa de escapar da hipocrisia, pois ser autêntico vai além de apenas dizer o que se pensa ou agir segundo suas convicções, quando o que se diz (e/ou pensa) e o que se faz, reflete a totalidade da massa. Em outro contexto, nas cenas marcantes do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, aparece o homem que passa a se configurar como máquina, as facilidades que levam a criminalidade, a escravidão, o "vagabundo" que tenta sobreviver em meio ao mundo industrializado. O amor que surge, mas surge quase paternal, por uma orfã, com duas irmãs pequenas e o pai desempregado e posteriormente morto em uma manifestação. A bela amizade entre os dois emociona o espectador mas não traz soluções para o casal. Eles buscam constantemente outros destinos e parecem não conseguir escapar das prisões institucionais, políticas e normatizantes. E, no final, seguem numa estrada, rumo a mais aventuras, metaforicamente tentando escapar, libertarem-se, das amarras das instituções. As pressões sofridas pelo advento da modernidade, apresentadas nas cenas do filme, ainda podem ser encontradas no mundo atual, contemporâneo, entretanto nem sempre sob a mesma ótica de manipulação, pois neste mundo, os sujeitos são atravessados por novas regras – midiáticas – para Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 25 sua produção e alienação. Deleuze afirma que poderíamos pensar na crise nas disciplinas, que surgem diante de novas forças que se instalariam lentamente e se precipitariam depois da Segunda Guerra mundial (DELEUZE, 1990). O anúncio do que Foucault chama de sociedade de controle. “Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar (da escola à caserna, da caserna à fábrica), enquanto nas sociedades de controle nunca se termina nada, a empresa, a formação, o serviço sendo os estados metaestáveis e coexistentes de uma mesma modulação, como que de um deformador universal.” (Ibid., p. 221) Mais adiante afirma ser fácil fazer corresponder a cada sociedade certos tipos de máquina, não porque as máquinas sejam determinantes, mas porque elas exprimem as formas sociais capazes de lhes darem nascimento e utilizá-las. (...) Não é uma evolução tecnológica sem ser, mais profundamente, uma mutação do capitalismo. É uma mutação já bem conhecida que pode ser resumida assim: o capitalismo do século XIX é de concentração, para a produção, e de propriedade. Mas atualmente o capitalismo não é mais dirigido para a produção, relegada com freqüência à periferia do Terceiro Mundo, mesmo sob as formas complexas do têxtil, da metalurgia ou do petróleo. É um capitalismo de sobreprodução. Não compra mais matéria-prima e já não vende produtos acabados: compra produtos acabados, ou monta peças destacadas. O que ele quer vender são serviços, e o que quer comprar são ações. Já não é um capitalismo dirigido para a produção, mas para o produto, isto é, para a venda ou para o mercado. (Ibid., pp. 223224) E o mercado se amplia, cada vez mais, com novos produtos, para a satisfação do sujeito consumista, moldado por essas novas tecnologias, embalado talvez pela segunda estrofe da música de Lulu Santos: “eu vejo a vida mais clara e farta, repleta de toda satisfação, que se tem direito, do firmamento ao chão...”. Porém, parece que tudo é dado e nada fica. Fartura que escapa, consome-se, repleta de toda insatisfação (grifos nossos). E esse consumismo capitalístico reflete-se nas relações afetivas, deixando cada vez mais para trás a pureza anunciada por Chaplin. Bauman (2004) acredita que “hoje em dia as atenções humanas tendem a se concentrar nas satisfações que esperamos obter das relações, precisamente porque, estas não têm sido consideradas plenas e satisfatórias”. (p. 9) E continua, explorando a idéia de que, quando chegam a satisfazer, são compreendidas como inaceitáveis e excessivas, em sua complexidade, diante de uma agitação constante entre os corpos que se atraem. Espera-se que se possa desfrutar de um relacionamento sem vivenciar seus momentos considerados difíceis, vivendo-os de maneira que possam ser aproveitados quando necessários e deixados em distanciamento seguro em outros períodos, na tentativa de escapar da “armadilha” do compromisso. Literaturas de aconselhamento, de ditos especialistas no assunto, pipocam no dia-adia, os “comos” se relacionar e, principalmente, como evitar as dores do amor. Amor de sobreprodução, que “compra” apenas produtos acabados. Evidenciando a negação da dor, o sujeito contemporâneo seria hipócrita ao cantar a fé de se ter “o amor numa boa”, quando o compositor condiciona “que isso valha pra qualquer pessoa que realizar a força que tem uma paixão”, paixão esta negada em sua força, transformada em risco. Ora, a paixão, para Espinosa, é inerente ao homem; para ele, “todos os seres que existem são dotados de ação e de paixão. Os homens não poderiam ser ativos (por si apenas), porque as forças que vem de fora é que viriam constituí-lo. Então, todos os seres, que para se constituir, precisam de forças que vem de fora, seriam seres apaixonados, e o homem, enquanto tal, seria um ser apaixonado, porque ele não poderia agir a partir dele”. (ULPIANO, 1988) Não poderíamos, por esse ponto de vista, escapar das paixões, e a ausência desta implicaria na ausência de atividade humana. Ulpiano segue, dizendo que, para Espinosa, na sua paixão constituinte, no confronto com forças que vem do fora, o homem torna-se, essencialmente, também prisioneiro da servidão, ao ser constrangido pelas forças do fora, sem possibilidade de ser livre, visto que a liberdade se definiria como a efetuação de sua natureza, em oposição ao constrangimento. Segundo o autor “é livre todo ser que não é constrangido ao fazer a sua produção” e a liberdade ocorreria diante da não existência de constrangimento (ou vergonha) na vivência dos homens, seja entre eles, ou entre eles e as coisas do mundo, condição improvável diante das regras morais que permeiam as relações sociais e as imposições normatizantes. Conclui-se o aprisionamento inerente entre as paixões e a servidão e a conseqüente ausência de liberdade. Unindo tal idéia de liberdade às formas de composição dos sujeitos em seus processos de subjetivação, pode-se sugerir que na vida contemporânea, cabe às pessoas justamente negar a si e aos seus sentimentos, investir em paixões fulgazes (já que não se pode escapar delas), fugindo do constrangimento de ser diferente do modelo relacional imposto, nãoestésico, isento de laços constantes. O homem contemporâneo efetua sua servidão ao negar sua condição inerente de ser apaixonado. Retomando Foucault, no que diz respeito ao corpo, na genealogia das relações direcionadas às práticas e discursos sobre a sexualidade, a produção moderna de saberes sobre os sujeitos criou novas formas de olhar os corpos, na produção de um medo instaurado “sobre os corpos das crianças − através das famílias, mas sem que elas fossem a sua origem − Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 26 um controle, uma vigilância, uma objetivação da sexualidade com uma perseguição dos corpos”.(FOUCAULT, 1998, p. 146) Para o autor, a sexualidade, ao tornar−se um objeto de preocupação e de análise, alvo de vigilância e conseqüente controle, de forma paradoxal trouxe, ao mesmo tempo, “a intensificação dos desejos de cada um por seu próprio corpo... O corpo se tornou aquilo que está em jogo numa luta entre os filhos e os pais, entre a criança e as instâncias de controle. A revolta do corpo sexual é o contra−efeito desta ofensiva.” (Ibid., p. 147) Ou seja, ao investir um olhar de negativa aos corpos sexualizados, estes reagiram se sexualizando cada vez mais. E explica que, por meio de uma exploração econômica (e talvez ideológica) da erotização, potencializada por produtos fabricados para esse corpo que se revolta, maqueia-se a forma de controle−repressão, mediante um investimento de controle−estimulação: o corpo nu deve aparecer, mas para isso deve ser magro, bonito e bronzeado. Esse corpo aperfeiçoado e cada vez mais dotado de recortes do fora – indicativos de imperfeição e, ao mesmo tempo, de soluções práticas e rápidas para as falhas que se evidenciarem, torna-se cada vez mais objeto de consumo e cada vez mais fragilizado diante do outro, que pode identificar seus defeitos. Os investimentos em beleza se completam, em homens e mulheres, com práticas de exposição de sua sexualidade aflorada, permitida e fortalecida, seja em redes sociais ou nos locais criados para o lazer e os encontros, como “baladas” e academias. A antiga vergonha de mostrar o corpo transforma-se em regra, e o constrangimento agora surge no corpo que não conseguir ser uma vitrine perfeita pra vender prazer e, como todo objeto de consumo, não exercer sua função de uso. Corpo que, quanto mais usado, mais se afirma como eficiente e como parte do mundo socializado. Bauman (2004, p. 20) afirma que “a súbita abundância e a evidente disponibilidade das 'experiências amorosas' podem alimentar (e de fato alimentam) a convicção de que amar (apaixonar-se, instigar o amor) é uma habilidade que se pode adquirir, e que o domínio dessa habilidade aumenta com a prática e a assiduidade do exercício.” E acreditase que, dessa forma, a próxima experiência será melhor e mais excitante. Os corpos, diante dessa máxima, ficam vulneráveis e frágeis diante da relação presente, que poderia atrapalhar a futura, nesse “desaprendizado de amor”. As mensagens de não-envolvimento tomam conta dos discursos ('ninguém é de ninguém'; 'solteiro sim, sozinho nunca'...) e a sensualidade nunca foi tão veiculada e permitida, nas “pegações” e fugidinhas, repercutidas nas mensagens das redes sociais. Isso seria “um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera, com habilidade pra dizer mais sim do que não?” Reflexão necessária... Orlandi (2000, p. 4) aponta que “ao mesmo tempo em que ocorre no gênero humano a possibilidade de ilimitações nos mais variados domínios, nunca se viveu tão sistemático, cotidiano e envolvente sucateamento da humanidade.” O autor afirma que esse sucateamento, dito no singular, é uma multiplicidade, na qual velhos e novos sucateamentos se intensificam, visto que, se o homem da disciplina produzia energia de forma descontínua, o homem do controle funciona em órbita, é ondulatório, ondulando no “curto prazo” e na “rotação rápida” dos controles, num “controle contínuo e ilimitado”. E nesse labirinto onde os homens estão imersos, “dinheiro e desejo gozam de intrínseca cegueira quanto aos fins” (...) Os embates não encontram uma entrada boa para uma boa saída, “encontram, isto sim, tabelas superpostas de múltiplos deslocamentos, com múltiplas entradas e múltiplas saídas pontuais, pois há combinações as mais variadas entre esses incontroláveis” (Ibid., p. 15). Talvez, seja possível, então, nessas múltiplas combinações, se buscar outras formas de relação, potencializar novas possibilidades. Para Deleuze, os atravessamentos de força aos quais os homens estão sujeitos, nos encontros e agenciamentos, são Potências, com P maiúsculo, e abrem espaço para questionamentos e formas de resistência. O “capitalismo” é uma dessas Potências maiúsculas, assim como as “religiões, os Estados, a ciência, o direito, a opinião, a televisão” etc. São Potências capazes de impor determinados modos de se estar nos verbos da vida. O mim mesmo não dispõe do poder de se ausentar delas, talvez nem na loucura. É que cada uma dessas Potências, “não se contentando em ser exterior” a mim, a nós, “também passa através de cada um de nós”. É justamente essa passagem que, em determinadas circunstâncias, entreabre a ocasião de um combate na imanência, de uma “guerra de guerrilha”, que se intensifica nos questionamentos pontuais, nas erupções de estranhas alianças entre a “serenidade” e a “cólera”, isto é, entre, de um lado, as micro-potências inovadoras do pensar, essas que se agitam em certos entretempos da filosofia, das artes, das ciências e, de outro lado, linhas de fuga e de resistência que modulam agenciamentos do desejo como larvas de uma “cólera contra a época”, contra o “intolerável” e a favor da invenção de modos mais suaves de coexistência entre os entes. (DELEUZE, 1992, apud ORLANDI, 2000, pp. 17-18) Micro-potências que possam criar discursos de contra-informação, que não retomem os valores ultrapassados, o silenciamento dos desejos e o cobrir dos corpos, em nome de práticas religiosas ou mesmo da concretização de uma antiga moral travestida em novas roupagens, como os novos ataques às mulheres disseminados em páginas de facebook, que classificam as que merecem amor ou devem Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 27 ser respeitadas, de acordo com o modo como se vestem ou as músicas que ouvem e dançam. É urgente investir na criação de valores novos e não na recognição de valores estabelecidos. Para Deleuze (2006), de um ponto de vista Nietzschiano, tal distinção perderia todo sentido se interpretada nas perspectivas de um relativismo histórico: “os valores estabelecidos reconhecidos teriam sido valores novos em sua época; e os novos valores, por sua vez, seriam chamados a se tornarem valores estabelecidos.” Existe uma diferença de natureza entre “atribuir a si valores em curso” e “criar valores novos”. Diferença essa que aponta que os valores “novos” devem ser “precisamente as formas superiores de tudo o que é. (...) Há valores eternamente novos, eternamente intempestivos, sempre contemporâneos de sua criação e que, mesmo quando parecem reconhecidos, assimilados em aparência por uma sociedade, dirigem-se de fato a outras forças e solicitam nessa mesma sociedade potências anárquicas de outra natureza.” (p. 165) Esses valores novos, somente esses são trans-históricos e podem testemunhar a “desordem criadora irredutível a toda ordem. (...) Desse fundo supra-histórico, desse caos “intempestivo”, partem as grandes criações no limite do que é vivível.” (Ibid.) Como diz Ulpiano (1988), é preciso “ultrapassar os limites da natureza e transgredir os limites da consciência”. No âmbito das relações da atualidade, mesmo que, como fluidos que se movem facilmente, os encontros simplesmente fluam, escorram entre os dedos, transbordem como líquidos que penetram nos lugares, nas pessoas, apenas indo e vindo ao sabor das ondas do mar (BAUMAN, 2000), é importante esse ultrapasssamento. Ainda que conscientes que “hoje o tempo voa e escorre pelas mãos... vamos viver tudo que há pra viver... vamos nos permitir” em diferentes formas, em novos devires. Não só permitir-se a esse indiscriminado ir e vir, inevitável, em encontros superficiais consigo, com o outro e com a vida que se movimenta, como também se permitir criar. Tomar a si próprio como espaço-tempo, ocupar-se por intensidades capazes de fluir com prudência por linhas que possam fugir, resistir ao controle das Potências, não como “uma constatação psicológica e nem um programa moral”, mas como “sinalizadores ético-políticos” que ajudem a avaliar a participação em cada ocorrência e seu propósito, desvendar “o que estou ajudando a fazer de mim mesmo a cada instante em face da inovação que brilha num acontecimento, seja ele pequeno ou grande.” Investir não em um trajeto curto que se possa acomodar entre uma ética da intimidade e uma moral da objetividade, mas sim sinalizar possibilidades para “uma ético-política da singularização.” (ORLANDI, op. cit., p.18) Reorganizar a vida, em estratégias revolucionárias para, quem sabe, entoarmos outras canções que sugiram novas formas de relações, como nessa composição, mais antiga que os tempos modernos, na qual dois compositores atemporais já diziam que “qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar...” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2004. DELEUZE, Gilles. Foucault. São Paulo: Editora Brasiliense, 2005. DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In DELEUZE, Gilles. In L'Autre Jornal, nº 1, Maio de 1990. Republicado em Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226. DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. DELEUZE, Gilles. Conclusões sobre a vontade de potência e o eterno retorno. In DELEUZE, Gilles. A ilha deserta. São Paulo: Iluminuras, 2006. pp. 155-166. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. RODRIGUES, L. A. Nômades, bárbaros e guerreiros: os educadores e educadoras das ruas e das instituições para “menores”. Dissertação de Mestrado. São Carlos: UFSCar, 2001. ORLANDI, L. B. L. Que estamos ajudando a fazer de nós mesmos? Novembro de 2000 Disponível em: http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Texto s/orlandi/que_estamos_ajudando.pdf. Acesso em 02 Mar. 2012. ULPIANO, Cláudio. Pensamento e liberdade em Espinoza – outono de 1988. Aulas em vídeo. Disponível em: http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.co m/?page_id=567. Acesso em 20 Mai 2012. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 28 OS CONTEXTOS DE VULNERABILIDADE EM HOMEM QUE FAZ SEXO COM HOMENS (HSH) VIVENDO COM HIV. Prof. M.Sc. Roberto Garcia. Doutorando em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP, Programa de PósGraduação em Psicologia Clínica, do núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar . Drª Denise Gimenez Ramos. Prof.ª Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, do núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP. Os contextos de vulnerabilidade associados às Pessoas Vivendo com HIV (PVHIV) são motivos de intensa preocupação. Apesar de termos um modelo de referencia mundial de HIV/aids, temos ainda muitos desafios relativos à prevenção, cuidados e redução de vulnerabilidade. Vulnerabilidade é risco. Dentro do processo de interpretação saúde-doença, o risco é um indicador de probabilidade e a vulnerabilidade é um indicador de iniquidade e desigualdade social.1Este conceito surge de um intenso debate social, resultante da acentuada experiência que foi a eclosão da epidemia de aids2e,nos mostrou muito claramente, pela urgência e pelo caráter de seus determinantes, as limitações dos saberes tradicionais da saúde pública isolados e a necessidade desses saberes mediadores; pois este atua sobre os diferentes graus e naturezas de suscetibilidade de indivíduos e coletividades à infecção, adoecimento e morte pelo HIV, segundo particularidades formadas pelo conjunto dos aspectos sociais, programáticos e individuais que os põem em relação com o problema e com os recursos para seu enfrentamento2. Atualmente considerado metodologia de análise dentro do contexto do HIV/aids, este conceito, totaliza e amplia nosso entendimento3. Com o surgimento da aids por volta dos anos de 1980, uma série de questões emergiram com relação ao comportamento, sexualidade e privacidade dos indivíduos. Historicamente, esta epidemia ocorreu no Brasil pós-ditadura. Neste princípio de democracia, iniciávamos o processo deconquista de direitos e cidadania4. Neste processo em que o Brasil se encontrava, associado ao sensacionalismo da mídia, aaids foi anunciada como a “Peste-Gay, o “Cancer-Gay”5, criando uma das principais representações sociais: a aids como doença dos homossexuais. Esta representação de que a homossexualidade “pega” tornou-se quase “real”: pegar aids significaria ter tido contato com um desvio6. Observamos, portanto, que estaconfluência de estigmas –o da homossexualidade associada ao da aids expõee coloca em perigo os HSH, vítimas de uma cultura machista e homofóbica. No Brasil a cada dia e meio, um homossexual é assassinado com requintes de crueldade, vítima de homofobia7- os conhecidos crimes de ódio - caracterizados pela extrema violência, e pelos diversos modos de tortura8. Os efeitos psicológicos gravíssimos provocados, tanto no indivíduo como na sociedade9, faz com que o indivíduo discriminado associe sua vulnerabilidade a características pessoais, culturais e sexuais, comprometendo ainda mais a sua autoestima10. Hoje, passados mais de 30 anos da epidemia, pouca coisa mudou com relação ao estigma e discriminação às PVHIV, fazendo com que vivamos a chamada“epidemia das relações sociais”, ou seja, a negação, a culpabilização, o estigma, o preconceito e a discriminação11.As atitudes de preconceito e discriminação configuram uma epidemia tão fatal quanto a infecção pelo HIV/aids, e as condições de vulnerabilidade social e individual daí recorrentes, têm consequências no curso da epidemia12. Assim, ao investigarmos neste estudooscontextos de vulnerabilidade dos HSH vivendo com HIV, observamos que a percepção ao risco ao qual o HSH vivendo com HIV está sujeito foiidentificada pelo fato de: não usar camisinha, por ser homossexual, pelo uso de drogas, pelo preconceito; por não fazer adequadamente o tratamento; por adquirir outras infecções e infectar outras pessoas, pela perdado trabalho; por não ter mais prazer; por ser agredido; pela falta de informação; por não ter plano de saúde, e pelo isolamento afetivo. Observamos na percepção do contexto de vulnerabilidade dos HSH vivendo com HIV, índices elevados de estigma e da discriminação permanecendo quase que inalterada se compararmos ao início da epidemia, sendo este, portanto, o principal desafio a vencer no combate à aids. Somente por meio de uma “revolução culturalcoletiva” 13 , apoio e solidariedade 14 conseguiremos vencer estes aspectos lesivos dos contextos de vulnerabilidade nesta epidemia, que culpabilizam e prejudicam drasticamente a autoestima dos HSH vivendo com HIV. Método Este trabalho é parte de uma dissertação de mestrado em Psicologia Clínica da PUC/SP, cujo objetivo foi o de investigar os contextos de Vulnerabilidade em Homem que faz sexo com H o m e n s ( H S H ) v i v e n d o c o m H I V. A fundamentação teórica que balizou este estudo foi a Teoria das Representações Sociais, que pode ser definida como uma forma de conhecimento do "senso comum", e que está diretamente relacionada à maneira como as Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 29 pessoas interpretam ou traduzem os conhecimentos socialmente veiculados15. O método utilizado, essencialmente qualiquantitativo16, teve como base o Discurso do Sujeito Coletivo, uma técnica de construção do pensamento coletivo que visa revelar como as pessoas pensam, atribuem sentidos e manifestam posicionamentos sobre determinado assunto. O corpus da pesquisa reuniu 33 participantes, com os seguintes critérios de inclusão: pertencerem ao sexo masculino, serem alfabetizados, estarem dentro da faixa etária de 20 a 60 anos, com orientação sexual HSH (homem que faz sexo com homens) e HSHM (homem que faz sexo com homens e com mulheres) e que estivessem vivendo com HIV. Como procedimento inicial, o autor reuniu-se com a direção e a equipe da instituição, que lhe encaminharam os pacientes de acordo com os critérios de inclusão. Os instrumentos utilizados nas entrevistas foram dois questionários: o primeiro, sociodemográfico17, e o segundo composto por questões abertas. Finalmente, após ciência e assinatura dos termos de consentimento pelos participantes, todo material coletado foi submetido à análise. Caracterização da amostra Esta amostra compõe-se de 33 indivíduos, com as seguintes características: (a) faixa etária entre 20 e 60 anos, sendo 4 de 20 a 30 anos, 9 de 31 a 40 anos, 8 de 41 a 50 anos e 12 de 51 a 60 anos; (b) etnia: 17 branca, 14 parda e 2 negra; (c) estado civil: 14 solteiros, 3 divorciados, 8 casados, e 8 com união estável; (d) classe social: 3 A, 3 B, 15 C, 5 D e 7 E; (e) escolaridade: 4 com ensino fundamental I; 7 com ensino fundamental II; 13 com ensino médio e 8 com nível superior; (f) orientação sexual: 21 HSH e 12 HSHM; (g) histórico de infecção: 24 indivíduos infectados após a cronificação da doença, e 9 infectados antes da cronificação. Considerações Finais Este trabalho nos dá um diagnóstico do alto índice de estigma e discriminação, com conteúdos de violência física e emocional gravíssimos. É alarmante observarmos que a aids seja ainda percebida como doença de homossexuais, relacionada à perversão e promiscuidade. É também mobilizador termos nos deparado, nesta investigação, com indivíduos relatando situações de humilhação, de degradação e desrespeito; vê-los se percebendo marginalizados, desacreditados, despotencializados, condenados à guetificação; enfim, tão vulneráveis, isolados e excluídos. Para refletirmos sobre os contextos de vulnerabilidade dos HSH vivendo com HIV, é vital considerarmos as complexidades desta epidemia na sua história, vencermos nossas limitações relativas ao conhecimento da sexualidade, para então adentrarmos com maior profundidade nos contextos social, afetivo e sexual destes indivíduos; e tentarmos construir um modelo mais integrativo e humano que esteja cada vez mais próximo da realidade dos indivíduos e das complexidades que se apresentam de forma dinâmica e constante. Referencias Bibliográficas AYRES, J.R.C.M. Vulnerabilidade e AIDS: para uma resposta social à epidemia. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo/Programa de DST/AIDS. Boletim Epidemiológico, v.15 (3), p.2-4, 1997. AYRES, J.R.C.M.; FRANÇA JR. I; CALAZANS, G.J.; SALETTI FILHO, H.C. Vulnerabilidade e prevenção em tempos de Aids. In: BARBOSA, R.M.; PARKER. R. (Orgs.). Sexualidades pelo avesso: direitos, identidades e poder. São Paulo: Editora 34-IMS-UERJ, 1999. p. 49-72. KAHHALE, E. P.; CHRISTOVAM, C.; ESPER, E.; SALLA, M.; ANÉAS, T. HIV-AIDS: enfrentando um sofrimento psíquico. Coleção Construindo o Compromisso Social da Psicologia, Coordenação de Ana Mercês Bahia Bock. São Paulo: Cortez, 2010. PARKER, R.; DANIEL, H. Aids: a Terceira Epidemia – ensaios e tentativas. São Paulo: Ed. Iglu, 1991. NUNAN, A. Homossexualidade: do preconceito aos padrões de consumo. Rio de Janeiro: Ed. Caravansarai, 2003. TREVISAN, J. S. Devassos no Paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. Rio de Janeiro: Record, 1986. A cada um dia e meio, 1 homossexual é morto, mostra relatório. <http://www.istoe.com.br/reportagens/131629_A +CADA+UM+DIA+E+MEIO+1+HOMOSSEXUAL +E+MORTO+MOSTRA+RELATORIO>. Acesso em: 18 set. 2011. MOTT, L. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil, 1999. Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2000. NUNAN, A. op. cit. D'AUGELLI, A.R. Developmental Implications of Victimization of Lesbian, Gay and Bisexual Youths. In: HEREK, G.M. (Ed.) Stigma and Sexual Orientation: undertaking prejudice between lesbian, gay men and bisexuals. California: SagePublications, 1998, p.187-210. MANN, J.; TARANTOLA, D.J.N.; NETTER, T.W. (Orgs.). A AIDS no mundo. Rio de Janeiro:Relume-Dumará: ABIA: IMS, UERJ,1992. MANN J. D.; TARANTOLA, D.Responding to HIV/AIDS: a historical perspective. Health and Human Rights. v.2, n. 4, p.5-8. Boston: Harvard School of Public Health, 1998. PAIVA, V. Fazendo sexo com camisinha. São Paulo: Summus, 2000. PARKER, R. Na contramão da Aids: Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 30 sexualidade, intervenção, política. Rio de Janeiro: ABIA; São Paulo: Ed. 34, 2000. CARDOSO, G.P.; ARRUDA, A. As representações sociais da soropositividade e sua relação com a observância terapêutica. Ciênc. Saúde Coletiva, v.10, n.1. Rio de Janeiro, jan-mar. 2005. <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141381232005000100022&script= sci_arttext>. Acesso em: 21 jun. 2010. LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A.M.C. Pesquisa de representação social: um enfoque qualiquantitativo: a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo – Brasília: Líber Livro Editora, 2010. Classificação socioeconômica - critério ABIPEME. <www.ufrn.br/sites/fonaprace/ perfil_anexo3.doc> Acesso em: 17 set. 2011. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 31 ACADEMIAS DE GINÁSTICA E PSICOLOGIA DO ESPORTE: COMO FIDELIZAR OS CLIENTES COM TREINOS DIVERTIDOS E EFICIENTES? Prof. M. Sc. André Aroni Instituto Corpo Ativo – Campinas/SP U.L.H.T – Lisboa/Portugal A prática de atividades físicas em academias de ginástica tem ganhado cada vez mais adeptos, este fato tem levado muitas empresas a investirem maciçamente neste tipo de negócio, contudo, a alta rotatividade de alunos apresenta-se como uma das principais ameaças para estas empresas, Albuquerque e Alves (2007) verificaram uma evasão de 70% entre os praticantes de exercícios em academias de ginástica. Mas quais são os motivos para se iniciar uma prática física? E quais dificuldades estes praticantes enfrentam? Aroni, Zanetti e Machado (2012) verificaram os motivos e dificuldades para a prática de atividades físicas no interior do estado de São Paulo, saúde (36,6%) e estética (22,8%) foram os motivos mais apresentados pelos participantes, falta de tempo (33,8%) e preguiça (25,4%) foram descritas como as principais dificuldades para continuar com os treinos. Tais resultados demonstram uma mudança de valores dentro das academias nos últimos anos, aspectos como a aquisição de um estilo de vida mais saudável e com maior qualidade de vida vêm ganhando espaço, antes ocupado abundantemente por fatores estéticos e de culto ao corpo. Esta inversão de valores e as dificuldades da vida moderna nos levam a refletir sobre nossos programas de treino, afinal, para onde devemos direcionar o nosso olhar, para a Fisiologia do exercício? Métodos de treinamento físico? Oser humano? A Psicologia pode nos ajudar a encontrar novas soluções, aumentando a adesão em nossos programas.Para fidelizar os clientes é necessário identificar o mais precoce possível seus objetivos e dificuldades na realização de atividades físicas, e assim sugerir uma rotina de treino viável e divertida. Referências ALBUQUERQUE, C. L. F. A.; ALVES, R. S. A evasão dos alunos das academias: Um estudo de caso no centro integrado de estética e atividade física – CIEAF, na cidade de Caicó – RN. Dominium Revista Científica da Faculdade de Natal, Natal, v. 1, p. 1-33, jan./abr. 2007. ISSN 1678-7889. Disponível em: http://webserver.falnatal.com.br/revista_nova/a5 _v1/artigo_4.pdf. Acesso em: 01 mar. 2012. ARONI, A.; ZANETTI, M. C.; MACHADO, A. A. Motivos e dificuldades para a prática de atividade física em academias de ginástica.Coleção Pesquisa em Educação Física, v.11, n. 4, p. 143-150, 2012. WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício (2ªEdição). Porto Alegre: Artmed Editora, 1999. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 32 QUAL PSICOLOGIA DO ESPORTE PARA QUAIS JOGOS OLÍMPICOS? ANÁLISE DO CONTEXTO ATUAL Afonso Antonio Machado D.E.F.- I.B.- LEPESPE- UNESP/ Campus de Rio Claro RESUMO: A esportivização e a quebra de recordes e limites têm sido consideradas como fator específico e usual em confrontos esportivos do tipo dos Jogos Olímpicos. No entanto, estes avanços têm mostrado um forte aprimoramento nos treinamentos esportivos, do ponto de vista técnico e tático, mas o treinamento psicológico se revela fraco ou inexistente. Em 2012, Londres, tivemos exemplos claros e evidentes de uma pequena ou frágil preparação psicológica dos atletas brasileiros que rumaram para seus confrontos com muitas sequelas psicológicas para serem resolvidas, o que resultou nesta pesquisa documental, onde elementos históricos e legais foram retomados e ofereceram suporte para análise. Enquanto a Psicologia do Esporte for uma medida paliativa ou substitutiva nossos atletas serão descartados diante de cada prova de resistência psicológica. ABSTRACT: The sportivization and record breaking and limits have been considered as a specific factor in confrontations and usual sports like the Olympic Games. However, these advances have shown a strong improvement in athletic training, from the standpoint of technical and tactical, but the psychological training proves weak or nonexistent. In 2012, London, had clear and obvious examples of a small or fragile psychological preparation of Brazilians athletes; they headed for his confrontations with many psychological sequelae to be resolved, which resulted in this documentary research, historical and legal elements which were taken up and offered support for analysis. While the Sport Psychology is a palliative measure or substitute our athletes will be discarded before each test psychological resistance. Introdução Com a popularização de diversos esportes e a divulgação do esporte espetáculo, os grandes eventos esportivos tais como os Campeonatos Mundiais de cada modalidade e os Jogos Olímpicos conseguem chegar ao patamar de show multimidiático, tendo aumentado cada vez mais o interesse de clubes, atletas e países pela aquisição da mais alta forma esportiva, visando à obtenção de títulos e o reconhecimento do público, amplamente divulgados pelas mídias em questão. Se por um lado temos a busca por novos recordes, estrelato, patrocínios vultuosos, fama, por outro, temos métodos de treinamento cada vez mais fortes e desgastantes, tanto física, quanto técnica-taticamente, e alguns esboços de uma boa preparação psicológica, de modo a garantir que os atletas sejam postos a prova e levados a condições extremas de participação, ultrapassando seus limiares de dor, de distanciamento social, de percepções contextuais e/ou de alienações, colocando-se habitualmente prontos para sua prova ou sua modalidade, de maneira supostamente ideal e rigorosamente treinada (WEINBERG & GOULD, 2001). A preocupação sempre está voltada para o preparo atlético, mas vale lembrar que esta locução está amparando apenas o fator físico e fisiológico uma vez que os treinamentos visam os condicionamentos de: resistências, forças, flexibilidade, potências, capacidades aeróbia e anaeróbia, entre outros fatores; além disto, são checados os elementos básicos e complementares das modalidades, os exercícios mais complexos e os sistemas táticos mais refinados, com participação em campeonatos internacionais, estágios fora do país, grandes investimentos financeiros e troca de experiências com atletas do primeiro escalão de atuação. A situação beira ao grotesco quando é noticiado que determinado atleta, sustentado pelo dinheiro da população brasileira, se nega a participar deste ou daquele evento, em função de estar numa entressafra ou num período de transição, junto a sua equipe do “exterior”. Mais do que isso, estranho demais é juntar 10 ou 15 ou 20 atletas para um evento, sem uma previa proposta de reconhecimento do período de treinamento em que cada um está ou sem saber das necessidades de cada um, que extrapolam as necessidades técnicas, táticas e fisiológicas. Estes serão os argumentos que adotaremos a partir de então, com mais rigor e precisão. Obvio deve ser a necessidade de um bom condicionamento físico e das adequações individuais e coletivas, quando for o caso, das características técnicas e táticas, sempre niveladas ao que de melhor e mais atual existe, tanto quanto a preocupação de superar os adversários diante de propostas arrojadas e rebuscadas que cada elenco esportivo apresenta, porém quando pensamos apenas no aspecto fisiológico, os testes são demorados e nem sempre acontecem os re-testes, que comprovam evolução ou estagnação do rendimento fisiológico. Do ponto de vista técnico e tático, estas intervenções recebem olhares que variados: jogar como a equipe americana, nadar como os australianos, remar como os ingleses... Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 33 e parece que tais denominações atraem mais do que garantir uma tipologia nacional e específica. Este raciocínio avança, quando percebemos que somos adaptáveis a qualquer estilo, desde que humanamente valorizados, contextualizados e naturalmente guerreiros. O rendimento atlético é a somatória de todos os elos do treinamento esportivo, que busca um equilíbrio entre as partes, de modo a garantir um desempenho integral e harmonioso. Talvez o que temos percebido, em termos de preparação para os grandes eventos não esteja enquadrado nessa configuração, criando dúvidas em relação à sua aplicação ou até a própria existência de uma preparação psicológica adequada ou eficaz. Isso nos remete a oferecer um mapeamento, anterior ao estudo documental, para garantir um estofo teórico consistente e de real aplicabilidade (GONÇALVES, 1993). A torcida no esporte Este público que lota estádios e campos, arquibancadas e laterais de pistas de atletismos e tatames respondem a algumas indagações e alguns preceitos teóricos, de modo a exercer sua pressão, positiva ou negativa, naqueles que são foco de sua ação. Cada um deles tem seu objetivo e sua conduta, de modo não-linear: ele nunca agem de maneira previsível e nem sempre atuam ao mesmo tempo, em função de suas peculiaridades. Desta maneira, Machado (2006) aponta os consumidores primários (que ficam profundamente envolvidos com o esporte e assistem pessoalmente aos eventos), os consumidores secundários ( espectadores através da televisão ou radio, mas não freqüentam pessoalmente aos eventos esportivos) e os consumidores terciários ( pessoas que, de vez em quando, interessam-se pelo esporte, não como espectadores ou através de meios de comunicação. São indivíduos que discutem esportes com outros e lêem as paginas esportivas dos jornais). Por outro lado, em outra leitura do contexto, estudos de Samulski (1998a), sobre as teorias que se referem ao impacto do esporte nos espectadores, indicam a existência de cinco modelos principais que explicam a atração das pessoas pelos campeonatos esportivos apresentados aqui de maneira sintética: numa categoria denominada de divertimento (que se baseia geralmente na parte artística da maioria dos esportes, ressaltando os valores morais daquele esporte, com fins puramente recreativos), numa categoria que pensa no bem estar físico e mental (quando alguns são atraídos para o esporte porque ele pode rejuvenescer e energizar seus corpos e sentem o bem estar mental através da apreciação do esporte, unicamente). Numa perspectiva clássica, vem a categoria denominada de catarse através da agressão (ai vemos a torcida manifestar sua agressividade de maneira substitutiva, através da apreciação de campeonatos esportivos violentos. Contrariamente, sugere que a agressividade do espectador geralmente aumenta depois da observação de atos agressivos. A seguir temos a categoria busca de tensão (em que o fato específico de perder ou ganhar fará pouca diferença para o torcedor em busca de tensão: sua estimulação está baseada na incerteza e no risco que antecedem final do espetáculo) Então, para Samulski, a ultima categoria listada é a busca de êxito, em que o torcedor que está implicado no esporte por razões relativas ao êxito, apresentará mudanças de humor, dependendo do sucesso ou fracasso do time ou do jogador com que se identifica. A atuação do atleta não deixa de sofrer influência de alguma assistência: em toda circunstância ele terá a vigilância de colegas de equipes, técnico, amigos, família e torcedores ocultos. Diante deste quadro multivariado podemos afirmar que inúmeras situações ocorrem dentro e fora da partida, originando estímulos que serão lançados a todo o momento, no ambiente; técnicos, a mídia, os pais e amigos e o publico, em geral que compõe o ambiente, todos eles de forma instável reagem aos acontecimentos do espetáculo. A estes todos vamos chamar de torcida, que apresentam comportamentos variáveis devido aos aspectos pessoais e se seus contextos. O tipo da torcida e sua atuação diante de atletas ou equipes são fatores que interferem direta ou indiretamente em atletas, com uma variabilidade que vai da família do jogador até a torcida organizada, do telespectador no campo ou ginásio ou da televisão ou rádio, da imprensa escrita ao técnico, além dos próprios companheiros de equipe, entre outros elementos. Tais fatores incidem fortemente, facilitando ou comprometendo o rendimento esportivo, o que passa a ser motivo de estudo, para os profissionais do esporte moderno (MACHADO, 1998). Ao tratarmos do comportamento do torcedor diante a disputa esportiva, temos que lembrar dos motivos que levam ou levaram o espectador ao estádio ou ginásio, as atividades exercidas em seu cotidiano, a frequência deste em eventos esportivos, seu nível sócioeconômico-cultural, entre outros aspectos, visto que este espectador também tem um histórico na vida daquela equipe, alterando para melhor ou pior, o resultado da competição. A fanfarronice ou a agressão da torcida depende, em muito, da classe socioeconômica em que ela se encontra, sendo que os problemas diários influenciam as atitudes daquele grupo no momento do espetáculo, tornando um fator muito importante no que se diz respeito a atitudes dela em relação aos acontecimentos em quadra. O torcedor tem um poder tão forte que pode alterar situações políticas de clubes, equipes e atletas, conforme vemos em noticiários Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 34 gerais. Existe uma força externa mobilizadora. Machado (2006) diz que, em determinadas circunstancias o poder que a torcida exerce ultrapassa as esferas do campo de jogo, interferindo na relação do atleta com o clube ou, ainda, com o treinador. Fica claro, e é relevante em nosso estudo, a questão da personalidade do atleta, que se deixa ou não influenciar pelo público, que por sua vez também pode influenciar as atitudes dos mesmos, a relação atleta-torcedor é uma relação mútua, há uma troca de estímulos ocorrendo ao mesmo tempo durante o momento esportivo. Sendo assim, num clima tenso e agitado, o iniciante ou até mesmo o atleta experiente será dominado pelo poder que o grupo externo exerce contra ele, tendo suas jogadas e atuações sondadas e pelos torcedores, que, de certa maneira, controlam toda a sua vida. Acontece de, no momento da competição, alguns atletas relatarem que a torcida não interfere na sua atuação, o que difere de outros tantos que acreditam que a torcida pode influenciar no seu rendimento. Emoções, emoções e emoções... A autoconfiança e a auto eficácia são duas características psicológicas que, quando fortalecidas, atuam positivamente no resultando atlético. A autoconfiança é uma característica mais global e estável do indivíduo. Weinberg e Gould (2001) a definem como a crença que o atleta tem nele mesmo de que pode executar com sucesso um determinado comportamento desejado. Por outro lado, Bandura (1990) também afirma que a autoconfiança se refere ao grau de firmeza e convicção numa determina crença, mas sem especificar a situação. Machado (2006) caracteriza a autoconfiança como uma alta expectativa de sucesso, e descreve que a mesma, quando apresentada em um nível ideal, pode despertar emoções positivas, como favorecer a concentração, facilitar o estabelecimento de metas, aumentar o esforço destinado à determinada tarefa e fortalecer a focalização de estratégias. Quando este estado emocional é pouco manifestado em atletas, os mesmos podem prender-se mais em suas deficiências do que em seus pontos fortes e qualidades. Isso pode fazer com estes deixem de se concentrar na tarefa a ser realizada e ainda causar insegurança, afetando o desempenho (WEINBERG e GOULD, 2001). Pensando na auto eficácia, Bandura (1995) descreve que a mesma atua como indicador da ação futura, sendo uma auto avaliação, as crenças e os julgamentos que o indivíduo faz acerca de suas capacidades para executar ações em determinados momentos específicos do esporte, funcionando como um fator determinante do modo como as pessoas agem e se comportam, dos seus padrões e organizações de pensamentos e das reações emocionais que experimentam em situações de realização destas ações. Utilizando um dialeto mais simplificado, a auto eficácia consiste no grau de convicção que uma pessoa tem de que pode executar com êxito um determinado tipo de comportamento necessário para se alcançar um resultado. São as crenças e os próprios pensamentos que o sujeito possui de suas capacidades individuais para realizar uma ou um conjunto de tarefas (BANDURA, 1993). Fazendo uma breve diferenciação entre os termos discutidos acima, relacionando-os com o tempo, esses autores acima mencionados afirmam que a autoconfiança é a característica mais global e estável do indivíduo. Já a auto eficácia é mais específica a determinado tempo, ambiente e situação, podendo oscilar muito. Mas ambas as características são de extrema importância e funcionam, quando compreendidas e avaliadas, determinantes para se predizer o desempenho dos atletas pensandose em performance competitiva. A perspectiva de um bom trabalho psicológico leva a entender que não se trata de um investimento em um determinado filão emocional ou um treinamento específico para este ou aquele detalhe: falamos da integridade da natureza humana, com sua unicidade diante de uma espetacularização a ser atingida. No inicio de nosso trabalho dissemos que, durante o espetáculo esportivo, são muitas as variáveis que interferem no desempenho do atleta: a atenção e concentração, a motivação e outras emoções como a ansiedade, medo e agressividade, que necessitam ser atendidas e trabalhadas, no decorrer dos ensinamentos. Hoje sabemos que atenção e concentração são relevantes para o desempenho do atleta e que muitas técnicas utilizadas para melhorar o rendimento esportivo, como relaxamento e visualização, interferem na atenção, já sendo objeto de aplicação em aulas de educação física. É importante saber que a concentração pode ser aprimorada por meio de técnicas de concentração, visualização e relaxamento. São técnicas utilizadas periodicamente, durante o período de ensinamentos e antes de uma verificação de resultado ou confronto, conforme Nitsch (1996). O treinamento mental (seja ele de concentração, visualização ou relaxamento) é de suma importância para o âmbito da atenção e concentração, durante uma partida o atleta é atingido por inúmeros estímulos, sejam eles do próprio jogo, ou no caso o que estamos estudando vindos da torcida, e seu controle se faz necessário. Para Samulski (2002) durante uma competição, o atleta tem de ter a habilidade de deslocar-se entre diferentes categorias, de controle de estímulos, ou seja, o atleta tem de ter a habilidade de deslocar sua atenção de um tipo Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 35 de estimulo para outro. Para facilitar nosso entendimento, recorremos a Nitsch (1996) que resume algumas das características da atenção: é seriada, mudando de uma fonte para outra ao longo do tempo; é limitada em capacidade; requer esforço e está relacionada com a excitação e limita a capacidade de fazer certas partes da tarefa ao mesmo tempo. Um fator de grande mobilização no treinamento psicológico e, por meio de um olhar singular sobre os aspectos da atenção e concentração e suas implicações no atleta de alto nível, podemos afirmar sobre sua importância e a sua relação com a torcida, pois o atleta tem seu rendimento limitado no que diz respeito à ação motora e a processos psicológicos, quando sua atenção é desviada dos estímulos do jogo para os estímulos da torcida. E isso ocorre quando os atos da torcida se tornam relevantes para o atleta: aquilo que a torcida gritou o atingiu diretamente, nesse caso com valores positivos ou negativos. Os psicólogos do esporte e do exercício consideram motivação a partir de diversos pontos de vista específicos: a motivação para a realização, motivação na forma de estresse competitivo e motivações intrínseca e extrínseca (WEINBERG & GOULD, 2001). O nível de excitação e a ativação possuem uma propriedade de mobilização geral do organismo e corresponde a uma das características da motivação, o que leva o professor de educação física, a saber, trabalhar com tais concepções. O seu emprego adequado e a sistematização facilitarão o bom desempenho e o sucesso esportivo. Por isso podemos afirmar que os conceitos e características da motivação dão mostras de como a torcida pode ser fundamental neste processo: os técnicos tentando motivar seus jogadores e a torcida em geral tentando excitar aos mesmos, cada um a sua maneira e tempo. Todos têm um papel participativo positivo, no processo de interferência, sendo de grande valia para o rendimento do atleta e para o momento esportivo. Lembrando das diferenças de cada motivo específico. Retomando, então, a motivação tem um papel fundamental no rendimento do atleta de alto nível, apesar de sabemos que existem vários conceitos e teorias que a enquadram, mas não é o mote deste trabalho estabelecer comparações entre tais teorias. Vale ressaltar que a motivação para o esporte revela inúmeras facetas que envolvem toda a preparação física e psicológica de atletas, treinadores e/ou educadores físicos (BANDURA, 1995), podendo ser definida, simplesmente, como a direção e a intensidade de nossos esforços, nossa meta. Do ponto de vista estrutural da Natureza Humana, outro estado emocional que merece destaque e que tem tomado momentos de muita reflexão dos estudiosos da área diz respeito ao medo. Ele é considerado como inerente a todos os seres humanos, e um grupo de pesquisadores afirma que tal percepção é herdada geneticamente, e outros afirmam que o mesmo é fruto de um aprendizado social. Machado (2006) entende que o medo é considerado um sentimento de tensão, nervosismo ou opressão, e é responsável por provocar nos indivíduos um estado de alerta frente algum perigo ou ameaça. É importante saber que este estado de alerta pode ser provocado por um estímulo real ou imaginário (através de pensamentos ameaçadores), e ambos são acompanhados de respostas fisiológicas como alterações nas freqüências cardíacas e respiratórias, aumento na pressão sangüínea, sudorese e excessiva ou nenhuma salivação. Podemos pensar também em alterações em nível motor, como contrações musculares desnecessárias e falta de coordenação motora (MACHADO, 2006). Quando pensamos no esporte, o medo é capaz de interferir negativamente na performance dos indivíduos devido à desorganização psíquica que é capaz de provocar nos mesmos. Machado (2006) nos apresenta seis distinções de medo que podem ocorrer com freqüência no âmbito do esporte, que não apresentaremos pela direção do estudo. O medo do fracasso, uma das situações mais terríveis para os atletas, pode ter inúmeras fontes responsáveis por sua origem, como a pressão dos pais e técnicos perante a vitória, influência da torcida e da mídia sobre o desempenho do atleta, preocupação excessiva em decepcionar os companheiros de equipe, entre outras. Em um estudo realizado com jogadores de futebol profissional, Roffé (1999) investigou trinta diferentes possibilidades de situações nas quais poderiam despertar o sentimento de medo nestes atletas. Nas suas análises, estiveram no topo da lista o medo de se lesionar, o medo de fracassar e o medo de errar. Pensando na prontidão competitiva, isto é, no quanto o atleta está preparado para a competição, fica claro que deve haver uma harmonia dos estados fisiológicos e psicológicos, temos algumas evidencias de que as reações dos atletas com relação ao medo levam os mesmos a tomarem algumas atitudes que podem ficar claras nos treinamentos dos mesmos. Machado (2006) cita alguns sinais que podem retratar estes momentos, como ausências e atrasos corriqueiros nos treinos, excesso de tempo gasto nos aquecimentos, incapacidade de focalização da atenção, excesso de fadiga sem causa lógica, indícios de depressão, facilidades em adoecer e queixas constantes de dores interrompendo a seqüência dos treinos, mas que desaparecem quando o atleta não está em treinamento e demonstra-se apto a praticar outras atividades, como “bater uma bolinha” nos finais de semana. Estresse: bom ou mau, sempre o estresse Não conseguimos falar na prontidão Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 36 competitiva sem falar no estresse, definido por grande parte dos autores da área da psicologia do esporte (SAMULSKI, 2002; McGRATH, 1981; NITSCH, 1976) como um estado de desestabilização psicofísica, fruto da interação do indivíduo com o ambiente. Eles afirmam que o estresse está presente na vida de qualquer ser humano e é importante para a manutenção e aperfeiçoamento da capacidade funcional e de autoproteção. Tomando como referência o próprio indivíduo (meio interno), é sabido que sob as mesmas condições diferentes pessoas podem reagir de diversas formas, ou ainda em condições distintas elas podem apresentar uma mesma resposta ou ter o mesmo comportamento. Isto é explicado pelo autor devido ao processo de avaliação subjetiva pertencente a cada indivíduo. O estresse merece uma significativa atenção porque influencia diretamente a prontidão competitiva. Por ser o ambiente esportivo um local de constante troca de interação entre o atleta e o meio (considerado como o meio físico – local do jogo, equipamentos, materiais – e outras pessoas – companheiros de equipe, adversários, técnicos, torcida, árbitros, família, entre outros), todas essas situações podem ser encaradas como desafiadores ou ameaçadoras pelo esportista, podendo ser ou não fontes geradoras de estresse, e isso dependerá, de acordo com Smith (1986): da situação (tida como essa própria interação do meio e o indivíduo, o quanto ela pode ser ameaçadora ou não; CHAGAS, 1995); da avaliação cognitiva (processo de avaliação ou interpretação da situação pelo sujeito, que dependerá das próprias características pessoais dele, como nível de expectativa, auto-conceito, e nível de habilidade e experiência) e das respostas (resultante da avaliação cognitiva da situação na qual o atleta se depara. Essas respostas poderão ser fisiológicas, motoras ou psicológicas). Diante da complexidade da situação e, movidos pela leitura multifatorial que compõe o esporte espetáculo, estudos avançam e norteiam o cenário esportivo; assim, De Rose Jr. e colaboradores (2004) afirmam que outros estudos importantes sobre as situações causadoras de estresse no esporte competitivo, e que, acreditamos nós, afetam a prontidão competitiva podem ser referencias para novos olhares, citando Brandão (2000), De Rose Jr, (1999), James e Collins (1997), Gould, Jackson e Finch (1993), sendo que em todos eles as situações geradoras de estresse variam, independentemente da modalidade esportiva. Tal perspectiva nos leva a assumir novos olhares para a má preparação física, necessidade de manter o padrão de desempenho, longos períodos de preparação e rotina de treinamento, falta de estrutura para o treinamento problemas de alimentação, viagens longas, más condições dos locais de competição, erros durante jogos, intervenções dos técnicos, discussões com companheiros de equipe, arbitragem, dormir mal, problemas em relacionamentos amorosos, problemas familiares, falta de recompensas, falta de tempo para lidar com situações cotidianas e pressão da imprensa, entre outros, que podem ser geradores de estresse, no grupo esportivo em atuação. Perspectivas metodológicas A ideia de traçarmos nosso estudo em uma pesquisa documental veio do fato de estarmos em posse de muitos documentos editoriais, de jornais renomados (Folha de São Paulo e Estado de São Paulo) e de revistas semanais que, para além do espetáculo, impulsionam a curiosidade do leitor, como é o caso das revistas ÉPOCA, ISTOÉ e VEJA, em suas edições anteriores à abertura olímpica, passeando pelo evento espetacular as temporada, durante e pós-momento olímpico. Desta forma, tais documentos encontraram eco nas memoráveis frases de nossos repórteres televisivos, que em alguns momentos pareciam narrar alguma coisa diferente daquela que o vídeo sinalizava, tal a incongruência das palavras com as imagens: este vão no sincronismo espelha o desconhecimento ou o despreparo dos profissionais da mídia esportiva, facção que mais manipula as emoções do público, uma vez que temos, na televisão os recursos de imagens, o som e as palavras emitidas pelos atletas, pelos técnicos, pelos familiares, pela torcida e pelos próprios profissionais da mídia, nem sempre convergindo para uma motivação que alavancasse cada uma das modalidades em luta pelas medalhas. De alguma forma, a televisão substitui a função familiar, e seu núcleo mais clássico: os pais. Ocupa um lugar de destaque dentro do lar, tornando-se um ponto de referência obrigatório na organização da vida familiar. Está sempre à disposição, oferecendo a sua companhia a qualquer hora do dia ou da noite. Alimenta o imaginário infantil com todo tipo de fantasias e contos. É um refúgio nos momentos de frustração, de tristeza ou de angústia e nunca exige nada em troca. Uma grande parte do poder de fascínio da televisão advém do fato de que ela cumpre todas as funções próprias do espetáculo: a gratificação sensorial, proveniente de um bombardeio de estímulos visuais e sonoros. As luzes, as formas e as cores tornam-se gratificações em si mesmas, assim como as músicas e os sons. Mas a gratificação sensorial é incrementada pelo aparecimento constante de personagens sedutores (atletas-homens atraentes e dinâmicos, belas mulherescampeãs), de cenários fascinantes ( paisagens exóticas, ambientes de luxo extra-mundo esportivo), de objetos atraentes (calçados diferentes, agasalhos coloridos, óculos Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 37 espaciais, implementos diversificados em abundância, visível/possível no mundo esportivo). A gratificação mental, derivada das fábulas e das fantasias, que satisfazem uma necessidade básica, ocorre por meio da ação, das chamadas e dos focos especiais. É tido como real que o mundo da fantasia, dos sonhos, e é tão necessário para a saúde mental como o alimento para o corpo, assim, ainda, alguns vivem de sonhos e de fantasias que insistem em não se realizar nunca, mas que dão o colorido às Vidas de alguns atletas. A gratificação psíquica, advinda da liberação catártica provocada pelos processos de identificação e projeção, os quais permitem aos telespectadores elaborar os seus conflitos internos garantem o bem estar e a satisfação ao assistir ou ler a reportagem. As situações esportivas tomam corpo no dia-a-dia e passam a ser a única fonte possível de desejo e sua realização é um componente especial no Esporte Espetáculo Midiatizado. O fenômeno dos meios audiovisuais de comunicação de massas como grande espetáculo da indústria cultural é explicado, no entanto, por mecanismos que estão além do inconsciente pessoal, devendo-se recorrer ao conceito de inconsciente coletivo. O caráter compensatório da experiência de ser espectador torna-se evidente pelo fato de que, tanto individual como coletivamente, quanto mais frustrante ou dura for a realidade, maior será a necessidade de sonhos. Talvez seja possível explicar assim o grande sucesso de alguns programas de auditório ou entrevistas com grandes ídolos e atletas. O excesso de informação pode levar a um tipo de saturação que torna o indivíduo bloqueado e insensível. A informação transformou-se no setor privilegiado da indústria. Mas corre-se o risco de que as comunicações de massa acabem afogadas pela massa de comunicações. Submerso em um mar de informações, o telespectador também termina se afogando, incapaz de controlar o seu fluxo: a saturação de informação leva à desinformação, que é um problema de poluição informativa. Por outro lado, as informações possuem um grande valor para as instituições e para os especialistas, mas resolvem poucos problemas para a imensa maioria dos cidadãos. É possível até que criem mais problemas do que resolvam. Não melhoram a sua qualidade de vida. São, em grande parte, irrelevantes para o seu cotidiano. Servem, no máximo, para que possam falar. Quase nunca para que possam fazer. E menos ainda para que possam ser. Nessa possibilidade, o bem estar se esvai e torna-se contraditório imaginar que assistir a um jogo ou torcer por uma equipe satisfaça inquietações interiores. Além do mais, são tantos e tão graves os problemas sobre os quais se recebem informações que superam qualquer possibilidade de intervenção pessoal, produzindo-se, assim, um mecanismo de defesa, de imunização. No cinema e na televisão a impossibilidade de ser um mediador nos acontecimentos exime o espectador de qualquer responsabilidade. Ou seja, a impossibilidade física para dar uma resposta ativa exime de responsabilidade moral. Diante de uma derrota ou perda de uma medalha, a impossibilidade física de intervenção e o distanciamento do evento fortalecem no espectador uma atitude de observação passiva. Não há necessidade de fugir nem exigência de uma participação responsável. Se a câmara substitui visualmente o espectador, já que lhe permite estar presente nos acontecimentos mais inesperados, os jornalistas e técnicos o substituem moralmente. Ao serem mediadores entre o espectador e o conflito, servem para tranquilizá-lo. Daquela sensação de “podemos ver tudo” ou “tudo nos é mostrado” chega-se à convicção implícita de que “tudo está controlado” e, portanto “não é preciso agir”. Estas observações são relevantes quando nos dispomos ao acompanhamento “à distancia” ou monitorados pelos olhos do profissional da mídia esportiva. Não nos parece ser pouco o fato do torcedor interagir por meio do FACEBOOK ou TUITTER com seu ídolo ou equipe, uma vez que cobranças são a tônica das redes sociais existentes, numa persuasão a todo prova, as vezes exercendo um cruel papel de delatora ou inimigo imbatível. Por outro lado, a persuasão pode ser um poderoso instrumento de motivação do técnico e do professor para com seus atletas e alunos. Este instrumento possibilita a transmissão de ideais em relação a alguma situação ou tarefa a ser enfrentada e desenvolvida. É a prática da comunicação que tem como objetivo influenciar, vencer ou defender-se de outrem, através de técnicas e diferentes métodos, que vão da retórica, do potencial da psicologia e das emoções, ao jogo dos desejos e da sedução (MACHADO, 1998). É assim que a persuasão nas diferentes formas de relacionamento interpessoal tem merecido a atenção, especialmente na área da psicologia social, já que este representa um catalisador de alterações, inclusive atitudinais. Para que isto se proceda requer-se um motivo forte desencadeador, o qual é capaz de fazer a diferença no sentido das crenças e valores. Desta forma, a persuasão pode ser tomada como um processo de interação, presencial ou não, baseado no qual, uma certa mensagem tem ação de alterar uma dada perspectiva individual, especialmente no sentido das crenças, dos conhecimentos e dos interesses. Ao se considerar a relação estabelecida entre técnico e atleta ou professor e aluno, além dos objetivos específicos dentro de cada relação, há sempre o interesse em concretizar uma meta estabelecida. Esta última é sempre permeada pelas motivações que impulsionam o caminho de sua concretização. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 38 No processo de persuasão em si, devese, dessa maneira, atentar para a ampla possibilidade de se operar a transferência de uma determinada opinião, já que a persuasão e seus discursos podem assumir conteúdos suspeitos. O ato de persuadir, para manter sua integridade, deve ancorar-se em três ordens: razão, ética e moral. Estes pilares direcionariam a intenção de influenciar o outro para a superação de limites e a transcendência de obstáculos em relação a sua personalidade, modo de existir e relacionar-se com o mundo, de acordo com as regras do decoro social pertinente. No universo dos esportes e das competições, como no da Educação Física, a presença da ética se mostra fundamental para a manutenção das relações do indivíduo consigo mesmo e, também, das relações entre os homens (JAMES, COLLINS, 1997). Assim, mesmo num universo científico, há valores sociais os quais regem as relações, as motivações e os objetivos de cada situação. Assegurar a presença da ética, da moral e da razão traz, tanto para o técnico, como para o professor, um suporte legítimo para persuadir o outro, enquanto sujeito em sua complexidade e não na sua superficialidade de objeto educativo ou performático. É aconselhável, desta forma, desvendar a natureza dos indivíduos, seu enredo psicológico, conhecendo de perto seu modo de pensar, sentir e agir, formando, assim, o discurso dentro da lógica, da síntese, da análise, das generalizações e das subdivisões. De maneira peculiar, a prática da persuasão perpassa os ditames da política e do discurso científico na atualidade. No entanto, quando esta prática se relaciona com os esportes de competição e a Educação Física, torna-se necessário ocorrer a transferência do homem objeto para o sujeito, a fim de se garantir a integralidade do ser humano envolvido. A importância destes elementos da ética, da razão e da moral, em relação à atuação do técnico e do professor, é inquestionável. Esta atuação como profissional passa por várias faces do saber e da construção do conhecimento e do sujeito, até a práxis. Ao considerar a realidade do sujeito, sua cultura, história, sociedade, e seu enredo psicológico, a motivação, feita por meio do discurso de persuasão do técnico ou do professor, tem grandes chances de acontecer, levando ao tão sonhado êxito. Essa persuasão pode se dar de diversas formas, sendo uma delas referente à utilização de feedback positivo ou de reforço, elementos importantes, que os professores e técnicos podem e devem utilizar, quando estão diante de uma relação de ensino-aprendizagem ou de desempenho, já que o feedback positivo exerce, efetivamente, uma influência positiva no desempenho e aumenta a motivação intrínseca (BANDURA, 1995). Portanto, a motivação e o discurso persuasivo refletem o ímpeto de conhecer cada vez mais profundamente aquilo que é humano e tudo mais que traz para sua existência a vontade de expressar-se, de realizar sonhos, atingir metas e superar limites. Por que tal encaminhamento? Porque nossos atletas se abalam com as notícias que ouvem, leem ou veem por meio de seus recursos sociais de contato com o Mundo exterior da competição. Assim temos um cavaleiro que se indigna com seu povo (o brasileiro) por criar cachorros e não criar cavalos; temos um nadador que se condói pela dor seu povo, diante da medalha que se lhe escapa, um técnico que se assusta ao não se perceber querido ou pretendido pela sua nação. E estes apontamentos nos levam a questionar: qual psicologia do esporte para qual tipo de esporte ou praticante de qual modalidade? Será que estaremos, um dia, plenamente preparados? Existe a possibilidade do perfeito? Do completo? Conclusões O esporte de alto rendimento necessita de atletas cada vez mais preparados, para um maior número de competições em um menor intervalo de tempo. Por outro lado, as altas cargas de treinamento vividas por estes atletas podem reduzir os seus níveis de prontidão competitiva, já que estas cargas podem levar a uma redução das capacidades físicas e psicológicas. A resistência psicológica fica comprometida, por vários destes aspectos, que recebem um foco mais invasivo quando pensamos na ação midiática, de cada etapa, partida ou acontecimento esportivo. Este trabalho também serve para desmistificar a crença popular de que atletas profissionais são homens insensíveis e fortemente resistentes à tensão psicológica, uma vez que em muitas ocasiões o que assistíamos era uma profusão de emoções que se misturavam e se confundiam, resultando numa finalização dolorida, ainda que favorável. Implica em garantir que vale sofrer para ser campeão. Isto demonstra claramente que não é todo dia que o atleta consegue atuar com a máxima performance, com sua plena resistência psicológica que o transforma em semideus. Estes atletas são dotados de uma alta capacidade para a competição, mas também tem limites físicos e psicológicos, estando sujeitos a alterações em seus estados de humor, a sentir medo, a não saber lidar com o estresse, entre outros. Seria importante também informar que a pesquisa indicou relatos da prontidão competitiva em dias mais próximos aos jogos e durante os mesmos, favorecendo ao conhecimento das variações de humor do atleta: este olhar, á distancia, permite verificar se ele está realmente preparado para aquela competição, possibilitando com isso a adequação das cargas de treinamento, bem como intervenções psicológicas a fim de maximizar o rendimento Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 39 esportivo e a conduta assertiva para a medalha de ouro. Este trabalho demonstra, ainda, a necessidade de um novo trabalho psicológico, para atuar na redução do estresse causado pelas altas cargas de treinamento diário, aumentando o envolvimento destes atletas de modo satisfatório com a competição e as sessões diárias de treinamento, além de predispô-los ao insucesso esportivo sem que se sintam perdidos na Vida: é preciso que aprendam a distancia entre o esporte e o viver. Uma solução prática também seria a introdução de diários de treinamento, permitindo ao atleta registrar eventuais problemas que possam interferir em seu rendimento e saúde, aumentando com isso o conhecimento dos treinadores em relação às respostas individuais apresentadas pelos diversos atletas de sua equipe e possibilitando que os elevados ao trono de semideuses possam perceber que eles também sentem e, em função disso, podem ser induzidos ao erro ou ao insucesso, mas isso não os torna vulneráveis. Apenas humanos. skaters. 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Osmar Moreira de Souza Júnior Mestre em Ciências da Motricidade pela Unesp de Rio Claro Docente do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana da UFSCar Doutorando pela Faculdade de Educação Física da Unicamp De fato, a Educação Física foi alçada ao status de componente curricular no contexto escolar, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/EN) nº 9394 de 1996. Porém, do ponto de vista da legitimidade, a Educação Física ainda continua refém de uma representação no imaginário social, segundo a qual é tida como uma atividade curricular, sem o estatuto de área de conhecimento. De acordo com González e Fensterseifer (2009) “a escola tem entre suas funções a de introduzir os alunos no mundo sociocultural que a humanidade tem construído, com o objetivo de que eles possam incluir-se no projeto, sempre renovado, da reconstrução desse mundo”. O autor acrescenta ainda que neste projeto de formação de cidadãos comprometidos com a construção e conservação cultural, elegem-se formas de convívio social mais defensáveis que outras, exigindo uma tomada de posição em relação a questões políticas que dizem respeito a todos(as). A partir da concepção deste projeto educacional comprometido com a ideia de “leitura de mundo”, é preciso atribuir sentidos e significados para a Educação Física, enquanto componente curricular, que avance para além do exercitar-se para e configure-a como uma espécie de “janela para o mundo” (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2010), legitimando o estatuto legal de área de conhecimento. Os objetivos e as propostas educacionais da Educação Física foram se modificando ao longo dos últimos anos, e todas estas tendências, de algum modo, ainda hoje influenciam a formação do profissional e suas práticas pedagógicas. Na Educação Física, assim como em outros componentes curriculares, não existe uma única forma de se pensar e implementar a disciplina na escola (DARIDO; SOUZA JÚNIOR, 2007). Um ponto de destaque na nova significação atribuída à Educação Física é que a área ultrapassa a ideia de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito mais que isso, cabe ao professor de Educação Física p r o b l e m a t i z a r, i n t e r p r e t a r, r e l a c i o n a r, compreender com seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal, de tal forma que os alunos compreendam os sentidos e significados impregnados nas práticas corporais. Para facilitar a adesão dos alunos às práticas corporais seria importante diversificar as vivências experimentadas nas aulas, para além dos esportes tradicionais (futebol, voleibol ou basquetebol). Na verdade, a inclusão e a possibilidade das vivências das ginásticas, dos jogos, das brincadeiras, das lutas, das danças podem facilitar a adesão do aluno à medida que aumentam as chances de uma possível identificação. É importante ressaltar também que a Educação Física na escola deve incluir tanto quanto possível todos os alunos nos conteúdos que propõe. Não se pode mais tolerar a exclusão que historicamente tem caracterizado a Educação Física na escola. Todos os alunos têm direito a ter acesso ao conhecimento produzido pela cultura corporal. Neste sentido, o papel da Educação Física ultrapassa o ensinar esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e conhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também os seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as atividades corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente, busca garantir o direito do aluno de saber porque ele está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual). Na prática concreta de aula significa que o aluno deve aprender a jogar queimada, futebol de casais ou basquetebol, mas, juntamente com estes conhecimentos, deve aprender quais os benefícios de tais práticas, porque se pratica tais manifestações da cultura corporal hoje, quais as relações dessas atividades com a produção da mídia televisiva, imprensa, dentre outras. Dessa forma, mais do que ensinar a fazer, o objetivo é que os alunos e alunas obtenham uma contextualização das informações como também aprendam a se relacionar com os colegas, reconhecendo quais valores estão por trás de tais práticas (DARIDO; SOUZA JÚNIOR, 2007). Entendo que o tratamento didáticopedagógico do esporte, deve partir do reconhecimento de que se faz necessária a tomada de decisão em relação a um referencial metodológico que dê uma sustentação teórica a este processo e, para tanto, busco pressupostos na teoria da Praxiologia Motriz idealizada pelo professor francês Pierre Parlebas. A Praxiologia Motriz é uma teoria que estuda as práticas motrizes a partir das ações motrizes e da lógica interna e externa dessas práticas. Prática motriz é uma nomenclatura utilizada pela Praxiologia Motriz para se referir a todo tipo de atividade, seja ela jogo, dança, luta, esporte, brincadeira, ou outro. Ação Motriz é uma terminologia utilizada pela Praxiologia Motriz para Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 44 classificar as ações de determinada Prática Motriz de forma a não separar as vertentes Tática, Técnica, Psicológica, afetiva, etc. O futebol, independentemente do lugar onde se joga, tem características que não mudam. Por exemplo, ele é sempre um esporte coletivo, os jogadores de um time sempre podem se intrometer na jogada do adversário para “roubar” a bola, e avançar em direção ao gol. Estas características fazem parte da lógica interna do esporte. Mas algumas características mudam quando o futebol é praticado em outras partes do mundo. Nos Estados Unidos o futebol, que eles chamam de soccer para diferenciar do futebol americano, é considerado um esporte feminino e não é muito popular, bem diferente do que ocorre aqui no Brasil, onde a prática do futebol pelas mulheres é recente e foi até mesmo p r o i b i d a t e m p o s a t r á s . Ta i s características pertencem à lógica externa do esporte (RIO GRANDE DO SUL, 2009). De acordo com Ribas (2005), a ideia da compreensão da lógica interna facilita a transferência da aprendizagem para outras atividades. O basquetebol, o handebol e o futebol possuem a mesma estrutura de jogo, mudando apenas a forma de participação na atividade. Poucas vezes lembramos disso em aulas de Educação Física. Sempre trabalhamos uma nova modalidade, e mais, a iniciação dessa nova modalidade. O autor entende que uma comparação interessante para se pensar este quadro, seria imaginar o aprendizado da teoria musical, forçando o aprendiz a aprender música por música. Lavega (2008) afirma que o sistema de classificação proposto por Parlebas, o CAI, é uma das grandes referências para caracterizar cada âmbito das atividades e possibilitar a transferência de estrutura. Neste modelo, aparecem dois componente importantes em qualquer contexto motriz: os protagonistas, que o autor considera atendendo ao critério de presença ou ausência de companheiros (C) e/ou adversários (A) e o espaço de ação, distinguido conforme o critério de presença ou ausência de incerteza (I) referente ao ambiente. A combinação desses três critérios do CAI nos possibilita classificar qualquer situação motriz, distribuindo as práticas delas resultantes em oito categorias diferentes, possibilitando englobar qualquer jogo ou esporte. Assim, no que tange à forma de interação, podemos chegar a quatro grupos distintos: atividades sem interação motriz (ou psicomotriz), atividade com interação de oposição, atividade de interação de cooperação e atividade de interação de oposição e cooperação, essas últimas denominadas sociomotrizes (RIBAS, 2005). Portanto, por meio de uma representação do CAI teríamos: FIGURA 1 – Representações das 8 categorias resultantes da combinação dos 3 critérios da classificação (FONTE: 1 LAVEGA, 2008, p. 90) 1 O traço sobre as letras do CAI indica a ausência do critério sobrelinhado. Ex: traço apenas sobre a letra C, indica que a prática motriz é realizada individualmente, mas possui interação com adversário e incerteza ambiental Em um estudo no qual nos baseamos em um modelo de classificação dos esportes proposto por González (2006b), buscamos apresentar uma proposta para o tratamento didático do esporte nos anos iniciais do Ensino Fundamental (SOUZA JÚNIOR et al., 2010). Este estudo faz parte de um livro didático que encontra-se em fase final de elaboração, produzido pelo Laboratório de Estudos e Práticas Pedagógicas em Educação Física, da Unesp de Rio Claro. Reproduzo a seguir o conteúdo do referido estudo, como forma de materializar uma proposta de organização curricular a partir do esporte nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O esporte como conteúdo da Educação Física escolar é motivo de uma série de críticas, que passam principalmente pelo fato de apenas algumas modalidades serem privilegiadas nas aulas e pelas metodologias de ensino que raramente ultrapassam o referencial tecnicista. Além destes aspectos, quando nos referimos à Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) acrescenta-se o pressuposto de que o esporte deve ser negligenciado, tendo em vista que a área de Educação Física é refém de um discurso consolidado historicamente, calcado nos pressupostos da abordagem desenvolvimentista, que pressupõe que os esportes só deveriam fazer parte dos currículos de Educação Física nas escolas, a partir da 5ª série (atualmente 6º ano) do Ensino Fundamental. Esta concepção de Educação Física pressupõe que o acesso ao esporte depende de “pré-requisitos” que consistem na construção de um repertório de habilidades motoras básicas e combinadas que resultariam em um alicerce sólido para a aprendizagem das habilidades Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 45 específicas das modalidades esportivas. Contrariando esta perspectiva, realizamos (SOUZA JÚNIOR et al, 2010) um estudo com o objetivo de apresentar uma proposta para o tratamento didático do esporte nos anos iniciais do Ensino Fundamental, que assuma o fenômeno esportivo enquanto patrimônio cultural, sem perder de vista a abordagem metodológica que aponte para uma pedagogia do esporte adequada a este ciclo escolar. Tentativas de classificação dos esportes têm sido feitas por diversos autores, com o propósito de identificar estruturas básicas de funcionamento do jogo esportivo, bem como características internas das situações motoras de cada modalidade. Dentre estas classificações, optamos por adotar a proposta de González (2006b). No intuito de compreender melhor as demandas impostas pelos esportes aos seus praticantes, o autor apresenta uma proposta de classificação dos esportes baseada em alguns critérios. O primeiro critério diz respeito à interação com os companheiros, nesse sentido aqueles esportes em que há relação colaborativa entre os companheiros considera-se esportes coletivos, por outro lado, se não existe interação com nenhum companheiro considera-se esportes individuais. Um segundo critério leva em conta a relação estabelecida com o adversário, com isso é possível vislumbrar duas categorias: os esportes com relação ou oposição direta com o adversário e esportes sem relação ou oposição direta com o adversário. Os esportes com relação ou oposição direta entre adversários (judô, beisebol, voleibol, basquetebol), apresentam característica bastante peculiar que é a exigência de constantes adaptações dos jogadores em relação às ações de seus adversários, tal particularidade diferencia esses esportes daqueles em que não há interação ou oposição direta entre os adversários (atletismo, ginástica artística, remo). A partir do critério de relação com o adversário o autor propõe uma divisão específica tanto para os esportes com interação ou oposição direta com os adversários quanto para os esportes em que não há interação ou oposição direta com o adversário. Para os esportes sem interação ou oposição direta com o adversário o critério de classificação considerado é o tipo de desenvolvimento motor comparado para designar o vencedor. Partindo desse critério é possível classificá-los em três categorias: esportes de marca, esportes estéticos (ou técnicocombinatórios) e esportes de precisão. Os esportes de marca são aqueles em que a comparação do desempenho tem caráter predominantemente quantitativo de tempo, distância ou peso (atletismo, natação, halterofilismo). Os esportes estéticos são aqueles caracterizados por uma comparação qualitativa de desempenho a partir de padrões técnicos de execução dos movimentos (ginástica artística, skate). E os esportes de precisão são aqueles em que a comparação do desempenho está relacionada à eficiência e/ou à eficácia em atingir ou alcançar determinado alvo ou objeto (arco e flecha, golfe). No caso dos esportes com interação ou oposição direta com os adversários o critério de classificação é o objetivo tático da ação, nesse sentido o autor propõe quatro categorias de acordo com as demandas táticas de cada modalidade, são elas: esportes de combate ou luta, esportes de campo e taco, esportes de rede/quadra dividida ou muro e esportes de invasão ou territoriais. Os esportes de combate ou luta caracterizam-se por disputas em que o objetivo é subjugar o oponente com o auxílio de técnicas, táticas e estratégias (judô, esgrima, boxe). Os esportes de campo e taco são aqueles em que o objetivo é colocar a bola longe dos adversários e com isso ocupar espaços no campo ou promover o maior número de corridas (beisebol, críquete). Nos esportes de rede/quadra dividida ou muro são incluídos aqueles em que o objetivo é lançar ou arremessar um móvel (em geral uma bola) em locais onde o adversário seja incapaz de alcançálo ou cometa o erro ao tentar essa ação (voleibol, tênis, badminton). Por fim, os esportes de invasão ou territoriais são caracterizados pelo objetivo de invadir o território defendido pelo adversário e atingir sua meta, protegendo ao mesmo tempo sua própria meta (futebol, basquetebol, hóquei, rúgbi). No Referencial Curricular do Estado do Rio Grande do Sul, Fernando González e Alexandre Vaz estruturam o currículo dos anos finais do Ensino Fundamental com base neste modelo e o representam por meio do organograma a seguir: FIGURA 2 - Mapa dos esportes proposto por González e Vaz no Referencial Curricular do Estado do Rio Grande do Sul (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 124) Entendo que uma proposta de classificação do esporte baseada na estrutura do Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 46 jogo esportivo ou na lógica em que ele está pautado pode colaborar com a efetivação de dois princípios básicos na Educação Física escolar, o princípio da diversidade e o princípio da inclusão. Ou seja, adotar uma divisão dos esportes sem interação com o adversário pelo tipo de desempenho motor comparado na modalidade e uma divisão dos esportes com interação pelo objetivo tático das ações pode facilitar a consecução desses princípios. N a E d u c a ç ã o F í s i c a e s c o l a r, historicamente, privilegiou-se o ensino dos esportes coletivos tradicionais (futebol, basquetebol, handebol e voleibol), considerando a classificação adotada é possível incluir tais esportes em apenas duas categorias (invasão e rede ou quadra dividida). Com isso, acabamos por restringir as possibilidades de aprendizagem dos alunos, já que a aprendizagem do basquetebol ou do futebol, por exemplo, não garante autonomia para prática do beisebol, judô ou skate. Mais do que isso acabamos privilegiando os alunos que já conheciam essas lógicas de esporte ou que demonstravam mais facilidade em sua aprendizagem, excluindo todos aqueles alunos que de alguma forma não gostavam, não compreendiam e/ ou não executavam com eficiência tais lógicas táticas de esporte. Dessa forma, é necessário considerar a diversidade de interesses dos alunos, ou seja, nem todos estarão motivados em aprender os esportes tradicionais, além disso, por possuírem experiências de vida particulares alguns alunos demonstram mais facilidade para aprender esportes com outras lógicas táticas ou de desempenho motor. Portanto, a intenção é propor uma alternativa para a sistematização do conteúdo esporte que contemple diferentes lógicas e estruturas de esportes ao longo dos anos de escolarização, no caso específico desse estudo do 1º ao 5º do Ensino Fundamental. Todavia, vale ressaltar que o trabalho com qualquer conteúdo esportivo deva ir além de ensinar aos alunos determinados gestos motores. Devemos sim, cada vez mais, pensar em propostas metodológicas que ofereçam ao aluno condições de se apropriar destes movimentos, porém, defendo a ideia de uma maior abrangência em relação aos conteúdos, abarcando as dimensões conceituais e atitudinais. Ou seja, para além do saber fazer (que não é o gesto técnico apenas) é preciso que os alunos aprendam os esportes enquanto conhecimentos e aprendam a se relacionar por meio do esporte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DARIDO, Suraya Cristina. A Educação Física na escola e o processo de formação dos não praticantes de atividade física. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. v. 18, n. 1, São Paulo, p. 61-80, jan/mar, 2004. DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 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Como as outras formas de matéria, a água possui certas propriedades físicas que incluem: massa, peso, densidade, gravidade específica ou densidade relativa, flutuação, pressão hidrostática, tensão superficial, refração e viscosidade, ter conhecimento sobre cada uma destas propriedades facilita na aplicação das sequências estabelecidas de aprendizagem, tanto da iniciação, como do alto rendimento. Para adaptação ao meio liquido estabelece uma sequência que vai desde a ambientação até o deslize, depois de realizada a adaptação com sucesso inicia-se o processo de aprendizagem dos nados propriamente, ou seja, propulsão de membros, coordenação, respiração específica e nado completo. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 48 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 49 III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA ARTIGOS Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 50 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 51 A VISÃO DE TÉCNICOS EM RELAÇÃO AO SEU PAPEL NO ESPORTE Aline Dessupoio Chaves¹; Andrezza Papini²; Carolina Morais de Araújo² Vilma Leni Nista-Piccolo³ ¹Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação Física da Universidade de São Paulo e Professora do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Triângulo Mineiro ²Mestrandas do Programa de Pós Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Triângulo Mineiro ³Professora e orientadora do Programa de Pós-graduação em Educação Física da Universidade Federal do Triângulo Mineiro RESUMO Este estudo teve objetivo desvelar a visão que alguns técnicos têm a respeito de seu papel no treinamento esportivo. Participaram do estudo cinco técnicos das modalidades voleibol, ciclismo, mountain bike, futebol e futsal e ginástica artística, que possuem experiência como treinador há mais de cinco anos na modalidade. Foi utilizado um questionário que investigava os dados pessoais, o papel do técnico e sua atuação profissional. A análise dos dados se deu pelo método do “Discurso do Sujeito Coletivo” (DSC) e foi utilizada a diferenciação por sujeito e posteriormente a comparação ou análise em função da similaridade do conteúdo dos depoimentos. Os sujeitos da pesquisa destacaram na função do técnico a importância da vivência, bases científicas na construção de treinos, e o caráter de relacionamento social. Foi demonstrada uma preocupação com a formação continuada, com a aprendizagem e transmissão de valores que o esporte proporciona, com o papel de liderança que o técnico deve desenvolver. Assim, conclui-se que a vivência esportiva associada à formação profissional são a base de atuação dos sujeitos pesquisados, os quais se preocupam com a formação continuada para aprimorar sua profissão, e, consequentemente, proporcionar aos atletas melhores chances de rendimento esportivo. Palavras-chave: esporte; técnico; treinamento ABSTRACT This study aimed to unveil the vision that some coach have about their role in sports training. The study included five coach of volleyball, cycling, mountain biking, soccer and indoor soccer and gymnastics, which have experience as a trainer for over five years in the sport. A questionnaire investigating personal data, the role of coach and his professional activities. Data analysis was made by the "Collective Subject Discourse" (DSC) and was used to differentiate between the subject and then the comparison or analysis according to the similarity of the contents of the depositions. The subjects highlighted in the function of the importance of technical experience, the construction of scientific training, and character of social relationships. This study demonstrated a concern with the continuing education, with learning and transmission of values that the sport provides, with the leadership role that the coach should develop. Thus, we conclude that the experience associated with sports training are the basis of performance of the subjects studied, which are concerned with the continuing education to enhance their profession, and thus provide better chances for athletes sports performance. Key words: sport; coach; training INTRODUÇÃO O papel dos treinadores na formação e orientação de atletas abrange diversos conhecimentos não só sobre a técnica da modalidade e do aperfeiçoamento de capacidades físicas e motoras específicas daquela prática, como também das questões psicológicas e sociais que permeiam as formas de ensinar e de lidar com eles nas competições. As funções do treinador, assim, devem ser definidas com base num conjunto de saberes, entre eles os científicos, pedagógicos, organizacionais, técnicos, que devem ser utilizados de forma integrada para o desenvolvimento de um treinamento esportivo organizado e eficiente. O treinador deve ainda reconhecer as similaridades e diferenças entre os processos de aprendizagem, de treinamento e o comportamento dos atletas durante as competições, além de identificar todo o sistema complexo inserido na prática do esporte, como a influência exercida pelos clubes, federações, pelos pais e pela mídia. Desta forma, diante do amplo número de variáveis presentes no contexto esportivo, principalmente em todo o processo de treinamento, é importante verificar como o técnico compreende seu papel no esporte, se tem consciência de todos esses aspectos que permeiam sua atuação, e, inclusive, se reconhece que pode determinar com sucesso ou fracasso os resultados de suas ações. Isso justifica nosso trabalho. OBJETIVO Desvelar a visão que alguns técnicos têm a respeito de seu papel no treinamento esportivo. METODOLOGIA DA PESQUISA Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa do tipo descritivo a cerca da visão que alguns técnicos têm em relação aos seus papeis como treinadores esportivos. Participaram do estudo cinco técnicos das modalidades voleibol, ciclismo, mountain bike, futebol e futsal e ginástica artística, que possuem experiência como treinador há mais de cinco anos na modalidade que trabalham e foram selecionados para a pesquisa aleatoriamente a partir da disponibilidade para participarem do estudo. A técnica de coleta de dados utilizada foi um questionário composto de duas partes, sendo que a primeira investigava os dados pessoais como idade, tempo de atuação como técnico, a modalidade esportiva em que atua, além de informações sobre sua formação profissional; a Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 52 outra parte era formada por cinco questões relacionadas ao papel do técnico e sua atuação profissional. A participação dos sujeitos foi de caráter espontâneo, e as entrevistas foram conduzidas individualmente. A análise dos dados se deu pelo método do “Discurso do Sujeito Coletivo” (DSC) de Lefèvre e Lefèvre (2003), que permite uma análise qualitativa das respostas dadas ao questionário. A metodologia do DSC utilizada é, portanto, uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, os quais, no presente estudo, foram obtidos por meio dos depoimentos dos técnicos. Para confeccionar os DSCs utiliza-se as seguintes figuras metodológicas: Expressõeschave (ECH): que são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso, demarcadas pelo pesquisador (sublinhadas, iluminadas, coloridas), que revelam a essência do depoimento ou, de forma mais precisa, do conteúdo discursivo dos segmentos em que se divide o depoimento e que, em geral, correspondem às questões da pesquisa. Desta maneira as ECH são a matéria-prima do DSC. Ideias centrais (IC): correspondem a um nome ou expressão linguística que revela e descreve, de forma sintética, precisa e fidedigna, o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar origem, posteriormente, ao DSC. A IC não é uma interpretação, mas uma descrição do sentido de um depoimento ou de um conjunto de depoimentos. Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): é um discurso síntese redigido na primeira pessoa do singular e composto pelas ECH que têm a mesma IC (LEFEVRE E LEFEVRE, 2003). As informações obtidas por meio da transcrição das entrevistas serão a base dos DSCs e assim, confrontados com o que a literatura estabelece. Na análise dos resultados foi utilizada a diferenciação por sujeito e posteriormente a comparação ou análise em função da similaridade do conteúdo dos depoimentos. Neste trabalho, os técnicos foram identificados pela letra “T” de técnico, seguido pelo número identificador do sujeito, e a letra correspondente à modalidade (“C” – ciclismo e moutain bike/ “F” – futebol e futsal/ “G” - ginástica artística/ “V” – voleibol). O PAPEL DO TÉCNICO O processo de preparação, ou treinamento esportivo é fundamental na obtenção de resultados de êxito no Esporte. Assim, Matveev (1997) define o treinamento esportivo como um processo complexo, em que o desempenho final do atleta ou da equipe é resultado da síntese de diversos fatores. Bompa (2002) ressalta que o sucesso do treinamento se refere inicialmente ao domínio das informações das Ciências do Esporte, e também à competência e habilidade que o técnico esportivo demonstra ter, ao tratar com o conjunto das diversas variáveis presentes no ambiente de treinamento, nas suas dimensões físicas, psicológicas e sociais. Matveev (1997), Verkhoshanski (2001) e Bompa (2002) concordam em seus estudos sobre a importância da competência do técnico em considerar o amplo escopo de variáveis presentes no contexto esportivo e utilizá-lo no processo de treinamento. Segundo os autores, a atuação do treinador pode determinar o sucesso ou o fracasso de um processo. Tomando o treinamento como um campo de práticas no qual a pedagogia se faz presente, Bompa (2002, p. 5) afirma que através do treinamento desportivo, "um treinador lidera, organiza, planeja o treinamento e educa o atleta." A dimensão educativa do treinamento está presente pela necessidade de se adaptar aos estímulos provocados pelo complexo - jogo, competição, treinamento, relacionamentos com companheiros de equipe, adversários, técnicos, mídia, dirigentes, familiares. Matveev (1997) define o treinamento como um fenômeno pedagógico e aponta para os aprendizados que acontecem por meio do desporto, somados à obtenção de elevados resultados, enquanto Bompa (2002) determina que o aparecimento de resultados da excelência física combina harmoniosamente os fatores refinamento espiritual, pureza moral e perfeição física. Desta forma, a atuação do técnico no processo de treinamento esportivo, engloba uma série de conhecimentos e comportamentos adequados ao desenvolvimento da carreira esportiva de seus atletas. Mesquita (2000) preconiza que a atividade do técnico abrange um conjunto de conhecimentos que se referem aos campos: conceitual, que diz respeito ao domínio e conhecimento das questões das ciências do esporte e da modalidade esportiva em que trabalha; comunicativo, que se refere à transmissão adequada de ideias e às capacidades de comunicação não-verbal; capacidade técnica que diz respeito à organização e condução do processo de treinamento. Acrescenta-se aqui o campo dos relacionamentos pessoais, que se refere aos tipos de relações a serem estabelecidas com os integrantes do grupo, apontado por Weinberg & Gould (2001), no destaque que dão à liderança num processo de grupo em modalidades esportivas coletivas. Os autores afirmam que uma vez otimizadas as competências do treinador nessa dimensão, ele pode conduzir o grupo a manifestar comportamentos mais efetivos em competições. O técnico, muitas vezes, pode apresentar ao atleta uma nova maneira de Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 53 pensar sobre um assunto conhecido, pois o ambiente de jogo e treinamento esportivo é imprevisível e aleatório (Garganta, 1998), e os elementos humanos se relacionam de acordo com suas relações interpessoais. Samulski (2002) propõe metas de se desenvolver uma liderança efetiva no esporte, indicando assim uma série de medidas que devem ser tomadas pelo líder da equipe, tais como empatia, escutar ativamente, técnicas de comunicação, flexibilidade na liderança, técnicas de feedback e suporte social, técnicas de solução de problemas e delegação de tarefas. Desta maneira o técnico deverá estimular o desenvolvimento de características desejáveis no atleta afim de que ele possa tornar-se um bom líder. Técnicos devem ter uma visão ampla sobre as necessidades dos atletas, percebendo o momento exato para intervir, envolvendo-se fisicamente, emocionalmente e socialmente. Assim, pode-se dizer que o técnico esportivo é quem programa e executa os treinamentos, aplicados em determinado contexto. Sua atuação pedagógica pode produzir, mediante desempenho de alto nível de exigência, determinados resultados caracterizados pela excelência. Ao tomar-se o propósito de estudar a excelência da atuação pedagógica no treinamento esportivo, considera-se relevante as ponderações apresentadas por Gardner (2004) em seu estudo sobre a inteligência humana. O autor justifica as mudanças de comportamento dos indivíduos pela mudança de estratégias mentais, pois, para ele, essa alteração se dá na representação mental do sujeito, a maneira pela qual a pessoa percebe, codifica, retém e acessa informações. Para as crianças e adolescentes, o professor ou o técnico tem um papel importante nos jogos e nas competições esportivas, principalmente no quesito do relacionamento com os atletas durante os jogos. Muitas vezes, percebe-se que o comportamento do atleta é altamente influenciado pela forma como o técnico se relaciona com o mesmo, seja de forma positiva ou negativa. Um estudo realizado com 60 crianças, na faixa etária de 7 a 13 anos, de ambos os sexos, praticantes de Ginástica Artística, demonstrou que os atletas mais jovens (de 8 a 9 anos) são mais sensíveis à aplicação de vários tipos de condutas punitivas (DE MARCO; JUNQUEIRA, 1995, p. 92). Os atletas de (10 a 12 anos) são sensíveis aos comportamentos estimulantes e os mais velhos (de 13 a 15 anos) valorizam as instruções simultâneas às repreensões. Segundo os autores “os técnicos mais populares e valorizados são aqueles que sabem trocar a punição pelo estímulo e a repreensão verbal com instrução técnica” Marques e Kuroda (2000, p.132) consideram “a importância desse profissional na mediação das relações que a criança estabelece com os outros e com o mundo”. Contribuindo com a formação de indivíduos, como seres humanos preparados para enfrentar a realidade imposta pela sociedade. O esporte como um todo e principalmente o futebol, objeto desta pesquisa, durante a sua prática, coloca a criança diante de inúmeras situações que podem ser extrapoladas para a vida diária. Desta forma, diferentes situações vivenciadas num jogo (respeito às regras, à autoridade do árbitro, atitudes de cooperação e de competição, comportamentos solidários ou agressivos) deveriam ser exploradas construtivamente. Portanto, o futebol pode ser entendido e desenvolvido sob o ponto de vista educacional, principalmente na faixa etária aqui abordada. Se isto ocorre ou não, está na dependência direta das pessoas (professores, técnicos e pais) que interagem diretamente com os atletas (crianças e adolescentes) neste contexto esportivo. Assim, conforme demonstrado pela literatura, o papel do técnico é complexo, pois engloba um conjunto de competências e habilidades necessárias para o desenvolvimento esportivo dos atletas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os técnicos que participaram do estudo têm como experiência de atuação uma média de 14,8(+5,26) em sua modalidade específica. Em relação a formação profissional, um técnico é graduando em Educação Física e Fisioterapia e os demais são graduados em Educação Física. Quanto à vivência da modalidade que trabalham atualmente, quatro foram atletas e apenas um foi praticante. Abaixo os quadros demonstram as ECH do discurso de cada técnico em relação às perguntas feitas no questionário. No Quadro 1, percebe-se que os sujeitos da pesquisa compreendem a função do técnico esportivo como algo que depende da fase de aprendizagem dos atletas, na relação entre teoria e prática de diversas áreas do conhecimento, assim como a questão educacional no sentido de desenvolvimento de valores humanos. Verifica-se também o acúmulo de funções que o técnico exerce, caracterizando assim, a necessidade de conhecer diversas áreas do conhecimento. Quadro 1 – Expressões chave (ECH) da pergunta “O que é, para você, ser técnico esportivo?” Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 54 O Quadro 2 caracteriza a experiência profissional dos técnicos, que, em sua maioria, treinam atletas de diversos níveis, desde a iniciação até o alto rendimento, assim como a participação em competições é citada a partir do âmbito regional ao nacional. Isso demonstra uma realidade em nosso país, apontando que o treinador tem que planejar, aplicar e administrar o treinamento de grupos heterogêneos de atletas, em diferentes faixas etárias e níveis de especialização esportiva, assim como de desempenho esportivo. Quadro 2 – Expressões chave (ECH) da pergunta “Qual o nível/categoria dos seus atletas e quais competições participam?” No Quadro 3, verificou-se que a vivência esportiva teve influência na atuação profissional de 03 técnicos, os quais expressaram a importância da experiência que tiveram como atletas e que a atitude de seus técnicos influenciaram positivamente na sua forma de atuar como treinadores. Pode-se observar como ideias centrais (IC) do discurso dos sujeitos, a importância da vivência, bases científicas na construção de treinos, e o caráter de relacionamento social como importante no papel do técnico. Os técnicos que demonstraram comportamentos diferentes daqueles que vivenciaram, citam o conhecimento maior já que a ciência do treinamento evoluiu, e ainda a integração de vários aspectos para desenvolvimento dos treinos. Quadro 3 – Expressões chave (ECH) da pergunta “Em que a sua atuação se assemelha com os treinos que vivenciou?” T1V T2C T3C T4G T5F “Em tudo, pois eu sou o que eu vivenciei e o que eu ainda vivencio.” “Montar os treinamentos com bases científicas, aproveitando as pesquisas que são feitas nas Universidades e Centros de treinamentos.” “Basicamente em nada, pois hoje tenho mais conhecimento ao que proponho a meus atletas que meus treinadores anteriores. Pode ser explicado pelo fato que métodos de treinamento evoluíram bastante.” “Talvez na compreensão dos problemas pessoais de cada uma e na amizade. Como não fui atleta de alto nível, acredito que enquanto treinadora, tive um perfil mais tranquilo que os demais técnicos da ginástica.” “Acredito que minha atuação é muito diferente. Hoje, trabalho com treinos em que os aspectos físicos, técnicos, táticos, psicológicos (entre outros) estão integrados. Trabalho com situações de jogo, sempre com a bola presente, buscando desenvolver aquilo que o jogo exigirá. Busco enxergar as qualidades dos atletas, escolhendo o melhor modelo de jogo para desenvolvê-las.” Em relação à contribuição da formação profissional nos treinamentos, nota-se no Quadro 4 que os técnicos relataram uma grande importância, principalmente no conhecimento que não tiveram como atleta, por exemplo, a questão didática e pedagógica. Isso que diferencia muitas vezes a atuação de um ex-atleta como técnico, que possui uma vasta experiência na modalidade, porém apresenta dificuldades nos aspectos relacionados a conhecimentos teóricos. Quadro 4 – Expressões chave (ECH) da pergunta “Qual a contribuição de sua formação nos treinamentos que você ministra?” Quando questionados sobre a atuação como técnicos (Quadro 5), encontrou-se uma preocupação com a formação continuada, demonstrando que a atualização quanto aos conhecimentos necessários para o desenvolvimento do atleta é fundamental. São citadas também a aprendizagem e transmissão de valores que o esporte proporciona, além do papel de liderança que o técnico deve desenvolver. Apontaram ainda, a boa relação entre técnico e atletas, a falta de tempo para melhor organização e desenvolvimento dos treinos, e atitudes de líder autocrático conforme citado pelo T5F “acredito que em alguns momentos ainda escuto pouco os atletas, espero que eles enxerguem as coisas como enxergam, tenham a paixão que eu tenho”. Quadro 5 – Expressões chave (ECH) da pergunta “Como você classifica sua atuação como técnico esportivo? Aponte suas melhores características e seus piores defeitos.” Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 55 vibrante do técnico durante as competições. Porém, a dedicação e atitudes dos atletas são essenciais para que, junto ao técnico, possam construir uma carreira esportiva promissora e desta forma atingir o alto rendimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alguns estudos corroboram o que foi relatado pelos técnicos neste estudo (HENDRY, 1991; SIMÕES, 1994; MACHADO, 1997). Hendry (1991) apud Machado (1997) relata, em suas pesquisas, depoimentos de atletas e demais técnicos informando que o técnico ideal seria aquele indivíduo estável, sociável, criativo, inteligente, o qual pudesse assumir riscos calculáveis e seguros. Para Simões (1994), os estudos têm mostrado que o papel do técnico esportivo como líder é, provavelmente, um dos fatores mais importantes no processo de influenciar a formação e o rendimento de uma equipe esportiva. Machado (1997) retrata que a interação perfeita entre técnico e atleta acontece quando há uma troca entre as partes, favorecendo para que o atleta não seja visto como um simples objeto utilizado para a conquista de um objetivo maior. O técnico não deve ser visto como um indivíduo autoritário e que está sempre com a razão. CONCLUSÃO A profissão de técnico esportivo, embora tenha uma aparência célebre, principalmente nas competições, é bastante árdua já que conta com um sistema complexo que é o treinamento esportivo, composto de conhecimentos de diversas áreas. Na maioria das vezes, ele atua sozinho nas equipes de médio e pequeno porte em nosso país, exercendo muitas vezes, além do papel de técnico, a função do preparador físico, do médico, do fisioterapeuta, do nutricionista e do administrador. Somado a tudo isso, ainda precisa administrar os efeitos da mídia, que por vezes, quando uma equipe vence, o feito é atribuído aos atletas, mas, quando perde, é por exclusiva culpa da direção técnica. Assim, o estudo procurou verificar como alguns treinadores percebem seu papel no esporte e o que se encontrou foi que a vivência esportiva associada à formação profissional são a base de atuação dos sujeitos pesquisados, os quais se preocupam com a formação continuada para aprimorar sua profissão, e, consequentemente, proporcionar aos atletas melhores chances de rendimento esportivo. Mas, mesmo com tudo isso, é de suma importância o apoio dos dirigentes, a qualidade dos treinamentos, a participação atuante e COSTA, V. T. 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Porto Alegre: Artmed, 2001. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 57 A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL II: UM ESTUDO DE CASO Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi; Lídia Marques Figueiredo; Silvana Farias Lopes; Vinícius Martins Marcos UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga RESUMO Influenciada pelos princípios da Declaração de Salamanca, a LDB criou uma diretriz inclusiva levando a inserção dos alunos portadores de necessidades educacionais a freqüentar preferencialmente a rede regular de ensino. Esse artigo tem como objetivo analisar como ocorre a inclusão de um aluno surdo nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental II, além de auxiliar na discussão sobre o tema, trazendo subsídios para trabalhar de forma inclusiva. Foi realizado um estudo de caso sobre o processo de inclusão de 1 aluno surdo na rede estadual de ensino, a coleta de dados foi realizada através de um diário de campo e uma entrevista semi-estruturada, sendo o instrumento de pesquisa apreciado e validado por um Professor Doutor atuante na área. Através dos dados levantados podemos afirmar que nesse estudo de caso o processo de inclusão não ocorre de forma efetiva. A problemática principal no processo da inclusão é a comunicação, visto que o aluno surdo tem que assimilar conteúdos de forma oral, sem a presença de intérprete, estando presente fisicamente, mas sem chances de participar de forma critica das aulas. Palavras-chave: Inclusão Educacional, Surdez, Educação Física, Histórico Educacional do Surdo. INCLUSION OF DEAF STUDENTS IN THE CLASSES OF PHYSICAL EDUCATION IN ELEMENTARY II: A case study. ABSTRACT Influenced by the principles of the Declaration of Salamanca, the LDB has created a comprehensive guideline leading the integration of students with educational needs to attend preferentially to the regular education system. This article aims to analyze how does the inclusion of a deaf student in physical education classes in Middle School, as well as aid in the discussion about the subject, offering tools to work in an inclusive manner. We conducted a case study on the process of inclusion of 1 (one) deaf students in state public education, data collection was performed through a diary and a semistructured,and the survey instrument assessed and validated by a Professor active in the area. Through the data collected can be said that this case study the process of inclusion does not occur effectively. The main problem in the inclusion process is communication, since the deaf student has to assimilate the contents of the oral form, without the presence of an interpreter being physically present, but no chance to participate in a critique of class. Key words: Keywords: Inclusion Education. Deafness. Physical Education. History of Deaf Education. INTRODUÇÃO “Ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva. O surdo tem diferença e não deficiência”. (PERLIN, 1998, p. 56) Durante a história educacional dos surdos ocorreram diversas mudanças não somente na terminologia empregada, como também no conceito em relação à surdez. Atualmente a surdez livrou-se do conceito empregado pela antiga perspectiva patológica, passando a ser reconhecida como um fenômeno cultural. Sendo assim, não é mais utilizado o termo deficiente auditivo, e sim o termo Surdo, libertando-os do rótulo de deficientes auditivos incuráveis. (SANTANA; BERGAMO, 2005). Segundo Sacks (1990), o termo “Surdo” é muito vago, pois somente essa palavra não considera os diferentes graus da surdez, que tanto influenciam na formação do indivíduo. Podendo classificá-los em dois grupos: Surdos Pré-Linguais e Surdos Pós-Linguais. Surdos PósLinguais são os indivíduos que perderam a audição depois de adquirir a linguagem, tendo memória sonora e sendo alfabetizados em uma Língua Oral. Já os surdos Pré-Linguais, ou surdos congênitos, são os indivíduos que nasceram surdos ou perderam a audição logo nos primeiros anos de vida, não tendo nenhuma memória auditiva, sendo alfabetizados em Libras. Com o intuito de modificar a educação de segregação, tornando a pessoa com deficiência parte da sociedade, o sistema de educação brasileiro buscou novas diretrizes por meio da Integração Escolar. Na década de 90, fortalecida pela Declaração de Salamanca (1994), surge a ideologia da escola inclusiva que foi divulgada por todo o mundo, visando respeito e socialização, fazendo com que alunos surdos passassem a freqüentar escolas regulares, ocasionando um esquecimento dos programas de educação especial. A inclusão torna-se fácil para a comunidade ouvinte, não estando adequada para os alunos surdos, pois suas características não são levadas em consideração. (LACERDA, 2007). Mendes (2002, p.28 apud GLAT; FONTES; PLETSCH, 2006, p.4), descreve que: A idéia da inclusão se fundamenta numa filosofia que reconhece e aceita a diversidade na vida em sociedade. Isto significa garantia de acesso de todos a todas as oportunidades, independentemente das Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 58 peculiaridades de cada indivíduo no grupo social. A inclusão desses alunos, antes atendidos no ensino especial, tem trazido vários debates e discussões pedagógicas sobre essa nova visão educacional, auxiliando na proposta de modificações e ampliações na formação dos profissionais envolvidos nesse processo educativo. Incluir é bem mais do que garantir o direito constitucional do aluno, é oferecer educação com qualidade. (SILVA; BARAÚNA, 2007). Sendo o processo de inclusão um tema recente, há vários trabalhos na área que geram discussões para possíveis modificações ou adequações do processo pedagógico. Deste modo, esse trabalho contribuirá para a conscientização da importância da Educação Física no processo de inclusão de alunos surdos. Os autores desse artigo escolheram o tema da inclusão para tentar compreender este processo dentro da escola, e assim ter meios pedagógicos para planejar suas aulas visando o aumento do desenvolvimento motor, a melhora da socialização e do aprendizado desse grupo de alunos, ou seja, saber utilizar várias metodologias para que o aluno surdo não seja um mero repetidor de movimentos, e sim que aprenda conceitos nas aulas de Educação Física. Portanto este artigo além de auxiliar na discussão sobre o tema, traz subsídios para trabalhar de forma inclusiva. Neste contexto apresentado, artigo em questão tem como objetivo analisar como ocorre a inclusão de um aluno surdo nas aulas de Educação Física no ensino fundamental II em uma escola da rede estadual de ensino de Votuporanga. Identificando se a inclusão acontece de maneira satisfatória e se há uma comunicação eficiente para a inclusão deste aluno, e se o mesmo sente-se incluso nas aulas de Educação Física. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. A História Educacional do Surdo e o Atual Sistema de Educação Brasileiro Na Antiguidade os surdos eram considerados como anormais devido a grande idolatria do corpo, qualquer indivíduo que apresentasse alguma deficiência era sacrificado. Como a surdez era e continua sendo de difícil detecção, quando os surdos escapavam da morte eram marginalizados, presos em calabouços, asilos e hospitais ou feitos de escravos. Não havia preocupação com a Educação dos Surdos, pois eram considerados como cidadãos improdutivos. A partir do século XVI na Europa, pedagogos e filósofos começaram a debater sobre a integração social do surdo. Assim deram início alguns trabalhos educacionais para os surdos de forma independente. (STROBEL, 2006). De acordo com Monteiro (2006) o Brasil sofreu influências educacionais francesas, pois em 1856 o professor Ernest Huet, surdo francês, trouxe o alfabeto manual francês e alguns sinais da Língua de Sinais Francesa (LSF). No dia 26 de Setembro do ano de 1857 no Rio de Janeiro, foi inaugurado o Instituto dos Surdos-Mudos, hoje denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Esse instituto funcionava como um internato, pois surdos do país inteiro vinham estudar e ficavam todo o semestre na escola, e nas férias voltavam para o convívio com suas famílias. Outra escola importante na história educacional do surdo foi o Instituto Santa Terezinha, fundado em 1925 em São Paulo, onde moças surdas eram educadas. Segundo Strobel (2006) em 1880, o uso da Língua de Sinais foi banido por quase 100 anos. Assim os surdos tiveram que abandonar a sua identidade e cultura surda, sendo forçados a imitarem os ouvintes a favor do Oralismo. No século XX, com a evolução da medicina, passaram a classificar os surdos através do grau de surdez, sendo vistos como doentes ou deficientes. Deste modo surgem as instituições educacionais especializadas, onde eram realizados processos de reabilitação da fala e treinamento auditivo, por meio do método do Oralismo, tendo como objetivo a cura e não a educação do surdo, fortalecendo assim, a superioridade do ouvinte sobre o surdo. A Declaração de Salamanca, realizada em 1994 na Espanha, com o objetivo de discutir mudanças políticas na educação dos indivíduos com necessidades especiais divulga os seguintes princípios: o reconhecimento das diferenças, o atendimento das necessidades de cada um, a promoção da aprendizagem, o reconhecimento da importância da escola para todos e a formação de professores com perspectiva de um mundo inclusivo em busca do mais alto nível da democracia. (LIMA, 2001). Influenciada pelos princípios da Declaração de Salamanca, a LDB criou uma diretriz inclusiva levando a inserção dos alunos portadores de necessidades educacionais diferenciadas a freqüentar preferencialmente a rede regular de ensino. Isso tem criado problemas para os profissionais da educação, principalmente os que trabalham com alunos surdos, por não terem bases didáticas e nem lingüísticas apropriadas para efetivação da aprendizagem. (SILVA; BARAÚNA, 2007). Atualmente, o Artigo 58, capitulo V, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9394-1996), define que portadores de necessidades especiais freqüentem preferencialmente a rede regular de ensino com serviço especializado quando necessário. (QUADROS, 2003). Segundo Carvalho (1998) com a LDB, os alunos com necessidades especiais passaram a freqüentar a rede regular de ensino e a Educação Especial passou a ser uma educação Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 59 especializada mediante as condições individuais dos alunos, ou seja, somente alunos com grau elevado de deficiência que não podem se beneficiar com a inclusão freqüentam aulas em classes especiais, enquanto que os outros alunos deverão ser inclusos em classes regulares de ensino. De acordo com Skilas (1997 apud DIZEU; CAPORALI, 2005) o Oralismo é uma imposição social de uma maioria lingüística sobre uma minoria lingüística. Um dos argumentos defendidos por esse pensamento é o da integração social do surdo, mas a sociedade não está preparada para receber o indivíduo surdo, pois estes são silenciados pelos ouvintes devido à falta de comunicação e compreensão. É necessário dar à criança surda a oportunidade de se desenvolver por meio da sua língua, que nesse caso é a Libras. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) foi oficializada em 2002 (Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002) abrindo novos caminhos para a educação dos surdos, pois é considerada a Língua Materna dos surdos brasileiros por ser adquirida de forma espontânea, sem a necessidade de um treinamento, tendo a língua portuguesa como sua segunda língua. Podemos exemplificar a maneira que a criança ouvinte desde o seu nascimento entra em contato com a Língua Oral, desenvolvendo-se por meio dela e vivenciando o meio em que está inserida, sendo nessas trocas comunicativas que a criança cria novos conceitos. Deve-se garantir o mesmo direito à criança surda, pois sendo alfabetizada em Libras, ela se torna capaz de atribuir significados ao mundo, acabando com a idéia de que a surdez é a causadora das limitações intelectuais e afetivas, visto que essa limitação pode ocorrer devido a falta de condições de desenvolvimento oferecidas. (DIZEU; CAPORALI, 2005). De acordo com Quadros (2002, apud DIZEU; CAPORALI, 2005) a Língua de Sinais surge com a necessidade de comunicação dos indivíduos surdos, sendo essa comunicação um processo natural de todo ser humano. A Libras diferencia-se por usar o campo gesto-visual e não o canal oral-auditivo como nas línguas orais, por esse motivo se diferencia também nas regras de estruturação das ordens das palavras. Possui todas as características de uma língua oral, como semântica, regras gramaticais, estruturas abstratas e complexidade lingüística, levando em consideração até mesmo a nacionalidade e a regionalidade do individuo. Sendo assim, deve ser considerada e respeitada como uma língua, pois desempenha a mesma função das línguas orais, que é a comunicação. 2. Educação Física Adaptada De acordo com Gorgatti e Costa (2005) a Educação Física Adaptada é um componente da Educação Física que visa tornar-se possível a prática de atividades físicas por pessoas com necessidades adaptativas. Nessa área deve-se levar em consideração o potencial do individuo proporcionando a satisfação pessoal através de danças, ginásticas, jogos e esportes desenvolvendo a cultura corporal de movimento. O desafio consiste em saber lidar com o abundante potencial presente nas pessoas que apresentam diferentes e peculiares condições para a prática das atividades físicas, interagindo nos mais diferentes contextos. (GORGATTI e COSTA, 2005, p.03). Segundo Freitas (2002 apud AGUIAR; DUARTE, 2005) a Educação Física Adaptada surgiu devido a Resolução nº 03/87, do Conselho Federal de Educação, que declara sobre a atuação do professor de Educação Física com o aluno portador de deficiências. Por ser recente, encontramos professores atuantes que não tiveram em sua formação acadêmica, conteúdos sobre como atuar com o aluno com necessidades especiais ou como trabalhar com a inclusão do mesmo. Para Aguiar e Duarte (2005) a Educação Física deve fazer parte ativamente da inclusão, já que faz parte da educação básica, para isso, defende que o professor desenvolva competências educacionais em sua formação, ou seja, que haja um estímulo pedagógico maior do que o estímulo desportivo/competitivo. Pois aulas projetadas sem valores inclusivos, visando a área esportiva com competição, pode contribuir para a exclusão dificultando a inclusão. 3. A Inclusão Entre o final de 1970 e início de 1980, o sistema de educação brasileiro buscou novos caminhos para acabar com a segregação dos alunos portadores de necessidades especiais, fortalecido pelo movimento chamado Integração Escolar, em que o aluno deveria se adaptar à escola. Na década de 90 esse movimento é renomeado, devido à influência da Declaração de Salamanca (1994) surgindo assim à inclusão, onde a escola deverá se adaptar para atender as necessidades educacionais de todos os alunos. Deste modo, a escola deve ter o compromisso de educar cada criança independente de sua origem social, ética ou lingüística na rede regular de ensino. (LACERDA, 2007). Inclusão é uma relação entre a sociedade e o individuo com necessidades especiais, pois esta sociedade tem que se adaptar para poder incluir, enquanto que, simultaneamente, o individuo portador de necessidades prepara-se para assumir responsabilidades como cidadão atuante nesta sociedade. Podemos definir 4 princípios do processo de inclusão: a aceitação das diferenças, conviver com a diversidade, valorização do individuo e o aprendizado por meio da cooperação. (SASSAKI, 1997, p.41 apud RIBEIRO, 2001). Assim, de acordo com Mazzota (1996 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 60 apud LACERDA, 2006) a inclusão tem como objetivo inserir os mais variados tipos de alunos na mesma sala de aula, desejando que a escola seja criativa para garantir a permanência desses alunos na rede regular, promovendo resultados satisfatórios no desenvolvimento cognitivo e social. Cada aluno incluso torna-se importante para garantir a riqueza do processo de inclusão. Para Masini (2004), de 1998 a 2002, a situação da inclusão escolar no Brasil, apresenta as seguintes características: a inserção e a garantia da matrícula dos alunos com necessidades especiais na rede regular de ensino; inserção do tema inclusão em programas científicos, em reivindicações e nos meios de comunicação. Somente a matrícula do aluno portador de necessidades especiais não propicia a inclusão, é necessário um estudo sobre suas condições de aprendizado, além de haver um preparo dos professores para que saibam como o conhecimento é construído. Com a inclusão de pessoas com necessidades especiais na rede regular de ensino surgem vários trabalhos e discussões sobre a nova realidade. Na área política há três vertentes sobre a educação do surdo. A primeira está a favor da inclusão dos alunos surdos no ensino regular de ensino e em classes com ouvintes, sendo utilizada a língua portuguesa. Na segunda corrente estão os que defendem a concepção anterior à inclusão com salas específicas para os alunos surdos nas escolas regulares, e que a língua utilizada seja Libras, essas salas não são necessariamente formadas somente por alunos surdos. E a terceira visão, é dos que desejam os alunos surdos em classes de escolas especiais. (SILVA; BARAÚNA, 2007). De acordo com Lacerda (2007) os principais defensores da inclusão são Brunch (1994), Cohen (1994), Kirchner (1994), Silveira Bueno (1994), e Sassaki (1997). Esses autores argumentam que o aluno surdo deve ter o direito de freqüentar a mesma escola de seus irmãos, com crianças da mesma faixa etária e para que isso seja efetivo, faz-se necessário uma didática de trabalho que atenda às suas necessidades com suporte de aprendizado e assistência especializada, otimizando a aprendizagem e auxiliando o professor neste processo. Não desmerecem as classes especiais, visto que em alguns casos a inclusão não se faz possível. No contexto do acirramento das diferenças sociais provocado pelas tendências globalizantes, pela concentração de riqueza e pelos processos que a acompanham (redução do emprego, encolhimento do Estado etc.), a implementação de políticas realmente inclusivas deve enfrentar grandes problemas. (LAPLANE, 2004, p.17-18, apud LACERDA, 2006, p.168). De acordo com o autor citado acima, desta forma o discurso da inclusão contradiz a realidade educacional brasileira que é caracterizada por salas de aulas superlotadas, quadros de docentes que não tiveram uma boa formação não sendo capazes de trabalhar com grupos distintos e instalações físicas não apropriadas. Essas condições colocam os ideais da inclusão em dúvida, visto que somente inserir esses alunos na rede regular não atinge seus objetivos educacionais. Para Mazini (2004) o processo de inclusão no Brasil demonstra resultados positivos, tornando-se necessário para acabar com a exclusão e o preconceito, por outro lado, gera também pontos negativos, pois essa inclusão sem uma avaliação prévia do aluno e da instituição, pode trazer inúmeros problemas contradizendo os objetivos da inclusão. Rechigo e Marostega (2002 apud GUARINELLO et al, 2006) questionam se somos capazes de incluir um aluno surdo na rede regular de ensino, sem modificar a metodologia aplicada aos ouvintes, ou se essa inclusão não é uma forma mascarada de exclusão dentro da escola. MÉTODO Foi realizado um estudo de caso sobre o processo de inclusão de um aluno surdo na rede estadual de ensino, na cidade de Votuporanga, interior de São Paulo, nas aulas de Educação Física. O aluno em questão é do sexo masculino, com idade escolar regular e freqüenta a escola no período da manhã, estando matriculado no 6º ano do Ensino Fundamental II. No período da tarde, o aluno freqüenta aulas de reforço com a Professora Especialista e Intérprete de Libras. As aulas de Educação Física que foram observadas aconteceram sempre às segundas e sextas-feiras, com 50 minutos de duração. Foram observadas nove aulas, sendo no período do dia 08 de Maio até o dia 05 de Junho do ano de 2009. A coleta de dados para posterior comparação com revisão bibliográfica, foi realizada por meio de um diário de campo e uma entrevista semiestruturada. O instrumento de pesquisa foi apreciado e validado Professor Doutor e atuante da área da Educação Física Adaptada, sendo analisado anteriormente à sua aplicação, para que assim o instrumento cumprisse seu papel estando de acordo com os objetivos do trabalho. Segundo Barros e Lehfeld (2002) a coleta de dados por meio de um diário de campo deverá registrar os dados através das observações no diário de campo que pode ser realizado com notas feitas a mão, gravações, fotografias, ou qualquer outro recurso disponível. Este diário serve como uma agenda cronológica das atividades. As observações pessoais exercem grande importância devendo ser levadas em consideração. De acordo com Manzini, (2004), uma entrevista é efetuada por meio da intervenção oral do pesquisador, em que as informações são Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 61 coletadas na forma de falas ou verbalizações, sendo necessário realizar a transcrição. Pode conter perguntas abertas e fechadas possibilitando intervenções, como por exemplo, apresentando contradições para uma discussão. Uma entrevista semi-estruturada geralmente é aplicada a um grupo menor de participantes, podendo se estender de acordo com o numero de dados que deseja obter. Para a realização da entrevista, elaboramos doze perguntas com base nos dados levantados por meio da pesquisa de campo. Assim levantamos questões relacionadas à vivencia do aluno, facilitando o entendimento com exemplos ocorridos durante as aulas. A entrevista tornou-se possível e fidedigna devido à presença da professora e intérprete de Libras, que traduziu as perguntas para o aluno surdo e também suas respostas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pode ser observado que o aluno surdo é participativo, demonstrando interesse em realizar as aulas de Educação Física junto com os outros alunos ouvintes. Sendo confirmado na entrevista: Você gosta de Educação Física? “Sim” Você participa das aulas de Educação Física? “Sim” Apresenta um atraso no desenvolvimento motor sendo assim observadas severas dificuldades de equilíbrio, o que pode ter contribuído para a falta de coordenação em realizar movimentos básicos como correr, saltar, trotar, entre outros. Os estímulos motores que o aluno teve no decorrer do seu desenvolvimento, devem ser levados em consideração como um fator que pode ter influenciado o seu desenvolvimento. Das 9 aulas observadas, apenas 1 foi realizada na sala de aula, devido ao frio e a chuva, todas as outras aulas foram realizadas na quadra, de modo que os meninos jogaram futebol, e as meninas vôlei ou handebol. Os times de futebol eram divididos da seguinte forma: ü Separava-se um número de goleiros de acordo com o número de times; ü Os outros jogadores eram escolhidos pelos goleiros. ü Sorteava quem jogava primeiro, com duração de 2 minutos cada partida. Quem ganhava o jogo continuava, podendo jogar até 2 vezes seguidas. Desta forma o aluno surdo sempre era o último a ser escolhido. Quando a professora estava escolhendo os alunos que seriam goleiros, o aluno surdo corria e erguia a mão, apontando para o gol e para ele, mostrando seu interesse pela posição. Ele gostava de jogar como goleiro, pois quando estava nessa posição, ele tinha a oportunidade de escolher o time, não sendo o último a ser escolhido, além de participar do jogo de forma mais ativa, pois quando jogava em outra posição não recebia a bola de seus companheiros. De acordo com Ribeiro (2001) somente garantir a participação do aluno surdo não garante a inclusão do mesmo nas aulas de Educação Física, é necessário que todos os envolvidos estejam participando do objetivo da atividade. Para tornar o esporte acessível e prazeroso a todos é necessário levar em consideração as características de cada aluno, para que assim ele consiga atingir o objetivo proposto. A classe do 6º ano é extremamente competitiva, que é uma característica da idade. Além de excluir o aluno surdo ainda reclamavam quando a professora o escalava como goleiro. Sendo assim perguntamos: Os outros alunos (ouvintes) deixam você de fora em alguma atividade? Não deixa você participar? Intérprete: “Sim. Os meus amigos me deixam, muitas vezes eu peço atenção, peço para meus amigos passar a bola, mas eu sinto que eles me deixam de lado”. O aluno surdo, apesar de presente (fisicamente), não é considerado em muitos aspectos e se cria uma falsa imagem de que a inclusão é um sucesso. As reflexões apontam que a inclusão no ensino fundamental é muito restritiva para o aluno surdo, oferecendo oportunidades reduzidas de desenvolvimento de uma serie de aspectos fundamentais (lingüísticos, sociais, afetivos, de identidade, entre outros, que se desenvolvem apoiados nas interações que se dão por meio da linguagem. A não partilha de uma língua comum impede a constituição plena dos sujeitos. (LACERDA, 2006, p.19) Pôde ser observado também que o aluno surdo conhecia regras básicas, como por exemplo, só pegar a bola com a mão quando estiver jogando na posição de goleiro, cobranças de lateral e escanteio. E ele aprendeu através de vivências na quadra, observando as jogadas realizadas pelos demais alunos. Você sabe as regras dos esportes? Como por exemplo, as regras do futebol? “Sei as regras do Futebol” (deu alguns exemplos das regras conhecidas.) Enquanto os alunos esperam a professora na quadra, ficam conversando ou brincando, já o aluno surdo fica só observando os demais, sempre por perto, rindo quando os outros alunos riem, sem saber do que os outros alunos estavam rindo, não participando do círculo de amigos da sala. O aluno surdo tem como conceito de amigo as pessoas com quem brinca ou convive na escola. Sendo assim, questionamos: Você tem amigos na escola? Intérprete: “Sim, tem amigos. Brinco de Pega-Pega com meus amigos, Esconde-Esconde e outras brincadeiras. Tem contato com amigos, tanto meninas como meninos”. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 62 Pode-se comparar com dados coletados no estudo de Lacerda (2006), que mostrou a opinião dos alunos ouvintes em relação a inclusão do aluno surdo e consequentemente a sua socialização. Duas alunas ouvintes citaram a Língua de Sinais como de difícil entendimento, disseram também que o aluno surdo era legal, mas que às vezes tinha atitudes que não conseguiam entender, e finalizaram expressando o desejo de que ele aprendesse a falar. Já o aluno surdo, no 6º ano, não conhece o nome dos outros alunos da sala, nem tem acesso às inúmeras informações originadas das trocas de conhecimentos entre indivíduos que falam a mesma língua, pois esse aluno não se relaciona diretamente nem com os professores nem com os outros alunos, está sempre com um intérprete, adulto, por perto. Concluindo assim que há dificuldade de relacionamento, de conhecimento sobre a surdez e de aceitação de certas características do aluno. Devido à chuva e a temperatura baixa, em uma das aulas observadas a professora ministrou aula dentro da sala de aula, e distribuiu tabuleiros de Xadrez. O aluno surdo posicionou as peças conforme o jogo de Damas, achando que era o mesmo jogo. A professora até tentou explicar as regras do jogo de Xadrez, posicionando e movendo algumas peças, mas devido a falta de comunicação, naquele dia o aluno ficou sem aprender a jogar Xadrez, jogou apenas Dama, que já tinha domínio, com as peças e tabuleiro do outro jogo. Assim fica evidente a impossibilidade do individuo surdo adquirir um conceito por meio de outra língua que não seja a sua, tornando o uso de Libras necessário no processo ensino-aprendizagem. Em função desse acontecimento, pergunta-se: Lá na quadra, você entende o que a professora diz? “Sim” Como a professora explica? Intérprete: “O aluno disse que entende nos momentos em que a professora gesticula, usa sinais e aponta sendo dessa forma que ele consegue compreender”. Quando você não entende, você tira duvidas? Você pergunta? “Não”. Se a professora soubesse Libras, você acha que aprenderia mais? “Sim”. Intérprete: “Ele ta dizendo que com a Libras ele entenderia melhor, com a Oralidade, ele tem dificuldade maior de compreender e se o professor soubesse Libras, com certeza ele aprende mais”. Você gostaria que todos na escola soubessem Libras? “Sim”. Se todos soubessem Libras, você acha que teria mais amigos e gostaria mais de estudar? Intérprete: “Sim, ele gostaria. Ele disse que ele mesmo poderia estar auxiliando os amigos a aprenderem os sinais, apontando e ensinando os sinais para os amigos, pra conversar melhor.” CONCLUSÃO Por meio dos dados levantados pode-se afirmar que nesse estudo de caso o processo de inclusão não ocorre de forma efetiva. Sendo necessário alterações nesse processo para garantir o direito do aluno surdo de se desenvolver por meio de um ensino de qualidade. A problemática principal no processo da inclusão é a comunicação, visto que o aluno surdo é tratado como um estrangeiro, tendo que assimilar conteúdos de forma oral sem a presença de intérprete, estando o aluno presente fisicamente, mas sem chances de participar de forma crítica das aulas. Mesmo que o professor não teve subsídios em sua formação para trabalhar com a inclusão de alunos surdos e nem tem domínio da Libras, deve estudar e buscar conhecimento sobre a surdez, não olhando somente a vertente patológica, mas buscar respostas no próprio aluno surdo, compreendendo como é ser surdo, como é viver no Mundo do Silêncio e quais são os ideais da Cultura Surda. E somente depois dessas experiências é que o docente enxergará com outros olhos a questão do aluno surdo dentro do processo de inclusão, tendo subsídios para incluí-lo em suas aulas. São necessárias alterações metodológicas nas aulas de educação física, trazendo informações visuais por meio de desenhos, vídeos e até mesmo com a ajuda de interpretes de Libras na tentativa de inserir um conceito ao aluno surdo, sem privilegiar o Oralismo. Não se pode manter a mesma metodologia de aula para ouvintes, esperando que o aluno surdo se desenvolva por meio do canal oral-auditivo. Se a aula de educação física não levar em consideração as necessidades do indivíduo não contribuirá como um fator facilitador da inclusão e de sua socialização, sendo assim irá formar apenas um mero repetidor de movimentos, podendo até mesmo resultar na exclusão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AGUIAR, João Serapião de; DUARTE, Édison. Educação Inclusiva: Um Estudo na Área da Educação Física. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v.11, n.2, p.223240, Mai/Ago. 2005. BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. 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Prof. Esp. Cláudio Gomes Barbosa; Prof. Dr. Afonso Antônio Machado Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte. Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Rio Claro – SP. RESUMO O esporte é considerado como um fenômeno multidimensional podendo gerar diversas intencionalidades para quem busca a sua prática. Segundo a legislação brasileira podemos definir o esporte em três grandes áreas: esporteeducação, esporte-lazer e esporte-desempenho, cada uma com sua característica e um público-alvo. O esporte universitário não foge a esta regra tendo suas peculiaridades e podendo encaixar a qualquer uma dessas áreas variando sempre a forma como é executada. No Brasil o esporte praticado nas universidades parece um pouco esquecido e um dos caminhos para entendermos melhor como ele funciona e quais são suas condições atuais é conhecendo sua estrutura organizacional e traçando o perfil de seus participantes. Neste sentido este trabalho possui como objetivo contribuir para o conhecimento da caracterização, frequência e intencionalidades de alunos-atletas para a prática esportiva. Esta pesquisa, de caráter quanti-qualitativa, foi realizada utilizando o método netnográfico por meio da aplicação de questionários por meio de grupos na rede social Facebook. Foram utilizados dois instrumentos (questionários): um aplicado ao alunos-atletas e outro na entidade responsável pela gestão esportiva. Foi adotado como amostra alunos-atletas da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro que praticam atividades de treinamento esportivo (pelo menos 2 vezes por semana). A amostra foi composta por 74 alunos-atletas (média de idade 22,7 anos) e um dirigente esportivo. Após a análise dos dados podemos concluir que assume particular importância escutar a população, com a finalidade de conhecer o seu nível de participação desportiva, os motivos pelos quais não praticam nenhuma atividade ou possuem intencionalidades diferentes e as razões que os levariam a natureza da prática desportiva desejada. Nota-se que na Instituição de Ensino Superior (IES) estudada os alunos-atletas possuem intencionalidades diferentes das pretensões dos gestores esportivos. Isto pode ser um fator importante para obtenção de resultados em competições esportivas. Foi constatado também que vários alunos-atletas diminuíram a frequência de prática esportiva do período escolar para o ensino superior.. Desta forma, todos os objetivos traçados para a construção deste trabalho foram alcançados, sendo importante que estudos futuros sejam realizados com IES de regiões diferentes, para uma caracterização mais eficaz e uma aplicabilidade maior na analise dos dados. Palavras-chave: Esporte universitário, intencionalidades, esporte-lazer, esporte-desempenho. ABSTRACT The sport is considered as a multidimensional phenomenon which can generate different ends for those searching for their practice. Under Brazilian law, we can define the sport in three major areas: education-sports, sports-leisure and sport-performance, each with its characteristic and a target audience. The university sports is no exception to this rule, has its peculiarities and can fit IN any of these areas ranging always the way it is executed. In Brazil the sport practiced in the universities seems somewhat forgotten and one of the ways to better understand how it works and what is the current condition, is knowing your organizational structure and plotting the profile of its participants. In this sense this work aims to contribute to the knowledge of the characterization, frequency and intentions of student-athletes for sports. This research, with a quantitative and qualitative, was carried out using the method “netnographic” through questionnaires by groups in the social network Facebook. It was used two instruments (questionnaires): one applied to student-athletes and others in the organization responsible for sports. It was adopted as a sample student-athletes of Universidade Estadual Paulista, Rio Claro Campus who practice coaching activities (at least 2 times per week). The sample consisted of 74 studentathletes (mean age 22.7 years) and a sports leader. After analyzing the data we can conclude that it is particularly important to listen to the population, to know better their level of sport participation, the reasons to not practice any activity or have different intentions and the reasons that would take them to practice their sport desired. Note that the Higher Education Institution (HEI) studied, student-athletes have different intentions of the sporting managers pretensions. This can be an important factor for obtaining results in competitions. It was also found that many student-athletes decreased their frequency of sports practice from the school term to the higher education. This may be due to public policies in Brazil that do not favor adding sports to education. Thus, all the goals set for the construction of this work have been achieved, it is important that future studies be conducted with IES of different regions, to characterize a more effective and a greater applicability in data analysis. Keyword: college sports, intentions, sport, leisure, sport-performance. INTRODUÇÃO A definição do termo esporte pode ser encontrada em diversas formar. Uma analogia feita por Tubino (1994) pode ser usada como os primórdios desta palavra. Ele compara a expressão “sair do porto”, usada por marinheiros europeus no século XIV, quando se envolviam com atividades, onde habilidades físicas eram usadas, em seu tempo livre. No século XX a concepção sobre esporte moderno passou por diversas modificações. Do início do século XIX até 1936, possuía características claras, como o associativismo, o fair-play e a clássica dicotomia amadorismo/profissionalismo. Na UNESCO, surgiu o movimento Esporte para Todos, que difundiu internacionalmente o conceito de esporte como todas as possibilidades da atividade motora humana capaz de promover o lazer, o prazer e a satisfação (BARROS ALVES & PENNA PIERANTI 2007). Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 65 A mudança no entendimento desse conceito ampliou o significado das atividades esportivas, disseminando práticas não competitivas, possibilitando uma participação universal no esporte, que anteriormente era visto não como um direito, mas como um dom. Tornou-se possível falar, então, em esporte como fenômeno social, apresentado a todos na infância e ligado à identidade individual. O entendimento do esporte como fenômeno social do mundo moderno dá-se como um fato social construído, que existe fora das consciências individuais, se torna imperativo à vida da sociedade e influencia costumes e hábitos (HELAL, 1990). Essas práticas podem ou não se expressar através de confrontos diretos entre sujeitos, de mensuração de performances, de nomeação de vencedores ou destaques, mas sempre expressam o desejo de realização do ser humano que encarna a necessidade, entre outras, de emocionar-se, superar-se, jogar, brincar e comunicar-se. Sem o esporte, o desenvolvimento cultural do homem fica mais pobre. Por se tratar de um fenômeno que exerce transmissão e renovação cultural, pois deriva das características de seus praticantes, o esporte transmite valores, e por isso colabora para a formação humana Podemos caracterizar o esporte como um fenômeno “multidimensional”, e suas dimensões por vezes transpõem-se umas sobre as outras. O autor Tubino (2010) conceitua o esporte de acordo com a sua abrangência em: esporteeducação, esporte-lazer e esporte-desempenho. Segundo ele, o primeiro é aquele que possui um caráter formativo. O esporte-lazer, como o próprio nome infere, é aquele que se apóia no próprio lazer em busca do bem-estar de seus praticantes. Por fim, o esporte-desempenho é aquele disputado obedecendo rigidamente às regras existentes, por isso diz-se que ele é institucionalizado. Podemos dizer então que, o esporte congrega indivíduos com características diferentes e intencionalidades distintas para a prática esportiva, sendo este um fenômeno que nos permite um sentimento de identificação coletiva. Estes três conceitos de esportes apresentado por Tubino (2010) serão usados para caracterizar a intencionalidade das atividades praticadas pelo grupo estudado. É importante confrontar a real intenção do atleta na prática do esporte com os objetivos traçados pelos dirigentes e gestores esportivos. Se as metas dos gestores e as intencionalidades dos atletas nas práticas esportivas não estiverem alinhavadas será difícil à obtenção de bons resultados. Entretanto vale ressaltar que o conceito de esporte não é definitivo na medida em que novas perspectivas e correntes de pensamento estão continuamente a enriquecê-lo. O esporte universitário, como eixo temático principal deste trabalho, é considerado como um esporte de formação, cuja função principal é social, visando o bem estar do estudante universitário. É impossível negar a contribuição do desporto acadêmico para aproximação do ser humano, de seu relacionamento, do incentivo ao coleguismo, ao espírito de coletivismo e também ao incentivo à formação de novas lideranças. Pode ser definido também, em princípio, como uma forma de esporte institucional que oferece atividade física para os membros da universidade/faculdade. Por meio de consulta, análise e discussão de material empírico, foi constatado que o esporte universitário no Brasil passou por várias fases. A primeira fase foi iniciada junto com as primeiras manifestações do esporte nas instituições de ensino superior. Estas ainda não tinham a configuração atual de universidades, constituindo colégios ou faculdades isoladas. As primeiras competições universitárias foram realizadas dentro dos próprios estados. Neste sentido, onde o estado não intervinha nas questões do esporte universitário, foi criado a Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU) em 9 de agosto de 1939, só teve interferência do Estado anos depois, através do Decreto-Lei nº 3.617, de 15 de setembro de 1941, que oficializou a Confederação. (STAREPRAVO, 2010) A liberdade de organização oferecida pela legislação esportiva brasileira (Lei n° 8.672/93, “Lei Zico” e posteriormente pela Lei n° 9.615/98,“Lei Pelé”) pouco modificou a estrutura criada desde 1941 para o Esporte Universitário. As Associações Atléticas Acadêmicas (denominadas de A.A.A.s) são as entidades básicas de organização do Esporte Universitário na maioria das Instituições de Ensino Superior (IES), constituindo-se nos centros diretamente responsáveis pela prática esportiva no âmbito destas Instituições, podendo ou não ser dirigidas por Acadêmicos. A estrutura esportiva existente no Brasil pode ajudar nesta estagnação. O modelo encontrado no Brasil denomina-se piramidal, onde a ponta são os clubes. É esse o foco para a prática esportiva. A dificuldade de acesso à base da pirâmide brasileira reflete-se nos níveis superiores: atingir as escolinhas e, posteriormente, as equipes amadoras e profissionais dos clubes é ainda mais incomum. Não é raro encontrarmos atletas que chegam em um determinado momento da carreira eles são obrigados a escolher entre se profissionalizar no esporte e seguir estudando. O modelo brasileiro não só separa educação e esporte, como também os opõe nos níveis mais altos. O Brasil, portanto, se difere de países como os Estados Unidos onde, o esporte de base é praticado na escola e, posteriormente, nas universidades. Em alguns casos, alunos chegam a escolher seu curso com base na qualidade da equipe universitária ou Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 66 recebem bolsas para cursar a faculdade e jogar pelo time. Apenas quem alcança um nível elevado chega aos clubes profissionais (BARROS ALVES & PENNA PIERANTI, 2007). Esta dicotomia entre estudos e esporte que é imposta aos atletas no Brasil pode gerar conflitos e modificações constantes nas intenções para a prática esportiva enquanto atletas universitários. Torna-se necessário então realizarmos uma caracterização do perfil destes atletas, identificando o nível de prática esportiva antes e após a entrada no ensino superior e associarmos as suas intencionalidades tanto em treinamentos dentro de sua instituição quanto na participação em competições oficiais. Atualmente, o esporte brasileiro apresenta limites. Poucos projetos políticos tem se demonstrado eficazes para diminuir a exclusão e aumentar as oportunidades das pessoas darem continuidade aos esportes praticados na fase escolar. Dentre os vários motivos existentes para a interrupção da prática esportiva após a fase escolar acreditamos que, a princípio o tempo e o espaço sejam fatores intervenientes para o impedimento da atividade antes desenvolvida. Pois a partir do rompimento da fase escolar o individuo necessita de outras estruturas intrínsecas, sendo a principal delas a motivação (FREITAS, A.M., TUBINO, M.J.G. 2003). Dentro do campo da psicologia do esporte, as pesquisas relacionadas ao estudo das motivações no âmbito de práticas de rendimento, iniciação esportiva, estudos do lazer e até envolvendo idosos e atividades físicas têm aumentado substancialmente (LÓPEZ, 2003; FREITAS et al., 2007). A motivação é a direção e intensidade de um esforço, e, junto à habilidade, condicionamento físico e autoconfiança, é fator preponderante para bom desempenho (SAMULSKI, 2002). Neste mesmo estudo idealizado por FREITAS & TUBINO (2003) aponta que a maioria das pessoas acredita que o esporte aprendido durante a fase escolar, pode formar a base esportiva para a efetividade de hoje. Logo para analisarmos o esporte universitário em si devemos identificar o perfil dos alunos-atletas e o histórico de suas práticas esportivas anteriores. Segundo Lopes (2000), se as instituições responsáveis pela gestão esportiva direcionarem uma atitude, visando o processo de organização e planejamento, então se torna indispensável o conhecimento do sistema esportivo local que é composto por três princípios: a) princípio de oferta e recursos (econômicos, materiais, humanos, etc.); b) princípio de práticas (organização e realização de atividades); c) princípio de procura esportiva e caracterização dos praticantes (atuais e potenciais). Ainda, segundo o mesmo autor, a análise da procura (entendida esta como o conjunto de necessidades de atividade esportiva no tempo livre) varia muito em função do lugar, já que quer o ambiente envolvente, quer o tipo de localidade, produzem modos de vida bastante distintos. Assim, cada sistema local necessita de uma análise específica da procura, diferenciando as suas diversas formas e ajustando-nos a um espaço e tempo determinado. Em detrimento aos conceitos expostos anteriormente, os responsáveis pela gestão esportiva nas universidades ao assumir as suas responsabilidades e competências, no sentido de continuar a desempenhar um papel orientador, devem interessar-se por projetos baseados nesta temática - caracterização da participação e intencionalidades esportivas locais. Enfim, para que as instituições de ensino superior e setores responsáveis com competências para definir linhas orientadoras de projetos desportivos dentro das universidades, assentem as suas opções e decisões numa base objetiva, é determinante a existência de informação e dados que sustentem as mesmas. O presente estudo pode oferecer dados às entidades responsáveis pela gestão esportiva nas universidades para que seus projetos esportivos sejam direcionados as intencionalidades dos alunos-atletas. OBJETIVO GERAL Partindo da estrutura organizacional do esporte na Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Rio Claro, este estudo pretende contribuir para o conhecimento da caracterização, frequência e intencionalidades de alunos-atletas para a prática esportiva. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Tendo como população os alunos-atletas da UNESP (Rio Claro), por constituírem os prováveis “consumidores esportivos”, e aqueles para os quais a entidade estudantil responsável pela gestão do esporte tem que assumir as suas responsabilidades e competências, este estudo especificamente busca os seguintes objetivos específicos: · Identificar e comparar as intencionalidades dos alunos-atletas na participação em treinamentos e eventuais eventos esportivos universitários; · Comparar a frequência esportiva de alunos-atletas da fase escolar com a fase no ensino superior; · Constituir uma referência para que os gestores esportivos das IES reflitam acerca do seu papel e perspectivem linhas orientadoras para a criação de um modelo de intervenção e atuação adequadas, fornecendo resposta às expectativas da população. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esta pesquisa, de caráter quantiqualitativa, foi realizada utilizando o método Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 67 netnográfico por meio da aplicação de questionários. O campo das pesquisas científicas aponta uma tendência para o surgimento de um novo paradigma metodológico. Um modelo que consiga atender integralmente as necessidades dos pesquisadores. Torna-se evidente a importância da utilização da metodologia quantiqualitativa no campo das ciências sociais como uma forma de se obter um conhecimento mais acurado dos objetos estudados, já que esta área é, por demais, complexa. O ideal é a construção de uma metodologia que consiga agrupar aspectos de ambas as perspectivas. A etnografia na internet ou netnografia é então definida como uma metodologia qualitativa de pesquisa destinada à observação de aspectos culturais manifestos em grupos sociais organizados no ciberespaço, a partir da comunicação mediada por computador (KOZINETS, 1997; GUIMARÃES JÚNIOR, 1999; HINE, 2004). Para a realização deste tipo de estudo, existe desde sempre uma preocupação com a escolha de grupos cujos enfoques sejam coerentes com os interesses e problemas de pesquisa. Além disso, o pesquisador deve conhecer em profundidade o mecanismo de funcionamento de fóruns, canais de bate-papo ou chats e outras ferramentas de informação e comunicação que dão suporte à criação de agregações sociais on-line (KOZINETS, 1997). O método netnográfico foi utilizado neste trabalho em virtude de suas vantagens propiciarem uma maior aplicabilidade em uma amostra tão heterogênea, por ser uma forma de experimentação do uso de uma tecnologia e garantir o anonimato das respostas podendo obter assim uma maior veracidade nos questionamentos. Esta pesquisa possui um caráter descritivo, pois tem como objetivos primordiais a descrição das características de determinada população, estudar as características deste grupo e determinar a natureza desta relação (GIL 1994, 43-50). O universo desta pesquisa se caracteriza por alunos-atletas universitários, sem distinção de idade ou gênero, que praticam esportes frequentemente em sua universidade por pelo menos seis meses. Foi adotado como amostra alunos-atletas da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro que praticam atividades de treinamento esportivo (pelo menos 2 vezes por semana). Optou-se pela seleção desta IES pela facilidade de acesso aos participantes. A coleta de dados foi iniciada após obter a autorização dos gestores esportivos da instituição e o consentimento livre e esclarecido dos alunos-atletas aceitando participar da pesquisa. A amostra foi composta por 74 alunosatletas (média de idade 22,7 anos) e um dirigente da entidade estudantil responsável pelos projetos esportivos da IES. Para a coleta de dados utilizou-se dois questionários aplicados por meio de uma rede social: Facebook. Foi determinada a utilização de uma plataforma de “sociabilidade virtual” para concentração da amostra, facilitar a aplicação dos questionários e realização de discussões. Esta plataforma é um espaço simbólico criado no ciberespaço por sites orientados a comunicação de vários usuários. Cabe ressaltar que as pesquisas relacionadas a população envolvendo atividade física têm sido incrementadas pelos sistemas computadorizados. Esse novo meio de coleta de dados por meio de questionário informatizado tem se demonstrado viável na atualidade (SMITH et al., 2007) Segundo Gil (1994) o questionário constitui hoje uma das mais importantes técnicas disponíveis para obtenção de dados nas pesquisas sociais. Os questionários desta pesquisa foram idealizados utilizando a ferramenta Google Docs e contém questões abertas, fechadas e mistas. O primeiro questionário aplicado foi voltado para os alunosatletas e o segundo para o gestor responsável pelos projetos esportivos da IES. O link do questionário, destinado para os alunos-atletas foi disponibilizado em grupos de relacionamento do Facebook que tem como participantes alunosatletas das modalidades praticadas na IES. O link do questionário para o gestor responsável pelos projetos esportivos foi enviado para sua conta pessoal na rede social. Os dois instrumentos utilizados nesta pesquisa serão explicitados a seguir: a) Instrumento 01: Questionário aplicado aos alunos-atletas, sobre os dados sócio-demográficos e intencionalidade para a prática esportiva. As questões tinham como objetivo identificar as características específicas da amostragem analisada (sexo, idade, escolaridade, intencionalidades, experiências etc.) e determinar a real intenção dos atletas que participam de práticas esportivas na IES. Este questionário foi criado especificamente para esta pesquisa e possui 41 questões que se situam em 3 blocos distintos, são eles: perfil do atletas (caracterização sócio-demográfica), intencionalidades para a pratica de esportes e situação da integração entre as IES. b) Instrumento 02: Questionário estruturado objetivando especificar aspectos gerais dos projetos esportivos executados na IES e visa também conhece melhor as características da entidade responsável pela gestão esportiva e sua intenção na promoção de treinamentos e participação em eventos esportivos. O principal objetivo deste questionário é descrever a estratégia de gestão de eventos desportivos, com o intuito de criar uma metodologia apropriada e adaptada que permita também a criação de mecanismos de auto-avaliação e um modelo de gestão da qualidade na gestão esportiva. Este questionário foi criado especificamente para esta pesquisa e possui 13 questões. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 68 A compreensão do papel dos gestores esportivos na coordenação das equipes é um tema central no âmbito da psicologia do esporte se aceitar que as suas ações implicam não só a gerência e organização de todos os membros da equipe, mas também envolvem um efeito sobre o desenvolvimento psicológico dos atletas, seja através da transmissão de um conjunto de princípios e valores acerca do esporte, seja pela forma como os ajudam a lidar cada vez mais eficazmente com as crescentes exigências da competição. Na primeira etapa desta pesquisa foi realizado um levantamento, por meio de uma consulta usando a rede social Facebook, com o objetivo de conhecer e identificar quais eram os grupos de discussão, existentes até o momento, relacionados com modalidades de treinamento esportivo da UNESP de Rio Claro. Em um segundo momento, foi realizado um contato direto com a pessoa responsável por cada grupo para solicitar autorização e fazer parte do mesmo, submetendo assim à aplicação do questionário (instrumento 01). Após receber autorização para iniciar os primeiros procedimentos da coleta de dados foi divulgado em cada grupo uma mensagem explicando a finalidade do questionário, os objetivos da pesquisa e todas as condições para participação, sendo de caráter voluntário. Junto com a mensagem foi anexado um link que direcionava o participante para o questionário. O último procedimento realizado para a coleta de dados desta pesquisa foi a aplicação do questionário para o gestor esportivo responsável (instrumento 02). Primeiramente foi identificada na rede social a página oficial da atlética da UNESP de Rio Claro (Atlética Ayrton Senna) e o questionário enviado ao atual representante da mesma. Primeiramente foi realizada uma analise quantitativa do questionário focando nos dados sócio-demográficos dos alunos-atletas, frequência na prática esportiva e intencionalidades. Foi feita uma analise das médias, desvio-padrão e frequência das respostas sendo apresentando os resultados em forma de gráficos e tabelas. A técnica de analise dos dados qualitativos utilizada neste estudo consiste em estruturar um conjunto de informações, interpretar e extrair significados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Antes de apresentar os primeiros resultados referentes à caracterização dos alunos-atletas bem como de suas intencionalidades é necessário apresentar as características da estrutura organizacional do esporte vigente no campus de Rio Claro da UNESP. Estes dados foram coletados mediante aplicação de um questionário ao setor responsável (instrumento 2). Segundo um estudo realizado por Palma & Inácio (2009), na Grande São Paulo concluiu que há dois tipos de gestores, com realidades distintas entre si: identificou-se que a grande maioria é gerida por alunos, de forma amadora e sem apoio institucional e, por outro lado, há aquelas que são profissionais, respaldadas por IES, mas numericamente inferiores e com objetivos e interesses diferenciados. Na UNESP de Rio Claro a gestão do esporte é feita integralmente por uma entidade estudantil chamada Associação Atlética Ayrton Senna. Está entidade atualmente é gerida por 6 alunos de diversos cursos (Engenharia Ambiental, Educação física e Geografia). A maioria dos projetos esportivos que são ofertados aos alunos são jogos integradores entre os cursos. A entidade oferece também treinamentos esportivos visando competições universitárias e várias modalidades. Foi questionado qual seria a intencionalidade da Atlética, na promoção de treinamentos esportivos e a participação em competições universitárias. Nos dois casos a entidade respondeu que ofertam essas ações visando COMPETIÇÃO/DESEMPENHO, o que não se percebeu a mesma linha de motivação para os atletas que participam do mesmo. Foi afirmado também que a intenção na promoção de treinamentos e viagens por parte da Atlética é passado para os alunos como objetivos reais do trabalho. Isso mostra que existe uma falha na linha executora dos projetos esportivos em se alinhar as intenções dos atletas. Segundo o gestor esportivo responsável pela atlética existem cerca de 200 alunos-atletas na entidade, porém apenas 37% (n=74) responderam ao questionário 1, esse fato se deve devido as condições necessárias para participação na pesquisa (participar de treinamentos esportivos a pelo menos 6 meses, ter participado de competições esportivas universitárias representando sua atual instituição de ensino etc.). A idade média dos alunos-atletas participantes foi de 22,7 anos, sendo a maioria homens (55%) e cursando a graduação (81%). Outra informação importante sobre a caracterização da amostra é de que nenhum dos alunos atletas que responderam o questionaram recebem qualquer tipo de bolsa ou beneficio (chamada aqui de “bolsa atleta”) para participar dos treinamentos ou de eventos esportivos (Tabela 1). Tabela 1. Descrição da amostra de alunos-atletas que se encaixaram nas condições deste trabalho AMOSTRA IDADE TOTAL MÉDIA SEXO NÍVEL DE ENSINO PÓSGRADUAÇÃO n=74* ±22,75 55% 45% 81% 19% * Refere-se a 37% do total de alunos-atletas existentes na UNESP de Rio Claro HOMENS MULHERES GRADUAÇÃO BOLSA ATLETA NÃO POSSUÍ 0% 100% POSSUÍ Referente à possível formação dos alunos-atletas, como esperado, vem de diferentes cursos, porém, a maioria (51%) cursa Educação física, seja licenciatura, bacharelado ou pós-graduação. Isso pode ser explicado pela afinidade do curso com a prática de esportes. Em segundo lugar aparece Ciências Biológicas com 8 participantes (11%) seguido de Engenharia Ambiental com 7 participantes (9%). Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 69 Outro dado importante sobre a caracterização da amostra é quanto à modalidade esportiva praticada, sendo que os alunos-atletas do futsal (24,3%) foram os que mais responderam e os da corrida de rua (2,7%) e futebol de campo (2,7%) os menos representados (Gráfico 1). Gráfico1. Referente as modalidades esportivas praticadas na UNESP de Rio Claro e o percentual de participantes que responderam o questionários O Ministério do Esporte admite a definição defendida pela Lei 9615, de 1998, segundo a qual o esporte brasileiro é: I. Desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; II. Desporto de participação, praticado de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente; III. Desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais da Lei 9615, de 1998, e das regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações. (BRASIL, 1998). Usando como referência as definições de esporte baseada no documento oficial do Ministério do Esporte, foram criadas e indagadas aos participantes quatro possíveis intenções reais para a participação em treinamentos esportivos e competições esportivas universitárias, são eles: a) Pratico esporte visando LAZER (busca seu bem estar ao participar); b) Pratico esporte visando COMPETIÇÃO/DESEMPENHO (institucionalizado, obedecendo rigidamente as regras); c) Pratico esporte visando sua formação EDUCACIONAL (caráter formativo) e d) Pratico esporte visando BOLSA DE ESTUDOS. Conforme descrito no gráfico 2, nenhum aluno-atleta participante desta pesquisa possui a intenção de buscar o esporte visando sua formação EDUCACIONAL (caráter formativo) e visando buscar BOLSA DE ESTUDOS na participação nos treinamentos e competições esportivas universitárias. Na participação de treinamentos esportivos, 45 alunos-atletas participam dos treinamentos buscando uma forma de LAZER e apensa 29 alunos-atletas t r e i n a m b u s c a n d o COMPETIÇÃO/DESEMPENHO. Já na participação de viagens para competições esportivas universitárias o resultado é parecido: 39 buscam COMPETIÇÃO/DESEMPENHO e 35 buscam uma forma de LAZER. Gráfico 2 Intencionalidades encontradas na participação de treinamentos esportivos e na participação de viagens para competições esportivas universitárias De Marco & Junqueira (1993) consideram que a motivação nos esportes é determinada, por um lado, pelas possibilidades específicas do esporte como campo de ação e de vivência, e por outro lado, pela influência dos aspectos motivacionais específicos da personalidade. Neste sentido o esporte pode para Bento (1987) preparar o indivíduo para uma ocupação sadia do tempo livre, constituindo-se como parte integrante e integradora da cultura corporal e física. E, por isso pode-se acreditar que se o hábito da prática esportiva regular for adquirido desde a infância e efetivamente for proporcionado prazer durante as atividades, à probabilidade desse gosto se estender por toda a vida, deve aumentar consideravelmente. Com base nestas afirmações, a participação esportiva na fase adulta depende das experiências vividas no ensino escolar através das aulas de educação física. Portanto este estudo questionou os alunos-atletas sobre a frequência (em dias x semana) referente à prática de esportes tanto no período escolar quanto no estagio atual (ensino superior). Verificou-se que 50% dos alunos-atletas diminuíram a frequência de atividades esportivas praticadas no período universitário quando comparado com o período Gráfico 3. Nível da frequência na pratica de atividades esportivas entre o período escolar (nível fundamental e médio) e nível superior Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 70 CONCLUSÕES Neste processo, assume particular importância escutar a população, com a finalidade de conhecer o seu nível de participação desportiva, os motivos pelos quais não praticam nenhuma atividade ou possuem intencionalidades diferentes e as razões que os levariam a natureza da prática desportiva desejada. Assim, a análise dos resultados de um estudo com este tipo de pretensões racionaliza a intervenção futura daqueles que, na base do seu desempenho, tenham uma intenção séria de progressão e desenvolvimento desportivo sustentado. Nota-se que na IES estudada os alunosatletas possuem intencionalidades diferentes das pretensões dos gestores esportivos. Isto pode ser um fator importante para obtenção de resultados em competições esportivas. Enquanto os dirigentes estão pleiteando bons resultados em competições e promovendo treinamentos, um número considerável de alunos-atletas busca o lazer como forma de prática esportiva. Na promoção dos treinamentos, por exemplo, a entidade estudantil busca obtenção de resultados e melhora do desempenho, porém, a maioria dos atletas entrevistados busca o lazer. Este quadro pode acarretar uma diminuição da dedicação total aos treinos podendo ser um fator decisivo para a conquista de resultados. Outro ponto importante identificado no trabalho é a intenção dos atletas na participação de campeonatos. Os mesmos atletas que nos treinos buscam o lazer e bem estar quando viajam pra competição focam o desempenho. Esta mudança de foco deveria ocorrer antes da competição, ou seja, durante os treinamentos para que a equipe possa render o maximo de seu desempenho. Foi constatado também que vários alunos-atletas diminuíram a frequência de prática esportiva do período escolar para o ensino superior. Isto pode acontecer devido às políticas públicas no Brasil que não privilegiam o esporte agregando à educação. Enfim, o aluno-atleta quando sai do período escolar e ingressa em uma instituição de ensino superior público, na maioria das vezes, tem que escolher entre se profissionalizar no esporte ou seguir seus estudos. Desta forma, todos os objetivos traçados para a construção deste trabalho foram alcançados, sendo importante que estudos futuros sejam realizados com IES de regiões diferentes, para uma caracterização mais eficaz e uma aplicabilidade maior na analise dos dados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS ALVES, J. A. & PENNA PIERANTI, O. O estado e a formulação de uma política nacional de esporte no Brasil. Fundação Getulio Vargas, Escola de Adm.de Empresas de São Paulo. RAE eletrônica, vol. 6, 2007. BENTO, J. O. Desporto: discurso e substância. Porto: Campo das Letras, 2004. BRASIL. Constituição Federal. Brasília, DF, 1988. Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituic ao/Constituiçao.htm>. Acessado em 01 ago. 2012.. DE MARCO, A ; JUNQUEIRA, F. C. 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Maringá: Eduem, 2010. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 71 EFEITOS DO FOCO DE ATENÇÃO NA APRENDIZAGEM DA BANDEJA Danilo Pedersen dos Santos, Matheus Ribeiro Cecarelli, Alaercio Perotti Junior FHO-UNIARARAS RESUMO A capacidade dos seres humanos de processar informações é limitada e durante a execução de uma habilidade é importante que o foco de atenção esteja nos aspectos mais relevantes da tarefa. Portanto, este estudo teve como objetivo identificar as influências do foco interno de atenção (GFI) e do foco externo (GFE) na aprendizagem da bandeja no basquetebol. Participaram deste estudo 16 sujeitos do sexo feminino, divididos aleatoriamente em dois grupos, um deles direcionado para o foco interno de atenção (GFI) e o outro direcionado para o foco externo (GFE). O procedimento se constituiu de três fases que foram respectivamente: pré-teste que se resumiu a 10 execuções de bandeja por cada um dos indivíduos; pós-teste que se constituiu de 30 execuções de bandeja por cada um dos participantes divididas em 3 blocos, sendo que o grupo A (GFI) teve seu foco de atenção direcionado internamente, enquanto o grupo B (FE) teve seu foco de atenção direcionado externamente, e teste de retenção em que os participantes executaram 10 bandejas. Após a realização dos testes foi realizada uma análise gráfica, que apontou para um melhor rendimento do grupo B (FE). Este estudo proporcionou aos profissionais da área, subsídios para que possam orientar melhor seus alunos promovendo assim uma melhor aprendizagem. PALAVRAS CHAVE: Aprendizagem Motora, Foco de Atenção, Bandeja. ABSTRACT Human being`s ability to process information is limited and during the execution of a skill it is important that the focus of attention is in the most relevant aspects of the task. Therefore, this study aimed at identifying the influences of the internal focus of attention (IFG) and the external focus (EFG) on learning layups in basketball. Participated in this study 16 female subjects which were randomly assigned to two different groups, one directed to the internal focus of attention (IFG) and the other directed to the external focus (EFG). The procedure consisted of three phases, the pre-test which was made of 10 layup plays by each individual, the post-test which was composed by 30 layup plays for each participant divided in three sets; provided that group A (IFG) had its focus of attention directed internally, and group B (EFG) had its focus of attention directed externally, and the retention test in which participants performed 10 layups. After the testing, a graphical analysis was performed, which pointed out a better performance in group B (EFG). This study has provided professionals in the area with benefits so they can better guide their students, thus promoting improved learning. Keywords: Motor Learning; Focus of Attention INTRODUÇÃO Sabemos que todo ser humano tem habilidades incríveis no que se refere a sua motricidade, sejam elas habilidades simples como segurar um copo ou habilidades mais complexas como tocar um instrumento musical. Segundo Tani (2002) a sub área de estudos denominada Aprendizagem Motora se preocupa em estudar todos os mecanismos envolvidos na aquisição de habilidades motoras e também os fatores que influenciam na aquisição e execução destas habilidades. Devemos levar em conta também que a Aprendizagem Motora não é um campo isolado, estando diretamente relacionado com os campos de Controle Motor e Desenvolvimento Motor. De acordo com Tani (2002) estes campos estão intimamente relacionados, portanto é importante ter uma visão integrada desses três fenômenos. As pesquisas acerca do fenômeno da Aprendizagem Motora podem ser realizadas em vários níveis. No nível bioquímico, neurofisiológico, sociológico e no nível comportamental, no qual esta pesquisa se encontra. Portanto esse estudo se focaliza em movimentos observáveis e também nos fatores que influenciam e afetam a execução destes movimentos. Ao ensinar algo, os professores, desejam que os alunos retenham a informação para um possível uso posterior, ou seja, a intenção é que o individuo consiga realizar uma determinada atividade mesmo após muitos anos sem tê-la praticado. A atenção tem uma função muito importante na capacidade de reter informações que sejam relevantes, e é com auxilio deste mecanismo combinado com os processos de controle que armazenamos informações na memória de longa duração (LADEWIG 2000). A atenção é muito importante tanto na aquisição de uma habilidade motora quanto na execução desta habilidade, sendo assim este estudo tem como objetivo analisar qual tipo de foco de atenção é mais eficiente na aprendizagem da execução da bandeja no basquete. A atenção tem uma influência muito grande na aprendizagem motora, considerando que a capacidade de atenção do ser humano é limitada (LADEWIG, 2000). Portanto, torna-se importante que os profissionais que trabalham com a aprendizagem motora direcionem a atenção de seus alunos as fontes de atenção mais relevantes da tarefa a ser executada. Na aprendizagem motora pode se observar a melhora de vários aspectos, dentre eles a atenção seletiva que se aprimora ao longo do tempo de prática, dando ao aprendiz a oportunidade de voltar sua atenção aos pontos chaves da habilidade a ser executada o que torna o processo de atenção um ponto crítico na execução e aprendizagem eficaz daquela habilidade Magill (2000). Podemos associar Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 72 também o processo de atenção com as fases da aprendizagem (cognitiva associativa e autônoma) Fitts e Posnes (1967). Na fase cognitiva o aprendiz tende a focar sua atenção aos objetivos da tarefa o que faz com que ele sobrecarregue seus mecanismos de atenção, acarretando em erros na execução, na fase associativa o indivíduo leva em conta também os fatores ambientais e associa estes fatores com o movimento necessário para realização da tarefa, os erros de execução diminuem, mas a habilidade ainda precisa ser aprimorada. Já na fase autônoma o movimento se torna automatizado e o nível de atenção do aprendiz é menor fazendo com que ele possa se preocupar com outras exigências da tarefa, ou até mesmo realizar outra habilidade simultaneamente. Tudo isso nos mostra que os níveis de atenção, e também o foco, mudam ao decorrer da aprendizagem da habilidade fazendo com que o desempenho aumente. Através da prática estamos exercitando nossa capacidade de seleção e retenção de informações relevantes, e com a melhora na seleção de informações, consequentemente melhoramos nossa performance (LADEWIG 2000). Sendo assim é muito importante para otimizar os processos de aprendizagem identificar qual o tipo de foco é mais eficiente na aprendizagem e na retenção de uma habilidade motora. No Foco Interno (FI) a atenção do aprendiz está voltada para o movimento em si, e no Foco Externo (FE) a atenção está voltada para os efeitos do movimento ou a meta a ser atingida (WULF 2007). A área da Aprendizagem Motora vem sendo o foco de muitos estudos devido a sua importância no que se refere ao desenvolvimento humano, e na realidade brasileira é possível identificar que esta área está relacionada principalmente com a Educação Física escolar e também com o Esporte. A infância é a o período mais rico no desenvolvimento do ser humano e nessa fase as possibilidades de intervenção são maiores (CORRÊA,1995). Consequentemente as maiores possibilidades de intervenção na aprendizagem motora da criança são em seu período escolar, mais especificamente, nas aulas de Educação Física, pois é a única matéria que dá ênfase em desenvolver principalmente o comportamento motor da criança. É importante destacar que a escola tem como principal papel proporcionar o desenvolvimento integral da criança, ou seja, os aspectos cognitivos afetivosociais e motores (CORRÊA,1995). O estudo da aprendizagem motora se faz importante para a área da Educação Física levando em conta que esse tema está presente em praticamente todos os momentos, seja nas aulas em escolas ou até mesmo academias. Os estudos acerca desse tema tem relevância no que se refere ao aprimoramento dos métodos de ensino de habilidades motoras. Não seria errado afirmar que a Aprendizagem Motora está presente na grande maioria das faculdades de Cinesiologia e Educação Física e Esporte, não apenas como uma disciplina, mas também como uma importante área de pesquisa (TANI 2002). Neste presente estudo buscamos identificar as influências do foco interno de atenção (FI) e do foco externo (FE) na aprendizagem da bandeja no basquetebol, determinando assim qual tipo de foco é o mais eficiente. Portanto o tema do presente estudo visa proporcionar aos profissionais da área uma visão esclarecedora acerca da influência do Foco de atenção na Aprendizagem motora e na execução de uma habilidade, proporcionando-lhes a possibilidade de uma abordagem mais específica em suas aulas, de acordo com a faixa etária e o nível de habilidade de seus alunos. MATERIAL E MÉTODO Esta pesquisa é uma pesquisa de campo e de caráter quantitativo que segundo Thomas e Nelson (2002) se constitui por quatro passos que são, desenvolvimento do problema, formulação da hipótese, obtenção de dados, e a análise e interpretação dos dados. De caráter quantitativo que segundo Lakatos e Marconi (2004) consiste em investigações de pesquisa empírica cuja principal finalidade é o delineamento ou análise das características de fatos ou fenômenos, a avaliação de programas, ou o isolamento de variáveis principais ou chaves. Qualquer um desses estudos pode utilizar métodos formais, que se aproximam dos projetos experimentais, caracterizados pela precisão e controle estatístico, com a finalidade de fornecer dados para a verificação de hipóteses. Todos eles empregam artifícios quantitativos tendo por objetivo a coleta sistemática de dados sobre populações, programas, ou amostra de populações e programas. Desta pesquisa de caráter comparativo que segundo Lakatos e Marconi (2004) é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento. Participantes Participaram deste estudo 16 sujeitos do sexo feminino, com idade entre 13 e 15 anos. Os indivíduos já praticavam basquetebol há pelo menos 6 meses, portanto já tinham uma experiência prévia da tarefa a ser realizada. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em 2 grupos amostrais, um grupo orientado com foco interno de atenção (GFI), e o outro para o foco externo de atenção (GFE), com o número de oito participantes em cada grupo. A participação foi condicionada ao preenchimento e assinatura do Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 73 termo de consentimento. Tarefa A tarefa motora utilizada no presente estudo foi o fundamento bandeja, que tem sua execução da seguinte forma: o atleta tem direito há dois tempos rítmicos, ou seja, ao receber a bola ou interromper o drible o jogador define o pé de apoio, tendo direito a mais um passo. No entanto, a bola deverá ser lançada à cesta antes que o jogador toque o solo; sendo este, um fundamento muito importante da modalidade esportiva basquetebol. O estudo envolveu três fases: pré-teste, pós-teste e teste de retenção. Primeiramente todos os participantes realizaram um pré-teste com 10 tentativas de bandeja, em seguida realizaram o pós-teste com 30 tentativas de prática, organizadas em 3 blocos de 10 tentativas cada. Na fase de retenção da aprendizagem ocorreram 72 horas após o pós-teste. Todos os participantes que fizeram parte do estudo receberam a informação “você vai participar de um estudo sobre a aprendizagem da bandeja”. Em seguida eles tomaram conhecimento da tarefa observando um modelo, no qual uma pessoa habilidosa demonstrava a bandeja. Ao iniciar a fase de aquisição os participantes receberam a instrução específica e tiveram a sua atenção dirigida a um determinado foco dependendo do grupo ao qual foram direcionados, GFI ou GFE. O GFI foi solicitado atenção à execução da técnica, a orientação foi “focalize a atenção no movimento correto de passadas da bandeja”. O GFE foi instruído a executar a tarefa focando a atenção no alvo “direcione a sua atenção para o quadrado acima do aro”. RESULTADOS E DISCUSSÃO A aprendizagem motora é um processo pelo qual passamos a executar uma nova habilidade motora, e para que essa aprendizagem ocorra o indivíduo deve ter sua atenção direcionada para os aspectos mais importantes na execução da tarefa. Segundo Ladewig (2000) a aprendizagem de uma habilidade motora exige que o indivíduo selecione e retenha informações, estejam elas no meio ambiente, ou que sejam fornecidas pelo professor, e essas informações devem ser retidas para posterior interpretação. Portanto, podemos perceber que a atenção é um fator de grande importância no processo de aprendizagem, e o foco dessa atenção deve ser direcionado aos pontos críticos da tarefa para que o indivíduo tenha uma boa aprendizagem, mas para isso precisamos entender como esse processo de aprendizagem ocorre. Além disso, devemos ressaltar a ligação entre aprendizagem e performance motora, apesar de haverem diferenças básicas entre estes dois conceitos é necessário que entendamos que um está relacionado ao outro. Segundo Schmidt e Wrisberg (2001) a performance motora é observável, ou seja, podemos identificar a performance de um indivíduo no momento em que vemos realizando uma prática, porém esta performance pode ser facilmente influenciada por alguns fatores, sejam eles internos ou externos, já a aprendizagem motora é um processo interno do indivíduo que reflete o seu nível de performance motora. Portanto estes dois processos estão intimamente relacionados e para nós é importante conhecer esta ligação para melhor avaliarmos nossos alunos. Para Schmidt e Wrisberg (2001) a melhor forma de avaliar a aprendizagem motora é observando a performance motora, o profissional após várias observações deve identificar se o individuo tem uma performance consistente, assim ele poderá avaliar sua aprendizagem, pois a performance é um reflexo direto da aprendizagem motora. Sendo assim para termos subsídios para fazer uma boa avaliação é importante que saibamos os mecanismos que envolvem a aprendizagem motora. Considerando que a atenção tem um papel fundamental na aprendizagem motora, nós profissionais da educação física devemos entender os mecanismos e saber direcionar o foco do aluno para as informações mais relevantes da tarefa. Segundo Schmidt e Wrisberg (2001) a atenção é limitada e esta variável diminui consideravelmente quando há uma interferência, por exemplo, estress, ansiedade e cansaço, e cabe a nós profissionais sabermos direcionar o foco de atenção dos alunos para as fontes de informações mais relevantes. Portanto o foco de atenção se resume a direcionar a atenção do indivíduo para as informações de maior importância na tarefa. Na aprendizagem motora temos várias possibilidades de direcionamento de foco de atenção, sendo elas: foco externo, foco interno, foco estreito e foco amplo, sendo que neste presente estudo nos atemos a dois destes focos que são: o foco interno e o foco externo. De acordo com Schmidt e Wrisberg (2001) o foco externo é direcionamento da atenção para informações presentes no ambiente, e o foco interno é o direcionamento da atenção para as informações internas. No caso deste estudo o grupo, foco interno, teve sua atenção direcionada para o movimento correto da bandeja, enquanto o grupo, foco externo teve sua atenção voltada para a cesta. Sendo assim o conhecimento dos mecanismos envolvidos no direcionamento do foco de atenção se torna indispensável para que o profissional proporcione ao aluno uma melhor execução da tarefa. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 74 Para analisar o desempenho foi realizada uma avaliação qualitativa para os testes (préteste, pós-teste e retenção). Foi possível observar que no grupo Foco Externo (FE) foi melhor na média de pontuação do que o grupo Foco Interno (FI), nota-se essa semelhança nas três fases do teste. (Tabela 1). Tabela 1 – Média e desvio padrão dos grupos Foco Interno e Foco Externo, no pré-teste, pós-teste e retenção. A prática realizada durante a fase de aquisição foi suficiente para que os grupos, independente do foco de atenção utilizado apresentassem uma melhora no desempenho da fase do pré-teste, em comparação com o pósteste e a retenção. Por conseguinte, a prática foi suficiente para promover modificações relativamente permanentes no desempenho da habilidade motora analisada (bandeja do basquetebol). Figura 1 - Gráfico da média de pontos nos blocos de tentativa no pré-teste, pós-teste e retenção. O gráfico nos mostra que neste grupo estudado o FE foi mais eficiente nessa habilidade da bandeja, em ambas as fases do teste realizado. Uma das explicações para a vantagem do foco externo seria que, ao realizar a tarefa a utilização do foco de atenção externo permite ao sistema motor se auto-organizar naturalmente, permitindo a geração de movimentos reflexivos e voluntários com maior facilidade, citado por Dantas (2010 apud WULF, MCNEVIN; SHEA, 2001). CONCLUSÃO Na literatura encontramos a sugestão de que tanto para a aprendizagem quanto para o desempenho de habilidades motoras, o Foco de Atenção Externo seja o mais eficiente (WULF, 2007), pois sugere que o individuo utilize processos cognitivos “automatizados” durante a execução da habilidade motora, ocasionando uma menor variabilidade do movimento. Em concordância com Wulf (2007) notase a partir dos resultados que o grupo FE obteve melhor rendimento em relação ao FI, ou seja, o grupo Foco Externo obteve as seguintes médias: Pré Teste 11,5; Pós Teste 17; Retenção 15,25 enquanto o grupo Foco Interno atingiu as médias 10; 13,75 e 13, respectivamente. Deve-se salientar que estes resultados foram encontrados baseados nos grupos de indivíduos participantes deste estudo, sendo necessário maior aprofundamento e outras análises para engrandecer estudos como este. Sugerem-se também mais estudos no âmbito esportivo (basquetebol e outros) e da Aprendizagem Motora de modo a melhorar o entendimento acerca das influências e relações entre o foco de atenção e a aprendizagem motora, os esportes e os fatores que podem interferir no rendimento esportivo. REFERÊNCIAS CORRÊA, U. C.; PEROTTI Jr. A.; PELEGRINNI, A. M. Tendências dos Estudos de Aprendizagem e Desenvolvimento Motor na Literatura Brasileira em Educação Física. Revista Motriz - v.1, nº 2, p.92-101, Dez/1995. FITTS, P.M.; POSNER, M.I. Human Performance. Belmont, Brooks-Cole, 1967. LADEWIG, I. A importância da atenção na aprendizagem de habilidades motoras. Revista Paulista de Educação Física. supl.3, p. 62-71, 2000. MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, São Paulo, 2000. SCHMIDT, R.A.; WRISBERG C.A. Aprendizagem e Performance Motora. Porto Alegre: Artmed, Porto Alegre, 2001. TANI, G. Aprendizagem motora e esporte de alto rendimento: Um caso de divórcio sem casamento. IN: BARBANTI, V.J.; AMADIO, A.C.; BENTO, J.O.; MARQUES, A.T. Esporte e Atividade Física: Interação entre Rendimento e Saúde. Barueri: Manole, 2002. THOMAS, J.R., NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2004 WULF, G. Attentional Focus and Motor Learning: A Review of 10 Years of Research. 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Para tanto, realizamos uma pesquisa empírica com 05 professores de Educação Física atuantes na rede (municipal, estadual) da região de São José do Rio Preto tendo como instrumento de coleta dados a aplicação de um questionário semi-estruturado. Como pressuposto teórico para interpretação dos dados utilizamos a Epistemologia Genética de Jean Piaget. Os dados coletados foram analisados qualitativamente enfatizando as concepções trazidas pelos professores de Educação Física. Os resultados mostraram que os professores participantes de nossa pesquisa elegem a formação integral como alvos a serem alcançados pela educação escolar, na busca por formar pessoas autônomas e críticas. Também apontam a formação para a cidadania como importantes na disciplina de Educação Física, valorizando a necessidade de conhecimentos a serem ampliados para o professor exercer sua função. Os resultados alertaram-nos também para o fato de que as respostas sobre as concepções de ensino e aprendizagem comportam pressupostos teóricos empiristas, em que o ensino é apenas uma questão de transmissão pura e simples e aprendizagem de recepção passiva de verdade enunciadas. Por outro lado encontramos também concepções que convergem com os pressupostos construtivistas indicando a ação necessária do aluno no processo de construção de seus conhecimentos, a necessidade de compreensão por parte dele a fim de que os saberes façam sentido, e de valorização dos saberes que trazem para a vida escolar. Palavras- chave: Educação; Educação Física; função docente; Epistemologia Genética PHYSICAL EDUCATION IN SCHOOL: CONSIDERATIONS ABOUT THE ROLE OF THE TEACHER ABSTRACT This paper aimed to investigate the conceptions of physical education teachers about their role as educators, the teaching-learning process and their opinion regarding the function of this subject at school. For this, we performed an empirical research with five physical education teachers who work in the local and state school system of the region of São José do Rio Preto. Our data collection instrument was the application of a semi-structured questionnaire. These data were interpreted based on the Genetic Epistemology by Jean Piaget and qualitatively analyzed emphasizing the conceptions that the cited teachers already have. The results showed that the professors of our surveysee the comprehensive education as a target to be reached by school education in order to constitute autonomous and critical people. Moreover, the results also showed that in Physical Education is important the formation to citizenship, emphasizing the need of a expansion of knowledge so teachers can exercise their function. There is also an alert to the fact that the answers about the conception of the teaching and learn process have empiricists ideas once some teachers believe that this process is just a matter of transmission of knowledge in which the student have a passive position. On the other hand it is possible to find conceptions linked to the constructivism, indicating that students should be a part of the process, in order to build their own knowledge, with real meaning that valorize the daily life in school. Keywords: Education; Physical Education; Teaching role; Genetic Epistemology. Introdução Atualmente, a situação legal da disciplina de Educação Física na escola tem uma nova configuração gerando mudanças em âmbitos diversos. Analisando a atual Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (Lei 9394-96) em seu Art. 26 do parágrafo 3º, e também a resolução n. 2 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, vemos que esta disciplina é considerada como área de conhecimento. Tal conhecimento a ser ensinado nas aulas deve ir além da aplicação e cobrança de gestos motores estereotipados e cansativos. Assim, diante da legislação atual e das reformas já elaboradas, fruto de reformas históricas, compreendemos que a tarefa atual do professor de Educação física não é apenas o aplicar técnicas, treinar habilidades motoras dos alunos, selecionar atletas, reproduzir comportamentos ditados por “especialistas”, nem mesmo auxiliar para o ensino de outra matéria escolar, ou produzir trabalhadores mais ágeis, bem adaptados, fortes, que suportem a força de trabalho gerada pela industrialização e competição exacerbada, muito menos recrear, cuidar e alegrar os alunos. Levando em consideração que esta nova posição da Educação Física na escola traz implicações para a ação educativa e formativa do professor surgiram as seguintes questões de pesquisa: Qual deve ser a função do educador? Qual deve ser a função do professor de Educação Física escolar? O que os professores entendem o que é ser professor, o que é ensinar e aprender? Para respondê-las, realizamos uma pesquisa empírica com 05 professores de Educação Física atuantes na rede (municipal, estadual) da região de São José do Rio Preto, tendo como instrumento de coleta dados a aplicação de um questionário semi-estruturado em que os participantes deveriam apresentar suas ideias livremente com relação à temática. Como referencial teórico para analisar as respostas dos docentes iremos pautar-nos em pressupostos teóricos construtivista, de forma a tecer relações entre as resposta docentes e o que a teoria piagetiana nos esclarece (propõe) sobre tal temática. Analisar as concepções docentes acerca Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 76 do seu papel, do que entendem por ensino e aprendizagem é de crucial importância uma vez que qualquer intervenção docente em Educação Física tem por base as concepções acima mencionadas. Logo, as tomadas de decisões e os julgamentos sempre estão fundamentados em teorias e saberes (mesmo se forem de senso comum), estreitamente ligadas aos conceitos que os docentes possuem de educação e carregadas de teorias pedagógicas, que quando se tornam conscientes, podem gerar uma ação e pratica mais coerentes. Papel da educação escolarizada e da educação física no contexto piagetiano Quando pensamos na função do professor de uma forma geral, entramos necessariamente em um assunto controverso dado as diversas abordagens e considerações de autores de diferentes linhas de pensamento. Segundo Durkheim (2011) a função da educação e portanto do professor se modifica conforme a sociedade e o tempo histórico em que os sujeitos estão inseridos. Isto nos leva a pensar que a função docente não foi sempre a mesma no decorrer da história, o que podemos constatar na própria história da educação, pois sempre foi o educador o responsável pela formação social dos indivíduos, desde a Grécia antiga, passando pela Idade Média e chegando aos tempos Modernos e Contemporâneos. Vemos portanto que o papel da escola sempre foi regrado de acordo com as necessidades da sociedade. A realidade tem mudado bastante nos últimos anos e exige que a escola acompanhe tantas mudanças, pois o mercado de trabalho tem ficado cada vez mais exigente e competitivo, exigindo atualizações por parte das pessoas para que estas possam se adaptar às necessidade e integrarem-se em seu meio adequadamente. Atualmente as exigências escolares promovem a integração de todos os que nela frequentam, numa busca por construir e resgatar aspectos relacionados à cidadania. Como apontamos em trabalho anterior (PAGANINI-DA-SILVA, 2006), a escola de acordo com Pérez Gómez (1998) e Delval (2007) tem uma função socializadora porque atende e canaliza o processo de socialização com eficiência, além disso, podemos ressaltar também a preparação para o mundo do trabalho e a formação de cidadãos para a vida pública. Para Gimeno (2001), a função da escola vai além porque pretende promover uma decodificação do mundo, seja ele material ou social, e para isso difunde um conhecimento que já está sistematizado e ordenado. Nesse sentido a função docente deve estar atrelada a estas concepções do que seja a função da escola. Neste sentido, considerando que as disciplinas curriculares devem cumprir com os objetivos educacionais, temos como uma destas disciplinas a Educação Física. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), nesta disciplina há conteúdos que são organizados em três blocos, os quais devem ser desenvolvidos durante todo o ensino fundamental, sendo os blocos assim distribuídos: (01) Esportes, jogos, lutas e ginásticas, (02) Atividades rítmicas e expressivas, e (03) Conhecimentos sobre o corpo. Os três blocos possuem vários conteúdos em comum, articulando-se, mas possuem suas especificidades. Neste sentido como funções/objetivos a serem alcançados a longo prazo junto aos estudantes segundo este documento, temos que promover aos alunos a participação de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas (de si próprio e dos outros); adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, conhecer e valorizar a pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo; reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotar hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais; solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, reconhecer condições de trabalho que comprometam os processos de crescimento e desenvolvimento, conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética corporal que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisar criticamente os padrões divulgados pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito; conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão.(PCNS, 1997, p.43) Assim, como as demais disciplinas pertencentes às diferentes áreas de conhecimento de ensino na escola, a Educação Física deve apresentar seus conteúdos próprios conectados com os objetivos da escola e os temas transversais, a fim de contribuir para a formação de sujeito reflexivos que possam intervir em sua realidade. O ensino e a aprendizagem segundo a teoria piagetiana: implicações para a ação do professor de educação física Mesmo considerando que a educação tem sim sua função socializadora que é imposta pelo contexto sócio-histórico somo levados a acreditar que as relações de ensinoaprendizagem devem ser consideradas quando se trata da função e da identidade dos professores. Devemos ressaltar que há explicações de como se dá o processo de aprendizagem e nesse sentido temos as concepções inatistas e empiristas, sendo a primeira fundamentada na crença de que o sujeito já traz suas condições cognitivas prontas para Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 77 enfrentar a vida. Para a segunda o sujeito nada traz de conhecimento e estes serão fornecidos pelo meio externo e pela estimulação do sujeito a esse meio. (BECKER, 2003, p.12). Uma outra concepção, e pela qual optaremos em nosso trabalho, é a da epistemologia genética defendida por Jean Piaget que como explica Becker (2003) situa “na ação do sujeito o núcleo a partir do qual se originam as sucessivas estruturas cognitivas” (p. 13). Em seus estudos com crianças desde a mais tenra idade Piaget constatou que o desenvolvimento na verdade acontece por uma série de mecanismos de equilibração. Esta equilibração se dá sob patamares inferiores e para o devido ajustamento necessitam ser equilibrados, nesse sentido são flexibilizados e sofrem mobilidades para se tornarem cada vez mais estáveis (ou seja, equilibrado). Isso ocorrerá obedecendo a estádios que são sucessivos e um estádio passa a outro por meio de um funcionamento constante. Esses estádios podem ser assim resumidos e descritos: 1º - Estádio dos reflexos – primeiras tendências instintivas e as primeiras emoções; 2º - Estádio dos primeiros hábitos motores e primeiras percepções organizadas – sentimentos diferenciados; 3º Estádio da inteligência sensório-motora ou prática: anterior a linguagem, das regulações afetivas elementares e primeiras fixações exteriores da afetividade; 4º Estádio da inteligência intuitiva – sentimentos interindividuais espontâneos e das relações sociais de submissão ao adulto (2 a 7 anos); 5º Estádio das operações intelectuais concretas: é o início da lógica e dos sentimentos morais e sociais de cooperação (7 a 11 anos) e finalmente o 6º estádio das operações intelectuais abstratas: da formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na sociedade dos adultos. (Piaget, 2004, p. 15). Existe segundo o autor distinção entre os estádios porque cada um deles apresenta a aparição de estruturas importantes e significativas das estruturas originais. Mas os estádios nos servem aqui para entendermos qual a lógica do pensamento de Piaget no que se refere ao desenvolvimento cognitivo, e nesse sentido podemos perceber que a cada período do desenvolvimento já temos o anúncio do período seguinte. É importante considerar que segundo Piaget (1973), os conhecimentos se originam da ação, ação transformadora do sujeito sobre o mundo. Esta ação, no entanto, não ocorre no vazio, pois necessita de "alimentos" provenientes do meio ambiente. Nesse caso, o ambiente também age sobre o indivíduo. Nessa interação de ambos, em que entram os mecanismos de assimilação - incorporação de características do ambiente às estruturas intelectuais do indivíduo e acomodação - ajustamento das estruturas às características do ambiente - é que vemos ocorrer o desenvolvimento. Desse modo, em suas interações com o mundo, o indivíduo muitas vezes se depara com obstáculos e problemas e busca superá-los. Muitas vezes, as estruturas intelectuais presentes não dão conta do que ocorre no ambiente e tendem, portanto, a se modificar, a se diferenciar em novas estruturas, para que os conteúdos que o ambiente oferece possam ser assimilados e os obstáculos possam ser compensados. Segundo Piaget, é esse processo contínuo de busca de equilíbrio entre indivíduo e ambiente - que ele chama de processo de equilibração -, o principal responsável pelo desenvolvimento intelectual. Mas, em sua proposta, não deixa de valorizar, também, os aspectos biológicos (hereditariedade e maturação), educativos e sociais em geral, como fatores que interferem no desenvolvimento. Para Piaget, o processo de equilibração toma a forma de períodos seqüenciais, em que existe, sempre, uma fase de preparação e outra de acabamento e em que as estruturas formadas num período integram-se em outras superiores, do período seguinte. O desenvolvimento constitui-se, então, num processo de organização e reorganização constante das estruturas da inteligência, em que cada nova etapa envolve mudanças importantes na maneira de o indivíduo interagir com o mundo e conhecê-lo. Em estudo sobre a tomada de consciência, pesquisando crianças e adultos, Piaget (1977, p. 198) descobre que ela “procede da periferia para o centro, sendo esses termos definidos em função do percurso de um determinado comportamento”. Segundo Piaget, quando o indivíduo realiza uma determinada ação, pode obter êxito ou não; entretanto, mesmo quando obtém êxito, comumente explica como o obteve sem uma reflexão, sem realmente tomar consciência do por quê do êxito. Com relação à evolução das ações e aos níveis de conhecimento, Piaget (1977) ressalta que as ações por si só são saberes que, mesmo inconscientes, constituem-se na fonte para a tomada de consciência conceituada. Relata certa defasagem cronológica para os níveis de tomada de consciência lembrando que estes são sucessivos e hierárquicos (segundo Piaget, rigorosamente hierarquizados). O primeiro nível se constitui no nível da ação, em que existe, sim, um saber elaborado, só que escapa à consciência do sujeito. O segundo nível é o da representação e conceituação, em que se tira elementos da ação (mediante tomadas de consciência), mas o conceito comporta tudo o que é novo. O terceiro é o nível da abstração refletida, em que as operações novas são formuladas sobre as anteriores; estas abstrações são realizadas a partir do nível precedente. Considerando esta perspectiva entendemos que a função do professor é a de proporcionar situações que promovam a invenção Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 78 do aluno e o desenvolvimento cognitivo. De acordo com a teoria piagetiana como afirma Becker (2003) a “fonte da aprendizagem é a ação do sujeito, ou seja, o indivíduo aprende por força das ações que ele mesmo pratica: ações que buscam êxito e ações que, a partir do êxito obtido, buscam a verdade ao apropriar-se das ações que obtiveram êxito” (p. 14). Nesse sentido continua Becker (2003), “o ensino deve ser repensado em função dessa nova concepção de aprendizagem” (p. 14). Para este autor, assim como para Delval (2007) esta concepção nem é tão nova assim se considerarmos a história da educação e dos pensadores em educação que desde há muito já pensavam em promover uma educação e uma escola diferente e que levasse em conta o sujeito que aprende. Para Becker (2003), além de Piaget também Paulo Freire (educador brasileiro) pensa a construção de conhecimento como essencial à pedagogia. Para Becker (2003), as concepções piagetianas nos levam a considerar um “aprender a aprender” ou um “deixar-aprender”, não confundindo tal concepção com a ideia de que cabe ao professor apenas cruzar os braços e esperar o conhecimento ser produzido, muito pelo contrário, no sentido piagetiano o professor é o mediador essencial na condução do processo de desenvolvimento como ressalta Delval (2007) quando afirma a importância de o professor considerar a aprendizagem e o processo de construção do conhecimento como sendo parte de sua função. Para Delval (2007, p. 218), [...] a função de professor não basta conhecer o conteúdo das matérias, mas há que se conhecer também aos alunos e ser capaz de criar situações de aprendizagem. Assim, pois, o contato da criança com o professor é algo indispensável que contribui muito para o seu desenvolvimento. Outro autor que nos aponta novas expectativas com relação ao trabalho do professor nos dando inclusive indicativos de como deveria ser o professor do futuro é Pedro Demo (2009), também indicando a importância do professor em nossa sociedade que se apresenta de forma intensa de conhecimento, o autor afirma ser o professor figura estratégica neste panorama e explica que “por figura estratégica entendo sua centralidade na constituição e funcionamento desta sociedade, ocupando lugar decisivo e formativo” (DEMO, 2009, p. 11). Entretanto, para Demo (2009), a profissão docente precisa ser construída por completa para deixar a condição de “alguém que dá aula, transmite conhecimento, instrui e ensina” para assumir a posição daquele que sabe “renovar, reconstruir, refazer a profissão” (p. 11). Isto não denigre o desafio do domínio de conteúdos, mas como esses se desatualizam no tempo, é fundamental saber renová-los de maneira permanente. Para os renovar, não basta conhecimento transmitido, reproduzido. É essencial saber reconstruir conhecimento com mão própria. A definição de professor inclina-se para o desafio de cuidar da aprendizagem, não de dar aula. Professor é quem, estando mais adiantado no processo de aprendizagem e dispondo de conhecimentos e práticas sempre renovados sobre aprendizagem, é capaz de cuidar da aprendizagem na sociedade, garantindo o direito de aprender. Professor é o eterno aprendiz, que faz da aprendizagem sua profissão (DEMO, 2009, p. 12, grifos nossos). Cabe aqui ressaltar que o que o autor chama de “reconstrução do conhecimento”, para Piaget, segundo referencia do próprio Demo, é o mesmo que “construção do conhecimento”. Demo (2009) afirma que optou pelo termo reconstruir porque para ele este “significa partir do que já se conhece, dos patrimônios culturais disponíveis, da linguagem em uso” (p. 12, em nota de rodapé). Ao professor do futuro como aponta Demo (2009) cabe cuidar da aprendizagem sabendo cuidar no sentido de ter um compromisso ético e técnico sendo uma habilidade sensível e renovada de suporte do aluno para que ele construa sua autonomia. Para o autor educação dentro desta perspectiva é um [...] processo de dentro para fora, como asseverava Sócrates, quando insistia na instigação do professor promover a emancipação dos alunos. O professor não se torna descartável. Muito ao contrário, assim como os pais jamais são descartáveis, o professor é figura decisiva do processo de aprendizagem, ocupando, entretanto, lugar de apoio e motivação, orientação e avaliação, não o centro do cenário (DEMO, 2009, p.13-14). É importante compreender que cabe a função docente proporcionar o conhecimento lembrando que tratamos de um conhecimento que promova o desenvolvimento cognitivo, um conhecimento que promova a invenção e não apenas como uma cópia da realidade. “A invenção, e não a mera cópia! Eis a novidade dessa concepção de aprendizagem. Quem sabe inventar sabe copiar; o inverso não é verdadeiro. Quem sabe copiar sabe apenas copiar. Talvez mais do que em qualquer outra época, a atual exige indivíduos inventivos e construtivos e não copistas” (p. 18). Tendo este referencial teórico como pressuposto o presente artigo tem como objetivo Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 79 perceber qual a função docente considerando a perspectiva da epistemologia genética refletindo sobre o papel do educador físico na escola tendo como base esta perspectiva teórica e ainda identificar quais as concepções dos professores de Educação física com relação a sua função. Considerando tudo o que foi exposto até o presente momento, entendemos que não é tarefa do profesor de Educação Física, ao levar em conta as concepções sobre ensino e aprendizagem na perspectiva construtivista, levar os alunos a copiarem modelos de movimentos, repetir exercícios destituídos de sentido e significado. Entendemos que sua ação deva ser a de promover a construção da comprensão da motricidade humana, promovendo a tomada de consciência dos sistemas de significação nas quais as ações discentes e docentes estão inseridas (PALMA et al, 2010). Neste sentido, cabe ao professor criar um ambiente propício aos desafios motores e cognitivos, pensar em estratégias para que o aluno possa construir e reconstruir conhecimentos acerca de seu próprio movimentar-se, estudando a cultura de movimento elaborada e sistematizada, promovendo a interação entre o fazer e o saberfazer, a fim de que o aluno relacione e coordene informações e ações de forma cada vez mais ampla e complexa. Metodologia A pesquisa teve como objetivo investigar como professores de Educação Física avaliam sua própria função e a relação de ensinoaprendizagem. Participaram da pesquisa cinco professores de Educação Física da cidade de São José do Rio Preto no interior paulista. Os professores (que serão a seguir identificados pela sigla P (professor) e um número sequencial (1, 2, 3, etc.), com idades variando de 27 a 48 anos e com tempo de serviço no magistério de 2 a 24 anos. Os dados foram coletados mediante questionário semi-estruturado. Os questionários foram enviados via email aos professores previamente selecionados pelos pesquisadores e que se dispuseram a participar da pesquisa. A análise dos dados foi eminentemente qualitativa. Inicialmente os dados foram agrupados em categorias considerando a semelhança das respostas e, em seguida, conforme cada questão constante do questionário detalhamos e discutimos as respostas com base na teoria estudada. Resultados e discussão de dados Com base nos questionários iniciamos o trabalho de análise procurando estabelecer categorias de respostas, ou seja, de acordo com as respostas procuramos entrever quais as semelhanças entre os depoimentos para que fosse possível perceber as concepções dos docentes que eram comuns aos professores de educação física que participaram de nossa pesquisa. Em seguida estabelecemos algumas considerações com base nos autores referenciados anteriormente e que nos forneceram subsídios para entender e compreender as concepções desses professores acerca da temática de estudo proposta por nós. O que é ser professor para você? Inicialmente perguntamos aos participantes o que ele achava que era ser professor. Apareceram respostas que apontaram que ser professor é ser responsável pela construção do conhecimento dos alunos. Outros apontaram que ser professor é contribuir para a transformação humana e se adaptar a novas situações. Houve ainda depoimentos que afirmaram que ser professor é ensinar o aluno. Ser professor é realizar uma profissão que auxilie na construção do conhecimento dos nossos alunos, é fazer o possível para despertar no aluno o interesse em aprender. É ser comprometido, responsável e aberto a novas aprendizagens. (P1). É ter a capacidade de adaptar-se as n o v a s s i tu a ç õ e s e i m p r e v i s to s diariamente. Atualizar sua prática pedagógica com o propósito de contribuir para a transformação humana. É questionar-se sempre, e NÃO pensar na remuneração e reconhecimentos (P2) […] tem que ser apaixonado pela sua profissão, pois são tantas barreiras, obstáculos, desafios, tentativas que podem ter resultados frustrantes ou satisfatórios, estudos diários, preparação de aulas, planejamentos, cursos atualizações... (P3) Foram enfatizadas nas três respostas acima a questão da necessidade da formação contínua para exercer a docência, de saberes que devem ser reconstruídos permanentemente por parte do professor diante das limitações que a experiência apresenta, fator destacado ultimamente diante de uma realidade em constantes mudanças. Cabe ainda ressaltar a resposta da Professora 1(P1) ao descrever que ser professor é “realizar uma profissão que auxilie na construção do conhecimento dos nossos alunos”, ou seja, um auxiliar e intermediador na tarefa ativa do alunos de construir conhecimentos, indo ao encontro da teoria piagetiana. Nesta teoria, a docência, além de constituir-se em uma profissão, deve colaborar para que o aluno não decore, memorize, ou acumule conhecimentos. A construção de conhecimentos é realizada na interação sujeito e meio e cabe ao professor organizar o ambiente e intrumentos favoráveis para que haja conflitos cognitivos e desafios a serem superados, a fim de que o aluno construa Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 80 conhecimentos a partir daqueles que já possui, estabelecendo novas relações entre seus saberes, suas ações e conceitos. Outra categoria/ideia destacada foi a que relaciona o ser professor com a contribuição para o desenvolvimento intelectual, o qual a teoria piagetiana não nega, porém a avança quando identifica professor como aquele que, ao proporcionar a interação entre o sujeito e o objeto de conhecimento pode promover o desenvolvimento intelectual, social e moral, ambos indissociáveis e paralelos em qualquer intervenção docente.: É contribuir de alguma forma, seja ela qual for, para a formação intelectual do individuo visando seu crescimento como ser pensante e ativo para um mundo melhor (P05) Outra resposta mencionada no questionário foi: Pra mim é ensinar, é dedicar o máximo do seu tempo ao aluno, mostrando o caminho correto da seguir na vida, é ensinar o aluno para que ele cresça tendo autonomia para que ele possa fazer escolhas boas na sua vida (P3) Reconhecemos que, diante dos documentos oficiais que regem a educação brasileira e dos autores mencionados, que uma das finalidades da educação é promover autonomia. Neste sentido, entendemos que a função do professor não é a de “mostrar o caminho certo”, apontando a verdade absoluta, dar respostas prontas e acabadas como se fossem verdades únicas, mas acima de tudo refletir sobre os possíveis caminhos, levantar consequências das ações para si mesmo e para a sociedade, antecipando os pontos positivos e negativos, para que, diante destas reflexões o aluno possa fazer escolhas conscientes e responsáveis. Que papel deveria ter a educação escolar para você? Diante das respostas à segunda questão constatamos duas funções principais que foram mencionadas, mesmo nas respostas de um mesmo professor. Uma se refere à afirmação de que a educação escolar comporta objetivos acadêmicos, relacionados à aquisição da cultura em geral, veiculada pelas várias disciplinas curriculares (português, matemática, etc.), e outra que comporta concepções mais amplas sobre este assunto, indicando ser a educação um caminho para autonomia, para responsabilidade, para os valores humanos, para a formação do cidadão. São estas concepções que convergem com a proposta construtivista, já que Piaget anuncia a aquisição da autonomia e o desenvolvimento pleno das capacidades humanas como o grande objetivo da educação escolarizada. Abaixo, a transcrição das respostas docentes: A educação escolar deveria ter o papel de desenvolver autonomia, responsabilidade e comprometimento em todos os participantes do processo, buscando sempre uma melhora no ser humano e na sociedade em que vive.(P1) O de abrir portas, facilitar e proporcionar conhecimentos através das experiências vividas. (P2) Acredito que a educação escola deveria sim, educar os alunos para que eles aprendam um pouco de cultura, a ler, escrever e fazer contas, a obrigação da escola para com o aluno, é prepará-lo para o trabalho, os negócios e até mesmo em quem votar. (P3) (...) não que devemos nos preocupar só em transmitir conteúdos, acredito que temos que nos preocupar também com a formação humana, sensibilização dos nossos alunos todos os dias, mostrar a importância dos valores(...)(P4) Formar, informar, visando sempre o desenvolvimento intelectual e como cidadão responsável pelos seus atos e suas escolhas, procurando contribuir para a existência de uma sociedade melhor(P5) O que é ensinar? Questionamos também os professores com relação ao que ele acredita que seja ensinar. Para esta questão apareceram respostas que identificaram o ato de ensinar como: fazer refletir, despertar o desejo de aprender; transmitir conhecimento, conforme se pode observar nas transcrições abaixo: Ensinar é proporcionar momentos de reflexão, descoberta, pesquisa e despertar no outro o desejo de aprender.(P1) […] despertar no aluno o interesse de adquirir um determinado conhecimento, onde este conhecimento vai dar sentido em sua vida e que ele possa transformar o seu meio onde vive. (P4) Diante desta complexa questão, nos reportamos à teoria que serve de embasamento. Nesta o ensino deve ser repensado em função de uma nova concepção de aprendizagem. “Nova” no sentido de que Piaget afirmou que toda aprendizagem parte de uma necessidade e que base de toda aprendizagem é a ação do sujeito, já que ele aprende por meio das ações que ele mesmo pratica na busca por êxito e por reconhecer os mecanismos que o levaram ao êxito. Ensinar para o construtivismo não é Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 81 repassar verdades, fazer decorar, pressionar o sujeito, mas propiciar momentos de ação e reflexão sobre, num processo de construção constante conforme nos explicita a professora (P1). É agindo sobre o objeto de conhecimento, na busca por conhecê-lo e interpretá-lo adequadamente, é sendo ativo neste processo que se poderá avançar para níveis maiores e mais amplos de compreensão da realidade e de suas próprias ações. Descobrir por iniciativa e por busca em conjunto com a turma e o professor respostas adequadas para os problemas que os cerca. É com a consciência ampliada que o sujeito poderá transformar a si e ao meio se assim o desejar, Outra categoria, define o ensinar como transmitir e “passar” conhecimento, indicando a possibilidade de uma transmissão direta que é fornecida pelo meio exterior, em que os alunos se assemelham a um pólo receptor das informações que são repassadas, supondo uma concepção empirista de explicação do conhecimento: Neste caso: Acredito que é você como professor passar algo novo, passar conhecimento de vários assuntos, é plantar uma sementinha dentro da cabeça do aluno como forma de aprendizado e reflexão, para que mais pra frente ele possa usar esse aprendizado para o bem dele. (P3) Esta concepção contraria os pressupostos construtivistas, que valorizam a ação do sujeito na construção dos conhecimentos, onde o meio e o sujeito são igualmente imprescindíveis para alcançar novos conhecimentos, partindo-se sempre do que já se conhece. O que é aprender? Já afirmamos anteriormente que as concepções sobre o ensinar e aprender estão estritamente ligadas e que evidenciam os entendimentos sobre qual deva ser a ação do professor (ensino) e do aluno (aprendizagem). Nas respostas docentes, também encontramos duas tendências marcantes, mesmo que às vezes na resposta de um mesmo professor. Uma destas tendências se refere à aprendizagem como aquisição e ampliação de novos conhecimentos, e a outra diz respeito à mudança ou transformação que estes novos conhecimentos trazem para o individuo e para a sociedade. Assim, abaixo transcrevemos Aprender é refletir sobre algo que tenha sentido para vida, é adquirir novos conhecimentos e ampliar velhos conhecimentos, é sentir prazer em crescer tanto cognitivamente, como espiritualmente. (P1) Primeiramente é estar aberto para isso, a partir dai, ampliar visões, transformar referências, comprometer-se e dedicarse. (P2) È a pessoa ir sempre em busca de conhecimento, procurar sempre aprender coisas novas, está atualizado com o que passa na TV, absorver conhecimento que possibilitem uma nova visão do mundo. (P3) […] quando o aluno leva determinado conhecimento para a vida, é a mudança ou transformação do aluno, onde ele utiliza de um determinado conhecimento adquirido para melhorar o mundo que o cerca(P4) ´ É a aquisição de novos conhecimentos que se façam uteis não só no ambiente escolar, como também na vida em sociedade[...](P5) Tais respostas também convergem com os pressupostos construtivistas, pois aprender na teoria piagetiana implica em mudanças nos esquemas de pensar ou agir do sujeito em função dos dados que são assimilados do meio. Aprender não é copiar o mundo, copiar o professor, ter apenas novas informações. É além disso ser capaz de relacionar as informações que têm de forma cada vez mais complexa, inventar, construir, modificar-se. Ampliar formas de agir e pensar a partir dos conhecimentos já construídos e construir modelos de interpretação da realidade cada vez mais adequados, que permitem ao sujeito agir na realidade com consciência ampliada. Que papel deve ter a Educação Física escolar para você? Por fim, a última questão versou sobre o papel da Educação Física na escola. As respostas das professoras P1, P2, P3, P4 relacionam as aulas de Educação Física à finalidade maior da educação que é o de contribuir com a formação humana integral, considerando que as atividades realizadas nesta disciplina não só favorecem e evidenciam os aspectos motores, mas indicam que, por meio dos estudos sobre o movimento humano estaremos contribuindo para a formação dos aspectos físicos, sociais, morais, psicológicos, e também biológicos. Este sentido também é reafirmado pelos Pcns (1998) que estabelece a adoção de atitudes como respeito mútuo, dignidade e solidariedade bem como a organização de atitudes autônomas como objetivos a serem alcançados a longo prazo pelos estudos dos conteúdos da disciplina. Outra questão mencionada nas respostas das docentes P3 e P4 diz respeito à necessidade de reflexão de assuntos atuais e de compreensão da realidade cultural que cerca o aluno, condizendo também com os documentos legais que estabelecem objetivos para a área. Por fim outra abordagem dada pela resposta da professora P5 indica como objetivo da disciplina as questões de saúde, indo ao encontro do que já foi comentado acerca da responsabilidade da Educação Física que deve Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 82 promover o conhecimento dos diversos padrões de saúde beleza e estética corporal existentes nos diferentes grupos sociais, entendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, a fim de que os alunos possam realizar uma análise crítica dos padrões divulgados pela mídia, evitar o consumismo e o preconceito e estabelecer para si uma vida saudável. Abaixo segue as respostas elencadas: [...] despertar no aluno os quatro pilares da educação: conhecer, fazer, conviver e ser, utilizando o corpo em movimento. (P1) [...] mostrar ao aluno a diversidade de cultura, jogos, brincadeiras, lutas, dança e esportes, é tentar abranger o máximo de assunto possível com o aluno, relacionado ao caráter, formação de opinião, fazer com que o aluno reflita sobre certos assuntos que está à tona na mídia, enfim, não é só futebol e sim fazer parte da formação do aluno. (P3) [...] promover o desenvolvimento da consciência corporal e das competências necessárias para a realização das práticas corporais, propiciando ao aluno a compreensão dentro da sua realidade, atuando como sujeito responsável pela construção e transformação da realidade da sua comunidade. Não tratando só da área biológica da disciplina como também afetivas, cognitivas, motoras, sociais e culturais dos alunos.(P4) […] a educação física escolar tem um papel muito importante na aquisição comportamental, de preferência consciente, da prática da atividade física, fundamentada na qualidade de vida do cidadão atual e futuro, de forma preventiva e lúdica...(P5) Conclusão Neste breve artigo, apresentamos dados sobre as concepções acerca do papel da educação física na escola, da educação escolarizada, da função do professor e do processo ensino aprendizagem, a partir de uma pesquisa qualitativa realizada com 05 professoras atuantes na área. Como resultados principais, encontramos que a função da Educação Física na escola caminha em direção aos objetivos enunciados pelos Pcns (1997), que elege a formação integral para a cidadania, para a solidariedade, para a compreensão da cultura elaborada para o homem em toda a diversidade e manifestação, para a discussão acerca da saúde, da cultura e da função do homem perante esta sociedade. Estes objetivos são também alvos a serem alcançados pela educação escolar na sua totalidade, na busca por formar pessoas autônomas, críticas, que compreendem seu papel enquanto cidadão e o exercem com responsabilidade. Porém quando questionados especificamente sobre a função da educação escolar as docentes variam suas respostas, enfatizando ora os conhecimentos curriculares (saberes ditos “intelectuais”), porém anunciando que este não deva ser o único objetivo, com comentários sobre a formação para a cidadania e para os valores sociais morais como alvos escolares. Em relação à concepção sobre o que é ser professor, somente uma docente comenta a respeito da caracterização enquanto um profissional (P1), reconhecendo-se acima de tudo que ser professor é exercer uma profissão. No entanto, em quase todas as repostas encontramos comentários a respeito dos saberes, dos conhecimentos que são necessários aos professores possuírem e ampliarem regularmente para exercer a docência, para planejar e dar aulas de forma mais adequada numa sociedade que se caracteriza por uma vasta produção de conhecimentos. Quando se referem à concepção sobre ensino e aprendizagem, encontramos elementos que convergem com as ideias veiculadas pelo empirismo, quando relata-se que ensinar é “passar”, “transmitir” conhecimento e aprender é absorver conhecimentos, dando indícios de um aluno passivo neste processo com um professor que é o centro e pólo principal, que dará ao outro o que ele precisa para saber e se desenvolver. Por outro lado encontramos também outras concepções que convergem com os pressupostos construtivitas indicando a ação necessária do aluno no processo de construção de seus conhecimentos e de sua realidade, a necessidade de compreensão por parte dele a fim de que os saberes façam sentido, e de valorização dos saberes que trazem para a vida escolar. Assim, se nossa pratica pedagógica caminha de maneira paralela à nossa concepção de educação e da docência cabe, enquanto profissionais da educação, reconhecermos estas concepções e quais pressupostos teóricos elas se vinculam, a fim de avaliarmos criticamente e constantemente nossas próprias ideias, no sentido de reelaborarmos e ampliarmos nossas concepções diante das produções teóricas e das pesquisas realizadas, numa busca por construir uma educação de qualidade, coerentes com nossos alvos e com os objetivos educacionais. Referências Bibliográficas BECKER, F. O A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2003. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº. 9.394. Ministério da Educação Brasília, DF, 1996. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 83 Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. MEC/SEF, Brasília, 1997. BRASIL. Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Resolução CEB Nº. 2 de 7 de abril de 1998. DELVAL, J. A escola possível: democracia, participação e autonomia. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2007. DEMO, P. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. DURKHEIM, E. Educação e Sociologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. GIMENO SACRISTÁN, J. A educação obrigatória: seu sentido educativo e social. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2001. PAGANINI-DA-SILVA, E. A profissionalização docente: identidade e crise. 2006. 221f. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) – Universidade estadual Paulista. Araraquara, São Paulo. PALMA, A. P. T. V. et al. Educação Física e a organização curricular:educação infantil, ensino fundamental, ensino médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010. PÉREZ GOMEZ, A. I. As funções sociais da escola: da reprodução à reconstrução crítica do conhecimento e da experiência. In: GIMENO SACRISTAN, J. e PÉREZ GOMEZ, A. I. (Orgs.) Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998. PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. A autora Eliane Paganini da Silva possui agência de fomento: Capes/Cnpq. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 84 A IDENTIDADE E A ESCOLHA PROFISSIONAL DOCENTE Eliane Paganini da Silva - Unesp/Marília RESUMO Nosso trabalho procurou compreender como se deu a escolha da profissão docente e quais os fatores que inferiram nesta escolha e ainda perceber qual a relação existente entre a identidade profissional e a escolha do magistério. A escolha de uma profissão mantém uma relação muito estreita com a identidade profissional, além disso, alguns fatores sociais e pessoais interferem tanto na escolha profissional como na consolidação de uma identidade própria à profissão. Nosso estudo seguiu os princípios do método clínico piagetiano, o que permitiu explorar com certa profundidade o que pensam os professores a respeito do tema em questão. Utilizamos uma entrevista semi-estruturada com cinco questões realizando uma análise qualitativa e quantitativa das respostas apresentadas pelos professores do segundo ciclo do ensino fundamental. Em seguida categorizamos os resultados e os analisamos de acordo com os autores referenciados no quadro teórico. Nossos resultados apontaram que existe sim uma relação entre a identidade profissional e a escolha de uma profissão, corroborando as ideias de alguns autores que afirmam ser necessário para contemplar a identidade docente entender o profissional com suas características pessoais e profissionais, ressaltando o caráter individual e o coletivo. Palavras Chave: Identidade docente; escolha profissional docente; trabalho docente; educação. IDENTITY AND THE CHOICE OF PROFESSIONALLY TEACHING ABSTRACT This research aimed to understand how teachers choose their profession and which factors are important to their decision. It also intended to perceive which is the relation between the professional identity and the option of being a teacher once this choosing has a very narrow relation with the identity. Moreover, some personal and social factors influence both in the career choice as in the identity of the profession itself. Our study followed the principles of the clinical method of Piaget, which allowed us to deeply explore what teachers think about the theme analyzed. It was utilized a semi-structured interview containing five questions from which we made a qualitative and quantitative analysis of the answers presented by teachers from the second cycle of basic education. After this, it was performed a categorization and an analysis of the results based in theories of referenced authors. Our results showed that there is a relation between professional identity and the choice of a profession, corroborating the ideas of some authors who assert being necessary to understand the personal and professional features of a teacher, emphasizing the individual and collective character. Keywords: Teaching identity; Professional choice; Teaching; Education. Introdução A identidade profissional de acordo com Soares (1987) relaciona-se com a escolha da carreira. Segundo ela, essa escolha, desenvolvese por referência a duas dimensões complementares: a individual, centrada no conceito do “eu”, e a gradual, centrada no coletivo. A escolha da carreira é realizada a partir de influências que determinam o “eu” da pessoa. Nela o indivíduo identifica-se com toda uma sociedade, incorporando em si os papéis e atitudes valorizadas (qualquer que seja a interiorização, só se realiza quando há identificação). O indivíduo assimila atitudes e papéis de modo a torná-los seus, identificando-se com estes e a si mesmo; há uma contínua e mútua identificação entre nós, vivemos em um mesmo mundo e participamos cada qual do ser do outro. Os antecedentes socioeconômicos, o tamanho da cidade natal, as experiências com outros professores, os conselhos de amigos, professores e pais, as identificações com um adulto admirado, as experiências passadas, além de aspectos profissionais específicos, tais como segurança, prestígio, salário e condições de trabalho, influenciam e contribuem para a construção da identidade docente. Em linhas gerais, o processo de formação de identidade tem início na fase infantil, já que as crianças assimilam traços e características de pessoas e objetos externos. É um processo interno ao indivíduo de acordo com sua cultura e categoria social, sendo que a linguagem também contribui para tal. O desenvolvimento do “eu” depende, em grande parte, das pessoas ou grupos de pessoas com os quais nos identificamos, mas isto nunca ocorre em níveis iguais; a intensidade desta identificação é variável. A história da vida de um indivíduo é marcada por uma sucessão de mudanças de identidade, que envolvem, necessariamente, a substituição dos traços de identificações anteriores por novos. Peck e Whitlow (1976), referindo-se a Rogers, afirmam que a figura do “eu” é tratada como um padrão organizado de percepções, sentimentos, atitudes e valores com os quais o indivíduo se identifica, sendo o “eu” a base de sua experiência. Existe ainda o “eu ideal”, que é a pessoa como ela gostaria de ser. Isso implica que posteriormente, o indivíduo pode adquirir um determinado comportamento que influenciará na sua escolha profissional. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 85 Percebemos no decorrer das leituras que a aquisição da identidade pessoal antecede à profissional e se cristaliza a partir de identificações infantis que na adolescência são retomadas, sendo nesta etapa que o indivíduo, segundo Erikson, (1972) amadurece o suficiente para o convívio em um determinado contexto social. Para Giddens (2002), a identidade pessoal pode ser encontrada no comportamento ou nas reações das pessoas e dos outros, na capacidade que o indivíduo possui de manter sua biografia particular, ou o que o autor chama de “narrativa particular”. A biografia do indivíduo, para que ele mantenha uma interação regular com os outros no cotidiano [...] deve integrar continuamente eventos que ocorrem no mundo exterior e classificá-los na “estória” em andamento sobre o eu (p. 56). O referido autor se reporta, ainda, à autoidentidade como sendo o resultado “das continuidades do sistema de ação do indivíduo” (GIDDENS, 2002, p. 54), devendo ser criada e sustentada através das rotinas nas atividades reflexivas, processos que pressupõem uma consciência relativa. Giddens (2002, p. 54) define auto-identidade como sendo, [...] o eu compreendido reflexivamente pela pessoa em termos de sua biografia. A identidade ainda supõe a continuidade no tempo e no espaço: mas a autoidentidade é essa continuidade reflexivamente interpretada pelo agente. [...] ser uma 'pessoa' não é apenas ser um ator reflexivo, mas ter um conceito de uma pessoa. Para Berger e Luckmann (1985), a identidade se configura como um elemento-chave da subjetividade e da sociedade, formando-se, sendo remodelada através dos processos e relações sociais. As identidades são singulares ao sujeito e produzidas a partir de interações do indivíduo, da consciência e da estrutura social na qual este está inserido, sendo a “identidade um fenômeno que deriva da dialética entre um indivíduo e a sociedade” (p. 230). A identidade pessoal e a identidade construída coletivamente são essenciais para definir a identidade profissional do indivíduo. A esse respeito Pimenta (1997, p. 07) define que a identidade profissional do professor. Se constrói a partir da significação social da profissão [...] constrói-se também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor confere à atividade docente de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida: o ser professor. Assim, como a partir de sua rede de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos, e em outros agrupamentos. Lima (1996) em pesquisa de doutorado intitulada “Começando a ensinar: começando a aprender?”. Realizou um estudo que contou com cinco alunas do curso de pedagogia da Universidade Federal de São Carlos, realizado sobre os moldes de uma pesquisa qualitativa, sendo feito um trabalho de campo, entrevistas, reuniões, análise da aplicação de regências das alunas do curso de Pedagogia em um Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM). A pesquisa teve como objetivos saber quais as concepções das alunas quanto a ensinar e aprender, e como se caracterizava a atuação destas participantes que iniciavam seu trabalho como professoras. Visava saber também como se dava o processo de reflexão entre pensamento e atuação e qual contribuição para a formação das futuras professoras (a análise levou em conta as regências aplicadas pelas participantes no curso de magistério, no qual estagiavam). Foi um dos pré-requisitos para a escolha das participantes o fato de elas serem alunas que se destacavam e nunca terem trabalhado antes. Entre outras coisas, a autora conclui que ser professor é “tornar-se professor: processo interminável, que começa antes da formação básica e se prolonga para além dela através da formação continuada” (LIMA, 1996, p. 30), e que “o ensino é essencialmente uma profissão de aprendizagem e o professor é um membro da comunidade cultural” (p. 34). A autora segue comentando as ideias de Zalbaza, afirmando que “os docentes desenvolvem em sala de aula uma atividade complexa que tem, fundamentalmente, dois componentes: o da atuação e o dos pensamentos (estes representados por juízos, crenças, teorias implícitas etc)” (LIMA, 1996, p. 31). Levando em conta tal pesquisa, não é possível entendermos o trabalho do professor dividido entre o pessoal e o profissional, já que um está intimamente ligado ao outro. É frequente encontrarmos nos relatos de pesquisa como em Lourencetti (1999; 2004) os participantes demonstrando uma relação muito forte entre o seu passado como aluno e o seu fazer docente quando vão para a prática, imitando técnicas ou comportamentos dos antigos professores ou de outros professores que eles admiram. Pensando nisso é que nossa pesquisa teve como objetivo compreender como se deu a escolha da profissão docente e quais os fatores elencados pelos professores referentes à sua escolha e ainda como isso interfere na identidade dos professores. Metodologia A pesquisa teve por objetivo investigar como professores do Ensino Fundamental fizeram sua escolha profissional e perceber quais os fatores que eles elencaram que interferem na identidade do professor já que entendemos que a Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 86 identidade de uma profissão depende de suas interpretações pessoais e sociais. Procuramos entender questões como: O que levou o professor a escolher o magistério? Quais as interferências para esta escolha? Se ele já teve vontade de desistir e porque ainda permanece na profissão? Participaram da pesquisa doze professores de várias disciplinas curriculares de 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental de uma cidade do interior paulista. Os professores (que serão a seguir identificados por siglas pertinentes às respectivas áreas) se distribuíam do seguinte modo: dois professores de Português (P1 e P2), dois de Matemática (M1 e M2), dois de História (H1 e H2), dois de Geografia (G1 e G2), um de Educação Física (F1), um de Educação Artística (A1) e dois de Ciências (C1 e C2), com idades variando de 25 a 56 anos e com tempo de serviço no magistério de 5 a 35 anos. Os dados foram coletados mediante entrevista semi-estruturada com um roteiro previamente testado. As entrevistas foram gravadas com a devida autorização e transcritas pela pesquisadora de modo literal. O procedimento seguiu os princípios do método clínico piagetiano, o que permitiu explorar com certa profundidade o que pensam os professores a respeito do tema em questão. A análise dos dados foi qualitativa e quantitativa e agrupamos as respostas semelhantes em categorias. A análise foi realizada com base nos autores referenciados e na bibliografia pesquisada. Foram nossas questões aos professores: 1- Como você se tornou professor? Fale um pouco sobre como foi a sua escolha. 2 - Que pessoas ou situações/eventos você acha que mais influenciaram sua decisão? (Pais, irmãos, brincadeiras...?). 3 - Você já pensou ou teve vontade de abandonar a profissão? Por quê? 4 O que faz você permanecer na profissão? A Escolha Profissional Foi possível perceber em nossa análise, como apontam os autores, que a escolha por uma profissão mantém uma relação muito estreita com a identidade profissional que o indivíduo irá estabelecer em sua futura carreira. Em geral esta escolha é realizada ainda na adolescência, período este que, como indicam Aberastury e Knobel (1981) e Soares (1987), consiste em uma fase de muitas indecisões características da cristalização de uma identidade pessoal. Portanto, a escolha por uma profissão envolve tanto fatores internos, individuais, que em geral são pautados em considerações que se relacionam com o “eu”, quanto fatores externos, sociais, quando os indivíduos incorporam ao seu “eu” papéis, atitudes, imagens estabelecidas socialmente acerca das profissões com as quais parece se identificar. Os resultados qualitativos e quantitativos serão explicitados por nós a partir de agora. Logo em seguida apresentaremos um quadro para melhor visualização dos dados. - Como se tornou professor? Como foi sua escolha? Inicialmente perguntamos aos entrevistados como foi sua escolha pela profissão e se algo influenciou na mesma. Apareceram respostas que demonstram uma escolha voluntária e intencional; pois sete professores (58,3%) afirmaram que sempre gostaram da educação e se tornaram professores por escolha própria, como ilustram os depoimentos seguintes. Eu sempre gostei de Educação Física, de atividade física, eu sabia que eu tinha que ir para esse lado, só não sabia se fazia Fisioterapia ou Educação Física... então, desde pequena eu gostava de fazer exercício, dar aula de ginástica eu já dava em academia, então, resolvi me especializar mais para poder dar aula (A1). Ah, eu sempre quis ser professora, sempre gostei, gosto do que eu faço (M2). Ninguém influenciou, é que eu ia para a escola com a minha mãe, às vezes; então, eu decidi seguir esse caminho (G1). Eu sempre gostei de História desde as primeiras séries. Então, tinha professor que eu gostava, tinha aqueles livros que tinham pirâmide... e eu sempre gostei de ler, e História você precisa gostar de ler, então, foi uma escolha, porque eu já comecei a gostar desde criança. (H2). Outros depoimentos (5 professores) mostraram que a escolha foi devida a circunstâncias/ ao fator financeiro. Fiz dentro das minhas possibilidades, porque eu sempre estudei em escola pública, cursei Ensino Médio em escola pública em período noturno e isso reduzia muito minhas escolhas de prestar um vestibular numa faculdade pública, porque eu não tinha condições de pagar. Então, do que eu poderia prestar, eu escolhi ser professor, mas foi a área que eu escolhi (H1). Na verdade, não foi uma escolha, é que quando eu fui prestar vestibular, e tinha que fazer a opção no vestibular, eu fazia outros cursos... e eu não podia fazer outros cursos porque eu não podia estudar fora e o único curso, assim, que eu tinha mais afinidade na minha cidade era o curso de Letras, porque eu já fazia aulas de francês, fora... então, eu acabei sendo levada pelas circunstâncias (P1). Primeiro lugar, porque era a única faculdade que eu podia fazer financeiramente, e eu gostava mesmo, né, e as outras eu não tinha condições Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 87 de pagar, mas eu gostava também... (M2) - O que ou quem o influenciou? Quatro dos professores (33,3%) sugerem influência direta dos familiares em sua escolha. Podemos perceber isto através dos seguintes depoimentos: Minha avó martelou a vida toda em minha cabeça que eu tinha que ser professor, porque ela era da primeira turma do colégio Castro, uma professora renomada... e eu fiquei 10 anos com ela, (...) e ela queria que eu fosse professor. Ela dizia pra mim, vai ser professor, você vai ser o melhor...e eu busco isso até hoje pra ver se eu consigo ser um pouquinho melhor do que o normal, mas depois eu acabei gostando, né... e continuei (M1). Minha mãe e meu pai são professores os dois, nós éramos de São Paulo, mas eles sempre lecionaram e eu acabei sempre ficando nesse meio e desde novinha eu gostava. Fiz Farmácia, mas optei por ser professora... (C1). Foi mais por imitação, né, porque minha irmã, né... mas eu acho que eu não me veria com outra profissão não. (Então a pessoa que lhe influenciou foi sua irmã?) Sim, na realidade sim. A pessoa sim (P2). Para quatro entrevistados, (33,3%) os professores que eles tiveram os influenciaram na escolha e mais quatro depoimentos (33,3%) afirmam que as brincadeiras infantis os influenciaram, pois, desde pequenos, gostavam de brincar de “dar aulas” e acham que isso acabou por contribuir de alguma maneira em sua escolha profissional. É a questão da memória escolar do tempo em que eu estudei, isso, Ensino Fundamental e Médio eu sempre tive como referencia alguns professores, o que mais me marcou (...) (H1). É, teve uma professora de francês que eu tive no ginásio que acabou me influenciando de alguma forma (P1). E as situações eram as brincadeiras que eu direcionava, explicava... colocava meus ursinhos para serem meus alunos... (P2) Além de meus professores, acho que brincadeira, sim, desde criança eu brincava de professor (Isso influencia?) Claro... acho que já era uma coisa minha... mas ajuda (A1). Os depoimentos acima reafirmam a ideia de Mogone (2001), de que desde cedo os indivíduos adotam papéis e atividades realizados por outras pessoas, desde que lhes pareçam significativos e estes papéis se remodelam e se modificam com o passar do tempo. Talvez isso justifique o fato de alguns de nossos sujeitos terem sido influenciados por professores antigos, por brincadeiras, pela família e amigos. Foi possível perceber que nossos professores apresentaram uma proporção alta de respostas tanto para a categoria de escolha voluntária e intencional quanto para as circunstâncias e fator financeiro como sendo determinantes em suas escolhas. Portanto, a questão social e econômica deve ser também considerada no que se refere à identidade do professor. Segundo Berger e Luckmann (1985), a formação da identidade obedece a um fator social, sendo definida a partir de suas relações com o meio social no qual o indivíduo está inserido. Ou seja, assim como afirmam Vianna (1999) e Pimenta (1997), a identidade é um processo de construção, em que o indivíduo é histórica e socialmente situado. E como aponta Soares (1987), as interiorizações dos papéis, atitudes e fatores, como os antecedentes sócio-econômicos, a localização da cidade onde se vive, experiências com amigos, professores e familiares e as imagens socialmente correntes da profissão em questão proporcionam aos indivíduos as identificações necessárias para sua escolha profissional. Alguns relataram ser uma escolha que envolvia o gosto pessoal apenas; não ressaltando nenhuma interferência externa ou interna. Entretanto, tal gosto pela profissão é construído considerando fatores que podem estar relacionados à definição social vigente da profissão, como segurança, condições de trabalho, salários, dentre outros, além da afinidade pessoal. - Pensaram em abandonar a profissão? Perguntamos também aos professores se eles já pensaram alguma vez em abandonar o magistério e o que os fazia permanecer. Para as respostas negativas, que equivalem a cinco de nossos sujeitos (41,7%), as justificativas foram as de que nunca pensaram em abandonar a profissão porque gostam do que fazem, demonstrando um gosto pessoal; apareceram, também, respostas que se aproximam de um idealismo, por acreditarem que a situação vai melhorar. Vejamos alguns depoimentos que trazem tais ideias: Não. Porque tudo o que eu fiz desde que eu comecei a estudar foi relacionado à educação. Eu fiz Farmácia, mas eu queria dar aula, não consigo me ver em outro campo... não consigo ficar fora da escola, da sala de aula, do âmbito escolar, não tem, não vejo outro local, eu gosto do que faço (C1). Eu gosto muito de interagir com o ser humano, eu gosto de conversar com as pessoas, é uma oportunidade de estar sempre com alguém, de estar ajudando Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 88 alguém. Eu gosto de dar aula (H2). Não, depois que eu comecei a dar aula, eu sempre comento, acho que a gente acaba se viciando, é como se fosse um vício mesmo (P1). Não... porque eu acredito que pode melhorar (H2). Já para as respostas afirmativas, que correspondem a seis professores (50%), apareceram basicamente dois motivos para já terem pensado em abandonar a profissão, sendo eles a falta de interesse dos alunos em aprender; ou ainda o fator financeiro, em que os baixos salários são apontados como um determinante para o abandono do magistério. São exemplos: Sim, eu já pensei, por causa da falta de interesse dos alunos... mas eu gosto do que faço (C2). Eu já pensei sim, (...) pelo fator sócioeconômico a gente às vezes pensa em partir para uma profissão... porque é amargo, né... é muito amargo, mas, enfim... (P2). Eu já, por vários motivos, mas o pior deles é o financeiro (G2). Tivemos ainda um dos depoimentos (8,3%) que declarou que às vezes tem vontade e pensa em abandonar o magistério: As vezes dá vontade devido ao aluno, eles não têm interesse, você prepara sua aula, vai lá, isso te desanima muito, você perde aquele estímulo, aquela vontade... deixa a gente muito com a auto-estima baixa (A1). - E o que faz você permanecer na profissão? Com relação ao que fazem os professores permanecerem na profissão, alguns depoimentos reafirmam o que foi exposto na questão anterior. Foi possível, então, estabelecer quatro categorias distintas de respostas, sendo uma delas de caráter idealista, em que seis professores (50%) declararam permanecer porque ainda acreditam na educação e no próprio trabalho, quatro depoimentos, cerca de 33,3%, afirmaram um gosto pessoal pela profissão e somente permanecem na mesma porque gostam do que fazem. É uma coisa que eu sempre achei, quando eu comecei, falavam, ai, sai fora dessa, né, larga a mão dessa profissão, eu falava 'não, eu tenho certeza que um dia vai melhorar... um dia vai melhorar...' não melhorou até hoje, mas um dia vai melhorar (risos). Eu acredito que um dia ainda vai haver melhora, mas... não podemos desistir por causa das dificuldades. Nas outras profissões também é difícil (M2). Eu acredito que é acreditar na parcela de contribuição que eu dou pros alunos na... no sentido de formar integralmente, [...] formar integralmente é um prazer itanto, informar e formar a pessoa, acho que é isso que me motiva, acreditar que a gente tá fornecendo seres humanos, transformá-los por tudo aquilo que lhes cerca e a participação de um professor pode marcar a vida de uma pessoa pra sempre... eu acredito nisso, eu acredito (P2). Eu gosto muito de interagir com o ser humano, eu gosto de conversar com as pessoas, é uma oportunidade de estar sempre com alguém, de estar ajudando alguém. Eu gosto de dar aula (H2). Eu não abandono o magistério porque, por incrível que pareça, eu gosto de ser professora... (C2). Encontramos também outras duas categorias, uma que ressalta a falta de opção, um professor ou 8,3% e outra em que o compromisso político fala mais alto, quando também um professor afirma continuar na profissão, mesmo pensando em abandoná-la, por acreditar que tem um compromisso político com o ensino público, já que toda a sua vida acadêmica foi em instituições públicas. Vejamos tais declarações: Falta de opção... [...] ah, eu não tenho uma outra idéia de fazer nada diferente, então vou ficando [...] (G1). [...] e por um compromisso político que a gente tem que ter, com a causa, afinal de conta, nós estudamos gratuitamente, e de certa maneira nós temos que devolver, eu acho que eu vou devolver isso por um período, não vou me sentir preso pro resto da vida, não (H1). Para ficar mais claro a apresentação dos dados veja o quadro abaixo: Chamou-nos a atenção de alguns depoimentos o fato de anunciarem uma situação complicada e de real mal-estar (ESTEVE, 1999) entre os professores, já que cerca de metade do grupo de entrevistados tem vontade de abandonar a profissão, seja pela falta de interesse dos alunos ou pelo retorno financeiro que a profissão proporciona. Este dado é Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 89 alarmante e sugere que esses professores que sentem vontade de abandonar ou que às vezes pensam em trocar de profissão se encontram em uma crise profissional. Não é possível ainda determinarmos se essa crise é identitária, mas, com certeza, uma profissão em que a metade de seus trabalhadores pensa em abandoná-la, algo não vai bem. E os determinantes para esse descontentamento correspondem às descobertas de Lourencetti (2004), em sua pesquisa acerca das dificuldades enfrentadas pelo professor paulista, já que o fator financeiro foi um dos complicadores apontados também pelos professores pesquisados pela autora, como algo que dificulta o trabalho docente atualmente. Como vimos na questão anterior, a escolha de uma profissão envolve diversos âmbitos, dentre eles o fator financeiro e a imagem socialmente vigente da profissão. Com base em certos autores (ESTEVE, 1999; NACARATO et al., 2000; ENGUITA, 1991) percebemos que, no caso específico da profissão professor, tal imagem é ambígua e pouco definida através da história do Magistério. Atualmente, a indefinição se sobressai considerando as mudanças do mundo moderno. Definitivamente, não são apenas os nossos professores de 6º ao 9º anos que cogitam abandonar ou trocar de profissão. Possivelmente, a angústia pelos baixos salários e pela falta de interesse dos alunos está atrelada e faz parte do imaginário de toda a categoria docente. Foi possível constatar que, com exceção de dois professores (P1, M2), todos os que afirmaram não ter pensado ou eventualmente não ter vontade de abandonar a profissão quando contaram sobre sua escolha profissional e as influências sofridas fizeram a escolha com base em um gosto pessoal para a profissão ou influenciados por antigos professores e familiares. Apenas M2 e P1 afirmaram ter feito a escolha levando em conta, além do gosto pessoal, um fator financeiro, onde relatava que “era a única que eu podia fazer financeiramente, [...] mas eu gostava também...” (M2). Não podemos estabelecer uma relação direta entre os fatores da escolha profissional e a crise profissional de nossos professores. Convém apenas refletir sobre a importância da decisão com relação à profissão que se pretende seguir; pois, como ressalta Souza (2005, p. 209), “a escolha de uma profissão e a trajetória de trabalho dos professores resultam de inúmeras articulações: implicam uma rede de relações sociais e culturais tecidas ao longo da vida e atravessadas por lógicas próprias, feitas de acasos e circunstâncias, de aspirações e de constrangimentos, de coincidências e decisões”. Uma outra constatação à qual Lima (1996) chegou foi que a escolha pela profissão docente perpassa pela questão de gênero, afirmando que esta é uma característica histórica intrínseca à profissão docente. Algumas participantes trouxeram a ideia de que para ser professor é necessário ser mulher, paciente e sensível. Um outro ponto levantado pela autora com relação à escolha profissional é um dado preocupante, já que percebeu em sua pesquisa que a maioria das alunas que optaram pelo curso de magistério (CEFAM) tinham interesse pela bolsa de estudos fornecida pela entidade ou pela característica profissionalizante do curso, mas sem manter, na maioria dos casos, relação nenhuma com o fato de ensinar crianças (LIMA, 1996, p. 124). Conclusão Segundo os autores estudados a identidade do professor configura-se em uma identidade coletiva que se refere à identidade pessoal (para si) e à identidade social (para outrem) e essa identidade coletiva é “processada pelos sujeitos e pelos grupos sociais que reorganizam significados conforme a influência das tendências sociais e dos projetos culturais, enraizados na sociedade” (BRZEZINKI, 2002, p. 9). Além disso, a autora afirma que a construção da identidade encontra-se nas associações e sindicatos da categoria profissional docente, assim como nas políticas educacionais que acabam por manter o atual status da profissão. É por meio da identidade do professor que se desenvolve um processo de profissionalização que, por sua vez, vem sendo prejudicado considerando a realidade dos sindicatos e das políticas educacionais. Entendemos que para tanto se faz necessário que o professor se sinta pertencente a uma categoria profissional e nesse sentido a escolha, ou os motivos pelos quais os indivíduos escolhem uma profissão fazem toda a diferente para que estes se sintam parte dela ou não. Obviamente que não é apenas a escolha voluntária capaz de realizar tal processo, mas entendemos que mesmo quando os professores escolheram ou foram levados a escolher o magistério por influência de outros ou porque recebiam uma bolsa para estudar como é o caso das alunas pesquisadas por Lima (1996) é preciso ter consciência de que se mantém na profissão por um gosto relacionado ao ensinar e ao aprender, caso contrário a profissão não se justifica enquanto tal. Finalizamos ressaltando que os depoimentos dos professores pesquisados mostram o perfil dos principais fatores que levam o indivíduo a escolher o magistério, bem como tal escolha interfere de forma significativa na formação de uma identidade profissional docente e a partir disso cabe a nós profissionais da educação como um todo refletirmos sobre as reais expectativas que fazem com que os indivíduos optem pela docência e a partir daí como promovermos uma afirmação da identidade docente. 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Setembro 2012 91 CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO: Análise da aceitação do currículo de educação física pelos alunos do 3º ano do ensino médio Denise Ferraz Lima Veronezi; Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes Centro Universitário de Votuporanga - UNIFEV Resumo A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implantou em 2008 uma nova forma de Currículo unificado para todas as escolas da rede estadual de ensino. No início denominado de Proposta Curricular, a partir de 2010 esta Proposta se tornou o Currículo do Estado de São Paulo, atualmente utilizado. Com essas mudanças algumas transformações ocorreram no âmbito escolar. Esta pesquisa procurou analisar a aceitação dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio frente à utilização do Currículo de Educação Física. O método utilizado foi uma pesquisa de campo através de um questionário que foi aplicado aos discentes. De acordo com este estudo a conclusão que chegamos é que os alunos gostam de participar das atividades, mas ainda existem por parte dos alunos alguns aspectos da antiga educação física (antes do currículo atual), que visava uma maior prática esportiva dentro da escola. Consideramos necessário que a partir deste estudo possam realizar-se novas pesquisas, investigando e discutindo o contexto escolar que a educação física do Estado de São Paulo está inserida, para a reflexão de práticas pedagógicas adequadas. Palavras-chave: Educação Física. Ensino Médio. Proposta Curricular. Abstract The Education Department of the State of Sao Paulo in 2008 implemented a new form of unified curriculum for all schools in the state schools. Earlier known as Curriculum Proposal, from 2010 this became the Curriculum Proposal of the State of Sao Paulo, currently used. With these changes occurred some changes in the school. This study sought to analyze the acceptance of third-year students of high school before the use of the Physical Education Curriculum. The method used was a field survey through a questionnaire that was administered to the students. According to this study the conclusion we reached is that students enjoy participating in activities, but still there by the students some aspects of the former physical education (before the current curriculum), which sought greater sports within the school. Need to consider from this study can be carried out new research, investigating and discussing the school context that physical education in the State of São Paulo is located, to reflect the appropriate pedagogical practices. Keywords: Physical Education. High School. Curriculum Proposal. INTRODUÇÃO Com o intuito de apoiar o trabalho realizado nas escolas estaduais, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implantou em 2008 uma Proposta Curricular para os níveis do Ensino Fundamental – ciclo II e médio. Com isso, pretende contribuir para a melhoria da qualidade das aprendizagens dos alunos, garantindo aos estudantes uma base comum de conhecimentos para que as escolas funcionem como uma rede (SÃO PAULO, 2008). Para Darido (2003) de acordo com as tendências sociais em que vivemos, as propostas educacionais estão se modificando, influenciando de alguma maneira os professores com novas práticas pedagógicas de ensino de Educação Física. A partir dos conhecimentos que os alunos já possuem sobre diferentes manifestações corporais, a Educação Física escolar deve ampliá-los e qualificá-los criticamente. Dessa maneira, possa levar o aluno ao longo da sua escolarização e após, a melhores oportunidades de praticar o esporte, jogo, ginástica, luta e atividades rítmicas, possibilitando uma intervenção e transformação relacionada à dimensão corporal e ao movimentar-se, o qual tem sido denominado de “cultura corporal” (SÃO PAULO, 2008). De acordo com Betti e Zuliani (2002), no Ensino Médio deve-se dar ênfase à aquisição de conhecimentos relacionados à cultura corporal de movimento e promover a experiência de práticas corporais, considerando os interesses dos alunos. De acordo com Engel (2011), é necessária uma nova cultura na escola, mais atraente, de forma que seja mais valorizada pela sociedade. A escola precisa ter uma direção que busque os seus propósitos, visando uma missão comum de ensinar o que está previsto e fazendo com que o jovem aprenda o que é realmente importante antes de concluir o Ensino Médio. Outro ponto é a organização do espaço, sendo que quanto melhor elaborado e interessante, melhor será o desenvolvimento dos alunos. As mudanças que ocorrem no contexto escolar podem fazer com que os alunos reconheçam novos significados e valores, em relação à prática dos conteúdos que estão sendo trabalhados dentro da escola. Através das questões levantadas neste estudo, a resposta dos alunos é fundamental, apresentando a vivência das aulas e esclarecendo o principal propósito desta pesquisa: Analisar a aceitação do Currículo de Educação Física pelos alunos do 3º ano do Ensino Médio. O principal motivo da escolha desse grupo de indivíduos se deu pelo fato de que em 2008, eles estavam cursando o 9º ano (antiga 8º série) quando foi implantada a Proposta Curricular, trazendo mudanças no âmbito escolar. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 92 Neste caso, esses alunos tiveram experiências de como eram as aulas de Educação Física e como é atualmente na rede de ensino do Estado de São Paulo. Com esta pesquisa pretendemos esclarecer algumas questões que nos parece ser muito pertinentes, em relação aos conteúdos, se estão de acordo com a realidade, se os professores estão realmente utilizando o atual Currículo, se as aulas estão proporcionando uma melhor participação e também verificar o reconhecimento dos discentes em relação à importância da Educação Física. O CONTEXTO HISTÓRICO DO CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO O Currículo é considerado um artefato social e cultural, isso significa que é amplo em suas determinações sociais de sua história e sua produção contextual, não é um elemento inocente em relações de poder, ele transmite visões sociais particulares e interessadas, produzindo identidades individuais e sociais particulares, onde sua história é ligada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da Educação (MOREIRA; SILVA, 2005). O currículo é a referência para ampliar, localizar e contextualizar os conhecimentos que a humanidade acumulou ao longo do tempo. Então, o fato de uma informação ou conhecimento ser de outro lugar, ou de todos os lugares na grande rede de informação, não será obstáculo à prática cultural resultante da mobilização desse conhecimento nas ciências, nas artes e nas humanidades (SÃO PAULO, 2008, p. 13). De acordo com Moreira e Silva (2005), o Currículo nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimentos, que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aula de uma nação. Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultando da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo. É produto das tensões, conflitos e concessões culturais, políticas e econômicas que organizam um povo. Segundo Goodson (2002) a palavra Currículo vem do latim e tem como significado correr, curso ou carro de corrida, utilizado na escola como forma de transmitir algum conhecimento. O currículo sempre foi alvo da atenção de todos os que buscavam entender e organizar o processo educativo escolar. No entanto, foi somente no final do século XIX e no início deste, nos Estados Unidos, que um significativo número de educadores começou a tratar mais sistematicamente a uma série de estudos e iniciativas que, em curto espaço de tempo configuraram o surgimento de um novo campo (MOREIRA; SILVA, 2005, p. 9). O Currículo não pode ser visto como planejamento universal que atinge os vários âmbitos educativos existentes nas características sociais presentes no cotidiano escolar, seja do ponto de vista do aluno, seja do ponto de vista da realidade e do cotidiano que o mesmo se encontra. Contudo, o Currículo não pode simplesmente ser adotado, deve ser experimentado, avaliado, criticado e adaptado a partir das peculiaridades que o mesmo contém dentro de suas inúmeras expressões sociais, políticas, econômicas e culturais (CARNEIRO, 2010). A escola é uma instituição que está presente em todas as sociedades, sendo assim, tem um papel fundamental na formação das novas gerações. De certa forma, ambas estão associadas de maneira que, quando refletimos sobre uma consequentemente pensamos também sobre a outra (BEZERRA NETO; BEZERRA e JACOMELI, 2009). A escola é o espaço em que ocorre a transmissão, entre as gerações, do ativo cultural da humanidade, seja artístico e literário, histórico e social, seja científico e tecnológico. Em cada uma dessas áreas, as linguagens são essenciais (SÃO PAULO, 2008, p. 16). De acordo com Sarno e Cancelliero (2009), a Educação escolar é fundamental para o desenvolvimento econômico, social, cultural e político do país, garantindo os direitos de cidadania. Saviani (2009, p.30) afirma que: [...] o currículo se expressa no conjunto de matérias/disciplinas escolares e respectivos programas, os quais, por sua vez, consistem em elementos selecionados da cultura global da sociedade e organizados para fins de ensino-aprendizagem. A escolarização deve ser entendida como um direito do cidadão e um patrimônio da sociedade, devendo sua administração, planejamento e execução ser coerente com a Educação de forma ampla e democrática, respeitando as disposições expressas na Constituição Federal de 1988 e na Constituição do Estado de São Paulo de 1989 (Sarno; Cancelliero, 2009). Para que a democratização do acesso à educação tenha uma função realmente inclusiva não é suficiente universalizar a escola. É indispensável à universalização da relevância da aprendizagem. Criamos uma civilização que reduz distâncias, que tem instrumentos capazes de aproximar as pessoas ou de distanciá-las, que aumenta o acesso à informação e ao conhecimento, mas que também acentua diferenças culturais, sociais e econômicas. Só Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 93 uma educação de qualidade para todos pode evitar que essas diferenças constituam mais um fator de exclusão (SÃO PAULO, 2008, p. 10). O CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO A Educação Física pode ser tempo e lugar de investigação e problematização da história de alunos presentes na escola, que revela o conhecimento sobre as práticas corporais da cultura de que são portadores; de invenção de outras formas de fazer os esportes, as danças, a ginástica, os jogos, as lutas, os brinquedos, as brincadeiras; de questionamento dos padrões éticos e estéticos construídos culturalmente para a realização dessas e de outras práticas corporais; de realização do princípio de que os alunos possam se colocar à disposição de si mesmos quando partilham, desfrutam, criam e recriam as práticas corporais da cultura visando o direito da participação de todos, sem exclusão por nenhum motivo; de respeito à corporeidade própria de cada indivíduo, construída em sua história de vida (VAGO, 1999). De acordo com Darido (2003), a influência dos esportes faz com que a maioria dos professores se identifique com as propostas relacionadas ao jogo. Percebendo, neste sentido, alguns avanços com a implantação dos jogos cooperativos nas escolas. Darido (2003) ainda ressalta que mesmo com o grande número de abordagens no contexto da Educação Física escolar, estas tendências não substituíram as práticas vinculadas ao modelo esportivo, biológico ou recreacionista. A introdução destas abordagens proporcionou uma visão ampliada da área de Educação Física, referente às hipóteses pedagógicas de ensino e aprendizagem. Como componente curricular da Educação Básica, a Educação Física deve ser responsável pela tarefa de introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzila e transformá-la, para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida (BETTI; ZULIANI, 2002). Ao valer-se dessa noção de cultura, pode-se afirmar que a escola é o cenário em que diversas culturas entram em conflito tendo em vista a veiculação de seus distintos significados. Qualquer estudante ou docente irá se defrontar com produções simbólicas que ora lhes são familiares, ora lhes são estranhas. Atuar sobre elas ou com base nelas fará com que os significados inicialmente disponíveis sejam reconstruídos, alcançando a produção de novas significações (NEIRA; NUNES, 2009, p. 24). Como última etapa da Educação Básica, o Ensino Médio tem como objetivo consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, além de possibilitar o prosseguimento dos estudos (DOMINGUES; TOSCHI e OLIVEIRA, 2000). Para Noronha (2009), o Currículo do Ensino Médio necessita de modificações que organizem seus conteúdos com visão ampla, oferecendo um significado concreto para alunos que mesmo não estando em idade própria, possam se interessar pelo processo educativo. O Currículo é essencial para o desenvolvimento dos alunos nas diversas disciplinas presentes na escola. Noronha (2009) ainda acrescenta que é fundamental ter audácia para organizar um conteúdo curricular que tenha relação com todos os envolvidos, debatendo juntamente com a comunidade escolar para a construção de um projeto político-pedagógico definido por todos, de modo que este possa significar com a realidade dos alunos tanto dentro da escola, quanto fora dela. Em busca pela qualidade na Educação, devemos refletir sobre temas que poderão contribuir para que os profissionais da Educação possam trabalhar questões fundamentais com os estudantes, não é com muros e cadeados que poderemos construir um mundo melhor. Temos que discutir abertamente questões que nos afetam sendo esse o melhor caminho para oferecer perspectivas de futuro paras crianças e jovens (GROSSI, 2011). Para a sociedade ser transformada em algo melhor do que é, devemos considerar que ela é composta por homens que se estruturam em classes sociais diferentes em uma sociedade capitalista. Assim, a instituição escolar deve ser lembrada e, pensada em primeiro lugar levando em conta que esta é a principal agência formadora que poderá contribuir para a formação de cada aluno como cidadão (BEZERRA NETO; BEZERRA e JACOMELI, 2009). O CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo realizou um projeto que propõe um Currículo para os níveis de Ensino Fundamental – Ciclo II e Médio, de forma a apoiar o trabalho feito nas escolas e favorecer a melhoria da qualidade da aprendizagem de seus alunos, procurando garantir uma base comum de conhecimentos e competências para que as escolas funcionem de fato como uma rede (SÃO PAULO, 2008). O documento aborda algumas das principais características da sociedade do conhecimento e das pressões que a contemporaneidade exerce sobre os jovens cidadãos, propondo princípios orientadores para a prática educativa, a fim de que as escolas possam se tornar Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 94 aptas a preparar seus alunos para esse novo tempo. Priorizando a competência de leitura e escrita, esta proposta define a escola como espaço de cultura e de articulação de competência e conteúdos disciplinares (SÃO PAULO, 2008, p.08). Esta Proposta Curricular constituída no Governo José Serra, por intermédio da Secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, e organizada pelos desenvolvedores do conteúdo programático da disciplina de Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti e Sérgio Roberto Silveira, tem como destaque a “cultura de movimento” que devem ser tratados pedagogicamente como conteúdos culturais implicados com o movimentar-se humano, nessa ideia, a Proposta Curricular está vinculada aos aspectos corporais como os jogos, a ginástica, as danças e atividades rítmicas, as lutas e os esportes (SÃO PAULO, 2008). A Proposta Curricular é um conjunto de documentos dirigidos especialmente aos professores. São os Cadernos do Professor, organizados por bimestres e por disciplinas, onde são apresentadas situações de aprendizagem para orientar o trabalho do professor no ensino dos conteúdos disciplinares específicos (SÃO PAULO, 2008). A Proposta Curricular tem como objetivos: · A escola que também aprende, num contexto onde a aprendizagem terá que ser trabalhada com os alunos e com a própria escola, sendo professores e alunos envolvidos num processo educativo. · O Currículo como espaço de cultura, o conhecimento deve estar relacionado à cultura para que possamos conectar o Currículo à vida do aluno, as atividades que estão fora do contexto cultural irão confundir ao invés de promover aprendizagens relevantes aos alunos. · Promover competências, que são conceituadas pela Proposta Curricular como o modo de ser, raciocinar e interagir do aluno. Pode ser compreendida por ações e tomada de decisão em diversas situações problemáticas, na realização de tarefas e atividades escolares. · As competências como referência para promover um Currículo com compromisso das disciplinas e atividades relacionadas com o que se espera que o aluno aprenda ao longo dos anos. · Prioridade para a competência da leitura e da escrita, o ser humano é um ser de linguagem e disso decorre todo o restante que transformou a humanidade com a capacidade de comunicar-se. · Articulação das competências para aprender, o professor apresenta e explica conteúdos, organiza conceitos, métodos, formas de agir e pensar com o intuito de preparar os alunos para enfrentar os problemas do mundo real. A articulação com o mundo do trabalho está direcionada de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394, de 1996 (LDB) nos termos do artigo 35° e as recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o Ensino Médio elaborados no ano de 2000, podendo ser usado para a Educação Básica como um todo, principalmente a partir da 5ª série. A FUNÇÃO DO EDUCADOR DIANTE DO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO A construção de propostas curriculares é um ato necessário, uma vez que possibilita a reestruturação do cenário educacional para uma melhor qualidade da Educação. No entanto, essas inovações devem ser realizadas após diversas reflexões e adaptações devendo ser considerados a cultura e os diferentes agentes envolvidos neste processo (TAVARES, 2009). Para Saviani (2009), é necessário analisar como estão a situação e o funcionamento das escolas através de relatórios, planos de aulas, cadernos dos alunos, enfim todo material que possa ser útil para o diagnóstico da realidade escolar, mas em especial, os professores e alunos merecem ser ouvidos com atenção, porque são os principais agentes do processo educativo. O professor e o aluno devem ser considerados semelhantes, de modo que ambos estão no mesmo nível enquanto seres humanos, aprendendo um com o outro. A relação entre professor e aluno deve proporcionar uma troca de informações e conhecimentos (BEZERRA NETO; BEZERRA e JACOMELI, 2009). Todos os métodos e ferramentas tecnológicas devem ser utilizados na Educação, possibilitando a construção de uma rede educacional onde todos possam ter uma Educação de qualidade, com espaço físico adequado, tendo respeito, preparação e a valorização dos educadores (SANFELICE; MINTO e LOMBARDI, 2009). A formação dos professores está relacionada com o trabalho docente das agências formadoras, estas instituições de ensino superior formam profissionais que retornarão para as redes escolares, dando sequência ao ciclo de ensino e utilizando a formação que tiveram em sua graduação. Portanto, se não houver prioridades na realização de cursos adequados, consequentemente resultará em formações de profissionais insatisfeitos para atuarem na rede de ensino. As condições de trabalho e as experiências práticas nas escolas influenciam diretamente a sua formação em processo, por isso a importância da realização dos estágios (SAVIANI, 2009). Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 95 Saviani (2009) afirma ainda que o grande desafio é conseguir atingir formações de professores e condições de trabalho adequadas, sendo que são necessários recursos financeiros suficientes ao mesmo tempo que as políticas estão sempre buscando a redução de custos, cortando investimentos que poderiam tornar possíveis os que proclamam necessário, uma sociedade em busca do conhecimento. Fica evidente a falta de investimento e o descaso com fundos necessários para o desenvolvimento da Educação. O papel do professor é fundamental para o desenvolvimento do aluno, de maneira que facilite o acesso ao conhecimento. O docente tem uma compreensão de mundo de acordo com a sua área de atuação, especialidade científica e o conhecimento pedagógico, juntamente com uma visão crítica da sociedade, produzindo conhecimento sobre a sua área e sobre a sociedade (SARNO; CANCELLIERO, 2009). Pautando-se no contexto acima, o profissional de Educação, em determinados momentos, parece sentir-se apenas um reprodutor das funções que querem lhe impor, aparentando um descontentamento por seu papel de professor, é como se não tivesse a capacidade de assumir a sua função com autonomia. Para Luckesi (2005), a maior revolução que podemos esperar da Educação é que ela amplie a consciência dos alunos, e que os governantes invistam em recursos econômicos necessários, reconhecendo a necessidade para a prática significativa da Educação, oferecendo condições adequadas com espaços físicos satisfatórios, material didático adequado, salário digno para os professores, e que os educadores ensinem acreditando no processo de aprendizagem em busca de resultados satisfatórios a serem construídos. Que todas as estruturas da Educação cumpram os seus objetivos, que a principal finalidade seja a aprendizagem dos alunos. Para Bryman (1992 apud FLICK, 2009) a pesquisa qualitativa pode apoiar a pesquisa quantitativa e vice-versa, as duas estão ligadas com o intuito de fornecer uma visão geral do estudo. As estruturas são analisadas pelos métodos quantitativos enquanto que os aspectos processuais são analisados pelo método qualitativo. Os pesquisadores trabalham na perspectiva da abordagem quantitativa, enquanto que os sujeitos avaliados se enquadram na abordagem qualitativa, expressando suas opiniões ou ponto de vista sobre o assunto. No decorrer da pesquisa, uma determinada abordagem pode ser mais adequada para o momento, mas a combinação da pesquisa quantitativa com a pesquisa qualitativa é essencial para o esclarecimento do estudo. De acordo com Martins e Campos (2004), o foco da pesquisa qualitativa é o processo e não o produto, procurando retratar o ponto de vista dos participantes. Este estudo tem a finalidade de investigar o contexto cultural, interpretando a maneira de como essas pessoas se comportam nesse contexto. O questionário foi aplicado na primeira quinzena de maio, em visita às escolas e em contato direto com os alunos do terceiro ano do Ensino Médio. As questões foram elaboradas pelos pesquisadores, tendo como foco a opinião dos alunos sobre a utilização do Currículo do Estado de São Paulo. RESULTADOS E DISCUSSÕES Apresentaremos neste momento os resultados do questionário aplicado aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio da Rede Estadual do Estado de São Paulo nas escolas da cidade de Américo de Campos e Gastão Vidigal. METODOLOGIA AMOSTRA Os participantes desta pesquisa 40) discentes do terceiro ano do Ensino Médio de ambos os sexos, realizado em duas (2) escolas da rede estadual no município de Américo de Campos/SP e Gastão Vidigal /SP. Os discentes que participaram do estudo vivenciaram as aulas antes da implantação do Currículo do Estado de São Paulo, enquanto os mesmos estudavam no 9º ano do Ensino Fundamental, tendo a experiência da Educação Física sem a utilização desse novo Currículo. PROCEDIMENTOS Foi realizada uma pesquisa de campo, de forma quantitativa e qualitativa, com a intenção de coletar dados, através de um questionário contendo duas (2) questões. Figura 1 – Alunos que participam das atividades de Educação Física. Podemos observar nesta questão que em média mais de 97% desses alunos participam das atividades de Educação Física. Como podemos observar nessas escolas, a Educação Física pode estar proporcionando um ambiente escolar atraente, sendo assim, a participação dos alunos nas atividades contribui para a permanência dos mesmos na escola. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 96 De acordo com a pesquisa realizada por Engel (2011), um dos motivos relatados por alunos que abandonaram o Ensino Médio é a falta de qualidade no trabalho dos professores, os discentes querem um ambiente escolar mais dinâmico e inovador. Tomando conhecimento dos problemas, é preciso encontrar alternativas para tornar a escola mais atraente e interessante para os jovens. Figura 2 – Alunos que gostam das aulas de Educação Física. Nesta questão é possível verificar que 95% desses discentes gostam das aulas de Educação Física, isso pode ser relacionado com as questões levantadas anteriormente, os alunos estão participando das atividades reconhecendo a importância que esta disciplina tem na formação deles, isso pode contribuir muito para que esses estudantes tenham um estilo de vida saudável, pois para Betti e Zuliani (2002), as condições socioeconômicas, informatização e a falta de espaços públicos adequados para o lazer, levam um grande número de pessoas ao sedentarismo, à alimentação inadequada e ao estresse. É cada vez maior o tempo que as pessoas passam à frente da televisão, especialmente as crianças e adolescentes, diminuindo a atividade motora, levando ao abandono da cultura de jogos infantis, e substituindo a experiência de praticar esporte pela de assistir esporte. Podemos considerar o importante papel que a Educação Física escolar tem para a sociedade, não é tornar o aluno um atleta, mas utilizar o esporte, ginástica, atividade rítmica e o exercício físico como ferramentas que possam fazer o educando gostar das atividades relacionadas à Educação Física e, ainda de acordo com Betti e Zuliani (2002), o professor deve auxiliar o estudante a compreender o seu sentir e a sua relação com a cultura corporal de movimento, fazendo com que o aluno reflita sobre práticas corporais adequadas, as que proporcionam o bem-estar e quais as condições que a sociedade oferece para se praticar essas atividades. CONCLUSÃO De acordo com este estudo, a conclusão é que os alunos gostam de participar das atividades do currículo de educação física, mas ainda existem por parte dos alunos alguns aspectos da “antiga” Educação Física (antes do currículo atual), que visava uma maior prática esportiva dentro da escola. Acreditamos que as inovações de conteúdos proporcionaram aos estudantes uma mudança positiva, possibilitando uma maior participação dos alunos. Diante disso, Betti e Zuliani (2002) pronunciam que o significado de inovar, é experimentar novos modelos, estratégias, metodologias, conteúdos, para que a Educação Física continue contribuindo para a formação dos jovens, para que eles possam apropriar-se de maneira crítica da cultura contemporânea. Apesar de tudo, a escola é sinônimo de esperança, por isso estimula diversos educadores a prosseguir analisando e i n t e r p r e t a n d o a r e a l i d a d e e s c o l a r, experimentando alternativas e compartilhando suas descobertas (NEIRA; NUNES, 2009). Consideramos necessário que a partir deste estudo, possam realizar-se novas pesquisas investigando, e discutindo o contexto escolar que a Educação Física do Estado de São Paulo está inserida, para a reflexão de práticas pedagógicas adequadas. REFERÊNCIAS BETTI, Mauro.; ZULIANI, Luiz Roberto. Educação Física Escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas, 2002. Disponível em: <http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/re mef/article/download/1363/1065>. Acesso em: 25 Mar. 2012. BRASIL. Lei nº 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2000. BEZERRA NETO, Luiz.; BEZERRA, Maria Cristina dos Santos.; JACOMELI, Mara Regina Martins. Currículo escolar em São Paulo: Uma proposta para discussão. Revista educação & cidadania, v.8, n.1, jan/jun 2009. CARNEIRO, Rafael Tadeu Moravagine. Analise Crítica da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2010. Disponível em: <http://tribunasnalcova.wordpress.com/2010/07/ 20/analise-da-proposta-curricular-do-estado-desao-paulo/>. Acesso em: 24 Mar. 2012. DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola: Questões e Reflexões. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan. p. 33, 2003. 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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 98 O JOVEM-ATLETA DE FUTEBOL: A DESMOTIVAÇÃO NA RELAÇÃO CONJUNTA DO TREINAMENTO E DA VIDA ESCOLAR. João André Bernini Monteiro¹, Paulo José Moraes De Paula Santos¹, Paulo Gerson Caetano Filho¹, Pedro Ferreira Rigotti Chaves¹, Rayama Dwija Szajnweld da Silva¹. ¹ESC - Escola Superior de Cruzeiro RESUMO O futebol é o esporte mais praticado em todo mundo e, também, no Brasil. Além de mais praticado, atrai pessoas pelas suas várias maneiras de se trabalhar e pela possibilidade de se conseguir estabilidade financeira e sucesso como profissional. Em geral, toda a espetacularização do futebol desperta nas crianças, adolescentes e jovens o desejo de jogar futebol profissionalmente, porém, também desperta o desinteresse escolar, quando a pressão para se chegar ao sucesso no esporte começa a interferir no processo educacional. Embora saber que a educação escolar é de extrema importância para o jovem, sugere-se que ele próprio não tem totalmente uma noção de como a escola fará falta pra ele posteriormente, aumentando, deste modo, a possibilidade da sua evasão escolar, fator contribuinte para, mesmo que num futuro de sucesso na carreira como jogador, grandes conturbações em sua vida, ou mesmo no caso de uma frustação em sua carreira profissional, uma seguinte decepção por não ter uma outra opção de profissão e de sustento. Assim, a pesquisa tem a finalidade de analisar a motivação dos alunos-atletas ao se manter a vida escolar em conjunto com a vida de treinamentos no futebol, analisar a relação do treinamento com a assiduidade, empenho e interesse em âmbito escolar, e verificar os motivos que levam o aluno-atleta ao desinteresse e desmotivação ao se deparar com a realidade do ambiente escolar que frequenta. Palavras chave: futebol, motivação, escolar. ABSTRACT Football is the most practiced sport worldwide and also in Brazil. Besides being more committed, attracts people for their various ways of working and the possibility of achieving financial stability and success as a professional. In general, the whole spectacle of soccer arouses in children, adolescents and young people the desire to play football professionally, but also awakens the disinterest school, when the pressure to achieve success in the sport begins to interfere with the educational process. Although knowing that education is extremely important for the young, suggests that he himself does not fully a sense of how the school will be missing him later, increasing thus the possibility of dropping out, contributing factor to even if a future successful career as a player, major disruptions in your life, or even in the case of a frustration in his career, following a disappointment for not having another choice of profession and livelihood. The research aims to analyze the motivation of student-athletes to keep school life along with life in football training, analyze the relationship between training attendance, commitment and interest in the school, and check the reasons why the student-athlete to the interest and motivation when faced with the reality of the school they attend. Keywords: football, motivation, school. INTRODUÇÃO O futebol é o esporte mais popular do planeta, praticado com vários objetivos como prazer, saúde, profissão (HERNANDEZ, 2004, apud SANTOS, 2010). No Brasil, toda a espetacularização do futebol desperta em crianças, jovens e adolescentes o desejo de jogálo profissionalmente, o que explica o início da vida esportiva pelo futebol. Através do crescimento desordenado dos grandes centros, surgiu uma problemática para a sociedade, desapareceram as áreas de lazer, as praças, bosques, jardins além dos campos de várzea (VENLIOLES, 2001). Com isso surgiu o interesse e necessidade de tentar se ensinar futebol nas escolas. Na escola, o esporte, como o futebol, deve ser orientado para a participação, a integração e a socialização, considerando que o trabalho básico de formação seja realizado no período escolar, sempre representando os interesses e as necessidades das crianças, tendo em consideração que se trata da época para se desenvolver todas as capacidades motoras e coordenativas de uma forma geral, criando uma base ampla e variada de movimentações que ressaltam o aspecto lúdico (GRECO; BENDA, 2001). Sem dúvida, o jogo deve estar presente no aprendizado, no entanto, deve ser acentuado nele seu caráter lúdico e participativo. Deste modo, a participação como prioridade implica na socialização, no lazer, na educação e nos valores culturais interativos que na infância é de grandíssimo valor (PAES, 1996). Cada vez que um indivíduo se encontra em uma determinada situação, ou recebe um dado estímulo, automaticamente, ele seleciona todas as respostas correspondentes àquela situação que estão em sua lembrança, o que, por sua vez, direciona o seu comportamento de ação. A resposta oferecida pelo ambiente será somada às respostas anteriores, modificando ou reforçando determinados valores (MORENO, 2006). Nesta óptica, os treinadores desenvolveriam uma função mais importante do que revelar crianças para o esporte, e sim, prepará-las para a vida, possibilitando-lhes alegria e oportunidade de vivenciar relações afetivas com seu grupo de trabalho (PAES, 1996). De acordo com Guedes (1982, apud VENLIOLES, 2001), a socialização de crianças Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 99 em relação às escolas vem sendo muito importante na prática esportiva, pois o aprendizado da técnica do futebol se inicia com um jogo sem regras, de caráter lúdico. Porém, Brandão (2000, apud SANTOS, 2010), destaca que, geralmente, o ingresso na categoria de base de um clube ocorre muito cedo, fazendo com que a criança ou adolescente passe um tempo demasiadamente longo treinando para, quem sabe, tornar-se atleta profissional. Deste modo, o futebol exige que o jovematleta lide com diversas situações que podem provocar estresse. Essa pressão que o jovematleta sofre, está vinculado justamente em sua estrutura psicológica que, ainda, é vulnerável (BRANDÃO, 2000 apud FILGUEIRA, 2005). Por isso, talvez um dos maiores erros encontrados hoje em dia nas escolas de futebol seja o de não estarem respeitando os alunos no que diz respeito às várias faixas etárias, impedindo-os de passarem, num processo de progressão de experiências, que servirão de fonte de processamento de informações (VENLIOLES, 2001). O alto nível da categoria profissional é a ultima de várias etapas que o atleta precisa atingir, e grande parte dos que tentam traçar o futebol como objetivo na vida acabam desistindo ou sendo obrigados a desistir, antes de atingir essa etapa, pois, principalmente em nosso país, o processo de seleção de atletas obtém extrema competitividade, exigências e pressões, e para alcançar seus objetivos, o jovem deve ter além de talentos naturais, qualidades técnicas, físicas e psicológicas, determinantes para seu desempenho esportivo (BRANDÂO, 2000 apud SANTOS, 2010). Para isso, tanto os pais quanto os professores influenciam diretamente na maneira com que colocam o esporte para suas crianças, e os professores, logicamente, têm uma responsabilidade muito maior, porque tem obrigação de saber sobre o nível de maturação de suas crianças, sobre como elas encaram o esporte e até se tiveram influências dos pais (APOLO, 2007). Por sua vez, os pais matriculam seus filhos em escolinhas de futebol visando aspectos futuros e esquecem-se da aprendizagem social e educacional da criança. Essa defasagem educacional que a criança sofre, pode originar um quadro de profunda perda, uma vez que a realidade escolar constitui um espaço com objetivos específicos dirigidos aos processos de ensinar e aprender. Acredita-se que ao ingressar na escola, quando houver a iniciativa própria do aprendizado, o aluno será um sujeito melhor, modificado, mais capaz e preparado para enfrentar o mundo. Dependendo também da pedagogia utilizada, essa evolução pode ser em função dos conhecimentos assimilados pelo aluno que lhe serão úteis para “vencer na vida”, ou de transformações qualitativas construtoras da identidade do discente, na qual também é considerado o aspecto cognitivo (MORAES, 2006). No Brasil, as dificuldades de aprendizagem são centrais no complexo fenômeno fracasso escolar, caracterizado por um alto índice de repetição e de evasão escolar (Patt, 1993 apud Boruchovitch, 2007). Assim, o fracasso escolar tem sido um dos temas mais discutidos e explorados pela literatura cientifica, sendo possível constatar que, apesar de não se tratar de uma questão nova, trata-se de uma questão não resolvida (ROSSINI; SANTOS, 2007). Não há duvida, entretanto, de que as dificuldades de aprendizagem só podem ser entendidas na complexa interação entre os fatores intra e extraescolares, requerendo intervenção tanto no âmbito do aluno, das praticas pedagógicas e de formação de professores, quanto a diversas mudanças de natureza política econômica e social (BORUCHOVITCH, 2007). É de suma importância ressaltar que alunos desmotivados estudam muito pouco ou nada e, consequentemente, aprendem muito pouco .Considera-se, ainda, que o próprio potencial de cada um dependa consideravelmente das aprendizagens escolares de modo que aprimora diversas funções tanto no contexto psicológico como físico e social de cada um (NICHOLLS, 1984 apud BORUCHOVITCH, 2001). Muitas vezes, isto pode acontecer em razão do alto nível de exigência do docente ou mesmo ao contrário, pelo baixo nível de atividades, o que seria relativo aos alunos que estivessem mais adiantados no seu desenvolvimento físico, como no caso específico de atletas (MACHADO, 1997). Esses aspectos, como pertencentes a um conjunto de fatores desmotivantes, promovem a perda do interesse escolar dos jovens atletas que iniciam os treinamentos nas escolas e centros de treinamento de futebol. O objetivo deste estudo é verificar a motivação e o empenho que o jovem-atleta dá para a sua vida escolar quando em conjunto com sua carreira no treinamento do futebol. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA Este estudo é uma pesquisa descritiva qualitativa. AMOSTRA Para a realização desta pesquisa contamos com a participação 20 atletas correspondente a faixa etária de 15 a 17 anos do sexo masculino da ASSOCIÇÃO ESPORTIVA CRUZEIRO (AEC) sediada na cidade de Cruzeiro, devidamente autorizados a participar da entrevista após preenchimento de um termo de consentimento livre entregue aos responsáveis. MATERIAIS Foi utilizado na coleta de dados, um Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 100 roteiro para entrevista estruturada e desenvolvida de acordo com o objetivo da pesquisa, contendo perguntas fechadas e de múltipla escolha. Para a anotação das respostas, utilizamos caneta, um questionário para cada atleta e pranchetas. PROCEDIMENTOS Foi aplicada para coleta de dados, uma entrevista estruturada individualmente. Na primeira visita ao clube, foi solicitado permissão ao treinador para a realização da entrevista. Depois da deliberação positiva à pesquisa do responsável pelo treinamento, foram entregues os termos de consentimento aos jovens-atletas para que pudessem entregar aos pais ou para o responsável legal. Após uma semana, ao receber todos os termos de consentimento assinados pelos pais ou pelo responsável legal, foi realizada a entrevista no período de treinamento em dia normal, no banco de reservas, atleta por atleta, de forma individual. Os dados foram analisados logo em seguida a coleta e demonstrados em gráficos. Podemos sugerir que a motivação é uma variável-chave para a aprendizagem. Sem duvida o professor pode contribuir sobremaneira para minimizar as dificuldades de aprendizagem e aumentar a motivação de seus alunos (SISTO, et al 2007), considerando também que essa falta de motivação para frequentar a escola ocorra pelo fato de haver níveis diferenciados na relação da escola com a realidade, que podem tornar o interesse maior ou menor, fazendo com que a escola se apresente como uma instituição imutável, acima das possibilidades de intervenção daqueles que a frequentam, havendo a necessidade de pessoas que conheçam a realidade cultural e social dos locais das instituições estarem envolvidas na elaboração de conhecimentos e de práticas que visem a transformar, positivamente esta realidade ( KRUPPA, 1994). Sem motivação, é inevitável que o desempenho do aluno-atleta seja inferior ao requerido como satisfatório pela escola, e, como consequência, a reprovação torna-se um importante fator a ser analisado. ANÁLISE DE DADOS Os dados foram analisados em valores relativos (percentuais). RESULTADOS Todos os alunos-atletas da pesquisa estão regularmente matriculados na escola e, quando questionados acerca da assiduidade nas aulas, 75% da amostra afirmou que atualmente falta a aula pelo menos uma vez na semana. Do total da amostra de alunos-atletas, 40% afirmou já ter sido reprovado pelo menos uma vez na escola. Analisa-se um índice alto de reprovação, mesmo não sendo o valor majoritário, e os motivos principais são demonstrados no gráfico a seguir. Verificou-se que o cansaço e/ou a falta de motivação são os fatores determinantes na frequência escolar do aluno-atleta. Nota-se que os dois fatores predominantes, demonstrados no gráfico, para as causas de reprovação (excesso de faltas e a falta de empenho escolar), podem estar ligados ao mesmo problema: a falta de motivação para estudar. Como apontam Urdan, Midgley e Anderman (1998, apud SISTO et al, 2007) alunos motivados, em geral, são marcados pelo Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 101 interesse de busca, pelo esforço, pela persistência e pelo engajamento em atividades acadêmicas. Em contraste, estudantes desmotivados não se esforçam intencionalmente, resistem em procurar ajuda e desistem facilmente diante de desafios e dificuldades. Com os alunos-atletas desmotivados, indaga-se se a prática como treinamento do futebol vem a atrapalhar no rendimento escolar da amostra. Como resultado da questão, tivemos os seguintes dados: Num total da amostra, constatou-se que na visão de 95% dos alunos-atletas, o futebol não vem a interferir no rendimento escolar. Relataouse que o rendimento escolar e o futebol não são fatores concorrentes entre si. Porém, desmotivados, os alunos-atletas, quando questionados sobre a prioridade atual entre o futebol e a escola, responderam, de forma majoritária, que preferem enfatizar e priorizar o treinamento do futebol do que a sua educação em nível escolar. Essa priorização do treinamento do futebol pode ocorrer em fator de objetivos que o jovens, e respectivamente seus familiares, traçam através do que se pode conquistar com o futebol. Constata-se, ainda, que grande parte dos jovens que tem objetivo de se profissionalizar com intuito de ganhar dinheiro e se tornarem famosos, pode ser reflexo das possibilidades de negocio do futebol já que esse esporte se tornou uma maneira de conseguir ascensão social e financeira para muitos daqueles que buscam sua pratica profissional ( BIELINSKI, 1999). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente estudo, podemos observar que quando o jovem tem a possibilidade de se desenvolver como atleta de futebol profissional, motivado, muitas vezes, por desejos socioeconômicos, sua desmotivação pela vida escolar torna-se vigente. A desmotivação em ir à escola, desencadeada pela falta de adequação do sistema educacional para com a realidade do aluno-atleta, faz com que outras realidades se tornem mais próximas e mais interessantes ao estudante que treina futebol, uma vez que se vê tentado por sonhos e promessas de uma vida promissora, de fama e estabilidade. Nota-se que sem o interesse pela sua educação escolar, o aluno-atleta sofre baixa em seu empenho na escola, deixa de freqüentar as aulas, e, conseqüentemente, acaba sendo reprovado, perdendo um ano letivo e atrasando a sua educação básica. Com nível alto de reprovação, questionase se o futebol como treinamento interfere no rendimento escolar do aluno-atleta. Os dados da pesquisa sugerem que essa relação é pouco provável, mas que, mesmo com baixa probabilidade, o jovem atleta prefere e prioriza, motivado pelo sucesso, sua incerta carreira esportiva. Delibera-se que a desmotivação escolar do aluno dê-se pela falta de adequação do sistema educacional que, longe de inserir o contexto real do aluno-atleta, é inflexível, desinteressante e com baixa perspectiva, quando comparado aos deleites do sucesso esportivo da vida dum jogador de futebol. Sugere-se que, em âmbito escolar, o professor de educação física, como sendo o professor mais próximo na relação treinamento e vida escolar, ciente de tais condições, certifiquese da realidade existente entre a possibilidade de sucesso na carreira esportiva e o desinteresse do jovem-atleta pela vida escolar, para que possa melhor orientar seus alunos-atletas, motivandoos a seguir na vida esportiva em conjunto com fundamental vida escolar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS APOLO, A. 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Setembro 2012 103 ESTUDO DAS INTERFERÊNCIAS DA ANSIEDADE NO ESTADO PSICOLÓGICO DE ATLETAS JUNIORES DE FUTEBOL Lucas Ribeiro Cecarelli¹, Altair Moioli², Afonso Antonio Machado¹ 1-UNESP/IB/DEF/LEPESPE; 2- UNIRP/LEPESPE RESUMO Muitos jovens sonham em se tornar em se tornar grandes craques e conseguir sucesso, dinheiro e reconhecimento por meio do futebol e uma das principais competições para estes é a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Sabemos que um dos fatores que mais afetam os atletas é a ansiedade e está diretamente ligado a diversos aspectos que provocam um aumento da ansiedade. O objetivo deste estudo foi analisar o nível de ansiedade pré competitiva nos atletas de uma equipe no decorrer da primeira fase da competição, composta de três partidas. A amostra utilizada foi de vinte atletas do sexo masculino, na faixa etária entre dezesseis e dezoito anos. Foram utilizados documentos armazenados nos Bancos de Dados do LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte), do DEF-IB-UNESP, campus de Rio Claro obtidos através da utilização de um questionário adaptado do CSAI2 com questões fechadas, aplicado aos atletas em momento antecessor à partida. Qual partida desencadeou nos atletas maior nível de ansiedade? Quais os principais aspectos psicológicos que interferem e se relacionam com a ansiedade? Analisando os dados obtidos nos questionários, nota-se que a última partida, que reportava a possibilidade de avanço para a fase seguinte ou desclassificação da competição, desencadeou maiores níveis de ansiedade no grupo de atletas pesquisado. Percebemse fatores e aspectos situacionais que podem contribuir para a alteração nos níveis da ansiedade. Destaca-se também a importância da presença de um profissional da Psicologia do Esporte para fazer o acompanhamento das equipes nesta competição buscando um planejamento e o trabalho com os atletas, visando estratégias para melhorar o desempenho dos clubes. Palavras-chave: Ansiedade. Futebol. Psicologia do Esporte. Juniores. Copa São Paulo de Futebol Junior. ABSTRACT Many youth people dreams to become a great players and achieve success, money and acknowledgment through the football and one of the most important competition for these is the Copa São Paulo de Futebol Júnior.We know that one of the many factors that affect the athletes is the anxiety and are linked to several aspects that causes an increase in anxiety. The objective of this study was to analyze the level of pre-competitive anxiety in athletes of a team during the first phase of the competition, consisting on three matches. Twenty men athletes participated in the study, aged between sixteen and eighteen. We used documents stored in Databases of LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte), DEF-IB-UNESP, Rio Claro obtained using a questionnaire adapted from CSAI2 with closed questions, applied to athletes in the predecessor starting time. What game triggered higher level of anxiety? What are the main psychological aspects that affect and link to the anxiety? Analyzing the results obtained with the questionnaires, we note that the last match, which reported the possibility of advancing to the next phase or disqualification from the competition, triggered higher levels of anxiety in the group of athletes studied. Are perceived factors and situational aspects that may contribute to the change in levels of anxiety. Contrasts too the importance of the presence of a Sport Psychology professional to do the monitoring of the teams in the competition looking for a planning and working with athletes, seeking strategies to improve the performance of clubs. Keywords: Anxiety. Soccer. Sport Psychology. São Paulo Juniors Soccer Cup. INTRODUÇÃO O futebol é reconhecidamente o esporte mais praticado no mundo, agregando valores nos âmbitos educacionais, econômicos, políticos e culturais. Em 2010, como produto da indústria do entretenimento, este setor movimentou mais de dois bilhões de reais (DACAL, 2010) em produtos comercializados, ações de marketing, direitos de imagem e transferências de atletas. Culturalmente representa uma das manifestações mais significativas que envolve sensações e emoções que alteram o comportamento tanto dos praticantes quanto dos expectadores. Este mundo de sonhos e fantasias contribui para que muitos jovens sonhem alcançar o status de ídolo esportivo, tornando-se grandes craques. Esta meta possibilita a conquista de sucesso, dinheiro e reconhecimento por meio deste esporte. Em razão de diversos fatores, intra e extra-campo, é que os aspectos psicológicos alteram o desempenho dos atletas e podem influenciar no resultado da partida. Para alcançar um estágio que permita ao atleta conseguir estabilidade profissional para chegar à condição de ídolo, o jovem esportista passa necessariamente por momentos desgaste físico e psicológico. São momentos de avaliação, nos quais são colocados à prova a capacidade do indivíduo de superar as adversidades e, assim, tornar-se o atleta desejado. Para tanto, a Copa São Paulo de Futebol Junior se apresenta como um evento que agrega as características necessárias para esta exposição, pois é considerada pelos setores especializados como a maior, mais conhecida e disputada competição de futebol para atletas juniores do Brasil. Nesse sentido, os jovens atletas que têm a possibilidade de se apresentar para setores especializados como a imprensa, agentes, empresários, técnicos das equipes profissionais, e assim, carimbar o passaporte para o mundo de glorias do futebol, são lançados a elevados níveis Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 104 de cobrança, pessoal e coletivo, que alteram os estados emocionais. Um dos fatores que mais podem prejudicar o desempenho dos atletas é um estado de ansiedade elevado. A alteração do estado de ansiedade está diretamente ligada à importância da competição, da partida, distância de casa, viagens, mudança de hábitos, adaptação ao clima, entre outros aspectos que provocam um desequilíbrio emocional. Desta maneira, por meio de uma pesquisa documental e investigando dados armazenados no Banco de Dados do LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte), do DEF-IB-UNESP, campus de Rio Claro, foi possível analisar um conjunto de elementos que possibilitam o entendimento da questão. Ao percebermos o teor do trabalho realizado, somos pontuais em dizer que temos possibilidade de oferecer novos elementos e perspectivas de trabalho para técnicos, atletas e profissionais do esporte, no que diz respeito à Psicologia do Esporte, colaborando para o emprego desta ciência junto à iniciação esportivo e ao treinamento especializado. OBJETIVO Analisar a interferência da ansiedade sob o estado psicológico e sua relação com o desempenho dos atletas juniores de uma equipe de futebol durante as três primeiras partidas da primeira fase Copa São Paulo Junior. MATERIAIS E MÉTODOS Apresentaremos aqui, aquilo que foi feito na coleta dos dados, que resultou nos documentos analisados, em nossa pesquisa documental. Então, a pesquisa foi de natureza aplicada, destinada a solucionar problemas específicos. A abordagem do problema teve um viés qualitativo, que de acordo com Goetz e LeCompte (1988 apud THOMAS, J.R; NELSON, J.K. & SILVERMAN, S.J., 2007, p.30 ) é um método sistemático de investigação, que segue o modelo científico de solução de problemas, no qual os instrumentos de coleta de dados podem ser: observação, entrevistas e instrumentos elaborados pelos próprios pesquisadores. Conforme sugere Haguette (2003), a pesquisa qualitativa pode fornecer uma compreensão significativa de determinados fenômenos sociais. Assim, considerando o esporte como um dos fenômenos sociais mais relevantes das últimas décadas, verifica-se que a metodologia proposta se adéqua aos objetivos do trabalho. Do ponto de vista de seus objetivos, segundo Silva (2001), a pesquisa qualitativa possibilita analisar o problema de maneira descritiva e exploratória. De acordo com estas definições, os procedimentos metodológicos envolveram um minucioso levantamento bibliográfico, uma pesquisa de campo com entrevistas e a aplicação de um questionário semi-estruturado, com a participação de pessoas que tiveram (ou tem) experiências práticas com o problema pesquisado. A amostra utilizada foi de vinte atletas do sexo masculino, na faixa etária entre dezesseis e dezoito anos, representantes de um clube de futebol que disputaram a primeira fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior, na cidade de Rio Claro-SP no mês de janeiro de 2010. Assim, foi utilizado um questionário adaptado do CSAI2 (MARTENS et.al. 1990), com questões fechadas, aplicado aos atletas em momento anterior à partida. O questionário é formado por vinte indagações e quatro opções de resposta, enumeradas de 1 a 4 e, cada qual com seu valor, sendo: 1 = Absolutamente não, 2 = Um pouco, 3 = Bastante e 4 = Muitíssimo; no qual o aluno respondeu como se sentia naquele exato momento. Inicialmente foi realizado um contato com os integrantes da comissão técnica da equipe, solicitando autorização e apoio para a aplicação do questionário. Ficou esclarecido que este trabalho não iria interferir na rotina de preparação para a partida. RESULTADOS Os resultados deste estudo serão apresentados em 20 blocos, representados pelas perguntas do questionário, constituídos da apresentação, análise e discussão dos dados obtidos na coleta de dados. A discussão terá início pela questão que traz o tema central desta pesquisa que é apresentada no gráfico 1 (sinto-me ansioso) buscando a compreensão da oscilação do nível de ansiedade no decorrer da competição. A partir desta análise serão utilizados os dados das outras respostas (que poderão ser vistas nos gráficos de 2 a 20) para entender as influências da ansiedade sob estes outros estados psicológicos e suas interelações com outras variáveis advindas do contexto esportivo. Gráfico 1 - Relativo à ansiedade-estado resultante da pergunta 9 do questionário. Nota-se a partir deste gráfico, que para alguns atletas da equipe a última e decisiva partida não foi motivo para que tivessem um aumento na ansiedade estado, possivelmente Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 105 por terem como último adversário a equipe mais fraca do grupo que já estava desclassificada da competição e por terem confiança na possibilidade da vitória; enquanto para outros o fato de precisar vencer e o resultado negativo na partida anterior apontam como possíveis fatores suficientes para causar um alto índice ansiolítico. Gráfico 2 - Relativo ao sentimento de calma resultante da pergunta 1 do questionário A partir do gráfico exposto acima é possível perceber que entre os atletas participantes da pesquisa apenas 5% responderam estar se sentindo absolutamente não calmos (intranquilos) na primeira partida, pode ser considerado então que este comportamento aparece pela estreia na competição. Diante do gráfico é possível perceber que a porcentagem de atletas que se sentem absolutamente não tensos vai aumentando progressivamente de 30% na primeira partida para 45% na segunda e 70% na terceira. Pode ser que isto tenha ocorrido, pois na primeira partida existe a presença do “fator desconhecido” (gramado, torcida adversária, nível técnico do adversário e rendimento da própria equipe, entre outros). Enquanto na segunda esta porcentagem aumenta em 15%, pois já superaram este momento, porém iriam enfrentar uma equipe reconhecida nacionalmente. Já na terceira partida a equipe concorrente já se encontrava eliminada da competição, o que sugeria uma qualidade técnica inferior e grande possibilidade de vitória, apresentando assim uma tensão consideravelmente menor (70%). Gráfico 5 - Relativo ao sentimento de arrependimento resultante da pergunta 4 do questionário. Gráfico 3 - Relativo ao sentimento de segurança resultante da pergunta 2 do questionário. Estes dados apontam para uma maior insegurança na segunda partida da equipe analisada. Dentre os possíveis fatores para este acontecimento está o fato da segunda partida ser contra a equipe de maior expressão do grupo, com alguns atletas pertencentes à Seleção Brasileira de Futebol da categoria. Gráfico 4 - Relativo à tensão resultante da pergunta 3 do questionário. Relacionando os resultados obtidos momentos antecessores às três partidas nota-se um aumento no arrependimento por parte dos atletas mesmo que a grande maioria ainda continuasse a afirmar não sentir-se arrependido. Percebe-se, porém que a porcentagem de atletas considerados muitíssimo arrependidos permaneceu a mesma no segundo e terceiro jogo, aumentando também a quantidade de jogadores um pouco arrependidos na última partida. Estes resultados possivelmente ocorreram devido a algum fato ocorrido durante os dias da competição, provavelmente durante uma das duas primeiras partidas, que causaram este arrependimento em alguns dos atletas. Gráfico 6 - Relativo ao quanto os atletas sentiam-se à vontade resultante da pergunta 5 do questionário. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 106 Pode-se notar que em todos os momentos a quantidade de atletas que relatam sentirem-se bastante ou muitíssimo à vontade varia entre 85% e 100%, pode-se assim ser considerado que alguns atletas encontraram um equilíbrio em relação à adaptação ao local da competição proporcionando um sentimento de integração e acolhida. Gráfico 9 - Relativo ao sentir-se descansado resultante da pergunta 8 do questionário. Gráfico 7 - Relativo ao sentir-se perturbado resultante da pergunta 6 do questionário. Diante das respostas expostas acima, percebe-se a presença de alguns atletas afirmando sentirem-se cansados (absolutamente não descansados) em momento antecessor à primeira partida. Assim sugere-se que isto ocorreu por um cansaço devido à semana livre antes da primeira partida ter sido utilizada para treinamentos ou por uma auto percepção do cansaço errônea por parte de alguns atletas. Nota-se que o índice de atletas que se sentiam absolutamente não perturbados é consideravelmente alto nas três partidas, porém observa-se uma pequena redução no decorrer dos jogos, com o aparecimento de atletas que sentiam-se bastante perturbados em relação ao último compromisso da equipe na competição, possivelmente devido ao fato da última partida ser decisiva para a classificação para a próxima fase ou desclassificação da competição. Gráfico 10 - Relativo ao sentimento de “acolhimento” (sentir-se em casa) resultante da pergunta 10. Gráfico 8 - Relativo ao estar preocupado com possíveis fatos desagradáveis resultante da pergunta 7 Entre outras coisas pode-se considerar que, pela permanência na cidade por um longo período, iniciou-se o processo de socialização e aproximação dos atletas com a comunidade local gerando um equilíbrio em relação à adaptação ao local da competição e proporcionando um sentimento de integração e acolhida. Gráfico 11: Relativo ao sentimento de confiança resultante da pergunta 11 do questionário. Em relação a esta pergunta, considerase então que a preocupação com possíveis fatos desagradáveis diminui com o decorrer das partidas apesar de alguns atletas frente ao primeiro e último desafios afirmarem sentirem-se bastante preocupados com possíveis fatos desagradáveis. Possivelmente este cenário ocorre devido ao fato de, para a maioria dos atletas do elenco, a última partida ser contra uma equipe considerada tecnicamente inferior; enquanto para outros atletas (5%) o fato de ser uma partida decisiva tornou este momento bastante preocupante. Diante das respostas elencadas acima, nota-se que em nenhuma das partidas tivemos atletas que afirmaram sentirem-se absolutamente não confiantes. Também Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 107 percebe-se nitidamente que a porcentagem de atletas que sentiam-se muitíssimo confiantes vai diminuindo gradativamente de acordo com o decorrer da competição enquanto os atletas que relataram sentirem-se bastante confiantes aumenta à cada partida. Fica um destaque a para presença de 5% dos atletas do grupo pesquisado que afirmam na última partida sentirem-se um pouco confiantes, fato não relatado nas outras duas primeiras partidas. Assim entende-se que a confiança dos atletas foi diminuindo com o decorrer das partidas. Mesmo após o resultado positivo na primeira partida nota-se a queda na confiança para a segunda, fato que ocorre possivelmente pela expectativa frente ao próximo adversário e para a última partida esta queda na confiança é ainda mais notada provavelmente por terem sido derrotados na partida anterior da competição gerando certa insegurança em parte dos atletas desta equipe. Gráfico 12: Relativo ao sentimento de nervosismo resultante da pergunta 12 do questionário. Analisando as respostas obtidas percebe-se um nitido aumento na queda donervosismo dos atletas, atingindo seu ápice com 85% dos respondentes afirmando sentiremse absolutamente não nervosos antes da última partida. Na primeira e segunda partida pouco se altera o sentimento de nervosismo dos atletas com pequena alteração em 5% do grupo que na primeira partida relatam sentirem-se bastante nervosos e na segunda partida aparece esta mesma porcentagem dos respondentes afirmando sentirem-se muitíssimo nervosos. Provavelmente este cenário deve-se ao fato da experiência adquirida com o passar das partidas, tendo um maior nervosismo frente as duas primeiras partidas, sendo a partida de estréia na competição contra o time da casa e a segunda partida frente uma equipe de grande expressão no cenário nacional; possibilitando que o grupo se sentisse mais tranqüilo frente à última partida. Gráfico 13 - Relativo ao sentimento de agitação resultante da pergunta 13 do questionário. Nota-se assim que a quantidade de atletas que afirmaram estar absolutamente não agitados aumenta com o decorrer da competição, demonstrando que a experiência adquirida durante o torneio podem ser importantes para dar maior tranqüilidade aos atletas e diminuir sua agitação. Entretanto percebe-se que há um aumento gradativo na porcentagem de atletas que relataram sentirem-se bastante agitados, tendo na última partida sua maior expressão com 15% e demonstrando que a partida decisiva influiu de modo a aumentara agitação dos atletas deste grupo. Gráfico 14 - Relativo ao sentimento de “uma pilha de nervos” resultante da pergunta 14. A partir destas informações percebe-se que a grande maioria do grupo de atletas participantes relatou absolutamente não sentirem-se uma pilha de nervos e uma pequena parte dos atletas relatou sentirem-se um pouco uma pilha de nervos, o que sugere que estavam tranquilos nos momentos que antecediam as partidas da primeira fase da competição e não se percebiam extremamente ansiosos e/ou nervosos. Gráfico 15 - Relativo ao sentimento de descontração resultante da pergunta 15 do questionário. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 108 Neste gráfico fica claro a pequena mudança desta variável em cada partida. Para alguns atletas, que afirmaram estar absolutamente não descontraídos possivelmente o fato de terem como adversário uma equipe de grande reconhecimento nacional foi um fator para não estar descontraídos em momento antecessor à partida. Enquanto isso, para os atletas que revelaram estar muitíssimo descontraídos provavelmente este cenário aparece pelo motivo da equipe ter vencido sua primeira partida e isso ter proporcionado um clima mais descontraído dentro do grupo de atletas. Gráfico 16 - Relativo ao sentimento de satisfação resultante da pergunta 16 do questionário. Assim, percebe-se que o grau de superexcitação e confusão no grupo de atletas pesquisado aumentaram de acordo com o decorrer das partidas, apresentando somente em momento antecessor à última partida atletas que afirmaram sentirem-se muitíssimo superexcitados e confusos. Estes resultados apresentados sugerem que provavelmente isto ocorreu devido ao fato de terem a última partida da primeira fase com decisiva para o avanço à próxima fase ou desclassificação da equipe na competição. Gráfico 19 - Relativo ao sentimento de alegria resultante da pergunta 19 do questionário. Nota-se com relação a este gráfico que na última partida aparece o maior número de respondentes que afirmam sentirem-se absolutamente não satisfeitos e,à partir destes dados, entende-se que isto ocorreu possivelmente devido ao fato da equipe ter sido derrotada em seu segundo compromisso causando uma insatisfação em parte do grupo. Gráfico 17 - Relativo ao sentimento de preocupação resultante da pergunta 17 do questionário. Destaca-se a presença de alguns atletas que afirmaram frente ao último desafio sentiremse um pouco alegre, fato que até esta partida não havia sido relatado por nenhum dos respondentes e também o nítido decrescimento a cada partida da porcentagem de atletas que responderam sentirem-se muitíssimo alegres. Gráfico 20 - Relativo ao sentimento de bem estar resultante da pergunta 20 Percebe-se que a preocupação dos atletas foi decrescendo com o transcorrer da competição, variando entre 47% antes da primeira partida e 75% em momento anterior ao último jogo. Isto possivelmente ocorreu devido ao fato de já terem superado o fator desconhecido, terem assistido duas partidas do adversário e saberem que a equipe que enfrentariam era considerada inferior tecnicamente. Gráfico 18 - Relativo aos sentimentos de superexcitação e confusão resultante da pergunta 18. Diante das respostas elencadas acima, nota-se que, de modo geral, o grupo sentiu-se muito bem durante o período da competição e os momentos antecessores às três partidas. Destaca-se a presença de uma grande parcela Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 109 do grupo (mais de 60%) que antes da primeira partida e segunda partida afirmaram sentirem-se muitíssimo bem. Este resultado antes da primeira partida aponta para uma possível realização e felicidade por estarem disputando a competição, enquanto os dados da segunda partida demonstram que provavelmente isto ocorreu devido ao resultado positivo conquistado no primeiro jogo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do estudo realizado, foi possível observar interessantes aspectos relacionados a ansiedade e o desempenho dos jogadores nas partidas realizadas na primeira fase da Copa São Paulo de Futebol Junior. A ansiedade se faz presente nos momentos pré, durante e após as partidas, porém sua presença não pode ser considerada ruim desde que em níveis não excessivos, sendo importante salientar que este fator não interfere somente no resultado e desempenho de atletas de futebol, mas também em outras modalidades esportivas. Por isso, deve-se destacar a importância da presença de um profissional da psicologia do esporte, que como parte de uma equipe multidisciplinar, poderá contribuir na orientação quanto aos procedimentos diante de situações de descontrole emocional enfrentado pelos técnicos, atletas e dirigentes esportivos. Fatores que contribuíram para um estado equilibrado da ansiedade Em relação aos dados coletados, algumas considerações interessantes foram observadas e podem ser descritas, por exemplo, quando se relaciona algumas das questões respondidas pelos atletas. Neste sentido, quando os jogadores relatam que antes da última partida não se sentem preocupados (75%, segundo o gráfico 17) e que em sua totalidade se sentem bastante ou muitíssimo à vontade (70% e 30% respectivamente, segundo o gráfico 6) isso pode representar que o grupo já encontrou uma equilíbrio em relação a adaptação ao local da competição. Este fato pode ser significativo à medida que eles estão se relacionando com a população da cidade há mais de quinze dias, proporcionando um sentimento de integração e acolhida, o que pode ser visualizado a partir das informações do gráfico 10, quando 90% relatam que neste momento já se sentem em casa. Como pode ser observado, alguns fatores que o profissional de psicologia do esporte deve levar em consideração para amenizar/equilibrar o estado de ansiedade da equipe é a realização de ações que possibilitem uma integração dos integrantes da equipe com a comunidade local. As relações interpessoais surgidas neste momento podem amenizar os sentimentos de tristeza, saudade, medo, que surgem nos momentos de avaliação esportiva e social, conforme sugere Machado (1998). Aspectos situacionais que contribuíram para a alteração nos níveis da ansiedade O estudo das respostas dos gráficos evidencia certa confusão psicológica e demonstra certas individualidades no modo de cada atleta entender o momento vivido e ter planos práticos para solucionar os problemas enfrentados. Esta confusão psicológica pode também estar relacionada ao fato da dificuldade de interpretação da pergunta realizada, pois observa-se algumas contradições nas repostas. Por mais que se trate de um grupo de atletas com a mesma faixa etária e grau de experiência semelhante nota-se que, enquanto grupo, apresentam algumas predisposições acerca dos diferentes momentos vividos durante a competição, ou seja, a estréia contra a equipe da casa, a segunda partida frente a um adversário reconhecido nacionalmente e a terceira partida decisiva. Percebe-se então que frente à primeira partida os principais fatores negativos elencados pelo grupo de atletas foram: intranquilidade (não calmo); tensão; preocupação com possíveis fatos desagradáveis; cansaço e não sentirem-se acolhidos. Com relação ao segundo compromisso entende-se que os principais indicativos apontaram para: insegurança; nervosismo e não sentirem-se à vontade. Já no terceiro jogo, entre os aspectos mais evidenciados pelos atletas, aparecem a ansiedade; arrependimento; perturbação; nervosismo; agitação e sentirem-se menos confiantes. Neste sentido, os resultados obtidos pela equipe nas três partidas iniciais da competição podem ter uma relação com os fatores de ansiedade apresentado. Conforme propõe Weinberg; Gould (2001), a importância do evento, ou seja, da competição altera os níveis de ansiedade. Este fator é percebido na segunda partida, quando o resultado negativo frente a uma das equipes mais expressivas da atualidade, pode ter gerado baixo índice na resposta à segurança. Outra característica observada que pode ter gerado um aumento nos níveis de ansiedade está relacionada ao momento decisivo enfrentado pela equipe na última partida da fase. Apesar de que a partida foi contra a equipe considerada tecnicamente inferior e já desclassificada antecipadamente, a classificação para a próxima fase dependia do saldo de gols. Esta situação pode ter contribuído para o aumento da ansiedade, verificado no gráfico 1. No entanto, não pode ser observado se houve uma preocupação da comissão técnica em realizar algum tipo de estratégia (procedimento) para diminuir os estados de ansiedade neste Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 110 momento. Diante destas observações considera-se que, entre outras, as variáveis apresentadas necessitam da atenção da comissão técnica e/ou psicólogo do esporte, pois, podem tornar mais ameno o período que permanecem longe do seu lugar de origem e auxiliar na manutenção do equilíbrio dos níveis de ansiedade. Percepções acerca da temática Assim, notou-se a presença de maiores índices de ansiedade principalmente em momentos que antecederam a última partida, juntamente com maiores índices de arrependimento, perturbação, nervosismo, agitação e menor confiança o que indica que estes fatores aparecem sempre acompanhados com elevados níveis de ansiedade, diferente do aparecimento de outros fatores (sentir-se bem, em casa, confiante, alegre) presentes neste estudo. Pode-se creditar então que o desempenho dos atletas juniores da equipe pesquisada, que participaram da Copa São Paulo de Futebol tem uma relação direta com a alteração nos níveis de ansiedade apresentados, como ficou evidenciado nos dados coletados. A partir dos dados aqui comentados, pode-se sugerir que os técnicos e/ou profissionais do esporte estejam atentos à importância dos aspectos psicológicos na busca por um desempenho excelente. Assim torna-se fundamental o conhecimento, análise e regulação dos níveis de ansiedade para cada indivíduo, visando um melhor comportamento do atleta frente ao momento esportivo e, com isso, buscar ótimo rendimento do grupo em modalidades coletivas. Sugerem-se também mais estudos no âmbito esportivo (futebol e outros) e da Psicologia do Esporte (ansiedade ou outros) de modo a melhorar o entendimento acerca das influências e relações entre os estados psicológicos, os esportes e os fatores que podem interferir no rendimento esportivo. Destacam-se ainda a relação dos demais estados psicológicos presentes e atuantes no momento esportivo que, juntamente com a ansiedade, interferem no desempenho. Assim, é recomendado separá-los ou isolá-los das interações com o meio e com as outras variáveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DACAL, T. Futebol movimento R$ 1,9 bi no mercado brasileiro. Direito Esporte Clube. 2010. Disponível em http://www.direitoesporteclube.com.br/tag/movi mentacao-financeira-futebol/ . acessado em 27 de Setembro de 2011. HAGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na Sociologia. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2003. 224p. Federação Paulista de Futebol. História da Copa São Paulo. Disponível em http://www.futebolpaulista.com.br/copasp/copas p_historia.php?cod=19470. Acessado em 02 de Março de 2011 MACHADO, A.A. Interferência da torcida na agressividade e ansiedade de atletas adolescentes. Rio Claro: UNESP (Tese de livre-docência), 1998. MOIOLI, Altair. A CONVIVÊNCIA DO TÉCNICO E OS ATLETAS ADOLESCENTES NA MODALIDADE DE FUTEBOL: uma análise intercondutal das relações afetivas na equipe. Rio Claro: UNESP (Tese de mestrado), 2004. SILVA, Edna Lúcia da.; MENEZES, Estera Muskat. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 3.ed. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001. THOMAS, J.R; NELSON, J.K.; SILVERMAN, S.J. Métodos de pesquisa em atividade física. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. WEINBERG, Robert S.; GOULD, Daniel. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2 ed. Porto alegre: Artmed, 2001. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 111 PRÁTICA DE ESPORTES E ATIVIDADES FÍSICAS: ASPECTOS MOTIVACIONAIS Luciana Botelho Ribeiro, Afonso Antonio Machado Unesp- Rio Claro, Unesp- Rio Claro Resumo A motivação tem sido muito estudada e discutida em diferentes ambientes (acadêmicos ou não), e sua importância em diversas áreas é inquestionável. No esporte e na atividade física ela tem grande relevância, tanto quando se questiona rendimento, quanto quando se fala em aderência ou adesão a qualquer programa de atividade física. Assim o objetivo do estudo é fazer uma revisão de literatura com artigos do ano de 2000 a 2012 investigando a motivação dos indivíduos para prática de atividade física e para o esporte. Para tanto, buscou-se, analisar por meio de uma revisão sistemática de estudos científicos, aqueles que investigaram a motivação de pessoas para prática de atividades físicas e para o esporte. A busca pelos artigos foi realizada nas bases de dados Google, Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs (Literatura Llatino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline e Pubmed (US Nationa Library of Medicine National Institutes of Health), e Cochrane (The Cochrane Library). O profissional deve ser conhecedor da atividade que exerce e usar ferramentas persuasivas, porém íntegras, para mostrar aos alunos as vantagens, os benefícios da atividade física e do estilo de vida saudável e, ainda, moldar o ambiente, de maneira que ele facilite a obtenção das metas traçadas para e pelos alunos. Portanto a figura de um professor ou de um responsável pela atividade física/esporte aparece como um dos principais elementos capazes de influenciar um comportamento motivado, bem como, na sua manutenção, dentro do âmbito esportivo. Palavras-chave: motivação, atividade física e esporte. Abstract The motivation has been studied and discussed in different environments (academic or not), and it is importance in many areas is unquestionable. In sport and physical activity has great relevance, both when performance questions, and when it comes to compliance or adherence to any physical activity program. The aim of this study is to review literature with articles of the year 2000 to 2012 investigatingthe motivation of the people to physical activity and sport. The search was conducted for articles in the databases of Google, Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs (Literature Latino American and Caribbean Health Sciences), Medline and Pubmed (U.S. National Library oof Medicine National Institutes of Health) and Cochrane (The Cochrane Library). The professional must be know ledgeable of the activity that exercises and using tools persuasive, but intact, to show students the benefits, the benefits of the physical activity and healthy lifestyle, and also shape the environment so that it facilitates the achievement the goals set for and by students. Therefore the figure of the teacher or a person responsible for physical activity/ sport appears as one of the main elements that influence a motivated behavior, as well as it is maintenance within the scope of sports. Keywords: motivation, physical activity, sport. Introdução Por ser considerada por muitos autores como tema chave de qualquer ação humana, a motivação tem sido muito estudada e discutida em diferentes ambientes (acadêmicos ou não). Sua importância em diversas áreas é inquestionável, no esporte e na atividade física (foco deste estudo) ela tem grande relevância, tanto quando se questiona rendimento, quanto quando se fala em aderência ou adesão a qualquer programa de atividade física. Assim o objetivo do estudo é fazer uma revisão de literatura com artigos do ano de 2000 a 2012 investigando a motivação dos indivíduos para prática de atividade física e para o esporte. Para tanto, buscou-se, analisar por meio de uma revisão sistemática de estudos científicos, aqueles que investigaram a motivação de pessoas para prática de atividades físicas e para o esporte. A busca pelos artigos foi realizada nas bases de dados Google, Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs (Literatura Llatino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline e Pubmed (US Nationa Library of Medicine National Institutes of Health), e Cochrane (The Cochrane Library). As palavras chaves utilizadas na busca foram “motivação”, “esporte”, “atividade física”, “motivation”, “sport” e “physical activity”. Foram incluídos artigos publicados nas referidas bases de dados entre 2000 a 2012. A importância da motivação é assegurada quando se recorre à literatura, em qualquer momento na relação entre ensinoaprendizagem, e percebemos que a motivação pode ser um elemento determinante para que se atinja um bom desempenho. É considerado que qualquer relação interpessoal ou intrapessoal é motivada por algo. Aliás, todo comportamento, seja ele qual for independente do objetivo, é motivado por alguma e para alguma coisa. Assim, pode-se afirmar que a motivação é o combustível de toda ação humana. Breve Revisão de Literatura A motivação é um dos fatores mais importantes que levam o indivíduo a procurar, permanecer e abandonar as atividades físicas e o esporte (MURCIA et.al, 2007). Ela é compreendida como intrínseca e extrínseca, sendo intrínseca a motivação que o indivíduo possui perante vivências e experiências já vividas e a extrínseca é a que acontece por fatores externos, situações externas ao indivíduo, nem sempre controláveis (MURCIA et.al 2007). Conceitos A motivação intrínseca é um fator que interfere de modo a fazer com que o indivíduo procure, permaneça ou não em qualquer atividade, seja física, intelectual ou outras. Esta pode variar de acordo com as situações que o Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 112 indivíduo já vivenciou e o quanto ele se envolve nas situações (FERNANDES, VASCONCELOSRAPOSO, 2005). Já a motivação extrínseca é a forma mais autodeterminada da regulação externa do comportamento. O indivíduo deve saber lidar com estas interferências que acontecem constantemente em nossa rotina, uma vez que elas darão vazão aos comportamentos observáveis e socialmente praticados, em grupos, em aços individuais e em qualquer manifestação. Assim a motivação se torna um dos fatores mais importantes a serem estudados na psicologia do esporte porque nos leva a compreender as individualidades. Algumas pessoas, dependendo da experiência boa ou ruim diante de uma prática, abandonam quando tem insucesso e permanecem quando tem sucesso (FERNANDES, VASCONCELOSRAPOSO, 2005), ficando a adesão vulnerável à interpretação do sujeito da ação. A teoria da autodeterminação diz que o comportamento é motivado por três necessidades psicológicas: autonomia, competência e relação interpessoal. E dentro da teoria da autodeterminação existe uma subteoria que é a teoria da integração do organismo sendo a motivação intrínseca, extrínseca e desmotivação. Juntamente com a teoria da autodeterminação está a teoria de logro, onde se baseia o quanto o indivíduo se esforça para demonstrar competência em suas atitudes em situações diversificadas, este deverá saber lidar com situações externas e seus próprios sentimentos ao mesmo tempo (MURCIA et.al, 2007). Segundo Balbinotti (2011), o esporte não existe sem competição. Sendo que alguns autores dizem que um dos motivos de adesão para prática de atividade física é a competitividade o fator que mais influencia. Balbinotti (2011) ainda descreve, em seu estudo, que atletas de tênis ao decorrer da evolução da carreira diminuem esse nível de competitividade. E diz que competitividade depende mais da idade do que do tipo de esporte. Vlachopoulos, Kaperoni e Moustaka (2011) afirmam que a motivação também é influenciada pela maneira como o indivíduo internaliza as situações já vividas. A resposta do indivíduo a motivação externa é uma maneira do indivíduo mostrar externamente que é capaz de realizar aquela tarefa, satisfazendo uma demanda externa. Já a intrínseca acontece ao contrário, ele tentará mostrar para si mesmo que é capaz de realizar determinada atividade. E por último a desmotivação é a falta de intenção de realizar determinada tarefa. De acordo com a teoria da autodeterminação, o cumprimento das necessidades psicológicas do indivíduo para autonomia, competência e relacionamento promove uma maior internalização de comportamento e bem estar (VLACHOPOULOS, KAPERONI E MOUSTAKA, 2011). A autonomia do indivíduo se refere ao que ele precisa sentir diante da ação livre e responsável, totalmente independente de juízo externo e validada pela censura interior, originando um comportamento assertivo e singular; a competência refere-se a necessidade de sentir eficaz e, ainda falando sobre a teoria, quando nos referimos ao relacionamento estamos pensando no ato de estar associado e/ou pertencer a uma agremiação ou parelha, ou a algo de formato de grupo ou comunidade. Desta forma podemos perceber motivações ou desmotivações orientando comportamentos individuais ou coletivos (VLACHOPOULOS, KAPERONI E MOUSTAKA, 2011). Vlachopoulos, Kaperoni e Moustaka (2011) sustentam que a aquisição e manutenção de identidade é um processo dinâmico e desenvolvido para satisfazer as necessidades psicológicas básicas, assim tentando interagir o pessoal e o contexto em que se está inserido, de forma harmoniosa. As pessoas que são intrinsecamente motivadas estão envolvidas em atividades para o próprio bem, prazer, satisfação e divertimento. Existem pessoas que valorizam os resultados, como recompensas e reconhecimento externo, estas valorizam a motivação extrínseca, sendo que este tipo de motivação varia de acordo com o que o indivíduo internalizou da situação (CALVO et.al 2010) A base do processo motivacional Não se pode pensar em motivação sem se lembrar do motivo, que é a base do processo motivacional. O motivo é a mola propulsora responsável pelo início e manutenção de qualquer atividade executada pelo ser humano (ISLER, 2002). Gouvêa (1997, p. 169) acredita que os motivos são inerentes aos seres humanos. Assim, ele define o motivo como “um fator interno, que dá início, dirige e integra o comportamento de uma pessoa”. Cada motivo apresentará uma força distinta, devido à diferença de personalidade existente entre cada indivíduo (RODRIGUES, 1991). Essa diferença fará com que um indivíduo se sinta mais motivado do que outro, diante de uma mesma situação. Em relação a isso, Gouvêa (1997) explicita que alguns motivos têm uma predominância maior sobre outros, levando o indivíduo a escolher determinado(s) tipo de ação(s) ou de comportamento(s). Esse autor ressalta que a motivação depende de um conjunto de fatores que englobam a personalidade, as experiências passadas, os incentivos do momento ou a situação. Como um todo, esses fatores deverão satisfazer os motivos e necessidades momentâneas do indivíduo. O motivo é considerado como uma Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 113 característica comum do ser humano, apresentando variações “situacional”, “de nível” e “pessoal”, isto é, variam de situação para situação em uma mesma pessoa, de intensidade e de pessoa para pessoa, em uma mesma situação. Porém, apesar de ser considerado inerente, não se deve descartar a hipótese da influência externa sobre o motivo, considerando que a motivação é o resultado da interação entre o efeito ambiental (a situação, o contexto no qual o atleta ou a pessoa está inserido) e os traços de personalidade que possui. Em relação à atuação do ambiente, nas diversas áreas do conhecimento, existem estudos que se incumbem de evidenciar os fatores intervenientes da relação humana com o meio. Bronfenbrenner (1996), em uma perspectiva desenvolvimentista, salienta a existência de uma conexão social entre os diversos ambientes, a qual propicia um sistema de interações com possibilidade de desenvolvimento humano. A intervenção das estruturas sociais na definição de condutas individualizadas acontece de maneira imanente, isto é, quando o indivíduo está amalgamado ao ambiente social, recebendo suas interferências e agindo sobre este, incorporando algumas disposições e propondo outras. No que tange aos traços de personalidade, segundo Cratty (1984), os motivos e as razões são extremamente variáveis e difíceis de serem determinados, pois cada indivíduo tem valores, histórias de vida e necessidades diferentes. Alderman (1984) salienta que todo indivíduo possui um sistema de motivos básicos para cada situação, que é resultante das interações ou interpretações de outras situações que ocorreram durante a vida do indivíduo, somadas à sua personalidade. Cada vez que um indivíduo se encontra em uma determinada situação, ou recebe um dado estímulo (agressão, disputa, desejo, etc), automaticamente, ele selecionará todas as respostas correspondentes àquela situação que estão em suas lembranças, o que, por sua vez, direcionará o seu comportamento de ação. A resposta oferecida pelo ambiente será somada às respostas anteriores, modificando ou reforçando determinados valores. Ao se focalizar especificamente a área da motricidade humana, em relação às ressonâncias do ambiente na motivação para a aprendizagem e no desenvolvimento motor humano, Magill e Hall (1990) salientam a interferência contextual como fator gerador de efeitos diferenciados, conforme sua magnitude, aliada à ontogenia individual. Por outro lado, há também pesquisadores que conceituam os motivos como sendo construções hipotéticas, que são aprendidas ao longo do desenvolvimento humano e servem para explicar comportamentos (WINTERSTEIN, 2002). Para este autor, as explicações para as ações baseiam-se na suposição de que a ação é determinada pelas expectativas e pelas avaliações de seus resultados e pelas suas conseqüências. Em relação aos motivos que capazes de estimular a ação prática, Woodworth e Marquis (1977) salientaram a classificação dos mesmos em três grupos, sendo um deles referentes às condições corporais internas e necessidades orgânicas, o segundo grupo relativo às exigências de reação rápida imposta pelo meio em uma situação emergencial, e um terceiro tipo referente a motivos objetivos e eficientes que favorecem lidar com as alterações propostas pelo meio ou com aquelas advindas dos relacionamentos interpessoais. Algumas vivências asseguram excelência no nível motivacional, especialmente quando associadas às sensações de prazer, ou lúdicas, ou, ainda, competitivas, advindo daí, que a intensidade de um motivo é variável e dependente das situações nas quais os indivíduos se encontram momentaneamente. O desenvolvimento de determinado motivo está diretamente relacionado ao processo maturacional, aos níveis das experiências e à aprendizagem, consolidando-se, primeiramente de forma interna, para, posteriormente, expressar-se em uma dada ação. A literatura referente aos aspectos motivacionais é bastante variada e complexa, merecendo destaque alguns conceitos diretamente envolvidos. Resultados O presente artigo visou evidenciar os fatores decisivos referentes à motivação e persuasão em relação à atuação do técnico e do professor de esportes, salientando o poder que estes podem ter, quando responsáveis por um programa de atividade física ou de esporte. Cabe a eles conhecerem o seu público, bem como, os objetivos pessoais de cada um e do grupo como um todo. Contemplar todos os desejos e motivos é sempre impossível, o importante é tentar sincronizar os objetivos de quem propõe a atividade com os objetivos de quem a executa. Com esse casamento de ideais a motivação tem grande chance de ser mantida em um alto nível e a prática tende a acontecer de maneira fluida e prazerosa, sendo esses sentimentos que garantem a aderência e o empenho nesses programas. O responsável deve ser conhecedor da atividade que exerce e usar ferramentas persuasivas, porém íntegras, para mostrar aos alunos as vantagens, os benefícios da atividade física e do estilo de vida saudável e, ainda, moldar o ambiente, de maneira que ele facilite a obtenção das metas traçadas para e pelos alunos. Dessa forma, evidencia-se como de grande importância o papel do profissional de Educação Física e do técnico esportivo, os quais, conseguindo aliar o uso da teoria na prática, têm grandes chances de ser bem-sucedidos em sua Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 114 prática profissional e contribuir para a manutenção do bem-estar, tanto no nível físico quanto no psíquico de seus alunos e/ou atletas, tendo-os motivados e interessados na ação proposta. Para que esta ação tão almejada se constitua em uma realidade, torna-se importante a superação da concepção dicotomizada do ser humano, suplantando a visão apenas biologizante reiterada pelo senso comum sobre o papel do profissional de Educação Física, em direção à uma concepção mais holística, capaz de levar em consideração a integralidade do ser, com base no desenvolvimento de uma intervenção, não só nos níveis motores ou a supremacia da competitividade em si, mas que possa evidenciar neste processo, inclusive, os níveis de saúde, os valores éticos, o bem-estar psicológicos e os componentes educacionais, que são construtos imanentes a esta prática profissional. Torna-se, desta forma, premente que os cursos de formação nesta área ampliem os conhecimentos referentes aos temas da motivação e da persuasão em suas grades curriculares, no sentido de implementar e subsidiar os instrumentos utilizados nesta prática profissional, contribuindo, sobremaneira, para a qualidade das relações traçadas e na fundamentação ética dos conteúdos pedagógicos viabilizados. Considerações Finais Estudos feitos na Psicologia do Esporte foram motivados por questões como: importância dos modelos de atletas para futuros talentos esportivos; persistência de atletas em continuar participando de competições, mesmo em circunstâncias desfavoráveis; comportamentos diferentes dentro do ambiente esportivo e fora dele; os motivos que levam milhares de torcedores ao campo. Não há respostas para todas as perguntas referentes ao tema da motivação, pois as teorias e hipóteses devem ser flexíveis e compreensíveis, a fim de que se possa entender a complexidade das ações humanas. Torna-se, desta forma, instigante evidenciar-se, na literatura especializada, algumas das abordagens possíveis referentes a estas temáticas. Sendo assim, ao se falar em motivação, pode-se levar em conta a definição citada por Magill (1984) onde se relaciona o termo motivação à palavra motivo, ou seja, alguma forma interior, impulso ou uma intenção, que leva a pessoa a fazer algo ou agir de certa forma, definindo o direcionamento de suas ações e intensidade de seus esforços para atingir uma determinada meta. Algumas palavras têm como referência a motivação, tais como: desejo, necessidade, esforço, motivo, tendência, aspiração, meta, fome, amor, etc.; o que remete a uma discussão sobre impulsos e necessidades, na qual os impulsos aparecem com freqüência nas discussões sobre necessidades fisiológicas (sede, fome, sexo, etc.) e a necessidade é aplicada, freqüentemente, a motivos mais complexos de realização (amor, aprovação social, status, etc.). Partindo-se do pressuposto de que todo comportamento humano é motivado por algo, a figura de um professor ou de um responsável pela atividade física/esporte aparece como um dos principais elementos capazes de influenciar um comportamento motivado, bem como, na sua manutenção, dentro do âmbito esportivo. Referências Bibliográficas ALDERMAN, R. Psychological Behavior in Sport. Filadélfia: W. B. Saunders, 1984. BALBINOTTI, M. A. A.; BARBOSA, M. L. L.; BALBINOTTI, C. A. A.; SALDANHA. R. P. Motivação à prática regular de atividade física: um estudo exploratório. Estudos de Psicologia. v.16, n.1, p. 99-106, jan/abr, 2011. BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. CALVO, T. G.; CERVELLÓ, E.; JIMÉNEZ, R.; IGLESIAS, D.; MURCIA, J. A. M. Using selfdetermination theory to explain sport persistence and dropout in adolescent athletes. The Spanish Journal of Psychology. v.13, n.2, p. 677-684, 2010. FERNANDES, H. 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Exemplificando, um estudo realizado por Galvão (2005) identificou a importância do jogo no processo educacional através de um trabalho realizado com escolares de 07 e 08 anos, cuja proposta foi a modificação e criação de jogos com regras nas aulas de Educação Física. Tal estudo serviu de base para a aplicação da presente pesquisa-ação, cujo objetivo principal foi verificar a influência da adoção do jogo e de técnicas lúdicas como metodologia no Ensino de Jovens e Adultos (E.J.A.). A partir do desenvolvimento deste processo foi possível identificar contribuições diversas, dentre as quais podemos citar: exercício e fomento do desenvolvimento da criatividade, ampliação da autonomia, auto-estima e senso crítico do aluno; maior aderência às aulas de Educação Física; valorização do Princípio da Diversidade e Inclusão defendidos pelos PCN, dentre outros. Por fim, verificamos que a oferta e aquisição de tais possibilidades por meio do jogo e da ludicidade – ainda que não bastem por si só - contribuem de forma significativa frente aos diversos entraves propostos neste nível, permitindo a possibilidade de um envolvimento efetivo do educando no processo ensinoaprendizagem nas aulas de Educação Física no E.J.A. Palavras-chave: Educação Física escolar, jogo, E.J.A. GAME AND PLAYFULNESS - POSSIBILITIES FOR RETHINKING PHYSICAL EDUCATION IN E.J.A. ABSTRACT Physical education has undergone great changes over the historical evolution of society, particularly with regard to content and teaching methodologies proposed in this discipline. Among such changes, you can highlight lines of thought that advocate the inclusion of the game as a pedagogical resource in the teaching process. For instance, a study by Galvão (2005) identified the importance of play in the educational process through a study conducted with students of 07 and 08 years, whose bid was the modification and creation of games with rules in physical education classes. This study formed the basis for the implementation of this action research, whose main objective was to investigate the influence of the adoption of the game and play techniques and methodology in the Education for Youths and Adults (EJA). From the development of this process was possible to identify several contributions, among which we mention: exercise and promoting the development of creativity, expansion of autonomy, self-esteem and critical thinking of students, greater adherence to physical education classes; appreciation of Principle Diversity and Inclusion championed by the NCP, among others. Finally, we found that the provision and acquisition of such possibilities by means of play and playfulness though not suffice by itself - contribute significantly to face various barriers proposed at this level, allowing the possibility of an effective involvement of the student in teaching-learning process in physical education classes in adult education Keywords: Physical education, play, EJA INTRODUÇÃO O Ensino de Jovens e Adultos (E.J.A.) é destinado àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria, devendo ser assegurado de forma gratuita por meio de oportunidades educacionais apropriadas; consideradas as características dos alunos, seus interesses, condições de vida e de trabalho, dentre outros (BRASIL, 1996). Porém, observando-se tais particularidades inerentes ao E.J.A, nota-se uma certa deficiência em estratégias que garantam a aderência e participação efetiva nas aulas neste nível de ensino, em especial, nas aulas de Educação Física (LOPES, 2009). Sendo assim, faz-se necessária a renovação dos recursos didáticos aplicados neste processo pedagógico, diante do objetivo maior da Educação Física: permitir a (re)construção de uma cultura corporal que desperte uma consciência própria e que seja capaz de contribuir para a formação de um cidadão mais autônomo, crítico e capaz de viver melhor em sociedade. Detectamos, portanto, a necessidade de implantação e desenvolvimento de novas metodologias de ensino que favoreçam a participação do educando no processo ensinoaprendizagem de forma consistente, superando a simples oportunização do acesso. Neste sentido, o presente estudo objetivou relatar uma breve experiência realizada no Ensino de Jovens e Adultos através da exploração do jogo tradicional intitulado “queimada”. Para tanto, o trabalho abordará a caracterização do Ensino de Jovens Adultos, bem como a conceituação de Jogo, discorrendo principalmente acerca das inúmeras contribuições e transformações que a utilização deste elemento pode trazer ao ser humano e dos produtos positivos advindos a partir da realização da presente experiência. ENSINO DE JOVENS E ADULTOS (E.J.A.) Num primeiro momento, a fim de melhor discutir as condições próprias inerentes ao E.J.A, faz-se necessário caracterizar esta modalidade de ensino e o perfil do aluno inserido neste nível. Para tanto, recorreremos à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n° 9.394/96 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 116 (1996) a qual define que: “Seção V Da Educação de Jovens e Adultos Art. 37º. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do aluno, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.” (BRASIL, 1996). Já no trabalho realizado por Ferreira et. al. (2008) identificamos a existência de dois diferentes perfis relacionados ao aluno do E.J.A., (tomando-se por base a diferenciação etária): Vale ressaltar ainda o apontamento de outras características gerais, comuns aos dois perfis: Refletindo-se mais profundamente sobre a questão, verificamos que as raízes de tal quadro encontram-se atreladas a um universo que compreende caminhos muitas vezes permeados pela exclusão social, vivenciando trajetórias de negação dos direitos mais básicos à vida, ao afeto, à alimentação, à moradia, ao trabalho e à sobrevivência.” (ARROYO, 2006). Como vemos, trata-se de um universo bastante complexo e permeado de limitações e características próprias. Nesse propósito, os sujeitos do EJA possuem uma prática social inicial de conhecimentos adquiridos por meio dos fatores sociais e experiências profissionais, ou seja, são enraizados pelo saber popular – assim sendo, uma proposta pedagógica no EJA deverá necessariamente dialogar com esses saberes e especificidades. Por isso o papel da Escola frente a essa realidade é repensar seu currículo, bem como o projeto pedagógico, os planejamentos anuais, a grade curricular, o processo de ensinoaprendizagem, os materiais pedagógicos, etc. Assim, é possível afirmar que entender a realidade do E.J.A é antes de tudo compreender a infinidade de contextos sociais a que puderam estar submetidos estes indivíduos e reconhecer a merecida valorização a que fazem jus, diante da busca por uma retomada em sua trajetória educacional, mesmo diante de caminhos muitas vezes, permeados por dificuldades. A EDUCAÇÃO FÍSICA NO E.J.A. Como se não bastasse as condições que propiciam que a questão da evasão no EJA tornese um quadro recorrente, temos a própria legislação estabelecendo que: Art. 1o O § 3o do art. 26 da Lei .9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 26... § 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II – maior de trinta anos de idade; III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV – amparado pelo Decreto-Lei. 1.044, de 21 de outubro de 1969; V – (VETADO) VI – que tenha prole. Ora, tomando por base a caracterização referente ao E.J.A. supracitada no presente artigo, vemos que os grupos de indivíduos amparados pela lei com relação à dispensa, reúnem na verdade, a quase totalidade do corpo discente relativo a este nível de ensino – fato este que parece configurar uma questionável contradição, tendo em vista que os referidos grupos de alunos, apesar terem seu direito à prática facultativa garantido, na realidade reúnem talvez o público que mais necessitaria da participação ativa nas aulas, já que muitas vezes as limitações de tempo e disponibilidade impostas pelas condições de seu cotidiano o distanciam sobremaneira das vivências oportunizadas por meio da Educação Física. E então, temos que o principal público a quem deveriam se destinar tais aulas, é na realidade aquele que por lei, encontra-se dispensado delas. Estabelece-se desta forma, mais um fator que configura a necessidade do professor trabalhar com técnicas e instrumentos que sejam capazes de conscientizar nossos alunos com relação à importância de tais atividades. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 117 Portanto, o reconhecimento dos variados entraves e condições diferenciadas inerentes ao trato neste nível de ensino impõem-se como um desafio para o educador, solicitando um repensar das técnicas educacionais propostas que o distanciem do formato padronizado, linear propondo uma necessidade urgente de diversificação dos métodos. Ratificando: “Qualquer proposta de EJA que acredite nessa linearidade dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano nascerá fracassada, incapaz de entender seres humanos que carregam trajetórias fragmentadas, em negação de qualquer linearidade”. (ARROYO, 2006 apud ARAÚJO, 2008). Identificamos, por fim, a necessidade de exploração de formas de ensino que sejam capazes de motivar e aproximar o aluno como agente ativo no processo, tais como a aplicação do jogo e da ludicidade, sobre os quais discorreremos a seguir. JOGO E LUDICIDADE: RELAÇÕES INTRÍNSECAS E CONTRIBUIÇÕES Segundo Machado (1994) apud Ferreira (2008): “o jogo é elemento de aprendizado e desenvolvimento, adaptação social, liberação pessoal e preservação da própria cultura.” Assim, o jogo possui propriedades que permitem uma transformação do aluno durante as aulas em relação à aquisição de conceitos e valores que legitimam esta ferramenta no processo pedagógico. Brotto (2001) apud Ferreira (2008) cita ainda que o jogo permite ao indivíduo um olhar sobre ele mesmo e a percepção da vida como um campo de exercício das potencialidades humanas, pessoais e coletivas, no propósito de solucionar problemas, harmonizar conflitos, superar crises e alcançar objetivos. A aprendizagem mediada pelo jogo favorece o desenvolvimento de diversas habilidades fundamentais, tais como: responsabilidade, autonomia, sociabilização, cooperação, superação de limites, promoção do auto-conhecimento, reflexão e crítica no decorrer de sua vivência. Além disso, ressaltamos que o primeiro significado do jogo encontra-se intimamente ligado ao conceito de ludicidade – presente em todas as atividades que despertam o prazer. Desta forma, é possível afirmar que o exercício do jogo, propicia a articulação do processo de aprendizagem de forma potencialmente significativa, despertando no aluno a apreensão do conhecimento de forma espontânea, envolvente, descaracterizando o ensino como uma atividade reducionista e ligada a simples assimilação automática e vazia de conteúdos, por meio da reprodução externa de modelos. Sentindo-se envolvidos, os alunos tornam-se responsáveis diretos por sua aprendizagem. Diante deste enfoque, os conteúdos ganham significados diversos a partir das experiências sociais dos alunos e passam a ser meios para a ampliação de seu universo cognitivo, deixando de ser um fim em si mesmos e adquirindo relevância e fundamentação de forma efetiva. METODOLOGIA A idealização da presente pesquisa surgiu inicialmente a partir da observação de uma experiência pedagógica proposta num estudo da pesquisadora Zenaide Galvão (2005) e um posterior levantamento bibliográfico sobre o tema, que permitiu uma melhor avaliação acerca dos resultados obtidos. Para análise e recolhimento dos dados, foi proposta uma pesquisa-ação. Amostra: A amostra compreendida por este estudo foi composta por 33 estudantes de ambos os sexos, na faixa etária de 17 a 51 anos, devidamente matriculados na 2ª série do ensino médio do programa de Ensino de Jovens e Adultos (E.J.A.) de uma escola estadual (RJ). Materiais: Para a realização deste estudo foram utilizados os seguintes recursos materiais: 10 bolas de plástico, 01 caixa de giz, 20 arcos, 01 caderno de anotações pautado, 01 prancheta, folhas de sulfite, 01 TV LG 29', 01 aparelho de DVD da marca LG, 01 DVD do filme “Com a Bola Toda”. Procedimentos: A presente pesquisa-ação foi realizada no período de agosto a dezembro de 2011, sendo o trabalho desenvolvido em três diferentes etapas: a) pesquisa acerca do jogo tradicional intitulado “Queimada” (nesta localidade) identificando-se suas variações, características e transformações em nível regional e nacional; b) exibição do filme “Com a Bola Toda” e posterior vivência do formato tradicional e de duas diferentes formas de execução do jogo de “Queimada”: o 'Dodge Ball' e a 'Queimada Imperial'; c) divisão da turma em duplas para recriação da apresentação tradicional do jogo, de onde surgiram 16 diferentes recriações - sendo vivenciadas pelo grupo as 08 mais votadas (onde algumas destas, sofreram ainda nova transformação). Análise dos dados: A análise foi proposta por meio da observação do processo e registro escrito dos principais fatos e considerações em suas 03 etapas. RESULTADOS 1ª etapa: Pesquisa sobre a Queimada e suas Variações A investigação foi realizada por parte dos Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 118 alunos, valendo-se de registros em livros de recreação e ferramentas de busca na internet, onde foram encontradas 10 diferentes formas de apresentação do jogo. De forma geral, as similaridades entre estas resumiram-se aos elementos 'material', 'estruturação do campo de jogo' e 'objetivo', consistindo respectivamente em: 01 bola/estrutura retangular, dividida em duas partes iguais/acertar a bola no adversário, eliminando-o. Já com relação às principais diferenças identificadas temos: a) nomenclatura utilizada para definir o jogo (“Queimado”, “Jogo do Mata”, “Baleado”, Carimbado”, “Ameba”, “Céu e Inferno”, “Resgate”, “Chinesa”, “Caçador”, “Dodge Ball”, ) ou algumas de suas funções (“Morto”, “Vida”, “Relógio”, Coveiro”); b) proposição das regras gerais e c) tamanho e material da bola (meia, plástico, couro, bolo de papel, etc...) 2ª etapa: Vivência da forma tradicional na região e de 02 variações propostas Neste segundo momento, a vivência do formato original do jogo e das duas variações previamente estabelecidas contribuiu para melhor elucidação do objetivo proposto na etapa seguinte: recriar o jogo de forma autônoma. Os alunos demonstraram grande aceitação da atividade, visualizando possibilidades de alteração dos elementos principais do jogo e a i m p o r tâ n c i a d a c o e r ê n c i a d a s r e g r a s estabelecidas. 3ª etapa: Recriação e Vivência coletiva Foram coletadas 16 diferentes recriações do jogo de Queimada: Queimada Triangular, Queimada do Infiltrado, Queimada Sem Limites, Queimada Circular, Queimada na Linha, Queimada Estátua, Queimada Passa ou Repassa, Queimada com Duas Bolas; Queimada Giratória de 03 lugares, Queimada com o Pé, Queimada Troca-troca, Queimada Maluca, Queimada do Mau-Mau, Queimada Matemática, Queimada Naval e Queimada Bandeira. Após a leitura aberta das regras em classe, foram escolhidas as 08 queimadas mais votadas, sendo proposto ao grupo um trabalho de análise da execução destas. Em alguns casos, a partir do debate coletivo proposto, ocorreu ainda uma segunda recriação das regras. Registro das principais considerações: As recriações do jogo de Queimada descritas a seguir, foram vivenciadas pelo grupo sem que houvesse sugestões de novas transformações a partir do modelo proposto originalmente pela dupla de alunos. No entanto, além de uma breve descrição da estrutura de cada uma delas, serão tecidas algumas considerações com base nos registros, para uma melhor visualização dos benefícios do processo: Queimada com 02 bolas: baseava-se nas regras da queimada tradicional sendo, no entanto, jogada com 02 bolas ao mesmo tempo. Despertou grande aceitação e motivação por parte dos alunos, configurando talvez a forma mais dinâmica de variação vivenciada durante o processo. Queimada Matemática: neste caso, cada equipe deveria distribuir (secretamente) entre os integrantes do time um total de 300 pontos. Ao acertar o adversário, a equipe acumulava o valor de pontos atribuídos aos membros que conseguiu “queimar” e o time que primeiro alcançasse a marca de 220 pontos venceria a partida. Inicialmente despertou desinteresse por parte de alguns alunos que demonstraram algumas dúvidas com relação ao funcionamento do jogo, porém, após assimilação, foi considerado desafiador e satisfatório, principalmente pela relação proposta com a disciplina matemática. Queimada Naval: a execução desta recriação baseava-se também nas regras da queimada tradicional, porém, ao ser atingido o aluno deveria adquirir um arco e posicioná-lo em algum local do campo oposto de onde poderia tentar acertar os integrantes do time adversário. A vitória era alcançada pela equipe que permanecesse com mais integrantes em seu campo ao final de 15 minutos. Esta variação também garantiu grande dinamismo na realização do jogo, levantando a questão sobre a discussão da importância da estratégia, diante da percepção da vantagem de posicionamento que o adversário obtinha ao ser queimado. Queimada Bandeira: assemelhando-se a um outro jogo tradicional conhecido, intitulado como “pique-bandeira”, consistia numa junção entre as regras destas duas atividades. Foi bastante aclamado pelos colegas da classe, sendo elogiada a criatividade dos autores na reunião de dois jogos conhecidos (e que gozavam de grande aceitação entre todos) – o que de forma simples garantiu grande motivação e prazer por parte de todos. Queimadas que sofreram alterações: Queimada Circular: nesta variação, a idéia inicial foi baseada na alteração da quadra, trazendo o jogo para uma dimensão circular, ao invés do tradicional retângulo utilizado. Desta forma, teríamos o time de dentro e o time de fora. Porém, ao observar que a posição do time de fora era privilegiada, foi sugerida a determinação de um tempo limite para a realização do jogo e a alternância de campos, vencendo a equipe que conseguisse queimar mais integrantes ao ocupar o campo de fora. Queimada Giratória de 03 lugares: nesta recriação, o indivíduo que fosse 'queimado', Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 119 passaria a ocupar o espaço lateral do campo adversário. Caso conseguisse atingir alguém deste local, passaria para o fundo da quadra adversária. Se queimasse alguém novamente, iria para a outra lateral e atingindo alguém retornaria ao seu campo. Nesta também foi sugerida a delimitação de tempo para a partida, percebendo-se a desmotivação dos participantes com relação ao tempo de duração do jogo considerado muito longo dentro dos moldes iniciais. Queimada com o Pé: a proposta desta vez, foi a mudança com relação à manipulação da bola que ao invés das mãos, deveria ser arremessada e tocada somente com os pés. Num primeiro momento, foi utilizada a bola de borracha comum. Porém o grupo, em observação aos riscos da ocorrência de lesões sugeriu a utilização de uma bola maior e mais leve, feita de plástico, além do aumento do número de bolas, garantindo assim, maior motivação e agilidade ao jogo. Queimada do Infiltrado: cada uma das equipes deveria indicar no princípio do jogo, 01 integrante que se misturaria aos membros da equipe adversária (o “infiltrado”), de onde poderia receber a bola e tentar atingi-los. O jogo iniciou-se com uma dinâmica satisfatória, porém logo foi interrompido sob protestos do grupo, diante da alegação de que a regra que instituía poder ilimitado ao membro “infiltrado” deveria ser modificada. Assim, ficou decidido que o “infiltrado” poderia continuar a ocupar o campo adversário e a deslocar-se livremente neste, porém, ao receber a bola, deveria permanecer e arremessar a bola sem se movimentar. A partir deste ponto, o jogo demonstrou bom andamento, sendo sugerida ainda, a inclusão de mais um membro infiltrado para garantir maior dinamismo ao jogo. De forma geral, resumimos a seguir os principais subprodutos positivos observados a partir da realização da presente experiência: a) aumento da aderência e participação nas aulas de Educação Física: foi possível perceber grande expectativa e um nível de interesse crescente por parte dos alunos a cada aula, aumentando a aderência às aulas, mesmo de alguns menos participativos, que anteriormente procuravam manter-se à margem das discussões e atividades. b) fomento da criatividade, auto-confiança e auto-estima: a cada trabalho, o grupo mostravase mais envolvido, chegando a apresentar, antes mesmo da vivência de sua criação, novas sugestões de alterações de suas próprias queimadas, motivados pela descoberta de seu potencial criativo. Tal fato também contribuiu para o aumento da auto-estima e confiança a partir da percepção do quanto e de como eram capazes de criar coisas interessantes e expor opiniões e sugestões relevantes e coerentes ao analisar as experimentações de seus colegas. c) exercício da autonomia do aluno a partir da criação, vivência e apreciação crítica do processo: a possibilidade de intervenção nos processos de criação, a partir da abertura para um espaço de discussão sobre uma prática que lhes era familiar, propiciou aos alunos a diminuição da timidez e receio ao expor suas considerações frente ao grupo. Houve um reposicionamento quanto à postura inerte comumente adotada nas aulas, distanciando-as do formato de 'educação bancária' que infelizmente, ainda observamos em nossos dias. d) entendimento de noções táticas, estratégicas e importância das regras: ao avaliar quais regras deveriam ser modificadas, quais fatores garantiam a motivação na atividade e de que forma deveriam agir para alcançar a vitória, os alunos foram capazes de compreender a importância da coerência das regras e estrutura de funcionamento de um jogo, bem como do planejamento e aproveitamento das características individuais de cada um, compreendendo e aprimorando suas capacidades sócio-cognitivas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A renovação das metas no universo educacional nos aponta a necessidade de um olhar voltado para a multiplicidade de dimensões do ser humano, tendo como objetivo primeiro, a preocupação com o desenvolvimento integral do educando. Para que esta proposta se efetive, é necessário o repensar das estratégicas didáticas, nos valendo de recursos que sejam capazes de aproximar nossos alunos de forma concreta do processo ensino-aprendizagem. A utilização do jogo como caminho nos permitiu visualizar alguns pontos importantes neste sentido, a partir da oportunização de vivências e reflexões acerca de práticas que são familiares e naturais ao homem, favorecendo a intervenção dos sujeitos de forma espontânea e garantindo o aflorar de valores e contribuições relevantes. Embora a aprendizagem por meio do jogo não baste por si só para atender à complexa tarefa de se tornar um educador no E.J.A., certamente estabelece-se com um começo, contrariando tendências lineares e concepções tradicionais que só contribuem para o reforço de posturas ineficazes e retrógradas, distanciando-nos de nossas reais necessidades e possibilidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Rafael Vieira de. 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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 121 SINTOMAS MAIS FREQUENTES DE ESTRESSE PRÉ-COMPETITIVO EM COMPETIDORES DE TAEKWONDO Marcos Armani Ramírez; Marisa Mendes Götze Centro de Estudos em Psicologia do Esporte e Exercício | ULBRA-Canoas Resumo Conhecer, compreender e identificar os sintomas de estresse pré-competitivo em atletas de Taekwondo torna-se, portanto, de suma importância para um desenvolvimento completo do competidor, exigindo de seu treinamento, um equilíbrio entre os aspectos físicos, técnicos e psicológicos. O objetivo principal deste trabalho foi verificar os sintomas mais frequentes de estresse pré-competitivo em praticantes de Taekwondo. Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva do tipo quantitativa, onde como instrumento analisador foi utilizado o questionário denominado Lista de Sintomas de “Stress” Pré-Competitivo Infanto-Juvenil (LSSPCI), De Rose Jr. (1998). Podemos concluir que os sintomas de estresse pré-competitivo mais frequentes nos competidores da amostra estavam relacionados com o pensamento destes atletas, concluindo assim que são sintomas cognitivos. Abstract Knowing, understanding and identifying pre-competitive stress symptoms in Taekwondo athletes it is, therefore, of paramount importance for a complete competitor's development, demanding of its training, a balance between the physical, technical and psychological aspects. The main objective of this study was to determine the most common symptoms of pre-competitive stress in Taekwondo practitioners. This research is characterized as descriptive of the quantitative type, where a questionnaire was used as an analyzer instrument, called the List of Pre-Competitive Stress Symptoms in Children and Youth (LSSPCI), by Rose Jr. (1998). We conclude that the pre-competitive stress symptoms more frequent in the subjected competitors were related to the thought of these athletes, thus concluding that they are cognitive symptoms. Palavras Chave: Estresse; Pré-competição; Taekwondo. 1. Introdução Tendo em vista o atual quadro de competitividade dentro dos esportes, o respaldo psicológico passa a ter tanta importância quanto o treinamento físico. O estresse, de forma positiva ou negativa, gera reações físicas e psicológicas do organismo, em situações que podem deixar o individuo com medo, sem reação, irritado e até mesmo feliz. Existe uma serie de fatores que levam o atleta a redução de seu rendimento, dentre eles a cobrança excessiva dos pais, técnicos e a 'concorrência' com colegas até da mesma equipe, porém, maior do que todas essas, é a autocobrança que leva o atleta ao maior nível de estresse. Como consequência, pode ocorrer também o abandono da pratica esportiva e a perda de futuros atletas (BECKER Jr., 2008; PIRES et al, 2005). O Taekwondo, uma arte marcial coreana, exige de seus praticantes, assim como todas as artes marciais por suas bases teóricas milenares, uma demanda muito grande de esforço físico, concentração e dedicação, ou seja, um equilíbrio entre o estado físico e o mental. A carreira de um atleta seja ele de alto nível ou apenas um praticante amador, que se propõe a fazer parte de uma equipe de competição, exige tempo e entrega total aos treinos, ás viagens e competições, exige abdicar-se de momentos com a família assim como lidar com a pressão existente para se manter na equipe ou na posição alcançada. Alguns conseguem lidar bem com estes fatores psicológicos, porem, outros encontram mais dificuldades em conduzir tais situações, aumentado seus níveis de ansiedade. Além de um a arte marcial, o Taekwondo é também um esporte de combate, consagrando-se desporto olímpico oficial nas Olimpíadas de Sydney, em 2000. A prática esportiva competitiva, em todos os seus níveis, é considerada uma grande fonte de estresse. Nos momentos que antecedem uma competição, são gerados alguns fatores de estresse bem específicos, como os situacionais, onde a importância dada ou imposta ao evento e a incerteza do resultado final ativam as fontes pessoais de estresse, como a ansiedade física social, ansiedade-traço e a auto-estima do competidor. Weinberg & Gould (2001) definem a ansiedade como um estado emocional negativo, que pode ser dividida em ansiedade cognitiva, onde o atleta apresenta um estado de preocupação e apreensão; e uma ansiedade somática, em que se evidencia um grau de ativação física percebida, com uma variação dos componentes de humor. Há duas formas diferentes de manifestação da ansiedade que ajudam a entender as possíveis variações dos níveis de ativação frente às situações de estresse, denominadas ansiedade-estado e ansiedade traço. Sendo a primeira um estado emocional temporário que faz referência as reações do individuo a situações específicas, e a segunda como uma característica da sua personalidade, uma tendência ou disposição comportamental adquirida que influência o seu comportamento em situações gerais. Segundo Guillén García (2006), “o estresse é definido pelas Ciências Médicas como: Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 122 o estado de tensão excessivo resultante de uma ação brusca ou continuada para o organismo”. Ainda para Guillén García (2006), no que se refere ao aspecto psicológico do esporte, estresse se define como uma “grande solicitação psíquica e/ou física, vivida como uma carga e que conduz a reações de defesas específicas para dominar a situação ameaçadora”. De forma isolada, o estresse pode ser um fator positivo, gerando reações para determinadas tarefas, preparando o indivíduo a lidar com uma situação nova, porem, o acumulo desse estresse junto às excessivas cobranças externas e a autocobrança do atleta em períodos de pré-competição, podem ter aspectos negativos, tanto nos fatores psicológicos quanto no físico durante a competição. Para Weinberg & Gould (2001) o estresse é composto por 4 estágios: no primeiro, apresentado como demanda ambiental, podendo ser física ou mental, podemos citar como exemplo um praticante que precisa executar sozinho movimentos de ataque e defesa recém aprendidos na frente de colegas, técnico ou de seus pais. No segundo estágio existe a percepção de demanda ambiental, ou seja, a “ameaça” psicológica ou física detectada, onde dois alunos da mesma equipe podem interpretar de maneiras diferentes o fato de executar tais movimentos na frente de outras pessoas. No terceiro estágio há uma resposta ao estresse, momento em que será verificado o nível de ativação, de ansiedade, o comportamento muscular e a alteração na atenção do atleta, ou seja, momento em que será verificada uma ação positiva ou negativa do indivíduo em relação ao estresse ocorrente. No quarto e último estágio apresentam-se as conseqüências comportamentais sobre essa situação de estresse, ou seja, desempenho e resultado da execução dos movimentos solicitados. Estes 4 estágios mostram que o estresse será visto de diversas formas e o desempenho na competição dependera da forma com que cada competidor encara a situação estressante. Dependendo do seu nível de preocupação ou medo, o organismo do atleta poderá desencadear diversas reações, como alterações na pressão arterial, na freqüência cardíaca, o agravamento de patologias respiratórias, assim como alterações no humor, no sono e na concentração. Essas reações poderão ser observadas até mesmo dias antes da competição, podendo gerar pausas indesejáveis no treinamento e mais horas de atendimento médico ao atleta. O presente estudo justifica-se baseado em que, para De Rose Jr. (2005), existem vários aspectos psicológicos que podem influenciar os atletas em qualquer modalidade esportiva, como a motivação, a ansiedade, estresse, atenção, concentração e agressividade, fatores que podem ser apresentados de forma isolada ou combinados entre si. O desempenho e resultado do competidor dependerão da forma com que ele vai reagir frente ao agente estressante, reação que dependera de seu tempo de treino e prática, experiências vivenciadas dentro e fora do âmbito do esporte, seu nível de habilidade, idade e sexo. As competições de Taekwondo exigem um alto grau de concentração, esforço físico e habilidades específicas do esporte, caracterizando assim, que neste esporte de combate não basta apenas ser o mais forte ou mais rápido, o competidor devera estar no equilíbrio ideal entre o estado físico e o mental. Sendo que este equilíbrio, somente será alcançado com horas intermináveis de treinamento, com dedicação e entrega, com muito suor e por muitas vezes com lágrimas, sejam de alegria ou tristeza. Neste processo preparatório para a competição, muitas vezes os treinadores esquecem que o competidor é mais do que um simples atleta, mais do que um degrau para seu próprio sucesso. É um ser humano em constante desenvolvimento, com seus próprios objetivos, medos e anseios, e por muitas vezes, pelos mais diversos motivos, são ensinados a não expressarem suas fraquezas, acumulando de forma negativa seus reais sentimentos. Conhecer, compreender e identificar os sintomas de estresse pré-competitivo em atletas de Taekwondo torna-se, portanto, de suma importância para um desenvolvimento completo do competidor, exigindo de seu treinamento, um equilíbrio entre os aspectos físicos, técnicos e psicológicos. O objetivo principal deste trabalho foi verificar os sintomas mais freqüentes de estresse pré-competitivo em competidores de Taekwondo. 2. Método Este pesquisa caracteriza-se como descritiva do tipo quantitativa, onde como instrumento analisador foi utilizado o questionário denominado Lista de Sintomas de “Stress” PréCompetitivo Infanto-Juvenil (LSSPCI), De Rose Jr. (1998), formado por 31 questões, em uma escala Likert de 1 a 5. Sendo 1 (nunca), 2 (poucas vezes), 3 (algumas vezes), 4 (muitas vezes) e 5 (sempre). A população deste estudo constitui-se da Equipe Drangons de Taekwondo, da cidade de Guaiba-RS, sendo a amostra composta por 16 atletas de ambos os sexos, com idade entre 14 e 21 anos, definidos por seu técnico como participantes regulares em competições de Taekwondo. A coleta de dados foi realizada no mês de Abril de 2012. 3. Resultados e discussão Realizou-se um agrupamento em dois níveis de resposta da escala de medida do questionário: consideradas a ocorrência de sintomas nunca e poucas vezes (respostas 1 e 2) e considerados os sintomas que ocorrem com mais freqüência (respostas 4 e 5). As respostas correspondente a algumas vezes (3) foram Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 123 consideradas neutras e não apresentadas nos resultados. Tabela 1. Sintomas que ocorrem nunca ou poucas vezes (respostas 1 e 2) Na tabela 1 identificou-se que apesar da questão menos valorizada seja “A presença de meus pais na competição me preocupa”, ou seja, um sintoma cognitivo, a maioria dos 7 itens menos importantes para estes competidores referem-se aos sintomas somáticos, apontando reações corporais ou fisiológicas sentidas pelos atletas. Questões como “Sinto muita vontade de fazer xixi”, “Fico Aflito” e “Roo (como) as unhas” não obtiveram valorização expressiva. Muitas vezes essa ativação corporal em demasia pode ser mais facilmente identificada como sinal de que algo esta errado até mesmo por quem não tem conhecimento sobre os aspectos dos sintomas de estresse pré-competitivo. Um atleta que antes da competição vai em demasia ao banheiro, ou que esta sempre roendo as unhas ou até mesmo produzindo suor em excesso, tem chances maiores de ser identificado com alguma resposta negativa ao estresse pré-competitivo do que o atleta que aparentemente não obteve nenhuma alteração na sua rotina corporal. Tabela 2. Sintomas que ocorrem com maior freqüências (respostas 4 e 5) As questões mais valorizadas, apresentadas na tabela 2, apontam sintomas cognitivos, evidenciando pensamentos dos atletas horas antes da competição. Os itens “Não vejo a hora de competir”, “Tenho medo competir mal” e “Fico preocupado (a) com o resultado da competição” foram os 3 itens mais citados, identificando os principais sintomas cognitivos apontados pelos competidores. Estes resultados demonstram um grau de ansiedade elevado, ou seja, um estado emocional negativo caracterizado pelo aumento do nervosismo, preocupação e apreensão. Cada atleta apresentará este quadro de ansiedade de uma determinada maneira, caracterizando uma ansiedade-estado ou ansiedade-traço.(WEINBERG & GOULD,2001). Na tabela 2 destacaram-se também as questões “Fico ansioso” e “Tenho medo de perder”. Marques et al. (2010) citam que a competição, fonte situacional de estresse, pode provocar as mais adversas reações no organismo dos atletas como: ansiedade, medo de competir mal, agressividade, alem de alto nível de altos níveis de cortisol. A euforia, a angústia e a irritação também são alterações visíveis sob o efeito de agentes estressores. O competidor de artes marciais, durante o combate, deve estar em um estado de ansiedade ideal, em um equilíbrio entre o foco de atenção (movimentos do oponente) e a utilização de suas habilidades para reação. A alta ativação da ansiedade, a irritação e a agressividade em excesso podem desviar seu foco no oponente, levando também a má execução ou a utilização ineficaz de suas técnicas de combate. Em um estudo realizado por De Rose Jr. et al (2000) com 723 jovens de 10 a 17 anos, ficou evidenciado que as questões cognitivas foram as que mais prevaleceram em atletas do sexo masculino e feminino. Os itens “Fico preocupado (a) com o resultado da competição”, “Tenho medo de competir mal” e “Tenho medo de perder” estão diretamente relacionados aos fatores situacionais de estresse, onde podemos citar a importância dada ou imposta ao evento e a incerteza do resultado final. Um evento pode ser da menor importância para a maioria dos atletas, porem para um determinado competidor pode ser a luta mais importante, podendo ser a sua luta de estréia em uma competição internacional, ou a sua primeira luta após um longo e árduo período de recuperação de uma lesão ou até mesmo pode ser a primeira competição em que seus pais estarão presentes. Todos os envolvidos na preparação de um competidor devem ter consciência de que mesmo sem se dar conta podem criar incertezas no atleta, gerando dúvidas sobre si mesmo, sobre sua capacidade de competir e sair vitorioso. O fator “Tenho medo de decepcionar as pessoas”, também evidenciado nos sintomas mais freqüente, está ligado ao pensamento do atleta parente seu treinador, sua equipe e até mesmo a seus pais ou parentes próximos que os acompanham. Nestes aspectos, a pesquisa de Barros e De Rose Jr. (2006) com 216 atletas de ambos os sexos, demonstrou que as atitudes dos pais e técnicos, além do ambiente competitivo, foram grandes geradores de estresse, interferindo no desempenho dos mesmos. Neste estudo, conforme resultados apresentados na tabela 1, podemos observar que para o grupo pesquisado a presença dos pais na competição foi apontado como o item que menos gera preocupações, Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 124 porem, os sintomas mais frequentes apresentados na tabela 2 demonstram que estes competidores possivelmente transferem esses sentimentos para pessoas alheias a sua família, como treinadores e ou colegas de equipe. O Taekwondo configura-se como esporte de competição individual, porem, o competidor nas artes marciais tem a determinação de não lutar apenas pelo seu resultado particular, mas também em obter resultados que elevem ou mantenham um status já alcançado de sua equipe, de seu treinador, seu 'mestre'. Esse aspecto pode ter grande influência nos resultados que expressam o medo de competir mal, perder e o medo de decepcionar as pessoas. Em uma situação de estresse, onde a competição seja de uma considerável importância e o resultado seja incerto, os atletas reagirão de diversas maneiras. O competidor que excede seu nível ideal de ansiedade e ativação é, possivelmente, aquele que possui uma ansiedade mais elevada e que percebe a situação como até mais importante do que realmente é. O competidor com uma menor ansiedade, também poderá apontar uma elevada ansiedade-estado, porem, como tende a encarar a competição como menos ameaçadora, sua ansiedade-estado e ativação provavelmente estarão em uma variação ideal. 4. Conclusão Podemos concluir que os sintomas de estresse pré-competitivo mais frequentes nos competidores da amostra estavam relacionados com o pensamento destes atletas, concluindo assim que são sintomas cognitivos. A pressão sofrida pelos competidores, a importância do evento, a incerteza diante dos resultados da competição e a fase de desenvolvimento que se encontram estes atletas, provavelmente, tenham contribuído para que estes sintomas de estresse e ansiedade fossem identificados na pesquisa. Concluímos também que por se constituir de uma amostra muito pequena, esta pesquisa não pode ser referida como padrão de comportamento entre competidores de Taekwondo. Apontamos também que este estudo não fez qualquer distinção nos resultados entre faixas etárias, tempo de treinamento, tipo de competição (poomse ou kyorugui) e sexo dos analisados. O Taekwondo, enquanto esporte de combate que cada vez se torna mais competitivo, exige, assim como em todos os esportes, de seus técnicos, instrutores, 'mestres' e todos envolvidos no seu ensinamento, mais do que conhecimento das suas bases filosóficas da arte marcial e estilo de vida, exige também que este profissional busque junto a outras áreas, como a psicologia por exemplo, entender as necessidades do aluno, d o p r a t i c a n t e , d o a t l e t a c o m p e t i d o r. Necessidades, medos e anseios que vão alem do desenvolvimento das valências físicas, que ultrapassam as linhas do 'tatame' e encontram abrigo nos seus pensamentos, nas suas fantasias e desejos diários. Recomenda-se que sejam realizados novos estudos com amostra expressiva e levando-se em conta as diversas variáveis como idade e sexo. Técnicos e atletas devem sempre estar atentos aos sintomas referentes ao estresse e suas conseqüências, assim como devem reavaliar seus métodos de treinamento, pensando sempre na importância de um trabalho multidisciplinar, onde cada profissional atue na sua área, mas de forma conjunta para que possa contribuir no desenvolvimento da equipe esportiva e obter os resultados almejados para o esporte. Referências BECKER Jr.,B. Manual de psicologia do esporte & exercício, Porto Alegre, Nova Prova, 2000. CRATTY, B.J. Psicologia do Esporte. 2. ed. Rio de Janeiro: Prentice - Hall do Brasil, 1984. DE ROSE Jr. D. 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Setembro 2012 125 AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA DO ESPORTE PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ARENAS, Maria Emilia Nunes Rodrigues1; BEZERRA, Danithielli1; NICOLETTI, Lucas Portilho2 1 Discentes do Curso de Educação Física do Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV Docente do Curso de Educação Física do Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV 2 RESUMO Considerando o esporte como fenômeno sociocultural, esse trabalho analisa seu ensino na disciplina de educação física e na formação de alunos enquanto praticantes de modalidades esportivas coletivas, utilizando a Pedagogia do Esporte como instrumento que beneficie e integre uma metodologia que contribua para um conhecimento integral do aluno, refutando o modelo tradicional que é voltado exclusivamente para o esporte de rendimento, e privilegiando um ensino/aprendizagem do esporte que vá além de gestos técnicos sistematizados, buscando assim uma prática qualificada que supre as necessidades do aluno, favorecendo uma reflexão docente sobre o que ensinar, como ensinar e para quem ensinar. A intenção deste trabalho é verificar as contribuições da Pedagogia do Esporte no contexto escolar, tendo em vista a formação do aluno, as práticas desportivas e a atuação do professor. Palavras chave: Esporte. Pedagogia do Esporte. Aluno. Educação Física. ABSTRACT Considering the sport as a sociocultural phenomenon, this paper analyzes their teaching in the discipline of physical education and training of students as practitioners of sports collective, using a Pedagogy of Sport as a tool to benefit and integrate a methodology that contributes to a full knowledge of the student, rejecting the traditional model that is dedicated exclusively to the sport of income, and favoring a teaching/learning the sport that goes beyond technical systematized gestures, thus seeking a qualified practice that meets the needs of the student, encouraging teachers to reflect on what teach, how to teach and who teach. The intent of this project is to examine the contributions of Sport Pedagogy in the school context, in view of the student's education, sports practices and teacher performance. Keywords: Sports. Pedagogy of Sport. Student. Physical Education. INTRODUÇÃO Com o passar dos tempos o esporte tornou-se uma prática social e popular, manifestando-se através de diferentes modalidades, de forma individual ou coletiva, sendo considerado um fenômeno que é praticado e visto em qualquer lugar do mundo. Durante muito tempo, a prática de esportes manteve um caráter competitivo voltado ao rendimento com a seleção dos mais habilidosos para as grandes competições. Hoje podemos verificar que o esporte faz parte da cultura popular obtendo um caráter social, democrático e inclusivo, sendo considerado um meio, forma e solução para a construção integral do indivíduo. Partindo da ideia de que o esporte é uma prática social, seus significados e sentidos mudam de acordo com o contexto em que é empregado, dentro do ambiente escolar, assume um caráter educacional, com o objetivo de fazer com que todos participem, interajam e sejam inclusos nas aulas de Educação Física, proporcionando a construção do conhecimento através de práticas educativas, com aquisição de valores ao se executar qualquer modalidade esportiva. O esporte como conteúdo do componente curricular da disciplina de Educação Física deverá possibilitar a reflexão, levando o aluno a compreender, tolerar e respeitar seus limites e suas dificuldades, além das particularidades dos colegas, sendo assim um instrumento para educar, orientar e intervir na realização das práticas esportivas. Diante desta visão Rosseto et al; (2008, p. 21-22) afirma: [...] o esporte deve contribuir para a formação do cidadão crítico e participativo por meio da Educação Física... quando vinculado à educação, à cidadania, e à comunidade, é necessário, por parte dos professores, ampliarem olhares e horizontes para além da formação de “atletas”. O professor terá como função transmitir o conhecimento e acompanhar o processo de aprendizagem de seus alunos, através de meios que vão além do gesto técnico e das regras determinadas, buscando a aquisição de valores fundamentais como respeito e tolerância que serão de vital importância em cada etapa do aprendizado das modalidades esportivas. O esporte educacional deverá transmitir um conjunto de valores e atitudes voltados à construção do conhecimento do aluno, sem a preocupação com o gesto técnico sistematizado, que o esporte rendimento exige para execução e aprendizagem dos movimentos. Com isso ainda é importante destacar duas influências que atuam ao se relacionar ESPORTE X ESCOLA. São elas o esporte da escola e o esporte na escola que estão presentes no contexto escolar. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 126 O Esporte da Escola é definido como aquele que visa a participação de todos, buscando a compreensão e reflexão da prática, sem a preocupação com os gestos técnicos, o simples fato de tentar é o suficiente. Já o Esporte na Escola visa o gesto técnico, a seleção daqueles que possuem habilidades refinadas, e a reprodução de regras com objetivo de preparar os alunos para competições em busca de vitórias. Assim, procura-se desvendar o significado do esporte enquanto conteúdo da educação física escolar e sua influência na aquisição das habilidades, além de orientar e investigar o professor em sua prática pedagógica, a fim de definir e buscar meios nos quais possa se ensinar o esporte no contexto escolar de forma que aluno e professor possam compartilhar informações e experiências. Para tal podemos usar a Pedagogia do Esporte que facilitará e viabilizará um aprendizado coerente das modalidades esportivas. Ao ensinar uma modalidade esportiva deve-se buscar uma didática que faça uma mediação entre aspecto educacional e prática esportiva, de maneira que proporcione ao aluno uma formação crítica e consciente. A Pedagogia do Esporte mostra-se responsável por oferecer metodologias adequadas para que isso ocorra, ou seja, para que o aluno possa receber um ensino completo, compreendendo os diversos aspectos físicos, sociais e educacionais que se encontram inseridos numa modalidade esportiva. Discutindo a Pedagogia do Esporte é possível compreender como sua atuação nas aulas de educação física oportuniza aos alunos, além da aprendizagem dos fundamentos da modalidade esportiva, o desenvolvimento da autonomia, da criatividade, e da inteligência individual ou coletiva, e uma prática de resolução de problemas e de convívio social e ético. Paes; Balbino (2005, p. 15) acredita que: “ Um dos desafios metodológicos mais significativos está em compreender o esporte como um fenômeno sociocultural e desenvolvelo, considerando sua pluralidade de manifestações, significados, ações, ambientes e personagens”. Observa-se assim a importância da Pedagogia do Esporte para que se obtenha nas aulas de educação física um trabalho com conteúdos qualificados, que contribuam para um bom desenvolvimento do aluno. Este trabalho tem como objetivo contribuir para a reflexão docente relacionada à prática esportiva no ambiente escolar. A PEDAGOGIA Para Piaget (1998, p.181) “A pedagogia é como a medicina: uma arte, mas que se apóia - ou deveria se apoiar – sobre conhecimentos científicos precisos”. Desta forma a pedagogia apresenta-se como uma ciência do saber, ligada à condução do conhecimento de maneira que leva o indivíduo a transcender além da teoria, buscando-se através dela informações necessárias para desenvolver o aprendizado. Libâneo (1994, p.24) define pedagogia como: Um campo de conhecimentos que investiga a natureza das finalidades da educação numa determinada sociedade, bem como meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social. Uma vez que a prática educativa é o processo pelo qual são assimilados conhecimentos e experiências acumuladas pela prática social e humanidade, cabe à pedagogia assegurá-lo, orientando-o para finalidades sociais e políticas. Nesta perspectiva a pedagogia apresenta-se como responsável por analisar os procedimentos necessários para que a prática educativa se aplique de forma adequada no contexto escolar, fazendo com que os professores tenham um comprometimento com o ensino e a aprendizagem, e não apenas transmitam o seu conhecimento. Diante disso Libâneo (2000, p.22) considera que: [...] para tornar efetivo o processo educativo, é preciso dar-lhe uma orientação sobre as finalidades e meios da sua realização, conforme opções que se façam quanto ao tipo de homem que se deseja formar e ao tipo de sociedade a que se aspira. Esta tarefa pertence à pedagogia como teoria e prática do processo educativo. Desta forma, a pedagogia atua organizando o processo de ensino/aprendizagem visando à formação qualificada do homem, através de práticas educativas, tornando-o racional e pensante, e orientando-o a traçar diferentes formas para melhorar suas relações sociais, tendo como base uma educação oriunda de processos educativos, alcançados através da pedagogia. Para Freire (1996, p. 47) é preciso “saber que ensinar não é transferir o conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”. O ESPORTE O esporte caracteriza-se como uma prática sociocultural que proporciona a aquisição de valores fundamentais a seus praticantes desde o respeito, a compreensão, até a inclusão de todos aqueles que se interessam pelas Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 127 modalidades esportivas. Dessa maneira, possibilita que o homem se desenvolva em sua totalidade, tornando-se um símbolo da expressão humana Tubino (1993, p. 61) afirma que “o esporte é considerado um extraordinário instrumento de paz e um dos melhores meios de convivência humana, devido a sua característica lúdica e sua tendência de promover a confraternização entre os diferentes participantes das competições”. Nesta perspectiva, o esporte deve constituir-se de diversos princípios, entre eles a participação, a cooperação, a coeducação e a convivência, pois estes formam a base para o desenvolvimento do aluno enquanto cidadão e praticante de esporte. Além disso, o esporte tornou-se uma prática social, com caráter educativo, que beneficia e desenvolve variadas qualidades e também habilidades do aluno, visando à construção do conhecimento, tanto durante a prática, quanto nas relações pessoais na sociedade. Diante disso, Galatti; Paes (2007, p. 34) destacam que: O esporte é uma representação simbólica da vida, de natureza educacional, podendo promover no praticante modificações, tanto na compreensão de valores como nos costumes e modos de comportamento, interferindo no desenvolvimento individual, aproximando pessoas que tem, neste fenômeno, um meio para estabelecer e manter um melhor relacionamento social. Ainda sobre o esporte no contexto escolar, destacam-se duas linhas de pensamento que são importantes quando se discute sobre esporte. A primeira diz respeito ao Esporte na Escola e a segunda ao Esporte da Escola. ESPORTE NA ESCOLA Filho et al (2009) descreve que após a Segunda Guerra Mundial, difundiu-se no Brasil o Método da Educação Física Desportiva Generalizada, por Auguste Listello, e nesse método a ênfase no esporte estava muito presente, o que influenciou sua atuação cada vez mais significativa na escola. Assim, pode-se afirmar que esta forte influência do esporte no espaço escolar fez com que houvesse uma prevalência do esporte na escola e não do esporte da escola. Santos et al (2006, p. 26) descreve que o esporte na escola apresenta as seguintes características: “reprodução de regras já existentes, exclusão dos não aptos ou menos habilidosos, aumento da complexidade e não criatividade na construção das atividades”. Analisa-se assim que, no esporte na escola o esporte é trabalhado através de repetições dos fundamentos até que ocorra uma sistematização de movimentos, e tendo como função o desenvolvimento e aperfeiçoamento do gesto técnico e de táticas, além de ocasionar a seleção dos mais habilidosos, com utilização e reprodução de regras já existentes, as quais objetivam rendimento atlético/desportivo, competições e vitórias, sendo comparado ao esporte-rendimento. Desta forma, o esporte na escola transmite para o aluno um significado de que o bom desempenho em competições é a principal finalidade da prática esportiva, o que proporciona uma exclusão dos menos habilidosos, e uma visão de que o aluno se resume em um executor de fundamentos esportivos, e o esporte em uma prática com técnicas e táticas que devem ser bem executadas, e não de que este (o esporte) é capaz de transmitir valores e de transformar alunos em bons cidadãos. Observa-se também que ocorre uma mudança na atuação dos componentes da aula, onde o professor passa a ser um treinador e o aluno um atleta, o que faz com que o esporte não seja ensinado de maneira que desenvolva os alunos em diferentes aspectos, mas sim que ele seja apenas treinado, visando sucesso em competições esportivas. ESPORTE DA ESCOLA Tubino (1993, p.26-27) afirma que: Ao contrário, em vez de reproduzir o esporte de rendimento, esta manifestação deve ser mais um processo educativo na formação dos jovens, uma preparação para o exercício da cidadania. O esporte-educação tem um caráter formativo, por isso, ele deve ser desenvolvido na infância e na adolescência, na escola e fora dela, com a participação de todos, evitando a seletividade e a competição acirrada. Analisa-se assim, que o Esporte da Escola é aquele que visa à construção do aprendizado, a partir de valores como autonomia e respeito, priorizando a participação coletiva, sem utilização de habilidades técnicas refinadas, sendo possível adequá-los ao nível de aprendizagem que os alunos adquiriram, desenvolvido a partir das táticas dos jogos, buscando compreender a prática. O esporte tem que tomar uma conotação diferente, na qual o aluno tenha uma perspectiva crítica onde possa realmente fazer o seu esporte levando em consideração suas características e sua situação real, e não apenas praticá-lo, como afirma Santos et al (2006). Neste contexto, o esporte escolar deve assumir um caráter educacional voltado ao aprendizado, o importante é fazer com que o aluno se interesse e tenha autonomia para opinar, Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 128 discutir, desfragmentar e interferir em quaisquer modalidades esportivas, sendo o protagonista de seu próprio conhecimento. Desta maneira, o esporte da escola terá um significado, que leve o aluno à pensar a prática sem preocupação com a performance e/ou desempenho, cada etapa do aprendizado será construída de acordo com o conhecimento obtido durante a realização da prática desportiva. Diante disso, o esporte na Educação Física deverá fornecer meios para a construção e concretização do aprendizado do aluno em sua totalidade, contribuindo efetivamente para a formação integral humana. PEDAGOGIA DO ESPORTE Diante de tudo isso, apresenta-se a Pedagogia do Esporte, que vem auxiliar o professor de Educação Física no ensino da prática das modalidades esportivas coletivas. Galatti; Paes (2007) descrevem que o ensino das modalidades esportivas coletivas teve seu início, aproximadamente na década de 1960 e apresentou o ensino do esporte com modelos, nos quais, a repetição dos denominados fundamentos esportivos era utilizada para a fixação da aprendizagem, enfatizando-se a qualidade do gesto, considerando-a apenas quando este se apresentava de modo perfeito, assim acreditava-se que através da repetição dos movimentos isolados o aluno aprenderia a se garantir no jogo, entretanto, começou a ser observado que o aluno que sabia realizar os fundamentos de uma determinada modalidade separadamente, não conseguia mostrar atitudes diante das situações que um jogo apresenta, desta forma, a partir da década de 1970 e início da década de 1980, surgem estudiosos como Bayer (1976–França), Bento e Garganta (1993–Portugal) com novas propostas relacionadas ao processo de ensino das modalidades esportivas coletivas, que, conseqüentemente, estimulou a criação de novas propostas de ensino do esporte coletivo. Desta maneira, verifica-se a Pedagogia do Esporte como: [...] um campo do conhecimento que trata do relacionamento entre o Esporte e a Educação. A Pedagogia do Esporte é direcionada para dar os fundamentos teóricos para a prática dos esportes com o objetivo de melhorar o desenvolvimento do homem e enriquecer a qualidade de vida (BARBANTI, 2003, p. 450). Nesse sentido, a Pedagogia do Esporte mostra-se como a junção entre esporte e educação, atuando como responsável por conceder ao esporte um aspecto mais educativo. Para Bento (2004) apud Greco; Silva (2008) o esporte pedagógico e educativo é aquele que oferece oportunidades, instala barreiras e opções para que o aluno possa experimentar, analisando regras e convivendo com outros alunos. Isso facilitará o processo de aprendizagem do esporte, atendendo às exigências educacionais. Para Sadi (2008, p.381) a Pedagogia do Esporte: [...] é uma subárea ou campo especificamente responsável pelo desenvolvimento de metodologias adequadas para atividades individuais e/ou coletivas, cujo tratamento didáticoesportivo é baseado no ensino das táticas e técnicas por meio de jogos. Analisa-se, que a Pedagogia do Esporte é responsável por estabelecer os métodos utilizados e as maneiras como estes serão aplicados no ensino, na especialização e no treinamento do esporte, considerando também o contexto em que uma determinada modalidade esportiva está inserida. Nesta perspectiva, utiliza-se para o ensino das modalidades esportivas, principalmente, as táticas e técnicas presentes em um jogo. Daólio; Velozo (2008, p. 9) consideram “[...] a técnica como o conjunto de modos de fazer e a tática como as razões do fazer”. Assim, esses componentes são a base para a aprendizagem do esporte, pois é através deles que o aluno terá subsídios para saber executar os fundamentos e participar das jogadas desenvolvidas no contexto do jogo. Entretanto, isto não significa se preocupar apenas com o “como fazer”, pois, observa-se também que o ensino do esporte deve conter procedimentos adequados, no sentido de ter como objetivo o desenvolvimento integral do aluno, ou seja, que ele além de aprender o esporte desenvolva aspectos como responsabilidade, autonomia, inteligência e capacidade para solucionar problemas durante um jogo e, podendo assim, transferi-las para o seu dia-a-dia. Considera-se assim que o esporte deve ser ensinado em seu âmbito geral, o que significa que os alunos irão aprender os fundamentos, desenvolver as habilidades, além de atitudes, valores e condutas, orientados a também utilizálas fora das aulas. Desta forma, a Pedagogia do Esporte atua como elemento essencial que desenvolve métodos adequados para que se ensine o esporte e além do esporte. Greco; Benda (1998, p. 22) apud Reverdito; Scaglia (2009, p.106) afirmam que: “Nossa proposta busca a autonomia do aluno em seus atos e decisões, através de uma maior compreensão do jogo e de um aumento de conhecimento tático, por meio da prática do próprio jogo, através de suas estruturas funcionais”. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 129 Greco (1998, p. 48) apud Reverdito; Scaglia (2009, p.114) descreve ainda que: “O método de ensino-aprendizagem-treinamento dos jogos esportivos coletivos [...] deve relacionar e considerar que a aprendizagem pode ser compreendida como a construção e modificação constante dos sistemas individuais de ação[...]”. Esta proposta considera que o processo de ensino dos esportes deve utilizar os jogos esportivos coletivos, visando sua compreensão, e isto deve ser feito através de diferentes situaçõesproblema (estruturas funcionais) e contextualizações destas nos jogos adaptados. Além disso, ela possibilitará um processo de ensino que proporcione uma aprendizagem motora para o desenvolvimento tático, em um processo que objetive não só aprimorar as capacidades de jogo nesse desenvolvimento, mas sim, trabalhar o/no aluno para que ele consiga obter um bom desempenho esportivo diante de uma situação problema criada no jogo. Freire (2006), considera que o processo de ensino-aprendizagem do esporte começa pelo que o aluno já sabe, considerando também a historicidade desse indivíduo. O autor afirma ainda, que o ideal é trazer a pedagogia da rua para dentro da escola, relacionando assim o ambiente sociocultural do aluno com um novo fazer. Nesta perspectiva, Freire (1994), elegeu quatro princípios básicos que devem ser norteadores para o trabalho do professor: ensinar esporte a todos; ensinar bem esporte a todos; ensinar mais que esporte a todos e ensinar a gostar do esporte. Observa-se que ao se ensinar um esporte, o professor não deverá excluir os menos habilidosos, pois todos os alunos são capazes de aprender, sendo importante transmitir um ensino qualificado, ou seja, o professor deverá ser cuidadoso, preocupando-se acima de tudo em fazer com que os alunos participem das aulas de forma eficaz e com qualidade. É preciso ir além do esporte, ensinar também valores como conviver em grupo, construir regras e discuti-las, proporcionando um desenvolvimento moral e social do aluno, utilizando uma pedagogia que não seja fraca, enfadonha e autoritária, pois desta forma os alunos apenas aprendem as habilidades, e rapidamente se cansam das aulas. AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA O esporte apresenta-se como um fenômeno sociocultural de grande importância no contexto escolar, pois possui influência direta nas aulas de Educação Física, que caracterizam-se pelo ensino de modalidades esportivas, e constitui a base para a construção do aprendizado e dos valores fundamentais que os alunos devem obter ao praticar esporte. Nas aulas de educação física se encontra representada a maioria das práticas esportivas dos alunos, por isso é importante ter uma metodologia que vise o desenvolvimento do aluno nos aspectos físico, social, afetivo e cognitivo, ou seja, o seu desenvolvimento integral. Isso significa que a Educação Física deve ultrapassar os limites da prática, ensinando o esporte de modo que o aluno possa transferir o que aprendeu em aula para sua vida social. Segundo Betti; Zuliani (2002, p.75) A educação física enquanto componente curricular da Educação básica deve assumir então uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida. Assim, a educação física mostra-se como disciplina responsável por auxiliar os alunos na sua consciência corporal, o que inclui saberes como educação, cidadania e formação humana, que serão de fundamental importância para que os alunos possam relacionar esses conhecimentos com o conteúdo das aulas e com o seu cotidiano. O educador (professor) deverá possibilitar o desenvolvimento e crescimento dos alunos, fazendo destes, críticos, capazes de conduzir, construir e transformar o conhecimento adquirido, em prol do benefício próprio e social. Faz–se do esporte um meio para novas experiências, valores e vivências. Nesta perspectiva, o professor será o mediador entre o conhecimento e a prática do esporte, que terá função de fazer com que os alunos se interessem e interajam durante as aulas. Cabe ao professor também verificar as dificuldades e limitações que os alunos possuem, além da inclusão de todos, podendo assim construir métodos que possam auxiliar na melhora das habilidades e capacidades necessárias à prática. Assim, segundo Galatti et al; (2008, p. 398) o esporte [...] como conteúdo da Educação Física na escola, deverá ser oferecido de forma que o aluno possa compreendê-lo integralmente, conhecendo suas diferentes modalidades; seu ensino deverá abranger conhecimentos teóricos e práticos, dando oportunidade ao aluno de aprender e vivenciar seus fundamentos, compreender suas regras, bem como conhecer sua história e evolução. A prática de esporte nas aulas deverá proporcionar aos alunos o prazer, que será fundamental para fazer com estes se interessem Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 130 e participem das aulas, além de possibilitar a inclusão e construção de valores que serão importantes para a formação integral do indivíduo que o pratica. O objetivo do esporte na Educação Física é acima de tudo construir o conhecimento, não só se limitando ao ensino e aprendizagem de modalidades esportivas e regras, tampouco à seleção dos mais habilidosos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após realizarmos uma criteriosa revisão de literatura sobre Pedagogia do Esporte, verificamos os diferentes aspectos da aplicação desta e também sua atuação no ensino das modalidades esportivas coletivas, assim como sua importância no contexto escolar e, principalmente nas aulas de Educação Física, sendo vital para a elaboração de uma metodologia que seja desenvolvida adequadamente ao se relacionar com as práticas desportivas. Consideramos que a Pedagogia do Esporte poderá ser importante para a aprendizagem das modalidades esportivas, influenciando diretamente nas aulas de Educação Física, pois desenvolve o aluno em sua plenitude e atua na construção de um indivíduo crítico, autônomo e reflexivo. Analisamos também, que o esporte deverá ser desenvolvido em todas as suas dimensões, fazendo assim com que o aluno saiba usufruir deste de maneira que beneficie na sua formação, e que seu conhecimento vá além de gestos esportivos, tornando-se assim uma prática de valores. Acreditamos que com a Pedagogia do Esporte é possível construir uma prática esportiva voltada não só para o esporte de rendimento, mas sim para algo que transmita a essência do esporte. A Pedagogia do Esporte torna-se assim um instrumento para desenvolver o esporte de qualidade, contribuindo para que as aulas de Educação Física sejam inclusivas e interativas, favorecendo um aprendizado que vai além do gesto técnico e/ou de regras determinadas. Diante disso, ela proporciona além de aprendizagem e aprimoramento de habilidades e capacidades motoras, a aquisição de valores fundamentais para desenvolver uma prática esportiva consciente, autônoma e além de tudo diferenciada, buscando uma aula de Educação Física que seja indispensável para a formação de um cidadão atuante e reflexivo na sociedade moderna. Portanto, a Pedagogia do Esporte pode ser fundamental para ensinar quaisquer das modalidades esportivas coletivas, interferindo positivamente na prática escolar, na prática esportiva, na sociedade e na formação de alunos enquanto seres ativos e em constante transformação. REFERÊNCIAS BARBANTI, Valdir José. Dicionário de Educação Física e do Esporte. São Paulo: Manole, 2003, p. 450. BETTI, Mauro, ZULIANI, Luiz Roberto. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas, Revista Mackenzie de Educação física e Esporte, São Paulo, 2002, ano I, n.1, p. 75. DAÓLIO, Jocimar, VELOZO, Emerson Luís. A técnica esportiva como construção cultural: implicações para a Pedagogia do Esporte, Revista pensar a prática UFG. Goiânia. v. 11, n. 1. jan./jul. 2008, p. 9 . FILHO, Lino Castellani; SOARES, Carmen Lúcia; TAFFAREL, Celi Neuza Zulke; VARJAL, Elizabeth; ESCOBAR, Micheli Ortega; BRACHT, Valter. Metodologia do Ensino de Educação Física. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2009. 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As experiências motoras identificadas por meio dos padrões fundamentais de movimento devem estar presentes no dia-a-dia das crianças, mas até algum tempo atrás, atividades vivenciadas espontaneamente pelas crianças bastavam para a aquisição de habilidades motoras, formando uma base para seu aprendizado. Esse estudo teve como objetivo verificar o estágio de desenvolvimento motor na habilidade salto vertical e relacionar com as influências de fatores ambientais difundidos nos aspectos socioculturais em crianças de 6 e 7 anos de idade. Foram analisadas 24 crianças na tarefa motora do salto vertical. Cada criança realizou o teste motor, comparando o resultado com o protocolo adaptado de Gallahue e Ozmun (2005). Para os aspectos socioculturais, buscaram-se informações através de um questionário sobre a rotina diária da criança a respeito de atividade física, prática de esportes/brincadeiras e hábitos diários. Com base nos resultados de desempenho das crianças verificamos que essa amostra se encontrou em estágios diferentes, relacionando com os dados do questionário, encontramos apontamentos que nos dão a indicação que as restrições existentes ligadas às atividades motoras estão afetando o alcance do estágio motor maduro. Este trabalho teve um caráter descritivo experimental exploratório mostrando a sociedade que é preciso oportunizar a reconquista do espaço da criança, resgatando sua cultura lúdica e melhor uso do tempo disponível, para compensar a falta de atividade física pertinente a sua idade. Palavras chave: Desenvolvimento Motor; Habilidades Motoras Fundamentais; Salto Vertical. ABSTRACT When acquiring fundamental motor abilities one should consider the relation between the multiple organism subsystems, environment and task. Through this relationship humans acquire and develop motor skills during their life cycle. The motor experiences identified through fundamental movement patterns must be present on the day to day life of kids, but until some time ago, spontaneous activities experienced by children sufficed for the acquisition of motor skills, forming a basis for learning. This study had the objective to verify the stage of motor development on the ability of vertical jump e relate it to the influences of environmental facts disseminated on social cultural aspects on kids from 6 to 7 years old. 24 kids were investigated on the vertical jump task. Each child accomplished the motor exam, comparing the result to the protocol adapted by Gallahue and Ozmun (2005). For social cultural aspects, information about daily routine, physical activities, sports, games and daily habits from the children was researched through a written questionnaire. According to the showing results from the children we verified that this sample has come across different stages, relating to the information from the questionnaire, we have come across some indication that showed us that the existing restrictions linked to motor activities are affecting the fully developed motor stage. This job had a descriptive experimental and exploring character showing the society that giving the children opportunity to reconquer their space is needed to rescue their playful culture and better use of time, to compensate the lack of physical activity relevant to their age. Key words: Motor development; Fundamental Motor abilities; Vertical Jump. INTRODUÇÃO O ser humano por meio do movimento do corpo se interage com o meio em que vive e se relaciona de varias formas através da relação entre os múltiplos subsistemas do organismo, ambiente e tarefa (GONÇALVES, 1997). Através dessas interações os seres humanos adquirem e desenvolvem habilidades motoras durante o seu ciclo de vida, sendo essa a questão principal de estudiosos da área do desenvolvimento motor, buscando identificar, definir e entender as mudanças que ocorrem no corpo humano em movimento, que se torna mais complexo conforme se desenvolve (TANI et al. 1988; GALLAHUE; OZMUN, 2005). As investigações sob o processo de desenvolvimento motor têm como preocupação central esclarecer os mecanismos e processos subjacentes às mudanças do comportamento motor relacionados ao relacionados ao ciclo da vida. A aquisição dos padrões motores de movimento é de vital importância para o domínio das habilidades motoras. As aulas de Educação Física na escola podem ajudar nesse processo, com a criação de um ambiente adequado para a criança, oferecendo experiências e promovendo o desenvolvimento motor com aprendizado nas habilidades específicas (TANI et al.,1988). O mover-se de uma criança, garante uma interação delas com o meio em que vivem. Através do movimento as crianças aprendem sobre si, seus limites, suas capacidades físicas e na solução de problemas motores. Paim (2003) cita que é comum encontrar indivíduos adultos que não atingiram o padrão maduro das habilidades motoras fundamentais, apresentando-se ainda nos estágios inicial ou elementar, sendo levantada a possibilidade de atraso no desenvolvimento motor estar associada á falta de oportunidades motoras, reflexo de hábitos da vida moderna, em que a TV, vídeo games e computadores, a violência das ruas Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 132 dentre outros, vêm restringindo as formas de brincar e diminuindo as experiências motoras nas crianças (TANI, 1987). Essa falta de oportunidades se refere às novas formas comunicação e entretenimento que a sociedade moderna impõe as crianças que nascem nessa nova era. Betti (1998), relata que essas novas formas abrem novas possibilidades de percepção do mundo, mas a escola e a família são acusadas de impotência, desatualização e despreparo em face às novas condições do mercado de trabalho, dos interesses infantojuvenis, das necessidades do mundo contemporâneo, com o impacto provocado pelas novas linguagens audiovisuais e tecnologias eletrônicas como a televisão, o computador, as redes de informática e os jogos eletrônicos que questionam valores, objetivos e conteúdos tradicionais da educação. As crianças lidam com o movimento de forma bastante variada comparado a outras fases de sua vida (MAFORTE et al., 2007), experimentando novas brincadeiras, com novas possibilidades e encarando novos desafios. Tani et al. (1988) enfatizam que uma criança participante de atividades motoras, especialmente em que o lúdico está presente só para se movimentar apenas quando suas energias se esgotam. Como o desenvolvimento motor é considerado por Tani et al. (1988), um processo contínuo e demorado devido as mudanças mais acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de vida, sendo crucial para determinação que tipo de adulto a pessoa se tornará mantendo-se a ideia de que este processo de desenvolvimento é permanente, sendo importante o estudo do movimento das diversas fases de desenvolvimento motor no período natal, na infância, na adolescência e na vida adulta. As experiências motoras, identificadas através dos padrões fundamentais de movimento devem estar presentes no dia-a-dia das crianças, mas até algum tempo atrás, atividades vivenciadas espontaneamente pelas crianças bastavam para a aquisição de habilidades motoras, formando uma base para seu aprendizado, entretanto a alteração na estrutura social e econômica da sociedade atual, dados os processos de modernização e inovações tecnológicas tem proporcionado mudanças nos hábitos cotidianos na vida dessas crianças, tornando-as sedentárias (SPENCE; LEE, 2003, apud, STABELINI NETO, 2004). Maforte et al. (2007), citam que é preciso levar em consideração no processo de aquisição das habilidades motoras as experiências por meio da interação entre os múltiplos subsistemas do organismo, do ambiente e o tipo de tarefa a ser executada por cada indivíduo. Considerando essas variáveis, algumas mudanças na estrutura social da população, interfere no alcance do estágio maduro de habilidades motoras fundamentais de crianças? Portanto os objetivos do presente estudo foram verificar o estágio de desenvolvimento motor na habilidade salto vertical e relacionar com as influências dos fatores ambientais frente à sociedade moderna, mais especificamente sobre alguns aspectos socioculturais, em crianças de 67 anos de idade. Tendo em vista a importância de uma estimulação adequada no período de desenvolvimento motor em crianças, por meio deste estudo verifica-se a relação das influências ambientais e desempenho motor de crianças, trazendo subsídios que ampliam o conhecimento na área, trazendo informações aos pais, professores e sociedade em geral sobre as necessidades de desenvolvimento motor pleno frente às necessidades ambientais das crianças. O estudo formou-se de uma pesquisa bibliográfica associada a uma pesquisa de campo de natureza qualitativa com análises comparativa descritiva, sendo que a coleta de dados foi formada por um questionário destinado aos pais ou responsáveis das crianças seguido de um pedido de autorização de gravação de imagens que posteriormente foram analisadas e classificadas de acordo com a lista de checagem adaptada proposta por Gallahue e Ozmun (2005). MATERIAL E MÉTODO O estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica associada a uma pesquisa de campo. Para a pesquisa bibliográfica, Severino (2007), indica os três tipos de análises para elaboração do estudo literário: a textual que busca os textos as serem analisados, a temática que busca saber o que o texto fala e a interpretativa que busca compreender as ideias e assuntos a serem defendidos no artigo desenvolvido, sendo utilizada para a investigação e validação dos dados obtidos. Assim a pesquisa contou com as palavras chaves: Desenvolvimento Motor, Habilidades Motoras Fundamentais e Salto Vertical, para análise e organização das leituras. A pesquisa de campo Gil (1999) demonstra que há uma maior flexibilidade, podendo ser realizada mesmo que os objetivos possam ser reformulados durante o processo da pesquisa, sendo utilizadas mais as técnicas de observação do que interrogação. Sujeitos Participaram deste estudo, 24 crianças, de ambos os sexos, com faixa etária entre seis anos a sete anos (+ 6 meses). A escolha das crianças se fez pelas características desenvolvimentistas da faixa etária. Elas foram escolhidas por uma amostra probabilística estratificada e por acessibilidade do pesquisador com a escola escolhida. A amostra probabilística estratificada segundo Marconi e Lakatos (1996), pode ser formada por grupos já existentes na população, Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 133 utilizando como base para a constituição dos estratos atribuídos aos indivíduos como idade e sexo. Instrumentos de pesquisa A análise dos dados é de natureza qualitativa que segundo Thomas e Nelson (2002) é um método sistemático de investigação, que progride de um processo indutivo no desenvolvimento de hipóteses e teoria à medida que os fatos são descobertos. A abordagem qualitativa é aquela que considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. As análises foram realizadas pelos métodos comparativo e descritivo procedente da investigação de indivíduos, classes fenômenos ou fatos, ressaltando as diferenças e similaridades, determinando a natureza da relação entre elas, utilizando técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 1999). Foi utilizado como instrumento de pesquisa, um questionário com questões fechadas, o qual foi respondido pelo responsável do aluno, visando obtenção de informações sobre a rotina diária da criança a respeito de atividade física, prática de esportes/brincadeiras e os hábitos diários. O questionário segundo Marconi e Lakatos (1996), é um instrumento de coleta de dados composto por perguntas que devem ser respondidas por escrito sem a presença do pesquisador, sendo que junto com o questionário deve ser enviada uma carta explicativa sobre a natureza da pesquisa, sua importância e a necessidade da obtenção das respostas. O questionário foi enviado aos pais pelas próprias crianças, sendo que foram seguidos de orientação da direção da escola, sendo posteriormente devolvidos junto com o Termo de Compromisso Livre e Esclarecidos (TCLE) preenchidos e assinado, autorizando o uso das informações e a captura das imagens para o teste motor. Para a validação dos dados motores, foi utilizado o protocolo adaptado de Gallahue e Ozmun (2005). Para a realização das filmagens, foi utilizada uma câmera digital com função filmadora. Os alunos foram retirados da aula um a um, levados ao local da filmagem, sendo instruídos a ficarem na posição lateral direita, com o olhar voltado para frente e realizar um salto vertical apenas com a instrução de saltar o mais alto possível. Cada criança realizou três saltos, sendo escolhido para análise o salto com melhor desempenho. Após a coleta, as imagens foram passadas para um computador e catalogadas, e através do programa de exibição de imagens foi selecionado o vídeo com melhor desempenho de cada criança. Com os vídeos selecionados, cada um foi transformado em frames com auxilio de programa de computador e feita uma seleção de frames para ser analisado de forma global, utilizando como checagem o protocolo adaptado de Gallahue e Ozmun (2005). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Mérito Científico do Centro Universitário Hermínio Ometto – FHO UNIARARAS, sob o parecer número 559/2011. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tendo em vista a importância de uma estimulação adequada no período de desenvolvimento motor em crianças, por meio deste estudo verificou-se a relação das influências dos aspectos do organismo, do ambiente e do tipo de tarefa a ser executada. Procurou-se trazer subsídios que ampliam o conhecimento na área e informações aos pais, professores e sociedade sobre as necessidades de desenvolvimento motor pleno frente às necessidades das crianças. O desenvolvimento humano refere-se às alterações do nível de funcionamento do organismo do indivíduo ao longo de sua vida (GALLAHUE; OZMUN, 2005), podendo ser definido como uma alteração adaptativa em direção as habilidades motoras, implicando que no decorrer da vida, se faz necessários ajustes para obter ou manter uma habilidade. O estudo do desenvolvimento motor pode ser considerado por Gallahue e Ozmun (2005), como o aparecimento e implicação da habilidade de um indivíduo para funcionar em um nível mais elevado, reconhecendo que esse desenvolvimento é amplo com processos permanentes, referindo-se o que ocorre e como ocorre no organismo humano, desde sua concepção até sua maturidade. Para esse processo de desenvolvimento, devemos levar em conta elementos que desempenham um papel principal que é a maturação e a experiência do indivíduo. A maturação é entendida como as características herdadas geneticamente que resiste às influências externas ou ambientais e a experiências são os fatores ambientais que alteram o aparecimento das características desenvolvimentistas do processo de aprendizagem (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Esses dois elementos estão entrelaçados evitando saber qual gera mais influências durante o processo de aprendizagem. Paim (2003) cita que o desenvolvimento motor pode ser visto pelo desenvolvimento progressivo do movimento, caracterizando o movimento observável do indivíduo. Esses movimentos observáveis são divididos por Gallahue e Ozmun (2005) como movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos. O movimento estabilizador refere-se a qualquer movimento que o corpo realiza para se manter ou obter o equilíbrio em relação à força da gravidade. Os movimentos locomotores são movimentos que envolvem mudanças na localização do corpo relativamente a um ponto fixo na superfície. O Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 134 movimento manipulativo se diz pela manipulação motora rudimentar que envolva força contra um objeto ou na recepção da força dele, e a manipulação motora refinada que envolve o uso complexo dos músculos da mão e do punho. Esse desenvolvimento pode ser visto como um processo sequêncial, composto por mudanças qualitativas identificadas por fases, níveis e estágios, baseados na teoria dos estágios para o entendimento e exploração do processo de aquisição de habilidades motoras. Nesta teoria dos estágios Gallahue e Ozmun (2005), classificam como um modelo de desenvolvimento, identificando em estágios específicos, observados em quatro fases: fase dos movimentos reflexos, fase dos movimentos rudimentares, fase dos movimentos fundamentais e fase dos movimentos especializados ou culturalmente determinados. Essas fases estão associadas ao eixo temporal da vida, sendo que as habilidades motoras fundamentais são divididas em estágio inicial, elementar e maduro (MARQUES, 1996). O estágio inicial representa as primeiras tentativas orientadas para desempenhar uma habilidade, caracterizado por elementos que faltam ou que apresentam uma sequência imprópria com uso limitado ou exagerado do corpo compreendendo crianças com 2 a 3 anos de idade. No estágio elementar a criança requer de maior controle e coordenação dos movimentos fundamentais, aprimorando a sincronização dos elementos corporais e espaciais, mas ainda os padrões são restritos ou exagerados, sendo observados em crianças com 4 a 5 anos de idade. O estágio maduro é caracterizado por movimentos mecanicamente eficientes, coordenados e controlados, sendo observados em crianças com 6 a 7 anos (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Nessa proposta, os estágios são analisados de acordo com as configurações do corpo, sendo que cada estágio apresenta características observáveis nos membros do corpo, sendo que este desenvolvimento pode estar relacionado à idade, mas não dependem dela, sendo que à medida que as crianças avançam na idade, o processo de progressão dos movimentos são otimizados e seu desempenho aumentado. O ser humano está sempre em constante desenvolvimento, todos os dias algo novo é incorporado no repertório motor da criança. O movimento exerce uma função essencial no processo de desenvolvimento das habilidades motoras, sendo que a fase mais importante se encontra na infância segundo Isayama e Gallardo (1998), o que torna necessário um maior conhecimento desta fase por parte do profissional de Educação Física Escolar. Uma das habilidades motoras fundamentais pode ser observada por meio do salto vertical ou salto em altura, sendo que este envolve a projeção do corpo verticalmente no ar, com impulso dado por um ou dois pés (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Em relação à análise dos estágios motores os dados mostraram que, para essa amostra, as crianças em relação à habilidade motora fundamentais no salto vertical elas se encontram em diferentes estágios. Através de uma análise observacional descritiva, os desempenhos das crianças utilizados nesse estudo foram classificados de acordo com os estágios propostos por Gallahue e Ozmun (2005). A análise dos dados revelou que no estágio inicial, foram encontradas 10 crianças, no estágio elementar 6 crianças e no estágio maduro 8 crianças. As dificuldades de desenvolvimento do salto vertical encontradas foram falha em agachar com ângulo aproximado de 90º, falha em estender o corpo, pernas e braços e coordenação pobre das ações das pernas e braços, sendo que a maioria delas deveriam se encontrar no estágio maduro de desenvolvimento do salto vertical. As crianças que não se encontram no estágio motor maduro,conforme a literatura propõe, podem estar relacionadas às influências internas e externas impostas aos indivíduos durante a aquisição das habilidades motoras fundamentais. Estas influências são impostas ora pela restrição do organismo, da tarefa e do ambiente e influenciam na realização dos movimentos criando um estado de desequilíbrio, trazendo mudanças qualitativas que deixam o sistema melhor organizado e capacitado para a realização das tarefas motoras (GONÇALVES, 1997). Essas restrições são fronteiras ou características que podem limitar o movimento, sendo que para um organismo com enormes possibilidades de ações, essas restrições proporcionam a organização de um sistema de ação. Embora essas restrições sejam importantes para a emergência de comportamentos, deve haver uma interação entre elas. As restrições ambientais, referem-se às mudanças no comportamento onde o movimento está sendo realizado, envolvendo tanto aspectos físicos quanto aspectos socioculturais. Maforte et al. (2007), relata que o estado socioeconômico pode também influenciar diretamente no desenvolvimento motor de crianças, levantando a possibilidade que a falta de oportunidade, como reflexo da sociedade moderna, em que TV, videogames e computadores associados à violência das ruas entre outros fatores, restringem a forma de brincar e as experiências motoras. Com relação aos resultados do questionário aplicado verificamos que para a questão que abordava a quantidade de horas disponibilizadas pelos pais para as atividades realizadas pelas crianças foi verificado que as crianças dispõem de quantidade de horas grandes para brincar, apenas 1 criança dispõe de Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 135 até duas horas, 7 crianças dispõem de até 3 horas e 16 crianças dispõem de 3 horas por dia ou mais para realizar suas atividades. Nesse tempo destinado a brincadeira a criança deve encontrar relações necessárias para seu desenvolvimento motor, se permitindo à diversificação de experiências de movimento e na exploração do corpo e espaço, aumentando sua cultura motora fundamental para a realização de tarefas motoras mais precisas. Ao perguntar quais atividades que as crianças mais praticam dentro das horas estabelecidas, os resultados mostram que as atividades ligadas à estrutura moderna da sociedade como usar o computador com internet, os jogos eletrônicos, a TV, vídeo e DVD, são as atividades mais praticadas pelas crianças. Uma vez que para o desenvolvimento de uma cultura corporal da criança o contato com atividades ligadas ao desenvolvimento, o lar tem se tornado o principal espaço de lazer com o uso de micros e equipamentos eletrônicos sofisticados. Segundo Marcelino (2006), a mudança de percepção do lazer na vida das pessoas poderia trazer mudanças na qualidade de vida das grandes metrópoles. A falta de espaços de lazer contribuiu para o enclausuramento das pessoas em suas casas por não terem opções de lazer em espaços públicos junto com a contribuição da violência das cidades, aumentando o lazer doméstico amparado nas possibilidades individuais eletrônicas, buscando apenas o lazer entretenimento, deixando de lado o lazer convivência social e a prática de atividades ligadas ao movimento corporal. Para a questão que queria saber onde as atividades são realizadas pelas crianças, verificamos que devido às influências geradas pela sociedade, as crianças deixaram de ter onde brincar se não dentro de sua própria casa, onde 20 das crianças não têm opções para poderem realizar suas atividades e/ou brincadeiras, diminuindo a aquisição de seu repertório motor, sendo que os padrões motores emergem das possibilidades de interações com o ambiente (MAFFORTE et al.,2007). CONCLUSÕES Com base nos resultados do desempenho das crianças verificamos que a maioria delas ainda se encontra no estágio elementar e inicial. Com base nas respostas do questionário aplicado e dos dados motores, encontramos apontamentos que nos dão a indicação que as restrições existentes ligadas às atividades motoras das crianças estão afetando o alcance do estágio motor maduro. Uma possível explicação para tais resultados deve-se ao fato de que hoje em dia as crianças não possuem espaços próprios para brincar, passando a maior parte do tempo, envolvidas com atividades sem muito movimento corporal. A sociedade precisa oportunizar a reconquista do espaço das crianças, resgatando sua cultura lúdica pertinente a sua idade de modo a compensar a ausência de atividades em espaços adequados, bem como a família deve criar oportunidades, oferecendo uma melhor qualidade no tempo disponível as crianças. REFERÊNCIAS BARELA, J. A. 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Paulo Neves de Oliveira Junior Rua 3 CJ nº 464 Bairro Cidade Jardim CEP 13501 040 Rio Claro SP [email protected] Tel. 19 9407 2187 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 137 MOTIVOS E DIFICULDADES PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE ACADEMIAS DE GINÁSTICA E ESTÚDIOS DE TREINO PERSONALIZADO 1 André Luis Aroni1, Marcelo Callegari Zanetti2,3 e Afonso Antonio Machado3 USF de Bragança Paulista 2UNIP de São José Rio Pardo e 3 LEPESPE/I.B./UNESP de Rio Claro RESUMO: A prática de atividades físicas em academias de ginástica e estúdios de treinamento personalizado tem ganhado cada vez mais seguidores, este fato leva muitas empresas e profissionais a investirem maciçamente neste tipo de negócio, contudo, a alta rotatividade de alunos apresenta-se como uma das principais ameaças para ambos os negócios. Para fidelizar estes clientes é necessário identificar os seus objetivos e dificuldades na realização de atividades físicas, e assim sugerir uma rotina viável de treino. O objetivo deste estudo foi comparar os motivos e dificuldades apresentados pelos alunos de três academias de ginástica e dois estúdios de treinamento personalizado, para a prática de atividades físicas. Participaram desta pesquisa 144 alunos (76 mulheres e 68 homens), com idades entre 14 e 84 anos [M = 34.3; DP = 14.6], que responderam um questionário com questões abertas. Todos estavam inscritos como alunos em um dos cinco estabelecimentos participantes, quatro na cidade de Campinas/SP e um na cidade de São José do Rio Pardo/SP. Os dados foram coletados entre os dias 13 de fevereiro e 2 de março de 2012, os alunos foram questionados em relação aos aspectos que os fazem praticar atividade física na academia e, quais são suas principais dificuldades para treinar, em ambas questões o aluno poderia apresentar como resposta até dois motivos/dificuldades, posteriormente, os dados foram tabulados e apresentados em valores percentuais. Como principais resultados, saúde (36,6%) e estética (22,8%) foram os motivos mais apresentados pelos alunos das academias de ginástica, saúde (45,3%) e condicionamento físico (29,6%) foram os motivos mais apresentados pelos alunos dos estúdios de treinamento personalizado. A falta de tempo (33,8%) e a preguiça (25,4%) foram as principais dificuldades apresentadas pelos alunos das academias de ginástica, enquanto a falta de tempo (31,7%) mostrou-se como a principal dificuldade nos estúdios. Tais resultados demonstram uma mudança de valores dentro das academias nos últimos anos, aspectos como a aquisição de um estilo de vida mais saudável e com maior qualidade de vida vêm ganhando espaço, antes ocupado abundantemente por fatores estéticos e de culto ao corpo. Esta inversão de valores e as dificuldades da vida moderna nos levam a refletir sobre nossos programas de treinamento, é necessário mudar e encontrar novas soluções para aumentar a adesão em tais programas. PALAVRAS CHAVE: motivação; atividade física; academias e treinamento personalizado. MOTIVES AND DIFFICULTIES FOR THE PRACTICE OF PHYSICAL ACTIVITY: A COMPARISON BETWEEN GYMS AND PERSONAL TRAINING STUDIOS ABSTRACT: The practice of physical activities in gyms and personal training studios have gained more clients, this fact leads many companies and professionals to invest heavily in this business, however, the high turnover of students is presented as one of the threats to both businesses. In order to retain these customers must be identified your goals and difficulties in performing physical activities, and thus suggest a viable workout routine. The objective of this study was to compare the reasons and difficulties presented by the students of three gyms and two personal training studios, for the practice of physical activity. 144 students participated of this study (76 women and 68 men) aged between 14 and 84 years old [M = 34.3, SD = 14.6], who answered a questionnaire with open questions. All were enrolled as students in one of the participating institutions, four in Campinas city and one in Sao Jose do Rio Pardo city, both in São Paulo state. Data were collected between February 13 and March 2, 2012, the students were asked about the motives to practice physical activity and also what would be your main difficulties to practice, each student could present two motives and difficulties. Afterward, the data were tabulated and presented in percentages. The main results, health (36.6%) and aesthetics (22.8%) were the most answered by students at gyms, while health (45.3%) and fitness (29.6%) were the reasons more presented by students of personal training studios. Lack of time (33.8%) and laziness (25.4%) were the main difficulties presented by the students at gyms, while the lack of time (31.7%) proved to be the main difficult in the personal training studios. Such results demonstrate a shift in values within the academy in recent years, issues such as the acquisition of a healthier lifestyle and improved quality of life are more representative, formerly occupied by aesthetic factors and body worship. This inversion of values and the difficulties of modern life lead us to reflect on our training programs, it is necessary to change and find new solutions to increase membership in such programs. KEY WORDS: motivation; physical activity; gyms and personal training. INTRODUÇÃO Etimologicamente, a palavra motivo vem do latim "movere, motum", significando aquilo que faz mover, e motivar significa provocar movimento (TEIXEIRA et al., 2005). Quando se fala em motivação, entende-se que se quer compreender os fatores e processos que conduzem as pessoas a uma ação ou a inércia em diversas situações. Vários fatores motivam o ser humano, tanto de forma interna como externa. Cratty (1984), em seus trabalhos, explica que tais fatores internos e externos podem ser compreendidos, de forma intrínseca, pelos motivos resultantes da própria vontade do indivíduo, enquanto os extrínsecos dependem de fatores externos, tais como, diversas recompensas sociais e sinais de sucesso. Outras fontes podem ser resultado da estrutura psicológica do indivíduo e de suas necessidades pessoais de sucesso, sociabilidade e reconhecimento. Conforme evidencia Cruz (1996), os estudos acerca da motivação são complexamente direcionados para responder inúmeras questões, as quais a ênfase é entender o porquê desses ou daqueles comportamentos. No âmbito da atividade física, este autor afirma que os comportamentos dos indivíduos são reflexos de três dimensões motivacionais: Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 138 Direção: porque é que certos indivíduos escolhem determinadas práticas de atividades físicas? · Intensidade: porque que é que certos indivíduos se esforçam mais que outros na prática de tais atividades? · Persistência: porque é que determinados sujeitos continuam a prática da atividade física e outros abandonam? A motivação, para Samulski (2002), é definida como uma totalidade de fatores, que determinam o comportamento dos indivíduos dirigido a um determinado objetivo. O autor ainda afirma que ela depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos), sendo caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta. A teoria da motivação apresentada por Samulski (2002), visão também compartilhada por Machado (2006) e Weinberg e Gould (2001), apresenta uma determinante energética (nível de ativação) e uma determinante de direção do comportamento (intenções, interesses, motivos e metas). Weinberg e Gould (2001) afirmam que a motivação pode ser definida simplesmente como a direção e a intensidade de nosso esforço. Esses mesmos autores acreditam, ainda, existir 3 orientações gerais de motivação: a visão centrada no traço, ou visão centrada no participante, que sustenta a idéia de que o comportamento motivado se dá, primeiramente, em função de características individuais, ou seja, a personalidade, as necessidades e os objetivos de um aluno, atleta ou praticante de exercícios são os determinantes principais do comportamento motivado; a visão centrada na situação, entendendo que o nível de motivação é determinado primariamente pela situação, ou seja, algumas atividades as pessoas podem se sentir motivadas, enquanto em outras não; e a visão interacional, visão esta a mais comum e aceita, que entende que a motivação é fruto da interação dos fatores relacionados com o indivíduo e com a situação, numa espécie de fusão das duas visões relatadas anteriormente. A motivação, compreendida pelo processo de força e direção a um determinado comportamento, segundo Brandão e Valdés (2005), se traduz na capacidade de um indivíduo de manter seus esforços na presença dos mais variados estímulos pessoais e sociais, sejam eles negativos ou positivos, e influenciam a seleção, a aderência, o esforço e a qualidade da atividade executada. Para Machado (2006), a motivação se torna um referencial importante para definir as decisões tomadas pelo ser humano, por isso, todas as decisões terão no componente “motivação” uma aliada que comprometerá positivamente, ou não, o resultado da ação. A importância que deve ser dada ao processo motivacional também é enfatizada por Gouvêa · (2000), que acredita que a motivação é um dos temas centrais relacionados aos assuntos humanos. Exemplos disso são: a política, onde se discute os desejos da sociedade, os pais preocupados com seus filhos, professores que se preocupam com os estudos de seus alunos, treinadores protestando sobre o compromisso dos jogadores, todos têm a ver com o nível de motivação. Por isso, um dos principais fatores que interferem no comportamento de uma pessoa é, indubitavelmente, a motivação, que influi com muita propriedade em todos os tipos de comportamento, permitindo um maior envolvimento ou uma simples participação em atividades que se relacionem com a aprendizagem, o desempenho e a atenção (WEINBERG, GOULD, 2001; TEIXEIRA et al., 2005), o que também é discutido por Paim (2001) que relata que na relação ensino aprendizagem, em qualquer ambiente, conteúdo ou momento, a motivação constitui-se como um dos elementos centrais para a execução bem sucedida. Para Geraldes e Dantas (1998), os motivos e a evolução dos métodos e objetivos que levam o homem a busca da atividade física, vêm de épocas remotas, no qual, o conceito de totalidade orgânica tem ganhado adeptos desde a antiga Grécia, já que tais povos reconheciam a necessidade do equilíbrio mental, social e físico. Os mesmos ideais foram apregoados, diversos séculos mais tarde, por filósofos europeus como Locke e Russeau. Essa perspectiva na antiguidade clássica não era exclusividade dos gregos já que Juvenal, no mundo Romano, no século I da Era Cristã, apregoava essas necessidades por meio da expressão “mens sana in corpore sano”. Por isso, atualmente, torna-se claro, que o maior motivo e incentivo para a prática da atividade física reside em sua relevância, cientificamente comprovada, como coadjuvante na aquisição e manutenção da saúde. Porém, para Fernandes (2005), atualmente nos deparamos com a valorização de um padrão de beleza, qual seja, aquele do corpo belo, jovem e sempre “em forma” a ser conquistado a partir de múltiplas possibilidades de intervenção: dietas, cosméticos, cirurgias plásticas, ginásticas, medicamentos. A constante exposição do corpo feminino na mídia também reafirma a necessidade de cuidados específicos e da busca constante pela “saúde” associada aos avanços tecnológicos. Neste sentido, Frugoli (2004) considera que com este aumento da preocupação com a saúde e a estética, houve um aumento no número de locais especializados nesta questão, no qual, as academias de ginástica e os estúdios de treinamento personalizado tornam-se também, em micros espaço relevantes para o entendimento das novas relações e interações sociais. Num panorama geral nas sociedades ocidentais, os serviços à disposição dos Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 139 indivíduos que querem, e podem cuidar do corpo, aumentaram significativamente nas mais variadas faixas etárias. No Brasil, como em grande parte do mundo, ambos os gêneros são estimulados constantemente ao padrão corporal veiculado pelos canais midiáticos. Porém, Silva e Daólio (2000) acreditam que podemos compreender a busca por um corpo belo como um fenômeno cultural, tendo em vista o grande número de imagens divulgadas pelos meios de comunicação, além da quantidade de produtos, alimentos e práticas direcionadas à beleza corporal. Isso se deve ao fato da aparência física ser forte elemento nas relações sociais, pois a ela são atribuídos alguns significados e, ao buscar certos modelos corporais, há também a busca pela transformação pessoal e a representação de diferentes papéis em nossa sociedade. Nas sociedades modernas podemos caracterizar a beleza corporal como um fato social, pois, pelo que podemos perceber, há uma busca coletiva por um corpo belo, embora haja diferentes construções desse corpo em diversas sociedades e grupos sociais. A cultura de consumo parece exercer uma forte influência nessa construção de corpos belos, já que divulga uma grande circulação de imagens do consumo com sugestões de prazeres e desejos alternativos. As influências da cultura de consumo nos levam a compreender o corpo como um objeto, que está sujeito a um processo de deterioração. Assim, a atividade física, servirá como um meio para que esse corpo/objeto possa se recuperar e transmitir uma imagem de corpo saudável associada ao corpo belo, não importando se essa imagem seja, de fato, realidade. Por outro lado, Malavasi e Both (2000) citam que quando uma pessoa inicia um programa de atividade física ou uma modalidade esportiva, seja esta iniciativa causada por necessidade ou por convicção, a maior dificuldade que se encontra é na aderência desta atividade a médio ou longo prazo. Contudo, é reconhecido que os efeitos benéficos de qualquer atividade para a saúde, dependem extensivamente da adoção por um período de estilo de vida ativo. A palavra motivação exerce um grande efeito sobre as pessoas principalmente quando se refere à prática de atividades físicas em geral, porém, muitas vezes, a motivação pode ser responsável por inúmeras razões pelas quais o indivíduo decidirá realizar alguma atividade física ou não. Buscando compreender e melhorar o processo motivacional, Weinberg e Gould (2001), citam o modelo interacional de motivação, que têm importantes implicações para professores, técnicos, instrutores e administradores de programas de atividade física. Para estes autores, este modelo conta com 5 diretrizes básicas, que se bem empregadas, podem ser um grande facilitador no processo motivacional. 1º) Tanto as situações como os traços motivam as pessoas: para aumentar a motivação você deve analisar e responder não apenas a personalidade, mas também, a interação das características pessoais e situacionais; 2º) As pessoas têm vários motivos para envolverem-se: é necessário um esforço consistente para identificar e entender os motivos dos participantes para se envolverem em atividades de esporte, de exercício ou de educação. Outros aspectos relevantes são que: às vezes, as pessoas participam das atividades por mais de uma razão, e os motivos podem mudar com o tempo; 3º) Mude o ambiente para aumentar a motivação: saber por que razão as pessoas se tornam envolvidas em esportes e exercícios é importante, mas essa informação é insuficiente para aumentar a motivação, já que muitas vezes, para aumentar a motivação é necessário que sejam criados ambientes que satisfaçam as necessidades de todos os participantes; 4º) Os líderes influenciam a motivação: os instrutores, professores de educação física, ou técnicos, devem desempenhar o papel fundamental de influenciar a motivação do participante. Um professor ativo e entusiástico sempre oferecerá, por meio de sua personalidade, reforço positivo aos alunos. 5º) Use mudanças de comportamento para alterar motivos indesejáveis do participante: as mudanças de comportamento são importantes, quando os motivos dos participantes prejudicarem de alguma forma o próprio participante, ou até mesmo, aqueles envolvidos direta ou indiretamente com o programa de atividade física. Neste caso, é importante que o participante seja conscientizado dos riscos dos mesmos. Após abordamos inúmeros aspectos relativos ao tema proposto, procuramos estruturar e apresentar os resultados desta pesquisa, a fim de contribuir para um maior aprimoramento dos profissionais envolvidos com a prática regular de atividades físicas em academias de ginástica e estúdios de treinamento personalizado, já que, entender a motivação é requisito fundamental para tal. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA Esta pesquisa, de cunho descritivo (THOMAS e NELSON, 2002), foi realizada de acordo com os critérios da análise qualiquantitativa, na qual os dados foram tabulados, e apresentados em valores percentuais, seguidos de uma leitura descritiva dos mesmos. AMOSTRA Participaram da pesquisa cento e quarenta e quatro alunos (76 do gênero feminino e 68 do gênero masculino), das academias Clip, Golden Fitness (Campinas – SP) e Conexão Saúde (São José do Rio Pardo – SP), e dos Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 140 estúdios de treinamento personalizado Salla Saúde Integrativa e Studio Vida (Campinas – SP). Os alunos tinham idade entre 14 e 84 anos [M = 34.3; DP = 14.6]. Os dados foram coletados entre os dias 13 de fevereiro e 2 de março de 2012. Esta pesquisa foi realizada de acordo com a ética de pesquisa envolvendo seres humanos, resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996. A média de idade dos alunos de academia de ginástica participantes foi de vinte e sete anos, enquanto a média dos alunos dos estúdios de treinamento personalizado foi de quarenta e nove anos, a classe social e poder aquisitivo dos alunos das academias de ginástica participantes mostrou-se mais baixa em comparação com os alunos dos estúdios de treinamento personalizado. PROTOCOLOS UTILIZADOS Foi adotado como instrumento um questionário composto por questões abertas, com o objetivo de investigar quais aspectos levavam os alunos a praticarem atividade física na academia de ginástica ou no estúdio de treinamento personalizado, e quais eram suas principais dificuldades para treinar, sendo que os mesmos poderiam apresentar até duas respostas para as principais questões. Para a administração do questionário foi solicitado inicialmente a colaboração das três academias e dos dois estúdios de treinamento personalizado por meio de ligação telefônica, sendo esclarecidos os objetivos do estudo e garantindo o anonimato de todos os indivíduos participantes. Após a autorização, iniciamos a administração do questionário segundo um protocolo previamente estabelecido, e sobre o qual os administradores foram instruídos e treinados previamente. Os alunos participantes foram convidados a participar da pesquisa logo quando entravam na recepção das academias ou estúdios, todas as aplicações ocorreram sem incidências e após os alunos finalizarem o questionário, seguiam normalmente sua rotina de treino. Os dados foram tabulados, e apresentados em valores percentuais, seguidos de uma leitura descritiva dos mesmos. Tabela 1: Comparação entre os motivos apresentados para a prática de atividade física em academias de ginástica e estúdios de treinamento personalizado: D E S C R I Ç Ã O D O S R E S U LTA D O S E DISCUSSÃO Com relação aos aspectos que levavam os alunos a praticarem atividade física nas academias de ginástica, apresentaram-se os seguintes motivos: Saúde (36,6%), estética (22,8%), condicionamento físico (14%), prazer (7,9%), bem estar (6,9%), indicação médica (5,9%), convívio social (2,8%), outro motivo (3,1%). Nos estúdios de treinamento personalizado, apresentaram-se os seguintes motivos: Saúde (45,3%), condicionamento físico (29,6%), bem estar (7,2%), estética (7%), indicação médica (6,2%), outro motivo (2,5%), prazer (2,3%) e convívio social (0%). As diferenças entre os motivos apresentados pelos alunos de academias de ginástica e estúdios de treinamento personalizado parecem variar de acordo com a idade cronológica dos sujeitos estudados, a classe social/econômica e de aspectos culturais. 50% 40% 30% Academias 20% Estúdios 10% r M éd ica C. So Ou cia tr l o m ot iv o es ta I. ze r Pr a Be m Sa úd e Es té ti c a C. Fí sic o 0% Ao revisar estudos semelhantes publicados nos últimos vinte anos, pudemos perceber uma mudança nos valores dentro das academias de ginástica e mais recentemente, nos estúdios de treinamento personalizado, a aquisição de um estilo de vida mais saudável e com maior qualidade de vida parece estar ganhando mais espaço, antes abundantemente ocupado por fatores estéticos e de culto ao corpo. Em pesquisa conduzida por Geraldes e Dantas (1998), em duas academias, uma no Rio de Janeiro e outra em Maceió, entre 1990 e 1994, um grande percentual da população que frequentava as academias pesquisadas tinha como objetivo a estética, principalmente no que se referia ao emagrecimento. Zanette (2003), ao pesquisar os praticantes do Rio Grande do Sul, encontrou 29% de respostas que apontavam a estética como principal motivo, contra 23% de saúde e 21% de bem estar. Tahara et al. (2003), no estado de São Paulo, apontaram 26,6% de estética contra 23,3% de saúde e qualidade de vida. Em outra pesquisa, Teixeira et al. (2005) encontraram os seguintes resultados motivacionais: questões estéticas (19,95%), seguido pela necessidade de melhora da saúde (18,12%). Albuquerque e Alves (2007), no Rio Grande do Norte destacou que 39,1% afirmaram ser a estética o principal motivo, contra 16,6% para a melhora da condição física. Araújo et al. (2007), ao estudar adultos jovens do estado de Minas Gerais, apontaram 50,6% como motivos estéticos contra 14,4% de saúde e 31,3% de condicionamento físico. Recentemente, Salcedo (2010) estudou um grupo de trinta alunos que realizavam treinamento personalizado na cidade de Porto Alegre, dos seis motivos analisados para a prática de atividade física, o item saúde foi o mais citado, acompanhado respectivamente pelos itens prazer, estética, controle de estresse, Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 141 sociabilidade e competitividade. Ao estudar esta mesma questão cinco anos atrás, Zanetti et al. (2007) encontraram em São José do Rio Pardo/ SP valores bem diferentes dos atuais, que mostravam a estética a frente da saúde, 30% contra 21,7%, além dos 12,3% que afirmavam ser o bem estar seu principal motivo. Neste estudo, os principais motivos apresentados pelos alunos investigados, para a prática de atividades físicas em academias de ginástica, foram o cuidado com a saúde seguido dos aspectos estéticos. Nos estúdios de treinamento personalizado, o motivo saúde foi seguido do condicionamento físico, o item estética foi apenas o quarto mais citado. Com relação às principais dificuldades para treinar na academia de ginástica, nosso estudo apresentou: Falta de tempo (33,8%), preguiça (25,4%), outra dificuldade (15%), nenhuma dificuldade (14,7%), falta companhia (5,6%), não gosto de exercícios (2,1%), local para deixar os filhos (1,8%), não consigo alcançar meus objetivos (1,5%). Grande parte dos 15% que responderam “outra dificuldade” justificaram suas respostas como imprevistos que surgem na hora de treinar. Nos estúdios de treinamento personalizado: Falta de tempo (31,7%), outra dificuldade (28,5%), preguiça (15,7%), não gosto de exercícios (8,5%), não consigo alcançar meus objetivos (7,2%), nenhuma dificuldade (7,2%) e local para deixar os filhos (0%). Assim como nos resultados das academias, grande parte dos 28,5% justificou “outra dificuldade” como imprevistos que surgem na hora de treinar. As dificuldades apresentadas pelos alunos de ambos os cenários foram semelhantes, estes resultados reforçam a hipótese de que aspectos como a falta de tempo, imprevistos na hora de treinar e a preguiça estão muito presentes no cotidiano dos praticantes de atividade física. Portanto, independente da idade cronológica, da classe social/econômica e dos aspectos culturais, é muito importante considerar estas informações no momento de prescrever a rotina de treino dos alunos. Tabela 2: Comparação entre as dificuldades para a prática de atividade física em academias de ginástica e estúdios de treinamento personalizado: A falta de tempo aparece como a grande dificuldade para a adesão em um programa de treinamento em vários estudos. Saba (1999) encontrou 37% das respostas que indicavam a falta de tempo, Tahara et al. (2003) mostraram em São Paulo 43,3% das respostas para esta dificuldade, Pereira e Bernardes (2005) apontaram em Minas Gerais 31% das respostas para falta de tempo, além de 20,6% para preguiça. Santos e Knijnik (2006) no estado de São Paulo, com 30% para a falta de tempo e 23% para preguiça, Albuquerque e Alves (2007) no Rio Grande do Norte com 36,6% para falta de tempo e 13,3% para preguiça, Enézio e Cunha (2007) em Minas Gerais com 49% para falta de motivação e 29% para monotonia dos exercícios. Santos e Knijnik (2006) afirmam que a falta de tempo normalmente está relacionada à jornada excessiva de trabalho, tempo para obrigações familiares e dificuldade na administração do tempo. Por outro lado, acreditamos que encontrar prazer com a prática de exercícios e estar ciente dos benefícios que ela pode trazer à saúde, são pontos essenciais para transpor dificuldades como a falta de tempo, e é neste momento em que a intervenção e instrução do profissional de educação física torna-se imprescindível, o plano de treinamento deve estar orientado para atender a necessidades e vontades dos alunos, adequando o a sua disponibilidade e rotina diária. O American College of Sports Medicine (2000) aponta que apenas 5% dos adultos sedentários que iniciam um programa de treinamento em academias de ginástica aderem à prática, no Brasil, Albuquerque e Alves (2007) verificaram uma evasão de 70% entre os praticantes de exercícios nas academias. Nascimento et al. (2007) destaca uma informação muito relevante sobre a aderência, afirma que o comprometimento do praticante com seu programa de treinamento não ocorre logo no início da prática, é um processo lento que vai da inatividade até a manutenção do programa de exercícios físicos. CONCLUSÃO É evidente que fatores como a aquisição de mais qualidade de vida e bem estar vêm ganhando espaço dentro das academias de ginástica e estúdios de treinamento personalizado, aparentemente pela conscientização da população em relação à importância da prática de atividades físicas na promoção da saúde. Estes resultados apontam para a motivação baseada na perspectiva interacionista, conforme discutido por Samulski (2002) e Weinberg e Gould (2001). Por fim, é necessário que os educadores físicos façam uma reflexão sobre suas intervenções, que possam quebrar paradigmas presentes no seu cotidiano ao reconhecer os motivos e dificuldades dos seus alunos, direcionando as sessões de treino de forma a atender exclusivamente as necessidades dos mesmos, e assim aumentar as suas adesões em tais programas. Chelladurai (1990) e Lenti (1996) afirmam que uma motivação efetiva flui da relação Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 142 entre os profissionais, líderes do contexto em questão, e os liderados, alunos ou atletas de alto nível, se tal relação for compartilhada positivamente, a interação pode possibilitar maior aderência dos membros para o estabelecimento e cumprimentos de seus objetivos, sejam individuais ou sociais. Tal relação construtiva poderá aumentar a satisfação dos indivíduos no grupo, fazendo-os se sentirem mais motivados a permanecerem com seus respectivos comportamentos, interesses, buscas e aspirações, numa espécie de círculo retroativo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, C. L. F. A.; ALVES, R. S. A evasão dos alunos das academias: Um estudo de caso no centro integrado de estética e atividade física – CIEAF, na cidade de Caicó – RN. Dominium Revista Científica da Faculdade de Natal, Natal, v. 1, p. 1-33, jan./abr. 2007. ISSN 1678-7889. Disponível em: http://webserver.falnatal.com.br/revista_nova/a5 _v1/artigo_4.pdf. Acesso em: 01 mar. 2012. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE.ACSM's guidelines for exercise testing and prescription. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. ARAÚJO, A. S.; PIMENTA, F. H. R.; BARAÚNA, M. A.; NOVO JUNIOR, J. M.; SILVA, A. L. S.; PINTO, M. V. M.; RAMOS, D. E. F.; COTTA, D. O.; ANDRADE, G. D.; DE PAULA, A. H. 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Setembro 2012 143 III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA RESUMOS TEMAS LIVRES Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 144 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 145 O PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA ( PA R F O R ) E A I M P O R T Â N C I A D O COMPONENTE CURRICULAR DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA OS ALUNOS DO PARFOR DA UNIFEV Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi AUXÍLIO PSICOLÓGICO TRANSMITIDO PELOS FAMILIARES: UM ESTUDO NO FUTEBOL E NO BASQUETE Eric Matheus Rocha Lima; Lucas Ribeiro Cecarelli; Guilherme Bagni; Kauan Galvão Morão; Renato Henrique Verzani; Afonso Antonio Machado UNESP- Rio Claro | LEPESPE |DEF | IB Centro Universitário de Votuporanga-UNIFEV Visualizando o contexto histórico da criação do PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica) criado em janeiro de 2009, através do decreto 6.775, que institui a Política Nacional de Formação de Professores da Educação Básica com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), tem como um dos objetivos promover a melhoria da qualidade da educação básica pública e oferecer a 1ª licenciatura para professores sem a graduação. O PARFOR é um projeto do Governo Federal que nos últimos 10 anos tem dado uma maior atenção à formação de professores de todas as áreas. É uma das iniciativas no sentido de buscar um aperfeiçoamento dos professores que já estão atuando, mas que não possuem ensino superior. Será que essa iniciativa terá bons frutos? Haverá melhoria na qualidade da educação básica pública? Os professores que atuam na Educação Infantil pública no Brasil são na sua maioria professores chamados de “polivalentes” que possuem formação no magistério em nível de ensino médio. Os professores “polivalentes” ministram aulas de Português, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes e Educação Física. É no componente curricular Educação Física que abordaremos a presente pesquisa. Nos municípios paulistas encontramos várias escolas que não possuem professores de Educação Física, ficando a critério dos professores “polivalentes” ministrarem esse componente. A questão norteadora dessa pesquisa consiste em: A Educação Física e a Educação Infantil, como os professores que estão cursando o PARFOR visualizam a importância deste componente curricular? Nesse sentido, o objetivo da presente pesquisa consiste em analisar como os professores que estão cursando o PARFOR visualizam a importância do componente curricular Educação Física na sua ação pedagógica. Será utilizado o método quantitativo e qualitativo descritivo, e para a coleta dos dados um questionário com questões abertas e fechadas com os alunos que cursam o PARFOR no curso de Licenciatura em Pedagogia, no Centro Universitário de Votuporanga (UNIFEV). Os dados serão analisados por intermédio da análise dos conteúdos presentes no questionário. CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Introdução: A família tem elevada importância na vida de um jovem, principalmente por auxiliar na escolha do mesmo em vários contextos, e um deles é o esporte. O esporte surge como um agente importante no processo de socialização do jovem, provocando no mesmo, o interesse por tal modalidade, além de facilitar a entrada em um grupo de amigos, cujo interesse é semelhante. Neste caminho, aspectos econômicos, sociais, culturais e também o gênero, podem influenciar os pais a estimularem determinada atividade. Os pais necessitam mostrar dedicação em suas respectivas funções, porque devem ser referências a serem seguidas por seus filhos, já que sua presença na prática esportiva de seus filhos proporciona prazer, especialmente nas partidas. Objetivos: O presente estudo tem o objetivo de avaliar se os pais fornecem aos seus filhos, um suporte psicológico para a prática esportiva, e logo, os efeitos que este envolvimento proporciona ao jovem. Procedimentos Metodológicos: A amostra foi composta por 14 jovens, entre 12 e 17 anos de idade, praticantes de basquete e futebol, estando constantemente inseridos em competições, e o instrumento utilizado foi Inventário Fatorial de Práticas Parentais Relacionadas ao Desenvolvimento do Talento no Esporte (IFATE), onde foram utilizadas a teoria e o modelo de elaboração de instrumental psicológico proposto por Pasquali (1999). Foi realizado neste estudo, uma análise quali-quantitativa das 6 questões Fator 2 do questionário, correspondente ao Suporte Informativo e Emocional Proporcionado pela Família. Resultados: Foi obtido um equilíbrio entre as respostas “algumas vezes”, “muitas vezes” e “sempre ou quase sempre”, que predominaram em relação à resposta “nunca ou quase nunca”, evidenciando a presença dos pais no assunto abordado. Considerações Finais: Existe o auxílio psicológico da família para a prática esportiva do filho com frequência, sendo ideal em alguns casos, e apenas presente em outras situações. Palavras-chave: Família, Futebol, Basquete e Psicologia do Esporte. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 146 NETNOGRAFIA: UM ESTUDO SOBRE OS IDEAIS DE BELEZA MASCULINO Flavio Francisco Dezan¹; Afonso Antonio Machado² (¹ ²) LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte) – UNESP- RIO CLARO/SP A tecnologia se faz presente no cotidiano das pessoas, em suas mais variadas formas, quer seja através da mídia, das técnicas de intervenção cirúrgicas, nos produtos de beleza, aparelhos para ginástica, etc., não poderíamos deixar de ressaltar o fato de que o corpo passa a ser objeto de desejos e atenções que remetem a si próprio, seu destino e construção no tocante ao que pode ou não ser valorizado na cultura onde este se inseriu. A busca pelo corpo perfeito tem o efeito de produzir discursos duplos que se justificam por relacionar as atividades físicas como promotoras de boa saúde e veículo de credibilidade social, bem como ser objeto de desejo, mas não deixam claro, ou pelo menos não fazem questão de revelar, quais os processos pelos quais passam os que já adquiriram o tão desejado corpo perfeito, ficando somente sua imagem como fontes de inspirações e desejos. Participaram deste estudo 8 indivíduos do sexo masculino, maiores de 18 anos e usuários da rede social virtual Orkut. Para desenvolver o estudo utilizamo-nos da submissão de questionários online, bem como entrevistas via comunicação síncrona, em sua interface de videochamada (site MSN), quando necessário, na tentativa de minimizar a avaliação de perfis “fakes”. Não foram analisadas questões socioeconômicas. O estudo procurou estabelecer conexões entre o quadro corporal atual, com inúmeras exigências e questões a se valorizar quando pensamos no corpo e suas representações, em especial quando tomamos como bases de análise a exposição de tais corpos em um veículo de abrangência de proporções virtualmente ilimitadas e passiveis de análises de mesma grandeza. Destacamos também, neste estudo, o fato dos sujeitos pesquisados relatarem a intencionalidade de retocarem suas fotos quando postadas em suas páginas pessoais para que sejam vistos sempre sob uma luz favorável, uma vez que seus corpos são considerados, por si próprios, como seus grandes veículos de aceitação social. Palavras-chave: netnografia; imagem corporal; rede social virtual; desenvolvimento humano; tecnologias. EFEITOS PSICOLÓGICOS DA REALIDADE VIRTUAL EM CRIANÇAS COM DIFICULDADES MOTORAS Franz Fischer LABORDAM – UNESP Rio Claro A literatura aponta que cerca de 5% a 15% da população infantil em idade escolar possui dificuldade de coordenação motora, em particular tais crianças não possuem sinais neurológicos. Uma característica em comum é o baixo rendimento acadêmico, baixa autoestima e baixa motivação, além disso, esta população tende a ser socialmente isolada, desta forma protocolos de intervenção são de grande importância para estas crianças. Atualmente tecnologias de Realidade Virtual estão invadindo o universo das intervenções, em especial intervenções motoras, como em pacientes com acidente vascular encefálico e pacientes com paralisia cerebral, obtendo além da melhora na coordenação motora, aumento na motivação para o tratamento. Partindo deste princípio o presente trabalho tem por objetivo analisar o efeito de uma intervenção com jogos de realidade virtual em crianças com dificuldade de coordenação. Foram analisadas 71 crianças com idades entre 7 e 12 anos, que após aplicação de baterias de testes motores (MABC-2 e BOT-2) e teste de coordenação viso-motora, foram selecionadas 40 crianças separadas em 2 grupos, grupo de crianças com dificuldades motoras (DM) e desenvolvimento típico (DT). O programa de intervenção contou com consoles de Nintendo Wii e 3 cds de jogos: Wii Play, Wii Sports Resort e Wii Sports. Assim, foram realizadas 24 sessões em 8 semanas, com média de 3 sessões semanais de 30 minutos de duração. Após análise preliminar dos dados observou-se uma melhora no desempenho das crianças, em todos os testes e nos jogos, além disso, através de relato dos professores, observou-se menor evasão escolar em dias de educação física, melhora na interação social dentro da sala de aula, relato de melhora da autoestima por parte da psicóloga e melhora no autoconceito da criança. Podemos sugerir que além de uma possível melhora motora, a intervenção com jogos de Realidade Virtual podem levar a ganhos motivacionais e psicossociais em crianças com dificuldades motoras. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 147 ANÁLISE DOS ESTADOS EMOCIONAIS DE ATLETAS DE VOLEIBOL A CONCENTRAÇÃO E A PRÁTICA DO ATLETISMO: A PERCEPÇÃO DOS HOMENS Guilherme Bagni, Kauan Galvão Morão, Renato Henrique Verzani, Eric Matheus Rocha Lima, Lucas Ribeiro Cecarelli e Afonso Antonio Machado. Gustavo Lima Isler1,2; Mauro Klebis Schiavon1,2; Lucas Ribeiro Cecarelli1; Cláudio Gomes Barbosa1,3; Afonso Antonio Machado1,4 1 UNESP-Rio Claro | IB– LEPESPE Os estados emocionais fazem parte do cotidiano de todas as pessoas e isso não poderia ser diferente no caso dos atletas, eles devem ser trabalhados para não influenciarem negativamente os jogos e partidas. Analisar os estados emocionais pré e pós-jogo das atletas buscando entender suas possíveis alterações. Para esta pesquisa foi utilizado o questionário IDATE adaptado por Costa (2011), composto por 24 itens para resposta em escala Lickert, que vai de 0 “nada” à 4 “extremamente”; este questionário foi aplicado em 8 atletas da modalidade voleibol feminino durante o 56º Jogos Regionais, realizados na cidade de Atibaia. Para este trabalho foram analisadas 5 variáveis referentes insegurança, ansiedade, desorientação, atenção e indecisão . As coletas foram feitas antes e após os jogos. Conseguimos identificar através das respostas, que as atletas estavam mais inseguras e ansiosas antes das partidas e que isso foi diminuído após as partidas, enquanto as questões referente a desorientação e indecisão tiveram respostas indicando um grau maior desses itens após as partida. A questão da atenção tem seus valores praticamente mantidos. Percebemos que essas questões normalmente não são identificadas pelos treinadores e na maioria das vezes não são trabalhadas, isso vale tanto para o ambiente escolar quanto para o esporte com é identificado nesse trabalho. Notadas essas variações podemos trabalhá-las visando um maior rendimento dos nossos atletas e um maior aproveitamento das aulas por nossos alunos . Palavras chave: Voleibol; estados emocionais; ansiedade, psicologia do esporte. LEPESPE, UNESP – Rio Claro/SP; 2 Faculdades Integradas Claretianas – Rio Claro/SP; 3 UFU – Uberlândia/MG; 4 IB, UNESP – Rio Claro/SP. A concentração pode ser entendida como a capacidade individual em estar atento e a manter o foco de atenção em um ou mais estímulos ambientais. Devido à importância desta capacidade psicológica para o rendimento esportivo, o objetivo do presente estudo foi verificar a percepção de praticantes de Atletismo do sexo masculino com relação a seu nível de concentração durante a participação em competições. Dezoito atletas com média de idade de 21,78 anos (±7,64) e média de tempo de prática de 5,8 anos (±5,39) responderam a um questionário elaborado pelos pesquisadores e analisado com base em uma metodologia qualiquantitativa. De acordo com os resultados coletados, os participantes informaram em 72,2% das respostas que focalizam seu pensamento em um alvo, com muita precisão, quando bem quiser e 63,9% das afirmações sinalizam para a facilidade em localizar espaços e pessoas que procuram. Outras afirmações que favorecem sua concentração foram que 25% afirmou perceber que em competição se atrapalha e rende abaixo do que é capaz; 27,8% afirmou distrair-se com o que ocorre ao redor; 16,7% percebeu que se distrai em ambientes abertos e 26,4% disseram ficar desatentos com o que está ao redor. Um hábito que 63,9% dos participantes afirmaram desenvolver foi a avaliação dos pontos fracos e fortes de seus adversários antes das competições, o que favorece sua atenção aos fatores importantes em situações competitivas. Algumas afirmações, no entanto demonstram situações que merecem atenção, como a dificuldade em manter a atenção quando conversa com o treinador, com 65,3%, e a dificuldade em “tirar da cabeça” pensamentos que os atormentam, reforçada por 54,2%. Segundo sua percepção, conclui-se que a maioria dos participantes não demonstra dificuldades em se concentrar e manter sua concentração em situações competitivas. Cabe ressaltar que apesar das demonstrações positivas, a análise da atenção e concentração deve ser individualizada e que soluções sejam aplicadas de acordo com as necessidades de cada atleta. Devido à importância da concentração para o rendimento atlético, mais estudos devem ser realizados em atletas de diversas modalidades esportivas para que se compreenda melhor esta influente variável psicológica. Palavras-chave: Concentração; Atletismo; Psicologia do Esporte; Educação Física. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 148 O ESPORTE COMO FATOR DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO: UMA ANÁLISE SOCIAL. F U T E B O L E B U L LY I N G : Q U A N D O A BRINCADEIRA ULTRAPASSA OS LIMITES Roberto Matioli Junior e Marden Ivan Negrão Filho Kauan Galvão Morão¹; Eric Matheus Rocha Lima¹; Guilherme Bagni¹; Lucas Ribeiro Cecarelli¹; Renato Henrique Verzani¹; Afonso Antonio Machado¹ INTRODUÇÃO: É muito comum quando nos referimos à inclusão e exclusão social no esporte nos referirmos ao contexto de “incluir” a pessoa no esporte junto aos outros participantes para se sociabilizarem com outras pessoas. Ou seja, trazê-la para nosso quadro social, para compartir do que estamos fazendo. Agregando-a aos nossos conceitos. Escutando-a sobre seus pareceres e ensinando-lhe as técnicas de jogos. OBJETIVO: Mostrar a relação inter-participativa que deve haver entre o esporte e àqueles que o jogam, porém no âmbito da percepção social. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Este trabalho consiste em conscientizar as crianças do espaço, do conteúdo e de suas questões em relação ao meio. Ou seja, criamos uma forma de ensinar ao aluno perceber as suas limitações sociais através dos fundamentos do esporte. E através desses fundamentos mostraremos ao aluno, as relações com as regras da sociedade fora da quadra. O nosso trabalho consiste em chamarmos a atenção para esse momento, fazendo com que elas enquanto jogam também se interessem para uma relação de trocas e entendimentos além das regras, inerentes ao jogo, o basquete aqui referido. Mas também sobre a relação, que podem ter com o outro como ser humano, dentro ou fora da quadra, através das regras do basquete. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Estabelecemos assim uma relação social para ser aprendida nesse contexto, junto com o aprendizado da regra e a execução dos fundamentos (exercícios), que é o que chamamos de pensamento-inter-social. Este “pensamento” mostra o que deve ser aprendido através da regra sobre a relação social. Ao perceberem o conceito social inerente à própria regra exigida no jogo, começam a identificar a ética de comportamento, ou seja, o aprendizado social aqui referido é mostrar os conceitos que a ética manifesta através da moral. As leis (aqui as normas de basquete representando a ética a ser seguida) e como devemos nos comportar na sociedade ao jogar (a moral, não ferindo a ética, ou seja, fazendo o que é permitido pelas regras e fundamentos do basquete). Palavras Chave: Basquetebol. Educação. Socialização ¹UNESP – Rio Claro Introdução: Nos dias atuais, é comum ouvir qualquer pessoa comentar sobre bullying, denominado como um fenômeno social em ascensão, caracterizado por agressões físicas ou verbais contra uma pessoa. A principal preocupação é o bullying nas escolas, porém este trabalho visa demonstrar se este fenômeno social está presente no ambiente esportivo e quais atitudes são mais comuns, especificamente no futebol, visto que a convivência entre os atletas vem se tornando cada vez maior, devido aos grandes períodos de treinamentos, viagens, concentrações, dentre outros fatores. Objetivos: Verificar se há ocorrência de bullying no âmbito esportivo e quais ações são mais freqüentes. Procedimentos Metodológicos: Aplicou-se um questionário com perguntas fechadas em que os atletas participaram de maneira voluntária durante o período da Copa São Paulo de Futebol Júnior no ano de 2011. A amostra foi composta por 92 jogadores do sexo masculino, com idade entre 15 e 18 anos, sendo que todos compunham o elenco de seis equipes presentes na competição. Resultados: Os resultados obtidos apontam para a existência do bullying no futebol, mesmo na categoria de base, colocando em destaque ações como “Ofensas, agressões físicas, exclusões, intimidações” e com menor destaque aparecem outras como “roubar, ameaçar, isolar e discriminar”. Em outra indagação que foi feita, os atletas demonstraram que não gostam de certos ambientes, prevalecendo o desgosto por estarem no ônibus, em reuniões (concentrações) ou no alojamento, podendo-se destacar que nessas horas os jogadores se encontram em convívio. Também foi constatado que uma pequena parcela já pensou em parar de jogar por causa do bullying, o que pode seria considerado como abandono precoce da modalidade, devido à idade dos garotos. Considerações Finais: É necessário que a comissão técnica tenha maior preocupação com atitudes que podem parecer brincadeiras, mas acabam ofendendo outros atletas, principalmente quando elas se tornam constante. Também é indicado que mais trabalhos sejam realizados nesta área, pois o bullying pode ser um fator determinante para que haja abandono precoce por parte dos jovens jogadores. Palavras chave: bullying; futebol. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 149 L I G A D E M E D I C I N A E S P O R T I VA D E CATANDUVA: entidade acadêmica de aprofundamento teórico-prático e extensão comunitária. Arthur Silva Botelho*; Marcos B. de Freitas Junior**; Alberto Hamra*** Ligia Adriana Rodrigues**** * Acadêmico do 3.º ano Curso de Medicina das FIPA. Presidente discente da LIMESP ** Acadêmico do 2.º ano Curso de Medicina das FIPA. Primeiro Secretário da LIMESP. *** Médico pela FCMSCSP; Doutor em PósGraduação pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. Professor titular das FIPA e da UNICASTELO - Fernandópolis. Presidente docente da LIMESP. **** Psicóloga pela UNESP-Assis. Mestre em Educação pela UFSCar. Professora do Curso de Medicina das FIPA; professora e coordenadora do Curso de Psicologia do IMES-Catanduva. A Liga de Medicina Esportiva (LIMESP) é uma liga tradicional do Curso de Medicina das FIPA, em Catanduva e, após ficar inoperante durante dois anos, retomou suas atividades em 2010. As ligas, de acordo com considerações gerais de alguns autores, são organizações estudantis nas quais um grupo de alunos se organiza para aprofundamento em determinado tema e visa, junto a isso, sanar demandas da população. A LIMESP, ao retomar suas atividades propôs mudanças em sua didática e campo de atuação. Não mais com uma visão voltada somente para a traumatologia esportiva (área da medicina esportiva, que no aspecto científico estuda os processos patológicos em atletas), atualmente, os membros da liga buscam atuar de forma multidisciplinar, abordando todos os campos da medicina esportiva, que envolve três áreas: preventiva, terapêutica e educativa. O objetivo central é utilizar a ciência médica na avaliação, no controle e na terapêutica dos organismos submetidos a esforços físicos e psíquicos decorrentes de atividade física e desportos, e também, levar esse aprendizado à comunidade, na promoção e/ou participação em diferentes projetos. Metodologicamente, para um maior dinamismo, a LIMESP divide sua carga horária entre aulas teóricas e atividades práticas. As aulas teóricas são ministradas por professores de diversas especialidades, dentre elas: ortopedia, cardiologia, pneumologia, nutrologia, fisioterapia, educação física, endocrinologia e psicologia. Entre as atividades práticas, pode-se citar: o acompanhamento de casos nos ambulatórios de ortopedia do Hospital Emílio Carlos; o atendimento de emergências (auxiliados por médicos e residentes) no pronto-socorro do Hospital Padre Albino e o acompanhamento em cirurgias. Dentre os projetos desenvolvidos, destaca-se a realização do I Congresso Médico Esportivo de Catanduva e a cooperação no ELEC - Encontro de Ligas e Extensões de Catanduva, no ano de 2011. Em 2012, desenvolveu atividades junto à comunidade em diversos momentos e contextos, como a participação - com atendimento e orientação aos atletas - na XII Corrida Matilat-Nardini, na XIV Corrida do trabalhador Alfredo Ortega e no Campeonato de Judô do SESC. A LIMESP, sempre aberta a receber propostas de estudos e trabalhos no campo da Medicina Esportiva, pretende, ainda neste ano, desenvolver novas ações ligadas à comunidade. PALAVRAS-CHAVE: Liga de medicina esportiva; atividades físicas e desportivas; multidisciplinaridade e medicina. IMAGEM E A CORPOREIDADE APLICADA AO ESPORTE Roberto Borges Filho UFG- Universidade Federal de Goiás- Departamento de Fisioterapia. Resumo: A busca incessante por uma melhor aparência física dos praticantes de atividade física é um fenômeno sociocultural muitas vezes mais significativo do que a própria satisfação econômica, afetiva ou profissional. A insatisfação com o próprio corpo e a imagem que se tem dele, talvez seja um dos motivos principais que levem as pessoas a iniciar um programa de atividade física O atleta no esporte moderno sendo este amador ou profissional é essencialmente uma personagem produtor de rendimento a partir de suas manifestações ou expressividade corporal. Esta é uma das características da imagem proporcionada pelo corpo no cenário esportivo. A questão da imagem e da corporeidade desperta na atualidade a necessidade de se estabelecer diretrizes mais abrangentes em suas abordagens contextuais principalmente em se tratando do esporte. No início do século XX as pesquisas sobre as questões da imagem corporal tiveram um foco mais abrangente e um amplo repertório conceitual vem sendo desenvolvido até os dias atuais. Vários pesquisadores de diferentes segmentos interessaram-se no assunto seja a questão da imagem “Psicanalítica”, a Imagem “Biomecânica”, a imagem “sociocultural” e assim por diante O objetivo desta apresentação sob a forma oral consiste no desenvolvimento consubstancia nos seguintes tópicos: 1.Imagem e esquema corporal e suas formações, e interrelações correlacionadas ao esporte; 2: Questões do corpo enquanto agente de transmissão de expressões nomeadas, vistas e sentidas; 3: Constituição relacionada a transição do estatuto do objeto para o estatuto do sujeito;(formação e desenvolvimento da imagem corporal); 4:Conceitos acerca da imagem corporal (fisiológico e psíquico) e; 5:Aspecto histórico da Imagem corporal. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 150 UM NOVO OLHAR SOBRE A ANSIEDADE Lucas Ribeiro Cecarelli¹,³, Kauan Galvão Morão¹,³, Matheus Ribeiro Cecarelli²,³, Renato Henrique Verzani¹,³, Eric Matheus Rocha Lima¹,³, Guilherme Bagni¹,³, Afonso Antonio Machado¹,³. 1 UNESP, 2 UNIARARAS, 3 LEPESPE Uma das principais competições para adolescentes que buscam no futebol uma oportunidade de mudança de vida é a Copa São Paulo de Futebol Júnior que é o maior, mais conhecido e disputado torneio de futebol para atletas juniores do Brasil, com uma enorme cobertura da mídia e dos meios de informação e a atenção de grandes clubes do país e do mundo. Esta grande visibilidade traz aos atletas uma série de aspectos emocionais que podem interferir positiva ou negativamente no desempenho destes. Este trabalho visou analisar a ansiedade de atletas, em partidas da Copa São Paulo Junior de modo a destacar quais comportamentos sugeriam uma ação sob ansiedade. Foram utilizadas gravações de três partidas de modo a permitir a análise dos comportamentos e ações dos atletas. Para análise, foram destacados os principais comportamentos observados, de modo a mapearmos todo o jogo e a intervenção dos atletas e poder parear esta observação com a teoria da ansiedade e traçar nossas conclusões, baseado na incidência/ou não de fatos que levam a interpretação de um gesto sob ansiedade. As principais ações notadas no decorrer da partida que demonstram possível influência de um processo ansiolítico foram: ficar olhando para torcida, passe muito afobado, chutar de qualquer jeito, erro de domínio, “fugir” do jogo, erro de passe “fácil”. Assim, destaca-se que o estudo, conhecimento e entendimento dessas variáveis e suas implicações no nível de ansiedade, é muito importante para que o técnico, professor ou psicólogo do esporte busquem o nível ideal de ansiedade para favorecer o desempenho ou a performance do seu aluno, atleta ou cliente. Desta maneira deve-se atentar a estes comportamentos para que os atletas possam ter um bom desempenho em partidas desta competição e destaca-se também a fundamental presença de um profissional da Psicologia do Esporte para que trabalhe com os atletas durante todo o desenvolvimento da competição (preparação, jogos e pós torneio) permitindo a estes ter maior controle e técnicas de manejo da ansiedade, dificultando a queda de rendimento devido a este aspecto emocional. Palavras chave: Ansiedade; Psicologia do Esporte; Tecnologias Fomento: CNPQ/PIBITI VIOLÊNCIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA Lucas Ribeiro Cecarelli¹,2, Michele Cristina Pedroso¹, Afonso Antonio Machado¹,2. 1 UNESP, 2 LEPESPE É notório nos dias atuais o crescimento da violência nas mais variadas formas de sua apresentação, sendo o ambiente escolar um dos locais onde este aspecto aparece com freqüência e pode causar conflitos, comprometer o aprendizado e relações sociais. Pesquisadores comentam que a escola tem se mostrado um lugar onde a violência se manifesta de maneira intensa por refletir tensões, frustrações e problemas que ocorrem do lado de fora de seus muros e que interferem negativamente na vida da comunidade. As aulas de educação física apresentam uma maior possibilidade de interação entre os alunos e destes com o professor. Outro diferencial é que apresenta aos alunos momentos de cooperação, competição e relações com o seu corpo e de seus pares. Assim, este estudo busca entender quais as principais modalidades de violência presentes no ambiente escolar e seus motivos, com enfoque nas aulas de educação física. Para realização deste estudo, utilizamos uma abordagem qualitativa e com pesquisa participante, onde, por meio de observações das aulas de Educação Física e interação com os membros das situações investigadas, buscamos o registro do comportamento dos alunos e a presença ou não de tendências violentas. As principais modalidades de violência foram: física, Psicológica, Verbal e Simbólica. Dentre estas modalidades, destacaram-se como motivos: diferença entre os objetivos dos alunos e nível de envolvimento com a atividade proposta; qualidade da liderança do professor (a); falta de compreensão do significado de competir e cooperar; relações de gênero; não aceitação de recebimento de faltas e não passar a bola. Pais e familiares devem estar envolvidos no processo/ambiente escolar, de modo a poderem auxiliar na discussão e ensino de seus filhos, assim como na educação dos mesmos. Outro ponto que se destaca é a pouca contribuição da competição e das aulas de EF para o desenvolvimento equilibrado do jovem, o que demonstra um despreparo dos docentes para lidar com gestos violentos, de humilhação e discriminação e menos ainda para coibi-los ou soluciona-los. Palavras chave: Educação Física; Violência; Fomento: CNPQ/PIBITI Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 151 FREQUÊNCIA CARDÍACA EM IDOSOS ATIVOS: ESTUDO COMPARATIVO A UTILIZAÇÃO DA VARIÁVEL “TEMPO” COMO RECURSO MOTIVACIONAL NO JOGO COOPERATIVO Maicon José Jacinto, Andréa Carla Machado, Cecília Candolo, Anderson Souza, Karla Klahold. Marcela Campos de Avellar Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Professora Titular da cadeira de Ginástica Geral da Escola Superior de Cruzeiro, e do Colégio Estadual Antonina Ramos Freire, na disciplina Educação Física. e-mail: [email protected] Introdução: A população idosa vem crescendo em todo mundo, no ano 2000 havia 600 milhões de idosos e a expectativa é que este número passe para 1,2 bilhões em 2025 e 2 bilhões em 2050. Uma FC de repouso baixa aparentemente aponta para um bom quadro de saúde sendo que o seu comprometimento eleva o risco de mortalidade. Objetivos: Analisar o comportamento da freqüência cardíaca de repouso de três grupos distintos e ver qual tratamento foi mais eficaz o Revitalização Geriátrica ou o Musculação e comparar com o grupo controle Metodologia: Participaram da pesquisa 118 voluntários, inscritos no grupo Revitalização Geriátrica, Musculação e Grupo Controle masculino e feminino. Como instrumento de medida para a avaliação do paciente antes e após o tratamento, foi utilizado um cronômetro, foi utilizada a artéria radial para aferição dos batimentos cardíacos do indivíduo durante quinze segundos, sendo multiplicado por quatro. Após a avaliação inicial os voluntários do grupo musculação composto por 15 voluntários realizaram alguns exercícios resistidos em aparelho de musculação adaptados para idosos: Leg press, press peitoral, remada, panturrilha, extensão lombar e abdominal. O grupo Revitalização composto por 95 pessoas realizou três sessões semanais de 50 a 55 minutos de duração e incluiu exercícios de fortalecimento muscular, flexibilidade, condicionamento aeróbio e capacidades coordenativas (equilíbrio, agilidade e ritmo).Os dois grupos tiveram três sessões semanais de 50 minutos. O grupo controle foi composto por 8 pessoas que não praticavam atividade física controlada e supervisionada. Resultados: Análise dentro e entre os grupos: Musculação sexo 0,9567 mês 0,6333 mês*sexo 0,5469 Grupo Controle: sexo 0,5843 mês 0,0433 mês*sexo 0,4621 Grupo Revitalização sexo: 0, 0313 mês 0, 0001 mês*sexo 0, 7061.Os níveis de significância foram fixados em p < 0.05. Os cálculos foram realizados nos softwares estatísticos R e SAS. Considerações finais: Todos os grupos apresentaram comportamento diferente ao longo do tempo. Os grupos revitalização e controle apresentaram comportamento semelhante entre si, considerando que têm valores menores nos meses 1 e 3 e valores maiores no mês 2. Já o grupo musculação apresentou comportamento quase constante ao longo do tempo, mas sempre indicando queda, sendo assim apontado como mais eficaz. ESC - Cruzeiro/SP Dentre as muitas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas acerca de novas abordagens pedagógicas relacionadas ao ensino da Educação Física, os Jogos Cooperativos vêm se destacando como uma relevante temática, comprometida com o desenvolvimento de questões relacionadas a conceitos de integração, solidariedade e fomento de princípios de inclusão - favorecendo, assim, o despertar de uma visão voltada para uma formação integral de nossos educandos. Porém, devido à centralização desportiva e enfoque da 'competição' como eixo central em nossa atuação pedagógica - ainda presente no contexto educacional inerente à esta disciplina - percebemos que existe certa resistência quanto à aplicação de metodologias ligadas à temática da Cooperação, sendo esta muitas vezes associada à imagens utópicas ou à vivência de atividades desmotivantes. Desta forma, este estudo objetivou inserir elementos fortemente presentes na temática da Competição em Atividades Cooperativas. Para tanto, a variável 'tempo' foi especialmente observada a fim de analisar seu potencial como fator motivacional no Jogo Cooperativo. O presente estudo foi desenvolvido numa escola estadual (RJ), sendo aplicado a 58 alunos de ambos os sexos, com faixa etária compreendida entre 18 a 44 anos, pertencentes a 03 turmas de ensino médio (E.J.A.), consistindo na aplicação de 15 jogos e desafios cooperativos, vivenciados de duas diferentes formas: na primeira, o jogo foi apresentado em seu formato original; em seguida era recriado delimitando-se uma meta de tempo para a execução do objetivo proposto no jogo, a fim de verificar qual das duas formas garantiu maior motivação entre os participantes. Foi aplicado um questionário relacionando as 15 atividades, onde cada participante deveria descrever sua preferência por cada uma das formas de jogo, sendo a segunda forma de vivência do jogo (com limite de tempo) escolhida pela maioria. A análise e discussão dos resultados trouxe, entre outras reflexões, a percepção da relação intrínseca que se estabelece entre estas divergentes correntes (Competição e Cooperação), e a relevante constatação que a adoção de metodologias relacionadas à propostas Cooperativas, não significa negar a importância ou inserção da Competição em nossa sociedade, e sim entender esta temática como mais um caminho essencialmente válido e possível. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 152 FATORES MOTIVACIONAIS EM EQUIPE DE FUTSAL FEMININO DO PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA 1 Tiago Marcelino Alves; 1Maxshuel Donizetti Leme; 1,2Marcelo Callegari Zanetti BULLYING NO CONTEXTO FUTEBOLÍSTICO: UMA ANÁLISE DE JUNIORES Renato Henrique Verzani, Kauan Galvão Morão, Lucas Ribeiro Cecareli, Guilherme Bagni, Eric Lima, Afonso Antonio Machado UNIP – Campus São José do Rio Pardo UNESP – Rio Claro/SP (Introdução) Mesmo com as mais diversas tecnologias envolvidas na área do esporte, é de suma importância salientar que a motivação é um dos aspectos que mais influencia no desenvolvimento e na busca de um dado resultado. É notável que a motivação é fator extremamente importante na permanência deste resultado esperado e também no desempenho do atleta em sua carreira esportiva. Diante dessa afirmação é evidente que se não houver fatores motivacionais presentes no dia a dia e no decorrer dos treinamentos dos atletas, que os impulsionem a conseguir melhores resultados, os mesmos podem vir a desanimarem e desistirem de suas carreiras. (Objetivo) O presente estudo teve como objetivo identificar os fatores motivacionais de atletas de futsal do Programa Escola da Família de uma escola de São José do Rio Pardo-SP. (Metodologia) Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário. Participaram do estudo 13 atletas do sexo feminino participantes do Programa Escola da Família, com idades entre 14 e 17 anos, com tempo médio de prática de cinco meses. (Resultados) Após análise dos dados encontramos a maior porcentagem (73,33 %) para a opção gostar de futsal, (6,66 %) para a opção ganhar, (6,66 %) para a opção competição, (6,66 %) para a opção oportunidade oferecida e (6,66 %) para a opção fazer bem fisicamente. (Conclusão) Diante dos resultados pudemos concluir que o fator mais motivante na prática do esporte é a opção gostar do futsal. Porém, a motivação de um atleta não deve partir somente de sua motivação intrínseca, ou seja, de sua própia vontade de jogar, mas também da motivação extrínseca que deve partir do apoio e incentivo do técnico, da família, do grupo em que estão inseridos, da comunidade e da sociedade em geral. Portanto, não adianta o atleta gostar do esporte se não se sente motivado e apoiado por quem os cerca, sendo assim educadores, técnicos, pais e familiares devem levar isso em consideração, incentivando e apoiando para que esses atletas se sintam mais motivados a praticar o esporte e possivelmente estar trilhando em suas carreiras. Existem diversas formas de agressão contra uma pessoa, sendo que quando um comportamento visa atingir e torná-las alvo de sarcasmos, risadas, chacotas, ironias, dentre outros, temos a caracterização do fenômeno do bullying. Esses tipos de situações ocorrem geralmente em locais de grande convivência entre pessoas, como no ambiente esportivo. Quando isto acontece sem que seja percebido ou sem que alguma atitude seja tomada, temos um dos valores mais importantes do ser humano atingido, no caso a auto-estima. Sendo assim, o processo não se caracteriza apenas por agressões físicas, mas também psicológicas, emocionais e violências morais. Caso este contexto seja diagnosticado e não seja alterado, todos os indivíduos inseridos no mesmo passam a sofrer com o que está ocorrendo, podendo desta forma aumentar a ansiedade, medo e outras emoções que vão prejudicar o relacionamento do grupo e consequentemente causarão um efeito negativo no rendimento da equipe nos treinamentos e competições. Portanto, o objetivo deste trabalho foi analisar através de questionários se existem fatores que podem ser considerados bullying em um ambiente esportivo, com jogadores da Copa São Paulo de Futebol Junior, isto é, verificar em uma amostra de atletas se existem comportamentos inadequados e na medida do possível constatar as conseqüências dos mesmos, como o abandono precoce. Analisando os resultados, ficou claro que os comportamentos que caracterizam o fenômeno estão muito presentes no ambiente futebolístico de base, sendo que estes atletas que em um curto espaço de tempo estarão compondo as equipes profissionais. Uma parte dos atletas já pensou em abandonar a modalidade por este motivo e também constatamos que alguns ambientes podem se tornar potencializadores do bullying, pois os atletas acabam passando muito tempo juntos e portanto há um favorecimento para o inícios desses comportamentos. Com isso, fica evidente que os responsáveis por uma equipe devem estar sempre atentos aos seus comandados, visando não somente resultados, mas também avaliar o que acontece fora dos ambientes de treinos e jogos. 1 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 153 BELO E ETERNO: CONSTATAÇÕES NO SECOND LIFE Marcelo Callegari Zanetti1,2, Mauro Klebis Scahiavon1, Altair Moioli1, Flavio Rebustini1 e Afonso Antonio Machado1 1 LEPESPE / I. B. / UNESP – Campus de Rio Claro; 2UNIP – Campus São José do Rio Pardo (Introdução) Quem nunca sonhou em se manter belo eternamente? Desde os primórdios da humanidade inúmeras pessoas têm buscado o elixir da juventude que daria a possibilidade de nos mantermos belos e eternos, sonho este que já pode ser aventado ao menos nos ambientes virtuais. Neste ambientes freqüentemente as pessoas descrevem suas características como alguém jovem, bonito(a) e com padrões almejados pela maioria dos humanos. Por isso, o objetivo deste trabalho foi verificar a busca pela beleza e vida eterna em um ambiente virtual de sociabilidade. (Metodologia) A pesquisa foi realizada no ambiente virtual de sociabilidade Second Life durante o mês de agosto de 2012. Investigamos por meio de uma entrevista semiestruturada 10 avatares, sendo 5 representados por corpos femininos e 5 masculinos. Dentre as questões abordadas optamos pela análise da seguinte questão: “Com o passar do tempo pretende ir envelhecendo seu avatar para acompanhar sua idade real ou pretende manter a mesma forma?”. Registramos também a imagem de todos os avatares investigados por meio de um recurso disponível no próprio ambiente. Posteriormente, foi feita a análise de conteúdo e a categorização dos dados das entrevistas e análise das imagens segundo os pressupostos da sociologia visual. (Resultados) Como resultado das entrevistas constatamos que todos os entrevistados não pretendem envelhecer seus avatares, sendo que as principais justificativas para tal, são a possibilidade de se manter jovens e belos eternamente, além de preservar a identidade, já que, alterações profundas no avatar, como o processo de envelhecimento poderiam levar ao não reconhecimento do avatar pelo outro. Ao analisar as imagens encontramos avatares com padrões corporais bastante almejados por nossa atual sociedade, sendo as mulheres magras, com cabelos longos e corpos bastante definidos e sensuais e homens com grande massa muscular. (Conclusão) Em um jogo como o Second Life há possibilidade de projeção daquilo que somos ou gostaríamos de ser, por isso, se faz necessário uma educação virtual diminuindo assim a ocorrência de conflitos internos que possam levar a distúrbios psicológicos mais graves no futuro. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 154 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 155 III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA RESUMOS PAINÉIS Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 156 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 157 A PSICOLOGIA DO ESPORTE NO CENÁRIO DO CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E MOTRICIDADE HUMANA – UNESP – RIO CLARO: UMA ANÁLISE DOS ANAIS DE 1999 A 2011. PEDAGOGIA DO ESPORTE: FERRAMENTA EDUCATIVA UMA Andréa de Oliveira Pardal; Cintia da Silva Barbeiro; Daniela Aparecida Maurity dos Santos Fernanda Carolina Pereira Universidade Paulista – UNIP UNESP | IB | Rio Claro/SP. Resumo: O esporte é um excelente facilitador na educação de jovens, mas não é o que observamos no alto rendimento. A pedagogia tradicional, Segundo Scaglia e Souza (2004), está centrada na reprodução de modelos e padrões de eficiência e determina pré-requisitos seletivos, centrada na técnica. Busca reproduzir modelos, repetir movimentos para automação, mecanizar o gesto. É seletivo, pobre em acervos de respostas e em tomada de decisões. Gera dependência. A pedagogia inovadora, conforme Scaglia e Souza (2004) cria e estimula um ambiente de criatividade e diversidade, está centrada na lógica-tática, busca criar, explora movimentos para enriquecer acervo de soluções. Busca harmonizar o gesto, é rico em acervo de respostas, aprende a partir do que sabe e é aberto a todos. Além de ser rico em tomada de decisões, ainda gera autonomia. Assim, entendemos que para o esporte assumir genuinamente sua função de mediador entre o educar e o formar, que coabitam uma mesma unidade complexa – o ensinar – mediada pela ação do agente pedagógico, a pedagogia do esporte deverá ser lançada no campo da complexidade do pensamento, aceitando sobre si, de fato, a pedagogia, a práxis educativa (Morin, 2003). Este projeto visa o estudo do esporte, como um instrumento educacional, voltado para a formação do aluno, dentro de uma sociedade. Proporcionar ao aluno a formação de um cidadão crítico, autônomo e socializado, apto a lidar com regras, vitórias e derrotas, através da pratica do esporte. Foi desenvolvido com base em uma ampla Revisão de Literatura, apoiada em bibliografia específica da área da pedagogia do esporte. Podemos concluir com este trabalho, que podemos fazer com que o aluno se aproxime aos poucos da modalidade, possibilitando que no futuro venha a se interessar e se aprofundar neste aprendizado, onde todos que estão dentro deste meio aprendem não só o jogo em si, mas também a lidar com a equipe e a não serem individualistas. Como uma sub área das Ciências do Esporte, a Psicologia do Esporte vem se expandindo, ganhando notoriedade na produção científica e se aperfeiçoando nos mais diversos contextos relacionados ao esporte e motricidade humana. Tanto no Brasil como no exterior, a organização das sociedades e eventos, como congressos regionais e mundiais, assim como a inclusão de disciplinas nas grades curriculares de cursos de Educação Física e Psicologia, criação de cursos de especialização e a publicação de periódicos específicos são evidências do desenvolvimento da área. O objetivo do presente trabalho foi identificar o espaço reservado à Psicologia do Esporte no Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana, evento realizado bianualmente, desde 1999, pelo Departamento de Educação Física da UNESP de Rio Claro - SP. Ao todo foram analisados 2951 trabalhos enviados a todas as edições do evento, de 1999 a 2011, organizados em seus respectivos anos de realização e subdivididos nas categorias: Mesas Redondas e Conferências (MRC), Sessões Temáticas (ST), Temas Livres (TL), Paineis (PN), e Relatos de Experiência (RE). Utilizou-se de pesquisa bibliográfica, tendo como fonte os anais das edições do evento, organizados como suplemento da revista Motriz. Os resultados são expressos em Número de trabalhos de Psicologia do Esporte/Número Total de trabalhos apresentados na edição do evento. Em 1999: 19/169 – 1(MRC), 7(TL), 9(PN), 2(RL). Em 2001: 43/299 sendo 2(MRC), 11(TL), 26(PN), 4(RL). Em 2003: 57/441 sendo 3(MRC), 13(TL), 38(PN), 3(RE). Em 2005: 70/530 sendo 3(MRC), 67(TL+PN). Em 2007: 69/521 sendo 4(MRC), 18(TL), 44(PN), 3(RE). Em 2009: 57/463 sendo 3(MRC), 14(TL), 40(PN). E em 2011: 95/528 sendo 1(MRC), 9(ST), 43(TL), 42(PN). Em 2005, 2009 e 2011 a categoria Relatos de Experiência foi retirada do evento, bem como as Sessões Temáticas de 2001 a 2009, retornando na edição de 2011. Analisando todas as edições do evento, e comparando a última edição com a primeira, percebe-se que, ao mesmo tempo em que o número total de trabalhos apresentados triplicou, o número de trabalhos relacionados à Psicologia do Esporte aumentou 5 vezes. Isso mostra o constante crescimento da Psicologia do Esporte dentro de congressos especializados em Educação Física e Motricidade Humana. Palavras-chave: Psicologia do Esporte, Motricidade Humana, Anais. Palavras Chave: Pedagogia do esporte, ferramentas educativas, práxis educativa. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 158 MUSICALIZAÇÃO E ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: POSSIBILIDADES DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM Andréia Aparecida Ferraz; Mayara Gabriele da Silva Lourenzini: Thais da Silva Ramos Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP Curso de Pedagogia A música desempenha um papel importante em toda a sociedade e também no ensino escolar. Procedimentos pedagógicos com eficácia comprovada torna-se um desafio para todos aqueles que trabalham com pessoas que apresentam algum grau de deficiência intelectual. O desenvolvimento de procedimentos e a criação de estratégias pedagógicas com recursos da musicalização podem trazer benefícios para o aprendiz. Nessa direção, o presente estudo teve como objetivos analisar e descrever a contribuição da musicalização para o desenvolvimento acadêmico da criança com deficiência intelectual a fim de, mais adiante, propor algumas estratégias que auxiliem no processo de alfabetização dessas crianças. Para o alcance de tais objetivos foi desenvolvido um levantamento bibliográfico de cunho descritivo sobre as fontes que apresentam o tema em questão. Os resultados sugerem que o trabalho pedagógico no contexto escolar por meio da musicalização é muito importante, pois a música se efetiva como elemento integrador e motivador no processo de aprendizagem da leitura e escrita, contribuindo para um ambiente estimulador e prazeroso para as crianças sem algum tipo de deficiência ou com deficiência intelectual. Esta pesquisa não pretendeu esgotar a discussão sobre o assunto em questão, mas sim promover uma reflexão a fim de colaborar com o processo ensino aprendizagem no período de alfabetização e, principalmente, auxiliar os professores com sugestões práticas e específicas para uso diário. Palavras-Chave: Alfabetização. Deficiência Intelectual. Educação Especial. Musicalização. Apoio – NAAC - UNIRP O SENTIDO DA DANÇA E POSSIBILIDADES NA ESCOLA SUAS Danila Alves Sodré; Iraceles Gonçalves do Santos Universidade Paulista – UNIP Campus JK INTRODUÇÃO: A dança no âmbito educacional pode ser utilizada como um dos instrumentos para formar cidadãos críticos e confiantes, que sejam capazes de construir idéias e opiniões a partir do contexto onde estão inseridos. Também pode contribuir para que o indivíduo tenha consciência do papel que exerce como integrante da sociedade, através da sua participação ativa e autônoma. Entretanto, constata-se que a dança não é praticada na escola como um conteúdo equivalente as demais práticas corporais. Em contrapartida, com a influência dos meios de comunicação, tais como internet, televisão e outras mídias, alunos e professores estão reproduzindo caracterizações das danças veiculadas de maneira descontextualizada, representando uma imagem distorcida de valores éticos e morais. OBJETIVOS: Diagnosticar os fatores que dificultam a seleção da atividade dança, como um dos conteúdos das aulas de educação física e s c o l a r. P R O C E D I M E N TO S METODOLÓGICOS: Como procedimento metodológico trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa e, para tanto, utilizou-se um revisões de literatura que apresenta discussões a respeito do problema diagnosticado CONSIDERAÇÕES FINAIS: Segundo Isabel A. Marques, existem alguns fatores que tem influenciado a falta de interesse à prática do ensino da dança na escola, que se origina a partir de pensamentos preconceituosos como por exemplo, “dança é coisa de mulher”; divisão entre o trabalho manual e intelectual, que consequentemente, a prática da arte como disciplina era desvalorizada por se tratar de um trabalho corporal. Contudo, seria de suma importância que os professores buscassem conhecimento prático-teórico em relação ao ensino da dança na escola. Palavras chave:Dança. Educação. Mídia Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 159 A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NO AMBIENTE ESCOLAR 1 Cristiano Patrício de Souza; 2Altair Moioli; Rodinei Marcelino Rodrigues; 1Luiz Matheus Ramos CORRELAÇÕES ENTRE POSSE DE BOLA E RESULTADO DAS PARTIDAS: ANÁLISE DAS PRINCIPAIS SELEÇÕES EM COPAS DO MUNDO 1 José Antonio Bruno da Silva 1 Secretaria de Esportes de São José do Rio Preto; 2UNIRP Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) Os jogos cooperativos são de extrema importância social. A inclusão destes jogos em propostas escolares enfoca o envolvimento e participação das crianças em jogos e brincadeiras, revelando a necessidade da colaboração, da solidariedade, da amizade e do respeito entre elas. Por meio da cooperação e seus aspectos formadores há a participação de todos democraticamente, de modo a valorizar o processo educacional, e não apenas seu objetivo final. O objetivo deste trabalho é apontar as vantagens de se trabalhar com jogos cooperativos no meio escolar, melhorando o convívio entre os alunos e a sociedade. Este trabalho, em forma de pesquisa-ação, foi desenvolvido na escola Associação Lar de Menores – ALARME, com base nas diretrizes do Programa Segundo Tempo. Foram analisadas as brincadeiras e jogos cooperativos trabalhados na escola e o comportamento dos alunos anteriormente e posteriormente às atividades trabalhadas, observando-se a relação com o professor e a escola, além dos familiares e da sociedade. Por meio da prática esportiva, apresentamos aos alunos formas de cidadania e inclusão social, descontextualizando alguns tabus e aprimorando o desenvolvimento físico e psicológico. Com a introdução dos jogos cooperativos no contexto escolar, observamos que houve mudança positiva do comportamento dos alunos que participam do Programa Segundo Tempo. O trabalho com jogos e brincadeiras cooperativos promoveu entre as crianças confiança mútua, liderança circular, comunicação colaborativa, criatividade compartilhada, centramento, bom humor, coresponsabilidade e paz. Se pensarmos que os jogos cooperativos promovem a socialização e a cidadania, podemos acreditar que, se for trabalhado de modo coerente, veremos um grande progresso entre as crianças. Nesse sentido, teremos a construção de um mundo melhor. A Copa do Mundo de Futebol é um dos maiores torneios desse desporto, sendo a Seleção Brasileira, juntamente com Alemanha e Itália, as que obtiveram os melhores resultados. Um importante indicador de rendimento no futebol é a posse de bola, pois entende-se que equipes de melhor qualidade técnica, geralmente, apresentam resultados maiores desse índice. No entanto, não existe ainda um consenso em torno do quanto ela possa influenciar no resultado de uma partida ou torneio. Nesse sentido, o objetivo do estudo foi analisar a posse de bola em todos os jogos das Seleções Brasileira, Alemã, e Italiana de futebol, em Copas do Mundo, compreendidos no período de 1966 a 2010, correlacionando com o numero de finalizações e gols obtidos a favor e contra. Foram analisados vídeos de 208 jogos, e foi aplicada a correlação de Pearson. Observouse superioridade do Brasil e da Alemanha em relação aos adversários, enquanto a Itália, em geral, apresentou índices inferiores. Maiores percentuais foram observados, para o Brasil em 1994 e 2010, enquanto Alemanha e Itália em 1990 e 1998; e 2010 e 1990 respectivamente. Entretanto, a posse de bola não esteve associada à classificação final das Seleções, já que a menor média foi obtida em 2002, quando o Brasil conquistou o título. A Seleção campeã de 1994 apresentou tendência de correlação negativa com anotação de gols. Nas duas Copas vencidas, a Itália apresenta correlações negativas entre posse de bola e gols/finalizações a favor. Já a Alemanha apresentou correlação negativa significativa entre posse de bola e finalizações contra na Copa de 1990. A conquista alemã em 1974 apresentou elevada associação com finalizações a favor. Desse modo, conclui-se que a posse de bola não foi o diferencial entre o sucesso das Seleções analisadas, nas Copas compreendidas entre 1966 e 2010, porém, quando observada de forma global a mesma se correlaciona positivamente com finalizações, e negativamente com finalizações contra. Palavras – chave: Cooperação. Jogos. Escolar. Palavras-chave: Futebol, Brasil, Itália, Alemanha, Copa do Mundo, posse de bola, correlações Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 160 REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DO CONGRESSO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA: UMA ANÁLISE DOS ANAIS DE 2009 E 2010. Fernanda Carolina Pereira Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Rio Claro/SP. Atualmente tem-se notado uma importante ascensão da Psicologia do Esporte, como área de conhecimento, tanto no Brasil como em todo o mundo. O objetivo do presente trabalho foi analisar a repercussão, nacional e internacional, do Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana, evento realizado anualmente, desde 2009, pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte (LEPESPE), DEFUnesp/RC, na cidade de São José do Rio Preto – SP. Por meio da análise das cidades de origem dos trabalhos enviados, na categoria Painel, às duas edições do evento, ocorridas em 2009 e 2010, foi traçado um perfil do crescimento e disseminação nacional e internacional em ambas as edições. Ao todo foram analisados 146 trabalhos enviados na categoria Painel. Utilizouse a pesquisa bibliográfica, tendo como fonte os anais das edições do evento. Os resultados são expressos em número de trabalhos nacionais, separados em Estados e Cidades, e número de trabalhos internacionais. Em 2009 foram enviados 73 trabalhos na categoria Painel, todos nacionais, sendo 72 originários do estado de São Paulo (52-São José do Rio Preto, 17-Rio Claro, 2São Paulo e 1-Presidente Prudente) e 1 do Distrito Federal, da cidade de Brasília. Em 2010, a mesma quantia de trabalhos foi enviada na forma de painel, sendo 2 trabalhos internacionais (Portugal) e 71 nacionais, dentre os quais 66 oriundos do estado de São Paulo (29-São José do Rio Preto, 20-Rio Claro, 4-São Paulo, 2Catanduva, 2-São José do Rio Pardo e Campinas, Jundiaí, Jales, Olímpia, São Caetano do Sul, Lins, Cotia e Araras representados por 1 trabalho de cada cidade), e 5 de outros estados (2-Mato Grosso, 2-Ceará e 1-Bahia). Diante disso, pode-se perceber uma diminuição na concentração do número de trabalhos oriundos da cidade do evento, São José do Rio Preto, comparando o evento de 2010 com a edição de 2009, ocorrendo uma ampliação e ramificação da participação de outras cidades, estados e países. Isso mostra o crescimento e repercussão nacional e internacional do evento, em suas duas primeiras edições, e o crescimento da área de Psicologia do Esporte no Brasil e no mundo. Palavras-chave: Psicologia do Esporte, Motricidade Humana, Anais. OBSERVAÇÕES DA PSICOLOGIA DO ESPORTE SOBRE AS COMPETIÇÕES ESPORTIVAS ESCOLARES Francisco Galvão do Amaral Pinto Barciela; Renan Mendes Garcia; Marta Aurélia Campos Silveira; Fernando César Gouvea; Afonso Antonio Machado UNESP | IB | LEPESPE | Rio Claro-SP A opção deste trabalho foi investigar as interações sociais, no decorrer dos Jogos Escolares; muito em especial, analisar o efeito da torcida nos alunos que disputavam tal campeonato, versão 2002, cidade de Rio Claro, partindo para uma análise de discurso colhido através de entrevistas e depoimentos, em pesquisa do tipo etnográfica. Esta justificativa se deve ao fato de estarmos sempre reproduzindo os moldes sociais esportivos em todos os segmentos escolares e, em cima desta situação, ampliar um discurso humanizador e político deste momento de competição esportiva. Apoiada na literatura atual da área (Machado, 1995 e 1997; Buriti, 1997; Bandura, 1989 e 1998; Samulski, 2002) tratou-se de coletar os dados reveladores dos elementos a serem estudados. Dados reveladores de maior necessidade de atenção com a prática esportiva escolar, na feição de aulatreino ou campeonato, bem como uma melhor interação pais-professores-alunos são respostas aos questionamentos aqui iniciados. Revelou-se deformadora a relação pai-professor, uma vez que ambos lutam pelo gerenciamento da criança, que depende dos pais e dos docentes, em situações específicas, mas que ficam numa mesma condição, no momento esportivo: ambos são torcida. Constatou- se, ainda, que a excitação da torcida é fator de incômodo e crescente ansiedade, gerando uma agressividade, em especial quando os pais compõem o grupo de torcedores. Esta situação é constrangedora, conforme analisa a literatura, pela deformidade social imposta através de insultos e gritos de guerra, advertência ou insultos. Em relação à ansiedade, é unânime a alteração do estado, em jogos decisivos, quando a cobrança do professor é mais incisiva. Conclusivamente, esta pesquisa remete a uma maior reflexão sobre a necessidade de se tratar a Psicologia do Esporte, inclusive do Escolar, como uma das Ciências do Esporte de primeira importância, até mesmo do esporte escolar, tendo em vista o suporte e a complexidade de interações por ela possibilitados. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 161 RELAÇÃO ENTRE O MANDO DE CAMPO, O VENCEDOR DO PRIMEIRO TEMPO E A VOLTA PARA O SEGUNDO TEMPO: UMA ANÁLISE ESTATÍSTICA DE SÚMULAS. DISTANCIAMENTO FAMILIAR: aspecto relevante na desistência da carreira de jogador de futebol das equipes de base. 1 1 Jefferson Luis Molina Rodrigues; 1Meison dos Santos Ribeiro Soares; 1, 2 Altair Moioli 2 Guilherme BAGNI , Gustavo BAGNI , Afonso Antonio MACHADO1. 1 1 2 UNESP | IB | RIO CLARO – LEPESPE; UFSCar | DEP – São Carlos Estudos científicos na área do esporte são uma ferramenta cada vez mais importante que visa identificar problemas e melhorá-los visando um maior rendimento esportivo, especialmente no que diz respeito ao futebol, uma modalidade onde o capital envolvido é muito alto e existem muitas pessoas envolvidas. As súmulas são consideradas como o documento oficial das partidas e por isso tem uma importância muito grande, porém elas são pouco utilizadas como fonte de coleta de dados para análise e percepção de algumas peculiaridades que ocorrem nas modalidades esportivas e que podem ser trabalhadas visando um maior desempenho. Fazer um levantamento de dados sobre súmulas de futebol, comparando o resultado do primeiro tempo de jogos com o tempo de entrada dos times no segundo tempo considerando também o mando de jogo. Foram analisadas as súmulas de todos os 202 jogos da série A1 do campeonato paulista 2012, disponíveis no site da federação paulista de futebol e verificados o resultado do primeiro tempo do jogo, o tempo de entrada dos times no segundo tempo e o mando de jogo. Foram descartadas as súmulas dos jogos que tiveram como empate o resultado do primeiro tempo, que os times entrem no segundo tempo no mesmo minuto e/ou que não seja possível analisar a súmula. Diante disso foram feitos dois testes de hipótese para proporção de populações com grau de confiança de 95%. A hipótese do primeiro teste era que o vencedor do primeiro tempo volta após o adversário no segundo tempo, e a do segundo teste que, independente de quem está ganhando, se há vencedor o time visitante volta depois. A hipótese do primeiro teste foi rejeitada, não sendo possível concluir que existe influência do resultado do primeiro no momento em que os times voltam a campo. Já no segundo teste a hipótese foi aceita, confirmando que jogar fora de casa faz o time voltar após o adversário para o segundo tempo. Este é um trabalho pioneiro nessa área e os pesquisadores pretendem verificar essas relações em outros esportes e campeonatos, ampliando o estudo. Palavras chave: Súmulas; futebol; teste de hipótese. Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte - LEPESPE 2 Introdução: Ao analisar o futebol na sociedade contemporânea é inegável sua rápida expansão tanto no Brasil quanto no exterior, em especial pela sua representação econômica, social, política, cultural e, principalmente pela paixão que ele desperta. Por essa razão, é facilmente percebida o desejo de milhões de garotos em se tornarem jogadores de futebol. Objetivos: Analisar como os atletas adolescentes lidam com o distanciamento familiar no início de carreira e ainda, verificar se esse fator contribui para o abandono da carreira entre jogadores adolescentes de futebol. Procedimentos metodológicos: Este trabalho é de natureza básica, com abordagem qualitativa, exploratória, considerando a relação dinâmica entre o real e o sujeito. Para tanto, utilizou-se de uma entrevista aberta, gravada, com transcrição integral do seu conteúdo. Para a coleta de dados, a entrevista foi realizada com um ex-atleta da modalidade de futebol, com base na técnica de historia de vida. Os dados foram tratados de acordo com a pesquisa fenomenológica e categorizados conforme a análise do conteúdo. A motivação para o estudo se baseia, na expectativa de compreender quais os fatores que influenciam o abandono da prática do futebol nas equipes de bases. Considerações finais: A partir da analise do depoimento coletado, foi possível identificar que a família foi um fator determinante que contribuiu para o abandono da carreira do entrevistado. Destaca-se como situação de significativo desarranjo emocional o fato do distanciamento da família provocar momentos de depressão, angústia e solidão, o que fundamentalmente interferia no rendimento do atleta. Nesta situação específica, a família apresentava um quadro de completa desestrutura sociopsicológica provocada pelo alcoolismo do pai, culminando com quadro de violência doméstica. Para o atleta em questão, a mãe era considerada como um alicerce para a vida e pela qual ele mantinha sentimento de zelo e obrigação de defesa. Assim, considera-se que a permanência ou a decisão de parar de jogar, tem uma relação estreita com o significado da família para a vida do atleta e sua representação social. Palavras chave: Futebol. Adolescência. Família. Abandono da prática. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 162 AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE ANSIEDADE PRÉ-COMPETITIVA (ANSIEDADE TRAÇOESTADO) DE PAIS DE ATLETAS DE FUTSAL, DA CATEGORIA MIRIM (SUB ONZE) Telma Sara Queiroz Matos Psicóloga e Profissional de Educação Física, com formação em Psicologia do Esporte. [email protected] O objetivo deste trabalho foi analisar e observar o nível de ansiedade pré-competitiva (ansiedade traço/ ansiedade estado) de pais e/ou mães de atletas de futsal categoria sub 11, participantes de campeonatos regionais do Triângulo Mineiro, sendo estes de escolinhas de esporte públicas e privadas. Participaram deste estudo, quinze pais e/ou mães de atletas (Categoria Sub-11, do Campeonato Mineiro de Futsal). O Instrumento utilizado foi Inventário de Ansiedade TraçoEstado (IDATE-T). O contexto social que influencia a participação infantil no esporte é constituído pela tríade: criança, técnico, família. Sabe-se que as relações entre pais e filhos são por si só complicadas. Existem nesta, fatores evidentes de complexidade, como diferença de idade, sexo, interesse, oportunidade. Os pais quando não conseguem lidar com a não evolução dos desempenhos esportivos dos filhos, passam a ter uma relação de conflito com o esporte competitivo, onde o clima, então prazeroso, adquire uma configuração marcada por estresse e ansiedade. Pesquisadores verificaram que os pais exercem um papel altamente positivo, atuando como motivadores e incentivadores, ou então um papel amplamente negativo na experiência esportiva de seu filho. No exemplo do futsal, o fato deste ser praticado pelas crianças nas mesmas condições dos adultos, insere nestas o mesmo pensamento competitivo, valorizando resultados e rendimentos. Os resultados encontrados neste estudo apontam para um nível significativo de ansiedade dos pais, momentos antes dos jogos. Através de observações, constatou-se que estes pais influenciavam diretamente no desempenho dos filhos, sendo que estes apresentavam desequilíbrio emocional com correspondente queda no seu rendimento durante o jogo. Palavras chave: Ansiedade, Psicologia do Esporte, Competição ASPECTOS FÍSICO E SÓCIO PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DA CAMINHADA Iraceles Gonçalves dos Santos Universidade Paulista – UNIP – Campus JK INTRODUÇÃO: Estimativas atuais apresentam que pelo menos 70 milhões de pessoas no mundo inteiro já adotaram a caminhada como uma maneira de cuidar da saúde e da forma física. Andar é também uma maravilhosa fonte de energia. A explicação é que ao caminhar há um aumento na produção de adrenalina, o ritmo cardíaco e a pressão sanguínea são acelerados, bombeando mais sangue para o cérebro. Todo esse processo faz com que as pessoas se sintam mais ativa física e mentalmente. A caminhada tornou-se uma atividade física bastante comum devido ao baixo investimento necessário à sua prática. Além disso, esta atividade tem também diversos objetivos dependendo da modalidade envolvida. Destacam-se nessa modalidade as próprias para melhorar a forma física, mas também existe outras formas como, por exemplo, as caminhadas religiosas, caminhada ecológicas, trekking, entre outras. OBJETIVO: O objetivo deste estudo será identificar os motivos que contribuem para as pessoas a iniciar o hábito da caminhada como atividade física. Nesse contexto, requer também analisar os fatores motivacionais, sociais e psicológicos proporcionados por essa prática. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO: Este trabalho terá uma abordagem de natureza qualitativa, baseado nos estudos da pesquisa bibliográfica com dados coletados na revisão de literatura de publicações da área. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Por tratar-se de um estudo em andamento, apresenta-se como hipótese de que a caminhada pode, além de melhorar a qualidade de vida e o bem estar físico dos praticantes, contribuir ainda, se realizada em grupo, para elevar a autoestima, diminuir os níveis de estresse e auxiliar na prevenção de transtornos da vida moderna. Palavras Chave: Caminhada. Estresse. Qualidade de Vida. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 163 PREPARAÇÃO FÍSICA DOS PEÕES DE RODEIO EM MONTARIA EM TOUROS OS JOVENS-ATLETAS DE FUTEBOL: A FAMÍLIA COMO MOTOR DO DESEMPENHO ESCOLAR E OUTRAS PERSPECTIVAS. Jéssica Sbrissa; Hugo Celso Forti Universidade Paulista – UNIP – Campus JK INTRODUÇÃO: Em razão do grande crescimento e profissionalização do rodeio em todo o Brasil e no mundo, existe a preocupação da prepararão física dos competidores na modalidade de montarias em touro, por ser um esporte perigoso e que requisita força, equilíbrio e a técnica. É necessário um treinamento específico para o condicionamento desses atletas. Esse desafio provocado pelo confronto do homem como animal torna emocionante para os competidores e espectadores, atraindo milhares de fãs. Durante muito tempo o rodeio foi contestado como esporte. O próprio modo de vida dos seus competidores, já que muitos peões viviam sem priorizar a rotina de atleta, contribuiu para a propagação dessa imagem. Hoje é um esporte reconhecido e com uma expansão cada vez mais veloz, conquistando um número crescente de adeptos. Junto com esse crescimento veio à tecnologia na estrutura do espetáculo, na criação dos animais e na preparação dos peões. OBJETIVO: Este estudo tem a finalidade de identificar se o treinamento físico para os peões na modalidade em touros pode contribuir para melhorar o desempenho nas montarias como acontece em outras modalidades. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Tratase de um trabalho com abordagem qualitativa, como base na pesquisa bibliográfica numa revisão de literatura em fontes da área de treinamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A performance de todo atleta depende de um bom planejamento dos treinamentos associados a uma vida regrada onde se controla a alimentação, o sono e outros fatores que podem prejudicar o seu rendimento. Neste trabalho, apresentamos então como hipótese que, se a atividade de peão de rodeio está regulamentada por lei, então a preparação do atleta-peão deve seguir os modelos de outras modalidades, tendo em vista a necessidade de proporcionar aos praticantes boas condições de trabalho. Palavras Chave: Treinamento. Peão de Rodeio. Esporte. Montaria. João André Bernini Monteiro¹, Paulo José Moraes De Paula Santos¹, Paulo Gerson Caetano Filho¹, Pedro Ferreira Rigotti Chaves¹, Rayama Dwija Szajnweld da Silva¹. ¹ESC - Escola Superior de Cruzeiro Com a espetacularização do futebol, muitos jovens aderem desde cedo, em conjunto com a vida escolar, o treinamento do futebol como premissa que fundamenta suas esperanças num futuro de sucesso. Essa motivação pelo sucesso faz com que jovens-atletas deixem de priorizar seus estudos e comecem a se dedicar de maneira integral ao futebol. Contudo, percebe-se que a família do jovem-atleta deposita também suas esperanças na carreira do filho, por vezes esquecendo-se que ele possui uma vida escolar, que, posteriormente, servirá de base para a sua vida profissional. Deste modo, indaga-se se a família, como motor educacional primário do jovem-atleta, incumbe a perspectiva da vida escolar como preceito fundamental para o futuro de seus filhos. O objetivo da pesquisa foi verificar se a esperança da família do jovem-atleta no futebol profissional, segue uma perspectiva em conjunto com a sua vida escolar. Foi utilizado, como material metodológico, um roteiro de entrevista de origem própria à pesquisa, direcionado a 20 jovens-atletas da Associação Esportiva Cruzeiro, da cidade de Cruzeiro, São Paulo, respondidos com o consentimento dos pais. A análise de dados foi feita no mesmo dia, e foram utilizados roteiros de entrevistas idênticos e individuais. Ao analisar-se o roteiro de entrevista, verificou-se que em relação à esperança da família, 55% da amostra espera que seu filho se torne jogador profissional, enquanto que 45% não esperam. Mediante a esperança que os pais depositam em seus filhos, visando a profissionalização no futebol, foi questionado se havia outra opção além da carreira profissional. Como resultado, 50% da amostra revelou que deposita esperanças em outras opções além do futebol, mostrando que há outros caminhos que podem ser seguidos. Ao fim, perguntou-se aos jovens-atletas, se a sua família cobrava desempenho nas atividades escolares, e 75% dos jovens-atletas afirmaram que seus pais cobram desempenho escolar em conjunto com a vida de treinamentos. Conclui-se que os jovensatletas, ao sofrerem grande pressão da família, quanto em relação à sua esperança na carreira como jogador profissional de futebol, revelam ao mesmo tempo receber incentivo dos mesmos para que mantenham o desempenho escolar e outros projetos de vida dissociados do futuro no futebol. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 164 CIRCO SOCIAL: OS DOIS LADOS DA MESMA MOEDA CIRCO NA ESCOLA: SALA DE AULA OU PICADEIRO Leandro Dias dos Santos Leandro Dias dos Santos Universidade Paulista – UNIP Universidade Paulista – UNIP Introdução- O tema circo social tem sido muito abordado quando o assunto em pauta é arteeducação e responsabilidade social, no entanto, existem divergências quanto à verdadeira função e atuação desses projetos. Alguns pesquisadores retratam o circo social como de extrema importância na socialização, inclusão e construção da cidadania em jovens de baixa renda, que constituem a maior parte do público atendido por esses projetos, porém existem também pesquisadores que alertam sobre o possível aparecimento de uma classe de jovens artistas que não terão como e nem onde trabalhar com a arte que lhes foi ensinada, já que nesses projetos geralmente não existe uma preocupação maior com a profissionalização desses jovens, o que tem gerado jovens despreparados para o mercado e dependentes do projeto. Esse assunto se mostra de extrema importância devido ao crescimento desse tipo de projeto bem como ao grande número de jovens e crianças por eles atendidos. Objetivo- O presente estudo pretende analisar o circo social bem como os prós e contras desse projeto extremamente rico e criativo. Procedimentos metodológicos- A pesquisa foi realizada por meio de revisão bibliográfica. Descrição dos resultados- As pesquisas mostram que as duas vertentes comparadas se mostram verdadeiras, como pontos positivos podem ser apontados a grande aceitação da arte circense pelos participantes, o que permite uma série de abordagens por meio da arte, o trabalho que vem sendo realizados em projetos sociais mostram bons resultados no quesito formação pessoal, melhora no comportamento e desempenho escolar da maioria desses participantes, mudança no comportamento social, diminuição da violência, bem como uma nova possibilidade de vida. Porém essas mesmas pesquisas apontam algumas coisas que ainda precisam ser melhoradas, como a maior preocupação com a profissionalização dos jovens, a melhor formação dos educadores, bem como recursos financeiros que possam suprir as necessidades dos projetos. Considerações finais- Pode-se concluir que a arte circense apresenta uma alternativa lúdica, chamativa e composta por uma gama de atividades que permitem aos educadores abortar diversos temas sejam eles sociais, psicológicos e físicos com os participantes, e que se bem utilizada ela pode gerar bons frutos tanto no campo pessoal como no campo profissional. Introdução- A arte circense esta pressente no mundo desde muito tempo, e é inegável o fascínio e a admiração que essa prática causa nas pessoas. Partindo desse principio, por que não transformar a sala de aula em um picadeiro? Será que isso e possível? O tema circo tem sido muito abordado quando o assunto em pauta é a preparação de aulas chamativas e interessantes. Na educação física escolar essa prática pode se tornar uma alternativa muito válida e interessante, porém ainda é muito pouco utilizada. O que realmente deve ser retratado, é se a arte circense é uma alternativa que pode ser explorada, e de que maneira.Esse assunto se mostra de extrema importância devido ao momento que vivemos na educação, onde a violência domina os ambientes escolares, os educadores e os alunos se mostram cada vez mais desmotivados, podendo ser esse um dos caminhos para alcançar melhores resultados nas escolas, tanto na diminuição da violência como na motivação dos alunos Objetivo- O presente estudo pretende analisar a utilização do circo como método de ensino na educação física escolar. Procedimentos metodológicos- A pesquisa foi realizada por meio de revisão bibliográfica. Descrição dos resultados- A utilização da arte circense na educação física escolar tem se mostrado uma excelente alternativa, pois o circo oferece uma série de atividades e de trabalhos corporais que podem ser realizados, atividades essas que permitem o desenvolvimento e aperfeiçoamento da coordenação motora, equilíbrio, condicionamento físico geral e específico, lateralidade, entre outras. O grande diferencial da arte circense se deve à grande aceitação dessa prática pelos alunos, já que essa é uma atividade lúdica, interessante e diferente, já que a maioria das crianças quando tem contato com o circo, esse contato se restringe à ser um espectador, quando o professor consegue proporcionar essa vivencia aos alunos ele não só aumenta consideravelmente o repertório desses alunos,como também na maioria das vezes cativa e agrada seus alunos. .Considerações finais- Pode-se concluir que a arte circense apresenta uma alternativa lúdica, chamativa e extremamente válida na educação física escolar, e que fica a cargo dos educadores se capacitar e buscar alternativas para que se possa “atingir” de maneira mais efetiva e eficaz os alunos, despertando neles o interesse e a prática da atividade física. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 165 PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA POR MEIO DE PROJETOS ESPORTIVOS 1 Luiz Matheus Ramos; 2Altair Moioli; 1Rodinei Marcelino Rodrigues; 1Cristiano Patrício de Souza 1 Secretaria de Esportes de São José do Rio Preto; 2 UNIRP Os efeitos da violência, tanto físicos quanto psicológicos, vêm causando graves transtornos no processo educacional e na sociedade. Neste contexto, o esporte pode assumir um importante papel na solução desse problema. Nosso intuito com este trabalho é analisar se por meio de projetos esportivos há a possibilidade de se prevenir a violência, evitando, assim, suas conseqüências. Nesse sentido, temos por objetivo identificar: as causas da violência, seus efeitos físicos e psicológicos entre os alunos envolvidos e os demais companheiros do núcleo. Verificar ainda, se as intervenções por meio do esporte contribuem para a prevenção desses atos violentos. Este estudo teve como aporte metodológico a pesquisa-ação, desenvolvido na Associação Lar de Menores – ALARME, com base nas diretrizes do Programa Segundo Tempo. Participam deste Programa, 730 alunos de 06 a 16 anos, distribuídos de acordo com a faixa etária em sete núcleos. Para tanto, inicialmente, analisamos os elementos que compõem a relação aluno-professor, levando-se em conta a parceria com as famílias no trabalho educacional, a fim de verificar os efeitos da violência. Em seguida, damos ao esporte contorno de uma prática inclusiva que garanta a emancipação social e a formação da cidadania. E finalizando, utilizamos o esporte não de uma forma descontextualizada, produzida apenas como elemento de repetição mecânica, mas de uma forma que esteja relacionado às características físicas, psicológicas, sociais e culturais de seus praticantes. Por meio do desenvolvimento de práticas esportivas fomentadas em igualdade, justiça e reciprocidade e a criação de debates, refletindo assim sobre a realidade da sociedade em que estão inseridos; foi possível prevenir as principais causas de violência durante as aulas e mediar com maior facilidade os atos agressivos remanescentes. Concluímos que há possibilidade de prevenir a violência por meio do esporte, contudo, este trabalho deve ser feito em conjunto com a escola, a família, a política e a sociedade, em que todos atuem como uma equipe. A eficácia coletiva deve ser pensada como necessária para mobilizar tanto gestores, membros de projetos, sociedade e universidades diante desse grave problema da sociedade atual. Palavras – Chave: Projeto Social. Violência. Esporte. A S P E C T O S M O T I VA C I O N A I S D E PRATICANTES DE MERGULHO AUTÔNOMO RECREATIVO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Marcia Maria Marcondes Costa Meinicke; Antonio Roberto Rocha Santos UNFP O Mergulho Autônomo Recreativo (MAR) é uma atividade física, de contato direto com a natureza. Este estudo teve como objetivo central investigar quais os motivos que levaram os sujeitos pesquisados a escolher o MAR. Para responder ao objetivo formulado foi realizada uma pesquisa descritiva de campo. Participaram 62 sujeitos adultos, praticantes do MAR, de ambos os sexos, sem limite de idade máxima, sendo a mínima, 10 anos. Como instrumentos para coleta de dados foram utilizados dois questionários: para identificar as variáveis sócio demográficas e de motivação para atividades esportivas, construído a partir do QMAD, composto de 24 questões cujas respostas foram dadas em uma escala tipo likert que variava de 1 “nada importante” a 4 “muito importante”. Os dados revelaram que a maioria dos pesquisados tinham elevado nível de escolaridade. No questionário sócio demográfico, em ordem decrescente, foram citados os itens: prazer de contato com a natureza, a beleza, a contemplação, o que ratificou o motivo considerado o mais importante no Questionário de Motivação: o prazer que o mergulho proporciona. Em seguida, no Questionário de Motivação, surgiu: conhecer lugares, divertimento e lazer, o que confirmou os aspectos citados no questionário sócio demográfico: lazer e diversão. Relaxar e liberar tensão foram os próximos no Questionário de Motivação, que confirmaram no sócio demográfico: relaxamento, tranqüilidade, paz, silêncio e a redução do estresse. Finalmente, entre os mais importantes no Questionário de Motivação: conhecer pessoas, confirmado entre os aspectos mais citados no sócio demográfico, que foram: entrosamento, relacionamento, sociabilidade e companhia, sustentando opiniões de que, poucos esportes são tão organizados, em grupo, como o mergulho e estabelecem tanto relacionamento. Na prática do MAR as pessoas encontram o relacionamento social e a convivência, o lazer e o prazer, atingindo o bem-estar físico, social e psicológico, conseguindo assim qualidade de vida. Podemos concluir que os motivos que levam os indivíduos a procurar o MAR são os que satisfazem as necessidades básicas do ser humano: saúde física e mental, relacionamento social e lazer. Palavras chave: Mergulho Autônomo Recreativo. Motivação. Lazer e Aventura. Natureza. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 166 MOTIVAÇÃO E INTERAÇÃO SOCIAL NO ESPORTE – UM APRENDIZADO PARA A VIDA R E L A Ç Õ E S T É C N I C O - AT L E TA N O BASQUETEBOL DE ALTO RENDIMENTO Maria Celina Trevisan Costa, Alexandre Patrício Nogueira, Daniélli Giachetto Borges, Leandro Cimonetti de Almeida, Maíra Rodrigues Braga Nascimento, Marcos Vinícius Flores Furlaneto, Ricardo Alves de Almeida. Mauro Klebis Schiavon¹ ² ; Claudio Gomes Barbosa²; Gustavo Lima Isler²; Marcelo Calegari Zanetti²; Afonso Antonio Machado². 1 Faculdades Integradas Claretianas; Anhanguera Educacional. 2LEPESPE/UNESP-Rio Claro. UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga / SP Analisando o esporte como um modelo que simula e reproduz relações sociais e o homem como um ser essencialmente social que se constrói a partir destas relações, o desenvolvimento de habilidades sociais e o autoconhecimento auxilia do trabalho com esporte coletivo. A partir desses conhecimentos, atuamos de forma interdisciplinar envolvendo os cursos de psicologia, nutrição, educação física e fisioterapia na avaliação e intervenção com 15 atletas da equipe de basquete masculino da Secretaria Municipal de Esporte de Votuporanga – SP, com idade entre 12 e 15 anos, com o objetivo de melhorar o entrosamento e o relacionamento do grupo, aproximar seus membros através da identificação e semelhanças de aspectos pessoais, exercitando o falar e o ouvir. Incentivar a cooperação e o espírito de equipe, melhorando e trabalhando o autoconhecimento e o conhecimento do grupo de forma a propiciar uma avaliação das características. Trazer mais segurança a equipe, fortalecendo o espírito de grupo e a confiança entre seus membros, minimizando a desestabilização causada pelas derrotas e trazendo elementos para o alcance dos objetivos propostos. O curso de psicologia entrevistou o treinador, atletas e pais para identificar a realidade dos mesmos. Aplicou dinâmicas de grupo para desenvolver as temáticas: Trabalho em Equipe ( Motivação, Diferenças Individuais, Comunicação e Integração ), Auto imagem, Vulnerabilidade e Ansiedade do atleta, Relação Familiar. Fez a avaliação psicométrica através da aplicação dos testes IFP ( Inventário Fatorial de Personalidade ) e IHS ( Inventário de Habilidade Social ). O curso de nutrição fez a avaliação e orientação nutricional. A fisioterapia fez a avaliação e orientação quanto a flexibilidade articular da região lombar e membros inferiores. A educação física avaliou e orientou quanto a composição corporal e antropométrica. O projeto foi desenvolvido com 1 encontro semanal durante o primeiro semestre de 2012 apresentando resultado final positivo. Palavras Chave: Psicologia do Esporte Basquete Um dos mais importantes aspectos psicológicos dentro de uma equipe de basquetebol de alto rendimento é o relacionamento técnico-atleta. O ambiente competitivo, no qual os atletas de basquetebol estão inseridos, caracteriza-se pelo alto nível de exigência e dedicação intensa, para que se alcancem os melhores resultados, tanto no âmbito pessoal, quanto no coletivo (DE ROSE JR, 2002). O esporte é um meio pelo qual se vivenciam as emoções com intensidade. Os processos emocionais podem perturbar a ação desportiva, implicando não apenas na preparação física e psicológica dos atletas, mas também em suas relações humanas (REBELO JR, 2010). Machado (1996) verificou que a compatibilidade entre técnicos e atletas esta ligada as suas necessidades, sendo complementares entre si. Isto mostra que a interação perfeita entre o técnico e o atleta acontece quando há uma troca entre as partes, favorecendo para que o atleta não seja visto como um objeto à bem da conquista de um objetivo maior e o técnico não seja visto como um indivíduo autoritário e que está sempre com a razão (SANTOS, 2001). Os mesmos autores salientam que todos reconhecem que a qualidade das relações interpessoais interfere profundamente no desempenho de suas performances, e é sua força que vai superar as derrotas e segurar firme o afã do sucesso. O presente estudo objetivou analisar o grau de compatibilidade, objetivos e ideias entre treinador e jogador. A amostra foi composta por 57 atletas de basquetebol, categoria adulto, do sexo masculino, participantes do Campeonato Paulista 2011, série A1. O instrumento utilizado foi a Escala de Aferição de Compatibilidade Técnico-Atleta. Os principais resultados indicam que as maiores quantidades de respostas em relação à compatibilidade técnico-atleta encontram-se nos graus 6,7 e 8 (71,9%) enquanto em relação aos objetivos, nos graus 7,8 e 9 (75,4%) e ideias, nos graus 6,7 e 8 (68,4%). Concluiu-se que o grau de compatibilidade, objetivos e ideias são grandes entre esses técnicos e atletas de basquetebol de alto rendimento, o que consideramos ser fundamental para um bom desempenho nas competições. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 167 CARACTERÍSTICAS DA MOTIVAÇÃO PARA O EXERCÍCIO FÍSICO DE ADOLESCENTES PARTICIPANTES DE PROJETOS SOCIAIS Poliana Sandim Bispo*; Diego Itibere Cunha Vasconcellos** AS COURAÇAS MUSCULARES DE REICH E A ABORDAGEM DAS CADEIAS MUSCULARES SOB O PRISMA DA REEDUCAÇÃO POSTURAL GLOBAL PRECONIZADA POR MEZIÉRES APLICADAS AO ESPORTE Roberto Borges Filho * Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. ** Centro Universitário Barriga Verde – UNIBAVE. A motivação é um dos assuntos mais estudados pela Psicologia do Esporte e do Exercício e a Teoria da Autodeterminação (TAD) vem sendo cada vez mais inserida nesse contexto por trazer diferentes análises de regulação do comportamento. O presente estudo procurou investigar as características motivacionais de jovens participantes de projetos esportivos sociais, tendo como suporte a TAD. Foram entrevistados 74 adolescentes que freqüentavam regularmente um projeto esportivo social em Florianópolis - SC. Foram utilizados dois instrumentos no presente estudo: questionário de caracterização dos participantes do projeto social e o Questionário de Regulação de Comportamento no Exercício Físico / Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire - 2 (BREQ–2; MARKLAND e TOBIN, 2004). No geral, os pa rti cip antes se mostraram p ouco autodeterminados (M = 6.30, DP = 3.11), apresentando as meninas (M = 6.35, DP = 3.47) valores poucos maiores que meninos (M = 6.28, DP = 2.87). Embora pouco autodeterminados para a prática esportiva, as formas autônomas de controle do comportamento, regulação identificada (M= 2.93, DP= 0.96) e motivação intrínseca (M= 3.05, DP= 0.85), apresentaram os escores mais elevados em comparação à formas controladas extrinsecamente do comportamento, regulação externa (M= 1.17, DP= 1.06) e regulação introjetada (M= 1,70, DP= 1.18). Com base nesses resultados, observou-se que os jovens demonstraram maior tendência intrínseca de motivação, embora esse fato não se verifique ao observar o baixo índice de autodeterminação dos mesmos, revelando valores específicos para a população de jovens em vulnerabilidade social. Palavras chave: Motivação; Autodeterminação; Psicologia do Esporte; Projetos Sociais. UFG - Universidade Federal de Goiás - Departamento de Fisioterapia. Reich considerava que aprendemos a controlar expressões que apresentam conseqüências. Permanentemente inibimos os músculos envolvidos nessas expressões através de uma tensão crônica inconsciente. Como a postura é considerada como uma “posição” adotada, esta posição pode ser como um todo ou em partes, ou seja, uma contração do esôfago pode ser considerada uma postura diante de um estímulo. O nosso corpo se postura diante destes cenários reais e/ou imaginários como forma muitas vezes de defesa tanto do que vem de dentro como então do que vem de fora. Estes enrijecimentos traduzidos em espasmos musculares crônicos são desenvolvidos, como um bloco, contra o extravasamento de emoções e sensações, especialmente a angústia, a raiva, a tristeza e o medo, distribuindo-se pelo corpo, desde a cabeça até os pés. Os Músculos tensos em nossas pernas e pés enfraquecem nossas reivindicações; também diminuem nossa capacidade de levantarmos e sermos independentes. Atletas que realizam um trabalho diário de treinamento necessitam de ajustes no corpo e os problemas de postura trazem conseqüências desagradáveis com dores intensas. As costas curvadas devido a uma modalidade esportiva podem ser as culpadas pelos cálculos renais. Elas amassam os rins fazendo com que eles funcionem mal e faltem nutrientes e oxigênio para o corpo, o que o deixa enfraquecido. O método de Cadeias Musculares. Considera que os problemas posturais nos atletas não são decorrentes de uma ação inadequada de músculos isolados, mas de um conjunto de fatores que se relacionam à totalidade psicomotora e à pratica esportiva sobrecarregada do atleta no decorrer de sua carreira.O objetivo desta apresentação sob a forma de painel é demonstrar a utilidade da reeducação postural global (cadeias musculares) que auxilia o atleta a trabalhar o corpo de forma integral (psicofísica). O atleta aprende a utilizar um simples músculo ou grupos musculares em sincronia com sua respiração. Enquanto um músculo se contrai com a força necessária para executar uma determinada atividade esportiva, outro tem de relaxar com a mesma força, evitando, assim, alterações posturais e eventuais lesões Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 168 ANSIEDADE E PERFORMANCE NO TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO Autores: Roberto Roque Monteiro¹, Guilherme Rodrigues Moreno², Eder Emanuel Barboza², Eliane Tiemi Miyazaki³ ANÁLISE E COMPARAÇÃO DAS APTIDÕES FÍSICAS ENTRE CRIANÇAS E A D O L E S C E N T E S P R AT I C A N T E S D E GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA DE 7 A 13 ANOS. Pollyana Carla da Silva; Cleide Monteiro Instituições: Unorp (Centro Universitário do Norte Paulista)¹, CML (Clube Monte Libano)², FAMERP/ FUNFARME (Fundação Regional de Medicina)³. UNIVERSIDADE PAULISTA – Campus JK O esporte de competição, pelo seu alto nível de exigência e competitividade, é um exemplo de situação que pode gerar ansiedade. No tênis de alto rendimento, onde a diferença entre os atletas em relação à habilidade técnica e à preparação física é cada vez menor, devido ao avanço das ciências relacionadas ao esporte, o conhecimento das variáveis psicológicas, como processos atencionais e emoções tornaram-se uma importante ferramenta para a otimização da performance. Estudos apontam que quanto maior a expectativa por uma competição, maiores são os níveis de ansiedade psicológica e somática apresentados pelos atletas. Demonstram ainda, que os níveis de ansiedade pré-competição são significativamente menores nos atletas vencedores e maiores nos perdedores, em partidas de simples e duplas. Portanto este trabalho tem como objetivo descrever sobre como a ansiedade afeta o desempenho do tenista, sua influência positiva ou negativa, as reações somáticas e psicológicas e também estratégias utilizadas para modificação de processos e estados psíquicos. Assim, o conhecimento de como a ansiedade afeta a interação entre corpo, mente e comportamento é fundamental para tenistas de alto rendimento, pois necessitam de condições ideais de funcionamento da musculatura, bem como da mente equilibrada e focada na tarefa para obterem sua melhor perfomance. A Ginástica Artística (GA) desenvolve atividades que melhoram a integração social, disciplina, responsabilidade, iniciativa e organização, além de trabalhar a resistência muscular localizada e geral, coordenação, flexibilidade, equilíbrio, ritmo e consciência corporal (SANTOS 2004). A prática regular de atividades físicas sistematizadas, segundo Ronque et al. (2007), pode contribuir para a melhoria de diversos componentes da aptidão física relacionada à saúde, como força, r e s i s t ê n c i a m u s c u l a r, r e s i s t ê n c i a cardiorrespiratória, flexibilidade e composição corporal. O objetivo do trabalho é analisar e comparar através de testes de aptidão física se há diferença entre ginastas iniciantes e reavalia-las após 3 meses. Metodologia: Serão avaliadas 30 ginastas iniciantes com idade entre 7 e 13 anos, onde realizaremos a coleta de dados referente à massa corporal, estatura, envergadura e índice de massa corporal. Após a coleta dos dados serão aplicados testes relacionadas a aptidão física como: o teste de salto horizontal e vertical para avaliar força em membros inferiores, flexão e extensão na barra fixa para avaliar força em membros superiores, o teste de resistência abdominal para avaliar resistência muscular localizada, o teste de sentar e alcançar com o banco de Wells para flexibilidade e o teste do quadrado que avaliará a agilidade das ginastas. Como o trabalho está em andamento estima-se que haja uma diferença entre os valores quando comparados a primeira avaliação com a reavaliação após 3 meses. Palavras-chave: Ansiedade. Performance. Tênis. Palavras chave: ginástica artística; aptidão física; testes. Projeto Tênis do Monte Líbano / Usina Colombo / Açúcar Caravelas Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 169 A LT E R A Ç Ã O D O S H Á B I T O S D E ALIMENTAÇÃO POR MEIO DA ATIVIDADE FÍSICA EM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL: aspectos psicossociais Iara Tocico Ito; Altair Moioli UNIP - Curso Educação Física - Campus: São José do Rio Preto JK Pesquisa de campo na área de Nutrição e Educação Física, realizada na cidade de São José do Rio Preto, com alunos de 9 a 12 anos de uma escola particular. Objetivo verificar a possibilidade de educação nutricional através de atividades físicas lúdicas aplicadas nas aulas de Educação Física. Método as atividades foram realizadas, durante duas semanas, com 39 alunos de ambos os sexos, antes das atividades estes alunos foram medidos, pesados e questionados quanto a freqüência alimentar, após as atividades os alunos responderam questionários que serviram para avaliar os conhecimentos e mudanças nutricionais. Resultados as atividades influenciaram na consciência e conhecimentos nutricionais dos alunos. Mais da metade citaram a importância do consumo diário de arroz, verduras, frutas, legumes, leite, sucos e leguminosas, e consumo freqüente de carne branca e vermelha, dessa forma relataram um alimento de cada grupo e os alimentos mais citados são comuns no hábito diário brasileiro. Conclusão a Educação Física e a Nutrição podem ser usadas para a educação e promoção de hábitos alimentares saudáveis em escolares. Palavras chave: Reeducação alimentar. Recreação. Educação Física. A EVOLUÇÃO FEMININA NO ESPORTE Sheila Costa Ramos Neves Universidade Paulista – Campus JK Introdução: Historicamente a conquista da emancipação da mulher em todos os setores da sociedade sempre foi marcada por lutas contra o preconceito e os estigmas contra o gênero feminino. No esporte, esse quadro também não se altera tendo em vista que no ambiente de alta competição sempre ocorreu uma valorização dos feitos e atributos masculinos. Portanto, o papel reservado à mulher sempre foi de submissão, discriminação, sofrendo discriminação de todos os níveis. Objetivo: Analisar as conquista históricas da participação da mulher no mundo esportivo, bem como a influencia que estas conquistas representam para a educação de crianças e jovens. Metodologia: A realização deste trabalho teve como base uma pesquisa histórica, vinculada a pesquisa bibliográfica, portanto trata-se de um estudo de natureza qualitativa. Considerações Finais. Por tratar-se de estudo em andamento, apresenta-se como hipótese para os dados coletados que, para atingir os níveis necessários para as conquistas do mundo esportivo, a mulher tem provocado uma transformação dos traços corporais aproximando esteticamente da conformação masculina. Ainda, verifica-se uma evolução acentuada da participação feminina nas competições internacionais, mesmo em países em que tradicionalmente a mulher não tem permissão de exposição em público devido as restrições religiosas. Essas conquistas têm como principio a necessidade de conquista de poder e equidade frente ao mundo masculino. Palavras chave: Mulher, Gênero. Esporte. Competição. A UTILIZAÇÃO DE ESTEROIDES ANABÓLICOS EM ACADEMIAS: a visão do educador físico Carlos Vinicius da Silva Universidade Paulista | UNIP - Campus JK INTRODUÇÃO: A utilização de esteroides e anabolizantes em uso em academias cresce desenfreada, e esses usuários dessas substancias não sabem o risco que correm, quando ingerem ou injetam esse tipo de hormônio, com isso correm serio risco de terem problemas nos órgãos vitais do corpo humano como coração, rins, fígado e estomago. E com isso mostrar todos os malefícios que essas substâncias que foram desenvolvidas para suprir a ausência de hormônio e não para meio estético, os riscos que trazem para saúde do indivíduo. OBJETIVO: Verificar as conseqüências da utilização de esteroides anabólicos praticante de atividade física e esportiva. METODOLOGIA: O presente estudo aborda o problema do uso de esteroides anabolizantes com uma perspectiva social. Assim, os procedimentos metodológicos têm como base a pesquisa bibliográfica, pela abordagem qualitativa de análise dos resultados. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por se tratar de um trabalho em andamento temos por hipótese de entender a postura do educador físico diante da utilização dos esteroides anabolizantes pelos praticantes de musculação. E visa contribuir para a produção de conhecimento sobre o uso de anabolizantes. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 170 INDICADORES DE CAPACIDADE E POTENCIA ANAEROBIA EM ATLETAS DE TAEKWONDO ATIVIDADE FÍSICA NO AMBIENTE ESCOLAR COMO PREVENÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL Renato Miguel; César Antônio Parro Alessandra Nicoletti Avelino; Gabriela Blasquez Universidade Paulista - UNIP – Campus JK Universidade Paulista (UNIP) Introdução: O Taekwondo é um esporte olímpico praticado em 189 países filiados a World Taekwondo Federation (WTF) e conta atualmente com mais de 50 milhões de praticantes em todo o mundo. Isto tem tornado este esporte cada vez mais competitivo. Assim, para a obtenção de resultados competitivos satisfatórios torna-se importante o desenvolvimento das capacidades biomotoras de condicionamento e coordenação motora, além do aperfeiçoamento técnico e tático do atleta de Taekwondo (FARGAS 1999). A avaliação fisiológica, a partir de testes específicos, é fundamental para predição do desempenho, prescrição da intensidade e volume de treinamento e, principalmente, verificar os efeitos destes. O objetivo deste estudo foi investigar a possibilidade de predizer o Limiar Anaeróbio (LAn) a partir do Ponto de Deflexão da Frequência Cardíaca (PDFC) a partir de teste específico. É fundamental avaliar e identificar alguns parâmetros fisiológicos para o sucesso dos praticantes de Taekwondo. Dentre as variáveis que devem ser controladas durante o treinamento, a FCmáx., limiar anaeróbio (LAn) e tolerância ao lactato se destacam (GÓMEZ, C A S TA Ñ E D A , 2 0 0 2 ) . P r o c e d i m e n t o s Metodológicos: Este trabalho segue os parâmetros de uma pesquisa bibliográfica, portanto de natureza qualitativa a partir dos dados coletados em periódicos indexados, livros, e bibliotecas virtuais para a revisão de literatura. Considerações: Por se tratar de uma pesquisa em andamento, apresenta-se como hipótese detectar o tempo de fadiga de cada atleta, para que verificar a melhora do seu rendimento em competições. Palavras chave: Taekwondo. Limiar Anaeróbio. INTRODUÇÃO: As mudanças no estilo de vida nas últimas décadas, tais como o aumento da ingestão de alimentos hipercalórico e a diminuição na prática de atividade física contribuíram para o surgimento da epidemia de excesso de peso corporal na população pediátrica em todo o mundo (Lee, 2009). Concomitante a esse quadro, aumentou-se a presença de fatores de risco para doenças cardiovascular, tais como, pressão arterial elevada, diabetes tipo II, dislipidemias, circunferência de cintura elevada, entre outros, durante a infância e adolescência (EISENMANN et al, 2007; RIBEIRO et al, 2006). Diante desse contexto, a educação física escolar tem um papel de suma importância ao incentivar a prática da atividade física e qualidade de vida. OBJETIVO: Nesse sentido o objetivo do presente estudo é revisar a literatura científica sobre a prática da atividade física no ambiente escolar como prevenção da obesidade infantil. METODOLOGIA: Este trabalho tem como base a pesquisa bibliográfica em fontes de buscas online, tais como, SCIELO, PUBMED, LILACS e GOOGLE com os descritores: Crianças, Atividade Física Escolar e Obesidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Segundo as recomendações vigentes do ACMS, (2008) sobre a prática da atividade física para crianças e adolescentes e para a prevenção da obesidade, verifica-se que a freqüência da atividade física escolar fica aquém das recomendações vigentes. No entanto, por este trabalho estar em andamento, a nossa hipótese é que a prática da atividade física no ambiente escolar não é suficiente para atender prevenção da obesidade infantil. Palavras-Chave: Atividade Física Escolar, Crianças e Obesidade. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 171 DIFERENÇAS ENTRE OS SEXOS NO FUTEBOL: A LUTA PARA O RECONHECIMENTO SOCIAL E FIM DO PRECONCEITO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E A PROFISSÃO DOCENTE: REFLEXÕES INICIAIS Claudia Moreira Arroio; Elisandra dos Santos Lima; Silene Fontana Tamiris Aparecida Coltro; Gabriela Blasquez Universidade Paulista | UNIP - Campus JK INTRODUÇÃO: A figura feminina sempre encontrou dificuldades para sua participação no futebol, desde o início da prática. Começo que tomou rumo contrário ao dos seus companheiros do sexo oposto. OBJETIVO: Nesse sentido o objetivo deste trabalho é desvelar e explicitar as discriminações e preconceitos associados à questão de gênero e relatar a falta de reconhecimento à modalidade. METODOLOGIA: Este trabalho tem como base a pesquisa bibliográfica em fontes de buscas online, tais como, SCIELO, PUBMED, LILACS e GOOGLE com os descritores: Futebol Feminino, Reconhecimento social, e Descriminação de trabalhos realizados no Brasil. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A partir destas análises, poderemos compreender sobre relações autoritárias e questionar a rigidez dos padrões de conduta estabelecidos para homens e mulheres e verificar a transformação ao longo dos tempos, pois, a constante luta pelo reconhecimento continua, e espera-se manter até atingir a igualdade sexual. Assim a participação feminina no futebol terá a verdadeira atenção merecida. No entanto, por este trabalho estar em andamento, a nossa hipótese é que a desigualdade no futebol existente entre os sexos está relacionada ao papel que a mulher ocupa na sociedade de submissão ao homem, sendo considerada como sexo frágil, associado a discreta atenção da mídia em relação ao futebol feminino. Palavras-Chave: Futebol feminino. Reconhecimento social. Descriminação. Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP Curso de Pedagogia O panorama histórico da profissão docente está intimamente relacionado com a história da educação. A ideia de pesquisar sobre a profissão docente surgiu no decorrer de nossa vida acadêmica, visto que os estudantes, assim como a sociedade atual, possuem dificuldade em entender e perceber a importância do papel social atribuído ao professor e a formação da sua identidade e profissionalização, considerando as imagens formadas no decorrer da história da educação. Dessa forma, o presente trabalho se faz importante na medida em que explica qual é, historicamente, a composição da profissão de professor e qual o seu impacto para a constituição desta profissão na atualidade. O trabalho tem como objetivo, após conceituar e explicar os principais fatos históricos referentes à educação e ao trabalho do professor, entender um pouco a profissão e a identidade do docente no contexto atual. Dessa forma, para se compreender melhor os avanços e retrocessos vivenciados na atualidade pelo campo da formação de professores, considerou-se importante proceder a uma retrospectiva histórica, com base na literatura científica sobre o tema, dando-se ênfase à trajetória construída no Brasil. A análise da literatura apontou que a discussão referente à formação docente, para os anos iniciais do Ensino Fundamental e para a Educação Infantil, se intensifica, na contemporaneidade, sobretudo, após a vigência da Lei 9.394/96, isto é, da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Em relação aos processos de profissionalização de professores, atualmente em curso no Brasil, evidencia o panorama conflituoso, por vezes precário da formação inicial e da formação continuada dos professores, panorama que vem sendo destacado como de “desprofissionalização” dos professores. Além disso, os trabalhos relativos à história da profissão docente destacam a importância da atuação do Estado no processo de profissionalização do magistério. Pretende-se que esse estudo possa contribuir para a valorização do trabalho docente e ampliar a visão dos alunos no que se refere a tal temática, tão significativa e importante para qualquer educador. Palavras-chave: Profissão docente. Trabalho docente. História da Educação. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 172 DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO MOTOR DA CRIANÇA NA NATAÇÃO. Tiago Rodrigo Alves Nunes; Martin Wisiak Curso de Educação Física - Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. INTRODUÇÃO: Para um desenvolvimento motor completo é necessário que a criança esteja envolvida constantemente em diferentes atividades em diversos ambientes, possibilitando acumular experiência tanto em situações diversificadas de movimentos culturalmente aprendidos quanto de ações globais de expressão e do tempo (XAVIER, 2002). É por meio das situações de aprendizagem da prática da natação, que a criança também irá elaborar as estruturas fundamentais do seu pensamento abstrato e impõe-se a aprendizagem dos comandos voluntários dos movimentos, que se organiza em estreita dependência com o desenvolvimento. A personalidade infantil ocorre quando há a evolução das coordenações sensoriais - motor, gestos e formação do esquema corporal e organização das estruturas mentais como também com a maturação emocional e social. JUSTIFICATIVA: A natação desenvolve vários aspectos predominantes como aquisição de confiança e domínio através dos movimentos motores que são fundamentais com os padrões de estabilidade e locomoção e também dos fatores externo que se caracteriza do comportamento de orientação, controle postural e manipulação. OBJETIVOS: Desenvolver habilidades motoras através de movimentos e formas lúdicas estimulando sua coordenação motora e promovendo o desenvolvimento sensório-motor em proporção no processo de aprendizagem. METODOLOGIA: Como procedimento metodológico utilizou-se uma revisão de bibliografia para avaliar o nível de coordenação motora que foi aplicada através de observação durante testes de rendimento motor envolvendo todos os aspectos característicos de um estado de coordenação corporal. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Essa experiência e vivência demonstrou a importância da socialização e da estimulação da criança no meio líquido, nas fases de seu desenvolvimento motor que começa na infância. Assim, o propósito é desenvolver os métodos de ensino mais eficientes para criança através das habilidades que constituem no domínio da natação durante a aprendizagem em diferentes faixas etárias e estimulando situações desafiadoras de movimentos, relacionando-o com seu próprio corpo e garantindo concepção motora e realizando um processo de comportamento de prover a pedagogia da natação. Palavras Chave: Criança. Comportamento Motor. Natação FUTEBOL PARA DEFICIENTES VISUAIS Vinícius Facchini Alvares; Claudia Lacerda Vicente Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP INTRODUÇÃO: No mundo de hoje, muita ênfase se tem dado para a importância da inclusão de deficientes nas salas de aulas de aulas comuns, de forma que a sociedade aprenda a respeitar as diferenças, evitando o sentimento de exclusão. Tanto os alunos quanto os professores e funcionários devem aprender a conviver com os deficientes na ambiente escolar, tratando-os com respeito e dignidade. Aqui, abordaremos o futebol que, além de ser uma paixão mundial, proporciona diversas possibilidades de aprendizado, tornando o trabalho mais dinâmico. Além disso, neste esporte há facilidade de interação devido à mídia constante recebida por esse esporte. O futebol adaptado foi um passo pioneiro na tentativa de abrir os olhos das pessoas para os deficientes e ajudar na formação de instituições voltadas para os mesmos. OBJETIVOS: Nosso objetivo é diagnosticar as principais razões pelas quais os professores não têm preparação para lidar com pessoas deficientes. Uma dessas razões é a falta de maiores incentivos por parte do governo, na tentativa de aumentar a qualidade da aula dos professores, além de prepará-los de forma eficaz para a sua função. METODOLOGIA: A metodologia utilizada é a verbal e demonstrativa, realizada por meio do contato corporal com um atleta deficiente, aqui chamado DV, com quem realizamos uma entrevista. O mesmo colaborou com orientações de qual a melhor forma de ensinar os deficientes, uma vez que os próprios atletas deficientes podem nos auxiliar na orientação das atividades. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme observação das atividades empregadas nas aulas, os atletas obtiveram resultados significativos com o método de ensino proposto. O formato das atividades fez com que os alunos se sentissem mais motivados e respondessem de forma eficaz aos comandos e estímulos empregados nas aulas, interagindo com o grupo que, inclusive contava com alunos não-deficientes. Palavras Chave: Deficiente Visual. Futebol. Educação Física Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 173 A UTILIZAÇÃO DO TAI CHI CHUAN COMO ATIVIDADE PARA FORTALECIMENTO DOS MEMBROS INFERIORES PARA EVITAR QUEDAS NA TERCEIRA IDADE A IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO FÍSICO INDIVIDUALIZADO NA PERFORMANCE DE UMA EQUIPE Wander Marques; Rogério Simões Singh Paulo Henrique Siqueira; Cesar Antonio Parro Universidade Paulista – Unip – Campos JK Introdução: O envelhecimento acarreta no ser humano perdas que vão da parte cognitiva, físico e sócio emocional. A independência e a autonomia tornam-se um dos fatores que o envelhecimento degrada de tempos em tempos e a falta de atividade física pode acelerar este processo. Praticantes de atividades que se encontram nesta fase (terceira idade) não se preocupam em rendimento, em competições e muito pouco menos em conquista de prêmios. O objetivo desse publico esta voltado apenas para a pratica prazerosa e saudável das atividades, tendo como característica o convívio saudável no grupo, onde se trabalha a parte sócio afetiva. No que se refere à parte física, o Tai Chi Chuan proporciona melhoras no equilíbrio, coordenação, flexibilidade e força. Objetivo: Averiguar as principais causas de quedas em idosos e ainda, verificar se a prática do Tai Chi Chuan contribui para melhorar a mobilidade em idosos. Metodologia: Este trabalho, ainda em desenvolvimento, apresenta como procedimento metodológico uma revisão de literatura, que fundamenta as pesquisas bibliográficas, de natureza qualitativa. Nesse sentido, as publicações que indicam os benefícios da aplicação de Tai Chi Chuan em idosos foram analisados. Considerações Finais: Como hipótese, acredita-se que a prática do Tai Chi Chuan poderá responder de modo eficaz na melhoria do aparelho locomotor. Com o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, propicia uma melhora no equilíbrio, evitando-se assim, quedas e conseqüentes lesões. Como ganhos para a qualidade de vida dos idosos, proporciona também a autonomia do idoso, fazendo com que ele seja independente de suas necessidades básicas. Palavras chave: Tai Chi Chuan. Envelhecimento. Atividade Física. Terceira Idade Introdução: Atualmente o esporte tem ganhado destaque na mídia e muito tem se falado sobre treinamento físico dando destaque ao trabalho do preparador. O profissional de Educação Física deve cada vez mais se aprimorar e intensificar seus métodos de treinamento, sabendo através dos princípios do treinamento físico que cada ser humano é único, e que determinados estímulos produzem respostas diferentes. O treinamento específico surge com o propósito de trabalhar o melhor de cada atleta, de acordo com suas necessidades e possibilidades. Objetivo: Demonstrar a importância do treinamento físico individualizado na relação com o desempenho da equipe. Material e método: Revisão da literatura específica com a intenção de aprofundar os conhecimentos sobre o treinamento físico individualizado e verificar sua influência na performance de uma equipe. Resultados: Neste estudo (revisão de bibliografia) o referencial teórico encontrado e estudado, mostra que o treinamento físico é muito complexo e deve seguir todos os princípios biológicos do treinamento físico, e que o Professor de Educação Física deve reunir o máximo de informações do atleta, da modalidade, da competição, para que possa individualizar e especializar ao máximo o treinamento. Considerando também que cada atleta é parte fundamental da equipe, e buscar atingir o máximo de cada um, é consequentemente buscar o máximo para a equipe. Considerações finais: Dentre tantos deveres que o professor de Educação Física tem, um deles é a prescrição de exercícios que vá de encontro às necessidades dos alunos. Cada indivíduo deve ter seu treinamento específico. Gentil (2005) diz que a tentativa de imitar programas de treinamentos feitos por outras pessoas normalmente se mostram infrutíferos porque apenas as ideias devem ser aproveitadas e não todo o protocolo de treinamento, pois o mesmo estímulo em pessoas diferentes, pode provocar reações distintas. Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012 174 Afonso Antonio Machado 32, 64, 103, 111, 137, 145, 146, 147, 148, 150, 152, 153, 160, 161, 166. Alaércio Perotti Junior 71, 131. Alberto Hamra 149. Alessandra Nicoletti Avelino 170. Alexandre Patrício Nogueira 166. Aline Dessupoio Chaves 51. Altair Moioli 103, 153, 159, 161, 165, 169. Anderson Bençal Indalécio; 57 145. Anderson Souza 151. André Luis Aroni 31, 137. Andréa Carla Machado 151. Andréa de Oliveira Pardal 157. Andréia Aparecida Ferraz 158. Andrezza Papini 51. Antonio Roberto Rocha Santos 165. Arthur Silva Botelho 149. Carlos Vinicius da Silva 169. Carolina Morais de Araújo 51. Cecília Candolo 151. Cesar Antonio Parro 170, 173. Cintia da Silva Barbeiro 157. Claudia Lacerda Vicente 172 Claudia Moreira Arroio 171. Cláudio Gomes Barbosa 64, 147, 166. Cleide Monteiro 168. Cristiano Patrício de Souza 159, 165. Daniela Aparecida Maurity dos Santos 157. Daniélli Giachetto Borges 166. Danila Alves Sodré 158. Danilo Pedersen dos Santos 71. Danithielli Bezerra 125. Denise Ferraz Lima Veronezi, 57, 91, 145. Denise Gimenez Ramos 28. Diego Itibere Cunha Vasconcellos 167. Eder Emanuel Barboza 168. Eliane Paganini da Silva 75, 84. Eliane Tiemi Miyazaki 168. Elisandra dos Santos Lima 171. Eric Lima 152. Eric Matheus Rocha Lima 145, 147, 148, 150. Fernanda Carolina Pereira 157, 160. Fernando César Gouvea 160. Flavio Francisco Dezan 146. Flavio Rebustini 153. Francisco Galvão do Amaral Pinto Barciela 160. Franz Fischer 146. Gabriela Blasquez 170, 171. Guilherme Bagni 145, 147, 148, 150, 152, 161. Guilherme Rocha Britto 75. Guilherme Rodrigues Moreno 168. Gustavo Bagni 161. Gustavo Lima Isler 147, 166. Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes 91. Hugo Celso Forti 163. Iara Tocico Ito 169. Iraceles Gonçalves dos Santos, 158 162. Jefferson Luis Molina Rodrigues 161. Jéssica Sbrissa 163. João André Bernini Monteiro 163. João André Bernini Monteiro 98. José Antonio Bruno da Silva 159. Karla Klahold 151. Kauan Galvão Morão 145, 147, 148, 150, 152. Leandro Cimonetti de Almeida 166. Leandro Dias dos Santos 164. Lídia Marques Figueiredo 57. Ligia Adriana Rodrigues 24, 149. Luana Cristine Franzini da Silva 75. Lucas Portilho Nicletti 125. Lucas Ribeiro Cecareli 103, 145, 147, 148, 150, 152. Luciana Botelho Ribeiro 111 Luiz Matheus Ramos 159, 164. Maicon José Jacinto 151. Maíra Rodrigues Braga Nascimento 166. Marcela Campos de Avellar 115, 151. Marcelo Calegari Zanetti 22, 137, 152, 153, 166. Márcia Maria Marcondes Costa Meinicke 165. Marcos Armani Ramírez 121. Marcos B. de Freitas Junior 149. Marcos Vinícius Flores Furlaneto 166. Marden Ivan Negrão Filho 148. Maria Celina Trevisan Costa 166. Maria Emilia Nunes Rodrigues Arenas 125. Marisa Mendes Götze 121. Marta Aurélia Campos Silveira 160. Martin Wisiak 172. Matheus Ribeiro Cecarelli 150. Matheus Ribeiro Cecarelli 71. Mauro Klebis Scahiavon 21, 147, 153, 166. Maxshuel Donizetti Leme 152. Mayara Gabriele da Silva Lourenzini 158 Meison dos Santos Ribeiro Soares 161. Michele Cristina Pedroso 150. Osmar Moreira de Souza Junior 43. Paulo Gerson Caetano Filho 98, 163. Paulo Henrique Siqueira 173. Paulo José Moraes de Paula Santos 98, 163. Paulo Neves de Oliveira Junior 131. Pedro Ferreira Rigotti Chaves 98, 163. Poliana Sandim Bispo 167. Pollyana Carla da Silva 168. Rayama Dwija Szajnweld da Silva 98, 163. Renan Mendes Garcia 160. Renato Henrique Verzani 145, 147, 148, 150, 152. Renato Miguel 170. Ricardo Alves de Almeida 166. Roberto Borges Filho 149, 167. Roberto Garcia 28. Roberto Matioli Junior 148. Roberto Roque Monteiro 168. Rodinei Marcelino Rodrigues 159, 165. Rogério Simões Singh 173. Sandra Regina Domingos de Brito 75. Sérgio Henrique Braz 47. Sheila Costa Ramos Neves 169. Silene Fontana 171. Silvana Farias Lopes 57. Tamiris Aparecida Coltro 171. Telma Sara Queiroz Matos 162. Thais da Silva Ramos 158. Tiago Marcelino Alves 152. Tiago Rodrigo Alves Nunes 172. Vilma Leni Nista-Piccolo 51. Vinícius Facchini Alvares 172. Vinícius Martins Marcos 57. Wander Marques 173. Concepção: Organização: Patrocínio: Apoio: RBPAEMH - Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana - ISSN 21762120 Avenida José Munia nº 5650 - Bairro Chácara Municipal - Telefone 3201-8890 | 3016-1101 CEP 15.090-500 - São José do Rio Preto-SP - [email protected]