REVISTA III CBPAEMH 2012 - Psicologia Aplicada ao Esporte e à

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REVISTA III CBPAEMH 2012 - Psicologia Aplicada ao Esporte e à
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
ISSN 2238-8001
Prof. M.Sc. Altair Moioli (Org)
A RBPAEMH é orgão orficial de divulgação do
Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
São José do Rio Preto-SP
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
ISSN 2238-8001
Comissão Científica
Prof. Dr. Afonso Antonio Machado - UNESP
Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine - FAMERP
Prof. Drª. Mara Rosana Pedrinho - UNIRP
Prof. M.Sc. Lucas Portilho Nicoletti - UNIFEV
Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti - UNESP
Prof. M.Sc. Altair Moioli - UNIRP
Prof. Esp. Hugo Celso Fortti - UNIP
O conteúdo e a redação dos trabalhos são de inteira responsabilidade dos respectivos autores.
III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA
APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA
Editoração
Henrique Marques
Consultoria Técnica
Paulo Resende
Capa
Renata Sbrogio
Periodicidade
Anual
Endereço
Av. José Munia Nº 5650 - Chácara Municipal
CEP - 15.090.500 - São José do Rio Preto-SP
Telefone (17) 3016.1101 Fax (17) 3201.8890
www.psicologiadoesporte.esp.br
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SUMÁRIO
EDITORIAL ................................................................................................................................................. 9
COMISSÃO ORGANIZADORA ................................................................................................................ 10
PROGRAMA ............................................................................................................................................. 11
RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS .................................................................. 19
Psicologia do Esporte e novas tecnologias
Prof. Mauro Klebs Schiavon ...................................................................................................................... 21
Mundos virtuais e educação de ‘’corpo e alma’’
Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti ............................................................................................................ 22
O constrangimento nas expressões de amor do sujeito contemporâneo: a exposição dos
corpos e a negação dos afetos
Prof. M.S.c. Ligia Adriana Rodrigues ........................................................................................................ 24
Os contextos de vulnerabilidade em homem que faz sexo com homens (HSH) vivendo com HIV
Prof. M.S.c. Roberto Garcia; Drª Denise Gimenez Ramos ....................................................................... 28
Academias de ginástica e Psicologia do Esporte: como fidelizar os clientes com treinos
divertidos e eficientes?
Prof. M. S.c. André Aroni ........................................................................................................................... 31
Qual Psicologia do Esporte para quais Jogos Olímpicos? análise do contexto atual
Prof. Dr. Afonso Antonio Machado ............................................................................................................ 32
CURSOS ................................................................................................................................................... 41
Pedagogia do Esporte: aspectos didáticos e metodológicos
Prof. M.S.c. Osmar Moreira de Souza Júnior ............................................................................................ 43
Modalidades aquaticas: princípios e fundamentos
Prof. M.S.c. Sergio Henrique Braz ............................................................................................................ 47
ARTIGOS .................................................................................................................................................. 49
A visão de técnicos em relação ao seu papel no esporte
Aline Dessupoio Chaves; Andrezza Papini; Carolina Morais de Araújo; Vilma Leni Nista-Piccolo – USP São Paulo; UFTM – Universidade Federal do Triangulo Mineiro .............................................................. 51
A inclusão do aluno surdo nas aulas de educação física no ensino fundamental II: um estudo
de caso
Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi; Lídia Marques Figueiredo; Silvana Farias
Lopes; Vinícius Martins Marcos | UNIFEV – Votuporanga-SP .................................................................. 57
Esporte universitário: caracterização e intencionalidades de alunos-atletas à prática esportiva.
Cláudio Gomes Barbosa; Afonso Antônio Machado | UNESP – Rio Claro-SP ......................................... 64
Efeitos do foco de atenção na aprendizagem da bandeja
Danilo Pedersen dos Santos; Matheus Ribeiro Cecarelli; Alaercio Perotti Junior | FHO-UNIARARAS –
Araras-SP .................................................................................................................................................. 71
A educação física na escola: reflexões sobre a função do professor
Luana Cristine Franzini da Silva; Eliane Paganini da Silva; Guilherme Rocha Britto; Sandra Regina
Domingos de Brito | UNESP - Marília-SP | UNIRP - Rio Preto-SP |UNILAGO – Rio Preto-SP ................ 75
A identidade e a escolha profissional docente
Eliane Paganini da Silva | UNESP – Marília-SP ....................................................................................... 84
Currículo do estado de São Paulo: análise da aceitação do currículo de educação física pelos
alunos do 3º ano do ensino médio
Denise Ferraz Lima Veronezi; Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | UNIFEV – Votuporanga-SP ......... 91
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O jovem-atleta de futebol: a desmotivação na relação conjunta do treinamento e da vida escolar.
João André Bernini Monteiro; Paulo José Moraes de Paula Santos; Paulo Gerson Caetano Filho; Pedro
Ferreira Rigotti Chaves; Rayama Dwija Szajnweld da Silva | ESC – Cruzeiro-SP .................................. 98
Estudo das interferências da ansiedade no estado psicológico de atletas juniores de futebol
Lucas Ribeiro Cecarelli; Altair Moioli; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP .................... 103
Prática de esportes e atividades físicas: aspectos motivacionais
Luciana Botelho Ribeiro; Afonso Antonio Machado | UNESP- Rio Claro-SP ......................................... 111
Jogo e ludicidade: repensando possibilidades para a educação física no E.J.A.
Marcela Campos de Avellar |ESC – Cruzeiro-SP ................................................................................... 115
Sintomas mais frequentes de estresse pré-competitivo em competidores de Taekwondo
Marcos Armani Ramírez; Marisa Mendes Götze | ULBRA - Canoas-RS ............................................... 121
As contribuições da pedagogia do esporte para as aulas de educação física
Maria Emilia Nunes Rodrigues Arenas; Danithielli Bezerra; Lucas Portilho Nicoletti | UNIFEV –
Votuporanga-SP .................................................................................................................................... 125
A influência da sociedade moderna na aquisição das habilidades motoras fundamentais
Paulo Neves de Oliveira Junior; Alaércio Perotti Junior | UNIARARAS – Araras-SP | UNIP – CampinasSP | FIEL-Limeira-SP ............................................................................................................................. 131
Motivos e dificuldades para a prática de atividade física: uma comparação entre academias de
ginástica e estúdios de treino personalizado
André Luis Aroni; Marcelo Callegari Zanetti; Afonso Antonio Machado | USF - Bragança Paulista-SP
|UNIP – S.J. Rio Pardo-SP | UNESP de Rio Claro-SP .......................................................................... 137
RESUMOS DE TEMAS LIVRES............................................................................................................ 143
RESUMOS DE PAINÉIS..........................................................................................................................155
ÍNDICE DE AUTORES........................................................................................................................... 174
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EDITORIAL
Este ano chegamos à 3ª edição do Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada ao Esporte e à
Motricidade Humana. Trata-se de uma conquista importante, se comparado a curta vida de outros eventos
com o mesmo perfil. Alguns mais otimistas dizem que passar pelo terceiro evento, corresponde ao momento
de maioridade e assim, marcar definitivamente este acontecimento no calendário de eventos acadêmicos.
Desde a edição passada, projetou-se que este encontro se daria de dois em dois anos. Coincidência
ou não, esta acomodação no calendário nos coloca frente a frente aos dois maiores eventos esportivos
mundiais, quais sejam, as Olimpíadas e a Copa do Mundo de Futebol. Esses eventos ilustram uma rica
oportunidade para discutir o efeito do fenômeno esportivo no dia a dia da população. Mesmo que possa
representar uma grande distância separando o mundo do alto rendimento e a realidade de grande parte dos
profissionais ligados ao esporte, existe uma relação direta com nossas ações pedagógicas.
Portanto, reside na compreensão do papel que cada um desempenha para o desenvolvimento e a
formação humana, a justificativa e a relevância dos temas propostos para este encontro. A discussão dos
principais problemas relacionados ao momento atual da educação, do esporte, e sua relação com áreas
afins como a psicologia, a fisioterapia, a educação física, a pedagogia, entre outras, requer do profissional da
saúde e da educação um posicionamento crítico frente às investidas do mercado atual de consumo, da
moda, das tecnologias e das novas mídias que se utilizam do corpo como produto erotizado e da sua
exposição midiática.
Ainda, o padrão atual de beleza e as transformações do corpo promovidas pelas novas tecnologias
despertam a atenção pela possibilidade de deslocar o homem pós-moderno a elevados índices de
vulnerabilidade física, social e psicológica.
Sempre pensando na integração das diferentes áreas de atuação, a proposta multidisciplinar do Congresso
privilegia este ano em seu primeiro dia de atividades uma imersão em práticas pedagógicas com a oferta de
cursos de aprofundamento para a aplicação desses recursos no momento de intervenção do profissional.
Nos demais dias, a programação está voltada para as discussões acadêmicas em torno de temas
que interferem no rendimento do praticante de atividade esportiva, seja ela como ferramenta para a
educação, para o bem estar ou para a participação em eventos internacionais.
Assim, a Conferência de Abertura propõe uma reflexão da atuação profissional nesse momento em
que ocorre um chamamento nacional (ou nacionalista?) por uma posição relevante no cenário olímpico,
tendo em vista que as próximas Olimpíadas acontecem no Brasil. Assim, qual o papel do professor cuja área
de atuação é a iniciação esportiva ou a escola?
Nesse cenário, outros elementos se associam ao desenvolvimento humano, como por exemplo, o
uso e abuso das tecnologias que cria um novo perfil para esse homem cibernético. Aqui, a cibercultura
invalida e modifica os antigos paradigmas de educação, atuação profissional e as relações humanas.
As mudanças provocadas por essa revolução serão abordadas nas mesas temáticas de tecnologias
e educação, transição de carreira, corpo e novas mídias. No encerramento do evento, merece apresentar
apontamentos para o futuro. Nessa perspectiva, e ainda sob os efeitos da participação brasileira nos Jogos
Olímpicos de Londres-2012, vale uma reflexão a respeito da trajetória e do planejamento para a participação
no Rio 2016. Essas contribuições não são modelos fechados, mas considerações que possam auxiliar e
compor o desempenho esportivo.
Ao finalizar este preâmbulo, vale ressaltar a dedicação e confiança de todos os parceiros para a
realização e organização de mais este evento.
Esperamos que todos tenham uma excelente estada em nossa cidade para desfrutar do III
CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA.
Sejam bem-vindos.
Prof. Dr. Afonso Antonio Machado
Prof. M.Sc. Altair Moioli
Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas
em Psicologia do Esporte - LEPESPE - UNESP- Rio Claro- SP
Presidente da Comissão Organizadora
CBPAEMH
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Organização
Presidente
Prof. M.Sc. Altair Moioli
Assessoria Técnico-Pedagógica
Prof. Esp. Arlete Guisso Scaramuzza Portilho
Nicoletti
Prof. Esp. Guilherme Rocha Britto
Comissão Científica
Prof. Dr. Afonso Antonio Machado - UNESP
Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine - FAMERP
Prof. Drª. Mara Rosana Pedrinho - UNIRP
Prof. M.Sc. Lucas Portilho Nicoletti - UNIFEV
Prof. M.Sc. Ednei Previdente Sanches - UNILAGO
Prof. M.Sc. Ligia Adriana Rodrigues - FAFICA
Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti - UNESP
Prof. Esp. Hugo Celso Fortti - UNIP
Secretaria Geral
Profª Jaqueline Oliveira Marques
Profª Ana Paula Barrenha
Profª Beatriz Ramirez
Profª Carla Lemos Valério Ramos Sobrinho
Tesouraria
Prof. Esp. Marcos Antonio Favarin
Prof. Esp. Robinson Simões Gavassi
Assessoria de Imprensa
Jornalista Paulo Rezende
Relações Públicas
Prof. Marco Antonio de Mello Franco
Marketing | Publicidade | Fotografia
Renata Sbrogio
Prof. Luciana Barcelos
Divulgação | Informática | Filmagem
Marcus Fabiano Franco da Gama
Prof. Ronaldo Adriano Marino
Hospedagem | Alojamento
Prof. Silvio Renato Silveira
Alimentação | Transporte | Recursos Materiais
Prof. Esp. Manoel Brandão Filho
Prof. Paulo Estevão Alves da Silva
Prof. Lucas Milani Franco
Prof. Renato Alex Cioca
Prof. Rodnei Marcelino Rodrigues
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PROGRAMA
06.09.2012 | QUINTA FEIRA
UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II
08h30 – ÁREA DE CONVIVÊNCIA DO TEATRO
Abertura da Secretaria Geral | Cadastramento e entrega de material
09h00 – Cursos de aprofundamento e extensão
09h00 às 12h00 - BLOCO “F” - SALA 01
Curso 1 - Coaching no Futebol: Características de um treinador efetivo
Convidado: Prof. Dr. Varley Teoldo da Costa | UFMG – Belo Horizonte-MG
Coordenador: Prof. Marco Paolo Diniz Correa Ceraldi | UNILAGO – S.J.Rio Preto-SP
Ementa: Versará os princípios básicos para a formação profissional. As características fundamentais para a
conduta, a intervenção e a atuação do técnico no ambiente esportivo. Os desafios e as atribuições de um
técnico formador e educador.
09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 02
Curso 2- Pedagogia do Esporte: aspectos didáticos e metodológicos
Convidado: Prof. M.Sc. Osmar Moreira de Souza Junior | UFSCAR – São Carlos-SP
Coordenador: Prof. Alexandre Sassaki Rosa – USP - Bauru-SP
Ementa: Encontro com o objetivo de refletir as diferentes possibilidades metodológicas do ensino dos
esportes e dos jogos. Estratégias para o ensino dos esportes coletivos e individuais com base nos jogos
desportivos coletivos, na pedagogia da rua e outras metodologias. Para tanto, considerar o esporte como
fenômeno da sociedade contemporânea, componente da cultura corporal de movimento.
09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 03
Curso 3 – Treinamento Funcional
Convidado: Prof. Vinícius Napolitano | CORE 360º - São Paulo-SP
Coordenador: Prof. Cássio Gustavo Santana Gonçalves | UNORP – S.J.Rio Preto-SP
Ementa: O curso enfatiza uma introdução ao sistema e metodologia do CORE 360° (treinamento funcional)
feita por meio de um conteúdo composto por exposição de referências, fundamentos e vivência prática.
Aborda também aspectos cinesiológicos, treinamento do CORE, progressão, sistematização, avaliação e
prescrição do treinamento funcional.
09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 04
Curso 4 - Modalidades Aquáticas: princípios e fundamentos
Convidado: Prof. M. Sc. Sérgio Henrique Braz | UNIP – S.J. Rio Pardo-SP
Coordenador: Prof. Ronaldo Alvarez | SMEL – S.J.Rio Preto-SP
Ementa: O curso aborda os aspectos didático-metodológicos e psicopedagógicos aplicados às modalidades
aquáticas, bem como, princípios físicos; metodologias de ensino (adaptação ao meio líquido,
aperfeiçoamento e treinamento); gerenciamento e atendimento ao cliente e atividades aquáticas para
populações especiais.
09h00 às 12h00 | 14h00 às 17h00 - TEATRO
Curso 5 - Recreação, Jogos e Brincadeiras
Convidado: Prof. Tiago Aquino da Costa e Silva [Paçoca] UNIBAN/FMU - São Paulo
Coordenador: Prof. Elisclaudia Catini Coutinho | UNIRP – S.J.Rio Preto-SP
Ementa: A atuação profissional na área do lazer. Preparação e conhecimento pedagógico. Atividades
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práticas para diversos ambientes e estruturas, como hotéis, resorts, empresas, escolas, festas, cruzeiros,
etc. Aspectos motivacionais, técnicas de intervenção e planejamento das atividades.
14h00 – Cursos de aprofundamento e extensão
14h00 às 17h00 - BLOCO “F” - SALA 01
Curso 6 – Psicomotricidade aplicada ao contexto escolar
Conviddo: Prof. Esp. Arlete Guisso Scaramuzza Portilho Nicoletti | Faculdades Dom Bosco - Monte
Aprazível-SP
Coordenador: Prof. Cesar Antonio Parro | UNIP – S.J.Rio Preto-SP
Ementa: Toda ação humana envolve múltiplas atividades que se complementam. Nesse sentido, a
psicomotricidade se apresenta como possibilidade fundamental para o desenvolvimento global, integral e
uniforme da criança. No contexto escolar, implica conhecimento de seus mecanismos e estruturas como
forma de auxiliar a aprendizagem dos alunos nas várias etapas do crescimento.
19h30 às 20h00 – TEATRO
Cerimônia de Abertura
20h00 às 22h00 – TEATRO
Conferência de Abertura: Psicologia do Esporte: olhares para a iniciação esportiva
Convidado: Prof. Dr. Varley Teoldo da Costa – UFMG – Belo Horizonte-MG
Moderador: Prof. M.Sc. João Anderson da Silva –| UNILAGO – S.J.Rio Preto-SP
Resumo: A importância do fenômeno esportivo na vida de crianças e adolescentes. As diferentes
abordagens para a iniciação esportiva na visão da psicologia do esporte. Os diferentes papéis e interesses
no processo formativo: professor, técnico, pais, clube, atleta, empresários, agentes. As condutas dos
técnicos formadores. A escola como campo de formação esportiva.
22h00 - Área de Convivência Teatro
Apresentações artísticas | Coquetel de boas vindas
07.09.2012 | SEXTA FEIRA
UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II
08h30 às 10h00 – TEATRO
Mesa redonda: Psicologia do Esporte e as novas tecnologias
Prof. M.Sc. Mauro Klebs Schiavon - UNIANHANGUERA
Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti – UNIP Campus Rio Pardo
Prof. M.Sc. Leonardo Pestillo de Oliveira – CESUMAR - Maringá-PR
Moderador: Profª Arlete Guisso Scaramuzza P. Nicoletti | Dom Bosco – Mt. Aprazível-SP
Resumo: A exposição consiste na exploração de temáticas da Psicologia do Esporte frente às novas
tecnologias. Serão abordados aspectos como: relações sociais, distúrbios de imagem corporal, emoções
nos jogos virtuais, moralidade, ansiedade, medo e vergonha.
10h00 às 10h30 - Área de Convivência Teatro
Coffee break
10h30 às 12h00 – TEATRO
Mesa redonda: Transição de carreira esportiva: implicações psicológicas
Prof. Dr. Kazuo Kawano Nagamine | FAMERP – S. J. Rio Preto-SP
Prof. M.Sc. José Roberto Andrade do Nascimento Junior | UEM Maringá-PR
Moderador: Prof. M.Sc. Ednei Previdente Sanches | UNILAGO - S.J. Rio Preto-SP
Resumo: As diferentes fases e atenuantes para a transição na carreira esportiva. Aspectos psicológicos e
sociais da mudança de categoria, mudança de esporte, transferência de clube ou país, abandono da
atividade, encerramento da carreira. O contexto cultural e social na transição da carreira esportiva. A
preparação para desempenhar outro papel social e outra profissão após o encerramento da carreira.
14h30 às 16h00 - TEATRO
Mesa redonda: Novas Redes de Comunicação: corpo, esporte e vulnerabilidades
Prof. M.Sc. Flavio Rebustini | LEPESPE – Rio Claro-SP
Prof. M.Sc. Ligia Adriana Rodrigues | IMES – FIPA - Catanduva-SP
Prof. M.Sc. Roberto Garcia | São Paulo
Moderador: Prof. Dr. Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP
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Resumo: A discussão abordará a influência das novas redes de comunicação, com ênfase nas redes
sociais, sobre as dinâmicas de projeção corporal, relações interpessoais, bem como, os aspectos positivos e
negativos que incidirão no desempenho do indivíduo (atleta ou não) à partir da exposição e uso das novas
redes.
16h00 às 16h30 – Área de Convivência Teatro
Coffee break
16h30 às 18h00 – TEATRO
Mesa redonda: Fitness: Psicologia do Esporte de rendimento
Fisioterapeuta Ricardo Alexandre de Andrade Junqueira – BM&F-SMEL
Prof. M.Sc. André Aroni – Instituto Corpo Ativo – Campinas
Moderador: Prof. M.Sc. Valter Brighetti | UNIFEV – Votuporanga-SP
Resumo: A mesa redonda discute a aplicação dos conceitos e temáticas da Psicologia do Esporte nos
ambientes de atividade física de manutenção, academias de ginástica e dos esportes de alto rendimento
esportivo, apontando propostas de intervenção e manejo dos estados emocionais de atletas e praticantes de
atividade física por meio de seus técnicos, treinadores e personal trainners.
18h00 às 19h00 - TEATRO
Mesa Temática – Corpo, Esporte e Mídia.
Moderador: Profª M.Sc. Denise Ferraz Lima Veronezi | UNIFEV – Votuporanga-SP; Prof. M.Sc. Lucas
Portilho Nicoletti | UNIFEV - UNICAMP
Resumo: Contextualiza a influência midiática nas dinâmicas corporais e sua relação com os esportes
contemporâneos. Aborda as possibilidades de manejo, ensino e intervenção psicológica por parte dos
treinadores e profissionais envolvidos no contexto esportivo e de atividades físicas.
01. Netnografia: um estudo sobre os ideais de beleza masculino
Flavio Francisco Dezan; Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP
02. Imagem e a corporeidade aplicada ao esporte
Roberto Borges Filho | UFG – Goiania-GO
03. Belo e eterno: constatações no second life
Marcelo Callegari Zanetti; Mauro Klebis Scahiavon; Altair Moioli; Flavio Rebustini; Afonso Antonio Machado |
UNESP - Rio Claro-SP
04. A influência da sociedade moderna na aquisição das habilidades motoras fundamentais
Paulo Neves de Oliveira Junior; Alaércio Perotti Junior | UNIARARAS – Araras-SP |UNIP – Campinas-SP |
FIEL-Limeira-SP
18h00 às 19h00 - Apresentação de Trabalhos
Artigos e Temas Livre - Apresentação Oral
BLOCO “F” - SALA 01
Moderador: Prof. Gabriela Blasquez | UNIRP – S.J.Rio Preto-SP
01. Jogo e ludicidade: repensando possibilidades para a educação física no E.J.A.
Marcela Campos de Avellar |ESC – Cruzeiro-SP
02. Esporte universitário: caracterização e intencionalidades de alunos-atletas à prática esportiva.
Cláudio Gomes Barbosa; Afonso Antônio Machado | UNESP – Rio Claro-SP
03. A concentração e a prática do atletismo: a percepção dos homens
Gustavo Lima Isler; Mauro Klebis Schiavon; Lucas Ribeiro Cecarelli; Cláudio Gomes Barbosa; Afonso
Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP | Claretianas - Rio Claro-SP | UFU – Uberlândia-MG
04. Liga de Medicina Esportiva de Catanduva: entidade acadêmica de aprofundamento teóricoprático e extensão comunitária.
Arthur Silva Botelho; Marcos B. de Freitas Junior; Alberto Hamra; Ligia Adriana Rodrigues | FIPA –
LIMESP – Catanduva-SP
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BLOCO “F” - SALA 02
Moderador: Prof. Alessandre Sassaki Rosa | USP – Bauru-SP
01. Fatores motivacionais em equipe de futsal feminino do programa escola da família
Tiago Marcelino Alves; Maxshuel Donizetti Leme; Marcelo Callegari Zanetti | UNIP – S.J. Rio Pardo-SP
02. Violência na educação física
Lucas Ribeiro Cecarelli; Michele Cristina Pedroso; Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP
03. O jovem-atleta de futebol: a desmotivação na relação conjunta do treinamento e da vida escolar.
João André Bernini Monteiro; Paulo José Moraes de Paula Santos; Paulo Gerson Caetano Filho; Pedro
Ferreira Rigotti Chaves; Rayama Dwija Szajnweld da Silva | ESC – Cruzeiro-SP
04. Prática de esportes e atividades físicas: aspectos motivacionais
Luciana Botelho Ribeiro; Afonso Antonio Machado | UNESP- Rio Claro-SP.
BLOCO “F” - SALA 03
Moderador: Profª. Elisclaudia Catini Coutinho | UNIRP – S.J.Rio Preto-SP
01. O plano nacional de formação de professores da educação básica (PARFOR) e a importância do
componente curricular de educação física para os alunos do PARFOR da UNIFEV
Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi |UNIFEV – Votuporanga-SP
02. A identidade e a escolha profissional docente
Eliane Paganini da Silva | UNESP – Marília-SP
03. A educação física na escola: reflexões sobre a função do professor
Luana Cristine Franzini da Silva; Eliane Paganini da Silva; Guilherme Rocha Britto; Sandra Regina
Domingos de Brito | UNESP - Marília-SP | UNIRP - S.J.Rio Preto-SP |UNILAGO – S.J.Rio Preto-SP.
04. A visão de técnicos em relação ao seu papel no esporte
Aline Dessupoio Chaves; Andrezza Papini; Carolina Morais de Araújo; Vilma Leni Nista-Piccolo – USP - São
Paulo; UFTM – Universidade Federal do Triangulo Mineiro
19h00 - Pátio Central
Happy Hour - Programação Social e Cultural
08.09.2012 | SÁBADO
UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II
08h30 às 09h30 – Apresentação de Trabalhos
Artigos e Temas Livre – Apresentação Oral
TEATRO
Moderador: Prof. M.Sc. Mauro Klebs Schiavon
01. Efeitos do foco de atenção na aprendizagem da bandeja
Danilo Pedersen dos Santos; Matheus Ribeiro Cecarelli; Alaercio Perotti Junior | FHO-UNIARARAS –
Araras-SP
02. O esporte como fator de inclusão e exclusão: uma análise social
Roberto Matioli Junior e Marden Ivan Negrão Filho | S.J.Rio Preto-SP
03. Motivos e dificuldades para a prática de atividade física: uma comparação entre academias de
ginástica e estúdios de treino personalizado
André Luis Aroni; Marcelo Callegari Zanetti; Afonso Antonio Machado | USF - Bragança Paulista-SP |UNIP –
S.J. Rio Pardo-SP | UNESP de Rio Claro-SP
04. Auxílio psicológico transmitido pelos familiares: um estudo no futebol e no basquete
Eric Matheus Rocha Lima; Lucas Ribeiro Cecarelli; Guilherme Bagni; Kauan Galvão Morão; Renato
Henrique Verzani e Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP
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BLOCO “F” - SALA 01
Moderador: Prof. Gustavo Isler | Claretianas - Rio Claro-SP
01. Frequência cardíaca em idosos ativos: estudo comparativo
Maicon José Jacinto; Andréa Carla Machado; Cecília Candolo; Anderson Souza; Karla Klahold |UFSCar –
São Carlos-SP
02. Futebol e bullying: quando a brincadeira ultrapassa os limites
Kauan Galvão Morão; Eric Matheus Rocha Lima; Guilherme Bagni; Lucas Ribeiro Cecarelli; Renato
Henrique Verzani; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP
03. Bullying no contexto futebolístico: uma análise de juniores
Renato Henrique Verzani; Kauan Galvão Morão; Lucas Ribeiro Cecareli; Guilherme Bagni; Eric Lima;
Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP
04. Análise dos estados emocionais de atletas de voleibol
Guilherme Bagni; Kauan Galvão Morão; Renato Henrique Verzani; Eric Matheus Rocha Lima; Lucas Ribeiro
Cecarelli e Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP
BLOCO “F” - SALA 02
Moderador: Prof. M.Sc. Ednei Previdente Sanches – UNILAGO – S.J. Rio Preto-SP
01. Sintomas mais frequentes de estresse pré-competitivo em competidores de Taekwondo
Marcos Armani Ramírez; Marisa Mendes Götze | ULBRA - Canoas-RS
02. Estudo das interferências da ansiedade no estado psicológico de atletas juniores de futebol
Lucas Ribeiro Cecarelli; Altair Moioli; Afonso Antonio Machado | UNESP – Rio Claro-SP
03. Um novo olhar sobre a ansiedade
Lucas Ribeiro Cecarelli; Kauan Galvão Morão; Matheus Ribeiro Cecarelli; Renato Henrique Verzani; Eric
Matheus Rocha Lima; Guilherme Bagni; Afonso Antonio Machado | UNESP-Rio Claro-SP | UNIARARASAraras-SP
04. Efeitos psicológicos da realidade virtual em crianças com dificuldades motoras
Franz Fischer | LABORDAM – UNESP - Rio Claro-SP
BLOCO “F” - SALA 03
Moderador: Prof. Cesar Antonio Parro | UNIP – S.J.Rio Preto-SP
01. A inclusão do aluno surdo nas aulas de educação física no ensino fundamental II: um estudo de
caso
Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi; Lídia Marques Figueiredo; Silvana Farias Lopes;
Vinícius Martins Marcos | UNIFEV – Votuporanga-SP
02. Currículo do estado de São Paulo: análise da aceitação do currículo de educação física pelos
alunos do 3º ano do ensino médio
Denise Ferraz Lima Veronezi; Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes | UNIFEV – Votuporanga-SP
03. A utilização da variável “tempo”: como recurso motivacional no jogo cooperativo
Marcela Campos de Avellar | ESC – Cruzeiro-SP
04. As contribuições da pedagogia do esporte para as aulas de educação física
Maria Emilia Nunes Rodrigues Arenas; Danithielli Bezerra; Lucas Portilho Nicletti | UNIFEV – VotuporangaSP
08.09.2012 | SÁBADO
UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II
08h30 às 09h30 – Apresentação de Trabalhos
Saguão do Teatro - Resumos – Apresentação Pôster
01. Avaliação dos níveis de ansiedade pré-competitiva (ansiedade traço-estado) de pais de atletas de
futsal; da categoria mirim (sub onze)
Telma Sara Queiroz Matos
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
16
02. As couraças musculares de Reich e a abordagem das cadeias musculares sob o prisma da
reeducação postural global preconizada por Meziéres aplicadas ao esporte
Roberto Borges Filho | UFG – Goiania-GO
03. Correlações entre posse de bola e resultado das partidas: análise das principais seleções em
copas do mundo
José Antonio Bruno da Silva | UNIMEP – Piracicaba-SP
04. Ansiedade e performance no tênis de alto rendimento
Roberto Roque Monteiro; Guilherme Rodrigues Moreno; Eder Emanuel Barboza; Eliane Tiemi Miyazaki |
UNORP – S.J. Rio Preto-SP | Clube Monte Libano | FAMERP – S.J. Rio Preto-SP
05. A história da educação e a profissão docente: reflexões iniciais
Claudia Moreira Arroio; Elisandra dos Santos Lima; Silene Fontana | UNIRP-S.J.Rio Preto-SP
06. A importância dos jogos cooperativos no ambiente escolar
Cristiano Patrício de Souza; Altair Moioli; Rodinei Marcelino Rodrigues; Luiz Matheus Ramos | SMEL – S.J.
Rio Preto-SP | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP
07. Características da motivação para o exercício físico de adolescentes participantes de projetos
sociais
Poliana Sandim Bispo; Diego Itibere Cunha Vasconcellos | UNESP | UNIBAVE.
08. Aspectos motivacionais de praticantes de mergulho autônomo recreativo do Estado do Rio de
Janeiro
Marcia Maria Marcondes Costa Meinicke; Antonio Roberto Rocha Santos | UNFP
09. Prevenção da violência por meio de projetos esportivos
Luiz Matheus Ramos; Altair Moioli; Rodinei Marcelino Rodrigues; Cristiano Patrício de Souza | SMEL – S.J.
Rio Preto-SP | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP
10. Circo social: os dois lados da mesma moeda
Leandro Dias dos Santos | UNIP
11. Circo na escola: sala de aula ou picadeiro
Leandro Dias dos Santos | UNIP
12. A psicologia do esporte no cenário do Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade
Humana – UNESP – Rio Claro: uma análise dos anais de 1999 a 2011.
Fernanda Carolina Pereira | UNESP – Rio Claro-SP.
13. Repercussão nacional e internacional do Congresso de Psicologia Aplicada Ao Esporte e à
Motricidade Humana: uma análise dos anais de 2009 e 2010.
Fernanda Carolina Pereira | UNESP – Rio Claro-SP.
14. Observações da psicologia do esporte sobre as competições esportivas escolares
Francisco Galvão do Amaral Pinto Barciela; Renan Mendes Garcia; Marta Aurélia Campos Silveira;
Fernando César Gouvea e Afonso Antonio Machado | UNESP - Rio Claro-SP
15. Os jovens-atletas de futebol: a família como motor do desempenho escolar e outras perspectivas
João André Bernini Monteiro; Paulo José Moraes De Paula Santos; Paulo Gerson Caetano Filho; Pedro
Ferreira Rigotti Chaves; Rayama Dwija Szajnweld da Silva | ESC – Cruzeiro-SP
16. Motivação e interação social no esporte – um aprendizado para a vida
Maria Celina Trevisan Costa; Alexandre Patrício Nogueira; Daniélli Giachetto Borges; Leandro Cimonetti de
Almeida; Maíra Rodrigues Braga Nascimento; Marcos Vinícius Flores Furlaneto; Ricardo Alves de Almeida |
UNIFEV – Votuporanga-SP
17. Desenvolvimento do comportamento motor da criança na natação.
Tiago Rodrigo Alves Nunes | UNIRP – S.J. Rio Preto-SP
18. Diferenças entre os sexos no futebol: a luta para o reconhecimento social e fim do preconceito
Tamiris Aparecida Coltro; Gabriela Blasquez | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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19. Indicadores de capacidade e potencia anaeróbia em atletas de Taekwondo
Renato Miguel; Cesar Antonio Parro | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
20. Análise e comparação das aptidões físicas entre crianças e adolescentes praticantes de
Ginástica Artística feminina de 7 a 13 anos.
Pollyana Carla da Silva; Cleide Monteiro | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
21. A utilização do Tai Chi Chuan como atividade para fortalecimento dos membros inferiores para
evitar quedas na terceira idade
Paulo Henrique Siqueira | UNIP – S.J.Rio Preto-SP
22. Relações técnico-atleta no basquetebol de alto rendimento
Mauro Klebis Schiavon; Claudio Gomes Barbosa; Gustavo Lima Isler; Marcelo Calegari Zanetti; Afonso
Antonio Machado | Claretianas – Rio Claro-SP | Anhanguera – Rio Claro-SP | UNESP - Rio Claro-SP
23. Preparação física dos peões de rodeio em montaria em touros
Jéssica Sbrissa; Hugo Celso Forti | UNIP – S.J.Rio Preto-SP
24. Distanciamento familiar: aspecto relevante na desistência da carreira de jogador de futebol das
equipes de base.
Jefferson Luis Molina Rodrigues; Meison dos Santos Ribeiro Soares; Altair Moioli |
UNIRP – S.J. Rio Preto-SP | UNESP – Rio Claro-SP
25. Relação entre o mando de campo, o vencedor do primeiro tempo e a volta para o segundo tempo:
uma análise estatística de súmulas
Guilherme Bagni; Gustavo Bagni; Afonso Antonio Machado | UFSCar – São Carlos-SP | UNESP – Rio ClaroSP
26. O sentido da dança e suas possibilidades na escola
Danila Alves Sodré | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
27. A utilização de esteroides anabólicos em academias: a visão do educador físico
Carlos Vinicius da Silva | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
28. Musicalização e alfabetização da criança com deficiência intelectual: possibilidades de
estratégias de ensino-aprendizagem
Andréia Aparecida Ferraz; Mayara Gabriele da Silva Lourenzini; Thais da Silva Ramos | UNIRP – S.J. Rio
Preto-SP
29. Pedagogia do esporte: uma ferramenta educativa
Andréa de Oliveira Pardal; Cintia da Silva Barbeiro; Daniela Aparecida Maurity dos Santos | UNIP – S.J. Rio
Preto-SP
30. Futebol para deficientes visuais
Vinícius Facchini Alvares; Claudia Lacerda Vicente | UNIRP – S.J. Rio Preto -SP
31. Atividade física no ambiente escolar como prevenção da obesidade infantil
Alessandra Nicoletti Avelino; Gabriela Blasquez | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
32. A evolução feminina no esporte
Sheila Costa Ramos Neves | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
33. Aspectos físico e sócio psicológicos da prática da caminhada
Iraceles Gonçalves dos Santos | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
34. Alteração dos hábitos de alimentação por meio da atividade física em crianças do ensino
fundamental: aspectos psicossociais
Iara Tocico Ito; Altair Moioli | UNIP – S.J. Rio Preto-SP
35. A Imortância do treinamento individualizado na performance de uma equipe
Wander Marques; Rogério Simões Singh
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
18
08.09.2012 | SÁBADO
UNIP | Campus JK – Av. Juscelino Kubitschek Oliveira, s/n – Jardim Tarraf II
09h30 às 11h00 - Mesa redonda
Londres 2012 – Rio 2016: reflexões a partir da psicologia do esporte
Prof. Aristides de Andrade Junqueira Neto - Técnico da BM&F-SMEL
Prof. Dr. Afonso Antônio Machado – UNESP Campus Rio Claro
Moderador: Prof. Karina Younan | RPAC – S.J.Rio Preto-SP
Resumo: As expectativas frente a participação do Brasil nos eventos esportivos. O papel do professor, do
técnico e do dirigente na formação e na competição. As demandas técnicas e psicológicas para o
desempenho dos atletas de alto rendimento. Os manejos e as rotinas no ciclo olímpico. O planejamento, a
execução de tarefas e a convivência entre os profissionais de uma equipe multidisciplinar.
11h00 às 11h30 - TEATRO
Cerimônia de Encerramento
11h30 – Saguão do Teatro - Secretaria Geral
Certificação
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
19
III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA
APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA
CONFERÊNCIAS
MESAS REDONDAS
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
21
PSICOLOGIA DO ESPORTE E AS NOVAS TECNOLOGIAS
Prof. Ms. Mauro Klebis Schiavon | Faculdades Integradas Claretianas
Anhanguera Educacional
Hoje em dia existe um crescimento
notável de crianças que se utilizam de
videogames para se divertirem, quer seja com
amigos, familiares ou mesmo sozinhas. Em 2011,
o Brasil foi o quarto país do mundo em número de
usuários de videogames com mais de 35 milhões
de pessoas. A explosão do número de novos
artefatos digitais e videogames postos em
funcionamento nos últimos anos, bem como a
proliferação de aplicativos computacionais e de
suas possibilidades de uso é um fenômeno muito
recente. Os jogos eletrônicos fazem parte da
cultura contemporânea, são baseados em
tecnologias da microinformática, ou, conforme
termo utilizado por Mendes (2006), tecnologias do
silício. O jogo em si não é novidade, tanto na vida
animal quanto humana: gatos ou cachorros já
vivenciam situações dos jogos, e os homens,
desde o seu nascimento, vivem o universo do jogo
em suas interações com o outro – haja vista que a
maioria das pessoas possui ao menos uma
imagem de alguém que jogue ou tenha jogado um
jogo digital. Borja (1980) salienta que o jogo,
assim como a linguagem, é uma constante
antropológica que pode ser encontrada em todas
as civilizações e em todas as suas etapas. Os
estados emocionais são pouco estudados na
relação entre criança e videogame. As emoções
são imprescindíveis nas tomadas de decisões,
das mais simples as mais complexas. Elas são
fundamentais também para a sociabilidade, além
de organizar a forma como as informações e os
acontecimentos são armazenados na memória.
Além de mais complexas fisiologicamente, as
emoções humanas, não seriam humanas não
fossem moldadas também por influências sociais,
culturais e morais.
No ponto de vista de Prensky (2001), as
razões que mais levam as pessoas a jogarem
videogames são as seguintes:
- Os videogames são uma forma de divertimento
e, como tal, é uma fonte de satisfação e prazer;
- É uma forma de jogo capaz de nos transmitir
doses intensas e apaixonadas de envolvimento;
- Funciona sobre um sistema que reside num
conjunto de regras a serem cumpridas, o que nos
fornece estruturação;
- Contem objetivos a atingir, fato que nos mantém
motivados;
- São uma fonte de interatividade, que dá a
sensação de termos de realmente desempenhar
tarefas;
- Possuem consequências e feedback,
transmitindo-nos, deste modo, algum
ensinamento;
- São adaptativos, o que nos proporciona a
sensação de fluxo;
- Os videogames exigem condições para se
alcançar a vitória. Este aspecto é gratificante para
o ego;
- Possuem conflitos, competições, desafios e
oposições que fazem subir a adrenalina dos
jogadores;
- Existe sempre um problema para ser resolvido,
apelando, deste modo, à criatividade;
- A interação que compõe os jogos de videogames
contribui para construção da socialização e de
grupos sociais;
- Os videogames possuem uma história e uma
representação capazes de transmitir emoções
aos jogadores.
Em estudo recente verificamos que, o
divertimento parece ser uma razão sempre
apontada, por quem se dedica a esta temática, o
desejo de se sentir emoções diferentes daquelas
que sentimos no nosso dia-a-dia; a possibilidade
da alternância dos estados emocionais; a
sensação de sermos capazes de alcançar
objetivos e, deste modo, sentirmos que somos
bons em alguma coisa; a possibilidade de
interação com os outros, fator que permite a
construção de grupos sociais com interesses em
comum; a possibilidade de resolvermos enigmas,
momentos que nos permitem esquecer, nem que
sejam por alguns minutos, as tarefas ou
problemas que temos por resolver, são as razões
mais evidentes para as crianças jogarem
videogames (SCHIAVON, 2012).
REFERENCIAS:
BORJA, S. M. El Juego Infantil (organizacion
de Ludotecas). Barcelona> Oikos-tau,1980.
MENDES, C. L. Jogos eletrônicos: diversão,
poder e subjetivação. São Paulo: Papirus, 2006.
PRENSKY, M. Why Games Engage Us. Digital
Game-Based Learning McGraw-Hill, 2001. Url:
http://www.marcprensky.com/writing/Prensky
(consultado em 07/ 2012).
SCHIAVON, M. K. . Estados emocionais e
motivos apresentados por crianças que jogam
wii: um estudo entre o real e o virtual.
Dissertação de Mestrado. UNESP, Instituto de
Biociências. Rio Claro, 2012.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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MUNDOS VIRTUAIS E EDUCAÇÃO DE “CORPO E ALMA”
Prof. M.Sc. Marcelo Calegari Zanetti – UNIP Campus Rio Pardo
Introdução
Muito tem se falado sobre a importância
de se pensar novas diretrizes educacionais frente
às novas tecnologias. Uma educação que permita
aos alunos fazer uso das tecnologias como forma
de emancipação e ampliação de conhecimentos.
Porém, boa parte dos professores e pensadores
da educação dita contemporânea ainda tem
usado de maneira bastante tímida e restrita os
recursos tecnológicos em prol de uma educação
mais ampla, que tratarei aqui de “Educação de
Corpo e Alma”. Esta tal Educação de Corpo e Alma
não se prenderia apenas a conhecimentos de
ordem conceitual, que são abordados
exaustivamente nos bancos escolares, mas,
abordaria questões que permeiam a vida humana
como: relações sociais, controle emocional,
discussão da imagem corporal e de temas
relacionados à sexualidade humana, moralidade,
medo e vergonha.
Porém, a pergunta que fica é: Como
pensar em uma educação que englobe temas tão
complexos e relevantes em um ambiente que a
maioria dos professores pouco domina?
Realmente, este é um desafio muito grande, mas,
de extrema importância, já que muitos alunos
fazem uso destas novas tecnologias,
principalmente participando de ambientes virtuais
de sociabilidade (redes sociais) que remetem a
todo momento à dilemas de ordem existencial,
moral e comportamental. Fingir que os mesmos
não existem ou renegá-los à segundo plano
parece um tanto quanto arriscado, pois a
utilização dos mesmos sem a mediação e
educação do uso poderá trazer problemas ainda
mais sérios.
Falando ainda sobre a possibilidade de
utilização destes ambientes, Kamienski,
Fernandes e Silva (2008) sugerem que estes
mundos sempre foram amplamente utilizados na
área de jogos e simuladores, mas atualmente são
vistas outras possibilidades para os mesmos,
como socialização, educação e entretenimento.
Para Pita (2008), em um destes
ambientes, o Second Life, que é um ambiente
virtual de sociabilidade em 3D, que permite altos
níveis de interação, graças às suas
potencialidades de comunicação, bem como a
colaboração virtual e a criação de conteúdos há
possibilidade de proporcionar entre outras coisas:
· Afetividade: este indicador alude às
afirmações que embora não estejam
diretamente relacionadas com o tópico
desenvolvido durante a discussão, se
revelam essenciais para pelos participantes
nos diálogos de interação. Destas
demonstrações de afetividade fazem parte
não só as saudações, como também os
emoticons, os apoios verbais, as expressões
que demonstram o estado de espírito, as
onomatopéias, entre outros;
· Coesão: este princípio tem por fim analisar
as reações espontâneas no sentido de
construir e sustentar o espírito de grupo e a
presença social, como, cumprimentos,
expressões evocativas, referências de grupo
e partilha de informações de âmbito social. Na
análise atentar-se-a utilização do vocativo,
visto que este traduz com mais clareza a
relação que se estabelece entre os
indivíduos, revelando um notório sentido de
comunidade;
· Interação: o presente critério visa o
reconhecimento e assentimento do ponto de
vista dos outros de comunidade. Assim
sendo, a afetividade refere-se, mormente, a
expressões pessoais de emoção,
sentimentos, crenças e valores participantes,
o espírito de aprovação e o convite à
participação. Para a excelência da interação
é fundamental pelos seres humanos
desenvolver o espírito de tolerância e respeito
pelas opiniões pessoais, resultando numa
partilha de saberes. Como esta troca não
ocorre exclusivamente do debate de um
assunto em discussão, daremos também
atenção à demonstração de apreço pelas
afirmações formuladas pelos diversos
intervenientes. Para além destes fatos, este
critério reflete sobre a colocação de questões,
que são contributos primordiais para a
continuação de um debate. Por fim, esta
análise centra-se na referência explícita aos
comentários de outros indivíduos, o que
demonstra interesse pelas afirmações já
pronunciadas e estimula a comunicação;
· Socialização: este parâmetro refere-se à
ocorrência de afirmações de caráter social,
que não estão diretamente relacionadas com
o conteúdo científico abordado durante os
encontros. Neste sentido, o conjunto de
afirmações sociais proferidas incide na
exposição de acontecimentos externos ao
SL, ou seja, fatos que se reportam
unicamente a aspectos da vida pessoal do
indivíduo;
· Participação: esta dimensão diz respeito à
contabilização do número geral de
afirmações formuladas pelos avatares. Uma
vez estudado o volume de mensagens, focase no número de afirmações relacionadas
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
23
com determinado tema, bem como a
diversidade temática que se proporcionou ao
longo dos encontros. Pretendemos, assim,
compreender, a partir destes cálculos, o nível
de participação ativa dos indivíduos e a
qualidade das suas intervenções.
Imaginemos então que além daquela
educação formal, no qual, nossos alunos estão
fartos de nos ouvir falar temos a oportunidade de
educar-los de maneira mais ampla por meio
daquilo que eles mais têm feito uso na
contemporaneidade, jogos, redes sociais, entre
outros recursos tecnológicos. O desafio está
lançado...
Referências
KAMIENSKI, C. A. ; FERNANDES, Stenio ;
SILVA, C. K. R. . Mundos Virtuais: Histórico,
Avaliação e Perspectivas. In: Marcos Broges.
(Org.). Minicursos Webmedia 2008. 1 ed. : , 2008,
v. 1, p. 201-250.
Pita, S. T. de O. As Interações no Second Life
: a comunicação entre avatares. Revista de
Ciências da Informação e da Comunicação do
CETAC. n. 6, 2008.
Prof. Dto. Marcelo Callegari Zanetti
Graduado em Educação Física pela FFCL - São
José do Rio Pardo (2002), mestre em Ciências da
Motricidade Humana pela UNESP - Rio Claro
(2007), doutorando em Desenvolvimento
H u m a n o e Te c n o l o g i a s p e l a m e s m a
universidade, onde é membro do LEPESPE
(Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Psicologia do Esporte). Pós-graduado em
Tecnologias e Educação a Distância (UNICID).
Atualmente é Professor do Curso de Educação
Física da Unip de São José do Rio Pardo,
professor efetivo da Escola Estadual Achiles
Rodrigues, na cidade de Vargem Grande do Sul SP, sócio-proprietário da Ducorpo Personal
Training & Assessoria Esportiva, coordenador de
futsal do Departamento de Esportes de São José
do Rio Pardo - SP
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
24
O CONSTRANGIMENTO NAS EXPRESSÕES DE AMOR DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO: A
EXPOSIÇÃO DOS CORPOS E A NEGAÇÃO DOS AFETOS.
Pro. M.Sc. Ligia Adriana Rodrigues | IMES-FIPA
“É dentro do próprio homem que é preciso libertar a vida,
pois o próprio homem é uma maneira de aprisioná-la.” (Gilles Deleuze)
O universo contemporâneo anuncia
novas formas de relações e cuidados, consigo e
com o outro, amparadas em novas tecnologias de
controle dos desejos e modos de expressão dos
afetos. No entanto, ainda que as idéias
pretendidas nesse texto voltem-se para a
contemporaneidade, de início serão utilizadas
duas referências à modernidade, em diferentes
espaços de enunciação artística – a música e o
cinema: os “Tempos Modernos”, ora do
compositor e cantor brasileiro Lulu Santos (obra
que será utilizada em diversas partes do texto),
ora do cineasta e ator Charles Chaplin.
Comecemos com a música: “eu vejo a vida melhor
no futuro, eu vejo isso por cima de um muro, de
hipocrisia, que insiste em nos rodear...”. A palavra
hipocrisia deriva do latim e do grego, significava a
representação no teatro, o movimento dos atores,
o uso de máscaras, o desdobramento necessário
para cada papel que representavam em uma
peça. Ou seja, “o hipócrita é alguém que oculta a
realidade através de uma máscara de aparência.”
Escapar da hipocrisia, portanto, indica a
necessidade de agir com autenticidade, escapar
das representações, dos perfis alienados,
impostos pelas formas de controle e biopoder que
produzem as subjetividades.
Para Foucault, a disciplina age sobre os
indivíduos e o biopoder se direciona para a
espécie, “no corpo-espécie, no corpo
transpassado pela mecânica do ser vivo e como
suporte dos processos biológicos” (1988, p. 152),
ao cuidar de processos como nascimentos e
mortalidades, da saúde da população, da
longevidade, e outras formas de controle social. O
biopoder gesta a vida, com técnicas de poder
sobre o biológico, centro das discussões políticas.
Se a disciplina foi necessária para a docilização
do corpo produtivo das fábricas e instituições
modernas, o biopoder foi importante instrumento
para o desenvolvimento do capitalismo, ao
controlar a população e adequá-la aos processos
econômicos. “O investimento sobre o corpo vivo,
sua valorização e a gestão distributiva de suas
forças foram indispensáveis naquele momento”
(Ibid., p. 154). O poder, sob essa perspectiva, é
uma relação de forças e não um centro estático e
atravessa os lugares e indivíduos numa
multiplicidade de fluxos. Ao cruzá-los não só
destrói como também produz; produz objetos e
verdades, numa economia política que se
interessa por gerir e controlar os homens por meio
dessas verdades (DELEUZE, 2005).
“Os relacionamentos de forças que
compõem o poder atravessam os
agenciamentos - estruturas ou sistemas
que se compõem, a partir das relações
entre as pessoas e o mundo, e que
compõem essas mesmas relações de
forma difusa e estratégica. Na construção
desses agenciamentos, as formas de
expressão, nas quais as coisas se
mostram, e as formas de conteúdo, se
diferenciam e se encontram, formando
lugares distintos para o visível e o
enunciável, o discursivo e o nãodiscursivo.” (RODRIGUES, 2001, p. 12)
Ou seja, o poder produz coisas, induz ao
prazer, forma saberes, produz discursos.
“Deve−se considerá−lo como uma rede produtiva
que atravessa todo o corpo social muito mais do
que uma instância negativa que tem por função
reprimir” (FOUCAULT, op. cit., p. 8). Para Foucault
e Deleuze, portanto, os processos de
subjetivação acompanham as transformações
históricas e sociais. E o sujeito se compõe a partir
dessas formações, de forma alienada e
domesticada, movimentando-se de acordo com o
que se espera dele, mesmo que de maneira
diferente a cada espaço-tempo. Associando tais
referências com a música citada, implica-se ser
uma difícil tarefa essa de escapar da hipocrisia,
pois ser autêntico vai além de apenas dizer o que
se pensa ou agir segundo suas convicções,
quando o que se diz (e/ou pensa) e o que se faz,
reflete a totalidade da massa.
Em outro contexto, nas cenas marcantes
do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin,
aparece o homem que passa a se configurar
como máquina, as facilidades que levam a
criminalidade, a escravidão, o "vagabundo" que
tenta sobreviver em meio ao mundo
industrializado. O amor que surge, mas surge
quase paternal, por uma orfã, com duas irmãs
pequenas e o pai desempregado e
posteriormente morto em uma manifestação. A
bela amizade entre os dois emociona o
espectador mas não traz soluções para o casal.
Eles buscam constantemente outros destinos e
parecem não conseguir escapar das prisões
institucionais, políticas e normatizantes. E, no
final, seguem numa estrada, rumo a mais
aventuras, metaforicamente tentando escapar,
libertarem-se, das amarras das instituções. As
pressões sofridas pelo advento da modernidade,
apresentadas nas cenas do filme, ainda podem
ser encontradas no mundo atual, contemporâneo,
entretanto nem sempre sob a mesma ótica de
manipulação, pois neste mundo, os sujeitos são
atravessados por novas regras – midiáticas – para
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
25
sua produção e alienação. Deleuze afirma que
poderíamos pensar na crise nas disciplinas, que
surgem diante de novas forças que se instalariam
lentamente e se precipitariam depois da Segunda
Guerra mundial (DELEUZE, 1990). O anúncio do
que Foucault chama de sociedade de controle.
“Nas sociedades de disciplina não se parava de
recomeçar (da escola à caserna, da caserna à
fábrica), enquanto nas sociedades de controle
nunca se termina nada, a empresa, a formação, o
serviço sendo os estados metaestáveis e
coexistentes de uma mesma modulação, como
que de um deformador universal.” (Ibid., p. 221)
Mais adiante afirma ser
fácil fazer corresponder a cada sociedade
certos tipos de máquina, não porque as
máquinas sejam determinantes, mas
porque elas exprimem as formas sociais
capazes de lhes darem nascimento e
utilizá-las. (...) Não é uma evolução
tecnológica sem ser, mais profundamente,
uma mutação do capitalismo. É uma
mutação já bem conhecida que pode ser
resumida assim: o capitalismo do século
XIX é de concentração, para a produção, e
de propriedade. Mas atualmente o
capitalismo não é mais dirigido para a
produção, relegada com freqüência à
periferia do Terceiro Mundo, mesmo sob as
formas complexas do têxtil, da metalurgia
ou do petróleo. É um capitalismo de sobreprodução. Não compra mais matéria-prima
e já não vende produtos acabados: compra
produtos acabados, ou monta peças
destacadas. O que ele quer vender são
serviços, e o que quer comprar são ações.
Já não é um capitalismo dirigido para a
produção, mas para o produto, isto é, para
a venda ou para o mercado. (Ibid., pp. 223224)
E o mercado se amplia, cada vez mais,
com novos produtos, para a satisfação do sujeito
consumista, moldado por essas novas
tecnologias, embalado talvez pela segunda
estrofe da música de Lulu Santos: “eu vejo a vida
mais clara e farta, repleta de toda satisfação, que
se tem direito, do firmamento ao chão...”. Porém,
parece que tudo é dado e nada fica. Fartura que
escapa, consome-se, repleta de toda insatisfação (grifos nossos). E esse consumismo
capitalístico reflete-se nas relações afetivas,
deixando cada vez mais para trás a pureza
anunciada por Chaplin. Bauman (2004) acredita
que “hoje em dia as atenções humanas tendem a
se concentrar nas satisfações que esperamos
obter das relações, precisamente porque, estas
não têm sido consideradas plenas e satisfatórias”.
(p. 9) E continua, explorando a idéia de que,
quando chegam a satisfazer, são compreendidas
como inaceitáveis e excessivas, em sua
complexidade, diante de uma agitação constante
entre os corpos que se atraem. Espera-se que se
possa desfrutar de um relacionamento sem
vivenciar seus momentos considerados difíceis,
vivendo-os de maneira que possam ser
aproveitados quando necessários e deixados em
distanciamento seguro em outros períodos, na
tentativa de escapar da “armadilha” do
compromisso. Literaturas de aconselhamento, de
ditos especialistas no assunto, pipocam no dia-adia, os “comos” se relacionar e, principalmente,
como evitar as dores do amor. Amor de sobreprodução, que “compra” apenas produtos
acabados.
Evidenciando a negação da dor, o sujeito
contemporâneo seria hipócrita ao cantar a fé de
se ter “o amor numa boa”, quando o compositor
condiciona “que isso valha pra qualquer pessoa
que realizar a força que tem uma paixão”, paixão
esta negada em sua força, transformada em risco.
Ora, a paixão, para Espinosa, é inerente ao
homem; para ele, “todos os seres que existem são
dotados de ação e de paixão. Os homens não
poderiam ser ativos (por si apenas), porque as
forças que vem de fora é que viriam constituí-lo.
Então, todos os seres, que para se constituir,
precisam de forças que vem de fora, seriam seres
apaixonados, e o homem, enquanto tal, seria um
ser apaixonado, porque ele não poderia agir a
partir dele”. (ULPIANO, 1988) Não poderíamos,
por esse ponto de vista, escapar das paixões, e a
ausência desta implicaria na ausência de
atividade humana. Ulpiano segue, dizendo que,
para Espinosa, na sua paixão constituinte, no
confronto com forças que vem do fora, o homem
torna-se, essencialmente, também prisioneiro da
servidão, ao ser constrangido pelas forças do
fora, sem possibilidade de ser livre, visto que a
liberdade se definiria como a efetuação de sua
natureza, em oposição ao constrangimento.
Segundo o autor “é livre todo ser que não é
constrangido ao fazer a sua produção” e a
liberdade ocorreria diante da não existência de
constrangimento (ou vergonha) na vivência dos
homens, seja entre eles, ou entre eles e as coisas
do mundo, condição improvável diante das regras
morais que permeiam as relações sociais e as
imposições normatizantes. Conclui-se o
aprisionamento inerente entre as paixões e a
servidão e a conseqüente ausência de liberdade.
Unindo tal idéia de liberdade às formas de
composição dos sujeitos em seus processos de
subjetivação, pode-se sugerir que na vida
contemporânea, cabe às pessoas justamente
negar a si e aos seus sentimentos, investir em
paixões fulgazes (já que não se pode escapar
delas), fugindo do constrangimento de ser
diferente do modelo relacional imposto, nãoestésico, isento de laços constantes. O homem
contemporâneo efetua sua servidão ao negar sua
condição inerente de ser apaixonado.
Retomando Foucault, no que diz respeito
ao corpo, na genealogia das relações
direcionadas às práticas e discursos sobre a
sexualidade, a produção moderna de saberes
sobre os sujeitos criou novas formas de olhar os
corpos, na produção de um medo instaurado
“sobre os corpos das crianças − através das
famílias, mas sem que elas fossem a sua origem −
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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um controle, uma vigilância, uma objetivação da
sexualidade com uma perseguição dos
corpos”.(FOUCAULT, 1998, p. 146) Para o autor,
a sexualidade, ao tornar−se um objeto de
preocupação e de análise, alvo de vigilância e
conseqüente controle, de forma paradoxal trouxe,
ao mesmo tempo, “a intensificação dos desejos
de cada um por seu próprio corpo... O corpo se
tornou aquilo que está em jogo numa luta entre os
filhos e os pais, entre a criança e as instâncias de
controle. A revolta do corpo sexual é o
contra−efeito desta ofensiva.” (Ibid., p. 147) Ou
seja, ao investir um olhar de negativa aos corpos
sexualizados, estes reagiram se sexualizando
cada vez mais. E explica que, por meio de uma
exploração econômica (e talvez ideológica) da
erotização, potencializada por produtos
fabricados para esse corpo que se revolta,
maqueia-se a forma de controle−repressão,
mediante um investimento de
controle−estimulação: o corpo nu deve aparecer,
mas para isso deve ser magro, bonito e
bronzeado. Esse corpo aperfeiçoado e cada vez
mais dotado de recortes do fora – indicativos de
imperfeição e, ao mesmo tempo, de soluções
práticas e rápidas para as falhas que se
evidenciarem, torna-se cada vez mais objeto de
consumo e cada vez mais fragilizado diante do
outro, que pode identificar seus defeitos. Os
investimentos em beleza se completam, em
homens e mulheres, com práticas de exposição
de sua sexualidade aflorada, permitida e
fortalecida, seja em redes sociais ou nos locais
criados para o lazer e os encontros, como
“baladas” e academias. A antiga vergonha de
mostrar o corpo transforma-se em regra, e o
constrangimento agora surge no corpo que não
conseguir ser uma vitrine perfeita pra vender
prazer e, como todo objeto de consumo, não
exercer sua função de uso. Corpo que, quanto
mais usado, mais se afirma como eficiente e
como parte do mundo socializado. Bauman
(2004, p. 20) afirma que “a súbita abundância e a
evidente disponibilidade das 'experiências
amorosas' podem alimentar (e de fato alimentam)
a convicção de que amar (apaixonar-se, instigar o
amor) é uma habilidade que se pode adquirir, e
que o domínio dessa habilidade aumenta com a
prática e a assiduidade do exercício.” E acreditase que, dessa forma, a próxima experiência será
melhor e mais excitante. Os corpos, diante dessa
máxima, ficam vulneráveis e frágeis diante da
relação presente, que poderia atrapalhar a futura,
nesse “desaprendizado de amor”. As mensagens
de não-envolvimento tomam conta dos discursos
('ninguém é de ninguém'; 'solteiro sim, sozinho
nunca'...) e a sensualidade nunca foi tão
veiculada e permitida, nas “pegações” e
fugidinhas, repercutidas nas mensagens das
redes sociais. Isso seria “um novo começo de era,
de gente fina, elegante e sincera, com habilidade
pra dizer mais sim do que não?” Reflexão
necessária...
Orlandi (2000, p. 4) aponta que “ao
mesmo tempo em que ocorre no gênero humano
a possibilidade de ilimitações nos mais variados
domínios, nunca se viveu tão sistemático,
cotidiano e envolvente sucateamento da
humanidade.” O autor afirma que esse
sucateamento, dito no singular, é uma
multiplicidade, na qual velhos e novos
sucateamentos se intensificam, visto que, se o
homem da disciplina produzia energia de forma
descontínua, o homem do controle funciona em
órbita, é ondulatório, ondulando no “curto prazo” e
na “rotação rápida” dos controles, num “controle
contínuo e ilimitado”. E nesse labirinto onde os
homens estão imersos, “dinheiro e desejo gozam
de intrínseca cegueira quanto aos fins” (...) Os
embates não encontram uma entrada boa para
uma boa saída, “encontram, isto sim, tabelas
superpostas de múltiplos deslocamentos, com
múltiplas entradas e múltiplas saídas pontuais,
pois há combinações as mais variadas entre
esses incontroláveis” (Ibid., p. 15). Talvez, seja
possível, então, nessas múltiplas combinações,
se buscar outras formas de relação, potencializar
novas possibilidades. Para Deleuze, os
atravessamentos de força aos quais os homens
estão sujeitos, nos encontros e agenciamentos,
são Potências, com P maiúsculo, e abrem espaço
para questionamentos e formas de resistência.
O “capitalismo” é uma dessas Potências
maiúsculas, assim como as “religiões, os
Estados, a ciência, o direito, a opinião, a
televisão” etc. São Potências capazes de
impor determinados modos de se estar nos
verbos da vida. O mim mesmo não dispõe
do poder de se ausentar delas, talvez nem
na loucura. É que cada uma dessas
Potências, “não se contentando em ser
exterior” a mim, a nós, “também passa
através de cada um de nós”. É justamente
essa passagem que, em determinadas
circunstâncias, entreabre a ocasião de um
combate na imanência, de uma “guerra de
guerrilha”, que se intensifica nos
questionamentos pontuais, nas erupções
de estranhas alianças entre a “serenidade”
e a “cólera”, isto é, entre, de um lado, as
micro-potências inovadoras do pensar,
essas que se agitam em certos entretempos
da filosofia, das artes, das ciências e, de
outro lado, linhas de fuga e de resistência
que modulam agenciamentos do desejo
como larvas de uma “cólera contra a época”,
contra o “intolerável” e a favor da invenção
de modos mais suaves de coexistência
entre os entes. (DELEUZE, 1992, apud
ORLANDI, 2000, pp. 17-18)
Micro-potências que possam criar
discursos de contra-informação, que não
retomem os valores ultrapassados, o
silenciamento dos desejos e o cobrir dos corpos,
em nome de práticas religiosas ou mesmo da
concretização de uma antiga moral travestida em
novas roupagens, como os novos ataques às
mulheres disseminados em páginas de facebook,
que classificam as que merecem amor ou devem
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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ser respeitadas, de acordo com o modo como se
vestem ou as músicas que ouvem e dançam. É
urgente investir na criação de valores novos e não
na recognição de valores estabelecidos. Para
Deleuze (2006), de um ponto de vista
Nietzschiano, tal distinção perderia todo sentido
se interpretada nas perspectivas de um
relativismo histórico: “os valores estabelecidos
reconhecidos teriam sido valores novos em sua
época; e os novos valores, por sua vez, seriam
chamados a se tornarem valores estabelecidos.”
Existe uma diferença de natureza entre “atribuir a
si valores em curso” e “criar valores novos”.
Diferença essa que aponta que os valores “novos”
devem ser “precisamente as formas superiores de
tudo o que é. (...) Há valores eternamente novos,
eternamente intempestivos, sempre
contemporâneos de sua criação e que, mesmo
quando parecem reconhecidos, assimilados em
aparência por uma sociedade, dirigem-se de fato
a outras forças e solicitam nessa mesma
sociedade potências anárquicas de outra
natureza.” (p. 165) Esses valores novos, somente
esses são trans-históricos e podem testemunhar
a “desordem criadora irredutível a toda ordem. (...)
Desse fundo supra-histórico, desse caos
“intempestivo”, partem as grandes criações no
limite do que é vivível.” (Ibid.) Como diz Ulpiano
(1988), é preciso “ultrapassar os limites da
natureza e transgredir os limites da consciência”.
No âmbito das relações da atualidade,
mesmo que, como fluidos que se movem
facilmente, os encontros simplesmente fluam,
escorram entre os dedos, transbordem como
líquidos que penetram nos lugares, nas pessoas,
apenas indo e vindo ao sabor das ondas do mar
(BAUMAN, 2000), é importante esse
ultrapasssamento. Ainda que conscientes que
“hoje o tempo voa e escorre pelas mãos... vamos
viver tudo que há pra viver... vamos nos permitir” em diferentes formas, em novos devires. Não só
permitir-se a esse indiscriminado ir e vir,
inevitável, em encontros superficiais consigo,
com o outro e com a vida que se movimenta, como
também se permitir criar. Tomar a si próprio como
espaço-tempo, ocupar-se por intensidades
capazes de fluir com prudência por linhas que
possam fugir, resistir ao controle das Potências,
não como “uma constatação psicológica e nem
um programa moral”, mas como “sinalizadores
ético-políticos” que ajudem a avaliar a
participação em cada ocorrência e seu propósito,
desvendar “o que estou ajudando a fazer de mim
mesmo a cada instante em face da inovação que
brilha num acontecimento, seja ele pequeno ou
grande.” Investir não em um trajeto curto que se
possa acomodar entre uma ética da intimidade e
uma moral da objetividade, mas sim sinalizar
possibilidades para “uma ético-política da
singularização.” (ORLANDI, op. cit., p.18)
Reorganizar a vida, em estratégias
revolucionárias para, quem sabe, entoarmos
outras canções que sugiram novas formas de
relações, como nessa composição, mais antiga
que os tempos modernos, na qual dois
compositores atemporais já diziam que “qualquer
maneira de amor vale a pena, qualquer maneira
de amor vale amar...”
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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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OS CONTEXTOS DE VULNERABILIDADE EM HOMEM QUE FAZ SEXO COM HOMENS (HSH)
VIVENDO COM HIV.
Prof. M.Sc. Roberto Garcia.
Doutorando em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP, Programa de PósGraduação em Psicologia Clínica, do núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar
.
Drª Denise Gimenez Ramos.
Prof.ª Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, do núcleo de Psicossomática e Psicologia
Hospitalar, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP.
Os contextos de vulnerabilidade
associados às Pessoas Vivendo com HIV
(PVHIV) são motivos de intensa preocupação.
Apesar de termos um modelo de referencia
mundial de HIV/aids, temos ainda muitos
desafios relativos à prevenção, cuidados e
redução de vulnerabilidade.
Vulnerabilidade é risco. Dentro do
processo de interpretação saúde-doença, o risco
é um indicador de probabilidade e a
vulnerabilidade é um indicador de iniquidade e
desigualdade social.1Este conceito surge de um
intenso debate social, resultante da acentuada
experiência que foi a eclosão da epidemia de
aids2e,nos mostrou muito claramente, pela
urgência e pelo caráter de seus determinantes, as
limitações dos saberes tradicionais da saúde
pública isolados e a necessidade desses saberes
mediadores; pois este atua sobre os diferentes
graus e naturezas de suscetibilidade de
indivíduos e coletividades à infecção,
adoecimento e morte pelo HIV, segundo
particularidades formadas pelo conjunto dos
aspectos sociais, programáticos e individuais que
os põem em relação com o problema e com os
recursos para seu enfrentamento2. Atualmente
considerado metodologia de análise dentro do
contexto do HIV/aids, este conceito, totaliza e
amplia nosso entendimento3.
Com o surgimento da aids por volta dos
anos de 1980, uma série de questões emergiram
com relação ao comportamento, sexualidade e
privacidade dos indivíduos. Historicamente, esta
epidemia ocorreu no Brasil pós-ditadura. Neste
princípio de democracia, iniciávamos o processo
deconquista de direitos e cidadania4. Neste
processo em que o Brasil se encontrava,
associado ao sensacionalismo da mídia, aaids foi
anunciada como a “Peste-Gay, o “Cancer-Gay”5,
criando uma das principais representações
sociais: a aids como doença dos homossexuais.
Esta representação de que a homossexualidade
“pega” tornou-se quase “real”: pegar aids
significaria ter tido contato com um desvio6.
Observamos, portanto, que
estaconfluência de estigmas –o da
homossexualidade associada ao da aids expõee coloca em perigo os HSH, vítimas de uma
cultura machista e homofóbica. No Brasil a cada
dia e meio, um homossexual é assassinado com
requintes de crueldade, vítima de homofobia7- os
conhecidos crimes de ódio - caracterizados pela
extrema violência, e pelos diversos modos de
tortura8. Os efeitos psicológicos gravíssimos
provocados, tanto no indivíduo como na
sociedade9, faz com que o indivíduo discriminado
associe sua vulnerabilidade a características
pessoais, culturais e sexuais, comprometendo
ainda mais a sua autoestima10.
Hoje, passados mais de 30 anos da
epidemia, pouca coisa mudou com relação ao
estigma e discriminação às PVHIV, fazendo com
que vivamos a chamada“epidemia das relações
sociais”, ou seja, a negação, a culpabilização, o
estigma, o preconceito e a discriminação11.As
atitudes de preconceito e discriminação
configuram uma epidemia tão fatal quanto a
infecção pelo HIV/aids, e as condições de
vulnerabilidade social e individual daí
recorrentes, têm consequências no curso da
epidemia12.
Assim, ao investigarmos neste
estudooscontextos de vulnerabilidade dos
HSH vivendo com HIV, observamos que a
percepção ao risco ao qual o HSH vivendo com
HIV está sujeito foiidentificada pelo fato de: não
usar camisinha, por ser homossexual, pelo uso
de drogas, pelo preconceito; por não fazer
adequadamente o tratamento; por adquirir outras
infecções e infectar outras pessoas, pela perdado
trabalho; por não ter mais prazer; por ser
agredido; pela falta de informação; por não ter
plano de saúde, e pelo isolamento afetivo.
Observamos na percepção do contexto de
vulnerabilidade dos HSH vivendo com HIV,
índices elevados de estigma e da discriminação
permanecendo quase que inalterada se
compararmos ao início da epidemia, sendo este,
portanto, o principal desafio a vencer no combate
à aids. Somente por meio de uma “revolução
culturalcoletiva” 13 , apoio e solidariedade 14
conseguiremos vencer estes aspectos lesivos
dos contextos de vulnerabilidade nesta epidemia,
que culpabilizam e prejudicam drasticamente a
autoestima dos HSH vivendo com HIV.
Método
Este trabalho é parte de uma dissertação
de mestrado em Psicologia Clínica da PUC/SP,
cujo objetivo foi o de investigar os contextos de
Vulnerabilidade em Homem que faz sexo com
H o m e n s ( H S H ) v i v e n d o c o m H I V. A
fundamentação teórica que balizou este estudo
foi a Teoria das Representações Sociais, que
pode ser definida como uma forma de
conhecimento do "senso comum", e que está
diretamente relacionada à maneira como as
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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pessoas interpretam ou traduzem os
conhecimentos socialmente veiculados15. O
método utilizado, essencialmente
qualiquantitativo16, teve como base o Discurso do
Sujeito Coletivo, uma técnica de construção do
pensamento coletivo que visa revelar como as
pessoas pensam, atribuem sentidos e
manifestam posicionamentos sobre determinado
assunto. O corpus da pesquisa reuniu 33
participantes, com os seguintes critérios de
inclusão: pertencerem ao sexo masculino, serem
alfabetizados, estarem dentro da faixa etária de
20 a 60 anos, com orientação sexual HSH
(homem que faz sexo com homens) e HSHM
(homem que faz sexo com homens e com
mulheres) e que estivessem vivendo com HIV.
Como procedimento inicial, o autor reuniu-se com
a direção e a equipe da instituição, que lhe
encaminharam os pacientes de acordo com os
critérios de inclusão. Os instrumentos utilizados
nas entrevistas foram dois questionários: o
primeiro, sociodemográfico17, e o segundo
composto por questões abertas. Finalmente,
após ciência e assinatura dos termos de
consentimento pelos participantes, todo material
coletado foi submetido à análise.
Caracterização da amostra
Esta amostra compõe-se de 33
indivíduos, com as seguintes características: (a)
faixa etária entre 20 e 60 anos, sendo 4 de 20 a 30
anos, 9 de 31 a 40 anos, 8 de 41 a 50 anos e 12 de
51 a 60 anos; (b) etnia: 17 branca, 14 parda e 2
negra; (c) estado civil: 14 solteiros, 3 divorciados,
8 casados, e 8 com união estável; (d) classe
social: 3 A, 3 B, 15 C, 5 D e 7 E; (e) escolaridade: 4
com ensino fundamental I; 7 com ensino
fundamental II; 13 com ensino médio e 8 com nível
superior; (f) orientação sexual: 21 HSH e 12
HSHM; (g) histórico de infecção: 24 indivíduos
infectados após a cronificação da doença, e 9
infectados antes da cronificação.
Considerações Finais
Este trabalho nos dá um diagnóstico do
alto índice de estigma e discriminação, com
conteúdos de violência física e emocional
gravíssimos. É alarmante observarmos que a aids
seja ainda percebida como doença de
homossexuais, relacionada à perversão e
promiscuidade. É também mobilizador termos
nos deparado, nesta investigação, com indivíduos
relatando situações de humilhação, de
degradação e desrespeito; vê-los se percebendo
marginalizados, desacreditados,
despotencializados, condenados à guetificação;
enfim, tão vulneráveis, isolados e excluídos.
Para refletirmos sobre os contextos de
vulnerabilidade dos HSH vivendo com HIV, é vital
considerarmos as complexidades desta epidemia
na sua história, vencermos nossas limitações
relativas ao conhecimento da sexualidade, para
então adentrarmos com maior profundidade nos
contextos social, afetivo e sexual destes
indivíduos; e tentarmos construir um modelo mais
integrativo e humano que esteja cada vez mais
próximo da realidade dos indivíduos e das
complexidades que se apresentam de forma
dinâmica e constante.
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
31
ACADEMIAS DE GINÁSTICA E PSICOLOGIA DO ESPORTE: COMO FIDELIZAR OS CLIENTES COM
TREINOS DIVERTIDOS E EFICIENTES?
Prof. M. Sc. André Aroni
Instituto Corpo Ativo – Campinas/SP
U.L.H.T – Lisboa/Portugal
A prática de atividades físicas em
academias de ginástica tem ganhado cada vez
mais adeptos, este fato tem levado muitas
empresas a investirem maciçamente neste tipo de
negócio, contudo, a alta rotatividade de alunos
apresenta-se como uma das principais ameaças
para estas empresas, Albuquerque e Alves (2007)
verificaram uma evasão de 70% entre os
praticantes de exercícios em academias de
ginástica. Mas quais são os motivos para se iniciar
uma prática física? E quais dificuldades estes
praticantes enfrentam? Aroni, Zanetti e Machado
(2012) verificaram os motivos e dificuldades para
a prática de atividades físicas no interior do estado
de São Paulo, saúde (36,6%) e estética (22,8%)
foram os motivos mais apresentados pelos
participantes, falta de tempo (33,8%) e preguiça
(25,4%) foram descritas como as principais
dificuldades para continuar com os treinos.
Tais resultados demonstram uma
mudança de valores dentro das academias nos
últimos anos, aspectos como a aquisição de um
estilo de vida mais saudável e com maior
qualidade de vida vêm ganhando espaço, antes
ocupado abundantemente por fatores estéticos e
de culto ao corpo. Esta inversão de valores e as
dificuldades da vida moderna nos levam a refletir
sobre nossos programas de treino, afinal, para
onde devemos direcionar o nosso olhar, para a
Fisiologia do exercício? Métodos de treinamento
físico? Oser humano? A Psicologia pode nos
ajudar a encontrar novas soluções, aumentando a
adesão em nossos programas.Para fidelizar os
clientes é necessário identificar o mais precoce
possível seus objetivos e dificuldades na
realização de atividades físicas, e assim sugerir
uma rotina de treino viável e divertida.
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evasão dos alunos das academias: Um estudo
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ARONI, A.; ZANETTI, M. C.; MACHADO, A. A.
Motivos e dificuldades para a prática de
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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
32
QUAL PSICOLOGIA DO ESPORTE PARA QUAIS JOGOS OLÍMPICOS? ANÁLISE DO CONTEXTO
ATUAL
Afonso Antonio Machado
D.E.F.- I.B.- LEPESPE- UNESP/ Campus de Rio Claro
RESUMO: A esportivização e a quebra de
recordes e limites têm sido consideradas como
fator específico e usual em confrontos esportivos
do tipo dos Jogos Olímpicos. No entanto, estes
avanços têm mostrado um forte aprimoramento
nos treinamentos esportivos, do ponto de vista
técnico e tático, mas o treinamento psicológico se
revela fraco ou inexistente. Em 2012, Londres,
tivemos exemplos claros e evidentes de uma
pequena ou frágil preparação psicológica dos
atletas brasileiros que rumaram para seus
confrontos com muitas sequelas psicológicas
para serem resolvidas, o que resultou nesta
pesquisa documental, onde elementos históricos
e legais foram retomados e ofereceram suporte
para análise. Enquanto a Psicologia do Esporte
for uma medida paliativa ou substitutiva nossos
atletas serão descartados diante de cada prova
de resistência psicológica.
ABSTRACT: The sportivization and record
breaking and limits have been considered as a
specific factor in confrontations and usual sports
like the Olympic Games. However, these
advances have shown a strong improvement in
athletic training, from the standpoint of technical
and tactical, but the psychological training proves
weak or nonexistent. In 2012, London, had clear
and obvious examples of a small or fragile
psychological preparation of Brazilians athletes;
they headed for his confrontations with many
psychological sequelae to be resolved, which
resulted in this documentary research, historical
and legal elements which were taken up and
offered support for analysis. While the Sport
Psychology is a palliative measure or substitute
our athletes will be discarded before each test
psychological resistance.
Introdução
Com a popularização de diversos
esportes e a divulgação do esporte espetáculo,
os grandes eventos esportivos tais como os
Campeonatos Mundiais de cada modalidade e os
Jogos Olímpicos conseguem chegar ao patamar
de show multimidiático, tendo aumentado cada
vez mais o interesse de clubes, atletas e países
pela aquisição da mais alta forma esportiva,
visando à obtenção de títulos e o reconhecimento
do público, amplamente divulgados pelas mídias
em questão.
Se por um lado temos a busca por novos
recordes, estrelato, patrocínios vultuosos, fama,
por outro, temos métodos de treinamento cada
vez mais fortes e desgastantes, tanto física,
quanto técnica-taticamente, e alguns esboços de
uma boa preparação psicológica, de modo a
garantir que os atletas sejam postos a prova e
levados a condições extremas de participação,
ultrapassando seus limiares de dor, de
distanciamento social, de percepções
contextuais e/ou de alienações, colocando-se
habitualmente prontos para sua prova ou sua
modalidade, de maneira supostamente ideal e
rigorosamente treinada (WEINBERG & GOULD,
2001).
A preocupação sempre está voltada para
o preparo atlético, mas vale lembrar que esta
locução está amparando apenas o fator físico e
fisiológico uma vez que os treinamentos visam os
condicionamentos de: resistências, forças,
flexibilidade, potências, capacidades aeróbia e
anaeróbia, entre outros fatores; além disto, são
checados os elementos básicos e
complementares das modalidades, os exercícios
mais complexos e os sistemas táticos mais
refinados, com participação em campeonatos
internacionais, estágios fora do país, grandes
investimentos financeiros e troca de experiências
com atletas do primeiro escalão de atuação.
A situação beira ao grotesco quando é
noticiado que determinado atleta, sustentado
pelo dinheiro da população brasileira, se nega a
participar deste ou daquele evento, em função de
estar numa entressafra ou num período de
transição, junto a sua equipe do “exterior”. Mais
do que isso, estranho demais é juntar 10 ou 15 ou
20 atletas para um evento, sem uma previa
proposta de reconhecimento do período de
treinamento em que cada um está ou sem saber
das necessidades de cada um, que extrapolam
as necessidades técnicas, táticas e fisiológicas.
Estes serão os argumentos que adotaremos a
partir de então, com mais rigor e precisão.
Obvio deve ser a necessidade de um bom
condicionamento físico e das adequações
individuais e coletivas, quando for o caso, das
características técnicas e táticas, sempre
niveladas ao que de melhor e mais atual existe,
tanto quanto a preocupação de superar os
adversários diante de propostas arrojadas e
rebuscadas que cada elenco esportivo
apresenta, porém quando pensamos apenas no
aspecto fisiológico, os testes são demorados e
nem sempre acontecem os re-testes, que
comprovam evolução ou estagnação do
rendimento fisiológico. Do ponto de vista técnico
e tático, estas intervenções recebem olhares que
variados: jogar como a equipe americana, nadar
como os australianos, remar como os ingleses...
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e parece que tais denominações atraem mais do
que garantir uma tipologia nacional e específica.
Este raciocínio avança, quando
percebemos que somos adaptáveis a qualquer
estilo, desde que humanamente valorizados,
contextualizados e naturalmente guerreiros. O
rendimento atlético é a somatória de todos os elos
do treinamento esportivo, que busca um equilíbrio
entre as partes, de modo a garantir um
desempenho integral e harmonioso.
Talvez o que temos percebido, em termos
de preparação para os grandes eventos não
esteja enquadrado nessa configuração, criando
dúvidas em relação à sua aplicação ou até a
própria existência de uma preparação psicológica
adequada ou eficaz. Isso nos remete a oferecer
um mapeamento, anterior ao estudo documental,
para garantir um estofo teórico consistente e de
real aplicabilidade (GONÇALVES, 1993).
A torcida no esporte
Este público que lota estádios e campos,
arquibancadas e laterais de pistas de atletismos e
tatames respondem a algumas indagações e
alguns preceitos teóricos, de modo a exercer sua
pressão, positiva ou negativa, naqueles que são
foco de sua ação. Cada um deles tem seu objetivo
e sua conduta, de modo não-linear: ele nunca
agem de maneira previsível e nem sempre atuam
ao mesmo tempo, em função de suas
peculiaridades.
Desta maneira, Machado (2006) aponta
os consumidores primários (que ficam
profundamente envolvidos com o esporte e
assistem pessoalmente aos eventos), os
consumidores secundários ( espectadores
através da televisão ou radio, mas não
freqüentam pessoalmente aos eventos
esportivos) e os consumidores terciários (
pessoas que, de vez em quando, interessam-se
pelo esporte, não como espectadores ou através
de meios de comunicação. São indivíduos que
discutem esportes com outros e lêem as paginas
esportivas dos jornais).
Por outro lado, em outra leitura do
contexto, estudos de Samulski (1998a), sobre as
teorias que se referem ao impacto do esporte nos
espectadores, indicam a existência de cinco
modelos principais que explicam a atração das
pessoas pelos campeonatos esportivos
apresentados aqui de maneira sintética: numa
categoria denominada de divertimento (que se
baseia geralmente na parte artística da maioria
dos esportes, ressaltando os valores morais
daquele esporte, com fins puramente
recreativos), numa categoria que pensa no bem
estar físico e mental (quando alguns são atraídos
para o esporte porque ele pode rejuvenescer e
energizar seus corpos e sentem o bem estar
mental através da apreciação do esporte,
unicamente).
Numa perspectiva clássica, vem a
categoria denominada de catarse através da
agressão (ai vemos a torcida manifestar sua
agressividade de maneira substitutiva, através da
apreciação de campeonatos esportivos violentos.
Contrariamente, sugere que a agressividade do
espectador geralmente aumenta depois da
observação de atos agressivos. A seguir temos a
categoria busca de tensão (em que o fato
específico de perder ou ganhar fará pouca
diferença para o torcedor em busca de tensão:
sua estimulação está baseada na incerteza e no
risco que antecedem final do espetáculo)
Então, para Samulski, a ultima categoria
listada é a busca de êxito, em que o torcedor que
está implicado no esporte por razões relativas ao
êxito, apresentará mudanças de humor,
dependendo do sucesso ou fracasso do time ou
do jogador com que se identifica. A atuação do
atleta não deixa de sofrer influência de alguma
assistência: em toda circunstância ele terá a
vigilância de colegas de equipes, técnico, amigos,
família e torcedores ocultos.
Diante deste quadro multivariado
podemos afirmar que inúmeras situações
ocorrem dentro e fora da partida, originando
estímulos que serão lançados a todo o momento,
no ambiente; técnicos, a mídia, os pais e amigos e
o publico, em geral que compõe o ambiente, todos
eles de forma instável reagem aos
acontecimentos do espetáculo. A estes todos
vamos chamar de torcida, que apresentam
comportamentos variáveis devido aos aspectos
pessoais e se seus contextos.
O tipo da torcida e sua atuação diante de
atletas ou equipes são fatores que interferem
direta ou indiretamente em atletas, com uma
variabilidade que vai da família do jogador até a
torcida organizada, do telespectador no campo ou
ginásio ou da televisão ou rádio, da imprensa
escrita ao técnico, além dos próprios
companheiros de equipe, entre outros elementos.
Tais fatores incidem fortemente, facilitando ou
comprometendo o rendimento esportivo, o que
passa a ser motivo de estudo, para os
profissionais do esporte moderno (MACHADO,
1998).
Ao tratarmos do comportamento do
torcedor diante a disputa esportiva, temos que
lembrar dos motivos que levam ou levaram o
espectador ao estádio ou ginásio, as atividades
exercidas em seu cotidiano, a frequência deste
em eventos esportivos, seu nível sócioeconômico-cultural, entre outros aspectos, visto
que este espectador também tem um histórico na
vida daquela equipe, alterando para melhor ou
pior, o resultado da competição.
A fanfarronice ou a agressão da torcida
depende, em muito, da classe socioeconômica
em que ela se encontra, sendo que os problemas
diários influenciam as atitudes daquele grupo no
momento do espetáculo, tornando um fator muito
importante no que se diz respeito a atitudes dela
em relação aos acontecimentos em quadra.
O torcedor tem um poder tão forte que
pode alterar situações políticas de clubes,
equipes e atletas, conforme vemos em noticiários
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gerais. Existe uma força externa mobilizadora.
Machado (2006) diz que, em determinadas
circunstancias o poder que a torcida exerce
ultrapassa as esferas do campo de jogo,
interferindo na relação do atleta com o clube ou,
ainda, com o treinador.
Fica claro, e é relevante em nosso
estudo, a questão da personalidade do atleta,
que se deixa ou não influenciar pelo público, que
por sua vez também pode influenciar as atitudes
dos mesmos, a relação atleta-torcedor é uma
relação mútua, há uma troca de estímulos
ocorrendo ao mesmo tempo durante o momento
esportivo.
Sendo assim, num clima tenso e agitado,
o iniciante ou até mesmo o atleta experiente será
dominado pelo poder que o grupo externo exerce
contra ele, tendo suas jogadas e atuações
sondadas e pelos torcedores, que, de certa
maneira, controlam toda a sua vida. Acontece de,
no momento da competição, alguns atletas
relatarem que a torcida não interfere na sua
atuação, o que difere de outros tantos que
acreditam que a torcida pode influenciar no seu
rendimento.
Emoções, emoções e emoções...
A autoconfiança e a auto eficácia são
duas características psicológicas que, quando
fortalecidas, atuam positivamente no resultando
atlético. A autoconfiança é uma característica
mais global e estável do indivíduo. Weinberg e
Gould (2001) a definem como a crença que o
atleta tem nele mesmo de que pode executar com
sucesso um determinado comportamento
desejado. Por outro lado, Bandura (1990)
também afirma que a autoconfiança se refere ao
grau de firmeza e convicção numa determina
crença, mas sem especificar a situação.
Machado (2006) caracteriza a
autoconfiança como uma alta expectativa de
sucesso, e descreve que a mesma, quando
apresentada em um nível ideal, pode despertar
emoções positivas, como favorecer a
concentração, facilitar o estabelecimento de
metas, aumentar o esforço destinado à
determinada tarefa e fortalecer a focalização de
estratégias.
Quando este estado emocional é pouco
manifestado em atletas, os mesmos podem
prender-se mais em suas deficiências do que em
seus pontos fortes e qualidades. Isso pode fazer
com estes deixem de se concentrar na tarefa a
ser realizada e ainda causar insegurança,
afetando o desempenho (WEINBERG e GOULD,
2001).
Pensando na auto eficácia, Bandura
(1995) descreve que a mesma atua como
indicador da ação futura, sendo uma auto
avaliação, as crenças e os julgamentos que o
indivíduo faz acerca de suas capacidades para
executar ações em determinados momentos
específicos do esporte, funcionando como um
fator determinante do modo como as pessoas
agem e se comportam, dos seus padrões e
organizações de pensamentos e das reações
emocionais que experimentam em situações de
realização destas ações.
Utilizando um dialeto mais simplificado, a
auto eficácia consiste no grau de convicção que
uma pessoa tem de que pode executar com êxito
um determinado tipo de comportamento
necessário para se alcançar um resultado. São
as crenças e os próprios pensamentos que o
sujeito possui de suas capacidades individuais
para realizar uma ou um conjunto de tarefas
(BANDURA, 1993).
Fazendo uma breve diferenciação entre
os termos discutidos acima, relacionando-os com
o tempo, esses autores acima mencionados
afirmam que a autoconfiança é a característica
mais global e estável do indivíduo. Já a auto
eficácia é mais específica a determinado tempo,
ambiente e situação, podendo oscilar muito. Mas
ambas as características são de extrema
importância e funcionam, quando
compreendidas e avaliadas, determinantes para
se predizer o desempenho dos atletas pensandose em performance competitiva.
A perspectiva de um bom trabalho
psicológico leva a entender que não se trata de
um investimento em um determinado filão
emocional ou um treinamento específico para
este ou aquele detalhe: falamos da integridade
da natureza humana, com sua unicidade diante
de uma espetacularização a ser atingida.
No inicio de nosso trabalho dissemos
que, durante o espetáculo esportivo, são muitas
as variáveis que interferem no desempenho do
atleta: a atenção e concentração, a motivação e
outras emoções como a ansiedade, medo e
agressividade, que necessitam ser atendidas e
trabalhadas, no decorrer dos ensinamentos. Hoje
sabemos que atenção e concentração são
relevantes para o desempenho do atleta e que
muitas técnicas utilizadas para melhorar o
rendimento esportivo, como relaxamento e
visualização, interferem na atenção, já sendo
objeto de aplicação em aulas de educação física.
É importante saber que a concentração
pode ser aprimorada por meio de técnicas de
concentração, visualização e relaxamento. São
técnicas utilizadas periodicamente, durante o
período de ensinamentos e antes de uma
verificação de resultado ou confronto, conforme
Nitsch (1996). O treinamento mental (seja ele de
concentração, visualização ou relaxamento) é de
suma importância para o âmbito da atenção e
concentração, durante uma partida o atleta é
atingido por inúmeros estímulos, sejam eles do
próprio jogo, ou no caso o que estamos
estudando vindos da torcida, e seu controle se
faz necessário.
Para Samulski (2002) durante uma
competição, o atleta tem de ter a habilidade de
deslocar-se entre diferentes categorias, de
controle de estímulos, ou seja, o atleta tem de ter
a habilidade de deslocar sua atenção de um tipo
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de estimulo para outro. Para facilitar nosso
entendimento, recorremos a Nitsch (1996) que
resume algumas das características da atenção:
é seriada, mudando de uma fonte para outra ao
longo do tempo; é limitada em capacidade; requer
esforço e está relacionada com a excitação e
limita a capacidade de fazer certas partes da
tarefa ao mesmo tempo.
Um fator de grande mobilização no
treinamento psicológico e, por meio de um olhar
singular sobre os aspectos da atenção e
concentração e suas implicações no atleta de alto
nível, podemos afirmar sobre sua importância e a
sua relação com a torcida, pois o atleta tem seu
rendimento limitado no que diz respeito à ação
motora e a processos psicológicos, quando sua
atenção é desviada dos estímulos do jogo para os
estímulos da torcida. E isso ocorre quando os atos
da torcida se tornam relevantes para o atleta:
aquilo que a torcida gritou o atingiu diretamente,
nesse caso com valores positivos ou negativos.
Os psicólogos do esporte e do exercício
consideram motivação a partir de diversos pontos
de vista específicos: a motivação para a
realização, motivação na forma de estresse
competitivo e motivações intrínseca e extrínseca
(WEINBERG & GOULD, 2001). O nível de
excitação e a ativação possuem uma propriedade
de mobilização geral do organismo e corresponde
a uma das características da motivação, o que
leva o professor de educação física, a saber,
trabalhar com tais concepções. O seu emprego
adequado e a sistematização facilitarão o bom
desempenho e o sucesso esportivo.
Por isso podemos afirmar que os
conceitos e características da motivação dão
mostras de como a torcida pode ser fundamental
neste processo: os técnicos tentando motivar
seus jogadores e a torcida em geral tentando
excitar aos mesmos, cada um a sua maneira e
tempo. Todos têm um papel participativo positivo,
no processo de interferência, sendo de grande
valia para o rendimento do atleta e para o
momento esportivo. Lembrando das diferenças
de cada motivo específico.
Retomando, então, a motivação tem um
papel fundamental no rendimento do atleta de alto
nível, apesar de sabemos que existem vários
conceitos e teorias que a enquadram, mas não é o
mote deste trabalho estabelecer comparações
entre tais teorias. Vale ressaltar que a motivação
para o esporte revela inúmeras facetas que
envolvem toda a preparação física e psicológica
de atletas, treinadores e/ou educadores físicos
(BANDURA, 1995), podendo ser definida,
simplesmente, como a direção e a intensidade de
nossos esforços, nossa meta.
Do ponto de vista estrutural da Natureza
Humana, outro estado emocional que merece
destaque e que tem tomado momentos de muita
reflexão dos estudiosos da área diz respeito ao
medo. Ele é considerado como inerente a todos
os seres humanos, e um grupo de pesquisadores
afirma que tal percepção é herdada
geneticamente, e outros afirmam que o mesmo é
fruto de um aprendizado social.
Machado (2006) entende que o medo é
considerado um sentimento de tensão,
nervosismo ou opressão, e é responsável por
provocar nos indivíduos um estado de alerta
frente algum perigo ou ameaça. É importante
saber que este estado de alerta pode ser
provocado por um estímulo real ou imaginário
(através de pensamentos ameaçadores), e
ambos são acompanhados de respostas
fisiológicas como alterações nas freqüências
cardíacas e respiratórias, aumento na pressão
sangüínea, sudorese e excessiva ou nenhuma
salivação.
Podemos pensar também em alterações
em nível motor, como contrações musculares
desnecessárias e falta de coordenação motora
(MACHADO, 2006).
Quando pensamos no
esporte, o medo é capaz de interferir
negativamente na performance dos indivíduos
devido à desorganização psíquica que é capaz de
provocar nos mesmos. Machado (2006) nos
apresenta seis distinções de medo que podem
ocorrer com freqüência no âmbito do esporte, que
não apresentaremos pela direção do estudo.
O medo do fracasso, uma das situações
mais terríveis para os atletas, pode ter inúmeras
fontes responsáveis por sua origem, como a
pressão dos pais e técnicos perante a vitória,
influência da torcida e da mídia sobre o
desempenho do atleta, preocupação excessiva
em decepcionar os companheiros de equipe,
entre outras.
Em um estudo realizado com jogadores
de futebol profissional, Roffé (1999) investigou
trinta diferentes possibilidades de situações nas
quais poderiam despertar o sentimento de medo
nestes atletas. Nas suas análises, estiveram no
topo da lista o medo de se lesionar, o medo de
fracassar e o medo de errar.
Pensando na prontidão competitiva, isto
é, no quanto o atleta está preparado para a
competição, fica claro que deve haver uma
harmonia dos estados fisiológicos e psicológicos,
temos algumas evidencias de que as reações dos
atletas com relação ao medo levam os mesmos a
tomarem algumas atitudes que podem ficar claras
nos treinamentos dos mesmos.
Machado (2006) cita alguns sinais que
podem retratar estes momentos, como ausências
e atrasos corriqueiros nos treinos, excesso de
tempo gasto nos aquecimentos, incapacidade de
focalização da atenção, excesso de fadiga sem
causa lógica, indícios de depressão, facilidades
em adoecer e queixas constantes de dores
interrompendo a seqüência dos treinos, mas que
desaparecem quando o atleta não está em
treinamento e demonstra-se apto a praticar outras
atividades, como “bater uma bolinha” nos finais de
semana.
Estresse: bom ou mau, sempre o estresse
Não conseguimos falar na prontidão
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competitiva sem falar no estresse, definido por
grande parte dos autores da área da psicologia
do esporte (SAMULSKI, 2002; McGRATH, 1981;
NITSCH, 1976) como um estado de
desestabilização psicofísica, fruto da interação
do indivíduo com o ambiente. Eles afirmam que o
estresse está presente na vida de qualquer ser
humano e é importante para a manutenção e
aperfeiçoamento da capacidade funcional e de
autoproteção.
Tomando como referência o próprio
indivíduo (meio interno), é sabido que sob as
mesmas condições diferentes pessoas podem
reagir de diversas formas, ou ainda em condições
distintas elas podem apresentar uma mesma
resposta ou ter o mesmo comportamento. Isto é
explicado pelo autor devido ao processo de
avaliação subjetiva pertencente a cada indivíduo.
O estresse merece uma significativa
atenção porque influencia diretamente a
prontidão competitiva. Por ser o ambiente
esportivo um local de constante troca de
interação entre o atleta e o meio (considerado
como o meio físico – local do jogo, equipamentos,
materiais – e outras pessoas – companheiros de
equipe, adversários, técnicos, torcida, árbitros,
família, entre outros), todas essas situações
podem ser encaradas como desafiadores ou
ameaçadoras pelo esportista, podendo ser ou
não fontes geradoras de estresse, e isso
dependerá, de acordo com Smith (1986): da
situação (tida como essa própria interação do
meio e o indivíduo, o quanto ela pode ser
ameaçadora ou não; CHAGAS, 1995); da
avaliação cognitiva (processo de avaliação ou
interpretação da situação pelo sujeito, que
dependerá das próprias características pessoais
dele, como nível de expectativa, auto-conceito, e
nível de habilidade e experiência) e das
respostas (resultante da avaliação cognitiva da
situação na qual o atleta se depara. Essas
respostas poderão ser fisiológicas, motoras ou
psicológicas).
Diante da complexidade da situação e,
movidos pela leitura multifatorial que compõe o
esporte espetáculo, estudos avançam e norteiam
o cenário esportivo; assim,
De Rose Jr. e
colaboradores (2004) afirmam que outros
estudos importantes sobre as situações
causadoras de estresse no esporte competitivo, e
que, acreditamos nós, afetam a prontidão
competitiva podem ser referencias para novos
olhares, citando Brandão (2000), De Rose Jr,
(1999), James e Collins (1997), Gould, Jackson e
Finch (1993), sendo que em todos eles as
situações geradoras de estresse variam,
independentemente da modalidade esportiva.
Tal perspectiva nos leva a assumir novos
olhares para a má preparação física,
necessidade de manter o padrão de
desempenho, longos períodos de preparação e
rotina de treinamento, falta de estrutura para o
treinamento problemas de alimentação, viagens
longas, más condições dos locais de competição,
erros durante jogos, intervenções dos técnicos,
discussões com companheiros de equipe,
arbitragem, dormir mal, problemas em
relacionamentos amorosos, problemas
familiares, falta de recompensas, falta de tempo
para lidar com situações cotidianas e pressão da
imprensa, entre outros, que podem ser geradores
de estresse, no grupo esportivo em atuação.
Perspectivas metodológicas
A ideia de traçarmos nosso estudo em
uma pesquisa documental veio do fato de
estarmos em posse de muitos documentos
editoriais, de jornais renomados (Folha de São
Paulo e Estado de São Paulo) e de revistas
semanais que, para além do espetáculo,
impulsionam a curiosidade do leitor, como é o
caso das revistas ÉPOCA, ISTOÉ e VEJA, em
suas edições anteriores à abertura olímpica,
passeando pelo evento espetacular as
temporada, durante e pós-momento olímpico.
Desta forma, tais documentos
encontraram eco nas memoráveis frases de
nossos repórteres televisivos, que em alguns
momentos pareciam narrar alguma coisa
diferente daquela que o vídeo sinalizava, tal a
incongruência das palavras com as imagens:
este vão no sincronismo espelha o
desconhecimento ou o despreparo dos
profissionais da mídia esportiva, facção que mais
manipula as emoções do público, uma vez que
temos, na televisão os recursos de imagens, o
som e as palavras emitidas pelos atletas, pelos
técnicos, pelos familiares, pela torcida e pelos
próprios profissionais da mídia, nem sempre
convergindo para uma motivação que
alavancasse cada uma das modalidades em luta
pelas medalhas.
De alguma forma, a televisão substitui a
função familiar, e seu núcleo mais clássico: os
pais. Ocupa um lugar de destaque dentro do lar,
tornando-se um ponto de referência obrigatório
na organização da vida familiar. Está sempre à
disposição, oferecendo a sua companhia a
qualquer hora do dia ou da noite. Alimenta o
imaginário infantil com todo tipo de fantasias e
contos. É um refúgio nos momentos de
frustração, de tristeza ou de angústia e nunca
exige nada em troca.
Uma grande parte do poder de fascínio
da televisão advém do fato de que ela cumpre
todas as funções próprias do espetáculo: a
gratificação sensorial, proveniente de um
bombardeio de estímulos visuais e sonoros. As
luzes, as formas e as cores tornam-se
gratificações em si mesmas, assim como as
músicas e os sons. Mas a gratificação sensorial é
incrementada pelo aparecimento constante de
personagens sedutores (atletas-homens
atraentes e dinâmicos, belas mulherescampeãs), de cenários fascinantes ( paisagens
exóticas, ambientes de luxo extra-mundo
esportivo), de objetos atraentes (calçados
diferentes, agasalhos coloridos, óculos
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espaciais, implementos diversificados em
abundância, visível/possível no mundo
esportivo).
A gratificação mental, derivada das
fábulas e das fantasias, que satisfazem uma
necessidade básica, ocorre por meio da ação, das
chamadas e dos focos especiais. É tido como real
que o mundo da fantasia, dos sonhos, e é tão
necessário para a saúde mental como o alimento
para o corpo, assim, ainda, alguns vivem de
sonhos e de fantasias que insistem em não se
realizar nunca, mas que dão o colorido às Vidas
de alguns atletas.
A gratificação psíquica, advinda da
liberação catártica provocada pelos processos de
identificação e projeção, os quais permitem aos
telespectadores elaborar os seus conflitos
internos garantem o bem estar e a satisfação ao
assistir
ou ler a reportagem. As situações
esportivas tomam corpo no dia-a-dia e passam a
ser a única fonte possível de desejo e sua
realização é um componente especial no Esporte
Espetáculo Midiatizado.
O fenômeno dos meios audiovisuais de
comunicação de massas como grande
espetáculo da indústria cultural é explicado, no
entanto, por mecanismos que estão além do
inconsciente pessoal, devendo-se recorrer ao
conceito de inconsciente coletivo.
O
caráter compensatório da experiência de ser
espectador torna-se evidente pelo fato de que,
tanto individual como coletivamente, quanto mais
frustrante ou dura for a realidade, maior será a
necessidade de sonhos. Talvez seja possível
explicar assim o grande sucesso de alguns
programas de auditório ou entrevistas com
grandes ídolos e atletas.
O excesso de informação pode levar a um
tipo de saturação que torna o indivíduo bloqueado
e insensível. A informação transformou-se no
setor privilegiado da indústria. Mas corre-se o
risco de que as comunicações de massa acabem
afogadas pela massa de comunicações.
Submerso em um mar de informações, o
telespectador também termina se afogando,
incapaz de controlar o seu fluxo: a saturação de
informação leva à desinformação, que é um
problema de poluição informativa.
Por outro lado, as informações possuem
um grande valor para as instituições e para os
especialistas, mas resolvem poucos problemas
para a imensa maioria dos cidadãos. É possível
até que criem mais problemas do que resolvam.
Não melhoram a sua qualidade de vida. São, em
grande parte, irrelevantes para o seu cotidiano.
Servem, no máximo, para que possam falar.
Quase nunca para que possam fazer. E menos
ainda para que possam ser. Nessa possibilidade,
o bem estar se esvai e torna-se contraditório
imaginar que assistir a um jogo ou torcer por uma
equipe satisfaça inquietações interiores.
Além do mais, são tantos e tão graves os
problemas sobre os quais se recebem
informações que superam qualquer possibilidade
de intervenção pessoal, produzindo-se, assim,
um mecanismo de defesa, de imunização. No
cinema e na televisão a impossibilidade de ser um
mediador nos acontecimentos exime o
espectador de qualquer responsabilidade. Ou
seja, a impossibilidade física para dar uma
resposta ativa exime de responsabilidade moral.
Diante de uma derrota ou perda de uma medalha,
a impossibilidade física de intervenção e o
distanciamento do evento fortalecem no
espectador uma atitude de observação passiva.
Não há necessidade de fugir nem
exigência de uma participação responsável. Se a
câmara substitui visualmente o espectador, já que
lhe permite estar presente nos acontecimentos
mais inesperados, os jornalistas e técnicos o
substituem moralmente. Ao serem mediadores
entre o espectador e o conflito, servem para
tranquilizá-lo. Daquela sensação de “podemos
ver tudo” ou “tudo nos é mostrado” chega-se à
convicção implícita de que “tudo está controlado”
e, portanto “não é preciso agir”.
Estas observações são relevantes
quando nos dispomos ao acompanhamento “à
distancia” ou monitorados pelos olhos do
profissional da mídia esportiva. Não nos parece
ser pouco o fato do torcedor interagir por meio do
FACEBOOK ou TUITTER com seu ídolo ou
equipe, uma vez que cobranças são a tônica das
redes sociais existentes, numa persuasão a todo
prova, as vezes exercendo um cruel papel de
delatora ou inimigo imbatível.
Por outro lado, a persuasão pode ser um
poderoso instrumento de motivação do técnico e
do professor para com seus atletas e alunos. Este
instrumento possibilita a transmissão de ideais
em relação a alguma situação ou tarefa a ser
enfrentada e desenvolvida. É a prática da
comunicação que tem como objetivo influenciar,
vencer ou defender-se de outrem, através de
técnicas e diferentes métodos, que vão da
retórica, do potencial da psicologia e das
emoções, ao jogo dos desejos e da sedução
(MACHADO, 1998).
É assim que a persuasão nas diferentes
formas de relacionamento interpessoal tem
merecido a atenção, especialmente na área da
psicologia social, já que este representa um
catalisador de alterações, inclusive atitudinais.
Para que isto se proceda requer-se um motivo
forte desencadeador, o qual é capaz de fazer a
diferença no sentido das crenças e valores. Desta
forma, a persuasão pode ser tomada como um
processo de interação, presencial ou não,
baseado no qual, uma certa mensagem tem ação
de alterar uma dada perspectiva individual,
especialmente no sentido das crenças, dos
conhecimentos e dos interesses. Ao se considerar
a relação estabelecida entre técnico e atleta ou
professor e aluno, além dos objetivos específicos
dentro de cada relação, há sempre o interesse em
concretizar uma meta estabelecida. Esta última é
sempre permeada pelas motivações que
impulsionam o caminho de sua concretização.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
38
No processo de persuasão em si, devese, dessa maneira, atentar para a ampla
possibilidade de se operar a transferência de uma
determinada opinião, já que a persuasão e seus
discursos podem assumir conteúdos suspeitos.
O ato de persuadir, para manter sua integridade,
deve ancorar-se em três ordens: razão, ética e
moral. Estes pilares direcionariam a intenção de
influenciar o outro para a superação de limites e a
transcendência de obstáculos em relação a sua
personalidade, modo de existir e relacionar-se
com o mundo, de acordo com as regras do decoro
social pertinente.
No universo dos esportes e das
competições, como no da Educação Física, a
presença da ética se mostra fundamental para a
manutenção das relações do indivíduo consigo
mesmo e, também, das relações entre os
homens (JAMES, COLLINS, 1997). Assim,
mesmo num universo científico, há valores
sociais os quais regem as relações, as
motivações e os objetivos de cada situação.
Assegurar a presença da ética, da moral e da
razão traz, tanto para o técnico, como para o
professor, um suporte legítimo para persuadir o
outro, enquanto sujeito em sua complexidade e
não na sua superficialidade de objeto educativo
ou performático.
É aconselhável, desta forma, desvendar
a natureza dos indivíduos, seu enredo
psicológico, conhecendo de perto seu modo de
pensar, sentir e agir, formando, assim, o discurso
dentro da lógica, da síntese, da análise, das
generalizações e das subdivisões. De maneira
peculiar, a prática da persuasão perpassa os
ditames da política e do discurso científico na
atualidade. No entanto, quando esta prática se
relaciona com os esportes de competição e a
Educação Física, torna-se necessário ocorrer a
transferência do homem objeto para o sujeito, a
fim de se garantir a integralidade do ser humano
envolvido.
A importância destes elementos da ética,
da razão e da moral, em relação à atuação do
técnico e do professor, é inquestionável. Esta
atuação como profissional passa por várias faces
do saber e da construção do conhecimento e do
sujeito, até a práxis. Ao considerar a realidade do
sujeito, sua cultura, história, sociedade, e seu
enredo psicológico, a motivação, feita por meio
do discurso de persuasão do técnico ou do
professor, tem grandes chances de acontecer,
levando ao tão sonhado êxito.
Essa persuasão pode se dar de diversas
formas, sendo uma delas referente à utilização de
feedback positivo ou de reforço, elementos
importantes, que os professores e técnicos
podem e devem utilizar, quando estão diante de
uma relação de ensino-aprendizagem ou de
desempenho, já que o feedback positivo exerce,
efetivamente, uma influência positiva no
desempenho e aumenta a motivação intrínseca
(BANDURA, 1995). Portanto, a motivação e o
discurso persuasivo refletem o ímpeto de
conhecer cada vez mais profundamente aquilo
que é humano e tudo mais que traz para sua
existência a vontade de expressar-se, de realizar
sonhos, atingir metas e superar limites.
Por que tal encaminhamento? Porque
nossos atletas se abalam com as notícias que
ouvem, leem ou veem por meio de seus recursos
sociais de contato com o Mundo exterior da
competição. Assim temos um cavaleiro que se
indigna com seu povo (o brasileiro) por criar
cachorros e não criar cavalos; temos um nadador
que se condói pela dor seu povo, diante da
medalha que se lhe escapa, um técnico que se
assusta ao não se perceber querido ou
pretendido pela sua nação.
E estes apontamentos nos levam a
questionar: qual psicologia do esporte para qual
tipo de esporte ou praticante de qual
modalidade? Será que estaremos, um dia,
plenamente preparados? Existe a possibilidade
do perfeito? Do completo?
Conclusões
O esporte de alto rendimento necessita
de atletas cada vez mais preparados, para um
maior número de competições em um menor
intervalo de tempo. Por outro lado, as altas
cargas de treinamento vividas por estes atletas
podem reduzir os seus níveis de prontidão
competitiva, já que estas cargas podem levar a
uma redução das capacidades físicas e
psicológicas. A resistência psicológica fica
comprometida, por vários destes aspectos, que
recebem um foco mais invasivo quando
pensamos na ação midiática, de cada etapa,
partida ou acontecimento esportivo.
Este trabalho também serve para
desmistificar a crença popular de que atletas
profissionais são homens insensíveis e
fortemente resistentes à tensão psicológica, uma
vez que em muitas ocasiões o que assistíamos
era uma profusão de emoções que se
misturavam e se confundiam, resultando numa
finalização dolorida, ainda que favorável. Implica
em garantir que vale sofrer para ser campeão.
Isto demonstra claramente que não é
todo dia que o atleta consegue atuar com a
máxima performance, com sua plena resistência
psicológica que o transforma em semideus. Estes
atletas são dotados de uma alta capacidade para
a competição, mas também tem limites físicos e
psicológicos, estando sujeitos a alterações em
seus estados de humor, a sentir medo, a não
saber lidar com o estresse, entre outros.
Seria importante também informar que a
pesquisa indicou relatos da prontidão competitiva
em dias mais próximos aos jogos e durante os
mesmos, favorecendo ao conhecimento das
variações de humor do atleta: este olhar, á
distancia, permite verificar se ele está realmente
preparado para aquela competição,
possibilitando com isso a adequação das cargas
de treinamento, bem como intervenções
psicológicas a fim de maximizar o rendimento
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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esportivo e a conduta assertiva para a medalha de
ouro.
Este trabalho demonstra, ainda, a
necessidade de um novo trabalho psicológico,
para atuar na redução do estresse causado pelas
altas cargas de treinamento diário, aumentando o
envolvimento destes atletas de modo satisfatório
com a competição e as sessões diárias de
treinamento, além de predispô-los ao insucesso
esportivo sem que se sintam perdidos na Vida: é
preciso que aprendam a distancia entre o esporte
e o viver.
Uma solução prática também seria a
introdução de diários de treinamento, permitindo
ao atleta registrar eventuais problemas que
possam interferir em seu rendimento e saúde,
aumentando com isso o conhecimento dos
treinadores em relação às respostas individuais
apresentadas pelos diversos atletas de sua
equipe e possibilitando que os elevados ao trono
de semideuses possam perceber que eles
também sentem e, em função disso, podem ser
induzidos ao erro ou ao insucesso, mas isso não
os torna vulneráveis. Apenas humanos.
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III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA
APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA
CURSOS
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PEDAGOGIA DO ESPORTE: ASPECTOS DIDÁTICOS E METODOLÓGICOS
Prof. M.Sc. Osmar Moreira de Souza Júnior
Mestre em Ciências da Motricidade pela Unesp de Rio Claro
Docente do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana da UFSCar
Doutorando pela Faculdade de Educação Física da Unicamp
De fato, a Educação Física foi alçada ao
status de componente curricular no contexto
escolar, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB/EN) nº 9394 de 1996.
Porém, do ponto de vista da legitimidade, a
Educação Física ainda continua refém de uma
representação no imaginário social, segundo a
qual é tida como uma atividade curricular, sem o
estatuto de área de conhecimento.
De acordo com González e Fensterseifer
(2009) “a escola tem entre suas funções a de
introduzir os alunos no mundo sociocultural que a
humanidade tem construído, com o objetivo de
que eles possam incluir-se no projeto, sempre
renovado, da reconstrução desse mundo”. O
autor acrescenta ainda que neste projeto de
formação de cidadãos comprometidos com a
construção e conservação cultural, elegem-se
formas de convívio social mais defensáveis que
outras, exigindo uma tomada de posição em
relação a questões políticas que dizem respeito a
todos(as).
A partir da concepção deste projeto
educacional comprometido com a ideia de “leitura
de mundo”, é preciso atribuir sentidos e
significados para a Educação Física, enquanto
componente curricular, que avance para além do
exercitar-se para e configure-a como uma espécie
de “janela para o mundo” (GONZÁLEZ;
FENSTERSEIFER, 2010), legitimando o estatuto
legal de área de conhecimento.
Os objetivos e as propostas educacionais
da Educação Física foram se modificando ao
longo dos últimos anos, e todas estas tendências,
de algum modo, ainda hoje influenciam a
formação do profissional e suas práticas
pedagógicas. Na Educação Física, assim como
em outros componentes curriculares, não existe
uma única forma de se pensar e implementar a
disciplina na escola (DARIDO; SOUZA JÚNIOR,
2007).
Um ponto de destaque na nova
significação atribuída à Educação Física é que a
área ultrapassa a ideia de estar voltada apenas
para o ensino do gesto motor correto. Muito mais
que isso, cabe ao professor de Educação Física
p r o b l e m a t i z a r, i n t e r p r e t a r, r e l a c i o n a r,
compreender com seus alunos as amplas
manifestações da cultura corporal, de tal forma
que os alunos compreendam os sentidos e
significados impregnados nas práticas corporais.
Para facilitar a adesão dos alunos às
práticas corporais seria importante diversificar as
vivências experimentadas nas aulas, para além
dos esportes tradicionais (futebol, voleibol ou
basquetebol). Na verdade, a inclusão e a
possibilidade das vivências das ginásticas, dos
jogos, das brincadeiras, das lutas, das danças
podem facilitar a adesão do aluno à medida que
aumentam as chances de uma possível
identificação. É importante ressaltar também que
a Educação Física na escola deve incluir tanto
quanto possível todos os alunos nos conteúdos
que propõe. Não se pode mais tolerar a exclusão
que historicamente tem caracterizado a
Educação Física na escola. Todos os alunos têm
direito a ter acesso ao conhecimento produzido
pela cultura corporal.
Neste sentido, o papel da Educação
Física ultrapassa o ensinar esporte, ginástica,
dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e
conhecimento sobre o próprio corpo para todos,
em seus fundamentos e técnicas (dimensão
procedimental), mas inclui também os seus
valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os
alunos devem ter nas e para as atividades
corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente,
busca garantir o direito do aluno de saber porque
ele está realizando este ou aquele movimento,
isto é, quais conceitos estão ligados àqueles
procedimentos (dimensão conceitual).
Na prática concreta de aula significa que
o aluno deve aprender a jogar queimada, futebol
de casais ou basquetebol, mas, juntamente com
estes conhecimentos, deve aprender quais os
benefícios de tais práticas, porque se pratica tais
manifestações da cultura corporal hoje, quais as
relações dessas atividades com a produção da
mídia televisiva, imprensa, dentre outras. Dessa
forma, mais do que ensinar a fazer, o objetivo é
que os alunos e alunas obtenham uma
contextualização das informações como também
aprendam a se relacionar com os colegas,
reconhecendo quais valores estão por trás de tais
práticas (DARIDO; SOUZA JÚNIOR, 2007).
Entendo que o tratamento didáticopedagógico do esporte, deve partir do
reconhecimento de que se faz necessária a
tomada de decisão em relação a um referencial
metodológico que dê uma sustentação teórica a
este processo e, para tanto, busco pressupostos
na teoria da Praxiologia Motriz idealizada pelo
professor francês Pierre Parlebas.
A Praxiologia Motriz é uma teoria que
estuda as práticas motrizes a partir das ações
motrizes e da lógica interna e externa dessas
práticas. Prática motriz é uma nomenclatura
utilizada pela Praxiologia Motriz para se referir a
todo tipo de atividade, seja ela jogo, dança, luta,
esporte, brincadeira, ou outro. Ação Motriz é uma
terminologia utilizada pela Praxiologia Motriz para
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classificar as ações de determinada Prática
Motriz de forma a não separar as vertentes Tática,
Técnica, Psicológica, afetiva, etc.
O futebol, independentemente do
lugar onde se joga, tem
características que não mudam. Por
exemplo, ele é sempre um esporte
coletivo, os jogadores de um time
sempre podem se intrometer na
jogada do adversário para “roubar” a
bola, e avançar em direção ao gol.
Estas características fazem parte da
lógica interna do esporte. Mas
algumas características mudam
quando o futebol é praticado em
outras partes do mundo. Nos Estados
Unidos o futebol, que eles chamam
de soccer para diferenciar do futebol
americano, é considerado um esporte
feminino e não é muito popular, bem
diferente do que ocorre aqui no Brasil,
onde a prática do futebol pelas
mulheres é recente e foi até mesmo
p r o i b i d a t e m p o s a t r á s . Ta i s
características pertencem à lógica
externa do esporte (RIO GRANDE
DO SUL, 2009).
De acordo com Ribas (2005), a ideia da
compreensão da lógica interna facilita a
transferência da aprendizagem para outras
atividades. O basquetebol, o handebol e o futebol
possuem a mesma estrutura de jogo, mudando
apenas a forma de participação na atividade.
Poucas vezes lembramos disso em aulas de
Educação Física. Sempre trabalhamos uma nova
modalidade, e mais, a iniciação dessa nova
modalidade. O autor entende que uma
comparação interessante para se pensar este
quadro, seria imaginar o aprendizado da teoria
musical, forçando o aprendiz a aprender música
por música.
Lavega (2008) afirma que o sistema de
classificação proposto por Parlebas, o CAI, é uma
das grandes referências para caracterizar cada
âmbito das atividades e possibilitar a
transferência de estrutura. Neste modelo,
aparecem dois componente importantes em
qualquer contexto motriz: os protagonistas, que o
autor considera atendendo ao critério de
presença ou ausência de companheiros (C) e/ou
adversários (A) e o espaço de ação, distinguido
conforme o critério de presença ou ausência de
incerteza (I) referente ao ambiente.
A combinação desses três critérios do
CAI nos possibilita classificar qualquer situação
motriz, distribuindo as práticas delas resultantes
em oito categorias diferentes, possibilitando
englobar qualquer jogo ou esporte.
Assim, no que tange à forma de
interação, podemos chegar a quatro grupos
distintos: atividades sem interação motriz (ou
psicomotriz), atividade com interação de
oposição, atividade de interação de cooperação e
atividade de interação de oposição e cooperação,
essas últimas denominadas sociomotrizes
(RIBAS, 2005).
Portanto, por meio de uma representação
do CAI teríamos:
FIGURA 1 – Representações das 8 categorias resultantes da
combinação dos 3 critérios da classificação (FONTE:
1
LAVEGA, 2008, p. 90)
1
O traço sobre as letras do CAI indica a ausência do critério
sobrelinhado. Ex: traço apenas sobre a letra C, indica que a
prática motriz é realizada individualmente, mas possui
interação com adversário e incerteza ambiental
Em um estudo no qual nos baseamos em
um modelo de classificação dos esportes
proposto por González (2006b), buscamos
apresentar uma proposta para o tratamento
didático do esporte nos anos iniciais do Ensino
Fundamental (SOUZA JÚNIOR et al., 2010). Este
estudo faz parte de um livro didático que
encontra-se em fase final de elaboração,
produzido pelo Laboratório de Estudos e Práticas
Pedagógicas em Educação Física, da Unesp de
Rio Claro. Reproduzo a seguir o conteúdo do
referido estudo, como forma de materializar uma
proposta de organização curricular a partir do
esporte nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O esporte como conteúdo da Educação
Física escolar é motivo de uma série de críticas,
que passam principalmente pelo fato de apenas
algumas modalidades serem privilegiadas nas
aulas e pelas metodologias de ensino que
raramente ultrapassam o referencial tecnicista.
Além destes aspectos, quando nos referimos à
Educação Física nos anos iniciais do Ensino
Fundamental (1º ao 5º ano) acrescenta-se o
pressuposto de que o esporte deve ser
negligenciado, tendo em vista que a área de
Educação Física é refém de um discurso
consolidado historicamente, calcado nos
pressupostos da abordagem desenvolvimentista,
que pressupõe que os esportes só deveriam fazer
parte dos currículos de Educação Física nas
escolas, a partir da 5ª série (atualmente 6º ano) do
Ensino Fundamental.
Esta concepção de Educação Física
pressupõe que o acesso ao esporte depende de
“pré-requisitos” que consistem na construção de
um repertório de habilidades motoras básicas e
combinadas que resultariam em um alicerce
sólido para a aprendizagem das habilidades
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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específicas das modalidades esportivas.
Contrariando esta perspectiva,
realizamos (SOUZA JÚNIOR et al, 2010) um
estudo com o objetivo de apresentar uma
proposta para o tratamento didático do esporte
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, que
assuma o fenômeno esportivo enquanto
patrimônio cultural, sem perder de vista a
abordagem metodológica que aponte para uma
pedagogia do esporte adequada a este ciclo
escolar.
Tentativas de classificação dos esportes
têm sido feitas por diversos autores, com o
propósito de identificar estruturas básicas de
funcionamento do jogo esportivo, bem como
características internas das situações motoras de
cada modalidade. Dentre estas classificações,
optamos por adotar a proposta de González
(2006b). No intuito de compreender melhor as
demandas impostas pelos esportes aos seus
praticantes, o autor apresenta uma proposta de
classificação dos esportes baseada em alguns
critérios.
O primeiro critério diz respeito à interação
com os companheiros, nesse sentido aqueles
esportes em que há relação colaborativa entre os
companheiros considera-se esportes coletivos,
por outro lado, se não existe interação com
nenhum companheiro considera-se esportes
individuais.
Um segundo critério leva em conta a
relação estabelecida com o adversário, com isso
é possível vislumbrar duas categorias: os
esportes com relação ou oposição direta com o
adversário e esportes sem relação ou oposição
direta com o adversário. Os esportes com relação
ou oposição direta entre adversários (judô,
beisebol, voleibol, basquetebol), apresentam
característica bastante peculiar que é a exigência
de constantes adaptações dos jogadores em
relação às ações de seus adversários, tal
particularidade diferencia esses esportes
daqueles em que não há interação ou oposição
direta entre os adversários (atletismo, ginástica
artística, remo).
A partir do critério de relação com o
adversário o autor propõe uma divisão específica
tanto para os esportes com interação ou oposição
direta com os adversários quanto para os
esportes em que não há interação ou oposição
direta com o adversário.
Para os esportes sem interação ou
oposição direta com o adversário o critério de
classificação considerado é o tipo de
desenvolvimento motor comparado para designar
o vencedor. Partindo desse critério é possível
classificá-los em três categorias: esportes de
marca, esportes estéticos (ou técnicocombinatórios) e esportes de precisão.
Os esportes de marca são aqueles em
que a comparação do desempenho tem caráter
predominantemente quantitativo de tempo,
distância ou peso (atletismo, natação,
halterofilismo). Os esportes estéticos são aqueles
caracterizados por uma comparação qualitativa
de desempenho a partir de padrões técnicos de
execução dos movimentos (ginástica artística,
skate). E os esportes de precisão são aqueles em
que a comparação do desempenho está
relacionada à eficiência e/ou à eficácia em atingir
ou alcançar determinado alvo ou objeto (arco e
flecha, golfe).
No caso dos esportes com interação ou
oposição direta com os adversários o critério de
classificação é o objetivo tático da ação, nesse
sentido o autor propõe quatro categorias de
acordo com as demandas táticas de cada
modalidade, são elas: esportes de combate ou
luta, esportes de campo e taco, esportes de
rede/quadra dividida ou muro e esportes de
invasão ou territoriais.
Os esportes de combate ou luta
caracterizam-se por disputas em que o objetivo é
subjugar o oponente com o auxílio de técnicas,
táticas e estratégias (judô, esgrima, boxe). Os
esportes de campo e taco são aqueles em que o
objetivo é colocar a bola longe dos adversários e
com isso ocupar espaços no campo ou promover
o maior número de corridas (beisebol, críquete).
Nos esportes de rede/quadra dividida ou muro
são incluídos aqueles em que o objetivo é lançar
ou arremessar um móvel (em geral uma bola) em
locais onde o adversário seja incapaz de alcançálo ou cometa o erro ao tentar essa ação (voleibol,
tênis, badminton). Por fim, os esportes de invasão
ou territoriais são caracterizados pelo objetivo de
invadir o território defendido pelo adversário e
atingir sua meta, protegendo ao mesmo tempo
sua própria meta (futebol, basquetebol, hóquei,
rúgbi).
No Referencial Curricular do Estado do
Rio Grande do Sul, Fernando González e
Alexandre Vaz estruturam o currículo dos anos
finais do Ensino Fundamental com base neste
modelo e o representam por meio do
organograma a seguir:
FIGURA 2 - Mapa dos esportes proposto por González e Vaz
no Referencial Curricular do Estado do Rio Grande do Sul (RIO
GRANDE DO SUL, 2009, p. 124)
Entendo que uma proposta de
classificação do esporte baseada na estrutura do
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jogo esportivo ou na lógica em que ele está
pautado pode colaborar com a efetivação de dois
princípios básicos na Educação Física escolar, o
princípio da diversidade e o princípio da inclusão.
Ou seja, adotar uma divisão dos esportes sem
interação com o adversário pelo tipo de
desempenho motor comparado na modalidade e
uma divisão dos esportes com interação pelo
objetivo tático das ações pode facilitar a
consecução desses princípios.
N a E d u c a ç ã o F í s i c a e s c o l a r,
historicamente, privilegiou-se o ensino dos
esportes coletivos tradicionais (futebol,
basquetebol, handebol e voleibol), considerando
a classificação adotada é possível incluir tais
esportes em apenas duas categorias (invasão e
rede ou quadra dividida).
Com isso, acabamos por restringir as
possibilidades de aprendizagem dos alunos, já
que a aprendizagem do basquetebol ou do
futebol, por exemplo, não garante autonomia
para prática do beisebol, judô ou skate. Mais do
que isso acabamos privilegiando os alunos que já
conheciam essas lógicas de esporte ou que
demonstravam mais facilidade em sua
aprendizagem, excluindo todos aqueles alunos
que de alguma forma não gostavam, não
compreendiam e/ ou não executavam com
eficiência tais lógicas táticas de esporte.
Dessa forma, é necessário considerar a
diversidade de interesses dos alunos, ou seja,
nem todos estarão motivados em aprender os
esportes tradicionais, além disso, por possuírem
experiências de vida particulares alguns alunos
demonstram mais facilidade para aprender
esportes com outras lógicas táticas ou de
desempenho motor.
Portanto, a intenção é propor uma
alternativa para a sistematização do conteúdo
esporte que contemple diferentes lógicas e
estruturas de esportes ao longo dos anos de
escolarização, no caso específico desse estudo
do 1º ao 5º do Ensino Fundamental.
Todavia, vale ressaltar que o trabalho
com qualquer conteúdo esportivo deva ir além de
ensinar aos alunos determinados gestos
motores. Devemos sim, cada vez mais, pensar
em propostas metodológicas que ofereçam ao
aluno condições de se apropriar destes
movimentos, porém, defendo a ideia de uma
maior abrangência em relação aos conteúdos,
abarcando as dimensões conceituais e
atitudinais. Ou seja, para além do saber fazer
(que não é o gesto técnico apenas) é preciso que
os alunos aprendam os esportes enquanto
conhecimentos e aprendam a se relacionar por
meio do esporte.
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
47
MODALIDADES AQUÁTICAS: PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS
Prof. M.S.c. Sergio Henrique Braz | Universidade Paulista - Campus Rio Pardo
A natação apresenta várias definições,
entre elas a descrita pela FINA, “ação de auto
propulsão e auto sustentação que o homem
aprendeu por instinto ou observando animais e é
um dos exercícios físicos mais completos” , assim
estabelece vários objetivos dentro do processo
de aprendizagem, tais como: recreativo; utilitário;
terapêutico e competitivo, que são desenvolvidos
através de metodologias aplicadas a Educação
Física: método parcial; global e misto e atende
uma diversidade de clientes, e é de grande
importância que se conheça as características
psicológicas, sociais e físicas, para desenvolver
com sucesso o processo de aprendizagem.
Como as outras formas de matéria, a água possui
certas propriedades físicas que incluem: massa,
peso, densidade, gravidade específica ou
densidade relativa, flutuação, pressão
hidrostática, tensão superficial, refração e
viscosidade, ter conhecimento sobre cada uma
destas propriedades facilita na aplicação das
sequências estabelecidas de aprendizagem,
tanto da iniciação, como do alto rendimento. Para
adaptação ao meio liquido estabelece uma
sequência que vai desde a ambientação até o
deslize, depois de realizada a adaptação com
sucesso inicia-se o processo de aprendizagem
dos nados propriamente, ou seja, propulsão de
membros, coordenação, respiração específica e
nado completo.
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III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA
APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA
ARTIGOS
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A VISÃO DE TÉCNICOS EM RELAÇÃO AO SEU PAPEL NO ESPORTE
Aline Dessupoio Chaves¹; Andrezza Papini²; Carolina Morais de Araújo²
Vilma Leni Nista-Piccolo³
¹Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação Física da Universidade de São Paulo e Professora do
Curso de Educação Física da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
²Mestrandas do Programa de Pós Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
³Professora e orientadora do Programa de Pós-graduação em Educação Física da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro
RESUMO
Este estudo teve objetivo desvelar a visão que alguns técnicos têm a respeito de seu papel no treinamento esportivo.
Participaram do estudo cinco técnicos das modalidades voleibol, ciclismo, mountain bike, futebol e futsal e ginástica
artística, que possuem experiência como treinador há mais de cinco anos na modalidade. Foi utilizado um questionário
que investigava os dados pessoais, o papel do técnico e sua atuação profissional. A análise dos dados se deu pelo
método do “Discurso do Sujeito Coletivo” (DSC) e foi utilizada a diferenciação por sujeito e posteriormente a comparação
ou análise em função da similaridade do conteúdo dos depoimentos. Os sujeitos da pesquisa destacaram na função do
técnico a importância da vivência, bases científicas na construção de treinos, e o caráter de relacionamento social. Foi
demonstrada uma preocupação com a formação continuada, com a aprendizagem e transmissão de valores que o
esporte proporciona, com o papel de liderança que o técnico deve desenvolver. Assim, conclui-se que a vivência esportiva
associada à formação profissional são a base de atuação dos sujeitos pesquisados, os quais se preocupam com a
formação continuada para aprimorar sua profissão, e, consequentemente, proporcionar aos atletas melhores chances de
rendimento esportivo.
Palavras-chave: esporte; técnico; treinamento
ABSTRACT
This study aimed to unveil the vision that some coach have about their role in sports training. The study included five coach
of volleyball, cycling, mountain biking, soccer and indoor soccer and gymnastics, which have experience as a trainer for
over five years in the sport. A questionnaire investigating personal data, the role of coach and his professional activities.
Data analysis was made by the "Collective Subject Discourse" (DSC) and was used to differentiate between the subject
and then the comparison or analysis according to the similarity of the contents of the depositions. The subjects highlighted
in the function of the importance of technical experience, the construction of scientific training, and character of social
relationships. This study demonstrated a concern with the continuing education, with learning and transmission of values
​that the sport provides, with the leadership role that the coach should develop. Thus, we conclude that the experience
associated with sports training are the basis of performance of the subjects studied, which are concerned with the
continuing education to enhance their profession, and thus provide better chances for athletes sports performance.
Key words: sport; coach; training
INTRODUÇÃO
O papel dos treinadores na formação e
orientação de atletas abrange diversos
conhecimentos não só sobre a técnica da
modalidade e do aperfeiçoamento de
capacidades físicas e motoras específicas
daquela prática, como também das questões
psicológicas e sociais que permeiam as formas de
ensinar e de lidar com eles nas competições.
As funções do treinador, assim, devem
ser definidas com base num conjunto de saberes,
entre eles os científicos, pedagógicos,
organizacionais, técnicos, que devem ser
utilizados de forma integrada para o
desenvolvimento de um treinamento esportivo
organizado e eficiente.
O treinador deve ainda reconhecer as
similaridades e diferenças entre os processos de
aprendizagem, de treinamento e o
comportamento dos atletas durante as
competições, além de identificar todo o sistema
complexo inserido na prática do esporte, como a
influência exercida pelos clubes, federações,
pelos pais e pela mídia.
Desta forma, diante do amplo número de
variáveis presentes no contexto esportivo,
principalmente em todo o processo de
treinamento, é importante verificar como o técnico
compreende seu papel no esporte, se tem
consciência de todos esses aspectos que
permeiam sua atuação, e, inclusive, se reconhece
que pode determinar com sucesso ou fracasso os
resultados de suas ações. Isso justifica nosso
trabalho.
OBJETIVO
Desvelar a visão que alguns técnicos têm
a respeito de seu papel no treinamento esportivo.
METODOLOGIA DA PESQUISA
Trata-se de um estudo de abordagem
qualitativa do tipo descritivo a cerca da visão que
alguns técnicos têm em relação aos seus papeis
como treinadores esportivos.
Participaram do estudo cinco técnicos
das modalidades voleibol, ciclismo, mountain
bike, futebol e futsal e ginástica artística, que
possuem experiência como treinador há mais de
cinco anos na modalidade que trabalham e foram
selecionados para a pesquisa aleatoriamente a
partir da disponibilidade para participarem do
estudo.
A técnica de coleta de dados utilizada foi
um questionário composto de duas partes, sendo
que a primeira investigava os dados pessoais
como idade, tempo de atuação como técnico, a
modalidade esportiva em que atua, além de
informações sobre sua formação profissional; a
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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outra parte era formada por cinco questões
relacionadas ao papel do técnico e sua atuação
profissional. A participação dos sujeitos foi de
caráter espontâneo, e as entrevistas foram
conduzidas individualmente.
A análise dos dados se deu pelo método
do “Discurso do Sujeito Coletivo” (DSC) de
Lefèvre e Lefèvre (2003), que permite uma
análise qualitativa das respostas dadas ao
questionário. A metodologia do DSC utilizada é,
portanto, uma proposta de organização e
tabulação de dados qualitativos de natureza
verbal, os quais, no presente estudo, foram
obtidos por meio dos depoimentos dos técnicos.
Para confeccionar os DSCs utiliza-se as
seguintes figuras metodológicas: Expressõeschave (ECH): que são pedaços, trechos ou
transcrições literais do discurso, demarcadas
pelo pesquisador (sublinhadas, iluminadas,
coloridas), que revelam a essência do
depoimento ou, de forma mais precisa, do
conteúdo discursivo dos segmentos em que se
divide o depoimento e que, em geral,
correspondem às questões da pesquisa. Desta
maneira as ECH são a matéria-prima do DSC.
Ideias centrais (IC): correspondem a um nome ou
expressão linguística que revela e descreve, de
forma sintética, precisa e fidedigna, o sentido de
cada um dos discursos analisados e de cada
conjunto homogêneo de ECH, que vai dar
origem, posteriormente, ao DSC. A IC não é uma
interpretação, mas uma descrição do sentido de
um depoimento ou de um conjunto de
depoimentos. Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC): é um discurso síntese redigido na
primeira pessoa do singular e composto pelas
ECH que têm a mesma IC (LEFEVRE E
LEFEVRE, 2003).
As informações obtidas por meio da
transcrição das entrevistas serão a base dos
DSCs e assim, confrontados com o que a
literatura estabelece.
Na análise dos resultados foi utilizada a
diferenciação por sujeito e posteriormente a
comparação ou análise em função da
similaridade do conteúdo dos depoimentos.
Neste trabalho, os técnicos foram
identificados pela letra “T” de técnico, seguido
pelo número identificador do sujeito, e a letra
correspondente à modalidade (“C” – ciclismo e
moutain bike/ “F” – futebol e futsal/ “G” - ginástica
artística/ “V” – voleibol).
O PAPEL DO TÉCNICO
O processo de preparação, ou
treinamento esportivo é fundamental na
obtenção de resultados de êxito no Esporte.
Assim, Matveev (1997) define o treinamento
esportivo como um processo complexo, em que o
desempenho final do atleta ou da equipe é
resultado da síntese de diversos fatores.
Bompa (2002) ressalta que o sucesso do
treinamento se refere inicialmente ao domínio
das informações das Ciências do Esporte, e
também à competência e habilidade que o
técnico esportivo demonstra ter, ao tratar com o
conjunto das diversas variáveis presentes no
ambiente de treinamento, nas suas dimensões
físicas, psicológicas e sociais.
Matveev (1997), Verkhoshanski (2001) e
Bompa (2002) concordam em seus estudos
sobre a importância da competência do técnico
em considerar o amplo escopo de variáveis
presentes no contexto esportivo e utilizá-lo no
processo de treinamento. Segundo os autores, a
atuação do treinador pode determinar o sucesso
ou o fracasso de um processo.
Tomando o treinamento como um campo
de práticas no qual a pedagogia se faz presente,
Bompa (2002, p. 5) afirma que através do
treinamento desportivo, "um treinador lidera,
organiza, planeja o treinamento e educa o atleta."
A dimensão educativa do treinamento está
presente pela necessidade de se adaptar aos
estímulos provocados pelo complexo - jogo,
competição, treinamento, relacionamentos com
companheiros de equipe, adversários, técnicos,
mídia, dirigentes, familiares.
Matveev (1997) define o treinamento
como um fenômeno pedagógico e aponta para os
aprendizados que acontecem por meio do
desporto, somados à obtenção de elevados
resultados, enquanto Bompa (2002) determina
que o aparecimento de resultados da excelência
física combina harmoniosamente os fatores
refinamento espiritual, pureza moral e perfeição
física.
Desta forma, a atuação do técnico no
processo de treinamento esportivo, engloba uma
série de conhecimentos e comportamentos
adequados ao desenvolvimento da carreira
esportiva de seus atletas.
Mesquita (2000) preconiza que a
atividade do técnico abrange um conjunto de
conhecimentos que se referem aos campos:
conceitual, que diz respeito ao domínio e
conhecimento das questões das ciências do
esporte e da modalidade esportiva em que
trabalha; comunicativo, que se refere à
transmissão adequada de ideias e às
capacidades de comunicação não-verbal;
capacidade técnica que diz respeito à
organização e condução do processo de
treinamento.
Acrescenta-se aqui o campo dos
relacionamentos pessoais, que se refere aos
tipos de relações a serem estabelecidas com os
integrantes do grupo, apontado por Weinberg &
Gould (2001), no destaque que dão à liderança
num processo de grupo em modalidades
esportivas coletivas.
Os autores afirmam que uma vez
otimizadas as competências do treinador nessa
dimensão, ele pode conduzir o grupo a
manifestar comportamentos mais efetivos em
competições.
O técnico, muitas vezes, pode
apresentar ao atleta uma nova maneira de
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pensar sobre um assunto conhecido, pois o
ambiente de jogo e treinamento esportivo é
imprevisível e aleatório (Garganta, 1998), e os
elementos humanos se relacionam de acordo
com suas relações interpessoais.
Samulski (2002) propõe metas de se
desenvolver uma liderança efetiva no esporte,
indicando assim uma série de medidas que
devem ser tomadas pelo líder da equipe, tais
como empatia, escutar ativamente, técnicas de
comunicação, flexibilidade na liderança, técnicas
de feedback e suporte social, técnicas de solução
de problemas e delegação de tarefas. Desta
maneira o técnico deverá estimular o
desenvolvimento de características desejáveis no
atleta afim de que ele possa tornar-se um bom
líder.
Técnicos devem ter uma visão ampla
sobre as necessidades dos atletas, percebendo o
momento exato para intervir, envolvendo-se
fisicamente, emocionalmente e socialmente.
Assim, pode-se dizer que o técnico
esportivo é quem programa e executa os
treinamentos, aplicados em determinado
contexto. Sua atuação pedagógica pode produzir,
mediante desempenho de alto nível de exigência,
determinados resultados caracterizados pela
excelência.
Ao tomar-se o propósito de estudar a
excelência da atuação pedagógica no
treinamento esportivo, considera-se relevante as
ponderações apresentadas por Gardner (2004)
em seu estudo sobre a inteligência humana. O
autor justifica as mudanças de comportamento
dos indivíduos pela mudança de estratégias
mentais, pois, para ele, essa alteração se dá na
representação mental do sujeito, a maneira pela
qual a pessoa percebe, codifica, retém e acessa
informações.
Para as crianças e adolescentes, o
professor ou o técnico tem um papel importante
nos jogos e nas competições esportivas,
principalmente no quesito do relacionamento com
os atletas durante os jogos. Muitas vezes,
percebe-se que o comportamento do atleta é
altamente influenciado pela forma como o técnico
se relaciona com o mesmo, seja de forma positiva
ou negativa.
Um estudo realizado com 60 crianças, na
faixa etária de 7 a 13 anos, de ambos os sexos,
praticantes de Ginástica Artística, demonstrou
que os atletas mais jovens (de 8 a 9 anos) são
mais sensíveis à aplicação de vários tipos de
condutas punitivas (DE MARCO; JUNQUEIRA,
1995, p. 92). Os atletas de (10 a 12 anos) são
sensíveis aos comportamentos estimulantes e os
mais velhos (de 13 a 15 anos) valorizam as
instruções simultâneas às repreensões. Segundo
os autores “os técnicos mais populares e
valorizados são aqueles que sabem trocar a
punição pelo estímulo e a repreensão verbal com
instrução técnica”
Marques e Kuroda (2000, p.132)
consideram “a importância desse profissional na
mediação das relações que a criança estabelece
com os outros e com o mundo”. Contribuindo com
a formação de indivíduos, como seres humanos
preparados para enfrentar a realidade imposta
pela sociedade. O esporte como um todo e
principalmente o futebol, objeto desta pesquisa,
durante a sua prática, coloca a criança diante de
inúmeras situações que podem ser extrapoladas
para a vida diária. Desta forma, diferentes
situações vivenciadas num jogo (respeito às
regras, à autoridade do árbitro, atitudes de
cooperação e de competição, comportamentos
solidários ou agressivos) deveriam ser
exploradas construtivamente. Portanto, o futebol
pode ser entendido e desenvolvido sob o ponto de
vista educacional, principalmente na faixa etária
aqui abordada. Se isto ocorre ou não, está na
dependência direta das pessoas (professores,
técnicos e pais) que interagem diretamente com
os atletas (crianças e adolescentes) neste
contexto esportivo.
Assim, conforme demonstrado pela
literatura, o papel do técnico é complexo, pois
engloba um conjunto de competências e
habilidades necessárias para o desenvolvimento
esportivo dos atletas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os técnicos que participaram do estudo
têm como experiência de atuação uma média de
14,8(+5,26) em sua modalidade específica.
Em relação a formação profissional, um
técnico é graduando em Educação Física e
Fisioterapia e os demais são graduados em
Educação Física. Quanto à vivência da
modalidade que trabalham atualmente, quatro
foram atletas e apenas um foi praticante.
Abaixo os quadros demonstram as ECH
do discurso de cada técnico em relação às
perguntas feitas no questionário.
No Quadro 1, percebe-se que os sujeitos
da pesquisa compreendem a função do técnico
esportivo como algo que depende da fase de
aprendizagem dos atletas, na relação entre teoria
e prática de diversas áreas do conhecimento,
assim como a questão educacional no sentido de
desenvolvimento de valores humanos. Verifica-se
também o acúmulo de funções que o técnico
exerce, caracterizando assim, a necessidade de
conhecer diversas áreas do conhecimento.
Quadro 1 – Expressões chave (ECH) da pergunta “O
que é, para você, ser técnico esportivo?”
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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O Quadro 2 caracteriza a experiência
profissional dos técnicos, que, em sua maioria,
treinam atletas de diversos níveis, desde a
iniciação até o alto rendimento, assim como a
participação em competições é citada a partir do
âmbito regional ao nacional.
Isso demonstra uma realidade em nosso
país, apontando que o treinador tem que planejar,
aplicar e administrar o treinamento de grupos
heterogêneos de atletas, em diferentes faixas
etárias e níveis de especialização esportiva,
assim como de desempenho esportivo.
Quadro 2 – Expressões chave (ECH) da pergunta
“Qual o nível/categoria dos seus atletas e quais
competições participam?”
No Quadro 3, verificou-se que a vivência
esportiva teve influência na atuação profissional
de 03 técnicos, os quais expressaram a
importância da experiência que tiveram como
atletas e que a atitude de seus técnicos
influenciaram positivamente na sua forma de
atuar como treinadores. Pode-se observar como
ideias centrais (IC) do discurso dos sujeitos, a
importância da vivência, bases científicas na
construção de treinos, e o caráter de
relacionamento social como importante no papel
do técnico.
Os técnicos que demonstraram
comportamentos diferentes daqueles que
vivenciaram, citam o conhecimento maior já que
a ciência do treinamento evoluiu, e ainda a
integração de vários aspectos para
desenvolvimento dos treinos.
Quadro 3 – Expressões chave (ECH) da pergunta
“Em que a sua atuação se assemelha com os
treinos que vivenciou?”
T1V
T2C
T3C
T4G
T5F
“Em tudo, pois eu sou o que eu vivenciei e o que eu ainda
vivencio.”
“Montar os treinamentos com bases científicas, aproveitando
as pesquisas que são feitas nas Universidades e Centros de
treinamentos.”
“Basicamente em nada, pois hoje tenho mais conhecimento
ao que proponho a meus atletas que meus treinadores
anteriores. Pode ser explicado pelo fato que métodos de
treinamento evoluíram bastante.”
“Talvez na compreensão dos problemas pessoais de cada
uma e na amizade. Como não fui atleta de alto nível, acredito
que enquanto treinadora, tive um perfil mais tranquilo que os
demais técnicos da ginástica.”
“Acredito que minha atuação é muito diferente. Hoje,
trabalho com treinos em que os aspectos físicos, técnicos,
táticos, psicológicos (entre outros) estão integrados.
Trabalho com situações de jogo, sempre com a bola
presente, buscando desenvolver aquilo que o jogo exigirá.
Busco enxergar as qualidades dos atletas, escolhendo o
melhor modelo de jogo para desenvolvê-las.”
Em relação à contribuição da formação
profissional nos treinamentos, nota-se no Quadro
4 que os técnicos relataram uma grande
importância, principalmente no conhecimento
que não tiveram como atleta, por exemplo, a
questão didática e pedagógica.
Isso que diferencia muitas vezes a
atuação de um ex-atleta como técnico, que
possui uma vasta experiência na modalidade,
porém apresenta dificuldades nos aspectos
relacionados a conhecimentos teóricos.
Quadro 4 – Expressões chave (ECH) da pergunta
“Qual a contribuição de sua formação nos
treinamentos que você ministra?”
Quando questionados sobre a atuação
como técnicos (Quadro 5), encontrou-se uma
preocupação com a formação continuada,
demonstrando que a atualização quanto aos
conhecimentos necessários para o
desenvolvimento do atleta é fundamental.
São citadas também a aprendizagem e
transmissão de valores que o esporte
proporciona, além do papel de liderança que o
técnico deve desenvolver.
Apontaram ainda, a boa relação entre
técnico e atletas, a falta de tempo para melhor
organização e desenvolvimento dos treinos, e
atitudes de líder autocrático conforme citado pelo
T5F “acredito que em alguns momentos ainda
escuto pouco os atletas, espero que eles
enxerguem as coisas como enxergam, tenham a
paixão que eu tenho”.
Quadro 5 – Expressões chave (ECH) da pergunta
“Como você classifica sua atuação como técnico
esportivo? Aponte suas melhores características e
seus piores defeitos.”
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vibrante do técnico durante as competições.
Porém, a dedicação e atitudes dos atletas são
essenciais para que, junto ao técnico, possam
construir uma carreira esportiva promissora e
desta forma atingir o alto rendimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alguns estudos corroboram o que foi
relatado pelos técnicos neste estudo (HENDRY,
1991; SIMÕES, 1994; MACHADO, 1997).
Hendry (1991) apud Machado (1997)
relata, em suas pesquisas, depoimentos de
atletas e demais técnicos informando que o
técnico ideal seria aquele indivíduo estável,
sociável, criativo, inteligente, o qual pudesse
assumir riscos calculáveis e seguros.
Para Simões (1994), os estudos têm
mostrado que o papel do técnico esportivo como
líder é, provavelmente, um dos fatores mais
importantes no processo de influenciar a
formação e o rendimento de uma equipe
esportiva.
Machado (1997) retrata que a interação
perfeita entre técnico e atleta acontece quando
há uma troca entre as partes, favorecendo para
que o atleta não seja visto como um simples
objeto utilizado para a conquista de um objetivo
maior. O técnico não deve ser visto como um
indivíduo autoritário e que está sempre com a
razão.
CONCLUSÃO
A profissão de técnico esportivo, embora
tenha uma aparência célebre, principalmente nas
competições, é bastante árdua já que conta com
um sistema complexo que é o treinamento
esportivo, composto de conhecimentos de
diversas áreas. Na maioria das vezes, ele atua
sozinho nas equipes de médio e pequeno porte
em nosso país, exercendo muitas vezes, além do
papel de técnico, a função do preparador físico,
do médico, do fisioterapeuta, do nutricionista e do
administrador.
Somado a tudo isso, ainda precisa
administrar os efeitos da mídia, que por vezes,
quando uma equipe vence, o feito é atribuído aos
atletas, mas, quando perde, é por exclusiva culpa
da direção técnica.
Assim, o estudo procurou verificar como
alguns treinadores percebem seu papel no
esporte e o que se encontrou foi que a vivência
esportiva associada à formação profissional são
a base de atuação dos sujeitos pesquisados, os
quais se preocupam com a formação continuada
para aprimorar sua profissão, e,
consequentemente, proporcionar aos atletas
melhores chances de rendimento esportivo.
Mas, mesmo com tudo isso, é de suma
importância o apoio dos dirigentes, a qualidade
dos treinamentos, a participação atuante e
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A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL
II: UM ESTUDO DE CASO
Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima Veronezi; Lídia Marques Figueiredo; Silvana Farias
Lopes; Vinícius Martins Marcos
UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga
RESUMO
Influenciada pelos princípios da Declaração de Salamanca, a LDB criou uma diretriz inclusiva levando a inserção dos
alunos portadores de necessidades educacionais a freqüentar preferencialmente a rede regular de ensino. Esse artigo
tem como objetivo analisar como ocorre a inclusão de um aluno surdo nas aulas de Educação Física no Ensino
Fundamental II, além de auxiliar na discussão sobre o tema, trazendo subsídios para trabalhar de forma inclusiva. Foi
realizado um estudo de caso sobre o processo de inclusão de 1 aluno surdo na rede estadual de ensino, a coleta de dados
foi realizada através de um diário de campo e uma entrevista semi-estruturada, sendo o instrumento de pesquisa
apreciado e validado por um Professor Doutor atuante na área. Através dos dados levantados podemos afirmar que
nesse estudo de caso o processo de inclusão não ocorre de forma efetiva. A problemática principal no processo da
inclusão é a comunicação, visto que o aluno surdo tem que assimilar conteúdos de forma oral, sem a presença de
intérprete, estando presente fisicamente, mas sem chances de participar de forma critica das aulas.
Palavras-chave: Inclusão Educacional, Surdez, Educação Física, Histórico Educacional do Surdo.
INCLUSION OF DEAF STUDENTS IN THE CLASSES OF PHYSICAL EDUCATION IN ELEMENTARY II: A case
study.
ABSTRACT
Influenced by the principles of the Declaration of Salamanca, the LDB has created a comprehensive guideline leading the
integration of students with educational needs to attend preferentially to the regular education system. This article aims to
analyze how does the inclusion of a deaf student in physical education classes in Middle School, as well as aid in the
discussion about the subject, offering tools to work in an inclusive manner. We conducted a case study on the process of
inclusion of 1 (one) deaf students in state public education, data collection was performed through a diary and a semistructured,and the survey instrument assessed and validated by a Professor active in the area. Through the data collected
can be said that this case study the process of inclusion does not occur effectively. The main problem in the inclusion
process is communication, since the deaf student has to assimilate the contents of the oral form, without the presence of
an interpreter being physically present, but no chance to participate in a critique of class.
Key words: Keywords: Inclusion Education. Deafness. Physical Education. History of Deaf Education.
INTRODUÇÃO
“Ser surdo é pertencer a um mundo de
experiência visual e não auditiva. O surdo tem
diferença e não deficiência”. (PERLIN, 1998, p.
56)
Durante a história educacional dos
surdos ocorreram diversas mudanças não
somente na terminologia empregada, como
também no conceito em relação à surdez.
Atualmente a surdez livrou-se do conceito
empregado pela antiga perspectiva patológica,
passando a ser reconhecida como um fenômeno
cultural. Sendo assim, não é mais utilizado o
termo deficiente auditivo, e sim o termo Surdo,
libertando-os do rótulo de deficientes auditivos
incuráveis. (SANTANA; BERGAMO, 2005).
Segundo Sacks (1990), o termo “Surdo” é
muito vago, pois somente essa palavra não
considera os diferentes graus da surdez, que
tanto influenciam na formação do indivíduo.
Podendo classificá-los em dois grupos: Surdos
Pré-Linguais e Surdos Pós-Linguais. Surdos PósLinguais são os indivíduos que perderam a
audição depois de adquirir a linguagem, tendo
memória sonora e sendo alfabetizados em uma
Língua Oral. Já os surdos Pré-Linguais, ou surdos
congênitos, são os indivíduos que nasceram
surdos ou perderam a audição logo nos primeiros
anos de vida, não tendo nenhuma memória
auditiva, sendo alfabetizados em Libras.
Com o intuito de modificar a educação de
segregação, tornando a pessoa com deficiência
parte da sociedade, o sistema de educação
brasileiro buscou novas diretrizes por meio da
Integração Escolar. Na década de 90, fortalecida
pela Declaração de Salamanca (1994), surge a
ideologia da escola inclusiva que foi divulgada por
todo o mundo, visando respeito e socialização,
fazendo com que alunos surdos passassem a
freqüentar escolas regulares, ocasionando um
esquecimento dos programas de educação
especial. A inclusão torna-se fácil para a
comunidade ouvinte, não estando adequada para
os alunos surdos, pois suas características não
são levadas em consideração. (LACERDA,
2007).
Mendes (2002, p.28 apud GLAT;
FONTES; PLETSCH, 2006, p.4), descreve que:
A idéia da inclusão se fundamenta
numa filosofia que reconhece e aceita
a diversidade na vida em sociedade.
Isto significa garantia de acesso de
todos a todas as oportunidades,
independentemente das
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
58
peculiaridades de cada indivíduo no
grupo social.
A inclusão desses alunos, antes
atendidos no ensino especial, tem trazido vários
debates e discussões pedagógicas sobre essa
nova visão educacional, auxiliando na proposta
de modificações e ampliações na formação dos
profissionais envolvidos nesse processo
educativo. Incluir é bem mais do que garantir o
direito constitucional do aluno, é oferecer
educação com qualidade. (SILVA; BARAÚNA,
2007).
Sendo o processo de inclusão um tema
recente, há vários trabalhos na área que geram
discussões para possíveis modificações ou
adequações do processo pedagógico. Deste
modo, esse trabalho contribuirá para a
conscientização da importância da Educação
Física no processo de inclusão de alunos surdos.
Os autores desse artigo escolheram o
tema da inclusão para tentar compreender este
processo dentro da escola, e assim ter meios
pedagógicos para planejar suas aulas visando o
aumento do desenvolvimento motor, a melhora
da socialização e do aprendizado desse grupo de
alunos, ou seja, saber utilizar várias
metodologias para que o aluno surdo não seja um
mero repetidor de movimentos, e sim que
aprenda conceitos nas aulas de Educação Física.
Portanto este artigo além de auxiliar na discussão
sobre o tema, traz subsídios para trabalhar de
forma inclusiva.
Neste contexto apresentado, artigo em
questão tem como objetivo analisar como ocorre
a inclusão de um aluno surdo nas aulas de
Educação Física no ensino fundamental II em
uma escola da rede estadual de ensino de
Votuporanga. Identificando se a inclusão
acontece de maneira satisfatória e se há uma
comunicação eficiente para a inclusão deste
aluno, e se o mesmo sente-se incluso nas aulas
de Educação Física.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1. A História Educacional do Surdo e o
Atual Sistema de Educação Brasileiro
Na Antiguidade os surdos eram
considerados como anormais devido a grande
idolatria do corpo, qualquer indivíduo que
apresentasse alguma deficiência era sacrificado.
Como a surdez era e continua sendo de difícil
detecção, quando os surdos escapavam da
morte eram marginalizados, presos em
calabouços, asilos e hospitais ou feitos de
escravos. Não havia preocupação com a
Educação dos Surdos, pois eram considerados
como cidadãos improdutivos. A partir do século
XVI na Europa, pedagogos e filósofos
começaram a debater sobre a integração social
do surdo. Assim deram início alguns trabalhos
educacionais para os surdos de forma
independente. (STROBEL, 2006).
De acordo com Monteiro (2006) o Brasil
sofreu influências educacionais francesas, pois
em 1856 o professor Ernest Huet, surdo francês,
trouxe o alfabeto manual francês e alguns sinais
da Língua de Sinais Francesa (LSF). No dia 26 de
Setembro do ano de 1857 no Rio de Janeiro, foi
inaugurado o Instituto dos Surdos-Mudos, hoje
denominado Instituto Nacional de Educação de
Surdos (INES). Esse instituto funcionava como
um internato, pois surdos do país inteiro vinham
estudar e ficavam todo o semestre na escola, e
nas férias voltavam para o convívio com suas
famílias. Outra escola importante na história
educacional do surdo foi o Instituto Santa
Terezinha, fundado em 1925 em São Paulo, onde
moças surdas eram educadas.
Segundo Strobel (2006) em 1880, o uso
da Língua de Sinais foi banido por quase 100
anos. Assim os surdos tiveram que abandonar a
sua identidade e cultura surda, sendo forçados a
imitarem os ouvintes a favor do Oralismo. No
século XX, com a evolução da medicina,
passaram a classificar os surdos através do grau
de surdez, sendo vistos como doentes ou
deficientes. Deste modo surgem as instituições
educacionais especializadas, onde eram
realizados processos de reabilitação da fala e
treinamento auditivo, por meio do método do
Oralismo, tendo como objetivo a cura e não a
educação do surdo, fortalecendo assim, a
superioridade do ouvinte sobre o surdo.
A Declaração de Salamanca, realizada
em 1994 na Espanha, com o objetivo de discutir
mudanças políticas na educação dos indivíduos
com necessidades especiais divulga os
seguintes princípios: o reconhecimento das
diferenças, o atendimento das necessidades de
cada um, a promoção da aprendizagem, o
reconhecimento da importância da escola para
todos e a formação de professores com
perspectiva de um mundo inclusivo em busca do
mais alto nível da democracia. (LIMA, 2001).
Influenciada pelos princípios da
Declaração de Salamanca, a LDB criou uma
diretriz inclusiva levando a inserção dos alunos
portadores de necessidades educacionais
diferenciadas a freqüentar preferencialmente a
rede regular de ensino. Isso tem criado
problemas para os profissionais da educação,
principalmente os que trabalham com alunos
surdos, por não terem bases didáticas e nem
lingüísticas apropriadas para efetivação da
aprendizagem. (SILVA; BARAÚNA, 2007).
Atualmente, o Artigo 58, capitulo V, da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB, Lei 9394-1996), define que portadores de
necessidades especiais freqüentem
preferencialmente a rede regular de ensino com
serviço especializado quando necessário.
(QUADROS, 2003).
Segundo Carvalho (1998) com a LDB, os
alunos com necessidades especiais passaram a
freqüentar a rede regular de ensino e a Educação
Especial passou a ser uma educação
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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especializada mediante as condições individuais
dos alunos, ou seja, somente alunos com grau
elevado de deficiência que não podem se
beneficiar com a inclusão freqüentam aulas em
classes especiais, enquanto que os outros alunos
deverão ser inclusos em classes regulares de
ensino.
De acordo com Skilas (1997 apud DIZEU;
CAPORALI, 2005) o Oralismo é uma imposição
social de uma maioria lingüística sobre uma
minoria lingüística. Um dos argumentos
defendidos por esse pensamento é o da
integração social do surdo, mas a sociedade não
está preparada para receber o indivíduo surdo,
pois estes são silenciados pelos ouvintes devido à
falta de comunicação e compreensão. É
necessário dar à criança surda a oportunidade de
se desenvolver por meio da sua língua, que nesse
caso é a Libras.
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) foi
oficializada em 2002 (Lei nº 10.436, de 24 de Abril
de 2002) abrindo novos caminhos para a
educação dos surdos, pois é considerada a
Língua Materna dos surdos brasileiros por ser
adquirida de forma espontânea, sem a
necessidade de um treinamento, tendo a língua
portuguesa como sua segunda língua. Podemos
exemplificar a maneira que a criança ouvinte
desde o seu nascimento entra em contato com a
Língua Oral, desenvolvendo-se por meio dela e
vivenciando o meio em que está inserida, sendo
nessas trocas comunicativas que a criança cria
novos conceitos. Deve-se garantir o mesmo
direito à criança surda, pois sendo alfabetizada
em Libras, ela se torna capaz de atribuir
significados ao mundo, acabando com a idéia de
que a surdez é a causadora das limitações
intelectuais e afetivas, visto que essa limitação
pode ocorrer devido a falta de condições de
desenvolvimento oferecidas.
(DIZEU;
CAPORALI, 2005).
De acordo com Quadros (2002, apud
DIZEU; CAPORALI, 2005) a Língua de Sinais
surge com a necessidade de comunicação dos
indivíduos surdos, sendo essa comunicação um
processo natural de todo ser humano. A Libras
diferencia-se por usar o campo gesto-visual e não
o canal oral-auditivo como nas línguas orais, por
esse motivo se diferencia também nas regras de
estruturação das ordens das palavras. Possui
todas as características de uma língua oral, como
semântica, regras gramaticais, estruturas
abstratas e complexidade lingüística, levando em
consideração até mesmo a nacionalidade e a
regionalidade do individuo. Sendo assim, deve
ser considerada e respeitada como uma língua,
pois desempenha a mesma função das línguas
orais, que é a comunicação.
2. Educação Física Adaptada
De acordo com Gorgatti e Costa (2005) a
Educação Física Adaptada é um componente da
Educação Física que visa tornar-se possível a
prática de atividades físicas por pessoas com
necessidades adaptativas. Nessa área deve-se
levar em consideração o potencial do individuo
proporcionando a satisfação pessoal através de
danças, ginásticas, jogos e esportes
desenvolvendo a cultura corporal de movimento.
O desafio consiste em saber lidar com o
abundante potencial presente nas
pessoas que apresentam diferentes e
peculiares condições para a prática das
atividades físicas, interagindo nos mais
diferentes contextos. (GORGATTI e
COSTA, 2005, p.03).
Segundo Freitas (2002 apud AGUIAR;
DUARTE, 2005) a Educação Física Adaptada
surgiu devido a Resolução nº 03/87, do Conselho
Federal de Educação, que declara sobre a
atuação do professor de Educação Física com o
aluno portador de deficiências. Por ser recente,
encontramos professores atuantes que não
tiveram em sua formação acadêmica, conteúdos
sobre como atuar com o aluno com necessidades
especiais ou como trabalhar com a inclusão do
mesmo.
Para Aguiar e Duarte (2005) a Educação
Física deve fazer parte ativamente da inclusão, já
que faz parte da educação básica, para isso,
defende que o professor desenvolva
competências educacionais em sua formação, ou
seja, que haja um estímulo pedagógico maior do
que o estímulo desportivo/competitivo. Pois aulas
projetadas sem valores inclusivos, visando a área
esportiva com competição, pode contribuir para a
exclusão dificultando a inclusão.
3. A Inclusão
Entre o final de 1970 e início de 1980, o
sistema de educação brasileiro buscou novos
caminhos para acabar com a segregação dos
alunos portadores de necessidades especiais,
fortalecido pelo movimento chamado Integração
Escolar, em que o aluno deveria se adaptar à
escola. Na década de 90 esse movimento é
renomeado, devido à influência da Declaração de
Salamanca (1994) surgindo assim à inclusão,
onde a escola deverá se adaptar para atender as
necessidades educacionais de todos os alunos.
Deste modo, a escola deve ter o compromisso de
educar cada criança independente de sua origem
social, ética ou lingüística na rede regular de
ensino. (LACERDA, 2007).
Inclusão é uma relação entre a sociedade
e o individuo com necessidades especiais, pois
esta sociedade tem que se adaptar para poder
incluir, enquanto que, simultaneamente, o
individuo portador de necessidades prepara-se
para assumir responsabilidades como cidadão
atuante nesta sociedade. Podemos definir 4
princípios do processo de inclusão: a aceitação
das diferenças, conviver com a diversidade,
valorização do individuo e o aprendizado por meio
da cooperação. (SASSAKI, 1997, p.41 apud
RIBEIRO, 2001).
Assim, de acordo com Mazzota (1996
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apud LACERDA, 2006) a inclusão tem como
objetivo inserir os mais variados tipos de alunos
na mesma sala de aula, desejando que a escola
seja criativa para garantir a permanência desses
alunos na rede regular, promovendo resultados
satisfatórios no desenvolvimento cognitivo e
social. Cada aluno incluso torna-se importante
para garantir a riqueza do processo de inclusão.
Para Masini (2004), de 1998 a 2002, a
situação da inclusão escolar no Brasil, apresenta
as seguintes características: a inserção e a
garantia da matrícula dos alunos com
necessidades especiais na rede regular de
ensino; inserção do tema inclusão em programas
científicos, em reivindicações e nos meios de
comunicação. Somente a matrícula do aluno
portador de necessidades especiais não propicia
a inclusão, é necessário um estudo sobre suas
condições de aprendizado, além de haver um
preparo dos professores para que saibam como o
conhecimento é construído.
Com a inclusão de pessoas com
necessidades especiais na rede regular de
ensino surgem vários trabalhos e discussões
sobre a nova realidade. Na área política há três
vertentes sobre a educação do surdo. A primeira
está a favor da inclusão dos alunos surdos no
ensino regular de ensino e em classes com
ouvintes, sendo utilizada a língua portuguesa. Na
segunda corrente estão os que defendem a
concepção anterior à inclusão com salas
específicas para os alunos surdos nas escolas
regulares, e que a língua utilizada seja Libras,
essas salas não são necessariamente formadas
somente por alunos surdos. E a terceira visão, é
dos que desejam os alunos surdos em classes de
escolas especiais. (SILVA; BARAÚNA, 2007).
De acordo com Lacerda (2007) os
principais defensores da inclusão são Brunch
(1994), Cohen (1994), Kirchner (1994), Silveira
Bueno (1994), e Sassaki (1997). Esses autores
argumentam que o aluno surdo deve ter o direito
de freqüentar a mesma escola de seus irmãos,
com crianças da mesma faixa etária e para que
isso seja efetivo, faz-se necessário uma didática
de trabalho que atenda às suas necessidades
com suporte de aprendizado e assistência
especializada, otimizando a aprendizagem e
auxiliando o professor neste processo. Não
desmerecem as classes especiais, visto que em
alguns casos a inclusão não se faz possível.
No contexto do acirramento das
diferenças sociais provocado pelas
tendências globalizantes, pela
concentração de riqueza e pelos
processos que a acompanham
(redução do emprego, encolhimento do
Estado etc.), a implementação de
políticas realmente inclusivas deve
enfrentar grandes problemas.
(LAPLANE, 2004, p.17-18, apud
LACERDA, 2006, p.168).
De acordo com o autor citado acima,
desta forma o discurso da inclusão contradiz a
realidade educacional brasileira que é
caracterizada por salas de aulas superlotadas,
quadros de docentes que não tiveram uma boa
formação não sendo capazes de trabalhar com
grupos distintos e instalações físicas não
apropriadas. Essas condições colocam os ideais
da inclusão em dúvida, visto que somente inserir
esses alunos na rede regular não atinge seus
objetivos educacionais.
Para Mazini (2004) o processo de
inclusão no Brasil demonstra resultados
positivos, tornando-se necessário para acabar
com a exclusão e o preconceito, por outro lado,
gera também pontos negativos, pois essa
inclusão sem uma avaliação prévia do aluno e da
instituição, pode trazer inúmeros problemas
contradizendo os objetivos da inclusão.
Rechigo e Marostega (2002 apud
GUARINELLO et al, 2006) questionam se somos
capazes de incluir um aluno surdo na rede regular
de ensino, sem modificar a metodologia aplicada
aos ouvintes, ou se essa inclusão não é uma
forma mascarada de exclusão dentro da escola.
MÉTODO
Foi realizado um estudo de caso sobre o
processo de inclusão de um aluno surdo na rede
estadual de ensino, na cidade de Votuporanga,
interior de São Paulo, nas aulas de Educação
Física. O aluno em questão é do sexo masculino,
com idade escolar regular e freqüenta a escola no
período da manhã, estando matriculado no 6º
ano do Ensino Fundamental II. No período da
tarde, o aluno freqüenta aulas de reforço com a
Professora Especialista e Intérprete de Libras.
As aulas de Educação Física que foram
observadas aconteceram sempre às segundas e
sextas-feiras, com 50 minutos de duração. Foram
observadas nove aulas, sendo no período do dia
08 de Maio até o dia 05 de Junho do ano de 2009.
A coleta de dados para posterior comparação
com revisão bibliográfica, foi realizada por meio
de um diário de campo e uma entrevista semiestruturada.
O instrumento de pesquisa foi apreciado
e validado Professor Doutor e atuante da área da
Educação Física Adaptada, sendo analisado
anteriormente à sua aplicação, para que assim o
instrumento cumprisse seu papel estando de
acordo com os objetivos do trabalho.
Segundo Barros e Lehfeld (2002) a
coleta de dados por meio de um diário de campo
deverá registrar os dados através das
observações no diário de campo que pode ser
realizado com notas feitas a mão, gravações,
fotografias, ou qualquer outro recurso disponível.
Este diário serve como uma agenda cronológica
das atividades. As observações pessoais
exercem grande importância devendo ser
levadas em consideração.
De acordo com Manzini, (2004), uma
entrevista é efetuada por meio da intervenção
oral do pesquisador, em que as informações são
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coletadas na forma de falas ou verbalizações,
sendo necessário realizar a transcrição. Pode
conter perguntas abertas e fechadas
possibilitando intervenções, como por exemplo,
apresentando contradições para uma discussão.
Uma entrevista semi-estruturada geralmente é
aplicada a um grupo menor de participantes,
podendo se estender de acordo com o numero de
dados que deseja obter.
Para a realização da entrevista,
elaboramos doze perguntas com base nos dados
levantados por meio da pesquisa de campo.
Assim levantamos questões relacionadas à
vivencia do aluno, facilitando o entendimento com
exemplos ocorridos durante as aulas. A entrevista
tornou-se possível e fidedigna devido à presença
da professora e intérprete de Libras, que traduziu
as perguntas para o aluno surdo e também suas
respostas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pode ser observado que o aluno surdo é
participativo, demonstrando interesse em realizar
as aulas de Educação Física junto com os outros
alunos ouvintes. Sendo confirmado na entrevista:
Você gosta de Educação Física?
“Sim”
Você participa das aulas de Educação
Física?
“Sim”
Apresenta um atraso no desenvolvimento
motor sendo assim observadas severas
dificuldades de equilíbrio, o que pode ter
contribuído para a falta de coordenação em
realizar movimentos básicos como correr, saltar,
trotar, entre outros. Os estímulos motores que o
aluno teve no decorrer do seu desenvolvimento,
devem ser levados em consideração como um
fator que pode ter influenciado o seu
desenvolvimento.
Das 9 aulas observadas, apenas 1 foi
realizada na sala de aula, devido ao frio e a chuva,
todas as outras aulas foram realizadas na quadra,
de modo que os meninos jogaram futebol, e as
meninas vôlei ou handebol. Os times de futebol
eram divididos da seguinte forma:
ü Separava-se um número de goleiros
de acordo com o número de times;
ü Os outros jogadores eram escolhidos
pelos goleiros.
ü Sorteava quem jogava primeiro, com
duração de 2 minutos cada partida. Quem
ganhava o jogo continuava, podendo jogar até 2
vezes seguidas.
Desta forma o aluno surdo sempre era o
último a ser escolhido. Quando a professora
estava escolhendo os alunos que seriam goleiros,
o aluno surdo corria e erguia a mão, apontando
para o gol e para ele, mostrando seu interesse
pela posição. Ele gostava de jogar como goleiro,
pois quando estava nessa posição, ele tinha a
oportunidade de escolher o time, não sendo o
último a ser escolhido, além de participar do jogo
de forma mais ativa, pois quando jogava em outra
posição não recebia a bola de seus
companheiros.
De acordo com Ribeiro (2001) somente
garantir a participação do aluno surdo não garante
a inclusão do mesmo nas aulas de Educação
Física, é necessário que todos os envolvidos
estejam participando do objetivo da atividade.
Para tornar o esporte acessível e prazeroso a
todos é necessário levar em consideração as
características de cada aluno, para que assim ele
consiga atingir o objetivo proposto.
A classe do 6º ano é extremamente
competitiva, que é uma característica da idade.
Além de excluir o aluno surdo ainda reclamavam
quando a professora o escalava como goleiro.
Sendo assim perguntamos:
Os outros alunos (ouvintes) deixam você
de fora em alguma atividade? Não deixa você
participar?
Intérprete: “Sim. Os meus amigos me
deixam, muitas vezes eu peço atenção, peço para
meus amigos passar a bola, mas eu sinto que eles
me deixam de lado”.
O aluno surdo, apesar de presente
(fisicamente), não é considerado em
muitos aspectos e se cria uma falsa
imagem de que a inclusão é um
sucesso. As reflexões apontam que a
inclusão no ensino fundamental é muito
restritiva para o aluno surdo, oferecendo
oportunidades reduzidas de
desenvolvimento de uma serie de
aspectos fundamentais (lingüísticos,
sociais, afetivos, de identidade, entre
outros, que se desenvolvem apoiados
nas interações que se dão por meio da
linguagem. A não partilha de uma língua
comum impede a constituição plena dos
sujeitos. (LACERDA, 2006, p.19)
Pôde ser observado também que o aluno
surdo conhecia regras básicas, como por
exemplo, só pegar a bola com a mão quando
estiver jogando na posição de goleiro, cobranças
de lateral e escanteio. E ele aprendeu através de
vivências na quadra, observando as jogadas
realizadas pelos demais alunos.
Você sabe as regras dos esportes? Como
por exemplo, as regras do futebol?
“Sei as regras do Futebol” (deu alguns
exemplos das regras conhecidas.)
Enquanto os alunos esperam a
professora na quadra, ficam conversando ou
brincando, já o aluno surdo fica só observando os
demais, sempre por perto, rindo quando os outros
alunos riem, sem saber do que os outros alunos
estavam rindo, não participando do círculo de
amigos da sala. O aluno surdo tem como conceito
de amigo as pessoas com quem brinca ou convive
na escola. Sendo assim, questionamos:
Você tem amigos na escola?
Intérprete: “Sim, tem amigos. Brinco de
Pega-Pega com meus amigos, Esconde-Esconde
e outras brincadeiras. Tem contato com amigos,
tanto meninas como meninos”.
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Pode-se comparar com dados coletados
no estudo de Lacerda (2006), que mostrou a
opinião dos alunos ouvintes em relação a
inclusão do aluno surdo e consequentemente a
sua socialização. Duas alunas ouvintes citaram a
Língua de Sinais como de difícil entendimento,
disseram também que o aluno surdo era legal,
mas que às vezes tinha atitudes que não
conseguiam entender, e finalizaram expressando
o desejo de que ele aprendesse a falar. Já o aluno
surdo, no 6º ano, não conhece o nome dos outros
alunos da sala, nem tem acesso às inúmeras
informações originadas das trocas de
conhecimentos entre indivíduos que falam a
mesma língua, pois esse aluno não se relaciona
diretamente nem com os professores nem com
os outros alunos, está sempre com um intérprete,
adulto, por perto. Concluindo assim que há
dificuldade de relacionamento, de conhecimento
sobre a surdez e de aceitação de certas
características do aluno.
Devido à chuva e a temperatura baixa,
em uma das aulas observadas a professora
ministrou aula dentro da sala de aula, e distribuiu
tabuleiros de Xadrez. O aluno surdo posicionou
as peças conforme o jogo de Damas, achando
que era o mesmo jogo. A professora até tentou
explicar as regras do jogo de Xadrez,
posicionando e movendo algumas peças, mas
devido a falta de comunicação, naquele dia o
aluno ficou sem aprender a jogar Xadrez, jogou
apenas Dama, que já tinha domínio, com as
peças e tabuleiro do outro jogo. Assim fica
evidente a impossibilidade do individuo surdo
adquirir um conceito por meio de outra língua que
não seja a sua, tornando o uso de Libras
necessário no processo ensino-aprendizagem.
Em função desse acontecimento, pergunta-se:
Lá na quadra, você entende o que a
professora diz?
“Sim”
Como a professora explica?
Intérprete: “O aluno disse que entende
nos momentos em que a professora gesticula,
usa sinais e aponta sendo dessa forma que ele
consegue compreender”.
Quando você não entende, você tira
duvidas? Você pergunta?
“Não”.
Se a professora soubesse Libras, você
acha que aprenderia mais?
“Sim”. Intérprete: “Ele ta dizendo que com
a Libras ele entenderia melhor, com a Oralidade,
ele tem dificuldade maior de compreender e se o
professor soubesse Libras, com certeza ele
aprende mais”.
Você gostaria que todos na escola
soubessem Libras?
“Sim”.
Se todos soubessem Libras, você acha
que teria mais amigos e gostaria mais de
estudar?
Intérprete: “Sim, ele gostaria. Ele disse
que ele mesmo poderia estar auxiliando os
amigos a aprenderem os sinais, apontando e
ensinando os sinais para os amigos, pra
conversar melhor.”
CONCLUSÃO
Por meio dos dados levantados pode-se
afirmar que nesse estudo de caso o processo de
inclusão não ocorre de forma efetiva. Sendo
necessário alterações nesse processo para
garantir o direito do aluno surdo de se
desenvolver por meio de um ensino de qualidade.
A problemática principal no processo da
inclusão é a comunicação, visto que o aluno
surdo é tratado como um estrangeiro, tendo que
assimilar conteúdos de forma oral sem a
presença de intérprete, estando o aluno presente
fisicamente, mas sem chances de participar de
forma crítica das aulas.
Mesmo que o professor não teve
subsídios em sua formação para trabalhar com a
inclusão de alunos surdos e nem tem domínio da
Libras, deve estudar e buscar conhecimento
sobre a surdez, não olhando somente a vertente
patológica, mas buscar respostas no próprio
aluno surdo, compreendendo como é ser surdo,
como é viver no Mundo do Silêncio e quais são os
ideais da Cultura Surda. E somente depois
dessas experiências é que o docente enxergará
com outros olhos a questão do aluno surdo dentro
do processo de inclusão, tendo subsídios para
incluí-lo em suas aulas.
São necessárias alterações
metodológicas nas aulas de educação física,
trazendo informações visuais por meio de
desenhos, vídeos e até mesmo com a ajuda de
interpretes de Libras na tentativa de inserir um
conceito ao aluno surdo, sem privilegiar o
Oralismo. Não se pode manter a mesma
metodologia de aula para ouvintes, esperando
que o aluno surdo se desenvolva por meio do
canal oral-auditivo. Se a aula de educação física
não levar em consideração as necessidades do
indivíduo não contribuirá como um fator
facilitador da inclusão e de sua socialização,
sendo assim irá formar apenas um mero repetidor
de movimentos, podendo até mesmo resultar na
exclusão.
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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ESPORTE UNIVERSITÁRIO: CARACTERIZAÇÃO E INTENCIONALIDADES DE ALUNOS-ATLETAS À
PRÁTICA ESPORTIVA.
Prof. Esp. Cláudio Gomes Barbosa; Prof. Dr. Afonso Antônio Machado
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte. Universidade Estadual Paulista (UNESP),
campus Rio Claro – SP.
RESUMO
O esporte é considerado como um fenômeno multidimensional podendo gerar diversas intencionalidades para
quem busca a sua prática. Segundo a legislação brasileira podemos definir o esporte em três grandes áreas: esporteeducação, esporte-lazer e esporte-desempenho, cada uma com sua característica e um público-alvo. O esporte
universitário não foge a esta regra tendo suas peculiaridades e podendo encaixar a qualquer uma dessas áreas variando
sempre a forma como é executada. No Brasil o esporte praticado nas universidades parece um pouco esquecido e um
dos caminhos para entendermos melhor como ele funciona e quais são suas condições atuais é conhecendo sua
estrutura organizacional e traçando o perfil de seus participantes. Neste sentido este trabalho possui como objetivo
contribuir para o conhecimento da caracterização, frequência e intencionalidades de alunos-atletas para a prática
esportiva. Esta pesquisa, de caráter quanti-qualitativa, foi realizada utilizando o método netnográfico por meio da
aplicação de questionários por meio de grupos na rede social Facebook. Foram utilizados dois instrumentos
(questionários): um aplicado ao alunos-atletas e outro na entidade responsável pela gestão esportiva. Foi adotado como
amostra alunos-atletas da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro que praticam atividades de treinamento
esportivo (pelo menos 2 vezes por semana). A amostra foi composta por 74 alunos-atletas (média de idade 22,7 anos) e
um dirigente esportivo. Após a análise dos dados podemos concluir que assume particular importância escutar a
população, com a finalidade de conhecer o seu nível de participação desportiva, os motivos pelos quais não praticam
nenhuma atividade ou possuem intencionalidades diferentes e as razões que os levariam a natureza da prática
desportiva desejada. Nota-se que na Instituição de Ensino Superior (IES) estudada os alunos-atletas possuem
intencionalidades diferentes das pretensões dos gestores esportivos. Isto pode ser um fator importante para obtenção de
resultados em competições esportivas. Foi constatado também que vários alunos-atletas diminuíram a frequência de
prática esportiva do período escolar para o ensino superior.. Desta forma, todos os objetivos traçados para a construção
deste trabalho foram alcançados, sendo importante que estudos futuros sejam realizados com IES de regiões diferentes,
para uma caracterização mais eficaz e uma aplicabilidade maior na analise dos dados.
Palavras-chave: Esporte universitário, intencionalidades, esporte-lazer, esporte-desempenho.
ABSTRACT
The sport is considered as a multidimensional phenomenon which can generate different ends for those searching for
their practice. Under Brazilian law, we can define the sport in three major areas: education-sports, sports-leisure and
sport-performance, each with its characteristic and a target audience. The university sports is no exception to this rule, has
its peculiarities and can fit IN any of these areas ranging always the way it is executed. In Brazil the sport practiced in the
universities seems somewhat forgotten and one of the ways to better understand how it works and what is the current
condition, is knowing your organizational structure and plotting the profile of its participants. In this sense this work aims to
contribute to the knowledge of the characterization, frequency and intentions of student-athletes for sports. This research,
with a quantitative and qualitative, was carried out using the method “netnographic” through questionnaires by groups in
the social network Facebook. It was used two instruments (questionnaires): one applied to student-athletes and others in
the organization responsible for sports. It was adopted as a sample student-athletes of Universidade Estadual Paulista,
Rio Claro Campus who practice coaching activities (at least 2 times per week). The sample consisted of 74 studentathletes (mean age 22.7 years) and a sports leader. After analyzing the data we can conclude that it is particularly
important to listen to the population, to know better their level of sport participation, the reasons to not practice any activity
or have different intentions and the reasons that would take them to practice their sport desired. Note that the Higher
Education Institution (HEI) studied, student-athletes have different intentions of the sporting managers pretensions. This
can be an important factor for obtaining results in competitions. It was also found that many student-athletes decreased
their frequency of sports practice from the school term to the higher education. This may be due to public policies in Brazil
that do not favor adding sports to education. Thus, all the goals set for the construction of this work have been achieved, it
is important that future studies be conducted with IES of different regions, to characterize a more effective and a greater
applicability in data analysis.
Keyword: college sports, intentions, sport, leisure, sport-performance.
INTRODUÇÃO
A definição do termo esporte pode ser
encontrada em diversas formar. Uma analogia
feita por Tubino (1994) pode ser usada como os
primórdios desta palavra. Ele compara a
expressão “sair do porto”, usada por marinheiros
europeus no século XIV, quando se envolviam
com atividades, onde habilidades físicas eram
usadas, em seu tempo livre. No século XX a
concepção sobre esporte moderno passou por
diversas modificações. Do início do século XIX
até 1936, possuía características claras, como o
associativismo, o fair-play e a clássica dicotomia
amadorismo/profissionalismo. Na UNESCO,
surgiu o movimento Esporte para Todos, que
difundiu internacionalmente o conceito de esporte
como todas as possibilidades da atividade motora
humana capaz de promover o lazer, o prazer e a
satisfação (BARROS ALVES & PENNA
PIERANTI 2007).
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
65
A mudança no entendimento desse
conceito ampliou o significado das
atividades esportivas, disseminando
práticas não competitivas,
possibilitando uma participação
universal no esporte, que anteriormente
era visto não como um direito, mas
como um dom. Tornou-se possível falar,
então, em esporte como fenômeno
social, apresentado a todos na infância
e ligado à identidade individual. O
entendimento do esporte como
fenômeno social do mundo moderno
dá-se como um fato social construído,
que existe fora das consciências
individuais, se torna imperativo à vida
da sociedade e influencia costumes e
hábitos (HELAL, 1990).
Essas práticas podem ou não se
expressar através de confrontos diretos entre
sujeitos, de mensuração de performances, de
nomeação de vencedores ou destaques, mas
sempre expressam o desejo de realização do ser
humano que encarna a necessidade, entre
outras, de emocionar-se, superar-se, jogar,
brincar e comunicar-se. Sem o esporte, o
desenvolvimento cultural do homem fica mais
pobre. Por se tratar de um fenômeno que exerce
transmissão e renovação cultural, pois deriva das
características de seus praticantes, o esporte
transmite valores, e por isso colabora para a
formação humana
Podemos caracterizar o esporte como um
fenômeno “multidimensional”, e suas dimensões
por vezes transpõem-se umas sobre as outras. O
autor Tubino (2010) conceitua o esporte de
acordo com a sua abrangência em: esporteeducação, esporte-lazer e esporte-desempenho.
Segundo ele, o primeiro é aquele que possui um
caráter formativo. O esporte-lazer, como o próprio
nome infere, é aquele que se apóia no próprio
lazer em busca do bem-estar de seus praticantes.
Por fim, o esporte-desempenho é aquele
disputado obedecendo rigidamente às regras
existentes, por isso diz-se que ele é
institucionalizado. Podemos dizer então que, o
esporte congrega indivíduos com características
diferentes e intencionalidades distintas para a
prática esportiva, sendo este um fenômeno que
nos permite um sentimento de identificação
coletiva.
Estes três conceitos de esportes
apresentado por Tubino (2010) serão usados
para caracterizar a intencionalidade das
atividades praticadas pelo grupo estudado. É
importante confrontar a real intenção do atleta na
prática do esporte com os objetivos traçados
pelos dirigentes e gestores esportivos. Se as
metas dos gestores e as intencionalidades dos
atletas nas práticas esportivas não estiverem
alinhavadas será difícil à obtenção de bons
resultados. Entretanto vale ressaltar que o
conceito de esporte não é definitivo na medida em
que novas perspectivas e correntes de
pensamento estão continuamente a enriquecê-lo.
O esporte universitário, como eixo
temático principal deste trabalho, é considerado
como um esporte de formação, cuja função
principal é social, visando o bem estar do
estudante universitário. É impossível negar a
contribuição do desporto acadêmico para
aproximação do ser humano, de seu
relacionamento, do incentivo ao coleguismo, ao
espírito de coletivismo e também ao incentivo à
formação de novas lideranças. Pode ser definido
também, em princípio, como uma forma de
esporte institucional que oferece atividade física
para os membros da universidade/faculdade.
Por meio de consulta, análise e discussão
de material empírico, foi constatado que o esporte
universitário no Brasil passou por várias fases. A
primeira fase foi iniciada junto com as primeiras
manifestações do esporte nas instituições de
ensino superior. Estas ainda não tinham a
configuração atual de universidades, constituindo
colégios ou faculdades isoladas. As primeiras
competições universitárias foram realizadas
dentro dos próprios estados. Neste sentido, onde
o estado não intervinha nas questões do esporte
universitário, foi criado a Confederação Brasileira
de Desporto Universitário (CBDU) em 9 de agosto
de 1939, só teve interferência do Estado anos
depois, através do Decreto-Lei nº 3.617, de 15 de
setembro de 1941, que oficializou a
Confederação. (STAREPRAVO, 2010)
A liberdade de organização oferecida
pela legislação esportiva brasileira (Lei n°
8.672/93, “Lei Zico” e posteriormente pela Lei n°
9.615/98,“Lei Pelé”) pouco modificou a estrutura
criada desde 1941 para o Esporte Universitário.
As Associações Atléticas Acadêmicas
(denominadas de A.A.A.s) são as entidades
básicas de organização do Esporte Universitário
na maioria das Instituições de Ensino Superior
(IES), constituindo-se nos centros diretamente
responsáveis pela prática esportiva no âmbito
destas Instituições, podendo ou não ser dirigidas
por Acadêmicos. A estrutura esportiva existente
no Brasil pode ajudar nesta estagnação.
O modelo encontrado no Brasil denomina-se
piramidal, onde a ponta são os clubes. É
esse o foco para a prática esportiva. A
dificuldade de acesso à base da pirâmide
brasileira reflete-se nos níveis superiores:
atingir as escolinhas e, posteriormente, as
equipes amadoras e profissionais dos
clubes é ainda mais incomum. Não é raro
encontrarmos atletas que chegam em um
determinado momento da carreira eles são
obrigados a escolher entre se
profissionalizar no esporte e seguir
estudando. O modelo brasileiro não só
separa educação e esporte, como também
os opõe nos níveis mais altos. O Brasil,
portanto, se difere de países como os
Estados Unidos onde, o esporte de base é
praticado na escola e, posteriormente, nas
universidades. Em alguns casos, alunos
chegam a escolher seu curso com base na
qualidade da equipe universitária ou
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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recebem bolsas para cursar a faculdade e
jogar pelo time. Apenas quem alcança um
nível elevado chega aos clubes profissionais
(BARROS ALVES & PENNA PIERANTI,
2007).
Esta dicotomia entre estudos e esporte
que é imposta aos atletas no Brasil pode gerar
conflitos e modificações constantes nas
intenções para a prática esportiva enquanto
atletas universitários. Torna-se necessário então
realizarmos uma caracterização do perfil destes
atletas, identificando o nível de prática esportiva
antes e após a entrada no ensino superior e
associarmos as suas intencionalidades tanto em
treinamentos dentro de sua instituição quanto na
participação em competições oficiais.
Atualmente, o esporte brasileiro
apresenta limites. Poucos projetos políticos tem
se demonstrado eficazes para diminuir a
exclusão e aumentar as oportunidades das
pessoas darem continuidade aos esportes
praticados na fase escolar. Dentre os vários
motivos existentes para a interrupção da prática
esportiva após a fase escolar acreditamos que, a
princípio o tempo e o espaço sejam fatores
intervenientes para o impedimento da atividade
antes desenvolvida. Pois a partir do rompimento
da fase escolar o individuo necessita de outras
estruturas intrínsecas, sendo a principal delas a
motivação (FREITAS, A.M., TUBINO, M.J.G.
2003).
Dentro do campo da psicologia do
esporte, as pesquisas relacionadas ao estudo
das motivações no âmbito de práticas de
rendimento, iniciação esportiva, estudos do lazer
e até envolvendo idosos e atividades físicas têm
aumentado substancialmente (LÓPEZ, 2003;
FREITAS et al., 2007). A motivação é a direção e
intensidade de um esforço, e, junto à habilidade,
condicionamento físico e autoconfiança, é fator
preponderante para bom desempenho
(SAMULSKI, 2002).
Neste mesmo estudo idealizado por
FREITAS & TUBINO (2003) aponta que a maioria
das pessoas acredita que o esporte aprendido
durante a fase escolar, pode formar a base
esportiva para a efetividade de hoje. Logo para
analisarmos o esporte universitário em si
devemos identificar o perfil dos alunos-atletas e o
histórico de suas práticas esportivas anteriores.
Segundo Lopes (2000), se as instituições
responsáveis pela gestão esportiva direcionarem
uma atitude, visando o processo de organização
e planejamento, então se torna indispensável o
conhecimento do sistema esportivo local que é
composto por três princípios: a) princípio de oferta
e recursos (econômicos, materiais, humanos,
etc.); b) princípio de práticas (organização e
realização de atividades); c) princípio de procura
esportiva e caracterização dos praticantes (atuais
e potenciais).
Ainda, segundo o mesmo autor, a análise
da procura (entendida esta como o conjunto de
necessidades de atividade esportiva no tempo
livre) varia muito em função do lugar, já que quer o
ambiente envolvente, quer o tipo de localidade,
produzem modos de vida bastante distintos.
Assim, cada sistema local necessita de uma
análise específica da procura, diferenciando as
suas diversas formas e ajustando-nos a um
espaço e tempo determinado.
Em detrimento aos conceitos expostos
anteriormente, os responsáveis pela gestão
esportiva nas universidades ao assumir as suas
responsabilidades e competências, no sentido de
continuar a desempenhar um papel orientador,
devem interessar-se por projetos baseados nesta
temática - caracterização da participação e
intencionalidades esportivas locais.
Enfim, para que as instituições de ensino
superior e setores responsáveis com
competências para definir linhas orientadoras de
projetos desportivos dentro das universidades,
assentem as suas opções e decisões numa base
objetiva, é determinante a existência de
informação e dados que sustentem as mesmas.
O presente estudo pode oferecer dados às
entidades responsáveis pela gestão esportiva
nas universidades para que seus projetos
esportivos sejam direcionados as
intencionalidades dos alunos-atletas.
OBJETIVO GERAL
Partindo da estrutura organizacional do
esporte na Universidade Estadual Paulista
(UNESP), campus Rio Claro, este estudo
pretende contribuir para o conhecimento da
caracterização, frequência e intencionalidades de
alunos-atletas para a prática esportiva.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Tendo como população os alunos-atletas
da UNESP (Rio Claro), por constituírem os
prováveis “consumidores esportivos”, e aqueles
para os quais a entidade estudantil responsável
pela gestão do esporte tem que assumir as suas
responsabilidades e competências, este estudo
especificamente busca os seguintes objetivos
específicos:
· Identificar e comparar as
intencionalidades dos alunos-atletas na
participação em treinamentos e eventuais
eventos esportivos universitários;
· Comparar a frequência esportiva de
alunos-atletas da fase escolar com a fase
no ensino superior;
· Constituir uma referência para que os
gestores esportivos das IES reflitam acerca
do seu papel e perspectivem linhas
orientadoras para a criação de um modelo
de intervenção e atuação adequadas,
fornecendo resposta às expectativas da
população.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa, de caráter quantiqualitativa, foi realizada utilizando o método
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netnográfico por meio da aplicação de
questionários.
O campo das pesquisas científicas
aponta uma tendência para o surgimento de um
novo paradigma metodológico. Um modelo que
consiga atender integralmente as necessidades
dos pesquisadores. Torna-se evidente a
importância da utilização da metodologia quantiqualitativa no campo das ciências sociais como
uma forma de se obter um conhecimento mais
acurado dos objetos estudados, já que esta área
é, por demais, complexa. O ideal é a construção
de uma metodologia que consiga agrupar
aspectos de ambas as perspectivas.
A etnografia na internet ou netnografia é
então definida como uma metodologia qualitativa
de pesquisa destinada à observação de aspectos
culturais manifestos em grupos sociais
organizados no ciberespaço, a partir da
comunicação mediada por computador
(KOZINETS, 1997; GUIMARÃES JÚNIOR, 1999;
HINE, 2004). Para a realização deste tipo de
estudo, existe desde sempre uma preocupação
com a escolha de grupos cujos enfoques sejam
coerentes com os interesses e problemas de
pesquisa. Além disso, o pesquisador deve
conhecer em profundidade o mecanismo de
funcionamento de fóruns, canais de bate-papo ou
chats e outras ferramentas de informação e
comunicação que dão suporte à criação de
agregações sociais on-line (KOZINETS, 1997).
O método netnográfico foi utilizado neste
trabalho em virtude de suas vantagens
propiciarem uma maior aplicabilidade em uma
amostra tão heterogênea, por ser uma forma de
experimentação do uso de uma tecnologia e
garantir o anonimato das respostas podendo
obter assim uma maior veracidade nos
questionamentos.
Esta pesquisa possui um caráter
descritivo, pois tem como objetivos primordiais a
descrição das características de determinada
população, estudar as características deste grupo
e determinar a natureza desta relação (GIL 1994,
43-50). O universo desta pesquisa se caracteriza
por alunos-atletas universitários, sem distinção de
idade ou gênero, que praticam esportes
frequentemente em sua universidade por pelo
menos seis meses.
Foi adotado como amostra alunos-atletas
da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio
Claro que praticam atividades de treinamento
esportivo (pelo menos 2 vezes por semana).
Optou-se pela seleção desta IES pela facilidade
de acesso aos participantes. A coleta de dados foi
iniciada após obter a autorização dos gestores
esportivos da instituição e o consentimento livre e
esclarecido dos alunos-atletas aceitando
participar da pesquisa.
A amostra foi composta por 74 alunosatletas (média de idade 22,7 anos) e um dirigente
da entidade estudantil responsável pelos projetos
esportivos da IES.
Para a coleta de dados utilizou-se dois
questionários aplicados por meio de uma rede
social: Facebook. Foi determinada a utilização de
uma plataforma de “sociabilidade virtual” para
concentração da amostra, facilitar a aplicação dos
questionários e realização de discussões. Esta
plataforma é um espaço simbólico criado no
ciberespaço por sites orientados a comunicação
de vários usuários.
Cabe ressaltar que as pesquisas
relacionadas a população envolvendo atividade
física têm sido incrementadas pelos sistemas
computadorizados. Esse novo meio de coleta de
dados por meio de questionário informatizado tem
se demonstrado viável na atualidade (SMITH et
al., 2007)
Segundo Gil (1994) o questionário
constitui hoje uma das mais importantes técnicas
disponíveis para obtenção de dados nas
pesquisas sociais. Os questionários desta
pesquisa foram idealizados utilizando a
ferramenta Google Docs e contém questões
abertas, fechadas e mistas. O primeiro
questionário aplicado foi voltado para os alunosatletas e o segundo para o gestor responsável
pelos projetos esportivos da IES. O link do
questionário, destinado para os alunos-atletas foi
disponibilizado em grupos de relacionamento do
Facebook que tem como participantes alunosatletas das modalidades praticadas na IES. O link
do questionário para o gestor responsável pelos
projetos esportivos foi enviado para sua conta
pessoal na rede social. Os dois instrumentos
utilizados nesta pesquisa serão explicitados a
seguir:
a)
Instrumento 01: Questionário
aplicado aos alunos-atletas, sobre os dados
sócio-demográficos e intencionalidade para a
prática esportiva. As questões tinham como
objetivo identificar as características específicas
da amostragem analisada (sexo, idade,
escolaridade, intencionalidades, experiências
etc.) e determinar a real intenção dos atletas que
participam de práticas esportivas na IES. Este
questionário foi criado especificamente para esta
pesquisa e possui 41 questões que se situam em
3 blocos distintos, são eles: perfil do atletas
(caracterização sócio-demográfica),
intencionalidades para a pratica de esportes e
situação da integração entre as IES.
b)
Instrumento 02: Questionário
estruturado objetivando especificar aspectos
gerais dos projetos esportivos executados na IES
e visa também conhece melhor as características
da entidade responsável pela gestão esportiva e
sua intenção na promoção de treinamentos e
participação em eventos esportivos. O principal
objetivo deste questionário é descrever a
estratégia de gestão de eventos desportivos, com
o intuito de criar uma metodologia apropriada e
adaptada que permita também a criação de
mecanismos de auto-avaliação e um modelo de
gestão da qualidade na gestão esportiva. Este
questionário foi criado especificamente para esta
pesquisa e possui 13 questões.
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A compreensão do papel dos gestores
esportivos na coordenação das equipes é um
tema central no âmbito da psicologia do esporte
se aceitar que as suas ações implicam não só a
gerência e organização de todos os membros da
equipe, mas também envolvem um efeito sobre o
desenvolvimento psicológico dos atletas, seja
através da transmissão de um conjunto de
princípios e valores acerca do esporte, seja pela
forma como os ajudam a lidar cada vez mais
eficazmente com as crescentes exigências da
competição.
Na primeira etapa desta pesquisa foi
realizado um levantamento, por meio de uma
consulta usando a rede social Facebook, com o
objetivo de conhecer e identificar quais eram os
grupos de discussão, existentes até o momento,
relacionados com modalidades de treinamento
esportivo da UNESP de Rio Claro. Em um
segundo momento, foi realizado um contato
direto com a pessoa responsável por cada grupo
para solicitar autorização e fazer parte do mesmo,
submetendo assim à aplicação do questionário
(instrumento 01).
Após receber autorização para iniciar os
primeiros procedimentos da coleta de dados foi
divulgado em cada grupo uma mensagem
explicando a finalidade do questionário, os
objetivos da pesquisa e todas as condições para
participação, sendo de caráter voluntário. Junto
com a mensagem foi anexado um link que
direcionava o participante para o questionário.
O último procedimento realizado para a
coleta de dados desta pesquisa foi a aplicação do
questionário para o gestor esportivo responsável
(instrumento 02). Primeiramente foi identificada
na rede social a página oficial da atlética da
UNESP de Rio Claro (Atlética Ayrton Senna) e o
questionário enviado ao atual representante da
mesma.
Primeiramente foi realizada uma analise
quantitativa do questionário focando nos dados
sócio-demográficos dos alunos-atletas,
frequência na prática esportiva e
intencionalidades. Foi feita uma analise das
médias, desvio-padrão e frequência das
respostas sendo apresentando os resultados em
forma de gráficos e tabelas. A técnica de analise
dos dados qualitativos utilizada neste estudo
consiste em estruturar um conjunto de
informações, interpretar e extrair significados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Antes de apresentar os primeiros
resultados referentes à caracterização dos
alunos-atletas bem como de suas
intencionalidades é necessário apresentar as
características da estrutura organizacional do
esporte vigente no campus de Rio Claro da
UNESP. Estes dados foram coletados mediante
aplicação de um questionário ao setor
responsável (instrumento 2). Segundo um estudo
realizado por Palma & Inácio (2009), na Grande
São Paulo concluiu que há dois tipos de gestores,
com realidades distintas entre si: identificou-se
que a grande maioria é gerida por alunos, de
forma amadora e sem apoio institucional e, por
outro lado, há aquelas que são profissionais,
respaldadas por IES, mas numericamente
inferiores e com objetivos e interesses
diferenciados.
Na UNESP de Rio Claro a gestão do
esporte é feita integralmente por uma entidade
estudantil chamada Associação Atlética Ayrton
Senna. Está entidade atualmente é gerida por 6
alunos de diversos cursos (Engenharia
Ambiental, Educação física e Geografia). A
maioria dos projetos esportivos que são ofertados
aos alunos são jogos integradores entre os
cursos. A entidade oferece também treinamentos
esportivos visando competições universitárias e
várias modalidades. Foi questionado qual seria a
intencionalidade da Atlética, na promoção de
treinamentos esportivos e a participação em
competições universitárias. Nos dois casos a
entidade respondeu que ofertam essas ações
visando COMPETIÇÃO/DESEMPENHO, o que
não se percebeu a mesma linha de motivação
para os atletas que participam do mesmo. Foi
afirmado também que a intenção na promoção de
treinamentos e viagens por parte da Atlética é
passado para os alunos como objetivos reais do
trabalho. Isso mostra que existe uma falha na
linha executora dos projetos esportivos em se
alinhar as intenções dos atletas.
Segundo o gestor esportivo responsável
pela atlética existem cerca de 200 alunos-atletas
na entidade, porém apenas 37% (n=74)
responderam ao questionário 1, esse fato se deve
devido as condições necessárias para
participação na pesquisa (participar de
treinamentos esportivos a pelo menos 6 meses,
ter participado de competições esportivas
universitárias representando sua atual instituição
de ensino etc.). A idade média dos alunos-atletas
participantes foi de 22,7 anos, sendo a maioria
homens (55%) e cursando a graduação (81%).
Outra informação importante sobre a
caracterização da amostra é de que nenhum dos
alunos atletas que responderam o questionaram
recebem qualquer tipo de bolsa ou beneficio
(chamada aqui de “bolsa atleta”) para participar
dos treinamentos ou de eventos esportivos
(Tabela 1).
Tabela 1. Descrição da amostra de alunos-atletas que se encaixaram nas condições deste trabalho
AMOSTRA
IDADE
TOTAL
MÉDIA
SEXO
NÍVEL DE ENSINO
PÓSGRADUAÇÃO
n=74*
±22,75
55%
45%
81%
19%
* Refere-se a 37% do total de alunos-atletas existentes na UNESP de Rio Claro
HOMENS MULHERES GRADUAÇÃO
BOLSA ATLETA
NÃO
POSSUÍ
0%
100%
POSSUÍ
Referente à possível formação dos
alunos-atletas, como esperado, vem de
diferentes cursos, porém, a maioria (51%) cursa
Educação física, seja licenciatura, bacharelado
ou pós-graduação. Isso pode ser explicado pela
afinidade do curso com a prática de esportes. Em
segundo lugar aparece Ciências Biológicas com
8 participantes (11%) seguido de Engenharia
Ambiental com 7 participantes (9%).
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
69
Outro dado importante sobre a
caracterização da amostra é quanto à modalidade
esportiva praticada, sendo que os alunos-atletas
do futsal (24,3%) foram os que mais responderam
e os da corrida de rua (2,7%) e futebol de campo
(2,7%) os menos representados (Gráfico 1).
Gráfico1. Referente as modalidades esportivas
praticadas na UNESP de Rio Claro e o percentual de
participantes que responderam o questionários
O Ministério do Esporte admite a definição
defendida pela Lei 9615, de 1998, segundo a qual
o esporte brasileiro é: I. Desporto educacional,
praticado nos sistemas de ensino e em formas
assistemáticas de educação, evitando-se a
seletividade, a hipercompetitividade de seus
praticantes, com a finalidade de alcançar o
desenvolvimento integral do indivíduo e a sua
formação para o exercício da cidadania e a prática
do lazer; II. Desporto de participação, praticado
de modo voluntário, compreendendo as
modalidades desportivas praticadas com a
finalidade de contribuir para a integração dos
praticantes na plenitude da vida social, na
promoção da saúde e educação e na preservação
do meio ambiente; III. Desporto de rendimento,
praticado segundo normas gerais da Lei 9615, de
1998, e das regras de prática desportiva,
nacionais e internacionais, com a finalidade de
obter resultados e integrar pessoas e
comunidades do País e estas com as de outras
nações. (BRASIL, 1998).
Usando como referência as definições de
esporte baseada no documento oficial do
Ministério do Esporte, foram criadas e indagadas
aos participantes quatro possíveis intenções reais
para a participação em treinamentos esportivos e
competições esportivas universitárias, são eles:
a) Pratico esporte visando LAZER (busca seu
bem estar ao participar); b) Pratico esporte
visando COMPETIÇÃO/DESEMPENHO
(institucionalizado, obedecendo rigidamente as
regras); c) Pratico esporte visando sua formação
EDUCACIONAL (caráter formativo) e d) Pratico
esporte visando BOLSA DE ESTUDOS.
Conforme descrito no gráfico 2, nenhum
aluno-atleta participante desta pesquisa possui a
intenção de buscar o esporte visando sua
formação EDUCACIONAL (caráter formativo) e
visando buscar BOLSA DE ESTUDOS na
participação nos treinamentos e competições
esportivas universitárias. Na participação de
treinamentos esportivos, 45 alunos-atletas
participam dos treinamentos buscando uma
forma de LAZER e apensa 29 alunos-atletas
t r e i n a m
b u s c a n d o
COMPETIÇÃO/DESEMPENHO. Já na
participação de viagens para competições
esportivas universitárias o resultado é parecido:
39 buscam COMPETIÇÃO/DESEMPENHO e 35
buscam uma forma de LAZER.
Gráfico 2 Intencionalidades encontradas na participação
de treinamentos esportivos e na participação de viagens
para competições esportivas universitárias
De Marco & Junqueira (1993)
consideram que a motivação nos esportes é
determinada, por um lado, pelas possibilidades
específicas do esporte como campo de ação e de
vivência, e por outro lado, pela influência dos
aspectos motivacionais específicos da
personalidade. Neste sentido o esporte pode para
Bento (1987) preparar o indivíduo para uma
ocupação sadia do tempo livre, constituindo-se
como parte integrante e integradora da cultura
corporal e física. E, por isso pode-se acreditar que
se o hábito da prática esportiva regular for
adquirido desde a infância e efetivamente for
proporcionado prazer durante as atividades, à
probabilidade desse gosto se estender por toda a
vida, deve aumentar consideravelmente.
Com base nestas afirmações, a
participação esportiva na fase adulta depende
das experiências vividas no ensino escolar
através das aulas de educação física. Portanto
este estudo questionou os alunos-atletas sobre a
frequência (em dias x semana) referente à prática
de esportes tanto no período escolar quanto no
estagio atual (ensino superior). Verificou-se que
50% dos alunos-atletas diminuíram a frequência
de atividades esportivas praticadas no período
universitário quando comparado com o período
Gráfico 3. Nível da frequência na pratica de atividades
esportivas entre o período escolar (nível fundamental e
médio) e nível superior
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
70
CONCLUSÕES
Neste processo, assume particular
importância escutar a população, com a
finalidade de conhecer o seu nível de
participação desportiva, os motivos pelos quais
não praticam nenhuma atividade ou possuem
intencionalidades diferentes e as razões que os
levariam a natureza da prática desportiva
desejada. Assim, a análise dos resultados de um
estudo com este tipo de pretensões racionaliza a
intervenção futura daqueles que, na base do seu
desempenho, tenham uma intenção séria de
progressão e desenvolvimento desportivo
sustentado.
Nota-se que na IES estudada os alunosatletas possuem intencionalidades diferentes das
pretensões dos gestores esportivos. Isto pode ser
um fator importante para obtenção de resultados
em competições esportivas. Enquanto os
dirigentes estão pleiteando bons resultados em
competições e promovendo treinamentos, um
número considerável de alunos-atletas busca o
lazer como forma de prática esportiva. Na
promoção dos treinamentos, por exemplo, a
entidade estudantil busca obtenção de resultados
e melhora do desempenho, porém, a maioria dos
atletas entrevistados busca o lazer. Este quadro
pode acarretar uma diminuição da dedicação
total aos treinos podendo ser um fator decisivo
para a conquista de resultados. Outro ponto
importante identificado no trabalho é a intenção
dos atletas na participação de campeonatos. Os
mesmos atletas que nos treinos buscam o lazer e
bem estar quando viajam pra competição focam o
desempenho. Esta mudança de foco deveria
ocorrer antes da competição, ou seja, durante os
treinamentos para que a equipe possa render o
maximo de seu desempenho.
Foi constatado também que vários
alunos-atletas diminuíram a frequência de prática
esportiva do período escolar para o ensino
superior. Isto pode acontecer devido às políticas
públicas no Brasil que não privilegiam o esporte
agregando à educação. Enfim, o aluno-atleta
quando sai do período escolar e ingressa em uma
instituição de ensino superior público, na maioria
das vezes, tem que escolher entre se
profissionalizar no esporte ou seguir seus
estudos.
Desta forma, todos os objetivos traçados
para a construção deste trabalho foram
alcançados, sendo importante que estudos
futuros sejam realizados com IES de regiões
diferentes, para uma caracterização mais eficaz e
uma aplicabilidade maior na analise dos dados.
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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
71
EFEITOS DO FOCO DE ATENÇÃO NA APRENDIZAGEM DA BANDEJA
Danilo Pedersen dos Santos, Matheus Ribeiro Cecarelli, Alaercio Perotti Junior
FHO-UNIARARAS
RESUMO
A capacidade dos seres humanos de processar informações é limitada e durante a execução de uma habilidade é
importante que o foco de atenção esteja nos aspectos mais relevantes da tarefa. Portanto, este estudo teve como
objetivo identificar as influências do foco interno de atenção (GFI) e do foco externo (GFE) na aprendizagem da bandeja
no basquetebol. Participaram deste estudo 16 sujeitos do sexo feminino, divididos aleatoriamente em dois grupos, um
deles direcionado para o foco interno de atenção (GFI) e o outro direcionado para o foco externo (GFE). O procedimento
se constituiu de três fases que foram respectivamente: pré-teste que se resumiu a 10 execuções de bandeja por cada um
dos indivíduos; pós-teste que se constituiu de 30 execuções de bandeja por cada um dos participantes divididas em 3
blocos, sendo que o grupo A (GFI) teve seu foco de atenção direcionado internamente, enquanto o grupo B (FE) teve seu
foco de atenção direcionado externamente, e teste de retenção em que os participantes executaram 10 bandejas. Após a
realização dos testes foi realizada uma análise gráfica, que apontou para um melhor rendimento do grupo B (FE). Este
estudo proporcionou aos profissionais da área, subsídios para que possam orientar melhor seus alunos promovendo
assim uma melhor aprendizagem.
PALAVRAS CHAVE: Aprendizagem Motora, Foco de Atenção, Bandeja.
ABSTRACT
Human being`s ability to process information is limited and during the execution of a skill it is important that the focus of
attention is in the most relevant aspects of the task. Therefore, this study aimed at identifying the influences of the internal
focus of attention (IFG) and the external focus (EFG) on learning layups in basketball. Participated in this study 16 female
subjects which were randomly assigned to two different groups, one directed to the internal focus of attention (IFG) and
the other directed to the external focus (EFG). The procedure consisted of three phases, the pre-test which was made of
10 layup plays by each individual, the post-test which was composed by 30 layup plays for each participant divided in
three sets; provided that group A (IFG) had its focus of attention directed internally, and group B (EFG) had its focus of
attention directed externally, and the retention test in which participants performed 10 layups. After the testing, a graphical
analysis was performed, which pointed out a better performance in group B (EFG). This study has provided professionals
in the area with benefits so they can better guide their students, thus promoting improved learning.
Keywords: Motor Learning; Focus of Attention
INTRODUÇÃO
Sabemos que todo ser humano tem
habilidades incríveis no que se refere a sua
motricidade, sejam elas habilidades simples
como segurar um copo ou habilidades mais
complexas como tocar um instrumento musical.
Segundo Tani (2002) a sub área de
estudos denominada Aprendizagem Motora se
preocupa em estudar todos os mecanismos
envolvidos na aquisição de habilidades motoras e
também os fatores que influenciam na aquisição e
execução destas habilidades. Devemos levar em
conta também que a Aprendizagem Motora não é
um campo isolado, estando diretamente
relacionado com os campos de Controle Motor e
Desenvolvimento Motor.
De acordo com Tani (2002) estes campos
estão intimamente relacionados, portanto é
importante ter uma visão integrada desses três
fenômenos. As pesquisas acerca do fenômeno da
Aprendizagem Motora podem ser realizadas em
vários níveis. No nível bioquímico,
neurofisiológico, sociológico e no nível
comportamental, no qual esta pesquisa se
encontra. Portanto esse estudo se focaliza em
movimentos observáveis e também nos fatores
que influenciam e afetam a execução destes
movimentos.
Ao ensinar algo, os professores, desejam
que os alunos retenham a informação para um
possível uso posterior, ou seja, a intenção é que o
individuo consiga realizar uma determinada
atividade mesmo após muitos anos sem tê-la
praticado. A atenção tem uma função muito
importante na capacidade de reter informações
que sejam relevantes, e é com auxilio deste
mecanismo combinado com os processos de
controle que armazenamos informações na
memória de longa duração (LADEWIG 2000).
A atenção é muito importante tanto na
aquisição de uma habilidade motora quanto na
execução desta habilidade, sendo assim este
estudo tem como objetivo analisar qual tipo de
foco de atenção é mais eficiente na aprendizagem
da execução da bandeja no basquete. A atenção
tem uma influência muito grande na
aprendizagem motora, considerando que a
capacidade de atenção do ser humano é limitada
(LADEWIG, 2000). Portanto, torna-se importante
que os profissionais que trabalham com a
aprendizagem motora direcionem a atenção de
seus alunos as fontes de atenção mais relevantes
da tarefa a ser executada.
Na aprendizagem motora pode se
observar a melhora de vários aspectos, dentre
eles a atenção seletiva que se aprimora ao longo
do tempo de prática, dando ao aprendiz a
oportunidade de voltar sua atenção aos pontos
chaves da habilidade a ser executada o que torna
o processo de atenção um ponto crítico na
execução e aprendizagem eficaz daquela
habilidade Magill (2000). Podemos associar
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
72
também o processo de atenção com as fases da
aprendizagem (cognitiva associativa e
autônoma) Fitts e Posnes (1967). Na fase
cognitiva o aprendiz tende a focar sua atenção
aos objetivos da tarefa o que faz com que ele
sobrecarregue seus mecanismos de atenção,
acarretando em erros na execução, na fase
associativa o indivíduo leva em conta também os
fatores ambientais e associa estes fatores com o
movimento necessário para realização da tarefa,
os erros de execução diminuem, mas a
habilidade ainda precisa ser aprimorada. Já na
fase autônoma o movimento se torna
automatizado e o nível de atenção do aprendiz é
menor fazendo com que ele possa se preocupar
com outras exigências da tarefa, ou até mesmo
realizar outra habilidade simultaneamente.
Tudo isso nos mostra que os níveis de
atenção, e também o foco, mudam ao decorrer da
aprendizagem da habilidade fazendo com que o
desempenho aumente. Através da prática
estamos exercitando nossa capacidade de
seleção e retenção de informações relevantes, e
com a melhora na seleção de informações,
consequentemente melhoramos nossa
performance (LADEWIG 2000).
Sendo assim é muito importante para
otimizar os processos de aprendizagem
identificar qual o tipo de foco é mais eficiente na
aprendizagem e na retenção de uma habilidade
motora. No Foco Interno (FI) a atenção do
aprendiz está voltada para o movimento em si, e
no Foco Externo (FE) a atenção está voltada para
os efeitos do movimento ou a meta a ser atingida
(WULF 2007).
A área da Aprendizagem Motora vem
sendo o foco de muitos estudos devido a sua
importância no que se refere ao desenvolvimento
humano, e na realidade brasileira é possível
identificar que esta área está relacionada
principalmente com a Educação Física escolar e
também com o Esporte.
A infância é a o período mais rico no
desenvolvimento do ser humano e nessa fase as
possibilidades de intervenção são maiores
(CORRÊA,1995). Consequentemente as
maiores possibilidades de intervenção na
aprendizagem motora da criança são em seu
período escolar, mais especificamente, nas aulas
de Educação Física, pois é a única matéria que dá
ênfase em desenvolver principalmente o
comportamento motor da criança. É importante
destacar que a escola tem como principal papel
proporcionar o desenvolvimento integral da
criança, ou seja, os aspectos cognitivos afetivosociais e motores (CORRÊA,1995).
O estudo da aprendizagem motora se faz
importante para a área da Educação Física
levando em conta que esse tema está presente
em praticamente todos os momentos, seja nas
aulas em escolas ou até mesmo academias. Os
estudos acerca desse tema tem relevância no
que se refere ao aprimoramento dos métodos de
ensino de habilidades motoras. Não seria errado
afirmar que a Aprendizagem Motora está
presente na grande maioria das faculdades de
Cinesiologia e Educação Física e Esporte, não
apenas como uma disciplina, mas também como
uma importante área de pesquisa (TANI 2002).
Neste presente estudo buscamos
identificar as influências do foco interno de
atenção (FI) e do foco externo (FE) na
aprendizagem da bandeja no basquetebol,
determinando assim qual tipo de foco é o mais
eficiente.
Portanto o tema do presente estudo visa
proporcionar aos profissionais da área uma visão
esclarecedora acerca da influência do Foco de
atenção na Aprendizagem motora e na execução
de uma habilidade, proporcionando-lhes a
possibilidade de uma abordagem mais específica
em suas aulas, de acordo com a faixa etária e o
nível de habilidade de seus alunos.
MATERIAL E MÉTODO
Esta pesquisa é uma pesquisa de campo
e de caráter quantitativo que segundo Thomas e
Nelson (2002) se constitui por quatro passos que
são, desenvolvimento do problema, formulação
da hipótese, obtenção de dados, e a análise e
interpretação dos dados.
De caráter quantitativo que segundo
Lakatos e Marconi (2004) consiste em
investigações de pesquisa empírica cuja principal
finalidade é o delineamento ou análise das
características de fatos ou fenômenos, a
avaliação de programas, ou o isolamento de
variáveis principais ou chaves. Qualquer um
desses estudos pode utilizar métodos formais,
que se aproximam dos projetos experimentais,
caracterizados pela precisão e controle
estatístico, com a finalidade de fornecer dados
para a verificação de hipóteses. Todos eles
empregam artifícios quantitativos tendo por
objetivo a coleta sistemática de dados sobre
populações, programas, ou amostra de
populações e programas.
Desta pesquisa de caráter comparativo
que segundo Lakatos e Marconi (2004) é usado
tanto para comparações de grupos no presente,
no passado, ou entre os existentes e os do
passado, quanto entre sociedades de iguais ou
de diferentes estágios de desenvolvimento.
Participantes
Participaram deste estudo 16 sujeitos do
sexo feminino, com idade entre 13 e 15 anos. Os
indivíduos já praticavam basquetebol há pelo
menos 6 meses, portanto já tinham uma
experiência prévia da tarefa a ser realizada. Os
sujeitos foram divididos aleatoriamente em 2
grupos amostrais, um grupo orientado com foco
interno de atenção (GFI), e o outro para o foco
externo de atenção (GFE), com o número de oito
participantes em cada grupo. A participação foi
condicionada ao preenchimento e assinatura do
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
73
termo de consentimento.
Tarefa
A tarefa motora utilizada no presente
estudo foi o fundamento bandeja, que tem sua
execução da seguinte forma: o atleta tem direito
há dois tempos rítmicos, ou seja, ao receber a
bola ou interromper o drible o jogador define o pé
de apoio, tendo direito a mais um passo. No
entanto, a bola deverá ser lançada à cesta antes
que o jogador toque o solo; sendo este, um
fundamento muito importante da modalidade
esportiva basquetebol.
O estudo envolveu três fases: pré-teste,
pós-teste e teste de retenção. Primeiramente
todos os participantes realizaram um pré-teste
com 10 tentativas de bandeja, em seguida
realizaram o pós-teste com 30 tentativas de
prática, organizadas em 3 blocos de 10 tentativas
cada. Na fase de retenção da aprendizagem
ocorreram 72 horas após o pós-teste.
Todos os participantes que fizeram parte
do estudo receberam a informação “você vai
participar de um estudo sobre a aprendizagem da
bandeja”. Em seguida eles tomaram
conhecimento da tarefa observando um modelo,
no qual uma pessoa habilidosa demonstrava a
bandeja. Ao iniciar a fase de aquisição os
participantes receberam a instrução específica e
tiveram a sua atenção dirigida a um determinado
foco dependendo do grupo ao qual foram
direcionados, GFI ou GFE. O GFI foi solicitado
atenção à execução da técnica, a orientação foi
“focalize a atenção no movimento correto de
passadas da bandeja”. O GFE foi instruído a
executar a tarefa focando a atenção no alvo
“direcione a sua atenção para o quadrado acima
do aro”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aprendizagem motora é um processo
pelo qual passamos a executar uma nova
habilidade motora, e para que essa aprendizagem
ocorra o indivíduo deve ter sua atenção
direcionada para os aspectos mais importantes
na execução da tarefa. Segundo Ladewig (2000)
a aprendizagem de uma habilidade motora exige
que o indivíduo selecione e retenha informações,
estejam elas no meio ambiente, ou que sejam
fornecidas pelo professor, e essas informações
devem ser retidas para posterior interpretação.
Portanto, podemos perceber que a
atenção é um fator de grande importância no
processo de aprendizagem, e o foco dessa
atenção deve ser direcionado aos pontos críticos
da tarefa para que o indivíduo tenha uma boa
aprendizagem, mas para isso precisamos
entender como esse processo de aprendizagem
ocorre.
Além disso, devemos ressaltar a ligação
entre aprendizagem e performance motora,
apesar de haverem diferenças básicas entre
estes dois conceitos é necessário que
entendamos que um está relacionado ao outro.
Segundo Schmidt e Wrisberg (2001) a
performance motora é observável, ou seja,
podemos identificar a performance de um
indivíduo no momento em que vemos realizando
uma prática, porém esta performance pode ser
facilmente influenciada por alguns fatores, sejam
eles internos ou externos, já a aprendizagem
motora é um processo interno do indivíduo que
reflete o seu nível de performance motora.
Portanto estes dois processos estão
intimamente relacionados e para nós é importante
conhecer esta ligação para melhor avaliarmos
nossos alunos.
Para Schmidt e Wrisberg (2001) a melhor
forma de avaliar a aprendizagem motora é
observando a performance motora, o profissional
após várias observações deve identificar se o
individuo tem uma performance consistente,
assim ele poderá avaliar sua aprendizagem, pois
a performance é um reflexo direto da
aprendizagem motora.
Sendo assim para termos subsídios para
fazer uma boa avaliação é importante que
saibamos os mecanismos que envolvem a
aprendizagem motora.
Considerando que a atenção tem um
papel fundamental na aprendizagem motora, nós
profissionais da educação física devemos
entender os mecanismos e saber direcionar o
foco do aluno para as informações mais
relevantes da tarefa.
Segundo Schmidt e Wrisberg (2001) a
atenção é limitada e esta variável diminui
consideravelmente quando há uma interferência,
por exemplo, estress, ansiedade e cansaço, e
cabe a nós profissionais sabermos direcionar o
foco de atenção dos alunos para as fontes de
informações mais relevantes.
Portanto o foco de atenção se resume a
direcionar a atenção do indivíduo para as
informações de maior importância na tarefa.
Na aprendizagem motora temos várias
possibilidades de direcionamento de foco de
atenção, sendo elas: foco externo, foco interno,
foco estreito e foco amplo, sendo que neste
presente estudo nos atemos a dois destes focos
que são: o foco interno e o foco externo. De
acordo com Schmidt e Wrisberg (2001) o foco
externo é direcionamento da atenção para
informações presentes no ambiente, e o foco
interno é o direcionamento da atenção para as
informações internas.
No caso deste estudo o grupo, foco
interno, teve sua atenção direcionada para o
movimento correto da bandeja, enquanto o grupo,
foco externo teve sua atenção voltada para a
cesta. Sendo assim o conhecimento dos
mecanismos envolvidos no direcionamento do
foco de atenção se torna indispensável para que o
profissional proporcione ao aluno uma melhor
execução da tarefa.
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Para analisar o desempenho foi realizada
uma avaliação qualitativa para os testes (préteste, pós-teste e retenção).
Foi possível observar que no grupo Foco
Externo (FE) foi melhor na média de pontuação do
que o grupo Foco Interno (FI), nota-se essa
semelhança nas três fases do teste. (Tabela 1).
Tabela 1 – Média e desvio padrão dos
grupos Foco Interno e Foco Externo, no pré-teste,
pós-teste e retenção.
A prática realizada durante a fase de
aquisição foi suficiente para que os grupos,
independente do foco de atenção utilizado
apresentassem uma melhora no desempenho da
fase do pré-teste, em comparação com o pósteste e a retenção. Por conseguinte, a prática foi
suficiente para promover modificações
relativamente permanentes no desempenho da
habilidade motora analisada (bandeja do
basquetebol).
Figura 1 - Gráfico da média de pontos nos blocos de
tentativa no pré-teste, pós-teste e retenção.
O gráfico nos mostra que neste grupo
estudado o FE foi mais eficiente nessa habilidade
da bandeja, em ambas as fases do teste
realizado.
Uma das explicações para a vantagem do
foco externo seria que, ao realizar a tarefa a
utilização do foco de atenção externo permite ao
sistema motor se auto-organizar naturalmente,
permitindo a geração de movimentos reflexivos e
voluntários com maior facilidade, citado por
Dantas (2010 apud WULF, MCNEVIN; SHEA,
2001).
CONCLUSÃO
Na literatura encontramos a sugestão de
que tanto para a aprendizagem quanto para o
desempenho de habilidades motoras, o Foco de
Atenção Externo seja o mais eficiente (WULF,
2007), pois sugere que o individuo utilize
processos cognitivos “automatizados” durante a
execução da habilidade motora, ocasionando
uma menor variabilidade do movimento.
Em concordância com Wulf (2007) notase a partir dos resultados que o grupo FE obteve
melhor rendimento em relação ao FI, ou seja, o
grupo Foco Externo obteve as seguintes médias:
Pré Teste 11,5; Pós Teste 17; Retenção 15,25
enquanto o grupo Foco Interno atingiu as médias
10; 13,75 e 13, respectivamente.
Deve-se salientar que estes resultados
foram encontrados baseados nos grupos de
indivíduos participantes deste estudo, sendo
necessário maior aprofundamento e outras
análises para engrandecer estudos como este.
Sugerem-se também mais estudos no
âmbito esportivo (basquetebol e outros) e da
Aprendizagem Motora de modo a melhorar o
entendimento acerca das influências e relações
entre o foco de atenção e a aprendizagem
motora, os esportes e os fatores que podem
interferir no rendimento esportivo.
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Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
75
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: REFLEXÕES SOBRE A FUNÇÃO DO PROFESSOR
Luana Cristine Franzini da Silva- Unesp/Marília; Eliane Paganini da Silva- Unesp/Marília;
Guilherme Rocha Britto – Unirp; Sandra Regina Domingos de Brito – Unirp/Unilago.
RESUMO
Nosso trabalho teve como objetivo principal investigar as concepções dos professores de Educação Física acerca de sua
função enquanto educador, as ideias a respeito de ensino-aprendizagem e a opinião destes em relação a função da
Educação Física na escola. Para tanto, realizamos uma pesquisa empírica com 05 professores de Educação Física
atuantes na rede (municipal, estadual) da região de São José do Rio Preto tendo como instrumento de coleta dados a
aplicação de um questionário semi-estruturado. Como pressuposto teórico para interpretação dos dados utilizamos a
Epistemologia Genética de Jean Piaget. Os dados coletados foram analisados qualitativamente enfatizando as
concepções trazidas pelos professores de Educação Física. Os resultados mostraram que os professores participantes
de nossa pesquisa elegem a formação integral como alvos a serem alcançados pela educação escolar, na busca por
formar pessoas autônomas e críticas. Também apontam a formação para a cidadania como importantes na disciplina de
Educação Física, valorizando a necessidade de conhecimentos a serem ampliados para o professor exercer sua função.
Os resultados alertaram-nos também para o fato de que as respostas sobre as concepções de ensino e aprendizagem
comportam pressupostos teóricos empiristas, em que o ensino é apenas uma questão de transmissão pura e simples e
aprendizagem de recepção passiva de verdade enunciadas. Por outro lado encontramos também concepções que
convergem com os pressupostos construtivistas indicando a ação necessária do aluno no processo de construção de
seus conhecimentos, a necessidade de compreensão por parte dele a fim de que os saberes façam sentido, e de
valorização dos saberes que trazem para a vida escolar.
Palavras- chave: Educação; Educação Física; função docente; Epistemologia Genética
PHYSICAL EDUCATION IN SCHOOL: CONSIDERATIONS ABOUT THE ROLE OF THE TEACHER
ABSTRACT
This paper aimed to investigate the conceptions of physical education teachers about their role as educators, the
teaching-learning process and their opinion regarding the function of this subject at school. For this, we performed an
empirical research with five physical education teachers who work in the local and state school system of the region of São
José do Rio Preto. Our data collection instrument was the application of a semi-structured questionnaire. These data were
interpreted based on the Genetic Epistemology by Jean Piaget and qualitatively analyzed emphasizing the conceptions
that the cited teachers already have. The results showed that the professors of our surveysee the comprehensive
education as a target to be reached by school education in order to constitute autonomous and critical people. Moreover,
the results also showed that in Physical Education is important the formation to citizenship, emphasizing the need of a
expansion of knowledge so teachers can exercise their function. There is also an alert to the fact that the answers about
the conception of the teaching and learn process have empiricists ideas once some teachers believe that this process is
just a matter of transmission of knowledge in which the student have a passive position. On the other hand it is possible to
find conceptions linked to the constructivism, indicating that students should be a part of the process, in order to build their
own knowledge, with real meaning that valorize the daily life in school.
Keywords: Education; Physical Education; Teaching role; Genetic Epistemology.
Introdução
Atualmente, a situação legal da disciplina
de Educação Física na escola tem uma nova
configuração gerando mudanças em âmbitos
diversos. Analisando a atual Lei de Diretrizes e
Bases da educação nacional (Lei 9394-96) em
seu Art. 26 do parágrafo 3º, e também a resolução
n. 2 da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação, vemos que esta disciplina
é considerada como área de conhecimento. Tal
conhecimento a ser ensinado nas aulas deve ir
além da aplicação e cobrança de gestos motores
estereotipados e cansativos. Assim, diante da
legislação atual e das reformas já elaboradas,
fruto de reformas históricas, compreendemos que
a tarefa atual do professor de Educação física não
é apenas o aplicar técnicas, treinar habilidades
motoras dos alunos, selecionar atletas, reproduzir
comportamentos ditados por “especialistas”, nem
mesmo auxiliar para o ensino de outra matéria
escolar, ou produzir trabalhadores mais ágeis,
bem adaptados, fortes, que suportem a força de
trabalho gerada pela industrialização e
competição exacerbada, muito menos recrear,
cuidar e alegrar os alunos.
Levando em consideração que esta nova
posição da Educação Física na escola traz
implicações para a ação educativa e formativa do
professor surgiram as seguintes questões de
pesquisa: Qual deve ser a função do educador?
Qual deve ser a função do professor de Educação
Física escolar? O que os professores entendem o
que é ser professor, o que é ensinar e aprender?
Para respondê-las, realizamos uma
pesquisa empírica com 05 professores de
Educação Física atuantes na rede (municipal,
estadual) da região de São José do Rio Preto,
tendo como instrumento de coleta dados a
aplicação de um questionário semi-estruturado
em que os participantes deveriam apresentar
suas ideias livremente com relação à temática.
Como referencial teórico para analisar as
respostas dos docentes iremos pautar-nos em
pressupostos teóricos construtivista, de forma a
tecer relações entre as resposta docentes e o que
a teoria piagetiana nos esclarece (propõe) sobre
tal temática.
Analisar as concepções docentes acerca
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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do seu papel, do que entendem por ensino e
aprendizagem é de crucial importância uma vez
que qualquer intervenção docente em Educação
Física tem por base as concepções acima
mencionadas. Logo, as tomadas de decisões e os
julgamentos sempre estão fundamentados em
teorias e saberes (mesmo se forem de senso
comum), estreitamente ligadas aos conceitos
que os docentes possuem de educação e
carregadas de teorias pedagógicas, que quando
se tornam conscientes, podem gerar uma ação e
pratica mais coerentes.
Papel da educação escolarizada e da
educação física no contexto piagetiano
Quando pensamos na função do
professor de uma forma geral, entramos
necessariamente em um assunto controverso
dado as diversas abordagens e considerações de
autores de diferentes linhas de pensamento.
Segundo Durkheim (2011) a função da educação
e portanto do professor se modifica conforme a
sociedade e o tempo histórico em que os sujeitos
estão inseridos. Isto nos leva a pensar que a
função docente não foi sempre a mesma no
decorrer da história, o que podemos constatar na
própria história da educação, pois sempre foi o
educador o responsável pela formação social dos
indivíduos, desde a Grécia antiga, passando pela
Idade Média e chegando aos tempos Modernos e
Contemporâneos. Vemos portanto que o papel da
escola sempre foi regrado de acordo com as
necessidades da sociedade.
A realidade tem mudado bastante nos
últimos anos e exige que a escola acompanhe
tantas mudanças, pois o mercado de trabalho tem
ficado cada vez mais exigente e competitivo,
exigindo atualizações por parte das pessoas para
que estas possam se adaptar às necessidade e
integrarem-se em seu meio adequadamente.
Atualmente as exigências escolares
promovem a integração de todos os que nela
frequentam, numa busca por construir e resgatar
aspectos relacionados à cidadania.
Como apontamos em trabalho anterior
(PAGANINI-DA-SILVA, 2006), a escola de acordo
com Pérez Gómez (1998) e Delval (2007) tem
uma função socializadora porque atende e
canaliza o processo de socialização com
eficiência, além disso, podemos ressaltar
também a preparação para o mundo do trabalho e
a formação de cidadãos para a vida pública.
Para Gimeno (2001), a função da escola
vai além porque pretende promover uma
decodificação do mundo, seja ele material ou
social, e para isso difunde um conhecimento que
já está sistematizado e ordenado. Nesse sentido
a função docente deve estar atrelada a estas
concepções do que seja a função da escola.
Neste sentido, considerando que as
disciplinas curriculares devem cumprir com os
objetivos educacionais, temos como uma destas
disciplinas a Educação Física.
Segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997), nesta disciplina há conteúdos
que são organizados em três blocos, os quais
devem ser desenvolvidos durante todo o ensino
fundamental, sendo os blocos assim distribuídos:
(01) Esportes, jogos, lutas e ginásticas, (02)
Atividades rítmicas e expressivas, e (03)
Conhecimentos sobre o corpo.
Os três blocos possuem vários
conteúdos em comum, articulando-se, mas
possuem suas especificidades. Neste sentido
como funções/objetivos a serem alcançados a
longo prazo junto aos estudantes segundo este
documento, temos que promover aos alunos a
participação de atividades corporais,
estabelecendo relações equilibradas e
construtivas com os outros, reconhecendo e
respeitando características físicas (de si próprio e
dos outros); adotar atitudes de respeito mútuo,
dignidade e solidariedade em situações lúdicas e
esportivas, conhecer e valorizar a pluralidade de
manifestações de cultura corporal do Brasil e do
mundo; reconhecer-se como elemento integrante
do ambiente, adotar hábitos saudáveis de
higiene, alimentação e atividades corporais;
solucionar problemas de ordem corporal em
diferentes contextos, reconhecer condições de
trabalho que comprometam os processos de
crescimento e desenvolvimento, conhecer a
diversidade de padrões de saúde, beleza e
estética corporal que existem nos diferentes
grupos sociais, compreendendo sua inserção
dentro da cultura em que são produzidos, analisar
criticamente os padrões divulgados pela mídia e
evitando o consumismo e o preconceito;
conhecer, organizar e interferir no espaço de
forma autônoma, bem como reivindicar locais
adequados para promover atividades corporais
de lazer, reconhecendo-as como uma
necessidade básica do ser humano e um direito
do cidadão.(PCNS, 1997, p.43)
Assim, como as demais disciplinas
pertencentes às diferentes áreas de
conhecimento de ensino na escola, a Educação
Física deve apresentar seus conteúdos próprios
conectados com os objetivos da escola e os
temas transversais, a fim de contribuir para a
formação de sujeito reflexivos que possam
intervir em sua realidade.
O ensino e a aprendizagem segundo a teoria
piagetiana: implicações para a ação do
professor de educação física
Mesmo considerando que a educação
tem sim sua função socializadora que é imposta
pelo contexto sócio-histórico somo levados a
acreditar que as relações de ensinoaprendizagem devem ser consideradas quando
se trata da função e da identidade dos
professores. Devemos ressaltar que há
explicações de como se dá o processo de
aprendizagem e nesse sentido temos as
concepções inatistas e empiristas, sendo a
primeira fundamentada na crença de que o sujeito
já traz suas condições cognitivas prontas para
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enfrentar a vida. Para a segunda o sujeito nada
traz de conhecimento e estes serão fornecidos
pelo meio externo e pela estimulação do sujeito a
esse meio. (BECKER, 2003, p.12).
Uma outra concepção, e pela qual
optaremos em nosso trabalho, é a da
epistemologia genética defendida por Jean Piaget
que como explica Becker (2003) situa “na ação do
sujeito o núcleo a partir do qual se originam as
sucessivas estruturas cognitivas” (p. 13).
Em seus estudos com crianças desde a
mais tenra idade Piaget constatou que o
desenvolvimento na verdade acontece por uma
série de mecanismos de equilibração. Esta
equilibração se dá sob patamares inferiores e para
o devido ajustamento necessitam ser
equilibrados, nesse sentido são flexibilizados e
sofrem mobilidades para se tornarem cada vez
mais estáveis (ou seja, equilibrado). Isso ocorrerá
obedecendo a estádios que são sucessivos e um
estádio passa a outro por meio de um
funcionamento constante.
Esses estádios podem ser assim
resumidos e descritos: 1º - Estádio dos reflexos –
primeiras tendências instintivas e as primeiras
emoções; 2º - Estádio dos primeiros hábitos
motores e primeiras percepções organizadas –
sentimentos diferenciados; 3º Estádio da
inteligência sensório-motora ou prática: anterior a
linguagem, das regulações afetivas elementares e
primeiras fixações exteriores da afetividade; 4º
Estádio da inteligência intuitiva – sentimentos
interindividuais espontâneos e das relações
sociais de submissão ao adulto (2 a 7 anos); 5º
Estádio das operações intelectuais concretas: é o
início da lógica e dos sentimentos morais e sociais
de cooperação (7 a 11 anos) e finalmente o 6º
estádio das operações intelectuais abstratas: da
formação da personalidade e da inserção afetiva e
intelectual na sociedade dos adultos. (Piaget,
2004, p. 15).
Existe segundo o autor distinção entre os
estádios porque cada um deles apresenta a
aparição de estruturas importantes e significativas
das estruturas originais. Mas os estádios nos
servem aqui para entendermos qual a lógica do
pensamento de Piaget no que se refere ao
desenvolvimento cognitivo, e nesse sentido
podemos perceber que a cada período do
desenvolvimento já temos o anúncio do período
seguinte.
É importante considerar que segundo
Piaget (1973), os conhecimentos se originam da
ação, ação transformadora do sujeito sobre o
mundo. Esta ação, no entanto, não ocorre no
vazio, pois necessita de "alimentos" provenientes
do meio ambiente. Nesse caso, o ambiente
também age sobre o indivíduo. Nessa interação
de ambos, em que entram os mecanismos de
assimilação - incorporação de características do
ambiente às estruturas intelectuais do indivíduo e acomodação - ajustamento das estruturas às
características do ambiente - é que vemos ocorrer
o desenvolvimento.
Desse modo, em suas interações com o
mundo, o indivíduo muitas vezes se depara com
obstáculos e problemas e busca superá-los.
Muitas vezes, as estruturas intelectuais presentes
não dão conta do que ocorre no ambiente e
tendem, portanto, a se modificar, a se diferenciar
em novas estruturas, para que os conteúdos que o
ambiente oferece possam ser assimilados e os
obstáculos possam ser compensados.
Segundo Piaget, é esse processo
contínuo de busca de equilíbrio entre indivíduo e
ambiente - que ele chama de processo de
equilibração -, o principal responsável pelo
desenvolvimento intelectual. Mas, em sua
proposta, não deixa de valorizar, também, os
aspectos biológicos (hereditariedade e
maturação), educativos e sociais em geral, como
fatores que interferem no desenvolvimento.
Para Piaget, o processo de equilibração
toma a forma de períodos seqüenciais, em que
existe, sempre, uma fase de preparação e outra
de acabamento e em que as estruturas formadas
num período integram-se em outras superiores,
do período seguinte.
O desenvolvimento constitui-se, então,
num processo de organização e reorganização
constante das estruturas da inteligência, em que
cada nova etapa envolve mudanças importantes
na maneira de o indivíduo interagir com o mundo e
conhecê-lo.
Em estudo sobre a tomada de
consciência, pesquisando crianças e adultos,
Piaget (1977, p. 198) descobre que ela “procede
da periferia para o centro, sendo esses termos
definidos em função do percurso de um
determinado comportamento”.
Segundo Piaget, quando o indivíduo
realiza uma determinada ação, pode obter êxito
ou não; entretanto, mesmo quando obtém êxito,
comumente explica como o obteve sem uma
reflexão, sem realmente tomar consciência do por
quê do êxito.
Com relação à evolução das ações e aos
níveis de conhecimento, Piaget (1977) ressalta
que as ações por si só são saberes que, mesmo
inconscientes, constituem-se na fonte para a
tomada de consciência conceituada. Relata certa
defasagem cronológica para os níveis de tomada
de consciência lembrando que estes são
sucessivos e hierárquicos (segundo Piaget,
rigorosamente hierarquizados). O primeiro nível
se constitui no nível da ação, em que existe, sim,
um saber elaborado, só que escapa à consciência
do sujeito. O segundo nível é o da representação
e conceituação, em que se tira elementos da ação
(mediante tomadas de consciência), mas o
conceito comporta tudo o que é novo. O terceiro é
o nível da abstração refletida, em que as
operações novas são formuladas sobre as
anteriores; estas abstrações são realizadas a
partir do nível precedente.
Considerando esta perspectiva
entendemos que a função do professor é a de
proporcionar situações que promovam a invenção
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do aluno e o desenvolvimento cognitivo.
De acordo com a teoria piagetiana como
afirma Becker (2003) a “fonte da aprendizagem é
a ação do sujeito, ou seja, o indivíduo aprende por
força das ações que ele mesmo pratica: ações
que buscam êxito e ações que, a partir do êxito
obtido, buscam a verdade ao apropriar-se das
ações que obtiveram êxito” (p. 14).
Nesse sentido continua Becker (2003), “o
ensino deve ser repensado em função dessa
nova concepção de aprendizagem” (p. 14). Para
este autor, assim como para Delval (2007) esta
concepção nem é tão nova assim se
considerarmos a história da educação e dos
pensadores em educação que desde há muito já
pensavam em promover uma educação e uma
escola diferente e que levasse em conta o sujeito
que aprende. Para Becker (2003), além de Piaget
também Paulo Freire (educador brasileiro) pensa
a construção de conhecimento como essencial à
pedagogia.
Para Becker (2003), as concepções
piagetianas nos levam a considerar um “aprender
a aprender” ou um “deixar-aprender”, não
confundindo tal concepção com a ideia de que
cabe ao professor apenas cruzar os braços e
esperar o conhecimento ser produzido, muito
pelo contrário, no sentido piagetiano o professor é
o mediador essencial na condução do processo
de desenvolvimento como ressalta Delval (2007)
quando afirma a importância de o professor
considerar a aprendizagem e o processo de
construção do conhecimento como sendo parte
de sua função.
Para Delval (2007, p. 218),
[...] a função de professor não basta
conhecer o conteúdo das matérias, mas
há que se conhecer também aos alunos
e ser capaz de criar situações de
aprendizagem. Assim, pois, o contato
da criança com o professor é algo
indispensável que contribui muito para
o seu desenvolvimento.
Outro autor que nos aponta novas
expectativas com relação ao trabalho do
professor nos dando inclusive indicativos de
como deveria ser o professor do futuro é Pedro
Demo (2009), também indicando a importância
do professor em nossa sociedade que se
apresenta de forma intensa de conhecimento, o
autor afirma ser o professor figura estratégica
neste panorama e explica que “por figura
estratégica entendo sua centralidade na
constituição e funcionamento desta sociedade,
ocupando lugar decisivo e formativo” (DEMO,
2009, p. 11). Entretanto, para Demo (2009), a
profissão docente precisa ser construída por
completa para deixar a condição de “alguém que
dá aula, transmite conhecimento, instrui e ensina”
para assumir a posição daquele que sabe
“renovar, reconstruir, refazer a profissão” (p. 11).
Isto não denigre o desafio do domínio de
conteúdos, mas como esses se
desatualizam no tempo, é fundamental
saber renová-los de maneira
permanente. Para os renovar, não basta
conhecimento transmitido, reproduzido.
É essencial saber reconstruir
conhecimento com mão própria. A
definição de professor inclina-se
para o desafio de cuidar da
aprendizagem, não de dar aula.
Professor é quem, estando mais
adiantado no processo de
aprendizagem e dispondo de
conhecimentos e práticas sempre
renovados sobre aprendizagem, é
capaz de cuidar da aprendizagem na
sociedade, garantindo o direito de
aprender. Professor é o eterno
aprendiz, que faz da aprendizagem
sua profissão (DEMO, 2009, p. 12,
grifos nossos).
Cabe aqui ressaltar que o que o autor
chama de “reconstrução do conhecimento”, para
Piaget, segundo referencia do próprio Demo, é o
mesmo que “construção do conhecimento”.
Demo (2009) afirma que optou pelo termo
reconstruir porque para ele este “significa partir
do que já se conhece, dos patrimônios culturais
disponíveis, da linguagem em uso” (p. 12, em
nota de rodapé).
Ao professor do futuro como aponta
Demo (2009) cabe cuidar da aprendizagem
sabendo cuidar no sentido de ter um
compromisso ético e técnico sendo uma
habilidade sensível e renovada de suporte do
aluno para que ele construa sua autonomia. Para
o autor educação dentro desta perspectiva é um
[...] processo de dentro para fora, como
asseverava Sócrates, quando insistia
na instigação do professor promover a
emancipação dos alunos. O professor
não se torna descartável. Muito ao
contrário, assim como os pais jamais
são descartáveis, o professor é figura
decisiva do processo de
aprendizagem, ocupando, entretanto,
lugar de apoio e motivação, orientação
e avaliação, não o centro do cenário
(DEMO, 2009, p.13-14).
É importante compreender que cabe a
função docente proporcionar o conhecimento
lembrando que tratamos de um conhecimento
que promova o desenvolvimento cognitivo, um
conhecimento que promova a invenção e não
apenas como uma cópia da realidade. “A
invenção, e não a mera cópia! Eis a novidade
dessa concepção de aprendizagem. Quem sabe
inventar sabe copiar; o inverso não é verdadeiro.
Quem sabe copiar sabe apenas copiar. Talvez
mais do que em qualquer outra época, a atual
exige indivíduos inventivos e construtivos e não
copistas” (p. 18).
Tendo este referencial teórico como
pressuposto o presente artigo tem como objetivo
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perceber qual a função docente considerando a
perspectiva da epistemologia genética refletindo
sobre o papel do educador físico na escola tendo
como base esta perspectiva teórica e ainda
identificar quais as concepções dos professores
de Educação física com relação a sua função.
Considerando tudo o que foi exposto até o
presente momento, entendemos que não é tarefa
do profesor de Educação Física, ao levar em
conta as concepções sobre ensino e
aprendizagem na perspectiva construtivista, levar
os alunos a copiarem modelos de movimentos,
repetir exercícios destituídos de sentido e
significado. Entendemos que sua ação deva ser a
de promover a construção da comprensão da
motricidade humana, promovendo a tomada de
consciência dos sistemas de significação nas
quais as ações discentes e docentes estão
inseridas (PALMA et al, 2010).
Neste sentido, cabe ao professor criar um
ambiente propício aos desafios motores e
cognitivos, pensar em estratégias para que o
aluno possa construir e reconstruir
conhecimentos acerca de seu próprio
movimentar-se, estudando a cultura de
movimento elaborada e sistematizada,
promovendo a interação entre o fazer e o saberfazer, a fim de que o aluno relacione e coordene
informações e ações de forma cada vez mais
ampla e complexa.
Metodologia
A pesquisa teve como objetivo investigar
como professores de Educação Física avaliam
sua própria função e a relação de ensinoaprendizagem. Participaram da pesquisa cinco
professores de Educação Física da cidade de São
José do Rio Preto no interior paulista. Os
professores (que serão a seguir identificados pela
sigla P (professor) e um número sequencial (1, 2,
3, etc.), com idades variando de 27 a 48 anos e
com tempo de serviço no magistério de 2 a 24
anos.
Os dados foram coletados mediante
questionário semi-estruturado. Os questionários
foram enviados via email aos professores
previamente selecionados pelos pesquisadores e
que se dispuseram a participar da pesquisa. A
análise dos dados foi eminentemente qualitativa.
Inicialmente os dados foram agrupados em
categorias considerando a semelhança das
respostas e, em seguida, conforme cada questão
constante do questionário detalhamos e
discutimos as respostas com base na teoria
estudada.
Resultados e discussão de dados
Com base nos questionários iniciamos o
trabalho de análise procurando estabelecer
categorias de respostas, ou seja, de acordo com
as respostas procuramos entrever quais as
semelhanças entre os depoimentos para que
fosse possível perceber as concepções dos
docentes que eram comuns aos professores de
educação física que participaram de nossa
pesquisa. Em seguida estabelecemos algumas
considerações com base nos autores
referenciados anteriormente e que nos
forneceram subsídios para entender e
compreender as concepções desses professores
acerca da temática de estudo proposta por nós.
O que é ser professor para você?
Inicialmente perguntamos aos
participantes o que ele achava que era ser
professor. Apareceram respostas que apontaram
que ser professor é ser responsável pela
construção do conhecimento dos alunos.
Outros apontaram que ser professor é contribuir
para a transformação humana e se adaptar a
novas situações. Houve ainda depoimentos que
afirmaram que ser professor é ensinar o aluno.
Ser professor é realizar uma profissão
que auxilie na construção do
conhecimento dos nossos alunos, é
fazer o possível para despertar no aluno
o interesse em aprender. É ser
comprometido, responsável e aberto a
novas aprendizagens. (P1).
É ter a capacidade de adaptar-se as
n o v a s s i tu a ç õ e s e i m p r e v i s to s
diariamente. Atualizar sua prática
pedagógica com o propósito de
contribuir para a transformação
humana. É questionar-se sempre, e
NÃO pensar na remuneração e
reconhecimentos (P2)
[…] tem que ser apaixonado pela sua
profissão, pois são tantas barreiras,
obstáculos, desafios, tentativas que
podem ter resultados frustrantes ou
satisfatórios, estudos diários,
preparação de aulas, planejamentos,
cursos atualizações... (P3)
Foram enfatizadas nas três respostas
acima a questão da necessidade da formação
contínua para exercer a docência, de saberes
que devem ser reconstruídos permanentemente
por parte do professor diante das limitações que a
experiência apresenta, fator destacado
ultimamente diante de uma realidade em
constantes mudanças.
Cabe ainda ressaltar a resposta da
Professora 1(P1) ao descrever que ser professor
é “realizar uma profissão que auxilie na
construção do conhecimento dos nossos alunos”,
ou seja, um auxiliar e intermediador na tarefa ativa
do alunos de construir conhecimentos, indo ao
encontro da teoria piagetiana. Nesta teoria, a
docência, além de constituir-se em uma profissão,
deve colaborar para que o aluno não decore,
memorize, ou acumule conhecimentos. A
construção de conhecimentos é realizada na
interação sujeito e meio e cabe ao professor
organizar o ambiente e intrumentos favoráveis
para que haja conflitos cognitivos e desafios a
serem superados, a fim de que o aluno construa
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conhecimentos a partir daqueles que já possui,
estabelecendo novas relações entre seus
saberes, suas ações e conceitos.
Outra categoria/ideia destacada foi a que
relaciona o ser professor com a contribuição para
o desenvolvimento intelectual, o qual a teoria
piagetiana não nega, porém a avança quando
identifica
professor como aquele que, ao
proporcionar a interação entre o sujeito e o objeto
de conhecimento pode promover o
desenvolvimento intelectual, social e moral,
ambos indissociáveis e paralelos em qualquer
intervenção docente.:
É contribuir de alguma forma, seja ela
qual for, para a formação intelectual do
individuo visando seu crescimento
como ser pensante e ativo para um
mundo melhor (P05)
Outra resposta mencionada no
questionário foi:
Pra mim é ensinar, é dedicar o máximo
do seu tempo ao aluno, mostrando o
caminho correto da seguir na vida, é
ensinar o aluno para que ele cresça
tendo autonomia para que ele possa
fazer escolhas boas na sua vida (P3)
Reconhecemos que, diante dos
documentos oficiais que regem a educação
brasileira e dos autores mencionados, que uma
das finalidades da educação é promover
autonomia. Neste sentido, entendemos que a
função do professor não é a de “mostrar o
caminho certo”, apontando a verdade absoluta,
dar respostas prontas e acabadas como se
fossem verdades únicas, mas acima de tudo
refletir sobre os possíveis caminhos, levantar
consequências das ações para si mesmo e para a
sociedade, antecipando os pontos positivos e
negativos, para que, diante destas reflexões o
aluno possa fazer escolhas conscientes e
responsáveis.
Que papel deveria ter a educação escolar
para você?
Diante das respostas à segunda questão
constatamos duas funções principais que foram
mencionadas, mesmo nas respostas de um
mesmo professor. Uma se refere à afirmação de
que a educação escolar comporta objetivos
acadêmicos, relacionados à aquisição da
cultura em geral, veiculada pelas várias
disciplinas curriculares (português, matemática,
etc.), e outra que comporta concepções mais
amplas sobre este assunto, indicando ser a
educação um caminho para autonomia, para
responsabilidade, para os valores humanos,
para a formação do cidadão. São estas
concepções que convergem com a proposta
construtivista, já que Piaget anuncia a aquisição
da autonomia e o desenvolvimento pleno das
capacidades humanas como o grande objetivo da
educação escolarizada. Abaixo, a transcrição
das respostas docentes:
A educação escolar deveria ter o papel
de desenvolver autonomia,
responsabilidade e comprometimento
em todos os participantes do processo,
buscando sempre uma melhora no ser
humano e na sociedade em que
vive.(P1)
O de abrir portas, facilitar e
proporcionar conhecimentos através
das experiências vividas. (P2)
Acredito que a educação escola deveria
sim, educar os alunos para que eles
aprendam um pouco de cultura, a ler,
escrever e fazer contas, a obrigação da
escola para com o aluno, é prepará-lo
para o trabalho, os negócios e até
mesmo em quem votar. (P3)
(...) não que devemos nos preocupar só
em transmitir conteúdos, acredito que
temos que nos preocupar também
com a formação humana,
sensibilização dos nossos alunos todos
os dias, mostrar a importância dos
valores(...)(P4)
Formar, informar, visando sempre o
desenvolvimento intelectual e como
cidadão responsável pelos seus atos e
suas escolhas, procurando contribuir
para a existência de uma sociedade
melhor(P5)
O que é ensinar?
Questionamos também os professores
com relação ao que ele acredita que seja ensinar.
Para esta questão apareceram respostas que
identificaram o ato de ensinar como: fazer refletir,
despertar o desejo de aprender; transmitir
conhecimento, conforme se pode observar nas
transcrições abaixo:
Ensinar é proporcionar momentos de
reflexão, descoberta, pesquisa e
despertar no outro o desejo de
aprender.(P1)
[…] despertar no aluno o interesse de
adquirir um determinado
conhecimento, onde este
conhecimento vai dar sentido em sua
vida e que ele possa transformar o
seu meio onde vive. (P4)
Diante desta complexa questão, nos
reportamos à teoria que serve de embasamento.
Nesta o ensino deve ser repensado em função de
uma nova concepção de aprendizagem. “Nova”
no sentido de que Piaget afirmou que toda
aprendizagem parte de uma necessidade e que
base de toda aprendizagem é a ação do sujeito, já
que ele aprende por meio das ações que ele
mesmo pratica na busca por êxito e por
reconhecer os mecanismos que o levaram ao
êxito.
Ensinar para o construtivismo não é
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repassar verdades, fazer decorar, pressionar o
sujeito, mas propiciar momentos de ação e
reflexão sobre, num processo de construção
constante conforme nos explicita a professora
(P1). É agindo sobre o objeto de conhecimento, na
busca por conhecê-lo e interpretá-lo
adequadamente, é sendo ativo neste processo
que se poderá avançar para níveis maiores e mais
amplos de compreensão da realidade e de suas
próprias ações. Descobrir por iniciativa e por
busca em conjunto com a turma e o professor
respostas adequadas para os problemas que os
cerca. É com a consciência ampliada que o sujeito
poderá transformar a si e ao meio se assim o
desejar,
Outra categoria, define o ensinar como
transmitir e “passar” conhecimento, indicando
a possibilidade de uma transmissão direta que é
fornecida pelo meio exterior, em que os alunos se
assemelham a um pólo receptor das informações
que são repassadas, supondo uma concepção
empirista de explicação do conhecimento: Neste
caso:
Acredito que é você como professor
passar algo novo, passar conhecimento
de vários assuntos, é plantar uma
sementinha dentro da cabeça do aluno
como forma de aprendizado e reflexão,
para que mais pra frente ele possa usar
esse aprendizado para o bem dele. (P3)
Esta concepção contraria os
pressupostos construtivistas, que valorizam a
ação do sujeito na construção dos
conhecimentos, onde o meio e o sujeito são
igualmente imprescindíveis para alcançar novos
conhecimentos, partindo-se sempre do que já se
conhece.
O que é aprender?
Já afirmamos anteriormente que as
concepções sobre o ensinar e aprender estão
estritamente ligadas e que evidenciam os
entendimentos sobre qual deva ser a ação do
professor (ensino) e do aluno (aprendizagem).
Nas respostas docentes, também encontramos
duas tendências marcantes, mesmo que às vezes
na resposta de um mesmo professor. Uma destas
tendências se refere à aprendizagem como
aquisição e ampliação de novos
conhecimentos, e a outra diz respeito à
mudança ou transformação que estes novos
conhecimentos trazem para o individuo e para
a sociedade. Assim, abaixo transcrevemos
Aprender é refletir sobre algo que tenha
sentido para vida, é adquirir novos
conhecimentos e ampliar velhos
conhecimentos, é sentir prazer em
crescer tanto cognitivamente, como
espiritualmente. (P1)
Primeiramente é estar aberto para isso, a
partir dai, ampliar visões, transformar
referências, comprometer-se e dedicarse. (P2)
È a pessoa ir sempre em busca de
conhecimento, procurar sempre
aprender coisas novas, está atualizado
com o que passa na TV, absorver
conhecimento que possibilitem uma
nova visão do mundo. (P3)
[…] quando o aluno leva determinado
conhecimento para a vida, é a mudança
ou transformação do aluno, onde ele
utiliza de um determinado
conhecimento adquirido para
melhorar o mundo que o cerca(P4)
´
É a aquisição de novos conhecimentos
que se façam uteis não só no ambiente
escolar, como também na vida em
sociedade[...](P5)
Tais respostas também convergem com
os pressupostos construtivistas, pois aprender na
teoria piagetiana implica em mudanças nos
esquemas de pensar ou agir do sujeito em função
dos dados que são assimilados do meio. Aprender
não é copiar o mundo, copiar o professor, ter
apenas novas informações. É além disso ser
capaz de relacionar as informações que têm de
forma cada vez mais complexa, inventar,
construir, modificar-se. Ampliar formas de agir e
pensar a partir dos conhecimentos já construídos
e construir modelos de interpretação da realidade
cada vez mais adequados, que permitem ao
sujeito agir na realidade com consciência
ampliada.
Que papel deve ter a Educação Física escolar
para você?
Por fim, a última questão versou sobre o
papel da Educação Física na escola. As respostas
das professoras P1, P2, P3, P4 relacionam as
aulas de Educação Física à finalidade maior da
educação que é o de contribuir com a formação
humana integral, considerando que as atividades
realizadas nesta disciplina não só favorecem e
evidenciam os aspectos motores, mas indicam
que, por meio dos estudos sobre o movimento
humano estaremos contribuindo para a formação
dos aspectos físicos, sociais, morais,
psicológicos, e também biológicos.
Este sentido também é reafirmado pelos
Pcns (1998) que estabelece a adoção de atitudes
como respeito mútuo, dignidade e solidariedade
bem como a organização de atitudes autônomas
como objetivos a serem alcançados a longo prazo
pelos estudos dos conteúdos da disciplina. Outra
questão mencionada nas respostas das docentes
P3 e P4 diz respeito à necessidade de reflexão de
assuntos atuais e de compreensão da realidade
cultural que cerca o aluno, condizendo também
com os documentos legais que estabelecem
objetivos para a área.
Por fim outra abordagem dada pela
resposta da professora P5 indica como objetivo da
disciplina as questões de saúde, indo ao encontro
do que já foi comentado acerca da
responsabilidade da Educação Física que deve
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promover o conhecimento dos diversos padrões
de saúde beleza e estética corporal existentes
nos diferentes grupos sociais, entendendo sua
inserção dentro da cultura em que são
produzidos, a fim de que os alunos possam
realizar uma análise crítica dos padrões
divulgados pela mídia, evitar o consumismo e o
preconceito e estabelecer para si uma vida
saudável. Abaixo segue as respostas elencadas:
[...] despertar no aluno os quatro pilares
da educação: conhecer, fazer, conviver
e ser, utilizando o corpo em
movimento. (P1)
[...] mostrar ao aluno a diversidade de
cultura, jogos, brincadeiras, lutas,
dança e esportes, é tentar abranger o
máximo de assunto possível com o
aluno, relacionado ao caráter,
formação de opinião, fazer com que o
aluno reflita sobre certos assuntos
que está à tona na mídia, enfim, não é
só futebol e sim fazer parte da formação
do aluno. (P3)
[...] promover o desenvolvimento da
consciência corporal e das
competências necessárias para a
realização das práticas corporais,
propiciando ao aluno a compreensão
dentro da sua realidade, atuando como
sujeito responsável pela construção e
transformação da realidade da sua
comunidade. Não tratando só da área
biológica da disciplina como também
afetivas, cognitivas, motoras, sociais e
culturais dos alunos.(P4)
[…] a educação física escolar tem um
papel muito importante na aquisição
comportamental,
de preferência
consciente, da prática da atividade
física, fundamentada na qualidade de
vida do cidadão atual e futuro, de forma
preventiva e lúdica...(P5)
Conclusão
Neste breve artigo, apresentamos dados
sobre as concepções acerca do papel da
educação física na escola, da educação
escolarizada, da função do professor e do
processo ensino aprendizagem, a partir de uma
pesquisa qualitativa realizada com 05
professoras atuantes na área.
Como resultados principais,
encontramos que a função da Educação Física na
escola caminha em direção aos objetivos
enunciados pelos Pcns (1997), que elege a
formação integral para a cidadania, para a
solidariedade, para a compreensão da cultura
elaborada para o homem em toda a diversidade e
manifestação, para a discussão acerca da saúde,
da cultura e da função do homem perante esta
sociedade.
Estes objetivos são também alvos a
serem alcançados pela educação escolar na sua
totalidade, na busca por formar pessoas
autônomas, críticas, que compreendem seu
papel enquanto cidadão e o exercem com
responsabilidade.
Porém quando questionados
especificamente sobre a função da educação
escolar as docentes variam suas respostas,
enfatizando ora os conhecimentos curriculares
(saberes ditos “intelectuais”), porém anunciando
que este não deva ser o único objetivo, com
comentários sobre a formação para a cidadania e
para os valores sociais morais como alvos
escolares.
Em relação à concepção sobre o que é
ser professor, somente uma docente comenta a
respeito da caracterização enquanto um
profissional (P1), reconhecendo-se acima de tudo
que ser professor é exercer uma profissão. No
entanto, em quase todas as repostas
encontramos comentários a respeito dos
saberes, dos conhecimentos que são
necessários aos professores possuírem e
ampliarem regularmente para exercer a
docência, para planejar e dar aulas de forma mais
adequada numa sociedade que se caracteriza
por uma vasta produção de conhecimentos.
Quando se referem à concepção sobre
ensino e aprendizagem, encontramos elementos
que convergem com as ideias veiculadas pelo
empirismo, quando relata-se que ensinar é
“passar”, “transmitir” conhecimento e aprender é
absorver conhecimentos, dando indícios de um
aluno passivo neste processo com um professor
que é o centro e pólo principal, que dará ao outro o
que ele precisa para saber e se desenvolver. Por
outro lado encontramos também outras
concepções que convergem com os
pressupostos construtivitas indicando a ação
necessária do aluno no processo de construção
de seus conhecimentos e de sua realidade, a
necessidade de compreensão por parte dele a fim
de que os saberes façam sentido, e de
valorização dos saberes que trazem para a vida
escolar.
Assim, se nossa pratica pedagógica
caminha de maneira paralela à nossa concepção
de educação e da docência cabe, enquanto
profissionais da educação, reconhecermos estas
concepções e quais pressupostos teóricos elas
se vinculam, a fim de avaliarmos criticamente e
constantemente nossas próprias ideias, no
sentido de reelaborarmos e ampliarmos nossas
concepções diante das produções teóricas e das
pesquisas realizadas, numa busca por construir
uma educação de qualidade, coerentes com
nossos alvos e com os objetivos educacionais.
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A autora Eliane Paganini da Silva possui
agência de fomento: Capes/Cnpq.
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A IDENTIDADE E A ESCOLHA PROFISSIONAL DOCENTE
Eliane Paganini da Silva - Unesp/Marília
RESUMO
Nosso trabalho procurou compreender como se deu a escolha da profissão docente e quais os fatores que
inferiram nesta escolha e ainda perceber qual a relação existente entre a identidade profissional e a escolha
do magistério. A escolha de uma profissão mantém uma relação muito estreita com a identidade profissional,
além disso, alguns fatores sociais e pessoais interferem tanto na escolha profissional como na consolidação
de uma identidade própria à profissão. Nosso estudo seguiu os princípios do método clínico piagetiano, o que
permitiu explorar com certa profundidade o que pensam os professores a respeito do tema em questão.
Utilizamos uma entrevista semi-estruturada com cinco questões realizando uma análise qualitativa e
quantitativa das respostas apresentadas pelos professores do segundo ciclo do ensino fundamental. Em
seguida categorizamos os resultados e os analisamos de acordo com os autores referenciados no quadro
teórico. Nossos resultados apontaram que existe sim uma relação entre a identidade profissional e a escolha
de uma profissão, corroborando as ideias de alguns autores que afirmam ser necessário para contemplar a
identidade docente entender o profissional com suas características pessoais e profissionais, ressaltando o
caráter individual e o coletivo.
Palavras Chave: Identidade docente; escolha profissional docente; trabalho docente; educação.
IDENTITY AND THE CHOICE OF PROFESSIONALLY TEACHING
ABSTRACT
This research aimed to understand how teachers choose their profession and which factors are important to
their decision. It also intended to perceive which is the relation between the professional identity and the
option of being a teacher once this choosing has a very narrow relation with the identity. Moreover, some
personal and social factors influence both in the career choice as in the identity of the profession itself. Our
study followed the principles of the clinical method of Piaget, which allowed us to deeply explore what
teachers think about the theme analyzed. It was utilized a semi-structured interview containing five questions
from which we made a qualitative and quantitative analysis of the answers presented by teachers from the
second cycle of basic education. After this, it was performed a categorization and an analysis of the results
based in theories of referenced authors. Our results showed that there is a relation between professional
identity and the choice of a profession, corroborating the ideas of some authors who assert being necessary to
understand the personal and professional features of a teacher, emphasizing the individual and collective
character.
Keywords: Teaching identity; Professional choice; Teaching; Education.
Introdução
A identidade profissional de acordo com
Soares (1987) relaciona-se com a escolha da
carreira. Segundo ela, essa escolha, desenvolvese por referência a duas dimensões
complementares: a individual, centrada no
conceito do “eu”, e a gradual, centrada no coletivo.
A escolha da carreira é realizada a partir
de influências que determinam o “eu” da pessoa.
Nela o indivíduo identifica-se com toda uma
sociedade, incorporando em si os papéis e
atitudes valorizadas (qualquer que seja a
interiorização, só se realiza quando há
identificação). O indivíduo assimila atitudes e
papéis de modo a torná-los seus, identificando-se
com estes e a si mesmo; há uma contínua e mútua
identificação entre nós, vivemos em um mesmo
mundo e participamos cada qual do ser do outro.
Os antecedentes socioeconômicos, o
tamanho da cidade natal, as experiências com
outros professores, os conselhos de amigos,
professores e pais, as identificações com um
adulto admirado, as experiências passadas, além
de aspectos profissionais específicos, tais como
segurança, prestígio, salário e condições de
trabalho, influenciam e contribuem para a
construção da identidade docente.
Em linhas gerais, o processo de formação
de identidade tem início na fase infantil, já que as
crianças assimilam traços e características de
pessoas e objetos externos. É um processo
interno ao indivíduo de acordo com sua cultura e
categoria social, sendo que a linguagem também
contribui para tal. O desenvolvimento do “eu”
depende, em grande parte, das pessoas ou
grupos de pessoas com os quais nos
identificamos, mas isto nunca ocorre em níveis
iguais; a intensidade desta identificação é
variável.
A história da vida de um indivíduo é
marcada por uma sucessão de mudanças de
identidade, que envolvem, necessariamente, a
substituição dos traços de identificações
anteriores por novos. Peck e Whitlow (1976),
referindo-se a Rogers, afirmam que a figura do
“eu” é tratada como um padrão organizado de
percepções, sentimentos, atitudes e valores com
os quais o indivíduo se identifica, sendo o “eu” a
base de sua experiência. Existe ainda o “eu ideal”,
que é a pessoa como ela gostaria de ser. Isso
implica que posteriormente, o indivíduo pode
adquirir um determinado comportamento que
influenciará na sua escolha profissional.
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Percebemos no decorrer das leituras que
a aquisição da identidade pessoal antecede à
profissional e se cristaliza a partir de
identificações infantis que na adolescência são
retomadas, sendo nesta etapa que o indivíduo,
segundo Erikson, (1972) amadurece o suficiente
para o convívio em um determinado contexto
social.
Para Giddens (2002), a identidade
pessoal pode ser encontrada no comportamento
ou nas reações das pessoas e dos outros, na
capacidade que o indivíduo possui de manter sua
biografia particular, ou o que o autor chama de
“narrativa particular”.
A biografia do indivíduo, para que ele
mantenha uma interação regular com os
outros no cotidiano [...] deve integrar
continuamente eventos que ocorrem no
mundo exterior e classificá-los na
“estória” em andamento sobre o eu (p.
56).
O referido autor se reporta, ainda, à autoidentidade como sendo o resultado “das
continuidades do sistema de ação do indivíduo”
(GIDDENS, 2002, p. 54), devendo ser criada e
sustentada através das rotinas nas atividades
reflexivas, processos que pressupõem uma
consciência relativa. Giddens (2002, p. 54) define
auto-identidade como sendo,
[...] o eu compreendido reflexivamente
pela pessoa em termos de sua biografia.
A identidade ainda supõe a continuidade
no tempo e no espaço: mas a autoidentidade é essa continuidade
reflexivamente interpretada pelo agente.
[...] ser uma 'pessoa' não é apenas ser
um ator reflexivo, mas ter um conceito de
uma pessoa.
Para Berger e Luckmann (1985), a
identidade se configura como um elemento-chave
da subjetividade e da sociedade, formando-se,
sendo remodelada através dos processos e
relações sociais. As identidades são singulares ao
sujeito e produzidas a partir de interações do
indivíduo, da consciência e da estrutura social na
qual este está inserido, sendo a “identidade um
fenômeno que deriva da dialética entre um
indivíduo e a sociedade” (p. 230).
A identidade pessoal e a identidade
construída coletivamente são essenciais para
definir a identidade profissional do indivíduo. A
esse respeito Pimenta (1997, p. 07) define que a
identidade profissional do professor.
Se constrói a partir da significação social
da profissão [...] constrói-se também,
pelo significado que cada professor,
enquanto ator e autor confere à atividade
docente de situar-se no mundo, de sua
história de vida, de suas representações,
de seus saberes, de suas angústias e
anseios, do sentido que tem em sua vida:
o ser professor. Assim, como a partir de
sua rede de relações com outros
professores, nas escolas, nos
sindicatos, e em outros agrupamentos.
Lima (1996) em pesquisa de doutorado
intitulada “Começando a ensinar: começando a
aprender?”. Realizou um estudo que contou com
cinco alunas do curso de pedagogia da
Universidade Federal de São Carlos, realizado
sobre os moldes de uma pesquisa qualitativa,
sendo feito um trabalho de campo, entrevistas,
reuniões, análise da aplicação de regências das
alunas do curso de Pedagogia em um Centro
Específico de Formação e Aperfeiçoamento do
Magistério (CEFAM). A pesquisa teve como
objetivos saber quais as concepções das alunas
quanto a ensinar e aprender, e como se
caracterizava a atuação destas participantes que
iniciavam seu trabalho como professoras. Visava
saber também como se dava o processo de
reflexão entre pensamento e atuação e qual
contribuição para a formação das futuras
professoras (a análise levou em conta as
regências aplicadas pelas participantes no curso
de magistério, no qual estagiavam). Foi um dos
pré-requisitos para a escolha das participantes o
fato de elas serem alunas que se destacavam e
nunca terem trabalhado antes.
Entre outras coisas, a autora conclui que
ser professor é “tornar-se professor: processo
interminável, que começa antes da formação
básica e se prolonga para além dela através da
formação continuada” (LIMA, 1996, p. 30), e que
“o ensino é essencialmente uma profissão de
aprendizagem e o professor é um membro da
comunidade cultural” (p. 34). A autora segue
comentando as ideias de Zalbaza, afirmando que
“os docentes desenvolvem em sala de aula uma
atividade complexa que tem, fundamentalmente,
dois componentes: o da atuação e o dos
pensamentos (estes representados por juízos,
crenças, teorias implícitas etc)” (LIMA, 1996, p.
31).
Levando em conta tal pesquisa, não é
possível entendermos o trabalho do professor
dividido entre o pessoal e o profissional, já que um
está intimamente ligado ao outro. É frequente
encontrarmos nos relatos de pesquisa como em
Lourencetti (1999; 2004) os participantes
demonstrando uma relação muito forte entre o seu
passado como aluno e o seu fazer docente
quando vão para a prática, imitando técnicas ou
comportamentos dos antigos professores ou de
outros professores que eles admiram. Pensando
nisso é que nossa pesquisa teve como objetivo
compreender como se deu a escolha da profissão
docente e quais os fatores elencados pelos
professores referentes à sua escolha e ainda
como isso interfere na identidade dos
professores.
Metodologia
A pesquisa teve por objetivo investigar
como professores do Ensino Fundamental
fizeram sua escolha profissional e perceber quais
os fatores que eles elencaram que interferem na
identidade do professor já que entendemos que a
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identidade de uma profissão depende de suas
interpretações pessoais e sociais. Procuramos
entender questões como: O que levou o professor
a escolher o magistério? Quais as interferências
para esta escolha? Se ele já teve vontade de
desistir e porque ainda permanece na profissão?
Participaram da pesquisa doze
professores de várias disciplinas curriculares de
6º ao 9º anos do Ensino Fundamental de uma
cidade do interior paulista. Os professores (que
serão a seguir identificados por siglas pertinentes
às respectivas áreas) se distribuíam do seguinte
modo: dois professores de Português (P1 e P2),
dois de Matemática (M1 e M2), dois de História
(H1 e H2), dois de Geografia (G1 e G2), um de
Educação Física (F1), um de Educação Artística
(A1) e dois de Ciências (C1 e C2), com idades
variando de 25 a 56 anos e com tempo de serviço
no magistério de 5 a 35 anos.
Os dados foram coletados mediante
entrevista semi-estruturada com um roteiro
previamente testado. As entrevistas foram
gravadas com a devida autorização e transcritas
pela pesquisadora de modo literal. O
procedimento seguiu os princípios do método
clínico piagetiano, o que permitiu explorar com
certa profundidade o que pensam os professores
a respeito do tema em questão.
A análise dos dados foi qualitativa e
quantitativa e agrupamos as respostas
semelhantes em categorias. A análise foi
realizada com base nos autores referenciados e
na bibliografia pesquisada. Foram nossas
questões aos professores: 1- Como você se
tornou professor? Fale um pouco sobre como foi
a sua escolha. 2 - Que pessoas ou
situações/eventos você acha que mais
influenciaram sua decisão? (Pais, irmãos,
brincadeiras...?). 3 - Você já pensou ou teve
vontade de abandonar a profissão? Por quê? 4 O que faz você permanecer na profissão?
A Escolha Profissional
Foi possível perceber em nossa análise,
como apontam os autores, que a escolha por uma
profissão mantém uma relação muito estreita com
a identidade profissional que o indivíduo irá
estabelecer em sua futura carreira. Em geral esta
escolha é realizada ainda na adolescência,
período este que, como indicam Aberastury e
Knobel (1981) e Soares (1987), consiste em uma
fase de muitas indecisões características da
cristalização de uma identidade pessoal.
Portanto, a escolha por uma profissão envolve
tanto fatores internos, individuais, que em geral
são pautados em considerações que se
relacionam com o “eu”, quanto fatores externos,
sociais, quando os indivíduos incorporam ao seu
“eu” papéis, atitudes, imagens estabelecidas
socialmente acerca das profissões com as quais
parece se identificar.
Os resultados qualitativos e quantitativos
serão explicitados por nós a partir de agora. Logo
em seguida apresentaremos um quadro para
melhor visualização dos dados.
- Como se tornou professor? Como foi sua
escolha?
Inicialmente perguntamos aos
entrevistados como foi sua escolha pela profissão
e se algo influenciou na mesma. Apareceram
respostas que demonstram uma escolha
voluntária e intencional; pois sete professores
(58,3%) afirmaram que sempre gostaram da
educação e se tornaram professores por escolha
própria, como ilustram os depoimentos
seguintes.
Eu sempre gostei de Educação Física,
de atividade física, eu sabia que eu tinha
que ir para esse lado, só não sabia se
fazia Fisioterapia ou Educação Física...
então, desde pequena eu gostava de
fazer exercício, dar aula de ginástica eu
já dava em academia, então, resolvi me
especializar mais para poder dar aula
(A1).
Ah, eu sempre quis ser professora,
sempre gostei, gosto do que eu faço
(M2).
Ninguém influenciou, é que eu ia para a
escola com a minha mãe, às vezes;
então, eu decidi seguir esse caminho
(G1).
Eu sempre gostei de História desde as
primeiras séries. Então, tinha professor
que eu gostava, tinha aqueles livros que
tinham pirâmide... e eu sempre gostei de
ler, e História você precisa gostar de ler,
então, foi uma escolha, porque eu já
comecei a gostar desde criança. (H2).
Outros depoimentos (5 professores)
mostraram que a escolha foi devida a
circunstâncias/ ao fator financeiro.
Fiz dentro das minhas possibilidades,
porque eu sempre estudei em escola
pública, cursei Ensino Médio em escola
pública em período noturno e isso
reduzia muito minhas escolhas de
prestar um vestibular numa faculdade
pública, porque eu não tinha condições
de pagar. Então, do que eu poderia
prestar, eu escolhi ser professor, mas foi
a área que eu escolhi (H1).
Na verdade, não foi uma escolha, é que
quando eu fui prestar vestibular, e tinha
que fazer a opção no vestibular, eu fazia
outros cursos... e eu não podia fazer
outros cursos porque eu não podia
estudar fora e o único curso, assim, que
eu tinha mais afinidade na minha cidade
era o curso de Letras, porque eu já fazia
aulas de francês, fora... então, eu acabei
sendo levada pelas circunstâncias (P1).
Primeiro lugar, porque era a única
faculdade que eu podia fazer
financeiramente, e eu gostava mesmo,
né, e as outras eu não tinha condições
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de pagar, mas eu gostava também...
(M2)
- O que ou quem o influenciou?
Quatro dos professores (33,3%)
sugerem influência direta dos familiares em sua
escolha. Podemos perceber isto através dos
seguintes depoimentos:
Minha avó martelou a vida toda em
minha cabeça que eu tinha que ser
professor, porque ela era da primeira
turma do colégio Castro, uma professora
renomada... e eu fiquei 10 anos com ela,
(...) e ela queria que eu fosse professor.
Ela dizia pra mim, vai ser professor, você
vai ser o melhor...e eu busco isso até
hoje pra ver se eu consigo ser um
pouquinho melhor do que o normal, mas
depois eu acabei gostando, né... e
continuei (M1).
Minha mãe e meu pai são professores os
dois, nós éramos de São Paulo, mas eles
sempre lecionaram e eu acabei sempre
ficando nesse meio e desde novinha eu
gostava. Fiz Farmácia, mas optei por ser
professora... (C1).
Foi mais por imitação, né, porque minha
irmã, né... mas eu acho que eu não me
veria com outra profissão não. (Então a
pessoa que lhe influenciou foi sua irmã?)
Sim, na realidade sim. A pessoa sim
(P2).
Para quatro entrevistados, (33,3%) os
professores que eles tiveram os influenciaram na
escolha e mais quatro depoimentos (33,3%)
afirmam que as brincadeiras infantis os
influenciaram, pois, desde pequenos, gostavam
de brincar de “dar aulas” e acham que isso acabou
por contribuir de alguma maneira em sua escolha
profissional.
É a questão da memória escolar do
tempo em que eu estudei, isso, Ensino
Fundamental e Médio eu sempre tive
como referencia alguns professores, o
que mais me marcou (...) (H1).
É, teve uma professora de francês que
eu tive no ginásio que acabou me
influenciando de alguma forma (P1).
E as situações eram as brincadeiras que
eu direcionava, explicava... colocava
meus ursinhos para serem meus
alunos... (P2)
Além de meus professores, acho que
brincadeira, sim, desde criança eu
brincava de professor (Isso influencia?)
Claro... acho que já era uma coisa
minha... mas ajuda (A1).
Os depoimentos acima reafirmam a ideia
de Mogone (2001), de que desde cedo os
indivíduos adotam papéis e atividades realizados
por outras pessoas, desde que lhes pareçam
significativos e estes papéis se remodelam e se
modificam com o passar do tempo. Talvez isso
justifique o fato de alguns de nossos sujeitos
terem sido influenciados por professores antigos,
por brincadeiras, pela família e amigos.
Foi possível perceber que nossos
professores apresentaram uma proporção alta de
respostas tanto para a categoria de escolha
voluntária e intencional quanto para as
circunstâncias e fator financeiro como sendo
determinantes em suas escolhas. Portanto, a
questão social e econômica deve ser também
considerada no que se refere à identidade do
professor. Segundo Berger e Luckmann (1985), a
formação da identidade obedece a um fator
social, sendo definida a partir de suas relações
com o meio social no qual o indivíduo está
inserido. Ou seja, assim como afirmam Vianna
(1999) e Pimenta (1997), a identidade é um
processo de construção, em que o indivíduo é
histórica e socialmente situado.
E como aponta Soares (1987), as
interiorizações dos papéis, atitudes e fatores,
como os antecedentes sócio-econômicos, a
localização da cidade onde se vive, experiências
com amigos, professores e familiares e as
imagens socialmente correntes da profissão em
questão proporcionam aos indivíduos as
identificações necessárias para sua escolha
profissional.
Alguns relataram ser uma escolha que
envolvia o gosto pessoal apenas; não ressaltando
nenhuma interferência externa ou interna.
Entretanto, tal gosto pela profissão é construído
considerando fatores que podem estar
relacionados à definição social vigente da
profissão, como segurança, condições de
trabalho, salários, dentre outros, além da
afinidade pessoal.
- Pensaram em abandonar a profissão?
Perguntamos também aos professores
se eles já pensaram alguma vez em abandonar o
magistério e o que os fazia permanecer. Para as
respostas negativas, que equivalem a cinco de
nossos sujeitos (41,7%), as justificativas foram as
de que nunca pensaram em abandonar a
profissão porque gostam do que fazem,
demonstrando um gosto pessoal; apareceram,
também, respostas que se aproximam de um
idealismo, por acreditarem que a situação vai
melhorar. Vejamos alguns depoimentos que
trazem tais ideias:
Não. Porque tudo o que eu fiz desde que
eu comecei a estudar foi relacionado à
educação. Eu fiz Farmácia, mas eu
queria dar aula, não consigo me ver em
outro campo... não consigo ficar fora da
escola, da sala de aula, do âmbito
escolar, não tem, não vejo outro local, eu
gosto do que faço (C1).
Eu gosto muito de interagir com o ser
humano, eu gosto de conversar com as
pessoas, é uma oportunidade de estar
sempre com alguém, de estar ajudando
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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alguém. Eu gosto de dar aula (H2).
Não, depois que eu comecei a dar aula,
eu sempre comento, acho que a gente
acaba se viciando, é como se fosse um
vício mesmo (P1).
Não... porque eu acredito que pode
melhorar (H2).
Já para as respostas afirmativas, que
correspondem a seis professores (50%),
apareceram basicamente dois motivos para já
terem pensado em abandonar a profissão, sendo
eles a falta de interesse dos alunos em
aprender; ou ainda o fator financeiro, em que os
baixos salários são apontados como um
determinante para o abandono do magistério.
São exemplos:
Sim, eu já pensei, por causa da falta de
interesse dos alunos... mas eu gosto do
que faço (C2).
Eu já pensei sim, (...) pelo fator sócioeconômico a gente às vezes pensa em
partir para uma profissão... porque é
amargo, né... é muito amargo, mas,
enfim... (P2).
Eu já, por vários motivos, mas o pior
deles é o financeiro (G2).
Tivemos ainda um dos depoimentos
(8,3%) que declarou que às vezes tem vontade e
pensa em abandonar o magistério:
As vezes dá vontade devido ao aluno,
eles não têm interesse, você prepara
sua aula, vai lá, isso te desanima muito,
você perde aquele estímulo, aquela
vontade... deixa a gente muito com a
auto-estima baixa (A1).
- E o que faz você permanecer na profissão?
Com relação ao que fazem os
professores permanecerem na profissão, alguns
depoimentos reafirmam o que foi exposto na
questão anterior. Foi possível, então, estabelecer
quatro categorias distintas de respostas, sendo
uma delas de caráter idealista, em que seis
professores (50%) declararam permanecer
porque ainda acreditam na educação e no próprio
trabalho, quatro depoimentos, cerca de 33,3%,
afirmaram um gosto pessoal pela profissão e
somente permanecem na mesma porque gostam
do que fazem.
É uma coisa que eu sempre achei,
quando eu comecei, falavam, ai, sai fora
dessa, né, larga a mão dessa profissão,
eu falava 'não, eu tenho certeza que um
dia vai melhorar... um dia vai melhorar...'
não melhorou até hoje, mas um dia vai
melhorar (risos). Eu acredito que um dia
ainda vai haver melhora, mas... não
podemos desistir por causa das
dificuldades. Nas outras profissões
também é difícil (M2).
Eu acredito que é acreditar na parcela de
contribuição que eu dou pros alunos
na... no sentido de formar integralmente,
[...] formar integralmente é um prazer
itanto, informar e formar a pessoa, acho
que é isso que me motiva, acreditar que
a gente tá fornecendo seres humanos,
transformá-los por tudo aquilo que lhes
cerca e a participação de um professor
pode marcar a vida de uma pessoa pra
sempre... eu acredito nisso, eu acredito
(P2).
Eu gosto muito de interagir com o ser
humano, eu gosto de conversar com as
pessoas, é uma oportunidade de estar
sempre com alguém, de estar ajudando
alguém. Eu gosto de dar aula (H2).
Eu não abandono o magistério porque,
por incrível que pareça, eu gosto de ser
professora... (C2).
Encontramos também outras duas
categorias, uma que ressalta a falta de opção,
um professor ou 8,3% e outra em que o
compromisso político fala mais alto, quando
também um professor afirma continuar na
profissão, mesmo pensando em abandoná-la,
por acreditar que tem um compromisso político
com o ensino público, já que toda a sua vida
acadêmica foi em instituições públicas. Vejamos
tais declarações:
Falta de opção... [...] ah, eu não tenho
uma outra idéia de fazer nada diferente,
então vou ficando [...] (G1).
[...] e por um compromisso político que a
gente tem que ter, com a causa, afinal de
conta, nós estudamos gratuitamente, e
de certa maneira nós temos que
devolver, eu acho que eu vou devolver
isso por um período, não vou me sentir
preso pro resto da vida, não (H1).
Para ficar mais claro a apresentação dos
dados veja o quadro abaixo:
Chamou-nos a atenção de alguns
depoimentos o fato de anunciarem uma situação
complicada e de real mal-estar (ESTEVE, 1999)
entre os professores, já que cerca de metade do
grupo de entrevistados tem vontade de
abandonar a profissão, seja pela falta de
interesse dos alunos ou pelo retorno financeiro
que a profissão proporciona. Este dado é
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alarmante e sugere que esses professores que
sentem vontade de abandonar ou que às vezes
pensam em trocar de profissão se encontram em
uma crise profissional. Não é possível ainda
determinarmos se essa crise é identitária, mas,
com certeza, uma profissão em que a metade de
seus trabalhadores pensa em abandoná-la, algo
não vai bem. E os determinantes para esse
descontentamento correspondem às descobertas
de Lourencetti (2004), em sua pesquisa acerca
das dificuldades enfrentadas pelo professor
paulista, já que o fator financeiro foi um dos
complicadores apontados também pelos
professores pesquisados pela autora, como algo
que dificulta o trabalho docente atualmente.
Como vimos na questão anterior, a
escolha de uma profissão envolve diversos
âmbitos, dentre eles o fator financeiro e a imagem
socialmente vigente da profissão. Com base em
certos autores (ESTEVE, 1999; NACARATO et
al., 2000; ENGUITA, 1991) percebemos que, no
caso específico da profissão professor, tal
imagem é ambígua e pouco definida através da
história do Magistério. Atualmente, a indefinição
se sobressai considerando as mudanças do
mundo moderno. Definitivamente, não são
apenas os nossos professores de 6º ao 9º anos
que cogitam abandonar ou trocar de profissão.
Possivelmente, a angústia pelos baixos salários e
pela falta de interesse dos alunos está atrelada e
faz parte do imaginário de toda a categoria
docente.
Foi possível constatar que, com exceção
de dois professores (P1, M2), todos os que
afirmaram não ter pensado ou eventualmente não
ter vontade de abandonar a profissão quando
contaram sobre sua escolha profissional e as
influências sofridas fizeram a escolha com base
em um gosto pessoal para a profissão ou
influenciados por antigos professores e
familiares. Apenas M2 e P1 afirmaram ter feito a
escolha levando em conta, além do gosto
pessoal, um fator financeiro, onde relatava que
“era a única que eu podia fazer financeiramente,
[...] mas eu gostava também...” (M2).
Não podemos estabelecer uma relação
direta entre os fatores da escolha profissional e a
crise profissional de nossos professores. Convém
apenas refletir sobre a importância da decisão
com relação à profissão que se pretende seguir;
pois, como ressalta Souza (2005, p. 209), “a
escolha de uma profissão e a trajetória de trabalho
dos professores resultam de inúmeras
articulações: implicam uma rede de relações
sociais e culturais tecidas ao longo da vida e
atravessadas por lógicas próprias, feitas de
acasos e circunstâncias, de aspirações e de
constrangimentos, de coincidências e decisões”.
Uma outra constatação à qual Lima
(1996) chegou foi que a escolha pela profissão
docente perpassa pela questão de gênero,
afirmando que esta é uma característica histórica
intrínseca à profissão docente. Algumas
participantes trouxeram a ideia de que para ser
professor é necessário ser mulher, paciente e
sensível.
Um outro ponto levantado pela autora
com relação à escolha profissional é um dado
preocupante, já que percebeu em sua pesquisa
que a maioria das alunas que optaram pelo curso
de magistério (CEFAM) tinham interesse pela
bolsa de estudos fornecida pela entidade ou pela
característica profissionalizante do curso, mas
sem manter, na maioria dos casos, relação
nenhuma com o fato de ensinar crianças (LIMA,
1996, p. 124).
Conclusão
Segundo os autores estudados a
identidade do professor configura-se em uma
identidade coletiva que se refere à identidade
pessoal (para si) e à identidade social (para
outrem) e essa identidade coletiva é “processada
pelos sujeitos e pelos grupos sociais que
reorganizam significados conforme a influência
das tendências sociais e dos projetos culturais,
enraizados na sociedade” (BRZEZINKI, 2002, p.
9). Além disso, a autora afirma que a construção
da identidade encontra-se nas associações e
sindicatos da categoria profissional docente,
assim como nas políticas educacionais que
acabam por manter o atual status da profissão. É
por meio da identidade do professor que se
desenvolve um processo de profissionalização
que, por sua vez, vem sendo prejudicado
considerando a realidade dos sindicatos e das
políticas educacionais.
Entendemos que para tanto se faz
necessário que o professor se sinta pertencente a
uma categoria profissional e nesse sentido a
escolha, ou os motivos pelos quais os indivíduos
escolhem uma profissão fazem toda a diferente
para que estes se sintam parte dela ou não.
Obviamente que não é apenas a escolha
voluntária capaz de realizar tal processo, mas
entendemos que mesmo quando os professores
escolheram ou foram levados a escolher o
magistério por influência de outros ou porque
recebiam uma bolsa para estudar como é o caso
das alunas pesquisadas por Lima (1996) é preciso
ter consciência de que se mantém na profissão
por um gosto relacionado ao ensinar e ao
aprender, caso contrário a profissão não se
justifica enquanto tal.
Finalizamos ressaltando que os
depoimentos dos professores pesquisados
mostram o perfil dos principais fatores que levam
o indivíduo a escolher o magistério, bem como tal
escolha interfere de forma significativa na
formação de uma identidade profissional docente
e a partir disso cabe a nós profissionais da
educação como um todo refletirmos sobre as
reais expectativas que fazem com que os
indivíduos optem pela docência e a partir daí
como promovermos uma afirmação da identidade
docente.
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91
CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO: Análise da aceitação do currículo de educação física
pelos alunos do 3º ano do ensino médio
Denise Ferraz Lima Veronezi; Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes
Centro Universitário de Votuporanga - UNIFEV
Resumo
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implantou em 2008 uma nova forma de Currículo unificado para todas
as escolas da rede estadual de ensino. No início denominado de Proposta Curricular, a partir de 2010 esta Proposta se
tornou o Currículo do Estado de São Paulo, atualmente utilizado. Com essas mudanças algumas transformações
ocorreram no âmbito escolar. Esta pesquisa procurou analisar a aceitação dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio
frente à utilização do Currículo de Educação Física. O método utilizado foi uma pesquisa de campo através de um
questionário que foi aplicado aos discentes. De acordo com este estudo a conclusão que chegamos é que os alunos
gostam de participar das atividades, mas ainda existem por parte dos alunos alguns aspectos da antiga educação física
(antes do currículo atual), que visava uma maior prática esportiva dentro da escola. Consideramos necessário que a
partir deste estudo possam realizar-se novas pesquisas, investigando e discutindo o contexto escolar que a educação
física do Estado de São Paulo está inserida, para a reflexão de práticas pedagógicas adequadas.
Palavras-chave: Educação Física. Ensino Médio. Proposta Curricular.
Abstract
The Education Department of the State of Sao Paulo in 2008 implemented a new form of unified curriculum for all schools
in the state schools. Earlier known as Curriculum Proposal, from 2010 this became the Curriculum Proposal of the State of
Sao Paulo, currently used. With these changes occurred some changes in the school. This study sought to analyze the
acceptance of third-year students of high school before the use of the Physical Education Curriculum. The method used
was a field survey through a questionnaire that was administered to the students. According to this study the conclusion
we reached is that students enjoy participating in activities, but still there by the students some aspects of the former
physical education (before the current curriculum), which sought greater sports within the school. Need to consider from
this study can be carried out new research, investigating and discussing the school context that physical education in the
State of São Paulo is located, to reflect the appropriate pedagogical practices.
Keywords: Physical Education. High School. Curriculum Proposal.
INTRODUÇÃO
Com o intuito de apoiar o trabalho
realizado nas escolas estaduais, a Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo implantou em
2008 uma Proposta Curricular para os níveis do
Ensino Fundamental – ciclo II e médio. Com isso,
pretende contribuir para a melhoria da qualidade
das aprendizagens dos alunos, garantindo aos
estudantes uma base comum de conhecimentos
para que as escolas funcionem como uma rede
(SÃO PAULO, 2008).
Para Darido (2003) de acordo com as
tendências sociais em que vivemos, as propostas
educacionais estão se modificando, influenciando
de alguma maneira os professores com novas
práticas pedagógicas de ensino de Educação
Física.
A partir dos conhecimentos que os alunos
já possuem sobre diferentes manifestações
corporais, a Educação Física escolar deve
ampliá-los e qualificá-los criticamente. Dessa
maneira, possa levar o aluno ao longo da sua
escolarização e após, a melhores oportunidades
de praticar o esporte, jogo, ginástica, luta e
atividades rítmicas, possibilitando uma
intervenção e transformação relacionada à
dimensão corporal e ao movimentar-se, o qual
tem sido denominado de “cultura corporal” (SÃO
PAULO, 2008).
De acordo com Betti e Zuliani (2002), no
Ensino Médio deve-se dar ênfase à aquisição de
conhecimentos relacionados à cultura corporal de
movimento e promover a experiência de práticas
corporais, considerando os interesses dos
alunos.
De acordo com Engel (2011), é
necessária uma nova cultura na escola, mais
atraente, de forma que seja mais valorizada pela
sociedade. A escola precisa ter uma direção que
busque os seus propósitos, visando uma missão
comum de ensinar o que está previsto e fazendo
com que o jovem aprenda o que é realmente
importante antes de concluir o Ensino Médio.
Outro ponto é a organização do espaço, sendo
que quanto melhor elaborado e interessante,
melhor será o desenvolvimento dos alunos.
As mudanças que ocorrem no contexto
escolar podem fazer com que os alunos
reconheçam novos significados e valores, em
relação à prática dos conteúdos que estão sendo
trabalhados dentro da escola. Através das
questões levantadas neste estudo, a resposta dos
alunos é fundamental, apresentando a vivência
das aulas e esclarecendo o principal propósito
desta pesquisa: Analisar a aceitação do Currículo
de Educação Física pelos alunos do 3º ano do
Ensino Médio.
O principal motivo da escolha desse
grupo de indivíduos se deu pelo fato de que em
2008, eles estavam cursando o 9º ano (antiga 8º
série) quando foi implantada a Proposta
Curricular, trazendo mudanças no âmbito escolar.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
92
Neste caso, esses alunos tiveram experiências
de como eram as aulas de Educação Física e
como é atualmente na rede de ensino do Estado
de São Paulo.
Com esta pesquisa pretendemos
esclarecer algumas questões que nos parece ser
muito pertinentes, em relação aos conteúdos, se
estão de acordo com a realidade, se os
professores estão realmente utilizando o atual
Currículo, se as aulas estão proporcionando uma
melhor participação e também verificar o
reconhecimento dos discentes em relação à
importância da Educação Física.
O CONTEXTO HISTÓRICO DO CURRÍCULO
NA EDUCAÇÃO
O Currículo é considerado um artefato
social e cultural, isso significa que é amplo em
suas determinações sociais de sua história e sua
produção contextual, não é um elemento
inocente em relações de poder, ele transmite
visões sociais particulares e interessadas,
produzindo identidades individuais e sociais
particulares, onde sua história é ligada a formas
específicas e contingentes de organização da
sociedade e da Educação (MOREIRA; SILVA,
2005).
O currículo é a referência para ampliar,
localizar e contextualizar os
conhecimentos que a humanidade
acumulou ao longo do tempo. Então, o
fato de uma informação ou
conhecimento ser de outro lugar, ou de
todos os lugares na grande rede de
informação, não será obstáculo à prática
cultural resultante da mobilização desse
conhecimento nas ciências, nas artes e
nas humanidades (SÃO PAULO, 2008,
p. 13).
De acordo com Moreira e Silva (2005), o
Currículo nunca é apenas um conjunto neutro de
conhecimentos, que de algum modo aparece nos
textos e nas salas de aula de uma nação. Ele é
sempre parte de uma tradição seletiva,
resultando da seleção de alguém, da visão de
algum grupo acerca do que seja conhecimento
legítimo. É produto das tensões, conflitos e
concessões culturais, políticas e econômicas que
organizam um povo.
Segundo Goodson (2002) a palavra
Currículo vem do latim e tem como significado
correr, curso ou carro de corrida, utilizado na
escola como forma de transmitir algum
conhecimento.
O currículo sempre foi alvo da atenção
de todos os que buscavam entender e
organizar o processo educativo escolar.
No entanto, foi somente no final do
século XIX e no início deste, nos
Estados Unidos, que um significativo
número de educadores começou a tratar
mais sistematicamente a uma série de
estudos e iniciativas que, em curto
espaço de tempo configuraram o
surgimento de um novo campo
(MOREIRA; SILVA, 2005, p. 9).
O Currículo não pode ser visto como
planejamento universal que atinge os vários
âmbitos educativos existentes nas
características sociais presentes no cotidiano
escolar, seja do ponto de vista do aluno, seja do
ponto de vista da realidade e do cotidiano que o
mesmo se encontra. Contudo, o Currículo não
pode simplesmente ser adotado, deve ser
experimentado, avaliado, criticado e adaptado a
partir das peculiaridades que o mesmo contém
dentro de suas inúmeras expressões sociais,
políticas, econômicas e culturais (CARNEIRO,
2010).
A escola é uma instituição que está
presente em todas as sociedades, sendo assim,
tem um papel fundamental na formação das
novas gerações. De certa forma, ambas estão
associadas de maneira que, quando refletimos
sobre uma consequentemente pensamos
também sobre a outra (BEZERRA NETO;
BEZERRA e JACOMELI, 2009).
A escola é o espaço em que ocorre a
transmissão, entre as gerações, do ativo
cultural da humanidade, seja artístico e
literário, histórico e social, seja científico
e tecnológico. Em cada uma dessas
áreas, as linguagens são essenciais
(SÃO PAULO, 2008, p. 16).
De acordo com Sarno e Cancelliero
(2009), a Educação escolar é fundamental para o
desenvolvimento econômico, social, cultural e
político do país, garantindo os direitos de
cidadania.
Saviani (2009, p.30) afirma que:
[...] o currículo se expressa no conjunto
de matérias/disciplinas escolares e
respectivos programas, os quais, por
sua vez, consistem em elementos
selecionados da cultura global da
sociedade e organizados para fins de
ensino-aprendizagem.
A escolarização deve ser entendida
como um direito do cidadão e um patrimônio da
sociedade, devendo sua administração,
planejamento e execução ser coerente com a
Educação de forma ampla e democrática,
respeitando as disposições expressas na
Constituição Federal de 1988 e na Constituição
do Estado de São Paulo de 1989 (Sarno;
Cancelliero, 2009).
Para que a democratização do acesso à
educação tenha uma função realmente inclusiva
não é suficiente universalizar a escola. É
indispensável à universalização da relevância da
aprendizagem. Criamos uma civilização que
reduz distâncias, que tem instrumentos capazes
de aproximar as pessoas ou de distanciá-las, que
aumenta o acesso à informação e ao
conhecimento, mas que também acentua
diferenças culturais, sociais e econômicas. Só
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
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93
uma educação de qualidade para todos pode
evitar que essas diferenças constituam mais um
fator de exclusão (SÃO PAULO, 2008, p. 10).
O CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO
A Educação Física pode ser tempo e
lugar de investigação e problematização da
história de alunos presentes na escola, que revela
o conhecimento sobre as práticas corporais da
cultura de que são portadores; de invenção de
outras formas de fazer os esportes, as danças, a
ginástica, os jogos, as lutas, os brinquedos, as
brincadeiras; de questionamento dos padrões
éticos e estéticos construídos culturalmente para
a realização dessas e de outras práticas
corporais; de realização do princípio de que os
alunos possam se colocar à disposição de si
mesmos quando partilham, desfrutam, criam e
recriam as práticas corporais da cultura visando o
direito da participação de todos, sem exclusão por
nenhum motivo; de respeito à corporeidade
própria de cada indivíduo, construída em sua
história de vida (VAGO, 1999).
De acordo com Darido (2003), a
influência dos esportes faz com que a maioria dos
professores se identifique com as propostas
relacionadas ao jogo. Percebendo, neste sentido,
alguns avanços com a implantação dos jogos
cooperativos nas escolas.
Darido (2003) ainda ressalta que mesmo
com o grande número de abordagens no contexto
da Educação Física escolar, estas tendências
não substituíram as práticas vinculadas ao
modelo esportivo, biológico ou recreacionista. A
introdução destas abordagens proporcionou uma
visão ampliada da área de Educação Física,
referente às hipóteses pedagógicas de ensino e
aprendizagem.
Como componente curricular da
Educação Básica, a Educação Física deve ser
responsável pela tarefa de introduzir e integrar o
aluno na cultura corporal de movimento,
formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzila e transformá-la, para usufruir do jogo, do
esporte, das atividades rítmicas e dança, das
ginásticas e práticas de aptidão física, em
benefício da qualidade da vida (BETTI; ZULIANI,
2002).
Ao valer-se dessa noção de cultura,
pode-se afirmar que a escola é o
cenário em que diversas culturas
entram em conflito tendo em vista a
veiculação de seus distintos
significados. Qualquer estudante ou
docente irá se defrontar com
produções simbólicas que ora lhes
são familiares, ora lhes são
estranhas. Atuar sobre elas ou com
base nelas fará com que os
significados inicialmente disponíveis
sejam reconstruídos, alcançando a
produção de novas significações
(NEIRA; NUNES, 2009, p. 24).
Como última etapa da Educação Básica,
o Ensino Médio tem como objetivo consolidar e
aprofundar os conhecimentos adquiridos no
Ensino Fundamental, além de possibilitar o
prosseguimento dos estudos (DOMINGUES;
TOSCHI e OLIVEIRA, 2000).
Para Noronha (2009), o Currículo do
Ensino Médio necessita de modificações que
organizem seus conteúdos com visão ampla,
oferecendo um significado concreto para alunos
que mesmo não estando em idade própria,
possam se interessar pelo processo educativo. O
Currículo é essencial para o desenvolvimento dos
alunos nas diversas disciplinas presentes na
escola.
Noronha (2009) ainda acrescenta que é
fundamental ter audácia para organizar um
conteúdo curricular que tenha relação com todos
os envolvidos, debatendo juntamente com a
comunidade escolar para a construção de um
projeto político-pedagógico definido por todos, de
modo que este possa significar com a realidade
dos alunos tanto dentro da escola, quanto fora
dela.
Em busca pela qualidade na Educação,
devemos refletir sobre temas que poderão
contribuir para que os profissionais da Educação
possam trabalhar questões fundamentais com os
estudantes, não é com muros e cadeados que
poderemos construir um mundo melhor. Temos
que discutir abertamente questões que nos
afetam sendo esse o melhor caminho para
oferecer perspectivas de futuro paras crianças e
jovens (GROSSI, 2011).
Para a sociedade ser transformada em
algo melhor do que é, devemos considerar que
ela é composta por homens que se estruturam em
classes sociais diferentes em uma sociedade
capitalista. Assim, a instituição escolar deve ser
lembrada e, pensada em primeiro lugar levando
em conta que esta é a principal agência
formadora que poderá contribuir para a formação
de cada aluno como cidadão (BEZERRA NETO;
BEZERRA e JACOMELI, 2009).
O CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO
A Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo realizou um projeto que propõe um
Currículo para os níveis de Ensino Fundamental –
Ciclo II e Médio, de forma a apoiar o trabalho feito
nas escolas e favorecer a melhoria da qualidade
da aprendizagem de seus alunos, procurando
garantir uma base comum de conhecimentos e
competências para que as escolas funcionem de
fato como uma rede (SÃO PAULO, 2008).
O documento aborda algumas das
principais características da
sociedade do conhecimento e das
pressões que a contemporaneidade
exerce sobre os jovens cidadãos,
propondo princípios orientadores
para a prática educativa, a fim de
que as escolas possam se tornar
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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aptas a preparar seus alunos para
esse novo tempo. Priorizando a
competência de leitura e escrita,
esta proposta define a escola como
espaço de cultura e de articulação
de competência e conteúdos
disciplinares (SÃO PAULO, 2008,
p.08).
Esta Proposta Curricular constituída no
Governo José Serra, por intermédio da Secretária
da Educação, Maria Helena Guimarães de
Castro, e organizada pelos desenvolvedores do
conteúdo programático da disciplina de
Educação Física: Adalberto dos Santos Souza,
Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches
Neto, Mauro Betti e Sérgio Roberto Silveira, tem
como destaque a “cultura de movimento” que
devem ser tratados pedagogicamente como
conteúdos culturais implicados com o
movimentar-se humano, nessa ideia, a Proposta
Curricular está vinculada aos aspectos corporais
como os jogos, a ginástica, as danças e
atividades rítmicas, as lutas e os esportes (SÃO
PAULO, 2008).
A Proposta Curricular é um conjunto de
documentos dirigidos especialmente aos
professores. São os Cadernos do Professor,
organizados por bimestres e por disciplinas, onde
são apresentadas situações de aprendizagem
para orientar o trabalho do professor no ensino
dos conteúdos disciplinares específicos (SÃO
PAULO, 2008).
A Proposta Curricular tem como
objetivos:
· A escola que também aprende, num
contexto onde a aprendizagem terá que ser
trabalhada com os alunos e com a própria escola,
sendo professores e alunos envolvidos num
processo educativo.
· O Currículo como espaço de cultura, o
conhecimento deve estar relacionado à cultura
para que possamos conectar o Currículo à vida do
aluno, as atividades que estão fora do contexto
cultural irão confundir ao invés de promover
aprendizagens relevantes aos alunos.
· Promover competências, que são
conceituadas pela Proposta Curricular como o
modo de ser, raciocinar e interagir do aluno. Pode
ser compreendida por ações e tomada de decisão
em diversas situações problemáticas, na
realização de tarefas e atividades escolares.
· As competências como referência para
promover um Currículo com compromisso das
disciplinas e atividades relacionadas com o que
se espera que o aluno aprenda ao longo dos
anos.
· Prioridade para a competência da
leitura e da escrita, o ser humano é um ser de
linguagem e disso decorre todo o restante que
transformou a humanidade com a capacidade de
comunicar-se.
· Articulação das competências para
aprender, o professor apresenta e explica
conteúdos, organiza conceitos, métodos, formas
de agir e pensar com o intuito de preparar os
alunos para enfrentar os problemas do mundo
real.
A articulação com o mundo do trabalho
está direcionada de acordo com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394, de
1996 (LDB) nos termos do artigo 35° e as
recomendações dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o Ensino Médio
elaborados no ano de 2000, podendo ser usado
para a Educação Básica como um todo,
principalmente a partir da 5ª série.
A FUNÇÃO DO EDUCADOR DIANTE DO
CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO
A construção de propostas curriculares é
um ato necessário, uma vez que possibilita a
reestruturação do cenário educacional para uma
melhor qualidade da Educação. No entanto,
essas inovações devem ser realizadas após
diversas reflexões e adaptações devendo ser
considerados a cultura e os diferentes agentes
envolvidos neste processo (TAVARES, 2009).
Para Saviani (2009), é necessário
analisar como estão a situação e o funcionamento
das escolas através de relatórios, planos de
aulas, cadernos dos alunos, enfim todo material
que possa ser útil para o diagnóstico da realidade
escolar, mas em especial, os professores e
alunos merecem ser ouvidos com atenção,
porque são os principais agentes do processo
educativo.
O professor e o aluno devem ser
considerados semelhantes, de modo que ambos
estão no mesmo nível enquanto seres humanos,
aprendendo um com o outro. A relação entre
professor e aluno deve proporcionar uma troca de
informações e conhecimentos (BEZERRA NETO;
BEZERRA e JACOMELI, 2009).
Todos os métodos e ferramentas
tecnológicas devem ser utilizados na Educação,
possibilitando a construção de uma rede
educacional onde todos possam ter uma
Educação de qualidade, com espaço físico
adequado, tendo respeito, preparação e a
valorização dos educadores (SANFELICE;
MINTO e LOMBARDI, 2009).
A formação dos professores está
relacionada com o trabalho docente das agências
formadoras, estas instituições de ensino superior
formam profissionais que retornarão para as
redes escolares, dando sequência ao ciclo de
ensino e utilizando a formação que tiveram em
sua graduação. Portanto, se não houver
prioridades na realização de cursos adequados,
consequentemente resultará em formações de
profissionais insatisfeitos para atuarem na rede
de ensino. As condições de trabalho e as
experiências práticas nas escolas influenciam
diretamente a sua formação em processo, por
isso a importância da realização dos estágios
(SAVIANI, 2009).
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
95
Saviani (2009) afirma ainda que o grande
desafio é conseguir atingir formações de
professores e condições de trabalho adequadas,
sendo que são necessários recursos financeiros
suficientes ao mesmo tempo que as políticas
estão sempre buscando a redução de custos,
cortando investimentos que poderiam tornar
possíveis os que proclamam necessário, uma
sociedade em busca do conhecimento. Fica
evidente a falta de investimento e o descaso com
fundos necessários para o desenvolvimento da
Educação.
O papel do professor é fundamental para
o desenvolvimento do aluno, de maneira que
facilite o acesso ao conhecimento. O docente tem
uma compreensão de mundo de acordo com a
sua área de atuação, especialidade científica e o
conhecimento pedagógico, juntamente com uma
visão crítica da sociedade, produzindo
conhecimento sobre a sua área e sobre a
sociedade (SARNO; CANCELLIERO, 2009).
Pautando-se no contexto acima, o
profissional de Educação, em determinados
momentos, parece sentir-se apenas um
reprodutor das funções que querem lhe impor,
aparentando um descontentamento por seu papel
de professor, é como se não tivesse a capacidade
de assumir a sua função com autonomia.
Para Luckesi (2005), a maior revolução
que podemos esperar da Educação é que ela
amplie a consciência dos alunos, e que os
governantes invistam em recursos econômicos
necessários, reconhecendo a necessidade para a
prática significativa da Educação, oferecendo
condições adequadas com espaços físicos
satisfatórios, material didático adequado, salário
digno para os professores, e que os educadores
ensinem acreditando no processo de
aprendizagem em busca de resultados
satisfatórios a serem construídos. Que todas as
estruturas da Educação cumpram os seus
objetivos, que a principal finalidade seja a
aprendizagem dos alunos.
Para Bryman (1992 apud FLICK, 2009) a
pesquisa qualitativa pode apoiar a pesquisa
quantitativa e vice-versa, as duas estão ligadas
com o intuito de fornecer uma visão geral do
estudo. As estruturas são analisadas pelos
métodos quantitativos enquanto que os aspectos
processuais são analisados pelo método
qualitativo. Os pesquisadores trabalham na
perspectiva da abordagem quantitativa, enquanto
que os sujeitos avaliados se enquadram na
abordagem qualitativa, expressando suas
opiniões ou ponto de vista sobre o assunto. No
decorrer da pesquisa, uma determinada
abordagem pode ser mais adequada para o
momento, mas a combinação da pesquisa
quantitativa com a pesquisa qualitativa é
essencial para o esclarecimento do estudo.
De acordo com Martins e Campos (2004),
o foco da pesquisa qualitativa é o processo e não
o produto, procurando retratar o ponto de vista
dos participantes. Este estudo tem a finalidade de
investigar o contexto cultural, interpretando a
maneira de como essas pessoas se comportam
nesse contexto.
O questionário foi aplicado na primeira
quinzena de maio, em visita às escolas e em
contato direto com os alunos do terceiro ano do
Ensino Médio.
As questões foram elaboradas pelos
pesquisadores, tendo como foco a opinião dos
alunos sobre a utilização do Currículo do Estado
de São Paulo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Apresentaremos neste momento os
resultados do questionário aplicado aos alunos do
terceiro ano do Ensino Médio da Rede Estadual
do Estado de São Paulo nas escolas da cidade de
Américo de Campos e Gastão Vidigal.
METODOLOGIA
AMOSTRA
Os participantes desta pesquisa 40)
discentes do terceiro ano do Ensino Médio de
ambos os sexos, realizado em duas (2) escolas
da rede estadual no município de Américo de
Campos/SP e Gastão Vidigal /SP.
Os discentes que participaram do estudo
vivenciaram as aulas antes da implantação do
Currículo do Estado de São Paulo, enquanto os
mesmos estudavam no 9º ano do Ensino
Fundamental, tendo a experiência da Educação
Física sem a utilização desse novo Currículo.
PROCEDIMENTOS
Foi realizada uma pesquisa de campo, de
forma quantitativa e qualitativa, com a intenção de
coletar dados, através de um questionário
contendo duas (2) questões.
Figura 1 – Alunos que participam das atividades de
Educação Física.
Podemos observar nesta questão que em
média mais de 97% desses alunos participam das
atividades de Educação Física.
Como podemos observar nessas
escolas, a Educação Física pode estar
proporcionando um ambiente escolar atraente,
sendo assim, a participação dos alunos nas
atividades contribui para a permanência dos
mesmos na escola.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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De acordo com a pesquisa realizada por
Engel (2011), um dos motivos relatados por
alunos que abandonaram o Ensino Médio é a falta
de qualidade no trabalho dos professores, os
discentes querem um ambiente escolar mais
dinâmico e inovador. Tomando conhecimento dos
problemas, é preciso encontrar alternativas para
tornar a escola mais atraente e interessante para
os jovens.
Figura 2 – Alunos que gostam das aulas de
Educação Física.
Nesta questão é possível verificar que
95% desses discentes gostam das aulas de
Educação Física, isso pode ser relacionado com
as questões levantadas anteriormente, os alunos
estão participando das atividades reconhecendo
a importância que esta disciplina tem na formação
deles, isso pode contribuir muito para que esses
estudantes tenham um estilo de vida saudável,
pois para Betti e Zuliani (2002), as condições
socioeconômicas, informatização e a falta de
espaços públicos adequados para o lazer, levam
um grande número de pessoas ao sedentarismo,
à alimentação inadequada e ao estresse. É cada
vez maior o tempo que as pessoas passam à
frente da televisão, especialmente as crianças e
adolescentes, diminuindo a atividade motora,
levando ao abandono da cultura de jogos infantis,
e substituindo a experiência de praticar esporte
pela de assistir esporte.
Podemos considerar o importante papel
que a Educação Física escolar tem para a
sociedade, não é tornar o aluno um atleta, mas
utilizar o esporte, ginástica, atividade rítmica e o
exercício físico como ferramentas que possam
fazer o educando gostar das atividades
relacionadas à Educação Física e, ainda de
acordo com Betti e Zuliani (2002), o professor
deve auxiliar o estudante a compreender o seu
sentir e a sua relação com a cultura corporal de
movimento, fazendo com que o aluno reflita sobre
práticas corporais adequadas, as que
proporcionam o bem-estar e quais as condições
que a sociedade oferece para se praticar essas
atividades.
CONCLUSÃO
De acordo com este estudo, a conclusão
é que os alunos gostam de participar das
atividades do currículo de educação física, mas
ainda existem por parte dos alunos alguns
aspectos da “antiga” Educação Física (antes do
currículo atual), que visava uma maior prática
esportiva dentro da escola.
Acreditamos que as inovações de
conteúdos proporcionaram aos estudantes uma
mudança positiva, possibilitando uma maior
participação dos alunos. Diante disso, Betti e
Zuliani (2002) pronunciam que o significado de
inovar, é experimentar novos modelos,
estratégias, metodologias, conteúdos, para que a
Educação Física continue contribuindo para a
formação dos jovens, para que eles possam
apropriar-se de maneira crítica da cultura
contemporânea.
Apesar de tudo, a escola é sinônimo de
esperança, por isso estimula diversos
educadores a prosseguir analisando e
i n t e r p r e t a n d o a r e a l i d a d e e s c o l a r,
experimentando alternativas e compartilhando
suas descobertas (NEIRA; NUNES, 2009).
Consideramos necessário que a partir
deste estudo, possam realizar-se novas
pesquisas investigando, e discutindo o contexto
escolar que a Educação Física do Estado de São
Paulo está inserida, para a reflexão de práticas
pedagógicas adequadas.
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
98
O JOVEM-ATLETA DE FUTEBOL: A DESMOTIVAÇÃO NA RELAÇÃO CONJUNTA DO
TREINAMENTO E DA VIDA ESCOLAR.
João André Bernini Monteiro¹, Paulo José Moraes De Paula Santos¹, Paulo Gerson Caetano Filho¹,
Pedro Ferreira Rigotti Chaves¹, Rayama Dwija Szajnweld da Silva¹.
¹ESC - Escola Superior de Cruzeiro
RESUMO
O futebol é o esporte mais praticado em todo mundo e, também, no Brasil. Além de mais praticado, atrai pessoas pelas
suas várias maneiras de se trabalhar e pela possibilidade de se conseguir estabilidade financeira e sucesso como
profissional. Em geral, toda a espetacularização do futebol desperta nas crianças, adolescentes e jovens o desejo de
jogar futebol profissionalmente, porém, também desperta o desinteresse escolar, quando a pressão para se chegar ao
sucesso no esporte começa a interferir no processo educacional. Embora saber que a educação escolar é de extrema
importância para o jovem, sugere-se que ele próprio não tem totalmente uma noção de como a escola fará falta pra ele
posteriormente, aumentando, deste modo, a possibilidade da sua evasão escolar, fator contribuinte para, mesmo que
num futuro de sucesso na carreira como jogador, grandes conturbações em sua vida, ou mesmo no caso de uma
frustação em sua carreira profissional, uma seguinte decepção por não ter uma outra opção de profissão e de sustento.
Assim, a pesquisa tem a finalidade de analisar a motivação dos alunos-atletas ao se manter a vida escolar em conjunto
com a vida de treinamentos no futebol, analisar a relação do treinamento com a assiduidade, empenho e interesse em
âmbito escolar, e verificar os motivos que levam o aluno-atleta ao desinteresse e desmotivação ao se deparar com a
realidade do ambiente escolar que frequenta.
Palavras chave: futebol, motivação, escolar.
ABSTRACT
Football is the most practiced sport worldwide and also in Brazil. Besides being more committed, attracts people for their
various ways of working and the possibility of achieving financial stability and success as a professional. In general, the
whole spectacle of soccer arouses in children, adolescents and young people the desire to play football professionally,
but also awakens the disinterest school, when the pressure to achieve success in the sport begins to interfere with the
educational process. Although knowing that education is extremely important for the young, suggests that he himself
does not fully a sense of how the school will be missing him later, increasing thus the possibility of dropping out,
contributing factor to even if a future successful career as a player, major disruptions in your life, or even in the case of a
frustration in his career, following a disappointment for not having another choice of profession and livelihood. The
research aims to analyze the motivation of student-athletes to keep school life along with life in football training, analyze
the relationship between training attendance, commitment and interest in the school, and check the reasons why the
student-athlete to the interest and motivation when faced with the reality of the school they attend.
Keywords: football, motivation, school.
INTRODUÇÃO
O futebol é o esporte mais popular do
planeta, praticado com vários objetivos como
prazer, saúde, profissão (HERNANDEZ, 2004,
apud SANTOS, 2010). No Brasil, toda a
espetacularização do futebol desperta em
crianças, jovens e adolescentes o desejo de jogálo profissionalmente, o que explica o início da vida
esportiva pelo futebol.
Através do crescimento desordenado
dos grandes centros, surgiu uma problemática
para a sociedade, desapareceram as áreas de
lazer, as praças, bosques, jardins além dos
campos de várzea (VENLIOLES, 2001). Com
isso surgiu o interesse e necessidade de tentar se
ensinar futebol nas escolas.
Na escola, o esporte, como o futebol,
deve ser orientado para a participação, a
integração e a socialização, considerando que o
trabalho básico de formação seja realizado no
período escolar, sempre representando os
interesses e as necessidades das crianças, tendo
em consideração que se trata da época para se
desenvolver todas as capacidades motoras e
coordenativas de uma forma geral, criando uma
base ampla e variada de movimentações que
ressaltam o aspecto lúdico (GRECO; BENDA,
2001).
Sem dúvida, o jogo deve estar presente
no aprendizado, no entanto, deve ser acentuado
nele seu caráter lúdico e participativo. Deste
modo, a participação como prioridade implica na
socialização, no lazer, na educação e nos valores
culturais interativos que na infância é de
grandíssimo valor (PAES, 1996). Cada vez que
um indivíduo se encontra em uma determinada
situação, ou recebe um dado estímulo,
automaticamente, ele seleciona todas as
respostas correspondentes àquela situação que
estão em sua lembrança, o que, por sua vez,
direciona o seu comportamento de ação. A
resposta oferecida pelo ambiente será somada
às respostas anteriores, modificando ou
reforçando determinados valores (MORENO,
2006).
Nesta óptica, os treinadores
desenvolveriam uma função mais importante do
que revelar crianças para o esporte, e sim,
prepará-las para a vida, possibilitando-lhes
alegria e oportunidade de vivenciar relações
afetivas com seu grupo de trabalho (PAES,
1996).
De acordo com Guedes (1982, apud
VENLIOLES, 2001), a socialização de crianças
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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em relação às escolas vem sendo muito
importante na prática esportiva, pois o
aprendizado da técnica do futebol se inicia com
um jogo sem regras, de caráter lúdico.
Porém, Brandão (2000, apud SANTOS,
2010), destaca que, geralmente, o ingresso na
categoria de base de um clube ocorre muito cedo,
fazendo com que a criança ou adolescente passe
um tempo demasiadamente longo treinando para,
quem sabe, tornar-se atleta profissional.
Deste modo, o futebol exige que o jovematleta lide com diversas situações que podem
provocar estresse. Essa pressão que o jovematleta sofre, está vinculado justamente em sua
estrutura psicológica que, ainda, é vulnerável
(BRANDÃO, 2000 apud FILGUEIRA, 2005). Por
isso, talvez um dos maiores erros encontrados
hoje em dia nas escolas de futebol seja o de não
estarem respeitando os alunos no que diz
respeito às várias faixas etárias, impedindo-os de
passarem, num processo de progressão de
experiências, que servirão de fonte de
processamento de informações (VENLIOLES,
2001).
O alto nível da categoria profissional é a
ultima de várias etapas que o atleta precisa
atingir, e grande parte dos que tentam traçar o
futebol como objetivo na vida acabam desistindo
ou sendo obrigados a desistir, antes de atingir
essa etapa, pois, principalmente em nosso país, o
processo de seleção de atletas obtém extrema
competitividade, exigências e pressões, e para
alcançar seus objetivos, o jovem deve ter além de
talentos naturais, qualidades técnicas, físicas e
psicológicas, determinantes para seu
desempenho esportivo (BRANDÂO, 2000 apud
SANTOS, 2010).
Para isso, tanto os pais quanto os
professores influenciam diretamente na maneira
com que colocam o esporte para suas crianças, e
os professores, logicamente, têm uma
responsabilidade muito maior, porque tem
obrigação de saber sobre o nível de maturação de
suas crianças, sobre como elas encaram o
esporte e até se tiveram influências dos pais
(APOLO, 2007). Por sua vez, os pais matriculam
seus filhos em escolinhas de futebol visando
aspectos futuros e esquecem-se da
aprendizagem social e educacional da criança.
Essa defasagem educacional que a
criança sofre, pode originar um quadro de
profunda perda, uma vez que a realidade escolar
constitui um espaço com objetivos específicos
dirigidos aos processos de ensinar e aprender.
Acredita-se que ao ingressar na escola, quando
houver a iniciativa própria do aprendizado, o
aluno será um sujeito melhor, modificado, mais
capaz e preparado para enfrentar o mundo.
Dependendo também da pedagogia utilizada,
essa evolução pode ser em função dos
conhecimentos assimilados pelo aluno que lhe
serão úteis para “vencer na vida”, ou de
transformações qualitativas construtoras da
identidade do discente, na qual também é
considerado o aspecto cognitivo (MORAES,
2006).
No Brasil, as dificuldades de
aprendizagem são centrais no complexo
fenômeno fracasso escolar, caracterizado por um
alto índice de repetição e de evasão escolar (Patt,
1993 apud Boruchovitch, 2007). Assim, o
fracasso escolar tem sido um dos temas mais
discutidos e explorados pela literatura cientifica,
sendo possível constatar que, apesar de não se
tratar de uma questão nova, trata-se de uma
questão não resolvida (ROSSINI; SANTOS,
2007).
Não há duvida, entretanto, de que as
dificuldades de aprendizagem só podem ser
entendidas na complexa interação entre os
fatores intra e extraescolares, requerendo
intervenção tanto no âmbito do aluno, das
praticas pedagógicas e de formação de
professores, quanto a diversas mudanças de
natureza política econômica e social
(BORUCHOVITCH, 2007).
É de suma importância ressaltar que
alunos desmotivados estudam muito pouco ou
nada e, consequentemente, aprendem muito
pouco .Considera-se, ainda, que o próprio
potencial de cada um dependa
consideravelmente das aprendizagens escolares
de modo que aprimora diversas funções tanto no
contexto psicológico como físico e social de cada
um (NICHOLLS, 1984 apud BORUCHOVITCH,
2001).
Muitas vezes, isto pode acontecer em
razão do alto nível de exigência do docente ou
mesmo ao contrário, pelo baixo nível de
atividades, o que seria relativo aos alunos que
estivessem mais adiantados no seu
desenvolvimento físico, como no caso específico
de atletas (MACHADO, 1997).
Esses aspectos, como pertencentes a um
conjunto de fatores desmotivantes, promovem a
perda do interesse escolar dos jovens atletas que
iniciam os treinamentos nas escolas e centros de
treinamento de futebol.
O objetivo deste estudo é verificar a
motivação e o empenho que o jovem-atleta dá
para a sua vida escolar quando em conjunto com
sua carreira no treinamento do futebol.
DESCRIÇÃO METODOLÓGICA
Este estudo é uma pesquisa descritiva
qualitativa.
AMOSTRA
Para a realização desta pesquisa
contamos com a participação 20 atletas
correspondente a faixa etária de 15 a 17 anos do
sexo masculino da ASSOCIÇÃO ESPORTIVA
CRUZEIRO (AEC) sediada na cidade de
Cruzeiro, devidamente autorizados a participar da
entrevista após preenchimento de um termo de
consentimento livre entregue aos responsáveis.
MATERIAIS
Foi utilizado na coleta de dados, um
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
100
roteiro para entrevista estruturada e
desenvolvida de acordo com o objetivo da
pesquisa, contendo perguntas fechadas e de
múltipla escolha. Para a anotação das respostas,
utilizamos caneta, um questionário para cada
atleta e pranchetas.
PROCEDIMENTOS
Foi aplicada para coleta de dados, uma
entrevista estruturada individualmente.
Na primeira visita ao clube, foi solicitado
permissão ao treinador para a realização da
entrevista. Depois da deliberação positiva à
pesquisa do responsável pelo treinamento, foram
entregues os termos de consentimento aos
jovens-atletas para que pudessem entregar aos
pais ou para o responsável legal. Após uma
semana, ao receber todos os termos de
consentimento assinados pelos pais ou pelo
responsável legal, foi realizada a entrevista no
período de treinamento em dia normal, no banco
de reservas, atleta por atleta, de forma individual.
Os dados foram analisados logo em
seguida a coleta e demonstrados em gráficos.
Podemos sugerir que a motivação é uma
variável-chave para a aprendizagem. Sem
duvida o professor pode contribuir sobremaneira
para minimizar as dificuldades de aprendizagem
e aumentar a motivação de seus alunos (SISTO,
et al 2007), considerando também que essa falta
de motivação para frequentar a escola ocorra
pelo fato de haver níveis diferenciados na relação
da escola com a realidade, que podem tornar o
interesse maior ou menor, fazendo com que a
escola se apresente como uma instituição
imutável, acima das possibilidades de
intervenção daqueles que a frequentam,
havendo a necessidade
de pessoas que
conheçam a realidade cultural e social dos locais
das instituições estarem envolvidas na
elaboração de conhecimentos e de práticas que
visem a transformar, positivamente esta
realidade ( KRUPPA, 1994).
Sem motivação, é inevitável que o
desempenho do aluno-atleta seja inferior ao
requerido como satisfatório pela escola, e, como
consequência, a reprovação torna-se um
importante fator a ser analisado.
ANÁLISE DE DADOS
Os dados foram analisados em valores
relativos (percentuais).
RESULTADOS
Todos os alunos-atletas da pesquisa
estão regularmente matriculados na escola e,
quando questionados acerca da assiduidade nas
aulas, 75% da amostra afirmou que atualmente
falta a aula pelo menos uma vez na semana.
Do total da amostra de alunos-atletas,
40%
afirmou já ter sido reprovado pelo menos
uma vez na escola. Analisa-se um índice alto de
reprovação, mesmo não sendo o valor
majoritário, e os motivos principais são
demonstrados no gráfico a seguir.
Verificou-se que o cansaço e/ou a falta de
motivação são os fatores determinantes na
frequência escolar do aluno-atleta.
Nota-se que os dois fatores
predominantes, demonstrados no gráfico, para
as causas de reprovação (excesso de faltas e a
falta de empenho escolar), podem estar ligados
ao mesmo problema: a falta de motivação para
estudar.
Como apontam Urdan, Midgley e
Anderman (1998, apud SISTO et al, 2007) alunos
motivados, em geral, são marcados pelo
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
101
interesse de busca, pelo esforço, pela
persistência e pelo engajamento em atividades
acadêmicas. Em contraste, estudantes
desmotivados não se esforçam intencionalmente,
resistem em procurar ajuda e desistem facilmente
diante de desafios e dificuldades.
Com os alunos-atletas desmotivados,
indaga-se se a prática como treinamento do
futebol vem a atrapalhar no rendimento escolar da
amostra.
Como resultado da questão, tivemos os
seguintes dados:
Num total da amostra, constatou-se que
na visão de 95% dos alunos-atletas, o futebol não
vem a interferir no rendimento escolar. Relataouse que o rendimento escolar e o futebol não são
fatores concorrentes entre si.
Porém, desmotivados, os alunos-atletas,
quando questionados sobre a prioridade atual
entre o futebol e a escola, responderam, de forma
majoritária, que preferem enfatizar e priorizar o
treinamento do futebol do que a sua educação em
nível escolar.
Essa priorização do treinamento do
futebol pode ocorrer em fator de objetivos que o
jovens, e respectivamente seus familiares, traçam
através do que se pode conquistar com o futebol.
Constata-se, ainda, que grande parte dos
jovens que tem objetivo de se profissionalizar com
intuito de ganhar dinheiro e se tornarem famosos,
pode ser reflexo das possibilidades de negocio do
futebol já que esse esporte se tornou uma
maneira de conseguir ascensão social e
financeira para muitos daqueles que buscam sua
pratica profissional ( BIELINSKI, 1999).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente estudo, podemos
observar que quando o jovem tem a possibilidade
de se desenvolver como atleta de futebol
profissional, motivado, muitas vezes, por desejos
socioeconômicos, sua desmotivação pela vida
escolar torna-se vigente.
A desmotivação em ir à escola,
desencadeada pela falta de adequação do
sistema educacional para com a realidade do
aluno-atleta, faz com que outras realidades se
tornem mais próximas e mais interessantes ao
estudante que treina futebol, uma vez que se vê
tentado por sonhos e promessas de uma vida
promissora, de fama e estabilidade.
Nota-se que sem o interesse pela sua
educação escolar, o aluno-atleta sofre baixa em
seu empenho na escola, deixa de freqüentar as
aulas, e, conseqüentemente, acaba sendo
reprovado, perdendo um ano letivo e atrasando a
sua educação básica.
Com nível alto de reprovação, questionase se o futebol como treinamento interfere no
rendimento escolar do aluno-atleta. Os dados da
pesquisa sugerem que essa relação é pouco
provável, mas que, mesmo com baixa
probabilidade, o jovem atleta prefere e prioriza,
motivado pelo sucesso, sua incerta carreira
esportiva.
Delibera-se que a desmotivação escolar
do aluno dê-se pela falta de adequação do
sistema educacional que, longe de inserir o
contexto real do aluno-atleta, é inflexível,
desinteressante e com baixa perspectiva, quando
comparado aos deleites do sucesso esportivo da
vida dum jogador de futebol.
Sugere-se que, em âmbito escolar, o
professor de educação física, como sendo o
professor mais próximo na relação treinamento e
vida escolar, ciente de tais condições, certifiquese da realidade existente entre a possibilidade de
sucesso na carreira esportiva e o desinteresse do
jovem-atleta pela vida escolar, para que possa
melhor orientar seus alunos-atletas, motivandoos a seguir na vida esportiva em conjunto com
fundamental vida escolar.
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VENLIOLES, F. M. ESCOLA DE FUTEBOL, Rio
de Janeiro Sprint, 2001.
João André Bernini Monteiro
Rua Ruy Cotrim, 235 – Vila Paulo Romeu –
CEP. 12710-570
[email protected]
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ESTUDO DAS INTERFERÊNCIAS DA ANSIEDADE NO ESTADO PSICOLÓGICO DE ATLETAS
JUNIORES DE FUTEBOL
Lucas Ribeiro Cecarelli¹, Altair Moioli², Afonso Antonio Machado¹
1-UNESP/IB/DEF/LEPESPE; 2- UNIRP/LEPESPE
RESUMO
Muitos jovens sonham em se tornar em se tornar grandes craques e conseguir sucesso, dinheiro e reconhecimento por
meio do futebol e uma das principais competições para estes é a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Sabemos que um
dos fatores que mais afetam os atletas é a ansiedade e está diretamente ligado a diversos aspectos que provocam um
aumento da ansiedade. O objetivo deste estudo foi analisar o nível de ansiedade pré competitiva nos atletas de uma
equipe no decorrer da primeira fase da competição, composta de três partidas. A amostra utilizada foi de vinte atletas do
sexo masculino, na faixa etária entre dezesseis e dezoito anos. Foram utilizados documentos armazenados nos Bancos
de Dados do LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte), do DEF-IB-UNESP, campus de
Rio Claro obtidos através da utilização de um questionário adaptado do CSAI2 com questões fechadas, aplicado aos
atletas em momento antecessor à partida. Qual partida desencadeou nos atletas maior nível de ansiedade? Quais os
principais aspectos psicológicos que interferem e se relacionam com a ansiedade? Analisando os dados obtidos nos
questionários, nota-se que a última partida, que reportava a possibilidade de avanço para a fase seguinte ou
desclassificação da competição, desencadeou maiores níveis de ansiedade no grupo de atletas pesquisado. Percebemse fatores e aspectos situacionais que podem contribuir para a alteração nos níveis da ansiedade. Destaca-se também a
importância da presença de um profissional da Psicologia do Esporte para fazer o acompanhamento das equipes nesta
competição buscando um planejamento e o trabalho com os atletas, visando estratégias para melhorar o desempenho
dos clubes.
Palavras-chave: Ansiedade. Futebol. Psicologia do Esporte. Juniores. Copa São Paulo de Futebol Junior.
ABSTRACT
Many youth people dreams to become a great players and achieve success, money and acknowledgment through the
football and one of the most important competition for these is the Copa São Paulo de Futebol Júnior.We know that one of
the many factors that affect the athletes is the anxiety and are linked to several aspects that causes an increase in anxiety.
The objective of this study was to analyze the level of pre-competitive anxiety in athletes of a team during the first phase of
the competition, consisting on three matches. Twenty men athletes participated in the study, aged between sixteen and
eighteen. We used documents stored in Databases of LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do
Esporte), DEF-IB-UNESP, Rio Claro obtained using a questionnaire adapted from CSAI2 with closed questions, applied
to athletes in the predecessor starting time. What game triggered higher level of anxiety? What are the main
psychological aspects that affect and link to the anxiety? Analyzing the results obtained with the questionnaires, we note
that the last match, which reported the possibility of advancing to the next phase or disqualification from the competition,
triggered higher levels of anxiety in the group of athletes studied. Are perceived factors and situational aspects that may
contribute to the change in levels of anxiety. Contrasts too the importance of the presence of a Sport Psychology
professional to do the monitoring of the teams in the competition looking for a planning and working with athletes, seeking
strategies to improve the performance of clubs.
Keywords: Anxiety. Soccer. Sport Psychology. São Paulo Juniors Soccer Cup.
INTRODUÇÃO
O futebol é reconhecidamente o esporte
mais praticado no mundo, agregando valores nos
âmbitos educacionais, econômicos, políticos e
culturais. Em 2010, como produto da indústria do
entretenimento, este setor movimentou mais de
dois bilhões de reais (DACAL, 2010) em produtos
comercializados, ações de marketing, direitos de
imagem e transferências de atletas.
Culturalmente representa uma das
manifestações mais significativas que envolve
sensações e emoções que alteram o
comportamento tanto dos praticantes quanto dos
expectadores.
Este mundo de sonhos e fantasias
contribui para que muitos jovens sonhem
alcançar o status de ídolo esportivo, tornando-se
grandes craques. Esta meta possibilita a
conquista de sucesso, dinheiro e reconhecimento
por meio deste esporte.
Em razão de diversos fatores, intra e
extra-campo, é que os aspectos psicológicos
alteram o desempenho dos atletas e podem
influenciar no resultado da partida.
Para alcançar um estágio que permita ao
atleta conseguir estabilidade profissional para
chegar à condição de ídolo, o jovem esportista
passa necessariamente por momentos desgaste
físico e psicológico. São momentos de avaliação,
nos quais são colocados à prova a capacidade do
indivíduo de superar as adversidades e, assim,
tornar-se o atleta desejado.
Para tanto, a Copa São Paulo de Futebol
Junior se apresenta como um evento que agrega
as características necessárias para esta
exposição, pois é considerada pelos setores
especializados como a maior, mais conhecida e
disputada competição de futebol para atletas
juniores do Brasil.
Nesse sentido, os jovens atletas que têm
a possibilidade de se apresentar para setores
especializados como a imprensa, agentes,
empresários, técnicos das equipes profissionais,
e assim, carimbar o passaporte para o mundo de
glorias do futebol, são lançados a elevados níveis
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de cobrança, pessoal e coletivo, que alteram os
estados emocionais.
Um dos fatores que mais podem
prejudicar o desempenho dos atletas é um estado
de ansiedade elevado. A alteração do estado de
ansiedade está diretamente ligada à importância
da competição, da partida, distância de casa,
viagens, mudança de hábitos, adaptação ao
clima, entre outros aspectos que provocam um
desequilíbrio emocional.
Desta maneira, por meio de uma
pesquisa documental e investigando dados
armazenados no Banco de Dados do LEPESPE
(Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Psicologia do Esporte), do DEF-IB-UNESP,
campus de Rio Claro, foi possível analisar um
conjunto de elementos que possibilitam o
entendimento da questão.
Ao percebermos o teor do trabalho
realizado, somos pontuais em dizer que temos
possibilidade de oferecer novos elementos e
perspectivas de trabalho para técnicos, atletas e
profissionais do esporte, no que diz respeito à
Psicologia do Esporte, colaborando para o
emprego desta ciência junto à iniciação esportivo
e ao treinamento especializado.
OBJETIVO
Analisar a interferência da ansiedade sob
o estado psicológico e sua relação com o
desempenho dos atletas juniores de uma equipe
de futebol durante as três primeiras partidas da
primeira fase Copa São Paulo Junior.
MATERIAIS E MÉTODOS
Apresentaremos aqui, aquilo que foi feito
na coleta dos dados, que resultou nos
documentos analisados, em nossa pesquisa
documental. Então, a pesquisa foi de natureza
aplicada, destinada a solucionar problemas
específicos. A abordagem do problema teve um
viés qualitativo, que de acordo com Goetz e
LeCompte (1988 apud THOMAS, J.R; NELSON,
J.K. & SILVERMAN, S.J., 2007, p.30 ) é um
método sistemático de investigação, que segue o
modelo científico de solução de problemas, no
qual os instrumentos de coleta de dados podem
ser: observação, entrevistas e instrumentos
elaborados pelos próprios pesquisadores.
Conforme sugere Haguette (2003), a
pesquisa qualitativa pode fornecer uma
compreensão significativa de determinados
fenômenos sociais. Assim, considerando o
esporte como um dos fenômenos sociais mais
relevantes das últimas décadas, verifica-se que a
metodologia proposta se adéqua aos objetivos do
trabalho.
Do ponto de vista de seus objetivos,
segundo Silva (2001), a pesquisa qualitativa
possibilita analisar o problema de maneira
descritiva e exploratória.
De acordo com estas definições, os
procedimentos metodológicos envolveram um
minucioso levantamento bibliográfico, uma
pesquisa de campo com entrevistas e a aplicação
de um questionário semi-estruturado, com a
participação de pessoas que tiveram (ou tem)
experiências práticas com o problema
pesquisado.
A amostra utilizada foi de vinte atletas do
sexo masculino, na faixa etária entre dezesseis e
dezoito anos, representantes de um clube de
futebol que disputaram a primeira fase da Copa
São Paulo de Futebol Júnior, na cidade de Rio
Claro-SP no mês de janeiro de 2010.
Assim, foi utilizado um questionário
adaptado do CSAI2 (MARTENS et.al. 1990), com
questões fechadas, aplicado aos atletas em
momento anterior à partida.
O questionário é formado por vinte
indagações e quatro opções de resposta,
enumeradas de 1 a 4 e, cada qual com seu valor,
sendo: 1 = Absolutamente não, 2 = Um pouco, 3 =
Bastante e 4 = Muitíssimo; no qual o aluno
respondeu como se sentia naquele exato
momento.
Inicialmente foi realizado um contato com
os integrantes da comissão técnica da equipe,
solicitando autorização e apoio para a aplicação
do questionário. Ficou esclarecido que este
trabalho não iria interferir na rotina de preparação
para a partida.
RESULTADOS
Os resultados deste estudo serão
apresentados em 20 blocos, representados pelas
perguntas do questionário, constituídos da
apresentação, análise e discussão dos dados
obtidos na coleta de dados.
A discussão terá início pela questão que
traz o tema central desta pesquisa que é
apresentada no gráfico 1 (sinto-me ansioso)
buscando a compreensão da oscilação do nível
de ansiedade no decorrer da competição.
A partir desta análise serão utilizados os
dados das outras respostas (que poderão ser
vistas nos gráficos de 2 a 20) para entender as
influências da ansiedade sob estes outros
estados psicológicos e suas interelações com
outras variáveis advindas do contexto esportivo.
Gráfico 1 - Relativo à ansiedade-estado resultante
da pergunta 9 do questionário.
Nota-se a partir deste gráfico, que para
alguns atletas da equipe a última e decisiva
partida não foi motivo para que tivessem um
aumento na ansiedade estado, possivelmente
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por terem como último adversário a equipe mais
fraca do grupo que já estava desclassificada da
competição e por terem confiança na
possibilidade da vitória; enquanto para outros o
fato de precisar vencer e o resultado negativo na
partida anterior apontam como possíveis fatores
suficientes para causar um alto índice ansiolítico.
Gráfico 2 - Relativo ao sentimento de calma
resultante da pergunta 1 do questionário
A partir do gráfico exposto acima é
possível perceber que entre os atletas
participantes da pesquisa apenas 5%
responderam estar se sentindo absolutamente
não calmos (intranquilos) na primeira partida,
pode ser considerado então que este
comportamento aparece pela estreia na
competição.
Diante do gráfico é possível perceber que
a porcentagem de atletas que se sentem
absolutamente não tensos vai aumentando
progressivamente de 30% na primeira partida
para 45% na segunda e 70% na terceira.
Pode ser que isto tenha ocorrido, pois na
primeira partida existe a presença do “fator
desconhecido” (gramado, torcida adversária,
nível técnico do adversário e rendimento da
própria equipe, entre outros).
Enquanto na segunda esta porcentagem
aumenta em 15%, pois já superaram este
momento, porém iriam enfrentar uma equipe
reconhecida nacionalmente. Já na terceira partida
a equipe concorrente já se encontrava eliminada
da competição, o que sugeria uma qualidade
técnica inferior e grande possibilidade de vitória,
apresentando assim uma tensão
consideravelmente menor (70%).
Gráfico 5 - Relativo ao sentimento de
arrependimento resultante da pergunta 4 do
questionário.
Gráfico 3 - Relativo ao sentimento de segurança
resultante da pergunta 2 do questionário.
Estes dados apontam para uma maior
insegurança na segunda partida da equipe
analisada. Dentre os possíveis fatores para este
acontecimento está o fato da segunda partida ser
contra a equipe de maior expressão do grupo,
com alguns atletas pertencentes à Seleção
Brasileira de Futebol da categoria.
Gráfico 4 - Relativo à tensão resultante da pergunta
3 do questionário.
Relacionando os resultados obtidos
momentos antecessores às três partidas nota-se
um aumento no arrependimento por parte dos
atletas mesmo que a grande maioria ainda
continuasse a afirmar não sentir-se arrependido.
Percebe-se, porém que a porcentagem de atletas
considerados muitíssimo arrependidos
permaneceu a mesma no segundo e terceiro jogo,
aumentando também a quantidade de jogadores
um pouco arrependidos na última partida.
Estes resultados possivelmente
ocorreram devido a algum fato ocorrido durante
os dias da competição, provavelmente durante
uma das duas primeiras partidas, que causaram
este arrependimento em alguns dos atletas.
Gráfico 6 - Relativo ao quanto os atletas sentiam-se
à vontade resultante da pergunta 5 do questionário.
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Pode-se notar que em todos os
momentos a quantidade de atletas que relatam
sentirem-se bastante ou muitíssimo à vontade
varia entre 85% e 100%, pode-se assim ser
considerado que alguns atletas encontraram um
equilíbrio em relação à adaptação ao local da
competição proporcionando um sentimento de
integração e acolhida.
Gráfico 9 - Relativo ao sentir-se descansado
resultante da pergunta 8 do questionário.
Gráfico 7 - Relativo ao sentir-se perturbado
resultante da pergunta 6 do questionário.
Diante das respostas expostas acima,
percebe-se a presença de alguns atletas
afirmando sentirem-se cansados (absolutamente
não descansados) em momento antecessor à
primeira partida. Assim sugere-se que isto
ocorreu por um cansaço devido à semana livre
antes da primeira partida ter sido utilizada para
treinamentos ou por uma auto percepção do
cansaço errônea por parte de alguns atletas.
Nota-se que o índice de atletas que se
sentiam absolutamente não perturbados é
consideravelmente alto nas três partidas, porém
observa-se uma pequena redução no decorrer
dos jogos, com o aparecimento de atletas que
sentiam-se bastante perturbados em relação ao
último compromisso da equipe na competição,
possivelmente devido ao fato da última partida
ser decisiva para a classificação para a próxima
fase ou desclassificação da competição.
Gráfico 10 - Relativo ao sentimento de
“acolhimento” (sentir-se em casa) resultante da
pergunta 10.
Gráfico 8 - Relativo ao estar preocupado com
possíveis fatos desagradáveis resultante da
pergunta 7
Entre outras coisas pode-se considerar
que, pela permanência na cidade por um longo
período, iniciou-se o processo de socialização e
aproximação dos atletas com a comunidade local
gerando um equilíbrio em relação à adaptação ao
local da competição e proporcionando um
sentimento de integração e acolhida.
Gráfico 11: Relativo ao sentimento de confiança
resultante da pergunta 11 do questionário.
Em relação a esta pergunta, considerase então que a preocupação com possíveis fatos
desagradáveis diminui com o decorrer das
partidas apesar de alguns atletas frente ao
primeiro e último desafios afirmarem sentirem-se
bastante preocupados com possíveis fatos
desagradáveis.
Possivelmente este cenário ocorre
devido ao fato de, para a maioria dos atletas do
elenco, a última partida ser contra uma equipe
considerada tecnicamente inferior; enquanto
para outros atletas (5%) o fato de ser uma partida
decisiva tornou este momento bastante
preocupante.
Diante das respostas elencadas acima,
nota-se que em nenhuma das partidas tivemos
atletas que afirmaram sentirem-se
absolutamente não confiantes. Também
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percebe-se nitidamente que a porcentagem de
atletas que sentiam-se muitíssimo confiantes vai
diminuindo gradativamente de acordo com o
decorrer da competição enquanto os atletas que
relataram sentirem-se bastante confiantes
aumenta à cada partida. Fica um destaque a para
presença de 5% dos atletas do grupo pesquisado
que afirmam na última partida sentirem-se um
pouco confiantes, fato não relatado nas outras
duas primeiras partidas.
Assim entende-se que a confiança dos
atletas foi diminuindo com o decorrer das
partidas. Mesmo após o resultado positivo na
primeira partida nota-se a queda na confiança
para a segunda, fato que ocorre possivelmente
pela expectativa frente ao próximo adversário e
para a última partida esta queda na confiança é
ainda mais notada provavelmente por terem sido
derrotados na partida anterior da competição
gerando certa insegurança em parte dos atletas
desta equipe.
Gráfico 12: Relativo ao sentimento de nervosismo
resultante da pergunta 12 do questionário.
Analisando as respostas obtidas
percebe-se um nitido aumento na queda
donervosismo dos atletas, atingindo seu ápice
com 85% dos respondentes afirmando sentiremse absolutamente não nervosos antes da última
partida. Na primeira e segunda partida pouco se
altera o sentimento de nervosismo dos atletas
com pequena alteração em 5% do grupo que na
primeira partida relatam sentirem-se bastante
nervosos e na segunda partida aparece esta
mesma porcentagem dos respondentes
afirmando sentirem-se muitíssimo nervosos.
Provavelmente este cenário deve-se ao
fato da experiência adquirida com o passar das
partidas, tendo um maior nervosismo frente as
duas primeiras partidas, sendo a partida de
estréia na competição contra o time da casa e a
segunda partida frente uma equipe de grande
expressão no cenário nacional; possibilitando que
o grupo se sentisse mais tranqüilo frente à última
partida.
Gráfico 13 - Relativo ao sentimento de
agitação resultante da pergunta 13 do
questionário.
Nota-se assim que a quantidade de
atletas que afirmaram estar absolutamente não
agitados aumenta com o decorrer da competição,
demonstrando que a experiência adquirida
durante o torneio podem ser importantes para dar
maior tranqüilidade aos atletas e diminuir sua
agitação. Entretanto percebe-se que há um
aumento gradativo na porcentagem de atletas
que relataram sentirem-se bastante agitados,
tendo na última partida sua maior expressão com
15% e demonstrando que a partida decisiva
influiu de modo a aumentara agitação dos atletas
deste grupo.
Gráfico 14 - Relativo ao sentimento de “uma pilha
de nervos” resultante da pergunta 14.
A partir destas informações percebe-se
que a grande maioria do grupo de atletas
participantes relatou absolutamente não
sentirem-se uma pilha de nervos e uma pequena
parte dos atletas relatou sentirem-se um pouco
uma pilha de nervos, o que sugere que estavam
tranquilos nos momentos que antecediam as
partidas da primeira fase da competição e não se
percebiam extremamente ansiosos e/ou
nervosos.
Gráfico 15 - Relativo ao sentimento de
descontração resultante da pergunta 15 do
questionário.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
108
Neste gráfico fica claro a pequena
mudança desta variável em cada partida. Para
alguns atletas, que afirmaram estar
absolutamente não descontraídos
possivelmente o fato de terem como adversário
uma equipe de grande reconhecimento nacional
foi um fator para não estar descontraídos em
momento antecessor à partida. Enquanto isso,
para os atletas que revelaram estar muitíssimo
descontraídos provavelmente este cenário
aparece pelo motivo da equipe ter vencido sua
primeira partida e isso ter proporcionado um
clima mais descontraído dentro do grupo de
atletas.
Gráfico 16 - Relativo ao sentimento de satisfação
resultante da pergunta 16 do questionário.
Assim, percebe-se que o grau de
superexcitação e confusão no grupo de atletas
pesquisado aumentaram de acordo com o
decorrer das partidas, apresentando somente em
momento antecessor à última partida atletas que
afirmaram sentirem-se muitíssimo
superexcitados e confusos.
Estes resultados apresentados sugerem
que provavelmente isto ocorreu devido ao fato de
terem a última partida da primeira fase com
decisiva para o avanço à próxima fase ou
desclassificação da equipe na competição.
Gráfico 19 - Relativo ao sentimento de alegria
resultante da pergunta 19 do questionário.
Nota-se com relação a este gráfico que
na última partida aparece o maior número de
respondentes que afirmam sentirem-se
absolutamente não satisfeitos e,à partir destes
dados,
entende-se que isto ocorreu
possivelmente devido ao fato da equipe ter sido
derrotada em seu segundo compromisso
causando uma insatisfação em parte do grupo.
Gráfico 17 - Relativo ao sentimento de
preocupação resultante da pergunta 17 do
questionário.
Destaca-se a presença de alguns atletas
que afirmaram frente ao último desafio sentiremse um pouco alegre, fato que até esta partida não
havia sido relatado por nenhum dos
respondentes e também o nítido decrescimento a
cada partida da porcentagem de atletas que
responderam sentirem-se muitíssimo alegres.
Gráfico 20 - Relativo ao sentimento de bem estar
resultante da pergunta 20
Percebe-se que a preocupação dos
atletas foi decrescendo com o transcorrer da
competição, variando entre 47% antes da
primeira partida e 75% em momento anterior ao
último jogo. Isto possivelmente ocorreu devido ao
fato de já terem superado o fator desconhecido,
terem assistido duas partidas do adversário e
saberem que a equipe que enfrentariam era
considerada inferior tecnicamente.
Gráfico 18 - Relativo aos sentimentos de
superexcitação e confusão resultante da pergunta
18.
Diante das respostas elencadas acima,
nota-se que, de modo geral, o grupo sentiu-se
muito bem durante o período da competição e os
momentos antecessores às três partidas.
Destaca-se a presença de uma grande parcela
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
109
do grupo (mais de 60%) que antes da primeira
partida e segunda partida afirmaram sentirem-se
muitíssimo bem.
Este resultado antes da primeira partida
aponta para uma possível realização e felicidade
por estarem disputando a competição, enquanto
os dados da segunda partida demonstram que
provavelmente isto ocorreu devido ao resultado
positivo conquistado no primeiro jogo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo realizado, foi possível
observar interessantes aspectos relacionados a
ansiedade e o desempenho dos jogadores nas
partidas realizadas na primeira fase da Copa São
Paulo de Futebol Junior.
A ansiedade se faz presente nos
momentos pré, durante e após as partidas, porém
sua presença não pode ser considerada ruim
desde que em níveis não excessivos, sendo
importante salientar que este fator não interfere
somente no resultado e desempenho de atletas
de futebol, mas também em outras modalidades
esportivas.
Por isso, deve-se destacar a importância
da presença de um profissional da psicologia do
esporte, que como parte de uma equipe
multidisciplinar, poderá contribuir na orientação
quanto aos procedimentos diante de situações de
descontrole emocional enfrentado pelos técnicos,
atletas e dirigentes esportivos.
Fatores que contribuíram para um estado
equilibrado da ansiedade
Em relação aos dados coletados,
algumas considerações interessantes foram
observadas e podem ser descritas, por exemplo,
quando se relaciona algumas das questões
respondidas pelos atletas.
Neste sentido, quando os jogadores
relatam que antes da última partida não se
sentem preocupados (75%, segundo o gráfico 17)
e que em sua totalidade se sentem bastante ou
muitíssimo à vontade (70% e 30%
respectivamente, segundo o gráfico 6) isso pode
representar que o grupo já encontrou uma
equilíbrio em relação a adaptação ao local da
competição.
Este fato pode ser significativo à medida
que eles estão se relacionando com a população
da cidade há mais de quinze dias, proporcionando
um sentimento de integração e acolhida, o que
pode ser visualizado a partir das informações do
gráfico 10, quando 90% relatam que neste
momento já se sentem em casa.
Como pode ser observado, alguns
fatores que o profissional de psicologia do esporte
deve levar em consideração para
amenizar/equilibrar o estado de ansiedade da
equipe é a realização de ações que possibilitem
uma integração dos integrantes da equipe com a
comunidade local.
As relações interpessoais surgidas neste
momento podem amenizar os sentimentos de
tristeza, saudade, medo, que surgem nos
momentos de avaliação esportiva e social,
conforme sugere Machado (1998).
Aspectos situacionais que contribuíram para
a alteração nos níveis da ansiedade
O estudo das respostas dos gráficos
evidencia certa confusão psicológica e demonstra
certas individualidades no modo de cada atleta
entender o momento vivido e ter planos práticos
para solucionar os problemas enfrentados. Esta
confusão psicológica pode também estar
relacionada ao fato da dificuldade de
interpretação da pergunta realizada, pois
observa-se algumas contradições nas repostas.
Por mais que se trate de um grupo de
atletas com a mesma faixa etária e grau de
experiência semelhante nota-se que, enquanto
grupo, apresentam algumas predisposições
acerca dos diferentes momentos vividos durante
a competição, ou seja, a estréia contra a equipe
da casa, a segunda partida frente a um adversário
reconhecido nacionalmente e a terceira partida
decisiva.
Percebe-se então que frente à primeira
partida os principais fatores negativos elencados
pelo grupo de atletas foram: intranquilidade (não
calmo); tensão; preocupação com possíveis fatos
desagradáveis; cansaço e não sentirem-se
acolhidos.
Com relação ao segundo compromisso
entende-se que os principais indicativos
apontaram para: insegurança; nervosismo e não
sentirem-se à vontade.
Já no terceiro jogo, entre os aspectos
mais evidenciados pelos atletas, aparecem a
ansiedade; arrependimento; perturbação;
nervosismo; agitação e sentirem-se menos
confiantes.
Neste sentido, os resultados obtidos pela
equipe nas três partidas iniciais da competição
podem ter uma relação com os fatores de
ansiedade apresentado.
Conforme propõe Weinberg; Gould
(2001), a importância do evento, ou seja, da
competição altera os níveis de ansiedade. Este
fator é percebido na segunda partida, quando o
resultado negativo frente a uma das equipes mais
expressivas da atualidade, pode ter gerado baixo
índice na resposta à segurança.
Outra característica observada que pode
ter gerado um aumento nos níveis de ansiedade
está relacionada ao momento decisivo enfrentado
pela equipe na última partida da fase. Apesar de
que a partida foi contra a equipe considerada
tecnicamente inferior e já desclassificada
antecipadamente, a classificação para a próxima
fase dependia do saldo de gols.
Esta situação pode ter contribuído para o
aumento da ansiedade, verificado no gráfico 1. No
entanto, não pode ser observado se houve uma
preocupação da comissão técnica em realizar
algum tipo de estratégia (procedimento) para
diminuir os estados de ansiedade neste
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
110
momento.
Diante destas observações considera-se
que, entre outras, as variáveis apresentadas
necessitam da atenção da comissão técnica e/ou
psicólogo do esporte, pois, podem tornar mais
ameno o período que permanecem longe do seu
lugar de origem e auxiliar na manutenção do
equilíbrio dos níveis de ansiedade.
Percepções acerca da temática
Assim, notou-se a presença de maiores
índices de ansiedade principalmente em
momentos que antecederam a última partida,
juntamente com maiores índices de
arrependimento, perturbação, nervosismo,
agitação e menor confiança o que indica que
estes fatores aparecem sempre acompanhados
com elevados níveis de ansiedade, diferente do
aparecimento de outros fatores (sentir-se bem,
em casa, confiante, alegre) presentes neste
estudo.
Pode-se creditar então que o
desempenho dos atletas juniores da equipe
pesquisada, que participaram da Copa São Paulo
de Futebol tem uma relação direta com a
alteração nos níveis de ansiedade apresentados,
como ficou evidenciado nos dados coletados.
A partir dos dados aqui comentados,
pode-se sugerir que os técnicos e/ou
profissionais do esporte estejam atentos à
importância dos aspectos psicológicos na busca
por um desempenho excelente.
Assim torna-se fundamental o
conhecimento, análise e regulação dos níveis de
ansiedade para cada indivíduo, visando um
melhor comportamento do atleta frente ao
momento esportivo e, com isso, buscar ótimo
rendimento do grupo em modalidades coletivas.
Sugerem-se também mais estudos no
âmbito esportivo (futebol e outros) e da
Psicologia do Esporte (ansiedade ou outros) de
modo a melhorar o entendimento acerca das
influências e relações entre os estados
psicológicos, os esportes e os fatores que podem
interferir no rendimento esportivo.
Destacam-se ainda a relação dos demais
estados psicológicos presentes e atuantes no
momento esportivo que, juntamente com a
ansiedade, interferem no desempenho. Assim, é
recomendado separá-los ou isolá-los das
interações com o meio e com as outras variáveis.
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exercício. 2 ed. Porto alegre: Artmed, 2001.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
111
PRÁTICA DE ESPORTES E ATIVIDADES FÍSICAS: ASPECTOS MOTIVACIONAIS
Luciana Botelho Ribeiro, Afonso Antonio Machado
Unesp- Rio Claro, Unesp- Rio Claro
Resumo
A motivação tem sido muito estudada e discutida em diferentes ambientes (acadêmicos ou não), e sua importância em
diversas áreas é inquestionável. No esporte e na atividade física ela tem grande relevância, tanto quando se questiona
rendimento, quanto quando se fala em aderência ou adesão a qualquer programa de atividade física. Assim o objetivo do
estudo é fazer uma revisão de literatura com artigos do ano de 2000 a 2012 investigando a motivação dos indivíduos para
prática de atividade física e para o esporte. Para tanto, buscou-se, analisar por meio de uma revisão sistemática de
estudos científicos, aqueles que investigaram a motivação de pessoas para prática de atividades físicas e para o esporte.
A busca pelos artigos foi realizada nas bases de dados Google, Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs
(Literatura Llatino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline e Pubmed (US Nationa Library of Medicine
National Institutes of Health), e Cochrane (The Cochrane Library). O profissional deve ser conhecedor da atividade que
exerce e usar ferramentas persuasivas, porém íntegras, para mostrar aos alunos as vantagens, os benefícios da
atividade física e do estilo de vida saudável e, ainda, moldar o ambiente, de maneira que ele facilite a obtenção das metas
traçadas para e pelos alunos. Portanto a figura de um professor ou de um responsável pela atividade física/esporte
aparece como um dos principais elementos capazes de influenciar um comportamento motivado, bem como, na sua
manutenção, dentro do âmbito esportivo.
Palavras-chave: motivação, atividade física e esporte.
Abstract
The motivation has been studied and discussed in different environments (academic or not), and it is importance in many
areas is unquestionable. In sport and physical activity has great relevance, both when performance questions, and when it
comes to compliance or adherence to any physical activity program. The aim of this study is to review literature with
articles of the year 2000 to 2012 investigatingthe motivation of the people to physical activity and sport. The search was
conducted for articles in the databases of Google, Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs (Literature Latino
American and Caribbean Health Sciences), Medline and Pubmed (U.S. National Library oof Medicine National Institutes
of Health) and Cochrane (The Cochrane Library). The professional must be know ledgeable of the activity that exercises
and using tools persuasive, but intact, to show students the benefits, the benefits of the physical activity and healthy
lifestyle, and also shape the environment so that it facilitates the achievement the goals set for and by students. Therefore
the figure of the teacher or a person responsible for physical activity/ sport appears as one of the main elements that
influence a motivated behavior, as well as it is maintenance within the scope of sports.
Keywords: motivation, physical activity, sport.
Introdução
Por ser considerada por muitos autores
como tema chave de qualquer ação humana, a
motivação tem sido muito estudada e discutida
em diferentes ambientes (acadêmicos ou não).
Sua importância em diversas áreas é
inquestionável, no esporte e na atividade física
(foco deste estudo) ela tem grande relevância,
tanto quando se questiona rendimento, quanto
quando se fala em aderência ou adesão a
qualquer programa de atividade física.
Assim o objetivo do estudo é fazer uma
revisão de literatura com artigos do ano de 2000 a
2012 investigando a motivação dos indivíduos
para prática de atividade física e para o esporte.
Para tanto, buscou-se, analisar por meio
de uma revisão sistemática de estudos
científicos, aqueles que investigaram a motivação
de pessoas para prática de atividades físicas e
para o esporte. A busca pelos artigos foi realizada
nas bases de dados Google, Scielo (Scientific
Eletronic Library Online), Lilacs (Literatura
Llatino- Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde), Medline e Pubmed (US Nationa Library of
Medicine National Institutes of Health), e
Cochrane (The Cochrane Library).
As palavras chaves utilizadas na busca
foram “motivação”, “esporte”, “atividade física”,
“motivation”, “sport” e “physical activity”. Foram
incluídos artigos publicados nas referidas bases
de dados entre 2000 a 2012.
A importância da motivação é
assegurada quando se recorre à literatura, em
qualquer momento na relação entre ensinoaprendizagem, e percebemos que a motivação
pode ser um elemento determinante para que se
atinja um bom desempenho. É considerado que
qualquer relação interpessoal ou intrapessoal é
motivada por algo. Aliás, todo comportamento,
seja ele qual for independente do objetivo, é
motivado por alguma e para alguma coisa. Assim,
pode-se afirmar que a motivação é o combustível
de toda ação humana.
Breve Revisão de Literatura
A motivação é um dos fatores mais
importantes que levam o indivíduo a procurar,
permanecer e abandonar as atividades físicas e o
esporte (MURCIA et.al, 2007). Ela é
compreendida como intrínseca e extrínseca,
sendo intrínseca a motivação que o indivíduo
possui perante vivências e experiências já vividas
e a extrínseca é a que acontece por fatores
externos, situações externas ao indivíduo, nem
sempre controláveis (MURCIA et.al 2007).
Conceitos
A motivação intrínseca é um fator que
interfere de modo a fazer com que o indivíduo
procure, permaneça ou não em qualquer
atividade, seja física, intelectual ou outras. Esta
pode variar de acordo com as situações que o
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
112
indivíduo já vivenciou e o quanto ele se envolve
nas situações (FERNANDES, VASCONCELOSRAPOSO, 2005).
Já a motivação extrínseca é a forma mais
autodeterminada da regulação externa do
comportamento. O indivíduo deve saber lidar com
estas interferências que acontecem
constantemente em nossa rotina, uma vez que
elas darão vazão aos comportamentos
observáveis e socialmente praticados, em
grupos, em aços individuais e em qualquer
manifestação.
Assim a motivação se torna um dos
fatores mais importantes a serem estudados na
psicologia do esporte porque nos leva a
compreender as individualidades. Algumas
pessoas, dependendo da experiência boa ou
ruim diante de uma prática, abandonam quando
tem insucesso e permanecem quando tem
sucesso (FERNANDES, VASCONCELOSRAPOSO, 2005), ficando a adesão vulnerável à
interpretação do sujeito da ação.
A teoria da autodeterminação diz que o
comportamento é motivado por três
necessidades psicológicas: autonomia,
competência e relação interpessoal. E dentro da
teoria da autodeterminação existe uma subteoria
que é a teoria da integração do organismo sendo
a motivação intrínseca, extrínseca e
desmotivação. Juntamente com a teoria da
autodeterminação está a teoria de logro, onde se
baseia o quanto o indivíduo se esforça para
demonstrar competência em suas atitudes em
situações diversificadas, este deverá saber lidar
com situações externas e seus próprios
sentimentos ao mesmo tempo (MURCIA et.al,
2007).
Segundo Balbinotti (2011), o esporte não
existe sem competição. Sendo que alguns
autores dizem que um dos motivos de adesão
para prática de atividade física é a
competitividade o fator que mais influencia.
Balbinotti (2011) ainda descreve, em seu estudo,
que atletas de tênis ao decorrer da evolução da
carreira diminuem esse nível de competitividade.
E diz que competitividade depende mais da idade
do que do tipo de esporte.
Vlachopoulos, Kaperoni e Moustaka
(2011) afirmam que a motivação também é
influenciada pela maneira como o indivíduo
internaliza as situações já vividas. A resposta do
indivíduo a motivação externa é uma maneira do
indivíduo mostrar externamente que é capaz de
realizar aquela tarefa, satisfazendo uma
demanda externa. Já a intrínseca acontece ao
contrário, ele tentará mostrar para si mesmo que
é capaz de realizar determinada atividade. E por
último a desmotivação é a falta de intenção de
realizar determinada tarefa.
De acordo com a teoria da
autodeterminação, o cumprimento das
necessidades psicológicas do indivíduo para
autonomia, competência e relacionamento
promove uma maior internalização de
comportamento e bem estar (VLACHOPOULOS,
KAPERONI E MOUSTAKA, 2011).
A autonomia do indivíduo se refere ao
que ele precisa sentir diante da ação livre e
responsável, totalmente independente de juízo
externo e validada pela censura interior,
originando um comportamento assertivo e
singular; a competência refere-se a necessidade
de sentir eficaz e, ainda falando sobre a teoria,
quando nos referimos ao relacionamento
estamos pensando no ato de estar associado
e/ou pertencer a uma agremiação ou parelha, ou
a algo de formato de grupo ou comunidade. Desta
forma podemos perceber motivações ou
desmotivações orientando comportamentos
individuais ou coletivos (VLACHOPOULOS,
KAPERONI E MOUSTAKA, 2011).
Vlachopoulos, Kaperoni e Moustaka
(2011) sustentam que a aquisição e manutenção
de identidade é um processo dinâmico e
desenvolvido para satisfazer as necessidades
psicológicas básicas, assim tentando interagir o
pessoal e o contexto em que se está inserido, de
forma harmoniosa.
As pessoas que são intrinsecamente
motivadas estão envolvidas em atividades para o
próprio bem, prazer, satisfação e divertimento.
Existem pessoas que valorizam os resultados,
como recompensas e reconhecimento externo,
estas valorizam a motivação extrínseca, sendo
que este tipo de motivação varia de acordo com o
que o indivíduo internalizou da situação (CALVO
et.al 2010)
A base do processo motivacional
Não se pode pensar em motivação sem
se lembrar do motivo, que é a base do processo
motivacional. O motivo é a mola propulsora
responsável pelo início e manutenção de
qualquer atividade executada pelo ser humano
(ISLER, 2002).
Gouvêa (1997, p. 169) acredita que os
motivos são inerentes aos seres humanos.
Assim, ele define o motivo como “um fator interno,
que dá início, dirige e integra o comportamento de
uma pessoa”.
Cada motivo apresentará uma força
distinta, devido à diferença de personalidade
existente entre cada indivíduo (RODRIGUES,
1991). Essa diferença fará com que um indivíduo
se sinta mais motivado do que outro, diante de
uma mesma situação.
Em relação a isso, Gouvêa (1997)
explicita que alguns motivos têm uma
predominância maior sobre outros, levando o
indivíduo a escolher determinado(s) tipo de
ação(s) ou de comportamento(s).
Esse autor ressalta que a motivação
depende de um conjunto de fatores que
englobam a personalidade, as experiências
passadas, os incentivos do momento ou a
situação. Como um todo, esses fatores deverão
satisfazer os motivos e necessidades
momentâneas do indivíduo.
O motivo é considerado como uma
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
113
característica comum do ser humano,
apresentando variações “situacional”, “de nível” e
“pessoal”, isto é, variam de situação para situação
em uma mesma pessoa, de intensidade e de
pessoa para pessoa, em uma mesma situação.
Porém, apesar de ser considerado inerente, não
se deve descartar a hipótese da influência
externa sobre o motivo, considerando que a
motivação é o resultado da interação entre o
efeito ambiental (a situação, o contexto no qual o
atleta ou a pessoa está inserido) e os traços de
personalidade que possui.
Em relação à atuação do ambiente, nas
diversas áreas do conhecimento, existem
estudos que se incumbem de evidenciar os
fatores intervenientes da relação humana com o
meio. Bronfenbrenner (1996), em uma
perspectiva desenvolvimentista, salienta a
existência de uma conexão social entre os
diversos ambientes, a qual propicia um sistema
de interações com possibilidade de
desenvolvimento humano.
A intervenção das estruturas sociais na
definição de condutas individualizadas acontece
de maneira imanente, isto é, quando o indivíduo
está amalgamado ao ambiente social, recebendo
suas interferências e agindo sobre este,
incorporando algumas disposições e propondo
outras.
No que tange aos traços de
personalidade, segundo Cratty (1984), os
motivos e as razões são extremamente variáveis
e difíceis de serem determinados, pois cada
indivíduo tem valores, histórias de vida e
necessidades diferentes.
Alderman (1984) salienta que todo
indivíduo possui um sistema de motivos básicos
para cada situação, que é resultante das
interações ou interpretações de outras situações
que ocorreram durante a vida do indivíduo,
somadas à sua personalidade.
Cada vez que um indivíduo se encontra
em uma determinada situação, ou recebe um
dado estímulo (agressão, disputa, desejo, etc),
automaticamente, ele selecionará todas as
respostas correspondentes àquela situação que
estão em suas lembranças, o que, por sua vez,
direcionará o seu comportamento de ação. A
resposta oferecida pelo ambiente será somada às
respostas anteriores, modificando ou reforçando
determinados valores.
Ao se focalizar especificamente a área da
motricidade humana, em relação às ressonâncias
do ambiente na motivação para a aprendizagem e
no desenvolvimento motor humano, Magill e Hall
(1990) salientam a interferência contextual como
fator gerador de efeitos diferenciados, conforme
sua magnitude, aliada à ontogenia individual.
Por outro lado, há também
pesquisadores que conceituam os motivos como
sendo construções hipotéticas, que são
aprendidas ao longo do desenvolvimento
humano e servem para explicar comportamentos
(WINTERSTEIN, 2002). Para este autor, as
explicações para as ações baseiam-se na
suposição de que a ação é determinada pelas
expectativas e pelas avaliações de seus
resultados e pelas suas conseqüências.
Em relação aos motivos que capazes de
estimular a ação prática, Woodworth e Marquis
(1977) salientaram a classificação dos mesmos
em três grupos, sendo um deles referentes às
condições corporais internas e necessidades
orgânicas, o segundo grupo relativo às
exigências de reação rápida imposta pelo meio
em uma situação emergencial, e um terceiro tipo
referente a motivos objetivos e eficientes que
favorecem lidar com as alterações propostas pelo
meio ou com aquelas advindas dos
relacionamentos interpessoais.
Algumas vivências asseguram
excelência no nível motivacional, especialmente
quando associadas às sensações de prazer, ou
lúdicas, ou, ainda, competitivas, advindo daí, que
a intensidade de um motivo é variável e
dependente das situações nas quais os
indivíduos se encontram momentaneamente.
O desenvolvimento de determinado
motivo está diretamente relacionado ao processo
maturacional, aos níveis das experiências e à
aprendizagem, consolidando-se, primeiramente
de forma interna, para, posteriormente,
expressar-se em uma dada ação.
A literatura referente aos aspectos
motivacionais é bastante variada e complexa,
merecendo destaque alguns conceitos
diretamente envolvidos.
Resultados
O presente artigo visou evidenciar os
fatores decisivos referentes à motivação e
persuasão em relação à atuação do técnico e do
professor de esportes, salientando o poder que
estes podem ter, quando responsáveis por um
programa de atividade física ou de esporte. Cabe
a eles conhecerem o seu público, bem como, os
objetivos pessoais de cada um e do grupo como
um todo.
Contemplar todos os desejos e motivos é
sempre impossível, o importante é tentar
sincronizar os objetivos de quem propõe a
atividade com os objetivos de quem a executa.
Com esse casamento de ideais a motivação tem
grande chance de ser mantida em um alto nível e
a prática tende a acontecer de maneira fluida e
prazerosa, sendo esses sentimentos que
garantem a aderência e o empenho nesses
programas.
O responsável deve ser conhecedor da
atividade que exerce e usar ferramentas
persuasivas, porém íntegras, para mostrar aos
alunos as vantagens, os benefícios da atividade
física e do estilo de vida saudável e, ainda, moldar
o ambiente, de maneira que ele facilite a obtenção
das metas traçadas para e pelos alunos.
Dessa forma, evidencia-se como de
grande importância o papel do profissional de
Educação Física e do técnico esportivo, os quais,
conseguindo aliar o uso da teoria na prática, têm
grandes chances de ser bem-sucedidos em sua
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114
prática profissional e contribuir para a
manutenção do bem-estar, tanto no nível físico
quanto no psíquico de seus alunos e/ou atletas,
tendo-os motivados e interessados na ação
proposta.
Para que esta ação tão almejada se
constitua em uma realidade, torna-se importante
a superação da concepção dicotomizada do ser
humano, suplantando a visão apenas
biologizante reiterada pelo senso comum sobre o
papel do profissional de Educação Física, em
direção à uma concepção mais holística, capaz
de levar em consideração a integralidade do ser,
com base no desenvolvimento de uma
intervenção, não só nos níveis motores ou a
supremacia da competitividade em si, mas que
possa evidenciar neste processo, inclusive, os
níveis de saúde, os valores éticos, o bem-estar
psicológicos e os componentes educacionais,
que são construtos imanentes a esta prática
profissional.
Torna-se, desta forma, premente que os
cursos de formação nesta área ampliem os
conhecimentos referentes aos temas da
motivação e da persuasão em suas grades
curriculares, no sentido de implementar e
subsidiar os instrumentos utilizados nesta prática
profissional, contribuindo, sobremaneira, para a
qualidade das relações traçadas e na
fundamentação ética dos conteúdos
pedagógicos viabilizados.
Considerações Finais
Estudos feitos na Psicologia do Esporte
foram motivados por questões como: importância
dos modelos de atletas para futuros talentos
esportivos; persistência de atletas em continuar
participando de competições, mesmo em
circunstâncias desfavoráveis; comportamentos
diferentes dentro do ambiente esportivo e fora
dele; os motivos que levam milhares de
torcedores ao campo.
Não há respostas para todas as
perguntas referentes ao tema da motivação, pois
as teorias e hipóteses devem ser flexíveis e
compreensíveis, a fim de que se possa entender a
complexidade das ações humanas.
Torna-se, desta forma, instigante
evidenciar-se, na literatura especializada,
algumas das abordagens possíveis referentes a
estas temáticas. Sendo assim, ao se falar em
motivação, pode-se levar em conta a definição
citada por Magill (1984) onde se relaciona o termo
motivação à palavra motivo, ou seja, alguma
forma interior, impulso ou uma intenção, que leva
a pessoa a fazer algo ou agir de certa forma,
definindo o direcionamento de suas ações e
intensidade de seus esforços para atingir uma
determinada meta.
Algumas palavras têm como referência a
motivação, tais como: desejo, necessidade,
esforço, motivo, tendência, aspiração, meta,
fome, amor, etc.; o que remete a uma discussão
sobre impulsos e necessidades, na qual os
impulsos aparecem com freqüência nas
discussões sobre necessidades fisiológicas
(sede, fome, sexo, etc.) e a necessidade é
aplicada, freqüentemente, a motivos mais
complexos de realização (amor, aprovação
social, status, etc.).
Partindo-se do pressuposto de que todo
comportamento humano é motivado por algo, a
figura de um professor ou de um responsável pela
atividade física/esporte aparece como um dos
principais elementos capazes de influenciar um
comportamento motivado, bem como, na sua
manutenção, dentro do âmbito esportivo.
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JOGO E LUDICIDADE: REPENSANDO POSSIBILIDADES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA NO E.J.A.
Marcela Campos de AVELLAR
ESC - Cruzeiro/SP
RESUMO
A Educação Física vem sofrendo grandes transformações ao longo da evolução histórica da sociedade, principalmente
no tocante aos conteúdos e metodologias propostas no ensino desta disciplina. Dentre tais transformações, é possível
destacar linhas de pensamento que defendem a inclusão do jogo como recurso pedagógico no processo de ensino.
Exemplificando, um estudo realizado por Galvão (2005) identificou a importância do jogo no processo educacional
através de um trabalho realizado com escolares de 07 e 08 anos, cuja proposta foi a modificação e criação de jogos com
regras nas aulas de Educação Física. Tal estudo serviu de base para a aplicação da presente pesquisa-ação, cujo
objetivo principal foi verificar a influência da adoção do jogo e de técnicas lúdicas como metodologia no Ensino de Jovens
e Adultos (E.J.A.). A partir do desenvolvimento deste processo foi possível identificar contribuições diversas, dentre as
quais podemos citar: exercício e fomento do desenvolvimento da criatividade, ampliação da autonomia, auto-estima e
senso crítico do aluno; maior aderência às aulas de Educação Física; valorização do Princípio da Diversidade e Inclusão
defendidos pelos PCN, dentre outros. Por fim, verificamos que a oferta e aquisição de tais possibilidades por meio do jogo
e da ludicidade – ainda que não bastem por si só - contribuem de forma significativa frente aos diversos entraves
propostos neste nível, permitindo a possibilidade de um envolvimento efetivo do educando no processo ensinoaprendizagem nas aulas de Educação Física no E.J.A.
Palavras-chave: Educação Física escolar, jogo, E.J.A.
GAME AND PLAYFULNESS - POSSIBILITIES FOR RETHINKING PHYSICAL EDUCATION IN E.J.A.
ABSTRACT
Physical education has undergone great changes over the historical evolution of society, particularly with regard to
content and teaching methodologies proposed in this discipline. Among such changes, you can highlight lines of thought
that advocate the inclusion of the game as a pedagogical resource in the teaching process. For instance, a study by
Galvão (2005) identified the importance of play in the educational process through a study conducted with students of 07
and 08 years, whose bid was the modification and creation of games with rules in physical education classes. This study
formed the basis for the implementation of this action research, whose main objective was to investigate the influence of
the adoption of the game and play techniques and methodology in the Education for Youths and Adults (EJA). From the
development of this process was possible to identify several contributions, among which we mention: exercise and
promoting the development of creativity, expansion of autonomy, self-esteem and critical thinking of students, greater
adherence to physical education classes; appreciation of Principle Diversity and Inclusion championed by the NCP,
among others. Finally, we found that the provision and acquisition of such possibilities by means of play and playfulness though not suffice by itself - contribute significantly to face various barriers proposed at this level, allowing the possibility of
an effective involvement of the student in teaching-learning process in physical education classes in adult education
Keywords: Physical education, play, EJA
INTRODUÇÃO
O Ensino de Jovens e Adultos (E.J.A.) é
destinado àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no ensino fundamental e
médio na idade própria, devendo ser assegurado
de forma gratuita por meio de oportunidades
educacionais apropriadas; consideradas as
características dos alunos, seus interesses,
condições de vida e de trabalho, dentre outros
(BRASIL, 1996).
Porém, observando-se tais
particularidades inerentes ao E.J.A, nota-se uma
certa deficiência em estratégias que garantam a
aderência e participação efetiva nas aulas neste
nível de ensino, em especial, nas aulas de
Educação Física (LOPES, 2009).
Sendo assim, faz-se necessária a
renovação dos recursos didáticos aplicados neste
processo pedagógico, diante do objetivo maior da
Educação Física: permitir a (re)construção de
uma cultura corporal que desperte uma
consciência própria e que seja capaz de contribuir
para a formação de um cidadão mais autônomo,
crítico e capaz de viver melhor em sociedade.
Detectamos, portanto, a necessidade de
implantação e desenvolvimento de novas
metodologias de ensino que favoreçam a
participação do educando no processo ensinoaprendizagem de forma consistente, superando a
simples oportunização do acesso. Neste sentido,
o presente estudo objetivou relatar uma breve
experiência realizada no Ensino de Jovens e
Adultos através da exploração do jogo tradicional
intitulado “queimada”.
Para tanto, o trabalho abordará a
caracterização do Ensino de Jovens Adultos, bem
como a conceituação de Jogo, discorrendo
principalmente acerca das inúmeras
contribuições e transformações que a utilização
deste elemento pode trazer ao ser humano e dos
produtos positivos advindos a partir da realização
da presente experiência.
ENSINO DE JOVENS E ADULTOS (E.J.A.)
Num primeiro momento, a fim de melhor
discutir as condições próprias inerentes ao E.J.A,
faz-se necessário caracterizar esta modalidade
de ensino e o perfil do aluno inserido neste nível.
Para tanto, recorreremos à Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) n° 9.394/96
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(1996) a qual define que:
“Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 37º. A educação de jovens e adultos
será destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos no
ensino fundamental e médio na idade
própria.
§ 1º. Os sistemas de ensino
assegurarão gratuitamente aos jovens e
adultos que não puderam efetuar os
estudos na idade regular, oportunidades
educacionais apropriadas,
consideradas as características do
aluno, seus interesses, condições de
vida e de trabalho, mediante cursos e
exames.” (BRASIL, 1996).
Já no trabalho realizado por Ferreira et.
al. (2008) identificamos a existência de dois
diferentes perfis relacionados ao aluno do E.J.A.,
(tomando-se por base a diferenciação etária):
Vale ressaltar ainda o apontamento de
outras características gerais, comuns aos dois
perfis:
Refletindo-se mais profundamente sobre
a questão, verificamos que as raízes de tal
quadro encontram-se atreladas a um universo
que compreende caminhos muitas vezes
permeados pela exclusão social, vivenciando
trajetórias de negação dos direitos mais básicos à
vida, ao afeto, à alimentação, à moradia, ao
trabalho e à sobrevivência.” (ARROYO, 2006).
Como vemos, trata-se de um universo
bastante complexo e permeado de limitações e
características próprias. Nesse propósito, os
sujeitos do EJA possuem uma prática social
inicial de conhecimentos adquiridos por meio dos
fatores sociais e experiências profissionais, ou
seja, são enraizados pelo saber popular – assim
sendo, uma proposta pedagógica no EJA deverá
necessariamente dialogar com esses saberes e
especificidades.
Por isso o papel da Escola frente a essa
realidade é repensar seu currículo, bem como o
projeto pedagógico, os planejamentos anuais, a
grade curricular, o processo de ensinoaprendizagem, os materiais pedagógicos, etc.
Assim, é possível afirmar que entender a
realidade do E.J.A é antes de tudo compreender a
infinidade de contextos sociais a que puderam
estar submetidos estes indivíduos e reconhecer a
merecida valorização a que fazem jus, diante da
busca por uma retomada em sua trajetória
educacional, mesmo diante de caminhos muitas
vezes, permeados por dificuldades.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO E.J.A.
Como se não bastasse as condições que
propiciam que a questão da evasão no EJA tornese um quadro recorrente, temos a própria
legislação estabelecendo que:
Art. 1o O § 3o do art. 26 da Lei .9.394,
de 20 de dezembro de 1996, passa a
vigorar com a seguinte redação:
"Art. 26... § 3o A educação física,
integrada à proposta pedagógica da
escola, é componente curricular
obrigatório da educação básica, sendo
sua prática facultativa ao aluno:
I – que cumpra jornada de trabalho igual
ou superior a seis horas;
II – maior de trinta anos de idade;
III – que estiver prestando serviço militar
inicial ou que, em situação similar,
estiver obrigado à prática da educação
física;
IV – amparado pelo Decreto-Lei. 1.044,
de 21 de outubro de 1969;
V – (VETADO)
VI – que tenha prole.
Ora, tomando por base a caracterização
referente ao E.J.A. supracitada no presente
artigo, vemos que os grupos de indivíduos
amparados pela lei com relação à dispensa,
reúnem na verdade, a quase totalidade do corpo
discente relativo a este nível de ensino – fato este
que parece configurar uma questionável
contradição, tendo em vista que os referidos
grupos de alunos, apesar terem seu direito à
prática facultativa garantido, na realidade reúnem
talvez o público que mais necessitaria da
participação ativa nas aulas, já que muitas vezes
as limitações de tempo e disponibilidade
impostas pelas condições de seu cotidiano o
distanciam sobremaneira das vivências
oportunizadas por meio da Educação Física. E
então, temos que o principal público a quem
deveriam se destinar tais aulas, é na realidade
aquele que por lei, encontra-se dispensado
delas.
Estabelece-se desta forma, mais um
fator que configura a necessidade do professor
trabalhar com técnicas e instrumentos que sejam
capazes de conscientizar nossos alunos com
relação à importância de tais atividades.
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Portanto, o reconhecimento dos variados
entraves e condições diferenciadas inerentes ao
trato neste nível de ensino impõem-se como um
desafio para o educador, solicitando um repensar
das técnicas educacionais propostas que o
distanciem do formato padronizado, linear propondo uma necessidade urgente de
diversificação dos métodos.
Ratificando:
“Qualquer proposta de EJA que acredite
nessa linearidade dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento
humano nascerá fracassada, incapaz de
entender seres humanos que carregam
trajetórias fragmentadas, em negação
de qualquer linearidade”. (ARROYO,
2006 apud ARAÚJO, 2008).
Identificamos, por fim, a necessidade de
exploração de formas de ensino que sejam
capazes de motivar e aproximar o aluno como
agente ativo no processo, tais como a aplicação
do jogo e da ludicidade, sobre os quais
discorreremos a seguir.
JOGO E LUDICIDADE: RELAÇÕES
INTRÍNSECAS E CONTRIBUIÇÕES
Segundo Machado (1994) apud Ferreira
(2008): “o jogo é elemento de aprendizado e
desenvolvimento, adaptação social, liberação
pessoal e preservação da própria cultura.” Assim,
o jogo possui propriedades que permitem uma
transformação do aluno durante as aulas em
relação à aquisição de conceitos e valores que
legitimam esta ferramenta no processo
pedagógico.
Brotto (2001) apud Ferreira (2008) cita
ainda que o jogo permite ao indivíduo um olhar
sobre ele mesmo e a percepção da vida como um
campo de exercício das potencialidades
humanas, pessoais e coletivas, no propósito de
solucionar problemas, harmonizar conflitos,
superar crises e alcançar objetivos.
A aprendizagem mediada pelo jogo
favorece o desenvolvimento de diversas
habilidades fundamentais, tais como:
responsabilidade, autonomia, sociabilização,
cooperação, superação de limites, promoção do
auto-conhecimento, reflexão e crítica no decorrer
de sua vivência.
Além disso, ressaltamos que o primeiro
significado do jogo encontra-se intimamente
ligado ao conceito de ludicidade – presente em
todas as atividades que despertam o prazer.
Desta forma, é possível afirmar que o exercício do
jogo, propicia a articulação do processo de
aprendizagem de forma potencialmente
significativa, despertando no aluno a apreensão
do conhecimento de forma espontânea,
envolvente, descaracterizando o ensino como
uma atividade reducionista e ligada a simples
assimilação automática e vazia de conteúdos, por
meio da reprodução externa de modelos.
Sentindo-se envolvidos, os alunos tornam-se
responsáveis diretos por sua aprendizagem.
Diante deste enfoque, os conteúdos
ganham significados diversos a partir das
experiências sociais dos alunos e passam a ser
meios para a ampliação de seu universo
cognitivo, deixando de ser um fim em si mesmos e
adquirindo relevância e fundamentação de forma
efetiva.
METODOLOGIA
A idealização da presente pesquisa
surgiu inicialmente a partir da observação de uma
experiência pedagógica proposta num estudo da
pesquisadora Zenaide Galvão (2005) e um
posterior levantamento bibliográfico sobre o tema,
que permitiu uma melhor avaliação acerca dos
resultados obtidos. Para análise e recolhimento
dos dados, foi proposta uma pesquisa-ação.
Amostra:
A amostra compreendida por este estudo
foi composta por 33 estudantes de ambos os
sexos, na faixa etária de 17 a 51 anos,
devidamente matriculados na 2ª série do ensino
médio do programa de Ensino de Jovens e
Adultos (E.J.A.) de uma escola estadual (RJ).
Materiais:
Para a realização deste estudo foram
utilizados os seguintes recursos materiais: 10
bolas de plástico, 01 caixa de giz, 20 arcos, 01
caderno de anotações pautado, 01 prancheta,
folhas de sulfite, 01 TV LG 29', 01 aparelho de
DVD da marca LG, 01 DVD do filme “Com a Bola
Toda”.
Procedimentos:
A presente pesquisa-ação foi realizada no
período de agosto a dezembro de 2011, sendo o
trabalho desenvolvido em três diferentes etapas:
a) pesquisa acerca do jogo tradicional intitulado
“Queimada” (nesta localidade) identificando-se
suas variações, características e transformações
em nível regional e nacional; b) exibição do filme
“Com a Bola Toda” e posterior vivência do formato
tradicional e de duas diferentes formas de
execução do jogo de “Queimada”: o 'Dodge Ball' e
a 'Queimada Imperial'; c) divisão da turma em
duplas para recriação da apresentação tradicional
do jogo, de onde surgiram 16 diferentes
recriações - sendo vivenciadas pelo grupo as 08
mais votadas (onde algumas destas, sofreram
ainda nova transformação).
Análise dos dados:
A análise foi proposta por meio da
observação do processo e registro escrito dos
principais fatos e considerações em suas 03
etapas.
RESULTADOS
1ª etapa: Pesquisa sobre a Queimada e suas
Variações
A investigação foi realizada por parte dos
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alunos, valendo-se de registros em livros de
recreação e ferramentas de busca na internet,
onde foram encontradas 10 diferentes formas de
apresentação do jogo. De forma geral, as
similaridades entre estas resumiram-se aos
elementos 'material', 'estruturação do campo de
jogo' e 'objetivo', consistindo respectivamente
em: 01 bola/estrutura retangular, dividida em
duas partes iguais/acertar a bola no adversário,
eliminando-o. Já com relação às principais
diferenças identificadas temos: a) nomenclatura
utilizada para definir o jogo (“Queimado”, “Jogo
do Mata”, “Baleado”, Carimbado”, “Ameba”, “Céu
e Inferno”, “Resgate”, “Chinesa”, “Caçador”,
“Dodge Ball”, ) ou algumas de suas funções
(“Morto”, “Vida”, “Relógio”, Coveiro”); b)
proposição das regras gerais e c) tamanho e
material da bola (meia, plástico, couro, bolo de
papel, etc...)
2ª etapa: Vivência da forma tradicional na região e
de 02 variações propostas
Neste segundo momento, a vivência do
formato original do jogo e das duas variações
previamente estabelecidas contribuiu para
melhor elucidação do objetivo proposto na etapa
seguinte: recriar o jogo de forma autônoma. Os
alunos demonstraram grande aceitação da
atividade, visualizando possibilidades de
alteração dos elementos principais do jogo e a
i m p o r tâ n c i a d a c o e r ê n c i a d a s r e g r a s
estabelecidas.
3ª etapa: Recriação e Vivência coletiva
Foram coletadas 16 diferentes
recriações do jogo de Queimada: Queimada
Triangular, Queimada do Infiltrado, Queimada
Sem Limites, Queimada Circular, Queimada na
Linha, Queimada Estátua, Queimada Passa ou
Repassa, Queimada com Duas Bolas; Queimada
Giratória de 03 lugares, Queimada com o Pé,
Queimada Troca-troca, Queimada Maluca,
Queimada do Mau-Mau, Queimada Matemática,
Queimada Naval e Queimada Bandeira.
Após a leitura aberta das regras em
classe, foram escolhidas as 08 queimadas mais
votadas, sendo proposto ao grupo um trabalho de
análise da execução destas. Em alguns casos, a
partir do debate coletivo proposto, ocorreu ainda
uma segunda recriação das regras.
Registro das principais considerações:
As recriações do jogo de Queimada
descritas a seguir, foram vivenciadas pelo grupo
sem que houvesse sugestões de novas
transformações a partir do modelo proposto
originalmente pela dupla de alunos. No entanto,
além de uma breve descrição da estrutura de
cada uma delas, serão tecidas algumas
considerações com base nos registros, para uma
melhor visualização dos benefícios do processo:
Queimada com 02 bolas: baseava-se nas
regras da queimada tradicional sendo, no
entanto, jogada com 02 bolas ao mesmo tempo.
Despertou grande aceitação e motivação por
parte dos alunos, configurando talvez a forma
mais dinâmica de variação vivenciada durante o
processo.
Queimada Matemática: neste caso, cada
equipe deveria distribuir (secretamente) entre os
integrantes do time um total de 300 pontos. Ao
acertar o adversário, a equipe acumulava o valor
de pontos atribuídos aos membros que
conseguiu “queimar” e o time que primeiro
alcançasse a marca de 220 pontos venceria a
partida. Inicialmente despertou desinteresse por
parte de alguns alunos que demonstraram
algumas dúvidas com relação ao funcionamento
do jogo, porém, após assimilação, foi
considerado desafiador e satisfatório,
principalmente pela relação proposta com a
disciplina matemática.
Queimada Naval: a execução desta recriação
baseava-se também nas regras da queimada
tradicional, porém, ao ser atingido o aluno deveria
adquirir um arco e posicioná-lo em algum local do
campo oposto de onde poderia tentar acertar os
integrantes do time adversário. A vitória era
alcançada pela equipe que permanecesse com
mais integrantes em seu campo ao final de 15
minutos. Esta variação também garantiu grande
dinamismo na realização do jogo, levantando a
questão sobre a discussão da importância da
estratégia, diante da percepção da vantagem de
posicionamento que o adversário obtinha ao ser
queimado.
Queimada Bandeira: assemelhando-se a um
outro jogo tradicional conhecido, intitulado como
“pique-bandeira”, consistia numa junção entre as
regras destas duas atividades. Foi bastante
aclamado pelos colegas da classe, sendo
elogiada a criatividade dos autores na reunião de
dois jogos conhecidos (e que gozavam de grande
aceitação entre todos) – o que de forma simples
garantiu grande motivação e prazer por parte de
todos.
Queimadas que sofreram alterações:
Queimada Circular: nesta variação, a idéia
inicial foi baseada na alteração da quadra,
trazendo o jogo para uma dimensão circular, ao
invés do tradicional retângulo utilizado. Desta
forma, teríamos o time de dentro e o time de fora.
Porém, ao observar que a posição do time de fora
era privilegiada, foi sugerida a determinação de
um tempo limite para a realização do jogo e a
alternância de campos, vencendo a equipe que
conseguisse queimar mais integrantes ao ocupar
o campo de fora.
Queimada Giratória de 03 lugares: nesta
recriação, o indivíduo que fosse 'queimado',
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passaria a ocupar o espaço lateral do campo
adversário. Caso conseguisse atingir alguém
deste local, passaria para o fundo da quadra
adversária. Se queimasse alguém novamente,
iria para a outra lateral e atingindo alguém
retornaria ao seu campo. Nesta também foi
sugerida a delimitação de tempo para a partida,
percebendo-se a desmotivação dos participantes
com relação ao tempo de duração do jogo
considerado muito longo dentro dos moldes
iniciais.
Queimada com o Pé: a proposta desta vez, foi a
mudança com relação à manipulação da bola que
ao invés das mãos, deveria ser arremessada e
tocada somente com os pés. Num primeiro
momento, foi utilizada a bola de borracha comum.
Porém o grupo, em observação aos riscos da
ocorrência de lesões sugeriu a utilização de uma
bola maior e mais leve, feita de plástico, além do
aumento do número de bolas, garantindo assim,
maior motivação e agilidade ao jogo.
Queimada do Infiltrado: cada uma das equipes
deveria indicar no princípio do jogo, 01 integrante
que se misturaria aos membros da equipe
adversária (o “infiltrado”), de onde poderia
receber a bola e tentar atingi-los. O jogo iniciou-se
com uma dinâmica satisfatória, porém logo foi
interrompido sob protestos do grupo, diante da
alegação de que a regra que instituía poder
ilimitado ao membro “infiltrado” deveria ser
modificada. Assim, ficou decidido que o “infiltrado”
poderia continuar a ocupar o campo adversário e
a deslocar-se livremente neste, porém, ao
receber a bola, deveria permanecer e arremessar
a bola sem se movimentar. A partir deste ponto, o
jogo demonstrou bom andamento, sendo
sugerida ainda, a inclusão de mais um membro
infiltrado para garantir maior dinamismo ao jogo.
De forma geral, resumimos a seguir os
principais subprodutos positivos observados a
partir da realização da presente experiência:
a) aumento da aderência e participação nas
aulas de Educação Física: foi possível perceber
grande expectativa e um nível de interesse
crescente por parte dos alunos a cada aula,
aumentando a aderência às aulas, mesmo de
alguns menos participativos, que anteriormente
procuravam manter-se à margem das discussões
e atividades.
b) fomento da criatividade, auto-confiança e
auto-estima: a cada trabalho, o grupo mostravase mais envolvido, chegando a apresentar, antes
mesmo da vivência de sua criação, novas
sugestões de alterações de suas próprias
queimadas, motivados pela descoberta de seu
potencial criativo. Tal fato também contribuiu para
o aumento da auto-estima e confiança a partir da
percepção do quanto e de como eram capazes de
criar coisas interessantes e expor opiniões e
sugestões relevantes e coerentes ao analisar as
experimentações de seus colegas.
c) exercício da autonomia do aluno a partir da
criação, vivência e apreciação crítica do
processo: a possibilidade de intervenção nos
processos de criação, a partir da abertura para um
espaço de discussão sobre uma prática que lhes
era familiar, propiciou aos alunos a diminuição da
timidez e receio ao expor suas considerações
frente ao grupo. Houve um reposicionamento
quanto à postura inerte comumente adotada nas
aulas, distanciando-as do formato de 'educação
bancária' que infelizmente, ainda observamos em
nossos dias.
d) entendimento de noções táticas,
estratégicas e importância das regras: ao
avaliar quais regras deveriam ser modificadas,
quais fatores garantiam a motivação na atividade
e de que forma deveriam agir para alcançar a
vitória, os alunos foram capazes de compreender
a importância da coerência das regras e estrutura
de funcionamento de um jogo, bem como do
planejamento e aproveitamento das
características individuais de cada um,
compreendendo e aprimorando suas
capacidades sócio-cognitivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A renovação das metas no universo educacional
nos aponta a necessidade de um olhar voltado
para a multiplicidade de dimensões do ser
humano, tendo como objetivo primeiro, a
preocupação com o desenvolvimento integral do
educando.
Para que esta proposta se efetive, é
necessário o repensar das estratégicas didáticas,
nos valendo de recursos que sejam capazes de
aproximar nossos alunos de forma concreta do
processo ensino-aprendizagem.
A utilização do jogo como caminho nos
permitiu visualizar alguns pontos importantes
neste sentido, a partir da oportunização de
vivências e reflexões acerca de práticas que são
familiares e naturais ao homem, favorecendo a
intervenção dos sujeitos de forma espontânea e
garantindo o aflorar de valores e contribuições
relevantes.
Embora a aprendizagem por meio do jogo
não baste por si só para atender à complexa tarefa
de se tornar um educador no E.J.A., certamente
estabelece-se com um começo, contrariando
tendências lineares e concepções tradicionais
que só contribuem para o reforço de posturas
ineficazes e retrógradas, distanciando-nos de
nossas reais necessidades e possibilidades.
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
121
SINTOMAS MAIS FREQUENTES DE ESTRESSE PRÉ-COMPETITIVO EM COMPETIDORES DE
TAEKWONDO
Marcos Armani Ramírez; Marisa Mendes Götze
Centro de Estudos em Psicologia do Esporte e Exercício | ULBRA-Canoas
Resumo
Conhecer, compreender e identificar os sintomas de estresse pré-competitivo em atletas de Taekwondo torna-se,
portanto, de suma importância para um desenvolvimento completo do competidor, exigindo de seu treinamento, um
equilíbrio entre os aspectos físicos, técnicos e psicológicos. O objetivo principal deste trabalho foi verificar os sintomas
mais frequentes de estresse pré-competitivo em praticantes de Taekwondo. Esta pesquisa caracteriza-se como
descritiva do tipo quantitativa, onde como instrumento analisador foi utilizado o questionário denominado Lista de
Sintomas de “Stress” Pré-Competitivo Infanto-Juvenil (LSSPCI), De Rose Jr. (1998). Podemos concluir que os sintomas
de estresse pré-competitivo mais frequentes nos competidores da amostra estavam relacionados com o pensamento
destes atletas, concluindo assim que são sintomas cognitivos.
Abstract
Knowing, understanding and identifying pre-competitive stress symptoms in Taekwondo athletes it is, therefore, of
paramount importance for a complete competitor's development, demanding of its training, a balance between the
physical, technical and psychological aspects. The main objective of this study was to determine the most common
symptoms of pre-competitive stress in Taekwondo practitioners. This research is characterized as descriptive of the
quantitative type, where a questionnaire was used as an analyzer instrument, called the List of Pre-Competitive Stress
Symptoms in Children and Youth (LSSPCI), by Rose Jr. (1998). We conclude that the pre-competitive stress symptoms
more frequent in the subjected competitors were related to the thought of these athletes, thus concluding that they are
cognitive symptoms.
Palavras Chave: Estresse; Pré-competição; Taekwondo.
1. Introdução
Tendo em vista o atual quadro de
competitividade dentro dos esportes, o respaldo
psicológico passa a ter tanta importância quanto o
treinamento físico. O estresse, de forma positiva
ou negativa, gera reações físicas e psicológicas
do organismo, em situações que podem deixar o
individuo com medo, sem reação, irritado e até
mesmo feliz.
Existe uma serie de fatores que levam o
atleta a redução de seu rendimento, dentre eles a
cobrança excessiva dos pais, técnicos e a
'concorrência' com colegas até da mesma equipe,
porém, maior do que todas essas, é a
autocobrança que leva o atleta ao maior nível de
estresse. Como consequência, pode ocorrer
também o abandono da pratica esportiva e a
perda de futuros atletas (BECKER Jr., 2008;
PIRES et al, 2005).
O Taekwondo, uma arte marcial coreana,
exige de seus praticantes, assim como todas as
artes marciais por suas bases teóricas milenares,
uma demanda muito grande de esforço físico,
concentração e dedicação, ou seja, um equilíbrio
entre o estado físico e o mental. A carreira de um
atleta seja ele de alto nível ou apenas um
praticante amador, que se propõe a fazer parte de
uma equipe de competição, exige tempo e
entrega total aos treinos, ás viagens e
competições, exige abdicar-se de momentos com
a família assim como lidar com a pressão
existente para se manter na equipe ou na posição
alcançada. Alguns conseguem lidar bem com
estes fatores psicológicos, porem, outros
encontram mais dificuldades em conduzir tais
situações, aumentado seus níveis de ansiedade.
Além de um a arte marcial, o Taekwondo é
também um esporte de combate, consagrando-se
desporto olímpico oficial nas Olimpíadas de
Sydney, em 2000.
A prática esportiva competitiva, em todos
os seus níveis, é considerada uma grande fonte
de estresse. Nos momentos que antecedem uma
competição, são gerados alguns fatores de
estresse bem específicos, como os situacionais,
onde a importância dada ou imposta ao evento e a
incerteza do resultado final ativam as fontes
pessoais de estresse, como a ansiedade física
social, ansiedade-traço e a auto-estima do
competidor.
Weinberg & Gould (2001) definem a
ansiedade como um estado emocional negativo,
que pode ser dividida em ansiedade cognitiva,
onde o atleta apresenta um estado de
preocupação e apreensão; e uma ansiedade
somática, em que se evidencia um grau de
ativação física percebida, com uma variação dos
componentes de humor. Há duas formas
diferentes de manifestação da ansiedade que
ajudam a entender as possíveis variações dos
níveis de ativação frente às situações de
estresse, denominadas ansiedade-estado e
ansiedade traço. Sendo a primeira um estado
emocional temporário que faz referência as
reações do individuo a situações específicas, e a
segunda como uma característica da sua
personalidade, uma tendência ou disposição
comportamental adquirida que influência o seu
comportamento em situações gerais.
Segundo Guillén García (2006), “o
estresse é definido pelas Ciências Médicas como:
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
122
o estado de tensão excessivo resultante de uma
ação brusca ou continuada para o organismo”.
Ainda para Guillén García (2006), no que se
refere ao aspecto psicológico do esporte,
estresse se define como uma “grande solicitação
psíquica e/ou física, vivida como uma carga e que
conduz a reações de defesas específicas para
dominar a situação ameaçadora”. De forma
isolada, o estresse pode ser um fator positivo,
gerando reações para determinadas tarefas,
preparando o indivíduo a lidar com uma situação
nova, porem, o acumulo desse estresse junto às
excessivas cobranças externas e a autocobrança
do atleta em períodos de pré-competição, podem
ter aspectos negativos, tanto nos fatores
psicológicos quanto no físico durante a
competição.
Para Weinberg & Gould (2001) o estresse
é composto por 4 estágios: no primeiro,
apresentado como demanda ambiental, podendo
ser física ou mental, podemos citar como exemplo
um praticante que precisa executar sozinho
movimentos de ataque e defesa recém
aprendidos na frente de colegas, técnico ou de
seus pais. No segundo estágio existe a
percepção de demanda ambiental, ou seja, a
“ameaça” psicológica ou física detectada, onde
dois alunos da mesma equipe podem interpretar
de maneiras diferentes o fato de executar tais
movimentos na frente de outras pessoas. No
terceiro estágio há uma resposta ao estresse,
momento em que será verificado o nível de
ativação, de ansiedade, o comportamento
muscular e a alteração na atenção do atleta, ou
seja, momento em que será verificada uma ação
positiva ou negativa do indivíduo em relação ao
estresse ocorrente. No quarto e último estágio
apresentam-se as conseqüências
comportamentais sobre essa situação de
estresse, ou seja, desempenho e resultado da
execução dos movimentos solicitados.
Estes 4 estágios mostram que o estresse
será visto de diversas formas e o desempenho na
competição dependera da forma com que cada
competidor encara a situação estressante.
Dependendo do seu nível de preocupação ou
medo, o organismo do atleta poderá desencadear
diversas reações, como alterações na pressão
arterial, na freqüência cardíaca, o agravamento
de patologias respiratórias, assim como
alterações no humor, no sono e na concentração.
Essas reações poderão ser observadas até
mesmo dias antes da competição, podendo gerar
pausas indesejáveis no treinamento e mais horas
de atendimento médico ao atleta.
O presente estudo justifica-se baseado
em que, para De Rose Jr. (2005), existem vários
aspectos psicológicos que podem influenciar os
atletas em qualquer modalidade esportiva, como
a motivação, a ansiedade, estresse, atenção,
concentração e agressividade, fatores que
podem ser apresentados de forma isolada ou
combinados entre si. O desempenho e resultado
do competidor dependerão da forma com que ele
vai reagir frente ao agente estressante, reação
que dependera de seu tempo de treino e prática,
experiências vivenciadas dentro e fora do âmbito
do esporte, seu nível de habilidade, idade e sexo.
As competições de Taekwondo exigem
um alto grau de concentração, esforço físico e
habilidades específicas do esporte,
caracterizando assim, que neste esporte de
combate não basta apenas ser o mais forte ou
mais rápido, o competidor devera estar no
equilíbrio ideal entre o estado físico e o mental.
Sendo que este equilíbrio, somente será
alcançado com horas intermináveis de
treinamento, com dedicação e entrega, com
muito suor e por muitas vezes com lágrimas,
sejam de alegria ou tristeza. Neste processo
preparatório para a competição, muitas vezes os
treinadores esquecem que o competidor é mais
do que um simples atleta, mais do que um degrau
para seu próprio sucesso. É um ser humano em
constante desenvolvimento, com seus próprios
objetivos, medos e anseios, e por muitas vezes,
pelos mais diversos motivos, são ensinados a não
expressarem suas fraquezas, acumulando de
forma negativa seus reais sentimentos.
Conhecer, compreender e identificar os
sintomas de estresse pré-competitivo em atletas
de Taekwondo torna-se, portanto, de suma
importância para um desenvolvimento completo
do competidor, exigindo de seu treinamento, um
equilíbrio entre os aspectos físicos, técnicos e
psicológicos.
O objetivo principal deste trabalho foi
verificar os sintomas mais freqüentes de estresse
pré-competitivo em competidores de Taekwondo.
2. Método
Este pesquisa caracteriza-se como
descritiva do tipo quantitativa, onde como
instrumento analisador foi utilizado o questionário
denominado Lista de Sintomas de “Stress” PréCompetitivo Infanto-Juvenil (LSSPCI), De Rose
Jr. (1998), formado por 31 questões, em uma
escala Likert de 1 a 5. Sendo 1 (nunca), 2 (poucas
vezes), 3 (algumas vezes), 4 (muitas vezes) e 5
(sempre).
A população deste estudo constitui-se da
Equipe Drangons de Taekwondo, da cidade de
Guaiba-RS, sendo a amostra composta por 16
atletas de ambos os sexos, com idade entre 14 e
21 anos, definidos por seu técnico como
participantes regulares em competições de
Taekwondo. A coleta de dados foi realizada no
mês de Abril de 2012.
3. Resultados e discussão
Realizou-se um agrupamento em dois
níveis de resposta da escala de medida do
questionário: consideradas a ocorrência de
sintomas nunca e poucas vezes (respostas 1 e 2)
e considerados os sintomas que ocorrem com
mais freqüência (respostas 4 e 5). As respostas
correspondente a algumas vezes (3) foram
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
123
consideradas neutras e não apresentadas nos
resultados.
Tabela 1. Sintomas que ocorrem nunca ou poucas
vezes (respostas 1 e 2)
Na tabela 1 identificou-se que apesar da questão
menos valorizada seja “A presença de meus pais
na competição me preocupa”, ou seja, um sintoma
cognitivo, a maioria dos 7 itens menos
importantes para estes competidores referem-se
aos sintomas somáticos, apontando reações
corporais ou fisiológicas sentidas pelos atletas.
Questões como “Sinto muita vontade de fazer
xixi”, “Fico Aflito” e “Roo (como) as unhas” não
obtiveram valorização expressiva. Muitas vezes
essa ativação corporal em demasia pode ser mais
facilmente identificada como sinal de que algo
esta errado até mesmo por quem não tem
conhecimento sobre os aspectos dos sintomas de
estresse pré-competitivo. Um atleta que antes da
competição vai em demasia ao banheiro, ou que
esta sempre roendo as unhas ou até mesmo
produzindo suor em excesso, tem chances
maiores de ser identificado com alguma resposta
negativa ao estresse pré-competitivo do que o
atleta que aparentemente não obteve nenhuma
alteração na sua rotina corporal.
Tabela 2. Sintomas que ocorrem com maior
freqüências (respostas 4 e 5)
As questões mais valorizadas,
apresentadas na tabela 2, apontam sintomas
cognitivos, evidenciando pensamentos dos
atletas horas antes da competição. Os itens “Não
vejo a hora de competir”, “Tenho medo competir
mal” e “Fico preocupado (a) com o resultado da
competição” foram os 3 itens mais citados,
identificando os principais sintomas cognitivos
apontados pelos competidores. Estes resultados
demonstram um grau de ansiedade elevado, ou
seja, um estado emocional negativo caracterizado
pelo aumento do nervosismo, preocupação e
apreensão. Cada atleta apresentará este quadro
de ansiedade de uma determinada maneira,
caracterizando uma ansiedade-estado ou
ansiedade-traço.(WEINBERG & GOULD,2001).
Na tabela 2 destacaram-se também as
questões “Fico ansioso” e “Tenho medo de
perder”. Marques et al. (2010) citam que a
competição, fonte situacional de estresse, pode
provocar as mais adversas
reações no
organismo dos atletas como: ansiedade, medo de
competir mal, agressividade, alem de alto nível de
altos níveis de cortisol. A euforia, a angústia e a
irritação também são alterações visíveis sob o
efeito de agentes estressores. O competidor de
artes marciais, durante o combate, deve estar em
um estado de ansiedade ideal, em um equilíbrio
entre o foco de atenção (movimentos do
oponente) e a utilização de suas habilidades para
reação. A alta ativação da ansiedade, a irritação e
a agressividade em excesso podem desviar seu
foco no oponente, levando também a má
execução ou a utilização ineficaz de suas técnicas
de combate.
Em um estudo realizado por De Rose Jr.
et al (2000) com 723 jovens de 10 a 17 anos, ficou
evidenciado que as questões cognitivas foram as
que mais prevaleceram em atletas do sexo
masculino e feminino.
Os itens “Fico preocupado (a) com o
resultado da competição”, “Tenho medo de
competir mal” e “Tenho medo de perder” estão
diretamente relacionados aos fatores situacionais
de estresse, onde podemos citar a importância
dada ou imposta ao evento e a incerteza do
resultado final. Um evento pode ser da menor
importância para a maioria dos atletas, porem
para um determinado competidor pode ser a luta
mais importante, podendo ser a sua luta de estréia
em uma competição internacional, ou a sua
primeira luta após um longo e árduo período de
recuperação de uma lesão ou até mesmo pode
ser a primeira competição em que seus pais
estarão presentes. Todos os envolvidos na
preparação de um competidor devem ter
consciência de que mesmo sem se dar conta
podem criar incertezas no atleta, gerando dúvidas
sobre si mesmo, sobre sua capacidade de
competir e sair vitorioso.
O fator “Tenho medo de decepcionar as
pessoas”, também evidenciado nos sintomas
mais freqüente, está ligado ao pensamento do
atleta parente seu treinador, sua equipe e até
mesmo a seus pais ou parentes próximos que os
acompanham. Nestes aspectos, a pesquisa de
Barros e De Rose Jr. (2006) com 216 atletas de
ambos os sexos, demonstrou que as atitudes dos
pais e técnicos, além do ambiente competitivo,
foram grandes geradores de estresse, interferindo
no desempenho dos mesmos. Neste estudo,
conforme resultados apresentados na tabela 1,
podemos observar que para o grupo pesquisado a
presença dos pais na competição foi apontado
como o item que menos gera preocupações,
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
124
porem, os sintomas mais frequentes
apresentados na tabela 2 demonstram que estes
competidores possivelmente transferem esses
sentimentos para pessoas alheias a sua família,
como treinadores e ou colegas de equipe.
O Taekwondo configura-se como esporte
de competição individual, porem, o competidor
nas artes marciais tem a determinação de não
lutar apenas pelo seu resultado particular, mas
também em obter resultados que elevem ou
mantenham um status já alcançado de sua
equipe, de seu treinador, seu 'mestre'. Esse
aspecto pode ter grande influência nos resultados
que expressam o medo de competir mal, perder e
o medo de decepcionar as pessoas.
Em uma situação de estresse, onde a
competição seja de uma considerável
importância e o resultado seja incerto, os atletas
reagirão de diversas maneiras. O competidor que
excede seu nível ideal de ansiedade e ativação é,
possivelmente, aquele que possui uma
ansiedade mais elevada e que percebe a situação
como até mais importante do que realmente é. O
competidor com uma menor ansiedade, também
poderá apontar uma elevada ansiedade-estado,
porem, como tende a encarar a competição como
menos ameaçadora, sua ansiedade-estado e
ativação provavelmente estarão em uma
variação ideal.
4. Conclusão
Podemos concluir que os sintomas de
estresse pré-competitivo mais frequentes nos
competidores da amostra estavam relacionados
com o pensamento destes atletas, concluindo
assim que são sintomas cognitivos.
A pressão sofrida pelos competidores, a
importância do evento, a incerteza diante dos
resultados da competição e a fase de
desenvolvimento que se encontram estes atletas,
provavelmente, tenham contribuído para que
estes sintomas de estresse e ansiedade fossem
identificados na pesquisa.
Concluímos também que por se constituir
de uma amostra muito pequena, esta pesquisa
não pode ser referida como padrão de
comportamento entre competidores de
Taekwondo. Apontamos também que este estudo
não fez qualquer distinção nos resultados entre
faixas etárias, tempo de treinamento, tipo de
competição (poomse ou kyorugui) e sexo dos
analisados.
O Taekwondo, enquanto esporte de
combate que cada vez se torna mais competitivo,
exige, assim como em todos os esportes, de seus
técnicos, instrutores, 'mestres' e todos envolvidos
no seu ensinamento, mais do que conhecimento
das suas bases filosóficas da arte marcial e estilo
de vida, exige também que este profissional
busque junto a outras áreas, como a psicologia
por exemplo, entender as necessidades do aluno,
d o p r a t i c a n t e , d o a t l e t a c o m p e t i d o r.
Necessidades, medos e anseios que vão alem do
desenvolvimento das valências físicas, que
ultrapassam as linhas do 'tatame' e encontram
abrigo nos seus pensamentos, nas suas fantasias
e desejos diários.
Recomenda-se que sejam realizados
novos estudos com amostra expressiva e
levando-se em conta as diversas variáveis como
idade e sexo. Técnicos e atletas devem sempre
estar atentos aos sintomas referentes ao estresse
e suas conseqüências, assim como devem
reavaliar seus métodos de treinamento,
pensando sempre na importância de um trabalho
multidisciplinar, onde cada profissional atue na
sua área, mas de forma conjunta para que possa
contribuir no desenvolvimento da equipe
esportiva e obter os resultados almejados para o
esporte.
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WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da
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Paulo, ArtMed, 2000.
Marcos Armani Ramírez
Endereço para correspondência:
Rua Flavio Santana, 977, Bairro Colina, Cep. 92500000, Guaiba/RS
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Telefone: (51) 3055.6122 ou (51) 8169.1303
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
125
AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA DO ESPORTE PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
ARENAS, Maria Emilia Nunes Rodrigues1; BEZERRA, Danithielli1; NICOLETTI, Lucas Portilho2
1
Discentes do Curso de Educação Física do Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV
Docente do Curso de Educação Física do Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV
2
RESUMO
Considerando o esporte como fenômeno sociocultural, esse trabalho analisa seu ensino na disciplina de educação física
e na formação de alunos enquanto praticantes de modalidades esportivas coletivas, utilizando a Pedagogia do Esporte
como instrumento que beneficie e integre uma metodologia que contribua para um conhecimento integral do aluno,
refutando o modelo tradicional que é voltado exclusivamente para o esporte de rendimento, e privilegiando um
ensino/aprendizagem do esporte que vá além de gestos técnicos sistematizados, buscando assim uma prática
qualificada que supre as necessidades do aluno, favorecendo uma reflexão docente sobre o que ensinar, como ensinar e
para quem ensinar. A intenção deste trabalho é verificar as contribuições da Pedagogia do Esporte no contexto escolar,
tendo em vista a formação do aluno, as práticas desportivas e a atuação do professor.
Palavras chave: Esporte. Pedagogia do Esporte. Aluno. Educação Física.
ABSTRACT
Considering the sport as a sociocultural phenomenon, this paper analyzes their teaching in the discipline of
physical education and training of students as practitioners of sports collective, using a Pedagogy of Sport as
a tool to benefit and integrate a methodology that contributes to a full knowledge of the student, rejecting the
traditional model that is dedicated exclusively to the sport of income, and favoring a teaching/learning the
sport that goes beyond technical systematized gestures, thus seeking a qualified practice that meets the
needs of the student, encouraging teachers to reflect on what teach, how to teach and who teach. The intent of
this project is to examine the contributions of Sport Pedagogy in the school context, in view of the student's
education, sports practices and teacher performance.
Keywords: Sports. Pedagogy of Sport. Student. Physical Education.
INTRODUÇÃO
Com o passar dos tempos o esporte
tornou-se uma prática social e popular,
manifestando-se através de diferentes
modalidades, de forma individual ou coletiva,
sendo considerado um fenômeno que é
praticado e visto em qualquer lugar do
mundo.
Durante muito tempo, a prática de
esportes manteve um caráter competitivo voltado
ao rendimento com a seleção dos mais
habilidosos para as grandes competições.
Hoje podemos verificar que o esporte faz
parte da cultura popular obtendo um caráter
social, democrático e inclusivo, sendo
considerado um meio, forma e solução para a
construção integral do indivíduo.
Partindo da ideia de que o esporte é uma
prática social, seus significados e sentidos
mudam de acordo com o contexto em que é
empregado, dentro do ambiente escolar, assume
um caráter educacional, com o objetivo de fazer
com que todos participem, interajam e sejam
inclusos nas aulas de Educação Física,
proporcionando a construção do conhecimento
através de práticas educativas, com aquisição de
valores ao se executar qualquer modalidade
esportiva.
O esporte como conteúdo do
componente curricular da disciplina de Educação
Física deverá possibilitar a reflexão, levando o
aluno a compreender, tolerar e respeitar seus
limites e suas dificuldades, além das
particularidades dos colegas, sendo assim um
instrumento para educar, orientar e intervir na
realização das práticas esportivas.
Diante desta visão Rosseto et al; (2008, p.
21-22) afirma:
[...] o esporte deve contribuir para a
formação do cidadão crítico e
participativo por meio da Educação
Física... quando vinculado à educação, à
cidadania, e à comunidade, é
necessário, por parte dos professores,
ampliarem olhares e horizontes para
além da formação de “atletas”.
O professor terá como função transmitir o
conhecimento e acompanhar o processo de
aprendizagem de seus alunos, através de meios
que vão além do gesto técnico e das regras
determinadas, buscando a aquisição de valores
fundamentais como respeito e tolerância que
serão de vital importância em cada etapa do
aprendizado das modalidades esportivas.
O esporte educacional deverá transmitir
um conjunto de valores e atitudes voltados à
construção do conhecimento do aluno, sem a
preocupação com o gesto técnico sistematizado,
que o esporte rendimento exige para execução e
aprendizagem dos movimentos.
Com isso ainda é importante destacar
duas influências que atuam ao se relacionar
ESPORTE X ESCOLA. São elas o esporte da
escola e o esporte na escola que estão presentes
no contexto escolar.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
126
O Esporte da Escola é definido como
aquele que visa a participação de todos,
buscando a compreensão e reflexão da prática,
sem a preocupação com os gestos técnicos, o
simples fato de tentar é o suficiente.
Já o Esporte na Escola visa o gesto
técnico, a seleção daqueles que possuem
habilidades refinadas, e a reprodução de regras
com objetivo de preparar os alunos para
competições em busca de vitórias.
Assim, procura-se desvendar o
significado do esporte enquanto conteúdo da
educação física escolar e sua influência na
aquisição das habilidades, além de orientar e
investigar o professor em sua prática pedagógica,
a fim de definir e buscar meios nos quais possa se
ensinar o esporte no contexto escolar de forma
que aluno e professor possam compartilhar
informações e experiências.
Para tal podemos usar a Pedagogia do
Esporte que facilitará e viabilizará um
aprendizado coerente das modalidades
esportivas.
Ao ensinar uma modalidade esportiva
deve-se buscar uma didática que faça uma
mediação entre aspecto educacional e prática
esportiva, de maneira que proporcione ao aluno
uma formação crítica e consciente.
A Pedagogia do Esporte mostra-se
responsável por oferecer metodologias
adequadas para que isso ocorra, ou seja, para
que o aluno possa receber um ensino completo,
compreendendo os diversos aspectos físicos,
sociais e educacionais que se encontram
inseridos numa modalidade esportiva.
Discutindo a Pedagogia do Esporte é
possível compreender como sua atuação nas
aulas de educação física oportuniza aos alunos,
além da aprendizagem dos fundamentos da
modalidade esportiva, o desenvolvimento da
autonomia, da criatividade, e da inteligência
individual ou coletiva, e uma prática de resolução
de problemas e de convívio social e ético.
Paes; Balbino (2005, p. 15) acredita que:
“ Um dos desafios metodológicos mais
significativos está em compreender o esporte
como um fenômeno sociocultural e desenvolvelo, considerando sua pluralidade de
manifestações, significados, ações, ambientes e
personagens”.
Observa-se assim a importância da
Pedagogia do Esporte para que se obtenha nas
aulas de educação física um trabalho com
conteúdos qualificados, que contribuam para um
bom desenvolvimento do aluno.
Este trabalho tem como objetivo
contribuir para a reflexão docente relacionada à
prática esportiva no ambiente escolar.
A PEDAGOGIA
Para Piaget (1998, p.181) “A pedagogia
é como a medicina: uma arte, mas que se apóia
- ou deveria se apoiar – sobre conhecimentos
científicos precisos”.
Desta forma a pedagogia apresenta-se
como uma ciência do saber, ligada à condução do
conhecimento de maneira que leva o indivíduo a
transcender além da teoria, buscando-se através
dela informações necessárias para desenvolver o
aprendizado.
Libâneo (1994, p.24) define pedagogia
como:
Um campo de conhecimentos que
investiga a natureza das finalidades da
educação numa determinada
sociedade, bem como meios
apropriados para a formação dos
indivíduos, tendo em vista prepará-los
para as tarefas da vida social. Uma vez
que a prática educativa é o processo
pelo qual são assimilados
conhecimentos e experiências
acumuladas pela prática social e
humanidade, cabe à pedagogia
assegurá-lo, orientando-o para
finalidades sociais e políticas.
Nesta perspectiva a pedagogia
apresenta-se como responsável por analisar os
procedimentos necessários para que a prática
educativa se aplique de forma adequada no
contexto escolar, fazendo com que os
professores tenham um comprometimento com o
ensino e a aprendizagem, e não apenas
transmitam o seu conhecimento.
Diante disso Libâneo (2000, p.22)
considera que:
[...] para tornar efetivo o processo
educativo, é preciso dar-lhe uma
orientação sobre as finalidades e meios
da sua realização, conforme opções que
se façam quanto ao tipo de homem que
se deseja formar e ao tipo de sociedade
a que se aspira. Esta tarefa pertence à
pedagogia como teoria e prática do
processo educativo.
Desta forma, a pedagogia atua
organizando o processo de ensino/aprendizagem
visando à formação qualificada do homem,
através de práticas educativas, tornando-o
racional e pensante, e orientando-o a traçar
diferentes formas para melhorar suas relações
sociais, tendo como base uma educação oriunda
de processos educativos, alcançados através da
pedagogia.
Para Freire (1996, p. 47) é preciso “saber
que ensinar não é transferir o conhecimento, mas
criar as possibilidades para sua própria produção
ou a sua construção”.
O ESPORTE
O esporte caracteriza-se como uma
prática sociocultural que proporciona a aquisição
de valores fundamentais a seus praticantes
desde o respeito, a compreensão, até a inclusão
de todos aqueles que se interessam pelas
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
127
modalidades esportivas. Dessa maneira,
possibilita que o homem se desenvolva em sua
totalidade, tornando-se um símbolo da expressão
humana
Tubino (1993, p. 61) afirma que “o
esporte é considerado um extraordinário
instrumento de paz e um dos melhores meios de
convivência humana, devido a sua característica
lúdica e sua tendência de promover a
confraternização entre os diferentes participantes
das competições”.
Nesta perspectiva, o esporte deve
constituir-se de diversos princípios, entre eles a
participação, a cooperação, a coeducação e a
convivência, pois estes formam a base para o
desenvolvimento do aluno enquanto cidadão e
praticante de esporte.
Além disso, o esporte tornou-se uma
prática social, com caráter educativo, que
beneficia e desenvolve variadas qualidades e
também habilidades do aluno, visando à
construção do conhecimento, tanto durante a
prática, quanto nas relações pessoais na
sociedade.
Diante disso, Galatti; Paes (2007, p. 34)
destacam que:
O esporte é uma representação
simbólica da vida, de natureza
educacional, podendo promover no
praticante modificações, tanto na
compreensão de valores como nos
costumes e modos de comportamento,
interferindo no desenvolvimento
individual, aproximando pessoas que
tem, neste fenômeno, um meio para
estabelecer e manter um melhor
relacionamento social.
Ainda sobre o esporte no contexto
escolar, destacam-se duas linhas de pensamento
que são importantes quando se discute sobre
esporte.
A primeira diz respeito ao Esporte na
Escola e a segunda ao Esporte da Escola.
ESPORTE NA ESCOLA
Filho et al (2009) descreve que após a
Segunda Guerra Mundial, difundiu-se no Brasil o
Método da Educação Física Desportiva
Generalizada, por Auguste Listello, e nesse
método a ênfase no esporte estava muito
presente, o que influenciou sua atuação cada
vez mais significativa na escola.
Assim, pode-se afirmar que esta forte
influência do esporte no espaço escolar fez com
que houvesse uma prevalência do esporte na
escola e não do esporte da escola.
Santos et al (2006, p. 26) descreve que o
esporte na escola apresenta as seguintes
características: “reprodução de regras já
existentes, exclusão dos não aptos ou menos
habilidosos, aumento da complexidade e não
criatividade na construção das atividades”.
Analisa-se assim que, no esporte na
escola o esporte é trabalhado através de
repetições dos fundamentos até que ocorra uma
sistematização de movimentos, e tendo como
função o desenvolvimento e aperfeiçoamento do
gesto técnico e de táticas, além de ocasionar a
seleção dos mais habilidosos, com utilização e
reprodução de regras já existentes, as quais
objetivam rendimento atlético/desportivo,
competições e vitórias, sendo comparado ao
esporte-rendimento.
Desta forma, o esporte na escola
transmite para o aluno um significado de que o
bom desempenho em competições é a principal
finalidade da prática esportiva, o que proporciona
uma exclusão dos menos habilidosos, e uma
visão de que o aluno se resume em um executor
de fundamentos esportivos, e o esporte em uma
prática com técnicas e táticas que devem ser bem
executadas, e não de que este (o esporte) é capaz
de transmitir valores e de transformar alunos em
bons cidadãos.
Observa-se também que ocorre uma
mudança na atuação dos componentes da aula,
onde o professor passa a ser um treinador e o
aluno um atleta, o que faz com que o esporte não
seja ensinado de maneira que desenvolva os
alunos em diferentes aspectos, mas sim que ele
seja apenas treinado, visando sucesso em
competições esportivas.
ESPORTE DA ESCOLA
Tubino (1993, p.26-27) afirma que:
Ao contrário, em vez de reproduzir o
esporte de rendimento, esta
manifestação deve ser mais um
processo educativo na formação dos
jovens, uma preparação para o exercício
da cidadania. O esporte-educação tem
um caráter formativo, por isso, ele deve
ser desenvolvido na infância e na
adolescência, na escola e fora dela, com
a participação de todos, evitando a
seletividade e a competição acirrada.
Analisa-se assim, que o Esporte da
Escola é aquele que visa à construção do
aprendizado, a partir de valores como autonomia
e respeito, priorizando a participação coletiva,
sem utilização de habilidades técnicas refinadas,
sendo possível adequá-los ao nível de
aprendizagem que os alunos adquiriram,
desenvolvido a partir das táticas dos jogos,
buscando compreender a prática.
O esporte tem que tomar uma conotação
diferente, na qual o aluno tenha uma perspectiva
crítica onde possa realmente fazer o seu esporte
levando em consideração suas características e
sua situação real, e não apenas praticá-lo, como
afirma Santos et al (2006).
Neste contexto, o esporte escolar deve
assumir um caráter educacional voltado ao
aprendizado, o importante é fazer com que o
aluno se interesse e tenha autonomia para opinar,
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
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128
discutir, desfragmentar e interferir em quaisquer
modalidades esportivas, sendo o protagonista de
seu próprio conhecimento.
Desta maneira, o esporte da escola terá
um significado, que leve o aluno à pensar a
prática sem preocupação com a performance
e/ou desempenho, cada etapa do aprendizado
será construída de acordo com o conhecimento
obtido durante a realização da prática desportiva.
Diante disso, o esporte na Educação
Física deverá fornecer meios para a construção e
concretização do aprendizado do aluno em sua
totalidade, contribuindo efetivamente para a
formação integral humana.
PEDAGOGIA DO ESPORTE
Diante de tudo isso, apresenta-se a
Pedagogia do Esporte, que vem auxiliar o
professor de Educação Física no ensino da
prática das modalidades esportivas coletivas.
Galatti; Paes (2007) descrevem que o
ensino das modalidades esportivas coletivas teve
seu início, aproximadamente na década de 1960
e apresentou o ensino do esporte com modelos,
nos quais, a repetição dos denominados
fundamentos esportivos era utilizada para a
fixação da aprendizagem, enfatizando-se a
qualidade do gesto, considerando-a apenas
quando este se apresentava de modo perfeito,
assim acreditava-se que através da repetição dos
movimentos isolados o aluno aprenderia a se
garantir no jogo, entretanto, começou a ser
observado que o aluno que sabia realizar os
fundamentos de uma determinada modalidade
separadamente, não conseguia mostrar atitudes
diante das situações que um jogo apresenta,
desta forma, a partir da década de 1970 e início da
década de 1980, surgem estudiosos como Bayer
(1976–França), Bento e Garganta
(1993–Portugal) com novas propostas
relacionadas ao processo de ensino das
modalidades esportivas coletivas, que,
conseqüentemente, estimulou a criação de novas
propostas de ensino do esporte coletivo.
Desta maneira, verifica-se a Pedagogia
do Esporte como:
[...] um campo do conhecimento que
trata do relacionamento entre o Esporte
e a Educação. A Pedagogia do Esporte
é direcionada para dar os fundamentos
teóricos para a prática dos esportes
com o objetivo de melhorar o
desenvolvimento do homem e
enriquecer a qualidade de vida
(BARBANTI, 2003, p. 450).
Nesse sentido, a Pedagogia do Esporte
mostra-se como a junção entre esporte e
educação, atuando como responsável por
conceder ao esporte um aspecto mais educativo.
Para Bento (2004) apud Greco; Silva
(2008) o esporte pedagógico e educativo é
aquele que oferece oportunidades, instala
barreiras e opções para que o aluno possa
experimentar, analisando regras e convivendo
com outros alunos. Isso facilitará o processo de
aprendizagem do esporte, atendendo às
exigências educacionais.
Para Sadi (2008, p.381) a Pedagogia do
Esporte:
[...] é uma subárea ou campo
especificamente responsável pelo
desenvolvimento de metodologias
adequadas para atividades individuais
e/ou coletivas, cujo tratamento didáticoesportivo é baseado no ensino das
táticas e técnicas por meio de jogos.
Analisa-se, que a Pedagogia do Esporte
é responsável por estabelecer os métodos
utilizados e as maneiras como estes serão
aplicados no ensino, na especialização e no
treinamento do esporte, considerando também o
contexto em que uma determinada modalidade
esportiva está inserida.
Nesta perspectiva, utiliza-se para o
ensino das modalidades esportivas,
principalmente, as táticas e técnicas presentes
em um jogo.
Daólio; Velozo (2008, p. 9) consideram
“[...] a técnica como o conjunto de modos de fazer
e a tática como as razões do fazer”.
Assim, esses componentes são a base
para a aprendizagem do esporte, pois é através
deles que o aluno terá subsídios para saber
executar os fundamentos e participar das jogadas
desenvolvidas no contexto do jogo.
Entretanto, isto não significa se
preocupar apenas com o “como fazer”, pois,
observa-se também que o ensino do esporte deve
conter procedimentos adequados, no sentido de
ter como objetivo o desenvolvimento integral do
aluno, ou seja, que ele além de aprender o
esporte desenvolva aspectos como
responsabilidade, autonomia, inteligência e
capacidade para solucionar problemas durante
um jogo e, podendo assim, transferi-las para o
seu dia-a-dia.
Considera-se assim que o esporte deve
ser ensinado em seu âmbito geral, o que significa
que os alunos irão aprender os fundamentos,
desenvolver as habilidades, além de atitudes,
valores e condutas, orientados a também utilizálas fora das aulas.
Desta forma, a Pedagogia do Esporte
atua como elemento essencial que desenvolve
métodos adequados para que se ensine o esporte
e além do esporte.
Greco; Benda (1998, p. 22) apud
Reverdito; Scaglia (2009, p.106) afirmam que:
“Nossa proposta busca a autonomia do aluno em seus
atos e decisões, através de uma maior compreensão
do jogo e de um aumento de conhecimento tático, por
meio da prática do próprio jogo, através de suas
estruturas funcionais”.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
129
Greco (1998, p. 48) apud Reverdito;
Scaglia (2009, p.114) descreve ainda que: “O
método de ensino-aprendizagem-treinamento dos
jogos esportivos coletivos [...] deve relacionar e
considerar que a aprendizagem pode ser
compreendida como a construção e modificação
constante dos sistemas individuais de ação[...]”.
Esta proposta considera que o processo
de ensino dos esportes deve utilizar os jogos
esportivos coletivos, visando sua compreensão, e
isto deve ser feito através de diferentes situaçõesproblema (estruturas funcionais) e
contextualizações destas nos jogos adaptados.
Além disso, ela possibilitará um processo
de ensino que proporcione uma aprendizagem
motora para o desenvolvimento tático, em um
processo que objetive não só aprimorar as
capacidades de jogo nesse desenvolvimento,
mas sim, trabalhar o/no aluno para que ele
consiga obter um bom desempenho esportivo
diante de uma situação problema criada no jogo.
Freire (2006), considera que o processo
de ensino-aprendizagem do esporte começa pelo
que o aluno já sabe, considerando também a
historicidade desse indivíduo.
O autor afirma ainda, que o ideal é trazer
a pedagogia da rua para dentro da escola,
relacionando assim o ambiente sociocultural do
aluno com um novo fazer.
Nesta perspectiva, Freire (1994), elegeu
quatro princípios básicos que devem ser
norteadores para o trabalho do professor: ensinar
esporte a todos; ensinar bem esporte a todos;
ensinar mais que esporte a todos e ensinar a
gostar do esporte.
Observa-se que ao se ensinar um
esporte, o professor não deverá excluir os menos
habilidosos, pois todos os alunos são capazes de
aprender, sendo importante transmitir um ensino
qualificado, ou seja, o professor deverá ser
cuidadoso, preocupando-se acima de tudo em
fazer com que os alunos participem das aulas de
forma eficaz e com qualidade.
É preciso ir além do esporte, ensinar
também valores como conviver em grupo,
construir regras e discuti-las, proporcionando um
desenvolvimento moral e social do aluno,
utilizando uma pedagogia que não seja fraca,
enfadonha e autoritária, pois desta forma os
alunos apenas aprendem as habilidades, e
rapidamente se cansam das aulas.
AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
O esporte apresenta-se como um
fenômeno sociocultural de grande importância no
contexto escolar, pois possui influência direta nas
aulas de Educação Física, que caracterizam-se
pelo ensino de modalidades esportivas, e
constitui a base para a construção do
aprendizado e dos valores fundamentais que os
alunos devem obter ao praticar esporte.
Nas aulas de educação física se encontra
representada a maioria das práticas esportivas
dos alunos, por isso é importante ter uma
metodologia que vise o desenvolvimento do aluno
nos aspectos físico, social, afetivo e cognitivo, ou
seja, o seu desenvolvimento integral.
Isso significa que a Educação Física deve
ultrapassar os limites da prática, ensinando o
esporte de modo que o aluno possa transferir o
que aprendeu em aula para sua vida social.
Segundo Betti; Zuliani (2002, p.75)
A educação física enquanto
componente curricular da Educação
básica deve assumir então uma outra
tarefa: introduzir e integrar o aluno na
cultura corporal de movimento,
formando o cidadão que vai produzi-la,
reproduzi-la e transformá-la,
instrumentalizando-o para usufruir do
jogo, do esporte, das atividades rítmicas
e dança, das ginásticas e práticas de
aptidão física, em benefício da
qualidade da vida.
Assim, a educação física mostra-se como
disciplina responsável por auxiliar os alunos na
sua consciência corporal, o que inclui saberes
como educação, cidadania e formação humana,
que serão de fundamental importância para que
os alunos possam relacionar esses
conhecimentos com o conteúdo das aulas e com
o seu cotidiano.
O educador (professor) deverá
possibilitar o desenvolvimento e crescimento dos
alunos, fazendo destes, críticos, capazes de
conduzir, construir e transformar o conhecimento
adquirido, em prol do benefício próprio e social.
Faz–se do esporte um meio para novas
experiências, valores e vivências.
Nesta perspectiva, o professor será o
mediador entre o conhecimento e a prática do
esporte, que terá função de fazer com que os
alunos se interessem e interajam durante as
aulas.
Cabe ao professor também verificar as
dificuldades e limitações que os alunos possuem,
além da inclusão de todos, podendo assim
construir métodos que possam auxiliar na
melhora das habilidades e capacidades
necessárias à prática.
Assim, segundo Galatti et al; (2008, p.
398) o esporte
[...] como conteúdo da Educação Física
na escola, deverá ser oferecido de forma
que o aluno possa compreendê-lo
integralmente, conhecendo suas
diferentes modalidades; seu ensino
deverá abranger conhecimentos
teóricos e práticos, dando oportunidade
ao aluno de aprender e vivenciar seus
fundamentos, compreender suas
regras, bem como conhecer sua história
e evolução.
A prática de esporte nas aulas deverá
proporcionar aos alunos o prazer, que será
fundamental para fazer com estes se interessem
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130
e participem das aulas, além de possibilitar a
inclusão e construção de valores que serão
importantes para a formação integral do indivíduo
que o pratica.
O objetivo do esporte na Educação
Física é acima de tudo construir o conhecimento,
não só se limitando ao ensino e aprendizagem de
modalidades esportivas e regras, tampouco à
seleção dos mais habilidosos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após realizarmos uma criteriosa revisão
de literatura sobre Pedagogia do Esporte,
verificamos os diferentes aspectos da aplicação
desta e também sua atuação no ensino das
modalidades esportivas coletivas, assim como
sua importância no contexto escolar e,
principalmente nas aulas de Educação Física,
sendo vital para a elaboração de uma
metodologia que seja desenvolvida
adequadamente ao se relacionar com as práticas
desportivas.
Consideramos que a Pedagogia do
Esporte poderá ser importante para a
aprendizagem das modalidades esportivas,
influenciando diretamente nas aulas de
Educação Física, pois desenvolve o aluno em sua
plenitude e atua na construção de um indivíduo
crítico, autônomo e reflexivo.
Analisamos também, que o esporte
deverá ser desenvolvido em todas as suas
dimensões, fazendo assim com que o aluno saiba
usufruir deste de maneira que beneficie na sua
formação, e que seu conhecimento vá além de
gestos esportivos, tornando-se assim uma prática
de valores.
Acreditamos que com a Pedagogia do
Esporte é possível construir uma prática esportiva
voltada não só para o esporte de rendimento, mas
sim para algo que transmita a essência do
esporte.
A Pedagogia do Esporte torna-se assim
um instrumento para desenvolver o esporte de
qualidade, contribuindo para que as aulas de
Educação Física sejam inclusivas e interativas,
favorecendo um aprendizado que vai além do
gesto técnico e/ou de regras determinadas.
Diante disso, ela proporciona além de
aprendizagem e aprimoramento de habilidades e
capacidades motoras, a aquisição de valores
fundamentais para desenvolver uma prática
esportiva consciente, autônoma e além de tudo
diferenciada, buscando uma aula de Educação
Física que seja indispensável para a formação de
um cidadão atuante e reflexivo na sociedade
moderna.
Portanto, a Pedagogia do Esporte pode
ser fundamental para ensinar quaisquer das
modalidades esportivas coletivas, interferindo
positivamente na prática escolar, na prática
esportiva, na sociedade e na formação de alunos
enquanto seres ativos e em constante
transformação.
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TUBINO, Manoel. O que é Esporte. São Paulo:
Editora Brasiliense, coleção Primeiros Passos, 1993,
p.26-61.
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131
A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE MODERNA NA AQUISIÇÃO DAS HABILIDADES MOTORAS
FUNDAMENTAIS
Paulo Neves de Oliveira Junior1; Alaércio Perotti Junior1.2.3
1
Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS, Araras, SP.; 2UNIP, Campinas, SP; 3Faculdade
Integrada Einstein de Limeira – FIEL, Limeira, SP.
RESUMO
Na aquisição de habilidades motoras fundamentais devemos levar em consideração a relação entre os múltiplos
subsistemas do organismo, ambiente e tarefa. Através dessa relação os seres humanos adquirem e desenvolvem
habilidades motoras durante seu ciclo de vida. As experiências motoras identificadas por meio dos padrões
fundamentais de movimento devem estar presentes no dia-a-dia das crianças, mas até algum tempo atrás, atividades
vivenciadas espontaneamente pelas crianças bastavam para a aquisição de habilidades motoras, formando uma base
para seu aprendizado. Esse estudo teve como objetivo verificar o estágio de desenvolvimento motor na habilidade salto
vertical e relacionar com as influências de fatores ambientais difundidos nos aspectos socioculturais em crianças de 6 e
7 anos de idade. Foram analisadas 24 crianças na tarefa motora do salto vertical. Cada criança realizou o teste motor,
comparando o resultado com o protocolo adaptado de Gallahue e Ozmun (2005). Para os aspectos socioculturais,
buscaram-se informações através de um questionário sobre a rotina diária da criança a respeito de atividade física,
prática de esportes/brincadeiras e hábitos diários. Com base nos resultados de desempenho das crianças verificamos
que essa amostra se encontrou em estágios diferentes, relacionando com os dados do questionário, encontramos
apontamentos que nos dão a indicação que as restrições existentes ligadas às atividades motoras estão afetando o
alcance do estágio motor maduro. Este trabalho teve um caráter descritivo experimental exploratório mostrando a
sociedade que é preciso oportunizar a reconquista do espaço da criança, resgatando sua cultura lúdica e melhor uso do
tempo disponível, para compensar a falta de atividade física pertinente a sua idade.
Palavras chave: Desenvolvimento Motor; Habilidades Motoras Fundamentais; Salto Vertical.
ABSTRACT
When acquiring fundamental motor abilities one should consider the relation between the multiple organism subsystems,
environment and task. Through this relationship humans acquire and develop motor skills during their life cycle. The
motor experiences identified through fundamental movement patterns must be present on the day to day life of kids, but
until some time ago, spontaneous activities experienced by children sufficed for the acquisition of motor skills, forming a
basis for learning. This study had the objective to verify the stage of motor development on the ability of vertical jump e
relate it to the influences of environmental facts disseminated on social cultural aspects on kids from 6 to 7 years old. 24
kids were investigated on the vertical jump task. Each child accomplished the motor exam, comparing the result to the
protocol adapted by Gallahue and Ozmun (2005). For social cultural aspects, information about daily routine, physical
activities, sports, games and daily habits from the children was researched through a written questionnaire. According to
the showing results from the children we verified that this sample has come across different stages, relating to the
information from the questionnaire, we have come across some indication that showed us that the existing restrictions
linked to motor activities are affecting the fully developed motor stage. This job had a descriptive experimental and
exploring character showing the society that giving the children opportunity to reconquer their space is needed to rescue
their playful culture and better use of time, to compensate the lack of physical activity relevant to their age.
Key words: Motor development; Fundamental Motor abilities; Vertical Jump.
INTRODUÇÃO
O ser humano por meio do movimento do
corpo se interage com o meio em que vive e se
relaciona de varias formas através da relação
entre os múltiplos subsistemas do organismo,
ambiente e tarefa (GONÇALVES, 1997). Através
dessas interações os seres humanos adquirem e
desenvolvem habilidades motoras durante o seu
ciclo de vida, sendo essa a questão principal de
estudiosos da área do desenvolvimento motor,
buscando identificar, definir e entender as
mudanças que ocorrem no corpo humano em
movimento, que se torna mais complexo
conforme se desenvolve (TANI et al. 1988;
GALLAHUE; OZMUN, 2005).
As investigações sob o processo de
desenvolvimento motor têm como preocupação
central esclarecer os mecanismos e processos
subjacentes às mudanças do comportamento
motor relacionados ao relacionados ao ciclo da
vida. A aquisição dos padrões motores de
movimento é de vital importância para o domínio
das habilidades motoras. As aulas de Educação
Física na escola podem ajudar nesse processo,
com a criação de um ambiente adequado para a
criança, oferecendo experiências e promovendo
o desenvolvimento motor com aprendizado nas
habilidades específicas (TANI et al.,1988).
O mover-se de uma criança, garante uma
interação delas com o meio em que vivem.
Através do movimento as crianças aprendem
sobre si, seus limites, suas capacidades físicas e
na solução de problemas motores. Paim (2003)
cita que é comum encontrar indivíduos adultos
que não atingiram o padrão maduro das
habilidades motoras fundamentais,
apresentando-se ainda nos estágios inicial ou
elementar, sendo levantada a possibilidade de
atraso no desenvolvimento motor estar associada
á falta de oportunidades motoras, reflexo de
hábitos da vida moderna, em que a TV, vídeo
games e computadores, a violência das ruas
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
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132
dentre outros, vêm restringindo as formas de
brincar e diminuindo as experiências motoras nas
crianças (TANI, 1987).
Essa falta de oportunidades se refere às
novas formas comunicação e entretenimento que
a sociedade moderna impõe as crianças que
nascem nessa nova era. Betti (1998), relata que
essas novas formas abrem novas possibilidades
de percepção do mundo, mas a escola e a família
são acusadas de impotência, desatualização e
despreparo em face às novas condições do
mercado de trabalho, dos interesses infantojuvenis, das necessidades do mundo
contemporâneo, com o impacto provocado pelas
novas linguagens audiovisuais e tecnologias
eletrônicas como a televisão, o computador, as
redes de informática e os jogos eletrônicos que
questionam valores, objetivos e conteúdos
tradicionais da educação.
As crianças lidam com o movimento de
forma bastante variada comparado a outras fases
de sua vida (MAFORTE et al., 2007),
experimentando novas brincadeiras, com novas
possibilidades e encarando novos desafios. Tani
et al. (1988) enfatizam que uma criança
participante de atividades motoras,
especialmente em que o lúdico está presente só
para se movimentar apenas quando suas
energias se esgotam.
Como o desenvolvimento motor é
considerado por Tani et al. (1988), um processo
contínuo e demorado devido as mudanças mais
acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de
vida, sendo crucial para determinação que tipo de
adulto a pessoa se tornará mantendo-se a ideia
de que este processo de desenvolvimento é
permanente, sendo importante o estudo do
movimento das diversas fases de
desenvolvimento motor no período natal, na
infância, na adolescência e na vida adulta.
As experiências motoras, identificadas
através dos padrões fundamentais de movimento
devem estar presentes no dia-a-dia das crianças,
mas até algum tempo atrás, atividades
vivenciadas espontaneamente pelas crianças
bastavam para a aquisição de habilidades
motoras, formando uma base para seu
aprendizado, entretanto a alteração na estrutura
social e econômica da sociedade atual, dados os
processos de modernização e inovações
tecnológicas tem proporcionado mudanças nos
hábitos cotidianos na vida dessas crianças,
tornando-as sedentárias (SPENCE; LEE, 2003,
apud, STABELINI NETO, 2004).
Maforte et al. (2007), citam que é preciso
levar em consideração no processo de aquisição
das habilidades motoras as experiências por
meio da interação entre os múltiplos subsistemas
do organismo, do ambiente e o tipo de tarefa a ser
executada por cada indivíduo. Considerando
essas variáveis, algumas mudanças na estrutura
social da população, interfere no alcance do
estágio maduro de habilidades motoras
fundamentais de crianças?
Portanto os objetivos do presente estudo
foram verificar o estágio de desenvolvimento
motor na habilidade salto vertical e relacionar com
as influências dos fatores ambientais frente à
sociedade moderna, mais especificamente sobre
alguns aspectos socioculturais, em crianças de 67 anos de idade.
Tendo em vista a importância de uma
estimulação adequada no período de
desenvolvimento motor em crianças, por meio
deste estudo verifica-se a relação das influências
ambientais e desempenho motor de crianças,
trazendo subsídios que ampliam o conhecimento
na área, trazendo informações aos pais,
professores e sociedade em geral sobre as
necessidades de desenvolvimento motor pleno
frente às necessidades ambientais das crianças.
O estudo formou-se de uma pesquisa
bibliográfica associada a uma pesquisa de campo
de natureza qualitativa com análises comparativa
descritiva, sendo que a coleta de dados foi
formada por um questionário destinado aos pais
ou responsáveis das crianças seguido de um
pedido de autorização de gravação de imagens
que posteriormente foram analisadas e
classificadas de acordo com a lista de checagem
adaptada proposta por Gallahue e Ozmun (2005).
MATERIAL E MÉTODO
O estudo foi realizado através de uma
pesquisa bibliográfica associada a uma
pesquisa de campo.
Para a pesquisa bibliográfica, Severino
(2007), indica os três tipos de análises para
elaboração do estudo literário: a textual que
busca os textos as serem analisados, a temática
que busca saber o que o texto fala e a
interpretativa que busca compreender as ideias e
assuntos a serem defendidos no artigo
desenvolvido, sendo utilizada para a investigação
e validação dos dados obtidos. Assim a pesquisa
contou com as palavras chaves:
Desenvolvimento Motor, Habilidades Motoras
Fundamentais e Salto Vertical, para análise e
organização das leituras.
A pesquisa de campo Gil (1999)
demonstra que há uma maior flexibilidade,
podendo ser realizada mesmo que os objetivos
possam ser reformulados durante o processo da
pesquisa, sendo utilizadas mais as técnicas de
observação do que interrogação.
Sujeitos
Participaram deste estudo, 24 crianças,
de ambos os sexos, com faixa etária entre seis
anos a sete anos (+ 6 meses). A escolha das
crianças se fez pelas características
desenvolvimentistas da faixa etária. Elas foram
escolhidas por uma amostra probabilística
estratificada e por acessibilidade do pesquisador
com a escola escolhida.
A amostra probabilística estratificada
segundo Marconi e Lakatos (1996), pode ser
formada por grupos já existentes na população,
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
133
utilizando como base para a constituição dos
estratos atribuídos aos indivíduos como idade e
sexo.
Instrumentos de pesquisa
A análise dos dados é de natureza
qualitativa que segundo Thomas e Nelson (2002)
é um método sistemático de investigação, que
progride de um processo indutivo no
desenvolvimento de hipóteses e teoria à medida
que os fatos são descobertos. A abordagem
qualitativa é aquela que considera que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
isto é, um vínculo indissociável entre o mundo
objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode
ser traduzido em números.
As análises foram realizadas pelos
métodos comparativo e descritivo procedente da
investigação de indivíduos, classes fenômenos
ou fatos, ressaltando as diferenças e
similaridades, determinando a natureza da
relação entre elas, utilizando técnicas
padronizadas de coleta de dados (GIL, 1999).
Foi utilizado como instrumento de
pesquisa, um questionário com questões
fechadas, o qual foi respondido pelo responsável
do aluno, visando obtenção de informações sobre
a rotina diária da criança a respeito de atividade
física, prática de esportes/brincadeiras e os
hábitos diários. O questionário segundo Marconi
e Lakatos (1996), é um instrumento de coleta de
dados composto por perguntas que devem ser
respondidas por escrito sem a presença do
pesquisador, sendo que junto com o questionário
deve ser enviada uma carta explicativa sobre a
natureza da pesquisa, sua importância e a
necessidade da obtenção das respostas.
O questionário foi enviado aos pais pelas
próprias crianças, sendo que foram seguidos de
orientação da direção da escola, sendo
posteriormente devolvidos junto com o Termo de
Compromisso Livre e Esclarecidos (TCLE)
preenchidos e assinado, autorizando o uso das
informações e a captura das imagens para o teste
motor. Para a validação dos dados motores, foi
utilizado o protocolo adaptado de Gallahue e
Ozmun (2005).
Para a realização das filmagens, foi
utilizada uma câmera digital com função
filmadora. Os alunos foram retirados da aula um a
um, levados ao local da filmagem, sendo
instruídos a ficarem na posição lateral direita, com
o olhar voltado para frente e realizar um salto
vertical apenas com a instrução de saltar o mais
alto possível. Cada criança realizou três saltos,
sendo escolhido para análise o salto com melhor
desempenho. Após a coleta, as imagens foram
passadas para um computador e catalogadas, e
através do programa de exibição de imagens foi
selecionado o vídeo com melhor desempenho de
cada criança.
Com os vídeos selecionados, cada um foi
transformado em frames com auxilio de programa
de computador e feita uma seleção de frames
para ser analisado de forma global, utilizando
como checagem o protocolo adaptado de
Gallahue e Ozmun (2005).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética e Mérito Científico do Centro Universitário
Hermínio Ometto – FHO UNIARARAS, sob o
parecer número 559/2011.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tendo em vista a importância de uma
estimulação adequada no período de
desenvolvimento motor em crianças, por meio
deste estudo verificou-se a relação das
influências dos aspectos do organismo, do
ambiente e do tipo de tarefa a ser executada.
Procurou-se trazer subsídios que ampliam o
conhecimento na área e informações aos pais,
professores e sociedade sobre as necessidades
de desenvolvimento motor pleno frente às
necessidades das crianças.
O desenvolvimento humano refere-se às
alterações do nível de funcionamento do
organismo do indivíduo ao longo de sua vida
(GALLAHUE; OZMUN, 2005), podendo ser
definido como uma alteração adaptativa em
direção as habilidades motoras, implicando que
no decorrer da vida, se faz necessários ajustes
para obter ou manter uma habilidade.
O estudo do desenvolvimento motor
pode ser considerado por Gallahue e Ozmun
(2005), como o aparecimento e implicação da
habilidade de um indivíduo para funcionar em um
nível mais elevado, reconhecendo que esse
desenvolvimento é amplo com processos
permanentes, referindo-se o que ocorre e como
ocorre no organismo humano, desde sua
concepção até sua maturidade.
Para esse processo de desenvolvimento,
devemos levar em conta elementos que
desempenham um papel principal que é a
maturação e a experiência do indivíduo. A
maturação é entendida como as características
herdadas geneticamente que resiste às
influências externas ou ambientais e a
experiências são os fatores ambientais que
alteram o aparecimento das características
desenvolvimentistas do processo de
aprendizagem (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Esses dois elementos estão entrelaçados
evitando saber qual gera mais influências durante
o processo de aprendizagem.
Paim (2003) cita que o desenvolvimento
motor pode ser visto pelo desenvolvimento
progressivo do movimento, caracterizando o
movimento observável do indivíduo. Esses
movimentos observáveis são divididos por
Gallahue e Ozmun (2005) como movimentos
estabilizadores, locomotores e manipulativos. O
movimento estabilizador refere-se a qualquer
movimento que o corpo realiza para se manter ou
obter o equilíbrio em relação à força da gravidade.
Os movimentos locomotores são movimentos
que envolvem mudanças na localização do corpo
relativamente a um ponto fixo na superfície. O
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
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movimento manipulativo se diz pela manipulação
motora rudimentar que envolva força contra um
objeto ou na recepção da força dele, e a
manipulação motora refinada que envolve o uso
complexo dos músculos da mão e do punho.
Esse desenvolvimento pode ser visto
como um processo sequêncial, composto por
mudanças qualitativas identificadas por fases,
níveis e estágios, baseados na teoria dos
estágios para o entendimento e exploração do
processo de aquisição de habilidades motoras.
Nesta teoria dos estágios Gallahue e
Ozmun (2005), classificam como um modelo de
desenvolvimento, identificando em estágios
específicos, observados em quatro fases: fase
dos movimentos reflexos, fase dos movimentos
rudimentares, fase dos movimentos
fundamentais e fase dos movimentos
especializados ou culturalmente determinados.
Essas fases estão associadas ao eixo temporal
da vida, sendo que as habilidades motoras
fundamentais são divididas em estágio inicial,
elementar e maduro (MARQUES, 1996).
O estágio inicial representa as primeiras
tentativas orientadas para desempenhar uma
habilidade, caracterizado por elementos que
faltam ou que apresentam uma sequência
imprópria com uso limitado ou exagerado do
corpo compreendendo crianças com 2 a 3 anos
de idade. No estágio elementar a criança requer
de maior controle e coordenação dos movimentos
fundamentais, aprimorando a sincronização dos
elementos corporais e espaciais, mas ainda os
padrões são restritos ou exagerados, sendo
observados em crianças com 4 a 5 anos de idade.
O estágio maduro é caracterizado por
movimentos mecanicamente eficientes,
coordenados e controlados, sendo observados
em crianças com 6 a 7 anos (GALLAHUE;
OZMUN, 2005).
Nessa proposta, os estágios são
analisados de acordo com as configurações do
corpo, sendo que cada estágio apresenta
características observáveis nos membros do
corpo, sendo que este desenvolvimento pode
estar relacionado à idade, mas não dependem
dela, sendo que à medida que as crianças
avançam na idade, o processo de progressão dos
movimentos são otimizados e seu desempenho
aumentado.
O ser humano está sempre em constante
desenvolvimento, todos os dias algo novo é
incorporado no repertório motor da criança. O
movimento exerce uma função essencial no
processo de desenvolvimento das habilidades
motoras, sendo que a fase mais importante se
encontra na infância segundo Isayama e Gallardo
(1998), o que torna necessário um maior
conhecimento desta fase por parte do profissional
de Educação Física Escolar.
Uma das habilidades motoras
fundamentais pode ser observada por meio do
salto vertical ou salto em altura, sendo que este
envolve a projeção do corpo verticalmente no ar,
com impulso dado por um ou dois pés
(GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Em relação à análise dos estágios
motores os dados mostraram que, para essa
amostra, as crianças em relação à habilidade
motora fundamentais no salto vertical elas se
encontram em diferentes estágios.
Através de uma análise observacional
descritiva, os desempenhos das crianças
utilizados nesse estudo foram classificados de
acordo com os estágios propostos por Gallahue e
Ozmun (2005). A análise dos dados revelou que
no estágio inicial, foram encontradas 10 crianças,
no estágio elementar 6 crianças e no estágio
maduro 8 crianças. As dificuldades de
desenvolvimento do salto vertical encontradas
foram falha em agachar com ângulo aproximado
de 90º, falha em estender o corpo, pernas e
braços e coordenação pobre das ações das
pernas e braços, sendo que a maioria delas
deveriam se encontrar no estágio maduro de
desenvolvimento do salto vertical.
As crianças que não se encontram no
estágio motor maduro,conforme a literatura
propõe, podem estar relacionadas às influências
internas e externas impostas aos indivíduos
durante a aquisição das habilidades motoras
fundamentais. Estas influências são impostas ora
pela restrição do organismo, da tarefa e do
ambiente e influenciam na realização dos
movimentos criando um estado de desequilíbrio,
trazendo mudanças qualitativas que deixam o
sistema melhor organizado e capacitado para a
realização das tarefas motoras (GONÇALVES,
1997).
Essas restrições são fronteiras ou
características que podem limitar o movimento,
sendo que para um organismo com enormes
possibilidades de ações, essas restrições
proporcionam a organização de um sistema de
ação. Embora essas restrições sejam
importantes para a emergência de
comportamentos, deve haver uma interação
entre elas.
As restrições ambientais, referem-se às
mudanças no comportamento onde o movimento
está sendo realizado, envolvendo tanto aspectos
físicos quanto aspectos socioculturais. Maforte et
al. (2007), relata que o estado socioeconômico
pode também influenciar diretamente no
desenvolvimento motor de crianças, levantando a
possibilidade que a falta de oportunidade, como
reflexo da sociedade moderna, em que TV,
videogames e computadores associados à
violência das ruas entre outros fatores,
restringem a forma de brincar e as experiências
motoras.
Com relação aos resultados do
questionário aplicado verificamos que para a
questão que abordava a quantidade de horas
disponibilizadas pelos pais para as atividades
realizadas pelas crianças foi verificado que as
crianças dispõem de quantidade de horas
grandes para brincar, apenas 1 criança dispõe de
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
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até duas horas, 7 crianças dispõem de até 3 horas
e 16 crianças dispõem de 3 horas por dia ou mais
para realizar suas atividades.
Nesse tempo destinado a brincadeira a
criança deve encontrar relações necessárias
para seu desenvolvimento motor, se permitindo à
diversificação de experiências de movimento e na
exploração do corpo e espaço, aumentando sua
cultura motora fundamental para a realização de
tarefas motoras mais precisas.
Ao perguntar quais atividades que as
crianças mais praticam dentro das horas
estabelecidas, os resultados mostram que as
atividades ligadas à estrutura moderna da
sociedade como usar o computador com internet,
os jogos eletrônicos, a TV, vídeo e DVD, são as
atividades mais praticadas pelas crianças.
Uma vez que para o desenvolvimento de
uma cultura corporal da criança o contato com
atividades ligadas ao desenvolvimento, o lar tem
se tornado o principal espaço de lazer com o uso
de micros e equipamentos eletrônicos
sofisticados.
Segundo Marcelino (2006), a mudança
de percepção do lazer na vida das pessoas
poderia trazer mudanças na qualidade de vida
das grandes metrópoles. A falta de espaços de
lazer contribuiu para o enclausuramento das
pessoas em suas casas por não terem opções de
lazer em espaços públicos junto com a
contribuição da violência das cidades,
aumentando o lazer doméstico amparado nas
possibilidades individuais eletrônicas, buscando
apenas o lazer entretenimento, deixando de lado
o lazer convivência social e a prática de
atividades ligadas ao movimento corporal.
Para a questão que queria saber onde as
atividades são realizadas pelas crianças,
verificamos que devido às influências geradas
pela sociedade, as crianças deixaram de ter onde
brincar se não dentro de sua própria casa, onde
20 das crianças não têm opções para poderem
realizar suas atividades e/ou brincadeiras,
diminuindo a aquisição de seu repertório motor,
sendo que os padrões motores emergem das
possibilidades de interações com o ambiente
(MAFFORTE et al.,2007).
CONCLUSÕES
Com base nos resultados do
desempenho das crianças verificamos que a
maioria delas ainda se encontra no estágio
elementar e inicial. Com base nas respostas do
questionário aplicado e dos dados motores,
encontramos apontamentos que nos dão a
indicação que as restrições existentes ligadas às
atividades motoras das crianças estão afetando o
alcance do estágio motor maduro. Uma possível
explicação para tais resultados deve-se ao fato de
que hoje em dia as crianças não possuem
espaços próprios para brincar, passando a maior
parte do tempo, envolvidas com atividades sem
muito movimento corporal.
A sociedade precisa oportunizar a
reconquista do espaço das crianças, resgatando
sua cultura lúdica pertinente a sua idade de modo
a compensar a ausência de atividades em
espaços adequados, bem como a família deve
criar oportunidades, oferecendo uma melhor
qualidade no tempo disponível as crianças.
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Paulo Neves de Oliveira Junior
Rua 3 CJ nº 464
Bairro Cidade Jardim
CEP 13501 040
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Tel. 19 9407 2187
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
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MOTIVOS E DIFICULDADES PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE
ACADEMIAS DE GINÁSTICA E ESTÚDIOS DE TREINO PERSONALIZADO
1
André Luis Aroni1, Marcelo Callegari Zanetti2,3 e Afonso Antonio Machado3
USF de Bragança Paulista 2UNIP de São José Rio Pardo e 3 LEPESPE/I.B./UNESP de Rio Claro
RESUMO: A prática de atividades físicas em academias de ginástica e estúdios de treinamento personalizado tem
ganhado cada vez mais seguidores, este fato leva muitas empresas e profissionais a investirem maciçamente neste tipo
de negócio, contudo, a alta rotatividade de alunos apresenta-se como uma das principais ameaças para ambos os
negócios. Para fidelizar estes clientes é necessário identificar os seus objetivos e dificuldades na realização de
atividades físicas, e assim sugerir uma rotina viável de treino. O objetivo deste estudo foi comparar os motivos e
dificuldades apresentados pelos alunos de três academias de ginástica e dois estúdios de treinamento personalizado,
para a prática de atividades físicas. Participaram desta pesquisa 144 alunos (76 mulheres e 68 homens), com idades
entre 14 e 84 anos [M = 34.3; DP = 14.6], que responderam um questionário com questões abertas. Todos estavam
inscritos como alunos em um dos cinco estabelecimentos participantes, quatro na cidade de Campinas/SP e um na
cidade de São José do Rio Pardo/SP. Os dados foram coletados entre os dias 13 de fevereiro e 2 de março de 2012, os
alunos foram questionados em relação aos aspectos que os fazem praticar atividade física na academia e, quais são
suas principais dificuldades para treinar, em ambas questões o aluno poderia apresentar como resposta até dois
motivos/dificuldades, posteriormente, os dados foram tabulados e apresentados em valores percentuais. Como
principais resultados, saúde (36,6%) e estética (22,8%) foram os motivos mais apresentados pelos alunos das
academias de ginástica, saúde (45,3%) e condicionamento físico (29,6%) foram os motivos mais apresentados pelos
alunos dos estúdios de treinamento personalizado. A falta de tempo (33,8%) e a preguiça (25,4%) foram as principais
dificuldades apresentadas pelos alunos das academias de ginástica, enquanto a falta de tempo (31,7%) mostrou-se
como a principal dificuldade nos estúdios. Tais resultados demonstram uma mudança de valores dentro das academias
nos últimos anos, aspectos como a aquisição de um estilo de vida mais saudável e com maior qualidade de vida vêm
ganhando espaço, antes ocupado abundantemente por fatores estéticos e de culto ao corpo. Esta inversão de valores e
as dificuldades da vida moderna nos levam a refletir sobre nossos programas de treinamento, é necessário mudar e
encontrar novas soluções para aumentar a adesão em tais programas.
PALAVRAS CHAVE: motivação; atividade física; academias e treinamento personalizado.
MOTIVES AND DIFFICULTIES FOR THE PRACTICE OF PHYSICAL ACTIVITY: A COMPARISON BETWEEN
GYMS AND PERSONAL TRAINING STUDIOS
ABSTRACT: The practice of physical activities in gyms and personal training studios have gained more clients, this fact
leads many companies and professionals to invest heavily in this business, however, the high turnover of students is
presented as one of the threats to both businesses. In order to retain these customers must be identified your goals and
difficulties in performing physical activities, and thus suggest a viable workout routine. The objective of this study was to
compare the reasons and difficulties presented by the students of three gyms and two personal training studios, for the
practice of physical activity. 144 students participated of this study (76 women and 68 men) aged between 14 and 84 years
old [M = 34.3, SD = 14.6], who answered a questionnaire with open questions. All were enrolled as students in one of the
participating institutions, four in Campinas city and one in Sao Jose do Rio Pardo city, both in São Paulo state. Data were
collected between February 13 and March 2, 2012, the students were asked about the motives to practice physical activity
and also what would be your main difficulties to practice, each student could present two motives and difficulties.
Afterward, the data were tabulated and presented in percentages. The main results, health (36.6%) and aesthetics
(22.8%) were the most answered by students at gyms, while health (45.3%) and fitness (29.6%) were the reasons more
presented by students of personal training studios. Lack of time (33.8%) and laziness (25.4%) were the main difficulties
presented by the students at gyms, while the lack of time (31.7%) proved to be the main difficult in the personal training
studios. Such results demonstrate a shift in values within the academy in recent years, issues such as the acquisition of a
healthier lifestyle and improved quality of life are more representative, formerly occupied by aesthetic factors and body
worship. This inversion of values and the difficulties of modern life lead us to reflect on our training programs, it is
necessary to change and find new solutions to increase membership in such programs.
KEY WORDS: motivation; physical activity; gyms and personal training.
INTRODUÇÃO
Etimologicamente, a palavra motivo vem
do latim "movere, motum", significando aquilo que
faz mover, e motivar significa provocar movimento
(TEIXEIRA et al., 2005). Quando se fala em
motivação, entende-se que se quer compreender
os fatores e processos que conduzem as pessoas
a uma ação ou a inércia em diversas situações.
Vários fatores motivam o ser humano, tanto de
forma interna como externa. Cratty (1984), em
seus trabalhos, explica que tais fatores internos e
externos podem ser compreendidos, de forma
intrínseca, pelos motivos resultantes da própria
vontade do indivíduo, enquanto os extrínsecos
dependem de fatores externos, tais como,
diversas recompensas sociais e sinais de
sucesso. Outras fontes podem ser resultado da
estrutura psicológica do indivíduo e de suas
necessidades pessoais de sucesso, sociabilidade
e reconhecimento.
Conforme evidencia Cruz (1996), os
estudos acerca da motivação são
complexamente direcionados para responder
inúmeras questões, as quais a ênfase é entender
o porquê desses ou daqueles comportamentos.
No âmbito da atividade física, este autor afirma
que os comportamentos dos indivíduos são
reflexos de três dimensões motivacionais:
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
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Direção: porque é que certos indivíduos
escolhem determinadas práticas de
atividades físicas?
· Intensidade: porque que é que certos
indivíduos se esforçam mais que outros
na prática de tais atividades?
· Persistência: porque é que determinados
sujeitos continuam a prática da atividade
física e outros abandonam?
A motivação, para Samulski (2002), é
definida como uma totalidade de fatores, que
determinam o comportamento dos indivíduos
dirigido a um determinado objetivo. O autor ainda
afirma que ela depende da interação de fatores
pessoais (intrínsecos) e ambientais
(extrínsecos), sendo caracterizada como um
processo ativo, intencional e dirigido a uma meta.
A teoria da motivação apresentada por
Samulski (2002), visão também compartilhada
por Machado (2006) e Weinberg e Gould (2001),
apresenta uma determinante energética (nível de
ativação) e uma determinante de direção do
comportamento (intenções, interesses, motivos e
metas).
Weinberg e Gould (2001) afirmam que a
motivação pode ser definida simplesmente como
a direção e a intensidade de nosso esforço. Esses
mesmos autores acreditam, ainda, existir 3
orientações gerais de motivação: a visão
centrada no traço, ou visão centrada no
participante, que sustenta a idéia de que o
comportamento motivado se dá, primeiramente,
em função de características individuais, ou seja,
a personalidade, as necessidades e os objetivos
de um aluno, atleta ou praticante de exercícios
são os determinantes principais do
comportamento motivado; a visão centrada na
situação, entendendo que o nível de motivação é
determinado primariamente pela situação, ou
seja, algumas atividades as pessoas podem se
sentir motivadas, enquanto em outras não; e a
visão interacional, visão esta a mais comum e
aceita, que entende que a motivação é fruto da
interação dos fatores relacionados com o
indivíduo e com a situação, numa espécie de
fusão das duas visões relatadas anteriormente.
A motivação, compreendida pelo
processo de força e direção a um determinado
comportamento, segundo Brandão e Valdés
(2005), se traduz na capacidade de um indivíduo
de manter seus esforços na presença dos mais
variados estímulos pessoais e sociais, sejam eles
negativos ou positivos, e influenciam a seleção, a
aderência, o esforço e a qualidade da atividade
executada.
Para Machado (2006), a motivação se
torna um referencial importante para definir as
decisões tomadas pelo ser humano, por isso,
todas as decisões terão no componente
“motivação” uma aliada que comprometerá
positivamente, ou não, o resultado da ação. A
importância que deve ser dada ao processo
motivacional também é enfatizada por Gouvêa
·
(2000), que acredita que a motivação é um dos
temas centrais relacionados aos assuntos
humanos. Exemplos disso são: a política, onde se
discute os desejos da sociedade, os pais
preocupados com seus filhos, professores que se
preocupam com os estudos de seus alunos,
treinadores protestando sobre o compromisso
dos jogadores, todos têm a ver com o nível de
motivação.
Por isso, um dos principais fatores que
interferem no comportamento de uma pessoa é,
indubitavelmente, a motivação, que influi com
muita propriedade em todos os tipos de
comportamento, permitindo um maior
envolvimento ou uma simples participação em
atividades que se relacionem com a
aprendizagem, o desempenho e a atenção
(WEINBERG, GOULD, 2001; TEIXEIRA et al.,
2005), o que também é discutido por Paim (2001)
que relata que na relação ensino aprendizagem,
em qualquer ambiente, conteúdo ou momento, a
motivação constitui-se como um dos elementos
centrais para a execução bem sucedida.
Para Geraldes e Dantas (1998), os
motivos e a evolução dos métodos e objetivos que
levam o homem a busca da atividade física, vêm
de épocas remotas, no qual, o conceito de
totalidade orgânica tem ganhado adeptos desde
a antiga Grécia, já que tais povos reconheciam a
necessidade do equilíbrio mental, social e físico.
Os mesmos ideais foram apregoados, diversos
séculos mais tarde, por filósofos europeus como
Locke e Russeau. Essa perspectiva na
antiguidade clássica não era exclusividade dos
gregos já que Juvenal, no mundo Romano, no
século I da Era Cristã, apregoava essas
necessidades por meio da expressão “mens sana
in corpore sano”. Por isso, atualmente, torna-se
claro, que o maior motivo e incentivo para a
prática da atividade física reside em sua
relevância, cientificamente comprovada, como
coadjuvante na aquisição e manutenção da
saúde.
Porém, para Fernandes (2005),
atualmente nos deparamos com a valorização de
um padrão de beleza, qual seja, aquele do corpo
belo, jovem e sempre “em forma” a ser
conquistado a partir de múltiplas possibilidades
de intervenção: dietas, cosméticos, cirurgias
plásticas, ginásticas, medicamentos. A constante
exposição do corpo feminino na mídia também
reafirma a necessidade de cuidados específicos e
da busca constante pela “saúde” associada aos
avanços tecnológicos.
Neste sentido, Frugoli (2004) considera
que com este aumento da preocupação com a
saúde e a estética, houve um aumento no número
de locais especializados nesta questão, no qual,
as academias de ginástica e os estúdios de
treinamento personalizado tornam-se também,
em micros espaço relevantes para o
entendimento das novas relações e interações
sociais. Num panorama geral nas sociedades
ocidentais, os serviços à disposição dos
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
139
indivíduos que querem, e podem cuidar do corpo,
aumentaram significativamente nas mais
variadas faixas etárias. No Brasil, como em
grande parte do mundo, ambos os gêneros são
estimulados constantemente ao padrão corporal
veiculado pelos canais midiáticos.
Porém, Silva e Daólio (2000) acreditam
que podemos compreender a busca por um corpo
belo como um fenômeno cultural, tendo em vista o
grande número de imagens divulgadas pelos
meios de comunicação, além da quantidade de
produtos, alimentos e práticas direcionadas à
beleza corporal. Isso se deve ao fato da aparência
física ser forte elemento nas relações sociais, pois
a ela são atribuídos alguns significados e, ao
buscar certos modelos corporais, há também a
busca pela transformação pessoal e a
representação de diferentes papéis em nossa
sociedade. Nas sociedades modernas podemos
caracterizar a beleza corporal como um fato
social, pois, pelo que podemos perceber, há uma
busca coletiva por um corpo belo, embora haja
diferentes construções desse corpo em diversas
sociedades e grupos sociais. A cultura de
consumo parece exercer uma forte influência
nessa construção de corpos belos, já que divulga
uma grande circulação de imagens do consumo
com sugestões de prazeres e desejos
alternativos. As influências da cultura de consumo
nos levam a compreender o corpo como um
objeto, que está sujeito a um processo de
deterioração. Assim, a atividade física, servirá
como um meio para que esse corpo/objeto possa
se recuperar e transmitir uma imagem de corpo
saudável associada ao corpo belo, não
importando se essa imagem seja, de fato,
realidade.
Por outro lado, Malavasi e Both (2000)
citam que quando uma pessoa inicia um
programa de atividade física ou uma modalidade
esportiva, seja esta iniciativa causada por
necessidade ou por convicção, a maior
dificuldade que se encontra é na aderência desta
atividade a médio ou longo prazo. Contudo, é
reconhecido que os efeitos benéficos de qualquer
atividade para a saúde, dependem
extensivamente da adoção por um período de
estilo de vida ativo. A palavra motivação exerce
um grande efeito sobre as pessoas
principalmente quando se refere à prática de
atividades físicas em geral, porém, muitas vezes,
a motivação pode ser responsável por inúmeras
razões pelas quais o indivíduo decidirá realizar
alguma atividade física ou não.
Buscando compreender e melhorar o
processo motivacional, Weinberg e Gould (2001),
citam o modelo interacional de motivação, que
têm importantes implicações para professores,
técnicos, instrutores e administradores de
programas de atividade física. Para estes autores,
este modelo conta com 5 diretrizes básicas, que
se bem empregadas, podem ser um grande
facilitador no processo motivacional.
1º) Tanto as situações como os traços
motivam as pessoas: para aumentar a
motivação você deve analisar e responder não
apenas a personalidade, mas também, a
interação das características pessoais e
situacionais;
2º) As pessoas têm vários motivos
para envolverem-se: é necessário um esforço
consistente para identificar e entender os motivos
dos participantes para se envolverem em
atividades de esporte, de exercício ou de
educação. Outros aspectos relevantes são que:
às vezes, as pessoas participam das atividades
por mais de uma razão, e os motivos podem
mudar com o tempo;
3º) Mude o ambiente para aumentar a
motivação: saber por que razão as pessoas se
tornam envolvidas em esportes e exercícios é
importante, mas essa informação é insuficiente
para aumentar a motivação, já que muitas vezes,
para aumentar a motivação é necessário que
sejam criados ambientes que satisfaçam as
necessidades de todos os participantes;
4º) Os líderes influenciam a motivação:
os instrutores, professores de educação física, ou
técnicos, devem desempenhar o papel
fundamental de influenciar a motivação do
participante. Um professor ativo e entusiástico
sempre oferecerá, por meio de sua
personalidade, reforço positivo aos alunos.
5º) Use mudanças de comportamento
para alterar motivos indesejáveis do
participante: as mudanças de comportamento
são importantes, quando os motivos dos
participantes prejudicarem de alguma forma o
próprio participante, ou até mesmo, aqueles
envolvidos direta ou indiretamente com o
programa de atividade física. Neste caso, é
importante que o participante seja conscientizado
dos riscos dos mesmos.
Após abordamos inúmeros aspectos
relativos ao tema proposto, procuramos estruturar
e apresentar os resultados desta pesquisa, a fim
de contribuir para um maior aprimoramento dos
profissionais envolvidos com a prática regular de
atividades físicas em academias de ginástica e
estúdios de treinamento personalizado, já que,
entender a motivação é requisito fundamental
para tal.
DESCRIÇÃO METODOLÓGICA
Esta pesquisa, de cunho descritivo
(THOMAS e NELSON, 2002), foi realizada de
acordo com os critérios da análise qualiquantitativa, na qual os dados foram tabulados, e
apresentados em valores percentuais, seguidos
de uma leitura descritiva dos mesmos.
AMOSTRA
Participaram da pesquisa cento e
quarenta e quatro alunos (76 do gênero feminino e
68 do gênero masculino), das academias Clip,
Golden Fitness (Campinas – SP) e Conexão
Saúde (São José do Rio Pardo – SP), e dos
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
140
estúdios de treinamento personalizado Salla
Saúde Integrativa e Studio Vida (Campinas – SP).
Os alunos tinham idade entre 14 e 84 anos [M =
34.3; DP = 14.6]. Os dados foram coletados entre
os dias 13 de fevereiro e 2 de março de 2012. Esta
pesquisa foi realizada de acordo com a ética de
pesquisa envolvendo seres humanos, resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde de
10/10/1996.
A média de idade dos alunos de academia de
ginástica participantes foi de vinte e sete anos,
enquanto a média dos alunos dos estúdios de
treinamento personalizado foi de quarenta e nove
anos, a classe social e poder aquisitivo dos
alunos das academias de ginástica participantes
mostrou-se mais baixa em comparação com os
alunos dos estúdios de treinamento
personalizado.
PROTOCOLOS UTILIZADOS
Foi adotado como instrumento um
questionário composto por questões abertas,
com o objetivo de investigar quais aspectos
levavam os alunos a praticarem atividade física
na academia de ginástica ou no estúdio de
treinamento personalizado, e quais eram suas
principais dificuldades para treinar, sendo que os
mesmos poderiam apresentar até duas respostas
para as principais questões.
Para a administração do questionário foi
solicitado inicialmente a colaboração das três
academias e dos dois estúdios de treinamento
personalizado por meio de ligação telefônica,
sendo esclarecidos os objetivos do estudo e
garantindo o anonimato de todos os indivíduos
participantes. Após a autorização, iniciamos a
administração do questionário segundo um
protocolo previamente estabelecido, e sobre o
qual os administradores foram instruídos e
treinados previamente. Os alunos participantes
foram convidados a participar da pesquisa logo
quando entravam na recepção das academias ou
estúdios, todas as aplicações ocorreram sem
incidências e após os alunos finalizarem o
questionário, seguiam normalmente sua rotina de
treino.
Os dados foram tabulados, e
apresentados em valores percentuais, seguidos
de uma leitura descritiva dos mesmos.
Tabela 1: Comparação entre os motivos apresentados
para a prática de atividade física em academias de
ginástica e estúdios de treinamento personalizado:
D E S C R I Ç Ã O D O S R E S U LTA D O S E
DISCUSSÃO
Com relação aos aspectos que levavam
os alunos a praticarem atividade física nas
academias de ginástica, apresentaram-se os
seguintes motivos: Saúde (36,6%), estética
(22,8%), condicionamento físico (14%), prazer
(7,9%), bem estar (6,9%), indicação médica
(5,9%), convívio social (2,8%), outro motivo
(3,1%).
Nos estúdios de treinamento
personalizado, apresentaram-se os seguintes
motivos: Saúde (45,3%), condicionamento físico
(29,6%), bem estar (7,2%), estética (7%),
indicação médica (6,2%), outro motivo (2,5%),
prazer (2,3%) e convívio social (0%).
As diferenças entre os motivos
apresentados pelos alunos de academias de
ginástica e estúdios de treinamento
personalizado parecem variar de acordo com a
idade cronológica dos sujeitos estudados, a
classe social/econômica e de aspectos culturais.
50%
40%
30%
Academias
20%
Estúdios
10%
r
M
éd
ica
C.
So
Ou
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tr
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o
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ot
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a
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Sa
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e
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té
ti c
a
C.
Fí
sic
o
0%
Ao revisar estudos semelhantes
publicados nos últimos vinte anos, pudemos
perceber uma mudança nos valores dentro das
academias de ginástica e mais recentemente,
nos estúdios de treinamento personalizado, a
aquisição de um estilo de vida mais saudável e
com maior qualidade de vida parece estar
ganhando mais espaço, antes abundantemente
ocupado por fatores estéticos e de culto ao corpo.
Em pesquisa conduzida por Geraldes e
Dantas (1998), em duas academias, uma no Rio
de Janeiro e outra em Maceió, entre 1990 e 1994,
um grande percentual da população que
frequentava as academias pesquisadas tinha
como objetivo a estética, principalmente no que
se referia ao emagrecimento. Zanette (2003), ao
pesquisar os praticantes do Rio Grande do Sul,
encontrou 29% de respostas que apontavam a
estética como principal motivo, contra 23% de
saúde e 21% de bem estar. Tahara et al. (2003),
no estado de São Paulo, apontaram 26,6% de
estética contra 23,3% de saúde e qualidade de
vida. Em outra pesquisa, Teixeira et al. (2005)
encontraram os seguintes resultados
motivacionais: questões estéticas (19,95%),
seguido pela necessidade de melhora da saúde
(18,12%). Albuquerque e Alves (2007), no Rio
Grande do Norte destacou que 39,1% afirmaram
ser a estética o principal motivo, contra 16,6%
para a melhora da condição física. Araújo et al.
(2007), ao estudar adultos jovens do estado de
Minas Gerais, apontaram 50,6% como motivos
estéticos contra 14,4% de saúde e 31,3% de
condicionamento físico.
Recentemente, Salcedo (2010) estudou
um grupo de trinta alunos que realizavam
treinamento personalizado na cidade de Porto
Alegre, dos seis motivos analisados para a prática
de atividade física, o item saúde foi o mais citado,
acompanhado respectivamente pelos itens
prazer, estética, controle de estresse,
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
141
sociabilidade e competitividade. Ao estudar esta
mesma questão cinco anos atrás, Zanetti et al.
(2007) encontraram em São José do Rio Pardo/
SP valores bem diferentes dos atuais, que
mostravam a estética a frente da saúde, 30%
contra 21,7%, além dos 12,3% que afirmavam ser
o bem estar seu principal motivo.
Neste estudo, os principais motivos
apresentados pelos alunos investigados, para a
prática de atividades físicas em academias de
ginástica, foram o cuidado com a saúde seguido
dos aspectos estéticos. Nos estúdios de
treinamento personalizado, o motivo saúde foi
seguido do condicionamento físico, o item
estética foi apenas o quarto mais citado.
Com relação às principais dificuldades
para treinar na academia de ginástica, nosso
estudo apresentou: Falta de tempo (33,8%),
preguiça (25,4%), outra dificuldade (15%),
nenhuma dificuldade (14,7%), falta companhia
(5,6%), não gosto de exercícios (2,1%), local para
deixar os filhos (1,8%), não consigo alcançar
meus objetivos (1,5%). Grande parte dos 15%
que responderam “outra dificuldade” justificaram
suas respostas como imprevistos que surgem na
hora de treinar.
Nos estúdios de treinamento
personalizado: Falta de tempo (31,7%), outra
dificuldade (28,5%), preguiça (15,7%), não gosto
de exercícios (8,5%), não consigo alcançar meus
objetivos (7,2%), nenhuma dificuldade (7,2%) e
local para deixar os filhos (0%). Assim como nos
resultados das academias, grande parte dos
28,5% justificou “outra dificuldade” como
imprevistos que surgem na hora de treinar.
As dificuldades apresentadas pelos
alunos de ambos os cenários foram semelhantes,
estes resultados reforçam a hipótese de que
aspectos como a falta de tempo, imprevistos na
hora de treinar e a preguiça estão muito presentes
no cotidiano dos praticantes de atividade física.
Portanto, independente da idade cronológica, da
classe social/econômica e dos aspectos culturais,
é muito importante considerar estas informações
no momento de prescrever a rotina de treino dos
alunos.
Tabela 2: Comparação entre as dificuldades para a
prática de atividade física em academias de ginástica e
estúdios de treinamento personalizado:
A falta de tempo aparece como a grande
dificuldade para a adesão em um programa de
treinamento em vários estudos. Saba (1999)
encontrou 37% das respostas que indicavam a
falta de tempo, Tahara et al. (2003) mostraram em
São Paulo 43,3% das respostas para esta
dificuldade, Pereira e Bernardes (2005)
apontaram em Minas Gerais 31% das respostas
para falta de tempo, além de 20,6% para preguiça.
Santos e Knijnik (2006) no estado de São Paulo,
com 30% para a falta de tempo e 23% para
preguiça, Albuquerque e Alves (2007) no Rio
Grande do Norte com 36,6% para falta de tempo e
13,3% para preguiça, Enézio e Cunha (2007) em
Minas Gerais com 49% para falta de motivação e
29% para monotonia dos exercícios.
Santos e Knijnik (2006) afirmam que a
falta de tempo normalmente está relacionada à
jornada excessiva de trabalho, tempo para
obrigações familiares e dificuldade na
administração do tempo. Por outro lado,
acreditamos que encontrar prazer com a prática
de exercícios e estar ciente dos benefícios que ela
pode trazer à saúde, são pontos essenciais para
transpor dificuldades como a falta de tempo, e é
neste momento em que a intervenção e instrução
do profissional de educação física torna-se
imprescindível, o plano de treinamento deve estar
orientado para atender a necessidades e
vontades dos alunos, adequando o a sua
disponibilidade e rotina diária. O American
College of Sports Medicine (2000) aponta que
apenas 5% dos adultos sedentários que iniciam
um programa de treinamento em academias de
ginástica aderem à prática, no Brasil,
Albuquerque e Alves (2007) verificaram uma
evasão de 70% entre os praticantes de exercícios
nas academias.
Nascimento et al. (2007) destaca uma
informação muito relevante sobre a aderência,
afirma que o comprometimento do praticante com
seu programa de treinamento não ocorre logo no
início da prática, é um processo lento que vai da
inatividade até a manutenção do programa de
exercícios físicos.
CONCLUSÃO
É evidente que fatores como a aquisição
de mais qualidade de vida e bem estar vêm
ganhando espaço dentro das academias de
ginástica e estúdios de treinamento
personalizado, aparentemente pela
conscientização da população em relação à
importância da prática de atividades físicas na
promoção da saúde. Estes resultados apontam
para a motivação baseada na perspectiva
interacionista, conforme discutido por Samulski
(2002) e Weinberg e Gould (2001).
Por fim, é necessário que os educadores
físicos façam uma reflexão sobre suas
intervenções, que possam quebrar paradigmas
presentes no seu cotidiano ao reconhecer os
motivos e dificuldades dos seus alunos,
direcionando as sessões de treino de forma a
atender exclusivamente as necessidades dos
mesmos, e assim aumentar as suas adesões em
tais programas. Chelladurai (1990) e Lenti (1996)
afirmam que uma motivação efetiva flui da relação
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
142
entre os profissionais, líderes do contexto em
questão, e os liderados, alunos ou atletas de alto
nível, se tal relação for compartilhada
positivamente, a interação pode possibilitar maior
aderência dos membros para o estabelecimento
e cumprimentos de seus objetivos, sejam
individuais ou sociais. Tal relação construtiva
poderá aumentar a satisfação dos indivíduos no
grupo, fazendo-os se sentirem mais motivados a
permanecerem com seus respectivos
comportamentos, interesses, buscas e
aspirações, numa espécie de círculo retroativo.
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Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
143
III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA
APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA
RESUMOS
TEMAS LIVRES
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
144
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
145
O PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
( PA R F O R ) E A I M P O R T Â N C I A D O
COMPONENTE CURRICULAR DE EDUCAÇÃO
FÍSICA PARA OS ALUNOS DO PARFOR DA
UNIFEV
Anderson Bençal Indalécio; Denise Ferraz Lima
Veronezi
AUXÍLIO PSICOLÓGICO TRANSMITIDO
PELOS FAMILIARES: UM ESTUDO NO
FUTEBOL E NO BASQUETE
Eric Matheus Rocha Lima; Lucas Ribeiro
Cecarelli; Guilherme Bagni; Kauan Galvão
Morão; Renato Henrique Verzani; Afonso
Antonio Machado
UNESP- Rio Claro | LEPESPE |DEF | IB
Centro Universitário de Votuporanga-UNIFEV
Visualizando o contexto histórico da criação do
PARFOR (Plano Nacional de Formação de
Professores da Educação Básica) criado em
janeiro de 2009, através do decreto 6.775, que
institui a Política Nacional de Formação de
Professores da Educação Básica com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Ensino Superior (CAPES), tem como um dos
objetivos promover a melhoria da qualidade da
educação básica pública e oferecer a 1ª
licenciatura para professores sem a graduação. O
PARFOR é um projeto do Governo Federal que
nos últimos 10 anos tem dado uma maior atenção
à formação de professores de todas as áreas. É
uma das iniciativas no sentido de buscar um
aperfeiçoamento dos professores que já estão
atuando, mas que não possuem ensino superior.
Será que essa iniciativa terá bons frutos? Haverá
melhoria na qualidade da educação básica
pública? Os professores que atuam na Educação
Infantil pública no Brasil são na sua maioria
professores chamados de “polivalentes” que
possuem formação no magistério em nível de
ensino médio. Os professores “polivalentes”
ministram aulas de Português, Matemática,
Ciências, História, Geografia, Artes e Educação
Física. É no componente curricular Educação
Física que abordaremos a presente pesquisa.
Nos municípios paulistas encontramos várias
escolas que não possuem professores de
Educação Física, ficando a critério dos
professores “polivalentes” ministrarem esse
componente. A questão norteadora dessa
pesquisa consiste em: A Educação Física e a
Educação Infantil, como os professores que estão
cursando o PARFOR visualizam a importância
deste componente curricular? Nesse sentido, o
objetivo da presente pesquisa consiste em
analisar como os professores que estão cursando
o PARFOR visualizam a importância do
componente curricular Educação Física na sua
ação pedagógica. Será utilizado o método
quantitativo e qualitativo descritivo, e para a coleta
dos dados um questionário com questões abertas
e fechadas com os alunos que cursam o PARFOR
no curso de Licenciatura em Pedagogia, no
Centro Universitário de Votuporanga (UNIFEV).
Os dados serão analisados por intermédio da
análise dos conteúdos presentes no questionário.
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior
Introdução: A família tem elevada importância na
vida de um jovem, principalmente por auxiliar na
escolha do mesmo em vários contextos, e um
deles é o esporte. O esporte surge como um
agente importante no processo de socialização do
jovem, provocando no mesmo, o interesse por tal
modalidade, além de facilitar a entrada em um
grupo de amigos, cujo interesse é semelhante.
Neste caminho, aspectos econômicos, sociais,
culturais e também o gênero, podem influenciar
os pais a estimularem determinada atividade. Os
pais necessitam mostrar dedicação em suas
respectivas funções, porque devem ser
referências a serem seguidas por seus filhos, já
que sua presença na prática esportiva de seus
filhos proporciona prazer, especialmente nas
partidas. Objetivos: O presente estudo tem o
objetivo de avaliar se os pais fornecem aos seus
filhos, um suporte psicológico para a prática
esportiva, e logo, os efeitos que este
envolvimento proporciona ao jovem.
Procedimentos Metodológicos: A amostra foi
composta por 14 jovens, entre 12 e 17 anos de
idade, praticantes de basquete e futebol, estando
constantemente inseridos em competições, e o
instrumento utilizado foi Inventário Fatorial de
Práticas Parentais Relacionadas ao
Desenvolvimento do Talento no Esporte (IFATE),
onde foram utilizadas a teoria e o modelo de
elaboração de instrumental psicológico proposto
por Pasquali (1999). Foi realizado neste estudo,
uma análise quali-quantitativa das 6 questões
Fator 2 do questionário, correspondente ao
Suporte Informativo e Emocional Proporcionado
pela Família. Resultados: Foi obtido um
equilíbrio entre as respostas “algumas vezes”,
“muitas vezes” e “sempre ou quase sempre”, que
predominaram em relação à resposta “nunca ou
quase nunca”, evidenciando a presença dos pais
no assunto abordado. Considerações Finais:
Existe o auxílio psicológico da família para a
prática esportiva do filho com frequência, sendo
ideal em alguns casos, e apenas presente em
outras situações.
Palavras-chave: Família, Futebol, Basquete e
Psicologia do Esporte.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
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NETNOGRAFIA: UM ESTUDO SOBRE OS
IDEAIS DE BELEZA MASCULINO
Flavio Francisco Dezan¹; Afonso Antonio
Machado²
(¹ ²) LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas
em Psicologia do Esporte) – UNESP- RIO
CLARO/SP
A tecnologia se faz presente no cotidiano das
pessoas, em suas mais variadas formas, quer
seja através da mídia, das técnicas de
intervenção cirúrgicas, nos produtos de beleza,
aparelhos para ginástica, etc., não poderíamos
deixar de ressaltar o fato de que o corpo passa a
ser objeto de desejos e atenções que remetem a
si próprio, seu destino e construção no tocante ao
que pode ou não ser valorizado na cultura onde
este se inseriu. A busca pelo corpo perfeito tem o
efeito de produzir discursos duplos que se
justificam por relacionar as atividades físicas
como promotoras de boa saúde e veículo de
credibilidade social, bem como ser objeto de
desejo, mas não deixam claro, ou pelo menos não
fazem questão de revelar, quais os processos
pelos quais passam os que já adquiriram o tão
desejado corpo perfeito, ficando somente sua
imagem como fontes de inspirações e desejos.
Participaram deste estudo 8 indivíduos do sexo
masculino, maiores de 18 anos e usuários da
rede social virtual Orkut. Para desenvolver o
estudo utilizamo-nos da submissão de
questionários online, bem como entrevistas via
comunicação síncrona, em sua interface de
videochamada (site MSN), quando necessário,
na tentativa de minimizar a avaliação de perfis
“fakes”. Não foram analisadas questões
socioeconômicas. O estudo procurou estabelecer
conexões entre o quadro corporal atual, com
inúmeras exigências e questões a se valorizar
quando pensamos no corpo e suas
representações, em especial quando tomamos
como bases de análise a exposição de tais corpos
em um veículo de abrangência de proporções
virtualmente ilimitadas e passiveis de análises de
mesma grandeza. Destacamos também, neste
estudo, o fato dos sujeitos pesquisados relatarem
a intencionalidade de retocarem suas fotos
quando postadas em suas páginas pessoais para
que sejam vistos sempre sob uma luz favorável,
uma vez que seus corpos são considerados, por
si próprios, como seus grandes veículos de
aceitação social.
Palavras-chave: netnografia; imagem corporal;
rede social virtual; desenvolvimento humano;
tecnologias.
EFEITOS PSICOLÓGICOS DA REALIDADE
VIRTUAL EM CRIANÇAS COM
DIFICULDADES MOTORAS
Franz Fischer
LABORDAM – UNESP Rio Claro
A literatura aponta que cerca de 5% a 15% da
população infantil em idade escolar possui
dificuldade de coordenação motora, em particular
tais crianças não possuem sinais neurológicos.
Uma característica em comum é o baixo
rendimento acadêmico, baixa autoestima e baixa
motivação, além disso, esta população tende a
ser socialmente isolada, desta forma protocolos
de intervenção são de grande importância para
estas crianças. Atualmente tecnologias de
Realidade Virtual estão invadindo o universo das
intervenções, em especial intervenções motoras,
como em pacientes com acidente vascular
encefálico e pacientes com paralisia cerebral,
obtendo além da melhora na coordenação
motora, aumento na motivação para o
tratamento. Partindo deste princípio o presente
trabalho tem por objetivo analisar o efeito de uma
intervenção com jogos de realidade virtual em
crianças com dificuldade de coordenação. Foram
analisadas 71 crianças com idades entre 7 e 12
anos, que após aplicação de baterias de testes
motores (MABC-2 e BOT-2) e teste de
coordenação viso-motora, foram selecionadas 40
crianças separadas em 2 grupos, grupo de
crianças com dificuldades motoras (DM) e
desenvolvimento típico (DT). O programa de
intervenção contou com consoles de Nintendo
Wii e 3 cds de jogos: Wii Play, Wii Sports Resort e
Wii Sports. Assim, foram realizadas 24 sessões
em 8 semanas, com média de 3 sessões
semanais de 30 minutos de duração. Após
análise preliminar dos dados observou-se uma
melhora no desempenho das crianças, em todos
os testes e nos jogos, além disso, através de
relato dos professores, observou-se menor
evasão escolar em dias de educação física,
melhora na interação social dentro da sala de
aula, relato de melhora da autoestima por parte
da psicóloga e melhora no autoconceito da
criança. Podemos sugerir que além de uma
possível melhora motora, a intervenção com
jogos de Realidade Virtual podem levar a ganhos
motivacionais e psicossociais em crianças com
dificuldades motoras.
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ANÁLISE DOS ESTADOS EMOCIONAIS DE
ATLETAS DE VOLEIBOL
A CONCENTRAÇÃO E A PRÁTICA DO
ATLETISMO: A PERCEPÇÃO DOS HOMENS
Guilherme Bagni, Kauan Galvão Morão, Renato
Henrique Verzani, Eric Matheus Rocha Lima,
Lucas Ribeiro Cecarelli e Afonso Antonio
Machado.
Gustavo Lima Isler1,2; Mauro Klebis Schiavon1,2;
Lucas Ribeiro Cecarelli1; Cláudio Gomes
Barbosa1,3; Afonso Antonio Machado1,4
1
UNESP-Rio Claro | IB– LEPESPE
Os estados emocionais fazem parte do cotidiano
de todas as pessoas e isso não poderia ser
diferente no caso dos atletas, eles devem ser
trabalhados para não influenciarem
negativamente os jogos e partidas. Analisar os
estados emocionais pré e pós-jogo das atletas
buscando entender suas possíveis alterações.
Para esta pesquisa foi utilizado o questionário
IDATE adaptado por Costa (2011), composto por
24 itens para resposta em escala Lickert, que vai
de 0 “nada” à 4 “extremamente”; este questionário
foi aplicado em 8 atletas da modalidade voleibol
feminino durante o 56º Jogos Regionais,
realizados na cidade de Atibaia. Para este
trabalho foram analisadas 5 variáveis referentes
insegurança, ansiedade, desorientação, atenção
e indecisão . As coletas foram feitas antes e após
os jogos. Conseguimos identificar através das
respostas, que as atletas estavam mais inseguras
e ansiosas antes das partidas e que isso foi
diminuído após as partidas, enquanto as
questões referente a desorientação e indecisão
tiveram respostas indicando um grau maior
desses itens após as partida. A questão da
atenção tem seus valores praticamente mantidos.
Percebemos que essas questões normalmente
não são identificadas pelos treinadores e na
maioria das vezes não são trabalhadas, isso vale
tanto para o ambiente escolar quanto para o
esporte com é identificado nesse trabalho.
Notadas essas variações podemos trabalhá-las
visando um maior rendimento dos nossos atletas
e um maior aproveitamento das aulas por nossos
alunos
.
Palavras chave: Voleibol; estados emocionais;
ansiedade, psicologia do esporte.
LEPESPE, UNESP – Rio Claro/SP; 2 Faculdades
Integradas Claretianas – Rio Claro/SP; 3 UFU –
Uberlândia/MG; 4 IB, UNESP – Rio Claro/SP.
A concentração pode ser entendida como a
capacidade individual em estar atento e a manter
o foco de atenção em um ou mais estímulos
ambientais. Devido à importância desta
capacidade psicológica para o rendimento
esportivo, o objetivo do presente estudo foi
verificar a percepção de praticantes de Atletismo
do sexo masculino com relação a seu nível de
concentração durante a participação em
competições. Dezoito atletas com média de idade
de 21,78 anos (±7,64) e média de tempo de
prática de 5,8 anos (±5,39) responderam a um
questionário elaborado pelos pesquisadores e
analisado com base em uma metodologia qualiquantitativa. De acordo com os resultados
coletados, os participantes informaram em 72,2%
das respostas que focalizam seu pensamento em
um alvo, com muita precisão, quando bem quiser
e 63,9% das afirmações sinalizam para a
facilidade em localizar espaços e pessoas que
procuram. Outras afirmações que favorecem sua
concentração foram que 25% afirmou perceber
que em competição se atrapalha e rende abaixo
do que é capaz; 27,8% afirmou distrair-se com o
que ocorre ao redor; 16,7% percebeu que se
distrai em ambientes abertos e 26,4% disseram
ficar desatentos com o que está ao redor. Um
hábito que 63,9% dos participantes afirmaram
desenvolver foi a avaliação dos pontos fracos e
fortes de seus adversários antes das
competições, o que favorece sua atenção aos
fatores importantes em situações competitivas.
Algumas afirmações, no entanto demonstram
situações que merecem atenção, como a
dificuldade em manter a atenção quando
conversa com o treinador, com 65,3%, e a
dificuldade em “tirar da cabeça” pensamentos que
os atormentam, reforçada por 54,2%. Segundo
sua percepção, conclui-se que a maioria dos
participantes não demonstra dificuldades em se
concentrar e manter sua concentração em
situações competitivas. Cabe ressaltar que
apesar das demonstrações positivas, a análise da
atenção e concentração deve ser individualizada
e que soluções sejam aplicadas de acordo com as
necessidades de cada atleta. Devido à
importância da concentração para o rendimento
atlético, mais estudos devem ser realizados em
atletas de diversas modalidades esportivas para
que se compreenda melhor esta influente variável
psicológica.
Palavras-chave: Concentração; Atletismo;
Psicologia do Esporte; Educação Física.
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O ESPORTE COMO FATOR DE INCLUSÃO E
EXCLUSÃO: UMA ANÁLISE SOCIAL.
F U T E B O L E B U L LY I N G : Q U A N D O A
BRINCADEIRA ULTRAPASSA OS LIMITES
Roberto Matioli Junior e Marden Ivan Negrão Filho
Kauan Galvão Morão¹; Eric Matheus Rocha
Lima¹; Guilherme Bagni¹; Lucas Ribeiro
Cecarelli¹; Renato Henrique Verzani¹; Afonso
Antonio Machado¹
INTRODUÇÃO: É muito comum quando nos
referimos à inclusão e exclusão social no esporte
nos referirmos ao contexto de “incluir” a pessoa
no esporte junto aos outros participantes para se
sociabilizarem com outras pessoas. Ou seja,
trazê-la para nosso quadro social, para compartir
do que estamos fazendo. Agregando-a aos
nossos conceitos. Escutando-a sobre seus
pareceres e ensinando-lhe as técnicas de jogos.
OBJETIVO: Mostrar a relação inter-participativa
que deve haver entre o esporte e àqueles que o
jogam, porém no âmbito da percepção social.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Este
trabalho consiste em conscientizar as crianças do
espaço, do conteúdo e de suas questões em
relação ao meio. Ou seja, criamos uma forma de
ensinar ao aluno perceber as suas limitações
sociais através dos fundamentos do esporte. E
através desses fundamentos mostraremos ao
aluno, as relações com as regras da sociedade
fora da quadra. O nosso trabalho consiste em
chamarmos a atenção para esse momento,
fazendo com que elas enquanto jogam também
se interessem para uma relação de trocas e
entendimentos além das regras, inerentes ao
jogo, o basquete aqui referido. Mas também
sobre a relação, que podem ter com o outro como
ser humano, dentro ou fora da quadra, através
das regras do basquete. CONSIDERAÇÕES
FINAIS: Estabelecemos assim uma relação
social para ser aprendida nesse contexto, junto
com o aprendizado da regra e a execução dos
fundamentos (exercícios), que é o que
chamamos de pensamento-inter-social. Este
“pensamento” mostra o que deve ser aprendido
através da regra sobre a relação social. Ao
perceberem o conceito social inerente à própria
regra exigida no jogo, começam a identificar a
ética de comportamento, ou seja, o aprendizado
social aqui referido é mostrar os conceitos que a
ética manifesta através da moral. As leis (aqui as
normas de basquete representando a ética a ser
seguida) e como devemos nos comportar na
sociedade ao jogar (a moral, não ferindo a ética,
ou seja, fazendo o que é permitido pelas regras e
fundamentos do basquete).
Palavras Chave: Basquetebol. Educação.
Socialização
¹UNESP – Rio Claro
Introdução: Nos dias atuais, é comum ouvir
qualquer pessoa comentar sobre bullying,
denominado como um fenômeno social em
ascensão, caracterizado por agressões físicas ou
verbais contra uma pessoa. A principal
preocupação é o bullying nas escolas, porém este
trabalho visa demonstrar se este fenômeno social
está presente no ambiente esportivo e quais
atitudes são mais comuns, especificamente no
futebol, visto que a convivência entre os atletas
vem se tornando cada vez maior, devido aos
grandes períodos de treinamentos, viagens,
concentrações, dentre outros fatores. Objetivos:
Verificar se há ocorrência de bullying no âmbito
esportivo e quais ações são mais freqüentes.
Procedimentos Metodológicos: Aplicou-se um
questionário com perguntas fechadas em que os
atletas participaram de maneira voluntária
durante o período da Copa São Paulo de Futebol
Júnior no ano de 2011. A amostra foi composta
por 92 jogadores do sexo masculino, com idade
entre 15 e 18 anos, sendo que todos compunham
o elenco de seis equipes presentes na
competição. Resultados: Os resultados obtidos
apontam para a existência do bullying no futebol,
mesmo na categoria de base, colocando em
destaque ações como “Ofensas, agressões
físicas, exclusões, intimidações” e com menor
destaque aparecem outras como “roubar,
ameaçar, isolar e discriminar”. Em outra
indagação que foi feita, os atletas demonstraram
que não gostam de certos ambientes,
prevalecendo o desgosto por estarem no ônibus,
em reuniões (concentrações) ou no alojamento,
podendo-se destacar que nessas horas os
jogadores se encontram em convívio. Também foi
constatado que uma pequena parcela já pensou
em parar de jogar por causa do bullying, o que
pode seria considerado como abandono precoce
da modalidade, devido à idade dos garotos.
Considerações Finais: É necessário que a
comissão técnica tenha maior preocupação com
atitudes que podem parecer brincadeiras, mas
acabam ofendendo outros atletas, principalmente
quando elas se tornam constante. Também é
indicado que mais trabalhos sejam realizados
nesta área, pois o bullying pode ser um fator
determinante para que haja abandono precoce
por parte dos jovens jogadores.
Palavras chave: bullying; futebol.
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L I G A D E M E D I C I N A E S P O R T I VA D E
CATANDUVA: entidade acadêmica de
aprofundamento teórico-prático e extensão
comunitária.
Arthur Silva Botelho*; Marcos B. de Freitas
Junior**; Alberto Hamra***
Ligia Adriana Rodrigues****
* Acadêmico do 3.º ano Curso de Medicina das FIPA.
Presidente discente da LIMESP
** Acadêmico do 2.º ano Curso de Medicina das FIPA.
Primeiro Secretário da LIMESP.
*** Médico pela FCMSCSP; Doutor em PósGraduação pela Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto - USP. Professor titular das FIPA e da
UNICASTELO - Fernandópolis. Presidente docente
da LIMESP.
**** Psicóloga pela UNESP-Assis. Mestre em
Educação pela UFSCar. Professora do Curso de
Medicina das FIPA; professora e coordenadora do
Curso de Psicologia do IMES-Catanduva.
A Liga de Medicina Esportiva (LIMESP) é uma liga
tradicional do Curso de Medicina das FIPA, em
Catanduva e, após ficar inoperante durante dois
anos, retomou suas atividades em 2010. As ligas,
de acordo com considerações gerais de alguns
autores, são organizações estudantis nas quais
um grupo de alunos se organiza para
aprofundamento em determinado tema e visa,
junto a isso, sanar demandas da população. A
LIMESP, ao retomar suas atividades propôs
mudanças em sua didática e campo de atuação.
Não mais com uma visão voltada somente para a
traumatologia esportiva (área da medicina
esportiva, que no aspecto científico estuda os
processos patológicos em atletas), atualmente,
os membros da liga buscam atuar de forma
multidisciplinar, abordando todos os campos da
medicina esportiva, que envolve três áreas:
preventiva, terapêutica e educativa. O objetivo
central é utilizar a ciência médica na avaliação, no
controle e na terapêutica dos organismos
submetidos a esforços físicos e psíquicos
decorrentes de atividade física e desportos, e
também, levar esse aprendizado à comunidade,
na promoção e/ou participação em diferentes
projetos. Metodologicamente, para um maior
dinamismo, a LIMESP divide sua carga horária
entre aulas teóricas e atividades práticas. As
aulas teóricas são ministradas por professores de
diversas especialidades, dentre elas: ortopedia,
cardiologia, pneumologia, nutrologia, fisioterapia,
educação física, endocrinologia e psicologia.
Entre as atividades práticas, pode-se citar: o
acompanhamento de casos nos ambulatórios de
ortopedia do Hospital Emílio Carlos; o
atendimento de emergências (auxiliados por
médicos e residentes) no pronto-socorro do
Hospital Padre Albino e o acompanhamento em
cirurgias. Dentre os projetos desenvolvidos,
destaca-se a realização do I Congresso Médico
Esportivo de Catanduva e a cooperação no ELEC
- Encontro de Ligas e Extensões de Catanduva,
no ano de 2011. Em 2012, desenvolveu atividades
junto à comunidade em diversos momentos e
contextos, como a participação - com
atendimento e orientação aos atletas - na XII
Corrida Matilat-Nardini, na XIV Corrida do
trabalhador Alfredo Ortega e no Campeonato de
Judô do SESC. A LIMESP, sempre aberta a
receber propostas de estudos e trabalhos no
campo da Medicina Esportiva, pretende, ainda
neste ano, desenvolver novas ações ligadas à
comunidade.
PALAVRAS-CHAVE: Liga de medicina esportiva;
atividades físicas e desportivas;
multidisciplinaridade e medicina.
IMAGEM E A CORPOREIDADE APLICADA AO
ESPORTE
Roberto Borges Filho
UFG- Universidade Federal de Goiás- Departamento
de Fisioterapia.
Resumo: A busca incessante por uma melhor
aparência física dos praticantes de atividade
física é um fenômeno sociocultural muitas vezes
mais significativo do que a própria satisfação
econômica, afetiva ou profissional. A insatisfação
com o próprio corpo e a imagem que se tem dele,
talvez seja um dos motivos principais que levem
as pessoas a iniciar um programa de atividade
física O atleta no esporte moderno sendo este
amador ou profissional é essencialmente uma
personagem produtor de rendimento a partir de
suas manifestações ou expressividade corporal.
Esta é uma das características da imagem
proporcionada pelo corpo no cenário esportivo. A
questão da imagem e da corporeidade desperta
na atualidade a necessidade de se estabelecer
diretrizes mais abrangentes em suas abordagens
contextuais principalmente em se tratando do
esporte. No início do século XX as pesquisas
sobre as questões da imagem corporal tiveram
um foco mais abrangente e um amplo repertório
conceitual vem sendo desenvolvido até os dias
atuais. Vários pesquisadores de diferentes
segmentos interessaram-se no assunto seja a
questão da imagem “Psicanalítica”, a Imagem
“Biomecânica”, a imagem “sociocultural” e assim
por diante O objetivo desta apresentação sob a
forma oral consiste no desenvolvimento
consubstancia nos seguintes tópicos: 1.Imagem e
esquema corporal e suas formações, e
interrelações correlacionadas ao esporte; 2:
Questões do corpo enquanto agente de
transmissão de expressões nomeadas, vistas e
sentidas; 3: Constituição relacionada a transição
do estatuto do objeto para o estatuto do
sujeito;(formação e desenvolvimento da imagem
corporal); 4:Conceitos acerca da imagem corporal
(fisiológico e psíquico) e; 5:Aspecto histórico da
Imagem corporal.
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150
UM NOVO OLHAR SOBRE A ANSIEDADE
Lucas Ribeiro Cecarelli¹,³, Kauan Galvão
Morão¹,³, Matheus Ribeiro Cecarelli²,³, Renato
Henrique Verzani¹,³, Eric Matheus Rocha
Lima¹,³, Guilherme Bagni¹,³, Afonso Antonio
Machado¹,³.
1
UNESP, 2 UNIARARAS, 3 LEPESPE
Uma das principais competições para
adolescentes que buscam no futebol uma
oportunidade de mudança de vida é a Copa São
Paulo de Futebol Júnior que é o maior, mais
conhecido e disputado torneio de futebol para
atletas juniores do Brasil, com uma enorme
cobertura da mídia e dos meios de informação e a
atenção de grandes clubes do país e do mundo.
Esta grande visibilidade traz aos atletas uma série
de aspectos emocionais que podem interferir
positiva ou negativamente no desempenho
destes. Este trabalho visou analisar a ansiedade
de atletas, em partidas da Copa São Paulo Junior
de modo a destacar quais comportamentos
sugeriam uma ação sob ansiedade. Foram
utilizadas gravações de três partidas de modo a
permitir a análise dos comportamentos e ações
dos atletas. Para análise, foram destacados os
principais comportamentos observados, de modo
a mapearmos todo o jogo e a intervenção dos
atletas e poder parear esta observação com a
teoria da ansiedade e traçar nossas conclusões,
baseado na incidência/ou não de fatos que levam
a interpretação de um gesto sob ansiedade. As
principais ações notadas no decorrer da partida
que demonstram possível influência de um
processo ansiolítico foram: ficar olhando para
torcida, passe muito afobado, chutar de qualquer
jeito, erro de domínio, “fugir” do jogo, erro de
passe “fácil”. Assim, destaca-se que o estudo,
conhecimento e entendimento dessas variáveis e
suas implicações no nível de ansiedade, é muito
importante para que o técnico, professor ou
psicólogo do esporte busquem o nível ideal de
ansiedade para favorecer o desempenho ou a
performance do seu aluno, atleta ou cliente.
Desta maneira deve-se atentar a estes
comportamentos para que os atletas possam ter
um bom desempenho em partidas desta
competição e destaca-se também a fundamental
presença de um profissional da Psicologia do
Esporte para que trabalhe com os atletas durante
todo o desenvolvimento da competição
(preparação, jogos e pós torneio) permitindo a
estes ter maior controle e técnicas de manejo da
ansiedade, dificultando a queda de rendimento
devido a este aspecto emocional.
Palavras chave: Ansiedade; Psicologia do
Esporte; Tecnologias
Fomento: CNPQ/PIBITI
VIOLÊNCIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Lucas Ribeiro Cecarelli¹,2, Michele Cristina
Pedroso¹, Afonso Antonio Machado¹,2.
1
UNESP, 2 LEPESPE
É notório nos dias atuais o crescimento da
violência nas mais variadas formas de sua
apresentação, sendo o ambiente escolar um dos
locais onde este aspecto aparece com freqüência
e pode causar conflitos, comprometer o
aprendizado e relações sociais. Pesquisadores
comentam que a escola tem se mostrado um
lugar onde a violência se manifesta de maneira
intensa por refletir tensões, frustrações e
problemas que ocorrem do lado de fora de seus
muros e que interferem negativamente na vida
da comunidade. As aulas de educação física
apresentam uma maior possibilidade de
interação entre os alunos e destes com o
professor. Outro diferencial é que apresenta aos
alunos momentos de cooperação, competição e
relações com o seu corpo e de seus pares. Assim,
este estudo busca entender quais as principais
modalidades de violência presentes no ambiente
escolar e seus motivos, com enfoque nas aulas
de educação física.
Para realização deste estudo, utilizamos uma
abordagem qualitativa e com pesquisa
participante, onde, por meio de observações das
aulas de Educação Física e interação com os
membros das situações investigadas, buscamos
o registro do comportamento dos alunos e a
presença ou não de tendências violentas. As
principais modalidades de violência foram: física,
Psicológica, Verbal e Simbólica. Dentre estas
modalidades, destacaram-se como motivos:
diferença entre os objetivos dos alunos e nível de
envolvimento com a atividade proposta;
qualidade da liderança do professor (a); falta de
compreensão do significado de competir e
cooperar; relações de gênero; não aceitação de
recebimento de faltas e não passar a bola. Pais e
familiares devem estar envolvidos no
processo/ambiente escolar, de modo a poderem
auxiliar na discussão e ensino de seus filhos,
assim como na educação dos mesmos. Outro
ponto que se destaca é a pouca contribuição da
competição e das aulas de EF para o
desenvolvimento equilibrado do jovem, o que
demonstra um despreparo dos docentes para
lidar com gestos violentos, de humilhação e
discriminação e menos ainda para coibi-los ou
soluciona-los.
Palavras chave: Educação Física; Violência;
Fomento: CNPQ/PIBITI
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FREQUÊNCIA CARDÍACA EM IDOSOS
ATIVOS: ESTUDO COMPARATIVO
A UTILIZAÇÃO DA VARIÁVEL “TEMPO”
COMO RECURSO MOTIVACIONAL NO JOGO
COOPERATIVO
Maicon José Jacinto, Andréa Carla Machado,
Cecília Candolo, Anderson Souza, Karla
Klahold.
Marcela Campos de Avellar
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Professora Titular da cadeira de Ginástica Geral da
Escola Superior de Cruzeiro, e do Colégio Estadual
Antonina Ramos Freire, na disciplina Educação
Física. e-mail: [email protected]
Introdução: A população idosa vem crescendo
em todo mundo, no ano 2000 havia 600 milhões
de idosos e a expectativa é que este número
passe para 1,2 bilhões em 2025 e 2 bilhões em
2050. Uma FC de repouso baixa aparentemente
aponta para um bom quadro de saúde sendo que
o seu comprometimento eleva o risco de
mortalidade. Objetivos: Analisar o
comportamento da freqüência cardíaca de
repouso de três grupos distintos e ver qual
tratamento foi mais eficaz o Revitalização
Geriátrica ou o Musculação e comparar com o
grupo controle Metodologia: Participaram da
pesquisa 118 voluntários, inscritos no grupo
Revitalização Geriátrica, Musculação e Grupo
Controle masculino e feminino. Como
instrumento de medida para a avaliação do
paciente antes e após o tratamento, foi utilizado
um cronômetro, foi utilizada a artéria radial para
aferição dos batimentos cardíacos do indivíduo
durante quinze segundos, sendo multiplicado por
quatro. Após a avaliação inicial os voluntários do
grupo musculação composto por 15 voluntários
realizaram alguns exercícios resistidos em
aparelho de musculação adaptados para idosos:
Leg press, press peitoral, remada, panturrilha,
extensão lombar e abdominal. O grupo
Revitalização composto por 95 pessoas realizou
três sessões semanais de 50 a 55 minutos de
duração e incluiu exercícios de fortalecimento
muscular, flexibilidade, condicionamento aeróbio
e capacidades coordenativas (equilíbrio,
agilidade e ritmo).Os dois grupos tiveram três
sessões semanais de 50 minutos. O grupo
controle foi composto por 8 pessoas que não
praticavam atividade física controlada e
supervisionada. Resultados: Análise dentro e
entre os grupos: Musculação sexo 0,9567 mês
0,6333 mês*sexo 0,5469 Grupo Controle: sexo
0,5843 mês 0,0433 mês*sexo 0,4621 Grupo
Revitalização sexo: 0, 0313 mês 0, 0001
mês*sexo 0, 7061.Os níveis de significância
foram fixados em p < 0.05. Os cálculos foram
realizados nos softwares estatísticos R e SAS.
Considerações finais: Todos os grupos
apresentaram comportamento diferente ao longo
do tempo. Os grupos revitalização e controle
apresentaram comportamento semelhante entre
si, considerando que têm valores menores nos
meses 1 e 3 e valores maiores no mês 2. Já o
grupo musculação apresentou comportamento
quase constante ao longo do tempo, mas sempre
indicando queda, sendo assim apontado como
mais eficaz.
ESC - Cruzeiro/SP
Dentre as muitas pesquisas que vêm sendo
desenvolvidas acerca de novas abordagens
pedagógicas relacionadas ao ensino da
Educação Física, os Jogos Cooperativos vêm se
destacando como uma relevante temática,
comprometida com o desenvolvimento de
questões relacionadas a conceitos de integração,
solidariedade e fomento de princípios de inclusão
- favorecendo, assim, o despertar de uma visão
voltada para uma formação integral de nossos
educandos. Porém, devido à centralização
desportiva e enfoque da 'competição' como eixo
central em nossa atuação pedagógica - ainda
presente no contexto educacional inerente à esta
disciplina - percebemos que existe certa
resistência quanto à aplicação de metodologias
ligadas à temática da Cooperação, sendo esta
muitas vezes associada à imagens utópicas ou à
vivência de atividades desmotivantes. Desta
forma, este estudo objetivou inserir elementos
fortemente presentes na temática da Competição
em Atividades Cooperativas. Para tanto, a
variável 'tempo' foi especialmente observada a
fim de analisar seu potencial como fator
motivacional no Jogo Cooperativo. O presente
estudo foi desenvolvido numa escola estadual
(RJ), sendo aplicado a 58 alunos de ambos os
sexos, com faixa etária compreendida entre 18 a
44 anos, pertencentes a 03 turmas de ensino
médio (E.J.A.), consistindo na aplicação de 15
jogos e desafios cooperativos, vivenciados de
duas diferentes formas: na primeira, o jogo foi
apresentado em seu formato original; em seguida
era recriado delimitando-se uma meta de tempo
para a execução do objetivo proposto no jogo, a
fim de verificar qual das duas formas garantiu
maior motivação entre os participantes. Foi
aplicado um questionário relacionando as 15
atividades, onde cada participante deveria
descrever sua preferência por cada uma das
formas de jogo, sendo a segunda forma de
vivência do jogo (com limite de tempo) escolhida
pela maioria. A análise e discussão dos
resultados trouxe, entre outras reflexões, a
percepção da relação intrínseca que se
estabelece entre estas divergentes correntes
(Competição e Cooperação), e a relevante
constatação que a adoção de metodologias
relacionadas à propostas Cooperativas, não
significa negar a importância ou inserção da
Competição em nossa sociedade, e sim entender
esta temática como mais um caminho
essencialmente válido e possível.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
152
FATORES MOTIVACIONAIS EM EQUIPE DE
FUTSAL FEMININO DO PROGRAMA ESCOLA
DA FAMÍLIA
1
Tiago Marcelino Alves; 1Maxshuel Donizetti
Leme; 1,2Marcelo Callegari Zanetti
BULLYING NO CONTEXTO FUTEBOLÍSTICO:
UMA ANÁLISE DE JUNIORES
Renato Henrique Verzani, Kauan Galvão Morão,
Lucas Ribeiro Cecareli, Guilherme Bagni, Eric
Lima, Afonso Antonio Machado
UNIP – Campus São José do Rio Pardo
UNESP – Rio Claro/SP
(Introdução) Mesmo com as mais diversas
tecnologias envolvidas na área do esporte, é de
suma importância salientar que a motivação é um
dos aspectos que mais influencia no
desenvolvimento e na busca de um dado
resultado. É notável que a motivação é fator
extremamente importante na permanência deste
resultado esperado e também no desempenho do
atleta em sua carreira esportiva. Diante dessa
afirmação é evidente que se não houver fatores
motivacionais presentes no dia a dia e no decorrer
dos treinamentos dos atletas, que os
impulsionem a conseguir melhores resultados, os
mesmos podem vir a desanimarem e desistirem
de suas carreiras. (Objetivo) O presente estudo
teve como objetivo identificar os fatores
motivacionais de atletas de futsal do Programa
Escola da Família de uma escola de São José do
Rio Pardo-SP. (Metodologia) Os dados foram
coletados por meio da aplicação de um
questionário. Participaram do estudo 13 atletas
do sexo feminino participantes do Programa
Escola da Família, com idades entre 14 e 17 anos,
com tempo médio de prática de cinco meses.
(Resultados) Após análise dos dados
encontramos a maior porcentagem (73,33 %)
para a opção gostar de futsal, (6,66 %) para a
opção ganhar, (6,66 %) para a opção competição,
(6,66 %) para a opção oportunidade oferecida e
(6,66 %) para a opção fazer bem fisicamente.
(Conclusão) Diante dos resultados pudemos
concluir que o fator mais motivante na prática do
esporte é a opção gostar do futsal. Porém, a
motivação de um atleta não deve partir somente
de sua motivação intrínseca, ou seja, de sua
própia vontade de jogar, mas também da
motivação extrínseca que deve partir do apoio e
incentivo do técnico, da família, do grupo em que
estão inseridos, da comunidade e da sociedade
em geral. Portanto, não adianta o atleta gostar do
esporte se não se sente motivado e apoiado por
quem os cerca, sendo assim educadores,
técnicos, pais e familiares devem levar isso em
consideração, incentivando e apoiando para que
esses atletas se sintam mais motivados a praticar
o esporte e possivelmente estar trilhando em
suas carreiras.
Existem diversas formas de agressão contra uma
pessoa, sendo que quando um comportamento
visa atingir e torná-las alvo de sarcasmos,
risadas, chacotas, ironias, dentre outros, temos a
caracterização do fenômeno do bullying. Esses
tipos de situações ocorrem geralmente em locais
de grande convivência entre pessoas, como no
ambiente esportivo. Quando isto acontece sem
que seja percebido ou sem que alguma atitude
seja tomada, temos um dos valores mais
importantes do ser humano atingido, no caso a
auto-estima. Sendo assim, o processo não se
caracteriza apenas por agressões físicas, mas
também psicológicas, emocionais e violências
morais. Caso este contexto seja diagnosticado e
não seja alterado, todos os indivíduos inseridos
no mesmo passam a sofrer com o que está
ocorrendo, podendo desta forma aumentar a
ansiedade, medo e outras emoções que vão
prejudicar o relacionamento do grupo e
consequentemente causarão um efeito negativo
no rendimento da equipe nos treinamentos e
competições. Portanto, o objetivo deste trabalho
foi analisar através de questionários se existem
fatores que podem ser considerados bullying em
um ambiente esportivo, com jogadores da Copa
São Paulo de Futebol Junior, isto é, verificar em
uma amostra de atletas se existem
comportamentos inadequados e na medida do
possível constatar as conseqüências dos
mesmos, como o abandono precoce. Analisando
os resultados, ficou claro que os comportamentos
que caracterizam o fenômeno estão muito
presentes no ambiente futebolístico de base,
sendo que estes atletas que em um curto espaço
de tempo estarão compondo as equipes
profissionais. Uma parte dos atletas já pensou em
abandonar a modalidade por este motivo e
também constatamos que alguns ambientes
podem se tornar potencializadores do bullying,
pois os atletas acabam passando muito tempo
juntos e portanto há um favorecimento para o
inícios desses comportamentos. Com isso, fica
evidente que os responsáveis por uma equipe
devem estar sempre atentos aos seus
comandados, visando não somente resultados,
mas também avaliar o que acontece fora dos
ambientes de treinos e jogos.
1
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
153
BELO E ETERNO: CONSTATAÇÕES NO
SECOND LIFE
Marcelo Callegari Zanetti1,2, Mauro Klebis
Scahiavon1, Altair Moioli1, Flavio Rebustini1 e
Afonso Antonio Machado1
1
LEPESPE / I. B. / UNESP – Campus de Rio
Claro; 2UNIP – Campus São José do Rio Pardo
(Introdução) Quem nunca sonhou em se manter
belo eternamente? Desde os primórdios da
humanidade inúmeras pessoas têm buscado o
elixir da juventude que daria a possibilidade de
nos mantermos belos e eternos, sonho este que já
pode ser aventado ao menos nos ambientes
virtuais. Neste ambientes freqüentemente as
pessoas descrevem suas características como
alguém jovem, bonito(a) e com padrões
almejados pela maioria dos humanos. Por isso, o
objetivo deste trabalho foi verificar a busca pela
beleza e vida eterna em um ambiente virtual de
sociabilidade. (Metodologia) A pesquisa foi
realizada no ambiente virtual de sociabilidade
Second Life durante o mês de agosto de 2012.
Investigamos por meio de uma entrevista semiestruturada 10 avatares, sendo 5 representados
por corpos femininos e 5 masculinos. Dentre as
questões abordadas optamos pela análise da
seguinte questão: “Com o passar do tempo
pretende ir envelhecendo seu avatar para
acompanhar sua idade real ou pretende manter a
mesma forma?”. Registramos também a imagem
de todos os avatares investigados por meio de um
recurso disponível no próprio ambiente.
Posteriormente, foi feita a análise de conteúdo e a
categorização dos dados das entrevistas e
análise das imagens segundo os pressupostos da
sociologia visual. (Resultados) Como resultado
das entrevistas constatamos que todos os
entrevistados não pretendem envelhecer seus
avatares, sendo que as principais justificativas
para tal, são a possibilidade de se manter jovens e
belos eternamente, além de preservar a
identidade, já que, alterações profundas no
avatar, como o processo de envelhecimento
poderiam levar ao não reconhecimento do avatar
pelo outro. Ao analisar as imagens encontramos
avatares com padrões corporais bastante
almejados por nossa atual sociedade, sendo as
mulheres magras, com cabelos longos e corpos
bastante definidos e sensuais e homens com
grande massa muscular. (Conclusão) Em um
jogo como o Second Life há possibilidade de
projeção daquilo que somos ou gostaríamos de
ser, por isso, se faz necessário uma educação
virtual diminuindo assim a ocorrência de conflitos
internos que possam levar a distúrbios
psicológicos mais graves no futuro.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
154
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
155
III CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA
APLICADA AO ESPORTE E À MOTRICIDADE HUMANA
RESUMOS
PAINÉIS
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
156
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
157
A PSICOLOGIA DO ESPORTE NO CENÁRIO
DO CONGRESSO INTERNACIONAL DE
EDUCAÇÃO FÍSICA E MOTRICIDADE
HUMANA – UNESP – RIO CLARO: UMA
ANÁLISE DOS ANAIS DE 1999 A 2011.
PEDAGOGIA DO ESPORTE:
FERRAMENTA EDUCATIVA
UMA
Andréa de Oliveira Pardal; Cintia da Silva
Barbeiro; Daniela Aparecida Maurity dos Santos
Fernanda Carolina Pereira
Universidade Paulista – UNIP
UNESP | IB | Rio Claro/SP.
Resumo: O esporte é um excelente facilitador na
educação de jovens, mas não é o que
observamos no alto rendimento. A pedagogia
tradicional, Segundo Scaglia e Souza (2004), está
centrada na reprodução de modelos e padrões de
eficiência e determina pré-requisitos seletivos,
centrada na técnica. Busca reproduzir modelos,
repetir movimentos para automação, mecanizar o
gesto. É seletivo, pobre em acervos de respostas
e em tomada de decisões. Gera dependência. A
pedagogia inovadora, conforme Scaglia e Souza
(2004) cria e estimula um ambiente de criatividade
e diversidade, está centrada na lógica-tática,
busca criar, explora movimentos para enriquecer
acervo de soluções. Busca harmonizar o gesto, é
rico em acervo de respostas, aprende a partir do
que sabe e é aberto a todos. Além de ser rico em
tomada de decisões, ainda gera autonomia.
Assim, entendemos que para o esporte assumir
genuinamente sua função de mediador entre o
educar e o formar, que coabitam uma mesma
unidade complexa – o ensinar – mediada pela
ação do agente pedagógico, a pedagogia do
esporte deverá ser lançada no campo da
complexidade do pensamento, aceitando sobre
si, de fato, a pedagogia, a práxis educativa (Morin,
2003). Este projeto visa o estudo do esporte,
como um instrumento educacional, voltado para a
formação do aluno, dentro de uma sociedade.
Proporcionar ao aluno a formação de um cidadão
crítico, autônomo e socializado, apto a lidar com
regras, vitórias e derrotas, através da pratica do
esporte. Foi desenvolvido com base em uma
ampla Revisão de Literatura, apoiada em
bibliografia específica da área da pedagogia do
esporte. Podemos concluir com este trabalho, que
podemos fazer com que o aluno se aproxime aos
poucos da modalidade, possibilitando que no
futuro venha a se interessar e se aprofundar neste
aprendizado, onde todos que estão dentro deste
meio aprendem não só o jogo em si, mas também
a lidar com a equipe e a não serem individualistas.
Como uma sub área das Ciências do Esporte, a
Psicologia do Esporte vem se expandindo,
ganhando notoriedade na produção científica e se
aperfeiçoando nos mais diversos contextos
relacionados ao esporte e motricidade humana.
Tanto no Brasil como no exterior, a organização
das sociedades e eventos, como congressos
regionais e mundiais, assim como a inclusão de
disciplinas nas grades curriculares de cursos de
Educação Física e Psicologia, criação de cursos
de especialização e a publicação de periódicos
específicos são evidências do desenvolvimento
da área. O objetivo do presente trabalho foi
identificar o espaço reservado à Psicologia do
Esporte no Congresso Internacional de Educação
Física e Motricidade Humana, evento realizado
bianualmente, desde 1999, pelo Departamento
de Educação Física da UNESP de Rio Claro - SP.
Ao todo foram analisados 2951 trabalhos
enviados a todas as edições do evento, de 1999 a
2011, organizados em seus respectivos anos de
realização e subdivididos nas categorias: Mesas
Redondas e Conferências (MRC), Sessões
Temáticas (ST), Temas Livres (TL), Paineis (PN),
e Relatos de Experiência (RE). Utilizou-se de
pesquisa bibliográfica, tendo como fonte os anais
das edições do evento, organizados como
suplemento da revista Motriz. Os resultados são
expressos em Número de trabalhos de Psicologia
do Esporte/Número Total de trabalhos
apresentados na edição do evento. Em 1999:
19/169 – 1(MRC), 7(TL), 9(PN), 2(RL). Em 2001:
43/299 sendo 2(MRC), 11(TL), 26(PN), 4(RL). Em
2003: 57/441 sendo 3(MRC), 13(TL), 38(PN),
3(RE). Em 2005: 70/530 sendo 3(MRC),
67(TL+PN). Em 2007: 69/521 sendo 4(MRC),
18(TL), 44(PN), 3(RE). Em 2009: 57/463 sendo
3(MRC), 14(TL), 40(PN). E em 2011: 95/528
sendo 1(MRC), 9(ST), 43(TL), 42(PN). Em 2005,
2009 e 2011 a categoria Relatos de Experiência
foi retirada do evento, bem como as Sessões
Temáticas de 2001 a 2009, retornando na edição
de 2011. Analisando todas as edições do evento,
e comparando a última edição com a primeira,
percebe-se que, ao mesmo tempo em que o
número total de trabalhos apresentados triplicou,
o número de trabalhos relacionados à Psicologia
do Esporte aumentou 5 vezes. Isso mostra o
constante crescimento da Psicologia do Esporte
dentro de congressos especializados em
Educação Física e Motricidade Humana.
Palavras-chave: Psicologia do Esporte,
Motricidade Humana, Anais.
Palavras Chave: Pedagogia do esporte,
ferramentas educativas, práxis educativa.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
158
MUSICALIZAÇÃO E ALFABETIZAÇÃO DA
CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:
POSSIBILIDADES DE ESTRATÉGIAS DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
Andréia Aparecida Ferraz; Mayara Gabriele da
Silva Lourenzini:
Thais da Silva Ramos
Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP
Curso de Pedagogia
A música desempenha um papel importante em
toda a sociedade e também no ensino escolar.
Procedimentos pedagógicos com eficácia
comprovada torna-se um desafio para todos
aqueles que trabalham com pessoas que
apresentam algum grau de deficiência
intelectual. O desenvolvimento de
procedimentos e a criação de estratégias
pedagógicas com recursos da musicalização
podem trazer benefícios para o aprendiz. Nessa
direção, o presente estudo teve como objetivos
analisar e descrever a contribuição da
musicalização para o desenvolvimento
acadêmico da criança com deficiência intelectual
a fim de, mais adiante, propor algumas
estratégias que auxiliem no processo de
alfabetização dessas crianças. Para o alcance de
tais objetivos foi desenvolvido um levantamento
bibliográfico de cunho descritivo sobre as fontes
que apresentam o tema em questão. Os
resultados sugerem que o trabalho pedagógico
no contexto escolar por meio da musicalização é
muito importante, pois a música se efetiva como
elemento integrador e motivador no processo de
aprendizagem da leitura e escrita, contribuindo
para um ambiente estimulador e prazeroso para
as crianças sem algum tipo de deficiência ou com
deficiência intelectual. Esta pesquisa não
pretendeu esgotar a discussão sobre o assunto
em questão, mas sim promover uma reflexão a
fim de colaborar com o processo ensino
aprendizagem no período de alfabetização e,
principalmente, auxiliar os professores com
sugestões práticas e específicas para uso diário.
Palavras-Chave: Alfabetização. Deficiência
Intelectual. Educação Especial. Musicalização.
Apoio – NAAC - UNIRP
O SENTIDO DA DANÇA E
POSSIBILIDADES NA ESCOLA
SUAS
Danila Alves Sodré; Iraceles Gonçalves do
Santos
Universidade Paulista – UNIP Campus JK
INTRODUÇÃO: A dança no âmbito educacional
pode ser utilizada como um dos instrumentos
para formar cidadãos críticos e confiantes, que
sejam capazes de construir idéias e opiniões a
partir do contexto onde estão inseridos. Também
pode contribuir para que o indivíduo tenha
consciência do papel que exerce como
integrante da sociedade, através da sua
participação ativa e autônoma. Entretanto,
constata-se que a dança não é praticada na
escola como um conteúdo equivalente as demais
práticas corporais. Em contrapartida, com a
influência dos meios de comunicação, tais como
internet, televisão e outras mídias, alunos e
professores estão reproduzindo caracterizações
das danças veiculadas de maneira
descontextualizada, representando uma imagem
distorcida de valores éticos e morais.
OBJETIVOS: Diagnosticar os fatores que
dificultam a seleção da atividade dança, como
um dos conteúdos das aulas de educação física
e s c o l a r. P R O C E D I M E N TO S
METODOLÓGICOS: Como procedimento
metodológico trata-se de uma pesquisa
bibliográfica, de natureza qualitativa e, para
tanto, utilizou-se um revisões de literatura que
apresenta discussões a respeito do problema
diagnosticado CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Segundo Isabel A. Marques, existem alguns
fatores que tem influenciado a falta de interesse à
prática do ensino da dança na escola, que se
origina a partir de pensamentos preconceituosos
como por exemplo, “dança é coisa de mulher”;
divisão entre o trabalho manual e intelectual, que
consequentemente, a prática da arte como
disciplina era desvalorizada por se tratar de um
trabalho corporal. Contudo, seria de suma
importância que os professores buscassem
conhecimento prático-teórico em relação ao
ensino da dança na escola.
Palavras chave:Dança. Educação. Mídia
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
159
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS
COOPERATIVOS NO AMBIENTE ESCOLAR
1
Cristiano Patrício de Souza; 2Altair Moioli;
Rodinei Marcelino Rodrigues; 1Luiz Matheus
Ramos
CORRELAÇÕES ENTRE POSSE DE BOLA E
RESULTADO DAS PARTIDAS: ANÁLISE DAS
PRINCIPAIS SELEÇÕES EM COPAS DO
MUNDO
1
José Antonio Bruno da Silva
1
Secretaria de Esportes de São José do Rio
Preto; 2UNIRP
Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP)
Os jogos cooperativos são de extrema
importância social. A inclusão destes jogos em
propostas escolares enfoca o envolvimento e
participação das crianças em jogos e
brincadeiras, revelando a necessidade da
colaboração, da solidariedade, da amizade e do
respeito entre elas. Por meio da cooperação e
seus aspectos formadores há a participação de
todos democraticamente, de modo a valorizar o
processo educacional, e não apenas seu objetivo
final. O objetivo deste trabalho é apontar as
vantagens de se trabalhar com jogos cooperativos
no meio escolar, melhorando o convívio entre os
alunos e a sociedade. Este trabalho, em forma de
pesquisa-ação, foi desenvolvido na escola
Associação Lar de Menores – ALARME, com base
nas diretrizes do Programa Segundo Tempo.
Foram analisadas as brincadeiras e jogos
cooperativos trabalhados na escola e o
comportamento dos alunos anteriormente e
posteriormente às atividades trabalhadas,
observando-se a relação com o professor e a
escola, além dos familiares e da sociedade. Por
meio da prática esportiva, apresentamos aos
alunos formas de cidadania e inclusão social,
descontextualizando alguns tabus e aprimorando
o desenvolvimento físico e psicológico. Com a
introdução dos jogos cooperativos no contexto
escolar, observamos que houve mudança positiva
do comportamento dos alunos que participam do
Programa Segundo Tempo. O trabalho com jogos
e brincadeiras cooperativos promoveu entre as
crianças confiança mútua, liderança circular,
comunicação colaborativa, criatividade
compartilhada, centramento, bom humor, coresponsabilidade e paz. Se pensarmos que os
jogos cooperativos promovem a socialização e a
cidadania, podemos acreditar que, se for
trabalhado de modo coerente, veremos um
grande progresso entre as crianças. Nesse
sentido, teremos a construção de um mundo
melhor.
A Copa do Mundo de Futebol é um dos maiores
torneios desse desporto, sendo a Seleção
Brasileira, juntamente com Alemanha e Itália, as
que obtiveram os melhores resultados. Um
importante indicador de rendimento no futebol é a
posse de bola, pois entende-se que equipes de
melhor qualidade técnica, geralmente,
apresentam resultados maiores desse índice. No
entanto, não existe ainda um consenso em torno
do quanto ela possa influenciar no resultado de
uma partida ou torneio. Nesse sentido, o objetivo
do estudo foi analisar a posse de bola em todos os
jogos das Seleções Brasileira, Alemã, e Italiana de
futebol, em Copas do Mundo, compreendidos no
período de 1966 a 2010, correlacionando com o
numero de finalizações e gols obtidos a favor e
contra. Foram analisados vídeos de 208 jogos, e
foi aplicada a correlação de Pearson. Observouse superioridade do Brasil e da Alemanha em
relação aos adversários, enquanto a Itália, em
geral, apresentou índices inferiores. Maiores
percentuais foram observados, para o Brasil em
1994 e 2010, enquanto Alemanha e Itália em 1990
e 1998; e 2010 e 1990 respectivamente.
Entretanto, a posse de bola não esteve associada
à classificação final das Seleções, já que a menor
média foi obtida em 2002, quando o Brasil
conquistou o título. A Seleção campeã de 1994
apresentou tendência de correlação negativa com
anotação de gols. Nas duas Copas vencidas, a
Itália apresenta correlações negativas entre
posse de bola e gols/finalizações a favor. Já a
Alemanha apresentou correlação negativa
significativa entre posse de bola e finalizações
contra na Copa de 1990. A conquista alemã em
1974 apresentou elevada associação com
finalizações a favor. Desse modo, conclui-se que
a posse de bola não foi o diferencial entre o
sucesso das Seleções analisadas, nas Copas
compreendidas entre 1966 e 2010, porém,
quando observada de forma global a mesma se
correlaciona positivamente com finalizações, e
negativamente com finalizações contra.
Palavras – chave: Cooperação. Jogos. Escolar.
Palavras-chave: Futebol, Brasil, Itália,
Alemanha, Copa do Mundo, posse de bola,
correlações
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
160
REPERCUSSÃO NACIONAL E
INTERNACIONAL DO CONGRESSO DE
PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE E À
MOTRICIDADE HUMANA: UMA ANÁLISE DOS
ANAIS DE 2009 E 2010.
Fernanda Carolina Pereira
Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Rio
Claro/SP.
Atualmente tem-se notado uma importante
ascensão da Psicologia do Esporte, como área
de conhecimento, tanto no Brasil como em todo o
mundo. O objetivo do presente trabalho foi
analisar a repercussão, nacional e internacional,
do Congresso Brasileiro de Psicologia Aplicada
ao Esporte e à Motricidade Humana, evento
realizado anualmente, desde 2009, pelo
Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Psicologia do Esporte (LEPESPE), DEFUnesp/RC, na cidade de São José do Rio Preto –
SP. Por meio da análise das cidades de origem
dos trabalhos enviados, na categoria Painel, às
duas edições do evento, ocorridas em 2009 e
2010, foi traçado um perfil do crescimento e
disseminação nacional e internacional em ambas
as edições. Ao todo foram analisados 146
trabalhos enviados na categoria Painel. Utilizouse a pesquisa bibliográfica, tendo como fonte os
anais das edições do evento. Os resultados são
expressos em número de trabalhos nacionais,
separados em Estados e Cidades, e número de
trabalhos internacionais. Em 2009 foram
enviados 73 trabalhos na categoria Painel, todos
nacionais, sendo 72 originários do estado de São
Paulo (52-São José do Rio Preto, 17-Rio Claro, 2São Paulo e 1-Presidente Prudente) e 1 do
Distrito Federal, da cidade de Brasília. Em 2010, a
mesma quantia de trabalhos foi enviada na forma
de painel, sendo 2 trabalhos internacionais
(Portugal) e 71 nacionais, dentre os quais 66
oriundos do estado de São Paulo (29-São José
do Rio Preto, 20-Rio Claro, 4-São Paulo, 2Catanduva, 2-São José do Rio Pardo e
Campinas, Jundiaí, Jales, Olímpia, São Caetano
do Sul, Lins, Cotia e Araras representados por 1
trabalho de cada cidade), e 5 de outros estados
(2-Mato Grosso, 2-Ceará e 1-Bahia). Diante
disso, pode-se perceber uma diminuição na
concentração do número de trabalhos oriundos
da cidade do evento, São José do Rio Preto,
comparando o evento de 2010 com a edição de
2009, ocorrendo uma ampliação e ramificação da
participação de outras cidades, estados e países.
Isso mostra o crescimento e repercussão
nacional e internacional do evento, em suas duas
primeiras edições, e o crescimento da área de
Psicologia do Esporte no Brasil e no mundo.
Palavras-chave: Psicologia do Esporte,
Motricidade Humana, Anais.
OBSERVAÇÕES DA PSICOLOGIA DO
ESPORTE SOBRE AS COMPETIÇÕES
ESPORTIVAS ESCOLARES
Francisco Galvão do Amaral Pinto Barciela;
Renan Mendes Garcia; Marta Aurélia Campos
Silveira; Fernando César Gouvea; Afonso
Antonio Machado
UNESP | IB | LEPESPE | Rio Claro-SP
A opção deste trabalho foi investigar as
interações sociais, no decorrer dos Jogos
Escolares; muito em especial, analisar o efeito da
torcida nos alunos que disputavam tal
campeonato, versão 2002, cidade de Rio Claro,
partindo para uma análise de discurso colhido
através de entrevistas e depoimentos, em
pesquisa do tipo etnográfica. Esta justificativa se
deve ao fato de estarmos sempre reproduzindo
os moldes sociais esportivos em todos os
segmentos escolares e, em cima desta situação,
ampliar um discurso humanizador e político deste
momento de competição esportiva. Apoiada na
literatura atual da área (Machado, 1995 e 1997;
Buriti, 1997; Bandura, 1989 e 1998; Samulski,
2002) tratou-se de coletar os dados reveladores
dos elementos a serem estudados. Dados
reveladores de maior necessidade de atenção
com a prática esportiva escolar, na feição de aulatreino ou campeonato, bem como uma melhor
interação pais-professores-alunos são respostas
aos questionamentos aqui iniciados. Revelou-se
deformadora a relação pai-professor, uma vez
que ambos lutam pelo gerenciamento da criança,
que depende dos pais e dos docentes, em
situações específicas, mas que ficam numa
mesma condição, no momento esportivo: ambos
são torcida. Constatou- se, ainda, que a excitação
da torcida é fator de incômodo e crescente
ansiedade, gerando uma agressividade, em
especial quando os pais compõem o grupo de
torcedores. Esta situação é constrangedora,
conforme analisa a literatura, pela deformidade
social imposta através de insultos e gritos de
guerra, advertência ou insultos. Em relação à
ansiedade, é unânime a alteração do estado, em
jogos decisivos, quando a cobrança do professor
é mais incisiva. Conclusivamente, esta pesquisa
remete a uma maior reflexão sobre a
necessidade de se tratar a Psicologia do Esporte,
inclusive do Escolar, como uma das Ciências do
Esporte de primeira importância, até mesmo do
esporte escolar, tendo em vista o suporte e a
complexidade de interações por ela
possibilitados.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
161
RELAÇÃO ENTRE O MANDO DE CAMPO, O
VENCEDOR DO PRIMEIRO TEMPO E A VOLTA
PARA O SEGUNDO TEMPO: UMA ANÁLISE
ESTATÍSTICA DE SÚMULAS.
DISTANCIAMENTO FAMILIAR: aspecto
relevante na desistência da carreira de
jogador de futebol das equipes de base.
1
1
Jefferson Luis Molina Rodrigues; 1Meison dos
Santos Ribeiro Soares; 1, 2 Altair Moioli
2
Guilherme BAGNI , Gustavo BAGNI , Afonso
Antonio MACHADO1.
1
1
2
UNESP | IB | RIO CLARO – LEPESPE; UFSCar |
DEP – São Carlos
Estudos científicos na área do esporte são uma
ferramenta cada vez mais importante que visa
identificar problemas e melhorá-los visando um
maior rendimento esportivo, especialmente no
que diz respeito ao futebol, uma modalidade onde
o capital envolvido é muito alto e existem muitas
pessoas envolvidas. As súmulas são
consideradas como o documento oficial das
partidas e por isso tem uma importância muito
grande, porém elas são pouco utilizadas como
fonte de coleta de dados para análise e percepção
de algumas peculiaridades que ocorrem nas
modalidades esportivas e que podem ser
trabalhadas visando um maior desempenho.
Fazer um levantamento de dados sobre súmulas
de futebol, comparando o resultado do primeiro
tempo de jogos com o tempo de entrada dos times
no segundo tempo considerando também o
mando de jogo. Foram analisadas as súmulas de
todos os 202 jogos da série A1 do campeonato
paulista 2012, disponíveis no site da federação
paulista de futebol e verificados o resultado do
primeiro tempo do jogo, o tempo de entrada dos
times no segundo tempo e o mando de jogo.
Foram descartadas as súmulas dos jogos que
tiveram como empate o resultado do primeiro
tempo, que os times entrem no segundo tempo no
mesmo minuto e/ou que não seja possível
analisar a súmula. Diante disso foram feitos dois
testes de hipótese para proporção de populações
com grau de confiança de 95%. A hipótese do
primeiro teste era que o vencedor do primeiro
tempo volta após o adversário no segundo tempo,
e a do segundo teste que, independente de quem
está ganhando, se há vencedor o time visitante
volta depois. A hipótese do primeiro teste foi
rejeitada, não sendo possível concluir que existe
influência do resultado do primeiro no momento
em que os times voltam a campo. Já no segundo
teste a hipótese foi aceita, confirmando que jogar
fora de casa faz o time voltar após o adversário
para o segundo tempo. Este é um trabalho
pioneiro nessa área e os pesquisadores
pretendem verificar essas relações em outros
esportes e campeonatos, ampliando o estudo.
Palavras chave: Súmulas; futebol; teste de
hipótese.
Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia
do Esporte - LEPESPE
2
Introdução: Ao analisar o futebol na sociedade
contemporânea é inegável sua rápida expansão
tanto no Brasil quanto no exterior, em especial
pela sua representação econômica, social,
política, cultural e, principalmente pela paixão que
ele desperta. Por essa razão, é facilmente
percebida o desejo de milhões de garotos em se
tornarem jogadores de futebol. Objetivos:
Analisar como os atletas adolescentes lidam com
o distanciamento familiar no início de carreira e
ainda, verificar se esse fator contribui para o
abandono da carreira entre jogadores
adolescentes de futebol. Procedimentos
metodológicos: Este trabalho é de natureza
básica, com abordagem qualitativa, exploratória,
considerando a relação dinâmica entre o real e o
sujeito. Para tanto, utilizou-se de uma entrevista
aberta, gravada, com transcrição integral do seu
conteúdo. Para a coleta de dados, a entrevista foi
realizada com um ex-atleta da modalidade de
futebol, com base na técnica de historia de vida.
Os dados foram tratados de acordo com a
pesquisa fenomenológica e categorizados
conforme a análise do conteúdo. A motivação
para o estudo se baseia, na expectativa de
compreender quais os fatores que influenciam o
abandono da prática do futebol nas equipes de
bases. Considerações finais: A partir da analise
do depoimento coletado, foi possível identificar
que a família foi um fator determinante que
contribuiu para o abandono da carreira do
entrevistado. Destaca-se como situação de
significativo desarranjo emocional o fato do
distanciamento da família provocar momentos de
depressão, angústia e solidão, o que
fundamentalmente interferia no rendimento do
atleta. Nesta situação específica, a família
apresentava um quadro de completa desestrutura
sociopsicológica provocada pelo alcoolismo do
pai, culminando com quadro de violência
doméstica. Para o atleta em questão, a mãe era
considerada como um alicerce para a vida e pela
qual ele mantinha sentimento de zelo e obrigação
de defesa. Assim, considera-se que a
permanência ou a decisão de parar de jogar, tem
uma relação estreita com o significado da família
para a vida do atleta e sua representação social.
Palavras chave: Futebol. Adolescência. Família.
Abandono da prática.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
162
AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE ANSIEDADE
PRÉ-COMPETITIVA (ANSIEDADE TRAÇOESTADO) DE PAIS DE ATLETAS DE FUTSAL,
DA CATEGORIA MIRIM (SUB ONZE)
Telma Sara Queiroz Matos
Psicóloga e Profissional de Educação Física, com
formação em Psicologia do Esporte.
[email protected]
O objetivo deste trabalho foi analisar e observar o
nível de ansiedade pré-competitiva (ansiedade
traço/ ansiedade estado) de pais e/ou mães de
atletas de futsal categoria sub 11, participantes de
campeonatos regionais do Triângulo Mineiro,
sendo estes de escolinhas de esporte públicas e
privadas. Participaram deste estudo, quinze pais
e/ou mães de atletas (Categoria Sub-11, do
Campeonato Mineiro de Futsal). O Instrumento
utilizado foi Inventário de Ansiedade TraçoEstado (IDATE-T). O contexto social que
influencia a participação infantil no esporte é
constituído pela tríade: criança, técnico, família.
Sabe-se que as relações entre pais e filhos são
por si só complicadas. Existem nesta, fatores
evidentes de complexidade, como diferença de
idade, sexo, interesse, oportunidade. Os pais
quando não conseguem lidar com a não evolução
dos desempenhos esportivos dos filhos, passam
a ter uma relação de conflito com o esporte
competitivo, onde o clima, então prazeroso,
adquire uma configuração marcada por estresse
e ansiedade. Pesquisadores verificaram que os
pais exercem um papel altamente positivo,
atuando como motivadores e incentivadores, ou
então um papel amplamente negativo na
experiência esportiva de seu filho. No exemplo do
futsal, o fato deste ser praticado pelas crianças
nas mesmas condições dos adultos, insere
nestas o mesmo pensamento competitivo,
valorizando resultados e rendimentos. Os
resultados encontrados neste estudo apontam
para um nível significativo de ansiedade dos pais,
momentos antes dos jogos. Através de
observações, constatou-se que estes pais
influenciavam diretamente no desempenho dos
filhos, sendo que estes apresentavam
desequilíbrio emocional com correspondente
queda no seu rendimento durante o jogo.
Palavras chave: Ansiedade, Psicologia do
Esporte, Competição
ASPECTOS FÍSICO E SÓCIO PSICOLÓGICOS
DA PRÁTICA DA CAMINHADA
Iraceles Gonçalves dos Santos
Universidade Paulista – UNIP – Campus JK
INTRODUÇÃO: Estimativas atuais apresentam
que pelo menos 70 milhões de pessoas no mundo
inteiro já adotaram a caminhada como uma
maneira de cuidar da saúde e da forma física.
Andar é também uma maravilhosa fonte de
energia. A explicação é que ao caminhar há um
aumento na produção de adrenalina, o ritmo
cardíaco e a pressão sanguínea são acelerados,
bombeando mais sangue para o cérebro. Todo
esse processo faz com que as pessoas se sintam
mais ativa física e mentalmente. A caminhada
tornou-se uma atividade física bastante comum
devido ao baixo investimento necessário à sua
prática. Além disso, esta atividade tem também
diversos objetivos dependendo da modalidade
envolvida. Destacam-se nessa modalidade as
próprias para melhorar a forma física, mas
também existe outras formas como, por exemplo,
as caminhadas religiosas, caminhada ecológicas,
trekking, entre outras. OBJETIVO: O objetivo
deste estudo será identificar os motivos que
contribuem para as pessoas a iniciar o hábito da
caminhada como atividade física. Nesse
contexto, requer também analisar os fatores
motivacionais, sociais e psicológicos
proporcionados por essa prática.
PROCEDIMENTO METODOLÓGICO: Este
trabalho terá uma abordagem de natureza
qualitativa, baseado nos estudos da pesquisa
bibliográfica com dados coletados na revisão de
literatura de publicações da área.
CONSIDERAÇÕES FINAIS. Por tratar-se de um
estudo em andamento, apresenta-se como
hipótese de que a caminhada pode, além de
melhorar a qualidade de vida e o bem estar físico
dos praticantes, contribuir ainda, se realizada em
grupo, para elevar a autoestima, diminuir os
níveis de estresse e auxiliar na prevenção de
transtornos da vida moderna.
Palavras Chave: Caminhada. Estresse.
Qualidade de Vida.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
163
PREPARAÇÃO FÍSICA DOS PEÕES DE
RODEIO EM MONTARIA EM TOUROS
OS JOVENS-ATLETAS DE FUTEBOL: A
FAMÍLIA COMO MOTOR DO DESEMPENHO
ESCOLAR E OUTRAS PERSPECTIVAS.
Jéssica Sbrissa; Hugo Celso Forti
Universidade Paulista – UNIP – Campus JK
INTRODUÇÃO: Em razão do grande crescimento
e profissionalização do rodeio em todo o Brasil e
no mundo, existe a preocupação da prepararão
física dos competidores na modalidade de
montarias em touro, por ser um esporte perigoso e
que requisita força, equilíbrio e a técnica. É
necessário um treinamento específico para o
condicionamento desses atletas. Esse desafio
provocado pelo confronto do homem como animal
torna emocionante para os competidores e
espectadores, atraindo milhares de fãs. Durante
muito tempo o rodeio foi contestado como
esporte. O próprio modo de vida dos seus
competidores, já que muitos peões viviam sem
priorizar a rotina de atleta, contribuiu para a
propagação dessa imagem. Hoje é um esporte
reconhecido e com uma expansão cada vez mais
veloz, conquistando um número crescente de
adeptos. Junto com esse crescimento veio à
tecnologia na estrutura do espetáculo, na criação
dos animais e na preparação dos peões.
OBJETIVO: Este estudo tem a finalidade de
identificar se o treinamento físico para os peões
na modalidade em touros pode contribuir para
melhorar o desempenho nas montarias como
acontece em outras modalidades.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Tratase de um trabalho com abordagem qualitativa,
como base na pesquisa bibliográfica numa
revisão de literatura em fontes da área de
treinamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A
performance de todo atleta depende de um bom
planejamento dos treinamentos associados a
uma vida regrada onde se controla a alimentação,
o sono e outros fatores que podem prejudicar o
seu rendimento. Neste trabalho, apresentamos
então como hipótese que, se a atividade de peão
de rodeio está regulamentada por lei, então a
preparação do atleta-peão deve seguir os
modelos de outras modalidades, tendo em vista a
necessidade de proporcionar aos praticantes
boas condições de trabalho.
Palavras Chave: Treinamento. Peão de Rodeio.
Esporte. Montaria.
João André Bernini Monteiro¹, Paulo José
Moraes De Paula Santos¹, Paulo Gerson
Caetano Filho¹, Pedro Ferreira Rigotti Chaves¹,
Rayama Dwija Szajnweld da Silva¹.
¹ESC - Escola Superior de Cruzeiro
Com a espetacularização do futebol, muitos
jovens aderem desde cedo, em conjunto com a
vida escolar, o treinamento do futebol como
premissa que fundamenta suas esperanças num
futuro de sucesso. Essa motivação pelo sucesso
faz com que jovens-atletas deixem de priorizar
seus estudos e comecem a se dedicar de maneira
integral ao futebol. Contudo, percebe-se que a
família do jovem-atleta deposita também suas
esperanças na carreira do filho, por vezes
esquecendo-se que ele possui uma vida escolar,
que, posteriormente, servirá de base para a sua
vida profissional. Deste modo, indaga-se se a
família, como motor educacional primário do
jovem-atleta, incumbe a perspectiva da vida
escolar como preceito fundamental para o futuro
de seus filhos. O objetivo da pesquisa foi verificar
se a esperança da família do jovem-atleta no
futebol profissional, segue uma perspectiva em
conjunto com a sua vida escolar. Foi utilizado,
como material metodológico, um roteiro de
entrevista de origem própria à pesquisa,
direcionado a 20 jovens-atletas da Associação
Esportiva Cruzeiro, da cidade de Cruzeiro, São
Paulo, respondidos com o consentimento dos
pais. A análise de dados foi feita no mesmo dia, e
foram utilizados roteiros de entrevistas idênticos e
individuais. Ao analisar-se o roteiro de entrevista,
verificou-se que em relação à esperança da
família, 55% da amostra espera que seu filho se
torne jogador profissional, enquanto que 45%
não esperam. Mediante a esperança que os pais
depositam em seus filhos, visando a
profissionalização no futebol, foi questionado se
havia outra opção além da carreira profissional.
Como resultado, 50% da amostra revelou que
deposita esperanças em outras opções além do
futebol, mostrando que há outros caminhos que
podem ser seguidos. Ao fim, perguntou-se aos
jovens-atletas, se a sua família cobrava
desempenho nas atividades escolares, e 75%
dos jovens-atletas afirmaram que seus pais
cobram desempenho escolar em conjunto com a
vida de treinamentos. Conclui-se que os jovensatletas, ao sofrerem grande pressão da família,
quanto em relação à sua esperança na carreira
como jogador profissional de futebol, revelam ao
mesmo tempo receber incentivo dos mesmos
para que mantenham o desempenho escolar e
outros projetos de vida dissociados do futuro no
futebol.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
164
CIRCO SOCIAL: OS DOIS LADOS DA MESMA
MOEDA
CIRCO NA ESCOLA: SALA DE AULA OU
PICADEIRO
Leandro Dias dos Santos
Leandro Dias dos Santos
Universidade Paulista – UNIP
Universidade Paulista – UNIP
Introdução- O tema circo social tem sido muito
abordado quando o assunto em pauta é arteeducação e responsabilidade social, no entanto,
existem divergências quanto à verdadeira função
e atuação desses projetos. Alguns pesquisadores
retratam o circo social como de extrema
importância na socialização, inclusão e
construção da cidadania em jovens de baixa
renda, que constituem a maior parte do público
atendido por esses projetos, porém existem
também pesquisadores que alertam sobre o
possível aparecimento de uma classe de jovens
artistas que não terão como e nem onde trabalhar
com a arte que lhes foi ensinada, já que nesses
projetos geralmente não existe uma preocupação
maior com a profissionalização desses jovens, o
que tem gerado jovens despreparados para o
mercado e dependentes do projeto. Esse assunto
se mostra de extrema importância devido ao
crescimento desse tipo de projeto bem como ao
grande número de jovens e crianças por eles
atendidos. Objetivo- O presente estudo pretende
analisar o circo social bem como os prós e contras
desse projeto extremamente rico e criativo.
Procedimentos metodológicos- A pesquisa foi
realizada por meio de revisão bibliográfica.
Descrição dos resultados- As pesquisas
mostram que as duas vertentes comparadas se
mostram verdadeiras, como pontos positivos
podem ser apontados a grande aceitação da arte
circense pelos participantes, o que permite uma
série de abordagens por meio da arte, o trabalho
que vem sendo realizados em projetos sociais
mostram bons resultados no quesito formação
pessoal, melhora no comportamento e
desempenho escolar da maioria desses
participantes, mudança no comportamento
social, diminuição da violência, bem como uma
nova possibilidade de vida. Porém essas
mesmas pesquisas apontam algumas coisas que
ainda precisam ser melhoradas, como a maior
preocupação com a profissionalização dos
jovens, a melhor formação dos educadores, bem
como recursos financeiros que possam suprir as
necessidades dos projetos. Considerações
finais- Pode-se concluir que a arte circense
apresenta uma alternativa lúdica, chamativa e
composta por uma gama de atividades que
permitem aos educadores abortar diversos temas
sejam eles sociais, psicológicos e físicos com os
participantes, e que se bem utilizada ela pode
gerar bons frutos tanto no campo pessoal como
no campo profissional.
Introdução- A arte circense esta pressente no
mundo desde muito tempo, e é inegável o fascínio
e a admiração que essa prática causa nas
pessoas. Partindo desse principio, por que não
transformar a sala de aula em um picadeiro? Será
que isso e possível? O tema circo tem sido muito
abordado quando o assunto em pauta é a
preparação de aulas chamativas e interessantes.
Na educação física escolar essa prática pode se
tornar uma alternativa muito válida e
interessante, porém ainda é muito pouco
utilizada. O que realmente deve ser retratado, é
se a arte circense é uma alternativa que pode ser
explorada, e de que maneira.Esse assunto se
mostra de extrema importância devido ao
momento que vivemos na educação, onde a
violência domina os ambientes escolares, os
educadores e os alunos se mostram cada vez
mais desmotivados, podendo ser esse um dos
caminhos para alcançar melhores resultados nas
escolas, tanto na diminuição da violência como
na motivação dos alunos Objetivo- O presente
estudo pretende analisar a utilização do circo
como método de ensino na educação física
escolar. Procedimentos metodológicos- A
pesquisa foi realizada por meio de revisão
bibliográfica. Descrição dos resultados- A
utilização da arte circense na educação física
escolar tem se mostrado uma excelente
alternativa, pois o circo oferece uma série de
atividades e de trabalhos corporais que podem
ser realizados, atividades essas que permitem o
desenvolvimento e aperfeiçoamento da
coordenação motora, equilíbrio,
condicionamento físico geral e específico,
lateralidade, entre outras. O grande diferencial da
arte circense se deve à grande aceitação dessa
prática pelos alunos, já que essa é uma atividade
lúdica, interessante e diferente, já que a maioria
das crianças quando tem contato com o circo,
esse contato se restringe à ser um espectador,
quando o professor consegue proporcionar essa
vivencia aos alunos ele não só aumenta
consideravelmente o repertório desses
alunos,como também na maioria das vezes
cativa e agrada seus alunos. .Considerações
finais- Pode-se concluir que a arte circense
apresenta uma alternativa lúdica, chamativa e
extremamente válida na educação física escolar,
e que fica a cargo dos educadores se capacitar e
buscar alternativas para que se possa “atingir” de
maneira mais efetiva e eficaz os alunos,
despertando neles o interesse e a prática da
atividade física.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
165
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA POR MEIO DE
PROJETOS ESPORTIVOS
1
Luiz Matheus Ramos; 2Altair Moioli; 1Rodinei
Marcelino Rodrigues; 1Cristiano Patrício de
Souza
1
Secretaria de Esportes de São José do Rio Preto;
2
UNIRP
Os efeitos da violência, tanto físicos quanto
psicológicos, vêm causando graves transtornos
no processo educacional e na sociedade. Neste
contexto, o esporte pode assumir um importante
papel na solução desse problema. Nosso intuito
com este trabalho é analisar se por meio de
projetos esportivos há a possibilidade de se
prevenir a violência, evitando, assim, suas
conseqüências. Nesse sentido, temos por
objetivo identificar: as causas da violência, seus
efeitos físicos e psicológicos entre os alunos
envolvidos e os demais companheiros do núcleo.
Verificar ainda, se as intervenções por meio do
esporte contribuem para a prevenção desses atos
violentos. Este estudo teve como aporte
metodológico a pesquisa-ação, desenvolvido na
Associação Lar de Menores – ALARME, com
base nas diretrizes do Programa Segundo Tempo.
Participam deste Programa, 730 alunos de 06 a
16 anos, distribuídos de acordo com a faixa etária
em sete núcleos. Para tanto, inicialmente,
analisamos os elementos que compõem a
relação aluno-professor, levando-se em conta a
parceria com as famílias no trabalho educacional,
a fim de verificar os efeitos da violência. Em
seguida, damos ao esporte contorno de uma
prática inclusiva que garanta a emancipação
social e a formação da cidadania. E finalizando,
utilizamos o esporte não de uma forma
descontextualizada, produzida apenas como
elemento de repetição mecânica, mas de uma
forma que esteja relacionado às características
físicas, psicológicas, sociais e culturais de seus
praticantes. Por meio do desenvolvimento de
práticas esportivas fomentadas em igualdade,
justiça e reciprocidade e a criação de debates,
refletindo assim sobre a realidade da sociedade
em que estão inseridos; foi possível prevenir as
principais causas de violência durante as aulas e
mediar com maior facilidade os atos agressivos
remanescentes. Concluímos que há
possibilidade de prevenir a violência por meio do
esporte, contudo, este trabalho deve ser feito em
conjunto com a escola, a família, a política e a
sociedade, em que todos atuem como uma
equipe. A eficácia coletiva deve ser pensada
como necessária para mobilizar tanto gestores,
membros de projetos, sociedade e universidades
diante desse grave problema da sociedade atual.
Palavras – Chave: Projeto Social. Violência.
Esporte.
A S P E C T O S M O T I VA C I O N A I S D E
PRATICANTES DE MERGULHO AUTÔNOMO
RECREATIVO DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
Marcia Maria Marcondes Costa Meinicke;
Antonio Roberto Rocha Santos
UNFP
O Mergulho Autônomo Recreativo (MAR) é uma
atividade física, de contato direto com a natureza.
Este estudo teve como objetivo central investigar
quais os motivos que levaram os sujeitos
pesquisados a escolher o MAR. Para responder
ao objetivo formulado foi realizada uma pesquisa
descritiva de campo. Participaram 62 sujeitos
adultos, praticantes do MAR, de ambos os sexos,
sem limite de idade máxima, sendo a mínima, 10
anos. Como instrumentos para coleta de dados
foram utilizados dois questionários: para
identificar as variáveis sócio demográficas e de
motivação para atividades esportivas, construído
a partir do QMAD, composto de 24 questões cujas
respostas foram dadas em uma escala tipo likert
que variava de 1 “nada importante” a 4 “muito
importante”. Os dados revelaram que a maioria
dos pesquisados tinham elevado nível de
escolaridade. No questionário sócio demográfico,
em ordem decrescente, foram citados os itens:
prazer de contato com a natureza, a beleza, a
contemplação, o que ratificou o motivo
considerado o mais importante no Questionário
de Motivação: o prazer que o mergulho
proporciona. Em seguida, no Questionário de
Motivação, surgiu: conhecer lugares,
divertimento e lazer, o que confirmou os aspectos
citados no questionário sócio demográfico: lazer e
diversão. Relaxar e liberar tensão foram os
próximos no Questionário de Motivação, que
confirmaram no sócio demográfico: relaxamento,
tranqüilidade, paz, silêncio e a redução do
estresse. Finalmente, entre os mais importantes
no Questionário de Motivação: conhecer
pessoas, confirmado entre os aspectos mais
citados no sócio demográfico, que foram:
entrosamento, relacionamento, sociabilidade e
companhia, sustentando opiniões de que, poucos
esportes são tão organizados, em grupo, como o
mergulho e estabelecem tanto relacionamento.
Na prática do MAR as pessoas encontram o
relacionamento social e a convivência, o lazer e o
prazer, atingindo o bem-estar físico, social e
psicológico, conseguindo assim qualidade de
vida. Podemos concluir que os motivos que levam
os indivíduos a procurar o MAR são os que
satisfazem as necessidades básicas do ser
humano: saúde física e mental, relacionamento
social e lazer.
Palavras chave: Mergulho Autônomo
Recreativo. Motivação. Lazer e Aventura.
Natureza.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
166
MOTIVAÇÃO E INTERAÇÃO SOCIAL NO
ESPORTE – UM APRENDIZADO PARA A VIDA
R E L A Ç Õ E S T É C N I C O - AT L E TA N O
BASQUETEBOL DE ALTO RENDIMENTO
Maria Celina Trevisan Costa, Alexandre Patrício
Nogueira, Daniélli Giachetto Borges, Leandro
Cimonetti de Almeida, Maíra Rodrigues Braga
Nascimento, Marcos Vinícius Flores Furlaneto,
Ricardo Alves de Almeida.
Mauro Klebis Schiavon¹ ² ; Claudio Gomes
Barbosa²; Gustavo Lima Isler²; Marcelo Calegari
Zanetti²; Afonso Antonio Machado².
1
Faculdades Integradas Claretianas; Anhanguera
Educacional. 2LEPESPE/UNESP-Rio Claro.
UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga / SP
Analisando o esporte como um modelo que
simula e reproduz relações sociais e o homem
como um ser essencialmente social que se
constrói a partir destas relações, o
desenvolvimento de habilidades sociais e o
autoconhecimento auxilia do trabalho com
esporte coletivo. A partir desses conhecimentos,
atuamos de forma interdisciplinar envolvendo os
cursos de psicologia, nutrição, educação física e
fisioterapia na avaliação e intervenção com 15
atletas da equipe de basquete masculino da
Secretaria Municipal de Esporte de Votuporanga
– SP, com idade entre 12 e 15 anos, com o
objetivo de melhorar o entrosamento e o
relacionamento do grupo, aproximar seus
membros através da identificação e semelhanças
de aspectos pessoais, exercitando o falar e o
ouvir. Incentivar a cooperação e o espírito de
equipe, melhorando e trabalhando o
autoconhecimento e o conhecimento do grupo de
forma a propiciar uma avaliação das
características. Trazer mais segurança a equipe,
fortalecendo o espírito de grupo e a confiança
entre seus membros, minimizando a
desestabilização causada pelas derrotas e
trazendo elementos para o alcance dos objetivos
propostos. O curso de psicologia entrevistou o
treinador, atletas e pais para identificar a
realidade dos mesmos. Aplicou dinâmicas de
grupo para desenvolver as temáticas: Trabalho
em Equipe ( Motivação, Diferenças Individuais,
Comunicação e Integração ), Auto imagem,
Vulnerabilidade e Ansiedade do atleta, Relação
Familiar. Fez a avaliação psicométrica através da
aplicação dos testes IFP ( Inventário Fatorial de
Personalidade ) e IHS ( Inventário de Habilidade
Social ). O curso de nutrição fez a avaliação e
orientação nutricional. A fisioterapia fez a
avaliação e orientação quanto a flexibilidade
articular da região lombar e membros inferiores. A
educação física avaliou e orientou quanto a
composição corporal e antropométrica. O projeto
foi desenvolvido com 1 encontro semanal durante
o primeiro semestre de 2012 apresentando
resultado final positivo.
Palavras Chave: Psicologia do Esporte Basquete
Um dos mais importantes aspectos psicológicos
dentro de uma equipe de basquetebol de alto
rendimento é o relacionamento técnico-atleta. O
ambiente competitivo, no qual os atletas de
basquetebol estão inseridos, caracteriza-se pelo
alto nível de exigência e dedicação intensa, para
que se alcancem os melhores resultados, tanto
no âmbito pessoal, quanto no coletivo (DE ROSE
JR, 2002). O esporte é um meio pelo qual se
vivenciam as emoções com intensidade. Os
processos emocionais podem perturbar a ação
desportiva, implicando não apenas na
preparação física e psicológica dos atletas, mas
também em suas relações humanas (REBELO
JR, 2010). Machado (1996) verificou que a
compatibilidade entre técnicos e atletas esta
ligada as suas necessidades, sendo
complementares entre si. Isto mostra que a
interação perfeita entre o técnico e o atleta
acontece quando há uma troca entre as partes,
favorecendo para que o atleta não seja visto
como um objeto à bem da conquista de um
objetivo maior e o técnico não seja visto como um
indivíduo autoritário e que está sempre com a
razão (SANTOS, 2001). Os mesmos autores
salientam que todos reconhecem que a qualidade
das relações interpessoais interfere
profundamente no desempenho de suas
performances, e é sua força que vai superar as
derrotas e segurar firme o afã do sucesso. O
presente estudo objetivou analisar o grau de
compatibilidade, objetivos e ideias entre treinador
e jogador. A amostra foi composta por 57 atletas
de basquetebol, categoria adulto, do sexo
masculino, participantes do Campeonato
Paulista 2011, série A1. O instrumento utilizado
foi a Escala de Aferição de Compatibilidade
Técnico-Atleta. Os principais resultados indicam
que as maiores quantidades de respostas em
relação à compatibilidade técnico-atleta
encontram-se nos graus 6,7 e 8 (71,9%)
enquanto em relação aos objetivos, nos graus 7,8
e 9 (75,4%) e ideias, nos graus 6,7 e 8 (68,4%).
Concluiu-se que o grau de compatibilidade,
objetivos e ideias são grandes entre esses
técnicos e atletas de basquetebol de alto
rendimento, o que consideramos ser fundamental
para um bom desempenho nas competições.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
167
CARACTERÍSTICAS DA MOTIVAÇÃO PARA O
EXERCÍCIO FÍSICO DE ADOLESCENTES
PARTICIPANTES DE PROJETOS SOCIAIS
Poliana Sandim Bispo*; Diego Itibere Cunha
Vasconcellos**
AS COURAÇAS MUSCULARES DE REICH E A
ABORDAGEM DAS CADEIAS MUSCULARES
SOB O PRISMA DA REEDUCAÇÃO
POSTURAL GLOBAL PRECONIZADA POR
MEZIÉRES APLICADAS AO ESPORTE
Roberto Borges Filho
* Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho”.
** Centro Universitário Barriga Verde – UNIBAVE.
A motivação é um dos assuntos mais estudados
pela Psicologia do Esporte e do Exercício e a
Teoria da Autodeterminação (TAD) vem sendo
cada vez mais inserida nesse contexto por trazer
diferentes análises de regulação do
comportamento. O presente estudo procurou
investigar as características motivacionais de
jovens participantes de projetos esportivos
sociais, tendo como suporte a TAD. Foram
entrevistados 74 adolescentes que freqüentavam
regularmente um projeto esportivo social em
Florianópolis - SC. Foram utilizados dois
instrumentos no presente estudo: questionário de
caracterização dos participantes do projeto social
e o Questionário de Regulação de
Comportamento no Exercício Físico / Behavioral
Regulation in Exercise Questionnaire - 2
(BREQ–2; MARKLAND e TOBIN, 2004). No geral,
os pa rti cip antes se mostraram p ouco
autodeterminados (M = 6.30, DP = 3.11),
apresentando as meninas (M = 6.35, DP = 3.47)
valores poucos maiores que meninos (M = 6.28,
DP = 2.87). Embora pouco autodeterminados
para a prática esportiva, as formas autônomas de
controle do comportamento, regulação
identificada (M= 2.93, DP= 0.96) e motivação
intrínseca (M= 3.05, DP= 0.85), apresentaram os
escores mais elevados em comparação à formas
controladas extrinsecamente do comportamento,
regulação externa (M= 1.17, DP= 1.06) e
regulação introjetada (M= 1,70, DP= 1.18). Com
base nesses resultados, observou-se que os
jovens demonstraram maior tendência intrínseca
de motivação, embora esse fato não se verifique
ao observar o baixo índice de autodeterminação
dos mesmos, revelando valores específicos para
a população de jovens em vulnerabilidade social.
Palavras chave: Motivação; Autodeterminação;
Psicologia do Esporte; Projetos Sociais.
UFG - Universidade Federal de Goiás - Departamento
de Fisioterapia.
Reich considerava que aprendemos a controlar
expressões que apresentam conseqüências.
Permanentemente inibimos os músculos
envolvidos nessas expressões através de uma
tensão crônica inconsciente. Como a postura é
considerada como uma “posição” adotada, esta
posição pode ser como um todo ou em partes, ou
seja, uma contração do esôfago pode ser
considerada uma postura diante de um estímulo.
O nosso corpo se postura diante destes cenários
reais e/ou imaginários como forma muitas vezes
de defesa tanto do que vem de dentro como então
do que vem de fora. Estes enrijecimentos
traduzidos em espasmos musculares crônicos
são desenvolvidos, como um bloco, contra o
extravasamento de emoções e sensações,
especialmente a angústia, a raiva, a tristeza e o
medo, distribuindo-se pelo corpo, desde a cabeça
até os pés. Os Músculos tensos em nossas
pernas e pés enfraquecem nossas
reivindicações; também diminuem nossa
capacidade de levantarmos e sermos
independentes. Atletas que realizam um trabalho
diário de treinamento necessitam de ajustes no
corpo e os problemas de postura trazem
conseqüências desagradáveis com dores
intensas. As costas curvadas devido a uma
modalidade esportiva podem ser as culpadas
pelos cálculos renais. Elas amassam os rins
fazendo com que eles funcionem mal e faltem
nutrientes e oxigênio para o corpo, o que o deixa
enfraquecido. O método de Cadeias Musculares.
Considera que os problemas posturais nos atletas
não são decorrentes de uma ação inadequada de
músculos isolados, mas de um conjunto de
fatores que se relacionam à totalidade
psicomotora e à pratica esportiva sobrecarregada
do atleta no decorrer de sua carreira.O objetivo
desta apresentação sob a forma de painel é
demonstrar a utilidade da reeducação postural
global (cadeias musculares) que auxilia o atleta a
trabalhar o corpo de forma integral (psicofísica). O
atleta aprende a utilizar um simples músculo ou
grupos musculares em sincronia com sua
respiração. Enquanto um músculo se contrai com
a força necessária para executar uma
determinada atividade esportiva, outro tem de
relaxar com a mesma força, evitando, assim,
alterações posturais e eventuais lesões
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
168
ANSIEDADE E PERFORMANCE NO TÊNIS DE
ALTO RENDIMENTO
Autores: Roberto Roque Monteiro¹, Guilherme
Rodrigues Moreno², Eder Emanuel Barboza²,
Eliane Tiemi Miyazaki³
ANÁLISE E COMPARAÇÃO DAS APTIDÕES
FÍSICAS ENTRE CRIANÇAS E
A D O L E S C E N T E S P R AT I C A N T E S D E
GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA DE 7 A 13
ANOS.
Pollyana Carla da Silva; Cleide Monteiro
Instituições: Unorp (Centro Universitário do Norte
Paulista)¹, CML (Clube Monte Libano)², FAMERP/
FUNFARME (Fundação Regional de Medicina)³.
UNIVERSIDADE PAULISTA – Campus JK
O esporte de competição, pelo seu alto nível de
exigência e competitividade, é um exemplo de
situação que pode gerar ansiedade. No tênis de
alto rendimento, onde a diferença entre os atletas
em relação à habilidade técnica e à preparação
física é cada vez menor, devido ao avanço das
ciências relacionadas ao esporte, o
conhecimento das variáveis psicológicas, como
processos atencionais e emoções tornaram-se
uma importante ferramenta para a otimização da
performance. Estudos apontam que quanto maior
a expectativa por uma competição, maiores são
os níveis de ansiedade psicológica e somática
apresentados pelos atletas. Demonstram ainda,
que os níveis de ansiedade pré-competição são
significativamente menores nos atletas
vencedores e maiores nos perdedores, em
partidas de simples e duplas. Portanto este
trabalho tem como objetivo descrever sobre como
a ansiedade afeta o desempenho do tenista, sua
influência positiva ou negativa, as reações
somáticas e psicológicas e também estratégias
utilizadas para modificação de processos e
estados psíquicos. Assim, o conhecimento de
como a ansiedade afeta a interação entre corpo,
mente e comportamento é fundamental para
tenistas de alto rendimento, pois necessitam de
condições ideais de funcionamento da
musculatura, bem como da mente equilibrada e
focada na tarefa para obterem sua melhor
perfomance.
A Ginástica Artística (GA) desenvolve atividades
que melhoram a integração social, disciplina,
responsabilidade, iniciativa e organização, além
de trabalhar a resistência muscular localizada e
geral, coordenação, flexibilidade, equilíbrio, ritmo
e consciência corporal (SANTOS 2004). A prática
regular de atividades físicas sistematizadas,
segundo Ronque et al. (2007), pode contribuir
para a melhoria de diversos componentes da
aptidão física relacionada à saúde, como força,
r e s i s t ê n c i a m u s c u l a r, r e s i s t ê n c i a
cardiorrespiratória, flexibilidade e composição
corporal. O objetivo do trabalho é analisar e
comparar através de testes de aptidão física se há
diferença entre ginastas iniciantes e reavalia-las
após 3 meses. Metodologia: Serão avaliadas 30
ginastas iniciantes com idade entre 7 e 13 anos,
onde realizaremos a coleta de dados referente à
massa corporal, estatura, envergadura e índice
de massa corporal. Após a coleta dos dados
serão aplicados testes relacionadas a aptidão
física como: o teste de salto horizontal e vertical
para avaliar força em membros inferiores, flexão e
extensão na barra fixa para avaliar força em
membros superiores, o teste de resistência
abdominal para avaliar resistência muscular
localizada, o teste de sentar e alcançar com o
banco de Wells para flexibilidade e o teste do
quadrado que avaliará a agilidade das ginastas.
Como o trabalho está em andamento estima-se
que haja uma diferença entre os valores quando
comparados a primeira avaliação com a
reavaliação após 3 meses.
Palavras-chave: Ansiedade. Performance.
Tênis.
Palavras chave: ginástica artística; aptidão
física; testes.
Projeto Tênis do Monte Líbano / Usina Colombo /
Açúcar Caravelas
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
169
A LT E R A Ç Ã O D O S H Á B I T O S D E
ALIMENTAÇÃO POR MEIO DA ATIVIDADE
FÍSICA EM CRIANÇAS DO ENSINO
FUNDAMENTAL: aspectos psicossociais
Iara Tocico Ito; Altair Moioli
UNIP - Curso Educação Física - Campus: São José
do Rio Preto JK
Pesquisa de campo na área de Nutrição e
Educação Física, realizada na cidade de São
José do Rio Preto, com alunos de 9 a 12 anos de
uma escola particular. Objetivo verificar a
possibilidade de educação nutricional através de
atividades físicas lúdicas aplicadas nas aulas de
Educação Física. Método as atividades foram
realizadas, durante duas semanas, com 39
alunos de ambos os sexos, antes das atividades
estes alunos foram medidos, pesados e
questionados quanto a freqüência alimentar, após
as atividades os alunos responderam
questionários que serviram para avaliar os
conhecimentos e mudanças nutricionais.
Resultados as atividades influenciaram na
consciência e conhecimentos nutricionais dos
alunos. Mais da metade citaram a importância do
consumo diário de arroz, verduras, frutas,
legumes, leite, sucos e leguminosas, e consumo
freqüente de carne branca e vermelha, dessa
forma relataram um alimento de cada grupo e os
alimentos mais citados são comuns no hábito
diário brasileiro. Conclusão a Educação Física e
a Nutrição podem ser usadas para a educação e
promoção de hábitos alimentares saudáveis em
escolares.
Palavras chave: Reeducação alimentar.
Recreação. Educação Física.
A EVOLUÇÃO FEMININA NO ESPORTE
Sheila Costa Ramos Neves
Universidade Paulista – Campus JK
Introdução: Historicamente a conquista da
emancipação da mulher em todos os setores da
sociedade sempre foi marcada por lutas contra o
preconceito e os estigmas contra o gênero
feminino. No esporte, esse quadro também não
se altera tendo em vista que no ambiente de alta
competição sempre ocorreu uma valorização dos
feitos e atributos masculinos. Portanto, o papel
reservado à mulher sempre foi de submissão,
discriminação, sofrendo discriminação de todos
os níveis. Objetivo: Analisar as conquista
históricas da participação da mulher no mundo
esportivo, bem como a influencia que estas
conquistas representam para a educação de
crianças e jovens. Metodologia: A realização
deste trabalho teve como base uma pesquisa
histórica, vinculada a pesquisa bibliográfica,
portanto trata-se de um estudo de natureza
qualitativa. Considerações Finais. Por tratar-se
de estudo em andamento, apresenta-se como
hipótese para os dados coletados que, para
atingir os níveis necessários para as conquistas
do mundo esportivo, a mulher tem provocado uma
transformação dos traços corporais aproximando
esteticamente da conformação masculina. Ainda,
verifica-se uma evolução acentuada da
participação feminina nas competições
internacionais, mesmo em países em que
tradicionalmente a mulher não tem permissão de
exposição em público devido as restrições
religiosas. Essas conquistas têm como principio a
necessidade de conquista de poder e equidade
frente ao mundo masculino.
Palavras chave: Mulher, Gênero. Esporte.
Competição.
A UTILIZAÇÃO DE ESTEROIDES
ANABÓLICOS EM ACADEMIAS: a visão do
educador físico
Carlos Vinicius da Silva
Universidade Paulista | UNIP - Campus JK
INTRODUÇÃO: A utilização de esteroides e
anabolizantes em uso em academias cresce
desenfreada, e esses usuários dessas
substancias não sabem o risco que correm,
quando ingerem ou injetam esse tipo de
hormônio, com isso correm serio risco de terem
problemas nos órgãos vitais do corpo humano
como coração, rins, fígado e estomago. E com
isso mostrar todos os malefícios que essas
substâncias que foram desenvolvidas para suprir
a ausência de hormônio e não para meio estético,
os riscos que trazem para saúde do indivíduo.
OBJETIVO: Verificar as conseqüências da
utilização de esteroides anabólicos praticante de
atividade física e esportiva. METODOLOGIA: O
presente estudo aborda o problema do uso de
esteroides anabolizantes com uma perspectiva
social. Assim, os procedimentos metodológicos
têm como base a pesquisa bibliográfica, pela
abordagem qualitativa de análise dos resultados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por se tratar de um
trabalho em andamento temos por hipótese de
entender a postura do educador físico diante da
utilização dos esteroides anabolizantes pelos
praticantes de musculação. E visa contribuir para
a produção de conhecimento sobre o uso de
anabolizantes.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
170
INDICADORES DE CAPACIDADE E POTENCIA
ANAEROBIA EM ATLETAS DE TAEKWONDO
ATIVIDADE FÍSICA NO AMBIENTE ESCOLAR
COMO PREVENÇÃO DA OBESIDADE
INFANTIL
Renato Miguel; César Antônio Parro
Alessandra Nicoletti Avelino; Gabriela Blasquez
Universidade Paulista - UNIP – Campus JK
Universidade Paulista (UNIP)
Introdução: O Taekwondo é um esporte olímpico
praticado em 189 países filiados a World
Taekwondo Federation (WTF) e conta atualmente
com mais de 50 milhões de praticantes em todo o
mundo. Isto tem tornado este esporte cada vez
mais competitivo. Assim, para a obtenção de
resultados competitivos satisfatórios torna-se
importante o desenvolvimento das capacidades
biomotoras de condicionamento e coordenação
motora, além do aperfeiçoamento técnico e tático
do atleta de Taekwondo (FARGAS 1999). A
avaliação fisiológica, a partir de testes
específicos, é fundamental para predição do
desempenho, prescrição da intensidade e
volume de treinamento e, principalmente,
verificar os efeitos destes. O objetivo deste
estudo foi investigar a possibilidade de predizer o
Limiar Anaeróbio (LAn) a partir do Ponto de
Deflexão da Frequência Cardíaca (PDFC) a partir
de teste específico. É fundamental avaliar e
identificar alguns parâmetros fisiológicos para o
sucesso dos praticantes de Taekwondo. Dentre
as variáveis que devem ser controladas durante o
treinamento, a FCmáx., limiar anaeróbio (LAn) e
tolerância ao lactato se destacam (GÓMEZ,
C A S TA Ñ E D A , 2 0 0 2 ) . P r o c e d i m e n t o s
Metodológicos: Este trabalho segue os
parâmetros de uma pesquisa bibliográfica,
portanto de natureza qualitativa a partir dos
dados coletados em periódicos indexados, livros,
e bibliotecas virtuais para a revisão de literatura.
Considerações: Por se tratar de uma pesquisa
em andamento, apresenta-se como hipótese
detectar o tempo de fadiga de cada atleta, para
que verificar a melhora do seu rendimento em
competições.
Palavras chave: Taekwondo. Limiar Anaeróbio.
INTRODUÇÃO: As mudanças no estilo de vida
nas últimas décadas, tais como o aumento da
ingestão de alimentos hipercalórico e a
diminuição na prática de atividade física
contribuíram para o surgimento da epidemia de
excesso de peso corporal na população
pediátrica em todo o mundo (Lee, 2009).
Concomitante a esse quadro, aumentou-se a
presença de fatores de risco para doenças
cardiovascular, tais como, pressão arterial
elevada, diabetes tipo II, dislipidemias,
circunferência de cintura elevada, entre outros,
durante a infância e adolescência (EISENMANN
et al, 2007; RIBEIRO et al, 2006). Diante desse
contexto, a educação física escolar tem um papel
de suma importância ao incentivar a prática da
atividade física e qualidade de vida. OBJETIVO:
Nesse sentido o objetivo do presente estudo é
revisar a literatura científica sobre a prática da
atividade física no ambiente escolar como
prevenção da obesidade infantil.
METODOLOGIA: Este trabalho tem como base a
pesquisa bibliográfica em fontes de buscas
online, tais como, SCIELO, PUBMED, LILACS e
GOOGLE com os descritores: Crianças,
Atividade Física Escolar e Obesidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Segundo as
recomendações vigentes do ACMS, (2008) sobre
a prática da atividade física para crianças e
adolescentes e para a prevenção da obesidade,
verifica-se que a freqüência da atividade física
escolar fica aquém das recomendações vigentes.
No entanto, por este trabalho estar em
andamento, a nossa hipótese é que a prática da
atividade física no ambiente escolar não é
suficiente para atender prevenção da obesidade
infantil.
Palavras-Chave: Atividade Física Escolar,
Crianças e Obesidade.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
171
DIFERENÇAS ENTRE OS SEXOS NO
FUTEBOL: A LUTA PARA O
RECONHECIMENTO SOCIAL E FIM DO
PRECONCEITO
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E A PROFISSÃO
DOCENTE: REFLEXÕES INICIAIS
Claudia Moreira Arroio; Elisandra dos Santos
Lima; Silene Fontana
Tamiris Aparecida Coltro; Gabriela Blasquez
Universidade Paulista | UNIP - Campus JK
INTRODUÇÃO: A figura feminina sempre
encontrou dificuldades para sua participação no
futebol, desde o início da prática. Começo que
tomou rumo contrário ao dos seus companheiros
do sexo oposto. OBJETIVO: Nesse sentido o
objetivo deste trabalho é desvelar e explicitar as
discriminações e preconceitos associados à
questão de gênero e relatar a falta de
reconhecimento à modalidade. METODOLOGIA:
Este trabalho tem como base a pesquisa
bibliográfica em fontes de buscas online, tais
como, SCIELO, PUBMED, LILACS e GOOGLE
com os descritores: Futebol Feminino,
Reconhecimento social, e Descriminação de
trabalhos realizados no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A partir destas
análises, poderemos compreender sobre
relações autoritárias e questionar a rigidez dos
padrões de conduta estabelecidos para homens e
mulheres e verificar a transformação ao longo dos
tempos, pois, a constante luta pelo
reconhecimento continua, e espera-se manter até
atingir a igualdade sexual. Assim a participação
feminina no futebol terá a verdadeira atenção
merecida. No entanto, por este trabalho estar em
andamento, a nossa hipótese é que a
desigualdade no futebol existente entre os sexos
está relacionada ao papel que a mulher ocupa na
sociedade de submissão ao homem, sendo
considerada como sexo frágil, associado a
discreta atenção da mídia em relação ao futebol
feminino.
Palavras-Chave: Futebol feminino.
Reconhecimento social. Descriminação.
Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP
Curso de Pedagogia
O panorama histórico da profissão docente está
intimamente relacionado com a história da
educação. A ideia de pesquisar sobre a profissão
docente surgiu no decorrer de nossa vida
acadêmica, visto que os estudantes, assim como
a sociedade atual, possuem dificuldade em
entender e perceber a importância do papel social
atribuído ao professor e a formação da sua
identidade e profissionalização, considerando as
imagens formadas no decorrer da história da
educação. Dessa forma, o presente trabalho se
faz importante na medida em que explica qual é,
historicamente, a composição da profissão de
professor e qual o seu impacto para a constituição
desta profissão na atualidade. O trabalho tem
como objetivo, após conceituar e explicar os
principais fatos históricos referentes à educação e
ao trabalho do professor, entender um pouco a
profissão e a identidade do docente no contexto
atual. Dessa forma, para se compreender melhor
os avanços e retrocessos vivenciados na
atualidade pelo campo da formação de
professores, considerou-se importante proceder
a uma retrospectiva histórica, com base na
literatura científica sobre o tema, dando-se ênfase
à trajetória construída no Brasil. A análise da
literatura apontou que a discussão referente à
formação docente, para os anos iniciais do Ensino
Fundamental e para a Educação Infantil, se
intensifica, na contemporaneidade, sobretudo,
após a vigência da Lei 9.394/96, isto é, da atual
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN). Em relação aos processos de
profissionalização de professores, atualmente em
curso no Brasil, evidencia o panorama
conflituoso, por vezes precário da formação inicial
e da formação continuada dos professores,
panorama que vem sendo destacado como de
“desprofissionalização” dos professores. Além
disso, os trabalhos relativos à história da
profissão docente destacam a importância da
atuação do Estado no processo de
profissionalização do magistério. Pretende-se
que esse estudo possa contribuir para a
valorização do trabalho docente e ampliar a visão
dos alunos no que se refere a tal temática, tão
significativa e importante para qualquer educador.
Palavras-chave: Profissão docente. Trabalho
docente. História da Educação.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
172
DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO
MOTOR DA CRIANÇA NA NATAÇÃO.
Tiago Rodrigo Alves Nunes; Martin Wisiak
Curso de Educação Física - Centro
Universitário de Rio Preto - UNIRP.
INTRODUÇÃO: Para um desenvolvimento motor
completo é necessário que a criança esteja
envolvida constantemente em diferentes
atividades em diversos ambientes, possibilitando
acumular experiência tanto em situações
diversificadas de movimentos culturalmente
aprendidos quanto de ações globais de
expressão e do tempo (XAVIER, 2002). É por
meio das situações de aprendizagem da prática
da natação, que a criança também irá elaborar as
estruturas fundamentais do seu pensamento
abstrato e impõe-se a aprendizagem dos
comandos voluntários dos movimentos, que se
organiza em estreita dependência com o
desenvolvimento. A personalidade infantil ocorre
quando há a evolução das coordenações
sensoriais - motor, gestos e formação do
esquema corporal e organização das estruturas
mentais como também com a maturação
emocional e social. JUSTIFICATIVA: A natação
desenvolve vários aspectos predominantes
como aquisição de confiança e domínio através
dos movimentos motores que são fundamentais
com os padrões de estabilidade e locomoção e
também dos fatores externo que se caracteriza
do comportamento de orientação, controle
postural e manipulação. OBJETIVOS:
Desenvolver habilidades motoras através de
movimentos e formas lúdicas estimulando sua
coordenação motora e promovendo o
desenvolvimento sensório-motor em proporção
no processo de aprendizagem. METODOLOGIA:
Como procedimento metodológico utilizou-se
uma revisão de bibliografia para avaliar o nível de
coordenação motora que foi aplicada através de
observação durante testes de rendimento motor
envolvendo todos os aspectos característicos de
um estado de coordenação corporal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Essa experiência e
vivência demonstrou a importância da
socialização e da estimulação da criança no meio
líquido, nas fases de seu desenvolvimento motor
que começa na infância. Assim, o propósito é
desenvolver os métodos de ensino mais
eficientes para criança através das habilidades
que constituem no domínio da natação durante a
aprendizagem em diferentes faixas etárias e
estimulando situações desafiadoras de
movimentos, relacionando-o com seu próprio
corpo e garantindo concepção motora e
realizando um processo de comportamento de
prover a pedagogia da natação.
Palavras Chave: Criança. Comportamento
Motor. Natação
FUTEBOL PARA DEFICIENTES VISUAIS
Vinícius Facchini Alvares; Claudia Lacerda
Vicente
Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP
INTRODUÇÃO: No mundo de hoje, muita ênfase
se tem dado para a importância da inclusão de
deficientes nas salas de aulas de aulas comuns,
de forma que a sociedade aprenda a respeitar as
diferenças, evitando o sentimento de exclusão.
Tanto os alunos quanto os professores e
funcionários devem aprender a conviver com os
deficientes na ambiente escolar, tratando-os com
respeito e dignidade. Aqui, abordaremos o futebol
que, além de ser uma paixão mundial,
proporciona diversas possibilidades de
aprendizado, tornando o trabalho mais dinâmico.
Além disso, neste esporte há facilidade de
interação devido à mídia constante recebida por
esse esporte. O futebol adaptado foi um passo
pioneiro na tentativa de abrir os olhos das
pessoas para os deficientes e ajudar na formação
de instituições voltadas para os mesmos.
OBJETIVOS: Nosso objetivo é diagnosticar as
principais razões pelas quais os professores não
têm preparação para lidar com pessoas
deficientes. Uma dessas razões é a falta de
maiores incentivos por parte do governo, na
tentativa de aumentar a qualidade da aula dos
professores, além de prepará-los de forma eficaz
para a sua função. METODOLOGIA: A
metodologia utilizada é a verbal e demonstrativa,
realizada por meio do contato corporal com um
atleta deficiente, aqui chamado DV, com quem
realizamos uma entrevista. O mesmo colaborou
com orientações de qual a melhor forma de
ensinar os deficientes, uma vez que os próprios
atletas deficientes podem nos auxiliar na
orientação das atividades. CONSIDERAÇÕES
FINAIS Conforme observação das atividades
empregadas nas aulas, os atletas obtiveram
resultados significativos com o método de ensino
proposto. O formato das atividades fez com que
os alunos se sentissem mais motivados e
respondessem de forma eficaz aos comandos e
estímulos empregados nas aulas, interagindo
com o grupo que, inclusive contava com alunos
não-deficientes.
Palavras Chave: Deficiente Visual. Futebol.
Educação Física
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
173
A UTILIZAÇÃO DO TAI CHI CHUAN COMO
ATIVIDADE PARA FORTALECIMENTO DOS
MEMBROS INFERIORES PARA EVITAR
QUEDAS NA TERCEIRA IDADE
A IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO FÍSICO
INDIVIDUALIZADO NA PERFORMANCE DE
UMA EQUIPE
Wander Marques; Rogério Simões Singh
Paulo Henrique Siqueira; Cesar Antonio Parro
Universidade Paulista – Unip – Campos JK
Introdução: O envelhecimento acarreta no ser
humano perdas que vão da parte cognitiva, físico
e sócio emocional. A independência e a
autonomia tornam-se um dos fatores que o
envelhecimento degrada de tempos em tempos e
a falta de atividade física pode acelerar este
processo. Praticantes de atividades que se
encontram nesta fase (terceira idade) não se
preocupam em rendimento, em competições e
muito pouco menos em conquista de prêmios. O
objetivo desse publico esta voltado apenas para a
pratica prazerosa e saudável das atividades,
tendo como característica o convívio saudável no
grupo, onde se trabalha a parte sócio afetiva. No
que se refere à parte física, o Tai Chi Chuan
proporciona melhoras no equilíbrio,
coordenação, flexibilidade e força. Objetivo:
Averiguar as principais causas de quedas em
idosos e ainda, verificar se a prática do Tai Chi
Chuan contribui para melhorar a mobilidade em
idosos. Metodologia: Este trabalho, ainda em
desenvolvimento, apresenta como procedimento
metodológico uma revisão de literatura, que
fundamenta as pesquisas bibliográficas, de
natureza qualitativa. Nesse sentido, as
publicações que indicam os benefícios da
aplicação de Tai Chi Chuan em idosos foram
analisados. Considerações Finais: Como
hipótese, acredita-se que a prática do Tai Chi
Chuan poderá responder de modo eficaz na
melhoria do aparelho locomotor. Com o
fortalecimento da musculatura dos membros
inferiores, propicia uma melhora no equilíbrio,
evitando-se assim, quedas e conseqüentes
lesões. Como ganhos para a qualidade de vida
dos idosos, proporciona também a autonomia do
idoso, fazendo com que ele seja independente de
suas necessidades básicas.
Palavras chave: Tai Chi Chuan. Envelhecimento.
Atividade Física. Terceira Idade
Introdução: Atualmente o esporte tem ganhado
destaque na mídia e muito tem se falado sobre
treinamento físico dando destaque ao trabalho do
preparador. O profissional de Educação Física
deve cada vez mais se aprimorar e intensificar
seus métodos de treinamento, sabendo através
dos princípios do treinamento físico que cada ser
humano é único, e que determinados estímulos
produzem respostas diferentes. O treinamento
específico surge com o propósito de trabalhar o
melhor de cada atleta, de acordo com suas
necessidades e possibilidades. Objetivo:
Demonstrar a importância do treinamento físico
individualizado na relação com o desempenho da
equipe. Material e método: Revisão da literatura
específica com a intenção de aprofundar os
conhecimentos sobre o treinamento físico
individualizado e verificar sua influência na
performance de uma equipe. Resultados: Neste
estudo (revisão de bibliografia) o referencial
teórico encontrado e estudado, mostra que o
treinamento físico é muito complexo e deve seguir
todos os princípios biológicos do treinamento
físico, e que o Professor de Educação Física deve
reunir o máximo de informações do atleta, da
modalidade, da competição, para que possa
individualizar e especializar ao máximo o
treinamento. Considerando também que cada
atleta é parte fundamental da equipe, e buscar
atingir o máximo de cada um, é
consequentemente buscar o máximo para a
equipe. Considerações finais: Dentre tantos
deveres que o professor de Educação Física tem,
um deles é a prescrição de exercícios que vá de
encontro às necessidades dos alunos. Cada
indivíduo deve ter seu treinamento específico.
Gentil (2005) diz que a tentativa de imitar
programas de treinamentos feitos por outras
pessoas normalmente se mostram infrutíferos
porque apenas as ideias devem ser aproveitadas
e não todo o protocolo de treinamento, pois o
mesmo estímulo em pessoas diferentes, pode
provocar reações distintas.
Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana
Volume 3 . Número 1 . Setembro 2012
174
Afonso Antonio Machado 32, 64, 103, 111, 137,
145, 146, 147, 148, 150, 152, 153, 160, 161, 166.
Alaércio Perotti Junior 71, 131.
Alberto Hamra 149.
Alessandra Nicoletti Avelino 170.
Alexandre Patrício Nogueira 166.
Aline Dessupoio Chaves 51.
Altair Moioli 103, 153, 159, 161, 165, 169.
Anderson Bençal Indalécio; 57 145.
Anderson Souza 151.
André Luis Aroni 31, 137.
Andréa Carla Machado 151.
Andréa de Oliveira Pardal 157.
Andréia Aparecida Ferraz 158.
Andrezza Papini 51.
Antonio Roberto Rocha Santos 165.
Arthur Silva Botelho 149.
Carlos Vinicius da Silva 169.
Carolina Morais de Araújo 51.
Cecília Candolo 151.
Cesar Antonio Parro 170, 173.
Cintia da Silva Barbeiro 157.
Claudia Lacerda Vicente 172
Claudia Moreira Arroio 171.
Cláudio Gomes Barbosa 64, 147, 166.
Cleide Monteiro 168.
Cristiano Patrício de Souza 159, 165.
Daniela Aparecida Maurity dos Santos 157.
Daniélli Giachetto Borges 166.
Danila Alves Sodré 158.
Danilo Pedersen dos Santos 71.
Danithielli Bezerra 125.
Denise Ferraz Lima Veronezi, 57, 91, 145.
Denise Gimenez Ramos 28.
Diego Itibere Cunha Vasconcellos 167.
Eder Emanuel Barboza 168.
Eliane Paganini da Silva 75, 84.
Eliane Tiemi Miyazaki 168.
Elisandra dos Santos Lima 171.
Eric Lima 152.
Eric Matheus Rocha Lima 145, 147, 148, 150.
Fernanda Carolina Pereira 157, 160.
Fernando César Gouvea 160.
Flavio Francisco Dezan 146.
Flavio Rebustini 153.
Francisco Galvão do Amaral Pinto Barciela 160.
Franz Fischer 146.
Gabriela Blasquez 170, 171.
Guilherme Bagni 145, 147, 148, 150, 152, 161.
Guilherme Rocha Britto 75.
Guilherme Rodrigues Moreno 168.
Gustavo Bagni 161.
Gustavo Lima Isler 147, 166.
Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes 91.
Hugo Celso Forti 163.
Iara Tocico Ito 169.
Iraceles Gonçalves dos Santos, 158 162.
Jefferson Luis Molina Rodrigues 161.
Jéssica Sbrissa 163.
João André Bernini Monteiro 163.
João André Bernini Monteiro 98.
José Antonio Bruno da Silva 159.
Karla Klahold 151.
Kauan Galvão Morão 145, 147, 148, 150, 152.
Leandro Cimonetti de Almeida 166.
Leandro Dias dos Santos 164.
Lídia Marques Figueiredo 57.
Ligia Adriana Rodrigues 24, 149.
Luana Cristine Franzini da Silva 75.
Lucas Portilho Nicletti 125.
Lucas Ribeiro Cecareli 103, 145, 147, 148, 150,
152.
Luciana Botelho Ribeiro 111
Luiz Matheus Ramos 159, 164.
Maicon José Jacinto 151.
Maíra Rodrigues Braga Nascimento 166.
Marcela Campos de Avellar 115, 151.
Marcelo Calegari Zanetti 22, 137, 152, 153, 166.
Márcia Maria Marcondes Costa Meinicke 165.
Marcos Armani Ramírez 121.
Marcos B. de Freitas Junior 149.
Marcos Vinícius Flores Furlaneto 166.
Marden Ivan Negrão Filho 148.
Maria Celina Trevisan Costa 166.
Maria Emilia Nunes Rodrigues Arenas 125.
Marisa Mendes Götze 121.
Marta Aurélia Campos Silveira 160.
Martin Wisiak 172.
Matheus Ribeiro Cecarelli 150.
Matheus Ribeiro Cecarelli 71.
Mauro Klebis Scahiavon 21, 147, 153, 166.
Maxshuel Donizetti Leme 152.
Mayara Gabriele da Silva Lourenzini 158
Meison dos Santos Ribeiro Soares 161.
Michele Cristina Pedroso 150.
Osmar Moreira de Souza Junior 43.
Paulo Gerson Caetano Filho 98, 163.
Paulo Henrique Siqueira 173.
Paulo José Moraes de Paula Santos 98, 163.
Paulo Neves de Oliveira Junior 131.
Pedro Ferreira Rigotti Chaves 98, 163.
Poliana Sandim Bispo 167.
Pollyana Carla da Silva 168.
Rayama Dwija Szajnweld da Silva 98, 163.
Renan Mendes Garcia 160.
Renato Henrique Verzani 145, 147, 148, 150, 152.
Renato Miguel 170.
Ricardo Alves de Almeida 166.
Roberto Borges Filho 149, 167.
Roberto Garcia 28.
Roberto Matioli Junior 148.
Roberto Roque Monteiro 168.
Rodinei Marcelino Rodrigues 159, 165.
Rogério Simões Singh 173.
Sandra Regina Domingos de Brito 75.
Sérgio Henrique Braz 47.
Sheila Costa Ramos Neves 169.
Silene Fontana 171.
Silvana Farias Lopes 57.
Tamiris Aparecida Coltro 171.
Telma Sara Queiroz Matos 162.
Thais da Silva Ramos 158.
Tiago Marcelino Alves 152.
Tiago Rodrigo Alves Nunes 172.
Vilma Leni Nista-Piccolo 51.
Vinícius Facchini Alvares 172.
Vinícius Martins Marcos 57.
Wander Marques 173.
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RBPAEMH - Revista Brasileira de Psicologia Aplicada ao Esporte e à Motricidade Humana - ISSN 21762120
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