integração: riemann e lebesgue, um estudo comparativo
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integração: riemann e lebesgue, um estudo comparativo
TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRAÇÃO: RIEMANN E LEBESGUE, UM ESTUDO COMPARATIVO ALESSANDRA PISKE JOINVILLE, 2013 ALESSANDRA PISKE INTEGRAÇÃO: RIEMANN E LEBESGUE, UM ESTUDO COMPARATIVO Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de Licenciatura em Matemática do Centro de Ciências Tecnológicas, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Matemática. Orientador: Prof. Dr. José Rafael Santos Furlanetto JOINVILLE, SC 2013 P677i Piske, Alessandra Integração: Riemann e Lebesgue, um estudo comparativo / Alessandra Piske - 2013. 143.: il. Bibliografia: p. 137 Trabalho de Graduação Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Tecnológicas, Curso de Licenciatura em Matemática, Joinville, 2013. Orientador: José Rafael Santos Furlanetto 1. Integral de Riemann. 2. Integral de Lebesgue. 3. Continuidade. 4. Função mensurável. 5. Limite. I. Furlanetto, J. R. S. II. Integração: Riemann e Lebesgue, um estudo comparativo CDD: 515 Agradecimentos Pensei em tantas pessoas e jeitos para agradecer, mas escrever é uma tarefa mais complicada do que se pensa. Agradeço a Deus que me deu a vida, a capacidade, as oportunidades e as condições físicas e psicológicas que permitiram a conclusão desse trabalho. Agradeço à minha mãe pelo amor, carinho, proteção, educação e pelas tantas vezes que me fez massageá-la "cantando" a tabuada. À minha irmã por seu carinho, pelos momentos em que cuidou de mim, que me ajudou nas tarefas e por ter me dado o prazer de ser tia. Agradeço também aos meus familiares que estiveram ao meu lado, uma pena não ser mais possível agradecer a duas pessoas tão especiais. Durante a nossa vida, conhecemos várias pessoas, algumas delas se tornam mais do que amigos e, sem dúvidas, eu não poderia deixar de agradecer às minhas queridas amigas Graziele e Júlia que, embora nos desencontremos, sempre arranjamos um tempinho para irmos ao cinema, almoçarmos juntas e sairmos para colocar o papo em dia. Agradeço a Valesca que eu posso passar tempos sem ver, mas quando a vejo é como se tivessemos nos visto no dia anterior. Não posso deixar de agradecer ao Matheus que entrou na minha vida por acaso e se fez um grande amigo e irmão. Muitas vezes tive medo de estar sozinha, mas eu vi que no meu curso isso não é possível. Agradeço a Sabrina, a Manu, a Jo, a Nathi, a Fran, a Tamara e as meninas de estágio por tornarem os meus dias na UDESC muito divertidos, inclusive aqueles em que eu estou tão rabugenta. Eu não lembro por quantos professores eu já passei, mas com certeza todos eles me ensinaram muito e me inspiraram a escolher essa profissão. Gostaria de agradecer a Professora Elisandra pela sua dedicação, por acreditar em mim e pela sua amizade. Agradeço ao Professor José Rafael por me orientar mesmo antes de eu estar matriculada na disciplina de TGR, pela sua paciência e dedicação. Agradeço a Professora Patricia pela sua amizade e por ter aceito avaliar meu trabalho. Agradeço ao Professor Rodrigo pela sua ajuda em meu trabalho e também por aceitar ser banca deste. Agradeço também a todos os professores que colaboraram com a minha formação. Agradeço ao Alexandre que, por muita boa vontade, me ajudou com o Latex e ao Bruno por ter lido o meu TGR. Agradeço ao Sandro, a Nayra e ao Viktor por terem me auxiliado quando eu solicitei e por terem aturado os meus momentos de paranoia. "Prioridades corretas e uma boa administração do tempo exigem uma consciência de que hoje é o único momento que temos para agir. O passado é irrevogavelmente findo, e o futuro é apenas uma possibilidade." Dorothy Kelley Patterson Resumo PISKE, Alessandra. Integração: Riemann e Lebesgue, um estudo comparativo. 2013. 143p.. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em Matemática) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Joinville, 2013. O presente trabalho tem por objetivo o estudo rigoroso das integrais de Riemann e Lebesgue, definindo-as e analisando os resultados decorrentes de suas definições a fim de compará-las. A primeira integral permite, apenas, que funções contínuas em quase todo ponto de seu domínio sejam integráveis, enquanto a segunda, baseada na teoria de medida, exige que a função seja mensurável e que possua integral finita para que seja integrável. Sabe-se que a Integral de Lebesgue é uma generalização da Integral de Riemann. Com essa ideia, além de formalizá-las, este trabalho tem por objetivo mostrar as vantagens que existem de uma sobre a outra, especialmente as que se referem a integrabilidade de funções e a troca do limite com o sinal de integral, e de que forma a Integral de Riemann é um caso particular da Integral de Lebesgue. Palavras-chave: Integral de Riemann. Integral de Lebesgue. Continuidade. Função mensurável. Limite. Abstract PISKE, Alessandra. Integration: Riemann and Lebesgue, a comparative study. 2013. 143p.. Work of Course Conclusion (Graduate Degree in Mathematics) - Santa Catarina State University, Joinville, 2013. The present work aims to rigorous study of Riemann’s and Lebesgue’s integrals, defining them, and analyzing the results due to their definitions in order to compare them. The first integral allows only that continuous functions on almost everywhere of its domain are integrable, while the second, based on the measure theory, requires that the function has measurable and has finite integral to be integrable. It is known that the Lebesgue Integral is a generalization of the Riemann integral. With this idea, beyond formalize them, this work has as objective show that there are advantages of one over the other, especially those concerning the integrability of functions and exchange the limit with the integral sign, and how the Riemann integral is a special case of Lebesgue Integral. Key-words: Riemann Integral. Lebesgue Integral. Continuity. Measurable Function. Limit. Lista de ilustrações Figura 1 – s(f ; P ) = 21.15 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Figura 2 – S(f ; P ) = 24.42 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 3 – s(f ; Q) = 22.3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 30 Figura 4 – S(f ; Q) = 23.39 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . R7 Figura 5 – 1.1 ln(x3 )dx = 22.85 . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Figura 6 – Sequência de funções conforme Lema 2.5 . . . . . . 35 90 Lista de símbolos N Conjunto dos números naturais Q Conjunto dos números racionais R Conjunto dos números reais Cn Conjunto das funções contínuas com derivadas contínuas até ordem n. Sumário INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 1 A INTEGRAL DE RIEMANN . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.1 GEORG RIEMANN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.2 CONCEITOS INICIAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.3 INTEGRAL DE RIEMANN . . . . . . . . . . . . . . . . 27 1.4 CÁLCULO COM INTEGRAIS . . . . . . . . . . . . . . 50 1.5 O LIMITE DE SOMAS DE RIEMANN . . . . . . . . . 59 1.6 O INFINITO NO ESTUDO DE INTEGRAIS . . . . . . 64 1.7 SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES . . . . . . . . . . . . . . 68 1.8 PASSAGEM AO LIMITE SOB INTEGRAL . . . . . . . 72 2 FUNÇÕES MENSURÁVEIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 3 MEDIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 4 A INTEGRAL DE LEBESGUE . . . . . . . . . . . . . . . . 101 4.1 HENRI LEBESGUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 4.2 INTEGRAL DE LEBESGUE . . . . . . . . . . . . . . . 102 4.3 FUNÇÕES INTEGRÁVEIS . . . . . . . . . . . . . . . . 118 4.4 TEOREMA DA CONVERGÊNCIA DOMINADA . . . 125 5 A COMPARAÇÃO DAS INTEGRAIS . . . . . . . . . . . . . 129 5.1 A INTEGRAL DE RIEMANN . . . . . . . . . . . . . . 129 5.2 A INTEGRAL DE LEBESGUE . . . . . . . . . . . . . . 130 5.3 LEBESGUE GENERALIZA RIEMANN . . . . . . . . . 131 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 Anexos 139 ANEXO A TEOREMAS IMPORTANTES . . . . . . . . . . . 141 ANEXO B CONJUNTO DE CANTOR . . . . . . . . . . . . . 143 19 INTRODUÇÃO Durante a graduação, o estudo de integrais está concentrado no que se refere ao cálculo, para complementar a formação matemática surgiu a necessidade de formalizar o conceito de Integral. Com essa ideia, pretende-se, com este trabalho, formalizar a Integral de Riemann, com a qual os estudos desenvolvidos durante o curso foram embasados, e em seguida definiremos a Integral de Lebesgue. A teoria que formaliza a integral com a qual já tivemos contato, chamada Integral de Riemann, requer muitas condições para o seu desenvolvimento. Em contrapartida, a Integral de Lebesgue, baseada na Teoria de Medida, exige menos condições para desenvolver um estudo e, por esse motivo, é mais vantajosa em relação a Integral de Riemann. Nesse sentido, existem funções que são Lebesgue-integráveis, mas não são Riemann-integráveis. Dessa forma, estudar-se-ão as Integrais de Riemann e de Lebesgue a fim de compreendê-las e compará-las. A principal comparação que busca-se fazer, neste trabalho, é a que existe entre o Teorema de Passagem ao Limite sob o Sinal de Integral, para a Integral de Riemann, e o Teorema da Convergência Dominada, para a Integral de Lebesgue. Esses dois teoremas nos fornecem o mesmo resultado, porém sob condições diferentes. Além disso, sabe-se que a Integral de Riemann é um caso particular da Integral de Lebesgue, mas de que forma e sob que condições isso é verdade? Este trabalho está dividido da seguinte forma: no Capítulo 1 será formalizada a Integral de Riemann. No Capítulo 2 será iniciado o estudo de Funções Mensuráveis, no Capítulo 3 será definida Medida, no Capítulo 4 será apresentada, definida e estudada a Integral de Lebesgue. Finalmente, no Capítulo 5, as duas integrais serão comparadas e será provado que, de fato, a Integral de Riemann é um caso particular da 20 Introdução Integral de Lebesgue. Ao final, serão adicionadas as conclusões deste trabalho. 21 1 A INTEGRAL DE RIEMANN Durante a graduação, o estudo de integrais se restringiu ao cálculo da Função Primitiva e mais tarde o uso de limites de somas de Riemann, porém a Integral de Riemann não foi formalizada. Neste capítulo pretende-se definir a Integral de Riemann, estudar os teoremas e as suas demonstrações, procurando analisar as condições necessárias para obtê-los. A fim de estudá-la será utilizado o livro de Lima (2012). 1.1 GEORG RIEMANN Georg Friedrich Bernhard Riemann nasceu no ano de 1826, na cidade de Hanover e, em virtude de uma tubercolose, faleceu em 1866 na Itália. Estudou na Universidade de Berlim e obteve o grau de Doutor na Universidade de Göttingen. Riemann fez grandes contribuições para a Matemática, como as equações diferencias de Cauchy-Riemann, as superfícies de Riemann, a geometria riemanniana e a função zeta de Riemann, além disso, dentre os Problemas de Hilbert se encontra a Hipótese de Riemann que ainda está em aberto. Com respeito ao trabalho de Riemann, nesta monografia vamos tratar apenas da Integral de Riemann, que é a mais conhecida integral nos cursos de graduação (EVES, 2004). 1.2 CONCEITOS INICIAIS A definição de Integral de Riemann está alicerçada nos conceitos de supremo e ínfimo de uma função em um intervalo. Assim, para demonstrar os teoremas, usaremos o fato de que o supremo M de uma função limitada f : X → R é um número real que deve satisfazer: Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 22 i. Para todo x ∈ X, f (x) 6 M ; ii. Se c < M então existe f (x) ∈ f (X) tal que c 6 f (x). De modo análogo, o ínfimo m de uma função limitada f : X → R é um número real que deve satisfazer: i. Para todo x ∈ X, f (x) > m; ii. Se c > m então existe f (x) ∈ f (X) tal que c > f (x). Observação 1.1. Se a função f : [a, b] → R é contínua então, pelo Teorema de Weierstrass (A.1), existem x0 , x1 ∈ [a, b] tais que f (x0 ) 6 f (x) 6 f (x1 ) para todo x ∈ [a, b], pois [a, b] é compacto, isto é, a função atinge valores de máximo e mínimo em [a, b]. Isso vale para as restrições de f aos intervalos da partição, que são compactos. Os lemas a seguir são necessários para demonstrar os resultados decorrentes da definição de Integral de Riemann. Lema 1.1. Sejam A, B ⊂ R tais que para todo x ∈ A e para todo y ∈ B se tenha x 6 y. Então i. sup A 6 inf B. ii. sup A = inf B se, e somente se, ∀ε > 0 existem x ∈ A e y ∈ B com y − x < ε. Demonstração: i. Suponha que para todo x ∈ A e para todo y ∈ B sempre se tenha x 6 y. Assim, pela definição de cota superior, todo y ∈ B é uma cota superior do conjunto A, em particular, sup A 6 y, pois sup A é a menor das cotas superiores de A. Logo, inf (sup A) 6 inf y B B E portanto, sup A 6 inf B. 1.2. CONCEITOS INICIAIS 23 ii. (⇐) Suponha que ∀ε > 0 existem x ∈ A e y ∈ B com y − x < ε. Já provamos que sup A 6 inf B, então vamos supor por absurdo que sup A < inf B. Pela relação de ordem, temos que existe ε > 0 tal que ε = inf B − sup A. Sabemos que, para todo x ∈ A e todo y ∈ B, x 6 sup A e inf B 6 y, assim x 6 sup A < inf B 6 y Logo, y − x > ε, o que contradiz a hipótese. Portanto, se y − x < ε então sup A = inf B. (⇒) Suponha que sup A = inf B. Como sup A é a menor cota superior ε de A, para qualquer ε > 0 temos sup A − não é cota superior de A, 2 ε assim existe x ∈ A tal que sup A − < x < sup A. De modo análogo, 2 ε para qualquer ε > 0, inf B + não é cota inferior de B, assim existe 2 ε y ∈ B tal que inf B < y < inf B + . 2 Por hipótese sup A = inf B, então sup A − ε ε < x < sup A = inf B < y < inf B + 2 2 Logo, y − x < inf B + E, portanto, ε ε − sup A − 2 2 y−x<ε O item (i) desse Lema é bastante natural, já o item (ii) nos diz que a fim de que sup A = inf B é necessário, e suficiente, que sempre seja possível encontrar elementos em A e em B tais que a distância entre eles é tão pequena quanto se queira. Lema 1.2. Sejam A, B ⊂ R conjuntos limitados e c ∈ R, então os con- juntos A + B = {x + y; x ∈ A e y ∈ B} e c · A = {c · x; x ∈ A e c ∈ R} também são limitados. Além disso, i. inf(A + B) = inf A + inf B e sup(A + B) = sup A + sup B. 24 Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN ii. Se c > 0, então inf(c · A) = c · inf A e sup(c · A) = c · sup A, caso contrário inf(c · A) = c · sup A e sup(c · A) = c · inf A. Demonstração: i. Suponha A e B conjuntos limitados. Assim, existem a, b tais que a = inf A e b = inf B. Pela definição de ínfimo, para todo x ∈ A e todo y ∈ B temos x > a e y > b, logo x + y > a + b e, então, a + b é cota inferior de A + B. Como a = inf A então, para ε qualquer ε > 0, a + não é cota inferior de A, pois a é a menor delas. 2 ε Do mesmo modo b + não é cota inferior de B. Desta forma, existem 2 ε ε x ∈ A e y ∈ B tais que a 6 x 6 a + e b 6 y 6 b + . Então 2 2 x + y 6 a + b + ε, ou seja, para qualquer ε > 0 temos que a + b + ε não é cota inferior de A + B, portanto a + b é a maior cota inferior de A + B e, assim, inf(A + B) = inf A + inf B e A + B é limitado inferiormente. De modo análogo temos que sup(A + B) = sup A + sup B. Com isso, concluímos que A + B é um conjunto limitado. ii. Suponha A limitado. Assim, existe a tal que a = inf A, ou seja, para todo x ∈ A temos x > a. Para c = 0 o conjunto c · A = {0}, e portanto inf(0 · A) = 0 = 0 · inf A. Se c > 0, então c · x > c · a para todo x ∈ A, logo c · a é cota inferior de d c · A. Tome d tal que d > c · a, então a < e, como a = inf A, existe c d x ∈ A tal que a < x < , então c · a < c · x < d, assim d não é cota c inferior de c · A e c · a é a maior delas. Portanto, inf(c · A) = c · inf A. A demonstração para sup(c · A) = c · sup A é feita de modo análogo. Se c < 0 e a = sup A então, pela definição de supremo, para todo x ∈ A temos x 6 a, assim, c · a 6 c · x, deste modo c · a é cota inferior de c · A. d Tome d tal que d > c · a, então < a, como a = sup A, existe x ∈ A c d tal que 6 x 6 a, assim c · a 6 c · x 6 d e d não é cota inferior de c · A. c Portanto, inf(c·A) = c·sup A. A demonstração para sup(c·A) = c·inf A é feita de modo análogo. Com isso provamos que o conjunto c · A é limitado. 1.2. CONCEITOS INICIAIS 25 O Lema que acabamos de provar em comunhão com o Corolário que segue serão muito importantes para as demonstrações que faremos no estudo de integrais, uma vez que a definição desse conceito está associada ao supremo e ínfimo de uma função em um intervalo. Corolário 1.1. Sejam f, g : X → R funções limitadas. Então para todo c ∈ R as funções f + g : X → R e c · f : X → R são limitadas. Além disso, i. sup(f + g) 6 sup f + sup g, inf(f + g) > inf f + inf g. ii. Se c > 0, temos sup(c · f ) = c · sup f e inf(c · f ) = c · inf f . Caso contrário, sup(c · f ) = c · inf f e inf(c · f ) = c · sup f . Demonstração: Para demonstrar este corolário, tome A = f (X) = {f (x); x ∈ X} e B = g(X) = {g(x); x ∈ X} . i. Sejam C = (f + g)(X) = {f (x) + g(x); x ∈ X} e, como no Lema anterior, A + B = {f (x) + g(y); f (x) ∈ f (X) e g(y) ∈ g(X)}. Posto isso, fica claro que C ⊂ A + B, pois um elemento f (x) + g(x) ∈ C também pertence a A + B, então inf C > inf(A + B) e sup C 6 sup(A + B). Mas pelo Lema 1.2 temos que inf(A + B) = inf A + inf B e sup(A + B) = sup A + sup B. Portanto, inf(f + g) > inf f + inf g e sup(f + g) 6 sup f + sup g. ii. Para c > 0, segue do Lema 1.2 que inf(c·f ) = inf {c · f (x); x ∈ X} = inf(c · A) = c · inf A = c · inf f e, de modo análogo, sup(c · f ) = c · sup f . E para c < 0, inf(c · f ) = inf {c · f (x); x ∈ X} = inf(c · A) = c · sup A = c · sup f e, de modo análogo, sup(c · f ) = c · inf f . Lema 1.3. Dada f : X → R limitada. Sejam m = inf f , M = sup f e ω = M − m, chamada de oscilação de f em X. Então ω = sup {|f (x) − f (y)| ∀x, y ∈ X}. Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 26 Demonstração: Tome x, y ∈ X arbitrários e suponha f (x) > f (y). Assim, m 6 f (y) 6 f (x) 6 M , pois m e M são ínfimo e supremo de f , desta forma |f (x) − f (y)| 6 M −m = ω, ou seja, ω é cota superior de {|f (x) − f (y)| ∀x, y ∈ X}. ε Além disso, para todo ε > 0, existem x, y ∈ X tais que f (x) > M − e 2 ε f (y) > m + , pois M e m são supremo e ínfimo de f , respectivamente. 2 Assim, |f (x) − f (y)| 6 f (x) − f (y) < M − m − ε = ω − ε Portanto, ω = sup {|f (x) − f (y)| ∀x, y ∈ X} . A oscilação de uma função é um importante conceito para obtermos uma relação que nos facilitará as provas, especialmente, as que se referem a integrabilidade de funções. E esse Lema será bastante utilizado nas demonstrações em que não podemos garantir que a função atinja os valores de máximo e mínimo, sendo necessário tomar o supremo de todas as diferenças possíveis entre todos os valores - dois a dois - que a função atinge em um intervalo. Lema 1.4. Sejam A′ ⊂ A e B ′ ⊂ B conjuntos limitados de números reais. Se para cada a ∈ A e cada b ∈ B existem a′ ∈ A′ e b′ ∈ B ′ tais que a 6 a′ e b′ 6 b, então sup A′ = sup A e inf B = inf B ′ . Demonstração: Suponha que para cada b ∈ B exista b′ ∈ B ′ tal que b′ 6 b e B ′ ⊂ B. Sendo assim, inf B é cota inferior de B ′ . Tome c > inf B, então c não é cota inferior de B e, pela definição de ínfimo, existe b ∈ B tal que inf B 6 b < c. Mas, por hipótese, existe b′ ∈ B ′ tal que b′ 6 b < c, então c também não é cota inferior de B ′ . Logo, inf B é a menor cota inferior de B ′ e, portanto, inf B = inf B ′ . De modo análogo, temos sup A′ = sup A. 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 27 Definição 1.1. Uma partição de um intervalo [a, b] é um subconjunto finito de pontos P = {t0 , t1 , ..., tn } ⊂ [a, b] tal que a ∈ P e b ∈ P , sendo a = t0 e b = tn e, além disso, a = t0 < t1 < ... < tn = b. E usaremos as seguintes notações. Dada uma função f : [a, b] → R, então m = inf{f (x); x ∈ [a, b]} e M = sup{f (x); x ∈ [a, b]}. Se tomarmos f |[ti−1 , ti ], chamada restrição de f ao i-ésimo intervalo da partição, então podemos tomar o ínfimo e supremo da função neste intervalo e denotaremos da seguinte forma: mi = inf {f (x); x ∈ [ti−1 , ti ]} e Mi = sup{f (x); x ∈ [ti−1 , ti ]}. Além das definições de ínfimo e supremo de uma função, no Lema 1.3, definimos a oscilação de uma função no intervalo [a, b]. Se tomarmos a restrição de f ao i-ésimo intervalo denotaremos a oscilação neste intervalo como ωi = Mi − mi e, além disso, ωi = sup {|f (x) − f (y)| ∀x, y ∈ [ti−1 , ti ]}. Provados os lemas anteriores e fixadas essas notações podemos definir a integral de Riemann. 1.3 INTEGRAL DE RIEMANN Além da definição de Função Primitiva, a integral foi vista como uma ferramenta para calcular áreas delimitadas por uma função, e é essa noção inicial de Integral de Riemann. Nesse sentido, vamos definir a soma inferior e a superior de uma função limitada f : [a, b] → R: Definição 1.2. A soma inferior relativamente à partição P é o valor s(f ; P ) = m1 (t1 − t0 ) + ... + mn (tn − tn−1 ) = n X i=1 mi (ti − ti−1 ). Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 28 A Figura abaixo representa uma Soma Inferior relativa a partição P = {1.1, 1.69, 2.28, 2.87, 3.46, 4.05, 4.64, 5.23, 5.82, 6.41, 7} para a função f (x) = ln(x3 ) definida no intervalo [1.1, 7] e, utilizando um software matemático, resulta em s(f ; P ) = 21.15. Figura 1 – s(f ; P ) = 21.15 Definição 1.3. A soma superior relativamente à partição P é o valor S(f ; P ) = M1 (t1 − t0 ) + ... + Mn (tn − tn−1 ) = n X i=1 Mi (ti − ti−1 ). A Figura abaixo representa uma Soma Superior relativa a partição P = {1.1, 1.69, 2.28, 2.87, 3.46, 4.05, 4.64, 5.23, 5.82, 6.41, 7} para a função f (x) = ln(x3 ) definida no intervalo [1.1, 7] e, utilizando um software matemático, resulta em S(f ; P ) = 24.42. Observe que, em módulo, a soma inferior s(f ; P ) representa um valor aproximado, por falta, da área da região limitada pela função f e a soma superior S(f ; P ) representa um valor aproximado, por excesso, da mesma área. A partição escolhida nas figuras 1 e 2 possui intervalos de comprimentos iguais, no entanto isso não é necessário. Observando essas figuras é fácil notar que s(f ; P ) 6 S(f ; P ), como formaliza a observação abaixo. 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 29 Figura 2 – S(f ; P ) = 24.42 Observação 1.2. Como [ti−1 , ti ] ⊂ [a, b], então m 6 mi 6 Mi 6 M . Desta forma, m(b − a) 6 s(f ; P ) 6 S(f ; P ) 6 M (b − a). Ou seja, a soma inferior relativa a uma partição é sempre menor ou igual do que a soma superior relativa a mesma partição. Agora observe a soma inferior e a superior, para a partição Q, com n = 30 intervalos, tal que Q = {1.1, 1.29, 1.49, 1.69, 1.89, 2.08, 2.28, 2.48, 2.67, 2.87, 3.07, 3.26, 3.46, 3.66, 3.85, 4.05, 4.25, 4.44, 4.64, 4.84, 5.03, 5.23, 5.43, 5.62, 5.82, 6.02, 6.21, 6.41, 6.61, 6.8, 7} . Temos que s(f ; Q) = 22.3 e S(f ; Q) = 23.39. Perceba que P ⊂ Q, nesse caso, dizemos que Q refina P e claramente vemos que s(f ; P ) 6 s(f ; Q) 6 S(f ; Q) 6 S(f ; P ). Nesse sentido, segue o Teorema. Teorema 1.1. Quando se refina uma partição, a soma inferior não diminui e a soma superior não aumenta. Ou seja, se P ⊂ Q então s(f ; P ) 6 s(f ; Q) e S(f ; Q) 6 S(f ; P ). Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 30 Figura 3 – s(f ; Q) = 22.3 Figura 4 – S(f ; Q) = 23.39 Seja P = {t0 , t1 , ..., tn } uma partição de Demonstração: [a, b] e suponha Q uma partição do mesmo intervalo que refine P de tal modo que Q = P ∪ {t′ }, assim existe algum i tal que t′ ∈ [ti−1 , ti ], ou seja, Q = {t0 , ..., ti−1 , t′ , ti , ..., tn }. Sejam Mi o supremo da função f no intervalo [ti−1 , ti ] da partição P e M ′ e M ′′ os supremos de f no intervalos [ti−1 , t′ ] e [t′ , ti ], respectivamente, da partição Q. Posto isso, temos S(f ; P ) − S(f ; Q) = Pn j=1 Mj (tj − tj−1 ) − Pi−1 j=1 Mj (tj − tj−1 ) − 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN M ′ (t′ − ti−1 ) − M ′′ (ti − t′ ) − 31 Pn j=i Mj (tj − tj−1 ) Logo, S(f ; P ) − S(f ; Q) = Mi (ti − ti−1 ) − M ′ (t′ − ti−1 ) − M ′′ (ti − t′ ) Somando Mi t′ − Mi t′ na expressão acima e a manipulando, convenientemente, podemos escrevê-la assim S(f ; P ) − S(f ; Q) = (Mi − M ′′ )(ti − t′ ) + (Mi − M ′ )(t′ − ti−1 ) Mas como [ti−1 , t′ ] e [t′ , ti ] estão contidos em [ti−1 , ti ], então M ′ 6 Mi e M ′′ 6 Mi . Além disso, t′ 6 ti e ti−1 6 t′ . Logo, S(f ; P ) − S(f ; Q) > 0 Portanto, S(f ; Q) 6 S(f ; P ). Dessa forma provamos que se adicionarmos um ponto à partição P , temos S(f ; Q) 6 S(f ; P ). Se adicionarmos n pontos a ela, o procedimento é o mesmo. Demonstramos que s(f ; P ) 6 s(f ; Q) de modo análogo. O Teorema 1.1 nos diz que quando tomamos uma partição inicial e a divimos em mais intervalos, preservando os pontos originais, mais aproximadas estarão a soma inferior e a superior da área, quando a função for não negativa, da região limitada pela função f . Com base nessa ideia, iremos definir (na Definição 1.4) a integral inferior e a superior de uma função. Corolário 1.2. Para quaisquer partições P e Q de [a, b] e qualquer função limitada f : [a, b] → R tem-se s(f ; P ) 6 S(f ; Q). Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 32 Suponha f limitada e P e Q partições de Demonstração: [a, b]. Tome a partição P ∪ Q, que refina P e Q. Pelo teorema anterior e pela Observação 1.2, temos s(f ; P ) 6 s(f ; P ∪ Q) 6 S(f ; P ∪ Q) 6 S(f ; Q). Portanto, s(f ; P ) 6 S(f ; Q) para quaisquer partições P, Q de [a, b]. O Corolário 1.2 amplia a Observação 1.2, pois nos diz que para todas as partições possíveis de um intervalo [a, b] a soma inferior é sempre menor ou igual do que a soma superior independente das partições que tomarmos. Definição 1.4. Seja f : [a, b] → R uma função limitada, então i. A integral inferior é definida por Z b f (x)dx = sup s(f ; P ) P a ii. A integral superior é definida por Z¯ b f (x)dx = inf S(f ; P ) P a onde sup e inf são tomados em relação a todas as partições P do intervalo [a, b]. É intuitivo que, como as integrais superior e inferior são definidas com base no supremo e ínfimo de uma função, a integral inferior seja menor ou igual a integral superior, e assim formaliza o próximo corolário. Corolário 1.3. Dada f : [a, b] → R então m(b − a) 6 Z b f (x)dx 6 a Z¯ b a f (x)dx 6 M (b − a) 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 33 Demonstração: Sejam A = {s(f ; P ); P é partição} e B = {S(f ; Q); Q é partição}. Pela definição desses conjuntos e pela Defini- ção 1.4 sabemos que sup A = sups(f ; P ) = P Z inf B = inf S(f ; Q) = Q b f (x)dx e a Z¯ b f (x)dx a E pelo Corolário 1.2 sabemos que, para quaisquer partições P e Q, sempre temos s(f ; P ) 6 S(f ; Q) Então, pelo Lema 1.1, sups(f ; P ) 6 inf S(f ; Q), ou seja, Q P Z Além disso, m(b − a) 6 b f (x)dx 6 a Rb a Observação 1.2. Portanto, m(b − a) 6 Z f (x)dx a f (x)dx e R¯b b f (x)dx 6 a Z¯ b a f (x)dx 6 M (b − a) ocorrem pela Z¯ b a f (x)dx 6 M (b − a) A Definição 1.4, nos diz que para encontrarmos o valor da integral superior e da inferior de uma função f : [a, b] → R é necessário tomar um supremo e um ínfimo relativos a todas as partições que existem para o intervalo [a, b], no entanto não é preciso tomar todas essas partições, pois o corolário abaixo nos garante isso. Corolário 1.4. Seja P0 uma partição de [a, b]. Se considerarmos as somas s(f ; P ) e S(f ; P ) relativas às partições P que refinam P0 obteRb R¯b remos os mesmos valores para a f (x)dx e a f (x)dx. Demonstração: Sejam A = {s(f ; Q); Q é partição}, que é o conjunto das somas inferiores relativas a todas as partições, e A′ = Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 34 {s(f ; P ); P é partição e P0 ⊂ P }, logo A′ ⊂ A pois P é partição. Para todo s(f, Q) ∈ A existe, pelo Teorema 1.1, s(f ; P ) ∈ A′ tal que s(f ; Q) 6 s(f ; P ) basta tomar P = P0 ∪ Q, que refina P0 e Q. Sendo assim o Lema 1.4 nos garante que sup A = sup A′ , pois A′ ⊂ A, isto é, Z b sups(f ; P ) = sups(f ; Q) = f (x)dx P Q a Analogamente, provamos que obtemos os mesmos valores para independente da partição que tomarmos. R¯b a f (x)dx De fato, o Corolário 1.4 nos diz que não precisamos tomar todas as partições do intervalo [a, b] para obtermos os valores da integral inferior e da superior, basta tomar uma partição e refiná-la. Definição 1.5. Uma função limitada f : [a, b] → R é Riemann integrável quando Z¯ b Z b f (x)dx = f (x)dx. a a E a esse valor chamamos de Integral de Riemann da função e denotamos por Z b f (x)dx. a Quando definimos a Soma Inferior e a Superior falamos de área, nesse sentido, dizer que uma função não negativa é integrável implica em dizer que a região delimitada pela função possui área, se a função também assumir valores negativos, devemos considerar o módulo dessa função. Além disso, desta definição segue que Z a b f (x)dx = sup s(f ; P ) = inf S(f ; P ) P P e isso pode nos ser útil para as próximas demonstrações. 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 35 Figura 5 – R7 1.1 ln(x3 )dx = 22.85 Na Figura 5, temos a representação gráfica da Integral da função ln(x3 ) e com o auxílio de um software, temos que Z 7 ln(x3 )dx = 22.85. 1.1 Pelos comentários das Figuras 1, 2, 3 e 4 temos s(f ; P ) 6 s(f ; Q) 6 Z 7 ln(x3 )dx 6 S(f ; Q) 6 S(f ; P ). 1.1 Isso acontece sempre que Q ⊂ P , pois o Corolário 1.3 nos diz que Z b f (x)dx 6 a Z¯ b f (x)dx. a Mas definimos a Integral Inferior e a Superior como Z b f (x)dx = sup s(f ; P ) e a P Z¯ b a f (x)dx = inf S(f ; P ) P Assim, pela definição de supremo e ínfimo, para qualquer partição P , temos Z¯ b Z b f (x)dx 6 f (x)dx 6 S(f ; P ) s(f ; P ) 6 a a Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 36 E o Teorema 1.1 nos diz que quando Q ⊂ P , temos que a soma inferior não diminui e a superior não aumenta, então temos s(f ; P ) 6 s(f ; Q) 6 Z b f (x)dx 6 a Z¯ b f (x)dx 6 S(f ; Q) 6 S(f ; P ) a Além disso, pela Definição de Integrabilidade segue que Z b s(f ; P ) 6 s(f ; Q) 6 f (x)dx 6 S(f ; Q) 6 S(f ; P ). a Assim, o que se observa pelas imagens, vale para qualquer função integrável e para partições tais que P ⊂ Q. Teorema 1.2 (Condição imediata de integrabilidade). Seja f : [a, b] → R uma função limitada. Então as seguintes afirmações são equivalentes: i. f é integrável. ii. Para todo ε > 0, existem partições P, Q de [a, b] tais que S(f ; Q)− s(f ; P ) < ε. iii. Para todo ε > 0, existe uma partição P = {t0 , t1 , ..., tn } de [a, b] Pn tal que S(f ; P ) − s(f ; P ) = i=1 ω(ti − ti−1 ) < ε. Demonstração: (i⇒ii) Suponha f integrável e sejam A = {s(f ; P ); P é partição} e B = {S(f ; Q); Q é partição} . Pelo Corolário 1.2, para quaisquer partições P e Q sempre temos s(f ; P ) 6 S(f ; Q) Mas como f é integrável, então sup A = inf B. E, pelo ítem (ii) do Lema 1.1, para todo ε > 0 existem partições P e Q tais que S(f ; Q) − s(f ; P ) < ε. (ii⇒iii) Suponha que para todo ε > 0 existem partições P e Q tais que S(f ; Q) − s(f ; P ) < ε. Tome P0 = P ∪ Q, que refina P e Q. Então, pelo Teorema 1.1, s(f ; P ) 6 s(f ; P0 ) 6 S(f ; P0 ) 6 S(f ; Q) 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 37 Como S(f ; Q) − s(f ; P ) < ε, então S(f ; P0 ) − s(f ; P0 ) < ε. (iii⇒i) Suponha que para todo ε > 0, exista uma partição P0 de [a, b] tal que S(f ; P0 ) − s(f ; P0 ) < ε. Sejam A = {s(f ; P ); P é partição e P0 ⊂ P } e B = {S(f ; P ); P é partição e P0 ⊂ P } . Por hipótese temos que S(f ; P0 ) − s(f ; P0 ) < ε Mas S(f ; P0 ) ∈ B e s(f ; P0 ) ∈ A, então, pelo Lema 1.1, inf B = sup A, ou seja, inf S(f ; P ) = sup s(f ; P ) P0 ⊂P P0 ⊂P e, pelo corolário 1.4, podemos tomar apenas as partições que refinam P0 para obtermos a integral superior e a inferior, assim Z b f (x)dx = a Z¯ b f (x)dx a Portanto, f é integrável. Esse teorema irá facilitar as demonstrações dos próximos resultados e pode ser visto como uma definição para Riemann Integrabilidade. Podemos dizer que uma função é Riemann Integrável se sempre for possível conseguir uma partição P de [a, b] tal que s(f ; P ) e S(f ; P ) estão tão próximas quanto se queira. Teorema 1.3. Seja a < c < b. A função f : [a, b] → R é integrável se, e somente se, suas restrições f |[a, c] e f |[c, b] são integráveis. No caso afirmativo Z a b f (x)dx = Z a c f (x)dx + Z c b f (x)dx Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 38 Demonstração: Suponha f : [a, b] → R limitada e c ∈ (a, b). Sejam P1 = {a = t0 , t1 , ..., ti = c} e P2 = {c = ti , ti+1 , ..., tn = b} partições de [a, c] e [c, b], respectivamente. Desta forma, P0 = P1 ∪ P2 é uma partição de [a, b] que contém c. Defina A = {s(f ; P ); P1 ⊂ P } e B = {s(f ; P ); P2 ⊂ P } Afirmo que A + B = {s(f ; P ); P0 ⊂ P } , que será provado ao final da demonstração. Pelo Lema 1.2 sup(A+B) = sup A + sup B e, pelo Corolário 1.4 podemos tomar apenas as partições que refinem P0 , P1 e P2 para obtermos a integral inferior, assim Z b f (x)dx = a Analogamente, defina Z c f (x)dx + a Z b f (x)dx (1.1) c A′ = {S(f ; P ); P1 ⊂ P } e B ′ = {S(f ; P ); P2 ⊂ P } Então, A′ + B ′ = {S(f ; P ); P0 = P1 ∪ P2 ⊂ P } Pelo mesmo motivo de antes, Z¯ b f (x)dx = a Z¯ c f (x)dx + a Z¯ b f (x)dx c Subtraindo (1.2) de (1.1), temos Z¯ b a f (x)dx − Z b f (x)dx = a Z¯ b c Z¯ c a f (x)dx − Z f (x)dx − b f (x)dx c Z c f (x)dx + a (1.2) 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 39 Mas, pelo Corolário 1.3, temos que Z¯ b a Z¯ c a Com isso temos que f (x)dx − Z¯ b c f (x)dx − Z Z f (x)dx − b f (x)dx > 0, a c f (x)dx > 0 e a Z b f (x)dx > 0. c Rc R¯b Rb (⇒) Se f é integrável, então a f (x)dx− a f (x)dx = 0, logo ¯a f (x)dx− Rc R¯b Rb a f (x)dx = 0 e c f (x)dx − c f (x)dx = 0. Portanto, f |[a, c] e f |[c, b] são integráveis. Rc Rc (⇐) Se f |[a, c] e f |[c, b] são integráveis, teremos que ¯ f (x)dx− f (x)dx = 0e R¯b c f (x)dx − Rb c f (x)dx = 0, logo R¯b a a f (x)dx − Rb a a f (x)dx = 0. Por- tanto, f : [a, b] → R é integrável. Além disso, se f : [a, b] → R é integrável, sabemos que a integral in- ferior (e superior) é igual a integral, então pela equação (1.1) temos que Z b Z c Z b f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx. a a c Para concluir a demonstração, vamos provar que A + B = {s(f ; P ); P0 ⊂ P } . Sejam s(f ; P ′ ) ∈ A e s(f ; P ′′ ) ∈ B, onde P ′ é uma partição para [a, c] e P ′′ é uma partição para [c, b]. Temos que P ′ ∩ P ′′ = {c}, assim s(f ; P ′ ) + s(f ; P ′′ ) = m1 (t1 − a) + ... + mi (c − ti−1 ) + mi+1 (ti+1 − c) + ... + mn (b − tn−1 ) = s(f ; P ) sendo P = P ′ ∪ P ′′ então A + B ⊂ {s(f ; P ); P0 ⊂ P }, pois P0 ⊂ P . Por outro lado, se tomarmos s(f ; P ) ∈ {s(f ; P ); P0 = P1 ∪ P2 ⊂ P }, Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 40 então podemos separar a partição P em duas partições que refinem P1 e P2 . Portanto, {s(f ; P ); P0 = P1 ∪ P2 ⊂ P } ⊂ A + B. Teorema 1.4 (Propriedades da Integral de Riemann). Sejam f, g : [a, b] → R funções limitadas e integráveis. Então i. A soma f + g é integrável e Z b f (x) + g(x)dx = a Z b f (x)dx + a Z b g(x)dx. a ii. O produto f · g e integrável. Se c ∈ R, então Z b a c · f (x)dx = c · Z b f (x)dx. a iii. Se 0 < k 6 |g(x)| para todo x ∈ [a, b], então f é integrável. g iv. Se f (x) 6 g(x) para todo x ∈ [a, b], então Z a b f (x)dx 6 Z b g(x)dx. a v. |f | é integrável e Z Z b b |f (x)| dx. f (x)dx 6 a a Demonstração: Para demonstrar este teorema, vamos denotar por m′i , Mi′ , m′′i , Mi′′ e ωi′ , ωi′′ os ínfimos, supremos e oscilações de f e g, respectivamente, no i-ésimo intervalo de P . i. Pelo Teorema 1.2 temos que, se f e g são integráveis, então para todo ε > 0, existe uma partição P = {t0 , t1 , ..., tn } tal que 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN n X i=1 41 ωi′ (ti − ti−1 ) < n X i=1 ε e 2 ωi′′ (ti − ti−1 ) < ε 2 Pelo Corolário 1.1, a função (f + g)(x) é limitada e além disso, mi = inf(f + g) > inf f + inf g = m′i + m′′i e Mi = sup(f + g) 6 sup f + sup g = Mi′ + Mi′′ Assim, S(f +g; P ) = n X i=1 s(f + g; P ) = Mi (ti −ti−1 ) 6 n X i=1 n X i=1 mi (ti − ti−1 ) > Mi′ (ti −ti−1 )+ n X i=1 n X i=1 m′i (ti − ti−1 ) + Mi′′ (ti −ti−1 ) e n X i=1 m′′i (ti − ti−1 ) Subtraindo a segunda expressão da primeira, temos S(f + g; P ) − s(f + g; P ) 6 n X i=1 (Mi′ − m′i )(ti − ti−1 ) + n X i=1 ωi′ (ti − ti−1 ) + n X n X i=1 i=1 (Mi′′ − m′′i )(ti − ti−1 ) = ωi′′ (ti − ti−1 ) < ε ε + 2 2 Portanto, S(f + g; P ) − s(f + g; P ) < ε e, pelo Teorema 1.2, f + g é integrável. Além disso, suponha f, g limitadas e integráveis e P uma partição de [a, b], então Z b f (x)dx + a Z b g(x)dx = sups(f ; P ) + sups(g; P ) 6 a P P Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 42 Z sups(f + g; P ) = P b f (x) + g(x)dx a e Z¯ b f (x)dx + a Z¯ b g(x)dx = inf S(f ; P ) + inf S(g; P ) > P a Z¯ b inf S(f + g; P ) = P P f (x) + g(x)dx a Mas como f , g e f + g são integráveis temos que a integral inferior é igual a integral superior, portanto Z b f (x) + g(x)dx = a Z b f (x)dx + a Z b g(x)dx. a ii. Suponha f e g integráveis e limitadas, dessa forma existem k1 , k2 ∈ R tais que |f (x)| 6 k1 e |g(x)| 6 k2 para todo x ∈ [a, b]. Tome k = max {k1 , k2 }, assim |f (x)| 6 k e |g(x)| 6 k para todo x ∈ [a, b]. Além disso, como f e g são integráveis, temos que para todo ε > 0, existe uma partição P = {t0 , t1 , ..., tn } tal que n X i=1 ωi′ (ti − ti−1 ) < n X i=1 ε e 2k ωi′′ (ti − ti−1 ) < ε 2k Mas para x, y ∈ [ti−1 , ti ] arbitrários, temos |f (y) · g(y) − f (x) · g(x)| = |f (y)g(y) − f (x)g(y) + f (x)g(y) − f (x)g(x)| = |g(y)| |f (y) − f (x)| + |f (x)| |g(y) − g(x)| 6 |g(y)| |f (y) − f (x)| + |f (x)| |g(y) − g(x)| 6 k(ωi′ + ωi′′ ) 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 43 Pelo Lema 1.3, temos que ωi = sup {|f (y) · g(y) − f (x) · g(x)| ; x, y ∈ [ti−1 , ti ]} Mas como tomamos x, y arbitrários temos que ωi 6 k(ωi′ + ωi′′ ), então # " n n n X X X ωi′′ (ti − ti−1 ) < ε ωi′ (ti − ti−1 ) + ωi (ti − ti−1 ) 6 k i=1 i=1 i=1 Portanto, f · g é integrável pelo Teorema 1.2. Além disso, seja c ∈ R, pelo Lema 1.2, sabemos que sup s(c · f ; P ) = c · sup(f ; P ) Como f e c · f são integráveis, por hipótese e pelo o que acabamos de provar, então Z a b c · f (x)dx = c · Z b f (x)dx. a iii. Acabamos de provar que se f e g são integráveis, então f · g 1 f é integrável. Se provarmos que é integrável, então será integrável. g g Suponha g integrável e 0 < k 6 |g(x)| para todo x ∈ [a, b]. Como g é integrável existe uma partição P = {t0 , t1 , ..., tn } de [a, b] tal que n X i=1 ωi′ (ti − ti−1 ) < ε · k 2 Para x, y ∈ [ti−1 , ti ] arbitrários, temos 1 1 g(y) − g(x) |g(y) − g(x)| |g(y) − g(x)| = − g(x) g(y) g(y)g(x) = |g(y)g(x)| 6 k2 1 1 − Pelo Lema 1.3, ωi = sup ; x, y ∈ [ti−1 , ti ] será a oscig(x) g(y) 1 lação de em [ti−1 , ti ], e como tomamos x, y arbitrários, então g ωi 6 ωi′ k2 Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 44 E assim, n X n X ωi′ ε · k2 (t − t ) < =ε ωi (ti − ti−1 ) 6 i i−1 k2 k2 i=1 i=1 1 f é integrável e, portanto, é também é. g g Então, pelo Teorema 1.2, iv. Suponha f (x) 6 g(x) e sejam m′i , m′′i ínfimos de f, g no intervalo [ti−1 , ti ] de uma partição P de [a, b] e tome A = {s(f ; P ); P é partição} e B = {s(g; P ); P é partição} Como f (x) 6 g(x) para todo x ∈ [a, b], então m′i 6 m′′i . Assim, sempre teremos s(f ; P ) 6 s(g; P ) e, pelo Lema 1.1 sup A 6 sup B, ou seja, sups(f ; P ) 6 sups(g; P ). Portanto, como f e g são integráveis, e P P Z b f (x)dx 6 Z b g(x)dx. a a v. Suponha f integrável. Seja ωi a oscilação de |f | no intervalo [ti−1 , ti ] de uma partição P de [a, b] e ωi′ a oscilação de f nesse mesmo intervalo. Como f é integrável, temos que n X i=1 ωi′ (ti − ti−1 ) < ε Para x, y ∈ [ti−1 , ti ] arbitrários, temos ||f (y)| − |f (x)|| 6 |f (y) − f (x)| 6 ωi′ Pelo Lema 1.3, ωi = sup {||f (y)| − |f (x)|| ; x, y ∈ [ti−1 , ti ]}, e como to- mamos x, y arbitrários, temos ωi 6 ωi′ e assim n X i=1 ωi (ti − ti−1 ) 6 n X i=1 ωi′ (ti − ti−1 ) < ε 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 45 Portanto, |f | é integrável. Além disso, sabemos que f (x) 6 |f (x)| para todo x ∈ [a, b], então − |f (x)| 6 f (x) 6 |f (x)|, e pelo ítem (iv) deste teorema, temos Z b Z b Z b |f (x)| dx f (x)dx 6 |f (x)| dx 6 − a a Portanto, a Z Z b b |f (x)| dx. f (x)dx 6 a a Corolário 1.5. Se f : [a, b] → R é integrável e |f (x)| 6 k pra todo x ∈ [a, b] então Z b f (x)dx 6 k(b − a). a Demonstração: Suponha f integrável e tal que |f (x)| 6 k pra todo x ∈ [a, b]. Pelo Teorema 1.4 sabemos que Z Z b b f (x)dx 6 |f (x)| dx a a Além disso, como |f (x)| é integrável, temos que Z b |f (x)| dx = inf S(|f | ; P ) a E pelo Corolário 1.3 segue inf S(|f | ; P ) 6 M (b − a) onde M é o supremo da função em [a, b], mas M 6 k. Portanto, Z b f (x)dx 6 k(b − a). a Esses últimos resultados nos traziam como hipótese funções integráveis e buscávamos uma conclusão. Mas além de procurarmos consequências da integrabilidade, precisamos encontrar condições que tornem uma função integrável. Nesse sentido, seguem os teoremas. Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 46 Teorema 1.5. Toda função contínua f : [a, b] → R é integrável. Demonstração: Suponha f contínua em [a, b], que é limitado e fechado e, portanto, compacto. Assim, pelo Anexo A.2, f é uniformemente contínua, isto é, para todo ε > 0 dado e para todo x ∈ [a, b] é possível obter δ > 0 tal que, se y ∈ [a, b] temos |y − x| < δ ⇒ |f (y) − f (x)| < ε b−a (1.3) Seja P = {t0 , t1 , ..., tn } uma partição de [a, b] tal que |ti − ti−1 | < δ para todo i = 0, ..., n. Além disso, como f é contínua, pela Observação 1.1, existem xi , yi ∈ [ti−1 , ti ], tais que f (xi ) = mi e f (yi ) = Mi . Dessa forma, como |yi − xi | 6 |ti − ti−1 | < δ, segue da Expressão (1.3) que |yi − xi | < δ ⇒ |f (yi ) − f (xi )| < ε b−a Pn ε (b − a) = ε Mas |f (yi ) − f (xi )| = ωi , então i=1 ωi (ti − ti−1 ) < b−a e, pelo Teorema 1.2, f é integrável. É esperado que funções contínuas definidas em um intervalo [a, b] sejam integráveis, pois se particionarmos o conjunto [a, b] em intervalos de comprimentos tão pequenos quanto se queira, os valores de supremo e ínfimo, que pela Observação 1.1 são assumidos pela função, também estarão tão próximos quanto se queira, pela definição de continuidade de funções. Teorema 1.6. Toda função monótona f : [a, b] → R é integrável. Demonstração: Suponha f monótona não decrescente e tome ε . uma partição P = {t0 , t1 , ..., tn } de [a, b] tal que |ti − ti−1 | < f (b) − f (a) Como f é monótona não decrescente então, em cada [ti−1 , ti ], temos ωi = f (ti ) − f (ti−1 ), assim n X i=1 ωi = [f (t1 ) − f (t0 )] + [f (t2 ) − f (t1 )] + ... + [f (tn ) − f (tn−1 )] 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN Logo, Pn i=1 47 ωi = f (tn ) − f (t0 ) = f (b) − f (a) e, além disso, n X i=1 n ωi (ti − ti−1 ) < X ε ωi = ε f (b) − f (a) i=1 Portanto, pelo Teorema 1.2, f é integrável. De modo análogo, provamos que uma função monótona não crescente também é integrável. Definição 1.6. O comprimento |I| do intervalo [a, b] ⊂ R é dado por |I| = b − a. Observação 1.3. Uma cobertura de um conjunto X ⊂ R é uma família de conjuntos tais que a união deles contém X. Definição 1.7 (Medida nula). Dizemos que um conjunto X ⊂ R tem medida nula quando, para todo ε > 0 dado, existe uma cobertura finita S ou infinita enumerável X ⊂ k Ik de X por intervalos abertos Ik cuja soma dos comprimentos é tal que X k |Ik | < ε. No Capítulo 3 deste trabalho, iremos definir medida de maneira rigorosa, mas nesse momento essa definição para Medida Nula é suficiente para provar os próximos teoremas. A Definição 1.7 nos diz que um conjunto tem medida nula se for possível cobrí-lo com intervalos cuja soma de seus comprimentos seja tão pequena quanto se queira, mas se não conseguirmos cobrir uma pequena parte do conjunto todo com nem mesmo um intervalo com medida tão pequena quanto se queira, é suficiente, para dizer que o conjunto todo tem medida nula. Sendo assim, para cada ε > 0 tome a vizinhança (a − ε, a + ε), que possui |I| = 2ε. Essa vizinhança não possui medida nula, pois para cada vizinhança (a−ε, a+ε) não é possível cobrí-la com um intervalo de comprimento ε. Por outro lado, para todo ε > 0 é possível cobrir o ponto a com uma vizinhança (a + ε, a − ε). Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 48 Assim, podemos concluir que os únicos intervalos de números reais que possuem medida nula são degenerados. Teorema 1.7. Se o conjunto D dos pontos de descontinuidade de uma função limitada f : [a, b] → R tem medida nula, então f é integrável. Demonstração: Suponha que D tem medida nula, ou seja, para todo ε > 0 existe uma cobertura de intervalos abertos I1 , ..., Ik , ... S P ε tais que D ⊂ k Ik e k |Ik | < , com ω = M − m. 2ω Para cada x em que f é contínua tome uma vizinhança Jx de x tal que S ε . Assim, x Jx é a oscilação de f |(Jx ∩ [a, b]) seja menor que 2(b − a) S uma cobertura aberta de [a, b] − D, pois [a, b] − D ⊂ x Jx . S S Desta forma, [a, b] ⊂ ( x Jx ) ∪ ( k Ik ) é uma cobertura aberta de [a, b] que, pelo Teorema de Borel-Lebesgue (Anexo A.3), possui uma subcobertura finita, seja ela [a, b] ⊂ I1 ∪ ... ∪ Im ∪ Jx1 ∪ ... ∪ Jxn . Agora, considere uma partição de [a, b] formada pelos pontos a, b e pelos extremos de cada Ik e Jxi desta subcobertura finita que pertençam ao intervalo [a, b]. E sejam os intervalos que pertencem a partição P tais que [tα−1 , tα ] ⊂ I¯k para algum Ik , isto é, são formados por pontos que pertencem a D, e [tβ−1 , tβ ] ⊂ Jxi , que são formados por pontos de [a, b] onde f é contínua. Assim, X X ε e (tα − tα−1 ) < |Ik | < 2ω α k ε 2(b − a) dessa forma. Então, ωβ < pois tomamos Ik e Jxi S(f ; P ) − s(f ; P ) = X α ω(tα − tα−1 ) + X X β α ωα (tα − tα−1 ) + X β ωβ (tβ − tβ−1 ) < ε ωε ε(b − a) (tβ − tβ−1 ) < + =ε 2(b − a) 2ω 2(b − a) Portanto, pelo Teorema 1.2, se o conjunto dos pontos de descontinuidade de f tem medida nula, então f é integrável. 1.3. INTEGRAL DE RIEMANN 49 Para demonstrar o próximo teorema, é necessário definir a oscilação de f em um ponto x. Definição 1.8. Seja f : [a, b] → R uma função limitada. Chamamos de oscilação de f em um ponto x, o valor ω(f ; x) que é dado da seguinte forma: Para cada δ > 0, seja ωδ = Mδ − mδ , com Mδ e mδ supremo e ínfimo de f em [a, b] ∩ [x − δ, x + δ]. Note que, i. ωδ é não negativa, pois Mδ > mδ ; ii. ωδ é limitada, pois f é limitada; iii. ωδ é não descrescente, pois a medida que diminuimos o valor de δ o supremo e ínfimo se aproximam. Desta forma, definimos ω(f ; x) = limδ→0 ωδ , pois, pelo Anexo A.8, este limite existe. Observação 1.4. A função f é descontínua em x se, e somente se, ω(f ; x) > 0. Isso equivale a dizer que, se f é contínua em x, então ω(f ; x) = 0. Isto é intuitivo, pois se uma função é contínua em um ponto x, o supremo e ínfimo de f neste ponto são o próprio valor f (x). Observação 1.5. Se x pertence ao interior de um intervalo I ⊂ [a, b], então ω(f ; x) 6 ω(f ; I) = supf (x) − inf f (x). x∈I x∈I Teorema 1.8. O conjunto D dos pontos de descontinuidade de uma função integrável f : [a, b] → R tem medida nula. Demonstração: Suponha f integrável e seja D o conjunto dos pontos de descontinuidade de f em [a, b]. Para cada k ∈ N, tome 1 Dk = x ∈ [a, b]; ω(f ; x) > , ou seja, pela Observação 1.4, cada Dk k Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 50 S contém apenas pontos em que f é descontínua. Logo, D = k Dk , P S então |D| = | k Dk | = k |Dk | e para provar que D possui medida nula, basta provar que cada Dk é tal que |Dk | = 0. Como f é integrável, então pelo Teorema 1.2, existe uma partição P = {t0 , t1 , ..., tn } de [a, b] tal que n X i=1 ωi (ti − ti−1 ) < ε k Sejam [tα−1 , tα ] os intervalos da partição P que contenham pontos de Dk em seu interior e, pela Observação 1.5 e pelo modo como definimos 1 cada Dk , temos ωα > . Além disso, note que temos uma cobertura k S para Dk ⊂ ( α [tα−1 , tα ] ∪ F ), onde F é o conjuntos dos pontos em que f é descontinua, mas que são extremos dos intervalos da partição. Assim, 0 6 |Dk | 6 X α (tα − tα−1 ) + |F | Mas F é um conjunto de intervalos degenerados, então |F | = 0. Assim, n X X ε 1X (tα − tα−1 ) 6 ωα (tα − tα−1 ) 6 ωi (ti − ti−1 ) < k α k α i=1 P Portanto, α |tα − tα−1 | < ε e D tem medida nula. Com esses dois últimos teoremas podemos dizer que é necessá- rio e suficiente que uma função seja contínua em quase todo ponto (Veja Observação 3.2) de [a, b] para que seja integrável, ou seja, a função não precisa ser contínua para todo x ∈ [a, b] para que seja integrável, basta que só não seja contínua em um conjunto cuja medida seja nula. 1.4 CÁLCULO COM INTEGRAIS No primeiro contato que tivemos com integrais este conceito nos foi apresentado totalmente relacionado com a derivada. Porém, na Definição 1.5, percebemos que não há relação direta entre eles. No entanto, nos teoremas que seguem, vamos ver que, de fato, esses dois conceitos se relacionam, em decorrência do estudo que fizemos até agora. 1.4. CÁLCULO COM INTEGRAIS 51 Além de provarmos essa relação entre a integral e a derivada, também serão provados os métodos utilizados para facilitar o cálculo de integrais. Definição 1.9 (Função Primitiva). Seja f : I → R uma função contínua em I. Dizemos que F : I → R é uma primitiva de f se F ′ (x) = f (x) para todo x ∈ I. Definição 1.10 (Integral Indefinida). Seja f : I → R uma função contínua em I. Dizemos que F : I → R é uma integral indefinida se existe a ∈ I tal que F (x) = F (a) + Z x f (t)dt a para todo x ∈ I. Teorema 1.9 (Teorema fundamental do Cálculo). Seja f : I → R uma função contínua em I, então F é uma integral indefinida de f se, e somente se, F é uma primitiva de f . Demonstração: (⇒) Suponha F (x) = F (a) + Rx a f (t)dt para todo x ∈ I. E seja a = x0 ∈ I e x = x0 + h ∈ I, com h > 0, assim temos Z x0 +h f (t)dt F (x0 + h) = F (x0 ) + x0 então dividindo a expressão acima por h obtemos Z 1 1 x0 +h [F (x0 + h) − F (x0 )] = f (t)dt h h x0 (1.4) Além disso, sabemos que f (x0 ) é uma função constante, assim inf[f (x0 )] = f (x0 ) = sup[f (x0 )], então Z x0 +h f (x0 )dt = f (x0 )(x0 + h − x0 ) x0 Logo, f (x0 ) = 1 h Z x0 +h x0 f (x0 )dt (1.5) Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 52 Subtraindo 1.5 de 1.4, temos Z x0 +h F (x0 + h) − F (x0 ) 1 − f (x ) = (f (t) − f (x )) dt 0 0 h x0 h Mas, pelo Teorema 1.4, temos que Z x0 +h F (x0 + h) − F (x0 ) 1 − f (x ) 6 |f (t) − f (x0 )| dt 0 h |h| x0 (1.6) Além disso, como f é contínua em I, em particular é contínua em x0 , para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que se t ∈ I e |t − x0 | < δ ⇒ |f (t) − f (x0 )| < ε, logo, pela equação 1.6, Z x0 +h F (x0 + h) − F (x0 ) < 1 |ε| = ε − f (x ) 0 |h| h x0 F (x0 + h) − F (x0 ) Portanto, − f (x0 ) < ε e pela Definição de Derih vada F ′ (x0 ) = f (x0 ), logo F é primitiva de f . (⇐) Suponha que F seja uma primitiva de f , isto é, F ′ (x) = f (x) para Rx todo x ∈ I. Seja a ∈ I, tome ϕ(x) = a f (t)dt a integral indefinida de f . Pelo que acabamos de provar, sabemos que se ϕ(x) é uma integral indefinida de f , então é uma primitiva de f , ou seja, ϕ′ (x) = f (x). Da hipótese segue que F ′ (x) = f (x) = ϕ′ (x) para todo x ∈ I. Desse modo, existe k ∈ R tal que F (x) = ϕ(x) + k, pelo Anexo A.4. Assim, F (x) = Z x f (t)dt + k (1.7) a E aplicando x = a na expressão 1.7, temos k = F (a)− Portanto, Z x F (x) = F (a) + Ra a f (t)dt = F (a). f (t)dt a para todo x ∈ I e F é uma integral indefinida de f . Este teorema nos prova a relação entre a Integral e a Derivada de uma função contínua e garante que, realmente, a fim de calcularmos 1.4. CÁLCULO COM INTEGRAIS 53 a área, quando a função for não negativa, da região delimitada por essa função não é necessário calcular o supremo das somas inferiores ou o ínfimo das somas superiores relativas a todas as partições para o intervalo no qual a função está definida, basta calcular a sua Função Primitiva e aplicarmos o Teorema Fundamental do Cálculo. No caso geral, em que a função também atinge valores negativos, basta usar o Teorema 1.3, tomando as restrições da função no intervalos em que atinge apenas valores negativos e trocar o sinal do valor obtido com o Teorema Fundamental do Cálculo, apenas nesse intervalo. Algumas vezes, é conveniente fazermos uma mudança de variável para calcular a integral de uma função, o teorema que segue nos garante que isso é possível e nos diz de que forma esse procedimento deve ser feito. Teorema 1.10 (Mudança de Variável). Sejam f : [a, b] → R contínua e g : [c, d] → R, com g ∈ C 1 e g([c, d]) ⊂ [a, b]. Então Z g(d) f (x)dx = g(c) Z d f (g(t))g ′ (t)dt c Demonstração: Pelo Teorema Fundamental do Cálculo, temos Z g(d) g(c) f (x)dx = F (g(d)) − F (g(c)) = (F ◦ g)(d) − (F ◦ g)(c) (1.8) Desse modo, F ◦ g é primitiva de f (x) em [g(c), g(d)]. Mas pela Regra da Cadeia, (F ◦ g)′ (t) = F ′ (g(t))g ′ (t) = f (g(t))g ′ (t) Logo, (F ◦ g) também é primitiva de f (g(t))g ′ (t), aplicando o Teorema Fundamental do Cálculo, temos Z c d f (g(t))g ′ (t) = (F ◦ g)(d) − (F ◦ g)(c) (1.9) Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 54 Igualando as expressões 1.8 e 1.9, temos Z d Z g(d) f (g(t))g ′ (t)dt. f (x)dx = c g(c) De fato, fazendo uma mudança de variável encontramos o mesmo valor para a integral de uma função. Porém é necessário que a função escolhida para fazer essa mudança de variável seja contínua e com derivada contínua. E além disso, quando fazemos esse procedimento é necessário utilizar um fator que equilibra essa mudança de variável, que aqui aparece como o diferencial dx = g ′ (t)dt, mas que em dimensões maiores ou iguais a dois é chamado de Determinante Jacobiano da mudança de variável. Teorema 1.11 (Integração por Partes). Sejam f, g : [a, b] → R que pertençam a classe C 1 então Z b Z ′ b f (x) · g (x)dx = (f · g)(x)|a − a b f ′ (x) · g(x)dx a Demonstração: Suponha f, g ∈ C 1 e tome a função f · g : [a, b] → R, (f · g)(x)|ba = (f · g)(b) − (f · g)(a) Isso significa que f · g é primitiva de (f · g)′ , pelo Teorema Fundamental do Cálculo. Mas pela Regra do Produto para derivadas, temos (f · g)′ (x) = f ′ (x) · g(x) + f (x) · g ′ (x) Dessa forma, Z b Z b ′ (f · g) (x)dx = [f ′ (x) · g(x) + f (x) · g ′ (x)]dx = (f · g)(x)|ba a a Portanto, Z a b ′ f (x) · g (x)dx = (f · g)(x)|ba − Z a b f ′ (x) · g(x)dx 1.4. CÁLCULO COM INTEGRAIS 55 Teorema 1.12 (Fórmula do Valor Médio para Integrais). Sejam f, p : [a, b] → R tais que f é contínua e p(x) > 0 para todo x ∈ [a, b] e integrável. Então existe c ∈ [a, b] tal que Z Z b f (x)p(x)dx = f (c) b p(x)dx a a Demonstração: Pelo Teorema de Weierstrass (A.1), como f é contínua em um intervalo compacto, então temos que m 6 f (x) 6 M para todo x ∈ [a, b], com m e M ínfimo e supremo de f em [a, b], respectivamente, e como p(x) > 0 para todo x ∈ [a, b], temos m · p(x) 6 f (x) · p(x) 6 M · p(x) Além disso, pelo Teorema 1.5 f é integrável e os itens (ii) e (iv) do Teorema 1.4 nos garantem que Z b Z b Z b m p(x) 6 f (x)p(x) 6 M p(x) a a a Rb Observe que f (x) a p(x)dx é contínua em [a, b], pois f e a função Rb p(x)dx também são. E como f é contínua em [a, b], pelo Anexo A.9, a existe algum c ∈ [a, b] tal que Z b Z f (x)p(x)dx = f (c) a b p(x)dx a Teorema 1.13. Seja f : [a, b] → R contínua. Existe c ∈ [a, b] tal que Z b f (x)dx = f (c)(b − a) a Demonstração: Pelo Teorema 1.12, basta tomar p(x) = 1 para todo x ∈ [a, b]. Z b Z f (x)dx = f (c) a a b 1dx = f (c) · x|ba = f (c)(b − a) Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 56 Embora, neste trabalho, não iremos usar as Fórmulas de Taylor para demonstrarmos outros resultados da Integral, elas são importantes ferramentas para aproximar o valor de uma função em um ponto e as integrais de Riemann podem aparecer nessas aproximações. Em Otimização, por exemplo, as Fórmulas de Taylor são úteis na demonstração das condições de Otimalidade de Segunda Ordem e também no Método de Newton (RIBEIRO; KARAS, 2013). Com essa motivação seguem teoremas que provam a relação das Integrais com a Fórmulas de Taylor. Lema 1.5. Seja ϕ : [0, 1] → R tal que ϕ ∈ C n , então n−1 X ϕ(i) (0) Z 1 (1 − t)n−1 + ϕ(n) (t)dt. ϕ(1) = i! (n − 1)! 0 i=0 Demonstração: Vamos provar este teorma usando indução. i. Pelo Teorema fundamental do Cálculo 1.9, temos que Z 1 Z 1 ′ ϕ (t)dt = ϕ(1) − ϕ(0) ⇒ ϕ(1) = ϕ(0) + ϕ′ (t)dt 0 0 Portanto, o teorema vale para n = 1. ii. Suponha que o teorema é verdadeiro para algum n, ou seja, n−1 X ϕ(i) (0) Z 1 (1 − t)n−1 ϕ(1) = + ϕ(n) (t)dt i! (n − 1)! 0 i=0 ou, como iremos usar a seguir, Z 1 n−1 X ϕ(i) (0) (1 − t)n−1 (n) ϕ (t)dt = ϕ(1) − (n − 1)! i! 0 i=0 vamos provar que vale para n + 1. Perceba que, ′ (1 − t)n n(1 − t)n−1 n(1 − t)n−1 (1 − t)n−1 = (−1) = − =− n! n! n(n − 1)! (n − 1)! Por Integração por partes, temos Z 1 Z 1 (1 − t)n (n) 1 (1 − t)n−1 (n) (1 − t)n (n+1) ϕ (t)dt = ϕ (t)|0 + ϕ (t)dt n! n! (n − 1)! 0 0 1.4. CÁLCULO COM INTEGRAIS 57 Mas usando a hipótese de indução, obtemos Z 1 0 n−1 X ϕ(i) (0) (1 − t)n (n+1) (1 − t)n (n) 1 ϕ (t)dt = ϕ (t)|0 + ϕ(1) − n! n! i! i=0 Observe que, (0)n (n) (1)n (n) 1 (1 − t)n (n) 1 ϕ (t)|0 = ϕ (1) − ϕ (0) = − ϕ(n) (0). n! n! n! n! Com isso, podemos reescrever a equação anterior como Z 1 0 n−1 X ϕ(i) (0) (1 − t)n (n+1) 1 ϕ (t)dt = ϕ(1) − − ϕ(n) (0) n! i! n! i=0 Além disso, n−1 X i=0 . Assim, ϕ(1) = n X ϕ(i) (0) ϕ(i) (0) 1 + ϕ(n) (0) = i! n! i! i=1 n X ϕ(i) (0) i=0 i! + Z 1 0 (1 − t)n (n+1) ϕ (t)dt n! Portanto, o teorema vale para todo n ∈ N. Teorema 1.14 (Fómula de Taylor com resto integral). Seja f : [a, a + h] → R com derivadas de ordem n contínuas neste intervalo, então f (a + h) = f (a) + f ′ (a)h + ... + Z 1 0 f (n−1) (a) n−1 h + (n − 1)! (1 − t)n−1 f (n) (a + th) dt hn (n − 1)! Demonstração: Tome ϕ : [0, 1] → R, como ϕ(t) = f (a + th), assim ϕ(0) = f (a) e ϕ(1) = f (a + h), além disso, como f possui derivadas contínuas, ϕ também possui, então pelo Lema 1.5, ϕ(1) = n−1 X i=1 ϕ(i) (0) + i! Z 0 1 (1 − t)n−1 (n) ϕ (t)dt. (n − 1)! Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 58 Observe que, pela Regra da Cadeia, ϕ(n) (t) = f (n) (a+th) = hn f (n) (a+ th), logo ϕ(n) (0) = hn f (n) (a). Assim, f (a + h) = n−1 X i=1 hi f (i) (0) + i! Z 1 0 (1 − t)n−1 n (n) h f (a + th) dt. (n − 1)! Portanto, f (n−1) (a) n−1 h + (n − 1)! (1 − t)n−1 f (n) (a + th) dt hn (n − 1)! f (a + h) = f (a) + f ′ (a)h + ... + Z 1 0 Corolário 1.6 (Fórmula de Taylor com resto de Lagrange). Seja f : [a, a + h] → R com derivadas de ordem n contínuas neste intervalo, então existe θ ∈ [0, 1] tal que f (a + h) = f (a) + f ′ (a)h + ... + f (n−1) (a) n−1 f (n) (a + θh) n h + h (n − 1)! n! Demonstração: Pelo Teorema 1.14 temos que f (n−1) (a) n−1 h + (n − 1)! (1 − t)n−1 f (n) (a + th) dt hn (n − 1)! f (a + h) = f (a) + f ′ (a)h + ... + Z 0 Note que 1 (1 − t)n−1 > 0 para todo t ∈ [0, 1] (n − 1)! Então, pelo Teorema 1.12, existe θ ∈ [0, 1] tal que Z 1 Z 1 (1 − t)n−1 (1 − t)n−1 (n) f (a + th)dt = f (n) (a + θh) dt (n − 1)! (n − 1)! 0 0 Além disso, Z 0 1 (1 − t)n 1 1 (1 − t)n−1 dt = − |0 = (n − 1)! n! n! 1.5. O LIMITE DE SOMAS DE RIEMANN 59 Portanto, f (a + h) = f (a) + f ′ (a)h + ... + f (n−1) (a) n−1 f (n) (a + θh) n h + h (n − 1)! n! 1.5 O LIMITE DE SOMAS DE RIEMANN Na Definição 1.4 vimos que a Integral de Riemann de uma função é definida como o ínfimo ou o supremo de conjuntos que, em geral, são infinitos. Sendo assim, calcular uma integral usando essa definição pode não ser o melhor método. A ideia que se estuda, durante a graduação, para aproximar áreas é particionar um intervalo no qual a função está definida e calcular a "área" definida pelo retângulo cujas dimensões correspondem ao comprimento de cada intervalo da partição e o valor supremo ou ínfimo da função em cada um desses intervalos. Em harmonia com o Teorema 1.1, quanto maior o número de intervalos na partição, o erro entre o valor que calculamos e o valor real da área diminui. Quando queremos obter o valor real dessa área, quando existe, tomamos o limite com o comprimento de cada um desses intervalos tendendo a zero. Mas como esse limite está associado a Definição 1.4? Definição 1.11. A norma de uma Partição P = {t0 , t1 , ..., tn } é dada por |P | = max {|ti − ti−1 | ; i = 1, ..., n} Teorema 1.15. Seja f : [a, b] → R limitada. Para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que se |P | < δ, então s(f ; P ) > Z b a f (x)dx − ε e S(f ; P ) < Z¯ b a f (x)dx + ε. Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 60 R¯b Demonstração: Vamos provar que S(f ; P ) < a f (x)dx + ε. Suponha f limitada e f (x) > 0 para todo x ∈ [a, b]. Sabemos que Z¯ b S(f ; P ) > f (x)dx para toda partição P de [a, b] a Então, dado ε > 0 é possível obter uma partição P0 = {t0 , t1 , ..., tn } tal que S(f ; P0 ) < Z¯ b f (x)dx + a ε 2 ε , onde n 2M n é o número de intervalos da partição P0 . Seja P = {r0 , r1 , ..., rk } uma partição de [a, b] tal que |P | < δ. Suponha M supremo de f em [a, b]. E tome 0 < δ < i. Sejam [rα−1 , rα ] ⊂ P os intervalos de P tais que [rα−1 , rα ] = A ⊂ [ti−1 , ti ] = I para algum i. Como A ⊂ I então Mα 6 Mi , com Mα supremo de f em [rα−1 , rα ] e Mi supremo de f em [ti−1 , ti ]. Além disso, para todos os intervalos [rα−1 , rα ] que estão contidos em algum [ti−1 , ti ], temos X (rα − rα−1 ) 6 (ti − ti−1 ) A⊂I Então, X A⊂I Mα (rα − rα−1 ) 6 Mi (ti − ti−1 ) ii. Sejam [rβ−1 , rβ ] os intervalos de P que não estejam contidos em algum [ti−1 , ti ], assim, existe r ∈ [rβ−1 , rβ ] tal que r ∈ / [ti−1 , ti ], então r ∈ [tj−1 , tj ], portanto existe pelo menos um ti que pertence a [rβ−1 , rβ ], então existem, no máximo, n intervalos [rβ−1 , rβ ]. E como |P | < δ, então rβ − rβ−1 < δ e 0 6 Mβ 6 M , onde Mβ é o supremo de f em [rβ−1 , rβ ]. Desse modo, X β E então, X β (rβ − rβ−1 ) < nδ Mδ (rβ − rβ−1 ) < nM δ < ε nM ε < 2M n 2 1.5. O LIMITE DE SOMAS DE RIEMANN 61 Note que, S(f ; P ) = X A⊂I n X i=1 Mα (rα − rα−1 ) + β Mδ (rβ − rβ−1 ) < ε ε = S(f ; P0 ) + < 2 2 Mi (ti − ti−1 ) + Z¯ b X f (x)dx + a ε ε + 2 2 Portanto, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se |P | < δ, então S(f ; P ) < Z¯ b f (x)dx + ε a se f (x) > 0. Provamos que para f (x) > 0 para todo x ∈ [a, b], agora vamos prova para o caso geral. Como f é limitada, sabemos que o ínfimo m de f em [a, b] é o maior valor, em módulo, para o qual a função é negativa, então g(x) = f (x) + |m| > 0 para todo x ∈ [a, b]. Pelo que provamos, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se |P | < δ, então S(g; P ) < Z¯ b g(x)dx + ε a Mas definimos g(x) = f (x) + |m|, então S(f ; P ) + |m|(b − a) < = Z¯ b f (x)dx + a Então Z¯ b S(f ; P ) + |m|(b − a) < a [f (x) + |m|] dx + ε Z¯ b a |m|dx + ε Z¯ b f (x)dx + |m|(b − a) + ε Z¯ b f (x)dx + ε a Portanto, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se |P | < δ, então S(f ; P ) < a Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 62 Analogamente provamos que s(f ; P ) > Rb f (x)dx − ε a Observação 1.6. O resultado que o Teorema 1.15 nos dá é muito importante, pois dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se |P | < δ, então S(f ; P ) < Z¯ b f (x)dx + ε e s(f ; P ) > a Z b a f (x)dx − ε E podemos reescrevê-lo da seguinte forma: i. Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se ||P | − 0| < δ, então Z¯ b f (x)dx < ε, S(f ; P ) − a mas essa é a definição de limite, portanto Z −b lim S(f ; P ) = f (x). |P |→0 a ii. Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se ||P | − 0| < δ, então Z b f (x)dx < ε, s(f ; P ) − a assim lim s(f ; P ) = |P |→0 Z b f (x). a Portanto, podemos ver a intregral inferior e a superior como um limite da soma inferior e da superior quando a norma da partição de [a, b] tende a zero. Definição 1.12 (Partição Pontilhada). Seja P = {t0 , ..., tn } uma par- tição de [a, b] e seja ξ = (ξ1 , ..., ξn ), com ξi ∈ [ti−1 , ti ]. A partição pontilhada é dada por P ∗ = (P, ξ). Definição 1.13 (Soma de Riemann). Dada uma função f : [a, b] → R e uma partição pontilhada P ∗ de [a, b], têm-se a Soma de Riemann n X X f (ξi )(ti − ti−1 ) (f ; P ∗ ) = i=1 1.5. O LIMITE DE SOMAS DE RIEMANN 63 Observação 1.7. Como em cada intervalo i da partição pontilhada P ∗ temos mi 6 f (ξi ) 6 Mi então, fica claro que X s(f ; P ) 6 (f ; P ∗ ) 6 S(f ; P ). P Definição 1.14. Diz-se que o número real I é o limite de (f ; P ∗ ) P quando |P | → 0 e escreve-se I = lim|P |→0 (f ; P ∗ ), quando, para todo P ε > 0 dado, pode-se obter δ > 0 tal que | (f ; P ∗ ) − I| < ε seja qual for a partição pontilhada P ∗ com |P | < δ. Teorema 1.16. Seja f : [a, b] → R uma função integrável então Z b X f (x)dx = lim (f ; P ∗ ) |P |→0 a Demonstração: Pela Observação 1.6 e sabendo que a função f é integrável temos que lim s(f ; P ) = |P |→0 Z b f (x)dx = a Além disso, temos s(f ; P ) 6 Então Z b f (x)dx = a P |P |→0 Mas como lim s(f ; P ) = |P |→0 Z f (x)dx = lim S(f ; P ) a |P |→0 (f ; P ∗ ) 6 S(f ; P ) pela Observação 1.7. lim s(f ; P ) 6 lim |P |→0 Z¯ b X (f ; P ∗ ) 6 lim S(f ; P ) |P |→0 b f (x)dx = lim S(f ; P ), |P |→0 a o Teorema do Sanduíche (A.5) nos diz que Z b X lim (f ; P ∗ ) = f (x)dx. |P |→0 a Esse Teorema nos diz que, ao usarmos limites, não é necessário tomar o supremo e o ínfimo da função em cada intervalo da partição para obter o valor da integral, basta tomar algum valor que a função atinge nos intervalos da partição pontilhada. Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 64 1.6 O INFINITO NO ESTUDO DE INTEGRAIS Muitas vezes, podemos nos deparar com funções que são ilimitadas ou estão definidas em intervalos ilimitados. Mas o fato de uma função estar definida em um intervalo ilimitado ou "atingir" valores infinitos não é uma condição que torna a sua integral infinita. Com isso, pode existir a Integral de Riemann para essas funções, porém é necessário ajustar a Definição da Integral de Riemann para funções que se incluam nesse contexto. Teorema 1.17. Seja f : (a, b] → R limitada e para todo c ∈ (a, b] a restrição f |[c, b] é integrável. Então, para qualquer valor de f (a), a função f : [a, b] → R é integrável e, além disso, Z b Z b f (x)dx f (x)dx = lim+ a c→a c Demonstração: Inicialmente, vamos provar que f : [a, b] → R é integrável. Como a função f é limitada então existe k ∈ R tal que |f (x)| 6 k para todo x ∈ [a, b]. Dado ε > 0 tome c ∈ (a, b] de tal modo que ε k(c − a) < , ou seja, tome c a uma distância de a tão pequena quanto 4 se queira. Como f |[c, b] é integrável, para todo ε > 0 existe uma partição P = {c, ..., b} de [c, b] tal que ε S(f ; P ) − s(f ; P ) < 2 Além disso, Q = P ∪ {a} = {a, c, ..., b} é uma partição para [a, b] e como |f (x)| 6 k para todo x ∈ [a, b], temos −k < f (x) < k e assim S(f ; Q) < S(f ; P ) + k(c − a) e s(f ; Q) > s(f ; P ) + (−k)(c − a) Logo, ε ε S(f ; Q) − s(f ; Q) < 2k(c − a) + S(f ; P ) − s(f ; P ) < 2 + = ε 4 2 Portanto, S(f ; Q) − s(f ; Q) < ε e pelo Teorema 1.2, f é integrável. Agora, vamos provar que Z b Z f (x)dx = lim+ a c→a c b f (x)dx 1.6. O INFINITO NO ESTUDO DE INTEGRAIS 65 Seja c um valor tão próximo de a quanto se queira. Para todo ε > 0, ε tome δ > 0 tal que δ < . Seja P = {a, c, ..., b} com |P | < δ, assim k a< c< a+δ e Z Z Z b Z c Z b b b f (x)dx − f (x)dx = f (x)dx − f (x)dx + f (x)dx c c a a c usando o Teorema 1.3, pois temos f |ca e f |bc são restrições de f . Assim, Z Z Z b b c ε f (x)dx = f (x)dx − f (x)dx < k(c − a) < kδ < k = ε c k a a Portanto, Z a b f (x)dx = lim+ c→a Z b f (x)dx. c Com esse teorema, garatimos que se a função f : (a, b] → R não está definida apenas no ponto a, que possui medida nula, podemos integrá-la da mesma forma no intervalo [a, b]. Assim, segue a definição de Integral Imprópria. Definição 1.15. Seja f : (a, b] → R ilimitada e contínua em (a, b]. Definimos a integral imprópria de f como Z b Z b f (x)dx = lim f (x)dx. ε→0+ a a+ε Analogamente, seja f : [a, b) → R ilimitada e contínua em [a, b). Defi- nimos a integral imprópria de f como Z b Z f (x)dx = lim ε→0+ a b−ε f (x)dx. a Observação 1.8. Se f : (a, b) → R ilimitada e contínua em (a, b), pelo Rb Rc Rb Teorema 1.3, temos a f (x)dx = a f (x)dx + c f (x)dx com c ∈ (a, b), então a integral imprópria é dada por Z b Z c Z f (x)dx = lim f (x)dx + lim a ε→0+ ε→0+ a+ε = lim ε→0+ Z b−ε a+ε f (x)dx. b−ε f (x)dx c Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 66 Para definirmos a Integral Imprópria supomos que a função f é contínua no intervalo (a, b), então, pelo Teorema 1.5, f é integrável, mas o limite que tomamos pode ou não existir, nesse sentido, segue a definição. Rb Definição 1.16. Se o limite limε→0+ a+ε f (x)dx existe então a integral é convergente, caso contrário é divergente. Analogamente, se o R b−ε limite limε→0+ a f (x)dx existe, então a integral é convergente e se não existe a integral é divergente. Observação 1.9. Se f : (a, b] → R é tal que f (x) > 0 para todo Rb x ∈ (a, b] então a f (x)dx converge se, e somente se, existe k > 0 tal que Z e Rb a b a+ε f (x)dx 6 k para todo ε ∈ (0, b − a). Demonstração: (⇒) Suponha f (x) > 0 para todo x ∈ (a, b] f (x)dx convergente, desse modo 0 6 lim ε→0+ Z b f (x)dx = L = a+ε Z b f (x)dx. a Por outro lado, como f está definida em [a+ ε, b] que é compacto, então pelo Anexo A.3, a função atinge o valor de máximo, seja M 0 6 f (x) 6 M para todo x ∈ [a + ε, b] E como a integral é convergente, então 06 Z b f (x)dx 6 lim a+ε ε→0+ Z b a+ε M dx 6 M (b − a) Portanto, tome k = M (b − a). Rb (⇐) Suponha que existe k > 0 tal que a+ε f (x)dx 6 k para todo ε ∈ [0, b − a]. Como f (x) > 0 para todo x ∈ [a + ε, b], então 06 Z b a+ε f (x)dx 6 k para todo ε ∈ [0, b − a] 1.6. O INFINITO NO ESTUDO DE INTEGRAIS Rb Note que a+ε 67 f (x)dx é monótona, pois a medida que aumentamos o valor de ε o valor da função diminui, e também é limitada. E, pelo Anexo A.8, o limite existe. Portanto, a integral converge. Definição 1.17 (Convergência absoluta). A integral imprópria é dita absolutamente convergente quando Z b a |f (x)| dx converge. Observação 1.10. Se também é convergente. tome f Rb a f (x)dx é absolutamente convergente, então Demonstração: Dada uma função f : (a, b] → R contínua, + = max {(f (x), 0)} e f − = max {(−f (x), 0)} contínuas, pois f é contínua. Assim, f (x) = f + (x) − f − (x) e |f (x)| = f + (x) + f − (x) Somando e subtraindo essas expressões, temos f + (x) = 1 1 [|f (x)| + f (x)] e f − (x) = [|f (x)| − f (x)] 2 2 Além disso, 0 6 f + 6 |f | e 0 6 f − 6 |f | Logo, 06 Z b f + (x)dx 6 a Z a b |f (x)|dx e 0 6 Z b f − (x)dx 6 a Z a b |f (x)|dx Rb Rb Rb Como a |f (x)|dx converge, então a f+ (x)dx e a f− (x)dx devem conRb vergir, caso contrário, a |f (x)|dx não convirgiria. Da definição de parte positiva e negativa, temos Z a b f (x)dx = Z b a [f + (x) − f− (x)]dx Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 68 E pelo Teorema 1.4, segue que Z b f (x)dx = a Portanto, Rb a Z b Z f + (x)dx − a b f− (x)dx a f (x)dx também converge. Definição 1.18. Seja f : [a, +∞) → R contínua, define-se a integral imprópria como Z +∞ f (x)dx = a lim B→+∞ Z B f (x)dx. a Analogamente, se f : (−∞, b] → R contínua, define-se a integral imprópria como Z b Z b f (x)dx = lim f (x)dx. A→−∞ −∞ A Se f : (−∞, +∞) → R contínua, define-se a integral imprópria como Z +∞ f (x)dx = lim −∞ A→−∞ Z c f (x)dx + lim A B→+∞ Z B f (x)dx. c para algum c ∈ R. 1.7 SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES Estamos acostumados a trabalhar com sequências numéricas, no entanto também existem as sequências de funções, que no caso numérico podem ou não convergir. Mas o que significa uma sequência de funções convergir e quais os critérios para se ter convergência? Definição 1.19 (Convergência Pontual). Seja fn : X → R uma sequência de funções. Dizemos que esta sequência converge pontualmente para uma função f : X → R quando a sequência definida para cada x ∈ X converge para f (x). Assim, fn → f quando para todo ε > 0 e para cada x ∈ X, existir n0 ∈ N, tal que se n > n0 , então |fn (x) − f (x)| < ε. 1.7. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES 69 Assim, a convergência pontual é um conceito local, pois para cada x e para cada ε obtemos um n0 e escrevemos n0 (ε; x). Definição 1.20 (Convergência Uniforme). Seja fn : X → R uma sequência de funções. Dizemos que esta sequência converge uniformemente para uma função f : X → R quando para todo ε > 0, existir n0 ∈ N, tal que se n > n0 , então |fn (x) − f (x)| < ε para todo x ∈ X Diferente da convergência pontual, na convergência uniforme o valor de n0 depende apenas de ε, ou seja, para todos os x ∈ X temos o mesmo valor para n0 e escrevemos n0 (ε), assim a convergêcia uniforme é um conceito global. Além disso, podemos definir a convergência da série Definindo sn = f1 (x) + ... + fn (x), dizemos que a série +∞ X P+∞ n=1 (fn ). (fn ) = f n=1 converge para f quando lim sn = f. n→+∞ Se sn → f converge pontualmente, então a série também converge pon- tualmente, se sn → f converge uniformemente a série também converge uniformemente. Observação 1.11. Se definirmos o resto da série como rn (x) = f(n+1) (x) + f(n+2) (x) + ..., teremos que, +∞ X (fn ) = sn + rn . n=1 Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 70 Dizer que P+∞ n=1 (fn ) = f equivale a dizer que rn → 0 uniformemente. Pois, para todo ε > 0 existe n0 tal que se n > n0 então n X (fi ) − f < ε, i=1 assim +∞ X (fn ) − f = |sn + rn − f | < ε n=1 E como sn → f , então |rn | < ε Portanto, rn → 0 uniformemente. Teorema 1.18. Se uma sequência de funções fn : X → R converge uniformemente para f : X → R e cada fn é contínua no ponto a ∈ X, então f também é contínua. Demonstração: Como fn → f uniformemente, então para ε para 3 ε todo x ∈ X, em particular vale para x = a, então |fn (a) − f (a)| < . 3 Além disso, como cada fn é contínua no ponto a, então para todo ε > 0, ε existe δ > 0 tal que se x ∈ Xe |x − a| < δ então |fn (x) − fn (a)| < . 3 Com isso, todo ε > 0, existe n0 tal que se n > n0 então |fn (x) − f (x)| < |f (x) − f (a)| = |f (x) − fn (x) + fn (x) − fn (a) + fn (a) − f (a)| 6 ε =ε 3 Portanto, se |x − a| < δ então |f (x) − f (a)| < ε, logo f é contínua. |f (x) − fn (x)| + |fn (x) − fn (a)| + | |fn (a) − f (a)| < 3 Definição 1.21 (Convergência Monótona). Seja fn : X → R uma sequência de funções. Dizemos que fn converge monotonicamente para f : X → R, quando para cada x ∈ X e para cada n ∈ N a sequência (fn (x))n∈N é monótona e converge pontualmente para f (x). Teorema 1.19 (Dini). Se a sequência de funções contínuas fn : X → R converge monotonicamente para f : X → R e se X é compacto, então a convergência é uniforme. 1.7. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES 71 Demonstração: Suponha que fn convirja para f monotonicamente e que cada fn e a função f sejam convergentes. Dado ε > 0, tome Xn = {x ∈ X; |fn (x) − f (x)| > ε} para cada n ∈ N. Vamos usar o fato de que os conjuntos Xn são compactos e provaremos isso ao final desta demonstração. Como fn converge monotonicamente, então |f1 (x) − f (x)| > |f2 (x) − f (x)| > ... > |fn (x) − f (x)| > ε pois a medida que aumentamos o valor de n a distância entre fn (x) e f (x) diminui, pois fn → f . Como limn→+∞ fn (x) = f (x), então lim fn (x) − f (x) = |f (x) − f (x)| = 0. n→+∞ Assim, para n suficientemente grande, temos |fn (x) − f (x)| < ε para todo x ∈ X. Ou seja, para algum n0 o conjunto Xn é vazio. Portanto, +∞ \ Xn = φ n=1 Então, pelo Anexo A.6, para n > n0 temos Xn = φ. Portanto, dado ε > 0, existe n0 tal que se n > n0 então |fn (x) − f (x)| < ε para todo x ∈ X e, assim, fn converge uniformemente para f . Para concluir a demonstração, vamos provar que os Xn são compactos. De fato, seja x ∈ X¯n , então existe alguma sequência (xk ) ⊂ Xn tal que xk → x, quando k → +∞. Mas f e fn são contínuas em X, então f (xk ) → f (x) e fn (xk ) → f (x) quando k → +∞ e n → +∞. Mas para todo k ∈ N, temos que |fn (xk ) − f (xk )| > ε Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 72 Tomando o limite quando k → +∞, temos lim |fn (xk ) − f (xk )| > ε k→+∞ lim [fn (xk ) − f (xk )] > ε k→+∞ Mas supomos xk → x, então |fn (x) − f (x)| > ε logo x ∈ Xn e todo ponto de aderência de Xn está nesse conjunto, portanto Xn é fechado. Resta provar que Xn é limitado. Sabemos que X é compacto, então é limitado. Mas para todo n ∈ N, temos que Xn ⊂ X, portanto Xn é limitado. Assim, como Xn é limitado e fechado, é compacto. Os últimos teoremas que provamos servirão para alcançar o objetivo final do estudo de Integral de Riemann para este trabalho. 1.8 TEOREMA DE PASSAGEM AO LIMITE SOB O SINAL DE INTEGRAL No estudo de sequências de funções, podemos falar das sequências de funções integráveis convergentes. Mas quais as condições para que o limite dessa sequência também seja integrável e, além disso, para que seja possível trocar o sinal da integral com o limite? Teorema 1.20 (Passagem ao limite sob o sinal de integral). Se a sequência de funções integráveis fn : [a, b] → R converge uniformemente para f : [a, b] → R então f é integrável e Z b Z b Z lim fn (x)dx = f (x)dx = lim a n→+∞ a n→+∞ b fn (x)dx a Demonstração: Suponha fn : [a, b] → R uma sequência de funções integráveis que converge uniformemente para f : [a, b] → R. 1.8. PASSAGEM AO LIMITE SOB INTEGRAL 73 Inicialmente, vamos provar que f é integrável. Como fn converge uniformemente para f , temos que dado ε > 0, existe n0 tal que se n > n0 então |f (x) − fn (x)| < para todo x ∈ [a, b]. ε 4(b − a) Fixe m > n0 . Como fm é integrável, então existe uma partição P = {t0 , ..., tn } de [a, b] tal que, se ωi′ é a oscilação de fm no intervalo [ti−1 , ti ] Pn ε de P , temos i=1 ωi′ (ti − ti−1 ) < e, ainda, |fm (y) − fm (x)| < ωi′ . 2 Além disso, para quaisquer x, y ∈ [a, b], sempre temos |f (y) − f (x)| 6 |f (y) − fm (y) + fm (y) − fm (x) + fm (x) − f (x)| 6 |f (y) − fm (y)| + |fm (y) − fm (x)| + |fm (x) − f (x)| < ε ωi′ + 2 4(b − a) Mas pelo Lema 1.3 temos que ωi é o sup |f (y) − f (x)|, e como tomamos x, y ∈ [a, b] arbitrários, temos ωi 6 ωi′ + e assim n X i ε 2(b − a) n ωi (ti −ti−1 ) 6 Logo, X n ωi′ (ti −ti−1 )+ n X i X ε ε ε (ti −ti−1 ) < + = ε 2(b − a) i 2 2 ωi (ti − ti−1 ) < ε e, assim, f é integrável, pelo Teorema 1.2. Rb Rb Agora, vamos provar que a f (x)dx = limn→+∞ a f (x)dx. De fato, Z Z Z b b b f (x)dx − fn (x)dx = [f (x) − fn (x)]dx a a a Mas pelo Teorema 1.4, temos que Z Z b b (b − a)ε <ε |f (x) − fn (x)| dx 6 [f (x) − fn (x)]dx 6 a 4(b − a) a Capítulo 1. A INTEGRAL DE RIEMANN 74 Portanto, pela definição de limite, Z b Z b Z lim fn (x)dx = f (x)dx = lim a n→+∞ n→+∞ a b fn (x)dx a Com esse Teorema, provamos que para uma sequência de funções integráveis convergir para uma função integrável segundo Riemann e a fim de trocar o sinal da integral com o limite é necessário que, além de que (fn ) seja uma sequência de funções integráveis, essa sequência seja uniformemente convergente. Exemplo 1.1. Seja fn : [0, 4] → R uma sequência de funções definida por 1 . n fn (x) = x − Perceba que a sequência fn (x) converge uniformemente para a função f (x) = x. Isso ocorre pois 1 =x n e, além disso, para cada x que pertence ao compacto [0, 4] temos que a lim fn (x) = lim x − n→+∞ n→+∞ sequência numérica fn (x) é monótona, então pelo Teorema 1.19, essa convergência é uniforme. Desse modo as condições do Teorema de passagem ao limite sob o sinal de integral estão satisfeitas e é possível aplicá-lo. Logo, lim n→+∞ Z 0 4 x− 1 dx n = = 4 Z lim x − 0 n→+∞ Z 4 1 dx n xdx 0 = x2 2 4 = 8. 0 Assim encerramos o que se pretendia a respeito da Integral de Riemann para este trabalho. 75 2 FUNÇÕES MENSURÁVEIS Para iniciarmos o estudo da Integral de Lebesgue é fundamental o estudo de funções mensuráveis, pois é uma condição necessária para formalizar essa integral. E, além disso, em tudo que nos referirmos a funções mensuráveis e a essa integral iremos mencionar uma coleção de conjuntos chamada de σ-álgebra. A partir deste Capítulo, vamos convencionar que 0 · (+∞) = 0. A fim de definir e estudar tudo o que se refere a essa integral, iremos usar o livro de Bartle (1995). Definição 2.1. Seja X um conjunto. Uma família χ de subconjuntos de X é chamada de σ-álgebra quando satisfaz: i. Os conjuntos X e φ pertencem a χ; ii. Se um subconjunto A está em χ então seu complementar Ac também está em χ; iii. Seja (An )n∈N uma sequência de conjuntos em χ, então a união S enumerável n∈N An também está em χ. Perceba que, em geral, para o mesmo conjunto é possível en- contrar mais de uma σ-álgebra, desde que sejam satisfeitas as condições da Definição. Observação 2.1. Segue que, se χ é uma σ-álgebra e (An )n∈N é uma T sequência de conjuntos em χ então a intersecção enumerável n∈N An também pertence a χ. Isso ocorre porque, pelo item (ii) da definição 2.1, temos que o complementar Acn de cada termo da sequência também S pertence a χ e, pelo ítem (iii) da mesma definição, n∈N Acn pertence c T S e, pelo a χ. Mas, pelas lei de De Morgan, n∈N Acn = n∈N An T item (ii), o complementar deste conjunto pertence a χ, assim n∈N An também está na σ-álgebra. 76 Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS Chamamos de espaço mensurável o par ordenado (X, χ) formado pelo conjunto X e por uma σ-álgebra e dizemos que X é χmensurável ou apenas mensurável, quando a σ-álgebra estiver clara no contexto. Exemplo 2.1. 1. A menor σ-álgebra χ de um conjunto X é formada por X e pelo conjunto vazio, ou seja, χ = {φ, X} e a maior é dada por χ = {A; A ⊆ X}, isto é, formada por todos os subconjuntos de X. 2. Sejam χ1 , χ2 duas σ-álgebras de X, então a interseção χ delas também é uma σ-álgebra. Pois, i. φ, X pertencem a χ1 e χ2 , então pertencem a χ1 ∩ χ2 = χ. ii. Se A está em χ, então A ∈ χ1 e χ2 , como χ1 , χ2 são σ-álgebras então Ac ∈ χ1 e χ2 , portanto Ac ∈ χ. iii. Seja uma sequência de conjuntos An em χ, então An ∈ χ1 e χ2 S S e, pela definição, n∈N An ∈ χ1 e χ2 , portanto n∈N An ∈ χ. 3. Seja A uma coleção de subconjuntos de X, tome todas as σ-álgebras que contêm A, a interseção destas também é uma σ-álgebra, pelo exemplo anterior. Essa interseção é a menor σ-álgebra que contém A e é chamada de σ-álgebra gerada por A. 4. A Álgebra de Borel é uma σ-álgebra B para o conjunto dos números reais R que é gerada por todos os intervalos abertos (a, b) de números reais. Observe que a Álgebra de Borel também é gerada por todos os intervalos fechados [a, b] da reta, pois como B é formado por todos os intervalos abertos da reta, temos que para todo n ∈ N o conjunto 1 1 x ∈ R; a − < x < b + n n pertence a B, por ser um intervalo aberto. Mas se para todo n isso acontece, temos uma sequência de conjuntos em B, então pela Observação 77 2.1, segue que +∞ \ 1 1 ∈ B. x ∈ R; a − < x < b + n n n=1 Observe também que essa sequência é decrescente no sentido de que A1 ⊃ A2 ⊃ ... ⊃ An ⊃ ..., assim se tomarmos a interseção finita Tn teremos que i=1 Ai = An , então como queremos a interseção infinita, devemos tomar o conjunto do tipo An no qual n → +∞, assim lim a − n→+∞ 1 1 6 lim x 6 lim b + n→+∞ n n→+∞ n Logo, +∞ \ 1 1 = {x ∈ R; a 6 x 6 b} . x ∈ R; a − < x < b + n n n=1 Portanto, a Álgebra de Borel, também é a σ−álgebra gerada por todos os intervalos fechados da reta. Qualquer conjunto na Álgebra de Borel é chamado de conjunto de Borel. Definição 2.2 (Função Mensurável). Dizemos que uma função f : X → R é χ−mensurável se para todo α ∈ R o conjunto {x ∈ X; f (x) > α} pertence a χ. Lema 2.1. Seja f : X → R e χ uma σ-álgebra. As seguintes afirmações são equivalentes: i. Para todo α ∈ R o conjunto Aα = {x ∈ X; f (x) > α} está em χ. ii. Para todo α ∈ R o conjunto Bα = {x ∈ X; f (x) 6 α} está em χ. iii. Para todo α ∈ R o conjunto Cα = {x ∈ X; f (x) > α} está em χ. iv. Para todo α ∈ R o conjunto Dα = {x ∈ X; f (x) < α} está em χ. Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS 78 Acα Demonstração: (i ⇔ ii) Se Aα ∈ χ, então pela definição 2.1, ∈ χ, mas Acα = Bα . (i ⇒ iii) Suponha que para cada α ∈ R o conjunto Aα ∈ χ, em 1 particular temos que isso vale para o número real α − , assim n 1 A 1 = x ∈ X; f (x) > α − α− n n pertence a χ para cada n ∈ N. Pela Observação 2.1, temos que a interseção enumerável \ Aα− 1 n∈N n também pertence a χ. T T Observe que Cα ⊃ n∈N Aα− 1 , pois seja x ∈ n∈N Aα− n1 , então para n todo n ∈ N f (x) > α − 1 n Mas como isso vale para todo n, temos lim f (x) > lim α − n→+∞ n→+∞ 1 n Logo, f (x) > α Mas essa é a condição para pertencer a Cα , então Cα ⊃ T Além disso, Cα ⊂ n∈N Aα− 1 , pois seja x ∈ Cα então n f (x) > α > α − Então x ∈ A 1 α− n T n∈N 1. α− n A 1 para qualquer n ∈ N. n para todo n ∈ N. Dessa forma, temos que Cα = \ n∈N Aα− n1 ∈ χ e, portanto, Cα ∈ χ. (i ⇐ iii) Suponha que para cada α ∈ R o conjunto Cα ∈ χ, em parti- cular, para cada n ∈ N o conjunto 1 Cα+ 1 = x ∈ X; f (x) > α + n n 79 pertence a χ. Pela definição de σ−álgebra, temos que +∞ [ Cα+ 1 n n=1 também pertence a χ. S+∞ S+∞ Mas perceba que Aα ⊃ n=1 Cα+ n1 , pois se x ∈ n=1 Cα+ n1 , então para algum n ∈ N temos x ∈ Cα+ n1 e x é tal que f (x) > α + 1 n 1 > α, então f (x) > α, logo x ∈ Aα . n S+∞ Além disso, Aα ⊂ n=1 Cα+ n1 , pois se x ∈ Aα , então Mas α + f (x) > α, dessa forma, existe algum q ∈ R tal que f (x) > q > α 1 1 = α e para todo n ∈ N temos α + > α, n n então para algum n ∈ N temos que Mas como limn→+∞ α + q > α+ 1 > α. n 1 Então f (x) > α + para algum n, o que é suficiente para x pertencer n S+∞ a n=1 Cα+ n1 . Logo, +∞ [ Aα = C 1 n=1 α+ n e, portanto, Aα ∈ χ. (iii ⇔ iv) Se Cα ∈ χ, então pela definição 2.1, Cαc ∈ χ, mas Cαc = Dα . Exemplo 2.2. 1. Seja f : X → R uma função limitada e seja B a Álgebra de Borel. Então a função f é mensurável. Como f é limitada, então existe algum k ∈ R tal que −k 6 f (x) 6 k para todo x ∈ X. Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS 80 Se α < −k, temos que {x ∈ X; f (x) 6 α} = φ ∈ χ Se α > k, temos que {x ∈ X; f (x) > α} = φ ∈ χ Se −k 6 α 6 k, então {x ∈ X; f (x) > α} pertence a B, pois é um intervalo de números reais. Portanto, uma função limitada é B−mensurável. No entanto, se considerarmos χ como sendo a menor σ−álgebra, isto é, χ = {φ, X} a função não é mensurável, pois nos casos α < −k e α > k, em nada difere. Mas se −k 6 α 6 k, então o conjunto {x ∈ X; f (x) > α} não pertence a χ. E assim, uma função limitada não é χ−mensurável. 2. Toda função contínua f : X → R é B-mensurável. De fato, para todo α ∈ R, temos que o conjunto {x ∈ X; f (x) > α} é um intervalo de números reais, e portanto, pertence a B. 3. Toda função monótona f : X → R é B-mensurável. Suponha f monótona não decrescente, sendo assim temos que x 6 y ⇔ f (x) 6 f (y) para x, y ∈ X. Então, temos que o conjunto {x ∈ X; f (x) > α} corresponde ao conjunto {x ∈ X; x > a} 81 para algum a tal que f (a) = α e a ∈ X, que pertence a χ por ser um intervalo. Assim como para as funções limitadas, as contínuas e as monótonas podem não ser mensuráveis dependendo da σ−álgebra que tomarmos. Pelos exemplos acima, vimos que uma função pode ser mensurável com relação a uma σ−álgebra, mas em relação a outra pode não ser. No entanto, o estudo da Integral de Lebesgue irá considerar apenas as funções mensuráveis em determinada σ−álgebra. Lema 2.2. Sejam f, g : X → R funções mensuráveis e seja c ∈ R. Então também são mensuráveis as funções: (i.) c · f ; f + g; (iv.) f · g; (v.) |f |. (ii.) f 2 ; (iii.) Demonstração: i. Suponha f mensurável, então para todo α ∈ R o conjunto {x ∈ X; f (x) > α} ∈ χ. Se c = 0, então c · f (x) = 0 para todo x ∈ X, então pelo exemplo anterior, c · f é mensurável. n αo e, como f Se c > 0, então {x ∈ X; c · f (x) > α} = x ∈ X; f (x) > c é mensurável, este conjunto pertence a χ. n αo e, como f Se c < 0, então {x ∈ X; c · f (x) > α} = x ∈ X; f (x) < c é mensurável e pelo Lema 2.1, este conjunto pertence a χ. Portanto, a função c · f é mensurável. ii. Suponha f mensurável e α > 0, então √ √ x ∈ X; f 2 (x) > α = x ∈ X; f (x) < − α ∪ x ∈ X; f (x) > α Como f é mensurável, usando o Lema 2.1, sabemos que os conjuntos √ √ x ∈ X; f (x) < − α e x ∈ X; f (x) > α pertencem a χ e, pela Definição 2.1, a união deles também pertence a χ. Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS 82 Se α < 0, então x ∈ X; f 2 (x) > α = X que pertence a χ, por definição. iii. Suponha f e g mensuráveis, então {x ∈ X; f (x) > q} ∈ χ e {x ∈ X; g(x) > α − q} ∈ χ onde fixamos q ∈ Q. Então, pela observação 2.1, temos Sq = {x ∈ X; f (x) > q} ∩ {x ∈ X; g(x) > α − q} ∈ χ Afirmo que, [ q∈Q Sq = {x ∈ X; (f + g)(x) > α} que é uma união enumerável de conjuntos que estão em χ, então pertence a χ, por definição. S De fato, seja x ∈ q∈Q Sq , então para algum q ′ ∈ Q temos x ∈ Sq′ e é tal que f (x) > q ′ e g(x) > α − q ′ S então f (x)+ g(x) > α e, portanto, q∈Q Sq ⊂ {x ∈ X; (f + g)(x) > α}. Por outro lado, se x ∈ {x ∈ X; (f + g)(x) > α}, então x é tal que f (x) + g(x) > α ⇒ α − g(x) < f (x) Mas em todo intervalo da reta existem sempre números irracionais e racionais, então existe q ∈ Q tal que α − g(x) < q < f (x) S Assim, f (x) > q e g(x) > α − q, então x ∈ q∈Q Sq . Portanto, [ Sq = {x ∈ X; (f + g)(x) > α} ∈ χ q∈Q e, assim, f + g é mensurável. iv. Suponha f e g mensuráveis e observe que i 1h 2 2 (f + g) + (f − g) f ·g = 4 (2.1) 83 Pois, i 1 1h (f + g)2 − (f − g)2 = f 2 + 2f g + g 2 − f 2 + 2f g − g 2 = f · g 4 4 Como f e g são mensuráveis, então na expressão 2.1 temos soma de quadrados, portanto, pelos ítens anteriores desse Lema, f · g é mensurável. v. Suponha f mensurável e α > 0, então {x ∈ X; |f (x)| > α} = {x ∈ X; f (x) > α} ∪ {x ∈ X; f (x) < −α} que pertence a χ, pois f é mensurável e pelo Lema 2.1. Se α < 0, então {x ∈ X; |f (x)| > α} = X que pertence a χ por definição. Observação 2.2. Seja f uma função mensurável. Defina a parte positiva f + e a parte negativa f − da função, que são funções não negativas, tais que f + = sup {f (x), 0} e f − = sup {−f (x), 0} Observe que f = f + − f − e |f | = f + + f − , assim f+ = 1 1 (|f | + f ) e f − = (|f | − f ) 2 2 Então, pelo Lema 2.2, as funções f + e f − são mensuráveis. Definição 2.3. Chamamos uma função f de função estendida quando f : X → R̄, ou seja, a função assume os valores de +∞ e −∞. A coleção de todas as funções estendidas que são χ−mensuráveis é denotado por M (X, χ). Observação 2.3. Seja f ∈ M (X, χ) então os conjuntos i. {x ∈ X; f (x) = +∞} e ii. {x ∈ X; f (x) = −∞} Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS 84 pertencem a χ. i. Perceba que {x ∈ X; f (x) = +∞} = ∞ \ n=1 {x ∈ X; f (x) > n} Pois seja x ∈ {x ∈ X; f (x) = +∞} então f (x) = +∞ se, e somente se, T∞ para todo n ∈ N temos f (x) > n, portanto x ∈ n=1 {x ∈ X; f (x) > n}. Assim, como cada {x ∈ X; f (x) > n} pertence a χ pela definição de Funções Mensuráveis, então pela Observação 2.1, a interseção desses conjuntos também pertence a χ e, assim, {x ∈ X; f (x) = +∞} ∈ χ. ii. Observe que {x ∈ X; f (x) = −∞} = " ∞ [ n=1 #c {x ∈ X; f (x) > −n} Pois se x ∈ {x ∈ X; f (x) = −∞}, então x ∈ X, mas x∈ / {x ∈ X; f (x) > −n} para todo n ∈ N, portanto x∈ " ∞ [ n=1 #c {x ∈ X; f (x) > −n} . S c Se x ∈ [ ∞ n=1 {x ∈ X; f (x) > −n}] , então, pela Lei de De Morgan, "∞ # \ x∈ {x ∈ X; f (x) 6 −n} n=1 Logo Então, f (x) 6 limn→∞ −n = −∞, portanto f (x) = −∞. {x ∈ X; f (x) = −∞} = " ∞ [ n=1 #c {x ∈ X; f (x) > −n} . S∞ c Como o conjunto [ n=1 {x ∈ X; f (x) > −n}] pertence a χ pela definição de Função Mensurável e de σ−álgebra, temos, {x ∈ X; f (x) = −∞} ∈ χ. 85 Lema 2.3. Uma função f ∈ M (X, χ) se, e somente se, os conjuntos A = {x ∈ X; f (x) = +∞} e B = {x ∈ X; f (x) = −∞} pertencem a χ e a função é mensurável. f (x) se x ∈ / A∪B f1 (x) = 0 se x ∈ A ∪ B Demonstração: ⇒ Suponha f ∈ M (X, χ) então pela obser- vação 2.3 os conjuntos A e B pertencem a χ. Além disso, se α > 0 temos {x ∈ X; f1 (x) > α} = {x ∈ X; f (x) > α} − A pois, nesse caso, queremos os valores de x tais que a função f1 (x) > 0, e os valores de x que estão em A são os valores em que f1 (x) = 0. Se α < 0, então {x ∈ X; f1 (x) > α} = {x ∈ X; f (x) > α} ∪ B pois queremos todos os valores em que f1 (x) = 0, mas no conjunto {x ∈ X; f (x) > α} estão apenas os elementos de A, no entanto os elementos de B também tornam f1 (x) = 0. Assim, como f é mensurável, f1 também é. ⇐Suponha f1 mensurável e A, B ∈ χ. Se α > 0, temos {x ∈ X; f (x) > α} = {x ∈ X; f1 (x) > α} ∪ A pois, nesse caso, queremos os valores de x tais que f (x) > 0 e no conjunto {x ∈ X; f1 (x) > α} estão apenas valores finitos, mas a função f é estendida, então assume o valor de +∞. Se α < 0, temos {x ∈ X; f (x) > α} = {x ∈ X; f1 (x) > α} − B pois os valores de x tais que f (x) > α são maiores que −∞, portanto os elementos de B não estão em {x ∈ X; f (x) > α}. Dessa forma, a função estendida f é mensurável e, assim, pertence a M (X, χ). Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS 86 Definição 2.4 (Limites de sequências). Seja (xn ) : N → R̄ uma sequência, definimos lim sup xn = inf m sup xn inf xn n>m lim inf xn = sup m n>m Quando lim sup xn = lim inf xn a sequência é convergente e chamamos esse valor de limite da sequência e denotamos por lim xn . Para sequência de funções, definimos a sequência numérica definida para cada x que pertence ao domínio (X) e tomamos o seu limite. O limite da sequência de funções será a função f : X → R definida por f (x) = lim fn (x) para cada x ∈ X. Lema 2.4. Seja fn uma sequência de funções em M (X, χ), então também pertencem a M (X, χ) as funções: (i.) f (x) = inf fn (x) (ii.) F (x) = sup fn (x) (iii.) f ∗ (x) = lim inf fn (x) e (iv.) F ∗ (x) = lim sup fn (x) Demonstração: i. Suponha f (x) = inf fn (x) e observe que A = {x ∈ X; f (x) > α} = \ n∈N {x ∈ X; fn (x) > α} = B. T O conjunto B = n∈N {x ∈ X; fn (x) > α} pertence a χ, pois as funções fn são mensuráveis, então cada {x ∈ X; fn (x) > α} pertence a χ e, assim, a interseção enumerável desses conjuntos também pertence a χ. Seja x ∈ A, então f (x) > α, ou seja, inf fn (x) > α, então para todo n ∈ N temos α 6 inf fn (x) 6 fn (x), pela definição de ínfimo, assim x também pertence a {x ∈ X; fn (x) > α} para todo n, portanto x ∈ B. Se x ∈ B, então para todo n ∈ N temos fn (x) > α assim inf fn (x) > α, ou seja, f (x) > α e x ∈ A. Portanto, A = B e a função f (x) = inf fn (x) 87 também pertence a M (X, χ). ii. Suponha F (x) = sup fn (x) e observe que U = {x ∈ X; F (x) > α} = [ n∈N {x ∈ X; fn (x) > α} = W S O conjunto W = n∈N {x ∈ X; fn (x) > α} pertence a χ, pois as funções fn são mensuráveis, então cada {x ∈ X; fn (x) > α} pertence a χ e, assim, a união enumerável desses conjuntos também pertence a χ. Seja x ∈ U , então F (x) > α, ou seja, sup fn (x) > α, assim, para algum n ∈ N temos fn > α, logo x ∈ W . Se x ∈ W , então para algum n temos fn (x) > α, mas sup fn (x) > fn > α, então x ∈ U . Assim, U = W e, portanto, F (x) = sup fn (x) ∈ M (X, χ). iii. Suponha f ∗ (x) = lim inf fn (x), pela definição de limite inferior temos f ∗ (x) = sup inf fm (x) . n>1 m>n Mas inf fm (x) pertence a M (X, χ) pelo item (i) desse Lema e pelo item m>n (ii) sup inf fm (x) pertence a M (X, χ) . Portanto f ∗ (x) pertence a m>n n>1 M (X, χ). iv. Suponha F ∗ (x) = lim sup fn (x), pela definição de limite superior temos ∗ F (x) = inf sup fm (x) . n>1 m>n Mas sup fm (x) pertence a M (X, χ) pelo item (ii) desse Lema, e pelo m>n ítem (i) inf sup fm (x) também pertence a M (X, χ). Portanto F ∗ (x) n>1 m>n pertence a M (X, χ). Corolário 2.1. Seja (fn ) uma sequência de funções em M (X, χ) que converge pontualmente para f , então f ∈ M (X, χ). Demonstração: Suponha fn (x) → f (x) para cada x ∈ X, pelo Lema anterior, sabemos que lim inf fn (x) e lim sup fn (x) perten- Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS 88 cem a M (X, χ). Mas pela definição de limite, temos lim inf fn (x) = lim sup fn (x) = lim fn (x) para cada x ∈ X Como fn (x) → f (x) então f (x) = lim fn (x) para cada x ∈ X que pertence a χ, pelo Lema 2.4. Portanto, o limite de uma sequência de funções mensuráveis, também é mensurável. Lema 2.5. Seja f ∈ M (X, χ) uma função não negativa, então existe uma sequência (ϕn ) ∈ M (X, χ) que satisfaz i. 0 6 ϕn (x) 6 ϕn+1 (x) para cada x ∈ X e para todo n ∈ N. ii. f (x) = lim ϕn (x) para cada x ∈ X. iii. Cada ϕn possui apenas um número finito de valores reais, isto é, é uma função simples (Definição 4.1). Demonstração: Suponha f ∈ M (X, χ) e tal que f (x) > 0 para todo x ∈ X. Para cada n ∈ N, tome Ekn = x ∈ X; k · 2−n 6 f (x) < (k + 1)2−n para k = 0, 1, ..., n · 2n − 1. E para k = n · 2n , tome Ekn = {x ∈ X; f (x) > n} . Perceba que a) Os conjuntos Ekn são disjuntos para cada n, pois o extremo da direita do conjunto Ekn é o extremo da esquerda do conjunto Ek(n+1) . b) Cada Ekn pertence a χ, pois supomos f mensurável. S+∞ c) Perceba também que n=1 Ekn = X, pois por (a) temos que o extremo a direita de um conjunto Ekn é o extremo a esquerda do Ek(n+1) , 89 assim S+∞ i=1 Ekn é um intervalo de números reais. Além disso, temos que, para k = n · 2n , Ekn = {x ∈ X; f (x) > n} . Assim, o intervalo não é limitado superiormente. E ainda, para n = 1 e k = 0, temos que E01 1 = x ∈ X; 0 6 f (x) < 2 e como a função é não-nagativa, temos que S+∞ i=1 Ekn = X. Com isso, tome ϕn (x) = k · 2 para x ∈ Ekn e segue que: i. 0 6 ϕn (x) 6 ϕn+1 (x) para cada x ∈ X e para todo n ∈ N. −n ii. f (x) = lim ϕn (x) para cada x ∈ X. Pois tomamos ϕn (x) = k · 2−n para x ∈ Ekn , mas perceba que nos conjuntos Ekn = x ∈ X; k · 2−n 6 f (x) < (k + 1)2−n temos que nesses conjuntos x é tal que ϕ(x) 6 f (x) < ϕ(x)+2−n , assim para n grande o bastante temos que ϕ(x) está tão próxima quanto se queira da função f (x) para cada x. iii. Cada ϕn possui apenas um número finito de valores reais, pois tomamos apenas um número finito de Ekn . Esse lema pode ser representado pelo gráfico abaixo, no qual cada cor indica uma função da sequência. Observe que o Lema não exige convergência uniforme. Então para todo ε > 0 existe n0 (ε) ∈ N tal que se n > n0 então |f (x) − ϕn (x)| < ε para cada x ∈ X. O Lema 2.5 é de fundamental importância para o estudo da Integral de Lebesgue, pois nos garante a existência de uma sequência de funções simples que converge para uma função não negativa e mensurável, ou seja, para uma função que pertence a M + (X, χ). Mais do que isso, devemos lembrar que pela Observação 2.2 podemos tomar a parte positiva e a negativa de uma função, que são não negativas. Então para a parte positiva conseguimos uma sequência de funções e para a Capítulo 2. FUNÇÕES MENSURÁVEIS 90 Figura 6 – Sequência de funções conforme Lema 2.5 parte negativa também conseguimos uma sequência que cumprem as condições do lema acima. 91 3 MEDIDA No Capítulo 1 deste trabalho, definimos Medida Nula utilizando Coberturas e o comprimento de cada intervalo que compõe essa Cobertura. Porém essa não é a uma definição rigorosa para Medida. Neste Capítulo será definida e estudada Medida como uma função que associa a cada elemento da σ−álgebra um valor não negativo que pertence a R̄. Este capítulo, assim como capítulo anterior constituem uma preparação para o estudo da Integral de Lebesgue. Para alcançar esse objetivo será utilizado o livro de Bartle (1995). Definição 3.1 (Medida). Uma medida é uma função µ : χ → R̄ tal que i. µ(φ) = 0; ii. Para todo E ∈ χ, µ(E) > 0; iii. A função µ deve ser enumerável aditiva, isto é, seja (En )n∈N uma sequência de conjuntos em χ tal que En ∩ Em = φ para n 6= m então µ( [ n∈N En ) = ∞ X µ(En ). n=1 S Observação 3.1. No ítem (iii) desta definição, se ocorrer µ( n∈N En ) = P∞ +∞ então para algum n ∈ N temos µ(En ) = +∞ ou a série n=1 µ(En ) diverge. S Se µ( n∈N En ) < ∞, então a medida µ é dita finita. S Se existir uma sequência (En )n∈N ∈ χ tal que X = n∈N En e µ(En ) < +∞ para todo n ∈ N, então a medida µ é dita σ−finita. Exemplo 3.1. 1.Seja X 6= φ e χ uma σ−álgebra de X e tome p ∈ X fixo. Então a função Capítulo 3. MEDIDA 92 é uma medida. Pois, 0 se p ∈ /E µ(E) = 1 se p ∈ E 6= φ i. µ(φ) = 0, pois p ∈ / φ; ii. Para todo E ∈ χ, µ(E) > 0; iii. Se (En )n∈N é uma sequência disjunta de conjuntos em χ então se S p∈ / n∈N En então µ( [ En ) = 0 = S n∈N En , µ(En ) n=1 n∈N mas se p ∈ ∞ X então para um, e somente um, En temos p ∈ En , portanto µ( [ En ) = 1 = n∈N ∞ X µ(En ) n=1 2. Seja X = N e χ a σ−álgebra formada por todos os subconjuntos de N. Defina a função µ como: se E ∈ χ é finito, então µ(E) = #E e se E ∈ χ for infinito, então µ(E) = +∞. Então µ é uma medida. i. µ(φ) = #φ = 0, por definição; ii. Para todo E ∈ χ, µ(E) = #E > 0 ou µ(E) = +∞ > 0; iii. Se (En )n∈N é uma sequência disjunta de conjuntos em χ então µ( [ n∈N En ) = +∞ = ∞ X µ(En ) n=1 pois a união infinita da sequência disjunta é um conjunto infinito e a série é crescente sem limitante superior. 93 Observe que essa medida não é finita, porém é σ−finita, basta tomar a S sequência En = {n}, na qual #En = 1 para todo n ∈ N e n∈N En = N. 3. Seja X = R e B a Álgebra de Borel. A medida λ(E) = b − a com E = (a, b) é a única que coincide com o comprimento dos intervalos abertos e chama-se Medida de Lebesgue. Essa Medida não é finita, pois se tomarmos uma sequêcia de conjuntos En ∈ B então S λ( n∈N En ) = +∞, porém ela é σ−finita, basta tomarmos a sequência de todos os intervalos abertos de números reais de comprimento finito. 4. Seja X = R, B a σ−álgebra de Borel e seja f uma função contínua, monótona não decrescente. Existe única medida λf (E) = f (b) − f (a) definida em E = (a, b), que se chama Medida de BorelStieltjes gerada por f . Os próximos exemplos serão úteis para demonstrações do próximo capítulo. Exemplo 3.2. Seja µ uma medida em χ e seja A ∈ χ fixo, então λ(E) = µ(A ∩ E) é uma medida em χ. Suponha A ∈ χ um conjunto fixo, E ∈ χ qualquer e µ uma medida. i. Se A ∩ E = φ, então µ(φ) = 0, pois µ é medida. ii. Temos que o conjunto A ∩ E pertence a χ, pois A ∩ E = (Ac ∪ E c )c , que pertence a χ pela definição de σ−álgebra. Como A ∩ E ∈ χ, então µ(A ∩ E) > 0. iii. Seja (A ∩ E)j uma sequência disjunta de conjunto em χ. Então temos que (A ∩ E)j = (A ∩ Ej ) pois A é fixo, e como a sequência é disjunta os Ej devem ser disjuntos. Assim, temos +∞ +∞ +∞ +∞ X [ X [ µ(A∩E)j µ (A ∩ E)j = µ µ(A∩Ej ) = (A ∩ Ej ) = j=1 j=1 pois µ é medida e A ∩ Ej ∈ χ. Logo, µ(A ∩ E) é uma medida. j=1 j=1 Capítulo 3. MEDIDA 94 Exemplo 3.3. Sejam µ1 , ..., µn medidas em χ e a1 , ..., an números reais não negativos. Então a função λ definida em E ∈ χ por λ(E) = n X aj µj (E) j=1 é uma medida. De fato, como µj para j = 1, ...n são medidas, temos i. Se E = φ, então λ(E) = n X aj µj (E) = 0 j=1 pois µj (φ) = 0 para todo j = 1, ..., n. ii. Para todo E ∈ χ, temos λ(E) = n X aj µj (E) > 0 j=1 pois µj (E) > 0 e aj são não negativos para todo j = 1, ..., n. iii. Seja En uma sequência disjunta de conjuntos em χ, então temos λ +∞ [ i=1 Ei ! = n X aj µj a1 µ1 +∞ [ i=1 +∞ X Ei i=1 j=1 = +∞ [ Ei ! ! + ... + an µn a1 = i=1 n +∞ XX i=1 j=1 Ei i=1 µ1 (Ei )) + ... + an = +∞ [ +∞ X ! µn (Ei ) i=1 aj µj (Ei ) = +∞ X λ(Ei ) i=1 Logo, λ é enumerável aditiva. E assim λ é uma medida. Lema 3.1. Seja µ uma medida definida em uma σ−álgebra χ. Se E, F ∈ χ tais que E ⊂ F , então µ(E) 6 µ(F ). Além disso, se µ(E) < +∞, então µ(F − E) = µ(F ) − µ(E). 95 Demonstração: Sejam E, F ∈ χ, com E ⊂ F e suponha E 6= φ. Sabemos que (F − E) ∩ E = φ, então pela Definição 3.1 temos que µ[(F − E) ∪ E] = µ(F − E) + µ(E) Mas E ⊂ F , então (F − E) ∪ E = F , assim µ(F ) = µ(F − E) + µ(E) Como µ é uma medida então µ(F − E) > 0 e µ(E) > 0, então µ(F ) = µ(F − E) + µ(E) > µ(E) Portanto µ(F ) > µ(E). Além disso, se µ(E) < +∞ então podemos subtrair µ(E) em ambos os lados da expressão µ(F ) = µ(F −E)+µ(E), logo µ(F − E) = µ(F ) − µ(E). Esse Lema é evidente para a Álgebra de Borel tomando a medida de Lebesgue. Pois se (c, d) ⊂ (a, b), então temos que a 6 c 6 d 6 b, assim a distância entre a e b é maior ou igual a distância entre c e d. Lema 3.2. Seja µ uma medida definida em uma σ−álgebra χ. i. Se (En )n∈N é uma sequêcia não decrescente em χ, então S µ( n∈N En ) = lim µ(En ). ii. Se (Fn )n∈N é uma sequêcia não crescente em χ, então T µ( n∈N Fn ) = lim µ(Fn ). Demonstração: i. Suponha (En )n∈N uma sequência não decrescente de conjuntos em χ, ou seja, En ⊂ En+1 para todo n ∈ N. Se tivermos µ(En0 ) = +∞ para algum n0 então, pelo Lema 3.1, temos que para todo n > n0 µ(En ) = +∞, e pela Definição 3.1, temos que Capítulo 3. MEDIDA 96 S µ( n∈N En ) = +∞ = lim µ(En ), que satisfaz o Lema. Assim, suponha que µ(En ) < +∞ e defina a sequência de conjuntos (An )n∈N como A1 = E1 e An = En − En−1 para n > 1. Dessa forma, se n 6= m temos An ∩ Am = φ, além disso Sn 1. En = i=1 Ai , pois se x ∈ En , então x ∈ Ai para algum i ∈ S {1, ..., n} e se x ∈ ni=1 Ai , então x ∈ Ai para algum i ∈ {1, ..., n} e, como (En )n∈N é uma sequência não decrescente, x ∈ En . S+∞ S+∞ S+∞ 2. n=1 En = n=1 An , pois se x ∈ n=1 En , então x ∈ Ei para S+∞ S+∞ algum i ∈ N, assim x ∈ Ai , logo x ∈ n=1 An . E se x ∈ n=1 An , S+∞ então x ∈ Ai para algum i ∈ N, assim x ∈ Ei , logo x ∈ n=1 En . Desse ítem e pela definição de medida, segue que ! ! m +∞ +∞ X [ [ µ(An ) µ An = lim En = µ n=1 n=1 . n=1 Mas pelo Lema 3.1, como An = En − En−1 , temos µ(An ) = µ(En ) − µ(En−1 ), então m X µ(An ) = n=1 µ(E1 )+ [µ(E2 ) − µ(E1 )]+ [µ(E3 ) − µ(E2 )]+ ...+ [µ(Em ) − µ(Em−1 )] = µ(Em ) Segue que, µ( +∞ [ n=1 En ) = lim m X µ(An ) = lim µ(En ) n=1 S+∞ Portanto, µ( n=1 En ) = lim µ(En ). ii. Suponha (Fn )n∈N uma sequência não crescente em χ, ou seja, Fn+1 ⊂ Fn e suponha µ(F1 ) < +∞ assim, pelo Lema 3.1, temos que µ(Fn ) < +∞ para todo n ∈ N. Defina a sequência (En )n∈N , En = F1 − Fn 97 e observe que esta sequência é não decrescente, então pelo ítem (i) deste S+∞ Lema temos que µ( n=1 En ) = lim µ(En ). Mas, pelo Lema 3.1 sabemos que, como En = F1 − Fn , então µ(En ) = µ(F1 ) − µ(Fn ), logo ! +∞ [ µ En = lim[µ(F1 −Fn )] = lim[µ(F1 )−µ(Fn )] = µ(F1 )−lim µ(Fn ) n=1 Então, µ +∞ [ En n=1 ! = µ(F1 ) − lim µ(Fn ). T+∞ S+∞ Afirmo que n=1 En = F1 − n=1 Fn , que será provado no final da demonstração. Assim temos, ! ! +∞ +∞ [ \ µ En = µ(F1 ) − µ Fn . n=1 n=1 Dessa forma, µ(F1 ) − lim µ(Fn ) = µ(F1 ) − µ +∞ \ n=1 Fn ! . Portanto, µ +∞ \ n=1 Fn ! = lim µ(Fn ). Para concluir a demonstração, vamos provar que +∞ [ n=1 Se x ∈ En = F1 − +∞ \ Fn . n=1 S+∞ n=1 En , então x ∈ En = F1 − Fn para algum n ∈ N, dessa T+∞ T+∞ forma x ∈ F1 , então x ∈ F1 − n=1 Fn . E se x ∈ F1 − n=1 Fn , então S+∞ x ∈ F1 e, assim, x ∈ En = F1 − Fn , logo x ∈ n=1 En Definição 3.2 (Espaço de Medida). Um espaço de medida é um trio (X, χ, µ) formado pelo conjunto X, por uma σ−álgebra e por uma medida definida sobre essa. Capítulo 3. MEDIDA 98 Observação 3.2. Dizemos que uma propriedade vale em µ−quase todo ponto (µ−q.t.p) se existe um conjunto N ∈ χ de medida nula, isto é, µ(N ) = 0 tal que a propriedade vale em todo conjunto X − N . Observação 3.3. Se considerarmos B a Àlgebra de Borel e µ a medida de Lebesgue temos que apenas os intervalos degenerados possuem medida nula. Demonstração: De fato, seja I = [a, a] um intervalo degenerado, então sabemos que µ(I) = a − a = 0, portanto se um intervalo é degenerado, então possui medida nula. Agora suponha por absurdo que o intervalo J = [a, b] com a < b tenha medida nula, isto é, µ(J) = 0. Como a medida de J é 0, temos que b − a = 0, ou seja, b = a. Mas isso é um absurdo, pois supomos a < b. Portanto, se um intervalo é não degenerado, então não possui medida nula quando estivermos falando da Medida de Lebesgue. Exemplo 3.4. Tomando a Àlgebra de Borel e a medida de Lebesgue, temos que o Conjunto de Cantor (ver Anexo B) possui medida nula, pois não contém intervalos. Exemplo 3.5. Dizer que o conjunto dos pontos de descontinuidade de uma função tem medida nula (como nos teoremas 1.7 e 1.8) equivale a dizer que a função f é contínua em quase todo ponto de X. Definição 3.3 (Carga). Seja χ uma σ−álgebra de X, então a função real λ : χ → R é chamada de carga se i. λ(φ) = 0; ii. Seja (En )n∈N uma sequência de conjuntos em χ tal que En ∩Em = φ para n 6= m então P∞ S λ( n∈N En ) = n=1 λ(En ). 99 Assim, podemos dizer que Carga é uma generalização de Medida, pois satisfaz os itens (i) e (iii) definição de Medida, porém permite que os conjuntos E ∈ χ também possuam carga negativa. Com isso concluimos o estudo preliminar que precisavamos para formalizar a Integral de Lebesgue. 101 4 A INTEGRAL DE LEBESGUE A Integral de Riemann foi desenvolvida no século XIX, enquanto a Integral de Lebesgue foi desenvolvida no século seguinte. Mas qual a necessidade de elaborar uma nova integral envolvendo outra teoria? Certamente, a Integral de Lebesgue é mais vantajoa que a de Riemann, caso contrário não faria sentido outra formalização. Sendo assim, pretendemos mostrar que, de fato, existe vantagem de uma sobre a outra. Ao estudarmos a Integral de Riemann procuramos analisar as condições necessárias para obter alguns resultados que dizem respeito a integração. Ao estudarmos a Integral de Lebesgue iremos fazer a mesma abordagem, utilizando o livro de Bartle (1995), para depois compararmos as duas integrais. 4.1 HENRI LEBESGUE Henri Léon Lebesgue nasceu no ano de 1875 na cidade de Beausvais, na França, e faleceu em 1941 em Paris. Estudou Matemática na Escola Normal Superior de Paris, que foi frequentada por outros grandes matemáticos, na qual obteve o diploma em 1897. No ano de 1902, Henri Lebesgue formulou a Teoria de Medida com base na qual generalizou as integrais, através da Integral de Lebesgue, apresentando a Faculdade de Ciências de Paris com a tese Integrále, lougueur, aire. Além disso, Lebesgue também contribuiu para a Topologia, Séries de Fourier e cálculo variacional. Pelas suas obras recebeu diversos prêmios, dentre eles o Prêmio Poncelet, em 1914, foi eleito para a Academia de Ciências, em 1922, e várias universidades lhe concederam o título de Doutor honoris causa (O’CONNOR; ROBERTSON, 2004). Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 102 4.2 INTEGRAL DE LEBESGUE No Capítulo 2 provamos que para qualquer função mensurável, não negativa é possível encontrar uma sequência não decrescente, de funções que assumem apenas um número finito de números reias e que converge para a função em questão. Nos apropriando dessa verdade matemática, conseguiremos definir a integral para funções que se encaixam nesse contexto. Definição 4.1. Uma função real é dita simples se assume apenas uma quantidade finita de valores reais. Podemos representar uma função simples e mensurável ϕ : X → R como ϕ= n X a j χE j j=1 onde aj ∈ R e χEj 0 se x ∈ / Ej = 1 se x ∈ E j . No entanto, existe única representação padrão que se caracteriza pelo fato de que i. Se i 6= j então ai 6= aj e Ei ∩ Ej = φ. ii. Para todo j tivermos Ej 6= φ e, além disso, X = Sn j=1 Ej . Definição 4.2. Seja ϕ : X → R uma função simples em M + (X, χ) com representação padrão. Definimos a integral de ϕ relativamente a medida µ como Z ϕdµ = n X aj µ(Ej ) j=1 Observe que não há nenhuma restrição a integral ser infinita. R No entanto, pela definição, fica claro que ϕdµ > 0. Perceba que a única condição para definir a integral de uma função simples é que seja não negativa e mensurável. Além disso, podemos 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 103 comparar a integral de funções simples com a Soma Inferior relativa a uma partição, considerando que teremos retângulos cujas dimensões representam a medida de um conjunto En ∈ χ e o valor que a função simples assume nesse conjunto, porém não podemos garantir que a integral restrita a cada En represente a área do retângulo, isso depende da medida em questão. O Lema a seguir servirá de ferramenta para que, depois de definirmos a integral para funções mensuráveis e não negativas, possamos provar propriedades dessa integral. Lema 4.1. Sejam ϕ, ψ ∈ M + (X, χ) funções simples e c > 0. Então R c · ϕdµ = c · ϕdµ. R R R ii. ϕ + ψdµ = ϕdµ + ψdµ i. R iii. Se λ está definido em E ∈ χ por Z λ(E) = ϕχE dµ então λ é uma medida. Demonstração: i. Suponha c > 0 e ϕ = presentação padrão de ϕ. Como c > 0, então c·ϕ = n X Pn j=1 aj χEj a re- caj χEj j=1 é uma representação padrão para c · ϕ, pois c · ai 6= c · aj para i 6= j. Pela Definição 4.2, temos Z Mas Pn j=1 c · ϕdµ = aj µ(Ej ) = R n X j=1 c · aj µ(Ej ) = c · n X j=1 ϕdµ, portanto Z Z c · ϕdµ = c · ϕdµ aj µ(Ej ) Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 104 . ii. Suponha ϕ, ψ ∈ M + (X, χ) e sejam ϕ= n X a j χE j e ψ = j=1 m X bk χFk m X bk χFk k=1 suas representações padrões. Temos que, ϕ+ψ = n X a j χE j + j=1 Mas n X a j χE j + j=1 m X k=1 bk χFk = ϕ+ψ = (aj + bk )χEj ∩Fk , j=1 k=1 k=1 então n X m X n X m X (aj + bk )χEj ∩Fk . j=1 k=1 No entanto, essa não é a representação padrão, pois nada nos garante que os aj + bk são distintos. Sendo assim, vamos construir uma representação padrão para ϕ + ψ. Tome ch , com h = 1, ..., p os elementos distintos do conjunto {aj + bk ; j = 1, ...n e k = 1, ..., m} e sejam Gh o conjunto formando pelos Ej ∩ Fk 6= φ tais que se tenha os valores de ch , isto é, Gh = Note que, n[ Ej ∩ Fk ; aj + bk = ch o [ X µ(Ej ∩ Fk ) µ(Gh ) = µ( Ej ∩ Fk ) = (j,k) Agora temos que ϕ+ψ = p X h=1 c h χG h 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 105 é uma representação padrão para ϕ + ψ. Pela Definição 4.2, temos que Z ϕ + ψdµ = p X ch µ(Gh ) = h=1 = h=1 (j,k) p X X h=1 (j,k) = p X X n X m X j=1 k=1 ch µ(Ej ∩ Fk ) (aj + bk )µ(Ej ∩ Fk ) aj µ(Ej ∩ Fk ) + n X m X j=1 k=1 bk µ(Ej ∩ Fk ) S S Pn Como X = nj=1 Ej = m j=1 µ(Ej ∩ Fk ) = µ(Fk ) e k=1 Fk , então Pm µ(E ∩ F ) = µ(E ). Assim, temos j k j k=1 p X ch µ(Gh ) = n X aj µ(Ej ) + j=1 h=1 m X bk µ(Fk ) k=1 Logo, Z iii. Suponha Sn i=1 ϕ + ψdµ = Z ϕdµ + Z ψdµ. Ej = E e seja λ uma função definida em E ∈ χ por λ(E) = Z ϕχE dµ. Para demonstrar esse item vamos usar o seguinte fato Z Z µ(Ej ) = χEj dµ = χE∩Ej dµ pois para ψ(x) = 1 para todo x ∈ X, temos Z Mas como Sn i=1 ψ(x)χEj = n X 1µ(Ej ) j=1 Ej = E, temos n X j=1 1µ(Ej ) = n X j=1 1µ(Ej ∩ E) = Z χEj ∩E dµ. Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 106 Provado isso, temos, Z λ(E) = ϕχE dµ = = n X j=1 n X j=1 Assim, temos que λ(E) = n X j=1 aj µ(Ej ) = n X j=1 aj Z χEj ∩E dµ aj µ(Ej ∩ E). aj µ(Ej ∩ E) onde aj > 0 para j = 1, ..., n. Dos Exemplos 3.2 e 3.3 segue que λ(E) é uma medida. No Lema 2.5 garantimos a existência de uma sequência de funções simples e mensuráveis que converge para uma função mensurável e não negativa, nesse sentido podemos definir a integral de funções não negativas. Definição 4.3. Seja f ∈ M + (X, χ). Definimos a integral de f relativamente a medida µ como sendo o valor que pertence a R̄ tal que Z Z f dµ = sup ϕdµ onde o supremo é tomado relativo a todas as funções simples ϕ ∈ M + (X, χ) que satisfazem 0 6 ϕ(x) 6 f (x) para todo x ∈ X. Além disso, se E ∈ χ, então definimos a integral de f sobre E relativamente a medida µ como sendo o valor que pertence a R̄ tal que Z Z f dµ = f χE dµ E Perceba que na Definição de Integral de Riemann era necessário que a função fosse limitada, mas para a integral que estamos vendo agora é preciso, somente, que a função seja mensurável. Lema 4.2. i. Sejam f, g ∈ M + (X, χ) e f 6 g, então Z Z f dµ 6 gdµ 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 107 ii. Seja f ∈ M + (X, χ) e sejam E, F ∈ χ tais que E ⊂ F , então Z Z f dµ 6 f dµ E F Demonstração: i. Suponha f, g ∈ M + (X, χ) e f 6 g. Sabemos que, Z f dµ = sup ∈ ϕdµ e Z gdµ = sup ∈ ψdµ com 0 6 ϕ(x) 6 f (x) e 0 6 ψ(x) 6 f (x) para todo x ∈ X. Tome os conjuntos n n X X aj χEj e 0 6 ϕ(x) 6 f (x) aj µ(Ej ); ϕ = A= j=1 j=1 e B= ( m X bk µ(Fk ); ϕ = k=1 m X ) bk χFk e 0 6 ψ(x) 6 g(x) k=1 que são os cojuntos das integrais de todas as funções simples que satisfazem 0 6 ϕ(x) 6 f (x) e 0 6 ψ(x) 6 f (x) para todo x ∈ X. Por hipótese temos que 0 6 ϕ(x) 6 f (x) 6 g(x) para todo x ∈ X, Pn então A ⊂ B. Logo, temos que para todo [ j=1 aj µ(Ej )] ∈ A n X j=1 aj µ(Ej ) 6 sup B " m X # bk µ(Fk ) k=1 Assim, ( "m #) n X X sup aj µ(Ej ) 6 sup sup bk µ(Fk ) A j=1 A B k=1 Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 108 Pm Pm Mas sup sup [ k=1 bk µ(Fk )] = sup [ k=1 bk µ(Fk )], então A B B "m # n X X aj µ(Ej ) 6 sup sup bk µ(Fk ) A E portanto, B j=1 Z f dµ 6 Z k=1 gdµ. ii. Suponha f ∈ M + (X, χ) e sejam E, F ∈ χ com E ⊂ F . Observe que, 0 se x ∈ 0 se x ∈ /F /E e f χF = f χE = f se x ∈ F f se x ∈ E Então f χE 6 f χF e segue do ítem (i) deste teorema que Z Z f χE dµ 6 f χF dµ. Mas, pela Definição 4.3, sabemos que Z Z Z Z f dµ = f χF dµ f dµ = f χE dµ e F E Portanto, Z E f dµ 6 Z f dµ. F Teorema 4.1 (Teorema da Convergência Monótona). Seja (fn ) uma sequência não descrescente de funções em M + (X, χ) que converge para f , então Z f dµ = lim Z fn dµ Demonstração: Seja (fn ) uma sequência não descrescente tal que fn (x) → f (x) para todo x ∈ X. Como a sequência é não decrescente, então para cada x ∈ X temos 0 6 fn (x) 6 fn+1 (x) 6 f (x) para todo n ∈ N 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 109 Sendo assim, f ∈ M + (X, χ) pelo Lema 2.4. E pelo teorema anterior temos que Z fn (x) 6 Z f (x) Aplicando o limite em ambos os lados, obtemos Z Z lim fn (x) 6 f (x) . R R Agora vamos provar que lim fn (x) > f (x). Seja α ∈ R e tal que 0 < α < 1 e ϕ uma função simples tal que 0 6 ϕ(x) 6 f (x) para cada x ∈ X. E tome o conjunto An = {x ∈ X; fn (x) > αϕ(x)} Vamos assumir que An ∈ χ e provaremos no final da demonstração. S∞ Além disso, An ⊂ An+1 e n=1 An = X. Assim, pelo Lema 4.2 segue que Z Z Z fn dµ 6 αϕdµ 6 (4.1) fn dµ An An Como An é uma sequência não descrescente e Z Z ϕdµ ϕdµ = lim S∞ n=1 An = X, temos (4.2) An Tomando o limite em 4.1 temos Z Z αϕdµ 6 lim lim fn dµ 6 lim An An Z fn dµ E de 4.2 resulta que α Z ϕdµ 6 Z fn dµ Como α ∈ (0, 1) podemos tomar o limα→1 α = 1 e da expressão acima temos Z ϕdµ 6 Z fn dµ E como tomamos ϕ ∈ M + (X, χ) tal que 0 6 ϕ 6 f arbitrária, então Z Z Z f dµ = sup ϕdµ 6 fn dµ Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 110 Como 6 R f dµ 6 R fn dµ e Z fn dµ, então Z f dµ = lim fn dµ. R f dµ > R Para concluir a demonstração, vamos provar que An = {x ∈ X; fn (x) > αϕ(x)} ∈ χ Para os valores x tais que ϕ(x) = 0, temos que An = {x ∈ X; fn (x) > 0} que pertence a χ pois fn é mensurável. Agora suponha ϕ(x) 6= 0, então fn (x) >α An = x ∈ X; ϕ(x) fn (x) é mensurável, então An ∈ χ. Pelo Lema 2.2, saϕ(x) bemos que o produto de funções mensuráveis é uma função mensurável, 1 então, vamos provar que é mensurável. Seja o conjunto ϕ(x) 1 >k x ∈ X; ϕ(x) se provarmos que para k ∈ R. Se k = 0, então x ∈ X; 1 >0 ϕ(x) =X pois supomos ϕ(x) > 0, e por definição X ∈ χ. Se k > 0, então 1 1 > k = x ∈ X; ϕ(x) 6 x ∈ X; ϕ(x) k que pertence a χ, pois ϕ é mensurável. Se k < 0, então 1 1 x ∈ X; > k = x ∈ X; ϕ(x) > ϕ(x) k que também pertence a χ por ϕ ser mensurável. Portanto, An ∈ χ. Perceba que, com o Teorema da Convergência Monótona, já conseguimos uma troca do limite com o sinal da Integral de Lebesgue 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 111 em uma sequência de funções monótonas e integráveis que converge, enquanto para a Integral de Riemann conseguimos apenas no Teorema de Passagem ao Limite sob o sinal de Integral, que exigia convergência uniforme da sequência. Corolário 4.1. Sejam f, g ∈ M + (X, χ) e c > 0 então i. c · f ∈ M + (X, χ) e . ii. f + g ∈ M + (X, χ) e Z . Z c · f dµ = c · f + gdµ = Z Z f dµ f dµ + Z gdµ Demonstração: i. Suponha f ∈ M + (X, χ) e c > 0. Como f é uma função não negativa, então, pelo Lema 2.5, existe uma sequência de funções simples (ϕn ), não decrescente e tal que ϕn (x) → f (x) para cada x ∈ X. Como c > 0 então c · f ∈ M + (X, χ) e pelo Teorema da Convergência Monótona, temos Z Z Z Z c · f dµ = lim c · ϕn dµ = c · lim ϕn dµ = c f dµ ii. Suponha f, g ∈ M + (X, χ). Como f > 0 e g > 0 são mensuráveis, então f + g > 0 e é mensurável pelo Lema 2.2, além disso a função f + g está bem definida. Como f, g são funções não negativas então, pelo Lema 2.5 existem sequências de funções simples (ϕn ) e (ψn ), não decrescentes e tais que ϕn (x) → f (x) e ψn (x) → g(x) para cada x ∈ X. Então pelo Teorema da Convergência Monótona e pelo Lema 4.2 temos que Z Z Z Z f + gdµ = lim ϕ + ψdµ = lim ϕdµ + ψdµ = Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 112 lim Z ϕdµ + lim Z ψdµ = Z f dµ + Z gdµ Observe a importância do Teorema da Convergência Monótona e do Lema 2.5 para a Integral de Lebesgue de funções não-negativas. R R R R Pois conseguimos provar que c · f dµ = c · f dµ e f + gdµ = f dµ + R gdµ, com bastante facilidade, enquanto para a Integral de Riemann, se fez necessário um estudo usando a oscilação de f no intervalo na qual está definida. Lema 4.3 (Lema de Fatou). Se (fn ) ∈ M + (X, χ) então Z Z (lim inf fn )dµ 6 lim inf fn dµ Demonstração: Suponha (fn ) ∈ M + (X, χ) e tome a sequên- cia que representa gm = inf {fm , fm+1 , ...} inf fn da Definição 2.4. Como gm representa o ínfimo n>m deste conjunto então temos que gm 6 fn para todo n > m, portanto gm é uma sequência monótona não decrescente e Z Z gm dµ 6 fn dµ para n > m Como R R fn dµ 6 lim inf fn dµ, temos que Z Z gm dµ 6 lim inf fn dµ Além disso, temos que gm → sup m inf fn , pois gm = inf fn e n>m n>m como gm 6 gm+1 , temos que gm → sup {gm }, Anexo A.7, portanto m lim gm = sup inf fn . E como gm é uma sequência não decrescente m n>m de funções não negativas, pelo Teorema da Convergência Monótona, temos que Z (lim inf fn )dµ = lim Z gm dµ 6 lim inf Z fn dµ. 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 113 O Lema de Fatou nos traz outra relação para a integral do limite de uma sequência de funções integráveis não negativas, embora não seja uma igualdade, irá facilitar algumas demonstrações, inclusive a do Teorema da Convergência Dominada. Corolário 4.2. Seja f ∈ M + (X, χ), se λ está definida sobre χ por Z f dµ λ(E) = E então λ é uma medida. Demonstração: Suponha f ∈ M + (X, χ). i. Se E = φ, então fχE = 0 para todo x ∈ X. Então Z f dµ = 0 E . ii. Como f ∈ M + (x, χ), então f (x) > 0 para todo x ∈ X, segue do Lema 4.2 que 06 Z f dµ E para todo E ∈ χ. iii. Seja (En ) ∈ χ uma sequência tal que En ∩ Em = φ para n 6= m com S E= ∞ n=1 En defina fn = n X k=1 f χEk ⇒ fn → ∞ X f χEk = fχE (4.3) k=1 Segue da expressão acima e do Corolário 4.1 que Z fn = Z X n k=1 f χEk = n Z X f χEk = k=1 n X λ(Ek ) k=1 Note que fn é uma sequência monótona não decrescente, pois fn+1 = n X k=1 f χEk + f χEn+1 > n X k=1 f χEk = fn (4.4) Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 114 Pelo Teorema da Convergência Monótona temos Z Z lim fn dµ = lim fn dµ Mas Z lim fn dµ = Z fχE = Z f dµ = λ(E) = λ E ∞ [ Ek k=1 ! E, pela Expressão 4.4, lim Z fn dµ = lim n Z X f χEk = k=1 ∞ Z X f χEk = k=1 ∞ X λ(Ek ) k=1 Portanto, λ ∞ [ k=1 Ek ! Dessa forma, λ(E) é uma medida. = ∞ X λ(Ek ). k=1 Podemos comparar o item (iii) da demonstração deste corolário, com a Teorema 1.3, pois nos diz que podemos calcular a integral das restrições de f em cada conjunto Ek ∈ χ da sequência (En ) ∈ χ, que é disjunta, e somá-las para obter o valor da integral da função restrita a união desses conjuntos. Corolário 4.3. Seja f ∈ M + (X, χ). Então f (x) = 0 em quase todo ponto se, e somente se, Z f dµ = 0. Demonstração: (⇐) Suponha f ∈ M + (X, χ) e Tome a sequência de conjuntos (En ) ∈ χ tais que 1 En = x ∈ X; f (x) > n R f dµ = 0. que são os conjuntos onde a função f (x) > 0, então vamos provar que os conjuntos En tem medida nula. S∞ 1 Perceba que n=1 En = X, pois lim = 0 e como f ∈ M + (X, χ) n 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 115 temos que f (x) > 0 para todo x ∈ X. 1 Como f > χEn temos que n Z Z 1 f dµ > χE dµ n n R Mas temos por hipótese que f dµ = 0, então Z Z Z 1 1 χE dµ = χEn dµ 0 = f dµ > n n n R Pela Definição 4.2 temos que χEn dµ = µ(En ), então resulta da expressão acima que 1 0 > µ(En ) n 1 Mas > 0, e µ(En ) > 0, portanto n 1 µ(En ) > 0 n 0> E assim, µ(En ) = 0. (⇒) Suponha f (x) = 0 em quase todo ponto. Tome o conjutno E = {x ∈ X; f (x) > 0} então, como f (x) = 0 em quase todo ponto, temos que µ(E) = 0. E defina fn = nχE , então f 6 lim inf fn , pois a sequência fn tende ao infinito, Z Z 0 6 f dµ 6 (lim inf fn )dµ Mas pelo Lema 4.3 temos que Z Z (lim inf fn )dµ 6 lim inf fn dµ E além disso temos Z fn dµ = Z nχE dµ = Z E pois µ(E) = 0. Logo, 06 Z f dµ 6 0 ndµ = 0 Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 116 e, portanto, Z f dµ = 0. Corolário 4.4. Seja f ∈ M + (X, χ) e seja a função Z λ(E) = f dµ E definida sobre χ. Se µ(E) = 0, então λ(E) = 0. Demonstração: Seja λ(E) = Z f dµ E e suponha µ(E) = 0. Assim, f χE = 0 em quase todo ponto de X pois f (x) 6= 0 apenas no conjunto E que tem medida nula. Então, pelo Corolário 4.3, temos Mas Z Z f χE dµ = 0 f χE dµ = Z f dµ = λ(E). E Portanto, se µ(E) = 0, então λ(E) = 0. Corolário 4.5. Seja (fn ) ∈ M + (X, χ) uma sequência monótona não decrescente que converge em quase todo ponto de X para f ∈ M + (X, χ), então Z Z f dµ = lim fn dµ. Demonstração: Suponha (fn ) ∈ M + (X, χ) uma sequência monótona não decrescente e seja N ∈ χ tal que µ(N ) = 0 e que fn (x) → 4.2. INTEGRAL DE LEBESGUE 117 f (x) para cada x ∈ M = X −N . Assim, temos que fn (x)χM → f (x)χM para todo x ∈ X. Logo, pelo Teorema da Convergência Monótona temos Z Z f χM dµ = lim fn χM dµ Como µ(N ) = 0 então as funções f χN = 0 e fn χN = 0 em quase todo ponto de X, segue do Corolário 4.3 que Z Z f χN dµ = 0 e fn χN dµ = 0 Como X = M ∪ N temos que f = f χN + f χM e fn = fn χN + fn χM , então Z Z Z Z Z f dµ = f χN dµ + f χM dµ = lim fn χM dµ + fn χN dµ = lim Portanto, Z f n χM Z Z + fn χN dµ = lim fn dµ. f dµ = lim Z fn dµ. Esse corolário amplia o Teorema da Convegência Monótona, pois nos diz que não é necessário que a sequência seja convergente para todo x ∈ X, basta que seja convergente em quase todo ponto. Corolário 4.6. Seja (gn ) uma sequência em M + (X, χ), então ! Z X ∞ Z ∞ X gn dµ. gn dµ = n=1 n=1 Demonstração: Suponha (gn ) uma sequência em M + (X, χ) e defina fn = n X gk n=1 dessa forma, fn é monótona não decrescente e tal que fn = n X n=1 gk → ∞ X n=1 gk = f Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 118 Então Z X ∞ gk dµ = n=1 Z f dµ = lim Z fn dµ = lim Z X n gk dµ = lim n=1 n Z X gk dµ n=1 Portanto, ∞ X Z ! gn dµ = n=1 ∞ Z X gn dµ. n=1 Agora que fizemos um estudo para a integral de funções mensuráveis não negativas, podemos abordar as funções que também assumem valores negativos. 4.3 FUNÇÕES INTEGRÁVEIS Definição 4.4. A coleção L = L(X, χ, µ) das funções integráveis é R formado por todas as funções f : X → R tais que f + dµ < +∞ e R − f dµ < +∞. E definimos a integral de f relativamente a µ como Z Z Z + f dµ = f dµ − f − dµ Se o conjunto E ∈ χ então definimos a integral de f relativamente a µ como Z E f dµ = Z E f + dµ − Z f − dµ E Perceba que a única condição para que exista a Integral de Lebesgue de uma função é que a sua parte positiva e a negativa possuam integrais finitas, enquanto a Integral de Riemann exige que a função seja contínua em quase todo ponto. Observação 4.1. Sejam f1 , f2 ∈ M + (X, χ) tais que f = f1 − f2 , R R f1 dµ < +∞ e f2 dµ < +∞ então Z Z Z f dµ = f1 dµ − f2 dµ 4.3. FUNÇÕES INTEGRÁVEIS 119 De fato, suponha f = f1 − f2 e sabemos que f = f + − f − , então f1 − f2 = f + − f − f1 + f − = f + + f2 Como f1 + f − ∈ M + (X, χ) e f + + f2 ∈ M + (X, χ) temos Z Z − f1 + f dµ = f + + f2 dµ Pelo corolário 4.1 temos que Z Z Z Z − + f1 dµ + f dµ = f dµ + f2 dµ Além disso, sabemos que as funções f1 , f2 , f + , f − possuem integrais finitas, portanto Z Z Z Z f1 dµ − f2 dµ = f + dµ − f − dµ R R R Mas pela Definição 4.4, temos que f + dµ − f − dµ = f dµ, logo Z Z Z f dµ = f1 dµ − f2 dµ Lema 4.4. Se f ∈ L e λ está definido em λ : χ → R como Z f dµ λ(E) = E então λ é uma carga. Demonstração: Suponha f ∈ L, sendo assim temos que R R f = f − f − com f + dµ < +∞ e f − dµ < +∞ e temos que Z Z Z + f − dµ f dµ − f dµ = + E E E Pela definição de parte positiva e parte negativa de uma função, sabemos que f + ef − ∈ M + (X, χ), logo, pelo Corolário 4.2, Z Z + f − dµ f dµ e λ2 (E) = λ1 (E) = E E Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 120 são medidas. E temos que λ(E) = λ1 (E) − λ2 (E) Fixado isso, segue que i. Se E = φ temos λ(φ) = λ1 (φ) − λ2 (φ), então λ(φ) = 0, pois λ1 , λ2 são medidas ii. Seja En uma sequência disjusta de conjuntos que pertencem a χ, então ! ! ! ∞ ∞ ∞ [ [ [ En λ En + λ2 En = λ1 Note que n=1 λ1 En ⊂ X, então pelo Lema 4.2, temos que ∞ [ En n=1 λ2 n=1 n=1 n=1 S∞ ∞ [ ! En n=1 Z = S∞ ! n=1 Z = S∞ f + dµ 6 En Z f − dµ 6 n=1 En f + dµ < ∞ e Z f − dµ < ∞ Mas λ1 e λ2 são medidas, então são enumeráveis aditivas, logo ∞ X λ(En ) = n=1 ∞ X n=1 λ1 (En ) − ∞ X λ2 (En ) n=1 Então, ∞ X λ(En ) = n=1 Logo, ∞ X n=1 λ ∞ [ n=1 En ! λ1 (En ) − λ2 (En ) = ∞ X n=1 Portanto, a função λ define uma carga. λ(En ) 4.3. FUNÇÕES INTEGRÁVEIS 121 Essa função λ é chamada de integral indefinida de f relativamente a medida µ e pelo item (ii) da demonstração acima vemos que a integral é uma função enumerável aditiva, portanto, podemos particionar o conjunto X, calcular a integral em cada intervalo da partição e somar esses valores para obtermos o valor da integral da função em X. Teorema 4.2. Uma função f ∈ L se, e somente se, |f | ∈ L. Além disso, Z Z f dµ 6 |f | dµ. Demonstração: (⇒) Suponha f ∈ L, sabemos que f = f + − R f − e f + dµ < +∞ e f − dµ < +∞. Pela Observação 2.2 temos que |f | = f + + f − , dessa forma temos R |f |+ = f + + f − e |f |− = 0 Observe que, usando o Corolário 4.1, Z Z Z Z |f |+ dµ = f + + f − dµ = f + dµ + f − dµ < ∞, pois temos uma soma finita de valores finitos. Assim, a função |f | satisfaz as condições da Definição 4.4, temos Z Z Z |f |dµ = |f |+ dµ − |f |− dµ Mas Z |f | dµ = Z f Z Z f + + f − dµ = + Logo |f |dµ = E, portanto, |f | ∈ L. + − Z + + f dµ = f dµ + Z Z − |f | dµ = 0dµ = 0. Z Z f − dµ e Z f − dµ f + dµ + (⇐) Suponha f uma função mensurável e tal que |f | ∈ L. Como na parte (⇒) deste Teorema, temos |f |+ = f + + f − e |f |− = 0 Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 122 e tais que Z Como temos que Z f + + f − dµ < ∞ e f + + f − dµ = Z Z f + dµ + |f |− dµ = 0 Z f − dµ < ∞, Z f + dµ < ∞ e f − dµ < ∞ R caso contrário teríamos f + + f − dµ = ∞. Pela Observação 2.2 temos que f = f + − f − . Desse modo f satisfaz as condições da Definição 4.4 e temos que Z Z f dµ = Z f + dµ − Z f − dµ Portanto, f ∈ L. Além disso, temos Z Z Z Z Z f dµ = f + dµ − f − dµ 6 f + dµ + f − dµ R R Mas f + e f − são funções não negativas, então f + dµ > 0 e f − dµ > 0, logo Z Z Z Z f + dµ + f − dµ = f + dµ + f − dµ = Z Z + f + f − dµ = |f | dµ Portanto, Z Z f dµ 6 |f | dµ. Corolário 4.7. Se f é mensurável, g é integrável e |f | 6 |g|, então f é integrável e Z Z |f |dµ 6 |g|dµ. Demonstração: Suponha f é mensurável, g é integrável com |f | 6 |g|. Sabemos que |f | = f + + f − ∈ M + (X, χ) e |g| ∈ M + (X, χ). Então, pelo Lema 4.2, segue que Z Z |f |dµ 6 |g|dµ 4.3. FUNÇÕES INTEGRÁVEIS 123 Além disso, como g é integrável, então Sendo assim, R Z |f |dµ = Z f + dµ + R Z |g|dµ < ∞, logo f − dµ < ∞ R f + dµ < ∞ e f − dµ < ∞ logo Z Z Z + f dµ = f dµ − f − dµ e, portanto, f ∈ L. Nesse corolário, vimos uma função mensurável f tal que |f | 6 |g|, com g integrável. Nesse caso, dizemos que a função f é dominada pela função g. Teorema 4.3. Seja α ∈ R, f, g ∈ L. Então i. α · f ∈ L e ii. f + g ∈ L e Z Z αf dµ = α f + gdµ = Z Z f dµ. f dµ + Z gdµ. Demonstração: i. Suponha α ∈ R, f ∈ L. Se α = 0, temos que αf = 0, então αf ∈ L. Pelo Lema 1.2, temos que se A é um conjunto limitado e α > 0 temos que sup(α · A) = α sup A, então vamos usar esse fato abaixo. Se α > 0, temos que (αf )+ = sup {αf, 0} = α sup {f, 0} = αf + (αf )− = sup {−αf, 0} = α sup {−f, 0} = αf − R R Como f é integrável, temos que αf + dµ < ∞ e αf − dµ < ∞, então Z Z Z + αf dµ = αf dµ − αf − dµ Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 124 Mas f + e f − são não negativas, então pelo Corolário 4.1, temos Z Z Z Z Z + − + − αf dµ = α f dµ − α f dµ = α f dµ − f dµ Portanto, se α > 0, temos Z αf dµ = α Z f dµ. Se α < 0, temos que −α > 0 e assim (αf )+ = sup {αf, 0} = sup {(−α)(−f ), 0} = −α sup {−f, 0} = −αf − (αf )− = sup {−αf, 0} = −α sup {f, 0} = −αf + R R Como f é integrável, temos que αf + dµ < ∞ e αf − dµ < ∞, então Z Z Z − αf dµ = −αf dµ − −αf + dµ Mas f + e f − são não negativas e −α > 0, então pelo Corolário 4.1, temos Z Z Z Z Z − + + − αf dµ = −α f dµ + α f dµ = α f dµ − f dµ Portanto, se α < 0, temos Z αf dµ = α Z f dµ. E assim, se α ∈ R, temos que αf ∈ R e Z Z αf dµ = α f dµ. ii. Suponha f, g ∈ L. Então sabemos que Z Z Z f dµ = f + dµ − f − dµ < ∞ Z gdµ = Z g + dµ − Z g − dµ < ∞ Como f = f + − f − e g = g + − g − , então f + g = f + − f − + g + − g − = (f + + g + ) − (f − + g − ). Como f, g são integráveis, então as suas 4.4. TEOREMA DA CONVERGÊNCIA DOMINADA 125 partes positivas e negativas possuem integrais finitas, então as funções (f + +g + ) e (f − +g − ) também possuem, e pela Observação 4.1 podemos usar essas funções para encontrarmos a integral de f + g. Desse modo, a função f + g satisfaz as condições da Definição 4.4 e temos Z Z Z + + f + gdµ = (f + g )dµ − (f − + g − )dµ Mas as funções f + , f − , g + e g − pertencem a M + (X, χ), então Z Z Z Z Z Z + + − − + + − (f +g )dµ− (f +g )dµ = f dµ+ g dµ− f dµ− g − dµ = Z f + dµ − Portanto, f + g ∈ L e Z Z Z Z f − dµ + g + dµ − g − dµ f + gdµ = Z f dµ + Z gdµ. 4.4 TEOREMA DA CONVERGÊNCIA DOMINADA O Teorema da Convergência Dominada junto com o Teorema de Passagem ao Limite sob o Sinal de Integral representam os resultados mais importantes deste trabalho, pois nos mostram a maior vantagem que uma integral tem sobre a outra. Para demonstrar o Teorema da Convergência Dominada, vamos precisar do seguinte fato lim inf (−xn ) = − lim sup (xn ) Pois, inf (−xn ) n>m m lim inf(−xn ) = sup m n>m Mas pelo Lema 1.2 temos, sup inf (−xn ) = sup − sup xn = −inf sup xn m n>m m n>m Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 126 Portanto, lim inf(−xn ) = − lim sup xn Teorema 4.4 (Teorema da Convergência Dominada). Seja (fn ) : X → R uma sequência de funções em L que converge em quase todo ponto para f : X → R mensurável. Se existe uma função g integrável tal que |fn | < g para todo n ∈ N, então f é integrável e Z Z f dµ = lim fn dµ. Demonstração: Suponha que (fn ) : X → R convirja para f em quase todo ponto, desse modo, pelo Corolário 2.1 temos que f é mensurável. Sendo assim, como fn só não converge para f em um conjunto de medida nula, vamos supor que fn (x) → f (x) para cada x ∈ X. Suponha também que exista uma função g integrável tal que |fn | 6 g para todo n ∈ N, assim temos que −g 6 fn 6 g, ou seja, temos fn + g > 0 e g − fn > 0 para todo n ∈ N. Como |fn | 6 g e supomos fn (x) → f (x) para cada x ∈ X, então lim |fn | 6 lim g Mas lim |fn | = |f |, então |f | 6 g 6 |g| E pelo Corolário 4.7, temos que f é integrável. Além disso, temos que fn + g > 0 para todo n é mensurável, pois fn , g são mensuráveis e pelo Lema 2.2 a soma de funções mensuráveis é mensurável. Sendo assim, fn + g ∈ M + (X, χ). Desse modo, vale o Lema de Fatou Z Z lim inf [fn + g] dµ 6 lim inf [fn + g] dµ Como fn (x) → f (x) temos que lim inf fn = lim fn = f e, usando o Teorema 4.3, temos Z Z Z Z f dµ + gdµ 6 lim inf fn dµ + gdµ 4.4. TEOREMA DA CONVERGÊNCIA DOMINADA 127 Sabendo que g é integrável, temos Z Z f dµ 6 lim inf fn dµ. Agora vamos provar que Z f dµ > lim inf Z fn dµ. Temos que g − fn > 0 é mensurável pelo Lema 2.2, então g − fn ∈ M + X, χ, então pelo Lema de Fatou Z Z lim inf [g − fn ] dµ 6 lim inf [g − fn ] dµ Como fn (x) → f (x) temos que lim inf fn = lim fn = f e, usando o Teorema 4.3 e sabendo que g é integrável, temos Z Z Z − f dµ 6 lim inf −fn dµ = lim inf − fn dµ Mas lim inf − R R fn dµ = − lim sup fn dµ então, temos que Z Z f dµ > lim sup fn dµ. Logo, temos que lim sup Z fn dµ 6 Z f dµ 6 lim inf Z fn dµ R R Mas lim sup fn dµ > lim inf fn dµ. Portanto, Z Z Z lim sup fn dµ = f dµ = lim inf fn dµ R R E como lim sup fn dµ = lim inf fn dµ, segue que Z f dµ = lim Z fn dµ. Observe que, para a Integral de Lebesgue, trocar o limite com o sinal da integral é necessário, apenas, que a sequência de funções Capítulo 4. A INTEGRAL DE LEBESGUE 128 integráveis fn convirja em quase todo ponto para a função f e que todos os elementos dessa sequência sejam limitados por uma função integrável, isto é, sejam dominados por essa função. Exemplo 4.1. Para calcular o limite Z +∞ xn dx lim n→+∞ 0 1 + xn+2 xn podemos verificar qual o limite da sequência de funções e, se 1 + xn+2 as condições do Teorema da Convergência Dominada forem satisfeitas, aplicá-lo. (PIRES, 20??) Como sempre temos 1 + xn+2 > 1, então xn 6 xn 6 1 se 0 < x < 1 1 + xn+2 E para x > 1, temos xn xn 1 6 n+2 = 2 n+2 1+x x x Assim, a sequência é dominada pela função g : [0, ∞[ definida por 1 se 0 < x < 1 g(x) = 1 se x > 1 x2 que é integrável. Além disso, 1 se 0 < x < 1 xn = lim n→+∞ 1 + xn+2 1 se x > 1 x2 Dessa forma, as condições do Teorema da Convergência Dominada estão satisfeitas e, no próximo capítulo, vamos provar que a Integral de Lebesgue é a Integral de Riemann quando tomamos a Álgebra de Borel e a Medida de Lebesgue, então lim n→+∞ Z 0 +∞ xn dx = 1 + xn+2 = +∞ xn dx n→+∞ 1 + xn+2 0 Z 1 Z +∞ 1 0dx + dx = 1 2 x 0 1 Z lim 129 5 A COMPARAÇÃO DAS INTEGRAIS No início do Capítulo 4 deste trabalho, sugerimos que uma integral representa vantagem sobre a outra, neste capítulo iremos abordar quais são essas vantagens. Para isso, iremos relembrar superficialmente a construção das duas integrais. Além disso, vamos ver como uma integral pode ser vista como um caso particular da outra. 5.1 A INTEGRAL DE RIEMANN Para construir a Integral de Riemann, inicialmente, foram definidas a Soma Superior e a Inferior de uma função f : [a, b] → R limitada relativas a uma partição para o intervalo [a, b], e representavam uma aproximação para a área limitada pela função. E a partir desses dois conceitos definiram-se a Integral Inferior e a Superior como sendo Z b f (x)dx = sup s(f ; P ) e P a Z¯ b f (x)dx = inf S(f ; P ) P a A fim de que uma função limitada seja integrável segundo Riemann, é necessário que Z b f (x)dx = a Z¯ b f (x)dx. a Com o teoremas 1.7 e 1.8 percebemos como o conceito de continuidade para Integral de Riemann é importante. Para que uma função seja integrável segundo Riemann é necessário e suficiente que seja contínua em quase todo ponto. Capítulo 5. A COMPARAÇÃO DAS INTEGRAIS 130 Concluindo o estudo dessa integral, demonstramos o Teorema de Passagem ao Limite sob o sinal de Integral que nos mostra condições para que seja possível fazer a troca entre o sinal da integral com o limite da seguinte forma Z b Z b lim fn (x)dx = lim f (x)dx. a n→+∞ n→+∞ a Para isso é necessário que a sequêcia de funções integráveis fn seja uniformemente convergente. 5.2 A INTEGRAL DE LEBESGUE A construção da Integral de Lebesgue inicia-se com o estudos das funções mensuráveis e de medidas. Concluído esse estudo preliminar, foi definida a integral de uma função ϕ : X → R simples, não negativa e mensurável, como o somatório Z n X aj µ(Ej ). ϕdµ = j=1 No capítulo 2, vimos que o Lema 2.5 nos garante que para qualquer função f : X → R mensurável, não negativa existe uma sequência não decrescente ϕn : X → R de funções simples que converge para a função f . Com isso, define-se a Integral de Lebesgue para funções mensuráveis e não negativas como Z Z f dµ = sup ϕdµ onde este supremo é tomado em relação a todas as funções simples ϕ tais que 0 6 ϕ(x) 6 f (x), que nos é garantido que existe pelo lema que acabamos de mencionar. Perceba que esta Integral que foi definida para funções não negativas pode representar a área delimitada pela função, no entanto é necessário que a medida µ coincida com o comprimento dos conjuntos Ej que pertecem a σ−álgebra. Concluído o estudo para funções não negativas, vimos que para uma função mensurável f ser integrável segundo Lebesgue é necessário 5.3. LEBESGUE GENERALIZA RIEMANN 131 que as integrais da parte positiva e da negativa sejam finitas e define-se a integral dessa função como Z Z Z f dµ = f + dµ − f − dµ. Assim, para uma função mensurável ser Lebesgue integrável é necessário que tenha integral finita. Finalizando o estudo da integral de Lebesgue, provamos o Teorema da Convergência Dominada que nos diz quando e como a troca entre o sinal da integral e o limite pode ser feita. Nesse caso é necessário, apenas, que a sequência de funções integráveis fn seja convergente, em quase todo ponto, e dominada por uma função integrável, o que é mais simples do que ter convegência uniforme. 5.3 A INTEGRAL DE LEBESGUE GENERALIZA A INTEGRAL DE RIEMANN Seja f : [a, b] → R uma função limitada e não negativa. Suponha χ = B = {Ei = [ti−1 , ti ]; (ti−1 , ti ) ⊂ [a, b]} a Álgebra de Borel para o intervalo [a, b] e seja µ(Ei ) = ti − ti−1 , a medida de Lebesgue. Pelo Exemplo 2.2, sabemos que f é mensurável. Ora, a Álgebra de Borel contém todas as partições possíveis para o intervalo [a, b]. Sabemos que a integral de Riemann da função é dada por Z b f (x)dx = sup s(f ; P ). P a E a integral de Lebesgue é dada por Z Z f dµ = sup ϕdµ. ϕ Tome os conjuntos R = {s(f ; P ); P é partição} e Q= Z ϕdµ; ϕ é uma função simples e 0 6 ϕ(x) 6 f (x) Capítulo 5. A COMPARAÇÃO DAS INTEGRAIS 132 Suponha s(f ; P ) ∈ R, então s(f ; p) = n X i=1 mi (ti − ti−1 ) mas (ti − ti−1 ) = µ(Ei ), então s(f ; p) = n X mi µ(Ei ) i=1 Como P é uma partição então uma função Sn ϕ= i=1 Ei = [a, b] e assim, podemos definir n X m i χE i i=1 que é simples, pois existem apenas um número finito de intervalos na partição P e, além disso, em cada intervalo Ei existe apenas um mi = inf f |Ei . Como supomos f não negativa e pela definição de ínfimo, temos que 0 6 ϕ(x) 6 f (x) para cada x ∈ [a, b]. Logo, R ⊂ Q e, assim, sup R 6 sup Q. R Agora suponha ϕdµ ∈ Q, então Z ϕdµ = n X ai µ(Ei ) com ϕ = i=1 n X a i χE i i=1 e tal que 0 6 ϕ(x) 6 f (x) para cada x ∈ [a, b]. Perceba que em cada conjunto Ei ∈ B temos que a função simples que atinge o maior valor nesse intervalo deve coincidir com o ínfimo mi da função em cada um desses conjuntos, pois se mi = inf f |Ei então mi 6 f (x) para todo x ∈ Ei Suponha que exista uma função simples ϕ tal que no intervalo Ei assuma o valor ai = mi + ε, então, temos que ai não é ínfimo da função neste intervalo, assim existe algum x ∈ Ei tal que mi < f (x) < mi + ε, neste caso a função ϕ não satisfaz a condição de que 0 6 ϕ(x) 6 f (x) para todo x ∈ [a, b]. Logo, a maior função em cada Ei ∈ B corresponde 5.3. LEBESGUE GENERALIZA RIEMANN 133 ao ínfimo da função em cada um desses intervalos e, assim, sup Q não pode ser maior que sup R. Portanto, quando estamos trabalhando com funções limitadas, usando Álgebra de Borel e a medida de Lebesgue temos que sup R = sup Q, ou seja, Z a b f (x)dx = Z f dµ. Observação 5.1. Para concluirmos a igualdade acima, supomos f não negativa, mas isso vale para toda função limitada, o que pode ser verificado facilmente usando a integral da parte positiva e da negativa, nos apropriando de que f = f + − f − e aplicando os teoremas 1.4 para a Integral de Riemann e 4.3 para Integral de Lebesgue. Agora, como sabemos que a Integral de Riemann é uma Integral de Lebesgue podemos dizer que todo estudo feito para a segunda se aplica a primeira, no entanto não podemos dizer o contrário. Assim, não é necessário que uma função seja contínua em quase todo ponto para ser integrável segundo Riemann, basta que os valores das integrais da parte positiva e da negativa sejam finitos. Além disso, a fim de aplicar o Teorema de Passagem ao limite sob o Sinal de Integral é necessário que a sequência de funções integráveis, segundo Riemann, seja uniformemente convergente, porém sabemos que é suficiente que a sequência seja convergente e dominada por uma função integrável, como nos afirma o Teorema da Convergência Dominada. Portanto, vemos que a teoria por trás da Integral de Riemann não é tão forte quanto a de Lebesgue, sendo assim, a primeira teoria precisa de muitas condições para demonstrar os resultados, enquanto a outra é menos rigorosa em relação as funções, porém mais bem elaborada. 135 CONCLUSÃO Com esse trabalho, tinhamos por objetivo principal mostrar que a Integral de Lebesgue possui vantagens sobre a Integral de Riemann e, por fim, mostrar que esta é um caso particular daquela. No primeiro capítulo desse trabalho, foi formalizada a integral mais conhecida nos cursos de graduação, podendo provar que os teoremas vistos durante esse estágio decorrem da Definição de Integral de Riemann. Isso pode não ter ficado claro no estudo feito durante a graduação, principalmente, pelo fato de que o estudo desse conceito iniciou-se com o cálculo da Função Primitiva, quando, na verdade, isso decorre da Definição que vimos no referido capítulo. Nesse mesmo capítulo, vimos quão importante é o conceito de continuidade para essa Integral, sendo necessário e suficiente, que uma função seja contínua para ser integrável. Nos dois capítulo seguintes, pudemos conhecer e estudar uma teoria que não foi vista na graduação, no entanto é uma teoria simples para ser compreendida, porém muito rigorosa. No Capítulo 4, baseado no estudo feito nesses dois capítulos, foi definida e estudada a Integral de Lebesgue. Vimos que a fim de uma função mensurável ser Lebesgueintegrável é necessário apenas que as integrais de sua parte positiva e da negativa sejam finitas. No último capítulo desse trabalho as duas integrais foram comparadas e foi provado que tomando a Álgebra de Borel, a medida de Lebesgue e supondo a função limitada podemos ver a Integral de Riemann como uma Integral de Lebesgue, no entanto, a Integral de Lebesgue, por adimitir funções mensuráveis segundo uma σ−álgebra e qualquer medida definida neste conjunto, não pode ser vista como um caso particular da primeira e sim como uma generalização. Além disso, Conclusão 136 nos exemplos do Capítulo 2, vimos que uma função contínua, considerando a Álgebra de Borel, é mensurável, e como no Capítulo 1 definimos a Integral de Riemann em um intervalo compacto, é evidente que a integral de Riemann de uma função contínua é finita, portanto é Lebesgue-integrável. Nesse sentido, podemos dizer que a Integral de Lebesgue é mais vantajosa que a Integral de Riemann, pois exige menos condições para integrabilidade de funções, especialmente, no que se refere ao processo da troca de limite com o sinal de integral. Vimos que a Integral de Riemann é uma Integral de Lebesgue, mas a teoria de Lebesgue é mais forte do que a teoria de Riemann. Porém é necessário ressaltar que o estudo da Integral de Riemann é mais acessível a cursos de graduação, sendo a forma mais natural de calcular áreas de regiões limitadas por funções. Sendo assim, podemos dizer que as duas integrais apresentam vantagens, a primeira é mais natural e a segunda é mais abrangente. 137 Referências BARTLE, R. G. The Elements of Integration and Lebesgue Measure. 2a. ed. New York: Wiley Classics Library, 1995. Citado 3 vezes nas páginas 75, 91 e 101. EVES, H. Introdução à história da Matemática. Tradução: Hygino h. domingues. Campinas: Editora da Unicamp, 2004. Citado na página 21. LIMA, E. L. Análise Real - Funções de Uma Variável. 11a. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2012. Citado 3 vezes nas páginas 21, 141 e 143. O’CONNOR, J. J.; ROBERTSON, E. F. Henri léon lebesgue. Scotland, 2004. Disponível em: <www-history.mcs.st-andrews.ac.uk/Biographies/Lebesgue.html>. Acesso em: 06 Nov, 2013. Citado na página 101. PIRES, G. Integrabilidade. 20?? Disponível em: <www.math.ist.utl.pt/˜jmourao/AMIII/integra.pdf>. Acesso em: 10 Dez, 2013. Citado na página 128. RIBEIRO, A. A.; KARAS, E. W. Otimização Contínua - Aspectos teóricos e computacionais. Curitiba: [s.n.], 2013. Citado na página 56. Anexos 141 ANEXO A – TEOREMAS IMPORTANTES Seguem alguns teoremas importantes retirados do livro de Lima (2012). Teorema A.1 (Teorema de Weierstrass). Seja f : X → R contínua no conjunto compacto X ⊂ R. Existem x0 , x1 ∈ X tais que f (x0 ) 6 f (x) 6 f (x1 ) para todo x ∈ X. Teorema A.2. Seja X ⊂ R compacto. Toda função contínua f : X → R é uniformemente contínua. Teorema A.3 (Teorema Borel-Lebesgue). Toda cobertura aberta de um conjunto compacto possui uma subcobertura finita. Teorema A.4. Se f, g : I → R são funções contínuas, deriváveis no interior de I, com f ′ (x) = g ′ (x) para todo x que pertence ao interior de I, então existe c ∈ R tal que g(x) = f (x) + c para todo x ∈ I. Teorema A.5 (Teorema do Sanduíche). Sejam f, g, h : X → R, a ∈ X ′ e limx→a f (x) = limx→a g(x) = L. Se f (x) 6 h(x) 6 g(x) para todo x ∈ X − {a}, então limx→a h(x) = L. Teorema A.6. Dada uma sequência decrescente X1 ⊃ X2 ⊃ ... ⊃ Xn ⊃ ... de conjuntos compactos não-vazios, existe (pelo menos) um número real que pertence a todos os Xn . Teorema A.7. Toda sequência monótona limitada é convergente. Teorema A.8. Seja f : X → R uma função monótona limitada. ′ ′ , existem L = limx→a+ f (x) e e todo b ∈ X− Para todo a ∈ X+ M = limx→b− f (x). 142 ANEXO A. TEOREMAS IMPORTANTES Teorema A.9. Seja f : [a, b] → R uma função contínua. Se f (a) < d < f (b), então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d. 143 ANEXO B – CONJUNTO DE CANTOR O procedimento para obter o Conjunto de Cantor, assim como a demonstração de suas propriedades, podem ser encontrados de maneira mais detalhada no livro de Lima (2012). Segue, de forma resumida, a definição desse conjunto e suas propriedades que se encontram no mesmo livro. Retira-se do intervalo [0, 1] seu terço médio aberto. Depois retira-se o terço médio aberto de cada um dos intervalos restantes e assim se repete o procedimento indefinidamente. O conjunto dos pontos não retirados é o Conjunto de Cantor, que possui as seguintes propriedades: i. É compacto; ii. Tem interior vazio (não contém intervalos); iii. Não contém pontos isolados (todos seus pontos são de acumulação); iv. É não-enumerável.
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