revista brasileira de agropecuária sustentável

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revista brasileira de agropecuária sustentável
ISSN 2286-9724 (ONLINE)
ISSN 2178-5317 (CD-ROM)
REVISTA BRASILEIRA DE
AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
(RBAS)
BRAZILIAN JOURNAL OF
SUSTAINABLE AGRICULTURE
(BJSA)
Volume 2 - Número 01
Volume 2 - Number 01
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
Julho - 2012
July - 2012
REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
(RBAS)
BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE
(BJSA)
Editorial
A REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL - RBAS (BRAZILIAN
JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE) tem publicação semestral (Julho e Dezembro)
de trabalhos inéditos, dentro das normas de formatação exigidas e áreas relacionadas à sustentabilidade
da agropecuária.
Os trabalhos podem ser submetidos para publicação nas áreas de Agricultura Familiar,
Agroecologia, Educação do Campo, Ciência, Tecnologia e Inovação, Cooperativismo e Associativismo,
Economia, Economia Solidária, Entomologia, Extensão Rural, Fitopatologia, Forragicultura, Meio
Ambiente, Mudanças Climáticas, Políticas Públicas, Produção Animal, Produção Vegetal, Ruralidade,
Solos e Urbanização, com ênfase na sustentabilidade atual e futura.
Os trabalhos podem ser submetidos em língua portuguesa, inglesa e espanhola. Este periódico
não faz qualquer restrição à titulação acadêmica mínima para submissão de trabalhos, cuja
avaliação é feita por dois ou três revisores ad hoc e pelo Corpo Editorial. O conteúdo dos
artigos publicados é de exclusiva responsabilidade de seus autores e os direitos de publicação
são da RBAS, sendo o conteúdo disponibilizado com acesso livre na Internet (www.rbas.com.br).
Os Artigos devem conter de 10 a 25 páginas, os Relatos de Experiência de 5 a 10 páginas,
as Resenhas de 5 a 10 páginas e as Revisões de 10 a 25 páginas.
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da
Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa
Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS) = Brazilian Journal of Sustainable
Agriculture (BJSA)
vol.2, n.1 (jul. 2012) - 162p. - Viçosa, MG : Os Editores, 2012.
CD-ROM
Semestral
Publicação em Português e Inglês
ISSN: 2178-5317 (CD-ROM)
ISSN 2286-9724 (ONLINE)
1. Agropecuária – Periódicos. I. Brazilian Journal of Sustainable Agriculture (BJSA).
II. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável.
CDD 22. ed. 630
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS)
BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA)
Editor Chefe:
Rogério de Paula Lana – Ph.D. em Animal Science pela Cornell University, Ithaca, NY, USA. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Corpo Editorial:
Rogério Martins Maurício – Ph.D. em Ciência Animal pela The University of Reading, Inglaterra. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal de São João Del Rei.
Harold Ospina Patino – Pós-doutorado pela Universidade de Guelph, Canadá. Professor e Pesquisador
da Unversidade Federal do Rio Grande do Sul.
Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho – Pós-doutorado em Bem-estar animal pela University of British
Columbia. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria.
Anderson Moura Zanine – Pós-Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso.
Gumercindo Souza Lima – Doutorado em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Cristina Mattos Veloso – Pós-doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professora
e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.
Rosane Cláudia Rodrigues – Doutorado em Qualidade e Produtividade Animal pela Faculdade de Zootecnia
e Engenharia de Alimentos, USP. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão.
Luis Humberto Castillo Estrada – Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor
e Pesquisador da Universidade Estadual do Norte do Fluminense Darcy Ribeiro.
Vanderley Porfírio da Silva – Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná.
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Revisão Linguística:
Nilson Adauto Guimarães da Silva – Doutorado em Letras Neolatinas pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Secretária:
Geicimara Guimarães – Graduanda em Gestão de Cooperativas da Universidade Federal de Viçosa.
Conselho científico:
Ana Ermelinda Marques – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa.
André Soares de Oliveira – Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador
da Universidade Federal do Mato Grosso.
Antônio Bento Mancio – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da
Universidade Federal de Viçosa.
Augusto Hauber Gameiro – Doutorado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Professor e Pesquisador da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto – Doutorado em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federal
de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
Cleide Maria Ferreira Pinto – Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora
da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Dilermando Miranda da Fonseca – Pós-doutorado pela University of Florida. Professor e Pesquisador
da Universidade Federal de Viçosa.
Domício do Nascimento Júnior – Ph.D. pela University of Arizona. Professor e Pesquisador da Universidade
Federal de Viçosa.
Domingos Sávio Paciullo – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisador da Embrapa
Gado de Leite.
Domingos Sávio Queiroz – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisador da Empresa
de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Henrique Nunes Parente – Doutorado em Zootecnia (Forragicultura) pela Universidade Federal da Paraíba.
Professor e Pesquisador do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão.
Irene Maria Cardoso – Doutorado em Ciências Ambientais pela Wageningen University Researcher
Center. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.
Jacson Zuchi – Doutorado Sanduíche em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e University
of California, Davis. Pesquisador da FEPAGRO NORDESTE.
João Carlos de Carvalho Almeida – Doutorado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho. Professor e Pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
José Carlos Fialho de Resende – Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade
de São Paulo. Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Junia Marise Matos de Sousa – Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadora
da Universidade Federal de Viçosa.
Marcelo José Braga – Pós-Doutorado pela University of California at Davis, UCD, Estados Unidos.
Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Marcelo Miná Dias – Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Maria Aparecida Nogueira Sediyama – Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa.
Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Maria Cristina Baracat Pereira – Doutorado em Bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.
Maria Elizabete de Oliveira – Doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília. Professora e Pesquisadora
pela Universidade Federal do Piauí.
Maria de Fátima Ávila Pires – Doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Milton Ferreira de Moraes – Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade
de São Paulo. Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Paraná.
Nora Beatriz Presno Amodeo – Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.
Paulo Roberto Gomes Pereira – Doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade
Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Sérgio Yoshimitsu Motoike – Doutorado em Natural Resources And Environmental Sciences pela University
Of Illinois At Urbana Champaign. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Théa Mirian Medeiros Machado – Pós-Doutorado Visiting Scholar pela University of Western Austrália
(UWA). Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.
Viviane Silva Lirio – Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
PARECERISTAS AD HOC DO VOLUME 2, NÚMERO 1, ANO 2012, DA REVISTA BRASILEIRA DE
AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS)/ BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA):
Anderson Moura Zanine - Pós-Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso.
Augusto Hauber Gameiro - Doutorado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Professor e Pesquisador da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto - Doutorado em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federal de
Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Cleide Maria Ferreira Pinto - Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora
da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Cristina Mattos Veloso - Pós-doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professora
e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa.
Cristina Soares de Souza - Doutorado em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa.
Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Cristiano Gonzaga Jayme - Doutorado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas
Gerais. Professor e Pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste de
Minas Gerais - Campus Rio Pomba.
Daniel Arruda Coronel - Doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria.
Ernane Ronie Martins - Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense.
Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais.
Fabíola Villa - Pós Doutrado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Professora e
Pesquisadora pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Henrique Nunes Parente - Doutorado em Zootecnia (Forragicultura) pela Universidade Federal da Paraíba.
Professor e Pesquisador do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão.
Jacson Zuchi - Doutorado Sanduíche em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e University
of California, Davis. Pesquisador da FEPAGRO NORDESTE.
José Carlos Peixoto Modesto da Silva - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa.
Junia Marise Matos de Sousa - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisador
da Universidade Federal de Viçosa.
Luis Humberto Castillo Estrada - Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor
e Pesquisador da Universidade Estadual do Norte do Fluminense Darcy Ribeiro.
Maira Christina Marques Fonseca - Pós-Doutorado em Microbiologia no CPQBA-UNICAMP. Pesquisadora
da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Maria Aparecida Nogueira Sediyama - Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa.
Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
Maria Elizabete de Oliveira - Doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília. Professora e Pesquisadora
da Universidade Federal do Piauí.
Rafael Monteiro Araújo Teixeira - Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador
do Instituto Federal do Triângulo Mineiro - IFTM.
Rogério de Paula Lana - Ph.D. em Animal Science pela Cornell University, Ithaca, NY, USA. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
Rogério Martins Maurício - Ph.D. em Ciência Animal pela The University of Reading, Inglaterra. Professor
e Pesquisador da Universidade Federal de São João Del Rei.
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
Solidete de Fátima Paziani - Doutorado em Ciência Animal e Pastagens pela USP/ESALQ, Piracicaba.
Pesquisadora da APTA/SAA.
Tatiana Cristina da Rocha - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadora
da Universidade Federal de Minas Gerais.
Thiago de Oliveira Vargas - Doutorado em Fitotecnia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal
de Viçosa/Department of Environmental Studies, University of California at Santa Cruz.
Vanderley Porfírio da Silva - Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná.
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Weber Vilas Bôas Soares - Doutorado pela Universidade de São Paulo. Pesquisador científico da Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios.
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
ISSN 2286-9724 (ONLINE)
ISSN 2178-5317 (CD-ROM)
REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS)
BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA)
Volume 02
Volume 02
Número 01
Number 01
July
Jul ho
2012
2 01 2
Sumário
Summary
Economia (Economy)
Michelle Lucas Cardoso Balbino. Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do
bem-estar social (Ecological economics and contemporary: economic components for environmental
protection and the warranty of social welfare). ...................................................................................... 1
Paulo Alexandre Nunes, Carmem Ozana de Melo, Diego Teixeira. A participação do setor madeireiro
na economia das microrregiões geográficas do Paraná – 2009 (Sector participation in the economy
of timber micro geographic Paraná – 2009). .......................................................................................... 8
Extensão rural (Rural extension)
Diego Neves de Sousa, Cleiton Silva Ferreira Milagres, Marcelo Miná Dias, Dayane Rouse Neves
Sousa, Cléverson Silva Ferreira Milagres. Formalização e geração de renda: o caso da assessoria
à padaria artesanal comunitária “mãos de fibra” (Formalisation and income generation: the case
of advice in padaria artesanal comunitária “mãos de fibra”) ......................................................... 21
Fitotecnia, fitopatologia e solos (Phytotechny, phytopatology and soils)
Telma Miranda dos Santos, Patrícia Silva Flores, Sílvia Paula de Oliveira, Danielle Fabíola Pereira
da Silva, Cláudio Horst Bruckner. Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em
sementes do maracujá-de-restinga (Effects of storage periods and methods of overcoming dormancy
in seeds of passiflora) .................................................................................................................................. 26
João Paulo Lemos, João Carlos Cardoso Galvão, Antônio Alberto da Silva, Anastácia Fontanetti, Lorena
Moreira Carvalho Lemos. Efeito da roçada das espécies Bidens pilosa e Commelina benghalensis
nas características morfológicas do milho (Effect of clearings of Bidens pilosa and Commelina benghalensis
species on morphological characteristics of corn) ................................................................................ 32
Ciro de Miranda Pinto, Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto, João Bosco Pitombeira. Mamona e girassol
no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica (Castor bean and sunflower
intercropping systems in row arrangement: biological efficiency). .................................................... 41
Edmilson Igor Bernardo Almeida, Wellington Souto Ribeiro, Lucas Cavalcante da Costa, Hélder Horácio
de Lucena, José Alves Barbosa. Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Areia
(PB) (Fresh vegetable lost sketching on trade in the municipal district of Areia (PB) .................... 53
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
Leila Cristina Rosa de Lins, Rosana Gonçalves Pires Matias, Danielle Fabíola Pereira da Silva, Robson
Ribeiro Alves, Luiz Carlos Chamhum Salomão. Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo
em lichia (Chitosan on delaying of the darkening of the pericarp in lychee) .............................. 61
Rosana Gonçalves Pires Matias, Danielle Fabíola Pereira da Silva, Leila Cristina Rosa de Lins, Robson
Ribeiro Alves, Luiz Carlos Chamhum Salomão. Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento
do pericarpo de lichia (Hydrothermal treatment in prevention browning of lychee pericarp) ..... 68
Marília Cristina dos Santos, Ana Maria Resende Junqueira, Veríssimo Gibran Mendes de Sá, José
Cola Zanúncio, Marcos Alexandre Bauch, José Eduardo Serrão. Efeito do silício em aspectos comportamentais
e na história de vida de Tuta absoluta (meyrick) (lepidoptera: gelechiidae) (Effect of silicon on behavioral
aspects and life history of Tuta absoluta (meyrick) (lepidoptera: gelechiidae))........................... 76
Bruno Grossi Costa Homem, Onofre Barroca de Almeida Neto, Alberto Magno Ferreira Santiago, Gustavo
Henrique de Souza. Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios
de animais (Dispersion of clay caused by fertirrigation with animal wastewater)........................... 89
Marisa Senra Condé, Bruno Grossi Costa Homem, Onofre Barroca de Almeida Neto, Alberto Magno Ferreira
Santiago. Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos químicos
e físicos (Effect of application of animal wastewater in soil: chemical and physical attributes) ..... 99
Forragicultura e produção animal (Forage science and animal production)
Renata de Souza Reis, Sérgio Luiz de Toledo Barreto, Heder José D’avila Lima, Eriane de Paula,
Jorge Cunha Lima Muniz, Raquel Mencalha, Gabriel da Silva Viana, Lívia Maria dos Reis Barbosa.
Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período
de 40 a 52 semanas de idade (Replacement of limestone flour for egg shell in the diet of japanese
quail in the period from 40 to 52 weeks of age) ............................................................................... 107
Hugo Freitas Sobreira, Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Dilermando Miranda da Fonseca,
Sérgio Yoshimitsu Motoike, José Carlos Peixoto Modesto da Silva, Geicimara Guimarães. Casca e
coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas à base de silagem
de milho (Bark and coconut of macaw palm added to concentrate for crossbred lactating cows on
corn silage based diet) ............................................................................................................................... 113
Renata de Souza Reis, Sérgio Luiz de Toledo Barreto, Eriane de Paula, Raquel Mencalha, Gabriel
da Silva Viana, Lívia Maria dos Reis Barbosa, Jorge Cunha Lima Muniz. Níveis de suplementação
de colina na dieta de codornas japonesas em postura (Levels of choline supplementation in the diet
of laying japanese quails) ......................................................................................................................... 118
Rosane Cláudia Rodrigues, Daniel de Oliveira Souza Lima, Luciano da Silva Cabral, Luiz Pedro de
Melo Plese, Walcylene Lacerda Matos Pereira Scaramuzza, Tereza Cristina Alves Utsonomya, Jefferson
Costa de Siqueira, Ana Paula Ribeiro de Jesus. Produção e morfofisiologia do capim Brachiaria brizantha
cv. Xaraés sob doses de nitrogênio e fósforo (Production and morphophysiology of Palisadegrass
Brachiaria brizantha cv. Xaraés under nitrogen and phosphorus fertilization) ........................... 124
Meio ambiente (Environment)
Carlos Fernando Lemos, Flávio Barbosa Justino, Luiz Cláudio Costa, John Edmund Lewis Maddock.
Distribuição espacial do índice de Haines para Minas Gerais por análise da média atmosfera (Spatial
distribution of the Haines index for Minas Gerais by analysis of average atmosphere) ............. 132
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
Kelly de Oliveira Barros, José Marinaldo Gleriani, Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro, Elias
Silva. O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento
remoto (Desertification studies using remote sensing techniques: a framework and state-of-theart survey) ..................................................................................................................................................... 144
Haroldo Wilson da Silva, Kléber Pelícia. Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de
biodigestão anaeróbica (Layers solid waste management by anaerobic digestion process) ........ 151
Sâmara de Oliveira Fófano, Rolf Puschmann, Thais Covre Delboni, Alana de Oliveira Pereira Vilete.
Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos (Strategies for a participatory
management of solid waste collection) ................................................................................................... 156
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el
Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social
1
ECONOMIA ECOLÓGICA: ENTRE A PROTEÇÃO AMBIENTAL E A
GARANTIA DO BEM-ESTAR SOCIAL
Michelle Lucas Cardoso Balbino1
RESUMO – As externalidades negativas para a sociedade têm origem no fato de as empresas não pagarem
pela utilização dos recursos naturais nem dos serviços ambientais no processo de produção de bens e serviços.
Espontaneamente, as empresas não internalizarão os custos sociais associados às externalidades, uma vez que
todas buscam reduzir custos num cenário de concorrência cada vez mais intensa. Somente por meio da ação
concertada dos movimentos sociais organizados, dos governos, do ministério público e do poder judiciário,
os custos das externalidades negativas serão contabilizados nos custos de produção das empresas. Neste sentido,
a Teoria de Pigou de internalização das externalidades negativas contém instrumentos econômicos eficazes
para promover a proteção dos recursos naturais e dos serviços ambientais. Contudo, a aceitabilidade social
de uma nova gestão de recursos da natureza, na qual se considera a proteção dos recursos naturais e dos serviços
ambientais como fator a ser priorizado para a manutenção do bem-estar social, é um grande problema por
afetar as vantagens competitivas das empresas. Entretanto, ela se justifica quando se considera que a utilização
dos recursos da natureza e a degradação do meio ambiente na produção de bens finais são locais, enquanto
o seu consumo é realizado em toda a parte.
Palavras-chave: Bem-estar social, custos sociais, internalização das externalidades, proteção ambiental.
ECOLOGICAL ECONOMICS AND CONTEMPORARY: ECONOMIC
COMPONENTS FOR ENVIRONMENTAL PROTECTION AND THE WARRANTY
OF SOCIAL WELFARE
ABSTRACT - The negative externalities for society have their origin in fact that companies do not pay
for the use of natural resources or environmental services in the production of goods and services.
Spontaneously, companies do not inter nalize the soc ial costs asso ciated with externalities, since they
all seek to re duce costs in a scenario of increasingly intense competition. Only through the c oncerted
effort of organized soc ial movements, govern ments, public prosecu tors and the judiciary, the c osts of
negative externalities are accounted for in production costs of enterprises. In this direction, the theory
of the Pigovian internalization of negative externalities contains effective economic instruments to promote
the protection of natural resources and environmental se rvice s. However, the social ac ceptability of
a new resource management nature, which considers the protection of natural resources and environmental
services as a factor to be prioritized for the maintenance of social welfare, is a great problem to affect
the competitive advantages of companies. Meanwhile, it is justified when one considers the use of nature
resources and environmental degradation in the production of final goods are local, while their consumption
is done everywhere.
Keywords: Agribusiness, family agriculture, sustainability.
1
Aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental da Universidade Federal
de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected]
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12
2
BALBINO, M.L.C.
1. INTRODUÇÃO
2. MATERIAL E MÉTODOS
A economia do bem-estar, por ser vista como um
campo marginal da teoria econômica, com grande
dificuldade na definição do que vem a ser bem-estar2,
é um campo propício para a formação de conflitos, que
causam sérios problemas a toda a sociedade, pois a
necessidade de realização social de forma individualizada
sempre é ponderada acima dos interesses coletivos,
não se observando os critérios da justiça, que giram
em torno do conceito de utilidade.
A metodologia utilizada para a construção do tema
teve como base a realização de o um estudo exploratório
através de revisão bibliográfica, analisando-se livros,
revistas, artigos, teses, monografias e dissertações
referentes ao tema.
A utilidade sempre foi taxada no campo ético, ou
seja, no ponto de vista depreciativo, pois não é possível
fazer comparações interpessoais. Contudo, o
relacionamento entre a economia moderna e a ética
é visto de forma depreciativa, contrariando o ideal clássico
da economia, para o qual a ética era o padrão a ser
seguido. Assim, tem-se que o bem-estar social depende
do nível de satisfação de todas as pessoas.
Apesar destas dificuldades, no contexto
contemporâneo da economia do bem-estar, a ética deve
ser observada também nas questões ambientais, por
meio de mecanismos de proteção aos ecossistemas.
Surge então a ideia da internalização das
externalidades, segundo a qual o custo marginal
existente em uma empresa deve necessariamente
incorporar os custos associados à utilização e à
degradação dos recursos naturais públicos, tornandose necessário estabelecer custos adicionais pelo uso
dos bens naturais comuns, em virtude de sua escassez,
e fazendo com que o preço praticado pela empresa
seja maior do que o preço praticado no mercado de
economia perfeita.
Nasce, então, o problema relevante abordado neste
trabalho, que é a aceitabilidade social de uma nova
gestão dos recursos naturais, considerando-se a sua
proteção como um fator a ser priorizado para a manutenção
da qualidade de vida, ou seja, o bem-estar social passa
a ser fundamental na gestão dos recursos naturais e
dos serviços ambientais, utilizando-se os custos sociais
e a internalização das externalidades para alcançar a
sua proteção.
2
Os livros utilizados abordam questões inerentes
ao Direito Econômico e o Desenvolvimento Sustentável,
todos adquiridos por meio de recursos próprios.
O período de coleta de materiais se deu entre os
meses de dezembro de 2011 e janeiro de 2012, sendo
que os critérios utilizados para a busca e seleção dos
materiais incluíram, preferencialmente, publicações
posteriores ao ano de 2006.
Através dos dados coletados, foi possível trazer
ao estudo questões que puderam auxiliar na construção
do texto, chegando-se, assim, às considerações finais,
fato que agregou qualidade às discussões empreendidas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Custos sociais e internalização das externalidades:
componentes econômicos para a proteção ambiental
A cada geração, as demandas por consumo
aumentam de forma alarmante. Este fato, iniciado com
a Revolução Industrial no século XVIII e intensificado
no pós-Segunda Guerra Mundial, tornou-se o propulsor
do crescimento econômico sustentado. Porém, o
crescimento econômico acaba gerando custos e
benefícios à sociedade e, na grande maioria das vezes,
esses custos não são ressarcidos e os benefícios não
são recebidos, nascendo então as externalidades ou
efeitos externos.
Motta (2006, p.182) aponta que “as externalidades
estão presentes sempre que terceiros ganham sem pagar
por seus benefícios marginais ou perdem sem serem
compensados por suportarem o malefício adicional”.
Já Nusdeo (2009, p.152) descreve que “o nome
externalidade ou efeito externo não quer significar fatos
ocorridos fora das unidades econômicas, mas sim fatos
ou efeitos ocorridos fora do mercado, externos ou
A história do conceito de Bem-estar é recente, o primeiro a estudar o termo na concepção em que é vista atualmente foi W. Wilson,
em 1960, o autor relacionou os conceitos de Satisfação e de Felicidade numa perspectiva Base-Topo, conhecida como Bottom Up, e TopoBase, ou Top Down, sendo que a Satisfação imediata das necessidades traz a Felicidade, enquanto a persistência de necessidades por satisfazer
causa Infelicidade (Galinha & Ribeiro, 2005).
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12
Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social
paralelos a ele, podendo ser vistos como efeitos
parasitas”.
Assim, pelo fato de as atividades produtivas afetarem
diretamente o meio ambiente, gerando externalidades
que não serão ressarcidas à sociedade nem lhe trarão
benefícios, os cálculos privados em relação a esses
custos e benefícios diferem dos cálculos públicos.
Quando não há o ressarcimento dos custos, a
externalidade é considerada como negativa, enquanto
que quando existe transferência não compensada dos
benefícios, a externalidade é vista como positiva ou
benefício social (Nusdeo, 2009).
[...] deseconomias externas [são] os efeitos sociais
danosos da produção privada, e de economias externas
[são] os efeitos de aumento de bem-estar social
da produção privada. Em ambos os casos, tanto
positivo como negativo, o mercado não transporta
todas as informações necessárias para que seus
agentes (empresas e consumidores) realizem a
alocação ótima de fatores (Derani, 2009, p. 91).
De modo geral, a sociedade é atingida por
externalidades negativas, danos decorrentes da produção
privada, sem que haja a devida recompensa. Nestas
condições, o custo marginal de produção não agrega
todos os custos envolvidos. Assim, o custo social
é maior do que o custo privado, pois os custos inerentes
aos danos causados ao meio ambiente não estão sendo
contabilizados, uma vez que os serviços ambientais
não estão sendo considerados como mercadorias, ou
seja, a empresa não paga pelo seu uso.
O contexto de externalidades negativas leva à
crença de que os recursos naturais e os serviços
ambientais, já escassos, possam continuar sendo
oferecidos como se fossem bens livres (Nusdeo, 2009).
Além disso, “a busca de uma poupança dos recursos
naturais mediante um aumento dos custos de
apropriação, garantindo a existência desses recursos
para a apropriação de gerações futuras, revela-se
insuficiente” (Derani, 2009).
Portanto, o fato é que para a solução deste problema
faz-se necessária a internalização das externalidades,
buscando-se por meio de diversas ações de eficiência
econômica internalizar as externalidade negativas aos
custos da empresa, como forma de atribuir o preço
correto, contabilizando-se os recursos naturais e os
serviços ambientais utilizados.
3
Dessa forma, a eficiência econômica exige que
se assinale o “preço correto” aos recursos
ambientais. Internalizando os custos (benefícios)
ambientais via preços das externalidades nas
atividades de produção ou consumo, é possível
obter uma melhoria de eficiência com maior nível
de bem-estar. (Motta, 206, p.183)
Deve-se considerar que os agentes produtivos
só internalizam as externalidades por meio de ações
governamentais ou por intervenção dos movimentos
sociais, que fazem com que as empresas internalizem
os custos sociais, por meio da cobrança dos recursos
comuns no processo de produção, o que leva ao aumento
dos preços dos bens que elas produzem.
Logo, a internalização das externalidades negativas
leva a um preço maior de mercado, ou seja, os
consumidores pagarão um preço maior pelos bens finais
em cuja produção se utilizam recursos naturais ou bens
ambientais públicos.
Entretanto, localmente este não é um jogo de soma
zero, no qual a comunidade recebe pela utilização dos
recursos naturais e dos serviços ambientais comuns
e paga um preço maior pelos bens finais.
Com efeito, de modo geral, enquanto os recursos
naturais e a degradação ambiental estão localizados
espacialmente, o consumo dos bens finais produzidos
localmente tornou-se universal, por causa da grande
abertura comercial, do desenvolvimento dos transportes
e da expansão do comércio internacional.
Duas teorias procuram oferecer caminhos para
se resolver o problema das externalidades: a de Pigou,
descrita no The Economics of Welfare em 1920, e a
de Coase, definida no The Problem of Social Cost em
1960. A primeira com tendência à correção do mercado
e a segunda com vistas à extensão do mercado. A Teoria
de Pigou visa à internalização das externalidades por
meio da indenização das pessoas ou da fixação de impostos
sobre o uso do recurso ambiental (taxa pigouviana) ou
mesmo pelo fechamento do empreendimento. Já a Teoria
de Coase considera que a solução do problema das
externalidades passa pela clara definição de direitos
de propriedade, de tal modo que todos os bens, inclusive
os recursos naturais e os bens ambientais, deixariam
de ser bens comuns (Motta, 2006).
Especificamente, o Teorema de Coase coloca a
reciprocidade como ponto principal, estabelecendo
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12
4
BALBINO, M.L.C.
a negociação entre a parte afetada e a parte geradora
da externalidade, como rota para resolução do problema.
Os adeptos da liberalização do mercado, num
outro extremo, preferem soluções extraídas de
transações entre causador e suportador dos efeitos
externos, eliminando o Estado redistribuidor
(subvencionador) e o Estado elevador de impostos.
Aqui, encontramos Coase. Pressuposto para esta
solução é um sistema global de direitos de
propriedade dos sujeitos privados, que negociam
seus interesses, buscando um acordo, para, assim,
conseguirem um internalização eficiente dos efeitos
externos (Derani, 2009, p.92).
Esta corrente estuda o papel das instituições na
definição dos direito de propriedade e suas repercussões
na alocação eficiente dos recursos. Nestes casos, taxas
pigouvianas não seriam necessárias, pois o próprio
mercado atingiria soluções ótimas sem uso de
instrumentos fiscais.
Considerada a viabilidade de aplicação, o Teorema
de Coase esbarra nos custos de transação, que podem
ser absurdamente elevados e, portanto, impeditivos, quando
muitos atores estão envolvidos no processo negociação.
Diante da necessidade de internalização das
externalidades, Fabio Nusdeo (2009, p.153) aponta que
“pelo próprio espírito hedonista, pressuposto
psicológico-comportamental do sistema de mercado,
a tendência natural dos agentes econômicos será a
de lançar para fora os seus custos (externalizá-los)”.
Assim, existe uma tendência à manutenção das
externalidades como estão, ou seja, externas, com os
seus custos sendo suportados pela sociedade, salvo
se houver decisão judicial ou intervenção administrativa
no sentido da sua internalização.
Logo, é preciso mudar a maneira de abordar o problema
e buscar soluções que passam pela internalização das
externalidades, pois se trata de instrumento econômico
eficaz para a proteção dos recursos naturais e para evitar
a degradação dos serviços ambientais, o que deve ser
feito considerando-se avaliações de ordem econômica,
social, ambiental, cultural e de capacidade técnica.
A proteção do meio ambiente como garantidor do bemestar social
A Constituição Federal, no caput do artigo 225
aponta que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondose ao Poder Público e à coletividade o dever de defendêlo e preservá-lo para a presente e futuras gerações”,
consagrando o direito a um meio ambiente saudável
como direito fundamental.
A consagração, na ordem jurídica brasileira, do
direito a um meio ambiente saudável como direito
fundamental de todo ser humano reflete
compreensão de natureza universal, que, por sua
vez, decorre de um processo histórico no qual
os direitos humanos, em seu conjunto, foram sendo
progressivamente conformados e reconhecidos
como marco de referência essencial da civilização
(Dallari, 2009, p. 194).
Valer registrar que o acesso de todos, de forma
isonômica, inter e intrageracional, aos recursos naturais
no gozo da qualidade de vida (bem-estar individual
e coletivo) se concretiza na democracia ambiental (D’Isep,
2009b).
A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972,
é considerada a primeira manifestação de caráter mundial
para uma tentativa de relacionar o homem ao meio ambiente
em que vive, resultando em marcos históricos diversos,
dos quais se destacam a criação do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Declaração
das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano ou
Declaração de Estocolmo.
Nesta Declaração, o direito fundamental à
preservação do meio ambiente foi reconhecido
mundialmente; em seu Princípio 1 enuncia-se, pela
primeira vez, de maneira explícita, o direito humano
ao ambiente adequado:
Princípio 1: O homem tem o direito fundamental
à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições
de vida adequadas, em um meio ambiente de
qualidade tal que lhe permita levar uma vida
digna, gozar de bem-estar e é portador solene
de obrigação de proteger e melhorar o meio
ambiente, para as gerações presentes e futuras.
A esse respeito, as políticas que promovem ou
perpetuam o “apartheid”, a segregação racial,
a discriminação, a opressão colonial e outras
formas de opressão e de dominação estrangeira
permanecem condenadas e devem ser eliminadas.
(Conferência, 1972)
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12
Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social
Em meados da década de 1980, a Organização das
Nações Unidas constituiu a “Comissão Mundial do
Desenvolvimento e Meio Ambiente” (CMMAD),
conhecida como Comissão Brundtland, para realizar
um estudo global visando à conciliação entre crescimento
econômico e preservação do meio ambiente, o chamado
Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum,
apresentado ao mundo em 1987, que aponta a
incompatibilidade entre o modelo de desenvolvimento
adotado pelos países industrializados, que utilizam
os recursos naturais desordenadamente e sem considerar
a capacidade de suporte dos ecossistemas, e o
desenvolvimento sustentável.
Nessa linha histórica, as incorporações do direito
a um meio ambiente saudável e do direito ao
desenvolvimento (percepção de desenvolvimento
sustentável) ao rol de direitos fundamentais do ser
humano,
deixando de lado o posicionamento apenas
5
nos aspectos econômicos e ecológicos, tenderam a
valorizar-se “como critérios de aferição e controle social
relativamente à validade das políticas públicas adotadas
pelos governos nacionais e locais e mesmo
internacionalmente com vistas à melhoria e à preservação
das condições de vida da população” (Dallari, 2009,
p.214).
É importante compreender que o direito ao
desenvolvimento corresponde a uma visão
antropocêntrica introduzida pelo Direito Constitucional
Ambiental, integrando humanidade e meio ambiente,
assim, “o antropocentrismo, além de necessário ao
equilíbrio das complexas necessidades da vida humana,
neutraliza o caráter desumano das demais posições
que, de forma antagônica, trabalham contra o bemestar do homem” (D’Isep, 2009a, p.102).
Com fins a complementar o sentido dado pelas
teorias econômicas preocupadas com o bem-estar social,
surgem os preceitos normativos do direito ambiental,
os quais visam garantir a qualidade de vida, encontramse sustentados por normas de ordem econômica, e têm
por fim assegurar a todos existência digna (Derani,
2009), conforme ditames da justiça social apresentados
no artigo 170 da Constituição Federal3.
3
5
A qualidade de vida, muitas vezes referida por
sua expressão sinônima “bem-estar”, concebida tanto
no direito econômico quanto no direito ambiental, não
deve ser entendida apenas como o conjunto de bens
e de comodidades materiais, nem apenas no ideal do
ecologismo dos pobres, em que há uma reação e
indiscriminado desprezo a toda elaboração técnica e
industrial. Ao contrário, a qualidade de vida deve
apresentar dois aspectos concomitantes: o nível de
vida material e o nível de bem-estar físico e espiritual,
pois uma sadia qualidade vida abrange esta totalidade
(Derani, 2009).
Tal fato é retratado por Metzen et al. (1980) quando
afirmam que a qualidade de vida envolve não apenas
os aspectos objetivos inerentes aos bens materiais,
devendo ser incluídos diversos outros indicadores
inteiramente relacionados com a percepção, prioridade
e nível de satisfação da mesma.
Contudo, diante das deficiências encontradas na
satisfação e garantia do bem-estar social, tendo em
vista as inúmeras intervenções destrutivas realizadas
pelo homem no meio ambiente, faz-se necessário atuar
de forma rápida na proteção do meio ambiente, pois
este é visto como bem garantidor do bem-estar social.
Neste sentido, vale transcrever os pensamentos
de Azevedo (2008), que em seu livro “Ecocivilização:
ambiente e direito no limiar da vida” escreveu com
alto potencial crítico e filosófico sobre a destruição
do meio ambiente e, por consequência, da vida humana.
Neste contexto, em que se constata a anemia da
política, dominam o constrangimento econômico
e o pensamento unidimensional e servil ao status
quo, tudo desaguando, de modo dramático, no meio
ambiente. É, então, que o pensamento parcela, cindido,
revela sua impotência e suas funestas consequências.
É a natureza, em suas múltiplas formas e ecossistemas,
que desvela o point de non retour de uma civilização
tão sofisticada tecnologicamente quanto suicida.
(Azevedo, 2008, p.14)
Esse também é o entendimento da Avaliação
Ecossistêmica do Milênio elaborada pela Junta
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços
e de seus processos de elaboração e prestação; [...]
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12
6
BALBINO, M.L.C.
Coordenadora da Avaliação Ecossistêmica do Milênio,
que avaliou as consequências que as mudanças nos
ecossistemas trazem para o bem-estar humano, ao afirmar
que “proteger e melhorar nosso bem-estar futuro requer
um uso mais sábio e menos destrutivo de nosso capital
natural. Isto, por sua vez, envolve drásticas mudanças
no modo em que tomamos e implantamos decisões”
(ONU, 2011).
No Brasil, desde meados dos anos 1980, essa mesma
linha de pensamento está presente no
socioambientalismo, que é fruto de articulações políticas
entre os movimentos sociais e o movimento ambientalista,
como resultado da “consolidação democrática no país,
que passou a dar à sociedade civil um amplo espaço
de mobilização e articulação, que resultou em alianças
políticas estratégicas entre os movimentos social e
ambientalista” (Santilli & Santilli, 2009, p.217-218).
Frente a todas as questões e argumentações
desenvolvidas, torna-se um imperativo considerar a
humanidade integrada de modo indissociável ao meio
ambiente, não sendo mais possível continuar
desconsiderando a proteção ambiental como garantidora
do bem-estar social.
Neste sentido, a utilização judiciosa dos
instrumentos econômicos propostos pela Teoria de
Pigou para se internalizar as externalidades apresentase como um modo eficaz na proteção ambiental,
possibilitando a manutenção de um ambiente
ecologicamente equilibrado, favorecendo uma melhor
qualidade de vida para todos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A visão contemporânea antropocêntrica considera
a humanidade como parte que integra de modo
indissociável o meio ambiente, logo o desafio colocado
para a geração atual é conciliar a melhoria do bemestar material e espiritual das pessoas com a preservação
do meio ambiente. Políticas públicas capazes de conciliar
desenvolvimento econômico, social, político e cultural
com um ambiente ecologicamente equilibrado passaram
a ser imprescindíveis.
Assim, o progresso tecnológico voltado para o
desenvolvimento e o emprego de novas tecnologias
limpas, que empregam menores quantidades de materiais
e de energia e causam menores danos ao meio ambiente
por unidade de bem ou serviço final, e mudanças nos
hábitos de consumo, que priorizem a demanda por bens
produzidos por processos ecologicamente corretos,
constituem ações efetivas para a conservação do meio
ambiente e a melhoria da qualidade de vida.
Tais fatores estão integrados ao atual modelo de
industrialização que busca definir, em longo prazo,
um novo padrão de qualidade que seja capaz de manter
a prosperidade do planeta e a manutenção da vida humana
neste. Contudo, melhores condições de vida que
garantam o bem-estar de todos somente serão alcançadas
através de ações concertadas de movimentos sociais
organizados, dos governos em todos os níveis, do
Ministério Público e do Poder Judiciário.
A adoção de tais pontos torna-se fator essencial
para a conservação dos recursos naturais e para se
impedir a degradação dos serviços ambientais com
vistas a promover uma melhoria contínua na qualidade
de vida da geração atual e a garantir as condições
materiais para a vida das futuras gerações.
Num ambiente de concorrência exacerbada, as
empresas buscam minimizar os custos para auferir
superlucros. Neste contexto, elas jamais internalizarão
espontaneamente os custos associados às externalidades
negativas. Ao contrário, elas pressionarão para que
os custos relativos ao emprego que elas fazem dos
recursos naturais e dos serviços ambientais públicos
sejam pagos pela sociedade que vive nos locais em
que suas plantas estão instaladas.
Somente por meio de instituições e de políticas
públicas voltadas para a internalização das externalidades
negativas é que as empresas pagarão pela degradação
dos recursos naturais e pelos danos aos serviços
ambientais que elas promovem no processo produtivo.
Em vista dos elevados custos de transação, a resolução
por meio de negociação dos impasses entre o causador
do dano ao meio ambiente e aqueles que sofrem com
ele não se aplica a situações reais.
Assim, a ação efetiva do poder público para resolver
os conflitos entre as empresas e a população do local
das plantas industriais é imprescindível, sendo que
a taxa pigouviana constitui-se num instrumento
econômico eficaz, por internalizar as externalidades
negativas.
Vale considerar que, além da atuação política e
econômica do Estado (taxa pigouviana), a internalização
das externalidades negativas também pode ser
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12
Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social
estabelecida no campo social, por meio de acordos
realizados entre as empresas degradadora e
representantes da comunidade local, com fins a integrar
os danos ambientais, ou melhor, a prevenção/mitigação
desses danos, nas despesas gerais das empresas. Outra
questão social que pode resultar em ótimos benefícios
ao ambiente é a utilização da força coletiva no embargo
ou “boicote” às compras dos produtos originários da
empresa degradadora, sendo este um instrumento
poderoso da população.
Portanto, a economia ecológica, que determina
novas estruturas econômicas, não pode estar entre
a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social,
ambos os fatores deve integrar a abordagem econômica
atual, afinal de contas o ambiente deve ser preservado,
sendo crucial a definição de políticas e as legislações
ambientais que impulsionem as mudanças nas políticas
em nível nacional e internacional, contudo, sem prejudicar
a garantia do bem-estar da sociedade.
5. LITERATURA CITADA
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3.ed. 2. tirag. São Paulo: Saraiva, 2009.
D’ISEP, C.F.M. Direito Econômico e a ISO
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D’ISEP, C.F.M. Políticas públicas ambientais: da
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Macedo D’isep; Nelson Nery Júnior, Odete
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7
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Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12
8
NUNES, P.N. et al.
A PARTICIPAÇÃO DO SETOR MADEIREIRO NA ECONOMIA DAS
MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS DO PARANÁ - 2009
Paulo Alexandre Nunes1, Carmem Ozana de Melo2, Diego Teixeira 3
RESUMO – Este trabalho apresenta uma visão panorâmica da indústria madeireira no estado do Paraná, analisandose as microrregiões do estado nas quais o setor madeireiro possui relevância econômica, no ano de 2009. Através
de medidas regionais, a estrutura setorial-produtiva é organizada em uma matriz, da qual são extraídas informações
e realizados os cálculos das medidas de localização e especialização. Os resultados permitiram identificar as
microrregiões mais importantes do segmento fabricação de produtos de madeira, sendo apontadas as microrregiões
de Jaguariaíva, Rio Negro e Guarapuava como pólos madeireiros e a formação de arranjos produtivos locais
nessas regiões.
Palavras-chave: Arranjo produtivo local, construção civil, exportações, fomento florestal, indústria madeireira,
medidas regionais.
SECTOR PARTICIPATION IN THE ECONOMY OF TIMBER MICRO
GEOGRAPHIC PARANÁ - 2009
ABSTRACT - This paper pre sents an ove rview of the timber industry in the state of Paraná, analyz ing
the micro-state in which the timber sector has economic importance, in 2009. Through regional measures,
industry structure, production is or ganized in a matrix, from which information is extracted and made
calcu lation s of the meas ures of location and specialization. The results allowed to identify the most
important segment micro manufacturing of wood products, and pointed out the micro-regions of Jaguariaiva,
Rio Negro and Guarapuava as wood poles and the formation of local clusters in these regions.
Keywords:Construction, exports, forest development, local productive arrangement, regional measures, timber
industry.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Bittencourt & Oliveira (2009), a atividade
florestal e madeireira sempre contribuiu para o
desenvolvimento sócio econômico do país e do Paraná,
além de participar em um ciclo econômico de grande
importância para o Estado. A indústria madeireira se
destaca por ser um segmento de grande
representatividade na economia brasileira, influenciando
a geração de renda, tributos, divisas, empregos, e
atualmente a preservação ambiental. Os complexos
produtivos chamados arranjos produtivos locais estão
presentes nesse segmento, pois neles as participações
de empresas da mesma atividade e em municípios
próximos ficam concentradas em determinada região
e interagem entre si. Dessa forma a região se desenvolve
e fortalece o ramo da atividade, absorvendo trabalhadores,
ganhando novos mercados e implantando melhorias
nos processos produtivos e na gestão.
Com a abertura comercial brasileira, o segmento
madeireiro passou por um processo de modernização,
pois a atual disponibilidade de recursos florestais tornase cada vez mais competitiva, tanto no mercado interno
como no mercado externo. Foi pensando nessa situação
que, em 2000, foi criado o Programa Nacional de Floresta,
Professor do Departamento de Ciências Econômicas - UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected].
Professora do Departamento de Ciências Econômicas - UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected].
3
Bacharel em Ciências Econômicas pela UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected]
1
2
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009
que visa expandir a base florestal através de políticas
adequadas, para abastecer a indústria madeireira e manter
seu mercado em ascensão (Bittencourt & Oliveira, 2009).
De acordo com a ABIMCI (2008), mesmo com os
inúmeros fatores que afetaram a competitividade do
setor madeireiro, como a variação cambial, a redução
na demanda de madeira nos EUA, o aumento dos custos
de produção, entre outros, os dados de 2007 apontaram
um bom desempenho da indústria madeireira processada
mecanicamente, tendo em vista que o setor apresentou
um crescimento de 2,3% em 2007, ano em que o PIB
desse setor chegou a US$ 13,1 bilhões. O setor tem
buscado novas soluções e isso refletiu no bom
desempenho do PIB setorial em 2007. Dentre essas
soluções destacam-se os ganhos de escala e controle
sobre o suprimento de matéria-prima, a diferenciação
dos produtos, o aumento nos níveis de produtividade,
melhoria da eficiência (floresta – indústria – mercado)
e programas de certificação de qualidade.
A proposta de análise desta pesquisa consiste
em identificar a importância da indústria madeireira
no Paraná, bem como a participação do setor madeireiro
na economia de cada microrregião do estado. Para isso,
serão contextualizados, em um histórico sobre a indústria
madeireira no Paraná, seu panorama atual, a classificação
em que se enquadra a fabricação de produtos de madeira
de acordo com a classificação nacional de atividades
econômicas (CNAE), e a relação do setor madeireiro
com a construção civil. Assim, este artigo tem como
objetivo principal analisar a localização e a distribuição
do setor industrial madeireiro, ponderar o grau relativo
de concentração da atividade industrial madeireira,
e identificar o grau de especialização das microrregiões
do Paraná.
Considerando a importância da economia
paranaense em relação ao Brasil, é de grande relevância
o estudo da indústria madeireira no Paraná, visto que
esta responde por cerca de 17% do total do Valor
Adicionado Fiscal da indústria e o maior empregador
industrial do Paraná, com aproximadamente 21% do
total da mão-de-obra industrial do estado (IPARDESSEBRAE, 2006, p.19).
Neste contexto, justifica-se a relevância do tema
estudado, como forma para compreender a importância
da indústria madeireira para a economia paranaense,
bem como a identificação das principais microrregiões
do estado onde este setor exerce maior influência.
9
2. A INDÚSTRIA MADEIREIRA NO ESTADO DO
PARANÁ
Segundo Lavalle (1981), existia no Paraná uma
extensa floresta araucária angustifólia que permitiu,
a partir do século XIX, que a exploração da madeira
fosse uma das atividades mais importantes da região.
No início, a madeira era retirada nas áreas litorâneas
devido à dificuldade de ligação entre o litoral (Portos
de Paranaguá, Antonina e o Porto fluvial de Foz do
Iguaçu) e o planalto onde se localizavam as matas de
araucária. Com o surgimento da ligação ferroviária entre
o planalto e o litoral abriram-se novas perspectivas
para a madeira paranaense, principalmente para o pinho.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial, esse produto
ganhou uma importância significativa na indústria
paranaense. Após a Segunda Guerra Mundial, com a
abertura e a dinamização dos mercados europeus que
importavam madeira, aliadas à necessidade de
reconstrução de edifícios, ferrovias e indústrias
destruídos pela guerra, gerou-se uma oportunidade
extraordinária para fornecedores menores entrarem no
mercado de exportações.
Mesmo com toda a legislação que os governos
tentaram implantar desde 1904 visando à preservação
das matas do estado, o esgotamento florestal foi
crescente, principalmente com a abertura do mercado
europeu para o pinho brasileiro e com a expansão dos
mercados platinos que geraram uma devastação maior
nas regiões centro-sul e oeste do Paraná.
Durante a década de 1990, o estado apresentou
expansão industrial que lhe garantiu competitividade
e modernização de seu parque industrial. Além dos
diversos investimentos, a estratégia do governo estadual,
iniciada em 1995 com o intuito de atrair novas indústrias,
teve como base a melhoria na infraestrutura do estado,
fazendo melhorias em suas rodovias, portos, aeroportos,
ferrovias, energia, saneamento, o aumento da qualidade
de vida e a qualificação profissional.
Destacam-se, entre os principais investimentos
industriais, as montadoras de veículos e a implantação
de empresas produtoras de painéis de madeira, além
do fortalecimento dos setores madeireiros e moveleiros
do estado.
Na visão de Duda et al. (2010), na década de 1990,
o Paraná se destaca por possuir um privilegiado estoque
de matéria-prima e tecnologia para a indústria madeireira.
A taxa de câmbio, por um lado, prejudicava a indústria
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
10
exportadora de pinheiros nativos e, por outro, permitia
a importação de maquinário para o aproveitamento do
pinus, disponível em grandes áreas para desbaste
(primeiro corte da árvore) e com um custo baixo para
a nova indústria. Ainda nesse contexto se destacava
a política de atração de investimentos estrangeiros
em projetos industriais e a preocupação com o
aprimoramento da infraestrutura.
Para Bittencourt & Oliveira (2009), os últimos 15
anos representaram uma reestruturação da indústria
madeireira que foi fundamental para manter e ampliar
os mercados interno e externo, promovendo assim
desenvolvimento para o país, isso tudo devido à abertura
comercial. Na década de 1990 o Brasil não participava
muito nas exportações mundiais de origem florestal,
com a abertura comercial e a desvalorização cambial,
o país ganhou mais espaço no mercado externo e, em
2005, já correspondia com cerca de 4,6% das exportações
mundiais e se firmava como o maior exportador de
compensados de pinus, celulose de fibra de eucalipto
e também como o terceiro exportador de madeira serrada
tropical.
De acordo com Duda et al. (2010), no período de
1999 a 2003, o estado organiza-se com novas empresas
ou conversão de antigos exploradores de pinheiro do
Paraná e o começo de uma nova indústria local de
compensados de pinus, com destaque para a cidade
de Palmas. Nos polos de Telêmaco Borba, Jaguariaíva,
Ponta Grossa, Vale do Ribeira, Guarapuava e Curitiba,
ocorreu o mesmo, porém no segmento de madeira serrada.
Em 2004 ocorreu o ápice das exportações de produtos
de madeira no Paraná, e a partir desse ano essas
exportações sofrem uma sensível diminuição, deixando
entender que a crise mundial de 2008 teve grande influência
nesse quadro, isso devido à queda na demanda externa.
Nesse período ocorre uma diminuição da importância
relativa da indústria paranaense de controle local,
passando a predominar empresas de controle estrangeiro,
voltadas ao mercado interno.
Nesse contexto, cabe destacar a atuação da empresa
local Bernek Aglomerados, produzindo placas de MDP
(painéis produzidas com partículas de madeira, com
a incorporação de um adesivo sintético (Weber, 2011))
e que também inaugurou uma planta de MDF (painel
de madeira reconstituída de média densidade (Weber,
2011)) em Araucária. Outra empresa de destaque é a
Placas do Paraná, que está sob controle da chilena
NUNES, P.N. et al.
Arauco e possui uma planta de MDP em Curitiba e
uma de MDF em Jaguariaíva. Em 2009 essa empresa
adquiriu a maior indústria de MDF do Paraná, a Tafira.
Segundo a FIEP (2011), a fabricação de produtos
de madeira do Paraná é a segunda maior do Brasil em
número de trabalhadores, perdendo somente para Santa
Catarina. Em 2006 a indústria madeireira tinha vínculo
com 44.233 trabalhadores. Na subclassificação “fabricação
de madeira laminada e chapas de madeira compensada”,
o Paraná possui a melhor posição, com 18.658
trabalhadores. O gênero industrial madeira possui 2.320
estabelecimentos industriais e responde por 3,8% das
vendas industriais do Paraná. Os indicadores conjunturais
mais recentes não deixam dúvidas sobre a desaceleração
da atividade industrial madeireira no Brasil e no Paraná,
o fraco desempenho da indústria madeireira paranaense
se deve aos fatores de restrição do crescimento da
economia, como a alta carga tributária e a rigidez da
política monetária.
Os altos patamares de juros e a tributação impõem
condições desfavoráveis à contratação de financiamentos
e também aumentam o custo de oportunidade dos
investimentos na produção, comprometendo assim a
formação de poupança empresarial por conta da forte
transferência de recursos para os setores públicos e
financeiros.
Também são nítidos os efeitos da apreciação cambial,
principalmente sobre segmentos manufatureiros com
elevado coeficiente de exportações. A forte contração
da atividade na indústria madeireira do Paraná produz
efeitos negativos sobre a produção e o emprego (FIEP,
2011).
De acordo com Duda et al. (2010), o grupo de madeiras
e manufaturas de madeiras é o 4º item da pauta de
exportações paranaenses, perdendo apenas para o
complexo soja, carnes e materiais de transporte. Podese notar que os três primeiros itens da pauta de
exportações do Paraná têm sua produção em regiões
consolidadas como polos de elevado grau de
desenvolvimento humano (região norte, oeste e
metropolitana de Curitiba). Já a indústria madeireira
trouxe benefícios às regiões que estavam mais estagnadas
ou sequer experimentaram ciclos de desenvolvimento.
A recuperação da indústria madeireira exportadora
teve como principal cenário os polos de Ponta Grossa,
Guarapuava, Palmas, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, União
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009
da Vitória, Lapa e Irati. Além de beneficiar as regiões
menos desenvolvidas do estado, o setor madeireiro
utiliza mão-de-obra intensiva e de baixa qualificação,
além de aproveitar áreas acidentadas, inviáveis à
mecanização de um modo geral, que são deixadas de
lado pela agricultura e utilizadas nos longos ciclos
da silvicultura.
Além da importância para as exportações do estado,
a indústria madeireira também se relaciona com outros
setores. Dentre os principais setores consumidores
da madeira destacam-se o setor moveleiro e o setor
de construção civil, sendo este último o maior consumidor
da madeira tropical produzida no Brasil (Zenid, 2009).
Conforme destaca ABIMCI (2008), no início de
2007 o governo federal lançou o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), cujo objetivo é expandir o
crescimento econômico social do Brasil, e a construção
civil foi um dos principais segmentos beneficiados
pelo Programa. Além disso, outros fatores contribuem
com o crescente aquecimento desse setor, como os
inúmeros lançamentos de empreendimentos imobiliários,
atrelados à facilidade de compra da casa própria e de
crédito para reformas e construções de forma consignada.
Segundo o IBGE (2008), a construção civil cresceu 9,9%
no segundo trimestre do ano de 2008 em relação ao
mesmo período do ano anterior.
Nesse contexto de crescimento da construção civil,
o segmento madeireiro também está sendo beneficiado,
pois a indústria de madeira processada mecanicamente
passou em 2008 por momentos de crise em função da
valorização do real frente ao dólar, além da queda da
demanda imobiliária nos Estados Unidos da América
(EUA). Com o crescente investimento da construção
civil no país, a indústria madeireira teve a oportunidade
de diminuir suas perdas através das vendas no mercado
interno. Pode-se inferir então que o bom momento vivido
pela construção civil no Brasil representa uma
oportunidade, principalmente para a indústria da madeira
processada mecanicamente, de recuperação econômicosocial e de geração de emprego e renda.
A proximidade geográfica parece ser o ponto de
partida para a análise das novas formas de organização
das firmas. Essa proximidade entre as firmas e a
4
11
especialização setorial completa-se formando uma
economia de aglomeração e isso vem sendo identificado
como característica de algumas indústrias. A proximidade
geográfica possibilita o surgimento de outras atividades
subsidiárias em relação à firma. Os fornecedores de
bens e serviços representam uma importante fonte de
economias externas. Porém, o conceito de externalidade
possui um alcance limitado, envolvendo apenas a
facilidade de acesso aos insumos especializados, mãode-obra e outros fatores de produção. No entanto, foi
Marshall quem institui a ideia de economias externas
e, portanto, pode-se dizer que a ideia de arranjos
produtivos é um desdobramento dos trabalhos de
Marshall4 no século XIX (Stainsck et al., 2005).
Arranjo Produtivo Local é definido como a
aglomeração de um número significativo de empresas
que atuam em torno de uma atividade produtiva
principal, e de empresas correlatas e complementares
- como fornecedoras de insumos e equipamentos,
prestadoras de consultoria e serviços,
comercializadoras, clientes, entre outras -, em um
mesmo espaço geográfico (município, conjunto de
municípios ou região), com identidade cultural local
e com vínculos, mesmo que incipientes, de articulação,
interação, cooperação e aprendizagem entre si e
com outros atores locais, tais como: instituições
públicas ou privadas de treinamento, promoção
e consultoria; escolas técnicas e universidades;
instituições de pesquisa, desenvolvimento e engenharia;
entidades de classe; e instituições de apoio empresarial
e de financiamento (Albagli & Brito apud IPARDES/
SEBRAE-PR, 2006).
Segundo o SEBRAE (2011), no estado do Paraná
estão localizados os seguintes APLs: Rio Negro (móveis
e madeira), na região atuam 80 empresas com mais de
2.000 funcionários. Até as mudanças cambiais esse
APL apresentou grande vocação para exportação. Porém,
nos últimos anos muitas empresas foram obrigadas
a mudar o seu foco para o mercado interno; União da
Vitória (esquadria e madeira) é uma região com mais
de 100 anos de tradição, que além de abranger sete
municípios paranaenses conta com três municípios
de Santa Catarina, esse APL conta com a participação
de todos os ramos da madeira (serraria, laminadoras,
De acordo com Marshall (1920), a presença concentrada de firmas em uma mesma região pode prover ao conjunto dos
produtores vantagens competitivas, que não seriam verificadas se eles estivessem atuando isoladamente.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
12
fábricas de compensados, móveis e casas), porém, a
maior especialização é nas esquadrias que são
responsáveis por 20% da produção nacional; Arapongas
(móveis), esse APL emprega cerca de 15.000 pessoas
e conta com aproximadamente 576 indústrias; Sudoeste
do Paraná (móveis), concentrado nos municípios de
Francisco Beltrão e Ampére, esse APL conta com
aproximadamente 158 empresas, a atividade moveleira
começou na região há aproximadamente 50 anos atrás
quando a fabricação de móveis se tornou complementar
à extração de madeira.
2.1. O fomento florestal
De acordo com Siqueira et al. (2004) apud Centro
de Inteligência em Florestas (2011), fomento florestal
é um instrumento que promove a integração dos
produtores rurais à cadeia produtiva e lhes proporciona
vantagens econômicas, sociais e ambientais. O Fomento
5
Florestal serve também como atividade complementar
na propriedade rural, viabilizando o uso de áreas
improdutivas, degradadas, subutilizadas e inadequadas
à agropecuária, possibilitando ao produtor rural uma
renda adicional.
Segundo a ABIMCI (2008), o Fomento Florestal
é capaz de criar novas oportunidades para produtores
rurais e atualmente tem se destacado nas empresas privadas
para que determinados objetivos sejam alcançados, são
eles: geração de emprego e renda; alternativa econômica
de produção com mercado garantido, boa rentabilidade
e baixo risco; aumento da arrecadação de impostos nas
regiões de abrangência; inserção social; melhoria na
qualidade de vida da população através da preservação
ambiental; fixação do homem no campo; contribuição
para regularização ambiental das propriedades rurais;
atendimento ao abastecimento de fábricas que utilizam
madeira como matéria-prima; redução de ativos florestais;
recuperação florestal e conservação do solo; diminuição
da pressão sobre a madeira nativa; responsabilidade
socioambiental de empresas; diversificação de usos e
culturas agrícolas; e outros.
O Fomento Florestal tem se tornado comum
principalmente para as grandes empresas que utilizam
a madeira em tora como matéria prima. Isso acontece
pela possibilidade de ampliação da base florestal em
propriedades de terceiros, através de parcerias com
pequenos, médios e grandes produtores rurais. Diante
dessa situação, nota-se que programas de Fomento
NUNES, P.N. et al.
Florestais bem estruturados podem ser o diferencial
de competitividade e renda para empresas e produtores
envolvidos. Dessa forma, essa prática é considerada
uma excelente alternativa sustentada nos aspectos social,
econômico e ambiental para suprir a necessidade de
madeira.
De acordo com Ribeiro & Miranda (2009), a empresa
Klabin de papel e celulose S.A. destaca-se no Paraná
pelo seu programa de Fomento Florestal. Através dele
a empresa disponibiliza tecnologia florestal aos pequenos
produtores rurais e promove o desenvolvimento regional.
O programa tem por objetivo permitir que os produtores
tirem proveito do programa de reflorestamento que
tem como finalidade atender aos aspectos sociais, manter
o agricultor fixo na área rural, incrementar a renda,
disseminar práticas de conservação ambiental e aumentar
a disponibilidade de madeiras de florestas plantadas.
O Fomento Florestal da Klabin atinge 3.800 produtores,
totalizando uma área de 22.000 ha. A empresa pratica
três tipos de fomento: a doação de mudas em cooperação
com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER); a venda de mudas em um raio de 100
quilômetros e na forma de empreendimento, em que
o proprietário rural fica com o primeiro desbaste.
Segundo Fisher (2009), o setor de base florestal
compreende como atividades primárias a extração vegetal
e a silvicultura. Como atividades secundárias
compreendem atividades de beneficiamento e
processamento que estão divididas nos segmentos
derivados de madeira, por exemplo, a madeira sólida,
painéis reconstituídos, celulose e papel, móveis, lenha,
carvão vegetal, entre outros.
3. METODOLOGIA
No presente trabalho são utilizadas as medidas
de localização e especialização, geralmente utilizadas
em estudos de análise regional. Essas medidas podem
ser encontradas em Haddad (1989) e utilizadas em outras
pesquisas como Lima et al. (2006), Colla et al. (2007)
e Piacenti et al. (2011). Porém, antes disso, são necessárias
algumas etapas importantes para definir a localização
da atividade produtiva e suas tendências espaciais:
delimitar a área espacial da análise; determinar a variável
a ser analisada; definir as medidas a serem utilizadas;
organizar a estrutura setorial-produtiva em uma matriz.
Também é interessante destacar as atividades econômicas
e industriais, e sua classificação segundo a CNAE,
conforme descrito abaixo.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009
3.1. A fabricação de produtos de madeira e a CNAE
De acordo com o IBGE (2011), a CNAE é a
classificação de atividades econômicas oficialmente
adotadas pelo sistema estatístico nacional e pelos órgãos
gestores de cadastros e registros da administração
pública do país. A seção C (Tabela 1) compreende as
atividades da indústria de transformação física, química
e biológica de materiais, substâncias e componentes,
com a intenção de se obter produtos novos.
A divisão 16 (fabricação de produtos de madeira)
compreende a fabricação de madeira serrada, laminada,
compensada, prensada e aglomerada e de produtos de
madeira para construção, para embalagem, para uso industrial,
comercial e doméstico. Ela compreende também a imunização
da madeira e a fabricação de produtos de cortiça, bambu,
vime, junco, palha e outros materiais trançados. A fabricação
de móveis não se enquadra nessa classificação, porém
essa atividade consta na divisão 31 (IBGE, 2011).
13
Conforme observado em trabalhos sobre a estrutura
produtiva paranaense fazendo-se uso de Matriz InsumoProduto como método de análise (Nunes, 2010),
constatou-se que há relações de insumo-produto com
o setor madeireiro e com os demais setores produtivos:
Agropecuária; Fabricação de Celulose e Papel e Produtos
de Papel; Fabricação de Móveis, e Construção Civil.
Por este motivo, as análises feitas nesta pesquisa
consideram estes mesmos setores, devido à forte
integração entre os mesmos.
3.2. Área de análise
A pesquisa foi realizada com base nas microrregiões
do Paraná (Figura 1 e Tabela 2), compreendendo o ano
de 2009. A variável utilizada foi o Valor Adicionado
Fiscal5. As atividades econômicas consideradas nesta
pesquisa estão relacionadas na Tabela 3, e os índices
estimados são os coeficientes de localização e
especialização.
Tabela 1 - Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE Versão 2.0 Subclasses para uso da administração pública
Seção: C
Indústria de transformação
Esta seção contém as seguintes divisões:
Fabricação de produtos alimentícios
Fabricação de bebidas
Fabricação de produtos de fumo
Fabricação de produtos têxteis
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados
Fabricação de produtos de madeira
Fabricação de celulose, papel e produtos de papel
Impressão e reprodução de gravações
Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis
Fabricação de produtos químicos
Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos
Fabricação de produtos de borracha e de material plástico
Fabricação de produtos de minerais não metálicos
Metalurgia
Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos
Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos
Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos
Fabricação de máquinas e equipamentos
Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias
Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores
Fabricação de móveis
Fabricação de produtos diversos
Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos
Fonte: IBGE (2011).
5
Segundo a FIESP (2011), Valor Adicionado Fiscal é obtido, para cada município, através da diferença entre o valor das saídas
de mercadorias e dos serviços de transporte e de comunicação prestados no seu território e o valor das entradas de mercadorias
e dos serviços de transporte e de comunicação adquiridos em cada ano civil e ele é calculado pela Secretaria da Fazenda.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
14
NUNES, P.N. et al.
Figura 1 - Microrregiões do estado do Paraná.
Fonte: IPARDES (2011)
Tabela 2 - As microrregiões do estado do Paraná – 2011
Microrregião
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Cidades
Microrregião
Paranavaí
14
Umuarama
15
Cianorte
16
Goioerê
17
Campo Mourão
18
Astorga
19
Por ec atu
20
Floraí
21
Maringá
22
Apucarana
23
Londrina
24
Faxinal
25
Ivaiporã
26
Cidades
Assai
Cornélio Pr oc ópio
Jacarezinho
Ibaiti
Wenceslau Braz
Telêmaco Borba
Jaguariaíva
Ponta Grossa
Toledo
Cascavel
Foz do Iguaçu
Capa nema
Francisco Beltrão
Microrregião
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
Cidades
Pa to Branco
Pitanga
Guarapuava
Palmas
Prudentópolis
Ira ti
União da Vitória
São Mateus do Sul
Cerro Azul
Lapa
Curitiba
Paranaguá
Rio Negro
Fonte: IPARDES, 2011.
Tabela 3 - As atividades econômicas relacionadas na pesquisa
Nº
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
20
21
Atividades Econômicas
Agropecuária
Ind. Extr ativas
Fab. de Prod. Alim.
Fab. de Prod. do Fumo
Fab. de Prod. Têxteis
Confecção de Artigos do Vestuário
Prep. de Couros e Fab. de Art. de Couro
Fab. de Prod. de Madeira
Fab. de Celulose, Papel e Prod. de Papel
Impressão e Reprodução de Gravações
Fab. de Coque, de Pro. Deriv. do Pet. e de Bicomb.
Fab. de Prod. Químicos
Fab. de Prod. Farmoquímicos e Farmacêuticos
Fab. de Prod. De Borracha e de Material Plástico
Fab. de Prod. De Minerais Não-Metálicos
Metalurgia
Fab. de Prod. de Metal, exceto Máq. e Equip.
Fab. de Equip. de Inform., Prod. Elet. e Ópticos
Fab. de Máq., Apar. e Materiais Elétricos
Fab. de Máquinas e Equip.
Nº
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
Atividades Econômicas
Fab. de Veíc. Autom., Reboques e Carrocerias
Fab. de Out. Equip. de Transp., exc. Veíc. Autom.
Fab. de Móveis
Fab. de Prod. Diversos
Manut., Rep. e Inst. de Máq. e Equip.
Eletricidade e Gás
S.I. U.P.
Construção
Comércio; Rep. de Veíc. Autom. e Motocicletas
Transp., Armaz.e Correio
Alojamento e Alimentação
Informação e Comunicação
Ativ. Finan., de Seg. e Serv. Relacionados
Atividades Imobiliárias
Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas
Atividades Administrativas e Serviços Complementares
Educação
Saúde Humana e Serviços Sociais
Artes, Cultura, Esporte e Recreação
Outras Atividades de Serviços
Fonte: IPARDES, 2011.
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A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009
A partir da variável Valor Adicionado Fiscal foram
calculados índices de localização e especialização. O
Quadro 1 demonstra como os valores dessa variável
podem ser representados por atividade produtiva entre
as microrregiões do estado do Paraná.
Quadro 1 – Matriz de relação entre microrregiões do estado
do Paraná com a variável Valor Adicionado Fiscal
15
= valor fiscal adicionado total do estado.
3.3. Medidas de localização
As medidas de localização se preocupam com a
localização das atividades entre as microrregiões e são
de natureza setorial. Elas procuram identificar padrões
de concentração ou de dispersão do PIB setorial em
determinado período de tempo.
3.3.1. Quociente locacional (QL)
É utilizado para comparar a participação percentual
do Valor Adicionado Fiscal em dada microrregião com
a participação percentual do estado. Quando os setores
apresentarem QL acima de um, significa que existe
possibilidade de exportação, ou seja, a microrregião
produz um excedente exportável. Caso o QL seja inferior
a um, irá se supor que a microrregião é deficiente no
setor, porém, as atividades poderão ser desenvolvidas
desde que haja demanda para elas.
Fonte: HADDAD, 1989.
Definem-se as seguintes variáveis:
Distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscal
na região.
(1)
Distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscal
setorial entre regiões.
(2)
(3)
(4)
3.3.2. Coeficiente de localização (CL)
Tem por objetivo relacionar a distribuição percentual
do Valor Adicionado Fiscal num dado setor entre as
microrregiões com a distribuição percentual do Valor
Adicionado Fiscal do estado. Se o CL for igual a zero,
quer dizer que o setor i estará distribuído regionalmente
da mesma forma que o conjunto de todos os setores,
ou seja, estará mais disperso entre as microrregiões.
Se o valor for igual ou próximo a um, demonstrará que
o setor i apresenta um padrão de concentração regional
mais intenso do que o conjunto de todos os setores.
Onde:
(5)
= valor adicionado fiscal no setor i da microrregião j;
= valor adicionado fiscal no setor i do estado;
= valor adicionado fiscal em todos os setores
da microrregião j;
3.4. Medidas regionais ou de especialização (CESP)
3.4.1. Coeficiente de especialização
O coeficiente de especialização da região j compara
a estrutura produtiva da região j com a estrutura produtiva
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16
NUNES, P.N. et al.
nacional. Através desse coeficiente pode-se comparar
a economia de uma microrregião com a economia do
estado. Uma região com coeficiente de especialização
igual a zero significa que a estrutura setorial da região
analisada é integralmente equivalente à estrutura
apresentada pela região padrão; inversamente, quanto
mais próximo de um for o coeficiente de especialização,
mais especializada é a estrutura produtiva da região
relativamente à do espaço de referência.
(6)
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste item são apresentados os resultados dos
cálculos obtidos através do método de análise regional
(medidas de localização e especialização), descritos
na seção referente à Metodologia.
4.1. Quociente locacional
Na Tabela 4 encontram-se os valores obtidos em
relação ao Quociente Locacional das microrregiões
do estado do Paraná referente aos segmentos destacados
na Metodologia, referentes ao ano de 2009.
De acordo com esses valores, pode-se observar
que as microrregiões que apresentaram participação
percentual do Valor Adicionado Fiscal mais relevante
em relação ao estado do Paraná foram respectivamente
Jaguariaíva, Telêmaco Borba, Guarapuava, Ponta Grossa
e Palmas. Na microrregião de Jaguariaíva, percebe-se
que a fabricação de celulose, papel e produtos de papel
é bem significativa, com um QL de 6,72 e uma grande
capacidade de exportação para as outras microrregiões,
porém, essa grande capacidade não se compara com
a de exportação de produtos de madeira, que possui
um QL de 11,39. A microrregião de Telêmaco Borba
destaca-se por possuir a melhor capacidade de
exportação no segmento fabricação de celulose, papel
e produtos de papel, com um QL de 13,49, muito superior
ao QL do segmento fabricação de produtos de madeira
que também possui alto valor (QL = 4,51). A microrregião
de Ponta Grossa, além de possuir uma boa capacidade
de exportar no segmento fabricação de produtos de
madeira (QL = 2,52), possui o segundo maior QL do
estado no segmento fabricação de celulose, papel e
produtos de papel (QL = 8,52). Um caso interessante
é o de Apucarana, que apresentou um QL de 0,56 (QL
baixo) no segmento fabricação de produtos de madeira,
porém, possui um QL de 18,19 (QL alto) no segmento
fabricação de móveis. Como o segmento fabricação
de produtos de madeira serve de insumo para o setor
moveleiro, a microrregião de Apucarana importa o
excedente da fabricação de produtos de madeira das
outras microrregiões para suprir sua demanda por madeira.
Como se pode observar, o Quociente Locacional
pode fornecer informações importantes, dentre elas
pode-se destacar a forte relação entre os setores de
fabricação de produtos de madeira; fabricação de celulose,
papel, produtos de papel e também o de fabricação
de móveis. Ainda nesse contexto de informações
interpretadas no Quociente Locacional, cabe destacar
que entre as cinco microrregiões que se destacam na
fabricação de produtos de madeira, todas possuem
um QL superior a um no segmento agropecuário. Isso
representa que em locais onde existem reflorestamentos,
as áreas reflorestadas não competem com as de produção
de alimentos, afirmação esta citada por Duda, Veloso
& Melo (2010).
4.2. Coeficiente de localização
Na Tabela 5 está exposto o Coeficiente de Localização
para os segmentos agropecuário, fabricação de celulose
e papel e produtos de papel, fabricação de móveis,
construção civil e fabricação de produtos de madeira
para cada uma das microrregiões analisadas.
É notável a presença de índices próximos de zero,
isso significa que os setores estão distribuídos
regionalmente de forma semelhante ao conjunto de
todos os setores. Porém, algumas regiões apresentam
coeficientes mais altos, como é o caso de Rio Negro,
Jaguariaíva e Curitiba, com coeficientes de localização
de 0,13; 0,12 e 0,10 respectivamente. Na agropecuária
e na construção, Curitiba destaca-se por possuir o
padrão de concentração mais intenso, 0,40 e 0,21,
respectivamente. No segmento fabricação de celulose,
papel e produtos de papel, destaca-se a microrregião
de Ponta Grossa com CL de 0,35. No segmento fabricação
de móveis, a microrregião de Apucarana detém o melhor
índice de concentração regional com um CL de 0,38.
De acordo com esses resultados, percebe-se que
as microrregiões que possuem um padrão de
concentração regional mais intenso, no setor de fabricação
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009
de produtos de madeira, também são as que possuem
um padrão de concentração mais elevado nas atividades
relacionadas com esse setor. No caso de Apucarana isso
não acontece, embora o CL na fabricação de móveis seja
elevado, o CL da fabricação de produtos de madeira é
baixo (0,01), este fato justifica-se pela proximidade geográfica
entre a microrregião de Apucarana e a de Telêmaco Borba
que possui um padrão de concentração regional mais
17
intenso no segmento fabricação de produtos de madeira
(CL de 0,05). Os resultados obtidos remetem à idéia de
arranjos produtivos locais (APLs), em que a proximidade
entre as firmas de um mesmo setor e empresas
complementares de setores relacionados à determinada
atividade, como fornecedores de insumos, tal proximidade
completa-se com a especialização setorial, formando uma
economia de aglomeração (Stainsck et al., 2005).
Tabela 4 - Quociente Locacional (QL) das Microrregiões do estado do Paraná nos segmentos Agropecuária; Fabricação de Celulose,
Papel e Produtos de Papel; Fabricação de Móveis; Construção e Fabricação de Produtos de Madeira – 2009
Microrregiões
Agropecuária
Fabricação
de celulose, papel
e produtos de papel
Fabricação
de móveis
Construção
Fabricação de
produtos de madeira
1,02
3,05
2,41
2,64
2,67
1,85
2,91
2,13
2,11
0,06
3,56
4,11
0,76
2,09
3,60
1,98
2,73
1,71
2,57
1,36
2,40
2,04
0,52
0,36
1,90
0,11
2,29
1,68
3,56
1,13
2,55
3,67
1,73
2,00
2,09
2,85
2,20
0,84
2,25
1,00
0,20
0,00
0,03
0,74
0,01
0,12
0,00
0,07
0,09
0,31
0,00
0,00
0,00
0,01
0,00
2,78
0,00
4,41
0,22
0,00
6,72
0,17
0,27
0,05
1,17
0,07
0,01
0,23
0,62
8,52
0,00
0,38
0,84
0,00
13 , 4 9
0,10
0,03
3,56
0,01
1,00
18 , 1 9
0,49
0,10
3,82
3,62
0,75
0,03
0,13
2,12
0,32
0,02
0,16
0,46
0,84
0,17
0,27
0,61
0,86
0,00
0,07
0,10
0,01
1,04
1,81
0,01
0,01
0,51
0,51
0,01
1,74
0,73
0,03
2,19
0,02
0,01
0,16
1,44
0,07
0,04
1,00
0,11
0,00
0,55
0,17
0,13
1,73
0,10
0,47
0,13
1,50
0,00
0,00
0,12
1,15
0,08
0,11
0,12
0,33
0,04
0,78
0,05
0,00
0,59
0,49
0,37
1,15
0,13
5,91
0,08
0,71
0,01
0,06
0,48
0,14
0,02
0,33
0,20
0,01
2,07
1,00
0,56
0,99
0,08
0,07
0,03
0,31
1,22
0,12
0,24
0,77
0,06
0,00
0,03
0,42
0,07
2,56
1,40
2,26
0,07
0,39
11 , 3 9
0,37
0,08
0,11
2,38
0,01
0,12
0,08
0,07
2,52
0,02
2,13
21 , 4 3
0,36
4,51
0,05
0,15
5,16
0,14
1,00
Apucarana
Assai
Astorga
Campo Mourão
Capa nema
Cascavel
Cerro Azul
Cianorte
Cornélio Pr oc ópio
Curitiba
Faxinal
Floraí
Foz do Iguaçu
Francisco Beltrão
Goioerê
Guarapuava
Ibaiti
Ira ti
Ivaiporã
Jacarezinho
Jaguariaíva
Lapa
Londrina
Maringá
Palmas
Paranaguá
Paranavaí
Pa to Branco
Pitanga
Ponta Grossa
Por ec atu
Prudentópolis
Rio Negro
São Mateus do Sul
Telêmaco Borba
Toledo
Umuarama
União da Vitória
Wenceslau Braz
TO TA L
Fonte: Resultados da Pesquisa.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
18
NUNES, P.N. et al.
Tabela 5 - Coeficiente de localização (CL) das microrregiões do estado do Paraná nos segmentos agropecuária; fabricação de
celulose, papel e produtos de papel; fabricação de móveis; construção e fabricação de produtos de madeira - 2009
Microrregiões
Agropecuária
Fabricação
de celulose, papel
e produtos de papel
Fabricação
de móveis
Construção
Fabricação de
produtos de madeira
0,02
0,03
0,01
0,03
0,00
0,02
0,01
0,40
0,01
0,01
0,01
0,02
0,02
0,03
0,00
0,00
0,01
0,00
0,02
0,00
0,03
0,02
0,01
0,01
0,02
0,01
0,01
0,01
0,01
0,02
0,00
0,00
0,02
0,08
0,02
0,00
0,01
0,94
0,01
0,00
0,01
0,03
0,00
0,01
0,01
0,29
0,00
0,00
0,05
0,02
0,01
0,05
0,00
0,02
0,01
0,01
0,06
0,00
0,04
0,03
0,00
0,01
0,02
0,01
0,00
0,35
0,01
0,00
0,00
0,00
0,19
0,04
0,02
0,02
0,00
1,37
0,01
0,05
0,02
0,01
0,00
0,01
0,01
0,29
0,00
0,00
0,03
0,00
0,01
0,02
0,00
0,00
0,01
0,01
0,01
0,00
0,00
0,03
0,01
0,01
0,01
0,01
0,00
0,03
0,00
0,01
0,01
0,00
0,01
0,04
0,01
0,01
0,00
1,06
0,01
0,01
0,01
0,03
0,00
0,01
0,01
0,21
0,00
0,00
0,04
0,00
0,01
0,02
0,00
0,00
0,01
0,00
0,01
0,00
0,02
0,02
0,01
0,00
0,01
0,08
0,00
0,01
0,01
0,01
0,00
0,00
0,01
0,03
0,01
0,01
0,01
0,67
0,01
0,02
0,01
0,03
0,00
0,01
0,01
0,10
0,00
0,00
0,04
0,01
0,01
0,04
0,00
0,01
0,01
0,00
0,12
0,00
0,05
0,03
0,01
0,01
0,01
0,02
0,00
0,07
0,01
0,01
0,13
0,00
0,05
0,04
0,01
0,03
0,00
0,94
Astorga
Campo Mourão
Capa nema
Cascavel
Cerro Azul
Cianorte
Cornélio Pr oc ópio
Curitiba
Faxinal
Floraí
Foz do Iguaçu
Francisco Beltrão
Goioerê
Guarapuava
Ibaiti
Ira ti
Ivaiporã
Jacarezinho
Jaguariaíva
Lapa
Londrina
Maringá
Palmas
Paranaguá
Paranavaí
Pa to Branco
Pitanga
Ponta Grossa
Por ec atu
Prudentópolis
Rio Negro
São Mateus do Sul
Telêmaco Borba
Toledo
Umuarama
União da Vitória
Wenceslau Braz
TO TA L
Fonte: Resultados da Pesquisa.
4.3. Coeficiente de especialização
A especialização das microrregiões do estado do
Paraná nos segmentos considerados nesta pesquisa
em relação ao ano 2009 é observada através do
coeficiente de Especialização (Tabela 6). Este coeficiente
compara a estrutura de cada uma das microrregiões
com a estrutura produtiva estadual.
No geral, os índices mostraram-se muito próximos,
com CEspj entre zero e 0,2, indicando certo grau de
homogeneidade entre as 39 microrregiões. Porém, cabe
ressaltar que algumas regiões possuem especialização
relevante em determinados segmentos, são elas: Ponta
Grossa e Telêmaco Borba, especializadas na fabricação
de celulose, papel e produtos de papel; Jaguariaíva,
especializada na fabricação de celulose, papel, produtos
de papel e também no segmento fabricação de produtos
de madeira; Rio Negro, especializada na fabricação
de produtos de madeira; e Apucarana, especializada
em móveis.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo demonstrou, na sua revisão
de literatura, que a indústria madeireira faz parte da
história do Paraná e fez parte de um ciclo econômico
muito importante para o estado. As florestas nativas
foram se esgotando rapidamente e, para suprir a
necessidade de matéria-prima, o estado usou como
alternativa os reflorestamentos de pinus e eucalipto.
Os reflorestamentos têm papel fundamental na
economia paranaense, visto que estes, através de políticas
de fomento florestal, geram renda para os pequenos
proprietários de terras e garantem o fornecimento de
matéria prima para o setor madeireiro.
A indústria madeireira no estado do Paraná é
influenciada por uma alta carga tributária e pelas
variações cambiais. Com a valorização do real frente
ao dólar, a exportação de produtos de madeira tende
a diminuir. Porém, o crescimento da construção civil
gera uma oportunidade para esses produtos no mercado
interno.
O Paraná possui importantes Arranjos Produtivos
Locais relacionados aos setores de móveis e madeira.
Percebe-se, então, a forte relação entre os dois setores,
visto que o segmento fabricação de produtos de madeira
fornece insumos para a fabricação de móveis.
Os objetivos do trabalho foram alcançados, já
que as medidas regionais foram eficientes e
demonstraram que algumas microrregiões possuem
Valor Adicionado Fiscal mais relevante em nível estadual
e outras que apresentaram um padrão de concentração
regional mais intenso, além daquelas com maior grau
de especialização.
Como o tema estudado é muito amplo, sugerese ainda a análise conjunta com outros setores
relacionados indiretamente com a indústria madeireira,
bem como análises de séries temporais para observar
variações nas medidas regionais e aprofundar mais
os conhecimentos a respeito da indústria madeireira
no Paraná.
6. REFERÊNCIAS
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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012
Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária...
21
FORMALIZAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA: O CASO DA ASSESSORIA À
PADARIA ARTESANAL COMUNITÁRIA "MÃOS DE FIBRA" 1
Diego Neves de Sousa2, Cleiton Silva Ferreira Milagres3, Marcelo Miná Dias4, Dayane Rouse Neves
Sousa5, Cléverson Silva Ferreira Milagres6
RESUMO – Este relato de experiência é originado de um trabalho de extensão com o objetivo de oferecer
assessoria técnica e especializada ao empreendimento econômico solidário Padaria Artesanal Comunitária
“Mãos de Fibra”, localizado na zona rural de Viçosa-MG. A Padaria tem a característica de ser predominantemente
formada por mulheres rurais. Estas vêm desenvolvendo a produção e comercialização dos pães caseiros.
Boa parte da produção resgata a tradição de receitas de seus antepassados. Nessa perspectiva, esta diversidade
de produção de alimentos resultou na criação de um novo serviço, denominado “lanchão”, servidos em
eventos. Entre os objetivos específicos, as ações estão orientadas para a formalização do empreendimento
em uma associação e para a agregação de valores aos produtos artesanais e agroindustriais já comercializados
com a finalidade de qualificar a inserção do grupo em mercados especializados. Entre os resultados, percebese que houve melhorias na comunidade desde a formalização do empreendimento “Associação dos Agricultores
Familiares Mãos de Fibra”, pois permitiu a concretização de uma estrutura organizacional formal e autossustentável,
possibilitando oferecer condições dignas de trabalho, aumentar a produção e otimizar os resultados econômicos
e sociais. Assim, ao capacitar os membros do empreendimento, qualificou-se a possibilidade dessas famílias
se tornarem agentes ativos e com papel destacado no processo de desenvolvimento comunitário, contribuindo
para a sustentabilidade socioeconômica e criando condições que propiciem melhor renda e qualidade de
vida.
Palavras-chave: Associativismo, formalização, geração de renda.
FORMALISATION AND INCOME GENERATION: THE CASE OF ADVICE IN
PADARIA ARTESANAL COMUNITÁRIA "MÃOS DE FIBRA"
ABSTRACT – This experience report is derived from a work of extension with the goal of providing technical
advice and skilled to solidarity economic enterpr ise “Padaria Artesanal Comunitária Mãos de Fibra”
located in rural area of Viçosa-MG. The Bakery has the characteristic of being predominantly made up
by rural women. Th ese ha ve been dev eloping the production and sale o f homemade breads. Much of
the production revenue recovers the tradition of their ancestors. From this perspective, this diversity of
food production resulted in the creation of a new service, called “lanchão”, equivalent to “coffee breaks”
se rved at even ts. Among the specific objectives, actions are dire cted towards the formalization of the
enterprise in an association and aggregation of value to the handcraft and agribusiness products already
marketed in order to qualify for inclusion of the group in specialized markets. Among the results, it is
perceived that there were improvements in the community since the formalization of the enterprise “Associação
dos Agricultores Familiares Mãos de Fibra”, because it allowed the realization of a formal organizational
Projeto de extensão universitária financiado pelo Pibex/UFV.
Gestor de Cooperativas, Mestre em Extensão Rural (UFV). Analista em Transferência de Tecnologia da Embrapa Pesca
e Aquicultura.
3
Gestor de Cooperativas, Mestre em Extensão Rural (UFV). Analista de capacitação do SESCOOP - Tocantins.
4
Agrônomo, Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA). Professor Adjunto da UFV.
5
Graduanda em Cooperativismo (UFV), bolsista do Pibex.
6
Graduando em Gestão do Agronegócio (UFV).
1
2
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2.
22
SOUSA, de D.N. et al.
structure and self-sustaining, enabling provide decent working conditions, increase production and optimize
the eco nomic and social outcomes. Thus, by providing capacitation to the members of the assoc iation,
the extension project qualified the possibilities of the families to become active agents of the local development
process, also contributing to socioeconomic sustainability and creating conditions for the participants
to provide better income and quality of life.
Key Words: Association, formalisation, income generation
1. INTRODUÇÃO
Este relato objetiva apresentar a experiência de
assessoria técnica e especializada ao grupo informal
denominado Padaria Artesanal Comunitária “Mãos de
Fibra”, composto por agricultoras familiares do município
de Viçosa-MG. A meta do trabalho de assessoria era
a formalização do empreendimento – de modo que fosse
constituída uma associação –, a agregação de valor
aos produtos artesanais e agroindustriais já
comercializados e o apoio ao empreendimento de novas
atividades geradoras de renda.
A proposta de ação extensionista se iniciou por
meio de um trabalho de assessoria – financiado pelo
Proext Cultura/2009-2010 – tendo surgido do envolvimento
de um grupo de discentes do Curso de Cooperativismo
e docentes da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
com as famílias rurais pertencentes às comunidades de
Zig-Zag, Violeira, Estação Velha e Buieié, todas localizadas
na zona rural de Viçosa-MG.
O grupo já contava com o apoio de outras
organizações e entidades, que desenvolviam projetos
diversos e pouco articulados. Além da UFV, por meio
do projeto de extensão aqui apresentado, estavam,
junto ao grupo, a Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATERMG), o Centro de Tecnologias Alternativas Zona da
Mata (CTA-ZM), o Programa de Extensão TEIA, também
da UFV, e a organização não governamental NAVI (Núcleo
de Arte Viva).
A Padaria Artesanal surgiu da atividade coletiva
de um grupo de 16 componentes, mulheres de origem
rural que buscaram diversificar suas fontes de renda.
Para tanto, reuniram-se, uma vez por semana, para
produzir pães caseiros. O ofício foi ensinado ao grupo
por uma de suas componentes. A comercialização ocorria
por meio de uma rede de conhecidos, dentre eles
professores universitários, que passaram a formar uma
clientela fiel. A matéria-prima para a produção era
basicamente originária da localidade, assim como as
receitas, derivadas de modos tradicionais de fabricar
pães na comunidade. Assim, foi surgindo uma variedade
de produtos: pães caseiros de moranga, mandioca, batata,
pão integral, além de broas, bolos e biscoitos. Da
diversidade de produtos e sua aceitação surgiu a ideia
da oferta de um serviço: o “lanchão”, oferecido em
intervalos de eventos acadêmicos e profissionais,
aproveitando a demanda existente na UFV.
Com o incremento da demanda, o grupo percebeu
que necessitava agir de modo mais organizado. Seus
produtos, embora reconhecidos pela qualidade, pouco
se diferenciavam em relação a produtos assemelhados
disponíveis no mercado local. Ou seja, faltava aos produtos
uma identidade. Diante desse diagnóstico propôs-se
ao grupo agregar valor aos produtos, acentuando a
identidade “tipicamente rural” dos produtos e sua feitura
artesanal. A proposta conduziu à decisão de criar uma
logomarca que identificasse o grupo e seus produtos.
No processo de assessoria verificou-se que o desejo
de qualificação do empreendimento esbarra na percepção
do grupo e da equipe que os assessorava, na falta
de formalização do grupo, que dificulta a certificação
da produção e o processo de comercialização. Nesse
sentido, a ação extensionista na Padaria Artesanal
Comunitária “Mãos de Fibra” buscou articular o resgate
de valores culturais presentes na comunidade rural
de origem do empreendimento, criando uma identidade
visual para a marca de seus produtos (contribuindo,
assim, para as habilidades profissionais de suas
componentes); apoiar a formalização do empreendimento
coletivo; e criar condições básicas que propiciassem
melhor renda e, de forma indireta, como possível resultado
do incremento de renda, melhorar as condições de vida
das famílias.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A atividade de assessoria é compreendida como
uma ação de mediação e aprendizado coletivo. Para
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2.
Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária...
23
possibilitar aprendizagem nos trabalhos que envolvem
grupos e assessores, entende-se que a participação tornase instrumento essencial à expressão de percepções,
leituras de processos, demandas e projetos (Baas, 1998).
Assim, as técnicas, dinâmicas e instrumentos são
mobilizados pelos assessores para possibilitar e estimular
a participação de todos os envolvidos, de modo a facilitar
a construção de percepções compartilhadas e o
comprometimento por meio dos acordos elaborados
coletivamente (Tatagiba & Filártiga, 2002).
ano antes, as etapas de mobilização dos membros e
a do diagnóstico participativo já haviam sido executadas,
e a partir dos resultados obtidos surgiu a necessidade
de elaborar esta nova etapa do projeto. Desta forma,
as ações executadas responderam às necessidades
apontadas pelos membros da Padaria durante a realização
da etapa de diagnóstico. Assim, um novo planejamento
foi elaborado e as ações desencadeadas a partir das
novas demandas do grupo, sendo a principal delas
a formalização do empreendimento.
Neste intento, como forma de ação conjunta capaz
de abranger uma maior participação dos membros, visando
à formação e ao crescimento coletivo e trazendo os
indivíduos para o campo de tomada de decisões, foi
de suma relevância o contato com a UFV, principalmente
por meio dos estudantes do curso de cooperativismo,
que possuem formação profissional que os capacita
a trabalhar na gestão de empreendimentos
autogestionários e solidários.
De início foram realizadas algumas oficinas e
atividades de capacitação. Num segundo momento, com
o apoio da técnica de entrevista semiestruturada e de
dinâmicas de grupo, foi construído o estatuto social
da associação. Para elaborá-lo foram realizadas reuniões
periódicas com o auxílio de um advogado, também membro
integrante do projeto, para que todas as dúvidas quanto
ao processo de formalização fossem sanadas.
A sistemática adotada na execução desta ação
foi baseada na dinâmica de reuniões e oficinas, utilizandose do apoio da metodologia participativa. Desta forma,
a construção das práticas metodológicas neste trabalho
objetivou estimular a participação dos membros da
Padaria Artesanal Comunitária “Mãos de Fibra”, dentro
de suas possibilidades, visando a uma melhor
sensibilização, formação e crescimento coletivo,
capacitando-os para tomar decisões no processo de
interação.
A Figura 1 demonstra o enfoque dado à metodologia
adotada neste trabalho de extensão desenvolvido na
Padaria Artesanal Comunitária "Mãos de Fibra".
Como o projeto aqui descrito foi uma continuidade
do que havia sido desenvolvido pela equipe de um
projeto de extensão financiado pelo Proext Cultura um
A participação foi essencial para que houvesse
envolvimento e comprometimento das componentes
da padaria com o projeto de formalização. As dinâmicas
participativas – facilitadas pelas técnicas e instrumentos
metodológicos utilizados – possibilitaram trabalhar
os conteúdos teóricos de modo a relacioná-los com
conhecimentos e experiências presentes no grupo. Nesse
processo buscaram-se o resgate e a valorização cultural
das experiências e do conhecimento proveniente da
própria comunidade, construindo um tipo de diálogo
entre o saber cotidiano e o saber acadêmico, gerando
assim um ambiente de aprendizado para todos os
envolvidos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As associações que se constituem a partir da
economia solidária têm buscado, a duras penas, inserção
Figura 1 - Metodologia geral adotada para as ações da Padaria Comunitária.
Fonte: Adaptado de Olival (2006).
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2.
24
qualitativa e sustentável em mercados que possibilitem
incrementar sua renda e, ao mesmo tempo, manter os
princípios da economia solidária. Estes mercados, longe
de serem solidários e abertos às necessidades de inclusão
social desses grupos, são geralmente seletivos,
competitivos e excludentes. Este caráter da economia
capitalista gera a necessidade de qualificação e capacitação
para capacitar empreendimentos econômicos solidários
e de produção em pequena escala, para os quais a
proximidade das relações econômicas e a afirmação
do pertencimento a uma forma culturalmente enraizada
de produzir são elementos essenciais (Altvater, 2010).
Considerando esse cenário, um passo importante
para a Padaria Comunitária “Mãos de Fibra” seria a
sua formalização como uma associação, de modo a ter
legitimidade para representar, judicialmente, seus
filiados, como também acessar os benefícios dos
programas de políticas públicas que exigem a
formalização dos grupos. O grupo historicamente
vinculado à Padaria formalizou-se, em 2010, como
Associação dos Agricultores Familiares “Mãos de Fibra”.
A formalização do empreendimento foi uma etapa
fundamental do esforço para qualificar o processo
produtivo, agregar valor aos produtos e incrementar
a renda. A qualificação do processo produtivo viria
com o acesso a recursos de políticas públicas; a agregação
de valor com a criação de uma marca para os produtos
e sua vinculação à associação e à cultura local; e o
incremento de renda seria esperado como resultado
das melhorias técnicas e formais introduzidas.
Ademais, a formalização do empreendimento coletivo,
como organização comunitária, seria uma instituição
importante na promoção da participação social dos
envolvidos na comunidade e na condução de suas
ações e decisões, a fim de promover o desenvolvimento
local. Além disso, concorre positivamente para promover
a ação empreendedora comunitária, entendendo que
a mesma depende da existência de objetivos, regras
e metas compartilhados.
A formalização possibilitou que o grupo fosse
beneficiado com recursos do Projeto de Agroindústria
do Programa “Minas Sem Fome”, implementado pelo
governo do estado de Minas Gerais. Os recursos
adquiridos e a colaboração de parceiros possibilitaram
ao grupo comprar um terreno para a construção da
sede da Padaria. Em vistas à construção, houve doações
de materiais para a estrutura física, e vários parceiros
SOUSA, de D.N. et al.
e pessoas da comunidade participaram de um mutirão
para erguer o prédio, que obedeceu às normas da
legislação vigente para empreendimentos de panificação.
Quando os recursos para pagar a mão-de-obra ficaram
escassos, a contratação de pedreiros foi possível graças
à arrecadação de fundos viabilizada pela promoção
de eventos beneficentes.
Assim, ao elencar os resultados da ação
desencadeada pelo projeto, é importante compreender
que a Padaria – sua trajetória e seu significado local
– mobilizou uma rede de parceiros que potencializou
as ações do projeto, determinando resultados que não
podem ser imputados somente à ação de um dos atores
envolvidos.
Ao longo do processo de formalização percebeuse a necessidade de construir coletivamente a
identidade do grupo, criando um nome representativo
para a associação e também uma logomarca. Foi então
r ea l iza d a u m a pe sq ui sa e nt r e c oop e r at iv as ,
associações e ONGs brasileiras de produtores
artesanais, a qual constatou que as marcas mais fortes
do mercado são compostas por nomes próprios que
representem o seguimento de caráter da organização.
Um bom exemplo é a CRIOULA, organização não
g ov e r na m en ta l q ue t ra b a lh a c o m m ulh e r es ,
adolescentes e meninas negras, basicamente em
comunidades carentes do Rio de Janeiro, produzindo
e comercializando artesanalmente produtos afrobrasileiros com grande aceitação mercantil.
As experiências pesquisadas e apresentadas ao
grupo “Mãos de Fibra” resultaram na definição de uma
denominação que, ao ser relacionada ao grupo, também
comunicasse a identidade individual e a identidade
do mineiro do interior, bastante apegado ao rural e
aos seus valores. Ao longo das discussões em grupo
também ficou patente que a logomarca deveria caracterizar
também a identidade das mulheres como “trabalhadoras
rurais”. Assim, a denominação “Mãos de Fibra”, mantida
como identificação histórica do grupo, tornou-se marca
para o grupo e para seus produtos.
A etapa final de elaboração da marca foi a
contratação, pelo grupo e com apoio do projeto, de
uma assessoria técnica especializada na elaboração
de logomarcas. Esta assessoria foi integrada ao trabalho
participativo de construção coletiva da identidade visual.
Estas ações também tiveram como resultado o fato
de o grupo envolvido desenvolver capacidades para
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2.
Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária...
25
planejar ações, definir objetivos, articular-se com parceiros
e tomar decisões coletivas sobre as necessidades do
grupo.
contribuindo para a sustentabilidade socioeconômica
e criando condições que propiciem melhor renda e
qualidade de vida.
4. CONCLUSÕES
5. LITERATURA CITADA
Analisando os resultados diretos e indiretos da
ação extensionista desenvolvida, percebe-se que houve
melhorias no grupo e na comunidade após a formalização
do empreendimento Associação dos Agricultores
Familiares “Mãos de Fibra”. A formalização permitiu
a concretização de uma estrutura organizacional formal
que busca ser solidária e autossustentável, possibilitando
oferecer condições dignas de trabalho, aumentar a
produção e otimizar os resultados econômicos e sociais.
Nesse sentido, ao capacitar os membros do
empreendimento para que participassem de maneira
mais qualificada nos processos decisórios, promoveu5
se
a formação de cidadãos capazes de atuar na gestão
dos processos locais voltados para o desenvolvimento
humano e para a inclusão social, ou seja, a organização
das famílias rurais em um empreendimento cooperativo.
Além do mais, qualificou-se a possibilidade dessas
famílias se tornarem agentes ativos e com papel destacado
no processo de desenvolvimento comunitário,
ALTVATER, E. O fim do capitalismo
como o conhecemos. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010.
BAAS, S. Participatory Institutional
Development. Roma: FAO, 1998. Disponível
em: <http://www.fao.org/SD/ppDIRECT/
ppAN0012.HTM>. Acesso em 5 de abril de 2012.
OLIVAL, A.A. Estudo de Caso:
Participação e desenvolvimento
comunitário no município de
Carlinda/MT. Trabalho de Conclusão
apresentado a UFV no Curso de Pós-graduação
Lato Sensu em Cooperativismo. Viçosa/MG, 2006.
TATAGIBA, M.C.; FILÁRTIGA, V. Vivendo e
aprendendo com grupos: uma
metodologia construtivista de
dinâmica de grupo. 2ª ed. Rio de Janeiro:
DP&A, 2002.
Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2.
26
SANTOS, de T.M. et al.
TEMPO DE ARMAZENAMENTO E MÉTODOS DE QUEBRA DE DORMÊNCIA
EM SEMENTES DO MARACUJÁ-DE-RESTINGA
Telma Miranda dos Santos1, Patrícia Silva Flores2, Sílvia Paula de Oliveira 3, Danielle Fabíola Pereira da
Silva2*, Cláudio Horst Bruckner4
RESUMO – O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos do período de armazenamento e tratamento em
banho-maria à 50 oC ou escarificação com lixa na quebra da dormência de sementes de Passiflora mucronata.
Os períodos de armazenamento foram: zero, um, quatro e doze meses. As sementes foram semeadas em rolo
de papel Germitest e incubadas em câmara de germinação com temperatura alternada entre 20ºC por 8 horas
e 30ºC por 16 horas, com fotoperíodo de 16 h (32 mol m -2 s -1). A percentagem de germinação foi avaliada,
sendo as sementes colocadas em rolos de papel Germitest umedecidos em água destilada na proporção de duas
vezes e meia do peso do papel. As sementes foram transferidas para câmara de germinação com alternância
de temperatura de 20-30 ºC, e fotoperíodo de 16 h até o final do experimento, aos 31 dias. O delineamento
experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, considerando como unidade experimental
cada lote de 50 sementes. O período de armazenamento teve um efeito significativo na variável estudada,
sendo a maior porcentagem de germinação obtida nas sementes recém-colhidas. Ao primeiro mês de avaliação
foi observado o decréscimo da germinação. Após quatro e doze meses de armazenamento, não foi observada
germinação. Os tratamentos com banho-maria ou escarificação com lixa favoreceram a germinação das sementes
de P. mucronata, armazenadas por um e quatro meses, porém mesmo com o estímulo dos tratamentos, os
valores de germinação final foram baixos. Nas sementes armazenadas por 12 meses os tratamentos utilizados
não foram eficientes para estimular a germinação.
Palavras-chave: Dormência, germinação de sementes, propagação, Passiflora mucronata.
EFFECTS OF STORAGE PERIODS AND METHODS OF OVERCOMING
DORMANCY IN SEEDS OF PASSIFLORA
ABSTRACT – The aim of this work was to evaluate the effects of storage period and treatement with hot water
at 50ºC or scarification on dormancy break down on Passiflora mucronata seeds. The storage periods were
0, 1, 4 and 12 months. The seeds were sown onto Germitest paper roll and incubated in a germination chamber
under 20ºC/8h-30ºC/16h alternate temperature, at 16-h photoperiod (fluorescent light at 32 mol m-2 s -1 irradiance).
The percent germination was evaluated, and the seeds germinated on moistened Germitest paper rolls in
distilled water at a ratio of two and a half times the paper weight. The seeds were transferred to a germination
chamber with alternating temperatures of 20-30º C and photoperiod of 16 h until the end of the experiment
at 31 days. The experiment was analyzed as completely randomized designed with four replications, in which
each plot was constituted by 50 seeds. The storage periods had significant effect on the variable studied,
Engenheira-Agrônoma, Mestre, Doutoranda do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H.
Rolfs, s/n - Campus Universitário - Viçosa-MG - [email protected]
2
Engenheira Agrônoma - Doutora - Pesquisadora A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Acre (Embrapa Acre),
BR-364, km 14, CP 321, 69908-970, Rio Branco, Acre, Brasil. E-mail: [email protected].
3
Estudante de Agronomia - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H. Rolfs, s/n - Campus
Universitário - Viçosa-MG - [email protected]
4
Engenheiro-Agrônomo, Doutor, Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H. Rolfs, s/n, 36.570000, Viçosa-MG - [email protected]
Fontes financiadoras: CAPES, CNPq e FAPEMIG
1
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12
Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em sementes do maracujá-de-restinga
27
where the higher germination was obtained at freshly harvested seeds. At the first month of evaluation the
germination decreased. After 4 and 12 months of storage, no germination was detected. The treatment with
hot water at 50º or scarification favored the germination of the Passiflora seeds stored by one and four months,
however even with the stimulus of the treatments, the values of final germination were low. The treatments
were not efficient to stimulate the seed germination stored by 12 months.
Key Words: Dormancy, propagation, Passiflora mucronata, seed germination.
1. INTRODUÇÃO
No mundo, existem mais de 580 espécies de
maracujazeiros, grande parte nativa da América Tropical
e Subtropical, principalmente do Brasil (Lopes et al.,
2010). Dentre as passifloráceas silvestres pouco
conhecidas, destaca-se o maracujá-de-restinga ou sururu
(Passiflora mucronata L.) (Lorenzi et al., 2006). Esta
espécie é citada como fonte de resistência a Fusarium
solani (Fischer et al., 2005), à bacteriose nas folhas
e à antracnose nos frutos e ramos (Junqueira et al.,
2005), representando uma importante alternativa para
uso potencial como porta-enxerto.
Apesar de esta espécie ser propagada por sementes
(Lorenzi et al., 2006), não foram encontradas na literatura
informações sobre a sua biologia reprodutiva, tampouco
sobre as necessidades para germinação das sementes
e tempo de armazenamento. Muitas espécies de
passifloras silvestres apresentam dificuldades na
germinação de suas sementes. Segundo Morley-Bunker
(1974), sementes de muitas passifloras apresentam
dormência relacionada a mecanismos de controle de
água para o interior da semente. O tegumento espesso
das sementes é citado como o fator limitante à
permeabilidade. Tratamentos como a escarificação
química do tegumento de sementes de P. nitida (Silva
et al., 2008) e a escarificação mecânica em sementes
de P. alata (Rossetto et al., 2000) têm sido utilizados
para aumentar a germinação das sementes destas
espécies.
Em canafístula (Peltophorum dubium), uma
leguminosa lenhosa com tegumento com alta dureza,
a exposição das sementes ao calor úmido proporcionou
o amolecimento do tegumento e o aumento na
porcentagem e na velocidade da germinação das sementes
(Perez et al., 1999). Tsuboi & Nakagawa (1992) verificaram
que, além da escarificação das sementes de maracujáamarelo com lixa, a imersão em água quente foi eficiente
para facilitar a entrada de água na semente e promover
a germinação rápida e uniforme. Também em maracujazeiro
amarelo, Wagner Junior et al. (2007) verificaram melhor
germinação de sementes não trincadas em relação às
trincadas e Alexandre et al. (2004) verificaram que a
porcentagem de germinação das sementes e o índice
de velocidade de emergência não foram influenciados
pelos tempos de embebição estudados, mas pelo genótipo
das plantas. O armazenamento das sementes também
é citado como método para auxiliar no aumento da
porcentagem de germinação em passifloras. Em P. nitida,
é necessário que as sementes sejam armazenadas por
quatro a seis meses para a superação de dormência
(Melo, 1996). Em maracujazeiro amarelo, Negreiros et
al. (2006) verificaram que a extração de sementes deve
ser realizada de frutos em estádio de maturação 2 e
3 e que o desenvolvimento das mudas foi melhor
mantendo-se os frutos durante 3 a 6 dias em
armazenamento antes da extração de suas sementes.
O conhecimento sobre os aspectos da germinação
de sementes das diversas espécies de passifloras é
fundamental para a propagação e para a manutenção
de bancos de germoplasma, visando evitar a erosão
genética. Estudos efetuados nesse gênero são ainda
incipientes (Passos et al., 2004).
Dessa forma, os objetivos do trabalho foram avaliar
a germinação de sementes recém-colhidas de Passiflora
mucronata e a germinação após diferentes tempos de
armazenamento. Adicionalmente, foram avaliados os
efeitos dos tratamentos com escarificação do tegumento
com lixa e imersão das sementes em banho-maria, a 50
ºC, sobre a germinação das sementes armazenadas.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório
de Sementes do Departamento de Fitotecnia da
Universidade Federal de Viçosa (UFV) em Viçosa-MG.
Foram utilizadas sementes obtidas de frutos maduros
de P. mucronata, provenientes de polinização natural
de plantas mantidas na área experimental do Setor de
Fruticultura da UFV.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12
28
Após a coleta dos frutos e extração da polpa,
o arilo mucilaginoso foi retirado friccionando as sementes
com cal hidratada, em peneira de arame (3 mm). As
sementes foram armazenadas em geladeira a 15 oC, até
o momento das avaliações.
No primeiro experimento, foi avaliada a germinação
de sementes recém-colhidas. Após a assepsia em solução
de álcool 70% (v/v) durante 1 minuto, e em hipoclorito
de sódio (2,5 % de cloro ativo) por 10 minutos, as sementes
foram colocadas para germinar em rolos de papel
Germitest umedecidos em água destilada na proporção
de duas vezes e meia do peso do papel (Brasil, 2009).
As sementes foram transferidas para câmara de
germinação com alternância de temperatura de 20-30ºC,
e fotoperíodo de 16 h até o final do experimento, aos
31 dias. O delineamento empregado foi inteiramente
casualizado, com quatro repetições, sendo cada parcela
composta de 50 sementes. Foram consideradas
germinadas as sementes que emitiram radícula e plúmula
perfeitas, avaliadas aos 10, 15, 21, 26 e 31 dias. Os
dados foram analisados por meio de análise de regressão,
com o auxílio do programa SAEG 9.1 (2007). O modelo
foi escolhido com base na significância dos coeficientes
de regressão no nível de 5% de probabilidade pelo
teste “t”, de Student, no coeficiente de determinação
e no potencial para explicar o fenômeno biológico.
No segundo experimento, foi avaliada a porcentagem
de germinação de sementes de P. mucronata armazenadas
durante os períodos de um, quatro e doze meses.
Paralelamente, foi testado o efeito de pré-tratamentos
sobre a germinação das sementes. Os pré-tratamentos
foram: imersão das sementes em banho-maria a 50 ºC
por cinco minutos ou escarificação do tegumento em
lixa nº 60. Este experimento foi realizado nas mesmas
condições que o experimento citado anteriormente,
sendo a germinação avaliada após 28 dias.
SANTOS, de T.M. et al.
das sementes e imersão das mesmas em água por 24
horas em temperatura ambiente (Brasil, 2009). Em seguida,
as sementes foram imersas em solução de tetrazólio
(0,075%) por quatro horas a 30oC em ausência de luz
(Malavasi et al., 2001). O padrão de coloração destas
sementes foi comparado com a coloração de sementes
viáveis, recém-colhidas e submetidas à solução de
tetrazólio, sob as mesmas condições descritas
anteriormente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A germinação final das sementes recém-colhidas
foi de 79,54% (Figura 1). Melo (1999) obteve germinação
máxima de 60% em sementes de P. nitida. Nogueira
Filho et al. (2005), trabalhando com sementes de P.
giberti e P. setacea embebidas por 12 horas em água
destilada e semeadas em bandejas plásticas contendo
substrato comercial plantmax, observaram que a máxima
germinação ocorreu 58 dias após a semeadura (32%
e 28%, respectivamente). Assim, a porcentagem de
germinação de sementes recém-colhidas de P.
mucronata observadas no presente trabalho foi
considerada elevada quando comparada a valores de
porcentagem de germinação de outras espécies
silvestres de Passiflora.
A curva de germinação foi ajustada ao modelo
polinomial, na qual é possível observar uma desaceleração
a partir dos 26 dias (Figura 1). Diante dos resultados,
sugere-se 31 dias como período necessário e suficiente
à germinação de P. mucronata. De acordo com Marcos
Filho (2005), em períodos prolongados as sementes
ficam mais tempo expostas a condições favoráveis à
proliferação de fungos, o que pode ocasionar o aumento
Empregou-se o delineamento inteiramente
casualizado, com quatro repetições e 50 sementes por
parcela. A análise estatística utilizada para esse
experimento foi descritiva.
Ao final do período de avaliações, foram coletadas
cinco amostras compostas por 10 sementes não
germinadas do lote armazenado por 12 meses provenientes
dos tratamentos em banho-maria e escarificação com
lixa. Foi contabilizado o número de sementes vazias
ou chochas e sementes viáveis. Para a análise da
viabilidade, foi feita a retirada completa do tegumento
Figura 1 - Germinação de sementes de Passiflora mucronata
obtidas de frutos recém-colhidos.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12
Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em sementes do maracujá-de-restinga
29
da porcentagem de sementes mortas, o que pode ser
observado durante este experimento.
aos tratamentos em banho-maria a 50o C ou escarificação
com lixa (Tabela 1).
Apesar do alto potencial germinativo observado
no experimento um, a porcentagem de germinação reduziuse bruscamente com o tempo de armazenamento. Após
um mês de armazenamento, apenas 4% das sementes
(não tratadas) germinaram (Tabela 1). Resultados
semelhantes foram observados por Nogueira Filho et
al. (2005), que trabalhando com P. caerulea, observaram
germinação de 55% das sementes recém colhidas e,
após 37 dias de armazenamento, as sementes do mesmo
lote que o anterior não germinaram.
Através do teste de tetrazólio, observou-se que
20% das sementes armazenadas por 12 meses estavam
vazias ou chochas e, dentre as sementes cheias, 71,19%
se mantinham viáveis (Tabela 2).
Nas sementes com um mês de armazenamento,
submetidas aos tratamentos em banho-maria a 50
o
C ou escarificação com lixa, observou-se a germinação
de 6,67% e 7,33% das sementes, respectivamente
(Tabela 1). Estes valores representaram um pequeno
aumento na germinação quando comparados ao valor
obse rv ad o no tra tame nto co ntro le ( 4,0% de
germinação) após o mesmo período de armazenamento
(Tabela 1).
Nas sementes com quatro meses de armazenamento,
ocorreu germinação apenas quando as sementes foram
previamente submetidas a 50o C em banho-maria ou
escarificadas com lixa, resultando em 1,33% de germinação
em ambos os tratamentos (Tabela 1).
As sementes de Passiflora mucronata armazenadas
por 12 meses não germinaram, mesmo quando submetidas
As sementes submetidas ao teste com tetrazólio
apresentaram coloração interna homogênea, típica de
tecidos sadios, conforme Malavasi et al. (2001). Isto
sugere que um mecanismo de dormência secundária
pode estar envolvido no impedimento da germinação
das sementes desta espécie. De acordo com Bewley
& Black (1994), a dormência secundária ocorre através
do efeito inibidor dos cotilédones e de substâncias
inibidoras da germinação sobre o eixo embrionário.
Segundo estes autores, o contato dos cotilédones com
o substrato úmido promove a distribuição do inibidor
químico para o meio, inibindo a germinação e mantendo
a semente dormente.
4. CONCLUSÕES
As sementes de Passiflora mucronata recémcolhidas possuem alto potencial germinativo, mas com
o passar do tempo a germinação diminui, sendo zero
aos quatro e 12 meses de armazenamento. Pré-tratamentos
em banho-maria e escarificação com lixa promoveram
um pequeno aumento na germinação das sementes de
Passiflora mucronata, mas não o suficiente para aquelas
armazenadas por 12 meses.
Tabela 1 - Germinação (%) de sementes de Passiflora mucronata submetidas a tempos de armazenamento e pré-tratamentos
germinativos
Tempo de armaz ename nto
Pr é -t r a t a me nt o
Te stemunha
Banho-maria
Escarificação com lixa
Tot a l
1 mês
4 meses
12 meses
4,00±2, 00
6,67±3, 33
7,33±3, 67
0,00
1,33±0, 67
1,33±0, 67
0,00
0,00
0,00
18 , 0 0
2,66
0,00
Tabela 2 - Viabilidade de sementes de Passiflora mucronata com 12 meses de armazenamento, submetidas a pré-tratamentos
em banho-maria ou escarificação com lixa
Sementes chochas/vazias (%)
Sementes viáveis pelo teste de tetrazólio (%)
Banho-maria
Escarificação com lixa
Média
18,00 ±4, 47
73,33 ±9, 59
22,00 ±8, 37
69,04±11, 58
20 , 0 0
71 , 1 9
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12
30
SANTOS, de T.M. et al.
5. LITERATURA CITADA
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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12
32
LEMOS, J.P. et al.
EFEITO DA ROÇADA DAS ESPÉCIES BIDENS PILOSA E COMMELINA
BENGHALENSIS NAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DO MILHO 1
João Paulo Lemos2, João Carlos Cardoso Galvão3, Antônio Alberto da Silva 4, Anastácia Fontanetti5,
Lorena Moreira Carvalho Lemos6
RESUMO – Devido ao estudo da interação e competição entre a cultura explorada e as plantas daninhas ser
de suma importância para diagnosticar a eficiência do manejo das mesmas, principalmente o controle mecânico,
realizou-se este trabalho com o objetivo de avaliar os efeitos da interferência de Bidens pilosa e Commelina
benghalensis, roçadas em diferentes épocas, sobre as características morfológicas de plantas de milho conduzidas
em casa de vegetação. O delineamento experimental foi em blocos inteiramente casualizados, com três repetições,
em esquema fatorial 2 x 3 + 1, em que o primeiro fator consistiu de duas plantas daninhas e o segundo de
três épocas de manejos dessas plantas (roçada no estádio de três folhas do milho, roçada no estádio de três
e seis folhas do milho e milho sem controle das plantas daninhas). O tratamento adicional (testemunha)
consistiu de cultivo do milho livre da interferência das plantas daninhas. Foram avaliados o acúmulo de matéria
seca nas plantas em todas as partes da planta de milho (folha, caule, raiz e órgãos florais), o intervalo entre
o florescimento masculino e feminino, o número de folhas (verdes, senescentes e totais), a área foliar específica,
a razão de massa foliar, a razão de massa caulinar, a razão de massa radicular e a razão parte aérea/sistema
radicular das plantas de milho em casa de vegetação. Independentemente da espécie de planta daninha estudada,
duas roçadas proporcionaram maior acúmulo de matéria seca nas plantas de milho. Plantas de milho em competição
com B. pilosa ou C. benghalensis, sem uso de controle, apresentaram reduções (MSF, ALT, NFV e RMF) e
incrementos (NFS, IAE e AFE) indesejáveis para o seu potencial produtivo.
Palavras-chave: Competição, cultivo orgânico, plantio direto.
EFFECT OF CLEARINGS OF BIDENS PILOSA AND COMMELINA
BENGHALENSIS SPECIES ON MORPHOLOGICAL CHARACTERISTICS OF CORN
ABSTRACT – Due to the study of the interaction and competition between the crop harvested, and the weed
is critical to diagnose the efficiency of the administration of them, especially the mechanical control. We
carried out this work in order to evaluate the effects of interference of Bidens pilosa and Commelina benghalensis,
mowed in different seasons on the morphological characteristics of corn plants conducted in a greenhouse.
The experimental design was in entirely casualized blocks, with three repetitions, in a factorial scheme 2 x 3 + 1,
on which the first factor consisted of two weeds and the second of three times of handling of these plants
(clearing of the stage of three corn leaves, clearing of the stage of three and six corn leaves, and corn without
Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da Universidade
Federal de Viçosa, UFV.
2
Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Estudante de Doutorado do Departamento de Fitotecnia, Bolsista CNPq - Universidade Federal
de Viçosa, DFT/UFV, 36570-000 Viçosa-MG, [email protected];
3
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Dep. de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa - DFT/UFV, Bolsista do
CNPq. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, Viçosa-MG, Brasil, 36.570-000, [email protected];
4
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Dep. de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa - DFT/UFV, Bolsista do
CNPq. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, Viçosa-MG, Brasil, 36.570-000, Enga.Agra., D.Sc., [email protected];
5
Professora do Departamento de Agronomia - Centro de Ciências Agrárias/UFSCAR, Rod. Anhanguera, Km 174, Caixa Postal
330, Araras-SP, Brasil, 13.600-970, [email protected]
6
Engenheira Agrônoma, M.Sc., Estudante de Doutorado do Departamento de Fitotecnia, Bolsista CNPq - Universidade Federal
de Viçosa, DFT/UFV, 36570-000 Viçosa-MG, [email protected]
1
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12
Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características
33
weed control). The additional treatment (witness) consisted in the cultivation of corn free from the interference
of weeds. The accumulation of dry matter on plants in all parts of the corn plant (leaf, stalk, root, and floral
organs), the interval between male and female florescence, the number of leaves (green, senescent and total),
specific foliar area, foliar mass rate, stalk mass rate, root mass rate and aerial part/radicular system rate
of corn plants in greenhouses were evaluated. Independently from the weed species studies, two clearings
provided a bigger accumulation of dry matter on corn plants. Plant corn in competition with B. pilosa or
C. benghalensis without the use of control presented decreases (MSF, ALT, and NFV RMF) and increments
(NFS, IAE and AEF) undesirable for its productive potential.
Key Words: Competition, direct planting, organic cultivation.
1. INTRODUÇÃO
Em busca de um sistema de produção que mais
se aproxime do ideal da agricultura conservacionista
e sustentável, a melhor opção seria a prática do plantio
direto seguindo os princípios da agroecologia. Contudo,
uma das principais dificuldades dessa integração é
o controle das plantas daninhas sem o uso de herbicidas
(Fontanetti et al., 2006). O cultivo orgânico em sistema
de plantio direto possibilita a manutenção dos restos
culturais, proporcionando, além de outros benefícios,
o incremento de matéria orgânica. Entretanto, a infestação
de plantas indesejáveis no sistema orgânico atinge,
em três ou quatro anos, níveis que inviabilizam a
produção de milho (Corrêa et al., 2011).
O uso constante de roçadas no sistema de plantio
direto orgânico tem levado ao estabelecimento de espécies
de plantas daninhas que apresentam rebrota e/ou
propagação vegetativa, dificultando o seu manejo na
cultura do milho (Vaz de Melo et al., 2007). A importância
do controle dessas plantas daninhas é citada em vários
trabalhos (Vaz de Melo et al., 2007; Chiovato et al.,
2007; Pereira et al., 2009; Queiroz et al., 2010; Corrêa
et al., 2011).
Darolt & Skora Neto (2003), ao avaliar os diferentes
métodos de controle de plantas daninhas no plantio
de milho, observaram que é possível alcançar
produtividade acima de 6.500 kg de grãos de milho por
hectare utilizando-se como método de controle duas
roçagens. Também foi verificado que esse método
apresenta nível intermediário de mão-de-obra, ou seja,
é mais viável economicamente que o uso de uma capina
e um pouco mais oneroso que o uso de herbicida.
Com referência à roçagem das plantas daninhas,
na literatura nacional e internacional existem poucos
trabalhos que definem o comportamento das plantas
de milho em competição com as plantas daninhas roçadas,
principalmente no sistema de produção orgânica.
Sabendo da limitação da maioria dos pequenos
agricultores ao acesso às tecnologias e, aliado a isso,
da disponibilidade e de custo da mão-de-obra, o manejo
das plantas daninhas é apontado como um dos
importantes fatores na produção de milho em sistema
orgânico (Queiroz et al., 2010).
Mudanças morfológicas das plantas em ambientes
distintos de competição podem maximizar os resultados,
com o controle mais eficiente de plantas daninhas.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo
avaliar os efeitos da interferência de Bidens pilosa
e Commelina benghalensis quando submetidas a roçadas
sobre as características morfológicas de plantas de
milho.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido em casa de vegetação da
Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG, no
ano agrícola 2009/2010. O delineamento utilizado no
experimento foi o de blocos casualizados, com três
repetições, em esquema fatorial 2 x 3 + 1. O primeiro
fator foi constituído por duas espécies de plantas
daninhas utilizadas no experimento (Bidens pilosa e
Commelina benghalensis), e o segundo, por três
manejos dessas plantas (roçada no estádio de três folhas
do milho, roçada no estádio de três e seis folhas do
milho e milho sem controle das plantas daninhas). O
tratamento adicional (testemunha) consistiu no cultivo
do milho livre da interferência das plantas daninhas.
O milho da variedade de polinização aberta UFVM
100 Nativo foi semeado seis dias após C. benghalensis
e dois dias após B. pilosa, visando à emergência
simultânea do milho e das plantas daninhas. Esse período
foi definido em experimento preliminar, utilizando-se
o mesmo solo. A parcela experimental foi composta
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12
34
LEMOS, J.P. et al.
por um vaso com as seguintes dimensões: 35 cm diâmetro
superior, 22 cm de diâmetro inferior, 34 cm de altura
e com capacidade de 22 litros. O substrato para
enchimento dos vasos foi composto por amostras de
Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA) de textura
argiloarenosa (52% de areia, 10% de silte e 38% de
argila), coletado em barranco, para que fosse minimizada
a presença de sementes advindas do banco de sementes
do solo. Na Tabela 1 são apresentadas as características
químicas do solo.
As roçadas das plantas daninhas foram feitas com auxílio
de uma tesoura de aço, sendo a primeira realizada quando
as plantas de milho se encontravam no estádio fenológico
de três folhas completamente expandidas (aos 15 DAE),
e a segunda no momento em que as plantas de milho
apresentavam seis folhas completamente expandidas
(aos 25 DAE). Essas roçadas foram realizadas a uma
altura de corte semelhante à utilizada no campo com
roçadeiras: 4 a 5 cm do solo.
Ao final do experimento (58 DAE), retirou-se a
parte aérea das plantas de milho, separando-as em folhas,
órgãos reprodutivos (primórdio de espiga e pendão)
e colmo. Foi retirado o solo juntamente com as raízes,
e assim iniciado o processo de lavagem por meio de
água; lavou-se repetidamente em baldes até a total
retirada do solo aderido às raízes. Foram avaliadas as
seguintes características morfológicas nas plantas de
milho no estádio de florescimento: Número de folhas
(verdes, senescentes e totais) – as folhas foram retiradas
das plantas separadas e contadas, iniciando-se a avaliação
a partir da primeira folha da base até a folha-bandeira
totalmente expandida, realizada no término do experimento
(58 DAE); diâmetro do caule e altura de planta, que
foram avaliados na fase de liberação do pendão e do
estilo-estigma – pleno florescimento das plantas de
milho (58 DAE). Avaliou-se a altura das plantas, do
solo até a inserção da folha-bandeira, e o diâmetro
de colmo, utilizando-se um paquímetro, na parte mais
larga do colmo, a 10 cm do solo; e diferença em dias
do intervalo entre a antese e o embonecamento (IAE)
das plantas de milho. Após a liberação do pendão,
Antes do enchimento dos vasos, o solo foi seco
ao ar, destorroado, passado em peneira com mesh de
20 mm e adubado com dose equivalente a 40 m³ ha 1
de composto orgânico (Tabela 2) e 0,035 kg por vaso
de P2O5 na forma de termofosfato magnesiano, conforme
recomendação (Chiovato et al., 2007).
Inicialmente, foram semeadas 10 sementes de planta
daninha e duas sementes de milho por vaso. Ao completar
cinco dias da emergência das plantas de milho foi realizado
o desbaste, deixando-se seis plantas daninhas e uma
planta de milho por vaso, ou seja, em cada vaso foi
cultivada uma planta de milho em competição ou não
com seis plantas de B. pilosa ou de C. benghalensis.
Durante a condução do experimento os vasos foram
irrigados diariamente por gotejamento, a fim de manter
a umidade do solo próximo de 80% da capacidade de
campo. O período de interferência no mesmo vaso entre
a planta de milho e as espécies daninhas foi da emergência
destas plantas até o florescimento das plantas de milho,
que ocorreu aos 58 dias após a emergência (DAE).
Tabela 1 - Resultados das análises químicas do Latossolo Vermelho-Amarelo utilizado no experimento. Viçosa-MG, 2010
pH
P
K
Ca
Mg
Al
(mg dm )
5, 4
1, 7
73
H+AL
SB
CTC (t)
CTC (T)
4,59
4,59
8,22
(cmol c dm )
-3
3, 3
1, 1
0
3,63
V
(%)
-3
56
As determinações químicas foram efetuadas conforme Embrapa (1997); pH em água na proporção de 1: 2,5 para solo: água; Ca, Mg e Al
= extrator KCl 1N; P e K = extrator Mehlich-1; e acidez extraível H+Al = extrator SMP.
Tabela 2 - Características químicas do composto orgânico com base na matéria seca utilizado no experimento. Viçosa-MG,
2010
N
P
K
Ca
Mg
S
B
Cu
(g kg )
16,3
4,25
2,53
9,25
Fe
Mn
Zn
2 6 5, 5 2
74,1
(mg kg )
-1
-1
3,75
2,06
10 , 1 2
34 , 5 4
36 4, 5
As determinações foram efetuadas de acordo com o método descrito por Kiehl (1985) e umidade de 13%.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12
Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características
cada planta foi conferida três vezes ao dia; anotouse a data de liberação do pólen da parte masculina
(pendão) e a exposição dos cabelos das espigas (estiloestigmas) da parte feminina.
Foram colocados separadamente as folhas, órgãos
reprodutivos, colmo e raízes das plantas em sacos de
papel e levados à estufa de circulação forçada de ar,
a 70 °C, até atingirem peso constante, para determinação
da matéria seca. Foi avaliada a matéria seca de folhas
(MSF), do caule (MSC), dos órgãos reprodutivos –
espiga e pendão (MSFL) e do sistema radicular (MSR),
determinadas por ocasião da colheita, do experimento
aos 58 DAE. Por meio dos parâmetros para a análise
de crescimento descrita por Benincasa (1988), foram
avaliadas as seguintes características: Área foliar
específica (AFE) em cm2 g-1, obtida pelo quociente entre
a área da folha mais jovem totalmente expandida –
analisada no equipamento de mesa LI-COR (LI- 3000)
– e a matéria seca de folha; Razão de massa foliar (RMF)
em g g-1, fornecida pelo quociente entre a matéria seca
de folhas e a matéria seca total da planta; Razão de
massa caulinar (RMC), obtida pelo quociente entre
a matéria seca do caule e a matéria seca total da planta;
Razão de massa radicular (RMR), obtida pelo quociente
entre a matéria seca radicular e a matéria seca total
da planta; Razão parte aérea/sistema radicular (PA/
SR) em g g-1, obtida a partir da soma da matéria seca
da parte aérea da planta (folha + caule + primórdios
florais) dividida pela matéria seca do sistema radicular
(raiz).
Os resultados das avaliações foram submetidos
à análise de variância, e as médias comparadas pelos
testes de Tukey e Dunnett a 5% de significância.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após análise dos dados, constatou-se interação
significativa entre os fatores espécies de plantas
daninhas e época de corte para razão de matéria seca
foliar (RMF) e razão de massa radicular (RMR) para
o milho. Dessa forma, a interação foi desdobrada,
estudando-se as épocas de corte para cada espécie
de planta daninha. Quanto às características massa
da matéria seca de folha (MSF), altura de plantas (ALT),
número de folhas verdes (NFV), intervalo entre a antese
e o embonecamento (IAE), área foliar específica (AFE)
e razão parte aérea e sistema radicular (PA/SR), verificouse efeito significativo somente para época de corte.
35
Verificou-se que o tratamento com duas roçadas
apresentou a MSF superior àquelas das demais épocas.
Contudo, uma única roçada não foi suficiente para
diminuir os danos da interferência das espécies B. pilosa
e C. benghalensis no acúmulo de MSF (Tabela 3).
Quando se compara o tratamento testemunha (milho
no limpo) com os tratamentos com duas roçadas, verificase que ambas as plantas daninhas não interferiram no
acúmulo de matéria seca das folhas, não diferindo da
testemunha (Tabela 4). Entretanto, Chiovato et al. (2007)
observaram que duas roçadas não foram suficientes
para evitar a interferência de B. pilosa no
desenvolvimento das plantas de milho. Essa diferença
pode estar relacionada ao fato de esses autores terem
realizado o manejo da roçada nos estádios de quatro
e oito folhas do milho, sendo diferente da época de
roçada do presente estudo. Esses resultados indicam
que o controle no início do ciclo de desenvolvimento
é fundamental e necessário para se alcançar o máximo
potencial de produção da cultura (Kozlowski et al.,
2009).
Para o diâmetro de caule das plantas de milho
(DIAM), não houve diferenças na interação entre planta
daninha e manejo da roçada. No entanto, houve
diferenças quando se compararam as médias dos
tratamentos com manejo e a média da testemunha. Os
tratamentos com uma roçada diferiram da testemunha,
apresentando menores valores de diâmetro de plantas
(Tabela 4).
Contudo, os manejos para ambas as plantas
daninhas, em que se utilizaram duas roçadas (M e B/
2r e M e C/2r), não diferiram do milho cultivado sem
a presença de planta daninha. É provável que o hábito
de crescimento das plantas daninhas e as necessidades
nutricionais intrínsecas de cada espécie possam
proporcionar formas diferenciadas de competição (Rocha,
2007); as plantas de milho quando em competição com
B. pilosa não apresentaram redução do diâmetro de
colmo, porém a altura de plantas foi consideravelmente
afetada.
A altura das plantas de milho (ALT) no manejo
de uma roçada e duas roçadas (1R e 2R) foram iguais
entre si e superiores à do tratamento sem roçada SR
(Tabela 3). Para essa característica, quando se comparam
as médias da testemunha e o tratamento que recebeu
uma única roçada das plantas de B. pilosa (Tabela 4),
verifica-se que apenas um corte foi suficiente para diminuir
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12
36
LEMOS, J.P. et al.
Tabela 3 - Médias de matéria seca de folha (MSF), altura de plantas (ALT), número de folhas verdes (NFV), intervalo entre
a antese e o embonecamento (IAE), área foliar específica (AFE) das plantas de milho, nos diferentes manejos
da roçada das plantas daninhas no sistema de cultivo do milho. Viçosa-MG, 2010
Ma ne jo
1R
2R
SR
CV(%)
MSF
A LT
NFV
(g)
( cm)
29,01 ab
36,43 a
21,12 b
20 , 4 3
171,16 a
185,16 a
132,00 b
14 , 3 9
NFS
9,50 b
13,70 a
8,66 b
11 , 1 5
6,83 a
3,67 b
8,00 a
17 , 5 2
IAE
AFE
(dias)
(cm 2 g-1 )
6,00 ab
3,83 b
8,50 a
35 , 0 5
119,47 ab
109,68 b
139,44 a
10 , 2 7
Médias seguidas de mesma letra nas colunas, para cada variável, não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. 1R –
uma roçada no estádio de três folhas do milho; 2R – uma roçada no estádio de três e uma roçada no estádio de seis folhas do milho;
e SR – sem roçadas.
Tabela 4 - Valores médios de matéria seca de folha (MSF), diâmetro do caule (DIAM), altura de planta (ALT), número de
folhas verdes (NFV), número de folhas senescentes (NFS), intervalo entre antese e embonecamento (IAE), área
foliar específica das folhas (AFE), razão parte aérea/sistema radicular (PA/SR), razão de massa foliar (RMF) e
razão de massa radicular (RMR) das plantas de milho. Viçosa-MG, 2010
T R AT
MSF
(g)
ML PD
M-B/1r
M-B/2r
M-B/sr
M-C/1r
M-C/2r
M-C/sr
45 , 2 6
32,83*
38 , 9 2
22,96*
25,19*
33 , 9 3
19,31*
DI AM
ALT
NFV
NFS
IAE
(cm)
2,54
1, 86 *
2,19
2,11
1, 77 *
2,00
1, 56 *
(dias)
2 1 1, 3 3
1 9 2, 6 7
1 7 6, 3 3
14 0,3 3*
14 9,6 7*
1 9 4, 0 0
12 3,6 7*
15 , 0 0
9, 00 *
13 , 0 0
9, 00 *
10,00*
13 , 0 0
8, 33 *
2,66
7, 33 *
4,33
8, 00 *
6, 33 *
3,00
8, 00 *
3,33
5,33
3,67
8, 00 *
6,67
4,00
9, 00 *
AFE
PA/SR
(cm 2 g -1)
96 , 6 5
1 1 7, 8 9
1 0 9, 0 7
12 5,3 6*
12 1,0 5*
1 1 0, 2 9
15 3,5 2*
RMR
RMF
(g g -1)
2,42
1,59
1,67
1, 16 *
1,67
1,65
2,40
0,15
0,29
0,28
0, 44 *
0,26
0,31
0,16
0,17
0,17
0,16
0, 11 *
0,17
0,15
0, 27 *
* Médias que diferem da testemunha a 5% de probabilidade pelo teste de Dunnett. MLPD – milho livre de planta daninha; M-B/1r – milho
e B. pilosa/uma roçada; M-B/2r – milho e B. pilosa/duas roçadas; M-B/sr – milho e B. pilosa/sem roçadas; M-C/1r – milho e C. benghalensis/
uma roçada; M-C/2r – milho e C. benghalensis/duas roçadas; M-C/sr – milho; e C. benghalensis/sem roçadas.
a interferência causada pela competição. Esse fato
não foi observado para C. benghalensis, que interferiu
de forma significativa na altura das plantas de milho,
mesmo quando essas plantas receberam apenas uma
roçada. Entretanto, quando se utilizam duas roçadas
(M e B/2r e M e C/2r), são obtidos resultados satisfatórios
na redução da interferência das plantas daninhas no
crescimento das plantas de milho.
A interferência das plantas daninhas na altura das
plantas de milho é influenciada pelos genótipos utilizados
e pela intensidade da infestação por plantas daninhas.
Esta característica, juntamente com a área foliar e
distribuição das folhas no perfil do dossel da planta
(Strieder et al., 2008), pode proporcionar redução da
radiação que chega à superfície do solo, levando a
maior aproveitamento da luz solar por meio do
alongamento da bainha, pecíolo e entrenós do colmo
(Lemaire, 2001).
Para as características número de folhas verdes
(NFV) e número de folhas secas do milho (NFS),
observou-se comportamento inverso, ou seja, quando
são contabilizados elevados índices de folhas verdes,
a planta apresenta tendência de baixo índice de folhas
senescentes. Verificou-se que a realização de duas
roçadas foi superior aos demais manejos para a variável
número de folhas verdes (Tabela 3). Inversamente, para
número de folhas secas, a realização de uma roçada
(1R) e sem roçadas (SR) foram iguais entre si e superiores
a duas roçadas (2R) (Tabela 3). Verificou-se que o
tratamento testemunha MLPD com os tratamentos (M
e B/2r) e (M e C/2r), não diferiram entre si, para as
duas variáveis analisadas (NFV e NFS) (Tabela 4).
Quanto menor o número de folhas senescentes na época
do florescimento do milho, maior será a quantidade
de folhas participando efetivamente no ganho de
açúcares pela planta. É provável que nos tratamentos
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12
Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características
com uma roçada (1R) e sem roçada (SR) a competição
entre as plantas daninhas e a planta de milho por água,
luz e por nutrientes tenha sido em maior intensidade
em relação ao tratamento de duas roçadas (2R), o que
propiciou o aumento na velocidade da senescência
foliar (Valentinuz & Tollenaar, 2004; Strieder et al., 2008).
Entretanto, este não é um processo de degeneração
passivo e desregulado, pois há alterações ordenadas
na estrutura celular, no metabolismo e na expressão
gênica da planta (Lim et al., 2007).
Para o intervalo entre a antese e o embonecamento
(IAE), verificaram-se diferenças correspondentes ao
manejo, em que 2R e SR apresentaram médias diferentes
entre si, porém estas não diferiram do tratamento de
uma roçada (1R). Esses resultados predizem que duas
roçadas nas plantas daninhas influenciaram de forma
positiva as plantas de milho, apresentando redução
do IAE (Tabela 3).
Quando se comparam as médias entre os tratamentos
e a testemunha, observa-se que o tratamento que continha
plantas de milho e B. pilosa sem corte (M e B/sr) e
plantas de milho e C. benghalensis sem corte (M e
C/sr) diferiram da testemunha (Tabela 4). A partir dessa
análise, pode-se inferir que tanto a competição com
a espécie B. pilosa quanto a competição com as plantas
daninhas C. benghalensis causam efetivamente a
prolongação do intervalo de florescimento das plantas
de milho.
A menor interferência intra e interespecífica pode
permitir desenvolvimento mais sincronizado das
inflorescências masculinas e femininas, ou seja, menor
IAE. Nesse sentido, Sangoi et al. (2001) verificaram
que o intervalo entre antese e espigamento foi maior
quando houve incremento na população de plantas,
em decorrência, possivelmente, do aumento da
competição entre as plantas de milho pelos recursos
naturais. Assim, o IAE, potencialmente, deveria ser
igual a zero, uma vez que o seu aumento pode reduzir
a probabilidade de ocorrer uma fecundação adequada,
já que a disponibilidade de grãos de pólen viáveis é
reduzida com a elevação do IAE. Segundo Otegui et
al. (1995), valores do IAE acima de 10 dias resultam
em espiguetas estéreis. Dessa forma, também se pode
afirmar que espigas iniciadas tardiamente recebem menor
quantidade de assimilados, tendo menor possibilidade
de se tornarem funcionais e produzirem grãos, em
decorrência da menor capacidade competitiva por
37
fotoassimilados da espiga com as demais estruturas
da planta (Sangoi, 2001).
Verificaram-se diferenças significativas na área
foliar específica das plantas de milho (AFE). Os
tratamentos 1R e SR foram semelhantes entre si e o
manejo de duas roçadas não diferiu do tratamento com
uma única roçada. Contudo, o tratamento em que se
fez uso de duas roçadas apresentou menor valor de
AFE comparado ao tratamento sem a roçada (Tabela
3). Plantas com elevadas taxas de saturação fotossintética
apresentam vantagens competitivas sobre as demais
espécies, com valores inferiores para essa variável (Feng,
2008). Segundo Feng et al. (2004), a AFE está inversamente
correlacionada com os custos de formação de matéria
seca nas folhas.
Para os resultados comparativos entre os
tratamentos, observa-se que, no geral, quando a
competição é imposta sem a utilização de roçadas, a
tendência é de que a área foliar específica aumente
consideravelmente (Tabela 4). Esse fato pode estar
relacionado ao mecanismo da planta em interceptar
e/ou aproveitar de forma mais eficiente a radiação solar
que chega à superfície (Procópio et al., 2003),
desfavorecendo a interceptação de luz pelas plantas
daninhas em competição, principalmente com as plantas
de B. pilosa. Resultados semelhantes foram observados
por Lima et al. (2008), os quais relatam que a expansão
da folha sob baixa luminosidade é uma resposta
frequentemente observada e indica uma compensação
da planta, no intuito de proporcionar melhor
aproveitamento à baixa luminosidade.
Quando se realizaram duas roçadas (M e B/2r e
M e C/2r), não foram observadas diferenças desses
tratamentos em relação à testemunha, ou seja, esta
característica da folha (AFE) não é afetada pela
competição com plantas daninhas testadas, desde que
sejam realizadas duas roçadas (Tabela 3).
Pelos valores obtidos da razão parte aérea/sistema
radicular (PA/SR), pode-se constatar que o milho com
B. pilosa sem controle foi o mais afetado, em comparação
com as plantas de milho livre de competição. Verificase que houve diminuição dessa razão, muito
provavelmente devido à alta competição radicular, o
que favoreceu um alto desenvolvimento radicular do
milho para diminuir as deficiências nutricionais geradas
pela competição (Tabela 4). O comportamento verificado
para a raiz do milho em competição com raízes de B. pilosa
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12
38
LEMOS, J.P. et al.
não foi observado para a raiz de milho sob interferência
das raízes de C. benghalensis no tratamento sem roçada.
A relação PA/SR foi mantida neste tratamento em relação
à testemunha, mesmo com a magnitude da competição
proporcionada por plantas de C. benghalensis (Tabela 4).
Esse fato pode ser explicado em função da redução
do acúmulo de matéria seca das folhas, porém não houve
incremento na razão de massa radicular em proporções
consideráveis.
Houve interação entre manejo e plantas daninhas
para as características de razão de massa foliar (RMF)
e razão de massa radicular (RMR) das plantas de milho
(Tabela 5). Na RMF, avaliando-se somente o tratamento
milho e B. pilosa, os manejos de uma roçada (1R) e
duas roçadas (2R) foram semelhantes e superiores ao
tratamento (SR). Contudo, não foram observadas
diferenças para a razão de massa radicular (RMR) dentro
dos tratamentos de milho e B. pilosa. Bianchi et al.
(2006), em trabalho com a cultura da soja, observaram
resultados semelhantes, sendo que durante o período
de crescimento vegetativo da soja a competição por
recursos do solo predominou sobre a competição por
radiação solar, ocasionando, dentre outros, a redução
da razão de massa foliar.
O comportamento das plantas de milho em
competição com C. benghalensis é o inverso do
observado para B. pilosa, pois o tratamento de
competição sem roçadas (SR) apresentou maior razão
de massa foliar, diferindo dos demais manejos de corte;
contudo, não houve diferenças entre uma roçada (1R)
e duas roçadas (2R) (Tabela 5).
Verificou-se que para os tratamentos 1R e 2R, quando
se compara o milho sob interferência das duas plantas
daninhas, o comportamento das variáveis RMF e RMR
não diferiu. Entretanto, as médias da razão de massa
foliar das plantas de milho que competiram tanto com
B. pilosa quanto com C. benghalensis foram diferentes
nos tratamentos sem o uso de roçadas, ou seja, quando
em livre competição entre as plantas daninhas e as
plantas de milho, observam-se respostas diferenciadas
no que tange ao acúmulo de matéria seca para a formação
de folhas, em relação à massa da matéria seca total
da planta nesses tratamentos.
De acordo com Bianchi et al. (2006), as modificações
em atributos morfofisiológicos entre plantas
concorrentes, ocorridas em seu trabalho, demonstraram
que as plantas respondem rápido e diferentemente à
competição pelos recursos do ambiente. O milho em
competição com B. pilosa teve média de RMF menor
em relação à das plantas de milho em competição com
as plantas daninhas de C. benghalensis, dentro do
manejo sem roçadas. Quando se avalia a RMR, o
comportamento é o contrário do observado com a RMF,
ou seja, as plantas de milho em competição com B. pilosa
tiveram média de RMR maior em relação às plantas
de milho em competição com as plantas daninhas de
C. benghalensis. De acordo com Liu & Stützel (2004),
maior proporção de carboidratos é direcionada para
as raízes, principalmente em ambientes com baixa
disponibilidade de água e nutrientes.
Nas comparações entre os tratamentos e a
testemunha (Tabela 4), observou-se que o tratamento
que continha milho e B. pilosa sem a utilização de roçadas
(M e B/sr), entre os avaliados, foi o que apresentou
média de razão de massa radicular das plantas de milho
(RMR) superior à do cultivo de milho sem a presença
da competição (TEST). No entanto, com maior partição
de assimilados para o sistema radicular (M e B/sr),
tem-se diminuição considerável desses produtos
fotossintéticos para a formação e manutenção da massa
foliar em relação ao restante da planta (RMF), perfazendo
Tabela 5 - Médias de razão de matéria seca foliar (RMF) e razão de matéria seca radicular (RMR) das plantas de milho em
competição com plantas daninhas (B. pilosa e C. benghalensis), nos diferentes manejos da roçada nas plantas
daninhas no sistema de cultivo de milho. Viçosa-MG, 2010
Manejo
1R
2R
SR
RMF (g g -1)
RMR (g g -1)
B. pilosa
C. benghalensis
B. pilosa
C. benghalensis
0,17 Aa
0,16 Aa
0,11 Bb
0,17 Ba
0,15 Ba
0,27 Aa
0,30 Aa
0,28 Aa
0,44 Aa
0,26 Aa
0,31 Aa
0,16 Ab
Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, para cada variável, não diferem entre si a 5% de probabilidade,
pelo teste de Tukey. 1R - roçada da planta daninha no estádio de três folhas do milho; 2R - roçada da planta daninha no estádio de três
e seis folhas do milho; SR – milho; e sem controle das plantas daninhas.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12
Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características
um dos tratamentos que diferiram da testemunha para
a característica em questão.
4. CONCLUSÕES
Duas roçadas (estádio de três e seis folhas
completamente expandidas do milho) proporcionaram
maior acúmulo de matéria seca pelas plantas de milho,
independentemente da espécie de planta daninha.
Plantas de milho em competição com B. pilosa
ou C. benghalensis sem uso de controle apresentaram
reduções (MSF, ALT, NFV e RMF) e incrementos
(NFS, IAE e AFE) indesejáveis para o seu potencial
produtivo.
5. AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pelo auxílio financeiro ao projeto e
pela concessão de bolsas de pós-graduação e de
produtividade em pesquisa.
6. LITERATURA CITADA
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Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica
41
MAMONA E GIRASSOL NO SISTEMA DE CONSORCIAÇÃO EM ARRANJO
DE FILEIRAS: EFICIÊNCIA BIOLÓGICA 1*
Ciro de Miranda Pinto2*, Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto3, João Bosco Pitombeira4*
RESUMO – Um ensaio de campo foi conduzido nos anos agrícolas de 2008, 2009 e 2010, com o objetivo
de avaliar os efeitos dos arranjos de plantio da mamona (Ricinus communis L.) e girassol (Helianthus annus
L.) nos sistemas consorciados na eficiência biológica entre as plantas. O delineamento utilizado no experimento
foi blocos ao acaso com sete tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos analisados foram representados
por fileiras de mamona (Ma) e de girassol (Gi) citados a seguir: 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi; 2Ma:3Gi
e monocultivo de mamona e girassol. A eficiência do sistema de consorciação foi avaliada através do uso
eficiente de terra (UET), razão equivalente de área no tempo (REAT), coeficiente equivalente de terra
(CET), média entre UET e REAT, índice de produtividade do sistema (IPS) e razão de compensação (RCo).
O arranjo de fileira 1Ma: 2Gi indicou a menor redução média de produtividade da mamona e do girassol
no período de avaliação do experimento. A mamona foi dominante em relação ao girassol na utilização
dos recursos do ambiente.
Palavras-chave: CET, IPS, REAT, Ricinus communis L., UET.
CASTOR BEAN AND SUNFLOWER INTERCROPPING SYSTEMS IN ROW
ARRANGEMENT: BIOLOGICAL EFFICIENCY
ABSTRACT – An experiment field was carried in the agricultural seasons 2008, 2009 and 2010, with aim
of studying the response of castorbean (Ricinus communis L.) intercropping with sunflower (Helianthus
annus L.) in row arrangement in the dryland farming conditions. In addition, it was evaluated the biological
efficiency of plants in intercropping systems.The design used in the experiment was randomized block with
seven treatement and four replications. The treatments were represented by rows of castor oil (Ma) and
sunflower (Gi) listed below: 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi; 2Ma:3Gi; castor and sunflower in
the monoculture. The efficiency of intercropping was measured by LER, ATER, LEC, average between LER
and ATER, SPI and CoR. The grain yield of castor bean and sunflower were reduced in intercropped row
arrangements. The row arrangement 1Ma:2Gi showed the smallest reduction of average productivity of
castor beans and sunflower in the evaluation period of the experiment. The castor bean was the dominant
crop in relation to sunflower.
Keywords: ATER, LEC, LER, Ricinus communis L., SPI.
Retirado dos dados da Tese de Doutorado do primeiro autor. Projeto Financiado pela CAPES.
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia/Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará, [email protected] (endereço
de correspondência), CCA/UFC, Caixa Postal 12.168, Campus do Pici, CEP: 60455-970, Fortaleza-Ceará.
Engenheira
Agrônoma, Doutoranda em Agronomia/Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará.
3
4
Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Prof. do Dep. de Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará.
1
2
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
42
PINTO, de C.M. et al.
1. INTRODUÇÃO
A mamoneira é originária da África e, muito
provavelmente, da Abissínia. Essa planta apresenta
ampla distribuição geográfica, sendo encontrada em
estado subespontâneo, ou cultivo, em quase todas
as zonas tropicais e subtropicais do mundo (Krug &
Mendes, 1942). Brasil, Paraguai, China e Índia são os
maiores produtores de mamona do mundo em escala
crescente. A produção de grãos de mamona mundial
e no Brasil na safra 2009 foi respectivamente de 1.499.111
e 90.384 t. A produtividade da mamoneira no mundo
e no Brasil em 2009 foi da ordem de 1.172 e 567,7 kg
ha-1 (Faostat, 2009).
A consorciação de culturas consiste no cultivo
simultâneo de duas ou mais espécies numa área agrícola,
tendo a dimensão espacial e temporal de convivência
entre as plantas cultivadas. A escolha da configuração
de fileiras e população de plantas adequadas no sistema
de consorciação entre espécies cultivadas proporciona
incrementos no rendimento de grãos pelo efeito da
complementação da exploração dos recursos do ambiente
abaixo e acima do solo. A configuração de fileiras,
conhecida por arranjo espacial no sistema de
consorciação, consiste em delinear a melhor distribuição
das plantas no campo de produção de culturas associadas
de modo que ocorra menor competição intra e
interespecífica pelos recursos do ambiente, dentre eles,
água, nutrientes e luz.
No Brasil, as pesquisas envolvendo mamona e
girassol, em sistemas consorciados em arranjo de fileira,
são raras. Os sistemas consorciados em diferentes
arranjos de fileiras foram estudados nos agroecossistemas
de mamona + milho (Azevedo et al., 2007a), mamona
+ amendoim, mamona + grão de bico, mamona + “guar
ou clusterbean” (Cyamopsis tetragonoloba) e mamona
+ capim-pé-de-galinha (Kumar et al., 2010), milho +
caupi (Yilmaz et al., 2008), milheto + guandu (Arokiaraj
& Kannappan, 1995), amendoim + milho doce (Bhagat
et al., 2006), algodão herbáceo + caupi + sorgo (Bezerra
Neto et al., 2001), milho + guandu (Lingaraju et al.,
2008) e sorgo + feijão caupi (Mohammed et al., 2009).
O cultivo da mamona consorciada com outras
espécies cultivadas tem-se mostrado vantajoso em relação
ao monocultivo. Os resultados comprovando tal afirmação
foram reportados em sistemas mamona + gergelim (Beltrão
et al., 2010a), mamona + amendoim (Beltrão et al., 2010b),
mamona consorciada com feijão mungo, feijão mungo-
verde, caupi, soja e gergelim (Thanunathan et al., 2008),
mamona + milho (Azevedo et al., 2007a), mamona +
sorgo e mamona + caupi (Corrêa et al., 2006) e mamona
+ sorgo, mamona + gergelim e mamona + feijão caupi
(Távora et al., 1988).
Diante da importância capital de se avaliar a eficiência
biológica das plantas nos sistemas de cultivo
consorciado, diversos índices foram desenvolvidos,
sendo amplamente estudados. A análise da eficiência
biológica do sistema consorciado em relação ao
monocultivo é mensurada pelo uso eficiente de terra,
UET (Willey & Osiru, 1972; Mead & Willey, 1980), razão
equivalente de área no tempo, REAT (Hiebsch, 1978),
média aritmética do UET e REAT (Mason et al., 1986),
índice de produtividade do sistema, IPS (Odo, 1991),
razão de compensação, RCo (Ntare & Williams, 1992)
e coeficiente equivalente de terra, CET (Adetiloye et
al., 1983).
Em função do exposto, objetivou-se com este
trabalho avaliar o manejo cultural da mamona consorciada
com girassol, em arranjo de fileira, e seus reflexos na
produtividade da cultura principal e consorte, pelo
emprego de índices de mensuração da eficiência biológica
das plantas associadas.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida nos anos agrícolas de
2008, 2009 e 2010, na Fazenda Lavoura Seca, localizada
no município de Quixadá-Ce, 4º59’S latitude, 39º01’W
longitude Greenwich e altitude de 190 m acima do nível
do mar. O clima do município de Quixadá conforme Köppen
é semiárido do tipo BsH, quente e seco. A precipitação
pluvial média é 873,3 mm, temperatura média anual de
26,7oC e umidade relativa do ar de 70% (Brasil, 1973).
As características do solo da área experimental
colhido numa profundidade de 0-20 cm são descritos
na Tabela 1.
A adubação foi procedida conforme as
recomendações da análise de fertilidade do solo tendo
como base a cultura principal que foi a mamona. Os
fertilizantes empregados foram ureia, superfosfato simples
e cloreto de potássio (Tabela 1). Na adubação de fundação
usou-se 1/3 da dose recomendada para o nitrogênio,
sendo realizada de forma integral para os nutrientes
potássio e fósforo. A adubação de cobertura foi realizada
aos 30 dias, usando-se 2/3 da dose recomendada para
nitrogênio com adição de 2 kg boro ha -1.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
43
Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica
Tabela 1 - Características químicas do solo da área experimental e fórmula de adubação para mamona. Quixadá - CE, 2008,
2009 e 2010
Ano Agrícola
Características Químicas
pH em água (1: 2,5)
P+
K+
Na+
Al+3
Ca+2
Mg+2
0,00
0,10
0,05
1,70
1,30
1,00
2,30
0,70
0,80
(mg kg -1)
2008
2009
2010
Ano Agrícola
6,30
5,70
5,70
5,00
14 , 0 0
7,00
0,20
0,23
0,14
0,03
0,03
0,05
Adubação Química N:P:K
2008
2009
2010
60:8 0:60
60:6 0:60
60:8 0:60
Análise realizada no Laboratório de Química do Solo, do Departamento de Ciências do Solo do CCA/UFC.
A precipitação pluvial ocorrida durante a execução
do experimento foi da ordem de 594,30; 1.034,80 e 287,80
mm, respectivamente, nos anos de 2008, 2009 e 2010.
Na pesquisa utilizaram-se as cultivares de mamona
BRS ENERGIAe de girassolEMBRAPA122. Ostratamentos
avaliados foram: T1- uma fileira de mamona + uma fileira
de girassol (1Ma:1Gi), T2- uma fileira de mamona +
duas fileiras de girassol (1Ma:2Gi), T3- uma fileira de
mamona + três fileiras de girassol (1Ma:3Gi), T4- duas
fileiras de mamona + duas fileiras de girassol (2Ma:2Gi),
T5- duas fileiras de mamona + três fileiras de girassol
(2Ma:3Gi), T6- mamona monocultivo e T7- girassol
monocultivo. As parcelas consorciadas em configuração
de fileira serão descritas a seguir: no tratamento T1arranjo de 1:1 onde a mamoneira foi espaçada de 1m
do girassol; no tratamento T2- arranjo de 1:2 onde a
mamona foi espaçada de 0,7 m do girassol e as entre
linhas desse de 0,6 m; no tratamento T3- arranjo de
1:3 onde a mamona foi espaçada de 0,6 m do girassol
e as entre linhas desse de 0,4 m; no tratamento T4arranjo de 2:2 onde a mamona foi espaçada de 1 m na
fileira dupla e entre fileira dupla 2 m, e entre as fileiras
duplas foram intercaladas duas fileiras de girassol
espaçadas 0,6 entre girassol e 0,7 m para mamona e
no tratamento T5- arranjo de 2:3 onde a mamona foi
espaçada de 1 m na fileira dupla e entre fileira dupla
2 m, entre as fileiras duplas foram intercaladas duas
fileiras de girassol espaçadas 0,4 m para girassol e
0,6 m para mamona.
O espaçamento da mamona nas configurações de
fileiras 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi foi de 2 m x 0,5 m.
Nas fileiras duplas 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi foi de 2 m x 1
m x 1 m. Para girassol nas configurações 1Ma:1Gi o
espaçamento foi 2 m x 0,24 m; 1Ma:2Gi espaçado de
0,6 x 0,4 x 2 m; 2 Ma:2iG espaçado de 0,6 x 0,4 x 2 m;
1Ma:3Gi espaçado de 0,4 x 0,6 x 2 m e 2 Ma:3Gi espaçado
de 0,4 x 0,6 x 2 m. O monocultivo teve suas parcelas
constituídas por 6 fileiras de 8 m no espaçamento:
mamona 1m x 1 m, enquanto o girassol teve 6 fileiras
de 8 m no espaçamento de 0,8 m x 0,3 m. Os sistemas
de consórcio em arranjo de fileira e monocultivo tiveram
comprimento de linha de plantio de 8 m. A coleta do
material para o estudo da produção vegetal foi
representada pelas duas fileiras centrais de cada parcela,
em cada cultura, eliminando-se 1 m de cada extremidade
das fileiras. O solo foi preparado dois dias antes do
plantio, com duas arações. A mamona e o girassol foram
plantados em covas com 3 a 5 cm de profundidade,
e 5 sementes cova -1.
As datas do plantio, adubação inicial, desbaste
de plantas, adubação de cobertura e colheita constam
na Tabela 2. A adubação de cobertura não foi realizada
no ano de 2010 em virtude da baixa umidade do solo
na área experimental (Tabela 2).
O manejo das plantas daninhas ocorrentes na área
experimental foi realizado por meio de três capinas manuais.
Não foi necessário realizar aplicação de agroquímico
para controle de “pragas”.
O sistema de consorciação foi avaliado mediante
a eficiência biológica entre as plantas associadas. A
eficiência biológica no sistema de consorciação foi
avaliada mediante o o Uso Eficiente de Terra (UET),
Razão Equivalente de Área no Tempo (REAT), Média
Aritmética entre UET e REAT, Coeficiente Equivalente
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
44
PINTO, de C.M. et al.
de Terra (CET), Índice de Produtividade do Sistema
(IPS) e a Razão de Compensação (RCo).
O Uso Eficiente de Terra (UET) foi obtido conforme
a fórmula expressa na equação 1 (Willey & Osiru, 1972;
Mead & Willey, 1980).
(1)
Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas
‘a’ e ‘b’ em consórcio, Yaa e Ybb equivalem à produtividade
do monocultivo. O UETa e o UETb representam o uso
eficiente de terra parcial da espécie ‘a’ e da espécie
‘b’. Se UET>1, então ocorre vantagem produtiva, se
UET=1 não ocorre vantagem produtiva, se UET<1, então
ocorre desvantagem produtiva.
A Razão Equivalente de Área no Tempo (REAT)
foi obtida conforme metodologia proposta por Hiebsch
(1978), expressa na equação 2.
(2)
Onde ta representa o número de dias do plantio até
a colheita da espécie ‘a’ e tb representa o número de
dias do plantio até a colheita da espécie ‘b’. REAT a
e REAT b representam o uso eficiente de terra parcial
da espécie ‘a’ e da espécie ‘b’. Tab representa o tempo
total do sistema de consorciação entre a espécie ‘a’
e ‘b’. Se REAT>1, então ocorre vantagem produtiva,
se REAT=1 não ocorre vantagem produtiva, e se REAT<1,
então ocorre desvantagem produtiva.
A média aritmética entre UET e REAT foi proposta
por Mason et al. (1986). Esses autores afirmaram que
o UET sobrestima e o REAT subestima os recursos
do terreno, sugerindo-se o cálculo da média aritmética
dos dois índices para a obtenção de uma valor mais
criterioso. Esse índice foi expresso na equação 3.
(3)
O Coeficiente Equivalente de Terra (CET) proposto
por Adetiloye et al. (1983), expresso na equação 4.
CET = UETa * UETb
(4)
Onde, UETa e UETb representam o uso eficiente de terra
parcial da espécie ‘a’ e da espécie ‘b’. O CET>0,25
indica vantagem produtiva ou complementariedade
competitiva na produtividade do sistema de consorciação.
O CET<0,25 sugere que a mistura não teve
complementariedade competitiva. O CET é usado para
distinguir a produtividade de misturas com contribuições
distintas do consórcio, mas com mesmo valor de UET
na mistura. Esse índice avalia a interação interespecífica.
O índice de produtividade do sistema (IPS) foi
obtido conforme metodologia proposta por Odo (1991),
sendo expresso pela equação 5.
Tabela 2 - Datas de plantio, adubação inicial, desbaste de plantas, adubação de cobertura e colheita das culturas da mamona
e girassol. Quixadá - CE, 2008, 2009 e 2010
Culturas
Anos agrícolas
2008
2009
2010
Ma mona
Girassol
28/ 03
28/ 03
Plantio e adubação inicial
05/ 03
05/ 03
15/ 04
15/ 04
Ma mona
Girassol
09/ 04
09/ 04
Desbaste de plântulas
17/ 03
17/ 03
28/ 04
28/ 04
Ma mona
Girassol
30/ 04
30/ 04
Adubação de cobertura
07/ 04
07/ 04
-
Ma mona
Girassol
06/ 08
16/ 07
Colheita
14/ 07
23/ 06
26/ 08
28/ 07
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica
(5)
Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas
‘a’ e ‘b’ em consórcio, Yaa e Ybb equivalem à produtividade
do monocultivo. A principal vantagem do IPS é que
esse índice uniformiza a produtividade da cultura
secundária ou consorte em termos da cultura principal
ou base. Esse índice também identifica a combinação
que utiliza os recursos de crescimento de forma mais
efetiva e caracteriza a performance de estabilidade
produtiva.
O efeito competitivo da espécie ‘a’ na espécie ‘b’
foi calculado como razão de compensação (RCo),
conforme metodologia proposta por Ntare & Williams
(1992), sendo expresso pela equação 6.
(6)
Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas
‘a’ e ‘b’ em consórcio, Ybb é produtividade do monocultivo
da cultura ‘b’. Assim um resultado superior da unidade
indica que o efeito competitivo da espécie ‘a’ na espécie
‘b’ foi balanceado pelo ganho substancial na espécie
‘a’. Enquanto o valor unitário sugere substituição da
espécie ‘a’ para ‘b’.
O delineamento estatístico adotado foi blocos ao
acaso com 7 tratamentos e 4 repetições, perfazendo
28 unidades experimentais. Os dados foram submetidos
à análise de variância, e, quando detectada ou não
a significância pelo teste F a 1 % ou 5 % de probabilidade,
as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste
de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para tanto,
usou-se o ASSISTAT 7,5 beta, Sistema de Análise
Estatística da UFCG (Silva & Azevedo, 2009).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Produtividade da mamona e girassol
As médias de produtividade de grãos da mamona
mostraram diferenças pelo teste de Tukey (P<0,05) nos
anos de 2008 e 2010 (Tabela 3). A competição
interespecífica com o girassol (consorte) reduziu a
produtividade de grãos da mamona (cultura principal)
45
em 2008, 2009 e 2010 nos tratamentos consorciados
(1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi) em
relação ao monocultivo, tendo variação percentual na
seguinte ordem: 47,01%, 31,58% e 58,34%,
respectivamente (Tabela 3). A competição interespecifica
é inevitável quando são cultivadas duas culturas juntas
(Vandermeer, 1992).
Reduções na produtividade de grãos da mamoneira
foram constatadas nos tratamentos consorciados em
arranjo de fileira, quando comparados com seus
monocultivos nos anos de 2008 e 2010 (Tabela 3).
Resultados que suportam os dados do sistema de
consorciação da mamona com girassol, no que concerne
a redução da produtividade da cultura principal em
relação à consorte foram relatadas por pesquisadores,
dentre eles, Távora et al. (1988), Corrêa et al. (2006),
Azevedo et al. (2007a,b), Thanunathan et al. (2008),
Beltrão et al. (2010 a, b) e Kumar et al. (2010).
Com relação ao teste de segregação de médias
pelo teste de Tukey para os anos agrícolas de 2008,
2009 e 2010 (Tabela 3) foram constatadas diferenças
(P<0,05) entre os tratamentos consorciados em relação
ao monocultivo do girassol (P<0,05), caracterizando
um possível efeito da competição entre plantas pelos
fatores de produção, água, nutrientes e luz.
Ocorreram reduções na produtividade de grãos
do girassol cultivado em arranjo de fileira consorciado
com a mamona (Tabela 3) de 37,87% em 2008, de 47,13%
em 2009 e 56,04% em 2010. Respostas de mesma natureza
para rendimento do girassol em sistemas consorciados
com outras culturas foram constatadas por Lopez et
al. (2001), Saleem et al. (2003), Bayu et al. (2007), Rosales
et al. (2008), Rosales & Mora (2009) e Shanthy et al.
(2009).
Eficiência biológica no sistema de consorciação
Uso eficiente de terra (UET)
Na Tabela 4, encontram-se os valores parciais (UETa
e UETb) e totais de UET para os anos de 2008, 2009
e 2010. A avaliação biológica do sistema de consorciação
foi estudada através do UET, que teve vantagem produtiva
em todos os arranjos de fileira nos anos agrícolas de
2008 e 2009, comparados com seus monocultivos (Tabela
4). No ano de 2010, apenas o tratamento 1Ma:2Gi teve
vantagem em relação a seus monocultivos (Tabela 4).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
46
PINTO, de C.M. et al.
Tabela 3 - Médias da produtividade de grãos da mamona e girassol consorciados e nos cultivos isolados em arranjo de fileiras
no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010
Tra tame ntos
1Ma :1Gi ***
1Ma: 2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2 Gi
2Ma:3 Gi
Monocultivo
Média geral
DMS
CV(%)
Produtividade da Mamona (kg ha -1)
2008
2009
2010
2008
2009
2010
1.001,56 ab*
694,27 b
707,81 b
748,26 b
603,12 b
1.469,79 a
8 7 0, 8 0
4 9 2, 7 5
24 , 6 5
678,12 a
978,12 a
685,41 a
896,52 a
739,93 a
1163,02 a
8 5 6, 8 5
5 3 7, 0 8
27 , 3 1
105,72 bc
142,18 b
77,08 c
96,87 c
85,76 c
243,75 a
1 2 5, 2 3
37 , 6 9
13 , 1 1
31 , 8 5
46 , 2 3
47 , 1 5
49 , 9 0
58 , 9 6
100
-
41 , 6 9
15 , 8 9
41 , 0 6
22 , 9 2
36 , 3 7
100
-
56 , 6 2
41 , 6 6
68 , 3 7
60 , 2 5
64 , 8 1
100
-
Tra tame ntos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
Monocultivo
Média geral
DMS
CV(%)
**Percentual de redução (%)
Produtividade do Girassol (kg ha -1)
**Percentual de redução (%)
2008
2009
2010
2008
2009
2010
760,93 d
1.054,68 b
1.043,22 b
680,20 d
956,59 bc
1.485,67 a
9 9 6, 8 8
2 0 8, 8 5
9,12
177,60 bc
233,85 bc
323,95 ab
174,65 bc
134,37 c
395,18 a
2 3 9, 9 3
1 5 9, 7 9
29 , 0 1
273,95 bc
328,12 bc
364,58 b
246,52 c
284,02 bc
641,27 a
3 5 6, 4 1
92 , 8 2
11 , 3 4
48 , 7 2
29 , 0 1
29 , 7 9
54 , 2 2
35 , 6 2
100
-
55 , 0 5
40 , 8 2
18 , 0 2
55 , 8 0
65 , 9 9
100
-
57 , 2 8
48 , 8 3
56 , 8 5
61 , 5 5
55 , 7 0
100
-
*Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
** Percentual de redução em relação ao sistema de monocultivo para produtividade de semente da mamona ou do girassol.
*** 1Ma:1Gi significa uma fileira de mamona para uma fileira de girassol.
Tabela 4 - Uso eficiente de terra (UET) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira no
regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010
Tra tame ntos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
2008
UET b**
UET
U ET a
UE T b
UET
0,69
0,48
0,50
0,52
0,42
0,52
0,71
0,71
0,52
0,65
1,20
1,19
1,21
1,04
1,08
0,58
0,83
0,59
0,81
0,61
0,44
0,59
0,84
0,68
0,46
1,02
1,42
1,43
1,49
1,06
U ET a
UE T b
UET
U ET a
UE T b
UET
0,43
0,58
0,32
0,40
0,36
0,43
0,52
0,57
0,44
0,44
0,86
1,10
0,89
0,83
0,80
0,57
0,63
0,47
0,57
0,46
0,46
0,61
0,71
0,55
0,52
1,03
1,24
1,18
1,12
0,98
Tra tame ntos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
2009
UET a *
2010
Combinado
UET a * para a mamona e UET b** para o girassol.
Os valores totais de UET nos anos agrícolas de 2008
a 2010 apresentaram variação de 0,80 a 1,49, tendo ganhos
de 2 a 49% no consórcio quando confrontados ao sistema
de plantio em monocultivo.
Com relação ao valor combinado de 2008 a 2010,
apenas o arranjo de 2Ma:3Gi (2 fileiras de mamona:
3 fileiras de girassol) não mostrou vantagem biológica
em relação ao monocultivo (Tabela 4). A mamona mostrou-
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
47
Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica
se como cultura dominada em relação ao girassol, pois
o valor parcial de UET da primeira cultura foi inferior
ao da segunda cultura no arranjo de fileira 1Ma:3Gi
(Tabela 4). Os valores combinados de UET variaram
de 0,98 a 1,24, mostrando uma eficiência de 3 a 24%
do sistema consorciado em comparação com o
monocultivo (Tabela 4).
O uso eficiente de terra foi amplamente estudado
por alguns autores que trabalharam com mamona
consorciada e constataram ganhos produtivos. Dentre
as combinações de sucesso cita-se a mamona + gergelim
(Beltrão et al., 2010a), mamona + amendoim (Beltrão
et al., 2010b), mamona + amendoim, mamona + grão
de bico, mamona + “guar ou clusterbean” (Cyamopsis
tetragonoloba) e mamona + capim-pé-de-galinha (Kumar
et al., 2010), mamona consorciada com feijão mungo,
feijão mungo-verde, caupi, soja e gergelim (Thanunathan
et al., 2008), mamona + milho (Azevedo et al., 2007a),
mamona + sorgo e mamona + caupi (Corrêa et al., 2006)
e mamona + culturas anuais de ciclo curto (Távora
et al., 1988).
Razão equivalente de área no tempo (REAT)
A razão equivalente de área no tempo (REAT)
compara a vantagem produtiva do consórcio em relação
à cultura solteira de uma forma mais apropriada que
UET, o qual não leva em consideração o tempo necessário
que plantas empregadas no sistema de consorciação
passam no campo até a colheita. A REAT apresentou
valores superiores à unidade nos arranjos de fileira
1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi em 2008, 2009 e no valor combinado
(Tabela 5), expressando que ocorreu vantagem biológica
na utilização da terra e tempo do consórcio da mamona
com girassol em arranjos de fileira em relação aos
monocultivos da cultura principal (mamona) a seu
consorte (girassol). No ano de 2010 não foi constatada
vantagem biológica na utilização da terra e tempo em
todas as configurações de plantio (Tabela 5).
Valores inferiores à unidade para o REAT foram
encontrados por Ebgeet al. (2010) em sistemas
consorciados, ao passo que autores como Kumaret
al. (2010), Egbe & Kalu (2009), Rahmanet al. (2009) e
John & Mini (2005) constataram valores superiores
à unidade, revelando que ocorreu eficiência agrícola
da terra e tempo para o sistema de consorciação em
comparação com seus monocultivos.
Média aritmética entre UET+REAT
A média aritmética entre UET+REAT encontrase na Tabela 6, onde são colocados os valores parciais
e totais desse índice nos anos de 2008, 2009 e 2010.
De acordo com Mason et al. (1986) o UET sobrestima
e o REAT subestima os recursos a eficiência de uso
da terra sendo, portanto, mais adequado usar a média
entre esses índices. A média entre UET e REAT apresentou
valores superiores à unidade em 2008 em todos os
tratamentos consorciados, com vantagens em relação
ao monocultivo de 3 a 16% (Tabela 6).
Tabela 5 - Razão equivalente de área no tempo (REAT) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo
de fileira no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010
Tra tame ntos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
2008
REAT b**
R EAT
REAT a *
REAT b**
R EAT
0,69
0,48
0,50
0,52
0,42
0,43
0,60
0,60
0,44
0,55
1,12
1,08
1,09
0,96
0,97
0,58
0,83
0,59
0,81
0,61
0,37
0,50
0,71
0,57
0,38
0,95
1,33
1,30
1,38
0,99
REAT a *
REAT b**
R EAT
REAT a *
REAT b**
R EAT
0,43
0,58
0,32
0,40
0,36
0,34
0,41
0,46
0,34
0,35
0,77
0,99
0,77
0,74
0,71
0,57
0,63
0,47
0,58
0,46
0,41
0,56
0,54
0,47
0,43
0,95
1,13
1,05
1,03
0,89
Tra tame ntos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
*
REAT a para a mamona e
2009
REAT a *
2010
**
Combinado
REAT b para o girassol.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
48
PINTO, de C.M. et al.
Tabela 6 - Média aritmética entre UET e REAT do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de
fileira no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010
Tra tame ntos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
2008
UET a +REAT a
UET b+REAT b
UET+ REAT
UET a +REAT a
UET b+REAT b
2
2
2
2
2
2
0,69
0,48
0,50
0,52
0,42
0,47
0,66
0,65
0,48
0,60
1,16
1,14
1,15
1,00
1,03
0,58
0,83
0,59
0,81
0,61
0,40
0,54
0,78
0,62
0,42
0,99
1,37
1,37
1,43
1,03
UET a +REAT a
UET b+REAT b
UET+ REAT
UET a +REAT a
UET b+REAT b
UET + REAT
2
2
2
2
2
2
0,43
0,58
0,32
0,40
0,36
0,38
0,46
0,52
0,38
0,40
0,82
1,05
0,83
0,78
0,76
0,57
0,63
0,47
0,58
0,46
0,42
0,55
0,65
0,49
0,47
0,99
1,19
1,12
1,07
0,94
Tra tame ntos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
2009
2010
UET + REAT
Combinado
UET a +REAT a /2 para a mamona e UET b +REAT b/2 para o girassol.
No ano de 2009 as configurações de fileiras
1Ma:2Gi;1Ma:3Gi 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi apresentaram valores
superiores à unidade, tendo variação de 3 e 43% de
vantagem dos cultivos consorciados em comparação
com seus monocultivos. Mason et al. (1986), trabalhando
com consórcio mandioca + feijão caupi e mandioca
+ amendoim, observaram valores acima da unidade,
com eficiência produtiva no uso da terra de 15 a 35%
para a média entre UET e REAT. Jana et al. (2000)
constataram vantagem produtiva de 4 a 19% dos cultivos
consorciados em relação a seus monocultivos para
o milho doce + feijão comum.
Em 2010, ocorreram restrições hídricas durante
as fenofases de crescimento e desenvolvimento das
plantas de mamona e girassol, proporcionando reduções
na média aritmética entre UET+REAT na maioria dos
tratamentos, sendo constatada vantagem para sistema
de consorciação, apenas na configuração de fileira
1Ma:2Gi (Tabela 6). O valor combinado teve os
tratamentos 1Ma:2Gi;1Ma:3Gi 2Ma:2Gi como vantajosos
nos sistemas consorciados (Tabela 6).
Coeficiente equivalente de terra (CET)
Os valores de coeficiente equivalente de terra (CET),
nos anos de 2008, 2009 e 2010, como também o combinado,
encontram-se na Tabela 7. No ano de 2008, segundo
o critério de avaliação do CET, todos os arranjos
apresentaram vantagem para o sistema de consorciação
(Tabela 7), sugerindo que ocorreu complementariedade
competitiva, que é caracterizada pelo CET>0,25.
Em 2009 (Tabela 7) observou-se apenas na
configuração de plantio1Ma:1Gi o valor de CET<0,25,
indicando não complementaridade competitiva entre
a cultura principal e seu consorte. Os arranjos de fileira
1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi apresentaram vantagens
produtivas no sistema de consorciação em 2009, CET>0,25
(Tabela 7).
No ano de 2010 a única configuração de fileira
que apresentou vantagens do sistema de consorciação
em comparação aos monocultivos foi 1Ma:2Gi (Tabela
7). Os valores combinados para os arranjos de fileira
1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi apresentaram
complementariedade competitiva no uso dos fatores
de produção, ou seja, CET > 0,25 (Tabela 7).
Tabela 7 - Coeficiente equivalente de terra (CET) do sistema
de consorciação entre a mamona e o girassol em
arranjo de fileira no regime de sequeiro. QuixadáCE. 2008, 2009 e 2010
Tra t ame ntos
2008
2009
2010
Combinado
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
0,36
0,34
0,34
0,27
0,26
0,24
0,48
0,51
0,51
0,25
0,19
0,30
0,18
0,17
0,16
0,26
0,37
0,34
0,31
0,22
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica
Segundo Adetiloye et al. (1983), a compatibilidade
do sistema de consorciação é caracterizada por valores
superiores a 0,25. Alguns autores usaram o CET como
índice de avaliação do sistema de consorciação; dentre
eles, John & Mini (2005), Olowe et al. (2006), Okonji
et al. (2007), Egbe (2010) e Egbe et al. (2010).
Razão de compensação (RCo)
O emprego da razão de compensação (RC o) em
2008 permitiu identificar todas as configurações de
plantio (Tabela 8) como sendo vantajosas para o sistema
de consorciação. Tal fato é suportado pelo UET (Tabela
4), CET (Tabela 7) e IPS (Tabela 9), sugerindo uma relação
direta entre esses índices.
Em 2009 apenas o tratamento 1Ma:3Gi não teve
caracterização de vantagem para o sistema de
consorciação. As demais configurações de plantio da
mamona e do girassol apresentaram vantagens para
os sistemas consorciados (Tabela 8).
No ano de 2010, nenhuma das configurações de
fileira de mamona e girassol apresentou vantagens
nos sistemas consorciados (Tabela 8). Esse tipo de
resposta é suportado pelos índices REAT (Tabela 7),
Tabela 8 - Razão de compensação (RCo) do sistema de consorciação
entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira
no regime de sequeiro. Quixadá- CE. 2008, 2009
e 2010
Tra t ame ntos
2008
2009
2010
Combinado
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
1,52
1,69
1,67
1,01
1,23
3,30
6,32
0,24
7,28
3,53
0,30
0,51
0,30
0,25
0,24
1,71
2,84
0,74
2,85
1,67
Tabela 9 - Índice de produtividade do sistema (IPS) de consorciação
entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira
no regime de sequeiro. Quixadá-CE. 2008, 2009 e
2010
T ra ta mentos
1Ma:1Gi
1Ma:2Gi
1Ma:3Gi
2Ma:2Gi
2Ma:3Gi
MonocultivoGi
2008
2009
2010
kg ha
kg ha
kg ha
-1
2 .2 94 ,8 7
2 .4 91 ,4 2
2 .4 58 ,9 7
2 .2 13 ,7 7
2 .5 50 ,1 2
9 96 ,8 8
-1
1 .6 35 ,5 4
1 .8 18 ,7 5
2 .1 36 ,3 9
1 .8 25 ,1 8
1 .7 33 ,2 6
2 39 ,9 3
-1
3 48 ,8 2
3 71 ,6 8
3 85 ,3 2
3 38 ,0 4
3 52 ,5 6
3 56 ,4 1
Combina do
kg ha - 1
1 .4 26 ,4 1
1 .5 60 ,6 2
1 .6 60 ,2 3
1 .4 58 ,9 9
1 .5 45 ,2 1
5 31 ,0 7
49
indicando a ocorrência de uma relação direta entre
esses índices.
Com relação ao valor combinado, os tratamentos
1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi mostraram
vantagem para o sistema de consorciação, exceto o
arranjo 2Ma:3Gi (Tabela 8). Oseni & Aliyu (2010) usaram
a Razão de Compensação e constataram efeito competitivo
do sorgo sobre o feijão caupi, sendo o arranjo 1 fileira
de sorgo + 1 fileira de feijão caupi o tratamento que
proporcionou vantagem na produtividade de grãos
para o sistema de consorciação. Ntare & Williams (1990),
estudando a resposta de cultivares de feijão caupi
consorciados com milheto, constataram variação de
0,33 a 3,83 no índice razão de compensação.
Índice de produtividade do sistema (IPS)
O Índice de produtividade do sistema (IPS), que
padroniza a produtividade da cultura consorte (girassol)
tomando como base a cultura principal (mamona),
possibilita identificar todas as configurações de fileiras
no sistema de consorciação da mamona + girassol
em 2008 e 2009, como também o combinado com
produtividade estável (Tabela 9). A estabilidade na
produtividade do girassol foi constatada, pois o valor
do IPS foi superior ao monocultivo da cultura consorte
(girassol) para 2008, 2009 e combinado (Tabela 9).
No ano agrícola de 2010 para o IPS, apenas para
os tratamentos 1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi foi possível a
caracterização da estabilidade produtiva em comparação
com o monocultivo do girassol (Tabela 9). Alguns autores,
dentre eles Oseni & Aliyu (2010), Oseni (2010) e
Agegnehuet al. (2006a,b), constataram estabilidade
na produtividade dos sistemas consorciados estudados,
o que é indicado pelo valor do IPS superior ao monocultivo
de seus consortes.
4. CONCLUSÕES
A produtividade de grãos de mamona e girassol
foi reduzida nos arranjos de fileira em consorciação
em relação aos monocultivos.
O arranjo de fileira na configuração de 1Ma:2Gi
mostrou-se mais vantajoso em relações aos demais
tratamentos consorciados da mamona e do girassol
no período de avaliação do experimento.
A mamona foi dominante em relação ao girassol
na utilização dos recursos do ambiente.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12
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Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB)
53
LEVANTAMENTO DE PERDAS EM HORTALIÇAS FRESCAS NA REDE
VAREJISTA DE AREIA (PB)
Edmilson Igor Bernardo Almeida 1, Wellington Souto Ribeiro 2, Lucas Cavalcante da Costa3, Hélder Horácio
de Lucena4, José Alves Barbosa 5
RESUMO – Realizou-se um levantamento das perdas no mercado varejista de olerícolas in natura na cidade
município de Areia (PB) a fim de fornecer informações que possam auxiliar em ações específicas ao setor
para se diminuir as perdas de hortaliças frescas no varejo local. Utilizou-se um questionário constituído de
40 perguntas, o qual abrangeu aspectos: socioeconômicos; de produção; de escoamento; de comercialização
e de armazenamento. Os entrevistados foram subdivididos em três grupos: o GI foi constituído pelos feirantes
que produziam as hortaliças em suas propriedades rurais e as comercializavam diretamente na feira-livre da
cidade de Areia (PB); o GII foi constituído por feirantes que não produziam as hortaliças em suas propriedades
rurais, adquirindo-as através de compras semanais na EMPASA-CG (Empresa Paraibana de Serviços e Abastecimentos
Agrícolas), ou de outros pequenos produtores rurais; e o grupo GIII foi constituído por comerciantes proprietários
de redes varejistas. Constatou-se que as injúrias fitopatológicas e os danos mecânicos foram os agentes causais
de maior expressão nas perdas das hortaliças: pimentão, tomate, cenoura e batata. Medidas simples e de baixos
custos, tais como: higienização de transportes, caixas monobloco e bancadas de comercialização; uniformidade
na organização das hortaliças nas caixas; seleção de melhores horários para o escoamento; e ofertas de produtos
de acordo com a demanda devem ser adotadas pela maioria dos envolvidos na pesquisa, tendo em vista a diminuição
dos expressivos resultados estimados e a melhoria da organização e aparência dos ambientes de comercialização
analisados.
Palavras-chave: Comercialização, desperdício, fome, prejuízo.
FRESH VEGETABLE LOST SKETCHING ON TRADE IN THE MUNICIPAL
DISTRICT OF AREIA (PB)
ABSTRACT – A survey of the losses in the retail market of oil seeds was become fulfilled in natura in the
municipal district of Areia (PB) in order to supply information that can assist in specific actions to the sector
to diminish the losses of fresh vegetable in the local retail. A consisting questionnaire of 40 questions was
used, which enclosed aspects: partner-economic; of production; of draining; of commercialization and storage.
The interviewed ones had been subdivided in three groups: the GI was constituted by stallholder that produced
vegetables in its country properties they directly commercialized and them in the fair-free one in Areia (PB);
the GII was constituted by stallholders that did not produce the vegetables in its country properties, acquiring
them through weekly purchases in the EMPASA-CG (Company Paraiban de Agricultural Service and Supply),
of other small agricultural producers; and group III was constituted by trading proprietors of retail nets. One
evidenced that the phitopatologycal injuries and the mechanical damages had been the causal agents of bigger
expression in the occasion of losses of the studied vegetables: chili, tomatoes, carrot and potato. Simple measures
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Agronomia: Fitotecnia, Campus do Pici/Universidade Federal do Ceará (UFC):
[email protected]
2
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, da Universidade Federal de Viçosa: (UFV): [email protected]
3
Graduando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB): lccostaymail.com
4
Mestrando no Programa de Pós-Gradução em Agronomia: Fitotecnia, da Universidade Federal do Semi-árido (UFERSA)
5
Professor Associado do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais, CCA/UFPB: [email protected]
1
RBAS
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and of practically null costs, such as: single grain hygienic cleaning of transports, boxes and group of benches
of commercialization; uniformity in the organization of vegetables in the boxes; election of the best schedules
for the draining; and offers of products in accordance with the demand must be adopted by the majority of
the involved ones in the research, in view of the reduction of the expressive estimated results and improving
the appearance of organization and marketing places analyzed.
Key Words: Commercialization, damage, hunger, waste.
1. INTRODUÇÃO
O desperdício de alimentos é um dos graves
problemas que a agricultura mundial enfrenta. No Brasil
e nos países vizinhos, a situação não é diferente. Mais
da metade da produção de frutas e verduras foi
desperdiçada na América Latina. Cerca de 20% da
produção, ou seja, 1,4 bilhões de toneladas de alimentos
produzidos são jogadas no lixo antes de sair da
propriedade rural (FAO, 2011; Santos & Vieira, 2011).
Existem dois tipos de descarte de alimentos: perda
e desperdício. A perda se caracteriza pelo não
direcionamento do alimento ao consumo, em virtude
de injúrias que lhe alteram as propriedades físicas,
químicas, microbiológicas ou organolépticas, como
amassamento, cortes, senescência, podridão, dentre
outros fatores. Já o desperdício ocorre quando o alimento
é descartado quando ainda tem condições adequadas
para o consumo. Nos supermercados e Ceasas, vários
alimentos são descartados apenas considerando-se
a aparência do produto. Além de jogar fora toneladas
de alimentos que poderiam servir para acabar com a
fome em várias partes do mundo, o não aproveitamento
dos alimentos também é um desperdício de recursos
naturais como a água, solo, mão-de-obra e recursos
financeiros do agricultor (SEBRAE, 2011; Santos &Vieira,
2011).
Dentre os fatores que provocam perdas de produtos
agrícolas in natura destacam-se: a) as condições
ambientais (altas precipitações, altas temperaturas e
elevadas taxas de umidade do ar) que são favoráveis
ao desenvolvimento de fungos e bactérias, depreciando
a qualidade das hortaliças no campo; b) embalagens
inadequadas, manejo, manuseio e acondicionamento
incorreto durante o fluxo de comercialização; c) estrutura
e instalações dos equipamentos de comercialização
insuficientes; d) agrotecnologia insuficiente no campo,
com classificação e padronização insatisfatórias; e e)
distância dos fornecedores (Lana et al., 2000; Lourenzani
& Silva, 2004; Vilela et al., 2003; Tofanelli et al., 2009).
As perdas são indicadores sócio-econômicos
extremamente representativos em uma sociedade, mas
que ainda são despercebidos por muitos, sendo seu
estudo de difícil metodologia e pouco explorado em
relação a outras vertentes de pesquisa. Infelizmente
os significativos prejuízos proporcionados pelas
diferentes causas de perdas, tais como as injúrias:
mecânicas; fisiológicas; fitopatológicas e biológicas,
têm sido observados por grande maioria de produtores
e comerciantes como hábito comum na cadeia produtiva
das hortaliças da cidade de Areia (PB).
Diante do exposto, realizou-se um levantamento
sobre perdas de olerícolas in natura no mercado varejista
da cidade de Areia (PB) a fim de fornecer informações
sobre causas e soluções, que possam auxiliar em ações
específicas ao setor, para se diminuir as perdas de
hortaliças frescas no varejo local.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida por meio de entrevistas
semanais realizadas com 72 feirantes e 15 varejistas
que comercializam hortaliças na cidade de Areia (PB),
no período de setembro de 2009 a setembro de 2010.
Esse universo amostral entrevistado exprime
significativamente os pontos de produção e
comercialização de hortaliças mais expressivos na referida
cidade.
Utilizou-se um questionário constituído de 40
perguntas, que abrangeu aspectos socioeconômicos;
de produção; de escoamento; de comercialização e
de armazenamento. O referido questionário foi aplicado
através de entrevistas diretas, sendo constituído de
perguntas objetivas, de modo a facilitar o entendimento
dos envolvidos na pesquisa com os temas abordados,
maior precisão nas respostas e, consequentemente,
melhor exposição dos resultados Essas informações
possibilitaram traçar um diagnóstico prévio das perdas
pré e pós-colheita existentes, assim como das
características individuais dos constituintes da cadeia
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Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB)
produtiva das hortaliças: pimentão, tomate, cenoura
e batata.
Os entrevistados foram subdivididos em três
grupos: o grupo I (GI) foi constituído pelos feirantes
que produziam as hortaliças em suas propriedades rurais
e as comercializavam diretamente na feira-livre do
município de Areia (PB); o grupo II (GII) foi constituído
por feirantes que não produziam as hortaliças em suas
propriedades rurais, adquirindo-as através de compras
semanais na EMPASA-CG (Empresa Paraibana de Serviços
e Abastecimentos Agrícolas), ou de outros pequenos
produtores rurais; e, o grupo III (GIII) foi constituído
por comerciantes proprietários de redes varejistas
(mercados, supermercados e quitandas).
As perdas das hortaliças estudadas foram
tipificadas, de acordo com Chitarra & Chitarra (2005),
em: perdas mecânicas por atrito (amassamento, furos
e riscos); perdas fisiológicas (amadurecimento, perda
de massa fresca, perda de cor e textura e brotamento);
perdas fitopatológicas e perdas biológicas (insetos,
pássaros e animais).
Conhecendo-se a natureza das perdas, associandoas aos referidos grupos, pôde-se estimar-se a quantidade
de perda pela seguinte fórmula:
Perda (%) = C – V x 100
C
Sendo C igual à quantidade média (kg) de cenoura
comprada/ano e V igual à quantidade média (kg) de
cenoura vendida/ano. Os resultados foram expressos
em % de perdas e registrados em Tabelas, associandose as perdas ao padrão qualitativo relacionado na
pesquisa e ao grupo estudado.
De acordo com a Tabela 1, os percentuais de perdas
estiveram associados às seguintes quantidades médias
(kg) de pimentão, tomate, cenoura e batata ofertados
por ano, respectivamente:
Tabela 1 - Dados de produção e oferta (kg/ano) de pimentão,
tomate, cenoura e batata pelos grupos I, II e III,
respectivamente. Areia, 2010
Hortaliças
Grupo I
Grupo II
Grupo III
Pi me nt ã o
Toma te
Cenoura
Ba ta ta
984
274
816
528
2. 12 0
4. 65 6
2. 35 2
3. 84 0
5. 16 2
22.848
8. 35 2
21.984
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Pimentão
As perdas obtidas com a cultura do pimentão (Tabela
2) derivaram-se de danos mecânicos por amassamento;
desordens fisiológicas (amadurecimento, perda de massa
e perda de cor e textura), injúrias fitopatológicas e injúrias
biológicas. A percentagem média de perdas estimada
na cadeia produtiva de hortaliças do município de Areia
– PB para a cultura do pimentão, 60,85% (somatório
das perdas estimadas para GI, GII e GII) foi bastante
elevada. Esse resultado foi 18,85% superior aos 42%
estimados por Rezende (1992) e Vilela et al. (2003) no
estudo da cadeia produtiva do pimentão, comercializado
no mercado varejista de Minas Gerais.
As perdas mecânicas observadas na Figura 1A
totalizaram 26,92% (Tabela 2). Os dados mais expressivos
obtidos na avaliação dessa causa de perdas foram
relacionados aos pimentões comercializados por GI
(13,65%) e GII (10,65%), os quais deveram-se teoricamente
ao rudimentar manuseio pós-colheita empregado com
os frutos. A situação observada foi corroborada por
Lana et al. (2006) ao afirmar que as possíveis causas
da elevada incidência de danos mecânicos e as perdas
decorrentes dessa etapa estão: no manuseio excessivo
e descuidado durante a colheita, classificação e
transporte; uso de contentores com superfícies ásperas,
sujos e com áreas cortantes; empilhamento dificultado
pela falta de padronização de tamanho das embalagens
e descarregamento manual descuidado, causando injúrias
de impacto.
As perdas fisiológicas equivaleram a 11,16% dos
60,85% de perdas totais estimadas para os frutos de
pimentão. A diminuição de cor e textura (5,00%) esteve
intrinsecamente associada ao processo fisiológico de
perda de massa e ao amadurecimento precoce (0,94%)
dos frutos, estando ambos os processos associados
ao aumento da taxa respiratória dos frutos nos locais
indevidos de comercialização (Figura 1B)
As perdas fitopatológicas responderam por 23,04%
dos 60,85% de perdas médias estimadas. Os danos
mecânicos além de ser um dos grandes possíveis
responsáveis pela maioria das desordens fisiológicas
observadas possibilitaram maior susceptibilidade dos
frutos aos diferentes tipos de patógenos pós-colheita
(Figura 1C). Segundo Lana et al. (2006), os fitopatógenos
foram responsáveis por 8,2% das perdas ocasionadas
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Tabela 2 - Perdas registradas durante a comercialização de hortaliças no varejo na cidade de Areia (PB), 2010
Tipologia das perdas
Grupo I (%)
Grupo II (%)
Grupo III
Frutos de Pimentão
Mecânica
Por amassamento
Fisiológica
Por amadurecimento
Por perda de massa
Por perda de cor e textura
Fitopatológica
13 , 1 5
10 , 6 5
2,62
4,75
0,50
5,00
10 , 9 0
0,78
0,16
—
9,30
—
—
—
3,04
TO TA L
34 , 3 0
20 , 8 9
5,66
3,33
—
2,32
0,63
0,67
—
1,67
10 , 9 0
5,13
14 , 6 4
2,82
2,16
Frutos de Tomate
Mecânica
Por amas samento
Por furos
Fisiológica
Por amadurecimento
Fitopatológica
Biológica
Por insetos
TO TA L
0-70
—
—
15,90- 85,90
22 , 7 2
4,98
Tubérculos de Batata
Mecânica
Por atr ito
Por furos
Fisiológica
Por br otamento
Fitopatológica
—
—
2,40
0,21
—
—
—
15 , 3 3
0,08
8,56
0,83
1,67
TO TA L
15 , 3 3
11 , 2 5
2,50
8,17
0,39
2,36
0,83
—
3,67
0,31
0,31
6,50
1,00
—
—
12 , 6 7
7,20
3,36
Raízes de Cenoura
Mecânica
Por atr ito
Fisiológica
Por perda de cor e textura
Por br otamento
Fitopatológica
TO TA L
em pimentões comercializados em redes varejistas do
estado de Minas Gerais. Esses resultados foram
semelhantes aos estimados nos locais de comercialização
pertencentes aos constituintes de GI e GII e inferiores
aos obtidos com GIII.
Figura 1 - Tipos de perdas registradas em pimentões comercializados
pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B)
amadurecimento acelerado; (C) injúrias fitopatológicas;
Areia, PB, 2010.
Verificou-se que as maiores intensidades de
perdas fitopatológicas ocorreram nas épocas mais
chuvosas do ano. Segundo Lana et al. (2006), os principais
patógenos comumente identificados como causadores
de doenças em frutos pimentão na etapa de pós-colheita
são pertencentes às bactérias pertencentes aos gêneros:
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Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB)
Phytophtora sp., Erwinia sp. Colletotrichum sp., os
quais nesses períodos de maior umidade relativa do
ar têm ambiente propício ao desenvolvimento e
disseminação.
3.2. Tomate
Observa-se que os níveis médios de perdas
quantificadas para a cultura do tomate foram bastante
expressivos, variando de 43,60% a 100% nas épocas
mais chuvosas do ano (Tabela 2). Neste estudo constatouse que as perdas obtidas pelos produtores e comerciantes
de tomate devem-se, em síntese, às seguintes causas:
danos mecânicos por amassamento (etapas de
escoamento e comercialização); amadurecimento
acelerado dos frutos (etapa de comercialização), injúrias
ocasionadas por agentes fitopatológicos e biológicos
(etapas de produção, escoamento e comercialização).
No varejo, os níveis percentuais médios de perdas
pós-colheita oscilaram entre 0,63 e 43,64% (G1+G2+G3).
Esses resultados se enquadram no intervalo de 8-30%
estimado por Henz & Moretti (2005) para a cultura do
tomate.
As perdas por amassamento ocorreram
principalmente nas etapas de manuseio, transporte e
comercialização dos frutos (Figura 2). Para Silva &
Giordano (2000), os danos mecânicos, além da perda
quantitativa, reduzem a qualidade dos tomates, pois
os frutos amassados são facilmente contaminados por
fungos e bactérias. Os danos mecânicos por amassamento
proporcionaram 3,33; 2,32 e 0,67% de perdas referentes
aos tomates comercializados pelos grupos I, II e III,
respectivamente.
Se as condições de manuseio e exposição dos frutos
A
B
C
57
forem inadequadas ocorre uma sucessão de desordens
fisiológicas e os mesmos entram rapidamente em estado
de senescência, tornando-se impróprios ao consumo,
principalmente quando o intervalo de comercialização
é elevado (Chitarra & Chitarra, 2005). Diante do exposto,
as perdas decorrentes de amadurecimento acelerado
e posterior senescência oscilaram entre 1,67 e 5,13%
(Figura 2B).
As injúrias fitopatológicas ocasionaram os níveis
médios de perdas mais expressivos nos diferentes
ambientes de comercialização de tomate estudados,
10,90% (GI), 14,64% (GII) e 2,16% (GIII). O grupo I
enfrentou problemas com patógenos desde a etapa
de produção até a etapa de comercialização de tomates,
havendo nos períodos mais chuvosos do ano, perdas
de até 100% em detrimento desses agentes biológicos
(Figura 2C e Tabela 2).
Os níveis médios de perdas ocasionadas por pragas
agrícolas apresentaram maior expressividade na etapa
de produção realizada por GI, em que, associados ou
não a atividade de fitopatógenos, os insetos, em
determinados períodos do ano, ocasionaram perda de
mais da metade da produção (70%). É importante ressaltar
que, além da época do ano, a cultivar utilizada e o manejo
empregado na produção estiveram plenamente interrelacionados a essas perdas ocasionadas por pragas
agrícolas (Figura 2D).
Em detrimento dos níveis elevados de perdas no
campo de produção e os consequentes prejuízos
financeiros, GI havia diminuído o plantio de tomate
em suas propriedades rurais. Observou-se que nesse
plantio realizado em pequena escala havia-se preferido,
até então, a inserção de métodos de resistência de
D
Figura 2 - Tipos de perdas registradas em tomates comercializados pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B) amadurecimento
acelerado; (C) injúrias fitopatológicas; (D) injúrias biológicas. Areia, PB, 2010.
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plantas; métodos culturais e a utilização de defensivos
naturais como: extratos biológicos e soluções com fumo,
óleo mineral e/ou detergente neutro.
(principalmente podridões pós-colheita ocasionadas
por bactérias) acarretaram 28,17% de perdas na cadeia
produtiva da batata (Figuras 3A e 3B).
3.3. Batata
É importante ressaltar que, apesar de serem elevadas,
as perdas obtidas pelos constituintes do grupo III foram
inexpressivas se comparadas às obtidas pelos
componentes de GI e GII. Os resultados devem-se
teoricamente à maior experiência e nível de qualificação
dos constituintes do referido grupo, ao melhor
treinamento dos funcionários integrantes dos seus
ambientes de comercialização e ao maior investimento
na etapa de pós-colheita desses produtos, havendo
a utilização de transportes específicos e o emprego
de técnicas e tecnologias eficazes, tais como: câmara
fria, caixas monobloco em bom estado de conservação
e higiene, prateleiras de comercialização modernas e
higienizadas, descarte dos tubérculos contaminados,
substituição de caixas monobloco quebradas, dentre
outros.
Observou-se, na Tabela 2, que os níveis percentuais
médios de perdas obtidas por GI, GII e GIII com a cultura
da batata alcançaram, respectivamente, 15,33%; 11,25%;
e 2,50%, totalizando valor igual a 29,08% de perdas.
Constatou-se que os agentes fitopatológicos foram
novamente os responsáveis pelas maiores perdas. As
doenças ocasionaram diversas interferências tanto nos
ambientes de produção (grupo I) quanto naqueles
destinados ao escoamento e à comercialização de batatas
(grupos I, II e III).
Nas propriedades rurais pertencentes à GI, os
patógenos comprometeram significativamente a
produção dos tubérculos denotando a baixa qualidade
e quantidade das batatinhas encontradas na “Feira
dos Produtores” (Figura 3A).
Além dos obstáculos técnicos e financeiros
existentes dentro do ambiente de produção, as limitações
em investimentos na etapa de escoamento aumentaram
ainda mais os prejuízos, visto que os danos aos produtos
nessa fase, em virtude, principalmente do atrito e fricção
dos mesmos no interior das ineficazes embalagens
utilizadas, foram os agentes potencializadores de
exposição do tecido interno da hortaliça às intempéries
ambientes (fonte inerente de micro-organismos),
causando-lhe distúrbios fisiológicos e escurecimentos
oxidativos, declinando ainda mais seus parâmetros de
qualidade.
A associação entre os danos mecânicos causados
por atrito e as doenças sucedidas por patógenos
Figura 3 - Tipos de perdas registradas em batatas comercializadas
pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B)
injúrias fitopatológicas; (C) brotamento. Areia, PB,
2010.
Quanto às desordens fisiológicas, estimou-se que
entre 0,08 e 0,83% das batatinhas são perdidas por
GII e GIII, respectivamente, em virtude do brotamento.
Segundo Chitarra & Chitarra (2005), o brotamento conduz
o tubérculo a uma rápida transferência de matéria seca
e água do órgão comestível para o broto e, como
consequência, ocorre perda de massa e o mesmo
desenvolve características de aroma e sabor que o torna
imprestável ao consumo. Esse fenômeno fisiológico
tem grande inter-relação com a temperatura de
armazenamento, visto que a mesma conduz o órgão
vegetal à quebra de dormência (Figura 3C).
3.4. Cenoura
Observou-se, na Tabela 2, que os índices médios
percentuais de perdas obtidas com a produção,
escoamento e comercialização de cenouras totalizaram
23,23%. Os principais potencializadores das baixas
registradas foram: os danos mecânicos nas etapas
de escoamento e comercialização; as desordens
fisiológica s e as injúrias ocasionada s por
fitopatógenos.
Os fatores causais de perdas registrados no estudo
assemelharam-se àqueles citados por Rezende et al.
(1992) para a mesma cultura. Segundo os autores, a
podridão por Erwinia sp.; os nematoides; os distúrbios
fisiológicos; as falhas na fase de produção; a colheita;
a embalagem; o manuseio e o transporte inadequados;
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12
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Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB)
os danos mecânicos; o tempo de exposição prolongado
no varejo; os preços desfavoráveis pagos ao produtor
e a falta de orientação de mercado são agentes
potencializadores de perdas pré e pós-colheita de valor
expressivo.
Verificou-se, conforme a Tabela 2, que 10,92% das
perdas estimadas para a batata ocorreram em virtude
de injúrias mecânicas por atrito. Como citado anteriormente
para as demais hortaliças estudadas, esses tipos de
danos devem-se principalmente aos inadequados
mecanismos empregados nas etapas de manuseio e
escoamento da cenoura (Figura 4A e 4C).
O grupo I foi aquele que obteve a maior quantidade
de perdas pós-colheita com a cenoura, 12,67%, o que
possivelmente está associado à menor taxa de investimento
neste setor da cadeia produtiva (Tabela 2).
As perdas ocasionadas por desordens fisiológicas
aconteceram principalmente pelo decréscimo da coloração
e textura originais e por brotamento, tornando os produtos
imprestáveis para o comércio e consumo. Supostamente
os decréscimos da coloração e da textura originais da
cenoura foram proporcionados pelo longo intervalo
de tempo de exposição das raízes no varejo (Figura
4A). Durante esse acentuado intervalo, os mecanismos
respiratórios aceleram a fase de senescência e,
consequentemente, induzem as túberas à diminuição
dos parâmetros intrínsecos de qualidade física e físicoquímica, principalmente cor (degradação de á e âcaroteno) e textura (solubilização dos sólidos
hidrossolúveis) tornando-se impróprias à comercialização
(Cinar, 2004; Lima et al., 2004). Os índices percentuais
médios de perdas ocorridas em virtude de brotamento
somaram 0,31%.
59
As perdas ocasionadas por injúrias fitopatológicas
ocuparam o segundo lugar em grau de expressividade
dentre os fatores causais de perdas estudados para
a cultura da cenoura. Foram estimados 10,17% de perdas
ocasionadas por patógenos (Tabela 2). Esse tipo de
perda é geralmente provocado pela ação de patógeno
numa porção de tecido ferido e/ou em virtude da desordem
dos mecanismos fisiológicos da cenoura, que
desencadeia na sua rápida senescência, aumentando
a susceptibilidade do tecido das túberas às injúrias
proporcionadas por micro-organismos (Eckert &
Ratnayake, 1983) (Figura 4B).
4. CONCLUSÕES
As injúrias fitopatológicas e mecânicas foram
identificadas na pesquisa como os mais importantes
agentes causadores de perdas em hortaliças frescas.
Os elevados índices estimados no estudo podem ser
minimizados, em síntese, pela conscientização dos
produtores e comerciantes, atentando-se para boas
práticas que devem ser empregadas no manuseio das
hortaliças frescas entre as etapas de escoamento e
comercialização. A higienização dos meios de transporte,
caixas monobloco, bancadas de comercialização,
uniformidade na organização das hortaliças nas caixas,
seleção do melhores horários para o escoamento e oferta
de produtos de acordo com a demanda são técnicas
básicas e de custo financeiro praticamente nulo, que
podem e devem ser adotadas pela maioria dos envolvidos
na pesquisa.
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Swiss Society of Food Science and
Technology, v.37, p.363-367, 2004.
Figura 4 - Tipos de perdas registradas em cenouras comercializadas
pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas e
perda de cor e textura; (B) injúrias fitopatológicas;
(C) injúrias mecânicas. Areia, PB, 2010.
RBAS
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RBAS
Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia
61
QUITOSANA NO RETARDAMENTO DO ESCURECIMENTO DO PERICARPO
EM LICHIA
Leila Cristina Rosa de Lins1, Rosana Gonçalves Pires Matias1, Danielle Fabíola Pereira da Silva1, Robson
Ribeiro Alves1, Luiz Carlos Chamhum Salomão2
RESUMO – Após a colheita da lichia (Litchi chinensis Sonn.) ocorre rápido escurecimento do pericarpo,
o que faz com que o fruto apresente vida pós-colheita curta. Neste trabalho foi avaliado o efeito de diferentes
concentrações de quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo e na manutenção da qualidade
pós-colheita de lichia. Frutos de lichieira ‘Bengal’ com pericarpo uniformemente vermelho foram imersos
por um minuto em solução com diferentes concentrações de quitosana (0 g.L -1; 5 g.L -1; 10 g.L -1; 15 g.L -1
e 20 g.L -1). Após a secagem ao ambiente, os frutos foram acondicionados em bandejas de poliestireno, recobertos
com filme PVC de 12 µm de espessura e armazenados a 19,0±2,4°C e 75 ± 5% de UR. A cada dois dias,
durante oito dias, os frutos foram avaliados quanto à perda de massa fresca, cor do pericarpo, teor de sólidos
solúveis e acidez titulável da polpa e vitamina C do pericarpo e da polpa. A perda de massa aumentou linearmente
durante o período de armazenamento, independentemente da concentração de quitosana. As concentrações
de 5 e 10 g.L -1 foram as mais efetivas em manter a coloração do pericarpo por período de até quatro dias,
sem comprometer as demais características avaliadas.
Palavras-chave: Biopolímero, Litchi chinensis Sonn., vitamina C.
CHITOSAN ON DELAYING OF THE DARKENING OF THE PERICARP IN
LYCHEE
ABSTRACT – After harvest of lychee (Litchi chinensis Sonn.) pericarp browning occurs rapidly, this causes
the fruit to submit short postharvest life. This study evaluated the effect of different concentrations of chitosan
in delaying the browning of the pericarp and in maintaining the postharvest quality of lychees. Fruits of
litchi ‘Bengal’ uniformly red pericarp were immersed for one minute in solution with different concentrations
of chitosan (0 g.L -1, 5 g.L -1, 10 g.L -1, 15 g.L -1 and 20 g.L -1). After drying the environment, the fruits were
packed in polystyrene trays, covered with plastic wrap for 12 mm thick and stored at 19.0 ± 2.4°C and 75
± 5% RH. Every two days, during eight days, the fruits were evaluated for weight loss, color of the pericarp,
soluble solids and titratable acidity and vitamin C from the pulp of the pericarp and pulp. The weight loss
increased linearly during the period of storage, independent of the concentration predominantly of chitosan.
The concentrations of 5 and 10 g.L -1 were the most effective in keeping the color of the pericarp for up to
four days, without compromising other characteristics.
Key Words: Biopolymer, Litchi chinensis Sonn., vitamin C.
Pós-Graduandos - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570000 - Autor para correspondência: [email protected]
2
Professor do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - CEP 36570-000
- [email protected]
Apoio financeiro: CAPES, FAPEMIG e CNPq.
1
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12
62
LINS, de L.R. et al.
1. INTRODUÇÃO
A lichia (Litchi chinensis Sonn.) é uma fruta da
família Sapindaceae, de alto valor comercial devido
a sua cor vermelha atraente e ao arilo branco e translúcido,
sendo muito apreciada por seu sabor doce (Smarsi et
al., 2011). Entretanto, depois de colhido e mantido sob
condições ambientais, o fruto perde estas qualidades,
ocorrendo escurecimento do pericarpo em apenas dois
dias (Silva et al., 2010).
A perda de água e a consequente
descompartimentalização dos solutos celulares durante
o armazenamento provocam o contato das enzimas e
seus substratos, causando reações indesejáveis que
prejudicam a aparência do fruto (Lima et al., 2010).
Portanto, o escurecimento está relacionado com a
dessecação do pericarpo, além do ataque de patógenos,
estresses por altas temperaturas, danos por frio,
senescência, dentre outros fatores que levam à
degradação da antocianina por enzimas oxidativas, tais
como a polifenoloxidase (PPO), a peroxidase (POD)
e o ácido ascórbico oxidase (Mizobutsi et al., 2010).
A fumigação com dióxido de enxofre é um tratamento
eficiente usado para prevenir o escurecimento do
pericarpo da lichia (Ducamp-Collin et al., 2008). Porém,
segundo Hojo et al. (2011), o uso deste produto deixa
resíduos indesejáveis, altera o sabor do fruto, resultando
em riscos à saúde dos consumidores que apresentam
alergia ao enxofre e aos trabalhadores das casas de
embalagens.
De acordo com a Organização Internacional para
a Luta Biológica (OILB), a produção econômica de frutas
de alta qualidade deve priorizar o uso de métodos
ecologicamente mais seguros, minimizando o uso de
agroquímicos e seus efeitos colaterais indesejáveis,
pondo ênfase na proteção do ambiente e na saúde
humana.
Portanto, é necessário o desenvolvimento de
metodologias sustentáveis de manejo pós-colheita que
retardem o escurecimento do pericarpo da lichia,
aumentando sua vida útil pós-colheita, sem deixar
resíduos nos frutos e sem resultar em riscos à saúde
humana.
A quitosana é um biopolímero obtido da desacetilação
da quitina, que é o principal constituinte de
exoesqueletos de crustáceos e outros animais marinhos.
É insolúvel em água, mas dissolve-se em soluções
aquosas de ácidos orgânicos, como acético, fórmico,
cítrico, além de ácidos inorgânicos, como ácido clorídrico
diluído, resultando em soluções viscosas (Santos et
al., 2003).
Tratamentos pós-colheita com quitosana produzem
uma fina camada protetora na superfície dos frutos,
e visam retardar a perda de água, atuam como barreira
ao O2 e atrasam o aumento da atividade PPO durante
o armazenamento (Apail et al., 2009). Em lichias,
tratamentos com soluções de quitosana retardam o
escurecimento do pericarpo, limitando a perda de
antocianina, flavonoides e compostos fenólicos, além
disso, retardam a atividade da PPO e da POD (DucampCollin et al., 2008).
Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi avaliar
o efeito de diferentes concentrações de quitosana na
prevenção do escurecimento do pericarpo e na
manutenção da qualidade pós-colheita de lichias
armazenadas à temperatura ambiente.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Frutos de lichieira ‘Bengal’ com pericarpo
completamente vermelho foram colhidos, no período
da manhã, em janeiro de 2012, de plantas do Pomar
Experimental da Universidade Federal de Viçosa, em
Viçosa, Minas Gerais (21º07’S, 42º57’W, 651m de altitude).
Após a colheita, foram selecionados os frutos com
pericarpo uniformemente vermelho e sem injúrias. Na
sequência, os frutos foram imersos por um minuto em
solução com diferentes concentrações de quitosana (0
g L-1; 5 g L-1; 10 g L-1; 15 g L-1 e 20 g L-1). A quitosana foi
diluída em solução de ácido clorídrico a 0,05 mol L-1. Os
frutos foram secos superficialmente à temperatura
ambiente e acondicionados em bandejas de poliestireno
expandido (150 mm x 150 mm x 25 mm), recobertas com
filme de policloreto de vinila (PVC) de 12 µm de espessura.
A fim de simular o a exposição em gôndolas de
supermercados, os frutos foram armazenados em bancada
de laboratório a 19±2,4°C e 75 ± 5% de UR e avaliados
a cada dois dias, durante oito dias.
Foram avaliados perda de massa fresca, atributos
de cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis e acidez
titulável da polpa e teores de ácido ascórbico do pericarpo
e da polpa. A perda de massa fresca foi determinada
por gravimetria, sendo os resultados expressos em
porcentagem de perda de massa.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12
Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia
63
A coloração do pericarpo foi determinada por
reflectometria, utilizando-se reflectômetro Minolta (Color
Reader CR-10). Foram feitas duas leituras por fruto
em posições diametralmente opostas, utilizando-se as
coordenadas L* e h (h assume valor zero para a cor
vermelha, 90° para a amarela, 180° para a verde e 270°
para a azul) (McGuirre, 1992). Para a análise dos dados
utilizou-se os parâmetros L*, a*, b* para cálculo do
DE (diferença de cor), que define a saturação e intensidade
da cor definida por L*, a* e b* (Minolta Corp, 1994)
e foi determinado pela diferença de cor entre os valores
registrados nos frutos em cada dia de avaliação e os
obtidos nos frutos no início das avaliações.
O teor de sólidos solúveis da polpa foi determinado
com o auxílio de um refratômetro digital em amostras
de polpa trituradas em liquidificador (AOAC, 1997).
A acidez titulável da polpa foi determinada por titulação
com NaOH 0,1N e expressa em porcentagem de ácido
málico (AOAC, 1997). Os teores de ácido ascórbico
do pericarpo e da polpa foram determinados por titulação
com reagente de Tillman [2,6 diclorofenolindofenol
(sal sódico) a 0,1%] (AOAC, 1997). Os resultados foram
expressos em mg.100 g -1 de polpa.
O experimento foi conduzido em parcelas
subdivididas, tendo-se nas parcelas as cinco concentrações
de quitosana e, nas subparcelas, os cinco períodos de
amostragens, sendo a unidade experimental constituída
por cinco frutos. O delineamento experimental foi o
inteiramente casualizado, com três repetições. Os dados
foram analisados por meio das análises de variância
e regressão, usando-se o programa SAEG 9.1 – Sistema
para Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG, 2007).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A perda de massa aumentou linearmente durante
o período de armazenamento, independentemente
da concentração de quitosana (Figura 1). As
concentrações de 0 (controle), 15 e 20g.L-1 resultaram
em maiores perdas de massa fresca durante todo o
período experimental, chegando no 8º dia com perda
acumulada de 10,5, 12,59 e 11,1%, respectivamente.
As menores perdas de massa ocorreram no tratamento
com 5 g.L-1 de quitosana, com uma perda de 9,19%,
seguido pelo tratamento quitosana 10 g.L-1 (9,40%).
Observou-se que, nas maiores concentrações de
quitosana (15 e 20 g.L-1), houve descamação da película
formada sobre os frutos, o que pode ter reduzido
Figura 1 - Perda de massa fresca de frutos de lichia ‘Bengal’
durante o armazenamento, submetidos a tratamentos
com quitosana e armazenados a 19±2,4°C.
a eficiência do produto no controle da perda de massa
fresca. Chen et al. (2001) relatam que a perda de massa
s up e ri or a 1 8,2 1% é s uf i ci e nt e p a ra ca u sa r
escurecimento total do pericarpo de lichias, enquanto
Mahajan & Goswami (2004) consideram que uma perda
de 3-5% pode causar este efeito. Para Chitarra &
Chitarra (2005), perdas da ordem de 3 a 6% são
suficientes para causar declínio na qualidade,
entretanto alguns produtos são ainda comercializáveis
com 10% de perda de umidade.
A luminosidade (L*) do pericarpo, nos cinco
tratamentos avaliados, apresentou diferenças
significativas ao longo do armazenamento, mostrando
tendência de queda (Figura 2). As reduções no 8° dia
de armazenamento, em relação ao dia do armazenamento,
foram menores para o controle (7,21%) e para a dose
20 g.L-1 (9,59%). As menores doses não foram eficientes
em manter a coloração do pericarpo da lichia, observandose perdas de 15,38, 16,81 e 19,4% para as doses 5, 15
e 10, respectivamente.
Os frutos tratados com 10 e 15 g.L-1 de quitosana
apresentaram menor perda de coloração vermelha do
pericarpo, passando o ângulo hue (ºh) de 33,35 para 37,96
e de 33,56 para 40,71 do dia zero ao 8° dia de armazenamento,
respectivamente. No tratamento 20 g.L-1 a variação foi
maior que no controle (Figura 3).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12
64
Figura 2 - Luminosidade (L*) do pericarpo dos frutos de lichia
‘Bengal’ durante o armazenamento, e submetidos
a tratamentos com quitosana e armazenados a
19±2,4°C.
LINS, de L.R. et al.
Figura 4 - Diferença de cor (“E) do pericarpo dos frutos de
lichias ‘Bengal’ durante o armazenamento e
submetidos a tratamentos com quitosana e
armazenados a 19±2,4°C.
escureceram, como se nota pela rápida mudança de cor
em relação ao dia zero (Figura 4). A mudança indesejável
da coloração do pericarpo da lichia, com um rápido
decréscimo da luminosidade (L*) unido a uma elevação
de ºh, dá como resultado principal escurecimento e perda
da coloração vermelha intensa do pericarpo, cuja
consequência imediata é a perda de seu valor comercial
ou uma forte redução do preço de comercialização destes
frutos no varejo (Silva et al., 2011). A rápida alteração
da coloração vermelha para uma tonalidade marrom também
ocorre em frutos ainda ligados à planta. Em frutos colhidos,
este escurecimento pode ocorrer em poucas horas ou,
no máximo, três dias após a colheita, em temperatura
variando de 20° a 25°C (Lima et al., 2010).
Figura 3 - Ângulo hue (0) do pericarpo dos frutos de lichias
‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidos
a tratamentos com quitosana e armazenados a
19±2,4°C.
A quitosana na concentração de 10 g.L-1 impediu
o escurecimento do pericarpo até o quarto dia de
armazenamento. Nos demais tratamentos os frutos
Em todos os tratamentos o teor de sólidos solúveis
e a acidez titulável diminuíram ao longo do período
de armazenamento (Figura 5A e 5B), indicando que
os ácidos orgânicos foram utilizados como substratos
respiratórios e como esqueletos de carbono para a síntese
de novos compostos (Chitarra & Chitarra, 2005). No
entanto, o tratamento 5 g.L -1 foi o que melhor reteve
o teor de sólidos solúveis, reduzindo de 18,57 para
17,76 ºBrix (4,36%). Os ácidos, além dos açúcares,
constituem substratos para a respiração, sendo que
o ácido ascórbico participa de reações antioxidantes
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12
Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia
65
que se processam durante a maturação e após a colheita
do fruto (Neves et al., 2011). Possivelmente, devido
ao estresse da colheita, ocorra no fruto maior atividade
metabólica, principalmente maior taxa respiratória,
havendo maior consumo de ácidos e açúcares nesse
processo (Watanabe et al., 2011).
O teor de ácido ascórbico, tanto do pericarpo como
da polpa, apresentou redução ao longo do período
de armazenamento, sendo que a redução foi mais
expressiva nos frutos que não foram tratados com a
quitosana (Figuras 6A e 6B). Dessa forma, a quitosana,
independentemente da concentração, foi efetiva em
promover uma menor redução do teor de vitamina C
do pericarpo e da polpa dos frutos.
Figura 5 - Teor de sólidos solúveis da polpa (A), acidez titulável
da polpa (B) dos frutos de lichias ‘Bengal’ durante
o armazenamento e submetidos a tratamentos com
quitosana e armazenados a 19±2,4°C.
Figura 6 - Teor de ácido ascórbico do pericarpo (A) e teor de
ácido ascórbico da polpa (B) dos frutos de lichias
‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidos a
tratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12
66
LINS, de L.R. et al.
O efeito benéfico da manutenção dos teores de
ácido ascórbico no pericarpo é atribuído a vários aspectos,
sendo um destes o efeito de captação do oxigênio e
proteção, formando uma barreira criada pela quitosana
que impede a difusão do oxigênio para o interior do
produto, reduzindo as quinonas geradas e inibindo a
ação das PPO’s (Reuck et al., 2011), contribuindo para
a manutenção da coloração vermelha. De acordo com
Apail et al. (2009), a quitosana utilizada como tratamento
pós-colheita produz uma fina camada protetora na
superfície dos frutos, retardando a perda de água e atuando
como barreira ao O2, o que consequentemente atrasa
o aumento da atividade PPO durante o armazenamento.
4. CONCLUSÕES
As concentrações de 5 e 10 g.L-1 foram as mais
efetivas em manter a coloração do pericarpo da lichia
‘Bengal’, sem comprometer as características de qualidade
avaliadas, pelo período de até quatro dias.
5. AGRADECIMENTOS
A CAPES, FAPEMIG e CNPq pelo apoio financeiro.
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TRATAMENTO HIDROTÉRMICO PARA PREVENÇÃO DO ESCURECIMENTO
DO PERICARPO DE LICHIA
Rosana Gonçalves Pires Matias1, Danielle Fabíola Pereira da Silva1, Leila Cristina Rosa de Lins1, Robson
Ribeiro Alves1 e Luiz Carlos Chamhum Salomão2
RESUMO – Após a colheita da lichia (Litchi chinensis Sonn.) ocorre rápido escurecimento do pericarpo, limitando
o período de comercialização do fruto. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da hidrotermia na prevenção
do escurecimento do pericarpo e manutenção da qualidade pós-colheita de frutos de lichia. Frutos de lichieira
cv. Bengal com pericarpo uniformemente vermelho foram submetidos à imersão em água em três temperaturas
(45, 50 e 55°C) x cinco tempos de imersão (0, 4, 8, 12 e 16 minutos), em delineamento inteiramente ao
acaso, com três repetições e cinco frutos por repetição. Após a secagem, os frutos foram acondicionados em
bandejas de poliestireno, recobertos com filme PVC de 12 µm de espessura e armazenados em bancadas de
laboratório em temperatura ambiente (19,0 ± 2,4°C e 75 ± 5% de UR) a fim de simular as condições de exposição
em bancadas de supermercados. A cada dois dias, durante oito dias, os frutos foram avaliados quanto à perda
de massa fresca, cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis e acidez titulável da polpa e teor de ácido ascórbico
do pericarpo e da polpa. Observou-se que a perda de massa fresca foi maior nos frutos não submetidos ao
tratamento hidrotérmico. Frutos submetidos a 50°C por 16 minutos e a 55°C em todos os tempos de imersão
foram avaliados somente até o 4º dia; a partir daí apresentaram-se impróprios para a comercialização. A imersão
a 45ºC por 4 minutos foi a mais eficiente em manter a coloração vermelha do pericarpo, bem como não
alterou as características de qualidade avaliadas durante o período experimental.
Palavras-chave: Litchi chinensis Sonn., qualidade, vitamina C.
HYDROTHERMAL TREATMENT IN PREVENTION BROWNING OF LYCHEE
PERICARP
ABSTRACT – The browning of litchi pericarp (Litchi chinensis Sonn.) occurs rapidly after harvest, limiting
the marketing period of the fruits. The objective of this study was to evaluate the effect of hot water treatments
in preventing browning of the pericarp and the maintenance of postharvest quality of litchi fruit. Fruits of
litchi cv. Bengal uniformly red pericarp were submitted to immersion in water at tree temperature (45, 50
and 55°C) x five soaking times (0, 4, 8, 12 and 16 minutes) in a completely randomized design with tree
replications and five fruit per replicate. After drying, the fruits were packed in polystyrene trays, covered
with plastic wrap with 12 mm thick and stored in the lab benches at room temperature (19.0 ± 2.4°C and
75 ± 5% RH) to simulate the exposure conditions at supermarket counters. Every two days, during eight
days, were evaluated the weight loss, color of the pericarp, soluble solids, titratable acidity of the pulp and
ascorbic acid content of the pericarp and pulp. It was observed that the weight loss was higher in fruits that
were not subjected to hydrothermal treatment. Fruits subjected to 50°C during 16 minutes and 55°C in all
immersion times were evaluated only until the 4th day, thereafter, these fruits are not suitable for commercialization.
Immersion at 45°C during four minutes was the most effective in maintaining the red color of the pericarp
and did not affect the quality measured during the experimental period.
Key Words: Litchi chinensis Sonn., quality, vitamin C.
Pós-Graduandos - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570000 - Autor para correspondência: [email protected]
2
Professor do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570-000
- [email protected]
Apoio financeiro: CAPES, FAPEMIG e CNPq.
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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12
Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia
1. INTRODUÇÃO
A lichieira (Litchi chinensis Sonn.) é uma planta
da família Sapindaceae, a mesma do guaraná, pitomba
e rambutã. É uma fruteira tipicamente de clima subtropical.
No Brasil, sua introdução se deu no ano de 1810 no
Rio de Janeiro, a partir daí seu cultivo se expandiu
para a região Sudeste (Smarsi et al., 2011).
Após a colheita dos frutos, ocorre rápido
escurecimento do pericarpo, o que faz com que o fruto
apresente vida pós-colheita curta. O fenômeno pode
ocorrer em menos de 72 horas após a colheita, reduzindo
o valor comercial da fruta, limitando assim sua
comercialização (Del Aguila et al., 2009).
Este escurecimento pode estar relacionado com
a dessecação do pericarpo, ataque de patógenos,
estresses por altas temperaturas, danos por frio,
senescência, dentre outros fatores que levam à
degradação da antocianina, por enzimas oxidativas,
tais como a polifenoloxidase (PPO), peroxidase (POD)
e ácido ascórbico oxidase (Mizobutsi et al., 2010). Com
a perda de água durante o armazenamento dos frutos,
há descompartimentalização dos solutos celulares,
provocando o contato das enzimas e seus substratos,
causando por fim as reações indesejáveis que prejudicam
a aparência do fruto e, consequentemente, sua
comercialização (Lima et al., 2010).
Em vista disso, retardar ou reduzir a oxidação
enzimática, por meio de métodos que evitem o contato
do fruto com o oxigênio e diminuam a perda de massa
dos frutos, é importante para aumentar o período de
armazenamento e preservar a qualidade comercial de
frutos de lichieira.
Um método eficiente de tratamento usado para
prevenir o escurecimento do pericarpo dos frutos de
lichieira é a fumigação com dióxido de enxofre (DucampCollin et al., 2008). Porém, segundo Hojo et al. (2011),
esse produto deixa resíduos indesejáveis e altera o
sabor do fruto, resultando em riscos à saúde dos
consumidores que apresentam alergia ao enxofre e dos
trabalhadores das casas de embalagens.
Um tratamento alternativo à fumigação com enxofre
é a aplicação de calor por tratamento hidrotérmico
(Lichter et al., 2000). O tratamento hidrotérmico na
conservação de alimentos apresenta uma série de
vantagens que incluem a relativa facilidade de utilização,
tratamento em curto espaço de tempo, bem como a
69
isenção de resíduos químicos sobre o produto. Porém,
o manejo inadequado da temperatura no tratamento
hidrotérmico pode causar injúria hipertérmica, como
colapso da polpa, frutos sem sabor, escurecimento
da casca e, em casos severos, produção de etanol
e acetaldeído (Souza, 2009).
Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliar
o efeito do tratamento hidrotérmico na prevenção do
escurecimento do pericarpo e na manutenção da qualidade
pós-colheita de frutos de lichieira.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Frutos de lichieira (Litchi chinensis Sonn.) cv.
Bengal com pericarpo completamente avermelhado
foram colhidos no período da manhã, em janeiro de
2012, de plantas com nove anos de idade originadas
de alporquia em pomar irrigado localizado na Área
Experimental da Universidade Federal de Viçosa, em
Viçosa, Minas Gerais (21º07’S, 42º57’W, 651m de
altitude).
Após colheita manual, foram selecionados os
frutos sadios com pericarpo uniformemente avermelhado
e sem injúrias. Imediatamente após, foram lavados
em água corrente e sanificados por imersão em
hipoclorito de sódio a 200 mg.L-1, por 5 minutos. A
seguir, foram submetidos aos tratamentos de imersão
em água aquecida (45, 50 e 55°C) e tempo de imersão
(0, 4, 8, 12 e 16 minutes), e secos à temperatura ambiente.
O tratamento controle foi constituído de frutos lavados
e sa nif ic ado s. Em segu ida os fru tos for am
acondicionados em bandejas de poliestireno (150 mm
x 150 mm x 25 mm) e recobertos com filme de policloreto
de vinila (PVC) de 12 µm de espessura. A fim de simular
as c ondiçõ es de e xposição em banc ada s de
supermercados, os frutos foram mantidos em bancada
de laboratório em temperatura ambiente (19,0 ± 2,4°C
e 75 ± 5% de UR) e avaliados a cada dois dias, durante
oito dias.
Foram avaliados perda de massa fresca, atributos
de cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis (SST),
acidez titulável da polpa (AT), e teores de ácido ascórbico
do pericarpo e polpa. A perda de massa fresca foi
calculada pela diferença entre a massa inicial dos frutos
e a obtida em cada tempo da amostragem, utilizandose balança digital com 0,1 gramas de precisão, sendo
os resultados expressos em porcentagem de perda de
massa.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12
70
MATIAS, R.G.P. et al.
A coloração do pericarpo foi determinada por
reflectometria, utilizando reflectômetro Minolta (Color
Reader CR-10). Foram feitas duas leituras por fruto
em posições diametralmente opostas, utilizando a
coordenadas L* e h (ângulo hue, h assume valor zero
para a cor vermelha, 90° para a amarela, 180° para a
verde e 270° para a azul) (McGuirre, 1992).
O teor de sólidos solúveis da polpa foi determinado
com o auxílio de um refratômetro digital em amostras
de polpa trituradas em homogeneizador de tecidos
(AOAC, 1997). A acidez titulável da polpa foi determinada
por titulação com NaOH 0,1N e expressa em porcentagem
de ácido málico (AOAC, 1997). O teor de ácido ascórbico
do pericarpo e da polpa foi determinado por titulação
com reagente de Tillman [2,6 diclorofenolindofenol
(sal sódico) a 0,1%] (AOAC, 1997). Os resultados
foram expressos em mg.100 g-1 de polpa.
O experimento foi conduzido em parcelas
subdivididas, tendo-se nas parcelas os doze tratamentos
hidrotérmicos e, nas subparcelas, os cinco períodos
de amostragens, sendo a unidade experimental constituída
por cinco frutos. O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado, contendo três repetições e
cinco frutos por repetição. Os dados foram analisados
por meio das análises de variância e regressão, utilizandose o programa Sistema para Análises Estatísticas e
Genéticas (SAEG, 2007).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A perda de massa aumentou linearmente durante
o período de armazenamento, independentemente dos
tratamentos (Figura 1A, B e C). Isso evidencia que os
frutos continuaram respirando e perdendo água e,
consequentemente, perdendo massa com o passar do
tempo. Os frutos do tratamento controle apresentaram
maior perda de massa do que os frutos submetidos ao
tratamento hidrotérmico, independente da temperatura
e do tempo de imersão. A perda de massa fresca dos frutos
variou entre 3,68 e 4,93%, para os tratamentos 55ºC por
8 minutos e 45º no mesmo tempo de exposição,
respectivamente, com exceção dos frutos do tratamento
controle nos quais a perda de massa fresca foi superior
a 5% no quarto dia de armazenamento. De acordo com
Lima et al. (2010) perda de massa fresca de 3 a 5% é suficiente
para causar o escurecimento total do pericarpo de lichias.
A imersão em água quente reduziu os valores de
luminosidade (L*) do pericarpo ao longo do período
Figura 1 - Perda de massa fresca (%) de lichias cv. Bengal
submetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A),
50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancadas
de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.
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Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia
de armazenamento, observando-se as maiores reduções
no tempo de imersão por 16 minutos, para todas as
temperaturas (Figura 2A, 2B e 2C). A imersão em água
quente por longos períodos levou a um escurecimento
não enzimático do pericarpo (Souza et al., 2010),
culminando na redução dos valores de luminosidade.
Resultados semelhantes foram encontrados por Souza
et al. (2010), que observaram que frutos de lichia
submetidos a tratamento hidrotérmico a 45°C por 15;
20 e 25 minutos, armazenadas à 5°C apresentaram
diminuição significativa nos valores deste parâmetro.
Observou-se aumento dos valores do ângulo hue
(hº) do pericarpo dos frutos de todos os tratamentos
ao longo do período experimental (Figura 3A, B e C),
o que indica a perda da coloração vermelha do pericarpo.
No entanto, na imersão a 45ºC por 4 e 8 minutos o
aumento dos valores de hº foi menos significativo.
Os frutos submetidos a 50°C por 16 minutos e 55°C
em todos os tempos de imersão foram os que mais
rapidamente perderam a coloração vermelha e foram
avaliados somente até o 4º dia. A partir daí os frutos
se apresentaram impróprios para a comercialização.
Isso pode ser explicado pela alta temperatura de imersão,
que pode ter ocasionado a caramelização dos açúcares
presentes no pericarpo; além disso, a alta temperatura
pode ter ocasionado maiores perdas de antocianinas,
devido à alta sensibilidade deste pigmento a temperaturas
muito elevadas (Souza et al., 2009; Tonon et al., 2009).
A
B
Observou-se, em todos os tratamentos, que o teor
de sólidos solúveis (°Brix) diminuiu ao longo do período
de armazenamento (Figura 4A, B e C), bem como a acidez
titulável (AT) (Figura 5A, B e C). Esta redução indica
que os açúcares e os ácidos orgânicos podem ter sido
utilizados como substratos respiratórios e como
esqueletos de carbono para a síntese de novos compostos
(Chitarra & Chitarra, 2005).
Os teores de ácido ascórbico do pericarpo diminuíram
significativamente em todos os tratamentos (Figura
6A, B e C). A temperatura de 45°C, nos tempos de imersão
de 8, 12 e 16 minutos, foi mais eficiente na manutenção
do teor de ácido ascórbico do pericarpo. Inversamente,
a 55°C houve maior redução no teor de ácido ascórbico
do pericarpo dos frutos quando comparados ao
tratamento controle, em todos os tempos de imersão.
Os tratamentos não influenciaram no teor de ácido
ascórbico da polpa dos frutos (Figura 7A, B e C),
apresentando uma redução ao longo do período de
C
Figura 2 - Coordenada L* do pericarpo de lichias cv. Bengal
submetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A),
50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada
de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.
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MATIAS, R.G.P. et al.
A
A
B
B
C
C
Figura 3 - Ângulo hue do pericarpo (h°) de lichias vc. Bengal
submetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A),
50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada
de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.
Figura 4 - Teor de sólidos solúveis (°Brix) de frutos de lichia cv.
Bengal submetida ao tratamento hidrotérmico a 45°C
(A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada
de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.
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Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia
A
A
B
B
C
C
Figura 5 - Acidez titulável (% de ácido málico) de frutos de lichia
cv. Bengal submetida ao tratamento hidrotérmico a
45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada
de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.
Figura 6 - Teor de ácido ascórbico (mg.100g -1) do pericarpo
de frutos de lichia cv. Bengal submetidos ao tratamento
hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e
armazenados em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C.
Viçosa-MG, 2012.
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MATIAS, R.G.P. et al.
armazenamento, não diferindo do controle. No entanto,
observou-se que essa redução ocorreu mais rápido
nos frutos tratados a 50ºC por 16 minutos, e a 55ºC
em todos os tempos de imersão.
4. CONCLUSÕES
A
O tratamento por imersão em água a 45º por 4
minutos foi o mais eficiente em manter a coloração
vermelha do pericarpo bem como não alterou as
características de qualidade consideradas durante todo
o período de avaliação.
5. LITERATURA CITADA
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2000.
Figura 7 - Teor de ácido ascórbico (mg.100g -1) da polpa de
frutos de lichia cv. Bengal submetidos ao tratamento
hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C)
e armazenados em bancada de laboratório a 19
± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012.
LIMA, R.A.Z.; PATTO, D.E.; ABREU, C.M. et al.
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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12
76
SANTOS, dos M.C. et al.
EFEITO DO SILÍCIO EM ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E NA HISTÓRIA
DE VIDA DE Tuta Absoluta (MEYRICK) (LEPIDOPTERA: GELECHIIDAE)¹
Marília Cristina dos Santos2*, Ana Maria Resende Junqueira², Veríssimo Gibran Mendes de Sá 3, José Cola
Zanúncio4, Marcos Alexandre Bauch5, José Eduardo Serrão6
RESUMO – A tecnologia baseada no uso do silício diminui o uso de agrotóxicos, mantendo a qualidade de
frutos e protegendo o ambiente. Este trabalho teve como objetivo avaliar a utilização de diferentes fontes
e doses de silício em plantas de tomate sobre aspectos biológicos e preferência de oviposição da traça-dotomateiro (Tuta absoluta). O delineamento experimental foi em blocos casualisados contendo vinte e um
tratamentos incluindo a testemunha, em cinco repetições [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - 0,45; 0,90;
1,35 e 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - 2,0; 4,0; 6,0 e 8,0); (Sili-K ® (l ha -1 de SiO 2) - 0,5;
1,0; 2,0 e 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00); (Ácido silícico solo (% de
SiO 2) - 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00) e controle]. Os parâmetros biológicos avaliados foram: duração das fases
larval e pupal, sobrevivência de larvas e pupas e peso de pupas machos e fêmeas. A não preferência para oviposição
de T. absoluta em plantas de tomateiro tratadas com silício foi avaliada através de testes com e sem chance
de escolha. Não foram observadas diferenças na duração das fases larval e pupal, sobrevivência de lagartas
e pupas, peso de pupas machos e fêmeas de T. absoluta e preferência de oviposição em indivíduos provenientes
dos tratamentos com silício aplicado no solo e daquelas do grupo controle. Insetos obtidos dos tratamentos
à base de silício aplicado via foliar apresentaram aumento na duração das fases larval e pupal, diminuição
na sobrevivência de lagartas e pupas, diminuição do peso de pupas machos e fêmeas e diminuição na preferência
de oviposição.
Palavras-chave: Biologia, comportamento, manejo integrado de pragas, silício, Solanum lycopersicum, traçado-tomateiro
EFFECT OF SILICON ON BEHAVIORAL ASPECTS AND LIFE HISTORY OF
TUTA ABSOLUTA (MEYRICK) (LEPIDOPTERA: GELECHIIDAE)
ABSTRACT – The technology based on the use of silicon reduces pesticide use, keeping fruit quality and
protecting the environment. This study evaluated the effects of different sources and levels of silicon applied
on tomato plants, on biological and behavior characteristics of the tomato pinworm Tuta absoluta. The experimental
outline was a randomized block with twenty one treatments, including control, in five replicates[(Agrosilício ®
soil (t ha -1 of SiO 2) – 0.45, 0.90, 1.35 and 1.80); (Agrosilício ® leaves (t ha -1 of SiO 2) – 2.0, 4.0, 6.0 and
8.0); (Sili-K ® (l ha -1 of product) – 0.5, 1.0, 2.0 and 3.0); (Silicic Acid Leaves (% of SiO 2) – 0.25, 0.50,
0.75 and 1.00); (Silicic acid soil (% of SiO 2) – 0.25, 0.50, 0.75 and 1.00) and control]. The biological
Parte da tese do primeiro autor; Projeto financiado pela CAPES.
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 70910-970, Brasília, Distrito Federal, Brasil.
3
Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado de Minas Gerais, 35930-314, João Monlevade, Minas Gerais, Brasil.
4
Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A.
5
IBAMA-Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Floresta Núcleo de Geoprocessamento,70818-900, Brasilia, DF,
Brasil.
6
Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1B.
*
Autor correspondente. E-mail: [email protected]
1
2
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12
Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 77
characteristics evaluated, were: duration of larval and pupal stages, survival of larvae and pupae and pupal
weight of males and females individuals. The non-preference for oviposition of T. absoluta in tomato plants
treated with silicon was evaluated through tests with choice and without choice trials. There were no differences
observed in the length of larval and pupal stages, survival of larvae and pupae, pupal weight of males and
females of T.absoluta and oviposition in individuals from the treatments with silicon applied to the soil and
those in the control group. However, insects collected from treatments based on leaf application silicon showed
an increase in the duration the larval and pupal stages, decreased survival of larvae and pupae, decreased
pupae weight of males and females and a decrease in oviposition preference.
Key Words: Biology, feeding behavior, integrated pest management, pinworm, silicon, Solanum lycopersicum.
1. INTRODUÇÃO
A traça-do-tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick)
(Lepidoptera: Gelechiidae), nativa da América do Sul
(Gomide et al., 2001), é uma das principais pragas do
tomateiro no Brasil (Medeiros et al., 2009).
Tuta absoluta é um inseto holometábolo cujo ciclo
completo dura de 26 a 30 dias (Medeiros et al., 2009).
O estágio de ovo dura de três a seis dias (Coelho &
França, 1987), o de lagarta, que é o causador dos danos,
dura 14 dias. As lagartas de T. absoluta se alimentam
do mesofilo das folhas causando minas, broqueiam
o caule, perfuram o broto terminal e atacam os frutos
(Michereff Filho & Vilela, 2001; Medeiros et al., 2009).
A fase de pupa, que pode durar cerca de oito dias,
desenvolve-se dentro da própria lesão foliar ou no
solo. Cada fêmea pode depositar de 55 a 130 ovos durante
três a sete dias (Coelho & França 1987; Haji et al., 1988)
e a maioria dos ovos é depositada nas folhas (Torres
et al. 2001; Pratissoli et al., 2003).
A traça-do-tomateiro representa sérios danos para
a tomaticultura, ocorrendo durante todo o ciclo do
tomateiro, independente do período em que seja cultivado
(Giustolin et al., 2002), porém com maior intensidade
no período mais seco do ano (Medeiros et al., 2011).
Esta praga tem sido controlada normalmente através
de aplicações múltiplas de inseticidas (Benvenga et
al., 2007; Collavino & Gimenez, 2008; Medeiros et al.,
2009), o que é indesejável tanto por motivos econômicos
quanto ambientais. As aplicações sucessivas desses
produtos químicos afetam os inimigos naturais e
aumentam a possibilidade de desenvolvimento de
populações da praga resistentes aos inseticidas, além
da produção de alimentos com altos níveis de resíduos
tóxicos (Almeida et al., 2009; Vianna et al., 2009; Silva
et al., 2011).
Os métodos de controle utilizados em programas
de Manejo Integrado de Pragas visam reduzir o uso
de inseticidas ou utilizar aqueles compatíveis com
os inimigos naturais (Zanuncio et al., 2003). A fisiologia,
a ecologia e a etiologia dos insetos herbívoros, dentro
de outros aspectos de sua biologia, estão inseridas
em um contexto nutricional. A qualidade e a quantidade
do alimento ingerido e a ingestão de compostos do
metabolismo secundário das plantas podem causar
ef ei tos de le té ri os, inte rf er indo inc lusive no
desenvolvimento desses indivíduos (Hagen et al.,
1984).
O silício é um dos elementos mais abundantes
na crosta terrestre. Produtos originados de agregados
siderúrgicos são resíduos da metalurgia do ferrogusa e aço que, devido à sua basicidade, podem ser
utilizados como corretivos de solo, sendo excelentes
fontes de silício, cálcio e magnésio (Nolla et al., 2004).
Embora o silício não seja essencial para a maioria
das plantas (Epstein, 2009), a aplicação de silicatos
tem aumentado a resistência das plantas às pragas,
principalmente pela sua capacidade de acumulação
na parte externa da parede celular (Costa & Moraes,
2006; Dalastra et al., 2011), aumentando assim a síntese
de compostos fenólicos e lignina (Ghanmi et al., 2004;
Currie & Perry, 2007), além de ativar as defesas químicas
endógenas das plantas atacadas (Epstein, 2009).
Entretanto, não foram feitos trabalhos evidenciando
estes benefícios no tomateiro. Neste contexto, o uso
do silício representa uma tecnologia com grande
potencial para diminuir a frequência e o uso de
inseticidas (Silva et al., 2010).
Diante do exposto, objetivou-se com o trabalho
avaliar diferentes fontes e doses de silício sobre os
aspectos biológicos e a não preferência para oviposição
de T. absoluta.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12
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SANTOS, dos M.C. et al.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Plantio, delineamento experimental e tratamentos
O plantio das mudas de tomateiro, variedade
Tospodoro, oriundas da EMBRAPA Hortaliças, Brasília,
DF, foi feito em casa de vegetação (25 ± 1,0º C) com
área de aproximadamente 119 m2, em agosto de 2011,
na Universidade Federal de Viçosa, Departamento de
Biologia Geral (DBG), Viçosa, MG, Brasil.
As parcelas experimentais foram plantas de
tomateiro cultivadas em vasos de polietileno com
volume de 3L, utilizando-se solo como substrato,
contendo uma planta em cada vaso, com adubação
de plantio contendo nitrogênio (600 kg ha-1 de sulfato
de amônio), fósforo (3300 kg ha -1 de superfosfato
simples) e potássio (330 kg ha-1 de cloreto de potássio),
cujas quantidades foram calculadas em função da
análise do solo e recomendação de Ribeiro & Guimarães
(1999). Os vasos foram dispostos em bancadas de
3,66 x 1,00 m, equidistantes 0,10m.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos
casualisados com cinco repetições, sendo vinte
tratamentos e o controle (sem adição de qualquer
composto contendo silício) (Tabela 1).
Tabela1 - Fontes e doses de silício utilizadas na avaliação sobre a biologia e não preferência para oviposição de Tuta absoluta
(Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae)
Tra tame ntos
Produto
Agrosilício ® Solo
T1
T2
T3
T4
T5
T6
T7
T8
Agrosilício ® foliar
2, 0
Quantidade
t ha -1 de SiO 2
0,45
0, 9
1,35
1, 8
g de Agrosilício ®/vaso de 3L
13,5
27,0
40,5
54,0
t ha - de SiO 2 1/aplicação
g de Agrosilício ® /
planta/ aplicação em 250mL
de água destilada
71 , 2 5
14 2, 5
2 1 3, 7 5
0, 5
1, 0
1, 5
28 5, 0
L ha -1 produto/aplicação
T9
T10
T11
T12
Sili-K ® foliar
0, 5
1, 0
2, 0
3, 0
% de ácido silícico/aplicação
T13
T14
T15
T16
Acido silícico foliar
0, 5
1, 0
2, 0
3, 0
% de ácido silícico /aplicação
mL de Sili - K ®/
planta/aplicação em 250mL
de água destilada
0, 01 5
0, 03 0
0, 06 0
0, 09 0
g de ácido silícico/
vaso/aplicaç ão em 250mL
de água destilada
1,25
2, 5
5, 0
7, 5
T17
T18
T19
T20
Ácido silícico solo (%)
0,25
0,50
0,75
1, 0
g de ácido silícico/
vaso/aplicaç ão em 250mL
de água destilada
1,25
2, 5
5, 0
7, 5
T21
CONTROLE
0
0
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12
Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 79
Foram testados três compostos como fontes de
silício [Agrosilício® (22,4% de SiO2), Sili-k® (12,2% Si)
e ácido silícico (100% SiO2)] em quatro doses cada um.
O Agrosilício® foi adicionado ao solo juntamente
com a adubação de plantio, visando à elevação da
saturação por bases para 70%, na dosagem de 100%
de SiO2 (Ribeiro & Guimarães, 1999), visto que este
produto possui efeito corretivo (Sommer et al., 2006).
A partir deste valor foram calculadas as demais dosagens
de 50%, 150% e 200% de SiO2.
após a última aplicação foliar dos produtos contendo
silício.
Para avaliar o efeito do silício na biologia de T.
absoluta, os ramos contendo os ovos foram observados
diariamente anotando-se a eclosão e a ocorrência de
pupas, as quais, 24 h após a formação, foram sexadas,
pesadas, individualizadas em placas de Petri®, colocadas
em câmara climatizada tipo BOD a 25 ± 0,5 ºC e fotofase
de 12 horas, onde permaneceram até a emergência dos
adultos.
O Agrosilício® foi aplicado semanalmente via
pulverização foliar nos tratamentos T5 ao T8 (250 ml
de solução) nas dosagens de 50%, 100%, 150% e 200%
de SiO 2, tendo como base a dosagem de 100%,
correspondente a 1 tonelada de SiO2 por hectare (Costa
et al., 2009).
As características biológicas avaliadas foram:
duração e sobrevivência das fases larval e pupal e
peso de pupas (machos e fêmeas).
O produto Sili-K® foi aplicado (250 ml da solução),
por pulverização, apenas via foliar, de acordo com a
recomendação do fabricante, nas dosagens de 0,5; 1,0;
2,0 e 3,0 l ha-1 do produto, semanalmente, nos tratamentos
T9 ao T12, uma vez que não se encontra disponível
para aplicação no solo.
Os testes foram realizados com folhas de tomateiro
obtidas dos 20 tratamentos citados anteriormente e
o controle, sem qualquer composto contendo silício
(Tabela 1).
A aplicação de 250 mL de solução de ácido silícico
a 0,5; 1,0; 2,0 e 3,0% de SiO2 (Camargo et al., 2008;
Costa et al., 2009) foi realizada, semanalmente, tanto
via foliar (T13 ao T16) como no solo em torno das hastes
das plantas (T17 ao T20) na dosagem correspondente
a 1 tonelada de SiO2 por hectare (Costa et al., 2009).
A primeira aplicação foliar destes produtos foi
feita trinta dias após o plantio dos tomateiros, totalizando
três aplicações em intervalos semanais. A testemunha
(T21) recebeu apenas água destilada.
As plantas tratadas com Agrosilício® (foliar), Silik e ácido silícico (solo e foliar) tiveram o solo corrigido
com calcário dolomítico (0,8 t ha-1) com o objetivo de
elevar a saturação por bases para 70%.
®
Efeito de silício na Biologia de T. absoluta
Folhas de tomateiro com posturas de T. absoluta
de mesma idade, provenientes da criação do Laboratório
de Entomologia Agrícola da Universidade Federal de
Viçosa, foram seccionadas para que contivessem 10
ovos. Cada uma dessas áreas seccionadas foi fixada
com auxílio de alfinete em um dos ramos da planta de
tomateiro e acondicionada em sacos de organza de
15 x 20 cm envolvendo uma folha de tomate, sete dias
Não preferência para oviposição de T. absoluta em
plantas de tomateiro tratadas com silício
Teste com chance de escolha
Os testes com chance de escolha foram realizados
em gaiolas de 30 x 36 cm, recobertas com tecido tipo
organza para facilitar a ventilação. Na base de cada
gaiola foram dispostas, ao acaso, folhas de cada tratamento
mantidas em vidros contendo água. Em cada gaiola,
foram liberados 40 adultos (20 fêmeas e 20 machos)
alimentados com solução de mel a 10%. Após 48 horas,
foi contado, sob microscópio estereoscópico, o número
de ovos em cada tratamento (Thomazini et al., 2001).
O delineamento experimental foi em blocos ao acaso,
com 10 repetições (gaiolas) contendo os 21 tratamentos.
Teste sem chance de escolha
Os testes sem chance de escolha foram realizados
em gaiolas de 13 x 15, recobertas com tecido tipo organza
para facilitar a ventilação. Cada tratamento foi testado
separadamente dos demais. Na base de cada gaiola
foi colocada uma folha, mantida em recipiente contendo
água. Em cada gaiola, foram liberados 20 adultos (10
fêmeas e 10 machos) alimentados com solução de mel
a 10%. Após 48 horas, foi contado, sob microscópio
estereoscópico, o número de ovos em cada tratamento
(Thomazini et al., 2001). O delineamento experimental
foi em blocos ao acaso, com 10 repetições (gaiolas)
por tratamento, 20 tratamentos e a testemunha.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12
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SANTOS, dos M.C. et al.
Análise estatística
Os dados foram submetidos à análise de variância
(ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de ScottKnott (1974) a 5% de probabilidade com o Sistema de
Análises Estatísticas SAEG® 9.0 (2005).
3. RESULTADOS
Efeito do silício na biologia de Tuta Absoluta
Lagartas de Tuta absoluta pertencentes ao grupo
controle (T21) e aos tratamentos em que o silício foi
aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) não apresentaram
diferenças quanto à duração das fases larval (Figura
1) e pupal (Figura 2) e sobrevivência de lagartas (Figura
3) e pupas (Figura 4). Entretanto, lagartas de T. absoluta
obtidas dos tratamentos à base de silício aplicados
via foliar (T5 ao T16) apresentaram aumento da duração
da fase larval (P < 0,01) (Figura 1) e diminuição da
sobrevivência de larvas (P<0,01) (Figura 3) e pupas
(P<0,01) (Figura 4) quando comparados aos demais
tratamentos. Nos tratamentos em que o Agrosilício ®
foi aplicado nas folhas (T5 ao T8) também ocorreu
aumento na duração da fase pupal, seguidos pelos
tratamentos com Sili-K® (T9 ao T12) e ácido silícico
aplicado via foliar (T13 ao T16) quando comparados
aos demais tratamentos (P<0,01) (Figura 2).
O peso de pupas fêmeas (mg) não diferiu do grupo
controle (T21) e dos tratamentos em que o silício foi
aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) (Tabela 2)
(Figura 3). Houve diminuição no peso de pupas fêmeas
provenientes dos tratamentos em que o silício foi aplicado
nas folhas (T5 ao T16) quando comparados aos demais
tratamentos (P<0,01) (Figura 5).
O peso de pupas machos (mg) não diferiu do grupo
controle (T21) e dos tratamentos em que o silício foi
aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) (Figura 5).
Houve diminuição nos pesos de pupas machos
provenientes dos tratamentos em que o silício foi aplicado
nas folhas (T5 ao T16) quando comparados aos demais
tratamentos (P<0,01) (Figura 5).
Figura 1 - Duração da fase larval (dias) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em
função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ®
foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11
2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo
(% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem
pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
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Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 81
Figura 2 - Duração da fase pupal (dias) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em
função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ®
foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11
2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo
(% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem
pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
Figura 3 - Sobrevivência da fase larval (%) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae),
em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ®
foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11
2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo
(% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem
pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
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Figura 4 - Sobrevivência da fase pupal (%) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae),
em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ®
foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11
2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo
(% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem
pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
Figura 5 - Peso de pupas fêmea e macho (mg) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae),
em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ®
foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11
2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo
(% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem
pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
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Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 83
Não preferência para oviposição de Tuta Absoluta em
plantas de tomateiro tratadas com silício
Com chance de escolha
O número de ovos de T. absoluta obtido em folhas
de tomateiro pertencentes ao grupo controle (T21) e
aqueles em que o silício foi aplicado no solo (T1 ao
T4 e T17 ao T20) foram semelhantes (Figura 6).
Nos tratamentos em que o Agrosilício® foi aplicado
nas folhas (T5 ao T8), naqueles que receberam SiliK® (T9 ao T12) ou ácido silícico nas folhas (T13 ao
T16) foram os menos preferidos para oviposição (P<0,01)
(Figura 6).
Sem chance de escolha
Nos testes em confinamento, o número de ovos
observados no grupo controle (T21) e nos tratamentos
em que o silício foi aplicado no solo (T1 ao T4 e T17
ao T20) não diferiram entre si (Figura 7).
Os tratamentos em que o Agrosilício® foi aplicado
nas folhas (T5 ao T8) apresentaram maior número de
ovos em relação àqueles que receberam Sili-K® (T9
ao T11) e o ácido silícico nas folhas (T13, T15 e T16).
Entretanto, T12 e T14 apresentaram menor número
de ovos em relação aos demais tratamentos (P<0,01)
(Figura 7).
4. DISCUSSÃO
No presente estudo observou-se que em plantas
de tomate que receberam o silício aplicado no solo
(T1 ao T4 e T17 ao T20), bem como na testemunha
(T21), não houve alterações nos aspectos biológicos
(duração das fases larval e pupal, sobrevivência de
larvas e pupas e peso de pupas fêmeas e machos) e
preferência de oviposição de T. absoluta. Entretanto,
em trabalhos com diversas culturas como batata (Gomes
et al., 2009), trigo (Costa et al., 2009), arroz (Santos
et al., 2009), sorgo (Costa et al., 2011) e cana-de-açúcar
(Korndorfer et al., 2011), em que os silicatos foram
aplicados no solo, foram observadas alterações no
comportamento dos respectivos insetos-praga.
As plantas absorvem silício diretamente da solução
do solo, de forma rápida ou lenta, na forma de ácido
monossilícico (Korndörfer, 2006), sendo transportado
até as raízes via fluxo de massa (Postek, 1981; Dayanadam
et al., 1983), translocado pelo xilema e depositado na
parede celular na forma de sílica amorfa ou opala biogênica
(Balastra et al., 1989). O transporte do ácido monossilícico
no interior da planta acontece no mesmo sentido do
fluxo de água (transpiração) (Korndörfer, 2006), assim
os maiores depósitos de silício ocorrem com maior
frequencia nas regiões onde a água é perdida em grande
quantidade, ou seja, na epiderme foliar (Dayanadam
et al., 1983). Uma vez depositado, o silício torna-se
imóvel e não mais se redistribui na planta (Korndörfer,
2006).
O efeito da proteção mecânica do silício nas plantas
contra os insetos é atribuído ao seu depósito na forma
de sílica amorfa na parte externa da parede celular (Costa
& Moraes, 2006; Dalastra et al., 2011). O silício atua
como agente indutor de resistência contra insetospraga (Gomes et al., 2008; Costa et al., 2009; Massey
& Hartley, 2009; Moraes et al., 2009; Reynolds et al.,
2009; Pereira et al., 2010; Dalastra et al., 2011) e a silificação
da epiderme pode impedir a penetração e a mastigação
pelos insetos devido ao endurecimento da parede das
células vegetais (Ghanmi et al., 2004; Currie & Perry,
2007; Gomes et al., 2008). Porém, a capacidade de absorção
e acumulação de silício é variável entre as espécies.
O tomateiro é uma planta não acumuladora de silício
(Ma et al., 2001), pois absorve pouco silício pelas raízes
(Lana et al., 2003; Ma & Yamaji, 2006) e o aumento
do nível deste elemento em folhas de tomate não é
proporcional à sua disponibilidade no substrato (Pereira
et al., 2003). Myake & Takahashi (1983) observaram
que o modo de translocação do silício foi diferente
entre espécies. Em tomateiro o silício foi retido nas
raízes e não se translocou facilmente para a parte aérea,
sendo a concentração nessa parte da planta de 0,5
a 2,4 g kg-1 de Si, enquanto nas raízes foi de 16,7 a
28,6 g kg-1. Ainda, plantas de arroz possuem mecanismos
específicos de absorção de silício, em que proteínas
de membranas são produzidas por expressão de gene
específico (Ma & Takahashi, 2002), que facilitam a
absorção e o transporte deste elemento através do
xilema desta gramínea. Possivelmente, após absorvido
via fluxo de massa, o silício fique retido no apoplasto
das raízes do tomateiro, não sendo transportado pelo
xilema até as partes aéreas da planta. Provavelmente,
em função de o tomateiro ser uma planta não acumuladora
de silício, não houve alteração na biologia e oviposição
de T. absoluta nestes tratamentos.
Nos tratamentos em que o silício foi aplicado nas
folhas do tomateiro (T5 ao T16), houve aumento do
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12
84
SANTOS, dos M.C. et al.
Figura 6 - Número de ovos (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em testes com
chance de escolha para oviposição, em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45;
T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ®
(l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14
1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle
(T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
Figura 7 - Número de ovos (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em testes sem
chance de escolha para oviposição, em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45;
T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ®
(l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14
1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle
(T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12
Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 85
período larval e pupal, diminuição da sobrevivência
de lagartas e pupas, diminuição do peso de pupas fêmeas
e machos e menor preferência de oviposição de T.
absoluta. Tais alterações podem ter ocorrido em razão
do acúmulo e polimerização dos compostos silicatados
na parede celular, aumentando a rigidez dos tecidos
foliares e dificultando a alimentação (Goussain et al.,
2002) e/ou indução de liberação de moléculas de defesa
(Goussain et al., 2005; Gomes et al., 2009; Kvedaras
et al., 2009; Moraes et al., 2009). Diversos trabalhos,
nos quais o silício foi aplicado diretamente nas folhas
das plantas, demonstraram diminuição na incidência
de insetos devido às alterações na sua biologia (Camargo
et al., 2008; Almeida et al., 2009; Kvedaras et al., 2009;
Dalastra et al., 2011; Freitas et al., 2012) e preferência
de oviposição (Camargo et al., 2008; Ferreira et al.,
2011; Freitas et al., 2012), corroborando os resultados
deste estudo.
A eficiência de produtos contendo silício aplicado
via foliar no controle de T. absoluta, provavelmente,
ocorre devido aos seus efeitos antialimentares para
a fase larval dessa praga, agindo como ativador de
resistência das plantas de tomate (Rodrigues et al.,
2004; Côté-Beaulieu et al., 2009). Ainda, características
físicas, morfológicas e químicas das plantas tratadas
com silício podem alterar o comportamento dos insetos
e interferir na sua biologia, levando a uma redução
no fitness e oferencendo proteção para as plantas
(Goussain et al., 2005).
O Agrosilício® (insolúvel em água) e o ácido silícico,
aplicados via foliar, formam uma camada de sílica sobre
a epiderme das folhas (Fernandes et al., 2009), o que
pode ter dificultado a penetração das lagartas nas folhas
e, consequentemente, a sua alimentação, afetando
diretamente nos aspectos biológicos (aumento do
período larval e pupal, diminuição da sobrevivência
de larvas e pupas e diminuição do peso de pupas machos
e fêmeas) e menor preferência de oviposição de T.
absoluta.
Soluções são facilmente absorvidas pela cutícula
das folhas, que apresenta microcanais e rupturas,
inclusive a camada subestomática, altamente permeável
à difusão de cátions e ânions, que permitem a passagem
dessas soluções (Faquin, 2005). Possivelmente, o SiliK® aplicado em solução na superfície foliar atravessa
a cutícula e ocupa os espaços intercelulares e a superfície
externa do plasmalema, ocupando inicialmente o
apoplasto e, posteriormente, os simplastos foliares,
para então acumular-se na forma de sílica amorfa nas
paredes celulares pelo processo de transpiração. O
Sili-K® (silício líquido solúvel) forma esta camada de
sílica evidenciada pela polimerização do produto com
compostos da cutícula (Fernandes et al., 2009).
5. CONCLUSÕES
Doses menores de produtos contendo silício são
eficazes no controle de T. absoluta.
6. AGRADECIMENTOS
À Universidade de Brasília (UnB), Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), Universidade Federal de Viçosa (UFV),
Laboratório de Controle Biológico (UFV), Professor
Dr. Marcelo Coutinho Picanço (UFV), Laboratório de
Entomologia Agrícola (UFV), Professor Dr. Tuneo
Sedyama (UFV), Embrapa Hortaliças e Empresas
Unaprosil e Agronelli Insumos Agrícolas.
7. LITERATURA CITADA
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Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais
89
DISPERSÃO DA ARGILA PROVOCADA PELA FERTIRRIGAÇÃO COM ÁGUAS
RESIDUÁRIAS DE CRIATÓRIOS DE ANIMAIS 1
Bruno Grossi Costa Homem2, Onofre Barroca de Almeida Neto3, Alberto Magno Ferreira Santiago4,
Gustavo Henrique de Souza 5
RESUMO – Objetivou-se com o experimento avaliar a ocorrência de dispersão de argila em solo predominante
na região de Rio Pomba, pela aplicação indiscriminada das águas residuárias de criatórios de bovinos, suínos
e coelhos. As amostras de solo foram coletadas no horizonte B de um Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA).
O trabalho consistiu na realização de dois experimentos, o primeiro com a incubação do solo em vasos, por
20 dias, com doses de 72 mm das águas residuárias, no segundo foi realizada a aplicação das mesmas águas
residuárias no LVA acondicionado em permeâmetros de coluna vertical e carga constante. Neste caso, as águas
residuárias foram aplicadas até que a condutividade elétrica (CE) no efluente das colunas se aproximou da
CE do afluente. Todos os tratamentos foram conduzidos com três repetições, dispostos em delineamento inteiramente
casualizado. No primeiro experimento, os valores de Argila Dispersa em Água (ADA) não diferiram estatisticamente
entre si, encontrando-se valores variando de 37 a 40%. Resultado semelhante foi encontrado no segundo experimento,
em que os valores de ADA com a aplicação das diferentes águas residuárias, não diferiram estatisticamente
entre si, porém com valores menores, em torno de 29 a 32%. O índice de dispersão e floculação entre as
águas residuárias foi semelhante, contudo ocorrendo diferença entre os experimentos, sendo 61% e 39% para
o primeiro experimento e 48% e 52% para o segundo experimento. Essas águas não apresentaram nenhuma
restrição quanto ao seu uso na irrigação, contudo quando se pratica sucessivas irrigações ao longo do tempo,
sem acompanhamento agronômico especializado, podem propiciar o acúmulo de compostos dispersantes na
solução do solo, afetando sua estrutura.
Palavras-chave: Dejetos de animais, efluentes, estrutura do solo, física do solo.
DISPERSION OF CLAY CAUSED BY FERTIRRIGATION WITH ANIMAL
WASTEWATER
ABSTRACT – The objective of the experiment was to evaluate the dispersion of clay in soil prevalent in the
area of Rio Pomba/MG, by indiscriminate application of wastewater of breeding of cattle, pigs and rabbits.
Soil samples were collected in the B horizon of an Oxisol. The work consisted of two experiments, one with
soil incubation in pots for 20 days at doses of 72 mm of wastewater, and the second was realized by the
application of the same wastewater in the soil placed in a permeameter of vertical column with constant
load. In this case, the wastewater was applied until the electrical conductivity (EC) in the effluent of the columns
approached the EC of the effluent. All treatments were conducted with three repetitions in a completely randomized
design. In the first experiment the values of water dispersible clay (WDC)did not differ significantly, ranging
from 37 to 40%. In the second experiment the values of WDC did not differ statistically, and were smaller,
1
Parte do Trabalho de Iniciação Científica do primeiro autor, financiado pelo CNPq.
Estudante de Zootecnia, IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected]
3
Professor Doutor do Departamento de Agricultura e Ambiente do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected]
4
Professor Mestre do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected]
5
Professor Doutor do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected]
2
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12
HOMEM, B.G.C. et al.
90
around 29-32%. The index of dispersion and flocculation of the wastewater was similar, differences occurring
between the experiments, 61% and 39% for the first experiment and 48%and 52% for the second experiment.
However, these waters do not present any restriction on its use in irrigation, but when practicing successive
irrigations over time without specialized monitoring agronomic, can promote the accumulation of dispersant
compounds in soil solution, affecting its structure.
Key Words: : Animal wastes, effluents, soil physics, soil structure.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, as águas residuárias passaram
a receber bastante atenção por parte dos governos
e da comunidade científica, devido às possibilidades
de seu aproveitamento em áreas agrícolas, minimizandose, com isso, a poluição de corpos hídricos. O interesse
decorre do alto custo dos fertilizantes químicos, que
limita seu uso pelos agricultores familiares, e a pressão
social por uma agricultura sustentável, na qual a
reciclagem de nutrientes dentro da propriedade contribua
não somente para a redução dos custos, mas também
para a redução da poluição ambiental (Gomes Filho
et al., 2001).
A criação de animais em regime extensivo permite
que seus dejetos sejam distribuídos de forma dispersa
no solo, não causando maiores problemas de poluição.
Contudo, quando os animais são criados intensivamente
(confinados), mesmo durante curto período de tempo,
os dejetos são produzidos de forma concentrada,
necessitando de tratamento e disposição final adequada,
para que a contaminação e a poluição sejam minimizadas
(Moraes, 2000).
o sistema de poros e contribuindo para alterações na
infiltração e condutividade hidráulica.
Dentre os fatores diretamente associados à
dispersão da argila do solo estão a Relação de Adsorção
de Sódio (RAS) e a Condutividade Elétrica (CE) da
água de irrigação. Para Sposito & Mattigod (1977),
a RAS é a primeira característica a ser considerada
para se avaliar o possível risco de sodicidade do solo,
proporcionada pela água de irrigação. A RAS da água
é uma indicadora dos possíveis problemas de infiltração
que um solo poderá apresentar como resultado do excesso
de sódio em relação ao cálcio e o magnésio.
Por conseguinte, a quantificação da RAS é de extrema
importância para a avaliação da maioria das águas
utilizadas na agricultura irrigada (Ayers & Westcot,
1991). Já a CE é a medida da capacidade de transportar
corrente elétrica que uma solução aquosa apresenta.
Esta capacidade depende da presença de íons, de sua
concentração total, da mobilidade e da temperatura
(Greenberg et al., 1992). A água contendo poucos íons,
ou seja, com baixa CE, pode agravar o problema de
infiltração, pela expansão e dispersão dos minerais
e da matéria orgânica do solo e, ainda, pela capacidade
de dissolver e remover o Ca2+ (Maia et al., 1998).
Quando as águas residuárias de criatórios de animais
são, no entanto, aplicadas de forma indiscriminada
na agricultura, sem critérios agronômicos para definição
das doses de aplicação, as principais alterações previstas
são salinização do solo, risco de contaminação de águas
superficiais e subterrâneas e possíveis alterações na
dinâmica da água no meio. Essa tendência de dispersão
dos agregados do solo, provocando a sua
desestruturação, é um fenômeno que pode ocorrer
naturalmente ou por ação antrópica (Almeida Neto et
al., 2007).
Devido a esses aspectos, é de extrema importância
a caracterização das águas residuárias, tanto para se
verificar sua composição química quanto para que se
possa definir que quantidade aplicar sem acarretar nenhum
problema ao sistema solo-planta. As doses de aplicação
de águas residuárias na agricultura devem ser definidas
quando se toma o elemento químico contido em maior
concentração relativa, o que define a dose
agronomicamente recomendável (Matos, 2008).
Segundo Freire (2001), a prática da irrigação pode
alterar as relações entre os diversos cátions presentes
no solo. Para Veloso (1991), a alta concentração de
Na+ no solo e o tipo de água de irrigação podem trazer
eventuais deteriorações da estrutura do solo, afetando
Diante do exposto, objetivou-se avaliar o risco
de dispersão de argila de amostras de um Latossolo
Vermelho-Amarelo, em decorrência da aplicação de altas
doses de águas residuárias provenientes de criatórios
de bovinos, suínos e coelhos.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12
Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais
2. MATERIAL E MÉTODOS
91
determinados.
As águas residuárias utilizadas no experimento
foram provenientes dos setores da Bovinocultura
(instalação de alimentação do rebanho), Suinocultura
(instalação de terminação dos animais) e Cunicultura
(instalação das matrizes). O aspecto que se diferenciou
na coleta foi que a água residuária da cunicultura precisou
de uma lona em formato de funil, para que seus dejetos
desembocassem em um tambor, pelo fato desses animais
serem criados em gaiolas. Essa lona ficou fixada nas
gaiolas por uma semana, sendo lavada duas vezes ao
dia com água destilada, utilizando-se 5 litros de água
por lavagem, até completar o volume desejado de água
residuária para o experimento. Após a coleta, essas
águas residuárias foram passadas em peneiras de malha
de 2 mm, simulando-se um pré-tratamento para retirada
de sólidos grosseiros e foram armazenadas em tambores
de 80 litros, por 60 dias.
As amostras do solo foram coletadas no horizonte
B de um Latossolo Vemelho-Amarelo, do município
de Rio Pomba, MG, em área do Instituto Federal Sudeste
- MG, Campus Rio Pomba. Estas amostras foram secas
ao ar, destorroadas e passadas em peneira de 2 mm
de malha para caracterização física (Tabela 1) e química
do solo (Tabela 2).
As análises físicas compreenderam a determinação
de textura (Ruiz, 2005), massa específica de partículas
do solo (Embrapa, 1997) e Argila Dispersa em Água
(Donagemma, 2003).As análises químicas compreenderam
a determinação de pH em água, cátions trocáveis (Ca2+,
Mg2+, K+ e Na+), acidez trocável (Al3+), acidez total (H
+ Al), teor de matéria orgânica e fósforo disponível
e remanescente. O cálcio trocável e parte do não trocável
foram obtidos com a utilização dos extratores Mehlich
1 e HCl 1 molL-1, a quente. As determinações dos teores
de potássio e sódio foram feitas por fotometria de chama
(Matos, 1995), as de cálcio e magnésio por titulação
(Macêdo, 2003) e as de acidez trocável e potencial por
titulometria (Matos, 1995). Os valores de Soma de Bases
(SB), Capacidade de Troca Catiônica (T), Saturação
por Bases (V) e Saturação por Alumínio (m) foram obtidos
por meio de cálculos que envolveram os cátions trocáveis
Depois de coletadas, foram retiradas amostras destas
águas residuárias para se proceder às seguintes análises:
pH, nitrogênio total, dureza, Demanda Química de
Oxigênio, concentração de cálcio, magnésio, potássio
e sólidos (totais, sedimentáveis, fixos, voláteis, em
suspensão e dissolvidos) nas águas, de acordo com
Macêdo (2003). A condutividade elétrica na água foi
Tabela 1 - Caracterização física da amostra de Latossolo Vermelho-Amarelo
Solo
Fração
Areia Grossa
ADA
Areia Fina
LVA
Silte
dag kg
14
12
Densidade de
Partículas
Densidade
do solo
Argila
-1
%
10
Umidade
residual
64
0
0 , 74 0 7
gcm-3
gcm-3 g
1, 0
0 , 02 7 2
Sendo: ADA: argila dispersa em água.
Tabela 2 - Caracterização química da amostra de Latossolo Vermelho-Amarelo
pHH2O
K+
P
mg dm
5, 5
SB
1, 1
(t)
Na+
Ca2+
2,33
Al3+
H+Al
0, 3
MO
6, 3
P-r e m
dag kg -1
mg L -1
1,21
5, 4
cmolc dm
10
(T)
0, 0
V
1,50
m
cmolc dm -3
2,03
Mg2+
-3
0,50
ISNa
%
8,33
24,4
2+
2+
12,9
3+
0,00
-3
-1
Sendo: pH em água, P: Na: K: Extrator Mehlich 1; Ca , Mg , Al : Extrator KCl 1 molL ; H+Al: extrator acetato de cálcio 0,5 molL pH 7,0; SB: soma de bases trocáveis; CTC (t): capacidade de troca catiônica efetiva; CTC (T): capacidade de troca catiônica; V: índice
de saturação por bases; m: índice de saturação por alumínio; ISNa: índice de saturação por sódio; matéria orgânica (MO): pH 7,0, C. Org.
x 1,724: Walkley-Black; P-rem: fósforo remanescente.
1
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HOMEM, B.G.C. et al.
92
tendo-se como base a caracterização das diferentes
águas residuárias e a lâmina de aplicação de 72 mm
que corresponde a 72 litros por cada metro quadrado,
o que proporcionou a aplicação de 469 kg ha-1 de Ntotal,
135 kg ha-1 de Ca; 14 kg ha -1 de Mg, 101 kg ha -1 de
Na e 302 kg ha-1 de K de água residuária de suinocultura;
303 kg ha -1 de Ntotal, 76 kg ha-1 de Ca, 44 kg ha-1 de
Mg, 36 kg h-1 de Na e 291 kg ha-1 de K de água residuária
de bovinocultura e 786 kg ha-1 de Ntotal, 67 kg ha -1
de Ca, 28 kg ha -1 de Mg, 126 kg ha-1 de Na e 377 kg
ha-1 de K de água residuária da cunicultura. Durante
o período de incubação, os vasos foram cobertos com
sacos plásticos, para evitar perdas de água por
evaporação, assim o solo se manteve úmido. Depois
de decorrido o tempo de incubação, foram coletadas
de cada recipiente amostras de solo na camada de 0
- 10 cm, colocadas para secar ao ar, destorroadas e
passadas em peneira de 2 mm, analisando-se o teor
de argila dispersa em água (ADA), conforme Donagemma
(2003), o índice de dispersão (ID) e o índice de floculação
(IF) conforme Ruiz (2004). As médias obtidas da ADA
foram submetidas ao teste Tukey em nível de 1% de
probabilidade, por intermédio do programa SISVAR.
determinada usando-se condutivímetro. Já a RAS foi
determinada com base em cálculos dosando-se o cálcio
e o magnésio por titulação (Macêdo, 2003) e o sódio
por fotometria de chama (APHA, 1995). Na Tabela 3
está apresentada a caracterização física e química das
águas residuárias.
Para avaliação de possíveis alterações físicas nos
materiais de solo, consequentes às aplicações das águas
residuárias, foram realizados dois experimentos. No
primeiro, foi efetuada a incubação, durante 20 dias,
dos materiais de solo em vasos com capacidade de
seis litros, utilizando-se quatro quilos de solo em cada
vaso.
O solo foi acondicionado cuidadosamente,
homogeneizando-se sua distribuição para evitar a
formação de camadas de compactação diferenciada,
tentando-se restabelecer a densidade do solo semelhante
à medida em amostras indeformadas. Esse experimento
foi montado em delineamento inteiramente casualizado,
utilizando-se as diferentes águas residuárias, com três
repetições para cada, e água destilada como testemunha,
sendo que a lâmina de aplicação foi idêntica para todas
as águas e igual a 72 mm. Esta lâmina foi estabelecida
levando-se em consideração a área do vaso de 39.000
mm2 (o vaso tem a forma de tronco de uma pirâmide),
e de forma que o volume de efluente colocado promovesse
a saturação do solo e permanecesse 10 mm acima da
superfície do mesmo durante os dias de incubação,
para a avaliação posterior do grau de dispersão que
as águas residuárias provocariam. Calculou-se a
quantidade de nutrientes por hectare fornecido ao solo,
No segundo experimento, as águas residuárias
foram aplicadas em colunas de solo de 15 cm de
comprimento, condicionados em segmentos de tubo
de PVC de 5 cm de diâmetro (diâmetro interno do tubo
igual a 4,8 cm) e 20 cm de comprimento, fechados na
parte inferior com tela plástica de alta permeabilidade
(sombrite), forrada com pedaços de algodão. As colunas
de PVC tiveram, previamente, sua superfície interna
Tabela 3 - Características das águas residuárias da bovinocultura (ARB), suinocultura (ARS) e cunicultura (ARC)
ÁguaResiduária
pH
N-Total Dureza Total
mgL
ARS
ARB
ARC
7,86
8,49
8,21
ÁguaResiduária
Na+
mg L
ARS
ARB
ARC
140
50
175
-1
548
477
396
K+
SS
mL L
41 9, 5
40 4, 5
524
1, 2
45
25
Mg2+
DQO
mg L -1
mgL de CaCO 3
652
421
1. 09 2
-1
Ca2+
-1
CE
RAS
dSm-1 (mmolcL -1) 1/2
187
10 5, 5
93,4
19,6
61,4
39,3
6. 00 0
13.000
31.000
5,89
2,52
4,72
2,60
0,95
3,82
ST
SF
SV
SST
SDT
266
12
3. 02 2
3. 16 4
4. 96 3
5. 88 8
-1
mg L
3. 43 0
4. 97 5
8. 91 0
1. 35 0
352
3. 07 0
-1
2. 08 0
4. 62 3
5. 84 0
Sendo: N-Total: nitrogênio total; Ca 2+: cálcio; Mg 2+: magnésio; DQO: demanda química de oxigênio; CE: condutividade elétrica; RAS:
relação de adsorção de sódio; Na +: sódio; K +: potássio; SS: sólidos sedimentáveis; ST: sólidos totais; SF: sólidos fixos; SV: sólidos
voláteis; SST: sólidos suspensos totais; SDT: sólidos dissolvidos totais.
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Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais
carregada com aplicação de cola de PVC que foi
impregnada com areia lavada.
O solo foi acondicionado cuidadosamente,
homogeneizando-se sua distribuição para se evitar a
formação de camadas de compactação diferenciada,
tentando-se restabelecer semelhante densidade do solo
medida em amostras indeformadas. Na parte superior
da coluna, foi colocado outro pedaço de algodão, para
evitar a ocorrência de distúrbios na superfície do solo
quando da aplicação das diferentes águas residuárias
(Tabela 4).
Esse experimento foi montado em delineamento
inteiramente casualizado, utilizando-se as diferentes
águas residuárias de criatórios de animais, com três
repetições para cada e utilizando-se água destilada
como testemunha. Triplicatas das colunas de solo foram
colocadas para saturar dentro de bandejas plásticas,
contendo a solução saturante, conforme o tratamento
(águas residuárias e água destilada) até uma altura
correspondente a dois terços da altura da amostra de
solo (10 cm) e, assim, permaneceram por 72 horas (Ferreira,
1999), de forma a possibilitar o enchimento dos poros
do solo por capilaridade. Posteriormente, foram montados
os permeâmetros de coluna vertical e carga constante
(Ferreira, 1999).
As águas residuárias foram aplicadas nas colunas
utilizando-se o sistema “frasco de Mariotte” para
manutenção de carga hidráulica constante (Ferreira, 1999)
e manutenção do escoamento sob condições de saturação.
A carga hidrostática foi constituída por uma lâmina de
1 cm sobre a superfície do solo. A aplicação do afluente
foi mantida até o momento em que a CE da suspensão
efluente (percolado) tornou-se próxima à da suspensão
afluente (aplicada). Posteriormente, as colunas foram
saturadas novamente com as águas residuárias respectivas
a cada tratamento por, no mínimo, mais 24 horas, para
garantir o equilíbrio entre a solução da coluna de solo
e a de saturação (adaptado de Freire et al., 2003). Nos
ensaios realizados em permeâmetros, dados de volume
de percolado e tempo foram coletados para quantificar
a condutividade hidráulica em solo saturado.
Tabela 4 - Características gerais da coluna de solo
Solo
LVA
Densidade
do solo
gcm-3
1, 0
Volume
da coluna
cm3
2 7 1, 4 3
Massa
de solo
g
2 7 1, 4 3
Por fim, as amostras foram retiradas das colunas
dos permeâmetros, colocadas para secar ao ar,
destorroadas e passadas em peneira de 2 mm, analisandose a ADA(XADA) em kg kg-1, conforme Donagemma (2003).
O índice de dispersão (ID) e o índice de floculação
(IF) foram obtidos conforme Ruiz, (2004). As médias
obtidas da ADA foram submetidas ao teste Tukey em
nível de 1% de probabilidade, por intermédio do programa
SISVAR.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos no
primeiro experimento. Os valores de ADA no LVA não
variaram com o tipo de água residuária aplicada, mas
diferiram do que foi obtido no solo testemunha. Os
valores de RAS e da CE das águas residuárias diferiram
estatisticamente entre si, demonstrando que as águas
de criatórios de animais apresentam diferentes
concentrações dos cátions referentes ao cálculo da
RAS (Ca2+, Mg2+ e Na+) e diferentes teores de salinidade.
É oportuno o controle criterioso da água utilizada,
principalmente quando apresenta baixa (CE) e elevada
(RAS), o que favorece a dispersão dos coloides. A
água com salinidade inferior a 0,5 dS m-1 e, particularmente
abaixo de 0,2 dS m-1, tende a lixiviar os sais e minerais
solúveis, incluindo os de cálcio, reduzindo sua influência
positiva sobre a estabilidade dos agregados e a estrutura
do solo. As partículas finas de um solo assim dispersado
obstruem o seu espaço poroso, reduzindo
acentuadamente a infiltração da água nesse meio e,
com isso, a quantidade de água disponível para as
culturas, além de poder formar crostas superficiais,
proporcionando problemas na germinação de sementes
e emergência de plântulas (Almeida Neto et al., 2010).
Um incremento nos valores da RAS e da CE, nesse
experimento, não alterou significativamente os valores
Tabela 5 - Médias dos valores de ADA, RAS e CE, das diferentes
águas residuárias
Tra tame ntos
ADA
RAS
CE
TEST.
ARS
ARB
ARC
CV (%)
0 b
40 a
37 a
39 a
8,24
0,00 d
2,60 b
0,96 c
3,82 a
1,95
0,32 d
5,69 a
2,30 c
3,65 b
7,58
Médias seguidas de mesma letra não diferem (P>0,01) pelo teste
Tukey.
CV = coeficiente de variação.
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HOMEM, B.G.C. et al.
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da ADA. Ayers & Westcot (1991) afirmaram que tanto
a RAS quanto a CE da água aplicada têm forte influência
na dispersão de argila do solo e, por isso, devem ser
analisadas conjuntamente para que se possam tirar
conclusões sobre o risco de diminuição da permeabilidade
do solo. Freire (2001), trabalhando com nove solos
do estado de Pernambuco, verificou que, de forma geral,
a ADA aumentou com o incremento da RAS da solução
de trabalho, sem apresentar diferenças marcantes com
relação à CE.
Como a RAS das águas residuárias utilizadas é
baixa e a condutividade elétrica é alta, o risco de essas
águas residuárias provocarem dispersão de argila, por
razões físico-químicas, pode ser considerado baixo
(Ayers & Westcot, 1991). O aumento da ADA pode
ter sido, então, ocasionado pelo longo tempo (20 dias)
em que o material de solo ficou submetido a condições
de saturação com as águas residuárias. Sabe-se que,
em ambiente redutor, um importante agente de cimentação
das partículas, que são os oxihidróxidos de ferro, deixa
de existir, aumentando a dispersão do material do solo
e, consequentemente, a ADA. Dessa forma, os resultados
foram influenciados pela forma como foi conduzido
o experimento.
As águas residuárias de criatórios de animais
apresentam concentrações elevadas de sódio. Com
a saturação do solo neste experimento com as respectivas
águas residuárias, uma das hipóteses é que tenha ocorrido
o acúmulo de sódio na solução do solo. Dessa forma,
a solução do solo quando excessivamente sódica
promove a desagregação e dispersão dos minerais de
argila em partículas muito pequenas, que obstruem
os poros do solo (Matos, 2001).
Assim, Mancino & Pepper (1992) e Speir et al.
(1999) afirmam que a magnitude dos impactos,
principalmente do sódio sobre as propriedades do solo,
é dependente das quantidades e frequências das
precipitações ou aplicações, de forma a promover a
lixiviação deste cátion, para que não se acumule na
solução do solo e posteriormente possa causar o
fenômeno de dispersão de argila.
Os índices de dispersão do LVA com aplicação
das águas residuárias foram semelhantes, estando por
volta de 61%, mostrando-se um valor bem elevado,
ou seja, mais da metade da argila do solo foi dispersa.
Os índices de floculação do solo, com a aplicação das
águas residuárias, também foram semelhantes, obtendo-
se um valor médio de 39%. Dessa forma, verificamos
que a aplicação excessiva destes efluentes ao solo
poderá promover o fenômeno de dispersão de argila.
Caso estivesse plantada alguma cultura neste solo,
seu desenvolvimento provavelmente seria comprometido,
pelo fato de que a dispersão dos minerais de argila
em partículas muito pequenas obstrui os poros do solo
(Ayers & Westcot, 1991; Lal & Stewart, 1994). A
consequência direta é a redução da infiltração, com
isso a água de irrigação não consegue atravessar a
superfície do solo em taxa suficiente para permitir a
renovação da água consumida pelas culturas, originando
um déficit hídrico que resultará em perda de produtividade
da cultura.
No segundo experimento, utilizando-se as colunas
de solo, observou-se que os valores de ADA, entre
as diferentes águas residuárias, não diferiram
estatisticamente entre si, e sim com a testemunha (Tabela
6), confirmando a mesma afirmação levantada no primeiro
experimento, de que as águas residuárias de criatórios
de animais se assemelham nesse distúrbio causado
ao solo. Nota-se que os valores de ADA foram um pouco
menores do que os encontrados no primeiro experimento,
devido ao fato de que no primeiro experimento o solo
ficou por muito mais tempo em contato com as águas
residuárias, por ter sido incubado por vinte dias. Contudo,
Almeida Neto et al. (2009), estudando a ADA em função
da aplicação de soluções de percolação, com seis valores
de CE e cinco valores de RAS, não verificaram nenhuma
dispersividade de um LVA, relatando que isto pode
estar relacionado ao tipo de cátion presente em grande
concentração no complexo de troca deste solo.
Apesar de os resultados destes dois experimentos
apresentarem ADA por volta de 30 à 40%, de acordo
com as diretrizes referentes aos problemas de infiltração
que resultam diretamente de mudanças desfavoráveis
Tabela 6 - Médias dos valores de ADA, RAS e CE, das diferentes
águas residuárias
Tra tame ntos
ADA
RAS
CE
TEST
ARS
ARB
ARC
CV (%)
0,0 b
32 a
31 a
29 a
11 , 7 6
0,00 d
2,60 b
0,96 c
3,82 a
1,95
0,32 d
5,69 a
2,30 c
3,65 b
7,58
Médias seguidas de mesma letra não diferem (P>0,01) pelo teste
Tukey.
CV = coeficiente de variação.
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Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais
nas características químicas do solo, provocadas pela
qualidade da água das irrigações, incluindo tanto a
salinidade como sua proporção relativa de sódio,
propostas por Ayers & Westcot (1991), os efluentes
de criatórios de animais utilizados neste experimento
não apresentam nenhum grau de restrição quanto ao
seu uso na irrigação. De acordo com esses mesmos
autores, demonstrando em um diagrama os riscos de
redução na infiltração da água no solo por efeito da
salinidade (CEa), como da relação de adsorção de sódio
(RAS) da água, esses efluentes não apresentaram
nenhum grau de redução da infiltração da água no solo;
esses dois resultados foram obtidos pelo fato destes
efluentes de criatórios de animais apresentarem CE
alta e RAS baixa, mostrando que a dispersão de argila
causado a este Latossolo Vermelho-Amarelo foi
provocada pelo tratamento que foi imposto ao solo,
coisa que seria pouco provável no campo, como a
saturação de um solo pela aplicação de um efluente.
Entretanto Erthal et al. (2010), avaliando alterações
químicas e físicas de um Argissolo em duas camadas
(0 - 10 cm e 10 - 25 cm), através da aplicação de água
residuária de bovinos, sendo que esse efluente
apresentava-se com CE alta e RAS baixa, semelhantes
às encontradas neste experimento, verificaram a
ocorrência de dispersão de argila do solo, por volta
de 40%, sendo os valores de ADA na camada superficial
(0 - 10 cm) maiores e com tendência de aumento com
o tempo; este fato pode ser devido sobretudo ao efeito
acumulativo de sódio e potássio nesta camada, pois
esses elementos são considerados dispersantes e são
encontrados em concentrações maiores do que os
elementos floculantes, favorecendo assim a dispersão,
e também a impacto das gotas de água sobre a superfície,
causando desagregação das partículas do solo. De
acordo com Cromer et al. (1984), em geral, as
concentrações de sódio e o índice de saturação por
sódio (ISNa) são elevadas após a aplicação de águas
residuárias, principalmente nas camadas superficiais,
proporcionando assim um forte risco de ocorrer dispersão
de argila no solo.
As doses aplicadas de águas residuárias neste
experimento estariam coerentes com o que se recomenda
para culturas perenes, porém estariam muito elevadas
para culturas anuais e estariam inadequadas se aplicadas
em doses únicas, tendo em vista as perdas de nutrientes
que iriam proporcionar. No caso da aplicação de águas
residuárias, doses únicas poderiam trazer problemas
95
de selamento superficial, causado pelo entupimento
de macroporos superficiais do solo, além de problemas
de salinização, ainda que temporária, se o índice
pluviométrico for alto na região, e contaminação de
águas subterrâneas.
Cardoso et al. (1992), avaliando o uso intensivo
de um Latossolo com lavouras anuais, verificaram redução
na espessura do horizonte superficial e nos teores de
matéria orgânica e, por conseguinte, aumento no grau
de dispersão de argila. Já Machado et al. (2008) afirmam
que a redução dos teores de argila da camada arável
do solo com as sucessivas lavouras anuais está
relacionada à dispersão das partículas de argila e à
remoção pela erosão, com permanência seletiva das
partículas de areia. Já Montes et al. (2004), trabalhando
com a aplicação de água residuária de origem doméstica
em um argissolo, verificaram que a dispersão das argilas
aumentou com o tempo até 80 cm de profundidade e
que este aumento foi mais pronunciado na camada de
0 a 10 cm.
A condutividade hidráulica do solo no segundo
experimento, para todas as águas residuárias aplicadas,
começou tendo uma pequena elevação, mas, com o
passar do tempo da aplicação, a condutividade hidráulica
começou a diminuir (Figura 1), diferentemente da
Figura 1 - Valores da condutividade hidráulica do solo em (mL/
min), no decorrer das aplicações. Sendo: ARS: água
residuária da suinocultura; ARB: água residuária da
bovinocultura; ARC: água residuária da cunicultura.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12
HOMEM, B.G.C. et al.
96
testemunha que teve uma pequena diminuição no início,
mas manteve-se constante no decorrer da aplicação.
Dentro do observado, nota-se que uma das hipóteses
da ocorrência da diminuição da condutividade hidráulica
do solo seja a dispersão de argila do solo, pelo fato
de que as partículas de um solo assim disperso podem
obstruir os espaços porosos, reduzindo acentuadamente
a condutividade hidráulica do meio.
De acordo com Erthal et al. (2010), altas concentrações
de Na+ na solução do solo em comparação com o Ca2+
e o Mg2+ podem causar deterioração da estrutura do
solo, pela dispersão dos coloides e subsequentes
entupimentos dos macroporos, causando decréscimo
na permeabilidade à água e aos gases. Nesse contexto,
os acréscimos na concentração de Na+ e ISNa têm sido
apontados como causa, Bond (1998) ou Balks et al.
(1998), de alterações na condutividade hidráulica do
solo, dependendo da concentração total de sais na solução.
Fato também relatado por Gonçalves et al., (2005),
descrevendo que o maior efeito do efluente nas
propriedades físicas e hidráulicas do solo está relacionado
com suas salinidade e sodicidade e pode causar a
diminuição da infiltração de água no solo, onde a expansão
e a dispersão das argilas mudam a geometria do poro
e, portanto, afetam a condutividade hidráulica.
Os índices de dispersão para o LVA com aplicação
das águas residuárias neste segundo experimento também
se assemelharam, mas estando um pouco abaixo do
encontrado no primeiro experimento, por volta de 48%.
Os índices de floculação do solo com a aplicação das
águas residuárias também foram semelhantes, obtendose um valor médio de 52%. Nesse sentido, Fassbender
(1984) relatou que a floculação depende do complexo
de troca, das características da dupla camada difusa
e dos cátions adsorvidos. Assim, de acordo com esse
mesmo autor, além da interferência da valência dos
cátions na floculação do coloide do solo, a dupla camada
difusa tem grande influência sobre os fenômenos de
floculação e dispersão.
Um fato que deve ser destacado é que pouco se
sabe da utilização da água residuária da cunicultura
na agricultura, fato comprovado pela escassez de trabalhos
a respeito desta área, diferentemente do que se vê com
águas residuárias de suínos, bovinos e cama de frangos,
que já possuem muitos trabalhos publicados. Neste trabalho
podemos verificar que esse efluente de criatório animal
pode ser uma excelente alternativa para a fertilização
de lavouras, pelo alto teor de nutrientes encontrados
em suas análises, principalmente o nitrogênio. Mas devese levar em conta que, como possui altos teores de
nitrogênio e matéria orgânica, também possui um poder
poluente muito grande. Se disposto em ribeirões sem
se proceder a algum tratamento, esse efluente pode estar
contaminando as águas, ocorrendo até um consumo
excessivo de oxigênio para a degradação de sua matéria
orgânica. O ponto de destaque é que, de acordo com
Ayers & Westcot (1991), esse efluente não possui nenhuma
restrição quanto ao seu uso na irrigação, entretanto
verificou-se que através de sucessivas irrigações e sem
um acompanhamento agronômico poderá causar ao solo
o fenômeno de dispersão de argila, o que foi verificado
neste experimento, mostrando ser semelhante com os
outros efluentes de criatórios de animais estudados
neste trabalho.
4. CONCLUSÕES
O LVA apresentou características dispersantes
relacionadas com todos os tipos de tratamentos impostos,
podendo-se afirmar que, quando aplicadas de forma
indiscriminada, estas águas residuárias podem afetar
a estrutura do solo.
Foi verificado que os efluentes de criatórios de
animais utilizados neste experimento não apresentam
nenhuma restrição quanto ao seu uso na irrigação,
contudo quando se praticam sucessivas irrigações ao
longo do tempo, sem acompanhamento agronômico
especializado, podem propiciar o acúmulo de compostos
dispersantes na solução do solo, promovendo assim
a dispersão de argila.
Houve redução na condutividade hidráulica
provocada pela dispersão da argila, mostrando que,
caso ocorra este problema no campo, ele poderá causar
um estresse hídrico às plantas, pela menor taxa de
infiltração de água no solo.
5. AGRADECIMENTOS
Ao setor de Zootecnia e de Agroindústria do IF
Sudeste de MG, Campus Rio Pomba. Ao CNPq pela
concessão da bolsa.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA NETO, O.B. Dispersão da argila e
condutividade hidráulica em solos com diferentes
mineralogias, lixiviados com soluções salino-sódicas.
Viçosa: UFV, 2007. 93p. (Tese de Doutorado).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12
Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais
ALMEIDA NETO, O.B.; MATOS, A.T.;
ABRAHÃO, W.A.P. et al. Influência da qualidade
da água de irrigação na dispersão da argila de /
Latossolos. Revista Brasileira de Ciência
do Solo, v.33, p.1571-1581, 2009.
ALMEIDA NETO, O.B.; MATOS, A.T.; MATOS,
V.P. et al. Influência da qualidade da água no
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Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos...
99
INFLUÊNCIA DA APLICAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE CRIATÓRIOS
DE ANIMAIS NO SOLO: ATRIBUTOS QUÍMICOS E FÍSICOS
Marisa Senra Condé1, Bruno Grossi Costa Homem1, Onofre Barroca de Almeida Neto2, Alberto Magno
Ferreira Santiago3
RESUMO – Objetivou-se avaliar o panorama geral da utilização de águas residuárias dos criatórios de animais
aplicadas ao solo, focalizando as vantagens e limitações quanto a seu uso. A criação intensiva de animais gera
uma grande quantidade de resíduos ricos em nutrientes que, por estarem disponíveis nas propriedades rurais
a um baixo custo, podem ser viabilizados pelos produtores na adubação das culturas comerciais. Porém, quando
usados de forma indiscriminada e sem critérios agronômicos, podem constituir-se em fator negativo e levar
à degradação da estrutura do solo e causar sérios riscos ambientais. O estado de baixa fertilidade do solo tem
sido motivo de preocupação, devido ao manejo inadequado que gera degradação da matéria orgânica e consequentemente
perda de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, acelerando o processo de erosão e diminuindo
a produtividade. Com a aplicação do resíduo as plantas tendem a se mostrar mais vigorosas, com maior porcentagem
de cobertura, maior produtividade e melhor desenvolvimento do sistema radicular, além do benefício agrícola
gerado pela melhoria nas condições químicas, físicas e biológicas do solo.
Palavras-chave: Adubação orgânica, águas residuárias, dejetos de animais, disposição.
EFFECT OF APPLICATION OF ANIMAL WASTEWATER IN SOIL: CHEMICAL
AND PHYSICAL ATTRIBUTES
ABSTRACT – The objective of this work was to review the application of livestock wastewater in soil, focusing
on the advantages and limitations on its use. The intensive animal production systems generate a huge amount
of waste, which are rich in nutrients and available for rural properties at low cost, which can be used by
producers in the fertilization of crops. However, when used indiscriminately and without agronomic criteria,
it may constitute a negative factor triggering degradation of soil structure and causing serious environmental
hazards. Low fertility of soil has been a concern, because inadequate soil management causes organic matter
degradation and affects physical, chemical and biological properties, accelerating the process of erosion
and decreasing productivity. Application of wastewater in soil makes plants to be more vigorous, increasing
soil coverage, plant productivity, and root development. Also, agricultural benefits of this practice include
improvement of chemical, physical and biological soil characteristics.
Key Words: Animal waste, disposal, organic fertilizer, wastewater.
1. INTRODUÇÃO
O uso de águas residuárias para fertirrigação não
é uma novidade. Erthal (2008) afirma que existem relatos
da utilização de efluentes de animais na agricultura
na Grécia Antiga e na civilização de Minan (3.000 AC
a 1.000 DC). A aplicação de águas residuárias ao solo
como meio de disposição final dessas águas teve notável
avanço nas décadas de 50 e 60, quando o interesse
pela qualidade dos efluentes tratados mereceu grande
Estudantes de Zootecnia, IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected]; [email protected]
Professor Doutor do Departamento de Agricultura e Ambiente do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected]
3
Professor Mestre do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected]
1
2
Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12
100
CONDÉ, M.S. et al.
atenção por parte dos órgãos responsáveis pela
preservação ambiental (Erthal, 2008).
2. MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO NO
CONTEXTO ATUAL
Já durante a década de 70, iniciaram-se os
debates sobre a relação entre o desenvolvimento
econômico e industrial com o meio ambiente. O modelo
econômico desenvolveu-se considerando o meio
ambiente simplesmente como fonte de recursos e
receptor dos dejetos e subprodutos sem valor
comercial. Essa visão acabou por gerar diversos
problemas ambientais, fazendo-se necessário o
desenvolvimento de estudos e de técnic as que
avaliassem os impactos ambientais causados pelas
atividades produtivas (Oliveira, 2006).
O solo é o meio principal para o crescimento das
plantas, sendo uma camada de material biologicamente
ativo, resultante de transformações complexas que
envolvem o intemperismo de rochas e minerais, a ciclagem
de nutrientes e a produção e decomposição de biomassa.
Uma condição ideal de fertilidade do solo é fundamental
para garantir a capacidade produtiva dos
agroecossistemas, e a qualidade do solo é importante
também para a preservação de outros serviços ambientais
essenciais, incluindo o fluxo e a qualidade da água,
a biodiversidade e o equilíbrio de gases atmosféricos
(Novais et al., 2007).
Com a adoção do sistema de confinamento na
produção de animais, surgiu o grande problema da
produção excessiva de dejetos, o qual, aliado aos
inadequados sistemas de manejo e de armazenamento,
levou ao lançamento em rios e cursos d’águas naturais.
Esse lançamento inadequado dos dejetos pode levar
a sérios desequilíbrios ecológicos, poluindo-se os rios
e mananciais, em função da redução do teor de oxigênio
dissolvido na água, devido à demanda bioquímica de
oxigênio (DBO) (Oliveira, 1993).
Dessa maneira, a disposição no solo tornouse alternativa efetiva em relação à prática de descarregar
os efluentes diretame nte em corpos de água
superficial (Asano, 1998). A utilização de águas
residuárias tratadas ou parcialmente tratadas na
fertirrigação de culturas agrícolas e florestais, ao
invés de descarregá-las em cursos de água, tem-se
tornado alternativa promissora, além da rápida e recente
expansão (Balks et al., 1998). Dentre as razões para
esta expansão, destacam-se: (i) em regiões áridas
e semiáridas, as águas residuárias têm sido fonte
suplementar de água para a sustentabilidade da
agricultura irrigada (Al-Jaloud et al., 1995); (ii) as
águas residuárias não somente ajudam a economizar
águas superficiais, como também sua disposição no
solo implica em reciclagem, e poluentes tornam-se
nutrientes para as plantas (Vazquez-Montiel et al.,
1996); e (iii) a irrigação é relativamente flexível quanto
ao requerimento de qualidade da água.
O objetivo desta revisão é avaliar o panorama geral
da utilização de águas residuárias dos criatórios de
animais aplicadas ao solo, focalizando as vantagens
e limitações quanto ao seu uso.
A presença de nutrientes é um dos aspectos
fundamentais que garantem a boa qualidade dos solos
e o seu bom uso e manejo, principalmente no caso
de agroecossistemas. Em ecossistemas nativos, a
ciclagem natural de nutrientes é a grande responsável
pela manutenção do bom funcionamento do solo e do
ecossistema como um todo. Essa ciclagem é fundamental
para manter o estoque de nutrientes nos ecossistemas
naturais, evitando-se a perda da fertilidade natural do
solo (WRI, 2000).
Assim, a baixa fertilidade dos solos pode ter tanto
causas naturais quanto antrópicas. Como causas naturais,
destacam-se a gênese do solo e o intemperismo como
principais fatores causadores da baixa fertilidade,
particularmente em grande parte das regiões tropicais
e subtropicais, onde a remoção de nutrientes do solo
é mais acelerada, em razão das condições de altas
temperaturas e precipitações pluviais. O fato de o Brasil
possuir grandes extensões de terra com problemas de
fertilidade relacionados com a alta acidez e toxidez por
alumínio, além de alta capacidade de fixação de fósforo,
é, em grande parte, consequência de sua localização
na região tropical (Novais et al., 2007).
Já as causas antrópicas, provocadas pelo manejo
inadequado, também podem ser causadoras da baixa
fertilidade dos solos. Uma dessas causas é a exaustão
de nutrientes provocadas pela retirada das culturas,
maiores que pelas adições via adubação. Estimativas
diversas neste sentido revelam que o déficit anual médio
de nutrientes no Brasil encontra-se entre 25 e 35 kg
ha-1 de N + P2O5 + K2O, ou seja, o estoque de nutrientes
do solo está se esgotando ano após ano. Isso pode
levar até mesmo solos anteriormente considerados férteis
Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12
Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos...
a se tornarem não férteis, tendo, assim, sua capacidade
produtiva prejudicada. Um levantamento do International
Soil Reference and Information Centre (ISRIC), atualmente
World Soil Information, estima que cerca de 240 milhões
de hectares de solos no mundo (área equivalente à
região dos Cerrados brasileiros) estão comprometidos,
no que diz respeito à sua integridade química que está
ligada, dentre outros fatores, à deficiência de nutrientes,
a qual representa a maior causa de degradação química
dos solos no mundo, atingindo cerca de 136 milhões
de hectares (dos quais 68 milhões de hectares localizamse na América do Sul) (Oldeman et al., 1991).
Neste sentido, vale lembrar que a exaustão de
nutrientes dos solos também é causa de erosão, visto
que reduz a cobertura vegetal e, com isso, a resistência
do solo a esse fenômeno. A erosão atinge cerca de
13% da superfície do planeta, segundo estudos do
World Soil Infomation, afetando cerca de 1,65 bilhão
de hectares de terra que se encontram degradados em
todo o mundo (Oldeman, 2000). O pior aspecto da queda
de fertilidade do solo causada pela erosão é que, ao
contrário da exaustão causada por extração de nutrientes
em taxa maior que a reposição, ou da baixa fertilidade
por causas naturais, naquele caso as áreas não podem
ser recuperadas de maneira simples. Com a erosão,
a recuperação se torna difícil ou até mesmo um dano
irreparável à capacidade produtiva do solo (Oldeman,
2000).
Neste contexto, é fundamental a avaliação da
fertilidade, que tem por objetivo quantificar a capacidade
dos solos suprirem nutrientes para o ótimo crescimento
e desenvolvimento das plantas. Apesar de, em termos
objetivos, buscar-se quantificar a disponibilidade dos
nutrientes, a avaliação da fertilidade tem um enfoque
mais amplo (Sims, 1999).
Em uma visão atual, a avaliação da fertilidade do
solo ultrapassa os limites da produção agrícola, sendo
fundamental para o futuro da produção global, quer
na identificação de novas áreas com potencial para
serem incorporadas aos sistemas produtivos, quer no
aumento da produtividade das áreas já em uso. Nessas
condições, a produtividade máxima nem sempre é o
foco, mas sim a estabilidade da cobertura vegetal, o
aumento da atividade microbiana para a degradação
de contaminantes orgânicos e a fitorremediação para
mitigação de contaminantes inorgânicos e metais pesados
(Novais et al., 2007).
101
3. REFLEXOS DA APLICAÇÃO DAS ÁGUAS
RESIDUÁRIAS NO SOLO
Com a baixa fertilidade dos solos brasileiros, o
incremento da produtividade da cultura se torna cada
vez mais dependente do uso de fertilizantes (orgânicos
e minerais). A principal vantagem do adubo mineral
é a rápida resposta das plantas, visto que apresentam
desenvolvimento acelerado em razão de suas
necessidades imediatas serem atendidas. O adubo
orgânico, termo utilizado para os adubos não minerais,
é o fertilizante mais tradicional na história da agricultura
(D’Andréa, 2001). A utilização do adubo orgânico em
relação à aplicação de fertilizantes minerais é significativa,
principalmente pela liberação gradual. Se os nutrientes
forem imediatamente disponibilizados no solo, como
ocorre com os fertilizantes minerais, podem ser perdidos
por volatilização (em especial o N), fixação (P) ou lixiviação
(principalmente o K) (Severino et al., 2004).
Souto et al. (2005) afirmam que com o aumento
dos custos com adubação mineral, os produtores
passaram a ter uma nova visão sobre a adubação
orgânica, dando importância à utilização deste material
como agente modificador das condições físicas,
químicas e biológicas do solo, tornando o sistema
mais sustentável.
A disposição final de resíduos orgânicos e águas
residuárias no solo vem sendo considerada prática
de manejo com vistas à proteção ambiental. O solo
apresenta grande capacidade de decompor ou inativar
materiais potencialmente prejudiciais ao ambiente, por
meio de reações químicas e da multiplicidade de
processos microbiológicos. Os íons e compostos podem
ser inativados por reações de adsorção, complexação
e precipitação; já os microrganismos presentes no solo
podem decompor os mais diversos materiais orgânicos,
desdobrando-os em compostos menos tóxicos ou
atóxicos (Costa et al., 2004).
Os efeitos da aplicação de águas residuárias nas
propriedades físicas e químicas do solo só se manifestam
após longo período de aplicação e dependem das
características do solo e do clima. A severidade de
algum problema acometido ao solo pela aplicação de
águas residuárias pode variar de acordo com o tempo
de aplicação, composição e quantidade aplicada. O
tipo de solo e a capacidade de extração das plantas
também são fatores que influenciam nas consequências
da aplicação da água.
Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12
102
As principais alterações descritas para os solos
fertirrigados com águas residuárias se resumem aos
efeitos sobre carbono e nitrogênio totais, atividade
microbiana e N-mineral, cálcio e magnésio trocáveis,
salinidade, sodicidade e dispersão de argilas (Fonseca
et al., 2007).
3.1. Vantagens da utilização das águas residuárias de
criatórios de animais
A matéria orgânica do solo consiste em resíduos
de plantas e animais em diferentes fases de decomposição.
Em solos tropicais altamente intemperizados, a matéria
orgânica tem um importante papel na produtividade,
pois domina a reserva de nutrientes como N, P, S, Ca2+,
Mg2+, K+ e Na+ (Zech et al., 1997). A manutenção ou
o aumento dos teores de matéria orgânica é fundamental
na retenção dos nutrientes e na diminuição da sua
lixiviação (Bayer & Mielniczuk, 1999).
Como as águas residuárias de animais apresentam
elevado teor de matéria orgânica, destacam-se as
seguintes vantagens: melhoria na estrutura do solo,
facilitando a penetração das raízes; redução à plasticidade
e coesão; aumento da capacidade de retenção de água;
minimização da variação da temperatura do solo; aumento
da CTC (capacidade de troca catiônica) fornecendo
nutrientes para a planta; aumento do poder tampão
do solo; diminuição da densidade aparente e aumento
da porosidade (Tamanini, 2004).
Assim, os resíduos orgânicos apresentam grande
importância no fornecimento de nutrientes às culturas.
Matos (2008) cita uma série de vantagens para a
disposição de águas residuárias no solo, destacandose: o benefício agrícola gerado pela melhoria nas
condições químicas, físicas e biológicas do solo; os
baixos custos fixos e operacionais das unidades de
tratamento; o baixo consumo de energia, além de se
evitar o lançamento de efluentes em corpos d’água.
Queiroz et al. (2004) utilizando águas residuárias
de suínos (ARS), criados em regime de confinamento
total, sendo a água composta pela mistura de fezes
e urina dos animais e de outros materiais provenientes
do processo criatório (água desperdiçada nos
bebedouros, água de higienização, restos de alimentos,
pelos e poeira) obtiveram aumento na soma de bases
(SB) e na CTC do solo. Já Erthal et al. (2010), utilizando
água residuária de bovinos leiteiros, criados em
confinamento (free-stall), verificaram aumento tanto
CONDÉ, M.S. et al.
na CTC quanto na saturação por bases (V). De acordo
com esses mesmos autores, os aumentos na CTC e
V com a aplicação de águas residuárias são atribuídos
à alta concentração de íons e aos coloides orgânicos
presentes nos efluentes.
Em relação ao Ca2+ e Mg2+, Erthal et al. (2010)
mostraram que, com a utilização de águas residuárias,
os mesmos aumentaram com o tempo de aplicação;
tal fato pode ser devido à intensa liberação destes
íons com a mineralização da matéria orgânica no solo.
Os resultados de pesquisas envolvendo o K + em
águas residuárias são, às vezes, contraditórios. Johns
& McConchie (1994) não notaram alteração no teor
deste íon no solo ao aplicarem efluente secundário
de esgoto doméstico na fertirrigação de bananeiras,
embora se deva ressaltar que o esgoto doméstico é
fonte insuficiente de K para a cultura da bananeira;
por outro lado, incrementos na concentração de K+
foram observados em solos com exploração florestal
(Cromer et al., 1984; Falkiner & Smith, 1997), cultivados
com berinjela (Al-Nakshabandi et al., 1997), gramíneas
(Queiroz et al., 2004) e cafeeiro (Medeiros et al., 2005),
quando da aplicação de águas residuárias de suínos
e esgoto doméstico.
Prior (2008) e Berwanger (2006) verificaram aumento
na concentração de fósforo no solo em função do
aumento da aplicação de taxas de ARS. O comportamento
também foi observado por Queiroz et al. (2004), ao
notarem aumento no teor de P disponível em relação
à condição inicial, com a aplicação dos dejetos, indicando
um acúmulo desse macronutriente no solo. Ceretta et
al. (2003) também verificaram que o teor de fósforo
disponível no solo aumentou consideravelmente com
a aplicação de ARS, ao longo do tempo.
O fósforo contido nas águas residuárias é lentamente
disponibilizado com a degradação do material orgânico,
tornando-se menos sujeito às reações de adsorção
e fixação pelos óxidos de ferro e alumínio presentes
no solo (Scherer & Baldisera, 1994). Esse é um aspecto
altamente positivo da aplicação de águas residuárias
no solo, pois, na maioria das regiões de clima topical,
o fósforo aplicado na forma mineral solúvel pode ser
fortemente fixado pelos referidos óxidos e hidróxidos
presentes, não permanecendo disponível para as plantas.
Resultados de Eghball et al. (1996) e Mozzaffari & Sims
(1994) permitiram observar maior movimentação do P
no perfil do solo que recebeu dejetos em comparação
Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12
Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos...
com o adubo mineral, atribuindo esse fato à movimentação
do P na forma orgânica.
Se bem planejada, a disposição de águas residuárias
no sistema solo-planta poderá trazer benefícios, tais
como fonte de nutrientes e água para as plantas, redução
do uso de fertilizantes e de seu potencial poluidor,
além da vantagem do solo apresentar grande capacidade
de decompor ou inativar materiais potencialmente
prejudiciais ao ambiente, através de reações químicas
e por processos microbiológicos. Com isso, os efluentes
de animais, apesar de apresentarem elevado potencial
poluidor, podem se tornar alternativa econômica para
a propriedade rural, se manejados adequadamente sem
comprometer a qualidade ambiental.
3.2. Limitações quanto ao uso
O uso continuado e, ou, excessivo dos efluentes
pode causar danos ambientais, destacando-se a poluição
do solo, da água e do ar, além de perdas de produtividade
e qualidade de produção.
De acordo com Léon et al. (1999), mesmo quando
as vantagens justificam amplamente o uso dessas águas,
existem várias restrições ou riscos potenciais que devem
ser considerados, dentre os quais se destacam: a
contaminação microbiológica dos produtos, a
bioacumulação de elementos tóxicos, a salinização e
impermeabilização do solo e o desequilíbrio de nutrientes
do solo.
A presença de alguns constituintes nos efluentes,
como o sódio (Na+) em grande concentração e metais
pesados, é indesejável. O teor de sódio em solos agrícolas
pode aumentar com a adição de efluente, alterando
certas características físicas do solo, devido à dispersão
de argilas e características químicas, influenciando
direta ou indiretamente o desenvolvimento das plantas
(Feigin et al., 1991).
Em geral, as concentrações de Na+ e o índice de
saturação por sódio (ISNa) são elevadas após a aplicação
de águas residuárias, principalmente nas camadas
superficiais (Cromer et al., 1984). Tem-se observado
esses acréscimos em solos cultivados tanto com culturas
florestais (Feigin et al., 1991; Bond, 1998) quanto em
estudos de curta e longa duração (Quin & Woods,
1978; Balks et al., 1998; Fonseca et al., 2005).
A solução do solo, quando excessivamente sódica,
promove a desagregação e dispersão dos minerais
103
de argila em partículas muito pequenas, que obstruem
os poros do solo. Mediante as sucessivas irrigações,
forma-se uma camada superficial selada, o que reduz
a infiltração no solo e aumenta os riscos de erodibilidade
do solo (Lal & Stewart, 1994). A consequência direta
da redução da infiltração sobre as culturas tornase evidente quando a água de irrigação não consegue
atravessar a superfície do solo em taxa suficiente
para permitir a renovação da água consumida pelas
culturas, entre duas irrigações, originando um déficit
hídrico que resultará em perda de produtividade da
cultura.
Segundo Pizarro (1990), os sais solúveis contidos
nas águas de irrigação podem, em certas condições
climáticas, salinizar o solo e modificar a composição
iônica no complexo sortivo, alterando as características
físicas e químicas do solo, como regime de água, aeração,
nutrientes e, consequentemente, o desenvolvimento
vegetativo e a produtividade.
Aumentos na condutividade elétrica da solução
do solo após a aplicação de águas residuárias de animais
têm sido relatados em áreas cultivadas com culturas
anuais (Al-Nakshabandi et al., 1997), em pastagens
(Bond, 1998) e em sistemas florestais (Speir et al., 1999);
todavia, as concentrações salinas mais elevadas têm
sido verificadas na camada mais superficial do solo
(Speir et al., 1999).
A limitação principal do uso de águas residuárias
na agricultura é a sua composição química (totais de
sais dissolvidos, presença de íons tóxicos e
concentração relativa de sódio) e a tolerância das culturas
a este tipo de efluente (Ayers & Westcot 1999). Outro
fator importante para se observar é a presença de metais
pesados na água residuária. Os metais pesados não
apenas exercem efeitos negativos sobre o crescimento
das plantas, mas também afetam os processos bioquímicos
que ocorrem no solo.
Devido a esses aspectos, é de extrema importância
a caracterização das águas residuárias, tanto para
se verificar sua composição química, quanto para
se definir que quantidade deve ser aplicada sem
acarretar nenhum problema ao sistema solo-planta.
As doses de aplicação de águas residuárias na
agricultura devem ser definidas quando se toma o
elemento químico contido em maior concentração
relativa, o que define a dose agronomicamente
recomendável (Matos, 2008).
Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12
104
CONDÉ, M.S. et al.
4. CONCLUSÕES
A utilização dos resíduos orgânicos assume grande
importância nos dias atuais, devido a sua potencialidade
de reduzir custos de produção e minimizar impactos
ambientais.
No resíduo animal são encontrados diversos nutrientes
necessários às plantas (nitrogênio, fósforo, potássio e
micronutrientes) e, no caso de ser utilizado como fertilizante
orgânico, uma série de nutrientes estarão prontamente
disponíveis, ou após o processo de mineralização poderão
ser absorvidos pelas plantas da mesma forma que aqueles
industrializados, de origem mineral.
Os resíduos orgânicos podem ser vistos como
um complemento da adubação, proporcionando melhor
desenvolvimento da planta e consequentemente aumento
da produtividade das culturas.
Se os resíduos orgânicos forem usados de forma
indiscriminada e sem critérios agronômicos, podem
constituir-se em fator negativo, podendo levar a uma
degradação da estrutura do solo e a sérios riscos ambientais.
5. LITERATURA CITADA
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Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período... 107
SUBSTITUIÇÃO DO CALCÁRIO POR FARINHA DE CASCA DE OVO NA
DIETA DE CODORNAS JAPONESAS NO PERÍODO DE 40 A 52 SEMANAS DE
IDADE
Renata de Souza Reis¹, Sérgio Luiz de Toledo Barreto¹, Heder José D'avila Lima¹, Eriane de Paula¹,
Jorge Cunha Lima Muniz¹, Raquel Mencalha¹, Gabriel da Silva Viana¹, Lívia Maria dos Reis
Barbosa¹
RESUMO – Verificou-se a possibilidade de substituição do calcário calcítico por casca de ovo na dieta de codornas
japonesas no período de 40 a 52 semanas de idade. Foram utilizadas 126 codornas japonesas (Coturnix coturnix
japonica), distribuídas em delineamento inteiramente casualisado, composto por três tratamentos (substituição
do calcário calcítico por casca de ovo de codorna), seis repetições e sete aves por unidade experimental. Os
tratamentos foram constituídos por: T1-100% de calcário, T2-50% calcário + 50% de farinha de casca de
ovo e T3-100% de farinha de casca de ovo. Os parâmetros estudados foram: consumo de ração, produção
de ovos por ave-dia, produção de ovos comercializáveis, peso do ovo, massa de ovos, conversão alimentar
por massa de ovos, conversão alimentar por dúzia de ovos, peso dos componentes dos ovos (gema, albúmen
e casca), porcentagem dos componentes dos ovos, gravidade específica e teor de cálcio e fósforo na tíbia.
Foi verificado efeito significativo da substituição de calcário por casca de ovo na dieta apenas para a produção
de ovo e produção de ovos comercializáveis. A substituição de até 50% do calcário calcítico por farinha de
casca de ovo na dieta mantém o desempenho e qualidade dos ovos de codornas japonesas de 40 a 52 semanas
de idade.
Palavras-chave: Coturnix coturnix japonica, desempenho, qualidade de ovo, resíduo.
REPLACEMENT OF LIMESTONE FLOUR FOR EGG SHELL IN THE DIET OF
JAPANESE QUAIL IN THE PERIOD FROM 40 TO 52 WEEKS OF AGE
ABSTRACT – It was ver ified the substitution of limestone for egg shell in the diet of Japanese quails
in the final third stage of laying. Were used 126 Japanes e quail (Coturnix coturnix japonica) with 283
days of age, distributed in completely randomized design, consisting of three treatments (replacement
of limestone for Japanese quail egg shell), six replicates and seven hen per experimental unit. The treatments
consisted of: T1-100% of limes tone use d as the main source of calcium, T2-50% of limestone + 50%
eggshell and T3-100% of egg shell. The par ameters studied were: feed intake, egg production per hen
day, commercial egg production, egg weight, egg mass, feed conversion by egg mass, feed conver sion
per dozen eggs, weight of the eggs (yolk, albumen and shell), percentage of components of eggs, calcium
and phosphorus in the tibia and specific gr avity. It was found significa nt effect of the substitution of
limestone for egg shell in the diet only for the production of egg and egg production of tradables. Replacing
50% of limestone flou r for egg s hell keeps the performance and egg quality of Japanes e quails from
40 to 52 weeks of age.
Key Words: Coturnix coturnix japonica, egg quality, performance, residue
1
Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Zootecnia s/n, Campus Universitário, Viçosa - MG. E-mail: [email protected]
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12
108
REIS, de R.S. et al.
1. INTRODUÇÃO
A criação de codornas para a produção de ovos
tem se desenvolvido de forma expressiva no Brasil,
sendo que o aumento de produtividade pode ser atribuído
ao uso de tecnologias na atividade, ao melhoramento
genético a que as aves estão sendo submetidas e a
melhorias na nutrição, manejo e sanidade (Oliveira,
2007). Além disso, podem ser observadas mudanças
nas características dos mercados atacadistas e varejistas,
pois os ovos, antes comercializados apenas in natura,
passaram também a ser processados em indústrias
beneficiadoras e comercializados como ovos
descascados ou em conservas, atendendo principalmente
a restaurantes, bares e lanchonetes.
Com esse aumento de mercado, houve entrada
de grandes empresas que perceberam a rentabilidade
do negócio, e diminuição no número de pequenos
produtores. O processamento de ovos gera acúmulo
diário de grande quantidade de casca que deve ser
eliminada de forma adequada para não poluir o ambiente.
Uma maneira de reutilização da casca seria sua inclusão
como substituto do calcário nas rações para animais.
De acordo com Vanderpopuliere et al. (1975), a farinha
de casca de ovo é rica em cálcio e contém proteínas
provenientes dos resíduos de albúmen, membrana da
casca e matriz da casca que podem ser metabolizadas
pelas aves.
Por outro lado, as características da casca do ovo
são imprescindíveis para manutenção da qualidade
interna do produto, sendo a casca a embalagem do
ovo e tendo por função proteger a gema e o albúmen
contra perdas e agressões do meio. Ela deve ser forte
o suficiente para resistir aos processos de postura,
coleta, classificação e transporte, devendo chegar ao
consumidor final na forma in natura, sem perdas de
qualidade. Sendo assim, as rações devem conter nutrientes
em quantidade e qualidade necessária para a adequada
formação da casca do ovo.
Diante do exposto, verificou-se a possibilidade
de substituição do calcário por casca de ovo em dietas
de codornas japonesas no período de 40 a 52 semanas
de idade.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de Avicultura
do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal
de Viçosa-MG.
Foram utilizadas 126 codornas da subespécie
japonesa (Coturnix coturnix japonica) com idade inicial
de 40 semanas e final de 52 semanas, tendo o período
experimental 84 dias de duração subdivididos em 4 períodos
de 21. As aves foram distribuídas em delineamento
inteiramente casualizado composto por três tratamentos
(substituição do calcário calcítico por casca de ovo de
codorna), seis repetições e sete aves por unidade
experimental. Os tratamentos foram: T1-100% de calcário,
T2-50% calcário + 50% de farinha de casca de ovo e
T3-100% de farinha de casca de ovo.
As cascas de ovo utilizadas neste experimento
foram fornecidas por empresas que além de produzirem
os ovos de codorna “in natura”, também o processam,
entregando no mercado ovos descascados em conserva.
Para a elaboração da farinha, as cascas dos ovos foram
secas ao ar e posteriormente trituradas.
As dietas foram formuladas à base de milho e farelo
de soja (Tabela 1) contendo 19,3% de proteína bruta
e 2.800 kcal de energia metabolizável/kg de dieta. Foram
utilizados 3,0% de cálcio e 0,30% de fósforo disponível,
conforme determinado por Moura et al. (2008). Para
atender às exigências em aminoácido digestível foram
utilizadas como base as relações aminoácido digestível
com lisina digestível preconizadas por Umigi et al. (2008),
Pinheiro et al. (2008) e Reis et al. (2011) para treonina,
triptofano e metionina mais cistina, respectivamente,
devido à escassez de tabelas de exigências nutricionais,
realizadas em condições brasileiras, para esta espécie
até o momento de realização deste experimento.
A composição e os valores nutricionais dos
ingredientes utilizados para a formulação da dieta foram
calculados valendo-se de Rostagno et al. (2005). As
cascas de ovo de codorna utilizadas foram analisadas
no laboratório de nutrição animal do Departamento
de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, quanto
ao teor de cálcio e fósforo, obtendo os valores de 32,9%
de cálcio e 0,386% de fósforo.
As aves foram alojadas em gaiolas de arame
galvanizado, equipadas com comedouro tipo calha e
bebedouro do tipo nipple, sendo que cada gaiola
forneceu área de 121 cm2/ave. A ração e a água foram
fornecidas à vontade.
O manejo diário consistiu em recolher e contabilizar
todos os ovos, anotar as temperaturas e a umidade
relativa do ar no galpão experimental uma vez ao dia,
às 16 h.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12
Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período... 109
O programa de iluminação consistiu do
fornecimento de 17 horas de luz por dia, sendo o mesmo
controlado por um relógio automático (timer).
sem casca). Também foi calculado o número médio de
ovos comercializáveis durante o período experimental,
retirando-se, neste caso, do total de ovos produzidos
os quebrados, os trincados e os anormais.
Ao final do período experimental (84 dias),
determinou-se a quantidade de ração consumida (g/
ave/dia) em cada unidade experimental. Para isso, as
sobras e os desperdícios foram pesados e descontados
da quantidade de ração fornecida durante o período
experimental. O número de aves mortas foi descontado
do número total de aves de cada unidade experimental,
o que possibilitou obter o correto consumo por ave.
Para a obtenção do peso específico dos ovos,
no 16º, 17º e 18º dias a cada período de 21 dias, todos
os ovos íntegros coletados foram imersos e avaliados
em soluções de NaCl com densidade de 1,055 a 1,100
g/cm3, com intervalos de 0,005 g/cm 3 entre elas. A
densidade da solução salina foi medida por meio de
um densímetro.
A produção de ovos foi expressa em porcentagem
sobre a média de aves do período (ovo/ave/dia) e de
aves alojadas no início do experimento (ovo/ave alojada).
Esses dados foram obtidos computando-se diariamente
o número de ovos produzidos, incluindo os quebrados,
os trincados e os anormais (ovos com casca mole e
Todos os ovos íntegros produzidos em cada repetição
foram pesados, em balança de precisão, durante o 19º,
20º e 21º dias de cada um dos quatro períodos
experimentais para se obter o peso médio dos ovos.
Após a pesagem, foram selecionados aleatoriamente
quatro ovos de cada repetição para quantificação dos
Tabela 1 - Composições percentuais e calculadas das dietas experimentais, na matéria natural
Ingredientes
Milho moído
Farelo de soja (45%)
Óleo de soja
Calcário
Farinha de casca de ovo
Fosfato bicálcico
Sal
DL- Metionina (99%)
L- Lisina HCL (79%)
Cloreto de colina (60%)
Suplemento vitamínico 1
Suplemento mineral 2Antioxidante 3
Inerte 4
Tot a l
T1
T2
T3
54 , 2 7
31 , 8 9
2,53
6,88
0, 0
1,05
0,32
0,33
0,20
0, 10 0
0, 10 0
0, 050 0,0 10
2,27
54 , 2 7
31 , 8 9
2,53
4,24
3,44
1, 0
0,32
0,33
0,20
0, 10 0
0, 10 0
0, 050 0,0 10
1,52
54 , 2 7
31 , 8 9
2,53
0, 0
9,00
0,90
0,32
0,33
0,20
0, 10 0
0, 10 0
0, 050 0,0 10
0,30
1 0 0, 0 0
1 0 0, 0 0
1 0 0, 0 0
2. 80 0
19,3
1, 08 0
0, 91 0
0, 64 7
0, 21 2
3,00
0, 30 0
0,1 452, 66
2. 80 0
19,3
1, 08 0
0, 91 0
0, 64 7
0, 21 2
3,00
0, 30 0
0,1 452, 66
2. 80 0
19,3
1, 08 0
0, 91 0
0, 64 7
0, 21 2
3,00
0, 30 0
0,1 452, 66
Composição calculada
Energia metabolizável (kcal/kg)
Proteína bruta (%)
Lisina digestível (%)
Metionina+cistina digestível (%)
Treonina digestível (%)
Triptof ano digestível (%)
Cálcio (%)
Fósforo disponível (%)
Sódio (%)Fibra bruta (%)
1
Composição/kg de produto: Vit. A: 12.000.000 U.I., Vit D 3: 3.600.000 U.I., Vit. E: 3.500 U.I., Vit B 1 : 2.500 mg, Vit B 2 : 8.000 mg,
Vit B 6: 5.000 mg, Ácido pantotênico: 12.000 mg, Biotina: 200 mg, Vit. K: 3.000 mg, Ácido fólico: 1.500mg, Ácido nicotínico: 40.000
mg, Vit. B 12 : 20.000 mg, Selênio: 150 mg, Veículo q.s.p.: 1.000 g; 2 Composição/kg de produto: Mn: 160 g, Fe: 100 g, Zn: 100 g,
Cu: 20 g, Co: 2 g, I: 2 g, Veículo q.s.p.: 1000 g; 3 Butil-hidróxi-tolueno, BHT (99%). 4 areia.
T1-100% de calcário, utilizado como a principal fonte de cálcio.
T2-50% de calcário + 50% de casca de ovo.
T3-100% de casca de ovo, utilizada como a principal fonte de cálcio.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12
110
REIS, de R.S. et al.
componentes dos ovos. Os ovos selecionados de cada
repetição e de cada dia foram pesados individualmente
em balança com precisão de 0,001 g. Após as pesagens,
os mesmos foram identificados e, posteriormente,
quebrados. A gema de cada ovo foi pesada e a respectiva
casca lavada e seca ao ar, para posterior obtenção
de seu peso. O peso do albúmen foi obtido pela diferença
entre o peso do ovo e o peso da gema mais o peso
da casca.
O peso médio dos ovos foi multiplicado pelo número
total de ovos produzidos no período, obtendo-se a
massa total de ovos por período. Esta massa total de
ovos foi dividida pelo número total de aves do período
e também pelo número de dias do período, sendo finalmente
expressa em gramas de ovo/ave/dia. Foram avaliadas
a conversão por dúzia de ovos, expressa pelo consumo
total de ração em quilogramas dividido pela dúzia de
ovos produzidos (kg/dz), e a conversão por massa de
ovos, que foi obtida pelo consumo de ração em
quilogramas dividido pela massa de ovos produzida
em quilogramas (kg/kg).
Ao final do experimento, 36 aves (duas por unidade
experimental) foram abatidas por deslocamento cervical
para retirada da tíbia para determinação do conteúdo
de fósforo e cálcio. Os ossos foram identificados por
tratamento e repetição e, depois, foram prédesengordurados, mantidos em estufa de ventilação
forçada por 72 horas e triturados em moinho de bola.
A solução mineral foi preparada conforme metodologia
descrita por Silva (1998), utilizando-se os procedimentos
da via úmida. Da solução mineral determinaram-se os
teores de fósforo, pelo método colorimétrico, e de cálcio,
pelo método de absorção atômica.
Os parâmetros foram submetidos a análises
estatísticas utilizando-se o programa SAEG (2007) e,
no caso de efeito significativo, as médias dos tratamentos
foram comparadas pelo teste Student Newman Keuls
(SNK) ao nível de 5% de probabilidade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As temperaturas máxima, mínima e de bulbo seco
e a umidade relativa do ar, verificadas diariamente durante
o período experimental são apresentadas na Tabela 2.
Na fase adulta a faixa de conforto térmico das
codornas está compreendida entre 18 e 22ºC e a umidade
relativa do entre 65 e 70% (Oliveira, 2007). Dessa forma,
conforme os valores registrados para o termômetro
de bulbo seco é possível observar que, em parte do
período experimental, as codornas ficaram em ligeiras
condições de estresse por calor.
Os resultados referentes ao desempenho e à qualidade
dos ovos das codornas japonesas alimentadas com dietas
contendo diferentes níveis de substituição do calcário
por casca de ovo encontram-se na Tabela 3.
Verificou-se efeito significativo (P<0,05) da
substituição de calcário por farinha de casca de ovo
na dieta para a produção de ovos e produção de ovos
comercializáveis, podendo ser observado que a inclusão
de até 50% de farinha de casca de ovo na ração de
codornas japonesas em postura não prejudica o
desempenho produtivo dessas aves. Esses resultados
discordam dos encontrados por Reis et al. (2008), que,
ao trabalharem com codornas no início da fase produtiva,
não verificaram efeito da substituição do calcário por
farinha de casca de ovo sobre esses parâmetros. Os
autores recomendam a inclusão de até 100% de farinha
de casca de ovo na ração de codornas no início da
fase de produção.
Em contrapartida, trabalhando com galinhas
poedeiras, Arvat & Hinners (1973) testaram o uso de
cascas de ovos secas, calcário e farinha de ostras como
fonte de cálcio, e não observaram diferenças significativas
entre as fontes de cálcio para qualidade dos ovos e
percentual de postura, mas houve diferença entre as
fontes de cálcio para período de produção das aves.
Sim et al. (1983) incorporaram farinha de casca de ovos
nos níveis de 0; 1,75; 3,5 e 7,0% em substituição ao
calcário na dieta de galinhas poedeiras de diferentes
idades, 27 a 51 semanas e 67 a 91 semanas. Os autores
avaliaram a produção de ovos, consumo alimentar,
conversão alimentar e qualidade do ovo, e não
observaram diferença (P>0,05) em nenhum dos
parâmetros analisados entre os animais dos tratamentos
e o grupo controle, para poedeiras de 27 a 51 semanas
de idade. Em contraste, os tratamentos com poedeiras
de 67 a 91 semanas tiveram aumento na produção de
ovos e melhora na utilização alimentar. Estes parâmetros
foram significativamente melhores quando o calcário
foi completamente substituído por farinha de casca
de ovo. Também foi observado um aumento progressivo
na produção de ovos com o aumento gradual de resíduos
na dieta. Os resultados encontrados por esses autores
indicam que resíduos de casca de ovos para poedeiras
no período de 27 a 51 semanas têm efeitos iguais ao
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12
Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período... 111
Tabela 2 - Valores de temperatura e umidade relativa do ar (UR), registradas no galpão experimental
Horá rio
08: 00
16: 00
Temperatura do ar (ºC)
UR (%)
Máxima
Mínima
Bulbo seco
27,1± 2, 5
18,3± 3, 6
27,6± 1, 7
26,2± 1, 9
79,3 ± 5, 2
66,2 ± 8, 7
Tabela 3 - Desempenho e qualidade dos ovos das codornas japonesas
Pa râ me tr os
5
Níveis de substituição do calcário por farinha
de casca de ovo na dieta
Consumo de ração (g) ns
Ovos /dia (%) *
Ovos comercializáveis (%) *
Peso dos ovos (g) ns
Massa de ovos (g/ave/dia) ns
Conversão alimentar (kg/kg) ns
Conversão alimentar (kg/dúzia)
Gravidade específica (g/cm 3) ns
Peso da gema (g) ns
Gema (%) ns
Peso do albúmen (g) ns
Albúmen (%) ns
Peso da casca (g) ns
Casca (%) ns
Cálcio no osso (%) ns
Fósforo no osso (%) ns
ns
T1
26 , 3 0
89, 36a
84, 26a
11 , 8 4
9,71
2,49
0,35
1, 07 3
3,47
29 , 2 6
7,47
62 , 9 0
0,93
7,84
17 , 0 0
11 , 0 7
T2
26 , 2 0
87,30a b
79,81a b
11 , 7 1
9,52
2,57
0,36
1, 07 2
3,43
29 , 2 6
7,38
62 , 8 7
0,92
7,87
16 , 9 3
10 , 8 4
T3
25 , 6 7
82,32b
74,69b
11 , 7 0
9,35
2,67
0,37
1, 07 1
3,50
30 , 0 2
7,27
62 , 1 6
0,91
7,81
17 , 2 5
10 , 9 0
CV (%)¹
3,27
4,97
7,16
3,29
10 , 3 9
5,38
6,35
0,12
2,44
2,43
3,20
1,30
3,53
3,13
13 , 0 6
19 , 2 4
1
CV= coeficiente de variação, 2 ns = Efeito não significativo, P>0,05.
T1-100% de calcário, utilizado como a principal fonte de cálcio.
T2-50% de calcário + 50% de casca de ovo.
T3-100% de casca de ovo, utilizado como a principal fonte de cálcio.
calcário. Em contrapartida, para poedeiras de 67 a 91
semanas há uma melhora na eficiência alimentar e na
produção de ovos quando comparada com a dieta
controle; de acordo com os autores, este fato pode
ser atribuído possivelmente por serem os resíduos de
casca de ovo mais facilmente digeridos e absorvidos
do que o calcário.
Não houve efeito significativo (P>0,05) da
substituição de calcário por farinha de casca de ovo
sobre a porcentagem de cálcio e de fósforo nos ossos
das aves, o que permite inferir que o nível e a fonte
de cálcio utilizados foram eficientes em manter a
integridade óssea das codornas.
Apesar de não ter sido detectada diferença
significativa para a qualidade externa dos ovos, avaliada
pela gravidade específica e porcentagem de casca, a
partir dos resultados de produção de ovos e produção
de ovos comercializáveis, pode-se inferir que a inclusão
de 100% de farinha de casca de ovo na dieta pode
levar à pequena redução no desempenho das codornas
japonesas no terço final da fase de produção.
4. CONCLUSÃO
A substituição de até 50% do calcário calcítico
por farinha de casca de ovo na dieta mantém o desempenho
e qualidade dos ovos de codornas japonesas de 40
a 52 semanas de idade.
5. AGRADECIMENTOS
À FAPEMIG e ao CNPq, pelo apoio e incentivo
à pesquisa.
À Granja Loureiro (Perdões - MG), pela doação
das cascas de ovo de codorna.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12
112
REIS, de R.S. et al.
6. LITERATURA CITADA
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mantendo constante a relação energia
metabolizável: nutrientes para codornas japonesas
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Zootecnia, v.37, p.1628-1633, 2008.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient
requirements of poultry. Washington:
National Academy of Sciences, 1994.155p.
OLIVEIRA, B.L. Manejo em granjas automatizadas
de codornas de postura comercial. IN: III
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codorna em dietas de codornas japonesas no início
da fase de produção. In: 46ª Reunião Anual da
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digestível para codorna japonesa em postura. In:
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Zootecnia, 45., Lavras. Anais... Lavras: SBZ,
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA.
Sistema para análises estatísticas –
SAEG. Versão 9.1. Viçosa: Fundação Arthur
Bernardes, 2007. 142p.
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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12
Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas...
113
CASCA E COCO DE MACAÚBA ADICIONADOS AO CONCENTRADO PARA
VACAS MESTIÇAS LACTANTES EM DIETAS À BASE DE SILAGEM DE
MILHO 1
Hugo Freitas Sobreira2, Rogério de Paula Lana 2*, Antônio Bento Mancio2, Dilermando Miranda da
Fonseca2, Sérgio Yoshimitsu Motoike3, José Carlos Peixoto Modesto da Silva 2, Geicimara Guimarães4
RESUMO – A possibilidade de uso dos resíduos gerados na produção de biodiesel pode ser uma ajuda valiosa
na alimentação dos ruminantes, já que a quantidade de resíduos é grande; deste modo, a destinação final deve
ocorrer de forma apropriada. Foi testada a viabilidade do uso da casca do coco e do coco triturado na alimentação
animal, substituindo a ração constituída de milho e farelo de soja em 0, 0,4; 0,8 e 1,2 kg de um total de 2,5
kg/vaca/dia. O concentrado foi fornecido às vacas leiteiras no momento da ordenha, realizada duas vezes ao
dia, e a silagem, uma vez, pela manhã. Oito vacas mestiças Holandês-Gir foram utilizadas, sendo distribuídas
em dois quadrados latinos 4 x 4, com média de 11 kg de leite/dia. As análises químicas do leite foram feitas
na Embrapa Gado de Leite em Juiz de Fora - MG. Foram realizadas pesagens da produção de leite e dos animais
a cada término de período de 10 dias. Foi feita análise das variáveis em delineamento quadrado latino. O modelo
estatístico incluiu efeitos de tratamento (níveis de substituição), quadrado latino (QL), animal/QL e período/
QL à 5% de probabilidade. Não foram verificadas diferenças na produção de leite. Os teores de lactose, extrato
seco e extrato seco desengordurado apresentaram-se significativamente diferentes, porém a produção diária
em kg/dia não. Assim a casca do coco e o coco de macaúba triturados podem ser utilizados em até 1,2 kg,
de um total de 2,5 kg de concentrado/vaca/dia, sem afetar o desempenho de vacas mestiças produzindo aproximadamente
11 kg de leite/dia e recebendo silagem de milho como volumoso.
Palavras-chave: Avaliação de alimentos, biodiesel, leite, subprodutos.
BARK AND COCONUT OF MACAW PALM ADDED TO CONCENTRATE FOR
CROSSBRED LACTATING COWS ON CORN SILAGE BASED DIET
ABSTRACT – The possibility of use of waste generated in the production of biodiesel can be valuable in feeding
ruminants, as the quantity of waste is great; Thus, the final disposal must be appropriately. It was tested the
feasibility of using coco and coco bark residue replacing corn and soybean meal in the concentrate in 0, 0.4;
0.8 and 1.2 kg in a total of 2.5 kg/cow/day. The concentrate was given to dairy cows at milking time, twice
a day, and the silage in the morning. Eight Hosltein-Gyr crossbred cows were used, being distributed in two
4 x 4 Latin squares, with an average of 11 kg of milk/day. The chemical analyses of milk were made in Embrapa
Gado de Leite in Juiz de Fora-MG. Milk production and body weight were measured at the end of experimental
period of 10 days. Analysis of variables was made in Latin square design. The statistical model included effects
of treatment (replacement levels), Latin square (QL), animal/QL and period/QL at 5% probability. There was
no difference in milk production. The levels of lactose, dry extract and degreased dried extract were significantly
different, however the daily production in kg/day were not different. The bark and coconut of Macaw Palm
can be used until 1.2 kg, out of a total of 2.5 kg of the concentrate/cow/day without affecting the performance
of crossbred cows producing approximately 11 kg of milk per day in corn silage based diet.
Key Words: Biodiesel, by-products, evaluation of food, milk .
Projeto parcialmente financiado pela FAPEMIG/CNPq.
Departamento de Zootecnia - UFV/Viçosa-MG. *Bolsista 1B do CNPq; [email protected]
3
Departamento de Fitotecnia - UFV/Viçosa-MG.
4
Graduanda de Gestão de Cooperativas - DER/UFV - Viçosa-MG. Bolsista ITI/CNPq.
1
2
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12
114
SOBREIRA, H.F. et al.
1. INTRODUÇÃO
A pastagem é o principal componente de uma pecuária
competitiva, ambiental, econômica e socialmente
sustentável. No entanto, animais mantidos exclusivamente
em pastagens não expressam todo o seu potencial.
Atualmente têm surgido, em todo o mundo,
movimentos sociais de proteção aos animais com o
intuito de pressionar os produtores a respeitar o
comportamento natural dos animais, incentivando um
manejo menos intensivo. Neste contexto, os sistemas
agrossilvipastoris proporcionam maior conforto aos
animais, nestes sistemas a introdução de outra fonte
produtiva, como uma espécie arbórea, permite maior
conservação do solo e torna a propriedade mais
competitiva, porém exige maior capacidade administrativa
da propriedade. Trabalhos recentes de avaliação de
desempenho animal e pastagem em sistemas silvipastoris
com eucalipto evidenciam grande potencial destes
sistemas, com melhoria da qualidade do pasto devido
ao sombreamento não excessivo (Carvalho, 1998; Ribaski
et al., 2003) e ganhos de peso dos animais com redução
na temperatura (Varella, 1997; Silva & Saibro, 1998).
Porém, insucessos com sistemas silvipastoris podem
ocorrer em razão da pouca experiência da maioria dos
pecuaristas na atividade florestal. Para estes existe
a necessidade de se introduzir o conceito de produtor
florestal, desenvolvendo e viabilizando tecnologias
para se obter produtos de qualidade, diversificados
e competitivos. É importante seguir um cronograma
operacional, que constitui da escolha, limpeza e
demarcação da área a ser plantada, combate a formigas
cortadeiras, adubação etc.
A Lei nº 19.485, de 13 de janeiro de 2011, aporta
uma política de incentivo ao cultivo da macaúba em
Minas Gerais e promete diminuir dificuldades como a
falta de linhas de crédito para culturas que exigem alto
investimento inicial e retorno em longo prazo. Miniusinas
implantadas em bases associativistas e cooperacionais,
formadas pelos próprios produtores de coco macaúba
e possivelmente de leite da região, poderiam extrair o
óleo e devolver os resíduos aos seus cooperados para
que estes alimentem seus animais, em um sistema que
cicla os nutrientes de forma mais sustentável.
Os resíduos gerados com a cultura do coco de macaúba
são de aproximadamente 14,5 t/ha/ano e tem grande potencial
para aproveitamento. Na alimentação de ruminantes, seu
elevado teor de lipídeos, mesmo após extração e/ou
prensagem, deve ser avaliado quando incluído na ração
de forma que promova a correta nutrição dos animais.
A suplementação proporciona melhoria no
desempenho animal, mas nem sempre a resposta é
satisfatória, o que pode ser explicado pelo efeito
associativo do suplemento ao consumo de forragem
e energia disponível da dieta. Efeito associativo é a interação
entre os componentes da dieta (Moore et al., 1999). A
suplementação em ambientes tropicais é importante devido
principalmente à seca que torna as forrageiras tropicais
mais fibrosas, reduzindo sua qualidade mais rapidamente
que as de regiões de clima temperado. Mesmo com grande
disponibilidade de forragem pode haver limitação no
consumo, pela maior dificuldade do animal em selecionar
o alimento de melhor qualidade podendo resultar em
queda na produção (Stobbs, 1973a,b).
Na alimentação de ruminantes, o elevado teor de
lipídeos da macaúba, mesmo após extração e/ou
prensagem, deve ser avaliado, mas utilizando-se de
baixas quantidades como foi o caso do presente estudo
pouco altera a dieta dos animais.
Avaliou-se a utilização da casca do coco e do coco
(sem endocarpo) triturados em substituição simples (peso/
peso) do concentrado inicial como alternativa para a
alimentação de vacas mestiças Holandês-Gir lactantes.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada na fazenda Boa Vista,
no distrito de Cachoeirinha, pertencente à Universidade
Federal de Viçosa (UFV), Viçosa-MG, em sistema de
confinamento na estação seca, no período de maio
a julho de 2010.
A cidade de Viçosa, localizada na região da Zona
da Mata, estado de Minas Gerais, tem como coordenadas
geográficas a posição 20o45’20" de latitude sul e 45o52’40"
de longitude oeste de Greenwich e altitude de 651 metros.
O clima é do tipo Cwa (mesotérmico), segundo a
classificação de Köeppen, apresentando duas estações
bem definidas, com verões quentes e úmidos e invernos
frios e secos. A precipitação pluvial média é de 1.341,2
mm anuais. As médias de temperaturas máximas e mínimas
são 26,1 e 14,0 oC, respectivamente (UFV, 1997).
Foram utilizadas oito vacas mestiças HolandêsGir com produção média de 11 kg/dia de leite, dispostas
em dois quadrados latinos 4x4 com quatro períodos.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12
Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas...
Os animais receberam silagem de milho à vontade e
2,5 kg de concentrado ao dia. Os tratamentos consistiram
de quatro níveis de casca (quadrado latino - QL1) e
de polpa (QL2) de macaúba moídos (0; 0,4; 0,8; e 1,2
kg), completados para 2,5 kg/vaca/dia com ração
concentrada à base de milho e farelo de soja, sendo
fornecida em duas porções diárias, durante as ordenhas.
As baixas suplementações têm sido usadas
amplamente para adequar as dietas dos animais, em
relação a nutrientes críticos escassos no sistema, com
baixo investimento. Buscou-se não ultrapassar 40%
de substituição, devido aos altos teores de fibra em
detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido
(FDA) e baixo teor de proteína bruta (PB), indicativos
de limitação do uso.
Os animais passaram por um período de adaptação
com suplementação diferente da que seria usada no início
dos testes 15 dias antes do experimento. A cada dia foram
feitas pesagens das quantidades das dietas fornecidas
e das sobras para cálculo do consumo de massa seca
de suplemento em cada tratamento. Durante o período
experimental, foram feitas amostragens das dietas e das
sobras que foram acondicionadas em sacos plásticos
e congeladas para posteriores análises. A cada 10 dias,
era feita amostragem da silagem, da ração concentrada
e das fezes em sacos plásticos para análises, seguindose a metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002).
Os animais receberam os suplementos (rações)
duas vezes ao dia, durante as ordenhas da 7:00 e 16:00
horas. Foi fornecida diariamente uma mistura mineral no
cocho. Os animais estiveram confinados em baias individuais.
O peso de cada animal foi obtido pela média dos
pesos ao início e final de cada período experimental.
A produção de leite foi avaliada no 8º, 9º e 10º dias
de cada período experimental que se constituía de 10
dias. Amostras de leite foram coletadas durante o último
dia de cada período, compostas por animal e
acondicionadas em frascos plásticos com conservante.
Posteriormente, foram determinados os teores de
proteína, gordura, lactose e extrato seco total do leite,
segundo a metodologia descrita pelo International Dairy
Federation (1996).
Foi feita a análise das variáveis em delineamento
quadrado latino. O modelo estatístico incluiu efeitos
de resíduo (tipo de ração), quadrado latino (QL), animal/
QL e período/(QL) a 5% de probabilidade. As análises
foram realizadas utilizando o procedimento GLM do
115
MINITAB (Ryan & Joiner, 1994), a 5% de probabilidade,
conforme modelo:
Yijklm = m + Fi + Nj + Qk + Al/Qk + P m /Qk + Eijklm
em que Yijklm é a observação referente à i-ésima fonte,
j-ésimo nível, k-ésimo quadrado latino, l-ésimo animal
dentro de quadrado latino e m-ésimo período dentro de
quadrado latino; m, média geral; Fi, efeito da fonte i =
1 e 2; Nj, efeito do nível j = 1, 2, 3 e 4; Qk, efeito do
quadrado latino k = 1 e 2; Al/Qk, efeito do animal l dentro
de quadrado latino k, l = 1, 2, 3, e 4; Pm /Qk, efeito do
período m dentro de quadrado latino k, m = 1, 2, 3, e 4;
e Eijklm, erro aleatório associado a cada observação.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As determinações de composição química, massa
seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente ácido (FDA), proteína bruta (PB) e extrato
etéreo (EE) da silagem e da ração concentrada foram
feitas segundo métodos encontrados em Silva e Queiroz
(2002), e estão apresentados na Tabela 1.
Observa-se que valores de FDN de 66,3% e 44,8%
para a casca e a polpa, respectivamente, são indicativos
de limitação de seu uso em grandes quantidades,
principalmente da casca (Tabela 1). No entanto, a grande
quantidade produzida destes componentes por área
propicia maior oferta de MS ao rebanho, possibilitando
aumentar o número de cabeças. Por outro lado, o coco
triturado apresentou características desejáveis,
destacando-se o alto teor de extrato etéreo (21,5%)
e razoável de proteína (9,79%).
Não houve interação entre fonte de coproduto
de macaúba e nível de inclusão e composição do leite
para nenhuma das variáveis avaliadas (P>0,05). Os teores
de gordura, proteína, lactose e extrato seco do leite
não foram influenciados pelos níveis de substituição
do concentrado (Tabela 2).
Porém, entre as fontes de subprodutos da macaúba,
tanto o teor de gordura quanto o de lactose, extrato
seco total e extrato seco desengordurado foram maiores
no tratamento com a utilização da casca, possivelmente
devido ao efeito da concentração destes constituintes
com ligeira redução na produção de leite, embora não
significativa (P>0,05). Este resultado é confirmado ao
se analisar a produção diária em kg/dia destes
constituintes do leite.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12
116
SOBREIRA, H.F. et al.
Tabela 1 - Composição dos ingredientes com base na massa seca, utilizados na alimentação das vacas
Componentes 1(%)
Silagem de milho
Casca de coco macaúba
Polpa de coco macaúba
Concentr ado
33,4
7, 4
47
27,9
3, 8
88
3,02
66,3
42,3
2, 7
33,5
81,0
9,79
44,8
21,4
21,5
11,0
89,0
22,0
12,4
4, 0
-
MS
PB
FDN
FDA
EE
Lignina
1
MS = massa seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente neutro, FDA = fibra em detergente ácido e EE = extrato etéreo.
Tabela 2 - Análise da produção e composição do leite e de seus constituintes em função dos tratamentos
Fonte de macaúba
Níveis de inclusão (kg/dia)
Valor de P
Item
Casca
Pol pa
0
0, 4
0, 8
1, 2
EP
F
L
Q
Leite, kg/d
Gordura, %
Proteína, %
Lactose, %
ES, %
ESD, %
Gordura, kg/d
Proteína, kg/d
Lactose, kg/d
ES, kg/d
ESD, kg/d
10,4
4,20
3,19
4,67
13,1
8,88
0,44
0,33
0,49
1,37
0,93
11,3
3,74
3,08
4,37
12,2
8,41
0,42
0,35
0,50
1,38
0,95
11,0
4,14
3,16
4,49
12,8
8,64
0,46
0,34
0,51
1,44
0,97
10,4
4,00
3,18
4,44
12,6
8,61
0,42
0,33
0,46
1,32
0,90
10,6
3,94
3,15
4,56
12,6
8,70
0,42
0,33
0,49
1,34
0,92
11,4
3,79
3,07
4,57
12,4
8,63
0,43
0,35
0,52
1,42
0,99
0, 62 3
0, 17 7
0, 06 8
0, 11 2
0, 22 1
1, 22 3
0, 03 7
0, 02 1
0, 03 6
0, 09 4
0, 06 2
0,24
0,04
0,46
0, 04 *
0, 01 *
0, 01 *
0,68
0,42
0,87
0,93
0,70
0,74
0,53
0,84
0,63
0,38
0,49
0,54
0,70
0,71
0,62
0,69
0,67
0,84
0,68
0,74
0,61
0,53
0,66
0,58
0,69
0,63
0,64
EP = erro padrão da média; F = fonte de macaúba, casca ou polpa do coco; L = efeito linear; Q = efeito quadrático; ES = extrato seco
total; ESD = extrato seco desengordurado; *Estatisticamente significativo (P<0,05).
Szpiz et al. (1989) afirmam que vários fatores
relacionados com a colheita e armazenamento podem
contribuir para que a composição dos frutos da macaúba
seja variável. O fruto ao amadurecer se solta do cacho
e cai no chão, a polpa pode ser atacada por
microrganismos e sofrer deterioração, o que altera as
relações de massa entre as partes do fruto. Outro fator
é o tempo que decorre da colheita até sua chegada
ao laboratório para análise, além das diferenças entre
variedades e grau de maturação dos frutos. Na Tabela
de Composição Química de Alimentos (Franco, 1992),
estão registrados valores para a farinha da torta de
polpa com 4,4% de proteína.
aproximadamente 100 anos de idade, e consequentemente
baixa taxa de replantio e revolvimento do solo.
A macaúba pode devolver ao solo grande quantidade
de resíduos na forma de alimentos para os animais, que
os consomem tornando o sistema mais sustentável pela
menor retirada de nutrientes do sistema. Ainda há vantagens
da macaúba, como o fato de não ser atacada por saúvas,
ter pouca sensibilidade ao fogo e boa tolerância à seca,
citadas por Cargnin (2008), e até mesmo pouca exposição
do solo já que as palmeiras têm uma enorme vida produtiva,
CARVALHO, M.M. Arborização de pastagens
cultivadas. Juiz de Fora: EMBRAPA - CNPGL,
1998. 37p. (EMBRAPA CNPGL. Documentos, 64).
4. CONCLUSÃO
A casca do coco e o coco de macaúba triturados
podem ser utilizados para substituir até 40% do
concentrado em um total de 2,5 kg/vaca/dia, uma vez
que não houve efeito sobre o desempenho de vacas
mestiças lactantes produzindo em média 11 kg de leite/
dia e recebendo silagem de milho como volumoso.
5. LITERATURA CITADA
IDF – INTERNATIONAL DAIRY FEDERATION.
Whole milk determination of milkfat, protein and
lactose content. Guide fir the operation of midinfra-red instuments. Bruxelas: 1996. 12p. (IDF
Standard 141 B).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12
Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas...
MOORE, J.E.; BRANT, M.H.; KUNKLE, W.E. et al.
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intake, diet digestibility, and animal performance.
Journal of Animal Science, v.77, S.2,
p.122-135, 1999.
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117
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intake of tropical pastures. I.Variation in the bite
size of grazing cattle. Australian Journal of
Agricultural Research, v.24, p. 809-19. 1973a.
STOBBS, T.H. The effect of plant structure on the
intake of tropical pastures. II. Differances in sward
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various stages of growth. Australian Journal of
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RIBASKI, J. Influência da algaroba
(Prosopis juliflora (SW.) DC.) sobre a
disponibilidade e qualidade da
forragem de capim-búfel (Cenchrus
ciliaris L.) na região semiárida
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118
REIS, de R.S. et al.
NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO DE COLINA NA DIETA DE CODORNAS
JAPONESAS EM POSTURA
Renata de Souza Reis¹, Sérgio Luiz de Toledo Barreto¹, Eriane de Paula¹, Jorge Cunha Lima Muniz¹,
Gabriel da Silva Viana¹, Raquel Mencalha¹,Lívia Maria dos Reis Barbosa¹
RESUMO – Objetivou-se avaliar diferentes níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas
em postura. Foram utilizadas 224 codornas da subespécie japonesa (Coturnix coturnix japonica) com 155
dias de idade. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualisado com quatro tratamentos, sete
repetições e oito aves por unidade experimental. Os tratamentos consistiram de níveis de inclusão de colina
por kg de ração (0; 500; 1000 e 1500 mg/kg). Os parâmetros estudados foram: consumo de ração, produção
de ovos, peso do ovo, massa de ovos, conversão alimentar por massa de ovos, conversão alimentar por dúzia
de ovos, produção de ovos comercializáveis, porcentagem e peso dos componentes dos ovos (gema, albúmen
e casca) e gravidade específica. Não foi observada diferença significativa para nenhum parâmetro estudado.
Não há necessidade de inclusão de colina na dieta de codornas japonesas em postura quando essas forem alimentadas
com dietas contendo a relação de metionina mais cistina com lisina de 84%.
Palavras-chave: Coturnix coturnix japonica, desempenho, metionina, qualidade de ovo, vitamina
LEVELS OF CHOLINE SUPPLEMENTATION IN THE DIET OF LAYING
JAPANESE QUAILS
ABSTRACT – The objective was to evaluate different levels of supplementation of choline in the diet of laying
Japanese quails in lay. It was used 224 female subspecies Japanese quail (Coturnix coturnix japonica) with
155 days of age, in the randomized experimental design with four treatments and seven replicates and eight
birds per experimental unit. The treatments consisted of inclusion levels of choline per kg diet (0; 500; 1,000
and 1,500mg/kg). The parameters studied were: feed intake, egg production, egg weight, egg mass, feed
conversion by egg mass, feed conversion per dozen eggs, egg production marketable, percentage and weight
of the eggs (yolk, albumen and shell) and specific gravity. There was no significant difference for any parameter
studied. It was concluded that there is no need for the inclusion of choline in the diet of laying Japanese
quails when they are fed diets containing a ratio of 84% methionine plus cystine to lysine.
Key Words: Coturnix coturnix japonica, egg quality, methionine, performance, vitamin.
1. INTRODUÇÃO
Na criação comercial de codornas, a otimização
da produção de ovos depende de muitos fatores, entre
os quais se destacam a nutrição e o manejo alimentar
das aves. Na área nutricional, maior número de trabalhos
foi realizado para estimar as exigências de proteína,
aminoácidos, energia, cálcio e fósforo, mas poucos
trabalhos enfatizam as exigências de vitaminas. As
1
recomendações de uso de vitaminas nas rações são
baseadas em estudos de outros países, que nem sempre
condizem com a realidade de criação no Brasil. Assim,
torna-se relevante o estudo das exigências de vitaminas
para codornas.
A colina é classificada como uma vitamina do
complexo B, no entanto existem controvérsias entre
os nutricionistas quanto à classificação da colina como
Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Zootecnia, s/n- Campus Universitário, Viçosa - MG. [email protected]
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12
Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura
uma vitamina (Andriguetto, 1990). Diferentemente das
outras vitaminas do complexo B, a colina pode ser
sintetizada no organismo dos animais, em nível hepático,
é exigida em grandes quantidades pelos animais e não
participa da formação de coenzimas.
Encontrada tanto em células animais quanto
vegetais, a colina pode se apresentar de três formas:
colina livre; acetilcolina; ou lecitina em fosfolipídios.
As funções básicas da colina no metabolismo animal
são: componente essencial da acetilcolina, um
neurotransmissor do qual a colina é precursora,
fosfatidilcolina, que é um elemento estrutural da membrana
celular, na transmissão do impulso nervoso e também
na utilização de lipídeos; é precursora da betaína, um
doador de grupos metil para as reações de metilação
e formação de metionina (Bertechini, 2006).
Diversos fatores dietéticos, como a metionina,
podem fornecer grupos metílicos para a formação da
colina. A betaína, a folacina e a vitamina B 12 ou a
combinação de diferentes níveis e composição de gordura,
carboidrato e proteína na dieta, como também a idade,
sexo, consumo calórico e a taxa de crescimento do animal,
podem influenciar a ação lipotrópica da colina e
consequentemente, a exigência desta vitamina
(McDowell, 2000).
Estudos realizados por Welch e Couch em 1955,
citados por McDowell (2000), demonstram que a
suplementação de vitamina B12 e/ou folacina reduz a
exigência de colina em ratos e pintos. Da mesma forma,
dietas com excesso de metionina atendem às exigências
de colina. Ao contrário, um aumento na exigência em
colina tem sido observado nas condições de deficiência
de folacina e/ou vitamina B12.
Objetivou-se avaliar diferentes níveis de
suplementação de colina na dieta de codornas japonesas
em postura.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no setor de Avicultura
do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal
de Viçosa, MG, com duração de 63 dias, no período
de janeiro a março de 2009.
Foram utilizadas 224 codornas japonesas com 155
dias de idade, distribuídas em delineamento inteiramente
casualizado, constituído por quatro tratamentos, sete
repetições e oito aves por unidade experimental.
119
Os tratamentos consistiram de níveis de
suplementação de colina, na forma de cloreto de colina
(60,0%) por kg de ração (0; 500; 1000 e 1500 mg/kg), sendo
a ração (Tabela 1) formulada à base de milho e farelo
de soja, contendo 19,3% de PB e 2.800 kcal de EM/kg.
Para atender às exigências em aminoácido digestível foram
utilizadas como base as relações aminoácido digestível
com lisina digestível preconizadas por Pinto et al. (2003),
Umigi et al. (2008), Pinheiro et al. (2008) e Reis et al. (2011)
para lisina (1,12%), treonina (55%), triptofano (21%) e
metionina mais cistina (84%), respectivamente, devido
à escassez de tabelas de exigências nutricionais, realizadas
em condições brasileiras, para esta espécie até o momento
da realização deste experimento. As demais relações de
aminoácidos, como ainda não estão determinadas na base
digestível, foram atendidas mantendo-se a relação
aminoácido total com lisina total, conforme preconizado
no NRC (1994). Os níveis de lisina, cálcio e fósforo foram
corrigidos pela densidade energética da ração, de acordo
com Moura et al. (2008). As demais exigências foram
atendidas de acordo com aquelas descritas no NRC (1994).
A composição e os valores nutricionais dos
ingredientes utilizados para a formulação da dieta foram
calculados valendo-se de Rostagno et al. (2005).
As aves foram alojadas em gaiolas de arame
galvanizado, equipada com comedouro tipo calha e
bebedouro do tipo nipple com copinho, sendo que
cada gaiola forneceu área de 106 cm2/ave.
A ração e a água foram fornecidas à vontade durante
todo o período experimental.
O programa de iluminação adotado consistiu num
fotoperíodo natural aliado a iluminação artificial
perfazendo 16 horas.
Durante a realização do experimento, foram
observados e avaliados os seguintes parâmetros:
consumo de ração (g/ave/dia), produção de ovos por
ave dia (%), produção de ovos por ave alojada (%),
peso do ovo (g), massa de ovos (g/ave/dia), conversão
alimentar por massa de ovos (kg de ração/kg de ovos),
conversão alimentar por dúzia de ovos (kg de ração/
dz de ovos), produção de ovos comercializáveis (%),
gravidade específica (g/cm 3), porcentagem dos
componentes dos ovos (gema, albúmen e casca), variação
do peso corporal e viabilidade das aves.
A cada 21 dias foi avaliada a quantidade de ração
consumida em função do número de aves, sendo
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12
120
REIS, de R.S. et al.
Tabela 1 - Composições percentuais e calculadas das dietas experimentais, na matéria natural
Níveis de suplementação de colina
Ingredientes
0
500
1000
1500
Milho moído
Farelo de soja (45%)
Óleo de soja
Calcário
Fosfato bicálcico
Sal
DL- Metionina (99%)
L- Lisina HCL (79%)
Cloreto de colina (60%)
Suplemento vitamínico 1
Suplemento mineral 2
Antioxidante ³
Inerte 4
57,209
32,159
1, 59 6
6, 62 9
1, 06 1
0, 32 0
0, 36 8
0, 17 7
0, 00 0
0, 10 0
0, 05 0
0, 01 0
0, 32 0
57,209
32,159
1, 59 6
6, 62 9
1, 06 1
0, 32 0
0, 36 8
0, 17 7
0, 09 6
0, 10 0
0, 05 0
0, 01 0
0, 22 4
57,209
32,159
1, 59 6
6, 62 9
1, 06 1
0, 32 0
0, 36 8
0, 17 7
0, 19 2
0, 10 0
0, 05 0
0, 01 0
0, 12 8
57,209
32,159
1, 59 6
6, 62 9
1, 06 1
0, 32 0
0, 36 8
0, 17 7
0, 29 0
0, 10 0
0, 05 0
0, 01 0
0, 03 0
Tot a l
1 0 0, 0 0
1 0 0, 0 0
1 0 0, 0 0
1 0 0, 0 0
2. 80 0
19 , 9 3
1,08
0, 91 0
2, 90 0
0, 30 0
0, 14 5
0, 00 0
2. 80 0
19 , 9 3
1,08
0, 91 0
2, 90 0
0, 30 0
0, 14 5
500
2. 80 0
19 , 9 3
1,08
0, 91 0
2, 90 0
0, 30 0
0, 14 5
1000
2. 80 0
19 , 9 3
1,08
0, 91 0
2, 90 0
0, 30 0
0, 14 5
1500
Composição calculada
Energia metabolizável (kcal/kg)
Proteína bruta (%)
Lisina digestível (%)
Metionina+cistina dig. (%)
Cálcio (%)
Fósforo disponível (%)
Sódio (%)
Colina (mg/kg)
1
Composição/kg de produto: Vit. A: 12.000.000 U.I., Vit D 3: 3.600.000 U.I., Vit. E: 3.500 U.I., Vit B 1 : 2.500 mg, Vit B 2 : 8.000 mg,
Vit B 6: 5.000 mg, Ácido pantotênico: 12.000 mg, Biotina: 200 mg, Vit. K: 3.000 mg, Ácido fólico: 1.500mg, Ácido nicotínico: 40.000
mg, Vit. B 12 : 20.000 mg, Selênio: 150 mg, Veículo q.s.p.: 1.000g; 2 Composição/kg de produto: Mn: 160g, Fe: 100g, Zn: 100g, Cu:
20g, Co: 2g, I: 2g, Veículo q.s.p.: 1000 g; 3 Butil-hidróxi-tolueno, BHT (99%). 4 Areia lavada.
expresso em gramas de ração consumida por ave/dia.
No caso de morte de aves durante o período
experimental, procedeu-se à correção do consumo de
ração (CR), obtendo-se o consumo médio verdadeiro
para a unidade experimental em questão. Para o CR,
as sobras foram pesadas e descontadas da quantidade
de ração pesada para todo o período.
Os ovos foram coletados diariamente às 8 horas.
A produção média de ovos no período foi obtida
registrando-se diariamente o número de ovos
produzidos, inclusive os quebrados, os trincados
e os anormais, e foi expressa em porcentagem sobre
a média de aves do período (ovo/ave/dia) e sobre
a média de aves alojadas no início do experimento
(ovo/ave alojada). Também foi calculado o número
médio de ovos comercializáveis (expresso em
porcentagem) durante o período experimental,
descontando-se os quebrados, os trincados e os
anormais do total de ovos.
Todos os ovos íntegros produzidos durante o 19o,
20o, 21o, 40o, 41o, 42o, 61o, 62 o e 63o dias experimentais,
em cada repetição, foram pesados em balança de precisão
de 0,001 g e o peso total obtido foi dividido pelo número
de ovos utilizados na pesagem, obtendo-se o peso
médio dos ovos.
O peso médio dos ovos foi multiplicado pelo número
total de ovos produzidos no período experimental,
obtendo-se assim a massa total de ovos. Esta massa
total foi dividida pelo número total de aves por dia
do período, sendo expressa em gramas de ovo por ave
por dia (g ovo/ave/dia).
Para avaliação dos componentes dos ovos foram
analisados os pesos da gema, do albúmen e da casca
em relação ao peso do ovo, durante o 19 o, 20 o, 21 o,
40o, 41o, 42o, 61o, 62o e 63o dias experimentais. Para isso,
em cada dia, foram utilizados aleatoriamente quatro ovos
de cada unidade experimental. Os ovos foram pesados
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12
121
Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura
individualmente em balança com precisão de 0,001 g.
A gema de cada ovo foi pesada e registrada, e a respectiva
casca foi lavada e seca ao ar, para obtenção do peso
da casca. O peso do albúmen foi obtido subtraindose, do peso do ovo, o peso da gema e o da casca.
Foram avaliadas as conversões alimentares por
dúzia de ovos, expressas pelo consumo total de ração
em quilogramas dividido pela dúzia de ovos produzidos
(kg/dz), e por massa de ovos, que foi obtida pelo consumo
de ração em quilogramas dividido pela massa de ovos
produzida em quilogramas (kg/kg).
No 16o, 17o, 18o, 37o, 38o, 39o, 58o, 59o e 60o dias
do período experimental, foi avaliada a gravidade
específica de todos os ovos íntegros coletados. Os
ovos foram imersos em soluções salinas (água + NaCl)
com densidade variando de 1,055 a 1,100 g/cm3, com
intervalos de 0,005 g/cm3 entre elas. A densidade de
cada solução foi aferida com o auxílio de um densímetro.
Os parâmetros foram submetidos a análises de
variância e regressão, de acordo com o programa Sistema
para Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (UFV,
2007). As estimativas para a determinação do melhor
nível de suplementação de colina foi por meio de análise
de regressão linear e quadrática, conforme o melhor
ajustamento obtido para cada parâmetro, considerandose o comportamento biológico das aves.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores registrados para temperatura média
e umidade relativa do ar se encontram na Tabela 2.
Na fase adulta, a faixa de conforto térmico ou zona
termoneutra das codornas está compreendida entre
18 e 22°C, e a umidade relativa do ar está entre 65 e
70% (Oliveira, 2007). Observou-se que durante o
experimento as codornas ficaram submetidas a períodos
de estresse moderado por calor.
Os resultados referentes ao desempenho e à
qualidade dos ovos das codornas japonesas alimentadas
com dietas contendo diferentes níveis de suplementação
de colina na dieta encontram-se na Tabela 3.
Tabela 2 - Valores de temperatura e umidade relativa do ar (UR), registradas no galpão experimental
Horá rio
08: 00
16: 00
Temperatura do ar (ºC)
Máxima
Mínima
Bulbo seco
27,1± 2, 5
18,3± 3, 6
27,6± 1, 7
26,2± 1, 9
UR (%)
79,3 ± 5, 2
66,2 ± 8, 7
Tabela 3 - Desempenho e qualidade dos ovos das codornas japonesas
Níveis de suplementação de colina (mg/kg de ração)
Pa râ met ros*
Consumo de ração (g)
Ovos/dia (%)
Ovos/ave alojada (%)
Ovos comercializáveis (%)
Peso dos ovos (g)
Massa de ovos (g/ave/dia)
Conversão alimentar (kg/kg)
Conversão alimentar (kg/dúzia)
Gravidade específica (g/cm 3)
Peso da gema (g)
Gema (%)
Peso do albúmen (g)
Albúmen (%)
Peso da casca (g)
Casca (%)
1
CV= coeficiente de variação,
*
0
500
1000
1500
CV(%)¹
26 , 2 5
90 , 7 2
86 , 2 9
87 , 1 2
11 , 6 8
10 , 6 0
2,48
0, 34 8
1, 07 4
3,41
29 , 1 8
7,33
62 , 7 1
0, 94 7
8,11
25 , 3 5
90 , 2 7
88 , 4 3
87 , 9 5
11 , 5 8
10 , 4 5
2,43
0, 33 9
11,073
3,50
29 , 6 0
7,36
62 , 3 4
0, 95 2
8,08
25 , 9 1
91 , 0 0
85 , 6 0
89 , 4 5
11 , 5 0
10 , 4 7
2,48
0, 34 2
1, 07 4
3,53
29 , 9 3
7,29
61 , 9 0
0, 96 1
8,17
25 , 7 7
92 , 0 5
90 , 3 1
90 , 6 4
11 , 7 9
10 , 8 5
2,37
0, 33 6
1, 07 3
3,49
29 , 5 3
7,52
62 , 4 1
0, 97 1
8,07
3,58
5,54
9,26
7,46
2,35
5,71
5,47
5,86
0,15
2,64
2,24
3,29
1,16
2,80
2,51
= Efeito não significativo (P>0,05).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12
122
Foi verificado efeito não significativo (P>0,05)
para todos os parâmetros estudados. O aumento
n os ní ve is de su pl em e nt a çã o de co lin a nã o
influenciou o desempenho e a qualidade dos ovos
de codornas japonesas, mostrando que na relação
de metionina mais cistina com lisina utilizada não
é necessária a suplementação de colina na dieta
de ssas a ve s.
Resultado semelhante foi encontrado por
Teixeira et al. (2008), que estudaram níveis de inclusão
de colina (0; 200; 400 e 600 ppm) em fatorial com
níveis de metionina (0,65 e 0,75%). Os autores
comprovaram que somente em níveis mais baixos
de metionina (0,65%) na dieta se faz necessária a
suplementação de colina para codornas japonesas
em postura. Vasconcelos et al. (2010), estudando
os efeitos da suplementação de colina para galinhas
poedeiras de uma a 44 semanas de idade, verificaram
que o nível de inclusão de colina na fase de recria
influencia a produção de ovos e a porcentagem de
casca sem influen ciar nos demais parâm etros,
entretanto não foi possível aos autores determinar
o melhor nível de suplementação de colina devido
à resposta linear crescente encontrada.
Segundo McDowell (2000), para aves em postura,
a colina pode ser sintetizada em quantidade suficiente
para a normal produção de ovos. No caso de codornas,
o NRC (1994) sugere que a colina seja suplementada
para a manutenção do tamanho dos ovos. Da mesma
forma, as exigências em colina para o crescimento desses
animais são maiores do que aquelas para frangos de
corte e aves de postura, sendo neste estudo avaliado
somente parte do período de produção das codornas,
devendo ser realizado posterior estudo verificando
a suplementação de colina na fase de recria e seu reflexo
na fase de produção.
A exigência de colina para aves diminui com a
idade e geralmente não se observa deficiência para
animais com mais de oito semanas de idade. Isso
se deve à capacidade da ave, com o avançar da idade,
d e r e a l iz a r a m e til a ç ão d o a m i noe t a nol a
metilaminoetanol para a biossíntese de colina. No
caso de poedeiras, o fornecimento de dieta sem colina
após oito semanas de idade permite que essas aves
consigam sintetizar toda colina requerida para a máxima
produção de ovos. Os sinais da deficiência de colina
são a redução da produção de ovos e o aumento
REIS, de R.S. et al.
de gordura no fígado. Contudo, o teor de colina nos
ovos não é afetado pelo nível de colina na dieta
(McDowell, 2000).
4. CONCLUSÕES
Não há necessidade de inclusão de colina na
dieta de codornas japonesas em postura quando essas
forem alimentadas com dietas contendo a relação
de metionina mais cistina digestível com lisina
digestível de 84%.
5. LITERATURA CITADA
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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12
124
RODRIGUES, R.C. et al.
PRODUÇÃO E MORFOFISIOLOGIA DO CAPIM BRACHIARIA BRIZANTHA
CV. XARAÉS SOB DOSES DE NITROGÊNIO E FÓSFORO
Rosane Cláudia Rodrigues 1, Daniel de Oliveira Souza Lima 2, Luciano da Silva Cabral3 , Luiz Pedro
de Melo Plese 4, Walcylene Lacerda Matos Pereira Scaramuzza 5, Tereza Cristina Alves Utsonomya 6 ,
Jefferson Costa de Siqueira 1, Ana Paula Ribeiro de Jesus¹
RESUMO – Objetivou-se com este trabalho avaliar a produção e as características morfofisiológicas, produtivas
e os teores de proteína bruta (PB) do Brachiaria brizantha cv. Xaraés, submetido a doses de nitrogênio e
fósforo. O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação. Foram utilizadas quatro doses de nitrogênio (0,
75, 150 e 225 mg/dm3) e três doses de fósforo (0, 140 e 280 mg/dm³). As doses de N incrementaram a produção
de massa seca da parte aérea e raízes e a densidade de perfilhos (DP) em todos os crescimentos das plantas,
enquanto as doses de fósforo incrementaram a produção de massa seca no primeiro crescimento e aumentaram
a densidade de perfilhos no primeiro e terceiro crescimentos. Já a interação entre doses de N e P só ocorreu
no segundo corte na produção de massa seca da parte aérea. As doses combinadas de N e P influenciaram os
teores de PB nas diversas categorias de folhas e nos colmos mais bainhas. Nenhum dos nutrientes empregados
nem a interação entre eles foi significativo sobre a taxa fotossintética, condutância, concentração intercelular
de CO 2 e transpiração e sobre a relação folha/colmo.
Palavras-chave: Fertilidade, fotossíntese, nutrição de planta, parte aérea, perfilhamento.
PRODUCTION AND MORPHOPHYSIOLOGY OF PALISADEGRASS
BRACHIARIA BRIZANTHA CV. XARAÉS UNDER NITROGEN AND
PHOSPHORUS FERTILIZATION
ABSTRACT – The objective of this study was to evaluate the production and morphological and physiological
characteristics, yield and crude protein (CP) concentration of Brachiaria brizantha cv. Xaraés submitted to
nitrogen and phosphorus. The experiment was conducted in a greenhouse. Four levels of nitrogen (0, 75,
150 and 225 mg/dm 3) and three levels of phosphorus (0, 140 and 280 mg/dm³) were used. The N increased
the dry weight of shoots and roots and the density tiller (DT) in all plant growth, while phosphorus levels
increased the dry weight in the first growth and increased DT in the first and third harvests. The interaction
of N and P occurred only in the second cut in production of shoot dry mass. The combined rates of N and
P influenced the content of CP in the various categories of leaves and stem plus sheats. None of the nutrients
employeed or their interaction was significant on the photosynthetic rate, conductance, intercellular CO 2
concentration and transpiration and the leaf/stem ratio.
Key Words: Aerial part, fertility, nutrition of plant, photosynthesis, tillering.
Professores Adjunto do Curso de Zootecnia do CCAA/UFMA. e-mail: [email protected], [email protected], [email protected]
Engenheiro Agrônomo, Cuiabá. E-mail: [email protected]
Professor Adjunto do Curso de Zootecnia do DZER/UFMT. e-mail: [email protected]
4
Professor Adjunto UFAC. E-mail: [email protected]
5
Professor Adjunto do Curso de Agronomia/UFMT. e-mail: [email protected]
5
Professor Assistente UNEMAT. e-mail: [email protected]
1
2
3
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12
Produção e morfofisiologia do capim brachiaria brizantha cv. xaraés sob doses de nitrogênio...
1. INTRODUÇÃO
A região centro-oeste, pela extensão de sua área
territorial e pelas condições climáticas favoráveis,
apresenta vasto potencial de produção de carne e leite
em pastagens. Todavia, a maioria das pastagens nessa
região encontra-se degradada ou em processo de
degradação, devido ao fato de os solos de cerrado
possuir uma baixa fertilidade natural e os mesmos serem
historicamente explorados de maneira extrativista.
Neste contexto, o conhecimento das características
morfofisiológicas das gramíneas forrageiras é essencial
para se estabelecerem procedimentos adequados de
manejo que promovam a perenidade das pastagens.
Vale ressaltar que existem diferenças entre espécies
que devem ser consideradas (Martuscello et al., 2009).
Assim, os estudos referentes ao comportamento
fisiológico e produtivo das plantas forrageiras são
extremamente importantes para a definição de estratégias
de manejo, principalmente, quando se trata de novos
cultivares, como o Xaraés.
Por outro lado, a manutenção e a produtividade das
plantas forrageiras podem ter sua eficiência maximizada
pelo aumento do uso de fertilizantes. Nesse sentido, a
adubação, especialmente a nitrogenada, é fundamental
para o aumento da produção de biomassa. O aumento
do teor de nitrogênio no solo por meio de fertilização
é uma das formas de incrementar a produtividade nas
pastagens, principalmente quando a forrageira responde
à aplicação desse nutriente (Martuscello et al., 2005).
Todavia, a eficiência de utilização do nitrogênio pela planta
depende de vários fatores, dentre eles, fonte, forma e
época de aplicação, dose e fracionamento do nitrogênio;
condições edafoclimáticas; potencial de resposta da planta;
presença e taxa de lotação animal; entre outros.
Considerando-se que o fósforo desempenha
importante papel no desenvolvimento do sistema radicular
e no perfilhamento das gramíneas, a sua deficiência
pode limitar a capacidade produtiva das plantas
forrageiras e, consequentemente, das pastagens. Os
níveis críticos de fósforo no solo variam entre espécies
de plantas, como também entre solos (Carvalho et al.,
1993; Fonseca et al., 2000; Mesquita et al., 2004: Mesquita
et al., 2010). Nesse sentido, o conhecimento da resposta
das plantas a doses de fósforo no solo torna-se de
alta relevância, por permitir a recomendação dos
nutrientes na dose adequada para o crescimento inicial
das plantas, de acordo com seus requerimentos.
125
Partindo-se da hipótese que o N e o P são
indispensáveis no estabelecimento e manutenção da
produção de gramíneas forrageiras, objetivou-se neste
trabalho determinar a influência das combinações desses
nutrientes nas características fisiológicas, como: taxa
fotossintética, condutância estomática, concentração
intercelular de CO 2 e transpiração, durante a fase de
estabelecimento e (massa seca total da parte aérea e
raízes, densidade populacional de perfilhos e relação
folha/colmo e teores de PB) rebrotação de Brachiaria
brizantha cv. Xaraés.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação,
pertencente ao Departamento de Zootecnia da Faculdade
de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade
Federal de Mato Grosso - FAMEV. A espécie utilizada
foi a Brachiaria brizantha (Hochst ex A. Rich.) Stapf.
cv. Xaraés que foi cultivada no período de agosto a
novembro de 2006, com temperatura ambiente na casa
de vegetação variando de 29 a 42o C.
Foram estudadas quatro doses de nitrogênio (N),
a saber: 0, 75, 150 e 225 mg/dm3 e três doses de fósforo
(P): 0, 140 e 280 mg/dm³. A fonte de N utilizada foi a
ureia, e a de P o superfosfato simples. As doses de
N foram parceladas em três vezes, sendo a primeira
dose após o corte de uniformização, a segunda após
o primeiro corte e a terceira após o segundo corte.
Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente
casualizado, com arranjo fatorial 4x3, com quatro
repetições, perfazendo um total de 48 unidades
experimentais.
O solo utilizado no experimento foi coletado em
Tangará da Serra, Médio Norte do estado de Mato
Grosso. O solo da região onde foi coletada a terra é
do tipo Latossolo Vermelho, distrófico, devido ao cultivo
anterior de algodão, o mesmo apresentou elevada
saturação por bases V%=73,29. As demais características
químicas foram: pH (H2O)=6,3; pH (HCl)=5,9; H+Al=2,6
cmol/dm³;Al=0,0 cmol/dm³; Ca+Mg=6,7 cmol/dm³; Ca=4,8
cmol/dm³; Mg=1,9cmol/dm³; SB=7,12 cmol/dm³;
TpH7,0=9,72 cmol/dm³; K=164,52 cmol/dm³ e P=2,01
cmol/dm³. Como características físicas, o mesmo
apresentou 434 g/kg de areia, 71 g/kg de silte e 495
g/kg de argila.
O solo utilizado no experimento foi coletado a uma
profundidade de 0-20 cm, e depois seco, homogeneizado,
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12
126
peneirado, pesado, colocado em vasos de plásticos
com capacidade para 6 kg.
A semeadura foi realizada utilizando-se 30 sementes
por vaso. Em seguida foi aplicado um terço da quantidade
de fósforo preconizada para cada tratamento e o restante
no corte de uniformização. A emergência das plântulas
ocorreu cinco dias após o plantio em 21/08/2006.
Posteriormente, foi realizado desbastes periódicos até
permanecerem seis plantas por vaso. O critério utilizado
foi a uniformidade de tamanho entre as mesmas. O controle
hídrico foi realizado três vezes ao dia, através da pesagem
dos vasos.
Foram realizados três cortes na parte aérea das
plantas, a intervalos regulares de 25 dias de crescimento.
O critério adotado para o intervalo entre cortes foi
a senescência da primeira folha produzida durante a
rebrotação. Os cortes foram feitos a uma altura aproximada
de dez centímetros do nível do solo para o primeiro
e segundo cortes e rente ao solo para terceiro corte.
Em cada corte coletou-se a parte aérea e procedeuse à separação das lâminas de folhas emergentes (LFE),
lâminas de folhas recém-expandidas (LFRE), lâminas
de folhas maduras (LFM) e colmos mais bainhas (CB),
sendo a massa seca total o somatório dessas frações.
As frações da parte aérea foram acondicionadas em
sacos de papel e secas em estufa a 65 oC até atingir
massa constante. Para determinação da relação folha:
colmo, dividiu-se a massa seca das lâminas foliares
pela massa seca dos colmos mais bainhas. Para a
determinação da massa de forragem, somaram-se todos
os componentes da parte aérea (LFE, LFRE, LFM e
CB), após a secagem.
Para as avaliações fisiológicas, foi utilizado um
analisador portátil de gás infravermelho Li 6400 (Li
Cor, Lincon, Nebraska EUA). Foram mensuradas a taxa
fotossintética (mmol/m2/s1), condutância (mmol/m2/s1),
concentração intercelular de CO 2 (mmol/mol 1) e
transpiração (mmol/m2/s1). As leituras foram realizadas
em todas as plantas de cada unidade experimental. Foram
escolhidas as folhas mais novas com a lígula visível
e as leituras foram efetuadas na parte mediana da folha
sempre entre 9 e 12 horas.
A avaliação do perfilhamento foi realizada no
momento do corte contando-se o número de perfilhos
por vaso de cada tratamento.
A produção de massa seca de raízes foi avaliada
no terceiro corte, ao término do experimento. As raízes
RODRIGUES, R.C. et al.
de cada unidade experimental foram colocadas sobre
um jogo de peneiras com malhas decrescentes e lavadas
com água corrente até se retirar todo o excesso de
terra. Em seguida, as mesmas foram colocadas em estufa
com circulação forçada de ar a 65 oC até atingir massa
constante.
Determinou-se o N-total por digestão sulfúrica,
seguida de destilação pelo método volumétrico de
Kjeldahl, conforme Silva & Queiroz (2002).
Os valores médios da taxa fotossintética,
condutância, concentração intercelular de CO 2 e
transpiração, produção de massa seca, material morto,
massa seca de raiz, densidade populacional de perfilhos,
proteína bruta (PB) e relação folha/colmo foram
submetidos à análise de variância e, nos casos de
significância (P<0,05), procedeu-se o estudo de
regressão. A regressão foi estudada comparando-se
as doses de N x P, em cada idade de crescimento.
Para se estimar a resposta aos níveis de adubação,
a escolha dos modelos baseou-se na significância
dos coeficientes linear e quadrático, por meio do teste
“t”, de Student, ao nível de 5% de probabilidade.
Empregou-se o procedimento “GLM” do software SAS
9.0 (Statistical Analyses System).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de variância para a taxa fotossintética,
condutância estomática, concentração intercelular de
CO2 e transpiração não revelou efeito (P>0,05) dos
tratamentos estudados. Provavelmente, nessa fase de
estabelecimento não houve tempo de haver diferenciação
dos tratamentos em decorrência do N nativo do solo,
repercutindo consequentemente na não diferenciação
dos processos bioquímicos. Esses resultados diferiram
dos encontrados por Pompeu et al. (2010), que avaliaram
o capim-Aruana submetido a doses crescentes de
nitrogênio (0, 125, 250 e 375 mg/dm³), e encontram efeito
da adubação nitrogenada para a taxa fotossintética,
condutância estomática, concentração intercelular de
CO2 e transpiração, sendo que quanto maior a dose
de N maior o valor, exceto para a concentração interna
de CO2.
Pela análise da variância, constatou-se efeito
(P<0,05) das doses de N e P, interação N x P e apenas
N, no primeiro, segundo e terceiro cortes,
respectivamente, na produção de massa seca. No primeiro
corte da gramínea, a resposta em termos de produção
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12
Produção e morfofisiologia do capim brachiaria brizantha cv. xaraés sob doses de nitrogênio...
de massa seca ajustou-se ao modelo linear em função
das doses de N aplicadas, ao passo que para as doses
de P foi observado efeito quadrático, com máxima
produção de 10,93 g/vaso de massa seca observada
em 181 mg/dm³ de P (Figura 1).
O desdobramento da interação N x P ocorrida
no segundo corte revelou efeito do N dentro das
doses de P, sendo o efeito linear para as doses 0
e 140 mg/dm³ e quadrático para a dose 280 mg/dm³,
cuja maior produção ocorreu mediante a aplicação
de 181 mg/dm³ de N. Um fato interessante que pode
ser usado no manejo dessa cultivar é que, quando
se utiliza doses entre 140 e 280 mg/dm³, a dose de
N necessária para a máxima produção diminui (Figura
2), indicando que ocorre aumento da eficiência de
uso do N pela planta nestas doses de P, ratificando
mais uma vez a importância não só do nitrogênio
para a manutenção e produtividade das gramíneas,
mas também a adubação fosfatada, principalmente
no estabelecimento.
127
No terceiro corte, apenas as doses de N influenciaram
a produção de MS, cujo efeito foi quadrático com máxima
ocorrendo em 200 mg/dm³ de N (Figura 3).
O N influenciou sobre a produtividade do capimXaraés, nos três cortes. Já a adubação fosfatada
influenciou sobre essa característica, apenas no primeiro
e segundo cortes, o que evidencia a importância da
aplicação de P, nesse tipo de solo para o estabelecimento
desse cultivar. Mesquita et al. (2010), em trabalho com
cultivares de Panicum (Mombaça e Tanzânia) e Brachiaria
(Mulato) em um Latossolo Vermelho Eutroférrico,
submetidas às doses de 0, 40, 80, 120 e 241 kg/ha de
P2O5, observaram que as doses de P elevaram de forma
quadrática a produção de MS e o número de perfilhos
das espécies forrageiras, ratificando mais uma vez, a
importância desse nutriente para as gramíneas.
Figura 2 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de doses
de N dentro da dose 0, 140 e 280 mg/dm³ de P,
no segundo corte.
Figura 1 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de doses
de N e P (mg/dm³), no primeiro corte.
Figura 3 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de doses
de N (mg/dm³), no terceiro corte.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12
128
Rodrigues et al. (2006) trabalharam com o capimXaraés cultivado em vasos num Latossolo Vermelho
Amarelo, fase arenosa e com doses de N e K, e observaram
comportamento quadrático das doses de nitrogênio
nos três períodos de crescimentos, sobre a produção
de massa seca do capim. Os autores atribuíram esse
comportamento ao intervalo entre cortes adotado
suficiente (41 dias após o corte de uniformização, 20
e 22 dias após o e segundo cortes, respectivamente)
para que as plantas atingissem sua máxima produção
e à uniformidade entre as plantas de cada tratamento
nas unidades experimentais. Todavia, deve-se considerar
as diferenças entre as condições em que foram cultivadas
como umidade e, principalmente, a temperatura e a
qualidade de luz.
A produção de massa seca de raiz respondeu de
forma linear crescente à adubação nitrogenada (Figura
4),
em que cada mg/dm3 de N promoveu aumento de
5
0,0133g/vaso de raízes. Entretanto, não houve efeito
das doses de P sobre esse componente. Patês et al.
(2008) avaliaram o capim-Tanzânia, cultivado em vasos
e submetido a quatro doses de N (0, 50, 100 e 150 mg/
dm³) e duas doses de P (0 e 45 mg/dm³ de P 2O 5), e
constataram que independentemente das doses de P,
as doses de nitrogênio influenciaram a produção de
MS de raízes do capim-Tanzânia. Na ausência de fósforo,
a produção de raízes do capim-tanzânia foi inferior à
obtida na presença de fósforo.
Assim como na produção de MS da parte aérea
no primeiro corte, a densidade populacional de perfilhos
(DPP) foi influenciada (P<0,05) pelas doses de N e P
testadas, não havendo interação entre os fatores. Para
as doses de N a resposta foi linear para o primeiro,
Figura 4 - Massa seca de raiz do capim-Xaraés, em função
de doses de N.
RODRIGUES, R.C. et al.
segundo e terceiro cortes, conforme as equações de
regressão: Y10corte=17,8 + 0,0071X, R²=0,75; Y20corte=
18 + 0,041 X, R²=0,99 e Y30corte=26 + 0,035X, R²=0,88),
em que cada mg/dm3 de N aplicado promoveu aumento
de 0,071; 0,041 e 0,0353 perfilhos/vaso, respectivamente.
Para o P a resposta foi quadrática, no primeiro
corte, conforme equação de regressão (Y10corte=18
+ 0,19X - 0,0054X², R²=0,99) e linear no terceiro corte
(Y30corte=29 + 0,1X, R²=0,68), enquanto no segundo
corte não houve efeito das doses de P sobre a produção
de MS. Esses resultados evidenciam a importância da
adubação com fósforo para essa cultivar, principalmente
em situações de elevados níveis de adubação
nitrogenada, como no caso de sistemas intensivos de
produção.
Analisando os resultados, verificou-se que a maior
densidade de perfilhos (DP) ocorreu no terceiro corte
e a menor no primeiro, o que refletiu na produção de
massa seca do capim. No trabalho de Mesquita et al.
(2010), as doses de P elevaram o número de perfilhos
das gramíneas estudadas, sendo que a Brachiaria
hibrida Mulato apresentou maior densidade de perfilhos.
O perfilhamento é importante para as gramíneas porque
assegura a perenidade das pastagens, além de contribuir
com o incremento de forragem.
A relação lâmina foliar/colmo não foi influenciada
significativamente (P>0,05) pelas doses de fertilizantes
testadas em nenhum dos cortes. Possivelmente, o
intervalo entre cortes tenha sido muito curto, não havendo
dessa forma tempo para a diferenciação entre os
tratamentos. Resultados diferentes foram obtidos por
Pinto et al. (1994), Lavres Jr. et al. (2004), Bonfim-Silva
& Monteiro (2006) e Rodrigues et al. (2006), que
encontraram decréscimos na relação folha/colmo em
gramíneas forrageiras tropicais, cultivadas em vasos
sob doses de nitrogênio.
Para os teores de PB nas frações da parte aérea,
a análise de variância revelou interação significativa
(P<0,05) entre as doses de N e P, nas LFE do capimXaraés, no primeiro corte. Através do desdobramento
da interação, observou-se efeito quadrático, conforme
as referidas equações de regressão: 0 mg/dm³ de P:
Y0 =3,5583 + 0,0264X - 8E-05X2, R²=0,99 e 140 mg/dm³
de P: Y15=3,7508 + 0,0189X-5E-05X2, R2 = 0,99, dentro
das doses de N, cujo ponto de máximo teor de PB foi
alcançado mediante as doses 165 e 189 mg/dm³ de N,
respectivamente. Na maior dose de P (280 mg/dm³),
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12
Produção e morfofisiologia do capim brachiaria brizantha cv. xaraés sob doses de nitrogênio...
dentro das doses de N, a resposta foi linear (Y30=3,8733
+ 0,0093X, R2 = 0,99), indicando que quanto maior a
dose de P dentro das maiores doses de N, maior será
o teor de PB, nesse componente.
Para as LFRE, a análise de variância revelou efeito
(P<0,05) apenas das doses de N, no primeiro corte,
com ajustes ao modelo quadrático de regressão (Y=4,3964
+ 0,0215X -7E-05X 2 , R 2 = 0,99). Através do
desdobramento da equação, verificou-se que o maior
teor de PB ocorreu com a dose 154 mg/dm³ de N.
As LFM apresentaram comportamento distinto
das demais frações. Houve efeito (P<0,05) das doses
de N e P isoladamente. Para as doses de N a resposta
teve ajuste ao modelo quadrático (Y = 4,4281+ 0,0197X
-6E-05X2, R2 = 0,95), cujo maior teor de PB foi obtido
na dose de 164 mg/dm³ de N. Por outro lado, a reposta
às doses de P foi antagônica às doses de N. Através
do desdobramento, verificou-se ajuste ao modelo linear
decrescente (Y=5,9151-0,0243X, R2 = 0,99) sob os teores
de PB, nessa parte da planta.
Nos CB, os teores de PB foram afetados apenas
pelas doses de N, no primeiro corte. O modelo que
apresentou melhor ajuste foi o quadrático
(Y=2,7368+0,0097X-2E-05X2, R2= 0,98), com máximo teor
de PB obtido, possivelmente, mediante o suprimento
de 243 mg/dm³, dose esta maior do que a utilizada no
presente estudo
No segundo corte, em função de o padrão de
resposta para todos os componentes da parte aérea
ser semelhante, os mesmos foram agrupados em uma
única figura. Nesse corte todas as frações, exceto
as LFM, foram influenciadas pelas doses de N quanto
aos teores de PB (Figura 5). A fração LFM não foi
analisada em função da quantidade de amostra
insuficiente para as análises químicas, nesses cortes.
Para os componentes LFE e CB, a resposta às doses
de N foi linear, enquanto a fração LFRE teve
comportamento quadrático, e o máximo teor de PB,
provavelmente, seria obtido em dose maior do que
a utilizada no presente estudo.
No terceiro corte, o padrão de resposta foi
semelhante ao segundo. Houve efeito (P<0,05) para
as doses de N, sob os teores de PB para a LFE, LFRE
e CB. Através do estudo de regressão verificaramse ajustes ao modelo linear em todas as situações,
exceto para a fração LFRE, cujo comportamento teve
ajuste ao modelo quadrático de regressão e o ponto
129
de máxima seria obtido com a utilização de 281 mg/
dm³ (Figura 6).
Para as LFM, em virtude da pequena quantidade,
não foi possível analisar nos demais cortes, porém
no primeiro corte a variação foi de 4,49 a 5,98% de
PB, portanto, superior aos teores obtidos para as LFE
e LFRE. O que pode ser em parte atribuído ao momento
do corte, em que a planta está preparando para a
remobilização do N presente nesse tecido.
Nota-se que em todos os cortes, as LFRE
apresentaram os maiores teores de PB, possivelmente
devido à grande mobilidade do N das partes mais velhas
para as partes mais novas das plantas.
Figura 5 - Teores de proteína bruta em LFE (lâminas em
emergência), LFRE (lâminas de folhas recémexpandidas) e CB (colmos mais bainhas) do capimXaraés, em função das doses de N, no segundo
corte.
Figura 6 - Teores de proteína bruta em LFE (lâminas em
emergência), LFRE (lâminas de folhas recémexpandidas) e CB (colmos mais bainhas) do capimXaraés, em função das doses de N, no terceiro
corte.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12
130
RODRIGUES, R.C. et al.
Os CB foram as frações que apresentaram os
menores teores de PB, em todos os cortes, sendo a
magnitude da resposta menor ainda no terceiro corte.
Com isso pode-se inferir que a produção animal pode
ser otimizada com práticas de manejo para esse capim
que resultem em alta densidade de lâminas foliares
verdes, notadamente no estrato mais pastejado pelos
animais, como foi sugerido por Cano et al. (2004) para
o capim-Tanzânia. Com relação ao suprimento de PB
aos animais, ressalta-se que nenhuma fração, em todas
as doses de nutrientes avaliadas, seria capaz de atender
aos teores mínimos de N necessários aos microrganismos
ruminais de 7% (Milford & Minson, 1965). Esses resultados
discordam dos encontrados por Cecato et al. (2004),
que, trabalhando com o capim-Marandu sob doses
de N e P, observaram teores de PB de 12%, mesmo
na dose 0 kg/ha de N. No trabalho de Patês et al. (2008),
com o capim-Tanzânia, os maiores valores de PB foram
obtidos sem a adição de P.
4. CONCLUSÕES
As características produtivas e os teores de PB
do capim-Xaraés são incrementados pelas adubações
nitrogenada e fosfatada, sendo a eficiência do nitrogênio
maximizada quando os teores de fósforo no solo se
situam entre 140 e 280 mg/dm³. No entanto, a relação
folha/colmo e as características fisiológicas não são
afetadas por esses fatores.
5. LITERATUA CITADA
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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12
132
LEMOS, C.F. et al.
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO ÍNDICE DE HAINES PARA MINAS GERAIS
POR ANÁLISE DA MÉDIA ATMOSFERA
Carlos Fernando Lemos¹, Flávio Barbosa Justino², Luiz Cláudio Costa³, John Edmund Lewis Maddock4
RESUMO – As queimadas são responsáveis por custos financeiros e degradação ambiental. Este estudo avalia
as áreas de risco de incêndio, com base no índice de Haines (IH) em setembro de 2003, em comparação com
a climatologia de 1968-1995. Setembro é o mês mais crítico para incêndios florestais. A avaliação se baseia
no NCEP/NCAR Reanalysis (National Center for ambiental Previsão/National Center for Atmospheric Research).
Os resultados demonstram que o Índice de Haines era capaz de reproduzir as áreas com maior incidência de
fogo. Este índice mostrou que a atmosfera era mais suscetível ao desenvolvimento de fogo em setembro de
2003, em comparação com a climatologia. Esta pesquisa irá ajudar a gerenciar as áreas críticas e a tomada
de decisões estratégicas para combate a incêndios no estado de Minas Gerais.
Palavras-chave: Climatologia, incêndios florestais, modelagem.
SPATIAL DISTRIBUTION OF THE HAINES INDEX FOR MINAS GERAIS BY
ANALYSIS OF AVERAGE ATMOSPHERE
ABSTRACT – Wildfire is responsible for financial costs and environmental degradation. This study evaluates
the areas of fire risk based on Haines Index (IH) in September of 2003, as compared to the 1968-1995 climatology.
September is the most critical month for wildfires. The evaluation is based on the NCEP/NCAR Reanalysis
(National Center for Environmental Prediction/National Center for Atmospheric Research). The results demonstrate
that the Haines index was able to reproduce the areas with highest incidence of fire. In this the index has
showed that the atmosphere was more susceptible to fire development in September of 2003 as compared
to the climatology. This survey will help you manage the critical areas and strategic decision-making for
fire control in the State of Minas Gerais.
Key Words: Climatology, forest fires, modeling.
1. INTRODUÇÃO
O Índice de Haines (IH) (Haines, 1988) é uma
ferramenta para gerenciar e controlar queimadas e
incêndios, muito utilizado nos Estado Unidos, na Europa,
na Ásia e na Austrália. Este índice relaciona a estabilidade
atmosférica e a umidade relativa do ar, para a previsão
de queimadas e incêndios florestais. O ar seco afeta
o comportamento do fogo, resultando em mais combustível
para queimar e aumentar a probabilidade de espalhamento
da queimada.
As variações climatológicas indicam e ajudam
a gerenciar as áreas críticas e a tomar decisões estratégicas
para o controle de queimadas e incêndios florestais,
assim como verificar o comportamento do Índice de
Haines para cada meso-região de alto e moderado risco.
O desmatamento é responsável por 18% das
emissões globais de gases responsáveis pelo efeito
estufa, o que equivale, por ano, em todo o mundo a
áreas de florestas equivalentes ao território de Portugal.
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as
1UFV - Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas - Tecnologia em Gestão ambiental - Campus Florestal - Florestal MG. E-mail: [email protected]
2,3
UFV - Dept. de Engenharia Agrícola e Ambiental - Campus da UFV - Viçosa - MG. E-mail: [email protected], [email protected]
4
UFF - Dept. de Química - Geoquímica Ambiental - Outeiro São João Batista, s/n - Niterói - RJ. E-mail: [email protected]
1
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera
queimadas são na maioria de origem antrópica, sendo,
portanto, o IH uma medida das condições atmosféricas
suscetíveis para o alastramento de fogo.
A agricultura pode sofrer abalos com a mudança
do regime de chuvas e modificações nos solos, o que
diminui a produtividade e a segurança alimentar, e pode
causar migrações e conflitos na população. Segundo
o IPCC (2001), apesar de o aumento da concentração
de CO2 estimular o crescimento das plantas, as vantagens
desse crescimento não compensam os malefícios do
aquecimento global (Kochtubajda, 2001). Podem ocorrer
modificações nas culturas e na criação de animais, pois
a adaptação às mudanças climáticas pode envolver
ajustes nas épocas de semeadura e de colheita,
quantidades de fertilizante, frequência de irrigação,
cuidados com os cultivares e seleção de novas espécies
de animais mais adaptadas (Confalonieri, 2001).
Em aproximadamente 85% das propriedades rurais,
a presença de fogo acidental em áreas de abertura incidem
principalmente sobre pastagem, danificando cercas
e reduzindo a capacidade de pastejo (Alencar et al.,
1997; Nepstad et al., 1999).
O ar seco afeta diretamente o comportamento do
fogo, aumentando a probabilidade de ocorrer um
espalhamento maior da queimada. Além disso, a atmosfera
instável devido à presença do fogo é dominada por
centros de baixa pressão, levando a uma intensificação
dos ventos de superfície, o quer pode acarretar um
alastramento do fogo. A investigação do teor do vapor
d’água na atmosfera, bem como a análise dos sistemas
de meso e pequena escala associada com a instabilidade
atmosférica, como proposto por Haines (1988), é
extremamente útil para a previsão e o monitoramento
do desenvolvimento das queimadas. Segundo Lemos
(2006), existem evidências claras de uma forte relação
entre as condições de estabilidade atmosférica (Alta
Subtropical do Atlântico Sul), umidade baixa e o
desenvolvimento das queimadas.
Assim, o objetivo deste estudo foi usar o Índice
de Haines como uma ferramenta no combate a queimadas
no Brasil e em Minas Gerais.
2. MATERIAL E MÉTODOS
1) Inicialmente foram feitas análises dinâmicas e
sinóticas de grande escala sobre Minas Gerais do mês
de setembro, para obter-se uma visão geral do
escoamento da atmosfera, direção dos ventos, índices
133
pluviométricos, sistemas sinóticos dominantes e
fenômenos atmosféricos que influenciam o clima e o
micro clima de cada região. (Climanálise, 2003). Os
resultados foram obtidos pela análise dos dados da
Circulação Geral da Atmosfera (CGA), a reanálise de
dados do Modelo de Previsão Numérica de Tempo (PNT)
do National Center for Environmental Prediction (NCEP),
do período de 1979 a 1995. Os ventos foram analisados
numa grade de 2,5 graus e interpolados para uma grade
de 5 graus em Projeção Mercator para visualização
(Climanálise, 2003). Estes dados originais foram gerados
no Supercomputador SX-6 da NEC do CPTEC/INPE
(Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
– Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e foram
obtidos através do Site oficial do NOAA (National
Oceanic Atmospheric Agency) na internet, um serviço
gratuito, e foram coletados para a realização desta
reanálise e para o cálculo das linhas de corrente que
atuaram sobre a América do Sul (www.cdc.noaa.gov/
cdc/data.ncep.reanalysis. derived.html).
A reanálise foi feita para aumentar a confiabilidade
do modelo e da previsão de tempo, isto é, foram
acrescentados os dados reais que não foram utilizados
na primeira análise do modelo (Lemos, 2000).
2) O estudo climatológico sobre o estado de Minas
Gerais foi realizado com precipitação total e os desvios
de precipitações em relação à média climatológica (19611990).
3) A análise da média atmosfera (~1.500 m) do Índice
de Haines (Haines, 1988) foi obtida pelo Software GRADS
utilizando-se um Supercomputador SX-6 no CPTEC/
INPE (Centro de Previsão e Estudos Climáticos/Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) para a realização das
rodadas dos dados (Brian, 1995; Lemos, 2006).
Para os dados de queimadas, foram gerados 30
mapas da análise da média atmosfera durante do mês
de setembro de 2003, que são as melhores referências
do Índice de Haines em estudo de curto prazo (Werth
& Werth, 1998).
4) Foram obtidas as imagens totais de queimadas
do satélite NOAA-12 da passagem das 12 UTC (Universal
Time Coordinated), coletadas através do DAS (Divisão
de Satélites Ambientais) do INPE.
Foi escolhida a passagem do satélite NOAA-12
e 16 UTC entre 21:00Z e 22:45Z (horário de Brasília
entre 18:00h e 19:45 h), que engloba os focos de calor
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
134
LEMOS, C.F. et al.
detectados por passagens realizadas durante o final
da tarde e início da noite, que representam as queimadas
ainda ativas (Setzer, 1992). O número de focos obtidos
por esta passagem representa a melhor estimativa das
queimadas ocorridas no dia. Isto significa que estes
focos de calor continuarão durante o período da
madrugada e manhã, caso não ocorram chuvas suficientes
para a extinção nestas áreas de incidência.
5) Por fim, foram gerados gráficos comparativos
e estatísticos do número total diário de queimadas no
estado de Minas Gerais associado à porcentagem (%)
de áreas indicadas pelo modelo com moderado (5) e
alto Índice de Haines (6), para se obter o índice de
acertos comparativos e locais de cada ponto determinado
pelo modelo Eta no estado de Minas Gerais.
2.1. Índice de Haines
2.1.1. Introdução
O Índice de Haines (IH) é um índice que indica
o local em potencial para incêndios (queimadas) que
já começaram e no qual poderá ocorrer queimadas ou
incêndios florestais de grandes proporções, chamados
de “blow-up”. Um foco de calor em “blow-up” conduz
a comportamentos extremos de queimadas, que se tornam
incontroláveis para se combater (Haines, 1988, 1991,
1997).
Durante anos, valores característicos de condições
de estabilidade atmosférica, com baixa umidade do ar,
indicaram a propagação de queimadas em grandes áreas
remotas nos Estados Unidos (Brotak & Reifsnyder,
1977). Donald Haines verificou que a maioria das
ocorrências aconteceu em dias em que a umidade do
ar estava muito baixa e a atmosfera estava bastante
estável (Haines, 1988).
O Meteorologista Donald Haines realizou uma análise
estatística de várias propriedades atmosféricas para
determinar quais parâmetros variaram significativamente
na climatologia em dias com crescimento de queimadas.
Assim, Haines concluiu que a temperatura da camada
na atmosfera T(ºC), a temperatura do ponto de orvalho
da camada na atmosfera Td (ºC) e o baixo nível de
umidade relativa na superfície (%) relacionaram
significativamente com a climatologia, em dias em que
ocorreram desenvolvimento de queimadas em grandes
áreas (Haines, 1991).
Este Índice também é combinado com parâmetros
meteorológicos modelares tais como: temperatura máxima
do dia anterior, média anual de precipitação, últimos dados
pluviométricos (mm) médios durante todo o período (24
horas), velocidade do vento, umidade relativa do ar, índices
pluviométricos (mensais e anuais), dentre outros. Estes
parâmetros são necessários para acrescentar o fator de
umidade (dependendo da climatologia de precipitação).
2.1.2. Cálculo do Índice de Haines (IH)
O cálculo do IH nas três camadas verticais
atmosféricas, a saber: na baixa (950-850hPa); média
(850-700hPa) e alta (700-500hPa), está associado à
necessidade de se ter um mapeamento na superfície
devido aos distintos níveis de topografia.
Matematicamente o IH é definido pela soma do
componente da estabilidade (A) e do componente da
umidade atmosférica (B) (A + B = IH). Como definido
na Tabela 1, o termo A representa a mudança de
Tabela 1 - Cálculo do IH (Índice de Haines)
Elevação(altitude) Componente deEstabilidade (A)
ComponentedeEstabilidade(B)
CÁLCULO
CATEGORIA
CÁLCULO
CATEGORIA
A= T9 50 hP a – T8 50 hP a
A= 1 se < 4 oC
A= 2 se 4 -7 oC
A= 3 se >=8 oC
A= T 950hPa –Td850 hPa
A= 1 se < 6 oC
A= 2 se 6 -9 oC
A= 3 se >=10 oC
MÉDIA
ATMOSFERA
500 A 1.500 m
A=T850hPa – T700hPa
A= 1 se < 6 oC
A= 2 se 6 -10 oC
A= 3 se >=11 oC
A=T850hPa – Td700hPa
A= 1 se < 6 oC
A= 2 se 6 -12 oC
A= 3 se >=13 oC
A LTA
ATMOSFERA
>= 1.500 m
A=T700hPa – T500hPa
A= 1 se < 6 oC
A= 2 se 6 -10 oC
A= 3 se >=11 oC
A=T700hPa – Td500hPa
A= 1 se < 15 oC
A= 2 se 15 -20 oC
A= 3 se >=21 oC
BAIXA ATMOSFERA
<= 500 m
Fonte: Modificado por Winkler et al. (2005) e Lemos (2006).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera
temperatura com altura, e o termo B caracteriza a depressão
do ponto de orvalho para um determinado nível. O
T representa a temperatura do ar e Td é a temperatura
do ponto de orvalho. A partir da soma dos dois termos
(A e B) tem-se o valor nominal do IH que varia de 2
a 6, sendo 2 associado a uma pequena possibilidade
de queimadas de grande porte e 6 a uma alta
probabilidade.
Assim, se A+B =IH os valores: 2 e 3: risco muito
baixo; 4: risco baixo; 5: risco moderado; 6: risco alto.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Análise da circulação geral da atmosfera sobre o
Brasil e Minas Gerais
Na Figura 1, são mostrados padrões médios do
mês de setembro de 2003. O Anticiclone do Atlântico
Sul (AAS) destaca-se pelo papel que desempenha sobre
o clima do Brasil.
Em 850hPa (aproximadamente 1500 m) apresentou
padrão consistente com as anomalias de PNM (Pressão
ao Nível do Mar). O anticiclone do Atlântico Sul
basicamente inibe a formação de nuvens sobre a região
em que está atuando, causando subsidência, deixando
a região em questão com céu claro e com poucas nuvens,
os ventos sopram do seu centro para a sua extremidade
e seu centro possui pressões atmosféricas superiores
às suas extremidades (Lemos, 2006).
Figura 1 - Linhas de Corrente médio em 850 hPa em Setembro/
2003. Os ventos são analisados numa grade de 2,5
graus e interpolados para uma grade de 5 graus em
Projeção Mercator para visualização.
Fonte: NCEP/Climanálise (2003).
135
Analisando-se a imagem de satélite GOES-12, na
faixa visível, no dia 25/09/2006, por ser o dia mais crítico
deste mês de 2003, verificou-se que um sistema frontal
encontrava-se sobre o estado de Santa Catarina e Paraná.
Em todo o estado de Minas Gerais havia ausência
de nuvens, devido à atuação da alta subtropical do
Atlântico que estava posicionado na retaguarda do
sistema frontal (Figura 2).
O escoamento atmosférico médio à superfície sobre
a América do Sul e Oceanos circunvizinhos mostrou
a presença dos Anticiclones Semiestacionários do
Atlântico Sul e do Pacífico Sul, responsáveis, em grande
parte, pelas condições de tempo sobre o Continente
Sul Americano, pois exercem influência destacável na
penetração das massas de ar tropicais úmidas e polares.
Suas posições e intensidade modificam-se ligeiramente
entre os períodos de verão e inverno.
O Anticiclone do Atlântico Sul (AAS) destacase pelo papel que desempenha sobre o clima brasileiro,
durante agosto, setembro e outubro. O Anticiclone
Semiestacionário do Atlântico Sul inibe a formação
de nuvens sobre a região em que atua causando
subsidência, deixando a região em questão com céu
claro e poucas nuvens (Lemos, 2000).
Durante este período, este sistema reinicia o
deslocamento para leste, isto é, na direção do Atlântico,
cuja periferia encontra-se sobre a região central do
Brasil, favorecendo a ligeira intensificação dos ventos
sobre esta região e áreas; com isto, os Índices de Haines
Figura 2 - Imagem de satélite GOES-12, dia: 25/09/2003, canal
visível, às 1809Z.
Fonte: DAS/INPE (2003).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
136
durante este período indicam valores de Moderado
(5) a alto (6) em toda a periferia deste sistema,
principalmente na face oeste da Alta Subtropical do
Atlântico (AAS) que está atuando sobre o centro-oeste
do estado de Minas Gerais.
3.2. A climatologia mensal
Devido às passagens dos sistemas frontais que
atuaram sobre a região, observamos que entre os dias
03 e 06, 12 e 16, e 28 e 30 de setembro de 2003 ocorreu
uma faixa linear do índice de Haines de Baixa (4) e muito
baixa (2 e 3) na região sudeste do Brasil e no estado
de Minas Gerais. Este sistema frontal mais intenso atingiu
o estado de São Paulo no dia 11de setembro de 2003
(Climanálise, 2003).
LEMOS, C.F. et al.
Os desvios em relação aos valores médios históricos
registraram valores acima da média climatológica no
oeste do Triângulo Mineiro, extremo leste da Zona
da Mata e no norte de Minas Gerais (Climanálise, 2003).
Nas demais áreas registraram valores com desvios variando
entre -20 e -25 mm.
Ressalta-se que nas regiões de valores inferiores
a -25 mm, o modelo indicou áreas de moderado (5) e
altos índices (6) de Haines, isto é, valores com grande
potencial de risco de queimadas e de incêndios tornaremse incontroláveis (Figura 4).
Entre 12 e 16 de setembro, este sistema frontal
atuou sobre a região sudeste e sobre o estado de Minas
Gerais. Entre os dias 28 e 30 o modelo indicou este
mesmo perfil, devido à passagem de um novo sistema
frontal sobre a região sudeste do Brasil, inibindo o
desenvolvimento de queimadas no estado.
Na região sudeste, o mês de setembro é de transição
entre as estações seca e a chuvosa e foi marcado por
chuvas predominantemente abaixo da média histórica,
principalmente no sul de Minas Gerais, leste do Triângulo
Mineiro e grande parte da região central do estado
(Figura 3) (Climanálise, 2003).
Verificamos que a precipitação total em todo o
estado ficou abaixo de 25 mm durante o mês, somente
na região oeste do Triângulo Mineiro e na região oeste
de Minas. Os valores médios ficaram entre 50 e 100
mm mês, devido a passagens dos sistemas frontais
(Figura 3).
Figura 3 - Precipitação total em mm para Setembro-2003.
Fonte: Climanálise (2003).
Outro detalhe importante é que no mês de setembro
ocorre o desfolhamento das plantas e por sua vez a
precipitação é também reduzida.
A maior parte das queimadas e incêndios florestais
é detectada nos períodos de estiagem, devido à baixa
umidade relativa, pois setembro é o mês mais quente
do ano no Brasil, devido à baixa umidade relativa do
ar (Lemos, 2000). Porém, como sua ignição depende
na maioria dos casos de intervenção humana, padrões
locais de uso do solo, de transformação da vegetação
e de tecnologias agrícolas devem necessariamente ser
incorporados em modelos de potencial de ocorrência
de queimadas e incêndios intencionais, inclusive em
períodos chuvosos (Setzer, 2004).
Figura 4 - Desvios de precipitação em mm em relação à média
climatológica (1961-1990) para Setembro-2003.
Fonte: Climanálise (2003).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera
137
Apesar da entrada dos seis sistemas frontais
na região sudeste, as chuvas ocorreram abaixo da
média histórica. Os sistemas frontais ocorreram dentro
da normalidade para o mês de setembro de 2003. Foram
três frentes frias que atuaram com mais intensidade
no estado de Minas Gerais, entre os dias 03 e 06/
09/2003, sendo este sistema mais intenso entre os
dias 12 e 16/09/2003, e nos dias 26 a 30/09/2003.
As bacias hidrológicas continuaram apresentando
baixos valores de precipitação. Verificamos que as vazões
em m3/s e desvios em relação à MLT (valores Médios
de Longo Termo), expressos em porcentagem em
setembro/2003, observados em Três Marias com valores
de 141,0 m3/s e -35,3%, em Emborcação de 159,00 m3/
s e -1,9%, em Itumbiara-MG de 433,0 m3/s e -16,6%
e em São Simão-MG de 898,0 m3/s e desvio positivo
de 5,9% (Climanálise/2003).
3.3. As queimadas
As queimadas no Brasil totalizaram 57.262 focos
durante setembro de 2003 (Figuras 5A e 5B).
5A
No estado de Minas Gerais foram registrados 4.546
focos de queimadas, representando 7,94% do total de
queimadas no Brasil. Observa-se que na região de Rio
Doce, Mucuri, Jequitinhonha e no norte de Minas as
maiores concentrações ocorreram durante o período
entre 24 e 29 deste mês.
Houve um decréscimo de 6% em relação ao
mesmo período do ano de 2002. Ao contrário de
2002, as regiões nordeste, sul e sudeste registraram
aumento significativo das queimadas em função
d a es tia ge m e da s a lt as te mp e ra t ur as do a r
(Climanálise, 2002).
3.4. A distribuição espacial do Índice de Haines sobre o
estado de Minas Gerais em setembro de 2003 da média
atmosfera
Analisando-se a distribuição do índice de Haines
sobre o estado de Minas Gerais, (Figuras 6 e 7) verificouse que a evolução espacial do Índice de Haines
acompanhou o desenvolvimento das queimadas em
todo o estado (Tabela 2).
Na primeira quinzena, o modelo indicou áreas de alto
risco no extremo oeste do Triângulo Mineiro, região central
do estado, centro-leste e norte do estado e somente no
dia 09/09/2003 o modelo indicou na região do sul de Minas.
5B
Figura 5A e 5B - Distribuição espacial de densidades de queimadas
em unidades de grade no Brasil e no estado
de Minas Gerais em Setembro de 2003. Focos
de calor detectados através do satélite NOAA
12 às 21:00 TMG.
Fonte: DAS/INPE (2006)
Durante este período ocorreu a presença de dois sistemas
frontais sobre o estado, entre os dias 12 e 16/09, que foi
indicado pelo modelo registrando áreas de muito baixo
(2 e 3) e baixo (4) Índice de Haines (Figura 6). O dia de
menor ocorrência de queimadas foi 02/09/2003, com 13
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
138
focos em todo o estado, e em 13/09/2003 ocorreu a maior
incidência, 161 focos durante a primeira quinzena do mês,
totalizando 1.021 queimadas em todo o estado.
Analisando-se a média espacial da distribuição
do Índice de Haines para o estado de Minas Gerais
entre os dias 01 e 15, verificou-se que na região norte
da mesorregião de Jequitinhonha e praticamente toda
a mesorregião de Mucuri o modelo indicou o Índice
de Haines com valores muito baixo e baixo (2 e 3). No
sul e leste do estado o modelo indicou valores de baixos
riscos (4). Na faixa central do estado os valores ficaram
em moderado risco (5) e na faixa norte do Triângulo
Mineiro, Central Mineira, Noroeste e centro-oeste da
mesorregião do norte de Minas Gerais o modelo indicou
valores de alto risco (6) (Figura 7).
A segunda quinzena foi o período mais crítico,
pois o número de queimadas aumentou
consideravelmente, e o modelo acompanhou o
desenvolvimento, sendo que os dias mais críticos ficaram
entre os dias 22 e 28/09 (Figura 8, Tabela 1).
O modelo indicou áreas de alto risco na faixa centrooeste do estado. No dia 25/09/2003, o modelo indicou
o dia mais crítico, em praticamente todo o estado havia
valores de alto risco de desenvolvimento de queimadas,
LEMOS, C.F. et al.
IH (6), com valores registrados pelos satélites NOAA12 e 16, totalizando 920 focos de calor neste dia.
Durante este período ocorreu a presença de dois
sistemas frontais sobre o estado, principalmente entre
os dias 15 e 16/09, o que foi indicado pelo modelo,
registrando áreas de muito baixo e baixo Índice de Haines
Tabela 2 - Distribuição de queimadas no estado de Minas Gerais
em Setembro de 2003
Dia
N°Queimadas
Dia
N°Queimadas
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
17
13
50
75
76
32
76
32
30
127
34
46
161
38
214
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
84
61
130
77
12
63
429
224
867
920
155
329
60
13
13
Fonte DAS/INPE/NOAA-12 e 16.
Figura 6 - Evolução diária do Índice de Haines entre 01 a 15 de setembro de 2003, sobre o estado de Minas Gerais da análise
da média atmosfera.
Fonte: Lemos (2006).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera
no centro-leste do estado. Somente na região do Norte
de Minas registraram-se valores de moderados riscos
(5) de desenvolvimento de queimadas do IH (Figura
8 e Tabela 2). Totalizaram-se 3.437 queimadas em todo
o estado, com um aumento de 336% em relação à primeira
quinzena. A média de queimadas por dia no estado
foi de 149 focos.
Analisando-se a média espacial da distribuição
do Índice de Haines para o estado de Minas Gerais
entre os dias 16 e 30, verificou-se que na região norte
da mesorregião de Jequitinhonha e praticamente toda
a mesorregião de Mucuri o modelo indicou o Índice
de Haines com valores muito baixo e baixo IH (2 e 3)
(Figura 9).
No centro-leste da mesorregião do Rio Doce,
faixa central da mesorregião de Jequitinhonha e extremo
nordeste da mesorregião norte de Minas Gerais, os
valores ficaram em moderado risco (5) e no restante
do estado de Minas Gerais o modelo indicou valores
de alto risco (6) (Figura 9).
3.5. Reanálise do Mês de Setembro
Com a variação de espaço na magnitude do
gradiente vertical entre 950 hPa e 850 hPa sobre o estado
de Minas Gerais, o Índice de Haines na média atmosfera
indicou as seguintes mesorregiões: As mesorregiões
indicadas pelo modelo em alto risco foram o Triângulo
Figura 7 - Média espacial da distribuição do Índice de Haines
entre 1º e 15 de setembro de 2003.
Fonte: Lemos (2006).
139
Mineiro, nordeste do sul de Minas, oeste das
mesorregiões do oeste de Minas e da região central
e oeste da região norte de Minas. As diferenças de
temperaturas variaram entre a superfície e 850 hPa entre
6ºC a 13ºC na média atmosfera, levando valores de alto
IH (6).
Observou-se que na média atmosfera do mês de
setembro o modelo indicou uma faixa na região central
do estado com IH moderado (5). No centro-leste do
estado o modelo indicou valores no patamar de baixo
(4) IH.
A área mais crítica em que o modelo indicou
altos valores do IH do mês de setembro da reanálise
de 30 anos entre 1968 a 1996 foi o centro-oeste de
Minas Gerais, principalmente no Triângulo Mineiro
(Figura 10).
Durante este trimestre, nos médios níveis ocorre
um “Anel 6”, na região central do Brasil, com maior
intensidade durante o período de segunda quinzena
de agosto a primeira quinzena de setembro. Esta
representação de “Anel 6” é uma área circular que foi
indicada pelo Modelo sobre toda a região central do
País, no qual sua periferia está indicada no centrooeste de Minas Gerais e principalmente no Triângulo
Mineiro - MG (Lemos, 2006).
Assim, as diferenças de temperaturas indicadas
pelo modelo variaram entre a superfície e 850 hPa entre
6ºC a valores superiores a 13ºC na média atmosfera.
A frequência destes valores permanece durante todo
este período caracterizado pelo “Anel 6”. Durante todo
o período na alta atmosfera os índices de Haines
permaneceram muito baixos em todo o país, com Índice
de Haines de 2 e 3.
O escoamento atmosférico médio à superfície sobre
a América do Sul e Oceanos circunvizinhos mostra
a presença dos Anticiclones Semiestacionários do
Atlântico Sul e do Pacífico Sul, responsáveis, em grande
parte, pelas condições de tempo sobre o Continente
Sul Americano, uma vez que exercem influência
destacável na penetração das massas de ar tropicais
úmidas e polares. Suas posições e intensidade
modificam-se ligeiramente entre os períodos de verão
e o inverno (Lemos, 2006). O Anticiclone do Atlântico
Sul (AAS) destaca-se pelo papel que desempenha
sobre o clima do Brasil. Durante estes meses (agosto,
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
140
LEMOS, C.F. et al.
Figura 8 - Evolução diária do Índice de Haines entre 16 a 30 de setembro de 2003, sobre o estado de Minas Gerais da análise
da média atmosfera.
Fonte: Lemos (2006).
setembro e outubro), o Anticiclone Semiestacionário
do Atlântico Sul inibe a formação de nuvens sobre
a região em que está atuando causando subsidência,
deixando a região, em questão, com céu claro com
poucas nuvens, os ventos sopram do seu centro para
a sua extremidade e seu centro possui pressões
atmosféricas superiores às suas extremidades (Lemos,
2000).
Figura 9 - Média espacial da distribuição do Índice de Haines
entre 16 e 30 de setembro de 2003.
Fonte: Lemos (2006).
Durante este período, este sistema reinicia o
deslocamento para leste, isto é, na direção do Atlântico,
cuja periferia encontra-se sobre a região central do
Brasil favorecendo a ligeira pequena intensificação
dos ventos sobre esta região e áreas; com isto, os
Índices de Haines durante este período indicam valores
de moderado (5) a alto (6) em toda a periferia deste
sistema, principalmente na face oeste da Alta Subtropical
do Atlântico (AAS) que está atuando sobre o centrooeste do estado de Minas Gerais.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera
141
3.6. Análise gráfica comparativa do número de
queimadas ocorridas com áreas indicadas pelo Índice
de Haines em porcentagem (%) sobre o estado de
Minas Gerais em setembro de 2003
Verificamos que durante todo o mês de setembro
o modelo indicou áreas de moderado risco no estado,
para os dias 06 e 11/09, dias 14 e 15/09, e entre os dias
21 e 29/09 o modelo indicou altos riscos de
desenvolvimento de queimadas.
Na análise da média atmosfera entre os níveis de
850 hPa e 700 hPa sobre as áreas de moderado risco
(5), a diferença de temperatura obteve valores acima
de 4ºC para o índice de estabilidade e valores acima
de 6ºC para a depressão psicrométrica (Porter, 2001).
Figura 10 - Média da reanálise do mês de setembro do Índice
de Haines.
Fonte: Lemos (2006).
No campo da análise destacou-se o dia 25/09/
2003, pois verificamos que o modelo indicou que
95% do estado estaria em condições de altos riscos
de desenvolvimento de queimadas, IH (6), e foi
justamente o dia em que ocorreu a maior incidência
de queimadas no estado, com 920 pontos de focos
de calor (queimadas) detectados pelo satélite NOAA12 e 16 (Figuras 8 e 11).
Figura 11 - Número total diário de queimadas no Estado de Minas Gerais associado à porcentagem (%) de áreas indicadas
pelo modelo com valores de moderado (5) e alto Índice de Haines (6).
Fonte: INPE/DAS/NOAA -12 e 16 (Lemos, 2006).
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12
142
LEMOS, C.F. et al.
4. CONCLUSÕES
Nas análises aqui apresentadas, as linhas de
corrente e dos Índices de Haines (IH) representaram
resultados satisfatórios e objetivos em indicar as áreas
mais críticas e favoráveis ao desenvolvimento de
queimadas no estado de Minas Gerais associadas à
climatologia.
O mês de setembro é o mais crítico no
desenvolvimento de queimadas e de altas concentrações
de valores dos Índices de Haines (IH), principalmente
em sua segunda quinzena. Os mapas indicaram altos
valores entre os dias 22 e 28/09, quando o número de
queimadas aumentou consideravelmente; o modelo
acompanhou o desenvolvimento, principalmente sobre
a mesorregião do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha
(Figura 11).
Verificou-se que sobre estas áreas de altos riscos
as diferenças de temperaturas médias obtiveram valores
acima de 11ºC para os índices de estabilidades, e valores
acima de 13ºC para as depressões psicrométricas.
O dia 25/09/2003 foi considerado o dia mais
crítico deste mês. O modelo indicou 95% das áreas
do estado com índice de Haines (6) com altos riscos
de desenvolvimento de queimadas. Paralelamente
ocorreu o maior número de queimadas com 920 casos
(Figura 11).
Analisando-se a evolução diária dos focos de calor
entre os anos de 1995 e 2002, (dados disponíveis sobre
o Brasil - INPE/DAS) confirmou-se que o período mais
crítico foi considerado o mês de setembro, confirmado
pelo modelo e pelos Índices de Haines apresentados
neste estudo.
As análises revelaram variações significativas nas
características climatológicas do índice de Haines entre
as camadas e dentro das três camadas variantes de
elevação.
Adicionalmente, são vistas como variações intraanuais importantes para um determinado local. Estas
variações oscilaram na média esperada, associada à
climatologia do Brasil, pois o modelo indicou que o
mês de setembro seria o mais crítico do ano em relação
à propagação de queimadas.
Os cálculos modelares acompanharam a evolução
e a oscilação comportamental geral das queimadas no
decorrer do mês, principalmente quando aumenta o
número de queimadas no estado na segunda quinzena
do mês.
Finalmente, a análise diária da média atmosfera
do Índice de Haines indicou as áreas mais críticas a
serem gerenciadas através do Índice de Haines, o centrooeste e o nordeste do Estado, que auxiliará como linha
base de avaliações históricas e mudanças futuras no
potencial de distribuição das queimadas no estado,
direcionando estas necessidades para o gerenciamento
e monitoramento, principalmente no controle das
queimadas.
Os dados estatísticos demonstraram que o número
total diário de queimadas no estado de Minas Gerais
associado à porcentagem (%) de áreas indicadas pelo
modelo com valores de moderado (5) e alto Índice de
Haines (6) acompanharam o desenvolvimento das
queimadas, principalmente na segunda quinzena do
mês.
O modelo indicou localidades consideradas
importantes para o uso operacional do Índice de Haines.
As análises demonstraram características substanciais
das variações climatológicas do Índice de Haines na
média atmosfera.
Assim, este estudo teve como objetivo validar
o modelo e indicar o mês de setembro de 2003, o dia
e as áreas mais críticas de alto e moderados riscos
de queimadas. Em um histórico climatológico modelar
associadas às condições gerais da atmosfera com o
período de maior freqüência de queimadas no Estado
de Minas Gerais.
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144
BARROS, de K.O. et al.
O ESTADO DA ARTE DA DESERTIFICAÇÃO: ANÁLISE DOS PRINCIPAIS
PERIÓDICOS DA ÁREA DE SENSORIAMENTO REMOTO
Kelly de Oliveira Barros1,3, José Marinaldo Gleriani2,3, Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro2,3, Elias
Silva2,3
RESUMO – Foi realizada uma pesquisa para identificaçãor as metodologias q ue vêm sendo aplicadas
no estudo da desertificação assim como a frequência com que trabalhos sobre esta temática estão sendo
publicados. O Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – S BSR e cinco revistas internacionais:
Remote Sensing of Enviroment, Photogrammetric Engineering and Remote Sensing, International Journal
of Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing e International Journal of
Applied Earth Observ ation and Geo information foram escolhidos para a triagem. Foram encontrados
24 artigos que trataram da desertificação no SBSR. Neste evento de stac ou-se o ano de 2010, qu ando
foram identificados 10 trabalhos com a temática. Na análise das revistas foram registradas 31 publicações,
e o maior número de trabalhos publicados também ocorreu em 2010, com cinco documentos. Destaque
para a International Journal of Remote Sensing, com o maior número de trabalhos sobre a desertificação,
18. Percebeu-se uma carência ainda no âmbito de publicações internacionais em revistas sobre o processo
da desertificação. Ressalta-se que a revista Photogrammetric Engineering and Remote Sensing não apresentou
nenhum trabalho sobre o processo. As metodologias adotadas foram variadas e inovadoras, especialmente
nos trabalhos publicados nas revistas. Pode-se perceber que a utilização do índice de vegetação (NDVI),
seja de maneira individual ou complementar ao trabalho, foi uma metodologia que se destacou em número
dentre as demais. No entanto, notou-se a falta de uma abordagem multidisciplinar para se estudar o
processo. Porém, foi possível perceber que tanto o estudo da desertificação quanto o uso de geotecnologias
para este fim, está e m franco c res cime nto.
Palavras-chave: Degradação da terra, geotecnologias, revistas internacionais, Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
Remoto
DESERTIFICATION STUDIES USING REMOTE SENSING TECHNIQUES: A
FRAMEWORK AND STATE-OF-THE-ART SURVEY
ABSTRACT – A research was carried out to identify the methodologies that have been applied in the study
of desertification as well as how often papers on this subject are being published. The Brazilian Symposium
of Remote Sensing - BSRS and five international journals: Remote Sensing of Environment, Engineering
Photogrammetric and Remote Sensing, International Journal of Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscience
and Remote Sensing, and International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation were chosen
for the triage. Twenty four articles addressing desertification were found in BSRS. In the 2010 edition of
this symposium, 10 papers in this theme were identified. Concerning to the analysis of magazines, 31 publications
were recorded, and the largest number of publications also occurred in 2010, with five documents. The International
Journal of Remote Sensing stood out, with 18 papers on desertification. It was noticed still a lack of publications
in international journals concerning to the process of desertification itself. It must be emphasized that no
publication on this matter was found on the Photogrammetric Engineering and Remote Sensing magazine.
Mestranda em Ciência Florestal - UFV. *Autor correspondente: [email protected].
Professor do Departamento de Engenharia Florestal - UFV.
3
Universidade Federal de Viçosa, Campus Universitário, s/n, Viçosa, Minas Gerais, CEP 36570-000.
1
2
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.144 -150, Julho, 20 12
O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento... 145
A broad range of innovative methodologies were identified, especially in the works published in magazines.
One can see that the vegetation index (NDVI), either individually or as an ancillary information, was largely
adopted. However, it was noted the lack of a multidisciplinary approach to study the process. Furthermore,
it was revealed that both the study of desertification and the use of geo-technologies for this purpose is booming
promising avenue.
Key Words: Brazilian Symposium of Remote Sensing, geotechnologies, international journals, land degradation.
1. INTRODUÇÃO
A Organização das Nações Unidas (ONU) conceitua
desertificação como “a degradação da terra nas áreas
áridas, semiáridas e sub-úmidas secas, resultante de
vários fatores, entre eles, as variações climáticas e
as atividades humanas”. Por “degradação da terra”
entende-se a deterioração do solo, dos recursos
hídricos, da vegetação, da qualidade de vida da
população e perda da biodiversidade (Brasil, 1998).
Dentre as várias causas deste processo apontam-se
a exploração intensiva da terra pela agricultura e o
pastoreio (Lu et al., 2009).
Caracterizada como um impacto ambiental, a
desertificação é considerada por pesquisadores,
ambientalistas e pelo poder público como um dos mais
graves problemas ambientais da atualidade, com reflexo
em várias áreas, como a ambiental, a econômica e a
social (Brasil, 1986; Barros et al., 2008).
No Brasil, apontam-se o nordeste e a região norte
de Minas Gerais como as áreas de susceptibilidade
à desertificação no país, devido à ocorrência do clima
semiárido e também do sub-úmido seco. Porém, a
desertificação não é recorrente apenas no Brasil. Este
processo afeta direta ou indiretamente mais de 100
países, de quase todos os continentes, exceto a Antártica
(Brasil, 1998; Brasil, 2005; Pachêco et al., 2006).
Vários pesquisadores no país contribuíram no estudo
da desertificação destacando-se os trabalhos de:
Suertegaray (1987, 1996, 1998), Ab’Saber (1977),
Vasconcelos Sobrinho (1974, 1978, 1978), Conti (1985,
1986, 1993, 1994, 2008), Matallo (1992, 1996, 1999) e
Matallo Júnior (2000, 2001, 2003). Ressalta-se a
transdisciplinaridade deste processo, o que implica
a necessidade de integração de profissionais de diferentes
áreas para seu estudo (Matallo Júnior, 2001; Barros
et al., 2008; Soares, 2011).
Mesmo tomando grandes proporções, considerase que, até hoje, apesar de uma gama de estudos sobre
tal temática, a desertificação ainda é alvo de controvérsias
metodológicas e conceituais. Como consequência, esta
situação vem a prejudicar o direcionamento de políticas
públicas e demais projetos para as áreas afetadas ou
que apresentam susceptibilidade à desertificação
(Rodrigues, 2000; Saadi, 2000; Matallo Júnior, 2001;
Barros et al., 2008).
De maneira geral, tem-se observado uma crescente
aplicação de geotecnologias nos estudos dos recursos
naturais, seja no âmbito dos impactos ambientais, seja
para conservação ou preservação do meio ou mesmo
para realização de estimativas e monitoramentos de
processos. No caso da desertificação, tal realidade
não é diferente, sendo possível avaliar e analisar, de
maneira espacial e temporal, este processo com o uso
de tais técnicas (Carvalho e Almeida-Filho, 2007; Lopes
et al., 2009; Lu et al., 2009; Wu, et al., 2010; Bezerra,
2011; Alves Sobrinho, 2011; Ribeiro, 2011).
Os Sistemas de Informações Geográficas – SIG
– que, juntamente com as ferramentas do Sensoriamento
Remoto – SR – compõem o Geoprocessamento, possuem
características ímpares para justificar tal fato, já que
oferecem respostas rápidas, atualizadas, precisas e
objetivas sobre o que é estudado (Silva et al., 2004;
Goldani e Cassol, 2008). No âmbito da desertificação,
estas tecnologias podem ser combinadas com diversos
outros tipos de dados e desta forma podem não apenas
combater o processo, mas também sensibilizar as
autoridades responsáveis diante desta realidade (Geerken
et al., 2004).
Neste contexto, pretende-se, por intermédio
da análise de trabalhos da área do sensoriamento
remoto , conhecer o atual cen ário de estudo da
desertificação. Objetiva-se fazer um levantamento
a respeito das metodologias que vêm sendo aplicadas
para tal, assim como verificar a frequência com que
trabal hos relacio nados com esta temática são
publicados.
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BARROS, de K.O. et al.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Tomou-se como referência o Simpósio Brasileiro
de Sensoriamento Remoto – SBSR e as seguintes revistas:
Remote Sensing of Environment, Photogrammetric
Engineering and Remote Sensing, International Journal
of Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscience
and Remote Sensing e International Journal of Applied
Earth Observation and Geoinformation. Tais escolhas
foram baseadas no caráter relevante deste evento no
âmbito nacional, assim como das revistas no âmbito
internacional, todos na área do sensoriamento remoto.
Foram utilizados como critérios de seleção, na triagem
dos trabalhos, os seguintes termos: desertificação,
desertificadas, “desertification”, “desertified”.
No caso do SBSR, tais termos foram identificados
apenas nos títulos dos trabalhos, enquanto que nas
revistas foram observados não apenas os títulos, mas
também a presença dos termos “desertification” ou
“desertified” no abstract, keywords plus e no author
keywords. Pelo fato de a análise ter sido ampliada nas
revistas, observou-se também se a metodologia estava,
de fato, atrelada à desertificação; caso contrário, o
trabalho foi desconsiderado.
Todas as edições do SBSR participaram do processo
de seleção, o que perfaz um total de 14 edições, desde
1978. Os anais de todas as edições do SBSR estão
disponíveis na biblioteca digital do simpósio. Para a
análise dos artigos das revistas foi definido um período
de 10 anos, entre 2000 e 2010, e a pesquisa foi feita
através do site da “Web Science”.
Após a triagem dos trabalhos, realizou-se uma
primeira identificação das metodologias utilizadas no
estudo da desertificação, através da leitura de todos
os abstracts.
Percebeu-se que, no caso do SBSR, existia a
possibilidade de agrupar algumas metodologias, tanto
porque se repetiam quanto para não deixá-las com um
caráter muito específico. Tal decisão simplificou a
posterior classificação. Um código foi dado a cada
grupo das metodologias encontradas nos trabalhos
do SBSR e, em seguida, os trabalhos listados foram
classificados de acordo com seu código correspondente.
Já no caso das revistas, devido à maior variedade de
metodologias, optou-se por não efetuar tamanha
simplificação, tratando-se, na maioria das vezes, a
metodologia de maneira individual.
No caso do SBSR, após tal classificação foram
elaborados gráficos utilizando o programa Excel® para
ilustrar quais metodologias foram empregadas e suas
respectivas frequências, assim como um gráfico que
indicasse a frequência de publicações dos trabalhos
que abordavam a desertificação. As revistas foram tratadas
em um único grupo na elaboração de dois gráficos:
um para ilustrar o número de trabalhos apresentados
por cada revista e um segundo para apontar o número
anual de trabalhos publicados sobre a desertificação.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No SBSR foram encontrados 24 trabalhos nas
seis últimas edições. Como pode ser observado na
Figura 1, apenas em seis das 14 edições foram detectadas
abordagens sobre a desertificação - edição de 1998,
com um único trabalho; em 2001, com três publicações;
em 2003, com dois trabalhos; em 2005, com três trabalhos;
em 2007, com cinco trabalhos e, em 2009, com dez. Pôdese perceber que a abordagem sobre a desertificação,
neste evento, foi bastante tardia, uma vez que sua primeira
edição ocorreu em 1978 e apenas a partir de 1998 o tema
desertificação foi contemplado. De 1978 a 1996 aconteceram
oito edições, enquanto de 1998 até 2009, seis.
No que se refere às metodologias empregadas no
SBSR, pôde-se perceber que duas foram igualmente
empregadas, com oito trabalhos utilizando cada uma
delas. Uma relaciona-se ao mapeamento e classificação
da área de estudo, com averiguação em campo, com
uma única cena. A outra metodologia é a análise
multitemporal com o emprego do índice de vegetação
ou não. Este valor representa 34% dos trabalhos
analisados para cada metodologia.
Figura 1 - Número de trabalhos identificados por edição no
SBSR.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.144 -150, Julho, 20 12
O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento... 147
Outra metodologia identificada e adotada em
quatro trabalhos foi a modelagem e utilização de
imagens para localização/interpretação das áreas
degradadas e posterior confirmação em campo. Este
número representa 16% dos trabalhos analisados.
As outras duas metodologias, a que emprega o índice
de aridez e aquela que utiliza a variação do albedo
do solo para estudo da desertificação. foram
detectadas em dois trabalhos cada, o que perfaz o
valor de 8% para cada método. Estes valores
relacionados às metodologias empregadas podem
ser observados na Figura 2.
Deve-se ressaltar que, na quarta edição do SBSR,
de 1986, que correu na cidade de Gramado, foi encontrado
um trabalho intitulado “Identificação e mapeamento
de áreas de desertificação no Rio Grade do Sul – dados
preliminares”. Tal publicação não foi levada em
consideração na contagem e análise da metodologia
utilizada para estudo do processo de desertificação
abordado. Justifica-se a não contabilização de tal trabalho
em razão de hoje, e desde o ano de 1987, o processo
de degradação da terra no sudoeste do Rio Grande
do Sul ser denominado de arenização e não mais
desertificação.
Na análise da revista Remote Sensing of
Environment foram encontrados seis trabalhos (Figura
3). Com apenas uma publicação em cada ano - 2001,
2004, 2005, 2008, 2009 e 2010 - as metodologias
identificadas foram: modelagem envolvendo a
evapotranspiração; produção de biomassa relacionada
com a quantidade de chuva; utilização da escala de
produção líquida (LNS); utilização de imagens de satélite
para detectar e mapear características relacionadas à
biologia do solo; análise temporal do índice de vegetação
(NDVI) e correção atmosférica e cálculo da emissividade
para melhorar a estimativa da temperatura da superfície
terrestre (LST).
De ntr e as publicaç ões da re vista IEEE
Transactions on Geoscience and Remote Sensing,
encontraram-se três trabalhos (Figura 3) a respeito
da desertif icação; cada trabalho utilizou um
procedimento metodológico diferente. Duas publicações
ocorreram em 2003 e as seguintes metodologias foram
empregadas - análise de transformações espectrais:
índice de vegetação, derivada espectral, albedo, modelo
linear e mistura espectral e a comparação dos satélites
AVIRIRS e o EO-1 Hyperion para coberturas do solo.
Já em 2007, a metodologia identificada no estudo da
desertificação foi a seleção dos melhores indicadores
ecológicos para tal.
Figura 2 - Metodologias identificadas no SBSR e a frequência
de trabalhos para cada uma delas.
Na revista International Journal of Applied Earth
Observation and Geoinformation foram encontrados
quatro trabalhos (Figura 3). Três destes foram publicados
no ano de 2010 e apenas um em 2005. Mais uma vez
as metodologias aplicadas não se repetiram em nenhum
trabalho. No ano de 2010 as três metodologias
identificadas foram: integração de dados de solos,
geologia e modelo digital de elevação; interpretação
de imagens e classificação relacionada com as mudanças
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climáticas e mapeamento de áreas degradadas através
de uma análise multitemporal de imagens. No trabalho
de 2005 a metodologia utilizada foi a análise das alterações
nas respostas espectrais do solo.
A revista International Journal of Remote Sensing
apresentou 18 trabalhos (Figura 3) com um dos termos
utilizados como critério de seleção. No período definido
de análise, de 2000 a 2010, apenas no ano de 2003 não
se identificou qualquer trabalho que abordasse a temática
em questão. Foram identificados trabalhos por ano
na seguinte frequência: em 2000, 2001, 2002 e 2008 foram
dois trabalhos; nos anos de 2005, 2007, 2009 e 2010
um único trabalho foi identificado e 2004 e 2006
apresentaram três trabalhos cada.
BARROS, de K.O. et al.
observada na Figura 4. Como pode-se perceber, os
anos de 2000, 2002, 2003, 2007 e 2009 apresentaram
apenas dois trabalhos abordando a desertificação. Já
os anos de 2001, 2005, 2006 e 2008 apresentaram três
trabalhos, enquanto que 2004, quatro publicações.
Destaca-se o ano de 2010, que apresentou cinco
trabalhos, apesar de não ser um número que destoe
significativamente dos demais anos que apresentaram
publicações.
Nesta revista, mais uma vez, diferentes e inovadoras
metodologias foram aplicadas - transformações espectrais
no desenvolvimento de um índice e posterior combinação
deste com um índice de vegetação; caracterização da
degradação do solo com base em duas abordagens:
análise de mistura espectral e um conjunto de índices
que descrevem a forma do espectro. As tempestades
de areia/poeira também apareceram como metodologia
de estudo da desertificação, mais precisamente em dois
trabalhos nos anos de 2004 e 2008.
A análise do solo foi bastante abordada no estudo
da desertificação nesta revista, seja a respeito da sua
umidade, do tamanho dos grãos ou da mudança no
seu uso/cobertura. Já a análise multitemporal foi adotada
diversas vezes para indicar mudanças na paisagem,
características termais, transformações espectrais e
principalmente para análise do NDVI. Este índice foi
identificado em inúmeras metodologias para estudo/
identificação/monitoramento da desertificação, seja
abordando-o unicamente no trabalho ou como um dos
índices/indicadores analisados. No que se refere aos
indicadores, estes também foram identificados e estão
relacionados não só com a cobertura vegetal, como
também com a pluviosidade, com a LST, com o escoamento
superficial e a erosão do solo.
Figura 3 - Número de trabalhos identificados por revista analisada.
Na revista Photogrammetric Engineering and
Remote Sensing não foi identificado qualquer trabalho
que abordasse a desertificação (Figura 3).
Após a análise das revistas selecionadas, foi
identificado um total de 31 trabalhos que abordaram
a desertificação. A distribuição da ocorrência dos
trabalhos ao longo da década analisada pode ser
Figura 4 - Número de trabalhos das revistas analisadas por
ano.
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O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento... 149
Percebe-se uma carência ainda no âmbito de
publicações internacionais em revistas sobre o processo
da desertificação, uma vez que apenas uma das revistas
apresentou um número que pode ser considerado
expressivo, 18. Vale lembrar ainda que uma das revistas
analisadas não apresentou nenhum trabalho que
abordasse a temática em questão.
Apesar da variedade de metodologias utilizadas
no estudo da desertificação, pôde-se observar que
estas ainda aparecem de maneira setorial. Áreas do
saber têm sido analisadas de maneira particular, ou,
quando analisada mais de uma área, a metodologia
ainda não pode ser considerada multidisciplinar o
suficiente para abordar tanto a parte relacionada ao
meio ambiente quanto o lado socioeconômico afetado
pela desertificação. Esta deficiência, no que se refere
a metodologia de estudo da desertificação, tem sido
apontada por inúmeros pesquisadores desde o início
do estudo do processo (Matallo Júnior, 2001), e, como
mencionado, este fato ainda vem ocorrendo, conforme
percebido na análise realizada.
Espera-se que não só em caráter nacional, no caso
com o SBSR, como também a nível internacional, a
discussão da desertificação tenha um caráter crescente.
Tal expectativa justifica-se não só pela necessidade
que esta temática ainda apresenta, relacionada tanto
a questões metodológicas e conceituais quanto pelos
grandes impactos deste processo, mas também pelo
fato de ter sido lançado no ano de 2010 pela ONU a
“Década dos Desertos e de Combate à Desertificação”,
de 2010-2020 (UNCCD, 2010). Espera-se que este
lançamento seja um estímulo às pesquisas deste processo.
4. CONCLUSÕES
Observou-se um número crescente de publicações
a respeito desta temática tanto nas revistas quanto
no SBSR, principalmente neste último. O maior número
de publicações sobre a desertificação nas revistas
ocorreu em 2010 e no SBSR em 2009, os últimos anos
tomados para análise.
Dentre as revistas, a International Journal of Remote
Sensing foi aquela que apresentou um maior número
de publicações a respeito da desertificação, enquanto
que a revista Photogrammetric Engineering and Remote
Sensing não apresentou nenhum trabalho que abordasse
este processo.
No SBSR apontam-se duas metodologias que foram
mais e igualmente empregadas - mapeamento e
classificação da área de estudo para identificação das
áreas degradadas, em uma única data, e a análise
multitemporal, com a utilização do índice de vegetação
ou não.
As metodologias dos trabalhos das revistas
apresentaram caráter inovador e variado. Destaque
para a utilização do índice de vegetação (NDVI) que,
analisado de maneira individual ou como um dos
índices abordados, foi uma metodologia bastante
recorrente.
Tanto na análise dos trabalhos publicados no SBSR
quanto das revistas pode-se perceber que as
metodologias adotadas não têm caráter multidisciplinar.
Em razão do lançamento da ONU para a década
de 2010-2020: “Década dos Desertos e de Combate
à Desertificação” espera-se um maior número de pesquisas
sobre a desertificação assim como também que novas
metodologias sejam desenvolvidas.
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Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica
151
MANEJO DE DEJETOS SÓLIDOS DE POEDEIRAS PELO PROCESSO DE
BIODIGESTÃO ANAERÓBICA
Haroldo Wilson da Silva1, Kléber Pelícia2
RESUMO – As indústrias avícolas de poedeiras, além de ovos, geram anualmente um grande volume de resíduos
na forma de esterco. O esterco de ave poedeira é o principal resíduo gerado na indústria de produção de ovos
e requer uma infraestrutura para o tratamento adequado. Sendo assim, o objetivo desta revisão visa abordar
o manejo de resíduos sólidos de poedeira, em particular com o uso do biodigestor como forma de minimizar
os impactos ambientais negativos causados pela atividade avícola. Nesse sentido, ressalta-se que a biodigestão
anaeróbica ajuda a minimizar os impactos negativos que são gerados ao meio ambiente, reduzindo assim os
riscos ambientais e melhorando a qualidade de vida. Salienta-se, todavia, que, existem casos ainda em que estes
resíduos têm sido utilizados como fertilizantes, mas sem prévio tratamento e controle sanitário antes da aplicação
no solo. Os dejetos de aviários apresentam o potencial de ser tanto um recurso como um poluente. Em resumo,
sob o aspecto das práticas adequadas de manejo dos resíduos, o biodigestor é uma alternativa para o tratamento
do esterco de ave poedeira. Conclui-se que o manejo e tratamento de resíduos sólidos de poedeiras pelo processo
de biodigestão anaeróbica representa uma forma ambientalmente recomendável.
Palavras-chave: : Aves, biodigestão, biodigestor, meio ambiente.
LAYERS SOLID WASTE MANAGEMENT BY ANAEROBIC DIGESTION PROCESS
ABSTRACT – The poultry industry of hens, and eggs, annually generate a large volume of waste in the form
of manure. The hen bird dung is the main waste generated in the production of eggs and requires an infrastructure
for proper treatment. Therefore, the aim of this review is to address the management of solid waste of hen,
in particular using the digester in order to minimize negative environmental impacts caused by the poultry
activity. In this sense, it is noteworthy that the anaerobic digestion helps to minimize the negative impacts
that are generated to the environment, reducing environmental risks and improving quality of life. It should
be noted, however, that there are cases in which these residues have been used as a fertilizer, but without
prior treatment and management prior to application to the soil. The poultry manure has the potential to
be both a resource and a pollutant. In summary, under the aspect of good practice of waste management,
the digester is an alternative for the treatment of the hen bird dung. It is concluded that the management
and treatment of solid waste in the process of laying anaerobic digestion is environmentally desirable.
Key Words: Birds, digestion, digester, environment.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, o impacto ambiental das práticas
tradicionais de tratamento de resíduos sólidos tem
motivado a busca de tecnologias e de infraestrutura
compatíveis com o desenvolvimento sustentável e a
qualidade de vida.
1
2
Indispensável é, portanto, a conscientização dos
produtores sobre os impactos causados pela geração
de resíduos e sobre a importância da aplicação de técnicas
de manejo de dejetos. Esse princípio, entretanto, não
é absoluto, e a responsabilidade pela implementação
de técnicas voltadas à minimização de impactos
Mestrando do Programa de Pós-Graduação da UNIFENAS - Alfenas/MG - E-mail: [email protected]
Docente do Programa de Pós-Graduação da UNIFENAS - Alfenas/MG.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12
152
ambientais não deve ser atribuída exclusivamente ao
produtor rural.
Não podemos, todavia, deixar de reconhecer que
o Brasil se destaca na área de combustíveis alternativos,
seja com o biodiesel ou o biogás. O biogás contribui
como uma fonte extremamente viável, já que a sua
fabricação provém de materiais orgânicos, podendo
ser de lixo urbano, esgoto, esterco bovino, suíno ou
qualquer outro material biodegradável. Em razão disso,
sob o aspecto das práticas adequadas de manejo dos
resíduos, o biodigestor é uma alternativa para o tratamento
do esterco de ave poedeira.
Há, no entanto, que enfatizar que os dejetos
produzidos com a criação de aves poedeiras são mais
comumente reciclados pelo emprego da biodigestão
anaeróbia do que da compostagem.
É preciso, porém, acrescentar o tratamento de
resíduos de origem animal por meio da digestão anaeróbia,
configurando-se como uma atividade economicamente
apreciável para os produtores, levando em consideração
a produção de biogás, por ser uma fonte de energia
renovável possível de ser aproveitada na própria atividade
agrícola em substituição a outras fontes energéticas,
reduzindo os custos de produção (Steil, 2001).
Diante do exposto, objetivou-se descrever
informações sob o manejo de resíduos sólidos das
indústrias avícolas de postura, em particular com o
uso do biodigestor.
1.1. A importância do manejo dos resíduos sólidos de
poedeiras
A preocupação com a preservação ambiental e
com as consequências dos impactos ambientais para
o futuro, não é coisa recente em nossa história. Nas
últimas décadas, as questões ambientais têm sido
discutidas, pesquisadas e submetidas aos mais diversos
sistemas legais em todo o mundo com o objetivo principal
de resgatar a qualidade de vida no planeta.
Salienta-se, todavia, que a sociedade vem passando
por um processo de transformação quanto à forma de
pensar e agir com relação ao meio ambiente. Várias
empresas estão convertendo seus processos produtivos
através de novas ferramentas com tecnologia avançada,
econômica e ecologicamente correta, atuando de maneira
a preservar e reestruturar o meio ambiente, passando
a ser um diferencial no mercado (Zanin et al., 2010).
SILVA, da H.W. & PELÍCIA, K.
É preciso, porém, acrescentar que a responsabilidade
pela execução de técnicas voltadas à redução de impactos
ambientais (emissão de gases e nutrientes) e
racionalização de uso da energia (aproveitamento não
só da biomassa gerada na forma de resíduo, como também
de nutrientes impactantes que carregam energia primária
e poluem), não pode ser atribuída diretamente ao produtor
rural, mas às ações governamentais fortalecendo os
setores de educação, ciência, extensão e crédito, voltados
à área (Lucas Jr. & Amorim, 2005).
Não podemos, todavia, deixar de reconhecer que
a questão ambiental passa a ser vista sob a ótica da
impossibilidade de se associar o desenvolvimento de
uma nação sem elevar significativamente o uso de água
e energia e a produção de resíduos, agravando-se o
aspecto relativo ao aumento de poluição. Devido a
isto, os diversos setores da produção animal começam
a se mobilizar para atender a dois requisitos com o
intuito de que seus produtos possam competir e para
que tenham boa aceitação no mercado: questões legais
e a exigência de mercado interno e externo (Lucas Jr.
& Amorim, 2005).
Em face do texto legal, a Constituição Federal prevê
que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, sendo imposto ao Poder Público e à
coletividade o dever da sua preservação para as gerações
futuras. O inciso IV do Art. 225 cita que para a instalação
de qualquer obra ou atividade potencialmente causadora
de expressiva degradação do meio ambiente, devese exigir um estudo prévio ambiental.
Esse princípio, entretanto, não é absoluto, o meio
ambiente em razão dos grandes impactos ambientais
causados pelas diversas empresas vem sofrendo
agressões constantes e, em decorrência disso, o ser
humano acaba colocando em risco sua própria existência.
Em consequência, os resíduos gerados na produção
animal constituem-se em substratos complexos contendo
matéria orgânica particulada e dissolvida, elevado número
de componentes inorgânicos, bem como alta
concentração de microrganismos patogênicos, todos
de interesse na questão ambiental (Steil, 2003).
A indústria avícola contribui significantemente
para os impactos ambientais. Os resíduos de aviários
apresentam o potencial de ser tanto um recurso como
um poluente. Quando adequadamente usados
apresentam riscos ambientais mínimos. Por outro lado,
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12
Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica
impropriamente manipulados, irão degradar o ambiente
e causar dificuldades para a condução da atividade
junto à comunidade e para a imagem dos criadores
(Seiffert, 200). Acrescenta-se a isto que todos os dejetos
tornam-se séria ameaça para o meio ambiente quando
mal manejados, pois se trata de um material em
decomposição.
É possível, portanto, afirmar que o poder poluente
dos dejetos animais é extremamente alto, em relação
a seu elevado número de contaminantes, cuja ação
individual ou combinada configura-se uma fonte potencial
de contaminação e degradação do ar, dos recursos
hídricos e do solo. Esta evidência vem exigindo a
execução de parâmetros de emissão cada vez mais
rigorosos pela legislação ambiental, visando à
preservação dos recursos naturais, do conforto e da
saúde humana (Steil, 2003). Segundo Augusto & Kunz
(2009), por causa do alto potencial biogênico dos dejetos,
não é aconselhado o uso no solo sem tratamento. Gases
emitidos e odores formados durante a degradação dos
dejetos são importantes evidências do impacto ambiental
causado.
Do exposto se dá conta que práticas adequadas
de manejo dos resíduos tornam-se essenciais para a
otimização de toda atividade sob as condições de
restrições legais atualmente existentes. Em face disto,
um programa de manejo dos resíduos da avicultura
pode ser considerado como necessário a um programa
de desenvolvimento econômico e ambiental. Segundo
Augusto (2005), no cenário da avicultura de postura
comercial atual brasileira, em particular, inicia-se a
preocupação com seus dejetos devido às novas
tecnologias de instalação que dão ao setor a oportunidade
de aumento no número de aves alojadas e consequente
aumento na produção de dejetos.
Na avicultura de postura, atualmente, predomina
o sistema de produção de poedeiras em gaiolas, e
os resíduos provenientes das aves em gaiolas suspensas
possibilitam melhor tratamento e utilização de dejetos
em geral. Segundo Augusto (2005), o sistema de
produção de poedeiras em gaiolas surgiu em meados
de 1920, trazendo inúmeras vantagens, como menor
número de ovos sujos e quebrados e eliminação do
uso de materiais para cama. É útil, nesse ponto, considerar
que este sistema de exploração sobre o meio ambiente,
se por um lado representa ganho em relação ao manejo,
aumenta a concentração de resíduos sólidos, podendo
153
a falta de estrutura para reter e tratar os dejetos
transformar um problema de gerenciamento particular
em um grande problema ambiental, afetando a todos
diretamente.
Entretanto, a consequência inevitável à
oportunidade do elevado alojamento de poedeiras é
maior geração de dejetos nas propriedades, necessitando
manejos diários, pois altera as características do resíduo.
Estes, dispostos sem prévio tratamento no meio ambiente,
comprometem a qualidade do solo, do ar e da água,
com contaminação dos mananciais pelos microrganismos,
risco de toxidade aos animais e às plantas e depreciação
do produto, porém com percepção em médio e longo
prazo (Augusto et al., 2009).
Todavia, segundo Augusto (2005), muitas são as
formas indicadas de manejo, tratamento e utilização
de dejetos em geral, e a escolha deve levar em conta
a espécie do animal gerador, o sistema de criação,
localização da propriedade, assim como clima e relevo
da região.
Há, no entanto, que considerar que os produtores
de aves precisam planejar e administrar suas operações
de forma segura. Dejetos de aves e aves mortas, se
manejados de forma incorreta, causam problemas
ambientais e criam riscos para a saúde humana e animal.
A criação de um plano de manejo de resíduos é um
importante passo inicial para uma operação avícola
ambientalmente responsável (Seiffert, 2000).
Indispensável é, portanto, que o manejo de dejetos
tenha destaque na atualidade como uma preocupação
a mais dos produtores do setor, envolvendo qualidade
e comércio, bem como interferindo nos custos de
investimento e retorno, pois estes são fatores relevantes
na produção lucrativa de aves. Com isso, a produção
de dejetos deve ser gerenciada como parte importante
dentro do processo produtivo e nunca deve ser
negligenciada, pois poderá se tornar um grande passivo
do empreendimento (Augusto & Kunz, 2009).
Em resumo, as questões ambientais provocam cada
vez mais interesse e preocupação em todos que se
envolvem com a atividade avícola, uma vez que os
dejetos de poedeiras comerciais têm potencial para
gerar danos ambientais se não forem devidamente
tratados. Acrescenta-se que uma forma de tratamento
dos dejetos de aves poedeiras é o biodigestor, que
poderá ser projetado com o objetivo principal de
atendimento à conservação ambiental.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12
154
SILVA, da H.W. & PELÍCIA, K.
1.2. A utilização de biodigestores para redução de
dejetos sólidos de poedeiras
final inadequada destes dejetos (Tarrento & Martinez,
2006).
A biodigestão anaeróbia é o processo biológico
no qual a matéria orgânica é degradada, em condições
anaeróbias e na ausência de luz, até a forma de metano
(CH4) e dióxido de carbono (CO2). Essa mistura de gases
é denominada de biogás e pode ser coletada e usada
como energia em substituição aos combustíveis fósseis,
diminuindo o impacto ambiental causado tanto pela
utilização dos combustíveis fósseis quanto pela emissão
do CH4 e CO2 na atmosfera.
A utilização dos biodigestores no meio rural merece
destaque devido aos aspectos de saneamento e energia,
além de estimularem a reciclagem orgânica e de nutrientes.
A questão do saneamento ocorre no momento em que
isolam os resíduos do homem e dos animais,
possibilitando diminuição de moscas e odores, permitindo
também a redução das demandas química e bioquímica
de oxigênio e de sólidos, tornando mais disponíveis
os nutrientes para as plantas (biofertilizante),
encontrando-se em algumas referências a redução de
parasitas e patógenos do homem e dos animais (Lucas
Jr. & Santos, 2000).
De relevância para a área de saneamento ambiental,
verifica-se que através do processo de biodigestão
anaeróbia torna-se possível obter resultados que
demonstram a redução de impacto não somente pela
redução dos sólidos existentes nos biodigestores, mas
também pela redução de microrganismos de presença
indesejável nos efluentes por possuírem caráter
patogênico (Lucas Jr. & Santos, 2000).
Acrescenta-se que a biodigestão anaeróbia é uma
das formas usadas no tratamento de resíduos sólidos
ou líquidos, promovendo a redução do poder poluente
dos dejetos, tendo como subproduto, além do biogás,
o biofertilizante. Na prática, a produção de biogás é
possível com a utilização de um equipamento denominado
biodigestor. De acordo com Tarrento & Martinez (2006),
o biodigestor constitui-se de uma câmara fechada onde
é colocado o material orgânico, em solução aquosa,
para sofrer decomposição, gerando o biogás que irá
se acumular na parte superior da referida câmara. Os
biodigestores utilizados no meio rural classificam-se
em dois grupos: os que precisam ser abastecidos com
substrato diariamente, chamados biodigestores
contínuos, e os que são abastecidos uma única vez,
os biodigestores de batelada.
Para Zanin et al. (2005), o biodigestor, ao ser
implantado em uma propriedade rural, ocasiona benefícios
para o produtor e para o meio ambiente, que atualmente
devido à degradação vem sofrendo impactos negativos,
o que afeta a qualidade de vida dos seres humanos.
É possível, portanto, afirmar que o biodigestor apresentase como uma alternativa interessante, levando em
consideração que os resíduos gerados na agricultura
são de responsabilidade do próprio gerador. O processo
de biodigestão contempla o conceito de reciclagem
destes resíduos, bem como a própria redução dos
impactos ambientais provocados por uma disposição
A geração de dejetos é um fenômeno inevitável
e que ocorre diariamente no âmbito da exploração animal,
em particular na avicultura de postura, sendo que esses
resíduos constituem, se não forem manejados e tratados
corretamente, ameaça ao meio ambiente. Segundo Augusto
(2005), as primeiras ações a serem tomadas são a
quantificação e a caracterização dos dejetos. A
quantificação é de extrema importância, pois implica
no direcionamento do manejo a ser adotado, enquanto
que com a caracterização do dejeto podem-se tomar
decisões mais racionais com relação a sua aplicação.
De um modo geral, a reciclagem dos resíduos no meio
rural é passiva de realização com a finalidade de reciclagem
em energia ou reciclagem orgânica e de nutrientes.
A reciclagem energética de resíduos pode ser feita com
o objetivo de geração de calor ou de gás combustível
(Lucas Jr. & Santos, 2000).
Há, no entanto, que considerar que os dejetos
produzidos com a criação de aves poedeiras são mais
habitualmente reciclados pelo emprego da biodigestão
anaeróbia do que da compostagem. Isto acontece
principalmente pelo elevado conteúdo de umidade dos
dejetos, o que dificulta a condução da compostagem
e dos significativos potenciais de produção de biogás
dos dejetos, quando empregados como substrato da
biodigestão anaeróbia (Lucas Jr. & Amorim, 2005).
Segundo Lucas Jr. et al. (1998), uma poedeira consome
cerca de 110 g de ração por dia, ou seja, 40.150 g de
ração por ano. Considerando-se que a ave excreta cerca
de 30% (MS) do que consome, tem-se uma produção
de 12 kg MS de dejeto/poedeira/ano.
Salienta-se que a forma como predomina a criação
das galinhas e codornas de postura, é imprescindível
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12
Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica
que os biodigestores que se integre ao sistema de
produção possibilitem a operação com cargas diárias.
Uma indicação seria o emprego de biodigestores que
tenham funcionamento similar aos modelos indiano
ou chinês, associando-se, com a eficiência de elevados
rendimentos e baixos custos, tecnologias que permitam
maiores eficiência na degradação do material orgânico,
como aquecimento e agitação do substrato em
fermentação (Lucas Jr. & Amorim, 2005).
Em síntese, é possível afirmar que existe uma
ur ge nte nece ssida de de dese nvolvim ent o de
metodologias capazes de tratar adequadamente os
dejetos, inovando seus processos de exploração animal,
e levando em consideração o grave risco de impactos
ambientais.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A biodigestão anaeróbica dos resíduos da
avicultura é de grande importância, uma vez que permite
não apenas minimizar os problemas de poluição
ambiental, como também oferecer os subprodutos da
biodigestão, o biogás e o biofertilizante, de grande
importância para o setor agrícola. Todavia, o primeiro
e mais importante passo para atenuar o impacto ambiental
da avicultura é o adequado planejamento do manejo
de seus resíduos.
3. LITERATURA CITADA
AUGUSTO, K.V.Z. Manejo de dejetos em
granjas de postura comercial. In:
Trabalho apresentado na Conferência Apinco de
2005 e publicado pela revista Avicultura industrial
n.05, 2005.
AUGUSTO, K.V.Z.; LUCAS JÚNIOR, J.;
MIRANDA, A.P. Redução de volume e peso
durante a compostagem de dejetos de galinhas
poedeiras. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL
SOBRE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE
ANIMAIS, 1., 2009, Florianópolis. Anais [das]
palestras e trabalhos científicos.
Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2009.
155
AUGUSTO, K.V.Z.; KUNZ, A. Tratamento de dejetos
de aves poedeiras comerciais. 2009. Disponível em:
<http://www.alice.cnptia.embrapa.br/ bitstream/doc/
920821/1/tratamentodedejetosdeaves.pdf>. Acesso em
1º de maio de 2012.
LUCAS Jr., J.; SANTOS, T.M.B. Aproveitamento
de resíduos de indústria avícola para produção de
biogás. In: Simpósio sobre Resíduos da
Produção Avícola. Concórdia, SC, 2000.
LUCAS Jr. J.; AMORIM, A.C. Manejo de dejetos:
fundamentos para a integração e agregação de
valor. In: Anais do ZOOTEC’2005. Campo
Grande, MS, 2005.
LUCAS JR., J.; SILVA, F.M.; SANTOS, T.M.B. et al.
Aproveitamento de resíduos agrícolas para a geração
de energia. In: SILVA, M.S.; BRAGA JR., R.A.
Energia, automação e instrumentação.
Poços de Caldas: SBEA/UFLA, 1998. p.63-135.
SEIFFERT, N.F. Planejamento da atividade avícola
visando qualidade ambiental. In: Simpósio
sobre Resíduos da Produção Avícola.
Concórdia, SC, 2000.
STEIL, L.; LUCAS JR., J.; OLIVEIRA, R.A.
Eficiência de reatores anaeróbios modelo batelada
alimentados com resíduos de aves de postura,
frangos de corte e suínos na redução de
coliformes totais e fecais. In: XXII Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental. Joinville, SC, 2003.
TARRENTO, G.E.; MARTINEZ, J.C. Análise da
implantação de biodigestores em pequenas
propriedades rurais, dentro do contexto da produção
limpa. In: XIII SIMPEP. Bauru, SP, 2006.
ZANIN, A.; BAGATINI, F.M.; PESSATTO, C.B.
Viabilidade econômico-financeira de implantação
de biodigestor: uma alternativa para reduzir os
impactos ambientais causados pela suinocultura.
Custos e @gronegócio Online UFRPE, v.6, p.1-161, 2010.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12
156
FÓFANO, de S.O. et al.
ESTRATÉGIAS PARA UM GERENCIAMENTO PARTICIPATIVO DA COLETA
DE RESÍDUOS SÓLIDOS¹
Sâmara de Oliveira Fófano², Rolf Puschmann³, Thais Covre Delboni 4, Alana de Oliveira Pereira
Vilete5
RESUMO – O Projeto Reciclar, visando à destinação adequada dos resíduos sólidos gerados na Universidade
Federal de Viçosa (UFV), realiza atividades de educação, assistência técnica e divulgação da coleta seletiva.
Todos os anos o Projeto indica projetos de extensão ao edital PIBEX. No último ano, atuou no projeto “Ações
Integradas, Participativas e Administrativas na Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos na UFV em 2011”. Os
projetos de extensão voltados para a coleta seletiva são muito importantes para que ela se realize, pois promovem
ações estratégicas de cunho prático com ênfase na educação ambiental, nos diversos setores e departamentos
da UFV. A coleta na Universidade é realizada de forma binária, onde os resíduos recicláveis são separados dos
não recicláveis. Os materiais recicláveis são depositados em sacos azuis e os não recicláveis em sacos pretos;
em seguida, os resíduos são recolhidos pela Divisão de Parques e Jardins e levados à Associação de Trabalhadores
da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa (ACAMARE). O processo se inicia com a criação dos núcleos
em prédios e setores da UFV, onde são distribuídos os coletores seletivos. Essas atividades, e demais relacionadas,
são realizadas por estudantes bolsistas e voluntários que, através de reuniões com chefias, grupos de trabalho,
colegiados e voluntários, planejam a coleta seletiva em seus setores. Para que haja integração entre os membros
e discussões sobre atividades desenvolvidas, são realizadas reuniões semanais internas para planejamento, atualização
e troca de informações sobre as ações. A divulgação do Projeto é feita por meio de palestras, como as realizadas
para os alunos recém-ingressos na UFV, conversas com funcionários da limpeza e técnicos, pelo website da
Universidade e do Projeto (www.projetoreciclar.ufv.br), pelo Facebook e materiais gráficos diversos. A coleta
seletiva tornou-se parte da rotina da UFV; entretanto, apenas cerca de 20% dos resíduos recicláveis estão
sendo destinados de forma adequada, mostrando que ainda temos muito a crescer e reforçando a importância
de um gerenciamento participativo e não apenas operacional.
Palavras-chave: Coleta seletiva, educação ambiental, reciclagem, resíduos sólidos.
STRATEGIES FOR A PARTICIPATORY MANAGEMENT OF SOLID WASTE
COLLECTION
ABSTRACT – The “Reciclar” Project, aiming the proper disposal of solid waste generated at the Federal
University of Viçosa (UFV), conducts educational activities, technical assistance and dissemination of the
selective collection. Every year the “Reciclar” indicates others extension projects to PIBEX, a financial agency
of the University. Last year, it was indicated the project “Ações Integradas, Participativas e Administrativas
na Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos na UFV em 2011”. The extension projects about selective collection
are very important for the performance of this practice, because they promote practical and strategic actions
with emphasis in the environmental education in many sectors and departments of the UFV. The collection
Este trabalho foi realizado no âmbito do PIBEX/2011 pela Pró Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal
de Viçosa (UFV).
² Estudante de Zootecnia; bolsista PIBEX/2011 no Projeto Reciclar/UFV, Viçosa-MG; [email protected]
³ Engenheiro Agrônomo; Ph.D. em Fisiologia Vegetal; Prof. Titular do Departamento de Biologia Vegetal da UFV e Coord.
do Projeto Reciclar/UFV; [email protected]
4
Estudante de Engenharia Ambiental; Bolsista BIBEX/2012; [email protected]
5
Estudante de Engenharia Ambiental; Bolsista BIBEX/2012; [email protected]
1
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.156 -162, Julho, 20 12
Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos
157
helded at the University is binary: where recyclables are separated from non-recyclable. The recyclable materials
are placed in blue bags and non-recyclables in black bags; then, the wasted material is collected by the
Division of Parks and Gardens and taken to the “Associação de Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagem
de Viçosa (ACAMARE)”. The process begins with the creation of selective collection cores in the buildings
of UFV, where selective collectors are distributed. These activities, and other related stuff, are held by students
and volunteers who, through meetings with supervisors, work groups, and volunteers, plan the selective collection
in their own sectors. To integrate the “Reciclar”s members and promote discussions about activities, meetings
are held weekly for internal planning and exchange information about the actions. The Project’s promotion
is done through presentations, like those held recently to the freshmen, conversations with cleaning staff and
technicians, at the University and Project website (www.projetoreciclar.ufv.br), by Facebook and printed graphic
materials. Selective collection has become a routine part of UFV; however, only about 20% of recyclable
material is being conducted appropriately, showing that there still has a lot of growing to strength the importance
of the selective collection based in a participatory management, not just operational.
Key Words: Environmental education, recycling, selective collection, solid waste.
1. INTRODUÇÃO
O Projeto Reciclar surgiu em 1995 com o objetivo
de implementar e dar suporte técnico, operacional e
educacional à coleta seletiva, na época pouco difundida
na Universidade Federal de Viçosa.
Dentre as muitas opções técnicas desenvolvidas
nos últimos anos, a coleta seletiva tem se mostrado
como uma alternativa viável e econômica para o
gerenciamento de resíduos sólidos, pois, através da
conscientização dos indivíduos envolvidos, permite
a seleção e o encaminhamento de diferentes materiais
ao processo de reciclagem (Jardim & Wells, 1995).
O conceito de desenvolvimento sustentável vem
de um processo longo, contínuo e complexo de
reavaliação crítica da relação existente entre a sociedade
civil com seu meio natural, assumindo diversas
abordagens e concepções. Apresentar progresso em
direção à sustentabilidade é uma escolha da sociedade,
das organizações, das comunidades e dos indivíduos,
devendo existir um grande envolvimento de todos os
segmentos (Bellen, 2005).
O tema sustentabilidade ganha a cada dia maior
destaque nos meios empresariais, acadêmicos e na
sociedade de modo geral. A mídia focaliza esse tema
em seus vários aspectos de forma cada vez mais intensa.
Questões específicas, tais como impactos ambientais
negativos da produção industrial, aquecimento global,
relações de trabalho mais justas, investimentos
socialmente responsáveis (responsabilidade social
empresarial), consumo sócio-ambientalmente
responsável, além de outros, destacam-se como assuntos
de elevada importância, demandando soluções urgentes.
Em especial, as crescentes pressões sociais e ambientais
por produtos e sistemas produtivos que não gerem
impactos negativos à sociedade e ao meio ambiente
são crescentes em todo o mundo (Amato Neto, 2011,
p.2).
Apesar do grande esforço do Projeto Reciclar e
de sua tradição, a quantidade de material reciclado
na UFV ainda é muito pequena se comparada à quantidade
potencialmente reciclável. Acredita-se que até 80%
do lixo produzido no campus possa ser doado às
associações de catadores; porém, apenas 20% estão
realmente seguindo esse caminho, mostrando que ainda
há muito a ser feito.
Um dos principais problemas enfrentados pelo
projeto está na fonte geradora, pois grande parte das
pessoas que geram resíduos não realiza a separação
e destinação adequada. Isso acontece porque demanda
uma forte conscientização que gere mudanças de hábito
nos indivíduos. Dessa forma, o Projeto busca desenvolver
ações educacionais junto à comunidade universitária
para estimular a prática de separar os resíduos, buscando
a consolidação da coleta seletiva. Para isso são
desenvolvidas ações de natureza técnica, administrativa
e ações voltadas para a divulgação do Projeto.
As ações de natureza técnica consistem na
capacitação da equipe de trabalho e de ações práticas
de intervenção no processo de coleta seletiva, baseadas
no estudo dos problemas e no conhecimento técnico
da equipe. As ações de natureza administrativa são
aq uel as fe itas em c onjunto com os set or es
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FÓFANO, de S.O. et al.
administrativos da Universidade (Pró-Reitoria de
Administração e Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários),
e através delas são expostos os problemas e as propostas
de solução. Essa prática tem se mostrado muito eficiente,
porque esses órgãos administrativos estão mais abertos
para os assuntos relacionados à coleta seletiva, o
que resulta em mudanças concretas. Esse envolvimento
com a Administração nos mostra que a evolução da
coleta seletiva é mais efetiva com o empenho de todas
as classes que compõem a Universidade, porque
qua ndo e studa nte s, se rv idore s téc nic os e
administrativos e professores não trabalham juntos,
torna-se inviável a implementação da coleta seletiva
e da reciclagem. Da mesma forma, pode-se fazer uma
analogia com a sociedade e extrapolar a ideia aos
municípios, porém este trabalho ainda não é estendido
à cidade de Viçosa por falta de recursos humanos
no Projeto. Este trabalho tem como objetivo demonstrar
a importância de fazer a coleta seletiva e o papel de
cada pessoa nesse processo.
de estudantes da equipe interdisciplinar, com número
de integrantes proporcional às necessidades requeridas
pela quantidade de resíduos produzidos e pela grandeza
do publico alvo.
2.2. Atividade de educação ambiental
O grupo responsável por esta atividade tem como
meta divulgar o projeto e conscientizar sobre sua
importância através das seguintes ações:
l
l
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Atividade de implantação e monitoramento dos
núcleos
São considerados núcleos do Projeto Reciclar
prédios ou departamentos onde a coleta seletiva ocorre
ou está em processo de instalação. O projeto atua
nesses locais junto à administração dos mesmos, para
construir de maneira personalizada um plano de ação
que inclui o planejamento, a implantação e o
monitoramento da coleta seletiva no local, conforme
detalhado a seguir.
l
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Planejamento: Reuniões com grupos de alunos,
professores e funcionários do setor, aplicação de
questionários de pesquisa sobre o conhecimento dos
membros sobre o assunto, identificação dos problemas
e dos parceiros para implantação;
Implantação: Adequações físicas de localização e
tipo de coletor ideal, divulgação por cartazes, palestras
e e-mails para alcançar a participação do público;
Monitoramento: Visitas frequentes ao núcleo para
acompanhar o andamento da coleta e solucionar
eventuais problemas ou dúvidas relacionadas, por
exemplo, a pontos de coleta, quantidade e identificação
dos coletores e utilização correta dos sacos plásticos.
Cada núcleo é de responsabilidade de um grupo menor
l
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Realizar, no início do ano, palestras aos calouros
sobre a existência do Projeto Reciclar e da coleta seletiva
na Universidade Federal de Viçosa, focando
principalmente a importância ambiental e social do
projeto e a necessidade da participação de todos na
destinação correta dos resíduos e na cobrança aos
seus respectivos departamentos da implantação imediata
da coleta seletiva;
Atualização constante do site do projeto reciclar,
divulgando notícias sobre eventos do mesmo e assuntos
relacionados que despertem o interesse dos estudantes
para a causa;
Divulgação do Projeto por meio de comunicação
interna por site, jornal e TV da universidade e pela
confecção de material de mídia, como cartazes e faixas
para exposição nos locais de maior circulação de
pe ssoas ou onde a c ole ta se le tiva oco rr er
eficientemente;
Realizar palestras direcionadas a outras instituições
que se interessarem por conhecer a metodologia de
implantação da coleta seletiva utilizada pelo Projeto
Reciclar;
Planejar e montar o stand de divulgação do Projeto
Reciclar na Semana de Graduação, de forma dinâmica
e que desperte a atenção dos visitantes.
A divulgação do projeto é um ótimo veículo
disseminador para boas práticas na educação ambiental;
por isso, é necessário aprimorar ações que consigam
atingir cada vez maior número de pessoas. Sendo assim,
o Projeto Reciclar com apoio da Editora UFV e das
Pró-Reitorias de Administração e de Assuntos
Comunitários promoveu um seminário voltado para
área de resíduos sólidos (Figura 1), nos dias 26 a 28
de setembro, com o objetivo de compartilhar ações
relacionadas ao Meio Ambiente na UFV e na cidade
de Viçosa, tendo como destaque as seguintes
apresentações:
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Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos
1) Abertura: Lixo - um problema global e local - Palestrante:
Profª Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares
2) Gerenciamento de resíduos na UFV: Ações presentes
e futuras - Palestrante: Ulisses Cominini
3) Para onde caminha o Projeto Reciclar? - Palestrante:
Rolf Puschmann
4) FUNARBE: Experiências bem sucedidas de Coleta
Seletiva - Palestrante: Mateus Mendonça
5) Editora UFV: Experiências bem sucedidas de Coleta
Seletiva - Palestrante: Carla Coutinho
6) Ações e resultados do projeto “Carbono Zero” Palestrante: Ricardo Martiniano
7) Experiências de coleta seletiva na cidade de Viçosa
- Palestrante: Nádia Dutra de Souza
8) Riscos associados ao não tratamento dos resíduos
na UFV - Palestrante: Mauro Cruz
9) Destinação dos resíduos sólidos na cidade de Viçosa
- Palestrante: Marcos Magalhães
Figura 1 - Modelo usado para o cartaz de divulgação do evento.
159
2011 foi o ano da vinculação do Projeto Reciclar
à Pró-Reitoria de Administração, visando aperfeiçoar a
coleta seletiva dentro do campus, procurando criar uma
interação entre a Divisão de Parque e Jardins, os funcionários
do prédio e a Gerência de Resíduos Perigosos da UFV,
e procurando identificar os problemas de cada setor que
dificultam ou impossibilitam a coleta adequada dos resíduos.
O Projeto também conta com o apoio da Reitoria e da
Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários (Figura 2).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar de todo o trabalho de conscientização, feito
pelos integrantes do Projeto Reciclar, dentro dos
departamentos, é possível observar que não está sendo
reciclada grande parte do resíduo (Figura 3). Isto porque
o mesmo não está no devido saco para armazenamento,
sendo azul para os recicláveis, e preto para os não recicláveis,
ou é colocado no ponto de coleta depois que o caminhão
da coleta seletiva passou, ou até mesmo devido ao
desinteresse do departamento na implantação da coleta.
Acredita-se que com o Projeto Reciclar fazendo
parte da PAD – Pró-Reitoria de Administração, esse
quadro irá mudar, uma vez que é de grande interesse
da universidade fazer cumprir o Decreto nº 5.940, de
25 de outubro de 2006 - que institui a separação dos
resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades
da administração pública federal direta e indireta, na
fonte geradora, e a sua destinação às associações e
cooperativas dos catadores de materiais recicláveis.
Figura 2 - Reunião da Equipe do Projeto com a Reitora, Profª.
Nilda de Fátima F. Soares, com a Pró-Reitora de
Administração, Leiza Maria Granzinolli, com o Diretor
da Divisão de Logística e Segurança, Belmiro
Zamperlini e com o Engenheiro Ambiental, Ulisses
Comini, para discutir as ações de institucionalização
e avanços do Projeto Reciclar.
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FÓFANO, de S.O. et al.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Acredita-se que com o Projeto Reciclar fazendo
parte da PAD – Pró-Reitoria de Administração, esse
quadro irá mudar, uma vez que é de grande interesse
da universidade fazer cumprir o Decreto nº 5.940, de
25 de outubro de 2006 - que institui a separação dos
resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e
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entidades
da administração pública federal direta e
indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às
associações e cooperativas dos catadores de materiais
recicláveis.
mundo tem sido grande e seu mau gerenciamento, além
de provocar gastos financeiros significativos, pode
provocar graves danos ao meio ambiente e comprometer
a saúde e o bem-estar da população. Por esse motivo,
o interesse em estudar resíduos sólidos tem se mostrado
crescente. Devido às dificuldades encontradas com
a coleta seletiva, foi criado mais um Projeto em conjunto
com o Reciclar, denominado “Plano de Gerenciamento
Integrado de Coleta Seletiva na UFV” (PIBEX/2012),
coordenado pelo Diretor de Manutenção de Infraestrutura
Urbana e Meio Ambiente, o Engenheiro Mecânico
Jefferson Machado Fontes, da Pró-Reitoria de
Administração. Este novo projeto está responsável
pela parte funcional e operacional da coleta no campus.
Atualmente a quantidade de materiais recicláveis
recolhidos semanalmente na UFV é da ordem de 1500
a 5000 kg, com uma média diária variando de 300 a 1000
kg (Divisão de Parques e Jardins 2011/2012), conforme
pode ser observado na Figura 4. Esse material é de
ótima qualidade e possui grande valor agregado, uma
vez que os catadores do campus são criteriosos e atentos
ao recolhê-lo.
Para Cunha & Caixeta Filho (2002), muitas vezes,
o lixo é tratado com a mesma indiferença da época das
cavernas, quando não era verdadeiramente um problema,
seja pela menor quantidade gerada, seja pela maior
facilidade da natureza em reciclá-lo. Entretanto, em
tempos mais recentes, a quantidade de lixo gerada no
Com o passar dos anos foi possível perceber a
importância do trabalho do Projeto Reciclar, já que
a quantidade de material recolhido aumentou de 2006
até 2012, em consequência da conscientização dos
trabalhadores dos prédios no que diz respeito à
importância da coleta seletiva.
Figura 3 - Resíduos sólidos recicláveis e não recicláveis recolhidos
para os dias da semana na UFV em 2011.
Figura 4 - Médias mensais dos resíduos sólidos recicláveis recolhidos
na UFV no período de agosto de 2011 a março de
2012. (Fonte: Gerência de resíduos UFV).
Apesar de todo o trabalho de conscientização,
feito pelos integrantes do Projeto Reciclar, dentro dos
departamentos, é possível observar que não está sendo
reciclada grande parte do resíduo (Figura 3). Isto porque
o mesmo não está no devido saco para armazenamento,
sendo azul para os recicláveis, e preto para os não
recicláveis, ou é colocado no ponto de coleta depois
que o caminhão da coleta seletiva passou, ou até mesmo
devido ao desinteresse do departamento na implantação
da coleta.
Fonte: Divisão de Parques e Jardins.
Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.156 -162, Julho, 20 12
Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos
3.1. Estratégias adotadas no desenvolvimento do trabalho
1 - Definir os principais objetivos do Projeto e
desenvolver um Plano de Gerenciamento de Resíduos
que se adéque à realidade do local onde se deseja
desenvolver a coleta seletiva.
2 - Estabelecer parcerias com projetos afins e de
mesma essência ideológica, a fim de montar e organizar
uma equipe de trabalho, dividindo responsabilidades
específicas para cada membro de acordo com seu perfil
profissional.
3 - Desenvolver atividades que atinjam e envolvam
o maior número de pessoas possível.
4. CONCLUSÃO
Quando estamos consumindo qualquer produto
ou serviço, quase sempre geramos lixo, ou pela sobra
ou pelas embalagens que revestem as mercadorias,
parte dos serviços que compramos. Mas ainda poucas
pessoas se preocupam em saber para onde irá todo
esse lixo ou quais as consequências provocadas no
meio ambiente, para tornar possível a geração dos
produtos e serviços que servem à humanidade
diariamente. Tais reflexos da modernidade já estão se
confirmando quando temos mudanças radicais no meio
ambiente (Magera, 2008).
O Projeto Reciclar se fez presente dentro do campus
através de divulgação, educação e conscientização,
procurando atingir a todos que frequentam ou pertencem
indireta e diretamente à UFV.
Tal trabalho se mostrou fundamental para a eficiência
e o bom funcionamento da coleta seletiva, uma vez
que a mesma se mostrou dependente, em todas as suas
etapas, do interesse e da aceitação da comunidade.
Mostrou-se clara, então, a necessidade de atividades
contínuas e intensas relacionadas ao ensino de boas
práticas ambientais, além de apoio e interesse da
administração.
Dessa forma é possível estabelecer um mecanismo
de correta destinação do material reciclável, tornando
a universidade mais sustentável.
5. LITERATURA CITADA
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