revista brasileira de agropecuária sustentável
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ISSN 2286-9724 (ONLINE) ISSN 2178-5317 (CD-ROM) REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS) BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA) Volume 2 - Número 01 Volume 2 - Number 01 Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el Julho - 2012 July - 2012 REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS) BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA) Editorial A REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL - RBAS (BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE) tem publicação semestral (Julho e Dezembro) de trabalhos inéditos, dentro das normas de formatação exigidas e áreas relacionadas à sustentabilidade da agropecuária. Os trabalhos podem ser submetidos para publicação nas áreas de Agricultura Familiar, Agroecologia, Educação do Campo, Ciência, Tecnologia e Inovação, Cooperativismo e Associativismo, Economia, Economia Solidária, Entomologia, Extensão Rural, Fitopatologia, Forragicultura, Meio Ambiente, Mudanças Climáticas, Políticas Públicas, Produção Animal, Produção Vegetal, Ruralidade, Solos e Urbanização, com ênfase na sustentabilidade atual e futura. Os trabalhos podem ser submetidos em língua portuguesa, inglesa e espanhola. Este periódico não faz qualquer restrição à titulação acadêmica mínima para submissão de trabalhos, cuja avaliação é feita por dois ou três revisores ad hoc e pelo Corpo Editorial. O conteúdo dos artigos publicados é de exclusiva responsabilidade de seus autores e os direitos de publicação são da RBAS, sendo o conteúdo disponibilizado com acesso livre na Internet (www.rbas.com.br). Os Artigos devem conter de 10 a 25 páginas, os Relatos de Experiência de 5 a 10 páginas, as Resenhas de 5 a 10 páginas e as Revisões de 10 a 25 páginas. Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS) = Brazilian Journal of Sustainable Agriculture (BJSA) vol.2, n.1 (jul. 2012) - 162p. - Viçosa, MG : Os Editores, 2012. CD-ROM Semestral Publicação em Português e Inglês ISSN: 2178-5317 (CD-ROM) ISSN 2286-9724 (ONLINE) 1. Agropecuária – Periódicos. I. Brazilian Journal of Sustainable Agriculture (BJSA). II. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável. CDD 22. ed. 630 Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS) BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA) Editor Chefe: Rogério de Paula Lana – Ph.D. em Animal Science pela Cornell University, Ithaca, NY, USA. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Corpo Editorial: Rogério Martins Maurício – Ph.D. em Ciência Animal pela The University of Reading, Inglaterra. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de São João Del Rei. Harold Ospina Patino – Pós-doutorado pela Universidade de Guelph, Canadá. Professor e Pesquisador da Unversidade Federal do Rio Grande do Sul. Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho – Pós-doutorado em Bem-estar animal pela University of British Columbia. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria. Anderson Moura Zanine – Pós-Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso. Gumercindo Souza Lima – Doutorado em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Cristina Mattos Veloso – Pós-doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Rosane Cláudia Rodrigues – Doutorado em Qualidade e Produtividade Animal pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão. Luis Humberto Castillo Estrada – Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Estadual do Norte do Fluminense Darcy Ribeiro. Vanderley Porfírio da Silva – Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná. Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Revisão Linguística: Nilson Adauto Guimarães da Silva – Doutorado em Letras Neolatinas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Secretária: Geicimara Guimarães – Graduanda em Gestão de Cooperativas da Universidade Federal de Viçosa. Conselho científico: Ana Ermelinda Marques – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. André Soares de Oliveira – Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso. Antônio Bento Mancio – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Augusto Hauber Gameiro – Doutorado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Professor e Pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP). Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto – Doutorado em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el Cleide Maria Ferreira Pinto – Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Dilermando Miranda da Fonseca – Pós-doutorado pela University of Florida. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Domício do Nascimento Júnior – Ph.D. pela University of Arizona. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Domingos Sávio Paciullo – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. Domingos Sávio Queiroz – Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Henrique Nunes Parente – Doutorado em Zootecnia (Forragicultura) pela Universidade Federal da Paraíba. Professor e Pesquisador do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão. Irene Maria Cardoso – Doutorado em Ciências Ambientais pela Wageningen University Researcher Center. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Jacson Zuchi – Doutorado Sanduíche em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e University of California, Davis. Pesquisador da FEPAGRO NORDESTE. João Carlos de Carvalho Almeida – Doutorado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professor e Pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. José Carlos Fialho de Resende – Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São Paulo. Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Junia Marise Matos de Sousa – Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Marcelo José Braga – Pós-Doutorado pela University of California at Davis, UCD, Estados Unidos. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Marcelo Miná Dias – Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Maria Aparecida Nogueira Sediyama – Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Maria Cristina Baracat Pereira – Doutorado em Bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Maria Elizabete de Oliveira – Doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília. Professora e Pesquisadora pela Universidade Federal do Piauí. Maria de Fátima Ávila Pires – Doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Milton Ferreira de Moraes – Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São Paulo. Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Paraná. Nora Beatriz Presno Amodeo – Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Paulo Roberto Gomes Pereira – Doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Sérgio Yoshimitsu Motoike – Doutorado em Natural Resources And Environmental Sciences pela University Of Illinois At Urbana Champaign. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Théa Mirian Medeiros Machado – Pós-Doutorado Visiting Scholar pela University of Western Austrália (UWA). Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Viviane Silva Lirio – Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el PARECERISTAS AD HOC DO VOLUME 2, NÚMERO 1, ANO 2012, DA REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS)/ BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA): Anderson Moura Zanine - Pós-Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso. Augusto Hauber Gameiro - Doutorado em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Professor e Pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP). Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto - Doutorado em Microbiologia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Cleide Maria Ferreira Pinto - Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Cristina Mattos Veloso - Pós-doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Viçosa. Cristina Soares de Souza - Doutorado em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Cristiano Gonzaga Jayme - Doutorado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. Professor e Pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais - Campus Rio Pomba. Daniel Arruda Coronel - Doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria. Ernane Ronie Martins - Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais. Fabíola Villa - Pós Doutrado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Professora e Pesquisadora pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná Henrique Nunes Parente - Doutorado em Zootecnia (Forragicultura) pela Universidade Federal da Paraíba. Professor e Pesquisador do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão. Jacson Zuchi - Doutorado Sanduíche em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e University of California, Davis. Pesquisador da FEPAGRO NORDESTE. José Carlos Peixoto Modesto da Silva - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Junia Marise Matos de Sousa - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Luis Humberto Castillo Estrada - Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador da Universidade Estadual do Norte do Fluminense Darcy Ribeiro. Maira Christina Marques Fonseca - Pós-Doutorado em Microbiologia no CPQBA-UNICAMP. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Maria Aparecida Nogueira Sediyama - Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Maria Elizabete de Oliveira - Doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasília. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Piauí. Rafael Monteiro Araújo Teixeira - Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Triângulo Mineiro - IFTM. Rogério de Paula Lana - Ph.D. em Animal Science pela Cornell University, Ithaca, NY, USA. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa. Rogério Martins Maurício - Ph.D. em Ciência Animal pela The University of Reading, Inglaterra. Professor e Pesquisador da Universidade Federal de São João Del Rei. Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el Solidete de Fátima Paziani - Doutorado em Ciência Animal e Pastagens pela USP/ESALQ, Piracicaba. Pesquisadora da APTA/SAA. Tatiana Cristina da Rocha - Pós-doutorado pela Universidade Federal de Viçosa. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais. Thiago de Oliveira Vargas - Doutorado em Fitotecnia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal de Viçosa/Department of Environmental Studies, University of California at Santa Cruz. Vanderley Porfírio da Silva - Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná. Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Weber Vilas Bôas Soares - Doutorado pela Universidade de São Paulo. Pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el ISSN 2286-9724 (ONLINE) ISSN 2178-5317 (CD-ROM) REVISTA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL (RBAS) BRAZILIAN JOURNAL OF SUSTAINABLE AGRICULTURE (BJSA) Volume 02 Volume 02 Número 01 Number 01 July Jul ho 2012 2 01 2 Sumário Summary Economia (Economy) Michelle Lucas Cardoso Balbino. Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social (Ecological economics and contemporary: economic components for environmental protection and the warranty of social welfare). ...................................................................................... 1 Paulo Alexandre Nunes, Carmem Ozana de Melo, Diego Teixeira. A participação do setor madeireiro na economia das microrregiões geográficas do Paraná – 2009 (Sector participation in the economy of timber micro geographic Paraná – 2009). .......................................................................................... 8 Extensão rural (Rural extension) Diego Neves de Sousa, Cleiton Silva Ferreira Milagres, Marcelo Miná Dias, Dayane Rouse Neves Sousa, Cléverson Silva Ferreira Milagres. Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária “mãos de fibra” (Formalisation and income generation: the case of advice in padaria artesanal comunitária “mãos de fibra”) ......................................................... 21 Fitotecnia, fitopatologia e solos (Phytotechny, phytopatology and soils) Telma Miranda dos Santos, Patrícia Silva Flores, Sílvia Paula de Oliveira, Danielle Fabíola Pereira da Silva, Cláudio Horst Bruckner. Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em sementes do maracujá-de-restinga (Effects of storage periods and methods of overcoming dormancy in seeds of passiflora) .................................................................................................................................. 26 João Paulo Lemos, João Carlos Cardoso Galvão, Antônio Alberto da Silva, Anastácia Fontanetti, Lorena Moreira Carvalho Lemos. Efeito da roçada das espécies Bidens pilosa e Commelina benghalensis nas características morfológicas do milho (Effect of clearings of Bidens pilosa and Commelina benghalensis species on morphological characteristics of corn) ................................................................................ 32 Ciro de Miranda Pinto, Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto, João Bosco Pitombeira. Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica (Castor bean and sunflower intercropping systems in row arrangement: biological efficiency). .................................................... 41 Edmilson Igor Bernardo Almeida, Wellington Souto Ribeiro, Lucas Cavalcante da Costa, Hélder Horácio de Lucena, José Alves Barbosa. Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Areia (PB) (Fresh vegetable lost sketching on trade in the municipal district of Areia (PB) .................... 53 Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el Leila Cristina Rosa de Lins, Rosana Gonçalves Pires Matias, Danielle Fabíola Pereira da Silva, Robson Ribeiro Alves, Luiz Carlos Chamhum Salomão. Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia (Chitosan on delaying of the darkening of the pericarp in lychee) .............................. 61 Rosana Gonçalves Pires Matias, Danielle Fabíola Pereira da Silva, Leila Cristina Rosa de Lins, Robson Ribeiro Alves, Luiz Carlos Chamhum Salomão. Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia (Hydrothermal treatment in prevention browning of lychee pericarp) ..... 68 Marília Cristina dos Santos, Ana Maria Resende Junqueira, Veríssimo Gibran Mendes de Sá, José Cola Zanúncio, Marcos Alexandre Bauch, José Eduardo Serrão. Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta absoluta (meyrick) (lepidoptera: gelechiidae) (Effect of silicon on behavioral aspects and life history of Tuta absoluta (meyrick) (lepidoptera: gelechiidae))........................... 76 Bruno Grossi Costa Homem, Onofre Barroca de Almeida Neto, Alberto Magno Ferreira Santiago, Gustavo Henrique de Souza. Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais (Dispersion of clay caused by fertirrigation with animal wastewater)........................... 89 Marisa Senra Condé, Bruno Grossi Costa Homem, Onofre Barroca de Almeida Neto, Alberto Magno Ferreira Santiago. Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos químicos e físicos (Effect of application of animal wastewater in soil: chemical and physical attributes) ..... 99 Forragicultura e produção animal (Forage science and animal production) Renata de Souza Reis, Sérgio Luiz de Toledo Barreto, Heder José D’avila Lima, Eriane de Paula, Jorge Cunha Lima Muniz, Raquel Mencalha, Gabriel da Silva Viana, Lívia Maria dos Reis Barbosa. Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período de 40 a 52 semanas de idade (Replacement of limestone flour for egg shell in the diet of japanese quail in the period from 40 to 52 weeks of age) ............................................................................... 107 Hugo Freitas Sobreira, Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Dilermando Miranda da Fonseca, Sérgio Yoshimitsu Motoike, José Carlos Peixoto Modesto da Silva, Geicimara Guimarães. Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas à base de silagem de milho (Bark and coconut of macaw palm added to concentrate for crossbred lactating cows on corn silage based diet) ............................................................................................................................... 113 Renata de Souza Reis, Sérgio Luiz de Toledo Barreto, Eriane de Paula, Raquel Mencalha, Gabriel da Silva Viana, Lívia Maria dos Reis Barbosa, Jorge Cunha Lima Muniz. Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura (Levels of choline supplementation in the diet of laying japanese quails) ......................................................................................................................... 118 Rosane Cláudia Rodrigues, Daniel de Oliveira Souza Lima, Luciano da Silva Cabral, Luiz Pedro de Melo Plese, Walcylene Lacerda Matos Pereira Scaramuzza, Tereza Cristina Alves Utsonomya, Jefferson Costa de Siqueira, Ana Paula Ribeiro de Jesus. Produção e morfofisiologia do capim Brachiaria brizantha cv. Xaraés sob doses de nitrogênio e fósforo (Production and morphophysiology of Palisadegrass Brachiaria brizantha cv. Xaraés under nitrogen and phosphorus fertilization) ........................... 124 Meio ambiente (Environment) Carlos Fernando Lemos, Flávio Barbosa Justino, Luiz Cláudio Costa, John Edmund Lewis Maddock. Distribuição espacial do índice de Haines para Minas Gerais por análise da média atmosfera (Spatial distribution of the Haines index for Minas Gerais by analysis of average atmosphere) ............. 132 Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el Kelly de Oliveira Barros, José Marinaldo Gleriani, Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro, Elias Silva. O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento remoto (Desertification studies using remote sensing techniques: a framework and state-of-theart survey) ..................................................................................................................................................... 144 Haroldo Wilson da Silva, Kléber Pelícia. Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica (Layers solid waste management by anaerobic digestion process) ........ 151 Sâmara de Oliveira Fófano, Rolf Puschmann, Thais Covre Delboni, Alana de Oliveira Pereira Vilete. Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos (Strategies for a participatory management of solid waste collection) ................................................................................................... 156 Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el Revista Brasileira de Agro pec uár ia Sustentáv el Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social 1 ECONOMIA ECOLÓGICA: ENTRE A PROTEÇÃO AMBIENTAL E A GARANTIA DO BEM-ESTAR SOCIAL Michelle Lucas Cardoso Balbino1 RESUMO – As externalidades negativas para a sociedade têm origem no fato de as empresas não pagarem pela utilização dos recursos naturais nem dos serviços ambientais no processo de produção de bens e serviços. Espontaneamente, as empresas não internalizarão os custos sociais associados às externalidades, uma vez que todas buscam reduzir custos num cenário de concorrência cada vez mais intensa. Somente por meio da ação concertada dos movimentos sociais organizados, dos governos, do ministério público e do poder judiciário, os custos das externalidades negativas serão contabilizados nos custos de produção das empresas. Neste sentido, a Teoria de Pigou de internalização das externalidades negativas contém instrumentos econômicos eficazes para promover a proteção dos recursos naturais e dos serviços ambientais. Contudo, a aceitabilidade social de uma nova gestão de recursos da natureza, na qual se considera a proteção dos recursos naturais e dos serviços ambientais como fator a ser priorizado para a manutenção do bem-estar social, é um grande problema por afetar as vantagens competitivas das empresas. Entretanto, ela se justifica quando se considera que a utilização dos recursos da natureza e a degradação do meio ambiente na produção de bens finais são locais, enquanto o seu consumo é realizado em toda a parte. Palavras-chave: Bem-estar social, custos sociais, internalização das externalidades, proteção ambiental. ECOLOGICAL ECONOMICS AND CONTEMPORARY: ECONOMIC COMPONENTS FOR ENVIRONMENTAL PROTECTION AND THE WARRANTY OF SOCIAL WELFARE ABSTRACT - The negative externalities for society have their origin in fact that companies do not pay for the use of natural resources or environmental services in the production of goods and services. Spontaneously, companies do not inter nalize the soc ial costs asso ciated with externalities, since they all seek to re duce costs in a scenario of increasingly intense competition. Only through the c oncerted effort of organized soc ial movements, govern ments, public prosecu tors and the judiciary, the c osts of negative externalities are accounted for in production costs of enterprises. In this direction, the theory of the Pigovian internalization of negative externalities contains effective economic instruments to promote the protection of natural resources and environmental se rvice s. However, the social ac ceptability of a new resource management nature, which considers the protection of natural resources and environmental services as a factor to be prioritized for the maintenance of social welfare, is a great problem to affect the competitive advantages of companies. Meanwhile, it is justified when one considers the use of nature resources and environmental degradation in the production of final goods are local, while their consumption is done everywhere. Keywords: Agribusiness, family agriculture, sustainability. 1 Aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected] Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12 2 BALBINO, M.L.C. 1. INTRODUÇÃO 2. MATERIAL E MÉTODOS A economia do bem-estar, por ser vista como um campo marginal da teoria econômica, com grande dificuldade na definição do que vem a ser bem-estar2, é um campo propício para a formação de conflitos, que causam sérios problemas a toda a sociedade, pois a necessidade de realização social de forma individualizada sempre é ponderada acima dos interesses coletivos, não se observando os critérios da justiça, que giram em torno do conceito de utilidade. A metodologia utilizada para a construção do tema teve como base a realização de o um estudo exploratório através de revisão bibliográfica, analisando-se livros, revistas, artigos, teses, monografias e dissertações referentes ao tema. A utilidade sempre foi taxada no campo ético, ou seja, no ponto de vista depreciativo, pois não é possível fazer comparações interpessoais. Contudo, o relacionamento entre a economia moderna e a ética é visto de forma depreciativa, contrariando o ideal clássico da economia, para o qual a ética era o padrão a ser seguido. Assim, tem-se que o bem-estar social depende do nível de satisfação de todas as pessoas. Apesar destas dificuldades, no contexto contemporâneo da economia do bem-estar, a ética deve ser observada também nas questões ambientais, por meio de mecanismos de proteção aos ecossistemas. Surge então a ideia da internalização das externalidades, segundo a qual o custo marginal existente em uma empresa deve necessariamente incorporar os custos associados à utilização e à degradação dos recursos naturais públicos, tornandose necessário estabelecer custos adicionais pelo uso dos bens naturais comuns, em virtude de sua escassez, e fazendo com que o preço praticado pela empresa seja maior do que o preço praticado no mercado de economia perfeita. Nasce, então, o problema relevante abordado neste trabalho, que é a aceitabilidade social de uma nova gestão dos recursos naturais, considerando-se a sua proteção como um fator a ser priorizado para a manutenção da qualidade de vida, ou seja, o bem-estar social passa a ser fundamental na gestão dos recursos naturais e dos serviços ambientais, utilizando-se os custos sociais e a internalização das externalidades para alcançar a sua proteção. 2 Os livros utilizados abordam questões inerentes ao Direito Econômico e o Desenvolvimento Sustentável, todos adquiridos por meio de recursos próprios. O período de coleta de materiais se deu entre os meses de dezembro de 2011 e janeiro de 2012, sendo que os critérios utilizados para a busca e seleção dos materiais incluíram, preferencialmente, publicações posteriores ao ano de 2006. Através dos dados coletados, foi possível trazer ao estudo questões que puderam auxiliar na construção do texto, chegando-se, assim, às considerações finais, fato que agregou qualidade às discussões empreendidas. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Custos sociais e internalização das externalidades: componentes econômicos para a proteção ambiental A cada geração, as demandas por consumo aumentam de forma alarmante. Este fato, iniciado com a Revolução Industrial no século XVIII e intensificado no pós-Segunda Guerra Mundial, tornou-se o propulsor do crescimento econômico sustentado. Porém, o crescimento econômico acaba gerando custos e benefícios à sociedade e, na grande maioria das vezes, esses custos não são ressarcidos e os benefícios não são recebidos, nascendo então as externalidades ou efeitos externos. Motta (2006, p.182) aponta que “as externalidades estão presentes sempre que terceiros ganham sem pagar por seus benefícios marginais ou perdem sem serem compensados por suportarem o malefício adicional”. Já Nusdeo (2009, p.152) descreve que “o nome externalidade ou efeito externo não quer significar fatos ocorridos fora das unidades econômicas, mas sim fatos ou efeitos ocorridos fora do mercado, externos ou A história do conceito de Bem-estar é recente, o primeiro a estudar o termo na concepção em que é vista atualmente foi W. Wilson, em 1960, o autor relacionou os conceitos de Satisfação e de Felicidade numa perspectiva Base-Topo, conhecida como Bottom Up, e TopoBase, ou Top Down, sendo que a Satisfação imediata das necessidades traz a Felicidade, enquanto a persistência de necessidades por satisfazer causa Infelicidade (Galinha & Ribeiro, 2005). Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12 Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social paralelos a ele, podendo ser vistos como efeitos parasitas”. Assim, pelo fato de as atividades produtivas afetarem diretamente o meio ambiente, gerando externalidades que não serão ressarcidas à sociedade nem lhe trarão benefícios, os cálculos privados em relação a esses custos e benefícios diferem dos cálculos públicos. Quando não há o ressarcimento dos custos, a externalidade é considerada como negativa, enquanto que quando existe transferência não compensada dos benefícios, a externalidade é vista como positiva ou benefício social (Nusdeo, 2009). [...] deseconomias externas [são] os efeitos sociais danosos da produção privada, e de economias externas [são] os efeitos de aumento de bem-estar social da produção privada. Em ambos os casos, tanto positivo como negativo, o mercado não transporta todas as informações necessárias para que seus agentes (empresas e consumidores) realizem a alocação ótima de fatores (Derani, 2009, p. 91). De modo geral, a sociedade é atingida por externalidades negativas, danos decorrentes da produção privada, sem que haja a devida recompensa. Nestas condições, o custo marginal de produção não agrega todos os custos envolvidos. Assim, o custo social é maior do que o custo privado, pois os custos inerentes aos danos causados ao meio ambiente não estão sendo contabilizados, uma vez que os serviços ambientais não estão sendo considerados como mercadorias, ou seja, a empresa não paga pelo seu uso. O contexto de externalidades negativas leva à crença de que os recursos naturais e os serviços ambientais, já escassos, possam continuar sendo oferecidos como se fossem bens livres (Nusdeo, 2009). Além disso, “a busca de uma poupança dos recursos naturais mediante um aumento dos custos de apropriação, garantindo a existência desses recursos para a apropriação de gerações futuras, revela-se insuficiente” (Derani, 2009). Portanto, o fato é que para a solução deste problema faz-se necessária a internalização das externalidades, buscando-se por meio de diversas ações de eficiência econômica internalizar as externalidade negativas aos custos da empresa, como forma de atribuir o preço correto, contabilizando-se os recursos naturais e os serviços ambientais utilizados. 3 Dessa forma, a eficiência econômica exige que se assinale o “preço correto” aos recursos ambientais. Internalizando os custos (benefícios) ambientais via preços das externalidades nas atividades de produção ou consumo, é possível obter uma melhoria de eficiência com maior nível de bem-estar. (Motta, 206, p.183) Deve-se considerar que os agentes produtivos só internalizam as externalidades por meio de ações governamentais ou por intervenção dos movimentos sociais, que fazem com que as empresas internalizem os custos sociais, por meio da cobrança dos recursos comuns no processo de produção, o que leva ao aumento dos preços dos bens que elas produzem. Logo, a internalização das externalidades negativas leva a um preço maior de mercado, ou seja, os consumidores pagarão um preço maior pelos bens finais em cuja produção se utilizam recursos naturais ou bens ambientais públicos. Entretanto, localmente este não é um jogo de soma zero, no qual a comunidade recebe pela utilização dos recursos naturais e dos serviços ambientais comuns e paga um preço maior pelos bens finais. Com efeito, de modo geral, enquanto os recursos naturais e a degradação ambiental estão localizados espacialmente, o consumo dos bens finais produzidos localmente tornou-se universal, por causa da grande abertura comercial, do desenvolvimento dos transportes e da expansão do comércio internacional. Duas teorias procuram oferecer caminhos para se resolver o problema das externalidades: a de Pigou, descrita no The Economics of Welfare em 1920, e a de Coase, definida no The Problem of Social Cost em 1960. A primeira com tendência à correção do mercado e a segunda com vistas à extensão do mercado. A Teoria de Pigou visa à internalização das externalidades por meio da indenização das pessoas ou da fixação de impostos sobre o uso do recurso ambiental (taxa pigouviana) ou mesmo pelo fechamento do empreendimento. Já a Teoria de Coase considera que a solução do problema das externalidades passa pela clara definição de direitos de propriedade, de tal modo que todos os bens, inclusive os recursos naturais e os bens ambientais, deixariam de ser bens comuns (Motta, 2006). Especificamente, o Teorema de Coase coloca a reciprocidade como ponto principal, estabelecendo Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12 4 BALBINO, M.L.C. a negociação entre a parte afetada e a parte geradora da externalidade, como rota para resolução do problema. Os adeptos da liberalização do mercado, num outro extremo, preferem soluções extraídas de transações entre causador e suportador dos efeitos externos, eliminando o Estado redistribuidor (subvencionador) e o Estado elevador de impostos. Aqui, encontramos Coase. Pressuposto para esta solução é um sistema global de direitos de propriedade dos sujeitos privados, que negociam seus interesses, buscando um acordo, para, assim, conseguirem um internalização eficiente dos efeitos externos (Derani, 2009, p.92). Esta corrente estuda o papel das instituições na definição dos direito de propriedade e suas repercussões na alocação eficiente dos recursos. Nestes casos, taxas pigouvianas não seriam necessárias, pois o próprio mercado atingiria soluções ótimas sem uso de instrumentos fiscais. Considerada a viabilidade de aplicação, o Teorema de Coase esbarra nos custos de transação, que podem ser absurdamente elevados e, portanto, impeditivos, quando muitos atores estão envolvidos no processo negociação. Diante da necessidade de internalização das externalidades, Fabio Nusdeo (2009, p.153) aponta que “pelo próprio espírito hedonista, pressuposto psicológico-comportamental do sistema de mercado, a tendência natural dos agentes econômicos será a de lançar para fora os seus custos (externalizá-los)”. Assim, existe uma tendência à manutenção das externalidades como estão, ou seja, externas, com os seus custos sendo suportados pela sociedade, salvo se houver decisão judicial ou intervenção administrativa no sentido da sua internalização. Logo, é preciso mudar a maneira de abordar o problema e buscar soluções que passam pela internalização das externalidades, pois se trata de instrumento econômico eficaz para a proteção dos recursos naturais e para evitar a degradação dos serviços ambientais, o que deve ser feito considerando-se avaliações de ordem econômica, social, ambiental, cultural e de capacidade técnica. A proteção do meio ambiente como garantidor do bemestar social A Constituição Federal, no caput do artigo 225 aponta que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondose ao Poder Público e à coletividade o dever de defendêlo e preservá-lo para a presente e futuras gerações”, consagrando o direito a um meio ambiente saudável como direito fundamental. A consagração, na ordem jurídica brasileira, do direito a um meio ambiente saudável como direito fundamental de todo ser humano reflete compreensão de natureza universal, que, por sua vez, decorre de um processo histórico no qual os direitos humanos, em seu conjunto, foram sendo progressivamente conformados e reconhecidos como marco de referência essencial da civilização (Dallari, 2009, p. 194). Valer registrar que o acesso de todos, de forma isonômica, inter e intrageracional, aos recursos naturais no gozo da qualidade de vida (bem-estar individual e coletivo) se concretiza na democracia ambiental (D’Isep, 2009b). A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, é considerada a primeira manifestação de caráter mundial para uma tentativa de relacionar o homem ao meio ambiente em que vive, resultando em marcos históricos diversos, dos quais se destacam a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Declaração das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano ou Declaração de Estocolmo. Nesta Declaração, o direito fundamental à preservação do meio ambiente foi reconhecido mundialmente; em seu Princípio 1 enuncia-se, pela primeira vez, de maneira explícita, o direito humano ao ambiente adequado: Princípio 1: O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras. A esse respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o “apartheid”, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira permanecem condenadas e devem ser eliminadas. (Conferência, 1972) Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12 Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social Em meados da década de 1980, a Organização das Nações Unidas constituiu a “Comissão Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente” (CMMAD), conhecida como Comissão Brundtland, para realizar um estudo global visando à conciliação entre crescimento econômico e preservação do meio ambiente, o chamado Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum, apresentado ao mundo em 1987, que aponta a incompatibilidade entre o modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados, que utilizam os recursos naturais desordenadamente e sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas, e o desenvolvimento sustentável. Nessa linha histórica, as incorporações do direito a um meio ambiente saudável e do direito ao desenvolvimento (percepção de desenvolvimento sustentável) ao rol de direitos fundamentais do ser humano, deixando de lado o posicionamento apenas 5 nos aspectos econômicos e ecológicos, tenderam a valorizar-se “como critérios de aferição e controle social relativamente à validade das políticas públicas adotadas pelos governos nacionais e locais e mesmo internacionalmente com vistas à melhoria e à preservação das condições de vida da população” (Dallari, 2009, p.214). É importante compreender que o direito ao desenvolvimento corresponde a uma visão antropocêntrica introduzida pelo Direito Constitucional Ambiental, integrando humanidade e meio ambiente, assim, “o antropocentrismo, além de necessário ao equilíbrio das complexas necessidades da vida humana, neutraliza o caráter desumano das demais posições que, de forma antagônica, trabalham contra o bemestar do homem” (D’Isep, 2009a, p.102). Com fins a complementar o sentido dado pelas teorias econômicas preocupadas com o bem-estar social, surgem os preceitos normativos do direito ambiental, os quais visam garantir a qualidade de vida, encontramse sustentados por normas de ordem econômica, e têm por fim assegurar a todos existência digna (Derani, 2009), conforme ditames da justiça social apresentados no artigo 170 da Constituição Federal3. 3 5 A qualidade de vida, muitas vezes referida por sua expressão sinônima “bem-estar”, concebida tanto no direito econômico quanto no direito ambiental, não deve ser entendida apenas como o conjunto de bens e de comodidades materiais, nem apenas no ideal do ecologismo dos pobres, em que há uma reação e indiscriminado desprezo a toda elaboração técnica e industrial. Ao contrário, a qualidade de vida deve apresentar dois aspectos concomitantes: o nível de vida material e o nível de bem-estar físico e espiritual, pois uma sadia qualidade vida abrange esta totalidade (Derani, 2009). Tal fato é retratado por Metzen et al. (1980) quando afirmam que a qualidade de vida envolve não apenas os aspectos objetivos inerentes aos bens materiais, devendo ser incluídos diversos outros indicadores inteiramente relacionados com a percepção, prioridade e nível de satisfação da mesma. Contudo, diante das deficiências encontradas na satisfação e garantia do bem-estar social, tendo em vista as inúmeras intervenções destrutivas realizadas pelo homem no meio ambiente, faz-se necessário atuar de forma rápida na proteção do meio ambiente, pois este é visto como bem garantidor do bem-estar social. Neste sentido, vale transcrever os pensamentos de Azevedo (2008), que em seu livro “Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida” escreveu com alto potencial crítico e filosófico sobre a destruição do meio ambiente e, por consequência, da vida humana. Neste contexto, em que se constata a anemia da política, dominam o constrangimento econômico e o pensamento unidimensional e servil ao status quo, tudo desaguando, de modo dramático, no meio ambiente. É, então, que o pensamento parcela, cindido, revela sua impotência e suas funestas consequências. É a natureza, em suas múltiplas formas e ecossistemas, que desvela o point de non retour de uma civilização tão sofisticada tecnologicamente quanto suicida. (Azevedo, 2008, p.14) Esse também é o entendimento da Avaliação Ecossistêmica do Milênio elaborada pela Junta Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; [...] Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12 6 BALBINO, M.L.C. Coordenadora da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, que avaliou as consequências que as mudanças nos ecossistemas trazem para o bem-estar humano, ao afirmar que “proteger e melhorar nosso bem-estar futuro requer um uso mais sábio e menos destrutivo de nosso capital natural. Isto, por sua vez, envolve drásticas mudanças no modo em que tomamos e implantamos decisões” (ONU, 2011). No Brasil, desde meados dos anos 1980, essa mesma linha de pensamento está presente no socioambientalismo, que é fruto de articulações políticas entre os movimentos sociais e o movimento ambientalista, como resultado da “consolidação democrática no país, que passou a dar à sociedade civil um amplo espaço de mobilização e articulação, que resultou em alianças políticas estratégicas entre os movimentos social e ambientalista” (Santilli & Santilli, 2009, p.217-218). Frente a todas as questões e argumentações desenvolvidas, torna-se um imperativo considerar a humanidade integrada de modo indissociável ao meio ambiente, não sendo mais possível continuar desconsiderando a proteção ambiental como garantidora do bem-estar social. Neste sentido, a utilização judiciosa dos instrumentos econômicos propostos pela Teoria de Pigou para se internalizar as externalidades apresentase como um modo eficaz na proteção ambiental, possibilitando a manutenção de um ambiente ecologicamente equilibrado, favorecendo uma melhor qualidade de vida para todos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A visão contemporânea antropocêntrica considera a humanidade como parte que integra de modo indissociável o meio ambiente, logo o desafio colocado para a geração atual é conciliar a melhoria do bemestar material e espiritual das pessoas com a preservação do meio ambiente. Políticas públicas capazes de conciliar desenvolvimento econômico, social, político e cultural com um ambiente ecologicamente equilibrado passaram a ser imprescindíveis. Assim, o progresso tecnológico voltado para o desenvolvimento e o emprego de novas tecnologias limpas, que empregam menores quantidades de materiais e de energia e causam menores danos ao meio ambiente por unidade de bem ou serviço final, e mudanças nos hábitos de consumo, que priorizem a demanda por bens produzidos por processos ecologicamente corretos, constituem ações efetivas para a conservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida. Tais fatores estão integrados ao atual modelo de industrialização que busca definir, em longo prazo, um novo padrão de qualidade que seja capaz de manter a prosperidade do planeta e a manutenção da vida humana neste. Contudo, melhores condições de vida que garantam o bem-estar de todos somente serão alcançadas através de ações concertadas de movimentos sociais organizados, dos governos em todos os níveis, do Ministério Público e do Poder Judiciário. A adoção de tais pontos torna-se fator essencial para a conservação dos recursos naturais e para se impedir a degradação dos serviços ambientais com vistas a promover uma melhoria contínua na qualidade de vida da geração atual e a garantir as condições materiais para a vida das futuras gerações. Num ambiente de concorrência exacerbada, as empresas buscam minimizar os custos para auferir superlucros. Neste contexto, elas jamais internalizarão espontaneamente os custos associados às externalidades negativas. Ao contrário, elas pressionarão para que os custos relativos ao emprego que elas fazem dos recursos naturais e dos serviços ambientais públicos sejam pagos pela sociedade que vive nos locais em que suas plantas estão instaladas. Somente por meio de instituições e de políticas públicas voltadas para a internalização das externalidades negativas é que as empresas pagarão pela degradação dos recursos naturais e pelos danos aos serviços ambientais que elas promovem no processo produtivo. Em vista dos elevados custos de transação, a resolução por meio de negociação dos impasses entre o causador do dano ao meio ambiente e aqueles que sofrem com ele não se aplica a situações reais. Assim, a ação efetiva do poder público para resolver os conflitos entre as empresas e a população do local das plantas industriais é imprescindível, sendo que a taxa pigouviana constitui-se num instrumento econômico eficaz, por internalizar as externalidades negativas. Vale considerar que, além da atuação política e econômica do Estado (taxa pigouviana), a internalização das externalidades negativas também pode ser Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1., p.1-7, Julho, 20 12 Economia ecológica: entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social estabelecida no campo social, por meio de acordos realizados entre as empresas degradadora e representantes da comunidade local, com fins a integrar os danos ambientais, ou melhor, a prevenção/mitigação desses danos, nas despesas gerais das empresas. Outra questão social que pode resultar em ótimos benefícios ao ambiente é a utilização da força coletiva no embargo ou “boicote” às compras dos produtos originários da empresa degradadora, sendo este um instrumento poderoso da população. Portanto, a economia ecológica, que determina novas estruturas econômicas, não pode estar entre a proteção ambiental e a garantia do bem-estar social, ambos os fatores deve integrar a abordagem econômica atual, afinal de contas o ambiente deve ser preservado, sendo crucial a definição de políticas e as legislações ambientais que impulsionem as mudanças nas políticas em nível nacional e internacional, contudo, sem prejudicar a garantia do bem-estar da sociedade. 5. LITERATURA CITADA DERANI, C. Direito Ambiental Econômico. 3.ed. 2. tirag. São Paulo: Saraiva, 2009. D’ISEP, C.F.M. Direito Econômico e a ISO 14000: análise jurídica do modelo de gestão ambiental e certificação ISO 1401. 2.ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. D’ISEP, C.F.M. Políticas públicas ambientais: da definição à busca de um sistema integrador de gestão ambiental. In: Políticas Públicas Ambientais: Estudos em Homenagem ao Professor Michel Prieur.Org. 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Os resultados permitiram identificar as microrregiões mais importantes do segmento fabricação de produtos de madeira, sendo apontadas as microrregiões de Jaguariaíva, Rio Negro e Guarapuava como pólos madeireiros e a formação de arranjos produtivos locais nessas regiões. Palavras-chave: Arranjo produtivo local, construção civil, exportações, fomento florestal, indústria madeireira, medidas regionais. SECTOR PARTICIPATION IN THE ECONOMY OF TIMBER MICRO GEOGRAPHIC PARANÁ - 2009 ABSTRACT - This paper pre sents an ove rview of the timber industry in the state of Paraná, analyz ing the micro-state in which the timber sector has economic importance, in 2009. Through regional measures, industry structure, production is or ganized in a matrix, from which information is extracted and made calcu lation s of the meas ures of location and specialization. The results allowed to identify the most important segment micro manufacturing of wood products, and pointed out the micro-regions of Jaguariaiva, Rio Negro and Guarapuava as wood poles and the formation of local clusters in these regions. Keywords:Construction, exports, forest development, local productive arrangement, regional measures, timber industry. 1. INTRODUÇÃO Segundo Bittencourt & Oliveira (2009), a atividade florestal e madeireira sempre contribuiu para o desenvolvimento sócio econômico do país e do Paraná, além de participar em um ciclo econômico de grande importância para o Estado. A indústria madeireira se destaca por ser um segmento de grande representatividade na economia brasileira, influenciando a geração de renda, tributos, divisas, empregos, e atualmente a preservação ambiental. Os complexos produtivos chamados arranjos produtivos locais estão presentes nesse segmento, pois neles as participações de empresas da mesma atividade e em municípios próximos ficam concentradas em determinada região e interagem entre si. Dessa forma a região se desenvolve e fortalece o ramo da atividade, absorvendo trabalhadores, ganhando novos mercados e implantando melhorias nos processos produtivos e na gestão. Com a abertura comercial brasileira, o segmento madeireiro passou por um processo de modernização, pois a atual disponibilidade de recursos florestais tornase cada vez mais competitiva, tanto no mercado interno como no mercado externo. Foi pensando nessa situação que, em 2000, foi criado o Programa Nacional de Floresta, Professor do Departamento de Ciências Econômicas - UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected]. Professora do Departamento de Ciências Econômicas - UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected]. 3 Bacharel em Ciências Econômicas pela UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected] 1 2 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009 que visa expandir a base florestal através de políticas adequadas, para abastecer a indústria madeireira e manter seu mercado em ascensão (Bittencourt & Oliveira, 2009). De acordo com a ABIMCI (2008), mesmo com os inúmeros fatores que afetaram a competitividade do setor madeireiro, como a variação cambial, a redução na demanda de madeira nos EUA, o aumento dos custos de produção, entre outros, os dados de 2007 apontaram um bom desempenho da indústria madeireira processada mecanicamente, tendo em vista que o setor apresentou um crescimento de 2,3% em 2007, ano em que o PIB desse setor chegou a US$ 13,1 bilhões. O setor tem buscado novas soluções e isso refletiu no bom desempenho do PIB setorial em 2007. Dentre essas soluções destacam-se os ganhos de escala e controle sobre o suprimento de matéria-prima, a diferenciação dos produtos, o aumento nos níveis de produtividade, melhoria da eficiência (floresta – indústria – mercado) e programas de certificação de qualidade. A proposta de análise desta pesquisa consiste em identificar a importância da indústria madeireira no Paraná, bem como a participação do setor madeireiro na economia de cada microrregião do estado. Para isso, serão contextualizados, em um histórico sobre a indústria madeireira no Paraná, seu panorama atual, a classificação em que se enquadra a fabricação de produtos de madeira de acordo com a classificação nacional de atividades econômicas (CNAE), e a relação do setor madeireiro com a construção civil. Assim, este artigo tem como objetivo principal analisar a localização e a distribuição do setor industrial madeireiro, ponderar o grau relativo de concentração da atividade industrial madeireira, e identificar o grau de especialização das microrregiões do Paraná. Considerando a importância da economia paranaense em relação ao Brasil, é de grande relevância o estudo da indústria madeireira no Paraná, visto que esta responde por cerca de 17% do total do Valor Adicionado Fiscal da indústria e o maior empregador industrial do Paraná, com aproximadamente 21% do total da mão-de-obra industrial do estado (IPARDESSEBRAE, 2006, p.19). Neste contexto, justifica-se a relevância do tema estudado, como forma para compreender a importância da indústria madeireira para a economia paranaense, bem como a identificação das principais microrregiões do estado onde este setor exerce maior influência. 9 2. A INDÚSTRIA MADEIREIRA NO ESTADO DO PARANÁ Segundo Lavalle (1981), existia no Paraná uma extensa floresta araucária angustifólia que permitiu, a partir do século XIX, que a exploração da madeira fosse uma das atividades mais importantes da região. No início, a madeira era retirada nas áreas litorâneas devido à dificuldade de ligação entre o litoral (Portos de Paranaguá, Antonina e o Porto fluvial de Foz do Iguaçu) e o planalto onde se localizavam as matas de araucária. Com o surgimento da ligação ferroviária entre o planalto e o litoral abriram-se novas perspectivas para a madeira paranaense, principalmente para o pinho. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, esse produto ganhou uma importância significativa na indústria paranaense. Após a Segunda Guerra Mundial, com a abertura e a dinamização dos mercados europeus que importavam madeira, aliadas à necessidade de reconstrução de edifícios, ferrovias e indústrias destruídos pela guerra, gerou-se uma oportunidade extraordinária para fornecedores menores entrarem no mercado de exportações. Mesmo com toda a legislação que os governos tentaram implantar desde 1904 visando à preservação das matas do estado, o esgotamento florestal foi crescente, principalmente com a abertura do mercado europeu para o pinho brasileiro e com a expansão dos mercados platinos que geraram uma devastação maior nas regiões centro-sul e oeste do Paraná. Durante a década de 1990, o estado apresentou expansão industrial que lhe garantiu competitividade e modernização de seu parque industrial. Além dos diversos investimentos, a estratégia do governo estadual, iniciada em 1995 com o intuito de atrair novas indústrias, teve como base a melhoria na infraestrutura do estado, fazendo melhorias em suas rodovias, portos, aeroportos, ferrovias, energia, saneamento, o aumento da qualidade de vida e a qualificação profissional. Destacam-se, entre os principais investimentos industriais, as montadoras de veículos e a implantação de empresas produtoras de painéis de madeira, além do fortalecimento dos setores madeireiros e moveleiros do estado. Na visão de Duda et al. (2010), na década de 1990, o Paraná se destaca por possuir um privilegiado estoque de matéria-prima e tecnologia para a indústria madeireira. A taxa de câmbio, por um lado, prejudicava a indústria Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 10 exportadora de pinheiros nativos e, por outro, permitia a importação de maquinário para o aproveitamento do pinus, disponível em grandes áreas para desbaste (primeiro corte da árvore) e com um custo baixo para a nova indústria. Ainda nesse contexto se destacava a política de atração de investimentos estrangeiros em projetos industriais e a preocupação com o aprimoramento da infraestrutura. Para Bittencourt & Oliveira (2009), os últimos 15 anos representaram uma reestruturação da indústria madeireira que foi fundamental para manter e ampliar os mercados interno e externo, promovendo assim desenvolvimento para o país, isso tudo devido à abertura comercial. Na década de 1990 o Brasil não participava muito nas exportações mundiais de origem florestal, com a abertura comercial e a desvalorização cambial, o país ganhou mais espaço no mercado externo e, em 2005, já correspondia com cerca de 4,6% das exportações mundiais e se firmava como o maior exportador de compensados de pinus, celulose de fibra de eucalipto e também como o terceiro exportador de madeira serrada tropical. De acordo com Duda et al. (2010), no período de 1999 a 2003, o estado organiza-se com novas empresas ou conversão de antigos exploradores de pinheiro do Paraná e o começo de uma nova indústria local de compensados de pinus, com destaque para a cidade de Palmas. Nos polos de Telêmaco Borba, Jaguariaíva, Ponta Grossa, Vale do Ribeira, Guarapuava e Curitiba, ocorreu o mesmo, porém no segmento de madeira serrada. Em 2004 ocorreu o ápice das exportações de produtos de madeira no Paraná, e a partir desse ano essas exportações sofrem uma sensível diminuição, deixando entender que a crise mundial de 2008 teve grande influência nesse quadro, isso devido à queda na demanda externa. Nesse período ocorre uma diminuição da importância relativa da indústria paranaense de controle local, passando a predominar empresas de controle estrangeiro, voltadas ao mercado interno. Nesse contexto, cabe destacar a atuação da empresa local Bernek Aglomerados, produzindo placas de MDP (painéis produzidas com partículas de madeira, com a incorporação de um adesivo sintético (Weber, 2011)) e que também inaugurou uma planta de MDF (painel de madeira reconstituída de média densidade (Weber, 2011)) em Araucária. Outra empresa de destaque é a Placas do Paraná, que está sob controle da chilena NUNES, P.N. et al. Arauco e possui uma planta de MDP em Curitiba e uma de MDF em Jaguariaíva. Em 2009 essa empresa adquiriu a maior indústria de MDF do Paraná, a Tafira. Segundo a FIEP (2011), a fabricação de produtos de madeira do Paraná é a segunda maior do Brasil em número de trabalhadores, perdendo somente para Santa Catarina. Em 2006 a indústria madeireira tinha vínculo com 44.233 trabalhadores. Na subclassificação “fabricação de madeira laminada e chapas de madeira compensada”, o Paraná possui a melhor posição, com 18.658 trabalhadores. O gênero industrial madeira possui 2.320 estabelecimentos industriais e responde por 3,8% das vendas industriais do Paraná. Os indicadores conjunturais mais recentes não deixam dúvidas sobre a desaceleração da atividade industrial madeireira no Brasil e no Paraná, o fraco desempenho da indústria madeireira paranaense se deve aos fatores de restrição do crescimento da economia, como a alta carga tributária e a rigidez da política monetária. Os altos patamares de juros e a tributação impõem condições desfavoráveis à contratação de financiamentos e também aumentam o custo de oportunidade dos investimentos na produção, comprometendo assim a formação de poupança empresarial por conta da forte transferência de recursos para os setores públicos e financeiros. Também são nítidos os efeitos da apreciação cambial, principalmente sobre segmentos manufatureiros com elevado coeficiente de exportações. A forte contração da atividade na indústria madeireira do Paraná produz efeitos negativos sobre a produção e o emprego (FIEP, 2011). De acordo com Duda et al. (2010), o grupo de madeiras e manufaturas de madeiras é o 4º item da pauta de exportações paranaenses, perdendo apenas para o complexo soja, carnes e materiais de transporte. Podese notar que os três primeiros itens da pauta de exportações do Paraná têm sua produção em regiões consolidadas como polos de elevado grau de desenvolvimento humano (região norte, oeste e metropolitana de Curitiba). Já a indústria madeireira trouxe benefícios às regiões que estavam mais estagnadas ou sequer experimentaram ciclos de desenvolvimento. A recuperação da indústria madeireira exportadora teve como principal cenário os polos de Ponta Grossa, Guarapuava, Palmas, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, União Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009 da Vitória, Lapa e Irati. Além de beneficiar as regiões menos desenvolvidas do estado, o setor madeireiro utiliza mão-de-obra intensiva e de baixa qualificação, além de aproveitar áreas acidentadas, inviáveis à mecanização de um modo geral, que são deixadas de lado pela agricultura e utilizadas nos longos ciclos da silvicultura. Além da importância para as exportações do estado, a indústria madeireira também se relaciona com outros setores. Dentre os principais setores consumidores da madeira destacam-se o setor moveleiro e o setor de construção civil, sendo este último o maior consumidor da madeira tropical produzida no Brasil (Zenid, 2009). Conforme destaca ABIMCI (2008), no início de 2007 o governo federal lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujo objetivo é expandir o crescimento econômico social do Brasil, e a construção civil foi um dos principais segmentos beneficiados pelo Programa. Além disso, outros fatores contribuem com o crescente aquecimento desse setor, como os inúmeros lançamentos de empreendimentos imobiliários, atrelados à facilidade de compra da casa própria e de crédito para reformas e construções de forma consignada. Segundo o IBGE (2008), a construção civil cresceu 9,9% no segundo trimestre do ano de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior. Nesse contexto de crescimento da construção civil, o segmento madeireiro também está sendo beneficiado, pois a indústria de madeira processada mecanicamente passou em 2008 por momentos de crise em função da valorização do real frente ao dólar, além da queda da demanda imobiliária nos Estados Unidos da América (EUA). Com o crescente investimento da construção civil no país, a indústria madeireira teve a oportunidade de diminuir suas perdas através das vendas no mercado interno. Pode-se inferir então que o bom momento vivido pela construção civil no Brasil representa uma oportunidade, principalmente para a indústria da madeira processada mecanicamente, de recuperação econômicosocial e de geração de emprego e renda. A proximidade geográfica parece ser o ponto de partida para a análise das novas formas de organização das firmas. Essa proximidade entre as firmas e a 4 11 especialização setorial completa-se formando uma economia de aglomeração e isso vem sendo identificado como característica de algumas indústrias. A proximidade geográfica possibilita o surgimento de outras atividades subsidiárias em relação à firma. Os fornecedores de bens e serviços representam uma importante fonte de economias externas. Porém, o conceito de externalidade possui um alcance limitado, envolvendo apenas a facilidade de acesso aos insumos especializados, mãode-obra e outros fatores de produção. No entanto, foi Marshall quem institui a ideia de economias externas e, portanto, pode-se dizer que a ideia de arranjos produtivos é um desdobramento dos trabalhos de Marshall4 no século XIX (Stainsck et al., 2005). Arranjo Produtivo Local é definido como a aglomeração de um número significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal, e de empresas correlatas e complementares - como fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outras -, em um mesmo espaço geográfico (município, conjunto de municípios ou região), com identidade cultural local e com vínculos, mesmo que incipientes, de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: instituições públicas ou privadas de treinamento, promoção e consultoria; escolas técnicas e universidades; instituições de pesquisa, desenvolvimento e engenharia; entidades de classe; e instituições de apoio empresarial e de financiamento (Albagli & Brito apud IPARDES/ SEBRAE-PR, 2006). Segundo o SEBRAE (2011), no estado do Paraná estão localizados os seguintes APLs: Rio Negro (móveis e madeira), na região atuam 80 empresas com mais de 2.000 funcionários. Até as mudanças cambiais esse APL apresentou grande vocação para exportação. Porém, nos últimos anos muitas empresas foram obrigadas a mudar o seu foco para o mercado interno; União da Vitória (esquadria e madeira) é uma região com mais de 100 anos de tradição, que além de abranger sete municípios paranaenses conta com três municípios de Santa Catarina, esse APL conta com a participação de todos os ramos da madeira (serraria, laminadoras, De acordo com Marshall (1920), a presença concentrada de firmas em uma mesma região pode prover ao conjunto dos produtores vantagens competitivas, que não seriam verificadas se eles estivessem atuando isoladamente. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 12 fábricas de compensados, móveis e casas), porém, a maior especialização é nas esquadrias que são responsáveis por 20% da produção nacional; Arapongas (móveis), esse APL emprega cerca de 15.000 pessoas e conta com aproximadamente 576 indústrias; Sudoeste do Paraná (móveis), concentrado nos municípios de Francisco Beltrão e Ampére, esse APL conta com aproximadamente 158 empresas, a atividade moveleira começou na região há aproximadamente 50 anos atrás quando a fabricação de móveis se tornou complementar à extração de madeira. 2.1. O fomento florestal De acordo com Siqueira et al. (2004) apud Centro de Inteligência em Florestas (2011), fomento florestal é um instrumento que promove a integração dos produtores rurais à cadeia produtiva e lhes proporciona vantagens econômicas, sociais e ambientais. O Fomento 5 Florestal serve também como atividade complementar na propriedade rural, viabilizando o uso de áreas improdutivas, degradadas, subutilizadas e inadequadas à agropecuária, possibilitando ao produtor rural uma renda adicional. Segundo a ABIMCI (2008), o Fomento Florestal é capaz de criar novas oportunidades para produtores rurais e atualmente tem se destacado nas empresas privadas para que determinados objetivos sejam alcançados, são eles: geração de emprego e renda; alternativa econômica de produção com mercado garantido, boa rentabilidade e baixo risco; aumento da arrecadação de impostos nas regiões de abrangência; inserção social; melhoria na qualidade de vida da população através da preservação ambiental; fixação do homem no campo; contribuição para regularização ambiental das propriedades rurais; atendimento ao abastecimento de fábricas que utilizam madeira como matéria-prima; redução de ativos florestais; recuperação florestal e conservação do solo; diminuição da pressão sobre a madeira nativa; responsabilidade socioambiental de empresas; diversificação de usos e culturas agrícolas; e outros. O Fomento Florestal tem se tornado comum principalmente para as grandes empresas que utilizam a madeira em tora como matéria prima. Isso acontece pela possibilidade de ampliação da base florestal em propriedades de terceiros, através de parcerias com pequenos, médios e grandes produtores rurais. Diante dessa situação, nota-se que programas de Fomento NUNES, P.N. et al. Florestais bem estruturados podem ser o diferencial de competitividade e renda para empresas e produtores envolvidos. Dessa forma, essa prática é considerada uma excelente alternativa sustentada nos aspectos social, econômico e ambiental para suprir a necessidade de madeira. De acordo com Ribeiro & Miranda (2009), a empresa Klabin de papel e celulose S.A. destaca-se no Paraná pelo seu programa de Fomento Florestal. Através dele a empresa disponibiliza tecnologia florestal aos pequenos produtores rurais e promove o desenvolvimento regional. O programa tem por objetivo permitir que os produtores tirem proveito do programa de reflorestamento que tem como finalidade atender aos aspectos sociais, manter o agricultor fixo na área rural, incrementar a renda, disseminar práticas de conservação ambiental e aumentar a disponibilidade de madeiras de florestas plantadas. O Fomento Florestal da Klabin atinge 3.800 produtores, totalizando uma área de 22.000 ha. A empresa pratica três tipos de fomento: a doação de mudas em cooperação com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER); a venda de mudas em um raio de 100 quilômetros e na forma de empreendimento, em que o proprietário rural fica com o primeiro desbaste. Segundo Fisher (2009), o setor de base florestal compreende como atividades primárias a extração vegetal e a silvicultura. Como atividades secundárias compreendem atividades de beneficiamento e processamento que estão divididas nos segmentos derivados de madeira, por exemplo, a madeira sólida, painéis reconstituídos, celulose e papel, móveis, lenha, carvão vegetal, entre outros. 3. METODOLOGIA No presente trabalho são utilizadas as medidas de localização e especialização, geralmente utilizadas em estudos de análise regional. Essas medidas podem ser encontradas em Haddad (1989) e utilizadas em outras pesquisas como Lima et al. (2006), Colla et al. (2007) e Piacenti et al. (2011). Porém, antes disso, são necessárias algumas etapas importantes para definir a localização da atividade produtiva e suas tendências espaciais: delimitar a área espacial da análise; determinar a variável a ser analisada; definir as medidas a serem utilizadas; organizar a estrutura setorial-produtiva em uma matriz. Também é interessante destacar as atividades econômicas e industriais, e sua classificação segundo a CNAE, conforme descrito abaixo. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009 3.1. A fabricação de produtos de madeira e a CNAE De acordo com o IBGE (2011), a CNAE é a classificação de atividades econômicas oficialmente adotadas pelo sistema estatístico nacional e pelos órgãos gestores de cadastros e registros da administração pública do país. A seção C (Tabela 1) compreende as atividades da indústria de transformação física, química e biológica de materiais, substâncias e componentes, com a intenção de se obter produtos novos. A divisão 16 (fabricação de produtos de madeira) compreende a fabricação de madeira serrada, laminada, compensada, prensada e aglomerada e de produtos de madeira para construção, para embalagem, para uso industrial, comercial e doméstico. Ela compreende também a imunização da madeira e a fabricação de produtos de cortiça, bambu, vime, junco, palha e outros materiais trançados. A fabricação de móveis não se enquadra nessa classificação, porém essa atividade consta na divisão 31 (IBGE, 2011). 13 Conforme observado em trabalhos sobre a estrutura produtiva paranaense fazendo-se uso de Matriz InsumoProduto como método de análise (Nunes, 2010), constatou-se que há relações de insumo-produto com o setor madeireiro e com os demais setores produtivos: Agropecuária; Fabricação de Celulose e Papel e Produtos de Papel; Fabricação de Móveis, e Construção Civil. Por este motivo, as análises feitas nesta pesquisa consideram estes mesmos setores, devido à forte integração entre os mesmos. 3.2. Área de análise A pesquisa foi realizada com base nas microrregiões do Paraná (Figura 1 e Tabela 2), compreendendo o ano de 2009. A variável utilizada foi o Valor Adicionado Fiscal5. As atividades econômicas consideradas nesta pesquisa estão relacionadas na Tabela 3, e os índices estimados são os coeficientes de localização e especialização. Tabela 1 - Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE Versão 2.0 Subclasses para uso da administração pública Seção: C Indústria de transformação Esta seção contém as seguintes divisões: Fabricação de produtos alimentícios Fabricação de bebidas Fabricação de produtos de fumo Fabricação de produtos têxteis Confecção de artigos do vestuário e acessórios Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados Fabricação de produtos de madeira Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Impressão e reprodução de gravações Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis Fabricação de produtos químicos Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos Fabricação de produtos de borracha e de material plástico Fabricação de produtos de minerais não metálicos Metalurgia Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos Fabricação de máquinas e equipamentos Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores Fabricação de móveis Fabricação de produtos diversos Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos Fonte: IBGE (2011). 5 Segundo a FIESP (2011), Valor Adicionado Fiscal é obtido, para cada município, através da diferença entre o valor das saídas de mercadorias e dos serviços de transporte e de comunicação prestados no seu território e o valor das entradas de mercadorias e dos serviços de transporte e de comunicação adquiridos em cada ano civil e ele é calculado pela Secretaria da Fazenda. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 14 NUNES, P.N. et al. Figura 1 - Microrregiões do estado do Paraná. Fonte: IPARDES (2011) Tabela 2 - As microrregiões do estado do Paraná – 2011 Microrregião 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Cidades Microrregião Paranavaí 14 Umuarama 15 Cianorte 16 Goioerê 17 Campo Mourão 18 Astorga 19 Por ec atu 20 Floraí 21 Maringá 22 Apucarana 23 Londrina 24 Faxinal 25 Ivaiporã 26 Cidades Assai Cornélio Pr oc ópio Jacarezinho Ibaiti Wenceslau Braz Telêmaco Borba Jaguariaíva Ponta Grossa Toledo Cascavel Foz do Iguaçu Capa nema Francisco Beltrão Microrregião 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 Cidades Pa to Branco Pitanga Guarapuava Palmas Prudentópolis Ira ti União da Vitória São Mateus do Sul Cerro Azul Lapa Curitiba Paranaguá Rio Negro Fonte: IPARDES, 2011. Tabela 3 - As atividades econômicas relacionadas na pesquisa Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 20 21 Atividades Econômicas Agropecuária Ind. Extr ativas Fab. de Prod. Alim. Fab. de Prod. do Fumo Fab. de Prod. Têxteis Confecção de Artigos do Vestuário Prep. de Couros e Fab. de Art. de Couro Fab. de Prod. de Madeira Fab. de Celulose, Papel e Prod. de Papel Impressão e Reprodução de Gravações Fab. de Coque, de Pro. Deriv. do Pet. e de Bicomb. Fab. de Prod. Químicos Fab. de Prod. Farmoquímicos e Farmacêuticos Fab. de Prod. De Borracha e de Material Plástico Fab. de Prod. De Minerais Não-Metálicos Metalurgia Fab. de Prod. de Metal, exceto Máq. e Equip. Fab. de Equip. de Inform., Prod. Elet. e Ópticos Fab. de Máq., Apar. e Materiais Elétricos Fab. de Máquinas e Equip. Nº 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Atividades Econômicas Fab. de Veíc. Autom., Reboques e Carrocerias Fab. de Out. Equip. de Transp., exc. Veíc. Autom. Fab. de Móveis Fab. de Prod. Diversos Manut., Rep. e Inst. de Máq. e Equip. Eletricidade e Gás S.I. U.P. Construção Comércio; Rep. de Veíc. Autom. e Motocicletas Transp., Armaz.e Correio Alojamento e Alimentação Informação e Comunicação Ativ. Finan., de Seg. e Serv. Relacionados Atividades Imobiliárias Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas Atividades Administrativas e Serviços Complementares Educação Saúde Humana e Serviços Sociais Artes, Cultura, Esporte e Recreação Outras Atividades de Serviços Fonte: IPARDES, 2011. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009 A partir da variável Valor Adicionado Fiscal foram calculados índices de localização e especialização. O Quadro 1 demonstra como os valores dessa variável podem ser representados por atividade produtiva entre as microrregiões do estado do Paraná. Quadro 1 – Matriz de relação entre microrregiões do estado do Paraná com a variável Valor Adicionado Fiscal 15 = valor fiscal adicionado total do estado. 3.3. Medidas de localização As medidas de localização se preocupam com a localização das atividades entre as microrregiões e são de natureza setorial. Elas procuram identificar padrões de concentração ou de dispersão do PIB setorial em determinado período de tempo. 3.3.1. Quociente locacional (QL) É utilizado para comparar a participação percentual do Valor Adicionado Fiscal em dada microrregião com a participação percentual do estado. Quando os setores apresentarem QL acima de um, significa que existe possibilidade de exportação, ou seja, a microrregião produz um excedente exportável. Caso o QL seja inferior a um, irá se supor que a microrregião é deficiente no setor, porém, as atividades poderão ser desenvolvidas desde que haja demanda para elas. Fonte: HADDAD, 1989. Definem-se as seguintes variáveis: Distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscal na região. (1) Distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscal setorial entre regiões. (2) (3) (4) 3.3.2. Coeficiente de localização (CL) Tem por objetivo relacionar a distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscal num dado setor entre as microrregiões com a distribuição percentual do Valor Adicionado Fiscal do estado. Se o CL for igual a zero, quer dizer que o setor i estará distribuído regionalmente da mesma forma que o conjunto de todos os setores, ou seja, estará mais disperso entre as microrregiões. Se o valor for igual ou próximo a um, demonstrará que o setor i apresenta um padrão de concentração regional mais intenso do que o conjunto de todos os setores. Onde: (5) = valor adicionado fiscal no setor i da microrregião j; = valor adicionado fiscal no setor i do estado; = valor adicionado fiscal em todos os setores da microrregião j; 3.4. Medidas regionais ou de especialização (CESP) 3.4.1. Coeficiente de especialização O coeficiente de especialização da região j compara a estrutura produtiva da região j com a estrutura produtiva Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 16 NUNES, P.N. et al. nacional. Através desse coeficiente pode-se comparar a economia de uma microrregião com a economia do estado. Uma região com coeficiente de especialização igual a zero significa que a estrutura setorial da região analisada é integralmente equivalente à estrutura apresentada pela região padrão; inversamente, quanto mais próximo de um for o coeficiente de especialização, mais especializada é a estrutura produtiva da região relativamente à do espaço de referência. (6) 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste item são apresentados os resultados dos cálculos obtidos através do método de análise regional (medidas de localização e especialização), descritos na seção referente à Metodologia. 4.1. Quociente locacional Na Tabela 4 encontram-se os valores obtidos em relação ao Quociente Locacional das microrregiões do estado do Paraná referente aos segmentos destacados na Metodologia, referentes ao ano de 2009. De acordo com esses valores, pode-se observar que as microrregiões que apresentaram participação percentual do Valor Adicionado Fiscal mais relevante em relação ao estado do Paraná foram respectivamente Jaguariaíva, Telêmaco Borba, Guarapuava, Ponta Grossa e Palmas. Na microrregião de Jaguariaíva, percebe-se que a fabricação de celulose, papel e produtos de papel é bem significativa, com um QL de 6,72 e uma grande capacidade de exportação para as outras microrregiões, porém, essa grande capacidade não se compara com a de exportação de produtos de madeira, que possui um QL de 11,39. A microrregião de Telêmaco Borba destaca-se por possuir a melhor capacidade de exportação no segmento fabricação de celulose, papel e produtos de papel, com um QL de 13,49, muito superior ao QL do segmento fabricação de produtos de madeira que também possui alto valor (QL = 4,51). A microrregião de Ponta Grossa, além de possuir uma boa capacidade de exportar no segmento fabricação de produtos de madeira (QL = 2,52), possui o segundo maior QL do estado no segmento fabricação de celulose, papel e produtos de papel (QL = 8,52). Um caso interessante é o de Apucarana, que apresentou um QL de 0,56 (QL baixo) no segmento fabricação de produtos de madeira, porém, possui um QL de 18,19 (QL alto) no segmento fabricação de móveis. Como o segmento fabricação de produtos de madeira serve de insumo para o setor moveleiro, a microrregião de Apucarana importa o excedente da fabricação de produtos de madeira das outras microrregiões para suprir sua demanda por madeira. Como se pode observar, o Quociente Locacional pode fornecer informações importantes, dentre elas pode-se destacar a forte relação entre os setores de fabricação de produtos de madeira; fabricação de celulose, papel, produtos de papel e também o de fabricação de móveis. Ainda nesse contexto de informações interpretadas no Quociente Locacional, cabe destacar que entre as cinco microrregiões que se destacam na fabricação de produtos de madeira, todas possuem um QL superior a um no segmento agropecuário. Isso representa que em locais onde existem reflorestamentos, as áreas reflorestadas não competem com as de produção de alimentos, afirmação esta citada por Duda, Veloso & Melo (2010). 4.2. Coeficiente de localização Na Tabela 5 está exposto o Coeficiente de Localização para os segmentos agropecuário, fabricação de celulose e papel e produtos de papel, fabricação de móveis, construção civil e fabricação de produtos de madeira para cada uma das microrregiões analisadas. É notável a presença de índices próximos de zero, isso significa que os setores estão distribuídos regionalmente de forma semelhante ao conjunto de todos os setores. Porém, algumas regiões apresentam coeficientes mais altos, como é o caso de Rio Negro, Jaguariaíva e Curitiba, com coeficientes de localização de 0,13; 0,12 e 0,10 respectivamente. Na agropecuária e na construção, Curitiba destaca-se por possuir o padrão de concentração mais intenso, 0,40 e 0,21, respectivamente. No segmento fabricação de celulose, papel e produtos de papel, destaca-se a microrregião de Ponta Grossa com CL de 0,35. No segmento fabricação de móveis, a microrregião de Apucarana detém o melhor índice de concentração regional com um CL de 0,38. De acordo com esses resultados, percebe-se que as microrregiões que possuem um padrão de concentração regional mais intenso, no setor de fabricação Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009 de produtos de madeira, também são as que possuem um padrão de concentração mais elevado nas atividades relacionadas com esse setor. No caso de Apucarana isso não acontece, embora o CL na fabricação de móveis seja elevado, o CL da fabricação de produtos de madeira é baixo (0,01), este fato justifica-se pela proximidade geográfica entre a microrregião de Apucarana e a de Telêmaco Borba que possui um padrão de concentração regional mais 17 intenso no segmento fabricação de produtos de madeira (CL de 0,05). Os resultados obtidos remetem à idéia de arranjos produtivos locais (APLs), em que a proximidade entre as firmas de um mesmo setor e empresas complementares de setores relacionados à determinada atividade, como fornecedores de insumos, tal proximidade completa-se com a especialização setorial, formando uma economia de aglomeração (Stainsck et al., 2005). Tabela 4 - Quociente Locacional (QL) das Microrregiões do estado do Paraná nos segmentos Agropecuária; Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel; Fabricação de Móveis; Construção e Fabricação de Produtos de Madeira – 2009 Microrregiões Agropecuária Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Fabricação de móveis Construção Fabricação de produtos de madeira 1,02 3,05 2,41 2,64 2,67 1,85 2,91 2,13 2,11 0,06 3,56 4,11 0,76 2,09 3,60 1,98 2,73 1,71 2,57 1,36 2,40 2,04 0,52 0,36 1,90 0,11 2,29 1,68 3,56 1,13 2,55 3,67 1,73 2,00 2,09 2,85 2,20 0,84 2,25 1,00 0,20 0,00 0,03 0,74 0,01 0,12 0,00 0,07 0,09 0,31 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 2,78 0,00 4,41 0,22 0,00 6,72 0,17 0,27 0,05 1,17 0,07 0,01 0,23 0,62 8,52 0,00 0,38 0,84 0,00 13 , 4 9 0,10 0,03 3,56 0,01 1,00 18 , 1 9 0,49 0,10 3,82 3,62 0,75 0,03 0,13 2,12 0,32 0,02 0,16 0,46 0,84 0,17 0,27 0,61 0,86 0,00 0,07 0,10 0,01 1,04 1,81 0,01 0,01 0,51 0,51 0,01 1,74 0,73 0,03 2,19 0,02 0,01 0,16 1,44 0,07 0,04 1,00 0,11 0,00 0,55 0,17 0,13 1,73 0,10 0,47 0,13 1,50 0,00 0,00 0,12 1,15 0,08 0,11 0,12 0,33 0,04 0,78 0,05 0,00 0,59 0,49 0,37 1,15 0,13 5,91 0,08 0,71 0,01 0,06 0,48 0,14 0,02 0,33 0,20 0,01 2,07 1,00 0,56 0,99 0,08 0,07 0,03 0,31 1,22 0,12 0,24 0,77 0,06 0,00 0,03 0,42 0,07 2,56 1,40 2,26 0,07 0,39 11 , 3 9 0,37 0,08 0,11 2,38 0,01 0,12 0,08 0,07 2,52 0,02 2,13 21 , 4 3 0,36 4,51 0,05 0,15 5,16 0,14 1,00 Apucarana Assai Astorga Campo Mourão Capa nema Cascavel Cerro Azul Cianorte Cornélio Pr oc ópio Curitiba Faxinal Floraí Foz do Iguaçu Francisco Beltrão Goioerê Guarapuava Ibaiti Ira ti Ivaiporã Jacarezinho Jaguariaíva Lapa Londrina Maringá Palmas Paranaguá Paranavaí Pa to Branco Pitanga Ponta Grossa Por ec atu Prudentópolis Rio Negro São Mateus do Sul Telêmaco Borba Toledo Umuarama União da Vitória Wenceslau Braz TO TA L Fonte: Resultados da Pesquisa. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 18 NUNES, P.N. et al. Tabela 5 - Coeficiente de localização (CL) das microrregiões do estado do Paraná nos segmentos agropecuária; fabricação de celulose, papel e produtos de papel; fabricação de móveis; construção e fabricação de produtos de madeira - 2009 Microrregiões Agropecuária Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Fabricação de móveis Construção Fabricação de produtos de madeira 0,02 0,03 0,01 0,03 0,00 0,02 0,01 0,40 0,01 0,01 0,01 0,02 0,02 0,03 0,00 0,00 0,01 0,00 0,02 0,00 0,03 0,02 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,00 0,00 0,02 0,08 0,02 0,00 0,01 0,94 0,01 0,00 0,01 0,03 0,00 0,01 0,01 0,29 0,00 0,00 0,05 0,02 0,01 0,05 0,00 0,02 0,01 0,01 0,06 0,00 0,04 0,03 0,00 0,01 0,02 0,01 0,00 0,35 0,01 0,00 0,00 0,00 0,19 0,04 0,02 0,02 0,00 1,37 0,01 0,05 0,02 0,01 0,00 0,01 0,01 0,29 0,00 0,00 0,03 0,00 0,01 0,02 0,00 0,00 0,01 0,01 0,01 0,00 0,00 0,03 0,01 0,01 0,01 0,01 0,00 0,03 0,00 0,01 0,01 0,00 0,01 0,04 0,01 0,01 0,00 1,06 0,01 0,01 0,01 0,03 0,00 0,01 0,01 0,21 0,00 0,00 0,04 0,00 0,01 0,02 0,00 0,00 0,01 0,00 0,01 0,00 0,02 0,02 0,01 0,00 0,01 0,08 0,00 0,01 0,01 0,01 0,00 0,00 0,01 0,03 0,01 0,01 0,01 0,67 0,01 0,02 0,01 0,03 0,00 0,01 0,01 0,10 0,00 0,00 0,04 0,01 0,01 0,04 0,00 0,01 0,01 0,00 0,12 0,00 0,05 0,03 0,01 0,01 0,01 0,02 0,00 0,07 0,01 0,01 0,13 0,00 0,05 0,04 0,01 0,03 0,00 0,94 Astorga Campo Mourão Capa nema Cascavel Cerro Azul Cianorte Cornélio Pr oc ópio Curitiba Faxinal Floraí Foz do Iguaçu Francisco Beltrão Goioerê Guarapuava Ibaiti Ira ti Ivaiporã Jacarezinho Jaguariaíva Lapa Londrina Maringá Palmas Paranaguá Paranavaí Pa to Branco Pitanga Ponta Grossa Por ec atu Prudentópolis Rio Negro São Mateus do Sul Telêmaco Borba Toledo Umuarama União da Vitória Wenceslau Braz TO TA L Fonte: Resultados da Pesquisa. 4.3. Coeficiente de especialização A especialização das microrregiões do estado do Paraná nos segmentos considerados nesta pesquisa em relação ao ano 2009 é observada através do coeficiente de Especialização (Tabela 6). Este coeficiente compara a estrutura de cada uma das microrregiões com a estrutura produtiva estadual. No geral, os índices mostraram-se muito próximos, com CEspj entre zero e 0,2, indicando certo grau de homogeneidade entre as 39 microrregiões. Porém, cabe ressaltar que algumas regiões possuem especialização relevante em determinados segmentos, são elas: Ponta Grossa e Telêmaco Borba, especializadas na fabricação de celulose, papel e produtos de papel; Jaguariaíva, especializada na fabricação de celulose, papel, produtos de papel e também no segmento fabricação de produtos de madeira; Rio Negro, especializada na fabricação de produtos de madeira; e Apucarana, especializada em móveis. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 A participação do setor madeireiro na economia das Microrregiões geográficas do Paraná - 2009 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo demonstrou, na sua revisão de literatura, que a indústria madeireira faz parte da história do Paraná e fez parte de um ciclo econômico muito importante para o estado. As florestas nativas foram se esgotando rapidamente e, para suprir a necessidade de matéria-prima, o estado usou como alternativa os reflorestamentos de pinus e eucalipto. Os reflorestamentos têm papel fundamental na economia paranaense, visto que estes, através de políticas de fomento florestal, geram renda para os pequenos proprietários de terras e garantem o fornecimento de matéria prima para o setor madeireiro. A indústria madeireira no estado do Paraná é influenciada por uma alta carga tributária e pelas variações cambiais. Com a valorização do real frente ao dólar, a exportação de produtos de madeira tende a diminuir. Porém, o crescimento da construção civil gera uma oportunidade para esses produtos no mercado interno. O Paraná possui importantes Arranjos Produtivos Locais relacionados aos setores de móveis e madeira. Percebe-se, então, a forte relação entre os dois setores, visto que o segmento fabricação de produtos de madeira fornece insumos para a fabricação de móveis. Os objetivos do trabalho foram alcançados, já que as medidas regionais foram eficientes e demonstraram que algumas microrregiões possuem Valor Adicionado Fiscal mais relevante em nível estadual e outras que apresentaram um padrão de concentração regional mais intenso, além daquelas com maior grau de especialização. Como o tema estudado é muito amplo, sugerese ainda a análise conjunta com outros setores relacionados indiretamente com a indústria madeireira, bem como análises de séries temporais para observar variações nas medidas regionais e aprofundar mais os conhecimentos a respeito da indústria madeireira no Paraná. 6. REFERÊNCIAS ABIMCI. Estudo setorial 2008. Disponível em: <http://www.abimci.com.br/ dmdocuments/ ABIMCI_Estudo_Setorial_2008.pdf>. Acesso em 11 de junho de 2011. 19 BITTENCOURT, L.P.E.; OLIVEIRA, G.B. A indústria madeireira paranaense nos anos recentes. Revista das Faculdades Santa Cruz, Santa Cruz, n.1, p.33-41, janeiro/junho 2009. CENTRO DE INTELIGÊNCIA EM FLORESTAS. Resumo de monografias DEF/UFV. Disponível em: <http://www.ciflorestas.com.br/ texto.php?p=fomento>. Acesso em 5 de outubro de 2011. COLLA, C.; QUEIROZ, S.S.; LIMA, J.F. A Centralidade e o Multiplicador de Emprego: um estudo comparativo das cidades de Cascavel e Corbélia no Oeste do Paraná. 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Base física e política. Disponível em: < http://www.ipardes.pr.gov.br/modules/ conteudo/conteudo.php?conteudo=133>. Acesso em 9 de junho de 2011. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 20 NUNES, P.N. et al. IPARDES/SEBRAE-PR. Censo industrial do arranjo produtivo local da madeira de União da Vitória (PR) e Porto União (SC). Curitiba: Ed. Ipardes, 2006. RIBEIRO, A.B.; MIRANDA, G.M. Estudo descritivo de programas de fomento em empresas florestais. Ambiência, Guarapuava: n.1, janeiro/ abril. 2009. p.49-66. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Fundamentos da Metodologia Científica. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2007. SEBRAE. APLs. Disponível em: <http:// www.sebraepr.com.br/portal/page/portal / PORTAL_INTERNET/PRINCIPAL2009/ BUSCA_TEXTO2009?codigo=900>. Acesso em 29 de outubro de 2011. LAVALLE, A.M. A madeira na economia paranaense. Curitiba: Grafipar, 1981. LIMA, J.F. de; ALVES, L.R.; PIFFER, M. et al. 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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.8-20, Julho, 2012 Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária... 21 FORMALIZAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA: O CASO DA ASSESSORIA À PADARIA ARTESANAL COMUNITÁRIA "MÃOS DE FIBRA" 1 Diego Neves de Sousa2, Cleiton Silva Ferreira Milagres3, Marcelo Miná Dias4, Dayane Rouse Neves Sousa5, Cléverson Silva Ferreira Milagres6 RESUMO – Este relato de experiência é originado de um trabalho de extensão com o objetivo de oferecer assessoria técnica e especializada ao empreendimento econômico solidário Padaria Artesanal Comunitária “Mãos de Fibra”, localizado na zona rural de Viçosa-MG. A Padaria tem a característica de ser predominantemente formada por mulheres rurais. Estas vêm desenvolvendo a produção e comercialização dos pães caseiros. Boa parte da produção resgata a tradição de receitas de seus antepassados. Nessa perspectiva, esta diversidade de produção de alimentos resultou na criação de um novo serviço, denominado “lanchão”, servidos em eventos. Entre os objetivos específicos, as ações estão orientadas para a formalização do empreendimento em uma associação e para a agregação de valores aos produtos artesanais e agroindustriais já comercializados com a finalidade de qualificar a inserção do grupo em mercados especializados. Entre os resultados, percebese que houve melhorias na comunidade desde a formalização do empreendimento “Associação dos Agricultores Familiares Mãos de Fibra”, pois permitiu a concretização de uma estrutura organizacional formal e autossustentável, possibilitando oferecer condições dignas de trabalho, aumentar a produção e otimizar os resultados econômicos e sociais. Assim, ao capacitar os membros do empreendimento, qualificou-se a possibilidade dessas famílias se tornarem agentes ativos e com papel destacado no processo de desenvolvimento comunitário, contribuindo para a sustentabilidade socioeconômica e criando condições que propiciem melhor renda e qualidade de vida. Palavras-chave: Associativismo, formalização, geração de renda. FORMALISATION AND INCOME GENERATION: THE CASE OF ADVICE IN PADARIA ARTESANAL COMUNITÁRIA "MÃOS DE FIBRA" ABSTRACT – This experience report is derived from a work of extension with the goal of providing technical advice and skilled to solidarity economic enterpr ise “Padaria Artesanal Comunitária Mãos de Fibra” located in rural area of Viçosa-MG. The Bakery has the characteristic of being predominantly made up by rural women. Th ese ha ve been dev eloping the production and sale o f homemade breads. Much of the production revenue recovers the tradition of their ancestors. From this perspective, this diversity of food production resulted in the creation of a new service, called “lanchão”, equivalent to “coffee breaks” se rved at even ts. Among the specific objectives, actions are dire cted towards the formalization of the enterprise in an association and aggregation of value to the handcraft and agribusiness products already marketed in order to qualify for inclusion of the group in specialized markets. Among the results, it is perceived that there were improvements in the community since the formalization of the enterprise “Associação dos Agricultores Familiares Mãos de Fibra”, because it allowed the realization of a formal organizational Projeto de extensão universitária financiado pelo Pibex/UFV. Gestor de Cooperativas, Mestre em Extensão Rural (UFV). Analista em Transferência de Tecnologia da Embrapa Pesca e Aquicultura. 3 Gestor de Cooperativas, Mestre em Extensão Rural (UFV). Analista de capacitação do SESCOOP - Tocantins. 4 Agrônomo, Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA). Professor Adjunto da UFV. 5 Graduanda em Cooperativismo (UFV), bolsista do Pibex. 6 Graduando em Gestão do Agronegócio (UFV). 1 2 Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2. 22 SOUSA, de D.N. et al. structure and self-sustaining, enabling provide decent working conditions, increase production and optimize the eco nomic and social outcomes. Thus, by providing capacitation to the members of the assoc iation, the extension project qualified the possibilities of the families to become active agents of the local development process, also contributing to socioeconomic sustainability and creating conditions for the participants to provide better income and quality of life. Key Words: Association, formalisation, income generation 1. INTRODUÇÃO Este relato objetiva apresentar a experiência de assessoria técnica e especializada ao grupo informal denominado Padaria Artesanal Comunitária “Mãos de Fibra”, composto por agricultoras familiares do município de Viçosa-MG. A meta do trabalho de assessoria era a formalização do empreendimento – de modo que fosse constituída uma associação –, a agregação de valor aos produtos artesanais e agroindustriais já comercializados e o apoio ao empreendimento de novas atividades geradoras de renda. A proposta de ação extensionista se iniciou por meio de um trabalho de assessoria – financiado pelo Proext Cultura/2009-2010 – tendo surgido do envolvimento de um grupo de discentes do Curso de Cooperativismo e docentes da Universidade Federal de Viçosa (UFV) com as famílias rurais pertencentes às comunidades de Zig-Zag, Violeira, Estação Velha e Buieié, todas localizadas na zona rural de Viçosa-MG. O grupo já contava com o apoio de outras organizações e entidades, que desenvolviam projetos diversos e pouco articulados. Além da UFV, por meio do projeto de extensão aqui apresentado, estavam, junto ao grupo, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATERMG), o Centro de Tecnologias Alternativas Zona da Mata (CTA-ZM), o Programa de Extensão TEIA, também da UFV, e a organização não governamental NAVI (Núcleo de Arte Viva). A Padaria Artesanal surgiu da atividade coletiva de um grupo de 16 componentes, mulheres de origem rural que buscaram diversificar suas fontes de renda. Para tanto, reuniram-se, uma vez por semana, para produzir pães caseiros. O ofício foi ensinado ao grupo por uma de suas componentes. A comercialização ocorria por meio de uma rede de conhecidos, dentre eles professores universitários, que passaram a formar uma clientela fiel. A matéria-prima para a produção era basicamente originária da localidade, assim como as receitas, derivadas de modos tradicionais de fabricar pães na comunidade. Assim, foi surgindo uma variedade de produtos: pães caseiros de moranga, mandioca, batata, pão integral, além de broas, bolos e biscoitos. Da diversidade de produtos e sua aceitação surgiu a ideia da oferta de um serviço: o “lanchão”, oferecido em intervalos de eventos acadêmicos e profissionais, aproveitando a demanda existente na UFV. Com o incremento da demanda, o grupo percebeu que necessitava agir de modo mais organizado. Seus produtos, embora reconhecidos pela qualidade, pouco se diferenciavam em relação a produtos assemelhados disponíveis no mercado local. Ou seja, faltava aos produtos uma identidade. Diante desse diagnóstico propôs-se ao grupo agregar valor aos produtos, acentuando a identidade “tipicamente rural” dos produtos e sua feitura artesanal. A proposta conduziu à decisão de criar uma logomarca que identificasse o grupo e seus produtos. No processo de assessoria verificou-se que o desejo de qualificação do empreendimento esbarra na percepção do grupo e da equipe que os assessorava, na falta de formalização do grupo, que dificulta a certificação da produção e o processo de comercialização. Nesse sentido, a ação extensionista na Padaria Artesanal Comunitária “Mãos de Fibra” buscou articular o resgate de valores culturais presentes na comunidade rural de origem do empreendimento, criando uma identidade visual para a marca de seus produtos (contribuindo, assim, para as habilidades profissionais de suas componentes); apoiar a formalização do empreendimento coletivo; e criar condições básicas que propiciassem melhor renda e, de forma indireta, como possível resultado do incremento de renda, melhorar as condições de vida das famílias. 2. MATERIAL E MÉTODOS A atividade de assessoria é compreendida como uma ação de mediação e aprendizado coletivo. Para Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2. Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária... 23 possibilitar aprendizagem nos trabalhos que envolvem grupos e assessores, entende-se que a participação tornase instrumento essencial à expressão de percepções, leituras de processos, demandas e projetos (Baas, 1998). Assim, as técnicas, dinâmicas e instrumentos são mobilizados pelos assessores para possibilitar e estimular a participação de todos os envolvidos, de modo a facilitar a construção de percepções compartilhadas e o comprometimento por meio dos acordos elaborados coletivamente (Tatagiba & Filártiga, 2002). ano antes, as etapas de mobilização dos membros e a do diagnóstico participativo já haviam sido executadas, e a partir dos resultados obtidos surgiu a necessidade de elaborar esta nova etapa do projeto. Desta forma, as ações executadas responderam às necessidades apontadas pelos membros da Padaria durante a realização da etapa de diagnóstico. Assim, um novo planejamento foi elaborado e as ações desencadeadas a partir das novas demandas do grupo, sendo a principal delas a formalização do empreendimento. Neste intento, como forma de ação conjunta capaz de abranger uma maior participação dos membros, visando à formação e ao crescimento coletivo e trazendo os indivíduos para o campo de tomada de decisões, foi de suma relevância o contato com a UFV, principalmente por meio dos estudantes do curso de cooperativismo, que possuem formação profissional que os capacita a trabalhar na gestão de empreendimentos autogestionários e solidários. De início foram realizadas algumas oficinas e atividades de capacitação. Num segundo momento, com o apoio da técnica de entrevista semiestruturada e de dinâmicas de grupo, foi construído o estatuto social da associação. Para elaborá-lo foram realizadas reuniões periódicas com o auxílio de um advogado, também membro integrante do projeto, para que todas as dúvidas quanto ao processo de formalização fossem sanadas. A sistemática adotada na execução desta ação foi baseada na dinâmica de reuniões e oficinas, utilizandose do apoio da metodologia participativa. Desta forma, a construção das práticas metodológicas neste trabalho objetivou estimular a participação dos membros da Padaria Artesanal Comunitária “Mãos de Fibra”, dentro de suas possibilidades, visando a uma melhor sensibilização, formação e crescimento coletivo, capacitando-os para tomar decisões no processo de interação. A Figura 1 demonstra o enfoque dado à metodologia adotada neste trabalho de extensão desenvolvido na Padaria Artesanal Comunitária "Mãos de Fibra". Como o projeto aqui descrito foi uma continuidade do que havia sido desenvolvido pela equipe de um projeto de extensão financiado pelo Proext Cultura um A participação foi essencial para que houvesse envolvimento e comprometimento das componentes da padaria com o projeto de formalização. As dinâmicas participativas – facilitadas pelas técnicas e instrumentos metodológicos utilizados – possibilitaram trabalhar os conteúdos teóricos de modo a relacioná-los com conhecimentos e experiências presentes no grupo. Nesse processo buscaram-se o resgate e a valorização cultural das experiências e do conhecimento proveniente da própria comunidade, construindo um tipo de diálogo entre o saber cotidiano e o saber acadêmico, gerando assim um ambiente de aprendizado para todos os envolvidos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As associações que se constituem a partir da economia solidária têm buscado, a duras penas, inserção Figura 1 - Metodologia geral adotada para as ações da Padaria Comunitária. Fonte: Adaptado de Olival (2006). Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2. 24 qualitativa e sustentável em mercados que possibilitem incrementar sua renda e, ao mesmo tempo, manter os princípios da economia solidária. Estes mercados, longe de serem solidários e abertos às necessidades de inclusão social desses grupos, são geralmente seletivos, competitivos e excludentes. Este caráter da economia capitalista gera a necessidade de qualificação e capacitação para capacitar empreendimentos econômicos solidários e de produção em pequena escala, para os quais a proximidade das relações econômicas e a afirmação do pertencimento a uma forma culturalmente enraizada de produzir são elementos essenciais (Altvater, 2010). Considerando esse cenário, um passo importante para a Padaria Comunitária “Mãos de Fibra” seria a sua formalização como uma associação, de modo a ter legitimidade para representar, judicialmente, seus filiados, como também acessar os benefícios dos programas de políticas públicas que exigem a formalização dos grupos. O grupo historicamente vinculado à Padaria formalizou-se, em 2010, como Associação dos Agricultores Familiares “Mãos de Fibra”. A formalização do empreendimento foi uma etapa fundamental do esforço para qualificar o processo produtivo, agregar valor aos produtos e incrementar a renda. A qualificação do processo produtivo viria com o acesso a recursos de políticas públicas; a agregação de valor com a criação de uma marca para os produtos e sua vinculação à associação e à cultura local; e o incremento de renda seria esperado como resultado das melhorias técnicas e formais introduzidas. Ademais, a formalização do empreendimento coletivo, como organização comunitária, seria uma instituição importante na promoção da participação social dos envolvidos na comunidade e na condução de suas ações e decisões, a fim de promover o desenvolvimento local. Além disso, concorre positivamente para promover a ação empreendedora comunitária, entendendo que a mesma depende da existência de objetivos, regras e metas compartilhados. A formalização possibilitou que o grupo fosse beneficiado com recursos do Projeto de Agroindústria do Programa “Minas Sem Fome”, implementado pelo governo do estado de Minas Gerais. Os recursos adquiridos e a colaboração de parceiros possibilitaram ao grupo comprar um terreno para a construção da sede da Padaria. Em vistas à construção, houve doações de materiais para a estrutura física, e vários parceiros SOUSA, de D.N. et al. e pessoas da comunidade participaram de um mutirão para erguer o prédio, que obedeceu às normas da legislação vigente para empreendimentos de panificação. Quando os recursos para pagar a mão-de-obra ficaram escassos, a contratação de pedreiros foi possível graças à arrecadação de fundos viabilizada pela promoção de eventos beneficentes. Assim, ao elencar os resultados da ação desencadeada pelo projeto, é importante compreender que a Padaria – sua trajetória e seu significado local – mobilizou uma rede de parceiros que potencializou as ações do projeto, determinando resultados que não podem ser imputados somente à ação de um dos atores envolvidos. Ao longo do processo de formalização percebeuse a necessidade de construir coletivamente a identidade do grupo, criando um nome representativo para a associação e também uma logomarca. Foi então r ea l iza d a u m a pe sq ui sa e nt r e c oop e r at iv as , associações e ONGs brasileiras de produtores artesanais, a qual constatou que as marcas mais fortes do mercado são compostas por nomes próprios que representem o seguimento de caráter da organização. Um bom exemplo é a CRIOULA, organização não g ov e r na m en ta l q ue t ra b a lh a c o m m ulh e r es , adolescentes e meninas negras, basicamente em comunidades carentes do Rio de Janeiro, produzindo e comercializando artesanalmente produtos afrobrasileiros com grande aceitação mercantil. As experiências pesquisadas e apresentadas ao grupo “Mãos de Fibra” resultaram na definição de uma denominação que, ao ser relacionada ao grupo, também comunicasse a identidade individual e a identidade do mineiro do interior, bastante apegado ao rural e aos seus valores. Ao longo das discussões em grupo também ficou patente que a logomarca deveria caracterizar também a identidade das mulheres como “trabalhadoras rurais”. Assim, a denominação “Mãos de Fibra”, mantida como identificação histórica do grupo, tornou-se marca para o grupo e para seus produtos. A etapa final de elaboração da marca foi a contratação, pelo grupo e com apoio do projeto, de uma assessoria técnica especializada na elaboração de logomarcas. Esta assessoria foi integrada ao trabalho participativo de construção coletiva da identidade visual. Estas ações também tiveram como resultado o fato de o grupo envolvido desenvolver capacidades para Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2. Formalização e geração de renda: o caso da assessoria à padaria artesanal comunitária... 25 planejar ações, definir objetivos, articular-se com parceiros e tomar decisões coletivas sobre as necessidades do grupo. contribuindo para a sustentabilidade socioeconômica e criando condições que propiciem melhor renda e qualidade de vida. 4. CONCLUSÕES 5. LITERATURA CITADA Analisando os resultados diretos e indiretos da ação extensionista desenvolvida, percebe-se que houve melhorias no grupo e na comunidade após a formalização do empreendimento Associação dos Agricultores Familiares “Mãos de Fibra”. A formalização permitiu a concretização de uma estrutura organizacional formal que busca ser solidária e autossustentável, possibilitando oferecer condições dignas de trabalho, aumentar a produção e otimizar os resultados econômicos e sociais. Nesse sentido, ao capacitar os membros do empreendimento para que participassem de maneira mais qualificada nos processos decisórios, promoveu5 se a formação de cidadãos capazes de atuar na gestão dos processos locais voltados para o desenvolvimento humano e para a inclusão social, ou seja, a organização das famílias rurais em um empreendimento cooperativo. Além do mais, qualificou-se a possibilidade dessas famílias se tornarem agentes ativos e com papel destacado no processo de desenvolvimento comunitário, ALTVATER, E. O fim do capitalismo como o conhecemos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. BAAS, S. Participatory Institutional Development. Roma: FAO, 1998. Disponível em: <http://www.fao.org/SD/ppDIRECT/ ppAN0012.HTM>. Acesso em 5 de abril de 2012. OLIVAL, A.A. Estudo de Caso: Participação e desenvolvimento comunitário no município de Carlinda/MT. Trabalho de Conclusão apresentado a UFV no Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Cooperativismo. Viçosa/MG, 2006. TATAGIBA, M.C.; FILÁRTIGA, V. Vivendo e aprendendo com grupos: uma metodologia construtivista de dinâmica de grupo. 2ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. Revista Brasileir a de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.21 -25, J ulho, 201 2. 26 SANTOS, de T.M. et al. TEMPO DE ARMAZENAMENTO E MÉTODOS DE QUEBRA DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DO MARACUJÁ-DE-RESTINGA Telma Miranda dos Santos1, Patrícia Silva Flores2, Sílvia Paula de Oliveira 3, Danielle Fabíola Pereira da Silva2*, Cláudio Horst Bruckner4 RESUMO – O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos do período de armazenamento e tratamento em banho-maria à 50 oC ou escarificação com lixa na quebra da dormência de sementes de Passiflora mucronata. Os períodos de armazenamento foram: zero, um, quatro e doze meses. As sementes foram semeadas em rolo de papel Germitest e incubadas em câmara de germinação com temperatura alternada entre 20ºC por 8 horas e 30ºC por 16 horas, com fotoperíodo de 16 h (32 mol m -2 s -1). A percentagem de germinação foi avaliada, sendo as sementes colocadas em rolos de papel Germitest umedecidos em água destilada na proporção de duas vezes e meia do peso do papel. As sementes foram transferidas para câmara de germinação com alternância de temperatura de 20-30 ºC, e fotoperíodo de 16 h até o final do experimento, aos 31 dias. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, considerando como unidade experimental cada lote de 50 sementes. O período de armazenamento teve um efeito significativo na variável estudada, sendo a maior porcentagem de germinação obtida nas sementes recém-colhidas. Ao primeiro mês de avaliação foi observado o decréscimo da germinação. Após quatro e doze meses de armazenamento, não foi observada germinação. Os tratamentos com banho-maria ou escarificação com lixa favoreceram a germinação das sementes de P. mucronata, armazenadas por um e quatro meses, porém mesmo com o estímulo dos tratamentos, os valores de germinação final foram baixos. Nas sementes armazenadas por 12 meses os tratamentos utilizados não foram eficientes para estimular a germinação. Palavras-chave: Dormência, germinação de sementes, propagação, Passiflora mucronata. EFFECTS OF STORAGE PERIODS AND METHODS OF OVERCOMING DORMANCY IN SEEDS OF PASSIFLORA ABSTRACT – The aim of this work was to evaluate the effects of storage period and treatement with hot water at 50ºC or scarification on dormancy break down on Passiflora mucronata seeds. The storage periods were 0, 1, 4 and 12 months. The seeds were sown onto Germitest paper roll and incubated in a germination chamber under 20ºC/8h-30ºC/16h alternate temperature, at 16-h photoperiod (fluorescent light at 32 mol m-2 s -1 irradiance). The percent germination was evaluated, and the seeds germinated on moistened Germitest paper rolls in distilled water at a ratio of two and a half times the paper weight. The seeds were transferred to a germination chamber with alternating temperatures of 20-30º C and photoperiod of 16 h until the end of the experiment at 31 days. The experiment was analyzed as completely randomized designed with four replications, in which each plot was constituted by 50 seeds. The storage periods had significant effect on the variable studied, Engenheira-Agrônoma, Mestre, Doutoranda do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H. Rolfs, s/n - Campus Universitário - Viçosa-MG - [email protected] 2 Engenheira Agrônoma - Doutora - Pesquisadora A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Acre (Embrapa Acre), BR-364, km 14, CP 321, 69908-970, Rio Branco, Acre, Brasil. E-mail: [email protected]. 3 Estudante de Agronomia - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H. Rolfs, s/n - Campus Universitário - Viçosa-MG - [email protected] 4 Engenheiro-Agrônomo, Doutor, Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. P.H. Rolfs, s/n, 36.570000, Viçosa-MG - [email protected] Fontes financiadoras: CAPES, CNPq e FAPEMIG 1 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12 Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em sementes do maracujá-de-restinga 27 where the higher germination was obtained at freshly harvested seeds. At the first month of evaluation the germination decreased. After 4 and 12 months of storage, no germination was detected. The treatment with hot water at 50º or scarification favored the germination of the Passiflora seeds stored by one and four months, however even with the stimulus of the treatments, the values of final germination were low. The treatments were not efficient to stimulate the seed germination stored by 12 months. Key Words: Dormancy, propagation, Passiflora mucronata, seed germination. 1. INTRODUÇÃO No mundo, existem mais de 580 espécies de maracujazeiros, grande parte nativa da América Tropical e Subtropical, principalmente do Brasil (Lopes et al., 2010). Dentre as passifloráceas silvestres pouco conhecidas, destaca-se o maracujá-de-restinga ou sururu (Passiflora mucronata L.) (Lorenzi et al., 2006). Esta espécie é citada como fonte de resistência a Fusarium solani (Fischer et al., 2005), à bacteriose nas folhas e à antracnose nos frutos e ramos (Junqueira et al., 2005), representando uma importante alternativa para uso potencial como porta-enxerto. Apesar de esta espécie ser propagada por sementes (Lorenzi et al., 2006), não foram encontradas na literatura informações sobre a sua biologia reprodutiva, tampouco sobre as necessidades para germinação das sementes e tempo de armazenamento. Muitas espécies de passifloras silvestres apresentam dificuldades na germinação de suas sementes. Segundo Morley-Bunker (1974), sementes de muitas passifloras apresentam dormência relacionada a mecanismos de controle de água para o interior da semente. O tegumento espesso das sementes é citado como o fator limitante à permeabilidade. Tratamentos como a escarificação química do tegumento de sementes de P. nitida (Silva et al., 2008) e a escarificação mecânica em sementes de P. alata (Rossetto et al., 2000) têm sido utilizados para aumentar a germinação das sementes destas espécies. Em canafístula (Peltophorum dubium), uma leguminosa lenhosa com tegumento com alta dureza, a exposição das sementes ao calor úmido proporcionou o amolecimento do tegumento e o aumento na porcentagem e na velocidade da germinação das sementes (Perez et al., 1999). Tsuboi & Nakagawa (1992) verificaram que, além da escarificação das sementes de maracujáamarelo com lixa, a imersão em água quente foi eficiente para facilitar a entrada de água na semente e promover a germinação rápida e uniforme. Também em maracujazeiro amarelo, Wagner Junior et al. (2007) verificaram melhor germinação de sementes não trincadas em relação às trincadas e Alexandre et al. (2004) verificaram que a porcentagem de germinação das sementes e o índice de velocidade de emergência não foram influenciados pelos tempos de embebição estudados, mas pelo genótipo das plantas. O armazenamento das sementes também é citado como método para auxiliar no aumento da porcentagem de germinação em passifloras. Em P. nitida, é necessário que as sementes sejam armazenadas por quatro a seis meses para a superação de dormência (Melo, 1996). Em maracujazeiro amarelo, Negreiros et al. (2006) verificaram que a extração de sementes deve ser realizada de frutos em estádio de maturação 2 e 3 e que o desenvolvimento das mudas foi melhor mantendo-se os frutos durante 3 a 6 dias em armazenamento antes da extração de suas sementes. O conhecimento sobre os aspectos da germinação de sementes das diversas espécies de passifloras é fundamental para a propagação e para a manutenção de bancos de germoplasma, visando evitar a erosão genética. Estudos efetuados nesse gênero são ainda incipientes (Passos et al., 2004). Dessa forma, os objetivos do trabalho foram avaliar a germinação de sementes recém-colhidas de Passiflora mucronata e a germinação após diferentes tempos de armazenamento. Adicionalmente, foram avaliados os efeitos dos tratamentos com escarificação do tegumento com lixa e imersão das sementes em banho-maria, a 50 ºC, sobre a germinação das sementes armazenadas. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Sementes do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) em Viçosa-MG. Foram utilizadas sementes obtidas de frutos maduros de P. mucronata, provenientes de polinização natural de plantas mantidas na área experimental do Setor de Fruticultura da UFV. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12 28 Após a coleta dos frutos e extração da polpa, o arilo mucilaginoso foi retirado friccionando as sementes com cal hidratada, em peneira de arame (3 mm). As sementes foram armazenadas em geladeira a 15 oC, até o momento das avaliações. No primeiro experimento, foi avaliada a germinação de sementes recém-colhidas. Após a assepsia em solução de álcool 70% (v/v) durante 1 minuto, e em hipoclorito de sódio (2,5 % de cloro ativo) por 10 minutos, as sementes foram colocadas para germinar em rolos de papel Germitest umedecidos em água destilada na proporção de duas vezes e meia do peso do papel (Brasil, 2009). As sementes foram transferidas para câmara de germinação com alternância de temperatura de 20-30ºC, e fotoperíodo de 16 h até o final do experimento, aos 31 dias. O delineamento empregado foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, sendo cada parcela composta de 50 sementes. Foram consideradas germinadas as sementes que emitiram radícula e plúmula perfeitas, avaliadas aos 10, 15, 21, 26 e 31 dias. Os dados foram analisados por meio de análise de regressão, com o auxílio do programa SAEG 9.1 (2007). O modelo foi escolhido com base na significância dos coeficientes de regressão no nível de 5% de probabilidade pelo teste “t”, de Student, no coeficiente de determinação e no potencial para explicar o fenômeno biológico. No segundo experimento, foi avaliada a porcentagem de germinação de sementes de P. mucronata armazenadas durante os períodos de um, quatro e doze meses. Paralelamente, foi testado o efeito de pré-tratamentos sobre a germinação das sementes. Os pré-tratamentos foram: imersão das sementes em banho-maria a 50 ºC por cinco minutos ou escarificação do tegumento em lixa nº 60. Este experimento foi realizado nas mesmas condições que o experimento citado anteriormente, sendo a germinação avaliada após 28 dias. SANTOS, de T.M. et al. das sementes e imersão das mesmas em água por 24 horas em temperatura ambiente (Brasil, 2009). Em seguida, as sementes foram imersas em solução de tetrazólio (0,075%) por quatro horas a 30oC em ausência de luz (Malavasi et al., 2001). O padrão de coloração destas sementes foi comparado com a coloração de sementes viáveis, recém-colhidas e submetidas à solução de tetrazólio, sob as mesmas condições descritas anteriormente. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A germinação final das sementes recém-colhidas foi de 79,54% (Figura 1). Melo (1999) obteve germinação máxima de 60% em sementes de P. nitida. Nogueira Filho et al. (2005), trabalhando com sementes de P. giberti e P. setacea embebidas por 12 horas em água destilada e semeadas em bandejas plásticas contendo substrato comercial plantmax, observaram que a máxima germinação ocorreu 58 dias após a semeadura (32% e 28%, respectivamente). Assim, a porcentagem de germinação de sementes recém-colhidas de P. mucronata observadas no presente trabalho foi considerada elevada quando comparada a valores de porcentagem de germinação de outras espécies silvestres de Passiflora. A curva de germinação foi ajustada ao modelo polinomial, na qual é possível observar uma desaceleração a partir dos 26 dias (Figura 1). Diante dos resultados, sugere-se 31 dias como período necessário e suficiente à germinação de P. mucronata. De acordo com Marcos Filho (2005), em períodos prolongados as sementes ficam mais tempo expostas a condições favoráveis à proliferação de fungos, o que pode ocasionar o aumento Empregou-se o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições e 50 sementes por parcela. A análise estatística utilizada para esse experimento foi descritiva. Ao final do período de avaliações, foram coletadas cinco amostras compostas por 10 sementes não germinadas do lote armazenado por 12 meses provenientes dos tratamentos em banho-maria e escarificação com lixa. Foi contabilizado o número de sementes vazias ou chochas e sementes viáveis. Para a análise da viabilidade, foi feita a retirada completa do tegumento Figura 1 - Germinação de sementes de Passiflora mucronata obtidas de frutos recém-colhidos. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12 Tempo de armazenamento e métodos de quebra de dormência em sementes do maracujá-de-restinga 29 da porcentagem de sementes mortas, o que pode ser observado durante este experimento. aos tratamentos em banho-maria a 50o C ou escarificação com lixa (Tabela 1). Apesar do alto potencial germinativo observado no experimento um, a porcentagem de germinação reduziuse bruscamente com o tempo de armazenamento. Após um mês de armazenamento, apenas 4% das sementes (não tratadas) germinaram (Tabela 1). Resultados semelhantes foram observados por Nogueira Filho et al. (2005), que trabalhando com P. caerulea, observaram germinação de 55% das sementes recém colhidas e, após 37 dias de armazenamento, as sementes do mesmo lote que o anterior não germinaram. Através do teste de tetrazólio, observou-se que 20% das sementes armazenadas por 12 meses estavam vazias ou chochas e, dentre as sementes cheias, 71,19% se mantinham viáveis (Tabela 2). Nas sementes com um mês de armazenamento, submetidas aos tratamentos em banho-maria a 50 o C ou escarificação com lixa, observou-se a germinação de 6,67% e 7,33% das sementes, respectivamente (Tabela 1). Estes valores representaram um pequeno aumento na germinação quando comparados ao valor obse rv ad o no tra tame nto co ntro le ( 4,0% de germinação) após o mesmo período de armazenamento (Tabela 1). Nas sementes com quatro meses de armazenamento, ocorreu germinação apenas quando as sementes foram previamente submetidas a 50o C em banho-maria ou escarificadas com lixa, resultando em 1,33% de germinação em ambos os tratamentos (Tabela 1). As sementes de Passiflora mucronata armazenadas por 12 meses não germinaram, mesmo quando submetidas As sementes submetidas ao teste com tetrazólio apresentaram coloração interna homogênea, típica de tecidos sadios, conforme Malavasi et al. (2001). Isto sugere que um mecanismo de dormência secundária pode estar envolvido no impedimento da germinação das sementes desta espécie. De acordo com Bewley & Black (1994), a dormência secundária ocorre através do efeito inibidor dos cotilédones e de substâncias inibidoras da germinação sobre o eixo embrionário. Segundo estes autores, o contato dos cotilédones com o substrato úmido promove a distribuição do inibidor químico para o meio, inibindo a germinação e mantendo a semente dormente. 4. CONCLUSÕES As sementes de Passiflora mucronata recémcolhidas possuem alto potencial germinativo, mas com o passar do tempo a germinação diminui, sendo zero aos quatro e 12 meses de armazenamento. Pré-tratamentos em banho-maria e escarificação com lixa promoveram um pequeno aumento na germinação das sementes de Passiflora mucronata, mas não o suficiente para aquelas armazenadas por 12 meses. Tabela 1 - Germinação (%) de sementes de Passiflora mucronata submetidas a tempos de armazenamento e pré-tratamentos germinativos Tempo de armaz ename nto Pr é -t r a t a me nt o Te stemunha Banho-maria Escarificação com lixa Tot a l 1 mês 4 meses 12 meses 4,00±2, 00 6,67±3, 33 7,33±3, 67 0,00 1,33±0, 67 1,33±0, 67 0,00 0,00 0,00 18 , 0 0 2,66 0,00 Tabela 2 - Viabilidade de sementes de Passiflora mucronata com 12 meses de armazenamento, submetidas a pré-tratamentos em banho-maria ou escarificação com lixa Sementes chochas/vazias (%) Sementes viáveis pelo teste de tetrazólio (%) Banho-maria Escarificação com lixa Média 18,00 ±4, 47 73,33 ±9, 59 22,00 ±8, 37 69,04±11, 58 20 , 0 0 71 , 1 9 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.2 6-31, Julho, 20 12 30 SANTOS, de T.M. et al. 5. LITERATURA CITADA ALEXANDRE, R.S.; WAGNER-JÚNIOR, A.; NEGREIROS, J.R.S. et al. Germinação de sementes de genótipos de maracujazeiro. 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EFEITO DA ROÇADA DAS ESPÉCIES BIDENS PILOSA E COMMELINA BENGHALENSIS NAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DO MILHO 1 João Paulo Lemos2, João Carlos Cardoso Galvão3, Antônio Alberto da Silva 4, Anastácia Fontanetti5, Lorena Moreira Carvalho Lemos6 RESUMO – Devido ao estudo da interação e competição entre a cultura explorada e as plantas daninhas ser de suma importância para diagnosticar a eficiência do manejo das mesmas, principalmente o controle mecânico, realizou-se este trabalho com o objetivo de avaliar os efeitos da interferência de Bidens pilosa e Commelina benghalensis, roçadas em diferentes épocas, sobre as características morfológicas de plantas de milho conduzidas em casa de vegetação. O delineamento experimental foi em blocos inteiramente casualizados, com três repetições, em esquema fatorial 2 x 3 + 1, em que o primeiro fator consistiu de duas plantas daninhas e o segundo de três épocas de manejos dessas plantas (roçada no estádio de três folhas do milho, roçada no estádio de três e seis folhas do milho e milho sem controle das plantas daninhas). O tratamento adicional (testemunha) consistiu de cultivo do milho livre da interferência das plantas daninhas. Foram avaliados o acúmulo de matéria seca nas plantas em todas as partes da planta de milho (folha, caule, raiz e órgãos florais), o intervalo entre o florescimento masculino e feminino, o número de folhas (verdes, senescentes e totais), a área foliar específica, a razão de massa foliar, a razão de massa caulinar, a razão de massa radicular e a razão parte aérea/sistema radicular das plantas de milho em casa de vegetação. Independentemente da espécie de planta daninha estudada, duas roçadas proporcionaram maior acúmulo de matéria seca nas plantas de milho. Plantas de milho em competição com B. pilosa ou C. benghalensis, sem uso de controle, apresentaram reduções (MSF, ALT, NFV e RMF) e incrementos (NFS, IAE e AFE) indesejáveis para o seu potencial produtivo. Palavras-chave: Competição, cultivo orgânico, plantio direto. EFFECT OF CLEARINGS OF BIDENS PILOSA AND COMMELINA BENGHALENSIS SPECIES ON MORPHOLOGICAL CHARACTERISTICS OF CORN ABSTRACT – Due to the study of the interaction and competition between the crop harvested, and the weed is critical to diagnose the efficiency of the administration of them, especially the mechanical control. We carried out this work in order to evaluate the effects of interference of Bidens pilosa and Commelina benghalensis, mowed in different seasons on the morphological characteristics of corn plants conducted in a greenhouse. The experimental design was in entirely casualized blocks, with three repetitions, in a factorial scheme 2 x 3 + 1, on which the first factor consisted of two weeds and the second of three times of handling of these plants (clearing of the stage of three corn leaves, clearing of the stage of three and six corn leaves, and corn without Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, UFV. 2 Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Estudante de Doutorado do Departamento de Fitotecnia, Bolsista CNPq - Universidade Federal de Viçosa, DFT/UFV, 36570-000 Viçosa-MG, [email protected]; 3 Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Dep. de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa - DFT/UFV, Bolsista do CNPq. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, Viçosa-MG, Brasil, 36.570-000, [email protected]; 4 Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Professor do Dep. de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa - DFT/UFV, Bolsista do CNPq. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, Viçosa-MG, Brasil, 36.570-000, Enga.Agra., D.Sc., [email protected]; 5 Professora do Departamento de Agronomia - Centro de Ciências Agrárias/UFSCAR, Rod. Anhanguera, Km 174, Caixa Postal 330, Araras-SP, Brasil, 13.600-970, [email protected] 6 Engenheira Agrônoma, M.Sc., Estudante de Doutorado do Departamento de Fitotecnia, Bolsista CNPq - Universidade Federal de Viçosa, DFT/UFV, 36570-000 Viçosa-MG, [email protected] 1 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características 33 weed control). The additional treatment (witness) consisted in the cultivation of corn free from the interference of weeds. The accumulation of dry matter on plants in all parts of the corn plant (leaf, stalk, root, and floral organs), the interval between male and female florescence, the number of leaves (green, senescent and total), specific foliar area, foliar mass rate, stalk mass rate, root mass rate and aerial part/radicular system rate of corn plants in greenhouses were evaluated. Independently from the weed species studies, two clearings provided a bigger accumulation of dry matter on corn plants. Plant corn in competition with B. pilosa or C. benghalensis without the use of control presented decreases (MSF, ALT, and NFV RMF) and increments (NFS, IAE and AEF) undesirable for its productive potential. Key Words: Competition, direct planting, organic cultivation. 1. INTRODUÇÃO Em busca de um sistema de produção que mais se aproxime do ideal da agricultura conservacionista e sustentável, a melhor opção seria a prática do plantio direto seguindo os princípios da agroecologia. Contudo, uma das principais dificuldades dessa integração é o controle das plantas daninhas sem o uso de herbicidas (Fontanetti et al., 2006). O cultivo orgânico em sistema de plantio direto possibilita a manutenção dos restos culturais, proporcionando, além de outros benefícios, o incremento de matéria orgânica. Entretanto, a infestação de plantas indesejáveis no sistema orgânico atinge, em três ou quatro anos, níveis que inviabilizam a produção de milho (Corrêa et al., 2011). O uso constante de roçadas no sistema de plantio direto orgânico tem levado ao estabelecimento de espécies de plantas daninhas que apresentam rebrota e/ou propagação vegetativa, dificultando o seu manejo na cultura do milho (Vaz de Melo et al., 2007). A importância do controle dessas plantas daninhas é citada em vários trabalhos (Vaz de Melo et al., 2007; Chiovato et al., 2007; Pereira et al., 2009; Queiroz et al., 2010; Corrêa et al., 2011). Darolt & Skora Neto (2003), ao avaliar os diferentes métodos de controle de plantas daninhas no plantio de milho, observaram que é possível alcançar produtividade acima de 6.500 kg de grãos de milho por hectare utilizando-se como método de controle duas roçagens. Também foi verificado que esse método apresenta nível intermediário de mão-de-obra, ou seja, é mais viável economicamente que o uso de uma capina e um pouco mais oneroso que o uso de herbicida. Com referência à roçagem das plantas daninhas, na literatura nacional e internacional existem poucos trabalhos que definem o comportamento das plantas de milho em competição com as plantas daninhas roçadas, principalmente no sistema de produção orgânica. Sabendo da limitação da maioria dos pequenos agricultores ao acesso às tecnologias e, aliado a isso, da disponibilidade e de custo da mão-de-obra, o manejo das plantas daninhas é apontado como um dos importantes fatores na produção de milho em sistema orgânico (Queiroz et al., 2010). Mudanças morfológicas das plantas em ambientes distintos de competição podem maximizar os resultados, com o controle mais eficiente de plantas daninhas. Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da interferência de Bidens pilosa e Commelina benghalensis quando submetidas a roçadas sobre as características morfológicas de plantas de milho. 2. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido em casa de vegetação da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG, no ano agrícola 2009/2010. O delineamento utilizado no experimento foi o de blocos casualizados, com três repetições, em esquema fatorial 2 x 3 + 1. O primeiro fator foi constituído por duas espécies de plantas daninhas utilizadas no experimento (Bidens pilosa e Commelina benghalensis), e o segundo, por três manejos dessas plantas (roçada no estádio de três folhas do milho, roçada no estádio de três e seis folhas do milho e milho sem controle das plantas daninhas). O tratamento adicional (testemunha) consistiu no cultivo do milho livre da interferência das plantas daninhas. O milho da variedade de polinização aberta UFVM 100 Nativo foi semeado seis dias após C. benghalensis e dois dias após B. pilosa, visando à emergência simultânea do milho e das plantas daninhas. Esse período foi definido em experimento preliminar, utilizando-se o mesmo solo. A parcela experimental foi composta Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 34 LEMOS, J.P. et al. por um vaso com as seguintes dimensões: 35 cm diâmetro superior, 22 cm de diâmetro inferior, 34 cm de altura e com capacidade de 22 litros. O substrato para enchimento dos vasos foi composto por amostras de Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA) de textura argiloarenosa (52% de areia, 10% de silte e 38% de argila), coletado em barranco, para que fosse minimizada a presença de sementes advindas do banco de sementes do solo. Na Tabela 1 são apresentadas as características químicas do solo. As roçadas das plantas daninhas foram feitas com auxílio de uma tesoura de aço, sendo a primeira realizada quando as plantas de milho se encontravam no estádio fenológico de três folhas completamente expandidas (aos 15 DAE), e a segunda no momento em que as plantas de milho apresentavam seis folhas completamente expandidas (aos 25 DAE). Essas roçadas foram realizadas a uma altura de corte semelhante à utilizada no campo com roçadeiras: 4 a 5 cm do solo. Ao final do experimento (58 DAE), retirou-se a parte aérea das plantas de milho, separando-as em folhas, órgãos reprodutivos (primórdio de espiga e pendão) e colmo. Foi retirado o solo juntamente com as raízes, e assim iniciado o processo de lavagem por meio de água; lavou-se repetidamente em baldes até a total retirada do solo aderido às raízes. Foram avaliadas as seguintes características morfológicas nas plantas de milho no estádio de florescimento: Número de folhas (verdes, senescentes e totais) – as folhas foram retiradas das plantas separadas e contadas, iniciando-se a avaliação a partir da primeira folha da base até a folha-bandeira totalmente expandida, realizada no término do experimento (58 DAE); diâmetro do caule e altura de planta, que foram avaliados na fase de liberação do pendão e do estilo-estigma – pleno florescimento das plantas de milho (58 DAE). Avaliou-se a altura das plantas, do solo até a inserção da folha-bandeira, e o diâmetro de colmo, utilizando-se um paquímetro, na parte mais larga do colmo, a 10 cm do solo; e diferença em dias do intervalo entre a antese e o embonecamento (IAE) das plantas de milho. Após a liberação do pendão, Antes do enchimento dos vasos, o solo foi seco ao ar, destorroado, passado em peneira com mesh de 20 mm e adubado com dose equivalente a 40 m³ ha 1 de composto orgânico (Tabela 2) e 0,035 kg por vaso de P2O5 na forma de termofosfato magnesiano, conforme recomendação (Chiovato et al., 2007). Inicialmente, foram semeadas 10 sementes de planta daninha e duas sementes de milho por vaso. Ao completar cinco dias da emergência das plantas de milho foi realizado o desbaste, deixando-se seis plantas daninhas e uma planta de milho por vaso, ou seja, em cada vaso foi cultivada uma planta de milho em competição ou não com seis plantas de B. pilosa ou de C. benghalensis. Durante a condução do experimento os vasos foram irrigados diariamente por gotejamento, a fim de manter a umidade do solo próximo de 80% da capacidade de campo. O período de interferência no mesmo vaso entre a planta de milho e as espécies daninhas foi da emergência destas plantas até o florescimento das plantas de milho, que ocorreu aos 58 dias após a emergência (DAE). Tabela 1 - Resultados das análises químicas do Latossolo Vermelho-Amarelo utilizado no experimento. Viçosa-MG, 2010 pH P K Ca Mg Al (mg dm ) 5, 4 1, 7 73 H+AL SB CTC (t) CTC (T) 4,59 4,59 8,22 (cmol c dm ) -3 3, 3 1, 1 0 3,63 V (%) -3 56 As determinações químicas foram efetuadas conforme Embrapa (1997); pH em água na proporção de 1: 2,5 para solo: água; Ca, Mg e Al = extrator KCl 1N; P e K = extrator Mehlich-1; e acidez extraível H+Al = extrator SMP. Tabela 2 - Características químicas do composto orgânico com base na matéria seca utilizado no experimento. Viçosa-MG, 2010 N P K Ca Mg S B Cu (g kg ) 16,3 4,25 2,53 9,25 Fe Mn Zn 2 6 5, 5 2 74,1 (mg kg ) -1 -1 3,75 2,06 10 , 1 2 34 , 5 4 36 4, 5 As determinações foram efetuadas de acordo com o método descrito por Kiehl (1985) e umidade de 13%. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características cada planta foi conferida três vezes ao dia; anotouse a data de liberação do pólen da parte masculina (pendão) e a exposição dos cabelos das espigas (estiloestigmas) da parte feminina. Foram colocados separadamente as folhas, órgãos reprodutivos, colmo e raízes das plantas em sacos de papel e levados à estufa de circulação forçada de ar, a 70 °C, até atingirem peso constante, para determinação da matéria seca. Foi avaliada a matéria seca de folhas (MSF), do caule (MSC), dos órgãos reprodutivos – espiga e pendão (MSFL) e do sistema radicular (MSR), determinadas por ocasião da colheita, do experimento aos 58 DAE. Por meio dos parâmetros para a análise de crescimento descrita por Benincasa (1988), foram avaliadas as seguintes características: Área foliar específica (AFE) em cm2 g-1, obtida pelo quociente entre a área da folha mais jovem totalmente expandida – analisada no equipamento de mesa LI-COR (LI- 3000) – e a matéria seca de folha; Razão de massa foliar (RMF) em g g-1, fornecida pelo quociente entre a matéria seca de folhas e a matéria seca total da planta; Razão de massa caulinar (RMC), obtida pelo quociente entre a matéria seca do caule e a matéria seca total da planta; Razão de massa radicular (RMR), obtida pelo quociente entre a matéria seca radicular e a matéria seca total da planta; Razão parte aérea/sistema radicular (PA/ SR) em g g-1, obtida a partir da soma da matéria seca da parte aérea da planta (folha + caule + primórdios florais) dividida pela matéria seca do sistema radicular (raiz). Os resultados das avaliações foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelos testes de Tukey e Dunnett a 5% de significância. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após análise dos dados, constatou-se interação significativa entre os fatores espécies de plantas daninhas e época de corte para razão de matéria seca foliar (RMF) e razão de massa radicular (RMR) para o milho. Dessa forma, a interação foi desdobrada, estudando-se as épocas de corte para cada espécie de planta daninha. Quanto às características massa da matéria seca de folha (MSF), altura de plantas (ALT), número de folhas verdes (NFV), intervalo entre a antese e o embonecamento (IAE), área foliar específica (AFE) e razão parte aérea e sistema radicular (PA/SR), verificouse efeito significativo somente para época de corte. 35 Verificou-se que o tratamento com duas roçadas apresentou a MSF superior àquelas das demais épocas. Contudo, uma única roçada não foi suficiente para diminuir os danos da interferência das espécies B. pilosa e C. benghalensis no acúmulo de MSF (Tabela 3). Quando se compara o tratamento testemunha (milho no limpo) com os tratamentos com duas roçadas, verificase que ambas as plantas daninhas não interferiram no acúmulo de matéria seca das folhas, não diferindo da testemunha (Tabela 4). Entretanto, Chiovato et al. (2007) observaram que duas roçadas não foram suficientes para evitar a interferência de B. pilosa no desenvolvimento das plantas de milho. Essa diferença pode estar relacionada ao fato de esses autores terem realizado o manejo da roçada nos estádios de quatro e oito folhas do milho, sendo diferente da época de roçada do presente estudo. Esses resultados indicam que o controle no início do ciclo de desenvolvimento é fundamental e necessário para se alcançar o máximo potencial de produção da cultura (Kozlowski et al., 2009). Para o diâmetro de caule das plantas de milho (DIAM), não houve diferenças na interação entre planta daninha e manejo da roçada. No entanto, houve diferenças quando se compararam as médias dos tratamentos com manejo e a média da testemunha. Os tratamentos com uma roçada diferiram da testemunha, apresentando menores valores de diâmetro de plantas (Tabela 4). Contudo, os manejos para ambas as plantas daninhas, em que se utilizaram duas roçadas (M e B/ 2r e M e C/2r), não diferiram do milho cultivado sem a presença de planta daninha. É provável que o hábito de crescimento das plantas daninhas e as necessidades nutricionais intrínsecas de cada espécie possam proporcionar formas diferenciadas de competição (Rocha, 2007); as plantas de milho quando em competição com B. pilosa não apresentaram redução do diâmetro de colmo, porém a altura de plantas foi consideravelmente afetada. A altura das plantas de milho (ALT) no manejo de uma roçada e duas roçadas (1R e 2R) foram iguais entre si e superiores à do tratamento sem roçada SR (Tabela 3). Para essa característica, quando se comparam as médias da testemunha e o tratamento que recebeu uma única roçada das plantas de B. pilosa (Tabela 4), verifica-se que apenas um corte foi suficiente para diminuir Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 36 LEMOS, J.P. et al. Tabela 3 - Médias de matéria seca de folha (MSF), altura de plantas (ALT), número de folhas verdes (NFV), intervalo entre a antese e o embonecamento (IAE), área foliar específica (AFE) das plantas de milho, nos diferentes manejos da roçada das plantas daninhas no sistema de cultivo do milho. Viçosa-MG, 2010 Ma ne jo 1R 2R SR CV(%) MSF A LT NFV (g) ( cm) 29,01 ab 36,43 a 21,12 b 20 , 4 3 171,16 a 185,16 a 132,00 b 14 , 3 9 NFS 9,50 b 13,70 a 8,66 b 11 , 1 5 6,83 a 3,67 b 8,00 a 17 , 5 2 IAE AFE (dias) (cm 2 g-1 ) 6,00 ab 3,83 b 8,50 a 35 , 0 5 119,47 ab 109,68 b 139,44 a 10 , 2 7 Médias seguidas de mesma letra nas colunas, para cada variável, não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. 1R – uma roçada no estádio de três folhas do milho; 2R – uma roçada no estádio de três e uma roçada no estádio de seis folhas do milho; e SR – sem roçadas. Tabela 4 - Valores médios de matéria seca de folha (MSF), diâmetro do caule (DIAM), altura de planta (ALT), número de folhas verdes (NFV), número de folhas senescentes (NFS), intervalo entre antese e embonecamento (IAE), área foliar específica das folhas (AFE), razão parte aérea/sistema radicular (PA/SR), razão de massa foliar (RMF) e razão de massa radicular (RMR) das plantas de milho. Viçosa-MG, 2010 T R AT MSF (g) ML PD M-B/1r M-B/2r M-B/sr M-C/1r M-C/2r M-C/sr 45 , 2 6 32,83* 38 , 9 2 22,96* 25,19* 33 , 9 3 19,31* DI AM ALT NFV NFS IAE (cm) 2,54 1, 86 * 2,19 2,11 1, 77 * 2,00 1, 56 * (dias) 2 1 1, 3 3 1 9 2, 6 7 1 7 6, 3 3 14 0,3 3* 14 9,6 7* 1 9 4, 0 0 12 3,6 7* 15 , 0 0 9, 00 * 13 , 0 0 9, 00 * 10,00* 13 , 0 0 8, 33 * 2,66 7, 33 * 4,33 8, 00 * 6, 33 * 3,00 8, 00 * 3,33 5,33 3,67 8, 00 * 6,67 4,00 9, 00 * AFE PA/SR (cm 2 g -1) 96 , 6 5 1 1 7, 8 9 1 0 9, 0 7 12 5,3 6* 12 1,0 5* 1 1 0, 2 9 15 3,5 2* RMR RMF (g g -1) 2,42 1,59 1,67 1, 16 * 1,67 1,65 2,40 0,15 0,29 0,28 0, 44 * 0,26 0,31 0,16 0,17 0,17 0,16 0, 11 * 0,17 0,15 0, 27 * * Médias que diferem da testemunha a 5% de probabilidade pelo teste de Dunnett. MLPD – milho livre de planta daninha; M-B/1r – milho e B. pilosa/uma roçada; M-B/2r – milho e B. pilosa/duas roçadas; M-B/sr – milho e B. pilosa/sem roçadas; M-C/1r – milho e C. benghalensis/ uma roçada; M-C/2r – milho e C. benghalensis/duas roçadas; M-C/sr – milho; e C. benghalensis/sem roçadas. a interferência causada pela competição. Esse fato não foi observado para C. benghalensis, que interferiu de forma significativa na altura das plantas de milho, mesmo quando essas plantas receberam apenas uma roçada. Entretanto, quando se utilizam duas roçadas (M e B/2r e M e C/2r), são obtidos resultados satisfatórios na redução da interferência das plantas daninhas no crescimento das plantas de milho. A interferência das plantas daninhas na altura das plantas de milho é influenciada pelos genótipos utilizados e pela intensidade da infestação por plantas daninhas. Esta característica, juntamente com a área foliar e distribuição das folhas no perfil do dossel da planta (Strieder et al., 2008), pode proporcionar redução da radiação que chega à superfície do solo, levando a maior aproveitamento da luz solar por meio do alongamento da bainha, pecíolo e entrenós do colmo (Lemaire, 2001). Para as características número de folhas verdes (NFV) e número de folhas secas do milho (NFS), observou-se comportamento inverso, ou seja, quando são contabilizados elevados índices de folhas verdes, a planta apresenta tendência de baixo índice de folhas senescentes. Verificou-se que a realização de duas roçadas foi superior aos demais manejos para a variável número de folhas verdes (Tabela 3). Inversamente, para número de folhas secas, a realização de uma roçada (1R) e sem roçadas (SR) foram iguais entre si e superiores a duas roçadas (2R) (Tabela 3). Verificou-se que o tratamento testemunha MLPD com os tratamentos (M e B/2r) e (M e C/2r), não diferiram entre si, para as duas variáveis analisadas (NFV e NFS) (Tabela 4). Quanto menor o número de folhas senescentes na época do florescimento do milho, maior será a quantidade de folhas participando efetivamente no ganho de açúcares pela planta. É provável que nos tratamentos Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características com uma roçada (1R) e sem roçada (SR) a competição entre as plantas daninhas e a planta de milho por água, luz e por nutrientes tenha sido em maior intensidade em relação ao tratamento de duas roçadas (2R), o que propiciou o aumento na velocidade da senescência foliar (Valentinuz & Tollenaar, 2004; Strieder et al., 2008). Entretanto, este não é um processo de degeneração passivo e desregulado, pois há alterações ordenadas na estrutura celular, no metabolismo e na expressão gênica da planta (Lim et al., 2007). Para o intervalo entre a antese e o embonecamento (IAE), verificaram-se diferenças correspondentes ao manejo, em que 2R e SR apresentaram médias diferentes entre si, porém estas não diferiram do tratamento de uma roçada (1R). Esses resultados predizem que duas roçadas nas plantas daninhas influenciaram de forma positiva as plantas de milho, apresentando redução do IAE (Tabela 3). Quando se comparam as médias entre os tratamentos e a testemunha, observa-se que o tratamento que continha plantas de milho e B. pilosa sem corte (M e B/sr) e plantas de milho e C. benghalensis sem corte (M e C/sr) diferiram da testemunha (Tabela 4). A partir dessa análise, pode-se inferir que tanto a competição com a espécie B. pilosa quanto a competição com as plantas daninhas C. benghalensis causam efetivamente a prolongação do intervalo de florescimento das plantas de milho. A menor interferência intra e interespecífica pode permitir desenvolvimento mais sincronizado das inflorescências masculinas e femininas, ou seja, menor IAE. Nesse sentido, Sangoi et al. (2001) verificaram que o intervalo entre antese e espigamento foi maior quando houve incremento na população de plantas, em decorrência, possivelmente, do aumento da competição entre as plantas de milho pelos recursos naturais. Assim, o IAE, potencialmente, deveria ser igual a zero, uma vez que o seu aumento pode reduzir a probabilidade de ocorrer uma fecundação adequada, já que a disponibilidade de grãos de pólen viáveis é reduzida com a elevação do IAE. Segundo Otegui et al. (1995), valores do IAE acima de 10 dias resultam em espiguetas estéreis. Dessa forma, também se pode afirmar que espigas iniciadas tardiamente recebem menor quantidade de assimilados, tendo menor possibilidade de se tornarem funcionais e produzirem grãos, em decorrência da menor capacidade competitiva por 37 fotoassimilados da espiga com as demais estruturas da planta (Sangoi, 2001). Verificaram-se diferenças significativas na área foliar específica das plantas de milho (AFE). Os tratamentos 1R e SR foram semelhantes entre si e o manejo de duas roçadas não diferiu do tratamento com uma única roçada. Contudo, o tratamento em que se fez uso de duas roçadas apresentou menor valor de AFE comparado ao tratamento sem a roçada (Tabela 3). Plantas com elevadas taxas de saturação fotossintética apresentam vantagens competitivas sobre as demais espécies, com valores inferiores para essa variável (Feng, 2008). Segundo Feng et al. (2004), a AFE está inversamente correlacionada com os custos de formação de matéria seca nas folhas. Para os resultados comparativos entre os tratamentos, observa-se que, no geral, quando a competição é imposta sem a utilização de roçadas, a tendência é de que a área foliar específica aumente consideravelmente (Tabela 4). Esse fato pode estar relacionado ao mecanismo da planta em interceptar e/ou aproveitar de forma mais eficiente a radiação solar que chega à superfície (Procópio et al., 2003), desfavorecendo a interceptação de luz pelas plantas daninhas em competição, principalmente com as plantas de B. pilosa. Resultados semelhantes foram observados por Lima et al. (2008), os quais relatam que a expansão da folha sob baixa luminosidade é uma resposta frequentemente observada e indica uma compensação da planta, no intuito de proporcionar melhor aproveitamento à baixa luminosidade. Quando se realizaram duas roçadas (M e B/2r e M e C/2r), não foram observadas diferenças desses tratamentos em relação à testemunha, ou seja, esta característica da folha (AFE) não é afetada pela competição com plantas daninhas testadas, desde que sejam realizadas duas roçadas (Tabela 3). Pelos valores obtidos da razão parte aérea/sistema radicular (PA/SR), pode-se constatar que o milho com B. pilosa sem controle foi o mais afetado, em comparação com as plantas de milho livre de competição. Verificase que houve diminuição dessa razão, muito provavelmente devido à alta competição radicular, o que favoreceu um alto desenvolvimento radicular do milho para diminuir as deficiências nutricionais geradas pela competição (Tabela 4). O comportamento verificado para a raiz do milho em competição com raízes de B. pilosa Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 38 LEMOS, J.P. et al. não foi observado para a raiz de milho sob interferência das raízes de C. benghalensis no tratamento sem roçada. A relação PA/SR foi mantida neste tratamento em relação à testemunha, mesmo com a magnitude da competição proporcionada por plantas de C. benghalensis (Tabela 4). Esse fato pode ser explicado em função da redução do acúmulo de matéria seca das folhas, porém não houve incremento na razão de massa radicular em proporções consideráveis. Houve interação entre manejo e plantas daninhas para as características de razão de massa foliar (RMF) e razão de massa radicular (RMR) das plantas de milho (Tabela 5). Na RMF, avaliando-se somente o tratamento milho e B. pilosa, os manejos de uma roçada (1R) e duas roçadas (2R) foram semelhantes e superiores ao tratamento (SR). Contudo, não foram observadas diferenças para a razão de massa radicular (RMR) dentro dos tratamentos de milho e B. pilosa. Bianchi et al. (2006), em trabalho com a cultura da soja, observaram resultados semelhantes, sendo que durante o período de crescimento vegetativo da soja a competição por recursos do solo predominou sobre a competição por radiação solar, ocasionando, dentre outros, a redução da razão de massa foliar. O comportamento das plantas de milho em competição com C. benghalensis é o inverso do observado para B. pilosa, pois o tratamento de competição sem roçadas (SR) apresentou maior razão de massa foliar, diferindo dos demais manejos de corte; contudo, não houve diferenças entre uma roçada (1R) e duas roçadas (2R) (Tabela 5). Verificou-se que para os tratamentos 1R e 2R, quando se compara o milho sob interferência das duas plantas daninhas, o comportamento das variáveis RMF e RMR não diferiu. Entretanto, as médias da razão de massa foliar das plantas de milho que competiram tanto com B. pilosa quanto com C. benghalensis foram diferentes nos tratamentos sem o uso de roçadas, ou seja, quando em livre competição entre as plantas daninhas e as plantas de milho, observam-se respostas diferenciadas no que tange ao acúmulo de matéria seca para a formação de folhas, em relação à massa da matéria seca total da planta nesses tratamentos. De acordo com Bianchi et al. (2006), as modificações em atributos morfofisiológicos entre plantas concorrentes, ocorridas em seu trabalho, demonstraram que as plantas respondem rápido e diferentemente à competição pelos recursos do ambiente. O milho em competição com B. pilosa teve média de RMF menor em relação à das plantas de milho em competição com as plantas daninhas de C. benghalensis, dentro do manejo sem roçadas. Quando se avalia a RMR, o comportamento é o contrário do observado com a RMF, ou seja, as plantas de milho em competição com B. pilosa tiveram média de RMR maior em relação às plantas de milho em competição com as plantas daninhas de C. benghalensis. De acordo com Liu & Stützel (2004), maior proporção de carboidratos é direcionada para as raízes, principalmente em ambientes com baixa disponibilidade de água e nutrientes. Nas comparações entre os tratamentos e a testemunha (Tabela 4), observou-se que o tratamento que continha milho e B. pilosa sem a utilização de roçadas (M e B/sr), entre os avaliados, foi o que apresentou média de razão de massa radicular das plantas de milho (RMR) superior à do cultivo de milho sem a presença da competição (TEST). No entanto, com maior partição de assimilados para o sistema radicular (M e B/sr), tem-se diminuição considerável desses produtos fotossintéticos para a formação e manutenção da massa foliar em relação ao restante da planta (RMF), perfazendo Tabela 5 - Médias de razão de matéria seca foliar (RMF) e razão de matéria seca radicular (RMR) das plantas de milho em competição com plantas daninhas (B. pilosa e C. benghalensis), nos diferentes manejos da roçada nas plantas daninhas no sistema de cultivo de milho. Viçosa-MG, 2010 Manejo 1R 2R SR RMF (g g -1) RMR (g g -1) B. pilosa C. benghalensis B. pilosa C. benghalensis 0,17 Aa 0,16 Aa 0,11 Bb 0,17 Ba 0,15 Ba 0,27 Aa 0,30 Aa 0,28 Aa 0,44 Aa 0,26 Aa 0,31 Aa 0,16 Ab Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, para cada variável, não diferem entre si a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. 1R - roçada da planta daninha no estádio de três folhas do milho; 2R - roçada da planta daninha no estádio de três e seis folhas do milho; SR – milho; e sem controle das plantas daninhas. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 Efeito da roçada das espécies bidens pilosa e commelina benghalensis nas características um dos tratamentos que diferiram da testemunha para a característica em questão. 4. CONCLUSÕES Duas roçadas (estádio de três e seis folhas completamente expandidas do milho) proporcionaram maior acúmulo de matéria seca pelas plantas de milho, independentemente da espécie de planta daninha. Plantas de milho em competição com B. pilosa ou C. benghalensis sem uso de controle apresentaram reduções (MSF, ALT, NFV e RMF) e incrementos (NFS, IAE e AFE) indesejáveis para o seu potencial produtivo. 5. AGRADECIMENTOS Ao CNPq pelo auxílio financeiro ao projeto e pela concessão de bolsas de pós-graduação e de produtividade em pesquisa. 6. LITERATURA CITADA BENINCASA, M.M.P. Análise de crescimento de plantas. Jaboticabal: FUNEP, 1988. 42p. BIANCHI, M.A.; FLECK, N.G.; DILLENBURG, L.R. Partição da competição por recursos do solo e radiação solar entre cultivares de soja e genótipos concorrentes. Planta Daninha, Viçosa, v.24, n.4, p.629-639, 2006. CORRÊA, M.L.P.; GALVÃO, J.C.C.; FONTANETTI, A. et al. 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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.3 2-40, Julho, 20 12 Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica 41 MAMONA E GIRASSOL NO SISTEMA DE CONSORCIAÇÃO EM ARRANJO DE FILEIRAS: EFICIÊNCIA BIOLÓGICA 1* Ciro de Miranda Pinto2*, Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto3, João Bosco Pitombeira4* RESUMO – Um ensaio de campo foi conduzido nos anos agrícolas de 2008, 2009 e 2010, com o objetivo de avaliar os efeitos dos arranjos de plantio da mamona (Ricinus communis L.) e girassol (Helianthus annus L.) nos sistemas consorciados na eficiência biológica entre as plantas. O delineamento utilizado no experimento foi blocos ao acaso com sete tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos analisados foram representados por fileiras de mamona (Ma) e de girassol (Gi) citados a seguir: 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi; 2Ma:3Gi e monocultivo de mamona e girassol. A eficiência do sistema de consorciação foi avaliada através do uso eficiente de terra (UET), razão equivalente de área no tempo (REAT), coeficiente equivalente de terra (CET), média entre UET e REAT, índice de produtividade do sistema (IPS) e razão de compensação (RCo). O arranjo de fileira 1Ma: 2Gi indicou a menor redução média de produtividade da mamona e do girassol no período de avaliação do experimento. A mamona foi dominante em relação ao girassol na utilização dos recursos do ambiente. Palavras-chave: CET, IPS, REAT, Ricinus communis L., UET. CASTOR BEAN AND SUNFLOWER INTERCROPPING SYSTEMS IN ROW ARRANGEMENT: BIOLOGICAL EFFICIENCY ABSTRACT – An experiment field was carried in the agricultural seasons 2008, 2009 and 2010, with aim of studying the response of castorbean (Ricinus communis L.) intercropping with sunflower (Helianthus annus L.) in row arrangement in the dryland farming conditions. In addition, it was evaluated the biological efficiency of plants in intercropping systems.The design used in the experiment was randomized block with seven treatement and four replications. The treatments were represented by rows of castor oil (Ma) and sunflower (Gi) listed below: 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi; 2Ma:3Gi; castor and sunflower in the monoculture. The efficiency of intercropping was measured by LER, ATER, LEC, average between LER and ATER, SPI and CoR. The grain yield of castor bean and sunflower were reduced in intercropped row arrangements. The row arrangement 1Ma:2Gi showed the smallest reduction of average productivity of castor beans and sunflower in the evaluation period of the experiment. The castor bean was the dominant crop in relation to sunflower. Keywords: ATER, LEC, LER, Ricinus communis L., SPI. Retirado dos dados da Tese de Doutorado do primeiro autor. Projeto Financiado pela CAPES. Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia/Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará, [email protected] (endereço de correspondência), CCA/UFC, Caixa Postal 12.168, Campus do Pici, CEP: 60455-970, Fortaleza-Ceará. Engenheira Agrônoma, Doutoranda em Agronomia/Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará. 3 4 Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Prof. do Dep. de Fitotecnia/Universidade Federal do Ceará. 1 2 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 42 PINTO, de C.M. et al. 1. INTRODUÇÃO A mamoneira é originária da África e, muito provavelmente, da Abissínia. Essa planta apresenta ampla distribuição geográfica, sendo encontrada em estado subespontâneo, ou cultivo, em quase todas as zonas tropicais e subtropicais do mundo (Krug & Mendes, 1942). Brasil, Paraguai, China e Índia são os maiores produtores de mamona do mundo em escala crescente. A produção de grãos de mamona mundial e no Brasil na safra 2009 foi respectivamente de 1.499.111 e 90.384 t. A produtividade da mamoneira no mundo e no Brasil em 2009 foi da ordem de 1.172 e 567,7 kg ha-1 (Faostat, 2009). A consorciação de culturas consiste no cultivo simultâneo de duas ou mais espécies numa área agrícola, tendo a dimensão espacial e temporal de convivência entre as plantas cultivadas. A escolha da configuração de fileiras e população de plantas adequadas no sistema de consorciação entre espécies cultivadas proporciona incrementos no rendimento de grãos pelo efeito da complementação da exploração dos recursos do ambiente abaixo e acima do solo. A configuração de fileiras, conhecida por arranjo espacial no sistema de consorciação, consiste em delinear a melhor distribuição das plantas no campo de produção de culturas associadas de modo que ocorra menor competição intra e interespecífica pelos recursos do ambiente, dentre eles, água, nutrientes e luz. No Brasil, as pesquisas envolvendo mamona e girassol, em sistemas consorciados em arranjo de fileira, são raras. Os sistemas consorciados em diferentes arranjos de fileiras foram estudados nos agroecossistemas de mamona + milho (Azevedo et al., 2007a), mamona + amendoim, mamona + grão de bico, mamona + “guar ou clusterbean” (Cyamopsis tetragonoloba) e mamona + capim-pé-de-galinha (Kumar et al., 2010), milho + caupi (Yilmaz et al., 2008), milheto + guandu (Arokiaraj & Kannappan, 1995), amendoim + milho doce (Bhagat et al., 2006), algodão herbáceo + caupi + sorgo (Bezerra Neto et al., 2001), milho + guandu (Lingaraju et al., 2008) e sorgo + feijão caupi (Mohammed et al., 2009). O cultivo da mamona consorciada com outras espécies cultivadas tem-se mostrado vantajoso em relação ao monocultivo. Os resultados comprovando tal afirmação foram reportados em sistemas mamona + gergelim (Beltrão et al., 2010a), mamona + amendoim (Beltrão et al., 2010b), mamona consorciada com feijão mungo, feijão mungo- verde, caupi, soja e gergelim (Thanunathan et al., 2008), mamona + milho (Azevedo et al., 2007a), mamona + sorgo e mamona + caupi (Corrêa et al., 2006) e mamona + sorgo, mamona + gergelim e mamona + feijão caupi (Távora et al., 1988). Diante da importância capital de se avaliar a eficiência biológica das plantas nos sistemas de cultivo consorciado, diversos índices foram desenvolvidos, sendo amplamente estudados. A análise da eficiência biológica do sistema consorciado em relação ao monocultivo é mensurada pelo uso eficiente de terra, UET (Willey & Osiru, 1972; Mead & Willey, 1980), razão equivalente de área no tempo, REAT (Hiebsch, 1978), média aritmética do UET e REAT (Mason et al., 1986), índice de produtividade do sistema, IPS (Odo, 1991), razão de compensação, RCo (Ntare & Williams, 1992) e coeficiente equivalente de terra, CET (Adetiloye et al., 1983). Em função do exposto, objetivou-se com este trabalho avaliar o manejo cultural da mamona consorciada com girassol, em arranjo de fileira, e seus reflexos na produtividade da cultura principal e consorte, pelo emprego de índices de mensuração da eficiência biológica das plantas associadas. 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi conduzida nos anos agrícolas de 2008, 2009 e 2010, na Fazenda Lavoura Seca, localizada no município de Quixadá-Ce, 4º59’S latitude, 39º01’W longitude Greenwich e altitude de 190 m acima do nível do mar. O clima do município de Quixadá conforme Köppen é semiárido do tipo BsH, quente e seco. A precipitação pluvial média é 873,3 mm, temperatura média anual de 26,7oC e umidade relativa do ar de 70% (Brasil, 1973). As características do solo da área experimental colhido numa profundidade de 0-20 cm são descritos na Tabela 1. A adubação foi procedida conforme as recomendações da análise de fertilidade do solo tendo como base a cultura principal que foi a mamona. Os fertilizantes empregados foram ureia, superfosfato simples e cloreto de potássio (Tabela 1). Na adubação de fundação usou-se 1/3 da dose recomendada para o nitrogênio, sendo realizada de forma integral para os nutrientes potássio e fósforo. A adubação de cobertura foi realizada aos 30 dias, usando-se 2/3 da dose recomendada para nitrogênio com adição de 2 kg boro ha -1. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 43 Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica Tabela 1 - Características químicas do solo da área experimental e fórmula de adubação para mamona. Quixadá - CE, 2008, 2009 e 2010 Ano Agrícola Características Químicas pH em água (1: 2,5) P+ K+ Na+ Al+3 Ca+2 Mg+2 0,00 0,10 0,05 1,70 1,30 1,00 2,30 0,70 0,80 (mg kg -1) 2008 2009 2010 Ano Agrícola 6,30 5,70 5,70 5,00 14 , 0 0 7,00 0,20 0,23 0,14 0,03 0,03 0,05 Adubação Química N:P:K 2008 2009 2010 60:8 0:60 60:6 0:60 60:8 0:60 Análise realizada no Laboratório de Química do Solo, do Departamento de Ciências do Solo do CCA/UFC. A precipitação pluvial ocorrida durante a execução do experimento foi da ordem de 594,30; 1.034,80 e 287,80 mm, respectivamente, nos anos de 2008, 2009 e 2010. Na pesquisa utilizaram-se as cultivares de mamona BRS ENERGIAe de girassolEMBRAPA122. Ostratamentos avaliados foram: T1- uma fileira de mamona + uma fileira de girassol (1Ma:1Gi), T2- uma fileira de mamona + duas fileiras de girassol (1Ma:2Gi), T3- uma fileira de mamona + três fileiras de girassol (1Ma:3Gi), T4- duas fileiras de mamona + duas fileiras de girassol (2Ma:2Gi), T5- duas fileiras de mamona + três fileiras de girassol (2Ma:3Gi), T6- mamona monocultivo e T7- girassol monocultivo. As parcelas consorciadas em configuração de fileira serão descritas a seguir: no tratamento T1arranjo de 1:1 onde a mamoneira foi espaçada de 1m do girassol; no tratamento T2- arranjo de 1:2 onde a mamona foi espaçada de 0,7 m do girassol e as entre linhas desse de 0,6 m; no tratamento T3- arranjo de 1:3 onde a mamona foi espaçada de 0,6 m do girassol e as entre linhas desse de 0,4 m; no tratamento T4arranjo de 2:2 onde a mamona foi espaçada de 1 m na fileira dupla e entre fileira dupla 2 m, e entre as fileiras duplas foram intercaladas duas fileiras de girassol espaçadas 0,6 entre girassol e 0,7 m para mamona e no tratamento T5- arranjo de 2:3 onde a mamona foi espaçada de 1 m na fileira dupla e entre fileira dupla 2 m, entre as fileiras duplas foram intercaladas duas fileiras de girassol espaçadas 0,4 m para girassol e 0,6 m para mamona. O espaçamento da mamona nas configurações de fileiras 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi foi de 2 m x 0,5 m. Nas fileiras duplas 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi foi de 2 m x 1 m x 1 m. Para girassol nas configurações 1Ma:1Gi o espaçamento foi 2 m x 0,24 m; 1Ma:2Gi espaçado de 0,6 x 0,4 x 2 m; 2 Ma:2iG espaçado de 0,6 x 0,4 x 2 m; 1Ma:3Gi espaçado de 0,4 x 0,6 x 2 m e 2 Ma:3Gi espaçado de 0,4 x 0,6 x 2 m. O monocultivo teve suas parcelas constituídas por 6 fileiras de 8 m no espaçamento: mamona 1m x 1 m, enquanto o girassol teve 6 fileiras de 8 m no espaçamento de 0,8 m x 0,3 m. Os sistemas de consórcio em arranjo de fileira e monocultivo tiveram comprimento de linha de plantio de 8 m. A coleta do material para o estudo da produção vegetal foi representada pelas duas fileiras centrais de cada parcela, em cada cultura, eliminando-se 1 m de cada extremidade das fileiras. O solo foi preparado dois dias antes do plantio, com duas arações. A mamona e o girassol foram plantados em covas com 3 a 5 cm de profundidade, e 5 sementes cova -1. As datas do plantio, adubação inicial, desbaste de plantas, adubação de cobertura e colheita constam na Tabela 2. A adubação de cobertura não foi realizada no ano de 2010 em virtude da baixa umidade do solo na área experimental (Tabela 2). O manejo das plantas daninhas ocorrentes na área experimental foi realizado por meio de três capinas manuais. Não foi necessário realizar aplicação de agroquímico para controle de “pragas”. O sistema de consorciação foi avaliado mediante a eficiência biológica entre as plantas associadas. A eficiência biológica no sistema de consorciação foi avaliada mediante o o Uso Eficiente de Terra (UET), Razão Equivalente de Área no Tempo (REAT), Média Aritmética entre UET e REAT, Coeficiente Equivalente Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 44 PINTO, de C.M. et al. de Terra (CET), Índice de Produtividade do Sistema (IPS) e a Razão de Compensação (RCo). O Uso Eficiente de Terra (UET) foi obtido conforme a fórmula expressa na equação 1 (Willey & Osiru, 1972; Mead & Willey, 1980). (1) Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas ‘a’ e ‘b’ em consórcio, Yaa e Ybb equivalem à produtividade do monocultivo. O UETa e o UETb representam o uso eficiente de terra parcial da espécie ‘a’ e da espécie ‘b’. Se UET>1, então ocorre vantagem produtiva, se UET=1 não ocorre vantagem produtiva, se UET<1, então ocorre desvantagem produtiva. A Razão Equivalente de Área no Tempo (REAT) foi obtida conforme metodologia proposta por Hiebsch (1978), expressa na equação 2. (2) Onde ta representa o número de dias do plantio até a colheita da espécie ‘a’ e tb representa o número de dias do plantio até a colheita da espécie ‘b’. REAT a e REAT b representam o uso eficiente de terra parcial da espécie ‘a’ e da espécie ‘b’. Tab representa o tempo total do sistema de consorciação entre a espécie ‘a’ e ‘b’. Se REAT>1, então ocorre vantagem produtiva, se REAT=1 não ocorre vantagem produtiva, e se REAT<1, então ocorre desvantagem produtiva. A média aritmética entre UET e REAT foi proposta por Mason et al. (1986). Esses autores afirmaram que o UET sobrestima e o REAT subestima os recursos do terreno, sugerindo-se o cálculo da média aritmética dos dois índices para a obtenção de uma valor mais criterioso. Esse índice foi expresso na equação 3. (3) O Coeficiente Equivalente de Terra (CET) proposto por Adetiloye et al. (1983), expresso na equação 4. CET = UETa * UETb (4) Onde, UETa e UETb representam o uso eficiente de terra parcial da espécie ‘a’ e da espécie ‘b’. O CET>0,25 indica vantagem produtiva ou complementariedade competitiva na produtividade do sistema de consorciação. O CET<0,25 sugere que a mistura não teve complementariedade competitiva. O CET é usado para distinguir a produtividade de misturas com contribuições distintas do consórcio, mas com mesmo valor de UET na mistura. Esse índice avalia a interação interespecífica. O índice de produtividade do sistema (IPS) foi obtido conforme metodologia proposta por Odo (1991), sendo expresso pela equação 5. Tabela 2 - Datas de plantio, adubação inicial, desbaste de plantas, adubação de cobertura e colheita das culturas da mamona e girassol. Quixadá - CE, 2008, 2009 e 2010 Culturas Anos agrícolas 2008 2009 2010 Ma mona Girassol 28/ 03 28/ 03 Plantio e adubação inicial 05/ 03 05/ 03 15/ 04 15/ 04 Ma mona Girassol 09/ 04 09/ 04 Desbaste de plântulas 17/ 03 17/ 03 28/ 04 28/ 04 Ma mona Girassol 30/ 04 30/ 04 Adubação de cobertura 07/ 04 07/ 04 - Ma mona Girassol 06/ 08 16/ 07 Colheita 14/ 07 23/ 06 26/ 08 28/ 07 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica (5) Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas ‘a’ e ‘b’ em consórcio, Yaa e Ybb equivalem à produtividade do monocultivo. A principal vantagem do IPS é que esse índice uniformiza a produtividade da cultura secundária ou consorte em termos da cultura principal ou base. Esse índice também identifica a combinação que utiliza os recursos de crescimento de forma mais efetiva e caracteriza a performance de estabilidade produtiva. O efeito competitivo da espécie ‘a’ na espécie ‘b’ foi calculado como razão de compensação (RCo), conforme metodologia proposta por Ntare & Williams (1992), sendo expresso pela equação 6. (6) Onde Yab e Yba representam a produtividade das culturas ‘a’ e ‘b’ em consórcio, Ybb é produtividade do monocultivo da cultura ‘b’. Assim um resultado superior da unidade indica que o efeito competitivo da espécie ‘a’ na espécie ‘b’ foi balanceado pelo ganho substancial na espécie ‘a’. Enquanto o valor unitário sugere substituição da espécie ‘a’ para ‘b’. O delineamento estatístico adotado foi blocos ao acaso com 7 tratamentos e 4 repetições, perfazendo 28 unidades experimentais. Os dados foram submetidos à análise de variância, e, quando detectada ou não a significância pelo teste F a 1 % ou 5 % de probabilidade, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para tanto, usou-se o ASSISTAT 7,5 beta, Sistema de Análise Estatística da UFCG (Silva & Azevedo, 2009). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Produtividade da mamona e girassol As médias de produtividade de grãos da mamona mostraram diferenças pelo teste de Tukey (P<0,05) nos anos de 2008 e 2010 (Tabela 3). A competição interespecífica com o girassol (consorte) reduziu a produtividade de grãos da mamona (cultura principal) 45 em 2008, 2009 e 2010 nos tratamentos consorciados (1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi; 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi) em relação ao monocultivo, tendo variação percentual na seguinte ordem: 47,01%, 31,58% e 58,34%, respectivamente (Tabela 3). A competição interespecifica é inevitável quando são cultivadas duas culturas juntas (Vandermeer, 1992). Reduções na produtividade de grãos da mamoneira foram constatadas nos tratamentos consorciados em arranjo de fileira, quando comparados com seus monocultivos nos anos de 2008 e 2010 (Tabela 3). Resultados que suportam os dados do sistema de consorciação da mamona com girassol, no que concerne a redução da produtividade da cultura principal em relação à consorte foram relatadas por pesquisadores, dentre eles, Távora et al. (1988), Corrêa et al. (2006), Azevedo et al. (2007a,b), Thanunathan et al. (2008), Beltrão et al. (2010 a, b) e Kumar et al. (2010). Com relação ao teste de segregação de médias pelo teste de Tukey para os anos agrícolas de 2008, 2009 e 2010 (Tabela 3) foram constatadas diferenças (P<0,05) entre os tratamentos consorciados em relação ao monocultivo do girassol (P<0,05), caracterizando um possível efeito da competição entre plantas pelos fatores de produção, água, nutrientes e luz. Ocorreram reduções na produtividade de grãos do girassol cultivado em arranjo de fileira consorciado com a mamona (Tabela 3) de 37,87% em 2008, de 47,13% em 2009 e 56,04% em 2010. Respostas de mesma natureza para rendimento do girassol em sistemas consorciados com outras culturas foram constatadas por Lopez et al. (2001), Saleem et al. (2003), Bayu et al. (2007), Rosales et al. (2008), Rosales & Mora (2009) e Shanthy et al. (2009). Eficiência biológica no sistema de consorciação Uso eficiente de terra (UET) Na Tabela 4, encontram-se os valores parciais (UETa e UETb) e totais de UET para os anos de 2008, 2009 e 2010. A avaliação biológica do sistema de consorciação foi estudada através do UET, que teve vantagem produtiva em todos os arranjos de fileira nos anos agrícolas de 2008 e 2009, comparados com seus monocultivos (Tabela 4). No ano de 2010, apenas o tratamento 1Ma:2Gi teve vantagem em relação a seus monocultivos (Tabela 4). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 46 PINTO, de C.M. et al. Tabela 3 - Médias da produtividade de grãos da mamona e girassol consorciados e nos cultivos isolados em arranjo de fileiras no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010 Tra tame ntos 1Ma :1Gi *** 1Ma: 2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2 Gi 2Ma:3 Gi Monocultivo Média geral DMS CV(%) Produtividade da Mamona (kg ha -1) 2008 2009 2010 2008 2009 2010 1.001,56 ab* 694,27 b 707,81 b 748,26 b 603,12 b 1.469,79 a 8 7 0, 8 0 4 9 2, 7 5 24 , 6 5 678,12 a 978,12 a 685,41 a 896,52 a 739,93 a 1163,02 a 8 5 6, 8 5 5 3 7, 0 8 27 , 3 1 105,72 bc 142,18 b 77,08 c 96,87 c 85,76 c 243,75 a 1 2 5, 2 3 37 , 6 9 13 , 1 1 31 , 8 5 46 , 2 3 47 , 1 5 49 , 9 0 58 , 9 6 100 - 41 , 6 9 15 , 8 9 41 , 0 6 22 , 9 2 36 , 3 7 100 - 56 , 6 2 41 , 6 6 68 , 3 7 60 , 2 5 64 , 8 1 100 - Tra tame ntos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi Monocultivo Média geral DMS CV(%) **Percentual de redução (%) Produtividade do Girassol (kg ha -1) **Percentual de redução (%) 2008 2009 2010 2008 2009 2010 760,93 d 1.054,68 b 1.043,22 b 680,20 d 956,59 bc 1.485,67 a 9 9 6, 8 8 2 0 8, 8 5 9,12 177,60 bc 233,85 bc 323,95 ab 174,65 bc 134,37 c 395,18 a 2 3 9, 9 3 1 5 9, 7 9 29 , 0 1 273,95 bc 328,12 bc 364,58 b 246,52 c 284,02 bc 641,27 a 3 5 6, 4 1 92 , 8 2 11 , 3 4 48 , 7 2 29 , 0 1 29 , 7 9 54 , 2 2 35 , 6 2 100 - 55 , 0 5 40 , 8 2 18 , 0 2 55 , 8 0 65 , 9 9 100 - 57 , 2 8 48 , 8 3 56 , 8 5 61 , 5 5 55 , 7 0 100 - *Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. ** Percentual de redução em relação ao sistema de monocultivo para produtividade de semente da mamona ou do girassol. *** 1Ma:1Gi significa uma fileira de mamona para uma fileira de girassol. Tabela 4 - Uso eficiente de terra (UET) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010 Tra tame ntos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi 2008 UET b** UET U ET a UE T b UET 0,69 0,48 0,50 0,52 0,42 0,52 0,71 0,71 0,52 0,65 1,20 1,19 1,21 1,04 1,08 0,58 0,83 0,59 0,81 0,61 0,44 0,59 0,84 0,68 0,46 1,02 1,42 1,43 1,49 1,06 U ET a UE T b UET U ET a UE T b UET 0,43 0,58 0,32 0,40 0,36 0,43 0,52 0,57 0,44 0,44 0,86 1,10 0,89 0,83 0,80 0,57 0,63 0,47 0,57 0,46 0,46 0,61 0,71 0,55 0,52 1,03 1,24 1,18 1,12 0,98 Tra tame ntos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi 2009 UET a * 2010 Combinado UET a * para a mamona e UET b** para o girassol. Os valores totais de UET nos anos agrícolas de 2008 a 2010 apresentaram variação de 0,80 a 1,49, tendo ganhos de 2 a 49% no consórcio quando confrontados ao sistema de plantio em monocultivo. Com relação ao valor combinado de 2008 a 2010, apenas o arranjo de 2Ma:3Gi (2 fileiras de mamona: 3 fileiras de girassol) não mostrou vantagem biológica em relação ao monocultivo (Tabela 4). A mamona mostrou- Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 47 Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica se como cultura dominada em relação ao girassol, pois o valor parcial de UET da primeira cultura foi inferior ao da segunda cultura no arranjo de fileira 1Ma:3Gi (Tabela 4). Os valores combinados de UET variaram de 0,98 a 1,24, mostrando uma eficiência de 3 a 24% do sistema consorciado em comparação com o monocultivo (Tabela 4). O uso eficiente de terra foi amplamente estudado por alguns autores que trabalharam com mamona consorciada e constataram ganhos produtivos. Dentre as combinações de sucesso cita-se a mamona + gergelim (Beltrão et al., 2010a), mamona + amendoim (Beltrão et al., 2010b), mamona + amendoim, mamona + grão de bico, mamona + “guar ou clusterbean” (Cyamopsis tetragonoloba) e mamona + capim-pé-de-galinha (Kumar et al., 2010), mamona consorciada com feijão mungo, feijão mungo-verde, caupi, soja e gergelim (Thanunathan et al., 2008), mamona + milho (Azevedo et al., 2007a), mamona + sorgo e mamona + caupi (Corrêa et al., 2006) e mamona + culturas anuais de ciclo curto (Távora et al., 1988). Razão equivalente de área no tempo (REAT) A razão equivalente de área no tempo (REAT) compara a vantagem produtiva do consórcio em relação à cultura solteira de uma forma mais apropriada que UET, o qual não leva em consideração o tempo necessário que plantas empregadas no sistema de consorciação passam no campo até a colheita. A REAT apresentou valores superiores à unidade nos arranjos de fileira 1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi em 2008, 2009 e no valor combinado (Tabela 5), expressando que ocorreu vantagem biológica na utilização da terra e tempo do consórcio da mamona com girassol em arranjos de fileira em relação aos monocultivos da cultura principal (mamona) a seu consorte (girassol). No ano de 2010 não foi constatada vantagem biológica na utilização da terra e tempo em todas as configurações de plantio (Tabela 5). Valores inferiores à unidade para o REAT foram encontrados por Ebgeet al. (2010) em sistemas consorciados, ao passo que autores como Kumaret al. (2010), Egbe & Kalu (2009), Rahmanet al. (2009) e John & Mini (2005) constataram valores superiores à unidade, revelando que ocorreu eficiência agrícola da terra e tempo para o sistema de consorciação em comparação com seus monocultivos. Média aritmética entre UET+REAT A média aritmética entre UET+REAT encontrase na Tabela 6, onde são colocados os valores parciais e totais desse índice nos anos de 2008, 2009 e 2010. De acordo com Mason et al. (1986) o UET sobrestima e o REAT subestima os recursos a eficiência de uso da terra sendo, portanto, mais adequado usar a média entre esses índices. A média entre UET e REAT apresentou valores superiores à unidade em 2008 em todos os tratamentos consorciados, com vantagens em relação ao monocultivo de 3 a 16% (Tabela 6). Tabela 5 - Razão equivalente de área no tempo (REAT) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010 Tra tame ntos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi 2008 REAT b** R EAT REAT a * REAT b** R EAT 0,69 0,48 0,50 0,52 0,42 0,43 0,60 0,60 0,44 0,55 1,12 1,08 1,09 0,96 0,97 0,58 0,83 0,59 0,81 0,61 0,37 0,50 0,71 0,57 0,38 0,95 1,33 1,30 1,38 0,99 REAT a * REAT b** R EAT REAT a * REAT b** R EAT 0,43 0,58 0,32 0,40 0,36 0,34 0,41 0,46 0,34 0,35 0,77 0,99 0,77 0,74 0,71 0,57 0,63 0,47 0,58 0,46 0,41 0,56 0,54 0,47 0,43 0,95 1,13 1,05 1,03 0,89 Tra tame ntos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi * REAT a para a mamona e 2009 REAT a * 2010 ** Combinado REAT b para o girassol. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 48 PINTO, de C.M. et al. Tabela 6 - Média aritmética entre UET e REAT do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira no regime de sequeiro. Quixadá – CE. 2008, 2009 e 2010 Tra tame ntos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi 2008 UET a +REAT a UET b+REAT b UET+ REAT UET a +REAT a UET b+REAT b 2 2 2 2 2 2 0,69 0,48 0,50 0,52 0,42 0,47 0,66 0,65 0,48 0,60 1,16 1,14 1,15 1,00 1,03 0,58 0,83 0,59 0,81 0,61 0,40 0,54 0,78 0,62 0,42 0,99 1,37 1,37 1,43 1,03 UET a +REAT a UET b+REAT b UET+ REAT UET a +REAT a UET b+REAT b UET + REAT 2 2 2 2 2 2 0,43 0,58 0,32 0,40 0,36 0,38 0,46 0,52 0,38 0,40 0,82 1,05 0,83 0,78 0,76 0,57 0,63 0,47 0,58 0,46 0,42 0,55 0,65 0,49 0,47 0,99 1,19 1,12 1,07 0,94 Tra tame ntos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi 2009 2010 UET + REAT Combinado UET a +REAT a /2 para a mamona e UET b +REAT b/2 para o girassol. No ano de 2009 as configurações de fileiras 1Ma:2Gi;1Ma:3Gi 2Ma:2Gi e 2Ma:3Gi apresentaram valores superiores à unidade, tendo variação de 3 e 43% de vantagem dos cultivos consorciados em comparação com seus monocultivos. Mason et al. (1986), trabalhando com consórcio mandioca + feijão caupi e mandioca + amendoim, observaram valores acima da unidade, com eficiência produtiva no uso da terra de 15 a 35% para a média entre UET e REAT. Jana et al. (2000) constataram vantagem produtiva de 4 a 19% dos cultivos consorciados em relação a seus monocultivos para o milho doce + feijão comum. Em 2010, ocorreram restrições hídricas durante as fenofases de crescimento e desenvolvimento das plantas de mamona e girassol, proporcionando reduções na média aritmética entre UET+REAT na maioria dos tratamentos, sendo constatada vantagem para sistema de consorciação, apenas na configuração de fileira 1Ma:2Gi (Tabela 6). O valor combinado teve os tratamentos 1Ma:2Gi;1Ma:3Gi 2Ma:2Gi como vantajosos nos sistemas consorciados (Tabela 6). Coeficiente equivalente de terra (CET) Os valores de coeficiente equivalente de terra (CET), nos anos de 2008, 2009 e 2010, como também o combinado, encontram-se na Tabela 7. No ano de 2008, segundo o critério de avaliação do CET, todos os arranjos apresentaram vantagem para o sistema de consorciação (Tabela 7), sugerindo que ocorreu complementariedade competitiva, que é caracterizada pelo CET>0,25. Em 2009 (Tabela 7) observou-se apenas na configuração de plantio1Ma:1Gi o valor de CET<0,25, indicando não complementaridade competitiva entre a cultura principal e seu consorte. Os arranjos de fileira 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi apresentaram vantagens produtivas no sistema de consorciação em 2009, CET>0,25 (Tabela 7). No ano de 2010 a única configuração de fileira que apresentou vantagens do sistema de consorciação em comparação aos monocultivos foi 1Ma:2Gi (Tabela 7). Os valores combinados para os arranjos de fileira 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi apresentaram complementariedade competitiva no uso dos fatores de produção, ou seja, CET > 0,25 (Tabela 7). Tabela 7 - Coeficiente equivalente de terra (CET) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira no regime de sequeiro. QuixadáCE. 2008, 2009 e 2010 Tra t ame ntos 2008 2009 2010 Combinado 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi 0,36 0,34 0,34 0,27 0,26 0,24 0,48 0,51 0,51 0,25 0,19 0,30 0,18 0,17 0,16 0,26 0,37 0,34 0,31 0,22 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 Mamona e girassol no sistema de consorciação em arranjo de fileiras: eficiência biológica Segundo Adetiloye et al. (1983), a compatibilidade do sistema de consorciação é caracterizada por valores superiores a 0,25. Alguns autores usaram o CET como índice de avaliação do sistema de consorciação; dentre eles, John & Mini (2005), Olowe et al. (2006), Okonji et al. (2007), Egbe (2010) e Egbe et al. (2010). Razão de compensação (RCo) O emprego da razão de compensação (RC o) em 2008 permitiu identificar todas as configurações de plantio (Tabela 8) como sendo vantajosas para o sistema de consorciação. Tal fato é suportado pelo UET (Tabela 4), CET (Tabela 7) e IPS (Tabela 9), sugerindo uma relação direta entre esses índices. Em 2009 apenas o tratamento 1Ma:3Gi não teve caracterização de vantagem para o sistema de consorciação. As demais configurações de plantio da mamona e do girassol apresentaram vantagens para os sistemas consorciados (Tabela 8). No ano de 2010, nenhuma das configurações de fileira de mamona e girassol apresentou vantagens nos sistemas consorciados (Tabela 8). Esse tipo de resposta é suportado pelos índices REAT (Tabela 7), Tabela 8 - Razão de compensação (RCo) do sistema de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira no regime de sequeiro. Quixadá- CE. 2008, 2009 e 2010 Tra t ame ntos 2008 2009 2010 Combinado 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi 1,52 1,69 1,67 1,01 1,23 3,30 6,32 0,24 7,28 3,53 0,30 0,51 0,30 0,25 0,24 1,71 2,84 0,74 2,85 1,67 Tabela 9 - Índice de produtividade do sistema (IPS) de consorciação entre a mamona e o girassol em arranjo de fileira no regime de sequeiro. Quixadá-CE. 2008, 2009 e 2010 T ra ta mentos 1Ma:1Gi 1Ma:2Gi 1Ma:3Gi 2Ma:2Gi 2Ma:3Gi MonocultivoGi 2008 2009 2010 kg ha kg ha kg ha -1 2 .2 94 ,8 7 2 .4 91 ,4 2 2 .4 58 ,9 7 2 .2 13 ,7 7 2 .5 50 ,1 2 9 96 ,8 8 -1 1 .6 35 ,5 4 1 .8 18 ,7 5 2 .1 36 ,3 9 1 .8 25 ,1 8 1 .7 33 ,2 6 2 39 ,9 3 -1 3 48 ,8 2 3 71 ,6 8 3 85 ,3 2 3 38 ,0 4 3 52 ,5 6 3 56 ,4 1 Combina do kg ha - 1 1 .4 26 ,4 1 1 .5 60 ,6 2 1 .6 60 ,2 3 1 .4 58 ,9 9 1 .5 45 ,2 1 5 31 ,0 7 49 indicando a ocorrência de uma relação direta entre esses índices. Com relação ao valor combinado, os tratamentos 1Ma:1Gi; 1Ma:2Gi; 1Ma:3Gi e 2Ma:2Gi mostraram vantagem para o sistema de consorciação, exceto o arranjo 2Ma:3Gi (Tabela 8). Oseni & Aliyu (2010) usaram a Razão de Compensação e constataram efeito competitivo do sorgo sobre o feijão caupi, sendo o arranjo 1 fileira de sorgo + 1 fileira de feijão caupi o tratamento que proporcionou vantagem na produtividade de grãos para o sistema de consorciação. Ntare & Williams (1990), estudando a resposta de cultivares de feijão caupi consorciados com milheto, constataram variação de 0,33 a 3,83 no índice razão de compensação. Índice de produtividade do sistema (IPS) O Índice de produtividade do sistema (IPS), que padroniza a produtividade da cultura consorte (girassol) tomando como base a cultura principal (mamona), possibilita identificar todas as configurações de fileiras no sistema de consorciação da mamona + girassol em 2008 e 2009, como também o combinado com produtividade estável (Tabela 9). A estabilidade na produtividade do girassol foi constatada, pois o valor do IPS foi superior ao monocultivo da cultura consorte (girassol) para 2008, 2009 e combinado (Tabela 9). No ano agrícola de 2010 para o IPS, apenas para os tratamentos 1Ma:2Gi e 1Ma:3Gi foi possível a caracterização da estabilidade produtiva em comparação com o monocultivo do girassol (Tabela 9). Alguns autores, dentre eles Oseni & Aliyu (2010), Oseni (2010) e Agegnehuet al. (2006a,b), constataram estabilidade na produtividade dos sistemas consorciados estudados, o que é indicado pelo valor do IPS superior ao monocultivo de seus consortes. 4. CONCLUSÕES A produtividade de grãos de mamona e girassol foi reduzida nos arranjos de fileira em consorciação em relação aos monocultivos. O arranjo de fileira na configuração de 1Ma:2Gi mostrou-se mais vantajoso em relações aos demais tratamentos consorciados da mamona e do girassol no período de avaliação do experimento. A mamona foi dominante em relação ao girassol na utilização dos recursos do ambiente. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.4 1-52, Julho, 20 12 50 PINTO, de C.M. et al. 5. LITERATURA CITADA ADETILOYE, P.O.; EZEDIMA, F.O.C.; OKIGBO, B.N. A land equivalent coefficient (LEC) concept for the evaluation of competitive and productive interactions in simple to complex crop mixtures. Ecological Modelling, v.19, n.1, p.27-39, 1983. AROKIARAJ, A.; KANNAPPAN, K. Intercropping pearl millet with pigeonpea under rainfed condition.The Madras Agricultural Journal, v.82, n.11, p.571-573, 1995. AZEVEDO, D.M.P. de; BELTRÃO, N.E. de M.; SEVERINO, L.S. et al. Arranjos de fileiras no consórcio mamoneira com milho no semi-árido Paraibano. Revista Brasileira de Oleaginosas e Fibrosas, Campina Grande, v.11, n.2, p.91-105, 2007a. AZEVEDO, D.M.P. de; BELTRÃO, N.E. de M.; SEVERINO, L.S. et al. 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Utilizou-se um questionário constituído de 40 perguntas, o qual abrangeu aspectos: socioeconômicos; de produção; de escoamento; de comercialização e de armazenamento. Os entrevistados foram subdivididos em três grupos: o GI foi constituído pelos feirantes que produziam as hortaliças em suas propriedades rurais e as comercializavam diretamente na feira-livre da cidade de Areia (PB); o GII foi constituído por feirantes que não produziam as hortaliças em suas propriedades rurais, adquirindo-as através de compras semanais na EMPASA-CG (Empresa Paraibana de Serviços e Abastecimentos Agrícolas), ou de outros pequenos produtores rurais; e o grupo GIII foi constituído por comerciantes proprietários de redes varejistas. Constatou-se que as injúrias fitopatológicas e os danos mecânicos foram os agentes causais de maior expressão nas perdas das hortaliças: pimentão, tomate, cenoura e batata. Medidas simples e de baixos custos, tais como: higienização de transportes, caixas monobloco e bancadas de comercialização; uniformidade na organização das hortaliças nas caixas; seleção de melhores horários para o escoamento; e ofertas de produtos de acordo com a demanda devem ser adotadas pela maioria dos envolvidos na pesquisa, tendo em vista a diminuição dos expressivos resultados estimados e a melhoria da organização e aparência dos ambientes de comercialização analisados. Palavras-chave: Comercialização, desperdício, fome, prejuízo. FRESH VEGETABLE LOST SKETCHING ON TRADE IN THE MUNICIPAL DISTRICT OF AREIA (PB) ABSTRACT – A survey of the losses in the retail market of oil seeds was become fulfilled in natura in the municipal district of Areia (PB) in order to supply information that can assist in specific actions to the sector to diminish the losses of fresh vegetable in the local retail. A consisting questionnaire of 40 questions was used, which enclosed aspects: partner-economic; of production; of draining; of commercialization and storage. The interviewed ones had been subdivided in three groups: the GI was constituted by stallholder that produced vegetables in its country properties they directly commercialized and them in the fair-free one in Areia (PB); the GII was constituted by stallholders that did not produce the vegetables in its country properties, acquiring them through weekly purchases in the EMPASA-CG (Company Paraiban de Agricultural Service and Supply), of other small agricultural producers; and group III was constituted by trading proprietors of retail nets. One evidenced that the phitopatologycal injuries and the mechanical damages had been the causal agents of bigger expression in the occasion of losses of the studied vegetables: chili, tomatoes, carrot and potato. Simple measures Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Agronomia: Fitotecnia, Campus do Pici/Universidade Federal do Ceará (UFC): [email protected] 2 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, da Universidade Federal de Viçosa: (UFV): [email protected] 3 Graduando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB): lccostaymail.com 4 Mestrando no Programa de Pós-Gradução em Agronomia: Fitotecnia, da Universidade Federal do Semi-árido (UFERSA) 5 Professor Associado do Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais, CCA/UFPB: [email protected] 1 RBAS Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12 54 ALMEIDA, E.I.B. et al. and of practically null costs, such as: single grain hygienic cleaning of transports, boxes and group of benches of commercialization; uniformity in the organization of vegetables in the boxes; election of the best schedules for the draining; and offers of products in accordance with the demand must be adopted by the majority of the involved ones in the research, in view of the reduction of the expressive estimated results and improving the appearance of organization and marketing places analyzed. Key Words: Commercialization, damage, hunger, waste. 1. INTRODUÇÃO O desperdício de alimentos é um dos graves problemas que a agricultura mundial enfrenta. No Brasil e nos países vizinhos, a situação não é diferente. Mais da metade da produção de frutas e verduras foi desperdiçada na América Latina. Cerca de 20% da produção, ou seja, 1,4 bilhões de toneladas de alimentos produzidos são jogadas no lixo antes de sair da propriedade rural (FAO, 2011; Santos & Vieira, 2011). Existem dois tipos de descarte de alimentos: perda e desperdício. A perda se caracteriza pelo não direcionamento do alimento ao consumo, em virtude de injúrias que lhe alteram as propriedades físicas, químicas, microbiológicas ou organolépticas, como amassamento, cortes, senescência, podridão, dentre outros fatores. Já o desperdício ocorre quando o alimento é descartado quando ainda tem condições adequadas para o consumo. Nos supermercados e Ceasas, vários alimentos são descartados apenas considerando-se a aparência do produto. Além de jogar fora toneladas de alimentos que poderiam servir para acabar com a fome em várias partes do mundo, o não aproveitamento dos alimentos também é um desperdício de recursos naturais como a água, solo, mão-de-obra e recursos financeiros do agricultor (SEBRAE, 2011; Santos &Vieira, 2011). Dentre os fatores que provocam perdas de produtos agrícolas in natura destacam-se: a) as condições ambientais (altas precipitações, altas temperaturas e elevadas taxas de umidade do ar) que são favoráveis ao desenvolvimento de fungos e bactérias, depreciando a qualidade das hortaliças no campo; b) embalagens inadequadas, manejo, manuseio e acondicionamento incorreto durante o fluxo de comercialização; c) estrutura e instalações dos equipamentos de comercialização insuficientes; d) agrotecnologia insuficiente no campo, com classificação e padronização insatisfatórias; e e) distância dos fornecedores (Lana et al., 2000; Lourenzani & Silva, 2004; Vilela et al., 2003; Tofanelli et al., 2009). As perdas são indicadores sócio-econômicos extremamente representativos em uma sociedade, mas que ainda são despercebidos por muitos, sendo seu estudo de difícil metodologia e pouco explorado em relação a outras vertentes de pesquisa. Infelizmente os significativos prejuízos proporcionados pelas diferentes causas de perdas, tais como as injúrias: mecânicas; fisiológicas; fitopatológicas e biológicas, têm sido observados por grande maioria de produtores e comerciantes como hábito comum na cadeia produtiva das hortaliças da cidade de Areia (PB). Diante do exposto, realizou-se um levantamento sobre perdas de olerícolas in natura no mercado varejista da cidade de Areia (PB) a fim de fornecer informações sobre causas e soluções, que possam auxiliar em ações específicas ao setor, para se diminuir as perdas de hortaliças frescas no varejo local. 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida por meio de entrevistas semanais realizadas com 72 feirantes e 15 varejistas que comercializam hortaliças na cidade de Areia (PB), no período de setembro de 2009 a setembro de 2010. Esse universo amostral entrevistado exprime significativamente os pontos de produção e comercialização de hortaliças mais expressivos na referida cidade. Utilizou-se um questionário constituído de 40 perguntas, que abrangeu aspectos socioeconômicos; de produção; de escoamento; de comercialização e de armazenamento. O referido questionário foi aplicado através de entrevistas diretas, sendo constituído de perguntas objetivas, de modo a facilitar o entendimento dos envolvidos na pesquisa com os temas abordados, maior precisão nas respostas e, consequentemente, melhor exposição dos resultados Essas informações possibilitaram traçar um diagnóstico prévio das perdas pré e pós-colheita existentes, assim como das características individuais dos constituintes da cadeia Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12 RBAS Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB) produtiva das hortaliças: pimentão, tomate, cenoura e batata. Os entrevistados foram subdivididos em três grupos: o grupo I (GI) foi constituído pelos feirantes que produziam as hortaliças em suas propriedades rurais e as comercializavam diretamente na feira-livre do município de Areia (PB); o grupo II (GII) foi constituído por feirantes que não produziam as hortaliças em suas propriedades rurais, adquirindo-as através de compras semanais na EMPASA-CG (Empresa Paraibana de Serviços e Abastecimentos Agrícolas), ou de outros pequenos produtores rurais; e, o grupo III (GIII) foi constituído por comerciantes proprietários de redes varejistas (mercados, supermercados e quitandas). As perdas das hortaliças estudadas foram tipificadas, de acordo com Chitarra & Chitarra (2005), em: perdas mecânicas por atrito (amassamento, furos e riscos); perdas fisiológicas (amadurecimento, perda de massa fresca, perda de cor e textura e brotamento); perdas fitopatológicas e perdas biológicas (insetos, pássaros e animais). Conhecendo-se a natureza das perdas, associandoas aos referidos grupos, pôde-se estimar-se a quantidade de perda pela seguinte fórmula: Perda (%) = C – V x 100 C Sendo C igual à quantidade média (kg) de cenoura comprada/ano e V igual à quantidade média (kg) de cenoura vendida/ano. Os resultados foram expressos em % de perdas e registrados em Tabelas, associandose as perdas ao padrão qualitativo relacionado na pesquisa e ao grupo estudado. De acordo com a Tabela 1, os percentuais de perdas estiveram associados às seguintes quantidades médias (kg) de pimentão, tomate, cenoura e batata ofertados por ano, respectivamente: Tabela 1 - Dados de produção e oferta (kg/ano) de pimentão, tomate, cenoura e batata pelos grupos I, II e III, respectivamente. Areia, 2010 Hortaliças Grupo I Grupo II Grupo III Pi me nt ã o Toma te Cenoura Ba ta ta 984 274 816 528 2. 12 0 4. 65 6 2. 35 2 3. 84 0 5. 16 2 22.848 8. 35 2 21.984 RBAS 55 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Pimentão As perdas obtidas com a cultura do pimentão (Tabela 2) derivaram-se de danos mecânicos por amassamento; desordens fisiológicas (amadurecimento, perda de massa e perda de cor e textura), injúrias fitopatológicas e injúrias biológicas. A percentagem média de perdas estimada na cadeia produtiva de hortaliças do município de Areia – PB para a cultura do pimentão, 60,85% (somatório das perdas estimadas para GI, GII e GII) foi bastante elevada. Esse resultado foi 18,85% superior aos 42% estimados por Rezende (1992) e Vilela et al. (2003) no estudo da cadeia produtiva do pimentão, comercializado no mercado varejista de Minas Gerais. As perdas mecânicas observadas na Figura 1A totalizaram 26,92% (Tabela 2). Os dados mais expressivos obtidos na avaliação dessa causa de perdas foram relacionados aos pimentões comercializados por GI (13,65%) e GII (10,65%), os quais deveram-se teoricamente ao rudimentar manuseio pós-colheita empregado com os frutos. A situação observada foi corroborada por Lana et al. (2006) ao afirmar que as possíveis causas da elevada incidência de danos mecânicos e as perdas decorrentes dessa etapa estão: no manuseio excessivo e descuidado durante a colheita, classificação e transporte; uso de contentores com superfícies ásperas, sujos e com áreas cortantes; empilhamento dificultado pela falta de padronização de tamanho das embalagens e descarregamento manual descuidado, causando injúrias de impacto. As perdas fisiológicas equivaleram a 11,16% dos 60,85% de perdas totais estimadas para os frutos de pimentão. A diminuição de cor e textura (5,00%) esteve intrinsecamente associada ao processo fisiológico de perda de massa e ao amadurecimento precoce (0,94%) dos frutos, estando ambos os processos associados ao aumento da taxa respiratória dos frutos nos locais indevidos de comercialização (Figura 1B) As perdas fitopatológicas responderam por 23,04% dos 60,85% de perdas médias estimadas. Os danos mecânicos além de ser um dos grandes possíveis responsáveis pela maioria das desordens fisiológicas observadas possibilitaram maior susceptibilidade dos frutos aos diferentes tipos de patógenos pós-colheita (Figura 1C). Segundo Lana et al. (2006), os fitopatógenos foram responsáveis por 8,2% das perdas ocasionadas Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12 56 ALMEIDA, E.I.B. et al. Tabela 2 - Perdas registradas durante a comercialização de hortaliças no varejo na cidade de Areia (PB), 2010 Tipologia das perdas Grupo I (%) Grupo II (%) Grupo III Frutos de Pimentão Mecânica Por amassamento Fisiológica Por amadurecimento Por perda de massa Por perda de cor e textura Fitopatológica 13 , 1 5 10 , 6 5 2,62 4,75 0,50 5,00 10 , 9 0 0,78 0,16 — 9,30 — — — 3,04 TO TA L 34 , 3 0 20 , 8 9 5,66 3,33 — 2,32 0,63 0,67 — 1,67 10 , 9 0 5,13 14 , 6 4 2,82 2,16 Frutos de Tomate Mecânica Por amas samento Por furos Fisiológica Por amadurecimento Fitopatológica Biológica Por insetos TO TA L 0-70 — — 15,90- 85,90 22 , 7 2 4,98 Tubérculos de Batata Mecânica Por atr ito Por furos Fisiológica Por br otamento Fitopatológica — — 2,40 0,21 — — — 15 , 3 3 0,08 8,56 0,83 1,67 TO TA L 15 , 3 3 11 , 2 5 2,50 8,17 0,39 2,36 0,83 — 3,67 0,31 0,31 6,50 1,00 — — 12 , 6 7 7,20 3,36 Raízes de Cenoura Mecânica Por atr ito Fisiológica Por perda de cor e textura Por br otamento Fitopatológica TO TA L em pimentões comercializados em redes varejistas do estado de Minas Gerais. Esses resultados foram semelhantes aos estimados nos locais de comercialização pertencentes aos constituintes de GI e GII e inferiores aos obtidos com GIII. Figura 1 - Tipos de perdas registradas em pimentões comercializados pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B) amadurecimento acelerado; (C) injúrias fitopatológicas; Areia, PB, 2010. Verificou-se que as maiores intensidades de perdas fitopatológicas ocorreram nas épocas mais chuvosas do ano. Segundo Lana et al. (2006), os principais patógenos comumente identificados como causadores de doenças em frutos pimentão na etapa de pós-colheita são pertencentes às bactérias pertencentes aos gêneros: Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12 RBAS Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB) Phytophtora sp., Erwinia sp. Colletotrichum sp., os quais nesses períodos de maior umidade relativa do ar têm ambiente propício ao desenvolvimento e disseminação. 3.2. Tomate Observa-se que os níveis médios de perdas quantificadas para a cultura do tomate foram bastante expressivos, variando de 43,60% a 100% nas épocas mais chuvosas do ano (Tabela 2). Neste estudo constatouse que as perdas obtidas pelos produtores e comerciantes de tomate devem-se, em síntese, às seguintes causas: danos mecânicos por amassamento (etapas de escoamento e comercialização); amadurecimento acelerado dos frutos (etapa de comercialização), injúrias ocasionadas por agentes fitopatológicos e biológicos (etapas de produção, escoamento e comercialização). No varejo, os níveis percentuais médios de perdas pós-colheita oscilaram entre 0,63 e 43,64% (G1+G2+G3). Esses resultados se enquadram no intervalo de 8-30% estimado por Henz & Moretti (2005) para a cultura do tomate. As perdas por amassamento ocorreram principalmente nas etapas de manuseio, transporte e comercialização dos frutos (Figura 2). Para Silva & Giordano (2000), os danos mecânicos, além da perda quantitativa, reduzem a qualidade dos tomates, pois os frutos amassados são facilmente contaminados por fungos e bactérias. Os danos mecânicos por amassamento proporcionaram 3,33; 2,32 e 0,67% de perdas referentes aos tomates comercializados pelos grupos I, II e III, respectivamente. Se as condições de manuseio e exposição dos frutos A B C 57 forem inadequadas ocorre uma sucessão de desordens fisiológicas e os mesmos entram rapidamente em estado de senescência, tornando-se impróprios ao consumo, principalmente quando o intervalo de comercialização é elevado (Chitarra & Chitarra, 2005). Diante do exposto, as perdas decorrentes de amadurecimento acelerado e posterior senescência oscilaram entre 1,67 e 5,13% (Figura 2B). As injúrias fitopatológicas ocasionaram os níveis médios de perdas mais expressivos nos diferentes ambientes de comercialização de tomate estudados, 10,90% (GI), 14,64% (GII) e 2,16% (GIII). O grupo I enfrentou problemas com patógenos desde a etapa de produção até a etapa de comercialização de tomates, havendo nos períodos mais chuvosos do ano, perdas de até 100% em detrimento desses agentes biológicos (Figura 2C e Tabela 2). Os níveis médios de perdas ocasionadas por pragas agrícolas apresentaram maior expressividade na etapa de produção realizada por GI, em que, associados ou não a atividade de fitopatógenos, os insetos, em determinados períodos do ano, ocasionaram perda de mais da metade da produção (70%). É importante ressaltar que, além da época do ano, a cultivar utilizada e o manejo empregado na produção estiveram plenamente interrelacionados a essas perdas ocasionadas por pragas agrícolas (Figura 2D). Em detrimento dos níveis elevados de perdas no campo de produção e os consequentes prejuízos financeiros, GI havia diminuído o plantio de tomate em suas propriedades rurais. Observou-se que nesse plantio realizado em pequena escala havia-se preferido, até então, a inserção de métodos de resistência de D Figura 2 - Tipos de perdas registradas em tomates comercializados pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B) amadurecimento acelerado; (C) injúrias fitopatológicas; (D) injúrias biológicas. Areia, PB, 2010. RBAS Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12 58 ALMEIDA, E.I.B. et al. plantas; métodos culturais e a utilização de defensivos naturais como: extratos biológicos e soluções com fumo, óleo mineral e/ou detergente neutro. (principalmente podridões pós-colheita ocasionadas por bactérias) acarretaram 28,17% de perdas na cadeia produtiva da batata (Figuras 3A e 3B). 3.3. Batata É importante ressaltar que, apesar de serem elevadas, as perdas obtidas pelos constituintes do grupo III foram inexpressivas se comparadas às obtidas pelos componentes de GI e GII. Os resultados devem-se teoricamente à maior experiência e nível de qualificação dos constituintes do referido grupo, ao melhor treinamento dos funcionários integrantes dos seus ambientes de comercialização e ao maior investimento na etapa de pós-colheita desses produtos, havendo a utilização de transportes específicos e o emprego de técnicas e tecnologias eficazes, tais como: câmara fria, caixas monobloco em bom estado de conservação e higiene, prateleiras de comercialização modernas e higienizadas, descarte dos tubérculos contaminados, substituição de caixas monobloco quebradas, dentre outros. Observou-se, na Tabela 2, que os níveis percentuais médios de perdas obtidas por GI, GII e GIII com a cultura da batata alcançaram, respectivamente, 15,33%; 11,25%; e 2,50%, totalizando valor igual a 29,08% de perdas. Constatou-se que os agentes fitopatológicos foram novamente os responsáveis pelas maiores perdas. As doenças ocasionaram diversas interferências tanto nos ambientes de produção (grupo I) quanto naqueles destinados ao escoamento e à comercialização de batatas (grupos I, II e III). Nas propriedades rurais pertencentes à GI, os patógenos comprometeram significativamente a produção dos tubérculos denotando a baixa qualidade e quantidade das batatinhas encontradas na “Feira dos Produtores” (Figura 3A). Além dos obstáculos técnicos e financeiros existentes dentro do ambiente de produção, as limitações em investimentos na etapa de escoamento aumentaram ainda mais os prejuízos, visto que os danos aos produtos nessa fase, em virtude, principalmente do atrito e fricção dos mesmos no interior das ineficazes embalagens utilizadas, foram os agentes potencializadores de exposição do tecido interno da hortaliça às intempéries ambientes (fonte inerente de micro-organismos), causando-lhe distúrbios fisiológicos e escurecimentos oxidativos, declinando ainda mais seus parâmetros de qualidade. A associação entre os danos mecânicos causados por atrito e as doenças sucedidas por patógenos Figura 3 - Tipos de perdas registradas em batatas comercializadas pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas; (B) injúrias fitopatológicas; (C) brotamento. Areia, PB, 2010. Quanto às desordens fisiológicas, estimou-se que entre 0,08 e 0,83% das batatinhas são perdidas por GII e GIII, respectivamente, em virtude do brotamento. Segundo Chitarra & Chitarra (2005), o brotamento conduz o tubérculo a uma rápida transferência de matéria seca e água do órgão comestível para o broto e, como consequência, ocorre perda de massa e o mesmo desenvolve características de aroma e sabor que o torna imprestável ao consumo. Esse fenômeno fisiológico tem grande inter-relação com a temperatura de armazenamento, visto que a mesma conduz o órgão vegetal à quebra de dormência (Figura 3C). 3.4. Cenoura Observou-se, na Tabela 2, que os índices médios percentuais de perdas obtidas com a produção, escoamento e comercialização de cenouras totalizaram 23,23%. Os principais potencializadores das baixas registradas foram: os danos mecânicos nas etapas de escoamento e comercialização; as desordens fisiológica s e as injúrias ocasionada s por fitopatógenos. Os fatores causais de perdas registrados no estudo assemelharam-se àqueles citados por Rezende et al. (1992) para a mesma cultura. Segundo os autores, a podridão por Erwinia sp.; os nematoides; os distúrbios fisiológicos; as falhas na fase de produção; a colheita; a embalagem; o manuseio e o transporte inadequados; Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12 RBAS Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de areia (PB) os danos mecânicos; o tempo de exposição prolongado no varejo; os preços desfavoráveis pagos ao produtor e a falta de orientação de mercado são agentes potencializadores de perdas pré e pós-colheita de valor expressivo. Verificou-se, conforme a Tabela 2, que 10,92% das perdas estimadas para a batata ocorreram em virtude de injúrias mecânicas por atrito. Como citado anteriormente para as demais hortaliças estudadas, esses tipos de danos devem-se principalmente aos inadequados mecanismos empregados nas etapas de manuseio e escoamento da cenoura (Figura 4A e 4C). O grupo I foi aquele que obteve a maior quantidade de perdas pós-colheita com a cenoura, 12,67%, o que possivelmente está associado à menor taxa de investimento neste setor da cadeia produtiva (Tabela 2). As perdas ocasionadas por desordens fisiológicas aconteceram principalmente pelo decréscimo da coloração e textura originais e por brotamento, tornando os produtos imprestáveis para o comércio e consumo. Supostamente os decréscimos da coloração e da textura originais da cenoura foram proporcionados pelo longo intervalo de tempo de exposição das raízes no varejo (Figura 4A). Durante esse acentuado intervalo, os mecanismos respiratórios aceleram a fase de senescência e, consequentemente, induzem as túberas à diminuição dos parâmetros intrínsecos de qualidade física e físicoquímica, principalmente cor (degradação de á e âcaroteno) e textura (solubilização dos sólidos hidrossolúveis) tornando-se impróprias à comercialização (Cinar, 2004; Lima et al., 2004). Os índices percentuais médios de perdas ocorridas em virtude de brotamento somaram 0,31%. 59 As perdas ocasionadas por injúrias fitopatológicas ocuparam o segundo lugar em grau de expressividade dentre os fatores causais de perdas estudados para a cultura da cenoura. Foram estimados 10,17% de perdas ocasionadas por patógenos (Tabela 2). Esse tipo de perda é geralmente provocado pela ação de patógeno numa porção de tecido ferido e/ou em virtude da desordem dos mecanismos fisiológicos da cenoura, que desencadeia na sua rápida senescência, aumentando a susceptibilidade do tecido das túberas às injúrias proporcionadas por micro-organismos (Eckert & Ratnayake, 1983) (Figura 4B). 4. CONCLUSÕES As injúrias fitopatológicas e mecânicas foram identificadas na pesquisa como os mais importantes agentes causadores de perdas em hortaliças frescas. Os elevados índices estimados no estudo podem ser minimizados, em síntese, pela conscientização dos produtores e comerciantes, atentando-se para boas práticas que devem ser empregadas no manuseio das hortaliças frescas entre as etapas de escoamento e comercialização. A higienização dos meios de transporte, caixas monobloco, bancadas de comercialização, uniformidade na organização das hortaliças nas caixas, seleção do melhores horários para o escoamento e oferta de produtos de acordo com a demanda são técnicas básicas e de custo financeiro praticamente nulo, que podem e devem ser adotadas pela maioria dos envolvidos na pesquisa. 5. LITERATURA CITADA CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B. Póscolheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2.ed. rev. e ampl. Lavras: UFLA, 2005. 785p. CINAR, I. Carotenoid pigment loss of freeze-dried plant samples under different storage conditions. Swiss Society of Food Science and Technology, v.37, p.363-367, 2004. Figura 4 - Tipos de perdas registradas em cenouras comercializadas pelos grupos I, II e III: (A) injúrias mecânicas e perda de cor e textura; (B) injúrias fitopatológicas; (C) injúrias mecânicas. Areia, PB, 2010. RBAS ECKERT, J.W.; RATNAYAKE, M. Host-pathogen interactions in postharvest diseases. In: LIEBERMAN, M. (Ed.). Post-harvest physiology and crop preservation. Beltsville: Plenum Press, 1983. p.247-264. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.5 3-60, Julho, 20 12 60 ALMEIDA, E.I.B. et al. FAO (Food and Agriculture Organization). Relatório: Desperdício de alimentos em 2011. Disponível em: <http://www.fao.org.>. Acesso em 26 de janeiro de 2012. REZENDE, J.B. Avaliação das perdas de produtos agrícolas em Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1992. 122 p. HENZ, G.P.; MORETTI, C.L. Manejo póscolheita. Embrapa Hortaliças. 2005. 5p. SANTOS, K.; VIEIRA, W. Destino final: o lixo. Comunicado especial: Abastecer Brasil, Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento, n.5. p.8-12. 2011. LANA, M.M.; BARROS, D.; MOITA, A.W. et al. Níveis de perdas pós-colheita de cenoura, tomate e pimentão em supermercados da rede varejista do Distrito Federal. Embrapa Hortaliças. (Relatório de pesquisa). 2000. 21p. 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Neste trabalho foi avaliado o efeito de diferentes concentrações de quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo e na manutenção da qualidade pós-colheita de lichia. Frutos de lichieira ‘Bengal’ com pericarpo uniformemente vermelho foram imersos por um minuto em solução com diferentes concentrações de quitosana (0 g.L -1; 5 g.L -1; 10 g.L -1; 15 g.L -1 e 20 g.L -1). Após a secagem ao ambiente, os frutos foram acondicionados em bandejas de poliestireno, recobertos com filme PVC de 12 µm de espessura e armazenados a 19,0±2,4°C e 75 ± 5% de UR. A cada dois dias, durante oito dias, os frutos foram avaliados quanto à perda de massa fresca, cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis e acidez titulável da polpa e vitamina C do pericarpo e da polpa. A perda de massa aumentou linearmente durante o período de armazenamento, independentemente da concentração de quitosana. As concentrações de 5 e 10 g.L -1 foram as mais efetivas em manter a coloração do pericarpo por período de até quatro dias, sem comprometer as demais características avaliadas. Palavras-chave: Biopolímero, Litchi chinensis Sonn., vitamina C. CHITOSAN ON DELAYING OF THE DARKENING OF THE PERICARP IN LYCHEE ABSTRACT – After harvest of lychee (Litchi chinensis Sonn.) pericarp browning occurs rapidly, this causes the fruit to submit short postharvest life. This study evaluated the effect of different concentrations of chitosan in delaying the browning of the pericarp and in maintaining the postharvest quality of lychees. Fruits of litchi ‘Bengal’ uniformly red pericarp were immersed for one minute in solution with different concentrations of chitosan (0 g.L -1, 5 g.L -1, 10 g.L -1, 15 g.L -1 and 20 g.L -1). After drying the environment, the fruits were packed in polystyrene trays, covered with plastic wrap for 12 mm thick and stored at 19.0 ± 2.4°C and 75 ± 5% RH. Every two days, during eight days, the fruits were evaluated for weight loss, color of the pericarp, soluble solids and titratable acidity and vitamin C from the pulp of the pericarp and pulp. The weight loss increased linearly during the period of storage, independent of the concentration predominantly of chitosan. The concentrations of 5 and 10 g.L -1 were the most effective in keeping the color of the pericarp for up to four days, without compromising other characteristics. Key Words: Biopolymer, Litchi chinensis Sonn., vitamin C. Pós-Graduandos - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570000 - Autor para correspondência: [email protected] 2 Professor do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - CEP 36570-000 - [email protected] Apoio financeiro: CAPES, FAPEMIG e CNPq. 1 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12 62 LINS, de L.R. et al. 1. INTRODUÇÃO A lichia (Litchi chinensis Sonn.) é uma fruta da família Sapindaceae, de alto valor comercial devido a sua cor vermelha atraente e ao arilo branco e translúcido, sendo muito apreciada por seu sabor doce (Smarsi et al., 2011). Entretanto, depois de colhido e mantido sob condições ambientais, o fruto perde estas qualidades, ocorrendo escurecimento do pericarpo em apenas dois dias (Silva et al., 2010). A perda de água e a consequente descompartimentalização dos solutos celulares durante o armazenamento provocam o contato das enzimas e seus substratos, causando reações indesejáveis que prejudicam a aparência do fruto (Lima et al., 2010). Portanto, o escurecimento está relacionado com a dessecação do pericarpo, além do ataque de patógenos, estresses por altas temperaturas, danos por frio, senescência, dentre outros fatores que levam à degradação da antocianina por enzimas oxidativas, tais como a polifenoloxidase (PPO), a peroxidase (POD) e o ácido ascórbico oxidase (Mizobutsi et al., 2010). A fumigação com dióxido de enxofre é um tratamento eficiente usado para prevenir o escurecimento do pericarpo da lichia (Ducamp-Collin et al., 2008). Porém, segundo Hojo et al. (2011), o uso deste produto deixa resíduos indesejáveis, altera o sabor do fruto, resultando em riscos à saúde dos consumidores que apresentam alergia ao enxofre e aos trabalhadores das casas de embalagens. De acordo com a Organização Internacional para a Luta Biológica (OILB), a produção econômica de frutas de alta qualidade deve priorizar o uso de métodos ecologicamente mais seguros, minimizando o uso de agroquímicos e seus efeitos colaterais indesejáveis, pondo ênfase na proteção do ambiente e na saúde humana. Portanto, é necessário o desenvolvimento de metodologias sustentáveis de manejo pós-colheita que retardem o escurecimento do pericarpo da lichia, aumentando sua vida útil pós-colheita, sem deixar resíduos nos frutos e sem resultar em riscos à saúde humana. A quitosana é um biopolímero obtido da desacetilação da quitina, que é o principal constituinte de exoesqueletos de crustáceos e outros animais marinhos. É insolúvel em água, mas dissolve-se em soluções aquosas de ácidos orgânicos, como acético, fórmico, cítrico, além de ácidos inorgânicos, como ácido clorídrico diluído, resultando em soluções viscosas (Santos et al., 2003). Tratamentos pós-colheita com quitosana produzem uma fina camada protetora na superfície dos frutos, e visam retardar a perda de água, atuam como barreira ao O2 e atrasam o aumento da atividade PPO durante o armazenamento (Apail et al., 2009). Em lichias, tratamentos com soluções de quitosana retardam o escurecimento do pericarpo, limitando a perda de antocianina, flavonoides e compostos fenólicos, além disso, retardam a atividade da PPO e da POD (DucampCollin et al., 2008). Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de diferentes concentrações de quitosana na prevenção do escurecimento do pericarpo e na manutenção da qualidade pós-colheita de lichias armazenadas à temperatura ambiente. 2. MATERIAL E MÉTODOS Frutos de lichieira ‘Bengal’ com pericarpo completamente vermelho foram colhidos, no período da manhã, em janeiro de 2012, de plantas do Pomar Experimental da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, Minas Gerais (21º07’S, 42º57’W, 651m de altitude). Após a colheita, foram selecionados os frutos com pericarpo uniformemente vermelho e sem injúrias. Na sequência, os frutos foram imersos por um minuto em solução com diferentes concentrações de quitosana (0 g L-1; 5 g L-1; 10 g L-1; 15 g L-1 e 20 g L-1). A quitosana foi diluída em solução de ácido clorídrico a 0,05 mol L-1. Os frutos foram secos superficialmente à temperatura ambiente e acondicionados em bandejas de poliestireno expandido (150 mm x 150 mm x 25 mm), recobertas com filme de policloreto de vinila (PVC) de 12 µm de espessura. A fim de simular o a exposição em gôndolas de supermercados, os frutos foram armazenados em bancada de laboratório a 19±2,4°C e 75 ± 5% de UR e avaliados a cada dois dias, durante oito dias. Foram avaliados perda de massa fresca, atributos de cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis e acidez titulável da polpa e teores de ácido ascórbico do pericarpo e da polpa. A perda de massa fresca foi determinada por gravimetria, sendo os resultados expressos em porcentagem de perda de massa. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12 Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia 63 A coloração do pericarpo foi determinada por reflectometria, utilizando-se reflectômetro Minolta (Color Reader CR-10). Foram feitas duas leituras por fruto em posições diametralmente opostas, utilizando-se as coordenadas L* e h (h assume valor zero para a cor vermelha, 90° para a amarela, 180° para a verde e 270° para a azul) (McGuirre, 1992). Para a análise dos dados utilizou-se os parâmetros L*, a*, b* para cálculo do DE (diferença de cor), que define a saturação e intensidade da cor definida por L*, a* e b* (Minolta Corp, 1994) e foi determinado pela diferença de cor entre os valores registrados nos frutos em cada dia de avaliação e os obtidos nos frutos no início das avaliações. O teor de sólidos solúveis da polpa foi determinado com o auxílio de um refratômetro digital em amostras de polpa trituradas em liquidificador (AOAC, 1997). A acidez titulável da polpa foi determinada por titulação com NaOH 0,1N e expressa em porcentagem de ácido málico (AOAC, 1997). Os teores de ácido ascórbico do pericarpo e da polpa foram determinados por titulação com reagente de Tillman [2,6 diclorofenolindofenol (sal sódico) a 0,1%] (AOAC, 1997). Os resultados foram expressos em mg.100 g -1 de polpa. O experimento foi conduzido em parcelas subdivididas, tendo-se nas parcelas as cinco concentrações de quitosana e, nas subparcelas, os cinco períodos de amostragens, sendo a unidade experimental constituída por cinco frutos. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com três repetições. Os dados foram analisados por meio das análises de variância e regressão, usando-se o programa SAEG 9.1 – Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG, 2007). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A perda de massa aumentou linearmente durante o período de armazenamento, independentemente da concentração de quitosana (Figura 1). As concentrações de 0 (controle), 15 e 20g.L-1 resultaram em maiores perdas de massa fresca durante todo o período experimental, chegando no 8º dia com perda acumulada de 10,5, 12,59 e 11,1%, respectivamente. As menores perdas de massa ocorreram no tratamento com 5 g.L-1 de quitosana, com uma perda de 9,19%, seguido pelo tratamento quitosana 10 g.L-1 (9,40%). Observou-se que, nas maiores concentrações de quitosana (15 e 20 g.L-1), houve descamação da película formada sobre os frutos, o que pode ter reduzido Figura 1 - Perda de massa fresca de frutos de lichia ‘Bengal’ durante o armazenamento, submetidos a tratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C. a eficiência do produto no controle da perda de massa fresca. Chen et al. (2001) relatam que a perda de massa s up e ri or a 1 8,2 1% é s uf i ci e nt e p a ra ca u sa r escurecimento total do pericarpo de lichias, enquanto Mahajan & Goswami (2004) consideram que uma perda de 3-5% pode causar este efeito. Para Chitarra & Chitarra (2005), perdas da ordem de 3 a 6% são suficientes para causar declínio na qualidade, entretanto alguns produtos são ainda comercializáveis com 10% de perda de umidade. A luminosidade (L*) do pericarpo, nos cinco tratamentos avaliados, apresentou diferenças significativas ao longo do armazenamento, mostrando tendência de queda (Figura 2). As reduções no 8° dia de armazenamento, em relação ao dia do armazenamento, foram menores para o controle (7,21%) e para a dose 20 g.L-1 (9,59%). As menores doses não foram eficientes em manter a coloração do pericarpo da lichia, observandose perdas de 15,38, 16,81 e 19,4% para as doses 5, 15 e 10, respectivamente. Os frutos tratados com 10 e 15 g.L-1 de quitosana apresentaram menor perda de coloração vermelha do pericarpo, passando o ângulo hue (ºh) de 33,35 para 37,96 e de 33,56 para 40,71 do dia zero ao 8° dia de armazenamento, respectivamente. No tratamento 20 g.L-1 a variação foi maior que no controle (Figura 3). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12 64 Figura 2 - Luminosidade (L*) do pericarpo dos frutos de lichia ‘Bengal’ durante o armazenamento, e submetidos a tratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C. LINS, de L.R. et al. Figura 4 - Diferença de cor (“E) do pericarpo dos frutos de lichias ‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidos a tratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C. escureceram, como se nota pela rápida mudança de cor em relação ao dia zero (Figura 4). A mudança indesejável da coloração do pericarpo da lichia, com um rápido decréscimo da luminosidade (L*) unido a uma elevação de ºh, dá como resultado principal escurecimento e perda da coloração vermelha intensa do pericarpo, cuja consequência imediata é a perda de seu valor comercial ou uma forte redução do preço de comercialização destes frutos no varejo (Silva et al., 2011). A rápida alteração da coloração vermelha para uma tonalidade marrom também ocorre em frutos ainda ligados à planta. Em frutos colhidos, este escurecimento pode ocorrer em poucas horas ou, no máximo, três dias após a colheita, em temperatura variando de 20° a 25°C (Lima et al., 2010). Figura 3 - Ângulo hue (0) do pericarpo dos frutos de lichias ‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidos a tratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C. A quitosana na concentração de 10 g.L-1 impediu o escurecimento do pericarpo até o quarto dia de armazenamento. Nos demais tratamentos os frutos Em todos os tratamentos o teor de sólidos solúveis e a acidez titulável diminuíram ao longo do período de armazenamento (Figura 5A e 5B), indicando que os ácidos orgânicos foram utilizados como substratos respiratórios e como esqueletos de carbono para a síntese de novos compostos (Chitarra & Chitarra, 2005). No entanto, o tratamento 5 g.L -1 foi o que melhor reteve o teor de sólidos solúveis, reduzindo de 18,57 para 17,76 ºBrix (4,36%). Os ácidos, além dos açúcares, constituem substratos para a respiração, sendo que o ácido ascórbico participa de reações antioxidantes Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12 Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia 65 que se processam durante a maturação e após a colheita do fruto (Neves et al., 2011). Possivelmente, devido ao estresse da colheita, ocorra no fruto maior atividade metabólica, principalmente maior taxa respiratória, havendo maior consumo de ácidos e açúcares nesse processo (Watanabe et al., 2011). O teor de ácido ascórbico, tanto do pericarpo como da polpa, apresentou redução ao longo do período de armazenamento, sendo que a redução foi mais expressiva nos frutos que não foram tratados com a quitosana (Figuras 6A e 6B). Dessa forma, a quitosana, independentemente da concentração, foi efetiva em promover uma menor redução do teor de vitamina C do pericarpo e da polpa dos frutos. Figura 5 - Teor de sólidos solúveis da polpa (A), acidez titulável da polpa (B) dos frutos de lichias ‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidos a tratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C. Figura 6 - Teor de ácido ascórbico do pericarpo (A) e teor de ácido ascórbico da polpa (B) dos frutos de lichias ‘Bengal’ durante o armazenamento e submetidos a tratamentos com quitosana e armazenados a 19±2,4°C. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12 66 LINS, de L.R. et al. O efeito benéfico da manutenção dos teores de ácido ascórbico no pericarpo é atribuído a vários aspectos, sendo um destes o efeito de captação do oxigênio e proteção, formando uma barreira criada pela quitosana que impede a difusão do oxigênio para o interior do produto, reduzindo as quinonas geradas e inibindo a ação das PPO’s (Reuck et al., 2011), contribuindo para a manutenção da coloração vermelha. De acordo com Apail et al. (2009), a quitosana utilizada como tratamento pós-colheita produz uma fina camada protetora na superfície dos frutos, retardando a perda de água e atuando como barreira ao O2, o que consequentemente atrasa o aumento da atividade PPO durante o armazenamento. 4. CONCLUSÕES As concentrações de 5 e 10 g.L-1 foram as mais efetivas em manter a coloração do pericarpo da lichia ‘Bengal’, sem comprometer as características de qualidade avaliadas, pelo período de até quatro dias. 5. AGRADECIMENTOS A CAPES, FAPEMIG e CNPq pelo apoio financeiro. 6. LITERATURA CITADA AOAC. Official methods of analysis of the Associa-tion of Official Analytical Chemists International. 16. ed. Washington, 1997. v.2, p.37-10, 42-2, 44-3, 45-16. APAIL, W.; SARDSUD, V.; BOONPRASOM, P. et al. Effects of chitosan and citric acid on pericarp browning and polyphenol oxidase activity of longan fruit. Songklanakarin Jounal of Science and Technology, v.31, n.6, p.621-628, 2009. CHEN, W.; WU, Z.; SU, M. 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Sistema para análises estatísticas. Versão 9.1. Viçosa: Fundação Arthur Bernardes, UFV, 2007. CD Rom. SANTOS, J.E.; SOARES, J.P.; DOCKAL, E.R. et al. Caracterização de quitosanas comerciais de diferentes origens. Polímeros: Ciência e Tecnologia, v.13, n.4, p.242-249, 2003. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12 Quitosana no retardamento do escurecimento do pericarpo em lichia SILVA, D.F.P.; CABRINI, E.C.; ALVES, R.R. et al. Uso do ácido ascórbico no controle do escurecimento do pericarpo de lichia. Revista Brasileira de Fruticultura, v.32, n.2, p.618-627, 2010. SILVA, D.F.P.; SALOMÃO, L.C.C.; CABRINI, E.C. et al. Prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia através do uso de ácidos e filmes. Revista Brasileira de Fruticultura, v. especial, p.519-527, 2011. 67 SMARSI, R.C.; OLIVEIRA, G.F.; REIS, L.L. et al. Efeito da adubação nitrogenada na produção de mudas de lichieira. Revista Ceres, v.58, n.1, p.129-131, 2011. WATANABE, T.; ROZANE, D.E.; NATALE, W. et al. Avaliação da influência de substâncias fenólicas e carotenoides na anomalia do epicarpo da goiaba, “anelamento”. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.33, n.1, p.8-13, 2011. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 1-67, Julho, 20 12 68 MATIAS, R.G.P. et al. TRATAMENTO HIDROTÉRMICO PARA PREVENÇÃO DO ESCURECIMENTO DO PERICARPO DE LICHIA Rosana Gonçalves Pires Matias1, Danielle Fabíola Pereira da Silva1, Leila Cristina Rosa de Lins1, Robson Ribeiro Alves1 e Luiz Carlos Chamhum Salomão2 RESUMO – Após a colheita da lichia (Litchi chinensis Sonn.) ocorre rápido escurecimento do pericarpo, limitando o período de comercialização do fruto. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da hidrotermia na prevenção do escurecimento do pericarpo e manutenção da qualidade pós-colheita de frutos de lichia. Frutos de lichieira cv. Bengal com pericarpo uniformemente vermelho foram submetidos à imersão em água em três temperaturas (45, 50 e 55°C) x cinco tempos de imersão (0, 4, 8, 12 e 16 minutos), em delineamento inteiramente ao acaso, com três repetições e cinco frutos por repetição. Após a secagem, os frutos foram acondicionados em bandejas de poliestireno, recobertos com filme PVC de 12 µm de espessura e armazenados em bancadas de laboratório em temperatura ambiente (19,0 ± 2,4°C e 75 ± 5% de UR) a fim de simular as condições de exposição em bancadas de supermercados. A cada dois dias, durante oito dias, os frutos foram avaliados quanto à perda de massa fresca, cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis e acidez titulável da polpa e teor de ácido ascórbico do pericarpo e da polpa. Observou-se que a perda de massa fresca foi maior nos frutos não submetidos ao tratamento hidrotérmico. Frutos submetidos a 50°C por 16 minutos e a 55°C em todos os tempos de imersão foram avaliados somente até o 4º dia; a partir daí apresentaram-se impróprios para a comercialização. A imersão a 45ºC por 4 minutos foi a mais eficiente em manter a coloração vermelha do pericarpo, bem como não alterou as características de qualidade avaliadas durante o período experimental. Palavras-chave: Litchi chinensis Sonn., qualidade, vitamina C. HYDROTHERMAL TREATMENT IN PREVENTION BROWNING OF LYCHEE PERICARP ABSTRACT – The browning of litchi pericarp (Litchi chinensis Sonn.) occurs rapidly after harvest, limiting the marketing period of the fruits. The objective of this study was to evaluate the effect of hot water treatments in preventing browning of the pericarp and the maintenance of postharvest quality of litchi fruit. Fruits of litchi cv. Bengal uniformly red pericarp were submitted to immersion in water at tree temperature (45, 50 and 55°C) x five soaking times (0, 4, 8, 12 and 16 minutes) in a completely randomized design with tree replications and five fruit per replicate. After drying, the fruits were packed in polystyrene trays, covered with plastic wrap with 12 mm thick and stored in the lab benches at room temperature (19.0 ± 2.4°C and 75 ± 5% RH) to simulate the exposure conditions at supermarket counters. Every two days, during eight days, were evaluated the weight loss, color of the pericarp, soluble solids, titratable acidity of the pulp and ascorbic acid content of the pericarp and pulp. It was observed that the weight loss was higher in fruits that were not subjected to hydrothermal treatment. Fruits subjected to 50°C during 16 minutes and 55°C in all immersion times were evaluated only until the 4th day, thereafter, these fruits are not suitable for commercialization. Immersion at 45°C during four minutes was the most effective in maintaining the red color of the pericarp and did not affect the quality measured during the experimental period. Key Words: Litchi chinensis Sonn., quality, vitamin C. Pós-Graduandos - Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570000 - Autor para correspondência: [email protected] 2 Professor do Departamento de Fitotecnia - Universidade Federal de Viçosa - Av. Peter Henry Rolfs s/n - Cep 36570-000 - [email protected] Apoio financeiro: CAPES, FAPEMIG e CNPq. 1 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia 1. INTRODUÇÃO A lichieira (Litchi chinensis Sonn.) é uma planta da família Sapindaceae, a mesma do guaraná, pitomba e rambutã. É uma fruteira tipicamente de clima subtropical. No Brasil, sua introdução se deu no ano de 1810 no Rio de Janeiro, a partir daí seu cultivo se expandiu para a região Sudeste (Smarsi et al., 2011). Após a colheita dos frutos, ocorre rápido escurecimento do pericarpo, o que faz com que o fruto apresente vida pós-colheita curta. O fenômeno pode ocorrer em menos de 72 horas após a colheita, reduzindo o valor comercial da fruta, limitando assim sua comercialização (Del Aguila et al., 2009). Este escurecimento pode estar relacionado com a dessecação do pericarpo, ataque de patógenos, estresses por altas temperaturas, danos por frio, senescência, dentre outros fatores que levam à degradação da antocianina, por enzimas oxidativas, tais como a polifenoloxidase (PPO), peroxidase (POD) e ácido ascórbico oxidase (Mizobutsi et al., 2010). Com a perda de água durante o armazenamento dos frutos, há descompartimentalização dos solutos celulares, provocando o contato das enzimas e seus substratos, causando por fim as reações indesejáveis que prejudicam a aparência do fruto e, consequentemente, sua comercialização (Lima et al., 2010). Em vista disso, retardar ou reduzir a oxidação enzimática, por meio de métodos que evitem o contato do fruto com o oxigênio e diminuam a perda de massa dos frutos, é importante para aumentar o período de armazenamento e preservar a qualidade comercial de frutos de lichieira. Um método eficiente de tratamento usado para prevenir o escurecimento do pericarpo dos frutos de lichieira é a fumigação com dióxido de enxofre (DucampCollin et al., 2008). Porém, segundo Hojo et al. (2011), esse produto deixa resíduos indesejáveis e altera o sabor do fruto, resultando em riscos à saúde dos consumidores que apresentam alergia ao enxofre e dos trabalhadores das casas de embalagens. Um tratamento alternativo à fumigação com enxofre é a aplicação de calor por tratamento hidrotérmico (Lichter et al., 2000). O tratamento hidrotérmico na conservação de alimentos apresenta uma série de vantagens que incluem a relativa facilidade de utilização, tratamento em curto espaço de tempo, bem como a 69 isenção de resíduos químicos sobre o produto. Porém, o manejo inadequado da temperatura no tratamento hidrotérmico pode causar injúria hipertérmica, como colapso da polpa, frutos sem sabor, escurecimento da casca e, em casos severos, produção de etanol e acetaldeído (Souza, 2009). Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliar o efeito do tratamento hidrotérmico na prevenção do escurecimento do pericarpo e na manutenção da qualidade pós-colheita de frutos de lichieira. 2. MATERIAL E MÉTODOS Frutos de lichieira (Litchi chinensis Sonn.) cv. Bengal com pericarpo completamente avermelhado foram colhidos no período da manhã, em janeiro de 2012, de plantas com nove anos de idade originadas de alporquia em pomar irrigado localizado na Área Experimental da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, Minas Gerais (21º07’S, 42º57’W, 651m de altitude). Após colheita manual, foram selecionados os frutos sadios com pericarpo uniformemente avermelhado e sem injúrias. Imediatamente após, foram lavados em água corrente e sanificados por imersão em hipoclorito de sódio a 200 mg.L-1, por 5 minutos. A seguir, foram submetidos aos tratamentos de imersão em água aquecida (45, 50 e 55°C) e tempo de imersão (0, 4, 8, 12 e 16 minutes), e secos à temperatura ambiente. O tratamento controle foi constituído de frutos lavados e sa nif ic ado s. Em segu ida os fru tos for am acondicionados em bandejas de poliestireno (150 mm x 150 mm x 25 mm) e recobertos com filme de policloreto de vinila (PVC) de 12 µm de espessura. A fim de simular as c ondiçõ es de e xposição em banc ada s de supermercados, os frutos foram mantidos em bancada de laboratório em temperatura ambiente (19,0 ± 2,4°C e 75 ± 5% de UR) e avaliados a cada dois dias, durante oito dias. Foram avaliados perda de massa fresca, atributos de cor do pericarpo, teor de sólidos solúveis (SST), acidez titulável da polpa (AT), e teores de ácido ascórbico do pericarpo e polpa. A perda de massa fresca foi calculada pela diferença entre a massa inicial dos frutos e a obtida em cada tempo da amostragem, utilizandose balança digital com 0,1 gramas de precisão, sendo os resultados expressos em porcentagem de perda de massa. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 70 MATIAS, R.G.P. et al. A coloração do pericarpo foi determinada por reflectometria, utilizando reflectômetro Minolta (Color Reader CR-10). Foram feitas duas leituras por fruto em posições diametralmente opostas, utilizando a coordenadas L* e h (ângulo hue, h assume valor zero para a cor vermelha, 90° para a amarela, 180° para a verde e 270° para a azul) (McGuirre, 1992). O teor de sólidos solúveis da polpa foi determinado com o auxílio de um refratômetro digital em amostras de polpa trituradas em homogeneizador de tecidos (AOAC, 1997). A acidez titulável da polpa foi determinada por titulação com NaOH 0,1N e expressa em porcentagem de ácido málico (AOAC, 1997). O teor de ácido ascórbico do pericarpo e da polpa foi determinado por titulação com reagente de Tillman [2,6 diclorofenolindofenol (sal sódico) a 0,1%] (AOAC, 1997). Os resultados foram expressos em mg.100 g-1 de polpa. O experimento foi conduzido em parcelas subdivididas, tendo-se nas parcelas os doze tratamentos hidrotérmicos e, nas subparcelas, os cinco períodos de amostragens, sendo a unidade experimental constituída por cinco frutos. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, contendo três repetições e cinco frutos por repetição. Os dados foram analisados por meio das análises de variância e regressão, utilizandose o programa Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG, 2007). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A perda de massa aumentou linearmente durante o período de armazenamento, independentemente dos tratamentos (Figura 1A, B e C). Isso evidencia que os frutos continuaram respirando e perdendo água e, consequentemente, perdendo massa com o passar do tempo. Os frutos do tratamento controle apresentaram maior perda de massa do que os frutos submetidos ao tratamento hidrotérmico, independente da temperatura e do tempo de imersão. A perda de massa fresca dos frutos variou entre 3,68 e 4,93%, para os tratamentos 55ºC por 8 minutos e 45º no mesmo tempo de exposição, respectivamente, com exceção dos frutos do tratamento controle nos quais a perda de massa fresca foi superior a 5% no quarto dia de armazenamento. De acordo com Lima et al. (2010) perda de massa fresca de 3 a 5% é suficiente para causar o escurecimento total do pericarpo de lichias. A imersão em água quente reduziu os valores de luminosidade (L*) do pericarpo ao longo do período Figura 1 - Perda de massa fresca (%) de lichias cv. Bengal submetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancadas de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 71 Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia de armazenamento, observando-se as maiores reduções no tempo de imersão por 16 minutos, para todas as temperaturas (Figura 2A, 2B e 2C). A imersão em água quente por longos períodos levou a um escurecimento não enzimático do pericarpo (Souza et al., 2010), culminando na redução dos valores de luminosidade. Resultados semelhantes foram encontrados por Souza et al. (2010), que observaram que frutos de lichia submetidos a tratamento hidrotérmico a 45°C por 15; 20 e 25 minutos, armazenadas à 5°C apresentaram diminuição significativa nos valores deste parâmetro. Observou-se aumento dos valores do ângulo hue (hº) do pericarpo dos frutos de todos os tratamentos ao longo do período experimental (Figura 3A, B e C), o que indica a perda da coloração vermelha do pericarpo. No entanto, na imersão a 45ºC por 4 e 8 minutos o aumento dos valores de hº foi menos significativo. Os frutos submetidos a 50°C por 16 minutos e 55°C em todos os tempos de imersão foram os que mais rapidamente perderam a coloração vermelha e foram avaliados somente até o 4º dia. A partir daí os frutos se apresentaram impróprios para a comercialização. Isso pode ser explicado pela alta temperatura de imersão, que pode ter ocasionado a caramelização dos açúcares presentes no pericarpo; além disso, a alta temperatura pode ter ocasionado maiores perdas de antocianinas, devido à alta sensibilidade deste pigmento a temperaturas muito elevadas (Souza et al., 2009; Tonon et al., 2009). A B Observou-se, em todos os tratamentos, que o teor de sólidos solúveis (°Brix) diminuiu ao longo do período de armazenamento (Figura 4A, B e C), bem como a acidez titulável (AT) (Figura 5A, B e C). Esta redução indica que os açúcares e os ácidos orgânicos podem ter sido utilizados como substratos respiratórios e como esqueletos de carbono para a síntese de novos compostos (Chitarra & Chitarra, 2005). Os teores de ácido ascórbico do pericarpo diminuíram significativamente em todos os tratamentos (Figura 6A, B e C). A temperatura de 45°C, nos tempos de imersão de 8, 12 e 16 minutos, foi mais eficiente na manutenção do teor de ácido ascórbico do pericarpo. Inversamente, a 55°C houve maior redução no teor de ácido ascórbico do pericarpo dos frutos quando comparados ao tratamento controle, em todos os tempos de imersão. Os tratamentos não influenciaram no teor de ácido ascórbico da polpa dos frutos (Figura 7A, B e C), apresentando uma redução ao longo do período de C Figura 2 - Coordenada L* do pericarpo de lichias cv. Bengal submetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 72 MATIAS, R.G.P. et al. A A B B C C Figura 3 - Ângulo hue do pericarpo (h°) de lichias vc. Bengal submetidas ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012. Figura 4 - Teor de sólidos solúveis (°Brix) de frutos de lichia cv. Bengal submetida ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 73 Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia A A B B C C Figura 5 - Acidez titulável (% de ácido málico) de frutos de lichia cv. Bengal submetida ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenadas em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012. Figura 6 - Teor de ácido ascórbico (mg.100g -1) do pericarpo de frutos de lichia cv. Bengal submetidos ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenados em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 74 MATIAS, R.G.P. et al. armazenamento, não diferindo do controle. No entanto, observou-se que essa redução ocorreu mais rápido nos frutos tratados a 50ºC por 16 minutos, e a 55ºC em todos os tempos de imersão. 4. CONCLUSÕES A O tratamento por imersão em água a 45º por 4 minutos foi o mais eficiente em manter a coloração vermelha do pericarpo bem como não alterou as características de qualidade consideradas durante todo o período de avaliação. 5. LITERATURA CITADA AOAC. Official methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemists International. 16.ed. Washington, 1997. v.2, p.37-10, 42-2, 44-3, 45-16. B CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B. Póscolheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2.ed. Lavras: UFLA, 2005. 785p. DEL AGUILA, J.S.; HOFMAN, P.; CAMPBELL, T. et al. Pré-resfriamento em água de lichia ‘B3’ mantida em armazenamento refrigerado. Ciência Rural, v.39, p.273-279, 2009. DUCAMP-COLLIN, M.N.; RAMARSON, H.; LEBRUN, M. et al. Effect of citric acid and chitosan on maintaining red coloration of litchi pericarp. Postharvest Biology and Technology, v.49, p.241-246, 2008. C HOJO, E.T.D.; DURIGAN, J.F.; HOJO, R.H. et al. Uso de tratamento hidrotérmico e ácido clorídrico na qualidade de lichia ‘Bengal’. Revista Brasileira de Fruticultura, v.33, n.2, p.386-393, 2011. LICHTER, A.; DVIR, O.; ROT, I. et al. Hot water brushing: an alternative method to SO2 fumigation for color retention of litchi fruits. Postharvest Biology and Technology, v.18, p.235-244, 2000. Figura 7 - Teor de ácido ascórbico (mg.100g -1) da polpa de frutos de lichia cv. Bengal submetidos ao tratamento hidrotérmico a 45°C (A), 50°C (B) e 55°C (C) e armazenados em bancada de laboratório a 19 ± 2,4°C. Viçosa-MG, 2012. LIMA, R.A.Z.; PATTO, D.E.; ABREU, C.M. et al. Embalagens e recobrimento em lichias (Litchi chinensis Sonn.) armazenadas sob condições não controladas. Ciência & Agrotecnologia, v.34, n.4, p.914-921, 2010. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 Tratamento hidrotérmico para prevenção do escurecimento do pericarpo de lichia McGUIRE, R.G. Reporting of objective color mea-surements. HortScience, v.27, n.12, p.12541260, 1992. MIZOBUTSI, G.P.; FINGER, F.L.; RIBEIRO, R.A. et al. Effect of pH and temperature on peroxidase and polyphenoloxidase activities of litchi pericarp. Scientia Agricola, v.67, n.2, p.213-217, 2010. SAEG. Sistema para análises estatísticas. Versão 9.1. Viçosa: Fundação Arthur Bernardes, UFV, 2007. 1 CD Rom. SMARSI, R.C.; OLIVEIRA, G.F.; REIS, L.L. et al. Efeito da adubação nitrogenada na produção de mudas de lichieira. Revista Ceres, v.58, n.1, p.129-131, 2011. 75 SOUZA, A.V. Tratamento térmico na manutenção de qualidade de lichias armazenadas sob refrigeração. 2009. 59f. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu, 2009. SOUZA, A.V.; VIEITES, R.L.; KOHATSU, D.S. et al. Tratamento térmico na manutenção da coloração de lichias. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.32, n.1, p.67-73, 2010. TONON, R.V.; BRABET, C.; HUBINGER, M.D. Influência da temperatura do ar de secagem e da concentração de agente carreador sobre as propriedades físico-químicas do suco de açaí em pó. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.29, n.2, p.444-450, 2009. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.6 8-75, Julho, 20 12 76 SANTOS, dos M.C. et al. EFEITO DO SILÍCIO EM ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E NA HISTÓRIA DE VIDA DE Tuta Absoluta (MEYRICK) (LEPIDOPTERA: GELECHIIDAE)¹ Marília Cristina dos Santos2*, Ana Maria Resende Junqueira², Veríssimo Gibran Mendes de Sá 3, José Cola Zanúncio4, Marcos Alexandre Bauch5, José Eduardo Serrão6 RESUMO – A tecnologia baseada no uso do silício diminui o uso de agrotóxicos, mantendo a qualidade de frutos e protegendo o ambiente. Este trabalho teve como objetivo avaliar a utilização de diferentes fontes e doses de silício em plantas de tomate sobre aspectos biológicos e preferência de oviposição da traça-dotomateiro (Tuta absoluta). O delineamento experimental foi em blocos casualisados contendo vinte e um tratamentos incluindo a testemunha, em cinco repetições [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - 0,45; 0,90; 1,35 e 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - 2,0; 4,0; 6,0 e 8,0); (Sili-K ® (l ha -1 de SiO 2) - 0,5; 1,0; 2,0 e 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00) e controle]. Os parâmetros biológicos avaliados foram: duração das fases larval e pupal, sobrevivência de larvas e pupas e peso de pupas machos e fêmeas. A não preferência para oviposição de T. absoluta em plantas de tomateiro tratadas com silício foi avaliada através de testes com e sem chance de escolha. Não foram observadas diferenças na duração das fases larval e pupal, sobrevivência de lagartas e pupas, peso de pupas machos e fêmeas de T. absoluta e preferência de oviposição em indivíduos provenientes dos tratamentos com silício aplicado no solo e daquelas do grupo controle. Insetos obtidos dos tratamentos à base de silício aplicado via foliar apresentaram aumento na duração das fases larval e pupal, diminuição na sobrevivência de lagartas e pupas, diminuição do peso de pupas machos e fêmeas e diminuição na preferência de oviposição. Palavras-chave: Biologia, comportamento, manejo integrado de pragas, silício, Solanum lycopersicum, traçado-tomateiro EFFECT OF SILICON ON BEHAVIORAL ASPECTS AND LIFE HISTORY OF TUTA ABSOLUTA (MEYRICK) (LEPIDOPTERA: GELECHIIDAE) ABSTRACT – The technology based on the use of silicon reduces pesticide use, keeping fruit quality and protecting the environment. This study evaluated the effects of different sources and levels of silicon applied on tomato plants, on biological and behavior characteristics of the tomato pinworm Tuta absoluta. The experimental outline was a randomized block with twenty one treatments, including control, in five replicates[(Agrosilício ® soil (t ha -1 of SiO 2) – 0.45, 0.90, 1.35 and 1.80); (Agrosilício ® leaves (t ha -1 of SiO 2) – 2.0, 4.0, 6.0 and 8.0); (Sili-K ® (l ha -1 of product) – 0.5, 1.0, 2.0 and 3.0); (Silicic Acid Leaves (% of SiO 2) – 0.25, 0.50, 0.75 and 1.00); (Silicic acid soil (% of SiO 2) – 0.25, 0.50, 0.75 and 1.00) and control]. The biological Parte da tese do primeiro autor; Projeto financiado pela CAPES. Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 70910-970, Brasília, Distrito Federal, Brasil. 3 Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado de Minas Gerais, 35930-314, João Monlevade, Minas Gerais, Brasil. 4 Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A. 5 IBAMA-Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Floresta Núcleo de Geoprocessamento,70818-900, Brasilia, DF, Brasil. 6 Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1B. * Autor correspondente. E-mail: [email protected] 1 2 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 77 characteristics evaluated, were: duration of larval and pupal stages, survival of larvae and pupae and pupal weight of males and females individuals. The non-preference for oviposition of T. absoluta in tomato plants treated with silicon was evaluated through tests with choice and without choice trials. There were no differences observed in the length of larval and pupal stages, survival of larvae and pupae, pupal weight of males and females of T.absoluta and oviposition in individuals from the treatments with silicon applied to the soil and those in the control group. However, insects collected from treatments based on leaf application silicon showed an increase in the duration the larval and pupal stages, decreased survival of larvae and pupae, decreased pupae weight of males and females and a decrease in oviposition preference. Key Words: Biology, feeding behavior, integrated pest management, pinworm, silicon, Solanum lycopersicum. 1. INTRODUÇÃO A traça-do-tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), nativa da América do Sul (Gomide et al., 2001), é uma das principais pragas do tomateiro no Brasil (Medeiros et al., 2009). Tuta absoluta é um inseto holometábolo cujo ciclo completo dura de 26 a 30 dias (Medeiros et al., 2009). O estágio de ovo dura de três a seis dias (Coelho & França, 1987), o de lagarta, que é o causador dos danos, dura 14 dias. As lagartas de T. absoluta se alimentam do mesofilo das folhas causando minas, broqueiam o caule, perfuram o broto terminal e atacam os frutos (Michereff Filho & Vilela, 2001; Medeiros et al., 2009). A fase de pupa, que pode durar cerca de oito dias, desenvolve-se dentro da própria lesão foliar ou no solo. Cada fêmea pode depositar de 55 a 130 ovos durante três a sete dias (Coelho & França 1987; Haji et al., 1988) e a maioria dos ovos é depositada nas folhas (Torres et al. 2001; Pratissoli et al., 2003). A traça-do-tomateiro representa sérios danos para a tomaticultura, ocorrendo durante todo o ciclo do tomateiro, independente do período em que seja cultivado (Giustolin et al., 2002), porém com maior intensidade no período mais seco do ano (Medeiros et al., 2011). Esta praga tem sido controlada normalmente através de aplicações múltiplas de inseticidas (Benvenga et al., 2007; Collavino & Gimenez, 2008; Medeiros et al., 2009), o que é indesejável tanto por motivos econômicos quanto ambientais. As aplicações sucessivas desses produtos químicos afetam os inimigos naturais e aumentam a possibilidade de desenvolvimento de populações da praga resistentes aos inseticidas, além da produção de alimentos com altos níveis de resíduos tóxicos (Almeida et al., 2009; Vianna et al., 2009; Silva et al., 2011). Os métodos de controle utilizados em programas de Manejo Integrado de Pragas visam reduzir o uso de inseticidas ou utilizar aqueles compatíveis com os inimigos naturais (Zanuncio et al., 2003). A fisiologia, a ecologia e a etiologia dos insetos herbívoros, dentro de outros aspectos de sua biologia, estão inseridas em um contexto nutricional. A qualidade e a quantidade do alimento ingerido e a ingestão de compostos do metabolismo secundário das plantas podem causar ef ei tos de le té ri os, inte rf er indo inc lusive no desenvolvimento desses indivíduos (Hagen et al., 1984). O silício é um dos elementos mais abundantes na crosta terrestre. Produtos originados de agregados siderúrgicos são resíduos da metalurgia do ferrogusa e aço que, devido à sua basicidade, podem ser utilizados como corretivos de solo, sendo excelentes fontes de silício, cálcio e magnésio (Nolla et al., 2004). Embora o silício não seja essencial para a maioria das plantas (Epstein, 2009), a aplicação de silicatos tem aumentado a resistência das plantas às pragas, principalmente pela sua capacidade de acumulação na parte externa da parede celular (Costa & Moraes, 2006; Dalastra et al., 2011), aumentando assim a síntese de compostos fenólicos e lignina (Ghanmi et al., 2004; Currie & Perry, 2007), além de ativar as defesas químicas endógenas das plantas atacadas (Epstein, 2009). Entretanto, não foram feitos trabalhos evidenciando estes benefícios no tomateiro. Neste contexto, o uso do silício representa uma tecnologia com grande potencial para diminuir a frequência e o uso de inseticidas (Silva et al., 2010). Diante do exposto, objetivou-se com o trabalho avaliar diferentes fontes e doses de silício sobre os aspectos biológicos e a não preferência para oviposição de T. absoluta. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 78 SANTOS, dos M.C. et al. 2. MATERIAL E MÉTODOS Plantio, delineamento experimental e tratamentos O plantio das mudas de tomateiro, variedade Tospodoro, oriundas da EMBRAPA Hortaliças, Brasília, DF, foi feito em casa de vegetação (25 ± 1,0º C) com área de aproximadamente 119 m2, em agosto de 2011, na Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Geral (DBG), Viçosa, MG, Brasil. As parcelas experimentais foram plantas de tomateiro cultivadas em vasos de polietileno com volume de 3L, utilizando-se solo como substrato, contendo uma planta em cada vaso, com adubação de plantio contendo nitrogênio (600 kg ha-1 de sulfato de amônio), fósforo (3300 kg ha -1 de superfosfato simples) e potássio (330 kg ha-1 de cloreto de potássio), cujas quantidades foram calculadas em função da análise do solo e recomendação de Ribeiro & Guimarães (1999). Os vasos foram dispostos em bancadas de 3,66 x 1,00 m, equidistantes 0,10m. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualisados com cinco repetições, sendo vinte tratamentos e o controle (sem adição de qualquer composto contendo silício) (Tabela 1). Tabela1 - Fontes e doses de silício utilizadas na avaliação sobre a biologia e não preferência para oviposição de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) Tra tame ntos Produto Agrosilício ® Solo T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 Agrosilício ® foliar 2, 0 Quantidade t ha -1 de SiO 2 0,45 0, 9 1,35 1, 8 g de Agrosilício ®/vaso de 3L 13,5 27,0 40,5 54,0 t ha - de SiO 2 1/aplicação g de Agrosilício ® / planta/ aplicação em 250mL de água destilada 71 , 2 5 14 2, 5 2 1 3, 7 5 0, 5 1, 0 1, 5 28 5, 0 L ha -1 produto/aplicação T9 T10 T11 T12 Sili-K ® foliar 0, 5 1, 0 2, 0 3, 0 % de ácido silícico/aplicação T13 T14 T15 T16 Acido silícico foliar 0, 5 1, 0 2, 0 3, 0 % de ácido silícico /aplicação mL de Sili - K ®/ planta/aplicação em 250mL de água destilada 0, 01 5 0, 03 0 0, 06 0 0, 09 0 g de ácido silícico/ vaso/aplicaç ão em 250mL de água destilada 1,25 2, 5 5, 0 7, 5 T17 T18 T19 T20 Ácido silícico solo (%) 0,25 0,50 0,75 1, 0 g de ácido silícico/ vaso/aplicaç ão em 250mL de água destilada 1,25 2, 5 5, 0 7, 5 T21 CONTROLE 0 0 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 79 Foram testados três compostos como fontes de silício [Agrosilício® (22,4% de SiO2), Sili-k® (12,2% Si) e ácido silícico (100% SiO2)] em quatro doses cada um. O Agrosilício® foi adicionado ao solo juntamente com a adubação de plantio, visando à elevação da saturação por bases para 70%, na dosagem de 100% de SiO2 (Ribeiro & Guimarães, 1999), visto que este produto possui efeito corretivo (Sommer et al., 2006). A partir deste valor foram calculadas as demais dosagens de 50%, 150% e 200% de SiO2. após a última aplicação foliar dos produtos contendo silício. Para avaliar o efeito do silício na biologia de T. absoluta, os ramos contendo os ovos foram observados diariamente anotando-se a eclosão e a ocorrência de pupas, as quais, 24 h após a formação, foram sexadas, pesadas, individualizadas em placas de Petri®, colocadas em câmara climatizada tipo BOD a 25 ± 0,5 ºC e fotofase de 12 horas, onde permaneceram até a emergência dos adultos. O Agrosilício® foi aplicado semanalmente via pulverização foliar nos tratamentos T5 ao T8 (250 ml de solução) nas dosagens de 50%, 100%, 150% e 200% de SiO 2, tendo como base a dosagem de 100%, correspondente a 1 tonelada de SiO2 por hectare (Costa et al., 2009). As características biológicas avaliadas foram: duração e sobrevivência das fases larval e pupal e peso de pupas (machos e fêmeas). O produto Sili-K® foi aplicado (250 ml da solução), por pulverização, apenas via foliar, de acordo com a recomendação do fabricante, nas dosagens de 0,5; 1,0; 2,0 e 3,0 l ha-1 do produto, semanalmente, nos tratamentos T9 ao T12, uma vez que não se encontra disponível para aplicação no solo. Os testes foram realizados com folhas de tomateiro obtidas dos 20 tratamentos citados anteriormente e o controle, sem qualquer composto contendo silício (Tabela 1). A aplicação de 250 mL de solução de ácido silícico a 0,5; 1,0; 2,0 e 3,0% de SiO2 (Camargo et al., 2008; Costa et al., 2009) foi realizada, semanalmente, tanto via foliar (T13 ao T16) como no solo em torno das hastes das plantas (T17 ao T20) na dosagem correspondente a 1 tonelada de SiO2 por hectare (Costa et al., 2009). A primeira aplicação foliar destes produtos foi feita trinta dias após o plantio dos tomateiros, totalizando três aplicações em intervalos semanais. A testemunha (T21) recebeu apenas água destilada. As plantas tratadas com Agrosilício® (foliar), Silik e ácido silícico (solo e foliar) tiveram o solo corrigido com calcário dolomítico (0,8 t ha-1) com o objetivo de elevar a saturação por bases para 70%. ® Efeito de silício na Biologia de T. absoluta Folhas de tomateiro com posturas de T. absoluta de mesma idade, provenientes da criação do Laboratório de Entomologia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa, foram seccionadas para que contivessem 10 ovos. Cada uma dessas áreas seccionadas foi fixada com auxílio de alfinete em um dos ramos da planta de tomateiro e acondicionada em sacos de organza de 15 x 20 cm envolvendo uma folha de tomate, sete dias Não preferência para oviposição de T. absoluta em plantas de tomateiro tratadas com silício Teste com chance de escolha Os testes com chance de escolha foram realizados em gaiolas de 30 x 36 cm, recobertas com tecido tipo organza para facilitar a ventilação. Na base de cada gaiola foram dispostas, ao acaso, folhas de cada tratamento mantidas em vidros contendo água. Em cada gaiola, foram liberados 40 adultos (20 fêmeas e 20 machos) alimentados com solução de mel a 10%. Após 48 horas, foi contado, sob microscópio estereoscópico, o número de ovos em cada tratamento (Thomazini et al., 2001). O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com 10 repetições (gaiolas) contendo os 21 tratamentos. Teste sem chance de escolha Os testes sem chance de escolha foram realizados em gaiolas de 13 x 15, recobertas com tecido tipo organza para facilitar a ventilação. Cada tratamento foi testado separadamente dos demais. Na base de cada gaiola foi colocada uma folha, mantida em recipiente contendo água. Em cada gaiola, foram liberados 20 adultos (10 fêmeas e 10 machos) alimentados com solução de mel a 10%. Após 48 horas, foi contado, sob microscópio estereoscópico, o número de ovos em cada tratamento (Thomazini et al., 2001). O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com 10 repetições (gaiolas) por tratamento, 20 tratamentos e a testemunha. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 80 SANTOS, dos M.C. et al. Análise estatística Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de ScottKnott (1974) a 5% de probabilidade com o Sistema de Análises Estatísticas SAEG® 9.0 (2005). 3. RESULTADOS Efeito do silício na biologia de Tuta Absoluta Lagartas de Tuta absoluta pertencentes ao grupo controle (T21) e aos tratamentos em que o silício foi aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) não apresentaram diferenças quanto à duração das fases larval (Figura 1) e pupal (Figura 2) e sobrevivência de lagartas (Figura 3) e pupas (Figura 4). Entretanto, lagartas de T. absoluta obtidas dos tratamentos à base de silício aplicados via foliar (T5 ao T16) apresentaram aumento da duração da fase larval (P < 0,01) (Figura 1) e diminuição da sobrevivência de larvas (P<0,01) (Figura 3) e pupas (P<0,01) (Figura 4) quando comparados aos demais tratamentos. Nos tratamentos em que o Agrosilício ® foi aplicado nas folhas (T5 ao T8) também ocorreu aumento na duração da fase pupal, seguidos pelos tratamentos com Sili-K® (T9 ao T12) e ácido silícico aplicado via foliar (T13 ao T16) quando comparados aos demais tratamentos (P<0,01) (Figura 2). O peso de pupas fêmeas (mg) não diferiu do grupo controle (T21) e dos tratamentos em que o silício foi aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) (Tabela 2) (Figura 3). Houve diminuição no peso de pupas fêmeas provenientes dos tratamentos em que o silício foi aplicado nas folhas (T5 ao T16) quando comparados aos demais tratamentos (P<0,01) (Figura 5). O peso de pupas machos (mg) não diferiu do grupo controle (T21) e dos tratamentos em que o silício foi aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) (Figura 5). Houve diminuição nos pesos de pupas machos provenientes dos tratamentos em que o silício foi aplicado nas folhas (T5 ao T16) quando comparados aos demais tratamentos (P<0,01) (Figura 5). Figura 1 - Duração da fase larval (dias) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 81 Figura 2 - Duração da fase pupal (dias) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Figura 3 - Sobrevivência da fase larval (%) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 82 SANTOS, dos M.C. et al. Figura 4 - Sobrevivência da fase pupal (%) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Figura 5 - Peso de pupas fêmea e macho (mg) (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 83 Não preferência para oviposição de Tuta Absoluta em plantas de tomateiro tratadas com silício Com chance de escolha O número de ovos de T. absoluta obtido em folhas de tomateiro pertencentes ao grupo controle (T21) e aqueles em que o silício foi aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) foram semelhantes (Figura 6). Nos tratamentos em que o Agrosilício® foi aplicado nas folhas (T5 ao T8), naqueles que receberam SiliK® (T9 ao T12) ou ácido silícico nas folhas (T13 ao T16) foram os menos preferidos para oviposição (P<0,01) (Figura 6). Sem chance de escolha Nos testes em confinamento, o número de ovos observados no grupo controle (T21) e nos tratamentos em que o silício foi aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20) não diferiram entre si (Figura 7). Os tratamentos em que o Agrosilício® foi aplicado nas folhas (T5 ao T8) apresentaram maior número de ovos em relação àqueles que receberam Sili-K® (T9 ao T11) e o ácido silícico nas folhas (T13, T15 e T16). Entretanto, T12 e T14 apresentaram menor número de ovos em relação aos demais tratamentos (P<0,01) (Figura 7). 4. DISCUSSÃO No presente estudo observou-se que em plantas de tomate que receberam o silício aplicado no solo (T1 ao T4 e T17 ao T20), bem como na testemunha (T21), não houve alterações nos aspectos biológicos (duração das fases larval e pupal, sobrevivência de larvas e pupas e peso de pupas fêmeas e machos) e preferência de oviposição de T. absoluta. Entretanto, em trabalhos com diversas culturas como batata (Gomes et al., 2009), trigo (Costa et al., 2009), arroz (Santos et al., 2009), sorgo (Costa et al., 2011) e cana-de-açúcar (Korndorfer et al., 2011), em que os silicatos foram aplicados no solo, foram observadas alterações no comportamento dos respectivos insetos-praga. As plantas absorvem silício diretamente da solução do solo, de forma rápida ou lenta, na forma de ácido monossilícico (Korndörfer, 2006), sendo transportado até as raízes via fluxo de massa (Postek, 1981; Dayanadam et al., 1983), translocado pelo xilema e depositado na parede celular na forma de sílica amorfa ou opala biogênica (Balastra et al., 1989). O transporte do ácido monossilícico no interior da planta acontece no mesmo sentido do fluxo de água (transpiração) (Korndörfer, 2006), assim os maiores depósitos de silício ocorrem com maior frequencia nas regiões onde a água é perdida em grande quantidade, ou seja, na epiderme foliar (Dayanadam et al., 1983). Uma vez depositado, o silício torna-se imóvel e não mais se redistribui na planta (Korndörfer, 2006). O efeito da proteção mecânica do silício nas plantas contra os insetos é atribuído ao seu depósito na forma de sílica amorfa na parte externa da parede celular (Costa & Moraes, 2006; Dalastra et al., 2011). O silício atua como agente indutor de resistência contra insetospraga (Gomes et al., 2008; Costa et al., 2009; Massey & Hartley, 2009; Moraes et al., 2009; Reynolds et al., 2009; Pereira et al., 2010; Dalastra et al., 2011) e a silificação da epiderme pode impedir a penetração e a mastigação pelos insetos devido ao endurecimento da parede das células vegetais (Ghanmi et al., 2004; Currie & Perry, 2007; Gomes et al., 2008). Porém, a capacidade de absorção e acumulação de silício é variável entre as espécies. O tomateiro é uma planta não acumuladora de silício (Ma et al., 2001), pois absorve pouco silício pelas raízes (Lana et al., 2003; Ma & Yamaji, 2006) e o aumento do nível deste elemento em folhas de tomate não é proporcional à sua disponibilidade no substrato (Pereira et al., 2003). Myake & Takahashi (1983) observaram que o modo de translocação do silício foi diferente entre espécies. Em tomateiro o silício foi retido nas raízes e não se translocou facilmente para a parte aérea, sendo a concentração nessa parte da planta de 0,5 a 2,4 g kg-1 de Si, enquanto nas raízes foi de 16,7 a 28,6 g kg-1. Ainda, plantas de arroz possuem mecanismos específicos de absorção de silício, em que proteínas de membranas são produzidas por expressão de gene específico (Ma & Takahashi, 2002), que facilitam a absorção e o transporte deste elemento através do xilema desta gramínea. Possivelmente, após absorvido via fluxo de massa, o silício fique retido no apoplasto das raízes do tomateiro, não sendo transportado pelo xilema até as partes aéreas da planta. Provavelmente, em função de o tomateiro ser uma planta não acumuladora de silício, não houve alteração na biologia e oviposição de T. absoluta nestes tratamentos. Nos tratamentos em que o silício foi aplicado nas folhas do tomateiro (T5 ao T16), houve aumento do Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 84 SANTOS, dos M.C. et al. Figura 6 - Número de ovos (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em testes com chance de escolha para oviposição, em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Figura 7 - Número de ovos (média ± erro padrão) de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em testes sem chance de escolha para oviposição, em função dos tratamentos [(Agrosilício ® solo (t ha -1 de SiO 2) - T1 0,45; T2 0,90; T3 1,35; T4 1,80); (Agrosilício ® foliar (t ha -1 de SiO 2) - T5 0,5; T6 1,0; T7 1,5; T8 2,0); (Sili-K ® (l ha -1 do produto) - T9 0,5; T10 1,0; T11 2,0; T12 3,0); (Ácido silícico foliar (% de SiO 2) - T13 0,5; T14 1,0; T15 2,0; T16 3,00); (Ácido silícico solo (% de SiO 2) - T17 0,5; T18 1,0; T19 2,0; T20 3,00) e controle (T21)]. Colunas com mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.7 6-88, Julho, 20 12 Efeito do silício em aspectos comportamentais e na história de vida de Tuta Absoluta (meyrick)... 85 período larval e pupal, diminuição da sobrevivência de lagartas e pupas, diminuição do peso de pupas fêmeas e machos e menor preferência de oviposição de T. absoluta. Tais alterações podem ter ocorrido em razão do acúmulo e polimerização dos compostos silicatados na parede celular, aumentando a rigidez dos tecidos foliares e dificultando a alimentação (Goussain et al., 2002) e/ou indução de liberação de moléculas de defesa (Goussain et al., 2005; Gomes et al., 2009; Kvedaras et al., 2009; Moraes et al., 2009). Diversos trabalhos, nos quais o silício foi aplicado diretamente nas folhas das plantas, demonstraram diminuição na incidência de insetos devido às alterações na sua biologia (Camargo et al., 2008; Almeida et al., 2009; Kvedaras et al., 2009; Dalastra et al., 2011; Freitas et al., 2012) e preferência de oviposição (Camargo et al., 2008; Ferreira et al., 2011; Freitas et al., 2012), corroborando os resultados deste estudo. A eficiência de produtos contendo silício aplicado via foliar no controle de T. absoluta, provavelmente, ocorre devido aos seus efeitos antialimentares para a fase larval dessa praga, agindo como ativador de resistência das plantas de tomate (Rodrigues et al., 2004; Côté-Beaulieu et al., 2009). Ainda, características físicas, morfológicas e químicas das plantas tratadas com silício podem alterar o comportamento dos insetos e interferir na sua biologia, levando a uma redução no fitness e oferencendo proteção para as plantas (Goussain et al., 2005). O Agrosilício® (insolúvel em água) e o ácido silícico, aplicados via foliar, formam uma camada de sílica sobre a epiderme das folhas (Fernandes et al., 2009), o que pode ter dificultado a penetração das lagartas nas folhas e, consequentemente, a sua alimentação, afetando diretamente nos aspectos biológicos (aumento do período larval e pupal, diminuição da sobrevivência de larvas e pupas e diminuição do peso de pupas machos e fêmeas) e menor preferência de oviposição de T. absoluta. Soluções são facilmente absorvidas pela cutícula das folhas, que apresenta microcanais e rupturas, inclusive a camada subestomática, altamente permeável à difusão de cátions e ânions, que permitem a passagem dessas soluções (Faquin, 2005). Possivelmente, o SiliK® aplicado em solução na superfície foliar atravessa a cutícula e ocupa os espaços intercelulares e a superfície externa do plasmalema, ocupando inicialmente o apoplasto e, posteriormente, os simplastos foliares, para então acumular-se na forma de sílica amorfa nas paredes celulares pelo processo de transpiração. O Sili-K® (silício líquido solúvel) forma esta camada de sílica evidenciada pela polimerização do produto com compostos da cutícula (Fernandes et al., 2009). 5. CONCLUSÕES Doses menores de produtos contendo silício são eficazes no controle de T. absoluta. 6. AGRADECIMENTOS À Universidade de Brasília (UnB), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Laboratório de Controle Biológico (UFV), Professor Dr. Marcelo Coutinho Picanço (UFV), Laboratório de Entomologia Agrícola (UFV), Professor Dr. Tuneo Sedyama (UFV), Embrapa Hortaliças e Empresas Unaprosil e Agronelli Insumos Agrícolas. 7. LITERATURA CITADA ALMEIDA, G.D.; PRATISSOLI, D.; ZANUNCIO, J.C. et al. Calcium silicate and organic mineral fertilizer increase the resistance of tomato plants to Frankliniella schultzei. Phytoparasitica, v.37, p.225-230, 2009. BALASTRA, M.L.F.C.; PEREZ, C.M.; JULIANO, B.O. et al. Effects of sílica level on some properties of Oriza sativa straw and hull. Canadian Journal of Botany, v.67, 2356236, 1989. BENVENGA, S.R.; FERNANDES, A.O.; GRAVENA, S. Tomada de decisão de controle da traça-dotomateiro através de armadilhas com feromônio sexual. Horticultura Brasileira, v.25, p.164169, 2007. CAMARGO, J.M.M.; MORAES, J.C.; OLIVEIRA, E.B. et al. Efeito da aplicação do silício em plantas de Pinus taeda L., sobre a biologia e morfologia de Cinara atlantica (Wilson) (Hemiptera: Aphididae). Ciência e Agrotecnologia, v.32, p.1767-1774, 2008. COELHO, M.C.F.; FRANÇA, F.H. Biologia, quetotaxia da larva e descrição da pupa e adulto da traça-do-tomateiro. 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O trabalho consistiu na realização de dois experimentos, o primeiro com a incubação do solo em vasos, por 20 dias, com doses de 72 mm das águas residuárias, no segundo foi realizada a aplicação das mesmas águas residuárias no LVA acondicionado em permeâmetros de coluna vertical e carga constante. Neste caso, as águas residuárias foram aplicadas até que a condutividade elétrica (CE) no efluente das colunas se aproximou da CE do afluente. Todos os tratamentos foram conduzidos com três repetições, dispostos em delineamento inteiramente casualizado. No primeiro experimento, os valores de Argila Dispersa em Água (ADA) não diferiram estatisticamente entre si, encontrando-se valores variando de 37 a 40%. Resultado semelhante foi encontrado no segundo experimento, em que os valores de ADA com a aplicação das diferentes águas residuárias, não diferiram estatisticamente entre si, porém com valores menores, em torno de 29 a 32%. O índice de dispersão e floculação entre as águas residuárias foi semelhante, contudo ocorrendo diferença entre os experimentos, sendo 61% e 39% para o primeiro experimento e 48% e 52% para o segundo experimento. Essas águas não apresentaram nenhuma restrição quanto ao seu uso na irrigação, contudo quando se pratica sucessivas irrigações ao longo do tempo, sem acompanhamento agronômico especializado, podem propiciar o acúmulo de compostos dispersantes na solução do solo, afetando sua estrutura. Palavras-chave: Dejetos de animais, efluentes, estrutura do solo, física do solo. DISPERSION OF CLAY CAUSED BY FERTIRRIGATION WITH ANIMAL WASTEWATER ABSTRACT – The objective of the experiment was to evaluate the dispersion of clay in soil prevalent in the area of Rio Pomba/MG, by indiscriminate application of wastewater of breeding of cattle, pigs and rabbits. Soil samples were collected in the B horizon of an Oxisol. The work consisted of two experiments, one with soil incubation in pots for 20 days at doses of 72 mm of wastewater, and the second was realized by the application of the same wastewater in the soil placed in a permeameter of vertical column with constant load. In this case, the wastewater was applied until the electrical conductivity (EC) in the effluent of the columns approached the EC of the effluent. All treatments were conducted with three repetitions in a completely randomized design. In the first experiment the values of water dispersible clay (WDC)did not differ significantly, ranging from 37 to 40%. In the second experiment the values of WDC did not differ statistically, and were smaller, 1 Parte do Trabalho de Iniciação Científica do primeiro autor, financiado pelo CNPq. Estudante de Zootecnia, IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected] 3 Professor Doutor do Departamento de Agricultura e Ambiente do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected] 4 Professor Mestre do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected] 5 Professor Doutor do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba, [email protected] 2 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 HOMEM, B.G.C. et al. 90 around 29-32%. The index of dispersion and flocculation of the wastewater was similar, differences occurring between the experiments, 61% and 39% for the first experiment and 48%and 52% for the second experiment. However, these waters do not present any restriction on its use in irrigation, but when practicing successive irrigations over time without specialized monitoring agronomic, can promote the accumulation of dispersant compounds in soil solution, affecting its structure. Key Words: : Animal wastes, effluents, soil physics, soil structure. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, as águas residuárias passaram a receber bastante atenção por parte dos governos e da comunidade científica, devido às possibilidades de seu aproveitamento em áreas agrícolas, minimizandose, com isso, a poluição de corpos hídricos. O interesse decorre do alto custo dos fertilizantes químicos, que limita seu uso pelos agricultores familiares, e a pressão social por uma agricultura sustentável, na qual a reciclagem de nutrientes dentro da propriedade contribua não somente para a redução dos custos, mas também para a redução da poluição ambiental (Gomes Filho et al., 2001). A criação de animais em regime extensivo permite que seus dejetos sejam distribuídos de forma dispersa no solo, não causando maiores problemas de poluição. Contudo, quando os animais são criados intensivamente (confinados), mesmo durante curto período de tempo, os dejetos são produzidos de forma concentrada, necessitando de tratamento e disposição final adequada, para que a contaminação e a poluição sejam minimizadas (Moraes, 2000). o sistema de poros e contribuindo para alterações na infiltração e condutividade hidráulica. Dentre os fatores diretamente associados à dispersão da argila do solo estão a Relação de Adsorção de Sódio (RAS) e a Condutividade Elétrica (CE) da água de irrigação. Para Sposito & Mattigod (1977), a RAS é a primeira característica a ser considerada para se avaliar o possível risco de sodicidade do solo, proporcionada pela água de irrigação. A RAS da água é uma indicadora dos possíveis problemas de infiltração que um solo poderá apresentar como resultado do excesso de sódio em relação ao cálcio e o magnésio. Por conseguinte, a quantificação da RAS é de extrema importância para a avaliação da maioria das águas utilizadas na agricultura irrigada (Ayers & Westcot, 1991). Já a CE é a medida da capacidade de transportar corrente elétrica que uma solução aquosa apresenta. Esta capacidade depende da presença de íons, de sua concentração total, da mobilidade e da temperatura (Greenberg et al., 1992). A água contendo poucos íons, ou seja, com baixa CE, pode agravar o problema de infiltração, pela expansão e dispersão dos minerais e da matéria orgânica do solo e, ainda, pela capacidade de dissolver e remover o Ca2+ (Maia et al., 1998). Quando as águas residuárias de criatórios de animais são, no entanto, aplicadas de forma indiscriminada na agricultura, sem critérios agronômicos para definição das doses de aplicação, as principais alterações previstas são salinização do solo, risco de contaminação de águas superficiais e subterrâneas e possíveis alterações na dinâmica da água no meio. Essa tendência de dispersão dos agregados do solo, provocando a sua desestruturação, é um fenômeno que pode ocorrer naturalmente ou por ação antrópica (Almeida Neto et al., 2007). Devido a esses aspectos, é de extrema importância a caracterização das águas residuárias, tanto para se verificar sua composição química quanto para que se possa definir que quantidade aplicar sem acarretar nenhum problema ao sistema solo-planta. As doses de aplicação de águas residuárias na agricultura devem ser definidas quando se toma o elemento químico contido em maior concentração relativa, o que define a dose agronomicamente recomendável (Matos, 2008). Segundo Freire (2001), a prática da irrigação pode alterar as relações entre os diversos cátions presentes no solo. Para Veloso (1991), a alta concentração de Na+ no solo e o tipo de água de irrigação podem trazer eventuais deteriorações da estrutura do solo, afetando Diante do exposto, objetivou-se avaliar o risco de dispersão de argila de amostras de um Latossolo Vermelho-Amarelo, em decorrência da aplicação de altas doses de águas residuárias provenientes de criatórios de bovinos, suínos e coelhos. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais 2. MATERIAL E MÉTODOS 91 determinados. As águas residuárias utilizadas no experimento foram provenientes dos setores da Bovinocultura (instalação de alimentação do rebanho), Suinocultura (instalação de terminação dos animais) e Cunicultura (instalação das matrizes). O aspecto que se diferenciou na coleta foi que a água residuária da cunicultura precisou de uma lona em formato de funil, para que seus dejetos desembocassem em um tambor, pelo fato desses animais serem criados em gaiolas. Essa lona ficou fixada nas gaiolas por uma semana, sendo lavada duas vezes ao dia com água destilada, utilizando-se 5 litros de água por lavagem, até completar o volume desejado de água residuária para o experimento. Após a coleta, essas águas residuárias foram passadas em peneiras de malha de 2 mm, simulando-se um pré-tratamento para retirada de sólidos grosseiros e foram armazenadas em tambores de 80 litros, por 60 dias. As amostras do solo foram coletadas no horizonte B de um Latossolo Vemelho-Amarelo, do município de Rio Pomba, MG, em área do Instituto Federal Sudeste - MG, Campus Rio Pomba. Estas amostras foram secas ao ar, destorroadas e passadas em peneira de 2 mm de malha para caracterização física (Tabela 1) e química do solo (Tabela 2). As análises físicas compreenderam a determinação de textura (Ruiz, 2005), massa específica de partículas do solo (Embrapa, 1997) e Argila Dispersa em Água (Donagemma, 2003).As análises químicas compreenderam a determinação de pH em água, cátions trocáveis (Ca2+, Mg2+, K+ e Na+), acidez trocável (Al3+), acidez total (H + Al), teor de matéria orgânica e fósforo disponível e remanescente. O cálcio trocável e parte do não trocável foram obtidos com a utilização dos extratores Mehlich 1 e HCl 1 molL-1, a quente. As determinações dos teores de potássio e sódio foram feitas por fotometria de chama (Matos, 1995), as de cálcio e magnésio por titulação (Macêdo, 2003) e as de acidez trocável e potencial por titulometria (Matos, 1995). Os valores de Soma de Bases (SB), Capacidade de Troca Catiônica (T), Saturação por Bases (V) e Saturação por Alumínio (m) foram obtidos por meio de cálculos que envolveram os cátions trocáveis Depois de coletadas, foram retiradas amostras destas águas residuárias para se proceder às seguintes análises: pH, nitrogênio total, dureza, Demanda Química de Oxigênio, concentração de cálcio, magnésio, potássio e sólidos (totais, sedimentáveis, fixos, voláteis, em suspensão e dissolvidos) nas águas, de acordo com Macêdo (2003). A condutividade elétrica na água foi Tabela 1 - Caracterização física da amostra de Latossolo Vermelho-Amarelo Solo Fração Areia Grossa ADA Areia Fina LVA Silte dag kg 14 12 Densidade de Partículas Densidade do solo Argila -1 % 10 Umidade residual 64 0 0 , 74 0 7 gcm-3 gcm-3 g 1, 0 0 , 02 7 2 Sendo: ADA: argila dispersa em água. Tabela 2 - Caracterização química da amostra de Latossolo Vermelho-Amarelo pHH2O K+ P mg dm 5, 5 SB 1, 1 (t) Na+ Ca2+ 2,33 Al3+ H+Al 0, 3 MO 6, 3 P-r e m dag kg -1 mg L -1 1,21 5, 4 cmolc dm 10 (T) 0, 0 V 1,50 m cmolc dm -3 2,03 Mg2+ -3 0,50 ISNa % 8,33 24,4 2+ 2+ 12,9 3+ 0,00 -3 -1 Sendo: pH em água, P: Na: K: Extrator Mehlich 1; Ca , Mg , Al : Extrator KCl 1 molL ; H+Al: extrator acetato de cálcio 0,5 molL pH 7,0; SB: soma de bases trocáveis; CTC (t): capacidade de troca catiônica efetiva; CTC (T): capacidade de troca catiônica; V: índice de saturação por bases; m: índice de saturação por alumínio; ISNa: índice de saturação por sódio; matéria orgânica (MO): pH 7,0, C. Org. x 1,724: Walkley-Black; P-rem: fósforo remanescente. 1 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 HOMEM, B.G.C. et al. 92 tendo-se como base a caracterização das diferentes águas residuárias e a lâmina de aplicação de 72 mm que corresponde a 72 litros por cada metro quadrado, o que proporcionou a aplicação de 469 kg ha-1 de Ntotal, 135 kg ha-1 de Ca; 14 kg ha -1 de Mg, 101 kg ha -1 de Na e 302 kg ha-1 de K de água residuária de suinocultura; 303 kg ha -1 de Ntotal, 76 kg ha-1 de Ca, 44 kg ha-1 de Mg, 36 kg h-1 de Na e 291 kg ha-1 de K de água residuária de bovinocultura e 786 kg ha-1 de Ntotal, 67 kg ha -1 de Ca, 28 kg ha -1 de Mg, 126 kg ha-1 de Na e 377 kg ha-1 de K de água residuária da cunicultura. Durante o período de incubação, os vasos foram cobertos com sacos plásticos, para evitar perdas de água por evaporação, assim o solo se manteve úmido. Depois de decorrido o tempo de incubação, foram coletadas de cada recipiente amostras de solo na camada de 0 - 10 cm, colocadas para secar ao ar, destorroadas e passadas em peneira de 2 mm, analisando-se o teor de argila dispersa em água (ADA), conforme Donagemma (2003), o índice de dispersão (ID) e o índice de floculação (IF) conforme Ruiz (2004). As médias obtidas da ADA foram submetidas ao teste Tukey em nível de 1% de probabilidade, por intermédio do programa SISVAR. determinada usando-se condutivímetro. Já a RAS foi determinada com base em cálculos dosando-se o cálcio e o magnésio por titulação (Macêdo, 2003) e o sódio por fotometria de chama (APHA, 1995). Na Tabela 3 está apresentada a caracterização física e química das águas residuárias. Para avaliação de possíveis alterações físicas nos materiais de solo, consequentes às aplicações das águas residuárias, foram realizados dois experimentos. No primeiro, foi efetuada a incubação, durante 20 dias, dos materiais de solo em vasos com capacidade de seis litros, utilizando-se quatro quilos de solo em cada vaso. O solo foi acondicionado cuidadosamente, homogeneizando-se sua distribuição para evitar a formação de camadas de compactação diferenciada, tentando-se restabelecer a densidade do solo semelhante à medida em amostras indeformadas. Esse experimento foi montado em delineamento inteiramente casualizado, utilizando-se as diferentes águas residuárias, com três repetições para cada, e água destilada como testemunha, sendo que a lâmina de aplicação foi idêntica para todas as águas e igual a 72 mm. Esta lâmina foi estabelecida levando-se em consideração a área do vaso de 39.000 mm2 (o vaso tem a forma de tronco de uma pirâmide), e de forma que o volume de efluente colocado promovesse a saturação do solo e permanecesse 10 mm acima da superfície do mesmo durante os dias de incubação, para a avaliação posterior do grau de dispersão que as águas residuárias provocariam. Calculou-se a quantidade de nutrientes por hectare fornecido ao solo, No segundo experimento, as águas residuárias foram aplicadas em colunas de solo de 15 cm de comprimento, condicionados em segmentos de tubo de PVC de 5 cm de diâmetro (diâmetro interno do tubo igual a 4,8 cm) e 20 cm de comprimento, fechados na parte inferior com tela plástica de alta permeabilidade (sombrite), forrada com pedaços de algodão. As colunas de PVC tiveram, previamente, sua superfície interna Tabela 3 - Características das águas residuárias da bovinocultura (ARB), suinocultura (ARS) e cunicultura (ARC) ÁguaResiduária pH N-Total Dureza Total mgL ARS ARB ARC 7,86 8,49 8,21 ÁguaResiduária Na+ mg L ARS ARB ARC 140 50 175 -1 548 477 396 K+ SS mL L 41 9, 5 40 4, 5 524 1, 2 45 25 Mg2+ DQO mg L -1 mgL de CaCO 3 652 421 1. 09 2 -1 Ca2+ -1 CE RAS dSm-1 (mmolcL -1) 1/2 187 10 5, 5 93,4 19,6 61,4 39,3 6. 00 0 13.000 31.000 5,89 2,52 4,72 2,60 0,95 3,82 ST SF SV SST SDT 266 12 3. 02 2 3. 16 4 4. 96 3 5. 88 8 -1 mg L 3. 43 0 4. 97 5 8. 91 0 1. 35 0 352 3. 07 0 -1 2. 08 0 4. 62 3 5. 84 0 Sendo: N-Total: nitrogênio total; Ca 2+: cálcio; Mg 2+: magnésio; DQO: demanda química de oxigênio; CE: condutividade elétrica; RAS: relação de adsorção de sódio; Na +: sódio; K +: potássio; SS: sólidos sedimentáveis; ST: sólidos totais; SF: sólidos fixos; SV: sólidos voláteis; SST: sólidos suspensos totais; SDT: sólidos dissolvidos totais. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 93 Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais carregada com aplicação de cola de PVC que foi impregnada com areia lavada. O solo foi acondicionado cuidadosamente, homogeneizando-se sua distribuição para se evitar a formação de camadas de compactação diferenciada, tentando-se restabelecer semelhante densidade do solo medida em amostras indeformadas. Na parte superior da coluna, foi colocado outro pedaço de algodão, para evitar a ocorrência de distúrbios na superfície do solo quando da aplicação das diferentes águas residuárias (Tabela 4). Esse experimento foi montado em delineamento inteiramente casualizado, utilizando-se as diferentes águas residuárias de criatórios de animais, com três repetições para cada e utilizando-se água destilada como testemunha. Triplicatas das colunas de solo foram colocadas para saturar dentro de bandejas plásticas, contendo a solução saturante, conforme o tratamento (águas residuárias e água destilada) até uma altura correspondente a dois terços da altura da amostra de solo (10 cm) e, assim, permaneceram por 72 horas (Ferreira, 1999), de forma a possibilitar o enchimento dos poros do solo por capilaridade. Posteriormente, foram montados os permeâmetros de coluna vertical e carga constante (Ferreira, 1999). As águas residuárias foram aplicadas nas colunas utilizando-se o sistema “frasco de Mariotte” para manutenção de carga hidráulica constante (Ferreira, 1999) e manutenção do escoamento sob condições de saturação. A carga hidrostática foi constituída por uma lâmina de 1 cm sobre a superfície do solo. A aplicação do afluente foi mantida até o momento em que a CE da suspensão efluente (percolado) tornou-se próxima à da suspensão afluente (aplicada). Posteriormente, as colunas foram saturadas novamente com as águas residuárias respectivas a cada tratamento por, no mínimo, mais 24 horas, para garantir o equilíbrio entre a solução da coluna de solo e a de saturação (adaptado de Freire et al., 2003). Nos ensaios realizados em permeâmetros, dados de volume de percolado e tempo foram coletados para quantificar a condutividade hidráulica em solo saturado. Tabela 4 - Características gerais da coluna de solo Solo LVA Densidade do solo gcm-3 1, 0 Volume da coluna cm3 2 7 1, 4 3 Massa de solo g 2 7 1, 4 3 Por fim, as amostras foram retiradas das colunas dos permeâmetros, colocadas para secar ao ar, destorroadas e passadas em peneira de 2 mm, analisandose a ADA(XADA) em kg kg-1, conforme Donagemma (2003). O índice de dispersão (ID) e o índice de floculação (IF) foram obtidos conforme Ruiz, (2004). As médias obtidas da ADA foram submetidas ao teste Tukey em nível de 1% de probabilidade, por intermédio do programa SISVAR. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos no primeiro experimento. Os valores de ADA no LVA não variaram com o tipo de água residuária aplicada, mas diferiram do que foi obtido no solo testemunha. Os valores de RAS e da CE das águas residuárias diferiram estatisticamente entre si, demonstrando que as águas de criatórios de animais apresentam diferentes concentrações dos cátions referentes ao cálculo da RAS (Ca2+, Mg2+ e Na+) e diferentes teores de salinidade. É oportuno o controle criterioso da água utilizada, principalmente quando apresenta baixa (CE) e elevada (RAS), o que favorece a dispersão dos coloides. A água com salinidade inferior a 0,5 dS m-1 e, particularmente abaixo de 0,2 dS m-1, tende a lixiviar os sais e minerais solúveis, incluindo os de cálcio, reduzindo sua influência positiva sobre a estabilidade dos agregados e a estrutura do solo. As partículas finas de um solo assim dispersado obstruem o seu espaço poroso, reduzindo acentuadamente a infiltração da água nesse meio e, com isso, a quantidade de água disponível para as culturas, além de poder formar crostas superficiais, proporcionando problemas na germinação de sementes e emergência de plântulas (Almeida Neto et al., 2010). Um incremento nos valores da RAS e da CE, nesse experimento, não alterou significativamente os valores Tabela 5 - Médias dos valores de ADA, RAS e CE, das diferentes águas residuárias Tra tame ntos ADA RAS CE TEST. ARS ARB ARC CV (%) 0 b 40 a 37 a 39 a 8,24 0,00 d 2,60 b 0,96 c 3,82 a 1,95 0,32 d 5,69 a 2,30 c 3,65 b 7,58 Médias seguidas de mesma letra não diferem (P>0,01) pelo teste Tukey. CV = coeficiente de variação. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 HOMEM, B.G.C. et al. 94 da ADA. Ayers & Westcot (1991) afirmaram que tanto a RAS quanto a CE da água aplicada têm forte influência na dispersão de argila do solo e, por isso, devem ser analisadas conjuntamente para que se possam tirar conclusões sobre o risco de diminuição da permeabilidade do solo. Freire (2001), trabalhando com nove solos do estado de Pernambuco, verificou que, de forma geral, a ADA aumentou com o incremento da RAS da solução de trabalho, sem apresentar diferenças marcantes com relação à CE. Como a RAS das águas residuárias utilizadas é baixa e a condutividade elétrica é alta, o risco de essas águas residuárias provocarem dispersão de argila, por razões físico-químicas, pode ser considerado baixo (Ayers & Westcot, 1991). O aumento da ADA pode ter sido, então, ocasionado pelo longo tempo (20 dias) em que o material de solo ficou submetido a condições de saturação com as águas residuárias. Sabe-se que, em ambiente redutor, um importante agente de cimentação das partículas, que são os oxihidróxidos de ferro, deixa de existir, aumentando a dispersão do material do solo e, consequentemente, a ADA. Dessa forma, os resultados foram influenciados pela forma como foi conduzido o experimento. As águas residuárias de criatórios de animais apresentam concentrações elevadas de sódio. Com a saturação do solo neste experimento com as respectivas águas residuárias, uma das hipóteses é que tenha ocorrido o acúmulo de sódio na solução do solo. Dessa forma, a solução do solo quando excessivamente sódica promove a desagregação e dispersão dos minerais de argila em partículas muito pequenas, que obstruem os poros do solo (Matos, 2001). Assim, Mancino & Pepper (1992) e Speir et al. (1999) afirmam que a magnitude dos impactos, principalmente do sódio sobre as propriedades do solo, é dependente das quantidades e frequências das precipitações ou aplicações, de forma a promover a lixiviação deste cátion, para que não se acumule na solução do solo e posteriormente possa causar o fenômeno de dispersão de argila. Os índices de dispersão do LVA com aplicação das águas residuárias foram semelhantes, estando por volta de 61%, mostrando-se um valor bem elevado, ou seja, mais da metade da argila do solo foi dispersa. Os índices de floculação do solo, com a aplicação das águas residuárias, também foram semelhantes, obtendo- se um valor médio de 39%. Dessa forma, verificamos que a aplicação excessiva destes efluentes ao solo poderá promover o fenômeno de dispersão de argila. Caso estivesse plantada alguma cultura neste solo, seu desenvolvimento provavelmente seria comprometido, pelo fato de que a dispersão dos minerais de argila em partículas muito pequenas obstrui os poros do solo (Ayers & Westcot, 1991; Lal & Stewart, 1994). A consequência direta é a redução da infiltração, com isso a água de irrigação não consegue atravessar a superfície do solo em taxa suficiente para permitir a renovação da água consumida pelas culturas, originando um déficit hídrico que resultará em perda de produtividade da cultura. No segundo experimento, utilizando-se as colunas de solo, observou-se que os valores de ADA, entre as diferentes águas residuárias, não diferiram estatisticamente entre si, e sim com a testemunha (Tabela 6), confirmando a mesma afirmação levantada no primeiro experimento, de que as águas residuárias de criatórios de animais se assemelham nesse distúrbio causado ao solo. Nota-se que os valores de ADA foram um pouco menores do que os encontrados no primeiro experimento, devido ao fato de que no primeiro experimento o solo ficou por muito mais tempo em contato com as águas residuárias, por ter sido incubado por vinte dias. Contudo, Almeida Neto et al. (2009), estudando a ADA em função da aplicação de soluções de percolação, com seis valores de CE e cinco valores de RAS, não verificaram nenhuma dispersividade de um LVA, relatando que isto pode estar relacionado ao tipo de cátion presente em grande concentração no complexo de troca deste solo. Apesar de os resultados destes dois experimentos apresentarem ADA por volta de 30 à 40%, de acordo com as diretrizes referentes aos problemas de infiltração que resultam diretamente de mudanças desfavoráveis Tabela 6 - Médias dos valores de ADA, RAS e CE, das diferentes águas residuárias Tra tame ntos ADA RAS CE TEST ARS ARB ARC CV (%) 0,0 b 32 a 31 a 29 a 11 , 7 6 0,00 d 2,60 b 0,96 c 3,82 a 1,95 0,32 d 5,69 a 2,30 c 3,65 b 7,58 Médias seguidas de mesma letra não diferem (P>0,01) pelo teste Tukey. CV = coeficiente de variação. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 Dispersão da argila provocada pela fertirrigação com águas residuárias de criatórios de animais nas características químicas do solo, provocadas pela qualidade da água das irrigações, incluindo tanto a salinidade como sua proporção relativa de sódio, propostas por Ayers & Westcot (1991), os efluentes de criatórios de animais utilizados neste experimento não apresentam nenhum grau de restrição quanto ao seu uso na irrigação. De acordo com esses mesmos autores, demonstrando em um diagrama os riscos de redução na infiltração da água no solo por efeito da salinidade (CEa), como da relação de adsorção de sódio (RAS) da água, esses efluentes não apresentaram nenhum grau de redução da infiltração da água no solo; esses dois resultados foram obtidos pelo fato destes efluentes de criatórios de animais apresentarem CE alta e RAS baixa, mostrando que a dispersão de argila causado a este Latossolo Vermelho-Amarelo foi provocada pelo tratamento que foi imposto ao solo, coisa que seria pouco provável no campo, como a saturação de um solo pela aplicação de um efluente. Entretanto Erthal et al. (2010), avaliando alterações químicas e físicas de um Argissolo em duas camadas (0 - 10 cm e 10 - 25 cm), através da aplicação de água residuária de bovinos, sendo que esse efluente apresentava-se com CE alta e RAS baixa, semelhantes às encontradas neste experimento, verificaram a ocorrência de dispersão de argila do solo, por volta de 40%, sendo os valores de ADA na camada superficial (0 - 10 cm) maiores e com tendência de aumento com o tempo; este fato pode ser devido sobretudo ao efeito acumulativo de sódio e potássio nesta camada, pois esses elementos são considerados dispersantes e são encontrados em concentrações maiores do que os elementos floculantes, favorecendo assim a dispersão, e também a impacto das gotas de água sobre a superfície, causando desagregação das partículas do solo. De acordo com Cromer et al. (1984), em geral, as concentrações de sódio e o índice de saturação por sódio (ISNa) são elevadas após a aplicação de águas residuárias, principalmente nas camadas superficiais, proporcionando assim um forte risco de ocorrer dispersão de argila no solo. As doses aplicadas de águas residuárias neste experimento estariam coerentes com o que se recomenda para culturas perenes, porém estariam muito elevadas para culturas anuais e estariam inadequadas se aplicadas em doses únicas, tendo em vista as perdas de nutrientes que iriam proporcionar. No caso da aplicação de águas residuárias, doses únicas poderiam trazer problemas 95 de selamento superficial, causado pelo entupimento de macroporos superficiais do solo, além de problemas de salinização, ainda que temporária, se o índice pluviométrico for alto na região, e contaminação de águas subterrâneas. Cardoso et al. (1992), avaliando o uso intensivo de um Latossolo com lavouras anuais, verificaram redução na espessura do horizonte superficial e nos teores de matéria orgânica e, por conseguinte, aumento no grau de dispersão de argila. Já Machado et al. (2008) afirmam que a redução dos teores de argila da camada arável do solo com as sucessivas lavouras anuais está relacionada à dispersão das partículas de argila e à remoção pela erosão, com permanência seletiva das partículas de areia. Já Montes et al. (2004), trabalhando com a aplicação de água residuária de origem doméstica em um argissolo, verificaram que a dispersão das argilas aumentou com o tempo até 80 cm de profundidade e que este aumento foi mais pronunciado na camada de 0 a 10 cm. A condutividade hidráulica do solo no segundo experimento, para todas as águas residuárias aplicadas, começou tendo uma pequena elevação, mas, com o passar do tempo da aplicação, a condutividade hidráulica começou a diminuir (Figura 1), diferentemente da Figura 1 - Valores da condutividade hidráulica do solo em (mL/ min), no decorrer das aplicações. Sendo: ARS: água residuária da suinocultura; ARB: água residuária da bovinocultura; ARC: água residuária da cunicultura. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 HOMEM, B.G.C. et al. 96 testemunha que teve uma pequena diminuição no início, mas manteve-se constante no decorrer da aplicação. Dentro do observado, nota-se que uma das hipóteses da ocorrência da diminuição da condutividade hidráulica do solo seja a dispersão de argila do solo, pelo fato de que as partículas de um solo assim disperso podem obstruir os espaços porosos, reduzindo acentuadamente a condutividade hidráulica do meio. De acordo com Erthal et al. (2010), altas concentrações de Na+ na solução do solo em comparação com o Ca2+ e o Mg2+ podem causar deterioração da estrutura do solo, pela dispersão dos coloides e subsequentes entupimentos dos macroporos, causando decréscimo na permeabilidade à água e aos gases. Nesse contexto, os acréscimos na concentração de Na+ e ISNa têm sido apontados como causa, Bond (1998) ou Balks et al. (1998), de alterações na condutividade hidráulica do solo, dependendo da concentração total de sais na solução. Fato também relatado por Gonçalves et al., (2005), descrevendo que o maior efeito do efluente nas propriedades físicas e hidráulicas do solo está relacionado com suas salinidade e sodicidade e pode causar a diminuição da infiltração de água no solo, onde a expansão e a dispersão das argilas mudam a geometria do poro e, portanto, afetam a condutividade hidráulica. Os índices de dispersão para o LVA com aplicação das águas residuárias neste segundo experimento também se assemelharam, mas estando um pouco abaixo do encontrado no primeiro experimento, por volta de 48%. Os índices de floculação do solo com a aplicação das águas residuárias também foram semelhantes, obtendose um valor médio de 52%. Nesse sentido, Fassbender (1984) relatou que a floculação depende do complexo de troca, das características da dupla camada difusa e dos cátions adsorvidos. Assim, de acordo com esse mesmo autor, além da interferência da valência dos cátions na floculação do coloide do solo, a dupla camada difusa tem grande influência sobre os fenômenos de floculação e dispersão. Um fato que deve ser destacado é que pouco se sabe da utilização da água residuária da cunicultura na agricultura, fato comprovado pela escassez de trabalhos a respeito desta área, diferentemente do que se vê com águas residuárias de suínos, bovinos e cama de frangos, que já possuem muitos trabalhos publicados. Neste trabalho podemos verificar que esse efluente de criatório animal pode ser uma excelente alternativa para a fertilização de lavouras, pelo alto teor de nutrientes encontrados em suas análises, principalmente o nitrogênio. Mas devese levar em conta que, como possui altos teores de nitrogênio e matéria orgânica, também possui um poder poluente muito grande. Se disposto em ribeirões sem se proceder a algum tratamento, esse efluente pode estar contaminando as águas, ocorrendo até um consumo excessivo de oxigênio para a degradação de sua matéria orgânica. O ponto de destaque é que, de acordo com Ayers & Westcot (1991), esse efluente não possui nenhuma restrição quanto ao seu uso na irrigação, entretanto verificou-se que através de sucessivas irrigações e sem um acompanhamento agronômico poderá causar ao solo o fenômeno de dispersão de argila, o que foi verificado neste experimento, mostrando ser semelhante com os outros efluentes de criatórios de animais estudados neste trabalho. 4. CONCLUSÕES O LVA apresentou características dispersantes relacionadas com todos os tipos de tratamentos impostos, podendo-se afirmar que, quando aplicadas de forma indiscriminada, estas águas residuárias podem afetar a estrutura do solo. Foi verificado que os efluentes de criatórios de animais utilizados neste experimento não apresentam nenhuma restrição quanto ao seu uso na irrigação, contudo quando se praticam sucessivas irrigações ao longo do tempo, sem acompanhamento agronômico especializado, podem propiciar o acúmulo de compostos dispersantes na solução do solo, promovendo assim a dispersão de argila. Houve redução na condutividade hidráulica provocada pela dispersão da argila, mostrando que, caso ocorra este problema no campo, ele poderá causar um estresse hídrico às plantas, pela menor taxa de infiltração de água no solo. 5. AGRADECIMENTOS Ao setor de Zootecnia e de Agroindústria do IF Sudeste de MG, Campus Rio Pomba. Ao CNPq pela concessão da bolsa. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA NETO, O.B. Dispersão da argila e condutividade hidráulica em solos com diferentes mineralogias, lixiviados com soluções salino-sódicas. Viçosa: UFV, 2007. 93p. (Tese de Doutorado). 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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.8 9-98, Julho, 20 12 Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos... 99 INFLUÊNCIA DA APLICAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE CRIATÓRIOS DE ANIMAIS NO SOLO: ATRIBUTOS QUÍMICOS E FÍSICOS Marisa Senra Condé1, Bruno Grossi Costa Homem1, Onofre Barroca de Almeida Neto2, Alberto Magno Ferreira Santiago3 RESUMO – Objetivou-se avaliar o panorama geral da utilização de águas residuárias dos criatórios de animais aplicadas ao solo, focalizando as vantagens e limitações quanto a seu uso. A criação intensiva de animais gera uma grande quantidade de resíduos ricos em nutrientes que, por estarem disponíveis nas propriedades rurais a um baixo custo, podem ser viabilizados pelos produtores na adubação das culturas comerciais. Porém, quando usados de forma indiscriminada e sem critérios agronômicos, podem constituir-se em fator negativo e levar à degradação da estrutura do solo e causar sérios riscos ambientais. O estado de baixa fertilidade do solo tem sido motivo de preocupação, devido ao manejo inadequado que gera degradação da matéria orgânica e consequentemente perda de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, acelerando o processo de erosão e diminuindo a produtividade. Com a aplicação do resíduo as plantas tendem a se mostrar mais vigorosas, com maior porcentagem de cobertura, maior produtividade e melhor desenvolvimento do sistema radicular, além do benefício agrícola gerado pela melhoria nas condições químicas, físicas e biológicas do solo. Palavras-chave: Adubação orgânica, águas residuárias, dejetos de animais, disposição. EFFECT OF APPLICATION OF ANIMAL WASTEWATER IN SOIL: CHEMICAL AND PHYSICAL ATTRIBUTES ABSTRACT – The objective of this work was to review the application of livestock wastewater in soil, focusing on the advantages and limitations on its use. The intensive animal production systems generate a huge amount of waste, which are rich in nutrients and available for rural properties at low cost, which can be used by producers in the fertilization of crops. However, when used indiscriminately and without agronomic criteria, it may constitute a negative factor triggering degradation of soil structure and causing serious environmental hazards. Low fertility of soil has been a concern, because inadequate soil management causes organic matter degradation and affects physical, chemical and biological properties, accelerating the process of erosion and decreasing productivity. Application of wastewater in soil makes plants to be more vigorous, increasing soil coverage, plant productivity, and root development. Also, agricultural benefits of this practice include improvement of chemical, physical and biological soil characteristics. Key Words: Animal waste, disposal, organic fertilizer, wastewater. 1. INTRODUÇÃO O uso de águas residuárias para fertirrigação não é uma novidade. Erthal (2008) afirma que existem relatos da utilização de efluentes de animais na agricultura na Grécia Antiga e na civilização de Minan (3.000 AC a 1.000 DC). A aplicação de águas residuárias ao solo como meio de disposição final dessas águas teve notável avanço nas décadas de 50 e 60, quando o interesse pela qualidade dos efluentes tratados mereceu grande Estudantes de Zootecnia, IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected]; [email protected] Professor Doutor do Departamento de Agricultura e Ambiente do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected] 3 Professor Mestre do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba; [email protected] 1 2 Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12 100 CONDÉ, M.S. et al. atenção por parte dos órgãos responsáveis pela preservação ambiental (Erthal, 2008). 2. MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO NO CONTEXTO ATUAL Já durante a década de 70, iniciaram-se os debates sobre a relação entre o desenvolvimento econômico e industrial com o meio ambiente. O modelo econômico desenvolveu-se considerando o meio ambiente simplesmente como fonte de recursos e receptor dos dejetos e subprodutos sem valor comercial. Essa visão acabou por gerar diversos problemas ambientais, fazendo-se necessário o desenvolvimento de estudos e de técnic as que avaliassem os impactos ambientais causados pelas atividades produtivas (Oliveira, 2006). O solo é o meio principal para o crescimento das plantas, sendo uma camada de material biologicamente ativo, resultante de transformações complexas que envolvem o intemperismo de rochas e minerais, a ciclagem de nutrientes e a produção e decomposição de biomassa. Uma condição ideal de fertilidade do solo é fundamental para garantir a capacidade produtiva dos agroecossistemas, e a qualidade do solo é importante também para a preservação de outros serviços ambientais essenciais, incluindo o fluxo e a qualidade da água, a biodiversidade e o equilíbrio de gases atmosféricos (Novais et al., 2007). Com a adoção do sistema de confinamento na produção de animais, surgiu o grande problema da produção excessiva de dejetos, o qual, aliado aos inadequados sistemas de manejo e de armazenamento, levou ao lançamento em rios e cursos d’águas naturais. Esse lançamento inadequado dos dejetos pode levar a sérios desequilíbrios ecológicos, poluindo-se os rios e mananciais, em função da redução do teor de oxigênio dissolvido na água, devido à demanda bioquímica de oxigênio (DBO) (Oliveira, 1993). Dessa maneira, a disposição no solo tornouse alternativa efetiva em relação à prática de descarregar os efluentes diretame nte em corpos de água superficial (Asano, 1998). A utilização de águas residuárias tratadas ou parcialmente tratadas na fertirrigação de culturas agrícolas e florestais, ao invés de descarregá-las em cursos de água, tem-se tornado alternativa promissora, além da rápida e recente expansão (Balks et al., 1998). Dentre as razões para esta expansão, destacam-se: (i) em regiões áridas e semiáridas, as águas residuárias têm sido fonte suplementar de água para a sustentabilidade da agricultura irrigada (Al-Jaloud et al., 1995); (ii) as águas residuárias não somente ajudam a economizar águas superficiais, como também sua disposição no solo implica em reciclagem, e poluentes tornam-se nutrientes para as plantas (Vazquez-Montiel et al., 1996); e (iii) a irrigação é relativamente flexível quanto ao requerimento de qualidade da água. O objetivo desta revisão é avaliar o panorama geral da utilização de águas residuárias dos criatórios de animais aplicadas ao solo, focalizando as vantagens e limitações quanto ao seu uso. A presença de nutrientes é um dos aspectos fundamentais que garantem a boa qualidade dos solos e o seu bom uso e manejo, principalmente no caso de agroecossistemas. Em ecossistemas nativos, a ciclagem natural de nutrientes é a grande responsável pela manutenção do bom funcionamento do solo e do ecossistema como um todo. Essa ciclagem é fundamental para manter o estoque de nutrientes nos ecossistemas naturais, evitando-se a perda da fertilidade natural do solo (WRI, 2000). Assim, a baixa fertilidade dos solos pode ter tanto causas naturais quanto antrópicas. Como causas naturais, destacam-se a gênese do solo e o intemperismo como principais fatores causadores da baixa fertilidade, particularmente em grande parte das regiões tropicais e subtropicais, onde a remoção de nutrientes do solo é mais acelerada, em razão das condições de altas temperaturas e precipitações pluviais. O fato de o Brasil possuir grandes extensões de terra com problemas de fertilidade relacionados com a alta acidez e toxidez por alumínio, além de alta capacidade de fixação de fósforo, é, em grande parte, consequência de sua localização na região tropical (Novais et al., 2007). Já as causas antrópicas, provocadas pelo manejo inadequado, também podem ser causadoras da baixa fertilidade dos solos. Uma dessas causas é a exaustão de nutrientes provocadas pela retirada das culturas, maiores que pelas adições via adubação. Estimativas diversas neste sentido revelam que o déficit anual médio de nutrientes no Brasil encontra-se entre 25 e 35 kg ha-1 de N + P2O5 + K2O, ou seja, o estoque de nutrientes do solo está se esgotando ano após ano. Isso pode levar até mesmo solos anteriormente considerados férteis Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12 Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos... a se tornarem não férteis, tendo, assim, sua capacidade produtiva prejudicada. Um levantamento do International Soil Reference and Information Centre (ISRIC), atualmente World Soil Information, estima que cerca de 240 milhões de hectares de solos no mundo (área equivalente à região dos Cerrados brasileiros) estão comprometidos, no que diz respeito à sua integridade química que está ligada, dentre outros fatores, à deficiência de nutrientes, a qual representa a maior causa de degradação química dos solos no mundo, atingindo cerca de 136 milhões de hectares (dos quais 68 milhões de hectares localizamse na América do Sul) (Oldeman et al., 1991). Neste sentido, vale lembrar que a exaustão de nutrientes dos solos também é causa de erosão, visto que reduz a cobertura vegetal e, com isso, a resistência do solo a esse fenômeno. A erosão atinge cerca de 13% da superfície do planeta, segundo estudos do World Soil Infomation, afetando cerca de 1,65 bilhão de hectares de terra que se encontram degradados em todo o mundo (Oldeman, 2000). O pior aspecto da queda de fertilidade do solo causada pela erosão é que, ao contrário da exaustão causada por extração de nutrientes em taxa maior que a reposição, ou da baixa fertilidade por causas naturais, naquele caso as áreas não podem ser recuperadas de maneira simples. Com a erosão, a recuperação se torna difícil ou até mesmo um dano irreparável à capacidade produtiva do solo (Oldeman, 2000). Neste contexto, é fundamental a avaliação da fertilidade, que tem por objetivo quantificar a capacidade dos solos suprirem nutrientes para o ótimo crescimento e desenvolvimento das plantas. Apesar de, em termos objetivos, buscar-se quantificar a disponibilidade dos nutrientes, a avaliação da fertilidade tem um enfoque mais amplo (Sims, 1999). Em uma visão atual, a avaliação da fertilidade do solo ultrapassa os limites da produção agrícola, sendo fundamental para o futuro da produção global, quer na identificação de novas áreas com potencial para serem incorporadas aos sistemas produtivos, quer no aumento da produtividade das áreas já em uso. Nessas condições, a produtividade máxima nem sempre é o foco, mas sim a estabilidade da cobertura vegetal, o aumento da atividade microbiana para a degradação de contaminantes orgânicos e a fitorremediação para mitigação de contaminantes inorgânicos e metais pesados (Novais et al., 2007). 101 3. REFLEXOS DA APLICAÇÃO DAS ÁGUAS RESIDUÁRIAS NO SOLO Com a baixa fertilidade dos solos brasileiros, o incremento da produtividade da cultura se torna cada vez mais dependente do uso de fertilizantes (orgânicos e minerais). A principal vantagem do adubo mineral é a rápida resposta das plantas, visto que apresentam desenvolvimento acelerado em razão de suas necessidades imediatas serem atendidas. O adubo orgânico, termo utilizado para os adubos não minerais, é o fertilizante mais tradicional na história da agricultura (D’Andréa, 2001). A utilização do adubo orgânico em relação à aplicação de fertilizantes minerais é significativa, principalmente pela liberação gradual. Se os nutrientes forem imediatamente disponibilizados no solo, como ocorre com os fertilizantes minerais, podem ser perdidos por volatilização (em especial o N), fixação (P) ou lixiviação (principalmente o K) (Severino et al., 2004). Souto et al. (2005) afirmam que com o aumento dos custos com adubação mineral, os produtores passaram a ter uma nova visão sobre a adubação orgânica, dando importância à utilização deste material como agente modificador das condições físicas, químicas e biológicas do solo, tornando o sistema mais sustentável. A disposição final de resíduos orgânicos e águas residuárias no solo vem sendo considerada prática de manejo com vistas à proteção ambiental. O solo apresenta grande capacidade de decompor ou inativar materiais potencialmente prejudiciais ao ambiente, por meio de reações químicas e da multiplicidade de processos microbiológicos. Os íons e compostos podem ser inativados por reações de adsorção, complexação e precipitação; já os microrganismos presentes no solo podem decompor os mais diversos materiais orgânicos, desdobrando-os em compostos menos tóxicos ou atóxicos (Costa et al., 2004). Os efeitos da aplicação de águas residuárias nas propriedades físicas e químicas do solo só se manifestam após longo período de aplicação e dependem das características do solo e do clima. A severidade de algum problema acometido ao solo pela aplicação de águas residuárias pode variar de acordo com o tempo de aplicação, composição e quantidade aplicada. O tipo de solo e a capacidade de extração das plantas também são fatores que influenciam nas consequências da aplicação da água. Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12 102 As principais alterações descritas para os solos fertirrigados com águas residuárias se resumem aos efeitos sobre carbono e nitrogênio totais, atividade microbiana e N-mineral, cálcio e magnésio trocáveis, salinidade, sodicidade e dispersão de argilas (Fonseca et al., 2007). 3.1. Vantagens da utilização das águas residuárias de criatórios de animais A matéria orgânica do solo consiste em resíduos de plantas e animais em diferentes fases de decomposição. Em solos tropicais altamente intemperizados, a matéria orgânica tem um importante papel na produtividade, pois domina a reserva de nutrientes como N, P, S, Ca2+, Mg2+, K+ e Na+ (Zech et al., 1997). A manutenção ou o aumento dos teores de matéria orgânica é fundamental na retenção dos nutrientes e na diminuição da sua lixiviação (Bayer & Mielniczuk, 1999). Como as águas residuárias de animais apresentam elevado teor de matéria orgânica, destacam-se as seguintes vantagens: melhoria na estrutura do solo, facilitando a penetração das raízes; redução à plasticidade e coesão; aumento da capacidade de retenção de água; minimização da variação da temperatura do solo; aumento da CTC (capacidade de troca catiônica) fornecendo nutrientes para a planta; aumento do poder tampão do solo; diminuição da densidade aparente e aumento da porosidade (Tamanini, 2004). Assim, os resíduos orgânicos apresentam grande importância no fornecimento de nutrientes às culturas. Matos (2008) cita uma série de vantagens para a disposição de águas residuárias no solo, destacandose: o benefício agrícola gerado pela melhoria nas condições químicas, físicas e biológicas do solo; os baixos custos fixos e operacionais das unidades de tratamento; o baixo consumo de energia, além de se evitar o lançamento de efluentes em corpos d’água. Queiroz et al. (2004) utilizando águas residuárias de suínos (ARS), criados em regime de confinamento total, sendo a água composta pela mistura de fezes e urina dos animais e de outros materiais provenientes do processo criatório (água desperdiçada nos bebedouros, água de higienização, restos de alimentos, pelos e poeira) obtiveram aumento na soma de bases (SB) e na CTC do solo. Já Erthal et al. (2010), utilizando água residuária de bovinos leiteiros, criados em confinamento (free-stall), verificaram aumento tanto CONDÉ, M.S. et al. na CTC quanto na saturação por bases (V). De acordo com esses mesmos autores, os aumentos na CTC e V com a aplicação de águas residuárias são atribuídos à alta concentração de íons e aos coloides orgânicos presentes nos efluentes. Em relação ao Ca2+ e Mg2+, Erthal et al. (2010) mostraram que, com a utilização de águas residuárias, os mesmos aumentaram com o tempo de aplicação; tal fato pode ser devido à intensa liberação destes íons com a mineralização da matéria orgânica no solo. Os resultados de pesquisas envolvendo o K + em águas residuárias são, às vezes, contraditórios. Johns & McConchie (1994) não notaram alteração no teor deste íon no solo ao aplicarem efluente secundário de esgoto doméstico na fertirrigação de bananeiras, embora se deva ressaltar que o esgoto doméstico é fonte insuficiente de K para a cultura da bananeira; por outro lado, incrementos na concentração de K+ foram observados em solos com exploração florestal (Cromer et al., 1984; Falkiner & Smith, 1997), cultivados com berinjela (Al-Nakshabandi et al., 1997), gramíneas (Queiroz et al., 2004) e cafeeiro (Medeiros et al., 2005), quando da aplicação de águas residuárias de suínos e esgoto doméstico. Prior (2008) e Berwanger (2006) verificaram aumento na concentração de fósforo no solo em função do aumento da aplicação de taxas de ARS. O comportamento também foi observado por Queiroz et al. (2004), ao notarem aumento no teor de P disponível em relação à condição inicial, com a aplicação dos dejetos, indicando um acúmulo desse macronutriente no solo. Ceretta et al. (2003) também verificaram que o teor de fósforo disponível no solo aumentou consideravelmente com a aplicação de ARS, ao longo do tempo. O fósforo contido nas águas residuárias é lentamente disponibilizado com a degradação do material orgânico, tornando-se menos sujeito às reações de adsorção e fixação pelos óxidos de ferro e alumínio presentes no solo (Scherer & Baldisera, 1994). Esse é um aspecto altamente positivo da aplicação de águas residuárias no solo, pois, na maioria das regiões de clima topical, o fósforo aplicado na forma mineral solúvel pode ser fortemente fixado pelos referidos óxidos e hidróxidos presentes, não permanecendo disponível para as plantas. Resultados de Eghball et al. (1996) e Mozzaffari & Sims (1994) permitiram observar maior movimentação do P no perfil do solo que recebeu dejetos em comparação Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12 Influência da aplicação de águas residuárias de criatórios de animais no solo: atributos... com o adubo mineral, atribuindo esse fato à movimentação do P na forma orgânica. Se bem planejada, a disposição de águas residuárias no sistema solo-planta poderá trazer benefícios, tais como fonte de nutrientes e água para as plantas, redução do uso de fertilizantes e de seu potencial poluidor, além da vantagem do solo apresentar grande capacidade de decompor ou inativar materiais potencialmente prejudiciais ao ambiente, através de reações químicas e por processos microbiológicos. Com isso, os efluentes de animais, apesar de apresentarem elevado potencial poluidor, podem se tornar alternativa econômica para a propriedade rural, se manejados adequadamente sem comprometer a qualidade ambiental. 3.2. Limitações quanto ao uso O uso continuado e, ou, excessivo dos efluentes pode causar danos ambientais, destacando-se a poluição do solo, da água e do ar, além de perdas de produtividade e qualidade de produção. De acordo com Léon et al. (1999), mesmo quando as vantagens justificam amplamente o uso dessas águas, existem várias restrições ou riscos potenciais que devem ser considerados, dentre os quais se destacam: a contaminação microbiológica dos produtos, a bioacumulação de elementos tóxicos, a salinização e impermeabilização do solo e o desequilíbrio de nutrientes do solo. A presença de alguns constituintes nos efluentes, como o sódio (Na+) em grande concentração e metais pesados, é indesejável. O teor de sódio em solos agrícolas pode aumentar com a adição de efluente, alterando certas características físicas do solo, devido à dispersão de argilas e características químicas, influenciando direta ou indiretamente o desenvolvimento das plantas (Feigin et al., 1991). Em geral, as concentrações de Na+ e o índice de saturação por sódio (ISNa) são elevadas após a aplicação de águas residuárias, principalmente nas camadas superficiais (Cromer et al., 1984). Tem-se observado esses acréscimos em solos cultivados tanto com culturas florestais (Feigin et al., 1991; Bond, 1998) quanto em estudos de curta e longa duração (Quin & Woods, 1978; Balks et al., 1998; Fonseca et al., 2005). A solução do solo, quando excessivamente sódica, promove a desagregação e dispersão dos minerais 103 de argila em partículas muito pequenas, que obstruem os poros do solo. Mediante as sucessivas irrigações, forma-se uma camada superficial selada, o que reduz a infiltração no solo e aumenta os riscos de erodibilidade do solo (Lal & Stewart, 1994). A consequência direta da redução da infiltração sobre as culturas tornase evidente quando a água de irrigação não consegue atravessar a superfície do solo em taxa suficiente para permitir a renovação da água consumida pelas culturas, entre duas irrigações, originando um déficit hídrico que resultará em perda de produtividade da cultura. Segundo Pizarro (1990), os sais solúveis contidos nas águas de irrigação podem, em certas condições climáticas, salinizar o solo e modificar a composição iônica no complexo sortivo, alterando as características físicas e químicas do solo, como regime de água, aeração, nutrientes e, consequentemente, o desenvolvimento vegetativo e a produtividade. Aumentos na condutividade elétrica da solução do solo após a aplicação de águas residuárias de animais têm sido relatados em áreas cultivadas com culturas anuais (Al-Nakshabandi et al., 1997), em pastagens (Bond, 1998) e em sistemas florestais (Speir et al., 1999); todavia, as concentrações salinas mais elevadas têm sido verificadas na camada mais superficial do solo (Speir et al., 1999). A limitação principal do uso de águas residuárias na agricultura é a sua composição química (totais de sais dissolvidos, presença de íons tóxicos e concentração relativa de sódio) e a tolerância das culturas a este tipo de efluente (Ayers & Westcot 1999). Outro fator importante para se observar é a presença de metais pesados na água residuária. Os metais pesados não apenas exercem efeitos negativos sobre o crescimento das plantas, mas também afetam os processos bioquímicos que ocorrem no solo. Devido a esses aspectos, é de extrema importância a caracterização das águas residuárias, tanto para se verificar sua composição química, quanto para se definir que quantidade deve ser aplicada sem acarretar nenhum problema ao sistema solo-planta. As doses de aplicação de águas residuárias na agricultura devem ser definidas quando se toma o elemento químico contido em maior concentração relativa, o que define a dose agronomicamente recomendável (Matos, 2008). Revista Brasileira de Ag ropecuária Sustentáve l (RBAS), v.2, n.1 ., p.99 -106, Julho, 20 12 104 CONDÉ, M.S. et al. 4. CONCLUSÕES A utilização dos resíduos orgânicos assume grande importância nos dias atuais, devido a sua potencialidade de reduzir custos de produção e minimizar impactos ambientais. No resíduo animal são encontrados diversos nutrientes necessários às plantas (nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes) e, no caso de ser utilizado como fertilizante orgânico, uma série de nutrientes estarão prontamente disponíveis, ou após o processo de mineralização poderão ser absorvidos pelas plantas da mesma forma que aqueles industrializados, de origem mineral. Os resíduos orgânicos podem ser vistos como um complemento da adubação, proporcionando melhor desenvolvimento da planta e consequentemente aumento da produtividade das culturas. Se os resíduos orgânicos forem usados de forma indiscriminada e sem critérios agronômicos, podem constituir-se em fator negativo, podendo levar a uma degradação da estrutura do solo e a sérios riscos ambientais. 5. 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Os tratamentos foram constituídos por: T1-100% de calcário, T2-50% calcário + 50% de farinha de casca de ovo e T3-100% de farinha de casca de ovo. Os parâmetros estudados foram: consumo de ração, produção de ovos por ave-dia, produção de ovos comercializáveis, peso do ovo, massa de ovos, conversão alimentar por massa de ovos, conversão alimentar por dúzia de ovos, peso dos componentes dos ovos (gema, albúmen e casca), porcentagem dos componentes dos ovos, gravidade específica e teor de cálcio e fósforo na tíbia. Foi verificado efeito significativo da substituição de calcário por casca de ovo na dieta apenas para a produção de ovo e produção de ovos comercializáveis. A substituição de até 50% do calcário calcítico por farinha de casca de ovo na dieta mantém o desempenho e qualidade dos ovos de codornas japonesas de 40 a 52 semanas de idade. Palavras-chave: Coturnix coturnix japonica, desempenho, qualidade de ovo, resíduo. REPLACEMENT OF LIMESTONE FLOUR FOR EGG SHELL IN THE DIET OF JAPANESE QUAIL IN THE PERIOD FROM 40 TO 52 WEEKS OF AGE ABSTRACT – It was ver ified the substitution of limestone for egg shell in the diet of Japanese quails in the final third stage of laying. Were used 126 Japanes e quail (Coturnix coturnix japonica) with 283 days of age, distributed in completely randomized design, consisting of three treatments (replacement of limestone for Japanese quail egg shell), six replicates and seven hen per experimental unit. The treatments consisted of: T1-100% of limes tone use d as the main source of calcium, T2-50% of limestone + 50% eggshell and T3-100% of egg shell. The par ameters studied were: feed intake, egg production per hen day, commercial egg production, egg weight, egg mass, feed conversion by egg mass, feed conver sion per dozen eggs, weight of the eggs (yolk, albumen and shell), percentage of components of eggs, calcium and phosphorus in the tibia and specific gr avity. It was found significa nt effect of the substitution of limestone for egg shell in the diet only for the production of egg and egg production of tradables. Replacing 50% of limestone flou r for egg s hell keeps the performance and egg quality of Japanes e quails from 40 to 52 weeks of age. Key Words: Coturnix coturnix japonica, egg quality, performance, residue 1 Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Zootecnia s/n, Campus Universitário, Viçosa - MG. E-mail: [email protected] Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12 108 REIS, de R.S. et al. 1. INTRODUÇÃO A criação de codornas para a produção de ovos tem se desenvolvido de forma expressiva no Brasil, sendo que o aumento de produtividade pode ser atribuído ao uso de tecnologias na atividade, ao melhoramento genético a que as aves estão sendo submetidas e a melhorias na nutrição, manejo e sanidade (Oliveira, 2007). Além disso, podem ser observadas mudanças nas características dos mercados atacadistas e varejistas, pois os ovos, antes comercializados apenas in natura, passaram também a ser processados em indústrias beneficiadoras e comercializados como ovos descascados ou em conservas, atendendo principalmente a restaurantes, bares e lanchonetes. Com esse aumento de mercado, houve entrada de grandes empresas que perceberam a rentabilidade do negócio, e diminuição no número de pequenos produtores. O processamento de ovos gera acúmulo diário de grande quantidade de casca que deve ser eliminada de forma adequada para não poluir o ambiente. Uma maneira de reutilização da casca seria sua inclusão como substituto do calcário nas rações para animais. De acordo com Vanderpopuliere et al. (1975), a farinha de casca de ovo é rica em cálcio e contém proteínas provenientes dos resíduos de albúmen, membrana da casca e matriz da casca que podem ser metabolizadas pelas aves. Por outro lado, as características da casca do ovo são imprescindíveis para manutenção da qualidade interna do produto, sendo a casca a embalagem do ovo e tendo por função proteger a gema e o albúmen contra perdas e agressões do meio. Ela deve ser forte o suficiente para resistir aos processos de postura, coleta, classificação e transporte, devendo chegar ao consumidor final na forma in natura, sem perdas de qualidade. Sendo assim, as rações devem conter nutrientes em quantidade e qualidade necessária para a adequada formação da casca do ovo. Diante do exposto, verificou-se a possibilidade de substituição do calcário por casca de ovo em dietas de codornas japonesas no período de 40 a 52 semanas de idade. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa-MG. Foram utilizadas 126 codornas da subespécie japonesa (Coturnix coturnix japonica) com idade inicial de 40 semanas e final de 52 semanas, tendo o período experimental 84 dias de duração subdivididos em 4 períodos de 21. As aves foram distribuídas em delineamento inteiramente casualizado composto por três tratamentos (substituição do calcário calcítico por casca de ovo de codorna), seis repetições e sete aves por unidade experimental. Os tratamentos foram: T1-100% de calcário, T2-50% calcário + 50% de farinha de casca de ovo e T3-100% de farinha de casca de ovo. As cascas de ovo utilizadas neste experimento foram fornecidas por empresas que além de produzirem os ovos de codorna “in natura”, também o processam, entregando no mercado ovos descascados em conserva. Para a elaboração da farinha, as cascas dos ovos foram secas ao ar e posteriormente trituradas. As dietas foram formuladas à base de milho e farelo de soja (Tabela 1) contendo 19,3% de proteína bruta e 2.800 kcal de energia metabolizável/kg de dieta. Foram utilizados 3,0% de cálcio e 0,30% de fósforo disponível, conforme determinado por Moura et al. (2008). Para atender às exigências em aminoácido digestível foram utilizadas como base as relações aminoácido digestível com lisina digestível preconizadas por Umigi et al. (2008), Pinheiro et al. (2008) e Reis et al. (2011) para treonina, triptofano e metionina mais cistina, respectivamente, devido à escassez de tabelas de exigências nutricionais, realizadas em condições brasileiras, para esta espécie até o momento de realização deste experimento. A composição e os valores nutricionais dos ingredientes utilizados para a formulação da dieta foram calculados valendo-se de Rostagno et al. (2005). As cascas de ovo de codorna utilizadas foram analisadas no laboratório de nutrição animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, quanto ao teor de cálcio e fósforo, obtendo os valores de 32,9% de cálcio e 0,386% de fósforo. As aves foram alojadas em gaiolas de arame galvanizado, equipadas com comedouro tipo calha e bebedouro do tipo nipple, sendo que cada gaiola forneceu área de 121 cm2/ave. A ração e a água foram fornecidas à vontade. O manejo diário consistiu em recolher e contabilizar todos os ovos, anotar as temperaturas e a umidade relativa do ar no galpão experimental uma vez ao dia, às 16 h. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12 Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período... 109 O programa de iluminação consistiu do fornecimento de 17 horas de luz por dia, sendo o mesmo controlado por um relógio automático (timer). sem casca). Também foi calculado o número médio de ovos comercializáveis durante o período experimental, retirando-se, neste caso, do total de ovos produzidos os quebrados, os trincados e os anormais. Ao final do período experimental (84 dias), determinou-se a quantidade de ração consumida (g/ ave/dia) em cada unidade experimental. Para isso, as sobras e os desperdícios foram pesados e descontados da quantidade de ração fornecida durante o período experimental. O número de aves mortas foi descontado do número total de aves de cada unidade experimental, o que possibilitou obter o correto consumo por ave. Para a obtenção do peso específico dos ovos, no 16º, 17º e 18º dias a cada período de 21 dias, todos os ovos íntegros coletados foram imersos e avaliados em soluções de NaCl com densidade de 1,055 a 1,100 g/cm3, com intervalos de 0,005 g/cm 3 entre elas. A densidade da solução salina foi medida por meio de um densímetro. A produção de ovos foi expressa em porcentagem sobre a média de aves do período (ovo/ave/dia) e de aves alojadas no início do experimento (ovo/ave alojada). Esses dados foram obtidos computando-se diariamente o número de ovos produzidos, incluindo os quebrados, os trincados e os anormais (ovos com casca mole e Todos os ovos íntegros produzidos em cada repetição foram pesados, em balança de precisão, durante o 19º, 20º e 21º dias de cada um dos quatro períodos experimentais para se obter o peso médio dos ovos. Após a pesagem, foram selecionados aleatoriamente quatro ovos de cada repetição para quantificação dos Tabela 1 - Composições percentuais e calculadas das dietas experimentais, na matéria natural Ingredientes Milho moído Farelo de soja (45%) Óleo de soja Calcário Farinha de casca de ovo Fosfato bicálcico Sal DL- Metionina (99%) L- Lisina HCL (79%) Cloreto de colina (60%) Suplemento vitamínico 1 Suplemento mineral 2Antioxidante 3 Inerte 4 Tot a l T1 T2 T3 54 , 2 7 31 , 8 9 2,53 6,88 0, 0 1,05 0,32 0,33 0,20 0, 10 0 0, 10 0 0, 050 0,0 10 2,27 54 , 2 7 31 , 8 9 2,53 4,24 3,44 1, 0 0,32 0,33 0,20 0, 10 0 0, 10 0 0, 050 0,0 10 1,52 54 , 2 7 31 , 8 9 2,53 0, 0 9,00 0,90 0,32 0,33 0,20 0, 10 0 0, 10 0 0, 050 0,0 10 0,30 1 0 0, 0 0 1 0 0, 0 0 1 0 0, 0 0 2. 80 0 19,3 1, 08 0 0, 91 0 0, 64 7 0, 21 2 3,00 0, 30 0 0,1 452, 66 2. 80 0 19,3 1, 08 0 0, 91 0 0, 64 7 0, 21 2 3,00 0, 30 0 0,1 452, 66 2. 80 0 19,3 1, 08 0 0, 91 0 0, 64 7 0, 21 2 3,00 0, 30 0 0,1 452, 66 Composição calculada Energia metabolizável (kcal/kg) Proteína bruta (%) Lisina digestível (%) Metionina+cistina digestível (%) Treonina digestível (%) Triptof ano digestível (%) Cálcio (%) Fósforo disponível (%) Sódio (%)Fibra bruta (%) 1 Composição/kg de produto: Vit. A: 12.000.000 U.I., Vit D 3: 3.600.000 U.I., Vit. E: 3.500 U.I., Vit B 1 : 2.500 mg, Vit B 2 : 8.000 mg, Vit B 6: 5.000 mg, Ácido pantotênico: 12.000 mg, Biotina: 200 mg, Vit. K: 3.000 mg, Ácido fólico: 1.500mg, Ácido nicotínico: 40.000 mg, Vit. B 12 : 20.000 mg, Selênio: 150 mg, Veículo q.s.p.: 1.000 g; 2 Composição/kg de produto: Mn: 160 g, Fe: 100 g, Zn: 100 g, Cu: 20 g, Co: 2 g, I: 2 g, Veículo q.s.p.: 1000 g; 3 Butil-hidróxi-tolueno, BHT (99%). 4 areia. T1-100% de calcário, utilizado como a principal fonte de cálcio. T2-50% de calcário + 50% de casca de ovo. T3-100% de casca de ovo, utilizada como a principal fonte de cálcio. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12 110 REIS, de R.S. et al. componentes dos ovos. Os ovos selecionados de cada repetição e de cada dia foram pesados individualmente em balança com precisão de 0,001 g. Após as pesagens, os mesmos foram identificados e, posteriormente, quebrados. A gema de cada ovo foi pesada e a respectiva casca lavada e seca ao ar, para posterior obtenção de seu peso. O peso do albúmen foi obtido pela diferença entre o peso do ovo e o peso da gema mais o peso da casca. O peso médio dos ovos foi multiplicado pelo número total de ovos produzidos no período, obtendo-se a massa total de ovos por período. Esta massa total de ovos foi dividida pelo número total de aves do período e também pelo número de dias do período, sendo finalmente expressa em gramas de ovo/ave/dia. Foram avaliadas a conversão por dúzia de ovos, expressa pelo consumo total de ração em quilogramas dividido pela dúzia de ovos produzidos (kg/dz), e a conversão por massa de ovos, que foi obtida pelo consumo de ração em quilogramas dividido pela massa de ovos produzida em quilogramas (kg/kg). Ao final do experimento, 36 aves (duas por unidade experimental) foram abatidas por deslocamento cervical para retirada da tíbia para determinação do conteúdo de fósforo e cálcio. Os ossos foram identificados por tratamento e repetição e, depois, foram prédesengordurados, mantidos em estufa de ventilação forçada por 72 horas e triturados em moinho de bola. A solução mineral foi preparada conforme metodologia descrita por Silva (1998), utilizando-se os procedimentos da via úmida. Da solução mineral determinaram-se os teores de fósforo, pelo método colorimétrico, e de cálcio, pelo método de absorção atômica. Os parâmetros foram submetidos a análises estatísticas utilizando-se o programa SAEG (2007) e, no caso de efeito significativo, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Student Newman Keuls (SNK) ao nível de 5% de probabilidade. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As temperaturas máxima, mínima e de bulbo seco e a umidade relativa do ar, verificadas diariamente durante o período experimental são apresentadas na Tabela 2. Na fase adulta a faixa de conforto térmico das codornas está compreendida entre 18 e 22ºC e a umidade relativa do entre 65 e 70% (Oliveira, 2007). Dessa forma, conforme os valores registrados para o termômetro de bulbo seco é possível observar que, em parte do período experimental, as codornas ficaram em ligeiras condições de estresse por calor. Os resultados referentes ao desempenho e à qualidade dos ovos das codornas japonesas alimentadas com dietas contendo diferentes níveis de substituição do calcário por casca de ovo encontram-se na Tabela 3. Verificou-se efeito significativo (P<0,05) da substituição de calcário por farinha de casca de ovo na dieta para a produção de ovos e produção de ovos comercializáveis, podendo ser observado que a inclusão de até 50% de farinha de casca de ovo na ração de codornas japonesas em postura não prejudica o desempenho produtivo dessas aves. Esses resultados discordam dos encontrados por Reis et al. (2008), que, ao trabalharem com codornas no início da fase produtiva, não verificaram efeito da substituição do calcário por farinha de casca de ovo sobre esses parâmetros. Os autores recomendam a inclusão de até 100% de farinha de casca de ovo na ração de codornas no início da fase de produção. Em contrapartida, trabalhando com galinhas poedeiras, Arvat & Hinners (1973) testaram o uso de cascas de ovos secas, calcário e farinha de ostras como fonte de cálcio, e não observaram diferenças significativas entre as fontes de cálcio para qualidade dos ovos e percentual de postura, mas houve diferença entre as fontes de cálcio para período de produção das aves. Sim et al. (1983) incorporaram farinha de casca de ovos nos níveis de 0; 1,75; 3,5 e 7,0% em substituição ao calcário na dieta de galinhas poedeiras de diferentes idades, 27 a 51 semanas e 67 a 91 semanas. Os autores avaliaram a produção de ovos, consumo alimentar, conversão alimentar e qualidade do ovo, e não observaram diferença (P>0,05) em nenhum dos parâmetros analisados entre os animais dos tratamentos e o grupo controle, para poedeiras de 27 a 51 semanas de idade. Em contraste, os tratamentos com poedeiras de 67 a 91 semanas tiveram aumento na produção de ovos e melhora na utilização alimentar. Estes parâmetros foram significativamente melhores quando o calcário foi completamente substituído por farinha de casca de ovo. Também foi observado um aumento progressivo na produção de ovos com o aumento gradual de resíduos na dieta. Os resultados encontrados por esses autores indicam que resíduos de casca de ovos para poedeiras no período de 27 a 51 semanas têm efeitos iguais ao Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12 Substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta de codornas japonesas no período... 111 Tabela 2 - Valores de temperatura e umidade relativa do ar (UR), registradas no galpão experimental Horá rio 08: 00 16: 00 Temperatura do ar (ºC) UR (%) Máxima Mínima Bulbo seco 27,1± 2, 5 18,3± 3, 6 27,6± 1, 7 26,2± 1, 9 79,3 ± 5, 2 66,2 ± 8, 7 Tabela 3 - Desempenho e qualidade dos ovos das codornas japonesas Pa râ me tr os 5 Níveis de substituição do calcário por farinha de casca de ovo na dieta Consumo de ração (g) ns Ovos /dia (%) * Ovos comercializáveis (%) * Peso dos ovos (g) ns Massa de ovos (g/ave/dia) ns Conversão alimentar (kg/kg) ns Conversão alimentar (kg/dúzia) Gravidade específica (g/cm 3) ns Peso da gema (g) ns Gema (%) ns Peso do albúmen (g) ns Albúmen (%) ns Peso da casca (g) ns Casca (%) ns Cálcio no osso (%) ns Fósforo no osso (%) ns ns T1 26 , 3 0 89, 36a 84, 26a 11 , 8 4 9,71 2,49 0,35 1, 07 3 3,47 29 , 2 6 7,47 62 , 9 0 0,93 7,84 17 , 0 0 11 , 0 7 T2 26 , 2 0 87,30a b 79,81a b 11 , 7 1 9,52 2,57 0,36 1, 07 2 3,43 29 , 2 6 7,38 62 , 8 7 0,92 7,87 16 , 9 3 10 , 8 4 T3 25 , 6 7 82,32b 74,69b 11 , 7 0 9,35 2,67 0,37 1, 07 1 3,50 30 , 0 2 7,27 62 , 1 6 0,91 7,81 17 , 2 5 10 , 9 0 CV (%)¹ 3,27 4,97 7,16 3,29 10 , 3 9 5,38 6,35 0,12 2,44 2,43 3,20 1,30 3,53 3,13 13 , 0 6 19 , 2 4 1 CV= coeficiente de variação, 2 ns = Efeito não significativo, P>0,05. T1-100% de calcário, utilizado como a principal fonte de cálcio. T2-50% de calcário + 50% de casca de ovo. T3-100% de casca de ovo, utilizado como a principal fonte de cálcio. calcário. Em contrapartida, para poedeiras de 67 a 91 semanas há uma melhora na eficiência alimentar e na produção de ovos quando comparada com a dieta controle; de acordo com os autores, este fato pode ser atribuído possivelmente por serem os resíduos de casca de ovo mais facilmente digeridos e absorvidos do que o calcário. Não houve efeito significativo (P>0,05) da substituição de calcário por farinha de casca de ovo sobre a porcentagem de cálcio e de fósforo nos ossos das aves, o que permite inferir que o nível e a fonte de cálcio utilizados foram eficientes em manter a integridade óssea das codornas. Apesar de não ter sido detectada diferença significativa para a qualidade externa dos ovos, avaliada pela gravidade específica e porcentagem de casca, a partir dos resultados de produção de ovos e produção de ovos comercializáveis, pode-se inferir que a inclusão de 100% de farinha de casca de ovo na dieta pode levar à pequena redução no desempenho das codornas japonesas no terço final da fase de produção. 4. CONCLUSÃO A substituição de até 50% do calcário calcítico por farinha de casca de ovo na dieta mantém o desempenho e qualidade dos ovos de codornas japonesas de 40 a 52 semanas de idade. 5. AGRADECIMENTOS À FAPEMIG e ao CNPq, pelo apoio e incentivo à pesquisa. À Granja Loureiro (Perdões - MG), pela doação das cascas de ovo de codorna. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12 112 REIS, de R.S. et al. 6. LITERATURA CITADA ARVAT, V.; HINNERS, S.W. Evaluation of egg shells as a low cost calcium source for laying hens. Poultry Science, v.52, p.1996, 1973. MOURA, G.S.; BARRETO, S.L.T.; DONZELE, J.L. et al. Dietas de diferentes densidades energéticas mantendo constante a relação energia metabolizável: nutrientes para codornas japonesas em postura. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.1628-1633, 2008. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of poultry. Washington: National Academy of Sciences, 1994.155p. OLIVEIRA, B.L. Manejo em granjas automatizadas de codornas de postura comercial. IN: III SIMPOSIO INTERNACIONAL e II CONGRESSO BRASILEIRO DE COTURNICULTURA, Lavras. Anais... Lavras, 2007. p.11-16. PINHEIRO, S.R.; BARRETO, S.L.T.; ALBINO, L.F.T. et al. Efeito dos níveis de triptofano digestível em dietas para codornas japonesas em postura. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.1012-1016, 2008. REIS, R.S.; BARRETO, S.L.T.; PAULA, E. et al. Substituição do calcário por casca de ovo de codorna em dietas de codornas japonesas no início da fase de produção. 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Sistema para análises estatísticas – SAEG. Versão 9.1. Viçosa: Fundação Arthur Bernardes, 2007. 142p. VANDERPOPULIERE, J.M.; WALTON, H.V.; COTTERILL, O.J. Nutritional evaluation of egg shell meal. Poultry Science, v.54, p.131-135, 1975. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.107 -11 2, Julho, 20 12 Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas... 113 CASCA E COCO DE MACAÚBA ADICIONADOS AO CONCENTRADO PARA VACAS MESTIÇAS LACTANTES EM DIETAS À BASE DE SILAGEM DE MILHO 1 Hugo Freitas Sobreira2, Rogério de Paula Lana 2*, Antônio Bento Mancio2, Dilermando Miranda da Fonseca2, Sérgio Yoshimitsu Motoike3, José Carlos Peixoto Modesto da Silva 2, Geicimara Guimarães4 RESUMO – A possibilidade de uso dos resíduos gerados na produção de biodiesel pode ser uma ajuda valiosa na alimentação dos ruminantes, já que a quantidade de resíduos é grande; deste modo, a destinação final deve ocorrer de forma apropriada. Foi testada a viabilidade do uso da casca do coco e do coco triturado na alimentação animal, substituindo a ração constituída de milho e farelo de soja em 0, 0,4; 0,8 e 1,2 kg de um total de 2,5 kg/vaca/dia. O concentrado foi fornecido às vacas leiteiras no momento da ordenha, realizada duas vezes ao dia, e a silagem, uma vez, pela manhã. Oito vacas mestiças Holandês-Gir foram utilizadas, sendo distribuídas em dois quadrados latinos 4 x 4, com média de 11 kg de leite/dia. As análises químicas do leite foram feitas na Embrapa Gado de Leite em Juiz de Fora - MG. Foram realizadas pesagens da produção de leite e dos animais a cada término de período de 10 dias. Foi feita análise das variáveis em delineamento quadrado latino. O modelo estatístico incluiu efeitos de tratamento (níveis de substituição), quadrado latino (QL), animal/QL e período/ QL à 5% de probabilidade. Não foram verificadas diferenças na produção de leite. Os teores de lactose, extrato seco e extrato seco desengordurado apresentaram-se significativamente diferentes, porém a produção diária em kg/dia não. Assim a casca do coco e o coco de macaúba triturados podem ser utilizados em até 1,2 kg, de um total de 2,5 kg de concentrado/vaca/dia, sem afetar o desempenho de vacas mestiças produzindo aproximadamente 11 kg de leite/dia e recebendo silagem de milho como volumoso. Palavras-chave: Avaliação de alimentos, biodiesel, leite, subprodutos. BARK AND COCONUT OF MACAW PALM ADDED TO CONCENTRATE FOR CROSSBRED LACTATING COWS ON CORN SILAGE BASED DIET ABSTRACT – The possibility of use of waste generated in the production of biodiesel can be valuable in feeding ruminants, as the quantity of waste is great; Thus, the final disposal must be appropriately. It was tested the feasibility of using coco and coco bark residue replacing corn and soybean meal in the concentrate in 0, 0.4; 0.8 and 1.2 kg in a total of 2.5 kg/cow/day. The concentrate was given to dairy cows at milking time, twice a day, and the silage in the morning. Eight Hosltein-Gyr crossbred cows were used, being distributed in two 4 x 4 Latin squares, with an average of 11 kg of milk/day. The chemical analyses of milk were made in Embrapa Gado de Leite in Juiz de Fora-MG. Milk production and body weight were measured at the end of experimental period of 10 days. Analysis of variables was made in Latin square design. The statistical model included effects of treatment (replacement levels), Latin square (QL), animal/QL and period/QL at 5% probability. There was no difference in milk production. The levels of lactose, dry extract and degreased dried extract were significantly different, however the daily production in kg/day were not different. The bark and coconut of Macaw Palm can be used until 1.2 kg, out of a total of 2.5 kg of the concentrate/cow/day without affecting the performance of crossbred cows producing approximately 11 kg of milk per day in corn silage based diet. Key Words: Biodiesel, by-products, evaluation of food, milk . Projeto parcialmente financiado pela FAPEMIG/CNPq. Departamento de Zootecnia - UFV/Viçosa-MG. *Bolsista 1B do CNPq; [email protected] 3 Departamento de Fitotecnia - UFV/Viçosa-MG. 4 Graduanda de Gestão de Cooperativas - DER/UFV - Viçosa-MG. Bolsista ITI/CNPq. 1 2 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12 114 SOBREIRA, H.F. et al. 1. INTRODUÇÃO A pastagem é o principal componente de uma pecuária competitiva, ambiental, econômica e socialmente sustentável. No entanto, animais mantidos exclusivamente em pastagens não expressam todo o seu potencial. Atualmente têm surgido, em todo o mundo, movimentos sociais de proteção aos animais com o intuito de pressionar os produtores a respeitar o comportamento natural dos animais, incentivando um manejo menos intensivo. Neste contexto, os sistemas agrossilvipastoris proporcionam maior conforto aos animais, nestes sistemas a introdução de outra fonte produtiva, como uma espécie arbórea, permite maior conservação do solo e torna a propriedade mais competitiva, porém exige maior capacidade administrativa da propriedade. Trabalhos recentes de avaliação de desempenho animal e pastagem em sistemas silvipastoris com eucalipto evidenciam grande potencial destes sistemas, com melhoria da qualidade do pasto devido ao sombreamento não excessivo (Carvalho, 1998; Ribaski et al., 2003) e ganhos de peso dos animais com redução na temperatura (Varella, 1997; Silva & Saibro, 1998). Porém, insucessos com sistemas silvipastoris podem ocorrer em razão da pouca experiência da maioria dos pecuaristas na atividade florestal. Para estes existe a necessidade de se introduzir o conceito de produtor florestal, desenvolvendo e viabilizando tecnologias para se obter produtos de qualidade, diversificados e competitivos. É importante seguir um cronograma operacional, que constitui da escolha, limpeza e demarcação da área a ser plantada, combate a formigas cortadeiras, adubação etc. A Lei nº 19.485, de 13 de janeiro de 2011, aporta uma política de incentivo ao cultivo da macaúba em Minas Gerais e promete diminuir dificuldades como a falta de linhas de crédito para culturas que exigem alto investimento inicial e retorno em longo prazo. Miniusinas implantadas em bases associativistas e cooperacionais, formadas pelos próprios produtores de coco macaúba e possivelmente de leite da região, poderiam extrair o óleo e devolver os resíduos aos seus cooperados para que estes alimentem seus animais, em um sistema que cicla os nutrientes de forma mais sustentável. Os resíduos gerados com a cultura do coco de macaúba são de aproximadamente 14,5 t/ha/ano e tem grande potencial para aproveitamento. Na alimentação de ruminantes, seu elevado teor de lipídeos, mesmo após extração e/ou prensagem, deve ser avaliado quando incluído na ração de forma que promova a correta nutrição dos animais. A suplementação proporciona melhoria no desempenho animal, mas nem sempre a resposta é satisfatória, o que pode ser explicado pelo efeito associativo do suplemento ao consumo de forragem e energia disponível da dieta. Efeito associativo é a interação entre os componentes da dieta (Moore et al., 1999). A suplementação em ambientes tropicais é importante devido principalmente à seca que torna as forrageiras tropicais mais fibrosas, reduzindo sua qualidade mais rapidamente que as de regiões de clima temperado. Mesmo com grande disponibilidade de forragem pode haver limitação no consumo, pela maior dificuldade do animal em selecionar o alimento de melhor qualidade podendo resultar em queda na produção (Stobbs, 1973a,b). Na alimentação de ruminantes, o elevado teor de lipídeos da macaúba, mesmo após extração e/ou prensagem, deve ser avaliado, mas utilizando-se de baixas quantidades como foi o caso do presente estudo pouco altera a dieta dos animais. Avaliou-se a utilização da casca do coco e do coco (sem endocarpo) triturados em substituição simples (peso/ peso) do concentrado inicial como alternativa para a alimentação de vacas mestiças Holandês-Gir lactantes. 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada na fazenda Boa Vista, no distrito de Cachoeirinha, pertencente à Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa-MG, em sistema de confinamento na estação seca, no período de maio a julho de 2010. A cidade de Viçosa, localizada na região da Zona da Mata, estado de Minas Gerais, tem como coordenadas geográficas a posição 20o45’20" de latitude sul e 45o52’40" de longitude oeste de Greenwich e altitude de 651 metros. O clima é do tipo Cwa (mesotérmico), segundo a classificação de Köeppen, apresentando duas estações bem definidas, com verões quentes e úmidos e invernos frios e secos. A precipitação pluvial média é de 1.341,2 mm anuais. As médias de temperaturas máximas e mínimas são 26,1 e 14,0 oC, respectivamente (UFV, 1997). Foram utilizadas oito vacas mestiças HolandêsGir com produção média de 11 kg/dia de leite, dispostas em dois quadrados latinos 4x4 com quatro períodos. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12 Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas... Os animais receberam silagem de milho à vontade e 2,5 kg de concentrado ao dia. Os tratamentos consistiram de quatro níveis de casca (quadrado latino - QL1) e de polpa (QL2) de macaúba moídos (0; 0,4; 0,8; e 1,2 kg), completados para 2,5 kg/vaca/dia com ração concentrada à base de milho e farelo de soja, sendo fornecida em duas porções diárias, durante as ordenhas. As baixas suplementações têm sido usadas amplamente para adequar as dietas dos animais, em relação a nutrientes críticos escassos no sistema, com baixo investimento. Buscou-se não ultrapassar 40% de substituição, devido aos altos teores de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) e baixo teor de proteína bruta (PB), indicativos de limitação do uso. Os animais passaram por um período de adaptação com suplementação diferente da que seria usada no início dos testes 15 dias antes do experimento. A cada dia foram feitas pesagens das quantidades das dietas fornecidas e das sobras para cálculo do consumo de massa seca de suplemento em cada tratamento. Durante o período experimental, foram feitas amostragens das dietas e das sobras que foram acondicionadas em sacos plásticos e congeladas para posteriores análises. A cada 10 dias, era feita amostragem da silagem, da ração concentrada e das fezes em sacos plásticos para análises, seguindose a metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). Os animais receberam os suplementos (rações) duas vezes ao dia, durante as ordenhas da 7:00 e 16:00 horas. Foi fornecida diariamente uma mistura mineral no cocho. Os animais estiveram confinados em baias individuais. O peso de cada animal foi obtido pela média dos pesos ao início e final de cada período experimental. A produção de leite foi avaliada no 8º, 9º e 10º dias de cada período experimental que se constituía de 10 dias. Amostras de leite foram coletadas durante o último dia de cada período, compostas por animal e acondicionadas em frascos plásticos com conservante. Posteriormente, foram determinados os teores de proteína, gordura, lactose e extrato seco total do leite, segundo a metodologia descrita pelo International Dairy Federation (1996). Foi feita a análise das variáveis em delineamento quadrado latino. O modelo estatístico incluiu efeitos de resíduo (tipo de ração), quadrado latino (QL), animal/ QL e período/(QL) a 5% de probabilidade. As análises foram realizadas utilizando o procedimento GLM do 115 MINITAB (Ryan & Joiner, 1994), a 5% de probabilidade, conforme modelo: Yijklm = m + Fi + Nj + Qk + Al/Qk + P m /Qk + Eijklm em que Yijklm é a observação referente à i-ésima fonte, j-ésimo nível, k-ésimo quadrado latino, l-ésimo animal dentro de quadrado latino e m-ésimo período dentro de quadrado latino; m, média geral; Fi, efeito da fonte i = 1 e 2; Nj, efeito do nível j = 1, 2, 3 e 4; Qk, efeito do quadrado latino k = 1 e 2; Al/Qk, efeito do animal l dentro de quadrado latino k, l = 1, 2, 3, e 4; Pm /Qk, efeito do período m dentro de quadrado latino k, m = 1, 2, 3, e 4; e Eijklm, erro aleatório associado a cada observação. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As determinações de composição química, massa seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) da silagem e da ração concentrada foram feitas segundo métodos encontrados em Silva e Queiroz (2002), e estão apresentados na Tabela 1. Observa-se que valores de FDN de 66,3% e 44,8% para a casca e a polpa, respectivamente, são indicativos de limitação de seu uso em grandes quantidades, principalmente da casca (Tabela 1). No entanto, a grande quantidade produzida destes componentes por área propicia maior oferta de MS ao rebanho, possibilitando aumentar o número de cabeças. Por outro lado, o coco triturado apresentou características desejáveis, destacando-se o alto teor de extrato etéreo (21,5%) e razoável de proteína (9,79%). Não houve interação entre fonte de coproduto de macaúba e nível de inclusão e composição do leite para nenhuma das variáveis avaliadas (P>0,05). Os teores de gordura, proteína, lactose e extrato seco do leite não foram influenciados pelos níveis de substituição do concentrado (Tabela 2). Porém, entre as fontes de subprodutos da macaúba, tanto o teor de gordura quanto o de lactose, extrato seco total e extrato seco desengordurado foram maiores no tratamento com a utilização da casca, possivelmente devido ao efeito da concentração destes constituintes com ligeira redução na produção de leite, embora não significativa (P>0,05). Este resultado é confirmado ao se analisar a produção diária em kg/dia destes constituintes do leite. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12 116 SOBREIRA, H.F. et al. Tabela 1 - Composição dos ingredientes com base na massa seca, utilizados na alimentação das vacas Componentes 1(%) Silagem de milho Casca de coco macaúba Polpa de coco macaúba Concentr ado 33,4 7, 4 47 27,9 3, 8 88 3,02 66,3 42,3 2, 7 33,5 81,0 9,79 44,8 21,4 21,5 11,0 89,0 22,0 12,4 4, 0 - MS PB FDN FDA EE Lignina 1 MS = massa seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente neutro, FDA = fibra em detergente ácido e EE = extrato etéreo. Tabela 2 - Análise da produção e composição do leite e de seus constituintes em função dos tratamentos Fonte de macaúba Níveis de inclusão (kg/dia) Valor de P Item Casca Pol pa 0 0, 4 0, 8 1, 2 EP F L Q Leite, kg/d Gordura, % Proteína, % Lactose, % ES, % ESD, % Gordura, kg/d Proteína, kg/d Lactose, kg/d ES, kg/d ESD, kg/d 10,4 4,20 3,19 4,67 13,1 8,88 0,44 0,33 0,49 1,37 0,93 11,3 3,74 3,08 4,37 12,2 8,41 0,42 0,35 0,50 1,38 0,95 11,0 4,14 3,16 4,49 12,8 8,64 0,46 0,34 0,51 1,44 0,97 10,4 4,00 3,18 4,44 12,6 8,61 0,42 0,33 0,46 1,32 0,90 10,6 3,94 3,15 4,56 12,6 8,70 0,42 0,33 0,49 1,34 0,92 11,4 3,79 3,07 4,57 12,4 8,63 0,43 0,35 0,52 1,42 0,99 0, 62 3 0, 17 7 0, 06 8 0, 11 2 0, 22 1 1, 22 3 0, 03 7 0, 02 1 0, 03 6 0, 09 4 0, 06 2 0,24 0,04 0,46 0, 04 * 0, 01 * 0, 01 * 0,68 0,42 0,87 0,93 0,70 0,74 0,53 0,84 0,63 0,38 0,49 0,54 0,70 0,71 0,62 0,69 0,67 0,84 0,68 0,74 0,61 0,53 0,66 0,58 0,69 0,63 0,64 EP = erro padrão da média; F = fonte de macaúba, casca ou polpa do coco; L = efeito linear; Q = efeito quadrático; ES = extrato seco total; ESD = extrato seco desengordurado; *Estatisticamente significativo (P<0,05). Szpiz et al. (1989) afirmam que vários fatores relacionados com a colheita e armazenamento podem contribuir para que a composição dos frutos da macaúba seja variável. O fruto ao amadurecer se solta do cacho e cai no chão, a polpa pode ser atacada por microrganismos e sofrer deterioração, o que altera as relações de massa entre as partes do fruto. Outro fator é o tempo que decorre da colheita até sua chegada ao laboratório para análise, além das diferenças entre variedades e grau de maturação dos frutos. Na Tabela de Composição Química de Alimentos (Franco, 1992), estão registrados valores para a farinha da torta de polpa com 4,4% de proteína. aproximadamente 100 anos de idade, e consequentemente baixa taxa de replantio e revolvimento do solo. A macaúba pode devolver ao solo grande quantidade de resíduos na forma de alimentos para os animais, que os consomem tornando o sistema mais sustentável pela menor retirada de nutrientes do sistema. Ainda há vantagens da macaúba, como o fato de não ser atacada por saúvas, ter pouca sensibilidade ao fogo e boa tolerância à seca, citadas por Cargnin (2008), e até mesmo pouca exposição do solo já que as palmeiras têm uma enorme vida produtiva, CARVALHO, M.M. Arborização de pastagens cultivadas. Juiz de Fora: EMBRAPA - CNPGL, 1998. 37p. (EMBRAPA CNPGL. Documentos, 64). 4. CONCLUSÃO A casca do coco e o coco de macaúba triturados podem ser utilizados para substituir até 40% do concentrado em um total de 2,5 kg/vaca/dia, uma vez que não houve efeito sobre o desempenho de vacas mestiças lactantes produzindo em média 11 kg de leite/ dia e recebendo silagem de milho como volumoso. 5. LITERATURA CITADA IDF – INTERNATIONAL DAIRY FEDERATION. Whole milk determination of milkfat, protein and lactose content. Guide fir the operation of midinfra-red instuments. Bruxelas: 1996. 12p. (IDF Standard 141 B). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.113 -11 7, Julho, 20 12 Casca e coco de macaúba adicionada ao concentrado para vacas mestiças lactantes em dietas... MOORE, J.E.; BRANT, M.H.; KUNKLE, W.E. et al. Effects of supplementation on voluntary forage intake, diet digestibility, and animal performance. Journal of Animal Science, v.77, S.2, p.122-135, 1999. RAMOS, M.I.L.; RAMOS FILHO, M.M; HIANE, P.A. et al. Qualidade nutricional da polpa de bocaiúva (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd). Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28(supl), p. 1-5, 2008. 117 STOBBS, T.H. The effect of plant structure on the intake of tropical pastures. I.Variation in the bite size of grazing cattle. Australian Journal of Agricultural Research, v.24, p. 809-19. 1973a. STOBBS, T.H. The effect of plant structure on the intake of tropical pastures. II. 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NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO DE COLINA NA DIETA DE CODORNAS JAPONESAS EM POSTURA Renata de Souza Reis¹, Sérgio Luiz de Toledo Barreto¹, Eriane de Paula¹, Jorge Cunha Lima Muniz¹, Gabriel da Silva Viana¹, Raquel Mencalha¹,Lívia Maria dos Reis Barbosa¹ RESUMO – Objetivou-se avaliar diferentes níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura. Foram utilizadas 224 codornas da subespécie japonesa (Coturnix coturnix japonica) com 155 dias de idade. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualisado com quatro tratamentos, sete repetições e oito aves por unidade experimental. Os tratamentos consistiram de níveis de inclusão de colina por kg de ração (0; 500; 1000 e 1500 mg/kg). Os parâmetros estudados foram: consumo de ração, produção de ovos, peso do ovo, massa de ovos, conversão alimentar por massa de ovos, conversão alimentar por dúzia de ovos, produção de ovos comercializáveis, porcentagem e peso dos componentes dos ovos (gema, albúmen e casca) e gravidade específica. Não foi observada diferença significativa para nenhum parâmetro estudado. Não há necessidade de inclusão de colina na dieta de codornas japonesas em postura quando essas forem alimentadas com dietas contendo a relação de metionina mais cistina com lisina de 84%. Palavras-chave: Coturnix coturnix japonica, desempenho, metionina, qualidade de ovo, vitamina LEVELS OF CHOLINE SUPPLEMENTATION IN THE DIET OF LAYING JAPANESE QUAILS ABSTRACT – The objective was to evaluate different levels of supplementation of choline in the diet of laying Japanese quails in lay. It was used 224 female subspecies Japanese quail (Coturnix coturnix japonica) with 155 days of age, in the randomized experimental design with four treatments and seven replicates and eight birds per experimental unit. The treatments consisted of inclusion levels of choline per kg diet (0; 500; 1,000 and 1,500mg/kg). The parameters studied were: feed intake, egg production, egg weight, egg mass, feed conversion by egg mass, feed conversion per dozen eggs, egg production marketable, percentage and weight of the eggs (yolk, albumen and shell) and specific gravity. There was no significant difference for any parameter studied. It was concluded that there is no need for the inclusion of choline in the diet of laying Japanese quails when they are fed diets containing a ratio of 84% methionine plus cystine to lysine. Key Words: Coturnix coturnix japonica, egg quality, methionine, performance, vitamin. 1. INTRODUÇÃO Na criação comercial de codornas, a otimização da produção de ovos depende de muitos fatores, entre os quais se destacam a nutrição e o manejo alimentar das aves. Na área nutricional, maior número de trabalhos foi realizado para estimar as exigências de proteína, aminoácidos, energia, cálcio e fósforo, mas poucos trabalhos enfatizam as exigências de vitaminas. As 1 recomendações de uso de vitaminas nas rações são baseadas em estudos de outros países, que nem sempre condizem com a realidade de criação no Brasil. Assim, torna-se relevante o estudo das exigências de vitaminas para codornas. A colina é classificada como uma vitamina do complexo B, no entanto existem controvérsias entre os nutricionistas quanto à classificação da colina como Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Zootecnia, s/n- Campus Universitário, Viçosa - MG. [email protected] Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12 Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura uma vitamina (Andriguetto, 1990). Diferentemente das outras vitaminas do complexo B, a colina pode ser sintetizada no organismo dos animais, em nível hepático, é exigida em grandes quantidades pelos animais e não participa da formação de coenzimas. Encontrada tanto em células animais quanto vegetais, a colina pode se apresentar de três formas: colina livre; acetilcolina; ou lecitina em fosfolipídios. As funções básicas da colina no metabolismo animal são: componente essencial da acetilcolina, um neurotransmissor do qual a colina é precursora, fosfatidilcolina, que é um elemento estrutural da membrana celular, na transmissão do impulso nervoso e também na utilização de lipídeos; é precursora da betaína, um doador de grupos metil para as reações de metilação e formação de metionina (Bertechini, 2006). Diversos fatores dietéticos, como a metionina, podem fornecer grupos metílicos para a formação da colina. A betaína, a folacina e a vitamina B 12 ou a combinação de diferentes níveis e composição de gordura, carboidrato e proteína na dieta, como também a idade, sexo, consumo calórico e a taxa de crescimento do animal, podem influenciar a ação lipotrópica da colina e consequentemente, a exigência desta vitamina (McDowell, 2000). Estudos realizados por Welch e Couch em 1955, citados por McDowell (2000), demonstram que a suplementação de vitamina B12 e/ou folacina reduz a exigência de colina em ratos e pintos. Da mesma forma, dietas com excesso de metionina atendem às exigências de colina. Ao contrário, um aumento na exigência em colina tem sido observado nas condições de deficiência de folacina e/ou vitamina B12. Objetivou-se avaliar diferentes níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, MG, com duração de 63 dias, no período de janeiro a março de 2009. Foram utilizadas 224 codornas japonesas com 155 dias de idade, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, constituído por quatro tratamentos, sete repetições e oito aves por unidade experimental. 119 Os tratamentos consistiram de níveis de suplementação de colina, na forma de cloreto de colina (60,0%) por kg de ração (0; 500; 1000 e 1500 mg/kg), sendo a ração (Tabela 1) formulada à base de milho e farelo de soja, contendo 19,3% de PB e 2.800 kcal de EM/kg. Para atender às exigências em aminoácido digestível foram utilizadas como base as relações aminoácido digestível com lisina digestível preconizadas por Pinto et al. (2003), Umigi et al. (2008), Pinheiro et al. (2008) e Reis et al. (2011) para lisina (1,12%), treonina (55%), triptofano (21%) e metionina mais cistina (84%), respectivamente, devido à escassez de tabelas de exigências nutricionais, realizadas em condições brasileiras, para esta espécie até o momento da realização deste experimento. As demais relações de aminoácidos, como ainda não estão determinadas na base digestível, foram atendidas mantendo-se a relação aminoácido total com lisina total, conforme preconizado no NRC (1994). Os níveis de lisina, cálcio e fósforo foram corrigidos pela densidade energética da ração, de acordo com Moura et al. (2008). As demais exigências foram atendidas de acordo com aquelas descritas no NRC (1994). A composição e os valores nutricionais dos ingredientes utilizados para a formulação da dieta foram calculados valendo-se de Rostagno et al. (2005). As aves foram alojadas em gaiolas de arame galvanizado, equipada com comedouro tipo calha e bebedouro do tipo nipple com copinho, sendo que cada gaiola forneceu área de 106 cm2/ave. A ração e a água foram fornecidas à vontade durante todo o período experimental. O programa de iluminação adotado consistiu num fotoperíodo natural aliado a iluminação artificial perfazendo 16 horas. Durante a realização do experimento, foram observados e avaliados os seguintes parâmetros: consumo de ração (g/ave/dia), produção de ovos por ave dia (%), produção de ovos por ave alojada (%), peso do ovo (g), massa de ovos (g/ave/dia), conversão alimentar por massa de ovos (kg de ração/kg de ovos), conversão alimentar por dúzia de ovos (kg de ração/ dz de ovos), produção de ovos comercializáveis (%), gravidade específica (g/cm 3), porcentagem dos componentes dos ovos (gema, albúmen e casca), variação do peso corporal e viabilidade das aves. A cada 21 dias foi avaliada a quantidade de ração consumida em função do número de aves, sendo Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12 120 REIS, de R.S. et al. Tabela 1 - Composições percentuais e calculadas das dietas experimentais, na matéria natural Níveis de suplementação de colina Ingredientes 0 500 1000 1500 Milho moído Farelo de soja (45%) Óleo de soja Calcário Fosfato bicálcico Sal DL- Metionina (99%) L- Lisina HCL (79%) Cloreto de colina (60%) Suplemento vitamínico 1 Suplemento mineral 2 Antioxidante ³ Inerte 4 57,209 32,159 1, 59 6 6, 62 9 1, 06 1 0, 32 0 0, 36 8 0, 17 7 0, 00 0 0, 10 0 0, 05 0 0, 01 0 0, 32 0 57,209 32,159 1, 59 6 6, 62 9 1, 06 1 0, 32 0 0, 36 8 0, 17 7 0, 09 6 0, 10 0 0, 05 0 0, 01 0 0, 22 4 57,209 32,159 1, 59 6 6, 62 9 1, 06 1 0, 32 0 0, 36 8 0, 17 7 0, 19 2 0, 10 0 0, 05 0 0, 01 0 0, 12 8 57,209 32,159 1, 59 6 6, 62 9 1, 06 1 0, 32 0 0, 36 8 0, 17 7 0, 29 0 0, 10 0 0, 05 0 0, 01 0 0, 03 0 Tot a l 1 0 0, 0 0 1 0 0, 0 0 1 0 0, 0 0 1 0 0, 0 0 2. 80 0 19 , 9 3 1,08 0, 91 0 2, 90 0 0, 30 0 0, 14 5 0, 00 0 2. 80 0 19 , 9 3 1,08 0, 91 0 2, 90 0 0, 30 0 0, 14 5 500 2. 80 0 19 , 9 3 1,08 0, 91 0 2, 90 0 0, 30 0 0, 14 5 1000 2. 80 0 19 , 9 3 1,08 0, 91 0 2, 90 0 0, 30 0 0, 14 5 1500 Composição calculada Energia metabolizável (kcal/kg) Proteína bruta (%) Lisina digestível (%) Metionina+cistina dig. (%) Cálcio (%) Fósforo disponível (%) Sódio (%) Colina (mg/kg) 1 Composição/kg de produto: Vit. A: 12.000.000 U.I., Vit D 3: 3.600.000 U.I., Vit. E: 3.500 U.I., Vit B 1 : 2.500 mg, Vit B 2 : 8.000 mg, Vit B 6: 5.000 mg, Ácido pantotênico: 12.000 mg, Biotina: 200 mg, Vit. K: 3.000 mg, Ácido fólico: 1.500mg, Ácido nicotínico: 40.000 mg, Vit. B 12 : 20.000 mg, Selênio: 150 mg, Veículo q.s.p.: 1.000g; 2 Composição/kg de produto: Mn: 160g, Fe: 100g, Zn: 100g, Cu: 20g, Co: 2g, I: 2g, Veículo q.s.p.: 1000 g; 3 Butil-hidróxi-tolueno, BHT (99%). 4 Areia lavada. expresso em gramas de ração consumida por ave/dia. No caso de morte de aves durante o período experimental, procedeu-se à correção do consumo de ração (CR), obtendo-se o consumo médio verdadeiro para a unidade experimental em questão. Para o CR, as sobras foram pesadas e descontadas da quantidade de ração pesada para todo o período. Os ovos foram coletados diariamente às 8 horas. A produção média de ovos no período foi obtida registrando-se diariamente o número de ovos produzidos, inclusive os quebrados, os trincados e os anormais, e foi expressa em porcentagem sobre a média de aves do período (ovo/ave/dia) e sobre a média de aves alojadas no início do experimento (ovo/ave alojada). Também foi calculado o número médio de ovos comercializáveis (expresso em porcentagem) durante o período experimental, descontando-se os quebrados, os trincados e os anormais do total de ovos. Todos os ovos íntegros produzidos durante o 19o, 20o, 21o, 40o, 41o, 42o, 61o, 62 o e 63o dias experimentais, em cada repetição, foram pesados em balança de precisão de 0,001 g e o peso total obtido foi dividido pelo número de ovos utilizados na pesagem, obtendo-se o peso médio dos ovos. O peso médio dos ovos foi multiplicado pelo número total de ovos produzidos no período experimental, obtendo-se assim a massa total de ovos. Esta massa total foi dividida pelo número total de aves por dia do período, sendo expressa em gramas de ovo por ave por dia (g ovo/ave/dia). Para avaliação dos componentes dos ovos foram analisados os pesos da gema, do albúmen e da casca em relação ao peso do ovo, durante o 19 o, 20 o, 21 o, 40o, 41o, 42o, 61o, 62o e 63o dias experimentais. Para isso, em cada dia, foram utilizados aleatoriamente quatro ovos de cada unidade experimental. Os ovos foram pesados Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12 121 Níveis de suplementação de colina na dieta de codornas japonesas em postura individualmente em balança com precisão de 0,001 g. A gema de cada ovo foi pesada e registrada, e a respectiva casca foi lavada e seca ao ar, para obtenção do peso da casca. O peso do albúmen foi obtido subtraindose, do peso do ovo, o peso da gema e o da casca. Foram avaliadas as conversões alimentares por dúzia de ovos, expressas pelo consumo total de ração em quilogramas dividido pela dúzia de ovos produzidos (kg/dz), e por massa de ovos, que foi obtida pelo consumo de ração em quilogramas dividido pela massa de ovos produzida em quilogramas (kg/kg). No 16o, 17o, 18o, 37o, 38o, 39o, 58o, 59o e 60o dias do período experimental, foi avaliada a gravidade específica de todos os ovos íntegros coletados. Os ovos foram imersos em soluções salinas (água + NaCl) com densidade variando de 1,055 a 1,100 g/cm3, com intervalos de 0,005 g/cm3 entre elas. A densidade de cada solução foi aferida com o auxílio de um densímetro. Os parâmetros foram submetidos a análises de variância e regressão, de acordo com o programa Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (UFV, 2007). As estimativas para a determinação do melhor nível de suplementação de colina foi por meio de análise de regressão linear e quadrática, conforme o melhor ajustamento obtido para cada parâmetro, considerandose o comportamento biológico das aves. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores registrados para temperatura média e umidade relativa do ar se encontram na Tabela 2. Na fase adulta, a faixa de conforto térmico ou zona termoneutra das codornas está compreendida entre 18 e 22°C, e a umidade relativa do ar está entre 65 e 70% (Oliveira, 2007). Observou-se que durante o experimento as codornas ficaram submetidas a períodos de estresse moderado por calor. Os resultados referentes ao desempenho e à qualidade dos ovos das codornas japonesas alimentadas com dietas contendo diferentes níveis de suplementação de colina na dieta encontram-se na Tabela 3. Tabela 2 - Valores de temperatura e umidade relativa do ar (UR), registradas no galpão experimental Horá rio 08: 00 16: 00 Temperatura do ar (ºC) Máxima Mínima Bulbo seco 27,1± 2, 5 18,3± 3, 6 27,6± 1, 7 26,2± 1, 9 UR (%) 79,3 ± 5, 2 66,2 ± 8, 7 Tabela 3 - Desempenho e qualidade dos ovos das codornas japonesas Níveis de suplementação de colina (mg/kg de ração) Pa râ met ros* Consumo de ração (g) Ovos/dia (%) Ovos/ave alojada (%) Ovos comercializáveis (%) Peso dos ovos (g) Massa de ovos (g/ave/dia) Conversão alimentar (kg/kg) Conversão alimentar (kg/dúzia) Gravidade específica (g/cm 3) Peso da gema (g) Gema (%) Peso do albúmen (g) Albúmen (%) Peso da casca (g) Casca (%) 1 CV= coeficiente de variação, * 0 500 1000 1500 CV(%)¹ 26 , 2 5 90 , 7 2 86 , 2 9 87 , 1 2 11 , 6 8 10 , 6 0 2,48 0, 34 8 1, 07 4 3,41 29 , 1 8 7,33 62 , 7 1 0, 94 7 8,11 25 , 3 5 90 , 2 7 88 , 4 3 87 , 9 5 11 , 5 8 10 , 4 5 2,43 0, 33 9 11,073 3,50 29 , 6 0 7,36 62 , 3 4 0, 95 2 8,08 25 , 9 1 91 , 0 0 85 , 6 0 89 , 4 5 11 , 5 0 10 , 4 7 2,48 0, 34 2 1, 07 4 3,53 29 , 9 3 7,29 61 , 9 0 0, 96 1 8,17 25 , 7 7 92 , 0 5 90 , 3 1 90 , 6 4 11 , 7 9 10 , 8 5 2,37 0, 33 6 1, 07 3 3,49 29 , 5 3 7,52 62 , 4 1 0, 97 1 8,07 3,58 5,54 9,26 7,46 2,35 5,71 5,47 5,86 0,15 2,64 2,24 3,29 1,16 2,80 2,51 = Efeito não significativo (P>0,05). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12 122 Foi verificado efeito não significativo (P>0,05) para todos os parâmetros estudados. O aumento n os ní ve is de su pl em e nt a çã o de co lin a nã o influenciou o desempenho e a qualidade dos ovos de codornas japonesas, mostrando que na relação de metionina mais cistina com lisina utilizada não é necessária a suplementação de colina na dieta de ssas a ve s. Resultado semelhante foi encontrado por Teixeira et al. (2008), que estudaram níveis de inclusão de colina (0; 200; 400 e 600 ppm) em fatorial com níveis de metionina (0,65 e 0,75%). Os autores comprovaram que somente em níveis mais baixos de metionina (0,65%) na dieta se faz necessária a suplementação de colina para codornas japonesas em postura. Vasconcelos et al. (2010), estudando os efeitos da suplementação de colina para galinhas poedeiras de uma a 44 semanas de idade, verificaram que o nível de inclusão de colina na fase de recria influencia a produção de ovos e a porcentagem de casca sem influen ciar nos demais parâm etros, entretanto não foi possível aos autores determinar o melhor nível de suplementação de colina devido à resposta linear crescente encontrada. Segundo McDowell (2000), para aves em postura, a colina pode ser sintetizada em quantidade suficiente para a normal produção de ovos. No caso de codornas, o NRC (1994) sugere que a colina seja suplementada para a manutenção do tamanho dos ovos. Da mesma forma, as exigências em colina para o crescimento desses animais são maiores do que aquelas para frangos de corte e aves de postura, sendo neste estudo avaliado somente parte do período de produção das codornas, devendo ser realizado posterior estudo verificando a suplementação de colina na fase de recria e seu reflexo na fase de produção. A exigência de colina para aves diminui com a idade e geralmente não se observa deficiência para animais com mais de oito semanas de idade. Isso se deve à capacidade da ave, com o avançar da idade, d e r e a l iz a r a m e til a ç ão d o a m i noe t a nol a metilaminoetanol para a biossíntese de colina. No caso de poedeiras, o fornecimento de dieta sem colina após oito semanas de idade permite que essas aves consigam sintetizar toda colina requerida para a máxima produção de ovos. Os sinais da deficiência de colina são a redução da produção de ovos e o aumento REIS, de R.S. et al. de gordura no fígado. Contudo, o teor de colina nos ovos não é afetado pelo nível de colina na dieta (McDowell, 2000). 4. CONCLUSÕES Não há necessidade de inclusão de colina na dieta de codornas japonesas em postura quando essas forem alimentadas com dietas contendo a relação de metionina mais cistina digestível com lisina digestível de 84%. 5. LITERATURA CITADA ANDRIGUETTO, J.M. et al. Nutrição Animal. São Paulo. Nobel. 1990. BERTECHINI, A.G. Nutrição de Monogástricos. Lavras. UFLA. 2006. McDOWEL, L.R. Vitamin in animal and human nutrition. 2.ed. Iowa State University Press. 2000. MOURA, G.S.; BARRETO, S.L.T.; DONZELE, J.L. Dietas de diferentes densidades energéticas mantendo constante a relação energia metabolizável: nutrientes para codornas japonesas em postura. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.9, p.1628-1633, 2008. NATIONAL RESERCH COUNCIL. Nutrient requirements of poultry. Washington: National Academy of Sciences, 9.ed. 1994. 155p. OLIVEIRA, B.L. 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Efeitos dos níveis de suplementação de colina para poedeiras comerciais de uma a 44 semanas de idade. In: VIII CONGRESSO APA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE OVOS, São Pedro, 2010. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.118 -123, Julho, 20 12 124 RODRIGUES, R.C. et al. PRODUÇÃO E MORFOFISIOLOGIA DO CAPIM BRACHIARIA BRIZANTHA CV. XARAÉS SOB DOSES DE NITROGÊNIO E FÓSFORO Rosane Cláudia Rodrigues 1, Daniel de Oliveira Souza Lima 2, Luciano da Silva Cabral3 , Luiz Pedro de Melo Plese 4, Walcylene Lacerda Matos Pereira Scaramuzza 5, Tereza Cristina Alves Utsonomya 6 , Jefferson Costa de Siqueira 1, Ana Paula Ribeiro de Jesus¹ RESUMO – Objetivou-se com este trabalho avaliar a produção e as características morfofisiológicas, produtivas e os teores de proteína bruta (PB) do Brachiaria brizantha cv. Xaraés, submetido a doses de nitrogênio e fósforo. O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação. Foram utilizadas quatro doses de nitrogênio (0, 75, 150 e 225 mg/dm3) e três doses de fósforo (0, 140 e 280 mg/dm³). As doses de N incrementaram a produção de massa seca da parte aérea e raízes e a densidade de perfilhos (DP) em todos os crescimentos das plantas, enquanto as doses de fósforo incrementaram a produção de massa seca no primeiro crescimento e aumentaram a densidade de perfilhos no primeiro e terceiro crescimentos. Já a interação entre doses de N e P só ocorreu no segundo corte na produção de massa seca da parte aérea. As doses combinadas de N e P influenciaram os teores de PB nas diversas categorias de folhas e nos colmos mais bainhas. Nenhum dos nutrientes empregados nem a interação entre eles foi significativo sobre a taxa fotossintética, condutância, concentração intercelular de CO 2 e transpiração e sobre a relação folha/colmo. Palavras-chave: Fertilidade, fotossíntese, nutrição de planta, parte aérea, perfilhamento. PRODUCTION AND MORPHOPHYSIOLOGY OF PALISADEGRASS BRACHIARIA BRIZANTHA CV. XARAÉS UNDER NITROGEN AND PHOSPHORUS FERTILIZATION ABSTRACT – The objective of this study was to evaluate the production and morphological and physiological characteristics, yield and crude protein (CP) concentration of Brachiaria brizantha cv. Xaraés submitted to nitrogen and phosphorus. The experiment was conducted in a greenhouse. Four levels of nitrogen (0, 75, 150 and 225 mg/dm 3) and three levels of phosphorus (0, 140 and 280 mg/dm³) were used. The N increased the dry weight of shoots and roots and the density tiller (DT) in all plant growth, while phosphorus levels increased the dry weight in the first growth and increased DT in the first and third harvests. The interaction of N and P occurred only in the second cut in production of shoot dry mass. The combined rates of N and P influenced the content of CP in the various categories of leaves and stem plus sheats. None of the nutrients employeed or their interaction was significant on the photosynthetic rate, conductance, intercellular CO 2 concentration and transpiration and the leaf/stem ratio. Key Words: Aerial part, fertility, nutrition of plant, photosynthesis, tillering. Professores Adjunto do Curso de Zootecnia do CCAA/UFMA. e-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Engenheiro Agrônomo, Cuiabá. E-mail: [email protected] Professor Adjunto do Curso de Zootecnia do DZER/UFMT. e-mail: [email protected] 4 Professor Adjunto UFAC. E-mail: [email protected] 5 Professor Adjunto do Curso de Agronomia/UFMT. e-mail: [email protected] 5 Professor Assistente UNEMAT. e-mail: [email protected] 1 2 3 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12 Produção e morfofisiologia do capim brachiaria brizantha cv. xaraés sob doses de nitrogênio... 1. INTRODUÇÃO A região centro-oeste, pela extensão de sua área territorial e pelas condições climáticas favoráveis, apresenta vasto potencial de produção de carne e leite em pastagens. Todavia, a maioria das pastagens nessa região encontra-se degradada ou em processo de degradação, devido ao fato de os solos de cerrado possuir uma baixa fertilidade natural e os mesmos serem historicamente explorados de maneira extrativista. Neste contexto, o conhecimento das características morfofisiológicas das gramíneas forrageiras é essencial para se estabelecerem procedimentos adequados de manejo que promovam a perenidade das pastagens. Vale ressaltar que existem diferenças entre espécies que devem ser consideradas (Martuscello et al., 2009). Assim, os estudos referentes ao comportamento fisiológico e produtivo das plantas forrageiras são extremamente importantes para a definição de estratégias de manejo, principalmente, quando se trata de novos cultivares, como o Xaraés. Por outro lado, a manutenção e a produtividade das plantas forrageiras podem ter sua eficiência maximizada pelo aumento do uso de fertilizantes. Nesse sentido, a adubação, especialmente a nitrogenada, é fundamental para o aumento da produção de biomassa. O aumento do teor de nitrogênio no solo por meio de fertilização é uma das formas de incrementar a produtividade nas pastagens, principalmente quando a forrageira responde à aplicação desse nutriente (Martuscello et al., 2005). Todavia, a eficiência de utilização do nitrogênio pela planta depende de vários fatores, dentre eles, fonte, forma e época de aplicação, dose e fracionamento do nitrogênio; condições edafoclimáticas; potencial de resposta da planta; presença e taxa de lotação animal; entre outros. Considerando-se que o fósforo desempenha importante papel no desenvolvimento do sistema radicular e no perfilhamento das gramíneas, a sua deficiência pode limitar a capacidade produtiva das plantas forrageiras e, consequentemente, das pastagens. Os níveis críticos de fósforo no solo variam entre espécies de plantas, como também entre solos (Carvalho et al., 1993; Fonseca et al., 2000; Mesquita et al., 2004: Mesquita et al., 2010). Nesse sentido, o conhecimento da resposta das plantas a doses de fósforo no solo torna-se de alta relevância, por permitir a recomendação dos nutrientes na dose adequada para o crescimento inicial das plantas, de acordo com seus requerimentos. 125 Partindo-se da hipótese que o N e o P são indispensáveis no estabelecimento e manutenção da produção de gramíneas forrageiras, objetivou-se neste trabalho determinar a influência das combinações desses nutrientes nas características fisiológicas, como: taxa fotossintética, condutância estomática, concentração intercelular de CO 2 e transpiração, durante a fase de estabelecimento e (massa seca total da parte aérea e raízes, densidade populacional de perfilhos e relação folha/colmo e teores de PB) rebrotação de Brachiaria brizantha cv. Xaraés. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação, pertencente ao Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso - FAMEV. A espécie utilizada foi a Brachiaria brizantha (Hochst ex A. Rich.) Stapf. cv. Xaraés que foi cultivada no período de agosto a novembro de 2006, com temperatura ambiente na casa de vegetação variando de 29 a 42o C. Foram estudadas quatro doses de nitrogênio (N), a saber: 0, 75, 150 e 225 mg/dm3 e três doses de fósforo (P): 0, 140 e 280 mg/dm³. A fonte de N utilizada foi a ureia, e a de P o superfosfato simples. As doses de N foram parceladas em três vezes, sendo a primeira dose após o corte de uniformização, a segunda após o primeiro corte e a terceira após o segundo corte. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com arranjo fatorial 4x3, com quatro repetições, perfazendo um total de 48 unidades experimentais. O solo utilizado no experimento foi coletado em Tangará da Serra, Médio Norte do estado de Mato Grosso. O solo da região onde foi coletada a terra é do tipo Latossolo Vermelho, distrófico, devido ao cultivo anterior de algodão, o mesmo apresentou elevada saturação por bases V%=73,29. As demais características químicas foram: pH (H2O)=6,3; pH (HCl)=5,9; H+Al=2,6 cmol/dm³;Al=0,0 cmol/dm³; Ca+Mg=6,7 cmol/dm³; Ca=4,8 cmol/dm³; Mg=1,9cmol/dm³; SB=7,12 cmol/dm³; TpH7,0=9,72 cmol/dm³; K=164,52 cmol/dm³ e P=2,01 cmol/dm³. Como características físicas, o mesmo apresentou 434 g/kg de areia, 71 g/kg de silte e 495 g/kg de argila. O solo utilizado no experimento foi coletado a uma profundidade de 0-20 cm, e depois seco, homogeneizado, Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12 126 peneirado, pesado, colocado em vasos de plásticos com capacidade para 6 kg. A semeadura foi realizada utilizando-se 30 sementes por vaso. Em seguida foi aplicado um terço da quantidade de fósforo preconizada para cada tratamento e o restante no corte de uniformização. A emergência das plântulas ocorreu cinco dias após o plantio em 21/08/2006. Posteriormente, foi realizado desbastes periódicos até permanecerem seis plantas por vaso. O critério utilizado foi a uniformidade de tamanho entre as mesmas. O controle hídrico foi realizado três vezes ao dia, através da pesagem dos vasos. Foram realizados três cortes na parte aérea das plantas, a intervalos regulares de 25 dias de crescimento. O critério adotado para o intervalo entre cortes foi a senescência da primeira folha produzida durante a rebrotação. Os cortes foram feitos a uma altura aproximada de dez centímetros do nível do solo para o primeiro e segundo cortes e rente ao solo para terceiro corte. Em cada corte coletou-se a parte aérea e procedeuse à separação das lâminas de folhas emergentes (LFE), lâminas de folhas recém-expandidas (LFRE), lâminas de folhas maduras (LFM) e colmos mais bainhas (CB), sendo a massa seca total o somatório dessas frações. As frações da parte aérea foram acondicionadas em sacos de papel e secas em estufa a 65 oC até atingir massa constante. Para determinação da relação folha: colmo, dividiu-se a massa seca das lâminas foliares pela massa seca dos colmos mais bainhas. Para a determinação da massa de forragem, somaram-se todos os componentes da parte aérea (LFE, LFRE, LFM e CB), após a secagem. Para as avaliações fisiológicas, foi utilizado um analisador portátil de gás infravermelho Li 6400 (Li Cor, Lincon, Nebraska EUA). Foram mensuradas a taxa fotossintética (mmol/m2/s1), condutância (mmol/m2/s1), concentração intercelular de CO 2 (mmol/mol 1) e transpiração (mmol/m2/s1). As leituras foram realizadas em todas as plantas de cada unidade experimental. Foram escolhidas as folhas mais novas com a lígula visível e as leituras foram efetuadas na parte mediana da folha sempre entre 9 e 12 horas. A avaliação do perfilhamento foi realizada no momento do corte contando-se o número de perfilhos por vaso de cada tratamento. A produção de massa seca de raízes foi avaliada no terceiro corte, ao término do experimento. As raízes RODRIGUES, R.C. et al. de cada unidade experimental foram colocadas sobre um jogo de peneiras com malhas decrescentes e lavadas com água corrente até se retirar todo o excesso de terra. Em seguida, as mesmas foram colocadas em estufa com circulação forçada de ar a 65 oC até atingir massa constante. Determinou-se o N-total por digestão sulfúrica, seguida de destilação pelo método volumétrico de Kjeldahl, conforme Silva & Queiroz (2002). Os valores médios da taxa fotossintética, condutância, concentração intercelular de CO 2 e transpiração, produção de massa seca, material morto, massa seca de raiz, densidade populacional de perfilhos, proteína bruta (PB) e relação folha/colmo foram submetidos à análise de variância e, nos casos de significância (P<0,05), procedeu-se o estudo de regressão. A regressão foi estudada comparando-se as doses de N x P, em cada idade de crescimento. Para se estimar a resposta aos níveis de adubação, a escolha dos modelos baseou-se na significância dos coeficientes linear e quadrático, por meio do teste “t”, de Student, ao nível de 5% de probabilidade. Empregou-se o procedimento “GLM” do software SAS 9.0 (Statistical Analyses System). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de variância para a taxa fotossintética, condutância estomática, concentração intercelular de CO2 e transpiração não revelou efeito (P>0,05) dos tratamentos estudados. Provavelmente, nessa fase de estabelecimento não houve tempo de haver diferenciação dos tratamentos em decorrência do N nativo do solo, repercutindo consequentemente na não diferenciação dos processos bioquímicos. Esses resultados diferiram dos encontrados por Pompeu et al. (2010), que avaliaram o capim-Aruana submetido a doses crescentes de nitrogênio (0, 125, 250 e 375 mg/dm³), e encontram efeito da adubação nitrogenada para a taxa fotossintética, condutância estomática, concentração intercelular de CO2 e transpiração, sendo que quanto maior a dose de N maior o valor, exceto para a concentração interna de CO2. Pela análise da variância, constatou-se efeito (P<0,05) das doses de N e P, interação N x P e apenas N, no primeiro, segundo e terceiro cortes, respectivamente, na produção de massa seca. No primeiro corte da gramínea, a resposta em termos de produção Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12 Produção e morfofisiologia do capim brachiaria brizantha cv. xaraés sob doses de nitrogênio... de massa seca ajustou-se ao modelo linear em função das doses de N aplicadas, ao passo que para as doses de P foi observado efeito quadrático, com máxima produção de 10,93 g/vaso de massa seca observada em 181 mg/dm³ de P (Figura 1). O desdobramento da interação N x P ocorrida no segundo corte revelou efeito do N dentro das doses de P, sendo o efeito linear para as doses 0 e 140 mg/dm³ e quadrático para a dose 280 mg/dm³, cuja maior produção ocorreu mediante a aplicação de 181 mg/dm³ de N. Um fato interessante que pode ser usado no manejo dessa cultivar é que, quando se utiliza doses entre 140 e 280 mg/dm³, a dose de N necessária para a máxima produção diminui (Figura 2), indicando que ocorre aumento da eficiência de uso do N pela planta nestas doses de P, ratificando mais uma vez a importância não só do nitrogênio para a manutenção e produtividade das gramíneas, mas também a adubação fosfatada, principalmente no estabelecimento. 127 No terceiro corte, apenas as doses de N influenciaram a produção de MS, cujo efeito foi quadrático com máxima ocorrendo em 200 mg/dm³ de N (Figura 3). O N influenciou sobre a produtividade do capimXaraés, nos três cortes. Já a adubação fosfatada influenciou sobre essa característica, apenas no primeiro e segundo cortes, o que evidencia a importância da aplicação de P, nesse tipo de solo para o estabelecimento desse cultivar. Mesquita et al. (2010), em trabalho com cultivares de Panicum (Mombaça e Tanzânia) e Brachiaria (Mulato) em um Latossolo Vermelho Eutroférrico, submetidas às doses de 0, 40, 80, 120 e 241 kg/ha de P2O5, observaram que as doses de P elevaram de forma quadrática a produção de MS e o número de perfilhos das espécies forrageiras, ratificando mais uma vez, a importância desse nutriente para as gramíneas. Figura 2 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de doses de N dentro da dose 0, 140 e 280 mg/dm³ de P, no segundo corte. Figura 1 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de doses de N e P (mg/dm³), no primeiro corte. Figura 3 - Massa seca do capim-Xaraés, em função de doses de N (mg/dm³), no terceiro corte. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12 128 Rodrigues et al. (2006) trabalharam com o capimXaraés cultivado em vasos num Latossolo Vermelho Amarelo, fase arenosa e com doses de N e K, e observaram comportamento quadrático das doses de nitrogênio nos três períodos de crescimentos, sobre a produção de massa seca do capim. Os autores atribuíram esse comportamento ao intervalo entre cortes adotado suficiente (41 dias após o corte de uniformização, 20 e 22 dias após o e segundo cortes, respectivamente) para que as plantas atingissem sua máxima produção e à uniformidade entre as plantas de cada tratamento nas unidades experimentais. Todavia, deve-se considerar as diferenças entre as condições em que foram cultivadas como umidade e, principalmente, a temperatura e a qualidade de luz. A produção de massa seca de raiz respondeu de forma linear crescente à adubação nitrogenada (Figura 4), em que cada mg/dm3 de N promoveu aumento de 5 0,0133g/vaso de raízes. Entretanto, não houve efeito das doses de P sobre esse componente. Patês et al. (2008) avaliaram o capim-Tanzânia, cultivado em vasos e submetido a quatro doses de N (0, 50, 100 e 150 mg/ dm³) e duas doses de P (0 e 45 mg/dm³ de P 2O 5), e constataram que independentemente das doses de P, as doses de nitrogênio influenciaram a produção de MS de raízes do capim-Tanzânia. Na ausência de fósforo, a produção de raízes do capim-tanzânia foi inferior à obtida na presença de fósforo. Assim como na produção de MS da parte aérea no primeiro corte, a densidade populacional de perfilhos (DPP) foi influenciada (P<0,05) pelas doses de N e P testadas, não havendo interação entre os fatores. Para as doses de N a resposta foi linear para o primeiro, Figura 4 - Massa seca de raiz do capim-Xaraés, em função de doses de N. RODRIGUES, R.C. et al. segundo e terceiro cortes, conforme as equações de regressão: Y10corte=17,8 + 0,0071X, R²=0,75; Y20corte= 18 + 0,041 X, R²=0,99 e Y30corte=26 + 0,035X, R²=0,88), em que cada mg/dm3 de N aplicado promoveu aumento de 0,071; 0,041 e 0,0353 perfilhos/vaso, respectivamente. Para o P a resposta foi quadrática, no primeiro corte, conforme equação de regressão (Y10corte=18 + 0,19X - 0,0054X², R²=0,99) e linear no terceiro corte (Y30corte=29 + 0,1X, R²=0,68), enquanto no segundo corte não houve efeito das doses de P sobre a produção de MS. Esses resultados evidenciam a importância da adubação com fósforo para essa cultivar, principalmente em situações de elevados níveis de adubação nitrogenada, como no caso de sistemas intensivos de produção. Analisando os resultados, verificou-se que a maior densidade de perfilhos (DP) ocorreu no terceiro corte e a menor no primeiro, o que refletiu na produção de massa seca do capim. No trabalho de Mesquita et al. (2010), as doses de P elevaram o número de perfilhos das gramíneas estudadas, sendo que a Brachiaria hibrida Mulato apresentou maior densidade de perfilhos. O perfilhamento é importante para as gramíneas porque assegura a perenidade das pastagens, além de contribuir com o incremento de forragem. A relação lâmina foliar/colmo não foi influenciada significativamente (P>0,05) pelas doses de fertilizantes testadas em nenhum dos cortes. Possivelmente, o intervalo entre cortes tenha sido muito curto, não havendo dessa forma tempo para a diferenciação entre os tratamentos. Resultados diferentes foram obtidos por Pinto et al. (1994), Lavres Jr. et al. (2004), Bonfim-Silva & Monteiro (2006) e Rodrigues et al. (2006), que encontraram decréscimos na relação folha/colmo em gramíneas forrageiras tropicais, cultivadas em vasos sob doses de nitrogênio. Para os teores de PB nas frações da parte aérea, a análise de variância revelou interação significativa (P<0,05) entre as doses de N e P, nas LFE do capimXaraés, no primeiro corte. Através do desdobramento da interação, observou-se efeito quadrático, conforme as referidas equações de regressão: 0 mg/dm³ de P: Y0 =3,5583 + 0,0264X - 8E-05X2, R²=0,99 e 140 mg/dm³ de P: Y15=3,7508 + 0,0189X-5E-05X2, R2 = 0,99, dentro das doses de N, cujo ponto de máximo teor de PB foi alcançado mediante as doses 165 e 189 mg/dm³ de N, respectivamente. Na maior dose de P (280 mg/dm³), Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12 Produção e morfofisiologia do capim brachiaria brizantha cv. xaraés sob doses de nitrogênio... dentro das doses de N, a resposta foi linear (Y30=3,8733 + 0,0093X, R2 = 0,99), indicando que quanto maior a dose de P dentro das maiores doses de N, maior será o teor de PB, nesse componente. Para as LFRE, a análise de variância revelou efeito (P<0,05) apenas das doses de N, no primeiro corte, com ajustes ao modelo quadrático de regressão (Y=4,3964 + 0,0215X -7E-05X 2 , R 2 = 0,99). Através do desdobramento da equação, verificou-se que o maior teor de PB ocorreu com a dose 154 mg/dm³ de N. As LFM apresentaram comportamento distinto das demais frações. Houve efeito (P<0,05) das doses de N e P isoladamente. Para as doses de N a resposta teve ajuste ao modelo quadrático (Y = 4,4281+ 0,0197X -6E-05X2, R2 = 0,95), cujo maior teor de PB foi obtido na dose de 164 mg/dm³ de N. Por outro lado, a reposta às doses de P foi antagônica às doses de N. Através do desdobramento, verificou-se ajuste ao modelo linear decrescente (Y=5,9151-0,0243X, R2 = 0,99) sob os teores de PB, nessa parte da planta. Nos CB, os teores de PB foram afetados apenas pelas doses de N, no primeiro corte. O modelo que apresentou melhor ajuste foi o quadrático (Y=2,7368+0,0097X-2E-05X2, R2= 0,98), com máximo teor de PB obtido, possivelmente, mediante o suprimento de 243 mg/dm³, dose esta maior do que a utilizada no presente estudo No segundo corte, em função de o padrão de resposta para todos os componentes da parte aérea ser semelhante, os mesmos foram agrupados em uma única figura. Nesse corte todas as frações, exceto as LFM, foram influenciadas pelas doses de N quanto aos teores de PB (Figura 5). A fração LFM não foi analisada em função da quantidade de amostra insuficiente para as análises químicas, nesses cortes. Para os componentes LFE e CB, a resposta às doses de N foi linear, enquanto a fração LFRE teve comportamento quadrático, e o máximo teor de PB, provavelmente, seria obtido em dose maior do que a utilizada no presente estudo. No terceiro corte, o padrão de resposta foi semelhante ao segundo. Houve efeito (P<0,05) para as doses de N, sob os teores de PB para a LFE, LFRE e CB. Através do estudo de regressão verificaramse ajustes ao modelo linear em todas as situações, exceto para a fração LFRE, cujo comportamento teve ajuste ao modelo quadrático de regressão e o ponto 129 de máxima seria obtido com a utilização de 281 mg/ dm³ (Figura 6). Para as LFM, em virtude da pequena quantidade, não foi possível analisar nos demais cortes, porém no primeiro corte a variação foi de 4,49 a 5,98% de PB, portanto, superior aos teores obtidos para as LFE e LFRE. O que pode ser em parte atribuído ao momento do corte, em que a planta está preparando para a remobilização do N presente nesse tecido. Nota-se que em todos os cortes, as LFRE apresentaram os maiores teores de PB, possivelmente devido à grande mobilidade do N das partes mais velhas para as partes mais novas das plantas. Figura 5 - Teores de proteína bruta em LFE (lâminas em emergência), LFRE (lâminas de folhas recémexpandidas) e CB (colmos mais bainhas) do capimXaraés, em função das doses de N, no segundo corte. Figura 6 - Teores de proteína bruta em LFE (lâminas em emergência), LFRE (lâminas de folhas recémexpandidas) e CB (colmos mais bainhas) do capimXaraés, em função das doses de N, no terceiro corte. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.124 -131, Julho, 20 12 130 RODRIGUES, R.C. et al. Os CB foram as frações que apresentaram os menores teores de PB, em todos os cortes, sendo a magnitude da resposta menor ainda no terceiro corte. Com isso pode-se inferir que a produção animal pode ser otimizada com práticas de manejo para esse capim que resultem em alta densidade de lâminas foliares verdes, notadamente no estrato mais pastejado pelos animais, como foi sugerido por Cano et al. (2004) para o capim-Tanzânia. Com relação ao suprimento de PB aos animais, ressalta-se que nenhuma fração, em todas as doses de nutrientes avaliadas, seria capaz de atender aos teores mínimos de N necessários aos microrganismos ruminais de 7% (Milford & Minson, 1965). Esses resultados discordam dos encontrados por Cecato et al. (2004), que, trabalhando com o capim-Marandu sob doses de N e P, observaram teores de PB de 12%, mesmo na dose 0 kg/ha de N. No trabalho de Patês et al. (2008), com o capim-Tanzânia, os maiores valores de PB foram obtidos sem a adição de P. 4. CONCLUSÕES As características produtivas e os teores de PB do capim-Xaraés são incrementados pelas adubações nitrogenada e fosfatada, sendo a eficiência do nitrogênio maximizada quando os teores de fósforo no solo se situam entre 140 e 280 mg/dm³. No entanto, a relação folha/colmo e as características fisiológicas não são afetadas por esses fatores. 5. LITERATUA CITADA BONFIM-SILVA, E.M.; MONTEIRO, F.A. 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Este índice mostrou que a atmosfera era mais suscetível ao desenvolvimento de fogo em setembro de 2003, em comparação com a climatologia. Esta pesquisa irá ajudar a gerenciar as áreas críticas e a tomada de decisões estratégicas para combate a incêndios no estado de Minas Gerais. Palavras-chave: Climatologia, incêndios florestais, modelagem. SPATIAL DISTRIBUTION OF THE HAINES INDEX FOR MINAS GERAIS BY ANALYSIS OF AVERAGE ATMOSPHERE ABSTRACT – Wildfire is responsible for financial costs and environmental degradation. This study evaluates the areas of fire risk based on Haines Index (IH) in September of 2003, as compared to the 1968-1995 climatology. September is the most critical month for wildfires. The evaluation is based on the NCEP/NCAR Reanalysis (National Center for Environmental Prediction/National Center for Atmospheric Research). The results demonstrate that the Haines index was able to reproduce the areas with highest incidence of fire. In this the index has showed that the atmosphere was more susceptible to fire development in September of 2003 as compared to the climatology. This survey will help you manage the critical areas and strategic decision-making for fire control in the State of Minas Gerais. Key Words: Climatology, forest fires, modeling. 1. INTRODUÇÃO O Índice de Haines (IH) (Haines, 1988) é uma ferramenta para gerenciar e controlar queimadas e incêndios, muito utilizado nos Estado Unidos, na Europa, na Ásia e na Austrália. Este índice relaciona a estabilidade atmosférica e a umidade relativa do ar, para a previsão de queimadas e incêndios florestais. O ar seco afeta o comportamento do fogo, resultando em mais combustível para queimar e aumentar a probabilidade de espalhamento da queimada. As variações climatológicas indicam e ajudam a gerenciar as áreas críticas e a tomar decisões estratégicas para o controle de queimadas e incêndios florestais, assim como verificar o comportamento do Índice de Haines para cada meso-região de alto e moderado risco. O desmatamento é responsável por 18% das emissões globais de gases responsáveis pelo efeito estufa, o que equivale, por ano, em todo o mundo a áreas de florestas equivalentes ao território de Portugal. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as 1UFV - Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas - Tecnologia em Gestão ambiental - Campus Florestal - Florestal MG. E-mail: [email protected] 2,3 UFV - Dept. de Engenharia Agrícola e Ambiental - Campus da UFV - Viçosa - MG. E-mail: [email protected], [email protected] 4 UFF - Dept. de Química - Geoquímica Ambiental - Outeiro São João Batista, s/n - Niterói - RJ. E-mail: [email protected] 1 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera queimadas são na maioria de origem antrópica, sendo, portanto, o IH uma medida das condições atmosféricas suscetíveis para o alastramento de fogo. A agricultura pode sofrer abalos com a mudança do regime de chuvas e modificações nos solos, o que diminui a produtividade e a segurança alimentar, e pode causar migrações e conflitos na população. Segundo o IPCC (2001), apesar de o aumento da concentração de CO2 estimular o crescimento das plantas, as vantagens desse crescimento não compensam os malefícios do aquecimento global (Kochtubajda, 2001). Podem ocorrer modificações nas culturas e na criação de animais, pois a adaptação às mudanças climáticas pode envolver ajustes nas épocas de semeadura e de colheita, quantidades de fertilizante, frequência de irrigação, cuidados com os cultivares e seleção de novas espécies de animais mais adaptadas (Confalonieri, 2001). Em aproximadamente 85% das propriedades rurais, a presença de fogo acidental em áreas de abertura incidem principalmente sobre pastagem, danificando cercas e reduzindo a capacidade de pastejo (Alencar et al., 1997; Nepstad et al., 1999). O ar seco afeta diretamente o comportamento do fogo, aumentando a probabilidade de ocorrer um espalhamento maior da queimada. Além disso, a atmosfera instável devido à presença do fogo é dominada por centros de baixa pressão, levando a uma intensificação dos ventos de superfície, o quer pode acarretar um alastramento do fogo. A investigação do teor do vapor d’água na atmosfera, bem como a análise dos sistemas de meso e pequena escala associada com a instabilidade atmosférica, como proposto por Haines (1988), é extremamente útil para a previsão e o monitoramento do desenvolvimento das queimadas. Segundo Lemos (2006), existem evidências claras de uma forte relação entre as condições de estabilidade atmosférica (Alta Subtropical do Atlântico Sul), umidade baixa e o desenvolvimento das queimadas. Assim, o objetivo deste estudo foi usar o Índice de Haines como uma ferramenta no combate a queimadas no Brasil e em Minas Gerais. 2. MATERIAL E MÉTODOS 1) Inicialmente foram feitas análises dinâmicas e sinóticas de grande escala sobre Minas Gerais do mês de setembro, para obter-se uma visão geral do escoamento da atmosfera, direção dos ventos, índices 133 pluviométricos, sistemas sinóticos dominantes e fenômenos atmosféricos que influenciam o clima e o micro clima de cada região. (Climanálise, 2003). Os resultados foram obtidos pela análise dos dados da Circulação Geral da Atmosfera (CGA), a reanálise de dados do Modelo de Previsão Numérica de Tempo (PNT) do National Center for Environmental Prediction (NCEP), do período de 1979 a 1995. Os ventos foram analisados numa grade de 2,5 graus e interpolados para uma grade de 5 graus em Projeção Mercator para visualização (Climanálise, 2003). Estes dados originais foram gerados no Supercomputador SX-6 da NEC do CPTEC/INPE (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e foram obtidos através do Site oficial do NOAA (National Oceanic Atmospheric Agency) na internet, um serviço gratuito, e foram coletados para a realização desta reanálise e para o cálculo das linhas de corrente que atuaram sobre a América do Sul (www.cdc.noaa.gov/ cdc/data.ncep.reanalysis. derived.html). A reanálise foi feita para aumentar a confiabilidade do modelo e da previsão de tempo, isto é, foram acrescentados os dados reais que não foram utilizados na primeira análise do modelo (Lemos, 2000). 2) O estudo climatológico sobre o estado de Minas Gerais foi realizado com precipitação total e os desvios de precipitações em relação à média climatológica (19611990). 3) A análise da média atmosfera (~1.500 m) do Índice de Haines (Haines, 1988) foi obtida pelo Software GRADS utilizando-se um Supercomputador SX-6 no CPTEC/ INPE (Centro de Previsão e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para a realização das rodadas dos dados (Brian, 1995; Lemos, 2006). Para os dados de queimadas, foram gerados 30 mapas da análise da média atmosfera durante do mês de setembro de 2003, que são as melhores referências do Índice de Haines em estudo de curto prazo (Werth & Werth, 1998). 4) Foram obtidas as imagens totais de queimadas do satélite NOAA-12 da passagem das 12 UTC (Universal Time Coordinated), coletadas através do DAS (Divisão de Satélites Ambientais) do INPE. Foi escolhida a passagem do satélite NOAA-12 e 16 UTC entre 21:00Z e 22:45Z (horário de Brasília entre 18:00h e 19:45 h), que engloba os focos de calor Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 134 LEMOS, C.F. et al. detectados por passagens realizadas durante o final da tarde e início da noite, que representam as queimadas ainda ativas (Setzer, 1992). O número de focos obtidos por esta passagem representa a melhor estimativa das queimadas ocorridas no dia. Isto significa que estes focos de calor continuarão durante o período da madrugada e manhã, caso não ocorram chuvas suficientes para a extinção nestas áreas de incidência. 5) Por fim, foram gerados gráficos comparativos e estatísticos do número total diário de queimadas no estado de Minas Gerais associado à porcentagem (%) de áreas indicadas pelo modelo com moderado (5) e alto Índice de Haines (6), para se obter o índice de acertos comparativos e locais de cada ponto determinado pelo modelo Eta no estado de Minas Gerais. 2.1. Índice de Haines 2.1.1. Introdução O Índice de Haines (IH) é um índice que indica o local em potencial para incêndios (queimadas) que já começaram e no qual poderá ocorrer queimadas ou incêndios florestais de grandes proporções, chamados de “blow-up”. Um foco de calor em “blow-up” conduz a comportamentos extremos de queimadas, que se tornam incontroláveis para se combater (Haines, 1988, 1991, 1997). Durante anos, valores característicos de condições de estabilidade atmosférica, com baixa umidade do ar, indicaram a propagação de queimadas em grandes áreas remotas nos Estados Unidos (Brotak & Reifsnyder, 1977). Donald Haines verificou que a maioria das ocorrências aconteceu em dias em que a umidade do ar estava muito baixa e a atmosfera estava bastante estável (Haines, 1988). O Meteorologista Donald Haines realizou uma análise estatística de várias propriedades atmosféricas para determinar quais parâmetros variaram significativamente na climatologia em dias com crescimento de queimadas. Assim, Haines concluiu que a temperatura da camada na atmosfera T(ºC), a temperatura do ponto de orvalho da camada na atmosfera Td (ºC) e o baixo nível de umidade relativa na superfície (%) relacionaram significativamente com a climatologia, em dias em que ocorreram desenvolvimento de queimadas em grandes áreas (Haines, 1991). Este Índice também é combinado com parâmetros meteorológicos modelares tais como: temperatura máxima do dia anterior, média anual de precipitação, últimos dados pluviométricos (mm) médios durante todo o período (24 horas), velocidade do vento, umidade relativa do ar, índices pluviométricos (mensais e anuais), dentre outros. Estes parâmetros são necessários para acrescentar o fator de umidade (dependendo da climatologia de precipitação). 2.1.2. Cálculo do Índice de Haines (IH) O cálculo do IH nas três camadas verticais atmosféricas, a saber: na baixa (950-850hPa); média (850-700hPa) e alta (700-500hPa), está associado à necessidade de se ter um mapeamento na superfície devido aos distintos níveis de topografia. Matematicamente o IH é definido pela soma do componente da estabilidade (A) e do componente da umidade atmosférica (B) (A + B = IH). Como definido na Tabela 1, o termo A representa a mudança de Tabela 1 - Cálculo do IH (Índice de Haines) Elevação(altitude) Componente deEstabilidade (A) ComponentedeEstabilidade(B) CÁLCULO CATEGORIA CÁLCULO CATEGORIA A= T9 50 hP a – T8 50 hP a A= 1 se < 4 oC A= 2 se 4 -7 oC A= 3 se >=8 oC A= T 950hPa –Td850 hPa A= 1 se < 6 oC A= 2 se 6 -9 oC A= 3 se >=10 oC MÉDIA ATMOSFERA 500 A 1.500 m A=T850hPa – T700hPa A= 1 se < 6 oC A= 2 se 6 -10 oC A= 3 se >=11 oC A=T850hPa – Td700hPa A= 1 se < 6 oC A= 2 se 6 -12 oC A= 3 se >=13 oC A LTA ATMOSFERA >= 1.500 m A=T700hPa – T500hPa A= 1 se < 6 oC A= 2 se 6 -10 oC A= 3 se >=11 oC A=T700hPa – Td500hPa A= 1 se < 15 oC A= 2 se 15 -20 oC A= 3 se >=21 oC BAIXA ATMOSFERA <= 500 m Fonte: Modificado por Winkler et al. (2005) e Lemos (2006). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera temperatura com altura, e o termo B caracteriza a depressão do ponto de orvalho para um determinado nível. O T representa a temperatura do ar e Td é a temperatura do ponto de orvalho. A partir da soma dos dois termos (A e B) tem-se o valor nominal do IH que varia de 2 a 6, sendo 2 associado a uma pequena possibilidade de queimadas de grande porte e 6 a uma alta probabilidade. Assim, se A+B =IH os valores: 2 e 3: risco muito baixo; 4: risco baixo; 5: risco moderado; 6: risco alto. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Análise da circulação geral da atmosfera sobre o Brasil e Minas Gerais Na Figura 1, são mostrados padrões médios do mês de setembro de 2003. O Anticiclone do Atlântico Sul (AAS) destaca-se pelo papel que desempenha sobre o clima do Brasil. Em 850hPa (aproximadamente 1500 m) apresentou padrão consistente com as anomalias de PNM (Pressão ao Nível do Mar). O anticiclone do Atlântico Sul basicamente inibe a formação de nuvens sobre a região em que está atuando, causando subsidência, deixando a região em questão com céu claro e com poucas nuvens, os ventos sopram do seu centro para a sua extremidade e seu centro possui pressões atmosféricas superiores às suas extremidades (Lemos, 2006). Figura 1 - Linhas de Corrente médio em 850 hPa em Setembro/ 2003. Os ventos são analisados numa grade de 2,5 graus e interpolados para uma grade de 5 graus em Projeção Mercator para visualização. Fonte: NCEP/Climanálise (2003). 135 Analisando-se a imagem de satélite GOES-12, na faixa visível, no dia 25/09/2006, por ser o dia mais crítico deste mês de 2003, verificou-se que um sistema frontal encontrava-se sobre o estado de Santa Catarina e Paraná. Em todo o estado de Minas Gerais havia ausência de nuvens, devido à atuação da alta subtropical do Atlântico que estava posicionado na retaguarda do sistema frontal (Figura 2). O escoamento atmosférico médio à superfície sobre a América do Sul e Oceanos circunvizinhos mostrou a presença dos Anticiclones Semiestacionários do Atlântico Sul e do Pacífico Sul, responsáveis, em grande parte, pelas condições de tempo sobre o Continente Sul Americano, pois exercem influência destacável na penetração das massas de ar tropicais úmidas e polares. Suas posições e intensidade modificam-se ligeiramente entre os períodos de verão e inverno. O Anticiclone do Atlântico Sul (AAS) destacase pelo papel que desempenha sobre o clima brasileiro, durante agosto, setembro e outubro. O Anticiclone Semiestacionário do Atlântico Sul inibe a formação de nuvens sobre a região em que atua causando subsidência, deixando a região em questão com céu claro e poucas nuvens (Lemos, 2000). Durante este período, este sistema reinicia o deslocamento para leste, isto é, na direção do Atlântico, cuja periferia encontra-se sobre a região central do Brasil, favorecendo a ligeira intensificação dos ventos sobre esta região e áreas; com isto, os Índices de Haines Figura 2 - Imagem de satélite GOES-12, dia: 25/09/2003, canal visível, às 1809Z. Fonte: DAS/INPE (2003). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 136 durante este período indicam valores de Moderado (5) a alto (6) em toda a periferia deste sistema, principalmente na face oeste da Alta Subtropical do Atlântico (AAS) que está atuando sobre o centro-oeste do estado de Minas Gerais. 3.2. A climatologia mensal Devido às passagens dos sistemas frontais que atuaram sobre a região, observamos que entre os dias 03 e 06, 12 e 16, e 28 e 30 de setembro de 2003 ocorreu uma faixa linear do índice de Haines de Baixa (4) e muito baixa (2 e 3) na região sudeste do Brasil e no estado de Minas Gerais. Este sistema frontal mais intenso atingiu o estado de São Paulo no dia 11de setembro de 2003 (Climanálise, 2003). LEMOS, C.F. et al. Os desvios em relação aos valores médios históricos registraram valores acima da média climatológica no oeste do Triângulo Mineiro, extremo leste da Zona da Mata e no norte de Minas Gerais (Climanálise, 2003). Nas demais áreas registraram valores com desvios variando entre -20 e -25 mm. Ressalta-se que nas regiões de valores inferiores a -25 mm, o modelo indicou áreas de moderado (5) e altos índices (6) de Haines, isto é, valores com grande potencial de risco de queimadas e de incêndios tornaremse incontroláveis (Figura 4). Entre 12 e 16 de setembro, este sistema frontal atuou sobre a região sudeste e sobre o estado de Minas Gerais. Entre os dias 28 e 30 o modelo indicou este mesmo perfil, devido à passagem de um novo sistema frontal sobre a região sudeste do Brasil, inibindo o desenvolvimento de queimadas no estado. Na região sudeste, o mês de setembro é de transição entre as estações seca e a chuvosa e foi marcado por chuvas predominantemente abaixo da média histórica, principalmente no sul de Minas Gerais, leste do Triângulo Mineiro e grande parte da região central do estado (Figura 3) (Climanálise, 2003). Verificamos que a precipitação total em todo o estado ficou abaixo de 25 mm durante o mês, somente na região oeste do Triângulo Mineiro e na região oeste de Minas. Os valores médios ficaram entre 50 e 100 mm mês, devido a passagens dos sistemas frontais (Figura 3). Figura 3 - Precipitação total em mm para Setembro-2003. Fonte: Climanálise (2003). Outro detalhe importante é que no mês de setembro ocorre o desfolhamento das plantas e por sua vez a precipitação é também reduzida. A maior parte das queimadas e incêndios florestais é detectada nos períodos de estiagem, devido à baixa umidade relativa, pois setembro é o mês mais quente do ano no Brasil, devido à baixa umidade relativa do ar (Lemos, 2000). Porém, como sua ignição depende na maioria dos casos de intervenção humana, padrões locais de uso do solo, de transformação da vegetação e de tecnologias agrícolas devem necessariamente ser incorporados em modelos de potencial de ocorrência de queimadas e incêndios intencionais, inclusive em períodos chuvosos (Setzer, 2004). Figura 4 - Desvios de precipitação em mm em relação à média climatológica (1961-1990) para Setembro-2003. Fonte: Climanálise (2003). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera 137 Apesar da entrada dos seis sistemas frontais na região sudeste, as chuvas ocorreram abaixo da média histórica. Os sistemas frontais ocorreram dentro da normalidade para o mês de setembro de 2003. Foram três frentes frias que atuaram com mais intensidade no estado de Minas Gerais, entre os dias 03 e 06/ 09/2003, sendo este sistema mais intenso entre os dias 12 e 16/09/2003, e nos dias 26 a 30/09/2003. As bacias hidrológicas continuaram apresentando baixos valores de precipitação. Verificamos que as vazões em m3/s e desvios em relação à MLT (valores Médios de Longo Termo), expressos em porcentagem em setembro/2003, observados em Três Marias com valores de 141,0 m3/s e -35,3%, em Emborcação de 159,00 m3/ s e -1,9%, em Itumbiara-MG de 433,0 m3/s e -16,6% e em São Simão-MG de 898,0 m3/s e desvio positivo de 5,9% (Climanálise/2003). 3.3. As queimadas As queimadas no Brasil totalizaram 57.262 focos durante setembro de 2003 (Figuras 5A e 5B). 5A No estado de Minas Gerais foram registrados 4.546 focos de queimadas, representando 7,94% do total de queimadas no Brasil. Observa-se que na região de Rio Doce, Mucuri, Jequitinhonha e no norte de Minas as maiores concentrações ocorreram durante o período entre 24 e 29 deste mês. Houve um decréscimo de 6% em relação ao mesmo período do ano de 2002. Ao contrário de 2002, as regiões nordeste, sul e sudeste registraram aumento significativo das queimadas em função d a es tia ge m e da s a lt as te mp e ra t ur as do a r (Climanálise, 2002). 3.4. A distribuição espacial do Índice de Haines sobre o estado de Minas Gerais em setembro de 2003 da média atmosfera Analisando-se a distribuição do índice de Haines sobre o estado de Minas Gerais, (Figuras 6 e 7) verificouse que a evolução espacial do Índice de Haines acompanhou o desenvolvimento das queimadas em todo o estado (Tabela 2). Na primeira quinzena, o modelo indicou áreas de alto risco no extremo oeste do Triângulo Mineiro, região central do estado, centro-leste e norte do estado e somente no dia 09/09/2003 o modelo indicou na região do sul de Minas. 5B Figura 5A e 5B - Distribuição espacial de densidades de queimadas em unidades de grade no Brasil e no estado de Minas Gerais em Setembro de 2003. Focos de calor detectados através do satélite NOAA 12 às 21:00 TMG. Fonte: DAS/INPE (2006) Durante este período ocorreu a presença de dois sistemas frontais sobre o estado, entre os dias 12 e 16/09, que foi indicado pelo modelo registrando áreas de muito baixo (2 e 3) e baixo (4) Índice de Haines (Figura 6). O dia de menor ocorrência de queimadas foi 02/09/2003, com 13 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 138 focos em todo o estado, e em 13/09/2003 ocorreu a maior incidência, 161 focos durante a primeira quinzena do mês, totalizando 1.021 queimadas em todo o estado. Analisando-se a média espacial da distribuição do Índice de Haines para o estado de Minas Gerais entre os dias 01 e 15, verificou-se que na região norte da mesorregião de Jequitinhonha e praticamente toda a mesorregião de Mucuri o modelo indicou o Índice de Haines com valores muito baixo e baixo (2 e 3). No sul e leste do estado o modelo indicou valores de baixos riscos (4). Na faixa central do estado os valores ficaram em moderado risco (5) e na faixa norte do Triângulo Mineiro, Central Mineira, Noroeste e centro-oeste da mesorregião do norte de Minas Gerais o modelo indicou valores de alto risco (6) (Figura 7). A segunda quinzena foi o período mais crítico, pois o número de queimadas aumentou consideravelmente, e o modelo acompanhou o desenvolvimento, sendo que os dias mais críticos ficaram entre os dias 22 e 28/09 (Figura 8, Tabela 1). O modelo indicou áreas de alto risco na faixa centrooeste do estado. No dia 25/09/2003, o modelo indicou o dia mais crítico, em praticamente todo o estado havia valores de alto risco de desenvolvimento de queimadas, LEMOS, C.F. et al. IH (6), com valores registrados pelos satélites NOAA12 e 16, totalizando 920 focos de calor neste dia. Durante este período ocorreu a presença de dois sistemas frontais sobre o estado, principalmente entre os dias 15 e 16/09, o que foi indicado pelo modelo, registrando áreas de muito baixo e baixo Índice de Haines Tabela 2 - Distribuição de queimadas no estado de Minas Gerais em Setembro de 2003 Dia N°Queimadas Dia N°Queimadas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 17 13 50 75 76 32 76 32 30 127 34 46 161 38 214 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 84 61 130 77 12 63 429 224 867 920 155 329 60 13 13 Fonte DAS/INPE/NOAA-12 e 16. Figura 6 - Evolução diária do Índice de Haines entre 01 a 15 de setembro de 2003, sobre o estado de Minas Gerais da análise da média atmosfera. Fonte: Lemos (2006). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera no centro-leste do estado. Somente na região do Norte de Minas registraram-se valores de moderados riscos (5) de desenvolvimento de queimadas do IH (Figura 8 e Tabela 2). Totalizaram-se 3.437 queimadas em todo o estado, com um aumento de 336% em relação à primeira quinzena. A média de queimadas por dia no estado foi de 149 focos. Analisando-se a média espacial da distribuição do Índice de Haines para o estado de Minas Gerais entre os dias 16 e 30, verificou-se que na região norte da mesorregião de Jequitinhonha e praticamente toda a mesorregião de Mucuri o modelo indicou o Índice de Haines com valores muito baixo e baixo IH (2 e 3) (Figura 9). No centro-leste da mesorregião do Rio Doce, faixa central da mesorregião de Jequitinhonha e extremo nordeste da mesorregião norte de Minas Gerais, os valores ficaram em moderado risco (5) e no restante do estado de Minas Gerais o modelo indicou valores de alto risco (6) (Figura 9). 3.5. Reanálise do Mês de Setembro Com a variação de espaço na magnitude do gradiente vertical entre 950 hPa e 850 hPa sobre o estado de Minas Gerais, o Índice de Haines na média atmosfera indicou as seguintes mesorregiões: As mesorregiões indicadas pelo modelo em alto risco foram o Triângulo Figura 7 - Média espacial da distribuição do Índice de Haines entre 1º e 15 de setembro de 2003. Fonte: Lemos (2006). 139 Mineiro, nordeste do sul de Minas, oeste das mesorregiões do oeste de Minas e da região central e oeste da região norte de Minas. As diferenças de temperaturas variaram entre a superfície e 850 hPa entre 6ºC a 13ºC na média atmosfera, levando valores de alto IH (6). Observou-se que na média atmosfera do mês de setembro o modelo indicou uma faixa na região central do estado com IH moderado (5). No centro-leste do estado o modelo indicou valores no patamar de baixo (4) IH. A área mais crítica em que o modelo indicou altos valores do IH do mês de setembro da reanálise de 30 anos entre 1968 a 1996 foi o centro-oeste de Minas Gerais, principalmente no Triângulo Mineiro (Figura 10). Durante este trimestre, nos médios níveis ocorre um “Anel 6”, na região central do Brasil, com maior intensidade durante o período de segunda quinzena de agosto a primeira quinzena de setembro. Esta representação de “Anel 6” é uma área circular que foi indicada pelo Modelo sobre toda a região central do País, no qual sua periferia está indicada no centrooeste de Minas Gerais e principalmente no Triângulo Mineiro - MG (Lemos, 2006). Assim, as diferenças de temperaturas indicadas pelo modelo variaram entre a superfície e 850 hPa entre 6ºC a valores superiores a 13ºC na média atmosfera. A frequência destes valores permanece durante todo este período caracterizado pelo “Anel 6”. Durante todo o período na alta atmosfera os índices de Haines permaneceram muito baixos em todo o país, com Índice de Haines de 2 e 3. O escoamento atmosférico médio à superfície sobre a América do Sul e Oceanos circunvizinhos mostra a presença dos Anticiclones Semiestacionários do Atlântico Sul e do Pacífico Sul, responsáveis, em grande parte, pelas condições de tempo sobre o Continente Sul Americano, uma vez que exercem influência destacável na penetração das massas de ar tropicais úmidas e polares. Suas posições e intensidade modificam-se ligeiramente entre os períodos de verão e o inverno (Lemos, 2006). O Anticiclone do Atlântico Sul (AAS) destaca-se pelo papel que desempenha sobre o clima do Brasil. Durante estes meses (agosto, Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 140 LEMOS, C.F. et al. Figura 8 - Evolução diária do Índice de Haines entre 16 a 30 de setembro de 2003, sobre o estado de Minas Gerais da análise da média atmosfera. Fonte: Lemos (2006). setembro e outubro), o Anticiclone Semiestacionário do Atlântico Sul inibe a formação de nuvens sobre a região em que está atuando causando subsidência, deixando a região, em questão, com céu claro com poucas nuvens, os ventos sopram do seu centro para a sua extremidade e seu centro possui pressões atmosféricas superiores às suas extremidades (Lemos, 2000). Figura 9 - Média espacial da distribuição do Índice de Haines entre 16 e 30 de setembro de 2003. Fonte: Lemos (2006). Durante este período, este sistema reinicia o deslocamento para leste, isto é, na direção do Atlântico, cuja periferia encontra-se sobre a região central do Brasil favorecendo a ligeira pequena intensificação dos ventos sobre esta região e áreas; com isto, os Índices de Haines durante este período indicam valores de moderado (5) a alto (6) em toda a periferia deste sistema, principalmente na face oeste da Alta Subtropical do Atlântico (AAS) que está atuando sobre o centrooeste do estado de Minas Gerais. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera 141 3.6. Análise gráfica comparativa do número de queimadas ocorridas com áreas indicadas pelo Índice de Haines em porcentagem (%) sobre o estado de Minas Gerais em setembro de 2003 Verificamos que durante todo o mês de setembro o modelo indicou áreas de moderado risco no estado, para os dias 06 e 11/09, dias 14 e 15/09, e entre os dias 21 e 29/09 o modelo indicou altos riscos de desenvolvimento de queimadas. Na análise da média atmosfera entre os níveis de 850 hPa e 700 hPa sobre as áreas de moderado risco (5), a diferença de temperatura obteve valores acima de 4ºC para o índice de estabilidade e valores acima de 6ºC para a depressão psicrométrica (Porter, 2001). Figura 10 - Média da reanálise do mês de setembro do Índice de Haines. Fonte: Lemos (2006). No campo da análise destacou-se o dia 25/09/ 2003, pois verificamos que o modelo indicou que 95% do estado estaria em condições de altos riscos de desenvolvimento de queimadas, IH (6), e foi justamente o dia em que ocorreu a maior incidência de queimadas no estado, com 920 pontos de focos de calor (queimadas) detectados pelo satélite NOAA12 e 16 (Figuras 8 e 11). Figura 11 - Número total diário de queimadas no Estado de Minas Gerais associado à porcentagem (%) de áreas indicadas pelo modelo com valores de moderado (5) e alto Índice de Haines (6). Fonte: INPE/DAS/NOAA -12 e 16 (Lemos, 2006). Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 142 LEMOS, C.F. et al. 4. CONCLUSÕES Nas análises aqui apresentadas, as linhas de corrente e dos Índices de Haines (IH) representaram resultados satisfatórios e objetivos em indicar as áreas mais críticas e favoráveis ao desenvolvimento de queimadas no estado de Minas Gerais associadas à climatologia. O mês de setembro é o mais crítico no desenvolvimento de queimadas e de altas concentrações de valores dos Índices de Haines (IH), principalmente em sua segunda quinzena. Os mapas indicaram altos valores entre os dias 22 e 28/09, quando o número de queimadas aumentou consideravelmente; o modelo acompanhou o desenvolvimento, principalmente sobre a mesorregião do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha (Figura 11). Verificou-se que sobre estas áreas de altos riscos as diferenças de temperaturas médias obtiveram valores acima de 11ºC para os índices de estabilidades, e valores acima de 13ºC para as depressões psicrométricas. O dia 25/09/2003 foi considerado o dia mais crítico deste mês. O modelo indicou 95% das áreas do estado com índice de Haines (6) com altos riscos de desenvolvimento de queimadas. Paralelamente ocorreu o maior número de queimadas com 920 casos (Figura 11). Analisando-se a evolução diária dos focos de calor entre os anos de 1995 e 2002, (dados disponíveis sobre o Brasil - INPE/DAS) confirmou-se que o período mais crítico foi considerado o mês de setembro, confirmado pelo modelo e pelos Índices de Haines apresentados neste estudo. As análises revelaram variações significativas nas características climatológicas do índice de Haines entre as camadas e dentro das três camadas variantes de elevação. Adicionalmente, são vistas como variações intraanuais importantes para um determinado local. Estas variações oscilaram na média esperada, associada à climatologia do Brasil, pois o modelo indicou que o mês de setembro seria o mais crítico do ano em relação à propagação de queimadas. Os cálculos modelares acompanharam a evolução e a oscilação comportamental geral das queimadas no decorrer do mês, principalmente quando aumenta o número de queimadas no estado na segunda quinzena do mês. Finalmente, a análise diária da média atmosfera do Índice de Haines indicou as áreas mais críticas a serem gerenciadas através do Índice de Haines, o centrooeste e o nordeste do Estado, que auxiliará como linha base de avaliações históricas e mudanças futuras no potencial de distribuição das queimadas no estado, direcionando estas necessidades para o gerenciamento e monitoramento, principalmente no controle das queimadas. Os dados estatísticos demonstraram que o número total diário de queimadas no estado de Minas Gerais associado à porcentagem (%) de áreas indicadas pelo modelo com valores de moderado (5) e alto Índice de Haines (6) acompanharam o desenvolvimento das queimadas, principalmente na segunda quinzena do mês. O modelo indicou localidades consideradas importantes para o uso operacional do Índice de Haines. As análises demonstraram características substanciais das variações climatológicas do Índice de Haines na média atmosfera. Assim, este estudo teve como objetivo validar o modelo e indicar o mês de setembro de 2003, o dia e as áreas mais críticas de alto e moderados riscos de queimadas. Em um histórico climatológico modelar associadas às condições gerais da atmosfera com o período de maior freqüência de queimadas no Estado de Minas Gerais. 5. LITERATURA CITADA ALENCAR, A.; NEPSTAD, D.; SILVA, E. et al. Uso do Fogo na Amazônia: Estudos de Caso ao Longo do Arco de Desmatamento. World Bank Report. Brasilia, March, 1997. BRIAN, D. “GRADS Software: The Grid Analysis and Display System”, v 1.5.1.12, University of East Anglia, Norwich, UK, 1995 KOCHTUBAJDA, B.; FLANNIIGAN, M.D.; GYAKYUM, J.R. et al. The influence of atmospheric instability on fire behaviour in the Northwest Territories, McGill University, Montreal, PQ, Canada Fourth Symposium on Fire and Forest Meteorology Meeting, November, 2001. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.132 -143, Julho, 20 12 Distribuição espacial do índice de haines para minas gerais por análise da média atmosfera BROTAK, E.A.; REIFSNYDER, W.E. Predicting major wildfire occurrence. Fire Management Notes, v.38, p.5-8, 1977. CLIMANÁLISE – Boletim de Monitoramento de Tempo e Clima INPE/CPTEC- periódicos entre maio a novembro, seção queimadas, seção climatologia, 2002 e 2003. CONFALONIERI; ULISSES, E.C. Global environmental change and health in Brazil: review of the present situation and proposal for indicators for monitoring these effects in: Hogan, H.J and M.T. Tolmasquim. Human Dimensions of Global Environmental Change – Brazilian Perspectives. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2001. FAO. State of the World’s Forests: 2001. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome, 2001. HAINES, D.A. A lower atmospheric severity index for wildland fires. Natl. Wea. Dig., 13, p.2327, 1988. HAINES, D.A.; FROST, J.S. Fire-weather stations Maintaining accuracy, v.47, n.4, p.16-19, 1987. HAINES, D.A.; WERTH J. Haines Index climatology for the Westhern USA – Westhern Region Technical Attachment No, p.97-17, 1997. INMET – Normais Climatológicas do Brasil – Brasília – 1991. 143 IPCC – INTER-GOVERNMENTAL PANEL IN CLIMATE CHANGE. Climate Change 2001: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Genebra, Suíça, 2001. LEMOS, C.F. “O Índice de Haines com indicador de desenvolvimento de focos de calor no Brasil através do modelo Regional “Eta”. (Tese de Doutorado em Geoquímica Ambiental). Niterói, RJ: UFF, 2006. 153p. LEMOS, C.F. Caracterização e variabilidade climática do Vale do Paraíba – SP, (Dissertação de Mestrado em Ciencias Ambietais). Taubaté, SP: UNITAU, 2000. 121p. NOAA - National Oceanic Atmospheric Agency. In: (www.cdc.noaa.gov/cdc/data. ncep.reanalysis.derived.html), 2006. ROSENFELD, D. TRMM. Observed First Direct Evidence of Smoke from Forest Fires Inhibiting Rainfall. 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O ESTADO DA ARTE DA DESERTIFICAÇÃO: ANÁLISE DOS PRINCIPAIS PERIÓDICOS DA ÁREA DE SENSORIAMENTO REMOTO Kelly de Oliveira Barros1,3, José Marinaldo Gleriani2,3, Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro2,3, Elias Silva2,3 RESUMO – Foi realizada uma pesquisa para identificaçãor as metodologias q ue vêm sendo aplicadas no estudo da desertificação assim como a frequência com que trabalhos sobre esta temática estão sendo publicados. O Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – S BSR e cinco revistas internacionais: Remote Sensing of Enviroment, Photogrammetric Engineering and Remote Sensing, International Journal of Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing e International Journal of Applied Earth Observ ation and Geo information foram escolhidos para a triagem. Foram encontrados 24 artigos que trataram da desertificação no SBSR. Neste evento de stac ou-se o ano de 2010, qu ando foram identificados 10 trabalhos com a temática. Na análise das revistas foram registradas 31 publicações, e o maior número de trabalhos publicados também ocorreu em 2010, com cinco documentos. Destaque para a International Journal of Remote Sensing, com o maior número de trabalhos sobre a desertificação, 18. Percebeu-se uma carência ainda no âmbito de publicações internacionais em revistas sobre o processo da desertificação. Ressalta-se que a revista Photogrammetric Engineering and Remote Sensing não apresentou nenhum trabalho sobre o processo. As metodologias adotadas foram variadas e inovadoras, especialmente nos trabalhos publicados nas revistas. Pode-se perceber que a utilização do índice de vegetação (NDVI), seja de maneira individual ou complementar ao trabalho, foi uma metodologia que se destacou em número dentre as demais. No entanto, notou-se a falta de uma abordagem multidisciplinar para se estudar o processo. Porém, foi possível perceber que tanto o estudo da desertificação quanto o uso de geotecnologias para este fim, está e m franco c res cime nto. Palavras-chave: Degradação da terra, geotecnologias, revistas internacionais, Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto DESERTIFICATION STUDIES USING REMOTE SENSING TECHNIQUES: A FRAMEWORK AND STATE-OF-THE-ART SURVEY ABSTRACT – A research was carried out to identify the methodologies that have been applied in the study of desertification as well as how often papers on this subject are being published. The Brazilian Symposium of Remote Sensing - BSRS and five international journals: Remote Sensing of Environment, Engineering Photogrammetric and Remote Sensing, International Journal of Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing, and International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation were chosen for the triage. Twenty four articles addressing desertification were found in BSRS. In the 2010 edition of this symposium, 10 papers in this theme were identified. Concerning to the analysis of magazines, 31 publications were recorded, and the largest number of publications also occurred in 2010, with five documents. The International Journal of Remote Sensing stood out, with 18 papers on desertification. It was noticed still a lack of publications in international journals concerning to the process of desertification itself. It must be emphasized that no publication on this matter was found on the Photogrammetric Engineering and Remote Sensing magazine. Mestranda em Ciência Florestal - UFV. *Autor correspondente: [email protected]. Professor do Departamento de Engenharia Florestal - UFV. 3 Universidade Federal de Viçosa, Campus Universitário, s/n, Viçosa, Minas Gerais, CEP 36570-000. 1 2 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.144 -150, Julho, 20 12 O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento... 145 A broad range of innovative methodologies were identified, especially in the works published in magazines. One can see that the vegetation index (NDVI), either individually or as an ancillary information, was largely adopted. However, it was noted the lack of a multidisciplinary approach to study the process. Furthermore, it was revealed that both the study of desertification and the use of geo-technologies for this purpose is booming promising avenue. Key Words: Brazilian Symposium of Remote Sensing, geotechnologies, international journals, land degradation. 1. INTRODUÇÃO A Organização das Nações Unidas (ONU) conceitua desertificação como “a degradação da terra nas áreas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles, as variações climáticas e as atividades humanas”. Por “degradação da terra” entende-se a deterioração do solo, dos recursos hídricos, da vegetação, da qualidade de vida da população e perda da biodiversidade (Brasil, 1998). Dentre as várias causas deste processo apontam-se a exploração intensiva da terra pela agricultura e o pastoreio (Lu et al., 2009). Caracterizada como um impacto ambiental, a desertificação é considerada por pesquisadores, ambientalistas e pelo poder público como um dos mais graves problemas ambientais da atualidade, com reflexo em várias áreas, como a ambiental, a econômica e a social (Brasil, 1986; Barros et al., 2008). No Brasil, apontam-se o nordeste e a região norte de Minas Gerais como as áreas de susceptibilidade à desertificação no país, devido à ocorrência do clima semiárido e também do sub-úmido seco. Porém, a desertificação não é recorrente apenas no Brasil. Este processo afeta direta ou indiretamente mais de 100 países, de quase todos os continentes, exceto a Antártica (Brasil, 1998; Brasil, 2005; Pachêco et al., 2006). Vários pesquisadores no país contribuíram no estudo da desertificação destacando-se os trabalhos de: Suertegaray (1987, 1996, 1998), Ab’Saber (1977), Vasconcelos Sobrinho (1974, 1978, 1978), Conti (1985, 1986, 1993, 1994, 2008), Matallo (1992, 1996, 1999) e Matallo Júnior (2000, 2001, 2003). Ressalta-se a transdisciplinaridade deste processo, o que implica a necessidade de integração de profissionais de diferentes áreas para seu estudo (Matallo Júnior, 2001; Barros et al., 2008; Soares, 2011). Mesmo tomando grandes proporções, considerase que, até hoje, apesar de uma gama de estudos sobre tal temática, a desertificação ainda é alvo de controvérsias metodológicas e conceituais. Como consequência, esta situação vem a prejudicar o direcionamento de políticas públicas e demais projetos para as áreas afetadas ou que apresentam susceptibilidade à desertificação (Rodrigues, 2000; Saadi, 2000; Matallo Júnior, 2001; Barros et al., 2008). De maneira geral, tem-se observado uma crescente aplicação de geotecnologias nos estudos dos recursos naturais, seja no âmbito dos impactos ambientais, seja para conservação ou preservação do meio ou mesmo para realização de estimativas e monitoramentos de processos. No caso da desertificação, tal realidade não é diferente, sendo possível avaliar e analisar, de maneira espacial e temporal, este processo com o uso de tais técnicas (Carvalho e Almeida-Filho, 2007; Lopes et al., 2009; Lu et al., 2009; Wu, et al., 2010; Bezerra, 2011; Alves Sobrinho, 2011; Ribeiro, 2011). Os Sistemas de Informações Geográficas – SIG – que, juntamente com as ferramentas do Sensoriamento Remoto – SR – compõem o Geoprocessamento, possuem características ímpares para justificar tal fato, já que oferecem respostas rápidas, atualizadas, precisas e objetivas sobre o que é estudado (Silva et al., 2004; Goldani e Cassol, 2008). No âmbito da desertificação, estas tecnologias podem ser combinadas com diversos outros tipos de dados e desta forma podem não apenas combater o processo, mas também sensibilizar as autoridades responsáveis diante desta realidade (Geerken et al., 2004). Neste contexto, pretende-se, por intermédio da análise de trabalhos da área do sensoriamento remoto , conhecer o atual cen ário de estudo da desertificação. Objetiva-se fazer um levantamento a respeito das metodologias que vêm sendo aplicadas para tal, assim como verificar a frequência com que trabal hos relacio nados com esta temática são publicados. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.144 -150, Julho, 20 12 146 BARROS, de K.O. et al. 2. MATERIAL E MÉTODOS Tomou-se como referência o Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – SBSR e as seguintes revistas: Remote Sensing of Environment, Photogrammetric Engineering and Remote Sensing, International Journal of Remote Sensing, IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing e International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation. Tais escolhas foram baseadas no caráter relevante deste evento no âmbito nacional, assim como das revistas no âmbito internacional, todos na área do sensoriamento remoto. Foram utilizados como critérios de seleção, na triagem dos trabalhos, os seguintes termos: desertificação, desertificadas, “desertification”, “desertified”. No caso do SBSR, tais termos foram identificados apenas nos títulos dos trabalhos, enquanto que nas revistas foram observados não apenas os títulos, mas também a presença dos termos “desertification” ou “desertified” no abstract, keywords plus e no author keywords. Pelo fato de a análise ter sido ampliada nas revistas, observou-se também se a metodologia estava, de fato, atrelada à desertificação; caso contrário, o trabalho foi desconsiderado. Todas as edições do SBSR participaram do processo de seleção, o que perfaz um total de 14 edições, desde 1978. Os anais de todas as edições do SBSR estão disponíveis na biblioteca digital do simpósio. Para a análise dos artigos das revistas foi definido um período de 10 anos, entre 2000 e 2010, e a pesquisa foi feita através do site da “Web Science”. Após a triagem dos trabalhos, realizou-se uma primeira identificação das metodologias utilizadas no estudo da desertificação, através da leitura de todos os abstracts. Percebeu-se que, no caso do SBSR, existia a possibilidade de agrupar algumas metodologias, tanto porque se repetiam quanto para não deixá-las com um caráter muito específico. Tal decisão simplificou a posterior classificação. Um código foi dado a cada grupo das metodologias encontradas nos trabalhos do SBSR e, em seguida, os trabalhos listados foram classificados de acordo com seu código correspondente. Já no caso das revistas, devido à maior variedade de metodologias, optou-se por não efetuar tamanha simplificação, tratando-se, na maioria das vezes, a metodologia de maneira individual. No caso do SBSR, após tal classificação foram elaborados gráficos utilizando o programa Excel® para ilustrar quais metodologias foram empregadas e suas respectivas frequências, assim como um gráfico que indicasse a frequência de publicações dos trabalhos que abordavam a desertificação. As revistas foram tratadas em um único grupo na elaboração de dois gráficos: um para ilustrar o número de trabalhos apresentados por cada revista e um segundo para apontar o número anual de trabalhos publicados sobre a desertificação. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No SBSR foram encontrados 24 trabalhos nas seis últimas edições. Como pode ser observado na Figura 1, apenas em seis das 14 edições foram detectadas abordagens sobre a desertificação - edição de 1998, com um único trabalho; em 2001, com três publicações; em 2003, com dois trabalhos; em 2005, com três trabalhos; em 2007, com cinco trabalhos e, em 2009, com dez. Pôdese perceber que a abordagem sobre a desertificação, neste evento, foi bastante tardia, uma vez que sua primeira edição ocorreu em 1978 e apenas a partir de 1998 o tema desertificação foi contemplado. De 1978 a 1996 aconteceram oito edições, enquanto de 1998 até 2009, seis. No que se refere às metodologias empregadas no SBSR, pôde-se perceber que duas foram igualmente empregadas, com oito trabalhos utilizando cada uma delas. Uma relaciona-se ao mapeamento e classificação da área de estudo, com averiguação em campo, com uma única cena. A outra metodologia é a análise multitemporal com o emprego do índice de vegetação ou não. Este valor representa 34% dos trabalhos analisados para cada metodologia. Figura 1 - Número de trabalhos identificados por edição no SBSR. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.144 -150, Julho, 20 12 O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento... 147 Outra metodologia identificada e adotada em quatro trabalhos foi a modelagem e utilização de imagens para localização/interpretação das áreas degradadas e posterior confirmação em campo. Este número representa 16% dos trabalhos analisados. As outras duas metodologias, a que emprega o índice de aridez e aquela que utiliza a variação do albedo do solo para estudo da desertificação. foram detectadas em dois trabalhos cada, o que perfaz o valor de 8% para cada método. Estes valores relacionados às metodologias empregadas podem ser observados na Figura 2. Deve-se ressaltar que, na quarta edição do SBSR, de 1986, que correu na cidade de Gramado, foi encontrado um trabalho intitulado “Identificação e mapeamento de áreas de desertificação no Rio Grade do Sul – dados preliminares”. Tal publicação não foi levada em consideração na contagem e análise da metodologia utilizada para estudo do processo de desertificação abordado. Justifica-se a não contabilização de tal trabalho em razão de hoje, e desde o ano de 1987, o processo de degradação da terra no sudoeste do Rio Grande do Sul ser denominado de arenização e não mais desertificação. Na análise da revista Remote Sensing of Environment foram encontrados seis trabalhos (Figura 3). Com apenas uma publicação em cada ano - 2001, 2004, 2005, 2008, 2009 e 2010 - as metodologias identificadas foram: modelagem envolvendo a evapotranspiração; produção de biomassa relacionada com a quantidade de chuva; utilização da escala de produção líquida (LNS); utilização de imagens de satélite para detectar e mapear características relacionadas à biologia do solo; análise temporal do índice de vegetação (NDVI) e correção atmosférica e cálculo da emissividade para melhorar a estimativa da temperatura da superfície terrestre (LST). De ntr e as publicaç ões da re vista IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing, encontraram-se três trabalhos (Figura 3) a respeito da desertif icação; cada trabalho utilizou um procedimento metodológico diferente. Duas publicações ocorreram em 2003 e as seguintes metodologias foram empregadas - análise de transformações espectrais: índice de vegetação, derivada espectral, albedo, modelo linear e mistura espectral e a comparação dos satélites AVIRIRS e o EO-1 Hyperion para coberturas do solo. Já em 2007, a metodologia identificada no estudo da desertificação foi a seleção dos melhores indicadores ecológicos para tal. Figura 2 - Metodologias identificadas no SBSR e a frequência de trabalhos para cada uma delas. Na revista International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation foram encontrados quatro trabalhos (Figura 3). Três destes foram publicados no ano de 2010 e apenas um em 2005. Mais uma vez as metodologias aplicadas não se repetiram em nenhum trabalho. No ano de 2010 as três metodologias identificadas foram: integração de dados de solos, geologia e modelo digital de elevação; interpretação de imagens e classificação relacionada com as mudanças Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.144 -150, Julho, 20 12 148 climáticas e mapeamento de áreas degradadas através de uma análise multitemporal de imagens. No trabalho de 2005 a metodologia utilizada foi a análise das alterações nas respostas espectrais do solo. A revista International Journal of Remote Sensing apresentou 18 trabalhos (Figura 3) com um dos termos utilizados como critério de seleção. No período definido de análise, de 2000 a 2010, apenas no ano de 2003 não se identificou qualquer trabalho que abordasse a temática em questão. Foram identificados trabalhos por ano na seguinte frequência: em 2000, 2001, 2002 e 2008 foram dois trabalhos; nos anos de 2005, 2007, 2009 e 2010 um único trabalho foi identificado e 2004 e 2006 apresentaram três trabalhos cada. BARROS, de K.O. et al. observada na Figura 4. Como pode-se perceber, os anos de 2000, 2002, 2003, 2007 e 2009 apresentaram apenas dois trabalhos abordando a desertificação. Já os anos de 2001, 2005, 2006 e 2008 apresentaram três trabalhos, enquanto que 2004, quatro publicações. Destaca-se o ano de 2010, que apresentou cinco trabalhos, apesar de não ser um número que destoe significativamente dos demais anos que apresentaram publicações. Nesta revista, mais uma vez, diferentes e inovadoras metodologias foram aplicadas - transformações espectrais no desenvolvimento de um índice e posterior combinação deste com um índice de vegetação; caracterização da degradação do solo com base em duas abordagens: análise de mistura espectral e um conjunto de índices que descrevem a forma do espectro. As tempestades de areia/poeira também apareceram como metodologia de estudo da desertificação, mais precisamente em dois trabalhos nos anos de 2004 e 2008. A análise do solo foi bastante abordada no estudo da desertificação nesta revista, seja a respeito da sua umidade, do tamanho dos grãos ou da mudança no seu uso/cobertura. Já a análise multitemporal foi adotada diversas vezes para indicar mudanças na paisagem, características termais, transformações espectrais e principalmente para análise do NDVI. Este índice foi identificado em inúmeras metodologias para estudo/ identificação/monitoramento da desertificação, seja abordando-o unicamente no trabalho ou como um dos índices/indicadores analisados. No que se refere aos indicadores, estes também foram identificados e estão relacionados não só com a cobertura vegetal, como também com a pluviosidade, com a LST, com o escoamento superficial e a erosão do solo. Figura 3 - Número de trabalhos identificados por revista analisada. Na revista Photogrammetric Engineering and Remote Sensing não foi identificado qualquer trabalho que abordasse a desertificação (Figura 3). Após a análise das revistas selecionadas, foi identificado um total de 31 trabalhos que abordaram a desertificação. A distribuição da ocorrência dos trabalhos ao longo da década analisada pode ser Figura 4 - Número de trabalhos das revistas analisadas por ano. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.144 -150, Julho, 20 12 O estado da arte da desertificação: análise dos principais periódicos da área de sensoriamento... 149 Percebe-se uma carência ainda no âmbito de publicações internacionais em revistas sobre o processo da desertificação, uma vez que apenas uma das revistas apresentou um número que pode ser considerado expressivo, 18. Vale lembrar ainda que uma das revistas analisadas não apresentou nenhum trabalho que abordasse a temática em questão. Apesar da variedade de metodologias utilizadas no estudo da desertificação, pôde-se observar que estas ainda aparecem de maneira setorial. Áreas do saber têm sido analisadas de maneira particular, ou, quando analisada mais de uma área, a metodologia ainda não pode ser considerada multidisciplinar o suficiente para abordar tanto a parte relacionada ao meio ambiente quanto o lado socioeconômico afetado pela desertificação. Esta deficiência, no que se refere a metodologia de estudo da desertificação, tem sido apontada por inúmeros pesquisadores desde o início do estudo do processo (Matallo Júnior, 2001), e, como mencionado, este fato ainda vem ocorrendo, conforme percebido na análise realizada. Espera-se que não só em caráter nacional, no caso com o SBSR, como também a nível internacional, a discussão da desertificação tenha um caráter crescente. Tal expectativa justifica-se não só pela necessidade que esta temática ainda apresenta, relacionada tanto a questões metodológicas e conceituais quanto pelos grandes impactos deste processo, mas também pelo fato de ter sido lançado no ano de 2010 pela ONU a “Década dos Desertos e de Combate à Desertificação”, de 2010-2020 (UNCCD, 2010). Espera-se que este lançamento seja um estímulo às pesquisas deste processo. 4. CONCLUSÕES Observou-se um número crescente de publicações a respeito desta temática tanto nas revistas quanto no SBSR, principalmente neste último. O maior número de publicações sobre a desertificação nas revistas ocorreu em 2010 e no SBSR em 2009, os últimos anos tomados para análise. Dentre as revistas, a International Journal of Remote Sensing foi aquela que apresentou um maior número de publicações a respeito da desertificação, enquanto que a revista Photogrammetric Engineering and Remote Sensing não apresentou nenhum trabalho que abordasse este processo. No SBSR apontam-se duas metodologias que foram mais e igualmente empregadas - mapeamento e classificação da área de estudo para identificação das áreas degradadas, em uma única data, e a análise multitemporal, com a utilização do índice de vegetação ou não. As metodologias dos trabalhos das revistas apresentaram caráter inovador e variado. Destaque para a utilização do índice de vegetação (NDVI) que, analisado de maneira individual ou como um dos índices abordados, foi uma metodologia bastante recorrente. Tanto na análise dos trabalhos publicados no SBSR quanto das revistas pode-se perceber que as metodologias adotadas não têm caráter multidisciplinar. Em razão do lançamento da ONU para a década de 2010-2020: “Década dos Desertos e de Combate à Desertificação” espera-se um maior número de pesquisas sobre a desertificação assim como também que novas metodologias sejam desenvolvidas. 5. LITERATURA CITADA ALVES SOBRINHO, T.; PERTUSSATTI, C.A.; REBUCCI, L.C.S. et al. Estimativa da erosividade local das chuvas, utilizando redes neurais artificiais. Ambi-Agua, v.6, n.2, p.246-254, 2011. ANAIS DO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO – SBSR. 2010. In: http://www.dsr.inpe.br/sbsr2007/biblioteca/. (acessado em: 14 ago. 2010). BARROS, K.O.; FARIA, M.M.; ALMEIDA, C.C. et al. A pesquisa em desertificação: cenários e perspectivas. Geografia, Ensino & Pesquisa, v.12, n.2, p.46-52, 2008. BEZERRA, J.M.; SILVA, P.C.M.; MORAIS, C.T.S.L. et al. 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Nesse sentido, ressalta-se que a biodigestão anaeróbica ajuda a minimizar os impactos negativos que são gerados ao meio ambiente, reduzindo assim os riscos ambientais e melhorando a qualidade de vida. Salienta-se, todavia, que, existem casos ainda em que estes resíduos têm sido utilizados como fertilizantes, mas sem prévio tratamento e controle sanitário antes da aplicação no solo. Os dejetos de aviários apresentam o potencial de ser tanto um recurso como um poluente. Em resumo, sob o aspecto das práticas adequadas de manejo dos resíduos, o biodigestor é uma alternativa para o tratamento do esterco de ave poedeira. Conclui-se que o manejo e tratamento de resíduos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica representa uma forma ambientalmente recomendável. Palavras-chave: : Aves, biodigestão, biodigestor, meio ambiente. LAYERS SOLID WASTE MANAGEMENT BY ANAEROBIC DIGESTION PROCESS ABSTRACT – The poultry industry of hens, and eggs, annually generate a large volume of waste in the form of manure. The hen bird dung is the main waste generated in the production of eggs and requires an infrastructure for proper treatment. Therefore, the aim of this review is to address the management of solid waste of hen, in particular using the digester in order to minimize negative environmental impacts caused by the poultry activity. In this sense, it is noteworthy that the anaerobic digestion helps to minimize the negative impacts that are generated to the environment, reducing environmental risks and improving quality of life. It should be noted, however, that there are cases in which these residues have been used as a fertilizer, but without prior treatment and management prior to application to the soil. The poultry manure has the potential to be both a resource and a pollutant. In summary, under the aspect of good practice of waste management, the digester is an alternative for the treatment of the hen bird dung. It is concluded that the management and treatment of solid waste in the process of laying anaerobic digestion is environmentally desirable. Key Words: Birds, digestion, digester, environment. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, o impacto ambiental das práticas tradicionais de tratamento de resíduos sólidos tem motivado a busca de tecnologias e de infraestrutura compatíveis com o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida. 1 2 Indispensável é, portanto, a conscientização dos produtores sobre os impactos causados pela geração de resíduos e sobre a importância da aplicação de técnicas de manejo de dejetos. Esse princípio, entretanto, não é absoluto, e a responsabilidade pela implementação de técnicas voltadas à minimização de impactos Mestrando do Programa de Pós-Graduação da UNIFENAS - Alfenas/MG - E-mail: [email protected] Docente do Programa de Pós-Graduação da UNIFENAS - Alfenas/MG. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12 152 ambientais não deve ser atribuída exclusivamente ao produtor rural. Não podemos, todavia, deixar de reconhecer que o Brasil se destaca na área de combustíveis alternativos, seja com o biodiesel ou o biogás. O biogás contribui como uma fonte extremamente viável, já que a sua fabricação provém de materiais orgânicos, podendo ser de lixo urbano, esgoto, esterco bovino, suíno ou qualquer outro material biodegradável. Em razão disso, sob o aspecto das práticas adequadas de manejo dos resíduos, o biodigestor é uma alternativa para o tratamento do esterco de ave poedeira. Há, no entanto, que enfatizar que os dejetos produzidos com a criação de aves poedeiras são mais comumente reciclados pelo emprego da biodigestão anaeróbia do que da compostagem. É preciso, porém, acrescentar o tratamento de resíduos de origem animal por meio da digestão anaeróbia, configurando-se como uma atividade economicamente apreciável para os produtores, levando em consideração a produção de biogás, por ser uma fonte de energia renovável possível de ser aproveitada na própria atividade agrícola em substituição a outras fontes energéticas, reduzindo os custos de produção (Steil, 2001). Diante do exposto, objetivou-se descrever informações sob o manejo de resíduos sólidos das indústrias avícolas de postura, em particular com o uso do biodigestor. 1.1. A importância do manejo dos resíduos sólidos de poedeiras A preocupação com a preservação ambiental e com as consequências dos impactos ambientais para o futuro, não é coisa recente em nossa história. Nas últimas décadas, as questões ambientais têm sido discutidas, pesquisadas e submetidas aos mais diversos sistemas legais em todo o mundo com o objetivo principal de resgatar a qualidade de vida no planeta. Salienta-se, todavia, que a sociedade vem passando por um processo de transformação quanto à forma de pensar e agir com relação ao meio ambiente. Várias empresas estão convertendo seus processos produtivos através de novas ferramentas com tecnologia avançada, econômica e ecologicamente correta, atuando de maneira a preservar e reestruturar o meio ambiente, passando a ser um diferencial no mercado (Zanin et al., 2010). SILVA, da H.W. & PELÍCIA, K. É preciso, porém, acrescentar que a responsabilidade pela execução de técnicas voltadas à redução de impactos ambientais (emissão de gases e nutrientes) e racionalização de uso da energia (aproveitamento não só da biomassa gerada na forma de resíduo, como também de nutrientes impactantes que carregam energia primária e poluem), não pode ser atribuída diretamente ao produtor rural, mas às ações governamentais fortalecendo os setores de educação, ciência, extensão e crédito, voltados à área (Lucas Jr. & Amorim, 2005). Não podemos, todavia, deixar de reconhecer que a questão ambiental passa a ser vista sob a ótica da impossibilidade de se associar o desenvolvimento de uma nação sem elevar significativamente o uso de água e energia e a produção de resíduos, agravando-se o aspecto relativo ao aumento de poluição. Devido a isto, os diversos setores da produção animal começam a se mobilizar para atender a dois requisitos com o intuito de que seus produtos possam competir e para que tenham boa aceitação no mercado: questões legais e a exigência de mercado interno e externo (Lucas Jr. & Amorim, 2005). Em face do texto legal, a Constituição Federal prevê que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo imposto ao Poder Público e à coletividade o dever da sua preservação para as gerações futuras. O inciso IV do Art. 225 cita que para a instalação de qualquer obra ou atividade potencialmente causadora de expressiva degradação do meio ambiente, devese exigir um estudo prévio ambiental. Esse princípio, entretanto, não é absoluto, o meio ambiente em razão dos grandes impactos ambientais causados pelas diversas empresas vem sofrendo agressões constantes e, em decorrência disso, o ser humano acaba colocando em risco sua própria existência. Em consequência, os resíduos gerados na produção animal constituem-se em substratos complexos contendo matéria orgânica particulada e dissolvida, elevado número de componentes inorgânicos, bem como alta concentração de microrganismos patogênicos, todos de interesse na questão ambiental (Steil, 2003). A indústria avícola contribui significantemente para os impactos ambientais. Os resíduos de aviários apresentam o potencial de ser tanto um recurso como um poluente. Quando adequadamente usados apresentam riscos ambientais mínimos. Por outro lado, Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12 Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica impropriamente manipulados, irão degradar o ambiente e causar dificuldades para a condução da atividade junto à comunidade e para a imagem dos criadores (Seiffert, 200). Acrescenta-se a isto que todos os dejetos tornam-se séria ameaça para o meio ambiente quando mal manejados, pois se trata de um material em decomposição. É possível, portanto, afirmar que o poder poluente dos dejetos animais é extremamente alto, em relação a seu elevado número de contaminantes, cuja ação individual ou combinada configura-se uma fonte potencial de contaminação e degradação do ar, dos recursos hídricos e do solo. Esta evidência vem exigindo a execução de parâmetros de emissão cada vez mais rigorosos pela legislação ambiental, visando à preservação dos recursos naturais, do conforto e da saúde humana (Steil, 2003). Segundo Augusto & Kunz (2009), por causa do alto potencial biogênico dos dejetos, não é aconselhado o uso no solo sem tratamento. Gases emitidos e odores formados durante a degradação dos dejetos são importantes evidências do impacto ambiental causado. Do exposto se dá conta que práticas adequadas de manejo dos resíduos tornam-se essenciais para a otimização de toda atividade sob as condições de restrições legais atualmente existentes. Em face disto, um programa de manejo dos resíduos da avicultura pode ser considerado como necessário a um programa de desenvolvimento econômico e ambiental. Segundo Augusto (2005), no cenário da avicultura de postura comercial atual brasileira, em particular, inicia-se a preocupação com seus dejetos devido às novas tecnologias de instalação que dão ao setor a oportunidade de aumento no número de aves alojadas e consequente aumento na produção de dejetos. Na avicultura de postura, atualmente, predomina o sistema de produção de poedeiras em gaiolas, e os resíduos provenientes das aves em gaiolas suspensas possibilitam melhor tratamento e utilização de dejetos em geral. Segundo Augusto (2005), o sistema de produção de poedeiras em gaiolas surgiu em meados de 1920, trazendo inúmeras vantagens, como menor número de ovos sujos e quebrados e eliminação do uso de materiais para cama. É útil, nesse ponto, considerar que este sistema de exploração sobre o meio ambiente, se por um lado representa ganho em relação ao manejo, aumenta a concentração de resíduos sólidos, podendo 153 a falta de estrutura para reter e tratar os dejetos transformar um problema de gerenciamento particular em um grande problema ambiental, afetando a todos diretamente. Entretanto, a consequência inevitável à oportunidade do elevado alojamento de poedeiras é maior geração de dejetos nas propriedades, necessitando manejos diários, pois altera as características do resíduo. Estes, dispostos sem prévio tratamento no meio ambiente, comprometem a qualidade do solo, do ar e da água, com contaminação dos mananciais pelos microrganismos, risco de toxidade aos animais e às plantas e depreciação do produto, porém com percepção em médio e longo prazo (Augusto et al., 2009). Todavia, segundo Augusto (2005), muitas são as formas indicadas de manejo, tratamento e utilização de dejetos em geral, e a escolha deve levar em conta a espécie do animal gerador, o sistema de criação, localização da propriedade, assim como clima e relevo da região. Há, no entanto, que considerar que os produtores de aves precisam planejar e administrar suas operações de forma segura. Dejetos de aves e aves mortas, se manejados de forma incorreta, causam problemas ambientais e criam riscos para a saúde humana e animal. A criação de um plano de manejo de resíduos é um importante passo inicial para uma operação avícola ambientalmente responsável (Seiffert, 2000). Indispensável é, portanto, que o manejo de dejetos tenha destaque na atualidade como uma preocupação a mais dos produtores do setor, envolvendo qualidade e comércio, bem como interferindo nos custos de investimento e retorno, pois estes são fatores relevantes na produção lucrativa de aves. Com isso, a produção de dejetos deve ser gerenciada como parte importante dentro do processo produtivo e nunca deve ser negligenciada, pois poderá se tornar um grande passivo do empreendimento (Augusto & Kunz, 2009). Em resumo, as questões ambientais provocam cada vez mais interesse e preocupação em todos que se envolvem com a atividade avícola, uma vez que os dejetos de poedeiras comerciais têm potencial para gerar danos ambientais se não forem devidamente tratados. Acrescenta-se que uma forma de tratamento dos dejetos de aves poedeiras é o biodigestor, que poderá ser projetado com o objetivo principal de atendimento à conservação ambiental. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12 154 SILVA, da H.W. & PELÍCIA, K. 1.2. A utilização de biodigestores para redução de dejetos sólidos de poedeiras final inadequada destes dejetos (Tarrento & Martinez, 2006). A biodigestão anaeróbia é o processo biológico no qual a matéria orgânica é degradada, em condições anaeróbias e na ausência de luz, até a forma de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Essa mistura de gases é denominada de biogás e pode ser coletada e usada como energia em substituição aos combustíveis fósseis, diminuindo o impacto ambiental causado tanto pela utilização dos combustíveis fósseis quanto pela emissão do CH4 e CO2 na atmosfera. A utilização dos biodigestores no meio rural merece destaque devido aos aspectos de saneamento e energia, além de estimularem a reciclagem orgânica e de nutrientes. A questão do saneamento ocorre no momento em que isolam os resíduos do homem e dos animais, possibilitando diminuição de moscas e odores, permitindo também a redução das demandas química e bioquímica de oxigênio e de sólidos, tornando mais disponíveis os nutrientes para as plantas (biofertilizante), encontrando-se em algumas referências a redução de parasitas e patógenos do homem e dos animais (Lucas Jr. & Santos, 2000). De relevância para a área de saneamento ambiental, verifica-se que através do processo de biodigestão anaeróbia torna-se possível obter resultados que demonstram a redução de impacto não somente pela redução dos sólidos existentes nos biodigestores, mas também pela redução de microrganismos de presença indesejável nos efluentes por possuírem caráter patogênico (Lucas Jr. & Santos, 2000). Acrescenta-se que a biodigestão anaeróbia é uma das formas usadas no tratamento de resíduos sólidos ou líquidos, promovendo a redução do poder poluente dos dejetos, tendo como subproduto, além do biogás, o biofertilizante. Na prática, a produção de biogás é possível com a utilização de um equipamento denominado biodigestor. De acordo com Tarrento & Martinez (2006), o biodigestor constitui-se de uma câmara fechada onde é colocado o material orgânico, em solução aquosa, para sofrer decomposição, gerando o biogás que irá se acumular na parte superior da referida câmara. Os biodigestores utilizados no meio rural classificam-se em dois grupos: os que precisam ser abastecidos com substrato diariamente, chamados biodigestores contínuos, e os que são abastecidos uma única vez, os biodigestores de batelada. Para Zanin et al. (2005), o biodigestor, ao ser implantado em uma propriedade rural, ocasiona benefícios para o produtor e para o meio ambiente, que atualmente devido à degradação vem sofrendo impactos negativos, o que afeta a qualidade de vida dos seres humanos. É possível, portanto, afirmar que o biodigestor apresentase como uma alternativa interessante, levando em consideração que os resíduos gerados na agricultura são de responsabilidade do próprio gerador. O processo de biodigestão contempla o conceito de reciclagem destes resíduos, bem como a própria redução dos impactos ambientais provocados por uma disposição A geração de dejetos é um fenômeno inevitável e que ocorre diariamente no âmbito da exploração animal, em particular na avicultura de postura, sendo que esses resíduos constituem, se não forem manejados e tratados corretamente, ameaça ao meio ambiente. Segundo Augusto (2005), as primeiras ações a serem tomadas são a quantificação e a caracterização dos dejetos. A quantificação é de extrema importância, pois implica no direcionamento do manejo a ser adotado, enquanto que com a caracterização do dejeto podem-se tomar decisões mais racionais com relação a sua aplicação. De um modo geral, a reciclagem dos resíduos no meio rural é passiva de realização com a finalidade de reciclagem em energia ou reciclagem orgânica e de nutrientes. A reciclagem energética de resíduos pode ser feita com o objetivo de geração de calor ou de gás combustível (Lucas Jr. & Santos, 2000). Há, no entanto, que considerar que os dejetos produzidos com a criação de aves poedeiras são mais habitualmente reciclados pelo emprego da biodigestão anaeróbia do que da compostagem. Isto acontece principalmente pelo elevado conteúdo de umidade dos dejetos, o que dificulta a condução da compostagem e dos significativos potenciais de produção de biogás dos dejetos, quando empregados como substrato da biodigestão anaeróbia (Lucas Jr. & Amorim, 2005). Segundo Lucas Jr. et al. (1998), uma poedeira consome cerca de 110 g de ração por dia, ou seja, 40.150 g de ração por ano. Considerando-se que a ave excreta cerca de 30% (MS) do que consome, tem-se uma produção de 12 kg MS de dejeto/poedeira/ano. Salienta-se que a forma como predomina a criação das galinhas e codornas de postura, é imprescindível Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12 Manejo de dejetos sólidos de poedeiras pelo processo de biodigestão anaeróbica que os biodigestores que se integre ao sistema de produção possibilitem a operação com cargas diárias. Uma indicação seria o emprego de biodigestores que tenham funcionamento similar aos modelos indiano ou chinês, associando-se, com a eficiência de elevados rendimentos e baixos custos, tecnologias que permitam maiores eficiência na degradação do material orgânico, como aquecimento e agitação do substrato em fermentação (Lucas Jr. & Amorim, 2005). Em síntese, é possível afirmar que existe uma ur ge nte nece ssida de de dese nvolvim ent o de metodologias capazes de tratar adequadamente os dejetos, inovando seus processos de exploração animal, e levando em consideração o grave risco de impactos ambientais. 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS A biodigestão anaeróbica dos resíduos da avicultura é de grande importância, uma vez que permite não apenas minimizar os problemas de poluição ambiental, como também oferecer os subprodutos da biodigestão, o biogás e o biofertilizante, de grande importância para o setor agrícola. Todavia, o primeiro e mais importante passo para atenuar o impacto ambiental da avicultura é o adequado planejamento do manejo de seus resíduos. 3. LITERATURA CITADA AUGUSTO, K.V.Z. Manejo de dejetos em granjas de postura comercial. In: Trabalho apresentado na Conferência Apinco de 2005 e publicado pela revista Avicultura industrial n.05, 2005. AUGUSTO, K.V.Z.; LUCAS JÚNIOR, J.; MIRANDA, A.P. 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Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.151 -155, Julho, 20 12 156 FÓFANO, de S.O. et al. ESTRATÉGIAS PARA UM GERENCIAMENTO PARTICIPATIVO DA COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS¹ Sâmara de Oliveira Fófano², Rolf Puschmann³, Thais Covre Delboni 4, Alana de Oliveira Pereira Vilete5 RESUMO – O Projeto Reciclar, visando à destinação adequada dos resíduos sólidos gerados na Universidade Federal de Viçosa (UFV), realiza atividades de educação, assistência técnica e divulgação da coleta seletiva. Todos os anos o Projeto indica projetos de extensão ao edital PIBEX. No último ano, atuou no projeto “Ações Integradas, Participativas e Administrativas na Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos na UFV em 2011”. Os projetos de extensão voltados para a coleta seletiva são muito importantes para que ela se realize, pois promovem ações estratégicas de cunho prático com ênfase na educação ambiental, nos diversos setores e departamentos da UFV. A coleta na Universidade é realizada de forma binária, onde os resíduos recicláveis são separados dos não recicláveis. Os materiais recicláveis são depositados em sacos azuis e os não recicláveis em sacos pretos; em seguida, os resíduos são recolhidos pela Divisão de Parques e Jardins e levados à Associação de Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa (ACAMARE). O processo se inicia com a criação dos núcleos em prédios e setores da UFV, onde são distribuídos os coletores seletivos. Essas atividades, e demais relacionadas, são realizadas por estudantes bolsistas e voluntários que, através de reuniões com chefias, grupos de trabalho, colegiados e voluntários, planejam a coleta seletiva em seus setores. Para que haja integração entre os membros e discussões sobre atividades desenvolvidas, são realizadas reuniões semanais internas para planejamento, atualização e troca de informações sobre as ações. A divulgação do Projeto é feita por meio de palestras, como as realizadas para os alunos recém-ingressos na UFV, conversas com funcionários da limpeza e técnicos, pelo website da Universidade e do Projeto (www.projetoreciclar.ufv.br), pelo Facebook e materiais gráficos diversos. A coleta seletiva tornou-se parte da rotina da UFV; entretanto, apenas cerca de 20% dos resíduos recicláveis estão sendo destinados de forma adequada, mostrando que ainda temos muito a crescer e reforçando a importância de um gerenciamento participativo e não apenas operacional. Palavras-chave: Coleta seletiva, educação ambiental, reciclagem, resíduos sólidos. STRATEGIES FOR A PARTICIPATORY MANAGEMENT OF SOLID WASTE COLLECTION ABSTRACT – The “Reciclar” Project, aiming the proper disposal of solid waste generated at the Federal University of Viçosa (UFV), conducts educational activities, technical assistance and dissemination of the selective collection. Every year the “Reciclar” indicates others extension projects to PIBEX, a financial agency of the University. Last year, it was indicated the project “Ações Integradas, Participativas e Administrativas na Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos na UFV em 2011”. The extension projects about selective collection are very important for the performance of this practice, because they promote practical and strategic actions with emphasis in the environmental education in many sectors and departments of the UFV. The collection Este trabalho foi realizado no âmbito do PIBEX/2011 pela Pró Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Viçosa (UFV). ² Estudante de Zootecnia; bolsista PIBEX/2011 no Projeto Reciclar/UFV, Viçosa-MG; [email protected] ³ Engenheiro Agrônomo; Ph.D. em Fisiologia Vegetal; Prof. Titular do Departamento de Biologia Vegetal da UFV e Coord. do Projeto Reciclar/UFV; [email protected] 4 Estudante de Engenharia Ambiental; Bolsista BIBEX/2012; [email protected] 5 Estudante de Engenharia Ambiental; Bolsista BIBEX/2012; [email protected] 1 Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.156 -162, Julho, 20 12 Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos 157 helded at the University is binary: where recyclables are separated from non-recyclable. The recyclable materials are placed in blue bags and non-recyclables in black bags; then, the wasted material is collected by the Division of Parks and Gardens and taken to the “Associação de Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa (ACAMARE)”. The process begins with the creation of selective collection cores in the buildings of UFV, where selective collectors are distributed. These activities, and other related stuff, are held by students and volunteers who, through meetings with supervisors, work groups, and volunteers, plan the selective collection in their own sectors. To integrate the “Reciclar”s members and promote discussions about activities, meetings are held weekly for internal planning and exchange information about the actions. The Project’s promotion is done through presentations, like those held recently to the freshmen, conversations with cleaning staff and technicians, at the University and Project website (www.projetoreciclar.ufv.br), by Facebook and printed graphic materials. Selective collection has become a routine part of UFV; however, only about 20% of recyclable material is being conducted appropriately, showing that there still has a lot of growing to strength the importance of the selective collection based in a participatory management, not just operational. Key Words: Environmental education, recycling, selective collection, solid waste. 1. INTRODUÇÃO O Projeto Reciclar surgiu em 1995 com o objetivo de implementar e dar suporte técnico, operacional e educacional à coleta seletiva, na época pouco difundida na Universidade Federal de Viçosa. Dentre as muitas opções técnicas desenvolvidas nos últimos anos, a coleta seletiva tem se mostrado como uma alternativa viável e econômica para o gerenciamento de resíduos sólidos, pois, através da conscientização dos indivíduos envolvidos, permite a seleção e o encaminhamento de diferentes materiais ao processo de reciclagem (Jardim & Wells, 1995). O conceito de desenvolvimento sustentável vem de um processo longo, contínuo e complexo de reavaliação crítica da relação existente entre a sociedade civil com seu meio natural, assumindo diversas abordagens e concepções. Apresentar progresso em direção à sustentabilidade é uma escolha da sociedade, das organizações, das comunidades e dos indivíduos, devendo existir um grande envolvimento de todos os segmentos (Bellen, 2005). O tema sustentabilidade ganha a cada dia maior destaque nos meios empresariais, acadêmicos e na sociedade de modo geral. A mídia focaliza esse tema em seus vários aspectos de forma cada vez mais intensa. Questões específicas, tais como impactos ambientais negativos da produção industrial, aquecimento global, relações de trabalho mais justas, investimentos socialmente responsáveis (responsabilidade social empresarial), consumo sócio-ambientalmente responsável, além de outros, destacam-se como assuntos de elevada importância, demandando soluções urgentes. Em especial, as crescentes pressões sociais e ambientais por produtos e sistemas produtivos que não gerem impactos negativos à sociedade e ao meio ambiente são crescentes em todo o mundo (Amato Neto, 2011, p.2). Apesar do grande esforço do Projeto Reciclar e de sua tradição, a quantidade de material reciclado na UFV ainda é muito pequena se comparada à quantidade potencialmente reciclável. Acredita-se que até 80% do lixo produzido no campus possa ser doado às associações de catadores; porém, apenas 20% estão realmente seguindo esse caminho, mostrando que ainda há muito a ser feito. Um dos principais problemas enfrentados pelo projeto está na fonte geradora, pois grande parte das pessoas que geram resíduos não realiza a separação e destinação adequada. Isso acontece porque demanda uma forte conscientização que gere mudanças de hábito nos indivíduos. Dessa forma, o Projeto busca desenvolver ações educacionais junto à comunidade universitária para estimular a prática de separar os resíduos, buscando a consolidação da coleta seletiva. Para isso são desenvolvidas ações de natureza técnica, administrativa e ações voltadas para a divulgação do Projeto. As ações de natureza técnica consistem na capacitação da equipe de trabalho e de ações práticas de intervenção no processo de coleta seletiva, baseadas no estudo dos problemas e no conhecimento técnico da equipe. As ações de natureza administrativa são aq uel as fe itas em c onjunto com os set or es Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.156 -162, Julho, 20 12 158 FÓFANO, de S.O. et al. administrativos da Universidade (Pró-Reitoria de Administração e Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários), e através delas são expostos os problemas e as propostas de solução. Essa prática tem se mostrado muito eficiente, porque esses órgãos administrativos estão mais abertos para os assuntos relacionados à coleta seletiva, o que resulta em mudanças concretas. Esse envolvimento com a Administração nos mostra que a evolução da coleta seletiva é mais efetiva com o empenho de todas as classes que compõem a Universidade, porque qua ndo e studa nte s, se rv idore s téc nic os e administrativos e professores não trabalham juntos, torna-se inviável a implementação da coleta seletiva e da reciclagem. Da mesma forma, pode-se fazer uma analogia com a sociedade e extrapolar a ideia aos municípios, porém este trabalho ainda não é estendido à cidade de Viçosa por falta de recursos humanos no Projeto. Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância de fazer a coleta seletiva e o papel de cada pessoa nesse processo. de estudantes da equipe interdisciplinar, com número de integrantes proporcional às necessidades requeridas pela quantidade de resíduos produzidos e pela grandeza do publico alvo. 2.2. Atividade de educação ambiental O grupo responsável por esta atividade tem como meta divulgar o projeto e conscientizar sobre sua importância através das seguintes ações: l l 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Atividade de implantação e monitoramento dos núcleos São considerados núcleos do Projeto Reciclar prédios ou departamentos onde a coleta seletiva ocorre ou está em processo de instalação. O projeto atua nesses locais junto à administração dos mesmos, para construir de maneira personalizada um plano de ação que inclui o planejamento, a implantação e o monitoramento da coleta seletiva no local, conforme detalhado a seguir. l l l Planejamento: Reuniões com grupos de alunos, professores e funcionários do setor, aplicação de questionários de pesquisa sobre o conhecimento dos membros sobre o assunto, identificação dos problemas e dos parceiros para implantação; Implantação: Adequações físicas de localização e tipo de coletor ideal, divulgação por cartazes, palestras e e-mails para alcançar a participação do público; Monitoramento: Visitas frequentes ao núcleo para acompanhar o andamento da coleta e solucionar eventuais problemas ou dúvidas relacionadas, por exemplo, a pontos de coleta, quantidade e identificação dos coletores e utilização correta dos sacos plásticos. Cada núcleo é de responsabilidade de um grupo menor l l l Realizar, no início do ano, palestras aos calouros sobre a existência do Projeto Reciclar e da coleta seletiva na Universidade Federal de Viçosa, focando principalmente a importância ambiental e social do projeto e a necessidade da participação de todos na destinação correta dos resíduos e na cobrança aos seus respectivos departamentos da implantação imediata da coleta seletiva; Atualização constante do site do projeto reciclar, divulgando notícias sobre eventos do mesmo e assuntos relacionados que despertem o interesse dos estudantes para a causa; Divulgação do Projeto por meio de comunicação interna por site, jornal e TV da universidade e pela confecção de material de mídia, como cartazes e faixas para exposição nos locais de maior circulação de pe ssoas ou onde a c ole ta se le tiva oco rr er eficientemente; Realizar palestras direcionadas a outras instituições que se interessarem por conhecer a metodologia de implantação da coleta seletiva utilizada pelo Projeto Reciclar; Planejar e montar o stand de divulgação do Projeto Reciclar na Semana de Graduação, de forma dinâmica e que desperte a atenção dos visitantes. A divulgação do projeto é um ótimo veículo disseminador para boas práticas na educação ambiental; por isso, é necessário aprimorar ações que consigam atingir cada vez maior número de pessoas. Sendo assim, o Projeto Reciclar com apoio da Editora UFV e das Pró-Reitorias de Administração e de Assuntos Comunitários promoveu um seminário voltado para área de resíduos sólidos (Figura 1), nos dias 26 a 28 de setembro, com o objetivo de compartilhar ações relacionadas ao Meio Ambiente na UFV e na cidade de Viçosa, tendo como destaque as seguintes apresentações: Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.156 -162, Julho, 20 12 Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos 1) Abertura: Lixo - um problema global e local - Palestrante: Profª Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares 2) Gerenciamento de resíduos na UFV: Ações presentes e futuras - Palestrante: Ulisses Cominini 3) Para onde caminha o Projeto Reciclar? - Palestrante: Rolf Puschmann 4) FUNARBE: Experiências bem sucedidas de Coleta Seletiva - Palestrante: Mateus Mendonça 5) Editora UFV: Experiências bem sucedidas de Coleta Seletiva - Palestrante: Carla Coutinho 6) Ações e resultados do projeto “Carbono Zero” Palestrante: Ricardo Martiniano 7) Experiências de coleta seletiva na cidade de Viçosa - Palestrante: Nádia Dutra de Souza 8) Riscos associados ao não tratamento dos resíduos na UFV - Palestrante: Mauro Cruz 9) Destinação dos resíduos sólidos na cidade de Viçosa - Palestrante: Marcos Magalhães Figura 1 - Modelo usado para o cartaz de divulgação do evento. 159 2011 foi o ano da vinculação do Projeto Reciclar à Pró-Reitoria de Administração, visando aperfeiçoar a coleta seletiva dentro do campus, procurando criar uma interação entre a Divisão de Parque e Jardins, os funcionários do prédio e a Gerência de Resíduos Perigosos da UFV, e procurando identificar os problemas de cada setor que dificultam ou impossibilitam a coleta adequada dos resíduos. O Projeto também conta com o apoio da Reitoria e da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários (Figura 2). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Apesar de todo o trabalho de conscientização, feito pelos integrantes do Projeto Reciclar, dentro dos departamentos, é possível observar que não está sendo reciclada grande parte do resíduo (Figura 3). Isto porque o mesmo não está no devido saco para armazenamento, sendo azul para os recicláveis, e preto para os não recicláveis, ou é colocado no ponto de coleta depois que o caminhão da coleta seletiva passou, ou até mesmo devido ao desinteresse do departamento na implantação da coleta. Acredita-se que com o Projeto Reciclar fazendo parte da PAD – Pró-Reitoria de Administração, esse quadro irá mudar, uma vez que é de grande interesse da universidade fazer cumprir o Decreto nº 5.940, de 25 de outubro de 2006 - que institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis. Figura 2 - Reunião da Equipe do Projeto com a Reitora, Profª. Nilda de Fátima F. Soares, com a Pró-Reitora de Administração, Leiza Maria Granzinolli, com o Diretor da Divisão de Logística e Segurança, Belmiro Zamperlini e com o Engenheiro Ambiental, Ulisses Comini, para discutir as ações de institucionalização e avanços do Projeto Reciclar. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.156 -162, Julho, 20 12 160 FÓFANO, de S.O. et al. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Acredita-se que com o Projeto Reciclar fazendo parte da PAD – Pró-Reitoria de Administração, esse quadro irá mudar, uma vez que é de grande interesse da universidade fazer cumprir o Decreto nº 5.940, de 25 de outubro de 2006 - que institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e 5 entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis. mundo tem sido grande e seu mau gerenciamento, além de provocar gastos financeiros significativos, pode provocar graves danos ao meio ambiente e comprometer a saúde e o bem-estar da população. Por esse motivo, o interesse em estudar resíduos sólidos tem se mostrado crescente. Devido às dificuldades encontradas com a coleta seletiva, foi criado mais um Projeto em conjunto com o Reciclar, denominado “Plano de Gerenciamento Integrado de Coleta Seletiva na UFV” (PIBEX/2012), coordenado pelo Diretor de Manutenção de Infraestrutura Urbana e Meio Ambiente, o Engenheiro Mecânico Jefferson Machado Fontes, da Pró-Reitoria de Administração. Este novo projeto está responsável pela parte funcional e operacional da coleta no campus. Atualmente a quantidade de materiais recicláveis recolhidos semanalmente na UFV é da ordem de 1500 a 5000 kg, com uma média diária variando de 300 a 1000 kg (Divisão de Parques e Jardins 2011/2012), conforme pode ser observado na Figura 4. Esse material é de ótima qualidade e possui grande valor agregado, uma vez que os catadores do campus são criteriosos e atentos ao recolhê-lo. Para Cunha & Caixeta Filho (2002), muitas vezes, o lixo é tratado com a mesma indiferença da época das cavernas, quando não era verdadeiramente um problema, seja pela menor quantidade gerada, seja pela maior facilidade da natureza em reciclá-lo. Entretanto, em tempos mais recentes, a quantidade de lixo gerada no Com o passar dos anos foi possível perceber a importância do trabalho do Projeto Reciclar, já que a quantidade de material recolhido aumentou de 2006 até 2012, em consequência da conscientização dos trabalhadores dos prédios no que diz respeito à importância da coleta seletiva. Figura 3 - Resíduos sólidos recicláveis e não recicláveis recolhidos para os dias da semana na UFV em 2011. Figura 4 - Médias mensais dos resíduos sólidos recicláveis recolhidos na UFV no período de agosto de 2011 a março de 2012. (Fonte: Gerência de resíduos UFV). Apesar de todo o trabalho de conscientização, feito pelos integrantes do Projeto Reciclar, dentro dos departamentos, é possível observar que não está sendo reciclada grande parte do resíduo (Figura 3). Isto porque o mesmo não está no devido saco para armazenamento, sendo azul para os recicláveis, e preto para os não recicláveis, ou é colocado no ponto de coleta depois que o caminhão da coleta seletiva passou, ou até mesmo devido ao desinteresse do departamento na implantação da coleta. Fonte: Divisão de Parques e Jardins. Revista Brasileir a de Agro pecuár ia Sustentáv el (RBAS), v.2, n.1., p.156 -162, Julho, 20 12 Estratégias para um gerenciamento participativo da coleta de resíduos sólidos 3.1. Estratégias adotadas no desenvolvimento do trabalho 1 - Definir os principais objetivos do Projeto e desenvolver um Plano de Gerenciamento de Resíduos que se adéque à realidade do local onde se deseja desenvolver a coleta seletiva. 2 - Estabelecer parcerias com projetos afins e de mesma essência ideológica, a fim de montar e organizar uma equipe de trabalho, dividindo responsabilidades específicas para cada membro de acordo com seu perfil profissional. 3 - Desenvolver atividades que atinjam e envolvam o maior número de pessoas possível. 4. CONCLUSÃO Quando estamos consumindo qualquer produto ou serviço, quase sempre geramos lixo, ou pela sobra ou pelas embalagens que revestem as mercadorias, parte dos serviços que compramos. Mas ainda poucas pessoas se preocupam em saber para onde irá todo esse lixo ou quais as consequências provocadas no meio ambiente, para tornar possível a geração dos produtos e serviços que servem à humanidade diariamente. Tais reflexos da modernidade já estão se confirmando quando temos mudanças radicais no meio ambiente (Magera, 2008). O Projeto Reciclar se fez presente dentro do campus através de divulgação, educação e conscientização, procurando atingir a todos que frequentam ou pertencem indireta e diretamente à UFV. Tal trabalho se mostrou fundamental para a eficiência e o bom funcionamento da coleta seletiva, uma vez que a mesma se mostrou dependente, em todas as suas etapas, do interesse e da aceitação da comunidade. Mostrou-se clara, então, a necessidade de atividades contínuas e intensas relacionadas ao ensino de boas práticas ambientais, além de apoio e interesse da administração. Dessa forma é possível estabelecer um mecanismo de correta destinação do material reciclável, tornando a universidade mais sustentável. 5. LITERATURA CITADA AMATO NETO, J. (org.). Sustentabilidade & produção: teoria e prática para uma gestão sustentável. São Paulo: Atlas, 2011. 161 ARAÚJO, G.C.; MENDONÇA, P.S.M. 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