prefácio exame clínico do paciente com distúrbios músculo
Transcrição
prefácio exame clínico do paciente com distúrbios músculo
CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] L.E.R. EXAME CLÍNICO DO PACIENTE COM DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS PREFÁCIO Dr. Sergio Nicoletti Avaliar um paciente portador de distúrbios musculoesqueléticos associados ao trabalho não é tarefa das mais fáceis que um médico pode enfrentar porque, muitas vezes, não é possível evidenciar lesões macroscópicas que permitam estabelecer a clássica associação que estamos acostumados a procurar entre as queixas apresentadas e as mudanças estruturais dos tecidos que os legitimam. Enfrentar uma situação assim é sempre difícil porque, com ou sem sinal de lesão estrutural dos orgãos e tecidos acometidos, precisamos decidir, no consultório, longe do ambiente de trabalho do paciente, se as tarefas executadas em sua vida diária requerem esforços, se estes são repetitivos e se existe nexo entre os distúrbios encontrados e o trabalho realizado. Temos que considerar a possibilidade de existirem doenças concomitantes, como as endocrinopatias, as pneumopatias, as doenças reumáticas, os distúrbios ortopédicos antigos e um sem número de possíveis fatores modificadores da relação que exista entre uma doença, considerada ocupacional e os fatores que a desencadeiam, ou seja, suas causas. Por isso, a primeira regra da boa avaliação médica do paciente com DMO, prescrita por Ramazzini, em 1700, é o médico que vai atender a um trabalhador não deve se limitar a pôr a mão no pulso, com pressa, assim que chegar, sem se informar das suas condições. Não delibere de pé sobre o que convém ou não convém fazer, 1 como se não lidasse com uma vida humana. Acredito que na maioria das pessoas, os distúrbios musculoesqueléticos ocupacionais se instalam em consequência de alterações funcionais ainda não elucidadas, que ocorrem em nível molecular e acarretam alterações da estimulação, condução e recepção neuronal, distúrbios dos mecanismos de controle biológico de regeneração tissular e outros eventos que se apresentam clinicamente como dor, inflamação, impotência funcional e, nas situações mais graves, alterações emocionais importantes. As ciências biológicas já dispõem de recursos que permitem explorar melhor, em nível funcional e molecular, os mecanismos possivelmente envolvidos na produção dos DMO. No entanto, no presente momento, tais recursos ainda não estão disponíveis para emprego clínico, o que faz com que o médico conte apenas com seu conhecimento sobre semiologia do Aparelho Locomotor para reunir evidências que fortaleçam a tese de que existe doença na pessoa que examina, mesmo que, no momento do exame, não existam sinais físicos muito evidentes da doença. Neste fascículo, vamos apresentar os principais processos que compõem uma avaliação médica do Aparelho Locomotor, limitada aos membros superiores, cíngulo escapular e região cervical, sedes mais frequentes dos distúrbios musculoesqueléticos associados ao trabalho. Por influência do uso, referimo-nos inicialmente ao termo LER para introduzir o tema. No entanto, neste fascículo e nos que virão a seguir, vamos utilizar o termo Distúrbios Musculoesqueléticos Ocupacionais (DMO) para referirmo-nos ao conjunto de doenças que se associam às atividades laborativas e provocam desarranjos no Aparelho Locomotor. Dezembro 96 Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 INTRODUÇÃO AO EXAME DO APARELHO LOCOMOTOR DO PACIENTE PORTADOR DE DISTÚRBIOS MUSCULOESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS (DMO) QUEIXA PRINCIPAL, HISTÓRICO DA DOENÇA E ANTECEDENTES Levantamento da situação atual da doença do paciente e da sua evolução cronológica. Sergio Nicoletti A avaliação ortopédica ocupacional de um paciente com DMO, pode ser, didaticamente, dividida em 5 processos clínicos: Contato inicial. Queixa principal, histórico da doença e antecedentes. lAvaliação preliminar da presença do risco extrínseco (fatores organizacionais). lDeterminação da presença de risco intrínseco e de doenças associadas. lExames complementares. l l Esse é um momento importante CONTATO INICIAL ENTRE O para ambos, médico e paciente. Para MÉDICO E O(A) PACIENTE o médico, porque nenhuma outra COM DMO ocasião será tão propícia para estaEstabelecendo relação médicopaciente adequada. Pacientes com distúrbios musculoesqueléticos ocupacionais crônicos apresentam padrões de comportamento típicos. Ao entrar pela primeira vez no consultório de um médico, alguns deles são agressivos, falam muito e deixam claro suas posições de litígio com a empresa, seu sofrimento com a doença e seu desejo de recompensa material. Outros(as) mal conseguem se expressar, caminham para o interior do consultório como se necessitassem de um grande esforço para fazê-lo, passam ao médico a impressão de que abandonaram a vontade de viver. Aqueles que estão começando a apresentar os sintomas dolorosos que prenunciam o desenvolvimento dos DMO apresentam-se apreensivos, perguntam se isso é LER e demonstram preocupação quanto ao seu futuro na profissão que exercem. belecer os vínculos positivos que, obrigatoriamente, precisam existir entre um paciente e seu médico. Perder a chance de conquistar, na primeira consulta, a confiança do paciente, com uma atitude compreensiva, amável, atenciosa e firme, é, no mínimo, estabelecer as bases para o fracasso terapêutico. Para o(a) paciente, por outro lado, principalmente para o que sofre dor intensa e disfunção crônica grave, as expectativas quanto ao atendimento inicial tendem a ser de esperança, de busca por salvação. No entanto, sua postura com relação ao médico não é boa, principalmente pelas más experiências prévias que muitos deles já vivenciaram. Esse é o momento ideal para surpreendê-lo com gestos de atenção, respeito e interesse pelos seus problemas. A dor é o sintoma que predomina na maioria dos pacientes com DMO. No começo é difusa, mal caracterizada - sensação de peso, cansaço, ardor - e aparece apenas no final das jornadas diárias de trabalho. Nessa fase, os sinais objetivos estão ausentes e os pacientes, com frequência, são considerados simuladores ou portadores de somatização ou neurose2. Com o passar do tempo e a persistência dos fatores causais, tende a aumentar a intensidade, localizar-se ao redor de articulações, como o punho, cotovelo, ombro, e a persistir mesmo após a interrupção do trabalho repetitivo. De maneira geral, as manifestações clínicas dos DMO tendem a apresentar características diferentes ao longo do tempo de duração dos sintomas. A classificação em estágios evolutivos permite agrupar os pacientes de acordo com a intensidade dos sintomas e as dificuldades terapêuticas encontradas. Permite também que a comunicação entre as várias instâncias envolvidas com a atenção à saúde do trabalhador se faça de maneira mais objetiva. Essas vantagens formar reconhecidas pelo INSS que, sob a denominação LER, reconhece quatro estágios evolutivos diferentes8. 2 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] ESTÁGIOS EVOLUTIVOS DOS DMO Estágio 1 - caracteriza-se pela ausência de sintomas e sinais objetivos. Não existe dor propriamente dita. Predominam as queixas vagas de desconforto e peso nos braços, que melhoram com o repouso, nos finais de semana e nas férias. Os sintomas não são nitidamente localizados e atingem áreas envolvidas na movimentação e no posicionamento dos membros superiores, como as regiões cervicotorácica e os ombros. Os objetos parecem mais pesados e existem referências a pontadas e agulhadas, que, apesar de incomôdas, não interferem com a produtividade. O exame clínico pode evidenciar contratura e dolorimento à palpação dos músculos cervicais e um certo empastamento dos músculos da cintura escapular, principalmente na porção superior do trapézio. O tratamento adequado, quando instituído nesta fase, tem prognóstico bom. Estágio 2 - A dor já é o sintoma predominante. Aparece principalmente na segunda metade de uma jornada de trabalho diário de oito horas. É tolerável, mas começa a prejudicar a produtividade. Frequentemente, os pacientes se queixam da persistência de dor noturna. . Existe referência comum a sensação de inchação que não apresenta os sinais objetivos da alteração mencionada. Mudanças no ritmo de produção, como ocorre nas épocas de produção mais intensa, tendem a produzir exarcebações agudas da dor. Existe também um ritmo característico de aumento da dor do começo para o final da semana. Na segunda feira a dor é menos intensa e só aparece no final da jornada de 3 trabalho. Do meio da semana em diante, os sintomas aparecem mais precocemente e aumentam de intensidade. Formigamento, calor e distúrbios discretos de sensibilidade tátil, como sensações de aspereza e dedos grossos, são queixas comuns nessa fase. O exame físico da área afetada pode evidenciar contraturas musculares, dor a palpação profunda e à mobilização das articulações adjacentes. Quando o tratamento se inicia nesta fase ou o paciente não respondeu ao programa terapêutico já instituído, o prognóstico, apesar de favorável, torna-se menos promissor. É comum encontrar pacientes que melhoraram com o tratamento inicial e voltaram para o mesmo posto de trabalho, passando a apresentar a situação acima descrita. Estágio 3 - A dor torna-se mais intensa, persistente e localizada. O paciente não consegue manter sua atividade profissional normal devido à dor. O repouso atenua mas não faz a dor desaparecer completamente. Tentativas de mobilização das articulações adjacentes produzem dor forte. É possível observar distúrbios vasomotores, como pele quente, luzidia, sudorese, hiperemia. O espasmo muscular é comum, principalmente na região cervicotorácica. Podem existir alterações da condução nervosa em segmentos dos nervos periféricos que atravessam os túneis osteofibrosos, no carpo, desfiladeiro torácico e cotovelo. Até o presente momento, o prognóstico de recuperação funcional das pessoas que atingem esse estágio não é bom. Pacientes afastados do trabalho durante meses continuam sentido dor. Estágio 4 - A dor é contínua e piora com a mobilização dos segmentos afetados. Gealmente existem vários segmentos dolorosos à palpação. O estado emocional do paciente está claramente afetado. Isso faz com que suas queixas e reações aos estímulos mecânicos originados pelas manobras diagnósticas sejam desproporcionais aos achados observados pelo exame físico. É possível identificar, em alguns casos, hipotrofias musculares, geralmente associadas a sintomas sugestivos de compressão nervosa em túneis osteofibrosos. AVALIAÇÃO DO RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE DISTÚRBIOS MUSCULOESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS A presença isolada de movimentos repetidos, por si só , não é suficiente para produzir lesões ou para desencadear os fenômenos clínicos associ1 ados aos DMO . Para que estes aconteçam é necessário que existam outros fenômenos associados. Alguns desses fenômenos são provenientes de condições individuais dos pacientes, sua herança genética, seu perfil metabólico e de homeostase tissular, a estabilidade mecânica de suas articulações, etc. Tais fenômenos são aqui denominados Fatores Intrínsecos. Uma outra classe importante de fenômenos associados ao aparecimento dos DMO são aqui denominados Fatores Extrínsecos, porque sua presença depende de situações que não estão diretamente associadas a cada indivíduo e sim a fatores organizacionais que configuram a maneira de executar uma determinada função, o ritmo com que essa função é executada e os fatores psicossociais que Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 caracterizam o ambiente e relações humanas no local em que se dá a produção. O conceito de dose-resposta também é muito importante para a avaliação das condições em que se encontra um paciente com sintomas sugestivos de DMO Constatada a possível presença de fatores extrínsecos de risco, é necessário saber se o tempo e a intensidade de exposição (dose de fatores extrínsecos ) aos quais a pessoa foi submetida são suficientes para produzir, no paciente, respostas biológicas e emocionais diferentes das esperadas para uma população média, ou seja, é preciso avaliar se o paciente apresenta suscetibilidade (resposta dependente de fatores intrínsecos) às condições de trabalho que enfrenta. ceitos básicos de ergonomia, capacitam o médico examinador a estimar a dose de exposição a que um paciente está sujeito, durante sua jornada de trabalho. Exemplos de fatores de risco extrínsecos em posto de computador: - Funções ergonomicamente mal concebidas - obrigam a pessoa que as realiza a usar o próprio corpo de maneira inadequada (fig. 1): lRodar o pescoço para o lado. lFletir os ombros. lInclinar-se para alcançar o mouse. lTeclado acima da altura do cotocelo. lPunhos com desvios. lUso de telefone apoiado no ombro. lMonitor muito alto. lCadeira inadequada. DETERMINAÇÃO DA PRESENÇA DE RISCO INTRÍNSECO E DE DOENÇAS ASSOCIADAS O exame físico ortopédico voltado para a detecção de estruturas comprometidas e de alterações biomecânicas que representam fatores de risco. O exame físico do paciente com suspeita de DMO deve obedecer aos princípios estabelecidos na propedêutica do Sistema Musculoesquelético e ainda contemplar alguns fatores que podem ser resumidos como a busca por sinais que permitam identificar alterações que indiquem a presença de fatores de risco. AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA PRESENÇA DE RISCO EXTRÍNSECO (FATORES ORGANIZACIONAIS) Estimativa de contribuição da tarefa na produção dos DMO. Situações organizacionais que representam risco para o trabalhador são difíceis de serem avaliadas, com precisão, a partir de um consultório distante do local onde o paciente trabalha. No entanto, o médico atento e interessado pode, mesmo estando distante, formar uma idéia aproximada das condições de exposição e de risco de doença enfrentadas por uma determinada pessoa, levando-a a descrever, com detalhes, os gestos e as posturas que adota para desempenhar suas atividades. O confronto dessas informações com o conhecimento de biomecânica e dos con- extra de adaptação: lCompetição exagerada. lPressão como forma de obter resultados. lMedo de perder o emprego. lRelacionamento ruim SupervisorFuncionários. lRelacionamento ruim FuncionáriosFuncionários. - Organização do trabalho. - colocam as pessoas no seu limiar de reserva funcional: lUso do computador por muitas horas seguida. lFalta de pausas. lPrazos muito curtos para conclusão do trabalho. lPicos de solicitação de trabalho. lHoras extras muito frequente. lFalta de poder para decisões relacionadas a tarefa. lPrêmios por produtividade. - Relações humanas inadequadas produzem estresse e necessidade A exposição aos fatores de risco extrínseco, por si só, não determina o aparecimento de um alesão ou o início dos sintomas associados aos DMO. Para que a doença se instale, é necessário que a resposta biológica e emocional da pessoa exposta tenham características que configurem falha de adaptação à situação criada pelo trabalho que realiza. Alguns dos fatores que favorecem as falhas de adaptação física são: Incapacidde funcional para desempenhar tarefa que exija força: o desempenho de atividades 4 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] que exigem força para sua realização requer uma preparação especial, voltada para o desenvolvimento de capacitação física necessária para o desenvolvimento de força muscular. O aumento de força muscular, por sua vez, depende não apenas de mudanças bioquímicas e adaptações que ocorrem na intimidade do tecido muscular, mas também de mudanças funcionais do sistema neuromotor que produzem maior nível de excitação, facilitação e maior recruta9 mento de fibras . A avaliação manual da força muscular de um paciente ou o exame monitorizado com dinamômetros especiais podem fornecer, durante o exame físico, oportunidades para a quantificação da capacidade funcional para uma determinada tarefa. Limitação funcional para a execução de gestos repetitivos: movimentos repetitivos são sempre potencialmente perigosos. A capacidade de executar repetidamente determinados gestos, com movimentos harmoniosos e sem concentração exagerada de forças nas articulações, depende de habilidades motoras natas, de automação (aprendizado) de gestos, alcançada com o treinamento, da capacidade biológica que cada pessoa tem de reparar as perdas celulares normais, decorrentes dos esforços mecânicos originados das atividades diárias, etc. Este fator pode ser modificado, dentro de limites fisiológicos, com programas de treinamento voltados para o desenvolvimento gradual de certas habilidades motoras, de coordenação, etc. No entanto, a manutenção de movimentos repetitivos por tempo prolongado, principalmente quando é necessário força para executá-los, 5 representa um sério risco para a saúde das pessoas que não tenham sido preparadas para realizá-los, ou que tenham uma capacidade funcional insuficiente. Posturas viciosas: o corpo humano é formado por conjuntos de segmentos funcional e anatomicamente diferentes uns dos outros. Para efeitos didáticos, poderíamos considerar os seguintes conjuntos funcionais: 1. cabeça e pescoço; 2. tronco e coluna vertebral toracolombar; 3. cíngulo escapular e membro superior; 4. cintura pélvica e membro inferior. Apesar das diferenças anatômicas e funcionais, cada um desses conjuntos, se relaciona com os demais de maneira harmônica e integrada, permitindo a adoção de posturas e a realização de movimentos. A postura, nós sabemos, é a base dos nossos movimentos e depende, para sua manutenção, de integração neuromotora e da endurance muscular. A endurance é definida como a capacidade de um grupo muscular manter ou contrações repetidas contra uma determinada carga ou uma única contração isométrica por um tempo prolongado4. Força e endurance podem ser desenvolvidas, dentro de limites individuais, com programas de treinamento adequados. Compressão mecânica: os estreitamentos osteofibrosos constituídos por polias e túneis por onde passam nervos e tendões são considerados pela maioria dos autores como fontes de traumatismos repetitivos ocasionados por compressão mecânica e atrito dos tendões contra superfícies rígidas. A presença de sintomas e sinais objetivos de compressão nesses locais tem constituído indicação para as cirurgias de liberação ao nível do túnel do punho, cotovelo e desfiladeiro torácico. Portanto é importante saber explorar bem, do ponto de vista semiológico, as regiões onde existam tais conformações e definir se um determinado paciente apresenta anomalias que possam representar risco. A observação de desalinhamentos e de desarmonia entre os diferentes segmentos permite a detecção de vícios posturais que podem ser ocasionados ou cronificados por posturas viciosas. Desvios posturais produzem sobrecargas em vários segmentos, limitam a performance do trabalho musculoesquelético, e predispõe as pessoas às lesões e à dor. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 O EXAME FÍSICO DA REGIÃO CERVICAL DO PACIENTE COM DMO Eduardo Barros Puertas José Carlos M. Chagas Carlos Eduardo A. S. Oliveira O exame deve ser realizado com o paciente vestido de maneira a permitir a vizibilização de pescoço e da cintura escapular. Ambiente calmo e bem iluminado são importantes requisitos para a realização adequada do exame. Inicia-se o exame com a inspeção estática, que deve incluir a observação do alinhamento cervical em relação ao tronco, a procura de manchas e nódulos cutâneos (sugerem neurofibromatose) e a presença de assimetrias musculares. Segue-se a palpação minuciosa dos músculos do pescoço, cadeias ganglionares superficiais, pulsos arteriais e nervos ocipitais (fig. 2). Fig. 2 testes manuais de força muscular, testes de reflexos de estiramento e testes de sensibilidade tátil e dolorosa. Quanto à força muscular, considerase que pacientes com DMO podem apresentar desequilíbrios discretos, com predomínio dos grupos flexores sobre os grupos extensores do pescoço. O registro destes desequilíbrios pode ser feito anotando a presença do desequilíbrio e do predomínio de um grupo muscular sobre o outro. Com relação aos níveis neurológicos situados abaixo de C4, que podem apresentar distúrbios importantes, decorrentes de síndromes compressivas cervicais, utiliza-se a classificação da American Spinal Injury Association, que divide a função neurológica motora em uma escala que vai de 0 a 5, conforme o quadro 1. Gânglios linfáticos da face ântero-lateral do músculo trapézio Palpação do trapézio, desde a origem até a inserção Fig.3 GRANDE NERVO OCIPITAL Em seguida são realizados os testes de avaliação manual da força dos músculos do pescoço (fig. 3), procurando identificar desequilíbrios funcionais que possam ocasionar sobrecargas dos grupos musculares mais fracos. A identificação de pontos dolorosos é importante e o seu registro minucioso oferece a possibilidade de tratamento eficaz e parâmetro para controle da eficácia terapêutica. Quadro 1: Classificação da força muscular, avaliada com teste manual. Função 0 1 2 3 4 5 Sinal Clínico Paralisia total Contração visível ou palpável Movimento ativo, amplitude normal. força de gravidade compensada Movimento ativo, amplitude normal, contra gravidade, sem carga Movimento ativo, amplitude normal, contra carga moderada Movimento ativo, amplitude normal, contra grande resistência (NORMAL. Os testes neurológicos são realizados obedecendo-se a distribuição metamérica dos nervos periféricos e de suas raízes. As avaliações incluem 6 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] Os níveis neurológicos testados são14: 7 Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 8 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] TESTES ESPECIAIS TESTE DE COMPRESSÃO (fig. 9): a compressão da coluna cervical, obtida por força manual cuidadosa, realizada pelo examinador, a partir da cabeça do paciente, quando positiva, sugere a presença de compressão foraminal de raízes nervosas localizadas na região do pescoço. SINAL DE LERMITTE: o movimento de flexão forçada do pescoço pode provocar dor e/ou alterações de sensibilidade que se irradiam para membros superiores ou membros inferiores. Tais sintomas podem estar associados a síndromes compressivas da medula anterior (tumores) ou a doenças desmielinizantes. 9 Teste de compressão da coluna cervical Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 EXAME FÍSICO DO OMBRO E CÍNGULO ESCAPULAR DO PACIENTE COM DMO Sergio Nicoletti Benno Ejnisman O ombro é responsável pela execução da maior parte da movimentação e do posicionamento do membro superior no espaço. Por estar envolvido em todos os movimentos e nas posturas do membro superior, o ombro é uma das regiões que mais frequentemente são acometidas pelos DMO. Além disso, por estar situado situações acima indicadas pode contribuir, concomitantemente, para o aparecimento ou a piora da outra. Assim, a dor decorrente da sobrecarga produzida por excesso de horas trabalhadas pode ser agravada pela presença de instabilidade glenoumeral e por deformidades congênitas, consideradas como fatores de risco para o desenvolvimento de DMO. Na avaliação do ombro, é necessário utilizar testes clínicos para pesquisar: Fig. 10 Relações de contiguidade e de inervação comum, existentes entre as víceras toráxicas e o ombro. na importante região de transição cervicotorácica, o ombro está rodeado por vários órgãos cujas doenças podem afetá-lo por contiguidade ou mesmo podem produzir sintomas referidos que confundem o médico e os profissionais que tratam dos DMO (fig. 10). 1. Compressão no desfiladeiro torácico. 2. Distúrbios funcionais do mecanismo escapulatorácico. 3. Processos dolorosos localizados no espaço subacromial. 4. Instabilidade glenoumeral. Os sinais e sintomas relacionados com as doenças do ombro podem ser, didaticamente, agrupados em dor, instabilidade, restrição de movimentos e deformidades, que, por si só, não traduzem alterações específicas, nem possuem significado diagnóstico objetivo. Cada uma das SÍNDROME DO DESFILADEIRO TORÁCICO As artérias e veias subclávia e axilar e os troncos do plexo braquial, durante sua passagem pela transição cervicobraquial, podem ser comprimidos em vários pontos diferentes: 1. A artéria subclávia e o plexo braquial podem ser comprimidos no triângulo formado pelos músculos escalenos anterior e médio. 2. Mais distalmente, podem ser comprimidos entre a clavícula e o músculo subclávio, anteriormente, e a primeira costela, posteriormente. 3. Ao progredir em direção caudal, o feixe vasculonervoso pode ser comprimido entre o processo coracóide e o músculo peitoral menor, anteriormente, e a membrana costocoracoideana, posteriormente. Existem vários fatores que podem contribuir para ocasionar a compressão: Fatores dinâmicos: A elevação do braço produz estreitamento do espaço costoclavicular e também tende a comprimir a artéria axilar contra o processo coracóide. A inatividade produz diminuição do tônus dos músculos cervicoescapulares e permite que os ombros caiam, o que contribui para comprimir as estruturas vasculonervosas. Fatores congênitos: A presença da costela cervical diminui o espaço por onde os vasos e nervos passam, possibilitando o aparecimento de sintomas de compressão. Outras possíveis causas são as anomalias de inserção dos músculos escalenos e os desvios da coluna vertebral causados por escoliose. Outros fatores: Podem ocorrer pseudoartrose da clavícula com produção excessiva de calo ósseo, tromboses arteriais ou venosas e compressão direta ocasionadas por tumores do ápice pulmonar, tumores, primári- 10 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] os ou metastáticos que envolvam a coluna vertebral ou os ossos adjacentes, etc. Todos esses fatores podem produzir compressões no desfiladeiro torácico e dor com irradiação para o ombro e apesar, de não constituírem doença ortopédica, precisam ser conhecidos e levados em consideração em um paciente com queixas de cervicobraquialgia. Existem 3 manobras que podem ser utilizadas para detectar compressão no desfiladeiro torácico: MANOBRA DA HIPERABDUÇÃO (WRITE): o paciente sentado realiza hiperabdução dos ombros, enquanto o examinador palpa as pulsações radiais em ambos os lados. O teste é considerado positivo quando, nas condições descritas, ocorrem ou pioram os sintomas6. TESTE DE HALSTEAD: o paciente estende o pescoço e gira o rosto para o lado contralateral, enquanto o examinador traciona o seu braço para baixo, ao mesmo tempo que palpa as pulsações da artéria radial. O aparecimento ou a piora dos sintomas torna o teste positivo. TESTES PARA AVALIAÇÃO DE DISTÚRBIOS DO MECANISMO ESCAPULOTORÁCICO Denominamos mecanismos escapulotorácico o conjunto formado pela escápula e pelos músculos responsáveis pela sua estabilização e movimentação contra o gradil costal (fig 12). DISTÚRBIOS POSTURAIS MANOBRA DE ADSON, (fig. 11): é realizada com o paciente sentado, com as mãos apoiadas sobre os joelhos. Após realizar uma inspiração profunda, a expiração é contida e o paciente estende o pescoço e gira o rosto em direção ao ombro contralateral, enquanto o examinador palpa as pulsações da artéria radial, no punho do paciente. O teste é considerado positivo quando, ao posicionar o braço, os sintomas são reproduzidos. A diminuição, ou o desaparecimento isolado das pulsações, não são considerados suficientes para estabelecer o diagnóstico da síndrome, pois muitas pessoas assintomáticas, principalmente do sexo feminino, podem apresentar interrupção do pulso radial, nas condições do teste7. 11 As dores cervicobraquiais podem ser produzidas por desordens orgânicas e funcionais provocadas pelo trabalho repetitivo e pelo aumento da carga muscular estática que, por sua vez, pode ser consequência de posturas inadequadas ou de repetições de movimentos por longos períodos sem repouso suficiente. O exame físico pode evidenciar alterações da amplitude do movimento do pescoço, espasmo do trapézio e a presença de pontos gatilho, cujo bloqueio com lidocaína produz melhora da dor. O tratamento eficaz desses pacientes deve incluir o diagnóstico da disfunção presente, a determinação dos fatores ergonômicos envolvidos e sua correção, bem como um programa de reabilitação adequado. Representação esquemática do mecanismo escapulotoráxico e sua relação com a articulação glenoumeral. Tal mecanismo exerce um papel importante na função global do ombro, e os distúrbios que o comprometem acabam por atingir a função do cíngulo escapular, como um todo. Sede frequente de DMO, a região escapulotorácica pode ser avaliada, do ponto de vista funcional, pelas seguintes manobras: 1. Testes para o músculo trapézio 2. Teste para o músculo rombóide 3. Teste para o músculo serrátil anterior 4. Ritmo escapulotorácico TESTE PARA O MÚSCULO TRAPÉZIO O trapézio (fig 13.) é um músculo muito grande que, do ponto de vista funcional, pode ser dividido em três porções3. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 Trapézio superior: função - elevação e rotação escapular ( em associação com músculo elevador da escápula). Trapézio médio: função - abdução escapular (em conjunto com trapézio inferior e rombóides). TESTE PARA OS MÚSCULOS SERRÁTEIS Serrátil anterior: abdução e rotação da escápula Teste: (fig 15) Trapézio inferior: função - abdução e depressão escapular ( em conjunto com rombóides). TESTES PARA LOCALIZAÇÃO DE DISTÚRBIOS DO ESPAÇO SUBACROMIAL Fundamentos: O espaço subacromial é delimitado, superiormente pelo arco coracoacromial, formado pela porção anterior do acrômio, pelo processo coracóide e pelo ligamento coracoacromial que os une (fig. 17). O paciente em posição ortostática, apóia as mãos contra a parede e executa gesto de empurrar. A insuficiência do serrátil permite a elevação da escápula do lado afetado. RITMO ESCÁPULO-UMERAL Exame do músculo trapézio: o paciente permanece em decúbito ventral, com o lado a ser examinado colocado fora da mesa, e com o membro superior em rotação externa e abduzido. Observa-se a ação do trapézio superior mantendo-se o braço abduzido acima do nível do ombro. O trapézio médio pode ser avaliado com o braço abduzido entre 45 e 90 graus, e o trapézio inferior, com a abdução abaixo de 45 graus. TESTE PARA OS MÚSCULOS ROMBÓIDES Rombóide maior e Rombóide menor: abdução e rotação escapular. Teste: (fig 14) (fig 16.) A amplitude do movimento de elevação do membro superior depende da coordenação entre os movimentos realizados pela articulação glenoumeral e pela articulação escapulotoráxica, esta última responsável por 2/3 da amplitude do movimento total. Ao observar o paciente realizando o movimento, o médico pode notar que existe um ritmo harmonioso de movimentação entre o braço (glenoumeral) e a escápula. Na presença de alterações patológicas do ombro, é possível observar, entre os dois segmentos, movimentos anômalos e fora do ritmo. Pneumografia do ombro, mostrando -1: ligamento coracoacromial; 2- acrômio; 3- cabeça do úmero; 4- manguito rotador. A cabeça umeral representa o limite inferior do espaço, que contém em seu interior, os tendões do manguito dos rotadores e da bolsa subdeltóidea. A presença de distúrbios mecânicos gerados por estreitamento desse espaço pode produzir lesões nessas estruturas e desencadear reações inflamatórias que, por sua vez, produzem dor e a sintomatologia associada, conhecida como síndrome do pinçamento subacromial. Testes: O paciente em posição ortostática, realiza movimento forçado de abdução das escápulas. Representação esquemática do ritmo escapulotoráxico normal. A escápula se movimenta em sincronia com o braço. Para cada grau de elevação glenoumeral, são realizados 2 graus de elevação na articulação escapulatoráxica. Pinçamento subacromial: Permite identificar a presença do pinçamento dos tendões do manguito rotator e da bolsa subacromial, localizados abaixo do acrômio10. É realizado com o paciente sentado em frente ao examinador que, com uma das mãos estabiliza a escápula, enquanto que, com a outra, eleva o membro superior do paciente, pelo 12 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] Este teste tem sensibilidade de 78%, especificidade de 43% e acurácia de 73%. Teste do músculo infra-espinhal: Mantida a posição sentada, em frente ao examinador, o paciente roda externamente o braço e procura impedir que o examinador consiga mover o mesmo em rotação interna. A incapacidade para resistir à força, punho. A presença de dor, a partir de 80-90 graus de elevação, sugere a existência de processo inflamatório situado no espaço subacromial5 (fig. 18). Pinçamento subacromial sensibilizado: Pode ser realizado com o paciente na mesma posição que a assumida na manobra acima descrita. A diferença reside no fato de, ao final da manobra de elevação, o examinador imprimir movimento de rotação interna ao braço do paciente. Essa manobra adicional traz o tubérculo maior do úmero para baixo do acrômio, potencializando a elicitação da dor pelo pinçamento subacromial. Abdução forçada: É realizada com o paciente em frente do examinador que segura o membro supeiror do paciente pelo cotovelo e o eleva até aproximadamente 90 graus e, a partir dessa posição, realiza movimento de abdução passiva (fig. 19). A presença de artrose ou distúrbios mecânicos da articulação acromioclavicular faz aparecer dor. 13 Teste do músculo supra-espinhal: O paciente sentado em frente do examinador realiza a elevação de ambos os membros superiores até 90 graus e os posiciona no plano da escápula, mantendo-os em rotação interna (fig. 20). Em seguida, o examinador exerce pressão para baixo. A incapacidade para resistir à pressão exercida pelo examinador sugere a presença de rotura do tendão do músculo supra-espinhal. Recentemente foi introduzida na literatura uma modificação dessa manobra, que consiste em manter o membro superior sem a posição de rotação interna enquanto o examinador exerce a pressão para baixo. moderadamente aplicada pelo examinador, no antebraço, sugere a presença de lesão no tendão do músculo infra-espinhal (fig. 21). Lag Test: É uma variante do teste anterior, que sugere rotura completa do tendão do músculo infra-espinhal. O paciente roda externamente o membro superior, a partir da posição descrita anteriormente. O examinador observa que, do lado afetado, existe um déficit de amplitude do movimento, que desaparece com a ajuda do examinador, que roda passivamente o braço do paciente até o limite normal de amplitude do movimento. Teste de Yergason: É utilizado para diagnosticar tendinite e tenossivonite do tendão da cabeça longa do músculo bíceps do braço. A maneira mais simples de realizar o teste consiste em segurar, pronados, os punhos do paciente, sentado à sua frente, e solicitar que Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 deva ser evitado em pacientes nos quais as luxações ocorram com muita facilidade, porque ao realizar a prova, o médico pode produzir uma nova luxação. realize movimento de pronação forçada, contra as mãos do examinador. A presença de dor, sentida na região do sulco intertubercular do úmero sugere a presença de processo inflamatório no tendão do bíceps. TESTES PARA DIAGNÓSTICO DE INSTABILIDADE GLENOUMERAL Fundamentos: A articulação glenoumeral constitui o fulcro de movimentos do membro superior e por ela passam todas as forças geradas durante os movimentos do ombro. As funções de posicionamento do membro superior no espaço requerem mobilidade muito ampla e, ao mesmo tempo, um mecanismo de estabilização muito eficaz, que resista às cargas elevadas a que o ombro é constantemente submetido, durante as atividades diárias. Tal estabilidade é determinada pelo seu complexo capsuloligamentar, que, quando insuficiente, permite o deslocamento anormal da cabeça umeral e provoca o aparecimento de dor no ombro. Testes: Teste do sulco subacromial (fig. 22): Permite avaliar a estabilidade da cabeça umeral, no sentido craneocaudal. Sua presença nem sempre é considerada patológica. O paciente permanece sentado em frente ao examinador, com os músculos do ombro relaxados. O examinador segura o braço do paciente pelo cotovelo e exerce tração firme para baixo, enquanto que, com a outra mão, estabiliza a escápula. O teste pode ser graduado de acordo com o deslocamento inferior da cabeça.umeral e a presença de uma depressão da pele que aparece abaixo do acrômio (sulco subacromial). Sua presença sugere a existência de insuficiência capsuloligamentar glenoumeral que, por sua vez, representa um fator de risco (intrínseco) importante para o aparecimento de dor no ombro12 e dos DMO. Quando o sulco for pequeno e não existirem outros sinais sugestivos de instabilidade articular, o teste não é considerado positivo. Teste do stress posterior (fig. 24): É realizado com o paciente em frente ao examinador, que segura o membro superior do paciente pelo cotovelo e o eleva até aproximadamente 90 graus e, a partir dessa posição, realiza movimento de rotação interna, ao mesmo tempo que empurra o cotovelo para trás, de maneira a produzir carga no Teste da apreensão anterior (fig. 23): Com o paciente sentado, o examinador segura o punho do paciente com uma das mãos, enquanto que, com a outra, realiza a abdução passiva do membro superior. Ao atingir 90 graus, o examinador faz pressão com o polegar sobre a cabeça do úmero, de maneira a empurrá-la para a frente. Na presença de instacomplexo capsuloligamentar posterior da articulação glenoumeral. A instabilidade pode ser sentida pelo examinador na forma de um ressalto ou pode ser referida pelo paciente como dor na região posterior do ombro. bilidade glenoumeral franca, o paciente fica apreensivo e contrai a musculatura do ombro, para evitar que o ombro luxe. Este teste deve ser feito com muito cuidado em paciente que apresente histórico de luxações múltiplas e provavelmente O domínio sobre a técnica de realizar os testes acima descritos capacitam o médico do trabalho ou qualquer profissional de saúde a diagnosticar, clinicamente, a maior parte dos DMO, que se assestam no ombro e no cíngulo escapular. 14 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] EXAME FÍSICO DO COTOVELO, PUNHO E DA MÃO DO PACIENTE COM DMO Vilnei Mattioli Leite Walter Manna Albertoni Flávio Faloppa INTRODUÇÃO A mão é um órgão sensitivo e motor e seu funcionamento normal depende da integridade dos seus vários tecidos. Quando existe o comprometimento de qualquer estrutura como pele, ossos, nervos, vasos, tendões, articulações ou ligamentos, podemos observar uma diminuição de sua função. O diagnóstico das diversas enfermidades que envolvem o membro superior depende essencialmente do conhecimento anatômico e fisiológico normais. Portanto, é fundamental o conhecimento prévio das estruturas anatômicas. Quando examinamos um paciente com DMO, devemos tomar cuidados especiais no que tange à anotação de todas as consultas e resultados dos exames, pois existe uma série de problemas legais que envolvem estes documentos e futuras alegações do paciente, de seus advogados ou da empresa onde o paciente trabalha. Portanto, devemos sempre ter a identificação do paciente, histórico, antecedentes pessoais, antecedentes familiares, exame físico geral ortopédico, exame físico especializado e resultado de exames subsidiários bem documentados. EXAME FÍSICO O exame físico deve ser realizado em condições adequadas, com o paciente sentado confortavelmente e sem interferências externas, principalmente na avaliação neurológica porque, nessa fase do exame, os desvios da atenção do paciente podem comprometer os resultados da avaliação médica. O paciente de ser visto como um todo. Com relação ao membro superior, também deve ser examinado globalmente, de maneira que o examinador possa avaliar , não apenas as mãos, mas também os demais segmentos do membro superior, incluindo ainda a cintura escapular e o pescoço. Portanto, é preciso que o paciente fique sem a roupa que recobre seu tronco e os membros superiores. Pacientes do sexo feminino devem ser examinados com um avental, que permita que a cintura escapular permaneça livre. Ambos os membros superiores são examinados, comparativamente. EXAME FÍSICO A) INSPEÇÃO A.1) INSPEÇÃO ESTÁTICA: Iniciamos a observação do posicionamento do membro superior, onde verificamos se há deformidades, cicatrizes, hipotrofias, tumores, desvios em valgo e em varo e relação do membro no esquema corporal. A.2) MOVIMENTAÇÃO ATIVA: Pedimos ao paciente que realize movimentos de flexo-extensão do cotovelo e com o cotovelo fletido em 15 90° verificamos os movimentos de prono-supinação. B) PALPAÇÃO Devemos palpar as eminências ósseas: olécrano, epicôndilo medial, epcôndilo lateral, cabeça do rádio e linha supracondiliana lateral. Nas partes moles: a origem dos flexopronadores, o tendão conjunto dos extensores, o tríceps, o tendão do bíceps, a artéria braquial, a bolsa olecraneana e o nervo ulnar. B.1) MOVIMENTAÇÃO PASSIVA: Comparamos os graus obtidos com a movimentação ativa com o que conseguirmos passivamente; uma lesão do bíceps pode provocar diminuição dos movimentos de flexão do cotovelo e da supinação. B.2) REFLEXOS: Devemos pesquisar os reflexos tricipital, bicipital e o braquiestilorradial. C) AUSCULTA A ausculta é pouco utilizada no exame da mão, sendo reservada apenas quando vamos avaliar o sistema vascular. O turbilhonamento nas fístulas arteriovenosas apresenta sopro característico. O doppler, utilizado de rotina na avaliação vascular, faz esta avaliação. EXAME DO ANTEBRAÇO, PUNHO E DA MÃO A) INSPEÇÃO A.1) INSPEÇÃO ESTÁTICA Além do posicionamento, dos desvios articulares do punho e dos dedos, de alterações tróficas como Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 as ungueais, distribuição de pelos e verificação das pregas, também devem ser pesquisados nesta fase do exame. A.2) MOVIMENTAÇÃO ATIVA: Pedimos ao paciente que realize movimentos de abdução, adução, flexoextensão e lateralidade. Dependendo da necessidade, solicitamos que o paciente realize algumas atividades com o membro, como abotoar a camisa, pegar um lápis, etc. B) PALPAÇÃO: Devemos conhecer os principais pontos anatômicos que servem de parâmetro na avaliação clínica. Estes serão discutidos no decorrer deste trabalho. B.1) MOVIMENTAÇÃO PASSIVA: É importante a comparação da movimentação ativa com a passiva, pois, quando existe diferança, significa que esta pode ser causada por dor, aderência, lesão tendinosa, lesão nervosa, entre outras causas, e que levam ao déficit do movimento ativo. B.2 ) SENSIBILIDADE: Avaliamos a sensibilidade superficial e profunda. Através de monofilamentos, discriminação de dois pontos, temperatura e propriocepção. Com a finalidade de facilitar o exame, costumamos examinar separadamente cada sistema: 1) pele e anexos, 2) aponeurose palmar, 3) sistema vascular, 4) nervos periféricos, 5) músculos e tendões e 6) ossos e articulações. I) PELE E ANEXOS Na inspeção da pele da mão devemos observar seu aspecto, sua coloração rósea na face ventral, as pregas cutâneas e a estrutura papilar da polpa. Nos tumores vasculares do tipo hemangioma, há aparecimento de coloração azuladano local, que pode se modificar com a vadodilatação. Na hanseníase encontramos manchas hipocrômicas. A pele dorsal é mais fina e solta para permitir o movimento de flexão articular. Na palpação podemos sentir a textura lisa, a sudorese e sua elasticidade. Nas lesões nervosas do mediano ou ulnar verificamos que na polpa digital correspondente , a pele se torna lisa e seca com o desaparecimento progressivo das impressões digitais. Nos ferimentos cortocontusos e suas sequelas, a localização da cicatriz dá-nos indício das estruturas lesadas nos planos profundos. Alterações ungueais aparecem em lesões nervosas e em tumores glômicos. 2) APONEUROSE PALMAR Localiza-se abaixo da pele e tem a função de proteção das estruturas profundas. Origina-se proximalmente ao nível do retináculo dos flexores, tendões do palmar longo e flexor ulnar do carpo e se dirige aos dedos. Ao nível das pregas palmares e dos dedos, a pele fixa-se a esta fáscia palmar, conferindo-lhe pouca mobilidade. A doença de Dupuytren, que é de origem genética, caracteriza-se por uma hipertrofia desta fáscia. 3) SISTEMA VASCULAR A mão é irrigada basicamente pelas artérias radial e ulnar. Ao nível da mão, estas artérias se comunicam através de dois arcos, o arco superficial, que se localiza abaixo da aponeurose palmar, e o arco profundo, que se localiza ao nível da base dos metarcarpianos. O leito ungueal, visto por transparência, é róseo. Se estiver pálido à inspeção, denota falta de aporte sanguíneo e se estiver roxo pode significar déficit de drenagem venosa. Na palpação devemos salientear a pesquisa da perfusão dos dedos, que é, sem dúvida, o mais importante. É realizada através da compressão da unha. Momentaneamente sob transparência, o leito ungueal torna-se mais pálido retornando à cor rósea quando paramos de fazer pressão. Para avaliarmos a permeabilidade arterial, podemos utilizar o teste de Allen. Com o paciente sentado com o braço apoiado na mesa de exame e o cotovelo fletido em 90°, palpamos a artéria ulnar e radial ao nível do punho. Realizamos compressão das mesmas com o polegar e indicador, pedimos que o paciente abra e feche a mão várias vezes para promover o esvaziamento venoso. Então soltamos uma das artérias que está sendo comprimida e verificamos se há enchimento arterial da mão. Repetimos em seguida a manobra para pesquisar a outra artéria. (fig. 25). Fig. 25 - Teste de Allen - A figura mostra o bloqueio das artérias radial e ulnar. 16 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] 4) NERVOS PERIFÉRICOS É importante destacarmos que os principais nervos do membro superior são mistos, isto é, possuem fibras sensitivas e motoras. Portanto, quando examinarmos um paciente com lesão nervosa devemos pesquisar minuciosamente as alterações sensitivas, assim como os músculos inervados por este nervo. Os nervos periféricos têm origem no plexo braquial nas raízes de C5-C6-C7-C8 e T1 e eventualmente podem participar as raízes do C4 e T2. Na fase aguda, o paciente se queixará de uma área de anestesia ou hipoestesia referente ao território inervado. Pesquisamos a zona autógena do nervo, isto é, aquela região inervada esclusivamente por aquele nervo e a perda da movimentação ativa por paralisia dos músculos inervados abaixo da lesão. Na prática, utilizamos o teste do enrugamento, que consiste em colocarmos a mão do paciente num vasilhame com água po aproximadamente 15 minutos. É esperado o enrugamento da pele da polpa dos dedos. Se houver lesão nervosa, observaremos que os dedos correspondentes não apresentarão nenhum enrugamento. A mão contralateral serve para controle. Teste de discriminação de 2 pontos: Neste teste, avalia-se a capacidade do paciente de discriminar 2 pontos com a distância de até 10 mm. Pode-se usar um clipe de papel para o teste (fig. 26). Fig. 26 - Teste de discrimicação de dois pontos Teste de estereologia de Moberg: Neste teste, o paciente tem que reconhecer, com os olhos fechados, pela palpação, uma série de objetos, como: chave, moeda, borracha, algodão, clipe, etc. Avalia-se com este teste a integridade das vias sensitivas até o sistema nervoso central. Na fase crônica, o diagnóstico é mais fácil, pois, além das alterações descritas anteriormente, podemos observar alterações tróficas, como hipotrofia da polpa digital, diminuição ou desaparecimento das impressões digitais com a pele tornando-se lisa, além da atrofia da musculatura correspondente que se tornará evidente. 4.1.2) Motricidade: responsável pela inervação dos flexores do punho e dos dedos, exceto o flexor ulnar do carpo e os flexores profundos do IV e V dedos. Na mão é responsável pela inervação da musculatura tenar onde destacamos o oponente do polegar. Além do I e II lumbricais. 4.2) NERVO ULNAR 4.2.1) Sensibilidade: na palma da mão é responsável pela sensibilidade da metade do IV dedo até a borda ulnar. Na região dorsal dá a sensibilidade da borda ulnar da mão. Sua zona autógena é a polpa do V dedo (figs. 27 e 28). 4.2.2) Motricidade: inerva os músculos ulnares, a saber: flexor ulnar do carpo, flexores profundos do IV e V dedos. Na mão, é responsável pelos músculos interósseos palmares e dorsais; lumbricais do III e IV e abdutor do V dedo e abdutor do polegar. RECORDANDO Os 3 principais nervos do punho e da mão são mediano, ulnar e radial. 4.1) NERVO MEDIANO 4.1.1) Sensibilidade: palma da mão, desde a metade do IV dedo até o polegar. Além do dorso do II,III e metade do IV dedos. Sua zona autógena é a polpa do indicador (figs. 27 e 28). Fig. 28 - Dor à palpação do nervo radial ao nível do músculo supinador. O ponto preto indica a localização do epicôndilo lateral. 4.3) NERVO RADIAL 4.3.1) Sensibilidade: borda dorsal radial da mão. Zona autógena: tabaqueira antômica (fig. 28). 4.3.2) Motricidade: inerva extensores do punho e dedos, além do abdutor longo do polegar e supinador do antebraço. Fig. 27 - Teste de Phalen para pesquisa da Síndrome do Túnel do Carpo. 17 Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 4.4) SÍNDROMES COMPRESSIVAS DOS NERVOS PERIFÉRICOS A propedêutica desta patologia é importante por sua frequência nos distúrbios musculoesqueléticos ocupacionais e em seus diagnósticos diferenciais. Ocorre por uma anóxia do nervo, causada por congestão venosa do plexo vascular epineural, perineural e intrafascicular. Esta congestão leva a uma lentidão de circulação que produz edema do nervo e fecha o ciclo da compressão. A sintomatologia caracteriza-se inicialmente por dor noturna do tipo formigamento ou choque. Com a progressão do quadro, a dor também será diurna durante atividades que produzam compressão mecânica do nervo. Hipoestesia e paralisia no território nervoso também aparecem com o tempo. 4.4.1) Síndromes Compressivas do Nervo Mediano: A propedêutica é a mesma que realizamos para as lesões nervosas associadas a algumas manobras que produzem aumento da compressão do nervo. O nervo mediano pode sofrer compressão ao nível do cotovelo produzindo a Síndrome do Pronador, a Síndrome do Interósseo Anterior e a Síndrome do Túnel do Carpo que, sem dúvida alguma, é a mais frequente das síndromes compressivas. Na síndrome do túnel do carpo, o teste de Phalen geralmente é positivo. Consiste em que o paciente, com o ombros e os cotovelos em 90°, coloque o dorso das mãos em contato. Com esta manobra o nervo mediano é pressionado contra a retinácula ventral e reproduz a sintomatologia noturna, ou seja, o paciente refere-se a formigamento (fig. 28). 4.4.2) Sídromes Compressivas do Nervo Ulnar: O nervo ulnar pode sofrer compressão ao nível do cotovelo, Síndrome do Túnel Cubital, onde é mais frequente. Ao nível do punho e da mão podemos ter a Síndrome do Canal de Guyon. A sintomatologia é semelhante à descrita na síndrome do túnel do carpo, mas comprometendo o território do nervo ulnar. 4.4.3) Síndromes Compressivas do Nervo Radial: O nervo radial também é mais frequentemente comprometido ao nível do cotovelo onde verificamos a Síndrome do Túnel Radial e a Síndrome do Interósseo Posterior. Na síndrome do Túnel Radial, encontramos dor bem localizada sobre o trajeto do nervo radial, sob o supinador, dor à supinação contra resistência, dor à extensão do dedo médio e dor localizada na entrada da arcada de Fröhse (fig. 28). Outro local de compressão do nervo radial é o ramo sensitivo dorsal ao nível do punho. Esta compressão é geralmente mecânica e ocorre pelo uso de relógio apertado, pulseiras ou suportes de punho. O paciente apresentrá um quadro de dor do tipo formigamento ou choque em torno da tabaqueira anatômica que piora com os movimentos de desvio ulnar do punho. O exame clínico é o exame mais importante para o diagnóstico de uma lesão nervosa. Em caso de dúvida, para documentação diagnóstica ou quando existe algum problema de ordem legal envolvendo o paciente, a eletroneuromiografia é o exame de escolha. A ressonância magnética, menos utilizada, pode auxiliar no diagnóstico de lesões do plexo braquial em casos onde se suspeite de variações anatômicas. 5) MÚSCULOS E TENDÕES Quando avaliamos o funcionamento muscular, fazemos simultaneamente a avaliação dos nervos que acionam este músculo. Após alguns dias de desnervação, o músculo inicia um processo de atrofia, diminuindo seu volume, o que é facilmente visto pela simples inspeção. A movimentação ativa confirmará uma suspeita de lesão por atrofia e, à palpação, a mensuração da força muscular confirmará o diagnóstico. Quando o músculo fica lesado durante muito tempo, poderemos ter limitação à movimentação passiva. Habitualmente, costumamos examinar grupos musculares (os flexores do punho, os extensores do punho, os flexores dos dedos etc.) mas é obrigatório o conhecimento da iner- Fig. 29 - Pesquisa do tendão flexor superficial. Mantemos os outros dedos em extensão, estabilizamos a MF do dedo pesquisado e pedimos ao paciente que flexione o dedo examinado. 18 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] Fig. 30 - Pesquisa do tendão flexor profundo. Estabilizamos a IFP e solicitamos que o paciente flexione a IFD. vação ou da pesquisa individual de cada músculo. Para pesquisar os flexores superficiais, estabilizamos os dedos em extensão e solicitamos ao paciente que faça a flexão do dedo livre (fig. 29). Para pesquisar o flexor profundo, estabilizamos a falange média e solicitamos ao paciente que faça a flexão da falange distal (fig. 30). O corpo muscular continua pelos tendões. Entre nós, o estudo dos DMO começou pelas queixas de dor ao nível dos tendões com as tendinites dos digitadores. Dentre as enfermidades mais frequentes dos extensores, temos os problemas ao nível da estilóide do rádio. Os tendões abdutor longo e abdutor curto do polegar passam pelo primeiro túnel dos extensores, ao nível do processo estilóide do rádio. Nesta região, sofrem frequentemente compressões principalmente nas mulheres durante a gravidez ou menopausa. O quadro clínico é de dor aos movimentos de preensão do polegar, que se agrava com o desvio ulnar do punho. Esta tendinite recebe o nome de Tendini-te de De Quervain. Para sua pesquisa utilizamos a manobra de Finkelstein. 19 Fig. 31 - Manobra de Filkenstein - Realizamos o desvio ulnar do punho segurando o polegar fletido. Se positiva, o paciente apresentará dor na I polia dos extensores. Manobra de Finkelstein: Segura-se a mão do paciente com o antebraço em posição neutra e flexão da MF do polegar. Realizamos então o desvio ulnar do punho. Se positiva, o paciente apresentará dor intensa ao nível da primeira polia dos extensores (fig. 31). Na musculatura intrínseca da mão, inervada pelo nervo ulnar, destacamos o Abdutor do Polegar que realiza a abdução do I metacarpiano em direção ao II. Para sua pesquisa, utilizamos a Manobra de Froment, que Fig. 33 - Teste para avaliação do primeiro interósseo dorsal. polegar, ele irá segurar a folha com a flexão da IF do polegar, portanto o teste de Froment será positivo deste lado (fig. 21). Os Interósseos dorsais, também inervados pelo nervo ulnar, realizam o afastamento do indicador e anular em relação ao dedo médio, além de promoverem os movimentos de lateralidade do III dedo. Na sua pesquisa, pedimos ao paciente com a mão espalmada sobre a mesa de exame que afaste o indicador e anular do III dedo (fig. 33). A lesão dos intrínsecos leva a deformidade de Mão em Garra que consiste na hiperextensão da MF e flexão da IFP. Fig. 32 - Sinal de Froment. Na lesão do nervo ulnar, o músculo abdutor do polegar estará paralizado. Para segurar uma folha de papel o paciente necessitará usar o flexor do polegar. consiste em solicitarmos ao paciente que segure uma folha de papel entre o polegar e indicador com as duas mãos. Isto é feito através da abdução. Se o paciente for portador de uma lesão do nervo ulnar e consequente paralisia do abdutor do 6) OSSOS E ARTICULAÇÕES O esqueleto forma o sistema de sustenção do membro superior. Nas fraturas , os desvios dos eixos longitudinais e transversais, o aumento de volume e os hematomas podem levar ao diagnóstico pela simples inspeção. A dificuldade da movimentação ativa, a dor localizada, associadas à palpação das eminências ósseas, podem levar-nos à perfeita localização do osso fraturado. A crepitação no foco de fratura fecha o diagnóstico da mesma. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 O exame radiográfico, no entanto, é o que dá o prognóstico e o tipo de tratamento, sendo o único exame subsidiário de rotina na prática cirúrgica da mão. Mesmo na presença de um cisto sinovial, é de fundamental importância o exame radiográfico do paciente, com a finalidade dfe excluir enfermidade óssea associada. Também na presença de lesões nervosas, o estudo radiológico da região afetada impõe-se. O semilunar pode ser palpado no dorso do punho no ápice da convexidade do carpo. Em alguns trabalhos encontramos a doença de Kienböck como sendo causada por LER. Na doença de Kienböck, que consiste na necrose do semilunar, o paciente queixa-se de dor nesta região, que piora com os movimentos de flexoextensão , além da palpação local. Na literatura, na fase inicial, a radiografia pode ser normal e, com a evolução, observaremos sequencialmente, aumento da densidade, fragmentação e artrose. O polegar é o dedo mais importante da mão, possuindo a capacidade de oponência, o que permite as diversas pinças que realizamos na mão. Este movimento de rotação realizado pelo polegar ocorre basicamente na articulação trapézio-metacárpica que é o do tipo selar. Na realidade é uma dupla sela que funcionalmente se comporta como articulação esférica. O movimento de oponência do polegar caracteriza-se pelo ato de colocar a polpa digital do polegar em contato com a polpa digital dos outros dedos. É importante destacar que esta liberdade de movimento do polegar se deve também ao grande número de músculos que aí se inserem e sua realização exige a integridade de nervos e músculos. Em pacientes com frouxidão ligamentar, as estruturas estabilizadoras são mais elásticas e podem ocorrer queixas de dor no polegar em esforços repetitivos. A placa volar é uma importante estrutura estabilizadora que, quando lesada, pode comprometer a função de pinça do polegar. No exame clínico o paciente apresentará dor e edema, principalmente na região volar da MF. Utilizamos uma manobra de estresse forçado a hiperextensão desta articulação. Se a dor atrapalhar o exame, devemos realizar uma anestesia com 1ml de lidocaína 1% sem vaso constrictor. Realizamos a seguir a manobra, Realizamos o exame radiográfico prévio para identificar se existe fratura. Se não houver, fazemos uma anestesia local e realizamos a manobra de estresse deste ligamento (fig. 34). Esta manobra é realizada fixando-se lateralmente o metacárpico e a falange proximal; com a articulação em flexão procedemos à abertura em valgo da MF, tentando abrí-la lateralmente. Este exame deve ser comparativo com o lado contralateral. Realizamos radiografias comparativas desta manobra. Se a diferença do ângulo formado pelo metacárpico e pela falange proximal for maior que 15°, quando comparamos o lado lesado e o lado normal, significa que a lesão do ligamento colateral ulnar da MF é total. Fig. 34 - Pesquisa do ligamento colateral ulnar da MF do polegar. Este exame deve ser realizado com a MF em flexão. segurando o metacarpo e a falange proximal e procedendo à hiperextensão da MF, tanto clínica como radiograficamente. Outra estrutura estabilizadora é o ligamento colateral ulnar (LCU). Este ligamento é importante na pinça da chave em que produzimos uma preensão lateral contra a resistência do polegar. Neste caso, o paciente apresentará dor no lado ulnar da articulação, acompanhada de edema. 20 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] COMENTÁRIOS FINAIS Apesar das dificuldades comumente encontradas para o diagnóstico clínico das doenças que compõem o expectro nosológico dos distúrbios músculoesqueléticos ocupacionais, é possível identificar as estruturas acometidas e estabelecer, com razoável precisão, o grau de envolvimento de cada uma delas. O médico pode avaliar, com certo grau de segurança, a partir de dados obtidos através de um bom instrumento de coleta ( o protocolo de coleta de dados sobre distúrbios ocupacionais do aparelho locomotor, que está sendo desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional, pode ser uma opção ) se o paciente está exposto a risco extrínsecos, e se estes estão presentes em quantidades suficiente para representar risco para sua saúde. AUTORES Albertoni, Walter M. Prof. Titular e Chefe da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Federal de São Paulo Chagas, José Carlos M. Pós Graduado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia Membro do Grupo de Cirurgia de Coluna Vertebral Disciplina de Ortopedia e Traumatologia Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo Ejnisman, Benno Pós Graduado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia Membro do Grupo de Ombro e Cotovelo Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo Oliveira, Carlos Eduardo A.S. Pós Graduado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia Membro do Grupo de Cirurgia de Coluna Vertebral Disciplina de Ortopedia e Traumatologia Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo Puertas, Eduardo Barros Prof. Adjunto do Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Chefe do Grupo de Cirurgia de Coluna Vertebral da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia Universidade Federal de São Paulo 1 Faloppa, Flavio Prof. Adjunto da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior Chefe do Setor de Cirurgia da Mão Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo Leite, Vilnei M. Prof. Adjunto da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior Chefe do Setor de Microcirurgia Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo Nicoletti, Sergio Chefe do Grupo de Cirurgia do Ombro e Cotovelo Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior Depto. Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - CBOO Rua Borges Lagoa, 1231 - Cj 32 Vila Clementino - São Paulo - SP - CEP 04038-001 Telefax (0xx11) 5572-1902 e 5549-6002 internet: www.cboo.com.br e-mail: [email protected] 21 Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BAMMER,G. Comunicação Pessoal. I Simpósio Internacional sobre LER Belo Horizonte, MG, Dezembro de 1996. 2. Couto ,H.A. Guia Prático Tenossinovites e outras lesões por traumas cumulativos nos membros superiores de origem ocupacional. Ergo Editora B&C Ltda. Belo Horizonte, 1991. 178p. 3. DANIELS,L.;WORTHINGHAM,C. Tradução portuguesa por Oliveira,N.G. e Silveira,M.C. Provas de função muscular: técnicas manuais de exploração. Ed. Interamericana Ltda. Rio de Janeiro, 1975. p. 165 4. FOX,EL.;MATHEWS,D.K. Tradução brasileira por Giussepe Taranto - Desenvolvimento de força muscular, resistência e flexibilidade. In Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. Ed. Guanabara.1986. Rio de Janeiro.p.100-129 5. HAWKINS,R.J.;BOKOR,D. Clinical evaluation of shoulder problems. In ROCKWOOD,C.A. & MATSEN,F.A., Ed. The Shoulder, Philadelphia, W.B. Saunders, 1990.p.149-177. 6. LECH,O.;HOEFEL,M.G. Protocolo de Investigação das Lesões por Esforços Repetitivos. Ed. Rhodia Farma Ltda. 1994. 11.NICOLETTI,S.J.;FERNANDES, A.R.C.;BULISANI,E.;LEDERMAN, H.M.;LAREDO FILHO,J. Ombro doloroso: uma nova rotina radiográfica. Rev.Bras. Reumatol, 31(2): 32-42, 1991. 12. NICOLETTI,S.J.;EJNISMAN,B; KANJI,P.O. Estudo da prevalência da dor no ombro associada à laxidão ligamentar, em pacientes atendidos em um hospital geral. 13. NICOLETTI,S.J. O Papel da Artroscopia no Diagnóstico das Lesões do Ombro. Tese de Doutorado apresentada no Curso de Pós Gradução do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. 1992. 14. OUERTAS,E.;CHAGAS,J.C.M.; OLIVEIRA,C.E.A.S. Propedêutica da Coluna Vertebral. In NERY, C.A.S.Manual de Propedêutica Ortopédica. Ed. Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. São Paulo. 1994. 15. RAMAZZINI,B. As doenças dos trabalhadores. Ed. Fundacentro. SãoPaulo. 1992. 180p. 16. TUREK,S.L. Cervicobrachal Region. In Orthopaedic Principles and their Aplications. Ed. J.B.Lippicott Co. Philadelphia. 1979. 30 p. 7. LEFFERT,R.D. Thoracic Oulet Syndrome J.Am.Acad.Orthop.Surg. 2(6): p.317-325, 1994. 8. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - Lesões por esforços repetitivos: normas técnicas para avaliação de incapacidade. 1993. Brasília.MPS,ACS,1993.p.21 9. McARDLE,W.D.;KATCH,F.I.; KATCH,V.L. - Tradução por Giuseppe Taranto; supervisão da tradução por Maurício Leal Rocha - Adaptações com o treinamento para a força. In Fisiologia do Exercício. Ed. Interamericana. Rio de Janeiro. 1981.p.278286. 10. NEER II,C.S.- Anterior acromioplasty for the chronic impingement syndrome in the shoulder. J.Bone Jt. Surg., 54A(1): 4150, 1972. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 22