Keynesianismo dos conservadores Yankees e ortodoxia dos
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Keynesianismo dos conservadores Yankees e ortodoxia dos
Keynesianismo dos conservadores Yankees e ortodoxia dos “esquerdistas” brasileiros: retomada do crescimento norte-americano e novo acordo do Brasil com o FMI. 1 Breno Lobo Vitor Filgueiras A despeito das diversas críticas acerca da sua orquestração, as políticas fiscal e monetária expansionistas do pseudo-liberal governo norte-americano parece estar finalmente surtindo efeito. A primeira estimativa, divulgada no dia 31 de outubro, aponta um crescimento do PIB de 7,2% no terceiro trimestre (taxa anualizada) de 2003, maior taxa registrada desde 1984. Apesar de já aguardado, o incremento da produção surpreendeu pela magnitude do percentual. As previsões mais otimistas eram de 5% ou 6% (Internacional, Pág.A13). Pela ótica da demanda, o maior responsável pelo grande incremento do PIB norteamericano foi o consumo, que cresceu 6,6%, principalmente por causa dos cortes de impostos. Quando calculada a participação de cada agregado no percentual final de crescimento, consumo aparece como gerador de dois terços deste total. O destaque nas aquisições ficou por conta dos bens duráveis, que tiveram elevação nas vendas de 26,9%. Esta grande taxa parece ter se sustentado nas grandes promoções para desova de estoque que ocorreram em muitas empresas dos EUA. O investimento também teve forte alta no terceiro trimestre, atingindo um percentual de 9,3%. Deste incremento, a maior contribuição veio da conta de investimentos em residência. Os financiamentos com baixas taxas de juros fizeram a compra de imóveis crescer 20,4% no período. Ao contrário do segundo trimestre, quando o crescimento de 3,3% do Pib foi alçado principalmente pelo incremento dos gastos do governo de 8,5% -os gastos com a suposta “defesa nacional” cresceram, neste período, impressionantes 45,8%-, no terceiro quarto do 1 Este texto foi elaborado com a colaboração da professora Celete Philigret e do professor Paulo Balanco e será apresentado dia 19/11. ano o dispêndio se elevou apenas 1,3%. Apesar desta queda na taxa de aumento da participação estatal, uma das grandes preocupações dos analistas relativamente à saúde da economia dos Eua é o crescente déficit público, que este ano deve chegar a quase 5 % do PIB. Um dado interessante do terceiro trimestre foi o grande incremento das exportações de bens e serviços, que chegou a 9,3%. Duas hipóteses são levantadas para explicar este crescimento, quais sejam: a desvalorização do dólar em relação ao euro, e o aumento médio dos preços internacionais –cerca de 10%- por causa da demanda chinesa, principalmente as commodities (Internacional, A13). As importações permaneceram praticamente estáveis, com aumento de 0,1%. O alto déficit em transações correntes, contudo, permanece, atingindo quase US$500 bilhões na taxa anualizada. Em setembro o déficit comercial foi de US$ 41,3 bilhões, invertendo a tendência de baixa que vinha se apresentando desde março. Apesar deste dado trazer preocupação para o balanço de pagamentos, ele reflete, por outro lado, o aumento da demanda, enfatizando os indícios de reaquecimento da economia. A despeito do quadro alentador, as perspectivas apontam para a manutenção da taxa de juros, atualmente em 1% - para a tristeza do “mercado” -, sem horizonte próximo para elevação. Segundo o presidente do Federal Reserve de Saint Louis, Willian Poole, que tem direito a voto nas reuniões do comitê de mercado aberto do FED nacional, apesar de ter havido uma melhora no cenário econômico norte-americano, o crescimento ainda não se mostrou forte o suficiente para permitir um aumento dos juros sem comprometer a queda da taxa de desemprego (Folha de São Paulo, B4). A taxa de desemprego é sempre um índice importante para diagnóstico da tendência de crescimento da economia norte-americana é. Esta caiu em outubro de 6,1% para 6,0%, com a criação de 126 mil novos postos de trabalho. O grande medo dos empresários e dirigentes norte-americanos em relação a esse dado é que a manutenção do percentual de desempregados elevado possa amedrontar os consumidores e estes passem a gastar menos (Dinheiro, B3). Os números parecem não deixar dúvidas acerca da existência de fortes indícios da recuperação da produção norte-americana. Contudo, a questão que se debate no momento é se esse crescimento é efêmero, fruto das agressivas políticas macroeconômicas do governo Bush, mas ameaçados pelos crescentes déficits público e externo, potenciais causadores de inflação, ou se a rota ascendente dos anos 90 está de volta. Sobre a força desse surto de crescimento, o próprio Greenspan crê que o atual índice deve se reduzir no próximo trimestre, pois a atual taxa não seria sustentável (Dinheiro, B3). Só o futuro trará a resposta. Importantes analistas e críticos da política econômica de Bush lembram de fortes recuperações trimestrais ocorridas em anos anteriores (1º e 3º trimestres de 2002, por exemplo) seguidas de agudas desacelerações nos trimestres subseqüentes. Assim, uma das razões alegadas, o crescimento dos gastos com consumo, que apresentou excelente desempenho no 3º trimestre 2003, não tem condições de manter o crescimento ancorados na renda dos consumidores. Isto porque no último trimestre os consumidores “tomaram emprestados do futuro” e anteciparam gastos ao se valerem de financiamento a taxas de juros muito baixas, de dinheiro fácil com o refinanciamento de hipotecas e de incremento de renda com o resgate dos cheques de devolução de impostos. (KRUGMAN, 31/10, NYT). Para Paul Krugman, em particular, a grande questão indicativa de uma recuperação consistente reside na retomada da contratação de trabalhadores de forma contínua e robusta. Para ele, os dados do 3º trimestre não favorecem esta constatação. Pelo contrário, os dados sobre emprego mostram que a expansão das contratações ainda não começou a ocorrer. Dessa forma, a menos que o emprego passe a crescer a partir de agora em pelo menos 200.000 novas contratações mensais, os gastos com consumo deverão recuar. Entretanto, por outro lado, politicamente, Bush poderá tirar dividendos relevantes caso a retomada do crescimento se confirme. Bush filho teria a sorte que faltou ao seu pai. Após a recessão de 1990-91 encerrada em fevereiro do último, a retomada forte da produção veio apenas dois anos depois, em janeiro de 1993, quando não havia mais tempo para a recuperação eleitoral de Bush pai. Desta feita, após a recessão que acabou em novembro de 2001, também só houve sinais de forte melhora perto de dois anos a frente. Todavia, agora há tempo suficiente para serem recolhidos os frutos do novo cenário. (FLOYD, 31/10, NYT). Enquanto os EUA lutam para recuperar a tendência de crescimento apresentada nos últimos anos do último milênio, a China segue em sua saga, sem que haja, ainda, um limite vislumbrado para acomodação. Se for correto afirmar que seu patamar inicial de riqueza era reduzido, facilitando altos índices de incremento do produto –ainda o é, se comparado aos Eua e Japão-, não resta dúvida que a combinação entre exploração brutal da força de trabalho local (o salário médio na China é aproximadamente um quarto do mexicano [Internacional, A15], que já não é grande coisa), entrada maciça de investimentos estrangeiros e fortíssima presença estatal vem se mostrando uma fórmula de sucesso para o rápido aumento do PIB. Atualmente, os chineses são a sétima economia do mundo, devendo alcançar a terceira posição em dez anos, de acordo com dados da OECD e estimativas do FMI. Esse crescimento do produto também tem sido auxiliado pela abertura comercial aliada a grande competitividade (barateza) dos produtos chineses no mercado internacional. A participação chinesa nas exportações e importações mundiais passou de 1,2% e 1,1% (em 1980), para 5,2% e 4,2% (no ano passado) respectivamente. Entre 1993 e 2002 as exportações tiveram incremento médio de 17,3% ao ano. A China já é o quarto maior exportador do mundo. O déficit norte-americano com os chineses, apenas em setembro, foi de US$ 12,7 bilhões. Nos primeiros 9 meses de 2003 este número já chega a US$ 89,7 bilhões. Há fortes pressões nos Estados Unidos para que o governo norte-americano pressione a China para a desindexação do câmbio, o que faria com que ele se valorizasse, tornando os produtos chineses menos baratos. Atualmente, a relação yuan-dólar é de 7 para 1, considerada por muitos sub-valorizada. (Pergunta: Desde quando foi proibida a adoção de política cambial, qualquer que seja?). Na realidade, há uma grande luta entre segmentos sociais dentro do próprio Eua acerca do que deve ser feito em relação aos chineses. Como em toda típica sociedade capitalista, as divergências se situam no interesse individual imediato, dessa vez manifestadas nos impactos financeiros que o atual cenário comercial com a China estão trazendo. Enquanto alguns setores estão sendo beneficiados com elevados ganhos com investimentos e transações feitas com os asiáticos e não querem tormentos que atrapalhem seus negócios, outros estão às voltas com a forte competição que os baratos produtos chineses estão trazendo para dentro dos Estados Unidos. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, onde a demanda agregada vem sendo estimulada fortemente, no Brasil segue a política econômica retracionista hegemônica –ao menos em teoria, na maioria dos países do mundo2- de contenção da inflação e busca de credibilidade com os agentes econômicos, mais precisamente, os ditos “mercados”. Os EUA, através dos organismos internacionais que controla, como o FMI e o Banco Mundial, defendem enfaticamente a adoção de políticas econômicas de contenção da demanda agregada nos países periféricos, argumentando serem estas o melhor caminho para o progresso da nações. Contudo, eles não se preocupam nem um pouco em adotá-la quando não lhes convém, como vem ocorrendo nos últimos anos. Essa é uma contradição interessante e bastante conhecida que já está sendo denunciada até por economistas não muito heterodoxos, como Joseph Stiglitz. Com a aproximação do fim do acordo assinado pelo Governo Fernando Henrique Cardoso – com aval dos quatro principais candidatos à presidência – com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no final de 2002, quando o Brasil enfrentava uma forte crise cambial devido às “incertezas” do mercado financeiro quanto ao resultado das eleições 2 Basta ver os déficts públicos apresentados, não só nos EUA, bem como na maioria das grandes nações capitalistas. presidenciais, surgiu um intenso debate nos meios de comunicação e entre os analistas econômicos sobre a conveniência e necessidade, ou não, da assinatura de um novo acordo. Se ainda pairava alguma dúvida sobre o caráter e estratégia econômica do Governo Lula, elas se diluíram com o anúncio pelo Ministro da Fazenda Antônio Palocci , no último dia 05, de que o Brasil iria sim assinar um novo acordo de cooperação com o FMI. Um novo acordo com o Fundo apenas corrobora as políticas macroeconômicas implementadas durante o primeiro ano de Governo Lula, que, mais uma vez, procurou entrar em sintonia com as expectativas e anseios do mercado financeiro. Apesar da assinatura do acordo acontecer somente em dezembro, o Ministro Palocci já antecipou os seus principais pontos, quais sejam: • duração de 1 ano; • linha de crédito de US$ 14 bilhões, sendo US$ 6 bilhões de dinheiro novo e os outros US$ 8 bilhões referentes ao valor da última parcela do acordo assinado no ano passado, que o Brasil ainda teria direito de sacar; • alongamento de US$ 5,5 bilhões de dívida com o FMI que venceria em 2005 para serem pagos até 2007; • revisões trimestrais do acordo, com o Brasil tendo o direito de sacar o dinheiro acordado no momento em que lhe for conveniente; e • o acesso à linha de crédito não significa que o Brasil deva, necessariamente, realizar saques. A obtenção de um superávit primário de 4,25% do PIB pelo setor público consolidado em 2004 já aconteceria mesmo sem a assinatura do novo acordo, já que tal obrigação foi posta pelo próprio governo nas Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) até 2007, existindo, inclusive, documentos oficiais do Ministério da Fazenda que admitem a possibilidade de obtenção de superávits primários na ordem de 4,25% do PIB até o ano de 2011. Já a possibilidade de não considerar investimentos realizados pela Eletrobrás como gasto público, tal como acontece com a Petrobrás3, não foi levada em conta pelo FMI, apesar das reclamações do seu presidente Pinguelli Rosa. Em relação às metas sociais, também objeto inicial de desejo do governo federal, o Fundo afirma que a elaboração de tais metas extrapola as suas funções e obrigações, não cabendo, portanto, a sua inclusão no acordo. Portanto, apesar do governo federal querer vender o novo acordo como superior aos já realizados anteriormente e ao recentemente assinado com a Argentina, ele não apresenta nenhuma novidade. A tão propalada questão de que esse novo acordo estaria liberando verbas significativas para o setor de saneamento básico não passa de uma falácia. Pelo acordo do ano passado, a meta de superávit primário que o governo estava comprometido a obter até setembro deste ano era da ordem de R$ 54,2 bilhões. No entanto, o aperto fiscal realizado pelo Governo Lula foi tão forte que, até setembro, o Brasil conseguiu acumular um superávit de R$ 57,1 bilhões. O anúncio de que o FMI havia acordado liberar dinheiro para investimento social, na área de saneamento corresponde à cifra de R$ 2,9 bilhões, exatamente a diferença entre o superávit nominal acertado com o Fundo e o efetivamente realizado. Ou seja, como essa diferença foi fruto do esforço fiscal do governo, ele poderia fazer uso desse dinheiro naquilo que achasse mais conveniente, sendo o saneamento básico o escolhido. Portanto, o que aconteceu na realidade foi uma escolha intertemporal do governo: ao invés de investir esse excesso de superávit primário este ano, preferiu adiar seu gasto, por quaisquer razões, para o ano eleitoral de 2004. Para deixar essa questão bastante clara, basta analisar o que o próprio FMI (apud Canzian) falou sobre o novo acordo: “(...) o novo acordo com o Brasil ‘mantém as mesmas políticas’ que vêm sendo cobradas do país até agora. ‘Ficaríamos surpresos se o acordo, ao contrário, contivesse mudanças radicais’” (p.B1). E mais, segundo seu porta-voz “(...) todos os pontos do acordo ‘refletem o forte compromisso do país e a perseverança do Brasil’, qualificado (...) como ‘país-modelo’ em sua relação com o Fundo” (p.B1). Como comparar a decisão do governo de assinar um acordo desse gênero com as declarações do então candidato à presidência em 1998 Luís Inácio Lula da Silva (apud Alencar): “O FMI não existe para 3 No caso da Petrobrás, a empresa tem um limite pré-definido de investimentos que entrarão como gasto público no cálculo da meta fiscal. Além desse limite, o investimento não entra na conta do déficit público. Apesar dessa possibilidade, a empresa nunca ultrapassou esse teto. ajudar o país ou ajudar o povo. Existe para ajudar os credores e impor ajustes fiscais” (p.B2)? De qualquer forma, esse será o quarto acordo firmado entre o Brasil e o FMI nos últimos 5 anos. O primeiro se deu no final de 1998, quando o Governo FHC se viu obrigado a recorrer ao Fundo devido à crise cambial brasileira e a diminuição abrupta das suas reservas internacionais. Após esse acontecimento, o acordo foi prorrogado mais duas vezes: primeiramente em 2001 e, novamente, no final do ano passado, quando o FMI concedeu uma linha de crédito de US$ 30 bilhões em face da nova crise cambial. Dessa forma, o Brasil se constitui, atualmente, como o país que mais recebe recursos do Fundo Monetário: os US$ 33,5 bilhões que o Brasil possui em reserva que foram tomados junto ao FMI representam quase 1/3 do capital utilizável do Fundo para empréstimos a países. No momento do anúncio de que o Brasil iria renovar o seu acordo com o Fundo Monetário o Ministro Palocci procurou esclarecer que esse novo acordo serviria apenas como um seguro contra eventuais turbulências na economia internacional no próximo, com o Brasil, inicialmente, não tendo a necessidade de sacar nenhum dólar do total disponibilizado. Dentro dessa mesma lógica, uma relação amistosa e de cooperação com o FMI seria um indicativo ao mercado financeiro de que o país tem a confiança do principal organismo multilateral de financiamento, além de ser uma mostra de que as políticas adotadas pelo governo são corroboradas pelo Fundo. Em outras palavras, o Brasil está fazendo direitinho seu dever de casa. Portanto, esse novo acordo está inserido dentro da estratégia políticoeconômica adotada pelo Governo Lula desde a sua campanha eleitoral, que consiste na utilização das políticas macroeconômicas como mecanismo de conquistar a confiança da comunidade financeira internacional. Segundo a lógica do governo, essa confiança seria uma condição necessária e suficiente para que o Brasil tivesse meios de alavancar o processo de crescimento econômico. No entanto, por trás do discurso oficial, parece haver uma clara preocupação da equipe econômica com o desempenho das contas externas brasileiras em 2004, apesar dos resultados favoráveis obtidos nas transações correntes (gráfico 1) com um superávit acumulado entre janeiro e setembro deste ano de US$ 3,86 bilhões (1,07% do PIB) – ante um déficit, no mesmo período do ano passado, de US$ 7,44 bilhões (-2,21% do PIB) –, proporcionado, principalmente, pelo desempenho da balança comercial neste ano (gráfico 2), com um saldo acumulado, entre janeiro e a primeira semana de novembro, de US$ 20,8 bilhões, um crescimento de 106,53% em relação aos US$ 10,1 bilhões do ano passado, devido, sobretudo, ao crescimento de 23,6% no valor das exportações (US$ 61,9 bilhões) e à quase estagnação das importações – crescimento de apenas 2,8%, representando US$ 41,1 bilhões. Gráfico 1 3600 5000 3502 1276 10000 2578 Saldo de transações correntes – jan/02-set/03 (em US$ milhões) 2 1 -501 -3292 -5481 -6354 -7693 -13219 0 -1 -2 -3 set/03 -4 ago/03 jul/03 jun/03 mai/03 abr/03 mar/03 fev/03 jan/03 nov/02 set/02 dez/02 Últimos 12 meses % PIB out/02 -15371 -18308 -16820 ago/02 jul/02 jun/02 -19398 -19120 mai/02 abr/02 mar/02 -21413 -22090 jan/02 fev/02 -25335 -23213 dez/01 -40000 dez/99 -35000 dez/98 -33416 -30000 dez/00 -25000 -24225 -20000 -19814 -15000 -10799 -10000 -9386 -5000 -4295 0 -5 Fonte: Banco Central Gráfico 2 Balança comercial – jan/02-out/03 (em US$ milhões) 7 566 7 280 6 400 6 104 8 000 5024 Exportação Importação Saldo out/03 jun/03 mai/03 abr/03 1 540 1 155 dez/02 nov/02 jun/02 abr/02 mar/02 fev/02 mai/02 378 5023 2 670 2 543 2674 2 057 2 517 2 491 2 193 1 577 1 279 1 199 out/02 597 169 jan/02 1 000 4610 4048 3 730 3855 3699 3650 mar/03 2 000 3848 fev/03 4174 4001 4063 3663 set/02 3803 ago/02 3 000 4282 jan/03 4 000 set/03 4 441 4 260 3 972 jul/02 5 000 5 239 4 805 ago/03 6 000 6 372 jul/03 6 492 6 474 6 223 5 751 5 127 7 000 Fonte: Banco Central Contudo, é de claro conhecimento do governo que o superávit comercial recorde esperado para esse ano e o primeiro superávit em transações correntes desde 1992 – saliente-se, ano de recessão – não são sustentáveis no longo prazo. Tais resultados favoráveis decorrem, sobretudo, da estagnação interna por que passa o país – que diminui a quantidade de produtos importados por causa da prostração da demanda interna – acompanhado por uma taxa de câmbio favorável às exportações e que encarece as importações. Dessa forma, a retomada da atividade econômica esperada para o próximo ano deve provocar um aumento relativo das importações frente às exportações, reduzindo o superávit comercial, ao mesmo tempo em que se espera um novo déficit em transações correntes, por enquanto estimado em US$ 6,3 bilhões. Ainda em 2004, deverá haver uma maior pressão pela saída de dólares do país e, portanto, sobre as reservas internacionais brasileiras, uma vez que o valor das amortizações previstas para o próximo ano deve ser quase 50% superior às amortizações de US$ 27,1 bilhões previstas até o final deste ano, devendo alcançar, portanto, US$ 40,6 bilhões. Nesse sentido, a amortização da dívida com o próprio Fundo Monetário esteve inserida dentro das discussões sobre os pontos que entrariam no novo acordo. A preocupação brasileira era com a concentração dos recursos que iriam vencer em 2005. O FMI, com toda sua “boa vontade”, aceitou postergar 50% dos US$ 11 bilhões que iriam vencer naquele ano até 2007, conforme já salientado anteriormente (gráfico 3). Gráfico 3 Esquema de amortização da dívida externa registrada junto ao FMI* (em US$ milhões) 10 941 12 000 10 000 7 235 8 000 5 840 6 000 4 057 4 000 1 764 2 000 2003 2004 2005 2006 2007 Fonte: Banco Central * Saldo registrado em 30.06.2003 = US$ 29.837 milhões Some-se a essas questões a incapacidade que o Brasil vem demonstrando ter em elevar, via recursos próprios, suas reservas internacionais. Desde outubro do ano passado, as reservas líquidas ajustadas – reservas totais descontadas dos recursos provenientes do FMI – vêm se mantendo praticamente inalteradas, provocando a desconfiança de que o Brasil não teria condições de sustentar sua liquidez internacional sem a ajuda do Fundo Monetário (gráfico 4). Gráfico 4 53 18 18 19 jul/03 ago/03 set/03 48 18 jun/03 43 17 mai/03 41 16 abr/03 42 17 mar/03 39 17 fev/03 39 18 jan/03 38 16 dez/02 36 18 nov/02 36 18 out/02 38 21 set/02 38 23 ago/02 25 jul/02 42 27 jun/02 mai/02 abr/02 mar/02 fev/02 jan/02 2001 33 32 36 28 36 28 36 28 37 29 33 29 33 28 24 1999 2000 34 36 1998 1997 39 48 Reservas líquidas ajustadas 45 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 48 52 52 Reservas internacionais e reservas líquidas ajustadas - dez/98 - set/03 (em Liquidez internacional US$ bilhões) Fonte: Banco Central Essa situação se deve, sobretudo, pela escassez dos investimentos estrangeiros diretos, que, entre janeiro e setembro deste ano, representou apenas US$ 6,5 bilhões, um pouco mais da metade do ingresso de dólares via IED no mesmo período do ano passado, com a perspectiva de que essa situação não vá mudar muito em 2004 – expectativa, segundo o Banco Central, de entrada de US$ 13,5 bilhões no próximo ano (gráfico 5). Gráfico 5 Investimentos estrangeiros diretos líquidos – dez/98-set/03 – acumulado em 12 meses 10 766 10 864 10 367 Jul/03 Ago/03 Set/03 11 794 10 450 Mai/03 Jun/03 12 681 Fev/03 Abr/03 15 996 15 928 Jan/03 15 000 13 849 16 566 20 000 Dez/02 19 751 18 723 Out/02 Nov/02 19 841 22 174 Jun/02 Set/02 21 737 Mai/02 20 093 22 350 Abr/02 Ago/02 22 414 20 614 22 137 Fev/02 Mar/02 Jul/02 22 276 Jan/02 32 779 22 457 25 000 Dez/01 28 578 Dez/99 30 000 28 856 35 000 Dez/98 (em US$ milhões) 10 000 5 000 Mar/03 Dez/00 - Fonte: Banco Central Portanto, ao lado do discurso oficial de que o novo acordo com o Fundo Monetário Internacional seria apenas um seguro contra eventuais choques externos, existe uma clara preocupação de que, internamente, a situação externa não é tão boa quanto parece. Porém, um setor externo nem tanto confortável não é condição suficiente para justificar uma ida ao FMI. É conveniente lembrar que um pedido de colaboração parte de uma decisão interna, não sendo, por hipótese alguma, imposto de fora para dentro. Dessa forma, a assinatura de um novo acordo é uma decisão político-econômica autônoma do Governo Lula, demonstrando todo o conservadorismo e ortodoxia de sua equipe econômica, não cabendo, desta feita, recorrer à desculpa da “herança maldita” deixada por FHC. Um acordo com o FMI não esgota as muitas opções de política econômica existentes para dar um maior equilíbrio às contas externas brasileiras. Essa escolha, portanto, é a escolha de um governo que busca, acima de tudo, agradar o mercado financeiro, convergindo sempre para a satisfação de seus interesses. REFERÊNCIAS: ALENCAR, Kennedy. Lula quer acordo de olho em 2006. Folha de São paulo, 07 de novembro de 2003. Dinheiro, B1. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Indicadores econômicos consolidados. Disponível em: www.bcb.gov.br . Acesso em 14 de novembro de 2003. BATISTA JR, Paulo Nogueira. Novo acordo com o FMI? Folha de São Paulo, 25 de setembro de 2003. Dinheiro, B2 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, indústria e Comércio Exterior. Indicadores e estatísticas. Disponível em: www.indic.gov.br Acesso em 18 de novembro CANZIAN, Fernando. FMI diz que novo acordo é igual ao outro. Folha de São Paulo, 25 de setembro de 2003. Folha dinheiro, B1. VALOR ECONÔMICO, disponível em: www.valoronline.com.br Último acesso em 15 de novembro FOLHA DE SÃO PAULO, disponível em: www.folha.com.br Último acesso em 16 de novembro de 2003. THE ECONOMIST, disponível em: www.economist.com Último acesso em 15 de novembro de 2003. ECONOMIC INDICATORS, disponível em: www.economicindicators.gov Último acesso em 15 de novembro de 2003. KRUGMAS, Paul, “A Big Quarter”. New York Times, 31 de outubro de 2003. FLOYD, Norris “Economic memo: 3 good months, or evidence of real economic recovery?” New York Times, 31 de outubro de 2003. 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