7. emprego e formacao

Transcrição

7. emprego e formacao
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Capítulo 7
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
135
136 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
137
Sumário
O capítulo 7 patenteia o estado em que se encontra o concelho ao nível do emprego e da
formação profissional. Nele é efectuada uma abordagem da realidade regional (Vale do
Ave), por um lado, e concelhia, por outro. Através da análise torna-se claro que o
desemprego atinge sobretudo as mulheres e as pessoas com idade superior a 50 anos. A
evidência do predomínio de operários (da indústria têxtil) explica a subida em flecha do
número de desempregados nos últimos dois anos, acompanhando, aliás, o sentido do
desemprego em Portugal. A existência de entidades voltadas para a formação profissional
afigura-se como um contributo positivo mas nem sempre existem as respostas mais
adequadas. A excessiva preponderância da indústria têxtil e de vestuário, associada às
baixas qualificações profissionais dos tirsenses e à concomitante dependência face ao Porto
e a Braga no que respeita a quadros superiores, médios e a profissionais altamente
qualificados, é outra das conclusões a que se pode chegar nas páginas seguintes.
138 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
139
A vertente analítica sobre a qual nos debruçamos de seguida pode ser o
reflexo do nível cultural e educativo dos cidadãos, cujas características serão
apresentadas no capítulo 8. Paralelamente, o quadro regional, marcado por
determinadas especificidades em termos produtivos e empresariais, influencia,
também, o mercado de emprego e formação concelhio. Com efeito, o emprego e
o modelo de formação presente na região e no concelho são determinantes para
uma aferição mais clara das condições de vulnerabilidade das populações à
exclusão social. Este capítulo será, pois, orientado por uma inserção do concelho
numa dinâmica regional mais vasta, já que consideramos que o concelho partilha
das características do Ave em termos de emprego e formação.
As chamadas vivências de exclusão social têm, frequentemente, na sua
génese, situações de falta e/ou de precariedade de emprego, na medida em que
na nossa sociedade o emprego se assume como despoletador de um conjunto de
benefícios para os indivíduos, pois permite-lhes suprir as suas necessidades de
consumo, reforça a sua valorização social e identitária, disciplina o quotidiano e
fornece uma vivência de sociabilidade e partilha de experiências. Paralelamente, a
clara percepção destes “benefícios” que se associam à experiência de um
emprego, possibilita um entendimento mais completo e abarcante do que é
vivenciado nas situações de desemprego, pois que, os efeitos desse ultrapassam
largamente a ausência pura e simples de rendimentos, mas conjuntamente geram
inúmeras perturbações ao nível do bem-estar social, mental e psíquico dos
desempregados, ocasionando formas complexas de desinserção social.
Os seus efeitos podem, mesmo, trazer consequências hereditárias, na
medida em que se pode tornar insustentável a continuidade do futuro escolar dos
filhos daqueles que experienciam o desemprego, mormente daqueles que
pretendem ingressar ou já ingressaram no ensino superior e que, dessa forma, visam
garantir uma situação de mobilidade social ascendente, já que em Santo Tirso,
como veremos no capítulo seguinte, predominam sobremaneira as pessoas com
fracas habilitações literárias.
140 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
7.1. Abordagem prévia do mercado de emprego no Vale
do Ave
O Vale do Ave, território demográfico e economicamente dinâmico,
constitui uma das regiões mais jovens do País e da Europa e apresenta,
simultaneamente, baixos níveis de escolarização da população residente e activa
e uma expressão particularmente significativa de desemprego de longa duração.
Industrialmente especializado na fileira têxtil-vestuário, o Vale do Ave associa, a
uma capacidade empregadora significativa, no contexto da região do Norte e do
País, défices importantes de qualificação do tecido empresarial e dos activos e
tendências de segmentação do mercado de emprego, resultante da crescente
tensão entre dois modelos produtivos: um predominante e tradicional, organizado
em torno de factores competitividade-preço; e um outro, emergente, organizado
segundo lógicas que privilegiam a inovação e a qualidade dos produtos1.
A evolução do tecido socio-económico do Vale do Ave é caracterizada
pela tensão entre dois modelos produtivos, como deixamos antever. Por um lado,
um modelo de crescimento intensivo, que marcou o processo de crescimento
económico da região ao longo das últimas décadas, em torno da fileira produtiva
têxtil-vestuário, assente, sobretudo, na competitividade de preço, explorando as
diferenças de custo da mão-de-obra e com insuficientes participações na cadeia
de valor dos produtos fabricados. Por outro lado, um modelo emergente e mais
exigente, do ponto de vista da organização produtiva e empresarial, do
posicionamento no mercado e do controlo da cadeia de valor, protagonizado por
um conjunto crescente de empresas, de pequena, média e grande dimensão, da
fileira têxtil-vestuário e de outros sectores industriais e de serviços, que se
1
Estas reflexões decorrem do Estudo de Avaliação das Intervenções Operacionais ocorridas no Vale do
Ave, nos domínios do emprego e da formação, entre 1994 e 1996, elaborado pela Quaternaire Portugal
para a Direcção Geral do Emprego e da Formação Profissional, entre Julho e Outubro de 1997. Este
Estudo foi realizado por uma equipa técnica composta por António Figueiredo, Carmen Cavaco, Clara
Correia, Lurdes Cunha e Rui Azevedo, e contou com a assessoria de António Oliveira das Neves. Dado o
Diagnóstico Social do Concelho, no presente, também ser objecto de uma assessoria técnica da
Quaternaire Portugal, estas considerações mantêm-se válidas e são assumidas pela equipa local e da
assessoria no conjunto.
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
141
desenvolvem com base em estratégias que se afirmam pela inovação, pela
qualidade e pela diferenciação dos seus produtos e serviços. Mais exigentes do
ponto de vista da qualificação geral, técnica e comportamental dos recursos
humanos, a inserção territorial deste tipo de organizações no Vale do Ave, bem
como a sua expressão e consolidação em torno de um novo modelo produtivo,
ainda não se encontra devidamente avaliada.
Poderá falar-se, assim, de uma dualidade do tecido produtivo2 que marca
hoje o Vale do Ave e que tem reflexos em matéria de organização e de
funcionamento do mercado de emprego, acentuando a sua segmentação.
Assim, e no tocante ao (des)emprego como condição de vulnerabilidade à
exclusão social, podemos dizer que o modelo de crescimento extensivo originou,
por um lado, uma dinâmica "predatória" do mercado de emprego local, o qual
favoreceu estratégias de recrutamento de emprego pouco qualificado e mal
remunerado e dinâmicas de inserção precoce no mercado de trabalho,
hipotecando o futuro próximo de gerações e, por outro lado, uma excessiva
dependência do Ave da fileira têxtil-vestuário que, em situação de crise, se traduz
numa falta de alternativas de emprego a nível regional.
Concomitantemente, o modelo extensivo não propiciou a emergência e o
desenvolvimento do sector terciário superior na zona. Os serviços às empresas foram
limitados pelo défice de procura e os mais qualificados (auditoria, sector financeiro,
informática, design, consultadoria) seguem uma lógica de aglomeração na
metrópole mais próxima. A dinâmica de criação de emprego a que se assistiu até
inícios da década de 90 ficou, assim, sobretudo a partir de 1993, comprometida. A
resolução da crise do Vale do Ave não pode já fazer-se pelo recurso a mão-deobra indiferenciada, barata e em grande quantidade. A falência de empresas em
paralelo
com
o
processo
de
modernização
de
outras
introduziu
fortes
descontinuidades no mercado de trabalho com o consequente crescimento do
desemprego3.
2
Vd. nota de rodapé anterior.
3
Vd. nota de rodapé n.º 1 deste capítulo.
142 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
As novas condições de competitividade (diferenciação pela qualidade e
pela inovação, de produtos e processos, flexibilidade tecnológica e organizacional,
capacidade de produção para mercados segmentados, etc.), em ambiente de
forte instabilidade e concorrencialidade internacionais, exigem um forte aumento
de produtividade, uma maior intensidade tecnológica, uma maior capacidade de
resposta das empresas, só possíveis de alcançar através da mobilização de mãode-obra mais competente, associando, em simultâneo, especialização técnica e
capacidade de adaptação à mudança e de aprendizagem permanentes.
Um segmento do mercado local, com forte expressão no Ave, do ponto de
vista do número de empresas e de activos a ele associados, é representado por
actividades e empregos directa e indirectamente associados aos sectores
industriais
tradicionais
cuja dinamização ocorreu pela via dos apoios à
contratação, da criação do próprio emprego e da manutenção do desemprego
subsidiado. Assim, mantém-se no Ave uma dinâmica de procura de emprego,
pouco qualificada, adulta e desmotivada profissionalmente, oriunda, sobretudo, do
sector têxtil, que encontra nos incentivos à criação do próprio emprego ou no
sector informal da economia (na maior parte das vezes numa situação de
desemprego
subsidiado)
uma
oportunidade
de
recriação
de
actividades
associadas às competências adquiridas ao longo da sua vida profissional.
Trata-se, particularmente, do caso das unidades de confecção a feitio
mantidas por mão-de-obra feminina desempregada que alimentam redes de subcontratação existentes, reproduzindo as características do modelo produtivo ainda
dominante neste tipo de sectores – insuficiente participação na cadeia de valor do
produto, baixos salários, baixa qualidade da produção, reduzido grau de inovação.
Neste contexto, os factores de evolução deste mercado estão cada vez
mais comprometidos por várias ordens de razões: em primeiro lugar, porque é cada
vez menos significativo o número de ofertas de empregos indiferenciados, mesmo
no tocante aos sectores industriais tradicionais; em segundo lugar, porque os baixos
níveis
salariais
praticados
na
maioria
das
empresas,
que
contratam
predominantemente mão-de-obra pouco qualificada, não compensam a saída da
situação de inactividade ou desemprego para a empregabilidade; em terceiro
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
143
lugar, porque os pedidos de emprego registados nos Centros de Emprego para
integração em profissões pouco qualificadas e mal remuneradas dos sectores
industriais, não correspondem, em grande parte dos casos, a uma procura efectiva
e interessada, mas tão-somente a uma via de obtenção de rendimentos através do
subsídio (esta procura é, em grande parte, protagonizada por activos cansados e
desmotivados para uma reinserção profissional, mesmo nos poucos casos em que
esta reinserção não coloca necessidades de reconversão); por fim, a evolução
deste mercado de trabalho indiferenciado está também algo comprometida
devido à evolução das expectativas profissionais da grande maioria dos jovens
que, associando a actividade industrial a baixos salários, horários rígidos e,
fundamentalmente, contextos de trabalho desfavoráveis (organização, relações
laborais, higiene e segurança), procuram a sua integração profissional nas
actividades terciárias.
Não nos podemos esquecer ainda que tem vindo a afirmar-se uma procura
de empregos mais qualificados, sobretudo por parte dos jovens e que se dirige
maioritariamente ao sector dos serviços que, no Ave, não tem revelado
capacidade de resposta. Então, persiste a insuficiência de profissionais disponíveis,
ou de procura de emprego, para o desempenho de funções técnicas, e
qualificadas, nos processos produtivos das empresas industriais, apesar das
necessidades evidenciadas pelas empresas e do aumento de produção de
competências, da responsabilidade, sobretudo, do ensino profissional, tecnológico
e politécnico.
Aquando dos Trabalhos Preparatórios do Congresso e do Plano Estratégico
do Vale do Vale (1998), foi já possível identificar alguns pontos e eixos críticos ao
nível das dinâmicas de emprego da zona, os quais tentaremos enunciar
seguidamente, pois parecem-nos ainda actuais e têm, obviamente, repercussões
no concelho que está a ser objecto de estudo. Um primeiro eixo de abordagem diz
respeito às crescentes dificuldades de inserção no mercado de trabalho,
144 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
constatando-se essa situação sobretudo nas pessoas com 50 ou mais anos de
idade (30,2%) e nos jovens à procura do primeiro emprego (7,1%)4.
Aquela situação tem consequências extremamente penosas na medida em
que a obtenção de um novo emprego é difícil e a possibilidade de reconversão da
actividade é restrita ou mesmo inviável. Para além dos reflexos económicos, os
psicológicos são particularmente difíceis de ultrapassar. Estas consequências são
tão mais graves quanto mais durarem no tempo. O facto de as mulheres serem as
mais numerosas no desemprego e o seu desemprego durar mais no tempo também
nos deverá merecer particular atenção, pois denotam uma sociedade ainda muito
alicerçada a valores tradicionais, onde as desigualdades da mulher perante o
trabalho tenderão a ser perpetuadas.
Outro eixo analítico fundamental liga-se directamente à chamada
precariedade do emprego. Podemos mesmo asseverar que as situações de
exclusão são parcialmente contidas enquanto se verifica a existência de uma fonte
de rendimento. Mas a vulnerabilidade destas situações de precariedade afecta,
particularmente, aquelas pessoas que aliam ao trabalho precário fracas
qualificações profissionais, baixa escolaridade e obtenção de baixos salários. Os
contratos de trabalho de curta duração, as situações provisórias, tornam mais
frequentes as passagens entre períodos de actividade e inactividade, não havendo
qualquer garantia de continuidade nas fontes de rendimento, o que se traduz
numa crescente e constante instabilidade. Por outro lado, parte das pessoas nesta
situação encontram-se à margem dos esquemas de protecção social, o que
despoleta, quase de imediato, e numa situação de ruptura, o deslocamento para
uma situação de privação material e, consequentemente, de pobreza económica
e de exclusão social.
Outro eixo analítico situa-se no quadro da crescente flexibilidade das leis
laborais. Esta flexibilidade e o reforço da economia subterrânea implicam uma
crescente instabilidade e precariedade do trabalho. Não havendo qualquer
4
Cfr. Quaternaire Portugal, S.A. (1998) – Trabalhos preparatórios do congresso e do plano estratégico do
Vale do Ave. Texto de apoio ao grupo de trabalho sobre “dinâmicas de inserção social”. 19 de
Novembro de 1998. Porto: Quaternaire Portugal, S.A..
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
145
garantia de continuidade nas fontes de rendimento cresce a instabilidade.
Podemos constatar que se tem assistido, sobretudo a partir de 1996, a um reforço
das acções de informação, sensibilização e orientação promovidas pelos Centros
de Emprego, no âmbito dos programas de apoio existentes, sendo, no entanto,
manifestamente reduzido o número de pessoas apoiadas, até ao momento, por
este tipo de intervenções. Embora se desconheça a evolução, quantitativa e
qualitativa, destas iniciativas, é partilhada, pela maioria dos agentes do Ave, a
necessidade de reforçar as acções, individuais e colectivas, de informação,
aconselhamento, orientação e acompanhamento profissional, valorizando as
novas condições e estratégias que devem presidir ao desenvolvimento destas
funções.
7.2. Políticas e instrumentos de políticas de emprego e
formação no Vale do Ave
Retomando algumas das questões avançadas no quadro da elaboração
do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Vale do Ave 2000-20075, podemos
considerar que é possível individualizar três segmentos de emprego relevantes para
a intervenção em matéria das políticas de emprego e de formação.
Um primeiro segmento é proveniente da expansão quantitativa e qualitativa
de programas ocupacionais, que tem dinamizado o domínio dos serviços de
proximidade, sobretudo de natureza social. Segue-se um segmento constituído por
actividades e empregos directa e indirectamente associados aos sectores
industriais tradicionais, e que emergiu a partir de processos de contratação, de
criação do próprio emprego e de manutenção de desemprego subsidiado.
Finalmente, um segmento emergente, com níveis mais exigentes de qualidade na
oferta e também na procura de emprego, alimentado por dois tipos de correntes:
iniciativas de criação de auto-emprego em sectores de serviços a partir de activos
5
Cfr. Quaternaire Portugal, S.A. (1999) – Plano Estratégico de Desenvolvimento do Vale do Ave 2000-
2007. Versão Preliminar. Porto: Quaternaire Portugal, S.A..
146 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
com níveis de instrução e qualificação mais elevados à partida e consequências
lógicas dos processos de modernização produtiva e tecnológica pontualmente
observável em empresas da fileira dominante do têxtil-vestuário e de investimentos
de diversificação entretanto observados.
Numa perspectiva de condução territorializada da política de emprego e
de formação, o desafio que se abre a estas políticas é o de encarar o mercado de
emprego e de formação não como uma realidade homogénea, determinada pela
permanência de tendências estruturais conhecidas, mas, pelo contrário, de integrar
coerentemente na acção os três segmentos atrás identificados. Os problemas e as
necessidades de intervenção são, de facto, diversos.
Assim, no segmento ocupacional, colocam-se sobretudo necessidades de
qualificação
de
funções,
de
empregos
e
de
recursos
humanos
e
de
profissionalização, num mercado que, embora promissor pela tipologia de
empregos que anuncia, continua fortemente dependente da presença dos
programas ocupacionais.
No segmento de desqualificação, assiste-se a uma situação complexa e
contraditória. Por um lado, porque a tendência dominante será de, a nível geral,
diminuir a oferta de empregos indiferenciados e os salários médios oferecidos não
estimularem o abandono da situação de desemprego subsidiado; por outro lado,
continuam a verificar-se fenómenos de não preenchimento total de ofertas em
empregos específicos como, por exemplo, as costureiras, para além de serem
visíveis fenómenos de desajustamento entre a procura de emprego e as novas
características tecnológicas dos empregos oferecidos.
No segmento emergente, o problema principal é o de equilibrar a
incidência do fenómeno na indústria e nos serviços, verificando-se que, neste último
domínio, as expectativas e as estratégias de procura de emprego são mais fortes.
Ora, uma outra debilidade estrutural que tem vindo a manter-se no Ave é a de uma
oferta de serviços truncada e estruturalmente limitada por um baixo e pouco
diversificado nível de procura de serviços por parte das empresas. Neste caso, a
grande interrogação decorre de não ser ainda possível avaliar se a emergência
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
147
dos novos modelos empresariais atrás referidos vai restringir-se a um conjunto de
empresas de maior dimensão ou se, pelo contrário, se estenderá ao tecido de
pequenas e médias empresas que constituem o Ave industrial e profundo.
7.3. A problemática do emprego e da formação no
concelho de Santo Tirso
Não sendo possível destacar a realidade tirsense do Vale do Ave em geral,
iremos, agora, situarmo-nos, concretamente, nessa realidade. É extremamente
importante analisarmos, por isso, o emprego em termos comparativos, quer no que
reporta ao género das pessoas, quer no que diz respeito à evolução que o
fenómeno apresenta ao longo dos últimos anos, mais especificamente no espaço
intercensitário, sem descurar a variação observada ao longo dos últimos dois anos.
Representam pouco mais de metade da população do concelho de Santo
Tirso (38 252 sujeitos) aqueles que se encontram em situação economicamente
activa, sendo a sua maior parte do sexo masculino. Este não deixa de ser um dado
importante a considerar, já que a população do concelho é maioritariamente
feminina. Curiosamente, são as mulheres as mais afectadas pelo desemprego (a
exemplo, aliás, do que acontece em quase metade dos Centros de Emprego da
Região Norte), tal como podemos constatar na figura 7.1.. Saliente-se, todavia, que
os dados apresentados na figura se reportam ao Recenseamento de 2001; dois
anos passados, a situação sofreu um agravamento significativo e o peso dos
desempregados assume uma maior importância face à população activa.
Dentre os desempregados registados em 2001 (2 548 pessoas), constata-se
ainda que o predomínio vai para aqueles que estão à procura de novo emprego (2
261 pessoas – 88,7%), em detrimento dos que estão à procura de primeiro emprego
(287 pessoas – 11,3%), indiciando, já em 2001, o cenário negro de encerramento de
diversas indústrias – especialmente no sector têxtil – a que se tem assistido nos
últimos dois anos e que teremos oportunidade de analisar mais adiante. De acordo
148 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
com o relatório do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), respeitante
ao terceiro trimestre de 2003, os Centros de Emprego de Santo Tirso, Guimarães e
Vila Nova de Famalicão (todos eles do Vale do Ave) são, na Região Norte, os que
mais acumulam população desempregada por um período de tempo que supera
os doze meses e que, normalmente, são pessoas com baixas habilitações escolares
e com mais de 50 anos de idade. Santo Tirso regista mesmo a maior percentagem
de desempregados de longa duração da Região Norte (50,8%). Esta situação é
tanto mais problemática quando analisada à luz das consequências que o
desemprego prolongado pode trazer para as famílias pelo qual são atingidas,
levando-as a cair no limiar da pobreza e da exclusão social e fazendo com que
nessas famílias os ideais da democracia possam deixar de fazer sentido.
Figura 7.1.:
População economicamente activa e empregada e população desempregada no
concelho de Santo Tirso, em 2001 (n.º)
25000
20156
20000
18096
19097
16607
15000
10000
5000
1059
1489
121
166
938
1323
Sexo masculino
População
desempregada à
procura de novo
emprego
População
desempregada à
procura de 1º
emprego
População
desempregada
População
economicamente
activa e
empregada
População
economicamente
activa
0
Sexo feminino
Fonte: INE – Recenseamento Geral da População, 2001.
Segundo a informação prestada pelo INE, as pessoas desempregadas têm,
maioritariamente, dois meios de vida: ou se encontram a receber subsídio de
desemprego (1584 indivíduos – 62,2% – que procuram um novo emprego) ou vivem
a cargo da família (688 indivíduos – 27%). Há, portanto, uma considerável fatia da
população activa desempregada cuja sobrevivência depende de outras pessoas.
Indo mais longe, conseguimos apurar que a grande maioria dos desempregados
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
149
que procuram o seu primeiro emprego vive a cargo da família (243 pessoas –
84,7%), enquanto que entre os que procuram um novo emprego, para além dos 1
584 desempregados (70,1%) que auferem o subsídio de desemprego, há também
445 (19,7%) que se encontram a cargo da família. Destaque ainda para o facto de,
neste último caso, 64,3% das pessoas serem mulheres.
Com o predomínio de pessoas residentes no concelho do sexo feminino,
coadjuvado por um sector de actividades que, tradicionalmente, emprega mais
mulheres que homens, este panorama permite-nos sustentar a hipótese segundo a
qual se apresentam, mais uma vez, as desigualdades das mulheres perante o
trabalho, ao mesmo tempo que poderá revelar, eventualmente, uma situação de
empregabilidade que encubra contextos de precariedade perante o quadro de
emprego de referência.
Quanto ao principal meio de vida da população residente e empregada no
concelho com 15 ou mais anos de idade, parece-nos relevante informar que
existem três grandes grupos de pessoas que, pelo peso da sua representação
numérica no quadro global, merecem destaque. Falamos, concretamente,
daqueles que vivem de uma actividade profissional (58,4%), dos que vivem da sua
reforma (20,8%) e dos que se encontram a cargo da família (12,7%). Se, por um
lado, podemos considerar «normal» o facto da maior parte das pessoas viver do seu
trabalho (situação que confirma a maior debilidade das mulheres face ao
emprego),
por
outro
lado,
julgamos
ser
oportuno
reiterar
alguns
dados
mencionados no capítulo 3. Por outras palavras, pode dizer-se que o significativo
número de pessoas que vive essencialmente da sua reforma vai de encontro ao
duplo envelhecimento populacional que se observa em Santo Tirso.
150 Diagnóstico Social – Santo Tirso
População residente e empregada com 15 ou mais anos de idade, segundo o
principal meio de vida, no concelho de Santo Tirso, em 2001
7193
5323
4892
2753
Sexo masculino
A cargo da
família
Outra situação
285 545
59 66
Apoio Social
77 183
Pensão/Reforma
34 84
RMG
Subsídio
temporário por
acidente de
Subsídio de
desemprego
Rendimentos da
propriedade
Trabalho
20000 18854
16289
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
11751727
2000
178 172
151 163
0
Outros subsídios
temporários
Figura 7.2.:
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Sexo faminino
Fonte: INE – XIV Recenseamento Geral da População, 2001.
Volvendo a atenção para a população residente sem actividade
económica, não surpreende que a maior parcela (11 933 – 54,4%) corresponda aos
reformados/aposentados, dado o envelhecimento populacional decalcado
anteriormente. Do mesmo modo, não causa surpresa o facto de a estas pessoas se
seguirem os estudantes (4 220 – 19,2%), fazendo justiça à afirmação segundo a qual
Santo Tirso, em particular, e o Vale do Ave, em geral, são potenciais reservas de
população jovem, que nos permitem encarar o futuro com algum optimismo.
Importa, contudo, aprofundar um pouco mais a análise. O principal meio de
vida
da
maior
parte
da
população
sem
actividade
económica
recai,
fundamentalmente, na pensão/reforma (12 409 – 56,5%), como seria de esperar,
sendo este seguido pelas pessoas que estão a cargo da família (6 701 – 30,5%),
corroborando, também, o parágrafo anterior. Se tentarmos estabelecer uma
relação entre o principal meio de vida destas pessoas e a sua condição perante a
inactividade, concluímos que existem duas grandes tendências: os estudantes (4
107 – 97,3%) e as domésticas (1 743 – 80,8%), por um lado, vivem a cargo da família;
os reformados, aposentados ou pessoas que estão na reserva (11 862 – 99,4%) e os
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
151
incapacitados permanentes perante o trabalho (535 – 58,4%), por outro, têm como
principal fonte de rendimentos a pensão/reforma.
Tabela 7.1:
População residente, com 15 ou mais anos de idade, sem actividade económica, segundo
o principal meio de vida, no concelho de Santo Tirso, em 2001a
Estudante
Principal meio de vida
Trabalho............................................................................
N
Reformada,
aposentada
ou na reserva
Doméstica
%
N
%
N
%
Incapacitada
permanente
para o
trabalho
N
%
Outra
situação
N
%
11
0,3
25
1,2
8
0,1
0
-
202
Rendimentos da propriedade e da empresa..............
1
0,02
78
3,6
17
0,1
9
1,0
77
7,4
2,8
Subsídio de desemprego................................................
0
-
39
1,8
0
-
0
-
1222
44,9
Subs. temporário (acidente trabalho/ doença prof.)
0
-
1
0,04
0
-
85
9,3
18
0,7
Outros subsídios temporários..........................................
6
0,1
31
1,4
0
-
0
-
38
1,4
Rendimento Mínimo Garantido.....................................
10
0,2
32
1,5
24
0,2
56
6,1
96
3,5
Pensão/Reforma..............................................................
0
-
0
-
11862
99,4
535
58,4
12
0,4
Apoio social......................................................................
16
0,4
6
0,3
1
0,01
47
5,1
40
1,5
A cargo da família...........................................................
4107
97,3
1743
80,8
15
0,1
147
16,0
689
25,3
Outra situação.................................................................
69
1,6
203
9,4
6
0,1
37
4,0
330
12,1
Total...................................................................................
4220
100,0
2158
100,0
11933
100,0
916
100,0
2724
100,0
a
Os totais percentuais podem não perfazer 100% devido a questões de arredondamento.
Fonte: INE – XIV Recenseamento Geral da População, 2001.
Seguindo a nomenclatura da Classificação Nacional de Profissões (1994),
confirma-se a preponderância em Santo Tirso dos «operários, artífices e
trabalhadores similares», pela influência que o sector têxtil tem no concelho, já que
neste grupo de profissionais incluem-se aqueles que fabricam matérias têxteis6. Este
grupo corresponde a 29,8% do número total de pessoas residentes empregadas em
Santo Tirso no ano de 2001 mas em todos os concelhos do Vale do Ave, como,
aliás, se pode observar na figura 7.3., são estes os profissionais mais representados.
No que toca aos restantes grupos de profissões, o concelho de Santo Tirso
também se enquadra nos valores médios do Ave mas se abordarmos apenas a
realidade local, denotamos ainda a presença de 7 832 pessoas (21,9%) que se
agrupam nos «operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da
6
Para uma melhor e mais pormenorizada leitura sobre as funções que cada um dos grandes grupos de
profissões agrega, cfr. http://www.ine.pt/prodserv/nomenclaturas/cnp1994.asp .
152 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
montagem» e a presença de 4 096 (11,5%) «trabalhadores não qualificados». Tal
equivale a dizer que estamos perante 63,2% de população empregada em ramos
de actividade que tradicionalmente não são bem remunerados e podem propiciar
mais facilmente situações de pobreza dentro das famílias atingidas, até porque se
tratam de profissões que se arrastam por famílias inteiras e não apenas por um ou
outro membro de uma determinada família.
Os «quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros
superiores de empresa» e os «especialistas de profissões intelectuais e científicas»
não têm, por seu lado, um peso muito significativo no cenário concelhio global.
Com 2 421 pessoas (6,8%) no primeiro caso e 1 645 (4,6%) no segundo, estes grupo
comprovam que Santo Tirso é ainda um concelho que depende em grande
número da indústria têxtil e com muito pouca gente qualificada. Esta é, como
veremos no capítulo seguinte, uma realidade que urge modificar, mesmo
considerando que se trata de esforço que pode levar muito tempo até surtir o
efeito desejado.
Como seria de esperar, o recenseamento de 2001 informa-nos ainda que a
grande maioria (85,4%) da população empregada em Santo Tirso trabalha por
conta de outrem, sem que se denotem diferenças significativas de sexo (52,4% são
homens e 47,6% são mulheres). Desta forma, nenhuma das outras situações na
profissão que podemos observar na figura 7.4. merecem lugar de destaque, ainda
que, dentre elas, os empregadores (8,9%) adquiram algum relevo.
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Figura 7.3.:
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
153
População residente empregada, segundo os grupos de profissões, no concelho
de Santo Tirso, em 2001a
Fafe
Guimarães
Póvoa de Lanhoso
Santo Tirso
Trofa
Vieira do Minho
V. N. Famalicão
Vizela
Vale do Ave
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Membros das forças armadas
Quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresa
Especialistas das profissões intelectuais e científicas
Técnicos e profissionais de nível intermédio
Pessoal administrativo e similares
Pessoal dos serviços e vendedores
Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e pescas
Operários, artífices e trabalhadores similares
Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem
Trabalhadores não qualificados
a
De acordo com a Classificação Nacional de Profissões, 1994.
Fonte: INE – Recenseamento Geral da População, 2001.
Tal como já se havia mostrado aquando da análise da população
economicamente activa empregada e desempregada (figura 7.1.), o predomínio
daqueles que se encontram a exercer uma profissão vai para os homens. Essa
diferença expressa-se nas situações na profissão que permitem um melhor
posicionamento no mercado de trabalho, senão vejamos: os que trabalham por
conta de outrem, os que trabalham por conta própria e os empregadores são,
maioritariamente, do sexo masculino; os trabalhadores familiares não remunerados,
os membros activos de cooperativa e todos os que trabalham noutras situações
não contempladas pelo INE são, sobretudo, do sexo feminino. Por um lado, as
discrepâncias observadas são mais amplas do que aquelas que separam homens e
mulheres quando o ascendente recai sobre os primeiros. Por outro lado, elas
154 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
ganham maior visibilidade quando se tratam de trabalhadores familiares não
remunerados
e
de
membros
activos
de
cooperativa
(69,7%
e
64,7%,
respectivamente, são do sexo feminino). O facto de serem situações cujos
vencimentos são ínfimos ou inexistentes agudiza ainda mais as diferenças entre
sexos no contexto da empregabilidade.
Figura 7.4.:
População residente empregada, segundo a situação na profissão, no concelho
de Santo Tirso, em 2001
17 - 0,04%
237 - 0,7%
3181- 8,9%
1670 - 4,7%
30480 - 85,4%
119 - 0,3%
Empregador
Trabalhador por conta própria
Trabalhador familiar não remunerado
Trabalhador por conta de outrem
Membro activo de cooperativa
Outra situação
Fonte: INE – XIV Recenseamento Geral da População, 2001.
Um dos indicadores que nos poderá dar conta da precariedade do
emprego em Santo Tirso remete-nos para o número de horas semanais trabalhadas.
As tabelas 7.2. e 7.3., referentes aos dados que o INE apurou nos dois últimos
recenseamentos gerais da população, mostram a tendência da população activa
deste mesmo indicador.
No tocante à população empregada remunerada – que em dez anos
aumentou 1,7% –, destaca-se, em primeiro lugar, o aumento do número de pessoas
que trabalham 4 ou menos horas por semana mas que é anulado pela redução
daqueles que trabalham entre 5 a 14 horas semanais. Se considerarmos que
estamos a falar dos chamados biscates, podemos afirmar que entre 1991 e 2001 e
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
155
tendência seria a de diminuir o trabalho precário da economia informal em prol de
melhores condições de empregabilidade. Este panorama, porém, tem vindo a
sofrer alterações desde os Censos de 2001.
Tabela 7.2.:
População residente activa – empregado remunerado – no concelho de Santo Tirso,
segundo o número de horas semanais trabalhadas, em 1991 e 2001
1991
Sexo
masculino
N
%
N.º de horas trabalhadas
Sexo
feminino
N
%
2001
Total
N
%
Sexo
masculino
N
%
Sexo
feminino
N
%
Variação
(1991-2001)
Total
N
%
N
+14
%
1 a 4 horas semanais............
25
40,3
37
59,7
62
100,0
37
48,7
39
51,3
76
100,0
5 a 14 horas semanais..........
429
52,1
395
47,9
824
100,0
367
47,7
402
52,3
769
100,0
-55
-6,7
15 a 29 horas semanais........
235
30,8
527
69,2
762
100,0
289
30,7
651
69,3
940
100,0
+178
23,4
30 a 34 horas semanais........
162
45,3
196
54,7
358
100,0
229
38,9
360
61,1
589
100,0
+231
64,5
35 a 39 horas semanais........
933
50,5
916
49,5
1849
100,0
1639
44,4
2049
55,6
3688
100,0
+1839
99,5
40 a 44 horas semanais........
13269
52,5
12018
47,5
25287
100,0
11993
52,1
11021
47,9
23014
100,0
-2273
-9,0
45 ou mais horas semanais..
4013
68,7
1825
31,3
5838
100,0
4488
69,2
2002
30,8
6490
100,0
+652
11,2
Fonte: INE (2003) – Recenseamentos gerais da população e da habitação: dados comparativos 1991-2001. CD ROM. Lisboa: INE.
O trabalho em part-time (15 a 29 horas semanais), pelo contrário, aumentou
23,4%, assim como o número da população empregada que trabalham entre 30 a
34 horas por semana (+64,5%) e entre 35 a 39 horas semanais (+99,5%). O acréscimo
significativo observado neste último caso poderá estar directamente ligado à
redução do número de pessoas que trabalha entre 40 a 44 horas semanais (-9%)
mas é também interessante verificar que há mais 652 pessoas (+11,2%) que
exercem a sua actividade profissional durante mais de 45 horas por semana. Tal
facto
pode
espelhar
uma
política
empresarial
de
sobrecarga
dos
seus
trabalhadores, em oposição a uma política de redução de horários e contratação
de novos colaboradores e, concomitantemente, geradora de novos postos de
trabalho.
Esta pode ser encarada como uma das possíveis causas para o insucesso
das indústrias que se tem verificado nos últimos anos no concelho de Santo Tirso, na
medida em que a sobrecarga de horários pode gerar insatisfação nos
trabalhadores e consequentes baixos índices de produtividade e de qualidade do
produto final. Aliás, uma análise mais atenta mostra precisamente que quatro das
seis freguesias que mais influência exercem sobre a tendência observada
correspondem à zona geográfica do concelho onde predomina o sector
22,6
156 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
secundário (S. Martinho do Campo, S. Salvador do Campo, S. Tomé de Negrelos e
Vilarinho, com aumentos de 28,1%, 190,9%, 33,1% e 29,7%, respectivamente, face à
população que, em 1991, trabalhava mais de 45 horas semanais). Uma política
antagónica poderia, portanto, inverter a situação e criar novos postos de trabalho.
Não se observam alterações significativas no que diz respeito ao sexo dos
trabalhadores. Pode, pois, dizer-se que continua a prevalecer entre os tirsenses a
mentalidade segundo a qual as mulheres deverão dedicar-se mais atentamente às
tarefas do lar, ao passo que os homens são quem mais trabalha em ordem à
sobrevivência das respectivas famílias. As diferenças de que falamos ganham
sentido quando analisamos as pessoas que trabalham entre 15 a 34 horas semanais
e as que trabalham 45 ou mais horas por semana, conforme ilucida a tabela 7.2..
O caso dos familiares activos não remunerados é oposto. Desde logo, a
variação entre os dois recenseamentos indica-nos que em 2001 há menos 64,7% de
activos do que havia em 1991. Outra das diferenças observadas remete-nos para o
número de horas trabalhadas, já que não há ninguém que trabalhe menos de 15
horas por semana. Aliás, é mesmo entre aqueles que trabalham de 15 a 29 horas
semanais que mais se fez sentir a redução percentual (-84,4%). Por último, atente-se
no facto de em todos as situações prevalecer o sexo feminino, reiterando aquilo
que dissemos em cima.
Tabela 7.3.:
População residente activa – familiar activo não remunerado – no concelho de Santo
Tirso, segundo o número de horas semanais trabalhadas, em 1991 e 2001
1991
N.º de horas trabalhadas
Sexo
masculino
N
%
2001
Sexo
feminino
N
%
N
Total
%
Sexo
masculino
N
%
Sexo
feminino
N
%
Total
N
%
Variação
(1991-2001)
N
%
15 a 29 horas semanais.......
9
28,1
23
71,9
32
100,0
2
40,0
3
60,0
5
100,0
-27
30 a 34 horas semanais.......
2
28,6
5
71,4
7
100,0
0
-
5
100,0
5
100,0
-2
-28,6
35 a 39 horas semanais.......
4
33,3
8
66,7
12
100,0
1
14,3
6
85,7
7
100,0
-5
-41,7
40 a 44 horas semanais.......
57
58,2
41
41,8
98
100,0
8
20,5
31
79,5
39
100,0
-59
-60,2
45 ou mais horas semanais.
82
43,6
106
56,4
188
100,0
25
39,7
38
60,3
63
100,0
-125
-66,5
Fonte: INE (2003) – Recenseamentos gerais da população e da habitação: dados comparativos 1991-2001. CD ROM. Lisboa: INE.
-84,4
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
157
Uma análise micro dos indicadores sobre o emprego permite-nos certificar
as freguesias de Santo Tirso (18,8%), Vila das Aves (11,4%), Monte Córdova, St.ª
Cristina do Couto, Roriz, S. Martinho do Campo, S. Tomé de Negrelos e Vilarinho
(com valores que vão desde os 5% até aos 6,1%) como aquelas que mais
contribuem para o total da população empregada do concelho. Pelo contrário,
são as freguesias de Guimarei, Lamelas, S. Tiago da Carreira, Palmeira, Refojos, S.
Salvador do Campo e S. Miguel do Couto (com valores que vão desde 0,9% até
1,7%) aquelas que menos peso têm na empregabilidade concelhia.
Independente de qualquer dado estatístico surge a opinião dos agentes
sociais que mais de perto podem observar as suas comunidades locais, que indica
o desemprego como causa e consequência da situação precária em que vivem
muitas famílias. Das vinte e quatro freguesias que compõem o concelho, foram
dezoito aquelas cujos agentes sociais entrevistados (Presidentes de Junta de
Freguesia e Párocos) apontaram o desemprego como um dos principais problemas
locais; nalguns casos (Areias e Palmeira) foi mesmo referido o desemprego de
pessoas com 40-50 anos de idade e em Vilarinho foi igualmente apontado o
emprego precário, indo, assim, de encontro à realidade descrita anteriormente.
O destaque no concelho de Santo Tirso vai para o sector secundário, já que
é neste sector que trabalham 63,6% da população residente empregada. Em
termos territoriais, a freguesia de Santo Tirso afigura-se como protagonista em todos
os sectores de actividade, com especial referência para a diferença que a separa
das outras freguesias no concernente ao sector terciário. Conclui-se, daqui, uma
concentração do comércio no principal centro urbano do concelho. Vila das Aves
surge com a segunda freguesia mais empregadora, mas, desta feita, apenas no
tocante
aos
sectores
secundário
e
terciário,
já
que
se
observa
uma
subrepresentação da actividade agrícola por comparação com outras freguesias.
No sector primário, vale ainda a pena mencionar as freguesias da
Reguenga (9,7%), Refojos (8,2%), Água Longa (7,7%) e Monte Córdova (7,1%). Não
sendo preponderante o peso destes valores percentuais na empregabilidade geral
do concelho, na medida em que o próprio sector representa somente 1,3% dessa
158 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
empregabilidade, eles indiciam os locais onde a agricultura ainda se assume como
principal fonte de rendimentos para algumas famílias.
A indústria, a par de Santo Tirso e de Vila das Aves – que entretanto referimos
–, tem ainda um papel preponderante nas freguesias de Vilarinho (8,1%), S. Tomé de
Negrelos (7%), Roriz (6,8%) e S. Martinho do Campo (6,6%), tal como podemos
observar na tabela 7.4.. Relembre-se que este é, por tradição, o sector de
actividade que mais gente emprega não só no concelho de Santo Tirso – onde
existem bons modelos de referência –, mas também em toda a região do Vale do
Ave.
Segundo alguns dos nossos entrevistados, o sector terciário tem vindo a
assumir cada vez mais importância no concelho, ao longo dos últimos anos. Os
valores apresentados na tabela 7.4. mostram, no entanto, que o comércio é a
actividade onde se verifica um maior fosso entre a freguesia com maior peso
percentual (Santo Tirso – 28,9%) e a freguesia com menor peso percentual (S.
Salvador do Campo – 0,9%). O crescimento de que falam os agentes sociais que
colaboraram no nosso estudo é, por isso, bastante mais notório na cidade do que
nas restantes freguesias. Os dados do IEFP apontam para a existência de uma
relação de causalidade entre este crescimento e a criação de algumas pequenas
empresas e micro-empresas, sobretudo ligadas ao comércio a retalho.
Mas se, por um lado, Santo Tirso se apresenta como a freguesia com mais
importância no panorama do emprego concelhio, por outro lado, é também a
freguesia que mais contribui para as estatísticas do desemprego. Isto é válido tanto
para os indivíduos que se encontram desempregados à procura de primeiro
emprego – onde se destaca, ainda, a freguesia de St.ª Cristina do Couto (9,1%) –,
como para aqueles que procuram um novo emprego. Este último grupo de
desempregados constitui-se como o principal aglomerado de desempregados do
concelho, sendo ainda de considerar as freguesias de Vila das Aves (14,2%), S.
Tomé de Negrelos (6,5%) e Rebordões (5,4%). Uma nota ainda para realçar o facto
de, em 2001, Guimarei não ter qualquer pessoa desempregada à procura de
primeiro emprego, denunciando um sucesso total na busca de uma actividade
Diagnóstico Social – Santo Tirso
profissional
inicial
ou,
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
numa
outra
perspectiva,
a
159
falta
de
mão-de-obra
rejuvenescida.
No que toca à população residente sem actividade económica, 19,8% dos
34 144 indivíduos são da freguesia de Santo Tirso, que também aqui se assume
como protagonista. A exemplo do que temos vindo a frisar, Vila das Aves surge
como a segunda mais representada (12%) e não são de descurar as freguesias de
S. Tomé de Negrelos, St.ª Cristina do Couto, Monte Córdova, Vilarinho e Rebordões,
todas com mais de 5% de pessoas sem actividade económica.
Tabela 7.4.:
Indicadores sobre o emprego no concelho de Santo Tirso, por freguesia, em 2001 (n.º)a
Indivíduos
residentes
empregados
N
%
Indivíduos
residentes
empregados
no sector
primário
N
%
Indivíduos
residentes
empregados
no sector
secundário
N
Indivíduos
residentes
empregados
no sector
terciário
%
N
%
Indivíduos
residentes
desempregados à
procura do
primeiro
emprego
N
%
Indivíduos
residentes
desempregados à
procura de
novo
emprego
N
%
Indivíduos
residentes
sem
actividade
económica
N
%
Agrela......................................
820
2,3
8
1,7
463
2,0
349
2,8
11
3,8
34
1,5
739
2,2
Água Longa............................
1041
2,9
36
7,7
617
2,7
388
3,1
12
4,2
59
2,6
1022
3,0
Areias.......................................
1243
3,5
10
2,1
727
3,2
506
4,0
11
3,8
103
4,6
1242
3,6
Burgães....................................
1052
2,9
25
5,4
667
2,9
360
2,9
3
1,0
71
3,1
1118
3,3
Guimarei..................................
331
0,9
13
2,8
183
0,8
135
1,1
0
-
13
0,6
392
1,4
Lama........................................
713
2,0
17
3,6
404
1,8
292
2,3
11
3,8
62
2,7
729
2,1
Lamelas...................................
422
1,2
16
3,4
223
1,0
193
1,5
8
2,8
26
1,1
497
1,5
Monte Córdova......................
1784
5,0
33
7,1
1196
5,3
555
4,4
9
3,1
107
4,7
1769
5,2
Palmeira..................................
500
1,4
12
2,6
321
1,4
167
1,3
6
2,1
64
2,8
534
1,7
Rebordões...............................
1731
4,8
9
1,9
1226
5,4
496
4,0
14
4,9
123
5,4
1691
5,0
Refojos.....................................
520
1,5
38
8,2
339
1,5
143
1,1
4
1,4
38
1,7
544
1,6
Reguenga...............................
766
2,1
45
9,7
476
2,1
245
2,0
2
0,7
36
1,6
791
2,3
Roriz..........................................
1983
5,6
26
5,6
1542
6,8
415
3,3
8
2,8
76
3,4
1657
4,9
St.ª Cristina do Couto.............
1894
5,3
25
5,4
1060
4,7
809
6,5
26
9,1
183
8,1
1820
5,3
Santo Tirso................................
6697
18,8
46
9,9
3033
13,4
3618
28,9
78
27,2
423
18,7
6763
19,8
S. Mamede de Negrelos.......
1240
3,5
15
3,2
1018
4,5
207
1,7
8
2,8
36
1,6
1004
2,9
S. Martinho do Campo..........
2028
5,7
8
1,7
1493
6,6
527
4,2
7
2,4
72
3,2
1629
4,8
S. Miguel do Couto................
656
1,8
6
1,3
386
1,7
264
2,1
10
3,5
62
2,7
564
1,7
S. Salvador do Campo..........
623
1,7
3
0,6
504
2,2
116
0,9
4
1,4
28
1,2
479
1,4
S. Tiago da Carreira...............
482
1,3
19
4,1
287
1,3
176
1,4
1
0,3
17
0,8
482
1,4
S. Tomé de Negrelos..............
2174
6,1
20
4,3
1585
7,0
569
4,5
10
3,5
146
6,5
1911
5,6
Sequeirô .................................
783
2,2
11
2,4
554
2,4
218
1,7
7
2,4
79
3,5
900
2,6
Vila das Aves...........................
4055
11,4
18
3,9
2558
11,3
1479
11,8
21
7,3
320
14,2
4096
12,0
Vilarinho...................................
2166
6,1
17
3,6
1840
8,1
309
2,5
16
5,6
83
3,7
1771
5,2
Total.........................................
35704
100,0
466
100,0
22702
100,0
12536
100,0
287
100,0
2261
100,0
34144
100,0
a
Os totais percentuais podem não perfazer 100% devido a questões de arredondamento.
Fonte: INE – Recenseamento Geral da População, 2001.
160 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Ao panorama apresentado acresce o facto de estarmos perante uma
evolução desfavorável. Senão, vejamos. Apurados os valores totais em 2002 pelo
Centro de Emprego de Santo Tirso, encaramos um cenário relativamente
desfavorável: no espaço de um ano a população desempregada (5 035 pessoas)
quase duplicou e no terceiro trimestre de 2003 tinha já uma variação homóloga
positiva (mas de sentido contrário ao desejado) de 23,9%, segundo dados do IEFP.
O que aumentou também em 106,7% foi a diferença entre as mulheres
desempregadas (que passaram a ser 2 962, subindo 98,9%) e os homens
desempregados (que passaram a ser 2 073, subindo 95,7%).
A enorme diferença constatada entre o desemprego feminino e o
desemprego masculino pode estar directamente relacionada com a indústria têxtilvestuário, que no concelho de Santo Tirso emprega maioritariamente mulheres e
que, em 2002, seguia a tendência nacional dos despedimentos, numa onda que já
não atravessava o país de norte a sul há largos anos, onde a precariedade laboral
continua a ser predominantemente feminina. Aliás, essa pode também ser a causa
do aumento do número de desempregados à procura de novo emprego (95,5% –
4811 pessoas), em prol de uma ligeira diminuição dos que ainda não conseguiram
entrar no mercado de trabalho pela primeira vez (4,5% – 224 pessoas).
Esta prospectiva extravasa a realidade tirsense. Os resultados do Inquérito
ao Emprego (realizado trimestralmente pelo INE) informam, entre outras variações,
que em Portugal se assistiu, de 2002 para 2003, a um aumento da taxa de
desemprego em 1,3 pontos percentuais, chegando, assim, aos 6,4% (no 1º trimestre
de 2003). No 3º trimestre de 2004 a taxa de desemprego em Portugal atinge, já, os
6,8%,
meio
ponto
percentual
acima
do
período
homólogo
de
2003
e
correspondente ao valor mais alto dos últimos 6 anos.
Não se antevê, face ao exposto, um futuro muito promissório para os
desempregados, para os trabalhadores cujos vínculos contratuais não garantem a
devida estabilidade e, porque não dizê-lo, para os recém-licenciados, que se
deparam com um mercado de trabalho que não lhes permite optimizar o seu futuro
próximo. E isto é válido tanto para o país, de uma forma geral (como, de resto, se
pode observar na figura 7.5.), como para o concelho de Santo Tirso, em particular.
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Figura 7.5.:
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
161
Taxa de desemprego em Portugal (valores trimestrais)
7
6,5
6
6,4
6,8
6,6
6,4
6,3
5,8
5,5
5
4,5
4,7
4,3
4
4,5
4,2
3,5
1998 1998 1998 1998 1999 1999 1999 1999 2000 2000 2000 2000 2001 2001 2001 2001 2002 2002 2002 2002 2003 2003 2003 2003 2004 2004 2004
T1 T2 T3 T4
T1 T2 T3
T4 T1 T2
T3 T4 T1 T2 T3
T4
T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3
T4 T1 T2 T3
Fonte: INE – Inquérito ao Emprego.
Os dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) apontam
para um total de 6 613 desempregados no concelho de Santo Tirso, no final do 2º
trimestre de 2004, pondo em causa a melhor das previsões e revelando bem a
constante incerteza em que se vive, especificamente, no Vale do Ave, onde o
encerramento das empresas é cada vez mais constante. Atente-se também na
variação negativa que este cenário sofreu entre o último trimestre de 2002 e o
período homólogo de 2003, em que o número de desempregados aumentou
22,1%7. Considerando as estimativas da população residente em Santo Tirso
efectuadas pelo INE, no final de 2003 – em que o número de pessoas em idade
activa é de 50 356 –, podemos, ainda, referir que os 6 152 desempregados
apurados no final do mesmo ano correspondem a 12,2% da população activa.
7
Antes da conclusão deste Diagnóstico foi possível apurar, com base nos dados do IEFP, que o número
de desempregados de Santo Tirso, no final de Agosto de 2004, corresponde a 5,5% do desemprego do
Distrito do Porto, que atravessa um cenário de crise. Este valor diz respeito a 6 377 desempregados
inscritos no Centro de Emprego de Santo Tirso – o que só agudiza o problema, na medida em que nem
todos os desempregados estão inscritos – e indica uma variação homóloga de 16,8%.
162 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Figura 7.6.:
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Número de desempregados registados no Centro de Emprego de Santo Tirso, entre o 4º
trimestre de 2002 e o 2º trimestre de 2004
7000
6000
6613
6152
5038
5000
4000
3000
2000
1000
0
Fim d o 4º
trim e stre d e
2002
Fim d o 4º
trim e stre d e
2003
Fim d o 2º
trim e stre d e
2004
Fonte: Instituto do Emprego e Formação Profissional.
Sobre o problema do encerramento de empresas em Santo Tirso, e de
acordo com a informação prestada pelo IEFP, podemos evidenciar que, no último
trimestre de 2003, existiam 2 micro-empresas em expansão na área de confecção
de artigos e acessórios de vestuário, registaram-se dificuldades na indústria têxtil,
mormente na confecção de vestuário exterior em série e preparação e fiação de
fibras de tipo algodão, e constatou-se o encerramento de 3 empresas com menos
de cinco trabalhadores (uma na área do comércio, manutenção e reparação de
veículos e motociclos e comércio de combustíveis; as outras duas na área de
confecção de artigos e acessórios de vestuário).
No 2º trimestre de 2004 o panorama é ainda mais desfavorável: 3 microempresas em expansão na área de confecção de artigos e acessórios de
vestuário, 2 de actividades informáticas, 1 de comércio a retalho e 1 de reparação
de bens pessoais e domésticos; dificuldades no mesmo sector da indústria têxtil;
encerramento de 6 empresas – 1 empresa com 6 a 49 trabalhadores ligada à
confecção de artigos e acessórios de vestuário e 5 empresas com menos de cinco
trabalhadores ligadas à mesma actividade.
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
163
O perfil dos desempregados em nada abona à melhoria da situação que se
vive no quotidiano de Santo Tirso. A informação estatística que atravessa o espaço
temporal que vai desde o último trimestre de 2002 até ao 2º trimestre de 2004, no
tocante à idade dos desempregados no ano de 2002, permite-nos asseverar que
predominam os desempregados com mais de 25-49 anos e com mais de 50 anos,
sendo de conhecimento geral a dificuldade existente em encontrar emprego com
estas idades, sobretudo num concelho com mão-de-obra predominantemente
desqualificada, como é o caso de Santo Tirso. Apenas no caso dos mais jovens é
que a variação parece ser contrária ao restante cenário; nos dois outros escalões
etários em análise, constata-se um acréscimo do número de desempregados,
sendo cada vez maior o peso dos que têm idades compreendidas entre os 25 e os
49 anos (figura 7.7.).
Figura 7.7.:
Desempregados registados no Centro de Emprego de Santo Tirso, segundo o escalão
etário, entre o 4º trimestre de 2002 e o 2º trimestre de 2004
3291
2967
3500
3000
2617
24112469
2500
2090
2000
1500
1000
537
716 705
500
0
Menos de 25
anos
25-49 anos
Mais de 50
anos
Fim do 4º trimestre de 2002
Fim do 4º trimestre de 2003
Fim do 2º trimestre de 2004
Fonte: Instituto do Emprego e Formação Profissional.
No que reporta ao sexo dos desempregados registados no Centro de
Emprego de Santo Tirso, e considerando as mesmas três referências temporais,
detectamos um panorama cada vez mais desfavorável às mulheres. As figuras que
se seguem evidenciam bem o fenómeno da feminização do desemprego que
atravessa o concelho de Santo Tirso.
164 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Figura 7.8.: Desempregados
registados
no
Centro
de
Emprego
de
Santo
Tirso,
segundo o sexo, no fim do 4º
trimestre de 2002
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Figura
7.9.:
Desempregados
registados
no
Centro
de
Emprego
de
Santo
Tirso,
segundo o sexo, no fim do 4º
trimestre de 2003
Figura 7.10.: Desempregados
registados
no
Centro
de
Emprego
de
Santo
Tirso,
segundo o sexo, no fim do 2º
trimestre de 2004
4047
2076
41,2%
58,8%
36,5%
63,5%
3733
27,9%
72,1%
Masculino
Feminino
2962 2149
1566
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Fonte: Instituto do Emprego e Formação
Fonte: Instituto do Emprego e Formação
Fonte: Instituto do Emprego e Formação
Profissional.
Profissional.
Profissional.
Estamos, portanto, perante uma população desempregada envelhecida e
num processo crescente de feminização que, por um lado, aproveita os dois anos
de subsídio de desemprego a que têm direito para integrar uma situação de
reforma antecipada, dada a idade avançada que caracteriza a maior parte, e
que, por outro, não possui grandes habilitações literárias. Há empresas muito
antigas, ligadas, sobretudo, ao sector têxtil, que estão a fechar, despedindo muitas
pessoas com cerca de trinta anos de serviço, pessoas essas que, nalguns casos,
nunca chegaram a ter qualquer grau de ensino, especialmente no que diz respeito
às mulheres. O sector têxtil é pouco enriquecedor: não exige uma vasta aquisição
de conhecimentos e, simultaneamente, gera pobreza económica (devido aos
baixos salários que lhe estão inerentes), social e mental (devido, entre outros
factores, ao trabalho monótono e rotineiro que os operários são forçados a
desenvolver). Daí que tivéssemos tido a oportunidade de apurar, junto do Centro
de Emprego, que se observam altas taxas de analfabetismo dentre os
desempregados inscritos, ainda que, sublinhe-se, não existam dados concretos que
permitam fundamentar tal afirmação.
O panorama da empregabilidade torna-se ainda mais gravoso se
avaliarmos a classificação das variações homólogas das ofertas por Centro de
Emprego, no terceiro trimestre de 2003: Santo Tirso tem uma variação negativa de
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
165
32,6%, associada à contracção de emprego. No entanto, vislumbram-se algumas
oportunidades na relação com alguns concelhos limítrofes, já que Guimarães e Vila
Nova de Famalicão têm subidas acentuadas (68,7% e 45,3%, respectivamente).
Na mesma linha, também as colocações dos desempregados sofreu
variações idênticas: em Santo Tirso diminuem em 36%, ao passo que em Guimarães
e Vila Nova de Famalicão aumentam, respectivamente, 66,1% e 28,2%. A retracção
das ofertas, o desfasamento da procura à oferta e a falta de qualificação da
procura são, segundo o IEFP, as três principais causas que levam à diminuição
observada em Santo Tirso e noutras localidades do norte do país.
Estes extremos são bem reveladores da instabilidade laboral que se faz sentir
no Ave e da dimensão do problema, que atinge proporções significativamente
ameaçadoras no concelho de Santo Tirso.
O Centro de Emprego depara-se ainda com outro problema. Como vimos,
as categorias sociais mais vulneráveis à pobreza e à exclusão social pela via da
empregabilidade no concelho de Santo Tirso são, essencialmente, as mulheres com
idade superior a 50 anos (apesar das inscrições apontarem também para os recémlicenciados); todavia, gera-se um paradoxo com as costureiras: elas constituem
uma boa parte das pessoas que têm ficado sem emprego pelo encerramento das
fábricas mas são as que menos caem no risco da exclusão social, já que têm ao
seu dispor um vasto leque de oferta de emprego, nomeadamente através das
chamadas “empresas de garagem”. Ora, estas pessoas, não obstante o seu débil
nível escolar e cultural, têm consciência da situação que se vive actualmente e
sabem que quando quiserem trabalhar têm para onde ir, “dando-se ao luxo” de
escolherem o seu local de trabalho, ainda que essa escolha possa passar pelos
concelhos limítrofes a Santo Tirso. Os dados do IEFP corroboram esta realidade: a
profissão de costureira é a mais procurada na Região Norte, representando 10,6%
do total de ofertas.
Uma das formas de combater o desemprego passa, obviamente, pela
formação das pessoas. No caso particular das mulheres desempregadas cujas
idades rondam os 50 anos emerge, porém, um problema: a praticamente nula
166 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
oferta de emprego que se verifica para estas pessoas leva-as à frequência de
acções de formação. Essas acções de formação, no entanto, são dirigidas para
diferentes áreas e que proporcionam diferentes níveis de qualificação mas que, de
facto, não têm qualquer sustentabilidade. Geram-se ciclos formativos que vão dos
três aos cinco anos mas que, quando terminam, não têm a devida sequência, quer
porque a idade dessas pessoas cada vez é menos ajustada às exigência do
mercado de trabalho, quer porque não existe a necessária diversidade de oferta
que permitiria a sua inserção no mercado de trabalho.
Olhando concretamente para os instrumentos de intervenção ao dispor do
Centro de Emprego de Santo Tirso podemos verificar, e no seguimento dos trâmites
e opções delineados pelo Município, a existência de vários cursos profissionais em
algumas áreas de actividade/formação, a saber: «Conservação do Património
Cultural»; «Escolas Oficinas»; «Inserção/Emprego»; «Aprendizagem». Em 2002
frequentavam estes cursos 279 pessoas, sendo 153 (54,8%) do sexo feminino e 126
(45,2%) do sexo masculino. Os dados disponibilizados pelo Centro de Emprego não
nos permitem cruzar as variáveis sexo e idade; contudo, a tabela 7.5. permite obter
uma panorâmica da frequência de cursos de formação profissional por área, curso,
sexo, escalão etário e nível de instrução. Excluindo a área da aprendizagem,
relativamente à qual não possuímos dados, salientam-se a proeminência dos cursos
de formação que permitem obter equivalência ao Primeiro Ciclo do Ensino Básico e
ao Segundo Ciclo do Ensino Básico (91 pessoas – 58,7%)8, corroborando a análise
de que ainda estamos perante uma população marcada por baixos índices de
escolaridade.
De acordo com a informação disponibilizada, são os jovens com menos de
25 anos de idade que mais apostam na formação (135 – 69,7%), ao passo que a
maior categoria de desempregados (indivíduos com mais de 50 anos de idade,
conforme já foi referido) talvez porque não perspective grandes alternativas
profissionais, não investe tanto na qualificação das respectivas carreiras (4 pessoas –
2%), optando por cursos de formação direccionados para a (re)inserção no
mercado de trabalho. Qualquer que seja a frequência da formação em termos de
8
O valor percentual apresentado foi calculado a partir de um total de 155 indivíduos, uma vez que não
possuímos os dados respeitantes à área de formação «aprendizagem».
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
167
sexo e escalão etário, os formandos preferem, de uma forma geral, a área da
aprendizagem (124 formandos – 62,6%). Um olhar mais atento permite-nos
constatar, porém, uma maior afluência ao curso de cozinha/pastelaria (32
formandos – 16,2%), da área «Escolas-Oficinas», o que poderá estar relacionado
com o facto desta ser uma área disciplinar algo enraizada na memória colectiva
da população tirsense. Embora não seja certo que fazer formação nesta área
equivalha à obtenção de emprego, apenas pelo facto da gastronomia ser uma
tradição em Santo Tirso, é, pelo menos, um dado adquirido que esta mesma área
passará um pouco indiferente à crise que se avista noutros sectores de actividade,
como é o caso da indústria têxtil.
Tabela 7.5.:
Áreas e Cursos de Formação Profissional existentes no Centro de Emprego de Santo Tirso,
segundo o sexo e escalão etário dos formandos e segundo o nível de instrução de cada
curso, em 2002
Área/Curso de Formação (Total de
formandos)
Conservação do Património Cultural (6).......
Sexo
Masc.
0
Escalão etário
Fem.
6
< 25
6
25 a 49
0
> 50
0
Nível de instrução
11º/12º ano
Escolas-Oficinas (59)
Calceteiros (12).................................................
12
0
0
12
0
4º/6º ano
Cozinha/Pastelaria (32)....................................
2
30
0
32
0
4º/6º ano
Design Papel (15)..............................................
2
13
2
13
0
9º/12º ano
Total ...................................................................
16
43
2
57
0
2
13
3
8
4
Técnico de Informática III (17)........................
14
3
17
0
0
a
Operador de Frio e Climatização II (12)........
12
0
12
0
0
a
Técnico de Indústrias Gráficas III (19).............
11
8
19
0
0
a
Técnico de Agências de Viagens III (21).......
4
17
21
0
0
a
Técnico de Electrónica III (24).........................
24
0
24
0
0
a
Técnico de Contabilidade e Gestão III (13)..
6
7
13
0
0
a
Oficial de Cabeleireiro II (18)..........................
2
16
18
0
0
a
Total....................................................................
73
51
124
0
0
Inserção/Emprego (15)
Serviço de Apoio Social (15)...........................
4º/9º ano
Aprendizagem (124)
N = 198.
a
Informação indisponível.
Fonte: Centro de Emprego de Santo Tirso.
A realidade que expusemos acima mostra que uma possível estratégia para
a empregabilidade concelhia passa pela descentralização das áreas em que se
inscrevem as acções de formação profissional. Atente-se no seguinte exemplo. A
Câmara Municipal de Santo Tirso, através do seu Gabinete de Emprego e
168 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Formação Profissional (antiga Unidade de Inserção na Vida Activa – UNIVA), e em
parceria com o IEFP, apostou, durante um ano, na formação em cerâmica, que
não é propriamente uma área típica do concelho; não obstante tal facto, a aposta
tornou-se num sucesso. Refira-se, a propósito, que também aqui se observaram
opções dirigidas para a construção de ateliers pelos próprios ex-formandos e que
actualmente são as suas principais fontes de rendimento. Conscientes, porém, das
limitações do mercado de trabalho nesta área, essa aposta não foi repetida no
ano subsequente, sob pena de se estarem a formar pessoas em algo que não lhes
permitiria uma efectiva inserção na vida activa.
A Conservação do Património Cultural é outro dos exemplos que merecem
aqui ser destacados. Neste caso, uma das formandas deste curso abriu uma
empresa em nome individual e a maior parte dos restantes formandos encontra-se
a exercer uma actividade enquadrada na área onde efectuaram a formação. As
condições perante o trabalho poderão não ser as melhores mas o emprego para a
vida tende, cada vez mais, a desaparecer e o facto de estarem a trabalhar na
área base da sua formação constitui, por si só, um factor muito positivo.
Conclui-se,
por
isso,
que
o
aumento
sucessivo
do
número
de
desempregados não se resolve considerando apenas aquelas que têm sido as
características do Vale do Ave, de uma forma geral, sob pena dos concelhos que o
enformam se encherem de consecutivas lamúrias reportadas à crise da têxtil no
Ave. O desafio da formação em diferentes áreas, como se comprova, parece
obter frutos: por um lado, proporciona a possibilidade da obtenção de um
emprego; por outro, fixa as populações no seu meio de origem, evitando que Santo
Tirso se transforme, a breve trecho, ou num concelho dormitório, com as pessoas a
sentirem a necessidade de se deslocarem para outras localidades com o intuito de
alcançar o emprego desejado, ou, pelo contrário, num concelho que cada vez
mais depende de outros concelhos em termos de mão-de-obra semi-qualificada e
qualificada. A emergência no concelho de novas empresas nas áreas ligadas às
artes e ofícios tradicionais, hortofloricultura e jardinagem, e conservação e restauro
de bens culturais afiguram-se, por isso, como um aspecto importante que devemos
evidenciar.
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
169
As acessibilidades e a rede de transportes disponível, já abordadas
anteriormente
neste
Diagnóstico,
representam
também
um
entrave
ao
desenvolvimento do emprego no concelho. A descentralização de que falávamos
não
passa
apenas
por
uma
injecção
de
zonas
industriais
não
ligadas
necessariamente ao sector têxtil; deve ter-se em conta a descentralização espacial
ou então permitir que as redes viária e de transportes possibilitem o fácil acesso às
diferentes freguesias do concelho e com a devida segurança9. A longevidade das
ofertas existentes, quer em termos formativos, quer já falando do mercado de
trabalho propriamente dito, é um problema real (sobretudo) para aquelas pessoas
que comportam um elevado enraizamento cultural e que, em consonância, não
perspectivam sair dos seus actuais locais de residência. Aliás, segundo o Gabinete
de Emprego e Formação Profissional da Câmara Municipal de Santo Tirso, tem-se
observado uma enorme resistência à mobilidade dos desempregados, quando o
que está em causa é o preenchimento de ofertas de emprego localizadas fora do
município e, mesmo, em concelhos limítrofes.
Para além das acções de formação preconizadas pelas entidades já
referidas, os munícipes têm ainda à sua disposição um conjunto de Escolas
Profissionais/entidades formadoras que contemplam os cursos de formação que
podemos observar na tabela 7.6. e que vem complementar a integração dos
jovens na vida activa ou dar-lhes a oportunidade de prosseguirem os estudos numa
modalidade de qualificação profissional.
O cenário traçado apresenta uma vasta gama de oferta formativa, mesmo
tendo em conta que a mesma tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos, quer
quantitativa, quer qualitativamente. Todavia, conseguimos aclarar junto do Centro
de Emprego de Santo Tirso que essa oferta não é direccionada para as reais
necessidades do concelho, o que, aliás, foi já referido quando abordamos as
causas da diminuição das ofertas e das colocações dos desempregados no
concelho. Algumas pessoas não estão muito interessadas em manter as actividades
que tinham anteriormente e os desempregados de menor idade não tencionam
dar continuidade à profissão dos seus progenitores, optando por saídas profissionais
9
Sendo
a
segurança
uma
das
matrizes
fundamentais
para
o
bem-estar
das
pessoas
e,
concomitantemente, para a sua qualidade de vida, iremos abordá-la com mais pormenor no capítulo 9.
170 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
que lhes permitam trabalhar noutras áreas e/ou fora do concelho. Por outro lado, a
parca inovação ao nível do tecido empresarial e formativo pode ainda ter uma
outra consequência: a inserção dos desempregados na economia informal, no
trabalho precário, em prol da sua manutenção na residência actual.
Tabela 7.6.:
Escolas profissionais/Entidades formadoras no concelho de Santo Tirso e respectivos cursos
de formação, em 2004
Escola Profissional/Entidade Formadora
Cursos de formação administrados
ACIST – Associação Comercial e Industrial de Santo
Informática de Iniciação
Tirso...................................................................................
Informática Avançada
Internet e Outlook
Access Iniciado
Business
Técnicas de Acolhimento, Atendimento e Decoração
Qualidade do Atendimento ao Público
Higiene e Segurança Alimentar
Sistemas de Auto-controlo
Animação Turística
Itinerários Turísticos
Legislação do Trabalho
CENATEX – Formação e Serviços..................................
Métodos e Tempos
Modelagem Industrial
Modista
Controlo da Qualidade no Confecção Têxtil
Vitrinismo Intensivo
Introdução à Informática
Word
Excel
Excel Avançado
PowerPoint
Access
Internet/Outlook Express
Microsoft Project
Informática Avançada
Web Designer
Gestão da Qualidade
Electricidade Básica
Electricidade Electrónica Manutenção Industrial
Domótica
Robótica
Autómatos
Certificação e Gestão da Qualidade
Segurança Rodoviária
Vencer o Stress
Implementação de Sistemas de Gestão Ambiental
Ambiente, Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
Escola Profissional/Entidade Formadora
171
Cursos de formação administrados
Socorrismo
Socorrismo Avançado
CITEX – Centro Formação Profissional Indústria Têxtil.
Técnicas de Debuxo I
Tear de Projéctil – Sulzer P7100
Tecnologia do Corte
Colormetria II
Técnicas de Estamparia
Os Defeitos na Fileira Têxtil
Tecidos Nomes e Propriedades
Inglês Comercial I
Marketing I
Técnicas de Venda
Técnicas de Chefia
Escola Profissional Agrícola Conde S. Bento...............
Profissional Técnico de Produção Vegetal
Profissional Técnico de Produção Animal/Transformação
Profissional Técnico de Gestão Agrícola
Profissional Técnico de Turismo e Ambiente Rural
Especialização Tecnológica de Gestão de Animação Turística
Escola Profissional de Serviços CIDENAI.......................
Técnico de Secretariado
Especialização Tecnológica de Aplicações Informáticas
Técnico de Sistemas de Informação
Instituto de Santo Tirso....................................................
Contabilidade Geral
Introdução à Fiscalidade
Informática de Gestão
Introdução ao Hardware
Introdução à Informática
Alemão
Francês
Inglês
Formação Pedagógica de Formadores
Oficina – Escola Profissional do Instituto Nun’Alvres...
Técnico de Secretariado
Técnico de Produção Audiovisual e Multimédia
Técnico de Comunicação, Marketing, Rel. Públicas e Publicidade
Torna-se difícil fixar as pessoas em Santo Tirso porque não existe uma grande
diversidade de oferta cultural, desportiva, etc., pelo menos com uma distribuição
territorial equitativa que evite a deslocação das pessoas residentes noutras
freguesias à cidade. Mais à frente neste Diagnóstico iremos ter oportunidade de
abordar a questão da qualidade de vida de forma mais pormenorizada; no
entanto, parece-nos oportuno evidenciar, desde já, que os jovens tomam como
dado adquirido a inexistência de locais para ocuparem os seus tempos livres, facto
172 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
que influencia as suas escolhas profissionais que orientam o seu futuro para uma
realidade externa ao concelho.
Não existe, ainda, qualquer estudo que nos permita delinear quais são as
reais necessidades do concelho ao nível da empregabilidade. Sabemos, outrossim,
que se encontra a desenrolar um trabalho pormenorizado sobre esta matéria no
Centro de Emprego de Santo Tirso. Com efeito, esta será uma das estratégias a
considerar num futuro próximo: analisar devidamente os resultados de tal estudo e
decidir para onde direccionar a oferta formativa. Parece-nos óbvio que esta deverá
ser uma das apostas para o desenvolvimento sustentado do concelho, na medida
em que se sabe que quanto maior é a taxa de desemprego mais vulnerável se
torna toda uma comunidade local, havendo lugar a uma situação degenerativa
de pobreza e exclusão social. É tão importante saber quais os interesses da
população e quais as vias que priorizam, como optimizar as acções de formação
em prol dos reais interesses do tecido empresarial que vai permanecendo no
concelho, na medida em que é esse tecido empresarial que sustenta uma grande
parte do emprego em Santo Tirso.
A redução da taxa de actividade desde 1991, que se situava nos 53,5%,
pode ser uma consequência do envelhecimento populacional. Os dados dos
Censos de 2001 permitem-nos concluir que a taxa de actividade em Santo Tirso é
de 52,8% (correspondentes a 50 794 pessoas em idade activa), havendo uma
variação negativa de 0,7%. Apesar sesta quebra, podemos dizer que ainda
estamos perante um concelho com um forte contingente de activos, o que poderá
constituir-se como uma potencialidade a considerar na análise às questões do
emprego.
Com a mesma referência temporal, uma contextualização mais ampla
permite-nos verificar que o Vale do Ave tem uma taxa de actividade (51,8%) inferior
à observada para o concelho de Santo Tirso, mas superior à da Região Norte
(48,1%). Em Portugal, a população em idade activa (15-64 anos) aumentou de 6
552 000 para 7 006 022 pessoas, o que corresponde a um aumento de 6,9%.
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
173
Continuando no mesmo âmbito espacial, afigura-se importante indicar que
o Vale do Ave é uma das três regiões no Norte do país que regista, em 2002, um
acréscimo da população empregada. Note-se que a taxa de desemprego em
1991 era de 5,1%, enquanto que em 2001 é de 6,7%, quase o dobro da variação
percentual alusiva ao crescimento da população do concelho. Neste ponto, não
nos podemos esquecer de toda a heterogeneidade de situações que recobrem a
situação “estar empregado”.
Todo este cenário diagnosticado compele a uma aposta política e
estratégica concertada através:
Da sequência ao estudo que se encontra a ser efectuado pelo Centro
de
Emprego
de
Santo
Tirso
relativo
à
caracterização
da
empregabilidade em Santo Tirso, mormente no que toca às reais
necessidades de formação profissional;
De acções de qualificação inicial e de formação contínua; de acções
formação-emprego;
Do alargamento das políticas e acções de formação a empresas de
pequena dimensão; na aposta nos promotores de formação contínua;
do reforço de orientações estratégicas para as ofertas e procuras de
emprego e de formação;
Das necessidades de maior integração entre políticas sociais e políticas
de emprego, facilitando o acesso a programas de apoio à criação de
emprego por parte de grupos sociais mais vulneráveis e integrando
nessa preocupação o mercado social de emprego e os programas
ocupacionais;
Do reforço técnicoprofissional e proposta de orientações estratégicas
consequentes
em
matéria
de
inserção
socioprofissional para a
diversidade de estruturas de apoio à formação e ao emprego (Centros
174 Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
e Clubes de Emprego, Gabinetes de Emprego e Formação Profissional –
UNIVA’s –, CACE e CRVCC);
Da crescente necessidade de articulação dos projectos de intervenção
com os estabelecimentos escolares e a oferta de formação.
Em síntese, podemos afirmar que estamos perante uma realidade regional e
concelhia pautada pelas características descritas na grelha que se segue.
Síntese de avaliação estratégica:
Potencialidades
Estrangulamentos
As empresas de pequena dimensão continuam
Existência de uma feminização do desemprego e da
a ser vitais para a dinamização da economia
precariedade laboral.
local.
Existência de uma população activa importante, mas
Bons modelos de referência do concelho ao
pautada por baixas qualificações escolares e
nível empresarial.
profissionais.
Terreno aberto para a aposta nos promotores de
Grande resistência à mobilidade dos desempregados
formação contínua, no reforço de orientações
para preenchimento de ofertas de emprego localizadas
estratégicas para as ofertas e procuras de
fora do município e mesmo em concelhos limítrofes.
emprego e de formação.
Necessidade de uma aposta no concernente a acções
Potencialidades de desenvolvimento de
de qualificação inicial e de formação contínua e a
estratégias de procura de emprego derivadas
acções de formação-emprego, tendo em vista uma
da economia social, facilitando o acesso a
requalificação do quadro local de emprego.
programas de apoio à criação de emprego por
Necessidade crescente de articulação dos projectos de
parte de grupos sociais mais vulneráveis e
intervenção com os estabelecimentos escolares e a
integrando nessa preocupação o mercado
oferta de formação.
social de emprego e os programas
Premência do alargamento das políticas e acções de
ocupacionais.
formação a empresas de pequena dimensão, pois estas
Existência de uma grande diversidade de
continuam a ser vitais para a dinamização da
estruturas de apoio à formação e ao emprego
economia local.
(Centros e Clubes de Emprego, Gabinete de
Emergência de novas empresas nas áreas ligadas às
Emprego e Formação Profissional – UNIVA’s –,
artes e ofícios tradicionais, hortofloricultura e
CACE e CRVCC), que reforçam a qualificação
jardinagem, e conservação e restauro de bens culturais.
de activos desempregados.
Excessiva preponderância da indústria têxtil e de
Crescente sensibilização de algumas entidades
vestuário em termos da indústria transformadora, com
empregadoras para o reforço das qualificações
reduzidos níveis de produtividade.
profissionais dos seus trabalhadores.
Défice acentuado de actividades terciárias,
Crescente necessidade de articulação dos
designadamente em matéria de serviços de apoio à
projectos de intervenção com os
actividade económica (comércio por grosso,
estabelecimentos escolares e a oferta de
transportes/armazenagem e comunicações,
formação, existindo já iniciativas pioneiras nesse
actividades imobiliárias, alugueres e serviços às
domínio.
empresas, actividades financeiras).
A estrutura de qualificações profissionais apresenta-se
Diagnóstico Social – Santo Tirso
Emprego e formação no concelho:
estratégias, recursos e actores
175
francamente desfavorável em termos de quadros
superiores, quadros médios e profissionais altamente
qualificados, bem como em termos de predomínio de
baixos níveis de habilitações escolares dos
trabalhadores do concelho.
Existência, por parte de alguns segmentos da
população, de um relativo aproveitamento da oferta
formativa existente, esvaziando o seu papel de
instrumento de qualificação profissional.
Oportunidades
Ameaças
Subidas acentuadas das ofertas de emprego
Eventual tendência para a dependência de emprego
dos Centros de Emprego de Guimarães e Vila
qualificado (quadros superiores e intermédios) em
Nova de Famalicão, que podem proporcionar
relação às cidades de Guimarães, Braga e Porto, onde
novas oportunidades às pessoas residentes em
tendencialmente residem.
Santo Tirso, dada a proximidade daqueles dois
concelhos.