Livro: Hora do gole, aquela pausa entre umas e outras

Transcrição

Livro: Hora do gole, aquela pausa entre umas e outras
Eduardo Sena
HORA DO GOLE,
AQUELA PAUSA
ENTRE UMAS E OUTRAS
1ª edição
São Paulo
Edição do Autor
Eduardo Lima de Sena
2014
Copyright © 2014 by Eduardo Sena
Todos os direitos desta obra reservados
ao autor.
Autor
Eduardo Sena
[email protected]
Fanpage do livro
facebook.com/horadogole
Seleção de textos
Eduardo Sena
Ilustrações
Felipe Lopes
Revisão
Roque Aloisio Weschenfelder
1ª Edição – 2014
Literatura brasileira - crônicas e contos
S475h Sena, Eduardo
Hora do gole, aquela pausa entre umas e outras. / Eduardo Lima de Sena.
1ª ed. – São Paulo: Edição do Autor, 2014.
140 p. Il.
ISBN: 978-85-916901-0-7
1. Contos 2. Crônicas 3. Literatura Brasileira. I. Título.
Catalogação na Fonte: Kelly M. Bernini – CRB-10/1541
CDU: 821.134.3(81)-34
Esta é uma obra original. Todas as personagens e situações nela contidas são reais apenas no fantástico mundo da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes,
pessoas ou fatos deve ser coisa da sua cabeça, ou da dele.
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“Uma mão lava a outra
e as duas bolinam quem está na frente”
Milton Jung
Todos os dias – com picos às sextas, sábados e domingos – homens e mulheres, no mundo todo,
cumprem um ritual sagrado cujos registros mais longínquos
datam muito antes de Jesus Cristo, Buda ou José Sarney. E não
estamos falando de sexo. Ainda estamos nas preliminares.
Refiro-me à tradicional confraternização entre amigos
na mesa do bar, o Happy Hour. Aquela reunião alegre em que
discutimos o cotidiano nosso de cada dia: futebol, política,
as mazelas da vida a dois, as aventuras da vida a três e até o
quadril da mulher do próximo, sempre que o próximo está
longe, claro. O cardápio é variado, nunca falta assunto.
É sabido que, ainda nas cavernas, o homem primitivo já era
dado a esses desfrutes, organizando acaloradas reuniões com outros machos. Mas não entenda mal. Fêmeas também participavam
– trazidas pelos cabelos ou não – e, na sua ausência, via-de-regra,
se tornavam o assunto. Tradição mantida alegremente até hoje.
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Mas foram os romanos – sempre eles – que colocaram
fogo na roda, se me permite o trocadilho. Sempre à frente do
seu tempo e adeptos do estilo “ninguém é de ninguém”, aquela
gente realmente sabia celebrar. Não à toa, um happy hour romano, considerado animado, tinha de, no mínimo, acabar em
orgia. Conta-se, inclusive, à boca miúda, que o grande incêndio
de Roma teria começado durante um desses encontros, apesar
de Nero ter levado toda a culpa.
Mas voltemos à mesa do bar, local sagrado e palco de
discussões que, se não inicia guerras, provavelmente, acende
conflitos eminentes e nos proporciona, entre outras coisas,
grandes obras criadas por gente que leva a sério a vida não tão
séria assim.
Que o diga o velho Bukowski, que, seja na própria pele,
seja na de seu alterego, Henry Chinaski, soube, como poucos,
viver e descrever a vida nas ruas e nos bares em sua obra. Ou
o pai da beat generation, Jack Kerouac, que colocou os pés
na estrada, mas parou em muitos bares para ouvir e viver as
histórias que o fizeram escrever sem parar por mais de dez dias,
até, finalmente, terminar sua obra-prima, “On The Road”.
O escritor galês Dylan Thomas, que arrebatava plateias
com suas poesias, também bebia bastante dessa fonte.Tanto que,
mesmo com a saúde debilitada, não deixou de passar no lendário
White Horse Tavern, Nova York, em uma noite de 1953, para
rever os amigos, colocar a pauta em dia e – segundo conta a lenda
– tomar as 18 doses de uísque, que também seriam suas últimas.
Por aqui, Tom Jobim e Vinícius de Morais também faziam mais do que beber no bar. E foi em uma mesa do antigo
Bar Veloso – hoje Garota de Ipanema – no Rio de Janeiro, que,
entre um gole e outro, ambos entenderam que, aquela coisa
mais linda e mais cheia de graça, que vinha e passava, merecia
muito mais do que um brinde. Merecia a eternidade. Então
colocaram seu nome na canção de Bossa Nova mais conhecida
do mundo, “Garota de Ipanema”.
Definitivamente, uma mesa de bar rodeada de amigos é
um lugar inspirador. E foi na mesa do Puppy, boteco tradicional
da Av. Paulista, durante um intervalo da faculdade – ou terá
sido durante uma aula? – que este livro começou a ser escrito.
Mas não com lápis e papel.
Nas crônicas e pensamentos reunidos em “Hora do Gole,
aquela pausa entre umas e outras”, passeamos pelo cotidiano alheio
sem pedir permissão, observando, sempre com bom-humor e acidez, as ambiguidades que a vida nos serve quente e sem dois dedos
de colarinho. O livro apresenta histórias curtas, como um shot de
tequila, que batem forte no estômago dos fracos, porque poderiam
ter acontecido ali, na mesa ao lado, além de crônicas que revelam
nossas fraquezas, medos e amores, através de personagens que você
pode até não conhecer, mas com quem vai se identificar. Como o
cara que sobrevive a uma festa infantil sem cerveja, o marido que
não sabe o que responder quando a mulher lhe pergunta se está
gorda, ou a história de Maria Eterna, uma mulher para a vida toda.
Tudo é servido em textos na temperatura certa – ou
quase – assim como as cervejas que o Araújo trazia, ou o Toninho
servia para a gente na mesa do Puppy, mas não sem antes fingir
derrubar a garrafa vazia, truque clássico que sempre caía bem,
nunca a garrafa.
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“Hora do Gole, aquela pausa entre umas e outras” é
uma coletânea de crônicas escritas ao longo de vários anos,
algumas já publicadas, mas a maioria, inédita. O livro traz no
papel tudo aquilo que, no bar, a gente nem sempre tem tempo
ou condições de anotar. Espero que você goste!
Faça uma pausa, levante seu brinde silencioso e aprecie
sem moderação. Cheers!
Raça dominante
A primeira coisa que viu, assim que chegou, foi um homem agachado, recolhendo, feliz e ser-
vil, a farta obra fecal de seu cachorro, ainda quente na calçada.
Então, deu meia volta, entrou em sua espaçonave e retornou
tranquilo e satisfeito para o seu planeta.
Descobrira, afinal, quem é que mandava naquele planetinha azul tão metido a besta.
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Ressaca moral
Festa de criança, que se preze, precisa ter
palhaço. Sério. E não tô falando do pai do aniversa-
riante, que paga a festa, convida um monte de amiguinhos da criança, sobrinhos e vizinhos e ainda leva
a fama de pão-duro porque fez a palhaçada de aceitar refrigerante genérico do buffet em vez de Coca-Cola.
Tô falando daqueles que fazem outro tipo de palhaçada. Festa, que é festa, só é festa se tem palhaços de
verdade, com cabelo de fogo, batom borrado na boca, sapatão do Bozo e aquela careca ridícula, mas tão engraçada
que faz até a criança, mais sem graça, chorar. Mas, de rir.
E tem de ter brinquedo para a criançada se cansar de
tanto brincar, como gangorra, balanço, cama elástica, escorregador, parede de escalada, piscina de bola, tiro ao alvo,
tirolesa, tudo. Festa de criança para ser assim, boa, tem de
ter, ao menos, um miniparque de diversão, né, não?
Minicreche também precisa ter. É lá que aquelas babás “belisconas” ganham honestamente suas vidas e cuidam tão bem dos nossos filhos, mas tão
bem, que chega a doer. Pergunte para as crianças.
Porcarias para comer nunca podem faltar! Não existe
festa de criança sem aquelas frituras fantásticas e engorduradas, naturalmente, no mesmo óleo do quibe e de tudo que for
frito na oportunidade.
Batatinha no vinagrete, então, nem se fala! O que
dizer de uma festa onde você não encontra aquele balde cheio
de batatinhas para servir no copo plástico e comer com palito
de dente, ou deixar na mão das crianças para fazer guerrinha?
Não é festa! Não de criança!
Mãe desesperada e estressada não precisa, mas tem
também. E muita. Afinal, não existe criança santa, logo,
não existe mãe que não esteja desesperada ao misturar seu
pequeno demônio a uma porção de outros iguais ou piores
que ele. A verdade é que mãe sabe o filho que tem. E, se diz
que não sabe, está fingindo.
Com o circo montado, comida e diversão à vontade e
crianças posicionadas, resta, aos pais, esperarem as mães estressadas saírem à caça dos filhos para que eles possam sair também, mas à caça de outras mães, as menos estressadas e, consequentemente, mais perfumadas e arrumadas. Sabe como é: em
festa de criança, também tem mãe desacompanhada do marido
que, espertamente, ou não, conseguiu se safar do calvário.
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Mas, de volta à festa, não dá para imaginar uma
festa sem música infantil. Xuxa, Angélica ou Eliana dedinhos, não importa. É impressionante como criança gosta
dessas coisas e, por isso, não pode faltar. Sorte é que algumas superam a fase, evoluem e viram adultos saudáveis,
amantes do bom e velho rock & roll, do jazz, do R&B. Outras, no entanto, nunca superam essa fase chegando ao auge
da vida adulta viciados em pagode, axé e funk carioca.
Normalmente, festa de criança é tudo de bom, para
as crianças. Muita diversão, amiguinhos, brinquedos, bolo,
doces, salgadinhos e refrigerante a rodo. Por isso o nome, festa.
E festa, que é festa, tem de ter cerveja. Mesmo uma festa infantil. Só assim para aguentar tudo e esquecer no dia seguinte.
Na última festa de criança, à que eu fui, não tinha
cerveja. Mesmo assim, teve ressaca.
Amantes
Estavam lá os dois se agarrando, se beijando e se amassando, louca e indecentemente, no canto do
bar. Faziam isso como se fossem os dois últimos seres humanos
excitados e apaixonados sobre a face da terra.
Apaixonados um pelo outro, não pelos seus respectivos.
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Talento especial
– Oi, tudo bem?
– Você que vai me dizer.
– Nossa. O que foi?
– Ando meio para baixo. Acho que vou precisar daquele
seu talento especial.
– É mesmo? Isso vai sair caro...
– Tudo bem, desde que funcione, eu pago o preço que
você quiser...
– Você sabe que eu faço milagres.
– Tem razão... Capricha!
– Claro... Sempre...
– Só uma coisa, antes de começar. Hoje não vai rolar
em pé. Sei que você prefere e tal, mas vou querer deitado, pode
ser?
– Por mim tudo bem. Você escolhe.
Depois de cinco minutos de silêncio, voltam a se comunicar. Mas, agora, através da linguagem corporal.
– Hum, você sabe mesmo onde pôr a mão.
– Sou uma profissional, esqueceu?
– Não, nunca! Humf! Humf! Isso, firme!
– Você gosta?
– Por Deus, como gosto!
– Que bom!
– Vai mais devagar agora... Quero curtir um pouco.
– Você quem manda.
– Meu Deus, você tá impossível!
– Obrigado... Não vou mentir, você não é o primeiro
que me diz isso hoje.
– Fazer o que se é verdade? Ai! Ai! Assim! Isso! Isso!
Não pare!
– Gostou?
– Muito! Continue, continue! Nessa velocidade, pelo
amor de Deus!
– Tá...
– Isso! Que delícia! Acho que vou te pagar o dobro hoje.
– É um incentivo?
– Sim! Sim! Não pare!
– Não mesmo!
E perto do ápice, novamente, o que se ouve é apenas um
silêncio constrangedor. Silêncio interrompido apenas por pequenos grunhidos e lampejos do que parece ser uma respiração
desacelerando, anunciando que acabou. Então ele se recompõe
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calmamente, despede–se e se prepara para ir embora.
– Até semana que vem?
– Só se você não quiser.
– É disso que eu tô falando. Até lá!
– Até.
E sai dali em estado de êxtase, tão relaxado que, por um
momento, nem se lembra do motivo que o levou até ali, ao contrário do clima, na recepção de sua massagista, onde ninguém
acredita no que ouviu, mas tem certeza do que aconteceu.
Cada um
com seus problemas
Acordou de madrugada, irritado com o ronco da mulher. “Como podia aguentar aquilo?” Perguntou
inconformado, a si mesmo. Então se tocou de que aquela não
era sua mulher. Sequer era casado...
Logo voltou a dormir, afinal, o problema não era seu.
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#LingerieDay
Justiça seja feita: injustiçada é a calcinha que, nem
no seu dia, consegue ficar até o fim da festa.
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“A Hora do Gole traz pequenas
histórias que sempre lembram coxinhas
bem recheadas.”
Giácomo Mancini, jornalista da TV Bahia
e colunista do Jornal Correio
“Um livro maravilhoso”
Ricardo Boechat, âncora do jornal da Band
e do BandNews SP.
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