capítulo um

Transcrição

capítulo um
TRAUMAS por LILITH LUANEGRA
TRAUMAs
LILITH LUANEGRA
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TRAUMAS por LILITH LUANEGRA
A Deus, por em suas linhas tortas, me criar ao avesso. Ao
meu pai, grande Guerreiro, por confiar em mim e em
minha inteligência que literalmente, joguei pela janela. A
minha mãe, que sendo dura, me ensinou a viver. Aos
homens sem caráter, (perfil necessário para despertar
meu interesse) que passaram por minha vida. De bom,
com prós e contras, ficaram meus filhos. Aos irmãos, que
ainda pensam que são normais. Ao pai psicológico, eterno
ídolo Bosco Sobreira. À profissional que numa sala de
psiquiatria me chamou de porralouca. Ela não sabia o
que o meu sistema límbico pode criar. A Danilo Kramer,
contador de estórias que me ensinou a contar.
Finalmente, aos olhos verdes de Bruno, que ainda não
conseguiram enxergar meus traumas...
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TRAUMAS por LILITH LUANEGRA
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TRAUMAS por LILITH LUANEGRA
Numa noite de segunda feira, em um quarto de motel
em Salvador, acontece o primeiro de uma série de crimes.
Uma misteriosa mulher morena em um carro preto desafia
Bruno Costa, policial em início de carreira, que busca ser
promovido solucionando o caso.
Porém, os assassinatos não se limitam apenas ao
bairro nobre onde fica o motel e se estende até a periferia.
Descobrir porque as mortes não acontecem aos
sábados e domingos, qual é o elo entre elas e como uma
mulher sozinha consegue matar, serão os maiores desafios
da carreira de Bruno, em uma trajetória que poderá não ter
um final feliz.
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TRAUMAS por LILITH LUANEGRA
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1........................................... 08
CAPÍTULO 2........................................... 19
CAPÍTULO 3........................................... 30
CAPÍTULO 4........................................... 40
CAPÍTULO 5........................................... 50
CAPÍTULO 6........................................... 59
CAPÍTULO 7........................................... 68
CAPÍTULO 8........................................... 77
CAPÍTULO 9........................................... 86
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CAPÍTULO 10......................................... 97
EPÍLOGO............................................. 109
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TRAUMAS por LILITH LUANEGRA
CAPÍTULO UM
F
evereiro de 2014. Não seria apenas mais uma
noite de segunda feira na orla marítima de Salvador. A
polícia fora acionada por um casal que costumava
frequentar um motel de luxo. Como a maioria dos
clientes, um homem casado, que possuía uma
namorada, e devido à discrição, aquele era o local
perfeito. Seria uma noite perfeita, também. Sempre
muito solícito, o funcionário da noite atendia ao som
de carros que paravam... Mas naquela noite, tal fato
não aconteceu. E, numa ligação de emergência, a
polícia foi acionada. Depois de aberto, o motel estava
completamente em silêncio... Na recepção, podia-se
ver um corpo. Um homem morto... A porta que dava
acesso à recepção estava aberta. No corpo,
aparentemente nenhum sinal de violência.
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TRAUMAS por LILITH LUANEGRA
Todas as chaves dos quartos estavam nos
devidos lugares. Difícil de explicar porque não havia
mais ninguém no motel. O policial Bruno Costa,
recém-chegado naquele Distrito Policial sentiu-se
aturdido. Ordenou que todos os quartos fossem
abertos. E no quarto 13, a outra vítima...
Sobre a cama, de bruços, com os pulsos
amarrados, os olhos vendados por um lenço preto
estava o outro corpo.
Um homem de aproximadamente 39 anos. Não
havia documentos com ele. Em suas costas, prováveis
marcas de chicotadas. E havia sinais de sodomia. Uma
revista com fotos de mulheres nuas estava próxima ao
corpo. Na revista, havia sêmen. O rabecão foi
chamado para levar as duas vítimas para autópsia.
Tudo que pudesse ser evidência foi recolhido. O
motel foi isolado. Na rua deserta, alguém, em um
carro preto observava... Sim, todas as fantasias
daquele homem haviam sido satisfeitas. Ele morrera
feliz!
A noite estava quase terminando quando
chegaram ao necrotério. Os corpos foram
encaminhados para a autópsia e o policial Bruno
dirigiu-se para casa, onde dormir seria impossível,
pensou. Mas, foi vencido pelo sono.
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A claridade o acordou, e teve um choque ao
lembrar-se da noite anterior. Apressado, tomou um
banho, pôs o uniforme e saiu às pressas.
Na rua, tomou um café. Não conseguia ter
fome. Nada fazia sentido. Mas pelas características do
assassinato, pensava que aquele seria apenas um, de
muitos crimes que poderiam vir. Um assassino em
série estava à solta
Ao entrar, deparou-se com seu chefe. O
delegado José Alves era um senhor de meia idade,
sisudo e sempre de mau humor.
– Bom dia, policial Costa! Seja bem vindo ao
mistério. Já tenho alguma coisa para o seu caso.
Sente-se!
– Segundo a autópsia, os homens morreram por
volta das vinte e duas horas. A vítima do quarto tratase de Roberto Rossi, 38 anos, casado, um empresário
do ramo de hotelaria. Tinha descendência italiana.
Havia ingerido champanhe de boa qualidade. O sêmen
que havia na revista era dele.
A segunda vítima era o recepcionista. Marcelo
Sousa parecia apenas estar no lugar errado, na hora
errada. Uma picada no pescoço, um veneno... Toxina
botulínica! Isso matou Marcelo. Certamente, ao sair
do quarto, quem matou Roberto, matou Marcelo. Sem
sexo. Temos um assassino fetichista, policial Costa.
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Confuso, Bruno se levantou e dirigiu-se à sua
sala. Toxina botulínica. Pelos seus conhecimentos,
somente pessoas com registro em Conselhos de Saúde
ou a hospitais tinham acesso. Era a única pista.
A noite se aproximava no centro de Salvador e
depois de um dia de trabalho numa clínica de
especialidades, o doutor Sílvio Mota saiu para a rua.
Caminhou para o seu carro, relembrando cada detalhe
das conversas que tivera com seus pacientes. Homens
e mulheres que sofriam dores físicas, muitas vezes
vindas das dores mentais.
Pessoas com relacionamentos torpes, buscando
carinho, dando tudo de si em busca de nada em
troca... Seres fracos... Como sua mãe.
Pensar em sua mãe, o remeteu à infância. Uma
infância pobre, em que sua mãe trabalhava, enquanto
seu pai sempre estava em casa, bêbado... Revistas
com mulheres sem roupas sempre estavam jogadas
por todos os lugares... Para que fins seriam utilizadas?
Não conseguia entender porque muitas vezes seu pai
estava de costas para ele, com movimentos rápidos
em uma das mãos... Tentava entender... Por quê? Por
quê? Mas ele estava de costas... A mesma situação se
repetia, quando ele acidentalmente via o seu pai com
o rosto colado à parede de um banheiro. As calças
estavam baixas, e os olhos injetados de sangue... No
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outro dia, ouvia relatos de sua avó, que havia
encontrado um buraco na parede do banheiro.
Irritada, ela gritava que havia presenciado o genro
espiando as suas filhas em seu banho. Seu avô era um
homem íntegro, e ele sonhava em um pai assim... Mas
sua mãe não soube escolher. Sempre levada pela
emoção e pelo desejo. Pela fraqueza. Sua mãe era
fraca. Ele sempre via, ao acordar com os gritos da
mãe, arrastada pelos cabelos, jogada sobre uma cama,
onde depois, ouviam-se gritos sufocados. Hoje,
adulto, entendia... Sua mãe estava sendo estuprada.
Os gritos de dor, do início, hoje ele entendia que se
transformavam em gritos de prazer. Poderia haver
prazer na dor? Essa pergunta, ele nunca fez enquanto
era criança.
Quando tinha 10 anos, Silvio presenciou mais
uma discussão. O pai, desempregado, estava usando o
pouco dinheiro que a mãe ganhava, para procurar
prostitutas. Será que ele trataria as prostitutas melhor
do que o que tratava sua mãe?
Depois daquela discussão, seu pai foi embora. E
ele pensou que finalmente teria paz.
Mas meses depois, um homem apareceu na
vida de sua mãe. E recomeçaram as brigas, dessa vez
por parte de um estranho. E ela, sempre fraca,
obedecendo às chantagens.
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