Reflexão inicial - Blogs | Colégio Apoio

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Reflexão inicial
Conhecimento X ignorância.
Quanto mais conhecemos, mais nossa ignorância se alarga, esse é um dos paradoxos da ciência e do
conhecimento em geral. Quanto mais sabemos sobre algo, mais sabemos o quanto não sabemos sobre
aquilo mesmo. Por exemplo, nos últimos 500 anos, nós tivemos várias invenções que nos fizeram enxergar
o que não enxergávamos. Duas coisas são sempre simbólicas: o telescópio, que nos fez enxergar no céu
muito além do que a nossa visão permitia; e o microscópio, aquele que nos fez olhar para situações
minúsculas, que antes não conseguíamos capturar. Até se diria, há 500 anos, "agora que nós temos o
microscópio e o telescópio, nós estamos conhecendo mais", mas há aí um paradoxo positivo dentro da
ciência. Quanto mais o microscópio nos levou a aprofundar a capacidade de enxergar o mundo diminuto,
mais ficamos sabendo de coisas que não sabíamos; alargou-se ali a nossa ignorância. Nós ficamos sabendo
que havia todo um mundo aqui antes de nós, porque não víamos, não sabíamos que existia e, portanto,
não precisávamos compreender. O mesmo vale com o telescópio. Quando ele passou a permitir uma
ampliação da nossa visão sobre o universo, sobre a abóbada celeste, passamos também a perceber aquilo
que nem sabíamos que existia. Esse paradoxo é muito marcante. Mais conhecimento, mais ignorância.
Mais se sabe, mais se sabe aquilo que não se sabe e mais se amplia o nosso território daquilo que se
desconhece. Esse paradoxo ajuda bastante a saber que tanto o conhecimento é infinito quanto a
ignorância. Mario Sergio Cortella ( Pensar faz bem! Pág 85 )
Os Conceitos de Filosofar.
O verbo filosofar pode ser usado com três significados distintos:
■ Como simples sinônimo de “pensar”. As vezes, doenças ou morte de pessoas próximas, decepções, perdas
irreparáveis e outros problemas existenciais nos fazem pensar (“filosofar”) sobre o sentido de nossa vida. Mas esse
significado é por demais vago e amplo para caracterizar o verdadeiro sentido do filosofar.
■ Como sinônimo de “saber viver” virtuosamente. Aqui, filosofar é viver com sabedoria. O sábio é aquele que se
torna um exemplo vivo das virtudes apreciadas em uma sociedade e é tomado como ponto de referência para
fortalecer o valor das tradições vigentes. E nesse sentido que as sabedorias orientais são também chamadas de
“filosofias”.
■ Como “o filosofar ocidental”, que teve inicio na Grécia, em torno dos séculos VI e V a.C. Por essa época, começouse a repensar a natureza, o ser humano e as divindades com um olhar critico. Procurava-se saber a validade dos
próprios conhecimentos. Até que ponto a cultura era fruto de fantasias e crenças dos antepassados? O que garantia
que as tradições recebidas dos anciãos eram verdadeiras? A filosofia, portanto, questiona os fundamentos da
cultura. E o que veremos em seguida.
A civilização grega desenvolveu-se na Península Balcânica, a mais oriental do sul da Europa, rodeada de numerosas
ilhas. Seu relevo montanhoso facilitou a formação de grupos humanos isolados e autônomos, como de fato foram as
cidades- estados (as pólis). A pouca fertilidade do solo acidentado foi compensada pela presença de ótimos portos
naturais. Assim, os gregos puderam desenvolver com segurança a navegação, que possibilitou o crescimento do
comércio e, consequentemente, a riqueza crescente das cidades-estados. O aumento populacional levou à procura
de terras férteis e à criação de muitas colônias nas regiões mediterrâneas. A fiscalização e a proteção dessas colônias
eram tarefa da frota grega. Nos séculos VI e V a.C., as pólis conheceram o apogeu econômico, politico e cultural. Foi
exatamente nesse período glorioso que surgiu na cultura grega o confronto entre mito e filosofia. Tanto o mito
quanto a filosofia são formas que o homem utiliza para explicar o mundo. São explicações que visam responder aos
questionamentos sobre o sentido da vida, o surgimento do universo e do homem, assim como justificar as normas
que garantem a vida em comunidade. Ao buscar essas explicações, seja pela linguagem do mito, seja pela linguagem
filosófica, o homem está tentando organizar sua cultura.
Autoridade do mito
O mito é uma história religiosa revelada com autoridade supostamente indiscutível. O passado é descrito como as
tradições que não admitem nenhuma crítica: "É assim, porque foi dito que é assim". O texto a seguir nos fala um
pouco sobre isso.
vaso grego VI a.C com pintura representando a disputa entre Hércules e Apolo.
"O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo,
ab initio ('desde o início'). Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um Mistério, porque as personagens
do mito não são seres humanos: são Deuses ou Heróis civilizadores, e por esta razão as suas gestações memoráveis')
constituem Mistérios: o homem não poderia conhecê-los se lhos não revelassem. O mito é, pois, a história do que se
passou in illo tempore ('naquele tempo'), a narração daquilo que os Deuses ou os Seres divinos fizeram no começo
do Tempo. 'Dizer' um mito é proclamar o que se passou ab origine ('desde a origem'). Uma vez 'dito', quer dizer,
revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. 'É assim, porque foi dito que é assim’,
declaram os Eskimo netsilik ('tribo de esquimós’) a fim de justificarem a validade da sua história sagrada e de suas
tradições religiosas." ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Lisboa: Livros do Brasil, s.d. p. 107-8.
Durante um longo período da história grega, a mitologia constituiu a fonte exclusiva de explicação para a existência
do homem e a organização do mundo. As interpretações imaginárias criadas por ela foram adquirindo autoridade
pelo fato de serem antigas. As divindades constituíam os personagens que, pelas divergências, intrigas, amizades e
desejo de justiça, explicavam tanto a natureza humana como os resultados das guerras e os valores culturais. Nesse
sentido, a linguagem do mito esconde interesses de classes e pode ser manipulada por aqueles que detêm o poder.
Ela impõe comportamentos morais à comunidade e uma hierarquia de punições para aqueles que não os seguem.
Em virtude do desenvolvimento e dos contatos culturais com outros povos, decorrentes do comércio e da
navegação, os gregos cultos sentiram necessidade de encontrar uma linguagem mais universal e rigorosa para
justificar o universo e as próprias instituições. O mito parecia-lhes, cada vez mais, uma forma de expressão regional,
particular, uma cristalização de interesses locais. Em síntese, o mito já não satisfazia às necessidades culturais da
época. Surgiu, então, a linguagem filosófica, trazendo novos conceitos culturais, baseados na razão, para tentar
substituir as criações míticas. A tensão estava estabelecida. De um lado, os conservadores queriam manter o sistema
explicativo do mito, muito mais popular e eficaz para preservar seus privilégios. De outro, os filósofos, desejosos de
mudança, rejeitavam explicações míticas e eram favoráveis às reivindicações dos membros das classes emergentes
(os artesãos e os comerciantes), democratizando assim o sistema político. A tensão entre mito e filosofia começa
mas não termina na Grécia antiga. Ela perpassa a história ocidental e continua de alguma forma até hoje.
O novo conceito de verdade
O que é verdade? Na época do surgimento da filosofia, aceitava-se como verdade o que a tradição, as autoridades e
os deuses determinavam. Ora, os primeiros filósofos buscaram um novo conceito de verdade — uma verdade tão
bem fundamentada que ninguém pudesse refutá-la. Ela deveria libertar o povo da autoridade arbitrária dos deuses,
reis, oligarcas e tiranos, assim como das profecias enigmáticas dos sacerdotes. A verdade procurada teria de ser um
conhecimento definitivo, necessário e absoluto. Para um conhecimento ter tais características, deveria abranger
tudo o que existe no universo. Logo, seria um conhecimento universal. A verdade precisaria ser universal, válida para
todos. Uma verdade acima das particularidades, das raças, das nações, dos mitos regionais. Tomava-se consciência
de que o homem almeja um conhecimento válido em todo lugar. A mentalidade mítica imaginava que a qualquer
momento poderiam surgir novos deuses, novos heróis e, o que é pior, novos monstros com poderes sobre-humanos.
O homem vivia, pois, inseguro e temeroso da vida e da morte. Ora, a filosofia, naquele momento, veio libertar o
homem da insegurança e do temor: quem descobre a ordem universal não tem medo de nada, pois tudo está
previsto. Nem os deuses podem contrariar a verdade total. Pela primeira vez em toda a história da humanidade, o
ser humano formula interpretações da realidade cuja fundamentação não está na tradição ou na conformidade com
os dizeres míticos, mas na verdade argumentada da razão. E a filosofia. Até então, em todas as culturas, o homem
submetia seu pensar aos mitos. O filósofo grego, diferentemente, acreditava que tinha a capacidade para formular
interpretações próprias da realidade. Estariam erradas as afirmações tradicionais que as negassem. A filosofia nasce,
assim, com a convicção de que existem verdades humanas e universais que estão acima das críticas tradicionais. A
busca da verdade filosófica significa, portanto, libertar-se do despotismo da classe dominante. Pode-se perceber
que, para criar um espaço na cultura grega, os filósofos buscam a verdade racional absoluta. Mas a história da
filosofia ocidental irá demonstrar que essa verdade absoluta não existe. De fato, existem várias filosofias ligadas aos
eventos históricos e aos diferentes interesses sociais.
O novo conceito de natureza
Os primeiros filósofos gregos criaram um novo conceito de natureza. A natureza é o conjunto de tudo o que existe. A
existência das coisas faz com que elas sejam cognoscíveis. A natureza como um todo também é cognoscível por si
mesma. Não precisamos de intermediários para contemplar sua existência. Ela se manifesta com uma evidência
incontestável. É fonte de conhecimento irrefutável. Qualquer pessoa que se disponha a isso pode conhecê-la.
(Cognoscível: aquilo que pode ser conhecido.) Filosofar é, basicamente, admirar a realidade tal qual ela existe; é
saber contemplá-la sem projetar nela temores míticos e crenças fantasiosas. Enfim, filosofar é ver o relâmpago como
fenômeno natural, não como vingança ou ameaça divina; é ver o mar simplesmente como mar, a montanha como
montanha, as estrelas como estrelas, a seca como seca, os fatos sociais e políticos como resultado das relações
humanas. Durante o período mítico, a natureza era vista pelas lentes das crenças. Com a filosofia, a natureza é
despida de interpretações culturais, podendo manifestar-se com autonomia e por suas próprias leis. O filósofo deixa
a natureza falar por si mesma. Por isso, a filosofia não é privilégio de uma casta, não depende de livros sagrados, não
é uma doutrina oculta e dispensa ritos de iniciação ou penitências rigorosas. Essa nova maneira de lidar com a
realidade foi o inicio da filosofia, que até hoje, 26 séculos depois, procura libertar O homem das crenças e temores
desumanizantes. Com a evolução da filosofia, O modo de conhecer diretamente O mundo tornou-se um enorme
problema, muito mais complexo do que os primeiros filósofos podiam imaginar.
Alex Mesquita .
Filosofar é preciso
A civilização ocidental não pode ser compreendida sem a filosofia. Com efeito, foi com a filosofia que a cultura grega
influenciou nossa forma de pensar e de questionar tanto a natureza quanto o ser humano e as divindades. Com a
filosofia, surgiu a noção de cidadania, de Estado, de ciência. O exemplo dos filósofos gregos nos deixou uma grande
lição: nunca se conformar com as estruturas existentes como se fossem as únicas possíveis. De fato, não houve
época em que não tivéssemos filósofos buscando a verdade e combatendo a ignorância, o obscurantismo, a
dominação do homem pelo homem, as guerras e outros atos irracionais que infelicitam a humanidade. Filosofar é
preciso para participar criativamente da luta pela humanização.
Leitura Complementar.
Acredite no conhecimento.
"Vivemos numa era em que a informação é abundante como em nunca outra." Taí um dos clichês mais repetidos da
atualidade. Tão repetido que Eric Schmidt, ex-CEO do Google, até o transformou em número: a cada 48 horas,
produzimos 5 bilhões de gigabytes. E isso é mais do que tudo que foi criado entre o começo do mundo e 2003. Uau.
Muito bacana. Mas e daí? Daí que a realidade é um pouco diferente. Sim, vivemos numa era de abundância. Mas
informação é uma coisa. Conhecimento é outra. Uma está para a outra como o tijolo para a casa. Uma pilha de
tijolos tem potencial para fazer maravilhas. Mas sozinha ela é só uma pilha.
Eis então um dos grandes desafios (e oportunidades) que temos adiante: transformar milhares de blocos, esses 5
bilhões de gigabytes de tijolos, em algo útil. Dá uma trabalheira, mas aqui, na SUPER, a gente se esforça para fazer
nossa parte. Misturar cimento, construir as paredes, mostrar o contexto das coisas, dar sentido a elas, enfim,
transformar informações em conhecimento. A gente se dedica obsessivamente a essa missão. Queremos mostrar,
por exemplo, que não há previsão de fim do mundo no calendário maia. Essa é apenas uma das informações inúteis
que somam no cálculo de Eric Schmidt. E que, maias ou não maias, o importante mesmo é entender que este
planeta tem prazo de validade. É só uma questão de saber como ele vai desaparecer. Ou melhor: no que ele se
transformará. Para descobrir é preciso investigar o sistema solar, a atmosfera, o interior do planeta, o ser humano.
Essa busca é o tema da reportagem de capa. Um belo exemplo de quantos tijolos precisamos juntar para construir o
conhecimento.Fonte : http://super.abril.com.br/ciencia/acredite-no-conhecimento
Troy (no Brasil e em Portugal, Troia) é um filme estadunidense de 2004, um filme épico de guerra, dirigido
por Wolfgang Petersen, com roteiro escrito por David Benioff, baseado na Ilíada, célebre poema do autor
grego antigo Homero sobre a guerra de Troia. O filme foi produzido pelos estúdio Warner Bros., Village
Roadshow Pictures, Plan B Films e Radiant Productions e distribuído pela Warner Bros. O roteiro é de David
Benioff; a música de James Horner; a fotografia de Roger Pratt; o desenho de produção de Nigel Phelps; a
direção de arte de Julian Ashby, Jon Billington, Andy Nicholson e Adam O'Neill; a edição de Peter Honess e os
efeitos especiais de Cinesite Ltd.. Framestore CFC, Lola e The Moving Picture Company. Baseado no poema
épico Ilíada, de Homero, o filme conta a história da Guerra de Troia, entre aqueus e troianos. Este conflito
mitológico teria sido causado pelo rapto de Helena, de Esparta, pelo príncipe Paris, de Troia . Ulisses,
Aquiles, Heitor e Eneias são alguns dos protagonistas. Observe no Presente vídeo, a clara ideia de
determinismo, a falta de liberdade do homem, ligada a noção de destino.
Séculos atrás, um semideus atormentado andou pela terra: Hércules (Dwayne Johnson) era o filho do poderoso
Zeus. Isso não lhe trouxe nada além de sofrimento a vida inteira. Após 12 trabalhos árduos e a perda de sua família,
essa alma sombria e desgastada deu as costas para aos deuses, encontrando seu consolo em batalhas sangrentas.
Ao longo dos anos, ele teve a companhia de seis amigos, que tinham como único princípio o amor pela luta e a
presença da morte. Eles nunca questionaram onde ou contra quem lutar, apenas perguntavam quanto ganhariam,
até que o Rei da Trácia resolve contratá-los para treinar seus homens e criar o maior exército de todos os tempos.
Exercícios.
1.
Após a leitura
dos textos acima, como você definiria a Filosofia?
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2.
Que diferença
podemos estabelecer entre o mito e Filosofia?
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3.
Por
gregos trouxeram um novo conceito de verdade ?
que
os
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Como viver feliz.
COMO ANDA NOSSA FELICIDADE?
No breve percurso que fizemos por essas concepções de vida feliz, você pôde aprender um pouco mais sobre como
se filosofa. E teve a oportunidade de reunir algumas ideias a respeito daquilo que traz felicidade e do que causa
sofrimento, para uma reflexão posterior. A maioria dos problemas com os quais se preocuparam esses filósofos que
estudamos ainda ecoa nos consultórios de psicologia, onde especialistas procuram aliviar o sofrimento de pessoas
de todas as idades e apoiá-las para que construam uma vida mais feliz. E boa parte desses problemas ainda merece
atenção especial como temas éticos e sociais importantes.
Felicidade na história.
Nos séculos seguintes à Antiguidade, diversos pensadores voltaram às doutrinas gregas, reformulando-as nos termos
de sua época e de sua perspectiva particular. Por isso costuma-se dizer que a filosofia é uma conversação que nunca
acaba. Muda o mundo, modificam-se as pessoas. Surgem novas percepções, novos valores, novas necessidades. Isso
quer dizer que, quando filosofamos, devemos também considerar nosso objeto de estudo (neste caso, a felicidade)
no tempo e no espaço, isto é, na história. Devemos sempre nos perguntar: o que permaneceu e o que mudou com o
passar do tempo e as transformações sociais e culturais de cada época?
Segundo alguns estudiosos, três ideais ou valores foram ganhando importância ao longo da história nas sociedades
ocidentais e são, hoje, considerados elementos fundamentais da felicidade individual e coletiva:



amor ao próximo - com o surgimento do cristianismo, o amor, que havia sido em parte relegado
a um segundo plano pelos gregos, ganhou o estatuto ou condição de mandamento: amar a Deus sobre todas
as coisas e amar o próximo como a si mesmo (cf. MATEUS, 22,34 a 40). Disseminou-se então,
progressivamente, a noção de igualdade entre todos os seres humanos, pois o Deus cristão os te~ ria criado
a todos para reinarem sobre a Terra e os amaria igualmente, impondo o respeito por toda a humanidade.
Com mais amor e menos egoísmo, as pessoas deveriam se sentir mais felizes;
liberdade - no período do Iluminismo (século XVIII), ganhou seus diversos sentidos; a liberdade
de ser (diferente de ou contra a natureza), a liberdade de pensar por si próprio especial relevância o tema da
liberdade em (liberdade de consciência), a liberdade de querer e agir (liberdade política e autonomia). Desde
então, tornou-se impossível pensar que uma pessoa possa ser feliz sem ser livre;
bem comum - a ideia de felicidade como bem comum (isto é, para toda a sociedade) já existia,
conforme vimos, em Platão. A felicidade não pode ser apenas minha; tem de ser de todos. Mas é a partir do
Iluminismo - e da assimilação da noção de amor ao próximo pelas sociedades fundadas em valores cristãos que esse ideal passou a ser amplamente defendido. Tanto assim que se tornou um dos princípios fundamentais do mundo ocidental contemporâneo, junto com a liberdade, como se expressa no segundo parágrafo da
Declaração de Independência dos Estados Unidos: “Consideramos estas verdades como evidentes por si
mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que
entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade”.
Felicidade nas ciências.
Além da história, para realizar uma boa investigação filosófica não podemos deixar de considerar o que as
diversas ciências estão dizendo a respeito de nosso objeto de estudo e reflexão, seja ele qual for. No caso da
felicidade, resultados de pesquisas científicas realizadas em diversas áreas, como psicologia, medicina,
sociologia e economia, podem lançar novas luzes sobre nossa investigação e ajudar-nos a desfazer alguns
mitos sobre esse tema. Como o ser humano é multidimensional, é preciso abordá-lo a partir das diversas
dimensões que o constituem e procurar uma visão totalizadora - e a filosofia é especialista nisso, como você
irá perceber ao longo do texto.
Plano físico.
A felicidade parece ter mesmo uma dimensão física, que pode ser identificada e medida em termos de ondas
cerebrais (os epicuristas adorariam saber disso). Estudos de neurofisiologia realizados nos últimos anos em
pessoas de todas as idades, inclusive bebês, apontam que a atividade de certa parte do cérebro aumenta
quando a pessoa experimenta sensações ou sentimentos agradáveis ou se expressa de maneira positiva,
como ao sorrir. Também há evidências científicas de que algumas substâncias produzidas pelo nosso corpo
estão relacionadas com as sensações de paz, prazer e bem-estar de um indivíduo. Alguns estudos nos fazem
igualmente supor que possa existir um fator de predisposição genética para experimentar a vida de maneira
mais positiva que outras. Gêmeos idênticos (que têm material genético idêntico) mostraram um grau de
felicidade cidade bastante similar, mesmo quando criados em lares distintos, o que não ocorre com os não
idênticos (em que apenas metade dos genes é idêntica). Essa é uma questão complexa, que deve ser tratada
com muito cuidado. A saúde física também é um fator importante para nossa felicidade. No entanto, mesmo
em condições desfavoráveis de saúde, como demonstram algumas investigações, as pessoas, depois de
algum tempo, tendem a se adaptar às limitações físicas surgidas durante suas vidas, podendo manter um
bom nível de satisfação a partir de então. A relação saúde-felicidade pode seguir, porém, direção inversa:
resultados de pesquisas recentes revelam que a pessoa feliz tende a ser mais saudável, a ter um sistema
imunológico mais forte e a viver mais anos. Ou seja, em vez de ser o físico que determina o psíquico, é o
psíquico que determina o físico, o que parece inverter a lógica até há pouco predominante nas ciências.
Conforme veremos ao longo deste livro, a relação corpo-mente é uma questão bastante polêmica na história
da filosofia.
Plano psicológico
Desde o surgimento da psicanálise, com Sigmund Freud, entende-se que os primeiros anos de vida são
fundamentais para o modo como uma pessoa irá experimentar sua existência. Episódios traumáticos,
dolorosos podem limitar suas possibilidades de desenvolver vivências felizes. Por outro lado, também se
considera que os modelos psicológicos e de conduta que a pessoa encontra em seu meio familiar imprimemse em sua psique (ou em seu cérebro) e tendem a ser repetidos durante toda a sua vida. Portanto, se esses
modelos são negativos, limitantes, existe maior probabilidade de que ela desenvolva uma existência infeliz,
se não for consciente desses padrões e não puder retrabalhá-los.
Psique - estrutura mental ou psicológica de uma pessoa, geralmente entendida
como parte distinta do corpo material.
De fato, vários estudos no campo da psicologia têm confirmado que saber administrar os próprios
pensamentos e sentimentos é fator crucial para a felicidade de um indivíduo. A dimensão interior - o
conjunto de crenças, valores, estados de ânimo, maneira de ver a vida - influi de forma contundente na
construção de uma existência feliz ou infeliz (quase toda a filosofia grega aplaudiria em pé essa conclusão).
Muitas vezes, o que se chama de “sorte” não é outra coisa senão o resultado de um estado de ânimo mais
aberto e propício para perceber e aproveitar as oportunidades que surgem na vida. Daí a importância do
autoconhecimento.
Observe a imagem abaixo , um ser feliz no meio de vários contrariados: uma metáfora de como a dimensão
interior pode determinar a maneira como vivemos cada situação.
Plano econômico
Existe também uma tendência em acreditar que a melhora no nível de renda torna uma pessoa mais feliz.
Em outras palavras, o dinheiro traria felicidade. Trata-se de uma visão economicista do tema. Essa noção, no
entanto, tem sido relativizada a partir dos resultados de certos estudos.
Economicista - quem supervaloriza os aspectos econômicos de um tema.
O que se sabe, sem dúvida, é que há maior dificuldade em levar uma vida digna e, portanto, feliz quando se está na
miséria. Em contrapartida, quando os rendimentos são superiores a determinado patamar, pesquisadores têm
observado que o incremento da percepção de felicidade não é proporcional ao enriquecimento das pessoas. É o que
tem ocorrido nos países ricos, onde, embora o nível de renda tenha aumentado significativamente nos últimos 50
anos, a percepção da própria felicidade não se elevou, ou subiu bem menos. O trabalho é outro fator fundamental
na composição global de felicidade. Fonte do sustento material e meio de realização individual, a atividade profissional que um indivíduo desempenha representa, ao mesmo tempo, sua contribuição para os entes queridos e
para a sociedade em geral. Por isso o desemprego causa tanta infelicidade: não é apenas pela perda econômica que
representa, mas também porque afeta substancialmente a autoestima das pessoas e suas relações sociais.
Plano social
Somos seres profundamente sociais. Estudos confirmam que tanto a vida familiar e conjugal bem como o convívio
com os amigos e a relação com a comunidade são muito importantes para a constituição de nossa identidade
pessoal e do sentido de nossas vidas. Esses dois ingredientes definem em grande medida a forma com que nos
posicionamos em relação ao mundo e nossas possibilidades de sermos felizes. No entanto, pesquisas indicam que
boa parte da insatisfação que um indivíduo tem consigo mesmo ou com sua vida vem da comparação social. As
pessoas não param de se comparar entre si, e isso gera muita infelicidade. Se o outro tem mais ou é melhor em algo,
fico triste, deprimido; se sou eu quem tem mais ou é melhor, fico feliz. Parece que a vida seria muito melhor se não
houvesse tanta necessidade de afirmação pessoal e de competição. O individualismo - a defesa exagerada dos
interesses pessoais em detrimento dos interesses do outro - tende a gerar um mal-estar social. De acordo com
estudos nos campos da psicologia, da antropologia e da biologia, a cooperação (ou um equilíbrio entre competição e
cooperação) costuma trazer melhores resultados, tanto para o indivíduo como para o todo. Algumas pesquisas
também indicam que, quando as pessoas se preocupam mais com o bem dos outros, expressando menos ansiedade
em relação ao benefício próprio, elas são mais felizes.
Conclusão
Pronto. Já temos uma boa quantidade de elementos para formar uma ideia, mesmo que provisória, sobre os dois
temas básicos tratados neste capítulo: a filosofia e a felicidade. Com relação à filosofia e ao filosofar, voltaremos a
eles no próximo capítulo. Quanto à felicidade, cabe aqui uma reflexão final. A busca desenfreada de felicidade
individual na sociedade contemporânea é sinal de que grande parte das pessoas tomou um rumo equivocado.
Concordamos - nós, os autores deste livro - com o economista inglês Richard Layard (1934-) quando ele diz que uma
sociedade não pode prosperar sem certa sensação de compartilhar objetivos, de bem comum. Quando a única meta
das pessoas é alcançar o melhor apenas para si mesmas, a vida torna-se estressante demais, solitária demais, pobre
demais, e abre espaço para a entrada da infelicidade.
Na mesma direção, o filósofo francês André Comte-Sponville (1952-) costuma recomendar às pessoas que se
preocupem menos com a própria felicidade e um pouco mais com a dos outros; que esperem um pouco menos e
amem um pouco mais. O pensador inglês Jeremy Bentham (1748-1832) certamente concordaria com isso, como
atesta esta bela mensagem que ele enviou a uma jovem na data de seu aniversário : Crie toda a felicidade que
possas; suprima toda a infelicidade que consigas. Cada dia te dará a oportunidade de agregar algo ao bem- -estar
dos demais ou de mitigar um pouco suas dores. E cada grão de felicidade que semeies no peito alheio germinará
em teu próprio peito, ao passo que cada dor que arranques dos pensamentos e sentimentos de teus semelhantes
será substituída pela paz e alegria mais belas do santuário de tua alma (Citado em UYARD, La felicidad: lecciones
de una nueva ciência, p. 230; tradução dos autores).
Leitura Complementar.
O dinheiro compra a felicidade?
Dialogo Filosofico.
-Yves Michaud: Em sua opinião, o dinheiro compra a felicidade?
-Fatoumata: Sim, pois quando nos falta dinheiro, ficamos infelizes. Mas, quando se tem
demais, as pessoas só se interessam pela carteira, é um problema.
-Yves Michaud: Já ihes aconteceu ter dinheiro demais? O que seria para vocês ter
dinheiro demais?
- Kadiatou : Ser multimilionário.
-Yves Michaud: Vocês respondem em termos de quantidade, mas 300 euros na Europa e
300 euros na África não têm o mesmo valor, A avaliação em termos de quantidade não é
suficiente.
-Swann: Eu diria que temos um bocado de dinheiro quando não temos mais necessidades.
-Yves Michaud: Há vários tipos de necessidades, as naturais , as artificiais. Deem me
exemplos.
-Fatoumata: Comer é uma necessidade natural, mas ter um celular é uma neces-sidade
artificial.
-Yves Michaud: De acordo. Você tem necessidade de comer, de um teto, de ume família.
Agora me digam: o que é não ter dinheiro suficiente?
-Nadeje: Não poder satisfazer às necessidades naturais como comer, poder ter uma casa...
-Yves Michaud: Como vocês definiriam o dinheiro?
-Fatoumata: É um meio de troca.
-Thomas: É o meio de obter o que se deseja.
-Yves Michaud: Tudo o que você deseja? Tem certeza?
- Fatoumata: Digamos obter tudo o que se pode comprar.
-Clémence : Não se pode comprar tudo. Há idosos que têm muito dinheiro e são solitários,
foram abandonados pela família. Então, são infelizes. O dinheiro não pode satisfazer tudo.
-Yves Michaud: Vocês compreenderam muito bem que- e dinheiro pode satisfazer certo
número de necessidades, é verdade, mas não todas. Vocês podem comprar a amizade?
-Victor: não, não a verdadeira amizade.
- Hedi : Nem o amor.
-Clémence: E verdade, mas se você vive em alguns países da África e está doente, em geral
você morre, enquanto, na Europa, pode se curar.
-Yves Michaud: Como podem ver, é importante separar as necessidades verdadeiras das
outras, das que podem ser fabricadas peia sociedade, peia moda... Agora me digam:
vocês acham que têm necessidade de muito dinheiro para serem felizes ou que podem
viver com pouco dinheiro?
-Fatoumata: Eu me vejo bem com 3000 euros por mês. Isso seria maneiro.
- Nadèje: Eu tenho necessidade de um salário que me permita comprar o que me der
vontade.
- Hedi: Eu quero o estritamente necessário. Darei o excedente aos que precisam.
- Yves Michaud: Mas você é uma filantropa. A única dentre todos vocês! Ninguém me
disse que gostaria de uma profissão apaixonante e útil, mesmo que mal paga.
- Grégoire: Eu tenho vontade de mudar as coisas para o mundo ser mais justo. Mas me
parece que os que têm dinheiro, têm o poder. Então, é melhor que eu seja rico se quero
mudar as coisas! Filosofia para adolescentes 2- Yves Michaud págs 53-55.
Chris Gardner (Will Smith) é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros. Apesar de todas as
tentativas em manter a família unida, Linda (Thandie Newton), sua esposa, decide partir. Chris agora é pai solteiro e
precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith), seu filho de apenas 5 anos. Ele tenta usar sua habilidade como
vendedor para conseguir um emprego melhor, que lhe dê um salário mais digno. Chris consegue uma vaga de
estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é
que, ao fim do programa de estágio, ele seja contratado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus
problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam despejados. Chris e
Christopher passam a dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consigam um refúgio à noite,
mantendo a esperança de que dias melhores virão. Neste contexto veremos uma análise do que realmente é
necessário ao que chamamos de felicidade.
Walter Mitty (Ben Stiller) é o responsável pelo departamento de arquivo e revelação de fotografias da tradicional
revista Life. Ele é um homem tímido, levando uma vida simples, perdido em seus sonhos. Ao receber um pacote com
negativos do importante fotógrafo Sean O'Connell (Sean Penn), ele percebe que está faltando uma foto. O problema
é que trata-se justamente da foto escolhida para ser a capa da última edição da revista. É quando, Walter, com o
apoio de Cheryl (Kristen Wiig) é obrigado a embarcar em uma verdadeira aventura. Cheio de sutilezas, o filme
mostra como é importante irmos em busca dos nossos objetivos ao invés de ficar sentados esperando que eles
acontecem como um passe de mágica. Além disso, também é preciso perceber que as respostas podem estar
embaixo dos nossos narizes e muitas vezes nos cegamos a elas. Um ótimo filme para lembrar que mais importante
que sonhar é viver.
Exercícios.
1.
Observando os jovens com os quais você convive, o que
significa ser feliz para eles?
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2.
Você acha possível ser plenamente feliz quando se busca
apenas a felicidade individual?
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3.
De que forma o amor a sabedoria poderia trazer a felicidade?
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4.
Ao analisar a imagem abaixo, que definição de felicidade
podemos elaborar?
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Cidadania e direitos humanos.
A partir da trajetória histórica inglesa, o sociólogo Thomas Humphrey Marshall estabeleceu uma divisão
dos direitos de cidadania em três estágios. O primeiro ocorre com a conquista dos direitos civis (garantia
das liberdades individuais, como a possibilidade de pensar e se expressar de maneira autônoma), garantia
do ir e vir e acesso à propriedade privada. A conquista desses direitos foi influenciada pelas ideias
iluministas e resultaram da luta contra o absolutismo monárquico do Antigo Regime. Esse processo teve
como resultado maior o advento da isonomia, ou seja, da igualdade jurídica. O segundo estágio refere-se
aos direitos políticos, entendidos na forma de possibilidade de participação da sociedade civil nas diversas
relações de poder presentes em uma sociedade, em especial a possibilidade de escolha de
representantes ou de se candidatar a qualquer tipo de cargo, assim como de se manifestar em relação a
possíveis transformações a serem realizadas. Os direitos políticos têm relação direta com a organização
política dos trabalhadores do final do século XIX. Ao buscar melhores condições de trabalho, eles
utilizaram-se dos mecanismos da democracia - organização de partidos e sindicatos - como forma de fazer
valer seus direitos. Por fim, o terceiro estágio corresponde aos direitos sociais vistos como essenciais para
a construção de uma vida digna a partir de padrões de bem-estar socialmente estabelecidos, como
educação, saúde, lazer e moradia. Esses direitos surgem em decorrência das reivindicações de diversos
grupos pelo aumento da qualidade de vida. É o momento em que os cidadãos lutam por melhorias no
sistema educacional e de saúde pública, pela criação de áreas de lazer, pela seguridade social etc.
Por ter sido construída a partir do modelo inglês, a tipologia cronológica de T. H. Marshall recebeu críticas
ao ser aplicada como modelo universal. Veremos mais à frente, no item 6, como alguns pensadores
brasileiros questionaram a possibilidade de transpor o modelo inglês para a análise da realidade de outros
países. Ao longo desse percurso, muitas constituições, como a americana (1787) e a francesa (1791),
preconizaram o respeito aos direitos individuais e coletivos, o que hoje é incorporado pelas constituições
de diversos países. Podemos destacar outras iniciativas com o mesmo objetivo, como a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
Direitos humanos
A ideia de direitos humanos surgiu após a Segunda Guerra Mundial, diante das barbaridades e dos efeitos
destrutivos produzidos pelo conflito. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em 10 de
dezembro de 1948 pela ONU, criada em 1945 com o objetivo de proporcionar o diálogo e impedir conflitos
entre os países por questões políticas, econômicas ou culturais. A Declaração teve por base os direitos
essenciais à vida e à liberdade e o reconhecimento da pluralidade como meio de combater ações
discriminatórias.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.
Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) Artigo I da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10
de dezembro de 1948.
Artigo I
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e
devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo II
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem
distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Artigo III
.Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo VI
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm
direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.
Uma série de tratados internacionais de direitos humanos e outros instrumentos adotados desde 1945
expandiram o corpo do Direito Internacional sobre os direitos humanos. Eles incluem a Convenção para a
Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948), a Convenção Internacional sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras.
Os direitos humanos são valores universais e inegociáveis, que visam o respeito mútuo em detrimento dos
privilégios restritos a determinados grupos, por isso não devem ser pensados como benefícios particulares
ou privilégios de grupos elitizados. Como sabemos, a simples declaração de um direito não faz
necessariamente com que ele seja implementado na prática, mas abre espaço para sua reivindicação.
Uma das características básicas dos direitos humanos é o fato de estabelecerem que a injustiça e a
desigualdade são intoleráveis. É preciso perceber que os indivíduos não são apenas beneficiários no
processo histórico de afirmação dos direitos humanos, mas também autores responsáveis pela construção
e reivindicação da expansão e garantia desses direitos. Todas as conquistas relacionadas aos direitos
humanos são resultado de processos históricos, fruto das mobilizações e demandas da população.
Assim, as lutas por igualdade e liberdade ampliaram os direitos políticos e abriram espaços de
reivindicação para a criação dos direitos sociais, os direitos das chamadas "minorias" - mulheres, idosos,
negros, homossexuais, jovens, crianças, índios - e o direito à segurança planetária-simbolizado pelas lutas
ecológicas e contra as armas nucleares. Já as lutas populares por participação política ampliaram os
direitos civis: direito de opor-se à tirania, à censura, à tortura; direito de fiscalizar o Estado por meio de
associações, sindicatos ou partidos políticos; direito à informação sobre as decisões governamentais. Esse
cenário, porém, não é a realidade de muitos países, onde ainda o acesso aos direitos de cidadania é nulo
ou limitado. A divisão entre direitos civis, políticos e sociais não nos deve levar a perder de vista uma
característica intrínseca aos direitos humanos, que é sua indivisibilidade. Isto é, os direitos não podem ser
exercidos de maneira parcial. Todas as pessoas devem gozar do conjunto total de direitos e de cada um
na sua totalidade. De acordo com a Declaração e Programa de Ação de Viena, de 1993, todos os direitos
humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. Portanto, devem ser tratados
de forma global, justa e equitativa. Embora as características específicas de local, contexto e cultura
devam ser levadas em consideração, é dever do Estado promover e proteger todos os direitos humanos
de forma integral, independentemente de quais sejam seus sistemas políticos, econômicos e culturais.
Democracia, cidadania e direitos humanos no Brasil.
O sistema político brasileiro preenche, formalmente, os requisitos mínimos de uma poliarquia, ou seja,
sistema democrático em que o poder é atribuído com base em eleições livres e em que há ampla
participação política e concorrência pelos cargos eletivos. Esse sistema implica disputa pelo poder,
tolerância à diversidade de opiniões e oposição política.
No entanto, o que se percebe na sociedade é que essa estrutura formal não garante a O democratização
dos recursos socialmente produzidos, como os bens, os direitos e os serviços básicos proporcionados pelo
Estado. Assim, destaca-se que a questão democrática vai além do estabelecimento das regras formais
que caracterizam esse tipo de regime. É necessário retomar o conteúdo social da democracia e ampliar os
direitos de cidadania para reduzir a distância entre as esferas formal e real; afinal, a cidadania plena é
condição indispensável para a concretização dos direitos humanos. A estruturação dos direitos de
cidadania no Brasil esteve constantemente vinculada aos interesses das elites socioeconômicas e
políticas; poucas vezes foi resultado de um projeto com ampla participação popular e com vista à inclusão
social. A partir desta constatação, o historiador José Murilo de Carvalho desenvolveu a teoria de que
vivemos uma estadania, pois muitos de nossos direitos seriam resultantes de uma "concessão" relativa do
Estado, feita “de cima para baixo", a uma população muitas vezes desinteressada da "coisa pública".
Dessa forma, os direitos costumam ser vistos como concessões ou benefícios oferecidos pelos grupos
dominantes ao restante da população.
No entanto, identificam-se na história do Brasil alguns momentos em que as mobilizações políticas
ganharam destaque, em geral, tendo como referência a luta por direitos sociais e liberdade. Quando, a
partir de um conjunto de práticas repressivas, a ditadura militar, iniciada em 1964, impôs um retrocesso à
construção da democracia e dos direitos humanos no país, os movimentos populares e sindicais, do
campo e da cidade, passaram a exigir distribuição justa dos bens produzidos pelo trabalho e maior
participação social nas decisões sobre os rumos adotados pelo país. Além disso, foi na resistência à
ditadura e durante a redemocratização formal do Brasil que diversos grupos se fortaleceram para as lutas
subsequentes em prol dos direitos humanos. Em meio ao processo de redemocratização, foi promulgada a
Constituição Federal de 1988, que contou com destacada participação social em sua elaboração e
incorporou diversas reivindicações populares, principalmente no campo das liberdades civis e políticas. A
Constituição estabelece alguns mecanismos de participação política, tais como o plebiscito, o referendo e
a iniciativa popular (artigo 14), para garantir, ao menos no âmbito formal, a democracia participativa. Outro
exemplo é o orçamento participativo, modelo em que cidadãos, por meio de uma complexa ferramenta de
gestão pública, participam da elaboração e fiscalização do orçamento, principal instrumento de distribuição
dos recursos públicos.
Contudo, a Constituição ainda apresenta muitas limitações, em especial no que se refere às dimensões
social e econômica. São nessas dimensões que residem os principais obstáculos à construção e
concretização dos direitos humanos e da Programa Nacional de Direitos Humanos Em maio de 1996 o
governo brasileiro lançou a primeira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-I), que
tratava apenas de direitos civis e políticos. O PNDH-II foi lançado em maio de 2002, incorporando ao
primeiro direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. O PNDH-III, de dezembro de 2009, tratou de
direitos universais, como saúde, educação, desenvolvimento social, agricultura, meio ambiente, segurança
pública, acesso à justiça e à informação, entre outros. Há uma grande diferença entre a cidadania formal
e a cidadania real no Brasil (veja a figura abaixo ) . A cidadania formal é aquela presente nas leis, que é
imprescindível para a liberdade e para as garantias individuais, pois sem ela estaríamos à mercê da
vontade de qualquer grupo dominante; ou seja, garante a igualdade de todos perante a lei. Já a cidadania
real, aquela do dia a dia, mostra justamente o contrário, isto é, que não existe igualdade entre os seres
humanos e que o que prevalece é a desigualdade em todas as dimensões da sociedade. Por exemplo,
pensando apenas nos direitos civis, pode-se afirmar que a maioria dos brasileiros tem esses direitos
respeitados? E os direitos sociais? E mais, é possível afirmar que todos os brasileiros têm condições de
exercer seus direitos políticos com equidade?
O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2011 mostra o Brasil ocupando a 84a posição no ranking dos
187 países pesquisados. O IDH mede a qualidade de vida dos habitantes de um país; no Brasil, é de
0,718. Ele é composto de três subíndices: longevidade, renda e educação. Embora no Brasil as pessoas
vivam em média 73,5 anos e a taxa de matrículas escolares atinja 97% das crianças entre 7 e 14 anos,
números relativamente bons, a concentração de renda e de riqueza compromete o IDH e é a principal
responsável pela octogésima quarta colocação do país. Esse fator coloca o Brasil como o 82 país mais
desigual de uma lista de 187 nações. Isso pode ser verificado nos números: enquanto os 10% mais pobres
da população detêm 1% da renda, os 10% mais ricos se apropriam de 50%. Quando se trata da riqueza que engloba, além da renda, o patrimônio -, verifica-se que 10% da população detêm 75,6% de toda a
riqueza nacional, sobrando 24,6% para os outros 90%, mais de 165 milhões de brasileiros. A partir desses
números, podemos ter uma ideia de como a cidadania real é vivenciada pela maioria da população
brasileira. A correspondência entre a cidadania formal e a cidadania real só será estabelecida por meio de
uma constante luta para a implementação dos direitos por meio tanto de ações da sociedade civil quanto
de políticas públicas.
Leitura Complementar.
Cidadania no Brasil.
"Em 1992, a polícia militar paulista invadiu a Casa de Detenção do Carandiru para interromper um conflito
e matou 111 presos. Em 1992, policiais mascarados massacraram 21 pessoas em Vigário Geral, no Rio
de Janeiro. Em 1996, em pleno centro do Rio de Janeiro, em frente à Igreja da Candelária, sete menores
que dormiam na rua foram fuzilados por policiais militares. No mesmo ano, em Eldorado dos Carajás,
policiais militares do Pará atiraram contra trabalhadores sem-terra, matando 19 deles. Exceto pelo
massacre da Candelária, os culpados dos outros crimes não foram até hoje condenados. No caso de
Eldorado dos Carajás, o primeiro julgamento absolveu os policiais. Posteriormente anulado, ainda não
houve segundo julgamento. A população ou teme o policial, ou não lhe tem confiança. Nos grandes
centros, as empresas e a classe alta cercam-se de milhares de guardas particulares para fazer o trabalho
da polícia, fora do controle do poder público. A alta classe média entrincheira-se em condomínios
protegidos por muros e guaritas. As favelas, com menos recursos, ficam à mercê de quadrilhas
organizadas que, por ironia, se encarregam da única segurança disponível. Quando a polícia aparece na
favela é para trocar tiros com as quadrilhas, invadir casas e eventualmente ferir ou matar inocentes. O
Judiciário também não cumpre seu papel. O acesso à justiça é limitado a pequena parcela da população.
A maioria ou desconhece seus direitos, ou, se os conhece, não tem condições de os fazer valer. Os
poucos que dão queixa à polícia têm que enfrentar depois os custos e a demora do processo judicial. Os
custos dos serviços de um bom advogado estão além da capacidade da grande maioria da população.
Apesar de ser dever constitucional do Estado prestar assistência jurídica gratuita aos pobres, os
defensores públicos são em número insuficiente para atender à demanda. Uma vez instaurado o processo,
há o problema da demora. Os tribunais estão sempre sobrecarregados de processos, tanto nas varas
cíveis como nas criminais. Uma causa leva anos para ser decidida. O único setor do Judiciário que
funciona um pouco melhor é o da justiça do trabalho. No entanto, essa justiça só funciona para os
trabalhadores do mercado formal, possuidores de carteira de trabalho. Os outros, que são cada vez mais
numerosos, ficam excluídos. Entende-se, então, a descrença da população na justiça e o sentimento de
que ela funciona apenas para os ricos ou, antes, de que ela não funciona, pois os ricos não são punidos e
os pobres não são protegidos. A parcela da população que pode contar com a proteção da lei é pequena,
mesmo nos grandes centros. Do ponto de vista da garantia dos direitos civis, os cidadãos brasileiros
podem ser divididos em classes. Há os de primeira classe, os privilegiados, os 'doutores', que estão acima
da lei, que sempre conseguem defender seus interesses pelo poder do dinheiro e do prestígio social. Os
'doutores' são invariavelmente brancos, ricos, bem-vestidos, com formação universitária. São empresários,
banqueiros, grandes proprietários rurais e urbanos, políticos, profissionais liberais, altos funcionários. [...]
Ao lado dessa elite privilegiada, existe uma grande massa de 'cidadãos simples', de segunda classe, que
estão sujeitos aos rigores e benefícios da lei. São a classe média modesta, os trabalhadores assalariados
com carteira de trabalho assinada, os pequenos funcionários, os pequenos proprietários urbanos e rurais.
Podem ser brancos, pardos ou negros, têm educação fundamental completa e o segundo grau, em parte
ou todo. Essas pessoas nem sempre têm noção exata de seus direitos, e quando a têm carecem dos
meios necessários para os fazer valer, como o acesso aos órgãos e autoridades competentes, e os
recursos para custear demandas judiciais." CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil-, o longo
caminho. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), Lixo Extraordinário acompanha o
trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim
Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Lá, ele fotografa um grupo de catadores de materiais
recicláveis, com o objetivo inicial de retratá-los. No entanto, o trabalho com esses personagens revela a
dignidade e o desespero que enfrentam quando sugeridos a re imaginar suas vidas fora daquele ambiente.
A equipe tem acesso a todo o processo e, no final, revela o poder transformador da arte e da alquimia do
espírito humano.
Realizado sob convite do CIESPI (Centro internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância), o
documentário faz reflexões sobre o que leva crianças e jovens a viver nas ruas, o que faz com que deixem
as ruas? O documentário procura responder essas perguntas com depoimentos e imagens cotidianas de
jovens que cresceram nas ruas da cidade do México e do Rio de Janeiro. Veremos aqui a falta dos direitos
humanos.
Exercícios.
1.
Qual a importância do exercício cidadania, na sociedade brasileira ?
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2.
Do seu ponto de vista, como o jovem brasileiro deveria praticar a nossa
cidadania?
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3.
Ao observar a charge abaixo, de que maneira podemos diferenciar a cidadania de
papel , da cidadania real ?
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