a influência do tabagismo passivo em crianças com doenças

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a influência do tabagismo passivo em crianças com doenças
Revista Hórus – Volume 4, número 2 – Out-Dez, 2010
ARTIGO ORIGINAL
A INFLUÊNCIA DO TABAGISMO PASSIVO EM CRIANÇAS COM DOENÇAS
RESPIRATÓRIAS DA UBS DA VILA MARGARIDA DE OURINHOS-SP: UM
ESTUDO COMPARATIVO
Juliane Dias Garcia1, Theda da Cunha Manetta Suter2, Lucienne da Cruz Oliveira3, Marcelo Hiroshi Tutia4
RESUMO
Muitos fatores contribuem para o aumento das doenças respiratórias, tais como a fuligem da queima da cana-deaçúcar, pêlos de animais de estimação, mofo, poeira, ácaros e estiagem, mas um grande causador da poluição
domiciliar é a fumaça do cigarro, visto que muitos de seus componentes são tóxicos e até cancerígenos e que sua
inalação pode causar danos à saúde, sendo responsável por diversas patologias, principalmente respiratórias e em
crianças. Partindo disso, este estudo teve por objetivo investigar, dentre as crianças que sofrem de doença
respiratória, a influência do tabagismo passivo. Foram incluídas as crianças menores de doze anos e com
diagnóstico clínico de doença respiratória. A amostra selecionada foi obtida na Unidade Básica de Saúde da Vila
Margarida da cidade de Ourinhos. Posteriormente, foi realizada uma entrevista, na residência do sujeito
pesquisado, com o responsável por cada criança, através de um questionário padronizado e validado. Foram
entrevistados 81 responsáveis e, das crianças estudadas, 64% dos pais eram fumantes. Baseando-se nos dados
obtidos, através da análise estatística, constatou-se que não houve relação significativa entre os pais serem
fumantes e as doenças respiratórias encontradas nas crianças da população estudada, levando à conclusão de que
os outros fatores externos já apresentados, também são relevantes.
Palavras-Chave: Tabagismo Passivo, Poluição Ambiental, Doenças Respiratórias, Crianças.
ABSTRACT
Many factors contribute to the increase of respiratory diseases, such as the sugar cane burning, pet´s hair, mold,
dust, mites and drought, but cigarette smoke, that was compound by toxic and carcionogenic components, is the
main cause of home pollution. The inhalation of cigarette smoke may cause health damages, being responsible
for several troubles, especially children respiratory diseases. The objective of this study was investigate the
influence of passive smoking in children who suffer from respiratory disease. The studied children were about
twelve years old or less and had a clinical diagnosis of respiratory disease. The sample was obtained in the Basic
Health Unit of Vila Margarida (Ourinhos-SP-Brazil). An interview was realized at children´s residence, with
their parents or guardians, using a standardized questionnaire. A total of 81 guardians were interviewed. The
results show that 64% of parents were smokers. The statistical analysis of the data reveals that there was no
significant relationship between the facts of the parents be smokers and children have respiratory diseases in the
popullation of this study, concluding that other external factors are also relevant.
Key words: Passive Smoking, Environmental Pollution, Respiratory Disease, Children
INTRODUÇÃO
Muitos fatores estão relacionados com o aumento das doenças respiratórias, tais como
a fuligem da queima da cana de açúcar, a poeira domiciliar, o mofo, pêlos de animais
domésticos, os ácaros, a fumaça do cigarro, entre outros. O tabagismo é o principal
responsável pelas mortes evitáveis em todo mundo e segundo a Organização Mundial de
1
Fisioterapeuta. Pós-Graduada em Fisioterapia Clinica e Desportiva pela Universidade de Marilia (UNIMAR).
[email protected]
2
Graduada em Fisioterapia – UNESP – Presidente Prudente-SP. Especialista em Ciencias Fisiológicas – UEL –
Londrina-PR. Docente do Curso de Fisioterapia – FAESO – Ourinhos-SP.
3
Graduada em Fisioterapia
4
Graduado em Estatísica
[email protected]
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Saúde (OMS), em 2020 o número de óbitos relacionados ao tabagismo chegará a 8 milhões.
Essa estimativa abrange não somente os fumantes, como também seus cônjuges, filhos e
pessoas que convivem no mesmo ambiente que aqueles que têm o fumo como hábito.
As vítimas involuntárias dos males do cigarro são consideradas fumantes passivas.
Tabagismo passivo define-se pela inalação da fumaça do tabaco por indivíduos não fumantes
que convivem no mesmo ambiente daqueles que fumam.
O ar contaminado pela fumaça do cigarro contém muito mais agentes maléficos do
que o ar que entra pela boca do fumante, após passar pelo filtro existente na ponta do cigarro,
e as crianças são as mais prejudicadas, principalmente por problemas respiratórios.
As crianças apresentam frequência respiratória mais elevada quando comparada com
os adultos e este fato aumenta a quantidade de inalação de substâncias químicas e seu
aparelho respiratório e sistema imunológico ainda não estão totalmente desenvolvidos, o que
as deixa mais expostas a problemas respiratórios.
Sabendo-se dos malefícios que a fumaça do cigarro provoca nas vias respiratórias de
não fumantes, o objetivo deste trabalho foi verificar a influência do tabagismo passivo em
crianças que sofrem de doenças respiratórias.
Foi realizado um estudo de verificação de hipótese quantitativo-descritivo por se tratar
de uma coleta de dados de amostra de população, utilizando como técnica de pesquisa a
observação indireta, que consiste na aplicação de questionários e/ou entrevistas.
Para tanto, foi feito o levantamento bibliográfico acerca do tema, pesquisa de campo com
população delimitada e posteriormente análise de dados.
Sistema Respiratório
O ar percorre todas as vias respiratórias tendo entrada pelas fossas nasais e faringe,
onde atinge a temperatura corporal, e recebe vapor de água, continua seu percurso pela
traquéia, brônquios, bronquíolos, ductos alveolares e finalmente chega aos alvéolos, onde são
realizadas as trocas gasosas (GANONG, 1989).
Os pulmões são os principais órgãos da respiração e as três principais funções dos
órgãos são troca de gases, que consiste na entrada de oxigênio e saída de gás carbônico;
defesa do organismo, que funciona como uma barreira entre os meios externo e interno; e
metabolismo, sintetizando diversos compostos (BERNE et al, 2004).
Guyton (1988) afirma que além do nariz ser o órgão responsável pela entrada e saída
de ar dos pulmões, ele regulariza a temperatura, umidifica e limpa o ar, graças à camada muco
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ciliar. Esta contém cerca de 270 cílios em cada célula e se estende da mucosa
traqueobrônquica até o bronquíolo terminal (SILVEIRA, 1987 e AIRES, 2008).
O aparelho muco ciliar trabalha com batimentos coordenados e a uma freqüência de
1000 a 1500 ciclos por minuto, e captura partículas estranhas que estão querendo adentrar
pelos pulmões. A camada muco ciliar é tão eficiente que somente partículas menores que 3 a
5 micrometros conseguem passar pelo nariz e atingir as vias respiratórias inferiores. Quando
essa barreira falha e alguma partícula consegue adentrar as vias respiratórias, imediatamente
inicia-se um reflexo brônquico de constrição e tosse ou o que chamamos de “escada rolante
ciliar” (GANONG, 1989) e com o hábito de fumar ocorre a ciliostase, que é a parada ou
diminuição dos movimentos ciliares, prejudicando o transporte mucociliar (ROSEMBERG E
SOBREIRO, 2008).
Considerações Sobre o Tabagismo
Composição do Fumo e Ação no Organismo Humano
Os estudos de Silveira (1984) e Garcia (1983) afirmam que são mais de quatro mil os
componentes do cigarro encontrados em estado solido liquido e gasoso (BLUNDI e
BETHLEM, 2000) e em concentrações muito maiores que as permitidas pela indústria. São
capazes de produzir congestão crônica da garganta e dos olhos, tosse característica e irritação
dos centros nervosos que, em ação repetida, podem causar convulsões e paralisia dos
músculos respiratórios e degenerações celulares (GARCIA, 1983; SILVEIRA, 1984).
Também encontramos provas dos malefícios do fumo quando observamos o catarro
bronquial, congestões pulmonares, problemas de estômago, intestino e fígado e além da
tuberculose e dos cânceres de pulmão e do aparelho digestivo (ROSEMBER, 1987).
Segundo Garcia (1983), a nicotina é um alcalóide que, quando isolado, apresenta-se
como um líquido incolor, de aspecto oleoso, quase sem cheiro, volátil e de ação cáustica. Em
presença de ar úmido torna-se amarelo-acastanhado, com aspecto resinoso e cheiro
característico. Quando tragada, uma parte é eliminada com a fumaça, outra é absorvida pelos
alvéolos pulmonares e outra, deglutida na saliva. Esse alcalóide, altamente lesivo aos sistemas
cardiocirculatório e nervoso, é o responsável pela dependência física (BLUNDI e BETHLEM,
2000; ROSEMBERG e SOBREIRO, 2008).
Já Tortora (2007), defende que a nicotina comprime os bronquíolos terminais
causando a diminuição do fluxo aéreo dos pulmões. O monóxido de carbono, por sua vez,
quando em contato com a hemoglobina, provoca redução da capacidade de transportar
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oxigênio. A secreção exagerada na árvore brônquica e a tumefação do revestimento do
sistema respiratório ficam por conta dos componentes irritantes do fumo, e com o tempo, o
tabagismo causa a destruição das fibras elásticas dos pulmões, que traz como conseqüência o
enfisema pulmonar. Tais alterações provocam o colabamento dos pequenos bronquíolos e o
aprisionamento do ar nos alvéolos, no final da expiração, que resulta em trocas gasosas menos
eficientes.
Garcia (1983) relata os prejuízos que outros componentes do cigarro podem causar,
destacando que o monóxido de carbono provoca dores de cabeça, a amônia causa irritação no
nariz e na garganta, a pirina traz conseqüências aos brônquios, a piridina prejudica a
membrana da mucosa respiratória e substâncias alcatroadas engrossam a língua e escurecem
os dentes além de desencadear a ação cancerígena.
Toda essa concentração de poluentes é aspirada pelos fumantes ativos e passivos
trazendo conseqüências já mencionadas anteriormente, e por isso classifica-se o tabagismo
como doença contagiosa, principalmente em crianças, o que acentua ainda mais sua gravidade
(BLUNDI e BETHLEM, 2000).
Efeitos do Cigarro em Crianças Fumantes Passivas
Cohn e Nugué (2007) mostram que o tabagismo é o principal responsável pelas mortes
evitáveis em todo o mundo e segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em
2020 o número de óbitos relacionados ao tabagismo chegará a 8 milhões. Esse índice abrange
não somente os fumantes, como também seus cônjuges, filhos e demais pessoas que
convivem no mesmo ambiente que aqueles que têm o fumo como hábito.
A fumaça do cigarro polui e contamina o ambiente, portanto é fácil concluir que
mesmo as pessoas que não fazem uso do cigarro, mas convivem com pessoas que são adeptas
desse vício, estão expostas aos irritantes que o compõem (BLUNDI e BETHLEM, 2000).
Considera-se também que a fumaça que sai do cigarro contém “3 vezes mais óxido de
carbono, 8 vezes mais dióxido de carbono, 3 vezes mais nicotina e alcatrão, 4 vezes mais
benzopireno, 52 vezes mais dimetilnitrosamina, 47 vezes mais amônia e muitas vezes mais
outras substâncias” (ROSEMBERG, 1987), visto que não passa pelo filtro que existe na ponta
do cigarro.
Os bebês, que foram vítimas da ação da fumaça do cigarro ainda no período de
gestação, normalmente nascem de baixo peso ou prematuros, devido a contrações exacerbadas
do útero causadas pela ação da nicotina (ROSEMBERG, 1987). Têm maiores probabilidades
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de morte súbita, sendo que, se viverem, podem desenvolver alergias aos componentes do
cigarro, além de doenças no trato respiratório superior e inferior. Se a exposição ao tabagismo
passivo continuar na adolescência e na vida adulta, existe a possibilidade do aparecimento de
um câncer de pulmão (LEÃO et al, 2005).
Rosemberg (1987) afirma que dentre as mães que perdem seus filhos antes mesmo de
nascer ou até o primeiro mês após o parto, a incidência é muito mais relevante entre as
tabagistas. Essas, comparadas com as não fumantes, sofrem significativamente de problemas
como complicações placentárias, pré-eclampsia e hipertensão arterial.
A fumaça do cigarro é o maior causador da poluição domiciliar, variando de acordo
com o número de fumantes moradores da residência e com o número de cigarros fumados
dentro de casa, desfavorecendo a saúde respiratória infantil (Gonçalves et al 2006).
Dentre os efeitos do cigarro sobre o pulmão destacamos a broncoconstrição e a
redução do leito capilar pulmonar (o que diminuem a circulação de sangue pelos alvéolos).
Além disso, ocorre a produção excessiva de muco enquanto diminui os batimentos dos cílios
que revestem a mucosa brônquica (responsáveis pela eliminação do muco). Ocorrem também
danos às células que fabricam substâncias tensoativas, indispensáveis para evitar o colapso
dos alvéolos que assim acabam ficando mais fechados do que abertos. Essas alterações
provocam no pulmão do fumante, um estímulo para autodestruição e o enfraquecimento de
sua estrutura, formando gradativamente áreas enfisematosas (ROSEMBERG e SOBREIRO;
BAMMANN, 2008).
Pereira et al (2000) afirmam que existe certa relação entre doenças respiratórias e
crianças expostas ao fumo, e isso aumenta a morbidade respiratória destas. Bammann (2008)
acrescenta que existe uma grande incidência de óbitos causados por câncer de pulmão em
crianças que foram expostas à poluição tabágica.
Afecções Respiratórias Relacionadas ao Tabagismo
Dentre as doenças respiratórias que mais acometem crianças devido à exposição à
fumaça do cigarro, encontramos a asma, a bronquite, a rinite alérgica, a sinusite e a otite
média (TINKELMAN, 1999; LONG,1999; SMITH, 1999; ROBBINS, 2001). Tarantino
(2008) afirma ainda uma grande evidencia de laringite e faringite nos indivíduos que sofrem
com a exposição.
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Rinite
A rinite é caracterizada pela inflamação e irritação das mucosas do nariz, podendo ser
causada por fatores alérgicos ou não alérgicos, tais como mudança de temperatura ou umidade
atmosférica, odores ou infecção (SMELTZER e BARE, 2005).
Smith (1999) alerta que a rinite alérgica é causada por agentes de difícil identificação
sendo, no entanto, os ácaros, a poeira, os pêlos de animais de estimação, a poluição por
fumaça de cigarro e os fungos os principais envolvidos.
Dentre os principais sinais e sintomas da rinite alérgica destacam-se a obstrução nasal
bilateral, devido às mudanças de temperatura, umidade atmosférica e exposição à fumaça do
cigarro; mucosa com coloração azulada e com aparência edemaciada; presença de sulco nasal
transverso devido ao hábito de esfregar o nariz; a respiração torna-se bucal, as olheiras são
freqüentes, em decorrência da obstrução do fluxo sanguíneo através da mucosa nasal
edemaciada (PALOMBINI et al, 2001).
Smith (1999) alerta que para se alcançar algum resultado no tratamento da rinite
alérgica deve-se visar à prevenção e à diminuição da exposição aos fatores alérgicos, tais
como poeira, mofo, pêlos de animais de estimação e também fumaça do cigarro. Se essas
medidas não forem eficazes, então deve ser implantado o tratamento medicamentoso.
Bronquite
A bronquite crônica é definida clinicamente pela presença de tosse e produção de
catarro durante pelo menos três meses, no mínimo por dois anos consecutivos (ROBBINS,
2001; TARANTINO, 2008), diferentemente da bronquite aguda, que na maioria dos casos se
resolve em alguns dias ou em poucas semanas (SILVEIRA, 1987). Pode ser provocada por
vírus, assim como pelo fumo e pela aspiração de gases, fumaça ou pós nocivos. É uma doença
que se agrava com o inverno e com lugares empoeirados. Nos bebês, a bronquite pode ser
uma doença passageira, facilmente curável, mas nos adultos, a bronquite crônica tende a ser
um problema periódico (GUIMARAES, 2002, p.83).
É mais comum, crianças sofrerem de bronquite aguda, por terem menor concentração
de anticorpos que agem contra os germes causadores da infecção das vias respiratórias e
também por estas serem mais curtas, facilitando o acesso dos microorganismos,
principalmente durantes as estações frias (SILVEIRA, 1987).
Robbins (2001) afirma que a irritação crônica das vias aéreas por substâncias inaladas,
em particular a fumaça do tabaco, constitui o fator dominante na patogenia da bronquite
crônica. Esses irritantes levam a hipersecreção de muco, hiperplasia subseqüente das
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glândulas mucosas e metaplasia das células caliciformes no epitélio bronquiolar, podendo até
evoluir para uma bronquiolite.
O diagnóstico é caracterizado pela presença de tosse seca, e dolorosa acompanhada, às
vezes, por febre. Passada a fase aguda da crise de bronquite, a tosse torna-se produtiva, com
secreção purulenta. É possível auscultar os sibilos ou estertores subcreptantes. Na falta de
tratamento adequado a doença pode evoluir para uma pneumonia, segundo Shapherd (1995).
Asma
A asma, segundo Tinkelman (1999), é definida pela inflamação, reatividade
aumentada e obstrução da via aérea podendo ser reversível espontaneamente ou com
tratamento. Dentre os sinais e sintomas mais comuns da asma, Hetzel, Silva e Silva (2008),
pontuam a dispnéia como o principal, além de também estar presente a sibilância, tosse
improdutiva e, às vezes, a congestão e o aperto no peito e o cansaço. Durante as crises, é
comum a perturbação do sono, já que se dá mais freqüentemente à noite, permanecendo por
horas ou dias. Quando a resistência das vias aéreas está menos acometida é comum a
produção de secreção com aspecto viçoso e espesso sendo eliminado através de rolhas viçosas
e em pouca quantidade (SHAPHERD, 1995).
Hetzel, Silva e Silva (2008) relatam que a asma está intimamente relacionada com
fatores genéticos e ambientais, predominando a exposição a compostos alérgicos, tabagismo
ativo e passivo e agente infecciosos; além disto, Dolhnikoff e Mauad (2007) afirmam que
esses fatores são os responsáveis pelo aumento da morbi/mortalidade do doente.
A fumaça do tabaco é um forte fator agravante já que aumenta a responsividade e a
inflamação das vias aéreas, portanto não se deve fumar em ambientes em que o indivíduo
asmático está inserido, pois a fumaça é constituída de partículas muito finas que se instalam
nas mobílias e cortinas do local (TINKELMAN, 1999).
Shapherd (1995) pronuncia que durante as crises de asma os pulmões ficam
expandidos, cheios de ar, pelo fato de a criança apresentar as inspirações forçadas e não
conseguir expirar completamente, devido ao estreitamento das vias aéreas, que é uma das
características da doença. A quantidade de ar que se desloca durante um ciclo respiratório é
muito pequena, provocando muitas vezes a retenção de dióxido de carbono. Com essa
retenção torna-se diminuída a entrada de oxigênio, resultando então na necessidade
desesperada de ar, conhecida como falta de ar.
Devido à hiperinsulflação pulmonar, os músculos respiratórios precisam de muito
esforço para trabalhar, sobrecarregando e alterando o aparelho respiratório. É comum a
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criança apresentar cianose, tórax dilatado no sentido ântero-posterior, as últimas costelas em
posição elevada e na ausculta pulmonar os murmúrios vesiculares estão ausentes, existindo
portanto o risco da criança asfixiar-se (SHAPHERD, 1995).
Para o tratamento da asma devemos, primeiramente, eliminar os fatores
predisponentes da alergia; reduzir ou minimizar a obstrução brônquica que ocorre por causa
do edema ou espasmo da musculatura lisa dos brônquios e eliminar o excesso de secreção das
vias aéreas (SHAPHERD, 1995).
Sinusite
A sinusite, assim como a rinite, é definida como inflamação das fossas nasais e seios
paranasais, advinda de uma alergia ou infecção entre outras. O termo rinossinusite é bastante
utilizado na linguagem médica, pois é de freqüência rara a sinusite acontecer isoladamente da
rinite, embora a rinite apareça sem a sinusite (PALOMBINI et al, 2001).
Smeltzer e Bare (2005) denotam que é comum a sinusite desenvolver-se devido à
infecção respiratória alta em conseqüência a uma infecção viral ou bacteriana não resolvida,
ou também de uma acentuação da rinite alérgica. A obstrução das cavidades sinusais ocorre
devido à congestão nasal causada pela inflamação, edema e transudação de líquido, tornando
este meio propício ao crescimento bacteriano.
Smith (1999), Smeltzer e Bare (2005) dizem que podemos suspeitar de sinusite
quando há presença de rinorréia mucopurulenta persistente por mais de 10 dias associada a
infecções respiratórias não complicadas e que as principais características de tal doença são a
respiração com odor fétido, tosse, febre baixa, edema periorbitário indolor e intermitente, e
muitas vezes dor de cabeça e a dor facial em crianças e pré-adolescentes.
Smeltzer e Bare (2005) dizem ainda que o tratamento clínico visa, primordialmente
combater a infecção, descongestionar a mucosa nasal e aliviar a dor, e para isso é feita a
administração dos medicamentos necessários, num período de 10 a 14 dias. Para diminuir o
edema da mucosa nasal, utilizam-se os descongestionantes orais e a oxigenioterapia,
melhorando, conseqüentemente, a drenagem dos seios paranasais.
Otite
O ouvido médio, definido atualmente por orelha média (FIGUEIREDO e
PIGNATARI, 2008), é composto anatomicamente pela caixa timpânica, tuba auditiva e
células da mastóide e a infecção desse conjunto é denominada otite média. No mundo inteiro,
a otite média é considerada a infecção das vias respiratórias superiores mais diagnosticada.
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Guimarães (2002, p.338) define a otite média como sendo “uma inflamação do ouvido
médio, geralmente causada por uma infecção que se espalha do nariz ou da garganta”. Varella
(2008) explica que devido à bactérias presentes na boca e garganta quando ocorrem
recorrentes infecções de garganta, migram pela tuba auditiva até o ouvido médio, onde se
multiplicam nas secreções acumuladas, causando uma inflamação.
O diagnóstico para a otite média baseia-se nos sinais e sintomas que pontuam
Figueiredo e Pignatari (2008), tais como, otalgia, febre, irritabilidade, choro, falta de apetite e
presença de pus (SMITH, 1999).
Os estudos de Smith (1999) demonstram que durante os primeiros 2 anos de vida
ocorre a maior incidência da otite média e infecções respiratórias, devido à permanência da
criança em creches, alimentação através de mamadeira e exposição a fumaça passiva do
cigarro entre outras.
Faringite
A faringite aguda é definida por inflamação ou infecção na garganta, causando,
geralmente, dores nesta região (SMELTZER E BARE, 2005). Quase sempre aparece
acompanhada de amigdalite; pode, porém, ocorrer de forma isolada, ou então pode ser
causada pelo estreptococo ou por vírus (GUIMARÃES, 2002).
Devemos atentar para os principais sinais e sintomas da faringite aguda, que
compreende em linfonodos cervicais hipertrofiados e dolorosos, ruborização das tonsilas e
membrana faríngea e folículos linfóides edemaciados e salpicados com manchas brancopurpureo, além de febre, indisposição e dor de garganta (SMELTZER E BARE, 2005).
Laringite
A laringe fica localizada no pescoço, acima da traquéia e abaixo da garganta. A
inflamação pode acontecer junto ou secundariamente a um resfriado, trazendo como sintomas
iniciais cócegas no fundo da garganta, evoluindo para tosses. Com o tempo torna-se dolorida,
deixando a voz rouca e muitas vezes, sussurrada (GUIMARÃES, 2002).
A laringite é definida como um processo inflamatório da laringe, sendo provocada,
principalmente pelo cigarro, que possui ação irritante prejudicando a mucosa laríngea e
inibindo o movimento ciliar do epitélio respiratório (FIGUEIREDO e PIGNATARI, 2008),
além do abuso vocal e exposição à poeira ou outras substâncias químicas e também às
mudanças súbitas de temperatura, deficiência nutricional ou estado imunudeprimido. Em
geral está associada à rinite alérgica ou faringite e traz como principais sintomas a rouquidão
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ou perda completa da voz, tosse intensa (SMELTZER e BARE, 2005), febre alta, progressiva
e persistente, tremores, aumento da secreção e congestão nasal (EJZEMBERG, 2005).
Smeltzer e Bare (2005) recomendam repouso da voz, evitar fumar, assim como estar
perto de pessoas fumantes e a aerossolterapia. A maioria dos pacientes com laringite fica
totalmente curada com o tratamento conservador, embora possa se tornar mais grave quando o
portador é idoso ou já está sofrendo de pneumonia.
Amigdalite ou Tosilite e Adenoidite
As tonsilas ou amígdalas, localizam-se ao lado da orofaringe e servem como sítio de
infecção aguda, denominando-se tonsilite ou amigdalite e as adenóides, que são encontradas
no centro da parede posterior da nasofaringe sempre acompanham a infecção das tonsilas
classificando-se com adenoidite (SMELTZER e BARE, 2005).
As amígdalas fazem parte do sistema de gânglios linfáticos, e capturam micróbios que
entram pela boca. Normalmente elas próprias são atacadas com freqüência; a inflamação
resultante é a chamada amigdalite. Guimarães (2002) relata que o primeiro sintoma é a
garganta irritada e conseqüentemente inflamada, provocando aumento da temperatura
corporal, indisposição, dificuldade na deglutição e dores de cabeça. Já as adenóides
infeccionadas são responsáveis pela respiração bucal, ruidosa e com odor fétido,
comprometimento da voz, otalgia, drenagem auditiva, resfriados freqüentes e bronquites.
Devido ao inchado das adenóides, o espaço anatômico atrás das narinas diminui,
dificultando a passagem de ar, resultando numa obstrução nasal. Se não for tratada
imediatamente pode se alastrar para o ouvido gerando uma otite média aguda, agravando-se
para a ruptura dos tímpanos ou para extensão da infecção para as células mastóideas
(mastoidite aguda) (SMELTZER e BARE, 2005).
Outras Variáveis que Contribuem Para o Aumento Das Doenças Respiratórias
Ferri e Lepsch (1993) afirmam que diferentemente de qualquer espécie animal que se
adapta às mudanças provenientes do ecossistema, o homem é capaz de destruir o seu próprio
ambiente físico, provocando desequilíbrios irreparáveis. Ele derruba florestas e campos,
queima, drena os pântanos, inunda regiões secas, instala indústrias, entre outros.
As indústrias produzem adversamente substâncias tóxicas para os seres vivos,
inclusive para o homem, pois os produtos que são lançados na atmosfera, no solo e nas águas
contaminam as condições do ambiente físico, prejudicando muitas vezes, espécies que são
incapazes de sobreviver nas novas condições do ecossistema e o homem por sua vez apresenta
sintomas que caracterizam doenças físicas e mentais (FERRI e LEPSCH, 1993). O dióxido de
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enxofre liberado pelas indústrias prejudica o aparelho respiratório, causando irritação na
mucosa e favorecendo a ocorrência de bronquite, asma e enfisema pulmonar (MOISÉS e
SANTOS, 1994).
Assim como diz Branco (1988), a poluição atmosférica pode ter diferentes naturezas e
origens, pois há a poluição causada por gases tóxicos, tais como o dióxido de enxofre, os
óxidos de nitrogênio, o monóxido de carbono, entre outros, que, segundo Moisés e Santos
(1994) geram dores de cabeça, dores abdominais, cansaço, anomalias respiratórias e
circulatórias, perda dos sentidos, coma e até mesmo a morte. Existe aquela formada por
materiais particulados, que são as poeiras e a fumaça, ou então aquela antiestética,
constituintes do vapor d’água emitido pelas chaminés e fábricas, das partículas de carbono
(fuligens) resultantes da má combustão do óleo, carvão, lenha ou gás. A poluição irritante traz
problemas às vias respiratórias, podendo causar bronquite e dificuldades respiratórias
(BRANCO 1998).
O crescimento das indústrias, usinas e número de veículos motorizados circulantes tem
refletido no aumento da poluição atmosférica urbana, trazendo malefícios ao homem, plantas
e animais. Os principais problemas encarados pelo homem são respiratórios, cardiovasculares,
oculares, e, muitas vezes, intoxicação (AMBIENTE BRASIL, 2008).
Em consequência à exposição ao mofo e à poeira, é comum pessoas sofrerem com as
crises alérgicas, caracterizadas por sequências de espirros, olhos irrittados e coceira no nariz.
Para minimizar tais sintomas, Fidalgo (2001) alerta que se deve evitar ambientes com
carpetes, tapetes, forracão, cortinas, entre outros que acululem mofo e poeira.
Os ácaros e o mofo se proliferam em ambiente úmido, escuro e calmo, portanto as
roupas pesadas, edredons e cobertores guardados no guarda roupas durante o ano todo trazem
para o inverno maior prevalência para o desenvolvimento das doenças respiratórias
(FIDALGO, 2001).
Pereira (2007) publica que a queima da cana-de-açúcar realizada durante a colheita, é
um forte fator de risco para os problemas respiratórios e cardíacos, devido à influência das
partículas emitidas no momento da combustão. A queima é feita durante o período de seca, ou
seja, no inverno, onde é possível perceber o aumento da poluição ambiental, devido à falta de
chuva. Nesse período as partículas da fuligem são muito pequenas, adentrando com maior
facilidade nas vias respiratórias.
Da queimada da cana de açúcar liberam-se partículas finas e ultrafinas, que atingem as
porções mais profundas do sistema respiratório que desencadeiam o processo inflamatório e
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prejudicam o ar do ambiente local como também os de longas distâncias. Dessa forma,
aumentam as chances de as queimadas terem impactos negativos sobre a qualidade do ar e
sobre a saúde das pessoas que vivem nas regiões canavieiras (RIBEIRO, 2008).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi desenvolvido um estudo de verificação de hipótese, quantitativo-descritivo. Essa
modalidade foi considerada a mais adequada já que a principal finalidade da pesquisa foi o
delineamento ou análise das características de fatos ou fenômenos com artifícios quantitativos
tendo por objetivo a coleta sistemática de dados sobre a população ou amostras de população
utilizando como técnicas de pesquisa a observação indireta, que consiste em aplicação de
entrevistas, questionários, formulários, entre outros que empregam procedimentos de
amostragem (MARCONI e LAKATOS, 2007).
Inicialmente foi feita a análise dos prontuários, mediante autorização prévia da
enfermeira chefe responsável pela Unidade Básica de Saúde, para a obtenção da quantidade
de crianças com diagnóstico clínico de doença respiratória, freqüentadoras da UBS da Vila
Margarida de Ourinhos, e após essa coleta, a entrevista foi realizada na residência do sujeito
da pesquisa.
Os critérios de inclusão para que participassem da pesquisa foram que as crianças
tivessem diagnóstico clínico de doença respiratória de ambos os sexos e que tivessem até 12
anos de idade. Foram selecionadas 103 crianças e desse total, seis encontravam-se sob os
cuidados de indivíduos que não eram os responsáveis e estes não souberam responder ao
questionário ou não aceitaram a participação no estudo, alegando que poderiam desagradar os
pais, e 16 não foram encontrados no endereço que constava no prontuário. Fizeram parte da
pesquisa então 81 crianças cujos responsáveis aceitaram a participação no estudo através da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O estudo se dividiu em três partes: análise de prontuários, estudo piloto e entrevista.
Foi feito o levantamento dos prontuários das crianças que passaram por consulta médica, na
Unidade Básica de Saúde da Vila Margarida da cidade de Ourinhos nos dias entre 02 de junho
de 2008 a 11 de julho do mesmo ano, totalizando 30 dias úteis. O estudo piloto teve por
objetivo testar a aplicação dos instrumentos de obtenção de dados e encontrar possíveis
equívocos ou falhas. Um questionário preliminar foi aplicado a um grupo de 20 pessoas
escolhidas aleatoriamente, distintas daquelas onde seria realizada a pesquisa final. O resultado
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foi analisado pela pesquisadora com intenção de eliminar, substituir ou incluir questões que
fossem consideradas necessárias ao melhor entendimento pelos entrevistados. Após a
conclusão dessa fase, o questionário foi analisado por três especialistas da área, sendo um
médico pediatra, um medica de saúde pública e uma enfermeira da saúde pública. Estes leram
o trabalho e o questionário e consideraram adequado ao objetivo da pesquisa.
A entrevista foi realizada na residência do sujeito pesquisado, através do questionário
padronizado respondido pelos pais ou responsável, e esta se passou nos dias úteis entre 14 de
julho de 2008 ao dia 29 de agosto de 2008, em dias e horários variados.
As informações obtidas através dos questionários foram digitadas pela pesquisadora
em banco de dados, de modo que possibilitasse a realização de diversos métodos de análise
estatística.
Foi utilizada a estatística descritiva para as variáveis numéricas e, para as variáveis
qualitativas, os dados foram organizados em tabelas simples e tabelas cruzadas. Para verificar
se existia associação entre tais variáveis foi utilizado o teste qui-quadrado, onde o nível de
significância adotado foi de 5%, ou seja, p-valor ≤ 0,05.
Para a apresentação gráfica foi utilizado o Manual de Normatização da Faculdade
Estácio de Sá (PATACO, VENTURA e RESENDE, 2007), onde se deu a finalização do
trabalho.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Foi realizado o teste de Qui-quadrado para verificar se existia dependência entre as
variáveis. A hipótese testada era de que as doenças respiratórias apresentadas pelas crianças
tinham relação com o fato de os pais serem fumantes ou não. Quando os valores obtidos com
a aplicação do teste Qui-quadrado são maiores que 5% (0,05), conclui-se que as variáveis são
independentes, ou seja, não estão associadas.
RESULTADOS
Foram analisadas 81 crianças participantes do estudo, com diagnóstico clínico e
fechado de doença respiratória, 39 eram do sexo feminino e 42 do masculino. Desse total,
64% (52) eram fumantes passivas e 36% (29) não eram e, dos responsáveis que aceitaram a
participação no estudo, 90% eram do sexo feminino, e a maioria deles estava na faixa etária
entre 27 e 43 anos (65%).
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Analisou-se que 41% das crianças tinham idade menor ou igual a 3,5 anos e que o
grau de escolaridade dos entrevistados era significativamente elevado, visto que apenas 2%
eram analfabetos, 32% tinham o 2º grau completo e 22% já haviam concluído o ensino
superior. Esse resultado foi relevante, pois pesquisas anteriores afirmam que quanto menor o
analfabetismo, menor será o índice de mortalidade infantil (VEJA, 2005).
Das 41 mães tabagistas que foram entrevistadas, apenas 15 assumiram ter mantido o
vício durante a gestação, e 28 afirmaram o uso do cigarro enquanto ainda estavam
amamentando, e destes 10% assumiram expor a criança ao tabagismo passivo no quarto de
dormir e 49% admitiram fumar no ambiente na qual a criança está inserida, ou seja, nos
outros cômodos da casa.
64% das casas visitadas continham de 5 a 6 cômodos e sendo assim, 62% das crianças
acometidas pelas doenças respiratórias dormiam acompanhadas por irmãos ou, muitas vezes,
pelos próprios pais. Destas crianças que dormem acompanhadas, 14 dividem o quarto com
mais uma pessoa, 20 dividem com duas pessoas, 10 dividem com três e 6 dividem com quatro
pessoas ou mais. Essa variável também tornou-se muito relevante já que Pereira et al (2000)
relatam em seus estudos que a aglomeração de pessoas no mesmo cômodo é um forte fator
para o desenvolvimento de doenças respiratórias.
Dos principais sinais e sintomas avaliados através do questionário padronizado,
observou-se através da analise descritiva que 53 % das crianças apresentam tosses recorrentes,
42% tinham secreção, 35% apresentavam sibilos e 31% sofriam de dispnéia.
Observando o Gráfico e a Tabela abaixo, pode-se observar que dentre as doenças
respiratórias encontradas na população estudada, a de maior destaque é a rinite, com 38% dos
casos, seguida da bronquite, 28%, da sinusite, com 16% e outras como asma, laringite,
amigdalite, faringite e otite.
GRÁFICO: porcentagem das doenças respiratórias sofridas pelas crianças
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TABELA I: Relação entre as doenças respiratórias e o tabagismo passivo
Pais Fumantes
Não
Sim
Total
%
Quant.
%
Quant.
%
Diagnóstico
Quant.
Rinite
14
48,28%
17
32,69%
31
38,27%
Bronquite
5
17,24%
19
36,54%
24
29,63%
Sinusite
5
17,24%
8
15,38%
13
16,05%
Laringite
3
10,34%
0
0,00%
3
3,70%
Asma Bronq
1
3,45%
2
3,85%
3
3,70%
Asma
0
0,00%
2
3,85%
2
2,47%
Amigdalite
1
3,45%
1
1,92%
2
2,47%
Faringite
0
0,00%
2
3,85%
2
2,47%
Otite
0
0,00%
1
1,92%
1
1,23%
Total geral
29
100,00%
52
100,00%
81
100,00%
Com a aplicação do teste, todos os resultados foram maiores que 5% (nível de
significância), sendo assim, não houve relação significante entre os pais serem fumantes e as
crianças serem doentes.
Com isso, comprova-se que outros fatores ambientais e domiciliares estão
relacionadas com o acometimento das doenças respiratórias, tais como presença de mofo,
poeira, pêlos de animais de estimação, ácaros, estiagem e fuligem da queima da cana de
açúcar.
DISCUSSÃO
Muitos fatores contribuem para o aumento das doenças respiratórias, dentre eles a
estiagem, a poeira, o mofo, pêlos de animais de estimação, ácaros, fuligem da queima da cana
de açúcar, fumaça do cigarro, entre outras. No presente estudo foi analisado o nível de
significância do tabagismo passivo sobre as doenças respiratórias apresentadas pelas crianças
selecionadas.
Através da análise estatística, não foi possível observar relação de dependência entre
os pais fumarem e as crianças serem doentes, embora muitos estudos comprovem que a
fumaça do tabaco é a principal causadora da poluição domiciliar, sendo fator relevante no que
diz respeito à saúde do sistema respiratório (SILVA et al, 2006).
Pensando nas outras possíveis variáveis contribuintes para o desenvolvimento de
doenças respiratórias, Carvalho e Pereira (2002) mostram em seus estudos que o mofo e a
aglomeração são fortes fatores de risco para a morbidade do trato respiratório inferior.
Silva et al (2006) observaram que os filhos de pais mais jovens e menos escolarizados,
com nível socioeconômico mais baixo e moradia de baixa estrutura, eram os que mais sofriam
de doenças respiratórias devido à exposição ao tabagismo passivo. Comparando os seus
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estudos com os resultados obtidos nesta pesquisa pode-se observar que a maioria dos pais era
bastante esclarecida, levando-se em conta o grau de escolaridade elevado que apresentaram,
sendo relevante também a quantidade de cômodos residenciais aos quais as crianças estavam
inseridas, já que 37% delas estavam distribuídas em seis ambientes diferentes.
A variável “grau de escolaridade” revelou que os participantes do estudo tinham um
nível de conhecimento elevado, já que apenas 2% eram analfabetos e 22% já haviam
concluído o ensino superior, embora a amostra selecionada tenha sido advinda de uma
Unidade Básica de Saúde, onde se espera que seja atendida uma população de baixo nível
social e de instrução. Tal fator foi considerado importante, pois publicações anteriores
revelam que, se o analfabetismo materno caísse 1%, diminuiria a mortalidade infantil mais
significativamente do que se aumentasse a quantidade de leitos hospitalares, distribuição de
remédios ou redes de saneamento básico (VEJA, 2005). Silva et al (2006) defendem que mães
escolarizadas têm maior consciência dos malefícios que o cigarro pode trazer para a saúde de
seus filhos, podendo mudar seus hábitos e adotar padrões comportamentais em relação ao
fumo a fim de minimizar a poluição ambiental em sua residência.
Pereira et al (2000) relatam em seus estudos que a aglomeração de pessoas no mesmo
cômodo é um forte agravante para o desenvolvimento de doenças respiratórias e, com a
entrevista observou-se que 62% das crianças acometidas pelas doenças respiratórias que
foram selecionadas para a pesquisa, dormiam acompanhadas, podendo ser por pais, irmãos,
avós ou tios.
Rosemberg (1987) relata que as crianças de baixa idade são as que mais sofrem com a
exposição ao tabagismo, pois suas vias respiratórias são facilmente irritadas pela ação tóxica
dos componentes do cigarro, além de ser nesta idade que as crianças permanecem maior
tempo dentro de casa, com os pais, sendo expostas mais intensamente à poluição domiciliar
(SILVA et al, 2006).
Silva et al (2006) afirma também que crianças menores de 5 anos são mais acometidas
pelos maléficos do tabagismo passivo devido à fragilidade do aparelho respiratório, que ainda
não está totalmente desenvolvido, o que o torna mais suscetível às doenças respiratórias e
também por causa da aumentada freqüência respiratória, que é normal nesta faixa etária,
fazendo-as inalarem maior quantidade de substâncias químicas danosas ao pulmão. Em
consonância, o presente estudo observou que a maioria (41 %) das crianças portadoras de
doença respiratória são menores de 3,5 anos de idade.
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Rosemberg (1987) afirma que aquelas que são expostas ao tabagismo durante a
gestação têm maior probabilidade de nascer com baixo peso, prematuro e com problemas
respiratórios. A ação da nicotina provoca fortes contrações uterinas, chegando muitas vezes a
expulsar o feto antes de completar o tempo necessário para sua total formação, e também
prejudica o sistema nervoso, diminuindo os estímulos respiratórios, chegando muitas vezes à
paralisação dos músculos responsáveis pela respiração. No estudo não foi significativa a
relação entre as mães terem fumado durante a gestação e ou amamentação e todas os
responsáveis responderam que as condições de nascimento da criança foi normal (peso,
tempo).
Nos estudos de Silva (2006) as doenças mais desencadeadas pelo cigarro são a
bronquite e a asma. Já Carvalho e Pereira (2002) verificaram que além das duas já citadas, a
pneumonia era muito mais prevalente em crianças com pais fumantes do que as com pais não
fumantes. Porém neste estudo, a doença que teve maior significância foi a rinite, seguida da
bronquite e asma, não sendo possível encontrar nenhum participante com diagnóstico clínico
de pneumonia.
Dentre os sinais e sintomas mais comuns sofridos pelas crianças que são expostas ao
tabagismo, o chiado no peito está em primeiro lugar, segundo os estudos de Carvalho e
Pereira (2002), sendo bastante considerável também a dispnéia, a tosse e a expectoração. É
provável que tais variáveis não tenham sido relevantes neste estudo, pois quando os
responsáveis eram questionados quanto aos sinais e sintomas, muitas vezes respondiam de
forma subjetiva. É compreendido que para estas, seria necessário um aprofundamento da
análise de cada caso, o que destoaria do foco do trabalho, já que foi selecionado o método de
observação indireta.
O tabagismo não foi o grande responsável pelas doenças respiratórias, no entanto
outras variáveis foram levadas em consideração. Estudos de Ribeiro (2008) demonstram
claramente que a fuligem da queima de açúcar tem impactos negativos na qualidade do ar
também na saúde de quem está exposto a tal poluição. Assim, este se torna fator
importantíssimo no momento da análise dos dados, pois o estudo foi realizado nos meses de
junho, julho e agosto, sendo os meses mais acometidos pela seca e pelas queimadas.
CONCLUSÕES
É consenso que o cigarro exerce grande influência na etiologia das doenças
respiratórias, porém para efetiva comprovação, deve ser feito um estudo mais detalhado, com
a incorporação da análise relacionada ao ambiente em que a criança está inserida.
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Como o método de observação foi indireto, muitas vezes, quando os pais eram
questionados quanto aos sinais e sintomas apresentados pelas crianças, respondiam de forma
subjetiva, por não saberem como avaliar tais variáveis, podendo ter influenciado nos
resultados da pesquisa.
A literatura diz que são nos meses de inverno e seca o maior desencadeamento das
doenças respiratórias, devido ao fato de ser nessa época que as roupas e cobertores guardados
são reutilizados, expondo seus usuários aos ácaros, mofo e poeira que se acumulam durante o
ano. Também é no inverno que aumentam os períodos de estiagem, o que favorece a queima
da cana de açúcar. Esses fatores então forma considerados relevantes já que o trabalho foi
realizado nos meses de junho, julho e agosto.
Então, fatores como a poluição ambiental não puderam ser excluídos, já que,
estatisticamente, o tabagismo passivo não foi o maior causador das doenças respiratórias
apresentadas pelas crianças freqüentadoras da UBS da Vila Margarida.
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