Monografia - Roseanne Iamarino Marin
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Monografia - Roseanne Iamarino Marin
Roseanne Iamarino Marin Produção em laboratório do agente de controle biológico Cotesia flavipes (Cameron) (Hymenoptera: Braconidae) criado em Diatraea saccharalis (Fabricius) (Lepidoptera: Pyralidae) Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos São João da Boa Vista, SP, 2004 Roseanne Iamarino Marin Produção em laboratório do agente de controle biológico Cotesia flavipes (Cameron) (Hymenoptera: Braconidae) criado em Diatraea saccharalis (Fabricius) (Lepidoptera: Pyralidae) Nome do orientador: Msc Giuliano Buzá Jacobucci Monografia apresentada como requisito da disciplina Estágio Supervisionado, do Curso de Ciências Biológicas Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos São João da Boa Vista, SP, 2004 Data da defesa: ___/___/_____ Membros da banca Giuliano Buzá Jacobucci ________________________________ Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos Maria Auxiliadora de Godoy Oriani ________________________________ Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos Arthur Ziggiatti Güth ________________________________ Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos Agradecimentos: À minha família que sempre me apoiou durante todo o curso, me dando forças para continuá-lo. Ao meu tio Paulo Roberto Iamarino e às pessoas que se disporam a me ajudar no meu trabalho. A todos os alunos do curso de Ciências Biológicas que, junto comigo, passaram por todos os obstáculos, superando-os e vencendo mais uma etapa da vida que é concluir o curso. Em especial, as amigas: Bárbara Angélica, Bárbara Letícia, Maraísa, Letícia e minha irmã Marianne que me mostraram uma valiosa amizade. Aos funcionários da Usina em que fiz estágio, que com toda a paciência solicitaram informações valiosas que contribuíram para a conclusão desse trabalho. Aos profs. Msc. Arthur Ziggiatti Güth e Dr. Maria Auxiliadora de Godoy Oriani que grande satisfação convide-os a fazerem parte da banca examinadora. Em especial, ao prof. Msc Giuliano Buzá Jacobucci que muito gentilmente dispôs de seu tempo e conhecimento para me orientar no trabalho. RESUMO O Controle Biológico é um método que utiliza inimigos naturais (predadores, parasitóides ou microrganismos) na diminuição de infestação de pragas de uma cultura. A espécie Cotesia flavipes, apresentada neste trabalho, é uma vespa parasitóide que combate a broca-da-cana Diatraea saccharalis (Lepidoptera), uma praga que causa grandes perdas na produção de cana-de-açúcar. A vespa e a broca-da-cana são produzidas no Laboratório de Entomologia da Usina Nossa Senhora Aparecida – Virgolino de Oliveira, localizada no município de Itapira, Estado de São Paulo, Brasil. Os ovos de D. saccharalis são produzidos através do acasalamento das mariposas sob condições controladas de temperatura e luminosidade. A postura é mantida em condições adequadas de umidade e tratada para evitar contaminação por microrganismos, e então transferida para recipientes, nos quais as lagartas eclodidas (após cerca de vinte dias) se alimentarão de uma dieta balanceada. Cerca de 5% das lagartas de D. saccharalis são mantidas para se transformarem em crisálidas e posteriormente em mariposas, de modo que se garanta a produção no laboratório. No restante é inoculado o parasitóide. A vespa oviposita na lagarta e esta após 14 dias já está morta com pupas da vespa formadas. Aproximadamente 5% das pupas que originam vespas servem de matrizes para inoculação das lagartas da broca em laboratório. Os 95% das pupas são liberados na plantação de cana-de-açúcar da usina para atuar como agente de controle biológico. ABSTRACT Biological Control is a method of controlling pests (small insects, or microorganisms that harm or destroy crops) by using natural predators (parasitoids or microorganisms). Cotesia flavipes, presented in this study, is a parasitoid wasp that attacks the sugar cane (Diatraea saccharalis) which infest sugar cane plantations. This natural predator as well as sugar cane borer are kept and studied in an entomological laboratory at Usina Nossa Senhora Aparecida – Virgolino de Oliveira, Brazil. A special diet has been developed to D. saccharalis which is used to feed its larvae after they have left the eggs. When the larvae grows, 5% of them will be set apart from the others so they turn into cocoons, and later into moths (these moths will couple, and will lay more eggs); and the other 95% will be inoculated by the wasp. The wasp lays eggs on the larvae which will be dead within fourteen days, and this way the wasp pupas are formed. Also, 5% of the pupas will become the matrices (left for larva inoculation), and 95% will be released to sugar cane plantation so that the wasps lay their eggs on the borer larvae found in the crops. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11 2 CONTROLE BIOLÓGICO: DEFINIÇÃO.................................................................12 2.1 CONTROLE BIOLÓGICO NO PASSADO............................................................13 2.2 CONTROLE BIOLÓGICO NO PRESENTE..........................................................14 2.3 CONTROLE BIOLÓGICO NO BRASIL................................................................16 2.4 CONTROLE BIOLÓGICO NO FUTURO..............................................................18 3 PRODUÇÃO EM LABORATÓRIO DO AGENTE DE CONTROLE BIOLÓGICO C. flavipes CRIADO EM D. saccharalis.......................................................................19 3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BROCA DA CANA-DE-AÇÚCAR D. saccharalis..................................................................................................................19 3.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PARASITÓIDE C. flavipes............................22 3.3 LABORATÓRIO DE ENTOMOLOGIA DA USINA NOSSA SENHORA APARECIDA – VIRGOLINO DE OLIVEIRA...............................................................24 3.4 DESCRIÇÃO DAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO.................................................27 3.4.1 Higienização do Ambiente de Trabalho e dos Materiais Utilizados...................27 3.4.2 Preparação da Dieta da Broca-da-cana............................................................29 3.4.3 Acasalamento....................................................................................................31 3.4.4 Tratamento da Postura......................................................................................33 3.4.5 Preparação da Postura......................................................................................35 3.4.6 Inoculação dos Ovos para Produção de Matrizes de Mariposas......................37 3.4.7 Preparação de Crisálidas..................................................................................37 3.4.8 Revisão de Crisálidas........................................................................................37 3.4.9 Inoculação dos Ovos para Produção de Lagartas............................................38 3.4.10 Inoculação da Vespa na Broca........................................................................40 3.4.11 Revisão de C. flavipes.....................................................................................42 3.4.12 Liberação das Vespas em Campo..................................................................45 4 CONCLUSÃO.........................................................................................................47 REFERÊNCIAS..........................................................................................................49 APÊNDICE.................................................................................................................53 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Ovos de D. saccharalis (F.) em cana-de-açúcar.........................................19 Figura 2. Lagarta de D. saccharalis (F.) em cana-de-açúcar.....................................20 Figura 3. Pupa de D. saccharalis (F.) em cana-de-açúcar.........................................20 Figura 4. Adultos de D. saccharalis (F.) em laboratório: a) fêmea, b) macho.........................................................................................................................21 Figura 5. As galerias feitas pelas lagartas de D. saccharalis (F.) dentro dos colmos da cana-de-açúcar (colmos broqueados)...................................................................22 Figura 6. Vespa C. flavipes (C.) parasitando a lagarta D. saccharalis (F.)..............................................................................................................................23 Figura 7. Tubos de PVC (câmaras) utilizados como gaiolas para o acasalamento de D. saccharalis (F.)......................................................................................................33 Figura 8. Ovos de D. saccharalis (F.) em papel sulfite (no laboratório).................................................................................................................34 Figura 9. Placas de Petri montadas com ovos da D. saccharalis (F.)..............................................................................................................................35 Figura 10. Frasco de vidro transparente (500ml) com tampa de metal......................39 Figura 11. Frascos contendo ovos da D. saccharalis (F.) para posterior inoculação das lagartas................................................................................................................39 Figura 12. Sala das lagartas “inoculadas”. Estas ficam em bandejas com dieta............................................................................................................................41 Figura 13. Funcionária retirando as massas localizadas no interior da dieta............................................................................................................................42 Figura 14. Massas de C. flavipes (C.) em um copo plástico......................................43 Figura 15. Fluxograma de produção de C. flavipes (C.) em D. saccharalis (F.) criada sobre dieta artificial.....................................................................................................44 Figura 16. Vespas que eclodiram das pupas em recipiente plástico.........................45 Figura 17. Esquema da liberação de C. flavipes na cana-de-açúcar.........................46 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Ingredientes utilizados na dieta de HENSLEY & HAMMOND (1968) apud MACEDO (2000), modificada, de criação e realimentação de lagartas Diatraea saccharalis (F.)...........................................................................................................30 1 11 1 INTRODUÇÃO A produção de alimentos teve grande aumento devido ao uso de defensivos químicos para controlar insetos pragas. Isso, tempos atrás, foi uma revolução na agricultura. Porém, se esses defensivos forem usados sem critério e continuamente, causam sérios problemas ambientais, tais como a presença de resíduos em alimentos e desequilíbrio ecológico. Pensando nos problemas ambientais, entomologistas se preocuparam em utilizar outras formas de controle, avançando em pesquisas com inimigos naturais e assim conseguindo utilizá-los, sendo esse método chamado controle biológico de pragas (MACHADO, 1988). Assim, obteve-se também um custo menor ao agricultor em vista de menor ou não utilização de inseticidas e pesticidas. Os inimigos naturais são predadores, parasitóides e microrganismos. Todos esses inimigos podem ser utilizados e produzidos em laboratório levando em conta sua biologia. Mas em termos de custo, manipulação e taxonomia (por serem mais conhecidos) os parasitóides são os mais utilizados (PARRA, 2000). Um dos exemplos da utilização do controle biológico é na cultura da cana-deaçúcar, por esta ter grande importância em diversos países, principalmente no Brasil, que é um dos líderes mundiais na produção de açúcar e álcool de cana. No Estado de São Paulo, a principal praga que infesta a cana-de-açúcar é a broca (Diatraea saccharalis), cujos danos são responsáveis por grandes prejuízos na produção de açúcar e álcool (BOTELHO, 1993). No intuito de controlá-la, sem prejudicar o meio ambiente, inimigos naturais são produzidos em laboratório. Apesar dessa praga possuir vários inimigos naturais, a vespa Cotesia flavipes (Cameron) (Hymenoptera: Braconidae) é a mais utilizada. Em várias utilizações, esse parasitóide foi o mais eficiente na diminuição da população da D. saccharalis (Fabricius) (Lepidoptera: Pyralidae), quando comparado com outros parasitóides (MACEDO, 2000). O objetivo principal deste trabalho é descrever a técnica aplicada à produção da vespa C. flavipes e do seu hospedeiro definitivo D. saccharalis em laboratório. Pretende-se ainda abordar o histórico, a situação atual e as perspectivas de utilização do controle biológico. 12 2 CONTROLE BIOLÓGICO: DEFINIÇÃO O controle biológico é utilizado na agricultura para substituir substâncias químicas (inseticidas e pesticidas) (ODUM,1988). Ele tem como finalidade manter as espécies de pragas em níveis aceitáveis através da introdução de um predador natural, parasitóide ou microrganismo que lhe cause doença ou morte, pois todas as espécies de plantas e animais possuem inimigos naturais que atacam seus vários estágios de vida (BRAGA et al., 2003; BUG Agentes Biológicos, 2004). Esse controle, segundo BELLOTTI (1992), pode ser visto sob dois aspectos: o controle biológico natural (ou clássico), que ocorre sem o auxílio do homem (ou seja, os inimigos naturais não são criados em laboratório e nem liberados ao campo) e o controle biológico aplicado que envolve a intervenção humana (a produção dos inimigos naturais em laboratório para posterior liberação à cultura). O controle biológico é um componente do Manejo Integrado de Pragas (MIP) que visa controlar as pragas de modo a minimizar as perdas econômicas por meio de sua redução populacional sem que seja preciso eliminá-las completamente, juntando outros métodos de controle – físico, comportamental, de resistência de plantas a insetos, genético, minimizar o aparecimento de pragas resistentes, reduzir o surto de pragas secundárias, reduzir o risco para a saúde humana, reduzir poluição, maximizar o potencial de controle natural, preservar a população de inimigos naturais – visando critérios econômicos, ecológicos e sociais (BRAGA et al., 2003; BUG Agentes Biológicos, 2004; SCOMPARIM, 2003). Esse método também visa respeitar e incentivar a ação benéfica dos inimigos naturais nativos da broca, que já controlam elevadas porcentagens das populações da broca, em ambientes não perturbados (TÉRAN & NOVARETTI, 1980). Os parasitóides são os mais utilizados no controle de pragas de insetos produzidos em laboratório, pela sua taxonomia, baixo custo, fácil manipulação e por se alimentarem da própria praga (em uma certa fase da vida), não sendo necessária a criação de uma dieta para eles (PARRA, 2000). Os parasitóides são organismos intermediários entre predadores e parasitas (ODUM, 1988). Eles possuem algumas características de parasitas porque têm um hospedeiro específico e alto potencial biótico (capacidade natural de crescimento da população), residindo no interior de um hospedeiro vivo e comendo seus tecidos, que por conta disso fazem também o 13 papel de predador, pois inevitavelmente matam seus hospedeiros (ODUM, 1988; RICKLEFS, 2003). Existem dois tipos de parasitóide: endoparasitóide que ataca dentro de organismo do hospedeiro e ectoparasitóide atacando externamente ao corpo do hospedeiro (INSTITUTO BIOLÓGICO, 2004). O termo parasitóide se aplica a espécies de vespas (Hymenoptera) e moscas (Diptera), que em sua fase larval se alimentam dos tecidos de hospedeiros vivos – normalmente os ovos, larvas e pupas de outros insetos – levando estes inevitavelmente à morte, mas somente quando a larva do parasitóide já tenha empupado (RICKLEFS, 2003). Segundo PARRA (1992), existem três tipos de criações de insetos em laboratório: em pequena escala, comercial e massal. O primeiro tipo é conduzido por uma única pessoa e tem por objetivo estudar os aspectos básicos do inseto, sendo de vital importância para que possam ser desencadeados os demais tipos de criações. As criações comerciais (segundo tipo) são mantidas por companhias que comercializam os insetos a empresas que necessitem desses insetos para controlar suas culturas. O terceiro tipo de criação, a massal, envolve operações semelhantes a uma fábrica para servir de suporte a um programa de controle biológico, ou seja, uma empresa cria os inimigos para utilizar em uso próprio (da empresa). 2.1 CONTROLE BIOLÓGICO NO PASSADO No século III, os chineses utilizavam formigas predadoras (como Oecophylla smaragdina) para controlar pragas de citros. No começo do século XVII (1602) há uma citação de Aldrovandi, da emergência do parasitóide Apanteles (=Cotesia) glomeratus Linnaeus (Hymenoptera: Braconidae) de lagartas de Pieris rapae Linnaeus (Lepidoptera: Pieridae). Porém, através de uma confusão de casulos como ovos feita pelo autor, esta sofre uma correção de Vallisnieri um tempo depois (PARRA, 2000). Vários casos de introdução de predadores seguiram-se nos séculos XVIII e XIX. Neste último, houve estudos com patógenos que culminaram com os primeiros estudos com vírus controlando insetos, no século XX. Entretanto, o controle 14 biológico clássico teve o seu início propriamente dito em 1889 onde, um ano antes, havia sido introduzida a joaninha australiana, Rodolia cardinalis (Coleoptera: Coccinellidae), para controlar o pulgão branco Icerya purchasi (Hemiptera: Margarodidae), que era uma praga dos pomares cítricos da Califórnia, EUA. Como durante um ano, a população da cochonilha citada estava controlada, iniciou-se o controle biológico clássico no mundo nesta data (PARRA, 2000). Da década de 1940 até metade dos anos 60, foi chamada a época dos orgânicos sintéticos (pesticidas) onde a indústria de formulados expandiu-se em vários países para equacionar os problemas envolvidos na preparação dos defensivos orgânicos sintéticos, então comercializados pela primeira vez. Nessa época, o Controle Biológico Clássico (sem intervenção do homem) deixou de ter a devida importância pela agressividade que os inseticidas causavam nos inimigos naturais, ou seja, os agricultores utilizavam além do Controle Biológico, os inseticidas para matar as pragas mais rapidamente (já que com o Controle Biológico a morte das pragas se dava a longo prazo) (PARRA, 2000). Como o uso de inseticidas estava preocupando os agricultores, pois causavam muitos danos ao seu próprio cultivo e a todo o meio ambiente, havia uma necessidade de se fazer algo para proteger a biodiversidade. Houve, então, o ressurgimento do controle biológico, porém com inovações dessa alternativa de controle, ou seja, a conservação e multiplicação de inimigos naturais, agora incorporados em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) (PARRA, 2000). 2.2 CONTROLE BIOLÓGICO NO PRESENTE Com o passar dos anos, a consciência de manutenção da qualidade ambiental tomou conta da cabeça das pessoas, houve o aparecimento de novos produtos para controlar pragas (reguladores de crescimento, aqueles que atuam em nível de mitocôndria, de canais de Sódio e Potássio) e os produtos químicos se tornaram cada vez mais seletivos fazendo com que o controle biológico clássico voltasse com alta intensidade e sendo mais um importante componente de programas de MIP. O MIP ou Manejo Ecológico de Pragas (MEP) – consiste em conhecer melhor as pragas (biologia e comportamento), conhecer o nível de infestação que causa prejuízos econômicos, só utilizar o produto químico quando realmente for 15 necessário, fazer aquisição de pesticida somente mediante receituário agronômico (SOUSA, 2004) – é muito empregado nos dias de hoje, visando uma agricultura sustentável (PARRA, 2000). Na agricultura sustentável o ciclo produtivo é fechado dentro da propriedade, havendo um equilíbrio energético (entre produção e consumo), conservando os recursos envolvidos e com mínimo, ou nenhum, ingresso de energia externa derivada de combustíveis fosseis (adubos químicos, agrotóxicos, combustível, etc) (SEIDEL, 2004). Atualmente é dada uma importância cada vez maior ao Controle Biológico, tanto Clássico quanto Aplicado, pois os inimigos naturais são os principais causadores da mortalidade no agroecossistema, possuindo uma função relevante na manutenção do equilíbrio de pragas. Os parasitóides apresentam métodos de amostragem e níveis de controle que facilitam na utilização de qualquer programa de Manejo de Pragas para poder controlá-los e manejá-los. Além disso, o controle biológico mantém a população de pragas em níveis toleráveis, quando comparado a outros métodos de controle, como os culturais, físicos, de resistência de plantas a insetos e métodos comportamentais (feromônios), que podem até ser utilizados com métodos químicos (especialmente reguladores de crescimento e produtos de última geração, pouco agressivos ao ambiente) (PARRA, 2000). Em MIP devem ser adotados os procedimentos básicos de Controle Biológico, que são: introdução, conservação e multiplicação. Na parte de conservação, devem ser utilizados produtos seletivos somente a alguns tipos de insetos (Controle Biológico Natural), principalmente quando se trata de culturas com grande número de pragas, onde poderia ser difícil a utilização de agentes biológicos, dada a sua especificidade. Em culturas com pequeno número de pragas, sejam exóticas, para as quais a introdução de inimigos naturais pode ser de grande valia, ou para pragas nativas, para as quais devem ser utilizados inimigos naturais locais, o Controle Biológico Aplicado (CBA), envolvendo produções massais de inimigos naturais e posterior liberação inundativa, assume grande importância (PARRA, 2000). É importante frisar que o MIP requer um planejamento anterior ao plantio das safras agrícolas, principalmente se forem utilizados métodos como rotação de culturas, plantio em faixas, variedades resistentes e outros. Tais métodos devem envolver também os grupos de agricultores de uma região, já que as pragas não respeitam divisas entre propriedades (BRAGA et al., 2003). 16 Por todos esses motivos, dá para se imaginar um manejo integrado da agricultura, que combina todos os processos de produção agrícola dentro do contexto de um único ecossistema ou agroecossistema (BRAGA et al., 2003). Segundo BRAGA et al. (2003), as razões apresentadas anteriormente justificam as duas grandes linhas em que se apóiam os esforços de controle dos efeitos dos inseticidas. A primeira delas, de longo prazo, mais radical e de viabilidade que depende de verificação, sugere alcançar soluções alternativas de combate às pragas agrícolas como, por exemplo, as de base biológica ou física, que se baseiam na criação e disseminação de obstáculos e restrições à sobrevivência do organismo por meio de predadores e de armadilhas. A segunda tem como fundamento o estabelecimento de uma estrutura legal e institucional que impeça a produção e comercialização dos defensivos químicos que possuem efeitos negativos maiores e o controle da intensidade e do modo de sua aplicação pelo agricultor. O controle biológico natural que consiste na conservação de inimigos naturais terá cada vez mais espaço, especialmente para culturas que possuam um enorme número de pragas, podendo ser utilizado juntamente com novos defensivos químicos cada vez menos agressivos ao ambiente (que afetem as pragas, sem afetar os inimigos naturais) (BRAGA et al., 2003). Por outro lado, pela suas características, o método que mais se utiliza em programas de Manejo de Pragas é o Controle Biológico Aplicado (CBA), especialmente pelo avanço das criações massais de insetos, empregando-se dietas artificiais, e atendendo à chamada multiplicação (que é o procedimento básico de Controle Biológico) (PARRA, 2000). 2.3 CONTROLE BIOLÓGICO NO BRASIL Em nosso país, a introdução de inimigos naturais aconteceu em 1921, com a importação de Prospaltella berlesi (Hymenoptera: Aphelinidae), originário dos EUA, para controlar a conchonilha-branca-do-pessegueiro, Pseudaulacaspis pentagona (Hemiptera: Diaspididae). Outros inimigos naturais foram importados com resultados animadores, como foi caso de Neodusmetia sangwani (Hymenoptera: Encyrtydae) para controle de Antonina graminis (Hemiptera: Pseudococcidae) em pastagens, na década de 60. Dez anos depois, introduções com grande sucesso se deram a 17 Cotesia flavipes (Cameron), de Trinidad-Tobago, para manejar a população de Diatraea saccharalis (Fabricius); e com parasitóides de pulgões do trigo realizada pela EMBRAPA, para controlar os principais afídeos da cultura. Na década de 90, obteve-se sucesso com a introdução da Trichogramma pretiosum (Hymenoptera: Trichogrammatidae, natural da Colômbia, para controle da traça Tuta absoluta em tomateiro industrial. Por causa desses e outros excelentes resultados gerados e pelo Sistema de Quarentena “Costa Lima” (Centro Nacional de Pesquisas em Monitoramento e Avaliação de Impacto Ambiental) que foi criado recentemente pela EMBRAPA- CNPMA, Jaguariúna, SP, facilitando as importações, grandes áreas têm sido tratadas com os inimigos naturais dando maior credibilidade aos programas de Controle Biológico no Brasil (PARRA, 2000). Sem dúvida, a pressão mundial existente relacionada a problemas ambientais e o potencial de utilização de agentes de Controle Biológico em países tropicais, são as características que aumentaram cada vez mais a utilização desta tática de controle (PARRA, 2000). No Brasil, ainda existem problemas relacionados à falta de estudos básicos (incluindo análises de impacto ambiental); descontinuidade de programas e/ou projetos mal planejados e, muitas vezes, isolados (sem características inter ou multidisciplinares); falta de credibilidade no Controle Biológico dificultando o aparecimento de firmas idôneas que comercializem inimigos naturais (prática comum em países desenvolvidos); inexistência de uma política nacional com definição de prioridades, principalmente voltada para estudos de Controle Biológico em culturas de subsistência; poucos investimentos na área e dificuldade de transferência da tecnologia gerada ao usuário. Este último talvez seja o mais importante deles, pois muitas vezes existe a tecnologia, mas esta não chega ao agricultor (PARRA, 2000). Apesar de todos esses problemas, o Brasil tem a vantagem de ser um país tropical. Não há invernos tão rigorosos, o que facilita a criação de inimigos naturais. O Brasil tem uma rica biodiversidade de ecossistemas que facilitam a busca de inimigos naturais capazes de solucionarem problemas críticos na agropecuária e saúde pública. Por outro lado, fatores de ordem ambiental, econômica e social, como o aumento da consciência da importância da preservação ambiental, o grande número de pessoas com intoxicações crônicas ou agudas causadas por inseticidas, o aumento da resistência dos insetos aos produtos químicos e os elevados custos de produção, tem estimulado o interesse das empresas a utilizarem o controle biológico 18 de insetos (PARRA, 1980a; DOSSI &CONTE, 2002; BESSERA & PARRA, 2004 apud DOSSI et al. 2004). Atualmente, o Brasil possui programas semelhantes aos melhores do mundo em qualidade e em áreas tratadas com insetos. Um ótimo exemplo da utilização desse programa é para o controle de D. saccharalis (praga da cana) através da liberação de C. flavipes em 300.000 ha por ano (no Brasil, em geral). Esse programa obteve uma relação custo/benefício excelente. Na década de 80 os ataques da broca-da-cana, foram responsáveis, em São Paulo, por perdas de 100 milhões de dólares anuais. Atualmente, após a implantação do braconídeo citado, estas perdas caíram para 20 milhões/ano (PARRA, 2000). 2.4 CONTROLE BIOLÓGICO NO FUTURO Para que o Brasil possa ter condições em competir com países desenvolvidos é essencial que se corrijam os problemas acima citados e que haja uma ponderação entre a pesquisa básica e a aplicada para o desenvolvimento de novas tecnologias. Fatores indispensáveis para que o Brasil possa acompanhar, nas mesmas condições que os países desenvolvidos, as mudanças envolvendo o Controle Biológico (aplicações de biologia molecular, plantas transgênicas e produção de parasitóides “in vitro”) são o treinamento de pesquisadores no Brasil ou exterior e o relacionamento entre o país e outras nações. Uma das tecnologias já existentes no Brasil é a produção de parasitóides “in vitro” (CÔNSOLI & PARRA, 1997; CÔNSOLI & PARRA, 1999 apud PARRA, 2000). Modificações continuarão a ocorrer no Controle Biológico, pois, no futuro, haverá uma exploração maior dos estudos de relações tróficas, serão aperfeiçoadas as linhagens de inimigos naturais (adaptáveis às drásticas variações de temperatura) juntamente com o aprimoramento de técnicas de criação (manejo da criação) com o controle de qualidade do parasitóide ou predador produzido, avanço nos produtos (tornando-os cada vez mais seletivos) e técnicas inovadoras de liberação e armazenamento, tornando este insumo biológico cada vez mais eficiente e acessível ao usuário. É importante ressaltar que o Controle Biológico não pode ser visto somente como uma atividade isolada dentro de um MIP, deve ser analisado sob um ponto de vista global para ampliar o seu espectro de utilização (PARRA, 2000). 19 3 PRODUÇÃO EM LABORATÓRIO DO AGENTE DE CONTROLE BIOLÓGICO C. flavipes CRIADO EM D. saccharalis 3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BROCA DA CANA-DE- AÇÚCAR D. saccharalis D. saccharalis (Fabricius, 1794), (Lepidoptera, Pyralidae) é um inseto de metamorfose completa (DOSSI et al., 2004), e ocorrência nas Américas sendo popularmente conhecida como broca-da-cana por ser a principal praga da cana-deaçúcar, onde causa diversos prejuízos (BOTELHO, 1992). Suas posturas correspondem a massas de ovos imbricadas com coloração amarela no início do desenvolvimento, escurecendo perto da eclosão das lagartas (Figura 1) (BUG Agentes Biológicos, 2004). FIGURA 1. Ovos de D. saccharalis (F.) em cana-de-açúcar. Fonte: BUG Agentes Biológicos, 2004. As lagartas eclodem após 4 a 9 dias, têm coloração amarelada, com manchas ou pontuações pretas pelo corpo e a cápsula cefálica de cor preta (Figura 2). Possuem as fases de primeiro a quinto instares. As fêmeas podem chegar a medir até 25 mm de comprimento, sendo o macho, um pouco menor. Alimentam-se do parênquima das folhas e depois da primeira ecdise entram pela parte mais mole do colmo, a gema, onde permanecerão por cerca de 35 a 40 dias (contando a fase larval com a fase de pupa) (Figura 3). Antes da pupação, as lagartas abrem um 20 orifício no colmo para posterior saída do adulto. A fase de pupação dura entre 9 e 14 dias (BUG Agentes Biológicos, 2004). FIGURA 2. Lagarta de D. saccharalis (F.) em cana-de-açúcar. Fonte: BUG Agentes Biológicos, 2004. FIGURA 3. Pupa de D. saccharalis (F.) em cana-de-açúcar. Fonte: BUG Agentes Biológicos, 2004. As mariposas adultas possuem coloração amarelo palha (fêmeas) e amarelo mais escuro (machos) e suas asas anteriores contêm linhas diagonais em forma de V invertido podendo atingir também o mesmo tamanho que as lagartas (Figura 4) (NARDIN, 2004; BUG Agentes Biológicos, 2004). O adultos vivem até 7 dias (em média) e uma só fêmea chega a colocar 600 ovos ao longo de sua vida (BUG Agentes Biológicos, 2004). 21 (a) (b) FIGURA 4. Adultos de D. saccharalis (F.) em laboratório: a) fêmea, b) macho. Fonte: NARDIN, 2004. A fase larval é a que gera prejuízos à cultura da cana-de-açúcar. Sua ocorrência pode ser extremamente destrutiva, chegando a inviabilizar a atividade dependendo da intensidade de ataque (Figura 5) (MACEDO, 2004). Os danos que ela causa, podem ser divididos em danos diretos e indiretos. O dano direto corresponde à abertura de galerias que a lagarta faz, causando perda de peso da cana, diminuição da germinação pela morte das gemas, e se o caminhamento da broca for circular, tombamento da cana (BUG Agentes Biológicos, 2004). Se a cana for jovem, a broca pode causar a morte do ponteiro (seca das folhas e morte do broto) e conseqüentemente a morte da cana (NARDIN, 2002). Os danos indiretos, que são os mais importantes, antecedem o dano direto, pois havendo uma abertura na cana, ocorre facilitação da entrada de microrganismos (fungos e bactérias) prejudicando o processo de produção de açúcar e álcool. A produção de açúcar é comprometida, pois os fungos ocasionam a inversão da sacarose em outros açúcares que não cristalizam, e na produção de álcool, as bactérias competem com as leveduras que fazem a fermentação alcoólica, diminuindo o volume de álcool produzido. As perdas podem chegar a 35Kg de açúcar/ha, e a 30 litros de álcool/ha com apenas 1% de colmos broqueados (BUG Agentes Biológicos, 2004). Cada 1% de Intensidade de infestação. (I.I.) corresponde a 0,77% de queda na produção da cana. Estudos feitos por PRECETTI et al. (1988), mostraram que para cada 1% de I.I., os índices médios de perdas de açúcar foram de 0,370 kg/t cana e de álcool 0,165 l/ton cana. Para uma produção de 1.250.000 t, perde-se 9.650 t ou 112 ha (NARDIN, 2002). 22 FIGURA 5. As galerias feitas pelas lagartas de D. saccharalis (F.) dentro dos colmos da cana-de-açúcar (colmos broqueados). Fonte: BUG Agentes Biológicos, 2004. Os principais inimigos naturais que podem fazer com que a população de D. saccharalis reduza são os seguintes: Formigas (predadoras) que predam posturas e lagartas de primeiro ínstar; parasitóides Trichogramma galloi (Hymenoptera: Trichogrammatidae) e C. flavipes que parasitam postura e lagartas, respectivamente. Outros inimigos naturais que também podem ajudar na diminuição da praga são dois parasitóides de mesma ordem e família: Paratheresia claripalpis Wulf e Metagonistylum minense Towns (Diptera: Tachinidae) (BOTELHO, 1993). 3.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PARASITÓIDE C. flavipes C. flavipes (Cameron, 1891) (= Apanteles flavipes) se encontra dentro da ordem Hymenoptera e da família Braconidae. Ela é uma vespa parasitóide microhimenóptero gregário, haplodiplóide, onde as fêmeas do parasitóide originamse de ovos fertilizados, enquanto que os machos são produzidos por partenogênese arrenótica, ou seja, de ovos não fertilizados (VETORELLI et al., 1999). 23 É uma vespa endoparasitóide originária da Índia e do Paquistão que foi introduzida no Brasil em 1974, para ser utilizada no controle de lagartas da broca-dacana. Obtém maior sucesso em áreas em que a lagartas já se encontram dentro dos colmos da cana (BUG Agentes Biológicos, 2004). Segundo RICKLEFS (2003), vespas parasitóides desenvolvem-se dentro das larvas ou das pupas de outros insetos. No caso da C. flavipes, esta tem seu desenvolvimento dentro das lagartas da D. saccharalis. A fêmea possui antenas menores que as do macho e se colocada perto da lagarta, irá ovopositar (sentará em cima da broca e curvará as antenas, Figura 6), já o macho somente ficará andando sobre ela. FIGURA 6. Vespa C. flavipes (C.) parasitando a lagarta D. saccharalis (F.). Fonte: BUG Agentes Biológicos, 2004. Conforme ARRIGONI (1996) apud PERTICARRI (2002), no ano de 1995, no estado de São Paulo, houve o emprego do controle biológico em 424 mil hectares de canaviais, enquanto o controle químico (inseticidas) foi utilizado em apenas cinco mil hectares em áreas de alta infestação com variedades suscetíveis. Dos parasitóides liberados, C. flavipes tem se mostrado mais eficiente, sendo atualmente, o produzido em maior número, em 38 laboratórios do Estado de São Paulo. Essa eficiência é demonstrada em trabalhos como os de BOTELHO (1992) e MACEDO (2000). BOTELHO (1992) realizou um trabalho no período de 1978 e 1989 na região de abrangência da COSUL – IAA/PLANALSUCAR comparando a eficiência de vários parasitóides de D. saccharalis: Metagonistylum minense Towns., Apanteles flavipes (= C. flavipes) Cameron, Paratheresia claripalpis Wulp. e outros. Foi constatado que 24 A. flavipes surgiu como principal inimigo natural da broca, com uma participação de 76,64% no parasitismo total obtido no ano de 1989. Outro trabalho envolvendo a porcentagem de parasitismo da C. flavipes (Cameron) e outros parasitóides (principalmente Metagonistylum minense Towns. e Paratheresia claripalpis Wulp.) foi desenvolvido por MACEDO (2000) durante 22 anos (entre 1975 e 1997) nos canaviais da Usina da Barra, Barra Bonita, SP. Esse trabalho também abordou a Intensidade de Infestação (I. I. %) pela D. saccharalis (Fabricius). MACEDO (2000) obteve os seguintes resultados: a C. flavipes apresentou maior porcentagem de parasitismo e a Intensidade de Infestação pela broca da cana se tornou cada vez menor. Mesmo a C. flavipes sendo muito eficiente na redução da Intensidade de Infestação (I. I.) da broca acima descrita, a eficiência só é observada em locais onde são feitas liberações constantes do parasitóide (BUG Agentes Biológicos, 2004). 3.3 LABORATÓRIO DE ENTOMOLOGIA DA USINA NOSSA SENHORA APARECIDA – VIRGOLINO DE OLIVEIRA Segundo Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A (2004), a primeira plantação de cana-de-açúcar se deu com o Comendador Virgolino de Oliveira na década de vinte no Sítio Palmeiras (propriedade de seu pai). Ele construiu, com isso, uma pequena indústria de aguardente. Quando iniciou a erradicação do café e aumentou a plantação de cana de açúcar, conseguiu adquirir o primeiro trator de esteira. Em 1933, com a adição de aparelhos mais modernos e produtivos, surgiu juntamente com fábrica de aguardente uma pequena usina de açúcar, com uma produção, na safra de 4.200 sacos. Com o passar dos anos foi-se aumentando a moagem e produção de açúcar e álcool (Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A, 2004). Em 1949, esta produzia cerca de 250.000 sacos de açúcar e 2.000.000 de litros de álcool (Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A, 2004). Em 1954 foi considerada pela revista “SUGAR”, a usina mais moderna do mundo. Depois de 5 anos, um grupo de usineiros, liderados pelo Comendador 25 Virgolino de Oliveira, fundou a Copersucar, com intenção de prover melhores condições de comercialização e assistência tecnológica as integrantes da cooperativa, nas áreas agrícola e industrial (Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A, 2004). No dia 14 de dezembro de 1962, o Comendador Virgolino de Oliveira sofreu um acidente aeronáutico falecendo no local. Assim, sua esposa Sra. Carmen Ruete de Oliveira assumiu a presidência da empresa permanecendo neste cargo até a presente data (Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A, 2004). Em 1971, a usina conseguiu expandir a sua produção com a construção de uma unidade industrial localizada no município de Ariranha (SP), na região de Catanduva. Esta produzia, na época, 700.000 sacos de açúcar e 6.800.000 litros de álcool (Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A, 2004). Com a implantação do Pró-Alcool, aumentou a produção e produtividade da cultura de cana-de-açúcar (Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A, 2004). A empresa, hoje, contém um laboratório de Entomologia que cria vespas (C. flavipes) para controlar a praga da cana-de-açúcar (D. saccharalis) isso significa que ela faz uma criação para uso próprio (criação massal). Esse laboratório possui uma gerente geral de laboratório que tem como encarregado um engenheiro agrônomo, contando ainda com seis funcionárias participando da produção. No laboratório são inoculadas 6.000 brocas/dia totalizando 120mil brocas/mês. Diariamente há liberação de C. flavipes (Virgolino de Oliveira Açúcar e Álcool S/A, 2004). Segundo MACEDO (2000) e NARDIN (2004), o laboratório possui as seguintes salas, seguindo de suas utilizações: 1. Escritório: local onde são arquivados documentos e informações sobre o trabalho desenvolvido no laboratório e no campo. A organização dessas informações serve de consulta rápida e fácil para saber o andamento das produções de C. flavipes e se a eficiência da mesma está sendo condizente com o esperado, além de refletir a capacidade organizacional do responsável pelo setor. 2. Sala da revisão: esta é uma sala onde são revisados os lotes de lagartas “inoculadas” no alcance de “massas” do parasitóide ou de pupas da praga. Este local tem boa luminosidade, sem incidência de raios solares. 3. Sala da inoculação de parasitóides: neste local se realizam as “inoculações” das lagartas D. saccharalis pelo parasitóide C. flavipes. Possui excelente luminosidade, sem incidência de raios solares. 26 4. Sala das lagartas “inoculadas”: destinada às lagartas que estão sendo parasitadas. A temperatura precisa ser mantida entre 28 + 2º C, com o auxílio de ar condicionado quente/frio, com luminosidade natural, sem incidência de raios solares. No inverno, quando as vespas ficam menos ativas, inocula-se nesta sala onde a temperatura é controlada pelo ar condicionado (28 + 2º C). 5. Sala de dieta: um dos locais mais importantes do laboratório; ali são preparadas as dietas artificiais utilizadas na criação das lagartas de D. saccharalis, servindo também como local para armazenamento de parte dos componentes de dieta. Este local também serve para montar as placas com os ovos do lepidoptero e “inocular” os mesmos nos frascos e tubos de ensaio. A assepsia deve ser rigorosa, evitando-se a entrada de pessoas estranhas ao serviço. Por ser sala fechada, deve dispor de ar condicionado com temperatura mantida próximo a 20º C. 6. Banheiro: Dependência reservada para uso exclusivo de funcionários que trabalham no laboratório. 7. Sala da postura: onde são mantidas as câmaras com adultos da D. saccharalis para obtenção de ovos. Ela também serve para manter as pupas já formadas da C. flavipes. A temperatura deve permanecer entre 20 a 22º C, por meio de ar condicionado e com fotofase de 12 a 14 horas. 8. Sala das lagartas em desenvolvimento: local onde são acondicionados os recipientes utilizados para manter as lagartas em desenvolvimento. A temperatura deve ser mantida entre 28 + 2º C através de ar condicionado, com luminosidade elétrica. 9. Almoxarifado: Armazenagem dos componentes do material de limpeza e do material empregado na criação que, momentaneamente, não esteja em uso. 10. Área de limpeza. Destinado ao abrigo das máquinas para lavar caixas plásticas, tubos ou frascos; tanques com água mais desinfetante e depósito de material a ser lavado ou já limpo, empregado no dia a dia da produção. O laboratório é limpo, bem iluminado e ventilado nos locais onde não há controle de temperatura ou luz. O trânsito de funcionários é disciplinado e a presença de pessoas estranhas, evitada, para prevenir a disseminação de microrganismos indesejáveis às criações. 27 3.4 DESCRIÇÃO DAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO O Controle Biológico Natural que será abordado neste trabalho utiliza vespa da espécie C. flavipes que é parasitóide da praga da cana-de-açúcar D. saccharalis. Essas duas espécies são criadas em um laboratório da Usina Nossa Senhora Aparecida – Virgolino de Oliveira, localizada em Itapira, para controlar populações da broca da cana-de-açúcar nas plantações da empresa. A seguir são descritas detalhadamente as etapas da produção de D. saccharalis e C. flavipes. 3.4.1 Higienização do Ambiente de Trabalho e dos Materiais Utilizados Todos os materiais antes de serem utilizados no laboratório são lavados (para retirar a sujeira visível), depois sanitizados ou esterilizados. Essa é a parte mais importante do laboratório, pois evita que os materiais utilizados sejam contaminados e com isso não transmitam doenças tanto para o hospedeiro (D. saccharalis) quanto para o parasitóide (C. flavipes) criados no laboratório (NARDIN, 2004). As bandejas e suas respectivas tampas são lavadas com água e detergente e depois colocadas em um galão com 40L de água e 500ml de Cloro (em um galão se colocam as bandejas em outro as tampas). No dia seguinte, elas são retiradas do galão e as bandejas são colocadas uma em cima da outra jogando a 1cm de cada bandeja uma solução com 300ml de Cloro e 2L de água. Deixa-se a solução nas bandejas por no mínimo 30 minutos. Passado esse tempo, retira-se a água e esta pode ser utilizada para colocar em mais galões com bandejas e tampas. As bandejas juntamente com as tampas são colocadas para secar na sala das brocas, pois esta é uma sala quente (NARDIN, 2004). Os frascos são lavados com água corrente e inseridos em galões com 20L de água, 500ml de Cloro e um pouco de detergente (+ ou -10ml). Coloca-se em outro galão as tampas dos frascos com a mesma solução. Deixa-se de molho por um dia. No dia seguinte, enxágua-se em água corrente deixando as tampas por alguns minutos em uma solução de 50ml de Cloro e 1L de água. Então, retiram-se as 28 telinhas de arame que estão encaixadas nas tampas e colocam-se as telinhas junto com os frascos na estufa por 4 horas (NARDIN, 2004). Os tubos de ensaio são colocados em um galão com 5L de água e 300ml de Cloro deixando de um dia para o outro. Logo após, enxaguam-se em água corrente e tampam-se os tubos com algodão. O algodão deve ficar apertado para que as brocas não fujam, mas não deve ficar muito apertado se não quebra o tubo de ensaio e também não deve ficar frouxo demais se não o algodão cai na dieta, além de deixar as brocas fugirem. Depois disso, os tubos são esterilizados em estufa por 3 horas (NARDIN, 2004). Os recipientes plásticos onde são colocadas as brocas para virarem crisálidas são separados das suas respectivas tampas para que no momento em que estarão de molho eles possam ser sanitizados por dentro. São, então, colocadas em galões com 20L de água e 500ml de Cloro, retiradas no dia seguinte e enxaguadas em água corrente. Em seguida, prepara-se outra solução de 20L de água com 500ml de Cloro e deixam-se as tampas e recipientes nessa solução por no mínimo 2 horas. São secadas, então, na sala das brocas (NARDIN, 2004). As tampas e seus copos de plástico são deixados de molho por um dia em água com detergente (NARDIN, 2004). As caixas, bandejas e câmaras utilizadas na sala da postura são lavadas com água detergente e Cloro com o auxílio de uma esponja (NARDIN, 2004). As pinças, colheres, placas de Petri, espátula e facas são esterilizadas em estufa. Antes de se utilizarem as placas de Petri, espátula e facas, estas são sanitizadas com álcool 70% passando um pano para retirar o excesso de álcool (para não matar as lagartas quando for utilizá-los). E quando se for guardar todos os materiais sanitizados é jogado Cloro neles (exceto nos materiais que já permaneceram no Cloro) (NARDIN, 2004). Antes de utilizar uma bancada para efetuar qualquer técnica, deve-se sanitizar toda a bancada com um pouco de álcool. Em algumas salas (da postura, inoculação, revisão e dieta) são passadas um pouco de água antes do álcool para deixar o local mais úmido e retirar as maiores sujeiras. Depois que se termina o trabalho todos as salas bancadas e materiais são limpos. A sala e as bancadas são sanitizadas às vezes com água antes para se retirar a sujeira e com álcool. Uma vez por semana se limpam todas as salas, ou a maioria delas, com água e sabão (NARDIN, 2004). 29 A vestimenta utilizada nessa prática é o jaleco, juntamente com sapatos fechados e cabelo preso (NARDIN, 2004). 3.4.2 Preparação da Dieta da Broca-da-cana São feitas dietas para a alimentação das lagartas da broca da cana-de-açúcar, D. saccharalis, que são utilizadas em laboratórios de controle biológico nas Unidades Cooperadas (usinas que se relacionam). Existem dois tipos de dieta que são feitas: de criação (que é colocada em frascos e tubos servindo para alimentar as lagartas da broca) (Tabela 1) e de realimentação (que é inserida em bandejas sendo o alimento de lagartas da broca inoculadas pelas vespas) (NARDIN, 2004). 30 TABELA 1 – Ingredientes utilizados na dieta de HENSLEY & HAMMOND (1968) apud MACEDO (2000), modificada, de criação e realimentação de lagartas D. saccharalis (F.). Ingredientes Dieta de criação Dieta de realimentação (concentração) (concentração) Utilização e finalidades 4L (2L de água quente e 4L (2L de água quente e Água destilada 2L de água fria) 2L de água fria) Solvente Açúcar cristal 560g 540g Carboidrato Farelo de soja 600g 800g Proteína Germe de trigo 400g 180g Proteína 44g 46g Anticontaminante (Vitamina C) 20g 8g Vitamina Sais de Wesson 40g 40g Cloreto de Colina 4g 4g 60ml 60ml Complexo vitamínico Vita Gold 4ml 4ml Complexo vitamínico Formol 10ml 10ml dieta Binotal 1 comprimido 1 comprimido Antibiótico Naxilídico) 10ml 10ml Anticontaminante Caragenato (Caragenina) 140g 140g Espessante Ácido Acético - 60ml Anticontaminante Nipagin (Metilparahidroxibenzoato) Ácido Ascórbico Solução Vitamínica (composta de 500ml de água destilada, 1 vidro de via seca e 1 de via úmida) Tratamento de ovos em Wintomylon (Ácido Fonte: COPERSUCAR, 1987; NARDIN, 2004. Utiliza-se o açúcar cristal, pois este possui menos aditivos químicos no momento do seu preparo do que o açúcar refinado (NARDIN, 2004). O modo de preparo das duas dietas é semelhante. Todos os ingredientes secos são pesados em uma balança eletrônica de precisão e os ingredientes líquidos pipetados com o auxílio de uma pipeta. Estes líquidos são misturados em um Enlemeyer juntamente com o comprimido de Binotal (NARDIN, 2004). Em uma panela são fervidos 2L de água destilada mais o Caragenato. Essa mistura fervida, todos os outros ingredientes e os 2L de água fria restantes são 31 colocados no liquidificador para bater. Depois de batida, essa mistura é colocada nos frascos, tubos ou bandejas e tem de ser colocada rapidamente se não endurece no liquidificador (NARDIN, 2004). São colocados dois gradientes de temperaturas de água (fria e quente) para a dieta sair do liquidificador e da bandeja (ou frasco ou tubo). Se for colocada só água fria, a dieta não sai do liquidificador (endurece lá dentro) e se colocar água somente quente, não sai da bandeja (frasco ou tubo) depois (NARDIN, 2004). A dieta é colocada na bandeja até aproximadamente 1 cm. No tubo ela é colocada faltando mais ou menos 2 cm para encher. E para se colocar a dieta no frasco, este é inclinado e coloca-se a dieta até a metade do frasco. Um pouco de dieta também é introduzida em uma bandeja para o alimento das lagartas que virarão crisálidas para serem as matrizes do laboratório (NARDIN, 2004). A sala possui temperatura de 20o C, para que a dieta endureça mais rapidamente e esfrie (NARDIN, 2004). 3.4.3 Acasalamento Quando se começa um estudo biológico em laboratório os maiores problemas vivenciados são ligados ao acasalamento (cópula), ovoposição e alimentação de adultos (PARRA, 2000). Para ocorrer o acasalamento das mariposas, segundo PARRA (2000), é necessário haver no laboratório adaptação de recipientes de criação e técnicas que se assemelhem o máximo possível às condições apresentadas na natureza. As necessidades básicas que devem ser respeitadas são temperatura, umidade relativa do ar (UR), luz e aeração (ventilação) (NARDIN, 2004; PARRA, 2000). O laboratório tenta imitar as condições ambientais, começando pela temperatura da sala que se mantém a 21o C, o que é correto, pois o aconselhável é obter uma temperatura semelhante à ambiental noturna (porque essa é a temperatura favorável ao acasalamento das mariposas). Para o desenvolvimento de crisálidas que estão nas caixas ou bandejas, é necessário que se tenha um fotoperíodo de 14 (fotofase): 10 (escotofase), por isso a luz da sala fica ligada durante 14 horas e depois é desligada. A umidade varia de fase para fase de D. saccharalis, precisando de muita umidade e escuridão na fase adulta para ocorrer a 32 cópula, pois as mariposas têm sua vida ativa à noite (diferente das borboletas) e é preciso que o laboratório possua estratégias para “enganá-las” (NARDIN, 2004; PARRA, 2000). Uma dessas estratégias, segundo NADIR (2004), é utilizada no laboratório sendo descrita abaixo: Primeiramente, é colocado em cima de uma bancada um filtro esponjoso que serve para reter a umidade e um filtro mais fino sobre ele, ambos bem úmidos (antes de colocá-los, a bancada deve estar sanitizada). São cortados papéis filtro em quadrados pequenos pouco maiores que um tubo de PVC e colocados em cima do filtro úmido. O tubo de PVC (de 10 cm de diâmetro x 22 cm de altura), chamado de câmara, é inserido em cima de um filtro cortado na forma quadrada, sendo revestido com papel sulfite internamente e é jogado um pouquinho de água destilada nas pontas da folha para que elas fiquem coladas e assim nenhuma mariposa ovoposite fora da folha (ou seja, na câmara). As mariposas são, então, introduzidas dentro dessa câmara. Algumas dessas mariposas se situam em bandejas furadas na tampa enquanto outras estão em caixas com redes na tampa. Esses furos contidos nas tampas são feitos propositalmente para que as mariposas possam ter ventilação, pois, para que se obtenha postura, adultos não devem ficar em caixas hermeticamente fechadas. As mariposas são capturadas com o auxílio de um pequeno tubo de ensaio e levadas à câmara. São colocados números equivalentes de fêmeas e machos (N=20 de cada sexo) em cada câmara. A fêmea é reconhecida por ser maior, possuir um abdômen também maior e as asas são de cor clara (bege). O macho possui corpo e abdômen menores com cor escura (marrom) nas asas. O macho emerge mais rápido que a fêmea, por isso, pode ser feita a separação dos sexos já na fase pupal. É possível se notar que as pupas das fêmeas são maiores que as dos machos. No laboratório isso não é feito, pois demora muito tempo. Então, são separadas pupas velhas de pupas novas: pupas de uma semana ficam em caixas enquanto que pupas de um ou dois dias são colocadas em bandejas. Ocorre, assim, uma emergência maior de machos nas bandejas enquanto que nas caixas, onde as pupas já estão a mais tempo, ocorrem grandes surgimentos de fêmeas. Em seguida, as câmaras contendo as mariposas são fechadas na parte superior por um papel filtro e um elástico sendo molhado o filtro para umidecê-lo (Figura 8). Essa umidade juntamente com a escuridão da câmara (pois foi fechada por papel filtro) e a temperatura favorável aumentam as chances de cópula, pois 33 imitam o sereno e a noite. As mariposas permanecem dentro das câmaras por 1 ou até 2 dias. Passados esses dois dias, as mariposas já vão se tornando velhas e, com isso, não colocam muitos ovos ou colocam ovos inviáveis. FIGURA 7. Tubos de PVC (câmaras) utilizados como gaiolas para o acasalamento de D. saccharalis (F.). Fonte: NARDIN, 2004. Para alguns lepidópteros utiliza-se solução de sacarose (ou mel) a 10% como dieta (PARRA, 2000). Porém, nesse laboratório, não se coloca nenhum tipo de dieta para as mariposas, pois estas consomem sua reserva da fase larval, não sendo necessária a adição de uma dieta (PARRA, 2000; NARDIN, 2004). 3.4.4 Tratamento da Postura Depois de deixadas para acasalar durante um dia, retira-se o papel de dentro das câmaras com as posturas (Figura 9) e as mariposas são colocadas em uma nova câmara com um novo papel sulfite para acasalarem mais um dia. Após dois dias dentro da câmara, a folha de postura é retirada e as mariposas são sacrificadas em um lixo com álcool para evitar riscos de infestação de culturas de cana próximas (NARDIN, 2004). 34 FIGURA 8. Ovos de D. saccharalis (F.) em papel sulfite (no laboratório). Fonte: NARDIN, 2004. Para cada folha retirada com postura, é marcada a data. Se as folhas não forem utilizadas no mesmo dia, elas são guardadas em uma bandeja com tampa sem furos e joga-se um pouco de água destilada nas folhas para que se conserve a umidade. As posturas devem estar sempre umedecidas para que não haja dessecação. Caso as folhas sejam utilizadas no mesmo dia para montar as placas, é necessário que elas recebam um tratamento para que os ovos não sejam contaminados por microrganismos. Um pouco de algodão é passado na folha de sulfite para remover resíduos aderidos. Posteriormente, é realizado um processo de tratamento para minimizar os riscos de contaminação das folhas de postura. Três bandejas são utilizadas nesse tratamento: uma bandeja com 2L de água destilada e 2ml de Cloro; outra contendo somente água destilada (o quanto for necessário para somente retirar o cloro das folhas, mais ou menos 1,7L para essas medidas aqui citadas); e a última com 1,5L de água destilada e 15g de sulfato cúprico (fungicidabactericida utilizado para desinfecção de ovos e pupários) (COPERSUCAR, 1987). Dependendo de quantas folhas forem tratadas, coloca-se maior ou menor quantidade destes componentes. Utilizando luvas de procedimento cirúrgico, as folhas de postura são colocadas individualmente na bandeja com água e cloro 35 mexendo a mesma por 2 a 3 minutos para que os ovos recebam bem o produto. Esse procedimento é repetido para a bandeja com água destilada e a seguir para a bandeja com sulfato cúprico e água. Folhas com posturas de diferentes dias não são misturadas, pois cada uma eclodirá em um tempo (NARDIN, 2004). Terminado esse processo, as folhas são escorridas para tirar o excesso de água e penduradas em varais para secar (NARDIN, 2004). 3.4.5 Preparação da Postura Depois de secas, as folhas são cortadas e montadas em placas de Petri (Figura 10). No momento em que está se cortando o papel são escolhidos os ovos que não contém imperfeições (aparentando que eclodirão e não eclodirão de forma irregular). Os ovos viáveis são de coloração amarela, já os inviáveis são amarronzados. Depois de algum tempo, os ovos aparentemente viáveis ficam com um amarelo mais intenso e em seu interior é possível visualizar um ponto preto indicativo dos olhos das lagartas (NARDIN, 2004). FIGURA 9. Placas de Petri montadas com ovos da D. saccharalis (F.). Fonte: NARDIN, 2004. 36 São escolhidos os melhores ovos para se preparar as posturas que virarão crisálidas e posteriormente mariposas, que servirão de matrizes. Geralmente, são montadas duas placas de Petri pequenas, mas este número pode variar em função da necessidade de mariposas, assegurando-se uma margem de segurança de acasalamento. Em seguida, são preparadas as posturas utilizadas para a produção de lagartas que serão inoculadas pela vespa, escolhendo-se sempre as melhores que sobraram. A preparação de placas para a produção é feita em placas de Petri maiores em número de três placas de cada dia (NARDIN, 2004). A preparação das placas é realizada com máscara, pois se trabalha com o sulfato cúprico que é tóxico se inalado. Também é necessário que se lave as mãos com água e sabão e passe-se álcool para minimizar a possibilidade de contaminação dos ovos por microrganismos. Todos os materiais (placas de Petri, tesouras e pinças) utilizados para esta prática são previamente esterilizados (NARDIN, 2004). Um papel filtro do tamanho da placa é colocado sobre a mesma, onde adicionase uma solução de 0,01 g/ml de sulfato cúprico. Em outra placa sem filtro que fica inclinada também é aplicado um pouco de sulfato para molhar os ovos e estes serão colocados nas placas com filtro. É necessário montar as placas de forma que os ovos fiquem expostos. Não se pode colocar um ovo em cima do outro, se não eles não eclodem. Se as placas estiverem com pouco Sulfato, joga-se mais um pouco, para não ressecar os ovos, senão os córios dos ovos ficarão duros e as largartas não conseguem rompê-los. Porém, não se deve jogar muito sulfato para não proporcionar o desenvolvimento de patógenos (NARDIN, 2004; PARRA, 2000). As placas já montadas são colocadas em bandejas e permanecem na sala da dieta. É necessário observar quando os ovos ficarão com um ponto preto (este é a cabeça da broca). Caso os ovos fiquem com pontos pretos e não se possa usá-los naquele momento, eles são colocados em uma geladeira para atrasar o processo de eclosão. Os ovos, só podem permanecer na geladeira por até dois dias. Depois disso, as placas devem ser retiradas da geladeira e deixadas ainda na sala da dieta mesmo que ainda não sejam usadas. Se por algum motivo os ovos demorarem a ficar com um ponto preto, as placas são translocadas para uma sala quente (a sala da broca) a fim de acelerar o processo de eclosão (NARDIN, 2004). 37 3.4.6 Inoculação dos Ovos para Produção de Matrizes de Mariposas Os ovos que estão nas placas são retirados com uma pinça e transferidos para tubos de ensaio contendo dieta. É feito um corte com uma faca na dieta para se colocar a postura em pé. Colocando-se a postura desse jeito, depois de as lagartas eclodirem, estas comerão a dieta até o fundo. Os tubos são tampados com algodão. É inserido um número de aproximadamente 20 ovos por tubo de ensaio para não sobrecarregá-lo com muitas lagartas (NARDIN, 2004). Esses ovos permanecem nos tubos de 19 a 20 dias que é o tempo de eclosão das lagartas para seu posterior crescimento (NARDIN, 2004). 3.4.7 Preparação de Crisálidas A dieta é cortada com o auxílio de uma faca em pequenos quadrados e colocada juntamente com as lagartas que cresceram nos tubos em recipientes plásticos pequenos. As lagartas são colocadas com o auxílio de uma pinça. Os recipientes são tampados com tampas de plástico. A tampa é colocada de acordo com que ela fique folgada no recipiente, pois se ela ficar apertada as lagartas ressecam e morrem (NARDIN, 2004). Deve ser incorporada pouca dieta (de 3 a 4 quadrados) e 3 a 4 lagartas por recipiente, pois a dieta deve ser a porção que as lagartas irão comer. Não se pode colocar mais do que 4 lagartas por recipiente pois o espaço já fica pequeno para elas (NARDIN, 2004). Em seguida, os recipientes são levados para a sala da postura (que possui uma temperatura semelhante a do ambiente natural) permanecendo nesta por uma semana para as lagartas se tornarem crisálidas (NARDIN, 2004). 3.4.8 Revisão de Crisálidas Após uma semana, as lagartas que se tornaram crisálidas são pegas com uma pinça e inseridas em uma placa de Petri grande. As lagartas que ainda não se transformaram em crisálidas são mantidas nos recipientes por mais uma semana. As 38 placas que já estão cheias de crisálidas são pesadas para se avaliar a produção de crisálidas naquele dia (NARDIN, 2004). Passada mais uma semana, as lagartas que não viraram crisálidas são jogadas no lixo (pois estão muito velhas e não virarão crisálidas ou virarão crisálidas deformadas) e são queimadas para que não haja risco de infestação de lavouras de canas-de-açúcar. As crisálidas que se formaram são colocadas em placas de Petri grandes e pesadas colocando-as em bandejas que ficam na sala da postura para virarem mariposas. Passando uma semana, as crisálidas que ainda não viraram mariposas irão para as caixas. Nas caixas permanecem as crisálidas mais “velhas” e nas bandejas as mais “novas”. Os machos são crisálidas que possuem tamanho menor e se transformam em crisálidas mais rapidamente por isso sempre se observa que há maior desenvolvimento de machos nas bandejas e fêmeas nas caixas. As mariposas formadas são colocadas para acasalarem (NARDIN, 2004). As crisálidas que ainda não formaram mariposas permanecem em suas respectivas caixas e bandejas. Depois de uma semana, as caixas e bandejas são lavadas e os pupários das crisálidas que já viraram mariposas são removidas através de um sopro. Assim só sobram as crisálidas que ainda não se metamorfosearam. Estas voltam às caixas e bandejas lavadas e com um papel sulfite na parte de baixo (NARDIN, 2004). 3.4.9 Inoculação dos Ovos para Produção de Lagartas São feitos de 3 a 4 cortes no frasco (Figura 11), do final até o começo do mesmo. Nesses cortes são introduzidas as posturas que estão dentro de placas de Petri. Antes de inocular as posturas no frasco, deve-se tomar o cuidado de escolher as “melhores” posturas, aquelas que possuem coloração preta, aparentam ser viáveis. As posturas consideradas “ruins” são jogadas no lixo com álcool (NARDIN, 2004). 39 FIGURA 10. Frasco de vidro transparente (500ml) com tampa de metal. Fonte: MACEDO, 2000. Cada frasco deve conter um número aproximado de ovos (entre 300 a 400). Não pode ultrapassar esse número, pois ele é o limite de suporte de lagartas em um frasco. Os ovos que são inseridos no frasco permanecem de 20 a 21 dias na sala de lagartas em desenvolvimento (Figura 12) para que as lagartas eclodam e cresçam (NARDIN, 2004). FIGURA 11. Frascos contendo ovos da D. saccharalis (F.) para posterior inoculação das lagartas. Fonte: NARDIN, 2004. 40 3.4.10 Inoculação da Vespa na Broca Logo após os 20 ou 21 dias em que as lagartas ficaram dentro do frasco, as lagartas que chegaram ao quarto ínstar podem ser inoculadas (BIANCHINI, 2004). Se as lagartas de um frasco não estiverem muito grandes (não chegaram no quarto ínstar), elas podem permanecer durante mais alguns dias para continuar o seu crescimento (NARDIN, 2004). A inoculação começa com o preparo dos materiais que serão usados: três lixos, luva de procedimento cirúrgica, contador, tampas com um furo no centro, pavios feitos de fita crepe, copos tampados contendo vespas, papéis toalha, frascos contendo lagartas da broca-da-cana e bandejas com dieta (NARDIN, 2004). São colocados papéis toalha na bancada e é jogado em cima destes um pouco de lagartas que estão dentro do frasco. Cada larva individualmente é pega com uma mão utilizando luva de procedimento cirúrgico enquanto a outra mão segura o contador. As lagartas que estiverem muito pequenas, esbranquiçadas (estão anêmicas ou virarão crisálidas) ou amarronzadas (virarão crisálidas) não devem ser inoculadas, porque as que virarão crisálidas, a vespa até ovoposita sobre delas, mas seus ovos não nascerão, pois o corpo das pupas já não igual ao da fase larval. E se as vespas ovopositarem em lagartas pequenas e anêmicas, como estas não possuem uma grande fonte de alimento, os ovos que nasceram não se desenvolverão muito bem. Então, as lagartas que não serão inoculadas, são jogadas em um lixo juntamente com a dieta que se encontra nos frascos. Essas lagartas serão queimadas para que não vão ao campo. Em outro lixo são colocados os papéis toalha utilizados ou qualquer outro tipo de lixo, sendo então levados pelo lixeiro. E em um terceiro lixo são colocadas as tampas dos frascos que posteriormente serão levadas para higienização e serem sanitizadas (NARDIN, 2004). Pegando a lagarta com cuidado para não feri-la ou matá-la, esta é colocada perto de uma vespa fêmea e com isso, a vespa sobe na lagarta ovopositando sobre a mesma. As vespas se encontram dentro de copos de plástico tampados e para que elas saiam de pouco a pouco são trocadas as tampas dos copos por tampas com um furo no centro e coloca-se um pavio para tampar o furo. Então, quando precisar que as vespas saiam para ovopositar na lagarta tira-se o pavio e quando já 41 estiverem muitas vespas para fora é só inserir o pavio de novo (NARDIN, 2004). Só deve se inocular uma vespa por lagarta, pois foi realizada uma pesquisa no INSTITUTO BIOLÓGICO (2004) para saber se o número de ovos, prole e razão sexual da C. flavipes é interferido pelo tamanho da broca. Observou-se que a viabilidade dos parasitóides que se desenvolveram em lagartas superparasitadas foi menor, ao contrário das que foram parasitadas só uma vez. Depois da lagarta ser parasitada, ela é colocada em bandejas com dieta, apertando o contador para cada lagarta parasitada. Colocam-se 250 lagartas em cada bandeja (para a bandeja não sobrecarregar de lagartas) fechando-a com uma tampa perfurada, para garantir aeração. Para maximizar a produção de vespas, as bandejas são colocadas em uma sala com temperatura de 29o a 30o C (sala das lagartas “inoculadas”, Figura 13). Permanecem nessa sala por 14 dias, que é o tempo de pupamento das lagartas de vespa (NARDIN, 2004). FIGURA 12. Sala das lagartas “inoculadas”. Estas ficam em bandejas com dieta. Fonte: NARDIN, 2004. 42 3.4.11 Revisão de C. flavipes Depois de passados os 14 dias, as bandejas são levadas para a revisão que é a retirada e a conta das massas (pupas) que se formaram (Figura 14) (NARDIN, 2004). FIGURA 13. Funcionária retirando as massas localizadas no interior da dieta. Fonte: NARDIN, 2004. As crisálidas de mariposa que se formaram são separadas, levadas à sala de postura para se juntarem as outras virando mariposas e acasalando. Posteriormente será feita uma conta expondo a eficiência de cada inoculação do funcionário. O fato de nessas bandejas ocorrer a formação de crisálidas, provavelmente se dá porque a lagartas não foi inoculada ou talvez pelo fato de alguns ovos que a vespa colocou não serem viáveis (já que são todos aparentados). Às vezes, a vespa pára na lagarta parecendo que está ovopositando, mas na verdade não é o que está ocorrendo e como ela é muito pequena, não dá para ver com precisão se ela realmente está fazendo isso. Podem ocorrer também lagartas que não foram inoculadas e ainda assim não formaram crisálidas. Estas possuem um tamanho 43 maior do que o tamanho considerado normal para que elas possam se transformar em crisálidas (NARDIN, 2004). As pupas de C. flavipes que se formaram são removidas com ajuda de uma pinça, quebrando-se a dieta e retirando-as. Cada massa é colocada em uma placa onde há 30 separações marcadas à tinta. Essas separações servem somente para a funcionária não ter o trabalho de ficar contando as massas para colocar nos copos. São separadas as massas de coloração azul e branca (cada cor coloca-se em uma placa). As massas de cor branca são mais novas, ou seja, ainda não estão prontas para emergir. Já as massas azuis estão prontas para emergir. Quando encher a placa de massas, estas são colocadas em copos plásticos (Figura 15). Cada vespa oviposita uma massa (que possui de 50 a 60 pupas), e são colocadas 15 e 30 massas em cada copo de plástico que continuarão no laboratório e irão à liberação, respectivamente. São inseridas somente 15 massas no laboratório, pois se houver muitas massas em um copo elas ficam estressadas por não terem muito espaço e a maioria não acasala. Depois de colocadas as 30 massas em cada copo é que serão escolhidas as massas que estiverem “melhores” e colocadas em copos para o laboratório (NARDIN, 2004). FIGURA 14. Massas de C. flavipes (C.) em um copo plástico. Fonte: NARDIN, 2004. Como mostra a Figura 16, 5% (dependendo até 10%, se o laboratório estiver com poucas C. flavipes, se elas não estiverem ovopositando muito por não terem acasalado muito ou demorando a emergir) da produção de massas permanece no 44 laboratório para colônia de manutenção da inoculação das vespas nas lagartas de D. saccharalis, enquanto que os 95% (ou 90%) vão ao campo (NARDIN, 2004). HOSPEDEIRO PARASITÓIDE adultos do campo ou do laboratório 96% adultos* postura* pupas 4% lagartas* submetidas ao parasitismo ovos desinfetados externamente lagartas alimentadas lagartas* em dieta artificial desenvolvimento dos parasitóides 5% 95% manutenção do parasitóide liberação * É feito o Controle de Qualidade. FIGURA 15. Fluxograma de produção de C. flavipes (C.) em D. saccharalis (F.) criada sobre dieta artificial. Fonte: NARDIN, 2004; MACEDO, 2000. O controle de qualidade é fundamental, pois os insetos produzidos devem ser competitivos e/ou comparáveis àqueles da natureza. Características biológicas, morfológicas e bioquímicas da população de laboratório devem ser comparadas a um padrão de um inseto selvagem (de campo). As características de qualidade (mobilidade, atividade sexual, adaptabilidade, reprodução e colonização) devem ser analisadas em função do objetivo da criação (PARRA, 2000). 45 3.4.12 Liberação das Vespas em Campo A liberação ocorre com base na densidade populacional da broca (para saber onde, quando e quanto liberar de parasitóides). Então, faz-se um levantamento da densidade populacional da broca (coleta). Isso é feito a cada 3-4 meses após o plantio da cana (cana planta) e 3-4 meses depois de cortada e socada (cana soca). A coleta é feita em ruas (local como é chamada a passagem para os funcionários) a cada 30 metros (NARDIN, 2002). Pegam-se os copos com vespas já eclodidas (as vespas demoram menos de um dia para surgirem, Figura 17), e levam ao campo. Os copos são distribuídos em uma rua – deixando-os destampados enquanto os funcionários vão andando – com um distanciamento de 25 m entre um copo e outro, visto que é a distância máxima em que a vespa consegue se deslocar (Figura 18). (NARDIN, 2002; NARDIN, 2004). FIGURA 16. Vespas que eclodiram das pupas em recipiente plástico. Fonte: BUG Agentes Biológicos, 2004. 46 25 m 25 m 50 m 50 m 50 m 50 m 50 m 25 m - local onde se deixa os copos com vespas. FIGURA 17. Esquema da liberação de C. flavipes na cana-de-açúcar. Fonte: NARDIN, 2002. 47 4 CONCLUSÃO As vantagens de se utilizar o controle biológico são o baixo custo, menor risco ao meio ambiente, ao aplicador e à saúde da população em geral, não causa desequilíbrio, fácil aplicação e geração de empregos (NARDIN, 2002). Dificilmente a adoção desse único método soluciona os diversos problemas envolvidos na redução populacional da praga. São utilizadas juntamente com o controle biológico mudanças no padrão de plantio, plantas geneticamente modificadas para que se tornem mais resistentes e o uso cuidadoso e seletivo de agrotóxicos para manter o nível de produção agrícola e a saúde humana (THE GLOBAL TOMORROW COALITION, 1990 apud BRAGA et al., 2003). Conforme PARRA (2000), é importante ressaltar que o Controle Biológico sofreu modificações com os avanços tecnológicos apesar de ser um fenômeno natural que consiste na regulação de plantas e animais por inimigos naturais (agentes de mortalidade biótica). Assim, enquanto no passado, ele era considerado uma medida de controle cujos resultados seriam obtidos a longo prazo e somente em culturas perenes, pois as liberações eram "inoculativas" e dependiam da permanência e adaptação do parasitóide ou predador na área, hoje já pode ser considerado uma medida emergencial, em alguns casos, semelhante a inseticidas. Houve essas mudanças porque no passado, só se falava em Controle Biológico Clássico, e, pela falta de domínio de técnicas de criação de insetos, eram produzidas pequenas quantidades de inimigos naturais. Hoje, com o domínio destas técnicas (especialmente com dietas artificiais), aumentaram as possibilidades de criações massais de inimigos naturais para posteriores liberações em grandes quantidades. Tais liberações reduzirão os danos às culturas, pela diminuição da evolução populacional da praga, de uma forma rápida e sem prejuízos ao ambiente. E porque a comparação anteriormente feita com inseticida? Porque o agricultor se acostumou a usar produtos químicos que matam rapidamente as pragas, e somente irá substituí-los por algo equivalente. Com tais liberações inundativas, a mudança de estratégia é mais facilmente visualizada pelo agricultor e, rapidamente aceita. Segundo ODUM (1988), aplicações de inseticidas e pesticidas na agricultura causam contaminações no solo e na água. A utilização desses venenos químicos produz um controle a curto prazo, mas tende à produção de safras ótimas e safras 48 péssimas. A principal desvantagem do uso de inseticidas que geralmente são de largo espectro – para assim poder aniquilar várias pragas de uma só vez – é que alguns seres vivos (plantas e animais) desenvolvem uma elasticidade e adaptabilidade à esses compostos. Com isso, algumas pragas se tornam imunes ou até mesmo mais abundantes depois do pesticida ser dissipado ou detoxificado, porque além de se destruir as pragas, o pesticida também destrói os seus inimigos naturais. Pode ocorrer, também que uma espécie de praga seja eliminada, mas às vezes esta pode ser substituída por outras espécies que são mais resistentes e mais difíceis de serem tratadas, pois são bem menos conhecidas. Houve vários casos de insucesso registrados com o uso de inseticidas. Por isso, em alguns casos, as produções foram restauradas pela adoção de um Manejo Integrado de Pragas. “A estratégia envolve o uso de variedades precoces (que amadurecem antes que grandes quantidades de pragas possam acumular) e práticas de cultivo (lavoura, irrigação, fertilização) que desencorajam as pragas e encorajam os seus inimigos naturais, combinando com o uso criterioso de vários tipos de inseticidas, inclusive alguns mais antigos, como pó de enxofre.” (ODUM, 1988). Mesmo com esse MIP, as outras medidas de controle de pragas que surgirão não poderão acabar com as pragas para sempre, pois à medida que as condições mudam e a natureza reage, também deve-se avançar na tecnologia para conseguir controlar as pragas (ODUM, 1988). Entretanto, para se alcançar à produção massal é preciso que se desenvolva uma tecnologia indo desde o conhecimento básico de biologia, fisiologia, nutrição, genética, relação hospedeiro/inimigo natural, até outros aspectos que envolvam custos, automatização da criação, controle de microrganismos da dieta, controle de qualidade, etc., à medida que se aumenta o número de insetos criados (PARRA, 1992). 49 REFERÊNCIAS BDT (CONTROLE BIOLÓGICO). Disponível em: <http://www.bdt.fat.org.br/biocontrol / Controle Biológico>. Acesso em: 24 set. 2004. BELLOTTI, A. C. Controle biológico no contexto da agricultura sustentável. In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 3., 1992, Águas de Lindóia. Anais... Jaguariúna: EMBRAPA-CNPDA. 1992. p. 3. 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