Análise de excipientes em comprimidos de fármacos comercializados
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Análise de excipientes em comprimidos de fármacos comercializados LAYSA PIRES DE FIGUEIREDO Santo André - SP 2012 LAYSA PIRES DE FIGUEIREDO Análise de excipientes em comprimidos de fármacos comercializados Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Nanociências e Materiais Avançados da Universidade Federal do ABC como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Nanociências e Materiais Avançados. Orientador: Prof. Dr. Fabio Furlan Ferreira Santo André – SP 2012 “Este trabalho é dedicado aos meus pais, pessoas de incalculável valor, que sempre estiveram presentes em minha vida, nos momentos bons e ruins. Aconselharam quando deviam aconselhar, corrigiram quando deviam corrigir, apoiaram quando deviam apoiar, e entenderam quando ninguém conseguia entender. Fizeram o possível para que eu sempre alcançasse os meus objetivos e sonhos, não somente pelo suporte financeiro, mas principalmente pelo incentivo afetivo e emocional, que somente mãe e pai podem dar aos filhos. Por fim, souberam esperar, muito mais do que eu, por esse momento, e, por esse motivo dedico esse trabalho e todas as conquistas alcançadas aos meus maravilhosos pais!” Agradecimentos Uma dissertação de mestrado é um trabalho acadêmico, que pela natureza da originalidade exigida é, em sua essência, individual. Entretanto no transcorrer de sua elaboração, são recebidas inúmeras colaborações preciosas sem as quais a sua conclusão estaria profundamente prejudicada. Razão essa pela qual quero externar os meus mais sinceros agradecimentos: Agradeço primeiramente a Deus que muitas vezes recorri, solicitando a paz e a tranquilidade necessárias para a realização deste trabalho. Aos meus pais, Arenor de Figueiredo e Nelita Maria Pires de Figueiredo, pelo apoio, confiança, carinho e por terem me ensinado os valores da vida, vocês são simplesmente maravilhosos. Minha singela e humilde retribuição por tudo que fizeram e fazem por mim. Ao meu irmão, Arenor de Figueiredo Junior, por ter esse jeito único que eu amo muito e do qual tenho muito orgulho. Muito obrigada por ter me ajudado sempre que precisei. Às minhas tias, Nailda, Zezita, Osnilda e Gilmara, a minha avó Cinira Antunes Pires e aos meus tios Elmo e Beto, por me ajudarem em orações e por sempre estarem ao meu lado nos momentos difíceis da minha vida. Um agradecimento especial à minha amiga e irmã Amanda Laura Ibiapino, que esteve presente em todas as etapas deste trabalho. Muito obrigada pelas ideias, pela ajuda com as minhas amostras e por compartilhar seus conhecimentos pessoais e profissionais, os quais foram de extrema importância e me incentivaram quando já estava cansada de tudo. A sua companhia tornou os dias em Santo André muito mais alegres e divertidos. A minha conquista é sua também e as palavras jamais serão suficientes para agradecê-la, minha amiga. Ao meu orientador Prof. Dr. Fabio Furlan Ferreira, pela dedicação e paciência com que compartilhou seus conhecimentos e experiências durante todas as etapas deste trabalho. Uma pessoa a quem tenho muita admiração, carinho, respeito e que me mostrou que não há modo de ensinar mais forte, do que o exemplo. Ao Prof. Dr. Carlos de Oliveira Paiva Santos, por me convidar para fazer parte de seu grupo de pesquisa, pela confiança em mim depositada e por ter me ajudado em um dos momentos que mais precisei. Muito obrigada por tudo! Ao Prof. Dr. José Fernando Queiruga Rey, por todos os preciosos conselhos os quais aperfeiçoaram de forma substancial o presente trabalho. Ao programa de Pós-Graduação em Nanociências e Materiais Avançados pela infraestrutura fornecida, que foram cruciais para o desenvolvimento do meu projeto de mestrado. Muito obrigada à UFABC e à CAPES pela bolsa de mestrado fornecida e à FAPESP (proc. n. 2008/10537-3) pelos recursos financeiros do projeto de pesquisa. Aprendendo a Viver... “Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus pensamentos e atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens. Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. Aprende que nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. E que realmente a vida tem valor e que VOCÊ tem valor diante da vida!” William Shakespeare Sumário Resumo ................................................................................................................................................................ xiv Abstract ................................................................................................................................................................ xv LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................................ xvi LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................................... xix 1 – Introdução ..................................................................................................................................................... 20 2 - Revisão da Literatura .................................................................................................................................... 22 2.1 - Conceito e relevância do polimorfismo .................................................................................................... 22 2.1.1 - Polimorfismo e biodisponibilidade ........................................................................................................ 24 2.1.2 - Aspectos regulatórios do polimorfismo na área farmacêutica .............................................................. 27 2.2 - Excipientes ............................................................................................................................................... 28 2.2.1 - Escolha dos excipientes ......................................................................................................................... 28 2.2.2 - Funções dos excipientes ........................................................................................................................ 29 2.2.3 - Celulose microcristalina ....................................................................................................................... 31 2.2.4 - Croscarmelose sódica ........................................................................................................................... 32 2.2.5 - Estearato de magnésio .......................................................................................................................... 32 2.2.6 - Lactose monohidratada ......................................................................................................................... 33 2.2.7 - Lauril sulfato de sódio ........................................................................................................................... 35 2.2.8 - Povidona................................................................................................................................................ 35 2.3 – Princípio ativo do medicamento em estudo ............................................................................................. 36 2.3.1- Ezetimiba ................................................................................................................................................ 36 2.4 - Técnicas empregadas no estudo do polimorfismo .................................................................................... 38 2.4.1 - Técnicas de caracterização dos cristais ................................................................................................ 38 2.4.1.1 - Difração de raios X por policristais (DRXP) ..................................................................................... 39 2.4.1.1.1 - Histórico .......................................................................................................................................... 39 2.4.1.1.2 - A produção de raios X ..................................................................................................................... 40 2.4.1.1.3 - A Lei de Bragg ................................................................................................................................. 41 2.4.1.1.4 - Utilização da difração de raios X na caracterização de polimorfos na área farmacêutica ............ 42 2.4.2 - Método de Rietveld ................................................................................................................................ 43 2.4.2.1 - Método de Rietveld para análise quantitativa de fases ...................................................................... 44 2.4.2.1.1 - Método de adição ............................................................................................................................ 45 2.4.2.1.1.1 - Método do padrão interno ............................................................................................................ 45 2.4.2.2 - Índices de qualidade do refinamento.................................................................................................. 47 2.4.3 - Análise Térmica ..................................................................................................................................... 50 2.4.3.1 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC) ..................................................................................... 50 2.4.3.2 - Termogravimetria (TG) ...................................................................................................................... 52 2.4.3.3 - Considerações gerais para interpretação dos parâmetros obtidos pelas técnicas de DSC e TG ...... 54 2.4.3.4 - Análise térmica: interesse na área farmacêutica ............................................................................... 54 2.4.4 - Espectroscopia de absorção na região do infravermelho ..................................................................... 56 2.4.4.1 - Reflectância Total Atenuada (ATR) .................................................................................................... 58 3 - Objetivos ......................................................................................................................................................... 60 3.1 - Objetivos Gerais ....................................................................................................................................... 60 3.2 - Objetivos Específicos ............................................................................................................................... 60 4 - Parte experimental ......................................................................................................................................... 61 4.1 – Amostras .................................................................................................................................................. 61 4.1.1 - Excipientes estudados............................................................................................................................ 61 4.1.2 - Medicamento em estudo ........................................................................................................................ 61 4.2 - Condições experimentais das medidas ..................................................................................................... 61 4.2.1 - Difração de raios X por policristais (DRXP) ........................................................................................ 61 4.2.2 - Análise Térmica ..................................................................................................................................... 62 4.2.2.1 - Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) ................................................................................... 62 4.2.2.2 - Termogravimetria (TG) ...................................................................................................................... 63 4.2.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) ............................................... 63 5 - Resultados e Discussão .................................................................................................................................. 64 5.1 - Considerações acerca da celulose microcristalina .................................................................................. 64 5.1.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão) para as amostras de celulose microcristalina.................................................................................................................................................. 65 5.1.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC) e termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) ......................................................................................................................................................... 67 5.1.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) ............................................... 72 5.1.4 - Índice de cristalinidade ......................................................................................................................... 75 5.1.4.1 - Bandas sensíveis à cristalinidade (FTIR) ........................................................................................... 75 5.1.4.2 - Acessibilidade da celulose microcristalina por calorimetria exploratória diferencial (DSC) ........... 76 5.1.5 - Análise quantitativa de fases com a adição de um padrão interno – Determinação da porcentagem de amorfo............................................................................................................................................................... 77 5.2 – Croscarmelose sódica .............................................................................................................................. 82 5.2.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão) para a amostra croscarmelose sódica........................................................................................................................................ 82 5.2.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC) e termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) ......................................................................................................................................................... 83 5.2.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) ............................................... 85 5.3 - Estearato de magnésio ............................................................................................................................. 87 5.3.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão) para as amostras estearato de magnésio ...................................................................................................................................................... 87 5.3.2 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão versus reflexão) para a amostra de estearato de magnésio VG ............................................................................................................. 92 5.3.3 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) ......................................................................................................................................................... 94 5.3.3.1 - Estearato de magnésio ML, L0 e SL ................................................................................................... 96 5.3.3.1.1 - Estearato de magnésio ML .............................................................................................................. 96 5.3.3.1.2 - Estearato de magnésio L0 ............................................................................................................... 98 5.3.3.1.3 - Estearato de magnésio SL ............................................................................................................... 99 5.3.3.2 - Estearato de magnésio EM e NF ...................................................................................................... 101 5.3.3.2.1 - Estearato de magnésio EM ............................................................................................................ 102 5.3.3.2.2 - Estearato de magnésio NF ............................................................................................................ 103 5.3.3.3 - Estearato de magnésio CA e VG ...................................................................................................... 105 5.3.3.3.1 - Estearato de magnésio CA ............................................................................................................ 106 5.3.3.3.2 - Estearato de magnésio VG ............................................................................................................ 108 5.3.3.4 - Considerações acerca das sete diferentes amostras de estearato de magnésio ............................... 110 5.3.3.5 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) .......................................... 111 5.4 - Lactose monohidratada .......................................................................................................................... 116 5.4.1 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) e difração de raios X por policristais (modo de transmissão) ...................................................... 116 5.4.2 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de reflexão) para a amostra lactose monohidratada................................................................................................................................................ 124 5.4.2.1 - Preparo da amostra.......................................................................................................................... 124 5.4.2.1.1 - Efeito de granularidade ................................................................................................................. 124 5.4.3 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para a amostra de lactose monohidratada................................................................................................................................................ 127 5.4.4 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão versus reflexão) para a amostra de lactose monohidratada................................................................................................................. 129 5.4.5 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) ............................................. 132 5.5 - Lauril sulfato de sódio ............................................................................................................................ 133 5.5.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para a amostra de lauril sulfato de sódio ............................................................................................................................................................... 133 5.5.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) ....................................................................................................................................................... 135 5.5.2.1 - Determinação da pureza por DSC ................................................................................................... 137 5.5.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) ............................................. 139 5.6 – Povidona ................................................................................................................................................ 140 5.6.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para a amostra povidona ............. 140 5.6.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) ....................................................................................................................................................... 140 5.6.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) ............................................. 144 5.7 - Medicamento comercial ......................................................................................................................... 145 5.7.1 – Ezetrol® ............................................................................................................................................... 145 5.7.1.1 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) ....................................................................................................................................................... 145 5.7.1.2 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para o medicamento Ezetrol ® .... 152 6 – Conclusões ................................................................................................................................................... 155 7 – Referências Bibliográficas .......................................................................................................................... 158 Resumo Atualmente, o polimorfismo em fármacos e excipientes é, sem dúvida, uma das linhas de pesquisa mais contempladas da área de ciências farmacêuticas, devido à relevância não apenas no aspecto econômico de uma indústria farmacêutica, mas, principalmente, relacionado à ação farmacológica e toxicológica. Os excipientes que antes eram vistos como substâncias inertes, assim como os fármacos, também podem apresentar transformações polimórficas. Diante deste fato, estudos relacionados ao polimorfismo de fármacos e excipientes se tornam de grande importância. Desta forma, este trabalho reporta o estudo dos excipientes celulose microcristalina PH-101 e PH-102, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, lactose monohidratada, lauril sulfato de sódio e povidona, utilizados na produção do medicamento Ezetrol®. A técnica de difração de raios X por policristais (DRXP) aliada ao método de Rietveld de refinamento de estruturas cristalinas foi a principal técnica utilizada para a caracterização estrutural destes excipientes. Todavia, as técnicas de calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG) e espectroscopia no infravermelho por transformada Fourier (FTIR) também foram utilizadas de maneira auxiliar nestes estudos. Com o uso da técnica de DSC foi possível verificar que as amostras celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 possuem diferenças no conteúdo de umidade, e os resultados de DRXP mostraram que estas são semicristalinas; a fração de amorfo destes excipientes foi quantificada com o método de Rietveld, e a partir disso foi possível classificálas como celulose I (nativa), isto é, uma das formas polimórficas da celulose. Sete amostras comerciais de estearato de magnésio de diferentes fornecedores foram estudadas, apresentando importantes diferenças em relação ao comportamento térmico, padrões de difração e espectros de FTIR, o que nos dá indícios da existência de polimorfismo, impurezas (palmitato de magnésio) e hidratos entre estas amostras. Pela análise do espectro de FTIR pode-se confirmar que a molécula de lauril sulfato de sódio é constituída por uma região polar (hidrofílica) e outra região apolar (hidrofóbica), o que torna este excipiente útil para diversas finalidades. Também foi possível estimar o grau de pureza desta amostra pela curva de DSC. Para a lactose monohidratada fez-se um estudo criterioso, em que a amostra foi submetida a uma isoterma de 1 hora a 150 °C, resultando em uma mistura de fases, as quais foram quantificadas pelo método de Rietveld. Ainda para esta amostra, no difratograma de raios X obtido em um difratômetro operando no modo de reflexão, foi evidenciada a influência do preparo da amostra na obtenção das principais informações contidas no padrão de difração. Verificou-se também que os excipientes croscarmelose sódica e povidona não apresentaram ordenamento cristalino de longo alcance. Este resultado foi confirmado pelos estudos de DSC e TG/DTG e, principalmente, pela DRXP, sendo que nesta última técnica os difratogramas de raios X obtidos para estas amostras mostraram-se característicos de materiais amorfos. xiv Abstract Currently, the polymorphism in pharmaceuticals and excipients is undoubtedly one of the most studied lines of research in the pharmaceutical area, due to the relevance not only in the economic aspect of a pharmaceutical industry, but mainly related to the toxicological and pharmacological action. The excipients that were previously seen as inert substances, just like pharmaceuticals, may also exhibit polymorphic transformations. Given this fact, studies related to polymorphism in pharmaceuticals and excipients become of great importance. In this way, this work reports on the study of excipients microcrystalline cellulose PH-101 and PH-102, croscarmellose sodium, magnesium stearate, lactose monohydrate, sodium lauryl sulfate and povidone, all of them used in the production of the Ezetrol® medicine. The X-ray powder diffraction (XRPD) technique in conjunction with the Rietveld method of refinement of crystal structures was the main technique used for the structural characterization of excipients. However, differential scanning calorimetry (DSC), thermogravimetry (TG) and Fourier transform infrared spectroscopy (FTIR) techniques were also used as auxiliary techniques. By means of the DSC technique it was possible to verify that microcrystalline cellulose PH-101 as well as microcrystalline cellulose PH-102 samples display differences in moisture content and the XRPD results showed that these are semicrystalline; the amorphous contents of these excipients were quantified by means of the Rietveld method, being possible to classify them as cellulose I (native). Seven commercial samples of magnesium stearate from different companies were studied, presenting significant differences in thermal behavior, X-ray diffraction patterns and FTIR spectra, which gave us evidence of the existence of polymorphism, impurities (magnesium palmitate) and hydrates between these samples. By means of the FTIR spectrum of the molecule of sodium lauryl sulfate it was possible to verify that it is formed by a polar region (hydrophilic) and other apolar one (hydrophobic), which makes this excipient useful for several purposes. It was also possible to estimate the degree of purity of this sample by the DSC curve. For the lactose monohydrate a careful study was carried out, in which the sample was subjected to an isotherm of 1 h to 150° C, resulting in a mixture of phases, which were then quantified by Rietveld method. Also, in the X-ray diffraction pattern collected in a diffractometer operating in reflection mode, it was evidenced the influence of sample preparation in obtaining key information contained in the diffraction pattern. It was also verified that the croscarmellose sodium and povidone excipients showed no long range crystalline order. This result was confirmed by DSC and TG/DTG studies and, mainly, by means of the XRPD patterns, which were characteristic of amorphous materials. xv LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Estrutura molecular da celulose microcristalina (C6H10O5)n. ................................................................ 31 Figura 2 – Estrutura molecular da croscarmelose sódica [C6H7O2 (OH)3x (OCH2 - COONa)x]n. ............................... 32 Figura 3 – Estrutura molecular do estearato de magnésio (C36H70MgO4). ........................................................... 33 Figura 4 – Estrutura molecular da lactose monohidratada (C12H22O11 . H2O). ...................................................... 34 Figura 5 – Estrutura molecular do lauril sulfato de sódio (C12H25NaO4S). ............................................................. 35 Figura 6 – Estrutura molecular da povidona (C6H9NO)n. ....................................................................................... 36 Figura 7 – Estrutura molecular da ezetimiba (C24H21F2NO3). ................................................................................ 37 Figura 8 – Produção de raios X a nível atômico [28]. ............................................................................................ 40 Figura 9 – Difração de raios X por um cristal [71]................................................................................................. 41 Figura 10 – Componentes do gráfico de Rietveld, com o difratograma calculado (linha contínua vermelha); observado (x em preto); radiação de fundo ou background (linha contínua verde); a diferença entre o observado e o calculado (linha contínua azul) e os picos de Bragg (barra vertical magenta) [Adaptado da referência 28]. 49 Figura 11 – Curva genérica para um experimento DSC. I) mudança de linha de base sem pico; II e III) picos endotérmicos; IV) pico exotérmico [Adaptado da referência 87]. ........................................................................ 51 Figura 12 – Curvas TG (azul) e sua derivada, DTG (vermelho) [93]. ..................................................................... 53 Figura 13 – Difratogramas de raios X das amostras celulose microcristalina PH-101 e PH-102 obtidos no modo de transmissão. ..................................................................................................................................................... 66 -1 Figura 14 – Curva de DSC da celulose microcristalina PH-101, obtida a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de -1 N2 (50 mL min ). ................................................................................................................................................... 67 -1 Figura 15 – Curva de DSC da celulose microcristalina PH-102, obtida a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de -1 N2 (50 mL min ). ................................................................................................................................................... 68 -1 Figura 16 – Curvas de DSC da celulose microcristalina PH-101 e PH-102, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera -1 dinâmica de N2 (50 mL min ). ............................................................................................................................... 69 -1 Figura 17 – Curvas TG/DTG da celulose microcristalina PH-101, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ..................................................................................................................................................................... 70 Figura 18 – Curvas TG/DTG da celulose microcristalina PH-102, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. ..................................................................................................................................................................... 70 -1 Figura 19 – Espectro de FTIR da celulose microcristalina PH-101, obtido com resolução de 4 cm na região de -1 4000 a 650 cm . .................................................................................................................................................... 74 -1 Figura 20 – Espectro de FTIR para a amostra celulose microcristalina PH-102, obtido com resolução de 4cm na -1 região de 4000 a 650 cm . .................................................................................................................................... 74 Figura 21 – Difratogramas de raios X das amostras de celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 adicionadas ao padrão interno (alumina), e a comparação com a ficha cristalográfica 88027 (alumina) obtida no banco de dados do Inorganic Crystal Structure Database (ICSD). ........................................................ 78 Figura 22 – Refinamento de Rietveld da celulose microcristalina PH-101 com a adição do padrão interno (alumina). .............................................................................................................................................................. 81 Figura 23 – Refinamento de Rietveld da celulose microcristalina PH-102 com a adição do padrão interno (alumina). .............................................................................................................................................................. 81 Figura 24 – Difratograma de raios X da croscarmelose sódica. ............................................................................ 82 -1 Figura 25 – Curva de DSC da croscarmelose sódica, obtida a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N 2 (50 mL -1 min ). .................................................................................................................................................................... 83 -1 Figura 26 – Curvas TG/DTG da croscarmelose sódica, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. .... 84 -1 Figura 27 – Espectro de FTIR da croscarmelose sódica, obtido com resolução de 4 cm na região de 4000 a 650 -1 cm . ...................................................................................................................................................................... 85 xvi Figura 28 – Difratogramas de raios X das sete diferentes amostras de estearato de magnésio (ML, L0, SL, EM, NF, CA e VG) obtidos no modo de transmissão. .................................................................................................... 87 Figura 29 – Região ampliada (2° a 10° em 2) dos difratogramas de raios X das sete amostras de estearato de magnésio investigadas neste estudo. ................................................................................................................... 88 Figura 30 – Região ampliada em 2 (18° a 28°) ressaltando as diferenças entre as amostras de estearato de magnésio. .............................................................................................................................................................. 89 Figura 31 – Região ampliada (18° a 28° em 2) do difratograma de raios X do estearato de magnésio VG medido no modo de transmissão. ......................................................................................................................... 93 Figura 32 – Região ampliada (18° a 28° em 2) do difratograma de raios X do estearato de magnésio medido no modo de reflexão. ................................................................................................................................................. 93 Figura 33 – Curvas de DSC das sete diferentes amostras de estearato de magnésio denominadas ML, L0, SL, EM, -1 -1 NF, CA e VG, obtidas a 5 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min ).................................................. 95 Figura 34 – Curvas de DSC das amostras de estearato de magnésio ML (verde), L0 (roxo) e SL (vermelho) obtidas -1 -1 a 5 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min ). .................................................................................. 96 -1 Figura 35 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio ML, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. .............................................................................................................................................................................. 97 -1 Figura 36 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio L0, obtidas a 10 º C min , sob atmosfera dinâmica de N2. .............................................................................................................................................................................. 98 -1 Figura 37 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio SL, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ............................................................................................................................................................................ 100 Figura 38 – Curvas de DSC das amostras de estearato de magnésio EM (amarelo escuro) e NF (preto) obtidas a -1 -1 5 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min ). ................................................................................... 101 -1 Figura 39 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio EM, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ............................................................................................................................................................................ 102 -1 Figura 40 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio NF, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ............................................................................................................................................................................ 104 -1 Figura 41 – Curvas de DSC das amostras de estearato de magnésio CA (azul) e VG (rosa) obtidas a 5 ºC min , -1 sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min ). ..................................................................................................... 106 -1 Figura 42 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio CA, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ............................................................................................................................................................................ 107 -1 Figura 43 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio VG, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ............................................................................................................................................................................ 108 Figura 44 – Espectros de FTIR obtidos para as sete amostras de estearato de magnésio, obtidos com resolução -1 -1 -1 de 4 cm na região de 4000 cm a 650 cm . ...................................................................................................... 112 Figura 45 – Espectros de FTIR obtidos para as sete amostras de estearato de magnésio, obtidos com resolução -1 -1 -1 de 4 cm na região de 2000 cm a 1000 cm . .................................................................................................... 113 Figura 46 – Espectros de FTIR obtidos para as sete amostras de estearato de magnésio, obtidos com resolução -1 -1 -1 de 4 cm na região de 3200 cm a 2600 cm . .................................................................................................... 114 Figura 47 – Espectros de FTIR obtidos para as amostras de estearato de magnésio CA, NF e EM, obtidos com -1 -1 -1 resolução de 4 cm na região de 4000 cm a 650 cm . ..................................................................................... 115 -1 Figura 48 – Curva de DSC da lactose monohidratada, obtida a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ... 116 -1 Figura 49 – Curvas TG/DTG da lactose monohidratada, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de O2.117 Figura 50 – Curvas de DSC das amostras de lactose monohidratada (roxo) e após isoterma (1h/150 °C). ........ 118 -1 Figura 51 – Curvas TG/DTG da lactose monohidratada, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de O2.119 Figura 52 – Difratogramas de raios X obtidos no modo de transmissão da amostra lactose monohidratada (azul) comparado com a amostra após isoterma (1h/150 ° C) (roxo). ................................................................ 120 xvii Figura 53 – Comparação dos difratogramas de raios X normalizados da amostra após isoterma (1h/150 °C) (em vermelho), com a ficha LACTOS03 obtida no CSD (em preto). ............................................................................ 121 Figura 54 – Refinamento de Rietveld da amostra de lactose após isoterma. ..................................................... 123 Figura 55 – Difratogramas de raios X da amostra lactose monohidratada após moagem manual e como recebida do laboratório....................................................................................................................................... 125 Figura 56 – Refinamento de Rietveld da amostra lactose monohidratada após moagem manual, utilizando a estrutura (LACTOS03) disponível no banco de dados do CSD (Cambridge Structural Database). ....................... 126 Figura 57 – Comparação do difratograma de raios X da lactose monohidratada com a ficha LACTOS03 obtida no CSD. ..................................................................................................................................................................... 128 Figura 58 – Comparação do difratograma de raios X com dados normalizados da lactose monohidratada com a ficha LACTOS03 (normalizado) obtida no CSD. ................................................................................................... 129 Figura 59 – Região ampliada (12° a 22° em 2) do difratograma de raios X da lactose monohidratada medida no modo de transmissão. .................................................................................................................................... 130 Figura 60 – Região ampliada (12° a 22° em 2) do difratograma de raios X da lactose monohidratada medida no modo de reflexão. .......................................................................................................................................... 130 -1 Figura 61 – Espectro de FTIR da lactose monohidratada, obtido com resolução de 4 cm na região de 4000 a -1 650 cm ............................................................................................................................................................... 132 Figura 62 – Difratograma de raios X do lauril sulfato de sódio. ......................................................................... 133 -1 Figura 63 – Curva de DSC do lauril sulfato de sódio obtida a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL -1 min ). .................................................................................................................................................................. 135 -1 Figura 64 – Curvas TG/DTG do lauril sulfato de sódio, obtidas a 10 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2... 136 Figura 65 – Estrutura química do lauril sulfato de sódio ressaltando a dupla natureza da molécula. ............... 137 -1 Figura 66 – Espectro de FTIR para a amostra lauril sulfato de sódio, obtido com resolução de 4 cm na região de -1 4000 a 650 cm . .................................................................................................................................................. 139 Figura 67 – Difratograma de raios X da povidona. ............................................................................................. 140 -1 -1 Figura 68 – Curva de DSC da povidona, obtida a 5 ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min ). ...... 141 -1 Figura 69 – Curvas TG/DTG da povidona, obtidas a 10ºC min , sob atmosfera dinâmica de N2. ...................... 142 -1 Figura 70 – Espectro de FTIR para a amostra povidona, obtido com resolução de 4 cm na região de 4000 a 650 -1 cm . .................................................................................................................................................................... 144 ® -1 Figura 71 – Curvas de DSC do comprimido Ezetrol , obtidas a 10 °C min , sob atmosfera dinâmica de N2....... 146 Figura 72 – Curvas de DSC das amostras celulose microcristalina PH-102, croscarmelose sódica, povidona e Ezetrol 2460. ....................................................................................................................................................... 147 Figura 73 – Curvas de DSC das amostras lactose monohidratada e Ezetrol 2460. ............................................. 148 Figura 74 – Curvas de DSC das amostras estearato de magnésio ML, lauril sulfato de sódio e Ezetrol 2460. ... 149 Figura 75 – Curvas de DSC das amostras lauril sulfato de sódio, lactose monohidratada e Ezetrol 2460.......... 150 Figura 76 – Difratogramas de raios X normalizados do comprimido Ezetrol 2460 e da lactose monohidratada, obtidos no difratômetro de raios X por policristais com geometria de transmissão. ......................................... 152 ® Figura 77 – Refinamento de Rietveld do medicamento Ezetrol . Os parâmetros de qualidade do ajuste foram: Rwp = 3,709%, Rexp = 1,737%, RBragg = 1,815% (ezetimiba), RBragg = 1,628% (lactose monohidratada), RBragg = 2 0,147% (celulose microcristalina PH-102), RBragg = 2,499% (lauril sulfato de sódio) e χ = 2,135. ...................... 153 xviii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Técnicas utilizadas no estudo do polimorfismo [26]. ........................................................................... 38 Tabela 2 - Dimensões de celas unitárias para polimorfos da celulose determinadas por difração de raios X [116]. .............................................................................................................................................................................. 65 Tabela 3 - Parâmetros térmicos obtidos para as amostras celulose microcristalina PH-101 (denominada 101) e celulose microcristalina PH-102 (denominada 102). ............................................................................................. 68 Tabela 4 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra celulose microcristalina PH-101. .............................................................................................................................................................................. 71 Tabela 5 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra celulose microcristalina PH-102. .............................................................................................................................................................................. 71 Tabela 6 - Localização das bandas de absorção características da celulose I (nativa) com suas respectivas ligações químicas [Adaptado da referência 120]. ................................................................................................. 72 Tabela 7 - Localização das bandas de absorção características das amostras celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 com suas respectivas ligações químicas. ........................................................... 73 Tabela 8 – Resultados para o índice de cristalinidade das amostras celulose microcristalina PH-101 (C.M. PH101) e celulose microcristalina PH-102 (C.M. PH-102) determinados através do método proposto por Nelson & O’Connor [121]. ..................................................................................................................................................... 76 -1 Tabela 9 – Valores obtidos para a energia calorífica (J g ) referente à integração do pico endotérmico atribuído à perda de água superficial das amostras de celulose microcristalina PH-101 (C.M. PH-101) e celulose microcristalina PH-102 (C.M. PH-102). ................................................................................................................. 77 Tabela 10 – Fichas cristalográficas PADTUL (CSD), JINROO01 (CSD) e 88027 (ICSD) que foram utilizadas como arquivo de entrada no refinamento de Rietveld. .................................................................................................. 79 Tabela 11 – Resultados obtidos após o refinamento de Rietveld das amostras de celulose microcristalina PH-101 (C.M. PH-101) e celulose microcristalina PH-102 (C.M. PH-102). ......................................................................... 79 Tabela 12 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra croscarmelose sódica. ........... 85 Tabela 13 – Tamanhos médios de cristalitos obtidos a partir do método descrito por Scherrer. ......................... 90 Tabela 14 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio ML. ................. 97 Tabela 15 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio L0.................... 99 Tabela 16 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio SL. ................. 100 Tabela 17 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio EM. ............... 102 Tabela 18 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio NF. ................ 104 Tabela 19 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio CA. ................ 107 Tabela 20 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio VG. ............... 109 Tabela 21 – Bandas características no espectro de FTIR do estearato de magnésio. ........................................ 112 Tabela 22 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra lactose monohidratada. ...... 117 Tabela 23 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra após isoterma de 1h/150 °C. 119 Tabela 24 – Fichas cristalográficas EYOCUQ01 e LAKKEO01 disponíveis no CSD referentes às fases α-lactose anidra e α,β,D-lactose respectivamente, as quais foram utilizadas como arquivo de entrada no refinamento de Rietveld. .............................................................................................................................................................. 122 Tabela 25 – Parâmetros cristalográficos obtidos após o refinamento de Rietveld das fases α-lactose anidra e α,β, D-lactose presentes na amostra após isoterma (1h/150 °C). ...................................................................... 123 Tabela 26 – Dados cristalográficos obtidos na ficha LACTOS03 disponível no banco de dados do CSD. ............ 127 Tabela 27 – Valores de distância interplanar observados utilizando dados de DRXP e os reportados por Bittencourt [137]. ................................................................................................................................................ 134 Tabela 28 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra de lauril sulfato de sódio. .... 137 xix Tabela 29 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a povidona. ........................................... 143 Tabela 30 – Temperaturas (Tmáx) dos principais eventos encontrados nas curvas de DSC de amostras do ® medicamento Ezetrol . ........................................................................................................................................ 146 Tabela 31 – Ficha cristalográfica QATNEF (CSD) que foi utilizada como arquivo de entrada no refinamento de ® Rietveld do medicamento Ezetrol , e os resultados (princípio ativo) obtidos após o refinamento de Rietveld. . 153 ® Tabela 32 - Resultados obtidos após o refinamento de Rietveld do medicamento Ezetrol . .............................. 154 xx 1 – Introdução Até o início da década de 60, era comum que se considerasse um medicamento eficaz clinicamente apenas assegurando-se o controle de qualidade, mediante o conhecimento das propriedades físicas e físico-químicas do fármaco. Nesta época não havia preocupações em relação ao comportamento da forma farmacêutica no organismo. Entretanto, várias evidências demonstraram que determinados componentes da formulação, assim como as técnicas de fabricação, poderiam dar origem a um medicamento ineficaz ou até mesmo tóxico [1]. Diversos relatos apresentados na literatura mencionam que esta ineficácia clínica e, em alguns casos, intoxicações graves, serviram de alerta para estudos mais aprofundados sobre os componentes da formulação, processos empregados e características físico-químicas dos fármacos [2]. É neste contexto que surge o termo polimorfismo, que pode ser definido como a habilidade de um composto cristalizar em duas ou mais formas e estruturas cristalinas diferentes, de mesma composição química, em função de diferenças nos arranjos espaciais e/ou conformacionais [3]. Este fato pode afetar o desempenho de formas farmacêuticas sólidas, afetando seu perfil de dissolução, biodisponibilidade e/ou estabilidade. Vale ressaltar que estas formas farmacêuticas citadas anteriormente, não são compostas apenas por fármacos, que representam o princípio ativo de um determinado medicamento, mas também por uma mistura de excipientes, os quais são utilizados para diversos fins, como solubilizar, suspender, espessar, diluir, emulsificar, estabilizar, conservar, colorir, flavorizar e possibilitar a obtenção de formas farmacêuticas estáveis, eficazes e atraentes [3]. Nos dias atuais, as indústrias farmacêuticas ainda são muitas vezes surpreendidas ao ter que lidar com o fenômeno do polimorfismo, quando se quer obter um princípio ativo e até mesmo um excipiente adequado para ser utilizado em um determinado medicamento. Normalmente estas surpresas estão relacionadas ao comportamento do sólido obtido, quer seja durante sua caracterização química ou durante seu processamento e armazenamento [4]. Desta forma, qualquer propriedade física ou química pode, a priori, variar entre os polimorfos, visto que estes possuem diferentes estruturas cristalinas. Assim, qualquer técnica que possa medir as propriedades de um sólido pode, em princípio, ser utilizada para detectar o polimorfismo. Algumas técnicas são mais sensíveis a estas diferenças na estrutura cristalina e, 20 portanto, são mais adequadas. Neste trabalho, com o objetivo de caracterizar estruturalmente alguns excipientes farmacêuticos, foi utilizada a difração de raios X por policristais (DRXP) aliada ao método de Rietveld de refinamento de estruturas cristalinas. Outras técnicas auxiliaram nos estudos dos diferentes excipientes como a calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG) e espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). As diferentes técnicas fornecem uma ampla gama de informações estruturais, muitas vezes complementando uma a outra, o que nos leva a um conhecimento da relação entre os diferentes polimorfos. 21 2 - Revisão da Literatura Este capítulo aborda inicialmente os aspectos teóricos do fenômeno do polimorfismo em fármacos e excipientes e algumas considerações preliminares sobre o conceito de fármacos e sua biodisponibilidade. Outros temas importantes que serão abordados neste capítulo são a definição de excipientes, suas funções, a descrição dos excipientes estudados neste trabalho, e por fim a contextualização do estudo da arte em relação à ezetimiba. 2.1 - Conceito e relevância do polimorfismo Muitos compostos orgânicos são capazes de adotar uma ou mais formas cristalinas puras de configuração identificável e definida ou uma forma amorfa sem estrutura de longo alcance definida, dependendo das condições (temperatura, solvente, tempo) sob as quais a cristalização é induzida. Essa propriedade pela qual uma única substância pode existir em mais de uma forma ou estrutura cristalina é chamada de polimorfismo [3, 5-7]. Vale ressaltar que o polimorfismo pode ter um impacto direto sobre diversas características do fármaco, excipientes e, consequentemente do medicamento, podendo ser observados resultados inesperados, os quais podem comprometer a eficácia do medicamento. Dois polimorfos de um mesmo composto podem ser tão diferentes em estrutura cristalina e propriedades como dois compostos distintos, sendo que essas diferenças manifestam-se enquanto o fármaco está em estado sólido, ou seja, uma vez obtida a solução, as diferentes formas não podem mais ser distinguidas. Portanto, podem ser esperadas diferenças na ação do fármaco, em termos farmacológicos e terapêuticos, devido à presença de polimorfos em formas farmacêuticas sólidas, assim como em suspensões líquidas [5,7]. Haleblian & McCrone [8], afirmaram que os polimorfos conhecidos de um determinado composto são proporcionais ao tempo e recursos (econômicos e humanos) dedicados à investigação do mesmo, sendo estas palavras ainda válidas atualmente. Desta forma, demonstra-se a necessidade de estudos que levantem questões relacionadas ao polimorfismo de fármacos e excipientes. Atualmente, o polimorfismo em fármacos e excipientes é, sem dúvida, uma das linhas de pesquisa mais contempladas da área de ciências farmacêuticas, devido à relevância não apenas econômica, mas, principalmente, farmacológica e toxicológica. As indústrias 22 farmacêuticas reconheceram a importância do polimorfismo apenas recentemente e um dos exemplos mais conhecidos dos problemas causados pelo polimorfismo na indústria farmacêutica é o do Ritonavir, marca comercial Norvir®, um antirretroviral inibidor da protease do HIV, o agente causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) [9]. Este fármaco começou a ser comercializado em 1996 pela empresa Abbott, tendo sua formulação composta por apenas um polimorfo. Dois anos após o lançamento do produto, mesmo utilizando processo idêntico de síntese, vários lotes de Norvir® começaram a ser reprovados no teste de solubilidade devido ao aparecimento de um segundo polimorfo que impedia sua formulação original. Devido a este episódio, a Abbott teve sérios prejuízos financeiros. Além de ter tido sua imagem ferida, precisou retirar o medicamento do mercado até encontrar uma nova maneira de produzir exclusivamente o primeiro polimorfo, deixando sem acesso ao tratamento os pacientes que utilizavam este fármaco [10]. O fármaco denominado paracetamol (acetaminofem), um importante analgésico e antipirético, também é citado na literatura por apresentar diferentes polimorfos. O monoclínico (P21/n) é termodinamicamente estável à temperatura ambiente e é facilmente obtido como monocristal. O ortorrômbico (Pcab) é metaestável à temperatura ambiente, pois com o armazenamento prolongado (3-4 meses em temperatura ambiente, ou 1 hora a 90 ºC e pressão aproximadamente de 2,34 kPa) a estrutura passa para monoclínica [11]. Porém, em uma busca no Cambridge Structural Database®, mais estruturas são encontradas do que as normalmente citadas na literatura: 1 estrutura triclínica, 12 monoclínicas e 7 ortorrômbicas. Vale ressaltar que o polimorfismo assume uma importância não só na área farmacêutica, como também na agroalimentar. Como exemplo de tal fato, podemos citar a manteiga de cacau, principal constituinte do chocolate e que se apresenta em seis formas polimórficas, sendo a forma V a ideal, uma vez que o seu ponto de fusão é de aproximadamente 33,8 °C, temperatura acima da temperatura ambiente e abaixo da temperatura corporal [12]. Além das sérias implicações que pode causar na vida de uma sociedade, o polimorfismo tem influência direta no aspecto econômico de uma indústria farmacêutica, como apresentado no caso do Ritonavir. Dessa forma, a pesquisa na área de polimorfismo é intensa, de grande importância e extremamente atual, pois antigas substâncias podem apresentar novos polimorfos e formas completamente desconhecidas poderão surgir a partir de qualquer deslize no procedimento de cristalização [13]. 23 Os excipientes também podem apresentar transformações polimórficas, sendo um fator preocupante para a indústria farmacêutica. A escolha do excipiente adequado para determinada fórmula é fundamental para a eficácia terapêutica do medicamento manipulado. Esta escolha deve se basear nas características das substâncias contidas na fórmula, bem como na possibilidade de interação das mesmas com o excipiente. Por exemplo, as formas de lactose apresentam propriedades diferentes que são escolhidas de acordo com o fim a que se destinam. Os cristais de monohidrato mostram uma resistência mecânica mais elevada relativamente às formas anidras. Em compensação, esta absorve água mais facilmente, o que a torna imprópria para granulação por via úmida. Os comprimidos com quantidades elevadas de lactose amorfa estão sujeitos a variações de dureza durante o tempo de armazenagem [14]. Vale ressaltar que a definição e uma explicação mais detalhada a respeito dos excipientes serão discutidas na seção 2.2. Diante disso, é vital que um pesquisador envolvido em formulações seja capaz de selecionar a estrutura polimórfica correta de um fármaco. Além disso, deve escolher sempre o excipiente que não sofra qualquer tipo de interação, assegurando com isso biodisponibilidade e consequentemente, o efeito farmacológico. Desta forma, a pesquisa do polimorfismo em fármacos e excipientes é um dos principais parâmetros a ser considerado antes da produção de um medicamento, pois o desconhecimento de diferentes formas cristalinas pode influenciar no preparo do mesmo e levar danos à saúde da população e prejuízos financeiros a seus fabricantes [15, 16]. 2.1.1 - Polimorfismo e biodisponibilidade Estruturas polimórficas de um fármaco normalmente apresentam diferenças significativas de processabilidade, solubilidade, estabilidade física e química. Estas diferenças físico-químicas podem modificar o comportamento da molécula quando em um meio biológico, inclusive podendo alterar sua biodisponibilidade. Deste modo, se torna altamente relevante o estudo das possíveis formas cristalinas dos fármacos (polimorfos). O conhecimento das estruturas cristalinas dos polimorfos reduz a possibilidade de surpresas no resultado, pois permite controlar o processamento de forma a se obter o resultado desejado. Quando um fármaco é administrado por via intravenosa, a sua biodisponibilidade é de 100%, ou seja, ele é colocado diretamente no sangue e, por esta razão, poderemos ter 24 certeza de que todo o fármaco alcançou a circulação sistêmica. No entanto, quando o fármaco é administrado por outra via de administração, não existe uma garantia de que a totalidade da dose chegou até a circulação sistêmica de forma intacta. A fração de fármaco que chega de forma inalterada à circulação sistêmica após sua administração é denominada de dose biodisponível [16]. Na década de 1970, o termo biodisponibilidade foi introduzido na literatura científica e em poucos anos o termo e o conceito de biodisponibilidade se expandiu na literatura específica [17]. A consequência mais importante do polimorfismo é a possível diferença na biodisponibilidade das diferentes formas polimórficas de um fármaco, particularmente quando a substância é pouco solúvel. A título de exemplo, a biodisponibilidade do Captopril pode ser reduzida em cerca de 50% caso se verifique ingestão simultânea do medicamento com uma refeição. Para o FDA (U.S. Food and Drug Administration), órgão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, “biodisponibilidade” significa a velocidade e extensão pela qual uma substância ou porção terapêutica é absorvida da forma farmacêutica (assim denominada quando os fármacos estão disponibilizados em combinação com um ou mais excipientes) e torna-se disponível no local de ação do fármaco [18, 19]. O EMEA (European Medicines Evaluation Agency) define biodisponibilidade como sendo a extensão e a velocidade pela qual a substância ou porção terapêutica é liberada da forma farmacêutica para a circulação sistêmica [18, 19]. No Brasil, segundo a Lei nº 9.787 de 10 de fevereiro de 1999, que estabeleceu as bases legais para a instituição do medicamento genérico no país, e a regulamentação para medicamentos genéricos, após processo contínuo de atualização e revisão através da RDC nº 135, de 29 de maio de 2003, o termo biodisponibilidade indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração/tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina [20, 21]. Por isso, a biodisponibilidade apresentada por um fármaco é muito importante no sentido de determinar se este alcançou o sítio de ação em uma concentração terapeuticamente eficaz. Diversos fatores podem alterar a biodisponibilidade de um fármaco, entre eles podemos citar: 25 - Fatores fisiológicos e características do paciente: idade; presença de patologias associadas; trato gastrointestinal; pH e tipo de dieta [22]. - Metabolismo do fármaco (no intestino e na primeira passagem pelo fígado): o alimento ingerido junto com o fármaco também pode influenciar na biodisponibilidade do fármaco através da modificação do pH do conteúdo gastrointestinal, esvaziamento gástrico, aumento de trânsito intestinal e ligação direta do fármaco com componentes dos alimentos. Assim, a composição da dieta influencia o tempo de permanência dos fármacos no trato digestivo e, consequentemente, aumenta ou diminui a absorção dos mesmos [22]. - Fatores físico-químicos: solubilidade; polimorfismo; estado físico (forma cristalina ou amorfa); solvatos, hidratos e anidros; tamanho de partícula e a quiralidade [16]. - Fatores relacionados à forma farmacêutica: excipientes; natureza química; capacidade de adsorção; quantidade empregada na formulação; fatores tecnológicos; tipo de processo; tempo e velocidade de agitação; tipo de granulação; temperatura de secagem e força de compressão [16]. Dentre estes fatores é importante ressaltar que os excipientes presentes em uma forma farmacêutica podem afetar a dissolução do fármaco e, consequentemente, a velocidade e a quantidade pelas quais o mesmo estará disponível para ser absorvido. Alguns componentes das formulações, como amido e outros desintegrantes, tendem a favorecer a dissolução. Outros como o talco e o estearato de magnésio, dificultam a dissolução [23, 24]. A compatibilidade dos excipientes com o fármaco e alguns traços de elementos nos excipientes também podem afetar a estabilidade do produto. Vários fatores físico-químicos podem realmente comprometer os estágios de desenvolvimento de um fármaco e, por isto, os fabricantes empregam estudos de biodisponibilidade para comparar diferentes formulações, de modo a determinar qual delas apresenta o padrão de absorção mais desejável. Posteriormente, estes estudos podem ser usados para comparar a biodisponibilidade de um medicamento em diferentes lotes e comparar a biodisponibilidade em formas farmacêuticas diferentes, como, por exemplo, comprimidos, cápsulas, elixir, ou de uma mesma forma farmacêutica produzida por diferentes fabricantes [16]. Vale ressaltar que estes estudos não fazem parte dos objetivos propostos neste estudo. O polimorfismo começou a despertar uma atenção especial a partir dos finais da década de 60, e desde então, diversos relatos têm sido apresentados na literatura sobre o tema. Os primeiros trabalhos de Aguiar e colaboradores [25], efetuados nos laboratórios de Parke 26 Davis, sobre o polimorfismo do palmitato de cloranfenicol, contribuíram para o desencadeamento do estudo do tema e pode ser citado como um dos casos mais conhecidos sobre a influência do polimorfismo na biodisponibilidade de fármacos. Estes autores demonstraram que a absorção do polimorfo B deste composto era significativamente maior do que a do polimorfo A [26]. Outro fármaco descrito na literatura por apresentar polimorfismo é a carbamazepina, que se destaca pelo impacto que os diferentes polimorfos causam no seu perfil de dissolução e biodisponibilidade [27, 28]. 2.1.2 - Aspectos regulatórios do polimorfismo na área farmacêutica Tendo em vista a importância do fenômeno do polimorfismo para a qualidade dos medicamentos, os órgãos reguladores têm acelerado a adoção de novas normas sobre o tema no setor farmacêutico, de modo a minimizar os riscos à população, exigindo, para o registro de medicamentos com fármacos novos ou mesmo genéricos, estudos que comprovem o monitoramento e o controle de qualidade das formas cristalinas existentes [26, 29]. O guia mais completo atualmente disponível foi publicado pela FDA (U.S. Food and Drugs Administration) em julho de 2007. Nesse guia, a FDA aborda os principais aspectos do fenômeno sobre a qualidade dos medicamentos, discute a não necessidade do medicamento genérico possuir o mesmo polimorfo (uma vez que a identidade química do fármaco é a mesma) e destaca a responsabilidade da empresa no controle da forma cristalina caso a biodisponibilidade possa ser afetada. É também recomendação do guia que procedimentos analíticos apropriados sejam utilizados para detectar as formas cristalinas e coloca a difração de raios X como a técnica principal e inequívoca para comprovação do fenômeno [26]. Este fato pode ser apontado com um dos grandes motivadores do presente estudo. A ANVISA também possui documentações em que o tema polimorfismo é abordado. Neste caso, é solicitado para o registro de medicamentos (genéricos, similares e inovadores) informações sobre os prováveis polimorfos e, sempre que possível, a metodologia analítica para sua determinação [26, 30]. 27 2.2 - Excipientes O conceito tradicional de excipiente farmacêutico como sendo simples adjuvante e veículo, química e farmacologicamente inerte, vem sofrendo grande evolução. Os excipientes eram vistos anteriormente como meras substâncias capazes de facilitar a administração e proteger o fármaco. Entretanto, nos dias atuais, são considerados como constituintes essenciais, que garantem o desempenho do medicamento e otimizam a obtenção do efeito terapêutico. No passado, a atenção da indústria farmacêutica e dos órgãos de regulamentação direcionava-se, principalmente, para o controle da qualidade do fármaco, dando menor atenção aos excipientes. Contudo, a evolução tecnológica, científica, econômica e dos fatores de regulamentação, facilitaram a observação de considerações especiais a respeito do papel dos excipientes, de acordo com suas características físicas, inerentes ao emprego dos mesmos nos processos produtivos e na liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica [31-33]. Portanto, a qualidade dos medicamentos depende não somente dos ingredientes ativos (princípio ativo) e dos processos de preparação, mas também do desempenho dos excipientes, [34] uma vez que os mesmos são capazes de modificar a liberação e/ou a estabilidade das substâncias ativas, e assim sua biodisponibilidade, por isso não podem ser considerados aditivos inertes [31]. 2.2.1 - Escolha dos excipientes Nas formulações, os excipientes são responsáveis pela maior parte da forma farmacêutica (em relação ao volume da forma), quando comparados com a concentração do princípio ativo. Desta forma, a seleção adequada dos excipientes a serem utilizados em medicamentos é de suma importância para o cumprimento dos objetivos propostos de uma forma farmacêutica, pois estes componentes podem diminuir ou aumentar a biodisponibilidade de fármacos, o que pode comprometer a eficácia clínica ou promover reações indesejáveis, assim como causar problemas de toxicidade inerentes a alguns excipientes [35, 36]. A escolha dos excipientes depende de vários fatores, tais como: o fármaco utilizado, o processo envolvido, o formulador e o custo do excipiente. Tendo isso em vista e visando a utilização destes excipientes em uma formulação farmacêutica, é necessário o estudo das propriedades físico-químicas, físico-mecânicas e a sua influência no desempenho da 28 formulação final, verificando-se assim, a influência da solubilidade, distribuição granulométrica, cristalinidade/polimorfismo, higroscopia, densidade aparente e de compactação, nas propriedades mecânicas e biodisponibilidade do produto fabricado, sendo este processo chamado de estudo de funcionalidade de excipiente [37, 38]. Vale ressaltar novamente que o objetivo deste trabalho não é o de estudar estas propriedades, e sim o de caracterizar estruturalmente alguns excipientes farmacêuticos. 2.2.2 - Funções dos excipientes As principais funções e propriedades dos excipientes se encontram abaixo descritas. Será dada maior ênfase na descrição dos excipientes estudados neste trabalho. Diluentes: são excipientes que fornecem o volume necessário para a formulação, possibilitando preparar comprimidos com peso conveniente [39]. Diferentes substâncias têm sido empregadas como diluentes e a escolha destes é fundamental para a estabilidade dos fármacos. Soares e Petrocick [40] destacam o uso da lactose que é o diluente mais empregado na indústria farmacêutica, visto que, além do baixo custo e das suas propriedades redutoras, tem poder aglutinante originando comprimidos de bom aspecto. Além deste excipiente, podemos citar o amido, a celulose microcristalina e o uso de alguns sais inorgânicos, com destaque para o fosfato de cálcio. Um exemplo conhecido do efeito que os diluentes podem ter sobre a biodisponibilidade dos fármacos é dado pelo surto de intoxicações com fenitoína que ocorreu na Austrália em pacientes epilépticos, devido à alteração do diluente utilizado na preparação de cápsulas contendo fenitoína sódica. Muitos pacientes epilépticos, os quais tinham sido estabilizados com cápsulas de fenitoína sódica contendo sulfato de cálcio dihidratado como diluente, desenvolveram um quadro clínico de superdosificação com fenitoína quando receberam fenitoína sódica contendo o excipiente lactose como diluente e apresentaram sintomas tais como ataxia, diplopia e vômitos. Com a restituição do excipiente original, houve remissão completa destes sintomas [36, 41, 42]. Aglutinantes: são adicionados na forma de pó ou em solução, durante a granulação por via úmida ou para facilitar a produção de comprimidos coesos por compressão direta. Um bom aglutinante deve não somente ter boas propriedades ligantes, mas também ser de fácil 29 manuseio para produção em escala. Os aglutinantes tradicionais, como açúcares ou biopolímeros naturais, têm sido substituídos por polímeros sintéticos, os quais oferecem melhor qualidade farmacotécnica e microbiológica. Os mais comuns usados na indústria farmacêutica são de origem sintética, como a povidona e diferentes derivados da celulose como a metilcelulose, carboximetilcelulose sódica, etilcelulose, entre outros [43]. Lubrificantes: são incorporados para promover a redução da fricção entre as partículas e a máquina de compressão durante a obtenção do comprimido, tendo em vista que o elevado atrito pode ser responsável pela baixa qualidade do comprimido [25]. São insolúveis em água e dotados de propriedades hidrofóbicas, opondo-se, portanto, de certo modo, à penetração de água no comprimido (estearato de magnésio e talco). O estearato de magnésio é o lubrificante mais frequentemente utilizado na fabricação de comprimidos [36]. Tensoativos (agentes molhantes): são utilizados para aumentar a molhabilidade dos pós insolúveis em água, inclusive os fármacos. Aumentam o contato do fármaco com o meio, através da diminuição da tensão superficial pó/água, o que contribui para um aumento da solubilidade aquosa de vários fármacos pouco solúveis em água [44]. Exemplos: lauril sulfato de sódio, docusato sódico e polissorbato 80. Desintegrantes: são utilizados para acelerar a dissolução ou desintegração dos comprimidos em água ou nos líquidos do organismo, pois para que se verifique adequada atividade terapêutica é necessário que os comprimidos se desagreguem rapidamente para se permitir a ação desejada. Devido à sua propriedade de desintegração, o amido é o mais utilizado. Porém, se observa o crescente uso dos chamados superdesintegrantes. Eles são assim denominados, pois possuem grande poder de desintegração com a utilização de pequenas quantidades (entre 0,5 e 5%); todavia sua eficiência depende do método de fabricação e/ou características físico-químicas da formulação [45]. Dentre esses superdesintegrantes destacam-se a croscarmelose sódica (carboximetilcelulose sódica reticulada), o amidoglicolato de sódio e a crospovidona [36]. Tendo em vista que neste trabalho foram estudados a celulose microcristalina PH101 e PH-102, a croscarmelose sódica, o estearato de magnésio, a lactose monohidratada, o lauril sulfato de sódio e a povidona, abaixo teremos uma descrição mais detalhada a respeito destes excipientes, que são constituintes do medicamento Ezetrol®. 30 2.2.3 - Celulose microcristalina A utilização da celulose na produção de comprimidos teve início na década de 50, com um produto denominado Solka-Floc®. Entretanto, por se tratar de um produto com pobres características de fluxo e de compressibilidade, deixou de ser usado [46]. No início dos anos 60, a celulose microcristalina (Figura 1) foi introduzida no mercado como excipiente farmacêutico com o nome comercial Avicel®. Tal diluente é uma forma de celulose não fibrosa, originada da parede celular da fibra vegetal fragmentada em pequenas partículas. É produzida a partir da hidrólise controlada da α-celulose despolimerizada, empregando soluções diluídas de ácidos minerais. O processo de hidrólise foi patenteado por Battista e Smith da empresa American Viscose Company [47-49]. A celulose microcristalina apresenta-se como um pó cristalino branco, inodoro, insípido, praticamente isenta de contaminantes orgânicos e inorgânicos [50]. Existem diferentes especificações para este excipiente, as quais diferem entre si no tamanho médio de partícula e conteúdo de umidade. A celulose microcristalina, com partículas compreendidas entre 50 m (PH-101, na forma de pó) e 100 m (PH-102, na forma de grânulos), se mostra mais adequada como diluente de cápsulas [51]. Devido à elevada pureza química e ao baixo conteúdo de umidade, melhora a estabilidade química e a cor dos comprimidos resultantes. Embora a celulose microcristalina possa ser utilizada em todos os métodos de produção de comprimidos, é muito utilizada na produção de comprimidos por compressão direta devido às características de não aderência, fluxo relativamente livre, boa compressibilidade, fácil desintegração e alto potencial de diluição, tornando-a compatível com outros excipientes. Além disso, exibe alta compactabilidade e não apresenta nenhum potencial tóxico ou irritante [52]. Quando comparada com outros excipientes, a celulose microcristalina apresenta alto custo. Portanto, pode ser usada em combinação com outros excipientes mais baratos, tais como: lactose, manitol, amido, entre outros. Figura 1 – Estrutura molecular da celulose microcristalina (C6H10O5)n. 31 2.2.4 - Croscarmelose sódica A croscarmelose sódica (Figura 2) é um derivado da celulose obtido pela reação da celulose alcalina com o monocloroacetato de sódio [53]. Apresenta-se como um pó branco obu branco acinzentado, inodoro, higroscópico e é insolúvel em água, praticamente insolúvel em acetona, etanol e tolueno. É uma substância muito utilizada na indústria farmacêutica especialmente em formulações orais, onde é utilizada como desagregante em cápsulas, comprimidos e grânulos [53]. Não é compatível com ácidos fortes ou com sais solúveis de ferro e outros metais, como alumínio, mercúrio e zinco [54]. Além disso, melhora as características de desintegração e dissolução do medicamento, aumentando a biodisponibilidade da formulação, e pode também influir no poder de intumescimento de outros excipientes, como a celulose microcristalina [54]. Figura 2 – Estrutura molecular da croscarmelose sódica [C6H7O2 (OH)3x (OCH2 - COONa)x]n. 2.2.5 - Estearato de magnésio O estearato de magnésio (Figura 3) é amplamente utilizado em cosméticos, alimentos e formulações farmacêuticas. Este excipiente é composto por magnésio com uma mistura de ácidos orgânicos sólidos (ácido palmítico e ácido esteárico), principalmente de porções variáveis de estearato de magnésio e palmitato de magnésio. É granuloso, fino, de cor branca, inodoro ou com leve odor de ácido esteárico e gosto característico [50]. São grânulos de baixa densidade, oleoso ao toque que aderem facilmente à pele. Ele é praticamente insolúvel em álcool, éter e água, e é pouco solúvel em álcool a 95% aquecido. Age como lubrificante e 32 antiaderente nas formulações, apresentando natureza hidrofóbica sendo incompatível com substâncias ácidas, alcalinas e sais de ferro [50, 55]. Além disso, pelo fato de ser hidrofóbico, o estearato de magnésio pode retardar a dissolução de um fármaco em uma forma farmacêutica sólida. Portanto, a menor concentração possível desse lubrificante deve ser utilizada nas formulações. Desde a descoberta da propriedade lubrificante do estearato de magnésio comercial, o polimorfismo do composto e sua relação às propriedades de lubrificação têm sido estudados por vários pesquisadores [56, 57]. Embora o polimorfismo do estearato de magnésio atraia muita atenção, pouco se sabe sobre o assunto até o momento. Segundo Ertel & Carstensen [58], quatro estados de hidratação do estearato de magnésio foram identificados e são eles, o monohidratado, dihidratado, trihidratado e anidro. Figura 3 – Estrutura molecular do estearato de magnésio (C36H70MgO4). 2.2.6 - Lactose monohidratada A lactose é amplamente utilizada pela indústria farmacêutica como diluente na produção de comprimidos. De origem natural, pode ser modificada, física ou quimicamente, com facilidade [50]. Kibbe [52] descreve a lactose como um dissacarídeo natural, composto por galactose e glicose, que é obtido por cristalização a partir do leite, o qual contém 4,4% a 5,2% de lactose. A lactose está disponível comercialmente em diversas formas, incluindo a -lactose monohidratada (Figura 4), a -lactose anidra e em menor extensão a -lactose. A forma mais comum, comercialmente disponível, é a -lactose monohidratada. Essa é obtida através da cristalização de soluções supersaturadas em temperaturas inferiores a 93,5 ºC. Noordik e colaboradores [59] relatam a estrutura cristalina da -lactose monohidratada pertencente ao 33 sistema cristalino monoclínico, grupo espacial P21, com parâmetros de cela unitária a = 7,937(2) Å, b = 21,568(7) Å, c = 4,815(1) Å e = 109,77(2)°. Outra forma de lactose, a -anidra, é obtida nos processos de cristalização acima de 93,5 ºC. A -lactose comercialmente disponível, normalmente contém 70% da forma e 30% da forma , sendo obtida através de processo de secagem por rolagem. Outros graus de lactose com quantidades mais elevadas da forma beta também são disponíveis no mercado. A lactose é composta de partículas cristalinas brancas ou quase brancas, é inodora e tem um sabor levemente adocicado. Como excipiente farmacêutico, é muito utilizada por sua ação aglutinante e diluente na produção de comprimidos e cápsulas e, de uma forma não tão usual, na preparação de formas farmacêuticas liofilizadas e alimentos pediátricos [52]. Para a produção de formas farmacêuticas sólidas, em especial os comprimidos, as lactoses cristalina e atomizada, são as mais adequadas. As formulações que apresentam lactose têm velocidades adequadas de liberação do fármaco e o tempo de desintegração não é afetado em função da variação de dureza desses comprimidos. Por outro lado, apresentam a desvantagem de formar compostos de cor marrom na presença de fármacos e outros excipientes que contenham grupamentos amina ou sais de compostos aminados. Isso ocorre facilmente com a porção amorfa da lactose, a qual também é responsável pela reação de descoloração. Assim, a lactose é incompatível com aminoácidos, aminofilina, e anfetaminas [60]. Figura 4 – Estrutura molecular da lactose monohidratada (C12H22O11 . H2O) 34 2.2.7 - Lauril sulfato de sódio O lauril sulfato de sódio (Figura 5) é um agente tensoativo aniônico e apresenta-se como um pó cristalino branco ou amarelado. Possui sabor amargo e um leve odor característico de substâncias gordurosas e é solúvel em água em qualquer concentração. A temperatura de fusão da substância pura é em torno de 204-207 °C [50]. Este excipiente possui propriedades molhante, detergente, emulsificante, espumógena e solubilizante, características comuns a toda a classe de tensoativos. Por esse motivo, vem sendo utilizado há vários anos para diferentes fins, como cremes emolientes, cremes depilatórios, banhos de espuma, loções para mãos, xampus, dentifrícios, além de produtos saneantes, como detergentes domissanitários [61]. Figura 5 – Estrutura molecular do lauril sulfato de sódio (C12H25NaO4S). 2.2.8 - Povidona A polivinilpirrolidona também chamada de povidona (Figura 6) é um homopolímero de N-vinil-2-pirrolidona, obtido por polimerização via radicalar em água ou em álcool isopropílico, de natureza higroscópica e compatível com uma ampla faixa de resinas hidrofílicas e hidrofóbicas [50]. É um pó branco a esbranquiçado, inodoro ou quase sem odor, solúvel tanto em água quanto em solventes orgânicos. Este polímero é extensivamente utilizado como excipiente farmacêutico, em combinação com uma ampla variedade de fármacos, sendo empregado em diversas formas farmacêuticas com finalidades diferentes [62]. Moneghini e colaboradores [63] relataram através de estudos por difração de raios X e DSC que o fármaco atenolol, um anti-hipertensivo, se apresentou na forma amorfa na presença do excipiente povidona. 35 Figura 6 – Estrutura molecular da povidona (C6H9NO)n. 2.3 – Princípio ativo do medicamento em estudo 2.3.1- Ezetimiba A ezetimiba é um fármaco recém-lançado e ainda pouco estudado, porém pode ter grande aplicação clínica, tendo em vista que até o momento raros efeitos colaterais foram apontados. Vendida sob o nome comercial de Ezetrol®, a ezetimiba é o princípio ativo deste medicamento, que contém os seguintes excipientes: celulose microcristalina, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, lactose monohidratada, lauril sulfato de sódio e povidona. É indicada como terapia adjuntiva à dieta para a redução do colesterol total elevado (C-total), colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), apolipoproteína B (Apo B) e triglicérides (TGs) e para aumentar o colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL-C) em pacientes com hipercolesterolemia primária. Deve ser empregada na dose única de 10 mg ao dia, podendo ser administrada a qualquer hora do dia, com ou sem alimentação e diferentemente de outros agentes de ação sistêmica, não interfere na absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis [64-66]. Este fármaco é denominado pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) como 1-(4-fluorofenil)-3(R)-[3-(4-fluorofenil)-3(S)-hidroxipropil]-4(S)-(4- hidroxifenil)-2-azetidinona, sendo um pó branco, cristalino, muito solúvel em etanol, metanol e acetona e, praticamente insolúvel em água. Tem um ponto de fusão de, aproximadamente, 163 °C e é estável à temperatura ambiente. Possui massa molecular de 409,4 g mol-1, fórmula molecular C24H21F2NO3, com a estrutura molecular mostrada na Figura 7 [64-66]. 36 Figura 7 – Estrutura molecular da ezetimiba (C24H21F2NO3). Os polimorfos da ezetimiba têm sido descritos como monohidratado, anidro ou amorfo [67] e estes podem ser identificados utilizando dados de difração de raios X e DSC, por exemplo. Vale ressaltar que diferentes processos de preparação podem ser utilizados para produzir estes diferentes polimorfos da ezetimiba. Em 2005, Ravikumar & Sridhar [68] a fim de obterem os cristais apropriados para estudos por difração de raios X por monocristais, dissolveram a ezetimiba monohidratada (C24H21F2NO3 . H2O) em uma mistura de metanol e água (90:10) e posteriormente a solução foi evaporada lentamente. Os difratogramas de raios X foram medidos na faixa angular 2 = 2,3° - 21,9° e verificou-se que esta estrutura se cristaliza num sistema cristalino ortorrômbico (P212121) com parâmetros de cela unitária a = 6,2396(4) Å, b = 15,4657(10) Å, c = 22,3320(14) Å e V = 2155,0(2) Å3. Em uma publicação recente, Brüning e colaboradores [69] obtiveram a forma anidra por desidratação da forma monohidratada em 393 K. Esta forma anidra foi caracterizada utilizando a DRXP, e para realizar o refinamento Rietveld, utilizou-se o programa Topas Academic v. 4.1 [146]. Dessa forma, verificou-se que esta estrutura se cristaliza num sistema cristalino ortorrômbico (P212121) com parâmetros de cela unitária a = 5,94606(19) Å, b = 15,8898(5) Å, c = 21,3765(6) Å e V = 2019,69(11) Å3. Os parâmetros de qualidade do ajuste foram: Rwp = 0,082%, Rexp = 0,071%, RBragg = 1,094% e χ2 = 1,161. 37 2.4 - Técnicas empregadas no estudo do polimorfismo No presente capítulo serão abordadas as principais técnicas utilizadas para identificar as diferentes formas cristalinas de fármacos e excipientes e será descrita com maiores detalhes a técnica de difração de raios X por policristais (DRXP) aliada ao método de Rietveld, que constitui a principal técnica utilizada neste trabalho para a caracterização estrutural das amostras estudadas. Serão apresentadas também outras técnicas utilizadas nestes estudos, como a calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG) e espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). 2.4.1 - Técnicas de caracterização dos cristais Como mostrado até aqui, é de suma importância que qualquer característica de um fármaco e/ou excipiente que possa afetar a estabilidade, a segurança e a biodisponibilidade seja monitorada e controlada, tendo em vista que os desvios de qualidade oriundos do polimorfismo podem trazer graves consequências para o setor farmacêutico. Diversas técnicas têm sido utilizadas para identificar as diferentes formas cristalinas de fármacos e excipientes. A Tabela 1 resume as técnicas utilizadas para o estudo do polimorfismo. Tabela 1 - Técnicas utilizadas no estudo do polimorfismo [26]. Técnica Medida obtida Calorimetria exploratória diferencial Fluxo de calor versus temperatura Difração de raios X Espectroscopia de absorção na região do infravermelho Microscopia e Microscopia eletrônica de varredura Microcalorimetria RMN no estado sólido Raman Difratograma de raios X Termogravimetria Espectro no infravermelho Microscopia por reflexão da luz ou de elétrons Fluxo de calor versus tempo Espectro de Ressonância Espectro Raman Variação de massa em função da temperatura 38 Vale ressaltar que cada uma das técnicas apresentadas pode ser utilizada com sucesso para a identificação de uma fase, no entanto em função das peculiaridades e limitações de cada uma delas, além das características do fármaco e/ou excipientes a serem avaliados, a ferramenta mais recomendada e potente é a combinação entre elas. A técnica de DRXP aliada ao método de Rietveld de refinamento de estrutura cristalina será descrita com maior ênfase neste trabalho, uma vez que constitui a principal técnica utilizada para a caracterização estrutural das amostras estudadas. Além desta, as técnicas de calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG) e espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) serão descritas nas seções a seguir. 2.4.1.1 - Difração de raios X por policristais (DRXP) 2.4.1.1.1 - Histórico Os raios X foram descobertos em 1895 pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen no Laboratório do Instituto de Física da Universidade Julius Maximilians, de Wüzburg, na Bavária. Röntgen construiu um tubo de raios catódicos e guardou-o dentro de uma caixa de papelão, protegendo-o da luz. Após algum tempo ele observou que, toda vez que era emitido um feixe de raios catódicos pelo tubo, um anteparo de platinocianeto de bário que se localizava a certa distância do tubo fluorescia [70, 71]. Esta fluorescência não poderia ser causada pelos raios catódicos, pois os mesmos teriam sido absorvidos pelo vidro que envolvia o tubo, pela caixa de papelão e pelo ar da sala. Uma rápida sucessão de experimentos mostrou que a radiação responsável por esta fluorescência era emitida pela parte do vidro que envolvia o tubo. Também, que era um raio que viajava em linha reta e que era absorvido pela matéria, contudo, muito menos que os raios catódicos. Röntgen chamou esses misteriosos raios, de “raios X”. Em seguida, o físico demonstrou que os raios X têm mais facilidade em atravessar a carne do que os ossos, mostrando para isso a radiografia da mão de sua esposa. Röntgen também mostrou que os raios X podiam ser produzidos com mais eficiência se os raios catódicos forem conduzidos para atingir um alvo de metal no lugar de um tubo de vidro [70, 71]. As novas descobertas de Röntgen rapidamente se espalharam na comunidade científica, e 39 logo em seguida, aplicações para os raios X foram surgindo, a primeira foi a radiografia, utilizada na medicina e mais tarde, por indústrias. Röntgen deu continuidade às suas pesquisas e descobriu que um ânodo feito de um elemento pesado, como a platina, emite raios X mais intensamente do que se for feito de um metal leve, como o alumínio. Além disso, descobriu que os raios X sensibilizavam filmes fotográficos e ionizavam um gás se o atravessasse, que a penetrabilidade dos raios X aumenta com o aumento da voltagem no tubo, entre outras coisas. Por suas descobertas, Röntgen recebeu em 1901 o primeiro prêmio Nobel em Física. 2.4.1.1.2 - A produção de raios X Os raios X são produzidos em laboratório, basicamente de duas maneiras: a primeira é utilizando um tubo de raios X, sendo este o método mais utilizado para a produção. Na Figura 8 é mostrada a descrição desse fenômeno a nível atômico: um elétron de alta energia (gerado no cátodo do tubo catódico), proveniente de um filamento, colide com um elétron no estado fundamental do alvo metálico (ânodo). Quando esse elétron atinge o alvo (I), um elétron da camada K de um átomo do material é liberado na forma de fotoelétron (II), fazendo que haja uma vacância nessa camada. Para ocupar o espaço deixado por esse elétron, outro elétron de uma camada mais externa passa à camada K (III), liberando energia na forma de um fóton de raios X (IV) [28]. Figura 8 – Produção de raios X a nível atômico [28]. 40 Outra maneira de se produzir raios X é através de um acelerador síncrotron, como o que existe em Campinas-SP no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), no qual um feixe de elétrons é acelerado a grandes velocidades, próximas à da luz, por campos eletromagnéticos e, ao serem desviados num dipolo magnético do anel de armazenamento do síncrotron, produzem raios X em vários comprimentos de onda (radiação branca) [28]. Ferreira e colaboradores [72] verificaram que o emprego de fontes de luz síncrotron para experimentos DRXP aumenta de modo significativo a quantidade de informações estruturais obtidas, quando comparadas a fontes convencionais. 2.4.1.1.3 - A Lei de Bragg A teoria que define o estudo de materiais cristalinos por difração de raios X baseia-se no fato de que as distribuições espaciais dos átomos no material definem diferentes planos atômicos que espalham os raios X, causando interferências construtivas e destrutivas, as quais se manifestam no padrão de difração de raios X como máximos e mínimos. Se considerarmos um cristal como sendo constituído por planos paralelos de átomos periodicamente espaçados por uma distância d um dos outros, então a estrutura de um cristal pode ser imaginada ao longo de planos como mostrado na Figura 9. Figura 9 – Difração de raios X por um cristal [71]. 41 Considere três feixes que incidam na superfície de uma amostra, cada um num plano atômico com índices de Miller (hkl) formando um ângulo θ com um plano cristalino de espaçamento d. Para que haja interferência construtiva isto é, para que se produza um pico de difração, é preciso que a diferença entre os caminhos percorridos pelos feixes de raios X difratados por dois planos sucessivos seja um múltiplo inteiro do comprimento de onda, ou seja, Δ = n.λ (onde n = 1, 2, 3, ...). Analisando a figura anterior, concluímos pela geometria da mesma que: =2dsen Assim, temos que: nλ=2dsenθ (1) Por meio de relações geométricas entre o feixe incidente e o feixe difratado pelos planos, W.L. Bragg formulou esta equação (1) que é conhecida como lei de Bragg, onde: λ é o comprimento de onda da radiação incidente, θ corresponde ao ângulo entre o feixe de incidência e o(s) plano(s) paralelo(s) à superfície, d é a distância interplanar e n é um número inteiro que indica a ordem de difração [73]. 2.4.1.1.4 - Utilização da difração de raios X na caracterização de polimorfos na área farmacêutica As amostras a serem analisadas por difração de raios X podem estar na forma de monocristais ou policristais. A difração de raios X por monocristais é uma técnica bem estabelecida, usada na determinação de estruturas cristalinas. Neste método, como o próprio nome diz, monocristais precisam ser obtidos, o que nem sempre é possível. Desta forma, torna-se conveniente utilizar a DRXP sempre que não é possível se obter um monocristal perfeito. Nesta técnica ao invés de um único cristal com orientação definida em relação ao feixe de raios X (como é o caso do método de monocristais), se utiliza um pó fino formado por pequenos monocristais orientados aleatoriamente [73]. 42 A DRXP assume muitas funções nas análises farmacêuticas, sendo uma poderosa ferramenta no estudo de polimorfos; primeiro, porque permite alta precisão nos resultados de estrutura cristalina. Permite, também, o estudo de sistemas com mais de uma fase e, consequentemente, de diferentes polimorfos, podendo assim ser identificada a contribuição de cada fase [28]. Para análise de fármacos e excipientes, a DRXP tem se mostrado viável graças aos avanços tecnológicos que permitiram melhorar significativamente os dispositivos de geração de raios X (ânodo rotatório, luz síncrotron), detecção de raios X (detectores de estado sólido, sensíveis à posição, múltiplos detectores) e resolução (luz síncrotron, monocromadores sagitais, espelhos de focalização e outros). 2.4.2 - Método de Rietveld O método de Rietveld [74] de refinamento de estruturas cristalinas tem mostrado um grande potencial para a identificação e quantificação de compostos orgânicos, principalmente devido aos avanços, citados acima, de geração e detecção de raios X, e aos avanços dos recursos computacionais. Com o método de Rietveld é possível identificar, sem ambiguidade, os polimorfos e quantificar cada um. Entretanto, o método é limitado aos casos onde a estrutura cristalina é conhecida. Este método já se mostrou bastante viável, visto os resultados recentes obtidos em nosso grupo de pesquisa [75]. Este método de refinamento consiste na construção matemática de um padrão de difração de raios X (simulação), baseando-se em um modelo estrutural adotado (estrutura que se espera para o material estudado). Uma grande quantidade de cálculos está envolvida no método, portanto são necessários programas computacionais especialmente escritos para isso [28, 70, 71]. Dentre estes programas podem ser citados o GSAS (General Structure Analysis System®) [76] e o Topas Academic v. 4.1 [146]. Uma das vantagens desse método é a obtenção de um padrão de difração por modelos matemáticos, eliminando a necessidade de preparação de amostras padrão para comparação das intensidades dos picos. Sendo assim, os dados de difração são usados da maneira que saíram do difratômetro, sem necessidade de qualquer tratamento, ou seja, os dados observados não sofrem qualquer alteração, o que segue o critério científico de que as observações não devem ser modificadas para serem analisadas [28, 70]. 43 Os requisitos básicos para o refinamento pelo método de Rietveld são [70, 71]: a) Medidas precisas de intensidades dadas em intervalos fixos de 2; b) Um modelo inicial próximo à estrutura real do cristal; c) Um modelo que descreva a forma, largura e erros sistemáticos nas posições dos picos de Bragg. O método de Rietveld pode ser aplicado na análise quantitativa de fases, ajuste de parâmetros de cela e estudos estruturais como: determinação de tamanho médio de cristalitos, distribuição de cátions, incorporação de átomos e formação de vacâncias, posições atômicas e posições de ocupação [70, 71]. 2.4.2.1 - Método de Rietveld para análise quantitativa de fases Diversos métodos são utilizados na análise quantitativa de fases por difração de raios X, tendo como premissa básica o fato de considerarem os efeitos da absorção sobre as intensidades e utilizarem as intensidades integradas através de comparações entre picos arbitrariamente [77]. Nesta análise a quantidade em massa de cada fase presente é calculada pelo método de Hill & Howard [78], conforme mostrado na equação (2). Wp Sp ( ZMV ) p n Si ( ZMV )i (2) i=1 onde p se refere à fase cuja quantidade se está determinando, i se refere a cada uma das N fases presentes, Si é o fator de escala, Z é o número de fórmulas unitárias por cela unitária, M é a massa da cela unitária em unidade atômica de massa, e V é o volume da cela unitária da iésima fase. 44 2.4.2.1.1 - Método de adição O método de adição relaciona a intensidade de uma determinada fase em uma amostra original com a intensidade da amostra após a adição de uma quantidade conhecida da mesma fase pura. É aplicado normalmente em materiais cuja fase de interesse seja um composto estável, com picos definidos e sem sobreposição dos picos de interesse. 2.4.2.1.1.1 - Método do padrão interno Entre estes métodos o mais utilizado é o método do padrão interno, denominado de análise quantitativa de fases com padrão interno. Tendo isso em vista e por este ter sido utilizado para determinar a fração de amorfo de duas amostras estudadas neste trabalho, serão apresentadas algumas considerações a respeito do método. A teoria envolvida na descrição da análise quantitativa de fases pelo método de Rietveld é semelhante às teorias aplicadas nas análises por métodos tradicionais. O método do padrão interno pode ser aplicado juntamente com o método de Rietveld para a determinação de fase amorfa em compostos parcialmente cristalinos; além de não ser possível quantificar sem o uso de um padrão, diferentes fases amorfas não podem ser distinguidas pela difração de raios X. Desta forma, para determinar a fração de amorfo deve-se fazer uso de um padrão interno, o qual deve ser refinado como mais uma fase cristalina. Como o padrão interno é introduzido em uma quantidade conhecida, os cálculos são realizados de forma a fornecer essa mesma quantidade no final de cada ciclo do refinamento. Ou seja, após cada ciclo a proporção é determinada e multiplicada por um fator de escala para fornecer a mesma quantidade adicionada. Todas as outras fases são corrigidas pelo mesmo fator de escala. A soma de todas as fases refinadas, incluindo o padrão interno, deverá ser menor do que 100%. A diferença para 100% é a proporção de amorfo no material [77]. Vale ressaltar que se deve tomar cuidado na preparação da amostra de forma a garantir que seja reduzida ao máximo a orientação preferencial, a qual altera de maneira significativa as intensidades relativas e, consequentemente, prejudica os cálculos da quantificação das fases cristalinas. As vantagens da análise quantitativa de fases pelo método de Rietveld sobre os métodos tradicionais de análise por intensidade integrada, estão na possibilidade de: 45 a) utilização de todo padrão difratométrico, isto é, de todas as classes de reflexão, reduzindo os efeitos sistemáticos da orientação preferencial; b) ajuste da orientação preferencial de cada fase; c) tratamento mais eficiente de superposição de picos; d) refinamento da estrutura cristalina e do perfil do pico para fases individuais em misturas; e) correção de propagação de erros entre os resultados da análise de fase, usando o desvio-padrão do fator de escala de cada fase, estimado pelos mínimos quadrados. 46 2.4.2.2 - Índices de qualidade do refinamento O processo de refinamento do método de Rietveld ajusta os parâmetros até que o resíduo seja minimizado. Para tal, torna-se necessária a utilização de alguns critérios estatísticos que auxiliem no julgamento da qualidade dos refinamentos. Seus valores numéricos podem indicar a presença de um mínimo local, a existência de problemas com os dados originais de partida, a qualidade dos dados refinados e, ainda, o momento em que se deve parar o refinamento [28, 70, 71, 74]. Vários critérios são considerados para avaliar a qualidade do refinamento, os mais comumente usados são [28, 70, 71, 74]: RBragg – fator de Bragg: indica a qualidade dos parâmetros estruturais refinados, sendo expresso por: RBragg Ik (obs) Ik (calc) Ik (obs) onde Ik é a intensidade atribuída a k-ésima reflexão de Bragg ao final do refinamento. Ik(*obs*), que não é realmente observado, é a intensidade integrada atribuída à reflexão de Bragg (hkl), obtida da maneira descrita por Rietveld em 1969: Ik (*obs*) wjJKLpk | Fk |2 j yi ( obs ) yi ( calc) Rwp – fator de R-perfil ponderado: definido por: Rwp 100 i wi(yi(obs) yi(calc)) 2 wiyi i O índice de qualidade do refinamento denominado de Rwp é o índice que deve ser analisado para verificar se o refinamento está convergindo. Se, durante o refinamento, R wp convergir para valores pequenos, isto sugere um bom procedimento no refinamento. Porém, se este convergir para valores maiores que os do ciclo anterior, significa que algum(ns) 47 parâmetro(s) apresenta(m) problema(s). Nesse caso, deve-se parar o refinamento e analisar com cuidado os parâmetros para identificar aqueles com problemas e, então, tomar decisões que dependem dos parâmetros envolvidos. Após as correções necessárias, prossegue-se com os refinamentos, sempre buscando diminuir Rwp ao menor valor possível [28, 70, 71, 74]. Rexp – valor estatisticamente esperado para Rwp, dado por: 1/2 (N P) Re xp 100 2 wiyi (obs) onde P é o número de parâmetros refinados e N é o número de observações. Como já visto, é considerado o melhor resultado aquele que fornecer o difratograma de raios X calculado mais próximo possível do observado. Ou seja, o que fornecer o mais baixo índice Rwp. – qualidade do ajuste: compara o valor de Rwp obtido com o esperado Rexp, ou seja: 2 O índice R wp R exp é a razão entre Rwp e Rexp, sendo que o último é o valor estatisticamente esperado para o Rwp. é chamado de “goodness of fit” e deve estar próximo de 1,0 ao final do refinamento, significando que nada mais pode ser melhorado, pois o Rwp já atingiu o limite que se pode esperar para aqueles dados de difração medidos [28, 70, 71, 74,79]. Rwp e são os principais parâmetros numéricos que refletem o andamento do refinamento. Porém, é recomendada a contínua utilização dos gráficos durante o refinamento, devido a facilidade de visualização geral do refinamento e ajuste final. Nos gráficos de Rietveld são representados os padrões calculados, os observados, a diferença entre eles (yo - yc) e as posições dos picos de Bragg (2B). Na Figura 10 mostrada abaixo, o “x” representa o difratograma observado (yo) e a linha contínua representa o difratograma calculado (yc). A linha contínua mais abaixo representa a diferença entre os 48 difratogramas observado e calculado (residual, yo - yc), e a contínua sobrepondo a radiação de fundo é a radiação de fundo ou background. Figura 10 – Componentes do gráfico de Rietveld, com o difratograma calculado (linha contínua vermelha); observado (x em preto); radiação de fundo ou background (linha contínua verde); a diferença entre o observado e o calculado (linha contínua azul) e os picos de Bragg (barra vertical magenta) [Adaptado da referência 28]. Com este gráfico de Rietveld é possível verificar até mesmo a presença de uma segunda fase que, porventura, não esteja sendo considerada no refinamento, ou então identificar problemas de refinamento, auxiliando no desenvolvimento do mesmo [28, 70, 71, 74]. 49 2.4.3 - Análise Térmica A definição aceita de análise térmica, como dada por Mackenzie [80] e a Confederação Internacional de Análise Térmica e Calorimetria (ICTAC) é: “Um grupo de técnicas nas quais uma propriedade física de uma substância e/ou seus produtos de reação é medida como função da temperatura, enquanto a substância é submetida a um programa controlado de temperatura” [81]. Wendlant [82] destaca três critérios que devem ser seguidos para uma técnica ser aceita como termoanalítica: a) Uma propriedade física deve ser medida; b) A medida deve ser expressa (direta ou indiretamente) em função da temperatura; c) A medida deve ser feita sob um programa controlado de temperatura. Embora exista um número grande de técnicas de análise térmica, a calorimetria exploratória diferencial (DSC) e a termogravimetria (TG) destacam-se na área farmacêutica devido à grande importância adquirida na caracterização de materiais e no estudo de compatibilidade entre fármaco e excipientes [83, 84], sendo utilizadas pelos farmacêuticos e pesquisadores há mais de 30 anos. Ocasionalmente o uso de mais de uma técnica termoanalítica é aconselhável a fim de responder completamente a um problema específico. Tendo em vista que as amostras deste trabalho foram estudadas através das técnicas termoanalíticas de DSC e TG, apenas estas serão descritas detalhadamente a seguir. 2.4.3.1 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC) DSC é uma técnica de análise térmica que tem sido utilizada por várias décadas e é aplicada para uma variedade de materiais como produtos farmacêuticos, polímeros, alimentos e substâncias inorgânicas [85]. Existem dois tipos de instrumentos que realizam as medidas: DSC com compensação de potência, no qual a amostra e a referência são aquecidas em compartimentos separados, ou seja, individualmente, e outro é o DSC com fluxo de calor, sendo que este último foi utilizado neste trabalho. Nas medidas de DSC com fluxo de calor, a amostra e a referência são colocadas sobre um disco termoelétrico e aquecidas por uma única fonte de calor. Neste sistema, o calor 50 é transferido através do disco termoelétrico para a amostra e a referência, e o fluxo de calor diferencial entre ambas é monitorado por termopares [86]. Os registros das curvas de DSC encontram-se como fluxo de calor versus temperatura e a área do sinal é diretamente proporcional à quantidade de calor absorvido (evento endotérmico) ou liberado (evento exotérmico), sendo que a integração desse sinal fornece a quantidade de calor envolvida em J g-1 ou cal g-1 [16]. Os eventos térmicos observados podem possuir características endotérmicas e exotérmicas [82]. Uma curva típica resultante de um experimento de DSC para uma dada amostra é representada na Figura 11, onde são representados estes eventos. Figura 11 – Curva genérica para um experimento DSC. I) mudança de linha de base sem pico; II e III) picos endotérmicos; IV) pico exotérmico [Adaptado da referência 87]. Desta forma, através da técnica de DSC é possível acompanhar os efeitos de calor associados com alterações físicas ou químicas da amostra, tais como fusão, ebulição, sublimação, vaporização, dessolvatação (que geralmente são eventos endotérmicos), e a cristalização, oxidação, e algumas reações de decomposição (normalmente processos exotérmicos). As medições quantitativas destes processos têm aplicações em estudos de préformulação, incluindo a determinação do grau de pureza, polimorfismo, solvatação e degradação de substâncias [81]. Vale ressaltar que esta técnica é uma ferramenta útil em estudos de polimorfismo de fármacos e excipientes, entretanto, é essencial que sejam aplicadas outras técnicas, como por 51 exemplo, a difração de raios X, a qual se destaca pelo grande número de informações que é capaz de fornecer, sendo complementar para confirmar interpretações sugeridas [89]. A técnica de DSC tem como principais vantagens, a versatilidade e a necessidade de pequenas quantidades de amostra para ser desenvolvida. Sua principal desvantagem está no fato de, em alguns momentos, resultarem em registros de difícil interpretação ou o surgimento de falsos resultados (positivos ou negativos para polimorfismo) [89]. Neste âmbito, alguns estudos mostraram que as formas I, II e III da carbamazepina e do cloridrato de gepirona podem ser distinguidas por meio da utilização de curvas de DSC [86, 90]. Sacchetti [91] caracterizou por DSC duas formas polimórficas do paracetamol, determinando ainda a temperatura de transição cristalina. 2.4.3.2 - Termogravimetria (TG) A TG é a técnica de análise térmica na qual a mudança da massa de uma amostra (perda ou ganho de massa) é medida em função da temperatura e/ou do tempo, enquanto a amostra é submetida à programação controlada de temperatura. Os experimentos para avaliar as variações na massa de um material em função da temperatura são executados por meio da termobalança, que deve permitir o trabalho sob as mais variadas condições experimentais. No método termogravimétrico, convencional ou dinâmico, mais comumente empregado, a massa da amostra (m), é continuamente registrada como função da temperatura (T) ou tempo (t) [81]. M = f (T ou t) Na Termogravimetria derivada (DTG), a derivada da variação de massa em relação ao tempo (dm/dt) é registrada em função da temperatura ou tempo. dm/dt = f (T ou t) A curva DTG é a derivada primeira da curva TG e nos quais os degraus correspondentes às variações de massa da curva TG são substituídos por picos que determinam áreas proporcionais às variações de massa. 52 Esta curva traz as mesmas informações que a TG, porém apresenta informações de uma forma visualmente acessível (maior resolução), além de permitir a partir da altura do pico, a qualquer temperatura, obter a razão de variação de massa (∆m) naquela temperatura, como também, permite a pronta determinação da Tmáx (temperatura na qual a ∆m ocorre mais rapidamente) [92]. Tipicamente curvas TG e sua derivada (DTG) são apresentadas como mostrado na Figura 12. Figura 12 – Curvas TG (azul) e sua derivada, DTG (vermelho) [93]. Note que a ordenada é apresentada usualmente em percentual de massa ao invés da massa total, proporcionando assim uma fácil comparação entre várias curvas em uma base normalizada. O estudo de polimorfismo com a utilização do DSC e TG para elucidar as formas polimórficas é relatado por alguns autores, como Moneghini e colaboradores [63] que investigaram o fármaco atenolol, Hassan e colaboradores [94] que estudaram a famotidina, Palacio e colaboradores [95] que analisaram o fármaco albuterol, entre outros. Outro grande potencial da TG é na caracterização, na diferenciação e na detecção de traços de pseudopolimorfos (moléculas de solvente estão presentes na estrutura cristalina) em uma amostra [96]. 53 2.4.3.3 - Considerações gerais para interpretação dos parâmetros obtidos pelas técnicas de DSC e TG Para facilitar o entendimento dos dados obtidos por DSC e TG, algumas definições [82] se fazem necessárias, pois estes termos serão utilizados nas discussões apresentadas para as amostras em estudo. Vale ressaltar que apenas para as amostras de estearato de magnésio será utilizada a temperatura endset, pois para estas, os eventos encontrados nas curvas DSC encontram-se muito próximos uns dos outros. Temperatura onset (Tonset) em DSC: é a temperatura onde a transição começa a desviar-se da linha de base. O programa computacional disponível para analisar os eventos térmicos fornece a Tonset extrapolada, que é definida pela interseção da tangente ao ponto de máxima inclinação do pico com a linha de base extrapolada. A endoterma de fusão pode ser descrita e caracterizada pela Tonset. Temperatura máxima (Tmáx): é a distância máxima da linha de base, temperatura medida no ápice do evento (pico), endotérmico ou exotérmico. Temperatura endset (Tendset): é conhecida como a temperatura final extrapolada. Tonset em TG: é a temperatura na qual as variações acumuladas de massa totalizam o valor em que a balança é capaz de detectar a perda de massa. Indica o momento de inflexão da linha de base, reconhecido como início da perda de massa. 2.4.3.4 - Análise térmica: interesse na área farmacêutica Recentemente, muitos trabalhos em análise térmica têm sido publicados na área aplicada à indústria farmacêutica [38]. Paralelamente a este fato, observou-se o interesse crescente das indústrias farmacêuticas na utilização da análise térmica devido, principalmente, à diversidade de informações físicas e químicas obtidas a partir de sua utilização. Este grupo de técnicas é particularmente muito adequado para o estudo de polimorfismo e pseudopolimorfismo em fármacos e excipientes, sendo utilizadas como técnicas de rotina para estudos de pré-formulação, no controle de qualidade de fármacos e excipientes, e no controle de processos farmacêuticos [97, 98]. Os requerimentos inseridos nas normas do ICH (U.S. International Conference of Harmonisation) para a caracterização e quantificação de formas polimórficas de fármacos 54 reforçam a importância adquirida pela análise térmica neste cenário. Assim sendo, podem-se observar diversas aplicações da análise térmica na área farmacêutica, dentre as quais podem ser citadas: (a) o estudo de compatibilidade entre fármaco e excipiente, fato que consente a técnica adquirir grande importância, uma vez que há a possibilidade de se estudar potenciais interações físicas e químicas entre o(s) princípio(s) ativo(s) e excipiente(s) da fórmula, permitindo prever eventuais incompatibilidades no produto final [98-100]; (b) o estudo do polimorfismo; (c) as determinações realizadas com o fármaco e excipientes na avaliação das temperaturas em que ocorre a decomposição dos produtos intermediários formados nos processos térmicos; (d) determinações realizadas com a formulação farmacêutica em etapas do seu desenvolvimento; (e) o controle de processos e identificação de substâncias e até mesmo aplicações em etapa de desenvolvimento de novos fármacos. Conforme mencionado, foi verificado um crescente interesse no estudo de fármacos e excipientes através das técnicas de análise térmica tais como DSC e TG, em contrapartida, na classe de medicamentos antirretrovirais, por exemplo, poucos estudos têm sido explorados até o momento em análise térmica e um dos pioneiros nestes estudos foi Araújo [100], que estudou em específico o antirretroviral Zidovudina, demonstrando os produtos de decomposição, através da TG [97]. Nesse sentido, vários trabalhos envolvendo medicamentos estão sendo desenvolvidos por pesquisadores de todo o mundo, principalmente pela facilidade na determinação de parâmetros cinéticos, os quais irão contribuir para as informações sobre a estabilidade térmica e procedimento de armazenamento desses fármacos [101-103]. 55 2.4.4 - Espectroscopia de absorção na região do infravermelho A espectroscopia de absorção na região do infravermelho tem sido amplamente utilizada na identificação de substâncias, através dos grupos funcionais presentes no material em análise. Um espectro de infravermelho apresenta grande quantidade de sinais chamados de bandas e é característico de uma molécula como um todo, porém os grupamentos e ligações apresentam absorções que geram bandas de formato característico da estrutura da molécula [104]. Desta forma, este espectro relaciona absorbância versus comprimento de onda (normalmente é utilizado o número de onda, que é o intervalo de comprimento de onda) que indica a ocorrência, ou não, de absorção pelo material de energia associada àquele comprimento de onda. Como os grupos funcionais absorvem em diferentes comprimentos de onda, é possível identificar os grupos funcionais presentes na amostra. A espectroscopia de infravermelho vem sendo utilizada desde o final de 1950 para fins qualitativos, que juntamente com a espectroscopia de ressonância magnética revolucionou o modo como os químicos passaram a identificar espécies orgânicas, inorgânicas e biológicas. Naquela época o infravermelho usando instrumentação dispersiva, obtinha resultados quantitativos de qualidade inferior aos obtidos com espectroscopia de ultravioleta-visível. Em delineamentos atuais, empregando o tratamento do espectro por transformada de Fourier, a precisão e a exatidão das medidas melhoraram consideravelmente os resultados [105]. Na técnica de espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), a amostra é submetida a uma radiação de comprimento de onda na região do infravermelho, e esta região espectral que corresponde ao infravermelho compreende a radiação com números de onda no intervalo de aproximadamente 12800 a 10 cm-1. Do ponto de vista da aplicação como dos instrumentos empregados, o espectro de infravermelho é dividido em infravermelho próximo (NIR - do inglês, Near Infrared) com número de onda entre 12800 a 4000 cm-1, médio (MID - do inglês, Middle Infrared) entre 4000 a 400 cm-1 e distante (FAR - do inglês, Far Infrared) entre 400 a 10 cm-1 [105]. Para as regiões do infravermelho, em geral, há a possibilidade de se realizar medidas de amostras em todos os estados e formas, como gases, líquidos, sólidos, sistemas binários e terciários como as amostras semissólidas, pastas, géis e outras [106]. As principais aplicações do infravermelho encontram-se na análise quantitativa de materiais industriais e agrícolas e no 56 controle de processos, destacando as aplicações farmacêuticas, além de constituir uma ferramenta valiosa para a identificação de grupos funcionais. O infravermelho médio é a região do espectro onde se encontra o maior número de aplicações para a análise qualitativa de compostos orgânicos, pois nessa região ocorrem essencialmente transições fundamentais e existe uma faixa espectral conhecida como região de impressão digital (1200 a 700 cm-1). Nessa região pequenas alterações na estrutura e na constituição de uma molécula resultam em mudanças significativas na distribuição das bandas de absorção do espectro que são relacionados com a estrutura da molécula. Possuindo estas informações, é possível identificar os compostos pela comparação do seu espectro MID com bancos de dados existentes [105]. Vários grupos funcionais absorvem na região do infravermelho próximo (NIR), entretanto apresentam absorções menos intensas quando comparadas as absorções no MID. Já a região do infravermelho distante (FAR) tem uso limitado devido às limitações instrumentais, pois são poucas as fontes para este tipo de radiação [106]. Numerosos artigos na literatura ilustram a aplicação da técnica de FTIR para ajudar a resolver o problema do polimorfismo [108] por se tratar de uma técnica robusta e disponível em muitos laboratórios, e além do que foi mencionado, principalmente, devido ao fato de os padrões de ligação de hidrogênio frequentemente diferirem entre as formas, e os grupos funcionais afetados mostrarem graus variados de mudanças nas posições das bandas dos picos. Neste âmbito, a técnica de FTIR é utilizada para pesquisa na área farmacêutica para a identificação de fármacos e excipientes, análise de pureza de amostras, investigação estrutural, cristalinidade, interações entre fármacos e excipientes, na caracterização de estruturas polimórficas, quanto a sua estrutura química, fornecendo indicação de ocorrência de modificações após o processo de cristalização [108]. Para poder ser utilizada com esta finalidade é necessário produzir amostras puras de cada um dos polimorfos e caracterizá-los previamente. A combinação das técnicas de FTIR e a difração de raios X são utilizadas com grande êxito para comprovar as interações entre fármacos, excipientes e sistemas binários fármaco-excipientes [109]. As alterações observadas nos espectros de infravermelho como o surgimento de novas bandas, ampliação ou alterações na intensidade ou posição das bandas, 57 observadas em relação ao espectro original devem ser associadas com as alterações nos difratogramas de raios X obtidos em condições semelhantes [108]. Os fármacos carbamazepina, cloridrato de propanolol, cloridrato de ranitidina e tolbutamida, meprobamato, entre outros, podem ser exemplificados por terem seus polimorfos caracterizados e diferenciados pela aplicação da espectroscopia de absorção na região do infravermelho [26, 89]. Atualmente, o baixo custo dos equipamentos, a simplicidade e rapidez para aquisição dos espectros tornam esta técnica de importância incontestável [108]. Segundo a maioria dos autores [110], três métodos de reflexão no infravermelho têm apresentado aplicações práticas na aquisição de espectros que contenham informações químicas de determinada matriz. São eles: o método por reflexão especular (ou externa); o método por reflexão difusa (DRIFTS); e o método por reflexão total atenuada (ATR), sendo este último utilizado neste trabalho, portanto apenas este método será descrito sucintamente abaixo. 2.4.4.1 - Reflectância Total Atenuada (ATR) O modo de ATR é uma técnica de amostragem rápida, não destrutiva, que requer uma mínima preparação da amostra e permite a obtenção de espectros de amostras sólidas ou líquidas, tais como sólidos pouco solúveis, pós, pastas, entre outras. É também adequado para caracterização de materiais que sejam demasiado finos ou que absorvam demasiado intensamente quando analisados por espectroscopia de transmissão. Na espectroscopia de infravermelho por ATR, a superfície da amostra é colocada em contato com a superfície de um cristal apropriado muitas vezes feito de seleneto de zinco (ZnSe) [111]. A dificuldade em se obter uma boa reprodutibilidade no contato da amostra com o elemento de ATR é um fator de limitação dessa técnica. Isto é observado na variação da intensidade das bandas com a pressão aplicada. Conforme se emprega a pressão, aumenta-se a eficiência de contato e, por conseguinte, as intensidades das bandas. Outro fator que influencia na intensidade das bandas para uma boa reprodutibilidade é a área de contato entre o cristal e a amostra. Para aferirem-se as medidas quantitativas deve-se colocar toda a área do cristal em contato com a amostra [111]. 58 Vale ressaltar que nesta técnica pouca ou nenhuma preparação da amostra é requerida conforme mencionado, o que constitui uma grande vantagem nos estudos de polimorfismo, podendo ser usada na análise de uma grande variedade de sólidos e líquidos. Salari & Young [112] foram os pioneiros na utilização desta técnica para a quantificação de polimorfos. 59 3 - Objetivos 3.1 - Objetivos Gerais O presente trabalho tem por objetivo a caracterização das propriedades estruturais dos excipientes celulose microcristalina PH-101, celulose microcristalina PH-102, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, lactose monohidratada, lauril sulfato de sódio e povidona, utilizados na produção do medicamento Ezetrol®. A principal técnica utilizada foi a difração de raios X por policristais (DRXP) aliada ao método de Rietveld de refinamento de estruturas cristalinas. Outras técnicas também auxiliaram nos estudos, entre elas a calorimetria exploratória diferencial (DSC), temogravimetria (TG) e espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). 3.2 - Objetivos Específicos Caracterização estrutural dos excipientes pela difração de raios X por policristais aliada ao método de Rietveld de refinamento de estruturas cristalinas. Estudo complementar dos excipientes pelas técnicas de calorimetria exploratória diferencial, termogravimetria e espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier, a fim de fornecer informações que sirvam de subsídio para as indústrias farmacêuticas. 60 4 - Parte experimental 4.1 – Amostras 4.1.1 - Excipientes estudados Foram estudados os excipientes celulose microcristalina PH-101, celulose microcristalina PH-102, croscarmelose sódica, sete diferentes lotes de estearato de magnésio, identificados como CA, EM, L0, ML, NF, SL e VG, lactose monohidratada, lauril sulfato de sódio e povidona. 4.1.2 - Medicamento em estudo O medicamento em estudo é denominado Ezetrol®, sendo este comercializado na forma de comprimido. Todas as amostras de excipientes e do medicamento encontravam-se na forma de pó e foram gentilmente cedidas por laboratórios farmacêuticos, os quais não terão suas informações divulgadas. 4.2 - Condições experimentais das medidas 4.2.1 - Difração de raios X por policristais (DRXP) Os difratogramas de raios X foram adquiridos em dois difratômetros com diferentes geometrias (reflexão e transmissão). Alguns dados foram coletados em um difratômetro de raios X por policristais D8Focus, da Bruker, utilizando radiação CuKα, tensão de 40 kV e corrente de 40 mA, fenda de divergência de 0,2 mm, fendas Soller (primária e secundária) de 2,5º, fenda de antiespalhamento de 3 mm e um detector linear (LynxEye®). As varreduras para as amostras de estearato de magnésio e lactose monohidratada foram realizadas nas faixas angulares de 3° a 50° (2) com passo de 0,02º e tempo de aquisição por ponto de 1 segundo. Estas medidas foram realizadas na Central Experimental Multiusuário (CEM) da Universidade Federal do ABC (UFABC). 61 Outros dados foram coletados em um difratômetro por policristais STADI-P, da marca Stoe, operando no modo de transmissão, utilizando radiação CuKα1 (1,54056 Å), tensão de 40 kV e corrente de 40 mA, equipado com monocromador de feixe primário (cristal curvo de Ge (111)), fendas e um detector linear (Mythen 1K). As varreduras foram realizadas nas faixas angulares de: 3° a 60° (2) para as amostras de celulose microcristalina PH-101 e PH-102, croscarmelose sódica, lactose monohidratada e povidona; 1,5° a 60° (2) para o lauril sulfato de sódio; 2° a 60° (2) para todas as amostras de estearato de magnésio; 1° a 100° (2) para os comprimidos de Ezetrol®. Todas as aquisições foram realizadas com passo de 0,015º e tempo de integração de 60 segundos a cada 1,05º. Estas análises foram realizadas no Laboratório de Cristalografia e Caracterização Estrutural de Materiais (LCCEM) da UFABC. Para a localização das estruturas cristalinas das amostras estudadas neste trabalho foi usado o banco de dados Cambridge Structural Database® (CSD) e em um caso específico o banco de dados Inorganic Crystal Structure Database® (ICSD) que fornecem arquivos de extensão CIF (Crystallographic Information File), os quais foram analisados graficamente através do software Mercury [113]. Esses dados cristalográficos obtidos no formato CIF contêm informações necessárias para a obtenção da estrutura molecular e cristalina, tais como os parâmetros da cela unitária, o sistema cristalino e grupo espacial, a fórmula molecular, as operações de simetria pertinentes ao grupo espacial em questão, entre outras informações. A caracterização estrutural das amostras foi realizada pelo método de Rietveld, a partir de dados de DRXP. Para o refinamento das estruturas e análise quantitativa de fases, foi utilizado o programa Topas Academic v.4.1[146]. 4.2.2 - Análise Térmica Os estudos termoanalíticos para as amostras foram realizados na CEM da UFABC, com base na calorimetria exploratória diferencial (DSC) e termogravimetria (TG). 4.2.2.1 - Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) Os dados de DSC foram obtidos no equipamento DSC Q-2000, da marca TA Instruments, sob atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL min-1) e razão de aquecimento de 62 5 ºC min-1 (estearato de magnésio e povidona) e 10 ºC min-1 (celulose microcristalina, croscarmelose sódica, Ezetrol®, lactose monohidratada e lauril sulfato de sódio). As amostras foram acondicionadas em porta-amostra de alumínio hermético, com massas aproximadas de 5-8 mg. As faixas de temperatura nas quais foram obtidos os dados de DSC iniciam da temperatura ambiente (25 °C) para todas as amostras até: 250 °C (lauril sulfato de sódio), 300 °C (croscarmelose sódica, Ezetrol® e lactose monohidratada), 400 °C (povidona) e 450 °C (celulose microcristalina PH-101, celulose microcristalina PH-102 e estearato de magnésio). 4.2.2.2 - Termogravimetria (TG) Os dados de TG para o estudo do comportamento térmico das amostras foram obtidos no equipamento TGA Q-500, da marca TA Instruments. Utilizou-se uma razão de aquecimento de 10 °C min-1, sob atmosfera dinâmica de nitrogênio para todas as amostras, exceto para a lactose monohidratada que foi realizada sob atmosfera dinâmica de oxigênio. Para todas as amostras o intervalo das massas se encontrava na faixa de 6-10 mg, e estas foram adicionadas em uma panela de Pt, e a perda de massa, foi registrada em função da temperatura. As faixas de temperatura nas quais foram adquiridos os dados de TG iniciam na temperatura ambiente (25°C) até 600 °C para as amostras celulose microcristalina PH-101, celulose microcristalina PH-102, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, lauril sulfato de sódio e povidona, apenas para a lactose monohidratada a temperatura final foi de 700 °C. 4.2.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) Os dados espectrais foram adquiridos na faixa de 4000 a 650 cm-1 com resolução de 4 cm-1, em um espectrômetro por transformada de Fourier da marca Varian, modelo 660-IR, equipado com um acessório de reflexão total atenuada (ATR), com cristal de ZnSe. O cristal foi limpo entre as leituras das amostras com papel absorvente. Os ensaios foram realizados na CEM da UFABC. 63 5 - Resultados e Discussão Serão apresentados e discutidos nesta seção os resultados referentes à caracterização das amostras com o uso das técnicas de calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG), espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) e difração de raios X por policristais (DRXP) aliada ao método de Rietveld. 5.1 - Considerações acerca da celulose microcristalina Segundo Ek, Alderborn e Nyströn [114], a celulose microcristalina (preparada a partir da celulose nativa, após purificação) é um excipiente semicristalino, constituído de regiões menos organizadas (amorfas) e altamente organizadas (cristalinas), sendo estas últimas agrupadas em núcleos denominados cristalitos. Estes cristalitos, por sua vez, são rodeados de regiões amorfas. É importante ressaltar que a celulose possui diferentes formas cristalinas, apresentando cinco formas polimórficas a partir da celulose nativa (Iα que possui uma estrutura cristalina triclínica e Iβ com uma estrutura monoclínica), que recebem os seguintes nomes: celulose II, celulose IIII, celulose IIIII, celulose IVI e celulose IVII [115]. Dentre as formas polimórficas citadas, a mais estudada é a celulose I, que é a celulose nativa, isto é, na forma como ela é encontrada na natureza. Este polimorfo apresenta reflexões próximas aos seguintes ângulos de difração (2θ): 15° (plano 101), 17° (plano 10), 21° (plano 021) e 23° (plano 002). Como a celulose existe em mais de uma forma polimórfica, não há uma dimensão única para a cela unitária, conforme pode ser visualizado na Tabela 2, que apresenta as dimensões de cela unitária para alguns polimorfos da celulose. 64 Tabela 2 - Dimensões de celas unitárias para polimorfos da celulose determinadas por difração de raios X [116]. Dimensões Polimorfo a (Å) b (Å) c (Å) β (°) Celulose I 7,85 8,17 10,34 96,4 Celulose II 9,08 7,92 10,34 117,3 Celulose III 9,9 7,74 10,3 122,0 Celulose IV 7,9 8,11 10,3 90,0 5.1.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão) para as amostras de celulose microcristalina No presente trabalho foram estudadas por difração de raios X a celulose microcristalina PH-101 e a celulose microcristalina PH-102. Vale enfatizar que os diferentes tamanhos médios de partículas e conteúdo de umidade até então, são as diferenças entre os diversos tipos de celulose microcristalina. Na Figura 13 são mostrados os difratogramas de raios X obtidos no modo de transmissão para as duas amostras de celulose microcristalina. 65 Figura 13 – Difratogramas de raios X das amostras celulose microcristalina PH-101 e PH-102 obtidos no modo de transmissão. Através dos difratogramas de raios X mostrados, pode-se verificar que ambos são característicos de amostras semicristalinas, devido à presença de dois picos mais largos (14,7° e 16,3° em 2θ), seguido de um pico mais estreito e intenso (22,5° em 2θ, sendo este pico de maior intensidade para a celulose microcristalina PH-102). Além disso, é de grande importância conhecer o comportamento da linha de base (background), o qual fornece informações a respeito da presença de fases amorfas. Nota-se claramente que o comportamento do background para as duas amostras de celulose microcristalina não é característico de uma amostra totalmente cristalina. Desta forma, os resultados obtidos mostram que as amostras deste trabalho não se comportam de maneira diferente do que afirmaram os pesquisadores Ek, Alderborn e Nyströn [114]. Além disso, verifica-se que os difratogramas de raios X para as duas amostras estudadas são bastante semelhantes e característicos da celulose I (nativa) com picos de difração centrados em 14,7°; 16,3°; 22,5° e 34,6° (2θ). Também pode ser visualizado um 66 ombro ao redor de 20,8° (2), referente ao halo amorfo. Entretanto, para afirmar se realmente estas amostras pertencem a esta forma polimórfica da celulose e se cristalizam em um sistema cristalino triclínico (Iα) ou monoclínico (Iβ) foram realizados os refinamentos de Rietveld para ambas que serão mostrados na seção 5.1.5. 5.1.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC) e termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) Na avaliação da estabilidade térmica da celulose, normalmente se observa, a temperaturas relativamente baixas, perda de água superficial. Este evento pode ser observado através das curvas de DSC para as amostras celulose microcristalina PH-101 e PH-102 mostradas na Figura 14 e Figura 15 respectivamente, as quais apresentam um pico endotérmico largo que corresponde à eliminação da água superficial destes excipientes. Figura 14 – Curva de DSC da celulose microcristalina PH-101, obtida a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). 67 Figura 15 – Curva de DSC da celulose microcristalina PH-102, obtida a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). Através da Tabela 3 pode-se verificar os parâmetros térmicos envolvidos nas curvas de DSC para ambas as amostras de celulose microcristalina. Vale ressaltar que estes resultados estão em concordância com os obtidos na literatura [117-119]. Tabela 3 - Parâmetros térmicos obtidos para as amostras celulose microcristalina PH-101 (denominada 101) e celulose microcristalina PH-102 (denominada 102). Eventos Amostras Endotérmico Tonset (°C) Tmáx (°C) Endotérmico Tonset (°C) Tmáx (°C) 101 55,6 106,5 301,0 327,7 102 39,9 80,4 308,0 331,3 68 Na Figura 16 são comparadas as curvas de DSC das duas amostras de celulose microcristalina. Nota-se claramente que existem diferenças entre as duas amostras, as quais serão discutidas a seguir. Figura 16 – Curvas de DSC da celulose microcristalina PH-101 e PH-102, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). Observa-se que este pico relacionado à perda de água superficial das amostras é mais intenso para a celulose microcristalina PH-102, devido ao maior teor de umidade, conforme indicado pelas curvas TG/DTG (Figura 17 e Figura 18), uma vez que a perda de massa registrada para a amostra de celulose microcristalina PH-102 é cerca de 1,24% maior do que para a celulose microcristalina PH-101, o que confirma o fato da umidade ser mais facilmente absorvida por regiões não cristalinas da amostra (a quantificação da fração amorfa pelo método de Rietveld será apresentada na seção 5.1.5). Após a perda de água superficial, a celulose microcristalina PH-101 e PH-102 apresentam-se estáveis até, respectivamente, 236 °C e 241 °C, conforme mostrado nas curvas TG/DTG. Verifica-se também que as duas amostras sofreram decomposição térmica em uma única etapa, uma vez que foi verificado apenas um pico na curva DTG. 69 Figura 17 – Curvas TG/DTG da celulose microcristalina PH-101, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. Figura 18 – Curvas TG/DTG da celulose microcristalina PH-102, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. 70 Os parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para as duas amostras de celulose microcristalina são mostrados na Tabela 4 e na Tabela 5, e são semelhantes aos relatados na literatura [117-119]. Tabela 4 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra celulose microcristalina PH-101. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) ∆ perda de massa (%) 1 69,2 77,7 2,1 2 296,9 327,6 87,8 Tabela 5 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra celulose microcristalina PH-102. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) ∆ perda de massa (%) 1 64,1 73,7 2,6 2 304,7 333,3 91,1 71 5.1.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) Na Tabela 6 são mostradas as principais energias de absorção da celulose I (nativa) com a atribuição das respectivas ligações químicas descritas por Oh e colaboradores [120]. Tabela 6 - Localização das bandas de absorção características da celulose I (nativa) com suas respectivas ligações químicas [Adaptado da referência 120]. Celulose I (nativa) Absorções (cm-1) Ligações químicas 3352 υO-H (ligação de Hidrogênio) 2901 υC-H 1431 δCH2 (simétrica em C6) 1373 δC-H 1319 δCH2 1282 δC-H 1236 δCOH no plano em C6 1202 δCOH no plano em C6 1165 δCOC na ligação β(1-4) 1032 υCO em C6 983 υCO em C6 897 υCOC na ligação β(1-4), υCOC, υCCO e υCCH em C5 e C6 *υ: estiramento e δ: deformação. Na Tabela 7 são apresentadas as principais energias de absorção da celulose microcristalina PH-101 (denominada C.M. PH-101) e PH-102 (denominada C.M. PH-102) com suas respectivas ligações químicas. 72 Tabela 7 - Localização das bandas de absorção características das amostras celulose microcristalina PH101 e celulose microcristalina PH-102 com suas respectivas ligações químicas. C.M. PH-101 C.M. PH-102 Absorções (cm-1) Ligações químicas 3336 3339 υO-H (ligação de Hidrogênio) 2900 2900 υC-H 1430 1430 δCH2 (simétrica em C6) 1372 1372 δC-H 1318 1314 δCH2 1289 1287 δC-H 1230 1232 δCOH no plano em C6 1206 1204 δCOH no plano em C6 1156 1161 δCOC na ligação β(1-4) 1031 1031 υCO em C6 984 984 υCO em C6 897 896 υCOC na ligação β(1-4), υCOC, υCCO e υCCH em C5 e C6 *υ: estiramento e δ: deformação. Na Figura 19 e Figura 20 são mostrados os espectros de FTIR obtidos para as amostras de celulose microcristalina PH-101 e PH-102, respectivamente. 73 Figura 19 – Espectro de FTIR da celulose microcristalina PH-101, obtido com resolução de 4 cm-1 na região de 4000 a 650 cm-1. Figura 20 – Espectro de FTIR para a amostra celulose microcristalina PH-102, obtido com resolução de 4cm-1 na região de 4000 a 650 cm-1. 74 De acordo com os resultados apresentados, conclui-se que ambos os espectros são característicos da celulose I (nativa), uma vez as bandas de absorção estão muito próximas aos valores relatados para esta forma polimórfica da celulose. Desta forma, os resultados observados por FTIR estão de acordo com os obtidos pela caracterização por DRXP, os quais nos permitem concluir que as amostras de celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 se tratam de uma forma polimórfica da celulose, denominada celulose I (nativa). 5.1.4 - Índice de cristalinidade É importante ressaltar que o índice de cristalinidade de uma determinada amostra de celulose varia com a técnica empregada para a medida da cristalinidade, a origem da amostra, processo de purificação, tratamento recebido pela amostra, entre outros [118]. 5.1.4.1 - Bandas sensíveis à cristalinidade (FTIR) Atualmente a técnica de FTIR é muito utilizada para estudar polímeros celulósicos e a determinação do índice de cristalinidade também poder ser estimado por esta técnica, através de bandas sensíveis à cristalinidade. Segundo o método proposto por Nelson & O’Connor [121] pode ser utilizada para tal determinação a razão entre as absorbâncias referentes às frequências em 1372 cm-1 e 2900 cm-1, uma vez que, a banda de 2900 cm-1 independe das mudanças de cristalinidade (atua como um padrão interno de correção da amostra), enquanto que a banda em 1372 cm-1 considera a medida da intensidade em função da variação da cristalinidade. Na Tabela 8 são mostrados os valores encontrados para a determinação do índice de cristalinidade através do método proposto por Nelson & O’Connor [121]. Vale enfatizar que para efetuar os cálculos de ambas as amostras, os resultados dos espectros de FTIR dados em transmitância foram convertidos em absorbância uma vez que o método proposto pelos pesquisadores baseia-se na absorbância. 75 Tabela 8 – Resultados para o índice de cristalinidade das amostras celulose microcristalina PH-101 (C.M. PH-101) e celulose microcristalina PH-102 (C.M. PH-102) determinados através do método proposto por Nelson & O’Connor [121]. Amostras C. M. PH-101 Índice de cristalinidade 0,56 C. M. PH-102 0,51 De acordo o método de Nelson & O’Connor [121] a amostra celulose microcristalina PH-101 possui maior cristalinidade quando comparada à celulose microcristalina PH-102. 5.1.4.2 - Acessibilidade da celulose microcristalina por calorimetria exploratória diferencial (DSC) A técnica de DSC também poder ser utilizada para a determinação do índice de cristalinidade das amostras de celulose acerca da acessibilidade da água para podermos inferir conclusões acerca da cristalinidade das amostras em estudo. Conforme os resultados apresentados neste trabalho, a temperaturas relativamente baixas, observam-se perda de água superficial das amostras de celulose microcristalina e esta absorção da água ocorre quase na sua totalidade nas zonas amorfas da celulose. Usando este fato, Bertrand e colaboradores [122] estimaram a acessibilidade da água à celulose, que estando diretamente relacionada com a cristalinidade da amostra, nos dá indicações acerca da sua cristalinidade conforme citado, e desta forma foi determinado o índice de cristalinidade das amostras celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 pelo software TA Universal Analysis 2000. Através do programa calculou-se a energia calorífica desta perda de água superficial por integração do pico endotérmico de cada amostra. Os valores de energia calorífica (J g-1) encontrados são mostrados na Tabela 9. 76 Tabela 9 – Valores obtidos para a energia calorífica (J g-1) referente à integração do pico endotérmico atribuído à perda de água superficial das amostras de celulose microcristalina PH-101 (C.M. PH-101) e celulose microcristalina PH-102 (C.M. PH-102). Amostras Energia calorífica (J g-1) C. M. PH-101 - 288,0 C. M. PH-102 - 233,5 Tendo em vista que o pico endotérmico corresponde à altura em que se dá a perda de água superficial das amostras de celulose microcristalina, e quanto maior o valor de energia calorífica relativo a este evento, menor a cristalinidade, temos que a amostra celulose microcristalina PH-101 possui maior cristalinidade, segundo este método de determinação. Contudo, as determinações do índice de cristalinidade por FTIR e da acessibilidade da celulose microcristalina por DSC, conduz-nos apenas a valores comparativos e não absolutos, tendo em vista que para uma quantificação da fração de amorfo existente nestas amostras foi realizado o refinamento de Rietveld utilizando o método do padrão interno. 5.1.5 - Análise quantitativa de fases com a adição de um padrão interno – Determinação da porcentagem de amorfo O método mais comum e preciso para determinar a cristalinidade de polímeros semicristalinos é a partir de dados de difração de raios X. Tendo isto em vista, dados de DRXP com a adição de um padrão interno de alumina (SRM 676A), foram utilizados em conjunto com o método de Rietveld na quantificação da fração de amorfo das amostras celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102. O padrão interno utilizado é comercialmente distribuído pelo National Institute of Standard and Technology (NIST) [123]. A Figura 21 apresenta os difratogramas de raios X das amostras de celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 com a adição do padrão interno de alumina utilizado neste estudo, e mostra também o padrão de difração da alumina (ficha cristalográfica 88027 [124]) obtido no banco de dados do Inorganic Crystal Structure Database (ICSD). 77 Figura 21 – Difratogramas de raios X das amostras de celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 adicionadas ao padrão interno (alumina), e a comparação com a ficha cristalográfica 88027 (alumina) obtida no banco de dados do Inorganic Crystal Structure Database (ICSD). Nota-se claramente que a alumina foi escolhida como padrão interno principalmente pelo fato de não apresentar picos com sobreposições aos picos de maior intensidade das amostras em estudo. Além disso, apresenta picos de alta intensidade, os quais permitem obter boas contagens por um tempo razoável (a precisão do padrão interno tem impacto direto na precisão da análise da amostra). Na Tabela 10 são mostrados os parâmetros cristalográficos das fichas PADTUL [125], JINROO01 [126] ambas disponíveis no banco de dados do CSD, e 88027 [124] disponível no portal do ICSD, que foram utilizadas como o arquivo CIF de entrada no refinamento de Rietveld. Vale ressaltar que a primeira ficha foi utilizada no refinamento da estrutura cristalina da celulose microcristalina PH-101, enquanto que a segunda, no refinamento da celulose microcristalina PH-102, e que ainda realizou-se a tentativa de inverter os arquivos CIF, porém não foi obtido sucesso. Para ambos os refinamentos utilizou-se a ficha 88027 referente à amostra utilizada como padrão interno. 78 Tabela 10 – Fichas cristalográficas PADTUL (CSD), JINROO01 (CSD) e 88027 (ICSD) que foram utilizadas como arquivo de entrada no refinamento de Rietveld. Parâmetros de cela unitária a (Å) PADTUL (CSD) JINROO01 (CSD) 88027 (ICSD) 10,400(10) 7,784(8) 4,75919(1) b (Å) 6,717(6) 8,201(8) 4,75919(1) c (Å) 5,962(7) 10,380(10) 12,99183(1) α (°) 80,37(5) 90,0 90,0 β (°) 118,08(5) 90,0 90,0 γ (°) 114,80(5) 96,55(5) 120,0 V (Å)3 333,337 658,299 254,84 Estrutura cristalina Triclínica Monoclínica Trigonal Grupo espacial P1 P21 Rc Os resultados obtidos pelo refinamento de Rietveld das amostras de celulose microcristalina PH-101 e PH-102 confirmam os obtidos por DRXP que deram indícios da forma polimórfica celulose I (nativa), sendo que a celulose microcristalina PH-101 pode ser denominada celulose Iα uma vez que se cristaliza em um sistema cristalino triclínico, enquanto que a celulose microcristalina PH-102 pode ser designada celulose Iβ por se cristalizar num sistema cristalino monoclínico, conforme apresentado na Tabela 11. Vale ressaltar que apenas com os resultados de DRXP aliados ao método de Rietveld foi possível verificar qual forma polimórfica da celulose I (nativa) as amostras em estudo se cristalizaram, isto é, Iα e Iβ. 79 Tabela 11 – Resultados obtidos após o refinamento de Rietveld das amostras de celulose microcristalina PH-101 (C.M. PH-101) e celulose microcristalina PH-102 (C.M. PH-102). Parâmetros de cela unitária C.M. PH-101 C.M. PH-102 a (Å) 10,43(36) 7,85(48) b (Å) 6,16(17) 8,20(16) c (Å) 6,21(23) 10,39(20) α (°) 82,55(35) 90,0 β (°) 113,99(27) 90,0 γ (°) 112,13(36) 98,92(15) 3 V (Å ) 337,53(23) 659,55(17) Estrutura cristalina Triclínica Monoclínica Grupo espacial P1 P21 Com os refinamentos de Rietveld das duas amostras, foi possível determinar a fração de amorfo presente nas amostras de celulose microcristalina. Verificou-se que a celulose microcristalina PH-101 apresentou a fração de amorfo de 52,5(0,7)% e 29,4(5)% em massa de alumina, enquanto que a celulose microcristalina PH-102 apresentou a fração de amorfo de 42,1(1,0)% e 21,8(3)% em massa de alumina. Desta forma, pode-se afirmar que a celulose microcristalina PH-101 (gráfico de Rietveld mostrado na Figura 22) possui maior cristalinidade quando comparada à celulose microcristalina PH-102 (gráfico de Rietveld mostrado na Figura 23). 80 Figura 22 – Refinamento de Rietveld da celulose microcristalina PH-101 com a adição do padrão interno (alumina). Os parâmetros de qualidade do ajuste para a amostra celulose microcristalina PH-101 com a adição do padrão interno (alumina) foram: Rwp = 4,702%, Rexp = 3,660%, RBragg (referente à amostra)= 0,398%, RBragg (referente à alumina)= 1,850% e χ2 = 1,285. Figura 23 – Refinamento de Rietveld da celulose microcristalina PH-102 com a adição do padrão interno (alumina). Os parâmetros de qualidade do ajuste referentes à celulose microcristalina PH-102 com a adição do padrão interno de alumina foram: Rwp = 4,209%, Rexp = 3,622%, RBragg (referente à amostra) = 0,420%, RBragg (referente à alumina)= 1,958% e χ2 = 1,162. 81 5.2 – Croscarmelose sódica 5.2.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão) para a amostra croscarmelose sódica A Figura 24 representa o difratograma de raios X da croscarmelose sódica. Figura 24 – Difratograma de raios X da croscarmelose sódica. Através da figura mostrada, pode-se observar que a amostra croscarmelose sódica apresenta halos amorfos (alargados), o que indica que este excipiente não possui ordenamento de longo alcance. 82 5.2.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC) e termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) A curva de DSC da croscarmelose sódica (Figura 25) mostra um evento endotérmico largo (Tonset = 51,1 °C e Tmáx= 104,0 °C), devido à eliminação de água superficial deste excipiente. Figura 25 – Curva de DSC da croscarmelose sódica, obtida a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). Conforme mostrado na curva de DSC a partir de, aproximadamente, 230 °C, a linha de base progride no sentido exotérmico, indicando a despolimerização com decomposição da croscarmelose sódica, conforme demonstrado por Costa [118]. As curvas TG/DTG mostradas na Figura 26, confirmam o processo de eliminação de água superficial com a perda de massa de (∆m1 = 13,0%) relacionada a este evento. 83 Figura 26 – Curvas TG/DTG da croscarmelose sódica, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. Ainda nas curvas TG/DTG é evidenciada uma perda de massa em Tonset = 288,7 °C correspondente ao início da despolimerização e da decomposição térmica deste excipiente (que ocorre em duas etapas, a primeira com Tonset descrita anteriormente e a segunda na Tonset = 487,7 °C), confirmando o evento observado na curva de DSC. Entretanto, observa-se que na temperatura de 600 °C não houve a completa decomposição da amostra, dado o teor de resíduo de 35,3%, mas isto não representa um problema para a confiabilidade dos resultados obtidos pelas curvas TG/DTG, uma vez que neste trabalho não há o interesse no estudo dos produtos formados. Os parâmetros obtidos na análise termogravimétrica deste excipiente são mostrados na Tabela 12. 84 Tabela 12 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra croscarmelose sódica. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) ∆ perda de massa (%) 1 33,4 78,0 13,0 2 288,7 310,0 40,6 3 487,7 506,2 2,5 Vale enfatizar que o não aparecimento na curva de DSC de um pico endotérmico referente à fusão, indica que este excipiente realmente não possui um ordenamento de longo alcance definido. Tais resultados corroboram com o de DRXP, confirmando que a croscarmelose sódica possui uma estrutura amorfa. 5.2.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) O espectro de FTIR observado para a croscarmelose sódica mostrou-se sobreponível ao trabalho de Costa [118], conforme mostrado na Figura 27. Figura 27 – Espectro de FTIR da croscarmelose sódica, obtido com resolução de 4 cm-1 na região de 4000 a 650 cm-1. 85 Conforme apresentado, é notável em 2919 cm-1, uma banda que representa a deformação axial da ligação C-H, além desta, bandas características dos íons carboxilato, as quais encontram-se em 1590 cm-1 e 1410 cm-1 e representam respectivamente, a deformação axial assimétrica e simétrica do íon carboxilato. Entre 1374 cm-1 e 1322 cm-1, são visíveis as deformações angulares da ligação O-H de álcoois primários e secundários, e por fim entre 1103 cm-1 e 995 cm-1 encontram-se as deformações axiais de C-O de álcool primário, éter alifático e cíclico. No entanto, a presença da banda de absorção em 3338 cm-1, correspondente à deformação axial da ligação O-H para pontes de hidrogênio intermoleculares, foi suficiente para verificar a presença de água na amostra de croscarmelose sódica. Tais resultados corroboram com os apresentados pelas curvas de DSC e TG/DTG, os quais apresentaram um evento endotérmico largo referente à perda de água superficial da amostra. 86 5.3 - Estearato de magnésio 5.3.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão) para as amostras estearato de magnésio Neste trabalho, sete amostras comerciais de estearato de magnésio de diferentes fornecedores foram investigadas com o uso das técnicas de DRXP, FTIR, DSC e TG, e os resultados serão discutidos a seguir. Vale enfatizar que, para confirmar a existência do polimorfismo, é de grande importância que as amostras em estudo possuam diferentes padrões de difração de raios X. Na Figura 28 são mostrados os difratogramas de raios X das sete diferentes amostras de estearato de magnésio. Nota-se claramente que há diferenças entre as mesmas, uma vez que algumas apresentam diferentes padrões de difração (aparentemente, as amostras ML, L0 e SL são semelhantes. Esta última, entretanto, apresenta as primeiras reflexões um pouco mais intensas). Figura 28 – Difratogramas de raios X das sete diferentes amostras de estearato de magnésio (ML, L0, SL, EM, NF, CA e VG) obtidos no modo de transmissão. 87 Na Figura 29 é mostrada a região ampliada, de 2° a 10° em 2, para uma melhor visualização das diferenças apresentadas pelas amostras. Figura 29 – Região ampliada (2° a 10° em 2) dos difratogramas de raios X das sete amostras de estearato de magnésio investigadas neste estudo. Na figura mostrada anteriormente, nota-se que as amostras ML, L0 e SL apresentaram bastante similaridade entre si, com os seguintes valores para as três reflexões mostradas nesta região do difratograma de raios X: 3,6°; 5,4° e 9,4° em 2. Embora haja uma pequena diferença nas intensidades destas reflexões para a amostra SL, seus difratogramas de raios X são praticamente sobreponíveis. As amostras EM e NF apresentaram similaridade entre si, diferindo um pouco das amostras ML, L0 e SL. Para a amostra EM as reflexões encontram-se nos seguintes valores em 2, 3,5° e 5,4°, entretanto, esta última reflexão, pela assimetria apresentada, não deve ser descrita por um pico só. Há, com isso, orientações diferentes entre estas reflexões (3,5° e 5,4° em 2), enquanto que para a amostra NF as reflexões aparecem nas posições 3,5° e 5,2° em 2. Nota-se também que estas reflexões são mais intensas para a amostra NF. 88 Os difratogramas de raios X ampliados na região de 2° a 10° em 2 para as amostras CA e VG são muito semelhantes entre si, apresentando os seguintes valores em 2, 3,6° e 5,4°. No entanto, esta última reflexão pode ser descrita como um desdobramento em dois picos, 5,4° e 5,5° (2). As duas amostras (CA e VG) diferem, por exemplo, das amostras ML, L0 e SL. Estas diferenças podem ser visualizadas com o deslocamento das reflexões, e também em relação ao formato dos picos, uma vez que estes são mais largos quando comparados com os picos nesta mesma região para as demais amostras. Vale ressaltar que embora tenham sido visualizadas algumas diferenças nos padrões de difração apresentados para estas amostras na região de 2° a 10° em 2, diferenças mais significativas são encontradas a mais altos ângulos. Tais diferenças podem ser visualizadas nos difratogramas de raios X com a região ampliada de 18° a 28° em 2, os quais são apresentados na Figura 30. Figura 30 – Região ampliada em 2 (18° a 28°) ressaltando as diferenças entre as amostras de estearato de magnésio. Nota-se, novamente, uma similaridade entre os padrões de difração das amostras denominadas ML, L0 e SL. As amostras EM e NF apresentam padrões de difração similares entre si e diferentes das demais. 89 O tamanho médio de cristalito de todas as amostras de estearato de magnésio foi calculado com o uso da fórmula de Scherrer [73] que é dada por: D 0,9 cos sendo λ o comprimento de onda (Ǻ), β a largura integral em radianos (área/intensidade), θ o ângulo de difração de Bragg em radianos e o termo 0,9 está relacionado com cristalitos esféricos. Vale ressaltar que o alargamento instrumental, nestas condições, é praticamente desprezível, tendo em vista que a largura de um pico de uma amostra padrão seria da ordem de 0,04° (2θ). A partir dos cálculos utilizando a equação de Scherrer obteve-se os valores de tamanhos médios de cristalitos descritos na Tabela 13. Tabela 13 – Tamanhos médios de cristalitos obtidos a partir do método descrito por Scherrer. Amostras estudadas Ângulo em 2θ (°) D (nm) ML 21,3 34,0(1,0) L0 21,3 35,3(1,0) SL 21,3 32,7(0,9) EM 21,8 28,6(0,9) NF 21,8 22,9(1,0) CA 5,4 3,4(0,9) VG 5,4 15,9(1,0) De acordo com o os resultados apresentados, verifica-se que realmente as amostras EM e NF apresentam menores tamanhos médios de cristalitos, quando comparadas às amostras ML, L0 e SL. Para as duas amostras (ML e L0), as reflexões mais intensas ocorrem nas posições 21,3°; 21,7°; 21,9° e 22,5º em 2. Ainda para a amostra SL, verifica-se as três primeiras reflexões mencionadas, entretanto há um dubleto, sendo estes nas posições (2) 22,5° e 22,6°. De acordo com os resultados obtidos pela fórmula de Scherrer, os valores de tamanhos médios de cristalitos para estas amostras são muito próximos, isto pode estar relacionado à similaridade apresentada pelos padrões de difração entre estas amostras. 90 Nesta região de 18° a 28° em (2) é visualizada uma grande semelhança entre as reflexões apresentadas pelas amostras EM e NF, embora os picos referentes à amostra EM estejam mais bem resolvidos, devido aos cristalitos para esta amostra serem maiores quando comparados à amostra NF. As reflexões mais intensas ocorrem nas posições 19,8°; 21,3°; 21,8°; 22,5° e 23,4° em (2). Percebe-se claramente que os padrões de difração apresentados para estas duas amostras diferem dos apresentados pelas amostras discutidas (ML, L0 e SL). Embora os difratogramas de raios X das amostras CA e VG tenham apresentado reflexões semelhantes na região de 2° a 10° (2), os mesmos não podem mais ser agrupados, uma vez que na região onde se encontram as principais diferenças (18° a 28° em 2), as reflexões para ambas as amostras sejam diferentes. Nota-se que a amostra CA apresenta um único pico alargado, na posição 21,4°, enquanto que para a amostra VG há três reflexões nas seguintes posições (2) iguais a 21,3°; 21,7° e 22,4°. Considera-se então que os padrões de difração apresentados por estas duas amostras são diferentes entre si, e também diferentes das demais amostras estudadas neste trabalho. Isto pode ser decorrente do fato dos cristalitos serem muito pequenos, levando à formação de estruturas nanocristalinas como pode ser evidenciado para a amostra CA. Desta forma, de acordo com os resultados de DRXP pode-se agrupar as sete amostras da seguinte forma: há semelhança entre os padrões de difração apresentados pelas amostras ML, L0 e SL, os quais diferem dos apresentados pelas amostras EM e NF. Diferenças mais significativas são encontradas em relação aos padrões de difração das amostras CA e VG, sendo que estas não são semelhantes entre si, e nem mesmo são similares às outras cinco amostras estudadas. Para a caracterização inequívoca dos possíveis polimorfos do estearato de magnésio, a DRXP se mostrou uma importante ferramenta, uma vez que com o uso desta técnica ficou evidente diferenças entre os padrões difração das amostras. Estas diferenças entre as intensidades destes principais picos podem estar relacionadas ao histórico das amostras (como, processamento e até mesmo os diferentes graus de pureza), entretanto, o estudo destas diferenças não fazem parte do objetivo proposto. Vale enfatizar que o estudo de DRXP para as amostras de estearato de magnésio foi realizado de maneira comparativa, como discutido anteriormente, uma vez que há dificuldades em se encontrar trabalhos na literatura que relatem o completo estudo da caracterização estrutural destas amostras. Foi realizada uma busca no banco de dados cristalográficos do Cambridge Structural Database (CSD), a fim de encontrar informações 91 estruturais destas amostras, mas não foram encontradas fichas cristalográficas que relatem a estrutura cristalina do estearato de magnésio. 5.3.2 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão versus reflexão) para a amostra de estearato de magnésio VG Um dos problemas mais importantes nas análises apresentadas está relacionado à resolução do equipamento que pode causar ambiguidade tanto nas intensidades quanto no alargamento dos picos. Sendo assim, foi conveniente a utilização de um difratômetro de alta resolução com a geometria de transmissão, que além de diminuir estas sobreposições de picos, tem a vantagem de fazer com que a forma como as amostras são preparadas no portaamostras para a aquisição de dados, seja capaz de minimizar o efeito de orientação preferencial, visto que uma distribuição aleatória das partículas pode ser obtida em função do modo de preparo destas amostras. Para exemplificar o que foi mencionado, são mostradas na Figura 31 e Figura 32, a região ampliada (18° a 28° em 2) dos difratogramas de raios X da amostra estearato de magnésio VG obtidos no modo de transmissão e reflexão. 92 Figura 31 – Região ampliada (18° a 28° em 2) do difratograma de raios X do estearato de magnésio VG medido no modo de transmissão. Figura 32 – Região ampliada (18° a 28° em 2) do difratograma de raios X do estearato de magnésio medido no modo de reflexão. 93 5.3.3 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) Vale ressaltar que importantes informações acerca do estearato de magnésio devem ser apresentadas antes de avaliar o comportamento térmico destas amostras. De acordo com a USP/NF [50], o estearato de magnésio é descrito com uma substância que contém pelo menos 40% de ácido esteárico, e a soma de ácido esteárico e ácido palmítico é cerca de 90% e não mais de 6% de água. Desta forma, as matérias-primas de estearato de magnésio utilizadas em aplicações farmacêuticas são quimicamente impuras, sendo formadas por uma mistura de estearato de magnésio e palmitato de magnésio, uma vez que as fontes para a síntese do estearato de magnésio incluem sebo, óleo de palma, óleo de soja, entre outros, todos sendo ésteres de glicerol C16 (palmítico) e C18 (esteárico). É válido enfatizar que o estearato de magnésio provém de fontes vegetais, mas pode também provir de fontes animais. Entretanto, devido ao aumento da ameaça de doença em bovinos, tal como a doença da vaca louca [127], muitos fabricantes estão migrando de derivados bovinos para os vegetais na obtenção do estearato de magnésio. Diante destas informações e tendo em vista que este excipiente é o lubrificante mais utilizado na fabricação de comprimidos, foi realizada uma intensa busca na literatura acerca de informações sobre o comportamento térmico deste excipiente e verificou-se que, embora muitos pesquisadores estudem as propriedades do estearato de magnésio, e o polimorfismo apresentado por este excipiente atraia grande atenção, há uma grande dificuldade em se encontrar trabalhos que relatem uma curva de DSC acima de 150 °C. Ainda realizando esta busca, constatou-se que o estudo mais completo até o momento a respeito deste excipiente foi o realizado pelos pesquisadores Wada & Matsubara [128], os quais pesquisaram 23 lotes de diferentes fornecedores de estearato de magnésio e puderam agrupá-los em seis grupos mediante o comportamento térmico apresentado pelas curvas de DSC. Vale ressaltar que para as amostras de estearato de magnésio estudadas neste trabalho, inicialmente foram obtidas curvas de DSC na razão de aquecimento de 10 °C min -1; entretanto, foram observados alguns eventos consecutivos que encontravam-se indefinidos. Partindo do pressuposto de que no estudo do comportamento térmico de polimorfos é aconselhável que a investigação seja realizada sob diferentes razões de aquecimento e tendo em vista que uma razão de aquecimento mais baixa (lenta) permite uma melhor separação de tais eventos, novas curvas de DSC foram obtidas na razão de aquecimento de 5 °C min -1. 94 Portanto, apenas as curvas na razão de aquecimento de 5 °C min-1 serão mostradas, uma vez que apresentaram melhores resultados para avaliar o comportamento térmico das amostras em estudo. Na Figura 33 são mostradas as sete curvas de DSC para todas as amostras de estearato de magnésio investigadas. Figura 33 – Curvas de DSC das sete diferentes amostras de estearato de magnésio denominadas ML, L0, SL, EM, NF, CA e VG, obtidas a 5 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). Uma simples análise das curvas de DSC (Figura 33) aponta claramente para a existência de diferenças entre o comportamento térmico das amostras. A fim de uma melhor visualização das diferenças entre as amostras de estearato de magnésio, as curvas de DSC foram agrupadas em três grupos. O primeiro grupo é composto pelas amostras de estearato de magnésio ML, L0 e VG, cujas curvas de DSC estão mostradas na Figura 34. 95 5.3.3.1 - Estearato de magnésio ML, L0 e SL Figura 34 – Curvas de DSC das amostras de estearato de magnésio ML (verde), L0 (roxo) e SL (vermelho) obtidas a 5 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). Embora estas amostras tenham sido agrupadas, a descrição detalhada dos eventos térmicos identificados nas curvas de DSC para cada amostra será apresentada de forma separada, conforme pode ser visto a seguir. 5.3.3.1.1 - Estearato de magnésio ML A curva de DSC da amostra de estearato de magnésio ML apresentou cinco eventos endotérmicos. O primeiro evento endotérmico encontrado na curva de DSC ocorreu na temperatura de Tonset = 71,6 °C e Tmáx = 85,7 °C e foi confirmado pelas curvas TG/DTG mostradas na Figura 35, cujos parâmetros obtidos podem ser visualizados na Tabela 14. Este evento foi associado à perda de água superficial do excipiente, onde houve uma pequena perda de massa (∆m1 = 1,4%). 96 Figura 35 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio ML, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. Tabela 14 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio ML. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) Tendset (°C) ∆ perda de massa (%) 1 89,8 102,4 128,1 3,6 2 324,4 351,6 409,3 82,1 3 416,3 434,3 477,1 4,1 Os outros dois eventos endotérmicos visualizados na curva de DSC são associados à fusão do estearato e do palmitato de magnésio, respectivamente. Wada & Matsubara [128] encontraram as temperaturas de fusão de 127 °C e 202 °C, enquanto que neste trabalho as temperaturas encontradas para esta amostra foram de Tonset = 125,3 °C e Tmáx = 127,1 °C; Tonset = 200,9 °C e Tmáx = 204,3 °C. Apenas o primeiro evento é visualizado nas curvas TG/DTG com uma perda de massa (∆m2 = 2,2%). É provável que estas diferenças sejam atribuídas às diferenças nos parâmetros de análises, além do fato de a literatura relatar diferentes temperaturas de fusão para o estearato de magnésio. Há uma extensa faixa de fusão 97 aceita para o estearato de magnésio, podendo variar para as amostras comerciais de 117 °C a 150 °C e para as amostras com elevada pureza de 126 °C a 130 °C [50]. Após isso, há o início da decomposição térmica do excipiente, que de acordo com as curvas TG/DTG ocorre em duas etapas – a primeira, apresenta uma curva mais acentuada em Tonset = 324,4 °C, e a segunda, ocorre em Tonset = 416,3 °C. 5.3.3.1.2 - Estearato de magnésio L0 Um comportamento similar ao apresentado pela amostra de estearato de magnésio ML ocorre com a amostra de estearato de magnésio L0. Entretanto, são observados sete eventos endotérmicos. Os dois primeiros eventos endotérmicos visualizados na curva de DSC são associados à perda de água superficial deste excipiente que ocorre nas temperaturas (Tonset = 71,9 °C e Tmáx = 81,9 °C) e (Tonset = 90,4 °C e Tmáx = 104,8 °C). Estes eventos são confirmados pelas curvas TG/DTG (Figura 36), onde verifica-se uma perda de massa (∆m1 = 3,2%), conforme visualizado na Tabela 15. Figura 36 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio L0, obtidas a 10 º C min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. 98 Tabela 15 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio L0. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) Tendset (°C) ∆ perda de massa (%) 1 85,6 99,5 120,3 3,2 2 332,7 348,1 397,8 77,3 3 415,5 432,0 479,5 4,5 Os outros dois eventos endotérmicos são relacionados à fusão deste excipiente que ocorre nas temperaturas Tonset = 125,8 °C e Tmáx = 126,8 °C; Tonset = 200,4 °C e Tmáx = 203,6 °C, sendo o primeiro atribuído à fusão do estearato de magnésio e o segundo à do palmitato de magnésio. Não são observadas perdas de massa nas curvas TG/DTG relacionadas aos eventos de fusão. Estes eventos são seguidos pela decomposição térmica do excipiente que ocorre em duas etapas – a primeira apresenta-se de forma mais acentuada em Tonset = 332,7 °C, e a segunda, em Tonset = 415,5 °C, como pode ser visto nas curvas TG/DTG. 5.3.3.1.3 - Estearato de magnésio SL A amostra de estearato de magnésio SL também apresenta um comportamento térmico semelhante ao relatado para as amostras ML e L0. Para esta amostra há seis eventos endotérmicos, conforme visualizado na curva de DSC. Os dois primeiros eventos endotérmicos encontrados na curva de DSC ocorreram nas temperaturas de Tonset = 71,2 °C e Tmáx = 84,6 °C; Tonset = 94,2 °C e Tmáx = 107,9 °C, e foram confirmados pelas curvas TG/DTG (Figura 37) com uma perda de massa (∆m1 = 2,2%), cujos parâmetros obtidos podem ser visualizados na Tabela 16. 99 Figura 37 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio SL, obtidas a 10 ºC min -1, sob atmosfera dinâmica de N2. Tabela 16 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio SL. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) Tendset (°C) ∆ perda de massa (%) 1 83,4 95,8 111,4 2,2 2 317,2 336,6 389,3 55,2 3 409,2 423,5 490,4 7,7 O terceiro e quarto eventos são relacionados à fusão do estearato de magnésio e do palmitato de magnésio, respectivamente, que ocorrem nas temperaturas Tonset = 122,6 °C e Tmáx = 127,3 °C e Tonset = 201,3 °C e Tmáx = 204,4 °C. Da mesma forma como ocorrido com a amostra L0, não observadas para estes eventos perdas de massa nas curvas TG/DTG. Posteriormente, há a decomposição térmica deste excipiente que, de acordo com as curvas TG/DTG, ocorre em duas etapas – a primeira apresenta uma curva mais acentuada em Tonset = 317,2 °C, e a segunda ocorre em Tonset = 409,2 °C. 100 Vale ressaltar que a similaridade entre as três amostras de estearato de magnésio ML, L0 e SL, no que se diz respeito aos eventos de perda de água superficial e, principalmente, a presença da temperatura de fusão relacionada ao palmitato de magnésio ocorre tanto com os resultados obtidos pela caracterização das amostras por DRXP, quanto pelas curvas de DSC e TG/DTG. 5.3.3.2 - Estearato de magnésio EM e NF O segundo grupo é composto pelas amostras de estearato de magnésio EM e NF, cujas curvas de DSC estão mostradas na Figura 38. Figura 38 – Curvas de DSC das amostras de estearato de magnésio EM (amarelo escuro) e NF (preto) obtidas a 5 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). 101 5.3.3.2.1 - Estearato de magnésio EM A curva de DSC do estearato de magnésio EM apresentou sete eventos endotérmicos, como pode ser visualizado na figura anterior. Os dois primeiros ocorreram em Tonset = 71,4 °C e Tmáx= 81,5 °C; Tonset = 94,7 °C e Tmáx= 103,7 °C, respectivamente. Todos foram atribuídos à perda de água superficial do excipiente e são confirmados pelas curvas TG/DTG (Figura 39), cujos parâmetros obtidos são mostrados na Tabela 17. Figura 39 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio EM, obtidas a 10 ºC min -1, sob atmosfera dinâmica de N2. Tabela 17 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio EM. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) Tendset (°C) ∆ perda de massa (%) 1 75,2 76,9 84,2 1,1 2 85,9 93,8 119,3 1,3 3 325,9 347,4 405,0 74,9 4 418,6 431,6 486,7 6,3 102 Os outros três eventos endotérmicos são relacionados à fusão do estearato de magnésio e do palmitato de magnésio, que ocorreram nas temperaturas Tonset = 125,0 °C e Tmáx = 128,1 °C; Tonset = 201,7 °C e Tmáx = 204,8 °C. Vale ressaltar, que em função da redução da razão de aquecimento (5 °C min-1) para melhor visualização dos eventos, os dois eventos endotérmicos referentes à fusão do estearato de magnésio aparecem separados. Embora não sejam mostradas neste trabalho, as curvas de DSC obtidas com a razão de aquecimento de 10 °C min-1 evidenciaram um único evento. Desta forma, considerou-se a existência de um evento para a determinação das temperaturas Tonset e Tmáx. Não são observadas perdas de massa referente aos dois eventos nas curvas TG/DTG, indicando que esta amostra funde sem se decompor. Em seguida, há a decomposição térmica deste excipiente que, de acordo com as curvas TG/DTG, ocorre em duas etapas – a primeira apresenta uma curva mais acentuada em Tonset = 325,9 °C, e a segunda ocorre em Tonset = 418,6 °C. 5.3.3.2.2 - Estearato de magnésio NF A amostra NF apresenta uma curva de DSC com cinco eventos endotérmicos. O primeiro e o segundo eventos são referentes à perda de água superficial da amostra e ocorrem nas temperaturas de Tonset = 72,8 °C e Tmáx = 81,8 °C; Tonset = 94,2 °C e Tmáx = 101,0 °C, sendo confirmados nas curvas TG/DTG (Figura 40). Nota-se, também, outra perda de massa nas curvas TG/DTG, conforme apresentado na Tabela 18, não tendo sido visualizado nenhum evento endotérmico ou exotérmico na curva de DSC nesta mesma faixa de temperatura. 103 Figura 40 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio NF, obtidas a 10 ºC min -1, sob atmosfera dinâmica de N2. Tabela 18 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio NF. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) Tendset (°C) ∆ perda de massa (%) 1 44,3 52,4 57,6 1,2 2 67,1 76,5 87,3 2,8 3 96,4 103,3 113,9 0,8 4 326,5 344,5 403,8 71,4 5 414,4 429,5 484,3 5,4 Estes eventos de perda de água superficial são seguidos da fusão do estearato de magnésio, que ocorre em Tonset = 106,5 °C e Tmáx = 110,7 °C. Observa-se que este evento é confirmado pelas curvas TG/DTG, pois apresentam um único evento de perda de massa tanto para o segundo evento de perda de água superficial (temperatura mais elevada), quanto para o 104 relacionado à fusão, apresentando uma perda de massa total (∆m2 = 0,8%). Pode-se atribuir esta pequena perda de massa relacionada a ambos, à pequena intensidade apresentada pelos eventos endotérmicos na curva de DSC. Posteriormente, há a decomposição térmica desta amostra, que ocorre em duas etapas de perda de massa. A primeira (∆m3 = 71,4%) ocorre de forma acentuada, conforme mostra a alta perda de massa associada a este evento e segundo as curvas TG/DTG em uma temperatura (Tonset = 326,5 °C). O outro evento ocorre na temperatura Tonset = 414,4 °C com uma perda de massa (∆m3 = 5,4%). De acordo com o apresentado as amostras EM e NF apresentam pequenas diferenças relacionadas ao comportamento térmico. Não se observa para a amostra de estearato de magnésio NF o evento endotérmico relacionado à fusão do palmitato de magnésio. Neste caso, como foi observado este evento para todas as amostras do grupo composto por ML, L0 e SL, verifica-se maior semelhança entre o comportamento térmico apresentado pelas amostras ML, L0, SL e EM, uma vez que este evento encontra-se em uma temperatura muito próxima entre as quatro amostras. 5.3.3.3 - Estearato de magnésio CA e VG O terceiro grupo é composto pelas amostras estearato de magnésio CA e VG, cujas curvas de DSC estão representadas na Figura 41. 105 Figura 41 – Curvas de DSC das amostras de estearato de magnésio CA (azul) e VG (rosa) obtidas a 5 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). 5.3.3.3.1 - Estearato de magnésio CA A curva de DSC do estearato de magnésio CA apresentou quatro eventos endotérmicos. Os dois primeiros eventos estão relacionados à perda de água superficial deste excipiente que ocorreu na Tonset = 54,0 °C e Tmáx = 71,5 °C; Tonset = 95,0 °C e Tmáx = 102,6 °C, sendo confirmado pelas curvas TG/DTG (Figura 42) conforme parâmetros mostrados na Tabela 19, apresentando apenas um evento de perda de massa, os quais são referentes a estes dois eventos (∆m1 = 3,4%). 106 Figura 42 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio CA, obtidas a 10 ºC min -1, sob atmosfera dinâmica de N2. Tabela 19 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio CA. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) Tendset (°C) ∆ perda de massa (%) 1 33,1 68,4 107,8 3,4 2 319,3 348,8 424,4 84,1 3 459,2 475,6 487,3 2,2 Após os dois primeiros eventos endotérmicos, nota-se a presença de uma pequena endoterma, que não se encontra bem definida, e que sugere estar relacionada à fusão do estearato de magnésio de acordo com a curva de DSC (Tonset = 114,9 °C e Tmáx = 119,7 °C). Verifica-se que não há perda de massa nas curvas TG/DTG, provavelmente devido ao pequeno evento relacionado na curva de DSC, o qual sugere que esta amostra funde sem apresentar decomposição. 107 Em seguida há a decomposição térmica deste excipiente que de acordo com as curvas TG/DTG ocorre em duas etapas – a primeira apresenta uma curva mais acentuada em Tonset = 319,3 °C, e a segunda ocorre em Tonset = 459,2 °C. Nota-se certa semelhança entre o comportamento térmico desta amostra (CA) e a denominada NF, as quais não apresentaram o evento relacionado à fusão do palmitato de magnésio. 5.3.3.3.2 - Estearato de magnésio VG A curva de DSC da amostra VG mostra cinco eventos endotérmicos. O primeiro evento está relacionado à perda de água superficial que ocorre na Tonset = 94,3 °C e Tmáx = 107,8 °C. As curvas TG/DTG (Figura 43) mostram que este evento ocorreu com uma perda de massa (∆m1 = 1,7%), conforme mostrado na Tabela 20. Figura 43 – Curvas TG/DTG do estearato de magnésio VG, obtidas a 10 ºC min -1, sob atmosfera dinâmica de N2. 108 Tabela 20 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para o estearato de magnésio VG. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) Tendset (°C) ∆ perda de massa (%) 1 81,9 92,7 113,3 1,7 2 324,3 341,5 392,3 63,1 3 410,2 423,1 452,8 5,0 O segundo e terceiro eventos são relacionados à fusão do estearato de magnésio e do palmitato de magnésio, respectivamente, que ocorrem nas temperaturas Tonset = 117,9 °C e Tmáx = 121,9 °C; Tonset = 193,0 °C e Tmáx = 202,4 °C. Nas curvas TG/DTG desta amostra não são observadas perdas de massa no intervalo de temperatura em que ocorre a fusão - neste caso pode-se dizer que esta amostra funde sem apresentar decomposição. Em seguida, como pode ser visualizado nas curvas TG/DTG, a decomposição térmica da amostra ocorre em duas etapas – a primeira apresenta uma curva mais acentuada em Tonset = 324,3 °C, e a segunda ocorre em Tonset = 410,2 °C, com as respectivas perdas de massa, (∆m2 = 63,1% e ∆m3= 5,0%). Como observado nos resultados apresentados para as amostras denominadas CA e VG, o comportamento térmico observado para a amostra VG é semelhante ao encontrado para as amostras ML, L0, SL e EM, apresentando um evento referente à fusão do palmitato de magnésio. Já a amostra CA, além de não apresentar este evento, não teve a endoterma de fusão do estearato de magnésio bem definida. Mesmo não apresentando este evento, esta amostra se assemelha ao resultado apresentado para a amostra NF, as quais não apresentam o evento de fusão do palmitato de magnésio. 109 5.3.3.4 - Considerações acerca das sete diferentes amostras de estearato de magnésio Com os resultados obtidos por TG pode-se propor uma ordem de estabilidade térmica para as diferentes amostras de estearato de magnésio, diante da razão de aquecimento estudada (10 °C min-1). A estabilidade térmica [82] é definida como a capacidade da substância em manter suas propriedades, durante o processo térmico, o mais próximo possível de suas características iniciais. Vale ressaltar que esta estabilidade térmica foi determinada através da temperatura na qual a massa permaneceu inalterada, a partir da primeira perda de massa (∆m= 0,1%), a mesma já foi considerada instável termicamente. Portanto, a estabilidade térmica proposta diante da razão de aquecimento estudada para as diferentes amostras de estearato de magnésio é: EM (70 °C) > L0 (45 °C) > SL (41 °C) > CA (34 °C) > NF (32 °C) > VG (31 °C) > ML (28 °C) Desta forma, dentre as sete amostras, o excipiente estearato de magnésio EM possui maior estabilidade térmica. Embora este não seja objeto de estudo neste trabalho, a investigação da estabilidade térmica é um parâmetro importante para se buscar alternativas para o processamento e armazenamento de medicamentos visando garantir a melhor estabilidade térmica possível tanto dos excipientes quanto do fármaco. Além disso, a investigação do comportamento térmico destas amostras permitiu determinar as diferenças na temperatura de fusão. Tais informações são fundamentais na formulação, processamento e armazenamento dos medicamentos em geral. É sabido que no estado sólido os polimorfos apresentam a mesma composição química, mas possuem diferentes estruturas cristalinas. Por este motivo, possuem diferentes propriedades físicoquímicas, entre elas a temperatura de fusão e a estabilidade térmica. Para as amostras de estearato de magnésio estudadas, foi observado que a temperatura de fusão ocorre entre Tmáx = 110,7 °C e 128,1 °C - estas diferentes temperaturas de fusão encontradas dão indícios da presença de polimorfismo para estas amostras. Além do mais, é relatada na literatura [129] que a análise da temperatura de fusão é considerada uma indicativa da pureza dos compostos, pois várias substâncias apresentam 110 temperatura/faixa de fusão características e a presença de qualquer impureza altera seu resultado. A técnica de DSC é muito aplicada para este fim, entretanto para as amostras deste trabalho não é apropriada a determinação da pureza por esta técnica, visto que não é possível observar um pico de fusão bem definido, a partir do qual é efetuada a determinação da pureza por DSC. Embora não tenha sido possível avaliar o grau de pureza das diferentes amostras, devido ao fato de que algumas apresentaram eventos endotérmicos de fusão do palmitato de magnésio e outras não, além de diferentes temperaturas de fusão, pode-se inferir que as amostras possuem certo grau de impurezas. Conforme os resultados apresentados por DRXP, estas amostras apresentaram padrões de difração diferentes, os quais também são característicos da presença de polimorfismo. Desta forma, excetuando-se a pureza, outra causa para a diferença dos comportamentos térmicos observados poderia estar relacionada à presença de polimorfismo para o estearato de magnésio, conforme informações da literatura [58, 128, 130]. Portanto, diante do que foi apresentado, os resultados obtidos pelas curvas de DSC e TG/DTG, juntamente com os obtidos por DRXP nos dão indícios da presença de polimorfos, impurezas (palmitato de magnésio) e hidratos (de acordo com as curvas TG/DTG foram obtidas diferentes perdas de massa associadas à perda de água superficial destas amostras, com valores entre 0,3% e 4,0%) entre as amostras analisadas. 5.3.3.5 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) A técnica de FTIR utilizada neste trabalho teve como principal finalidade verificar, através das bandas de absorção das moléculas de estearato de magnésio, se existe diferenças entre os sete lotes estudados. As bandas características no espectro de FTIR observadas para as diferentes amostras de estearato de magnésio mostraram-se sobreponíveis aos obtidos em trabalhos anteriores [118, 128]. A Tabela 21 apresenta as bandas características das amostras de estearato de magnésio de um modo geral, sendo utilizada para a discussão dos resultados encontrados para as diferentes amostras do presente estudo. 111 Tabela 21 – Bandas características no espectro de FTIR do estearato de magnésio. Número de onda (cm-1) Absorções características 3600-3100 υO-H 3300-2500 υO-H 2900 υC-H 1700 υC=O 1616-1540 υCOO- 1470-1460 δC-H 720 δCH2 *υ: estiramento e δ: deformação. Na Figura 44 são mostrados os espectros de FTIR das sete amostras estudadas. Figura 44 – Espectros de FTIR obtidos para as sete amostras de estearato de magnésio, obtidos com resolução de 4 cm-1 na região de 4000 cm-1 a 650 cm-1. 112 Nota-se claramente algumas pequenas diferenças, principalmente relacionadas aos espectros das amostras NF e EM quando comparados com as demais amostras. Estas diferenças ficam mais evidentes quando temos a ampliação da região de 2000 a 1000 cm-1, conforme apresentado na Figura 45. Figura 45 – Espectros de FTIR obtidos para as sete amostras de estearato de magnésio, obtidos com resolução de 4 cm-1 na região de 2000 cm-1 a 1000 cm-1. Os espectros de FTIR de todas as amostras apresentaram, nesta região, bandas características em 1465 cm-1. Além desta, as amostras CA, L0, ML, SL e VG, mostraram uma banda em 1570 cm-1. Enquanto que para as amostras EM e NF esta banda apareceu um pouco deslocada, em 1573 cm-1, além de outra banda em 1539 cm-1, cuja absorção neste número de onda não está presente para as amostras CA, L0, ML, SL e VG. Desta forma verifica-se similaridade nesta região dos espectros de FTIR das amostras CA, L0, ML, SL e VG, os quais se diferem dos apresentados pelas amostras EM e NF. Vale ressaltar que o interesse na verificação mais detalhada do espectro de FTIR nesta região, se deve ao fato de se ter entre 1616 cm-1 e 1540 cm-1 uma região de sobreposição da deformação axial assimétrica do íon carboxilato, de estearato e do palmitato. 113 Na Figura 46 é mostrada a ampliação da região de 3200 cm-1 a 2600 cm-1, a qual mostra claramente que a amostra EM possui bandas de absorção deslocadas quando comparadas com as demais amostras. Figura 46 – Espectros de FTIR obtidos para as sete amostras de estearato de magnésio, obtidos com resolução de 4 cm-1 na região de 3200 cm-1 a 2600 cm-1. As amostras CA, L0, ML, NF, SL e VG apresentam bandas características em 2845 -1 cm e 2916 cm-1. Observa-se que para a amostra EM estas bandas também estão deslocadas, aparecendo em 3037 cm-1 e 3103 cm-1. A Figura 47 apresenta os espectros de FTIR para as amostras de estearato de magnésio CA, EM e NF. Esta forma de visualização ressalta as diferenças e semelhanças entre elas, conforme descrito anteriormente. É possível verificar a partir desta figura que as três amostras apresentam uma ampla banda na região de 3700-3100 cm-1. 114 Figura 47 – Espectros de FTIR obtidos para as amostras de estearato de magnésio CA, NF e EM, obtidos com resolução de 4 cm-1 na região de 4000 cm-1 a 650 cm-1. Os resultados de FTIR confirmam que há diferenças entre os sete diferentes lotes de estearato de magnésio estudados. Desta forma, estes resultados corroboram com os apresentados por DRXP, DSC e TG/DTG, os quais dão indícios da existência de polimorfismo entre as amostras de estearato de magnésio estudadas. Também foi possível verificar por FTIR que este excipiente não tem uma composição simples, uma vez que as amostras comerciais apresentam um grau elevado de impurezas. 115 5.4 - Lactose monohidratada 5.4.1 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) e difração de raios X por policristais (modo de transmissão) A curva de aquecimento obtida por DSC para a lactose monohidratada pode ser visualizada na Figura 48. Figura 48 – Curva de DSC da lactose monohidratada, obtida a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. De acordo com a literatura [131], pode-se relacionar o primeiro pico endotérmico ao processo de desidratação deste excipiente que ocorreu em (Tonset = 143,4 °C e Tmáx = 147,3 °C), também verificado nas curvas TG/DTG que são mostradas na Figura 49, onde os parâmetros obtidos por análise termogravimétrica são mostrados na Tabela 22. 116 1.5 Massa (%) 80 1.0 60 0.5 40 20 0.0 Deriv. Massa (% °C-1) 100 0 -0.5 0 100 200 300 400 Temperatura(ºC) 500 600 Figura 49 – Curvas TG/DTG da lactose monohidratada, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de O2. Tabela 22 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra lactose monohidratada. Eventos 1 2 3 4 Tonset (°C) 142,1 218,7 299,1 470,2 Tpeak (°C) 150,4 236,8 327,2 506,6 ∆ perda de massa (%) 4,9 12,3 53,3 25,4 Este evento causou uma perda de massa (∆m1 = 4,9%) na mesma faixa de temperatura (Tonset = 142,1 °C e T peak = 150,4 °C) e permite atribuir que este excipiente se trata da lactose monohidratada, a qual apresenta estequiometricamente 5% de água [131, 132]. Vale ressaltar que no trabalho de Costa [118], ao ser caracterizada a lactose monohidratada por DSC, também foram obtidos valores altos de Tonset para o pico endotérmico relacionado com a perda de água da molécula. A partir do momento que ocorre a fusão (Tonset = 216,7 °C; Tpeak = 220,4 °C; ∆H = 105,9 J g-1), inicia-se o processo de decomposição térmica do excipiente. Os resultados obtidos por DSC são confirmados pelas curvas TG/DTG, e evidenciam a fusão do excipiente 117 (Tpeak = 236,8 °C), seguida pela decomposição térmica que ocorre em duas etapas de perda de massa – a primeira ocorreu em Tonset = 299,1 °C, e a segunda em Tonset = 470,2 °C. Embora não seja objeto de estudo neste trabalho, é extensivamente relatado [133] que facilmente pode ocorrer a desidratação de fármacos e/ou excipientes hidratados dependendo das condições de armazenamento e fabricação destes, e as indústrias farmacêuticas devem estar atentas com a possibilidade da ocorrência de tal fato. Para exemplificar o que foi comentado, uma vez que esta investigação é motivada pelo fato deste excipiente ser um dos mais empregados na indústria farmacêutica, além de ser utilizado em grande quantidade (comparada à concentração do princípio ativo) na formulação do medicamento Ezetrol® (conforme mostrado na seção 5.7.1.2), foi realizada uma isoterma de 1 hora na temperatura de 150 °C. As curvas de DSC da lactose monohidratada e da isoterma de 1h/150 °C são mostradas na Figura 50. Figura 50 – Curvas de DSC das amostras de lactose monohidratada (roxo) e após isoterma (1h/150 °C). Comparando-se as duas curvas percebe-se claramente que a exposição da lactose monohidratada a uma isoterma (1h/150 °C) resulta na sua desidratação, ou seja, a endoterma 118 antes visualizada na amostra monohidratada, agora é observada como uma linha de base quase plana na mesma faixa de temperatura. Na nova curva de DSC é observado apenas um evento endotérmico referente à fusão (Tonset = 217,4 °C; Tpeak = 221,0 °C; ∆H = - 139,3 J g-1) que ocorre de maneira análoga ao apresentado para a lactose monohidratada, sendo este evento seguido pela decomposição térmica deste excipiente. Na Figura 51 são apresentadas as curvas TG/DTG da amostra após isoterma de 1h/150 °C e os parâmetros obtidos por análise termogravimétrica podem ser visualizados na Tabela 23. 1.5 Massa (%) 80 1.0 60 0.5 40 20 0.0 Deriv. Massa (% °C-1) 100 0 -0.5 0 100 200 300 400 Temperatura(ºC) 500 600 Figura 51 – Curvas TG/DTG da lactose monohidratada, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de O2. Tabela 23 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra após isoterma de 1h/150°C. Eventos 1 2 3 Tonset (°C) 214,0 300,1 469,2 Tpeak (°C) 235,8 327,5 510,9 ∆ perda de massa (%) 12,0 60,4 24,8 119 Nota-se que se excetuando pequenos deslocamentos nas temperaturas e a perda de massa associadas a estes eventos, a única diferença entre as curvas TG/DTG apresentadas na Figura 49 e na Figura 51, é a perda de massa de 4,9% observada na lactose monohidratada que é ausente na amostra após isoterma de 1h a 150 °C. A partir disto, pode-se inferir que este aquecimento resultou na perda de 1 mol de água, entretanto para uma melhor compreensão deste processo, e para verificar se houve mudança na estrutura cristalina desta amostra, é necessário que se faça uma investigação mais criteriosa utilizando outra técnica para a caracterização estrutural, como a DRXP aliada ao método de Rietveld. A medida foi realizada com o resíduo do estudo por DSC e os difratogramas de raios X após a isoterma e da amostra de partida (lactose monohidratada), podem ser visualizados na Figura 52. Figura 52 – Difratogramas de raios X obtidos no modo de transmissão da amostra lactose monohidratada (azul) comparado com a amostra após isoterma (1h/150 ° C) (roxo). Nota-se que a técnica de DRXP discrimina claramente entre as formas totalmente hidratadas e a nova forma obtida após a isoterma (1h/ 150 °C) da lactose monohidratada. Conforme apresentado, em razão deste aquecimento alguns picos que estavam presentes na lactose monohidratada desapareceram, enquanto novos picos surgiram na amostra após 120 isoterma (1h/150 °C). Vale ressaltar que este resultado é de extrema importância para as indústrias farmacêuticas uma vez que uma simples desidratação pode originar novas formas cristalinas menos hidratadas e este fato pode afetar a eficácia do medicamento. Na Figura 53 são mostrados os difratogramas de raios X da amostra após isoterma e também com uma das fichas (LACTOS03) disponíveis no banco de dados CSD, referente à lactose monohidratada [59]. Pode-se observar claramente a diferença nos padrões de difração referente à lactose após isoterma (1h/150 °C) e a ficha (LACTOS03), ou seja, após a isoterma é possível verificar mudança na estrutura cristalina da lactose monohidratada. Como pode ser visto, as intensidades dos picos foram normalizadas com o auxílio do programa Origin (Origin - versão 8.5.1, Microcal Inc., Northampton, MA, USA) a fim de se obter dados que pudessem ser melhores visualizados. Figura 53 – Comparação dos difratogramas de raios X normalizados da amostra após isoterma (1h/150 °C) (em vermelho), com a ficha LACTOS03 obtida no CSD (em preto). Desta forma, a fim de se determinar a(s) nova(s) estrutura(s) cristalina(s) originada(s) após a isoterma (1h/150 °C), foi realizado o refinamento de Rietveld desta amostra utilizando 121 duas estruturas cristalinas disponíveis no banco de dados do CSD (EYOCUQ01 [134] e LAKKEO01 [135])as quais se referem respectivamente, a α-lactose anidra e α,β,D-lactose (ambas com fórmula molecular C12H22O11). Na Tabela 24 são mostradas as informações cristalográficas destas duas estruturas utilizadas como arquivo de entrada (formato CIF) no refinamento de Rietveld. Tabela 24 – Fichas cristalográficas EYOCUQ01 e LAKKEO01 disponíveis no CSD referentes às fases αlactose anidra e α,β,D-lactose respectivamente, as quais foram utilizadas como arquivo de entrada no refinamento de Rietveld. Parâmetros de cela unitária EYOCUQ01 (CSD) LAKKEO01 (CSD) a (Å) 7,65217(17) 5,030(3) b (Å) 19,8637(5) 7,593(5) c (Å) 4,98773(13) 19,374(12) α (°) 92,0279(10) 81,026(10) β (°) 106,2610(7) 85,044(9) γ (°) 97,1529(8) 74,247(9) V (Å)3 720,178 702,687 Estrutura cristalina Triclínica Triclínica Grupo espacial P1 P1 O gráfico de Rietveld está representado na Figura 54, enquanto que na Tabela 25 são apresentados os resultados obtidos pelo refinamento de Rietveld. 122 Figura 54 – Refinamento de Rietveld da amostra de lactose após isoterma. Tabela 25 – Parâmetros cristalográficos obtidos após o refinamento de Rietveld das fases α-lactose anidra e α,β, D-lactose presentes na amostra após isoterma (1h/150 °C). Parâmetros de cela unitária a (Å) α-lactose anidra α,β, D-lactose 7,64(6) 5,07(11) b (Å) 19,84(14) 7,62(29) c (Å) 4,99(33) 19,52(42) α (°) 92,25(56) 80,80(28) β (°) 106,23(52) 84,61(22) γ (°) 97,07(61) 74,15(21) V (Å)3 718,35(95) 715,51(36) Estrutura cristalina Triclínica Triclínica Grupo espacial P1 P1 Uma análise quantitativa de fases pelo método de Rietveld mostrou que após isoterma (1h/150 °C) a lactose monohidratada que se cristalizava em um sistema cristalino monoclínico, grupo espacial P21, agora se apresenta como uma mistura de fases, sendo uma delas a α-lactose anidra - 87,3(6)% em massa, e em menor proporção, a α,β,D-lactose 12,7(6)% em massa, ambas pertencentes ao sistema cristalino triclínico, grupo espacial P1. Os parâmetros de qualidade do ajuste foram: Rwp = 4,635%, Rexp = 1,721%, RBragg = 1,462% referente à fase α-lactose anidra, RBragg = 1,266% referente à fase α,β, D-lactose e χ2 123 = 2,694. Observamos que o ajuste está compatível com os dados experimentais. É importante ressaltar que, se deve tomar cuidado no preparo da amostra de forma a evitar a orientação preferencial, a qual altera inadequadamente a intensidade dos picos e, consequentemente, prejudica os cálculos da quantificação das fases cristalinas. 5.4.2 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de reflexão) para a amostra lactose monohidratada O padrão de difração de uma amostra cristalina revela detalhes da estrutura do material pela análise de três tipos principais de informação que contém: posição angular, intensidade e perfil do pico. Desta forma, fatores relacionados à preparação de amostras são considerados a maior fonte de erro na obtenção destas três principais informações de cada reflexão. A orientação preferencial corresponde à tendência dos cristalitos de apresentarem planos preferencialmente paralelos à superfície do porta-amostras, e este efeito pode interferir nos resultados do ponto de vista estrutural e influenciar nos resultados quantitativos por afetar inadequadamente a intensidade dos picos [73]. Nesta seção serão apresentados resultados para a lactose monohidratada obtidos no difratômetro operando no modo de reflexão, aonde é evidenciada a influência do preparo da amostra na obtenção das principais informações contidas no padrão de difração desta amostra, além de ser apresentadas alternativas na tentativa de se obter dados de melhor qualidade nos estudos por DRXP. 5.4.2.1 - Preparo da amostra 5.4.2.1.1 - Efeito de granularidade Durante a aquisição de dados, quer seja em modo de reflexão ou de transmissão, é conveniente manter o porta-amostras girando. Isto faz com que tanto o número de partículas irradiadas bem como a aleatoriedade de distribuição das mesmas aumente, podendo até diminuir a orientação preferencial dos cristalitos. Um efeito conhecido como “granularidade”, que implica na falta de cristalitos aleatoriamente distribuídos para todos os planos cristalográficos, é uma das causas para que ocorra orientação preferencial. Um observador desatento pode acreditar que a coleta feita com a amostra parada esteja correta, levando a 124 óbvios problemas de identificação dos dados coletados, como por exemplo, pode-se interpretar determinado resultado como a presença de uma segunda fase do material em questão, quando na verdade o efeito que pode estar ocorrendo refere-se à presença de cristalitos extremamente grandes para estudos por difração de raios X. Desta forma, além de considerar a rotação do porta-amostras, é aconselhável que as amostras sejam passadas por peneiras micrométricas (preferencialmente, menores que 20 μm) de forma a diminuir a polidispersão de tamanhos de partículas [136]. Vale ressaltar que esta última alternativa não foi realizada neste trabalho. No caso de fármacos e excipientes, o efeito de granularidade também pode comprometer a interpretação dos dados. A Figura 55 apresenta este efeito para a amostra de lactose monohidratada, aonde é mostrado o difratograma de raios X da lactose como recebida do laboratório e também pode ser visto o difratograma de raios X do mesmo pó, após uma quantidade ter sido moída em um almofariz de ágata. Vale ressaltar que os dois difratogramas de raios X foram obtidos no difratômetro operando no modo de reflexão. Figura 55 – Difratogramas de raios X da amostra lactose monohidratada após moagem manual e como recebida do laboratório. 125 Nota-se na amostra lactose monohidratada como recebida, alguns pequenos “ombros” que são causados por cristalitos grandes e conforme o material foi moído, este efeito de granularidade diminuiu, o que nos permitiu obter dados de melhor qualidade, os quais foram utilizados no refinamento de Rietveld desta amostra que é mostrado na Figura 56. Para tanto, utilizou-se uma das estruturas disponíveis (LACTOS03 [59]) no banco de dados do CSD (Cambridge Structural Database). Figura 56 – Refinamento de Rietveld da amostra lactose monohidratada após moagem manual, utilizando a estrutura (LACTOS03) disponível no banco de dados do CSD (Cambridge Structural Database). Os resultados obtidos pelo método de Rietveld mostram que esta estrutura se cristaliza num sistema cristalino monoclínico, grupo espacial P21, com parâmetros de cela unitária refinados, a = 7,93(4) Å, b = 21,58(10) Å, c = 4,81(2) Å, β = 109,78(2)º e V= 775,58(7) Å3. Os parâmetros de qualidade do ajuste foram: Rwp = 2,954%, Rexp = 2,243%, RBragg = 0,095% e χ2 = 1,110. Na Tabela 26 são mostrados os parâmetros cristalográficos da estrutura cristalina LACTOS03 disponível no CSD, a qual foi utilizada como arquivo de entrada CIF para o refinamento de Rietveld. 126 Tabela 26 – Dados cristalográficos obtidos na ficha LACTOS03 disponível no banco de dados do CSD. Parâmetros de cela unitária LACTOS03 (CSD) a (Å) 7,937(2) b (Å) 21,568(7) c (Å) 4,815(1) α = γ (°) 90,00 β (°) 109,77(2) V (Å)3 775,67 Sistema cristalino Monoclínico Grupo espacial P21 Observamos que o ajuste está compatível com os dados experimentais, e o valor obtido para o fator de confiança (Rwp) foi de 2,954%. Este valor é considerado bom para o ajuste realizado, uma vez que o Rwp é o fator estatisticamente mais significativo de todos os outros fatores e reflete melhor o progresso do refinamento. Vale ressaltar que esta mesma amostra foi medida no modo de transmissão e apresentou importantes diferenças quando comparada com a medida obtida pelo modo de reflexão. Uma discussão mais detalhada a respeito destas diferenças serão discutidas na seção 5.4.4. 5.4.3 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para a amostra de lactose monohidratada Cada composto cristalino apresenta um difratograma característico, permitindo sua identificação através da comparação com o padrão difratométrico disponibilizado pelo CSD. Na Figura 57 são mostrados o padrão de difração da lactose monohidratada estudada neste trabalho e um dos padrões disponíveis no CSD, cujas informações estão disponibilizadas na ficha cristalográfica LACTOS03. 127 Figura 57 – Comparação do difratograma de raios X da lactose monohidratada com a ficha LACTOS03 obtida no CSD. Verifica-se que o difratograma de raios X da lactose monohidratada é característico de material cristalino, com picos finos e bem definidos, sendo os mais intensos observados em valores de (2iguais a: 12,5°; 16,4°; 19,1°; 19,6°; 20,0° e 23,8°. Para uma melhor comparação entre os difratogramas de raios X, as intensidades foram normalizadas novamente com o auxílio do programa Origin (Origin - versão 8.5.1, Microcal Inc., Northampton, MA, USA) e estes dados são mostrados na Figura 58. Nota-se claramente que os dois padrões de difração são praticamente sobreponíveis. 128 Figura 58 – Comparação do difratograma de raios X com dados normalizados da lactose monohidratada com a ficha LACTOS03 (normalizado) obtida no CSD. Os resultados obtidos por DRXP confirmam os obtidos por DSC e TG/DTG, os quais mostraram características que permitiram concluir que este excipiente se trata da lactose monohidratada. 5.4.4 - Resultados de difração de raios X por policristais (modo de transmissão versus reflexão) para a amostra de lactose monohidratada Para a caracterização da estrutura cristalina de um material é de extrema importância que se tenha resultados de boa qualidade. Isto pode ser exemplificado através da ampliação na região de 12° a 22° (2θ) dos difratogramas de raios X mostrados na Figura 59 e Figura 60, que comparam os resultados obtidos pelos dois modos de geometria (transmissão e reflexão). 129 Figura 59 – Região ampliada (12° a 22° em 2) do difratograma de raios X da lactose monohidratada medida no modo de transmissão. Figura 60 – Região ampliada (12° a 22° em 2) do difratograma de raios X da lactose monohidratada medida no modo de reflexão. 130 Neste caso fica evidente que a aquisição de dados em um difratômetro de alta resolução (modo de transmissão) facilitou a identificação desta estrutura cristalina através da técnica de DRXP aliada ao método de Rietveld. Verifica-se através do difratograma de raios X obtido pelo modo de transmissão reflexões bem nítidas referentes à lactose monohidratada, enquanto que na aquisição de dados no modo de reflexão as mesmas existiam, porém não eram bem resolvidas. Vale enfatizar, que estas diferenças estão relacionadas à natureza da radiação monocromática, no caso da aquisição de dados no modo de transmissão, onde não são encontrados picos referentes à linha Kα2. Além disso, devido à maior resolução instrumental obtida neste modo, e também em função da redução da orientação preferencial no modo de preparo da amostra a ser medida verifica-se uma menor sobreposição dos picos quando comparados com as medidas no modo de reflexão. 131 5.4.5 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) O espectro de FTIR obtido para a amostra lactose monohidratada (Figura 61) mostrou-se sobreponível ao obtido em trabalhos anteriores [132] e apresentou uma banda fraca em 1656 cm-1 e entre 1200 cm-1 e 1070 cm-1, que correspondem respectivamente, à deformação angular dos grupos OH da água, e ao estiramento assimétrico da ligação C-O-C. Figura 61 – Espectro de FTIR da lactose monohidratada, obtido com resolução de 4 cm-1 na região de 4000 a 650 cm-1. Além disso, apresentou bandas características entre 3600 cm-1 e 3200 cm-1, correspondentes ao estiramento axial do grupo hidroxila, sendo que em 3521 cm-1 é visível uma acentuada banda característica da forma monohidratada, confirmando os resultados apresentados pelas técnicas de DSC, TG/DTG e DRXP. Vale ressaltar que o estudo desta amostra por FTIR teve por objetivo apenas verificar a existência de banda(s) característica(s) que pudesse(m) ser atribuída(s) à forma monohidratada apresentada por esta estrutura, a fim de confirmar os resultados obtidos pelas outras técnicas experimentais utilizadas neste trabalho. 132 5.5 - Lauril sulfato de sódio 5.5.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para a amostra de lauril sulfato de sódio O difratograma de raios X do lauril sulfato de sódio é mostrado na Figura 62. Figura 62 – Difratograma de raios X do lauril sulfato de sódio. Observa-se que o perfil apresentado pelo difratograma de raios X mostrado anteriormente é característico de uma amostra cristalina, com uma intensa reflexão na posição 2,2° em 2θ. Além de reflexões menos intensas nos seguintes valores em (2θ): 4,4°; 6,6°; 20,4°; 20,7° e 21,8°. Este resultado está de acordo com a indexação reportada por Bittencourt [137]. Pode-se, a partir destes resultados, obter a distância interplanar (d) e estimar o tamanho médio de cristalito (D) a partir da fórmula de Scherrer [73] para esta amostra. Os 133 valores encontrados para as distâncias interplanares para a amostra lauril sulfato de sódio e os observados por Bittencourt [137] estão apresentados na Tabela 27. Tabela 27 – Valores de distância interplanar observados utilizando dados de DRXP e os reportados por Bittencourt [137]. Lauril sulfato de Sódio Reportados por Bittencourt 2θ (°) dhkl (Ǻ) 2θ (°) dhkl (Ǻ) 2,17 40,62 2,297 38,429 4,37 20,19 4,539 19,451 6,57 13,46 6,821 12,948 20,35 4,36 20,310 4,369 20,67 4,30 20,665 4,294 21,82 4,07 21,841 4,066 A determinação do tamanho médio de cristalito para esta amostra foi realizada de maneira análoga à descrita anteriormente para as amostras de estearato de magnésio. No caso da amostra de lauril sulfato de sódio foi utilizada a reflexão em 4,37° (2θ) e o valor encontrado para o tamanho médio de cristalito foi de 59,3(9) nm. 134 5.5.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) A curva de DSC do lauril sulfato de sódio apresentou dois picos endotérmicos em T1onset = 50,5 °C; T1máx= 52,9 °C e T2onset= 72,6 °C; T2máx= 76,0 °C, respectivamente, como mostrado na Figura 63. Figura 63 – Curva de DSC do lauril sulfato de sódio obtida a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). Estes eventos endotérmicos são referentes à perda de água superficial deste excipiente e apenas o segundo evento pode ser confirmado pelas curvas TG/DTG (Figura 64) que mostram uma perda de massa (∆m1 = 0,9%). 135 Figura 64 – Curvas TG/DTG do lauril sulfato de sódio, obtidas a 10 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. Além destes eventos, são mostrados na curva de DSC uma endoterma intensa em Tonset = 107,6 °C. Segundo o Aldrich Chemical Catalog [138], o valor da temperatura de fusão para este excipiente puro varia em torno de 204-207 °C. As curvas TG/DTG apresentaram uma perda de massa de (∆m2 = 68,7%) que ocorreu a Tonset = 222,8 °C. Uma possível explicação para o aparecimento desta endoterma em 107,6 °C, quando o esperado era em torno de 204-207 °C, pode estar relacionada à dupla natureza da molécula de lauril sulfato de sódio, isto é, uma região polar (hidrofílica) e outra região apolar (hidrofóbica) na mesma molécula (característica que justifica sua utilidade para diversas finalidades), conforme a estrutura química mostrada na Figura 65. 136 Figura 65 – Estrutura química do lauril sulfato de sódio ressaltando a dupla natureza da molécula. Vale ressaltar que a temperatura apresentada anteriormente (Tonset = 222,8 °C) não é significativamente maior do que a temperatura de fusão apresentada pelo excipiente, o que nos permite inferir que este começou a decompor-se rapidamente após ter fundido. Isso pode ser confirmado através dos eventos endotérmicos e exotérmicos observados na curva de DSC a partir de aproximadamente 180,5 °C, os quais demonstram a decomposição térmica do excipiente e são confirmados pelas curvas TG/DTG, que mostram esta decomposição ocorrendo em duas etapas (T1onset = 222,8 °C e T2onset = 324,6 °C). Na Tabela 28 estão mostrados os parâmetros obtidos da análise termogravimétrica da amostra de lauril sulfato de sódio. Tabela 28 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a amostra de lauril sulfato de sódio. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) ∆ perda de massa (%) 1 75,8 89,5 0,9 2 222,8 253,6 68,7 3 324,6 354,4 2,9 5.5.2.1 - Determinação da pureza por DSC A análise da pureza por DSC é uma técnica bem consolidada, sendo que a metodologia empregada está descrita na Norma ASTM E 928-03 [83]. O método avalia a pureza do composto por meio de uma análise do pico de fusão obtido, aplicando a lei da depreciação do ponto de fusão de Van’t Hoff (que prevê a depreciação do ponto de fusão do composto puro devido à presença de impurezas) [138]. Segundo Wada & Matsubara [128] para uma amostra que possui uma faixa mais estreita de intervalo de fusão, pode-se considerar que a mesma apresenta níveis mais baixos de impurezas. 137 A determinação por DSC do teor de pureza deste excipiente foi realizada utilizando o software TA Universal Analysis 2000 desenvolvido pela TA Instruments. Para a determinação foi utilizada 50 áreas parciais para a análise do pico, que tem uma fração máxima permitida de 50%, sendo o valor da altura de corte da primeira área parcial de 0,01%. Desta forma, o emprego da equação de Van’t Hoff sobre o evento endotérmico relativo à fusão do lauril sulfato de sódio permitiu estimar o grau de pureza esperado para este excipiente, sendo encontrado o valor de 98,9%. Este resultado está de acordo com o relatado na literatura para o lauril sulfato de sódio [139]. 138 5.5.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) O espectro de FTIR para a amostra lauril sulfato de sódio (Figura 66), apresentou entre outras, bandas características de hidrocarbonetos em 1467 cm-1 e 2958 cm-1, correspondentes às deformações angular e axial de ligação C-H, respectivamente. Podem ser vistas também bandas correspondentes à deformação axial simétrica de CH3 e assimétrica de CH2 em 2850 cm-1 e 2918 cm-1, respectivamente. Na frequência de 1081 cm-1 é visualizada uma banda de deformação axial do sistema S-O-C e em 1218 cm-1, uma deformação axial do grupo S=O. Figura 66 – Espectro de FTIR para a amostra lauril sulfato de sódio, obtido com resolução de 4 cm-1 na região de 4000 a 650 cm-1. Estes resultados corroboram ao que foi mencionado anteriormente (resultados de DSC) em relação à dupla natureza da molécula de lauril sulfato de sódio e justifica o objetivo pelo qual foi utilizada esta técnica neste trabalho. 139 5.6 – Povidona 5.6.1 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para a amostra povidona O difratograma de raios X da povidona está representado na Figura 67. Figura 67 – Difratograma de raios X da povidona. Para a povidona não se observa um padrão de difração característico de uma amostra cristalina, o que a caracteriza como uma estrutura amorfa, pela ausência de um ordenamento de longo alcance definido. 5.6.2 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) A curva de DSC da povidona mostrada na Figura 68, evidencia dois eventos típicos bem descritos na literatura. 140 Figura 68 – Curva de DSC da povidona, obtida a 5 ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL min-1). Inicialmente ocorreu um evento endotérmico amplo em (Tonset = 37,7 °C e Tmáx = 79,8 °C). Esta endoterma foi detectada por praticamente todos os autores que fizeram DSC deste excipiente e é atribuída à eliminação de água superficial devido à natureza extremamente higroscópica da povidona (conforme será mostrado no espectro de FTIR). Este evento pode ser corroborado nas curvas TG/DTG (Figura 69), pela perda de massa de (∆m1 = 15,0%) nessa faixa de temperatura. 141 Figura 69 – Curvas TG/DTG da povidona, obtidas a 10ºC min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. O segundo evento observado na curva de DSC da povidona foi um deslocamento da linha de base, atribuído à temperatura de transição vítrea (Tg), que de acordo com Tajber e colaboradores [140] fica em torno de 129 °C. Entretanto para esta amostra a Tg encontrada foi de Tonset = 161,1 °C, sendo este evento confirmado por uma pequena perda de massa (∆m2 = 1,1%) nas curvas TG/DTG. Vale ressaltar que esta divergência pode ocorrer em experimentos para determinação da Tg por DSC, uma vez que esta medida pode ser afetada pela história térmica do material, pela razão de aquecimento, entre outros. Recentemente Buckton e colaboradores [141] estudaram o efeito da razão de aquecimento sobre a determinação da Tg da povidona, onde os autores mediram o valor da Tg utilizando razões de aquecimento de 20 a 500 °C min-1 e obtiveram valores que variavam de 162 °C a 169 °C estando, portanto, muito próximos aos valores encontrados no presente trabalho (Tonset = 161,1 °C), em que a razão de aquecimento foi de 5 °C min-1. Além disso, para esta amostra também foi obtida uma curva de DSC em que a razão de aquecimento foi de 10 °C min-1, entretanto este resultado não foi utilizado tendo em vista que com esta razão de aquecimento não foi possível determinar a Tg da povidona. 142 Após o evento da Tg, o excipiente começa a sofrer decomposição térmica. Este evento coincide com os resultados obtidos pelas curvas TG/DTG, sendo observada uma perda de massa de (∆m2 = 82,0%) relacionada ao processo de decomposição térmica que ocorre em uma única etapa de acordo com a curva DTG (Tonset = 319,7 °C). Os parâmetros obtidos por análise termogravimétrica desta amostra são mostrados na Tabela 29. Tabela 29 – Parâmetros obtidos por análise termogravimétrica para a povidona. Eventos Tonset (°C) Tmáx (°C) ∆ perda de massa (%) 1 51,4 83,1 15,0 2 169,2 189,9 1,1 3 319,7 394,4 82,0 Da mesma forma como ocorreu para a croscarmelose sódica, a comparação dos resultados obtidos pelas técnicas de DSC e TG/DTG permitem constatar que a povidona não apresenta estrutura cristalina, o que a caracteriza como um sólido amorfo, devido a sofrer decomposição sem exibir qualquer pico endotérmico de fusão. Este resultado corrobora com o apresentado pela técnica de DRXP. 143 5.6.3 - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) O espectro de FTIR da povidona apresentado na Figura 70, se mostrou semelhante aos apresentados por Pavia e colaboradores [142], e mais recentemente por Costa [118], revelando, entre outras, bandas de absorção características em aproximadamente, 2902 cm-1 correspondente à deformação axial da ligação C-N, em 2955 cm-1, correspondente ao estiramento C-H, e 1652 cm-1 e 1421 cm-1, as quais referem-se respectivamente, à deformação axial da ligação C=O e a deformação angular de C-H. Figura 70 – Espectro de FTIR para a amostra povidona, obtido com resolução de 4 cm -1 na região de 4000 a 650 cm-1. Em virtude da natureza altamente hidrofílica da povidona é esperado que ocorra a presença de moléculas de água. Através da interpretação do espectro de FTIR é notável a presença de uma ampla banda na região de 3374 cm-1. Esta banda é atribuída à presença de água e é confirmada através da perda de massa observada no experimento de TG e na depressão endotérmica encontrada no experimento de DSC. Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos por Sethia e Squillante [143]. 144 5.7 - Medicamento comercial 5.7.1 – Ezetrol® Serão mostrados os resultados obtidos pelos estudos por DSC e DRXP de amostras do medicamento comercial, denominado Ezetrol®, o qual é comercializado em forma de comprimido. Dentre as formas farmacêuticas destinadas à administração pela via oral, aquela apresentada na forma de comprimido tem sido o sistema de liberação de fármacos preferido para obtenção de efeito sistêmico e é a mais difundida por apresentar as maiores vantagens em relação ao seu uso. Dentre estas vantagens, podem ser citadas a grande precisão de dosagem, a baixa variabilidade do conteúdo e a facilidade de administração [144]. Este medicamento contém em sua formulação a ezetimiba (princípio ativo), e os excipientes estudados neste trabalho: celulose microcristalina, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, lactose monohidratada, lauril sulfato de sódio e povidona. 5.7.1.1 - Calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria / termogravimetria derivada (TG/DTG) A Figura 71 mostra as curvas de DSC obtidas para as duas amostras do medicamento Ezetrol®, denominadas Ezetrol 2460 e Ezetrol 21110. 145 Figura 71 – Curvas de DSC do comprimido Ezetrol®, obtidas a 10 °C min-1, sob atmosfera dinâmica de N2. As curvas de DSC para as amostras Ezetrol 2460 e Ezetrol 21110 são praticamente sobreponíveis. As temperaturas (Tmáx) dos principais eventos são apresentadas na Tabela 30. Tabela 30 – Temperaturas (Tmáx) dos principais eventos encontrados nas curvas de DSC de amostras do medicamento Ezetrol®. Eventos Amostras 1 2 Tmáx (°C) Tmáx (°C) 3 4 5 Tmáx (°C) Tmáx (°C) Tmáx (°C) Ezetrol 2460 65,4 149,1 169,8 191,3 210,3 Ezetrol 21110 65,7 146,9 172,0 190,8 210,8 146 Uma vez que não houve eventos adicionais entre as amostras, optou-se por utilizar apenas a curva de DSC referente à amostra Ezetrol 2460 para a discussão dos resultados. A curva de DSC do Ezetrol 2460 apresenta como primeiro evento uma endoterma larga. Este evento ocorre nas temperaturas (Tonset = 40,0 °C e Tmáx = 65,4 °C) e pode ser atribuído a uma perda de água superficial dos excipientes contidos no medicamento. Na Figura 72 são mostradas as curvas de DSC do medicamento, juntamente com as curvas dos excipientes celulose microcristalina PH-102, croscarmelose sódica e povidona, todos os quais apresentam este evento endotérmico. Figura 72 – Curvas de DSC das amostras celulose microcristalina PH-102, croscarmelose sódica, povidona e Ezetrol 2460. Nota-se claramente que este primeiro evento está relacionado a estes excipientes, principalmente à celulose microcristalina PH-102, a qual exibe um pico endotérmico na Tonset = 39,9 °C, temperatura muito próxima à encontrada para este evento na curva de DSC do medicamento. O segundo evento endotérmico que ocorre na curva de DSC do Ezetrol 2460 ocorre nas temperaturas (Tonset = 143,4 °C e Tmáx = 149,1 °C). Os valores encontrados estão muito 147 próximos ao encontrado para o evento endotérmico de desidratação da lactose monohidratada, que ocorre em (Tonset = 142,1 °C e Tmáx= 150,4 °C), conforme mostrado na Figura 73. Figura 73 – Curvas de DSC das amostras lactose monohidratada e Ezetrol 2460. No evento denominado “3” na curva de DSC, nota-se a presença de um pequeno evento endotérmico exibido nas temperaturas (Tonset = 167,7 °C e Tmáx= 169,8 °C), o qual pode estar relacionado ao princípio ativo do medicamento (ezetimiba), que, de acordo com a literatura [64-66], apresenta uma temperatura de fusão de aproximadamente 163 °C. Vale ressaltar que este evento está muito próximo à temperatura de fusão deste fármaco e o pequeno deslocamento pode estar relacionado à influência dos excipientes presentes no medicamento. Entretanto, apenas com este estudo não é possível afirmar a causa para este deslocamento, sendo ideal um estudo mais aprofundado sobre uma possível interação entre os excipientes presentes no medicamento em estudo e o fármaco, porém isto foge ao escopo deste trabalho. Além disso, a pequena intensidade deste evento endotérmico pode também estar relacionada à pequena quantidade do fármaco que é utilizado na formulação, o que dá evidências de que se fosse utilizada uma razão de aquecimento maior que a utilizada no presente estudo, este evento provavelmente não seria identificado na curva de DSC, 148 mostrando que se deve estar atento às limitações desta técnica quando se utiliza pequenas quantidades de amostra (neste caso, princípio ativo do medicamento), fato que não ocorreu nos experimentos de DRXP que serão discutidos posteriormente. Este evento é seguido por um pequeno evento endotérmico que ocorre em (Tonset = 188,5 °C e Tmáx = 191,3 °C) e de acordo com as curvas de DSC está relacionado à fusão do palmitato de magnésio presente no excipiente estearato de magnésio e da fusão do lauril sulfato de sódio (Figura 74). Estes eventos dão início à fusão do comprimido que ocorre em (Tonset = 199,1 °C e Tmáx = 210,3 °C). Vale ressaltar que a amostra de estearato de magnésio denominada ML foi utilizada nesta comparação, e a mesma não é a mostrada no decorrer deste trabalho, pois optou-se pela sua utilização por se tratar de uma medida utilizando a mesma razão de aquecimento (10 °C min-1) na qual foi adquirida a curva de DSC do medicamento. Figura 74 – Curvas de DSC das amostras estearato de magnésio ML, lauril sulfato de sódio e Ezetrol 2460. Imediatamente após a fusão, o medicamento entra em decomposição térmica a partir de aproximadamente 219 °C, ocorrendo de forma semelhante ao que ocorre com as amostras 149 lactose monohidratada e lauril sulfato de sódio, mas com a temperatura um pouco deslocada, conforme apresentado na Figura 75. Figura 75 – Curvas de DSC das amostras lauril sulfato de sódio, lactose monohidratada e Ezetrol 2460. Nota-se claramente que o estearato de magnésio não mostrou muitas influências nos resultados, o que sugere que este excipiente foi utilizado em pequena quantidade na formulação do medicamento em estudo. Conforme já mencionado, a informação é apenas sugestiva tendo em vista que não existem informações sobre a quantidade exata dos excipientes utilizados em medicamentos, pois isto se constitui segredo industrial. A única informação a que temos acesso é que este excipiente pode retardar a dissolução de um fármaco em uma forma farmacêutica sólida, desta forma a menor concentração possível do mesmo deve ser utilizada nas formulações [50]. Além disso, de acordo com as curvas de DSC e TG/DTG deste excipiente, a estabilidade térmica do mesmo é muito baixa, o que mostra que se deve tomar certo cuidado em relação, por exemplo, à armazenagem de medicamentos que contém o estearato de magnésio em sua formulação, pois uma pequena elevação na temperatura pode dar origem a mudanças estruturais neste excipiente. Embora não tenha sido 150 realizado este estudo no presente trabalho, há relatos na literatura que mencionam tal fato. Tendo isso em vista, foi realizada uma rápida busca a fim de obter informações sobre quais as condições descritas para o armazenamento do medicamento Ezetrol®, e obteve-se a informação na bula que o mesmo deve ser armazenado em uma temperatura abaixo de 30 °C, temperatura que está muito próxima à encontrada pelos estudos de estabilidade térmica por TG para os excipientes: croscarmelose sódica (33 °C), estearato de magnésio ML, VG e NF, os quais apresentam temperaturas aproximadas de, respectivamente, 28 °C, 31 °C e 32 °C, e lauril sulfato de sódio (29 °C). 151 5.7.1.2 - Resultados de difração de raios X por policristais (transmissão) para o medicamento Ezetrol® Na Figura 76 são mostrados os difratogramas de raios X normalizados do Ezetrol 2460 e da lactose monohidratada, um dos excipientes constituintes deste medicamento. Figura 76 – Difratogramas de raios X normalizados do comprimido Ezetrol 2460 e da lactose monohidratada, obtidos no difratômetro de raios X por policristais com geometria de transmissão. Uma análise qualitativa destes difratogramas de raios X nos mostra a importância de estudos relacionados aos excipientes farmacêuticos, que conforme mencionado neste trabalho e pode ser visualizado nesta figura, representam a maior parte da forma farmacêutica. Nota-se claramente que a lactose monohidratada é utilizada em grande quantidade no medicamento Ezetrol®, o que corrobora com os resultados apresentados pela curva de DSC do medicamento, que mostrou claramente um pico endotérmico relacionado à amostra de lactose monohidratada. Vale ressaltar, que para uma quantificação não só deste excipiente no medicamento, como também dos demais, e do princípio ativo, é necessário que se realize uma análise quantitativa de fases pelo método de Rietveld desta amostra de medicamento. Esta determinação foi realizada e será mostrada na Figura 77. 152 Figura 77 – Refinamento de Rietveld do medicamento Ezetrol®. Os parâmetros de qualidade do ajuste foram: Rwp = 3,709%, Rexp = 1,737%, RBragg = 1,815% (ezetimiba), RBragg = 1,628% (lactose monohidratada), RBragg = 0,147% (celulose microcristalina PH-102), RBragg = 2,499% (lauril sulfato de sódio) e χ2 = 2,135. Na Tabela 31 são mostrados os parâmetros cristalográficos da ficha QATNEF [68] disponível no CSD que foi utilizada como o arquivo CIF de entrada no refinamento, referente ao princípio ativo (ezetimiba monohidratada), e os obtidos após o refinamento de Rietveld. Tabela 31 – Ficha cristalográfica QATNEF (CSD) que foi utilizada como arquivo de entrada no refinamento de Rietveld do medicamento Ezetrol®, e os resultados (princípio ativo) obtidos após o refinamento de Rietveld. Parâmetros de cela unitária QATNEF (CSD) Ezetimiba monohidratada (Ezetrol®) a (Å) 6,240(<1) 6,25(95) b (Å) 15,466(1) 15,50(33) c (Å) 22,332(1) 22,37(40) α = β = γ (°) 90,00 90,00 V (Å)3 2155,033 2167,80(68) Sistema cristalino Ortorrômbico Ortorrômbico Grupo espacial P212121 P212121 153 As fichas referentes à celulose microcristalina PH-102 (JINROO01) e lactose monohidratada (LACTOS03) são as mesmas utilizadas no decorrer deste trabalho. Os parâmetros de cela unitária do lauril sulfato de sódio estão de acordo com os reportados pelos pesquisadores Smith e colaboradores [145]. Vale ressaltar que não foram inclusos no refinamento de Rietveld do medicamento as reflexões referentes aos excipientes croscarmelose sódica, estearato de magnésio e povidona. Na Tabela 32 são mostrados os resultados obtidos após o refinamento de Rietveld dos excipientes celulose microcristalina PH-102 (C. M. PH-102), lactose monohidratada e lauril sulfato de sódio, todos estes presentes no medicamento Ezetrol®. Tabela 32 - Resultados obtidos após o refinamento de Rietveld do medicamento Ezetrol®. Parâmetros de cela unitária C. M. PH-102 Lactose monohidratada Lauril sulfato de sódio a (Å) 8,32(28) 7,94(55) 40,78(16) b (Å) 7,67(53) 21,57(16) 4,71(12) c (Å) 10,27(23) 4,82(15) 7,98(28) α (°) 90,0 90,0 90,0 β (°) 90,0 109,75(21) 90,10(84) γ (°) 95,91(79) 90,0 90,0 V (Å)3 651,85(15) 777,52(84) 1533,01(86) Sistema cristalino Monoclínico Monoclínico Monoclínico Grupo espacial P21 P21 P21/c De acordo com a quantificação de fases do medicamento Ezetrol®, foi possível identificar e quantificar o princípio ativo, ezetimiba, mesmo este presente em pequena quantidade no medicamento. Verificou-se que a forma polimórfica encontrada no medicamento é a ezetimiba monohidratada, conhecida como Forma B [68]. Além disso, com a quantificação de fases pelo método de Rietveld pode-se confirmar o que é descrito na literatura, de que os excipientes são responsáveis pela maior parte da forma farmacêutica, quando comparados com a concentração do princípio ativo, devido à elevada quantidade de excipientes presentes no medicamento em estudo. 154 6 – Conclusões Utilizando as técnicas de DRXP aliada ao método de Rietveld, DSC, TG e FTIR, foi possível fazer um estudo detalhado das propriedades estruturais dos excipientes celulose microcristalina PH-101, celulose microcristalina PH-102, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, lactose monohidratada, lauril sulfato de sódio e povidona, os quais são utilizados na fabricação do medicamento Ezetrol®. Pelas análises dos difratogramas de raios X verificou-se que as amostras celulose microcristalina PH-101 e celulose microcristalina PH-102 possuem regiões amorfas e cristalinas (excipiente semicristalino). Foi possível quantificar a fração de amorfo pelo refinamento de Rietveld da amostra de celulose com a adição de um padrão interno (Al2O3), e verificou-se que a celulose microcristalina PH-101 possui maior cristalinidade quando comparada à amostra de celulose microcristalina PH-102. Estes resultados estão em concordância com os estimados pelo cálculo da cristalinidade com resultados de FTIR, e com a acessibilidade da celulose microcristalina por DSC. Também com o método de Rietveld foi possível identificar as amostras como sendo a celulose I (nativa), que, por sua vez, possui duas formas polimórficas conhecidas como celulose Iα e Iβ. A celulose microcristalina PH101 se cristalizou em um sistema cristalino triclínico (celulose Iα), enquanto que a celulose microcristalina PH-102 se cristalizou num sistema cristalino monoclínico (celulose Iβ). Com os resultados de DSC e TG/DTG foi verificado que as duas amostras apresentaram diferenças no teor de umidade, sendo a celulose microcristalina PH-102 a de menor umidade. Este resultado corrobora com os apresentados em relação à menor cristalinidade desta amostra quando comparada à celulose microcristalina PH-101, uma vez que a umidade é mais facilmente absorvida por regiões não cristalinas da amostra. A técnica de DRXP se mostrou uma importante ferramenta para a caracterização inequívoca dos possíveis polimorfos do estearato de magnésio. Com o uso desta técnica foram evidenciadas diferenças entre os padrões de difração das amostras. Utilizando os resultados de DRXP também foi possível calcular os tamanhos médios de cristalitos utilizando a fórmula de Scherrer e correlacioná-los ao perfil apresentado pelos difratogramas de raios X das amostras em estudo. Os resultados obtidos pelas curvas de DSC e TG/DTG, juntamente com os obtidos por DRXP, deram indícios da presença de polimorfos, impurezas (palmitato de magnésio) e hidratos entre as amostras analisadas. Também foram identificadas 155 algumas diferenças entre os espectros de FTIR dos sete diferentes lotes de estearato de magnésio. Além disso, foi possível propor por TG uma ordem de estabilidade térmica para as diferentes amostras de estearato de magnésio, diante da razão de aquecimento estudada (10 °C min-1). Esta informação é de grande importância para as indústrias farmacêuticas, uma vez que o estearato de magnésio é um dos excipientes mais utilizados como lubrificante na produção de medicamentos. Além disso, verificou-se que é aconselhável o estudo do comportamento térmico da amostra de estearato de magnésio sob diferentes razões de aquecimento. Utilizando uma razão de aquecimento mais baixa (5 °C min-1) foi obtida uma melhor separação dos eventos térmicos ocorridos com as amostras. Como não foram encontradas fichas cristalográficas no banco de dados do Cambridge Structural Database (CSD) sobre as estruturas cristalinas do estearato de magnésio, os estudos por DRXP foram feitos de maneira comparativa. A utilização de um equipamento de alta resolução, na geometria de transmissão, mostrou-se mais conveniente, pois além de diminuir as sobreposições dos picos, devido a uma maior aleatoriedade da distribuição dos cristalitos na preparação da amostra no porta-amostras, fez com que a orientação preferencial dos mesmos fosse reduzida. Para a amostra lactose monohidratada, as técnicas de DSC e TG/DTG permitiram a identificação de uma forma hidratada da lactose. Também foi realizado um estudo que reporta a desidratação deste excipiente após uma isoterma de 1 hora na temperatura de 150 °C que ocasionou uma mudança na estrutura cristalina desta amostra. A lactose monohidratada que se cristaliza em um sistema cristalino monoclínico, após a isoterma, apresentou uma mistura de fases que foi quantificada com o método de Rietveld, sendo uma delas a α-lactose anidra (87,3(6)% em massa) e em menor proporção, a α,β,D-lactose (12,7(6)% em massa). Isto mostra claramente que as indústrias farmacêuticas devem estar atentas a este fato, pois a lactose monohidratada é um dos excipientes mais utilizados na produção de medicamentos. Esta amostra também foi medida no difratômetro operando no modo de reflexão e foi evidenciada a influência do preparo da amostra na obtenção das principais informações contidas no padrão de difração e com isso foram apresentadas alternativas na tentativa de se obter dados de melhor qualidade nos estudos por DRXP. Os resultados de DRXP do lauril sulfato de sódio estão de acordo com a indexação reportada por Bittencourt [137]. Com a utilização da técnica de FTIR foi possível verificar a dupla natureza da molécula do lauril sulfato de sódio (molécula constituída de uma parte 156 orgânica e outra inorgânica), isto é, uma região polar (hidrofílica) e outra região apolar (hidrofóbica) na mesma molécula, fato este que justifica sua utilidade para diversas finalidades. A análise de pureza deste excipiente foi realizada por DSC sendo encontrado o valor de 98,9%. Este resultado está de acordo com o relatado na literatura para o lauril sulfato de sódio. De acordo com os resultados obtidos pela DRXP observou-se que as amostras croscarmelose sódica e povidona apresentaram um padrão característico de amostras que não possuem ordenamento cristalino de longo alcance (amorfas). Os resultados de DSC e TG/DTG corroboraram com os encontrados por DRXP e permitiram constatar que a croscarmelose sódica e a povidona não apresentam estrutura cristalina, uma vez que sofreram decomposição sem exibir quaisquer picos endotérmicos de fusão. Assim como demonstrado para o estearato de magnésio, para a povidona, também fica clara a importância de se estabelecer razões de aquecimento adequadas na aquisição das curvas de DSC para avaliar o comportamento térmico desta amostra, pois utilizando uma razão de aquecimento de 10 °C min-1, não foi possível evidenciar um evento típico – transição vítrea para esta amostra, o que ocorreu de forma diferente quando se utilizou uma razão de aquecimento de 5 °C min-1. Para a amostra do medicamento comercial, Ezetrol®, foram obtidas curvas de DSC cujos eventos puderam ser relacionados aos excipientes constituintes deste medicamento. Também foi realizada uma rápida busca na tentativa de obtenção de informações sobre quais as condições descritas para o armazenamento do medicamento Ezetrol®, e obteve-se a informação na bula que o mesmo deve ser armazenado em uma temperatura abaixo de 30°C, temperatura que está muito próxima à encontrada pelos estudos de TG para verificar a estabilidade térmica de alguns excipientes utilizados em sua formulação. Os resultados de DRXP confirmaram o que é descrito na literatura de que os excipientes são responsáveis pela maior parte da forma farmacêutica (em relação ao volume da forma), quando comparados com a concentração do princípio ativo. Embora a concentração do princípio ativo, ezetimiba, seja muito pequena, foi possível identificá-la (inequivocamente em algumas regiões do difratograma) e quantificá-la no difratograma de raios X do medicamento Ezetrol®, mesmo os picos relativos à lactose monohidratada sendo muito mais intensos. 157 7 – Referências Bibliográficas [1] H. M. 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