54174060-Educacao-e-Cidadania-Modulo-07
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54174060-Educacao-e-Cidadania-Modulo-07
EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL H ISTÓRIAS 7 DA TRADIÇÃO ORAL P ROGRAMA DE RÁDIO C OERÊNCIA TEXTUAL : O FINAL DA HISTÓRIA COERÊNCIA TEXTUAL : O MEIO DA HISTÓRIA D ISCURSO DIRETO C ENÁRIO C RIAÇÃO DE CENA MOVIMENTADA C RIAÇÃO DE PERSONAGEM P ONTO DE VISTA S ELEÇÃO S EQÜÊNCIA DE FATOS E EXPANSÃO DE IDÉIAS N ARRATIVA C ONTOS ABSURDA MARAVILHOSOS 40 EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL 7 ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA DA FEBEM/SP MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES Governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin Secretário de Estado da Educação Gabriel Chalita Secretário Adjunto Paulo Alexandre Pereira Barbosa Chefe de Gabinete Mariléa Nunes Vianna Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas Sonia Maria Silva Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo Aparecida Edna de Matos Coordenadoria de Ensino do Interior Elcio Antonio Selmi Secretaria de Estado da Educação Praça da República, 53 Centro 01045-903 São Paulo SP Telefone: (11) 3218-2000 www.educacao.sp.gov.br EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL Autoria Realização SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO 7 Coleção Educação e Cidadania, módulo 7 Material produzido no âmbito do projeto Elaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes em Situação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC para a FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo e SEE/SP - Secretaria de Estado da Educação CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA R. Dante Carraro 68 Pinheiros 05422-060 São Paulo SP http://www.cenpec.org.br Diretora presidente Maria Alice Setubal Coordenação geral Maria do Carmo Brant de Carvalho Coordenação do Projeto (Equipe Currículo & Escola) Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.) e-mail: [email protected] Maria José Reginato Ribeiro Marilda F. Ribeiro de Moraes Autoria do módulo Conto América dos Anjos Costa Marinho Jorge Miguel Marinho Maria Alice Mendes de Oliveira Armelin Equipe técnica América A.C.Marinho Elizabeth Barolli Marlene C. Alexandroff Ronilde Rocha Machado Assessoria Isa Maria F. R. Guará Yara Sayão Edição de Texto Tina Amado A equipe agradece a contribuição dos educadores da FEBEM/SP, participantes dos encontros de discussão que subsidiaram a produção deste material entre outubro de 2000 e fevereiro de 2001 Edição de Arte Eva Paraguassú de Arruda Câmara José Ramos Néto Camilo de Arruda Câmara Ramos Ilustração Luiz Maia Conto / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM, SEE/SP; 2003. Coleção Educaçãoe Cidadania. Módulo de oficinas culturais 7 Ilustr.; 10 fichas ISBN: 85-85786-29-9 Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, ponte para o mundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde, uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artes visuais e cênicas 7. Conto 8.Correspondência 9. Educação ambiental: problemas globais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos da vida 12. Jornal 13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto de encontro I. Título II. CENPEC III. FEBEM CDD-370.11 São Paulo, 2003 Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002 SUMÁRIO Introdução 6 Oficina 1 Histórias da tradição oral 12 Oficina 2 Programa de rádio 13 Oficina 3 Coerência textual: o final da história 13 Oficina 4 Coerência textual: o meio da história 14 Oficina 5 Discurso direto 15 Oficina 6 Cenário 16 Oficina 7 Criação de cena movimentada 16 Oficina 8 Criação de personagem 17 Oficina 9 Ponto de vista 17 Oficina 10 Seleção de fatos 18 Oficina 11 Seqüência e expansão de idéias 18 Oficina 12 Narrativa absurda 19 Oficina 13 Contos maravilhosos 20 Referências bibliográficas Sugestões para o acervo da Unidade Fichas 21 21 23 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 6 INTRODUÇÃO Os seres humanos sentem uma profunda necessidade de representar sua experiência neste mundo através da escrita. Necessitamos tornar nossas verdades bonitas. Com pictografias rudimentares, os homens das cavernas escreveram sua história nas paredes de pedra de suas “casas”. (...) Escrever permite transformar o caos em algo bonito. (...) Escrevemos porque queremos entender nossas vidas. Lucy McCormick Calkins A arte é material privilegiado para atender essa urgência de expressão a que a epígrafe alude. No caso dos jovens a quem este material se destina, em situação de risco social, a necessidade de expressarem seus desejos, emoções, sonhos, incertezas, angústias, esperanças é ainda mais premente. A expressão escrita envolve, seduz e comove outras pessoas, sem que o autor se exponha diretamente – pois no mundo da ficção é possível lidar com os conflitos de uma maneira lúdica e simbólica, num feliz casamento de realidade e fantasia. Nestas oficinas, os jovens vão ler, contar, recontar e criar histórias da tradição oral, fábulas e outros gêneros da narrativa, para se apropriarem dos recursos que as tornam interessantes. Vão também produzir e divulgar narrativas escritas, capazes de enredar os leitores. Essas produções serão organizadas em coletâneas que comporão um acervo da própria oficina ou da biblioteca da Instituição. Além disso, podem ser expostas em painéis ou murais, ao longo dos corredores. Publicar esses textos, organizar uma cerimônia de lançamento da coletânea, é da maior importância, pois faz com que a produção tenha uma finalidade real: alguém mais, além de você e dos próprios colegas da oficina, vai ler o que eles produziram. Saber que essa produção terá diferentes leitores dá a verdadeira dimensão da escrita: dizer algo para alguém que não está presente e que, eventualmente, desconhece uma série de informações contextuais. Apresente as oficinas a eles, lembrando que as narrativas estão bem próximas da vivência cotidiana das pessoas, pelas novelas, filmes, relatos familiares, gibis... Diga que o que torna uma história interessante é a possibilidade de nos espelharmos nela, de aprendermos com ela, de nos emocionarmos ou até de nos aliviarmos por não ter de enfrentar a situação narrada. Para que o leitor possa ser envolvido pela narrativa, é preciso que ele “participe” dos fatos que estão sendo narrados, “viva” o que os personagens estão vivendo, “veja” o cenário como se estivesse diante de si. Uma narração não deve apenas mostrar o que acontece, mas prender a atenção do leitor, ao contar os fatos. Mesmo que a situação contada não seja verdadeira, é preciso fazer acreditar que ela poderia ser, que aqueles personagens poderiam ser nossos amigos (ou nós mesmos). Ainda que esses personagens não sejam seres humanos, eles devem ser personificados como seres humanos, com seus sonhos, fraquezas, qualidades e defeitos, para que o leitor possa se identificar ou confrontar com eles. Proponha aos jovens que participem dessas oficinas como artesãos que aprendem um ofício. Explique que o artesão produz peças que, de início, são rudimentares, mas que vão-se aprimorando e, às vezes, transformamse em obras de arte. Mostre que é possível passar de artífice a artista – mas, para isso, é necessário trabalhar intensamente: ler e escrever. Organização deste módulo Este fascículo contém orientações e sugestões de procedimento para o desenvolvimento de 13 oficinas. Cada uma é apresentada em três partes: Aquecimento, Atividade (diferentes etapas) e Fechamento. Contém também a reprodução de todas as fichas para alunos, ao final deste fascículo. O material do aluno participante é composto de 10 fichas, numeradas conforme a oficina (em alguns casos, uma mesma folha traz, na CONTO frente e no verso, fichas para duas oficinas). Na verdade, são 9 fichas para as oficinas de Conto mais a ficha “zero”, com orientações para uso do dicionário e para o trabalho em grupo, que também integra outros módulos de oficinas. Leia com eles essa ficha sempre que houver um número razoável de participantes novos, pedindo que façam as atividades aí propostas. É claro que as sugestões de oficinas deste módulo podem ser enriquecidas ou adaptadas às necessidades de cada grupo. Leia todas as propostas previamente, para poder se programar e fazer as adaptações que julgar necessárias. Providencie também, junto à coordenação, os materiais de que precisará; são listados no começo de cada oficina. O disquete que integra este módulo traz arquivos para impressão das fichas. Embora deixemos a seu critério dosar essas intervenções, apresentamos, neste tópico, à guisa de sugestão, alguns tipos de estímulo ou questões que podem propiciar a eles uma leitura mais aprofundada: O trabalho com a leitura Às vezes acredito que os bons leitores são cisnes ainda mais negros e singulares que os bons autores. (...) Ler, além do mais, é uma atividade posterior à de escrever; é mais resignada, mais atenciosa, mais intelectual. Jorge Luís Borges Ler é mais do que decodificar, é atribuir sentido ao texto, indo além do que está escrito, relacionando-o com outros textos e com as experiências vividas; é adivinhar o que vem a seguir e o que está nas entrelinhas. Quanto mais lemos, melhores leitores nos tornamos. As habilidades de leitura só se adquirem com a própria experiência da leitura e com a mediação de um leitor mais experiente, que, como Paulo Freire dizia, nos dá o testemunho da sua leitura. Por isso, em todas as oficinas, você que tem mais experiência de leitura do que os jovens participantes lerá o texto para eles, não só porque muitos terão dificuldades em fazer a leitura sozinhos, como também para que você possa, já enquanto lê, ir mobilizando nos(as) jovens participantes, por meio de questionamentos e comentários, os processos cognitivos que farão deles(as) bons leitores, atentos e críticos. faça um breve levantamento dos conhecimentos prévios dos participantes sobre o assunto (Você já ouviu falar em Monteiro Lobato?) e peça que antecipem o que o texto trará (O que você acha que vai acontecer agora? Como ele vai reagir?); estimule-os a relacionar seus conhecimentos prévios com o que o texto traz, a compreender o que não está explícito no texto, a ler nas entrelinhas (Por que você acha que o autor disse isso? O que ele quis dizer com...?); proponha aos participantes avaliar tanto os recursos de organização textual e lingüísticos utilizados pelo autor como situações ou fatos narrados (Você achou bom ele escrever a história com o ponto de vista na 3a pessoa, ou teria sido melhor se um personagem a contasse? Essa gíria ficou bem aqui? Por quê? O que você faria no lugar de fulano?); incentive-os a exercitar o raciocínio lógico, a coerência, questionando-os sobre o que aconteceria se determinado fato fosse alterado (E se Fulano tivesse agido assim? O que mudaria na história se Beltrano tivesse respondido isso...? Como ficaria o ritmo se o narrador tivesse usado uma linguagem mais culta?); desafie os adolescentes a ir além do texto, relacionando sua temática com idéias afins (O futebol é uma paixão do brasileiro: que outras paixões temos?); abra espaço para que todos possam manifestar suas opiniões, emoções, preferências, seja em relação a situações referidas nos textos lidos, seja no que diz respeito às escolhas feitas pelo autor (Como você se sentiu quando o homem ofereceu dinheiro ao menino? Vocês prefeririam que o autor tivesse continuado a história, em vez de parar aqui?). 7 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 8 A produção de textos A gente escreve para ser amado, para atrair, para encantar. Mário de Andrade Narrar é o ato de contar a vida e contar a vida faz parte da própria natureza dos homens. E, segundo Jorge Luís Borges, o público tem fome de narrativa, tanto que a procura na televisão, nos livros e no cinema. Acreditamos que os jovens participantes das oficinas têm muito o que contar e também têm fome de ser amados, de atrair e de encantar. Por isso, essas oficinas têm propostas diversificadas, para que os jovens, experimentando, percebam que há várias maneiras de narrar. Para que conheçam diferentes organizações narrativas, além da leitura e discussão de textos leves, curtos, de boa qualidade e de diferentes gêneros (contos de tradição oral – de fada e de medo –, de humor, de situações do cotidiano, fábula, de amor), sugerem-se atividades de criação de personagem (Um homem de consciência); de expansão de idéias (Dick Parker); de alteração do ponto de vista do narrador (Gaetaninho); de caracterização do cenário (a partir da reprodução de uma pintura de Monet); de ampliação de histórias, com criação de início, meio e final (Que rua é essa, Cão! Cão! Cão!, No país do futebol) ; de organização de seqüência e ampliação (O leão e o ratinho); lúdicas, como a criação de um texto absurdo (Disparate); de recontagem (O causo do meu pai), de dramatização (Negócio de menino com menina) e de criação a partir de um roteiro (Rapunzel). Muitas das propostas poderão parecer difíceis para os jovens, mas é preciso não desanimar e continuar tentando, pois é fazendo que eles vão aprender. Nesse sentido, importa mais valorizar o processo e cada uma das pequenas conquistas do que o produto. Só assim você conseguirá desinibi-los e ajudá-los a ultrapassar seus limites. Ao escrever, é importante perceberem que, quando o texto se destina a um outro leitor, precisa estar claro e atingir o objetivo a que se propõe: agradar, convencer, divertir, emocionar... Até um escritor experiente reescreve seu texto inúmeras vezes antes de publicá-lo, à medida que, relendo o texto, descobre falhas; às vezes, pede a outras pessoas que leiam o que escreveu e faz modificações com base em suas sugestões. Para ajudá-los, acompanhe de perto a produção dos textos, oferecendo informações e sugestões; criticando com delicadeza, agrupando os participantes de modo que eles possam se auxiliar mutuamente; ajustando as atividades ao tempo disponível. E, sempre que o tempo permitir, revise o texto com eles, por meio da reescrita coletiva. O texto final, copiado (digitado, se a Unidade possuir computador), irá compor o livro, junto com as demais histórias. Orientação para reescrita coletiva de textos Transcreva na lousa o texto já corrigido (sem problemas de ortografia, concordância, conjugação verbal etc.). Leia-o com a turma e consulte o autor, para verificar se as idéias básicas estão certas. Com a colaboração de todos, separe um parágrafo para cada idéia, verificando se estão claros e coerentes. Em seguida, tendo o cuidado de não descaracterizar o texto do autor: faça perguntas como O quê?, Quem?, Quando?, Onde?, para completar informações e Por quê? e Como?, para expandir as idéias do texto; verifique se há palavras, idéias ou expressões que se repetem; discuta se fazem falta e elimine-as se forem redundantes; acrescente, se necessário, palavras do tipo: e, mas, contudo, portanto (conjunções); estes, aqueles, quem, que, eles, tudo (pronomes); quando, enquanto, logo (advérbios), para dar coesão ao texto; observe se os tempos verbais estão adequados e combinam entre si (“quando eles chegaram, os outros já tinham saído”, “ela costumava ir a pé, mas nesse dia resolveu ir de ônibus”). elimine as idéias contraditórias; ajude-os a pontuar e paragrafar corretamente, com especial atenção para o diálogo: uso de dois pontos e travessão ou aspas para indicar falas de personagens. Finalmente, discuta com eles as modificações feitas, reescreva-o na lousa com a classe, incorporando as informações colhidas e discutidas, e proponha que comparem o texto reescrito com o original. Organização de coletâneas para divulgação O ponto culminante das oficinas é o da divulgação ou exposição dos textos dos jovens – o que pode ser feito no corredor ou pátio da instituição. Mas, sempre que possível, organize coletâneas de contos e disponha-as ao alcance dos demais internos. Só assim se preservará a função social da escrita e as oficinas terão sentido. A coletânea deverá conter textos de todos os participantes e textos feitos em grupo. Eles próprios podem escolher aqueles de que mais gostam, revisando-os e reescrevendo-os para a divulgação. Se tiverem acesso a computadores, poderão digitar e imprimir seus textos, utilizando os recursos que essa tecnologia oferece: corretor ortográfico, diferentes possibilidades de diagramação etc. Combine com eles o formato final da coletânea: como será diagramada, como será a capa etc. Providencie os recursos materiais necessários. Oriente-os para fazer a divulgação e, finalmente, um lançamento festivo, num dia de visita. O importante é não deixar de publicá-la. VALORIZE O PORTFÓLIO Independentemente das diferentes possibilidades de divulgação, todas as produções dos jovens devem ser guardadas nos seus portfólios. Elementos da narrativa CONTO O objetivo primordial dessas oficinas é que os jovens possam-se deleitar com a leitura de textos literários de boa qualidade, tendo acesso a outras formas de ver o mundo e, ao mesmo tempo, ensaiar as suas próprias produções. Assim, elas não têm a pretensão de aprofundar questões teóricas, já que o tempo destinado a elas não o permitiria. Porém, oferecemos a você algumas informações sobre os elementos da narrativa, que podem ajudá-lo a orientar os jovens. O NARRADOR E O PONTO DE VISTA. O narrador é quem nos conta uma história. É por meio da visão dele que a narrativa nos é transmitida. Basicamente, este podese colocar em duas posições ou situações: contar a história como personagem, portanto em primeira pessoa, ou situar-se fora da história, contando-a como quem nos transmite algo que observa a distância, isto é, em terceira pessoa. Se, por um lado, o foco narrativo de primeira pessoa restringe essa visão panorâmica dos fatos, por estar preso aos olhos e à personalidade de um único personagem, por outro, ganha em emoção. Já na terceira pessoa, o narrador pode jogar com o fato de ser um espectador privilegiado, que tudo vê e que, por vezes, sabe até os segredos, emoções e sentimentos mais íntimos e inconfessos de seus personagens, transitando assim da condição de simples observador à de narrador onisciente. INTRIGA. Numa narrativa a intriga (ação) compreende tudo o que acontece na história: os fatos e atos envolvendo os personagens. As ações de uma narrativa se organizam pelo enredo, isto é, de uma seqüência e encadeamento que podem acompanhar a ordem cronológica dos acontecimentos ou alterar essa ordem por uma questão de expressividade, para ressaltar algum aspecto da história. Nas narrativas tradicionais, apresentamse inicialmente os personagens, o espaço 9 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 10 ou cenário e o tempo – Introdução ou Apresentação inicial. A ação se desenrola –Desenvolvimento – até o surgimento de um fato que desequilibra a ordem estabelecida – Conflito. Esse confronto chega a um ponto máximo de tensão – Clímax; a partir daí, os fatos evoluem para uma solução – Desfecho. ESPAÇO. Os personagens movimentam-se dentro de um certo espaço e este pode muitas vezes auxiliar em sua caracterização, na medida em que permite transmitir determinadas idéias ao leitor com maior intensidade. Às vezes, porém, o espaço assume apenas um caráter decorativo, tornando-se não mais que um cenário, pano de fundo sobre o qual se desenrolam as ações. TEMPO. Numa narrativa, o tempo pode ser entendido de duas formas: tempo-época e tempo-duração. O tempo-época indica o momento histórico dos acontecimentos narrados. Em alguns textos, esse tempo histórico pode vir claramente mencionado ou estar implícito na caracterização dos personagens e do espaço. O tempoduração é o que transcorre do começo ao fim da história narrada (horas, dias, meses, anos etc.). Quanto à organização da ação narrativa, isto é, à seqüência em que se apresentam os fatos, esta pode ser cronológica linear ou não-linear. Na primeira, os fatos são narrados na ordem de sua ocorrência; na segunda, há uma interrupção da sucessão linear, para serem contados fatos do passado, em uma retrospectiva ou flashback. É possível também incluir a antecipação de um fato futuro, conhecido pelo narrador, mas não pelos personagens. Nos romances psicológicos, onde a ação é muito mais interna do que externa, uma outra ordem temporal se impõe: a da simultaneidade, em que prevalece a associação livre de idéias: presente, passado e futuro se misturam num mesmo plano como se tudo fosse presente. PERSONAGENS. Os personagens são peças- chave dentro da narrativa. É com eles que ocorrem os fatos, é por seus dramas, experiências, paixões, sofrimentos e vitórias que se provoca a empatia do leitor. Personagens são geralmente definidos por meio de suas ações, isto é, mostram-se enquanto agem, ou por sua qualificação, quando o narrador descreve seu modo físico, psicológico e social de ser. Em sua construção, os personagens podem ser simples, lineares, formados de características bem definidas, que tendem a revelá-los como protótipos: do bem, do mal, da esperteza, da ingenuidade. Ou, então, são complexos, imprevisíveis, cheios de conflitos e até contraditórios em suas atitudes. Podem ter papel determinante no desenvolvimento do enredo — serão, então, protagonistas (personagens principais) ou podem ser coadjuvantes nesse processo (personagens secundários). Em muitas histórias, há personagens, secundários ou não, que se contrapõem ao personagem principal: são os antagonistas. FALA DOS PERSONAGENS. Para representar o que os personagens dizem em determinadas situações, o narrador lança mão basicamente de dois processos: o discurso direto e o discurso indireto. No primeiro, através de marcas como verbos de elocução (ou verbos de dizer: falar, responder, retrucar, dizer, exclamar, perguntar etc.) dois pontos, travessões ou aspas, o narrador mostra diretamente as falas dos personagens; no segundo, é o narrador quem nos conta o que foi dito. Há ainda um recurso da prosa mais moderna: o discurso indireto livre, quando o narrador reproduz a fala do personagem sem nenhuma indicação. As reflexões do personagem e a fala do narrador misturam-se no mesmo discurso — apenas o contexto nos esclarece o que pertence a um ou a outro. É importante que você tenha em mente todos esses aspectos, pois, em algumas das oficinas, serão trabalhados um ou mais elementos da narrativa. O trabalho com os jovens nãoalfabetizados Provavelmente você terá na sala jovens com diferentes experiências em leitura e escrita; muitos sequer conhecerão as letras e o que a escrita representa. Mas isso não deve ser impedimento para sua participação nas atividades propostas nas oficinas. Ao contrário – embora saibamos que o tempo de participação desses jovens em uma oficina não é suficiente para fazer com eles um trabalho consistente de alfabetização –, é possível aproximá-los um pouco mais do mundo da escrita. Participar das atividades propostas para as diversas oficinas e módulos e entrar em contato com diferentes tipos de texto escrito permitem que o sujeito internalize as diferentes formas de organização textual e descubra o que a escrita representa e como se organiza. Quando você (ou um colega alfabetizado) lê para o aluno, ele também se torna leitor, porque atribui sentido ao texto lido. Quando você (ou um colega alfabetizado) registra as idéias do aluno não-alfabetizado em um texto coletivo, ele também é autor do texto. À medida que ele participa dessas atividades, vai internalizando o discurso escrito, reconhecendo letras, relacionando-as aos sons. Internalizar o discurso escrito significa ir conhecendo e sabendo utilizar diferentes organizações textuais, recursos expressivos e sinais gráficos convencionais para que o texto produzido cumpra sua função. Por exemplo, um texto narrativo de ficção, além de ser claro, coerente e coeso, deve prender a atenção do leitor. Para que isso ocorra, algumas vezes são precisos pequenos ajustes nas propostas, mas sobretudo um trabalho muito grande de cooperação. Por exemplo, um leitor mais experiente, educador ou colega, ajuda o aprendiz a progredir na leitura e na escrita, dando-lhe seu testemunho de leitura, apontando onde está lendo. Os menos experientes podem ditar o que têm a dizer para que outros escrevam, registrar como souberem (inclusive por meio de desenho) e ter uma participação oral mais ativa. O importante é que as atividades CONTO permitam a inclusão de todos e contribuam para a superação das dificuldades de cada um. Além disso, você pode: dispor materiais de leitura ao alcance de todos; ler sempre os textos para eles – não são apenas os que não sabem, que gostam de ouvir alguém ler; preparar-se antes para a leitura, demonstrando prazer nela e, se o texto permitir, fazer suspense, desafiá-los a adivinhar o que virá depois; escrever na lousa ou em um cartaz o título do texto lido e os nomes dos personagens, se houver; de vez em quando, pedir que reproduzam o que você tiver lido, através de desenho ou escrita, como souberem; comentar livros ou outros textos que você tenha lido e achado interessantes; aproveitar o trabalho com os textos que permitem memorização (poesias, parlendas, adivinhas) e incentivar os alunos que ainda não lêem a fazer “leitura de memória” – sabendo o texto de cor, fazem de conta que estão lendo; propor que façam a leitura de imagens e sinais em jornais, revistas, textos ilustrados, perguntando o que acham que está escrito aí (exercitando a antecipação); procurar ler o que os alunos rabiscam ou tentam escrever, indagando o que queriam escrever e traduzindo para a escrita convencional, sem apagar o que o aluno fez (deixar as duas formas juntas); sempre que possível, fazer produção coletiva de textos: enquanto eles criam o texto, você vai escrevendo na lousa ou em papel pardo. Reproduza esses textos para que possam colá-los no caderno ou organizar em forma de coletânea. Elogie todas as tentativas que fizerem. Comemore com eles cada progresso, não permita que se acomodem ou desistam. Impulsione-os sempre para vôos maiores e faça com que sintam que você está com eles. Bom trabalho! 11 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 12 HISTÓRIAS OFICINA 1 DA TRADIÇÃO ORAL Material necessário: ficha 1; dicionários; papel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta; se possível, almofadas para sentar-se no chão. As histórias da tradição oral, crônicas, contos – incluindo os de fada – são motivo de prazer para todas as pessoas; ao mesmo tempo que ampliam a visão de mundo, representando simbolicamente problemas humanos, fornecem um modelo de organização do texto escrito. Todo mundo gosta de ouvir e contar histórias e os jovens com quem você vai trabalhar não são exceção. Com esta oficina, queremos resgatar as histórias de tradição oral, que fazem parte do repertório dos participantes. Aquecimento Converse com eles, explicando o que é tradição oral. Fale sobre as histórias, idéias e acontecimentos que os mais velhos contam para os mais jovens, mostre que é assim que muitos aspectos da cultura de um povo são transmitidos, de uma geração a outra. Em geral, essas histórias têm muito de fantasioso e, às vezes, um mesmo fato tem muitas versões pois, como diz o ditado, quem conta um conto, aumenta um ponto. Proponha que eles sentem no chão ou em almofadas, como se estivessem em volta de uma fogueira. Peça que imaginem o fogo, o silêncio e o perfume de uma noite ao ar livre – quem sabe no meio do mato –, procurando lembrar-se de histórias que ouviram da família ou de amigos. Atividade 1a etapa Para incentivá-los, apresente a história O causo do meu pai, contada por Henrique Duarte Macari, na ficha 1. Antes da leitura, pergunte se o título dá pistas a respeito do que vão ler. Se necessário, esclareça que o nome “causo”, justamente, é aplicado a histórias que têm uma grande carga de fantasia e, no caso desta, tanto pode ser um relato vivenciado pelo pai do autor quanto simplesmente um fato vivido por outros e contado por esse mesmo pai. Conte, também, que o autor é aluno de uma escola municipal de São Paulo e escreveu este “causo” durante o desenvolvimento de um projeto parecido com este, intitulado Causos de medo. 2a etapa A seguir, leia com eles o texto, interrompendo com questões que criem um clima de suspense. Por exemplo, após o trecho que diz: “De repente, ela chegou, linda, perfumada, sentou-se na mesa ao lado dele.”, cabe uma pequena interrupção e a pergunta: E agora? Será que ela vai dar bola pra ele? Eles vão acabar namorando? Ou ainda, no trecho: “Já estava na rua do cemitério, quando ela pediu pra parar o carro, bem na frente do portão de entrada.”, você pode perguntar: Por que vocês acham que ela pediu para ele parar ali? E agora, o que vai acontecer? Terminada a leitura, estimule-os a comentar o texto livremente, do que gostaram ou não, se ficaram impressionados, se acham que essa história realmente aconteceu ou se é só imaginação etc. 3a etapa Proponha, então, que aqueles que conhecem alguma história desse gênero contem para os demais. Seria interessante você também contar uma, como forma de incentivá-los. Se houver tempo, vocês podem escolher a melhor história do dia. Uma vez feita a votação, solicite que o autor da “preferida do dia” reconte a história, de forma que todos possam tirar dúvidas e memorizá-la. Em seguida, proponha que seja feito, coletivamente, o registro escrito do texto. Vá para a lousa e, à medida que eles forem ditando a história, discuta com eles a melhor forma de relatar os fatos ouvidos, de modo a garantir a fidelidade ao conto original e prender a atenção do leitor. Fechamento Seria interessante que o texto final fosse copiado por um dos participantes, para compor uma coletânea de contos, junto com as histórias produzidas nas demais oficinas. Se houver possibilidade e você dispuser de um gravador, as histórias podem ser gravadas. Assim, a turma disporá de uma coletânea oral. CONTO PROGRAMA DE RÁDIO: DRAMATIZAÇÃO DE TEXTO OFICINA 2 Material necessário: ficha 2; dicionários; folhas de papel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta; se possível, gravador e fita; caixa de papelão grande, tesoura e tintas; ou lençol ou cortina, para improvisar “rádio antigo”. Nesta oficina os jovens vão ler e dramatizar um texto. A dramatização é um eficiente recurso para o exercício da leitura, levando-se em conta que exerce no leitor um forte apelo à busca da expressividade da linguagem. Aquecimento Antes de distribuir a ficha 2 aos participantes, leia o título e pergunte de que eles imaginam que a história trata. Veja se alguém conhece o autor (Ivan Ângelo), se já leram algum texto dele. Atividade 1a etapa Entregue a ficha e leia o texto junto com eles – especialmente se houver jovens não-alfabetizados ou com dificuldades em leitura – e, ao longo da leitura, vá questionando-os sobre o que acham que vai acontecer. Em seguida, abra espaço para comentários e volte ao texto se houver dúvidas. Seria interessante discutir o que entendem por “águia da Bolsa”, lembrando que a expressão dá uma pista sobre a profissão do pai, que provavelmente trabalha na Bolsa de Valores, “acostumado a encorajar os mais hesitantes...”. Estimule-os com perguntas sobre o que acham da atitude dos personagens – o fato de o pai achar que pode comprar tudo, a recusa do menino em se deixar seduzir pela oferta –, se gostaram do encaminhamento da história, do final, se fariam diferente. 2a etapa Proponha aos jovens a criação de um programa de rádio, um radioteatro, como se chamava antigamente. Conte que, quando não havia televisão, as novelas de rádio e o radioteatro faziam um grande sucesso e que grandes nomes do teatro e da televisão de hoje (autores e atores) começaram suas carreiras no rádio. Para fazer o radioteatro, eles terão de ler o texto (ou decorá-lo) com bastante expressividade. Além disso, deverão fazer algumas pequenas adaptações, para tirar a fala do narrador e fazer os ouvintes entenderem a história tal como ela foi concebida. Sugira que enriqueçam o programa com o recurso da sonoplastia (sons, ruídos, música de fundo) e a criação de propagandas musicadas (jingles) para o intervalo. Ajude-os com sugestões e elogie todas as tentativas. Fechamento Pronto o programa, cada grupo apresenta sua narração. Depois, todos escolhem a melhor, que será reapresentada para gravação – se dispuserem de um gravador. Também podem construir um rádio de papelão, parecido com o da ilustração da ficha. Ou podem apresentar o programa escondidos atrás de uma mesa ou de uma cortina. Combine com a coordenação da Unidade uma forma de apresentarem o radioteatro para os demais internos e funcionários ou organize uma apresentação num dia de visita. Temos certeza de que será o maior sucesso. COERÊNCIA TEXTUAL: O FINAL DA HISTÓRIA OFICINA 3 Material necessário: ficha 3; dicionários; folhas de papel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta. Nesta oficina e nas duas seguintes, os jovens vão escrever partes de uma história. Acreditamos que isso os auxilia a ganhar desenvoltura na escrita e a se exercitar na percepção da coerência textual. Aquecimento Converse com eles sobre as dificuldades de uma pessoa que vai para um país estrangeiro sem conhecer a língua desse lugar. Diga que irão ler uma história que trata de uma situação como essa. 13 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 14 Atividade 1a etapa Distribua a ficha 3 e leia o texto junto com eles – especialmente se houver jovens não-alfabetizados ou com dificuldades em leitura – e, ao longo da leitura, vá questionando-os sobre o que acham que vai acontecer. Em seguida, abra espaço para comentários e volte ao texto se houver dúvidas. Estimule-os com perguntas sobre o que acham da atitude dos franceses, o que fariam se estivessem no lugar do turista e o que imaginam que ele deveria fazer, se não tivesse encontrado o casal de amigos. 2a etapa Leia com eles as orientações para a atividade que constam da ficha e esclareça as dúvidas que porventura existirem. Antes de escreverem, discuta com eles as propostas de final, para verificar se são coerentes e se causam surpresa nos leitores, como o original (reproduzido abaixo) – volte ao texto, se necessário. Fechamento Quando os textos estiverem prontos, ajude-os a revisá-los e, se sobrar tempo, faça a reescrita coletiva de um dos textos. Agora leia o final do texto original para que possam compará-lo com os seus: “O brasileiro não deixou por menos. Deu uma gargalhada e explicou: ‘A tabuleta que você copiou não era indicadora do nome da rua e sim deste aviso: É proibido urinar aqui’.” COERÊNCIA TEXTUAL: O MEIO DA HISTÓRIA OFICINA 4 Material necessário: ficha 4 (verso da ficha 3); dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. Aquecimento Relembre a oficina anterior, verifique se algum dos que dela participaram está presente, pedindo-lhe que conte o que fizeram (tiveram de inventar o fim de uma história). Converse sobre como um malentendido pode provocar uma situação difícil para as pessoas. Diga que irão ler uma história que fala de uma situação como essa, mas que nela falta uma parte – e eles é que vão inventar esse pedaço (o meio da história). Atividade 1a etapa Pergunte se conhecem Millôr Fernandes. Diga que é um grande humorista e cartunista brasileiro e que já colaborou, e colabora ainda, com diversos jornais e revistas. Distribua a ficha 3 (ou peça aos que já a têm da oficina anterior, que a retomem) e leia o texto que está no verso dela até o final, junto com eles. Em seguida, abra espaço para comentários e volte ao texto, se houver dúvidas. Estimule-os com perguntas sobre o que acham da atitude dos dois personagens, o que fariam se estivessem no lugar deles e o que acham que o cachorro fez para provocar esse constrangimento entre os amigos. 2a etapa Leia com eles a proposta da ficha e peça-lhes que, antes de escrever, levantem hipóteses sobre as atividades do cão no interior da casa. Chame sua atenção para o aspecto da coerência, por exemplo: não pode acontecer nada de muito grave, senão os amigos não continuariam conversando; eles não falam no cachorro, pois isso estragaria a surpresa do final do conto. Proponha então que escrevam e revisem a história seguindo as orientações da ficha. Passeie entre as mesas, sugerindo, orientando, incentivando. Fechamento Quando os textos estiverem prontos, sugira a voluntários que leiam seus textos para os colegas e, finalmente, leia você o trecho da história que foi suprimida, para que comparem com os seus: “(...) o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa. O dono da casa encompridou um pouco as orelhas, o amigo visitante fez um ar de que a coisa não era com ele. ‘E você, casou também?’ O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou pelo quarto e novo barulho de coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por parte do dono da casa, mas perfeita indiferença por parte do visitante. ‘Quem morreu definitivamente foi o tio... Você se lembra dele?’ ‘Lembro, ora, era o que mais... não?’ O cão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur, logo trepou com as patas sujas no sofá (o tempo passando) e deixou lá marcas digitais de sua animalidade.” Os que quiserem podem passar suas histórias a limpo e expô-las nos painéis ou cedê-las para o acervo. Lembre-se: todas as produções dos jovens devem ser assinadas e guardadas em seus portfólios. DISCURSO DIRETO: PONTUAÇÃO DO DIÁLOGO OFICINA 5 Material necessário: ficha 5; dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. Esta oficina vai divertir os jovens e fazê-los perceber que todo mundo na vida pode fazer papel de bobo e que isso não tem nada de mais – rir das nossas próprias fraquezas é um exercício saudável e um antídoto contra a violência. Além disso, vão aprender sobre a pontuação do diálogo. Aquecimento Pergunte a eles se já deram algum fora na vida, se já fizeram papel de bobo. Diga-lhes que isso acontece com todo mundo. Tem gente que admite que errou ou se atrapalhou, mas tem gente que fica com tanta vergonha que torna a situação ainda pior. Atividade 1a etapa Distribua a ficha 4 e leia o texto junto com eles – especialmente se houver jovens não-alfabetizados ou com dificuldades em leitura – e, ao longo da leitura, vá questionando-os sobre o que acham que vai acontecer. Em seguida, abra espaço para comentários e volte ao texto se houver dúvidas. Estimule-os com perguntas sobre o que acham da atitude do personagem e o que fariam se estivessem no seu lugar. CONTO 2a etapa Discuta a necessidade de indicar (marcar) quem fala quando se escreve. Quando falamos com alguém, à nossa frente, vemos quem está falando. Já na escrita, é preciso “avisar” ao leitor quem está falando naquele momento (se o narrador ou um personagem): isso é feito por meio da pontuação. Proponha uma leitura dramatizada do texto, que pode ajudar os jovens a compreender a pontuação. Na verdade, um jogo dramático: escolha alguns jovens para fazer a leitura (um para cada personagem e um para narrador); improvise um objeto para servir de “microfone”; sem que os demais ouçam, combine com eles que, cada vez que um personagem falar, o “microfone” passa para as mãos de quem representa esse personagem. (Cuidado! O microfone não pode passar às mãos do narrador!) proponha que todos acompanhem a leitura e tentem descobrir qual marca, no texto, corresponde à mudança de mãos do “microfone”. Após a leitura, verifique se descobriram. Se não, chame a atenção para a marca de fala do personagem: explique que o travessão indica a fala do personagem e as entradas do narrador explicando as falas do personagem. 3a etapa A seguir, conte a eles um fato acontecido com você ou com algum conhecido que seja semelhante à história que vocês leram e incentive-os a fazer o mesmo. Proponha, então, que escrevam uma história como se tivesse acontecido com eles. Explique o que é um narrador em primeira pessoa, dando exemplos: “Certa vez, me aconteceu....”; “Uma tarde, eu vinha pela rua quando...”. Lembre ainda que devem tomar cuidado com a pontuação do diálogo. Fechamento Leia os textos e ajude-os a revisá-los. Oriente-os para passá-los a limpo para montar uma pequena coletânea, que pode se chamar O grande fora ou O mico. 15 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 16 CENÁRIO OFICINA 6 Material necessário: ficha 6 (verso da ficha 5); papel, lápis, borracha, caneta; aparelho de som, CD com música suave. Aquecimento Se possível, toque uma música suave de fundo e diga aos jovens que hoje irão viajar para um lugar distante no tempo e no espaço. Um lugar diferente de tudo que estão acostumados a ver. Atividade 1a etapa Apresente a ficha 6 (ou peça aos que já têm a ficha 5, que a retomem) e peça que observem bem a gravura. Estimule-os a falar sobre as cores, os traços, mas vá conduzindo a discussão para a descrição do cenário: Onde eles imaginam que fica esse lugar? O que há aí? Peça para descreverem as cores, as pessoas... Peça, depois, que fechem os olhos e se imaginem nesse lugar. Vá fazendo as perguntas que estão na ficha, mas diga que não precisam responder em voz alta, é simplesmente para imaginar. Imagine você também. Agora, comentem o que imaginaram. Isso vai ajudá-los a organizar melhor a narrativa. Proponha a escrita do texto, seguindo o roteiro da ficha. 2a etapa Como nas oficinas anteriores, ajude-os com sugestões e informações, durante a escrita dos textos. Coordene a troca de textos para leitura e revisão pelo autor. Fechamento Faça a revisão final e peça-lhes que passem a limpo. Organize um painel, com uma cópia da gravura no centro e os textos em volta, e exponha no pátio ou corredor. Lembre-os de guardar uma cópia passada a limpo em seus portfólios, junto com a ficha. CRIAÇÃO DE CENA OFICINA 7 MOVIMENTADA Material necessário: ficha 7; dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. Aquecimento Pergunte aos jovens se torcem para algum time e incentive-os a falar de suas preferências, mantendo um clima de respeito. Comente com eles a paixão do brasileiro pelo futebol, como as pessoas fazem o maior sacrifício para não perder um jogo importante de campeonato e como chegam à loucura em final de Copa do Mundo. Diga que irão ler um texto sobre esse assunto. Atividade 1a etapa Distribua a ficha 7, com o texto No país do futebol. Leia o texto para eles com bastante expressividade, estimulando-os a fazer antecipações sobre o que vai acontecer, questões sobre o vocabulário e inferências sobre as razões de determinadas passagens do texto. Por exemplo: Por que vocês acham que as pessoas vão assistir ao jogo na porta das lojas? Por que será que o gerente escolheu justamente aquele aparelho de televisão para vender? Você acha que existe um televisor com um botão de controle de emoção? Em que ano aconteceu a história narrada? (essa inferência pode ser feita, por meio do parágrafo 17, que diz que Juvenal não via os amigos desde a copa de 78, portanto pressupõe-se que seja a copa de 82). Ao final da leitura, eles certamente terão muito o que comentar e talvez queiram reler alguns trechos: dê-lhes tempo para isso. 2a etapa Em seguida, reforce a proposta feita na ficha, de produção do final da história, e sugira que a leiam para os demais. Fechamento Ajude a revisar os textos e oriente-os a passar a limpo para publicação. CONTO CRIAÇÃO OFICINA 8 DE PERSONAGEM Material necessário: ficha 8; dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. Aquecimento Pergunte aos jovens se já ouviram falar de Monteiro Lobato, autor das aventuras no Sítio do Picapau Amarelo, que fizeram sucesso na televisão. Diga que, além das histórias infantis, Lobato escreveu textos para adultos, tão bons quanto os infantis. Antes de distribuir as fichas, leia o título da história e pergunte se imaginam do que trata. Atividade 1a etapa Distribua aos jovens a ficha 8. Leia o texto com eles. Durante a leitura, esclareça as dúvidas de vocabulário (provavelmente, eles estranharão a palavra deperecimento, que é o ato de alguma coisa ir-se acabando aos poucos), e, ao mesmo tempo, vá propondo questões que os levem a antecipar o que vai acontecer no texto, a depreender o que o autor quis dizer nas entrelinhas, a criticar as ações do personagem ou os recursos textuais de que o autor lançou mão, a extrapolar o texto, discutindo, por exemplo, o que leva os habitantes a abandonar cidades pequenas como Itaoca. Enfim, ajude-os a mergulhar no texto e colocar em jogo todos os processos cognitivos mobilizados pela leitura. 2a etapa Agora, oriente-os a fazer as atividades propostas na ficha, esclarecendo dúvidas, fazendo sugestões. Os alunos não-alfabetizados ou com muita dificuldade em escrita podem fazer a atividade oralmente, dramatizando o encontro dos dois personagens. Fechamento Prontos os textos, peça-lhes que leiam para os demais. Faça a revisão final, antes de eles passarem a limpo para a publicação. Se o Jornal Mural já estiver montado, procure garantir espaço para um ou mais textos. PONTO DE VISTA OFICINA 9 Material necessário: ficha 9; dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. O trabalho desta oficina é de recontagem da história (de Gaetaninho) com alteração de ponto de vista, isto é, os jovens vão contar os fatos vistos por um dos personagens: será uma narrativa com foco em 1a pessoa. Além disso, eles vão aprender um pouco mais sobre os elementos da narrativa. Aquecimento Diga a eles que o conto de hoje é sobre um menino pobre, filho de imigrantes italianos, que viveu no início do século passado, no Brás. Avise-os para prestar atenção na forma como o autor conta a história: como se fossem cenas de um filme. Atividade 1a etapa Distribua a ficha 9. Leia o texto para eles, com expressividade, interrompendo a cada bloco ou cena para que façam comentários, antecipações, ou manifestem suas emoções, seguindo as orientações da Introdução. Vá esclarecendo dúvidas sobre o texto ou vocabulário. 2a etapa Agora, leia a análise do conto, que está no verso da ficha 8, e a proposta de atividade, ajudando-os a compreender o que se pede. Supervisione a organização dos grupos (trios), a escrita do texto e a primeira revisão, feita com base nas sugestões dos colegas. Fechamento Faça a revisão final e peça-lhes que passem a limpo para publicação, guardando sua produção no portfólio, junto com a ficha. 17 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 18 SELEÇÃO DE FATOS OFICINA 10 Material necessário: ficha 10; dicionários; papel, lápis, borracha, caneta; lápis ou canetas coloridas. Esta oficina propõe uma atividade de expansão das idéias para enriquecimento da narrativa. Aquecimento Indague dos jovens se eles gostam de histórias ou filmes de suspense. Conte que, embora o Brasil não tenha uma tradição de romances policiais ou de suspense, teve dois grandes escritores nessa área, que viveram na primeira metade do século XX: Medeiros de Albuquerque e Jerônimo Monteiro. Este último é o autor do conto do qual eles irão ler um trecho hoje. Jerônimo Monteiro nasceu em São Paulo, em 1908. Aos 10 anos de idade, precisou deixar a escola para ajudar os pais; aos 14, entrou como contínuo na Estrada de Ferro Sorocabana, e lá trabalhou durante 18 anos. Foi então que começou a se interessar pela leitura de autores como Machado de Assis, Eça de Queirós e Monteiro Lobato. Em 1937, deu uma virada em sua vida: entrou numa empresa de publicidade como redator. Inspirando-se na literatura policial americana, criou o detetive Dick Peter para divulgar uma determinada marca de café. Dick Peter fez tanto sucesso que saiu da publicidade para tornar-se um personagem autônomo, com histórias publicadas regularmente na imprensa e, mais tarde, chegando a ter um programa especial no rádio (Para gostar de ler v.12, 1992, p.57). Atividade 1a etapa Distribua a ficha 10 aos participantes. Após a leitura dos dois trechos aí transcritos, faça com os grupos uma análise mostrando o que diferencia um texto do outro. Em seguida, os grupos tratarão de expandir o outro texto proposto no verso da ficha. Circule entre os grupos, oferecendo ajuda e sugestões. Fechamento Quando os textos estiverem prontos, peça-lhes que os leiam para os demais, ouçam as sugestões e as incorporem ao texto, se desejarem. Revise as produções e, depois de passadas a limpo (e ilustradas), encaminhe para publicação. SEQÜÊNCIA OFICINA 11 E EXPANSÃO DE IDÉIAS: FÁBULA Material necessário: ficha 11 (verso da ficha 10); dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. Nossa proposta é que nesta oficina os jovens conheçam uma fábula e trabalhem tanto com a seqüência lógica como com a expansão de idéias na narrativa. Aquecimento Explique a eles que vão ler uma fábula. Diga que a fábula surgiu no Oriente, mas foi Esopo, um escravo grego que viveu na antigüidade, quem lhe deu as características atuais. Ele escrevia histórias em que os personagens eram animais, com a finalidade de ensinar os homens a agir com sabedoria. Mais tarde, outros escritores gostaram de recorrer às fábulas para criticar – como o também escravo da Roma antiga Fedro – e para educar – como La Fontaine, poeta francês do século XVII. Atividade 1a etapa Distribua a ficha 11 ou peça aos que já têm a ficha 10 que retomem o verso. Leia com eles os trechos da fábula e as orientações que se seguem. Organize-os em dois ou três grupos (heterogêneos, para que os que sabem possam ajudar os que não sabem) e peça-lhes que coloquem os trechos numa seqüência lógica. Depois, cada grupo apresenta sua organização e explica as razões da escolha, se necessário. Embora a ordem correta da fábula original tenha a seqüência de parágrafos 3, 4, 2, 7, 1, 6 e 5, pode ser que algum grupo argumente em defesa de outra lógica. Cabe a você e ao restante da turma ouvir com respeito e contra-argumentar, se necessário. Faça então com eles uma nova leitura da fábula já reorganizada e discuta o tema – a questão da relatividade da força física e da solidariedade, sem a qual tanto o mais fraco quanto o mais forte teriam sucumbido. 2a etapa Em seguida, os grupos vão procurar ampliar a história, enriquecendo os fatos apresentados ou criando outros. Como sempre, acompanhe de perto a produção, fazendo sugestões, resolvendo pendências, orientando. Caso considere necessário, leia com eles as recomendações para o trabalho em grupo, na ficha Zero. Fechamento Prontos os textos, peça que cada grupo leia o seu para o restante da turma. Abra espaço para comentários e sugira que passem a limpo para publicação – não esquecendo de guardar uma cópia de sua produção no portfólio, junto com a ficha. TORNAR PÚBLICO É FUNDAMENTAL Entendemos por publicação o ato de tornar o texto público, seja em coletâneas que ficarão no acervo da Instituição, seja em painéis expostos nos corredores ou pátio etc. O importante é que os textos não fiquem circunscritos aos participantes da oficina. NARRATIVA OFICINA 12 ABSURDA Material necessário: ficha 11 (verso da ficha 10); folhas emendadas de papel pardo, pincel atômico, fita crepe. Aquecimento Diga aos jovens que hoje irão fazer uma brincadeira que, talvez, alguns deles já conheçam, mas que é muito interessante: chama-se Disparate. CONTO Explique que o disparate consiste na escrita de respostas a uma série de perguntas feitas pelo coordenador que, juntas, comporão uma história, que pode se tornar absurda e engraçada. Atividade 1a etapa Emende duas ou três folhas de papel pardo e providencie um pincel atômico. Dobre-as como uma sanfona, no sentido vertical. Organize os jovens sentados em torno de uma mesa. Diga que você fará uma pergunta a cada um e somente aquele deverá responder, por escrito, na folha dobrada (sem dizê-la em voz alta). Em seguida, ele deve dobrar a folha, ocultando o que está escrito, e passar ao colega que estiver a sua direita. 2a etapa Comece a perguntar, fazendo uma pequena introdução. “Imaginem que (invente um nome, pode ser Josias) está num lugar”: 1. Que lugar é esse? Descreva-o bem. 2. Em que época/quando? 3. Quem é Josias? O que ele está fazendo? 4. Como ele foi parar aí? 5. Quem ele encontrou? 6. O que Josias disse? 7. O que o(a) outro(a) respondeu? 8. O que eles fizeram? 9. Por quê? 10.O que aconteceu em seguida? 11.E depois? 12.Como as coisas se resolveram? 13.Como tudo terminou? 14.E como Josias acabou ficando? Dependendo do número de participantes, você pode acrescentar ou excluir perguntas ou, ainda, fazer duas ou mais rodadas (adaptado de Azevedo, 2000). Fechamento Em seguida, desdobre o papel e prenda-o na parede, com fita crepe, para que todos possam ler e se divertir com a história absurda que surgiu. E lembre-os de que as instruções para a brincadeira estão na mesma ficha 11. 19 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 20 CONTOS OFICINA 13 MARAVILHOSOS Material necessário: ficha 12; dicionários; papel, lápis, borracha, lápis ou canetas coloridas. Nesta oficina, vamos trabalhar com a narrativa tradicional – o conto maravilhoso – e seus elementos básicos. Aquecimento Converse com eles sobre os contos de fada. Pergunte quais conhecem, de qual mais gostam e diga-lhes que até hoje é o gênero de narrativa mais popular, tanto entre crianças como entre adultos: prova disso é o sucesso das novelas de televisão e dos filmes, que continuam a seguir o mesmo roteiro dessas histórias maravilhosas. Por tudo isso, eles irão ler, apreciar e analisar um conto de fadas – que também é uma linda história de amor: Rapunzel. Atividade 1a etapa Não distribua logo as fichas aos jovens. Peça que se sentem no chão, a sua volta, e comece a leitura do conto num tom de voz bem suave, de modo a criar um clima de magia. Leia com emoção, fazendo pausas para deixá-los saborear cada momento da história. Procure, também, ativar todos os processos cognitivos próprios da leitura, por meio de questões como as sugeridas na introdução deste fascículo. 2a etapa Após os comentários, distribua a ficha 12 e proponha que leiam a história, individualmente ou em duplas, para que possam se deleitar novamente com as passagens de que mais gostaram. Abra espaço para novos comentários, se desejarem se manifestar. 3a etapa Em seguida, leia com eles o roteiro, no verso da ficha, fazendo com que o relacionem à história. Proponha, então, a criação da narrativa ambientada nos tempos de hoje. Como sempre, ajude-os com incentivo e sugestões. Fechamento Assim que tiverem feito a primeira revisão, incorporando as sugestões dos colegas, faça a revisão final, peça-lhes que passem a limpo e as ilustrem para a coletânea. E guardem suas produções ou cópias no portfólio, junto com a ficha. REFERÊNCIAS CONTO BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Mário de. Cartas a Manuel Bandeira {prefácio e notas de Manuel Bandeira). Rio de Janeiro: Ediouro, 1967. 21 MINCHILLO, C. A. C., CABRAL, I. C. M. A narração: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1989. ÂNGELO, Ivan. O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática, 1997. MONET Claude. Mulheres no jardim – detalhe, 1866. Museu de Louvre, França. São Paulo: Abril Cultural, 1968. AZEVEDO, Ricardo. Armazém do folclore. São Paulo: Ática, 2000. MONTEIRO, Jerônimo. O fantasma da Quinta Avenida. In: PARA gostar de ler, v.12. São Paulo: Ática, 1992. BORGES, Jorge Luis. Obras completas. São Paulo: Globo, 1999. MONTEIRO LOBATO, José B. Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1965. CALKINS, Lucy M. A arte de ensinar a escrever: o desenvolvimento do discurso escrito. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. NOVAES, Carlos Eduardo. Juvenal Ouriço repórter. Rio de Janeiro: Nórdica, 1977. ESOPO. Fábulas de Esopo (comp. Russel Ash & Bernard Higton). São Paulo: Cia. das Letrinhas, 1995. FERNANDES, Millôr. Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980. GERALDI, J.W. (org.) O texto na sala de aula: leitura e produção. Cascavel: Assoeste, 1985. HUBNER, Regina M. (org.) Quando o educador resolve. São Paulo: Loyola, 1989. PERROTTI, Edmir. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ícone, 1986. PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo: Cia. das Letrinhas, 2000. PROPP, Wladimir. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1984. ________. As raízes históricas do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1997. JOLIBERT, J. et al. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. QUARTIM, Yone. Que rua é essa? In: CÓCCO, Maria F., HAILER, Marco A. Análise, linguagem e pensamento. v.6. São Paulo: s.ed., 1994. p.85. ________. Formando crianças produtoras de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. VERÍSSIMO, Luís Fernando. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990. KAUFMAN, A.M., RODRIGUEZ, M. E. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. ZILBERMAN, Regina, SILVA, Ezequiel T. (orgs.) Leitura: perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1991. KLEIMAN, A. Oficina de leitura. Campinas: Pontes, 1993. SUGESTÕES PARA DA UNIDADE ________. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1989. ________. (org.) Os significados do letramento. Campinas: Pontes, 1995. O ACERVO KOCH, Ingedore V.V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989. Livros KOCH, Ingedore V.V., TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990. CASCUDO, Luís da Câmara. Contos de artimanhas e travessuras. São Paulo: Ática, 1988. LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura à leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993. CONTOS de Grimm (Trad. Tatiana Belinki). São Paulo: Paulus, 1989. LEITE, L.C. M. Invasão na catedral: literatura e ensino em debate. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. LA FONTAINE. Fábulas de La Fontaine. São Paulo: Martins Fontes, 1997. MACARI, Henrique D. O causo do meu pai. In: CAUSOS de medo. São Paulo: EMEF “Máximo de Moura Santos”, 1998. LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Melhoramentos, 1994. MACHADO, Antônio A. Brás, Bexiga e Barrafunda: notícias de São Paulo. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. MESERANI, Samir. Quem conta um conto. 6v. São Paulo: Atual, 1989. MORICONI, Ítalo (ed.) Os cem melhores contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000. PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo: Companhia da Letrinhas, 2000. ROCHA, Ruth (adapt.). Fábulas de Esopo. São Paulo: FTD, 1994. Todos os textos de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seus representantes legais. O Cenpec e os autores deste módulo agradecem a gentil cessão de direito de uso dos textos de Carlos Eduardo Novaes, Companhia das Letrinhas, Ivan Ângelo, Jerônimo Monteiro, Millôr Fernandes e Ricardo Azevedo. O texto de Yone Quartim (p.29) foi reproduzido sem má-fé ou intenção de ofender os direitos da autora, que não pôde ser localizada. 22 EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 0 CONTO NOME DATA DICIONÁRIO: orientações para uso Esta ficha mostra como está organizada essa grande lista de palavras que é o dicionário. Dicionário é o livro que registra um conjunto de palavras organizadas alfabeticamente. A ordem alfabética é usada para organizar listas de todos os tipos, dicionários, enciclopédias, catálogos e outros. O dicionário da língua portuguesa, além de mostrar como são escritas as palavras, traz seu significado e algumas informações gramaticais. Para consultar o dicionário, o principal é conhecer bem o alfabeto. Para treinar um pouco, complete as seqüências abaixo com as letras que estão faltando: F, L, N, , , , , , , , , , ,L ,Q ,S S, B, A, , , , , , , , , , ,Z ,G ,F Escreva as palavras abaixo em ordem alfabética: CAVALINHO, VAGALUME, ESTRELA, TERRA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ NOITE, BRINQUEDO, FADA, SONHO, CORAÇÃO ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Como as palavras acima não começam com a mesma letra, para pô-las em ordem alfabética você precisou prestar atenção só à primeira letra de cada uma. No entanto, é claro que muitas palavras começam com a mesma letra. Para pôr em ordem palavras com a mesma letra inicial, é preciso observar as letras restantes. Observe as palavras abaixo: GOIABA, GIRAFA, GARRAFA, GRADE, GELÉIA Todas começam com a mesma letra. Portanto, temos de ordená-las prestando atenção nas segundas letras. Faça um círculo em torno da segunda letra de cada palavra. Experimente colocá-las agora em ordem alfabética. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Ordene agora estas palavras guiando-se pela segunda letra: BRINQUEDO, BARULHO, BOLINHO, BEIJU ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ CAFÉ, CHAVE, CLARA, CORRIDA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ TAMBÉM, TUIM, TORRE, TRAVE, TESOURA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 23 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 24 FICHA 0 VERSO CONTO Faça um círculo em volta da terceira letra de cada palavra: FAÇANHA, FADIGA , FAÍSCA, FARAÓ, FATIGAR Agora ponha-as em ordem, reparando na ordem alfabética da terceira letra. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Faça o mesmo para as seguintes listas de palavras: PEREGRINO, PENETRAR, PESADO, PEQUENO, PELÚCIA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ RECUPERAR, RENDOSO, REFLEXO, RELÂMPAGO, RETRATO ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Dicas Você já sabe que, para achar uma palavra no dicionário, não basta prestar atenção só na primeira letra: é preciso olhar também para as outras. Agora veja mais uma dica. Procure no dicionário a palavra CONVENCIDA. Encontrou? Não? Então, procure CONVENCIDO. Encontrou, não é? Então, tente FAMOSO e FAMOSA. Qual das duas você encontrou? Sabe por quê? Quando as palavras têm o mesmo sentido no masculino e no feminino, o dicionário só registra o masculino. Outra dica: procure no dicionário a palavra AFLITOS. Não encontrou, não é? Mas encontrou AFLITO, não? O dicionário registra as palavras no singular. Finalmente a última dica, por enquanto. Procure no dicionário as palavras: OLHOU, CAÍA, FUJAM. Não achou nenhuma, não é? Agora procure: OLHAR, CAIR e FUGIR. Entendeu? Isso mesmo: é que os dicionários não trazem os verbos conjugados, mas apenas no infinitivo (o nome do verbo). Com essas dicas, você já pode encontrar quase tudo no dicionário. ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO EM GRUPOS Muitos trabalhos que você está fazendo nestas oficinas são propostos para ser realizados em grupo. Isso porque acreditamos que as pessoas aprendem umas com as outras e que todas podem se desenvolver muito mais, quando têm oportunidade de confrontar suas idéias com as dos colegas. Entretanto, isso só acontece se todos participarem igualmente de todas as atividades e disserem o que pensam realmente, se todos se esforçarem. Quando há um trabalho para ser feito em grupo, de nada adianta dividi-lo e distribuir um pedaço para cada um, porque assim cada participante fica somente com a visão da sua parte e perde a visão do todo. Pior ainda é quando só um ou dois trabalham (porque o grupo acha que são mais inteligentes, ou mais estudiosos) e os outros ficam olhando, sem coragem ou com preguiça de participar. Além disso, não seria justo: os que não participam deixam de aprender. Mesmo não sabendo direito como é para fazer, é preciso tentar. É assim que a gente aprende. As atividades propostas podem ser realizadas por todos os alunos, especialmente se uns ajudarem os outros. Quando um colega não sabe, a gente deve dar dicas, fazer junto, mas não fazer por ele. Quando a gente faz pelo outro, a gente não ajuda, atrapalha, impede o outro de aprender. Às vezes, há colegas que acham que não sabem (porque nunca tentaram), mas eles podem se surpreender e descobrir que têm muito o que ensinar para o grupo. Não deixe que o outro faça por você: exija seu direito de participar. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 1 CONTO NOME Oficina 1 Histórias da tradição oral DATA O CAUSO DO MEU PAI Henrique Duarte Macari Numa daquelas noites de lua cheia aconteceu um “causo” muito estranho com meu pai, mas isso faz muitos anos e eu nem tinha nascido. Vou contar tudo do jeito que me contaram. Meu pai era solteiro, gostava muito de passear no carro que tinha naquela época. Ele conheceu Angélica num desses passeios. Ia tomar suco numa lanchonete, perto do Horto Florestal, e quando estava passando bem na entrada, reparou em uma moça que estava saindo de lá, toda de branco, muito bonita. Ele até deu uma paquerada nela, mas seguiu e parou na lanchonete para tomar um suco. Estava quente, já passava das onze da noite, mas para uma sexta-feira, a noite estava só começando. De repente, ela chegou, linda, perfumada, sentou-se na mesa ao lado dele. Não teve jeito, ele ficou olhando para ela. Como era bonita! Parecia que tinha um brilho especial! Ela tomou água, se levantou, saiu e ele logo foi atrás dela, pois queria conhecê-la. Angélica foi andando de volta para o Horto, meu pai parou o carro perto dela e perguntou se ela queria uma carona. Ela nem respondeu, mas ele insistiu. Ela falou que não podia, mas ele foi dizendo que uma moça tão linda não devia andar sozinha àquela hora da noite e ela concordou. Ele abriu a porta do carro e ela entrou. Ele sentiu aquele perfume de rosas invadindo o carro, ficou muito feliz ao vê-la ali, linda, conversando com ele. Ela disse que se chamava Angélica, que tinha saído para dar uma volta por causa do calor, que adorava o Horto e que tinha ido passear lá. Meu pai falou que era perigoso passear por ali naquela hora e que a levaria para casa, mas ela disse que não devia. Ele insistiu de novo, ela disse que morava perto dali, no Tremembé. Perguntou se ele conhecia o Cemitério do Tremembé, pois ela morava ali pertinho, tinha se mudado para lá há pouco tempo. Ele disse que conhecia o lugar e que a deixaria em casa. Ela falou que ele era muito gentil e que merecia um beijo, então, os dois se beijaram. Ele ficou todo empolgado, mas ela avisou, era só um beijo e ele respeitou a vontade dela. Já estava na rua do cemitério, quando ela pediu pra parar o carro, bem na frente do portão de entrada. Ele estranhou, mas parou. Ela olhou para ele e disse: – Carlos, você é uma pessoa especial e merece toda a sorte do mundo! E disse que ia descer ali. Ele falou que a levaria para casa, mas ela disse que antes ia pagar uma promessa ali mesmo no cemitério. Ele pediu para ela não fazer isso, que era perigoso. Iria junto com ela, insistiu. Ela falou para esperar então, só um minuto que ela já voltava. Ele não precisava se preocupar, pois ela tinha que fazer isso sozinha. Quando a moça desceu do carro, ele sentiu uma ventania repentina, tão forte que a porta do carro bateu violentamente. Na porta do cemitério ela acenou e gritou: – Até breve!!! Ele não entendeu direito, mas ficou esperando. Já era meia-noite. Esperou meia hora e nada, quarenta minutos e nada. Começou a se preocupar, não agüentou e foi atrás dela. 25 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 26 O cemitério estava totalmente escuro. Ele ficou com medo, mas tinha que ir atrás daquela gata e não podia demonstrar que estava apavorado. Olhou para um lado e nada, para o outro e nada também. Viu perto do muro, bem lá no fundo do cemitério, uma luz. Resolveu ir até lá. Viu uma senhora muito distinta sentada ali perto e resolveu perguntar: – Senhora, me desculpe, por acaso não viu uma moça de branco, bonita, perfumada, aparentando ter uns vinte anos? A senhora respondeu: – Amigo, estou tão triste, que nem prestei atenção. – Desculpe senhora, não quis incomodá-la, vou continuar procurando. – Amigo, não incomodou, é que nestas horas ficamos meio atrapalhados. Sabe, rapaz, minha filha faleceu e estou aqui desde a manhã. Ela era minha única filha. E a senhora começou a chorar. Meu pai, emocionado com a situação, amparou a senhora e disse para ela: – Não fique assim, sei que é triste, mas pense desta forma: sua filha está melhor que todos nós, deve estar sorrindo, agora, no paraíso. A senhora agradeceu as palavras e segurando FICHA 1 VERSO CONTO no braço do meu pai, pediu pra ele levá-la até a sala onde estava o corpo de sua filha. Quando ele entrou, ficou meio sem graça, pois não conhecia as pessoas ali presentes e nem a garota, mas foi gentil e levou a senhora até o caixão. Chegando perto, olhou para dentro do caixão, arregalou os olhos e começou a falar: – É ela!!! É ela!!! Não pode ser!!! É ela!!! Todos ficaram surpresos com a gritaria do meu pai, e a senhora perguntou: – Amigo, você conhecia minha filha Angélica? Ele caiu duro, desmaiado, só acordou no outro dia. Até hoje, quando ele se lembra disso, se arrepia. Ficou amigo da família, mas nem ele nem os familiares dela sabem o que realmente aconteceu naquela noite quente de lua cheia. (Causos de medo. São Paulo: EMEF Máximo de Moura Santos, 1998) entre A informação ós cada ap parênteses, ncia do rê fe texto, é a re foi e el de livro de on ulo do extraído: o tít , editora de da ci a livro, icação. e data de publ Um pouco de conversa Você gostou dessa história? Com certeza, você já ouviu histórias desse tipo. Algumas metem medo na gente, outras são engraçadas, outras, ainda, nos ensinam coisas sobre a vida. Não há nada mais gostoso do que ficar horas e horas contando e ouvindo histórias, não é? Então, que tal aproveitar esse clima de sentar-se “em torno da fogueira” e ir ouvindo e contando as histórias que vocês conhecem, de verdade ou inventadas? Se vocês quiserem, podem fazer isso várias vezes. Podem também ir registrando as histórias e formar um livro, uma coletânea de contos de tradição oral – que é como se chamam essas histórias – e dar para os amigos, para a família, para a namorada ou namorado. Foi isso que o Henrique e os amigos da classe dele fizeram. O livro se chamou Causos de medo. Bom divertimento! Se você quiser saber a grafia correta de alguma palavra, procure no dicionário. Se quiser imitar na escrita o modo como a pessoa falou, coloque-a entre aspas. Por exemplo “adespois” em vez de “depois”. Registre aqui o nome da sua história ou daquela de que você mais gostou. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 2 CONTO NOME Oficina 2 Programa de rádio 27 DATA Depois de ler este conto, você e os colegas vão recontá-lo como se fosse “radioteatro”. NEGÓCIO DE MENINO COM MENINA O menino, de uns dez anos, pés no chão, vinha andando pela estrada de terra da fazenda com a gaiola na mão. Sol forte de uma hora da tarde. A menina, de uns nove anos, ia de carro com o pai, novo dono da fazenda. Gente de São Paulo. Ela viu o passarinho na gaiola e pediu ao pai: – Olha que lindo! Compra pra mim? O homem parou o carro e chamou: – Ô menino. O menino voltou, chegou perto, carinha boa. Parou do lado da janela da menina. O homem: – Esse passarinho é pra vender? – Não senhor. O pai olhou para a filha com cara de deixa pra lá. A filha pediu suave como se o pai tudo pudesse: – Fala pra ele vender. O pai, mais para atendê-la, apenas intermediário: – Quanto você quer pelo passarinho? – Não tou vendendo não senhor. A menina ficou decepcionada e segredou: – Ah, pai, compra. A menina não considerava, ou não aprendera ainda, que negócio só se faz quando existe um vendedor e um comprador. No caso, faltava o vendedor. Mas o pai era um homem de negócios, águia da Bolsa, acostumado a encorajar os mais hesitantes ou a virar a cabeça dos mais recalcitrantes: – Dou dez mil. – Não senhor. – Vinte mil. – Vendo não. O homem meteu a mão no bolso, tirou o dinheiro, mostrou três notas, irritado. – Trinta mil. – Não tou vendendo, não, senhor. O homem resmungou “que menino chato” e falou pra filha: – Ele não quer vender. Paciência. Ivan Ângelo A filha, baixinho, indiferente às impossibilidades de transação: – Mas eu queria. Olha que bonitinho. O homem olhou a menina, a gaiola, a roupa encardida do menino, com um rasgo na manga, o rosto vermelho de sol. – Deixa comigo. Levantou-se, deu a volta, foi até lá. A menina procurava intimidade com o passarinho, dedinho nas gretas da gaiola. O homem, maneiro, estudando o adversário: – Qual é o nome deste passarinho? – Ainda não botei nome nele, não. Peguei ele agora. O homem, quase impaciente: – Não perguntei se ele é batizado não, menino. É pintassilgo, é sabiá, é o quê? – Aaaah. É bico-de-lacre. A menina, pela primeira vez, falou com o menino: – Ele vai crescer? O menino parou os olhos pretos nos olhos azuis. – Cresce nada. Ele é assim mesmo, pequenininho. O homem: – E canta? – Canta nada. Só faz chiar assim. – Passarinho besta, hein? – É. Não presta pra nada, é só bonito – Você pegou ele dentro da fazenda? – É. Aí no mato. – Essa fazenda é minha. Tudo que tem nela é meu. O menino segurou com mais força a alça da gaiola, ajudou com a outra mão nas grades. O homem achou que estava na hora e falou já botando a mão na gaiola, dinheiro na outra mão. – Dou quarenta mil, pronto. Toma aqui. – Não senhor, muito obrigado. O homem, meio mandão: EDUCAÇÃO E CIDADANIA 28 – Vende isso logo, menino. Não tá vendo que é pra menina? – Não, não tou vendendo não. – Cinqüenta mil! Toma! – e puxou a gaiola. Com cinqüenta mil se comprava um saco de feijão, ou dois pares de sapatos, ou uma bicicleta velha. O menino resistiu, segurando a gaiola, voz trêmula. – Quero não senhor. Tou vendendo não. – Não vende por quê, hein? Por quê? O menino acuado, tentando explicar: FICHA 2 VERSO CONTO – É que eu demorei a manhã todinha pra pegar ele e tou com fome e com sede, e queria ter ele mais um pouquinho. Mostrar pra mamãe. O homem voltou para o carro, nervoso. Bateu a porta, culpando a filha pelo aborrecimento. – Viu no que dá mexer com essa gente? É tudo ignorante, filha. Vam’bora. O menino chegou pertinho da menina e falou baixo, para só ela ouvir: – Amanhã eu dou ele para você. Ela sorriu e compreendeu. (O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática, 1997) Um pouco de conversa O texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro, tente entender o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer. Depois, procure no dicionário e veja se você acertou. Vamos fazer um programa de rádio? Junto com três colegas, ensaie a leitura do conto: um de vocês será o pai; outro, o menino e outro, ainda, será a menina. O quarto elemento do grupo será o sonoplasta. Sonoplasta é quem providencia os sons que dão mais vida à cena e substituem as falas do narrador. Por exemplo, o som da brecada do carro, quando o pai da menina pára, em vez de dizer “O pai parou o carro e chamou”. Provavelmente, vocês precisarão inventar algumas falas para evitar ficar narrando a história, mas, onde não for possível, o sonoplasta pode fazer a voz do narrador. Porém, o mais importante é que vocês sejam bastante expressivos, para poder passar aos ouvintes os sentimentos dos personagens. Quando o “radioteatro” estiver bem ensaiado, vocês podem criar propagandas, com jingles (as músicas que acompanham as propagandas), alguns anúncios engraçados, para apresentar no início ou no intervalo do programa. Se vocês tiverem um gravador, gravem a história dramatizada – enfeitando com sons de pássaros, do vento –, as propagandas, músicas e anúncios e apresentem para os demais colegas. Finalmente, para dar mais realce, façam um rádio antigo, com uma caixa de papelão, parecido com este da ilustração, e coloquem o gravador dentro dele. Caso não seja possível conseguir o gravador, façam a apresentação atrás de um pano esticado (pode ser um lençol ou uma cortina). EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 3 CONTO NOME Oficina 3 Criar o final da história 29 DATA Esta história está incompleta. O final é com você! QUE RUA É ESSA? Minhas histórias são todas verídicas, mas esta eu confesso que me cheira a piada. Quem me contou disse ter participado e é pessoa absolutamente digna de crédito. Trata-se de um casal em viagem de recreio a Paris. Um certo amigo deles também estava conhecendo a capital francesa. A diferença é que ele não conhecia uma única palavra em francês. Assim, chegou, foi para o hotel e, para não perder tempo, resolveu dar uma voltinha de reconhecimento. Quando já estava na esquina, lembrou-se de tomar nota do nome da rua para poder voltar com segurança. Parou diante da primeira tabuleta da Prefeitura e copiou, cuidadosamente, letra por letra, o que constava da placa. Andou, respirou fundo o ar parisiense, admirou as vitrinas, observou os transeuntes e, satisfeito com essa primeira incursão, resolveu voltar para o hotel. Como ele próprio previra, tinha per- Um pouco de conversa Yone Quartim dido o rumo. Abordou, então, o primeiro francês com quem cruzou na rua e, como não tinha capacidade para articular um só vocábulo no idioma local, sorrindo, apresentou ao cavalheiro o papelzinho onde estava a cópia da placa indicadora. O francês leu, riu, deu-lhe um tapinha no ombro e foi em frente. Surpreso, o brasileiro partiu para outro pedestre. Após ler, o sujeito deu uma boa risada, devolveu-lhe o papel e seguiu seu caminho. Já intrigado com essa atitude, ele apresentou o papel a uma terceira pessoa. Em lugar do esperado gesto característico de apontar a direção, dizer alguma coisa, o fulano também continuou sua caminhada rindo gostosamente. Foi quando apareceu o tal casal patrício. Enraivecido com a falta de colaboração do povo francês, o turista contou a história aos amigos e mostrou o papelzinho. (…) ca que 0 sinal (...) indi i saltado. (Cócco e Hailer, 1994, p.85) um trecho fo Nós omitimos o final da história de propósito e queremos desafiar você a criar um final surpreendente para ela. Mas lembre-se, o final deve ser coerente com o restante da história, isto é: deve contar como o casal de brasileiros reagiu e o que o turista disse ou fez em seguida, bem como explicar a reação dos franceses. Se você não tem certeza da grafia correta de alguma palavra, procure no dicionário. Consulte a ficha com orientações para o uso do dicionário. Leia ou conte para os colegas seu final e registre-o abaixo. Peça para o professor ou a professora ler o final relatado pela autora. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Na turma, montem um mural contendo a história e os diferentes finais criados por vocês. O mural pode ficar na sala ou no corredor. E escolham a versão mais interessante para compor a coletânea de contos da turma. EDUCAÇÃO E CIDADANIA 30 FICHA 4 CONTO NOME Oficina 4 Criar o meio da história DATA E, nesta história, o que está faltando é o meio. CÃO! CÃO! CÃO! Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não via. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado de um cão. Cão não muito grande mas bastante forte, de raça indefinida, saltitante e com um ar alegremente agressivo. Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efusão. “Quanto tempo!” O cão aproveitou as saudações, se embarafustou casa adentro e logo (...). (…) ca que 0 sinal (...) indi i saltado. um trecho fo Millôr Fernandes Os dois amigos, tensos, agora preferiam não tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se despediu, efusivo como chegara, e se foi. Se foi. Mas ainda ia indo, quando o dono da casa perguntou: “Não vai levar o seu cão?” “Cão? Cão? Cão? Ah, não. Não é meu, não. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. Não é seu, não?” (Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980) Um pouco de conversa O texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro tente entender o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer. Depois, procure no dicionário e veja se você acertou. Nós cortamos o meio dessa história: – O que será que o cão aprontou para provocar tanto constrangimento entre os dois amigos? Isso nós deixamos para você inventar. Escreva essa parte do conto, procurando acompanhar o estilo leve do autor. Narre as aventuras do cão pelo interior da casa e, ao mesmo tempo, a conversa dos dois amigos. Você pode contar o que os amigos pensavam, o que o cachorro fazia em outro lugar, o que a expressão dos rostos mostrava. Mas atenção para não estragar o final da história. Observe também que as falas dos personagens estão indicadas por aspas, e não marcadas por parágrafo e travessão. Escreva aqui seu “meio” da história. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Depois de pronto, troque com um/a colega, para que vocês possam comentar e sugerir alterações para aprimorar seus textos. Faça as correções necessárias, passe a limpo, para que ele possa fazer parte da coletânea da turma, e leia para os demais colegas. Finalmente, ouça a leitura que o/a professor/a vai fazer do texto completo do Millôr. EDUCAÇÃO E CIDADANIA NOME FICHA 5 CONTO Oficina 5 O diálogo na história DATA Esta história é para você se divertir (e reparar como o autor indica o diálogo entre os personagens). PNEU FURADO O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha. Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo “Pode deixar”. Ele trocaria o pneu. – Você tem macaco? – perguntou o homem. – Não – respondeu a moça. – Tudo bem, eu tenho – disse o homem. – Você tem estepe? – Não – disse a moça. – Vamos usar o meu – disse o homem. Luís Fernando Veríssimo E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça. Terminou no momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar. Dali a pouco chegou o dono do carro. – Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado. – É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar. – Coisa estranha. – É uma compulsão. Sei lá. (Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990) Um pouco de conversa Gostou da historinha? É quase uma piada, não é? Você já esteve numa situação assim, em que a gente dá um fora e fica tão sem-graça e se sente tão ridículo que diz a primeira coisa que vem na cabeça para escapar da vergonha? Converse com os colegas sobre isso. Todo mundo já passou, pelo menos uma vez na vida, por uma situação constrangedora como essa e é muito gostoso rir da gente mesmo. O professor vai propor uma atividade para você aprender a usar a pontuação adequada para o diálogo. Agora, crie uma pequena história provocada por uma situação de engano, como a que aconteceu com o motorista dessa história (pode ser um fato que tenha acontecido com você ou com algum conhecido) e conte para os colegas. Em seguida, escreva a história, como se o fato tivesse acontecido com você (narrador em primeira pessoa) e use a pontuação correta. Para evitar a repetição de palavras, procure sinônimos no dicionário. Consulte a ficha com orientações para o uso do dicionário. Escreva aqui o título da sua história. E não se esqueça de guardá-la no portfólio junto com esta ficha. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 31 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 32 NOME Oficina 6 O cenário FICHA 6 CONTO DATA A proposta desta oficina é vocês escreverem um conto a partir de um cenário. Por isso, apresentamos essa reprodução do quadro de um pintor famoso, para servir de inspiração. Observe bem e tente se imaginar nele. Embora você não seja visto, será que você não está atrás dos arbustos? Um pouco de conversa Claude Monet, Mulheres no Jardim – detalhe. 1866. Museu de Louvre, França Numa narrativa, o cenário (ou espaço) é o lugar onde se passa a ação. Ele se liga aos fatos e aos personagens podendo influenciar seus sentimentos e atitudes. A descrição do cenário em geral vem entremeada no enredo, bem detalhada ou diluída. Imagine que você está nesse lugar. Que lugar é esse? Descreva-o bem (lembre-se de que as pessoas que lerem o seu texto só vão poder conhecê-lo a partir da sua descrição). Quem é você? O que você está fazendo? Como você foi parar aí? Que época é esta? Há outros personagens? Quem são? O que está acontecendo? Por quê? O que vai acontecer em seguida? E depois? Como as coisas vão se resolver? Como tudo termina? Quando terminar de escrever, troque o texto com um colega, para que ele possa sugerir maneiras de você aperfeiçoá-lo (uma outra pessoa sempre percebe coisas que nós não vemos). Arrume o texto e, antes de passá-lo a limpo, peça para o professor(a) fazer a última revisão. Ele precisa estar bem caprichado para a publicação. Faça uma cópia dele para guardar em seu portfólio, indicando a data e o nome da atividade. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 7 CONTO NOME DATA Oficina 7 Criação de cena movimentada Esta história conta a paixão do brasileiro pelo futebol vivida em frente de uma loja de eletrodomésticos durante uma partida da Copa do Mundo. NO PAÍS DO FUTEBOL Carlos Eduardo Novaes Juvenal Ouriço aproximou-se de um vendedor parado à porta de uma loja de eletrodomésticos e perguntou: – Qual desses oito televisores os senhores vão ligar na hora do jogo? – Qualquer um – disse o vendedor desinteressado. – Qualquer um não. Eu cheguei com duas horas de antecedência e mereço uma certa consideração. – Pra que o senhor quer saber? – Para já ir tomando posição diante dele. O vendedor apontou para um aparelho. Juvenal observou os ângulos, pegou a almofada que o acompanha no Maracanã e sentou-se no meio da calçada. – Ei, ei. Psssiu – chamou-o um mendigo recostado na parede da loja – como é que é, meu irmão? – Que foi? – perguntou Juvenal. – Quer me botar na miséria? Esse ponto é meu. – Eu não vou pedir esmola. – Então senta aqui ao meu lado. – Aí não vai dar para eu ver o jogo. – Na hora do jogo nós vamos lá pra casa. – Você tem TV a cores? – Claro. Você acha que eu fico me matando aqui para quê? Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns amigos que não via desde o final da copa de 78. O mendigo entendeu. E como gostou de Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça. – Não, não. Na cabeça, não. – Por que não? – Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa. Aos poucos o público foi aumentando, operários, vendedores, contínuos, vagabundos e às 15h 45m já não havia mais lugar diante das lojas de eletrodomésticos. Os retardatários corriam de uma para outra à procura de uma brecha. Alguns ficavam pulando atrás da multidão tentando enxergar a tela do aparelho: – Quer que eu lhe ajude? – perguntou um cidadão já meio irritado com um contínuo pulando rente às suas costas. – Quero. – Então me diz onde é o seu controle da vertical. – Controle da vertical para quê? – Pra ver se você pára de pular aqui nas minhas costas. 33 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 34 As lojas concentravam multidões. As calçadas da cidade, que já são poucas, desapareciam completamente. Em jogos da Seleção Brasileira, durante a semana, cresce bastante o número de atropelamentos porque o pedestre é obrigado a circular pelas ruas. Além disso, os motoristas ficam muito mais ligados no rádio do que no trânsito. Na porta da loja onde estava Juvenal havia umas 200 pessoas do lado de fora e somente uma do lado de dentro: o gerente. Até os vendedores da loja já tinham se bandeado, afirmando que assistir um jogo atrás da televisão não é a mesma coisa que vê-lo atrás do gol. Quando a bola saía entravam os comentários dos torcedores. No início do segundo tempo um cidadão que não se interessava por futebol (um dos 18 que a cidade abriga) foi pedindo licença à galera e com muita dificuldade conseguiu entrar na loja. O gerente foi ao seu encontro: “O senhor deseja algo?” – Um aparelho de televisão. – Por que o senhor não leva aquele? – Qual? – Aquele que está ligado ali na porta. – É bom? O senhor ainda pergunta? Acha que FICHA 7 VERSO CONTO haveria 200 pessoas diante dele se não tivesse uma boa imagem? – Bem... – E não é só isso – completou o gerente aproveitando a euforia do público com um gol do Brasil – que outro aparelho transmite emoções tão fortes? – Essa gritaria toda foi diante do aparelho? – Lógico. Esse é o novo televisor AP-007 dotado de controle de emoção. Só este televisor pode levá-lo do choro convulsivo à completa euforia. – É mesmo? E se eu desejar vê-lo sentado quietinho na poltrona? – Também pode, mas é aconselhável desligar o botão emoção, senão o senhor não vai conseguir ficar quietinho na poltrona. O cidadão convenceu-se. Disse que ia levá-lo. O gerente, precavido, pediu-lhe para ir à porta da loja apanhá-lo. O cidadão não teve dúvidas. Ignorando aquela massa toda diante do seu aparelho, foi lá tranqüilamente e cleck. Desligou-o. O que aconteceu depois eu deixo por conta da imaginação de vocês. (Juvenal Ouriço repórter. Rio de Janeiro: Nórdica, 1977) Um pouco de conversa Este conto é praticamente todo em diálogos e usa o sinal de pontuação que você já deve conhecer (travessão). Na história, tudo vai acontecendo no ritmo de uma partida de futebol, num crescendo. Nem o final dá conta de tudo, pois o próprio narrador sugere e avisa que muitas coisas devem ter acontecido depois. Aceite o desafio do narrador e use a sua imaginação para dar continuidade à história. Escreva sobre a atitude da “galera” que assistia envolvida ao jogo e viu o televisor ser desligado. Houve confusão? O funcionário vendeu ou não vendeu o aparelho? E o que aconteceu com o comprador? Se possível, conte tudo isso também num clima emocionante de final de copa de mundo, tudo bem rápido, os fatos contados aceleradamente, uma situação puxando a outra, como se fosse a irradiação de um final de partida. Não se esqueça de pontuar adequadamente os diálogos: utilize o travessão para marcar a fala dos personagens. Registre aqui seu final para a história. Se precisar de mais espaço, escreva em uma folha e guarde-a junto com esta ficha em seu portfólio. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 8 CONTO NOME Oficina 8 Criação de personagem 35 DATA Neste conto, você vai perceber a importância de criar bem um personagem. UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro. Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor. Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua Itaoca. – Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está se acabando... João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível. – É isso, deliberou lá de dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada, então arrumo a trouxa e botome fora daqui. Um dia aconteceu a grande novidade: a no- Monteiro Lobato meação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada... Ser delegado numa cidadinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!... João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada botou-as num burro, montou no seu cavalinho magro e partiu... Antes de deixar a cidade foi visto por um amigo madrugador. – Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens? – Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim. – Mas, como? Agora que você está delegado? – Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus. E sumiu. (Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1965.) Um pouco de conversa O texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro tente entender o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer. Depois, procure no dicionário e veja se você acertou. Por que você acha que a cidade de Itaoca estava se acabando? O que provocava a ida das pessoas para outro lugar? Observe a descrição que o autor faz de João Teodoro, logo no primeiro parágrafo. Você acha que essas características têm importância para a história? O personagem agiu de acordo com suas características? Por quê? Você concorda com a atitude dele? O que você faria no lugar de João Teodoro? EDUCAÇÃO E CIDADANIA 36 Criar um personagem O sucesso de uma narrativa depende, em grande parte, da construção dos personagens. Há personagens muito simples, chamados “tipos”, que apresentam muito poucas características, por exemplo o mocinho bom e justo ou o bandido mau e corrupto. Esses personagens aparecem nas histórias infantis e nas de massa (novelas de televisão, algumas histórias em quadrinhos), porque não exigem nenhum esforço intelectual para ser compreendidos, isto é, são bastante previsíveis, é fácil adivinhar como eles vão agir em cada situação. Por outro lado, há personagens mais complexos, misteriosos e imprevisíveis, mais ricos: são bandidos e FICHA 8 VERSO CONTO mocinhos ao mesmo tempo, são heróis e covardes, são capazes do bem e do mal, da justiça e da injustiça, resumindo, parecemse mais com pessoas reais. Há duas maneiras de caracterizar um personagem, seja ele linear ou complexo: uma é pela qualificação, outra pelas ações. No primeiro caso, o personagem é descrito pelo narrador ou por outros personagens: características físicas, psicológicas, sociais. No segundo caso, o personagem vai-se definindo pelo que faz, isto é, por suas ações o leitor vai percebendo como ele é. Entretanto, essas duas possibilidades se completam, pois os autores recorrem tanto à qualificação quanto à ação para mostrar o personagem. Crie um personagem interessante e monte uma ficha com suas características. Para ficar bem completa, siga o roteiro abaixo e acrescente outros itens se quiser. Características físicas: nome e apelido (se tiver); idade e aparência: olhos, cabelos e pele, boca, nariz, pernas etc.; condições de saúde. Características psicológicas: qualidades, habilidades, defeitos, dificuldades; o que gosta, adora, detesta em relação a comidas, divertimentos, estudo, trabalho, esportes, religião, política, roupas; o que deseja, de que tem medo; o que faz questão de mostrar, o que faz questão de esconder; hábitos, manias. Características sociais: família: como são e o que fazem seus integrantes, estado civil (solteiro, casado etc.); condições econômicas: vantagens e dificuldades; moradia: localização, como é a casa, como é a vizinhança; relações afetivas: namoros, quem são seus amigos e inimigos, como são; trabalho e/ou estudo: o que faz, onde; lazer: como ocupa seu tempo livre, se diverte, lugares que freqüenta; acontecimentos que marcaram sua vida. Depois de elaborada a ficha, apresente o personagem criado por você para os colegas. Em seguida, escolha um dos personagens criados por outra pessoa para se corresponder com o que você criou. A partir dessa troca de correspondência – pode ser um simples bilhete –, eles (os dois personagens) devem marcar um encontro. Agora, em dupla, imaginem como foi esse encontro: onde se encontraram, como se sentiram, sobre o que conversaram, se vão se encontrar novamente ou não, se houve algum mal-entendido inicial, se viveram juntos alguma aventura… Narrem esse encontro, sem se esquecer de, ao longo da narrativa, ir dando pistas ao leitor de como são os personagens. Não é preciso dar todas as características, só as que forem essenciais para justificar o jeito como eles agem. Ao ler a narrativa para os demais colegas, estes poderão dar sugestões para aperfeiçoá-la, tornando-a mais interessante. Depois de revisada, a história da dupla pode ser publicada no jornal mural da Unidade ou guardada para a coletânea de contos. Não se esqueça de juntar uma cópia dela a esta ficha, para fazer parte de seu portfólio. EDUCAÇÃO E CIDADANIA NOME FICHA 9 CONTO Oficina 9 Ponto de vista DATA GAETANINHO Antônio de Alcântara Machado – Xi, Gaetaninho, como é bom! Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford. O carroceiro disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão. – Eh! Gaetaninho! Vem pra dentro. Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, e viu a mãe e viu o chinelo. – Súbito! Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia-volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro. – Eta salame de mestre! Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho. O Beppino por exemplo. O Beppino naquela tarde atravessara de carro a cidade. Mas como? Atrás da Tia Peronetta que se mudava para o Araçá. Assim também não era vantagem. Mas se era o único meio? Paciência. Gaetaninho enfiou a cabeça embaixo do travesseiro. Que beleza, rapaz! Na frente quatro cavalos pretos empenachados levavam a Tia Filomena para o cemitério. Depois o padre. Depois o Savério cocheiro. Com a roupa marinheira e o gorro branco onde se lia: ENCOURAÇADO SÃO PAULO. Não. Ficava mais bonito de roupa marinheira mas com a palhetinha nova que o irmão lhe trouxera da fábrica. E ligas pretas segurando as meias. Que beleza, rapaz! Dentro do carro do pai, os dois irmãos mais velhos (um de gravata vermelha, outro de gravata verde) e o padrinho Seu Salomone. Muita gente nas calçadas, nas portas e nas janelas dos palacetes, vendo o enterro. Sobretudo admirando o Gaetaninho. Mas Gaetaninho ainda não estava satisfeito. Queria ir carregando o chicote. O desgraçado do cocheiro não queria deixar. Nem por um instantinho só. Gaetaninho ia berrar mas a Tia Filomena com a mania de cantar o “Ahi, Mari!” todas as manhãs o acordou. Primeiro ficou desapontado. Depois quase chorou de ódio. Tia Filomena teve um ataque de nervos quando soube do sonho de Gaetaninho. Tão forte que ele sentiu remorsos. E para sossego da família, alarmada com o agouro, tratou logo de substituir a tia por outra pessoa numa nova versão de seu sonho. Matutou, matutou, e escolheu o acendedor da Companhia de Gás, Seu Rubino, que uma vez lhe deu um cocre danado de doído. Os irmãos (esses) quando souberam da história resolveram arriscar de sociedade quinhentão no elefante. Deu vaca. E eles ficaram loucos de raiva por não haverem logo adivinhado que não podia deixar de dar a vaca mesmo. O jogo na calçada parecia de vida ou morte. Muito embora Gaetaninho não estava ligando. Você conhecia o pai do Afonso, Beppino? Meu pai deu uma vez na cara dele. Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou! O Vicente protestou indignado: – Assim não jogo mais! O Gaetaninho está atrapalhando! Gaetaninho voltou para o seu posto de guardião. Tão cheio de responsabilidades. O Nino veio correndo com a bolinha de meia. Chegou bem perto. Com o tronco arqueado, as pernas dobradas, os braços estendidos, as mãos abertas, Gaetaninho ficou pronto para a defesa. – Passa pro Beppino! Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola. Com todo o muque. Ela cobriu o guardião sardento e foi parar no meio da rua. – Vá dar tiro no inferno! – Cala a boca, palestrino! – Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou. No bonde vinha o pai do Gaetaninho. 37 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 38 A gurizada assustada espalhou a notícia na noite. – Sabe o Gaetaninho? – Que é que tem? – Amassou o bonde. A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras. Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na FICHA 9 VERSO CONTO boléia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha. Quem na boléia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino. (Brás, Bexiga e Barrafunda: notícias de São Paulo. São Paulo: Nova Alexandria, 1995.) Um pouco de conversa Este conto, tão triste e tão expressivo, é famoso pela narrativa cinematográfica. Isto é, ele apresenta os fatos como se fossem cenas de cinema. Veja como ele se organiza: ENREDO – São seis cenas (ou blocos) curtas. O narrador passa rapidamente de uma para outra, como num filme: 1a cena – mostra Gaetaninho distraído, quase sendo atropelado por um carro e a bronca da mãe; 2a cena – A inveja que ele sente de Beppino por este ter andado de carro no enterro da tia; 3a cena – o sonho com a morte e o enterro de tia Filomena; 4a cena – a reação da tia quando soube do sonho e o jogo do bicho feito pelos irmãos; 5a cena – o jogo de futebol e o atropelamento de Gaetaninho; 6a cena – o enterro de Gaetaninho, com Beppino, de novo, andando na boléia do carro. TEMPO – Época: início do século XX (1920 ou 1930), como atestam o bonde, o carro fúnebre puxado por cavalos, os palacetes, o acendedor da companhia de gás, a roupa de Gaetaninho. Duração: do início do conto (apresentação do personagem e sua distração) até seu enterro passam-se três dias. PERSONAGENS: caracterizados principalmente pelas ações (quase não há adjetivos: há referência apenas a Gaetaninho “feio de sardento”). Protagonista (personagem principal): Gaetaninho. Bom de bola, ágil, esperto (dribla a mãe que quer castigá-lo), mas distraído (o segundo parágrafo já antecipa essa característica, que resultaria em sua morte). Socialmente é pobre: seu sonho era andar de carro, mas a “ralé” só andava de carro em dia de enterro ou casamento. Secundário: Beppino. Bom jogador, trágico e involuntariamente vitorioso — é ele quem vai na boléia de um dos carros do cortejo fúnebre de Gaetaninho, exibindo um vistoso terno vermelho. ESPAÇO – A história se passa em São Paulo, na rua Oriente, bairro do Brás, reduto de imigrantes italianos no início do século. NARRADOR – Em terceira pessoa, isto é, o narrador não participa da história, é como se ele visse os fatos acontecerem a distância. O estilo é rápido: ao mesmo tempo que focaliza a tragédia do menino, em pinceladas ágeis, dá um panorama da vida e dos hábitos dos imigrantes italianos pobres: o jogo de bola de meia, as roupas domingueiras limpas com benzina, o jogo de bicho, o luxo dos enterros. Há também a irreverência do autor: ao citar o caso do jogo do bicho – “não podia deixar de dar a vaca mesmo” – e a referência à morte, “amassou um bonde”. Uma proposta Converse com os colegas sobre a história. Depois, formem trios e imaginem esses fatos sendo contados, não por um narrador distanciado, mas por uma pessoa que tenha participado deles, por exemplo, pelo Beppino ou pelo próprio Gaetaninho, ao chegar no céu (quem sabe?). Agora, reescrevam a história desse novo ponto de vista e caprichem na descrição dos sentimentos (raiva, alegria, tristeza). Troquem o texto com outro grupo, para que possam fazer sugestões que tornem a história melhor. Depois revisem o texto e passem-no a limpo, para fazer parte do acervo da oficina. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 10 CONTO NOME DATA Oficina 10 Seleção de fatos e expansão de idéias Há pessoas que, ao contar um fato, acrescentam tantos detalhes desnecessários que acabam por nos cansar; outras resumem tanto que transformam o episódio mais interessante num relato totalmente sem graça. Entretanto, há escritores que, ao narrar um acontecimento, por mais banal que seja, cativam os ouvintes, levando-os a participar dos acontecimentos. Uma boa história deve apresentar todas as informações que possam contribuir para o sentido do texto, para lhe dar vida – descartando, porém, os fatos irrelevantes. Os trechos abaixo relatam o mesmo fato. Compare os dois. TRECHO 1 Dick Peter chegou à casa de Mary, mas ela demorou para descer. Ele ouviu um grito e subiu para ver o que era, arrombou a porta do quarto e encontrou Mary desmaiada. TRECHO 2 Jerônimo Monteiro Dick Peter chegou à casa de Mary às oito horas da noite (...) e foi introduzido no luxuoso salão de visitas. Seus olhos não se despregavam da escadaria de mármore por onde Mary costumava descer com seu gracioso passo e um luminoso sorriso nos lábios. Passaram-se cinco minutos, mas Dick não estranhou a demora... As mulheres, quando se trata de melhorar sua beleza, não têm muita pressa... De súbito, um grande grito encheu a casa toda. Era um grito de mulher, lancinante, terrível, que provocou no moço um forte estremecimento e lhe deu a viva impressão de que alguma desgraça acabava de acontecer. Dick Peter era um homem de ação, e não demorou mais de dois segundos para entrar em atividade. Aos pulos, galgou a escadaria de mármore e chegou Um pouco de conversa ao primeiro andar, onde eram situados os aposentos de Mary. Lá em cima estava tudo em silêncio, mas, de baixo, vinha o ruído do tropel dos criados que corriam para ver o que teria acontecido na casa sempre tão calma. A porta do quarto de Mary estava fechada por dentro, e Dick descarregou sobre ela forte pancada. Ninguém respondeu. Nesse momento, os criados chegavam ao lado de Dick, falando todos ao mesmo tempo, assustados, desorientados e cheios de medo. […] Dick não podia esperar. A sua impaciência era grande demais. Fazendo recuar a criadagem, afastou-se alguns passos e atirou o corpo contra a porta. Houve um forte estalido. Mas a porta ainda não cedera. Dick afastou-se novamente e atirou-se com a maior força que possuía. Desta vez, a porta abriu-se com violência, arrancando lascas do batente. Os criados iam precipitar-se para dentro, mas Dick fê-los parar com um gesto, e entrou sozinho. Dentro do quarto, Mary estava estendida no chão, pálida como um cadáver e segurando ainda na mão crispada um arminho de pó-de-arroz. Nada mais. (trecho de O fantasma da Quinta Avenida, do livro Para gostar de ler v.12. São Paulo: Ática, 1992, p.58-9) Apesar de longo, sem dúvida o segundo relato é muito mais interessante, não é? Discuta com os colegas e com o/a professor/a os acréscimos do autor e o que provocam no leitor. Depois, tente transformar o relato abaixo numa narrativa interessante, descrevendo não só os fatos, mas também os sentimentos dos personagens. Esta história está sem um final: é você que vai inventá-lo. Desde o início do ano, Anselmo, que é muito tímido, estava apaixonado por Celina, a menina mais popular da escola. Finalmente, cria coragem e convida-a para sair. Para sua surpresa, ela aceita. No dia do encontro, ele vai buscá-la em casa e o pai dela lhe abre a porta, pedindo que a espere na sala, onde toda a família está reunida, assistindo à televisão. Ao entrar, Anselmo sente uma fortíssima dor-debarriga. Precisa ir ao banheiro com urgência, mas não tem coragem de pedir... Ao terminar, releia o que escreveu e faça as alterações que achar necessárias. Troque com colegas para que façam críticas e sugestões. Depois, reveja o texto e capriche: este poderá ser um dos escolhidos para compor a coletânea de contos que vão organizar. 39 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 40 FICHA 11 CONTO NOME DATA Oficina 11 Fábula Nesta fábula as frases estão fora de ordem. O LEÃO E O RATINHO Esopo Algum tempo depois, o leão ficou preso na rede de uns caçadores. Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu debaixo da pata. Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra boa de uma árvore. Vieram os ratinhos passear em cima dele e ele Um pouco de conversa acordou. Nisso apareceu o ratinho e, com seus dentes afiados, roeu as cordas e soltou o leão. Não conseguia se soltar e fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva. Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse embora. Moral: Uma boa ação ganha outra! (Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1995) Fábula é uma pequena narrativa que transmite um ensinamento, expresso em uma moral, apresentada no final do texto. Seus personagens são quase sempre animais que falam. Em geral, nas fábulas, os animais representam virtudes e defeitos dos seres humanos: o leão representa a força; o cordeiro, a inocência; a raposa, a esperteza; o lobo, a tirania; a lebre, a rapidez; a coruja, a sabedoria etc. A fábula acima está com as frases fora de ordem. Conversem e discutam qual a ordem correta para a história ter sentido. Além disso, ela está muito resumida. Com um colega, escolha um ou dois trechos e tente ampliar a história, enriquecendo-a com detalhes e novos fatos. Se acharem interessante, vocês podem fazer isso com o texto inteiro – e, depois, comparar com os outros as diferentes versões da fábula. Ofereça ajuda ao colega que não sabe e peça ajuda quando não souber. Não se esqueça de revisar o texto – com a ajuda do/a professor/a – e publicá-lo no mural ou incluí-lo na coletânea de contos da turma. Guarde uma cópia no seu portfólio. Oficina 12 Narrativa absurda DISPARATE O disparate é um jogo de inventar histórias. Junta-se um grupo de pessoas, uma tira comprida de papel e um lápis. Cada pessoa tem de responder a uma pergunta (veja lista abaixo). Dependendo do número de pessoas, podem ser feitas mais ou menos perguntas. Quem começa o jogo responde, por escrito, à primeira – Quem era ele?, por exemplo. Depois, dobra a tira de papel e passa para o segundo, que responde e passa para o próximo, e assim por diante até completar todas as perguntas. Após cada resposta escrita, o papel deve ser dobrado. Ninguém pode saber o que o outro escreveu. No fim, alguém desdobra a tira inteira e lê em voz alta a história maluca que se formou. Seqüência de perguntas para montar o jogo: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Imagine que (Fulano/a) está num lugar. Que lugar é esse? Descreva-o bem. Em que época/quando? Quem é (Fulano/a)? O que ele/a está fazendo? Como foi parar aí? Quem ele/a encontrou? O que (Fulano/a) disse? O que o/a outro/a respondeu? O que eles fizeram? Por quê? O que aconteceu em seguida? E depois? Como as coisas se resolveram? Como tudo terminou? E como (Fulano/a) acabou ficando? (adaptado de Ricardo Azevedo, Armazém do folclore. São Paulo: Ática, 2000) Agora, reúna os amigos e bom divertimento! EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 12 CONTO NOME Oficina 13 Contos maravilhosos DATA Você vai ler agora uma história de amor. RAPUNZEL Recontada por América dos A. C. Marinho Era uma vez um lenhador que vivia muito feliz com sua esposa, que estava esperando o primeiro filho do casal. Ao lado da casa do lenhador morava uma bruxa. O quintal da vizinha tinha um pomar e uma horta cheios de frutas, verduras e legumes de aparência deliciosa. A mulher do lenhador passava horas olhando pela janela um canteiro de rapôncios que cresciam na horta da bruxa, cheia de vontade. Rapôncio é uma planta de folhas e raízes comestíveis, da família dos rabanetes. De tanto desejar os rapôncios, a mulher ficou doente. Não conseguia comer nada que seu marido lhe preparava. Só pensava nos rapôncios... O lenhador ficou tão preocupado que resolveu ir buscá-los, mesmo correndo o risco de enfrentar a ira da bruxa. Esperou anoitecer, pulou a cerca do quintal e pegou um punhado de rapôncios. Eles estavam tão apetitosos que a mulher quis comer mais. O homem teve de voltar para buscá-los várias noites, pois com eles sua mulher melhorava. Uma noite, quando o lenhador colhia a saborosa planta, a bruxa surgiu ameaçadora diante dele. — Como ousa roubar meus melhores rapôncios? — perguntou ela com uma voz de arrepiar. O homem gaguejando tentou se explicar: — Ah, vizinha, desculpe, é que minha mulher está doente e só consegue se alimentar de rapôncios! Eu não pedi à senhora, porque não queria incomodá-la. — Ora, quanto atrevimento! Não queria me incomodar e rouba meus rapôncios!! A bruxa não quis ouvir mais nada e exigiu em pagamento a criança que ia nascer. O lenhador disse que ela estava louca e se propôs a trabalhar dia e noite para pagar o prejuízo. Mas a bruxa fincou pé e ameaçou jogar um feitiço que mataria a criança antes mesmo de nascer. O futuro pai chorou, implorou, em vão. A bruxa não cedia. Por fim, apavorado, acabou concordando, para que o filho tão desejado pudesse viver. Pouco tempo depois, nasceu uma linda menina. Como os dias iam passando e a bruxa não aparecia, o lenhador e a mulher acharam que ela talvez tivesse se esquecido da ameaça e ficaram felizes, cuidando da criança com todo o carinho. Mas, assim que a menina deixou de precisar do leite materno, a bruxa veio buscá-la. Os pais se jogaram a seus pés implorando que ela voltasse atrás, mas de nada adiantou. A malvada levou a criança e deu-lhe o nome de Rapunzel, que em alemão significa rapôncio. Passaram-se os anos. Rapunzel cresceu e ficou muito linda; a bruxa penteava seus longos cabelos em duas tranças e pensava: “Rapunzel está cada vez mais bonita! Preciso tomar cuidado, pois, assim como a tirei dos pais, alguém pode roubá-la de mim. Vou prendê-la numa torre na floresta, sem porta e só com uma janela bem alta, para ninguém alcançá-la, e usarei suas tranças como escada”. E assim aconteceu. Rapunzel, presa na torre, passava os dias trançando os cabelos e cantando com os passarinhos. Quando a bruxa ia visitá-la, chegava ao pé da torre e gritava: — Rapunzel! Jogue-me suas tranças! A menina jogava as tranças e a bruxa subia por elas até o alto da torre. Um dia, passou pela floresta um príncipe que ouviu a moça cantarolando e ficou muito curioso em saber de quem era aquela maviosa voz. Caminhou ao redor da torre e percebeu que não havia entrada: a pessoa que cantava estava presa. De repente, ouviu alguém se aproximando e instintivamente se escondeu, mas pôde ver e ouvir a velha bruxa gritando sob a janela: — Rapunzel! Jogue-me suas tranças! E assim ele descobriu o segredo. Na noite seguinte, foi até a torre e imitou a voz da bruxa: — Rapunzel! Jogue-me suas tranças! Rapunzel obedeceu, mas levou um susto enorme ao ver o príncipe entrar pela janela. — Oh! Quem é você? — perguntou a moça. O príncipe explicou como se apaixonara por 41 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 42 sua voz, dizendo ainda que ver aquele lindo rosto só fazia aumentar seu amor. A jovem logo se apaixonou também pelo rapaz e começaram a se encontrar todas as noites, escondidos da bruxa. Só pensavam em fugir de lá e se casar. Uma noite Rapunzel teve uma idéia: tecer ela mesma uma escada. Pediu ao príncipe para trazer-lhe corda de seda, toda vez que viesse. O príncipe assim fez e Rapunzel começou a tecer a escada, escondida da bruxa. Como a torre era a alta, porém, a escada tinha de ser muito comprida, e o trabalho da moça progredia lentamente. Certa vez, estando a bruxa na torre, Rapunzel, distraída, comentou que estava tendo muita fome e engordando. Foi assim que a megera descobriu que a moça estava grávida e obrigou-a a confessar seus encontros com o príncipe. Como castigo, cortou-lhe as tranças e chamou seus corvos, ordenando que levassem Rapunzel para o deserto. FICHA 12 VERSO CONTO Naquela noite o príncipe, sem saber de nada, foi visitar Rapunzel. A bruxa segurou as tranças da menina e as jogou para baixo. Quando o rapaz estava quase alcançando a janela, ela largou as tranças e ele despencou, caindo sobre uma moita de espinhos. O príncipe não morreu, mas os espinhos furaram seus olhos e ele ficou cego. Tateando e gritando por Rapunzel, o jovem andou por mais de um ano, até chegar ao deserto. Rapunzel, que tinha dado à luz um casal de gêmeos, ouviu o príncipe chamar por ela e correu ao seu encontro. Quando descobriu o que tinha acontecido a seu amado, começou a chorar. Duas lágrimas caíram dentro dos olhos do rapaz e ele voltou a enxergar! Assim, os dois jovens foram com os gêmeos para o palácio do rei, casaram-se e viveram felizes para sempre. Os pais de Rapunzel foram morar com eles e a bruxa malvada ficou com tanta raiva que se trancou na torre e nunca mais saiu de lá. Um pouco de conversa Rapunzel é uma linda história de amor, não é? Aliás, como muitas outras, ela é chamada de conto maravilhoso. Um estudioso desse tipo de narrativa (Wladimir Propp) disse que normalmente elas seguem este esquema: iniciam-se com a expressão “Era uma vez... “– para indicar que não se sabe bem quando tudo aconteceu; alguém comete um erro, uma falta; o herói ou heroína: se afasta do lar e vai viver numa floresta (às vezes, tem de atravessá-la, para cumprir uma prova); cai numa armadilha; luta com o vilão ou é posto à prova – e aí há duas possibilidades: - vence o vilão ou a prova; - é derrotado pelo vilão ou pela prova, mas salvo por uma força extraordinária (um protetor mágico ou um amor ou amigo); regressa ao lar, casa-se e o vilão é punido. Você acha que o conto se aproxima desse esquema? Discuta sobre isso com os colegas – o professor vai orientar. Que outras histórias você conhece que se parecem com esta? Depois, tente imaginar uma história que siga esse mesmo roteiro, mas ambientada nos dias de hoje (as novelas de televisão e muitos filmes fazem isso). Escreva aqui o título da sua história. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 40 ISBN 85-85786-29-9 Autoria Realização SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO