54174060-Educacao-e-Cidadania-Modulo-07

Transcrição

54174060-Educacao-e-Cidadania-Modulo-07
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL
H ISTÓRIAS
7
DA TRADIÇÃO ORAL
P ROGRAMA
DE RÁDIO
C OERÊNCIA
TEXTUAL :
O FINAL DA HISTÓRIA
COERÊNCIA
TEXTUAL : O MEIO DA HISTÓRIA
D ISCURSO
DIRETO
C ENÁRIO
C RIAÇÃO
DE CENA MOVIMENTADA
C RIAÇÃO
DE PERSONAGEM
P ONTO
DE VISTA
S ELEÇÃO
S EQÜÊNCIA
DE FATOS
E EXPANSÃO DE IDÉIAS
N ARRATIVA
C ONTOS
ABSURDA
MARAVILHOSOS
40
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL
7
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS
UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA
DA FEBEM/SP
MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES
Governador do Estado de São Paulo
Geraldo Alckmin
Secretário de Estado da Educação
Gabriel Chalita
Secretário Adjunto
Paulo Alexandre Pereira Barbosa
Chefe de Gabinete
Mariléa Nunes Vianna
Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas
Sonia Maria Silva
Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo
Aparecida Edna de Matos
Coordenadoria de Ensino do Interior
Elcio Antonio Selmi
Secretaria de Estado da Educação
Praça da República, 53 Centro
01045-903 São Paulo SP
Telefone: (11) 3218-2000
www.educacao.sp.gov.br
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL
Autoria
Realização
SECRETARIA DE
ESTADO DA EDUCAÇÃO
7
Coleção Educação e Cidadania, módulo 7
Material produzido no âmbito do projeto
Elaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes em
Situação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC para
a FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo e
SEE/SP - Secretaria de Estado da Educação
CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA
R. Dante Carraro 68 Pinheiros
05422-060 São Paulo SP
http://www.cenpec.org.br
Diretora presidente
Maria Alice Setubal
Coordenação geral
Maria do Carmo Brant de Carvalho
Coordenação do Projeto (Equipe Currículo & Escola)
Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.)
e-mail: [email protected]
Maria José Reginato Ribeiro
Marilda F. Ribeiro de Moraes
Autoria do módulo Conto
América dos Anjos Costa Marinho
Jorge Miguel Marinho
Maria Alice Mendes de Oliveira Armelin
Equipe técnica
América A.C.Marinho
Elizabeth Barolli
Marlene C. Alexandroff
Ronilde Rocha Machado
Assessoria
Isa Maria F. R. Guará
Yara Sayão
Edição de Texto
Tina Amado
A equipe agradece a contribuição dos educadores da
FEBEM/SP, participantes dos encontros de discussão
que subsidiaram a produção deste material entre
outubro de 2000 e fevereiro de 2001
Edição de Arte
Eva Paraguassú de Arruda Câmara
José Ramos Néto
Camilo de Arruda Câmara Ramos
Ilustração
Luiz Maia
Conto / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM, SEE/SP; 2003.
Coleção Educaçãoe Cidadania.
Módulo de oficinas culturais 7
Ilustr.; 10 fichas
ISBN: 85-85786-29-9
Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, ponte para o
mundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde,
uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artes
visuais e cênicas 7. Conto 8.Correspondência 9. Educação ambiental:
problemas globais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos da
vida 12. Jornal 13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto de
encontro I. Título II. CENPEC III. FEBEM
CDD-370.11
São Paulo, 2003
Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002
SUMÁRIO
Introdução
6
Oficina 1
Histórias da tradição oral
12
Oficina 2
Programa de rádio
13
Oficina 3
Coerência textual: o final da história
13
Oficina 4
Coerência textual: o meio da história
14
Oficina 5
Discurso direto
15
Oficina 6
Cenário
16
Oficina 7
Criação de cena movimentada
16
Oficina 8
Criação de personagem
17
Oficina 9
Ponto de vista
17
Oficina 10
Seleção de fatos
18
Oficina 11
Seqüência e expansão de idéias
18
Oficina 12
Narrativa absurda
19
Oficina 13
Contos maravilhosos
20
Referências bibliográficas
Sugestões para o acervo da Unidade
Fichas
21
21
23
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
6
INTRODUÇÃO
Os seres humanos sentem uma profunda
necessidade de representar sua experiência
neste mundo através da escrita. Necessitamos
tornar nossas verdades bonitas. Com pictografias
rudimentares, os homens das cavernas
escreveram sua história nas paredes de pedra de
suas “casas”. (...) Escrever permite transformar
o caos em algo bonito. (...) Escrevemos porque
queremos entender nossas vidas.
Lucy McCormick Calkins
A arte é material privilegiado para atender
essa urgência de expressão a que a epígrafe
alude. No caso dos jovens a quem este
material se destina, em situação de risco
social, a necessidade de expressarem seus
desejos, emoções, sonhos, incertezas,
angústias, esperanças é ainda mais premente.
A expressão escrita envolve, seduz e comove
outras pessoas, sem que o autor se exponha
diretamente – pois no mundo da ficção é
possível lidar com os conflitos de uma
maneira lúdica e simbólica, num feliz
casamento de realidade e fantasia.
Nestas oficinas, os jovens vão ler, contar,
recontar e criar histórias da tradição oral,
fábulas e outros gêneros da narrativa, para
se apropriarem dos recursos que as tornam
interessantes. Vão também produzir e
divulgar narrativas escritas, capazes de
enredar os leitores.
Essas produções serão organizadas em
coletâneas que comporão um acervo da
própria oficina ou da biblioteca da Instituição.
Além disso, podem ser expostas em painéis ou
murais, ao longo dos corredores. Publicar
esses textos, organizar uma cerimônia de
lançamento da coletânea, é da maior
importância, pois faz com que a produção
tenha uma finalidade real: alguém mais, além
de você e dos próprios colegas da oficina, vai
ler o que eles produziram. Saber que essa
produção terá diferentes leitores dá a
verdadeira dimensão da escrita: dizer algo
para alguém que não está presente e que,
eventualmente, desconhece uma série de
informações contextuais.
Apresente as oficinas a eles, lembrando que
as narrativas estão bem próximas da vivência
cotidiana das pessoas, pelas novelas, filmes,
relatos familiares, gibis... Diga que o que
torna uma história interessante é a
possibilidade de nos espelharmos nela, de
aprendermos com ela, de nos emocionarmos
ou até de nos aliviarmos por não ter de
enfrentar a situação narrada.
Para que o leitor possa ser envolvido pela
narrativa, é preciso que ele “participe” dos
fatos que estão sendo narrados, “viva” o que
os personagens estão vivendo, “veja” o
cenário como se estivesse diante de si. Uma
narração não deve apenas mostrar o que
acontece, mas prender a atenção do leitor, ao
contar os fatos.
Mesmo que a situação contada não seja
verdadeira, é preciso fazer acreditar que ela
poderia ser, que aqueles personagens
poderiam ser nossos amigos (ou nós
mesmos). Ainda que esses personagens não
sejam seres humanos, eles devem ser
personificados como seres humanos, com
seus sonhos, fraquezas, qualidades e defeitos,
para que o leitor possa se identificar ou
confrontar com eles.
Proponha aos jovens que participem dessas
oficinas como artesãos que aprendem um
ofício. Explique que o artesão produz peças
que, de início, são rudimentares, mas que
vão-se aprimorando e, às vezes, transformamse em obras de arte. Mostre que é possível
passar de artífice a artista – mas, para isso, é
necessário trabalhar intensamente: ler e
escrever.
Organização deste módulo
Este fascículo contém orientações e sugestões
de procedimento para o desenvolvimento de
13 oficinas. Cada uma é apresentada em três
partes: Aquecimento, Atividade (diferentes
etapas) e Fechamento. Contém também a
reprodução de todas as fichas para alunos, ao
final deste fascículo.
O material do aluno participante é composto
de 10 fichas, numeradas conforme a oficina
(em alguns casos, uma mesma folha traz, na
CONTO
frente e no verso, fichas para duas oficinas).
Na verdade, são 9 fichas para as oficinas de
Conto mais a ficha “zero”, com orientações
para uso do dicionário e para o trabalho em
grupo, que também integra outros módulos de
oficinas. Leia com eles essa ficha sempre que
houver um número razoável de participantes
novos, pedindo que façam as atividades aí
propostas.
É claro que as sugestões de oficinas deste
módulo podem ser enriquecidas ou adaptadas
às necessidades de cada grupo. Leia todas as
propostas previamente, para poder se
programar e fazer as adaptações que julgar
necessárias. Providencie também, junto à
coordenação, os materiais de que precisará;
são listados no começo de cada oficina. O
disquete que integra este módulo traz
arquivos para impressão das fichas.
Embora deixemos a seu critério dosar essas
intervenções, apresentamos, neste tópico, à
guisa de sugestão, alguns tipos de estímulo ou
questões que podem propiciar a eles uma
leitura mais aprofundada:
O trabalho com a leitura
Às vezes acredito que os bons leitores são
cisnes ainda mais negros e singulares que os
bons autores. (...) Ler, além do mais, é uma
atividade posterior à de escrever; é mais
resignada, mais atenciosa, mais intelectual.
Jorge Luís Borges
Ler é mais do que decodificar, é atribuir
sentido ao texto, indo além do que está
escrito, relacionando-o com outros textos e
com as experiências vividas; é adivinhar o que
vem a seguir e o que está nas entrelinhas.
Quanto mais lemos, melhores leitores nos
tornamos. As habilidades de leitura só se
adquirem com a própria experiência da
leitura e com a mediação de um leitor mais
experiente, que, como Paulo Freire dizia, nos
dá o testemunho da sua leitura.
Por isso, em todas as oficinas, você que tem
mais experiência de leitura do que os jovens
participantes lerá o texto para eles, não só
porque muitos terão dificuldades em fazer a
leitura sozinhos, como também para que você
possa, já enquanto lê, ir mobilizando nos(as)
jovens participantes, por meio de
questionamentos e comentários, os processos
cognitivos que farão deles(as) bons leitores,
atentos e críticos.
faça um breve levantamento dos
conhecimentos prévios dos participantes
sobre o assunto (Você já ouviu falar em
Monteiro Lobato?) e peça que antecipem o
que o texto trará (O que você acha que vai
acontecer agora? Como ele vai reagir?);
estimule-os a relacionar seus
conhecimentos prévios com o que o texto
traz, a compreender o que não está
explícito no texto, a ler nas entrelinhas
(Por que você acha que o autor disse isso?
O que ele quis dizer com...?);
proponha aos participantes avaliar tanto
os recursos de organização textual e
lingüísticos utilizados pelo autor como
situações ou fatos narrados (Você achou
bom ele escrever a história com o ponto
de vista na 3a pessoa, ou teria sido
melhor se um personagem a contasse?
Essa gíria ficou bem aqui? Por quê? O que
você faria no lugar de fulano?);
incentive-os a exercitar o raciocínio
lógico, a coerência, questionando-os sobre
o que aconteceria se determinado fato
fosse alterado (E se Fulano tivesse agido
assim? O que mudaria na história se
Beltrano tivesse respondido isso...? Como
ficaria o ritmo se o narrador tivesse usado
uma linguagem mais culta?);
desafie os adolescentes a ir além do texto,
relacionando sua temática com idéias
afins (O futebol é uma paixão do
brasileiro: que outras paixões temos?);
abra espaço para que todos possam
manifestar suas opiniões, emoções,
preferências, seja em relação a situações
referidas nos textos lidos, seja no que diz
respeito às escolhas feitas pelo autor
(Como você se sentiu quando o homem
ofereceu dinheiro ao menino? Vocês
prefeririam que o autor tivesse
continuado a história, em vez de parar
aqui?).
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EDUCAÇÃO E CIDADANIA
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A produção de textos
A gente escreve para ser amado, para atrair,
para encantar.
Mário de Andrade
Narrar é o ato de contar a vida e contar a vida
faz parte da própria natureza dos homens.
E, segundo Jorge Luís Borges, o público tem
fome de narrativa, tanto que a procura na
televisão, nos livros e no cinema. Acreditamos
que os jovens participantes das oficinas têm
muito o que contar e também têm fome de ser
amados, de atrair e de encantar.
Por isso, essas oficinas têm propostas
diversificadas, para que os jovens,
experimentando, percebam que há várias
maneiras de narrar. Para que conheçam
diferentes organizações narrativas, além da
leitura e discussão de textos leves, curtos, de
boa qualidade e de diferentes gêneros (contos
de tradição oral – de fada e de medo –, de
humor, de situações do cotidiano, fábula, de
amor), sugerem-se atividades de criação de
personagem (Um homem de consciência); de
expansão de idéias (Dick Parker); de
alteração do ponto de vista do narrador
(Gaetaninho); de caracterização do cenário (a
partir da reprodução de uma pintura de
Monet); de ampliação de histórias, com
criação de início, meio e final (Que rua é
essa, Cão! Cão! Cão!, No país do futebol) ; de
organização de seqüência e ampliação (O leão
e o ratinho); lúdicas, como a criação de um
texto absurdo (Disparate); de recontagem (O
causo do meu pai), de dramatização (Negócio
de menino com menina) e de criação a partir
de um roteiro (Rapunzel).
Muitas das propostas poderão parecer difíceis
para os jovens, mas é preciso não desanimar
e continuar tentando, pois é fazendo que eles
vão aprender. Nesse sentido, importa mais
valorizar o processo e cada uma das pequenas
conquistas do que o produto. Só assim você
conseguirá desinibi-los e ajudá-los a
ultrapassar seus limites.
Ao escrever, é importante perceberem que,
quando o texto se destina a um outro leitor,
precisa estar claro e atingir o objetivo a que
se propõe: agradar, convencer, divertir,
emocionar... Até um escritor experiente
reescreve seu texto inúmeras vezes antes de
publicá-lo, à medida que, relendo o texto,
descobre falhas; às vezes, pede a outras
pessoas que leiam o que escreveu e faz
modificações com base em suas sugestões.
Para ajudá-los, acompanhe de perto a
produção dos textos, oferecendo informações
e sugestões; criticando com delicadeza,
agrupando os participantes de modo que eles
possam se auxiliar mutuamente; ajustando as
atividades ao tempo disponível. E, sempre que
o tempo permitir, revise o texto com eles, por
meio da reescrita coletiva. O texto final,
copiado (digitado, se a Unidade possuir
computador), irá compor o livro, junto com as
demais histórias.
Orientação para reescrita
coletiva de textos
Transcreva na lousa o texto já corrigido
(sem problemas de ortografia, concordância,
conjugação verbal etc.).
Leia-o com a turma e consulte o autor, para
verificar se as idéias básicas estão certas.
Com a colaboração de todos, separe um
parágrafo para cada idéia, verificando se
estão claros e coerentes.
Em seguida, tendo o cuidado de não
descaracterizar o texto do autor:
faça perguntas como O quê?, Quem?,
Quando?, Onde?, para completar
informações e Por quê? e Como?, para
expandir as idéias do texto;
verifique se há palavras, idéias ou
expressões que se repetem; discuta se
fazem falta e elimine-as se forem
redundantes;
acrescente, se necessário, palavras do
tipo: e, mas, contudo, portanto
(conjunções); estes, aqueles, quem, que,
eles, tudo (pronomes); quando, enquanto,
logo (advérbios), para dar coesão ao texto;
observe se os tempos verbais estão
adequados e combinam entre si (“quando
eles chegaram, os outros já tinham saído”,
“ela costumava ir a pé, mas nesse dia
resolveu ir de ônibus”).
elimine as idéias contraditórias;
ajude-os a pontuar e paragrafar
corretamente, com especial atenção para
o diálogo: uso de dois pontos e travessão
ou aspas para indicar falas de
personagens.
Finalmente, discuta com eles as modificações
feitas, reescreva-o na lousa com a classe,
incorporando as informações colhidas e
discutidas, e proponha que comparem o texto
reescrito com o original.
Organização de coletâneas
para divulgação
O ponto culminante das oficinas é o da
divulgação ou exposição dos textos dos jovens
– o que pode ser feito no corredor ou pátio da
instituição. Mas, sempre que possível,
organize coletâneas de contos e disponha-as
ao alcance dos demais internos. Só assim se
preservará a função social da escrita e as
oficinas terão sentido.
A coletânea deverá conter textos de todos os
participantes e textos feitos em grupo. Eles
próprios podem escolher aqueles de que
mais gostam, revisando-os e reescrevendo-os
para a divulgação. Se tiverem acesso a
computadores, poderão digitar e imprimir
seus textos, utilizando os recursos que essa
tecnologia oferece: corretor ortográfico,
diferentes possibilidades de diagramação
etc.
Combine com eles o formato final da
coletânea: como será diagramada, como será
a capa etc. Providencie os recursos materiais
necessários. Oriente-os para fazer a
divulgação e, finalmente, um lançamento
festivo, num dia de visita. O importante é não
deixar de publicá-la.
VALORIZE
O PORTFÓLIO
Independentemente das diferentes possibilidades de
divulgação, todas as produções dos jovens devem
ser guardadas nos seus portfólios.
Elementos da narrativa
CONTO
O objetivo primordial dessas oficinas é que os
jovens possam-se deleitar com a leitura de
textos literários de boa qualidade, tendo
acesso a outras formas de ver o mundo e,
ao mesmo tempo, ensaiar as suas próprias
produções. Assim, elas não têm a pretensão
de aprofundar questões teóricas, já que o
tempo destinado a elas não o permitiria.
Porém, oferecemos a você algumas
informações sobre os elementos da narrativa,
que podem ajudá-lo a orientar os jovens.
O NARRADOR E O PONTO DE VISTA. O
narrador é quem nos conta uma história.
É por meio da visão dele que a narrativa
nos é transmitida. Basicamente, este podese colocar em duas posições ou situações:
contar a história como personagem,
portanto em primeira pessoa, ou situar-se
fora da história, contando-a como quem
nos transmite algo que observa a distância,
isto é, em terceira pessoa.
Se, por um lado, o foco narrativo de
primeira pessoa restringe essa visão
panorâmica dos fatos, por estar preso aos
olhos e à personalidade de um único
personagem, por outro, ganha em emoção.
Já na terceira pessoa, o narrador pode
jogar com o fato de ser um espectador
privilegiado, que tudo vê e que, por vezes,
sabe até os segredos, emoções e
sentimentos mais íntimos e inconfessos de
seus personagens, transitando assim da
condição de simples observador à de
narrador onisciente.
INTRIGA. Numa narrativa a intriga (ação)
compreende tudo o que acontece na
história: os fatos e atos envolvendo os
personagens. As ações de uma narrativa
se organizam pelo enredo, isto é, de uma
seqüência e encadeamento que podem
acompanhar a ordem cronológica dos
acontecimentos ou alterar essa ordem por
uma questão de expressividade, para
ressaltar algum aspecto da história.
Nas narrativas tradicionais, apresentamse inicialmente os personagens, o espaço
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EDUCAÇÃO E CIDADANIA
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ou cenário e o tempo – Introdução ou
Apresentação inicial. A ação se desenrola
–Desenvolvimento – até o surgimento de
um fato que desequilibra a ordem
estabelecida – Conflito. Esse confronto
chega a um ponto máximo de tensão –
Clímax; a partir daí, os fatos evoluem para
uma solução – Desfecho.
ESPAÇO. Os personagens movimentam-se
dentro de um certo espaço e este pode
muitas vezes auxiliar em sua
caracterização, na medida em que permite
transmitir determinadas idéias ao leitor
com maior intensidade. Às vezes, porém, o
espaço assume apenas um caráter
decorativo, tornando-se não mais que um
cenário, pano de fundo sobre o qual se
desenrolam as ações.
TEMPO. Numa narrativa, o tempo pode ser
entendido de duas formas: tempo-época e
tempo-duração. O tempo-época indica o
momento histórico dos acontecimentos
narrados. Em alguns textos, esse tempo
histórico pode vir claramente mencionado
ou estar implícito na caracterização dos
personagens e do espaço. O tempoduração é o que transcorre do começo ao
fim da história narrada (horas, dias,
meses, anos etc.).
Quanto à organização da ação narrativa,
isto é, à seqüência em que se apresentam
os fatos, esta pode ser cronológica linear
ou não-linear. Na primeira, os fatos são
narrados na ordem de sua ocorrência; na
segunda, há uma interrupção da sucessão
linear, para serem contados fatos do
passado, em uma retrospectiva ou flashback. É possível também incluir a
antecipação de um fato futuro, conhecido
pelo narrador, mas não pelos personagens.
Nos romances psicológicos, onde a ação é
muito mais interna do que externa, uma
outra ordem temporal se impõe: a da
simultaneidade, em que prevalece a
associação livre de idéias: presente,
passado e futuro se misturam num mesmo
plano como se tudo fosse presente.
PERSONAGENS. Os personagens são peças-
chave dentro da narrativa. É com eles que
ocorrem os fatos, é por seus dramas,
experiências, paixões, sofrimentos e
vitórias que se provoca a empatia do
leitor. Personagens são geralmente
definidos por meio de suas ações, isto é,
mostram-se enquanto agem, ou por sua
qualificação, quando o narrador descreve
seu modo físico, psicológico e social de ser.
Em sua construção, os personagens
podem ser simples, lineares, formados de
características bem definidas, que tendem a
revelá-los como protótipos: do bem, do mal,
da esperteza, da ingenuidade. Ou, então, são
complexos, imprevisíveis, cheios de conflitos
e até contraditórios em suas atitudes.
Podem ter papel determinante no
desenvolvimento do enredo — serão,
então, protagonistas (personagens
principais) ou podem ser coadjuvantes
nesse processo (personagens secundários).
Em muitas histórias, há personagens,
secundários ou não, que se contrapõem ao
personagem principal: são os antagonistas.
FALA DOS PERSONAGENS. Para representar
o que os personagens dizem em
determinadas situações, o narrador lança
mão basicamente de dois processos: o
discurso direto e o discurso indireto. No
primeiro, através de marcas como verbos
de elocução (ou verbos de dizer: falar,
responder, retrucar, dizer, exclamar,
perguntar etc.) dois pontos, travessões ou
aspas, o narrador mostra diretamente as
falas dos personagens; no segundo, é o
narrador quem nos conta o que foi dito.
Há ainda um recurso da prosa mais
moderna: o discurso indireto livre, quando
o narrador reproduz a fala do personagem
sem nenhuma indicação. As reflexões do
personagem e a fala do narrador
misturam-se no mesmo discurso —
apenas o contexto nos esclarece o que
pertence a um ou a outro.
É importante que você tenha em mente todos
esses aspectos, pois, em algumas das
oficinas, serão trabalhados um ou mais
elementos da narrativa.
O trabalho com os jovens nãoalfabetizados
Provavelmente você terá na sala jovens com
diferentes experiências em leitura e escrita;
muitos sequer conhecerão as letras e o que a
escrita representa. Mas isso não deve ser
impedimento para sua participação nas
atividades propostas nas oficinas. Ao contrário
– embora saibamos que o tempo de participação
desses jovens em uma oficina não é suficiente
para fazer com eles um trabalho consistente
de alfabetização –, é possível aproximá-los
um pouco mais do mundo da escrita.
Participar das atividades propostas para as
diversas oficinas e módulos e entrar em
contato com diferentes tipos de texto escrito
permitem que o sujeito internalize as
diferentes formas de organização textual e
descubra o que a escrita representa e como
se organiza. Quando você (ou um colega
alfabetizado) lê para o aluno, ele também se
torna leitor, porque atribui sentido ao texto
lido. Quando você (ou um colega alfabetizado)
registra as idéias do aluno não-alfabetizado em
um texto coletivo, ele também é autor do texto.
À medida que ele participa dessas atividades,
vai internalizando o discurso escrito,
reconhecendo letras, relacionando-as aos
sons. Internalizar o discurso escrito significa
ir conhecendo e sabendo utilizar diferentes
organizações textuais, recursos expressivos e
sinais gráficos convencionais para que o texto
produzido cumpra sua função. Por exemplo,
um texto narrativo de ficção, além de ser
claro, coerente e coeso, deve prender a
atenção do leitor. Para que isso ocorra,
algumas vezes são precisos pequenos ajustes
nas propostas, mas sobretudo um trabalho
muito grande de cooperação.
Por exemplo, um leitor mais experiente,
educador ou colega, ajuda o aprendiz a
progredir na leitura e na escrita, dando-lhe
seu testemunho de leitura, apontando onde
está lendo. Os menos experientes podem ditar
o que têm a dizer para que outros escrevam,
registrar como souberem (inclusive por meio
de desenho) e ter uma participação oral mais
ativa. O importante é que as atividades
CONTO
permitam a inclusão de todos e contribuam
para a superação das dificuldades de cada
um. Além disso, você pode:
dispor materiais de leitura ao alcance de
todos;
ler sempre os textos para eles – não são
apenas os que não sabem, que gostam de
ouvir alguém ler;
preparar-se antes para a leitura,
demonstrando prazer nela e, se o texto
permitir, fazer suspense, desafiá-los a
adivinhar o que virá depois;
escrever na lousa ou em um cartaz o título
do texto lido e os nomes dos personagens,
se houver;
de vez em quando, pedir que reproduzam o
que você tiver lido, através de desenho ou
escrita, como souberem;
comentar livros ou outros textos que você
tenha lido e achado interessantes;
aproveitar o trabalho com os textos que
permitem memorização (poesias,
parlendas, adivinhas) e incentivar os
alunos que ainda não lêem a fazer “leitura
de memória” – sabendo o texto de cor,
fazem de conta que estão lendo;
propor que façam a leitura de imagens e
sinais em jornais, revistas, textos
ilustrados, perguntando o que acham que
está escrito aí (exercitando a antecipação);
procurar ler o que os alunos rabiscam ou
tentam escrever, indagando o que queriam
escrever e traduzindo para a escrita
convencional, sem apagar o que o aluno
fez (deixar as duas formas juntas);
sempre que possível, fazer produção
coletiva de textos: enquanto eles criam o
texto, você vai escrevendo na lousa ou em
papel pardo. Reproduza esses textos para
que possam colá-los no caderno ou
organizar em forma de coletânea.
Elogie todas as tentativas que fizerem.
Comemore com eles cada progresso, não
permita que se acomodem ou desistam.
Impulsione-os sempre para vôos maiores e
faça com que sintam que você está com eles.
Bom trabalho!
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EDUCAÇÃO E CIDADANIA
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HISTÓRIAS
OFICINA 1
DA
TRADIÇÃO ORAL
Material necessário: ficha 1; dicionários; papel
(ou cadernos), lápis, borracha, caneta; se possível,
almofadas para sentar-se no chão.
As histórias da tradição oral, crônicas, contos –
incluindo os de fada – são motivo de prazer para
todas as pessoas; ao mesmo tempo que ampliam a
visão de mundo, representando simbolicamente
problemas humanos, fornecem um modelo de
organização do texto escrito.
Todo mundo gosta de ouvir e contar histórias e os
jovens com quem você vai trabalhar não são
exceção. Com esta oficina, queremos resgatar as
histórias de tradição oral, que fazem parte do
repertório dos participantes.
Aquecimento
Converse com eles, explicando o que é tradição
oral. Fale sobre as histórias, idéias e
acontecimentos que os mais velhos contam para os
mais jovens, mostre que é assim que muitos
aspectos da cultura de um povo são transmitidos,
de uma geração a outra. Em geral, essas histórias
têm muito de fantasioso e, às vezes, um mesmo
fato tem muitas versões pois, como diz o ditado,
quem conta um conto, aumenta um ponto.
Proponha que eles sentem no chão ou em
almofadas, como se estivessem em volta de uma
fogueira. Peça que imaginem o fogo, o silêncio e o
perfume de uma noite ao ar livre – quem sabe no
meio do mato –, procurando lembrar-se de
histórias que ouviram da família ou de amigos.
Atividade
1a etapa
Para incentivá-los, apresente a história O causo do
meu pai, contada por Henrique Duarte Macari, na
ficha 1. Antes da leitura, pergunte se o título dá
pistas a respeito do que vão ler. Se necessário,
esclareça que o nome “causo”, justamente, é
aplicado a histórias que têm uma grande carga de
fantasia e, no caso desta, tanto pode ser um relato
vivenciado pelo pai do autor quanto simplesmente
um fato vivido por outros e contado por esse
mesmo pai. Conte, também, que o autor é aluno de
uma escola municipal de São Paulo e escreveu este
“causo” durante o desenvolvimento de um projeto
parecido com este, intitulado Causos de medo.
2a etapa
A seguir, leia com eles o texto, interrompendo com
questões que criem um clima de suspense. Por
exemplo, após o trecho que diz: “De repente, ela
chegou, linda, perfumada, sentou-se na mesa ao
lado dele.”, cabe uma pequena interrupção e a
pergunta: E agora? Será que ela vai dar bola pra ele?
Eles vão acabar namorando? Ou ainda, no trecho:
“Já estava na rua do cemitério, quando ela pediu pra
parar o carro, bem na frente do portão de entrada.”,
você pode perguntar: Por que vocês acham que ela
pediu para ele parar ali? E agora, o que vai acontecer?
Terminada a leitura, estimule-os a comentar o texto
livremente, do que gostaram ou não, se ficaram
impressionados, se acham que essa história
realmente aconteceu ou se é só imaginação etc.
3a etapa
Proponha, então, que aqueles que conhecem
alguma história desse gênero contem para os
demais. Seria interessante você também contar
uma, como forma de incentivá-los.
Se houver tempo, vocês podem escolher a melhor
história do dia. Uma vez feita a votação, solicite
que o autor da “preferida do dia” reconte a
história, de forma que todos possam tirar dúvidas e
memorizá-la. Em seguida, proponha que seja feito,
coletivamente, o registro escrito do texto.
Vá para a lousa e, à medida que eles forem ditando
a história, discuta com eles a melhor forma de relatar
os fatos ouvidos, de modo a garantir a fidelidade
ao conto original e prender a atenção do leitor.
Fechamento
Seria interessante que o texto final fosse copiado
por um dos participantes, para compor uma
coletânea de contos, junto com as histórias
produzidas nas demais oficinas.
Se houver possibilidade e você dispuser de um
gravador, as histórias podem ser gravadas. Assim,
a turma disporá de uma coletânea oral.
CONTO
PROGRAMA
DE RÁDIO:
DRAMATIZAÇÃO DE
TEXTO
OFICINA 2
Material necessário: ficha 2; dicionários; folhas de
papel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta; se
possível, gravador e fita; caixa de papelão grande,
tesoura e tintas; ou lençol ou cortina, para
improvisar “rádio antigo”.
Nesta oficina os jovens vão ler e dramatizar um
texto. A dramatização é um eficiente recurso para o
exercício da leitura, levando-se em conta que
exerce no leitor um forte apelo à busca da
expressividade da linguagem.
Aquecimento
Antes de distribuir a ficha 2 aos participantes, leia
o título e pergunte de que eles imaginam que a
história trata. Veja se alguém conhece o autor (Ivan
Ângelo), se já leram algum texto dele.
Atividade
1a etapa
Entregue a ficha e leia o texto junto com eles –
especialmente se houver jovens não-alfabetizados
ou com dificuldades em leitura – e, ao longo da
leitura, vá questionando-os sobre o que acham que
vai acontecer. Em seguida, abra espaço para
comentários e volte ao texto se houver dúvidas. Seria
interessante discutir o que entendem por “águia da
Bolsa”, lembrando que a expressão dá uma pista
sobre a profissão do pai, que provavelmente trabalha
na Bolsa de Valores, “acostumado a encorajar os
mais hesitantes...”. Estimule-os com perguntas
sobre o que acham da atitude dos personagens – o
fato de o pai achar que pode comprar tudo, a
recusa do menino em se deixar seduzir pela oferta
–, se gostaram do encaminhamento da história, do
final, se fariam diferente.
2a etapa
Proponha aos jovens a criação de um programa de
rádio, um radioteatro, como se chamava
antigamente. Conte que, quando não havia
televisão, as novelas de rádio e o radioteatro faziam
um grande sucesso e que grandes nomes do teatro
e da televisão de hoje (autores e atores) começaram
suas carreiras no rádio.
Para fazer o radioteatro, eles terão de ler o texto
(ou decorá-lo) com bastante expressividade. Além
disso, deverão fazer algumas pequenas adaptações,
para tirar a fala do narrador e fazer os ouvintes
entenderem a história tal como ela foi concebida.
Sugira que enriqueçam o programa com o recurso
da sonoplastia (sons, ruídos, música de fundo) e a
criação de propagandas musicadas (jingles) para o
intervalo. Ajude-os com sugestões e elogie todas as
tentativas.
Fechamento
Pronto o programa, cada grupo apresenta sua
narração. Depois, todos escolhem a melhor, que
será reapresentada para gravação – se dispuserem
de um gravador. Também podem construir um
rádio de papelão, parecido com o da ilustração da
ficha. Ou podem apresentar o programa
escondidos atrás de uma mesa ou de uma cortina.
Combine com a coordenação da Unidade uma
forma de apresentarem o radioteatro para os
demais internos e funcionários ou organize uma
apresentação num dia de visita. Temos certeza de
que será o maior sucesso.
COERÊNCIA
TEXTUAL:
O FINAL DA HISTÓRIA
OFICINA 3
Material necessário: ficha 3; dicionários; folhas de
papel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta.
Nesta oficina e nas duas seguintes, os jovens vão
escrever partes de uma história. Acreditamos que
isso os auxilia a ganhar desenvoltura na escrita e a
se exercitar na percepção da coerência textual.
Aquecimento
Converse com eles sobre as dificuldades de uma
pessoa que vai para um país estrangeiro sem
conhecer a língua desse lugar. Diga que irão ler
uma história que trata de uma situação como essa.
13
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
14
Atividade
1a etapa
Distribua a ficha 3 e leia o texto junto com eles –
especialmente se houver jovens não-alfabetizados
ou com dificuldades em leitura – e, ao longo da
leitura, vá questionando-os sobre o que acham que
vai acontecer. Em seguida, abra espaço para
comentários e volte ao texto se houver dúvidas.
Estimule-os com perguntas sobre o que acham da
atitude dos franceses, o que fariam se estivessem
no lugar do turista e o que imaginam que ele
deveria fazer, se não tivesse encontrado o casal de
amigos.
2a etapa
Leia com eles as orientações para a atividade que
constam da ficha e esclareça as dúvidas que
porventura existirem. Antes de escreverem, discuta
com eles as propostas de final, para verificar se são
coerentes e se causam surpresa nos leitores, como o
original (reproduzido abaixo) – volte ao texto, se
necessário.
Fechamento
Quando os textos estiverem prontos, ajude-os a
revisá-los e, se sobrar tempo, faça a reescrita
coletiva de um dos textos.
Agora leia o final do texto original para que
possam compará-lo com os seus:
“O brasileiro não deixou por menos. Deu uma
gargalhada e explicou: ‘A tabuleta que você copiou
não era indicadora do nome da rua e sim deste
aviso: É proibido urinar aqui’.”
COERÊNCIA
TEXTUAL:
O MEIO DA HISTÓRIA
OFICINA 4
Material necessário: ficha 4 (verso da ficha 3);
dicionários; papel, lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Relembre a oficina anterior, verifique se algum dos
que dela participaram está presente, pedindo-lhe
que conte o que fizeram (tiveram de inventar o fim
de uma história). Converse sobre como um malentendido pode provocar uma situação difícil para
as pessoas. Diga que irão ler uma história que fala
de uma situação como essa, mas que nela falta uma
parte – e eles é que vão inventar esse pedaço (o
meio da história).
Atividade
1a etapa
Pergunte se conhecem Millôr Fernandes. Diga
que é um grande humorista e cartunista brasileiro
e que já colaborou, e colabora ainda, com diversos
jornais e revistas.
Distribua a ficha 3 (ou peça aos que já a têm da
oficina anterior, que a retomem) e leia o texto que
está no verso dela até o final, junto com eles. Em
seguida, abra espaço para comentários e volte ao
texto, se houver dúvidas. Estimule-os com
perguntas sobre o que acham da atitude dos dois
personagens, o que fariam se estivessem no lugar
deles e o que acham que o cachorro fez para
provocar esse constrangimento entre os amigos.
2a etapa
Leia com eles a proposta da ficha e peça-lhes que,
antes de escrever, levantem hipóteses sobre as
atividades do cão no interior da casa. Chame sua
atenção para o aspecto da coerência, por exemplo:
não pode acontecer nada de muito grave, senão os
amigos não continuariam conversando; eles não
falam no cachorro, pois isso estragaria a surpresa
do final do conto. Proponha então que escrevam e
revisem a história seguindo as orientações da ficha.
Passeie entre as mesas, sugerindo, orientando,
incentivando.
Fechamento
Quando os textos estiverem prontos, sugira a
voluntários que leiam seus textos para os colegas e,
finalmente, leia você o trecho da história que foi
suprimida, para que comparem com os seus:
“(...) o barulho na cozinha demonstrava que
ele tinha quebrado alguma coisa. O dono da
casa encompridou um pouco as orelhas, o
amigo visitante fez um ar de que a coisa não
era com ele. ‘E você, casou também?’ O cão
passou pela sala, o tempo passou pela conversa,
o cão entrou pelo quarto e novo barulho de
coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por
parte do dono da casa, mas perfeita indiferença
por parte do visitante. ‘Quem morreu
definitivamente foi o tio... Você se lembra
dele?’ ‘Lembro, ora, era o que mais... não?’ O
cão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur,
logo trepou com as patas sujas no sofá (o
tempo passando) e deixou lá marcas digitais de
sua animalidade.”
Os que quiserem podem passar suas histórias a
limpo e expô-las nos painéis ou cedê-las para o
acervo. Lembre-se: todas as produções dos jovens
devem ser assinadas e guardadas em seus portfólios.
DISCURSO
DIRETO:
PONTUAÇÃO DO
DIÁLOGO
OFICINA 5
Material necessário: ficha 5; dicionários; papel,
lápis, borracha, caneta.
Esta oficina vai divertir os jovens e fazê-los
perceber que todo mundo na vida pode fazer papel
de bobo e que isso não tem nada de mais – rir das
nossas próprias fraquezas é um exercício saudável
e um antídoto contra a violência. Além disso, vão
aprender sobre a pontuação do diálogo.
Aquecimento
Pergunte a eles se já deram algum fora na vida, se
já fizeram papel de bobo. Diga-lhes que isso
acontece com todo mundo. Tem gente que admite
que errou ou se atrapalhou, mas tem gente que fica
com tanta vergonha que torna a situação ainda pior.
Atividade
1a etapa
Distribua a ficha 4 e leia o texto junto com eles –
especialmente se houver jovens não-alfabetizados
ou com dificuldades em leitura – e, ao longo da
leitura, vá questionando-os sobre o que acham que
vai acontecer. Em seguida, abra espaço para
comentários e volte ao texto se houver dúvidas.
Estimule-os com perguntas sobre o que acham da
atitude do personagem e o que fariam se
estivessem no seu lugar.
CONTO
2a etapa
Discuta a necessidade de indicar (marcar) quem
fala quando se escreve. Quando falamos com
alguém, à nossa frente, vemos quem está falando.
Já na escrita, é preciso “avisar” ao leitor quem está
falando naquele momento (se o narrador ou um
personagem): isso é feito por meio da pontuação.
Proponha uma leitura dramatizada do texto, que
pode ajudar os jovens a compreender a pontuação.
Na verdade, um jogo dramático:
escolha alguns jovens para fazer a leitura (um
para cada personagem e um para narrador);
improvise um objeto para servir de
“microfone”;
sem que os demais ouçam, combine com eles
que, cada vez que um personagem falar, o
“microfone” passa para as mãos de quem
representa esse personagem. (Cuidado! O
microfone não pode passar às mãos do
narrador!)
proponha que todos acompanhem a leitura e
tentem descobrir qual marca, no texto,
corresponde à mudança de mãos do
“microfone”.
Após a leitura, verifique se descobriram. Se não,
chame a atenção para a marca de fala do
personagem: explique que o travessão indica a fala
do personagem e as entradas do narrador
explicando as falas do personagem.
3a etapa
A seguir, conte a eles um fato acontecido com você ou
com algum conhecido que seja semelhante à história
que vocês leram e incentive-os a fazer o mesmo.
Proponha, então, que escrevam uma história como
se tivesse acontecido com eles. Explique o que é
um narrador em primeira pessoa, dando exemplos:
“Certa vez, me aconteceu....”; “Uma tarde, eu
vinha pela rua quando...”. Lembre ainda que
devem tomar cuidado com a pontuação do diálogo.
Fechamento
Leia os textos e ajude-os a revisá-los. Oriente-os para
passá-los a limpo para montar uma pequena coletânea,
que pode se chamar O grande fora ou O mico.
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EDUCAÇÃO E CIDADANIA
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CENÁRIO
OFICINA 6
Material necessário: ficha 6 (verso da ficha 5);
papel, lápis, borracha, caneta; aparelho de som,
CD com música suave.
Aquecimento
Se possível, toque uma música suave de fundo e
diga aos jovens que hoje irão viajar para um lugar
distante no tempo e no espaço. Um lugar diferente
de tudo que estão acostumados a ver.
Atividade
1a etapa
Apresente a ficha 6 (ou peça aos que já têm a ficha
5, que a retomem) e peça que observem bem a
gravura. Estimule-os a falar sobre as cores, os
traços, mas vá conduzindo a discussão para a
descrição do cenário: Onde eles imaginam que fica
esse lugar? O que há aí? Peça para descreverem as
cores, as pessoas...
Peça, depois, que fechem os olhos e se imaginem
nesse lugar. Vá fazendo as perguntas que estão na
ficha, mas diga que não precisam responder em
voz alta, é simplesmente para imaginar. Imagine
você também.
Agora, comentem o que imaginaram. Isso vai
ajudá-los a organizar melhor a narrativa. Proponha
a escrita do texto, seguindo o roteiro da ficha.
2a etapa
Como nas oficinas anteriores, ajude-os com
sugestões e informações, durante a escrita dos
textos. Coordene a troca de textos para leitura e
revisão pelo autor.
Fechamento
Faça a revisão final e peça-lhes que passem a
limpo. Organize um painel, com uma cópia da
gravura no centro e os textos em volta, e exponha
no pátio ou corredor. Lembre-os de guardar uma
cópia passada a limpo em seus portfólios, junto
com a ficha.
CRIAÇÃO DE CENA
OFICINA 7
MOVIMENTADA
Material necessário: ficha 7; dicionários; papel,
lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Pergunte aos jovens se torcem para algum time e
incentive-os a falar de suas preferências, mantendo
um clima de respeito. Comente com eles a paixão
do brasileiro pelo futebol, como as pessoas fazem o
maior sacrifício para não perder um jogo
importante de campeonato e como chegam à
loucura em final de Copa do Mundo. Diga que
irão ler um texto sobre esse assunto.
Atividade
1a etapa
Distribua a ficha 7, com o texto No país do futebol.
Leia o texto para eles com bastante expressividade,
estimulando-os a fazer antecipações sobre o que
vai acontecer, questões sobre o vocabulário e
inferências sobre as razões de determinadas
passagens do texto. Por exemplo: Por que vocês
acham que as pessoas vão assistir ao jogo na porta
das lojas? Por que será que o gerente escolheu
justamente aquele aparelho de televisão para
vender? Você acha que existe um televisor com um
botão de controle de emoção? Em que ano
aconteceu a história narrada? (essa inferência pode
ser feita, por meio do parágrafo 17, que diz que
Juvenal não via os amigos desde a copa de 78,
portanto pressupõe-se que seja a copa de 82).
Ao final da leitura, eles certamente terão muito o
que comentar e talvez queiram reler alguns
trechos: dê-lhes tempo para isso.
2a etapa
Em seguida, reforce a proposta feita na ficha, de
produção do final da história, e sugira que a leiam
para os demais.
Fechamento
Ajude a revisar os textos e oriente-os a passar a
limpo para publicação.
CONTO
CRIAÇÃO
OFICINA 8
DE
PERSONAGEM
Material necessário: ficha 8; dicionários; papel,
lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Pergunte aos jovens se já ouviram falar de Monteiro
Lobato, autor das aventuras no Sítio do Picapau
Amarelo, que fizeram sucesso na televisão. Diga
que, além das histórias infantis, Lobato escreveu
textos para adultos, tão bons quanto os infantis.
Antes de distribuir as fichas, leia o título da
história e pergunte se imaginam do que trata.
Atividade
1a etapa
Distribua aos jovens a ficha 8. Leia o texto com
eles. Durante a leitura, esclareça as dúvidas de
vocabulário (provavelmente, eles estranharão a
palavra deperecimento, que é o ato de alguma coisa
ir-se acabando aos poucos), e, ao mesmo tempo, vá
propondo questões que os levem a antecipar o que
vai acontecer no texto, a depreender o que o autor
quis dizer nas entrelinhas, a criticar as ações do
personagem ou os recursos textuais de que o autor
lançou mão, a extrapolar o texto, discutindo, por
exemplo, o que leva os habitantes a abandonar
cidades pequenas como Itaoca. Enfim, ajude-os a
mergulhar no texto e colocar em jogo todos os
processos cognitivos mobilizados pela leitura.
2a etapa
Agora, oriente-os a fazer as atividades propostas na
ficha, esclarecendo dúvidas, fazendo sugestões. Os
alunos não-alfabetizados ou com muita dificuldade
em escrita podem fazer a atividade oralmente,
dramatizando o encontro dos dois personagens.
Fechamento
Prontos os textos, peça-lhes que leiam para os
demais. Faça a revisão final, antes de eles passarem
a limpo para a publicação. Se o Jornal Mural já
estiver montado, procure garantir espaço para um
ou mais textos.
PONTO DE VISTA
OFICINA 9
Material necessário: ficha 9; dicionários; papel,
lápis, borracha, caneta.
O trabalho desta oficina é de recontagem da
história (de Gaetaninho) com alteração de ponto de
vista, isto é, os jovens vão contar os fatos vistos por
um dos personagens: será uma narrativa com foco
em 1a pessoa. Além disso, eles vão aprender um
pouco mais sobre os elementos da narrativa.
Aquecimento
Diga a eles que o conto de hoje é sobre um menino
pobre, filho de imigrantes italianos, que viveu no
início do século passado, no Brás. Avise-os para
prestar atenção na forma como o autor conta a
história: como se fossem cenas de um filme.
Atividade
1a etapa
Distribua a ficha 9. Leia o texto para eles, com
expressividade, interrompendo a cada bloco ou
cena para que façam comentários, antecipações, ou
manifestem suas emoções, seguindo as orientações
da Introdução. Vá esclarecendo dúvidas sobre o
texto ou vocabulário.
2a etapa
Agora, leia a análise do conto, que está no verso da
ficha 8, e a proposta de atividade, ajudando-os a
compreender o que se pede.
Supervisione a organização dos grupos (trios), a
escrita do texto e a primeira revisão, feita com base
nas sugestões dos colegas.
Fechamento
Faça a revisão final e peça-lhes que passem a limpo
para publicação, guardando sua produção no
portfólio, junto com a ficha.
17
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
18
SELEÇÃO DE FATOS
OFICINA 10
Material necessário: ficha 10; dicionários; papel,
lápis, borracha, caneta; lápis ou canetas coloridas.
Esta oficina propõe uma atividade de expansão das
idéias para enriquecimento da narrativa.
Aquecimento
Indague dos jovens se eles gostam de histórias ou
filmes de suspense. Conte que, embora o Brasil
não tenha uma tradição de romances policiais ou
de suspense, teve dois grandes escritores nessa
área, que viveram na primeira metade do século
XX: Medeiros de Albuquerque e Jerônimo
Monteiro. Este último é o autor do conto do qual
eles irão ler um trecho hoje.
Jerônimo Monteiro nasceu em São Paulo, em
1908. Aos 10 anos de idade, precisou deixar a
escola para ajudar os pais; aos 14, entrou como
contínuo na Estrada de Ferro Sorocabana, e lá
trabalhou durante 18 anos. Foi então que começou
a se interessar pela leitura de autores como
Machado de Assis, Eça de Queirós e Monteiro
Lobato.
Em 1937, deu uma virada em sua vida: entrou
numa empresa de publicidade como redator.
Inspirando-se na literatura policial americana,
criou o detetive Dick Peter para divulgar uma
determinada marca de café. Dick Peter fez tanto
sucesso que saiu da publicidade para tornar-se um
personagem autônomo, com histórias publicadas
regularmente na imprensa e, mais tarde, chegando
a ter um programa especial no rádio (Para gostar de
ler v.12, 1992, p.57).
Atividade
1a etapa
Distribua a ficha 10 aos participantes. Após a
leitura dos dois trechos aí transcritos, faça com os
grupos uma análise mostrando o que diferencia
um texto do outro. Em seguida, os grupos tratarão
de expandir o outro texto proposto no verso da ficha.
Circule entre os grupos, oferecendo ajuda e
sugestões.
Fechamento
Quando os textos estiverem prontos, peça-lhes que
os leiam para os demais, ouçam as sugestões e as
incorporem ao texto, se desejarem. Revise as
produções e, depois de passadas a limpo (e
ilustradas), encaminhe para publicação.
SEQÜÊNCIA
OFICINA 11
E
EXPANSÃO DE IDÉIAS:
FÁBULA
Material necessário: ficha 11 (verso da ficha 10);
dicionários; papel, lápis, borracha, caneta.
Nossa proposta é que nesta oficina os jovens
conheçam uma fábula e trabalhem tanto com a
seqüência lógica como com a expansão de idéias na
narrativa.
Aquecimento
Explique a eles que vão ler uma fábula. Diga que a
fábula surgiu no Oriente, mas foi Esopo, um
escravo grego que viveu na antigüidade, quem lhe
deu as características atuais. Ele escrevia histórias
em que os personagens eram animais, com a
finalidade de ensinar os homens a agir com
sabedoria. Mais tarde, outros escritores gostaram
de recorrer às fábulas para criticar – como o
também escravo da Roma antiga Fedro – e para
educar – como La Fontaine, poeta francês do
século XVII.
Atividade
1a etapa
Distribua a ficha 11 ou peça aos que já têm a ficha
10 que retomem o verso. Leia com eles os trechos
da fábula e as orientações que se seguem.
Organize-os em dois ou três grupos
(heterogêneos, para que os que sabem possam
ajudar os que não sabem) e peça-lhes que
coloquem os trechos numa seqüência lógica.
Depois, cada grupo apresenta sua organização e
explica as razões da escolha, se necessário. Embora
a ordem correta da fábula original tenha a
seqüência de parágrafos 3, 4, 2, 7, 1, 6 e 5, pode ser
que algum grupo argumente em defesa de outra
lógica. Cabe a você e ao restante da turma ouvir com
respeito e contra-argumentar, se necessário.
Faça então com eles uma nova leitura da fábula já
reorganizada e discuta o tema – a questão da
relatividade da força física e da solidariedade, sem
a qual tanto o mais fraco quanto o mais forte
teriam sucumbido.
2a etapa
Em seguida, os grupos vão procurar ampliar a
história, enriquecendo os fatos apresentados ou
criando outros. Como sempre, acompanhe de
perto a produção, fazendo sugestões, resolvendo
pendências, orientando. Caso considere necessário,
leia com eles as recomendações para o trabalho em
grupo, na ficha Zero.
Fechamento
Prontos os textos, peça que cada grupo leia o seu
para o restante da turma. Abra espaço para
comentários e sugira que passem a limpo para
publicação – não esquecendo de guardar uma cópia
de sua produção no portfólio, junto com a ficha.
TORNAR
PÚBLICO
É FUNDAMENTAL
Entendemos por publicação o ato de tornar o texto
público, seja em coletâneas que ficarão no acervo
da Instituição, seja em painéis expostos nos
corredores ou pátio etc. O importante é que os textos
não fiquem circunscritos aos participantes da oficina.
NARRATIVA
OFICINA 12
ABSURDA
Material necessário: ficha 11 (verso da ficha 10);
folhas emendadas de papel pardo, pincel atômico,
fita crepe.
Aquecimento
Diga aos jovens que hoje irão fazer uma
brincadeira que, talvez, alguns deles já conheçam,
mas que é muito interessante: chama-se Disparate.
CONTO
Explique que o disparate consiste na escrita de
respostas a uma série de perguntas feitas pelo
coordenador que, juntas, comporão uma história,
que pode se tornar absurda e engraçada.
Atividade
1a etapa
Emende duas ou três folhas de papel pardo e
providencie um pincel atômico. Dobre-as como
uma sanfona, no sentido vertical. Organize os
jovens sentados em torno de uma mesa. Diga que
você fará uma pergunta a cada um e somente
aquele deverá responder, por escrito, na folha
dobrada (sem dizê-la em voz alta). Em seguida,
ele deve dobrar a folha, ocultando o que está
escrito, e passar ao colega que estiver a sua direita.
2a etapa
Comece a perguntar, fazendo uma pequena
introdução. “Imaginem que (invente um nome,
pode ser Josias) está num lugar”:
1. Que lugar é esse? Descreva-o bem.
2. Em que época/quando?
3. Quem é Josias? O que ele está fazendo?
4. Como ele foi parar aí?
5. Quem ele encontrou?
6. O que Josias disse?
7. O que o(a) outro(a) respondeu?
8. O que eles fizeram?
9. Por quê?
10.O que aconteceu em seguida?
11.E depois?
12.Como as coisas se resolveram?
13.Como tudo terminou?
14.E como Josias acabou ficando?
Dependendo do número de participantes, você pode
acrescentar ou excluir perguntas ou, ainda, fazer
duas ou mais rodadas (adaptado de Azevedo, 2000).
Fechamento
Em seguida, desdobre o papel e prenda-o na
parede, com fita crepe, para que todos possam ler e
se divertir com a história absurda que surgiu.
E lembre-os de que as instruções para a
brincadeira estão na mesma ficha 11.
19
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
20
CONTOS
OFICINA 13
MARAVILHOSOS
Material necessário: ficha 12; dicionários; papel,
lápis, borracha, lápis ou canetas coloridas.
Nesta oficina, vamos trabalhar com a narrativa
tradicional – o conto maravilhoso – e seus
elementos básicos.
Aquecimento
Converse com eles sobre os contos de fada.
Pergunte quais conhecem, de qual mais gostam e
diga-lhes que até hoje é o gênero de narrativa mais
popular, tanto entre crianças como entre adultos:
prova disso é o sucesso das novelas de televisão e
dos filmes, que continuam a seguir o mesmo roteiro
dessas histórias maravilhosas. Por tudo isso, eles irão
ler, apreciar e analisar um conto de fadas – que
também é uma linda história de amor: Rapunzel.
Atividade
1a etapa
Não distribua logo as fichas aos jovens. Peça que
se sentem no chão, a sua volta, e comece a leitura
do conto num tom de voz bem suave, de modo a
criar um clima de magia. Leia com emoção,
fazendo pausas para deixá-los saborear cada
momento da história. Procure, também, ativar
todos os processos cognitivos próprios da leitura,
por meio de questões como as sugeridas na
introdução deste fascículo.
2a etapa
Após os comentários, distribua a ficha 12 e
proponha que leiam a história, individualmente ou
em duplas, para que possam se deleitar novamente
com as passagens de que mais gostaram. Abra espaço
para novos comentários, se desejarem se manifestar.
3a etapa
Em seguida, leia com eles o roteiro, no verso da
ficha, fazendo com que o relacionem à história.
Proponha, então, a criação da narrativa ambientada
nos tempos de hoje.
Como sempre, ajude-os com incentivo e sugestões.
Fechamento
Assim que tiverem feito a primeira revisão,
incorporando as sugestões dos colegas, faça a
revisão final, peça-lhes que passem a limpo e as
ilustrem para a coletânea. E guardem suas
produções ou cópias no portfólio, junto com
a ficha.
REFERÊNCIAS
CONTO
BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Mário de. Cartas a Manuel Bandeira
{prefácio e notas de Manuel Bandeira). Rio de
Janeiro: Ediouro, 1967.
21
MINCHILLO, C. A. C., CABRAL, I. C. M. A narração:
teoria e prática. São Paulo: Atual, 1989.
ÂNGELO, Ivan. O ladrão de sonhos e outras histórias.
São Paulo: Ática, 1997.
MONET Claude. Mulheres no jardim – detalhe, 1866.
Museu de Louvre, França. São Paulo: Abril Cultural,
1968.
AZEVEDO, Ricardo. Armazém do folclore. São Paulo:
Ática, 2000.
MONTEIRO, Jerônimo. O fantasma da Quinta Avenida.
In: PARA gostar de ler, v.12. São Paulo: Ática, 1992.
BORGES, Jorge Luis. Obras completas. São Paulo:
Globo, 1999.
MONTEIRO LOBATO, José B. Cidades mortas. São
Paulo: Brasiliense, 1965.
CALKINS, Lucy M. A arte de ensinar a escrever: o
desenvolvimento do discurso escrito. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1989.
NOVAES, Carlos Eduardo. Juvenal Ouriço repórter. Rio
de Janeiro: Nórdica, 1977.
ESOPO. Fábulas de Esopo (comp. Russel Ash & Bernard
Higton). São Paulo: Cia. das Letrinhas, 1995.
FERNANDES, Millôr. Literatura comentada. São Paulo:
Abril Educação, 1980.
GERALDI, J.W. (org.) O texto na sala de aula: leitura e
produção. Cascavel: Assoeste, 1985.
HUBNER, Regina M. (org.) Quando o educador resolve.
São Paulo: Loyola, 1989.
PERROTTI, Edmir. O texto sedutor na literatura infantil.
São Paulo: Ícone, 1986.
PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São
Paulo: Cia. das Letrinhas, 2000.
PROPP, Wladimir. Morfologia do conto maravilhoso. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 1984.
________. As raízes históricas do conto maravilhoso.
Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1997.
JOLIBERT, J. et al. Formando crianças leitoras. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994.
QUARTIM, Yone. Que rua é essa? In: CÓCCO, Maria F.,
HAILER, Marco A. Análise, linguagem e pensamento.
v.6. São Paulo: s.ed., 1994. p.85.
________. Formando crianças produtoras de textos.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Pai não entende nada.
Porto Alegre: L&PM, 1990.
KAUFMAN, A.M., RODRIGUEZ, M. E. Escola, leitura e
produção de textos. Porto Alegre: Artes Médicas,
1995.
ZILBERMAN, Regina, SILVA, Ezequiel T. (orgs.) Leitura:
perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática,
1991.
KLEIMAN, A. Oficina de leitura. Campinas: Pontes, 1993.
SUGESTÕES PARA
DA UNIDADE
________. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura.
Campinas: Pontes, 1989.
________. (org.) Os significados do letramento.
Campinas: Pontes, 1995.
O ACERVO
KOCH, Ingedore V.V. A coesão textual. São Paulo:
Contexto, 1989.
Livros
KOCH, Ingedore V.V., TRAVAGLIA, L. C. A coerência
textual. São Paulo: Contexto, 1990.
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos de artimanhas e
travessuras. São Paulo: Ática, 1988.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura à leitura do
mundo. São Paulo: Ática, 1993.
CONTOS de Grimm (Trad. Tatiana Belinki). São Paulo:
Paulus, 1989.
LEITE, L.C. M. Invasão na catedral: literatura e ensino
em debate. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
LA FONTAINE. Fábulas de La Fontaine. São Paulo:
Martins Fontes, 1997.
MACARI, Henrique D. O causo do meu pai. In: CAUSOS
de medo. São Paulo: EMEF “Máximo de Moura
Santos”, 1998.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Melhoramentos,
1994.
MACHADO, Antônio A. Brás, Bexiga e Barrafunda:
notícias de São Paulo. São Paulo: Nova Alexandria,
1995.
MESERANI, Samir. Quem conta um conto. 6v. São
Paulo: Atual, 1989.
MORICONI, Ítalo (ed.) Os cem melhores contos
brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000.
PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo:
Companhia da Letrinhas, 2000.
ROCHA, Ruth (adapt.). Fábulas de Esopo. São Paulo:
FTD, 1994.
Todos os textos de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seus representantes
legais.
O Cenpec e os autores deste módulo agradecem a gentil cessão de direito de uso dos textos de Carlos Eduardo Novaes,
Companhia das Letrinhas, Ivan Ângelo, Jerônimo Monteiro, Millôr Fernandes e Ricardo Azevedo.
O texto de Yone Quartim (p.29) foi reproduzido sem má-fé ou intenção de ofender os direitos da autora, que não pôde ser
localizada.
22
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 0
CONTO
NOME
DATA
DICIONÁRIO: orientações para uso
Esta ficha mostra como está organizada essa grande lista de palavras que é o dicionário.
Dicionário é o livro que registra um conjunto de palavras organizadas alfabeticamente.
A ordem alfabética é usada para organizar listas de todos os tipos, dicionários,
enciclopédias, catálogos e outros.
O dicionário da língua portuguesa, além de mostrar como são escritas as palavras, traz
seu significado e algumas informações gramaticais.
Para consultar o dicionário, o principal é conhecer bem o alfabeto.
Para treinar um pouco, complete as seqüências abaixo com as letras que estão
faltando:
F,
L,
N,
,
,
,
,
,
,
,
,
,
,L
,Q
,S
S,
B,
A,
,
,
,
,
,
,
,
,
,
,Z
,G
,F
Escreva as palavras abaixo em ordem alfabética:
CAVALINHO, VAGALUME, ESTRELA, TERRA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
NOITE, BRINQUEDO, FADA, SONHO, CORAÇÃO
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Como as palavras acima não começam com a mesma letra, para pô-las em ordem
alfabética você precisou prestar atenção só à primeira letra de cada uma. No
entanto, é claro que muitas palavras começam com a mesma letra. Para pôr em
ordem palavras com a mesma letra inicial, é preciso observar as letras restantes.
Observe as palavras abaixo:
GOIABA, GIRAFA, GARRAFA, GRADE, GELÉIA
Todas começam com a mesma letra. Portanto, temos de ordená-las prestando
atenção nas segundas letras. Faça um círculo em torno da segunda letra de cada
palavra.
Experimente colocá-las agora em ordem alfabética.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ordene agora estas palavras guiando-se pela segunda letra:
BRINQUEDO, BARULHO, BOLINHO, BEIJU
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
CAFÉ, CHAVE, CLARA, CORRIDA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
TAMBÉM, TUIM, TORRE, TRAVE, TESOURA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
23
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
24
FICHA 0 VERSO
CONTO
Faça um círculo em volta da terceira letra de cada palavra:
FAÇANHA, FADIGA , FAÍSCA, FARAÓ, FATIGAR
Agora ponha-as em ordem, reparando na ordem alfabética da terceira letra.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Faça o mesmo para as seguintes listas de palavras:
PEREGRINO, PENETRAR, PESADO, PEQUENO, PELÚCIA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
RECUPERAR, RENDOSO, REFLEXO, RELÂMPAGO, RETRATO
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Dicas
Você já sabe que, para achar uma palavra no dicionário, não basta prestar atenção só na
primeira letra: é preciso olhar também para as outras. Agora veja mais uma dica.
Procure no dicionário a palavra CONVENCIDA. Encontrou? Não? Então, procure
CONVENCIDO. Encontrou, não é? Então, tente FAMOSO e FAMOSA. Qual das duas você
encontrou? Sabe por quê? Quando as palavras têm o mesmo sentido no masculino e no
feminino, o dicionário só registra o masculino.
Outra dica: procure no dicionário a palavra AFLITOS. Não encontrou, não é? Mas encontrou
AFLITO, não? O dicionário registra as palavras no singular.
Finalmente a última dica, por enquanto. Procure no dicionário as palavras: OLHOU, CAÍA,
FUJAM. Não achou nenhuma, não é?
Agora procure: OLHAR, CAIR e FUGIR. Entendeu? Isso mesmo: é que os dicionários não
trazem os verbos conjugados, mas apenas no infinitivo (o nome do verbo).
Com essas dicas, você já pode encontrar quase tudo no dicionário.
ORIENTAÇÕES
PARA O TRABALHO EM GRUPOS
Muitos trabalhos que você está fazendo nestas
oficinas são propostos para ser realizados em grupo.
Isso porque acreditamos que as pessoas aprendem
umas com as outras e que todas podem se
desenvolver muito mais, quando têm oportunidade
de confrontar suas idéias com as dos colegas.
Entretanto, isso só acontece se todos participarem
igualmente de todas as atividades e disserem o que
pensam realmente, se todos se esforçarem.
Quando há um trabalho para ser feito em grupo, de
nada adianta dividi-lo e distribuir um pedaço para
cada um, porque assim cada participante fica
somente com a visão da sua parte e perde a visão
do todo. Pior ainda é quando só um ou dois
trabalham (porque o grupo acha que são mais
inteligentes, ou mais estudiosos) e os outros ficam
olhando, sem coragem ou com preguiça de
participar. Além disso, não seria justo: os que não
participam deixam de aprender.
Mesmo não sabendo direito como é para fazer, é
preciso tentar. É assim que a gente aprende. As
atividades propostas podem ser realizadas por todos
os alunos, especialmente se uns ajudarem os
outros. Quando um colega não sabe, a gente deve
dar dicas, fazer junto, mas não fazer por ele.
Quando a gente faz pelo outro, a gente não ajuda,
atrapalha, impede o outro de aprender. Às vezes, há
colegas que acham que não sabem (porque nunca
tentaram), mas eles podem se surpreender e
descobrir que têm muito o que ensinar para o
grupo. Não deixe que o outro faça por você: exija
seu direito de participar.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 1
CONTO
NOME
Oficina 1 Histórias da tradição oral
DATA
O CAUSO DO MEU PAI
Henrique Duarte Macari
Numa daquelas noites de lua cheia aconteceu
um “causo” muito estranho com meu pai, mas
isso faz muitos anos e eu nem tinha nascido. Vou
contar tudo do jeito que me contaram.
Meu pai era solteiro, gostava muito de passear
no carro que tinha naquela época.
Ele conheceu Angélica num desses passeios.
Ia tomar suco numa lanchonete, perto do Horto
Florestal, e quando estava passando bem na entrada, reparou em uma moça que estava saindo
de lá, toda de branco, muito bonita. Ele até deu
uma paquerada nela, mas seguiu e parou na lanchonete para tomar um suco.
Estava quente, já passava das onze da noite,
mas para uma sexta-feira, a noite estava só começando.
De repente, ela chegou, linda, perfumada, sentou-se na mesa ao lado dele. Não teve jeito, ele
ficou olhando para ela. Como era bonita! Parecia
que tinha um brilho especial! Ela tomou água, se
levantou, saiu e ele logo foi atrás dela, pois queria
conhecê-la.
Angélica foi andando de volta para o Horto,
meu pai parou o carro perto dela e perguntou se
ela queria uma carona. Ela nem respondeu, mas
ele insistiu. Ela falou que não podia, mas ele foi
dizendo que uma moça tão linda não devia andar
sozinha àquela hora da noite e ela concordou. Ele
abriu a porta do carro e ela entrou. Ele sentiu aquele perfume de rosas invadindo o carro, ficou muito feliz ao vê-la ali, linda, conversando com ele.
Ela disse que se chamava Angélica, que tinha saído para dar uma volta por causa do calor, que adorava o Horto e que tinha ido passear lá.
Meu pai falou que era perigoso passear por ali
naquela hora e que a levaria para casa, mas ela
disse que não devia. Ele insistiu de novo, ela disse que morava perto dali, no Tremembé. Perguntou se ele conhecia o Cemitério do Tremembé,
pois ela morava ali pertinho, tinha se mudado para
lá há pouco tempo. Ele disse que conhecia o lugar e que a deixaria em casa. Ela falou que ele era
muito gentil e que merecia um beijo, então, os
dois se beijaram.
Ele ficou todo empolgado, mas ela avisou, era
só um beijo e ele respeitou a vontade dela. Já
estava na rua do cemitério, quando ela pediu pra
parar o carro, bem na frente do portão de entrada.
Ele estranhou, mas parou. Ela olhou para ele e disse:
– Carlos, você é uma pessoa especial e merece toda a sorte do mundo!
E disse que ia descer ali. Ele falou que a levaria para casa, mas ela disse que antes ia pagar
uma promessa ali mesmo no cemitério.
Ele pediu para ela não fazer isso, que era perigoso. Iria junto com ela, insistiu. Ela falou para
esperar então, só um minuto que ela já voltava.
Ele não precisava se preocupar, pois ela tinha que
fazer isso sozinha.
Quando a moça desceu do carro, ele sentiu
uma ventania repentina, tão forte que a porta do
carro bateu violentamente. Na porta do cemitério
ela acenou e gritou:
– Até breve!!!
Ele não entendeu direito, mas ficou esperando. Já era meia-noite. Esperou meia hora e nada,
quarenta minutos e nada. Começou a se preocupar, não agüentou e foi atrás dela.
25
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
26
O cemitério estava totalmente escuro. Ele ficou com medo, mas tinha que ir atrás daquela
gata e não podia demonstrar que estava apavorado.
Olhou para um lado e nada, para o outro e nada
também. Viu perto do muro, bem lá no fundo do
cemitério, uma luz. Resolveu ir até lá. Viu uma senhora muito distinta sentada ali perto e resolveu
perguntar:
– Senhora, me desculpe, por acaso não viu uma
moça de branco, bonita, perfumada, aparentando ter uns vinte anos?
A senhora respondeu:
– Amigo, estou tão triste, que nem prestei atenção.
– Desculpe senhora, não quis incomodá-la, vou
continuar procurando.
– Amigo, não incomodou, é que nestas horas
ficamos meio atrapalhados. Sabe, rapaz, minha
filha faleceu e estou aqui desde a manhã. Ela era
minha única filha.
E a senhora começou a chorar. Meu pai, emocionado com a situação, amparou a senhora e disse para ela:
– Não fique assim, sei que é triste, mas pense
desta forma: sua filha está melhor que todos nós,
deve estar sorrindo, agora, no paraíso.
A senhora agradeceu as palavras e segurando
FICHA 1 VERSO
CONTO
no braço do meu pai, pediu pra ele levá-la até a
sala onde estava o corpo de sua filha. Quando ele
entrou, ficou meio sem graça, pois não conhecia
as pessoas ali presentes e nem a garota, mas foi
gentil e levou a senhora até o caixão. Chegando
perto, olhou para dentro do caixão, arregalou os
olhos e começou a falar:
– É ela!!! É ela!!! Não pode ser!!! É ela!!!
Todos ficaram surpresos com a gritaria do meu
pai, e a senhora perguntou:
– Amigo, você conhecia minha filha Angélica?
Ele caiu duro, desmaiado, só acordou no outro dia.
Até hoje, quando ele se lembra disso, se arrepia. Ficou amigo da família, mas nem ele nem os
familiares dela sabem o que realmente aconteceu naquela noite quente de lua cheia.
(Causos de medo. São Paulo: EMEF Máximo de Moura
Santos, 1998)
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Um pouco de conversa
Você gostou dessa história? Com certeza, você já ouviu histórias desse tipo. Algumas
metem medo na gente, outras são engraçadas, outras, ainda, nos ensinam coisas sobre a
vida. Não há nada mais gostoso do que ficar horas e horas contando e ouvindo histórias,
não é?
Então, que tal aproveitar esse clima de sentar-se “em torno da fogueira” e ir ouvindo e
contando as histórias que vocês conhecem, de verdade ou inventadas?
Se vocês quiserem, podem fazer isso várias vezes. Podem também ir registrando as
histórias e formar um livro, uma coletânea de contos de tradição oral – que é como se
chamam essas histórias – e dar para os amigos, para a família, para a namorada ou
namorado. Foi isso que o Henrique e os amigos da classe dele fizeram. O livro se chamou
Causos de medo.
Bom divertimento!
Se você quiser saber a grafia correta de alguma palavra, procure no dicionário. Se quiser
imitar na escrita o modo como a pessoa falou, coloque-a entre aspas. Por exemplo
“adespois” em vez de “depois”.
Registre aqui o nome da sua história ou daquela de que você mais gostou.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 2
CONTO
NOME
Oficina 2 Programa de rádio
27
DATA
Depois de ler este conto, você e os colegas vão recontá-lo como se fosse
“radioteatro”.
NEGÓCIO DE MENINO COM MENINA
O menino, de uns dez anos, pés no chão, vinha andando pela estrada de terra da fazenda com
a gaiola na mão. Sol forte de uma hora da tarde. A
menina, de uns nove anos, ia de carro com o pai,
novo dono da fazenda. Gente de São Paulo. Ela
viu o passarinho na gaiola e pediu ao pai:
– Olha que lindo! Compra pra mim?
O homem parou o carro e chamou:
– Ô menino.
O menino voltou, chegou perto, carinha boa.
Parou do lado da janela da menina. O homem:
– Esse passarinho é pra vender?
– Não senhor.
O pai olhou para a filha com cara de deixa pra
lá. A filha pediu suave como se o pai tudo pudesse:
– Fala pra ele vender.
O pai, mais para atendê-la, apenas intermediário:
– Quanto você quer pelo passarinho?
– Não tou vendendo não senhor.
A menina ficou decepcionada e segredou:
– Ah, pai, compra.
A menina não considerava, ou não aprendera
ainda, que negócio só se faz quando existe um
vendedor e um comprador. No caso, faltava o vendedor. Mas o pai era um homem de negócios,
águia da Bolsa, acostumado a encorajar os mais
hesitantes ou a virar a cabeça dos mais recalcitrantes:
– Dou dez mil.
– Não senhor.
– Vinte mil.
– Vendo não.
O homem meteu a mão no bolso, tirou o dinheiro, mostrou três notas, irritado.
– Trinta mil.
– Não tou vendendo, não, senhor.
O homem resmungou “que menino chato” e
falou pra filha:
– Ele não quer vender. Paciência.
Ivan Ângelo
A filha, baixinho, indiferente às impossibilidades de transação:
– Mas eu queria. Olha que bonitinho.
O homem olhou a menina, a gaiola, a roupa
encardida do menino, com um rasgo na manga, o
rosto vermelho de sol.
– Deixa comigo.
Levantou-se, deu a volta, foi até lá. A menina
procurava intimidade com o passarinho, dedinho
nas gretas da gaiola. O homem, maneiro, estudando o adversário:
– Qual é o nome deste passarinho?
– Ainda não botei nome nele, não. Peguei ele
agora.
O homem, quase impaciente:
– Não perguntei se ele é batizado não, menino. É pintassilgo, é sabiá, é o quê?
– Aaaah. É bico-de-lacre.
A menina, pela primeira vez, falou com o menino:
– Ele vai crescer?
O menino parou os olhos pretos nos olhos
azuis.
– Cresce nada. Ele é assim mesmo, pequenininho.
O homem:
– E canta?
– Canta nada. Só faz chiar assim.
– Passarinho besta, hein?
– É. Não presta pra nada, é só bonito
– Você pegou ele dentro da fazenda?
– É. Aí no mato.
– Essa fazenda é minha. Tudo que tem nela é
meu.
O menino segurou com mais força a alça da
gaiola, ajudou com a outra mão nas grades. O
homem achou que estava na hora e falou já botando a mão na gaiola, dinheiro na outra mão.
– Dou quarenta mil, pronto. Toma aqui.
– Não senhor, muito obrigado.
O homem, meio mandão:
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
28
– Vende isso logo, menino. Não tá vendo que
é pra menina?
– Não, não tou vendendo não.
– Cinqüenta mil! Toma! – e puxou a gaiola.
Com cinqüenta mil se comprava um saco de
feijão, ou dois pares de sapatos, ou uma bicicleta velha.
O menino resistiu, segurando a gaiola, voz trêmula.
– Quero não senhor. Tou vendendo não.
– Não vende por quê, hein? Por quê?
O menino acuado, tentando explicar:
FICHA 2 VERSO
CONTO
– É que eu demorei a manhã todinha pra pegar ele e tou com fome e com sede, e queria ter
ele mais um pouquinho. Mostrar pra mamãe.
O homem voltou para o carro, nervoso. Bateu
a porta, culpando a filha pelo aborrecimento.
– Viu no que dá mexer com essa gente? É tudo
ignorante, filha. Vam’bora.
O menino chegou pertinho da menina e falou
baixo, para só ela ouvir:
– Amanhã eu dou ele para você.
Ela sorriu e compreendeu.
(O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática,
1997)
Um pouco de conversa
O texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro, tente
entender o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer.
Depois, procure no dicionário e veja se você acertou.
Vamos fazer um programa de rádio?
Junto com três colegas, ensaie a leitura do conto: um de vocês será o pai; outro, o menino
e outro, ainda, será a menina. O quarto elemento do grupo será o sonoplasta. Sonoplasta é
quem providencia os sons que dão mais vida à cena e substituem as falas do narrador. Por
exemplo, o som da brecada do carro, quando o pai da menina pára, em vez de dizer “O pai
parou o carro e chamou”. Provavelmente, vocês precisarão inventar algumas falas para
evitar ficar narrando a história, mas, onde não for possível, o sonoplasta pode fazer a voz
do narrador. Porém, o mais importante é que vocês sejam bastante expressivos, para
poder passar aos ouvintes os sentimentos dos personagens.
Quando o “radioteatro” estiver bem ensaiado, vocês podem criar propagandas, com jingles
(as músicas que acompanham as propagandas), alguns anúncios engraçados, para
apresentar no início ou no intervalo do programa.
Se vocês tiverem um gravador, gravem a história dramatizada – enfeitando com sons de
pássaros, do vento –, as propagandas, músicas e anúncios e apresentem para os demais
colegas. Finalmente, para dar mais realce, façam um rádio antigo, com uma caixa de
papelão, parecido com este da ilustração, e coloquem o gravador dentro dele.
Caso não seja possível conseguir o gravador, façam a apresentação atrás de um pano
esticado (pode ser um lençol ou uma cortina).
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 3
CONTO
NOME
Oficina 3 Criar o final da história
29
DATA
Esta história está incompleta. O final é com você!
QUE RUA É ESSA?
Minhas histórias são todas verídicas, mas esta
eu confesso que me cheira a piada. Quem me
contou disse ter participado e é pessoa absolutamente digna de crédito. Trata-se de um casal em
viagem de recreio a Paris.
Um certo amigo deles também estava conhecendo a capital francesa. A diferença é que ele
não conhecia uma única palavra em francês. Assim, chegou, foi para o hotel e, para não perder
tempo, resolveu dar uma voltinha de reconhecimento. Quando já estava na esquina, lembrou-se
de tomar nota do nome da rua para poder voltar
com segurança. Parou diante da primeira tabuleta da Prefeitura e copiou, cuidadosamente, letra
por letra, o que constava da placa.
Andou, respirou fundo o ar parisiense, admirou as vitrinas, observou os transeuntes e, satisfeito com essa primeira incursão, resolveu voltar
para o hotel. Como ele próprio previra, tinha per-
Um pouco de conversa
Yone Quartim
dido o rumo. Abordou, então, o primeiro francês
com quem cruzou na rua e, como não tinha capacidade para articular um só vocábulo no idioma
local, sorrindo, apresentou ao cavalheiro o papelzinho onde estava a cópia da placa indicadora. O
francês leu, riu, deu-lhe um tapinha no ombro e
foi em frente. Surpreso, o brasileiro partiu para
outro pedestre. Após ler, o sujeito deu uma boa
risada, devolveu-lhe o papel e seguiu seu caminho. Já intrigado com essa atitude, ele apresentou o papel a uma terceira pessoa. Em lugar do
esperado gesto característico de apontar a direção, dizer alguma coisa, o fulano também continuou sua caminhada rindo gostosamente. Foi
quando apareceu o tal casal patrício. Enraivecido
com a falta de colaboração do povo francês, o
turista contou a história aos amigos e mostrou o
papelzinho.
(…)
ca que
0 sinal (...) indi
i saltado.
(Cócco e Hailer, 1994, p.85)
um trecho fo
Nós omitimos o final da história de propósito e queremos desafiar você a criar um final
surpreendente para ela. Mas lembre-se, o final deve ser coerente com o restante da
história, isto é: deve contar como o casal de brasileiros reagiu e o que o turista disse ou fez
em seguida, bem como explicar a reação dos franceses.
Se você não tem certeza da grafia correta de alguma palavra, procure no dicionário.
Consulte a ficha com orientações para o uso do dicionário. Leia ou conte para os colegas
seu final e registre-o abaixo. Peça para o professor ou a professora ler o final relatado pela
autora.
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Na turma, montem um mural contendo a história e os diferentes finais criados por
vocês. O mural pode ficar na sala ou no corredor. E escolham a versão mais
interessante para compor a coletânea de contos da turma.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
30
FICHA 4
CONTO
NOME
Oficina 4 Criar o meio da história
DATA
E, nesta história, o que está faltando é o meio.
CÃO! CÃO! CÃO!
Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não
via. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse
acompanhado de um cão. Cão não muito grande
mas bastante forte, de raça indefinida, saltitante
e com um ar alegremente agressivo. Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efusão.
“Quanto tempo!” O cão aproveitou as saudações,
se embarafustou casa adentro e logo (...).
(…)
ca que
0 sinal (...) indi
i saltado.
um trecho fo
Millôr Fernandes
Os dois amigos, tensos, agora preferiam não
tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se despediu, efusivo como chegara,
e se foi. Se foi. Mas ainda ia indo, quando o dono
da casa perguntou: “Não vai levar o seu cão?”
“Cão? Cão? Cão? Ah, não. Não é meu, não. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e
eu pensei que fosse seu. Não é seu, não?”
(Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980)
Um pouco de conversa
O texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro tente
entender o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer.
Depois, procure no dicionário e veja se você acertou.
Nós cortamos o meio dessa história: – O que será que o cão aprontou para provocar
tanto constrangimento entre os dois amigos? Isso nós deixamos para você inventar.
Escreva essa parte do conto, procurando acompanhar o estilo leve do autor. Narre as
aventuras do cão pelo interior da casa e, ao mesmo tempo, a conversa dos dois amigos.
Você pode contar o que os amigos pensavam, o que o cachorro fazia em outro lugar, o
que a expressão dos rostos mostrava. Mas atenção para não estragar o final da história.
Observe também que as falas dos personagens estão indicadas por aspas, e não
marcadas por parágrafo e travessão.
Escreva aqui seu “meio” da história.
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Depois de pronto, troque com um/a colega, para que vocês possam comentar e
sugerir alterações para aprimorar seus textos. Faça as correções necessárias,
passe a limpo, para que ele possa fazer parte da coletânea da turma, e leia para os
demais colegas.
Finalmente, ouça a leitura que o/a professor/a vai fazer do texto completo do Millôr.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
NOME
FICHA 5
CONTO
Oficina 5 O diálogo na história
DATA
Esta história é para você se divertir (e reparar como o autor indica o diálogo entre
os personagens).
PNEU FURADO
O carro estava encostado no meio-fio, com um
pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito
bonitinha. Tão bonitinha que atrás parou outro
carro e dele desceu um homem dizendo “Pode
deixar”. Ele trocaria o pneu.
– Você tem macaco? – perguntou o homem.
– Não – respondeu a moça.
– Tudo bem, eu tenho – disse o homem. – Você
tem estepe?
– Não – disse a moça.
– Vamos usar o meu – disse o homem.
Luís Fernando Veríssimo
E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o
olhar da moça. Terminou no momento em que
chegava o ônibus que a moça estava esperando.
Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o
ônibus se afastar. Dali a pouco chegou o dono do
carro.
– Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito
obrigado.
– É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.
– Coisa estranha.
– É uma compulsão. Sei lá.
(Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990)
Um pouco de conversa
Gostou da historinha? É quase uma piada, não é? Você já esteve numa situação assim, em
que a gente dá um fora e fica tão sem-graça e se sente tão ridículo que diz a primeira coisa
que vem na cabeça para escapar da vergonha?
Converse com os colegas sobre isso. Todo mundo já passou, pelo menos uma vez na vida,
por uma situação constrangedora como essa e é muito gostoso rir da gente mesmo.
O professor vai propor uma atividade para você aprender a usar a pontuação adequada
para o diálogo.
Agora, crie uma pequena história provocada por uma situação de engano, como a
que aconteceu com o motorista dessa história (pode ser um fato que tenha
acontecido com você ou com algum conhecido) e conte para os colegas.
Em seguida, escreva a história, como se o fato tivesse acontecido com você
(narrador em primeira pessoa) e use a pontuação correta.
Para evitar a repetição de palavras, procure sinônimos no dicionário. Consulte a
ficha com orientações para o uso do dicionário.
Escreva aqui o título da sua história. E não se esqueça de guardá-la no portfólio junto
com esta ficha.
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31
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
32
NOME
Oficina 6
O cenário
FICHA 6
CONTO
DATA
A proposta desta
oficina é vocês
escreverem um
conto a partir de um
cenário. Por isso,
apresentamos essa
reprodução do
quadro de um pintor
famoso, para servir
de inspiração.
Observe bem e tente
se imaginar nele.
Embora você não
seja visto, será que
você não está atrás
dos arbustos?
Um pouco de conversa
Claude Monet, Mulheres no Jardim – detalhe. 1866. Museu de Louvre, França
Numa narrativa, o cenário (ou espaço) é o lugar onde se passa a ação. Ele se liga aos fatos
e aos personagens podendo influenciar seus sentimentos e atitudes. A descrição do
cenário em geral vem entremeada no enredo, bem detalhada ou diluída.
Imagine que você está nesse lugar. Que lugar é esse? Descreva-o bem (lembre-se de que
as pessoas que lerem o seu texto só vão poder conhecê-lo a partir da sua descrição).
Quem é você? O que você está fazendo? Como você foi parar aí? Que época é esta? Há
outros personagens? Quem são? O que está acontecendo? Por quê? O que vai acontecer
em seguida? E depois? Como as coisas vão se resolver? Como tudo termina?
Quando terminar de escrever, troque o texto com um colega, para que ele possa sugerir
maneiras de você aperfeiçoá-lo (uma outra pessoa sempre percebe coisas que nós não
vemos). Arrume o texto e, antes de passá-lo a limpo, peça para o professor(a) fazer a
última revisão. Ele precisa estar bem caprichado para a publicação.
Faça uma cópia dele para guardar em seu portfólio, indicando a data e o nome da
atividade.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 7
CONTO
NOME
DATA
Oficina 7 Criação de cena movimentada
Esta história conta a paixão do brasileiro pelo futebol vivida em frente de uma loja
de eletrodomésticos durante uma partida da Copa do Mundo.
NO PAÍS DO FUTEBOL
Carlos Eduardo Novaes
Juvenal Ouriço aproximou-se de um vendedor
parado à porta de uma loja de eletrodomésticos e
perguntou:
– Qual desses oito televisores os senhores vão
ligar na hora do jogo?
– Qualquer um – disse o vendedor desinteressado.
– Qualquer um não. Eu cheguei com duas horas de antecedência e mereço uma certa consideração.
– Pra que o senhor quer saber?
– Para já ir tomando posição diante dele.
O vendedor apontou para um aparelho. Juvenal observou os ângulos, pegou a almofada que o
acompanha no Maracanã e sentou-se no meio da
calçada.
– Ei, ei. Psssiu – chamou-o um mendigo recostado na parede da loja – como é que é, meu
irmão?
– Que foi? – perguntou Juvenal.
– Quer me botar na miséria? Esse ponto é meu.
– Eu não vou pedir esmola.
– Então senta aqui ao meu lado.
– Aí não vai dar para eu ver o jogo.
– Na hora do jogo nós vamos lá pra casa.
– Você tem TV a cores?
– Claro. Você acha que eu fico me matando
aqui para quê?
Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na
loja onde tinha marcado encontro com uns amigos que não via desde o final da copa de 78. O
mendigo entendeu. E como gostou de Juvenal lhe
deu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
– Não, não. Na cabeça, não.
– Por que não?
– Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
Aos poucos o público foi aumentando, operários, vendedores, contínuos, vagabundos e às 15h
45m já não havia mais lugar diante das lojas de
eletrodomésticos. Os retardatários corriam de
uma para outra à procura de uma brecha. Alguns
ficavam pulando atrás da multidão tentando enxergar a tela do aparelho:
– Quer que eu lhe ajude? – perguntou um cidadão já meio irritado com um contínuo pulando
rente às suas costas.
– Quero.
– Então me diz onde é o seu controle da vertical.
– Controle da vertical para quê?
– Pra ver se você pára de pular aqui nas minhas costas.
33
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
34
As lojas concentravam multidões. As calçadas da cidade, que já são poucas, desapareciam
completamente. Em jogos da Seleção Brasileira,
durante a semana, cresce bastante o número de
atropelamentos porque o pedestre é obrigado a
circular pelas ruas. Além disso, os motoristas ficam muito mais ligados no rádio do que no trânsito.
Na porta da loja onde estava Juvenal havia
umas 200 pessoas do lado de fora e somente
uma do lado de dentro: o gerente. Até os vendedores da loja já tinham se bandeado, afirmando
que assistir um jogo atrás da televisão não é a
mesma coisa que vê-lo atrás do gol. Quando a bola
saía entravam os comentários dos torcedores.
No início do segundo tempo um cidadão que
não se interessava por futebol (um dos 18 que a
cidade abriga) foi pedindo licença à galera e com
muita dificuldade conseguiu entrar na loja. O gerente foi ao seu encontro: “O senhor deseja algo?”
– Um aparelho de televisão.
– Por que o senhor não leva aquele?
– Qual?
– Aquele que está ligado ali na porta.
– É bom? O senhor ainda pergunta? Acha que
FICHA 7 VERSO
CONTO
haveria 200 pessoas diante dele se não tivesse
uma boa imagem?
– Bem...
– E não é só isso – completou o gerente aproveitando a euforia do público com um gol do Brasil – que outro aparelho transmite emoções tão
fortes?
– Essa gritaria toda foi diante do aparelho?
– Lógico. Esse é o novo televisor AP-007 dotado de controle de emoção. Só este televisor pode
levá-lo do choro convulsivo à completa euforia.
– É mesmo? E se eu desejar vê-lo sentado
quietinho na poltrona?
– Também pode, mas é aconselhável desligar
o botão emoção, senão o senhor não vai conseguir ficar quietinho na poltrona.
O cidadão convenceu-se. Disse que ia levá-lo.
O gerente, precavido, pediu-lhe para ir à porta da
loja apanhá-lo. O cidadão não teve dúvidas. Ignorando aquela massa toda diante do seu aparelho,
foi lá tranqüilamente e cleck. Desligou-o.
O que aconteceu depois eu deixo por conta
da imaginação de vocês.
(Juvenal Ouriço repórter. Rio de Janeiro: Nórdica, 1977)
Um pouco de conversa
Este conto é praticamente todo em diálogos e usa o sinal de pontuação que você já deve
conhecer (travessão). Na história, tudo vai acontecendo no ritmo de uma partida de
futebol, num crescendo. Nem o final dá conta de tudo, pois o próprio narrador sugere e
avisa que muitas coisas devem ter acontecido depois.
Aceite o desafio do narrador e use a sua imaginação para dar continuidade à história.
Escreva sobre a atitude da “galera” que assistia envolvida ao jogo e viu o televisor ser
desligado. Houve confusão? O funcionário vendeu ou não vendeu o aparelho? E o que
aconteceu com o comprador?
Se possível, conte tudo isso também num clima emocionante de final de copa de mundo,
tudo bem rápido, os fatos contados aceleradamente, uma situação puxando a outra, como
se fosse a irradiação de um final de partida. Não se esqueça de pontuar adequadamente
os diálogos: utilize o travessão para marcar a fala dos personagens.
Registre aqui seu final para a história. Se precisar de mais espaço, escreva em uma
folha e guarde-a junto com esta ficha em seu portfólio.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 8
CONTO
NOME
Oficina 8 Criação de personagem
35
DATA
Neste conto, você vai perceber a importância de criar bem um personagem.
UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA
Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato
e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo
valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de
menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo
não quis nem sequer o que todos ali queriam:
mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto
de coração o deperecimento visível de sua Itaoca.
– Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve
seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se
muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha
Itaoca está se acabando...
João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum
fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto
ou arranjo possível.
– É isso, deliberou lá de dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale
mais nada de nada, então arrumo a trouxa e botome fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a no-
Monteiro Lobato
meação de João Teodoro para delegado. Nosso
homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era
nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não
se julgava capaz de nada...
Ser delegado numa cidadinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o
homem que prende os outros, que solta, que
manda dar sovas, que vai à capital falar com o
governo. Uma coisa colossal ser delegado – e
estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...
João Teodoro caiu em meditação profunda.
Passou a noite em claro, pensando e arrumando
as malas. Pela madrugada botou-as num burro,
montou no seu cavalinho magro e partiu...
Antes de deixar a cidade foi visto por um amigo madrugador.
– Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo,
assim de armas e bagagens?
– Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
– Mas, como? Agora que você está delegado?
– Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu.
(Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1965.)
Um pouco de conversa
O texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro tente entender
o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer. Depois,
procure no dicionário e veja se você acertou.
Por que você acha que a cidade de Itaoca estava se acabando? O que provocava a ida das
pessoas para outro lugar? Observe a descrição que o autor faz de João Teodoro, logo no
primeiro parágrafo. Você acha que essas características têm importância para a história?
O personagem agiu de acordo com suas características? Por quê? Você concorda com a
atitude dele? O que você faria no lugar de João Teodoro?
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
36
Criar um personagem
O sucesso de uma narrativa depende, em
grande parte, da construção dos
personagens. Há personagens muito
simples, chamados “tipos”, que
apresentam muito poucas características,
por exemplo o mocinho bom e justo ou o
bandido mau e corrupto. Esses
personagens aparecem nas histórias
infantis e nas de massa (novelas de
televisão, algumas histórias em
quadrinhos), porque não exigem nenhum
esforço intelectual para ser
compreendidos, isto é, são bastante
previsíveis, é fácil adivinhar como eles vão
agir em cada situação. Por outro lado, há
personagens mais complexos, misteriosos
e imprevisíveis, mais ricos: são bandidos e
FICHA 8 VERSO
CONTO
mocinhos ao mesmo tempo, são heróis e
covardes, são capazes do bem e do mal, da
justiça e da injustiça, resumindo, parecemse mais com pessoas reais.
Há duas maneiras de caracterizar um
personagem, seja ele linear ou complexo:
uma é pela qualificação, outra pelas ações.
No primeiro caso, o personagem é descrito
pelo narrador ou por outros personagens:
características físicas, psicológicas, sociais.
No segundo caso, o personagem vai-se
definindo pelo que faz, isto é, por suas
ações o leitor vai percebendo como ele é.
Entretanto, essas duas possibilidades se
completam, pois os autores recorrem tanto
à qualificação quanto à ação para mostrar o
personagem.
Crie um personagem interessante e monte uma ficha com suas características.
Para ficar bem completa, siga o roteiro abaixo e acrescente outros itens se quiser.
Características físicas: nome e apelido (se tiver); idade e aparência: olhos, cabelos e
pele, boca, nariz, pernas etc.; condições de saúde.
Características psicológicas: qualidades, habilidades, defeitos, dificuldades; o que
gosta, adora, detesta em relação a comidas, divertimentos, estudo, trabalho,
esportes, religião, política, roupas; o que deseja, de que tem medo; o que faz questão
de mostrar, o que faz questão de esconder; hábitos, manias.
Características sociais: família: como são e o que fazem seus integrantes, estado civil
(solteiro, casado etc.); condições econômicas: vantagens e dificuldades; moradia:
localização, como é a casa, como é a vizinhança; relações afetivas: namoros, quem
são seus amigos e inimigos, como são; trabalho e/ou estudo: o que faz, onde; lazer:
como ocupa seu tempo livre, se diverte, lugares que freqüenta; acontecimentos que
marcaram sua vida.
Depois de elaborada a ficha, apresente o
personagem criado por você para os
colegas. Em seguida, escolha um dos
personagens criados por outra pessoa
para se corresponder com o que você
criou. A partir dessa troca de
correspondência – pode ser um simples
bilhete –, eles (os dois personagens)
devem marcar um encontro.
Agora, em dupla, imaginem como foi esse
encontro: onde se encontraram, como se
sentiram, sobre o que conversaram, se vão
se encontrar novamente ou não, se houve
algum mal-entendido inicial, se viveram
juntos alguma aventura…
Narrem esse encontro, sem se esquecer
de, ao longo da narrativa, ir dando pistas ao
leitor de como são os personagens. Não é
preciso dar todas as características, só as
que forem essenciais para justificar o jeito
como eles agem. Ao ler a narrativa para os
demais colegas, estes poderão dar
sugestões para aperfeiçoá-la, tornando-a
mais interessante.
Depois de revisada, a história da dupla
pode ser publicada no jornal mural da
Unidade ou guardada para a coletânea de
contos. Não se esqueça de juntar uma
cópia dela a esta ficha, para fazer parte de
seu portfólio.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
NOME
FICHA 9
CONTO
Oficina 9 Ponto de vista
DATA
GAETANINHO
Antônio de Alcântara Machado
– Xi, Gaetaninho, como é bom!
Gaetaninho ficou banzando bem no meio da
rua. O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford.
O carroceiro disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão.
– Eh! Gaetaninho! Vem pra dentro.
Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, e viu a mãe e viu
o chinelo.
– Súbito!
Foi-se chegando devagarinho, devagarinho.
Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da
mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita.
Mas deu meia-volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro.
– Eta salame de mestre!
Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava
de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em
dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por
isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.
O Beppino por exemplo. O Beppino naquela
tarde atravessara de carro a cidade. Mas como?
Atrás da Tia Peronetta que se mudava para o Araçá. Assim também não era vantagem.
Mas se era o único meio? Paciência.
Gaetaninho enfiou a cabeça embaixo do travesseiro.
Que beleza, rapaz! Na frente quatro cavalos
pretos empenachados levavam a Tia Filomena
para o cemitério. Depois o padre. Depois o Savério cocheiro. Com a roupa marinheira e o gorro
branco onde se lia: ENCOURAÇADO SÃO PAULO. Não. Ficava mais bonito de roupa marinheira
mas com a palhetinha nova que o irmão lhe trouxera da fábrica. E ligas pretas segurando as meias. Que beleza, rapaz! Dentro do carro do pai, os
dois irmãos mais velhos (um de gravata vermelha, outro de gravata verde) e o padrinho Seu Salomone. Muita gente nas calçadas, nas portas e
nas janelas dos palacetes, vendo o enterro. Sobretudo admirando o Gaetaninho.
Mas Gaetaninho ainda não estava satisfeito.
Queria ir carregando o chicote. O desgraçado do
cocheiro não queria deixar. Nem por um instantinho só.
Gaetaninho ia berrar mas a Tia Filomena com
a mania de cantar o “Ahi, Mari!” todas as manhãs
o acordou.
Primeiro ficou desapontado. Depois quase
chorou de ódio.
Tia Filomena teve um ataque de nervos quando soube do sonho de Gaetaninho. Tão forte que
ele sentiu remorsos. E para sossego da família,
alarmada com o agouro, tratou logo de substituir
a tia por outra pessoa numa nova versão de seu
sonho. Matutou, matutou, e escolheu o acendedor da Companhia de Gás, Seu Rubino, que uma
vez lhe deu um cocre danado de doído.
Os irmãos (esses) quando souberam da história resolveram arriscar de sociedade quinhentão
no elefante. Deu vaca. E eles ficaram loucos de
raiva por não haverem logo adivinhado que não
podia deixar de dar a vaca mesmo.
O jogo na calçada parecia de vida ou morte.
Muito embora Gaetaninho não estava ligando.
Você conhecia o pai do Afonso, Beppino? Meu
pai deu uma vez na cara dele.
Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou!
O Vicente protestou indignado:
– Assim não jogo mais! O Gaetaninho está atrapalhando!
Gaetaninho voltou para o seu posto de guardião. Tão cheio de responsabilidades.
O Nino veio correndo com a bolinha de meia.
Chegou bem perto. Com o tronco arqueado, as
pernas dobradas, os braços estendidos, as mãos
abertas, Gaetaninho ficou pronto para a defesa.
– Passa pro Beppino!
Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola.
Com todo o muque. Ela cobriu o guardião sardento e foi parar no meio da rua.
– Vá dar tiro no inferno!
– Cala a boca, palestrino!
– Traga a bola!
Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar
a bola um bonde o pegou. Pegou e matou.
No bonde vinha o pai do Gaetaninho.
37
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
38
A gurizada assustada espalhou a notícia na
noite.
– Sabe o Gaetaninho?
– Que é que tem?
– Amassou o bonde.
A vizinhança limpou com benzina suas roupas
domingueiras.
Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um
enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na
FICHA 9 VERSO
CONTO
boléia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado
com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha.
Quem na boléia de um dos carros do cortejo
mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a
vista da gente era o Beppino.
(Brás, Bexiga e Barrafunda: notícias de São Paulo. São
Paulo: Nova Alexandria, 1995.)
Um pouco de conversa
Este conto, tão triste e tão expressivo, é famoso pela narrativa cinematográfica. Isto é,
ele apresenta os fatos como se fossem cenas de cinema. Veja como ele se organiza:
ENREDO – São seis cenas (ou blocos) curtas. O narrador passa rapidamente de uma para
outra, como num filme: 1a cena – mostra Gaetaninho distraído, quase sendo atropelado
por um carro e a bronca da mãe; 2a cena – A inveja que ele sente de Beppino por este ter
andado de carro no enterro da tia; 3a cena – o sonho com a morte e o enterro de tia
Filomena; 4a cena – a reação da tia quando soube do sonho e o jogo do bicho feito pelos
irmãos; 5a cena – o jogo de futebol e o atropelamento de Gaetaninho; 6a cena – o enterro
de Gaetaninho, com Beppino, de novo, andando na boléia do carro.
TEMPO – Época: início do século XX (1920 ou 1930), como atestam o bonde, o carro
fúnebre puxado por cavalos, os palacetes, o acendedor da companhia de gás, a roupa de
Gaetaninho. Duração: do início do conto (apresentação do personagem e sua distração)
até seu enterro passam-se três dias.
PERSONAGENS: caracterizados principalmente pelas ações (quase não há adjetivos: há
referência apenas a Gaetaninho “feio de sardento”). Protagonista (personagem principal):
Gaetaninho. Bom de bola, ágil, esperto (dribla a mãe que quer castigá-lo), mas distraído (o
segundo parágrafo já antecipa essa característica, que resultaria em sua morte).
Socialmente é pobre: seu sonho era andar de carro, mas a “ralé” só andava de carro em
dia de enterro ou casamento. Secundário: Beppino. Bom jogador, trágico e
involuntariamente vitorioso — é ele quem vai na boléia de um dos carros do cortejo
fúnebre de Gaetaninho, exibindo um vistoso terno vermelho.
ESPAÇO – A história se passa em São Paulo, na rua Oriente, bairro do Brás, reduto de
imigrantes italianos no início do século.
NARRADOR – Em terceira pessoa, isto é, o narrador não participa da história, é como se
ele visse os fatos acontecerem a distância. O estilo é rápido: ao mesmo tempo que focaliza
a tragédia do menino, em pinceladas ágeis, dá um panorama da vida e dos hábitos dos
imigrantes italianos pobres: o jogo de bola de meia, as roupas domingueiras limpas com
benzina, o jogo de bicho, o luxo dos enterros. Há também a irreverência do autor: ao citar
o caso do jogo do bicho – “não podia deixar de dar a vaca mesmo” – e a referência à
morte, “amassou um bonde”.
Uma proposta
Converse com os colegas sobre a história. Depois, formem trios e imaginem esses fatos sendo
contados, não por um narrador distanciado, mas por uma pessoa que tenha participado deles,
por exemplo, pelo Beppino ou pelo próprio Gaetaninho, ao chegar no céu (quem sabe?). Agora,
reescrevam a história desse novo ponto de vista e caprichem na descrição dos sentimentos
(raiva, alegria, tristeza).
Troquem o texto com outro grupo, para que possam fazer sugestões que tornem a história
melhor. Depois revisem o texto e passem-no a limpo, para fazer parte do acervo da oficina.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 10
CONTO
NOME
DATA
Oficina 10
Seleção de fatos e expansão de idéias
Há pessoas que, ao contar um fato, acrescentam tantos detalhes desnecessários que acabam
por nos cansar; outras resumem tanto que transformam o episódio mais interessante num relato
totalmente sem graça. Entretanto, há escritores que, ao narrar um acontecimento, por mais
banal que seja, cativam os ouvintes, levando-os a participar dos acontecimentos. Uma boa
história deve apresentar todas as informações que possam contribuir para o sentido do texto,
para lhe dar vida – descartando, porém, os fatos irrelevantes.
Os trechos abaixo relatam o mesmo fato. Compare os dois.
TRECHO 1
Dick Peter chegou à casa de Mary, mas ela demorou para descer. Ele ouviu um grito e subiu para
ver o que era, arrombou a porta do quarto e encontrou Mary desmaiada.
TRECHO 2
Jerônimo Monteiro
Dick Peter chegou à casa de Mary às oito horas
da noite (...) e foi introduzido no luxuoso salão de
visitas.
Seus olhos não se despregavam da escadaria de
mármore por onde Mary costumava descer com seu
gracioso passo e um luminoso sorriso nos lábios.
Passaram-se cinco minutos, mas Dick não estranhou
a demora... As mulheres, quando se trata de melhorar sua beleza, não têm muita pressa... De súbito,
um grande grito encheu a casa toda. Era um grito de
mulher, lancinante, terrível, que provocou no moço
um forte estremecimento e lhe deu a viva impressão
de que alguma desgraça acabava de acontecer.
Dick Peter era um homem de ação, e não demorou mais de dois segundos para entrar em atividade.
Aos pulos, galgou a escadaria de mármore e chegou
Um pouco de conversa
ao primeiro andar, onde eram situados os aposentos
de Mary.
Lá em cima estava tudo em silêncio, mas, de baixo, vinha o ruído do tropel dos criados que corriam
para ver o que teria acontecido na casa sempre tão
calma.
A porta do quarto de Mary estava fechada por
dentro, e Dick descarregou sobre ela forte pancada.
Ninguém respondeu. Nesse momento, os criados chegavam ao lado de Dick, falando todos ao
mesmo tempo, assustados, desorientados e cheios
de medo. […]
Dick não podia esperar. A sua impaciência era
grande demais. Fazendo recuar a criadagem, afastou-se alguns passos e atirou o corpo contra a porta.
Houve um forte estalido. Mas a porta ainda não cedera. Dick afastou-se novamente e atirou-se com a
maior força que possuía. Desta vez, a porta abriu-se
com violência, arrancando lascas do batente. Os criados iam precipitar-se para dentro, mas Dick fê-los
parar com um gesto, e entrou sozinho. Dentro do
quarto, Mary estava estendida no chão, pálida como
um cadáver e segurando ainda na mão crispada um
arminho de pó-de-arroz. Nada mais.
(trecho de O fantasma da Quinta Avenida, do livro Para
gostar de ler v.12. São Paulo: Ática, 1992, p.58-9)
Apesar de longo, sem dúvida o segundo relato é muito mais interessante, não é? Discuta com
os colegas e com o/a professor/a os acréscimos do autor e o que provocam no leitor.
Depois, tente transformar o relato abaixo numa narrativa interessante, descrevendo não só os
fatos, mas também os sentimentos dos personagens. Esta história está sem um final: é você
que vai inventá-lo.
Desde o início do ano, Anselmo, que é muito tímido, estava apaixonado por Celina, a menina mais
popular da escola. Finalmente, cria coragem e convida-a para sair. Para sua surpresa, ela aceita. No dia
do encontro, ele vai buscá-la em casa e o pai dela lhe abre a porta, pedindo que a espere na sala, onde
toda a família está reunida, assistindo à televisão. Ao entrar, Anselmo sente uma fortíssima dor-debarriga. Precisa ir ao banheiro com urgência, mas não tem coragem de pedir...
Ao terminar, releia o que escreveu e faça as alterações que achar necessárias. Troque com
colegas para que façam críticas e sugestões. Depois, reveja o texto e capriche: este poderá ser
um dos escolhidos para compor a coletânea de contos que vão organizar.
39
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
40
FICHA 11
CONTO
NOME
DATA
Oficina 11 Fábula
Nesta fábula as frases estão fora de ordem.
O LEÃO E O RATINHO
Esopo
Algum tempo depois, o leão ficou preso na rede
de uns caçadores.
Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão
prendeu debaixo da pata.
Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra boa de uma árvore.
Vieram os ratinhos passear em cima dele e ele
Um pouco de conversa
acordou.
Nisso apareceu o ratinho e, com seus dentes afiados, roeu as cordas e soltou o leão.
Não conseguia se soltar e fazia a floresta inteira
tremer com seus urros de raiva.
Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse embora.
Moral: Uma boa ação ganha outra!
(Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas,
1995)
Fábula é uma pequena narrativa que transmite um ensinamento, expresso em uma moral,
apresentada no final do texto. Seus personagens são quase sempre animais que falam. Em
geral, nas fábulas, os animais representam virtudes e defeitos dos seres humanos:
o leão representa a força; o cordeiro, a inocência; a raposa, a esperteza; o lobo, a tirania; a
lebre, a rapidez; a coruja, a sabedoria etc.
A fábula acima está com as frases fora de ordem. Conversem e discutam qual a ordem
correta para a história ter sentido.
Além disso, ela está muito resumida. Com um colega, escolha um ou dois trechos e tente
ampliar a história, enriquecendo-a com detalhes e novos fatos. Se acharem interessante,
vocês podem fazer isso com o texto inteiro – e, depois, comparar com os outros as
diferentes versões da fábula. Ofereça ajuda ao colega que não sabe e peça ajuda quando
não souber.
Não se esqueça de revisar o texto – com a ajuda do/a professor/a – e publicá-lo no mural ou
incluí-lo na coletânea de contos da turma. Guarde uma cópia no seu portfólio.
Oficina 12 Narrativa absurda
DISPARATE
O disparate é um jogo de inventar histórias.
Junta-se um grupo de pessoas, uma tira comprida de papel e um lápis. Cada pessoa tem de responder a uma pergunta (veja lista abaixo). Dependendo
do número de pessoas, podem ser feitas mais ou
menos perguntas.
Quem começa o jogo responde, por escrito, à
primeira – Quem era ele?, por exemplo. Depois, dobra a tira de papel e passa para o segundo, que responde e passa para o próximo, e assim por diante
até completar todas as perguntas.
Após cada resposta escrita, o papel deve ser
dobrado. Ninguém pode saber o que o outro escreveu. No fim, alguém desdobra a tira inteira e lê em
voz alta a história maluca que se formou.
Seqüência de perguntas para montar o jogo:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
Imagine que (Fulano/a) está num lugar.
Que lugar é esse? Descreva-o bem.
Em que época/quando?
Quem é (Fulano/a)? O que ele/a está fazendo?
Como foi parar aí?
Quem ele/a encontrou?
O que (Fulano/a) disse?
O que o/a outro/a respondeu?
O que eles fizeram?
Por quê?
O que aconteceu em seguida?
E depois?
Como as coisas se resolveram?
Como tudo terminou?
E como (Fulano/a) acabou ficando?
(adaptado de Ricardo Azevedo, Armazém do folclore. São
Paulo: Ática, 2000)
Agora, reúna os amigos e bom divertimento!
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 12
CONTO
NOME
Oficina 13 Contos maravilhosos
DATA
Você vai ler agora uma história de amor.
RAPUNZEL
Recontada por América dos A. C. Marinho
Era uma vez um lenhador que vivia muito feliz
com sua esposa, que estava esperando o primeiro filho do casal.
Ao lado da casa do lenhador morava uma bruxa. O quintal da vizinha tinha um pomar e uma
horta cheios de frutas, verduras e legumes de
aparência deliciosa. A mulher do lenhador passava horas olhando pela janela um canteiro de
rapôncios que cresciam na horta da bruxa, cheia
de vontade. Rapôncio é uma planta de folhas e
raízes comestíveis, da família dos rabanetes.
De tanto desejar os rapôncios, a mulher ficou
doente. Não conseguia comer nada que seu marido lhe preparava. Só pensava nos rapôncios...
O lenhador ficou tão preocupado que resolveu ir
buscá-los, mesmo correndo o risco de enfrentar
a ira da bruxa.
Esperou anoitecer, pulou a cerca do quintal e
pegou um punhado de rapôncios. Eles estavam
tão apetitosos que a mulher quis comer mais. O
homem teve de voltar para buscá-los várias noites, pois com eles sua mulher melhorava.
Uma noite, quando o lenhador colhia a saborosa planta, a bruxa surgiu ameaçadora diante
dele.
— Como ousa roubar meus melhores rapôncios? — perguntou ela com uma voz de arrepiar.
O homem gaguejando tentou se explicar:
— Ah, vizinha, desculpe, é que minha mulher
está doente e só consegue se alimentar de rapôncios! Eu não pedi à senhora, porque não queria incomodá-la.
— Ora, quanto atrevimento! Não queria me
incomodar e rouba meus rapôncios!! A bruxa não
quis ouvir mais nada e exigiu em pagamento a
criança que ia nascer.
O lenhador disse que ela estava louca e se
propôs a trabalhar dia e noite para pagar o prejuízo. Mas a bruxa fincou pé e ameaçou jogar um
feitiço que mataria a criança antes mesmo de
nascer. O futuro pai chorou, implorou, em vão.
A bruxa não cedia. Por fim, apavorado, acabou
concordando, para que o filho tão desejado pudesse viver.
Pouco tempo depois, nasceu uma linda menina. Como os dias iam passando e a bruxa não
aparecia, o lenhador e a mulher acharam que ela
talvez tivesse se esquecido da ameaça e ficaram
felizes, cuidando da criança com todo o carinho.
Mas, assim que a menina deixou de precisar
do leite materno, a bruxa veio buscá-la. Os pais
se jogaram a seus pés implorando que ela voltasse atrás, mas de nada adiantou. A malvada
levou a criança e deu-lhe o nome de Rapunzel,
que em alemão significa rapôncio.
Passaram-se os anos. Rapunzel cresceu e ficou muito linda; a bruxa penteava seus longos
cabelos em duas tranças e pensava: “Rapunzel
está cada vez mais bonita! Preciso tomar cuidado, pois, assim como a tirei dos pais, alguém
pode roubá-la de mim. Vou prendê-la numa torre
na floresta, sem porta e só com uma janela bem
alta, para ninguém alcançá-la, e usarei suas tranças como escada”.
E assim aconteceu. Rapunzel, presa na torre,
passava os dias trançando os cabelos e cantando com os passarinhos. Quando a bruxa ia visitá-la, chegava ao pé da torre e gritava:
— Rapunzel! Jogue-me suas tranças!
A menina jogava as tranças e a bruxa subia
por elas até o alto da torre.
Um dia, passou pela floresta um príncipe que
ouviu a moça cantarolando e ficou muito curioso
em saber de quem era aquela maviosa voz. Caminhou ao redor da torre e percebeu que não
havia entrada: a pessoa que cantava estava presa. De repente, ouviu alguém se aproximando e
instintivamente se escondeu, mas pôde ver e
ouvir a velha bruxa gritando sob a janela:
— Rapunzel! Jogue-me suas tranças!
E assim ele descobriu o segredo. Na noite seguinte, foi até a torre e imitou a voz da bruxa:
— Rapunzel! Jogue-me suas tranças!
Rapunzel obedeceu, mas levou um susto
enorme ao ver o príncipe entrar pela janela.
— Oh! Quem é você? — perguntou a moça.
O príncipe explicou como se apaixonara por
41
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
42
sua voz, dizendo ainda que ver aquele lindo rosto só fazia aumentar seu amor. A jovem logo se
apaixonou também pelo rapaz e começaram a
se encontrar todas as noites, escondidos da bruxa. Só pensavam em fugir de lá e se casar. Uma
noite Rapunzel teve uma idéia: tecer ela mesma
uma escada. Pediu ao príncipe para trazer-lhe
corda de seda, toda vez que viesse.
O príncipe assim fez e Rapunzel começou a
tecer a escada, escondida da bruxa. Como a torre era a alta, porém, a escada tinha de ser muito
comprida, e o trabalho da moça progredia lentamente. Certa vez, estando a bruxa na torre, Rapunzel, distraída, comentou que estava tendo
muita fome e engordando.
Foi assim que a megera descobriu que a
moça estava grávida e obrigou-a a confessar
seus encontros com o príncipe. Como castigo,
cortou-lhe as tranças e chamou seus corvos,
ordenando que levassem Rapunzel para o deserto.
FICHA 12 VERSO
CONTO
Naquela noite o príncipe, sem saber de nada,
foi visitar Rapunzel. A bruxa segurou as tranças
da menina e as jogou para baixo. Quando o rapaz estava quase alcançando a janela, ela largou
as tranças e ele despencou, caindo sobre uma
moita de espinhos. O príncipe não morreu, mas
os espinhos furaram seus olhos e ele ficou cego.
Tateando e gritando por Rapunzel, o jovem
andou por mais de um ano, até chegar ao deserto. Rapunzel, que tinha dado à luz um casal de
gêmeos, ouviu o príncipe chamar por ela e correu ao seu encontro.
Quando descobriu o que tinha acontecido a
seu amado, começou a chorar. Duas lágrimas caíram dentro dos olhos do rapaz e ele voltou a
enxergar! Assim, os dois jovens foram com os
gêmeos para o palácio do rei, casaram-se e viveram felizes para sempre.
Os pais de Rapunzel foram morar com eles e
a bruxa malvada ficou com tanta raiva que se trancou na torre e nunca mais saiu de lá.
Um pouco de conversa
Rapunzel é uma linda história de amor, não é? Aliás, como muitas outras, ela é chamada de
conto maravilhoso. Um estudioso desse tipo de narrativa (Wladimir Propp) disse que
normalmente elas seguem este esquema:
iniciam-se com a expressão “Era uma vez... “– para indicar que não se sabe bem
quando tudo aconteceu;
alguém comete um erro, uma falta;
o herói ou heroína:
se afasta do lar e vai viver numa floresta (às vezes, tem de atravessá-la, para
cumprir uma prova);
cai numa armadilha;
luta com o vilão ou é posto à prova – e aí há duas possibilidades:
- vence o vilão ou a prova;
- é derrotado pelo vilão ou pela prova, mas salvo por uma força extraordinária
(um protetor mágico ou um amor ou amigo);
regressa ao lar, casa-se e o vilão é punido.
Você acha que o conto se aproxima desse esquema? Discuta sobre isso com os
colegas – o professor vai orientar. Que outras histórias você conhece que se
parecem com esta?
Depois, tente imaginar uma história que siga esse mesmo roteiro, mas ambientada
nos dias de hoje (as novelas de televisão e muitos filmes fazem isso).
Escreva aqui o título da sua história.
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ISBN 85-85786-29-9
Autoria
Realização
SECRETARIA DE
ESTADO DA EDUCAÇÃO

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