Livro

Transcrição

Livro
O Toriba
na Cultura de Campos do Jordão
Celia Svevo
Sandra Nedopetalski
M E TA L I V R O S
O Toriba
na Cultura de Campos do Jordão
The Toriba in the Culture of Campos do Jordão
Das Hotel Toriba in der Kulturlandschaft von Campos do Jordão
O Toriba
na Cultura de Campos do Jordão
The Toriba in the Culture of Campos do Jordão
Das Hotel Toriba in der Kulturlandschaft von Campos do Jordão
CELIA SVEVO
SANDRA NEDOPETALSKI
M E TA L I V R O S
São Paulo, 2007
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Sumário
Contents
| Inhaltsverzeichnis
10
Apresentação
12
Um Pedaço do Paraíso
16
Campos do Jordão: história
32
Toriba: paz, alegria e felicidade
Nasce o Toriba
46
A montanha mágica: a beleza da
natureza na terra preservada
Toriba: o jardim
62
Diversão garantida
Um paraíso ao alcance das mãos
72
Cultura e turismo de mãos dadas
Arte em várias formas
76
Paredes com arte: os afrescos de
Fulvio Pennacchi
90
Acolhimento e bom serviço:
o segredo do sucesso do Toriba
114
Sabores irresistíveis
O suave pecado da gula
Receitas
122
Bibliografia
124
Agradecimentos
128
English version
145
Übersetzung in Deutsche
Apresentação
O
Toriba é um marco na história do turismo e na cultura de Campos do Jordão. Muitos foram aqueles
que conheceram os encantos deste magnífico hotel, que traz tamanhas lembranças a mais de três gerações de
pessoas que por ali passaram. Por muitos anos, voltam como hóspedes ou freqüentadores do espetacular parque
ajardinado e dos cobiçados restaurantes, ponto de encontro entre amigos de várias idades.
A presente obra oferece um trabalho singular, que colaborará no registro da memória de Campos do Jordão,
do Toriba e do que têm em comum. A pesquisa realizada por Celia Svevo e Sandra Nedopetalski faz emergir
uma série de detalhes e lembranças entre o círculo de pessoas que viveram a história do hotel e freqüentaram
Campos do Jordão.
Os Alpes suíços foram a grande fonte de inspiração para definir as particularidades e o estilo arquitetônico da
obra. O toque alpino do Toriba veio influenciar sobremaneira a arquitetura de Campos do Jordão, produzindo,
em combinação com o privilegiado clima e a farta natureza, a chamada Suíça Brasileira, em plena Serra da
Mantiqueira paulista.
Este livro é o resultado da dedicação de Elisa Villares Lenz Cesar, neta de Ernesto Diederichsen e filha de
Luiz Dumont Villares. Há anos, Elisa e filhos têm estado à frente da administração do Toriba, ao qual tratam
como um ente querido, tamanho carinho e abnegação à tarefa que vêm assumindo com imenso prazer. Elisa
é a mentora desta iniciativa, dividindo a edição com a Metalivros, em obra que agregará valor à construção da
história e da cultura de Campos de Jordão.
Agradecemos ao Ministério da Cultura, que abrigou o projeto na lei Federal de Incentivo à Cultura;
ao Bradesco, que patrocinou parte da publicação; a Edmundo Ferreira da Rocha, pelas precisas observações
sobre o texto e pela contribuição iconográfica; e especialmente a Elisa, cujo caráter e estilo de vida lembram
muito o significado do nome do hotel que ela administra: paz, alegria e felicidade. Agradecemos também ao
amigo Dario Ferreira Guarita Filho, que nos apresentou a Elisa, elo fundamental para esta realização.
Junho de 2007
Ronaldo Graça Couto
U m p e da ç o d o pa ra í s o
Um pedaço do paraíso
C
lima de serra e ar puro
fizeram da pequena Campos
do Jordão, desde o início da
urbanização — já no comecinho
do século XX —, um local
atraente por excelência, em
especial para aqueles que
buscavam tratamento de moléstias
pulmonares. Pouco a pouco, no
entanto, os encantos da natureza
foram se sobrepondo à missão
terapêutica da região, e o turismo
começou a ganhar corpo e
importância no desenvolvimento
da vila, que, em 1934, se desligou
da vizinha São Bento do Sapucaí,
adquirindo status de município.
Campos foi crescendo,
os primeiros hotéis surgindo,
os empregos aparecendo e a
que incluíam desde hábitos e
elegantemente despojado. Nas
população prosperando — no
costumes até uma linguagem
férias e feriados prolongados,
início graças à exploração
singular evidenciada pelo jeito de
Campos é, há décadas, destino
imobiliária. Na década seguinte,
morar, de vestir, de se alimentar,
de turistas vindos especialmente
já um tantinho transformada,
de se divertir.
de São Paulo, Rio de Janeiro e
acabou se revelando um recanto
Sem dúvida alguma, o grande
Minas Gerais, Estados cujas
extremamente prazeroso, com
contingente de imigrantes
fronteiras beiram a região da
feições próprias baseadas num
europeus que para lá se dirigiu
Serra da Mantiqueira (nome
conjunto de fatores culturais
ao longo da década de 1940 foi
que, em tupi-guarani, significa
determinante no desenvolvimento
“montanha que chora”).
da cidade, principalmente em
3 Campos do Jordão, 2007
2 Hotel Toriba, década de 1940
Hotel Toriba, 1940s | Hotel Toriba, 40er Jahre
A inauguração do Hotel Toriba,
relação à arquitetura e à culinária.
em 1943, ecoou no coração dos
E a paisagem, agora nos moldes
que amavam cavalgadas, longas
alpinos, acabou sendo um convite
caminhadas, banhos de cachoeira,
aos amantes da vida ao ar livre,
alpinismo, trilhas de bicicleta,
imprimindo no cotidiano da
piqueniques. Quando o sol se
cidade um estilo esportivo,
punha, os amplos e aconchegantes
13
14
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
salões aquecidos pelo fogo da
lareira testemunhavam festas e
jantares refinados sem ostentação.
Ao longo dos anos, eventos
artísticos como o Festival de
Inverno passaram a ocupar lugar
de destaque no calendário da
cidade junto a esportes radicais,
como percursos off-road, por
exemplo. O comércio se sofisticou,
aumentando muito a variedade e
a oferta de produtos. No centro
comercial, que hoje conta com um
amplo shopping center, lojas com
as mais famosas grifes do país
disputam espaço com a tradicional
malharia e os queijos, doces e
chocolates fabricados na região.
Novos hotéis, centros de lazer,
restaurantes e danceterias foram
inaugurados; e o perfil de Campos
começou a mudar. Apesar do
trânsito carregado nos fins de
semana e durante as temporadas,
a cidade mantém encantos
inigualáveis. Afastando-se um
pouquinho do centro, a beleza da
natureza impera com o canto dos
pássaros, o assobio do vento
tocando os galhos das árvores e o
murmúrio das águas correndo em
riachos límpidos e frescos. Aí o
tempo não deixou marcas.
1 Pedra do Baú vista do Hotel Toriba
Pedra do Baú seen from the Hotel Toriba | Pedra
do Baú, vom Hotel aus gesehen
Ag ra de c i m e n t o s
Agradecimentos
Ackknowledgements | Danksagung
P
ara contar a história do Toriba, fomos em busca de personagens que tinham lembranças e fatos a relatar. Falamos com
hóspedes, funcionários, amigos, parentes, vizinhos, enfim, aqueles que — de alguma forma — vivenciaram experiências no hotel
desde a inauguração até hoje. Os relatos preciosos nos ajudaram a compor um panorama de mais de seis décadas de bem servir,
prazer, curiosidades, de um estilo de viver e de se divertir. A essas pessoas, abaixo relacionadas, nosso muito obrigado!
In order to tell theToriba story we searched out individuals who carried memories and facts to relate. We spoke to guests, staff,
friends, family, neighbors, in short, all those who – in some way – have been enjoying the experience of being at the hotel from its
inauguration to this day. The precise reports aided us in putting together a picture of over six decades of good service, pleasure,
curiosities; of a way of living and having fun. To these people, listed below, our deepest thanks!
Als wir über die Geschichte des Toriba Recherchen durchführten, haben wir Kontakt mit Leuten aufgenommen, die uns über
ihre Erinnerungen und Ereignisse berichten konnten. Wir haben uns mit früheren Gästen, Mitarbeitern, Freunden, Verwandten,
Nachbarn, d.h., mit vielen Menschen unterhalten, die seit seiner Gründung bis heute im Hotel etwas erlebt haben. Aus diesen
wertvollen Erzählungen haben wir einen Überblick über mehr als 6 Jahrzehnte bekommen, in denen guter Service, Genuss,
Besonderheiten, ein Lebensstil und eine Art sich zu entspannen zum Ausdruck kamen. Ein besonderes Dankeschön geht an die
unten genannten Personen:
Alexandra Malzoni Silvarolli, Alexandre Gonçalves, Alicia Shores, Aníbal e Maria Helena Ribolla, Antonio da Costa, Antonio
Egberto e Lucila Peixoto Florido, Antonio Fernando Costella, Antonio Francisco da Costa, Antonio Moreira da Silva Filho,
Benedito Amorim (Sr. Tuta), Bernardo Ratto Diederichsen, Carlos Alberto e Gladys Moura Fanucchi de Oliveira, Carlos
Alberto e Vera Rossi, Carlos Ribeiro Vieira, Cláudio e Vanja László, Cláudio Pigatti, Cristina e Maria Marta van Langendonck
Teixeira de Freitas, Dália Maria Santos de Oliveira, Daniel Altúzar, Domingos e Ivani Barbosa da Rocha, Edmundo Ferreira da
Rocha, Edna Domiciano, Eduardo Brenner, Elaine Pellacani, Ellen Einstein Schweriner, Erika Bloch, Eugênio e Helga Doin
Vieira, Fernando Braz de Andrade, Fernando Diederichsen Stickel, Francisco Maldonado Neto, Francisco e Felipe Samson
Maldonado , George, Rosana e Daniel Niemeyer, Gildo Alves Corrêa, Giovanna Pennacchi, Gugu Kujawski , Helga Jurt,
Henrique e Ariete Homburguer, Henrique Gunther Tuch, Izildo Antonio Domiciano, Jacqueline e Eleonora Aronis, Jayme
Rocha Pinheiro, José Benedito Juvenal (Zezinho), José Carlos e Beny Rizzo, José Dias Chaves Neto, José Maria Marin, Kátia
Rys, Klaus Netter, Lázaro Vicente da Silva (Lazinho), Luis Antonio Lopes, Luiz de Campos Salles, Martha Diederichsen
Stickel, Mauricio e Eliane Schutt, Miguel Colasuonno, Paulo e Hanelore Meyer, Paulo e Mariza Caparica, Roberto Maksoud,
Saverio Silvarolli , Sebastião Inácio dos Santos (Tião), Silvia Poppovic, Tadao Oikawa , Valerio Pennacchi, Vera Lucia Teixeira de
Faria Werner, Inge e Klaus Mitteldorf
125 Lareira do Toribinha
Toribinha Fireplace | Kamin des Toribinha
123
124
O
O Tor
Tor ii ba
ba n
na
a C
Cu
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Jor d
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ão
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Créditos
Fotográficos
Legendas
Complementares
Photo Credits |
Angaben des Herausgebers
Editorial Credits |
Angaben des Herausgebers
Bianka Tomie p. 29
Capa: desenho de Neco Stickel, realizado a partir
de fotografia de 2006, de Lama Michel Rinpoche
Cover: drawing by Neco Stickel made by a
panoramic photography of the Hotel Toriba by Lama
Michel Rinpoche | Umschlagfoto: drawing by
Neco Stickel made by a panoramic photography of
the Hotel Toriba by Lama Michel Rinpoche
Edmundo Ferreira da Rocha p. 23
Fabio Colombini pp. 2-3, 4-5, 6, 7, 8-9,
10, 12, 14-15, 16, 26, 42-43, 44, 46, 47, 48 (??),
49, 50, 51, 52, 53 (??), 54 (??), 55, 56-57, 58
(??),59 (??), 60-61, 67 (??), 74, 76, 90, 91, 93,
94-95, 96, 98 (??), 99, 100, 102-103, 104, 105
(??), 106, 107, 108, 109, 110 (?), 111 (??), 112113, 115, 117, 118, 119, 120, 121 (??)
Foto Postal Colombo p. 62
Fotógrafo não identificado:
Acervo Hotel Toriba pp. 13, 17, 18, 27
(?), 32, 34, 36 (??), 37 (??), 38, 40, 41, 62, 87
(?), 88 (??), 97
Acervo Edmundo Ferreira da Rocha
pp. 19, 20 (??), 22 (??), 24, 25 (??), 27 (?), 28, 33
Acervo Elisa Villares Lenz Cesar
pp. 68 (??), 87 (?),88 (?)
Janos Lazló p. 65 (??)
Lama Michel Rinpoche p. 35
Leon Liberman pp. 39 (??), 63, 64
Lew Parrela pp. 101, 110 (?)
Marlos Ruiz p. 45 (?)
Pepe Roman/Pulsar Imagens pp. 21, 31
guarda: hortênsias (Saxifragaceae) na sala de
leitura
inside front cover: hydrangeas (Saxifragaceae) in the
reading room | front cover: hortensien
(Saxifragaceae) im Lesesaal
4ª capa: hortênsias (Saxifragaceae) na sala de
leitura
back cover: hydrangeas (Saxifragaceae) in the
reading room | back cover: hortensien
(Saxifragaceae) im Lesesaal
pp. 2-3: panorâmica do Hotel Toriba
Panoramic view of the Hotel Toriba |
Panoramaaussicht vom Hotel Toriba
pp. 4-5: vista com belvedere
View with belvedere | Aussicht vom Belvedere
(?)
Rachel Guedes/Pulsar Imagens pp.
30, 31 (?), 72, 75
Reprodução de cartão-postal de
gráficos Brunner p. 92
Rodrigo G. Lenz Cesar pp. 45 (?), 70, 100
Rômulo Fialdini pp. 77, 78 (??), 79, 80, 81
(??), 82, 83, 84 (??), 85 (??), 86, 87 (?), 88 (?),
89, 114
p. 6: vista através da sacada do quarto
View from the room balcony | Aussicht vom
Balkonzimmer
pp. 8-9: desenho do Hotel Toriba realizado durante
a construção, c. 1940
Drawing of the Hotel Toriba made during its
construction, c. 1940 | Zeichnung vom Hotel
Toriba während der Bauarbeiten, ca. 1940
Ronaldo Graça Couto p. 71
Todos os esforços foram realizados para a identificação
e obtenção de autorizações dos autores das fotografias e
textos reproduzidos neste livro. Entretanto, não
conseguimos informações que nos levassem a encontrar
todos os titulares. Nesses poucos casos, informamos que
os direitos foram reservados para os mesmos.
All efforts were made to identify and obtain
authorization from the authors of all texts and
photographs reproduced in this book. However, due to
insufficient information, we were unable to contact all
titleholders. We inform that all their rights have been
reserved.
Todos os esforços foram realizados para a identificação
e obtenção de autorizações dos autores das fotografias e
textos reproduzidos neste livro. Entretanto, não
conseguimos informações que nos levassem a encontrar
todos os titulares. Nesses poucos casos, informamos que
os direitos foram reservados para os mesmos.
p. 10: vista do belvedere com araucárias e
marias-sem-vergonha
View of belvedere with Araucarias and Black-eyed
Susan’s | Aussicht vom Belvedere mit Araukarien
und „Maria-sem-vergonha“ (Impatiens walleriana)
B i b l i o g ra f i a
Bibliografia
Bibliography | Literaturangaben
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“Inventário e análise da arborização viária
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Administração Hoteleira apresentada
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FISCHER, Sylvia. Na arquitetura da
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PENNACCHI, Valerio. Pennacchi —
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PENNACCHI, Valerio. Pennacchi,
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GUIA CASTELFRANCHI —
SECRETARIA DO MEIO
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1988.
125
Ca m p o s d o Jor d ã o : h i s t ó r i a
Campos do Jordão: história
Os Campos do Jordão
Cunha, chamado pelos índios de
Oyaguara (“lobo bravo”), abriu
Q
uma picada na mata cerrada em
uando o brigadeiro Manoel
busca de ouro. Trilha feita, outros
Rodrigues do Jordão adquiriu
cobiçosos aventureiros seguiriam
imensas glebas de terra a 1.700
por ela.
metros de altitude na Serra da
Mais de setenta anos depois,
Mantiqueira, talvez não imagi-
aquela imponente montanha verde
nasse que seu sobrenome não
atraiu Ignácio Caetano Vieira de
apenas batizaria a região: os
Carvalho, que deixou a Vila de
campos do Jordão. Era comum dar
Taubaté e subiu a Serra Preta
o nome do proprietário às terras.
em direção ao Pico do Itapeva.
Mas o que certamente o brigadeiro
Gostou tanto do que encontrou
não supunha é que o nome se
que acabou trazendo a família.
manteria até hoje. Isso foi em
Fundou a Fazenda Bom Sucesso
1825. Jordão veio a falecer dois
e logo depois requereu ao
anos depois, sem nunca ter visto
governador da Capitania de São
a propriedade.
Paulo uma sesmaria de 269
Muito antes, no entanto, tribos
quilômetros quadrados, área hoje
indígenas deixaram rastros por ali:
ocupada pela cidade. Viveu ali
os puris e os caetés do Vale do
por dezoito anos, até que depois
Sapucaí; os guarulhos do Vale do
de sua morte os herdeiros
Paraíba; e os cataguás do sul de
hipotecaram a sesmaria para o
Minas Gerais. Pedro Paulo Filho,
brigadeiro Manoel Rodrigues do
historiador, advogado e escritor,
Jordão, do início desta história.
autor de vários livros sobre a
Jordão era um homem ligado ao
cidade, relata em Campos do Jordão
poder. Amigo íntimo de D. Pedro
– Onde Sempre É Estação que o
I, fazia parte da lista dos dez
primeiro homem branco a passar
maiores proprietários de terras da
por lá foi Martin Correa de Sá,
Província de São Paulo. Foi em
colonizador português, pelos anos
uma das propriedades de Jordão,
de 1597, à procura de um caminho
junto ao Riacho do Ipiranga em
entre Paraty e as Minas Novas,
São Paulo, que o imperador
terras do sul de Minas Gerais.
declarou a independência do
Pouco mais de 100 anos se
Brasil. Depois da morte de Jordão,
passaram até que Gaspar Vaz da
as terras foram divididas. Portanto,
20 Araucárias no Parque Estadual de Campos do
Jordão, 2007
Araucarias in the State Park of Campos do Jordão,
2007 | Araukarien im Staatspark von Campos do
Jordão, 2007
4 Mapa turístico de Campos do Jordão (frente),
publicado entre as décadas de 1950 e 1960
Map of Campos do Jordão (front), published
between 1950 and 1960 | Landkarte von Campos
do Jordão (Vorderseite), veröffentlicht zwischen den
50er und 60er Jahren
17
18
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
desde a fundação, do século XVIII
e uma capela em louvor a São
até 1848, a região dos Campos do
Matheus e uma estalagem para
Jordão constituía apenas uma e
negociantes de gado, que mais
única grande fazenda pecuarista,
tarde se transformou em abrigo
quando começou a ser partilhada
para tuberculosos. Por tudo isso,
e vendida.
Matheus da Costa Pinto é consi-
O escritor Ignácio de Loyola
Brandão, no livro Campos do
5 Mapa turístico de Campos do Jordão (verso),
publicado entre as décadas de 1950 e 1960
Map of Campos do Jordão (back), published
between 1950 and 1960 | Landkarte von Campos
do Jordão (Fronteseite), veröffentlicht zwischen den
50er und 60er Jahren
derado o fundador da cidade.
Por volta de 1891, Domingos
Jordão, A Natureza que Emociona,
José Nogueira Jaguaribe Filho,
divulgadores de Campos do
conta que um dos primeiros
médico cearense, deputado e
Jordão, graças aos artigos que
compradores, o português Matheus
escritor, adquiriu várias proprie-
escrevia no Jornal do Comércio,
da Costa Pinto, morador de
dades na região, conforme narra
do Rio de Janeiro, exaltando a
Pindamonhangaba, adquiriu
o historiador Pedro Paulo Filho
natureza exuberante e as quali-
extensa área à beira do Rio Imbiri
no livro já citado. Jaguaribe
dades do clima para a cura de
em 29 de abril de 1874, data então
entusiasmou-se e trabalhou muito
doenças pulmonares. Criador da
declarada oficial para o aniversário
para o desenvolvimento local,
alcunha “Suíça Brasileira” para
do município. Comprou três
fazendo inúmeros melhoramentos
a região, sua paixão era tanta
fazendas, ergueu a primeira escola
na vila. Foi um dos primeiros
que tentou mudar a capital da
Ca m p o s d o Jor d ã o : h i s t ó r i a
República do Rio de Janeiro para
Companhia Paulista de Estradas
cidade, construiu uma olaria e o
lá, iniciativa que teve o apoio de
de Ferro no início do século XX
convento dos frades franciscanos.
personalidades como Quintino
e foi a Campos fazer um
Decidido a criar uma atmosfera
Bocaiúva e Teodoro Sampaio,
levantamento de terras — acabou
familiar às próprias origens, trouxe
entre outras. Em sua homenagem,
ficando. Comprou a Casa de
da Inglaterra as sementes de
a Vila de São Matheus do Imbiri
Saúde Santa Isabel e fundou a
Digitalis purpúrea L., planta
passou a ser chamada de Vila
Vila Nova, depois chamada
conhecida também como digitalis,
Velha do Jaguaribe.
Abernéssia — “Aber”, de
dedaleira, dedo-de-dama, luvas-
Aberdeen, cidade natal dos pais;
de-raposa (foxgloves), espalhando-
escocês, foi outro personagem a
“ness” de Inverness, onde nascera;
as pelos campos.
deixar a marca no local. Ele viera
e “ia”, as duas últimas letras de sua
Dez anos depois, estava
ao Brasil para trabalhar na
Escócia natal. Doou terrenos para
concluída a primeira linha
a construção da igreja matriz, para
ferroviária, iniciada pelos médicos
a estação de trem, o mercado, a
sanitaristas Emílio Ribas e Victor
cadeia, o cinema, o Sanatório
Godinho para facilitar o acesso
Ebenezer. Foi um dos sócios da
da vila aos pacientes (o guia
primeira usina hidrelétrica da
Castelfranchi esclarece que o
Robert John Reid, engenheiro
6 Jaguaribe, 1950
19
20
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
luz elétrica, dando início à Vila
Capivari. Já Vila Inglesa era
o nome de dois loteamentos
distintos, um da Companhia
Melhoramentos do Capivari e
outro da Companhia de Terrenos
Campos do Jordão. Era então o
auge dos negócios imobiliários e
do comércio madeireiro.
Entre a década de 1920 e
1930, foram construídos os
primeiros sanatórios: registros
da Prefeitura mostram que, em
1927, cerca de 30% da população
de 5.000 habitantes era formada
por visitantes e convalescentes.
Em 1934, Campos do Jordão
desligou-se de São Bento do
Sapucaí e transformou-se em
município. As autoridades
médicas estavam preocupadas em
diminuir o contágio às pessoas
saudáveis pelos doentes que
buscavam a cura nas montanhas.
Por isso, em 1940, Pedro Paulo
Filho conta que o governador
Adhemar de Barros — que
também tinha casa em Campos —
determinou o zoneamento em
duas áreas, uma para os turistas e
7 Abernéssia, 1938
8 Abernéssia, 1940
9 Abernéssia, 2001
acesso permaneceu restrito à
outra para os enfermos: mandou
ferrovia e à Estrada SP-50 até a
fechar as pensões para os doentes
década de 1970, quando começou
em Vila Abernéssia e exigiu
a ser construída a Rodovia SP-
abreugrafia de todos os hóspedes
123, inaugurada oito anos depois
dos hotéis. Para a população
— em 1978). A partir de 1920, os
turística ficar tranqüila quanto à
dois médicos promoveram o
possibilidade de contaminação, os
desenvolvimento da Companhia
grandes hotéis mantinham uma
Melhoramentos Campos do
sala de raios X de modo a não
Jordão com a abertura de ruas,
hospedar doentes. A partir da
instalação de saneamento básico e
década de 1950, com os avanços
Ca m p o s d o Jor d ã o : h i s t ó r i a
10 Bonde, 1920
Streetcar, 1920 | Strassenbahn, 1920
11 Linha de Bonde, 1920
Streetcar, 1920 | Strassenbahnschienen, 1920
12 Bonde, 2005
Streetcar, 2005 | Strassenbahn, 2005
23
24
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
da medicina e o surgimento do
Martha Diederichsen Stickel,
medicamento Hidrazida, a
filha mais jovem de Ernesto e
tuberculose deixou de representar
Maria Elisa Diederichsen. “Cos-
tanto perigo, e a cidade começou a
tumávamos ir ao cinema, que
se transformar em importante
ficava no centro da cidade, a 5 ou
pólo turístico.
6 quilômetros da fazenda. Íamos
Na década de 1950, o bairro
a pé, com uma almofada debaixo
de Capivari só tinha uma rua.
do braço para sentar. A parte de
“Tomávamos sorvete na Casa
baixo da sala era reservada aos
Ferraz, onde se vendia de tudo,
tuberculosos. No mezanino,
até selas e arreios. O sorvete era
ficavam as pessoas saudáveis. As
horrível, mas nós achávamos
crianças nunca puderam ir por
maravilhoso! Na rua principal,
causa da doença”, recorda-se.
havia apenas uma farmácia, a
Pessoas ilustres e famosas
Cadij Imóveis, uma vendinha com
começaram a procurar casas
artigos variados, uma papelaria
de veraneio na região. Esse foi
e um pequeno restaurante,
um dos fatores decisivos para a
tipo lanchonete”, recorda-se
transformação da “cidade saúde”
16 Sanatório São Paulo, 1943
São Paulo Sanatorium, 1943 | Sanatorium São
Paulo, 1943
13 Capivari, 1927
14 Capivari, 1960
Ca m p o s d o Jor d ã o : h i s t ó r i a
25
26
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
em cidade turística. Outras
uma das 200 famílias japonesas
contribuições foram dadas com
que ocuparam a zona rural da
o zoneamento, a construção do
região. “Meus avós e pais
Palácio do Governo e o Cassino
chegaram ao Brasil em 1932,
Grande Hotel, que projetaram
depois de mais de quarenta dias de
Campos com glamour.
viagem a bordo do navio La Plata
Na década de 1940, a cidade
Maru, vindos de Okaido, uma ilha
ganhou o título de maior centro
de clima frio do Japão. Logo
produtor de cenouras do Estado.
foram encaminhados a uma
“A cenoura de Campos era
fazenda de café na região de
famosa. O clima frio fazia com
Araçatuba, Guararapes e Birigui,
que levasse quatro a cinco meses
onde a temperatura é muito
para crescer, contra os dois a três
quente”, conta.
meses das regiões quentes. Isso
O pai adoecera, e o avô,
resultava numa espécie mais
sabendo dos benefícios do ar
macia, doce e saborosa”, conta
de Campos do Jordão, comprou
Tadao Oikawa, descendente de
um terreno de 48.000 metros
19 Festa Nacional da Maçã, 1956. A Festa
Nacional da Maçã é um evento que anualmente
ocupava as ruas de Campos do Jordão
National Apple Festival, 1956. The National Apple
Fest is an yearly event that took place on Campos
do Jordão streets (1953–1956, 1958 and 1961) |
Nationales Apfelfest, 1956. Das nationale Apfelfest:
Ein jährlich wiederkehrendes Fest auf den Strassen
von Campos do Jordão (1953–1956, 1958 und 1961)
Ca m p o s d o Jor d ã o : h i s t ó r i a
17 Capa do cardápio de Ano-Novo, 1952
Cover of menu for New Year’s Eve, 1952
Umschlag der Speisenkarte, Silvester 1952
18 Cenoura “nantes”, III Festa Nacional da
Maçã, Clube Abernéssia, 1955
Carrot “nantes”, III National Apple Festival,
Abernéssia Club, 1955 | “Nantes” Karotte, III
Nationales Apfelfest, Club Abernéssia, 1955
quadrados no loteamento Colônia
obtiveram sucesso. Também
Lajeado, dos Irmãos Gavião
cultivaram pereiras — de diversas
Gonzaga. A proximidade com
qualidades —, inclusive uma
uma colônia japonesa o inspirou a
variedade conhecida por “chinesa”,
construir uma infra-estrutura e
cuja produção era quase
trazer a família. “Casa de madeira,
totalmente consumida pela rede
fogão a lenha para cozinhar,
hoteleira da região. Outra fonte
esquentar a casa e aquecer a água
de subsistência era o cultivo da
que servia ao banheiro”, relata
couve-flor, escoada especialmente
Oikawa. Começaram plantando
para o Rio de Janeiro, onde o calor
pêssego, mas a espécie não se
excessivo dificultava a obtenção de
adaptou ao clima frio e a safra foi
um produto de boa qualidade.
perdida. Aproveitando a mesma
José Benedito da Costa, filho
base onde havia sido plantado o
de Emídio da Costa Manso,
pêssego, decidiram enxertar
proprietário de muitas terras em
ameixa vermelha, conhecida por
Campos do Jordão e Santo Antonio
coração-de-boi, uma espécie de
do Pinhal além de presidente da
excelente qualidade e sabor. Assim
Cooperativa Mista de São Bento
27
28
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
do Sapucaí, conta que acompa-
começaram a ter problemas em
nhava o pai desde pequeno. “Em
sobreviver da produção. Além
1935 nós morávamos no Paiol
disso, com as inovações
Velho, perto do Zé da Rosa, e
tecnológicas, os agricultores da
lembro-me de uma grande
região carioca já conseguiam
queimada. Meu pai me trazia para o
produzir uma couve-flor
lugar onde hoje fica o Hotel Toriba
satisfatória para o mercado. As
desde que eu tinha 4 anos de idade.
vendas caíram, e no fim da década
Ficávamos lá a semana toda, pois
de 1950 muitas famílias de
meu pai fazia grandes jacás [espécie
imigrantes japoneses começaram
de cesto feito de taquara lisa] para
a sair de Campos em direção às
transportar a colheita de pêra e de
cidades do Vale do Paraíba.
cenoura”, recorda.
Como todos os vizinhos eram
Em 1941, foi inaugurado o
Horto Florestal, uma reserva com
agricultores, plantavam as mesmas
o objetivo de preservar a mata
espécies e vendiam para os
restante de araucária. Trinta anos
mesmos lugares, muitos
depois, o perfil da cidade — já
15 Capivari vista do Morro do Elefante, 2007
Capivari seen from the Morro do Elefante (Elephant
Mountain), 2007 | Capivari vom Morro do
Elefante aus gesehen, 2007
Ca m p o s d o Jor d ã o : h i s t ó r i a
23 Capivari vista do Morro do Elefante, 2007
Capivari seen from the Morro do Elefante, 2007
Capivari, vom Morro do Elefante aus gesehen, 2007
caracterizada como importante
foi considerada área de proteção
pólo turístico — viveu mais uma
ambiental, passo significativo para
transformação, com o início dos
conter a devastação. É dessa época
Festivais de Inverno. “As primeiras
a inauguração do Museu da
temporadas foram no hall do
Imagem e do Som, a Pinacoteca, o
próprio Palácio do Governo, e
auditório Campos do Jordão —
os músicos reclamavam que a
hoje Cláudio Santoro – e o Museu
umidade e o ar frio desafinavam os
Felícia Leirner.
instrumentos”, conta Vanja László,
Atualmente, pelos Campos
amiga da família Diederichsen e
do Jordão distribuem-se 44.252
antiga freqüentadora do Hotel.
habitantes, que chegam a 1,2
Um dos pontos determinantes
milhão de pessoas durante a
na história de Campos do Jordão
temporada de inverno.
foi a inauguração da estrada
Certamente, um número que o
ligando a cidade à Via Dutra em
brigadeiro Manoel Rodrigues
1978. No ano seguinte, foram
Jordão jamais poderia imaginar
proibidos os loteamentos
para suas terras no alto da
comerciais; quatro anos mais tarde,
Mantiqueira.
29
Ca m p o s d o Jor d ã o : h i s t ó r i a
21 Festival de Inverno, 2006
Winter Festival, 2006 | Winterfestival, 2006
22 Teleférico do Morro do Elefante, 2006
Morro do Elefante Cablecar, 2006 | Seilbahn vom
Morro do Elefante, 2006
24 Capivari, 2006
31
Tor i ba : pa z , a l e g r i a e f e l i c i da de
Toriba: paz, alegria e felicidade
Quem vem de lá? É de paz! Entra!
À vontade! Sente o que a vida às vezes significa!
Depois, parte, ficando... que a saudade é benção
de quem parte e de quem fica.
Guilherme de Almeida
O
Hotel Toriba foi
inaugurado em 1943, quando
o turismo na região ainda era
incipiente, nesta bela cidade num
dos altos da Mantiqueira, que, na
época, era marcada muito mais
pela profusão de sanatórios do
que pela infra-estrutura para o
visitante em busca de lazer. Logo
o Toriba, que em tupi-guarani
significa algo como “paz, alegria e
felicidade”, tornou-se um hotelsímbolo do melhor de Campos
do Jordão, com a bem-cuidada
aparência alpina, local propício à
Do alto dos 1.750 metros da
prática de atividades saudáveis e
Serra da Mantiqueira, o Toriba
de costumes em harmonia com
ocupa ampla e privilegiada área
a natureza. Com o decorrer dos
de 70.000 metros quadrados,
anos, foi se atualizando diante da
em meio a um grande parque
constante evolução na tecnologia
ajardinado e repleto de araucárias
hoteleira, mas mantém até hoje
históricas. No prédio principal, o
as qualidades que caracterizam o
Toriba oferece 54 leitos, divididos
universo repleto de memórias e de
entre 21 quartos, três suítes;
tradições familiares, em ambiente
Restaurante Pennacchi; Bar
cercado pela gentileza, preser-
Vindima, com ampla vista
vando a seu modo a história e a
panorâmica; sala de café e chá;
cultura de Campos do Jordão.
sala de leitura; sala de lareira;
25 Placa da portaria, 1944
Nameplate at the Front Gate, 1944 | Schild des
Hotels Toriba, 1944
26 Vista geral, década de 1940
General view, 1940s | Panoramaaussicht, 40er
Jahre
33
34
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
salão de jogos; e o exclusivo
O Toriba disponibiliza também,
escorregador de madeira —
em chalé exclusivo, espaço para
utilizado por gente de todas
reuniões empresariais. De geração
as idades. Nos quatro chalés
em geração, todos interagem,
espalhados pelo parque, são
tanto funcionários quanto
oferecidos vinte leitos e ainda
hóspedes, para manter o Toriba
mais quatro apartamentos
tradicionalmente vivo e atual.
externos, com oito leitos. Conta
ainda com uma complexa área
de lazer composta de bar;
Nasce o Toriba
piscina com raia semi-olímpica;
hidromassagem; sauna seca e
“Eu e minha família tínhamos
úmida; ducha circular e escocesa;
um prazer muito grande ao
academia de ginástica; quadra
desfrutar as férias de verão nas
de tênis; e “parcour” (caminhada
montanhas daquela cidade
com exercícios pelo bosque).
[Campos do Jordão]. Havia nesse
Finalmente, há o Toribinha
sentimento algo herdado dos dez
(espaço acolhedor especial para
anos que passei quando jovem
servir fondues e raclettes).
na velha Suíça, tal como minha
27 Fachada principal, 1944
Main Facade, 1944 | Hauptfassade, 1944
Tor i ba : pa z , a l e g r i a e f e l i c i da de
28 Panorâmica do Hotel Toriba
Panoramic view of the Hotel Toriba |
Panoramaaussicht vom Hotel Toriba
esposa também o fizera. Nasceu
verão com a família. “Nas suas
daí a vontade de construir um
idas à Pedra do Baú, ficava muito
hotel para proporcionar aos
tempo apreciando a natureza,
demais esse delicioso ambiente
olhando para longe, para o
montanhês. Meu sogro Ernesto
horizonte. Nesses momentos
Diederichsen e eu pusemos mãos
eu sentia que ele procurava uma
à obra e construímos o Hotel
interpretação pessoal para o
Toriba, inaugurado em 1943”,
universo, para o sentido da
escreveu Luiz Dumont Villares na
existência”, escreveu Paulo
autobiografia, publicada em 1975.
Dumont Villares, numa edição
Apaixonado pela vida ao ar
especial do informativo Notícias
livre e pelas belezas do mundo, o
Villares, por ocasião do faleci-
empresário observava por horas a
mento do pai, em 1979.
fio o céu e os planetas através de
No início de 1947, Luiz
um telescópio em Campos do
Dumont Villares com o pionei-
Jordão, onde passava as férias de
rismo trouxe para o Brasil o
35
36
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
primeiro acampamento recreativo-
sólida, com um telhado de duas
educacional inspirado em moldes
águas. As pedras utilizadas na
norte-americanos, o Acampamento
estrutura do prédio deveriam ser
Paiol Grande, situado no muni-
retiradas do próprio local, assim
cípio vizinho de São Bento do
como a madeira de revestimento
Sapucaí. Dirigido inicialmente por
do forro e de algumas paredes.
um profissional, mantém, desde a
Ernesto Diederichsen ordenou
fundação, a finalidade de oferecer
que se projetasse uma varanda
educação e recreação a crianças e
bem longa que lembrasse um
jovens de ambos os sexos, sem
convés de navio. Sugeriu que no
distinção de nacionalidade, raça ou
local se oferecesse ao hóspede
religião. O Paiol Grande opera até
uma série de chaises longues para
os dias de hoje com os mesmos
que pudesse contemplar, com
princípios de sessenta anos atrás,
conforto, o panorama que se
e com grande sucesso.
descortinava além do terraço.
Sogro e genro tiveram grande
influência sobre o projeto do
E assim foi, como atestam várias
fotos históricas.
Hotel Toriba, executado pelo
O filho do construtor, Floriano
Escritório Técnico Ramos de
Rodrigues Pinheiro — responsável
Azevedo, Severo e Villares e Cia.
pela obra —, lembra ainda da
Ltda., sob responsabilidade dos
sensação que tinha, na meninice,
engenheiros Affonso Lervolino
ao acompanhar o pai na emprei-
e Roberto Batista Pereira de
tada: “Aquele outeiro maravilhoso,
Almeida, no ano de 1941.
o planalto no cocuruto do morro
Queriam uma construção ampla e
oferecia uma vista inigualável...”,
29 Floriano Pinheiro (à esq.) e Luiz Dummont
Villares durante a construção do hotel
Floriano Pinheiro (on left) and Luiz Dummont Villares
during the hotel’s construction | Floriano Pinheiro
(links) und Luiz Dummont Villares, während der
Bauarbeiten am Hotel
30 Ernesto Diederichsen
31 Obras de construção, 23/ago/1942
Construction work, August 23, 1942 | Bauarbeiten,
23/Aug/1942
33 Vista frontal da obra, 1942
Front view of Construction, 1942 | Vorderansicht
der Bauarbeiten, 1942
38
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
conta admirado Jayme Rocha
e o dinheiro precisava ser aplicado
Pinheiro, hoje com 83 anos. “Eu
imediatamente. Tudo foi muito
me interessava muito pela
rápido, um sucesso extraordinário!”,
construção em si. Lembro-me das
completa.
fundações do edifício do hotel e de
Como se revisse a cena diante
alguns pinheiros que tiveram de
dos olhos, Martha Diederichsen
ser sacrificados. Já naquela época,
Stickel, descreve um almoço
o senhor Ernesto demonstrava
ocorrido durante o andamento da
preocupação muito grande em
obra: ao redor de uma mesa bem
adquirir o maior número possível
grande estavam reunidos vários
de terrenos em volta da região
políticos da época, entre eles
para poder preservar a área, muito
Adhemar de Barros, então
cobiçada. Era um homem de
interventor do governo de São
visão e, como o senhor Villares,
Paulo durante o mandato de
enxergava longe”. Confiando na
Getúlio Vargas, conversando em
memória, afirma que a obra do
alemão com o pai dela. O almoço
hotel não demorou muito: “Em
foi na tal varanda, aquela que
1939 estourou a Segunda Guerra,
reproduzia o convés de navio e que
32 Obras da Construção, 1942
Construction work, 1942 | Bauarbeiten, 1942
Tor i ba : pa z , a l e g r i a e f e l i c i da de
mais tarde acomodaria a sala de
projeto do escorregador — um dos
chá e café.
símbolos máximos do hotel —,
Luiz Dumont Villares viveu e
onde Ernesto Diederichsen se
fruiu intensamente a construção
divertia alegremente apesar de ser
do sonho. Quase todos os
um tipo sisudo e grandalhão, sabe-
sábados, depois do expediente na
se pouco. Mas as plantas antigas
empresa onde trabalhava, subia a
da construção dão a entender que
serra para acompanhar a evolução
surgiu sem muito planejamento,
das obras. No período de férias de
pela simples idéia de juntar dois
verão dos filhos, lá ia ele
ambientes em andares distintos:
encontrar a família no fim de
térreo e sala de recreação infantil.
semana. “Nos intervalos, eu me
correspondia com meu pai por
carta, via correio”, lembra Elisa
Villares Lenz Cesar. Ele tinha o
hábito de desenhar sobre qualquer
pedacinho de papel, até nos
guardanapos, e a correspondência
era cheia de figurinhas. “Dizem,
na família, que o projeto da
piscina do hotel, por exemplo, foi
esboçado no carro, durante uma
das idas a Campos”, conta Eliana
Lenz Cesar, bisneta de Ernesto
Diederichsen, neta de Luiz
Dumont Villares e filha de Elisa.
Não há registro da data precisa,
mas em 1943 o Hotel Toriba foi
inaugurado, com dezenove
apartamentos, vinte quartos e
cinco chalés. Nos dormitórios
havia apenas uma pia, pois os
banheiros ficavam no corredor,
como era comum na época. O
mobiliário, também em estilo
suíço, foi em boa parte produzido
pela Casa e Jardim (que havia sido
inaugurada em 1938 e acolhia
mostras de artistas modernos) com
a madeira da araucária da região
de Campos do Jordão. Sobre o
34 Sala para escrever cartas, década de 1940
Writing Room, 1940s | Schreibsaal, 40er-Jahre
35 Quarto, década de 1940. Em destaque, a pia
dentro do próprio quarto, antes que fossem
remodelados para suítes
Guest Room, 1940s. Of special interest, the sink in
the room before they were remodeled into suites |
Hotelzimmer40er-Jahre. Sichtbar ist: Das Waschbecken
innerhalb des Zimmers vor dem Umbau zur Suite
39
40
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
uma farra infernal. Na época os
“As cortinas eram da Argos
quartos eram simples, não havia
Industrial de Jundiaí, de Ernesto
suítes. Os poucos banheiros
Diederichsen. Em xadrezinho
ficavam no corredor, e uma das
marrom ou azul, foram
nossas diversões era impedir os
confeccionadas especialmente
hóspedes de ir ao toalete.
para o local. Aliás, a Argos foi a
Arrastávamos cômodas e
primeira fabricante dos tecidos
bloqueávamos as portas dos
blue jeans no Brasil”, lembra
quartos. Trocávamos os sapatos de
Cláudio László, um dos mais
todos. E namorávamos muito”,
antigos vizinhos e freqüentadores
lembra-se o empresário Henrique
do hotel. O padrão da estamparia
Gunther Tuch, freqüentador do
das colchas listradas foi inspirado
hotel desde 1944. “No início
no filme Flores do Pó (Blossoms in
íamos de trem, pois como alemães
the Dust), sucesso do cinema
— e, portanto, considerados do
americano em 1941 estrelado por
‘eixo’ —, precisávamos de salvo-
Greer Garson, Walter Pidgeon e
conduto para viajar. Não podíamos
Marsha Hunt.
circular livremente. Chegávamos lá
e éramos recepcionados, já na
***
estação Toriba, por Hillebrecht e
Tischauer, o gerente, com um
Na Avenida Líbero Badaró, em
panelaço, alegria e muita cerveja
São Paulo, havia um restaurante
gelada. Na seqüência fazíamos
chamado Caverna Paulista, onde
exame de pulmão. Depois disso
Ernesto Diederichsen almoçava
era só diversão”.
com muita freqüência. A comida
Na década de 1940, ir a
era boa, e o proprietário, Henrique
Campos não era um programa
Hillebrecht — imigrante alemão —,
fácil e exigia certo planejamento.
acolhia com extrema gentileza a
Era preciso reservar as passagens
clientela. Da amizade nascida entre
muitos dias antes, para não ter
os dois derivou o convite para que
surpresa. O trem saía da Estação
a família Hillebrecht assumisse a
Ferroviária de São Paulo no
administração do Toriba.
Brás às 7 horas da manhã. Em
Os freqüentadores mais antigos
Pindamonhangaba trocava-se de
lembram-se da gestão — que
trem, e mais tarde havia uma
durou até 1958 — como um
parada onde era possível comer
período de grande animação,
alguma coisa. A chegada era mais
festas e felicidade. “A cozinha,
ou menos às 3 horas da tarde. Para
maravilhosa, era comandada por
quem ia de carro, os percalços
Fritz Schwenke. Junto com eles e
eram outros: se chovia, o último
alguns outros hóspedes, fazíamos
trecho de estrada, já perto de
36 Adesivo para mala de viagem, década de 1940
e 1950
Suitcase sticker, 1940s and 1950s | Aufkleber für
Reisekoffer, 40er- und 50er-Jahre
Tor i ba : pa z , a l e g r i a e f e l i c i da de
cidade, muitas vezes ficava
camareiros, governantas, garçons,
bloqueado pela queda de barreiras,
cabeleireiros — enfim, todos
retardando a chegada ao destino.
ligados à área de gastronomia,
Grande parte dos hóspedes
hotelaria e serviço — decididos a
passava um mês inteiro no hotel
continuar no Brasil mesmo depois
durante o verão, portanto as
do fim do conflito.
bagagens que traziam eram
imensas! As mães preparavam
parêntese e contar essa história
enxovais completos para a família.
interessante e pouco conhecida,
Normalmente os membros da
pois as pessoas que dela fazem
comunidade judaica chegavam
parte foram de fundamental
antes do Natal e aproveitavam,
importância para o desenvol-
também, a festa de réveillon,
vimento da indústria hoteleira
sempre muito bonita, bem servida
de toda aquela região.
e animada. Os funcionários
O Windhuk (que significa em
montavam um bufê impecável, que
alemão “canto do vento”) era um
ocupava metros e metros de mesa.
transatlântico de luxo, que partiu
Depois da ceia havia danças e
da Alemanha em julho de 1939
brincadeiras de salão.
para um cruzeiro de dois meses.
Os imigrantes de língua
37 Flâmula, 10/jan/1960
Pennant, January 10, 1960 | Hotelfähnchen,
10/Jan/1960
Vale a pena aqui fazer um
Quando costeava a África do Sul,
germânica — alemães e austríacos
no entanto, foi surpreendido pela
— tinham especial atração pelo
notícia de que a guerra havia
Hotel Toriba desde o início. Todo
estourado, e a viagem não pode
o ambiente, o entorno, lembrava-
prosseguir. Muitos dos turistas
lhes as origens. Lá cantavam
voltaram ao país de origem, mas
músicas tradicionais, dançavam
244 tripulantes continuaram a
sua coreografia, deliciavam-se com
bordo. Por uma série de motivos
o clima frio e a paisagem da
envolvendo desde escassez de
montanha e regalavam-se com a
combustível até contratempos
mesa farta, repleta de especia-
diplomáticos, o navio deixou o
lidades do país de origem.
continente africano indo aportar
O corpo de funcionários
em Santos, onde permaneceu
parecia uma grande família —
por dois anos, graças ao apoio
aliás, como até hoje. Grande
financeiro do consulado alemão.
parcela foi contratada pelos
Foi um período de sonho para
Hillebrecht entre os membros da
eles. A maior parte continuou
tripulação do navio Windhuk, que
morando a bordo; uns poucos
havia chegado ao Porto de Santos
resolveram mudar-se para pensões;
em dezembro de 1939, ainda
outros trabalharam como garçons
durante a Segunda Guerra.
e cozinheiros em restaurantes —
Eram cozinheiros, confeiteiros,
e todos se divertiam. Em agosto
41
42
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
de 1942, Getúlio Vargas rompeu
apartamentos, com banheiro.
relações com a Alemanha, e o
Os hóspedes comemoraram a
paraíso dos tripulantes do
novidade! O estilo rústico e
Windhuk acabou.
acolhedor que tanto encantava
Transportados em trens, foram
os freqüentadores do Toriba se
mandados para campos de
manteve. “Nosso principal
concentração em Guaratinguetá,
empenho, durante esses mais de
Pirassununga, Bauru, Ribeirão
sessenta anos, foi a preservação
Preto e Pindamonhangaba, no
das características originais do
interior de São Paulo, juntamente
imóvel e de seu mobiliário,
com italianos e japoneses para
sempre que possível”, diz Eliana
trabalhar nas lavouras. Três anos
Villares Lenz Cesar.
depois, com o fim da guerra,
Reestruturação concluída, o
já livres mas sem dinheiro
hotel foi novamente arrendado,
nem documentos, precisavam
desta vez para a Cia. Paulista de
trabalhar. E o mais óbvio, claro,
Hotéis, pertencente aos irmãos
era procurar ocupação de acordo
Arthur e Paulo Witzig. Para a
com a especialidade. Vários
gerência, foi contratado Joseph
restaurantes alemães já existiam
Jurt, imigrante suíço que
na época, e eles eram tidos como
inaugurou um estilo de
excelentes profissionais. Nada
administração completamente
mais natural, portanto, que
diferente da do antecessor.
fossem absorvidos pelo mercado
Durante seus 23 anos de gestão,
hoteleiro, florescente na região
o Toriba viveu anos felizes.
de Campos e arredores. Tanto o
Toriba quanto o Grande Hotel,
“Chegamos ao hotel em
além de outros, tiveram no
novembro de 1959, ainda durante
quadro de funcionários membros
as obras, com nossos filhos, Ari,
da tripulação, imprimindo no
de 4 anos, e Alexandre, de 3.
cardápio e nos serviços
O mais novo, Eduardo, nasceu
características muito próprias,
lá, em 1961. Chovia muito! Eu
diferenciadas para a época.
era muito jovem e inexperiente.
O hotel foi administrado pela
família Hillebrecht até 1958.
Fui aprendendo tudo com meu
marido. Fiz o máximo tentando
Retomado pelos
Diederichsen/Villares, fechou
temporariamente as portas e
passou por uma grande reforma
durante pouco mais de um ano.
A principal mudança foi nos
quartos: todos viraram
38 Detalhe da fachada principal, 2007
Detail of the main facade, 2007 | Detail der
Hauptfassade, 2007
Tor i ba : pa z , a l e g r i a e f e l i c i da de
43
44
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
ajudá-lo e para que se orgulhasse
inovações pelo talento de Jurt: foi
de mim”, diz Helga Jurt, viúva do
ele que introduziu o chá da tarde
gerente. “Morávamos num chalé
e a fondue. Fora de temporada,
(perto da portaria, onde hoje
os dois faziam companhia aos
ficam as salas para eventos) e
hóspedes, muitas vezes até
fazíamos as refeições com os
jogando cartas para formar uma
e lembram-se com carinho do
demais funcionários.”
mesa de buraco. Quem se
chefe que deixou o posto em 1983
hospedava no Toriba tinha sempre
por motivos de saúde.
O casal realmente se esmerou.
39 Lustre, 2007
Hanging lamp, 2007 | Kronleuchter, 2007
Helga supervisionava o trabalho
a sensação de estar na própria casa
dos camareiros, cuidava do enxoval
de campo, como, aliás, acontece
venderam a Cia. Paulista de
e — o que mais gostava — fazia os
até hoje. Foi nesse período
Hotéis para Fabio Bicudo, que
arranjos de flores pessoalmente.
também que moradores de
assumiu também o contrato de
Resolvia toda sorte de problemas,
Campos do Jordão e das
administração do Hotel Toriba
como uma verdadeira embaixatriz.
redondezas começaram a trabalhar
até 1995, quando Elisa Villares
Muitos hóspedes ainda lembram
no hotel. Alguns deles — ou os
Lenz Cesar e os filhos, herdeiros
dela como uma pessoa amiga, doce
descendentes — formam, ainda
de Luiz Dumont Villares,
e apaziguadora. A cozinha ganhou
hoje, o quadro fixo de funcionários
tomaram a frente dos negócios.
Em 1975, os irmãos Witzig
Tor i ba : pa z , a l e g r i a e f e l i c i da de
Missão do Hotel Toriba
Páginas do Livro de Ouro do Hotel
Hotel Toriba´s Golde Book | Das Goldene Buch
des Hotels
Propiciar às pessoas que
apreciam a natureza, privacidade,
discrição, conforto, charme,
silêncio e tranqüilidade a
oportunidade de desfrutar este
requintado ambiente, recebendo
serviços prestados por
colaboradores que se sentem
felizes com o trabalho que
executam e reconhecidos por
aqueles a quem servem.
Na primeira página do livro de
ouro do hotel, o texto de Maria
Elisa Diederichsen deixou
registrado, em 10 de janeiro de
1960, o que se almejava para os
hóspedes:
Toriba em tupi-guarani significa “alegria, felicidade”, é para quem aprecia a natureza brasileira n’um dos
seus mais típicos recantos: pinheiros, matas virgens, montanhas, flores, passarinhos...
A 1.850 m sobre o nível do mar, o Toriba é o hotel no país em maior altitude.
Em suas vizinhanças nasce o córrego mais alto da bacia do Prata, que se transforma primeiro rapidamente
em “Lajeado” e “Sapucaí”, e depois lentamente em “Grande” e “Paraná”, para como “Prata”, após atravessar
meio continente, se jogar no mar.
Por aqui passaram os bandeirantes a pé e de canoas pelos rios para atingirem os recantos mais distantes da
América do Sul.
Seja este o recanto “encantado” que tantas almas procuram é o desejo de:
Maria Elisa Diederichsen
Luiz Dumont Villares
Ernesto George Diederichsen
Martha Diederichsen Stickel
Arthur Witzig
Paulo Witzig
(...)
45
A mon ta n h a m á g i c a : a b e l e z a da n at u re z a n a t e r ra p re s e rva da
A montanha mágica: a beleza da natureza na
terra preservada
F
loradas na Serra é o nome de
abundância e ar puro comparável
pelo som dos insetos, num convite
um romance de Dinah Silveira de
ao dos Alpes suíços e franceses,
à paz e à contemplação. No verão,
Queiroz lançado em 1939. Conta
acabou se transformando na maior
a luz do sol desce filtrada através
a história da personagem Lucília,
estância climática do Brasil e
dos altos galhos das araucárias,
moça rica e entediada diante de
ganhando a alcunha de Suíça
aquecendo e iluminando o solo.
seu universo elegante, que resolve
Brasileira. Para ter uma idéia, o ar
As temperaturas são amenas,
descansar em Campos do Jordão.
de Campos foi reconhecido como
especialmente à noite; e a brisa,
Ao fazer a visita médica exigida
dos melhores do mundo pelo
constante. O outono traz folhas
por lei aos hóspedes dos hotéis
Congresso Climatológico de
avermelhadas; e, no inverno,
à época, a jovem descobre estar
Paris realizado em 1957! Não é,
o crepitar das lareiras aquece o
tuberculosa. Internada numa
portanto, de admirar que a cidade
interior das casas quando o sol
clínica local, apaixona-se por
tenha sido eleita como local ideal
se põe, contrastando com os dias
Bruno, outro doente em busca de
para tratamento de doenças
ensolarados, de temperatura
cura, e a partir daí se desenvolve o
pulmonares, como relatado na obra
agradável e céu extremamente
drama. Alguns anos depois, mais
da escritora.
azul. Quando desponta a
precisamente em 1954, o livro
Nos campos afastados do
primavera, as flores explodem
ganhou adaptação para o cinema.
centro, o silêncio é quebrado
trazendo todo seu colorido,
E os jardins do Hotel Toriba
apenas pelo canto dos pássaros e
tingindo a natureza de alegria.
testemunharam, como cenário, o
romance vivido na tela por Cacilda
Becker e Jardel Filho, no filme
considerado um clássico da
indústria cinematográfica nacional.
A região de Campos do Jordão
é um paraíso ecológico. Com flora
e fauna generosas, água límpida em
40 Beija-flor-de-topete (Stephanoxis lalandi )
Black-crested Plovercrest | Kolibri Zopf-Elfe
41 Pinus eliottis
47
48
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
magnesiana pelos órgãos
competentes.
Com vista a preservar a Mata
Atlântica, foi criada, em 1941,
uma das primeiras áreas naturais
protegidas no território paulista,
o Horto Florestal, cobrindo área
de 8.341 hectares — ou um terço
da superfície do município. O
crescimento imobiliário provocara
a devastação das matas de
araucária, e, nas décadas de 1950 e
1960, criou-se um programa de
reflorestamento: 2.500 hectares de
terra receberam mudas de Pinus
eliottis, o que acabou produzindo
alteração no clima. Como a
espécie absorve a água dos lençóis
freáticos e as expele no ar por
evaporação, a atmosfera ficou
mais úmida, as temperaturas mais
elevadas e houve aumento na
quantidade de precipitações.
Os moradores mais antigos ainda
estranham quando os
termômetros chegam à marca dos
22 graus Celsius no verão, aliado
a chuvas mais constantes. “A
vegetação do Horto é exuberante
e abriga mais de 300 espécies
113 Pinhão
Pinecones chestnut | Pinienzapfen
43 Araucárias com pinhas (Araucariacea)
Araucarias with pinecones | Araukarien mit
Pinienzapfen
Capivari — que emprestou o
identificadas, além de uma
nome ao bairro comercial da
diversificada fauna silvestre com
cidade — é o rio mais importante
perto de 200 gêneros catalogados.
de Campos do Jordão e recebe no
Ali são encontrados animais
curso o Rio Abernéssia — que
ameaçados de extinção como a
batiza outro bairro, logo na
onça suçuarana, o mono-carvoeiro
entrada da cidade.
(maior macaco das Américas) e o
A água mineral das fontes
papagaio-do-peito-roxo”, informa
da região, impoluta, é tida como
o escritor Pedro Paulo Filho no
excelente e recebe a chancela de
livro Campos do Jordão — Onde
alcalina, bicarbonetada e cálcio-
Sempre É Estação.
A mon ta n h a m á g i c a : a b e l e z a da n at u re z a n a t e r ra p re s e rva da
Em 1948, teve início o plantio
de plátanos nas vias públicas, com
o intuito de arborizar a vila. Hoje,
Jordão foram declarados Área de
os remanescentes de bosques de
Proteção Ambiental (APA).
araucária, a continuidade da
Em 1985, o Decreto Federal
cobertura vegetal do espigão central
mais da metade da cidade conta
nº 91.304 determinou 27
da Serra da Mantiqueira e as
com a espécie nos canteiros. A
municípios — inclusive Campos do
manchas de vegetação primitiva, a
araucária, no entanto, tornou-se
Jordão —, numa extensão de
vida selvagem e as espécies em
marca registrada, figurando
422.000 hectares, como Área de
extinção”. Mais recentemente, em
inclusive na bandeira e no brasão.
Proteção Ambiental da Serra da
1993, o governo estadual criou o
E, graças à Lei Estadual n° 4.105,
Mantiqueira. No texto original do
Parque Estadual dos Mananciais de
promulgada em 1984, os 26.900
decreto consta que a criação da
Campos do Jordão, com o objetivo
hectares da região urbana e rural
APA federal visa garantir, “por
de preservar as nascentes que
do município de Campos do
meio da proteção e preservação de
fornecem metade do volume de
parte de uma das maiores cadeias
água consumido pela cidade. Todo
de montanhas do sudoeste
esse conjunto de medidas tenta
brasileiro, a conservação do
proteger uma das áreas mais
conjunto paisagístico e a cultura
significativas em riqueza biológica
regional, a flora endêmica e andina,
do planeta.
42 Plátano (Platanus sp.)
Planetree | Platane
49
50
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Toriba: o jardim
proximidade com a mata intocada
ainda existente”, completa.
“Na região onde está localizado
O cuidado, a preservação e a
o Toriba, o baixo adensamento
reposição de espécies nas áreas de
adotado pelas famílias
mata e de bosque configuram a
Diederichsen, Villares, Lenz e
principal parte do trabalho da
Stickel contribuiu decisivamente
engenheira agrônoma e paisagista
para a preservação do meio
Kátia Rys, que há cerca de dez
ambiente em relação a outras áreas
anos cuida dos jardins do hotel.
do município”, revela Alexandre
Incansável, ela treina, orienta e
Gonçalves Silva, engenheiro
acompanha constantemente a
agrônomo e presidente da Agência
equipe de seis jardineiros nos
de Desenvolvimento Sustentável
trabalhos de poda, planejamento
de Campos do Jordão e Região.
das mudas anuais (verão e inverno)
“Localizado na linha divisória
do jardim, plantio de arbustos e
entre a serra e o planalto, o
controle das pragas. À medida que
terreno possui, além de uma vista
morrem, as árvores vão sendo
deslumbrante, abundância de
substituídas por espécies da região,
vegetais e animais silvestres pela
como pinho-bravo (Podocarpus
53 Vista geral a partir da sacada dos quartos
General view from room balconies | Aussicht vom
Zimmerbalkon
A mon ta n h a m á g i c a : a b e l e z a da n at u re z a n a t e r ra p re s e rva da
52 Belvedere
mim, significam evolução,
a variedade de cores e formas, os
desenvolvimento. Além disso, não
jardineiros não param.
há coisa melhor do que se sentar à
sombra de uma delas”.
“As espécies anuais são
trocadas semestralmente, em abril
As transformações do hotel, no
e outubro; enquanto as perenes,
lambertii), manacá-da-serra
sentido de modernizá-lo, acabaram
de vida longa, são mantidas. Há
(Tibouchina mutabilis), araucária
modificando o visual dos jardins:
sempre um grupo em floração, e
(Araucariacea), jacarandá
“Quando reformamos a área da
o auge do esplendor acontece em
(Bignoniaceae) e bracatinga
piscina, novos canteiros se fizeram
agosto e setembro, quando chove
(Mimosa scabrella), entre outras.
necessários, assim como aconteceu
menos e as flores, regadas
com a criação do chalé de reuniões
manualmente, duram mais”, revela
Lenz Cesar abaixando-se a cada
e com o Toribinha. Não há um
Kátia. É tempo de amor-perfeito
canteiro de flores ao lado dos
planejamento global, mas uma
(Viola sp.), calêndula (Calendula
jardineiros, removendo ervas
integração entre uma área e
officinalis), goivo (Matthiola
daninhas, procurando sementes e
outra para formar um conjunto
incana), boca-de-leão
mudas diferentes e vibrando com
harmônico”, explica Kátia Rys.
(Antirrhinum majus), prímula
o êxito de uma nova florada pode
E para que os hóspedes sejam
(Primula malacoides), nemesia ou
surpreender-se com a afirmação de
surpreendidos e se sintam
jóia-do-cabo (Nemesia strumosa),
que ela prefere as árvores: “Para
maravilhados a cada visita com
petúnia (Petunia sp.) e narciso
Quem vê a dedicação de Elisa
51
52
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
50 Anêmonas (Anemone japonica)
Anemones | Japanische Herbst-Anemone
49 Orquídea
Orchid | Orchidee
45 Amor-perfeito (Viola sp.)
Pansy | Stiefmütterchen
54
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
organiza os canteiros escolhendo
cores que combinem ou selecionando espécies monocromáticas.
Assim, vão surgindo, em meio ao
impecável gramado coberto de
grama quicuio (Pennisetum
clandestinum) — uma espécie
rústica e extremamente resistente
—, manchas lilases, brancas, rosa,
roxas: amor-perfeito-amarelo com
bordadura de calêndula-laranja;
amor-perfeito-azul com
campânula-roxa ou lilás; ou, ainda,
amor-perfeito-branco com
Alyssum (Lobularia maritima)
branco. No caso das marias-semvergonha, coloridíssimas, algumas
mudas são separadas por tons antes
de formar um novo canteiro.
Para compor com o vermelho
dos gerânios (Pelargonium
peltatum) e (Pelargonium
domesticum) do Toribinha ou das
petúnias nos muros, são escolhidas
mudas brancas, rosa e roxas. A
edelweiss (Leontopodium alpinum)
— também chamada de estrelabranca-dos-alpes — é uma das
47 Hortênsias (Saxifragaceae)
Hydrangeas | Hortensien
(Narcissus cyclamineus), por
mais recentes conquistas desta
exemplo. O verão traz cravo
terra acolhedora: nativa em
46 Estoquézia (Stokesia laevis)
Strokes aster | Kornblumenaster
(Dianthus chinensis), maria-sem-
ambiente agreste, como as rochas
vergonha (Impatiens hawkeri) e
alpinas, floresceu bela e feliz em
(Impatiens walleriana), zínia
Campos do Jordão; assim como a
(Zinnea elegans), campânula
azaléa-laranja (Ericaceae), um tipo
(Campanula rapunculoides), tagetes
raro com variações de tons que vão
(Tagetes patula e Tagetes erecta),
do amarelo ao salmão. Na horta,
flor-canhota (Scaevola aemula) e
totalmente orgânica, endívia
flor-de-tigre (Tigridia pavonia),
(Cichorium endivia), radicchio
entre muitas outras.
(Cichorium intybus) e cerefólio
Para harmonizar todos os tons
de forma a encantar os olhos, Kátia
(Anthriscus cerefolium) — típicos
do Mediterrâneo — crescem
A mon ta n h a m á g i c a : a b e l e z a da n at u re z a n a t e r ra p re s e rva da
48 Inseto em margarida-do-cabo
(Osteospermum ecklonis)
Insect on African daisy | Insekt auf der Nelkensorte
pp. 56-57 51 Rosa-de-pedra (Echeveria elegans)
Hen and Chicks | Echeveria elegans
saudáveis e seguem fresquinhos
O segredo de tanta beleza é
para a cozinha. “O zelo com os
ilustrado pelo jardineiro-poeta
jardins permitiu a introdução e a
Antonio Moreira da Silva Filho,
adaptação de espécies de flores e
que chama a atenção dos hóspedes
plantas até então não utilizadas
quando há alguma espécie
no Brasil. O hotel tornou-se
diferente, como o raro copo-de-
referência em paisagismo, e é
leite-negro (Zantedeschia aethiopica
comum que os jardineiros do
Spreng), enquanto declama as
município reportem o fato de
próprias poesias: “Converso com
terem trabalhado no Toriba como
as plantas. E elas respondem com
sinônimo de bons profissionais”,
a florada, que é a linguagem delas.
destaca o engenheiro agrônomo
São obedientes, desde que se dê a
Alexandre Gonçalves.
elas o que precisam”.
55
58
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
96 Papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea)
Vinaceous Amazon | Taubenhalsamazone
97 Jacu (Cracidae) na Praça de Alimentação
Guan in the Food Mall | Jacu im
Restaurantbereich
98 Tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus)
Red-breasted Toucan | Grünschnabeltukan
99 Tirivas (Pyrruhura frontalis)
Conures | Weißohrsittich “Tirivas”
pp. 60-61 109 Parcour
A mon ta n h a m á g i c a : a b e l e z a da n at u re z a n a t e r ra p re s e rva da
59
D i v e r s ã o g a ra n t i da
Diversão garantida
Um paraíso ao alcance
das mãos
Ornela, Nathalie, Martin, Gustavo,
Luisa, Max, Ana, Thomaz, Caio
Augusto, ainda muito jovens.
N
54 Parada Toriba
Toriba Stop | Haltestelle Toriba
55 Terraço
Terrace | Terrasse
Ou ainda de Alessandra, Klaus,
os mais de sessenta anos
Francisco, Claudia, Giovanna,
de vida do Hotel Toriba, ao
Desirée, Marcus Vinícius, Flávia,
menos três gerações se divertiram.
Fernanda, Sergio, Eduardo, Peter,
E muito! Seria impossível relatar
Yvone, Silvia, Alicia, de uma
todas as experiências de Walter,
geração intermediária, que hoje
Hilda, Érika, Hannelore,
resgata não apenas o hotel, mas
Henrique, Gunther, Vanja,
também o prazer de estar em
Cláudio, Helen, Werner, Helga,
Campos do Jordão, longe da
Eugênio, Luiz, que assistiram ao
confusão da cidade grande, pro-
seu nascimento. Ou de Pedro,
porcionando aos filhos momentos
Paulo, Sofia, Olívia, Alessandro,
de lazer inigualáveis.
63
64
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
um grande plantel, mas os cavalos
se baseava em belíssimos passeios
é evidentemente incompleta.
— nascidos na região — eram
pelas redondezas, explorando
Alguns sobrenomes são repletos
muito bem tratados e faziam
trilhas, fruindo a natureza quase
de consoantes com sonoridade
bonito”, lembra Cláudio László,
intocada. Claudio lembra-se das
estrangeira, principalmente os da
cuja família tinha casa nas
excursões com o caminhão da
primeira turma. “Nas décadas de
vizinhanças do hotel. Ele vivia se
fazenda Toriba para o Pico do
1940 e 1950, no mês de julho o
divertindo por lá, onde, por sinal,
Itapeva: “Havia tábuas presas nas
hotel era freqüentado
conheceu Vanja, sua esposa. Em
laterais do veículo à guisa de
especialmente pela colônia síria
dezembro e janeiro, normalmente
assento e levávamos a refeição:
e libanesa, que transferia para
a colônia judaica marcava
churrasco, saladas, bebidas, enfim,
Campos parte dos belos cavalos,
presença, com representantes
além de alguns cavalariços. Os
originários especialmente da
animais iam numa gôndola do
Áustria e da Alemanha.
A lista de primeiros nomes
trem e ficavam na cocheira que
Nessa época, Campos do
se localizava onde hoje está a
Jordão era uma cidadezinha calma,
portaria. O Toriba não possuía
tranqüila, e o lazer dos hóspedes
56 Terraço
Terrace | Terrasse
D i v e r s ã o g a ra n t i da
todo o necessário para um bom
divertimento. No final do dia
voltávamos empoeirados, cansados
e felizes”.
Na mesma época, Marisa
Caparica, até hoje hóspede fiel do
Toriba, costumava passar as férias
em Campos, no Umuarama, com a
turma do Colégio Mackenzie, de
São Paulo. “Saíamos de madrugada
para ver o sol nascer lá no Itapeva.
Vestíamos muitos agasalhos e
levávamos cobertores para agüentar
o frio. Víamos as luzes das cidades
se apagando, uma a uma, à medida
que o sol aparecia. Um espetáculo
inesquecível! Como as turmas de
meninos e de meninas iam para
o acampamento em temporadas
distintas, encontrávamos os rapazes
vindos da cidade e dos hotéis lá em
cima. Era um programão!”, divertese com a lembrança.
No Toriba ninguém dormia
muito. “Acordávamos cedo para
andar a cavalo. Às 11h30, porém,
já estávamos prontinhos, no bar,
para um aperitivo antes do
almoço. Quando serviam a
comida, já havia uma turma bem
‘alegrinha’ ”, conta o empresário
“Jogávamos tênis com o gerente
Gunther Tuch. “Naquele tempo
Tischauer, que era um ótimo
o hotel não tinha piscina. O ar
relações-públicas. Ele tinha uma
fresco, a montanha e a
bela coleção de discos franceses e,
convivência agradável bastavam.
durante a temporada, organizava
As diárias eram baratíssimas! Para
bailes na sala de lareira”, lembra
ter uma idéia, nossa conta no bar
Cláudio László. Na festa de
era infinitamente maior que o
réveillon, depois da ceia impecável,
preço da hospedagem durante
além de dança havia brincadeiras
toda a temporada”, completa
de salão. Uma das preferidas era a
Gunther.
seguinte: apoiava-se uma tábua
57 Passeio de charrete
Buggy ride | Fahrt mit der Tilbury-Kutsche
58 Ao piquenique de caminhão
To the pick-nick in a truck | Zum Picknick mit
dem Lastwagen
65
66
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
entre duas cadeiras distantes cerca
da pessoa da frente! Era uma
de 1 metro e depois se pedia a um
simples brincadeira de férias, e
rapaz para sair do salão. Ao voltar,
o menino nem poderia imaginar
o rapaz ficava de olhos vendados e
que viria a tornar-se um dos
era convidado a subir na tal tábua,
nomes mais importantes no
apoiando-se nos ombros dos
mundo da moda e da publicidade,
companheiros que, nesse ponto,
com trabalhos expostos nos
começavam a se abaixar, dando a
Estados Unidos, Europa e Japão.
impressão de que era a tábua que
“Para mim, o Toriba era sinô-
estava subindo. Aí, pediam para a
nimo de liberdade”, conta Klaus.
pessoa pular. De uma altura de 10
A primeira vez que foi ao hotel
ou 20 centímetros, que ninguém
tinha 7 ou 8 anos. Até os 18 anos,
esperava! Gargalhada geral...
passou regularmente as férias de
Também se jogavam dados. Quem
janeiro em Campos do Jordão.
tirava cinco ases no poker era
O lugar era o ponto de
obrigado a pagar champanhe para
encontro dos amigos, e ele não
todo o grupo, um luxo na época.
tinha dúvidas de que iria encontrar
Quando não, os hóspedes
as mesmas pessoas. “Como ficava
reuniam-se ao redor de uma mesa
bem isolado, era aventura pura!”,
e contavam piadas e casos
conta. “Os cavalos eram o grande
engraçados durante horas e horas.
momento”, lembra-se. Adorava
O divertimento adentrava a
fazê-los empinar-se, o que resultou
madrugada.
em algumas quedas sem grandes
conseqüências. Pior mesmo foi
***
quando teve o interior da boca
mordida por um marimbondo.
Foi em 1964, aos 12 anos de
Era um tagarela de primeira,
idade, que o fotógrafo Klaus
e certa vez o inseto entrou-lhe
Mitteldorf fez as primeiras
pela boca e a picou, deixando-a
experiências com uma pequena
inchada, e muito dolorida.
câmera que ganhou dos pais,
Os meninos também faziam
Werner e Inge Mitteldorf. Junto
caminhadas pelas fazendas
com Ari e Alexandre — os filhos
vizinhas. Saltavam pelos riachos,
mais velhos do gerente Joseph Jurt
brincavam de esconde-esconde.
—, posicionava uma pessoa na
Andavam pela linha do trem e
frente com a palma da mão
repetiam o que viam nos filmes.
voltada para cima e outra pessoa
Colocavam o ouvido sobre os
bem mais atrás. Apertava o
trilhos para adivinhar se a
obturador. Revelada a foto, tinha-
composição se aproximava.
se a impressão de que a pessoa de
Afastavam-se e esperavam-na
trás estava sobre a palma da mão
passar. Quando estavam
59/60 Fazendinha
Fazendinha (little farm) | Fazendinha
D i v e r s ã o g a ra n t i da
desocupados, lavavam os carros
metros quadrados. Ao lado dela
dos hóspedes ou colhiam pinhão
pretendia construir uma casa para
para vender. Com o dinheiro,
os fins de semana, mas a esposa,
pagavam o aluguel dos cavalos e
dona Neuza, foi contra. “Ela
iam até a cidade tomar sorvete.
preferia mil vezes ir para o hotel,
À noite, antes de dormir, Klaus
que era praticamente uma
alimentava os enormes sapos que
extensão de nossa casa, e acabei
ficavam perto do chalé: caçava
vendendo o terreno”, diz.
besouros e os colocava, ainda
vivos, na boca dos batráquios.
***
“Campos era só uma rua, uma
vila nas montanhas”, recorda-se.
Ao fechar os olhos, diz que ainda
Toriba, de manhãzinha, Fernando
é capaz de visualizar a fumaça
Brás de Andrade, 25 anos, jeito
saindo da chaminé das casas, sentir
alegre e rápido de falar, gira o rosto
o cheiro da lenha queimando, o
para receber o cumprimento
perfume das cercas vivas...
sorridente de algum hóspede
No final da década de 1970,
63 Pedra do Baú, julho de 1963
Pedra do Baú, July, 1963 | Pedra do Baú, Juli 1963
61 Casa construída por Luiz Dumont Villares no
topo da Pedra do Baú. Fotografia de julho de
19633
House built by Luiz Dumont Villares on top of the
Pedra do Baú | Haus, gebaut von Luiz Dumont
Villares auf dem Gipfel der Pedra do Baú
62 Pedra do Baú, julho de 1963. Para muitos, a
primeira experiência em escalada acontece na
Pedra do Baú
Pedra do Baú, July, 1963. For many people, the first
experience in climbing happens at the Pedra do Baú
| Pedra do Baú, Juli 1963 Viele machen ihre erste
Erfahrung im Klettern auf der Pedra do Baú
“Oi, tio...!” Assim que chega ao
mirim. Com sorriso largo e uma
o ex-governador de São Paulo
palavra sempre amigável, ele
José Maria Marin foi o herói dos
responde à saudação. Professor
garçons e de membros da brigada
de Educação Física, trabalha há
da cozinha. Jogador fanático e ex-
vários anos como monitor das
presidente da Federação Paulista
crianças nas férias e feriados
de Futebol, não apenas ofereceu ao
prolongados. É tão querido pela
time do Toriba um jogo completo
moçada — dos 4 aos 16 anos —
de uniformes, como também
que muitos jovens insistem para
abastecia os funcionários de
que os pais voltem ao hotel por
publicações e brindes da federação
causa das brincadeiras de Fernando.
sempre que lá passava alguns dias.
Do que mais gostam? Pique-
“O time deles era excelente! Uma
bandeira (o objetivo é um time
vez que fomos jogar num campo
tirar a bandeira de outro); polícia-
oficial, lá na cidade, não sei dizer
e-ladrão (uma espécie de esconde-
quem ganhou, mas não posso
esconde entre duas equipes); caça-
esquecer da tempestade que caiu
ao-tesouro (quando as duas
no final da partida. Era todo
turmas saem em busca de um
mundo jogando na lama”, recorda
objeto); e o campeão de audiência:
Marin.
caça-fantasma, realizado à noite!
A paixão pelo esporte era tão
“Até os maiores fazem questão de
grande que Marin chegou a
participar de algumas atividades”,
comprar uma quadra em Campos
conta Fernando. Aos 15 anos
do Jordão, num terreno de 16.000
de idade, Eleonora Aronis é um
69
70
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
exemplo de atitude saudável:
Tarundu, onde, além de cavalgar,
renciados, como Kiko Maldonado,
depois de cavalgar, nadar e tomar
praticamos arborismo e tirolesa
freqüentador do Toriba desde a
sol na piscina, joga tênis, faz
(travessia de corda com uma
infância, que hoje, acompanhado
caminhadas e brinca com a
extremidade ancorada em um
dos filhos Francisco e Felipe,
garotada. “Uma vez fizemos uma
ponto superior à outra, usando
procura trajetos ideais para
fogueira e até assamos
a inclinação para se deslocar
motocicleta. A ala nova de fitness
marshmallow”, conta.
dependurado). Vamos muito ao
do hotel, incluindo sala de
Horto Florestal, à Fazendinha,
ginástica, massagem, piscina e
no mínimo a cada mês e meio, as
fazemos pescarias na Truta Azul,
sauna, atrai pessoas de todas as
crianças entram em coma”, brinca
visitamos a cachoeira do Lenz
idades. E muitos aproveitam as
a advogada Alicia Shores, mãe
Gourmet, experimentamos
ótimas quadras de tênis, reco-
dos pequenos Nathalie e Martin.
restaurantes. Uma vez aluguei um
bertas com saibro, para partidas
Ela, no entanto, faz questão de
jipe 4 por 4 com um motorista
emocionantes.
aproveitar todos os encantos e
biruta que nos chacoalhou por
diversões dos arredores do hotel.
trilhas incríveis”, conta realizada.
“Se não vamos para o Toriba
“Quando eles eram menores,
Muitos hóspedes ainda sobem
adoravam andar de trem, então
os 360 degraus da Pedra do Baú e
era um sobe-e-desce. Hoje,
o Pico do Itapeva. Outros, mais
freqüentamos o Centro de Lazer
afoitos, preferem esportes dife-
64 Escorregador, 2005
Slider, 2005 | Rutsche, 2005
D i v e r s ã o g a ra n t i da
65 Escorregador, 2007
Slider, 2007 | Rutsche, 2007
Apesar das inúmeras cercas e
sessenta anos pelo atrito dos
portões impedindo a liberdade de
próprios hóspedes que nela
ir e vir pelos campos encantadores
deslizam, continua sendo um
das vizinhanças, uma temporada
símbolo do hotel. Os degraus da
no hotel, por menor que seja,
escada que conduz ao salão de
continua sendo um convite ao
brinquedos, que já foi barbearia,
passeio. Uma rotina partilhada
cabeleireiro e salão de baile, são
por todos os hóspedes, seja dentro
testemunhas de várias gerações:
dos limites da propriedade — pelo
no lado esquerdo, junto à rampa
bucólico trajeto do parcours —,
descendente, revelam as marcas
seja pelos arredores.
do tempo num suave e delicado
Em todas as épocas, de todas
desgaste provocado pelos pés
as décadas, o escorregador do
das mães cuidadosas ali postadas,
Toriba figura como destaque. A
protegendo os filhos de uma
madeira lisinha e brilhante,
descida excessivamente
lustrada diariamente há mais de
impetuosa.
71
C u lt u ra e t u r i s mo de m ã o s da das
Cultura e turismo de mãos dadas
Arte em várias formas
memórias inacabado. Outros
Ela não deixava nada a dever
nem tocaram no assunto, como
às melhores da capital. Era —
Monteiro Lobato, que, enquanto
ao que me parece — um reflexo
morou na cidade para acompanhar
da presença de intelectuais na
peça, ou melhor, o primeiro
o tratamento de dois filhos
cidade”, analisa o professor
esquete cômico, o jornalista
enfermos, relatou os sonhos de
Antonio Fernando Costella,
Nelson Rodrigues, na época com
viagem do personagem Pedrinho
criador e diretor do Museu da
23 anos, estava internado nos
por países estrangeiros, em
Xilogravura. Única do gênero no
Sanatorinhos (Associação de
Geografia de Dona Benta (1935), da
Brasil, a casa expõe permanen-
Sanatórios Populares), em Campos
coleção Sítio do Picapau Amarelo.
temente o trabalho de mais de 100
do Jordão, em tratamento contra
Intelectuais chegavam para
artistas brasileiros e estrangeiros e
tuberculose. Era o ano de 1935, e
visitar os amigos convalescentes e
mantém no acervo mais de 2.000
um doente propôs que encenassem
acabavam gostando tanto dos
obras de 200 xilógrafos.
um teatrinho sobre os próprios
encontros lítero-musicais que se
internos. No dia da apresentação,
tornavam freqüentadores assíduos
evolução da vida cultural da cidade
o susto: as gargalhadas provocaram
da cidade. A lista de nomes é
foi a inauguração do Palácio Boa
tão violentos acessos de tosse que
imensa. Em diferentes épocas,
Vista. A construção, que nasceu
a brincadeira foi rapidamente
Campos do Jordão recebeu a visita
com o objetivo de abrigar a sede
encerrada. Mas, sem dúvida,
dos escritores Monteiro Lobato,
do governo estadual durante o
seu primeiro passo em direção à
Mario de Andrade, Manuel
verão, foi projetada em estilo
dramaturgia estava dado.
Bandeira, Menotti Del Picchia,
Maria Tudor, com 105 cômodos.
Plínio Salgado e Origines Lessa;
Levou 25 anos para ser concluída
a subir a serra em busca de cura.
conceituados artistas plásticos
e, em 1970, foi declarada
Vários escritores usaram a doença
como Di Cavalcanti, Anita
Monumento Público do Estado
como tema de romance, como
Malfatti, José Pancetti, Lazar
de São Paulo. Hoje, o Palácio
Paulo Dantas, membro imortal da
Segall, Camargo Freire, Osvaldo
reúne obras de alguns dos mais
Academia Brasileira de Letras
Estribitta de Almeida e Francisco
importantes nomes da pintura
de Campos do Jordão e autor de
Prohane; além das pianistas como
brasileira, como Aldo Bonadei,
Cidade Enferma (1950); e Paulo
Guiomar Novaes e Magdalena
Francisco Rebolo, Clóvis
Setúbal, que descreveu sua dor
Tagliaferro, entre outros.
Graciano, Walter Zanini, Fulvio
Q
uando escreveu a primeira
Nelson não foi o único artista
em Confiteor (1937), livro de
67 Festival de Inverno, 2006
Winter Festival, 2006 | Winterfestival, 2006
“Lembro-me de que em fins
Um importante passo na
Pennacchi, José Pancetti — que
da década de 1950 e início da
procurou Campos para tratar da
seguinte tive oportunidade de
tuberculose e aí pintou grande
comprar livros excelentes em
parte da obra — e a maior coleção
uma livraria muito bem abastecida
no país de trabalhos de Tarsila
que existia, então, na Abernéssia.
do Amaral.
73
74
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
No acervo do palácio estão
quase 2.000 peças, entre
antiguidades, mobiliário do século
XVII e XVIII e produções de
artistas contemporâneos. “É um
percurso pelos 100 anos de arte
brasileira: de 1910, com Anita
Malfatti, até os dias de hoje,
representado pelo trabalho de
Tomie Ohtake”, explica Vera
Lucia Teixeira de Faria, diretora
responsável pela visitação pública,
há 33 anos trabalhando no Palácio.
“Recebemos entre 70.000 e 80.000
visitantes por ano, dos quais 6.000
são estudantes. É um número
muito representativo e muito
participação de estudantes
importante para Campos do
bolsistas, e, seis anos mais tarde,
Jordão!”, conclui a entusiasmada
o evento foi transferido para o
profissional.
auditório Cláudio Santoro. “O
66 Palácio Boa Vista
Boa Vista Palace | Palast Boa Vista
Foi no Palácio, em 1970,
Festival Internacional de Inverno
que aconteceram os Primeiros
de Campos do Jordão tem hoje a
como os cantores Roberto Alagna,
Concertos de Inverno, idealizados
participação de jovens músicos
Ângela Gheorghio, Aprile Millo e
por Luiz Arrobas Martins.
dos quatros cantos do mundo.
Gal Costa; o violoncelista Antonio
Secretário da Fazenda e coorde-
A diversidade cultural aliada a
Menezes; os pianistas Arthur
nador do Grupo Executivo de
um imenso programa de trabalho
Moreira Lima, Yara Bernette,
Aproveitamento do Palácio do
e aulas dão aos alunos uma
Nelson Freire, Maria João Pires,
Governo, tinha intenção de criar
experiência sem paralelo na
Sonia Muniz e as irmãs Labecque,
um evento artístico e cultural no
formação acadêmica”, explica o
entre muitos outros, estiveram no
nível dos melhores do mundo.
maestro Roberto Minczuk, diretor
palco, muitos inclusive como
Os diretores artísticos eram os
artístico desde 2004 e que, aliás,
professores. Campos do Jordão
maestros Eleazar de Carvalho,
foi bolsista em 1978, aos 11 anos
acolheu algumas grandes
Camargo Guarnieri e Souza Lima,
de idade.
orquestras internacionais como a
que se inspiraram no Festival de
Durante todos esse anos, o
de Moscou, Argentina e Uruguai;
Tanglewood, do Estado americano
Festival contou com a presença
e, em 2001, foi criado o Festival
de Massachusets. Jesus, Alegria dos
de grandes nomes nacionais e
Infantil, reunindo centenas de
Homens, de Bach, executado pela
internacionais, como os regentes
crianças aos domingos para assistir
pianista Magdalena Tagliaferro,
Juan Serrano, Marlos Nobre,
a espetáculos de música erudita
abriu a primeira apresentação.
Roberto Tibiriçá, Kurt Masur e
produzidos especialmente para
A partir de 1973, o maestro
Mstislav Rostropovich, por
essa faixa etária no auditório
Eleazar de Carvalho admitiu a
exemplo. Solistas de renome
Cláudio Santoro.
C u lt u ra e t u r i s mo de m ã o s da das
Projetado pelos arquitetos
Giancarlo Gasperini e Orfeu
escultura, único ao ar livre no país
Zamboni, com capacidade para
e um dos raros no mundo de um
quase 900 pessoas sentadas, o
só autor.
auditório compartilha um terreno
68 Escultura de Felicia Leirner, jul/2006
Sculpture by Felicia Leirner, July/2006 | Plastik
von Felicia Leirner, Juli/2006
origem, assim, ao museu de
“Todo esse conjunto de
de 350.000 metros quadrados
eventos culturais, como o Festival
com o Museu Felícia Leirner,
de Música, e museus, como o
onde estão expostas mais de
Palácio, a Casa da Xilogravura, a
100 obras de diferentes fases da
coleção de esculturas de Felicia,
escultora, que trocou a Polônia
e outros eventos mais recentes
pelo Brasil em 1927, estudou com
têm deixado reflexos econômico-
Victor Brecheret, participou de
financeiros na vida dos
Bienais e foi aclamada como
jordanenses. Tais atividades,
uma de nossas maiores artistas.
internamente, geram empregos e,
Residente em Campos do Jordão
externamente, sugerem Campos
por vinte anos, ela doou à cidade
do Jordão como destino turístico
toda a produção de bronze,
para viajantes de todo o país”,
granito e cimento branco, dando
considera o professor Costella.
75
Pa re de s c om a rt e : o s a f re s c o s de F u lv i o P e n n ac c h i
Paredes com arte: os afrescos de Fulvio Pennacchi
T
odos que entram no Hotel
Toriba notam imediatamente:
no bar, na sala de café e chá, no
restaurante e no aconchegante
salão onde hóspedes e visitantes
se reúnem ao redor da lareira,
as paredes são quase totalmente
recobertas por belíssimos afrescos,
onze ao todo, somando mais de
60 metros lineares de pintura.
O autor da obra é Fulvio
Pennacchi, desenhista, pintor,
muralista e ceramista de origem
italiana, radicado em São Paulo
desde 1929, e integrante do
chamado Grupo Santa Helena —
junto com Alfredo Volpi,
Francisco Rebolo, Aldo Bonadei,
Alfredo Rizzotti, Mario Zanini
provavelmente já tinha alguma
entre outros, na maioria
intimidade com o trabalho do
imigrantes ou descendentes
artista quando o convidaram a
diretos. Chegou ao Brasil com o
adornar as paredes do hotel.
diploma do Reggio Istituto di
Nessa época, Pennacchi já havia
Belle Arti com Licença do Curso
conquistado certa fama graças aos
Superior de Belas Artes na Seção
murais executados na Igreja Nossa
de Decoração Mural, e combinava
Senhora da Paz, em São Paulo,
elementos clássicos da formação
e em elegantes residências da
italiana com a atmosfera brasileira
capital, além de agências bancárias
que tão bem compreendia.
e instituições privadas.
Não se sabe ao certo qual
Enquanto pintava as paredes do
era a relação do artista com os
hotel, escrevia em forma de poema
fundadores do hotel, mas, de
sobre a beleza da paisagem de
acordo com o pesquisador e
Campos do Jordão para Filomena
estudioso Valério Pennacchi,
Maria dall’Aste Brandolini
seu parente, Luiz Villares
Matarazzo, na época sua noiva:
69 Portadas e salões
Portals and Salons | Zwischentüre und Säle
72 Restaurante Pennacchi, década de 1940
Pennacchi Restaurant, 1940s | Restaurant
Pennacchi, 40er-Jahre
77
78
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
73/71 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
73/71 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
Campos do Jordão
Colli montagne sfuggono nel cielo;
verde con verde e terra vario pinte
di toni caldi: sembrano i monti
di velluto antico, di belezza regale;
i verdi chiari e verdi rosso terra,
e sentieri che vanno girovaghi
intorno agli ondulanti immensi monti.
Intercalate con le vaste curve
da boschi verdi, tanto ricchi e belli;
e verdi oliva, e verdi di smeraldo,
e verdi arancio ed infiniti toni
di goiezza composti.
Vasto e si bello il paesaggio intorno
ch’io dipinger ni só, mi mantengo muto,
osservando, osservando
e meravilgia mi prende tutto
e penso alla potenza di Dio infinita
sopra questo mondo.
“Colinas e montanhas que se arrastam para o céu;
Verde com verde e multicoloridas
Terras de tons quentes
Parecem montes de veludo antigo,
De beleza régia;
E verdes claros, e verde vermelho terra
Os rodeantes caminhos acompanham
Os imensos e ondulados e montes
Intercalados, nas vastas curvas, estão
Os bosques tão verdes, tão ricos e belos;
E verde oliva, e verde esmeralda, e verde alaranjado.
Engendram infinitos prazenteiros tons.
Tão grande e bela é a paisagem circunvizinha
Que eu não consigo pintá-la
Mantenho-me mudo, observando, observando
E tal deslumbre me invade, todo,
Me faz pensar ao infinito poder de Deus
Sobre esse mundo!”
70/77 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
Pa re de s c om a rt e : o s a f re s c o s de F u lv i o P e n n ac c h i
81
Pa re de s c om a rt e : o s a f re s c o s de F u lv i o P e n n ac c h i
70/77 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
Pennacchi mergulhou no
no terreiro, a bandeirola de um
cancioneiro popular em busca de
santo junino, a espiga de milho, a
inspiração e dele extraiu temas
primeira colheita, o fruto da terra,
singelos relacionados à vida
a oferenda. Nos versos, as palavras
campestre, numa narrativa visual
do tocador de viola Angelino de
de três famosas canções cujos
Oliveira, de Botucatu, e de Luiz
versos foram reproduzidos no
Peixoto, personagem carioca misto
rodapé de algumas das cenas.
de poeta, compositor, caricaturista
Nos afrescos do bar, estampou
e teatrólogo entre outros dotes
uma vindima e, para o restaurante,
artísticos.
criou uma festa rural focada no
churrasco gaúcho, relacionando,
assim, os temas aos espaços. Já no
Tristeza do Jeca
salão da lareira, apropriou-se do
Angelino de Oliveira, 1918
folclore e explorou as Entradas e
Bandeiras, na sala do chá e café.
Nestes versos tão singelos,
A obra contém símbolos
minha bela, meu amor,
inequívocos da cultura nacional:
p’ra você quero contar
a viola, o violeiro, o cachorro
o meu sofrer e a minha dor.
companheiro do
Eu sou como o sabiá,
caipira, as
quando canta é só tristeza
galinhas
desde o galho onde está.
Nesta viola eu canto e gemo de
verdade
Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
num ranchinho à beira chão,
todo cheio de buraco,
onde a lua faz clarão.
Quando chega a madrugada
lá no mato a passarada,
principia um barulhão.
Vou parar com minha vida já não
posso mais cantar
Pois o Jeca quando canta tem
vontade de chorar
E o choro que vai caindo
Devagar vai se sumindo como as
águas vão pro mar.
83
84
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Pa re de s c om a rt e : o s a f re s c o s de F u lv i o P e n n ac c h i
Casinha da Colina
Luiz Peixoto
Você sabe de onde eu venho?
Do jasmineiro tão branco,
De uma casinha que eu tenho,
tomba de leve no banco
Fica dentro de um pomar.
a flor que ninguém colheu.
É uma casa pequenina,
No canteiro há uma rosinha,
lá no alto da colina,
no aprisco uma ovelhinha,
de onde se ouve longe o mar.
e na casa meu cão e eu.
Entre as palmeiras bizarras,
Junto a minha cabeceira,
cantam todas as cigarras,
minha santa padroeira,
sob o pó de ouro do sol.
que está sempre em seu altar,
Do beiral vê-se o horizonte,
cuida de mim se adoeço,
no jardim canta uma fonte
vela por mim se adormeço,
e há na fonte um caracol.
e me acorda devagar.
(...)
Mas se acaso anoitecer
tudo pode acontecer
(que será de mim, depois?).
A casinha pequenina,
lá no alto da colina,
chega bem para nós dois.
74 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
76 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
85
86
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Pa re de s c om a rt e : o s a f re s c o s de F u lv i o P e n n ac c h i
78 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
87
88
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
De acordo com Valerio
fora e, sem idéia para onde ir,
Pennacchi, dar vida a uma parede
fomos vasculhar o Guia 4 Rodas.
por intermédio de poesias não era
Estava lá o detalhe que me atraiu:
novidade para o artista. Muitos anos
os afrescos do Pennacchi, artista
antes, ainda na Itália, havia se inspi-
que admiro e de quem possuo uma
rado no poema O Triunfo de Baco e
tela”, explica Domingos.
Ariana, de Lourenço, o Magnífico,
De maio de 2004 a março de
da família Dei Medici, decorando
2005, Julio Moraes e equipe
com murais a têmpera a residência
restauraram os afrescos, um tanto
de Valerio Pennacchi dei Notari na
danificados pela passagem do
Garfagnana, Lucca, Itália.
tempo. Durante meses, na dança
Desde o início da década de
dos andaimes, pequenas fendas
1990, Ivani e Domingos Barbosa
foram fechadas, novas tonalidades
da Rocha incluíram na agenda de
se revelaram e uma luminosidade
descanso o Hotel Toriba. Ao
diferente foi surgindo, trazendo de
contrário do que acontece com
volta o brilho do trabalho original,
muitos outros hóspedes, eles não
depois de mais de sessenta anos.
conheciam o hotel, não haviam
Valeu a pena! A coleção de
freqüentado na infância ou
murais preservados e restaurados
adolescência e não chegaram lá
do Hotel Toriba é uma das maiores
por conselho de amigos. “Um dia
e mais importantes obras em
decidimos passar o fim de semana
exposição permanente do artista.
79 Restauro de afrescos, Julio Moraes
Conservação e Restauro SCL
Fresco restoration, Julio Moraes Conservação
e Restauro SCL | Restaurierung von Fresken,
Julio Moraes Conservação e Restauro SCL
Pa re de s c om a rt e : o s a f re s c o s de F u lv i o P e n n ac c h i
75 Afresco de Pennacchi
Fresco by Pennacchi | Freske von Pennacchi
81/80 Restauro de afrescos, Julio Moraes
Conservação e Restauro SCL
Fresco restoration, Julio Moraes Conservação
e Restauro SCL | Restaurierung von Fresken,
Julio Moraes Conservação e Restauro SCL
89
Ac ol h i m e n t o e b om s e rv i ç o : o s s e g re d o s d o s u c e s s o d o Tor i ba
Acolhimento e bom serviço: o segredo do
sucesso do Toriba
“C
hegar ao Toriba é como
recentes. “O Toriba é encantador e
chegar em casa.” Impossível dizer
aconchegante porque tem em sua
de quem é essa frase, pois sai da
marca a eficiência suíça, a cortesia
boca de um sem-número de
e a educação dos brasileiros e a
pessoas, especialmente daquelas
comida que é um misto de gastro-
que freqüentam o local desde a
nomia suíça, alemã e italiana.
fundação, em 1943. Faz sentido:
O jardim perfeitamente cuidado
era mesmo um “coração de mãe”
também oferece um diferencial:
extremamente acolhedor. O
raramente se encontra no mundo
casarão com muitos quartos e
uma paisagem contemplativa
poucos banheiros recebia enormes
semelhante à de seu parque
grupos de amigos fiéis, ano após
espetacular”, opina o ex-presidente
ano, nas temporadas de férias. Era
da Embratur Miguel Colasuonno,
um encontro sagrado para rever
habitué desde a infância.
uma espécie de clã composto de
De acordo com o empresário
hóspedes e funcionários e reviver
Roberto Maksoud, consultor
semanas de alegria e diversão.
na área hoteleira, o corpo de
Além disso, como já foi dito
funcionários é um dos maiores
anteriormente, trazia um grande
patrimônios de um hotel. “Seu
conforto à alma dos europeus
comprometimento com a empresa
recém-chegados, sedentos de
agrega valor ao trabalho, e o
paisagem e clima familiares
hóspede percebe”, explica. Nesse
acrescidos dos sabores de uma
quesito, o Toriba está muito bem
culinária da qual sentiam falta.
servido. Graças à baixíssima
Muitas décadas se passaram
rotatividade nos membros da folha
desde então. Os quartos viraram
de pagamento, grande parte dos
apartamentos, algumas salas
empregados não consegue contar
mudaram de função, a cocheira
nos dedos o tempo de casa. E
desapareceu, uma área de lazer foi
mais: muitos foram contratados
agregada ao complexo arquitetônico,
ainda bem jovens e treinados para
criou-se um espaço para eventos
a função pelos próprios pais.
corporativos, mas a sensação de
“Para ser um bom cozinheiro
intimidade e prazer perdura,
é preciso muita paciência”, conta
contaminando gerações mais
o chef de cozinha José Benedito
86 Araucárias ao anoitecer
Araucarias at nightfall | Araukarien beim
Sonnenuntergang
82 Portaria, 2007
Front gate, 2007 | Pförtnerhaus, 2007
91
92
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Juvenal, que lá trabalha há 35
dar bom exemplo! “Aprendíamos
anos. O pai era o responsável
aqui mesmo porque não havia
pelos fogões na época em que o
escolas como hoje. Numa cozinha
hotel era gerenciado por Joseph
nunca se está sozinho. Há sempre
Jurt (entre 1960 e 1985). Em
três ou quatro trabalhando juntos,
determinado momento, houve
e é preciso ter jogo de cintura
um problema de funcionários
para conviver em grupo, com as
e Zezinho — como é carinho-
diferenças de cada um. Saber
samente chamado — foi
mandar sem atropelar. Acho que
convocado para auxiliar uma
somos todos felizes, e isso aparece
semana na cozinha. Nunca mais
no resultado final”, acredita
saiu. Aos 14 anos de idade,
Zezinho.
garante, já era capaz de fazer de
A governanta Edna Domiciano
tudo. O gerente exigia que todos
— casada com Izildo, o chefe da
fossem profissionais completos,
manutenção — cumpre a mesma
e, como subordinado do pai,
rotina há oito anos. Às 7h45 da
enfrentou treinamento ainda mais
manhã passa pela recepção, pega a
rigoroso que os colegas. Tinha de
lista de hóspedes e vai cuidar dos
84 Portaria, década de 1960
Front gate, 1960s | Pförtnerhaus, 60er-Jahre
Ac ol h i m e n t o e b om s e rv i ç o : o s e g re d o d o s u c e s s o d o Tor i ba
32 apartamentos (28 apartamentos
impossível não existe: “Lendo a
atentos e experientes, de quem já
e 4 chalés), distribuindo as tarefas
ficha de hóspedes assíduos, já sei
chefiou equipes em grandes redes
entre a equipe de arrumadores,
o que providenciar. Alguns não
hoteleiras. Desde o primeiro dia,
formada por três mulheres e três
gostam do aroma dos produtos
deu grande atenção ao jeito de
homens. Eles têm, no máximo,
de limpeza e trato de substituir,
servir, de atender. “Nosso pessoal é
quinze minutos em cada quarto
outros exigem uma infinidade de
composto de pessoas extremamente
para deixar tudo em ordem
travesseiros. Dependendo do caso,
honestas, humildes e dedicadas.
quando o hóspede está por perto e
colocamos até armários extras
Passam por treinamentos cons-
trinta minutos quando estiver fora
no apartamento”, ela conta.
tantes em busca de aprimoramento
do hotel. Edna organiza os turnos
Terminada a arrumação, Edna
sempre maior”, garante.
para que às 4 horas da madrugada
parte para a lavanderia, onde
um funcionário encarregado de
supervisiona o enxoval. “Somos
tração do hotel acabara de ser
passar enceradeira esteja lustrando
uma equipe e, se um de nós
retomada pelos proprietários —
o salão da lareira. Para ela, o
precisa de socorro, os outros
a família Lenz Cesar. “O Toriba
correm para ajudar”, revela.
era um produto muito bom:
Por trás do pequeno exército de
83 Portaria, 2007
Front gate, 2007 | Pförtnerhaus, 2007
Quando chegou, a adminis-
belíssima paisagem, hóspedes fiéis
43 colaboradores fixos, está Daniel
e desejosos de melhorias. Eram
Altúzar, gerente do Toriba desde
pessoas de berço, educadas,
1996. Nada escapa a seus olhos
merecedoras. E nós queríamos,
93
94
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
85 Fachada ao anoitecer
Facade at nightfall | Fassade beim Sonnenuntergang
96
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Ac ol h i m e n t o e b om s e rv i ç o : o s e g re d o d o s u c e s s o d o Tor i ba
além de manter as características
que os encantava, trazer de volta
tudo aquilo de que eles precisavam
e gostavam, além de uma nova
clientela. Durante algum tempo,
fui ‘saco de pancada’, pois era a
mim que dirigiam todas as críticas
e reclamações. Então decidimos
fechar o prédio para uma
grande reestruturação. Durante
cinco meses trabalhamos
exclusivamente com os chalés —
que estavam em boas condições.
Foi impressionante: os hóspedes
vinham assim mesmo, para
acompanhar a reforma.
Equipamos o Toribinha, que se
transformou no restaurante
oficial. Funcionamos num sistema
precário, porém decente e
confortável”, recorda o gerente.
Daniel conta, satisfeito, que
nenhum funcionário foi demitido
nesse período e que a equipe
trabalhou como pode de modo
a ajudar. Móveis, acessórios,
adereços, peças decorativas, tudo
ficou estocado num galpão —
no Lenz Gourmet (sítio vizinho).
Pratos, copos, panelas, talheres e o
“Um hotel é como uma
enxoval — roupa de cama, toalhas,
pequena prefeitura: a manutenção
travesseiros —, tudo embalado
tem de ser constante para que
em sacos plásticos herméticos nos
nada quebre, falhe ou se desgaste
quais eram introduzidos grãos de
além do necessário”, acredita
pimenta com o intuito de afastar
Daniel. Há sempre uma área
traças e outros insetos. A estrutura
sendo pintada, consertada,
do Toriba foi totalmente refeita,
melhorada, conservada; a extensão
do encanamento à fiação elétrica
do terreno é enorme, e a grama
antiga (ainda encapada com
precisa ser aparada o tempo todo.
tecido de algodão!), passando
“Nosso compromisso é com a
pela calefação.
realização do sonho de cada um.
87 Recepção
Front Desk | Rezeption
88 Bar Vindima, 1944
Vindima Bar, 1944 | Bar Vindima, 1944
97
98
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Ac ol h i m e n t o e b om s e rv i ç o : o s e g re d o d o s u c e s s o d o Tor i ba
Ninguém sai da própria casa se
O atendimento não reside
não for para desfrutar o máximo
apenas em tratamento atencioso:
de conforto, e nós temos isso
está baseado, especialmente, na
sempre em mente. Nossos funcio-
satisfação passível de se
nários não conhecem a palavra
materializar em pequenos
‘não’, desde que os direitos de um
detalhes, como o leite de soja no
hóspede não interfiram nos do
café da manhã ou o arroz integral
outro”, completa.
fresquinho na mesa do almoço,
“Para mim, o atendimento ao
mesmo não fazendo parte do
hóspede é primordial. E tem de
cardápio; na mostarda francesa ou
ser feito de forma muito pessoal”,
no vinho preferido do cliente
diz o maître Luis Antonio Lopes,
gourmet. Quanto às crianças,
com mais de dez anos de casa.
bem... “Seu” Luis sabe de cor e
“Todo início de semana confiro a
salteado o que elas querem. Na
lista de reservas. De acordo com
hora da refeição nem é preciso
ela, procuro providenciar aquilo
perguntar: na comanda já está
que agrada a cada pessoa esperada
marcado o “bife de casquinha” e
nos dias subseqüentes”, revela.
o prato fundo de que o pequeno
89 Quarto de casal
Double-room | Doppelzimmer
90 Quarto duplo
Double-room | Zweibettzimmer
93 Quarto de chalé
Chalet room | Chaletzimmer
99
100
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Ac ol h i m e n t o e b om s e rv i ç o : o s e g re d o d o s u c e s s o d o Tor i ba
Martin faz questão. E a mãe se
derrete, é claro.
Luis não vacila: a mise-en-place
do salão, ou seja a arrumação da
mesa, é foco de atenção diária.
A posição dos talheres e dos
copos, a colocação da toalha e dos
pequenos arranjos de flores —
diferentes no almoço e no jantar
— é revisada todos os dias.
Os garçons são instruídos sobre
a composição dos pratos do
cardápio. “Eles têm obrigação
de dar uma explicação completa,
de saber o que estão vendendo”,
assevera. Além disso, graças aos
conhecimentos adquiridos em
cursos de formação em enologia
pela Associação Brasileira de
Sommeliers (ABS), passou a toda
a equipe conhecimentos básicos
dois casais do grupo vão passar o
sobre vinhos.
final de semana no hotel e há
O recepcionista Gildo Alves
vagas, liga aos demais avisando e
Correa tem 34 anos e onze de
promovendo o encontro de todos.
Toriba. Ex-bancário, logo se
Ele acredita que esse contato
habituou à rotina da nova posição.
direto agrada aos hóspedes, que
É ele quem aceita as reservas,
se sentem felizes por estar sendo
recebe os hóspedes na chegada,
lembrados. Tem razão!
cuidando para que tudo saia a
“O hóspede tem de ser
contento. Dar informações,
carregado no colo”, diz o maître
entregar e receber a chave,
Luis. E, sem querer, acaba
comprar ingressos para shows e
entregando o segredo do sucesso
passeios, marcar massagens,
do Toriba, depois de tantas
programar o dia do hóspede e
décadas de existência: a cultura
fechar a conta são suas atribuições,
do bem servir, a competência no
mas ele vai além. Como conhece
cumprimento da função, a atenção
bem a clientela, sabe, por exemplo,
indiscriminada em todos os setores
que há um círculo de amigos que
a todos aqueles que freqüentam
costuma encontrar-se mais em
o hotel, da recepção à arrumação
Campos do que na cidade onde
dos quartos, do serviço de bar na
mora. Então, quando percebe que
piscina à cozinha.
107 Hidromassagem
Whirlpool bath | Hydromassage
104 Toribinha, interno
Toribinha, inside | Toribinha, Innenseite
pp. 102-103 103 Toribinha
101
Ac ol h i m e n t o e b om s e rv i ç o : o s e g re d o d o s u c e s s o d o Tor i ba
106/105 Piscina
Pool | Schwimmbecken
108 Sala de ginástica
Gym | Gymnastikraum
105
106
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
112 Detalhe de bromélias (Bromeliaceae)
Detail of Bromeliads | Ausschnitt von Guzmanie
101 Estufa
Greenhouse | Treibhaus
108
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
94 Caminho florido
Flowered path | Blumenweg
Ac ol h i m e n t o e b om s e rv i ç o : o s e g re d o d o s u c e s s o d o Tor i ba
95 Jardim florido
Flowered garden | Blumengarten
109
110
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
100 Erica (Leptospermun scoparium)
Tea Tree | Erica
111 Parcour, 1996
91 Canteiro de pedras e chalés
Rock garden and chalets | Steinbeet und Chalets
110 Parcour
pp. 112-113 92 Chalé visto pelo parcour (trilha
para exercícios no bosque)
Chalet seen from parcour (an exercise trail in the
woods) | Chalet vom Parcour aus gesehen
(Waldweg für Übungen)
Sa b ore s i r re s i s t í v e i s
Sabores irresistíveis
O suave pecado da gula
A
culinária do Toriba sempre
foi motivo de orgulho e prazer.
Na memória dos hóspedes nunca
falta um elogio a determinado
prato, seja ele doce, seja salgado,
degustado no salão que se debruça
para o imenso jardim. Que
privilégio!!!
Por obra do destino, o
primeiro administrador do hotel,
Henrique Hillebrecht —
proprietário do restaurante
Caverna Paulista, em São Paulo
xadrezinha preto e branco”,
—, levou ao hotel uma equipe
recorda-se Martha Diederichsen
de ano, montava-se um bufê
de primeira linha, composta de
Stickel.
maravilhoso, que ocupava metros
cozinheiros e ajudantes alemães
Consommé absolutamente
Nas comemorações de final
e metros de mesa com o que havia
aqui chegados com o navio
transparente, medalhões fantásticos
de melhor, com direito a haddock,
Windhuk, que não pudera voltar
e pratos típicos dominavam o
cascatas de camarões e uma infini-
à Alemanha por conta da eclosão
cardápio, repleto de receitas
dade de receitas especiais, além de
da Segunda Guerra e viera
deliciosas à base de carne de porco,
champanhe, é claro. De acordo
aportar em Santos. “A comida
vitela e caça. Mas ainda havia
com os hóspedes mais antigos, a
do Toriba era maravilhosa, de
tortas doces, geléias e folhados que
etiqueta da época impunha traje
altíssima qualidade, feita por
encantavam aos mais exigentes
social para toda refeição noturna,
Fritz Schwenke, um personagem
paladares. Tudo regado a bom
fosse ela festiva ou não. Os homens
inesquecível com sua calça
vinho e muita alegria. “Era muito
vinham de terno e gravata, e as
caro e não tínhamos dinheiro para
mulheres trajavam-se de modo
pagar. Íamos lá só de vez em
muito elegante.
quando”, brinca Bernardo
114 Restaurante Pennacchi
Pennacchi Restaurant | Pennacchi Restaurant
115 Amendoins com receita especial do hotel
Peanuts with Hotel’s special recipe | Erdnuss:
Besonderes Kochrezept des Hotels
Mais tarde, durante a
Diederichsen, um dos netos de
administração do suíço Joseph
Ernesto Diederichsen. “A cada
Jurt, foram incluídas algumas
manhã, um primo era escalado para
novidades que fazem sucesso até
buscar pão quente no hotel. E era
hoje. “Ele gostava de testar,
uma festa quando chegava”, lembra.
pesquisar, vivia criando receitas”,
115
116
O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
relata dona Helga, a viúva. Por
tortas, doces variados, geléias,
a entrada do vapor, indispensáveis
volta dos anos 1960, em certas
biscoitos amanteigados —
para que o pão fique macio por
noites de domingo, o hotel
redondinhos com um buraquinho
dentro, crocante por fora e com
contava poucos casais para o
no centro. E aí a história se
consistência perfeita”, orgulha-se
jantar. Dois, três, no máximo.
repete: “No início era apenas
o pâtissier.
Querendo dar folga aos empre-
uma ou duas pessoas; depois os
É interessante observar a
gados e para não ter de abrir a
hóspedes passaram a convidar os
evolução da cozinha pelo exame
cozinha, Jurt experimentou
amigos; a freqüência foi aumen-
dos antigos cardápios. Alguns
preparar fondue, prato pouco
tando até se formar fila de espera;
pratos praticamente
conhecido no Brasil na época.
como ainda acontece”, testemunha
desapareceram. Outros continuam
Servia — onde hoje fica o
dona Helga.
a ser servidos e muito apreciados,
bar — de queijo e de carne,
“No início da década de 1970,
como o “Consommé com
Bourguignone, com diversos
a cozinha era baseada quase
bolinhas de queijo”, o Borscht
molhos. “Acho que um hóspede
exclusivamente em pratos
(hoje chamado de “creme de
foi contando ao outro e, nesse
alemães”, conta o chef Zezinho,
beterraba”), alguns pratos de
boca-a-boca, devagar, os pedidos
que ainda pilota os fogões.
carne como o “Steak siberiano”
foram crescendo”, deduz dona
“Servíamos muito chucrute,
e o “Lombo com purê de maçã”.
Helga. “Eu tinha o hábito de
salsichas, pato, peru com frutas
Graças ao viveiro de trutas, à
conversar muito sobre culinária
secas, damascos, farofa de
horta e à criação de aves e coelhos
com o senhor Jurt, tanto no hotel
castanhas. A partir de 1975,
do próprio hotel — localizados
quanto em meu local de trabalho.
começamos a mudar, introdu-
na Fazendinha —, as elaborações
Ele gostava de dar dicas especiais
zindo, aos poucos, alguns novos
do chef guardam frescor e quali-
sobre os tipos de queijo que
pratos, mas sem chocar os
dade inigualáveis.
deveriam ser utilizados no
hóspedes. Tudo com excelente
preparo da fondue, os cuidados
qualidade, pois a cozinha era o
a evolução chegou ao paladar.
na hora de adicionar o Kirch, o
ponto forte do hotel.”
Apesar de a feijoada continuar
vinho branco e os demais
Também fazia parte do time
Mas, como tudo no mundo,
carro-chefe do bufê aos sábados,
ingredientes. Dizia, modesta-
culinário o confeiteiro Lázaro
hoje o cardápio inclui ingredientes
mente, que considerava a fondue
Vicente da Silva, Lazinho,
atualmente apreciados, como
de queijo do Hotel Toriba melhor
falecido. No decorrer desse tempo,
gengibre e shiitake, especialidades
que a da sua terra natal”, relata
as receitas não mudaram muito,
marroquinas e tailandesas, massas,
Edmundo Ferreira da Rocha,
mas o equipamento na cozinha
legumes e saladas de inspiração
morador de Campos do Jordão.
sim. “O forno antigo era elétrico,
mediterrânea.
Como a fondue de carne —
funcionava como um vulcão.
especialmente — produz certa
Exigia muito mais técnica e
de dias de repouso, bela paisagem
fumaça, hoje é servida no
conhecimento. A estação do ano
e ar puro, muitos hóspedes levam
Toribinha, onde continua tendo
— fria ou quente — mais a
na bagagem as delícias de uma
muito êxito.
umidade influíam muito no
cozinha de excelência na forma de
preparo das receitas. Hoje o forno
tortas, folhados e geléias, que não
novidade introduzida por Jurt,
é programado, conseguimos
os deixam esquecer o sonho de
acompanhado de sanduíches,
controlar melhor a temperatura,
uma mesa de farta e saborosa.
O chá da tarde foi outra
Na hora de ir embora, depois
Sa b ore s i r re s i s t í v e i s
Receitas
Truta em Papelote
Ingredientes
Modo de preparo
1 truta aberta, com pele e sem
Tempere a truta com as ervas finas, o vinho branco e o sal, deixando
espinha, com aproximadamente
em um recipiente por 40 minutos. Ponha o peixe no centro do papel-
250 gramas
manteiga e faça dobras duplas nas laterais e na parte superior, como se
10 gramas de ervas finas
fosse um envelope, para que o tempero não escorra. Leve ao forno
(manjerona, cerefólio, alecrim,
quente numa panela para cozinhar no vapor por cerca de 5 a 7 minutos.
tomilho, manjericão)
Se não dispuser dessa panela, coloque num escorredor de macarrão
3 batatas médias descascadas
e cozidas
0,25 litro de vinho branco seco
sal a gosto
1 retângulo de papel manteiga
(30 x 50 cm)
cheiro-verde bem picado
sobre uma assadeira com água. Sirva com batatas cozidas e salpicadas
com cheiro-verde.
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O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Fondue de Queijo
Ingredientes
1 quilo de queijo tipo Ementhal
ralado grosseiramente
550 gramas de queijo fundido
cremoso
1 cálice de Kirsh
0,30 litro de vinho branco seco
páprica picante (uma pitada para
decorar)
noz-moscada (uma pitada)
cubos de pão preto e pão branco
amanhecidos
Modo de preparo
Numa panela adequada para fondue (de ferro ou de cobre), junte os
queijos. Misture bem até obter uma massa homogênea. Acrescente o
vinho e a noz-moscada. Misture novamente. Leve ao fogo em banhomaria por 30 minutos, mexendo constantemente até derreter por
completo e a massa ficar lisa. Acrescente o Kirsh e mexa até que o álcool
evapore. Ponha a panela no réchaud e decore com uma pitada de páprica
picante. Sirva acompanhado da cesta de pães.
Sa b ore s i r re s i s t í v e i s
Pato com Repolho Roxo e Purê de Maçã
Ingredientes
Modo de preparo
Pato
Pato: elimine os pés, as asas e o pescoço do pato e corte-o em quatro
1 pato inteiro
pedaços.
2 talos de salsão picados
Prepare a marinada, misturando todos os ingredientes com exceção das
1 cebola média picada
laranjas. Mergulhe a carne na marinada e deixe descansar de um dia para
2 cenouras médias picadas
outro. No dia seguinte, retire o tempero, reserve numa vasilha. Ponha o
1 folha de louro
pato numa assadeira e leve ao forno coberto com papel-alumínio. Ferva a
0,50 litro de vinho tinto seco
marinada numa panela até reduzir ao máximo e acrescente 1 litro de água
6 unidades de zimbro
fria. Retire o pato do forno depois de 1h15min. Regue com o molho
sal a gosto
obtido com a marinada, retire o papel-alumínio e termine de assar em
casca de 2 laranjas
temperatura alta por mais 15 minutos. Enquanto isso, corte as cascas das
3 colheres (sobremesa) de açúcar
laranjas em tiras finas e afervente por 10 minutos em água e açúcar.
Repolho
500 gramas de repolho roxo
cortado à Juliana
Repita a fervura por duas vezes para eliminar o amargor. Retire a carne
do forno e separe as peças. Peneire o molho do assado, misture com as
cascas da laranja e ferva por mais 5 minutos. Coe novamente.
20 gramas de bacon num único
Repolho: frite o bacon, descarte a carne e mantenha a gordura. Na
pedaço
mesma panela acrescente o repolho e os demais temperos e refogue por
100 gramas de alho picado
15 minutos em fogo baixo e panela fechada. Está pronto.
0,10 litro de vinho tinto seco
1 cálice de vinagre branco
1 pitada de açúcar
sal a gosto
20 gramas de uvas-passas escuras
sem caroço
Purê de maçã
6 maçãs verdes
100 gramas de açúcar
casca de 1 laranja
casca de 1 limão
1 saquinho de pano com 5 cravos
e 2 bastões de canela em pau
Purê de maçã: descasque e corte as maçãs verdes em 4 partes tirando o
miolo. Junte com os demais ingredientes e cozinhe em fogo brando por
30 minutos, mexendo constante e uniformemente. Antes que as maçãs
se desmanchem, retire o saquinho das especiarias bem como as cascas de
limão e laranja. Mexa até obter consistência de purê.
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O Tor i ba n a C u lt u ra de Ca m p o s d o Jor d ã o
Torta de Damasco
Ingredientes
Modo de preparo
Massa
Deixe os damascos de molho por 8 horas. Prepare a massa misturando a
500 gramas de farinha de trigo
farinha com o açúcar e depois a manteiga, as gemas e os demais
300 gramas de manteiga sem sal
ingredientes. Retire os damascos da água e moa no processador criando
250 gramas de açúcar
uma pasta. Acrescente o açúcar e leve ao fogo para cozinhar por
8 gemas
aproximadamente 15 minutos. Deixe esfriar.
raspas da casca de 1 laranja
Abra a massa e recheie com a pasta do damasco. Cubra com fitas da
1 pitada de sal
própria massa formando um X. Pincele com gema e leve para assar por
Recheio
500 gramas de damascos turcos
0,50 litro de água
200 gramas de açúcar
35 minutos em forno a 170° C.
Sa b ore s i r re s i s t í v e i s
Geléia de Amora
Ingredientes
1 quilo de amoras frescas
bem maduras
800 gramas de açúcar cristal
Modo de preparo
Junte as frutas e o açúcar numa
panela e leve ao fogo brando.
Assim que iniciar a fervura,
comece a retirar a espuma da
superfície com uma escumadeira.
Quando parar de espumar
significa que está no ponto.
Mantenha no fogo até atingir a
consistência desejada.
121
O Toriba
na Cultura de Campos do Jordão
Celia Svevo
Sandra Nedopetalski
M E TA L I V R O S

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