como nasce uma cultura de “conservação”?

Transcrição

como nasce uma cultura de “conservação”?
6º MRANU - FAUTL
faculdade de ARQUITECTURA, universidade técnica de Lisboa
6ºmestrado em reabilitação de arquitectura e núcleos urbanos
fundamentos e história da conservação do restauro e da reabilitação
COMO NASCE UMA CULTURA DE (OU DA) CONSERVAÇÃO?
José Aguiar, Professor Associado, FA-UTL
faculdade de ARQUITECTURA
como nasce uma cultura de “conservação”?
RENASCIMENTO
Pio II (1405-1464), família senese Piccolomini; visita de 1459 a Corsignano sua terra
natal (com Alberti e Giorgio Martini ?). Em 1462 nasce Pienza, com projecto final de
Bernardo Gambarelli “il Rossellino” um seguidor de Alberti.
- Uma catedral.
- Palazzo Piccolomini no lugar do seu nascimento. Bloco quadrado com pátio ao
centro, fachada meridional ocupada com galerias de onde se defruta o jardim e a
paisagem.
- Palácio do Cardeal Borgia (depois sede do bispado).
- Palácio público.
- Bloco de casas em linha, para os habitantes mais desfavorecidos.
Toda a pequena cidade organiza-se de forma hierárquica em torno da igreja e do
palácio papal. Os edifícios principais distinguem-se pela inteligência da sua
regularidade não por uma imponência volumétrica, o prestígio cultural vale mais do que
o exibicionismo ou a ostentação.
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como nasce uma cultura de conservação?
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como nasce uma cultura de conservação?
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como nasce uma cultura de “conservação”?
RENASCIMENTO
Bula papal de Pio II (1405-1464, família senese Picolomini, o criador de Pienza): Cum
albam nostram Urbem, de 28 de Abril de 1462, objectivo: salvaguardar os vestígios da
antiguidade clássica!
Quem se atrevesse a demolir ou quem convertesse “em cal” as pedras dos edifícios da
Antiguidade, ainda que estes se situassem em propriedade privada era ameaçado de
excomunhão!
J. Rivera, Restauracion arquitectonica desde las origenes hasta nuestros dias. Conceptos, Teoria e Historia, em Teoria e
historia de la retauracion, Master de Restauracion y Reahabilitacion del Patrimonio, Editorial Munill-Lería, Madrid, 1997, pp.
103-110.
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Esquema do redesenho da
fachada da antiga Igreja de
Santa Maria Novella, León
Batista Alberti, 1470, Relações
entre préexistências e obra
nova, (AAVV.Teoria e Historia
de la Restauracion, Madrid,
Munilla-Lería,1997, p.105).
Até ao século XVIII, restaurar significava, em
grande medida, reutilizar uma construção
disponível, a qual era recuperada e renovada
de acordo com os paradigmas arquitectónicos
e as normas construtivas vigentes nesse
momento, ou seja: construindo interpretações
contemporâneas do passado “Clássico”!
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Rimini, Templo Malatestiano, Alberti, 145066, transformação do templo gótico de São
Francisco, com fachada inspirada no Arco
de Augusto, da mesma cidade. Miguel
Ângelo converte as Termas de
Diocleciano, em Roma, na Igreja de Santa
Maria dos Anjos; o mesmo método foi
retomado por Vanvitelli, em 1749,
actualizando o mesmo templo; Bernini,
procede a uma renovação linguística,
implantando as célebres orelhas no
Panteão, introduzindo-lhe os campanários
e convertendo-o em igreja.
o nascer de uma cultura de “conservação”?
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como nasce uma cultura de “conservação”?
E depois do RENASCIMENTO?
Paulo II (1417-1471), colecionador de arte e restaurador de monumentos, de partes do
Forum Romano, do Coliseu e da coluna de Trajano (mas tortura o humanista Bartolomeo
Platina acusando-o de, por amor ao classicismo e ao mundo antigo, promover uma visão
materialista oposta ao catolicismo).
Sisto V (1520-1590), coloca uma estátua de São Pedro no local onde antes estava a
estátua de Trajano ...e dá a eternidade ao monumento (rectilíneas e pés de galinha).
Roma no final do Quattrocento: F. Choay, L´Allégorie du patrimoine, Paris, Ed. du Seuil, 1992, pp. 37-50.
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Depois do RENASCIMENTO
Paulo III (Farnese, 1468-1549), reformula a colina do Capitolino (o Capidoglio, de
Miguel Ângelo). Reorganização de um novo centro político para Roma (iniciado em
1538, por concluir na morte de Miguel Ângelo, só foi terminado em finais do século
XVII).
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NEOCLACISSIMO (séc. XVIII)
O classicismo setecentista reintroduz o interesse pela cultura da Antiguidade.
Surge a HISTÓRIA DA ARTE (Winckelmann: Geschichte der Kunst des Altertums,
Dresden, 1764) e o estudo para-científico da HISTÒRIA, afirma-se a noção de
“monumento histórico”, factores que merecem uma enorme atenção por parte das
academias (estude-se as “teorias da arquitectura” propostas por Milizia e Quatremère
de Quincy).
A arquitectura histórica passa a ser classificada dentro de estilos cuja cronologia é
estabelecida com bases científicas (através da arqueologia), diferenciando-se
metodológica e cronologicamente os objectos do passado através de uma análise
formal e de uma crítica artística que utiliza metodologias cada vez mais rigorosos.
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As novas e grandes escavações arqueológicas: Pompeia e Herculano,
Paestum! A redescoberta da Grécia (com o recuo do império Otomano)!
As grandes escavações arqueológicas: Pompeia e Herculano, Paestum.
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NEOCLACISSIMO (séc. XVIII)
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O impacto de Paestum.
como nasce uma cultura
de “conservação”?
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A redescoberta do
classicismo helénico:
o regresso à Grécia!
O regresso à Grécia depois do
recuo do império Otomano!
A Arqueologia e a História da Arte
como ciência: o conhecimento
objectivo dos monumentos!
1751/4, James Stuart e Nicholas
Revett em Atenas, 1762 publicam
edição com levantamentos
rigorosos.
Le Roy, 1758 desenhos/pinturas.
Julien-David Le Roy, Vista do Parthenon,
Atenas1758
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«O passado é encerrado em limites precisos, surgindo, no mesmo momento, um novo
espaço-tempo de distanciação para com a contemporaneidade. A noção de antiguidade
adquire uma dimensão estética, a apreciação da beleza do passado introduz a
necessidade de garantir a preservação de valores cuja consciência é, então, adquirida de
forma intensa e definitiva pela cultura ocidental». JA, cor e cidade histórica. Porto, FAUP, 2003.
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NEOCLACISSIMO (surge a História científica da Arte)
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como nasce a cultura de “conservação”? A NOSTALGIA!
Gravuras de
Piranesi (17201778):
ricostruzione
immaginaria della
via Appia, Tomo II,
Antichità Romane.
Piranesi é
(também) um
Arqueólogo.
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A nostalgia
e a dramática confusão entre preservação e
reconstrução
Gravuras de Piranesi (1720-1778): influenciam, mais tarde, o pré-romanticismo e o
ruinismo romântico. A nostalgia alimentará revivalismos e conduzirá, segundo Paul Philipot, a uma
dramática confusão entre preservação e reconstrução durante todo o século XIX: «To bridge the gap that the
historical conscience opened between the past and the present, a new kind of contact developed, based on the
feeling that the past has indeed been lost, but continues to live through nostalgia. This romantic nostalgia of the
past, which replaced the traditional continuity between the past and the present combines historicism and
nationalism and led, since the end of the 18th century, not only to various revivals of the past styles of art and
architecture but also to an unfortunate confusion of preservation and reconstruction». P. Philipot, Philosophy,
Criteria, Guidelines, em Proceedings of the Northamerican International Conference, Pennsylvania, 1972, p. 367.
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como nasce uma cultura de
“conservação”?
OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
As tradições são postas em causa pela modernidade mas,
no momento em que se anuncia um mundo novo,
(re)descobre-se o valor do que se perde. Dessa nova
consciência histórica, nascerá a necessidade de manter
contacto com os testemunhos culturais do passado.
A luta pela salvaguarda patrimonial coexistirá intimamente
com o advento da própria modernidade, surgindo a
«consagração» de um novo tipo de culto: o dos
MONUMENTOS (F. Choay, L´Allégorie du Patrimoine. Paris:
Ed. Du Seuil, 1992) Violet-le-Duc, Entretiens…; Galerie des Machines, 1889
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OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
A procura de aproximações teoricamente mais sólidas
conduzirá à gradual definição da nova disciplina a que
os continentais (sobretudo os Italianos e os Franceses)
chamarão Restauro e os Ingleses de Conservação.
Diferença e disputa conceptual que ultrapassará em
muito o século e a vida dos seus protagonistas: John
Ruskin e Viollet-le-Duc.
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REVOLUÇÃO FRANCESA: O ADMINISTRAR DA CONSERVAÇÃO
Abbé Grégoire (bispo de Blois, 1750-1831): «Vocês não são mais do que os
depositários de um bem do qual a comunidade tem direito a pedir-vos contas. Os
bárbaros e os escravos detestam as ciências e destroem os monumentos artísticos; os
homens livres amam-nos e conservam-nos».
Surge a primeira carta de salvaguarda de um Estado moderno: medidas legais para
deter o vandalismo ideológico (anti-monárquico, anti-clerical e anti-feudalista), de
carácter iconoclasta, que aparece imediatamente após a Revolução Francesa.
1790, cria-se a pioneira Commission des Monuments: a necessidade da execução
prática de um inventário e o estabelecimento (em Março de 1793) de normas para a
conservação das obras de arte e dos monumentos dão origem às «Instructions sur la
manière d'inventorier et de conserver dans toute l'étendue de la République tous les
objets qui peuvent servir aux arts, aux sciences, à l'enseignement».
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REVOLUÇÃO FRANCESA: ADMINISTRAR A CONSERVAÇÃO
Ludovic Vitet (1802-1873), primeiro Inspecteur des Monuments Historiques (1830), antepassados dos actuais - “Architectes des Bâtiments de France” responsável de l'Académie des Inscriptions (1839), em 1831 restrutura o pioneiro
Service de la Conservation des Monuments Historiques (apoiado por comissão de
notáveis: Victor Hugo, Montalambert, Victor Cousin, barão Taylor, etc.).
Victor Hugo: «Guerre au démolisseurs», em Revue de Paris, 1829 e
1832.
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REVOLUÇÃO FRANCESA: ADMINISTRAR A CONSERVAÇÃO
1834, Prosper Mérimée (1803-1870), substitui e desenvolve o trabalho de Vitet.
Em 1840 publica-se a primeira lista de monumentos classificados: 1000 monumentos
inventariados e a necessitarem de atenção. O essencial encontra-se em: F. Rucker, Les origines de
la conservation des monuments historiques en France (1790-1830) (tese de doutoramento apresentada na
Faculté des Lettres, Université de Paris), Paris, 1913. Ver também F. Choay, ob. cit, 1992; ainda J. Jokilehto,
ob. cit,. Imagens: Temple Saint-Jean de Poitiers, Joly-Leterme, 1840; Museu de Cluny, colecção de arte
medieval Alexandre de Sommerard, 1844.
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Victor Hugo: «Guerre au démolisseurs», em Revue
de Paris, 1829 e 1832: « À quoi servent ces monuments ?
disent-ils. Cela coûte des frais d’entretien, et voilà tout. Jetez-les à terre,
et vendez les matériaux. C’est toujours cela de gagné. Depuis quand
ose-t-on, en pleine civilisation, questionner l’art sur son utilité ? Malheur
à vous si vous ne savez pas à quoi l’art sert ! »
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A regularização de Paris: o plano de
Haussman!
Ile de France, antes e depois dos projectos de Haussman.
Baron Haussmann (1809-1891)
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Pierrefonds. Antes da intervenção de
restauro realizada por Viollet-le-Duc.
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FRANÇA, O RESTAURO, O COMPLETAMENTO E A PROCURA DA
UNIDADE ESTILÍSTICA!
No início do segundo quartel do século XIX, em França, restaurar um monumento
significa proceder à sua reconstrução, ou à reintegração das partes em falta, tendo
por referência o (seu?) estilo original.
Ludovic Vitet e Prosper Mérimée defenderam que o completamento “em estilo” se
efectuasse através da cópia de motivos análogos existentes no próprio edifício ou em
construções similares da mesma região. Surge a ANALOGIA como método, defendido
por alguns …ainda hoje.
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“conservação”?
FRANÇA, O RESTAURO COMO PROCURA
DA UNIDADE ESTILÍSTICA!
O mais famoso defensor do Restauro Estilístico foi
Viollet-le-Duc (1814-1879). É particularmente célebre a
sua definição de restauro: «Restaurer un édifice, ce
n´est pas l´entretenir, le réparer ou le refaire, c´est le
rétablir dans un état complet qui peut n’avoir jamais
existé à un moment donné». Eugène Viollet-le-Duc, Restauration,
em Dictionnaire Raisonné de L´Architecture Française du XIe au XIIe Siècle,
Tomo 8, Paris, A. Morel Éditeur, 1866, p.14.
E. Viollet-le-Duc, Templo Neptuno, Paestum, 1836
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FRANÇA, O RESTAURO ESTILÍSTICO: A PROCURA DA
UNIDADE ESTILÍSTICA!
Viollet-le-Duc investiga a lógica projectual da arquitectura, no processo de
correspondência da regra (o estilo) com um tempo e as suas possibilidades
técnico-formais. Acreditava que o conhecimento rigoroso da linguagem com
que se exprime define o essencial valor artístico do monumento, e essa
linguagem estabeleceria os critérios analógicos que deveriam presidir e
guiar o projecto de restauro. O “completamento” permitia a reutilização
funcional dos monumentos, atribuindo-lhes utilizações concretas enquanto
arquitecturas, aspecto fulcral para a teoria de V.l.C.
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FRANÇA E O RESTAURO ESTILÍSTICO
Vivia-se em plena Revolução Industrial, mas estavam bem vivos em França os
saberes milenares da construção, permitindo não só reparar como também reproduzir
as soluções construtivas presentes nos monumentos, com práticas produtivas
ancestrais. Bastava que existissem algumas peças para que fosse ainda possível
reproduzi-las, ou repará-las, com métodos em grande medida similares aos originais.
Estavam disponíveis as tecnologias da cal, da cantaria, dos estuques, da serralharia,
e tantas outras.
As tradições construtivas pré-industriais tinham uma morte anunciada mas, naquele
momento histórico, ainda estavam disponíveis.
Viollet-le-Duc reclama para o restauro um rigor a uma fidelidade estilística absoluta,
sem lugar para criatividades, idiossincrasias ou opiniões pessoais.
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FRANÇA, O RESTAURO E A PROCURA DA
UNIDADE ESTILÍSTICA!
Viollet-le-Duc (1814-1879).
Carcassonne, 1855-1879
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FRANÇA, O RESTAURO E A PROCURA DA
UNIDADE ESTILÍSTICA!
Viollet-le-Duc (1814-1879).
Carcassonne, 1855-1879
Port d´Aude; , tour de l'Evêque, la tour Pinte,1853.
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INGLATERRA E A CONSERVAÇÃO ESTRITA
«Restoration, so called, is the worst manner of Destruction.[...] Do not let
us deceive ourselves in this important matter; it is impossible, as
impossible as to raise the dead, to restore anything that has ever been
great or beautiful in architecture».
John Ruskin
Ruskin condena a reinterpretação estilística e conjectural do restauro que acreditava
comprometer a autenticidade do monumento enquanto documento e obra de arte, propõe
em alternativa uma conservação estrita, apoiada em operações básicas de manutenção,
afirma: «Take proper care of your monuments, and you will not need to
restore them». (...) «But, it is said, there may come a necessity for
restoration! Granted. Look the necessity full in the face, and understand ít
on its own terms. lt is a necessity for destruction. (...) The principle of
modern times (...) is to neglect buildings first, and restore them
afterwards».
J. Ruskin, The seven lamps of architecture. Kent: George Allen, 1880. Consulte-se, em particular, o capítulo
designado “The Lamp of Memory”.
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INGLATERRA E A CONSERVAÇÃO ESTRITA
Nas concepções de Ruskin (bem como nas de Morris), as marcas do tempo faziam parte
da essência do monumento; sob o ponto de vista ético: «We have no right whatever to
touch them [os monumentos]. They are not ours. They belong partly to those who built
them, and partly to all the generations of mankind who are to follow us (...)».
J. Ruskin, ob. cit, p.197.
A maior e mais profícua contribuição de Ruskin foi a sustentação ideológica da
conservação estrita como metodologia de preservação patrimonial alternativa ao
restauro. Mas Ruskin não propôs nenhum método concreto de salvaguarda patrimonial,
ao contrário do envolvimento directo e operacional de Viollet-le-Duc. As suas reflexões
constituem uma abordagem ideológica na qual coexistem aspectos profundamente
idealistas e por vezes até fatalistas, visíveis, por exemplo, na apologia da passividade e
da não-intervenção no monumento. Ideias muito próximas das posições e da
sensibilidade do ruinismo.
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ITÁLIA, O RESTAURO DITO “ARQUEOLÓGICO”
Leão XII (1723-1829), ao ordenar a reconstrução da Basílica de São Pedro, em Roma,
estabele de forma muito precisa os critérios que deveriam presidir ao projecto:
«Nenhuma inovação deve introduzir-se nas formas e nas proporções, nem nos
ornamentos do edifício resultante, se não para excluir aqueles elementos que num tempo
posterior à sua construção foram introduzidos por capricho da época seguinte».
J. Rivera, Restauracion Arquitectónica desde los origenes hasta nuestros dias. Conceptos, Teoria e Historia, em Teoria e Historia de la Restauracion,
Master de Restauracion y Rahabilitacion del Patrimonio. Madrid: Editorial Munill-Lería, 1977, pp.113-114 (tradução livre).
O restauro do Coliseu, por ordem de Pio VII, com apoio da Accademia di San Luca,
iniciado em 1807 e até 1826: Stern, Giuseppe Palazzi e Camporesi; a partir de 1823,
Valadier.
O restauro do Arco de Tito desenvolvido inicialmente por Stern (1817-1819) e, depois,
por Giuseppe Valadier (entre 1819 e 1821), que Camilo Boito tomará como o exemplo
mais paradigmático da sua concepção de restauro.
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ITÁLIA, O RESTAURO ARQUEOLÓGICO
«Por restauro arqueológico, na Itália da primeira metade do século XIX,
entende-se o completamento ou a consolidação de monumentos,
desenvolvidos com base em rigorosas análises prévias que permitem
validar a sua recomposição. Trata-se de um processo no âmbito do
qual se empregam elementos originais, através da anastilosis, e se
procede ao preenchimento das lacunas por meio de reproduções
simplificadas e distinguíveis; sem atingir, portanto, uma excessiva
similitude formal, o que poderia conduzir à falsificação histórica, mas
também sem uma excessiva diferenciação, que poderia perturbar a
leitura estética do monumento. Esta concepção de restauro é
surpreendentemente actual [JA]».
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ITÁLIA E O RESTAURO ARQUEOLÓGICO
Restauro do Coliseo, (1807 a 1826).
Restauro do Coliseu: terramoto afecta-o em 1806;
(i) Raffaele Stern (1774-1820), propõe uma solução sólida
e económica, contrapôs no lado sul do Coliseu, o mais
afectado, um sólido muro de reforço (contraforte)
estrutural. Sem desmontar ou demolir as partes afectadas,
preencheu os ocos e vãos com geometria periclitante,
utilizando na consolidação novos materiais (alvenaria de
tijolo burro rebocado) distintos dos antigos, tanto pela sua
natureza como pela sua forma e cor.
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ITÁLIA E O RESTAURO ARQUEOLÓGICO
Restauro do Coliseu: (ii)
em 1823, Giuseppe Valadier remata a
extremidade oposta do Coliseu voltada
para o Forum, muito degradada.
Utiliza uma solução diferente da de
Stern, reconstitui parcialmente as
zonas afectadas, completa a
geometria dos arcos abatidos com
formas similares às originais
(reinterpretação). Em vez de travertino
(construção original), utilizou a pedra
apenas nas partes onde era
necessária por razões estruturais
(topo dos pilares, capitéis e cornijas);
o grosso das novas estruturas foi feita
em tijolo-burro, garantindo economia e
esclarecendo a modernidade da
intervenção (procedeu-se a uma
integração cromática com o restante
monumento em «patina a fresco» que,
ao longe, as faria parecer cor do
travertino).
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ITÁLIA E O RESTAURO ARQUEOLÓGICO
Restauro do Coliseo, Raffaele Stern e Giuseppe Valadier (1807 a 1826).
Poupança e
urgência ou
clareza na
distinção entre
novo e antigo?
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Arco de Tito, Piranesi.
ITÁLIA E O RESTAURO ARQUEOLÓGICO
O restauro do Arco de Tito: Stern (supervisionado por Valadier e Camporesi) recupera
as partes em falta desenvolvendo escavações arqueológicas no local e tentando
recuperar peças originais reaplicadas noutras construções. As peças originais
reintegraram-se na construção; as lacunas refizeram-se com um material pétreo
diferente do primitivo, utilizando-se o travertino em vez do mármore.
ITÁLIA E O RESTAURO ARQUEOLÓGICO
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Arco de Tito, antes, os estudos e depois do restauro (1817 a 1921).
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ITÁLIA E O RESTAURO ARQUEOLÓGICO
Arco de Tito, depois do restauro (1817 a 1921).
As formas e os detalhes
aplicados foram
«essencializados», com
formas simplificadas, por
comparação com o nível de
detalhe dos elementos
arquitectónicos originais.
Ao longe, o volume do
arco restaurado restitui a
forma do seu arquétipo;
de perto, é óbvio o mútuo
esclarecimento do que é
novo e do que é antigo.
Conserva-se a matéria e
restitui-se o significado
arquitectónico das
formas.
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RESTAURO HISTÓRICO Luca Beltrami
Positivismo do «com´era, dov´era», a reconstrução arquitectónica – ou, mais
tarde, de cidades inteiras, como Varsóvia no segundo pós-guerra -, assente em métodos
históricos fidedignos, recusando os critérios especulativos do restauro estilístico.
Entendia ser dever do restaurador actuar reconstitutivamente, i.e. proceder à restituição
dos elementos necessários à expressão da essencialidade artística de cada monumento,
permitindo a sua leitura (forma e narrativa) aspecto considerado essencial enquanto obra
de arte.
Castelo SFORZESCO (Milão)
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como nasce uma cultura de “conservação”?
RESTAURO HISTÓRICO Luca Beltrami e a a questão do Campanile (a
repristinação)!
Campanile de São Marcos, Veneza
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RESTAURO HISTÓRICO Luca Beltrami e a a questão do Campanile!
1902 discussão internacional sobre estratégia mais adequada para o restauro do Campanile. As posições dividiam-se:
renovar a torre e aproveitar para introduzir uma nova linguagem arquitectónica no quadro estilístico do Liberty, ou outra;
reconstruir a torre de forma essencializada, mantendo apenas referências directas ao antigo volume e silhueta;
proceder a uma reconstrução integral, mobilizando técnicas construtivas e materiais idênticos aos originais.
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RESTAURO HISTÓRICO Luca Beltrami e a questão do Campanile!
O projecto foi dirigido (mas não concluído) por Beltrami. Na reconstrução decide-se o recurso a soluções de reforço
estrutural modernas, interior em betão armado, para diminuir o peso próprio da torre, uma das causas do
desmoronamento (conseguindo poupar-se duas mil toneladas em relação ao original). Em termos de imagem, optou por
se deixar sem o reboco a alvenaria de tijolo exterior, a qual era inicialmente revestida, mas cuja memória já se perdera
no próprio original. As obras ficaram concluídas em Abril de 1912.
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como nasce uma cultura de “conservação”? RESTAURO HISTÓRICO
Luca Beltrami: a questão do Campanile!
Campanile de São Marcos, Veneza
Em termos arquitectónicos o objecto reconstruído é,
na realidade, factual. Uma cópia moderna aposta no
próprio local do original, pouco ou nada
incorporando da construção anterior. Brandi critica
esta opção à luz das suas consequências teóricas:
a adulteração da realidade e a irremediável
afectação da autenticidade histórica e estética. «La
copia è un falso storico e un falso estetico e
pertanto può avere una giustificazione
puramente didattica e rimemorativa, ma non può
sostituir-se senza danno storico ed estetico
all´originale. Nel caso del Campanile di San
Marco, quel che importava era un elemento
verticale nella Piazza [dimensão urbanistica]; la
riproduzione esatta non era richiesta se non dal
sentimentalismo campanilistico, è il caso di
dirlo» [1].
[1] C. Brandi, Teoria
José Aguiar, FAUTL
del Restauro, Turim, Picola Biblioteca Einaudi, 1963 (2ª ed. de 1977) p.40. Ver também, neste documento, o capítulo referente a Cesare Brandi e à sua teoria de um restauro crítico.
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como nasce uma cultura de “conservação”?
No fim do século XIX não estava ainda disponível uma capacidade crítica
suficientemente rigorosa, nomeadamente quanto ao controlo e utilização das
fontes documentais. E hoje? Repristinação e Cópia
Repristinação do Pavilhão da Alemanha, em Barcelona, de Mies.
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Repristinação vs. Cópia
Repristinação do Cafe De Unie, Peter Oud,Roterdão, Holanda.
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CAMILO BOITO E O RESTAURO FILOLÓGICO (OU RESTAURO
MODERNO)
Beltrami valorizou sobretudo a artisticidade como valor fulcral do monumento, Camilo
Boito, sem negar a importância do valor de arte, destaca o valor primordial dos
monumentos enquanto testemunhos duplos, i.e. para além da representatividade
artística também como documento histórico; assim sustenta teoricamente a defesa
de estratégias de conservação integral, opondo-se às teorias reconstitutivas - logo ao
restauro em estilo - defendendo a necessidade da coexistência dos diversos tempos
na vidas das arquitecturas; mas também, e ao contrário de Ruskin, defende a
importância para a salvaguarda da reutilização dos monumentos.
Foi particularmente marcante a sua contribuição para as resoluções do III Congresso
degli Ingegneri e Architetti Italiani, realizado em Roma no ano de 1883 , de onde
resultou a fixação dos conceitos base de uma teoria moderna do restauro, fixados na
teoria operativa da I Carta Italiana do Restauro (dita Carta de Boito).
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CAMILO BOITO E O RESTAURO FILOLÓGICO
Carta do Restauro 1883 (Carta di Boito), síntese:
Os monumentos são considerados DOCUMENTOS privilegiados da história dos povos,
além do seu valor específico enquanto ARTE; a alteração de monumentos não é
admitida devido ao risco de conduzir, no futuro, a deduções históricas erróneas.
Demonstrada a necessidade de intervir num monumento, este deveria ser «(...) antes
consolidado que reparado, antes reparado que restaurado, evitando renovações e
acrescentos».
Considera-se O RESTAURO COMO UMA ACÇÃO IN EXTREMIS.
Os acrescentos ou renovações da construção original só seriam admissíveis por
motivos de força maior (exp., razões estruturais inequivocamente justificadas).
Todas as novas partes deveriam ser executadas de forma a transmitirem um carácter
distinto da construção original. i.e. IDENTIFICAR A CONTEMPORANEIDADE DOS
ACRESCENTOS MAS SEM COLIDIR COM O ASPECTO E LEITURA ARTÍSTICA DOS
MONUMENTOS.
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CAMILO BOITO E O RESTAURO FILOLÓGICO, Carta do Restauro
1883 (Carta di Boito), síntese:
Os materiais a utilizar deveriam ser distintos dos originais, identificando as partes
acrescentadas e, se possível, datando-as, para não iludir futuros observadores.
Considerou-se inaceitável proceder a depurações para atingir uma pretensa unidade
estilística do monumento, e defendeu-se a preservação dos acrescentos e
modificações introduzidos em épocas anteriores, desde que tenham valor histórico e
artístico.
As operações de restauro deveriam ficar registadas e arquivadas, com cópia deixada
«In Loco» e outra em organismo centralizado, recorrendo à fotografia e a desenhos
para registar as diversas etapas dos trabalhos e assim identificando claramente o
que «....se conservou, consolidou, refez, renovou, modificou, removeu ou destruiu».
A colocação de uma lápide no edifício deveria recordar a data e as principais obras
do restauro.
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CAMILO BOITO E O RESTAURO FILOLÓGICO (OU RESTAURO
MODERNO)
Contribuição para as resoluções do III Congresso de 1883, em Roma
Fonte: CERR - Carte, risoluzioni e documenti per la conservazione ed il restauro. Siena, Marzo, 2003
Voto conclusivo del 3° Congresso degli Ingegneri e Architetti Italiani tenutosi a Roma nel 1883;
redação de Camillo Boito
Carta del restauro (dita Carta del Boito)
Roma, 1883
Voto conclusivo
Considerando che i monumenti architettonici del passato, non solo valgono allo studio dell'architettura, ma
servono, quali documenti essenzialissimi, a chiarire e ad illustrare in tutte le sue parti la storia dei vari tempi e
dei vari popoli, e perciò vanno rispettati con scrupolo religioso, appunto come documenti, in cui una
modificazione anche lieve, la quale possa sembrare opera originaria, trae in inganno e conduce via via a
deduzioni sbagliate;
la prima sezione del III Congresso degli Ingegneri ed Architetti, presa cognizione delle circolari inviate dal
Ministero della Pubblica Istruzione ai Prefetti del Regno intorno ai restauri degli edifici monumentali,
raccomanda le seguenti massime:
1. I monumenti architettonici, quando sia dimostrata incontrastabilmente la necessità di porvi mano,
devono piuttosto venire consolidati che riparati, piuttosto riparati che restaurati, evitando in essi con
ogni studio le aggiunte e le rinnovazioni.
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2. Nel caso che le dette aggiunte o rinnovazioni tornino assolutamente indispensabili per la solidità o per altre
cause invincibili, e nel caso che riguardino parti non mai esistite o non piu esistenti e per le quali manchi la
conoscenza sicura della forma primitiva, le aggiunte o rinnovazioni si devono compiere con carattere
diverso da quello del monumento, avvertendo che, possibilmente, nell'apparenza prospettica le nuove
forme non urtino troppo con il suo aspetto artistico.
3. Quando si tratti invece di compiere cose distrutte o non ultimate in origine per fortuite cagioni, oppure di
rifare parti tanto deperite da non poter più durare in opera, e quando non di meno rimanga il tipo vecchio da
riprodurre con precisione, allora converrà in ogni modo che i pezzi aggiunti o rinnovati, pure assumendo
la forma primitiva, siano di materia evidentemente diversa, o portino un segno incisoo meglio la data
del restauro, sicché neanche su ciò possa l'attento osservatore venire tratto in inganno. Nei
monumenti dell'antichità o in altri, ove sia notevole la importanza propriamente archeologica, le parti di
compimento indispensabili alla solidità e alla conservazione dovrebbero essere lasciate coi soli piani semplici
e coi soli solidi geometrici dell'abbozzo, anche quando non appariscano altro che la continuazione od il sicuro
riscontro di altre parti anche sagomate ed ornate.
4. Nei monumenti, che traggono la bellezza, la singolarità, la poesia del loro aspetto dalla varietà dei marmi,
dei mosaici, dei dipinti oppure dal colore della loro vecchiezza o delle circostanze pittoresche in cui si
trovano, o perfino dallo stato rovinoso in cui giacciono, le opere di consolidamento, ridotte allo
strettissimo indispensabile, non dovranno scemare possibilmente in nulla coteste ragioni intrinseche
ed estrinseche di allettamento artistico.
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5. Saranno considerate per monumenti, e trattate come tali, quelle aggiunte o modificazioni che
in diverse epoche fossero state introdotte nell'edificio primitivo, salvo il caso in cui, avendo
un'importanza artistica e storica manifestamente minore dell'edificio stesso e nel medesimo tempo
svisando e smascherando alcune parti notevoli di esso, si ha da consigliare la rimozione o la distruzione
di tali modificazioni o aggiunte. In tutti i casi nei quali sia possibile, o ne valga la spesa, le opere di cui si
parla verranno serbate, o nel loro insieme o in alcune parti essenziali, possibilmente accanto al
monumento da cui furono rimosse.
6. Dovranno eseguirsi, innanzi di por mano ad opere anche piccole di riparazione o di restauro,
le fotografie del monumento, poi di mano in mano le fotografie dei principali stati del lavoro, e
finalmente le fotografie del lavoro compiuto. Questa serie di fotografie sarà trasmessa al Ministero
della pubblica istruzione insieme con i disegni delle piante degli alzati e dei dettagli e, occorrendo, cogli
acquarelli colorati, ove figurino con evidente chiarezza tutte le opere conservate, consolidate, rifatte,
rinnovate, modificate, rimosse o distrutte. Un resoconto preciso e metodico delle ragioni e del
procedimento delle opere e delle variazioni di ogni specie accompagnerà i disegni e le fotografie.
Una copia di tutti i documenti ora indicati dovrà rimanere depositata presso le fabbricerie delle chiese
restaurate, o presso l'ufficio incaricato della custodia del monumento restaurato.
7. Una lapide da infiggere nel monumento restaurato ricorderà la data e le opere principali del
restauro.
Camillo Boito
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GIOVANNONE E O RESTAURO CIENTÍFICO
Gustavo Giovannoni licenciou-se em Arquitectura (aluno de Boito), Engenharia e História, introduziu o ensino da
História em cursos de Engenharia e foi co-fundador da Scuola Superiore d´Architettura di Roma onde introduziu o
estudo do Restauro nos cursos de Arquitectura (no tronco comum e em áreas de especialização). Foi pioneiro na
sustentação teórica do CONCEITO DE PATRIMÓNIO URBANO e no desenvolvimento do enquadramento urbanístico
para a salvaguarda dos (mal) chamados Centros Históricos, nomeadamente o quadro da sua integração num sistema
de planeamento moderno polinuclear.
Giovannonni teve um papel vital no desenvolvimento da teoria Moderna do Restauro, influenciando decisivamente a
Carta de Atenas do Restauro de 1931 e as vitais «Norme per il restauro dei monumenti, de 1932 (desenvolvidas no
seguimento da redacção da Carta de Atenas de 1931) comummente designadas como CARTA ITALIANA DEL
RESTAURO DE 1932 (como tal aprovada pelo Consiglio Superiore Per le Antichità e Beli Arti em 1932) culminando
nas Istruzione per il restauro dei monumenti, (desenvolvidas em conjunto com outros especialistas) e publicadas em
1938. As suas teses sobre conservação foram expressas em múltiplas publicações das quais se destacam: Città
vecchia ed edilizia nuova e Questioni di architectura nella storia e nella vita, de 1929; e, assim como Il restauro dei
monumenti, de 1945.
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GIOVANNONE E O RESTAURO CIENTÍFICO
Por Restauro Científico, entendeu uma teoria que implicava uma diversa metodologia de abordar o
problema da CONSERVAÇÃO, que defende dever ser orientada para a sobrevivência da
AUTENTICIDADE dos monumentos enquanto documentos históricos e enquanto obras de arte, pelo que
recusa a sua renovação de acordo com paradigmas arquitectónicos contemporâneos, considerando que
estes afectavam drasticamente a salvaguarda desses valores.
Nesse sentido, Giovannoni defendeu o recurso à CIÊNCIA para esclarecimentos das questões vitais,
sustentando o PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA, contrapondo ao Restauro interpretativo e
excessivo a prática de uma Consolidação Estrita e a necessidade de uma manutenção regular dos
monumentos.
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GIOVANNONE E O RESTAURO CIENTÍFICO
Giovannoni aceitava a dualidade da existência de monumentos vivos e de
monumentos mortos (já antes defendida pelos teóricos franceses).
MONUMENTOS MORTOS: ruínas, vestígios arqueológicos, vestígios de antigas
fortificações; toda a edificação que é testemunho de uma cultura desaparecida, cujo
uso original se desvaneceu no tempo, assim como qualquer veleidade de reutilização
funcional.
MONUMENTOS VIVOS: os que mantêm o seu uso original (como as catedrais da
nossa cultura europeia cristã), aqueles que podem ser reutilizados de acordo com
programas adequados, ou usos similares, permitindo que a sua adaptação funcional
decorra com um mínimo de alterações.
Retoma a essência do pensamento de Boito, considerando existirem cinco modelos
possíveis de actuação projectual em monumentos[1], susceptíveis de ordenação
(moral) hierárquica e sequencial: (i) à consolidação, seguir-se-ia (ii) a recomposição,
(anastylosis) só depois (iii) a remoção de acrescentos ou desmontagem de partes não
originais, finalmente (iv) o completamento, e, num significativo último lugar, (v) a
inovação, apenas quando imprescindível!!!
[1] Compilados por G. Santoro, Il contributo italiano alla definizione concetuale e metodologica del restauro, em Restauro, n.º 43, 1970. Consultar ainda G. Giovannoni, Norme
per il restauro dei monumenti, em Bolettino d´Arte, Janeiro, 1932, ou ainda J. Jokilehto, ob. cit, pp. 638-639.
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GIOVANNONE E O RESTAURO CIENTÍFICO
A Consolidação, seria a actuação primordial do Restauro, idealmente a única
operação a que se deveria continuamente recorrer! Baseava-se em critérios culturais
mas fundamentava-se em bases científicas e técnicas. Desenvolvia-se com o objectivo
de garantir a continuidade material e física dos edifícios. Aceitava-se que a
consolidação de um monumento pudesse ser efectuada com novos materiais e
tecnologias (como o betão armado) desde que provada a sua imprescindibilidade e
desde que estas soluções ficassem ocultas.
A Recomposição (ou anastylosis) implicava a recolha dos fragmentos dispersos e a
sua remontagem nas suas posições originais, recuperando a imagem parcial, ou total,
do monumento.
Pressupunha o Completamento, pois é muito frequente faltarem partes substanciais
dos materiais originais, assentava em sólidas bases documentais e desde que o
número e a importância das partes em falta não fossem determinantes, ou dominantes,
por relação com as persistências ainda autênticas.
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GIOVANNONE E O RESTAURO CIENTÍFICO
A Remoção ou desmontagem de acrescentos e partes não originais, apenas admitida
quando os elementos ou acrescentos fossem espúrios e o seu desaparecimento não
afectasse a legibilidade do edifício enquanto documento histórico-artístico.
A Inovação seria apenas admitida quando a sua inevitabilidade fosse provada.
As novas partes (completamento, alteração por inovação ou não) deveriam poder
identificar-se claramente, desaconselhando o mimetismo estilístico e defendendo que
os materiais de construção deveriam ser diversos dos originais. A formalização de
partes em falta, evitaria a falsificação estética e histórica através do esquematismo no
detalhe e da essencialização formal nos volumes arquitectónicos (colocando em local
visível a data da realização do Restauro).
Giovannoni é um defensor primordial da importância da salvaguarda do contexto onde
se inserem os monumentos, realçando a estreiteza dos laços que unem os
monumentos à arquitectura menor, «arquitectura povera», formadora da matriz urbana
e ambiental que os enquadra e rodeia. Esta reflexão conduz Giovannone, pioneira e
antecipadamente, à procura de soluções urbanísticas para os problemas dos núcleos
urbanos históricos dando origem às bases da Conservação do Património Urbano.
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Do MONUMENTO à CIDADE COMO
PATRIMÓNIO: a amplificação dos conceitos!
Como diz Choay, o conceito “Património Urbano” surge
quatro séculos depois do conceito de “património histórico” e
é um contributo específico da cultura europeia! Ocorre em
contra-corrente às transformações da revolução industrial,
no confronto com o inevitável processo de urbanização
moderna. Ao surgir o “urbanismo” como disciplina surge
também, por contraste e diferença, um novo olhar sobre a
arquitectura da cidade pré-industrial. Hoje acrescentamos à
cidade-património, a paisagem, os territórios humanizados e
património intangível (dos saberes).
F. Choay, L´Allégorie du Patrimoine, Ed. Du Seuil, Paris, 1992.
José Aguiar, FAUTL
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a invenção do conceito de património
o momento “memorial”
urbano:
«To this day, the interest of their [Itália e França]
fairest cities depends, not on the isolated richness
of palaces, but on the cherished and exquisite
decoration of even the smallest tenements of their
proud periods. The most elaborate piece of
architecture in Venice is a small house at the
head of the Grand Canal, consisting of a ground
floor with two stories above, three windows in the
first, and two in the second (...)».
Cf. J. Ruskin, The seven lamps of architecture, Londres, 1856 (facsímile da segunda edição de 1880), pp.181-182.
F. Choay, L´Allégorie du Patrimoine, Ed. Du Seuil, Paris, 1992.
José Aguiar
Arq., Professor Associado, FAUTL
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património urbano: o momento “memorial”
Ruskin: a cidade histórica como repositório das ligações “memoriais” com
as gerações precedentes, com as quais defende estreitas ligações de
identificação cultural, não só no espaço como no tempo, contra as
transformações radicais do momento histórico que vive. Contra o
processo de evolução histórica, no quadro de um vasto combate cultural
contra a cultura da máquina (Romantismo).
Pioneiro na defesa da importância contextual dos lugares para a inserção
dos monumentos e grandes edifícios públicos: «II importe peu que vous
possédiez une foule de beaux monuments publics s´ils ne s´allient pas,
s´ils ne s´harmonisent pas avec l´ensemble des maisons. Ni l´esprit, ni
l´oeil ne prendront un nouveau collège, un novel hôpital, ou tout autre
nouvel établissement, pour toute une ville». J. Ruskin, Conférences sur l´architecture et la
peinture, (1854), em Les Secteurs sauvegardés ont 30 ans, Colloque international, ICOMOS FRANCE, Dijon, 1992 (tradução
francesa).
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a invenção do conceito de património
o momento “memorial”
urbano:
John Ruskin, foi pioneiro da militância pela
preservação das cidades históricas europeias
(Oxford, Lucerna, Ruão, Génova, Florença,
Veneza, Siena); teoriza a inclusão, como
património edificado a preservar, de conjuntos
urbanos históricos, da arquitectura anónima que,
ao longo de inúmeras gerações construiu cidade,
ampliando, de forma decisiva, o conteúdo
tipológico do próprio conceito de monumento
histórico.
José Aguiar
Arq., Professor Associado, FAUTL
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património urbano: o momento “memorial”
William Morris, manifesto da Society for the Protection of Ancient Buildings (SPAB), a
integração no conceito de património de uma larga variedade de edificações antigas,
lançando as bases da conservação do património vernacular:
«If, for the rest, it be asked us to specify what kind of amount of art, style, or other interest
in a building, makes it worth protecting, we ansewer, anything which can be looked on as
artistic, picturesque, historical, antique, or substantial: any work, in short, over which
educated, artistic people would think it worth while to argue at all».
Cf. W. Morris, manifesto da Society for the Protection of Ancient Buildings, Londres, SPAB, 1877.
José Aguiar, FAUTL
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património urbano: o momento “historicista”
Sittte introduz noção de «cidade histórica-artística», em «Der Stadtbau nach seiner
kunstlerischen Grundsatzen»: «Nem mesmo a moderna história da arte, que aborda toda
e qualquer insignificância, dedicou um espaço à construção urbana (...)». [ 1].
Sitte, consciente da inevitabilidade das mudanças provocadas pela técnica, deplora a
«beleza urbana» que se perde, tanto quanto a que não se produz. Procura determinar as
bases de uma nova e mais qualificada estética urbana, apta a representar e satisfazer as
necessidades da nova era industrial.
[1] Camillo Sitte, A construção da cidade segundo seus princípios artísticos, Editora Ática, 1889 (tradução brasileira de 1992,
com base na tradução francesa), p.95.
património urbano: o momento “historicista”
Sitte é primeiro dos «morfólogos urbanos»: estuda, in situ, dezenas de cidades
antigas (paradigma da forma urbana: o desenho dos espaços públicos, da praça pública).
Espaços analisados fenomenologicamente através das suas configurações formais,
articulação entre volumes e vazios, riqueza formal das diferenças ou continuidades.
Importância do contexto: «Parecemos incapazes de conceber uma nova igreja noutra
posição que não seja a do centro do lugar onde ela será erguida, mantendo desimpedido
todo o espaço à sua volta. Contudo, essa disposição tem apenas desvantagens. Do
ponto de vista estético, ela é mais desfavorável, porque o efeito da obra não se
concentra em lugar algum; ao contrário, dispersa-se à sua volta. Uma construção isolada
desta maneira permanecerá sempre como uma torta exposta sobre uma bandeja».
Mas, para Sitte a cidade histórica era desadequada para os novos usos que a cidade
moderna tinha de resolver, reserva-lhe o papel de museu, de contentor da cultura
histórica e do prazer estético: a visão da cidade como facto artístico, induz o tema da
“cidade-museu”, “cidade-morta” ou ainda à noção, ambivalente, de “ville d´art”»[2].
[1] Camillo Sitte, A construção da cidade segundo seus princípios artísticos, Editora Ática, 1889 (tradução brasileira de 1992,
com base na tradução francesa), p.95. [2] F. Choay, ob. cit, (1992b) p.6.
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património urbano: o momento “integrador”
Gustavo Giovannoni, «Vecchie città, edilizie nuova», primeira enunciação do conceito de
“património urbano” [1].
Para Giovannoni a arquitectura menor consistia, no seu conjunto, num novo tipo de
«monumento», um monumento colectivo: a cidade histórica (definida pela sua estrutura,
morfologia, paisagem e imagem urbanas, as quais deveriam ser sujeitas a leis de
protecção e a critérios de restauro similares aos já existentes, à época, para os
monumentos).
Advinha o «desurbanismo» dos nossos dias e reclama para os antigos núcleos históricos
valores de uso actualizados, inserindo-os nas novas teias de organização territorial.
O papel da cidade histórica deveria ser compatível e complementar das novas estruturas
e escalas do planeamento moderno.
Nova concepção que transfere os valores do património urbano do espaço do museu
para o espaço do quotidiano, atribuindo-lhes valor de uso.
[1] Veja-se em G. Giovannoni, Città vecchia ed edilizia nuova, em Nuova Antologia, Milão, 1913 (reeditado por Unione
Tipografico-editrice, Turim, 1931).
património urbano: o momento “integrador”
Condições (segundo Giovannoni) para que a reapropriação dos centros históricos
fosse possível:
1. a renúncia a uma vocação de centralidade única dos CH no contexto territorial, ou,
no mínimo, inclusão dos CH´s na lógica de um sistema urbanístico polinuclear;
2. a total compatibilidade dos usos atribuídos para os CH com as características
específicas da sua morfologia, escala e capacidades do seu parcelamento, propondo
funções vocacionados pela modicidade da escala dos C.H., pela complexidade e
riqueza morfológica dos seus tecidos (ou seja: lugares de utilização diversificada,
convivial e de permanência, com funções de proximidade e de encontro);
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património urbano: o momento “integrador”
Condições (segundo Giovannoni) para que a reapropriação dos centros históricos
fosse possível:
3. a supressão de edificações ou construções “parasitas” como oportunidade para
revitalizar os tecidos e o funcionamento da cidade histórica (diridamento);
4. na introdução de novas construções, o respeito absoluto pela tipologia cadastral e
pelos condicionamentos (por exemplo, volumetrias) da morfologia existente.
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AS CARTAS ESSENCIAS
Fonte: MRANU
1883, Boito Primeira Carta italiana do Restauro
1931, Carta de Atenas do Restauro
1933, Carta de Atenas do Urbanismo
1932, I Carta Italiana do Restauro
1964, ICOMOS Carta de Veneza
1972, II Carta Italiana del Restauro 1972
1972, ICOMOS, Convenção para a Protecção do Património da Humanidade
1975, Carta da Conservação Integrada Amsterdão
1985, Convenção para a Salvaguardia do Património Architectónico da Europa
1987, ICOMOS Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas, Washington
1999, ICOMOS Carta do Património Vernacular, México
ICOMOS Recomendações Análise, Conservação e Restauro Estrutural
2003, Nova Carta de Atenas (do Urbanismo)
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CARTA DE ATENAS DO RESTAURO, 1931
(Conclusões da Conferência Internacional de Atenas sobre a restauração dos Monumentos)
Consequência da conferência internacional para o estudo de métodos científicos aplicáveis ao exame e
preservação de obras de arte ocorrida em Roma, em Outubro de 1930.
Realizou-se em Atenas, entre 21 e 30 de Outubro de 1931 convocada pelo Conselho Internacional dos Museus
(directo antecessor do actual International Council of Museums - ICOM, fundado em 1946).
Representaram-se 20 países e dela resultou a Primeira Carta Internacional do Restauro ao ser adoptada pelo
Comité Internacional para a Cooperação Intelectual e aprovada pela Liga das Nações como Recomendação
aos Estados-Membros (10 de Outubro de 1932).
Entre as principais repercussões da Carta de Atenas de 1931, destacam-se as seguintes[2]:
- uma nova praxis conservativa. No processo gradual de desenvolvimento de uma teoria disciplinar para a
conservação, a Carta de Atenas marca o termo da fase de maior influência do restauro estilístico, evoluindose, a partir daqui, no sentido da conservação estrita;
o modelo de conservação pressuposto pela Carta influencia directamente o processo de reestruturação das
políticas de conservação em diversos países europeus, como foi o caso de Itália, onde influencia directamente
a redacção da Carta del Restauro de 1931, ou ainda o caso de Espanha, onde inspirou a lei de 13 de Maio de
1933, de defesa e conservação do património histórico-artístico[3].
[1] O texto original foi traduzido para Português por António Reia Cabrita et. al em 1986. (Relatório LNEC Proc. 86/11/8782)
[2] Sobre o impacto da Carta de Atenas do Restauro consulte-se J. Jokilehto, ob. cit., pp. 415-418 e também M. Justícia, ob. cit., pp.22-24.
[3] Regulamentada por Decreto de 16 de Abril de 1936.
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CARTA DE ATENAS DO RESTAURO, 1931, recomendações:
- evitar o restauro baseado em restituições integrais em favor da conservação estrita através da sua
manutenção regular (art. II), fomentando a preservação dos vestígios das diversas épocas históricas
representadas (art. II, 2º parágrafo);
-os monumentos são considerados bens públicos pelo que, na sua gestão, se defende a primazia do
interesse colectivo sobre o privado (art. III);
-recomenda-se uma utilização funcional adequada às características dos monumentos (art. II);
-desencoraja-se a remoção das obras de arte do seu contexto físico e defende-se, sempre que possível, a
sua manutenção in situ, legitimando a anastylosis, no caso das ruínas, e desde que os novos materiais
utilizados na recomposição sejam claramente reconhecíveis (art. IV);
- nas acções de restauro, aceita-se a utilização judiciosa de técnicas e de materiais modernos (como o
betão) acreditando nas suas vantagens estruturais e porque permitiriam a preservação in situ dos
monumentos, e desde o seu uso não conduzisse à alteração do aspecto exterior dos monumentos (art. V);
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CARTA DE ATENAS DO RESTAURO, 1931, recomendações:
- recomenda-se o recurso à ciência e uma prática pluridisciplinar no restauro, assim como a difusão dos
resultados obtidos através de publicações (art. VI), aconselha-se a produção e divulgação de estudos
sobre os procedimentos metodológicos mais adequados à conservação de monumentos históricos (art.
VIII, 3º parágrafo);
- recomendam-se cuidados especiais com a envolvente dos monumentos, que deverão respeitar «(...) o
carácter e a fisionomia da cidade, em especial nas proximidades dos monumentos antigos, onde o
ambiente deve ser objecto de um cuidado especial. Igual respeito deve ter-se com determinadas
perspectivas especialmente pitorescas.» (...). Recomenda-se ainda «a supressão de toda a publicidade, de
toda sobreposição abusiva de postes e fios telegráficos, de toda a indústria ruidosa e intrusa nas
proximidades dos monumentos artísticos e históricos». (art. VII);
- recomenda-se a realização, em cada Estado, de inventários, incluindo o registo fotográfico e de dados
referentes a cada monumento, num arquivo central onde se proceda à compilação da documentação útil à
conservação.
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I CARTA ITALIANA DO RESTAURO 1932
«Norme per il restauro dei monumenti, (como tal aprovadas pelo Consiglio Superiore Per le
Antichità e Beli Arti, em 1932), desenvolvidas pelo Grupo Italiano (direcção de Giovannone) no
seguimento da redacção da Carta de Atenas de 1931.
Grande parte do conteúdo da Carta del Restauro relaciona-se directamente com o ideário de
Boito, retomado pelo próprio Giovannoni, sobressaindo uma grande proximidade com as
práticas metodológicas de disciplinas próximas, como a museologia e a arqueologia.
As grandes novidades conceptuais encontram-se no destaque dado à salvaguarda do
ambiente e da envolvente dos monumentos, na necessidade da adequação do programa
aos monumentos, evitando introduzir-lhes alterações aquando da sua reutilização.
Princípios e recomendações fundamentais.
- máxima importância à manutenção e consolidação (Ponto 1);
- condiciona-se o recurso ao ”ripristino” à certeza histórica, comprovada em vestígios
existentes no próprio monumento (Ponto 2);
exclui-se o completamento, aceitando apenas a anastylosis como forma de recomposição de
partes desmembradas (Ponto 3);
- apenas se admitem utilizações próximas das originais para os monumentos vivos, evitando
profundas adaptações e, sobretudo, amplas alterações em partes essenciais (Ponto 4);
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I CARTA ITALIANA DO RESTAURO 1932
-exige-se a conservação de todas as partes e elementos históricos, ou artísticos,
independentemente da sua época, recusando o desejo de unidade estilística ou de retorno à
forma primitiva, apenas aceitando a remoção de elementos que perturbem uma adequada
apresentação do monumento, após atenta consideração que ultrapasse o mero juízo pessoal do
autor do projecto de restauro (Ponto 5);
- estabelece-se um respeito objectivo pelas diversas fases do percurso temporal do monumento e
pelas suas condições ambientais, condenando tanto os esventramentos como a nova construção
«...invasora pela sua massa, cor e estilo» (Ponto 6);
-na consolidação, nos acrescentos, na reintegração total ou parcial ou ainda para a utilização
prática do monumento, o critério da introdução de elementos novos deve ser o seguinte: limitarse a sua introdução ao mínimo possível, fornecendo-lhes um carácter de grande elementarismo e
simplicidade, assim como de correspondência com o esquema construtivo; admite-se apenas a
continuação de formalizações similares no prolongamento «(...) de linhas existentes, nos casos
em que se trate de expressões geométricas privadas de individualidade decorativa» (Ponto 7);
- recomenda-se que os acrescentos sejam assinalados, com o emprego de materiais diferentes
dos primitivos, adoptando «(...) marcas de contorno simples [...] ou aplicações de siglas ou
epígrafes, de modo a que nunca uma restauração realizada possa conduzir a engano os
estudiosos e representar uma falsificação de um documento histórico» (Ponto 8);
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
I CARTA ITALIANA DO RESTAURO 1932
- considera-se legítimo empregar métodos construtivos modernos para reforço estático quando
os meios construtivos análogos aos antigos não garantam os objectivos pretendidos, e
recomenda-se a substituição dos conhecimentos empíricos pelos científicos (Ponto 9);
- nas escavações e explorações, recomenda-se a conservação, in situ, das obras antigas
encontradas (Ponto 10);
- defende-se a necessidade de uma documentação precisa que acompanhe os trabalhos, tais
como diários do restauro, ilustrados com fotos e desenhos, de forma a que todos os elementos e
fases das obras fiquem registados de modo permanente e seguro (Ponto 11);
- recomenda-se a realização de reuniões regulares para troca de experiências e a publicação de
notícias de âmbito científico, extraídas dos diários de restauros (nas recomendações finais).
José Aguiar, FAUTL
38
6º MRANU - FAUTL
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
A RENOVAÇÃO DEPOIS DA II GRANDE GUERRA
A necessidade de recuperar rapidamente as cidades europeias, para realojar milhões de pessoas e
permitir o relançamento da sua economia, obrigou a actuações de extrema urgência e à aplicação de
métodos expeditos de reconstrução de monumentos (por exemplo, Montecassino), ou mesmo de cidades
históricas completamente destruídas, ou grandemente afectadas pela guerra (como Varsóvia, Génova,
Colónia, Bruxelas, Nápoles, etc.). Daqui resultou, na prática, o abandono dos métodos de restauro
anteriores à guerra.
A oposição do MODERNO à cidade histórica
CARTA DE ATENAS
1933
IV congresso do CIAM, Novembro de 1933,
Redacção do Grupo CIAM-France em 1941. Paris, Annales Techniques, 1945
(tradução livre).
O património arquitectónico [monumentos e conjuntos
urbanos] deveria ser «(...) salvaguardado:
- SE o seu valor arquitectónico correspondesse a um
interesse geral;
- SE a sua conservação não provocasse o sacrifício das
populações mantidas em condições insalubres;
- SE fosse possível remediar a sua presença prejudicial
por medidas radicais: por exemplo o desvio de elementos
vitais da circulação(...)»
Recomenda-se ainda: «(...) a destruição de acrescentos e
construções de menor importância em torno dos
monumentos o que permitiria [sic] criar superfícies
verdes>>.
José Aguiar, FAUTL
ZAC´s parisienses!
39
6º MRANU - FAUTL
Da aversão do MODERNO à cidade histórica
Le Corbusier, legenda: como lidar com o “problema” dos centros históricos!
Em: Maneiras de Pensar o Urbanismo. Lisboa: Europa-América, 1977
da NOSSA AVERSÃO ainda recente à cidade histórica
Porto: Planos de renovação urbana dos anos
50 e 60 propondo a DEMOLIÇÃO da RibeiraBarredo, hoje inscrita na Lista do Património
Mundial da Unesco.
José Aguiar, FAUTL
40
6º MRANU - FAUTL
o primado da RENOVAÇÃO URBANA
Plan Voisan, e Unité
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
A RECONSTRUÇÃO DE VARSÓVIA
A reconstrução de Varsóvia foi uma necessidade política e psicológica, reinstituindo a cidade histórica
como o monumento referencial de uma nação cuja cultura foi intencionalmente atingida.
Era economicamente e eticamente desejável proceder à construção de réplicas dos antigos edifícios,
reconstruindo os “centros históricos” perdidos?
Seria esta a oportunidade perdida de renovar as cidades europeias de acordo com os princípios de uma
teoria urbanística contemporânea (ou seja, moderna, segundo os princípios da Carta de Atenas do
Urbanismo)?
Execução prática com tecnologias pré-industriais, por referência a provas documentais anteriores à
guerra, utilizando levantamentos e desenhos rigorosos ou, na sua falta, diverso tipo de iconografia,
fotografias e mesmo pinturas famosas (como as de Bernardo Berllotto). Por vezes recorria-se aos próprios
vestígios (nos restos da trama cadastral) quando escasseavam outras fontes.
Manteve-se a morfologia urbana anterior, mas a correspondência das novas construções para com as
antigas é apenas exterior, os interiores foram significativamente modernizados.
O modelo nova-cidade-cópia-da-antiga-cidade levantava interrogações incómodas tanto no campo da
conservação urbana, como para a nova disciplina do urbanismo.
José Aguiar, FAUTL
41
6º MRANU - FAUTL
França, Lei Malraux 1962
“Secteurs Sauvegardés”, “Plan de sauvegarde et mise en valeur”, POS – Planos de Ocupação do
Solo. Operações-modelo de preservação de espaços urbanos de grande valor, considerados como
património nacional da França, intervindo com grande profundidade e vasto suporte financeiro,
debaixo de um forte controlo por parte do Estado central. Política restritiva da reconstrução, da
demolição e da alteração do existente.
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE CESARE
BRANDI
Contestação aos projectos cópia e à renovação, pelo grupo italiano (Carlo Argan, Renato
Bonelli, Roberto Pane e Cesare Brandi), torna-o protagonista de uma nova escola de
pensamento da qual resultou (quase directamente) uma nova carta internacional de restauro,
ainda hoje válida - a Carta de Veneza de 1964 - e uma nova carta italiana, a Carta del
Restauro de 1972.
Cesare Brandi, Teoria del Restauro. Turim: Piccola Biblioteca Einaudi,
1963
«A qualidade do restauro depende directamente do juízo crítico da
artisticidade do objecto sobre o qual incide»
Segundo a teoria de Brandi - e este princípio é aplicável à arquitectura ou a qualquer outra arte
-, quando deparamos com uma obra de arte, o seu lado funcional não representa mais do que
um lado concomitante ou secundário, face a outros aspectos tomados como primordiais,
respeitantes a essa obra enquanto obra de arte. Assim, o restauro, estará sempre
estreitamente ligado à avaliação crítica da própria artisticidade do objecto sobre o qual incide.
José Aguiar, FAUTL
42
6º MRANU - FAUTL
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE CESARE
BRANDI
«o restauro constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua
consistência física e na sua dupla polaridade estética e histórica, com vista à sua transmissão
ao futuro»
O reconhecimento, ou a possibilidade de ler e proceder a esse reconhecimento de obra de
arte, de acordo com um processo rigoroso, torna-se o principal imperativo moral da
conservação.
faculdade de arquitectura, recuperação e reabilitação arquitectónica
Mas o que é ARTE?
José Aguiar, FAUTL
43
6º MRANU - FAUTL
Laocoon (Via delle Sete Sale) restaurado por
Montorsoli (fragmentos transformados numa
obra Maneirista).
Laocoon depois da descoberta de fragmentos
(braço) em falta. Reintegrava-se, continuando
a faltar outros fragmentos, ou mantinha-se a
composição de Montorsoli?
BRANDI: RESTAURA-SE A “MATÉRIA” E NÃO A “FORMA”
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO, CESARE BRANDI
A importância da consistência física da obra de arte, da sua materialidade, enquanto meio
específico da manifestação da imagem. A matéria com que se formulou uma obra de arte
torna-se ela própria parte da história e não poderá ser substituída por outra matéria, mesmo
que física e quimicamente idêntica, sem uma grave perda de valor para a obra de arte. É sobre
esse material constitutivo que deverá incidir o indispensável conhecimento científico e técnico
do seu comportamento no tempo, para a selecção de procedimentos técnicos e materiais a
utilizar no processo do seu restauro. Surge, dessa reflexão, o primeiro axioma brandiano:
apenas se restaura a matéria da obra de arte!
Esculturas to templo de Aphaia em Aegina, depois da eliminação dos restauros de Thorvaldsen, sendo impossível deixar as esculturas num
puro “estado arqueológico”, foi necessário proceder a reintegrações e até à sugestão de formas para permitir a sua apresentação e leitura.
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO, CESARE BRANDI
«o restauro deve permitir o restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, sem
produzir um falso histórico ou um falso artístico e sem anular os traços da passagem da
obra de arte pelo tempo»
Para Brandi, a matéria da obra de arte possui, enquanto «epifania da imagem», uma
bipolaridade fundamental: «aspecto» e «estrutura». Estes normalmente não se
contradizem, mas podem existir conflitos. A sua resolução, como no caso do conflito
entre a instância histórica e a instância estética, apenas poderá ser conseguida,
segundo Brandi, com a prevalência do aspecto sobre a estrutura.
José Aguiar, FAUTL
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6º MRANU - FAUTL
Esculturas to templo de Aphaia em Aegina, sendo impossível deixar as esculturas num puro “estado arqueológico”, foi necessário proceder a
reintegrações e à sugestão de formas para permitir a sua apresentação e leitura: reparar nos escudos! Fonte: Paul PHILIPOT, Restoration
from the Perspective of the Humanities. Getty, 1996.
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO, CESARE BRANDI
Esculturas to templo de Aphaia em Aegina, depois da eliminação dos restauros de Thorvaldsen, era impossível deixar as esculturas num puro
“estado arqueológico”, o escudo, o pescoço e o joelho são interpretações modernas para permitir a sua “apresentação” e leitura. Fonte: Paul
PHILIPOT, Restoration from the Perspective of the Humanities. Getty, 1996.
«o restauro deve permitir o restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, sem
produzir um falso histórico ou um falso artístico e sem anular os traços da passagem da
obra de arte pelo tempo»
José Aguiar, FAUTL
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6º MRANU - FAUTL
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE CESARE
BRANDI
«...a conservação dos acrescentos deve considerar-se regular e
excepcional a [sua] remoção»
Um acrescento constitui sempre um novo testemunho do fazer humano, portanto da própria
história. A remoção de um acrescento (o que constitui também um acto histórico), resultará
sempre na «...destruição de um documento e não se documenta a si mesma», pelo que pode
conduzir à obliteração de uma importante etapa histórica. A distinção entre acrescento e
reconstrução esclarece-se ao considerar-se que o objectivo da reconstrução, ao contrário do
acrescento - que se documenta sempre a si próprio -, é abolir um lapso de tempo.
O processo de abolição do tempo, através das reconstruções, pode ocorrer, segundo Brandi,
de acordo com os seguintes modelos: (i) simulando o processo criativo original, refundindo o
velho e o novo de uma forma tal que não permite sequer distinguir os dois momentos, que
resultam num falso histórico, eticamente inadmissível; (ii) ou absorver a obra pré-existente,
usando-a para criar uma nova entidade, no que será sempre um testemunho do presente em
que ocorre. Deste processo resultará algo que, no futuro, poderá até constituir-se como
monumento, mas que, como prática, não pertence sequer ao campo do restauro, ou da
conservação do património.
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE CESARE
BRANDI
Na Teoria de Brandi, o Restauro resolve-se num processo metodológico, que se centra numa
cuidadosa análise crítica, de base filológica e científica, do seu próprio objecto, de que resulta
o esclarecimento da autenticidade com que a imagem da obra de arte foi transmitida e qual o
estado da matéria da qual essa imagem resulta.
São os resultados desse processo analítico que suportam a tomada de decisões.
A especificidade do método, ou seja a sua fundamentação num processo de análise crítica,
justificou a classificação desta teoria como de Restauro Crítico.
José Aguiar, FAUTL
46
6º MRANU - FAUTL
RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE CESARE
BRANDI
A Teoria do Restauro de Brandi fundamenta-se na salvaguarda da autenticidade histórica e
estética, porque:
- faz depender as acções de restauro de um enfoque muito rigoroso no conhecimento do
objecto, obtido através de uma cuidadosa avaliação estética e histórica;
- defende a intervenção mínima e a preferência pela manutenção que evita o próprio restauro,
obrigando ao respeito pelos materiais originais e à aceitação de toda a história do objecto;
- concebe a intervenção de restauro como parte integrante da história do próprio objecto,
obrigando, em consequência, ao registo preciso das acções havidas;
Brandi realça a importância do problema da “apresentação” das aqruietcturas e das obra de
arte, defendendo o equilíbrio crítico entre os valores estéticos e históricos, de que resultará o
restauro da unidade estética sem falsificações, e esclarecendo o problema da pátina, da
reintegração das lacunae e das adições; preocupa-se ainda com o problema do contexto, com
o impacto do ambiente espacial que rodeia a obra-de-arte, assim como com a importância do
ambiente paisagístico e urbanístico da envolvente dos monumentos, defendendo a
manutenção dos seus valores essenciais.
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
1964, CARTA DE VENEZA SOBRE A CONSERVAÇÃO E O RESTAURO DE
MONUMENTOS E SÍTIOS
Maio de 1964, Veneza, II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos dos Monumentos
Históricos. UNESCO, Conselho da Europa, ICCROM e ICOM, participam 61 países da Europa,
América, África, Ásia e Oceânia. Na mesma reunião funda-se o ICOMOS.
De uma análise conceptual realçam-se os seguintes aspectos:
- a definição do conceito de monumento histórico passa a englobar «(...) não só as criações
arquitectónicas isoladamente, mas também os sítios, urbanos ou rurais (...)» (art. 1);
- a preocupação que se estende à necessidade de qualificação e de preservação das
envolventes «(...) sempre que o espaço envolvente tradicional subsista, deve ser conservado,
não devendo ser permitidas quaisquer novas construções, demolições ou modificações que
possam alterar as relações volumétricas e cromáticas» (art. 6);
- considera-se que «(...) um monumento é inseparável da história de que é testemunho e do meio
em que está inserido», pelo que se recusam as remoções do todo ou de parte do monumento
excepto por exigências de conservação (art. 7);
José Aguiar, FAUTL
47
6º MRANU - FAUTL
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1964, CARTA DE VENEZA SOBRE A CONSERVAÇÃO E O RESTAURO DE
MONUMENTOS E SÍTIOS
-no importante problema da reutilização funcional, opta-se claramente por adequar o programa
ao monumento «(...) sem alterar a disposição ou a decoração dos edifícios», recusando
implicitamente o seu inverso, ou seja, a alteração do monumento para responder ao programa;
- realça-se a essencialidade da manutenção para a conservação dos monumentos (art. 4);
- determina como objectivo essencial do restauro «(...) a preservação dos valores estéticos e
históricos do monumento ... Determinando que O RESTAURO DEVE TERMINAR NO
MOMENTO EM QUE AS CONJECTURAS COMECEM!
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CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Art. 4º. Entende-se por salvaguarda toda e qualquer medida conservativa que não implique a
intervenção directa sobre a obra; entende-se por restauro toda e qualquer intervenção destinada
a manter em eficiência, a facilitar a leitura e a transmitir integralmente para o futuro as obras e os
objectos definidos nos artigos precedentes [obras de arte, monumentos, conjuntos, centros
históricos, os jardins e parques].
Art. 6º. Com relação aos fins a que, pelo art. 4°, devam corresponder as operações de
salvaguarda e restauro, proíbem-se indistintamente para todas as obras de arte a que se referem
os artigos 1º, 2º e 3º:
1)
completamentos em estilo ou analógicos, ainda que com formas simplificadas e mesmo
quando existam documentos gráficos ou plásticos que possam indicar qual fosse o estado ou
devesse ser o aspecto da obra acabada;
2) remoções ou demolições que apaguem a passagem da obra através do tempo, a não ser
quando se trate de alterações limitadas, deturpadoras ou incongruentes, em relação aos valores
históricos da obra, ou de completamentos em estilo que falsifiquem a obra;
3)
remoção, reconstrução ou recolocação em lugares diversos dos originais; a menos que
isso seja determinado por superiores razões de conservação;
4)
alteração das condições acessórias ou ambientais nas quais chegou até os nossos
tempos a obra de arte, o conjunto monumental ou ambiental, o conjunto decorativo, o jardim, o
parque etc.;
5)
alteração ou remoção das pátinas.
José Aguiar, FAUTL
48
6º MRANU - FAUTL
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CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Art. 4º. Entende-se por salvaguarda toda e qualquer medida conservativa que não implique a
intervenção directa sobre a obra; entende-se por restauro toda e qualquer intervenção destinada
a manter em eficiência, a facilitar a leitura e a transmitir integralmente para o futuro as obras e os
objectos definidos nos artigos precedentes [obras de arte, monumentos, conjuntos, centros
históricos, os jardins e parques].
Art. 6º. Com relação aos fins a que, pelo art. 4°, devam corresponder as operações de
salvaguarda e restauro, proíbem-se indistintamente para todas as obras de arte a que se
referem os artigos 1º, 2º e 3º:
1)
completamentos em estilo ou analógicos, ainda que com formas simplificadas e mesmo
quando existam documentos gráficos ou plásticos que possam indicar qual fosse o estado ou
devesse ser o aspecto da obra acabada;
2) remoções ou demolições que apaguem a passagem da obra através do tempo, a não ser
quando se trate de alterações limitadas, deturpadoras ou incongruentes, em relação aos valores
históricos da obra, ou de completamentos em estilo que falsifiquem a obra;
3)
remoção, reconstrução ou recolocação em lugares diversos dos originais; a menos que
isso seja determinado por superiores razões de conservação;
4)
alteração das condições acessórias ou ambientais nas quais chegou até os nossos
tempos a obra de arte, o conjunto monumental ou ambiental, o conjunto decorativo, o jardim, o
parque etc.;
5)
alteração ou remoção das pátinas.
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Art. 7º. (…) admitem-se as seguintes operações ou reintegrações:
1) adição de partes acessórias com função estática e reintegrações de pequenas partes
historicamente confirmadas, a executar, segundo os casos, determinando de modo claro o
perímetro das integrações ou adoptando material diferenciado, embora harmónico, claramente
distinguível a olho nu, em particular nos pontos de ligação com as partes antigas, além disso
assinalados e datados onde possível;
2)
limpezas que, para as pinturas e esculturas policromadas, não devem nunca atingir a
camada cromática, respeitando a pátina e eventuais vernizes antigos; para todas as outras
categorias de obras, não se deverá chegar à superfície nua da matéria de que são feitas as
próprias obras;
3)
anastiloses documentadas com segurança, recomposições de obras fragmentadas,
sistematização de obras com lacunas, reconstituindo os interstícios de pouco importância com
técnica claramente distinguível a olho nu, ou com zonas neutras realizadas a nível diverso das
partes originais, ou deixando à vista o suporte original, contudo, nunca integrando ex novo zonas
figuradas nem inserindo elementos determinantes para a figuratividade da obra;
4)
modificações e novas inserções com finalidade estática e conservativa na estrutura
interna, ou no substrato, ou suporte, contanto que o aspecto, depois de completada a operação,
não sofra alteração, nem cromática nem para a matéria, tal como é observável à superfície;
5)
nova ambientação ou instalação da obra, quando já não mais existam ou tenham sido
destruídas a ambientação ou a sistematização tradicional, ou quando as condições de
conservação exigirem a sua transferência.
José Aguiar, FAUTL
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6º MRANU - FAUTL
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CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Art. 8°. Qualquer intervenção na obra, ou mesmo na área envolvente, para os efeitos do disposto
no art. 4º [salvaguarda e restauro], deve ser executada de tal forma, com tais técnicas e
materiais, que possa garantir que, no futuro, não tornará impossível uma eventual nova
intervenção de salvaguarda ou de restauro. Além disso, toda a intervenção deve ser previamente
estudada e justificada por escrito (último parágrafo do art. 5º) e do seu andamento deverá ser
elaborado um diário, que será seguido por um relatório final, com a documentação fotográfica de
antes, durante e depois da intervenção. Deverão, ainda, ser documentadas todas as pesquisas e
análises eventualmente realizadas com o auxílio da física, da química, da microbiologia e de
outras ciências. De toda esta documentação será conservada uma cópia no arquivo da
Superintendência competente e uma outra cópia será enviada ao Instituto Central de Restauro.
Art. 9º. O uso de novos procedimentos de restauro e de novos materiais, em relação aos
procedimentos e materiais cujo uso está em vigor ou, pelo menos aceite, deverá ser autorizado
pelo Ministro da Instrução Pública, segundo parecer fundamentado do Instituto Central de
Restauro, ao qual também competirá promover acções junto do próprio Ministério para
desaconselhar materiais e métodos antiquados, nocivos ou, de qualquer modo, não testados,
sugerir novos métodos e o uso de novos materiais, definir as pesquisas que se devam
providenciar com equipamentos e com especialistas que não fazem parte do equipamento e do
pessoal à sua disposição.
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CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Anexos:
Instruções para a Salvaguarda e o Restauro das Antiguidades
Instruções para o Procedimento de Restauros Arquitectónicos
Instruções para a Execução de Restauros Pictóricos e Escultóricos
Instruções para a Tutela dos «Centros Históricos»
José Aguiar, FAUTL
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6º MRANU - FAUTL
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Instruções para a Tutela dos «Centros Históricos»
As intervenções de restauro nos Centros Históricos têm a finalidade de garantir - com meios e
instrumentos ordinários e extraordinários - o permanecer no tempo dos valores que caracterizam
estes conjuntos. O restauro não se limita, por isso, a operações destinadas a conservar apenas
os caracteres formais de obras de arquitectura ou de ambientes singulares, mas também se
alarga à conservação substancial das características de conjunto do inteiro organismo urbano e
de todos os elementos que concorrem para definir tais características.
Para que o organismo urbano em questão possa ser adequadamente salvaguardado, também na
sua continuidade no tempo e no desenvolvimento no seu interior de uma vida civil e moderna, é
necessário, antes de mais nada, que os Centros Históricos sejam reorganizados no seu mais
amplo contexto urbano e territorial e nas suas relações e conexões com futuros
desenvolvimentos: isto também com o fim de coordenar as acções urbanísticas de maneira a
obter a salvaguarda e a recuperação do centro histórico a partir do exterior da cidade, através de
uma adequada programação das intervenções territoriais. Poderá ser configurado assim, através
dessas intervenções (a desenvolverem-se mediante instrumentos urbanísticos), um novo
organismo urbano, em que se subtraiam do centro histórico as funções que não forem
compatíveis com a sua recuperação em termos de saneamento conservativo.
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Instruções para a Tutela dos «Centros Históricos»
Os elementos construtivos que fazem parte do conjunto devem ser conservados não apenas nos
seus aspectos formais, que qualificam a sua expressão arquitectónica ou ambiental, mas também
nas suas características tipológicas, como expressão de funções que caracterizaram, ao longo do
tempo, o uso desses próprios elementos.
Os principais tipos de intervenção urbanística são:
a. Reestruturação urbanística. É entendida como verificação e, eventualmente, correcção onde
necessário, das relações dos «centros históricos» com a estrutura territorial ou urbana com a
qual formam uma unidade. É de particular importância a análise do papel territorial e funcional
que o centro histórico desenvolveu ao longo do tempo e no presente. Nesse sentido, deve-se
dedicar especial atenção à análise e à reestruturação das relações existentes entre centro
histórico e desenvolvimentos urbanísticos e construtivos contemporâneos, sobretudo do ponto de
vista funcional, com particular referência à compatibilidade de funções directoras.
A intervenção de reestruturação urbanística deverá empenhar-se em libertar os Centros
Históricos dos destinos funcionais, tecnológicos ou, em geral, de usos que provoquem um efeito
caótico e degradante deles próprios.
José Aguiar, FAUTL
51
6º MRANU - FAUTL
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Instruções para a Tutela dos «Centros Históricos»
Os principais tipos de intervenção urbanística são:
b. Reordenamento viário. Refere-se à análise e à revisão das ligações viárias e dos fluxos de
tráfego que incidam sobre a estrutura, com o fim predominante de reduzir os aspectos
patológicos e de reconduzir o uso do centro histórico a funções compatíveis com as estruturas do
passado.
Deve ser considerada a possibilidade de instalação de equipamentos e de serviços públicos
estritamente ligados às exigências de vida do centro.
c. Revisão do mobiliário urbano. Diz respeito às ruas, às praças e a todos os espaços livres
existentes (pátios, espaços interiores, jardins, etc.) com o objectivo de obter uma ligação
homogénea entre edifícios e espaços externos.
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
CARTA ITALIANA DO RESTAURO DE 1972
Instruções para a Tutela dos «Centros Históricos»
Os principais tipos de intervenção no edificado são:
1. Saneamento estático e higiénico dos edifícios, tendente à manutenção da sua estrutura e a um
uso equilibrado da mesma; a intervenção deve ser realizada em função das técnicas, das
modalidades e das directrizes a que se referem as instruções para conduzir restauros
arquitectónicos. Neste tipo de intervenção é de particular importância o respeito das
qualidades tipológicas, construtivas e funcionais do organismo, evitando as transformações
que alterem suas características.
2. Renovação funcional dos organismos internos, a permitir só onde for indispensável para fins de
manutenção em uso do edifício. Nesse tipo de intervenção é de importância fundamental o
respeito das qualidades tipológicas e construtivas dos edifícios, proibindo-se todas as
intervenções que alterem as suas características, tais como o esvaziamento da estrutura
construtiva ou a introdução de funções que deformem excessivamente o equilíbrio tipológicoconstrutivo do organismo edificado.
Os instrumentos operativos dos tipos de intervenção supracitados são essencialmente:
- planos directores gerais, que reestruturem as relações entre centro histórico e território e entre o
centro histórico e a cidade no seu conjunto;
- planos de pormenor relativos à reestruturação do centro histórico nos seus elementos mais
significativos;
- planos de execução sectorial, referentes a um quarteirão ou a um conjunto de elementos
organicamente reagrupáveis.
José Aguiar, FAUTL
52
6º MRANU - FAUTL
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
1975 - Carta Europeia do Património
Arquitectónico e o Conceito de
Conservação Integrada
Salvaguardar os antigos tecidos urbanos através:
«(...) da acção conjugada de técnicas de restauro e da procura das funções
apropriadas...). A conservação integrada deve ser, por conseguinte, um dos
pressupostos importantes do planeamento urbano e regional. Convém notar que a
conservação integrada não exclui a introdução de arquitectura contemporânea em
áreas que contenham edifícios antigos, desde que o contexto existente, as proporções,
as formas, a disposição dos volumes, e a escala sejam integralmente respeitados e
sejam utilizados materiais tradicionais.» Art. 7º.
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
1976 – CONCEITO DE REABILITAÇÃO
URBANA INTEGRADA
Comité de Ministros do Conselho da Europa, Resolução (76) 28 “sobre a adaptação de
leis e regulamentos às exigências da conservação integrada do património
arquitectónico”.
Secção I, Art.º 2º:
A reabilitação é definida como a forma pela qual se procede à integração dos
monumentos e edifícios antigos (em especial os habitacionais) no ambiente físico da
sociedade actual, «(...) através da renovação e adaptação da sua estrutura interna às
necessidades da vida contemporânea, preservando ao mesmo tempo,
cuidadosamente, os elementos de interesse cultural.»
A reabilitação urbana deveria ser realizada segundo os princípios da conservação
integrada e constituir um dos aspectos fundamentais a ter em conta no planeamento
regional e urbano.
José Aguiar, FAUTL
53
6º MRANU - FAUTL
faculdade de ARQUITECTURA - UTL
1976 – CONCEITO DE REABILITAÇÃO
URBANA INTEGRADA
Comité de Ministros do Conselho da Europa, Resolução (76) 28 “sobre a adaptação de
leis e regulamentos às exigências da conservação integrada do património
arquitectónico”.
Secção I, Art.º 2º:
A reabilitação é definida como a forma pela qual se procede à integração dos
monumentos e edifícios antigos (em especial os habitacionais) no ambiente físico da
sociedade actual, «(...) através da renovação e adaptação da sua estrutura interna às
necessidades da vida contemporânea, preservando ao mesmo tempo,
cuidadosamente, os elementos de interesse cultural.»
A reabilitação urbana deveria ser realizada segundo os princípios da conservação
integrada e constituir um dos aspectos fundamentais a ter em conta no planeamento
regional e urbano.
NOVA CARTA DE ATENAS 2003
Contradição estrutural: a cidade de amanhã já existe hoje!
A Nova Carta de Atenas 2003, A visão do C.E.U. sobre as Cidades do séc. XXI. Lisboa, 20 de Novembro de 2003. Tradução portuguesa: Professor Paulo
Correia (coordenador do Grupo de Trabalho da Carta); e Dr.ª Isabel Costa Lobo.
O C.E.U. apresentou para o novo Milénio, e cito: «(…) uma Visão de uma rede de cidades em que estas:
Conservarão a sua riqueza cultural e a sua diversidade, resultantes da sua longa história; (…)
Contribuirão de maneira decisive para o bem-estar dos seus habitants e, num sentido mais lato, de todos os
que as utilizam»; (Introdução – 2 dos 4 pontos -, p. 5).
«O planeamento estratégico do território e do urbanismo são indispensáveis para garantir um
Desenvolvimento Sustentável hoje entendido como a gestão prudente do espaço comum, que é um recurso
crítico, de oferta limitada e com procura crescente nos locais onde se concentra a civilização.» (Introdução, p.6)
A visão futura: uma cidade coerente no tempo!
«A cidade de amanhã já existe hoje. (…) Qual é, então, o problema de base das cidades hoje? É a falta de
coerência na continuidade de evolução no tempo, que afecta as estruturas sociais e as diferenças culturais.
Isto não significa somente a continuidade das características dos espaços construídos, mas também a
continuidade da identidade, que é um valor muito importante a salvaguardar e promover num mundo sempre
tão dinâmico». (p. 9).
José Aguiar, FAUTL
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6º MRANU - FAUTL
A NOVA CARTA DE ATENAS 2003
O PROBLEMA passa A SOLUÇÃO
Contradição Estrutural: a cidade de amanhã já existe hoje!
A COERÊNCIA ECONÓMICA
Globalização e regionalização [especialização]
As actividades económicas são hoje influenciadas pela combinação de duas
forças principais: a globalização e a especialização (local e regional). (...)
Haverá uma procura crescente de produtos raros e requintados e de serviços
associados a processos específicos de produção tradicional (...)». (p. 14)
Vantagens competitivas
«Para uma cidade que procure a coerência, capitalizar os seus atributos
culturais e naturais, gerindo os valores herdados da História, promovendo a
sua singularidade e diversidade, tornar-se-á cada vez mais uma vantagem
significativa». (p. 15)
Referências essenciais:
ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio, Guia de história da arte (Florença, 1977). Lisboa:
Estampa, 1992.
BRANDI, C., Teoria del Restauro. Turim:, Picola Biblioteca Einaudi, 1963 (2ª ed. de 1977).
CARBONARA, G., Trattato de restauro architettonico. Turim: Ed. UTET, 1997
CONSELHO DA EUROPA, Guidance on urban rehabilitation. Estrasburgo: COE, 2004
CHOAY, F., L allégorie du patrimoine. Paris: Ed. du Seuil, 1992.
CESCHI, C., Teoria e storia del restauro. Roma: Mario Bulzoni editore, 1970.
CHOAY, Françoise, L allégorie du patrimoine. Paris: Ed. du Seuil, 1992.
JOKILEHTO, J, A history of architectural conservation, The contribution of English, French,
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property, (dissertação de doutoramento). York: The University of York, 1986.
JUSTICIA, M., Antología de textos sobre restauración. Jaén: ed. Universidade de Jaén, 1996.
PHILIPOT, P., Historic preservation: philosophy, criteria, guidelines, em Proceedings of the
northamerican int. regional conference. Pennsylvania, 1972.
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du Seuil.
RIVERA, J., Restauracion Arquitectónica desde los origenes hasta nuestros dias. Conceptos,
Teoria e historia, em Teoria e historia de la restauracion, Master de restauracion y rehabilitacion
del patrimonio. Madrid: Editorial Munill-Lería, 1997.
José Aguiar, FAUTL
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