contenção pan automotora

Transcrição

contenção pan automotora
VidaBosch
julho | agosto | setembro de 2015 • nº 40
Action Sports Photography/Shutterstock
Recicle a informação: passe esta revista adiante
Flores contra a crise
Mercado de plantas
ornamentais
prospera em meio
à turbulência
Água reciclada
Empresas driblam
a crise hídrica
com reúso e
outras técnicas
editorial
Futuro sustentável
A cada dia fica mais claro que o futuro
da humanidade depende de profundas
mudanças de hábitos para fazer com
que nossas atividades voltem a “caber”
no planeta. Por isso, sustentabilidade
é uma palavra de ordem para a Bosch,
como mostram as matérias desta edição.
Em tendências, apresentamos as tecnologias e os programas desenvolvidos
pela Bosch Rexroth para melhorar a
eficiência energética da indústria, um
imperativo para aumentar a produtividade e a competitividade do setor produtivo brasileiro. Já em atitude cidadã,
explicamos as medidas de economia de
água que a planta da Bosch em Campinas
adotou para enfrentar a crise hídrica no
estado de São Paulo.
Se a adoção de soluções sustentáveis é
uma necessidade em escala global, no
Brasil ela é ainda mais urgente, pois as
condições naturais são uma das maiores riquezas do país, como deixa claro o bom desempenho do mercado de
flores e plantas ornamentais em plena
crise econômica. Como mostra a matéria de Brasil cresce, este é um ótimo
exemplo de como o uso de tecnologia
de ponta pode conviver perfeitamente com uma utilização sustentável dos
recursos naturais.
E por falar em riqueza natural, esta edição já começa falando de um verdadeiro
tesouro brasileiro: a Chapada Diamantina. A matéria de viagem apresenta um
roteiro para quem quer percorrer a região de carro e traz as dicas de um mecânico da rede Bosch Car Service para
deixar o veículo pronto para encarar
essa aventura.
Boa leitura!
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20
28
34
Sumário
02 viagem | Prepare o carro para garimpar os tesouros da Chapada Diamantina
08 eu e meu carro | Yane Marques, uma pentatleta no trânsito do Recife
10 torque e potência | Novas retroescavadeiras modernizam canteiros de obras
14 em casa | Planejamento e criatividade multiplicam espaços de miniapartamentos
20 tendências | Indústria nacional se esforça para aumentar eficiência energética
24 grandes obras | Obras do metrô de Salvador entram nos trilhos após 14 anos
28 Brasil cresce | Floricultura se moderniza e prospera em plena crise econômica
34 atitude cidadã | Com escassez, empresas passam a produzir usando menos água
40 aquilo deu nisso | Tecnologias de detecção acabaram com os grandes incêndios
44 saudável e gostoso | Manjericão é sinônimo de sabor, história e saúde
Expediente
VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo departamento de Marketing e
Comunicação Corporativa. Se tiver dúvidas, reclamações ou sugestões, fale com o SAC Bosch: 0800-7045446 ou
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pagina.com.br • Projeto gráfico, direção de arte e diagramação: Buono Disegno (cargocollective.com/buonodisegno),
tel. (11) 3667-4359 • Tratamento de imagem: Paulo Lopes • Acompanhamento gráfico: Paulo Lopes • Impressão:
Gráfica Mundo • Revisão: Marcelo Moura
viagem
| Por Tássia Novaes
Andre Dib/Shutterstock
2 | VidaBosch |
Garimpo de paisagens
Antigo polo de mineração de pedras preciosas, a Chapada Diamantina hoje atrai
por outro tipo de riqueza: a exuberante natureza do interior da Bahia
Vista do Morro do Pai Inácio, um dos principais cartões-postais da região
Inundadas por água cristalina, as grutas subterrâneas são algumas das principais atrações da Chapada Diamantina
E
m meados do século 19, milhares de
aventureiros chegaram à cidade de
Mucugê, no interior da Bahia, atraídos
pelas jazidas de diamantes nos arredores, em uma área que ficaria conhecida
como Chapada Diamantina. Mais de 150
anos depois, a região continua atraindo
aventureiros, mas agora eles vão atrás de
outra riqueza: a natureza exuberante do
centro-oeste baiano.
É difícil eleger a cachoeira mais bonita, o morro mais imponente, a gruta mais
misteriosa ou o entardecer mais emocionante. O visitante que chega à Chapada
Diamantina logo sente algo diferente no
ar: a natureza se manifesta de forma tão
intensa e sedutora que é praticamente
impossível não se render à atmosfera de
tranquilidade e contemplação. É um daqueles lugares onde a pessoa é capaz de
ouvir o silêncio.
Criado em 1985, o Parque Nacional da
Chapada Diamantina ocupa uma área de
152 mil hectares distribuídos por seis municípios: Andaraí, Ibicoara, Itaetê, Lençóis,
Mucugê e Palmeiras. Devido à extensão,
viajar de carro pela Chapada é aconselhável para quem quer ter a liberdade de
organizar seu próprio roteiro, sem depender das poucas linhas de ônibus disponíveis na região.
Uma semana é suficiente para conhecer
os principais pontos turísticos. O acesso
é feito por rodovias asfaltadas e, uma vez
dentro do parque, é comum circular por
estradas de terra com carro de passeio,
sem necessidade de tração. Já as trilhas
são sempre feitas a pé, na companhia de
guias ou agentes de turismo.
A capital do diamante
Uma boa pedida é começar por Lençóis,
cidade histórica com melhor infraestrutura
de hotéis, restaurantes e outros serviços,
como agência bancária. Localizada perto
de Mucugê, a cidade foi criada pelos garimpeiros que chegaram à região no século 19 e até hoje preserva ruas de paralelepípedo, lampiões e toda a arquitetura
do período em que era conhecida como
capital do diamante. Por isso, foi tombada
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) em 1973.
Basta se afastar um pouco do centro da
cidade para começar a explorar a natureza exuberante da região. Com 20 minutos
de caminhada leve, é possível conhecer
o Salão de Areias Coloridas, formado por
decomposição de rochas, e o Parque da
Muritiba, com diversos poços para banho refrescante. Nesse mesmo passeio, o
turista pode esticar até a Cachoeirinha e
conferir a bela vista no Mirante.
Magdalena Paluchowska/Shutterstock
viagem | VidaBosch | 5
É difícil eleger a atração mais
bonita. O visitante logo sente que
está em um daqueles lugares onde é
possível ouvir o silêncio
Vale a pena passar três noites em Lençóis para conhecer outras atrações, como
a Cachoeira dos Mosquitos – forma como
os garimpeiros chamavam os pequenos
diamantes. As pedras formam poços para banho em meio a paredões rochosos e
mata nativa. Em seguida, é possível visitar o Complexo Arqueológico Serra das
Paridas, sítio com mais de mil registros
de pinturas rupestres. Tudo isso cabe em
uma manhã.
Após uma pausa para o almoço, a dica
para aproveitar o início da tarde é conhecer o Poço do Diabo, localizado no quilômetro 22 da rodovia BR-242 (em direção a
Seabra). Saindo de carro de Lençóis, são
30 minutos até o estacionamento próximo
ao restaurante de quitutes regionais Dona
Pata. Com mais 15 minutos de caminhada,
chega-se ao poço de águas escuras do Rio
Mucugezinho. Quem ainda tiver energia,
pode fazer rapel ou tirolesa no local.
O último dia em Lençóis fica reservado para um passeio pelas maravilhas
subterrâneas da Chapada. Localizada no
município de Iraquara, a 64 quilômetros
de Lençóis (via rodovia BA-122), a Torrinha é uma das grutas mais completas do
Brasil, com formações raras, como flores
de aragonita, além das tradicionais estalactites e estalagmites. A gruta fica em
uma propriedade particular. O acesso é
pago (varia de R$ 20 a R$ 50) e é feito em
grupos de até seis pessoas, acompanhadas por um guia.
Ainda em Iraquara fica a gruta da Lapa
Doce, terceira maior do país, com 17 quilômetros de extensão – visitantes têm acesso
apenas a 850 metros –, e as grutas da Pratinha e Azul, ambas inundadas por água
cristalina. Na Pratinha, o programa é um
mergulho de flutuação com guia. No local,
aluga-se colete, máscara e esnórquel. Na
gruta Azul, o mergulho é proibido devido
à profundidade, que chega a 70 metros.
De volta à superfície, o dia chega ao
fim com a paisagem estonteante de um
dos principais cartões postais da Chapa-
As pinturas rupestres e a cidade de Lençóis são dois patrimônios históricos da região
Vinicius Tupinamba/Shutterstock
viagem
Vinicius Tupinamba/Shutterstock
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viagem
viagem | VidaBosch | 7
Feira de Santana
110
Seabra
242
Palmeiras
Lençóis
116
BA- 142
Andaraí
BA- 245
BA- 245
Mucugê
Itaetê
Salvador
BA- 245
da: o Morro do Pai Inácio. O morro tem
mais de mil metros de altura, mas a trilha
até o topo se resume a uma caminhada
de 300 metros, pois quem chega de carro para em um estacionamento próximo
a um posto de combustível nas margens
da BR-242 que fica 700 metros acima do
pé da montanha.
A subida, permitida até as 17h, é íngreme, mas a recompensa é uma das vistas
panorâmicas mais bonitas da Chapada,
em especial no pôr do sol. Do alto do morro é possível ver os morros do Camelo,
Morrão e Três Irmãos. Ideal para repor
as energias em silêncio, ouvindo apenas
o som do vento, sempre intenso.
Depois de três dias em Lençóis, é hora de
partir rumo à próxima parada do passeio:
o povoado de Caeté-Açu, mais conhecido como Vale do Capão, um distrito do
município de Palmeiras. Localizado a 70
quilômetros de Lençóis – sendo que 18 devem ser percorridos em estrada de terra –,
este vilarejo sossegado, cercado de belas
montanhas, é um dos locais mais visitados
na Chapada, com boa oferta de pousadas
e restaurantes.
A vila conserva uma atmosfera de comunidade alternativa, onde o tempo parece ter ritmo próprio, e oferece inúme-
ros passeios, trilhas e opções de práticas
holísticas, como massagens, leitura da íris
e cozinha vegetariana. Vale a pena passar
três dias no local para conhecer as belas
cachoeiras da região.
A mais impressionante é a Cachoeira
da Fumaça, uma das maiores cascatas do
Brasil, com 340 metros de queda d’água.
Trata-se de um filete de água que, ao encontrar com o vento forte no alto da montanha, dissipa no ar como se fosse uma cortina de fumaça. O espetáculo costuma ser
mais intenso nos meses de junho e julho,
quando chove forte na região e o volume
dos rios aumenta. Para apreciá-lo é preciso encarar uma trilha de seis quilômetros,
incluindo uma subida íngreme que pode
durar mais de uma hora. O passeio pode
ser feito no início da manhã e durante a
trilha é comum encontrar vendedores de
pastel de palmito de jaca, iguaria típica
preparada por moradores do Vale.
Devido à intensidade da subida, de tarde o visitante pode desfrutar um passeio
mais ameno: a Cachoeira do Riachinho. É
possível ir de carro até bem próximo do
local próprio para banho, restando ape-
de terra e as temperaturas costumam ser
altas. Por isso, é muito importante que o
carro tenha uma boa proteção de cárter,
para evitar que o compartimento seja danificado por alguma pedra solta no caminho.
“Isso é essencial”, diz Manchinha.
As estradas de terra exigem outros cuidados
especiais, como na calibragem dos pneus.
“Eles não podem estar com mais de 30
libras. A gente aconselha colocar 28”, afirma o mecânico. O calor da região também
demanda atenção com os níveis do óleo
e do líquido de arrefecimento do veículo.
Ambos precisam estar em ordem para não
correr o risco de o motor ferver. Por isso,
o carro precisa estar em dia com as revisões periódicas, diz Manchinha. Além disso, o mecânico aconselha regular os faróis
do veículo antes de desbravar a Chapada.
Os cuidados com o veículo, aliás, não se
resumem à preparação e à viagem em si.
Manchinha diz que é preciso fazer uma
pequena manutenção na volta, o que inclui
trocar o filtro de ar, “porque na viagem
tem poeira demais”, e verificar as lanternas do veículo, para se certificar de que
as lâmpadas estão funcionando. “Quando
tem muita trepidação, como nas estradas
de terra, muitas vezes acaba queimando
alguma lâmpada”, alerta o mecânico.
Ibicoara
Vale das cachoeiras
Onde ficar
Hotel Canto das Águas
Av. Senhor dos Passos, 1, Centro,
Lençóis. Tel: (75) 3334-1154, www.
lencois.com.br - Hotel com infraestrutura impecável, quartos amplos e
confortáveis, à beira do Rio Lençóis.
Ótimo serviço de massagem para relaxar o corpo após as trilhas.
Hotel de Lençóis
R. Altina, 747, Centro, Lençóis. Tel:
(75) 3334-1102, www.hoteldelencois.
com - Ambiente aconchegante, onde
é possível acordar ao som dos pássaros. O hotel possui bosque particular
com quatro hectares e um acervo com
peças de lapidação de diamantes e
outros artefatos antigos em exposição. Excelente restaurante.
Pousada do Capão
Rua Chamego, s/n, Caeté-Açu, Palmeiras. Tel: (75) 3344-1034/1162, www.
pousadadocapao.com.br - Instalações
rústicas e charmosas, de onde é possível contemplar a natureza da janela dos quartos. Vista incrível para o
morro Branco. Diversos jardins. Deck
privativo no rio que passa ao fundo
da pousada.
Onde comer
Cozinha aberta
Av. Rui Barbosa, 42, Centro, Lençóis.
Tel: (75) 3334-1321, www.cozinhaaberta.com.br - Restaurante slow food
em uma casa linda, ampla e arejada,
com varanda romântica e jardim. Pratos
feitos exclusivamente com ingredientes
orgânicos, inspirados na cozinha sustentável, privilegiando produtos regionais.
Quilombola
R. Das Pedras, 89, Centro, Lençóis.
Tel: (75) 9930-3027, sem site - Cardápio variado para saborear o que há de
mais autêntico na culinária regional,
como godó de banana e apanhari frito.
O Galpão
Vale do Capão, Caeté-Açu, Palmeiras.
Tel: (75) 3344-137, www.facebook.
com/Restauranteogalpao - Café da
manhã mais procurado do Vale do
Capão, com pães, beiju e iogurte caseiros. Pratos do almoço e jantar preparados com ingredientes orgânicos.
Destaque para as massas artesanais,
em especial a lasanha vegetariana da
casa. O espaço, aconchegante e receptivo, aceita reservas.
Como chegar
Para viajar de carro de Salvador a
Lençóis, saia da capital pela rodovia
BR-324 e siga até Feira de Santana.
De lá, pegue a BR-116 e, em seguida,
a BR-242 em direção a Itaberaba. Outra opção é ir de avião, pousar diretamente no aeroporto de Lençóis (três
voos semanais partindo de Salvador)
e alugar um carro.
O Vale do Capão conserva
uma atmosfera de comunidade
alternativa, onde o tempo
parece ter ritmo próprio
nas 15 minutos de caminhada a pé. Não
é necessário guia. À noite, os visitantes
contam com o charme da pitoresca vila,
ponto de encontro dos trilheiros, onde
artesãos e artistas locais exibem sua arte
em pequenas feiras.
Outros passeios partindo a pé da vila do
Vale são: Cachoeira do Rio Preto e Rodas
(1h30 de caminhada leve), Cachoeira da
Purificação (3h de caminhada moderada),
Poço do Gavião (2h de caminhada intensa),
Gerais do Vieira (3h de caminhada leve) e
Águas Claras (2h30 de caminhada leve).
A viagem pela Chapada Diamantina termina onde a história da região começou:
a cidade de Mucugê, situada a mil metros
de altitude, em meio à Serra do Sincorá. A
75 quilômetros do Vale do Capão, é uma
boa opção de pernoite para visitar a última
grande atração do passeio: a Cachoeira
do Buracão. Localizada no município de
Ibicoara, a 65 quilômetros de Mucugê, ela
impressiona por ficar em uma formação
rochosa semelhante a um cânion inundado com uma queda d´água majestosa
num buraco de 50 metro de profundidade.
Ao final do percurso, fica claro que, ao
contrário do que acontecia no passado,
hoje não é preciso garimpar para encontrar os tesouros da Chapada Diamantina:
eles estão todos à vista, para onde quer
que se olhe.
A Bosch na sua vida
Prepare-se para a terra
Um carro normal de passeio é mais do
que suficiente para viajar pela Chapada
Diamantina, mas é preciso tomar alguns
cuidados antes de pegar as estradas
da região. A afirmação é de Jairo Souza Chavez, o Manchinha, proprietário
da Manchinha Auto Elétrica, oficina da
rede Bosch Car Service mais próxima
do parque nacional, localizada no município de Seabra (BA), a 71 quilômetros
de Lençóis.
Manchinha alerta que a parte do passeio
que requer mais atenção é o Vale do Capão, onde a maior parte das estradas é
Arquivo Bosch
6 | VidaBosch |
eu e meu carro
| Por Frederico Kling
Marcelo Costa Soares
E
Confiança para vencer e dirigir
A pentatleta Yane Marques leva para a direção a mesma responsabilidade que a
tornou uma das promessas de medalha nas Olimpíadas do Rio
m 2003, a então nadadora Yane Marques começou a treinar as outras quatro modalidades que compõem o pentatlo
moderno – esgrima, hipismo, corrida e tiro.
Em 2007, a pernambucana já abocanhava
a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Surpreendente
para o grande público, o resultado era esperado por quem conhecia a atleta que,
apenas um dia depois de fazer 18 anos,
tinha usado sua perseverança para tirar
carteira de motorista. E duas de uma vez:
de carro e de moto.
“Meu pai ensinou meu irmão a dirigir,
mas nunca me deu aulas. Eu achava aquilo
machismo, queria mostrar que era capaz e
consegui tirar as duas habilitações de primeira”, conta Yane, que nasceu em Afogados do Ingazeira, no interior de Pernambuco, mas aos 11 anos mudou-se para Recife.
Aos 18, a motorista novata já era uma
nadadora experiente e disputava algumas
provas de alcance nacional, emboras sem
resultados expressivos. Quando, em 2003,
foi criada a Federação Pernambucana de
Pentatlo Moderno, a vida de Yane começou a mudar. “Eles fizeram uma prova de
biatlo, com corrida e natação, para selecionar possíveis competidoras. Eu fui bem e
me convidaram para começar a treinar.”
Sua modalidade preferida hoje não é
mais na piscina, mas em cima do cavalo.
“Gosto do hipismo, pois há o desafio de conhecer o cavalo, já que só sabemos na hora
qual animal vamos montar”, comenta Yane.
Na hora de ir para os treinos, os pais faziam questão de acompanhá-la no banco
do passageiro. “No começo, eles sempre
queriam estar ao meu lado, mas foram vendo que eu dirigia direito e deixaram eu ir
sozinha; sou uma motorista muito prevenida”, diz Yane, que emenda: “Adoro dirigir.”
A atleta de 31 anos, que acumula duas
medalhas de ouro em Pan-Americanos e
duas de bronze – uma nas Olimpíadas de
Londres, em 2012, e outra no campeonato
mundial de 2015 – , tem muitas oportunidades para exercer seu gosto pela direção.
“Em casa, só eu dirijo; meu marido prefere
ficar dormindo do lado”, brinca. E o casal
viaja muito, principalmente para as praias
perto de Recife, como Porto de Galinhas,
ou para a cidade natal da pentatleta.
No controle
Ela não se incomoda de ser quase sempre
a motorista. Muito pelo contrário. “Adoro
conduzir o carro, acho que isso é um reflexo
da minha preferência por esportes individuais, sempre gosto de estar no controle
das ações e não me sinto muito segura com
outros motoristas. Quando canso, prefiro parar e continuar depois do que dar a
direção a outra pessoa”, continua Yane.
O carro, no entanto, não serve apenas
para a diversão – é também seu transporte para os treinos diários. Ela já chegou
a sofrer um acidente de trânsito às cinco
da manhã, horário em que muitos festeiros estão voltando para casa, mas no qual
atletas olímpicos estão saindo para treinar.
Yane prefere modelos grandes, nos quais
consiga carregar todos os equipamentos
necessários para a prática das modalidades do pentatlo moderno. “Antes usava o
carro da minha mãe e só fui comprar um
para mim há uns dois anos. Foi um Nissan
Livina”, conta a atleta.
Agora, Yane dirige um Chevrolet Spin,
carro também grande, mas com uma diferença em relação aos anteriores: o câmbio é automático. “Em Recife, o trânsito
é muito caótico, e eu saio muito cansada
dos meus treinos. Aquele ‘acelera e para’
me cansava ainda mais, e decidi, por isso, comprar um automóvel automático.”
E Yane precisa mesmo de todo o descanso possível. Muitos no Brasil se surpreenderam com sua medalha em Londres, mas ela já era bem conhecida entre
os especialistas no esporte. Os brasileiros
agora sabem que a pernambucana é uma
das grandes esperanças de pódio para o
país nas Olimpíadas de 2016.
“Agora é diferente. Londres foi uma vitrine e, uma vez medalhista, as pessoas
sempre esperam que você repita os bons
resultados”, diz a pentatleta. Depois de
um breve descanso após o sucesso no
Pan-Americano de Toronto, do qual voltou com o ouro, ela já retomou os treinos,
que, por sinal, espalham-se por três estados. “Meus técnicos são todos militares,
e, além de Recife, eles também estão em
Porto Alegre e em Curitiba”, conta Yane,
que também é militar – tem a patente de
terceiro-sargento do Exército.
A Bosch na sua vida
Arquivo Bosch
8 | VidaBosch |
Conforto automático
A Bosch oferece a tecnologia ideal
para quem, como Yane Marques,
faz questão de estar sempre ao
volante, mas não quer se estressar com o trânsito. O Adaptive
Cruise Control Stop & Go (ACC
Stop &Go) é um sistema que monitora o que acontece na frente do
carro e acelera e freia o veículo
automaticamente.
“Se o carro da frente parar, o seu
carro para; se o outro acelerar, o
seu acelera”, explica Alexandre Pagotto, chefe de marketing da divisão
de segurança veicular da Bosch.
“Ele alivia a tensão do motorista.
Em vez de ter que ficar acelerando
e parando, ele faz isso por você”,
afirma Pagotto. Mais informações
sobre o ACC estão disponíveis em
http://migre.me/rpmeW.
Além do ACC Stop & Go, a Bosch
oferece outro sistema que aumenta
a segurança de quem dirige em
grandes metrópoles, como é o caso de Yane. Trata-se da Frenagem
Automática de Emergência, que
também monitora o que acontece
no entorno do carro e, se necessário, freia automaticamente para
evitar acidentes. “Se um carro ou
uma pessoa entra na frente do
veículo de repente e o motorista
não consegue reagir a tempo, o
sistema assume o controle e freia
as rodas. Com isso, evita ou diminui a gravidade do acidente”, diz
Pagotto. Para entender como o
sistema funciona, acesse http://
migre.me/rpmpo.
Arquivo Bosch
10 | VidaBosch |
torque e potência
| Por Manuel Alves Filho
Tecnologia
para toda obra
Com recursos dignos de carros de luxo, novos
modelos de retroescavadeiras ajudam o segmento
de máquinas rodoviárias a enfrentar a crise
I
ndústria automobilística e construção
civil são duas das maiores vítimas da
atual crise econômica. Não por acaso, a
instabilidade nos negócios atingiu em cheio
o setor de máquinas rodoviárias, segmento
da indústria automobilística que fabrica
os equipamentos utilizados nos canteiros
de obras. No primeiro semestre de 2015, a
produção do setor caiu 56% em relação ao
mesmo período de 2014, segundo dados
da Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos (Abimaq). A
situação só não é pior porque um produto
específico está resistindo bravamente à
recessão: as retroescavadeiras.
Enquanto o conjunto do setor amargou
uma retração cavalar, na primeira metade
de 2015 foram produzidas 4.102 máquinas
do gênero, número que representa uma
variação negativa de apenas 1% em relação ao mesmo período do ano passado.
“Isso significa que, apesar do momento
difícil, o mercado continua consumindo
retroescavadeiras no mesmo patamar de
2014”, afirma a presidente da Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias da Abimaq, Andrea Park.
O relativo sucesso desse tipo de máquina em relação ao resto do segmento se
deve a vários fatores. Alguns deles, como
versatilidade e preço, são velhos conhecidos. A retroescavadeira é considerada
a mais versátil das máquinas usadas na
construção civil, pois é capaz de executar
diferentes tarefas, como escavar, demolir,
transportar material, limpar terrenos etc.
“O sucesso da retroescavadeira no setor
de construção se deve a essa versatilidade, mas também ao baixo valor do investimento, à liquidez do bem e ao baixo custo
operacional”, afirma o vice-presidente da
Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema),
Paulo Oscar Auler Neto.
Outro fator que contribui para o bom
desempenho das retroescavadeiras, no
entanto, é novo: nos últimos anos, essas
máquinas, tradicionalmente associadas a
falta de conforto e recursos técnicos pouco
sofisticados, passaram por um banho de
tecnologia e hoje contam com avançados
sistemas mecânicos, hidráulicos e eletrônicos. Todas essas inovações aumentaram
torque e potência
torque e potência | VidaBosch | 13
Equipados com sistemas hidráulicos de ponta, os novos modelos são mais precisos, confortáveis, econômicos e eficientes
a produtividade das retroescavadeiras, o
que ajuda a tornar a construção civil mais
eficiente, um requisito essencial em tempos
de crise. “Por causa de suas características, esse equipamento é um importante
alavancador no processo de mecanização
dos canteiros de obras”, avalia Auler Neto.
Ar-condicionado e joystick
Quando inventou a retroescavadeira, em
1953, o inglês Joseph Cyril Bamford jamais
poderia imaginar que aquele estranho trator
com duas pás, uma maior na parte dianteira e outra menor na traseira, passaria
por evoluções tecnológicas dignas de filme de ficção científica.
Atualmente, as retroescavadeiras presentes no mercado brasileiro apresentam
recursos dignos de um automóvel de passeio top de linha. As versões mais modernas contam com cabine fechada dotada de
ar-condicionado, assento ergonômico e
sistema de isolamento acústico, cuidados
que asseguram o conforto e a segurança
do operador. Alguns equipamentos podem
ser operados internamente por meio de
joystick, como se fossem games gigantes,
ou externamente, usando um smartphone
como controle remoto.
As retroescavadeiras modernas também apresentam uma estrutura bem mais
resistente que as suas antecessoras. “Os
comandos hidráulicos estão mais precisos
e suaves, evitando os antigos movimentos bruscos que ocorriam no momento
do acionamento da caçamba”, aponta
Auler Neto.
Os componentes hidráulicos hoje
são tão precisos que já existe no mercado brasileiro um modelo equipado com
um sistema que faz a detecção da carga
e oferece potência total de levantamento
e escavação em todas as velocidades do
motor, alinhando dessa maneira o fluxo
hidráulico às demandas de trabalho. “Essa tecnologia faz com que a operação seja
altamente eficiente”, afirma Andrea Park,
da Abimaq.
Outro avanço significativo se deu nos
motores que movimentam essas máquinas.
Os propulsores são muito mais potentes
e eficientes que as versões de 10 a 15 anos
atrás. “Estamos no mesmo patamar tecnológico do resto do mundo. Os motores
de nossas retroescavadeiras não são mais
eficientes em termos de emissão por causa dos limites impostos pela legislação e
não por causa da capacidade técnica dos
fabricantes”, complementa Auler Neto,
da Sobratema.
Produtividade sustentável
Todas essas inovações tecnológicas que
proliferaram nos últimos anos refletem
diretamente na qualidade do trabalho realizado nos canteiros de obras presentes
nos quatro cantos do Brasil. “Além de oferecerem maior segurança ao operador
e seu entorno, esses avanços proporcionam maior produtividade e confiabilidade, além de menor custo operacional”,
garante Auler Neto.
Os avanços foram acompanhados por
uma maior diversificação dos modelos
disponíveis. Apesar de a retroescavadeira
ser uma máquina “pau para toda obra”,
hoje os fabricantes produzem diferentes
tipos de equipamentos, cada um voltado a um tipo de necessidade. Uma breve
consulta ao site de uma das mais tradicionais indústrias do setor instaladas no
Brasil revela a existência de dez modelos
à disposição dos interessados.
Um desses modelos é capaz de escavar
um buraco de seis metros de profundidade,
o que equivale à altura de um prédio de
dois andares. A força de escavação, nesse caso, é de 71 quilonewtons (kN), sendo
que cada kN equivale a 100 quilos. Com
tamanha energia, essa retroescavadeira
é capaz de quebrar asfalto ou romper a
resistência de um solo rochoso. Mesmo
trabalhando a maior parte do tempo sem
realizar grandes deslocamentos, alguns
modelos chegam a atingir até 45 quilômetros por hora quando estão rodando por
ruas ou estradas.
Por falar em velocidade, as retroescavadeiras também são consideradas veí-
Por causa de suas características,
as retroescavadeiras são um
importante alavancador da
mecanização dos canteiros de obras
culos automotores e, como tais, terão que
continuar a evoluir tecnologicamente para se tornarem mais sustentáveis. A partir deste ano, essas máquinas passam a
estar sujeitas às normas do Programa de
Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores para Máquinas Agrícolas e
Rodoviárias (Proconve/Mar-I), gerido pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
e regulamentado pelo Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama).
O objetivo da iniciativa, que será
implementada em etapas até 2019, é reduzir
a emissão de gases nocivos ao ambiente
e à saúde humana, como monóxido de
carbono (CO), hidrocarboneto (HC), óxido de
nitrogênio (NOx) e de material particulado
(MP), a taxas que variam de acordo com
a potência dos motores. Máquinas com
propulsores entre 130 e 560 quilowatts-
hora (kW/h), por exemplo, não poderão
emitir mais que 3,5 gramas de CO, 4 gramas
de HC, 4 gramas de NOx e 0,2 grama de
MP por kW/h.
Com todas essas inovações, ainda existe
espaço para o crescimento da produção e
venda de retroescavadeiras no país, acreditam Auler Neto, da Sobratema e Andrea
Park, da Abimaq. Ambos lembram que,
embora equipamentos do gênero estejam
em praticamente toda obra de médio e
grande porte do país, o Brasil continua
carecendo de obras de infraestrutura,
nas quais o uso desse tipo de máquina
é fundamental. “As retroescavadeiras
estão espalhadas por todos os setores
da construção, mas ainda temos espaço para o aumento da comercialização
de equipamentos novos, inclusive para
promover a renovação da frota”, afirma
Auler Neto.
Assim, ao que tudo indica, as retroescavadeiras continuarão por muito tempo
a ser a principal arma do segmento de
máquinas rodoviárias para enfrentar a
crise e voltar a crescer quando a retomada vier.
A Bosch na sua vida
Menos esforço, mais eficiência
A Bosch Rexroth, divisão de tecnologias
de acionamento e controle do Grupo
Bosch, tem contribuído para modernizar a hidráulica das retroescavadeiras.
Em modelos mais antigos e simples, o
óleo que aciona componentes como o
braço de escavação corre ininterruptamente pelo bloco e tubulações, gerando
desperdício energético. Para aumentar
a eficiência desses sistemas, a Rexroth
fornece bombas de engrenagem e blocos
de válvulas com tecnologia load sensing.
“Essa tecnologia faz com que o óleo não
circule o tempo todo pelo sistema, mas
somente quando o componente é acionado, o que reduz o consumo e o aquecimento”, explica Luis Pissinato, gerente
responsável pelo segmento de máquinas
de construção da empresa. Para saber
mais sobre o bloco de controle com
tecnologia load sensing, acesse http://
migre.me/rqcX8 (em inglês).
Para os modelos mais sofisticados, a
companhia oferece uma tecnologia ainda mais avançada: bombas de pistões
de vazão variável e blocos de controle
gerenciados eletronicamente pelo sistema BODAS, que define com precisão
a quantidade de óleo que chega a cada
componente, diz Pissinato. Mais informações sobre o sistema BODAS estão
disponíveis em http://migre.me/rqd4v.
O Grupo Bosch também fornece sistemas
hidráulicos de freio que reduzem o esforço
necessário para deter a máquina. “O
Differential Master Cylinder e o HydroBooster têm um sistema de diferentes
diâmetros de cilindros e pistões internos
que amplificam a força que o operador
Arquivo Bosch
Arquivo Bosch
12 | VidaBosch |
coloca no pedal de freio, o que produz
um resultado de frenagem adequado com
menos esforço”, afirma Leandro Olivo,
chefe de desenvolvimento da divisão
Diesel Systems em Curitiba, unidade
responsável pela comercialização desses
sistemas de freio no Brasil.
Para entender como funcionam os sistemas hidráulicos de freio, acesse http://
migre.me/rqd8n (em inglês).
em casa
Yampi/Shutterstock
14 | VidaBosch |
O milagre da
multiplicação
de espaços
Com a proliferação de apartamentos pequenos é
fundamental aproveitar ao máximo cada cantinho do imóvel.
Especialistas dão dicas de como fazer isso
| Por Letícia Liñeira
16 | VidaBosch |
em casa
em casa | VidaBosch | 17
Rômulo Fialdini
Kuprynenko Andrii/Shutterstock
Integrar a
cozinha e as
salas de jantar
e de estar é
uma boa forma
de aproveitar
espaços
N
os últimos anos, o boom imobiliário e a explosão do preço do metro
quadrado nas principais cidades brasileiras levaram a uma proliferação de apartamentos cada vez menores. Diante da
escassez de espaço, arquitetos e designers
de interiores têm desenvolvido estratégias criativas para aproveitar ao máximo
cada cantinho do imóvel.
A primeira dica é planejar muito bem
antes de mobiliar qualquer cômodo para
otimizar a ocupação do espaço e garantir
uma mobilidade razoável. “Em ambientes
pequenos, é sempre importante colocar o
mínimo de mobiliário possível, deixando
um espaço para a circulação de no mínimo
50 a 55 cm entre cada peça”, recomenda a
designer de interiores Cristina Barbara.
A integração de ambientes ajuda no
planejamento. “Principalmente em apartamentos pequenos é importante prever
integração dos espaços, com pouco mobiliário – e de preferência baixo para não
isolar nenhum elemento. É preciso planejar
o posicionamento dos móveis pensando
no fluxo do dia a dia no imóvel, não atrapalhando abertura de portas, passagens
e entradas de luz, como janelas”, diz a arquiteta Petra Linkewitsch, do Studio ML
Arquitetos Associados.
“Preste atenção para não posicionar o
sofá de costas para a porta, nem espremê-lo
muito, pois este deve ser um espaço de convivência e conforto. Evite criar ambientes
únicos, como sala de jantar, sala de estar,
copa e sala de leitura. Tente integrá-los para
aumentar a acomodação do apartamento
como um todo. Em vez de paredes, a divisão
dos ambientes pode ser feita com a troca
de piso entre a sala/cozinha, revestimentos
diferenciados entre sala de estar/jantar,
papel de parede, cores complementares,
etc.”, continua a arquiteta.
Uma vez esquadrinhado o espaço, é a
hora de adquirir móveis e acessórios. Mas,
antes de ir às compras, é importante listar o que será colocado em cada cômodo,
começando pelos móveis maiores e fun-
damentais, para depois focar nos acessórios. “Sabendo as medidas das peças que
se deseja e do lugar que as receberá, use
jornal ou fita adesiva para simular o tamanho dos móveis. Se puder, invista em peças
feitas sob medida, pois cada canto será
aproveitado ao máximo e o recinto ficará
mais organizado”, diz Cristina. Armários
planejados, por exemplo, costumam ser
sempre uma boa opção para armazenar
objetos embaixo de bancadas ou nichos.
Além dos móveis mais essenciais, é preciso investir em adereços para tornar a
casa mais aconchegante, mas sempre com
cuidado para não exagerar. “Cortinas, tapetes, almofadas, abajures, vasos e plantas
são só algumas das opções que enchem
os olhos. Alguns ganham mais destaque
por sua beleza, enquanto outros estão na
residência por sua funcionalidade”, complementa a designer de interiores.
Móveis multifuncionais
Outra dica para o máximo aproveitamento
de espaços pequenos é optar por móveis
multifuncionais. Eles desempenham diferentes funções e ocupam o espaço de apenas uma peça, o que é muito importante
numa área reduzida. “Eles ajudam a reduzir a quantidade de peças no ambiente,
aumentando o espaço livre e a sensação
de amplitude”, afirma Cristina Barbara.
Alguns exemplos desse tipo de móvel
são banquinhos que servem também como
mesas laterais, peças dobráveis ou retráteis e painéis de TV giratórios, enumera
Cristina. Mas há outras opções. “A cama
baú é indicada, pois no espaço do baú é
possível acomodar objetos amplos e peças sazonais, como lençóis e cobertores. E
pufes podem servir como mesa de centro,
apoio para os pés ou até divisor de ambientes”, complementa Petra Linkewitsch.
Os móveis multifuncionais também podem ser desmembrados e utilizados para
mais de um propósito. É o caso da mesa
MultBras, que, de acordo com a arquiteta Maria Helena Torres, “funciona como
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em casa
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Jodie Johnson/Shutterstock
uma mesa de centro multiúso, composta
de uma mesa central que se completa com
quatro módulos com rodízios – eles podem
ser usados como mesas de apoio, bancos,
pequenas estantes ou, juntos, formar um
rack. Ela é ideal para pequenos ambientes,
e quando as peças estão juntas formam a
bandeira do Brasil.”
Otimização da planta
Uma terceira estratégia para aproveitar plenamente o espaço de um apartamento é otimizar a planta do imóvel. A
melhor forma de fazer isso é começar
estudando a dinâmica de quem mora no
local e repensar os espaços para entender
o que é mais importante para o morador,
em qual cômodo ele vai passar a maior
parte do tempo, se vai receber visitas, etc.
E, a partir daí, integrar ambientes e aproveitar os cantinhos.
Em um apartamento projetado pelo Studio ML, por exemplo, o cliente era um leitor
assíduo, possuía uma imensa coleção de
livros e precisava de um canto de leitura.
Uma forma de otimizar a planta
do imóvel é criar ambientes
multifuncionais, como mezaninos
em salas com pé-direito alto
“Criamos um banco com futons, boa iluminação e espaço para armazenamento.
Esta área também pode se transformar em
espaço para encontro de amigos, movendo
uma mesinha de centro e duas poltronas de
lugar”, destaca Petra. “Em outro projeto, a
ilha com fogão embutido integrado à sala
transformou todo o ambiente em espaço
de convivência, abandonando o velho conceito de isolamento da área de serviço da
área social”, acrescenta a arquiteta.
Outra forma de otimizar a planta de
um apartamento pequeno é criar ambientes multifuncionais. “Cômodos com
pé-direito alto, acima de 3 m, podem ter
mezaninos que servem de dormitórios;
cozinhas podem ser integradas à sala por
uma bancada que serve como mesa de jantar; e quartos podem desempenhar dupla
função: com camas embutidas, viram es-
critório durante o dia e, à noite, quando
as camas são retiradas dos armários, se
tornam quartos de hóspedes”, exemplifica Maria Helena Torres.
Por fim, há soluções que, mesmo sem
otimizar de fato o espaço, criam uma sensação de amplitude, dando a impressão
de o imóvel ser maior do que realmente
é. “Uma opção é usar espelhos em pontos
estratégicos para dar profundidade e sensação de amplitude aos ambientes, como
na entrada, corredores e atrás do sofá”,
afirma Cristina Barbara. Além da instalação
de espelhos, a designer de interiores diz
que é possível criar efeitos semelhantes
utilizando móveis com cores claras, adicionando tons vibrantes em acessórios
e peças menores, além de móveis retos,
que dão a sensação de continuidade e que
parecem prolongar o espaço.
Seja criando sensação de amplitude
ou otimizando os espaços disponíveis, o
objetivo é fazer de apartamentos cada vez
menores lares aconchegantes – o que, em
alguns casos, chega a parecer um milagre.
Em
apartamentos
pequenos,
qualquer
cantinho
pode virar um
escritório
Todo milímetro conta
Na era dos apartamentos cada vez menores, tudo tem de ser metodicamente
medido. E a Bosch tem a ferramenta
perfeita para quem não tem espaço a
perder: a trena a laser GLM 30.
“O equipamento é eficiente e preciso,
o que é fundamental em um tempo em
que há uma preocupação com as medidas que não existia antes”, diz Natália
Gonçalves, responsável de marketing da
linha de medição da Bosch no Brasil.
Além disso, qualquer pessoa que já usou
uma trena normal alguma vez na vida
sabe que, por vezes, é preciso fazer um
verdadeiro malabarismo para manter a
fita no lugar na hora de medir, o que
também provoca erros. A GLM 30, no
entanto, é extremamente fácil de usar.
“É muito simples, basta posicionar o aparelho, apertar um botão e ele lhe dará
imediatamente a medida”, afirma Natália.
A portabilidade é outra característica
da trena a laser. “A ferramenta funciona com duas baterias simples e é leve
e pequena, cabe num bolso”, conta a
responsável de marketing da linha de
medição da Bosch.
Não é à toa que a GLM 30 é leve, portátil e simples: a ideia é ser uma tecnologia para qualquer um, e não apenas
para profissionais de construção. “As
pessoas usam muito a trena a laser na
hora de se mudar, para ver se um móvel
antigo cabe no novo espaço ou se ele
entra no elevador e passa pela porta de
casa”, continua Natália.
Por isso a ferramenta é ideal na hora
de montar um apartamento. “O equipamento tira todas as medidas necessárias
com uma rapidez e uma facilidade muito
maiores do que a trena convencional,
sendo muito útil na hora de fazer a decoração da casa”, diz Natália.
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
Além disso, é um equipamento que ajuda
muito arquitetos e engenheiros a realizarem os sonhos de quem quer construir a própria casa, como mostra este
vídeo: http://migre.me/rwtnW.
Para ver como é fácil usar a trena a laser
da Bosch acesse o hotsite da GLM 30:
http://www.trenalaserbosch.com.br/.
20 | VidaBosch |
tendências
| Por Tiago Cordeiro
Hans.slegers/Shutterstock
A
Consumir menos para
produzir mais
A indústria se movimenta para aumentar a eficiência de seus processos
e reduzir o uso de energia, um bem cada dia mais valioso – e caro
cada dia fica mais claro que o planeta não é capaz de suportar o atual
consumo de energia da humanidade. É
preciso encontrar formas de usar menos
recursos naturais e, ainda assim, produzir
mais para atender as necessidades e anseios de grandes parcelas da população
mundial que começam a ter acesso aos
padrões de consumo antes reservados
aos países desenvolvidos.
A indústria, em especial, tem uma função importantíssima neste processo: não
pode deixar de crescer, mas precisa encontrar formas de aumentar sua eficiência
energética. No Brasil, o setor responde
pelo consumo de 38,4% de toda a energia
gerada no país, de acordo com dados da
Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O
percentual é semelhante à média mundial,
que fica em 36%, mas uma comparação
histórica mostra como o peso desse setor
aumentou nas últimas décadas: em 1970, a
indústria consumia 27,7% da energia produzida no Brasil.
Nos próximos anos, a EPE estima que
esse percentual caia um pouco, atingindo 37,8% em 2018. Isso porque, até lá, o
crescimento do consumo da indústria
deve ser de 3,5%, ficando abaixo das altas do comércio (4,5%) e das residências
(4,3%). No médio prazo, a EPE calcula que
a taxa de aumento deve ficar em 2,2% ao
ano até 2050. Pode parecer pouco, mas
é o dobro dos níveis apresentados pelos
países mais competentes em termos de
eficiência energética.
Esses números mostram que a indústria
brasileira precisa passar por um grande
processo de reeducação para mudar
velhos hábitos e se adaptar à realidade
de uma nova economia. Nesse cenário
emergente, produtividade e eficiência
são as palavras-chave.
“Existe na indústria uma certa resistência a repensar métodos para economizar. A mudança exige uma reeducação, o
que sempre provoca alguma resistência.
Mas é um tema importantíssimo. Afinal,
qualquer ganho de eficiência impacta diretamente no lucro da empresa porque
reduz os custos”, afirma Jayme Buarque,
diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE).
tendências
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tendências | VidaBosch | 23
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Baixa eficiência
Desde a década de 1990, o consumo de
energia por parte da indústria aumentou
de maneira coerente com a variação do
Produto Interno Bruto: a demanda industrial teve uma alta de 3,3% ao ano, contra
2,9% de crescimento do PIB. Não por acaso,
as medidas de contenção costumam ser
adotadas em períodos de vacas magras.
“Infelizmente, as maiores mudanças
acontecem em período de crise. Foi assim
em 2001 e está acontecendo agora. De 2001
para cá, muita coisa já mudou. Ninguém
mais começa uma fábrica como antigamente, em que você fazia o projeto primeiro e
depois pedia a eletricidade e o óleo. Hoje você planeja a planta de acordo com a
necessidade de economia no consumo. A
situação está melhor. Alguns anos atrás,
quem visitava uma fábrica via um festival de desperdícios”, compara Buarque.
Os avanços, no entanto, não são uniformes. Enquanto a siderurgia reduziu sua
participação no consumo total da indústria
de 47% em 2000 para 38% em 2012, o setor de papel e celulose saltou de 15% para
23% no mesmo período. De acordo com a
Investimento que compensa
Até recentemente, boa parte dos equipamentos e dos processos usados pela indústria haviam sido pensados em tempos de
energia barata e abundante. A mudança
para tempos de preocupação com o impacto ambiental e altas tarifas de energia
não é simples, mas é necessária. Sobre o
custo, em especial, a situação é dramática:
de acordo com um levantamento realizado a partir de dados de 2011 pelo Sistema
Firjan, a tarifa industrial de consumo de
eletricidade no Brasil é a quarta maior
entre 27 países estudados. A tarifa média nacional é mais de 50% maior do que
a média.
Muitas vezes, mudar um único aparelho
não é possível: é preciso comprar todo um
novo sistema, com diferentes equipamentos
e, por consequência, novos procedimentos – que, por sua vez, exigem treinamento de pessoal. Além disso, muitas vezes o
equipamento mais eficiente é mais caro.
Um motor de alta eficiência energética,
por exemplo, pode custar de 20% a 50%
mais do que o tradicional.
Apesar do custo inicial, o investimento
compensa no longo prazo: ao modernizar
sua produção, a indústria do país pode
economizar 25,7% de energia, aponta um
estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2009. Há várias maneiras de fazer isso, como adotar
sistemas próprios de geração – a chamada
cogeração – ou otimizar o consumo das
máquinas. “Um dos principais caminhos é
fazer cogeração. Outra opção é contratar
uma empresa de consultoria especializada
em economia de energia. Ela percebe, por
exemplo, que muitas empresas usam motores abaixo da capacidade, o que reduz
sua eficiência de 90% para 60%. Muitas
vezes, um pequeno vazamento de vapor,
imperceptível, é responsável por um grande desperdício”, diz Buarque.
A otimização do consumo pode ser feita
instalando sistemas inteligentes para gestão de energia elétrica que enviam energia
sob demanda e cortam ou reduzem o fornecimento quando ele não é necessário.
Esses sistemas reiniciam as unidades que
ficam em stand by de acordo com a necessidade, e não todas ao mesmo tempo.
Outras alternativas recorrentes são as
caldeiras que usam queimadores de baixa
emissão; os cortes e perfurações a laser; o
aquecimento de fonte solar em locais de
maior incidência; o aquecimento e a secagem usando sistemas de infravermelho e a separação de substâncias usando
membranas.
“É importante destacar a relevância da
utilização de sistemas eficientes de recuperação de calor e, sempre que possível, a
substituição de acionamentos mecânicos
por comandos elétricos. As maiores fontes
de desperdício de energia dentro da indústria são as ineficiências na geração e uso
de calor”, afirma o economista Guilherme
de Azevedo Dantas, pesquisador sênior
do Grupo de Estudos do Setor Elétrico, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ao modernizar sua produção,
a indústria brasileira pode
economizar até 25,7% de energia,
aponta estudo da CNI
EPE, os setores com maior potencial para
economizar são cimento, papel e celulose, alimentos e bebidas, têxtil, química
e a indústria transformadora de metais.
Mesmo com os esforços de alguns setores, o Brasil ainda perde feio para outras
grandes economias em termos de eficiência energética. De acordo com o ranking
publicado em 2014 pelo American Council
for an Energy-Efficient Economy (ACEEE),
entre as 16 maiores economias do mundo,
o Brasil só supera o México em termos
de contenção do desperdício de energia.
Entre os BRICs, os mais eficientes são, pela
ordem, China, Índia e Rússia.
De acordo com a ACEEE, para a economia de qualquer nação crescer num
ritmo ideal, entre 3% e 4% ao ano, o país deveria alcançar uma folga de 16% na
diferença entre a capacidade instalada
de geração e o consumo total. No Brasil,
dependendo da estimativa, a diferença
está entre 1,5% e 6%.
“O apoio dos governos é imprescindível, porque o investimento em diminuição
do consumo é menor do que no aumento
da produção e contribui para aumentar a
competitividade da indústria no cenário
mundial,” afirma Philipp Hahn, diretor
executivo adjunto e responsável por eficiência energética e energias renováveis
da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha.
A principal iniciativa do governo brasileiro nessa área é o Programa de Eficiência Energética (PEE), da Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel). Ele prevê que
as distribuidoras destinem 0,5% da receita líquida para combater o desperdício.
Nas projeções da EPE, os programas
nacionais de eficiência energética têm
potencial para gerar uma economia de
3,5% a 5,35% da energia elétrica destinada à indústria em 2020. Para 2030, a economia poderá alcançar de 4,71% a 8,68%.
São números expressivos, mas ainda insuficientes para colocar o Brasil no grupo
dos países que já se deram conta de que,
quando se fala de energia, menos é mais.
A Bosch na sua vida
Inovação para multiplicar energia
Para aumentar sua eficiência energética,
uma indústria precisa fazer uma análise global de seu processo produtivo e
planejar bem as adaptações. Pensando nisso, a Rexroth, divisão do grupo
Bosch especializada em tecnologias de
controle e acionamento, desenvolveu o
programa 4EE para auxiliar indústrias
a implantarem procedimentos e tecnologias que as ajudem a produzir mais
consumindo menos energia.
O programa tem quatro pilares. O primeiro é o projeto de sistema de energia,
feito por especialistas da Rexroth, que
elaboram um planejamento para adequar
o sistema energético às reais necessidades de uma máquina ou planta industrial.
O segundo pilar é a escolha de componentes com melhor eficiência energética,
de modo a otimizar despesas e elevar a
produtividade das máquinas da planta.
O terceiro pilar, que complementa o segundo, consiste na instalação de tecnologias e dispositivos de recuperação de
energia, o que inclui a armazenagem e
a reutilização de eletricidade.
Finalmente, o quarto pilar é o desenvolvimento de componentes que forneçam
energia sob demanda. Essa tecnologia
consiste em calcular a quantidade de
energia demandada por cada máquina
e instalar sistemas inteligentes que alimentem os equipamentos apenas quando necessário, evitando desperdícios.
Um exemplo de tecnologia de fornecimento de energia sob demanda oferecida
pela Bosch Rexroth é o sistema Sytronix
(foto), bomba hidráulica de velocidade
variável controlada por componentes
Arquivo Bosch
22 | VidaBosch |
eletrônicos que geram exatamente o
nível de energia demandado pelas máquinas, o que resulta em economia de
eletricidade e menos ruído.
Para saber mais sobre as soluções de
eficiência energética oferecidas pela
Bosch Rexroth, acesse http://migre.
me/rqQIe.
24 | VidaBosch |
grandes obras
| Por Tássia Novaes
Divulgação CCR Metrô Bahia
F
O metrô
mais esperado
do Brasil
Depois de 14 conturbados anos,
obras do metrô de Salvador deslancham
e trens começam a mudar a cara do
transporte público da cidade
oram 14 longos anos de espera. Quando o metrô de Salvador começou a ser construído, em abril de 2000, a previsão era que os primeiros 12 quilômetros estivessem prontos
em 2003. Os planos, no entanto, não saíram conforme o esperado, e os seis quilômetros iniciais só entraram em operação
no dia 11 de junho de 2014, véspera da abertura da Copa do
Mundo no Brasil.
Essa enorme demora fez do metrô da capital baiana o mais
esperado da história do país. Das nove capitais estaduais que
construíram seus sistemas de trens metropolitanos nos séculos 20 e 21, em nenhuma outra o tempo entre o início das obras
e a inauguração da primeira estação foi tão longo quanto em
Salvador. O enorme atraso se deve a uma série de obstáculos,
problemas e contratempos que surgiram ao longo das obras.
Atrasos e promessas
Logo no começo, durante a construção de uma das primeiras
estações, na praça do Campo da Pólvora, os engenheiros e trabalhadores foram surpreendidos pela descoberta de relíquias
históricas que estavam enterradas na região e transformaram o
canteiro de obras em sítio arqueológico. Ao realizarem escavações no local, arqueólogos e historiadores encontraram quase
40 mil peças que revelam hábitos da vida cotidiana da elite baiana no século 19. Louças inglesas, ferros de passar, cachimbos,
garrafas de vinho, escova de dente feita de osso foram algumas
das relíquias descobertas. Para surpresa dos pesquisadores,
muitas peças foram encontradas inteiras.
O achado impôs um primeiro atraso às obras. Operários,
máquinas e engenheiros só puderam entrar em ação após a liberação da área por arqueólogos e historiadores, quando estes
declararam o solo estéril – ou seja, sem qualquer registro cultural. Com isso, a previsão para a conclusão do primeiro trecho
do metrô passou para dezembro de 2008.
No fim de 2008, as primeiras estações de fato estavam prontas, mas o primeiro trecho estava incompleto. Como o pátio de
manobras não estava pronto, quando os trens chegaram a Salvador foram guardados em galpões, pois ainda não podiam ser
colocados nos trilhos. Além disso, nesse momento o projeto do
metrô passou a sofrer alterações, e os primeiros trens só foram
colocados nos trilhos em 2010, com a promessa de que entrariam em operação no primeiro semestre de 2011.
A promessa, no entanto, mais uma vez não foi cumprida. Diante
de tantos atrasos, em 2012 o Tribunal de Contas da União (TCU)
decidiu abrir investigações para apurar eventuais irregularidades nas obras. Resultado: o órgão identificou superfaturamento
de R$ 166 milhões no empreendimento. Como se não bastasse,
o Ministério Público Federal (MPF) ofereceu denúncia contra
executivos das empreiteiras integrantes do consórcio responsável pela construção do metrô de Salvador, sob a acusação de
formação de cartel e fraude na licitação da obra.
Um novo começo
Com as irregularidades detectadas, a prefeitura de Salvador,
grandes obras
Um ano após a inauguração, o metrô de Salvador transporta 42 mil pessoas por dia
grandes obras | VidaBosch | 27
até então responsável pela construção do
metrô, transferiu a gestão do empreendimento para o governo do estado da Bahia
em abril de 2013. O governo estadual abriu,
então, uma nova licitação, vencida pelo
Grupo CCR. Assim, no dia 19 de agosto de
2013, a CCR assumiu a concessão da obra
em regime de parceria público-privada
com o governo baiano. O contrato estipula que durante um período de 30 anos
– ou seja, até 2043 – o grupo se compromete a investir R$ 3,6 bilhões na aquisição
de novos trens e equipamentos, além da
construção e manutenção de estações e
terminais de integração.
Ao assumir a empreitada, o Grupo CCR
passou a correr contra o relógio. As obras
já duravam 13 anos, e o primeiro trecho
precisava estar pronto e funcionando no
dia 12 de junho de 2014, data da abertura
da Copa do Mundo no Brasil. Eram apenas dez meses para colocar a obra, literalmente, nos trilhos.
Neste curto espaço de tempo, foi preciso adequar e revisar os projetos, comprar
materiais e mobilizar equipes. “Construímos duas linhas de trilhos de 1.705 metros de comprimento cada, uma estação
de metrô e um terminal de ônibus”, conta Antônio Martins, gestor de engenharia da CCR Metrô Bahia. No trecho entre
o Acesso Norte e o Retiro foi necessária
uma intervenção. “Fizemos substituição
de contenção em cortina atirantada por
contenção com tubos metálicos de grande diâmetro cravados no solo, o que nos
exigiu, mais uma vez, uma corrida contra
o tempo”, explica.
E quando tudo parecia correr bem,
surgiu uma pedra no meio do caminho.
Às margens da rodovia BR-324, sentido
Feira de Santana-Salvador, os engenheiros encontraram uma rocha de nove mil
metros cúbicos, volume equivalente a 3,5
piscinas olímpicas. Para retirar o obstáculo, foi necessário evacuar uma área com
142 imóveis em um raio de 100 metros.
“Utilizamos uma novidade em material
de detonação de rocha: um explosivo à
base de pólvora, cuja velocidade de detonação é muito inferior à da dinamite,
possibilitando também a escavação em
rocha”, explica Martins.
Para a redução da vibração e dos ruídos e também para conter a projeção de
fragmentos de rocha para fora da obra,
foi feita uma cobertura de terra, com três
metros de espessura, além da colocação
de mantas de cabo de aço cobrindo toda
a área onde foram instalados os explosivos. A operação contou ainda com o uso
de seis sismógrafos, garantindo, assim,
segurança no momento da detonação.
Enfim, a inauguração
Superado este último obstáculo, as obras
finalmente deslancharam, e no dia 11 de
junho de 2014, um dia antes da abertura
da Copa do Mundo, o metrô de Salvador
finalmente foi aberto ao público, ainda
em regime de testes. De início, era comum ver as plataformas praticamente
vazias, como se as pessoas não acredi-
Para a construção dos
trilhos, a nova concessionária
utiliza tecnologia LVT, que diminui
vibração e ruído do trem
tassem que o metrô finalmente estava
disponível. Aos poucos, porém, os trens
passaram a fazer parte do cotidiano dos
soteropolitanos.
Na fase inicial, o público era de cinco
mil passageiros por mês. Um ano depois,
o número subiu para 42 mil pessoas por
dia, revelando uma crescente adesão da
população. Número ainda pequeno, no
entanto, diante do 1,3 milhão de pessoas
que dependem do transporte público em
Salvador, segundo a prefeitura.
Dos 32 quilômetros previstos, apenas
um trecho está em operação: a linha 1, que
liga os bairros da Lapa ao Bom Juá. São
seis trens (sendo um reserva) e seis estações em um percurso de 9,5 quilômetros
de extensão. Agora a CCR trabalha para
construir o trecho que falta da linha 1 e toda a linha 2. As obras estão a todo vapor, e
para a construção dos trilhos a nova concessionária utiliza tecnologia LVT (sigla
em inglês para Landing Vehicle Tracked),
que diminui vibração e ruído do trem, pois
utiliza lastro de concreto em vez do tradicional lastro sobre brita.
Até o final do ano, a linha 1 terá mais
duas estações: Bonocô e Pirajá, totalizando 11 quilômetros de extensão. Já a linha
2, quando concluída, terá 23 quilômetros
de trilhos, com 13 estações de superfície e
cinco estações de integração com ônibus.
O governo do estado promete que a nova
linha estará pronta em fevereiro de 2016.
A Bosch na sua vida
Adeus, obstáculos
Ao longo de 14 anos, a construção do
metrô de Salvador enfrentou uma série
de obstáculos, mas o governo da Bahia
e o Grupo CCR garantem que tudo isso
é passado. Se é verdade ou não, só o
tempo dirá, mas, no que depender da
Bosch, daqui para frente não haverá obstáculo capaz de atrapalhar a obra, já que
os operários contam com um conjunto
de poderosas ferramentas capazes de
encarar qualquer impasse.
Os trilhos estão sendo montados com
ferramentas de corte, como esmerilhadeiras da linha GWS, conta Diego Farias,
consultor técnico da Bosch que atende
os estados da Bahia e de Sergipe e a
região de Petrolina, em Pernambuco.
“Além das esmerilhadeiras, também fornecemos martelos rompedores e perfuradores, marteletes e lixadeiras de concreto
usados na construção e no acabamento de pilares, plataformas e estações”,
acrescenta Diego.
Essas ferramentas são usadas para perfurar e dar forma às estruturas de concreto instaladas ao longo das linhas.
Arquivo Bosch
Fotos Divulgação CCR Metrô Bahia
26 | VidaBosch |
Diego esclarece que estão sendo utilizados martelos de 5kg, 7kg e 11kg das
linhas GSH e GBH; marteletes de 2kg
da linha GBH e lixadeiras de concreto
equipadas com pratos diamantados.
A Bosch, no entanto, não se limita a
comercializar e entregar os equipamentos.
Diego explica que as vendas são
acompanhadas por um serviço de suporte
técnico. “Antes de fechar a venda, a
gente vai na obra e testa as ferramentas.
Na sequência, os equipamentos são
homologados e, na hora da entrega, eu
dou treinamento de manuseio e operação
com segurança para os trabalhadores
da obra”, enumera o consultor técnico.
brasil cresce
| Por Cláudia Zucare Boscoli
fotozotti/Shutterstock
28 | VidaBosch |
Flores por todos os lados
Demanda crescente, profissionalização e novas tecnologias fazem o mercado de flores
e plantas ornamentais brasileiro crescer muito acima do PIB
30 | VidaBosch |
brasil cresce
brasil cresce | VidaBosch | 31
Piccia Neri/Shutterstock
Velychko/Shutterstock
Raio x da floricultura
no Brasil
cerca de
8.250 produtores
cerca de
14.992 hectares
de área cultivada
1,8 hectare
de tamanho médio
da propriedade
mais de
350 espécies
mais de
produzidas
3.000 variedades
mais de
60 centrais de
atacado
650 empresas atacadistas
21.124 pontos de venda
no varejo
mais de
30 feiras e exposições
R$ 26,68
consumo anual per capita
Faturamento
(em bilhões de reais)
6,1*
5,7
5,2
4,8
4,3
pinas, órgão da Secretaria de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“São bilhões movimentados e estamos falando apenas de mercado interno, porque
o país consome praticamente tudo o que
cultiva”, diz Castro.
3,8
A melhoria na logística e o aumento da
demanda foram acompanhados por uma
profissionalização do setor nos últimos
dez anos. Os especialistas atribuem esse
avanço à forte presença das cooperativas e
associações de produtores; à implantação
de mercados distribuidores; e à adoção
de tecnologias que vêm impulsionando
constantemente a qualidade dos produtos.
*previsão de crescimento de 8% em relação a 2014
Fonte: Ibraflor
2015
Tecnologia e profissionalização
2014
decora e alegra a casa quem não quer”,
diz Schoenmaker.
Outro fator que contribuiu para o crescimento do setor foi o crescente uso de
flores e plantas nos projetos paisagísticos de hotéis, shoppings, feiras e eventos. “O fato de os centros de jardinagem,
que são lojas especializadas em plantas
e flores, estarem em alta é outro indicativo da demanda em crescimento”, avalia
André Ricardo Cardoso, consultor da área
de agronegócios do Sebrae-SP.
Esse aumento da demanda está ligado
ao “apelo emocional favorável” de flores e
plantas, acredita Carlos Castro, pesquisador e assessor técnico da diretoria-geral
do Instituto Agronômico (IAC), de Cam-
2013
tornar o preço ao consumidor final mais
acessível. “Para se ter uma ideia, há 20 anos
a diferença entre o preço cobrado pelo
produtor e aquele pago pelo consumidor
era de seis a sete vezes, porque tínhamos
muitas perdas no caminho. Hoje, do produtor ao supermercado, o preço aumenta
cerca de três vezes”, afirma.
Além dos avanços no transporte de
um produto altamente perecível (flores
e plantas exigem um sistema de transporte
e armazenamento refrigerado), os mercados distribuidores também evoluíram. “As
flores estão cada vez mais disponíveis em
diferentes canais de venda, como internet,
supermercados e varejões. Atualmente,
temos plantas para todos os bolsos. Só não
2012
mente, no interior de São Paulo. Mas foi
só na última década que este segmento
despontou como um campo promissor
da economia nacional, registrando, desde
2006, altas de 5% a 8% em volume e de 4%
a 7% em valor, de acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor). Essas taxas têm se mantido nos últimos quatro anos apesar da desaceleração
geral da economia, ficando muito acima
do crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) nesse período.
Mas por que o mercado de flores cresce tanto? Para o presidente do Ibraflor,
Kees Schoenmaker, os bons resultados
se devem à profissionalização do setor e
a uma série de medidas que conseguiram
2011
ilhares de pequenos produtores
organizados em cooperativas e
associações, movimentando mais de R$
5 bilhões, empregando mais de 200 mil
brasileiros e crescendo mais de 6%, mesmo em um ano de recessão. Não, esta não
é uma tentativa de florear a realidade da
economia brasileira, mas sim a descrição
de uma realidade bastante florida, a do
mercado nacional de flores e plantas ornamentais, que cresce a taxas expressivas
há quase uma década.
O cultivo de flores e plantas ornamentais começou no Brasil na década de 1930,
pelas mãos dos imigrantes japoneses que
chegaram ao país a partir do começo do
século 20 e se estabeleceram, principal-
2010
M
brasil cresce
Surkov Dimitri/Shutterstock
32 | VidaBosch |
brasil cresce | VidaBosch | 33
Outro fator que contribui para o bom
desempenho do segmento é a vocação
natural do país, que tem solo fértil e
microclimas diversos que favorecem o
cultivo de diferentes espécies. “Somos
favorecidos pela ausência de fenômenos
que comprometem a produção, como
neve, tormenta e ciclones”, avalia Hélio
Junqueira, engenheiro agrônomo e sócioproprietário da Hórtica Consultoria e
Inteligência de Mercado.
Entre as principais tecnologias que fizeram a diferença nos resultados produtivos e comerciais do segmento de flores e
plantas ornamentais, destacam-se o cultivo
protegido em estufas, a irrigação controlada, a climatização de estufas e o uso de
insumos, sementes e mudas de última geração, com aperfeiçoamentos genéticos.
Apesar de ainda não serem práticas
difundidas maciçamente no Brasil, o
cultivo protegido em estufas e as técnicas
da chamada agricultura de precisão – que
fazem uso da tecnologia da informação para
aumentar produtividade e qualidade – já
são empregadas em parte do país. “Temos
produtores de todo o tipo no Brasil. Desde
os que usam a estufa apenas como guardachuva para proteger as plantas, até os que
já têm o ambiente todo climatizado, com
sistemas de resfriamento, irrigação e de
transporte de plantas controlados por
softwares”, afirma Schoenmaker, do Ibraflor.
No estado de São Paulo, maior polo de
produçãoecomercializaçãodefloreseplantas
ornamentais do país, essas tecnologias já
têm grande penetração. Segundo estudos
da Hórtica Consultoria e Inteligência de
Mercado, a floricultura paulista concentra
78,3% de toda a área coberta por estufas no
segmento de flores em todo o Brasil. Cerca
de 70% da produção nacional concentrase no estado, sobretudo na região do Vale
do Ribeira, nos arredores da capital e de
Campinas – com destaque para Holambra e
Atibaia – e no entorno da Rodovia Presidente
Dutra–principalmenteArujá,MogidasCruzes
e Salesópolis. Os três maiores mercados
de comercialização são a Ceagesp de São
Paulo, a Ceasa de Campinas e o Veilling
de Holambra.
As flores prediletas
dos brasileiros
Top 5 em flores de corte
1º Rosas
2º Alstroemérias
3º
4º Crisântemos
5º Gypsophilas
Top 5 em plantas em vasos
1º Phalaenopsis
2º Kalanchoês
A próxima fronteira
Apesar do forte avanço nos últimos anos,
ainda há muito espaço para o crescimento da floricultura brasileira. Por um lado,
dizem os especialistas, é preciso continuar melhorando o ambiente de negócios no país, fortalecendo cada vez mais
o mercado de paisagismo e jardinagem,
Lírios
3º Antúrios
4º
Lírios
5º Begônias
Fonte: Ibraflor
ampliando as vendas em lojas especializadas e supermercados e incentivando
o associativismo e o cooperativismo nos
polos nascentes de produção.
Por outro, os produtores brasileiros
precisam ultrapassar as fronteiras nacionais e aumentar sua presença no mercado
externo. Atualmente, o Brasil exporta apenas mudas e bulbos, sendo um player com
potencial, mas ainda pouco importante no
cenário internacional. “A dificuldade em
se abrir novos mercados e encarar uma
concorrência forte nos leva a prever que
não seremos grandes exportadores em
um futuro tão próximo”, afirma o presidente do Ibraflor. Cabe ao país criar um
repertório próprio de espécies, que garanta algum nível de autonomia em relação ao mercado internacional.
Em âmbito global, a floricultura movimenta valores próximos a US$ 60 bilhões
por ano, segundo a International Association of Horticultural Producers (AIPH). O
comércio planetário de flores e plantas
ornamentais se concentra na União Europeia (sendo que a Holanda responde por
52% do mercado mundial), nos Estados
Unidos e no Japão. Destacam-se, ainda,
a Colômbia, o Equador e a Costa Rica, na
América Latina, e a Índia e a China, na Ásia.
A Bosch na sua vida
O cultivo protegido em estufas aumentou a produtividade do setor
Irrigação de ponta
Entre as tecnologias usadas pela floricultura brasileira, destacam-se o cultivo
protegido em estufas e os sistemas de
irrigação acionados por sensores que
medem o nível de umidade do ambiente.
A Bosch fornece uma peça fundamental
desses sistemas: os chamados sensores microeletromecânicos (MEMS, na
sigla em inglês), pequenos dispositivos
capazes de coletar informações de um
determinado ambiente e enviá-las para
um sistema que as processa e toma decisões com base nesses dados.
“No caso da estufa, o MEMS detecta a
variação de umidade e converte em uma
grandeza elétrica que pode ser lida pe-
lo aparelho que liga e religa a irrigação
interna”, explica Alexandre Tedeschi, gerente de vendas da divisão de eletrônica
automotiva da Bosch.
A empresa é líder mundial na produção
desse tipo de sensor, que é extremamente versátil. Os MEMS são usados, por
exemplo, em controles de videogame
que captam os movimentos do usuário
e em tablets e smartphones que giram
a imagem da tela conforme são manuseados, entre várias outras aplicações.
“Eles podem ser usados para medir diferentes tipos de grandeza, como pressão, temperatura ou mesmo vibrações
sonoras. Mas seja qual for a aplicação,
eles possibilitam que a resposta de um
sistema às variações fique muito mais
rápida e precisa”, afirma Tedeschi.
O BME 680 (foto), modelo de MEMS
que mede pressão atmosférica, umidade,
temperatura do ambiente e qualidade
do ar, foi lançado pela Bosch durante a
edição de 2015 da Consumer Electronics Show (CES 2015), maior feira de
eletrônicos do mundo.
Para saber mais sobre MEMS, acesse
http://migre.me/ry6Xl (em inglês) e veja
os benefícios dessa tecnologia no Relatório de Sustentabilidade da Bosch,
disponível em http://migre.me/rqRUD.
Para saber mais, acesse http://migre.
me/ry6Xl (em inglês).
atitude cidadã
| Por Fernando Teixeira
wk1003mike/Shutterstock
34 | VidaBosch |
Criatividade
contra a escassez
Empresas adotam processos produtivos
inovadores para reduzir o consumo de água e enfrentar a crise hídrica na Região Sudeste
atitude cidadã
N
os últimos dois anos, o Sudeste foi
castigado pela pior seca das últimas três décadas, o que provocou uma
grave crise hídrica nos quatro estados da
região. Ao atingir o polo mais dinâmico
da economia brasileira, a estiagem impôs
um dilema às empresas locais: como continuar produzindo com o abastecimento
de água cada vez mais incerto?
A saída, em muitos casos, foi rever planos e investir em novos processos produtivos. Ainda é cedo para avaliar os resultados dessas iniciativas, mas especialistas
acreditam que a crise hídrica pode levar
a uma mudança de paradigma.
“A preocupação das pessoas e das empresas em alterar hábitos arraigados pode
resultar numa mudança de paradigma.
Agora, isso é uma transição que pode levar décadas”, afirma Dante Ragazzi Pauli,
presidente da Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes). Situação preocupante
A estiagem fez com que os reservatórios
da região atingissem níveis preocupantes. O sistema Cantareira, que abastece 5,3
milhões de pessoas na Grande São Paulo,
operava com 18,3% da capacidade no início
de agosto de 2015, conforme o índice da
Sabesp, a companhia paulista de saneamento, que considera a divisão do volume
armazenado pelo volume útil de água. No
sistema Alto Tietê, que abastece outros
5 milhões de paulistas, o volume era de
17,7% da capacidade, o mais baixo desde
fevereiro deste ano. O Guarapiranga era o
único dos grandes reservatórios paulistas
que operava com relativa tranquilidade,
com 75% da capacidade.
O Rio de Janeiro também enfrentou dificuldades depois de um começo de ano
preocupante, quando dois dos seus quatro
reservatórios chegaram a funcionar com
o apoio do volume morto, de acordo com
a Agência Nacional de Águas (ANA). A situação não foi diferente em Minas Gerais,
onde a seca no primeiro trimestre de 2015
quase impôs o mesmo destino ao reservatório Serra Azul. A Copasa, companhia
mineira de saneamento, chegou a prever
o risco de colapso durante a estiagem nos
meses de junho e julho. Apesar disso, es-
atitude cidadã | VidaBosch | 37
ses dois estados superaram as previsões
alarmistas e conseguiram recuperar parte da capacidade perdida, embora ainda
haja risco de desabastecimento.
Esse quadro de escassez atingiu de formas variadas os diferentes setores da sociedade. As residências, que respondem
por mais de 80% do consumo no Sudeste, foram bastante afetadas. Já o impacto
sobre a indústria variou de acordo com o
peso do setor na demanda por água em
cada estado.
No Rio de Janeiro, o setor consome
apenas 2% da água que chega às cidades
abastecidas pela Companhia Estadual de
Águas e Esgotos (Cedae). Em Minas Gerais, a proporção é de 3% da água fornecida pela Copasa.
Em São Paulo o peso do setor industrial
é bem maior. Nas bacias dos rios Jundiaí,
Capivari e Piracicaba o consumo industrial
corresponde a 14,4% do total, enquanto
na Grande São Paulo representa 10,6%,
de acordo com dados da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Na indústria paulista, os segmentos
petroquímico, siderúrgico e de papel e
celulose são os maiores consumidores,
pois empregam quantidade abundante
de água em processos de refrigeração. O
mesmo acontece com o segmento de alimentos e bebidas, que utiliza bastante o
recurso em seus processos produtivos.
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36 | VidaBosch |
Água reciclada
Não por acaso, as empresas paulistas foram
as que mais recorreram a adaptações para
reduzir o consumo, como o reúso de água.
“Não temos água suficiente no planalto,
que concentra as grandes populações do
estado, e a única saída é o reúso, que tratado de forma adequada não gera esgoto e
alivia a situação dos rios da região”, diz o
engenheiro sanitário Ivanildo Hespanhol,
diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água, vinculado ao
Departamento de Engenharia Hidráulica
e Sanitária da Universidade de São Paulo.
O reúso, explica Hespanhol, reduz de
40% a 80% a demanda da indústria. No
caso de residências e estabelecimentos
comerciais fica em torno de 60%. Além
disso, a medida também gera economia
A pior seca dos últimos 30 anos transformou trechos de represas da região em grandes campos de terra rachada
atitude cidadã
atitude cidadã | VidaBosch | 39
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recebe uma média de 1.300 milímetros
de chuvas por ano.
O procedimento foi adotado por uma
distribuidora de cosméticos e produtos de
perfumaria localizada no Vale do Ribeira,
no sul do estado de São Paulo. A empresa
instalou um sistema de coleta de água de
chuva na cobertura de um galpão. Depois
de tratada, em um processo que envolve
retrolavagem, radiação ultravioleta e dosagem de cloro, a água é reaproveitada em
vasos sanitários e para limpeza, jardinagem e lavagem externa do barracão. O investimento, de R$ 450 mil, acarretou uma
economia de água de 200 litros por hora.
A demanda por soluções que geram
economia de água é tamanha que existem
empresas especializadas em identificar
maneiras de reduzir o consumo e instalar
e operar sistemas de tratamento de água,
Várias empresas
instaladas
no estado de
São Paulo
adotaram
tecnologias
próprias de
tratamento
e reúso
de água
financeira, afirma Anícia Pio, gerente de
meio ambiente da Fiesp.
A estratégia foi adotada por uma grande
metalúrgica que opera na região das bacias
dos rios Jundiaí, Capivari e Piracicaba, no
interior paulista. A empresa deixou de
comprar 9.360 m³/ano de água potável
em caminhões-pipa, o que resultou numa
economia mensal de cerca de R$ 12 mil.
A companhia identificou a possibilidade
de tratar a água usada para lavagem das
rodas de liga leve e reutilizá-la em vasos
sanitários e mictórios.
Já uma indústria química de grande
porte instalou, em 2010, dois sistemas de
recuperação de rejeitos do processo de
desmineralização de água de sua unidade localizada na bacia do rio Paraíba do
Sul. O primeiro trata o rejeito salino dos
equipamentos de osmose reversa e reutiliza a água em torres de resfriamento e
na limpeza de pisos e reatores. O segundo
recupera o rejeito dos equipamentos de
eletrodeionização para ser diluído na água
A preocupação das pessoas
e das empresas em alterar hábitos
arraigados pode resultar
numa mudança de paradigma,
acreditam especialistas
industrial clarificada que vem da estação
de tratamento e abastece as máquinas.
Em três anos, o total de água reutilizada foi de 342.007 m³. Isso permitiu uma
redução do consumo especifico de água
de 11.70 m³/ton para 4.74 m³/ton.
Iniciativas como essas são positivas,
mas o reúso de água ainda é raro no Brasil devido à falta de incentivos. “O esgoto
deveria ser visto como água, só que não
potável, como ocorre em outros lugares do
mundo mais avançados no tratamento da
água, que fica cada vez mais barata conforme entra novamente na sua cadeia produtiva”, diz Dante Ragazzi Pauli, da Abes.
Solução que cai do céu
Além do reúso, as empresas paulistas também vêm adotando outras técnicas para
reduzir o consumo de água. Uma delas
é a captação de água de chuva. Ivanildo
Hespanhol acredita que empresas e moradores da Grande São Paulo deveriam
investir neste instrumento, pois a região
como a Acquabrasilis. Procurada por um
shopping da cidade de São Roque, no interior paulista, a empresa montou e hoje
opera uma estação de tratamento só para
abastecer o centro comercial.
“A estação vai além do convencional e
alcança tratamento de nível terciário. Ou
seja, complementamos removendo fósforo e nitrogênio, nutrientes que causam
a eutrofização do curso d’água, matando rio e peixes”, diz a engenheira Sibylle
Muller, diretora da Acquabrasilis. A água
tratada tem qualidade para ser usada na
irrigação de jardins, descarga e lavagem
de piso, entre outros fins.
Outras empresas adotaram técnicas
mais simples, como a instalação de redutores de vazão e chuveiros e vasos sanitários especiais equipados com válvulas
de controle da pressão.
“As companhias precisam fazer um
diagnóstico para descobrir suas necessidades e como cada ciclo produtivo pode
resultar no menor descarte possível de
água e no maior reaproveitamento. Cada
processo tem a sua peculiaridade”, conclui Anícia, da Fiesp.
A Bosch na sua vida
Água na medida certa
Assim como outras empresas no estado de São Paulo, a planta da Bosch em
Campinas teve que se adaptar à escassez. A água utilizada para os processos
industriais da unidade é captada de uma
lagoa localizada dentro da planta, mas
com a falta de chuvas na região o nível
da lagoa caiu muito, e a empresa teve
de reduzir o consumo.
Um levantamento mostrou que cerca
de 70% de toda a água consumida na
planta era utilizada na galvanoplastia –
processo que aplica um revestimento
metálico protetivo em componentes
do produto final.
A partir de julho de 2014, a área responsável pelo processo – a galvânica –
adotou três procedimentos para reduzir
o consumo de água, explica Bernhard
Schaefer, que na época era planejador técnico de galvânica da planta da Bosch em
Campinas.
A primeira medida foi otimizar a produção,
esperando acumular o máximo de peças
para processá-las. “Em vez de a gente ligar a linha algumas horas todos os dias,
passamos a trabalhar duas vezes por semana”, explica Bernhard.
Além disso, a área de galvânica reduziu a
frequência da troca de água nos tanques
e a quantidade do recurso usado na lavagem das peças (sem prejudicar a qualidade
do processo).
Finalmente, o Departamento de Utilidades,
responsável pelo tratamento da água retirada da lagoa, passou a tratar parte do
recurso que antes era descartado, conta
Bernhard, que hoje é planejador do Departamento de Utilidades.
LRDelphim
38 | VidaBosch |
Com essas medidas, a área de galvânica reduziu pela metade seu consumo de
água. “Até julho de 2014, a gente gastava
em média 70 litros de água por minuto
de linha trabalhando, mas logo no se-
gundo mês chegamos a uma faixa de 30
litros por minuto”, comemora Bernhard.
Conheça mais sobre as medidas de economia no Relatório de Sustentabilidade
da Bosch: http://migre.me/rp3tP
40 | VidaBosch |
aquilo deu nisso
| Por Bruno Meirelles
Maciej Bledowski/Shutterstock
P
Correndo contra o fogo
Com a evolução dos sistemas de detecção, a era dos grandes incêndios em edifícios
ficou para trás. Hoje é possível identificar o perigo antes da primeira chama
oucas descobertas trouxeram tanto
progresso para a humanidade quanto as técnicas de domínio do fogo. Graças
a elas, nossos antepassados puderam cozinhar alimentos, se aquecer nos dias de
inverno e se proteger de animais. Por outro
lado, o controle desse elemento sempre
representou um desafio, resultando em
inúmeras tragédias, como o episódio em
que o imperador Nero ateou fogo em Roma, em 64 d.C., ou o incêndio que destruiu
mais de 80% de Londres, em 1666.
Apesar dos riscos, poucos avanços na
prevenção e detecção de incêndios foram
feitos até o final do século 19. Nesta época, a principal estratégia para identificar
ocorrências se baseava no uso de vigias,
que ficavam andando pelas ruas e soavam
alarmes manualmente, caso identificassem
algum foco de chamas.
O primeiro sistema de detecção automático foi criado em 1890 pelo inventor
norte-americano Francis Robbins Upton.
O dispositivo identificava quando a temperatura de um ambiente aumentava muito e soava um alarme. No entanto, poucas
pessoas deram importância para o equipamento na época.
As técnicas arcaicas só começaram a
ser repensadas depois de 25 de março de
1911, quando aconteceu o incêndio da confecção Triangle Shirtwaist Factory, em Nova York. Segundo reportagem publicada
no dia seguinte pelo jornal The New York
Times, os bombeiros levaram uma hora e
cinquenta minutos para chegar ao local.
Resultado: 146 trabalhadores – a maioria
mulheres imigrantes – morreram por não
conseguirem sair do prédio onde funcionava a fábrica. A tragédia causou enorme
comoção popular, deixando claro que os
danos teriam sido menores se os bombeiros tivessem chegado antes.
Questão de tempo
A tragédia levou os bombeiros a aperfeiçoarem seus procedimentos para atender
mais rápido às ocorrências. Porém, por
mais que eles cruzassem a cidade no menor tempo possível, de nada adiantaria
se demorassem a ser avisados. Foi neste
momento que os sistemas automáticos de
detecção ganharam importância.
aquilo deu nisso
aquilo deu nisso | VidaBosch | 43
Bain News Service photograph/Wikimedia Commons
42 | VidaBosch |
Negrisolo, coronel reformado do Corpo de
Bombeiros do estado de São Paulo.
Ao mesmo tempo em que os preços dos
sistemas caíam, as tecnologias de prevenção
de incêndio passaram por grandes avanços tecnológicos. Foi nessa época que os
detectores de temperatura – que geravam
muitos alarmes falsos quando instalados
perto de fontes de calor, como cozinhas –,
começaram a ser substituídos por sensores
de fumaça, que hoje respondem por cerca
de 80% do mercado.
Nariz eletrônico
Bombeiros diante da Triangle Shirtwaist em Nova York: demora no alerta foi fatal
“O tempo de resposta é o motivo principal de se implantar um sistema de detecção de incêndio. Quando surge um foco, é
isso o que determina se ele vai crescer e
se tornar uma tragédia. Em alguns casos,
qualquer segundo pode ser significativo”,
explica Mário Nonaka, membro da comissão de detecção e alarme de incêndio da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O grande problema é que os dispositivos automáticos eram tão caros que seu
uso ficava restrito a alguns grandes edifícios comerciais e industriais. A situação
só começou a mudar na década de 1970,
quando a tecnologia evoluiu, a produção
cresceu e os preços caíram.
Prova de fogo
Nessa época, no entanto, tais equipamentos
ainda não haviam chegado ao Brasil. “Os
sistemas de detecção e alarme de incêndio
não eram comercializados aqui. Não havia código de segurança contra incêndio
Os detectores de fumaça abriram caminho
para a proliferação de tecnologias de detecção de incêndios que hoje permitem
não só identificar indícios de fumaça mais
rápido que o olfato humano quanto montar
sistemas integrados capazes de evacuar
prédios rapidamente.
A Bosch, que possui know how na área
desde 1920, contribuiu de forma decisiva
para as inovações das últimas décadas. Até
os anos 1990, os detectores de fumaça utilizavam duas tecnologias básicas: a identificação de gases gerados em uma com-
bustão por meio de reações químicas ou de
partículas de fumaça por meio de sensores
ópticos. O problema é que nos dois casos
há risco de erro. “A grande questão dos
detectores são os falsos alarmes, porque
nem toda fumaça ou gases significa incêndio”, afirma Renato Lima, especialista da
linha de produtos de incêndio Bosch. Por
isso, a empresa desenvolveu tecnologias
de detecção cada vez mais precisas.
Em 2001, a empresa lançou uma linha de
detectores inteligentes capazes de identificar mais de um elemento, combinando a
detecção de fumaça, temperatura e gases
químicos. Na sequência vieram outras duas inovações: os detectores que aspiram o
ar do ambiente – 600 vezes mais sensíveis
que um modelo comum e capazes de captar indícios de fumaça antes mesmo que o
olfato humano –, e os detectores ópticos com
dois feixes de luz, que conseguem identificar o tamanho da partícula de fumaça e
saber se ela é proveniente de um incêndio
real ou de uma fonte de falso alarme (por
exemplo: fumaça de um cigarro, vapores
gerados em uma cozinha etc.), o que reduz
muito o risco de alarmes falsos.
Hoje é possível fazer o sistema de
alarme de incêndio trabalhar junto
com sistemas de sonorização, vídeo
e controle de acesso de um prédio
A evolução da tecnologia, no entanto,
não se resumiu aos detectores. Hoje a Bosch
oferece uma tecnologia que permite integrar os sistemas de alarme de incêndio a
outros sistemas de vigilância e automação
de um prédio, criando uma estrutura capaz de evacuar um estabelecimento rapidamente. Com o software BIS (sigla para
Building Integration System – Sistema de
Integração Predial), é possível fazer com
que o sistema de alarme de incêndio trabalhe junto com sistemas de sonorização,
vídeo, controle de acesso e outros mecanismos de automação, tudo controlado a
partir de um único local.
Assim, ao receber um alerta de incêndio,
o sistema pode ativar simultaneamente
uma série de procedimentos para evacuar
um estabelecimento da forma mais rápida
possível. “Ele pode acionar o sistema de
sonorização para reproduzir mensagens
de voz orientando como agir em situação
de emergência, receber a imagem ao vivo
da área onde o alarme foi disparado para
verificar se realmente é um incêndio, e, se
há gente no local, liberar catracas para que
as pessoas possam abandonar o ambiente
de forma mais rápida e até cortar a energia do prédio para evitar a propagação do
incêndio”, explica Renato.
Ao permitir o controle integrado de vários sistemas, essa tecnologia diminui muito
o tempo de reação em caso de incêndio e
aumenta as chances de evacuar o ambiente
de forma rápida e segura. Renato diz que
várias tragédias poderiam ter sido evitadas – ou pelo menos minimizadas – se as
edificações contassem com esses recursos.
Agora, a Bosch se prepara para lançar
mais uma inovação no campo da segurança
eletrônica: alguns modelos de câmeras de
vigilância serão equipadas com software
de análise inteligente de vídeo capaz de
identificar automaticamente a presença
de fumaça e chamas, complementando
assim a solução de detecção disponível
atualmente no mercado. “A ideia é trazer
este modelo para o Brasil no final do ano”,
informa Renato.
Fotos Arquivo Bosch
e tampouco as normas técnicas que dão
suporte ao código”, afirma Alexandre Itiu
Seito, pesquisador do Grupo de Fomento à
Segurança contra Incêndio do Núcleo de
Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo
(Nutau/USP).
Assim como aconteceu nos Estados
Unidos, foi necessária uma tragédia para escancarar o atraso do país no setor.
Aliás, foram logo duas: os incêndios dos
edifícios Andraus e Joelma, na cidade de
São Paulo. O primeiro, ocorrido em 1972,
deixou 16 mortos e 336 feridos. O segundo
aconteceu dois anos depois e contabilizou
179 mortos e 325 feridos.
“Pela semelhança dos acontecimentos
e proximidade espacial e temporal, eles
causaram grande impacto, dando início
ao processo de reformulação das medidas de segurança contra incêndios. Como
consequência direta, algumas empresas
passaram a comercializar alarmes e detectores no Brasil já em 1975”, explica Walter
As
tecnologias
da Bosch
identificam
indícios
de fumaça
antes mesmo
do olfato
humano
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saudável e gostoso
Comendo história
O manjericão cruzou séculos e países até chegar às mesas brasileiras.
Além do sabor marcante, a erva ainda é fonte de ferro e fibras
| Por Frederico Kling
resença certa em pizzas e saladas,
as delicadas, saborosas e aromáticas
folhas de manjericão são bem mais do que
um simples tempero. Ao comer uma pizza
marguerita ou uma salada caprese, você
não está degustando apenas um alimento,
mas, também, uma história que começou
há milhares de anos e atravessou séculos
e países até chegar à mesa dos brasileiros.
“O manjericão é natural do Irã e do norte
da África, e seu uso foi registrado no Egito
Antigo e no Império Romano”, diz Marcelo
Nastari, pesquisador de temperos e fundador da Grão-Vizir Masalas & Especiarias,
que vende produtos gastronômicos.
A partir dessas regiões de origem, o manjericão foi levado pelos muçulmanos à Europa e, de lá, trazido ao Brasil. “Os mouros,
que levaram vários produtos aos países europeus, também carregaram a planta com
eles para o sul da Itália e para a Península
Ibérica, onde, pelas condições de solo e de
clima, pegou muito bem. Até por isso, não
se sabe ao certo se o manjericão chegou
ao Brasil pelas mãos dos portugueses ou
dos italianos”, conta o professor de gastronomia Daniel Frenda, da Universidade
Anhembi-Morumbi.
Apesar das controvérsias, a verdade é
que no Brasil o manjericão está inegavelmente associado à comida italiana, sobretudo em pizzas, saladas e molhos. Porém,
Frenda lembra que o tempero não é onipresente na culinária de toda a Itália, mas
sim apenas em alguns lugares. “A cozinha
italiana é muito regional, e o manjericão,
planta típica de lugares quentes e de bastante sol, é muito presente no sul, região
mais quente, mas não no norte do país”,
diz o professor de gastronomia.
Foi, por sinal, em uma das mais conhecidas cidades do sul da Itália, Nápoles, que
surgiu um dos pratos mais famosos que
usam o manjericão: a pizza marguerita.
“Em 1889, Rafaelle Esposito, da Pizzeria
di Pietro e Basta Cosi, já então um famoso
pizzaiolo, foi convidado a fazer um prato
para a então rainha da Itália, Margherita, quando ela visitou Nápoles. Esposito
criou, então, uma pizza com as cores do
país, na qual o queijo é o branco; o tomate, o vermelho; e o manjericão entra com
o verde”, conta Frenda.
saudável e gostoso | VidaBosch | 47
A cozinheira
Veja quem é a blogueira
responsável pelas receitas
desta edição
Nome Faby Zanelati
Blog www.pimentanoreino.com.br
Profissão Publicitária
Como aprendeu a cozinhar
Eu aprendi a cozinhar com minha mãe,
avó e tias, todas cozinheiras
de mão cheia. Uma das minhas
melhores lembranças é passar as
férias ajudando minha tia na cozinha
de seu restaurante. Adorava mexer
as panelas de molho.
Versatilidade
Uma das principais características da erva
é a versatilidade. “Há uma série de tipos de
folhas. Em restaurantes, costuma-se usar
mais as pequenas, que têm um sabor mais
leve. No molho pesto, é preciso usar folhas longas, com sabor mais acentuado. Já
o manjericão roxo é pobre em aroma, mas
fica muito bonito no prato”, explica Frenda.
A diversidade de tipos permite utilizar
a erva de diferentes maneiras. “Adoro usar
manjericão em receitas à base de tomate e queijos, em ensopados e cozidos, em
molhos e saladas. Gosto do tipo comum,
do italiano e do roxo”, diz Faby Zanelati,
editora do blog Pimenta no Reino.
A blogueira ressalta que não são só as
comidas italianas que ficam bem com o tempero. “Eu não vejo restrição em usá-lo em
receitas brasileiras, substituindo o tradicional cheiro verde, muito utilizado por aqui.
Um bom vinagrete, por exemplo, ganha
muito mais aroma e sabor se for utilizado
manjericão. No escondidinho ele também
vai bem, e uma caipirinha com manjericão
ganha muito mais sabor”, continua Faby.
Além do sabor e da versatilidade, as pequenas folhas também fazem bem à saúde.
“Como todo vegetal, é uma rica fonte de
fibras, o que ajuda na melhora da saúde
intestinal”, diz a nutricionista Isis Buonso, do Hospital Samaritano, de São Paulo.
“Como todo vegetal escuro, é também
rico em ferro e vitamina K, ajudando na
coagulação sanguínea”, completa Isis. “Até
por isso, é contraindicado para cardíacos
ou qualquer pessoa que tome remédios
anticoagulantes”, alerta a especialista.
A nutricionista recomenda, porém, resistir à tentação de sair picando as folhas
de manjericão. “Quando cortadas, elas perdem parte de suas vitaminas e de seus sais
minerais”, explica Isis. Frenda vai ainda
mais longe: “Quando picado bem fininho,
na ponta da faca, o manjericão fica horroroso, com aroma de mato velho, intragável”.
Essa não é a única restrição ao uso da
erva. “Nos pratos quentes, as folhas devem
ser colocadas sempre na finalização, e nunca
antes, pois, caso contrário, elas ressecam,
oxidam e ficam com um gosto bem ruim. Na
pizza marguerita, por exemplo, as folhas
só entram depois que a massa sai do forno,
antes de ir para a mesa”, ressalta Nastari.
A boa notícia é que, assim como se adaptou muito bem ao sol do Mediterrâneo e
ao clima brasileiro, o manjericão também
cresce em qualquer vasinho. “É muito fácil
de cultivar, eu mesmo tenho em casa, basta
deixar num lugar ensolarado e regar bastante”, conta Nastari, que, no entanto, já sofreu
com o cultivo em condições ruins: “Tentei
na varanda de casa uns tempos atrás, mas
era inverno e não foi para frente”.
Por sinal, você sabia que foi essa facilidade enorme de crescer ao sol que motivou
o surgimento de um dos mais tradicionais
molhos da culinária italiana? “Na região de
Gênova, o manjericão crescia quase como uma praga, por causa do clima. Como
a planta é muito perecível, depois que é
colhida começa a estragar. Para aproveitar a abundância, os genoveses criaram o
molho pesto, cuja base é justamente muito
manjericão regado com azeite, que ajuda
a conservar o vegetal”, finaliza Frenda.
Divugação
P
saudável e gostoso
Divugação
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Fregola insalata
Ingredientes
Dois filés de frango
½ xícara de lentilha
1 cenoura pequena ralada
2 colheres de pimentão verde
cortado em cubinhos bem
pequenos
5 tomatinhos sweet cortados
1 maço de minirrúcula
1 pacote de fregola
Sal
Molho inglês
1 dente de alho
1 maço de manjericão
Modo de preparo
Cozinhe a fregola com água fervente e sal, até atingir o ponto al dente.
Escorra e deixe esfriar. Tempere os filés de frango com alho amassado, sal
e molho inglês a gosto. Doure os filés e deixe descansar até esfriar. Corte
em cubinhos. Numa tigela, misture todos os ingredientes, tempere e finalize
com algumas folhas de manjericão a gosto.
saudável e gostoso
Divugação
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Panzanella
Modo de preparo
Primeiro, deve-se tostar o pão. Basta cortar em cubinhos, colocar
numa assadeira, regar com azeite e um punhado de sal a gosto
e levar ao forno para dourar ligeiramente. Quando o pão estiver
frio, coloque em uma tigela e comece a acrescentar os outros
ingredientes. Depois, tempere a gosto e finalize com um pouco de
suco de limão.
destaque para colecionar
Ingredientes
200 gramas de tomate sweet
2 xícaras de cubos de pão tostado
1 dente de alho amassado
1/2 xícara de azeitonas pretas ou verdes
picadas
1 xícara de muçarela de búfala
1 maço de manjericão
Pimenta biquinho
Sal
Pimenta do reino
Azeite
1 limão

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