VidaBosch

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VidaBosch
VidaBosch
maio | junho | julho | agosto de 2013 • nº 32
Recicle a informação: passe esta revista adiante
Metais em brasa
Mineração brasileira deve
bater recorde e liderar
investimento privado
Angelo Giampiccolo/Shutterstock
A construção das construções
Como funcionam os alojamentos
das grandes obras, que incluem
área de lazer e até prefeito
editorial
08
20
40
44
Os tesouros
do nosso subsolo
O mito de que, sob as florestas do então
quase intacto Novo Mundo, escondia-se
uma cidade inteira de ouro mostrou ser
apenas isso – um mito. Frustraram-se
(ou morreram em trilhas abertas em matas tropicais e montanhas andinas) os que
esperavam encontrar por aqui o Eldorado.
A lenda, de qualquer forma, serviu de ímã
para que aventureiros europeus, sobretudo espanhóis e portugueses, aportassem
no continente recém-descoberto.
A persistência dos colonizadores até encontraria, nos séculos seguintes, algum
ouro e alguma prata na América do Sul.
Esses recursos, porém, logo rarearam. O
que não quer dizer que o subsolo da região deixou de guardar riquezas – só que
as riquezas mais duradouras eram outras.
A reportagem de Brasil cresce, nesta 32ª
edição da VidaBosch, mostra que a mineração é responsável por mais de 4% do
Produto Interno Bruto (PIB) do país, gera
1 milhão de empregos diretos e indiretos
e planeja injetar US$ 75 bilhões até 2016 –
valor que, se efetivado, tornará o setor o
maior em investimentos privados. Atualmente, há no país cerca de 3 mil minas em
operação, que extraem 72 substâncias das
entranhas do território brasileiro.
A matéria apresenta as apostas desse ramo
econômico. E também seus desafios – que
incluem tanto aspectos que afetam outras
atividades (como carência de mão de obra
especializada e dificuldades de logística)
quanto questões específicas (em locais
frequentemente remotos, como assegurar abastecimento de energia? Como levar
água aquecida? Como garantir a segurança
dos funcionários e de todos os processos
de transformação dos materiais?).
A Bosch tem sido parceira de vários projetos na superação desses desafios – não
se poderia esperar outra coisa de uma
empresa que tem como lema “tecnologia
para a vida”.
Boa leitura!
Sumário
02 Viagem | São Francisco Xavier, um oásis de paz nas montanhas paulistas
08 Eu e Meu Carro | Marcelo Mansfield: ao volante, quem se diverte é ele
10 Torque e Potência | Tratores de ponta ajudam o Brasil a alimentar o mundo
14 Em Casa | Tecnologia permite monitorar e controlar a casa pelo celular
20 Tendências | Turismo de gravata: Brasil vira polo de eventos corporativos
24 Grandes Obras | Empresas montam verdadeiras cidades para alojar operários
30 Brasil Cresce | Riquezas do subsolo atraem investimentos bilionários
36 Atitude Cidadã | Filantropia, um negócio cada vez mais forte no país
40 Aquilo Deu Nisso | Freio abriu caminho para o carro de passeio
44 Saudável e Gostoso | Veja por que comer lichia é um negócio da China
Expediente
VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo departamento de Marketing e
Comunicação Corporativa. Se tiver dúvidas, reclamações ou sugestões, fale com o SAC Bosch: 0800-7045446 ou
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Produção, reportagem e edição: Pri­maPagina (www.primapagina.com.br), tel. (11) 3512-2100 / vidabosch@prima
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tel. (11) 3512-2122 • Tratamento de imagem: Renata Lauletta • Acompanhamento gráfico: Inovater
• Impressão: Gráfica Mundo • Jornalista responsável: José Roberto de Toledo (DRT-DF 2623/88)
2 | VidaBosch |
viagem
| Por Bruno Fiuza
Werner Rudhart/kino.com.br
A paz das
montanhas
O distrito de São Francisco Xavier, um enclave de beleza
natural na Serra da Mantiqueira, esbanja o que tem
faltado à sua prima rica Campos do Jordão: sossego
“D
viagem
ois caminhos se abriam na mata. Eu
segui pelo menos percorrido. E isso
fez toda a diferença”. Estas linhas foram
escritas em 1915 pelo poeta norte-americano Robert Frost, mas são um ótimo conselho para quem viaja hoje pela Serra da
Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e
Minas Gerais.
O principal caminho que se abre nas
matas da região é a rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, que leva a Campos do
Jordão, famoso destino de férias dos paulistas nos meses de inverno. Quem, no entanto, estiver disposto a pegar o caminho
menos percorrido e se perder pelas pequenas estradas que cortam as montanhas da
Mantiqueira vai encontrar uma pequena
joia: São Francisco Xavier.
De tão singela, nem sequer é uma cidade. Trata-se de um distrito de São José dos
Campos formado por uma simpática praça
principal e algumas poucas ruas asfaltadas. No domingo à tarde os moradores se
reúnem no coreto da tal praça para tocar
e dançar uma típica moda de viola e, em
pleno sábado à noite, é possível ver alguém
chegando montado a cavalo e usando chapéu de caubói. Nada que lembre as lojas
lotadas, as casas noturnas ou as buzinas
de Campos do Jordão.
Nos arredores, porém, é que está o grande atrativo de São Francisco Xavier: a natureza exuberante das montanhas que a
rodeiam. Caminhando pela região é fácil encontrar cenários parecidos com os
dos alpes europeus – com uma importante
diferença: na Mantiqueira é possível se
refrescar, sem morrer de frio, nas várias
cachoeiras que se formam ao longo das
encostas. Definitivamente, ao lugarejo
também se encaixa o apelido de “Suíça
brasileira” usado para sua prima rica.
Um bom ponto de partida para curtir as
belezas naturais de São Francisco Xavier é
o Pouso do Rochedo, pousada construída
em uma propriedade de 31 hectares que
viagem | VidaBosch | 5
fica dentro de uma reserva ambiental, em
plena montanha. Antigo ponto de parada
dos tropeiros que desde o século 19 viajavam entre o sul de Minas Gerais e o Vale do
Paraíba, o local foi comprado em 1975 por
Antônio Vicente, que criou ali a primeira
pousada da região.
Naquela época, conta “Seu” Antônio,
não havia turismo em São Francisco Xavier.
Ele foi um dos pioneiros no ramo ao abrir e
sinalizar trilhas e começar a receber hóspedes em sua propriedade. Hoje, os visitantes
podem circular tranquilamente pelas oito
cachoeiras e pelos três mirantes que ficam
dentro da reserva. As trilhas são seguras
e bem sinalizadas, e podem ser percorridas sem guias (quem não é hóspede paga
R$ 10 por quatro horas de permanência).
Para ver todas as cachoeiras caminha-se por 2 quilômetros em terreno pouco
inclinado. Quem, no entanto, quiser apreciar vistas privilegiadas da região terá que
encarar uma trilha de 4 quilômetros (ida e
volta). Nesse caso, a primeira parada pode
ser nos mirantes do Rochedo ou da Gruta,
ambos a 1,8 mil metros de altitude, com um
lindo panorama da Serra da Mantiqueira
e do Vale do Paraíba. Seguindo adiante,
chega-se ao mirante do Cruzeiro (2 mil metros de altitude), de onde é possível ver
tanto o estado de São Paulo quanto Minas
Gerais. O passeio completo pelo Pouso do
Rochedo dura entre 3 e 4 horas, ida e volta, dependendo do ritmo da caminhada.
A região oferece ainda opções mais radicais, que precisam do acompanhamento
de profissionais especializados. Uma delas
é a trilha até o município vizinho de Monte Verde, já em Minas Gerais. A caminhada pelas montanhas é de 22 quilômetros e
dura cerca de 8 horas, ida e volta. Outros
passeios populares são trilhas para picos
com lindas vistas da região, como a Pedra
da Onça (2 mil metros de altitude); o caminho de ida e volta é de 12 quilômetros e leva 5 horas para ser percorrido. Já o trajeto
até o cume do Queixo D’Anta (1.700 metros
de altitude) inclui trechos de escalada; o
percurso de ida e volta tem 6 quilômetros
e dura 5 horas. Os guias para fazer esses
passeios podem ser contratados no Centro de Apoio ao Turismo, na praça Cônego
Antônio Manzi (aquela mesmo, do coreto).
Em pleno sábado à noite é possível
passear pelas ruas do centro de São
Francisco Xavier ouvindo o canto
dos grilos e o barulho das águas de
algum dos vários rios que correm
pelas redondezas
Fotos Miguel Schincariol
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Quem não é fã de caminhada pode optar por outros tipos de aventura, como tirolesa, rapel ou acqua ride – esporte que
consiste em descer pelos rios da região em
botes infláveis. O acqua ride é praticado nos
rios do Peixe e Santa Bárbara. A tirolesa e
o rapel são duas das atrações do parque de
aventuras do Portal do Equilibrium, outra
pousada que fica em uma reserva ambiental nas montanhas.
Charme e aconchego
São Francisco Xavier, no entanto, não é só
adrenalina. Ao contrário: a marca registrada da região é a tranquilidade. Mesmo
no sábado à noite é possível passear pelas ruas do centro do distrito ouvindo o
canto dos grilos e o barulho das águas de
um dos rios que correm pelas redondezas,
tudo isso em meio ao forte aroma de dama-da-noite e ao friozinho típico da Serra
da Mantiqueira. Um convite ao aconchego
das inúmeras pousadas da região, como a
Muriqui e a São Francisco. As duas parecem sítios, mas estão a poucos metros do
centro do distrito.
O clima é provinciano, mas São Francisco
Xavier não tem nada de simplório. O crescimento do turismo nas últimas décadas
fez do local um importante polo de cultura
e gastronomia. A rua XV de Novembro e
seus arredores concentram os restaurantes mais sofisticados. O Photozofia, por
exemplo, oferece massas, carnes e peixes
da melhor qualidade em um ambiente pra
lá de charmoso, com tijolos à vista, mezanino e piso de madeira. Aos sábados,
o lugar se transforma em casa de shows e
oferece apresentações de música ao vivo.
A grande especialidade da região são as
trutas. E nesse quesito nenhum outro restaurante bate o Trutas Mariser. Localizada
em um imóvel de fachada simples na praça
principal do distrito, a casa serve alguns
dos pratos mais criativos e saborosos de
São Francisco Xavier. Todos levam truta,
A Cachoeira do Buraco (acima) é uma das maravilhas naturais do distrito, onde violeiros ainda se reúnem no coreto da praça (abaixo)
viagem
viagem | VidaBosch | 7
mas o segredo está na mistura inventiva
com outros ingredientes, como explica a
chef Marina Fornitano, que até os 59 anos
era modista em São José dos Campos. Há
dez anos começou a cozinhar por hobby
e hoje é cortejada por chefs de São Paulo
e do Rio de Janeiro.
Onde ficar
MG
Pouso do Rochedo
Conjunto de chalés, alojamento e casas
construído em uma propriedade de
31 hectares, dentro de uma reserva
ambiental nas montanhas. Na área há
oito cachoeiras e três mirantes. Estrada Santa Bárbara, Km 8. www.pousodorochedo.com.br. (12) 3926-1214
Pousada São Francisco
Chalés em clima rural. Praça Cônego
Antônio Manzi, 138. (12) 3926-1673
Onde comer
Trutas Mariser
Lugar ideal para comer truta. Rua Ezequiel Alves Graciano, 16. www.restaurantetrutasmariser.com. (12) 3926-1422
Photozofia – Arte e Cozinha
Mistura de restaurante e centro cultural. Largo São Sebastião, 105. www.
photozofia.com.br. (12) 3926-1406
Pangea Restobar
Bar com música ao vivo. Rua XV de
Novembro, 97. www.pangeabar.com.
br. (12) 3926-1502
Como chegar
Saindo de São Paulo, pegue a Via Dutra
até São José dos Campos, siga pela
Via SP-50 (Rodovia Monteiro Lobato)
até o município de Monteiro Lobato e,
dali, tome a Estrada Vereador Pedro
Davi até São Francisco Xavier. A viagem
dura, em média, duas horas e meia.
São
Francisco
Xavier
Polo cultural
Monteiro
Lobato
SP - 123
Os encantos da região não atraíram apenas
grandes cozinheiros, mas também artistas. Vários músicos, pintores, escultores,
artesãos e escritores se estabeleceram no
distrito nas últimas décadas, transformando-o em um importante polo cultural na
Serra da Mantiqueira.
São Francisco Xavier é uma terra de violeiros (como Braz da Viola), e a música caipira está em várias partes, desde as rodas
mais tradicionais no coreto da praça até as
apresentações de músicos mais “eruditos”
no palco do Photozofia nos finais de semana. Além disso, desde 2004, o Festival
SP - 050
RODOVIA PRES. DUTRA
São José
dos Campos
RJ
Jacareí
Guarulhos
São Paulo
SP - 70
RODOVIA AYRTON SENNA
SP
Werner Rudhart/kino.com.br
Pousada Muriqui
Localizada no centro de São Francisco
Xavier, oferece apartamentos confortáveis e aconchegantes, além de duas
piscinas, sauna, sala de massagem
e bar. Rua Ezequiel Alves Graciano,
118. www.pousadamuriqui.com.br.
(12) 3926-1169
Campos
do Jordão
Vários músicos, pintores,
escultores, artesãos e escritores
se estabeleceram no distrito nas
últimas décadas, transformando-o
em uma terra de artistas no coração
da Serra da Mantiqueira
Cordas da Mantiqueira, normalmente realizado em setembro, reúne músicos dos
mais variados estilos.
As artes plásticas também ocupam lugar de destaque. Aos sábados, domingos
e feriados, seis ateliês espalhados pelas
montanhas do distrito abrem suas portas
para os visitantes, formando o Circuito das
Artes de São Francisco Xavier.
O grande evento cultural do distrito, no
entanto, é o Festival da Mantiqueira, realizado desde 2008 entre o fim de maio e o
começo de junho, que reúne importantes
nomes da literatura brasileira. A edição
de 2013 aconteceu entre 14 e 16 de junho e
contou com a participação de Paulo Lins,
Chacal, Ivan Ângelo, Fernando Bonassi,
Cadão Volpato, Luiz Ruffato e Carlito Azevedo, entre outros.
Passeio de fim de semana
Com tanta paz e sossego, São Francisco Xavier parece estar a anos-luz de uma megalópole como São Paulo, mas o distrito fica a
138 quilômetros da cidade, e a viagem dura
cerca de 2 horas e meia. Também não fica
longe de Campinas, e é colada em São José
dos Campos. É, portanto, um ótimo passeio
de fim de semana para quem quer fugir do
estresse das metrópoles.
Saindo no sábado pela manhã e voltando
no domingo à noite é possível fazer trilhas,
mergulhar nas cachoeiras, conhecer os bons
restaurantes e até se arriscar em algum
esporte radical. Seja qual for o programa,
uma coisa é certa: em meio às montanhas,
é possível desfrutar de um pouco da paz
que é tão difícil de encontrar nas grandes
cidades. E isso faz toda a diferença.
A Bosch na sua vida
Para enfrentar o sobe-desce na terra
Usar o carro para curtir as belezas naturais da Serra da Mantiqueira tem um
preço. Por serem estreitas, com muitas
subidas e descidas e cheias de curvas,
as estradas da região exigem muito do
veículo. Por isso, o motorista precisa tomar alguns cuidados antes de sair de
casa e ficar sempre de olho no painel
para evitar problemas durante a viagem.
Na preparação para pegar a estrada, é
fundamental que o motorista leve o carro
a uma oficina para verificar as condições
dos freios, afirma Francisco Hélcio Santiago, proprietário da Fix Center (foto),
oficina da rede Bosch Service em São
José dos Campos. “É preciso checar a
situação das pastilhas e conferir o nível
do fluido, que deve ser trocado a cada
dois anos”, diz Santiago. Segundo ele,
para pegar as estradas da serra um carro
precisa estar com os freios em perfeito
estado, pois as inúmeras curvas exigem
muito deles.
Outros itens que precisam ser cuidadosamente checados antes da viagem são
os níveis do óleo e da água do motor,
recomenda Alexandre Salgado Rodrigues
Simões, gerente da Speedcar, outra oficina da rede Bosch Service em São José
dos Campos. Segundo ele, nas estradas
que levam a São Francisco Xavier o motor
funciona por muito tempo em baixa rotação, e a falta de água ou de óleo pode
causar superaquecimento. “O motorista
tem que ficar sempre de olho no medidor
de temperatura do veículo. Se esta começar a subir, pare e chame o guincho,
antes que o motor funda”, avisa.
O mesmo vale para os freios. “Quando
há muito desgaste, é preciso pisar cada vez mais fundo no pedal para frear o
veículo. Além disso, nesses casos uma
luz vermelha acende no painel do carro”, diz Alexandre. Quando isso acontece,
o melhor é interromper imediatamente
a viagem e levar o automóvel à oficina
mais próxima.
Francisco Hélcio Santiago
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Por fim, Alexandre lembra que o motorista deve tomar cuidado especial para
pegar as estradas de terra da região.
“Carros comuns podem encarar esses
caminhos, contanto que haja bom senso”. Essas vias são irregulares e cheias
de buracos, o que pode comprometer
a suspensão, o balanceamento e o alinhamento. Por isso, o motorista deve
calibrar bem os pneus antes de viajar
e ficar atento a barulhos estranhos durante o percurso.
eu e meu carro
| Por Diana Ferreira Neto
Rachel Guedes
8 | VidaBosch |
Diversão desde menino
O humorista Marcelo Mansfield aprendeu com o pai, em longas viagens pelo Brasil
durante a infância, a se deliciar com a vida ao volante
D
esde que começou a se dedicar à carreira artística, há 28 anos, o paulistano Marcelo Mansfield sempre teve um
pezinho na comédia. Ou melhor: os dois.
Atualmente um dos integrantes do programa “Agora é Tarde”, da Band, o humorista
foi um dos pioneiros do stand up comedy
no Brasil e adora sua profissão. “Estou em
uma maratona agora: TV de terça a quinta,
shows às sextas e turnê com meu show,
Nocaute. É uma carga pesada, mas me faz
muito feliz. Não saberia mais viver de outro jeito.”
Mas nem só de gargalhadas vive o comediante. O artista se realiza também quando
encara o volante, especialmente durante
longas viagens. Essa ligação com automóveis começou quando ainda era menino.
Nas férias, sua família caía na estrada e viajava pelo Brasil a bordo de uma caminhonete Rural Willys pilotada pelo pai. Foi assim que o artista descobriu a alegria sobre
quatro rodas. “Posso dizer que metade do
país eu conheci com meu pai no volante.
As cidades de Santa Catarina eram destino básico... Fomos até para a Argentina e
para o Paraguai”, recorda o comediante,
que nasceu e mora em São Paulo.
As aventuras automobilísticas fixaramse na mente e no coração de Mansfield.
Sobretudo porque ficaram associadas a
momentos marcantes ao lado dos parentes. “Estávamos em Foz do Iguaçu quando
o Neil Armstrong pisou na lua, no Rio de
Janeiro no ano do quarto centenário da
cidade. No Pão de Açúcar, vi a atriz Ginger
Rogers, que estava lançando uma linha de
roupas...”, relembra, saudoso.
A paixão do pai pelos carros contaminou
o filho. Quando criança, Mansfield lembra
que desenhava com giz estradas por todo
o quintal, por onde passeava com seus carrinhos de brinquedo. “Até hoje mantenho
minha coleção de Matchbox ingleses, que
eu comprava numa lojinha de importados.”
O tempo passou e ele partiu para os carros de verdade. O primeiro a passar por
suas mãos foi um Opala verde (“sem dúvida, um dos carros médios mais confortáveis da nossa história automobilística”).
O modelo clássico ralou, literalmente, com
as barbeiragens do novato, mas contribuiu
para que ele pegasse ainda mais gosto pe-
lo volante. “Depois, veio uma sucessão de
Fuscas e Chevettes. Tive também um Passat, um Santana preto primeira geração
(até hoje, para mim, um carro de design
sofisticadíssimo), um Daihatsu Charade,
Fiats Uno e Strada, Renault Clio e Citroën
C3”, recorda.
Uma paixão à parte são os carros antigos. “Tive um Bel Air 1957 duas portas,
sem coluna, e uma Mercedes preta 65, que,
glamourosamente, só usava para ir de casa
para o teatro em que estivesse me apresentando”. Participou ativamente do restauro do carro de um amigo, um Aero Willys
62 bordô (“acompanhei todo o processo,
até a cor original conseguimos achar”) e
passou uma tarde inteira num telefonema
internacional atrás das peças originais do
Mustang de outro amigo. “Mas essas ajudas me fazem ganhar o dia. Como diria a
outra, adoooooro.” ”
Hoje, ele é o exigente dono de um Citroën
C4 Pallas, que considera “bom, confiável
e confortável”. E afirma não abrir mão de
certos critérios para escolher seu possante. “Meu pai me ensinou que carro bom é
carro zero. Não compro usado. Gosto de
saber que ficarei anos sem nenhum problema, que não seja uma troca de pneus ou
de óleo”. Usados, só os muuuito antigos.
Velhos hábitos
Embora o percurso e a razão da viagem
tenham mudado, Marcelo Mansfield ainda pega a estrada pelo Brasil afora, como
fazia com a família décadas atrás. Agora,
excursiona a trabalho, levando seu humor
a públicos de diversas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e estados
do Sul. Nem sempre, porém, as aventuras
têm tanta graça assim. O artista já passou
por alguns perrengues, como ficar sem
gasolina no meio de uma rodovia deserta.
“Uma vez, meu carro foi roubado na véspera de uma viagem para Muzambinho (MG),
onde eu faria uma apresentação. Levaram
som, figurinos, cenários que estávamos
carregando, sufoco total. Entre 10h da noite
e 10h da manhã, tive de criar figurino às
pressas, pedir emprestado equipamentos,
fazer boletim de ocorrência, acionar o seguro e alugar um outro carro para pegar
a estrada. Só fui relaxar depois do show”.
A Bosch na sua vida
Arquivo Bosch
Tecnologia a serviço do clássico
Aqueles que compartilham da paixão de Marcelo Mansfield por carros clássicos sabem que uma das
grandes dificuldades para manter
esse hobby é conseguir as peças
necessárias para manter essas máquinas rodando. Pensando nisso, a
Bosch criou, em 2005, uma divisão
voltada especificamente para esse
público. A Bosch Automotive Tradition vende, repara ou recria peças
de reposição para carros antigos.
Na Alemanha e na Suíça já existem
oficinas dessa divisão da Bosch
especializadas na manutenção
de modelos vintage. No resto do
mundo, quem estiver em busca
de uma peça clássica tem duas
opções: ir a uma oficina da rede
Bosch Service e verificar se o produto ainda existe em algum dos
estoques mantidos pela empresa
ou entrar em contato diretamente
com a divisão de carros clássicos
por meio do site www.automotive-tradition.de.
Se a Bosch tiver a peça em estoque, o item é encaminhado à oficina mecânica. Se não for possível
localizar o produto, a empresa também restaura componentes antigos.
Nesse caso, as peças recondicionadas são vendidas com garantia.
Por fim, em alguns casos o cliente
pode enviar sua peça para que seja
remanufaturada pela Bosch.
10 | VidaBosch |
torque e potência
| Por Luis Roberto Toledo
Tropa de elite
Tratores de alto desempenho e tecnologia
aumentam o conforto dos motoristas e
ajudam a colocar o Brasil entre os maiores
produtores de alimentos do mundo
Sovlanik/Shutterstock
U
m poderoso exército está ocupando os campos brasileiros. Eficiente, preciso e munido de alta tecnologia, é fundamental para o avanço do país no mercado internacional de
alimentos, um verdadeiro campo de batalha com competidores
de peso e em que ganhos mínimos em rendimento podem fazer
toda a diferença. Assim é a tropa de elite formada pelos tratores
das fazendas nacionais de maior produtividade. Essas máquinas
modernas dão suporte ao Brasil no ranking dos maiores produtores de grãos do planeta – em 2013, a safra nacional deve somar
185 milhões de toneladas de culturas como soja, milho, feijão e
arroz, segundo previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Motores de última geração, maior dirigibilidade, painel com
vários tipos de informações sobre o funcionamento da máquina
e até sistema de navegação por satélite (GPS), além de conforto
para o operador, são algumas das características oferecidas pelos atuais tratores. Nada disso, entretanto, está ali em nome da
suntuosidade. Nas propriedades voltadas à exportação, que concorrem globalmente, a figura do trator velho, barulhento e cheio
de ferrugem está sendo deixada de lado em nome da eficiência.
As novas máquinas agrícolas, que chamam atenção pelo desenho externo arrojado, também se destacam pelo que trazem do
torque e potência
torque e potência | VidaBosch | 13
em tratores vêm abrindo espaço para que
mais mulheres assumam a direção dessas
máquinas. Afinal, cada vez mais os músculos deixam de ser um “pré-requisito”
para a profissão.
O sistema de geoposicionamento global, ou GPS, cada vez mais popular em
automóveis – sobretudo táxis –, também
está disponível em tratores de última geração. Arbex Silva explica que essa é uma
ferramenta extremamente valiosa para a
realização de trabalhos no campo, como
aplicação de defensivos agrícolas (agrotóxicos). “Com o uso de GPS, o tratorista
sabe com precisão onde estão os limites
das faixas onde o defensivo já foi aplicado, evitando que pontos da lavoura fiquem
sem receber produto ou que algumas áreas recebam a aplicação em dobro, o que é
antieconômico e pode trazer problemas à
cultura”, diz o especialista.
Renovação
Os modelos mais recentes já saem de fábrica com cabine fechada, e alguns têm até sistema de ar-condicionado
lado de dentro. A começar pelos motores.
“Houve muita evolução nessa área, com
aumento do rendimento e diminuição dos
níveis de ruídos”, afirma o professor de
mecanização agrícola Paulo Roberto Arbex
Silva, da Faculdade de Ciências Agronômicas
da Universidade Estadual Paulista (Unesp)
em Botucatu (SP). Um grande avanço, segundo ele, foi o surgimento de propulsores dotados de intercooler e turbina. Com
essa tecnologia, fabricam-se modelos de
maior potência sem aumento de emissões
de poluentes, e já há no mercado marcas
que utilizam biodiesel.
Outra mudança marcante nas linhas de
tratores nacionais foi o aumento da oferta
de versões cabinadas, isto é, que saem de
fábrica com cabine fechada, e não apenas
com uma cobertura sobre o posto do operador. “Além de proteger o tratorista, ela
oferece maior conforto, como sistema de
ar-condicionado, e mais ergonomia”, explica o professor da Unesp. O custo mais
elevado, em comparação a modelos de cabine aberta, pode ser compensado pela
melhoria das condições de trabalho, que
permitem que o operador exerça jornadas
com menos interrupções.
A maior comodidade se traduz ainda
em assentos mais ergonômicos e de qualidade, assim como em instrumentos que
tornam possível monitorar completamente a máquina. O painel dos tratores não só
mostra a quantidade de horas trabalhadas
e de tempo de funcionamento do motor,
como controla, por exemplo, a marcha selecionada, a velocidade de deslocamento e
a rotação da tomada de potência (sistema
que fica na traseira, onde são acoplados
arados e grades).
Mudança de marcha
A modernização dos equipamentos se estende aos sistemas de transmissão, que
hoje apresentam câmbios muito mais suaves. Assim, a troca de marchas ocorre sem
maiores esforços (tratores antigos exigiam,
mais do que habilidade ao volante, boa dose de força para manipular as alavancas).
E os fabricantes têm ampliado a gama de
produtos com transmissão automática, que
eliminam a necessidade do uso de pedal
de embreagem – como acontece com automóveis.
Recentemente, foi introduzido no segmento de tratores agrícolas um sistema
ainda mais sofisticado e prático para o operador. Chama-se CVT (sigla em inglês para
transmissão continuamente variável). “Em
tratores equipados com CVT, se houver
mudança no relevo do terreno trabalhado – de uma área plana para outra inclinada, por exemplo –, a própria máquina
reduz a velocidade, buscando a faixa de
rotação do motor que apresente a menor
taxa de consumo de combustível”, explica Arbex Silva.
Tais mudanças podem parecer pouco
significativas, mas não são. Elas resultam
numa enorme economia nos custos de produção agrícola, tanto pela diminuição de
gastos com óleo diesel quanto pela redução
do desgaste da máquina por excesso de
aceleração. E, como sublinha o professor
da Unesp, os novos tipos de transmissão
Para o Brasil, uma boa notícia é que os benefícios econômicos e sociais dos novos
tratores estão tornando-se paulatinamen-
O painel dos novos tratores não
só mostra a quantidade de horas
trabalhadas como controla, por
exemplo, a marcha selecionada,
a velocidade do deslocamento e a
rotação da tomada de potência
te mais comuns. E um maior número de
modelos “é, sem dúvida, um indicativo de
mudança nos moldes produtivos do país”,
como observa o geógrafo Jodenir Calixto
Teixeira, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em
artigo publicado na revista da Associação
dos Geógrafos Brasileiros.
Financiamentos governamentais têm
ajudado a renovar o exército de tratores
que labuta nas lavouras brasileiras. É o caso
do Programa Mais Alimentos, do governo
federal, e de projetos de âmbito estadual, como os dos governos de São Paulo e
Paraná, com oferta de linhas de crédito a
agricultores para a compra de máquinas
novas, com juros mais baixos que os do
mercado e prazo estendido para pagamento. Um exemplo é o Moderfrota, do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que oferece juros de
5,5% ao ano, financia até 90% do valor do
produto e tem prazo de quatro anos para
pagamento.
Ações como essas têm tornado a frota
nacional de tratores mais jovem a cada ano.
Segundo levantamento do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para
Veículos (Sindipeças), a idade média dos
tratores brasileiros era de 12 anos e 2 meses em 2008, 11 anos e 7 meses em 2009, 11
anos em 2010 e 10 anos e 5 meses em 2011
(os dados relativos a 2012 ainda não foram
divulgados). Ainda assim, esse continua a
ser o grupo de idade mais avançada no país
– a dos automóveis é de 8 anos e 9 meses; a
dos caminhões, 9 anos e 10 meses; e a dos
ônibus, 9 anos e 4 meses, de acordo com
o Sindipeças.
No ano passado, foram vendidos 55.810
tratores no mercado brasileiro, segundo
dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea),
6,7% a mais que em 2011. Uma frota nova,
com recursos cada vez mais modernos.
A Bosch na sua vida
Tecnologia do carro para o trator
Em um mercado em que a competição
se dá em nível internacional, como o de
alimentos, manter-se à frente dos competidores requer busca de eficiência em
várias áreas. Não por acaso, a tecnologia
agrícola tem avançado em diversos segmentos, entre eles o de maquinário. O
objetivo é elevar os ganhos e aumentar o
conforto de quem opera os equipamentos.
É o que vem ocorrendo com os tratores,
para os quais a Bosch fabrica os sistemas
de injeção Common Rail.
O dispositivo foi desenvolvido com base
nos componentes utilizados nas aplicações de carros de passeio. A principal
diferença foi a introdução de pacotes de
robustez, para atender aos requisitos específicos desse setor. “O sistema precisou
ser adaptado para enfrentar condições
severas de operação, elevados perfis de
carga e combustíveis com baixa lubricidade, entre outros fatores”, afirma Ricardo
Daniel Wiens, engenheiro de desenvolvimento de produto da unidade da Bosch
em Curitiba.
Por ser mais flexível que os sistemas mecânicos convencionais, o Common Rail
ajuda a aumentar a potência e o torque
do motor, reduzir o consumo de combustível e os ruídos (com benefícios para
os motoristas) e diminuir a emissão de
poluentes no meio ambiente.
“O melhor controle e a maior precisão
da injeção de combustível obtidos com
a utilização desse sistema trazem, como
resultado final, uma otimização da combustão, o que, por sua vez, gera economia na operação desses veículos forade-estrada”, diz o engenheiro.
Com a entrada em vigor de novas legislações ambientais, o Common Rail deve
Arquivo Bosch
Prudkov/Shutterstock
12 | VidaBosch |
ganhar uma importância ainda maior no
mercado de alimentos, ajudando o país a
se adaptar às metas rígidas. Na avaliação
de Wiens, o dispositivo será fundamental para atingir os limites exigidos pelo
Programa de Controle de Poluição do Ar
por Veículos Automotores para Máquinas Agrícolas e Rodoviárias (Proconve
Mar-I), que passa a vigorar em 2015 no
Brasil, e também para exigências futuras.
em casa
Fotos Shutterstock
14 | VidaBosch |
Casa na palma da mão
Já pensou em controlar sua residência a partir do tablet ou do celular?
Graças ao barateamento da tecnologia, isso é cada vez mais comum no Brasil
| Por Mariana Desidério
I
em casa
magine chegar do trabalho e encontrar
sua casa esperando por você: a banheira
com água aquecida, as luzes da entrada já
acesas, o ar-condicionado na temperatura
certa e até uma música relaxante tocando
na sala de estar. Tudo controlado por você
mesmo, à distância. Pode parecer ficção
científica, mas esse cenário é mais acessível do que muita gente pensa.
As casas inteligentes são cada vez mais
comuns no Brasil e no mundo. Nelas, sistemas e aparelhos eletrônicos são integrados
e podem ser controlados por dispositivos
móveis. Por meio de aplicativos, tablets e
smartphones se tornam verdadeiros controles remotos capazes de operar equipamentos de iluminação, áudio, vídeo, ar-condicionado, segurança e aquecimento,
entre outros.
De acordo com José Roberto Muratori,
diretor executivo da Associação Brasileira
de Automação Residencial (Aureside), o
mercado de casas inteligentes cresce cerca
de 30% ao ano no Brasil desde 2009. Um
dos principais fatores que impulsionam
esse aumento, segundo ele, é a diminuição
dos preços. Um projeto de automação residencial custa a metade do que se pagava
há cinco anos. A estimativa da entidade é
de que exista no Brasil 1,8 milhão de residências com potencial para automação.
Hoje, são cerca de 300 mil casas inteligentes no país.
Outro ponto que ajuda a impulsionar o
setor, de acordo com Muratori, é que jovens familiarizados com tecnologia estão
montando suas próprias casas. “Pessoas
com esse perfil mais jovem, que já usam
em casa | VidaBosch | 17
seu tablet e seu smartphone com naturalidade, passaram a perceber que isso também pode ser usado para gerenciar a sua
casa. E essas pessoas estão começando a
comprar seu primeiro imóvel”, diz.
Além de mais barato, automatizar uma
casa também ficou mais simples. O serviço não é mais necessariamente sinônimo
de uma enorme reforma, afirma Guilherme Dellarole, sócio da Parallax, empresa
de automação residencial sediada em São
Paulo. “Você não precisa mais quebrar a
casa inteira. É possível fazer o serviço com
a casa pronta e todos os aparelhos que ela
já tem. A pessoa não precisa se desfazer
de nada”, diz.
O processo de automação funciona da
seguinte maneira: cada aparelho ou sistema eletrônico da casa recebe um pequeno
dispositivo sem fio, chamado de módulo,
que é controlado por frequência de rádio e
se comunica com uma central de comando
– uma espécie de cérebro da casa inteligente, em geral do tamanho de um roteador. Esse aparelho, por sua vez, recebe
informações pela internet e as converte
em sinais que são transmitidos aos módulos por ondas de rádio. É aí que a mágica
acontece. Como a central de comando está
conectada à internet, é possível controlar os itens inteligentes da casa por meio
de tablets e smartphones equipados com
aplicativos específicos.
Para Dellarole, essa integração tem sido
uma das grandes responsáveis pela disseminação da automação residencial. “Antes, esse controle era feito através de um
painel na parede. Com a possibilidade de
uso de tablets e smartphones, já estamos
com um pé dentro da casa do cliente. Fica
tudo muito mais simples, pois a pessoa já
tem parte do que é necessário para a automação”, afirma.
Divulgação/Jóia Bergamo
16 | VidaBosch |
Mais conforto
Automação feita, é hora de usufruir dos
recursos que ela oferece. Segundo Sergio
Corrigliano, gerente de pesquisa e desenvolvimento da iHouse – empresa paulistana especializada na área – um dos grandes atrativos de uma casa inteligente é a
possibilidade de criar “cenas” para cada
momento do dia.
A arquiteta Jóia Bergamo usou recursos
de automação no projeto que criou para a mostra Casa Cor São Paulo 2013. A tecnologia permite até gelar o champanhe no spa da casa
18 | VidaBosch |
em casa
em casa | VidaBosch | 19
Fotos divulgação/Jóia Bergamo
Com a automação, é possível ainda acessar as imagens das câmeras de segurança
remotamente, por computador, celular
ou tablet. A integração do sistema de segurança com o restante da casa permite
também a simulação de presença – quando a casa liga automaticamente luzes, TV
ou rádio para parecer que há alguém no
imóvel caso um estranho se aproxime.
Por fim, a interligação da câmera da entrada com os aparelhos de televisão da
casa permite saber imediatamente quem
toca a campainha. Portanto, além do barateamento dos
equipamentos, também a diversidade de
recursos e as possibilidades abertas pelos dispositivos móveis estão tornando a
automação residencial algo cada vez mais
comum no Brasil, como afirma José Roberto Muratori, da Aureside. “Principalmente
após essa integração com tablets e smartphones, a automação acaba se tornando
um objeto de desejo. As pessoas querem
ter essa sensação de liberdade e controle
sobre a casa ao mesmo tempo, e a possibilidade de fazer isso pelo celular é a cereja do bolo.”
No projeto de
Jóia Bergamo
também
é possível
controlar à
distância a
iluminação, o arcondicionado e
os aparelhos de
áudio e vídeo
Mais segurança
A automação residencial, no entanto, não é
interessante somente por deixar o lar mais
A automação residencial não é
interessante somente por deixar
o lar mais agradável. Ela também
pode ser sinônimo de segurança
agradável. Ela também pode aumentar a
segurança dos moradores. Corrigliano explica que um dos produtos disponíveis no
mercado é uma fechadura inteligente, que
pode ser acionada à distância e avisar o
proprietário – sempre através de um tablet
ou smartphone – se alguém entrou em casa
sem ser convidado.
Outro grande benefício está nas possibilidades que se abrem para os cuidados com
pessoas com necessidades especiais, como
idosos, doentes ou bebês. É o que diz o engenheiro Caio Bolzani, doutor em sistemas
eletrônicos e autor dos livros “Residências
Inteligentes” (Editora e Livraria da Física,
2004) e “Domótica - A Ciência das Casas Inteligentes”, com lançamento previsto para
este ano. Uma das alternativas é o uso de
câmeras internas em casa, cujas imagens
possam ser vistas à distância. A facilidade
pode tranquilizar as mães que precisam
voltar a trabalhar após o nascimento do
bebê ou ainda tornar mais rápida a chegada do socorro se houver algum acidente
com um idoso em casa.
O monitoramento da área externa da
residência também ganha com a automação, principalmente por meio da integração de câmeras, sensores e alarmes à rede
da casa, permitindo ao morador ter mais
controle sobre o seu patrimônio. “As residências inteligentes podem, por exemplo,
comparar movimentações atípicas com dados históricos para identificar situações
de risco”, afirma Bolzani. Ele explica que,
além disso, com um sistema inteligente a
casa pode gerar respostas imediatas em
casos de furto ou roubo, como contatar o
próprio morador, a polícia ou empresas
de segurança.
A Bosch na sua vida
Vigiando à distância
Uma das possibilidades abertas pela
automação residencial é a de monitorar a casa 24 horas por dia, a partir de
qualquer lugar. Para isso, no entanto,
não basta contar com os melhores equipamentos de vídeo instalados no lar.
Também é importante poder acessá-los
remotamente com uma qualidade de
imagem que permita verificar se tudo
está realmente em ordem. E é justamente isso o que faz o HD Anywhere
and Everywhere da Bosch.
Esse transcodificador de dados permite que o usuário assista pela internet
às imagens captadas pelas câmeras de
segurança, mesmo se estiver acessando a rede por meio de uma conexão
de velocidade limitada. O dispositivo
transforma os vídeos HD em arquivos
digitais de baixa resolução, para que
possam ser vistos de forma ágil e contínua. No entanto, a qualidade original
das imagens é restaurada assim que o
vídeo é pausado. Dessa forma, nenhum
detalhe é perdido e fica muito mais fácil
identificar as pessoas e situações de
possível risco.
Para completar, as câmeras de vídeo
HD produzidas pela Bosch utilizam uma
tecnologia que oferece excelente qualidade de imagem, mesmo em condições
de iluminação adversas. Elas são capazes, por exemplo, de detectar automaticamente objetos retirados ou deixados,
aglomeração de pessoas, velocidade e
cores, e, em seguida, ajustar as configurações para garantir que mais imagens
Arquivo Bosch
“No momento do jantar, por exemplo,
você pode configurar a casa para favorecer
a iluminação da mesa e ligar o ar-condicionado na temperatura desejada. Se depois
for assistir a um filme, pode acionar a configuração que liga a televisão, os aparelhos
de home theater e ajusta a iluminação para
aquela situação”, explica Corrigliano. O
resultado é mais conforto e comodidade
durante o descanso em casa.
Esses diversos recursos foram utilizados
pela arquiteta paulistana Jóia Bergamo no
projeto que apresentou na última edição
da mostra Casa Cor São Paulo, encerrada
em 21 de julho. Segundo a arquiteta, além
de permitir o controle de iluminação, ar-condicionado e aparelhos de áudio e vídeo, o ambiente também produzia energia
por meio de placas solares e torres eólicas.
sejam capturadas da maneira mais detalhada possível.
O transcodificador de vídeo da Bosch
pode ser adquirido tanto como unidade autônoma, para ser adicionada aos
sistemas de segurança que o cliente
possui, quanto como componente integrado ao outros produtos da Bosch.
20 | VidaBosch |
tendências
Anton Balazh/Shutterstock
Brasil se consolida como importante polo mundial de eventos corporativos e mostra
que tem mais a oferecer que belas paisagens e boas atrações culturais
| Por Bruno Meirelles
Praia, samba... e negócios
tendências
tendências | VidaBosch | 23
Riccardo Piccinini/Shutterstock
2007, do total de viajantes brasileiros, 5,4%
declararam “negócios ou trabalho” como
motivo de seu deslocamento. Em 2011, esse
percentual subiu para 7,8%, somando 3,1
milhões de pessoas.
A indústria farmacêutica é o segmento que mais tem contribuído para o crescimento do número de eventos no país.
“Essa é uma área com várias limitações.
Não pode fazer propaganda, por exemplo. Então, os encontros funcionam como
uma verdadeira alavanca de negócios. Eles
são a melhor forma de se comunicar com
médicos e outros profissionais de saúde”,
explica Elizabeth Kyoko Wada, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Turismo.
A especialista ainda destaca a área financeira, que aparece em segundo lugar
no ranking, por exigir muito treinamento
e reciclagem dos funcionários. “É um mercado bastante dinâmico. Qualquer erro resulta em grandes prejuízos”, diz Elizabeth.
Rio em alta
S
ol, belas praias, natureza exuberante
e uma enorme variedade de atrações
culturais. Esses sempre foram os principais atrativos – e os principais clichês –
que deram ao Brasil um lugar próprio no
turismo internacional. Nos últimos anos,
porém, o país tem chamado mais a atenção de um público específico: quem viaja
a negócios. Nesse período, o Brasil se consolidou como um importante palco para
a realização de congressos, convenções
e outros eventos corporativos.
O Brasil foi o sétimo país que mais recebeu
eventos internacionais em 2012, segundo
a Associação Internacional de Congressos
e Convenções (ICCA, na sigla em inglês).
Foram 304, um crescimento de 390% em
relação a 2003, quando ocupávamos apenas o 19º lugar na lista.
A tendência, para o Ministério do Turismo, reflete o momento positivo da economia brasileira em meio à crise global. De
acordo com a pasta, é natural que quem
faça negócios procure, para mostrar seus
produtos, lugares onde o dinheiro está circulando. As importações do Brasil estão
crescendo, o que faz com que as empresas queiram aumentar sua presença nesse
mercado, e o turismo apresentou alta de
6% no ano passado, dois pontos percentuais acima da média mundial. Tudo isso
influencia na escolha do país como destino
para esses eventos.
“A Copa do Mundo e a Olimpíada colocaram o Brasil em evidência. Hoje somos vistos
como um destino com boa infraestrutura
e centros de convenções modernos. Para
completar, a Embratur vem fazendo um
grande trabalho desde 2003, divulgando
o país em feiras e simpósios internacionais”, afirma a presidente da Associação
Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), Anita Pires.
Aproveitando esse contexto favorável,
o governo federal vem investindo no setor. Segundo o Ministério do Turismo, nos
últimos dez anos, R$ 665 milhões foram
repassados aos municípios apenas para a
construção de centros de convenções, negócios e eventos. Com isso, o Brasil ganhou
posições internacionalmente e ainda houve
um aquecimento do mercado interno. Em
Além de mostrar que o Brasil ocupa hoje uma posição de destaque no mercado
de eventos, o estudo da ICCA trouxe outro dado surpreendente: o Rio de Janeiro ultrapassou São Paulo como principal
palco desses acontecimentos no país. A
cidade maravilhosa foi sede de 83 encontros internacionais em 2012, contra 77 da
capital paulista.
“Nos últimos anos, o Rio recebeu muitos
investimentos do governo e de empresas
em segurança e infraestrutura por causa
dos grandes eventos esportivos. Sempre
foi o mais belo destino brasileiro, e hoje
está recuperado. São Paulo ainda tem os
melhores serviços e é muito forte nacionalmente, mas no exterior o lugar preferido
é o Rio”, afirma Anita.
Apesar de estar atrás na quantidade
de eventos, São Paulo ainda segue como
destino brasileiro mais visitado quando o
assunto são convenções, respondendo por
mais de 50% da demanda nacional. Outras
capitais que estão se sobressaindo nesse
quesito são Brasília e Salvador.
“Quando alguém quer fazer um evento para articulação econômica busca São
Paulo. Já para articulação política, o lugar
ideal é Brasília. Salvador, por sua vez, tem
se qualificado bastante nos últimos anos e
conta com o atrativo do aspecto exótico da
sua cultura”, comenta Elizabeth.
As especialistas concordam ainda que a
regionalização dos eventos sempre é bemvinda, pois permite que outras cidades se
beneficiem do bom momento vivido pelo
turismo. “As sedes de congressos costumam se alternar, pois os participantes gostam de novos destinos. O Nordeste tem um
atrativo climático e cultural, belas praias,
ótima gastronomia. Com isso, a região se
destaca, apesar de não ter uma estrutura
tão boa quanto a encontrada no eixo RioSão Paulo”, diz a presidente da Abeoc.
Polos alternativos
Alguns fatores são fundamentais para que
uma cidade se torne um polo de eventos.
Em primeiro lugar, é preciso investir em
infraestrutura, como um bom centro de
convenções, grandes hotéis e restaurantes. “Mas também precisa estar preparado.
Não adianta nada ter um espaço de even-
O turismo de negócios já não se
restringe ao eixo Rio-São Paulo.
Salvador, Fortaleza e Foz do Iguaçu
têm investido na área. Brasília se
destaca em eventos políticos
tos cinco estrelas e um serviço de duas. A
convenção vai ser realizada uma vez e não
volta mais”, destaca Anita.
Além disso, atrativos turísticos fazem
toda a diferença. É o que ocorre, por exemplo, com Foz do Iguaçu, que recebeu 16
eventos internacionais no último ano,
ficando à frente de capitais como Porto
Alegre e Florianópolis.
A cidade paranaense reúne dois requisitos: conta com as Cataratas do Iguaçu
e tem um centro de eventos de primeiro
mundo, com capacidade para sediar congressos e feiras simultâneos. Também se
destaca pela localização: fica em uma área
de intensa movimentação econômica – a
tríplice fronteira entre Brasil, Argentina
e Paraguai – e é a segunda maior porta de
entrada do turista estrangeiro que vem
ao Brasil a lazer, segundo o Ministério
do Turismo.
A cidade oferece ainda bons preços e
grande diversidade cultural. “Foz do Iguaçu está apta a sediar eventos de todos os
portes e naturezas. Além disso, temos mais
de 70 etnias identificadas pelo IBGE, que
fazem do destino um celeiro de novas oportunidades e vivências”, argumenta Rodrigo
Mattjie, assessor de comunicação do Iguassu Convention & Visitors Bureau (ICVB).
Outro município que tem investido na
área é Fortaleza. A capital cearense inaugurou em 2012 o mais moderno centro de
convenções da América Latina. Custou mais
de R$ 480 milhões e pode abrigar até 30
mil pessoas. Seu projeto arquitetônico foi
inspirado em elementos típicos do Ceará,
como as falésias, e ocupa 206 mil m2.
“Foi um investimento feito pelo governo.
Antes, o poder público não via o turismo
como algo que dava resultados. Hoje isso
mudou, perceberam que o retorno é quase
imediato”, comemora Elizabeth.
A Bosch na sua vida
Reunião com tecnologia
O aumento do número de eventos corporativos no país faz
com que os centros de convenções brasileiros precisem estar em dia com as tecnologias do setor, que têm evoluído
bastante. Hoje há vários produtos que oferecem uma série
de novos recursos para facilitar a dinâmica dessas reuniões.
Entre as grandes inovações está o DCN multimedia, sistema
de conferência lançado pela Bosch em meados de abril em
Frankfurt, na Alemanha.
As unidades de discussão do sistema contam com microfone,
autofalante e tela touch screen de alta qualidade integrados.
Dessa forma, cada participante da reunião pode ver e ouvir
o que os demais estão falando, independentemente de onde estiver. Além disso, o dispositivo permite compartilhar
arquivos de diversos formatos e controlar câmeras móveis.
O produto também é dotado de microfone direcional capaz
de captar a voz mesmo quando se fala a uma distância de até
60 centímetros do dispositivo, permitindo que a pessoa se
manifeste recostada confortavelmente em sua cadeira. Para
completar, o DCN multimedia faz uso de uma nova plataforma
de transmissão e controle de áudio, chamada OMNEO, que
possibilita o transporte de áudio em alta definição por redes IP.
Arquivo Bosch
22 | VidaBosch |
A Bosch produz ainda o DCN Next Generation, usado em reuniões das Nações Unidas e do G8, por exemplo. No Brasil, o
sistema foi adotado pela Assembleia Legislativa do Maranhão.
Ele conta com 32 canais para tradução simultânea, e a pessoa
pode escolher o idioma por meio de um seletor. O sistema
ainda permite votações eletrônicas e mostra os resultados ao
vivo, em gráficos estatísticos nos telões.
grandes obras
| Por Bruno Meirelles
DDCoral/Shutterstock
24 | VidaBosch |
Cidades
temporárias
Nas grandes obras, alojamentos para
milhares de pessoas têm área de
lazer, lojas e, às vezes, até prefeito
H
idrelétricas, estádios, arranha-céus.
Algumas obras de grande porte mobilizam tantos trabalhadores que é necessário construir verdadeiras cidades temporárias para abrigar todo esse povaréu.
A estrutura montada para os funcionários
pode ir muito além de quartos e banheiros,
e chega a incluir áreas de lazer, campos de
futebol, igrejas, lojas, bancos, livrarias e
até prefeitura. “Já trabalhamos em obras
onde as pessoas elegem alguém para cuidar da manutenção das moradias, como
um prefeito mesmo”, conta Rogério Neves, gerente comercial da Novo Espaço,
que há 15 anos trabalha com alojamentos
para construção civil.
Alguns fatores estão contribuindo para
que, nos últimos anos, essas armações ganhem importância cada vez maior. O principal deles é a escassez de mão de obra no
setor. Por um lado, o boom recente recrutou
boa parte dos empregados disponíveis. A
oferta não cresceu no mesmo ritmo. “Muita
gente não quer mais trabalhar nesta área.
O nível de educação melhorou no país, e a
construção civil é um tipo de atividade pesada, que envolve risco de acidentes. Assim,
as construtoras são obrigadas a contratar
pessoas que moram longe, e elas acabam
se instalando no próprio canteiro”, afirma o pesquisador Luiz Priori Junior, do
Laboratório de Estudos Periurbanos do
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE).
Ele aponta que, muito mais do que simplesmente abrigar os funcionários, esses
espaços assumem um papel muito importante no andamento das obras, pois
suas condições são determinantes para
o desempenho dos trabalhadores. “Eles
já estão longe de sua região, sentem falta
da família. Então, fatores como conforto,
higiene e limpeza fazem toda a diferença
para a motivação.”
grandes obras | VidaBosch | 27
As diretrizes para a construção dos alojamentos são estipuladas por duas normas
regulamentadoras do Ministério do Trabalho, a 18 e a 24. Elas determinam, por
exemplo, que as estruturas tenham ventilação natural e pé-direito de pelo menos 2,40 metros. Com alguma frequência,
acordos sindicais regionais acrescentam
alguns benefícios – em Pernambuco, por
exemplo, a construtora é obrigada a fornecer roupa de cama.
Nos últimos anos, com o mercado de
trabalho muito aquecido, as construtoras
estão oferecendo mais do que o exigido
por lei, visando aumentar a produtividade dos funcionários. “Enquanto a norma
pede um banheiro para cada 20 pessoas,
existem lugares onde se constroem suítes
para abrigar quatro trabalhadores. Era algo
inimaginável 15 anos atrás, mas hoje se dá
muito valor a isso”, afirma Rogério Neves.
Outro diferencial são as camas e armários, que antes eram feitos com o próprio
material das obras, mas agora frequentemente vêm prontos. “Sai quase o mesmo
preço, é mais higiênico e ainda pode-se
aproveitar em outra obra. Sem falar que
dessa maneira o empregado se sente mais
valorizado”, explica Priori.
Não se espera que as instalações sejam
as de um hotel de cinco estrelas, mas têm
de ser dignas. Priori usa uma medida que
lhe parece bem adequada: o alojamento
deve ser um lugar onde o engenheiro que
o fez aceite dormir.
Nas obras de ampliação da refinaria da
Petrobrás em Paulínia (SP), que envolvem
2,5 mil funcionários – número superior à
população de 285 municípios brasileiros –,
alguns recursos foram planejados não só
para reduzir custos, mas também para dar
mais conforto aos empregados: 63 coletores
solares aquecem 18 mil litros de água, usada
nas 150 duchas dos vestiários da obra. Se o
sol não aparece, três aquecedores movidos
a gás entram em ação para garantir banho
quente para os trabalhadores.
“A economia de energia elétrica é de 63%,
o que faz com que o investimento total se
pague em um ano e meio. Como a reforma
na refinaria deve levar três anos para ficar
pronta, vale a pena”, explica Edson Nascimento, engenheiro de vendas da divisão de
Benicce/Shutterstock
grandes obras
A construção de alojamentos deve seguir diretrizes do Ministério do Trabalho, mas as empreiteiras têm ido além, para fixar a mão de obra
Sue Smith/Shutterstock
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grandes obras
grandes obras | VidaBosch | 29
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J. Quendag/Shutterstock
Os abrigos
podem ser
feitos em
módulos, para
acompanhar
a oscilação
do número de
trabalhadores
ao longo
da obra
Segurança e economia
Os alojamentos são sempre a primeira coisa
a ser erguida em uma obra. Nesse serviço,
vários fatores devem ser levados em conta, como localização e tamanho. A missão
se torna mais difícil em construções urbanas, pois os espaços são escassos. Por isso,
muitas vezes setores da própria obra são
adaptados para a moradia dos empregados.
Os alojamentos são sempre a
primeira coisa a ser erguida em uma
obra. Fatores como localização e
tamanho precisam ser considerados
“Há casos em que, por falta de planejamento, o alojamento é construído em um
lugar que faz parte da obra e depois ele
acaba sendo demolido, o que gera atrasos
e custos extras. Para evitar isso, deve-se
fazer o layout do canteiro inteiro, já prevendo onde ficarão as áreas de vivência”,
recomenda Priori.
Uma alternativa recorrente é a instalação de abrigos em módulos, pois boa parte
das obras começa com poucos funcionários, atinge um pico de pessoal na metade do trabalho, e depois a quantidade de
trabalhadores volta a cair.
“Existem lugares em que se opta por
erguer as moradias conforme os trabalhos
avançam. Depois eles vão sendo desmontados aos poucos, acompanhando o ritmo da
obra. Isso economiza espaço e dinheiro”,
comenta o pesquisador da UFPE.
Ele destaca ainda outros detalhes a serem considerados. É recomendável que o
banheiro fique junto aos quartos. Já o alojamento não deve estar muito afastado da
obra, para evitar grandes deslocamentos
dos trabalhadores, nem muito colado, para
evitar acidentes. Para completar, enquanto em estados mais quentes, como os do
Nordeste, a preocupação está em refrescar
os ambientes, no Sul se buscam formas de
manter o espaço aquecido.
“Isso é importante, pois a saúde do trabalhador é um bem da empresa. Acaba sendo
mais economicamente vantajoso gastar com
coisas simples, como cobertores ou revestimento nas paredes, do que ver o funcionário perder dias de trabalho”, compara.
Seguindo essa tendência, cresce a preocupação com a segurança do pessoal. Hoje,
os alojamentos são mais reforçados, têm
extintores e sempre há alguém da brigada
de incêndio no local. “Antes morriam pessoas nessas áreas. Hoje isso é bem raro. As
empresas pensam primeiro na segurança,
e depois na obra em si”, finaliza Neves.
A Bosch na sua vida
Luz e água quente
Em uma grande obra, não basta construir uma “cidade” para abrigar os trabalhadores. Também é preciso pensar
em formas de prover o alojamento de
recursos básicos, como eletricidade e
água quente. O conforto dos empregados é fundamental – não só para eles,
como também para a melhoria da produtividade.
A Bosch fornece equipamentos modernos que atendem a demandas do setor.
O coletor solar SKN 3.0, por exemplo,
é usado para aquecer a água, que passa
pelo tubo de cobre interno do coletor
e depois é armazenada em um reservatório térmico para ser distribuída aos
chuveiros. O SKN 3.0 conta com 2,37
metros quadrados de área coletora, uma
capacidade de produção mensal de 210
kW/h e pode ser instalado em baterias
– quanto maior o número, maior a geração de água quente.
“Na reforma da refinaria de Paulínia
(SP), instalamos três baterias com 21
coletores cada”, declara Edson Nascimento, engenheiro de vendas da divisão
de termotecnologia da Bosch. “A grande
vantagem é que esse sistema usa o sol,
uma fonte de energia infinita, que não
emite gases e é sustentável. Mesmo com
tempo nublado ele é capaz de absorver
um pouco de energia”, destaca.
A eletricidade que abastece os alojamentos pode ser garantida por geradores movidos a diesel, com sistemas
de injeção da Bosch. Trata-se do Modular Common Rail System, cujo design – em módulos – permite adaptá-lo
facilmente a motores com diferentes
quantidades de cilindros (de quatro a
20). O equipamento, semelhante aos
Arquivo Bosch
termotecnologia da Bosch, empresa responsável pelo aquecimento da água na reforma da refinaria da região de Campinas.
Ao término da construção, toda estrutura pode ser desmontada e reutilizada em
outra obra. É algo vantajoso para a construtora, pois só terá de arcar com os custos
de instalação no próximo serviço – afinal,
os equipamentos já foram adquiridos.
“No caso de Paulínia, foram quase dois
meses para a montagem do sistema. Foi preciso, por exemplo, reforçar a estrutura dos
alojamentos para que eles comportassem
os coletores solares”, afirma o engenheiro
de vendas da Bosch.
utilizados em termelétricas em várias
partes do mundo, é capaz de fornecer
energia mesmo para alojamentos com
milhares de empregados.
brasil cresce
Abutyrin/Shutterstock
30 | VidaBosch |
O mapa da mina
Setor de mineração prepara investimentos de US$ 75 bilhões em cinco anos,
mas tem de enfrentar gargalos na logística e na capacitação
| Por Manuel Alves Filho
32 | VidaBosch |
brasil cresce
brasil cresce | VidaBosch | 33
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A mineração é
uma atividade
que envolve
riscos, por isso
as empresas
precisam
investir em
equipamentos
que garantam a
segurança dos
funcionários
E
nquanto alguns setores da economia
brasileira seguem com o freio de mão
acionado, à espera de melhores condições
da pista, o da mineração pressiona gradativamente o acelerador. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), entidade que
representa as empresas do segmento, prevê que os investimentos para o período de
2012 a 2016 alcancem US$ 75 bilhões – o
que, se confirmado, representará um novo
recorde, fazendo da atividade a responsável pela maior parte dos investimentos
privados no país.
Embora positivas, as cifras poderiam
ser maiores, não fossem alguns obstáculos
presentes no circuito. Conforme o mesmo
Ibram, faltam recursos humanos qualifi-
cados, conhecimento geológico e financiamento público, além de infraestrutura
e logística adequadas.
O Brasil conta, atualmente, com cerca
de 3 mil minas em operação, a maioria de
pequeno e médio porte, que extraem do
subsolo 72 substâncias. Destas, 23 são metálicas, 45 não metálicas e quatro, energéticas. O setor, que compreende as etapas de
geologia, mineração e transformação, participa com 4,2% do Produto Interno Bruto
(PIB), gera 1 milhão de empregos diretos e
indiretos e responde por 20% do total das
exportações brasileiras, segundo o Plano
Nacional de Mineração 2030, do Ministério
das Minas e Energia.
O mesmo documento avalia que o vi-
gor está longe de esgotar-se. As projeções
oficiais indicam que a produção de minerais e de bens neles baseados deverá
crescer entre três e cinco vezes até 2030,
para atender tanto ao mercado interno
quanto ao externo. “A crescente demanda
pelo minério de ferro, provocada principalmente pelos países asiáticos, deflagrou
uma corrida a jazidas dessa substância em
diversas regiões brasileiras. As próprias
siderúrgicas estão se verticalizando no
sentindo inverso, ou seja, abrindo empresas de mineração”, afirma Iran Ferreira
Machado, especialista em política e em
economia mineral e professor colaborador voluntário do Instituto de Geociências
da Unicamp.
A expansão se dará por meio de novos
empreendimentos, como a mina Carajás
S11D, prospectada pela Vale no Pará. Terá
capacidade para extrair, numa primeira
fase, 90 milhões de toneladas de minério
de ferro ao ano. “A empresa vai substituir
os gigantescos caminhões fora de estrada,
com capacidade para transportar até 300
toneladas, por sistemas que utilizam correia
transportadora, o que irá trazer benefícios
econômicos e ambientais”, aponta Machado. O investimento previsto na operação
é da ordem de R$ 20 bilhões.
Embora o ferro desperte grande interesse, outros minerais também vêm atraindo a atenção dos investidores, como cobre, níquel, zinco e alumínio. “Uma área
igualmente prioritária é a de extração de
Terras-Raras, um conjunto de 17 elementos
químicos de importância para as indústrias
de alta tecnologia, notadamente as fabricantes de tablets, smartphones, televisores
HD, aparelhos de ressonância magnética,
carros híbridos, catalisadores para refino
de petróleo e instrumentos para a indústria
da defesa. Há perspectiva da abertura de
algumas minas no médio prazo”, informa
o professor da Unicamp.
Outra área que cresce em relevância é
a geologia marinha, uma nova fronteira
para a pesquisa de recursos minerais ou
energéticos fora do continente. Há indicações, por exemplo, de rochas com concentrações de óxidos de ferro e de manga-
nês, níquel, cobre e cobalto no substrato
do oceano Atlântico. “Essa exploração poderá se tornar economicamente viável no
médio e longo prazos. Mas ainda existem
questões legais a serem resolvidas entre
as nações, de modo a definir os direitos
dos Estados nacionais e das organizações
privadas interessadas nesse tipo de exploração”, adverte Machado.
Desafios
O setor tem, de fato, expectativas promissoras, mas enfrenta gargalos nada triviais.
“O país ainda se recente de recursos humanos qualificados, pesquisa mineral, conhecimento geológico e financiamento público para projetos na área. Outra questão
brasil cresce
brasil cresce | VidaBosch | 35
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Novo marco regulatório para o
segmento prevê fim das concessões
por tempo indeterminado e criação
de agência especializada
Hoje, o transporte do minério da mina para o ponto de escoamento é todo automatizado, daí a importância de contar com máquinas
importante a ser superada é a dificuldade
para a obtenção de licenças ambientais”,
cita o diretor de Assuntos Ambientais do
Ibram, Marcelo Ribeiro Tunes.
Um dos obstáculos é o já conhecido
déficit brasileiro de engenheiros – com o
agravante, aqui, de que a engenharia de
minas é ainda menos procurada pelos estudantes, pois não querem trabalhar nas
áreas remotas onde frequentemente estão
as jazidas. “O mesmo ocorre com mecânicos, eletricistas, operadores de máquinas e
topógrafos”, aponta o docente da Unicamp.
As empresas chegam a levar meses para
preencher algumas vagas, mesmo oferecendo salários atraentes (um engenheiro
de minas sênior, por exemplo, pode ganhar
de R$ 8 mil a R$ 30 mil).
Na logística, o entrave é a estrutura para
escoamento da produção. As grandes empresas até têm rentabilidade suficiente para
bancar suas próprias estradas ou ferrovias
– vide o caso da Vale. Já as de menor porte
O setor enfrenta dois grandes
obstáculos: a falta de engenheiros e
a carência de infraestrutura no país
correm o risco de não se viabilizar, pois
não dispõem de recursos para implantar
ou mesmo melhorar benfeitorias.
É frequente, também, que as companhias tenham de bancar outras estruturas.
“A mineração é uma atividade pontual, o
governo não constrói infraestrutura para
projetos médios ou pequenos, principalmente porque o retorno social é limitado”,
declara Machado.
Para o abastecimento de energia, segundo ele, pequenas usinas às vezes aproveitam o potencial hidráulico por ventura
existente no local. “Mas, quando necessário, as minas em locais remotos são obrigadas a construir usinas termelétricas para
o seu próprio consumo”, complementa o
pesquisador.
No aquecimento de água, uma solução
recorrente é instalar caldeiras que atendam
as necessidades da operação da mina, da
fábrica e do núcleo residencial.
Outro ponto complexo numa operação
de mina, sobretudo quando subterrânea,
é a segurança do empreendimento e dos
que nele trabalham. Em alguns casos, a exploração ocorre a mais de 700 metros de
profundidade – o que já deixa claro a necessidade de padrões rigorosos, procedimentos precisos e equipamentos eficientes.
Boa parte das regras está listada num
documento chamado Normas Reguladoras de Mineração, editado em 2002. Ele
estabelece obrigações de proteção em etapas e áreas tão diversas como trânsito de
trabalhadores, transporte de carga, sistema de ventilação, sinalização, saídas de
emergência, planos de prevenção contra
incêndio, explosão e inundação, sistemas
de comunicação e iluminação. As normas
padronizam até as instalações auxiliares,
eficientes e confiáveis
como carpintaria e oficina de soldagem.
O documento determina, por exemplo,
que o empreendedor mantenha, entre seus
funcionários, profissionais qualificados
para “promover a permanente melhoria
das condições de segurança do empreendimento e da saúde dos trabalhadores”.
A essas dificuldades soma-se a senilidade das regras para o setor, que datam de
1967. A reformulação do Marco Regulatório – que deveria ter ocorrido em 2010, mas
cujo projeto de lei foi encaminhado pelo
governo ao Congresso Nacional somente
em 18 de junho deste ano – criou incertezas
nos investidores, tanto brasileiros quanto
estrangeiros. Apesar da demora, o diretor-presidente do Ibram, José Fernando
Coura, garante que a entidade recebeu a
proposta com tranquilidade. “Temas que
o Ibram debateu durante todo esse tempo
com o governo estão contemplados na matéria, como a segurança jurídica e respeito
aos contratos”, disse ele no lançamento
da proposta. “O Ibram irá trabalhar fortemente junto ao Congresso para que o
novo marco seja bom para as empresas e
para os municípios.”
O projeto prevê que o governo passe a
definir as minas a serem exploradas e as
ofereça à iniciativa privada por meio de
licitações. As concessões não seriam mais
por tempo indeterminado, como acontece hoje – passariam a valer por 35 anos.
Além disso, as concessionárias passariam
a ser fiscalizadas por uma agência reguladora e poderiam perder suas licenças
de exploração.
Um ponto a ser enfrentado pela legislação, defende Machado, é a burocracia
dos órgãos que atuam no setor mineral,
considerada por ele rígida e lenta. Entre
93 produtores mundiais, o Brasil ocupa o
57º lugar em atratividade para o investidor privado estrangeiro, segundo dados
do Instituto Fraser, sediado no Canadá.
Segundo o professor da Unicamp, o país
recebe apenas 3% dos investimentos mundiais em prospecção. “O Brasil está subavaliado diante do potencial do seu subsolo,
que é muito promissor.”
A Bosch na sua vida
Pacote completo
São muitos os desafios que a mineração
terá de enfrentar para seguir crescendo
em ritmo forte nos próximos anos. Para
ajudar o setor a superar esses obstáculos,
a Bosch oferece uma linha de produtos
e soluções que permite gerenciar com
eficiência e melhorar a produtividade das
diversas operações envolvidas no processo de mineração.
As ferramentas elétricas são ideais para
atuar nas condições de trabalho mais extremas e atender às mais altas expectativas.
Os sistemas de segurança da Bosch ajudam
a monitorar todas as atividades eficientemente, possibilitando que emergências e
ameaças como risco de incêndio sejam
imediatamente detectadas e a área evacuada de forma rápida e controlada por
meio de uma sistema de sonorização que
coordena a operação por voz. Para um
controle de processos e do perímetro,
as câmeras da Bosch contam com uma
tecnologia de alta definição de imagem
que funciona mesmo em condições adversas, como o ambiente de uma mina,
onde muitas vezes há pouca iluminação
e muita poeira. Tudo isso é controlado a
partir de uma plataforma única e integrada.
Uma planta de mineração também precisa
de soluções sustentáveis para a geração
de água quente – seja para os processos
de extração de alguns minérios, como o
cobre; seja para os alojamentos de trabalhadores. Nesse campo a Bosch oferece
tecnologias eficientes com a possibilidade de instalação modular, o que permite combinar os sistemas solar e a gás.
Arquivo Bosch
34 | VidaBosch |
No transporte de minérios, as soluções
da Bosch Rexroth são voltadas para grandes projetos de automação e controle.
Esses mecanismos fazem, por exemplo,
com que os descarregadores dos navios
trabalhem na velocidade certa quando
estão transportando os materiais, ou que
as esteiras tenham partidas e paradas
suaves, para evitar perdas de material
durante o trajeto.
atitude cidadã
| Por Frederico Kling
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36 | VidaBosch |
Do Jeca Tatu à
profissionalização
A filantropia empresarial, que no Brasil começou a deslanchar há quase
cem anos a partir de uma campanha estrelada pelo personagem de Monteiro
Lobato, hoje investe R$ 2 bilhões por ano na área social
I
nventar personagens famosos como
Emília, Narizinho e Visconde de Sabugosa já é um feito e tanto. Mas, como se
sabe, o paulista José Bento Renato Monteiro
Lobato foi muito além desse trio memorável. Nascido em Taubaté, o escritor conseguiu proezas ainda maiores com outra
de suas criações, o Jeca Tatu: o cativante
caipira entrou para o dicionário (como sinônimo, justamente, de “caipira”) e ainda
estrelou uma campanha que, para alguns
especialistas, marca o início da filantropia
empresarial no Brasil.
Era o início do século 20. Uma doença
chamada ancilostomose (conhecida popularmente como amarelão) causava comoção nacional. Os mais alarmistas viam
nela uma das causas do atraso do Brasil:
dizia-se que seus sintomas iniciais (cansaço, fraqueza, dificuldade de raciocínio)
afetavam a saúde de muitos brasileiros e,
por tabela, a economia. Foi nesse contexto
que o escritor usou seu personagem matuto (que aparecera no conto “Urupês” em
1918) para disseminar informações sobre
a enfermidade. Chegou a fazer uma versão
mirim, o Jeca Tatuzinho, destaque maior
num almanaque que visava divulgar o ciclo
da verminose, seus sintomas e as principais
medidas de prevenção. O almanaque fazia
também propaganda do Biotônico Fontoura,
um fortificante que, alegava-se, combatia
o amarelão. A publicação, parceria entre
Lobato e o laboratório Fontoura, chegou
a ter tiragem de 1 milhão de exemplares.
O tal biotônico é vendido até hoje, mas
muita coisa mudou desde então. O investimento das empresas na área social cresceu, se profissionalizou e se diversificou.
Um levantamento do Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas (Gife), que reúne
140 entidades empresariais, mostrou que
100 de seus associados investiram, em 2011,
cerca de R$ 2 bilhões em filantropia. A cifra é semelhante à encontrada por outra
pesquisa, o Benchmarking do Investimento Social Corporativo (Bisc), que analisou
200 empresas. Em porcentagem do lucro,
as corporações no Brasil investem até mais
do que nos Estados Unidos.
Os dois estudos coincidem também ao
apontar uma tendência de crescimento nos
últimos anos, apesar da crise econômica de
2008 – que derrubou os valores investidos
em 2009, como indicam ambos os trabalhos. “Na ocasião, a queda foi de cerca de
5%, equivalente a cortes em outros setores
das empresas, o que mostra que a ação social está integrada à estratégia corporativa
e não é apenas a gordura que se corta em
primeiro lugar”, comenta o secretário-geral
do Gife, André Degenszajn.
Em 2011, segundo o Bisc, as empresas
no Brasil investiram 1,18% de seu lucro em
ações sociais – mais que o 0,95% registrado
pelas corporações dos Estados Unidos, onde
a filantropia está bem consolidada. A área
mais prestigiada é a educação. Na pesquisa do Gife, 86% das companhias disseram
que trabalham com projetos relacionados
a esse tema; no outro estudo, foram 35%.
“A educação é um grande problema e tem
impacto no desenvolvimento do país”, diz a
coordenadora do Bisc, Anna Maria Peliano.
Ações e institutos
As diferenças principais entre o quadro
atual e o do almanaque com o Jeca Tatuzinho são fruto principalmente de mudanças
que surgiram na década de 1990. “Nessa
época, marcada pela redemocratização,
movimentos como o do Betinho chamaram
as empresas a assumirem responsabilidades sociais”, comenta Anna Maria, fazendo
referência ao sociólogo Herbert de Souza
e ao seu programa Ação da Cidadania, lançado em 1993 com o objetivo de mobilizar
a sociedade para o combate da miséria no
Brasil. “Houve um reconhecimento de que
a empresa é parte de uma sociedade e deve
atitude cidadã
atitude cidadã | VidaBosch | 39
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ficiou em torno de 1 milhão de pessoas,
entre crianças, adolescentes, professores
e educadores. A entidade conta com cerca
de R$ 20 milhões por ano, provenientes de
um fundo de investimento.
Mais recente (de 2005), o Instituto Gerdau
também atua em educação, mas trabalha
ainda com mobilização solidária e qualidade de gestão. Foi criado para aprimorar
as ações sociais da multinacional brasileira. “Foi um importante passo para a consolidação da cultura de responsabilidade
social da companhia”, afirma o diretor da
entidade, José Paulo Soares Martins. Com
um orçamento de R$ 52 milhões em 2012, a
instituição atualmente apoia mais de 900
iniciativas em 14 países, seja dando suporte
ao empreendedorismo, seja participando
de grandes iniciativas coletivas setoriais,
como o Movimento Todos pela Educação.
Incentivos fiscais
Um aspecto interessante da expansão do
investimento social corporativo ao longo das últimas décadas é que ela se deu a
despeito de os incentivos tributários para
a doação serem irrisórios no Brasil. Aliás,
há até desincentivo: de acordo com a le-
desempenhar papel no desenvolvimento
do país”, completa Degenszajn. Ao mesmo
tempo, a abertura para o mercado externo exigiu que as empresas brasileiras se
adaptassem a parâmetros internacionais
de responsabilidade social.
“Entre 1995 e 2005, o terceiro setor
triplica de tamanho e a responsabilidade
social ganha força”, afirma Degenszajn. A
própria entidade que ele dirige, o Gife, é
um exemplo disso. Foi criada em 1995 por
25 organizações, como um grupo informal
para troca de experiências, e agora atua em
frentes mais amplas, como relações com
o governo e a construção de um ambiente
regulatório para o terceiro setor. A idade
média dos associados é um indicativo da
nova ação social das empresas: 62% deles foram fundados nos últimos 20 anos.
O impulso ajudou a profissionalizar as
organizações da sociedade civil, na medida
em que a injeção de recursos privados frequentemente vem acompanhada de pres-
sões ou orientações para a implantação
de estratégias empresariais de gestão e
mensuração de resultados.
Nesse período, várias empresas que já
atuavam na área social passaram a formalizar suas ações. A C&A, por exemplo, fundou seu instituto em 1991, apesar de estar
no país desde 1976. “Antes, tínhamos uma
atuação mais difusa, com aporte financeiro em vários temas, mas sem proposta”,
lembra Paulo Castro, diretor-executivo do
Instituto C&A, cuja fundação respondeu
a um desejo de construir uma política de
investimento e ganhar maior envergadura
em suas ações.
A entidade centra seu foco em educação,
por meio do apoio a iniciativas de outras
organizações. “Nós temos dois mecanismos de seleção. Prioritariamente, abrimos
editais públicos para que as entidades submetam projetos, mas, por vezes, o instituto
procura oportunidades”, explica Castro.
Desde sua fundação, a organização bene-
A filantropia corporativa ganhou
força na década de 1990, quando
as empresas reconheceram que
são parte de uma sociedade e
devem desempenhar um papel no
desenvolvimento do país
gislação, sobre os valores doados incide o
Imposto sobre Transmissão “Causa Mortis” e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD). O tamanho da mordida varia
de estado para estado – em São Paulo, por
exemplo, é de 4%.
Mas, como Jeca Tatu, o terceiro setor
brasileiro não precisaria de um fortificante?
Há controvérsias. A ação social das empresas tem se mantido robusta com recursos
próprios. O Benchmarking do Investimento
Social Corporativo mostra que apenas 23%
dos R$ 2 bilhões foram investidos utilizando-se incentivos fiscais.
Nada mais natural, diria Castro, do Instituto C&A. A atuação empresarial, argumenta, implica a doação voluntária de recursos
privados. O incentivo é, no fim das contas,
uma contribuição com chapéu alheio (o
dinheiro público). “Quando a empresa só
trabalha com recursos de renúncia fiscal,
não é investimento próprio.”
Ainda assim, Degenszajn, do Gife, avalia
que a legislação poderia mudar de modo
a incentivar a doação de pessoas físicas.
“Nos Estados Unidos, onde há isenção para
doação, 70% dos recursos vêm de indivíduos”, justifica.
De qualquer modo, não é apenas o terceiro setor que se beneficia da ação social
privada. “Há um aprendizado mútuo, pois
as organizações têm capacidade de mobilização forte, produzem muitas lideranças”,
aponta Castro. O investimento empresarial
melhora a imagem da corporação (esse é,
em muitos casos, um objetivo primordial)
e, sugere Degenszajn, a atuação dos empregados. “Os funcionários ficam mais motivados e engajados na medida em que reconhecem o valor da empresa na sociedade”.
Já na década de 20 o almanaque escrito por Monteiro Lobato percebia isso. “Se
forem fazendeiros”, dizia o texto, voltado
à garotada da época, “procurem curar os
camaradas. Além de ser para eles um grande benefício, é para você um alto negócio.
Você verá o trabalho dessa gente produzir
três vezes mais”.
A Bosch na sua vida
De terrenos a computadores
A atuação da Bosch na área social brasileira é anterior ao boom do terceiro setor do final do século 20. Já em 1971 a
empresa criou a Associação Beneficente
Robert Bosch, transformada, em 2004,
no Instituto Robert Bosch. A entidade
faz trabalhos em cultura, saúde, meio
ambiente e educação.
O primeiro grande projeto apoiado no
Brasil foi o Centro Médico, hospital de
Campinas (SP) inaugurado em 1973. O
Instituto custeou a construção e contribuiu, nas décadas seguintes, para
modernizá-lo e ampliá-lo.
A ação na área de saúde incluiu doação de terreno e de US$ 1 milhão para
as obras do Centro Infantil Boldrini, de
Campinas. Inaugurado em 1986, oferece
atendimento médico a crianças e adolescentes portadores de doenças sanguíneas
e câncer, além de desenvolver atividades
de ensino e pesquisa. O Instituto doou
ainda R$ 500 mil ao Boldrini, em 2004,
para construção de um centro de radioterapia e medicina nuclear.
Outra organização beneficiada é a creche
Irmã Ruth – Firmacasa, que oferece educação infantil e oficinas com atividades
como informática, ginástica e música para
460 crianças e adolescentes. O trabalho
conjunto teve início em 2005, com mudanças estruturais, como a doação de
um terreno vizinho à Firmacasa, onde foi
criado um espaço chamado Canto do Sol,
para atendimento de crianças entre 6 e
15 anos. O instituto deu computadores,
nos quais os jovens aprendem informáti-
ca. O resultado? “Professores das escolas
do entorno relatam que as crianças do
Canto do Sol têm desempenho melhor
do que as outras”, diz Irmã Helene, presidente da entidade.
Já o apoio ao Projeto Gente Nova (Progen), criado em 1984, começou com o
Instituto Robert Bosch chamando a entidade social para instalarem, na periferia
de Campinas, a iniciativa Peça por Peça.
“Buscamos potencializar as duas escolas
locais”, diz Isabel Cristina, coordenadora
geral do Progen.
No Peça por Peça, que beneficia 2 mil
alunos, os professores apresentam projetos que, se selecionados, têm apoio do
instituto. Foi assim que, por exemplo, o
laboratório de química de uma das escolas recebeu equipamentos.
Arquivo Bosch
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aquilo deu nisso
| Por Frederico Kling
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40 | VidaBosch |
A arte de parar
O primeiro teste com o primeiro carro da história resultou no primeiro acidente
por falta de freios. A indústria aprendeu a lição a tal ponto que hoje faz dispositivos
que brecam os carros automaticamente
E
m 1771, o engenheiro militar francês
Nicolas-Joseph Cugnot criou um veículo de três rodas movido a vapor. Sua
invenção, concebida para carregar armas,
pesava duas toneladas e meia e era dotada de um inédito sistema de autopropulsão. Alguns especialistas o consideram o
primeiro carro da história – que, em seu
primeiro teste, envolveu-se... no primei-
ro acidente automobilístico registrado.
Inicialmente o veículo andou bem, mas,
sem freios, chocou-se contra um muro,
derrubando-o.
A invenção de Cugnot atualmente repousa no Musée des Arts et Métiers, em
Paris. Mas, como se sabe, deu início a uma
das indústrias mais poderosas e sofisticadas do planeta. Graças ao fatídico muro,
aprendeu-se que não basta fazer um bólido
andar, é preciso também fazê-lo parar. A
necessidade foi tão bem compreendida
que, hoje, há freios que funcionam automaticamente em caso de perigo.
Até chegar ao estágio atual, porém,
o dispositivo passou por várias fases. O
material de que é feito, por exemplo, mudou bastante. Os primeiros freios eram
42 | VidaBosch |
aquilo deu nisso
aquilo deu nisso | VidaBosch | 43
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Os freios a
tambor e a
disco seguem
o mesmo
princípio:
fazem pressão
sobre as rodas
e detêm o
veículo
sapatas (peças que provocam atrito) de
madeira. Depois foram usados o couro e
um mineral chamado asbesto, segundo o
professor de engenharia mecânica Luiz
Carlos Gertz, da Universidade Luterana do
Brasil, em Canoas, Rio Grande do Sul. Até
cabelos humanos foram empregados em
alguns sistemas, relata Omar Maluf, doutor
em engenharia de materiais pela Escola de
Engenharia de São Carlos, da USP.
A primeira grande evolução veio, coincidentemente, de outro francês. Em 1902,
Louis Renault criou o freio a tambor, que
consiste, basicamente, num disco que sofre
o atrito de uma sapata, parando o veículo.
Sua vantagem é que todo o sistema é acondicionado dentro de um compartimento
– um dos grandes problemas dos modelos anteriores é que eles ficavam expostos
ao ambiente, perdendo, assim, eficiência.
Uma desvantagem é que é cheio de peças,
o que dificulta a manutenção. Outra é que,
por ser fechado, tem mais dificuldade de
dissipar o calor.
Este último ponto é um grande problema. Afinal, basicamente, o que os freios
fazem é transformar a energia cinética do
movimento do carro em energia térmica,
esquentando o sistema – em casos mais extremos, a temperatura pode atingir 600°C.
É preciso que ele perca rapidamente esse
calor para funcionar eficientemente. “Uma
das necessidades mais importantes do freio
é que aguente bem a fadiga térmica, pois
ele basicamente aquece e esfria, aquece e
esfria, e não pode se deformar no processo”, explica o professor Dirceu Spinelli, do
Departamento de Engenharia de Materiais
da USP de São Carlos.
O freio a disco cumpre bem esse papel.
Idealizado em meados do século 19 para
bicicletas, foi apenas com a descoberta de
novos materiais, na década de 1950, que se
tornou mais eficiente do que o de tambor.
O componente mais utilizado nos freios a
disco a partir de então é o ferro fundido
cinzento, composto basicamente por carbono, silício e manganês. “Ele dissipa bem
o calor, tem boa resistência à vibração e
representa um bom custo-benefício”, diz
Omar Maluf.
O princípio é o mesmo do freio a tambor: pinças que exercem pressão sobre o
disco. Mas, por ser aberto e por ter manutenção mais simples, é mais leve e troca
mais facilmente calor com o ambiente. A
maioria dos carros modernos usa o disco
nas rodas da frente – onde a pressão da
frenagem é maior – e o tambor atrás, onde
a exigência é menor.
Inspiração em trens e aviões
Se o freio a disco veio da bicicleta, foram
os trens e os aviões que inspiram outra revolução na área, o ABS. Os primeiros insights vieram da análise do comportamento
dos trens durante freadas de emergência.
Os projetistas concluíram que não faltava
força ao sistema, ao contrário: o excesso
travava as rodas e prejudicava a estabilidade dos comboios. Em 1908, o britânico J.
E. Francis apresentou um dispositivo para
Um sistema da Bosch detecta
obstáculos e prepara o veículo para
frear. Se o motorista não agir, um
dispositivo automático para o carro
driblar essa dificuldade. Em 1929, o aviador francês Gabriel Voisin criou um modelo que evitava o travamento em aviões.
Vários protótipos foram desenvolvidos
depois da 2ª Guerra Mundial, instalados
em motos e carros de testes, mas o sistema
ainda era muito caro. Foi na década de 1970
que a Bosch apresentou uma alternativa
economicamente viável, o AntiblockierBremssystem. A empresa apostou na fabricação de um sistema gerenciado por
módulo eletrônico, que funcionava como
um computador, com leitura e processamento de informações.
“O ABS trava e destrava a roda. Quando
se freia sem ele, os pneus deixam um risco
no chão, com ele, deixam pontilhados”,
explica Gertz. O sistema faz também com
que as rodas brequem independentemente, controlando a frenagem em cada uma.
Por isso, o carro não derrapa, por exemplo, quando passa em uma poça de óleo.
“A grande vantagem do ABS é o maior controle do veículo quando se freia”, destaca
o professor de engenharia mecânica.
Freio sem motorista
Se os freios ABS têm ajudado a diminuir
muito os acidentes decorrentes de derrapagens, faltava algo para evitar outro tipo
comum de colisão: as batidas por distração.
Muitas vezes, os motoristas não pisam no
freio, ou pisam de modo insuficiente. Um
novo sistema, também desenvolvido pela
Bosch e lançado em 2010, age justamente nesse tipo de situação. É o Predictive
Emergency Breaking System.
“O sistema tem um radar e uma câmera
que detectam obstáculos à frente e retornam
a informação para o veículo”, afirma Carlo
Gibran, gerente de vendas e marketing da
divisão de chassis da Bosch. O equipamento
percebe os objetos e começa a preparar o
carro para frear. Se o motorista não pisar
no freio, o sistema toma as rédeas e para o
carro automaticamente. Da mesma forma,
se o condutor não pisa suficientemente
fundo no pedal, a nova tecnologia fornece a força restante para deter o veículo.
Gibran explica que o sistema é calibrado
de acordo com o ambiente em que o carro
anda. Assim, um automóvel que vai circular
em um lugar com neve vai ter regulagem
diferente de um que não enfrenta esse tipo de condição. O Predictive Emergency
Breaking System pode, inclusive, ser associado ao piloto automático de um carro,
tecnologia que mantém o veículo em uma
velocidade pré-determinada. “Com isso, o
veículo se adapta à velocidade do trânsito,
anda e para sozinho, e o motorista só tem
que se preocupar com o volante.”
A tecnologia está disponível para automóveis top, como modelos da Audi e da
BMW. Gibran, no entanto, acredita que uma
mudança no perfil dos motoristas no Brasil
vai fazer com que o sistema chegue logo
mais às montadoras do país. “O consumidor brasileiro não se contenta mais com
tecnologia defasada, está cada vez mais
exigente.” A tendência, portanto, é que,
logo mais, carros de fabricação nacional
passem a incorporar o dispositivo.
Futuro
Se carros que param sozinhos parecem
coisa do futuro, Gertz faz apostas ainda
mais ousadas para os próximos anos. “A
grande mudança vai ser o veículo elétrico, que vai gerar energia quando freia”,
prevê o professor. É o chamado sistema
de frenagem regenerativa, que transforma a energia cinética em energia elétrica,
alimentando uma bateria.
Carros de Fórmula-1 já utilizam esse tipo de tecnologia. Batizada de Kinect Energy Recovery System (KERS), ela capta a
energia da frenagem e a transfere para um
capacitor, aumentando a potência do motor. No carro elétrico, seria como se o freio
produzisse o combustível do automóvel.
É mais um sinal de que, se a roda foi
uma das grandes invenções da humanidade, o dispositivo que a faz parar não tem
ficado atrás.
saudável e gostoso
| Por Ricardo Meirelles
Saudável
o ano todo
A lichia, muito rica em vitamina C e potássio,
virou fruta de Natal e Ano-Novo no Brasil.
Mas não precisa ser assim
Frank Oppermann/Shutterstock
44 | VidaBosch |
A
saudável e gostoso
lichia tem cara de fim de ano: sua
casca traz o vermelho tão comum nas
decorações natalinas e a superfície rugosa de outros ingredientes típicos da ceia,
como nozes e damasco seco. A lichia tem
gosto de fim de ano: um agridoce que, embora com sabor um tanto diverso, aparece
também na farofa, na salada ou no molho
do peru de Natal e Réveillon. E a lichia tem
preço de fim de ano – não é raro ser vendida a mais de R$ 70 o quilo. Claro, diriam os
mais apressadinhos: afinal, a lichia é uma
fruta de fim de ano. Sim, no Brasil, é. Mas
não precisa ser.
Na China, onde surgiram, essas frutinhas
chegam às prateleiras principalmente no
meio do ano. Na Austrália, de novembro a
março. No Brasil é que predomina a colheita nas primeiras semanas de dezembro.
Nessa época fica carregada a maior parte
(entre 70% e 80%) das lichieiras fincadas
em território brasileiro, quase todas elas
da variedade bengal.
Se vem a ser tão curto o período em que
a lichia está disponível para o consumidor, é porque pouco mudou desde que essa
prima do guaraná aportou por aqui, nas
mãos do oficial da marinha Luís de Abreu
Vieira e Silva.
Preso no leste da África, nas Ilhas Maurício (então uma colônia da França) após o
navio em que estava ter naufragado, esse
português obteve permissão para visitar
canteiros em que os franceses testavam a
introdução de novas culturas nos trópicos.
Como relatam os engenheiros agrônomos
João de Paula Araújo e Ângelo Márcio Silva em artigo publicado na revista Ciência
e Cultura, da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência, Vieira e Silva usou sua
lábia para adquirir (alguns pesquisadores
preferem dizer “obter clandestinamente”)
diversas espécies – de cravo-da-índia a jaca,
passando por palmeira-imperial e... lichia.
A Coroa portuguesa pagou o resgate de
seus súditos que estavam na ilha e os levou
ao Brasil – inclusive Vieira e Silva, inclusive
suas mudas e sementes. No Rio de Janeiro, em 1809, o navegador doou o material
a D. João 6º, que mandou plantar tudo no
Real Horto, hoje Jardim Botânico. Entre as
mudas que vingaram estava a de lichieira,
uma planta que chega a atingir 12 metros de
saudável e gostoso | VidaBosch | 47
A lichia contém mais vitamina C
que a laranja e o limão, e é rica em
potássio. Por isso seu consumo
ajuda a bloquear os radicais livres e
a manter o equilíbrio do pH do corpo
altura e produz ramos voltados para baixo,
com as frutas próximas umas das outras,
como nos cachos. De modo que, vista de
longe, carregada de pontos vermelhos ou
rosados, ela pode até lembrar uma... árvore de Natal.
Ainda que a pequena epopeia de Vieira
e Silva tenha ocorrido há mais de 200 anos,
durante muito tempo a lichia permaneceu
desconhecida no Brasil. “Comercialmente, ela começou a ser plantada nas últimas
duas décadas do século 20”, conta o agrônomo Juan Aguila, professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com
doutorado sobre a fruta chinesa.
Hoje, a cultura ocupa cerca de 2 mil hectares no país, estima o pesquisador. Quase
nada, em comparação à manga, para citar
uma espécie que também veio na nau de
Vieira e Silva: 76 mil hectares, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São Paulo é o maior estado
produtor, à frente de Minas Gerais e Paraná.
A lenta disseminação da lichia está em
parte ligada às características de sua semente: ela perde qualidade rapidamente.
“Nas condições brasileiras, em menos de
uma semana”, aponta Aguila. Ao contrário do que pode parecer, o clima e o solo
brasileiros, sobretudo em São Paulo e Minas, são propícios à produção dessa fruta.
O que é preciso, avaliam especialistas, é
oferecer mais assistência técnica aos agricultores, desenvolver melhores técnicas
de conservação e, destaca o professor da
Unipampa, introduzir variedades já existentes em outros países – o que ampliaria a
colheita em outras épocas do ano. Há também pesquisas no Brasil sobre tecnologias
de armazenamento que possam ampliar o
tempo de conservação da fruta e, portanto,
seu período de comercialização.
Saudável frescor
Seria uma oportunidade para os brasileiros
provarem com mais frequência essa iguaria de polpa gelatinosa, de um branco qua-
se transparente e sabor suave, levemente
azedo. “Seu frescor é a característica mais
marcante”, avalia o chef Tsuyoshi Murakami, do restaurante paulistano Kinoshita.
O ganho não seria só de sabor, mas,
possivelmente, de saúde. A lichia contém
mais vitamina C que a laranja e o limão, por
exemplo, o que significa que tem atividade
antioxidante – ajuda a bloquear os radicais
livres, substâncias que podem prejudicar
o DNA, enzimas, proteínas e lipídeos das
células. “Alimentos fontes de antioxidantes,
quando utilizados regularmente na dieta,
ajudam a reduzir o risco de doenças crônicas
não transmissíveis, como doenças cardiovasculares e câncer”, observa a farmacêutica e nutricionista Lys Mary, professora
da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. A vitamina C, destaca ela, também
é importante na síntese do colágeno, uma
proteína que reforça cartilagens, ossos,
dentes, pele e vasos sanguíneos.
É uma fruta também abundante em
potássio (sete lichias têm a mesma quantidade de potássio que uma banana), um
mineral que desempenha ação relevante
em atividades neuromusculares, na transmissão entre os nervos, na contração dos
músculos, na liberação de insulina pelo
pâncreas e na manutenção do equilíbrio
do pH do organismo.
A falta desse elemento, aponta Lys, pode
acarretar problemas de ritmo cardíaco e
distúrbios como cãibras e paralisias. “Uma
das causas da hipertensão arterial é o desequilíbrio entre sódio e potássio. Assim,
o consumo regular de alimentos ricos em
potássio tem efeito benéfico no controle
da pressão arterial”, afirma a professora.
“Uma dieta deficiente em potássio pode
levar a sintomas como fadiga e fraqueza
muscular”, complementa.
Quase sempre se come a lichia in natura – que é mesmo o melhor jeito, diz Murakami. Mas não é preciso se contentar
com a fruta sozinha. O chef do restaurante
Kinoshita passou para os leitores de VidaBosch duas receitas que a mesclam com
elementos bem diversos – uma com pepino,
outra com chocolate. São uma entrada e
uma sobremesa. Saiba nas páginas ao lado
como fazê-las – de preferência, não só na
ceia de fim de ano.
Studio Oz
46 | VidaBosch |
Lychee Dream (Lichia recheada com chocolate branco)
Rendimento: seis porções | Tempo de preparo: 15 minutos
Ingredientes
100 g de chocolate branco belga
100 ml de creme de leite fresco
10 lichias, sem casca e sementes
Modo de preparo
Em banho-maria, aqueça o creme de leite a 75 oC e acrescente o chocolate
branco, mexendo sempre até adquirir a consistência desejada (isso também
pode ser feito no micro-ondas, suspendendo o aquecimento periodicamente
para verificar a consistência). Retire do fogo e leve à geladeira. Após gelar o
chocolate, insira-o na lichia e sirva gelado.
saudável e gostoso
Studio Oz
48 | VidaBosch |
Lychee no Sunomono (Sunomono de lichias e molho ponzu)
Rendimento: duas porções | Tempo de preparo: 20 minutos
Molho ponzu
Sumo de 5 limões-sicilianos
Sumo de 6 laranjas-limas maduras
100 ml de shoyu japonês suave
1 trouxinha de katsuobushi
1 folha de alga kombu
Modo de preparo
Tire fatias finas do pepino e deixe-as 3 minutos no sal para desidratar. Lave e
retire o sal. Escorra o excesso de água pressionando as fatias levemente com
as mãos. Reserve.
Descasque o nabo, faça, no centro dele, uma pequena incisão e insira com
cuidado a pimenta. Em seguida, rale em ralador fino e escorra o excesso de
água. Você estará, então, com uma preparação chamada momiji oroshi
(nabo ralado com pimenta). Fatie o limão bem fininho.
Molho ponzu Misture todos os ingredientes (encontráveis em lojas de produtos
orientais) e deixe descansar de um dia para o outro na geladeira. Antes de usar a
mistura, retire a alga e a trouxinha de katsuobushi.
Montagem Para finalização, coloque um montinho do pepino e, por cima,
uma colher de café de momiji oroshi. Ao lado, disponha as lichias em torre,
decore com o limão, as flores e a cebolete. Regue o molho gelado ao lado da
montagem. Para comer, leve tudo junto à boca.
Receitas de Tsuyoshi Murakami Restaurante Kinoshita - Rua Jacques Félix, 405 - Vila Nova Conceição - São Paulo - (11) 3849-6940
destaque para colecionar
Ingredientes
6 lichias frescas, sem casca nem
sementes
50 g de nabo fresco descascado
1 pimenta dedo-de-moça sem semente
1 limão siciliano
2 pepinos-japoneses
Cebolete decorativa
Flores decorativas
Molho ponzu

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