Roteiro - Teatro Oficina

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Roteiro - Teatro Oficina
Estrela Brazyleira a Vagar Cacilda ! ! 14 junho 2010 de José Celso Martinez Corrêa Co-­‐autoria Marcelo Drummond 1º ATO R I O OS 3 Primeiros Sinais (1 º sinal lá fora: trilha som do rio anos 40. No 1º Sinal, os atores e publico tem uma deixa de atenção. O Publico entra no teatro por uma Cortina, como se entrasse para os Camarins, pelo Palco. Os atores, estão em seus Camarins-­‐Malas, dentro da Pista, a Banda no seus praticáveis no centro, em sua posição habitual. Projetado o Pão de Açúcar e o Elevador Lacerda . O local do jardim ocupado pelo público, com uma arquibancada, levando em conta as árvores. Os projetores de vídeo, luz, som, concentração dos atores, criam um clima misturado e embriagador dos anos 40 no Brasil durante a 2º Guerra Mundial e a Paz com as musicas carnavalescas mais conhecidas desses tempos – alem do ‘Primavera no Rio’, ‘Taí’, ‘Sábado em Copacabana’, ‘Chiquita Bacana’, sambas sobre a Bahia, ‘Baixa do Sapateiro’, etc…. 2º Sinal, depois dos avisos – MERDA, saem pela Cortina, como se fossem entrar no lado Sul e parte para o norte. No 3º Sinal a Projeção mostra o fim do 1º Ato do DVD de Cacilda! com legenda, quando ela penetra os subterrâneos, para vir para o Rio) CACILDA! ! CHEGADA AO RIO (Quando a Tampa do Inferno de Cacilda 1 no vídeo se fecha, sob aplausos vem saindo Cacilda!! com a Bachiana de Villa Lobos, acho que nº1, do subterrâneo no Centro do espaço onde há um Palco Giratório e um Subterrâneo = Camarim de Cacilda!!, dando pra caverna, o Inferno do Oficina. Um Aviãozinho da Panair, trazido pelo Anjo da Barca do Céu, Ariclenes, sobrevoa Hollywoodianamente nos ares e a Sonoplastia chamam a atenção da Estrela Cacilda, para os céus. Vem chegando a Banda de Eddy Duchin, é vista por Cacilda com sua malinha. Do lado Sul entra um Comitê Sambando, liderado por Zé Carioca, para receber os recém chegados, desfilando na Calçada de SSSSSS de Copacabana, um tapete Voador. Desce a Banda de Eddy Duchin, com o Johnny, O Pato Donald -­‐ o cantor e Tio Patinhas; desembarcam e contracenam com o Samba que vem entrando em estilo Jorginho Guinle (Mauricio Assumção), duas Irmãs gêmeas sambistas (Batista, Miranda, Pagãs). Coros de carnaval vestidos de edifícios da orla marítima do Rio? Os americanos chegam pelo lado norte. Durante o vôo estão imóveis, como a paisagem do Rio. Quando os convidados descem na pista, começam a sambar como se a cidade saudasse se rebolando e esporreasse serpentinas, confetes. O Coro que vem receber os Yankees, vem cantando, “Batuque no Morro Vem Nascendo” do Trio de Ouro, misturado com rajadas de piano de Eddy Duchin. O vídeo projeta não fixamente, mas sambando as letras do samba; O coro envolve o público do 1
estádio, cantando as letras:) BATUQUE NO MORRO (Herivelto Martins/Humberto Porto/Ozon) Batuque no morro está formado Batuque no morro está formado Já amanheceu e o sol já nasceu Já amanheceu e o sol já nasceu E as lavadeiras do morro, as roupas na corda Começam a esticar… E os malandros da orgia, começam a chegar Já amanheceu e o sol já nasceu Já amanheceu e o sol já nasceu E as sombras fugiram com medo da luz Nem mais uma queixa, nem mais uma saudade Já amanheceu e o sol já nasceu Já amanheceu e o sol já nasceu (Cacilda entusiasmada como se fosse para ela a recepção, cruza os olhos com todos os moços do carro, reconhece Mauricio e é reconhecida por ele. Acenam e marcam um encontro em mímica. Todos reparam nela. Quase ela entra no carro, que sai saudando a multidão. O carro vai se afastando, Cacilda vai ficando só, se encaminha pra correr atrás do cortejo, o Anjo do Céu, ronda protegendo-­‐a do Inferno. ACORDES VIOLENTOS DE BACH – Especiais para os momentos de violência e paranóia cristã. De repente é segurada pelo braço, sagradamente, por Maria Jacintha, impedindo-­‐a de cair no Abismo do Cortejo da Barca do Inferno. VIDEO – Projeção de Santinho de Anjo protegendo criança de cair no abismo = A Salvação de Cacilda!! por Maria JáSinta vira um quadro Bíblico com Corais de Bach. O Anjo ronda as duas à distância) ÓPERA CATÓLICA MARIA JACINTHA Sou Maria Jacintha. Vim te esperar no terminal (O Anjo do Inferno rouba Cacilda de Maria Jacinta, mas esta logo a recupera; Cacilda fica chamada pelos dois lados, o Céu e o inferno) temia que nesse roda moinho não encontrasses o caminho. 2
Vade retrum satanás!!!! (Anjo do Inferno em vez de recuar, pára) ANJO DO INFERNO (ele replica no instante, apresentando seu show) Show satanás! Na casa do senhor não existe satanás! Xô satanás! Xô satanás! (mergulha com seu vôo na extremidade oposta e mergulha na multidão cantando com ela duas vezes. Pontuar o final com um INCENDIO DE ANJO DO INFERNO, IO, CAINDO NOS BRAÇOS DO PÚBLICO, COMO UM JOGO CARINHOSO QUE ESPELHA O INCENDIO DA UNE: Olhando para a projeção criada para se lembrar deste acontecimento no 1º dia do Golpe de 1964, que o video nas imagens desta cena já projeta. Tombada) MARIA JACINTHA Venha ao meu lado galguemos do Teatro do Estudante do Brasil, o Tablado. (Cacilda entrega-­‐lha a carta de Miroel, os Corais de Bach aumentam, são mixados com Villa Lobos e o Canto da Escalada dos Iamabuches estudantes e professores ao Tablado, onde Cacilda será iniciada, juntamente com um bando de jovens alpinistas, mochileiros – todo tyaso, que agora se dirige para lá. Meninas e meninos, escalando. Nos Vídeos: passeatas facistas, em camisas pretas, verdes, integralistas, vermelhas, comunistas, bandeiras católicas, católicos, e liberais em manifestações das posições da época: muita bandeira brasileira em quantidade (21), estandarte do congresso eucarístico, etc.) CORO Entre quatro cadeias de montanhas o destino de nossas entranhas Belicismo (dedos apontam como um revolver) ou Pacifismo (dois dedos em V: gesto de Paz e amor) Fascismo (saudação nazista) ou Comunismo (punhos cerrados) Ditadura (Batida de continência) ou Democracia (mãos abertas, contracenação) Realidade ou Fantasia Amor ou Solidão Temos somente seis meses de provisão!!! 3
(Breque; interrompendo o breque Mochileira Sylvia lembra:) MOCHILEIRA EMBRIAGUEZ Mas temos Vinho! SOLO Vinho! CORO Vinhos! Vinhos! E Vinhos! Não vamos morrer sozinhos Não conseguem nos socorrer? Na liberdade/vamos então viver Misturando perigo/Paixão em Primeira Comunhão ! Trágicômicos vamos aproveitar esta Orgya! Nós pequena humanidade, clamamos Alegria Alegria Alegria MARIA JACINTA Alegria Alegria (CORO de mochileiros chegando no pico se juntam num corpo só com Frio, Luz de Pólo Antártico) CORO Cacilda! Altitude: 3. 200 metros. (Sonoplastia entra com Coral de Bach tema de JáSinta; todos juntos morrendo de frio) MARIA JACINTHA Repertório: teatral iniciação frio das alturas calor dos dias felizes do verão. Do Teatro do Estudante do Brasil é minha agora direção escolher agora, é minha missão os que nasceram realmente com esta vocação. Paschoal Carlos Magno meu antecessor Produziu Shakespeares fidelíssimos nacionais com muito amor Mas já sinto eu, (contracenando com Cacilda, no meio do Bolo dos colegas) o estudante quer sentir mais e mais textos moderníssimos, experiências reais... 4
CACILDA Prefiro estudar Rainhas com elas aprender a ser plena. (O Coro se abre iluminado pela percepção da pequena figura estranha que brilha) Elas são reais, e modernas no poder de ter a cena. MARIA JACINTHA (sensual) Você terá a experiência... (á todas) do que podem essas pequenas… As personagens tem poder e moderna nobreza Cocotes, galãs, de deixar a humanidade, acesa! (Jacinta lê a carta) "Será uma das maiores atrizes do Brasil" Há muito assim me escreve, louvando teu mel o profeta Miroel. Você ouviu tuas vozes? CACILDA GUI (tímida) Não. Eu quero é que agora ouçam, todas elas. (entra a Voz de Cacilda; Um trecho da entrevista que temos. – Todos em cena, devem escutar imóveis. VIDEO – UMA IMAGEM FORTE DELA – MAIS MADURA – Talvez da peça “Raízes” quando ela fez 20 anos de teatro e convidou o Abujanra, recém retornada da Europa, para dirigi-­‐la.) PROFESSOR TARADO (em off) “Vai ter que chupar muita caceta!” CORO O que? CACILDA GUI Ainda era eu criança, um professor leu minha mão: "Você vai deixar a dança por arte em que a voz será phelação" CORO DE CACILDAS INCORPORANDO O PROFESSOR SAFADO Ha ha ha ha Phelação!!! (Sonoplastia: Coros de Bach) 5
MARIA JACINTHA Tua voz é persuasiva Sentí o "como" dissestes. (Dona Esther Leão atravessa carismática seus alunos; Maria JáSinta apresenta Cacilda) Professora Ester Leão, a senhora vai ficar efusiva em ouvi-­‐la, no teste. DONA ESTHER LEÃO Com muito gosto! MARIA JACINTA (vendendo peixe) Mestra Esther Leão, no Brasil, a mais cara professora de dicção! (Sonoplastia Acordes da Nóia Cristã! Tipo o de Othelo.) Mas não misture teatro com vulgar realidade. Não parece, mas tua carreira é pura Santidade! Sem querer ser tia Augusta, nem moralista. A renovação moral é hoje dever do artista. Temos agora uma heroína a divina Dulcina! Vou te apresentar uma diabinha, La chica! A anarquista Sonia Oiticica! (Sonia vai dar nas quebradas) E um jovem anjo chamado Maria Clara Machado! (Maria Clara e Cacilda apresentam-­‐se.) Mulher de teatro de prostituta não pode mais ter cara. (coração doce dos anjos de Bach. Luz foca em Jacinta e Cacilda Gui. JáSinta beija Cacilda. Disfarça com uma brincadeira.) Amanhã traga Galharufas… (o coro tem um frouxo de riso) CACILDA O que é isto? 6
MARIA JACINTHA Pergunte a colega iniciada, Maria Clara, clarear-­‐vos-­‐a. DESCIDA PARA COPACABANA – CORO DEPOIS DA AULA DE CATECISMO (tornar mais claro o texto e a marcação para a fala ser entendida; os coros abrem pro público fazer junto suas marcações: os falos do coro de machões e os gestos das fêmeas que precisam ser inventados) O CORO DOS SÁTYROS O teatro vem da fálica procissão O CORO DA ORDEM DAS CABAÇAS (Liderado por Clara, de braços dados com Cacilda no centro) Mas Maria anunciou a nossa redenção A Atriz agora tem uma sina Dominar quem a domina O Teatro é matriarca Parto das Parcas! Da Fêmea é a "Vendetta" ZÉ CARIOCA CAFAGESTE INCORPORANDO JECE VALADÃO (passando) Olá Boceta! CLARA E AS CABAÇAS (ofendidas) Sátiro! ZÉ CARIOCA (para Cacilda) Ninfeta! MARIA CLARA Não dêem atenção! É da turma daquele cafageste indecente: Jece Valadão. (aponta Acauã; VIDEO – imagem menos desbotada de Jece; é preciso mostrar uma imagem mais icônica e que Maria Clara Viegas venha até uma tela mostrar quem é esse Sátyro cafageste = Jece Valadão) CACILDA (destacando-­‐se do grupo, tiéte) Zé Carioca sou tua maior fã, Meu amado! Pensei que só existisse no desenho animado! ? ZÉ CARIOCA Só de te ver, meu desenho acaba censurado Veja meu papagaio levantado!!!!! 7
(levanta o Guarda chuva debaixo das pernas. Reação de escândalo, Cabaças desmaiam. Sai Luz.) ENTRADA N(D)O MAR – BATISMO (Retorna Luz: O coral é banhado pelo Ruído do Mar, torna-­‐se o Mar: Cacilda vê o mar, sai correndo de encontro à uma onda carioca.) CACILDA GUI Mar furioso! Ondas tão altas! Metem medo… Me apaixonei por você CORO Mar de Copacabana. Faça dele Teu Santos Sagrado! Três vezes mergulhado tua estrela aqui nasce, é teu batizado (Cacilda olhando as primeiras três estrelas no céu, o Santos do Qorpo Santo com as irmãs e a mãe de Cacilda, são iluminados) CACILDA GUI Minha Mãe! Minhas irmãs! As Três estrelas do que vi primeiro: Dirce!!! DIRCE Alegria!!! CACILDA GUI Dona Alzira!!! DONA ALZIRA Dinheiro!!! CACILDA GUI Cleyde!!! CLEYDE (com voz grave exagerada e articulada) Saúde!!! CACILDA GUI (mergulha) nossa estréia: Sucesso! 8
CORO Sucesso! CACILDA GUI (mergulha) :um novo amor, (olha pros lados, vê o Zé Carioca) dois, três, milhões (olha pro horizonte, ondas muito fortes) CORO DAS CABAÇAS (acolhendo Cacilda quase afogada) Não, Cacilda, seriam precisos milhões de corações…? ! CACILDA GUI Um amor no Teatro Paixão nos 5 Atos (Mergulha nas ondas humanas do mar, olha pro Cruzeiro do Sul projetado nos telões = VÍDEO) Cruzeiro do Sul, constelação de Rhéia traz mamãe pela “Cruzeiro” para a estréia (Último mergulho; Maria Clara envolve Cacilda com uma toalha. Sai a Luz) ENSAIO – FIM DE TESTES (Dona Esther Leão dá uma canja para os atores e o público, enquanto espera todos para o teste – devem apressar-­‐se. A profesora de dicção faz o Estádio fazer sons doidos, nada escolares, como um dos q Letícia fez que trazia VERTIGEM – aproveitar a Onda de estádio e não cair no didatismo) ESTHER LEÃO Estamos aguardando o resultado do teste para o papel de Zizi, a mais coquete. Enquanto isso, dou-­‐vos uma Canja, sem vos cobrar nada para nossa voz estar preparada, oh brasilairos desta cidade para cantar conosco de verdade. Acompanhando os cantos desta peça pelas letras nos telões projetadas, mas sem palmas, ouvindo, cantando acreditando em suas cantadas! (faz os exercícios com o público e puxa o responsório; um improviso doido aproveitando a energia da multidão, e VIDEO PROJETA A LETRA REFRÃO PRIMAVERA, e Esther Letícia, faz a 1ª experiência de relacionar canto e projeção) Primavera nova estação Nasce nossa constelação… (quando estão todos presentes…) A vencedora a protagonizar nossa peça… (para o publico) ...advinhem... Cacilda Becker. 9
(Aplausos puxados por Maria JáSinta) Ponto Zé Carioca: de Moliére à chamare: com Batida Enchuta ZÉ CARIOCA (chamando com o guarda chuva e os pés) Guarda-­‐chuva minha batuta Chama no pé todo-­‐mundo, sem força bruta no tambor terra atentos chamando os quatro elementos no meu ritmo de futebol carioca no ditirissambóca a sambar: Sambocácácácácá Cá Cá Cá ! (O Coro repete com as batidas de Moliére em Samba, entra a Bachiana nº7 de Vila Lobos; som de avião sobrevoando a área, jogam pacotes em pára-­‐quedas) VITOR Os aviões imperialistas yankees estão jogando pacotões (Atores apanham os pacotes os mais variados, Coca Cola, Cigarros...) CACILDA GUI ZIZI Estamos Salvos! Saímos no Jornal! MARIA CLARA Greta Garbo acabou de abandonar o cinema! ! ! ! (Garbo no filme “Grande Hotel” diz: I want to be alone! vai se apagando e no lugar um vazio de tela) CACILDA ZIZI Nós vamos entrar. (Luz Acesa em Santos do Qorpo Santo, todo os Colegas de Cacilda no Tablado, paralizam-­‐se em Luz baixa, e somente ela se move, com outra Luz, e a musica tema da peça” Estrela Brasileira a Vagar, em ritmo mais namorador) CACILDA ZIZI (a parte) Vocês estão morrendo de curiosidade, sobre os meus dois galãs. (Apresentando) Um é polaco, outro mulato. Em primeiro lugar, vou abafar Inegavelmente tenho mais figura que qualquer dos presentes nessa altura 10
e pra falar a verdade sustento: sou a que tem mais talento falta prática apenas no momento (entra musica do Coro, luzes dele) CORO GERAL O talento é Virtude não se cultiva na Solidão. Desejar uma pessoa, com Paixão é a única maneira de chegar Criação (retorna o suing a Luz de Cacilda e Qorpo Santo, o Congelamento) CACILDA ZIZI Zizi, não é uma pessoa séria, vive na fantasia eles discutem esses lugares comuns de hoje em dia tudo comédia, coqueteria, ciúmes, paixão, problemas homossociais Muito interessante, mas futilidades apesar de atuais. Estou de férias dos admiradores. As minhas cartas poéticas, acreditem amores tem origem no meu narcisismo de artista Pudera, eu tenho andando tão bonita! DIRCE (de Santos) Convencida Maldita! CLEYDE Cacildinha! Deixe a cocotagem, toma jeito! Faça o papel da Zizi direito. (Cacilda sentida, pras irmãs, quase chorando pela Injusta acusação de Cleyde, a Banda tira a percussão muda a música, que volta mais valsa, deixando o lado sexy; Cacilda defende-­‐se do ataque das irmãs.) CACILDA ZIZI Pois fiquem sabendo que já decorei a peça inteinha Me sinto uma bebezinha dando sua primeira engatinhadinha! Zizi é que é a maior ladrona de homens, quer ser “a” vedette. Meus dois galãs já andam levando o flerte da peça pra fora dela, Mais coquete do que me obrigam a ser, só se eu virar uma cadela? ! Tenho um medo tremendo que essas minhas ausências, diminuam o amor de vocês por minha presença 11
(retorna ao ensaio Luz, Vila Lobos etc) ESTHER LEÃO (com acento português de Portugal) Oh menina, estás nuvens a engarrafare? Fio terra, aterrare! E mais Cocotte. Muito mais… C O Q U E T E R I E! Mais alto oh menina! A tua voz é muito branda e pequenina perto das outra perdes a autoridade! CACILDA GUI ZIZI Zizi é branda, é esta a sua autoridade. (a musica retorna mais lenta mas muito sexy, os estudantes estão em seus camarins; contra regras giram o palco central lentamente, com Zizi e Victor em cima; retomando a cena, a parte) agora o pedaço vem da coquete revelar que é gente também. VITOR O que você tem dentro dessa cabecinha? CACILDA ZIZI (à parte, pras irmãs) Ele se aproxima… Meio chorosa, faço um pouco de fita "Todo mundo diz que eu sou bonita, mas ninguém me ama de verdade. " Ele se aproxima, me agarra, ai, começou a levantar a besteira E de repente, ele me larga no chão! (explica pras irmãs) Teve uma ereção! VITOR O melhor que você tem a fazer é ir pro seu colchão. CACILDA ZIZI Eu saio, meio embaço: "Boa noite. " Dou dois passos. (entra o Som alucinate de bill laswell & tetsu inoue -­‐ 01 -­‐ monochrome existence) Estou um pouco embriagada… de umas pinceladas que me manda Van Gogh na exposição… 12
Fiquei até com alergia no nariz, virei uma iogue! estou quase dervishando… Ah! (Vitor e o Anjo da Guarda vêm ao seu socorro) Ele vai me segurando, com os braços em rédeas Seus olhos parecem os de um cavaleiro da Idade Média. (fica olhando os olhos de Vitor) ESTHER LEÃO Menina! Estás a extrapolare nas tintas. Assim a leveza da comédia é extinta. CACILDA ZIZI Eu vi o Girassol nos olhos de Vitor girando os do Van Gogh, na visita do Museu, foi me pegando Oh! Chefa, Minha Madre Superiora é a primeira vez que sou "atora". (Risos do coro e de Maria Jacintha. Entra Coral de Bach) MARIA JACINTHA É ensaio geral, temos que fazer o espírito atravessar como artérias as coisas diabólicas das matérias assim a estréia sai purificada. (sobe o coral e ouve-­‐se ao longe tocar a Valsa "Club 15"; os atores vão se dirigindo para cima, para as alturas do Pão de Açúcar na paulista) CACILDA Mas essa é a terra cheia de seiva que eu vivia a buscar que grandes artistas, esses meus colegas sabem atuar! MARIA JACINTHA Confie, você tem muito talento. CACILDA Confio, desconfiando no momento. PÃO DE AÇÚCAR DE ANIVERSÁRIO (Meia noite -­‐ aniversário – DIREÇÃO DE CENA/ARTE – ENTRA A LUA DE FOGO DE CACILDA! NA PAULISTA. Ouve-­‐se a valsa: "Club 15" mais próxima; ARMANDO entra com um bolo em forma de Pão de Açúcar; Sônia traz uma vela que põe no pico do Pão de Açúcar. A cena está iluminada de maneira que se vê todo o Pão de Açúcar como um bolo.) SONIA Cacilda! 13
(descobrindo na hora) O ensaio geral, coincide com teu aniversário! Mas você não vai apagar a vela desta vez na solidão ! Vem logo! Vamos soprar juntos, centopéia pra re nascermos amanhã em Cacilda, na nossa estréia? (se concentram no pedido. Se abraçam em silêncio. Inspiram e expiram apagando a vela. A Luz muda radicalmente com o apagar das velas, a luz fica fechada, concentrada no frasco de perfume e cria luz e sombras com Cacilda só com seus fantasmas na barriga do teatro.) BÁLSAMOS PARA MEDITAÇÃO DO HORTO (Cacilda está sozinha nas geleiras do Pão de Açúcar com Maria Jacintha. Maria dá um presente a Cacilda, abre o presente, entra o Coral do “Credo” de Bach) CACILDA Um vidro de estrato Emeraude da Coty. em forma de fonte! MARIA JACINTHA Pra que jorre teu horizonte! CACILDA Ando dormindo com a luz acesa, comecei a sentir medo, presa sozinha, no apartamento. Essa noite eu durmo no teatro, meu acampamento! (Maria JaSinta escandaliza-­‐se, olha o público, mas depois compreende: está diante de uma Santa) MARIA JACINTHA (passa perfume em Cacilda, ungindo-­‐a) É a véspera-­‐noite da iniciação, solidão. O passado fora dos palcos vai sendo morto. É o retábulo de Jesús, meditando no horto. Amanhã ressucitas com a platéia, é Páscoa de Estréia! (Beija suavemente o pulso de Cacilda e sai) ENTRADA NO QORPO SEM ÓRGÃOS LONGA JORNADA NOITE ADENTRO (A luz ilumina Cacilda Estragon, Cacilda Zizi, só conversa ela e com o publico) 14
(A LUZ DO PUBLICO DE VE SER NESTE MONENTO SOMBRAS E LUZ, PARA NÃO SE PERDER A ENERGIA DA CENA, CACILDA FALA COM O PÚBLICO, PEDE CALOR, PRESENÇA; QUEIMANDO DE AMOR E PRECISANDO DO FOGO DE TODOS OS PRESENTES) CACILDA Eu tenho medo da vida! Preciso de cada presença aqui sentida vou passar meus aniversário daqui pra frente nesta minha nova casa, nos teatros de estádio somente. Agora me sinto a Cacilda, a mulher que até agora não fez nada. Deixou de ser criança, vai ser reinventada! (Entra Cacilda Estragon; Luz neste encontro da Cacilda 20 anos com a Cacilda Godot aos 48 anos em sua agonia. VÍDEO deve pegar essa confrontação das duas idades, no tic tac do relógio da vida tão rara até Estragon perguntar se ela espera Zizi e mandar o foco pra Cacilda Mary Tyrone com seu vestido de noiva.) Eu só ouço o barulho da baía de Guanabara, o tic tac dos relógios que contam os minutos dessa vida tão rara. (A Banda toca o tema Science…) NA BARRIGA DO TEATRO CACILDA ESTRAGON (sentada no Círculo do centro da pista tentando tirar o sapato) Esperando Zizi? Olha o que Mary Tirone te trouxe. (Entra Mary Tyrone com um vestido de noiva nas mãos, Vitor Febrônio nú, com a faca do bolo e uma vela bate cocaína e esquenta para colocar numa seringa) CACILDA MARY TYRONE (oferecendo pra Cacilda Zizi, mas ela mesmo coloca o vestido como um hábito de freira sobre a cabeça) Meu Vestido de Noiva, pra sua primeira comunhão. Encontrei aqui no sótão. Eu vou ser freira, estou tão feliz! Nunca senti o menor desejo de ser atriz. A virgem Maria sorriu para mim, me abençoou, disse: vai ser freira sim! VITOR FEBRONIO (apresenta a seringa) 15
Mais uma Madame? (VÍDEO: filma toda a cena da seringa até o fim de sua aplicação) CACILDA MARY Sim Febrônio. (Ele aplica Mary Tyrone) VITOR FEBRONIO E a mocinha? (Cacilda Zizi rejeita) CACILDA MARY Isso suprime a dor faz com o que se retorne ao tempo do amor, só o passado em que se foi feliz, vive, tem valor. (Saem, sai o Science A Banda deve parar totalmente de tocar. Silêncio absoluto; Black out) CACILDA ZIZI O último vigia se foi! Que escuridão! Sou só ouvido, vidente, vejo esta Estação Estou na Barriga do Teatro. com todas as personagens de todos meus atos. Meu touro preto! TOURO PRETO Muuuuuuu… (O Touro muge feliz no escuro e se ouve sons da Farra do Boi, como em Cacilda!) PÁSCOA DA ESTRÉIA (As luzes se acendem. Todo elenco se prepara, vestindo roupas de primeira comunhão, com velas-­‐círios minutos antes da estréia, protegidos pelo Anjo da Guarda.) SONIA (Batendo o Dytirambo com um tyrso enrolado de Hera) Dionisios, vem q te sambo! Ditysambo!!! CORO Ditysambo!!! (Terceiro Sinal) 16
CACILDA O que é que estou procurando? alguma coisa como sempre está faltando estou meio tonta e não estou pronta! (D. Alzira conduzida por Maria Jacintha, chega por trás com os sapatinhos vermelhos na mão, cobre os olhos de Cacilda) DONA ALZIRA Adivinha! CACILDA (bale) Meus Sapatinhos Vermelhos! (Se abraçam misturando os longos cabelos, chorando -­‐ Pula feito cabrita, de Alegria) Minha mãe veio me buscar no Inferno. Não falta mais nada. Chegou o Belzebú! ANJO DO INFERNO Cacilda: abre esse cú! CACILDA Começa o jogo, que taquicardia! É você Zizi? Que Alegria! TODOS (gritam) Merda! FELIZ 1941! (Os contra-­‐regras jogam flocos de neve. Entram em cena, formam um círculo como um relógio. Sonoplastia entra com a Ressureição de Bach. VÍDEO pega frontalmente Cacilda.) CACILDA ZIZI Méeeeeee (pro público, em estado de adoração) Podem adorar. Adoração desaba! Começa nesse minuto que já acaba, a carreira de Cacilda Becker. É só uma vez, que é a primeira vez. Me queimem, estou queimando! ! ! ! Por vocês me darem o que estão me dando, estou desejando: Aplausos! Aplausos Crepitantes! 17
(ruídos do avião que vem trazendo Roulien, mas musica da ressureição de Bach continua) ZIZI CACILDA GUI Salvos! Vão nos Socorrer? ! ARMANDO Vamos ser incorporados ao mundo civilizado. MARIA JACINTHA Não, vamos Descer, descer pra outra Estação: Pros “Dias Felizes” de Verão! ESCORREGANDO PARA OS DIAS FELIZES DE VERÃO NO TOBOGAN DO PÃO DE AÇUCAR (Os meninos descem aos Pulos, a descoberta de Eros, despindo-­‐se para o verão. O Tyaso de protagonistas desce pela arquibancada rolando dos dois lados, numa contact improvisation com público até derramar–se no campo. O chão é forrado de trigo, eles se atiram e o pólen sobe, filtrando a luz do sol.) CORO Quente demais. VITOR OLIVIER Você ama a vida q deixou pra traz? CACILDA MARIANA Amo mais quero mais. Você não? VITOR OLIVIER É inaceitável, a partir de um certo grau de Lucidez. CACILDA MARIANA Então eu prefiro viver cega, de vez. Eu amo tudo na vida. SONIA PERNETTE Eu não tenho medo nem da vida da morte! CACILDA MARIANA Eu tenho. Não quero que Ela me corte! CORO GERAL 18
(para o publico, cantando com tristeza da morte) Nós não vamos ficar juntos toda vida como estamos agora, nessa presença vivida… Quando a peça acabar vamos nos separar uns pros outros teremos morrido mas vamos fazer ficar este instante: (Pergunta ao publico e á todos) prometido? (para o publico, cantando com muita alegria) Nós não vamos ficar juntos toda vida como estamos agora, nessa presença vivida… Quando a peça acabar vamos nos separar uns pros outros teremos morrido mas vamos fazer ficar este instante: (Pergunta ao publico e á todos) prometido? CACILDA GUI MARIANA Sonhei com um pássaro imenso ia pegar, virou um lenço… CORO É o amor! Embolia! Derrame! CACILDA MARIANA Não pra quem Ame! CORO FEMININO Um derrame pára o coração, Se não deixa passar a paixão… é amor: a invenção de um outro bem/ Você já inventou alguém? CACILDA MARIANA Inventei: tem um cachecol vermelho no pescoço. CORO FEMININO Sangue? CACILDA GUI MARIANA Vermelho Mangue! CORO 19
Um homem? CACILDA MARIANA Além do homem CORO FEMININO Tarado? CACILDA MARIANA Não, um deus. CORO FEMININO Vai Pagar amor com amor! CACILDA MARIANA Não, Deus não é burguês. SONIA PERNETTE Então não gosta de champagne ou uísque escocês. CACILDA MARIANA Champagne: Bem bruta. Eu estou… apaixonada CORO FEMININO Tu estás Apaixonada Nós estamos. . . Apaixonadas E vocês? CORO MASCULINO Apaixonados CORO FEMININO Porque, por quem? CORO MASCULINO Por Alguém E eles? CORO FEMININO E elas? CACILDA GUI MARIANA Apaixonados? CORO FEMININO Apaixonadas CORO MASCULINO 20
Apaixonados! (para e com o público) CORO GERAL Apaixonados! (BlackOut para projeção dos aviões cheios de coristas dançando de Flyng do Rio, ao Som de Villa Lobos, todos vão assistir dos camarins) ATERRISAGEM DO PÁSSARO VOADOR (O VIDEO DEVERIA JOGAR A PROJEÇÃO EM CIMA DO PARAQUEDAS NO PALCO. Desce no palco o Para-­‐quedas do príncipe encantado Raul Roulien, de Planador, "Flying to Rio", aterrisando. Cacilda atira-­‐se do palco de braços abertos em vão para um grande encontro amoroso. Música do Fim da 1ª Bachiana de Villa Lobos) CACILDA É o aviador? O galã de baton? Meu sonho! Meu Pássaro de Fogo! ROULIEN Voemos pro Desafogo! Pra Av. Niemeyer, no meu hidroplano! (os dois saem planando vendo o público como a paisagem mais louca da viagem) CACILDA (olhando o público) Matas, o mar, meu deus que plano! ROULIEN Aterramos ali, nosso Afã! Na porta desse Terreiro! Saravá Iansã! (Sons altos de avião aterrisando. Eles aterram. Tambores de candomblé quando se inaugura um terreiro e se ordena um sacerdote. Todo coro dança pra Iansã, com seu gesto ritual.) A deusa acaba de baixar ! (rojões da saída da Iaô, que vem dançando num raio) CACILDA Fogo! ROULIEN É tua ordenação! É você que é a Amante de Santos! 21
Dos Exus Eros e Orixás! ! ! (Entra o quase fim da Baquina nº1, Eles se encontram numa posição romântica de gran finale, para um quase beijo clássico. O Som é Cortado. Cacilda não entende, pois o beijo não se consuma; mas Raul continua falando como um apaixonado) ROULIEN Venho te oferecer não a aventura de uma noite, mas a poesia que chegou agora, num açoite! (Volta o Villa-­‐lobos; Ele tira suas asas como um chicote, como o contrato. Cacilda pega o contrato lenço das mãos de Roulien) CACILDA Um lenço! ROULIEN Um Pacto. Uma carreira solidamente pautada num Contrato. (VÍDEO com muita presteza põe a Tela de Greta Garbo, que reaparece com a imagem de Cacilda em fusão com a estrela. Cacilda q fala em Close feito em todas as telas de Cacilda clamando:) CACILDA (olha o Coro em volta) “I don't want to be alone! ” (o coro se junta a ela;) Quero todos meus colegas na Companhia. ROULIEN Como é q eu vou contratar toda esta Orgya ? Cabe no contrato toda essa alegria? CORO No lenço! (sai Raul) MARIA JACINTA Contra senso Falso estrelismo! Não é esta a tua sina! O próximo passo, é teatro sério: Dulcina! PROJEÇÃO: BARCA RIO NITERÓI (O coro formando uma Barca com o Lenço com Cacilda na proa, se encaminha para entrar no barco) 22
CORO Oi Cantareira! Oi Cantareira! Oi Cantareira! Vais aprender a nadar! (Sentam todos no Barco, nos bancos do chão de dois a dois e num bancam nos fundos Sul. Maria Jacinta golpeia com um Tango) MARIA JACINTA Uma tradução minha, Dulcina encenará. Tu atuarás! O título na nossa língua portuguesa meu coração acaba de encontrar… "Nunca me Deixarás! " (Sonoplastia solta uma ondona de mar. Cacilda batendo com os pés no Chão, com seu sapatinho, querendo dizer “sim te deixarei”) CORO O Plic-­‐Plaque do sapatinho dela saque saque bate bate outra novela MARIA JACINTHA Mas Dulcina, gentilmente que ultraje já mandou até fazer teu traje! A estréia está marcada pro dia de Santo Antônio! CORO Era dia do Matrimônio Hoje é noite dos Namorados CACILDA Trem: São Paulo – Rio CORO Noturno… Raullll CACILDA Coincidência: Roulien, do meu lado, no meu leito! A vida, sempre dá um jeito. Vamos passar a noite dos namorados abraçados no Cassino Quitandinha… CORO 23
Raulllll MARIA JACINTHA Queridinha! Vais perder esta ocasião? Caiu na tentação! (breque) quer ser a estrela do amanhã com este gangster, Roulien! (pára o Tango) CACILDA Não é o que diz a gente bem CORO É engenheiro formado, meu bem Culto, inteligente, charmoso! Vítima da sabotagem do meio teatral invejoso. CACILDA E quer saber? O Roulien é muito bonito! CORO Ahh! CACILDA E tenho dito. As moças daqui, abrem a boca quando ele aparece. (Raul aparece dando um rolê de Sidney Magal para todo Estádio) CORO (macacas berram mesmo, histéricas com as meninas do estádio) Ahh! CACILDA Você sabe que Hollywood o está chamando, insistindo que se apresse Mas não quer ir já, quer fazer antes teatro comigo CORO Diante dos yankees, tomou a atitude Só vai se for com ela pra Hollywood MARIA JACINTHA Já tomas a decisão. Vais romper um contrato! Pensaste! Na tua reputação? CACILDA 24
Vou responder hoje ao Roulien Por que daí, eu já saí. Por correio já comuniquei Que hoje Deixei "Nunca me Deixarás". (O Grumete está cheirando numa bandeja cocaína) MARIA JACINTHA Por favor Grumete, um copo d'água, e sua gilete! (O Grumete fica puto porque ela espalhou todo pó; MAS SEM GRITAR DA COCAÍNA) CACILDA Não essa cena não Levanta já do chão No começo estava habituada à ser mandada Miroeis etc… MARIA JACINTHA Jacinthas. CACILDA Não vista a carapuça Nem sabia o que eram galharufas Você foi e é estrela que me guia mas há outras no céu… (o piano traz estrelinhas de toda constelação do elenco para a musica começar ) Sou vadia! (entra a introdução da Valsa) O meu papel com a Dulcina não foi lá de gente muito fina, mas lá eu ia sempre marcar passo. Parada num só compasso CORO COM A CONSTELAÇÃO DE ESTRÊLAS A Atriz é uma Estrela… Vagabunda, vagando sempre nos céus em que se afunda… Até encontrar o seu céu na terra, que aterrar no palco em que seu desejo aportar (Entra o Samba, a constelação de estrelas enche o espaço com seus brilhos) é cedo de mais, a vida é Mistério. 25
Não cabe só, num Teatro Sério vamos rir do que se faça, sem achar mesmo muita graça. Com você amor, começamos muito alto! (para Jacinta) Mas continuamos no nosso mesmo país: o Palco! Não digo nunca adeus sempre errante sigo ao lado teu! Vagar… …é assim amor, nosso fado e encontrar pouso breve por todo lado CACILDA Minha vida é maravilhosa. Ninguém me governa! CORO Saio quando quero, entro quando quero. durmo com quem quero, vida de artista! Saio quando quero, entro quando quero. durmo com quem quero. Vida de artista não há melhor que exista! Nada se perderá, nem se perdeu Mas o mundo agora é meu. Nada se perderá, nem se perdeu Mas o mundo agora é meu. Primavera! Nova Estação! Nasce, nossa Constelação ! Primavera! Nova Estação! Nasce, nossa Constelação ! (a barca chega; Batem as mãos, como no fim do "pirulito que bate, bate" e banda com a continuação da música, mas em ritmo mais alto) MARIA JACINTHA E CACILDA Pirulito que bate bate Pirulito que já bateu Quem gosta de mim é ela Quem gosta dela sou eu! CORO 26
(indo pros camarins) Agora é melhor A gente dançar Juntinhos assim Que dá mais prazer Quem não dança o Pi Ru Li To Que Alegria pode ter? (Sai a Luz entra O Guarani de Carlos Gomes) CERIMÔNIA DE LANÇAMENTO DE CIDADE CINEMA TEATRO CASSINO COPACABANA (Nos Videos -­‐ Papel Timbrado de CIDADE CINEMA; Figurino de Getúlio Caqui: Calças de Bombacha, com Botas gaúchas com esporas, lenço vermelho, charuto, óculos e barriga falsa) CHEFE DO CERIMONIAL De pé! Viva o Dr. Getúlio Vargas! CORO E PÚBLICO Viva! GETÚLIO VARGAS Neste Papel, Timbrado da República Brasileira, total apoio federal à “CIDADE CINEMA” (aplausos) o mais completo esquema de implantação do Cinema Nacional até hoje apresentado (aplausos) fica assim decretado e aqui assinado: Getúlio Vargas Trabalhadores do Brasilll Viva o Brasil! CORO E PÚBLICO Viva! GETÚLIO VARGAS Ao Filme! (Um Céu cheio de aves, em PB e um Grã Finale de Vila lobos, com a palavra FIM. Aplaudem muito. O público aplaude freneticamente Roulien. Cacilda vem correndo apertar a mão de Raul no palco) CACILDA 27
(Comprimentando Roulien) "Aves sem Ninho"! Como todo filme nacional cheio de imperfeições… como nós mesmos afinal. . . (encaram-­‐se; ela corrige sua critica à qualidade do filme falando agora com veemência e convicção) Mas com muita coisa interessante, (Roulien entra atrás de um biombo para tirar seu Smoking Casaca e Vestir os trajes da Personagem de Felipe Confúcio, só se vê seu rosto) CACILDA Agora só acredito num terço, do que falam de você. (Cacilda estende no chão o contrato lenço) ROULIEN Não sou nenhum santo, sou um patinho torto… Felipe Confuncio (Plin! Muda o tom e traz uma sedução chinesa, Zen; ele sai do biombo somente aqui; luzes e o som pode criar a ambiência de sua personagem) Desejo, preciso contracenar com você. Mas (no ouvido, com muita verdade) só você me excita. (no armário) Maior surdina, hein? ! E Felipe Confúcio precisa dessa excitação, para o seu culto! (Sons de mântrica erótica; CACILDA Olha hipnotizada para Roulien; esta é uma cena Zen, mas acelerada.) ROULIEN Te juro, que serei o mais honesto que puder ser. Você vai fazer, JULIA! Casada, que trai o marido e vem viver com Felipe Confúcio, que prega a virtude da Infidelidade. (Cacilda assusta-­‐se fortemente) Você jura que me será infiel? (segurando pra que ela diga que será FIEL) 28
CACILDA Quem? Eu ou a Julia? ROULIEN (dando uma quebrada de tom) E o artista sabe delimitar friamente as fronteiras? Cidinha, (Cacilda assusta-­‐se com este apelido, tão fora do clima) te vi sempre em cocottes… no teatro, bem etendido. Julia, como todas, mesmo as que vivem na orgia, quando se juntam comigo, Ai! Tornam-­‐se fiéis. Desiludido vou pro Deserto. Qual seria o melhor nome para a peça, ainda nem sei? ! Mas, Aqui está o contrato: (religioso e intenso) promete ser infiel? CACILDA (com solenidade e verdade, apesar de muito emocionada por tal promessa) Prometo ser Infiel… ROULIEN Euréka! É o melhor nome pra peça! ! ! (imagina o nome nas portas do Teatro Copacabana) Prometo Ser Infiel! É negócio limpo. Na primeira Temporada, você vai ganhar um pau e meio… (Cacilda assusta-­‐se) para me ser infiel. (Cacilda respira fundo e … assina. Musica tema das assinaturas: A atriz é uma estrela… vagabunda. Roulien serve um saquê num calicezinho. Cruzam. Estão olhando apaixonadamente um para o outro enquanto ingerem o gole. Roulien corta.) Promete ser infiel? (Ela vai responder com um beijo, Sadi escancara a cortina. Cacilda cai na almofada de susto) SADI Ensaio! 29
PROMETO SER INFIEL – PALCO DE ENSAIO (Sadi entra com toda a cia. no palco com Ponto. ) SADI Eu sou Sadi Cabral, (na sonoplastia Mulher, musica de Sady Cabral) Eu sou o ensaiador, diretor de cena. Podemos fazer um debate sobre a peça. oh Zé Carioca, as falas. (Zé Carioca distribui os textos) CACILDA Venha cá, dá o pé meu louro! ZÉ CARIOCA HERMES Estouro! CACILDA Eu quero conhecer todo o tesouro! A peça toda! As outras personagens… SADI Impossível. Você tem aqui as "deixas" de quem você contracena. (Zé Carioca vai dando todos os textos, mas Sadi interrompe com uma bengala violentamente) Hoje começa agora, das 5, 30 às 6, 30 descanso, jantar, depois até meia noite… ROULIEN (atrás do roupão tirando o figurino de Confucio e vestindo a casaca) Ah Não vou poder ensaiar agora, Dr Getulio mandou me chamar, pra conversarmos sobre Cidade Cinema! CACILDA (sai correndo, furiosa) Ah! Então eu também não ensaio. SADI Cacilda onde é q você vai? CACILDA (bem explícita) Ser Infiel. ZÉ CARIOCA PONTO HERMES 30
Só pode ser lá em cima em Patópolis CORO Patrópolis? ZÉ CARIOCA Não é Petrópolis nem Patrópolis É Pa-­‐tó-­‐po-­‐lis pindurada no bico do Pato Donald o crooner Johnny! Oh Johnny! JOHNNY DONALD (na banda) Quem! Quem! ZÉ CARIOCA Va lá que eu seguro teu galho aqui. SADI Eu vou até lá dar um escândalo, no meu inglês Oxford, para esse gringo aprender a respeitar o artista nacional! Intervalo para Lanche! Zé Carioca, Eu vou sair e já volto! Se alguém perguntar você fala que tem suco de abacaxi, caju e ameixa. Entendeu, né? Abacaxi, caju e ameixa! (Sadi chega ao cassino e manda parar tudo.) SADI Stop! PATÓPOLIS (mal Sadi vira as costas, Johnny Pato Donald chega) JOHNNY PATO DONALD Ter suca hoje? ZÉ CARIOCA PONTO HERMES Abaixaaí, abraocu e nãosemexa! (Johnnycai de quatro, Cacilda entra puxada por Sadi) CACILDA 31
(assustadíssima) Jonhy entrou na peça? Em que deixa? JOHNNY PATO DONALD Eu espera suca de abaxaaí, abraocú e não me mexa! SADI A senhora é responsável por esta loucura: vai para a Tabela! E vocês aves daninhas desdesenhem-­‐se Anda: desanimados, já aqui não é a Disney ! ZÉ CARIOCA PONTO HERMES Não fala mal de papai, pensam que eu não sei Sou sim, Disney Segura teu tio Patinhas! Não deixa ele por no cofre as pratinhas! São minhas! São minhas! (entra Laura Suarez e Sadi diz em cima) SADÍ Esta é Laura Suarez. LAURA Muito prazer… CACILDA Cacilda Becker. (aperta a mão de Laura com força) Laura Suarez, A Estrela da nossa compania! LAURA Darling, fico feliz de ter uma criatura tão jovem, e tão rafinée na Companhía Nota-­‐se o berço que tens. (abraçando Cacilda, protegendo de Sadi) Te seqüestro e exijo como resgate, que Sadi te trate como a princesinha very nice que és. CACILDA Que generosidade! Não esperava. (Dona Rosita entra em cima pra debochar da rasgação de seda entra Cacilda e Laura) DONA ROSITA Olha a caçulinha de Laura. 32
LAURA (enchendo a bola e com orgulho da fibra de Dona Rosita) Dona Rosita, (com orgulho e enchendo a bola de Dona Rosita) a CEPA da nossa companhia. Nossa MATRIARCA!!! CACILDA Sadi está implicando com o meu flerte com meu louro ! (VÍDEO: pontaria no sorriso de Zé Carioca) Olhe sorriso dele: É de gente ou avícola! Vale ouro! Já namorei um touro, mas nunca um Papagaio! E q Papagaio! Papagaio! Estou apaixonada, você é muito Gaio! ZÉ CARIOCA PONTO HERMES Currupaco paco Paco Cacilda ta no papo papo papo JONHY DONALD Não, no papo da minha Pato! SADI (ao cantor) Sorry. You can't stay here. We are in rehersals. (O Cantor se retira fazendo gestos combinando encontro. Roulien reaparece. Sadi se atira a ele como a tábua de salvação da bagunça que ele, não consegue dominar) Raul, que bom que você voltou. ROULIEN (entrando vindo do lado Norte muito serio) Vamos fixar a marcação. (Todos ficam hieráticos) CACILDA Já decorei o papel. LAURA Não era preciso, temos Ponto. Mas mesmo assim o que Raul vai por de cacos! Você vai precisar mesmo, do Zé Carioca. CACILDA 33
E como! (trocam Cacilda e Zé Carioca olhares e sons) ROULIEN Zerô! Zerô! (Silencio geral, todos obedecem com cara de religião) Cacilda! ! Não tenha acanhamento de fazer o que eu mandar. CACILDA Em absoluto, é um prazer para mim ser corrigida, sempre! SADI (batendo palmas antes de falar, pra chamar atenção; quando todos olham, ele fala) Mas é muita conversa mole! Quero ver é ensaio. ROULIEN Estamos ensaiando, só quem não compreende a sutileza do nosso método não percebe. Sofistication Sadi. ENSAIO: BESO LOCO ROULIEN O Frei Jose de Guadalupe Mojica cantará a musíca da nossa primeira marcação na sonoplastía: "Beso Loco" (O Ponto coloca obedecendo aos gestos de Roulien o disco com “Um beso loco.” –
Gava selecionar quando Jose Mojica cantaas palabras” beso loco”) Ação! (o coro vai pras posições) Cacilda vá para a esquerda baixa. (Ela espera, o elenco muito sério. Suspense. Roulien Felipe Confúcio caminha do Norte onde está, até o palco, como se fosse dirigir-­‐se á Laura; no meio do caminho dá uma guinada e volta-­‐se para Cacilda e beija exageradamente Cacilda Júlia. Constrangimento no elenco. Depois dá muita risada.) Juro que não sinto nada. Quer dizer… é um beijo artístico de Felipe Confúcio em Julia. 34
LAURA Raul você inegavelmente é um artista. Teu teatro é absolutamente moderno. (Cacilda tonta, desmaiando, Laura e Dona Rosita acode. Zé Carioca emite sons estranhos de ciúme e tesão) SADI Já são 6 e meia e não rendeu nada. ROULIEN Ah essa cegueira dos vis mortais! A noite, eu não vou poder mesmo, aí você passa o trivial, os três atos marcados. CACILDA (ainda se recuperando) Eu vou chegar atrasada porque infelizmente, vou ter que ir atrás de dinheiro. SADI E eu ainda com a pretenção De introduzir Stanislaviski no Brasil. CACILDA “Se” Julia estivesse na minha situação… CORO Só sua? CACILDA …quero ver o que ela faria ia atrás do palco nosso de cada dia. (Cacilda sai) CAMARINHA DE COPACABANA (Luz acende sobre o Circulo central: Cacilda contempla o Apartamento vazio de Copacabana. A Luz vai saindo, enquanto no espelho Cacilda começa a passar baton. Sonoplastia Coral de Bach no SAMBA. A Luz acende em Santos do Qorpo Santo: O Anjo da Barca do Inferno, de Pombo Correio – deve estar de asa negra – recebe da Mãe e Irmãs 3 rosas vermelhas, que elas beijam; ele voa para entregar à Cacilda. O Anjo da anunciação chega com os Corais e LUZES DE ANUNCIAÇÃO, GLÓRIAS DE QUADROS SACROS, Sonoplastia Corais de Bach de baquear no samba e entrega as rosas de pomba gira) CACILDA 35
Anjo do Inferno! Que lindas rosas vermelhas! Vão se abrir na minha estréia… (põe na cabeceira da cama) Anjo por favor, às minhas queridas, transmita: com camélias, no cassino, comemoro o aniversário de Mamita! Meu Qorpo Santo está precisando de dinheiro! Sinto, vou conseguir, pro meu Qorpo Santo inteiro! Como vai o cabelo delas? (cordas entram harposas, para ir revelando o futuro canto) ANJO Sereias penteando auréolas. Tanto a mãe quanto as Donzelas. (cordas que apóiam o suave canto do Qorpo Santo) CACILDA, DIRCE, CLEYDE, DONA ALZYRA (penteando seus cabelos como Sereias cantando sobre sons de piano harpeados) Teus cabelos são sagrados trate deles, como–do diábodeus como dos meus … Dourados… (bateria levanta seus cabelos como Rita Hayworth) CACILDA Voa Pombo Correio! (Retorna o Tema Bachiano do Anjo do Céu. Dá-­‐lhe um maço de cartas que beija antes, o Anjo voa! VÍDEO projeta o tema das cartas em cima do corpo de Cacilda. A Peça é construída sobre as cartas da Cacilda para a família em Santos) ROSA DE OURO (1º sinal) CACILDA Por falta de dinheiro não visto luto Importa é conseguir sucesso absoluto. LAURA Cacilda, com isso conseguirás. (2º Sinal) Meu modesto presente de estréia. 36
CACILDA Um broche! Uma Rosa de Ouro! (O Coro faz a roda de concentração em torno da Rosa de Ouro; VIDEO há todo um Roteiro com a “Rosa de Ouro” q começa aí e vai até o fim da peça, acomapanhem detalhando e sentindo o significado) CORO Uma companhia é um cordão dourado de amores, um tocando o outro, pétalas perfumando ardores… Tem ímans, nossos ciúmes ficam ridículos viram veículos pra re-­‐namoros durados em fogo brando, dourados. ROULIEN CONFUCIO Meus queridos e queridas infiéis. (mas todos abraçam Roulien, viajam.... 3ºSinal o público começa a patear) DONA ROSITA O público já está pateando. (todos aflitos para começar, o Ponto Esbarra em Dona Rosita e deixa cair o texto de ponto, que se espalha todo. O elenco começa a pegar no chão o texto.) DONA ROSITA Por que o senhor não deixou o texto na estante do ponto? MAURÍCIO E agora? O que é que nós vamos fazer? ROULIEN CONFUCIO (tranqüilo jogando mais papéís fora, dando a direção pra todos, público inclusive) Commédia dell'arte. (Os atores vão pra trás da Cortina. O Pano se abre aparece estão os atores no Palco, a Banda rufando tambores para Dona Rosita que avança na Pista e vai abrir a cena: todos estão esperando a deixa. Os atores falam mais alto suas falas sobre o esquecimento de Rosita, que são na realidade à partes, coisas do teatro da época que eram faladas diretamente pro público.) CACILDA JULIA 37
(chama entre os dentes) Dona Rosita, (à parte) tuas falas idiota! LAURA Acorda, Rosita Berta diz tua fala, sua burra, senão leva uma surra! SADI Está cada vez mais sonâmbula no papel! ? (Dona Rosita olha pro ponto desesperada) ZÉCARIOCA PONTO HERMES Fala Dona Rosita: "Posso garantir que ninguém abafa o Copacabana como ela. " SADI TITO ROXO Burra… suas falas LAURA BEATRIZ (com leque) A gente tem tempo de dormir… (Roulien Confúcio em meditação oriental.) UM ESPECTADOR Posso garantir que ninguém abafa o Copacabana como ela. DONA ROSITA BERTA Ahm? Posso garantir que ninguém abafa o Copacabana, como eu! (Todos tem um frouxo de riso. Não param e contagiam a platéia toda, como na cena cortada de dona Rosita na casa de Cacilda. Começa o Cassino. Os rapazes tiram as moças pra dançar.) CASSINO COPACABANA – PALCO ROLETA (Palco-­‐Mesa de Jogo no Centro. O Croupier Ariclenes gira a roleta em forma de estrela no Centro da Pista: é o Cassino. Os músicos tocam Eddy Duchin. Os fregueses se abancam em volta, pares dançam na pista. Cacilda e Mauricio entram dançando. Cacilda reconhece Valsirio e sobe na mesa pra cumprimentá-­‐lo – ESCÂNDALO: SUBIR EM MESA DE JOGO????? QUEM É?. Valsírio beija-­‐lhe a mão; a cena é tão inusitada que o Casino Pára. ) SUA ALTEZA 38
(pergunta ao seu adversário no Jogo:) Quem é essa linda moça? VALSÍRIO (Valsirio pede pra baixar a dinâmica da banda, levando os dedos aos lábios, interrompe) Psiuuuuuu… (sussurando) Cacilda Becker, Sua Alteza! (CACILDA GUI Encantada, inclina a cabeça em reverência elizabetana) Eu aposto nela! (joga fichas para Cacilda) CACILDA (pegando as fichas, à Parte, para o Público) O Valsírio, é meu Anjo–Caixa, está com a senhora dele, feia que dói. Não vou poder falar com ele, mas ele já entendeu! (devolve as fichas, flertando com Valsirio) Aposta você pra mim, (à parte) Eu quero ter sorte é no amor. (Cacilda flerta descaradamente Eddy e vai falando tanto que ele é atraído) CACILDA Eddy Duchin: que pianista! que homem! que artista! Que dentadura! Um teclado de Marfim! EDDY (se levanta do piano) Hello! MAURICIO Hello! Mauricio Assumção. (dá um cartão) Coffee Export EDDY (para Cacilda) 39
Do you speak english? CACILDA No. (fala com sotaque de americano EXAGERADO) Comecei ontem na "Culture" Inglesa. É bom pra mim praticar. Came on! EDDY Oh Ya! (pegando as mãos de Cacilda, ajoelha-­‐se e as santifica, pois como pianista tem o culto dos dedos das mãos) Beautiful blessed hands! CACILDA Eu quero tocar em você EDDY Do it! (fazendo gestos de pianista ela toca nos dentes de Eddie) Everybody in the Orchestre is in love with you! BANDA (canta em coro) We Love you… EDDY You are great! CACILDA Corro o risco de me apaixonar. (diz ao publico e corre pro lado oposto de Eddie. O Garçon traz Champanhe pra Eddy) Please? ! EDDY To Miss? CACILDA Cacilda. EDDY Oh! Kilda… The beauty from Brazil… Orchestra, please! The Coffee’s Queen… 40
CACILDA No. "Happy birthday to you". De Minha mãe: Alzira Becker (mostra a mãe em Santos, comemorando com as duas irmãs; Valsírio puxa vivas pra Dona Alzira, olhando em sua direção) VALSÍRIO Aniversário de Alzira Becker!!! EDDY What would you Like to hear? MAURICIO O que você quer ouvir? CACILDA “Você é um amor” a mamãe adora EDDY To Kilda and her mother's Birthday: "You are so lovely” (Johnny, o crooner, começa a cantar a musica) JOHNNY you're so lovely, with your smile so warm And your cheeks so soft, There is nothing for me but to love you, just the way you look tonight. CORO DO CASSINO AAAHHHHH!!! CACILDA (apaixonada, fala num crescendo, como se a champagne que Eddie está abrindo fosse sair dela) Meu coração está cheio de amor nos meus olhos, na minha boca, nos meus gestos, vai transbordar! (a orquestra toca, Eddy estoura o champanhe, Cacilda bebe, mal brinda) Ah! ! ! Não posso ver um palco Me dá vontade de tirar roupa, sapato e dançar. (As Coristas ficam Piradas e tentam expulsar Cacilda do Palco, no q são ajudadas 41
por Mauricio q está envergonhadíssimo; diz a elas respirando fundo) Só assim vou conseguir ser boa e meiga. (Mauricio desculpando-­‐se do porre de Cacilda, num dialogo rápido, vivace) MAURICIO I’m sorry, She works in Theatre. EDDY An Artist. I saw it at first Look! MAURICIO She says she intends to leave the Theatre to marry-­‐me. EDDY (se levanta) Oh Good Business! Sorry. CACILDA (olhando pra Eddie e Mauricio, tentando entender o que dizem) Oh! Meu queridíssimo Eddy! (para Mauricio) O que foi que você disse? MAURICIO Good Bussiness! Eu disse que você ia se casar comigo, o Rei da Exportação do Café. Ele achou um Good Business! CACILDA Você está louco? Estou no apogeu da minha ambição artística. Você fica com seua ciúmes me traindo com essa tradução. Vou eu mesmo agora aprender inglês pelo método mais rápido, você vai ver… (Cacilda flerta descaradamente Johnny, o crooner, que canta “You are so lovely”) JOHNNY Some day, when I'm awfully low, When the world is cold, I will feel a glow just thinking of you... And the way you look tonight. With each word your tenderness grows, Tearing my fear apart... And that laugh that wrinkles your nose, It touches my foolish heart. 42
Lovely ... Never, ever change. Keep that breathless charm. Won't you please arrange it ? 'Cause I love you ... Just the way you look tonight. Mm, Mm, Mm, Mm, Just the way you look to-­‐night. CACILDA (dançando com Maurício) Simpático! Bonitão! Voz de ouro! Ele está sorrindo pra cá. MAURICIO Esse cantor é uma simpatia sorrindo para mim. Estou bem com os yankees… CACILDA (à parte para o Público) É um flerte que promete, Dirce! Por cima dos ombros do Mauricio! (quando o casal atravessa próximo ao Palco Roleta dançando, o Príncipe Dom Pedro, passa a mão na Bunda de Cacilda; Cacilda olha pra trás e ele passa de novo – todo público vê nas 4 arquibancadas as passagens de mão na bunda. A BANDA COMENTA E AMPLIA O GESTO – IDEM LUZ, SOM E VIDEO) MAURICIO Vamos embora senão daqui a pouco explode uma guerra na pista entre o Partido Republicano e o Monarquista. Essa Múmia do Príncipe D. Pedro, decadência imunda! Vossa Alteza nunca mais ouse tocar nesta nobre bunda! Para um Duelo está desafiado! (Mauricio faz o gesto de tirar as luvas) D. PEDRO Eu vou lá arriscar minha vida com um pé rapado? ! (Mauricio avança, Valsírio aparta) VALSÍRIO Ah! Cassino, essse tipo de barraco abunda… A Roleta fala mais alto, cala esta covardia! Mauricio burguesia, D Pedro e vossa aristocracia, 43
Não profanem com vosso instinto de Morte Cacilda nossa deusa da Sorte! Mais que toda vossa fortuna aplico nesse Fogo! Cacilda me fez ganhar no Jogo! (Dá o dinheiro para Cacilda. O CORO regojiza-­‐se com a sorte que Cacilda dá, superam o Tabu e transformam essa peça em Totem: Salva de Palmas, Uivos e banda; as luzes do Cassino se apagam, fica um foco no triangulo amoroso TRIO DISSONANTE) Mas, no amor pra sempre perdido CACILDA (rodando em torno de Valsirio como um Anjo) Anjo Caixa, querido, essa também é uma forma de amor. Merecido... (A Esposa de Valsirio da-­‐lhe um bofetão na cara e congela até a luz sair; a esposa deve ter alguma coisa das caricatas da Atlântida: bigode, sobrancelhas unidas… estar vestida exageradamente de perua) CANTOR DONALD JOHNNY (tirando Cacilda pra dançar) My name is Johnny… Quem Quem I know your name is Kilda! CORO Kilda…! CACILDA Ai! Johnny ! Ai! Johnny ! É a fala que eu mais gosto de falar no Teatro! (joga Johnny no chão e começa a comê-­‐lo) Ai Johnny! Ai Johnny! (todas as mulheres que dançam com seus pares, imitam Cacilda e começam a comer seus homens) CORO DAS MULHERES DO CASSINO Ai Johnny! Ai Johnny! (Vão dizendo até contagiar todos, inclusive o público no Ai Johnny! Maurício sai da Platéía onde assistia e entra em cena furioso com a abertura de Othelo) MAURICIO Stop now, that Love affair. She's my fiancée. 44
I'm furious! Oh Singer man. I told you: respect. She's my fiancée. If you want a war… We are in the good neighborhoods politcs, yet. But… CANTOR DONALD JOHNNY Wait, I'm not a cowboy. I’m a duck, and I love humans. Peace… (sai) CORO Peace… Ommm… MAURICIO (para Cacilda) Fiquem todos sabendo que eu estou aqui neste momento (acordes solenes de piano) para pedir Cacilda em casamento. Aqui. Diante do Cristo Redentor! CACILDA JULIA (furiosa) O que? Você mete o pau na situação do artista. Como é que quer casar com uma artista? Você fala inglês mas não é nada chic! MAURICIO (bem machão e teatrofóbico) Quero que você saia deste meio. Você está exagerando com esse Johnny! CACILDA JULIA (escandalizada) Como os brasileiros são! ? Atrasados! Roceiros! Vivem lambendo os yankees, mas o que é bom não aprendem. Nunca ninguém lá te ensinou o que é uma verdadeira amizade americana? (agarra Johnny numa amizade americana absurda) Entre eu e o Pato Johnny não há nada. 45
Somos apenas bons amigos. Johnny Donald é meu amigo americano… Olha cara de indignada que eu faço pra você. Olha! Maestro Please: Um Tchaaam de Indignação! (entra acorde operístico indignado) Estou "a" Indignada! ! ! Nem tua Mãe nunca olhou assim para alguém. MAURICIO Como és digna, fiz isso pra te experimentar. Eu quero que sejas minha esposa. CACILDA JULIA O que? Gostou! Gosta de apanhar? (dá um tapaço) Canalha! Só porque tem dinheiro acha que tem o direito de usar a gente? Ah! Vá lamber sabão! (Mauricio chora) Mas que é isso… Fiz assim tão bem a cena? Não chore Mauricio. Eu não suportaria um casamento assim. Eu tenho pena, não quero deixar de ser sua amiga mas… eu tenho nojo físico de você. MAURICIO Me deixa ficar do teu lado, você perde o nojo, é nojo de menina… Eu não sou nojento! CACILDA JULIA É sim. Não parece mais é. Que é que eu vou fazer? ! E parece-­‐me Mauricio Que o Johnny Donald está apaixonado. ROULIEN CONFUCIO Por Kilda ou por Mauricio? MAURICIO (Furioso, homofóbico e teatrofóbico) Não me confunda! Não sou do seu meio. Vocês não entendem a política de boa vizinhança 46
Kilda me deu uma lição! CACILDA JULIA Johnny Donald está acima dessas maldades. Venha cá falar com ele Mauricio Venha cá pedir perdão por sua jequice! Senão ele vai levar do Brasil uma impressão péssima dos brasileiros. (Mauricio e Johnny começam uma briguinha falsa e depois dão as mãos com murrinhos ficando de bem. Cacilda para o Roulien; Trilha ducktales; os atores da peça aplaudem, puxando aplausos do público; A cortina se abre. Vem o ventríloco, Tio Patinhas e seu boneco, Bob Evans,) CORO Tio Patinhas! TIO PATINHAS (O boneco é quem fala) I am Bob Evans, I live with Johnny Donald in a House of love! He is the Jocker and the Duck is my lover! Hello. LAURA BEATRIZ Tradução Cacilda Julia, português você entende, não é? Eles vivem juntos numa casa … Una casa calor, …quer dizer, eles tem um caso de amor. CACILDA JULIA Que gracinha! Tem pintinho! (testa séria Johnny) Its good is Johnny ? CANTOR DONALD JOHNNY Oh! It is very good! It is small, but good! CACILDA GUI JULIA Acho que eu vou desmaiar… (saia justa na família Donald, a cortina é fechada engolindo os personagens patos) ROULIEN CONFUCIO 47
(Corre para ampará-­‐la nos braços) Nunca te vi assim… Se você não tivesse tanto medo do amor e eu não tivesse uma fama tão terrível, eu me incumbiria de te distrair. CACILDA JULIA (segurando com as duas mãos no rosto de Roulien) Faça isso Confucio, pelas deusas. Tenho levado muito a sério o dever da infidelidade! ROULIEN Vou testar mais. Um dia destes, de madrugada, bato na janela do teu quarto! (sai. Sonoplastia: dá um 3º Sinal. Cacilda vai correndo para o Palco onde estão Raul, Laura, Rosita e Sadi diante da cortina fechada.) NOCHE PARAGUAYO O PATINHO FEIO: DEFLORAMENTO NO PALCO COM A CORTINA FECHADA LAURA SUAREZ (em frente a cortina, com o elenco) Hoy el espetaculo es dedicado a los cadetes paraguayos, aca presentes! E a El padre de todos: El presidente Lugo! DONA ROSITA CAROLINA Viva la guerra del Paraguay! ROULIEN (de dentro da cortina) Burra! Eles perderam a guerra, foram massacrados por nós, brasileiros! Cala esta boca! Sua Burra! LAURA SUAREZ (diz para o presidente) Yo quiero ter un filho com usteds! CACILDA (do palco) Yo tambien! (sobe um cadete, vindo da Platéia Norte, e traz um cesto de camélias) LAURA INÊS 48
Mira! Que hermosura vien llegando! ES La cara de su papa! SADI Que garoton! (Sobe um Garotinho, uniformizado, vindo do Norte, com luvas brancas e uma cestas de rosas brancas. Entrega para Laura) LAURA INÊS (Lê o bilhete e soletra depois dengosa: merda. Sem som, para os colegas) De Dulcina que está aqui na platéia. Uma salva de palmas para a maior atriz brasileira viva! Nós queremos dedicar e mostrar a você toda a nossa força. (As luzes se acendem e Dulcina aparece, precisa uma Peruca exagerada, óculos negros, sapatos de Carmem Miranda, e a boca pintada como um Bicão; as flores vão todas para a roda, em baixo no Camarim de Cacilda onde haverá outras) DULCINA Merda! CORO Merda! FLORAMENTO LAURA INÊS A noite do floramento! (A Cortina se abre com Roulien de roupão que de repente abre o roupão e mostra o pau pra Cacilda) ROULIEN DANIEL GONZALES Você não gosta mesmo de mim? Que injustiça! (mostra-­‐lhe o pau; Escandalizada, dá um tapaço na cara dele.) CACILDA LAURA Meus dedos ficaram lhe na face, em baixo relevo, querido! ROULIEN DANIEL GONZALEZ Você me machucou aqui. (aponta) Você não pede perdão? 49
CACILDA LAURA Ponha esta roupa! Eu quero ir-­‐me embora. ROULIEN DANIEL GONZALES (segurando Cacilda) Não, está doendo. Só se você me beijar aqui. Você é minha mulher… insubstituível. CACILDA LAURA Insubstituível! ? Porque você não encontra outra que te agüente! Laura Inês trabalha com você, mas ela não agüenta o que eu agüento. LAURA INÊS (entrando com flores) Daniel Gonzales, você já está assim? ! No começo da peça, nú, Que mania… Na frente da caçula! (Dona Rosita cai na gargalhada, abrindo o roupão de Roulien para ver seu pinto) SADI DR TORRES Rosita Carolina deu para rir! CAMILA CORIFÉIA Além de los cadetes paraguajos, Dulcina, o público Toda Companía vai atuar. O Coro todo vai atuar. (improviso pra preparar o público; escancara as cortinas do camarim) ROULIEN Venho para o jantar. CACILDA LAURA Temo que o prato seja eu. CORO (rápido) Ao molho de flores. CACILDA (Ao Ponto Zé Carioca) 50
Me desfrute antes de Raul, sou sua iguaria! Anda! Já! Faça este já este papel! Eu preciso ser infiel! (Tambores rufam, suspense, a companía torce. O Ponto Zé Carioca atraca Cacilda. Ele bambolea e ela muito mais que ele, caem e rolam até o buraco do ponto. Estão abraçados, Cacilda e Zé Carioca, com um muro de flores embaixo deles. O Papagaio vai deflorando, dizendo várias vezes; com Coriféia Camila e os atores do coro, regendo o público nessa ação coletiva de floramento.) ZÉCARIOCA PONTO HERMES Bem me quer, mal me quer (na trilha Sagração da Primavera; joga as flores para todos os lados.) Floramento. Você não sabe beijar como um Papagaio Meu bico te engole pela Boca, amor, te engaio ! (prega um escandalosíssimo beijo; Explodem em gargalhadas. Cacilda ri também.) RAUL ROULIEN Acompanhe as reações dela: Agora, luz pálida verde agora… rubra Black out! (A Cortina se abre e se fecha para os aplausos) CACILDA Santa Dulcina ! (Cai de Joelhos) Perdoa Diva Divina Por “Nunca me deixarás” ter deixado DULCINA Mas nunca nos deixaremos, Somos amantes do mesmo Amado O Teatro! Nosso Amor sem Pecado! Esta Cena entre uma ave nativa e outra humana é simbolismo puro, pra quem teatro ama! Puro Maeterlink! O Pássaro Azul verde Amarelo (entra a musica do Pássaro Azul, Chove muito, a ponto de Dulcina abrir seu Guarda chuva que chove como em Cacilda!) CACILDA E o Vermelho! Gostou muito de mim? 51
E do Raul? DULCINA Adorei este quarteto fantástico, mais que humano Ah brasileiros, cada vêz mais, de nós me ufano! O Patinho, o Periquito, o Galã, (Raul abre o roupão e mostra o páu) e a Galoa! (ri) Que sobre vocês não cesse mais de chover, essa Chuva Boa! (sai dizendo alto sua principal fala:) Essa Chuva que não passa! CACILDA Choveu na nossa horta, um Temporal Roulien você esteve Magistral! Magistral! SADI (da rua entrando com jornal) Você leu as críticas? ! CACILDA Não li ainda. Não saiu vale. Estou sem dinheiro e nem jornal posso comprar. E não saí daqui. SADI (lendo) “Sadi Cabral exuberante de expressão e de verbo, sucita riso entusiasmo e animação. Cacilda Becker, na derradeira cena, um estranho imprevisto. Laura Suarez, Demonstra fina educação artística, mas pouca teatralidade. Como ela interpreta mal! CACILDA (suspira triste) É a pura verdade. LAURA (que estava ouvindo, saindo do banho) O que é a pura verdade? ! Você quer imitar o Raul e enche a peça de cacos, mas não sabe o que fazer pra aparecer e aparecer. 52
CACILDA Eu só estava fazendo um comentário artístico até fiz uma expressão de tristeza. Porque acho que você não compreende o estilo espontâneo do nosso teatro… Uma crítica artística. Você não vive falando para mim? "Cacilda solte os ombros, relax… Stanislaviski… (empolando a voz) São técnicas que apreendi Na Dramatic School of Drrrrrama! A única que eu vejo é esse o ovo de galinha choca na sua boca. Meu trabalho, sem convencimento, foi posto ao lado do de Roulien. Todo mundo diz que na peça só existem três pessoas: Raul, Eu e o Ponto: Zé Carióca! CORO E o coro? LAURA Sua pomba gira praiana. SADI Boa noite, Cidinha. Boa noite Laurinha. (sai) ROULIEN Meninas não comecem. Vamos tirar essa diferença em cena "Sururu em sociedade" Vamos quebrar este pau, (Cacilda, Laura e o coro olham para Raul indignados) quer dizer… esta pomba… em cena. (Inara entra e começa a troca do Sururu) LAURA Eu saio da Cia, arranje uma substituta. (escarra no chão) CACILDA Porca! Apreendeu isso lá é? ROULIEN 53
É sério há uma cena de vocês duas brigando pra valer, vocês podem me dar um descanso, tenho apanhado demais… LAURA Não conte comigo para fazer a Favela dos Teus Amores. Bye! CACILDA Laurinha, é na base de ou eu ou ela? O que eu falei é bobagem, coisa sem pensar… LAURA Cancelem o espetáculo. (somente aí Laura sai pra rua) ROULIEN Se tivessemos um sindicato forte e não fosse o papaizinho Suarez, você não faria esse papelásso Laura. Só no Brasil! CACILDA Que fazer? (entra Dona Rosita que estava ouvindo) ROSITA Eu faço o papel dela! ROULIEN A dona Rosita faz o papel dela. CACILDA Não nunca! Nem sonhando! Nem dormindo! Ah Mas a Laura é Fantástica. A Maior atriz madura Brasileira! ROULIEN Depois da Rosita que está já quase podre. LAURA (reaparece da rua) 54
Voltei. Não resistí a tentação. CACILDA Ridícula. ROULIEN Terá de pagar multa e danos causados… CACILDA Benvinda Miss Laura! Ah o espalhafato que você fez?! LAURA Vou fazer Pior em Cena. CACILDA Com muito prazer. Vamos? LAURA Vamos (Black out. A direção de cena fecha o buraco central) ROULIEN Meus senhores e Minhas senhora com vocês: ”Sururú no High society” (As cantoras fazem o dueto das Flores de "Lakmé", opera de puro amor entre duas mulheres, o oposto do que vai acontecer em cena) ROULIEN ALVARO Barbara minha querida esposa, estou apaixonado por esta mulher… não ainda pela pintora ela só pinta caralhos enormes e bucetas inchadas de tanto trabalhar?! CACILDA BELKISS Um dos deveres do artista é insistir contra o mau gosto geral. ALVARO ROULIEN Mas vejo que você não tem ciúmes nenhum e está mais que eu, encantada pela artista! Deixo vos a sós, mando servir um drink? 55
(Sai.) BOA SAPATA Cognac "Napoleão"? "Paratí"? Ou chá mate Leão. BÁRBARA Pra ela Mate Leão e pra mim Napoleão. BOA SAPATA E pro patrão? Um Domecão! BÁRBARA Jorre aqui fonte! (A Boa obedece; as duas brindam no centro; as palavras em negrito são ditas por Barbara e a dupla Lakmé) Eu faço questão que você se case com ele, vai ser bom pras: epslepsias dele, controlar as dívidas dele, fazer o trânsito dos horários das amantes dele, fazer vestidos pra ele, preencher ausências de ensaios dele os coitos interrompidos dele… (Conforme fala vai bebendo) tratar da sífilis, dêle das hemorróidas e dos gases dele. (O Ponto Hermes Zé Carioca, vai ditando tudo que tem que ser dito contra Roulien; e o que está em negrito acompanhado por todo o coro) Zé CARIOCA PONTO Os canos no pagamento, dêle A confusão dos espetáculos dêle. CACILDA BELKISS Como a senhora é generosa de me dizer tudo isso! …Dêle! Mas está fazendo mau juízo, de mim! se pensa que eu acredito nesta comédia assim. BARBARA LAURA (abrindo o jogo) Não lhe permito que me arrebate o meu Rei! 56
CACILDA BELKISS No começo, como uma hipócrita, te tratei era pior, uma bêbada, me enganei… BARBARA LAURA Repita se for capaz! CACILDA BELKISS Bêbada! (A Briga é pra valer. Barbara dá-­‐lhe uma bofetada. Belkiss revida, as duas se engalfinham em luta corporal. Barbara é quem leva mais vantagens, puxando os cabelos da rival, e por fim derrubando-­‐a e predendo-­‐a entre as pernas como em luta romana. A musica abaixa um pouco, mas não sai.) BARBARA Você vai ter o que merece, Eu vou virar um Monstro! (a musica cessa totalmente) CACILDA BELKISS BARBARA Não, (cessa tudo de repente) meu Cabelo, não! Nunca, nem pensar. BARBARA LAURA Então, fora daqui. CACILDA BELKISS Sim (As duas estão arrebentadas, descabeladas. Cacilda chorando muito no camarim, fala com toda companía, mas como ninguém está presente, atira pra todo lado, e fala com o público) Querem um Conselho? Nada de Teatro. Não me arrependo de estar aqui mas é preciso um estômago como o meu pra aguentar o que se vê aqui dentro. E esse é um dos melhores teatros hein? (gritando para que os colegas e o publico ouçam) Sabem que aqui se contam nos dedos as mulheres decentes! E os homens não viciosos então!? Zero: estatisticamente! Não é atoa que se fala tão mal desta gente. Nunca hei de me igualar a vocês, nunca! Raul sua atitude é irritante, sádica. Para mim isso é C I Ú M E S. Vejam a minha situação. 57
Laura, você com ciúmes. Rosita com ciúmes, Raul com ciúmes. idem idem. Ciúme. Ciúme. C I Ú M E! (Sonoplastia com toda força entra com Othelo de Verdi como uma explosão e naufrágio; o vídeo projeta este texto:) POR CIÚME DAS POTENCIAS COLONIAIS EUROPÉIAS ALEMÃES ZAISTA QUEREM COLONIZAR A AMERICA DO SUL E EXPLODEM NAVIOS BRASILEIROS (depois, a vinheta do repórter Esso e depois a voz com a notícia) VOZ OFF DE RADIO DE CELSO GUIMARÃES Navios Ilhas da Atlântida Brasileira: Buarque, Olinda, e Cabedelo, são afundados por submarinos nazistas nas costas brasileiras. (Projeções devem nos levar ao fundo do Mar como a Atlântida que afundou sob as águas e que depois vai emergir no Desfile, do Fim da Guerra. Mixa com a Imagem do Cassino da Urca, COM LUZ SOMENTE EM CELIA CARMEM COSTA, cantando "Baquiana nº5” em arranjo da Fase Ouro do Samba.) CARMEM COSTA Grita ao céu e a terra toda a Natureza! Cala a passarada aos seus tristes queixumes E reflete o mar toda a Sua riqueza... Suave a luz da lua desperta agora A cruel saudade que ri e chora! Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente Sobre o espaço, sonhadora e bela! (quando Célia começa a cantar em Boca Chuisa, entra no Circulo central a mesa de aniversario da maioridade de Cacilda na Urca) CACILDA (bolo dos 2l anos) Na maioridade de 21 anos Por Dionisos Colhida Florada mas sofrida, já vivida. DONA ALZIRA Minha filha mudou, Ah! quem conheceu! Emagreceu! Encolheu! O brilho de estrela, perdeu! Marcada, desiludida 58
precocemente envelhecida, por esse deus impotente: quer dar vida ao Teatro mas o Teatro pode matar tua vida ou te deixar demente. AS IRMAS Cultura! Cultura! As pessoas acabam Burras! Burras! E Duras! Duras! DONA ALZIRA Dê-­‐se agora um presente. QORPO SANTO Vem com a gente para Santos urgente! Antes que caia doente. Fome Miséria. Não erra! O Brasil entra na Guerra. Vem aí racionamento. Gloria, reconhecimento em outro movimento. CACILDA. Pensei que já pensava por mim escolhi que escolheria por mim e agora me sinto fraca humilhada insegura nesta encruzilhada. QORPO SANTO Da vida dada, deflorada florada todas sofremos passadas passada a paixão apaixonada. Mas agora deixa de ser otária cante a ária da secretária Empregada em firma consagrada. IRMÃS Cacilda, querida! é só pra não perder agora a vida. Mais um roubo, só que agora ao Teatro. Onde será devolvida depois de um entreato. Mas agora, Rompe teu contrato CACILDA É um jogo de Sorte 59
Cassino de Vida ou Morte. Paixão nas Artérias Joga versus M I S É R I AS, Perco no Primeiro Contra Tempo E volto? Eu que nunca quis saber voltar… Se deixar de ser artista cessa a razão que eu exista! DONA ALZIRA Como mãe, pela primeira vez eu te obrigo. Você me obrigou a te levar pra Santos numa noite que chovia. Agora é sêca não chove já há dias. QORPO SANTO O Teatro pode ser agora teu assassino: adia pra outro dia este teu destino. CACILDA Se é o que tem de ser, não mais insista tragédia, me entrego! De Secretária, me vista. DIRCE Agora mamãe a festa é dela… CLEYDE Cacilda, apaga a vela! DONA ALZIRA Os desejos. CACILDA As necessidades. AS IRMÃS, A MÃE, CACILDA E AS TIAS Fortes e Cia. Seguros em Geral CACILDA Ainda não! (Banda e Canto param) Ainda não fui decente em nenhuma peça. 60
E eu sei que quem vai fazer "Mayerling. " "É a Madame Suarez! Eu sou a eterna cocotte! Chega. Vocês tem razão. Vou ser secretária! Mas uma despedida necessária! Não! Meu Qorpo Santo! Ainda não! Antes preciso vestir a pele do Lobo! Vou deixar o Roulien Bobo! (Cacilda apaga os seus 21 anos e Célia Carmem Costa dá em boca chiuzza numa oitava acima, um agudo como o de Bidu Saião) CAMARIM – NA PELE DO LOBO ZÉ CARIOCA PONTO HERMES Rauuullllll!!!!… (apresentando as deixas do novo texto) Sim. Agora é Lucia de "Na Pele do Lobo" Rauuuullllll!!!!!!! Tua Rival não entra, é só você. Toma tuas falas… parte da pele do animal CACILDA Não, eu sou o Lobo agora, no final: Quero saber da peça toda meu Louro ! Quero toda a pele, a carne, as víceras do Lobo ZÉ CARIOCA PONTO HERMES (com uma lanterna) Nunca: o Lobo me come, acaba comigo, Promete então Lobo, não me atacar, eu viro chapeuzinho e você pode me jantar. (passsa a lanterna para Cacilda), as partes estão em cada mesa do camarim não me entrega, senão, pobre de mim! (Ela está só, vai de camarim em camarim e começa ler a peça inteira, vai apontando com a lanterna o texto e dizendo o nome de cada personagem-­‐ator atriz, lê transversalmente cada texto:) Garoto: Wilsinho Lazaro. (acende nas Telas, uma foto de Cuca no Menino de "Godot") Criados: Dona Rosita e Louzadinha. (foto de Freddy Klemman em "Adorável Julia" Kleber Macedo "em Moeda corrente no País", como as Boas de Genet.) Benvindo: Sadi 61
(Foto de Zienbisnki na "Longa Jornada") Aurora: Aurora Aboim. (Foto de Tônia Carrero numa "Certa Cabana") Fernando: Raul Roulien. (Foto de Walmor em "Gata em Teto de Zinco Quente" até voltar ao de Roulien) Lucia: Cacilda Becker. (ela contempla as fotos de seu futuro) (para o Publico) Eu li a peça toda, gente! (Muito ao Longe musica de Nick Bar com Dick Farney. VÍDEO: Zimba na foto que aparece no fim do 2º ato pra velha senhora; Walmor e Cacilda em Esperando Godot, como a de Cacilda gritando muda; e o CARTAZ DAS DIONISÍACAS = PEÇA TODA = PÃ.) Vejo toda minha carreira! Sou neste instante vidente! Cacilda com todas as exclamações, mas tenho que aproveitar, Vidente vi: minha vida vai ser muito cedo, interrompida (acendem todos os camarins; Foto de Cacilda Velha Senhora, em Godot. Senta-­‐se e contempla as fotos dos camarins, projetadas nas telas, as de seu futuro e de seu presente. Todos se sorriem e se entreolham, numa cumplicidade imensa enquanto o relógio dá l2 badaladas da meia noite, chove muito) ROULIEN (no seu camarim para todos) Meia noite, o ensaio acabou. CORO Cacilda, que interpretação!? Que Lucia! (Todos estão extasiados com Cacilda, um milagre teatral ocorreu.) CACILDA É que eu roubei o texto de vocês todos. CORO O que? CACILDA Agora conheço mais que as deixas. Sei da peça toda. Eu sou o Lobo! ROULIEN Nem toda. Por exemplo: Fechamos com o Boa Vista em São Paulo! 62
CORO São Paulo! São Pão! Vamos ganhar um dinheirão! CACILDA Ah minhas irmãs, minha mãezinha. 1 DO CORO Vem, Raul, vamos comemorar! ROULIEN Não, vou ficar, Boa noite, podem festejar! (Todos apagam as luzes dos camarins e fecham as malas e saem. Cacilda fica só com Roulien) MAYERLING ROULIEN (entregando-­‐lhe um texto E mais, em São Paulo você vai ser a heroína de "Mayerling". (Cobre Cacilda com uma capa imensa, e vestindo outra que traz também consigo, entra o Prelúdio de Wagner do Crepúsculo dos Deuses) CACILDA (explode seu Fogo, vestindo-­‐se) Eu? Em trajes de Baronesa? Vamos nos suicidar? Tomar morfina? Abdicar do trono da Áustria por nossa paixão? ! ROULIEN A primeira estrela romântica brilhando no Espaço Está chovendo muito, vamos juntos pro Mayerling Hotel, nosso Palácio! Vamos em segredo. (Se beijam e vão deitando na cama apaixonados. Faz docemente Cacilda deitar a cabeça no colo dele. Roulien se põe a beijá-­‐la carinhosa e sensualmente, tem Morfina e um revolver) ROULIEN PRINCEPE RUDOLPH Meu maior desejo em toda minha vida foi nunca me apaixonar. Mas a tragédia aconteceu: eu estou apaixonado por você. (se beijam apaixonados) Dói demais, só passa essa dor com Morfina. Amada Amante Morfina. CACILDA MARIA VETSERAA 63
A dor é grande demais, vem prima irmã, amante morfina! Sensual como nosso amor, em mim quente urina! (tomam morfina e ficam deitados lado a lado.) ROULIEN RUDOLPH Em São Paulo quero que você só faça o que gosta mas na nossa intimidade apenas. Você não pode ser exposta sob pena de antecipar o supremo sacrifício do nosso suicídio. (pega o revólver, põe no coração; ela beija o revólver) A única coisa que eu quero que anseio é que interprete bem Baronesa ou morremos juntos, com o fim da realeza (Cobre Cacilda de ardorosos beijos, Luzes apagam-­‐se) O TREM (A Cia. Roulien senta-­‐se e desloca-­‐se para São Paulo, com a Sonoplastia do Trem sobre o Mayerling que persiste. A cortina deverá estar fechada. Cacilda entra por ela, que se abre depois que ela estiver de roupas de empregadinha e voltar pra agradecer. As irmãs e a mãe estão esperando na estação, cheia de fumaça. Cacilda corre para um abraço, saltando do palco; o coro pega sua mala e vai para o palco) ESTAÇÃO DA LUZ (sempre com a musica de Wagner) AS TRÊS Amor! CACILDA De quem mais sabe amar… AS QUATRO (abraçadas) …na terra. (Sai Mayerlinge que mixa com a Sinfonia de Uma Metrópole de Lívio Tratenberg e Sukorski, Cenas Projeções Imagens da metrópole de Sampã: paisagem de estúdio de arranha céus, Martinelli Viaduto do Chá etc…) PALCO DO BOA VISTA (Abre a cortina. Cacilda sobe para o palco, está com uma Capa de Uniforme de Empregada da personagem Henriette, de roupinha de criada de cetim preto e linho branco. Mas mais parece uma Baronesa, uma boneca Polonesa frágil, de louça. Está de empregada mas mantém a altivez da Baronesa de Mayerling! Estão todos agradecendo os aplausos em frente a Cortina) 64
CACILDA O muito obrigado de uma caipirinha do povo paulista que se orgulha de ser atriz, ou melhor de uma atriz que se orgulha de ser uma caipirinha do povo paulista. (A Cortina se fecha, Cacilda e Roulien olham com as carinhas e o corpo atrás delas, cortinas) Os Mesquita a-­‐ d-­‐ o-­‐ r-­‐ a-­‐ r-­‐ a-­‐ m! ROULIEN Os Frias detestaram! Onde os Mesquita estão? CACILDA Naquela frisa, ao lado da taboleta presa na coluna, onde está escrito "Propriedade da Família Mesquita". SADI Raul Roulien! (percebe a molecagem da dupla, manda ABRIR A CORTINA , POIS O ESPETÁCULO ACABOU) Não é possível. O dono da Companía compartilha com a indisciplína. Nunca faríamos Mayerling, não é pra essa Companía fuleira. (Sonoplastia, acordes violentos da musica de Mayerling que retorna e não vai sair mais por um bom tempo) CACILDA Como "nunca faríamos"? SADI Perdemos os direitos. Raul não te disse? Foram comprados por uma milionária que quer fazer teatro. CACILDA Raul?! Não vamos mais nos suicidar? Tomar morfina? ROULIEN Perdemos, mas eu nem falei nada porque eu tenho outros plano. Você fará… CACILDA Vamos abdicar do trono da Áustria, antes de termos conquistado? 65
E o poder da nossa nossa paixão? ! (Cacilda está tonta, decepcionadíssima! Entram um jornalista e um fotografo da estréia paulista; Sai Mayerling) CACILDA (para os convidados) Acabei de ter a maior decepção de minha vida Apareçam outro dia, pra uma despedida! TITO Mas nós tinhamos marcado uma entrevista para O Universal! CACILDA Ah! Faço uma exceção, pois tenho uma Bomba. (Caminham para o Camarim de Cacilda: esta se dirige ao ponto Zé Carioca) Temos direito a vale? ZÉ CARIOCA O seu Roulien disse que toda bilheteria foi pra pagar dívidas da Cia… CACILDA Quer dizer: Fome, desculpe, sr…. TITO Fleury. Tito Fleury. CACILDA Desculpe-­‐me de obrigá-­‐lo a assistir esta cena. TITO É a da dificuldade da vida artística no Brasil, eu compreendo. Posso mandar buscar alguma coisa para comer? CACILDA (como uma princesa) Uma média e um pão com manteiga. TITO Só? CACILDA Só. (Tito dá moedas ao fotógrafo que sai) TITO Pode-­‐se viver de teatro? 66
CACILDA Já está correndo a entrevista? TITO Claro. CACILDA Absolutamente. Não. TITO De que classe é a responsabilidade? CACILDA Da mentalidade burguesa do rebanho! Teatro bom é caro, o grande publico da Tragédia Grega ainda não foi ganho! Empresários gananciosos que nada tem a ver com o Show, mas só com o business? Atrizes ricas sem talento sem ter com o Teatro o menor envolvimento, comprando direitos de peças pra se exibir! “O Universal" poderia debater. Falta verdadeiro interesse artístico. Mas virá a renascença, fatalmente, quando se descobrir o incomensurável valor do teatro. TITO O Teatro não remunera bem? CACILDA Nem financeira, nem artísticamente. (Ela está saindo dos trajes da personagem da empregadinha) E o jornalismo? TITO Parecido. CACILDA O sr. vive dele? TITO Sou eu o entrevistado? Não, não vivo. Trabalho numa construtora com meu pai. Mas como jovem me interesso muito pela atividade política e cultural do nosso tempo. Nossas lutas! 67
CACILDA Notícia de primeira Mão: Tome nota Vou abandonar o Teatro. (Entra o Acorde Inicial de Mayerling com força para esta musica não sair tão cedo; ela tira a Máscara da maquiagem com a toalha, bem japosesa; Ele hesita) Pode escrever. Depois dessa viagem, termino meu contrato, sem dinheiro e volto pra Santos, pra trabalhar como caixa de um doleiro. TITO E onde poderia encontrá-­‐la? CACILDA Não sei ainda. Acabei de decidir. O senhor entrou em cena, num momento da peça toda em que a réplica, é esta. TITO Então sou uma personagem que tem a ver com a peça. CACILDA Pode ser. (o fotografo chega) TITO Deixo meu cartão para um Segundo Ato. Chegou o café com leite. CACILDA Perdi a fome. TITO Eu posso passar amanhã e convidá-­‐la pra um lunch? CACILDA Aceito: outra média. Quente. TITO Uma foto. (O Fotógrafo fotografa Cacilda de Turbante em frente ao espelho – saem, sai a Luz, mas Myerling de Wagner não pára, e agora estão numa Praia em Campos, branca como a neve de Mayerling. Entra Roulien trazendo o lenço do contrato.) ROULIEN (apaixonado) 68
Ainda explode em mim, a “Bomba”, de tua partida! É melhor um Tirano no Teatro, que fora, na vida! Não vamos ser os primeiros românticos no Mayerling, mas no Teatro não é sempre que se acerta com estilingue. O Deus Dinheiro já destruiu nosso sonho de suicidas Você vai deixar todas as cocóttes desta vida perdidas? Vai para o teatro das esposas sérias? Não desista! Cacilda, não diga adeus a vida de artista! O engenheiro agora é o todo poderoso? Mais que teu Príncipe Rudolph, que você achava gostoso que ia com você todas as noites pro Mayelerling Hotel? E pôde por poucas, ser fiel. Acabou nosso contrato no lenço? (mostra o lenço) Foi cumprido? CACILDA Foi, e só no no fim descumprido. (Cacilda beija Raul) E por que não dizer, e pela primeira vez, fui muito fiel. Fui feliz com você no amor da Baronesa. (Beijam-­‐se longamente) Mas não vá para o Deserto Felipe Confúcio, por amor à nossa grandeza! Adeus Roulien, o show nunca pára, nós as vezes, sim. Mas não é a última parada, ainda. (Roulien e Cacilda se beijam, o lenço voa das mãos de Raul, sopradas pelo Ponto Hermes Zé Carioca com a ajuda de um ventiladorzinho. Cacilda oferece flores à Dona Rosita, que recebe sem olhar pra elas e deixa cair, sem conseguir segurar, sempre rindo, caduca. Zé Carioca pega as flores pra ele. Laura entrega novamente o broche de ouro; elas se beijam.) ZÉCARIOCA PONTO Vou te encontrar no Próximo Ponto! Já estou até Pronto! CACILDA Adeus, companíazinha, fui muito feliz aí. (Cortina se fecha; aumenta o volume de Maylerling Wagner, que continua na cena seguinte.) PORTO DE SANTOS (Mayerling sobe, VIDEO entra com a projeção do PORTO DE SANTOS e FORTES E CIA; Cacilda é lá secretária agora, vive desesperada sua Ária de Secretaria) CACILDA (briga com cédulas de dinheiro, livros pretos de contabilidade, tintas coloridas) Deve-­‐Haver. 69
Azul-­‐Vermelho Verde Dollar Pronto Bateu! Não, quase! Já é o dia seguinte apólices, já bati mais de vinte! (volta a fazer contas e feliz proclama) Bateu! Bateu! Bateu! Azul! Vermelho! O sol nasceu! Estourei. Madrugada de de Reis. Não há mais ninguém aqui. Cacilda, contabiliza-­‐te a ti! (Em êxtase Iluminada, põe camélias no cabelo. Examina os dedos e os teclais da máquina.) Dedos Teclem no papel de seda: Branco Pardo Azul Vermelho! (Entra um senhor vestido com uma camisa esporte de bolsos grandes, como uma camisa de Safari, cor bége, tem bigodes enormes) Godot? Ia "me" escrever para você. JEAN SABLON Para mim? Non, Jo no se si soy quien esperas, mas estoy enchanté. Bonjour. Vous parlez Français? CACILDA Um cliente! meu Deus! Non je ne parle pas. JEAN SABLON Je viens d'arriver d’ un bateau Avec mes bagages Les Hotels sont combles! 70
Je tombe sur un jour ferié au Brésil. On m’a dit que peut-­‐être ici, chez vous, on peut avoir les moyens d’aller à São Paulô! Je vois que je suis arrivé. Chez une Dame aux Camélias! Tu m'attendais? (Tira uma garrafa de Gin e copos de dentro da bolsa) Mais vous dansez? Continuez… CACILDA Mon Dieu! É Jean Sablon! J atendrai… Eu não esperava! Nao, sim, eu esperava! J'attendrais! JEAN SABLON Dansez! Jo hablo spanol, falo portugues… um pouquito brasileiro. E comprendo muiy bien poesia… Habla. No queiro interrompe-­‐la, Soy musico sey escuchar…. Venga. Tu Poesia… para todo este (para o público) AUDITORIUM (abre o Gin) CACILDA (para o público) Eu não entendo o que ele fala, ele não entende o que eu digo… (para Jean e pro público) Só a ele e a vocês, eu posso me contabilizar… Há muito tempo que tenho desprezado a minha alma, eu tenho três personalidades (entram os três títeres) ao ponto de não saber mais como é que sou. Eu mesma provoco choques tremendos dentro de mim. Amo o que não devo amar, faço o que não devo fazer. O Deve e o Haver. 71
(De seu cinto saem 7 fios de cores diferentes que fazem uma pauta musical onde três Cacildas viram notas. A Cacilda azul pega três fios azuis, e leva pra cima. a vermelha Cleyde pega mais três e leva pra Baixo, pro subterrâneo. O terceiro. cinza amarronzado, Dona Alzira pega e leva para a extremidade norte, o beco sem saída. Fazem no o teatro a Pauta da Maquina de Cacilda) Essa é minha “incontabilidade.” Uma que é a pura essência da arte, fluida, bela e tem uma leve coloração azul; (Cacilda Dirce Azul dança com dois fios azuis nas alturas do espaço, no meio do Publico das Galerias superiores, a Sonoplastia é feita com as cordas internas do Piano descoberto, tocado por Marcão.) Outra muito material, tem uma cor de creme, com riscos avermelhados e roxos com um pouco de dourado. (Cacilda Vermelha com baton e pó dourado de maquillagem está no fundo dos subterrâneos do oficina, vermelhos no Ditirambo em tempo de samba de Pomba Gira) Outra é minha consciência. Parda, pesada, sóbria, severa. (se relaciona com Dona Alzira) Eu distingüo perfeitamente. (Dança sobre o azul. Na percussão Zé Carioca, sonoplasta da Rádio, como ator de ruído de sala, vai fazendo os comentários sonoros com play backs, indo junto.) Se minha primeira personalidade azul, vencesse! (Cacilda Gui dança todas, mas outras duas atrizes Cacildas incorporam com falas, protagonizando cada uma por vez) CACILDA AZUL eu sou quase uma deusa, pura, quase inerte, passo por tudo vibrando, refletindo como um cristal e produzo sons, um pouquinho dissonantes, sabe como? Assim como se eu caísse dentro de uma cascata e as gotas geladas 72
me fizessem gritar de susto. Aaaaiiiii!!! Uns gritos mais agudos e umas risadas que a gente dá sem motivo, um tanto desafinadas, mas bonitas. Eu sou impalpável. Tudo me faz vibrar, mas tanto sou diáfana, que nada é capaz de fazer sulcos muito marcados, nada é capaz de ferir-­‐me a ponto de fazer sair sangue. Sou assim como uma harpa, esguia, cheia de beleza, mas sem intensidade. CACILDA GUI Você gostaria que fosse assim? (Jean Sablon tem um "oui" de gozo permanente estampado no rosto, as vezes pisca, fecha um dos olhos, as vezes os dois e goza! Entra outra Cacilda Vermelha, que agora protagoniza.) E agora vamos a minha maravilhosa vermelha, segunda personalidade. (cabila da pomba gira) CACILDA VERMELHA Sou notável. Cheia de dinamismo, vibrante, um pouco má (acende cigarro) calejada sabe, ambiciosa, tremendamente forte. Sou assim como os pedais de uma harpa que avolumam o som. forte, intensa, humana, amo, choro, mordo. 73
Brigo lá dentro, desejo, anseio e tenho um prazer imenso em me encostar como um gigante em cima da Cacilda Azul e da Cinzenta. Vermelho e Cinza! Beleza! Me recosto como num divan, no fofo azul água de você primeira personalidade. Brinca com você de primavera e de vez em quando tiro um mi bemol (Pisa nos fios azuis como se pisasse numa Harpa, na tecla piano ela repete a nota e o sentido prolongado que a nota lhe traz) ou um si sustenido, (sustenta a emoção desta nota pisando na Cacilda parda) forte intenso. Sou a maravilhosa harpista, que toca por tocar para se divertir com a própria brincadeira e faz um barulho tremendo, gosto de fumo, de álcool, de beijo… (Luz chapada, de serviço, sem mistério, teatro direto do realismo das quedas nos aqui agora de trip de consciência sem música, somando-­‐se ás outras duas Cacildas. Silêncio) CACILDA GUI Estou sem graça, com a minha terceira personalidade parda: meu caro, eu quase não distingo, sou muito esquisita, a pobre coitada sofre tanto a força da azul da vermelha que ainda não está bem formada. É por isso que nem sempre raciocino com muita clareza Concordo com a audácia da vermelha mas discordo dos seu desejos; condeno a superficialidade da azulada, mas adoro sua forma, a cor e a verdadeira beleza que ela tem. É por isso que sou parda. Cinzenta quase. Vivo uma profunda melancolia: senho sobrecarregado, sempre procurando resolver um problema muito sério, decidir como um juiz, imparcial qual das duas personalidade será a mais forte 74
e a mais digna de vitória? Qual? É essa pobre melancolia que você vê agora no meu rosto: é a consciência pasma de mim mesma! Se você soubesse depois as consequências! A azul, Vermelha a princípio, ficam cheias de remorso e depois começam a rir, (Silêncio. Cacilda Vermelha pelo espaço todo, ri como a Enteada dos "Seis personagens") riem desbravadamente, (a Azul e a Parda também riem) loucamente! E sabe quem sofre? É uma coisa que ainda existe lá dentro que eu não sei o que é? Fica compungida, dá um aperto no coração! É algo que existe mas que quase nunca aparece! Nunca, nunca. Fica sempre desconhecida, mas no momento desse choque das minhas três cores ela surge de leve, mas persistente, parece assim, uma gotinha d'água que treme no canto aos meus olhos. É uma lágrima que chora. É esquisito! E de repente some de novo… (luzes coloridas; As 3 Cacildas se misturam) AS 3 CACILDAS E tudo me mistura, se condensa e dá assim essa confusão nebulosa, parda, azul, CACILDA VERMELHA dourada, avermelhada de som, melancolia, de um ritmo de swing, samba de balada, 75
CACILDA PARDA e as vezes …de inércia e espanto! AS TRES CACILDAS Essa confusão humana, absolutamente Cacíldica, minh’ alma? Não sei, nunca ninguém descobriu; nunca alguém atingiu, nem eu, mas todas as coisas juntas, tocam e fazem vibrar. CACILDA GUI Por isso gosto e desgosto de uma coisa só. Por isso eu mesma não me encontro. Cansei de me procurar. Até parece uma grande orquestra, de quem não conhece instrumentos, e não distingue saxofone de clarineta. Não me peça para dizer o que significa 3 CACILDAS (cantando as notas) o dó, ré, mi, fá, sol, lá, si CACILDA GUI nessa sinfonia… e muito menos bemol ou sustenido. Isso será loucura ou falta de assunto? Quanta bobagem! Mas quanta verdade. (para Jean) Um beijo para você, tocador do lá desta sinfonia confusa, meu muso. (Beija Jean) JEAN SABLON 76
Tu es une Artiste, pás une secretaire. Me da tu mano. Usted esta en las manos de Jean Sablon. Tu vas à la Radio! CACILDA Radio! RADIO (o microfone desce do teto. Ramon coloca os fones nela. Era bom ela ter as orelhas de retorno. As cantoras vêm pra frente da cortina numa pressa de preparação) CORO RA! Dio (As cantoras correm pra trás da cortina. Prefixo tomando com som de Radio auditório todo o teatro. Acende o luminoso NO AR. A cortina se abre. As Cantoras cantam J’Attendrais em ZZZZZ com o coro ZZZZ) CACILDA Como em todas as terças, quintas e sábados às 22hs, aqui dos Estúdios da Radio Cultura, diante dessa coisinha, chamada... CORO Microfone (a família vibra do camarote de santos) CACILDA O som da minha voz, como locutora, Mestre de Cerimônias, anuncio para os ouvintes de todo Brasil, auditório, rádio–fãs aqui presentes. a voz do Esperado, Chegado: Monsieur: Jean Sablon (Entra Jean sablon de smoking preto. Introdução de "J'attendrais! "gritos de adoração do auditório; ele começa a cantar) JEAN J'attendrais Le jour et la nuit J'attendrais Ton retour 77
(Sons de avião sobrevoando; Sirene de guerra; corte de luz, todos assustam-­‐se) TITO Black-­‐out! Ligeira interrupção no nosso programa, Vamos ter alguns minutos de Black out, a notícia é só para o auditório… (Silêncio total) Getúlio encontrou-­‐se com Roosevelt na base militar de Natal e prometeu mandar uma Força Expedicionária à Europa. O Brasil entra na Organização das Nações Unidas e declara guerra ao Eixo. Tudo isso, Cacilda, eles querem que eu diga quando voltarmos ao ar. (o coro imagina-­‐se num Brasil que entra numa Guerra. Não é uma cena fria) CACILDA Chamam pra alistar-­‐se como pracinhas, pessoal da nossa geração!!! Vâncio, Johnny, Raul, eu Cleyde e Dirce também? (O coro do auditório começa a dizer nomes de pessoas queridas, que possam ser convocadas) TITO Jean cante uma canção para nos acalmar. Atenção! vamos fazer um esforço de calma. Eu mesmo não estou. A direção quer que entremos no ar, com você Jean cantando com o auditório A Marseillese. (Zum Zum no público.) JEAN Mas pienso que el hinmene internacionale, Pour le moment, pour moi, en vérité, para nosotros es "Eu te esperro" Moi j’arrive, chego ao Brasil, pour attendre, esperrar la guerra terminar comme tout le monde! Vamos cantar ce désir? CORO Oui JEAN SABLON 78
Cantemos em boca quiuzza Parra nos acalmarmos… Para rezermos pela paz, e que venha La paz. (Começa: J’Ateendrais, mumumummmmm… CORO E JEAN cantam em boca quiuzza para acalmarem-­‐se de repente as luzes se acendem: NO AR; todos uivam de felicidade por não terem sido bombardeados e Jean Ataca em Francês) JEAN Le moment exige fête, sil vous plait, (dirigindo-­‐se ea Cabine Técnica) projectem la letra de La version brasilera de “J’Attendrais” e cantemos todos juntos e dansemos para nos paquerar. (o coro canta com foco em Cacilda e banda faz um suingue pra frente, dobrado, desde o início) PUBLICO JEAN Flores desbotam. Lês flurs palissent Fogo no Fim. Le feu s'éteint. Sombras sufocam L'ombre se glisse Nosso Jardim. Dans le Jardin Ponteiros Tocam L'horloge tisse Sons tão chapantes Des sons très las Será que ouvi Je crois entendre ton pas. um deus berrante? Vento transporta Le vent m'apporte Evoé cantadas… Des bruits lointains Eu abro a porta Guettant ma porte Ah! Não era nada… J'écoute en vain… Não é ninguém Hélas, plus rien Godot Não vem… Plus rien ne vient Já esperei J'attendrais De noite ou de dia Le jour et la nuit Já esperei J'attendrais teu cheguei. Ton retour Já esperei J'attendrais Passarinho que voa Car l'oiseau qui s'en fuit vem pro ninho Vient chercher l'oubli no vinho Dans son nid. Tempo passa batendo Le temps passe et court alegremente Et battant 79
é o etherno presente Tristement Coração! Cai da cantada! Dans mon coeur plus lourd Já esperei Et pourtant Tô no fim J'attendrais E enfim Cheguei! Ton retour! Eterno Retorno! Retour… Chega depressa Reviens bien vite Que dia chato Les jours sont froids Que me interessa… Et sans limite noite sem teatro! Les nuits sans toi… Se foi embora Quand on se quitte Pra bem morrer On oublie tout Chega agora Mais revenir Salva o Prazer! Ç’est si doux… Traz Alegria Si ma Tristesse de meio-­‐dia, Peut t'émouvoir Poesia açoite, Avec tendresse chega esta noite… Reviens un soir… No teu abraço. Et dann ton bras Deusa renasço… Tout renaîtra… Já esperei J'attendrais De noite e de dia Le jour et la nuit Já esperei J'attendrais Teu chegeui Ton retour Já esperei J'attendrais Passarinho que voa Car l'oiseau qui s'en fuit Em buscar seu ninho Vient chercher l'oubli No vinho Dans son nid. Tempo passa batendo Le temps passe et court Alegremente Tristement O etherno presente mon coeur plus lourd Coração cai na cantada Et pourtant Já esperei J'attendrais Estou no fim Ton retour! E enfim/Chegei Retour… (FIM DO 1º ATO – entra J'attendrais imediatamente em Francês na gravação de Jean Sablon) 80
2º ATO (NO INTERVALO, MÚSICA DE SÃO PAULO OU SANTOS E BONS VINHOS E BOA COMIDA PARA O PÚBLICO NA ÁGORA, QUE DEVE IR APRONTANDO-­‐SE DESDE JÁ 3ºSinal; O teatro está no escuro, somente o radio está iluminado, entra o Prefixo do Programa “Labyrinto: Tuas mãos” em Tratamento Mântrico – Vox off com delay, bem radio) VOZ DO RÁDIO Radio Tupy: mais uma vez a captar o que nunca sai do ar os fios dos eMes em alta tensao vibrando nas Palmas de nossas mãos roteiro de nosso Instinto: no Programa Quiromantico: "Labirinto"! (LUZ Centra nas mãos de Cacilda, para o programa de leitura de mãos, som do Piano de Victor que vai até o Público dar sua réplica projetada) CACILDA Luz na voz de sua Cacilda Becker Atores, público aqui do auditorio Radio fãs, Ofereçam para a Luz suas mãos primeiro (Foco de luz no microfone, Cacilda com as mãos no foco. Camera de ecos, voz hipnótica) Contemplem-­‐nas: encontremos nosso paradeiro: Ficar entediadamente na vida amadora ou vivê-­‐la profissionalmente por inteiro? MIROEL (De arlequim, diante das cortinas fechadas, puxando Cacilda) Vem! Estrêla vem! A vida é profissão! O Arlequim te chama p’outra constelação Para ser segunda dama. Da companhia Bibi Ferreira! Fazer o exercício do papel coadjuvante! 3. 500 de Salário dão mais vestuário pelo Pacote inteiro! TITO Pacote, que pacote? MIROEL Cacilda e você, rampeiro! 81
TITO Ah, agora eu virei pacote… CACILDA (para o público) Público, o que lêem nas mãos? é certa a decisão? (projetada a fala do publico no telão assim; e sai o Piano de Victor) PUBLICO Sempre vai dar confusão… (Cacilda de costas pro público com Tito, bate palmas diante da cortina de Bibi) CACILDA Bibi! Abre a porta, que eu vim! Bibi! TITO Fonfon! (Entram na Cortina fechada que logo se abre e muda d luz como se fosse a do palco por dentro) MIROEL Chegaram! Boa Surpresa! Temos duas horas! pedido da Empresa. Caiu Bibi Nossa Fera!! Protagonize "É Proibido Suicidar-­‐se na Primavera. " Aqui está o Ponto. PONTO DIVINO GUILHERME Ponto Divino! Prazer! (passa o texto) CACILDA Divino Ponto! Outra vez? PONTO DIVINO GUILHERME Vamos passar o texto Juntos: “O casal mais feliz da Terra” CACILDA E TITO O casal mais feliz da Terra! MIROEL 82
(Fascinado) Você está a Gaivota Mais q a Nina da "Gaivota" (O ponto passando o texto, falam, repetem este 1º verso. A rabeca traz o Hotel dos Suicidas.) CACILDA E TITO Ah! É tanta a felicidade de nossa vida que só nos fará mais felizes, a alegria do suicida queremos juntos nos suicidar (O espaço se abre mesmo. Nos vídeos famosos Suicidas: Sócrates, Cleópatra, Sêneca, Getúlio, Torquato, Kurt Colbain. Todo Cenário se abre, muito parecido com o da Gaivota. O Teatro vira o Teatro do lago, inundado pelo público. Conforme Miroel vai falando o Coro vai apresentando os instrumentos de suicidio) MIROEL Público, vocês são o Lago, e também os peixes suicidas, para vocês agora estão sendo oferecidas, cordas para enforcamento, venenos, revolveres, tarjas–pretas, e a todos, anjo do inferno querido, Gáz envenenado colorido… CACILDA CLARA E TITO (em cima do palco central) Todo este espaço pra morrer! Público meu Lago, vou me afogar em vocês (Começa a galgar as escadarias da arquibancada lateral esquerda, enquanto Tito faz o mesmo à direita, até q param, pela surpresa das divas que começam a entrar – cantoras liricas de personagens suicidas cantam árias ao mesmo tempo, La Gioconda, Madame Buterfly, Suor Angélica, Tosca… ) TOSCA O Scarpia, avanti a Dio! (suicidam-­‐se coletivamente nos seus vários lugares, atiram-­‐se dos praticáveis como Tosca, fazem o Harakirí como Madame Buterfly, ou tomam veneno como Suor Angelica e cantam o som do suicídio. Matam-­‐se também os que estão com cordas para enforcar, tarjas pretas, etc...revolver, ouve-­‐se um tiro da Sonoplastía O VIDEO se liga no leque da Cena do Suicidio da Buterfly, deve focar 1º ni Punhal de Leticia q se esfaqueia /2—no leque de Buterfly q de punhal vira o sangue q ela derrama, o VIDEO TEM Q VER, E NAOMI SUOR ANGELICA COMENDO ERVAS VENENOSAS) CACILDA CLARA 83
Mas assim juntas, Suicídio é Orgya! Vou dizer os versos aqui do mais alto, em doce Alegria Tito juntos nos suicidamos assim, você vem da galeria. MIROEL Mas nem o Ponto Divino te alcança coração! CACILDA CLARA Faz comigo, soprando Canção (sopra a Canção de Asse) CACILDA Descemos Tito e eu, caminhando de lados opostos para o Lago, suicidas numa atitude oferecida… (já em êxtase, se dando ao Publico Lago, LUZ FORTE NO MEIO DO PUBLICO Cacilda Clara com movimento das virgens da Primavera de Boticelli. Cios de Gaivota. O Ponto Divino não fala o texto. Toca a música) CACILDA ESTRAGON SANTA TERESA (surge do buraco do Ponto Asse: A Cacilda Estragão de “Esperando Godot”) Vem morte tão escondida pra eu nem te possa ver aparecer senão o prazer de morrer, me dará de novo a vida. (Cacilda Clara vai descendo a escada contracenando com o Ponto, e Asse Cacilda Estragon, ) TITO Por que triunfadores, se matam mais que os fracassados? Jovens, mais que os velhos acabados? Os animais não se suicidam. CACILDA Os mais inteligentes, os Golfinhos sim, amor! OFERECEDOR DE CORDA O Escorpião! Só para evitar dor. CACILDA ESTRAGON (no buraco do ponto) A dor é intolerável creiam, quando o triunfo e o amor, nos rodeiam. (O PONTO DIVINO no seu sopro imerso no Lago do Subterrâneo central no Palco 84
Giratório central. Cacilda esta atraída por ele, pelo lago, pela música e por Cacilda Estragon. Quando vai cair morta no meio do público…) BIBI FERREIRA CLARA A vida explodiu de novo no meu coração! Espera! É proibido suicidar-­‐se na Primavera! (AS LÍRICAS TODAS RESSUCITAM, FAZEM UM HOSANAH JUNTAS RESSUCITANDO Com o Som de Bach Hosana na Sonoplatía-­‐tem no CD de Bach) BIBI Cacilda! Você foi… luminosa, como um raio! Com duas horas de ensaio! Vitoriosa! Cubra-­‐se, senão você pega pneumonia, e acaba me passando, esta EPIDEMÍA Não podia não perder o espetáculo, você entrou, eu cheguei. Maravilhosa! Mas pensei: Ela quer me fazer perder dinheiro? Nunca tive um fracasso em meu currículo inteiro! (olha para Estragon) Não quero arriscar nadinha. É só uma boa pecinha Pronto! E vamos fechar o buraco do ponto, re-­‐colocar as bambolinas, a Ribalta! Os vazamentos, as Cortinas! O Público tem que focar sua atenção Impossível neste espaço aberto como teu coração, Ah! E comece a decorar já a Myra, compreende? (para todos) Vamos estrear neste “Week End!” (todos se dirigem ao palco, Bibi segura Cacilda) Deixa-­‐me cortar teu Texto (Abre o original e corta quase tudo, Cacilda tenta impedir. Intrumentos da banda cortam com violência o texto.) Não há tempo, não fale A Aparência de Myra é tudo: é une femme Fatale! (Cacilda é vestida como Myra; o Ponto toca A Campainha do 1º Sinal; Cacilda esta namorando o Ponto, Tito aproxima-­‐se, ficam os TRÊS num xamego) CACILDA MYRA “Que fim de Semana" vamos ter hein! Na pauleira! BIBI JUDITH (à parte) Começo a não suportar esta mulher rendeira 85
que aflição, usa o sexo como rede pra pescar camarão! CACILDA MYRA Seu pai está? Ele é o nosso maior artista! BIBI JUDITH Você veio interessada em nossa companía ou em Sir Procópio Ferreira o maior artista da nossa freguesia? CACILDA MYRA Foi quem me chamou com os olhos pra esse chão (beija o chão do palco) que é também o teu Sou fã dele como de um deus! BIBI JUDITH Seu deus vai aparecer neste fim de Semana Mas vamos prum Jogo de Salão bem Bacana. (A cortina se abre e revela o coro da Cia já preparado para o Week end; Bibi gira a roleta de atores e escolhe Cacilda) Você! Faça uma despedida, imediatamente a partir da palavra: Vitoriosamente. CACILDA MYRA Vai já me despedir? BIBI JUDITH Que Paranóia! É pra chorar ou pra rir? Com esse repertório, vamos mambembar! CACILDA MYRA Você corta todos meus papéis! BIBI JUDITH Não há pequenos papéis, há pequenos atores. Você não sabe ser uma boa coadjuvante? CACILDA MYRA Nunca serei! (A sonoplastia toca o Hino da Inglaterra) BIBI JUDITH Sir Procópio Ferreira! Uma salva de palmas para o meu pai! (Entra Procópio Ferreira. Todos fazem reverências) 86
CACILDA Acabou de entrar esta Persona Gloriosa! Vou dar adeus ao deus que acabou de chegar: (para o pai Procópio David) Pai dos Pais do Teatro me afague! Deus lhe Pague! (para Bibi) Adeus, foi Vitoriosamente Encantador. JUDITH BIBI E tua pontaria? É assim? Porque diz esta fala pra mim? O ator inteligente, a atriz, se percebe pelo foco do olhar. Onde é que te passa pela cabeça nos deixar? CACILDA MYRA (Paquerando o Velho Ator, David Procópio Ferreira) O sr. conhece tão bem a alma feminina! DAVID PROCÓPIO (desconfiado) Que é que você está querendo menina? CACILDA MYRA O sr. é tão desconfiado! DAVID PROCÓPIO A sra. não va para este lado! Está enganada a meu respeito eu atuo muito mal, não tenho jeito! (como se não fosse dizer mais nada, depois cismado com Cacilda) Por que é que a senhora pegando na minha bunda? Está querendo trepar comigo na rotunda? CACILDA MYRA O senhor é tão direto! (cochichando ao som de uma Java, transmuta-­‐se inteiramente a cena, luz, tudo… é uma cena de fantasia) DAVID PROCÓPIO Indireto! Você se veste de Apache vai até o Hotel Labareda na Praça Mauá… Eu vou ao seu encontro de marinheiro… CACILDA MYRA 87
Tudo Isso? Só sente atração por sua fantasia? (o trompete dá o toque cômico da bola fora de Cacilda) (LUZ CRIA A FANTASIA DEPOIS ACENDE SUBTAMENTE LUZ FRIA APAGANDO A MAGIA FANTÁSTICA) DAVID PROCÓPIO (seriamente puto) Não gosto deste métodos de jogar água fria/ na fantasia!/ Por que você se dedica tanto ao lugar comum?/ CACILDA MYRA Que infâmia nunca me dediquei á nem UM! Está se destruindo querendo ser tão inteligente. DAVID PROCÓPIO Não seja tão estatuesca, oh! inocente! CACILDA MYRA Palavras, Palavras… (esbofeteia Procópio, que a beija. Entra Sorel) BIBI SOREL Ah! Desculpem-­‐me a interrupção. Quero separação! PROCÓPIO Boa idéia! Cada um com sua bilheteria! Seremos duas bolsa-­‐família! BIBI Papai, que maravilha! PROCÓPIO Vou é atraz da minha maior fantasia Uma grande bilheteria! CACILDA MYRA Vocês são a família mais hipócrita que conheci. BIBI Hipócrates é ator em grego. (Bibi já está diante do camarim que foi de Cacilda até então, no Centro, se 88
maquillando para fazer um “Bibi in Concert”) CACILDA "Que fim de Semana!" Engraçadissimo! Mas você corta as melhores piadas… dos outros claro. BIBI Uma peça não deve ter mais de 90 minutos, criança Senão vira essas jornadas imensas, cansa só de pensar em começar a fazer que dirá o público, nem vai aparecer! CACILDA É uma aula de comédia muito boa! BIBI Até muito riso enjoa! MIROEL Mas a critica foi justa, não contesto: (Lendo) "Cacilda dá valor a cada palavra e a cada gesto" BIBI Que exagero! Às vezes funciona mais jogar fora, sem desespero como quem nem pensa, o que está sendo falado Se-­‐não-­‐sai-­‐tu-­‐do-­‐ex-­‐pli-­‐ca-­‐do! O público é inteligente! Cacilda faz um esforço demente! Calma! Você está emagrecendo tanto! E tossindo por tudo que é canto! (2º Sinal. Bibi vai pra cena. 3º sinal a cortina se abre) CORO DAS LÍRICAS Bibi! Bibi Bibi! BIBI A Atriz: incorpora, transfigura. Vira fisicamente la figure! Mais que personagem Vira Xamã da reincarnagem, É uma Outra, muda voz, corpo, alma inteira É a alma da atriz musical brasileira! (comentam na coxia, enquanto Bibi dança contra LUZ, tendo Imagens suas, 89
Projetadas em seqüência pelo Vídeo) CACILDA Miroel. Não estou satisfeita. MIROEL Nem eu. Vou confessar: É preciso o Teatro que renova são indispensáveis formas novas, se não há, é preferível que não se faça nada. Os Comediantes estão conseguindo, outras luzes nesta estrada! (Bibi dá um chute em Cacilda e Miroel, atrás da cortina, pois a conversa está desconcentrando-­‐a.) CORO DAS LÍRICAS Bibi! Bibi Bibi! (Aplausos dos fãs, Bibi agradece; ELISETE abre e fecha a cortina pra Bibi agradecer, várias vezes; antigamente o sucesso dos aplausos se media pelo número de cortinas ques e abriam e fechavam. “Ah Tive mais de 10 cortinas!” – Termina por fechar a cortina que é transposta por Bibi que penetra os Bastidores) BIBI Eu atuando e vocês na maior sala de visita na Coxía! Sai, sua tuberculosa, vê se não chia! CACILDA EMÍLIA O quê? (Chorando.) Você com esta máscara: tem medo de ser contaminada, eu não estou tuberculosa! BIBI Não precisa fazer Barraco Foi só mais um caco. Pois te convido pra substituir a mais linda atriz brasileira que vai ter q sair: Você se acha feia, não gosta? Maria Della Costa!!! Vá pra platéia assistir o espetáculo de hoje, para saber as marcas. (Sai. 3 sinais. Cacilda vai para platéia assistir. Entra Maria no Proscênio tendo atrás as outras personagens, com Bibi de Centro, dançando uma quadrilha do Império, mas não há texto. Se movimentam, dançam quadrilhas em câmera lenta. A música, uma 90
modinha graciosa em rotação mais devagar. O ponto vivo de cena é Maria estática, entregue à Luz e à adoração. Em volta o brilho "afastado" do velho teatro de "A Moreninha"; musica de Debussy, Michelangeli -­‐ Debussy – “Voiles” ou “Le sons et les parfums_ you tube) MARIA Eles não acreditam no Teatro, é tudo embaço! E eu, nem sei onde por o braço… Vocês não sabem o que é uma pessoa se sentir representando muito mal, ah eu quero sumir… Vocês nem podem imaginar como isso dói, Agora, minha garganta rói! (pigarreia) Não consigo largar o cigarro estou com pigarro... Mas sei que sou uma Gaivota! Estou sendo motivo de chacota: uma celebridade anda rondando o Teatro do Lago querendo fazer comigo, o maior estrago! Busca na minha mocidade inspiração pra sua a falta de talento. Acha que se lhe der amor, vou lhe dar mais alento! Mas nessa não caio, essa celebridade não vai roubar minha vida nunca serei uma Gaivota ferida. (Da platéia, Cacilda entra na mesma cena, sem interrompê-­‐la. Maria lhe passa os vestidos) MARIA e CACILDA (juntas em surdina, quase inaudíveis enquanto se substituem) Mas hoje sou uma verdadeira atriz represento com sucesso em êxtase, no excesso sinto a luz que me revela acende meu rosto, sou com ela ainda mais bela! (Maria & Cacilda em cena, murmuram com muito movimento interior querendo tudo com os olhos dançando de um lado pro outro e se enchendo de lágrimas, a respiração asmática cresendo como que para um grito.) CACILDA (Num pressentimento, Arfando) O que foi!Ah! Ah! (sua angústia continua crescendo. Ouve-­‐se em surdina, um rufar distante de tambores, clarins. A Notícia da BBC na Raio com a 5ª Sinfonia) CORO A guerra acabou! 91
(PROJEÇÃO: O Mar da Normandia, ou qualquer mar, na Imagem, e no som, com a 5ª de Beethoven, gravação de hoje e a voz vinda da BBC, transmitindo o Armistício, o fim da 2ª Guerra Mundial. Animação da Atlântida Ressurrecta, emergindo das ondas, como se saísse da Baía de Guanabara, onde antes afundaram navios! Papéis picados do teto do Teatro para a volta dos pracinhas no fim da Guerra. Imagens de Escola de Samba Arco Iris desfilando Soldados, Marinheiros-­‐Fuzileiros Navais, Aviadores. Realces para as Estrelas de todas as bandeiras, brilham com luz própria. A Iluminação constrói uma Alvorada á Beira Mar! Ao VIVO: Porta Bandeira Soviética Vermelha com Foice e o Martelo, dourados. Brasileira, onde a faixa levava escrito Ordem e Progresso, atravessando em faixa ondulada a Bola Azul Central, transpassando o Losango em Vermelho, escrito “Amor Ordem e o Progresso”, projeção da Bandeira dos EUA, Estrela de David dos Judeus e Lua em Foice Muçulmana, Shiva dos Indús, Chinesa com a Estrêla de Mao. Tanques virados carro alegóricos, enfeitados de Rosas Vermelhas como no 25 de Abril de de 1974 em Portigal: a Imagens em “ O Parto”. O Coro parte dos Praticáveis do Norte alinhado em alas, inicialmente estático; Como um carro alegórico, a Banda faz o recuo no lago; Carmem Costa puxando o Samba da Vitória, de Othelo, o Mouro de Veneza, quando chega na cidade pela primeira vez) GRANDE OTHELO, CARMEN COSTA E CORO Raiou de Novo O sol da liberdade A paz se estende sobre o Povo O Mundo volta à tranquilidade. Foi vencida a guerra A paz se estende sobre a terra. Foi detida a Tirania Pela democracia. Ouço ao longe um rufar, um doce despertar de uma nova revoada. Os clarins anunciam Um novo Dia Uma nova Alvorada! Raiou de Novo… (o Coro abaixa o volume, canta em surdina, quando a Escola está toda de costas ao Sul, comprimida) CACILDA DESDEMONA (Cai nos braços de Othelo que cobre com o lenço dela o rosto.) Voltaste, meu Moço (passa o lenço tela pra Cacilda; é o mesmo lenço do Paraquedas de Roulien) Em carne e osso! OTHELO Venha ser a Íris, 92
A menina dos olhos, Estrela da Atlântida Santa Benedita Que nos Mares do Rio Re Emergiu! Sou o Grande Othelo Xodó do Orson Welles o Cinema valor Mil! Luz dos olhos do Brasil! (O Coro retoma com a Banda, a força das vozes. Envolve o público. De repente pane, nas luzes; LUZ e VIDEO: Não PRECISA de Black out para a PROJEÇÃO DA BOMBA ATÔMICA DE HIROSHIMA, NEM DA DATA; é mais impacto o corte e a luz fria. Basta isso, tem mais força, e não fica Didático, como um curto circuito ou um choque elétrico na atmosfera gozosa. Silêncio. Imobilidade Absoluta do Choque, Explosão Silenciosa. Todos começam a tiritar de frio, em silêncio. O desfile é partido em dois blocos que se situam antagônicos na passarela. Punhos cerrados X Dinheiro capitalista, gesto de $.) CACILDA Estrêlas! Pra desarmar essa Guerra Fria! Onde buscar nossa Bruxaria?! CORO DE MACACAS E OUTROS BICHOS No Buraco fundo, do Terceiro Mundo (Forma-­‐se o terceiro Mundo: bloco de macacas: quentes, mas silentes. Começa um toque fúnebre mas de Toré em torno do palco central rotatório) OTHELO MACUNAÍMA (anuncia) Mário de Andrade morreu Ficou Macunaíma, ficou só eu! MULTIDÃO DE CORO DE MACACAS E OUTROS BICHOS Meditatando no Tietê Mario te disse, eu sou você Você é eu! Ah! Antes de entrar no caixão disse assim seu adeus, oh deus Sambe minha Paixão com a Multidão! Sambe minha Paixão com a Multidão!” Cachorros, Cadelas, 93
Tamborins e se der Panelas Sambemos latindo, uivando chorando rindo, Macunaímas, vamos indo, latindo, deixando a caravana passar vencendo na ditirambada a derrotada vitória! (VIDEO: IMAGENS DESSA GRANDE ATRIZ:) MADAME MORINEAU Na Chama do Teatro (Madame Morineau acende um facho no carro palco-­‐cama de Othelo) CACILDA (Invocando) Na Luz de Cinema! (VIDEO PROJETA A IMAGEM DA ATLANTIDA emergindo dos Mares na Projeção, COM OS LETREIROS DO FILME – Não se esqueçam de por esta Imagem do Logo da Atlântida de cabeça pra baixo afundando com os Navios no 1º ATO, junto aos navios afundados – Cacilda com 2 rolos de película 35mm nas mãos diante da expectativa de Zequinho) OPERETA DE CINEMA: LUZ & CIÚME NA CASA DE PRODUÇÃO DA ATLANTIDA CACILDA (brincando com um rolo de filme no carretel 35mm) Frágil, película. Estou nervosa, ridícula, É minha primeira fita! Roleta! Me hesita e me excita (decide) quero, preciso, faço: “A Luz dos meus Olhos” Caneta, assino: a pena molho em meus olhos. CAMILA STAGE MANAGER Vocês, do público, excepcionalmente agora, podem usar seus flashes. Cacilda vai assinar o contrato com a Atlândida. Vou dar o sinal: já! CORO (cantando para a assinatura, com ruído de Sonoplastia de projeção de filme em projetor desblindado) A atriz é uma estrela… …vagabunda! 94
(Zequinho ao piano dá acordes triunfais de entrada. Entram flashs de fotógrafos: "Carioca", "A Noite" etc… Flashs espoucam. Manchetes nos vídeos: "NASCE UMA ESTRELA CACILDA BECKER!" CORREIO DA MANHÃ) FENELON Emerge dos mares do sul, a primeira Estrela trágica da Atlântida brazyleira! ESTUDIO CYBER DE TEAT(r)O BRINCANDO DE CINEMA (Zequinho entrega o Roteiro à Cacilda, apresenta-­‐a à equipe, ao mesmo tempo que ela e todos vão se preparando, pra começar: “Luz dos Meus Olhos”) ZEQUINHO Othelo! Othelo! Onde está o Othelo?! Cacilda é o Othelo do Rádio! (Entra Luiza) Me avisa Luiza! LUIZA BARRETO LEITE Decora, na hora se ordena "cena", ela encena?! Em surdina é ouvida num Estádio! ZEQUINHO (apresentando) Luiza Barreto Leite minha mascaradoura, das divas a dominadora! LUIZA Sua admiradora. Para a primeira cena, já, neste instante vista saia Preta e Branca Blusa Bufante ZEQUINHO (aponta o operador de som Gava) Coutinho… (Ramon já vai colocando calculando o Boom) COUTINHO Muito Prazer! Fala agora pr’eu testar, você: CACILDA O que? “Muito Prazer” (o som é captado e ampliado pelo Boom, que ecoa no espaço) 95
ZEQUINHO … Será preciso mesmo filmar neste Horário! COUTINHO O Som de Luz dos meus olhos, é direto precisa do silêncio… CORO (em surdina e alongadamente) …Secreto ZEQUINHO Por isso tudo, a velha Micthum acesa na noturna interna beleza roda na cegueira, iluminada da primeira à estrela derradeira. O fotógrafo Edgar Brasil! CACILDA Muito prazer, encantada! Não consegui assistir “Limite” EDGARD BRASIL Nem eu. (Com um medidor da luz nas mãos. MUGE BEM ALTO, EXAGERADAMENTE) ZEQUINHO Desde Limite não há bicho q Edgar não Imite A câmera com Monsieur Robert… na grua CACILDA Me sinto nua… que olhar! ROBERT Bon soir. ZEQUINHO Silêncio: à primeira cena. Tudo pronto pra Rodar? PRODUTORA Abro a gira, pra Exú! Oxalá! Cinema! Oração! Fresta! 96
ZEQUINHO Luz! Som! Câmera! Cena! Orquestra! ASSISTENTE Luz dos Meus Olhos, cena 1, tomada 1! CELSO ROBERTO (Chega brincando de cabra cega, tira o lenço que Cacilda leva nos ombros, E por trás os olhos dela.) Pela voz, nós do rádio, adivinhamos. CACILDA (advinha) Celso Guimarães! O maior galã da rádio nacional! O cinema vai reapresentar teu rosto! É como imagino ao vivo ou o oposto? É claro que é como eu penso: tira o lenço! CELSO ROBERTO Pela primeira e última vez… Meus sais, meus óleos, Vou ver: a Luz dos meus olhos… CACILDA Somos… Projetores?! CELSO Indiscretos, Reveladores! (devolve o misterioso lenço, os dedos de Cacilda que o tocam como um objeto litúrgico; Celso de repente fica cego, afasta-­‐se de Cacilda.) CACILDA O que foi? CELSO Nosso amor não é mais Possível, fiquei cego… (ele encaminha-­‐se cego para o círculo central, agora piano; sua última Saída dessa situação trágica, mas não consegue localizar as teclas; depois tenta tocar, tocar… tecla… não consegue e cai chorando desesperado em cima do piano.) ZEQUINHO Corta! Cena 2! 97
(Produtor Fenelon rindo levando as mãos até a bainha da calça. Há projeções com os cartazes de “Moleque Tião” 1º filme de Othelo) PRODUTOR FENELON Assim, você roda sem teu amor principal! Onde está “O Moleque Tião”, afinal?! TESOUREIRO RUY LIMA Não vejo motivo pra riso. É um senhor prejuizo! Se em 3 dias o Grande Othelo não aparecer, além de substituição a Atlântida lhe moverá uma ação. ZEQUINHO Todos aqui me desculpem, mas à compreensão de todos, apélo. Deve ter acontecido algo de muito grave, a Othelo! ABDIAS NASCIMENTO (chegando, com um texto na mão) Com licença. Peço a sua atenção, vou aproveitar a interrupção. Sou Abdias Nascimento, (VIDEO TRAZ IMAGEM DE ABDIAS NASCIMENTO) sou do Teatro Experimental do Negro, vamos fazer Othelo… TESOUREIRO RUY LIMA Onde é que ele está? ABDIAS Na peça de Shakespeare. TESOUREIRO RUY LIMA Ele está fazendo uma peça, sem nos avisar? (Fenelon puxa a bainha da calça, que quase sai de tanto rir.) ABDIAS Desculpe. O preconceito só admite um Othelo branco, pintado de preto? TESOUREIRO RUY LIMA Ele quer se pintar de branco? 98
ZEQUINHO (sacando finalmente) Ah! É só um melo Entre a personagem Othelo e o Grande Othelo. ABDIAS (Passando texto de Shakespeare para Cacilda) Justamente vou fazer Othelo pra fazer Desdemona, Cacilda Becker está sendo convidada. Para a comemoração da luta gloriosa da experiência dos dois anos de existência do Teatro Experimental do Negro no Brasil Grande Othelo, quem não conhece? Mas o Othelo por um negro, é a primeira vez que aqui acontece. CACILDA Encantada e Assustada! TESOUREIRO RUY LIMA Não, não. Você chegou na hora, Mestre! Zequinha, todos! Teste! Por esses cenários, pelo deus da contabilidade! Tenham a bondade! ABDIAS Não. Absolutamente. Não quero confusão não vou passar pro cima de um irmão. PRODUTOR FENELON Se Othelo chega, de repente retoma o papel imediatamente. TESOUREIRO RUY LIMA Na cena do teu teatro, tem despesa? Manda pra minha mesa. ZEQUINHO É um teste, somente. Aproveitar a presença de toda essa gente. CACILDA Eu também? Estou sem maquiagem… Luiza! 99
(Luiza já faz parte da equipe que agarrou Abdias e o prepara para entrar em cena) ROBERT (o câmera interrompe Luiza) Tu seras le pur futurisme! Rossellini! (à Cacilda) Carra Limpa! Anna Magnani, néo-­‐réalisme! ZEQUINHO Agora pra Valer. Celso e Cacilda Abdias no plano, Alí! Atenção: Cacilda entra no começo da introdução. Orquestra, Maestro. A Atlântida testa! Luz! Som! Câmera! ASSISTENTE Luz dos meus olhos, Teste, cena 1 tomada 1! ZEQUINHO Ação! CANTO DE UM BODE (Céllia Medeia canta ao vivo com projetor atrás da tela, Vídeo-­‐Foto em Cor de Grande Othelo, com o Sangue Correndo na tela Norte. Nos outros telões, imagens do casal Othelo e Medéia) CELIA MEDÉIA “Medéa Negra Suicida minhas duas crianças matei com Formicida o veneno que sobrou, no inferno do deus Medéia Grega, bebi eu! Numa poça de vômito Amarelo semi vivo-­‐semi-­‐morto Grande Othelo à mim a suicidada, á nossos filhos está abraçado Paixão ciumenta, assassina do nosso Sagrado Élo (Entra Grande Otelo cantando se aproximando, ainda bêbado.) GRANDE OTELO A Vida não vale nada, pra que me aborrecer? Eu vou levando a vida assim. Levando até que se esqueçam de mim! (Dança bêbado sambando e se equilibrando, o samba do samba. Breque.) 100
Sou o Grande Othelo Xodó do Orson Welles O Cinema! Luz dos olhos do Brasil! Me filma, eu quero me ver! Depois que eu ví o que não podia ver! (Todos abraçam Othelo aos prantos, Zequinha ordena) ZEQUINHO Rodar! Sem cessar! (os Figurinistas e todos, dão um banho rápido em Othelo e colocam a roupa de cena da personagem) Orquestra! Piano! Atenção! Luz! Som! Câmera! ASSISTENTE Luz dos Meus Olhos, cena 2 tomada 1! ZEQUINHO Ação! (Coutinho grava, Zequinha, entra com a Abertura da Musica. Edgard Brasil, Robert fotografam. Celso é guiado por Othelo q deposita as mãos dele, no teclado do Piano. VIDEO – mãos negras e mãos brancas – Celso canta nos teclados; pode ter ao fundo, as vezes, Cacilda na cama.) CELSO Como em jardim sem flor, abandonado um velho casarão, colonial que desabitado e triste se desmorona, na dor de uma saudade de um tempo que ja passou… Assim vivo eu tão só sem ter ninguém ninguém… Ruína de um amor, que para sempre há de existir a iluminar meu sonho há de existir a iluminar o meu caminho… 101
porque o meu primeiro amor será também o derradeiro! Talvez seja ilusão mas sinto que hei de amar eternamente! Se sei que o céu estrelas tem que importa a mim não vê-­‐las… Por isso eu vivo tão feliz, sem ver a luz do sol. A lua o céu, o azul do mar… Porque sei que serás para sempre a luz dos olhos meus. meus, só meus… ZEQUINHO Corta! Lenço dela! Copiões! Tela! (todos vão assistir curiosos) CACILDA Que carinha bonitinha! GRANDE OTELO Gostosinha! CELSO Que meiguice nesse close! Enternecedora a pose. (toma as mãos de Cacilda) GRANDE OTELO Compaixão, não cura não mantém a vida sempre na escuridão. Veio mais quantum na Luz acendeu vida nova em vibração Obrigado Zéquinho, nossa Arte é Curação (Cacilda e Celso estão abobalhados de mãos dadas. Cacilda pega a mão de Othelo também. Estão sem coragem de se olhar quando acaba a projeção.) 102
ROBERT (DIZ PARA TODOS OUVIREM) Sans le maquiage pesadá, você, mostrou ton rostinho d'amour, Pour toujours Parrá la eternidade, Está imprrimida ta beldade! PRODUTOR FENELON Externa! Jardim Botânico! (Todos vão se preparando para as tomadas de exterior. Os cenários vão saindo, abre-­‐se o espaço todo: Jardim Botânico. As luzes do teatro se apagam para a filmagem externa ao vivo, projetada. O Vídeo começa mostrando a ESTRELA das duas cadeiras de Lina na locação externa, onde vão sentar Othelo e Cacilda) CACILDA (reage com um suspiro leve e duas exclamações) Ah! Ah! (põe os óculos escuros escrevendo para a mãe na prancheta do Roteiro) Celso cai pro meu lado dengoso. Ah! É muito gostoso! Minha mãe, minhas irmãs, quero esta carta presa na gaveta. Estou apaixonada!! Paixão de veneta!!. Deuses! Roulien vem se aproximando?! ROULIEN (De óculos escuros) Alô, estrela do meu céu de luto. CACILDA (pára de escrever) Você tem 10 minutos. O inicio da Filmagem está por um fio como você me descobriu? ROULIEN Sou de cinema, esqueceu? Vim pra te dizer: só te envolva com azes. é serio: (Pausa) Não te cases. CACILDA Nosso contrato de infidelidade 103
acabou faz 6 anos. ROULIEN Sete, começa contar de agora, nessa manhã! CACILDA É o ano final do nosso Pacto d Ouro Roulien! (Põe o óculos escuro; Tira o óculos de Roulien. Ficam de mãos dadas se olhando) Um close sem filó nem brilhantina… Querido Raul! A mesma pele, cada vez mais Orson Welles. ROULIEN Um frei gordo, viu no que deu? A Úlcera me comeu. CACILDA Bonito como Galileu. (levanta uma Cafiaspirina, como hóstia. Engole) ROULIEN Você está trabalhando demais Cafiaspirina! querendo tudo de uma vez menina! CACILDA Estamos no Jardim Botânico, Rio! Não Hollywood! Beverly Hills! ROULIEN (põe óculos VIDEO E CAMERAS, NESTA FALA A CAMERA DEVERÁ FICAR EM ROULIEN SEM RUIDOS DE MACACAS) Será um dia! Vejo travelings, trilhos! É só o artista aditivar seus próprios brilhos. (Roulien insinua o pó cafungado) Trabalho demais, é delito cria jardim de conflitos! CACILDA Tenho um estoque. Um armazém Em cena se preciso, chamo, vem! Passaram os dez minutos. ROULIEN Qual a sua última palavra. CACILDA Nenhuma, agora Susana manda em meu coração. 104
ROULIEN Fico ali, medito, na folhagem Faz bem pra minha Úlcera assistir a tua filmagem! GRANDE OTELO Desdemona, emprestastes o lenço para Abdias? CACILDA Meu dono, Othelo, estás com Ciúmes? GRANDE OTELO Estou. Eu não sou o Othelo? (Não fazer pausa; Câmera em Abdias Marcio, no parque Abdias amarrando a tela nos olhos de cabra cega começa a tocar nas pessoas tentando descobrir quem é, indo direto ao tesoureiro.) ABDIAS CABRA CEGA (Tesoureiro Ruy Lima) Tesoureiro Ladrão? Polícia! TESOUREIRO RUY LIMA Sai Palhaço! ABDIAS CABRA CEGA (vai até a folhagem, empurra docemente Roulien) Buda! (Roulien é descoberto; Câmera em Zequinho) ZEQUINHO Raul Roulien! (CAMERA EM ROBERT E NAS CRIANÇAS – A notícia corre em circuito) CRIANÇAS Quem é? ROBERT (fazendo still) Astro del Ciel de Hollywood, garrotô con John Ford, Gershwin, Ginger Rogêrs, Fredy Astaire Dolores del Riô… trabajô (CAMERA EM ROULIEN) ROULIEN E Cacilda Becker, no Riô. 105
(CAMERA NA FÃ) FÃ (se aproxima timidamente) Now, I remember, you. Autograph, please. (O Coro de fãs se encoraja e avança, fica chato. CAMERA EM ZEQUINHO) ZEQUINHO Silêncio Porra! Cena! Vamos filmar sem som… Depois dublamos, Só som guia! Fenelon, é demais esta folia, acabou o isolamento? (silêncio conseguido; CÂMERA em ZEQUINHO E EM OTHELO E DEPOIS COM TODA A ULTIMA FALA DE OTHELO PARA NÃO PERDER O BEIÇO Q OTHELO FAZ) GRANDE OTELO Zequinho, e se filmasse na surdina uma travessia de Roulien, na retina ZEQUINHO Uma Homenagem GRANDE OTELO Não. Un ménage. (CÂMERA EM ROULIEN) ROULIEN Jardim Botânico, o Cinema aqui faz sua morada! Holywood em brasileiro é: Floresta Sagrada. (CÂMERA EM ZEQUINHO) ZEQUINHO (mudo, só com o movimento dos lábios) Luz! Câmera! (IDEM NO:) ASSISTENTE (mudo, só com o movimento dos lábios) Luz dos meus olhos, cena 23, tomada 1! 106
(a assistente bate a claquete também sem som) (IDEM NO:) ZEQUINHO (mudo, só com o movimento dos lábios) Ação! (Jardim Botânico. O silêncio é total ouve-­‐se só o ruido da Câmera que não é blindada. Movimentos e ação mudos e em câmera lenta: ela vai em direção a Celso Roberto) CELSO ROBERTO (só mexendo os lábios, para Cacilda) Eu te amo! (CAMERA AGORA FAZ O PLANO FINAL COM ROULIEN SAINDO DA FOLHAGEM, ele atravessa a cena, e some na Obscuridade da Cidade, da esplanada, do matagal de Ondina… vê-­‐se a ESTRELA DAS CADEIRAS e Cacilda entra com um rolo de filme na mão e vai para a Roleta Cama) ZEQUINHO Corta! (entra em cena o diretor Willy Keller, fazendo um corte) WILLY KELLER Give me tour hands! Depois do cinema é hora de você passar, Cacilda, por uma catarsis, no teatro, com câmerras! Vamos a Shakespeare, Othelo! CACILDA Um senhor branco, branco… Vai fazer Othelo no teatro dos pretos, pretos. CLEYDE É o "maior encenador de Shakespere no mundo” dizem no Teatrão Wylly Keller!! Como nós, Alemão!! WILLY KELLER Você vai passar por um assassinato iniciático… CACILDA O que é isso? WILLY KELLER 107
rito pra morrer para nascer de novo. Você e toda público vamos todos gritar pra fora de nós a violência de nossos assassinatos de todo dia. Ensaiamos! Concentração! (gritos de todos) CACILDA (para Grande Othelo) Vem Othelo, ensaiar com tua Desdemona, vem queridinho? GRANDE OTELO Não! Vou encher a cara no Amarelinho WILLY KELLER Toi toi toi! CORO Merda! WILLY KELLER Toi toi toi! CORO Toi toi toi! CACILDA Merda! CORO Merda! (a direção de cena arma o Amarelinho com uma cadeira e uma mesinha depois que ele senta) CANDOMBLÉ DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO (O diretor Keller faz a Luz focar a cama com os círios das velas, que serão acesas por Dona Alzira e as irmãs Cleyde e Dirce. Elas desfazem o penteado de Cacilda cercada pelo “Coro Candomblé do Teatro Experimental do Negro”, q canta com vozes femininas haitianas, muito suaves, em surdina, o "motivo" de Desdemona, para Othelo da ópera de Verdi em versão kandomblaika brasileira; com muita luz – e baixa a luz na cama de Othelo e Desdemona.) CACILDA DESDEMONA Estou ouvindo uma ària com a Afro Orquestra! “Othelo” em brasileiro! Obra Mestra! Cacilda!! Dupla Exclamação!!: Ah! Ah! 108
(entra Medeia e seus dois filhos em direção à cama de Desdemona, onde se deitam e tomam os brigadeiros envenenados q Medeia preparou. O VIDEO PRECISA VER A CENA E A LUZ ENTÃO ILUMINAR, VER MEDÉIA TIRANDO DA BOLSA BRIGADEIROS ENVENENADOS E DANDO PARA OS 2 MENINOS E DEPOIS COMENDO, SUICIDANDO-­‐SE. Medeia olha muito pra Othelo no Amarelinho. Ela deve trazer uma bolsa, de lá tira, carinhosamente, três brigadeiros; dá um para cada uma das duas crianças que se refastelam com o doce; ela, olhando sorrindo pra Othelo, comunga o seu e contempla horrorizada, em silêncio com sua própria morte, a dos filhos. O Coral de Othelo esta cantando a musica do Chorão) CORO DO OTHELO CANDOMBLÉ PUXADO POR MEDÉIA Aaaaaaaaai! Salgueiro! Salgueiro! Chorão! Samba coração Oooooooo…Salgueiro da morte será tua coroação! Água escorre, das faces queridas, as mais pobres nascidas. Murmura murmura tristeza estranheza mãe beleza… OTHELO (No Amarelinho) Estrelas, qual a razão dessa desrazão? Chorem em mim filhos Chore em mim mãe que matou e se matou… Ah! esquecí! Como é mesmo o nome daquele cara que me inventou Ah lembrei: o nome dele é Deus! Deus eu quero que você mate eu. Não quero ver o que está, alí! Eu sou da Comédia! Não quero, não quero! (olha para Medéía) Medeia, tá bem entra em mim Tragédia também. Também quero beber formicida, das bocas sem vida das minhas crías queridas da minha amada enlouquecida. 109
(vai para o palco circular central junto aos Fantasmas da Mulher e os Filhos pra beber da boca deles a formicida e Vomita. Ergue o corpo e constata que está vivo) Bebi pinga, suguei formicida Mas será, Oh você que me inventou, pô!? Eu não dou, nem pra suicida!? (cai na poça de vômito. Os fantasmas saem da cama de Cacilda Desdemona; O Qorpo Santo acende velas círios) ABDIAS OTHELO (Olhando para todos como um oficiante de Rito.) Pra iniciar nosso ritual, apago primeiro esta luz, (Apaga as velas círios. Quase escuridão total, só vê-­‐se o olho de Grande Othelo na Tela consciente. Abdias olhando pra Desdemona.) Mas se eu te apagar… onde depois vou encontrar o fogo de Prometeu capaz de ascender o meu brêu? CORO Depois que ele tiver te colhido, você vai murchar, Rosa, Ele quer antes te respirar, ele quer antes te amar ainda na tua haste! ABDIAS OTHELO Me Beija (Beija Desdemona e ela, inconsciente, no sono o beija) CORO Beijaste? Oh hálito! Expira fogo do dentro da tua Aranha! Quase convence Justiça, a assassinar suas próprias entranhas! (Beijam-­‐se, Cacilda Desdêmona dormindo também) Ele vai te matar, pra depois, te adorar. Nunca nada foi assim tão bom no mal tão doce, tão fatal. (Chora) Minha dor incendeia o céu de chamas! 110
castiga já, aquele que te ama! GRANDE OTELO (No Amarelinho) É justiça racial? Existe? Não acredito. Nem em raça. Preto de alma branca, pra mim é fantasma. Justiça de Xangô Africano Contra o Senhor Escravizador Romano? Aí pode ser Acerto de Contas Contabilidade (olha o céu e vê a Ave Anjo da Barca do Inferno) Anjo Negro, Vai Urubú Sobrevoa a Cidade Promiscuidade. Lingüiça comprida ginga pra lá atira cá pra matar! Lingüiça viva rebolando entre o Mar e o Morro Favela e Classe Branca. Guerreando No Mato ou Morro A "razão" deste sacrifício Estrêla? é a Irite na "Luz dos meus Olhos"? o Apagão do "Moleque Tião"? Aí tudo é verdade: a memória da mocidade queimada por "razões" de cegueira à brasileira, inquisições fracassadas , por mais que queimem arquivos, apagam é nadas nem um só Neurônio do imortal Anjo Negro meu Demônio nada se perde, tudo se transtórna, esse outro Othelo, nem entornar, entorna! Entornei mais que Shakespeare e nem sei mais pr’onde ir, com toda essa cachaçada mal chacinada CACILDA DESDÊMONA (acordando) 111
Quem está aí, Othelo? ABDIAS OTHELO Se lembra algum pecado pede perdão, depressa. Faz tua confissão. Eu não quero ouvir. Dou uma voltinha pra esperar… (da uma voltinha perfeita) Não quero matar tua alma antes dela estar preparada. CACILDA DESDÊMONA (para Abdias Othelo) Meu dono está falando de matar? ABDIAS OTHELO Pensa nos teus pecados. CACILDA DESDEMONA São só os do amor que tenho pelo senhor, meu dono! ABDIAS OTHELO É por isso que você vai morrer. CACILDA DESDEMONA Crime de amor é morte contra a natureza ABDIAS OTHELO Paz! Fica calma. Não estraga a beleza! CACILDA DESDÊMONA Obedeço. Mas o que é que há? ABDIAS OTHELO Esse lenço que eu tinha te dado e que você gostava tanto, você deu pra que branco? CACILDA DESDÊMONA Pra nenhum! Por minha vida, pela minha alma. ABDIAS OTHELO Pra que mentir? Você está no seu leito de morte. CACILDA DESDÊMONA Estou, mas não pra morrer agora! 112
ABDIAS OTHELO Agora! Confessa o teu crime de uma vez. Porque vai ser inútil negar Você está jurada. (Cacilda vai para perto de Othelo, saindo da cama, onde estava acompanhada, como que pedindo socorro à Grande Othelo.) CACILDA Vou ser sacrificada? Por que? Vão queimar nosso filme, o Teatro Experimental do Negro vai acabar, não vou fazer a peça inteira, ABDIAS OTHELO Soluço por tudo isso saber Mas mesmo assim você vai morrer… ABDIAS E CORO (regidos por Willy Keller, entra o Rap) …Pelo crime do teatro branco, assassino do teatro do negro colocado sempre no Tacho, na peneira, na Senzala! Na empregada! Na mãe de santo boçal Estilo Branco Mau Preto Bom Sofredor. Tomador Assalariado De Chico chico chicocotada! Preto Veio Puxa saco Inter-­‐merdi-­‐ário do Senhor Globot Macaqueia preto boçal de teatro colonial Globot, Globot Globot, Globot, Globot, Globot ACABOU! (volta o Lacho do Salgueiro) ABDIAS OTHELO Oh! Mulher perigosa, falsa. Quer interpretar a nossa ação 113
como assassinato e não como sacrifício?! CACILDA DESDÊMONA Oh! Me atira na rua meu senhor, mas não me mate. ABDIAS OTHELO Abaixa as mãos, galinha! CACILDA DESDÊMONA Mata amanhã, me deixa viver esta noite! ABDIAS OTHELO Não. Se você reagir… CACILDA DESDÊMONA Só uma meia hora! ABDIAS OTHELO Essa execução não tem perdão CACILDA DESDÊMONA O tempo de uma oração. (arfa) ABDIAS OTHELO Agora é tarde. (A respiração arfante crece. Abdias Othelo esfaqueia com muitas facadas, sem conseguir destruir o amor por sua amada dentro de si. O CORO GRITA COM A MULTIDÃO PRA EXPULSAR TODA VIOLENCIA DESTES TEMPOS – CATARSES COLETIVA.) Nem com 107 facadas, Sol, meu Astro, consigo apagar em mim o ardor desse rastro! (A Banda toca o rap pra Grande Othelo; Slides com as fotos do filme, "Luz dos Meus olhos" e de outros filmes martirizados são mostrados como se a luz do projetor queimasse cada imagem.) GRANDE OTELO Projete-­‐se em Telões pras Multidões cada imagem, queimada cada Filme cada Peça não feita! ou mal feita! Apague com cento e sete facadas na memória! Luis, Sangra o I, Tira o s, 114
Tira o z da Luz Fica Lu e Fica Lu Lulu Um secu lu lu e sete dias de facadas sete bem dadas e o presunto está bem fatiado mas cem, não matam o amor do amante dentro do amado amor é tão ruim que vira ódio mas não morre volta o no amor e no desamor, eternamente! (Cacilda acorda num susto) CACILDA Gente, estou desempregada! OS OT(H)ELOS Extras, coadjuvantes? empregadinhas como antes? Não! Vêm aí a Chanchada e os Comediantes! Madame! Chegaram: Ziembinski e Profeta Miroel! Vai dar pra pagar o aluguel. (Othelo Márcio dá as pancadas de Moliére em samba, com um bastão e anuncia Ziembinski e Profeta Miroel, com as máscaras da Tragédia, da Comédia, cada um com um texto nas mãos. Na Sonoplastia a 1ª Música de Maler com trompetes anunciando coisas grandiosas.) OS COMEDIANTES Chegamos (fazendo reverências segundo as mâscaras, os Othelos fazem a paródia) ZIEMBINSKI Ziembinski, iluminar dirigindo é meu papel! MIROEL e eu como sempre, sou teu Profeta Miroel! MIROEL E ZIMBA 115
Nós Comediantes Diante da beleza de Vossa alteza, convidamo-­‐vos, princesa, para noivar no perigoso desfiladeiro do novo teatro brasileiro… MIROEL … de Comédia… ZIEMBINSKI … de Tragédia… COMEDIANTES Já na fonte: sendo Lúcia no remonte de "Vestido de Noiva". CACILDA (reverenciando ouvindo as vozes e música de Anunciação – ficou lindo com a Rosa Punselle: as "Ave Marias" temas da peça pedidos por Nelson) Comediantes!! Tabú Cultural! Pagam mal! OTHELOS Dutra vai proibir a roleta! Estrelas! Na sarjeta! O show agora será o da Miss Zéria! Teu negócio é virar atriz séria! CACILDA "Vestido de Noiva", será que enfrento? Meu Tarot diz: Entra agora na Casa do Casamento! ZIEMBINSKI (Com a Máscara da Tragédia) Sou mais que seu fã, é nosso primeiro ato da longa jornada amanhã. Tua estrêla vem vindo, revoluções pra um Galileu o papel principal de "Era uma vez um prisioneiro" é teu. OS COMEDIANTES Deixamos os Textos. 116
CACILDA E os Salários? Funéstos! OS COMEDIANTES (Sotaque forte de Zienmbinski) Modéstos! CACILDA Aceito. É fatalismo! (Comediantes deixam o texto de "Vestido de Noiva" e "Era uma vez um Prisioneiro", Cacilda fica com um em cada mão) MIROEL E ZIEMBINSKI Merda! CACILDA (indecisa) Merda… (sai Mahler da Sonoplastia e mixa com a Avenida Rio Branco do Rio) RITMO TRANSEUNTE ACELERADO (Cacilda com o texto de “Era uma vez um Prisioneiro” numa das mãos e o “Vestido de Noiva” na outra, dá uma sacudida no corpo a la Caxangá e anuncia sua partida para Igreja de Aparecida e pro Noivado com o Teat(r)o: o Brazyleiro no Barco do “Vestido de Noiva”) CACILDA Vou correndo me casar! (puxa o Lenço, que arrasta consigo e já sai para a Rua talvez) translúcido, transparente, será o véu da nubente Dá sorte! Com ele chego à Aparecida do Norte! (Vídeo Imagem da Basílica de N. Sra. Aparecida) E na sequência viro sem corte, noiva do teatro brasileiro! Aí… parir um forte. Um herdeiro! OTHELOS E CACILDA Vamos todos nos virar! (Giram) CACILDA (gira no próprio palco giratório Central, onde vai ficar) 117
Adeus Othelos! OTHELOS Adeus Cacildas! CACILDA Novas Lutas Labutas! OTHELOS Dos Filhos das Putas! AVENIDA RIO BRANCO (Cacilda vai parando de girar, está com seu taierzinho de ir à luta, bolsa de executivo de marca, no palco Central; topa com Tyasos das Divas da Opera de Carnaval: de Fãs de Marlene e Emilinha, na Pista junto ao público, nos extremos opostos da Pista Rua.) CACILDA Não sei mais andar pelo Rio A cidade cresceu!! Que desvairío! Mas agora!! ChÍ!! Tem Boi na Linha! Macacas de Marlene e de Emilinha! (Dois grupos de macacas. Param o trânsito. Praça Mauá. Marlene e Emilinha estão em cantos Opostos da Avenida Rio Branco, Emilinha saindo da Praça Mauá e Marlene ao lado do Teatro Municipal –Amarelimho, mas na Avenida. O samba durante esta cena depois de iniciado não vai parar até que as cantoras deixem a cena. Emilinha vestida de Favorita da marinha, uma âncora estampada, óculos escuros enormes. Faz o V da Vitória, acena e rebola, ondas suaves marinhas.) EMILINHA Queridas fãins! Meu Boa Tarde! FÃS EMILINISTAS Boa tarde!!! (as marlenistas vaiam) EMILINHA Marlenistas, uma trégua! MARLENE Vamos fazer uma exceção à regra! Oiiii!!! MARLENISTAS Oiiii!!!!! EMILINHA 118
Estou aquí! O que é que há? Pipiri! MACACAS EMILINISTAS Pipiri! MARLENE Oiiii!!! MARLENISTAS Oiiii!!!!! EMILINHA Maestro Dó Maior! (olhando pra Marlene no lado Oposto da Porta, no Amarelinho) Eu já vi tudo Tu queres me contrariar Este prazer eu não te dou Não dou, não dou Nem hei de dar Se não gostas do samba Por favor, outro amor vai procurar (E OS DOIS GRUPOS DEVEM OUVIR E DEPOIS CANTAR AS AS LETRAS COMO SE UMA DEBATESSE COM A OUTRA ATRAVES DO TEXTO DAS MUSICAS ATENÇÃO AO FÓCO) MACACAS EMILINISTAS Eu já vi tudo Tu queres me contrariar Este prazer eu não te dou Não dou, não dou Nem hei de dar Se não gostas do samba Por favor, outro amor vai procurar CORO DE MACACAS EMILINISTAS É Tua! É Minha! É Nossa Favorita! Emilinha Borba Favorita da Marinha! Emilinha! Emilinha! Emilinha! (Marlene de tomara-­‐que-­‐caia, uma asa estampada, um quépe de aeronauta, um rabo de peixe aviador, óculos gatinho cheio de pedraria, brincos de argola. Faz o ”V” da Vitória e roda o rabo) MARLENE Oi! MARLENISTAS 119
Oiiiii! MARLENE Queres que eu deixe de Sambar Mas isso não pode ser Nasci e me criei no Samba E no Samba eu hei de morrer Meu amor não pode ser MACACAS MARLENISTAS É a Maior! Favorita da Aviação! Rainha do Radio nesta nova Eleição! É a maior!… (Marlene agradece, egípicia) MARLENE E MACACAS MARLENISTAS (carregando Marlene até o palcoonde está Emilinha) Eu já vi tudo Tu queres me contrariar Este prazer eu não te dou Não dou, não dou Nem hei de dar Se não gostas do samba Por favor, outro amor vai procurar (as duas cantoras se abraçam e cantam juntas como na gravação que fizeram) EMILINHA E MARLENE Eu já vi tudo Tu queres me contrariar Este prazer eu não te dou Não dou, não dou Nem hei de dar Se não gostas do samba Por favor, outro amor vai procurar Por favor, outro amor vai procurar Auditório Amigo, nosso Boa Noite! MACACAS Boa noite! (As Macacas deliram, as estrelas saem pelo palco. As Macacas formam um bloco de rua. Ritmo & Coreografia. Cacilda se confunde com elas neste Navio Negreiro e caminha na multidão conduzida pela corografia delas, no ritmo quebrado, sambafunk carióca, das hora do rush carioca) MACACAS Pra Favela! Alto Cristo Galinha de Cabidela! Pra Favela! Alto Cristo 120
Galinha de Cabidela! CACILDA (para o público) Estou sendo saída, No bafafá da Praça Mauá. Levada, empurrada. MACACAS Pra Favela! Alto Cristo Galinha de Cabidela! Pra Favela! Alto Cristo Galinha de Cabidela! CACILDA Macacas Malditas! (as macacas abrem um circulo pra ouvir o absurdo de Cacilda) Não vou me apavorar! Faço figa! (Silêncio total brusco) MACACAS EMILINISTAS Que é isso amiga? O pessoal não é de briga. MACACAS MARLENISTAS (ameaçando as Macacas Rivais) Nem Pacifísta! (a percurssão retorna) MACACAS EMILINISTAS Madame é artista? CACILDA De Teatro, quase fui sambista. MACACAS Oba! MACACAS MARLENISTAS Qual é teu nome? CACILDA Cacilda Becker. MACACAS (com sub texto de Caralho!) Cacilda! (SILÊNCIO NOVAMENTE) MACACA EMILINISTA METIDA A GRANFA 121
Madame, minha patroa é publico fino de Teatro! (afastamento Brechtiano – Uma Batida de Icto e o coro desce para o chão, abandonando o palco circular) MACACAS MARLENISTAS E EMILINISTAS E vocês, dão pros artistas este nosso trato? Não tem macaca no público de teatro? Chiii! (retoma a percussão, mas o Coro de Macacas transforma-­‐se agora em Coro Báquico, em torno do Circulo Central) CACILDA E CORO (pro público) Era assim o Côro Grego. Fanático, Negro! CACILDA Herejas. Ai que inveja! (ENTRA O VIDEO DO EDIFÍCIO A NOITE DA RADIO NACIONAL – As macacas continuam seu trajeto, em direção ao seu destino, deixando a Pista) MACACAS Pra Favela. Alto Cristo! Galinha de Cabidela! Pra Favela. Alto Cristo! Galinha de Cabidela! (Vão Saindo. Tito vem ao encontro de Cacilda com Cleyde) CACILDA Ufa! Tito! Cleyde! Meu Noivo Charmoso! (Beijam-­‐se) CLEYDE Fui buscar Tito no Programa de Ary Barroso! CACILDA Neste tempo de Ciranda Adivinhem! Nada parecido antes. (Silêncio) Vamos pro "O Vestido de Noiva", com os Comediantes! (o Maquinistas Romano, e seu duplo, fazerem subir as Velas do Barco dos Comediantes, som de hasteamento Villa Lobos. Musica tema da premonição trágica, as duas param espantadas.) 122
Fui, fomos, você também foi convidado Tito Um Noivado e um Casamento, na vida e no Teatro, num só tempo. BARCA DOS V COMEDIANTES TITO Não acredito!? (correligionários de Prestes fazem uma chuva de papeis vermelhos no palco) Vem tudo de uma vez meu coração Na nossa Agência de propaganda está a maior tensão Aguardamos o resultado Pró-­‐Prestes da eleição. (Olham pra Zimba Prestes Prometeu Acorrentado, de que se verá uma silhueta contra Luz, como Prometeu Acorrentado. Sonoplastia entra noticiando a eleição de Prestes) LOCUTOR “É Eleito como Senador, pelo Partido Comunista Brasileiro, o Cavaleiro da Esperaça: Luis Carlos Prestes.” (Em seguida entra uma gravação da Internacional em Samba que faremos e sobre ela, de “Vivas ao Cavaleiro da Esperaça”, “Viva Luis Carlos Prestes” “Viva!!!”. Estes Sons entram com o Vídeo trazendo Imagens Projetadas de Prestes, das Comemorações históricas da época, etc… Cacilda, Cleyde e Tito se dão as mãos e entram com os pés direito no Barco dos Comediantes quando termina de ser armado; isto é, quando sobe até o centro, fica distribuído entre o Balcão Sul e o Norte, vulgo Paulista. O Navio apita na Sonoplastia. Cleyde se coloca na platéia, pé ante pé. Preparação para a estréia. "Era uma vez um Prisioneiro". Ensaio geral. Zimba está fora do barco, amarrado como Prometeu no Balcão Sul do Oficina, visto através de sua sombra projetada no Pano do Barco. BLACKOUT SONOPLASTIA DO MAR Zimba entra no Barco no escuro, com uma lanterna, um contrôle de luz, como um zap e brinca com as luzes que isolam detalhes das personagens vivas-­‐mortas, jogando luz na semi-­‐ruína humana ressucitando, na Primavera e na libertação de Prestes, inclusive no Público. Ilumina os cantos da sala, e cria uma atmosfera "Fora da Barra" de alguma região stalker, onde os mortos-­‐vivos se falam.. Zimba é recebido, por todo elenco dos Comediantes, em posturas móveis como se tivessem os pés num navio ao sabor de ondas fortes. Passagem de revista de num Tyazo gozozo, mas apolíneo, como estrelas, com os braços e pernas abertas, e respiração levando o umbigo até a coluna e espalhando dele a luz para o Universo. Muito movimento interior respirado e extendido para o Cosmos. É a comemoração da saída de Luís da prisão para os ensaios de “Era uma vez um Prisioneiro.) ZIEMBINSKI LUIS Retorno eterno, no Barco a navegar alto mar! 123
Há demais, trans-­‐humanos animais! Ramagens florestais, (Entram as Gaivotas) Gaivotas! Barca de Dionisio ou de Idiotas? (Iluminando suas cara de hoje, pergunta aos fantoches vivos e ao público. Sua lanterna descobre Cacilda Mary Tyrone no túmulo do Teatro ao lado de Cacilda Estragon) Voltamos ao mundo dos vivos? Que aconteceu nestes anos? Porque não me revelam nada? Alguma coisa sempre acontece. E pode acontecer de Sensacional! (A MÚSICA SOBE A E AS CACILDAS BRINCAM COM AS GAIVOTAS. A lanterna de Zimba topa com Cacilda Ana Maria indo conversar com a Cleyde que está ao mesmo tempo assistindo ao ensaio e fazendo contas. Ziembisnki percebe sente o clima da cena quebrado, fica furioso e arranca o caderninho de contas das mãos de Cleyde) ZIEMBINSKI LUIS Por favor, vocês suas tontas! ensaio, não é lugar de fazer contas quem não está na peça, não tem que ficar assistindo Sai já disse! CLEIDE Eu já estáva saindo. (Sai) ZIEMBINSKI (para Cacilda) Você está muito desconcentrada, (corrigindo, olhando para Tito) Aliás, vocês, estão mais preocupados com o espetáculo da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, que com a estréia na arte da vossa vida. DESPEDIDA DE SOLTEIRO BOITE NIGHT AND DAY (A banda da Boite toca Night and Day, Adriana sola) MARIA DELLA COSTA ALAIDE Serviço do Night and Day. Farra dos Comediantes! Okay? Despedida de Solteira de Alaíde, de Lucia, de Cacilda, de Maria também. TITO GASTÃO 124
(corrigindo) … e Tito! Ela vai casar com alguém! SANDRO …e Sandro com Maria, meu bem! JARDEL Atenção! Eu, Jardel Filho, brindo aos Noivos! Vem que aqui tem! (Jardel Juca estoura uma champagne pondo a garrafa no sexo, Cacilda bebe o jato na fonte) CACILDA Ah! Champagne! Uisque! Cuba libre! Tequilla! Pinga 51! Pirassununga! Pira! Pira! Pinga! Pinga! Mistura tudo, Pinga! Suinga! ZIEMBINSKI LUIS Nem vinho você vai beber! Cacilda, encomendei um Bife Sangrando, um Chateaubriand pra você. Além de ter bebido muito, deu pra emagrecer! Você vai comer! CACILDA Não. Come você. (O Som da Banda pára, Silencio geral) ZIENBINKI LUIS Cacilda diga: "Eu adoro o meu noivo. " (Pausa, Cacila e Tito se entreolham) Olha pra mim Ana Maria. CACILDA ANA MARIIA Estou olhando, por que? ZIEMBINSKI LUIS (põe a lanterna, depois o dedo na máscara de sorriso de simpatia esculpido) Engraçado, no canto da boca você está com dois vincos de tensão CACILDA ANA MARIA Estou, vai sumir nessa circunvulução! (faz uns exercícios de careta, circunvoluções do bico, massageia) 125
Agora faço um bico de chupadora de uva! ZIEMBINKI LUIS Teus olhos estão como para-­‐brisas na chuva. Diga: "Eu adoro meu noivo." (Cochichando) Se quizer, mando teu casamento por água abaixo, tá? Dou uma cambalhota diante da tua sogra, sei lá. CACILDA ANA MARIA Quero casar com Gastão, a única maneira fazer teatro na nossa situação de sair dessa vida indigente contrair um casamento com amor é conveniente mas enfim: caso, porque quero ter uma casa um filho. Nem por isso o resto me é indiferente. Está contente? ZIEMBINSKI LUIS Não gosto de gente esperta e infeliz! Você nunca será uma atriz. (Silêncio geral, gritos de gaivotas.) CACILDA ANA MARIA Amado Diretor, sabe o que diz! Estrêlas, todas buscam essa Luz Mas eu não consigo me acender nessa contradição Teatro: Paraíso da Criacão, Inferno de Produção Tosca, sigo teus passos Me lanço sem rede no espaço! (Vai para ponta do praticável se joga. Cacilda mergulha fora do Barco, cai na piscinas de plumas.) MARIA DELLA COSTA ALAIDE Machucou? (O Maquinista diretor de Cena, entra em cena para ver se deu tudo certo como combinou com Cacilda) ZIEMBINSKI Romano é maquinista do Imperio Romano, Da Caceta! Olha a almofada: uma piscina de penas. Com ele Sarah Bernhardt não ia ficar perneta. (Todos riem; para Cacilda) 126
Não tem nada pra corrigir nas cenas. O ensaio foi ótimo! ( Luisa-­‐Alaide sai, não fica, já vai para o Balcão Norte= a Paulista) VÔMITO INICIÁTICO CACILDA Pra mim acabou o Tabú "Comediantes". Vou vomitar diamantes! (Vomita pedrinhas de brita que estarão contraregradas atrás nos colchões; Black OUT; nele cai o Pano Branco do Véu, transmutado em cauda, ou Véu do Vestido de Noiva de Alaíde, este é o Ponto. O véu nas pontas do lado Norte, duas tiras, que poderão ser presas na Cintura da noiva Luiza, ou amarradas num praticavel, para virarem a Cauda do Vestido e ela recebe na cabeça um Véu grande de tule, que vai sobre o Pano Branco que deverá estar Caído até além do Circulo central. Em Baixo, o Subterrane é aberto e vem Cacilda Lucia com um Véu Preto Gigantesco de Tule) DELYRIO No Palco Sul Superior, do Teatro, Zimba É o padre da Cerimonia! Cleyde e a mãe vestem Cacilda de Noiva pomposamente preta. Maria Alaíde de Branco na Barca com o "bouquet", na parte mais alta da nave, num altar do altar. O Palco Iluminado de "O Vestido de Noiva", de vitrais coloridos Art Nouveau, é a nave da Aparecida do Norte: há três planos um azul, outro vermelho e o cinzento. No plano médio. Sobem os convidados. O Subterrâneo lado Sul do Teatro se abre, num epaço relativamente confortável. Nele deve haver uma escada confortável para os atores circularem) MARIA DELLA COSTA ALAIDE (com o fundo da Marcha Nupcial, estendendo o braço, tendo o pano como cauda de seu vestido e eum longo véu. ) O Bouquet. CACILDA LÚCIA (caminhando saindo debaixo do subterrâneo vermelho com um Bouquet também, ao Som da Marcha Fúnebre) Você morreu acidentada A noiva sou eu (para o publico) ela não sabe, coitada! MARIA DELLA COSTA LUIZA ALAIDE Você não vê que está aí em baixo, no inferno mais profundo?! Pensa que eu tenho medo de alma do outro mundo? Eu sabia, se existisse vida depois da morte, e existe pro meu pezar! você não ia deixar ninguém em paz! Ai de nós agora, pra depois de morta, te aguentar! Pedro! 127
(Cacilda do plano vermelho, quer subir no altar no plano azul, mas Tito de braços com Alaide lhe diz:) TITO PEDRO Ah, você Lucia, como sempre chegou atrasada. (Falam quase de boca a boca, abraçados.) Agora já me casei com Alaíde, tua irmã amada! (Pedro desce e fica entre as duas no meio da pista) CACILDA LÚCIA (Desprende-­‐se de Pedro gritando, como na saudação comunista com o punho erguido) Mas eu é que sou a noiva! MARIA LUIZA ALAÍDE Eu é que sou a noiva! CACILDA LÚCIA Eu é que sou a noiva! MARIA LUIZA ALAÍDE (tambem fazendo o sinal comunista de luta com punho) Mentirosa! Roubei o seu namorado e agora ele é meu… Eu sou muito mais mulher que você. CACILDA LÚCIA Confessou, diga isso! Berre: "roubei o seu nomorado, Lucia! " Mulher. Mulher. DONA ALZIRA LIGIA Já disse para você não chamar sua irmã de mulher. ZIEMBINSKI PADRE (no plano médio da realidade, no Palco Balcão Sul) Sra. Cacilda Becker Yaconis, deseja como Marido para toda vida, o Sr. Tito Lívio Fleury? (Plano vermelho do delírio. A marcha Nupcial é interrompida por cigarras feitas pelo coro e muito vento. Cacilda Lucia vai para baixo olha pelo espaço todo. Há uma imobilidade total nas personagens, como num museu de cera, menos em Cacilda Lúcia, inquieta busca os rostos de seu passado e futuro amoroso que estão todos no plano vermelho abaixo, o da memória, terra memória, presentes em atores ou em imagens.) 128
CACILDA LÚCIA Vâncio! Flavio! Roulien! Celso! Othelo! Celi! Walmor! Godot! (ela vê Cacilda Estragon, que tenta tirar seus sapatos) Madame Clessy! (Madame Clessy surge na Paulista, ao lado de Luiza Alaide, som do tema de” Tara” de “O Vento Levou”) Mary Tyrone! (entra do Palco SUL.A Banda entra com o Som de”Sience”ela vê Mary Tyrone vestida de noiva) CORO Science… Scien-­‐zia… Tecnologia… CACILDA N. S. CLESSI (para Cacilda) Quer ser como eu? Ter a fama que eu tive. A Vida. O dinheiro, e morrer assassinada? CACILDA LÚCIA Quero. Tudo. CACILDA MARY TYRONE Tinha muita gente no meu enterro? CACILDA LÚCIA Público assim! Toda classe teatral! CACIDA MARY TYRONE Fui vestida de noiva, com o cabelo raspado? E a cicatriz da operação? Estava linda? CACILDA LÚCIA Linda! Uma bonéca! CACILDA MARY TYRONE Deixei tudo como Madame Clecy: CACILDA N. S. CLESSI …diário, cartas, roupas, jornais da época… 129
CACILDA MARY TYRONE Estão fazendo minha biografia? CACILDA LÚCIA Fui a Biblioteca ler todos os jornais do tempo. Li tudo! CACILDA MARY TYRONE N. S. CLESSI (agora de Coroa e Manto) Sou N. S. Aparecida: A Compadecida! Advogada Amantroeira Da classe teatral brasileira! (A Candidata a Cacilda sai da platéia e entra na Barca, pelo plano da realidade, caminha pelo Barco todo, querendo ver de vários ângulos, estudando as cenas, ora fria com uma câmera de celular, ora repete as falas junto com a jovem Cacilda de 47) PLANO VERMELHO CACILDA (Vê Nelson Rodrigues saindo o subterrâneo, e fala pra todos Feliz) Nelson Rodrigues! NELSON RODRIGUES (no plano Vemelho da sensualidade memória, para a jovem atriz e o público) Olivia Palito, é uma Lúcia "Maravilhosa"! CANDIDATA A CACILDA Só? Só isso o senhor, tem a dizer? NELSON Caia de joelhos no dia em que alguém disser que você é: maravilhosa. Você é a estagiária, “ a” prosa! está muito deslumbrada, é dóse! Voce é moderna demais pro meu gosto CANDIDATA A CACILDA Pós Moderna! 3G! NELSON Graças aos deuses, Morri sem saber o que é isso… Nesse momento só sei o que é ser 130
Maravilhosa! Cacilda é uma Lucia CORO …Maravilhosa. NELSON Maravilhosa! CORO REGENDO TODO PUBLICO MARAVILHOSA! NELSON RODRIGUES Silêncio! Pisiuuu… Não há teatro sem tensão dionisíaca O Martírio d’Ela, é plenitude paradisíaca! Vive em Tensão desesperadora. Mas está aqui agora, “a”criadora Psiuuu…. ZIEMBINSKI PADRE Mas afinal, o que é que a senhora quer? Aceita ou não aceita? CACILDA LÚCIA Sim, aceito casar com Tito Pedro, meu querido (Beijam-­‐se estouram os flashs.) ALAIDE E CACILDA (olham-­‐se frente a frente e falam) Vou Jogar o Bouquet! (viram de costas e jogam; a pós moderna apanha o bouquet. O coro se forma em torno de Cacilda, que desce para o Plano Vermelho.) CACILDA LÚCIA Quem são vocês meus queridos? CANDIDATA A CACILDA Você hoje… (dá o dia da representcão) Na era do teatro colaboratívo trabalhando com a comunidade em teatro interativo. Nosso coletivo é evangélico e ecologista. Fazemos uma peça criacionista pra arrasar o materialismo darwinista. (o anjo negro faz-­‐se de macaco) Vade retrum Satanás!!!! 131
ANJO DO INFERNO Reto no teu reto, por detrás! (ele avança e pega e evangélica por trás, enrabando. Ela começa a fazer uma sessão de exorcismo) CANDIDATA A CACILDA Xô Satanás! Nós não viemos do macaco, mas de Adão e Eva. Xô Satanás! Aborto, essas pesquisas de célula tronco, trarão treva. CORO EVANGÉLICO Xô Satanás! (o anjo vai pro estádio e a candidata a Cacilda fala em lágrimas pós ataque de satã) CANDIDATA A CACILDA Na mesa branca espírita de teu filho, retornou tua luz. Quero reincarnar você, me conduz. Eu hei de fazer o seu papel, Rezo! Posso te reviver. Reincarne em mim, oferecida, não? Pode incorporar! Sou espirita, mais evangélica primeiro! Deus daime muito dinheiro! CACILDA LÚCIA (para a estágiaria, depois a Todos, público inclusive) Psiuu…. Silêncio Sagrado! (pra Tito) Agora que casamos no Vestido de Noiva, Vamos fazer uma geração diferente dessa, no teatro brasileiro. CANDIDATA A CACILDA Mas a nível deste tipo de teatro antigo digamos se for assim, vão ser todos massacrados, assassinados, suicidados, superados… NELSON Até começar tudo de novo. Não para. É como a Valsa! (Retorna o Danúbio Azul, todos valsam girando muito. O Anjo do Inferno tira a Candidata a Cacilda pra valsar e dirigem-­‐se para o subterrâneo. O PANO AO NORTE CAI e Os Contra-­‐regras O ESTIRAM POR TODA PISTA: Tito deposita a noiva 132
Cacilda no chão, e o Pano do Barco os cobrirá para a Lua de Mel. Assim como cobrirá antes, as Mães: Clecy-­‐Vera, que já terá bastante tempo para ter descido da Paulista, Juliana-­‐Mary Tyrone e Adriana Estragon, que estarão no Palco central redondo, cobertas pelo Pano do Barco. A Luz traz um Black Out. A Luz retorna num Sonho de uma Noite de Núpcias nas Terras do Sem Fim: pari uma Madrugada Mágica de Núpcias Orgyastica pra concepção de um Filho do Teat(r)o de Abbie e do Amado Ebben. Plantação de Desejo, cacaueiros dourados, o Barco, e o Baú. Um Sonho na Zona de Gado Godot Minotauro de Ilhéus. O VIDEO PODE MOSTRAR PLANTAÇÕES DE CACAU ONÍRICAS, FRUTOS DOURADOS. Vão retornando ao corpo inconsciente do Deus Animal da Era do Minotauro, deixando cair as mascaras da Civilização, as da Comédia e a do Drama. Os Comediantes Animais, que agora embriagados vão se metendo embaixo do lençol reaparecem com Chifres de Vacas, Touros, Bodes, perdendo as máscaras, transformados. Cacilda Semelle, nua, trazendo um cinto de metal de chifres, feito por Flavio de Carvalho pra Cacilda!, desperta e assusta-­‐se: Zeus Zagreus de Chifres, está a seu lado deitado, com o filho, como “Donas Flores sem seus Maridos”. Toma o território cênico o Desejo de Procriar. O Filho Nonô-­‐Dionisios, nu, coberto com uma capa de folhas, como as saias de galhos e folhas da Bahia, de luto, espreita. O lençol que cobria o casal, e todos, torna-­‐se, um chão de Pasto.) CACILDA ABBIE (No espaço Barco-­‐Pasto, luzes balançam, como num navio, Casa Teatro) Nas Terras do Sem fim do teatro de estádio, meu! Na Coxeira do Navio de Zeus! (Percebe os Comediante transmutados em Vacas, Touros, Bodes, da região, chifrados, bicorneados no um vasto Compartimento do Inconsciente Arcaico do Navio, Pasto de folhas de cacau e eucalipto. Ouve-­‐se o Mar. para As Vacas e os Bodes em torno do Estábulo Pasto. Zeus traz seu filho Bezerro machinho al primo canto, Eben Nonô Dionisios. Zeus mimetiza o Desejo de Abbie despertado pela mocidade e beleza de seu filho. Entrega–o para a Cabra Cacilda. Caminham para Cama da Mãe no Palco central Giratório. Uma maca com três Cadáveres Cacíldicos: Estragon, Mary Tyrone e Madame Clessy, cobertos por umaMortalha Branca… O coro inspira e expira no chácra da casa do prazer no mantra Vam… Vam…) CACILDA ABBIE Eu sou Abbie, sua nova mãezinha Nós somos “Desejo” É agora nossa produção, e reprodução. (ela pega o pano) EBEN NÔNÔ Não toque nesta Mortalha. É teu túmulo, minha Mãe! CACILDA ABBIE Quando apareceu seu Pai: (fala com prazer perverso, inocente, sorridente) 133
eu não era mais casta, aceitei o casamento pra te possuir como tua madrasta! EBEN NÔNÔ DIONISIOS As terras sem fim do teatro… são minhas. Herdei de Rhéia, Itália Fausta, Minha Nanã! (no vídeo entra imagens de terras de Itália Fausta e fica; o coro faz muito baixinho o mantra Nanã…) CACILDA ABBIE Não tem dono… E aqui em baixo, neste túmulo, está nosso quarto… nossa cama. Você me deseja, vamos pra cama. (aumenta o toque da percussão; ela aponta a cama coberta no plano da memória) EBEN NÔNÔ DIONISIOS Esse quarto, nunca foi aberto desde que você, Mamãe, entrou em coma! Velaram o seu corpo nela não se atreva a entrar nesta capela! (Cacilda Abbie descerra o pano que cobre a cama das mães, o Tymelê Túmulo da Grande Mãe Cacilda–Qorpo santo de Cacilda Estragon, Mary Tyrone, Nssa Sra e Abbie. A música traz a quebra do Tabu nas cordas no tema da Estrela Brazyleira a Vagar cantado no suingue cool do transe) CACILDA ABBIE, CACILDA MARY TYRONE, CACILDA ESTRAGON, CACILDA NSSA SRA APARECIDA E CACILDAS TODAS Vem… vem… Em chamas t xamo! Dionizos sabe que te amo! EBEN NÔNÔ DIONISIOS Odeio e Amo vocês, mais do que qualquer outra pessoa. (vê Nelson Rodrigues com as Mascaras da Tragédia, Comédia e Orgya, juntas num Cacho de Uvas) Juro! Por Nelson Rodrigues! VUDÚ DAS MÁSCARAS DA TRAGÉDIA E DA COMÉDIA (Nelson Rodrigues, de Ésquilo e faz o vudú das máscaras; planta, penduradas como um Cacho, as Máscaras da Comédia, da Tragédia a da Orgya como um só fruto –
muda a musica, luz, tudo, pois o sentido deste rito mudou; é o ponto de inicio da 134
Orgya. Os Comediantes vão suavemente em torno pela respiração, trazendo a pulsão de procriação, uma corrente por todo o espaço do teatro, orgando em todo espaço Orgyástico: Corpo Sem Órgãos) CORO DOS COMEDIANTES SONHANDO O sol está forte, quente, a terra, o vento, o mar queimam nosso ventre, / sente: a natureza cia cio crescente… MARIA DELLA COSTA (criando uma corrente com os presentes) E a corrente da gente de teatro tem desejo de dar vida a qualquer coisa que não seja apenas a gente a Pulsão de criar num rebente o que vem vindo no fervente CORO DOS COMEDIANTES vêm Desejo … vêm Desejo… (A Corrente toca-­‐se com os pés. A mulheres fazem uma flor com o s pés pro abraço de Eben e Abbie. Fazem o amor de todas as energias mães do lugar. O Baixo marca o Pulso da sagração da Primavera, a FODA SAGRADA, até a Paz do Gozo chamada pela respiração, incenso, ramos de Héra. Todas as mulheres do elenco, ficam juntas, aparecem em incarnações das Bacantes, mães, meninas, velhas, putas, cada atriz com a sua mitologia "mulher". A Barca que parecia parada, começa a navegar, muito lenta e suavemente. Cânticos corais muito doces de vacas sereias mugentes. Os monitores se povoam de imagens de mulheres do teatro de todos os tempos, começando por Dona Alzira, Rheia mãe de Zeus. Semelle mãe de Dionizos, N. S…, atrizes míticas de cinema, mulheres da Musica, da política, não esquecer a ex presidente de Myanmar Premio Nobel da Paz, presa neste país, uma Antigone contemporânea etc… Todas gozam… suavemente como vacas mugindo e bodes balindo de prazer. Clementina de Jesús, Lea García, as já existentes, e de muitas classes sociais e culturas. No depois do amor, todos estão relaxados, quentes, mas acordados, ainda acordadas estáticas mugindo. Silêncio, somente o homem Cabot Zimba está iluminado. As mulheres, vacas, estão na penumbra. Abbie está deitada entre elas. ) ZIEMBINSKI CABOT MINOTAURO Vacas! VACAS Muuu… 135
ZIEM ZIEMBINSKI CABOT MINOTAURO Baca das vacas, dentro de ti meu filho vou soprar… O PLANTIO DO PARTO (Sonoplastia entra com o canto de Olorum. Minotauro Zimba sopra uma bexiga debaixo das vestes de Cacilda Abbie. Ele está deitado soprando a criação. As mulheres mugem suavemente. A Barriga de Abbie começa a crescer com o sopro de Zimba. As respiração cresce até que nasce o Bebê: o Cacau. O Baú que seu Polonio traz para o Casamento, é Conduzido ao Palco central, colocado fora dos Panos Brancos do Barco, para ser o berço onde ele vai ser partido, para se ter as sementes que serão plantadas ) ZIMBA O teatro você vai continuar quando o deus, nos chamar. (Sonoplastia entra com a “Valsa Triste”. O Bebê, fruto dourado de cacau, Zimba passa pra mão de Cacilda. Toma o bebê e dança com ele, como quando dançava em Santos a “Valsa Triste de Silbelius”.e o conduz para o Baú ) CACILDA ABBIE (inclinada sobre o Baú. As Mulheres juntam-­‐se à Cacilda) Parir mais que um filho, uma geração de teatro, coisa passada de mão em mãe sem buracos o teatro. (entra o Marcio sátyro com a Peixeira) Nossos dois suspiros damos pra nosso filho aspirar! Nossas duas exclamações!! (prendem todos a respiração e dão dois suspiros, o parteiro com o Machado rompe o fruto, todos chupam as sementes) CACILDA Negras, vamos plantar. Nós Amantes de Santos filhas de mãe Amante de Santos! Por paixão pela Mãe, Amante, Matriz (As mulheres trazem terra e plantam as sementes, no Baú, que é enterrado no buraco.) ZIEMBINSKI O VELHO CABOT 136
(berrando) Está nascendo uma geracão de teatro! (Olhando Abbie eEben) Plantadores? Parteiros? O Trabalho quero agora inteiro! Fogo noite e dia! Deus é Orgya. (O PANO DO BARCO é preso novamente na haste e sobre fazendo o Circo-­‐Barco de novo aumenta a valsa triste na sonoplastia; (NASCE O OVO DE CACAU Q TRAZ SERGIO CARDOSO – Luzes acendem e apagam com o som do mar, fazendo o tempo de germinação das sementes ir passando… A Luz depois é focada no buraco central, onde foi plantado o baú, e revela como um Sol, um fruto imenso dourado de Cacau que o filho Ariclenes-­‐Hamlet abre fazendo o ovo abrir -­‐se e nasce o Filho do Teatro: Hamlet.) CORIFÉIA CARIMBÓ Carimbó!!!! CORIFÉIA CARIMBÓ Amazona que me pariu, no meu Pará Ele é filho teu também, veio de lá CORO Amazona que me pariu no meu Pará Ele é filho teu também, veio de lá CORIFÉIA CARIMBÓ Nasceu na Guerra do Cacau CORO Caudoso CORIFÉIA CARIMBÓ Nasceu na Guerra do Cacau CORO Caudoso CORIFÉIA CARIMBÓ Te batizo CORO Sergio Cardoso CORIFÉIA CARIMBÓ Te batizo 137
CORO Sergio Cardoso (Sérgio Cardoso sai do ovo e correndo, da pista também; a direção de cena fecha o buraco do centro pra começar a roda do carimbó de fogo de conselho) YARA ISABEL CABOCA Aposentados indignados: pros Senados! Divos! Divas A ativa! Vamos fazer uma imensa cooperativa, nós, os 1588! CORO Vamos fabricar fino biscoito! MARGARIDA REY Aqui agora me entrego! Ponho meu relógio, no prego. (aplausos; o baú é colocado no palco central) CACILDA MARGOT Pois então, aplicamos Tito e eu: trezentos e trinta mil! Comecei pão dura e já comecei a dar… Sou a puta que pariu! (Aplausos históricos) SANDRO VIRGÍLIO Somos, senhoras senhores, precisamente, no Brasil… CACILDA MARGOT 1588 artistas e técnicos: Semi-­‐empregados. YARA CABOCA 1588 donos! CORO Tomados… …Ai! (o carimbó se transforma no mantra Dibuk, com todos girando em duas rodas: as mulheres no centro em sentido horário e os homens fora anti-­‐horário) 138
Dig dai dig dai–dig dai–dig dai Ai Dig dai dig dai–dig dai–dig dai Turkov! Diretor! Comunista! Judeu! Ateu! TURKOV Comediantes Associdados com má fama: Tomando já o Teatro dos bacana: o fantástico… …Ginástico! (comemorações de todos) Pela primeira vez o terreiro dos brancos o palco italiano Comido pelo Épico Bahiano! (6x8 nas congas e surdos) A cultura excrava rompe / o que amarrava: o Imperialismo Romano Americano: esse provincianismo. E o internacional paganismo no Brasil, ninguém esperava… reapareceu! República de artista, vamo cantar: a conquista das Terra do Sem fim… aqui no Estádio do Sim. (Os 1588 fazem o V. Entram Caymmi e Jorge Amado já sambando, trazendo o samba de roda) CAYMMI Requebre que eu dou um doce Requebre que eu quero vê Requebre meu bem que eu trouxe Um chinelo pra você -­‐ ai… (todos derretem do estado de assebléia) CORO Caymmi… 139
(um compasso de batuque de sandália) CAYMMI, RUTH SOUZA E CORO Para você requebrar Moreninha da sandalia do “pom-­‐pom” “grenat” (Celia põe no chão a sandália) Quando acabar com a sandalia de lá Venha buscar essa sandalia de cá Pra não parar de samba! Pra não parar de samba! Pra não parar de samba! Pra não parar de samba! (o baú sai como um tabuleiro de bahiana na cabeça) CACILDA Meu Amado Jorge Amado! JORGE AMADO Francesa Diaraque! Paulicéia Baianóloga, princesa! Estrela do Inferno! Cacau da Beleza! Macumba, teatro! Mesma nobreza! CACILDA Caymmi!… Que coisa maravilhosa! De cair-­‐me em cena, preguiciosa (começando a pegar um santo) Não pára macumba Margot, a francesa, Nasce agora, realeza! (Ela dá um giro e revela a saia de estrelas) CORO Eu vou pra Ilhéus! Estrela do Inferno e dos Céus! CACILDA Samba baiano! Me inicia, príncipe Indiano… RUTH DE SOUZA a Critica nos botou de salto alto, eu, Ruth de Souza, agora sou chic chic chic chic Bamba! 140
CORO … chic chic chic Bamba! JARDEL Cacilda! Silvio Damico ti ha chiamato: la Eleonora Duse del Samba CAYMMI, RUTH SOUZA E CORO Pra não parar de samba! Pra não parar de samba! UMA ESPECTADORA Chega! (Levanta-­‐se, fala, protestando e cortando o samba) O Brasil tem tanta coisa bonita Porque precisa sempre Essa negrada e Macumba Q horror! CAYMMI Racista! UMA ESPECTADORA Vou processar! Agressão física! Bando de comunista. (Entra trilha com STOCKHAUSEN) DONA SANTINHA VELHA SENHORA Eu, Dona Santinha, esposa do Presidente Marechal Dutra, pedi-­‐lhe apaixonada: feche os Cassinos, o Partido Comunista, e a democracia que se vá com a água da bacia. TITO Chí! A Platéia Branca Burguesa do Teatro Ginástico, está botando as manguinhas de fóra quer boicotar a carreira da peça por racismo e anti-­‐comunismo, aproveitando essa má hora. (rajada potente de Stockhausen) RUTH SOUZA Que isso? O publico quedê? O Racismo não pode fazer o Barco parar! Não vamos parar de Sambar! 141
CAYMMI, RUTH SOUZA E CORO Pra não parar de sambar! Pra não parar de sambar! Pra não parar de sambar! Pra não parar (pára o samba; Zimba dá um tempo submarino, percebendo a situação; mar na sonoplastia; a vela começa a balançar) ZIMBA O barco está afundando… (entra Edgard da Rocha Miranda com rosas no barco que afunda) MARGARIDA REY Edgard da Rocha Miranda! EDGARD DA ROCHA MIRANDA Pra vocês e pra você, princesa, sempre, caviar, marrom glace e champagne francesa! (os famintos comediantes comem) Vou salvar o Barco dos Comediantes, patrocino a montagem de minha peça, “Não sou eu” (aplausos; Edgard joga rosas; os aplausos vão diminuindo de intensidade… até parar) ZIMBA “Não sou eu”… não deu. (STOCKHAUSEN) VERA CLARA ZAHANASSIAN (num das extremidades da pista, com trajes de Clara de Velha senhora de Durremnmatt) Esse rosto é de Zimba, o muito amado pertence ao meu passado. Não pode ser parceiro dessa mulher moderna Ele pertence a um juramento de vida etherna (pausa no STOCKHAUSEN) Ele nos ensinou o que era o silêncio, a inflexionar… Peças que ninguém suportava… nós ficávamos ali a esperar… Heroicamente segurando pausas…,…,…, sem nem entender as causas. (volta o STOCKHAUSEN) É indiscutível, como os 140 refletores 142
que usou no Vestido de Noiva, em todas as cores! Devemos respeitá-­‐lo e tê-­‐lo do lado de toda nossa tradição. Este Barco está afundando na mais negra escuridão Voltemos ao teatro nunca afunda: O Etherno realmente. O dos bons costumes de nossa gente! Quantas companhias nunca tiveram um fracasso? Estrêla, sem espera! Não mais erra, o tempo de se arriscar acabou, declaro eu a Anciã Sou a Visita da Velha Senhora Clara Zahanassian! (Mahler na trilha sonora) CACILDA MÔNICA Esta mulher que diz que você já morreu, Ela, viúva do teatro que faleceu, é uma muito bonita, muito elegante mulher, e das mais ricas! ZIEMBINSKI SOLDADO Todas são bonitas se você as posiciona na luz apropriada. CACILDA MÔNICA Foi preciso essa virada Guerra, Migrações, Paz, retorno às Repressões, por isso te amo, amo teus beijos, (eles se beijam) me preocupo com seus menores desejos… com seus gostos os mais insignificantes… por isso pude desvendar teu artista tão marcante. Velha Senhora, é pros novos retratos que você deve olhar. ZIEMBINSKI SOLDADO Não sou eu. Nem o que você quer que eu seja nem o que essa mulher que não dá samba deseja. Vou-­‐me embora, pros meus discos, minhas farras, com meus meninos, meus arriscos Cacilda! Com você, vivo um amor diferente, temos uma longa história ainda entre a gente. CACILDA Zbigniew… ainda não acabou nossa fita ZIMBA É futura nossa memoria, não tem fim, começo, nem meio, é só o instante… Todo mundo pensa que é o fim do barbante. Mas o barbante não tem fim, nem antes. 143
(a direção de cena abre o buraco do inferno, como um ralo) CACILDA O Relógio já estou penhorando nossas últimas jóias, dos dedos, pescoço estão se afastando. (todos vão se desfazendo de suas jóias e jogando no mar) A rosa de ouro… CORO A Rosa de Ouro que a Laura te deu, não! CACILDA É… Pra nós, vale uma fundição! EDGARD Vamos dançar um fox? Ou você prefere um baião? CACILDA Prefiro essa roda, com um belo e lento Sambão Que me leva à beleza da decadência com muita cadência (samba lento na cadencia; os comediantes começam a sambar uma roda de samba lento) DIRETOR DE CENA Vamos afundar. (sai o samba) (todos começam a sair do Barco, o Pano vai baixando) TITO Chegamos ao topo do teatro Brasileiro, Mas abandonar o Barco agora é é hora Eu concordo com a “Velha Senhora” Não há futuro para o teatro nunca, muito menos agora. ZIMBA Eu estou por aí, não tenho mais conserto, desembarco Mas embarco em outro barco, ou bicicleta, ou avião. Até a próxima estação! Estou certo, não é o fim. No Teatro não existe o The End! Não é assim? CACILDA 144
Adeus Zimba… não vou dizer mais nada. Já falei demais nesta peça mal acabada Vamos deixar os fados fadarem… TITO Vamos, Cacilda! Pela polícia estou sendo perseguido, na ilegalidade agora cai meu ex-­‐partido e pra mim comunismo já era assunto esquecido. Um tempo na fazenda de papai agora Vamos ter que dar. CACILDA Teatro, vou de novo te deixar… (Vem Hamlet, pra quem Cacilda passa a Rosa de Ouro; o anjo do inferno entra com o Pano do Barco no centro do palco Central, e de baixo o Pano é puxado, fazendo criar um ralo que chupa todo o pano do Barco até a luz ir se apagando para o Black out para as falas de Procopio e Decio com fotos destes Santos do Teatro:) PROCÓPIO DAVID O teatro Brasileiro está precisando de uma injeção de óleo canforado, que se dá aos moribundos. DÉCIO Essa arte não tem mais a condição de ser amada por ninguém Há uma boa estréia, entusiasmo… Passada a euforia 145
ficamos na mesma. Não estamos dedicando nosso tempo A uma arte em extinção Somos sua tropa de choque Ou as ultimas hostes. (O Coro – elenco todo, sem exceção deve estar em cena como uma tropa de choque de teatro, e não ausente como suas últimas hostes.) DESCANSO DA GUERREIRA (Fazenda “Casa da Dina Marca” em Santa Rita do Passa Quatro. A Cortina está fechada; depois que a cena está pronta, com Cacilda e Tito no bolo de noiva, as luzes se acendem e abre-­‐se a Cortina do Palco, pra revelar o Pastor Polonio) CACILDA GERTRUDES Pastor Polônio! O senhor em minha vida! (entra a música dos Serenos cantada pelo coro evangélico, jogando em campo, espalhado pelos 4 cantos) TITO REI CLAUDIO 1948! A competência do Pastor Polonio, acabei de contratar. Para ser seu Pigamlião, são nóvos os tempos, nossas imagens temos de mudar POLÔNIO Agora és uma Rainha, vais entender a beleza de amar á um só Deus, que lhe enviará dos ceus toda a Riqueza! O meio do século já avança seu tentáculo, a nossa sociedade ocidental precisa renovar seu espetáculo. (a música evangélica dos serenos completa-­‐se e cessa) CACILDA Estou sentindo um cheiro fortissimo de formol Espalhou-­‐se pela sala inteira, não sai nem com aerosol! (Cacilda apura o olfato Cheira tudo inclusive o público) Já tomei mil banhos Mandei lavar todos meus rebanhos! Acendi essa vela para N. S. da Graça. O bodum está sempre ao meu redor, não passa! POLÔNIO Madame vai ter que fazer um descarrego, um banho de oleo ungido! Está aqui, projetado pelo nosso departamento de Iconografía, vosso futuro Retrato Nele Madame ver–se–a uma contemporânea celebridade de fato! 146
(Vídeo projeta o retrato de Cacilda operada com silicone, enquanto o coro retoma seu groove evangélico) Ah, amanhã está marcada a plastica do nariz, nadegas, seios ao Meio Dia o que for necessário para seu visual libertar-­‐se da anorexía A revolução do silicone chegou para libertar a mulher de hoje em día! Há um teste irrecusável para Madame pousar para um Reclame da Maior Industria da Terra a Armamentista, a de Guerra! CORO Aleluia! CACILDA Pastor Polônio, o senhor andou bebendo cana? Não exagere, jamais pretendí compactuar com este tipo de fama! Já não chega o Rei Claudio Tito Perseguido como Comunista, como nos Estados Unidos o Macartismo perseguindo o Artista? POLONIO O Rei, seu esposo, é agora um negocista perseguindo injustamente por sua mocidade comunista CACILDA Sinto o cheiro insuportável de novo! Vejam, fiquei trêmula! Socorro! Está podre o meu ovo! REI TITO (cheirando apaixonado a pele da esposa) Mas a tua pele cheira melhor que sabonete. Abandonada a Política, o Teatro, teu cheiro é perfume em frasquete! (toca desesperadamente a campainha chique da casa deles) POLÔNIO Há um jovem com uma espada! Horrososo! Chegou num Carro que parece um fruto de cacau, preto! Tenebroso! Chama-­‐se Sergio Cardoso e vem fazer-­‐lhe um convite. Digo que Madame está com a gripe, coisa e tal… pra me livrar desta personagem demagógica mundo teatral? CACILDA Há alguma coisa Fedendo no Sitio de Santa Rita de Passa Quatro Recebo-­‐o no meu Quarto! 147
REI CLAUDIO TITO Mas isto é um descato! POLÔNIO Rei va para teu oratório deixa que eu trato! Ele invadiu, vem entrando! Madame! Deves lhe falar firme argumentando: que os exageros de misturar Vida, Teatro só cabem na miséria soviética de Quatro num Quarto! E que Vossa Alteza já serviu demais essa roda (Polônio refere–se à roda formada inclusive pelo público que deve ter invandido o campo do teatro de estádio) cansou de ser anteparo desse Teatro fora de moda! (refere-­‐se à participação do público na peça no dia deste acontecimento) Tão caipira quanto as iras que inspira. Rompa de vez com o teatro, a TV chega e já vos mima, fico escondido atrás da Cortina SÉRGIO CARDOSO HAMLET (fora) Minha mãe, minha mãe, minha mãe! (Polônio vai para trás da Cortina do Palco, entra Hamlet. Vindo do Norte) Olá minha mãe o que passa? Vamos lá sente-­‐se aí. Não se mova. Não vai sair daqui ponha-­‐se diante do espelho Onde possa ver a parte mais profunda de si mesma. CACILDA RAINHA Que pretende fazer? Vai me matar? Socorro, Socorro, aqui! POLÔNIO (atrás da tapeçaria) Olá! Socorro! Socorro! Socorro! SÉRGIO HAMLET (Puxando a espada) Que é isso? Um rato? (Dá um lançe com a espada atrás da cortina do Roupário) Morto. 148
POLÔNIO (atrás) Ah! Me mataram! (cai e morre) CACILDA RAINHA Ai de mim! O que você fez? Oh que ação sangrante absurda! SÉRGIO HAMLET (levanta a Tapeçaria e olha Polônio) Tú absurdo, metido, idiota. Adeus! Eu te tomei por um superior teu. Aceita teu destino, Ser prestativo demais tem lá seus perigos! CACILDA RAINHA Que adianta matar seu Polônio, é pra sujar meu carpete? Ele é tão imortal quanto tu Hamlet, SERGIO HAMLET (à Rainha) E senta aí! Vou torcer o seu coração; se é que ainda tem um recheio mole; vai ver que já não virou lata couraça, proteção contra qualquer sentimento. CACILDA RAINHA O que foi que eu fiz para a tua língua cuspir em mim este veneno? Que ação tão má que já no prólogo ruges tão alto? Ameaçando tanto? SÉRGIO HAMLET Olha aqui este Retrato (Mostra para ela os retratos dela mesma. Atriz, Bailarina, de Grande Atriz da Fotografia: Fotogenia. Devem constratar com as fotos anteriores que permanecem, da Carreira Toda de Cacilda, que são belíssimas, como por exemplo Cacilda de Dama das camelias e outros tantos e video de Cacilda em Floradas da Serra, na parte onde ela diz: Belinha morreu!) Retratos fiéis Veja a graça pousada neste rosto: Os cabelos de Rita Hayworth, a testa, um continente da própria Ariadne 149
O olho de Samurai que ameaça e comanda O Porte de Isadora O riso rasgando na cara a saida do corpo e da alma. Um conjunto e uma forma em que cada deus fez questão de colocar sua marca, para garantir ao mundo a perfeição de uma atriz. (dois projetores trazem Imagens em telas opostas do espaço fabricadas por Polônio de Cacilda Atriz de toda sua carreira) Agora olha estes outros aqui, da Madame, que descobri Polônio produziu Hamlet é imortal, Polônio é imortal Cacilda é tambem imortal Imagina você séculos, e séculos, vai ficar com que cara? Se agora você para, Vai ficar pra história como estas, desta revista cara? (Estes retratos tem de ser iventados, como se por acaso Cacilda não tivesse se entregado ao Teatro, e traído sua vocação, por uma mania qualquer de ascensão no esquema como as Divas de Lata de agora. De Chapéu de Formatura por ex, e principalment nestas poses de Celebridades atuais descarismadas!) A senhora tem olho? Hein? Tem ou não tem olho? Que cabeça ia trocar isto. Por isto?! (Aponta os retratos em telões opostos; põe a mão no sexo da mãe) Inferno! Rebela-­‐te! Se não há potência pra inssureição do orgulho, nos ossos dessa matrona, então que o talento dela vire cera, ao calor da juventude e derreta neste fogo. CACILDA RAINHA Oh Hamlet, não fala mais. Você vira meus olhos pra dentro da minha própria alma. SÉRGIO HAMLET É essa vida nos lençois fedendo aerosol! sem corrupção de nada, imersa no cheiro deste formol arrulhando fazendo sozinha 150
amor, na privada limpinha. CACILDA RAINHA Oh Não fala mais Tuas palavras como facas entram nos meus ouvidos Chega Hamlet, querido! SÉRGIO HAMLET O teu Rei, teu Deus e Polônio, escravos representando o Senhor: Não chegam nem no ralo onde urinas teu verdadeiro amor. Ladrões Imperiais do Poder do deus Sem Juízo querem roubar do Rei Dionizos Cacilda, sua mais preciosa coroa. E enfiar no bolso, atoa! CACILDA RAINHA Basta! SÉRGIO HAMLET (Entra o Fantasma Zimba. Godot vestido com o touro preto de Pirassununga, o Pai Páu Fantasma) Que espera de mim, figura cheia de graça? ZIEMBINSKI FANTASMA O pânico domina a mãe que te plantou depois da morte! Nos corpos fragilizados a imaginação trabalha forte. Fala com ela com carinho Hamlet. Você é o filho nascido do Desejo! O Oposto da Morte! O deus do Beijo! CACILDA RAINHA Oh Meu! Está louco! Ai! O que é que você vê nesse espaço ôco! Fixando os olhos no vazio E conversando com o ar frio! Está olhando o que? SÉRGIO HAMLET Madame não vê? Nem ouve nada? CACILDA RAINHA Nada a não ser nós mesmos. SÉRGIO HAMLET Nada como? Olha lá! Veja cega? Está indo embora! Nosso Pau! Nosso deus que em ti me soprou sente, agora Ollha la vai ele, atravessa o Portal da cena, pronto esta fora!! (Sai Fantasma) 151
CACILDA RAINHA É tua cabeça. Delírio. SÉRGIO HAMLET (toma o pulso dela, com o carinho que o Pai aconselhou) Delírio! O meu pulso como o teu Dança o tempo, calmamente. Não é loucura o que eu falo. Palavra de Hamlet! É só me testar Que repito palavra, por palavra O que a loucura embola. Só uma máscara fina, cobre tua alma gangrenada, enquanto a corrupção pútrida, em infecção escondida, corrói tudo por dentro. Descasca a ferida, deixa fermentar o que passou e faz vinho, do que quer que venha. Perdoa meu talento. Na estagnação destes tempos flácidos, marcados de deuses decadentes do mercado, pra mediocridade a criação tem que pedir permissão, pra que possamos trabalhar, e ela arranque de nosso ofcicio seu custo beneficio! CACILDA RAINHA Oh! Hamlet Você partiu o meu coração em dois pedaços. SÉRGIO HAMLET Então ressucita com o podre. E joga fora, o cabação, o de botão. (aponta Polônio Vudu do burocrata) CACILDA RAINHA O que devo fazer? SÉRGIO HAMLET Teatro. Limpa o caminho para a armadilha: o teatro não será nunca uma coisa de Família, é a magia quente montada 152
pra desarmada do jogo feito, eu sei, da consciência pardo-­‐realista, do Sonhado Marido, do Rei. No Teatro De Estádio Municipal de SamPã! sem rendas, sem rédeas, Titã, Estrêla brazyleira a vagar encontre teu céu, teu inferno, teu chão pra Orgya, Comédia Tragédia: Ação Boa noite Cacilda duas, vem chegando terceira Exclamação! (aproxima-­‐se da mãe a beija fortemente, vai retornando para sair e percebe o Rei nú) Engraçado o Rei está nú E chefe de gabinete, o marqueteiro, em vida, um peixe podre competente, Jaz quieto, grave, sem gaz, Esse ex -­‐empertigado rapaz. (ao corpo) Vamos senhor. Isso deveria ser proibido, mas aconteceu. O maior inimigo do Teatro, Por enquanto… Morreu (da uma bolacha no ator Polônio) Mas ressucita cretino É Teatro, também, teu destino OSWALD DE ANDRADE Metade do Século XX vindo Hamlet introduzindo teatro de Estádio grego, nego, pro desejo do povo pra emoção do novo Grécia Carnavalesca no Brasil Oficializada Santíssima Trindade disparada Ziembinski, Cacilda e Sérgio Cardoso Mistério Gozozo! Pouso...Re-­‐Pouso (o coro vem vindo de todos os pontos do espaço, vestido com entidades para o agradecimento.) CORO COM A CONSTELAÇÃO DE ESTRÊLAS A Atriz é uma Estrela… Vagabunda, vagando sempre nos céus em que se afunda… Até encontrar 153
o seu céu na terra, que aterrar no palco em que seu desejo aportar (Entra o Samba, a constelação de estrelas enche o espaço com seus brilhos) é cedo de mais, a vida é Mistério. Não cabe só, num Teatro Sério vamos rir do que se faça, sem achar mesmo muita graça. Com você amor, começamos muito alto! (para Jacinta) Mas continuamos no nosso mesmo país: o Palco! Não digo nunca adeus sempre errante sigo ao lado teu! Vagar… …é assim amor, nosso fado e encontrar pouso breve por todo lado CACILDA Minha vida é maravilhosa. Ninguém me governa! CORO Saio quando quero, entro quando quero. durmo com quem quero, vida de artista! Saio quando quero, entro quando quero. durmo com quem quero. Vida de artista não há melhor que exista! Nada se perderá, nem se perdeu Mas o mundo agora é meu. Nada se perderá, nem se perdeu Mas o mundo agora é meu. Primavera! Nova Estação! Nasce, nossa Constelação ! Primavera! Nova Estação! Nasce, nossa Constelação ! (Agradecemos em roda para dentro e depois pra fora; a seguir aplaudimos. As Cacildas vão agradecendo no palco central, depois cada um do coro de protagonistas) 154

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