PERONA, Gabriel Moreira. PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS
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PERONA, Gabriel Moreira. PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL GABRIEL MOREIRA PERONA PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL BELO HORIZONTE 2015 GABRIEL MOREIRA PERONA PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA como requisito parcial à obtenção do título de mestre Área de Concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Local Educação e Orientadora: Professora Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Belo Horizonte 2015 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Dissertação intitulada "PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL", de autoria do mestrando GABRIEL MOREIRA PERONA, aprovada pela comissão examinadora composta pelos seguintes membros: ________________________________________________________________ Professor(a): Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos (Orientadora) - UNA _________________________________________________________________ Professor(a): Dra. Adilene Gonçalves Quaresma - UNA _________________________________________________________________ Professor(a): Dra. Raquel Garcia Gonçalves - UFMG _________________________________________________________________ Profa. Dra. Lucília Regina de Souza Machado Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local Belo Horizonte, _____ Novembro de 2015 AGRADECIMENTOS Agradeço, A Deus pela força espiritual e serenidade para realização deste trabalho. À minha orientadora, Doutora Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, pela orientação, amizade e disponibilidade ao longo destes dois anos. À professora Dra. Adilene Gonçalves Quaresma, e à professora Dra.Lucília Regina de Souza Machado, pelas ponderações e observações no processo de qualificação. À professora Dra. Adilene Gonçalves Quaresma e à professora Dra. Raquel Garcia Gonçalves que aceitaram participar desta banca. Aos professores do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, pelo carinho, amizade, e apoio, em especial à professora Dra. Matilde Miranda que me fez enxergar a beleza nas pequenas coisas da vida, e acreditar em um mundo melhor. Aos meus colegas e amigos de curso, em especial Gislene Dutra e Rafael Vieira, que muito me apoiaram e juntos compartilhamos alegrias, angústias e superações. Aos meus colegas de trabalho, pelo apoio, carinho e palavras de incentivo. Aos alunos e moradores da Bacia do Córrego Bom Jesus, que participaram desta pesquisa e que enriqueceram este trabalho. Aos meus pais Flávio Perona e Leila Moreira Perona, por todo apoio, carinho e orgulho ao longo desta caminhada. Ao meu irmão Tadeu Moreira Perona, pelo apoio, incentivo e amizade ao longo não apenas deste curso, mas da vida. À minha esposa, Cristiane Alves Zaidan, que nunca mediu esforços para me apoiar, com muito carinho e compreensão, mesmo nos momentos que estive ausente ou esbanjando mau humor. E a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta dissertação. "Saiba diferenciar o: VOCÊ QUER ou VOCÊ PRECISA? Pequenas mudanças fazem toda diferença no cotidiano do nosso planeta!" Edinaiane Shinigami RESUMO A Bacia do Córrego Bom Jesus, em Contagem/MG, tem sofrido transformações socioambientais devido ao processo de uso e ocupação do solo, iniciado em 1953. A questão central tratada nesta dissertação é a percepção de moradores e jovens (alunos do Ensino Médio) sobre a contribuição da educação para promoção do desenvolvimento local na região da Bacia do Córrego Bom Jesus, considerando os impactos socioambientais causados pela expansão urbana, no período de 1953 a 2014. Este tema foi escolhido, pois a região da Bacia do Córrego Bom Jesus apresenta vários problemas socioambientais que contribuem com a poluição da Lagoa da Pampulha e geram impactos no desenvolvimento local. Neste contexto, objetivou-se analisar como a educação pode contribuir para promover o desenvolvimento local da Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG), considerando os impactos socioambientais causados pela expansão urbana. A pesquisa bibliográfica baseou-se nos conceitos de percepção socioambiental, urbanização, educação e desenvolvimento local. Na metodologia, para a abordagem quantitativa, foram aplicados 315 questionários em 5 instituições públicas de Ensino Médio, cujos dados foram tabulados e tratados estatisticamente por Análise Fatorial Exploratória e, posteriormente, submetidos à análise de variância (Teste de Tukey e teste F). Com o intuito de compreender os processos de uso e ocupação do solo nessa área, foi realizada uma análise sobre o processo de ocupação da região de 1953 a 2014, utilizando fotografias de diferentes épocas, através dos relatos dos moradores mais antigos da região através da história oral e, com os alunos do Ensino Médio, informações advindas dos grupos focais, caracterizando a abordagem qualitativa dessa pesquisa. O projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, sob o n° 39195814.0.0000.5098 intitulado Percepções Socioambientais de alunos do Ensino Médio para Construção de Agendas 21 Escolares e aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário UNA. Para os moradores entrevistados, os impactos socioambientais são oriundos dos processos de ocupação e desenvolvimento da região, o que proporcionou melhorias na qualidade de vida desses indivíduos. Para os alunos participantes desta pesquisa, constatou-se que eles não conseguem associar o conteúdo aprendido na escola com a realidade local, não percebendo os impactos socioambientais que ocorrem na região, com os aspectos relacionados à percepção do ambiente urbano. Entretanto, os alunos que participaram de atividades diferenciadas (trabalho de campo, oficinas de reciclagens, jogos que caracterizam a região), desenvolveram maior percepção dos impactos socioambientais, possibilitando o entendimento sobre o uso e ocupação desse espaço, favorecendo o empoderamento local. Ficou evidente para o pesquisador, que a educação ambiental formal possui papel importante nos processos de gestão social, ao formar cidadãos críticos capazes de transformar o local em que vivem, de forma a gerar o desenvolvimento local. Neste contexto, a contribuição técnica dessa pesquisa é um guia de atividades para a elaboração de Agenda 21 Escolar, propiciando a integração dos alunos com o ambiente à sua volta, capaz de desenvolver o senso crítico fomentando a transformação local. Palavras-chave: Desenvolvimento local. Educação. Percepção socioambiental. Urbanização. ABSTRACT Bom Jesus Stream Basin, in Contagem, has undergone socio-environmental changes due to soil and land use initiated in 1953. The central question treated in this dissertation is the perception of dwellers and young people (pupils of high school) on education contribution to promote local development in Bom Jesus Stream Basin, considering socio-environmental impacts, caused by urban sprawl in the period from 1953 to 2014. This theme was chosen, because the region of Bom Jesus Stream Basin presents several socio-environmental problems which contribute to pollution of Lagoa da Pampulha (Pampulha Lagoon), producing impacts in local development. In this context, one’s gool was analyzing how education can contribute to promote local development of Bom Jesus Stream Basin, in Contagem Minas Gerais, considering socio-environmental impacts, caused by urban sprawl. Bibliographical research was based upon concepts of socio-environmental perceptions, urbanization, education and local development. In methodology, for quantitative approach, 315 questionaries were applied,in five public institutions of high school, whose data were statistically tabulated and treated by Factor Exploratory Analysis and subsequently submitted to a variance analysis (Tukey’s Test and F Test.) With a view to understand the processes of soil and land use in that area, an analysis on occupation process of the region was realized, from 1953 to 2014, using different time photographies, through reports of the oldest dwellers in the region which used oral history.High shcool pupils gave information from focus groups, what characterized qualitative approach of this research. The Project was signed up in Brazil Platform, under number 39195814.0.0000.5098, Socio entitled Perceptions of high school students for Construction Agenda 21 School and it was approved by Ethics Committee of Centro Universitário UNA. According to interviewed dwellers, socio-environmental impacts are originated form processes of occupation and development of the region which, on the other hand, improved their quality of life. It was verified that the pupils which participated in this research cannot associate the content learnt in their school with local realiaty, and they don’t understand socioenvironmental impacts which occur in their region, and with aspects related to perception of urban environmental. However, students which participated in differentiated activities (fieldwork, recycling workshops, games typical of their region) developed a greater perception of socio-environmental impacts, enablig understanding use and occupation of this space, favoring local empowerment. It was evident to researcher that formal environmental education play an important role in social management processes, when forming critical citizens able to transform the local where they live, generating local development. In this context, technical contribution of this research is an activity guide to elaborate School Agenda 21, propitiating the integration of the students with their surroundings, able to develop critical sense, encouraging local transformation. Keywords: Local Urbanization. development. Education. Socio-environmental perception. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Regiões Administrativas do Munícipo de Contagem ................................................... 17 Figura 2: Regional Nacional e a Bacia do Córrego Bom Jesus .................................................. 18 Figura 3: Localização da Bacia do Córrego Bom Jesus. ............................................................. 64 Figura 4: Vista aérea da região onde se localiza o Córrego Bom Jesus em 1970 e 2015. .... 72 Figura 5: Campo do Terrestre .......................................................................................................... 75 Figura 6: Rua Quatro: disposição inadequada de resíduos sólidos e ferro velho. .................. 75 Figura 7: Área de ocupação ilegal anterior ao Ponto Zero de Despoluição. ............................ 77 Figura 8: Regiões Administrativas do Munícipo de Contagem ................................................... 93 Figura 9: Localização das escolas................................................................................................. 103 Figura 10: Parque municipal das Amendoeiras........................................................................... 131 Figura 11: Depósito de lixo e entulho às margens do Córrego Amendoeiras (Gangorra). .. 133 Figura 12 Nascente do Córrego Bom Jesus na Fazenda Taquaril. ......................................... 135 Figura 13: Poluição em área preservada do Córrego Bom Jesus. ........................................... 136 Figura 14: Área de ocupação ilegal anterior ao Ponto Zero de Despoluição. ........................ 137 Figura 15: Córrego Bom Jesus no Bairro Bom Jesus. ............................................................... 139 Figura 16: Bairro Vale das Orquídeas........................................................................................... 140 Figura 17: Obras da construção da Avenida Nacional. .............................................................. 141 Figura 18: Poluição às margens do Córrego Bom Jesus. ......................................................... 142 Figura 19: Foz do Córrego Bom Jesus. ........................................................................................ 142 Figura 20: Grupo focal ..................................................................................................................... 143 Figura 21:Páginas ilustrativas do Guia - parte 1.. ....................................................................... 165 Figura 22: Páginas ilustrativas do Guia – parte 2. ...................................................................... 166 LISTA DE TABELAS Tabela 1-Número de alunos do Ensino Médio matriculados em cada instituição...... 24 Tabela 2-Proporcionalidade de entrevistados e o número de alunos ........................ 25 Tabela 3 - Número de alunos do Ensino Médio matriculados em cada instituição.... 93 Tabela 4 - Proporcionalidade de entrevistados e o número de alunos ...................... 94 Tabela 5 - Teste de adequação da Análise Fatorial Exploratória, Teste de KMO e Bartlett ....................................................................................................................... 95 Tabela 6 - Tabela resumo da Análise Fatorial Exploratória ....................................... 96 Tabela 7 - Análise Fatorial Confirmatória e análise de confiabilidade ....................... 97 Tabela 8 - Comparação de Gênero ........................................................................... 98 Tabela 9 - Comparação das Dimensões por Séries ................................................ 100 Tabela 10 - Idade dos Participantes ........................................................................ 101 Tabela 11 - Escolas da Região .............................................................................. 102 Tabela 12 - Tempo que reside na Região estudada. .............................................. 105 Tabela 13 - Gostar de morar na região. .................................................................. 106 Tabela 14 - Identificar os Córregos da região ......................................................... 106 Tabela 15 - Em sua escola, você tem aulas de Educação Ambiental? ................... 107 Tabela 16 - Disciplinas nas quais se estudam temas relacionados ao meio ambiente ................................................................................................................................ 108 Tabela 17 - Itens necessários para o desenvolvimento da região........................... 109 Tabela 18 - Dimensão Qualidade socioambiental ................................................... 111 Tabela 19 - Destinação do esgoto doméstico ......................................................... 112 Tabela 20 - Dimensão - Aspectos econômicos ....................................................... 113 Tabela 21 - Dimensão - O Papel da educação........................................................ 114 Tabela 22 - Dimensão - Responsabilidade ambiental ............................................. 115 Tabela 23 - Mudança de região.............................................................................. 115 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANOVA Análise de Variância CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBH Comitês de Bacias Hidrográficas CEP Comitê de Ética em Pesquisa COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais CRBP Consórcio de Recuperação da Bacia da Pampulha E Erro Amostral E.E. Escola Estadual Funec Fundação de Ensino de Contagem IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas Km2 Quilômetro quadrado KMO Kaiser-Meyer-Olkin LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação MEC Ministério da Educação e Cultura MG Minas Gerais MMA Ministério do Meio Ambiente m² Metros quadrados m3.s-1 Metros cúbicos por segundo n° Número N População Estudada N Amostra Calculada P Verdadeira Probabilidade do Evento PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PERH Plano Estadual de Recursos Hídricos PI Piauí PNE Política Nacional de Educação PNEA Política Nacional de Educação Ambiental PNRH Plano Nacional de Recursos Hídricos PPG - GSEDL Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local TCLE Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido TO Tocantins UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Z Variável normal padronizada associada ao nível de confiança Sumário 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16 2 PERCEPÇÃO DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS EM UMA BACIA HIDROGRÁFICA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ................................................................................. 30 2.1 Introdução...................................................................................................... 31 2.2 Fundamentação teórica ................................................................................ 32 2.2.1 Importância dos estudos de percepção ambiental ............................ 32 2.2.2 Efeitos da urbanização em diferentes ambientes ............................. 35 2.2.4 A conquista do desenvolvimento local a partir da educação ambiental ......................................................................................................... 46 2.3 Considerações finais ................................................................................... 51 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 53 3 O PAPEL DA EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL .................. 62 3.1 Ocupação e Urbanização da Bacia do Córrego Bom Jesus (MG) ............ 62 3.1.1 Introdução .............................................................................................. 63 3.1.2 Referencial teórico ................................................................................. 65 3.1.3 Metodologia ............................................................................................ 68 3.1.4 Resultados.............................................................................................. 69 3.1.5 Considerações finais ............................................................................. 80 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 83 3.2 A percepção socioambiental dos alunos do Ensino Médio sobre a Bacia do Córrego Bom Jesus ....................................................................................... 88 3.2.1 Introdução .............................................................................................. 89 3.2.2 Referencial Teórico ................................................................................ 90 3.2.3 Metodologia ............................................................................................ 92 3.2.4 Resultados.............................................................................................. 98 3.2.5 Considerações Finais .......................................................................... 116 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 117 3.3.1 Introdução ............................................................................................ 123 3.3.2 Referencial teórico ............................................................................... 124 3.3.3 Metodologia .......................................................................................... 129 3.3.4 Resultados............................................................................................ 130 Este tópico será estruturado na descrição do trabalho de campo e do posicionamento obtido nos depoimentos. ................................................. 130 3.3.5 Considerações finais ........................................................................... 145 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 147 4 GUIA DE ATIVIDADES PARA SUBSIDIAR A ELABORAÇÃO DE AGENDAS 21 ESCOLARES .......................................................................................................... 153 4.1 Introdução.................................................................................................... 154 4.2 Referencial teórico ...................................................................................... 156 4.2.1 - Educação ambiental e Agenda 21 para o desenvolvimento local . 156 4.3 Metodologia ................................................................................................. 161 4.4 Resultados ................................................................................................... 162 4.4.1 - Proposta para Agenda 21 Escolar .................................................... 162 4.5 Conclusão .................................................................................................... 166 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 167 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 171 5.1Limitações da pesquisa ................................................................................... 174 5.2 Recomendações para pesquisas futuras.................................................. 174 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 177 APÊNDICES ........................................................................................................... 181 APÊNDICE A ......................................................................................................... 181 APÊNDICE B ......................................................................................................... 185 APÊNDICE C ......................................................................................................... 186 APÊNDICE D ......................................................................................................... 187 APÊNDICE E ......................................................................................................... 189 ANEXOS ................................................................................................................. 226 ANEXO A ................................................................................................................ 226 ANEXO B ................................................................................................................ 229 ANEXO C ............................................................................................................... 231 ANEXO D ............................................................................................................... 232 ANEXO E .............................................................................................................. 233 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................... 233 ANEXO F ............................................................................................................... 236 1 INTRODUÇÃO O crescimento das cidades e os processos de urbanização foram acentuados após a primeira Revolução Industrial, pois intensificaram os impactos socioambientais nos centros urbanos devido ao processo migratório incentivado pela procura de trabalho e de oportunidades financeiras propiciando uma ocupação aleatória dos centros urbanos. As cidades passaram a ser o centro das decisões políticas e financeiras e a educação, a base para a cidadania e para o fortalecimento da democracia, pois através da educação é possível formar cidadãos críticos capazes de lutarem por melhorias socioambientais para o local em que eles vivem. No Brasil os aspectos relacionados à urbanização, à educação e à qualidade de vida do povo estão descritos e garantidos na Constituição Federal de 1988. Segundo a Constituição Federal, “todo brasileiro tem direito à educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância.” (BRASIL, 1988). Como a educação é assegurada pela constituição, leis foram criadas para nortear a educação brasileira, como a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no 9.394/1996 que dispõe sobre a Educação Ambiental, regulamentada pela lei no 9.795/1999 (PNEA) e pelo Plano Nacional de Educação (PNE), pela lei no 13.005/2014 (MEC, 2015). Para organizar as ocupações urbanas, foi criado o Estatuto da Cidade definido pela lei no 10.257/2001 que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, que busca ordenar as funções sociais das cidades bem como a posse das terras, garantindo assim qualidade de vida para os seus habitantes (BRASIL, 2001). A função social da propriedade, segundo Evangelista (2013), é o direito que cada cidadão tem em relação à propriedade ressaltando que o interesse coletivo está acima do individual . Sendo assim, 16 [...] todo indivíduo tem o dever social de desempenhar determinada atividade, de desenvolver da melhor forma possível sua individualidade física, moral e intelectual, para com isso cumprir sua função social da melhor maneira (FIGUEIREDO, 2008, p. 83). No Brasil, de acordo com a Constituição Federal de 1988 e posteriormente com o Estatuto da Cidade os municípios com mais de 20.000 habitantes devem propor seu Plano Diretor1 de ocupação. Dessa forma, estes municípios têm autonomia de decidir, analisar e reger a ocupação espacial, evitando um crescimento desorganizado que gere degradação ambiental, cultural e, principalmente, a especulação imobiliária (CARVALHO, 2010; PRATA, 2011). A região da Bacia do Córrego Bom Jesus está localizada na regional Nacional no município de Contagem em Minas Gerais. Neste município, o Plano Diretor foi instituído em 1995 e já foi revisado duas vezes em 2006 e 2012(JORNAL DOC, 2012). Figura 1: Regiões Administrativas do Munícipo de Contagem Fonte: Contagem, 2015 1 Instrumento básico de um processo de planejamento municipal para a implantação da política de desenvolvimento urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados. 17 O Plano Diretor de Contagem é recente, se comparado à história desse município, que data de 1715. Entretanto, a urbanização deste município teve início na década de 1940, com a instalação do Parque Industrial Juventino Dias conhecido como Cidade Industrial. Na Bacia do Córrego Bom Jesus os processos de urbanização iniciaram em 1953, com o primeiro loteamento da Fazenda Gangorra. Figura 2: Reginonal Nacional e a Bacia do Córrego Bom Jesus Fonte: Contagem, 2015 A região passou por várias mudanças estruturais, observando-se notória urbanização a partir de meados da década de 1990, com a instalação de empresas de médio e grande portes. Em contra partida, não se observa nessa região, uma preocupação das instituições de ensino na formação de cidadãos críticos que sejam 18 atores nos processos de gestão social para o desenvolvimento local e nem dos efeitos da urbanização para o desenvolvimento da região. A região da Bacia do Córrego Bom Jesus possui uma área de drenagem de 16,95Km2 com vazão de 0,5393m3s-1, no período chuvoso. Seus principais afluentes são o Córrego Banguelo, o Córrego Amendoeiras (Córrego Gangorra), o Córrego Munizes, o Córrego do Bairro Xangrilá e o Córrego do Confisco (PAMPULHA, 2012). Os córregos Bom Jesus e Sarandi (Contagem) juntos com os Córregos Ressaca e Água Funda (Belo Horizonte) são responsáveis por 92,8% da vazão dos afluentes da Lagoa da Pampulha e dos esgotos e detritos sólidos despejados na mesma (IGAM, 2013). O tema referente à percepção socioambiental de alunos e moradores para o desenvolvimento local foi escolhido, pois a região da Bacia do Córrego Bom Jesus apresenta vários problemas socioambientais que contribuem com a poluição da Lagoa da Pampulha e geram impactos no desenvolvimento local. Entre estes problemas destacam-se a expansão urbana e a especulação imobiliária que prejudicam a qualidade ambiental e os serviços públicos na região, como visto também nos trabalhos de Ribeiro e Bueno (2010) e Prata (2011). Assim Silva e Kayser (2010) afirmam que compreender como estruturar uma relação social e tecnológica sem degradar o meio ambiente tem sido um desafio para toda a sociedade. Entretanto, a educação pode interferir positivamente no desenvolvimento local e, ao mesmo tempo, sensibilizar os indivíduos sobre a importância da preservação de ecossistemas. Com base na educação, espera-se um melhor desenvolvimento socioambiental local, propiciando uma melhora na qualidade de vida das pessoas que vivem na Bacia do Córrego Bom Jesus. Para isso, será importante criar mecanismos que favoreçam a construção de Agenda 21 Escolar que é um instrumento de integração entre a escola e a comunidade visando o desenvolvimento sustentável para a região, pois através de atividades educacionais bem articuladas na elaboração deste 19 instrumento será possível desenvolver o senso crítico nos alunos, para que estes conheçam o seu papel social e participem dos processos de mudança e desenvolvimento local. Entretanto, para um desenvolvimento eficiente e sustentável, é preciso que haja intersetorialidade com o envolvimento e a participação de todos os setores sociais, políticos e econômicos que atuem na área, mas a valorização do papel de cada um em prol do coletivo, tornando importante mecanismo de/para mudanças. Assim, a questão central deste trabalho é: Qual a percepção de alunos e moradores sobre a contribuição da educação para promover o desenvolvimento local, causados pela expansão urbana na região da Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG), no período de 1953 a 2014? Como hipótese na busca de respostas para esta pergunta, entende-se que as atividades de educação ambiental, interferem na percepção socioambiental dos alunos para o ambiente em que estão inseridos. Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar como a educação pode contribuir para promover o desenvolvimento local considerando os impactos socioambientais causados pela expansão urbana, tendo em vista a contribuição técnica e as características de inovação social. A partir do objetivo geral, foram estabelecidos três objetivos específicos, com se observa a seguir: 1. Realizar revisão teórica sobre percepções de impactos socioambientais de processos de expansão urbana e sobre a contribuição da educação para o desenvolvimento local. 2. Analisar as percepções dos alunos sobre o ambiente e como a educação ambiental pode contribuir para promover o desenvolvimento local da Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG) a partir de interações socioeducativas. 20 3. Propor um instrumento que possibilite as instituições de ensino elaborarem suas Agendas 21 Escolares, contribuindo para a promoção do desenvolvimento socioambiental. Neste contexto, a percepção dos alunos sobre o papel da educação para o desenvolvimento constitui uma ferramenta para subsidiar a elaboração das Agendas 21 Escolares. A relevância dessa pesquisa está na necessidade de compreender o papel da educação formal no desenvolvimento local, pois a escola constitui um importante instrumento de transformação social e de mudanças de paradigmas, na formação de sujeitos críticos e politizados, capazes de perceber a realidade e de criar soluções para os possíveis impactos socioambientais, advindos do processo de urbanização, propiciando melhores condições de vida e o fortalecimento da cidadania (ALVES, 2010; CHAMON e GOODWIN JR., 2012) visto que a escola constitui espaço adequado para fomentar valores e culturas. Este estudo é relevante, pois acredita-se que atividades desenvolvidas no âmbito formal, a partir do resgate histórico da ocupação dessa região e da valorização para a elaboração das Agendas 21 Escolares, seja possível mudar conceitos e hábitos, de forma que as pessoas se unam e valorizem a região em que vivem, com ações que evitem a degradação socioambiental desse local. Acredita-se que a educação ambiental, baseada na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) pode ter um papel importante para amenizar os impactos socioambientais, pois é formadora de opiniões e ajuda a criar novos hábitos e desenvolver o senso crítico das pessoas. Desta forma, esses indivíduos podem perceber oportunidades para o desenvolvimento local se unindo em prol dos mesmos objetivos, cobrar ações pró-ativas das autoridades competentes, e promover mudanças na região. Através da educação ambiental, o processo de desenvolvimento local pode ser analisado, criticado, transformado e melhorado, gerando impactos socioambientais que influenciam na qualidade de vida das pessoas da região. 21 O trabalho proposto se mostra relevante para a área de concentração do PPGGSEDL, Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pois a análise da percepção dos alunos do Ensino Médio sobre os impactos ambientais gerados pelo processo de ocupação e urbanização da região associados aos relatos dos moradores mais antigos, resultarão em medidas educacionais que geram mudanças comportamentais na sociedade. Segundo Clarice Lispector2, em seu poema “Mude”, o mais importante não é a velocidade da mudança, mas a direção que esta irá tomar. Portanto, as mudanças propostas pela educação em seu âmbito ambiental serão importantes para orientar o desenvolvimento local. A educação contribui para a formação de valores e para a adoção de comportamentos, incentivando moradores e usuários da Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG), a atuarem de forma participativa e crítica nos processos de valorização da região, compreendendo como as questões socioambientais se agravam com os processos desordenados de expansão urbana. Este trabalho é relevante na linha de pesquisa sobre Educação e Desenvolvimento Local, pois busca analisar a percepção de moradores e alunos da região da Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG), sobre a contribuição da educação para as transformações sociais, econômicas e ambientais desse espaço, considerando os impactos gerados pela expansão urbana de 1953 a 2014 nesses setores. Neste período, não houve ações educacionais voltadas para a orientação do desenvolvimento da região, cujo crescimento foi desordenado e gerou diferentes impactos socioambientais. Desta forma, a educação formal se torna relevante nos processos de formação de cidadãos na busca de ações que possibilitem desenvolvimento local, além de permitir a formação de opiniões e mudanças de hábitos, com informações que possibilitem uma menor degradação do meio ambiente por ocupações ilegais e por formas de consumo não sustentáveis que propiciam descartes de resíduos em locais inapropriados. 2 http://claricelispectorclarice.blogspot.com.br/ 22 Por ser professor de Geografia, com Pós-Graduação em Educação Ambiental, e trabalhar em uma instituição de ensino pública situada na Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG), esse trabalho é relevante profissionalmente para o pesquisador, pois permitirá tratar com maior consistência técnica, os impactos socioambientais causados pela expansão urbana, identificando e compreendendo a importância da escola como ferramenta para a gestão do espaço, atuando como facilitador no processo de desenvolvimento dessa região ao incentivar a participação dos jovens, ao resgatar a história do espaço. A produção técnica deste trabalho busca elaborar um guia de atividades que facilitem a proposição de Agendas 21 Escolares, junto às instituições de ensino localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus, com base nos relatos de moradores compondo a história oral, questionários, grupos focais e trabalho de campo com os alunos do Ensino Médio, associados às atividades realizadas pelo Consórcio de Recuperação da Lagoa da Pampulha baseada também na pesquisa bibliográfica desse trabalho, com o objetivo de propor ações que poderão melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento socioambiental da região. Com este Guia, as instituições de ensino da região poderão criar suas próprias Agendas 21 Escolares, formando assim cidadãos com maior qualificação para as práticas sociais de desenvolvimento local, capazes de proporcionar o desenvolvimento de forma sustentável, equilibrada, gerando menos impactos sobre o meio ambiente e a sociedade. A pesquisa tem uma abordagem quali-quantitativa, contemplando assim, aspectos qualitativos coletados a partir de relatos de histórias orais, grupos focais e quantitativos, a partir da aplicação de questionários estruturados. Foi realizada pesquisa bibliográfica, com enfoque nos temas: urbanização, percepção e educação na perspectiva do desenvolvimento local, a partir de um levantamento realizado nos sites: Google Acadêmico, IBICT e SCIELO, em livros, periódicos, dissertações e teses. 23 Nos Cartórios de Registro dos municípios de Contagem e Betim, foram levantados documentos e certidões que demonstram a história da ocupação imobiliária da região em que se localiza a Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG). Imagens e fotografias mais antigas dos anos de 1960, 1970 e 1980 pertencentes aos acervos pessoais de moradores bem como as obtidas no Departamento de Obras de Contagem relacionadas à Regional Nacional foram utilizadas em processos de comparação com os mesmos locais em 2015. Com o intuito de compreender como era a vida das pessoas da região no passado, seus hábitos e as transformações socioculturais que ocorreram na região a partir da expansão urbana, foram coletados relatos de histórias orais junto aos moradores que vivem na região há períodos anteriores a 1965, com o objetivo de comparar a percepção das diferentes gerações, obtidas através dos questionários, sobre o desenvolvimento da região. A pesquisa quantitativa foi realizada com alunos do Ensino Médio, em 05 instituições de ensino público (Tabela 1), na Regional Nacional, pertencentes à Bacia do Córrego Bom Jesus, sendo aplicados e validados 315 questionários. A amostragem para a pesquisa foi composta de forma aleatória simples em que todos os alunos tiveram a mesma probabilidade de serem escolhidos, sendo contemplados no máximo 40% dos alunos de cada sala, sendo estes sorteados, não havendo intervenção nessa amostragem. Tabela 1-Número de alunos do Ensino Médio matriculados em cada instituição Instituição E.E. do Bairro Carajás Alunos matriculados no Ensino Médio 177 E.E. Maria de Salles Ferreira 510 E.E. Ministro Miguel Mendonça 530 E.E. Presidente Tancredo Neves 463 Funec Pampulha 115 TOTAL 1735 Fonte: Secretaria de cada Instituição de Ensino, 2014. 24 Segundo Santos 𝑁.𝑍 2 .𝑝.(1 −𝑝) 𝑍 2 .𝑝(1−𝑝)+ 𝑒 2 .(𝑁−1) (2014), utilizando a fórmula de cálculo amostral, 𝑛= , sendo n a amostra calculada, N a população, Z variável normal padronizada associada ao nível de confiança, p a verdadeira probabilidade do evento e e o erro amostral, considerando 95% de confiança e 5% de margem de erro, definiu-se como amostra significativa, 315 respondentes para o questionário de percepção socioambiental. Após definir o número total de indivíduos, estratificou-se a amostra mantendo um padrão homogêneo de idade, classes sociais, série, entre outros (MINGOTI et al., 2001), conforme apresentado na Tabela 2. Tabela 2-Proporcionalidade de entrevistados e o número de alunos Instituição Proporcionalidade em relação ao número de entrevistados % Total de alunos de cada Instituição de Ensino (n° alunos) E.E. do Bairro Carajás 6,7 21 E.E. Maria de Salles Ferreira 29,4 93 E.E. Ministro Miguel Mendonça 30,6 96 E.E. Presidente Tancredo Neves 26,7 84 Funec Pampulha 6,6 21 TOTAL 100 315 Nota: Total de alunos com arredondamentos Na coleta de dados quantitativos, o questionário (Apêndice A) deveria ter sido aplicado utilizando a ferramenta Google Docs que é gratuita e facilita a aplicação do questionário, pois é on line. Entretanto, no mês de Fevereiro de 2015, período agendado junto à direção das escolas para a aplicação dos questionários, estas estavam sem internet, pois o contrato de prestação de serviços havia se expirado. Assim, os questionários foram xerocados e tabulados manualmente no Excel. O questionário foi elaborado com perguntas de múltipla escolha e com perguntas utilizando a escala de Likert. Essa escala possibilita uma graduação quantificada da 25 percepção dos entrevistados, pois gera valores de satisfação entre 1 a 5, em que 5 é ótimo; 4 é muito bom; 3 é bom; 2 regular, e 1, ruim. Esses dados foram tratados estatisticamente, utilizando Análise Fatorial Exploratória e, posteriormente, submetidos à análise de variância (ANOVA), Teste de F e comparação de médias pelo Teste de Tukey para ordenamento dos dados. Na análise dos dados, foi verificada a percepção dos alunos em relação aos aspectos socioambientais da região e do papel da educação para o desenvolvimento local. Para a abordagem qualitativa, foram realizados relatos baseados nas histórias orais, com os moradores mais antigos da região, com o intuito de registrar a percepção socioambiental que eles possuem da região, baseados no processo de expansão urbana e especulação imobiliária que ocorreu na área. Os moradores mais antigos foram selecionados utilizando-se a técnica bola de neve, na qual um entrevistado sempre indica outro até se chegar à saturação. Para tanto, os moradores selecionados deveriam viver na região desde antes de 1965. Os relatos obtidos através das histórias orais dos moradores mais antigos possuíam um roteiro para direcionar os relatos, caso determinado assunto não fosse abordado pelo morador (Apêndice B). Esses relatos foram gravados em áudio e vídeo, transcritos e comparados através da teoria da análise de enunciação, que busca compreender as experiências humanas através da linguagem e suas subjetividades (BARDIN, 2011; FLORES e ENDRUWEIT, 2012). Este tipo de abordagem permitiu ao pesquisador identificar a percepção socioambiental destes moradores durante a ocupação da região. Os dados qualitativos obtidos na pesquisa oral sobre a história de vida dos moradores e suas lembranças do local, supriram lacunas da pesquisa descrevendo de forma objetiva e sistemática o estilo de vida das pessoas quando mudaram para a região, observou-se a percepção destes moradores sobre o papel da escola para se atingir o desenvolvimento local. 26 Com os questionários aplicados e com os relatos das histórias orais impressos filmados e editados, foram realizados trabalhos de campo e, posteriormente, grupos focais com alunos da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, escolhidos porque é local de trabalho do pesquisador, que obteve apoio da direção para a realização das atividades. Para a realização do trabalho de campo, o pesquisador percorreu com os alunos toda a região, enumerando os principais pontos de impactos socioambientais. Posteriormente, foram realizadas atividades educativas, tais como: aulas dialogadas, vídeos, trabalhos com mapas entre outras atividades que auxiliavam na formação do conhecimento sobre temas referentes ao meio ambiente, impactos ambientais e desenvolvimento local, com as 8 turmas de Ensino Médio desta instituição. Na sequência, foram selecionadas aleatoriamente quatro das oito turmas para a realização do trabalho de campo. Essa escolha possibilitou a comparação nos grupos focais da efetividade dessas atividades para a percepção dos impactos socioambientais locais entre alunos participantes e não participantes. Foram realizados dois grupos focais, ambos com 8 alunos, um com os alunos participantes dos trabalhos de campo e, o outro, com alunos que não participaram dos trabalhos de campo. Os alunos participantes foram sorteados com pedras de bingo. Inicialmente, foi passado para os alunos o vídeo: "Programa Cidades Sustentáveis", em seguida, foi realizada a dinâmica, rio da vida e, posteriormente, propôs-se uma discussão sobre sustentabilidade e desenvolvimento na região da Bacia do Córrego Bom Jesus conforme roteiro apresentado no Apêndice C. Esse contexto permitiu verificar a influência dos processos educativos na elaboração de uma Agenda 21 Escolar. Para o produto técnico desta pesquisa, propôs-se um guia de atividades para a elaboração de Agenda 21 Escolar. Foram realizadas pesquisas nos sites Google acadêmico, Scielo, monografias, vídeos do youtube sobre projetos e ações que possibilitavam uma maior integração entre os alunos e o ambiente, bem como sobre 27 a importância da Agenda 21. Posteriormente, atividades foram desenvolvidas de maneira a fomentar uma Agenda 21 Escolar que desenvolvesse o senso crítico nos alunos e o empoderamento local, de modo a formar atores sociais capazes de lutar por melhorias para o local. Cada atividade foi testada com alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, verificando a viabilidade e os efeitos de cada uma das atividades propostas. A pesquisa observou os aspectos éticos. Sendo assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, sob o n° 39195814.0.0000.5098 (Anexo A) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário UNA, conforme a Resolução nº 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos no Brasil. As pessoas participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndices E, F, G, H e I), emitido em 2 (duas) vias, sendo que uma delas ficou com o entrevistado. Foi aplicado questionário quantitativo aos alunos do Ensino Médio, realizadas entrevistas com os moradores mais antigos, e foram realizados grupos focais e trabalhos de campo (Apêndices A,B, C e D). Espera-se que com este trabalho, as instituições de ensino da região utilizem o produto técnico para auxiliar a elaboração de Agendas 21 Escolares bem como a sua implantação, formando assim cidadãos com uma maior qualificação para as práticas sociais, capazes de proporcionar o desenvolvimento local de forma sustentável, equilibrada, gerando menos impactos sobre o ambiente. Esta dissertação é composta por cinco capítulos, referências, apêndices e anexo. O primeiro capítulo é constituído pela introdução, no qual são apresentados contextualização da região, problematização, questão central, objetivos geral e específicos, relevâncias, metodologia e produto técnico. 28 O segundo capítulo traz referências teóricas sobre Percepção Socioambiental, Urbanização, Educação e Desenvolvimento Local que embasaram a pesquisa. O terceiro capítulo faz o relato da pesquisa, sendo subdivido em três partes: - A primeira sendo referente aos resultados das histórias orais realizadas com 16 dos moradores mais antigos da região. - A segunda sendo referente aos resultados dos questionários estatísticos aplicados a 315 alunos do Ensino Médio. - A terceira sendo referente aos resultados dos trabalhos de campo, realizados com alunos do Ensino Médio. O quarto capítulo apresenta a produção técnica, baseada nas pesquisas dos capítulos anteriores. Foi desenvolvido um guia de atividades para a elaboração de Agendas 21 Escolares. O quinto capítulo é referente às considerações finais desta dissertação. 29 2 PERCEPÇÃO DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS EM UMA BACIA HIDROGRÁFICA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL Gabriel Moreira Perona3 Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos4 RESUMO Este artigo possui cunho exploratório, que se efetivou por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre percepção e educação socioambiental, urbanização e desenvolvimento local, com o intuito de embasar os estudos da percepção de alunos do Ensino Médio, sobre o papel da escola para o desenvolvimento local, na Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG). Nessa Bacia, encontram-se um dos principais afluentes da Lagoa da Pampulha/ BH e nele impactos negativos causados pela ocupação urbana que comprometem a qualidade ambiental dessa área. É necessário conhecer definições e pensamentos de diferentes autores que em seus trabalhos vivenciaram experiências de percepção socioambiental relacionadas com a urbanização bem como o papel da educação para o desenvolvimento local. Sendo assim, objetiva-se realizar uma revisão teórica sobre a percepção de impactos socioambientais gerados pela expansão urbana bem como a contribuição da educação ambiental para o desenvolvimento local. Observa-se neste estudo que os costumes, os valores e a cultura de cada ser humano interferem na sua percepção dos lugares em que vive e atua. Além disso, a urbanização de uma região sofre interferência dos atores econômicos e sociais e que a educação, principalmente a ambiental é importante nos processos de transformação que levem ao desenvolvimento local. Palavras-chave: Percepção Desenvolvimento Local. Socioambiental. Urbanização. Educação. ABSTRACT PERCEPTION OF ENVIRONMENTAL IMPACTS ON A RIVER BASIN AS ENVIRONMENTAL EDUCATION TOOL FOR LOCAL DEVELOPMENT This article has an exploratory nature, which was accomplished through a literature search on awareness and environmental education, urbanization and local development in order to base the study of perception of high school students on the 3 Geógrafo, Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, especialista em educação ambiental, professor de geografia e educação ambiental. E-mail: [email protected]. 4 Bióloga, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]. 30 role of schools to local development in Basin Creek Bom Jesus (Count / MG). In this basin, are one of the main tributaries of Pampulha Lake / BH and it negative impacts of urban settlement that compromise environmental quality of the area. It needs to know definitions and thoughts of different authors in their work experienced environmental perception of experiences related to urbanization and the role of education for local development. Thus, the objective is to conduct a literature review on the perception of social and environmental impacts generated by urban sprawl and the contribution to environmental education for local development. It is observed in this study that the customs, values and culture of each human being interfere with your perception of the places where he lives and works. Moreover, the urbanization of a region interfered with the economic and social actors and that education, especially environmental is important in the transformation processes that lead to local development. Keywords: Environmental Perception. Urbanization. Education. Local development. 2.1 Introdução A educação formal, principalmente a educação ambiental é relevante para a mudança moral e comportamental das pessoas, pois ela é capaz de influenciar no desenvolvimento socioambiental de um determinado lugar, gerando conhecimento, valores, hábitos e atitudes que permitem uma conduta de preservação do meio ambiente. Nessa discussão será abordada a região do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG), que é um dos maiores afluentes da Lagoa da Pampulha/ BH Minas Gerais e está sendo impactada desde 1953. Neste artigo, objetiva-se realizar uma revisão teórica sobre a percepção dos impactos socioambientais gerados pela expansão urbana bem como a contribuição da educação ambiental para o desenvolvimento local. Esse trabalho se faz necessário, pois possibilita compreender a visão de diferentes autores sobre a importância possibilitando da percepção um processo socioambiental educativo dos processos adequado para de a urbanização, promoção do desenvolvimento local. No intuito de desenvolver esta discussão, este artigo contextualiza a percepção socioambiental, em seguida, discute o processo de urbanização brasileira, na sequência, analisa a educação ambiental formal como ferramenta proativa para ações de desenvolvimento local, demonstrando a importância da integração entre 31 percepção socioambiental, educação formal e urbanização para se atingir o desenvolvimento local, sendo a Agenda 21, uma importante ferramenta neste processo. 2.2 Fundamentação teórica 2.2.1 Importância dos estudos de percepção ambiental O termo percepção é derivado do latim perception, definido pelo dicionário Aurélio Online (2014) como: Apreensão da realidade ou de uma situação objetiva pelo homem. É a reação de um sujeito a um estímulo exterior, que se manifesta por fenômenos químicos, neurológicos, ao nível dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central, ou seja, é o uso dos sentidos para compreender um objeto de estudo. Para Tuan (2012), percepção é a forma central de se conseguir conhecimento através da cognição, o que propicia ao indivíduo receber informações sobre o ambiente a sua volta, gerando diferentes visões para o mundo. Este trabalho buscou conhecer a percepção de alunos das instituições de ensino localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus, sobre o papel da escola para o desenvolvimento local, de forma a gerar menos impactos ambientais. Esta ideia proposta por Tuan (2012) pode ser compartilhada com Durkheim (2009) ao afirmarem que a percepção é uma forma de compreender e explicar o mundo em que vivemos e as relações que estamos inseridas, em que os sentidos e sentimentos humanos geram uma interpretação do mundo, como observado nos trabalhos de Merigueti et al. (2006), Carvalho, Guarim Neto e Januário (2008), Oliveira e Corona (2008), Mansano e Lima (2011), Marandola Jr. e Modesto (2012), Negrão et al. (2012), Oliveira (2012), Pessoa e Braga (2012), Batista, Oliveira e Queiroz (2014), Mantovi e Ferreira (2014).Desta forma, com diferentes percepções e interpretações do mundo, sugere-se que os alunos possam ter visões diferentes do papel da escola e da educação formal para o desenvolvimento socioambiental do local em que vivem, no caso desse estudo, a Bacia do Córrego Bom Jesus. 32 A percepção socioambiental pressupõe uma relação cognitiva entre as pessoas que vivem em determinados locais e o ambiente natural ou urbano que ali existem (SERPE, ROSSO e CAMARGO, 2011). Merigueti et al. (2006) afirmam ainda que a maneira como um povo age social, cultural e economicamente, gera padrões que propiciam percepções socioambientais diferentes para o mesmo objeto em comunidades diferentes. Desta forma, a percepção dos alunos depende do tipo de relação que cada um possui com o lugar, dos significados e funções que os elementos naturais e sociais exercem na vida de cada um conforme descrito nos trabalhos de Carvalho, Guarim Neto e Januário (2008) e Garrido e Meirelles (2014). Marandola Jr. e Modesto (2012) e Mansano e Lima (2011) corroboram com esse pensamento, ao afirmarem que a identidade, o envolvimento e a dependência que as pessoas estabelecem com um lugar, determinam sua percepção sobre ele. Dessa forma, compreende-se que percepção é específica de cada ser humano, pois cada pessoa de acordo com sua cultura, costumes, crenças percebe as situações do mundo de forma diferente (FAGGIONATO, 2014). Sendo assim, a percepção dos alunos em relação ao papel da escola para o desenvolvimento da região da Bacia do Córrego Bom Jesus, bem como a visão sobre os impactos socioambientais que afetam a região serão diferentes, pois cada pessoa possui costumes, crenças e valores próprios, que interferem em sua percepção como observado no trabalho de Carvalho, Guarim Neto e Januário (2008) na serra do Tapirapuã em Tangará da Serra-MT, no trabalho de Marandola JR e Modesto (2012) sobre a percepção dos moradores da cidade de Maringá-PR em relação a qualidade de vida associada aos equipamentos urbanos e no trabalho de Mantovi e Ferreira (2014), sobre a percepção do meio ambiente e dos projetos ambientais em um refúgio biológico em Foz do Iguaçu/PR. Nesta perspectiva, a percepção ambiental é importante para gerar atitudes éticas e conscientes em relação ao meio ambiente, pois é a forma de compreender os 33 valores socioambientais que as pessoas determinam para os lugares (OLIVEIRA e CORONA, 2008; OLIVEIRA, 2012; MANTOVI e FERREIRA, 2014). Desta forma, mesmo os alunos enxergando e percebendo o mundo de diferentes maneiras, a educação ambiental formal é importante na estruturação de atividades que possibilitem e orientem uma percepção socioambiental, fomentando ações que proporcionem o desenvolvimento econômico, social e ambiental na região da Bacia do Córrego Bom Jesus. A ideia de que a percepção determina as relações socioambientais em um lugar ganhou notoriedade, tanto que a UNESCO, em 1973, enfatizou o quanto as pesquisas sobre percepção ambiental são importantes, com o intuito de proteger os ambientes naturais, afirmando que é preciso compreender as percepções de pessoas, de classes sociais e culturas diferentes, para tentar evitar ou amenizar os impactos ambientais (MERIGUETI et al., 2006; MANTOVI e FERREIRA, 2014). Com base nestas ideias, a UNESCO tem apoiado no Brasil, desde a década de 1970, estudos sobre percepção ambiental (OLIVEIRA, 2012). Logo, estudar a percepção ambiental, tornou-se importante para que as pessoas possam compreender as relações entre o homem e o meio ambiente, percebendo que as relações ambientais e sociais se misturam e o agir do homem interfere diretamente em seu habitat (FAGGIONATO, 2014) como visto nos trabalhos de Carvalho, Guarim Neto e Januário (2008) e Mantovi e Ferreira (2014). A percepção ambiental inserida nas questões sociais conduz a uma percepção socioambiental que promove um sentimento de pertencimento das pessoas de um determinado lugar, interferindo assim no desenvolvimento local (DOWBOR, 2008, 2013; FASSINI, MACHADO e SHULTZ, 2013). Além disso, Oliveira (2012) acrescenta que a formação do espaço está relacionada com a maneira como as pessoas interagem com o local. Neste contexto, a percepção socioambiental é importante para os estudos na Bacia do Córrego Bom Jesus, pois identificar a percepção de alunos e moradores deverão gerar ações educativas e de gestão social que possibilitarão o desenvolvimento local 34 como defendem Machado e Quaresma (2014). 2.2.2 Efeitos da urbanização em diferentes ambientes A urbanização e a formação das cidades surgem a partir das necessidades humanas de suprir a carência de cada indivíduo através do convívio social (DIAS, 1994; GLAESER, 2011; MILARÉ, 2011), pois a atividade de cada pessoa nas cidades completa as das demais, o que facilita o convívio, proporcionando uma interdependência social, na qual cada pessoa ao exercer seus trabalhos, contribui nesse processo de formação da cidade. Outro aspecto importante na constituição das cidades e no processo de urbanização foi o advento das indústrias que atraiu um número significativo de migrantes para as cidades (GLAESER, 2011; MONTEIRO, 2012; ROLNIK, 2012; SANTOS, 2013). Com a Revolução Industrial, o número de habitantes das cidades aumentou, acentuando o processo de urbanização, pois a população que até então era predominantemente rural migra para as cidades à procura de trabalho e melhores condições de vida conforme descrito nos estudos de Reis Filho (2001); Glaeser (2011); Teló e David (2012); Santos (2013). Com a urbanização, o papel das cidades foi mudando e elas passaram a ter uma importância maior que o campo na vida social. De acordo com Glaeser (2011), os avanços científicos e culturais que ocorreram nas civilizações mundiais estão relacionados à urbanização. Nesse sentido, as cidades se destacam no âmbito das sociedades, pois nelas se encontram as principais representações de manifestações culturais, bem como os parques industriais, além de concentrar o poder financeiro (SANTOS, 2007; MONTEIRO, 2012; ROLNIK, 2012). Neste raciocínio, a cidade enquanto forma de organização social determina a soberania da sociedade sobre um determinado território. Os centros urbanos se tornaram o local das grandes decisões políticas, econômicas, além de concentrar o 35 maior número de postos de trabalho em consonância com Glaser (2011); Rolnik e Klink (2011); Santos (2013). Sabe-se que a criação de trabalho e a urbanização nas cidades são importantes para a população. Mas, historicamente, a urbanização brasileira está relacionada com o período de sua colonização no século XVI, em que os primeiros aspectos urbanos nos moldes europeus começaram a ocorrer (TELÓ e DAVID, 2012; ALVES, 2013). Reis Filho (2001) compartilha dessa ideia e completa o raciocínio afirmando que na urbanização do território brasileiro os grandes proprietários rurais se destacavam na sociedade e dominaram as cidades economicamente até o fim da Guerra dos Mascates, em 1711. A partir deste período, as cidades passaram a ter um maior poder econômico e político. Completam-se essas informações, com os estudos de Santos (2013) e Dalberto e Staduto (2013) ao afirmarem que a efetiva urbanização brasileira se iniciou nos anos 1950, após a II Guerra Mundial (período que coincide com o início da ocupação da Bacia do Córrego Bom Jesus, em Contagem/MG, em 1953) e se intensifica em meados da década de 1960 e início da década de 1970 com a industrialização do país. De acordo com dados do IBGE (2010), em 1940, a taxa de urbanização no Brasil era de apenas 26,35%, atingindo 84,4% em 2010. Neste período, muitas pessoas migraram do meio rural em busca de melhores condições de vida nas cidades. Em outros casos, foram expulsas do campo porque a introdução das máquinas substituiu a mão de obra humana (DIAS, 1994; REIS FILHO, 2001; TELÓ e DAVID, 2012). Desta forma, o país passa rapidamente por um processo de urbanização e é notório que a urbanização e o crescimento das cidades brasileiras estão diretamente relacionados com a necessidade ou disponibilidade de trabalho e com o desenvolvimento tecnológico que gerou desemprego no campo. O crescimento e a urbanização de algumas cidades durante a sua história pode ser percebida pelas formas e padrões de construção ao longo dos anos, o que pode ser verificado em Santos (1977), Batista, Oliveira e Queiroz (2014), Oliveira e Souza (2014). Nesta perspectiva, conhecer a história de um local é fundamental para que as pessoas conheçam os valores desse lugar, permitindo uma análise de sua 36 transformação (SANTOS, 1977; ROLNIK, 2012; MONTEIRO, 2012; MOTTER e BATELLA, 2013). Desta forma, todo processo de crescimento, progresso e prosperidade que levam ao desenvolvimento de uma cidade bem como suas funções, ou seja, a principal atividade exercida por ela constitui a história da cidade (MILARÉ, 2011). Portanto, o homem pode dominar o território para seus interesses socioeconômicos, mas deve respeitar os fatores históricos e culturais durante o processo de urbanização. Esses fatores históricos determinam os processos urbanísticos das cidades, influenciando em seu desenvolvimento (OLIVEIRA e SOUZA, 2014). Durante o processo de urbanização, surgiram cidades com as mais variadas tipologias, como visto em Ojima, Marandola Jr. e Pereira (2010), que as classificam de acordo com a principal função de trabalho que ocorre em seu território. Elas podem ser classificadas como portuárias, comerciais, turísticas, industriais, administrativas, entre outras. Santos (2013) concorda com esse raciocínio e afirma que a intensidade da divisão do trabalho gera diferentes tipos de cidades. Esse mesmo autor afirma que essa ideia pode ser repassada para as divisões dentro de uma mesma cidade: os bairros, que de acordo com as características de cada lugar, abrigam indústrias, comércio ou são apenas dormitórios. Dessa forma, bairros e regiões administrativas dentro de uma cidade são definidos pelo tipo de funções que exercem ou simplesmente pela especulação imobiliária, porque os especuladores buscam valorizar determinadas regiões para se obter uma maior lucratividade. Nos estudos de Prata (2011), Motter e Batella (2013) e Pereira e Luiz Sobrinho (2014) afirmam que o processo de especulação imobiliária obriga as classes trabalhadoras menos favorecidas a ocuparem áreas periféricas, nas quais qualidade de vida, transportes e saneamento básico não são adequados. Redígolo (2009) concorda com esse argumento e afirma que a especulação imobiliária separa as pessoas por classes sociais o que interfere no desenvolvimento local de cada região. Normalmente, as regiões habitadas pelas classes sociais mais abastadas 37 possuem um comércio de melhor qualidade e com maior variedade, são mais bem atendidas pelo transporte público e pelo saneamento básico. No entanto, as áreas com menor poder aquisitivo contam com serviços de pior qualidade em consonância com os estudos de Redígolo (2009), Prata (2011), Motter e Batella (2013), Pereira e Luiz Sobrinho (2014). Sendo assim, o local da habitação resulta em um status social. Morar em bairros considerados nobres gera prestígio para seus moradores; é um reduto da alta sociedade. Em contrapartida, habitar determinados bairros pode gerar repulsão social (OJIMA, MARANDOLA JR e PEREIRA 2010; PEREIRA e LUIZ SOBRINHO, 2014). Neste contexto, a especulação imobiliária nos centros urbanos tem um papel segregacionista, como visto em Prata (2011), Lohn e Arend (2013), pois ocasiona separações e preconceitos, gerando um desnivelamento na qualidade dos serviços públicos entre as regiões da cidade, sendo as regiões com menor poder aquisitivo as menos privilegiadas. Santos (2013) acrescenta que a urbanização brasileira sempre esteve associada aos núcleos de pobreza, pois as pessoas pobres, das áreas rurais migram para os grandes centros urbanos na expectativa de melhorias na qualidade de vida. Entretanto, não conseguem trabalhos com remuneração elevada, o que obriga estas pessoas a ocupar áreas irregulares, proporcionando impactos ambientais e comprometendo a qualidade de vida desses indivíduos. Observa-se que os centros urbanos concentram uma grande parcela da população menos favorecida economicamente, e estas ocupam áreas com menor infraestrutura, muitas vezes, ocupadas clandestinamente. Isso ocorre porque serviços como água, luz, telefone, transportes, pavimentação, saneamento básico, lazer, cultura e saúde assumem um valor proibitivo para muitas pessoas (GIGLIOTTI e SANTOS, 2013; LOHN e AREND, 2013; DIAS et al., 2014). Silva (2007) destaca que as cidades não são construídas para os pobres, entretanto esses participam e utilizam de seus recursos, mas são obrigados a morar em locais longínquos, ilegais ou de risco. Santos (2012), Santos (2013), Lohn e Arend (2013) 38 completam que, quanto mais as cidades crescem, mais as pessoas de menor poder aquisitivo são excluídas. Assim, a valorização de algumas áreas, com incentivos públicos ou privados, obriga as pessoas de classes mais baixas migrarem para outras regiões, provocando uma segregação urbana na qual pessoas de diferentes classes sociais não frequentam os mesmos bares, restaurantes, entre outros espaços (SILVA, 2007). Com essa mesma visão, Redígolo (2009), em seu trabalho “Segregação Urbana e Políticas de Inclusão Habitacional”, afirma que as pessoas de classes mais nobres ficam incomodadas de morarem próximo às favelas e procuram não frequentar os mesmos lugares que os habitantes das mesmas, sempre que possível tentam junto aos órgãos públicos a remoção dessas áreas. Com isso, as separações espacial e financeira das classes sociais ocasionam novos locais de ocupação e geram problemas socioambientais. Milaré (2011) menciona a importância das leis para atingir um equilíbrio entre os fatores sociais, ambientais e econômicos nos processo de urbanização, permitindo sempre que os interesses coletivos duradouros sobreponham aos interesses individuais imediatos. Assim, a urbanização de uma determinada área no presente não deve comprometer a qualidade de vida desta mesma área no futuro, para isso, a educação assume um papel primordial, para conscientizar os habitantes que suas ações irão interferir no local no futuro. A partir desta análise da urbanização, compreende-se que os processos de ocupação e urbanização adotados no país, geram problemas que impactam na sociedade e no meio ambiente, o que reflete diretamente na região da Bacia do Córrego Bom Jesus, foco deste trabalho, que teve o início de sua ocupação em 1953, com o loteamento de parte da Fazenda Gangorra. A região passou por várias mudanças estruturais desde 1953, dentre elas cita-se uma notória urbanização, a partir de meados da década de 1980, com a instalação de empresas de médio e grande porte o que resultou em vários problemas socioambientais. 39 A Bacia do Córrego Bom Jesus apresenta áreas cuja ocupação ocorreu de forma irregular, contando estes locais com baixa infraestrutura, como observado nos trabalhos de Redígolo (2009), Prata (2011), Oliveira e Souza (2014), o que prejudicou o desenvolvimento local. Visto que durante a ocupação e a urbanização dessa área, não houve preocupação com leis ou normatizações. Foram embasadas apenas por especulações imobiliárias e por interesses financeiros. Alves (2013) afirma que a especulação imobiliária e os interesses socioeconômicos globais têm gerado sérios problemas ambientais no âmbito local, principalmente, pela intensificação da urbanização associada a um sistema consumista, em que a periferização de massas populacionais com serviços públicos precários e a crescente demanda por matérias primas tem agravado os impactos socioambientais. Na Bacia do Córrego Bom Jesus, muitas pessoas utilizam a região apenas como dormitório, pois trabalham em cidades próximas, o que dificulta o empoderamento local. Fato explicado pelo trabalho de Ojima, Marandola Jr e Pereira (2010), que afirmam que as pessoas que utilizam uma região como dormitório não vivenciam seus problemas e nem se sentem pertencentes a ela. A urbanização e a ocupação da Bacia do Córrego Bom Jesus, propiciaram mudanças estruturais que interferem na qualidade de vida, como a instalação de redes elétricas, de sanemento básico, asfaltamento de ruas, construção de praças, escolas e postos de saúde. Entretanto, em nenhum momento, foi evidenciada uma preocupação das instituições de ensino local com a percepção dos impactos socioambientais gerados pela expansão urbana e, menos ainda, em relação ao desenvolvimento local. Nesse sentido, a educação poderá ser vista como um elemento chave para gerar desenvolvimento com uma menor degradação socioambiental da região, formando cidadãos críticos que sejam capazes de lutarem pelo desenvolvimento local. 40 2.2.3 A educação como ferramenta incentivadora do desenvolvimento local Com a urbanização crescente da Bacia do Córrego Bom Jesus e os respectivos impactos ambientais bem como a exclusão social que ocorrem nessa região, a educação pode auxiliar no desenvolvimento local, ao formar cidadãos críticos capazes de lutarem por melhorias locais. Para Freire (2011), educação é uma forma de ensinar o aluno a compreender o mundo à sua volta, a ser um cidadão crítico, capaz de mudar a sua realidade, o que é necessário para o desenvolvimento da Bacia do Córrego Bom Jesus. Demo (2015) afirma que a educação deve ocorrer através de questionamentos que possibilitem a pesquisa e a reconstrução de valores, pois o aluno pesquisador consegue compreender o mundo de forma mais eficiente do que os alunos que apenas assistem às aulas. Contudo, Adorno e Horkheimer (1985) alertam para um processo de alienação que ocorre nas sociedades capitalistas a partir de uma indústria cultural que leva ao consumismo, afirmando que a educação tem por função gerar conhecimento e reflexão, para que as pessoas possam ser mais independentes em suas decisões, demonstrando a necessidade de se formar alunos críticos para que estes possam lutar por melhorias na Bacia do Córrego Bom Jesus. Entretanto, desde o período Taylorista/Fordista, a educação é vista como uma forma de se inserir as pessoas no mercado de trabalho, treinando e capacitando a mão de obra para as diferentes formas de trabalho (PONTE, 2015; DOWBOR, 2008). Neste contexto, a UNESCO propõe a estruturação da educação para o século XXI, em quatro pilares: aprender a aprender, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a ser (DELORS et al., 1999), atendendo as demandas para o mercado de trabalho. Em contrapartida, o mundo contemporâneo exige a formação de cidadãos mais críticos, no qual o conhecimento é adquirido pelo diálogo e pela troca de vivências (FREIRE, 2011), sendo então a comunicação um instrumento importante para esta relação. 41 Mueller et al. (2012) afirmam que cidadãos críticos são capazes de discutir medidas de sustentabilidade para o planeta, mesmo com o crescimento do consumo e da população mundial de forma a manter a qualidade dos ambientes no futuro. Sendo assim, as escolas da Bacia do Córrego Bom Jesus precisam ser transformadoras, contribuindo para modificar a sociedade e o espaço à sua volta, e não apenas reprodutoras de conhecimento, voltado meramente para aprovação e/ou reprovação no/pelo mundo do trabalho (FREIRE, 2011). As escolas precisam formar cidadãos críticos, capazes de compreender o seu papel social. Ideia esta compartilhada por Freire (2011) ao afirmar que a educação precisa gerar um desenvolvimento crítico nas pessoas para que essas percebam e compreendam sua responsabilidade social no desenvolvimento. É preciso que esses indivíduos lutem por melhorias sociais, de maneira a transformar o local em que vivem, para que este seja capaz de satisfazer suas necessidades de bens e serviços (SILVA, QUINTAIROS e ARAÚJO, 2013). Neste contexto, as escolas da Bacia do Córrego Bom Jesus precisam desenvolver mecanismos que auxiliem no desenvolvimento do senso crítico em seus alunos, para que estes possam lutar por melhorias socioambientais na/para a região. Alves (2010) alerta que a educação precisa ser prazerosa, tem que ser sedutora para que se consiga educar e para que os resultados sejam positivos. Sendo assim, a comunicação se torna essencial para a educação formal dos bancos de escola (BACCEGA, 2009; BARBERO, 2014) e também para uma educação informal, pois esta possibilita um entendimento do mundo através das vivências, nas quais os objetivos são construídos em um processo interativo entre as pessoas e o ambiente (REIGOTA, 2009; GOHN, 2012; ARAÚJO e QUARESMA, 2014). Neste contexto, a escola deve ser integrada ao ambiente ao seu redor, buscando alternativas de aprendizagem com a comunidade à sua volta, em que toda a região deve se tornar extensão da sala de aula, sendo o trabalho de campo e as visitas guiadas importantes ferramentas neste processo conforme relatado pelos autores Figueiredo e Braga (2012), Pessoa e Braga (2012), Araújo e Quaresma (2014) em 42 seus estudos. Essa concepção de uma educação interativa para compreender o mundo é fundamental para resolver os problemas de nossa época que não são isolados, são sistêmicos e só poderão ser resolvidos com a participação de todos (TENÓRIO, 2008), sendo pertinente no contexto da Bacia do Córrego Bom Jesus, pois como afirma Buarque (2012), a educação é fundamental para desenvolver a percepção de empoderamento local, gerando autonomia através do senso crítico seja capaz de proporcionar mudanças. A ideia é que através da educação a sociedade se torne mais participativa, lutando por ideais de melhorias coletivas capazes de gerar o desenvolvimento local (TENÓRIO, 2008). Neste sentido, na busca de uma educação transformadora que gere empoderamento local, a educação ambiental assume papel de destaque neste trabalho. A educação ambiental adquire importância mundial na década de 1960, com o alerta sobre o uso de pesticidas. Na década seguinte em Estocolmo, na Suécia (1972), procurou-se organizar a vida entre os seres humanos e o ambiente onde o desenvolvimento do presente não deveria comprometer o desenvolvimento das gerações futuras, lançando a ideia inicial do desenvolvimento sustentável. Na mesma década, no ano 1977, ocorreu em Tbilisi (ex-URSS), um congresso que definiu os princípios para a educação ambiental no planeta. E, em 1987, a importância da formação em Educação Ambiental foi destaque na Conferência das Nações Unidas em Moscou. Em 1992, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, foi criado um documento com alternativas para o desenvolvimento sustentável no século XXI, denominado de Agenda 21 (MEC, 2014) que visa um desenvolvimento sustentável global através de ações locais. No Brasil, o MEC propôs em 1979, tratar o tema Ecologia, no 1º e 2º graus, mas foi em 1988, com a nova Constituição brasileira que a educação ambiental tornou-se obrigatória em todos os níveis de ensino, sendo promulgada em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei no 9.795/99 (BRASIL, 1999). Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, a educação do país deve possuir 43 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), no qual afirmam que a Educação Ambiental deve ser tratada nas escolas como um tema transversal em todas as áreas de ensino. O objetivo da educação ambiental é integrar os diferentes segmentos da sociedade, conscientizando os envolvidos de forma a ter participação espontânea, gerando habilidades, conhecimentos e atitudes para resolver problemas existentes em relação ao meio ambiente como demonstra a Carta de Belgrado (UNESCO, 1977) que foi um documento que buscou uma estrutura para a educação ambiental mundial e consiste em necessidade para a promoção do desenvolvimento sustentável. De acordo com Medeiros, Ribeiro e Ferreira (2014), sem a participação ativa dos professores e alunos, não é possível fazer a educação ambiental nas escolas, sendo necessário criar articulações que gerem conscientização nos envolvidos em relação ao ambiente e que o ser humano é parte integrante desse meio. Essa articulação irá gerar bons resultados, mas Dias (2010) adverte que os resultados só serão definitivos se as mudanças estiverem relacionadas também aos aspectos econômicos e políticos da região. Acredita-se que através da educação ambiental integradora e crítica seja possível mudar o comportamento individual e, consequentemente o coletivo, racionalizando opiniões e atitudes que permitam o desenvolvimento socioambiental e o empoderamento local, gerando assim um melhor desenvolvimento da região da Bacia do Córrego Bom Jesus (MG). Dias (2006), em sua obra, Atividades Interdisciplinares de Educação Ambiental, propõe diferentes atividades de educação ambiental dentro das escolas, que buscam integrar os alunos com o meio à sua volta em consonância com os pilares da UNESCO para a educação do século XXI (DELORS et al., 1999). Neste contexto, citam-se os estudos de Figueiredo e Braga (2012), Pessoa e Braga (2012) e Araújo e Quaresma (2014) defendem a importância das atividades de campo para a 44 educação ambiental, demonstrando que estas atividades quando bem estruturadas contribuem para a percepção socioambiental dos alunos, o que possibilita o desenvolvimento de ações que conduzam ao desenvolvimento local. A Agenda 21 propõe normas e metas para o desenvolvimento sustentável do planeta e define que o desenvolvimento não deve ocorrer apenas através das forças do mercado, mas precisa atender as necessidades locais, com a participação dos diferentes atores sociais (BRASIL, 1995). A Agenda 21 é um documento fruto da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em Junho de 1992, em que cada país participante deveria buscar ações para o seu desenvolvimento, diminuindo os impactos sobre os ambientais. Nessa Conferência foi definido que cada país criaria sua própria Agenda 21 respeitando as suas particularidades, sendo a Agenda 21 brasileira estabelecida em 2002 (MMA, 2014). De acordo com a Agenda Global, no capítulo 28, os países devem elaborar Agendas Locais com o intuito de melhorar a qualidade de vida e a sustentabilidade através de ações sociais e da educação. Neste sentido, criam-se as Agendas 21 Escolares, que buscam através de ações da educação ambiental, a formação de cidadãos críticos capazes de produzirem o desenvolvimento local, de forma a proteger o patrimônio cultural e natural no processo de urbanização, o que irá diminuir os impactos socioambientais gerados pela especulação urbana desordenada. Desta forma, ações de educação ambiental serão pertinentes na busca do desenvolvimento local na Bacia do Córrego Bom Jesus, pois contribuirão para a formação crítica dos jovens, devendo incentivar que estes busquem melhorias para o local em que vivem, que gerem desenvolvimento com menos impactos socioambientais para a região. 45 2.2.4 A conquista do desenvolvimento local a partir da educação ambiental O tema desenvolvimento local, vem se destacando no Brasil, principalmente com a melhora de alguns indicadores sociais, como saúde, expectativa de vida, segurança entre outros (FERRARINI, 2012). De acordo com o IBGE (2012), a expectativa de vida brasileira aumentou de 71 para 74,5 anos; 98,2% dos brasileiros entre 6 e 14 anos estão nas escolas, diminuindo o número de analfabetos; 56,9% dos brasileiros possuem trabalhos formais e a mortalidade infantil vem diminuindo. Com isso, “O tema desenvolvimento local nunca esteve tão em evidência e principalmente, a busca de mecanismos e estratégias que permitam estimular o crescimento” (OLIVARES e DALCOL, 2014), de forma a melhorar estes indicadores. O tema desenvolvimento local sempre esteve relacionado à ideia de melhorias econômicas, com instalação de indústrias ou de algum outro mecanismo que gerasse renda. Mas, esse conceito foi sendo alterado e o desenvolvimento passou a constituir uma relação entre o crescimento econômico, a qualidade de vida, a sustentabilidade ambiental e as afirmações política e cultural de cada lugar, ao buscar alternativas para desenvolver uma região em todos os seus aspectos (CASTOR, 2007; ENDLICH, 2007; KNOPP, 2008; DOWBOR, 2009). Silva, Quintairos e Araújo (2013) corroboram com esta ideia afirmando que o desenvolvimento não ocorre apenas na esfera econômica. Segundo Sen (2010), para se atingir o desenvolvimento local, é preciso conseguir a solidariedade entre as pessoas de um mesmo lugar formando uma capacidade social, cujo desenvolvimento gere liberdade. Esta liberdade está associada ao bem estar e não atrelada exclusivamente ao desenvolvimento econômico. A busca por um desenvolvimento autônomo e integral que envolva os aspectos econômicos e humanos refletidos em uma base sustentável, refletindo em qualidade de vida para os diferentes atores, é o que este trabalho pretende entender ao escolher como objeto de pesquisa a Bacia do Córrego Bom Jesus. A região da Bacia do Córrego Bom Jesus movimenta um capital financeiro visto a diversidade de comércios, indústrias e empresas instaladas na região. Mas, 46 apresenta vários impactos socioambientais e uma articulação não eficiente entre os diferentes setores como defende Inojosa (2001), Tenório (2008) e Dowbor (2013), o que inibe um desenvolvimento mais eficiente. Esse ponto de vista é compartilhado por Knopp (2008) e Lopes, Melo e Tenório (2012), pois afirmam que as relações entre sociedade civil, comunidade, instituições, associações, igrejas, dentre outras se forem bem articuladas, irão possibilitar o desenvolvimento local. Endlich (2007) evidencia que o desenvolvimento local se caracteriza pelo empreendedorismo, por práticas inovadoras e pela participação da comunidade, ou seja, o desenvolvimento irá acontecer de acordo com os interesses do capital social de cada lugar (SEN, 2010), através da autonomia dos envolvidos em suas escolhas. Desta forma, o capital social na Bacia do Córrego Bom Jesus precisa ser melhor trabalhado para que ocorra na região um desenvolvimento mais adequado. No Brasil, todo o processo de se discutir o desenvolvimento local, segundo Buarque (2012), começou quando os governos passaram a descentralizar o poder, possibilitando que unidades menores como os municípios, através de uma gestão compartilhada, pudessem determinar ações e projetos prioritários para cada lugar. Sendo assim, cada região torna-se responsável por determinar as ações que devem ser tomadas pelo governo ou por seus habitantes para ajudar a desenvolvê-la. Mas, para um consenso de um bem maior para determinada região, é necessária a participação de todos os envolvidos. Os diferentes atores sociais, comunidade, representantes do governo, ONGs, precisam debater, dialogar e concluir sobre as melhores medidas de uma gestão social a ser adotada para gerar um desenvolvimento local com melhorias na qualidade de vida individual e do grupo (TENÓRIO, 2008; MACHADO e QUARESMA, 2014). Esse pensamento é compartilhado com Knopp (2008), ao afirmar que para se alcançar uma política de desenvolvimento local, é necessária uma parceria entre instituições sociais, culturais, políticas e econômicas que atuem em um determinado local. 47 Cattani e Ferrarini (2010) concordam com essa ideia e acrescentam que é importante para essa população criar alternativas de desenvolvimento que promovam uma autossustentação econômica e de gestão, para que possam ter uma maior autonomia sobre a região. Assim, o desenvolvimento não fica atrelado apenas às ações do governo, fazendo-se uma política emancipatória. Essa política emancipatória incentiva o pensar, o questionar positivamente sobre um fato, que pode resultar em alternativas para desenvolver a região sem a necessidade da ação do governo, sendo viável no desenvolvimento da Bacia do Córrego Bom Jesus. Martins, Vaz e Caldas (2010) relatam que ações sociais podem surgir de dentro da sociedade, de forma a gerar o desenvolvimento social e ambiental de uma região como nos casos dos apicultores de Simplício Mendes (PI), que montaram uma associação, criaram açudes, compraram terras e passaram a vender os produtos derivados do mel, melhorando a qualidade de vida dos habitantes e do Banco Palmas (TO) que formou uma rede econômica solidária que gera inclusão melhorando o consumo local. Desta forma, a formação de ações solidárias é o que sugere este trabalho para a Bacia do Córrego Bom Jesus (MG) através dos processos educativos. Dowbor (2009) complementa este raciocínio, afirmando que o desenvolvimento local ocorre pela construção de um poder local, que vise a solidariedade e o bem comum baseado em uma política emancipatória, utilizando o território de acordo com os interesses da comunidade gerando oportunidades para as comunidades e não como uma visão de prática da caridade para as pessoas que habitam um determinado local. Nessa linha de raciocínio, para se atingir o desenvolvimento local através de medidas emancipatórias, é preciso participação da comunidade em todas as etapas da construção do projeto, fazendo uma articulação entre as propostas que visem o fortalecimento da intersetorialidade com os aspectos sociais e econômicos, diminuindo a dependência de acolher ações propostas pelo governo (INOJOSA, 2001; CATTANI e FERRARINI, 2010; DOWBOR, 2013). 48 Mas, estes pontos não resolvem todos os problemas. Conflitos de interesses continuarão a acontecer, o importante é que o interesse comunitário prevaleça sobre as ações que privilegiem apenas um pequeno grupo (MARTINS, VAZ e CALDAS, 2010). Entretanto, estas políticas emancipatórias ainda não são presenciadas na bacia do Córrego Bom Jesus. É notável a dependência da população local por medidas governamentais, reforçada pelos interesses dos políticos locais, na busca por eleitores. Assim, acredita-se que uma educação integradora e crítica possibilite que as pessoas possam refletir, debater, discutir e definir o que é melhor para a região, buscando o bem coletivo com a implantação dessas políticas emancipatórias, capazes de levar ao desenvolvimento local. Para Cattani e Ferrarini (2010), o desenvolvimento local pode ter início de formas diferentes. Pode ocorrer com projetos governamentais que determinam o que deve ser feito em uma localidade, mobilizando os atores sociais para desenvolvê-lo ou pode partir da própria comunidade, com ações próprias do local, criando grupos e transformando o local, tornando-o desenvolvido. Martins, Vaz e Caldas (2010) comparam diferentes atores sociais que possibilitaram o desenvolvimento em algumas regiões e afirmam que todo desenvolvimento só ocorre quando se tem atores sociais engajados com a causa a que se propõem. Sendo assim, espera-se que na bacia do Córrego Bom Jesus (MG), as instituições de ensino se tornem formadoras de atores sociais engajados com as causas locais. A partir do engajamento social, espera-se que o desenvolvimento local possibilite melhorias na qualidade de vida, tendendo para que a infraestrutura social e ambiental da região melhore visto que, os indicadores como saúde, educação, renda, expectativa de vida, entre outros, adquiram níveis mais elevados (SCHNEIDER e FREITAS, 2013). Com a elevação da qualidade de vida, a partir do desenvolvimento local, pessoas que pensam em sair da região, podem mudar de opinião, pois quando satisfeitas com o local onde moram, não procuram outras regiões para viver (DOWBOR, 2008). 49 Neste sentido, buscar mecanismos para fazer a união das pessoas para o desenvolvimento local é muito importante. É preciso sensibilizar e procurar alternativas para o desenvolvimento, fazendo com que as pessoas reflitam e mudem a forma de pensar e agir, como base para melhorar a qualidade de vida na região onde vivem e não simplesmente mudarem de região (CASTOR, 2007; KNOPP, 2008) o que é importante para o desenvolvimento socioambiental da região da Bacia do Córrego Bom Jesus. Sendo assim, todas as pessoas devem tentar transformar a região onde vivem, melhorando o quadro social em que se encontram (SEN, 2010) a partir da sua melhora enquanto indivíduo, ser humano. Atualmente, o processo de ocupação está associado à instalação de várias empresas na região (PIRONI, 2009). Ressalta-se que tais ocupações acontecem de forma irregular, gerando e intensificando os impactos socioambientais, ocasionando poluição das águas e dos solos, ineficiência na saúde e no transporte público, falta de segurança, entre outros fatores que comprometem a qualidade de vida no local. Situação semelhante foi apresentada nos trabalhos de Redígolo (2009), Prata (2011) e Motter e Batella (2013) cujos impactos socioambientais estão relacionados à especulação imobiliária, que interferem no meio ambiente, além de impactar nos serviços públicos como educação, saúde, transporte e segurança que se tornam de pouca qualidade. Nessa perspectiva, a educação ambiental na Bacia do Córrego Bom Jesus possibilitará que os alunos relacionem o conteúdo visto na literatura e em sala de aula com o ambiente a sua volta, como descrito nos trabalhos de Figueiredo e Braga (2012), Pessoa e Braga (2012), Araújo e Quaresma (2014). Desta forma, os alunos poderão buscar melhorias para o local onde vivem, possibilitando uma intersetorialidade como vista nos estudos de Inojosa (2001), Tenório (2008) e Dowbor (2013) que apontam a gestão social estruturada, ou seja, com a participação de todos os setores, como fundamental para o desenvolvimento da região. 50 Entretanto, para os primeiros moradores da Bacia do Córrego Bom Jesus, o local já se tornou desenvolvido, pois a região era desprovida de todo tipo de recursos. No início da ocupação, não havia na região, posto de saúde, escola, comércio, água, luz, asfalto, transporte público, entre outros. Desta forma, estes serviços ofertados mesmo que de forma precária, demonstram a evolução e o progresso da região, para estes moradores. Sendo assim, a educação ambiental para essa região, será importante para o amadurecimento crítico dos alunos, para que estes percebam que para o desenvolvimento eficiente da região, é preciso a participação de todos através de uma gestão social que busque a integração da comunidade, com as empresas, o governo e as entidades que atuam nessa região, incentivando o desenvolvimento local, respeitando as particularidades do processo de urbanização ocorrido nessa bacia. Espera-se que este estudo sobre a ocupação da região do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG) e dos impactos socioambientais, resultem medidas educacionais que gerem empoderamento e sensibilizem a sociedade local, incentivando mudanças comportamentais, definidas a partir da percepção socioambiental, visando a melhoria dos diferentes indicadores sociais, econômicos e ambientais, propiciando um desenvolvimento sustentável para essa região conforme estruturado nas Agendas 21 Escolares que poderão subsidiar uma Agenda 21 Local como norteadoras das práticas cotidianas de gestão socioambiental. 2.3 Considerações finais A partir do pensamento de diferentes autores, constatou-se que a percepção socioambiental é inerente a cada ser humano, pois a cultura, os costumes, os valores e o modo de viver de cada pessoa irão influenciar diretamente na percepção de cada um sobre um determinado acontecimento, local ou região bem como em suas ações. 51 Os lugares, os bairros, as cidades sofrem interferências diretas de diversos atores sociais e econômicos durante um processo de urbanização. As especulações imobiliárias associadas aos interesses econômicos e aos Planos Diretores de cada município determinam o modo como cada área será ocupada. Neste sentido, a educação torna-se uma importante ferramenta de gestão, pois é capaz de desenvolver o senso crítico nas pessoas, com um sentimento de empoderamento a partir de conhecimentos adquiridos sobre esse lugar. Com isso, as pessoas podem se unir e lutar por um desenvolvimento local mais justo em que os interesses econômicos estejam em parceria com os interesses socioambientais. Sendo assim, a educação é fundamental para que se desenvolva nas pessoas o sentimento de pertencimento local, permitindo o conhecimento da história da região em que se vive, percebendo a relação entre os problemas gerados pela urbanização no passado e as possíveis alternativas para minimizar os impactos no futuro. Observa-se ao longo deste trabalho que atividades educativas propiciam o reconhecimento de uma região e de seus problemas socioambientais, favorecendo o empoderamento local e o desenvolvimento da mesma ao formar cidadãos críticos que lutem por melhorias locais, o que é a essência da educação ambiental e defendida na Agenda 21. Por se tratar de um artigo de revisão teórica, ele possui suas limitações, mas incentiva estudos mais profundos sobre o tema, como um estudo de caso, em diferentes bacias hidrográficas, como a Bacia do Córrego Bom Jesus (MG), sobre a percepção socioambiental de alunos do Ensino Médio sobre o papel da educação para o desenvolvimento local tendo como ferramentas o resgate da história do local pelos relatos dos moradores mais antigos da região associados às atividades escolares (trabalhos de campo, discussões temáticas, oportunidade de participação) em sua prática amplie os horizontes do aprender, para o âmbito do ser e do conviver, conforme preconizado pela UNESCO e fundamentais para a concretização de uma política emancipatória. 52 REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W, HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Trad. ALMEIDA, Guido de. Jorge Zahar, 1985. 224p. ALVES, Henrique Vitorino Souza. Urbanização contemporânea: uma contribuição para o estudo das cidades. 2013. 220f. 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Fernanda Carla Wasner Vasconcelos6 RESUMO Este artigo busca compreender a influência dos processos de urbanização no desenvolvimento local e como esse resgate histórico subsidia a elaboração da Agenda 21 Escolar. Para caracterizar o uso e a ocupação da bacia do Córrego Bom Jesus em Contagem/MG, no período de 1953 a 2014, foram realizadas pesquisas bibliográficas e documental; resgates de fotografias em diferentes épocas para comparação com os mesmos locais em 2015; relatos de histórias orais com dezesseis moradores que estão há mais de 40 anos na região sendo que um entrevistado sempre indicava o outro até se chegar à saturação, posteriormente transcritas e analisadas conforme proposto por Bardin. Os resultados mostraram que a falta de gestão, na organização dos processos de urbanização da região, interferiu negativamente na qualidade de vida dos primeiros moradores. Constatou-se que no período de 1980-1990, houve a intensificação do processo de urbanização e não foi realizada nenhuma ação que incentivasse a preservação das nascentes, córregos e matas nessa área. Foi possível concluir que a intersetorialidade é importante para o desenvolvimento local e que os processos de ocupação e urbanização interferem diretamente na qualidade de vida local. Conhecer tais processos é importante para o desenvolvimento da Agenda 21 Escolar, instrumento de educação ambiental, que busca o desenvolvimento crítico dos alunos para que estes contribuam para o desenvolvimento local, sendo desta forma prática de gestão social que pode ser extrapolada para outras regiões e suas respectivas Agendas. Palavras-chave: Percepção socioambiental. Desenvolvimento local. Gestão social. Agenda 21 Escolar. Intersetorialidade. Occupation and urbanization of stream Bom Jesus Basin (MG) ABSTRACT This article seeks to understand the influence of urbanization processes in local development and how this historical review subsidizes the development of Agenda 5 Geógrafo, Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, especialista em educação ambiental, professor de geografia e educação ambiental. E-mail: [email protected]. 6 Bióloga, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]. 62 21 School. To characterize the use and occupancy of stream Bom Jesus basin in Contagem / MG in 1953 to 2014 were carried out bibliographic and documentary research; Photo redemptions at different times compared to the same locations in 2015; reports of oral histories with sixteen residents who are over 40 years in the region and one respondent indicated whenever the other until reaching the saturation later transcribed and analyzed as proposed by Bardin. The results showed that the lack of management, the organization of urbanization processes in the region, negatively interfered with quality of life of the first residents. It was found that in the 1980-1990 period, there was an intensification of the urbanization process and was not carried out any action that encourages the preservation of springs, streams and forests in this area. It was concluded that the intersectionality is important for local development and the occupation and urbanization processes interfere directly in local quality of life. Understanding these processes is important for the development of the School Agenda 21, environmental education tool, which seeks the critical development of students so that they contribute to local development, and this practical form of social management that can be extrapolated to other regions and their respective agendas. Keywords: environmental perception. Local development. Social management. School Agenda 21. Intersectoral. 3.1.1 Introdução O Córrego Bom Jesus é um dos principais afluentes da Lagoa da Pampulha. Os impactos ambientais nesta bacia interferem diretamente na qualidade das águas da Lagoa da Pampulha. A região da Bacia do Córrego Bom Jesus está localizada no município de Contagem (MG). A urbanização desta área teve início na década de 1950, mas nas décadas de 1980 e 1990, com a introdução de grandes empresas, foi que a região apresentou acentuado crescimento demográfico (PIRONI, 2009). Desta forma, é importante compreender a influência do processo de urbanização para o desenvolvimento local de uma região, considerando os impactos socioambientais gerados por esta nova organização do espaço (ROLNIK, 1993; MONTEIRO, 2012). Nesse contexto, o presente trabalho é relevante, pois através da percepção dos moradores mais antigos da bacia do Córrego Bom Jesus, busca compreender a influência dos processos de urbanização no desenvolvimento local e como esse resgate histórico subsidia a elaboração da Agenda 21 Escolar com o 63 intuito de extrapolar essas experiências para outras regiões e suas respectivas Agendas. Este artigo objetiva analisar a percepção de moradores mais antigos da região, que vivem no local em períodos superiores há 40 anos, sobre a influência dos impactos da urbanização no desenvolvimento local dessa região. Figura 3: Localização da Bacia do Córrego Bom Jesus. Fonte: (A), (B), e (C): Polignano, 2010 (D) CBH Comitê Velhas, 2015. Para desenvolver essa temática, este artigo está organizado da seguinte maneira: Inicialmente, é feita uma revisão de literatura abordando os temas recursos hídricos, percepção socioambiental, uso e ocupação do solo e desenvolvimento local. Posteriormente, é relatada a metodologia e análise dos dados e, por último, são apresentadas as considerações finais. 64 3.1.2 Referencial teórico O Brasil é rico em recursos hídricos, possui diversas bacias hidrográficas. Bacia hidrográfica é a área drenada por um rio principal e seus afluentes, no qual toda água oriunda de chuvas ou nascentes nas encostas de um morro, irão escoar para um mesmo lugar conforme descrito por Lanna (1995); Tucci (1997); Ribeiro, Tocantins e Figueiredo (2013). Bacia hidrográfica constitui um local em que se pode fazer um balanço de toda a água que entra e sai de uma determinada região, podendo ser subdividida em áreas menores (PORTO e PORTO, 2008), como é o caso da bacia do Córrego Bom Jesus (MG) pertencente à macrobacia do Rio São Francisco (MG). Com base no conceito de bacia hidrográfica, em 1997, foi promulgada a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) que cria o Sistema Nacional de Gerenciamento deste recurso, estabelecendo conselhos e comitês que são responsáveis pelo gerenciamento de uma bacia principal e suas sub-bacias, nas esferas federal e estadual (BRASIL, 1997; PORTO e PORTO, 2008). Esse sistema de gerenciamento é uma importante forma de gestão social, pois busca através da intersetorialidade, promover a integração entre governo, empresas e sociedade civil conforme os estudos de Inojosa (2001), Lopes, Melo e Tenório (2012), Warschauer e Carvalho (2014). Nesse contexto, no processo de administração e gerenciamento dos recursos hídricos de cada bacia, promove-se o uso sustentável, respeitando, assim, as limitações de captação de cada segmento, de forma a melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida em cada uma dessas regiões (PORTO e PORTO, 2008). Esta integração entre os diferentes setores fortalece a ideia de uma cidadania ativa, que participa dos processos de mudanças locais (TENÓRIO, 2008; LOPES, MELO e TENÓRIO, 2012; DOWBOR, 2013), preconizados pela PNRH vigente. Entretanto, essa integração praticamente não ocorre na bacia do Córrego Bom Jesus, pois a 65 sociedade pouco participa das tomadas de decisões locais, sendo as mudanças relacionadas, principalmente, com ações definidas pelo governo. Para uma maior participação dos moradores, é importante que estes tenham uma percepção socioambiental da área em que vivem, é preciso que ocorra uma relação cognitiva entre as pessoas e esse local (SERPE, ROSSO e CAMARGO, 2011), gerando assim uma cidadania ativa. Oliveira et al. (2015) afirmam que percepção socioambiental é a maneira como as pessoas agem e transformam o ambiente no qual estão inseridas, sendo que percepções e valores atribuídos aos lugares estão associados diretamente às influências ideológicas e às classes sociais a que as pessoas pertencem. A Bacia do Córrego Bom Jesus é constituída essencialmente por pessoas das classes sociais mais baixas, que ocuparam a região de forma aleatória, sem nenhum tipo de critério. Estas ações, como visto no trabalho de Prata (2011) e Batista, Oliveira e Queiroz (2015), estão associadas aos padrões de especulação imobiliária que ao agregar valor econômico diferenciado para as regiões separam os indivíduos por classes sociais, interferindo na percepção socioambiental que estas pessoas agregam à região (SERPE, ROSSO e CAMARGO, 2011; OLIVEIRA et al., 2015). A ocupação urbana está associada à busca por melhores condições de vida relacionadas ao trabalho, aos estudos, ao lazer, entre outros conforme descrito por Santos (1977); Batista, Oliveira e Queiroz (2015). Essa busca propicia envolvimento das pessoas com o local, gerando assim percepções semelhantes às condições socioambientais que formam a identidade local (MARANDOLA JR. e MODESTO, 2012). Neste sentido, os processos de ocupação e urbanização de uma região influenciam no desenvolvimento da mesma, podendo através de uma gestão social atingir graus mais elevados de desenvolvimento. Entretanto Brito, Vasconcelos e Oliveira (2013) alertam que é preciso verificar os impactos socioambientais na implementação de programas que busquem o desenvolvimento local, propondo alternativas para minimizar esses impactos. 66 É notório que os processos que levam ao uso e à ocupação dos solos na sociedade moderna, estão associados à especulação imobiliária e à busca por melhores condições de vida (SANTOS, 1977; PRATA, 2011). Esta situação tem proporcionado o elevado crescimento dos centros urbanos em relação ao campo (SANTOS, 2013). Os impactos socioambientais resultantes desse processo de urbanização podem ser minimizados com o cumprimento de políticas públicas que determinam normas de uso e ocupação do solo, como define o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001). Fato este que pode ser identificado na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG), cuja ocupação ocorreu de forma desordenada, sem respeitar as normas de uso e ocupação do solo, pois não existia um Plano Diretor para a região, no início de sua ocupação, o que gerou impactos socioambientais (PIRONI, 2009), como também na maioria das cidades brasileiras, cujo crescimento desordenado acompanhou os desenvolvimentos industrial e econômico (SANTOS, 2013). Neste sentido, na sociedade moderna, predominantemente urbana, é importante o papel da gestão social que é uma forma de organização da sociedade civil, que busca nos processos, as soluções para um determinado problema, onde ocorre a participação de diferentes atores sociais, pois através da intersetorialidade, é possível buscar melhorias na qualidade de vida e ambiental de uma região (INOJOSA, 2001; LOPES, MELO e TENÓRIO, 2012) cujo crescimento ocorreu de forma irregular, propondo criar alternativas para gerar um desenvolvimento local. Uma alternativa para o desenvolvimento local na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG), é a elaboração de Agenda 21 Escolar que constitui um instrumento de gestão social ao formar cidadãos críticos, contribuindo para a participação dos moradores locais nas políticas hídricas e de uso e ocupação do solo na região, como defende o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e o Estatuto da Cidade. 67 3.1.3 Metodologia Inicialmente, foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre percepção socioambiental, uso e ocupação do solo, desenvolvimento local e gestão social nos sites Scielo e Google Acadêmico. Em seguida, foram levantadas junto aos moradores mais antigos, fotos da região em períodos que remetem à sua ocupação e foram feitas comparações destas fotos com outras atuais, considerando os mesmos locais, na região de estudo que foram localizados no Google Maps. Nos Cartórios de Registro dos municípios de Contagem (MG) e Betim (MG), foram levantados documentos de certidão de origem do desmembramento da região, que evidenciam a ocupação imobiliária e a nova organização deste espaço. Essas informações foram importantes, para subsidiar a escolha dos moradores que contribuiriam para histórias orais. No intuito de verificar a percepção dos moradores sobre o papel da urbanização da região para o desenvolvimento local, foram captados relatos de histórias orais com os moradores mais antigos da região. Os relatos de histórias orais trabalham com o simbolismo e a subjetividade de cada pessoa entrevistada em relação ao objeto (PORTELLI, 1997). Suas narrativas permitem analisar a realidade social que estas viveram no passado, comparando com o modo de vida que elas possuem no presente (ALMEIDA e KOURY, 2014). Deste modo, foi possível observar os processos de gestão ou a falta desses, seja na urbanização, seja no desenvolvimento local. Foram realizados relatos de histórias orais com 16 (dezesseis) dos moradores mais antigos da região, todos com mais de 40 anos na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG), utilizando-se a técnica bola de neve, na qual um entrevistado sempre indicava outro até à saturação. 68 As histórias orais foram gravadas e, posteriormente, comparadas através da análise de conteúdo, utilizando a técnica de enunciação (BARDIN, 2011). Essa teoria foi utilizada por Émile Benveniste, na qual busca compreender as experiências humanas através da linguagem e suas subjetividades (FLORES e ENDRUWEIT, 2012). A pesquisa observou os aspectos éticos. Sendo assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, sob o n° 39195814.0.0000.5098 (Anexo A) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário UNA, conforme a Resolução nº 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos no Brasil. As pessoas participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndices E, F, G, H e I), emitido em 2 (duas) vias, sendo que uma delas ficou com o entrevistado. 3.1.4 Resultados A urbanização na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG) teve seu processo inicial de ocupação com o loteamento de parte da Fazenda Gangorra pertencente a Joaquim Diniz Silveira e sua esposa, Francisca Dias da Silveira. Inicialmente, era uma área destinada aos sítios de recreio, devido à sua proximidade com a Lagoa da Pampulha (PIRONI, 2009). A primeira divisão territorial ocorreu em 1953, segundo o Cartório de Registro de Imóveis, na Fazenda Gangorra, totalizando cem hectares. Nessa divisão, não foi considerado nenhum tipo de gestão que contemplasse os aspectos sociais e ambientais, não havia um Plano Diretor para orientar esse processo de urbanização, sendo a proposta de organização do espaço amparada apenas pelo capital financeiro. Segundo relatos dos moradores entrevistados neste trabalho, a vida no início da urbanização da Bacia do Bom Jesus era muito difícil, pois as pessoas vieram de 69 diferentes localidades, com diferentes sonhos, mas juntas tiveram que se ajudar para viverem a realidade da nova ocupação. Fato que ocorreu em outras localidades como o ilustrado por Almeida e Koury (2014) em entrevista com Alessandro Portelli. As dificuldades na ocupação foram evidenciadas pela falta de estrutura local. Os moradores entrevistados (D.D.S., I.G.L., M.E.D.S., A.M.D., L.D.S., O.M.C., M.C.R., R.F.C., J.A.D.C., M.C.A., A.W.D.C., M.D.D.S., A.L.R.) afirmaram que no início da ocupação suas residências não tinham energia elétrica. Observaram que apenas dois ônibus atendiam a região os entrevistados D.D.S., M.S.D.S., M.D.C.R., M.C.A., R.F.C., M.C.A., F.P., A.W.D.C.. Foi ressaltado pelos moradores I.G.L., R.F.C., L.D.S., D.D.S., M.S.D.S., J.A.D.C., O.M.C., A.W.D.C., F.P., M.E.D.S., R.F.C., M.C.R., A.M.D que nenhuma rua era asfaltada. Outros relatos foram que o trabalho remunerado era muito escasso, relatados pelos entrevistados F.P., M.C.R., J.A.D.C., O.M.C., A.W.D.C., M.S.D.S., D.D.S., A.M.D., A.L.R. e que não existia nenhum tipo de comércio na região, destacados pelos entrevistados I.G.L., D.D.S., M.S.D.S., A.L.R., M.C.R., J.A.D.C., M.E.D.S., A.W.D.C. A.L.R., A.M.D., F.P., R.F.C., M.D.C.R.. Os entrevistados R.F.C., D.D.S., J.A.D.C., F.P., A.L.R., A.M.D., A.W.D.C. e M.E.D.S. recordaram que precisavam criar e cultivar seu próprio alimento. Esses aspectos evidenciaram que a falta de gestão, na organização dos processos de urbanização da região, interferiu negativamente na qualidade de vida dos primeiros moradores, como visto nas falas de alguns dos entrevistados, possibilitando uma reflexão sobre a ideia de desenvolvimento através da liberdade de Sen (2010), pois a falta de desenvolvimento limita as escolhas da população. - "(...) as coisas eram mais simples, conseguidas com muito mais dificuldades." (I.G.L., 57 anos de idade e há 40 mora na região). - "(...) a vida era totalmente diferente da atualidade, porque não existia progresso, existia (sic!) as coisas mais simples, conseguidas com mais dificuldade. Hoje a vida é 100% mais fácil, se tá doido,(...) nem se compara.” (R.F.C., 71 anos de idade e há 71 anos mora na região). 70 - "(...) a vida era simples e difícil, acordava de madrugada para carregar tijolo. (risos) Era muito frio e poeira. (risos) (...) ainda tinha que fazer a comida antes de sair." (L.D.S., 61 anos de idade e há 59 anos mora na região). - "A vida era muito difícil, fazíamos compra no supermercado Grilo (no centro de BH), só tinha dois ônibus por dia." (D.D.S., 79 anos de idade e 44 anos habita na região). Outro aspecto relevante no processo de ocupação dessa área estava relacionado às formas de emprego e trabalho. Ao questionar os moradores sobre as relações de trabalho que ocorriam na região quando mudaram para a mesma, ficou evidente para o entrevistador que existiam basicamente três tipos de atividades econômicas que geravam emprego na região. As pessoas trabalhavam com (i) agropecuária, cuidando de animais e lavouras; (ii) em olarias fabricando tijolos e telhas ou (iii) como pedreiro conforme ilustrado pelos relatos obtidos na pesquisa. Atividades estas que ajudavam a construir o novo espaço urbano que se iniciava nesta área corroborando com Santos (1977) e Souza (2009). Esses fatos foram registrados nas falas de alguns entrevistados: - "Na região não tinha muitas fontes de renda, trabalho aqui era só de pedreiro, ou nas fazendas ou fazendo tijolo." (J.A.D.C., 71 anos e há 49 anos mora na região). - "A maioria eram empregados rurais. Tinha gente que trabalhava nas olarias. Algumas pessoas tinham que ir trabalhar em Belo Horizonte, trabalho era difícil, e só tinha dois ônibus na linha..." (O.M.C., 81 anos de idade e há 40 anos mora na região). - "Vixe, aqui era só trabalho braçais. (pausa). O caboclo tinha duas opções, ou trabalhar na olaria ou trabalhar em fazendas." (A.W.D.C., 59 anos de idade, e há 59 anos mora na região). - "Na região não tinha nenhum comércio, as pessoas trabalhavam como pedreiro, tinha um moço que fazia cisterna, tinha uns que trabalhavam roçando pastos, outros na plantação de flor, muita gente na olaria..." (M.S.D.S., 59 anos de idade e 54 anos mora na região). Com atividades econômicas limitadas, todas as dificuldades relatadas tornam-se evidentes. A ocupação e a urbanização da região ficaram estagnadas durante décadas. Uma ocupação mais densa ocorreu em meados dos anos 1980 e, mais efetivamente, na década de 1990, como pode ser observado na figura 4. 71 Figura 4: Vista aérea da região onde se localiza o Córrego Bom Jesus em 1970 e 2015. Fonte: (A) Contagem, 2009. (B) Google Maps, 2015. Este período foi marcado pela instalação na região de empresas e indústrias relacionadas ao setor de logística, o que atraiu para esta área um grande contingente de trabalhadores, que ocuparam a região de forma irregular conforme descrito em Pironi (2009). É perceptivo no período de 1970-2000, que a ocupação e o desenvolvimento estavam relacionados exclusivamente à geração de riquezas, não havendo preocupação com o social ou com a qualidade de vida das pessoas que ali habitavam (DOWBOR, 2013). Nesse processo, não ocorreu nenhum tipo de estudo ambiental para preservar nascentes, córregos e matas na Bacia do Córrego Bom Jesus, conforme descrito em Pironi (2009) e proposto pela PNRH (BRASIL, 1997). Contudo, com o adensamento populacional nessa região, algumas medidas governamentais foram tomadas no intuito de suprir a carência de serviços públicos da região, tais como, construção de escolas, postos de saúde, asfaltamento de ruas, fornecimento de água e de luz, construção de redes de esgoto. Estas ações propiciaram melhorias na qualidade de vida, principalmente dos moradores que estão na região desde sua fundação. Dowbor (2013) define estas melhorias como ações do governo de gestão para o social. 72 Quando questionados sobre o que mais teria mudado na região, durante todo o período em que vivem na mesma, os relatos foram: - "Tudo mudou, veio ônibus, asfalto, luz, água e agora é uma região urbanizada, tem coleta de lixo, escolas, posto de saúde." (I.G.L., 57 anos de idade e há 40 mora na região). - "A região não tinha muitos moradores, era mato na maioria dos locais, agora não, a região cresceu muito, teve um desenvolvimento econômico, colocaram, asfalto, luz, tem posto de saúde." (F.P., 69 anos de idade e há 40 anos mora na região). - "(...) desenvolvimento, cresceu a região, agora tem comércio, veio asfalto, luz, aumentou a população (...)." (A.W.D.C., 59 anos de idade e há 59 anos mora na região). - "Tudo mudou. (pausa) Agora tem mais ônibus, antes era só dois. Tem mais trabalho com o comércio, as lojas, tem escola, asfalto, tem posto de saúde, luz (risos). Eu fazia comida com lampião de querosene para a marmita do pai e dos irmão (sic!), agora melhorou de mais, Graças a Deus." (M.E.D.S., 66 anos de idade; 61 anos na região). Entretanto, quando os entrevistados foram questionados sobre os problemas da região, foi perceptivo para o entrevistador que apesar das melhorias realizadas pelo governo na região, outros aspectos necessitavam de atenção, entre eles, a segurança pública, citada por 15 dos 16 entrevistados. O transporte público foi lembrado como um problema para a região por 14 dos 16 entrevistados. Outro problema relevante foi a limpeza das ruas e córregos, lembrado por 12 dos 16 entrevistados. O atendimento nos postos de saúde foi citado como um problema para 11 dos 16 entrevistados. Os resíduos sólidos descartados em locais impróprios, a falta de fiscalização e educação dos moradores foram mencionados por 10 entrevistados, exemplificado nos trechos descritos a seguir: - "Os principais problemas da região estão relacionados com a segurança e as leis. As pessoas desrespeitam as leis, pessoas invadem as propriedades e ninguém faz nada. (...) tem muita gente roubando e matando para comprar drogas. Tem muito lixo jogado, o povo não tem educação." (R.F.C., 71anos de idade e 71 anos morando na região). - "Tem muito problemas: nos postos de saúde, falta médico direto; os ônibus são velhos e sempre lotados, muito lixo, tem muitos lugares que não possuem saneamento, sem falar a violência né, pode nem sair de casa direito..." (M.C.R., 62 anos de idade e há 49 anos mora na região). 73 - "Problemas... (pausa). Os ônibus não são bons e demoram muito, as ruas ficam muito sujas, o povo não tem educação e joga lixo para todo lado. Tem muito bandido na rua, muitos meninos que mexem com droga. Os postos de saúde poderiam ser melhor." (M.C.A., 54 anos de idade e há 49 anos mora na região). - "(...) é difícil até falar, muita criminalidade, a polícia tinha que ser melhor, falta um banco, o atendimento no posto de saúde não é bom, falta um ônibus que sai pela Pampulha, muita bagunça, falta de respeito, saneamento básico (...) Falta vistoria das autoridades na limpeza das ruas e dos córregos." (A.L.R., 67 anos de idade e há 43 anos mora na região). Evidencia-se que a violência e a falta de segurança pública são problemas enfrentados na região. Autores como Fernandes e Ramos (2010) e Fonseca, Pereira e Gonçalves (2015) abordam esta temática, pois reflete diretamente na qualidade de vida. Fernandes e Ramos (2010) afirmam que a violência urbana de algumas localidades inibe a participação dos moradores nas relações sociais com as mesmas. Portanto, inibe o empoderamento local das pessoas, atrapalhando o desenvolvimento local como o defendido por Dowbor (2008). Geram-se assim processos de gestão social ineficientes quando comparados às ideias de Tenório (2008) e Dowbor (2013) nas quais os moradores passam a não lutarem por melhorias para a região, pois ficam reclusos pelo medo (FERNANDES e RAMOS, 2010). Este fato pode ser percebido na região estudada, principalmente, nas imediações do Campo do Terrestre, nome dado ao campo de futebol (Figura 5). Este espaço da Prefeitura, durante o dia, abriga escolinhas de futebol para crianças carentes, servindo como área de lazer para os habitantes da região e sendo um impacto socioambiental positivo, com melhorias na qualidade de vida (SEN, 2010). Mas, esse mesmo espaço, durante a noite, é usado como ponto de venda e consumo de drogas, o que restringe o uso do mesmo para um determinado grupo. Segundo Fernandes e Ramos (2010), esse tipo de relação é uma forma de violência estrutural, em que a marginalidade ocupa áreas públicas indiscriminadamente, o que gera sofrimento social com a perda do espaço pelas pessoas que dele usufruíam. 74 Figura 5: Campo do Terrestre Fonte: (A) Costa, 1972. (B) Google Maps, 2015. (C) Google Maps, 2015. Esta situação poderia ser resolvida se ocorresse na região uma gestão social como defende Inojosa (2001) e Tenório (2008), na qual os moradores deveriam se unir com os outros setores e exigir das autoridades competentes, melhorias na segurança pública dessa região. Essas atitudes promoveriam um desenvolvimento humano defendido por Sen Amartya e evitariam os problemas como os vistos na figura 6, na qual uma área que na década de 1970, pertencente à Fazenda Gangorra, está sendo utilizada como depósito de lixo e ferro velho, atraindo pragas urbanas indesejadas, tais como: ratos, escorpiões, baratas, moscas, responsáveis pela disseminação de várias doenças humanas (BRASIL, 2004; PAPINI et al., 2009). Ressalta-se o descarte incorreto dos resíduos sólidos influencia na qualidade da água dos córregos de toda a bacia do Córrego Bom Jesus, inclusive da Lagoa da Pampulha onde esses córregos deságuam. Figura 6: Rua Quatro: disposição inadequada de resíduos sólidos e ferro velho. Fonte: (A) Camargos, 1971. (B) Perona, 2015. (C) Google Maps, 2015. 75 Desta forma, medidas de gestão para melhorar a qualidade da água que remetem à intersetorialidade foram adotadas pela Prefeitura Municipal de Contagem em parceria com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), em consonância com as medidas definidas no Comitê de Bacia do Rio das Velhas viabilizando as premissas da PNRH, ao instalarem redes de esgoto por toda a bacia, com o intuito de despoluir seus afluentes e, consequentemente, a Lagoa da Pampulha (COPASA, 2015), porém a falta de fiscalização e de conscientização advindos de processos educativos não inibe que resíduos sólidos urbanos e efluentes domésticos continuem sendo despejados diariamente nos córregos desta bacia. Entretanto, nem sempre os córregos da região foram tratados com descaso pela população que habita essa área, como percebido nos relatos dos moradores. Neste quesito, ficou evidente para o pesquisador que os córregos foram muito utilizados pelos moradores desta bacia no início de sua ocupação, sendo responsáveis pelo abastecimento de água de muitas residências, fornecendo alimentos através da pesca e irrigação, disponíveis para o lazer, porém o crescimento urbano alterou esta realidade. Observe nos trechos a seguir: - "Algumas pessoas usavam os córregos como fonte de renda, pois tinha muitos peixes, pescavam vendiam, comiam. Minha mãe e minhas irmãs lavavam roupa no córrego. Hoje acabou tudo." (R.F.C., 71anos de idade e há 71 anos mora na região). - "Eu brincava no córrego, podia nadar, tomar banho, hoje é esgoto." (M.D.C.R., 62 anos de idade e há 49 anos mora na região). - "(...) como falei aqui era muito mato, não tinha ônibus, nem água nem luz, nós tínhamos que colocar as roupas na cabeça e ir lavar lá no córrego, (...), antes de fazer a cisterna, nós tomávamos a água do córrego." (M.S.D.S., 59 anos de idade e há 54 anos mora na região). -"(...) uso até hoje no curral, aqui não tem muita poluição, piora depois do Bairro Bom Jesus, lá tem esgoto. Minha mulher lavava roupa, em uma bica que ficava ali, (apontando para um pequeno açude)." (O.M.C., 81 anos de idade e há 40 anos mora na região). Com o intuito de despoluir as águas desses córregos e, consequentemente, as da Lagoa da Pampulha, transformando a qualidade ambiental da região, o Comitê de Bacia do Rio das Velhas, responsável pela gestão da bacia hidrográfica do Córrego 76 Bom Jesus, juntamente com o Consórcio de Recuperação da Pampulha (CRBP) e a COPASA, determinaram na fazenda do senhor Rubens Ferreira Camargos, o Ponto Zero de Despoluição da Lagoa da Pampulha (Figura 5). Este ponto corresponde ao divisor entre a parte conservada e a poluída do Córrego Bom Jesus. Na figura 7, observam-se novas ocupações clandestinas à montante e à jusante do Ponto Zero de Despoluição no Córrego Bom Jesus, que ameaçam a qualidade de suas águas, pois não possuem esgotamento sanitário e contaminam nascentes, águas superficiais e subsuperficiais, podendo atingir o lençol freático. Estas ocupações impactam negativamente nos serviços públicos relacionados à educação, segurança pública, saúde e transporte, o que é contrário ao desenvolvimento humano proposto por Tenório (2008) e Sen (2010), pois afetam diretamente a qualidade de vida e do ambiente da região. Esta questão é reforçada por Prata (2011) e Lohn e Arend (2013) ao afirmarem que muitas pessoas ao serem excluídas no processo de crescimento das cidades, são obrigadas a ocuparem locais periféricos com menor infraestrutura, por vezes, de forma clandestina, gerando problemas socioambientais. Figura 7: Área de ocupação ilegal anterior ao Ponto Zero de Despoluição. Fonte: Google Maps, 2015. 77 Desta forma, é perceptivo que a maioria dos impactos socioambientais na Bacia do Córrego Bom Jesus estão associados aos processos de ocupação aleatória, que ocorreram de forma ilegal durante o histórico do seu processo de urbanização. Outra questão abordada nos relatos estava relacionada com o saudosismo, que os moradores teriam com o passado, em relação aos períodos que remetem ao início da ocupação da região. Diferente do imaginado pelo pesquisador, o saudosismo não foi substancial, pois 15 dos 16 entrevistados afirmam que a vida hoje é muito melhor, e que saudades só dos amigos e da tranquilidade. A maioria dos entrevistados relembraram os momentos difíceis que passaram quando mudaram para a região, com a falta de ônibus, de trabalho e de infraestrutura urbana. - "Sinto falta dos amigos e da tranquilidade, hoje tem muito bandido, mas hoje é melhor de viver. A vida era não era fácil, só comia o que plantava." (M.D.C.R., 62 anos de idade e há 49 mora na região). - "Hoje é muito melhor do que há 50 anos, hoje tem as coisas. Saudades tenho dos parentes que já se foram, da fartura na época das colheita (sic!), e de poder dormir com a janela aberta, (risos)." (M.E.D.S., 66 anos de idade e há 61 anos na região). - "Saudade, saudade, saudade mesmo só da tranquilidade, dos amigos, todo mundo conhecia todo mundo. (...) hoje o financeiro é melhor." (D.D.S., 79 anos de idade e há 44 anos mora na região). - "Ah meu filho, não dá para sentir saudades, a gente sofria muito. Hoje é uma maravilha." (J.A.D.C., 71 anos e há 49 anos mora na região). Apenas um dos entrevistados mostrou saudosismo, afirmando que a vida em épocas anteriores era muito melhor do que a vida nos dias hoje. - "Sinto saudades dos familiares que já morreram, dos costumes de antigamente, do respeito das pessoas, da tranquilidade de sair de casa. A mão de obra era melhor, hoje não pode plantar nada; os vagabundos vem a noite e roubam tudo; isso aqui acabou, não pode fazer mais nada. (...) Se Deus quiser vou vender tudo isso aqui, e comprar umas terras onde exista respeito pelas coisas dos outros. Aqui não tem jeito, a polícia não tem condições de fazer mais nada, as leis não permitem. (...)." (R.F.C., 71anos de idade e há 71 anos mora na região). O depoimento deste entrevistado está em consonância com as ideias de Almeida e Koury (2014) que afirmam que o discurso que as pessoas adotam no presente, está 78 associado às posições social e econômica que elas tiveram no passado. Este entrevistado é fazendeiro, nascido e criado na região. Na sua fazenda, sempre tiveram vários empregados. Era dono de uma das olarias, criava mulas, porcos e gado leiteiro. Vários hectares de suas terras eram destinados às plantações de milho e de feijão. Com a expansão urbana e os impactos gerados por ela, fica evidente que ele passa a ter dificuldades para manter as atividades econômicas que exercia no passado, o que lhe gera saudosismo. Apesar do processo de ocupação e urbanização da região, mesmo gerando impactos ambientais e sociais, principalmente, no âmbito da segurança pública, é considerado positivo para a qualidade de vida da maioria dos entrevistados, pois no início dessa ocupação, eles viveram a carência de todos os serviços públicos e privados, o que tornava a vida mais difícil. Para finalizar este diálogo, os interlocutores falavam sobre a possível contribuição das escolas para o desenvolvimento da região. Neste item, 10 dos 16 moradores afirmaram que as escolas são importantes para educar as pessoas devido à falta de tempo dos pais e a educação pode ajudar no desenvolvimento da região, principalmente, nas questões socioambientais. Sete dos moradores afirmaram ainda que a escola é formadora de caráter e opinião, podendo ajudar com medidas que possam contribuir para o desenvolvimento local. Porém, seis desses moradores não conseguem perceber a relevância das escolas para o desenvolvimento da região. Segundo eles, o desenvolvimento está mais associado às medidas do governo ou das empresas que irão se instalar na região. Outra percepção é que se depender da educação para desenvolver a região, seria muito complicado, pois os jovens a cada ano estão mais difíceis, não respeitam aos pais, muito menos, aos professores. Conforme depoimentos a seguir. - "Acho que a educação é importante, vai ensinar esses meninos que não pode jogar lixo em qualquer lugar. E educação hoje é a escola, os pais só põe (sic!) no mundo, esses meninos ficam jogados por aí. Não sei pra que pô filho no mundo." (A.W.D.C., 59 anos de idade e há 59 anos mora na região). - "É difícil, hoje esses jovens não respeitam ninguém, se depender de educação, vou morrer e isso continua como está." (M.S.D.S., 59 anos de idade e há 54 anos mora na região). 79 - "Sem dúvida, educando este povo, pode melhorar (...). Quem sabe ficamos igual nos Estrangeiro. (...) Educação muda as pessoas.” (J.A.D.C., 71 anos e há 49 anos mora na região). Baseado nesta análise, o pesquisador percebe que a qualidade de vida nos períodos iniciais da ocupação da região da bacia do Córrego Bom Jesus (MG) era ruim, com baixa infraestrutura, ineficiência do transporte público e poucas possibilidades de trabalho. Entretanto, esta falta de infraestrutura obrigava os moradores a terem uma relação mais próxima com os córregos da região, para suprir as suas necessidades diárias de uso da água. Mas, essa relação foi se perdendo com os processos de urbanização e ocupação predatória da região. Apesar da situação descrita pelos primeiros moradores da região sobre a qualidade de vida, os mesmos afirmam que essa melhorou ao longo dos anos. Nessa perspectiva, a maioria dos entrevistados acredita que a educação pode auxiliar no desenvolvimento da região, pois sendo a escola formadora de opinião, podem contribuir para a formação de um indivíduo cidadão: participativo, proativo e coerente em suas decisões, permitindo que o desenvolvimento local seja embasado na colaboração das pessoas e entidades como defende Inojosa (2001), Tenório (2008) e Sen (2010). Assim, propõe-se um processo de gestão social capaz de proporcionar mudanças na realidade local, com a participação das pessoas de forma ativa, contribuindo com o seu desenvolvimento conforme os estudos de Lopes, Melo e Tenório (2012) e Dowbor (2013). 3.1.5 Considerações finais Nos anos iniciais do processo de ocupação, a qualidade de vida era precária, porém ocorreram melhorias na bacia do Córrego Bom Jesus a partir das décadas de 1980 e 1990 com a instalação de empresas, pois com a chegada de trabalhadores para as empresas que se instalavam nessa região, o comércio na região foi sendo ampliado e o governo investiu em medidas de gestão para o social, asfaltando ruas, criando escolas e postos de saúde. 80 Estas medidas e o comércio em crescimento, mesmo que precariamente, possibilitaram um avanço na qualidade de vida dos primeiros moradores da região, pois como afirma Dowbor (2013, p.17), "A atividade econômica é um meio, o bemestar social é o fim." Neste contexto, os moradores passaram a perceber os impactos socioambientais, como algo necessário para o progresso da região. Os impactos socioambientais na bacia do Córrego Bom Jesus oriundos do processo de ocupação e urbanização são consideráveis, pois as ocupações irregulares contribuíram para a poluição da Lagoa da Pampulha e prejudicavam a qualidade de vida dos habitantes. Entretanto, projetos participativos dentro do Comitê de Bacia, embasados pela PNRH, com a participação do governo, das empresas e da sociedade civil organizada remetem à gestão social e têm como objetivos melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes bem como contribuir para a despoluição da Lagoa da Pampulha através da realização de obras de esgotamento sanitário e revitalização de praças. Mas, como observado nos relatos das histórias orais compartilhadas por antigos moradores e, com base nas pesquisas bibliográficas, uma participação das instituições de ensino da região, dentro de um processo de gestão intersetorial verdadeiramente efetivo, isto é, com a participação da sociedade civil, empresas, governo e entidades não governamentais como defende Inojosa (2001) e Tenório (2008) contribuiram significativamente para a melhoria da qualidade ambiental local resultando em qualidade de vida para a região. Como a escola é formadora de opinião, esta pode contribuir no desenvolvimento crítico de seus alunos, para que estes sejam capazes de participar proativamente dos processos de desenvolvimento local. De acordo com a percepção dos moradores mais antigos, a urbanização propiciou melhorias na qualidade de vida, pois viveram períodos difíceis com a ausência de todos os serviços públicos e privados. Assim, para eles, a urbanização gerou o desenvolvimento da região, que hoje tem escolas, postos de saúde, energia elétrica, asfalto, redes de água e esgoto, entre outras melhorias estruturais. 81 Esta pesquisa teve várias vantagens como a participação direta do professor pesquisador com alunos e moradores da região, gerando riqueza de detalhes nas respostas obtidas. Nesse contexto, foi possível observar as expressões faciais e o tom de voz dos entrevistados que ao darem maior ou menor entonação, evidenciaram como essas lembranças que lhes vinham à mente. Esta é uma vantagem deste trabalho sobre pesquisas apenas quantitativas. Os relatos dos moradores mais antigos são relevantes para esta pesquisa, pois ajudaram a conhecer o passado da região para compará-lo à realidade presente e para buscar ações que promovam o desenvolvimento consciente. Entender as lembranças e os sentimentos de pertencimento dos moradores é uma forma de incentivo para que os alunos adotem ações que propiciem o desenvolvimento local. Essa pesquisa é importante para a elaboração de Agenda 21 Escolares, pois permite conhecer a história de ocupação da região e identificar a percepção dos moradores mais antigos sobre o desenvolvimento gerado pela urbanização, bem como os seus impactos socioambientais, permitindo aos jovens conhecer a realidade local e entender as suas transformações ao longo dos anos. Para esses moradores, os impactos gerados pela urbanização no meio ambiente tais como: desmatamento, assoreamento, poluição, sâo frutos do desenvolvimento da região. Desta forma, a construção da Agenda 21 Escolar busca formar atores sociais que possam transformar essa realidade e que busquem através da intersetorialidade alternativas para o desenvolvimento da região de maneira sustentável. O número reduzido de moradores que vivem na região há mais de 40 anos caracteriza-se como uma limitação desta pesquisa. Espera-se que com a disponibilização destas informações, este artigo possa contribuir para trabalhos futuros que busquem discutir a importância dos processos de urbanização para o desenvolvimento local a partir do resgate histórico através das histórias orais de 82 seus moradores mais antigos, dos documentos e fotografias existentes que permitiram caracterizar a bacia do Córrego Bom Jesus. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paulo Roberto de; KOURY, Yara Aun. História Oral e Memórias Entrevista com Alessandro Portelli. Revista História & Perspectivas, UberlândiaMG, v. 27, n. 50, p.197-226, jan./jun. 2014. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011, 229p. BATISTA, Fábio Giovanni de Araújo; OLIVEIRA, Douglas dos Santos; QUEIROZ, Felipe Raphael Paganini de. 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Os dados mostram que as opiniões dos entrevistados não apresentam diferenças significativas quanto ao gênero, porém foram encontradas diferenças nas dimensões: Qualidade socioambiental, Aspectos econômicos e Papel da educação. A localização das escolas e o nível de escolaridade dos alunos interferem na maneira como os alunos percebem a região onde habitam. Os dados da pesquisa revelam uma influência da educação ambiental sobre os alunos, e ela interfere na qualidade socioambiental de um local. Observouse que 74,6% dos entrevistados consideram a participação da comunidade primordial para desenvolvimento da região. Ao investigar verificou-se que eles também são de opinião de que não se deve apenas aguardar as ações dos governos e que há necessidade de se propor iniciativas que melhorem o bem comum. Para os alunos questionados, as condições socioambientais da bacia do Córrego Bom Jesus não são satisfatórias. Os alunos acreditam que a educação tem papel importante para o desenvolvimento da região. Palavras-chave: Urbanização. Educação ambiental. Desenvolvimento local 7 Geógrafo, Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, especialista em Educação Ambiental, professor de Geografia e Educação Ambiental. E-mail: [email protected]. 8 Bióloga, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]. 88 The environmental awareness of high school students on the Basin Stream Bom Jesus ABSTRACT Urbanization Basin Stream Bom Jesus at various times irregularly interfered in local environmental quality and therefore quality of life of its inhabitants. Therefore, this article aims to analyze the environmental awareness of high school students of educational institutions located in the Basin Stream Bom Jesus, in the year 2015. There were 315 validated questionnaires with 27 questions, to high school students, schools state in the region studied in this research. All data collected were statistically analyzed. The data show that the views of respondents do not differ significantly according to gender, but differences were found in the dimensions: environmental quality, economic aspects and role of education. The location of schools and the education level of the students influence the way students perceive the region where they live. The survey data reveal an influence of environmental education for students, and it interferes with social and environmental quality of a site. It was observed that 74.6% of respondents consider the participation of the primary community for development of the region. While investigating it was found that they also are of the opinion that one should just wait for government action and there is no need to propose initiatives that improve the common good. For students questioned, social and environmental conditions of the basin Stream Bom Jesus are not satisfactory. Students believe that education plays an important role in the development of the region. Keywords: Urbanization. Environmental education. Local development 3.2.1 Introdução O Córrego Bom Jesus situado no município de Contagem (MG), é um dos principais afluentes da Lagoa da Pampulha, cujos impactos socioambientais foram consideráveis durante o processo de ocupação e urbanização e afetaram negativamente essa bacia hidrográfica. Este trabalho se faz necessário, pois conhecer a percepção socioambiental dos alunos do Ensino Médio, considerando os impactos gerados pela ocupação urbana, possibilita identificar as ações educativas necessárias para um processo de gestão social que contribua para o desenvolvimento local e, consequentemente, para melhorias na qualidade de vida dos habitantes da região. 89 Nesse contexto, a urbanização da região em vários momentos de forma irregular interferiu na qualidade socioambiental local e, consequentemente, na qualidade de vida de seus habitantes. Por isso, esse artigo objetiva-se analisar a percepção socioambiental dos alunos do Ensino Médio das instituições de ensino localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus. 3.2.2 Referencial Teórico Os processos de urbanização e industrialização brasileira, na década de 1970, mudaram a organização espacial do país, aumentando o número de habitantes nas cidades e diminuindo os do campo (ROLNIK, 2012; SANTOS, 2013). Este fato pode ser percebido na bacia do Córrego Bom Jesus, cujos processos de urbanização se intensificaram com a instalação das primeiras indústrias na região na década de 1970 (PIRONI, 2009). A urbanização propiciou um aumento dos impactos socioambientais na região bacia do Córrego Bom Jesus, pois muitas construções foram erguidas de forma irregular, por pessoas que migravam para a região em busca de trabalho ou pelo valor mais baixo agregado a terra (PIRONI, 2009). No Brasil e no mundo, as ocupações modificaram o espaço, interferindo na qualidade de vida dos habitantes (SANTOS, 2013), criando uma população marginalizada, sem acesso a muitos serviços públicos (DIAS, 1994) como, energia elétrica, água encanada, hospitais, segurança, escolas. Além disso, as cidades passaram a ser o centro das decisões sociais e políticas abrigando um número cada vez maior de habitantes (ROLNIK, 2012). Para muitas pessoas, morar em cidades está associado à busca por melhorias na qualidade de vida (SOEIRO, FERREIRA e BRASILEIRO, 2014) fato que foi observado na Bacia do Córrego Bom Jesus, pela análise da percepção dos alunos. Entretanto, qualidade de vida é um termo inerente a cada pessoa, pois o que é qualidade de vida para uns pode não ser para outros, podendo estar associado à 90 educação, lazer, saúde, desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, bem estar, entre outros (SOUZA, MARTINS e PAZ, 2015). Desta forma, conhecer a percepção socioambiental dos alunos do Ensino Médio na Bacia do Córrego Bom Jesus foi importante, pois segundo Durkheim (2009), a percepção desses indivíduos permite compreender a interpretação dessas pessoas do espaço em que vivem e se relacionam, o que permitiu identificar o que é qualidade de vida para os jovens desta região, possibilitando criar ações educativas que visem o desenvolvimento local e a qualidade de vida na região. Segundo Freire (2011), através da educação, é possível despertar a criticidade nos alunos, permitindo criar atores sociais capazes de gerar melhorias para a região onde vivem, contribuindo assim para a qualidade de vida e para o desenvolvimento local (DOWBOR, 2013). Segundo Alves (2013, p.451), a educação ambiental "tornou-se um instrumento mediador de interesses e conflitos dos diferentes atores sociais". Inojosa (2001) compartilha desta ideia e afirma que através de ações educativas é possível, formar atores sociais que lutem por melhorias socioambientais o que pode melhorar a qualidade de vida local. Neste contexto, a educação assume um papel importante no desenvolvimento da bacia do Córrego Bom Jesus, cujos processos de ocupação e urbanização interferem na qualidade socioambiental. Reigota (2009) afirma que através da educação ambiental, os alunos passam a ter uma percepção diferenciada do local onde vivem, pois passam a refletir sobre os impactos socioambientais locais. Pessoa e Braga (2012) corroboram com estas ideias e afirmam que atividades de trabalho de campo dentro da Educação Ambiental, propiciam uma maior reflexão e percepção dos impactos ambientais locais. Dias (2006) completa que a educação ambiental, quando tratada de forma interdisciplinar, proporciona resultados mais satisfatórios em termos de percepção e reflexão do espaço local. Entretanto, Alves (2013) alerta que a educação ambiental 91 não deve ficar restrita ao tema ecologia e, sim, abordar os diferentes temas socioambientais (presentes nos diferentes conteúdos e vivências) que gerem impactos sobre uma região. Desta forma, identificar a percepção socioambiental dos alunos do Ensino Médio, na Bacia do Córrego Bom Jesus, permite criar ações educativas específicas para a área em questão, propiciando desenvolvimento local, pois como define Durkheim (2009), a percepção é importante, pois é uma forma de se adquirir conhecimento. Segundo Garrido e Meirelles (2014), identificar a percepção dos alunos é importante, pois permite identificar as relações que os alunos possuem com os lugares, possibilitando a compreensão dos significados que os elementos naturais e sociais locais possuem na vida de cada um. Assim, a percepção contribui para o desenvolvimento local, pois permite desenvolver ações participativas que busquem melhorias para a região, como observado no trabalho de Sen (2010), que defende a ideia de que desenvolvimento local é conseguir um capital social, ou seja, é buscar através da solidariedade entre as pessoas de um mesmo lugar o bem estar coletivo. Entretanto, é importante que ocorra a participação dos diferentes setores, civil, público e privados para o desenvolvimento de ações de gestão social que busquem o desenvolvimento local (INOJOSA, 2001; TENÓRIO, 2008; DOWBOR, 2013) e, consequentemente, melhorias na qualidade de vida da população local, pois o desenvolvimento ocorre com a integração de todos os setores, buscando alternativas através do empreendedorismo social, que vise práticas inovadoras e a participação coletiva (SEN, 2010). 3.2.3 Metodologia Inicialmente, foram aplicados questionários estruturados, aos alunos do Ensino Médio, em cinco instituições de ensino público (Tabela 3 ), na Regional Nacional 92 (Figura 8), pertencente à Bacia do Córrego Bom Jesus, sendo aplicados e validados 315 questionários. Figura 8: Regiões Administrativas do Munícipo de Contagem Fonte: Contagem, 2015 A amostragem para a pesquisa foi composta de forma aleatória simples em que todos os alunos tiveram a mesma probabilidade de serem escolhidos, sendo contemplados no máximo 40% dos alunos de cada sala, sendo estes sorteados, não havendo intervenção nessa amostragem. Tabela 3 - Número de alunos do Ensino Médio matriculados em cada instituição . Instituição E.E. do Bairro Carajás Alunos matriculados no Ensino Médio 177 E.E. Maria de Salles Ferreira 510 E.E. Ministro Miguel Mendonça 530 E.E. Presidente Tancredo Neves 463 Funec Pampulha 115 TOTAL 1735 Fonte: Secretaria de cada Instituição de Ensino, 2015 93 Segundo Santos 𝑁.𝑍 2 .𝑝.(1 −𝑝) 𝑍 2 .𝑝(1−𝑝)+ 𝑒 2 .(𝑁−1) (2014), utilizando a fórmula de cálculo amostral, 𝑛= , sendo que n é a amostra calculada; N, a população; Z, variável normal padronizada associada ao nível de confiança, p a verdadeira probabilidade do evento e e, o erro amostral, considerando 95% de confiança e 5% de margem de erro, definiu-se como amostra significativa, 315 respondentes para o questionário de percepção socioambiental. Após definir o número total de indivíduos, estratificou-se a amostra mantendo um padrão homogêneo de idade, classes sociais, série, entre outros (MINGOTI et al., 2001, p.19), conforme apresentado na Tabela 4. Tabela 4 - Proporcionalidade de entrevistados e o número de alunos Instituição Proporcionalidade em % Total de alunos de cada Instituição de Ensino E.E. do Bairro Carajás 6,7 21 E.E. Maria de Salles Ferreira 29,4 93 E.E. Ministro Miguel Mendonça 30,6 96 E.E. Presidente Tancredo Neves 26,7 84 Funec Pampulha 6,6 21 TOTAL 100 315 Nota: Total de alunos com arredondamentos Para a coleta de dados quantitativos, o questionário (Apêndice A) deveria ter sido aplicado utilizando a ferramenta Google Docs que é gratuita e facilita a aplicação do questionário, pois é on line. Entretanto, no mês de Fevereiro de 2015, período agendado junto à direção das escolas para a aplicação desses questionários, estas estavam sem internet, pois o contrato de prestação de serviços havia se expirado. Assim, os questionários foram xerocados e os dados foram compilados em planilha do Excel transportados para o software SPSS 21.0. 94 O questionário foi elaborado com perguntas de múltipla escolha e com perguntas utilizando a escala de Likert. Essa escala possibilita uma graduação quantificada da percepção dos entrevistados, gerando valores de satisfação entre 1 a 5, em que 5 é ótimo; 4 é muito bom; 3 é bom; 2, regular e 1, ruim. Esses dados foram tratados estatisticamente, utilizando inicialmente a Análise Fatorial de Hair et al. (2009). As técnicas estatísticas multivariadas são muito usadas principalmente quando o número de variáveis estudadas é muito grande. Para reduzir o número de variáveis com o intuito de obter um número suficiente de fatores que conseguem explicar boa parte das informações coletadas. Para isso, foi utilizada a Análise Fatorial Exploratória. O objetivo dessa análise é agrupar as variáveis (itens) que possuem alta correlação linear. Neste trabalho, as variáveis foram agrupadas em cinco fatores, descritos na Tabela 6. Na Tabela 5, o valor do KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) se mostra adequado na extração desses cinco fatores, assim como, o teste de esfericidade de Bartlett, sendo significativo ao nível 1%, ou seja, assumi-se que a matriz de correlação dos itens não é uma matriz identidade. Tabela 5 - Teste de adequação da Análise Fatorial Exploratória, Teste de KMO e Bartlett Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) Teste de esfericidade de Bartlett Qui-quadrado 95prox.. Df Sig. ,819 1175,337 120 ,000 Nota: Medida de adequação de amostragem Fonte: Elaborado pelo autor. Na Tabela 6, é apresentado um resumo da Análise Fatorial Exploratória com média e desvio de cada item (questão), média resumo e percentual de variância extraída por cada fator. O total de fatores dessa análise foi de cinco dimensões tendo como total de variância extraída, o valor de 58,22%. 95 Tabela 6 - Tabela resumo da Análise Fatorial Exploratória Item Média do Item Desvio padrão do Item Q11 1,97 1,0837 Q12 2,69 0,9793 Q13 2,49 1,0629 Q17 2,07 1,1277 Q18 2,33 1,0880 Q19 2,13 1,0164 Q20 2,71 1,0658 Q15 3,23 0,9743 Q16 3,51 1,0416 Q21 2,99 0,9082 Q23 2,81 0,9225 Q24 3,58 1,0260 Q25 3,57 1,0928 Q26 2,84 1,0315 Responsabilidade ambiental Q14 3,07 Mudança de região Q22 2,96 Fator Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Média resumo % Variância Extraída 2,34 28,338 3,14 9,017 3,33 8,146 1,1196 3,07 6,382 1,5073 2,96 6,339 Fonte: Elaborado pelo autor. Para confirmar que os itens realmente estão correlacionados dentro do fator (dimensão), estabelecido pela Análise Fatorial Exploratória, foi feito a análise de confiabilidade e a Análise Fatorial Confirmatória. Na Tabela 7, é apresentado um resumo dos resultados obtidos. A estatística Alpha de Cronbach testa a confiabilidade dos itens quanto à sua correlação entre eles, buscando valores próximos de 1. Segundo Nunnaly (1978), os valores menores que 0,5 são considerados inaceitáveis, entre 0,5 – 0,6 (pobres), 0,6 - 0,7 (questionáveis), 0,7 0,8 (aceitáveis), 0,8 - 0,9 (bons) e maiores que 0,9 (excelentes). Entretanto, valores superiores a 0,6 são dados como aceitáveis. Desta forma, nenhum fator obteve o valor do Alpha de Cronbach abaixo do especificado. Para os fatores com somente um item, não foi possível realizar esta análise. Outro ponto a ser colocado é que tanto o KMO quanto o teste da esfericidade de Bartlett foram satisfatórios para a confirmação dos fatores (dimensões), criadas na Análise Fatorial Exploratória. Contudo, a variância explicada em alguns fatores, foi 96 inferior aos 50%, considerado estatisticamente como adequado, o que não inviabiliza a análise do fator proposto. Tabela 7 - Análise Fatorial Confirmatória e análise de confiabilidade Número de Itens KMO Bartlett % Variância Explicada Alpha de Cronbach Qualidade socioambiental 7 0,783 349,79 38,00 0,723 Aspectos econômicos 4 0,696 324,05 58,04 0,758 Papel da educação 3 0,615 105,111 55,97 0,604 Responsabilidade ambiental 1 - - - - Mudança de região 1 - - - - Dimensões Fonte: Elaborado pelo autor. Posteriormente, foi utilizado a análise de variância (ANOVA), observando o índice de significância entre as dimensões comparando 3 ou mais médias, tendo um valor superior a 0,5 para um grau de confiabilidade de 5% e foi realizado o Teste de Tukey que compara as dimensões duas a duas, buscando significância entre elas (TRIOLA, 2008). A pesquisa observou os aspectos éticos. Sendo assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, sob o n° 39195814.0.0000.5098 (Anexo A) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP - Centro Universitário UNA), conforme a Resolução nº 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos no Brasil. As pessoas participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndices E, F, G, H e I), emitido em 2 (duas) vias, sendo que uma delas ficou com o entrevistado. 97 3.2.4 Resultados A educação ambiental, como define a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), Lei no 9.795/1999, busca formar cidadãos críticos em relação ao meio ambiente, para que estes possam ser agentes de mudanças nesse local. Nesta perspectiva, conhecer a percepção socioambiental dos alunos do Ensino Médio na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG) é relevante para o fomento de ações educativas que visem o desenvolvimento local. A partir das respostas analisadas do questionário, ficou evidente que a percepção socioambiental dos alunos entrevistados não foi divergente em relação ao gênero, ao ser realizado Teste t para comparar as duas médias de cada dimensão como demonstra a Tabela 8. Ao nível de 5%, em nenhuma das cinco dimensões houve diferença significativa entre as médias do gênero feminino e masculino, pois todos obtiveram valores superiores a 0,05. Porém ao nível de 10% (0,1), apenas na dimensão Mudança de região, houve diferença significativa (valor p = 0,086), do qual a média do sexo feminino foi de 3,10 e do masculino igual a 2,81 (Tabela 6). Com base nesses dados, é possível afirmar que as pessoas do gênero feminino mencionaram um maior desejo de mudar da região estudada. Tabela 8 - Comparação de Gênero Dimensão Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Responsabilidade ambiental Mudança de região Sexo N Média Desvio-padrão Feminino 157 2,28 0,68 Masculino 158 2,40 0,62 Feminino 157 3,07 0,74 Masculino 158 3,20 0,73 Feminino 157 3,31 0,76 Masculino 158 3,35 0,81 Feminino 157 3,12 1,05 Masculino 158 3,01 1,18 Feminino 157 3,10 1,46 Masculino 158 2,81 1,54 Teste t Valor p 2,66 0,104 2,52 0,113 0,19 0,667 0,74 0,391 2,97 0,086 Fonte: Elaborado pelo autor. 98 Para avaliar se existe diferença entre as médias de cada ano do Ensino Médio em cada dimensão criada (Tabela 9), foram utilizados o Teste F (ANOVA) e o Teste de Tukey. Ao nível de 5%, as dimensões Qualidade socioambiental, Papel da educação e Responsabilidade ambiental apresentaram diferenças significativas. Observou-se que na dimensão Qualidade socioambiental, a média para o 3º Ano do Ensino Médio foi de 2,18, sendo diferente estatisticamente (nível de 5%) das médias dos 1º e 2º Anos. Contudo, as médias do 1º e 2º Anos do Ensino Médio não são diferentes estatisticamente, apresentando respectivamente os valores de 2,48 e 2,40 (Tabela 9). Esses dados possibilitam afirmar que na visão dos alunos do 1o e 2o Anos a qualidade socioambiental da região é melhor do que na visão dos alunos do 3o Ano. Para Papel da educação, as médias do 1º e do 2º Anos do Ensino Médio possuem diferença significativa, ao nível de 5%, sendo que o valor observado foi de 3,13 e 3,52, respectivamente (Tabela 9). Porém, ao comparar a média do 3º Ano do Ensino Médio (valor de 3,37) com as médias do 1º e do 2º Anos, não foi encontrada diferença significativa (nível de 5%). Desta forma, é possível afirmar que para todas as séries a educação é importante, pois a menor média foi de 3,13, entretanto os alunos do 2o Ano são os que mais acreditam no papel da educação. Por fim, para a Responsabilidade ambiental, o Teste F apontou diferença significativa entre as três médias de cada ano do Ensino Médio. Contudo, ao compará-los dois a dois, utilizando o teste de Tukey, não foi verificada essa diferença ao nível de 5%. Os valores das médias do 1º, 2º e 3º Anos do Ensino Médio foram 2,95; 3,32 e 2,98, respectivamente, conforme descrito na Tabela 9. Assim, conclui-se que o nível de escolaridade interfere na percepção que os alunos apresentam para as dimensões: Qualidade Socioambiental, Papel da Educação e Responsabilidade Ambiental, demonstrando que os estímulos recebidos e o conteúdo trabalhado na educação formal contribuem para essa percepção. 99 Tabela 9 - Comparação das Dimensões por Séries Dimensão Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Ano Média 1º Ano Ensino Médio 107 2,48 0,69 2º Ano Ensino Médio 89 2,40 0,62 3º Ano Ensino Médio 119 2,18 0,60 1º Ano Ensino Médio 107 3,04 0,73 2º Ano Ensino Médio 89 3,25 0,79 3º Ano Ensino Médio 119 3,13 0,68 1º Ano Ensino Médio 107 3,13 0,74 Tukey A 6,50 0,002 A B A 1,98 0,140 A A B 6,35 0,002 2º Ano Ensino Médio 89 3,52 0,77 3º Ano Ensino Médio 119 3,37 0,81 AB 1º Ano Ensino Médio 107 2,95 1,13 A 89 3,32 1,22 119 2,98 1,01 A 1º Ano Ensino Médio 107 2,77 1,46 A 2º Ano Ensino Médio 89 2,97 1,53 3º Ano Ensino Médio 119 3,12 1,53 Responsabilidade 2º Ano Ensino Médio ambiental 3º Ano Ensino Médio Mudança de região Desvio- Teste Valor p padrão F N 3,10 1,54 0,046 0,216 A A A A Fonte: Elaborado pelo autor. Entretanto, quando se avaliou a diferença entre as médias de idade em cada dimensão através dos Testes F (ANOVA) e Tukey ao nível de 5%, descritos na Tabela 10, constatou-se diferença significativa na dimensão Mudança de região, com valor p = 0,042. A maior média foi encontrada na faixa etária entre 17 e 18 anos (3,30) e, na faixa etária 19 anos ou mais, a menor média, igual à 2,67. Contudo ao aplicar o Teste Tukey, apenas a faixa etária entre 15 e 16 anos apresentou diferença significativa em relação aquela de 17 e 18 anos. Através das médias, foi possível afirmar que o desejo de mudar para outras regiões é maior entre os jovens na faixa etária entre 17 e 18 anos. Nesse contexto, ressalta-se que a idade não interfere nas dimensões Qualidade socioambiental, Aspectos econômicos, Papel da educação e Responsabilidade ambiental, pois não foram verificadas diferenças significativas ao nível de 5% (Tabela 10). 100 Tabela 10 - Idade dos Paticipantes Idade N Média Desviopadrão entre 13-14 anos 21 2,56 0,76 entre 15-16 anos 189 2,37 0,69 entre 17-18 anos 102 2,26 0,54 A 19 anos ou mais 3 1,91 0,72 A entre 13-14 anos 21 3,02 0,88 A entre 15-16 anos 189 3,14 0,71 entre 17-18 anos 102 3,15 0,72 A 19 anos ou mais 3 2,75 1,52 A entre 13-14 anos 21 3,06 0,73 A entre 15-16 anos 189 3,37 0,79 entre 17-18 anos 102 3,33 0,79 A 19 anos ou mais 3 3,00 0,33 A entre 13-14 anos 21 3,00 1,30 A entre 15-16 anos 189 3,06 1,14 entre 17-18 anos 102 3,09 1,06 A 19 anos ou mais 3 3,00 1,00 A entre 13-14 anos 21 2,71 1,45 AB entre 15-16 anos 189 2,80 1,45 entre 17-18 anos 102 3,30 1,58 A 19 anos ou mais 3 2,67 1,53 AB Dimensão Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Responsabilidade ambiental Mudança de região Teste F Valor p Tukey A 1,89 0,47 1,17 0,04 2,76 0,131 0,705 0,323 0,989 0,042 A A A A B Fonte: Elaborado pelo autor. Para avaliar se existia diferença entre as Escolas em cada dimensão pesquisada (Tabela 11), foram utilizados os testes F (ANOVA) e o de Tukey. Observou-se uma diferença significativa nas dimensões Qualidade socioambiental, Aspectos econômicos e Papel da educação, a nível estatístico de 5%. Nas outras dimensões, Responsabilidade social e Mudança de região não foram constatadas diferenças estatisticamente significativas. 101 Tabela 11 - Escolas da Região Dimensão Qualidade socioambiental Desvio- Teste Média padrão F Escola N E.E. Carajás 21 2,28 0,64 E.E. Maria de Salles Ferreira 93 2,61 0,68 Valor p Tukey ABC A 8,32 0,000 E.E. Presidente Tancredo Neves 83 2,38 0,62 E.E. Ministro Miguel Mendonça 97 2,11 0,56 C Funec Pampulha 21 2,16 0,64 BC E.E. Carajás 21 2,92 0,77 AB E.E. Maria de Salles Ferreira 93 3,33 0,82 A E.E. Presidente Tancredo Neves 83 3,16 0,72 E.E. Ministro Miguel Mendonça 97 2,95 0,60 B Funec Pampulha 21 3,25 0,71 AB E.E. Carajás 21 3,05 0,94 A E.E. Maria de Salles Ferreira 93 3,46 0,82 A E.E. Presidente Tancredo Neves 83 3,39 0,72 E.E. Ministro Miguel Mendonça 97 3,19 0,76 A Funec Pampulha 21 3,49 0,70 A E.E. Carajás 21 2,95 1,40 A E.E. Maria de Salles Ferreira Responsabilidade E.E. Presidente Tancredo Neves ambiental E.E. Ministro Miguel Mendonça 93 2,94 1,19 Aspectos econômicos Papel da educação Mudança de região 83 3,30 1,00 4,00 2,51 0,004 0,042 AB AB A A 1,48 0,209 A 97 3,06 1,08 A Funec Pampulha 21 2,86 1,11 A E.E. Carajás 21 3,33 1,59 A E.E. Maria de Salles Ferreira 93 2,93 1,51 A E.E. Presidente Tancredo Neves 83 2,92 1,44 E.E. Ministro Miguel Mendonça 97 2,92 1,55 A Funec Pampulha 21 3,05 1,53 A 0,39 0,819 A Fonte: Elaborado pelo autor. Na dimensão Qualidade socioambiental, o teste F apresentou diferença significativa entre as escolas participantes da pesquisa ao nível de 5%. Entretanto, ao comparar as escolas duas a duas pelo teste de Tukey, constatou-se que as Escolas Estaduais Ministro Miguel Mendonça e Maria de Salles Ferreira, apresentaram diferenças significativas entre elas, com médias de 2,61 e 2,11 respectivamente, não existindo correlação com nenhuma outra instituição de ensino pesquisada (Tabela 11). Esses dados possibilitam afirmar que para os alunos de todas as escolas a qualidade socioambiental da região não é boa, sendo considerada melhor pelos alunos da E.E. Maria de Salles Ferreira, apesar de estar localizada em uma região de grande periculosidade, com disputas intensas por pontos de tráfico de drogas. 102 Figura 9: Localização das escolas Fonte: Google, 2015 Na dimensão Aspectos econômicos, foi observada diferença estatística significativa, como na dimensão Qualidade Socioambiental apenas entre a E.E. Maria de Salles Ferreira e E.E. Ministro Miguel Mendonça, com médias de 3,33 e 2,95 descritas respectivamente na Tabela 11. O que demonstra que os aspectos econômicos, da região onde fica localizada a E.E. Ministro Miguel Mendonça são os piores entre todas as escolas estudadas. Por fim, na dimensão Papel da educação, o Teste F apontou diferença significativa entre as escolas, E.E. Carajás com média 3,05; E.E. Maria de Salles Ferreira, com média de 3,46; E.E. Presidente Tancredo Neves com média de 3,39; E.E. Ministro Miguel Mendonça com média de 3,19 e Funec Pampulha com média de 3,49. Mas, ao comparar as escolas duas a duas através do Teste Tukey, não foi encontrada diferença significativa ao nível de 5% (Tabela 11). Ao analisar a Tabela 11, fica evidente que o local em que cada instituição de ensino está situada, interfere na percepção que os seus alunos apresentam da região, o 103 que pode ser explicado pela desigual distribuição dos serviços públicos e privados, na região da Bacia do Córrego Bom Jesus. Além disso, algumas áreas apresentam um índice maior de violência, em outras a poluição por resíduos sólidos é mais acentuada. Assim, pode-se afirmar que o espaço de vivência dos alunos ao redor de cada instituição de ensino interfere em sua percepção sobre a região o que ficou evidente nos resultados apresentados nessa tabela. Para amenizar as diferenças de percepção entre os alunos das diferentes instituições de ensino, atividades de trabalho de campo pela região seriam pertinentes, pois auxiliariam no desenvolvimento da percepção dos alunos para os problemas socioambientais como visto nos estudos de Pessoa e Braga (2012) e Araújo e Quaresma (2014). Ao analisar se o tempo que os alunos residem nessa região interfere na média de cada dimensão (Tabela 12), não foram constatadas diferenças estatisticamente significativas. Entretanto, pelo Teste F, observou-se que a dimensão Papel da educação ficou próximo da significância, com valor p = 0,051, não havendo diferenças estatísticas entre eles, pelo Teste de Tukey. Desta forma, conclui-se que o tempo que os alunos residem na região, não interfere na percepção que estes possuem para as dimensões estudas. Este fato é explicado no trabalho de Pessoa e Braga (2012) ao afirmarem que as pessoas ao viverem cotidianamente em uma região não percebem os impactos que ali estão ocorrendo. Por isso, a escola deve através da educação ambiental, buscar alternativas para que os alunos desenvolvam percepção crítica dos impactos socioambientais presentes na região em que vivem. 104 Tabela 12 - Tempo que reside na Região estudada. Dimensão Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Responsabilidade ambiental Mudança de região Teste F Valor p Teste de Tukey Q1 N Média Desviopadrão menos de 1 ano 22 2,50 0,82 entre 1 e 5 anos 54 2,47 0,64 entre 5 e 10 anos 57 2,30 0,55 A mais de 10 anos 182 2,30 0,66 A menos de 1 ano 22 3,17 0,92 A entre 1 e 5 anos 54 3,09 0,76 entre 5 e 10 anos 57 3,02 0,70 A mais de 10 anos 182 3,18 0,71 A menos de 1 ano 22 3,06 0,93 A entre 1 e 5 anos 54 3,44 0,76 entre 5 e 10 anos 57 3,15 0,76 A mais de 10 anos 182 3,39 0,77 A menos de 1 ano 22 3,23 0,97 A entre 1 e 5 anos 54 3,26 1,10 entre 5 e 10 anos 57 2,83 1,12 A mais de 10 anos 182 3,07 1,14 A menos de 1 ano 22 3,00 1,45 A entre 1 e 5 anos 54 3,00 1,55 entre 5 e 10 anos 57 3,18 1,36 A mais de 10 anos 182 2,87 1,55 A A 1,49 0,76 2,62 1,58 0,63 0,218 0,520 0,051 0,194 0,597 A A A A A Fonte: Elaborado pelo autor. Entretanto, quando os alunos foram questionados se gostavam de morar na região, e estes dados foram comparados com as cinco dimensões estudadas (Tabela 13), observou-se com o Teste de Tukey ao nível de 5%, que ocorreu diferença significativa nas dimensões Qualidade socioambiental (valor p = 0,000), Aspectos econômicos (valor p = 0,000), Papel da educação (valor p = 0,036), Mudança da região (valor p = 0,000), apenas na dimensão Responsabilidade ambiental, não ocorreu diferença estatisticamente significativa. Nessa análise foi constatado que 84% dos alunos afirmaram gostar de morar na região e gostar de morar na região, interfere na percepção que os alunos atribuíram para os aspectos de cada dimensão. Entretanto, para a dimensão Responsabilidade 105 ambiental, gostar de morar na região, não interfere na percepção desses indivíduos com relação à área estudada. Tabela 13 - Gostar de morar na região. Dimensão Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Responsabilidade ambiental Mudança da região Q2 N Média Desviopadrão Não 50 2,03 0,61 Sim 265 2,40 0,64 Não 50 2,81 0,64 Sim 265 3,20 0,73 Não 50 3,12 0,89 Sim 265 3,37 0,76 Não 50 2,90 1,00 Sim 265 3,10 1,14 Não 50 4,20 1,18 Sim 265 2,72 1,45 Teste t Valor p 14,19 0,000 12,54 0,000 4,44 0,036 1,32 0,252 46,37 0,000 Fonte: Elaborado pelo autor. Ao comparar as médias das dimensões em relação à capacidade dos alunos em identificar os córregos da região (Tabela 14), pelo Teste de T, ao nível de 5%, observa-se que ocorreu diferença significativa para as dimensões: Qualidade socioambiental (valor p = 0,007) e Papel da educação (valor p = 0,017). Tabela 14 - Identificar os Córregos da região Dimensão Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Q3 N Média Desvio-padrão Não 266 2,30 0,61 Sim 49 2,57 0,81 Não 266 3,11 0,71 Sim 49 3,29 0,85 Não 266 3,38 0,74 Sim 49 3,09 0,95 Não 266 3,05 1,10 1,22 Sim 49 3,18 Não 266 2,99 1,50 Sim 49 2,78 1,57 Responsabilidade ambiental Mudança de região Teste t Valor p 7,30 0,007 2,44 0,119 5,74 0,017 0,63 0,427 0,83 0,364 Fonte: Elaborado pelo autor. 106 Quando os alunos foram questionados se saberiam identificar os córregos da região pelos seus nomes, dos 315 participantes 266, ou seja, 84,4% dos respondentes afirmaram que não conseguiriam identificá-los. Este fato demonstra que a educação ambiental nessas escolas, ao relacionar os aspectos ambientais específicos da região, não está acontecendo de maneira eficiente. Para tanto, é possível modificar este quadro com visitas guiadas e trabalhos de campo, como observado nos trabalhos de Pessoa e Braga (2012) e Araújo e Quaresma (2014). O trabalho de campo e as visitas guiadas possibilitam a percepção dos alunos e a elaboração crítica das observações realizadas, o que pode gerar empoderamento local e formar cidadãos que sejam atores nos processos de gestão social que visem o desenvolvimento local, como observado em Inojosa (2001) e Dowbor (2013). Entretanto, quando os alunos foram questionados se eles tinham práticas de educação ambiental, 228 alunos (72,4%) disseram que não. Ao associar este fato com as informações obtidas nos grupos focais (Capítulo 3.3 - O Espaço Geográfico e os Impactos Socioambientais na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG): Um Enfoque na Educação Ambiental), notou-se que vários alunos que assinalaram não ter aulas de Educação Ambiental, estavam associando este tema a uma disciplina, pois no ano de 2014, as instituições públicas de Minas Gerais, haviam acrescentado na matriz curricular do Ensino Médio, a disciplina Educação Ambiental que perdeu o caráter disciplinar e retornou como tema transversal em 2015, conforme proposto na PNEA (BRASIL, 1999). Tabela 15 - Em sua escola, você tem aulas de Educação Ambiental? Dimensão Qualidade socioambiental Aspectos econômicos Papel da educação Responsabilidade ambiental Mudança de região Q4 N Média Desvio-padrão Não 228 2,31 0,66 Sim 87 2,44 0,63 Não 228 3,13 0,71 Sim 87 3,16 0,79 Não 228 3,33 0,80 Sim 87 3,33 0,75 Não 228 3,00 1,09 Sim 87 3,23 1,18 Não 228 3,00 1,48 Sim 87 2,84 1,58 Teste t Valor p 2,79 0,096 0,08 0,772 0,00 1,000 2,57 0,110 0,72 0,398 Fonte: Elaborado pelo autor. 107 Ao analisar este tema através do Teste de Tukey, ao nível de 5% (0,05) (Tabela 15), não ocorreu diferença significativa em nenhuma das dimensões. Entretanto, ao nível de 10% (0,1), ocorreu diferença significativa para a dimensão Qualidade socioambiental. Desta forma, conclui-se que ter aulas de Educação Ambiental interfere na qualidade socioambiental da região, como observado nos trabalhos de Jacobi (2003) e Sorrentino et al. (2005). Quando os alunos foram questionados sobre quais disciplinas abordavam temas referentes ao meio ambiente, podendo marcar mais de uma alternativa (Tabela 16), observou-se que as disciplinas Biologia (61,9%) e Geografia (41,3%) são segundo os respondentes, aquelas que mais trabalham este tema em seus conteúdos. Observou-se que a disciplina Educação Ambiental foi citada por 43 alunos (13%), o que reforça a ideia de que muitos alunos ao responderem o questionário associavam as atividades de educação ambiental à disciplina criada em 2014. Tabela 16 - Disciplinas nas quais se estudam temas relacionados ao meio ambiente Disciplina Número de Marcações Percentual Biologia 195 61,9% Geografia 130 41,3% Educação Ambiental 43 13,7% Outros 20 6,3% Química 8 2,5% Português 2 0,6% Matemática 2 0,6% História 1 0,3% Fonte: Elaborado pelo autor. Entretanto, estes dados demonstram a ineficiência da interdisciplinaridade e da transversalidade dos diferentes temas relacionados à educação ambiental nas instituições da região, pois as demais disciplinas juntas tiveram apenas 33 marcações conforme descrito na Tabela 16. Assim, constata-se a necessidade de ações educativas nas instituições de ensino local, buscando a participação de todas as disciplinas na contribuição das atividades 108 relacionadas à educação ambiental, formando cidadãos críticos, capazes de serem atores nos processos de desenvolvimento local. Observou-se que quando os alunos foram questionados sobre o que seria necessário para uma região ser desenvolvida (Tabela 17), os itens mais destacados estavam relacionados à saúde e à segurança. Entretanto, o item Participação da comunidade foi destacado por 74,6% dos entrevistados. Tabela 17 - Itens necessários para o desenvolvimento da região Itens necessários para desenvolvimento da região Número de Marcações Percentual Hospitais 260 82,5% Posto de saúde 237 75,2% Segurança 236 74,9% Participação da comunidade 235 74,6% Áreas verdes 220 69,8% Posto policial 207 65,7% Escolas 200 63,5% Asfalto nas ruas 188 59,7% Creches 175 55,6% 10 Respeito às decisões da comunidade 167 53,0% 11 Bancos financeiros Relação entre diferentes atores sociais (escola, comunidade, governo, ONGs, etc.) 161 51,1% 158 50,2% 13 Praça 155 49,2% 14 Campo de futebol 141 44,8% 15 Influência dos governantes 136 43,2% 16 Orçamento participativo 122 38,7% 17 Shopping 120 38,1% 18 Comércio em grande escala 117 37,1% 19 Posto de gasolina 106 33,7% 20 Estabelecimento da Mc Donald's 88 27,9% 21 Comércio em pequena escala 69 21,9% 22 Indústria 69 21,9% 23 Lojas de grife (marcas famosas) 62 19,7% 24 Poluição 52 16,5% 25 Casas de luxo 45 14,3% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 12 Fonte: Elaborado pelo autor. Ao analisar a Tabela 17, fica notório que para os alunos o desenvolvimento de uma região está associado às questões relacionadas a saúde e a segurança, como 109 construções de hospitais, postos de saúde, postos policiais, creches, asfalto e escolas. Entre os aspectos importantes para o desenvolvimento de uma região, defendidos por Inojosa (2001), Tenório (2008) e Dowbor (2013), apenas o item Participação da comunidade foi citado entre os nove primeiros itens destacados pelos alunos. Respeito às decisões da comunidade, aparece em 10o lugar com 53%; a Relação entre diferentes atores sociais (escola, comunidade, governo, ONGs, etc.) ficou em 12o lugar com 50,2%; a Influência dos governantes ficou em 15o com 43,2% e o Orçamento Participativo em 16o lugar com 38,7%. Desta forma, a educação adquire um papel importante no processo de desenvolvimento local, pois suas ações devem contribuir para formar cidadãos críticos, capazes de compreender os processos de gestão social que levam ao desenvolvimento local. Compreendendo que não se deve esperar que o desenvolvimento ocorra apenas por ações do governo ou por ações relacionadas aos aspectos econômicos, como observado na ideia de desenvolvimento defendida por Inojosa (2001), Tenório (2008) e Dowbor (2013), mas sim pela participação de todos os setores. Uma atividade importante dentro da educação ambiental que contribui para o desenvolvimento crítico dos alunos e que requer a participação da comunidade escolar para o seu desenvolvimento é a elaboração de Agendas 21 Escolares (MEC, 2014). A sua construção requer uma interdisciplinaridade, que como destacada na análise da Tabela 16, não está ocorrendo frequentemente nas instituições de ensino públicas localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus. A construção também requer a participação da comunidade escolar, o que favorece a sensibilização e a percepção dos alunos para os problemas socioambientais da região. Ao analisar a dimensão Qualidade socioambiental (Tabela 18), verificou-se que a média das respostas desta dimensão foi de 2,34, sendo a pior média encontrada no quesito, Qualidade da água dos córregos da região, com média de 1,97, e a melhor média foi encontrada no quesito, Número de praças públicas, campos de futebol ou outro tipo de equipamento público, com média igual a 2,71. 110 Tabela 18 - Dimensão Qualidade socioambiental Item Q11 Q12 Conteúdo do item Média do Item Desvio Padrão do Item 1,97 1,0837 2,69 0,9793 2,49 1,0629 2,07 1,1277 2,33 1,0880 2,13 1,0164 2,71 1,0658 Média Resumo Qualidade da água dos córregos da região Qualidade ambiental das ruas e praças Frequência que as questões ambientais locais são Q13 tratadas na escola Q17 Q18 Qualidade do transporte público da região 2,34 O número de policiais é adequado Q19 O número de postos de saúde e a qualidade dos mesmos Q20 Número de praças públicas, campos de futebol ou outro tipo de equipamento público Fonte: Elaborado pelo autor. Estas médias demonstram que a qualidade socioambiental da região da Bacia do Córrego Bom Jesus, na percepção dos alunos do Ensino Médio não são satisfatórias. Esse fato compromete a qualidade de vida desses moradores, pois os dados demonstram que na percepção dos alunos, o número de policiais não é o adequado para coibir a violência na região; o número e a qualidade do atendimento dos postos de saúde não suprem a demanda da população local, que o transporte público não é satisfatório, que as águas dos córregos da região não são de boa qualidade. Entretanto, os itens: Qualidade ambiental das ruas e praças e Número de praças públicas, campos de futebol ou outro tipo de equipamento público, estão com valores superiores à média desta dimensão, sendo respectivamente 2,69 e 2,71. Contudo, o item, Frequência que as questões ambientais locais são tratadas na escola, obteve média de 2,49 na percepção dos alunos. Valor este relativamente baixo devido à importância das ações educativas para o desenvolvimento local, como visto no trabalho de Muller et al. (2012). Ao observar a Tabela 19 e compará-la ao item qualidade da água (Tabela 18), observa-se a falta de conhecimento na percepção dos alunos. O esgoto doméstico 111 da região da Bacia do Córrego Bom Jesus não é tratado, o que reflete na percepção dos alunos em relação a qualidade das águas dos córregos dessa região (Tabela 18). Entretanto, contraditoriamente, 69,8% dos alunos participantes da pesquisa acreditam que o esgoto de suas residências é tratado (Tabela 20). Essa percepção errônea demonstra a fragilidade e a necessidade de se criar ações de educação ambiental, que incentivem o desenvolvimento crítico dos alunos para os problemas socioambientais locais, como observado nos trabalhos de Reigota (2009), Dias (2010) e Alves (2013). Tabela 19 - Destinação do esgoto doméstico Número de alunos % Outras destinações 6 1,9 Vai para o córrego mais próximo sem tratamento 28 8,9 Vai para uma fossa séptica 11 3,5 Vai para uma rede de esgoto, onde é tratado 220 69,8 Vai para uma rede de esgoto, onde não é tratado 50 15,9 Total geral 315 100 Destinação do esgoto Fonte: Elaborado pelo autor. Ao analisar a dimensão Aspectos econômicos (Tabela 20), observa-se que a média para esta dimensão foi de 3,14 sendo a maior média encontrada no item, Quantidade de estabelecimentos comerciais da região, com média de 3,51 e, a pior média (2,81) no item, Você considera a região desenvolvida. Observa-se nesta dimensão, que na percepção dos alunos do Ensino Médio a quantidade e a qualidade dos estabelecimentos comerciais na região são satisfatórias, com médias de 3,51 e 3,23, respectivamente. Entretanto, na percepção desses alunos, o item, se eles consideram a região desenvolvida, obteve média de 2,81. Este fato se explica ao ser comparado com os dados das Tabelas 17 e 18, em que os itens segurança e saúde são apontados na Tabela 17 como importantes para o desenvolvimento de uma região e, na Tabela 18, como itens cuja qualidade não é satisfatória na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG). 112 Observa-se que a qualidade de vida na percepção dos alunos, mesmo sendo comprometida pela qualidade socioambiental destacada na Tabela 18, obteve média de 2,99, contribuindo para essa avaliação, as relações interpessoais de amizades, observadas nos grupos focais (Capítulo 3.3 - O Espaço Geográfico e os Impactos Socioambientais na Bacia do Córrego Bom Jesus (MG): Um Enfoque na Educação Ambiental). Tabela 20 - Dimensão - Aspectos econômicos Item Q15 Conteúdo do item Média do Item Desvio Padrão do Item A qualidade de estabelecimentos comerciais na região 3,23 0,9743 Média Resumo A quantidade de estabelecimentos comerciais na região Q16 3,51 1,0416 Q21 A qualidade de vida da região 2,99 0,9082 Q23 Você considera a região desenvolvida 2,81 0,9225 3,14 Fonte: Elaborado pelo autor. A dimensão Papel da educação (Tabela 21) obteve média de 3,33, com médias de 3,58 e 3,57 respectivamente para os itens: As escolas podem exercer um papel importante para o desenvolvimento da região e você acredita que a comunidade possui um papel fundamental para se atingir um maior grau de desenvolvimento da região. Entretanto, o item relacionado ao orçamento participativo e sua influência para o desenvolvimento da região obteve média de 2,84. Assim, ao analisar esta dimensão, é possível afirmar que na percepção dos alunos, a educação possui um papel importante para o desenvolvimento da região. Sendo que na percepção dos mesmos, a escola e a comunidade exercem um papel relevante para o desenvolvimento da região. Esta percepção dos alunos é corroborada pelos estudos de Reigota (2009) e Muller et al. (2012), ao afirmarem que a educação ambiental é importante para que ocorra o desenvolvimento local, pois irá gerar reflexões/ações críticas nesses indivíduos, 113 para que estes sejam atores sociais nos processos que busquem o desenvolvimento de uma região, atuando como cidadãos. Tabela 21 - Dimensão - O Papel da educação Conteúdo do Item Item Q24 Q25 Q26 As escolas podem exercer um papel importante para o desenvolvimento da região Você acredita que a comunidade possui um papel fundamental para se atingir um maior grau de desenvolvimento da região O orçamento participativo tem influenciado em melhorias e desenvolvimento da região. Média do Item Desvio Padrão do Item 3,58 1,0260 3,57 1,0928 2,84 1,0315 Média Resumo 3,33 Fonte: Elaborado pelo autor. A análise da Responsabilidade ambiental demonstra que na percepção dos alunos, a participação deles para evitar a poluição da região é satisfatória com média de 3,07 (Tabela 22). Entretanto, a região apresenta vários pontos com intensa degradação ambiental. Este fato demonstra que para diminuir os impactos relacionados à poluição na região, é necessária a participação de todos os setores. É preciso desenvolver programas de gestão social com a participação pública, privada e da comunidade local, para gerar ações que visem o desenvolvimento local de forma sustentável (INOJOSA, 2001). Desta forma, a educação ambiental é fundamental, pois através de medidas educativas, é possível formar cidadãos críticos capazes de lutar por melhorias no local. Nesse sentido, a elaboração de Agendas 21 Escolares constitui uma ferramenta da educação ambiental dentro dos processos de gestão social que buscam o desenvolvimento local. 114 Tabela 22 - Dimensão - Responsabilidade ambiental Item Q14 Conteúdo do Item Sua participação para evitar a poluição da região Média do Item Desvio Padrão do Item Média Resumo 3,07 1,1196 3,07 Fonte: Elaborado pelo autor. Todos os problemas socioambientais descritos nas dimensões anteriores interferem na percepção da dimensão Mudança de região (Tabela 23). Neste quesito, a média de desejo de mudar-se para outra região é de 2,96. Para mudar este índice, será necessário que ocorra o empoderamento local, através de ações de gestão social que busquem melhorias para a qualidade de vida da região. Melhorando a qualidade de vida e o sentimento de pertencimento, um menor número de pessoas terá o desejo de sair da região, como observado em Tenório (2008) e Buarque et al. (2012). Tabela 23 - Mudança de região Item Conteúdo do Item Qual o seu grau de desejo de mudar-se para outra região? Fonte: Elaborado pelo autor. Q22 Média do Item Desvio Padrão do Item Média Resumo 2,96 1,5073 2,96 115 3.2.5 Considerações Finais Neste artigo, ficou evidente que na percepção dos alunos, a região da Bacia do Córrego Bom Jesus apresenta uma relativa qualidade de vida, com um comércio satisfatório tanto em quantidade quanto em qualidade. Entretanto, os aspectos socioambientais da região deixam a desejar, com transporte ineficiente, segurança pública insatisfatória, atendimento médico nos postos de saúde que não comportam a demanda local, além de resíduos sólidos serem descartados de forma irregular, o que contribui para a poluição dos cursos hídricos da região. Desta forma, com problemas socioambientais e a ineficiência de alguns serviços públicos, ficou perceptivo o desejo considerável dos jovens de mudarem para outra região, principalmente, entre aqueles que estão faixa etária entre 17 e 18 anos. Entretanto, a percepção dos jovens sobre os problemas da região e o desejo de mudança para outras regiões variam de acordo com a localização espacial das instituições de ensino em que cada um está matriculado, o que demonstra que a qualidade de vida, a poluição e o atendimento por serviços públicos e privados não é uniforme em toda a região da Bacia do Córrego Bom Jesus. Contudo na percepção dos estudantes, as escolas e a comunidade podem exercer um papel importante para desenvolver essa região, melhorando assim, a qualidade de vida local. De acordo com os resultados dessa pesquisa, é notório que ações educativas podem contribuir para o empoderamento e para o desenvolvimento local da região, ao formar alunos críticos que sejam atores dos processos de mudança local, que visem melhorias na qualidade de vida. A aplicação dos questionários apenas aos alunos do Ensino Médio em instituições estaduais de ensino pode ser considerada a maior limitação desta pesquisa, pois não contemplou a percepção dos alunos de instituições particulares e municipais na região, pois não possuíam o Ensino Médio regular. 116 Esta pesquisa foi importante, pois permitiu conhecer a percepção dos alunos, em relação aos aspectos socioambientais da região da Bacia do Córrego Bom Jesus, permitindo assim embasar trabalhos futuros que visem ações educativas interdisciplinares e transversais para o desenvolvimento e o empoderamento da região, sendo a Agenda 21 Escolar um instrumento relevante para esse processo. REFERÊNCIAS ALVES, Iara Martins Costa. 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Neste contexto, este artigo tem como objetivo analisar o papel do trabalho de campo, no processo de sensibilização de alunos do Ensino Médio, para o fomento de uma educação ambiental formal na Bacia do Córrego Bom Jesus, Contagem (MG). Foi realizada previamente visita técnica pelo professor para identificar os impactos socioambientais presentes na área de estudo e proposição do roteiro do trabalho de campo. Posteriormente, aulas dialogadas com exposição de vídeos e debates sobre os temas desenvolvimento local e impactos socioambientais, foram desenvolvidos em sala de aula, seguido pela visita in loco ao Córrego Bom Jesus. Para comparar a percepção dos alunos participantes e não participantes do trabalho de campo, realizou-se um grupo focal. Observou-se neste artigo que o trabalho de campo embasado em ações socioeducativas, é importante na geração de significados e percepções socioambientais críticas para a região. Alunos que participaram do trabalho de campo demonstraram maior sensibilização com os problemas socioambientais locais. Eles conseguiram associar os temas estudados formalmente em sala de aula com os impactos socioambientais da região. Entretanto, essa integração do conhecimento não foi percebida pelos alunos não participantes do trabalho de campo. Assim, ao reconhecer o espaço, o trabalho de campo contribui para o empoderamento local dos participantes, quando associado a um embasamento teórico. Durante a realização do trabalho de campo, foi possível sensibilizar os participantes e identificar suas percepções. Atividades educativas bem estruturadas, integrando teoria e prática, proporcionam desenvolvimento crítico aos alunos e estes podem se tornar atores de mudanças para um desenvolvimento local mais sustentável, subsidiando a elaboração de Agendas 21 Escolares. Palavras-chave: Educação Ambiental. Urbanização. Problemas Socioambientais. Trabalho de Campo. 9 Geógrafo, Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, especialista em educação ambiental, professor de geografia e educação ambiental. E-mail: [email protected]. 10 Bióloga, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]. 122 ABSTRACT The Geographical Area and the Social and Environmental Impact Basin Stream Bom Jesus (MG): A Focus on Environmental Education The environmental education theme is relevant at the beginning of this third millennium, as Brazilian educational institutions are in accordance with the Federal Constitution (1988) and PNEA, Law no. 9.795/1999, address this issue in their teaching matrixes, order to assist the transformation of the student citizen, with critical social and environmental issues. In this context, this article aims to analyze the role of field work, the high school students to raise awareness of process for the development of a formal environmental education in the Stream Basin Bom Jesus, Contagem (MG). Previously it was held technical visit by the teacher to identify social and environmental impacts present in the study area and proposition of fieldwork script. Later, dialogued classes with exposure videos and debates on local development issues and environmental impacts have been developed in the classroom, followed by on-site visit to Stream Bom Jesus. To compare the perceptions of participants and non-participants of fieldwork students, held a focus group. There was this article that the fieldwork grounded in socio-educational activities, it is important in the generation of meanings and critical environmental perceptions in the region. Students who participated in the field work demonstrated increased awareness with local environmental problems. They were able to link the themes studied formally in the classroom with the social and environmental impacts in the region. However, this integration of knowledge was not perceived by the nonparticipating students of fieldwork. Thus, recognizing the space, the field work contributes to local empowerment of the participants, when associated with a theoretical foundation. During the field work, it was possible to sensitize the participants and identify their perceptions. Well structured educational activities, integrating theory and practice, provide critical development students and these can become actors of change for a more sustainable local development, supporting the development of Agenda 21 School. Keywords: Environmental Education. Urbanization. Social and environmental problems. Fieldwork. 3.3.1 Introdução A urbanização do Território Brasileiro foi intensificada a partir da década de 1970, visto à mecanização do campo e à disponibilidade de trabalho nos centros urbanos. Este processo de urbanização provocou o aumento da população urbana e dos problemas socioambientais, dentre eles, as ocupações irregulares, o descarte de resíduos sólidos, desigualdades sociais, transporte, segurança pública e lazer. 123 No intuito de amenizar estes problemas e melhorar a qualidade de vida, vários estudos apontam o papel da educação, principalmente, a ambiental formal para o desenvolvimento de uma região sendo o trabalho de campo uma das técnicas para a sensibilização de um grupo local, pois essa atividade possibilita a visualização dos problemas socioambientais apresentados pela literatura, sendo possível associá-los com o ambiente, contribuindo na formação de atores para os processos de mudanças locais. Este artigo tem por objetivo analisar o papel do trabalho de campo, no processo de sensibilização dos alunos do Ensino Médio, para o fomento de uma educação ambiental formal na Bacia do Córrego Bom Jesus, Contagem (MG), orientado pelos quatro pilares apresentados por Delors et al. (1999): aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser e enfatizados por Gadotii (2000) em seu trabalho "Perspectivas atuais da educação". Através do trabalho de campo, os alunos conhecem e a compreendem a realidade da região em que vivem, associando o aprendido em sala com a realidade do local, o que proporciona maior criticidade e possibilita que estes alunos sejam atores proativos nos processos de mudanças necessárias ao desenvolvimento local de maneira sustentável. Isso porque o trabalho de campo constitui uma ferramenta de sensibilização capaz de proporcionar mudanças comportamentais. Nesse contexto, este trabalho se faz necessário. 3.3.2 Referencial teórico 3.3.2.1 Urbanização e educação ambiental na Bacia do Córrego Bom Jesus A definição de espaço geográfico tem sido associada aos conceitos de urbanização e transformação da paisagem, no qual o homem modifica os lugares ao construir seu espaço de vivência (LEFÈBVRE, 2009). As mudanças e os processos de urbanização são notórios com a primeira Revolução Industrial, através do crescimento das cidades que assumem papel importante na vida social e no desenvolvimento econômico (TELÓ e DAVID, 2012), pois nelas está concentrado o 124 maior número de postos de trabalhos, além de se tornarem o centro das decisões políticas e econômicas (SANTOS, 2013). No Brasil, essa modificação do espaço de vivência se acentuou com os processos de urbanização nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado em que a intensa industrialização do país, no qual um grande contingente de trabalhadores se deslocaram do campo para as cidades (VIEIRA NETO, 2011; DALBERTO e STADUTO, 2013; SANTOS, 2013). Todavia, muitos trabalhadores que migraram para as cidades haviam perdido o trabalho no campo, com o advento da tecnologia, que substituía a mão de obra humana por máquinas. Logo, mudaram para as cidades na esperança de melhor qualidade de vida e promessas de trabalho nas indústrias que se instalavam no país (DIAS, 2006; TELÓ e DAVID, 2012). Entretanto, as cidades não conseguiram absorver toda a mão de obra oriunda do campo, o que gerou núcleos de pobreza (DIAS, 1994; DIAS, 2010; SANTOS, 2013), e, consequentemente, exclusão social e ocupações irregulares do solo urbano (PRATA, 2011; ROLNIK e KLINK, 2011). Nesta perspectiva, a gestão social torna-se relevante, pois através de sua prática é possível gerar transformações que possibilitem o desenvolvimento local (MACHADO e QUARESMA, 2014), modificando a realidade de pobreza e de miséria provocadas pela urbanização irregular, pois através da gestão social as pessoas de um determinado local devem se unir, para discutir projetos e ações necessárias para o desenvolvimento do mesmo. Segundo Ferreira et al. (2013), a industrialização brasileira demorou a ocorrer, pois quando o Brasil era colônia de Portugal, toda a manufatura usada no país vinha da Europa, o que levou o país a manter a agricultura como sua principal atividade econômica. Alterações nessas práticas só ocorreram com a crise do café, no início do século XIX, quando no Brasil, iniciou-se o processo de urbanização, sendo o Sudeste, a primeira região a se industrializar e urbanizar (VIEIRA NETO, 2011), visto a presença das estradas de ferro e o Porto de Santos, construídas para escoar a produção do período cafeeiro. Assim, a crise do café no final do século XIX, incentivou os processos de industrialização no Brasil, gerando consequentemente a urbanização em diferentes regiões (FERREIRA et al., 2013). Entretanto, cada região 125 brasileira teve processos distintos de urbanização e ocupação do solo (ROLNIK e KLINK, 2011). Segundo Santos (1977) e Rolnik (2012), os processos de urbanização podem ser percebidos pelos parâmetros observados nas construções, que refletem os padrões de povoamento em diferentes momentos da história. O que é perceptivo na região da bacia do Córrego Bom Jesus, cujo início de seu povoamento aconteceu com o chacreamento, em 1953, de parte da Fazenda Gangorra. Neste período, a ocupação estava associada ao lazer com sítios de recreio que eram ocupados apenas nos fins de semana (segunda moradia), com áreas superiores a 2500m2 de acordo com o Cartório de Registro de Betim e se intensificou nos anos 1990, com a instalação de empresas e o crescimento do comércio na região (PIRONI, 2009). Essas mudanças alteraram o processo de ocupação, que estava associado aos interesses dos incorporadores imobiliários (PRATA, 2011; ROLNIK, CYMBALISTA e NAKANO, 2011) que criaram loteamentos, alguns clandestinos, aumentando o número de habitantes na região. Nestas áreas cuja ocupação ocorreu de forma irregular, observa-se uma desordem na estrutura física local, o que compromete a qualidade dos serviços públicos e privados como descrito no trabalho de Motter e Batella (2013). Nas áreas de ocupação irregular, observa-se maior número de impactos ambientais, pois casas são erguidas às margens dos córregos ou em áreas de relevo muito íngreme, resíduos sólidos são depositados e acumulados em locais indevidos, esgotos deixam de ser ligados às redes coletoras, aumentando o mau cheiro e a incidência de ratos, mosquitos, escorpiões, entre outras pragas urbanas (BRASIL, 2004). Estes impactos refletem a ocupação irregular na região, interferindo diretamente na qualidade do ambiente como pode ser visto também nos trabalhos de Dias (2010) e Rolnik (2012). Sendo assim, esses moradores necessitam de uma intervenção social que os sensibilize em relação ao espaço em que estão inseridos, buscando mudanças de caráter próativo para a realidade local. Para isso, a escola pode ser o elo social, 126 capaz de mudar os significados e as atitudes das pessoas em relação ao ambiente, através do diálogo e das interações que conduzam uma aprendizagem socioambiental de forma a preservar e conservar o ambiente (JACOBI, 2005) além de incentivar ações que gerem melhorias nessas relações. Desta forma, os quatro pilares da educação para o século XXI, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, e aprender a ser citados por Gadotti (2000) tornam-se essenciais para um processo educativo no qual as pessoas precisam desenvolver o senso crítico, o conhecimento e a geração de significados socioambientais para o local em que vivem, compreendendo que o seu comportamento e as ações coletivas são essenciais para as mudanças socioambientais de uma região (TENÓRIO, 2008). Desta maneira, a preservação ambiental e as questões socioambientais, tais como: urbanização, violência e qualidade de vida são pertinentes ao contexto das instituições de ensino. Essas questões quando tratadas no âmbito da educação ambiental, em caráter transversal, possibilitam uma formação crítica dos alunos, que sofrem diariamente com mudanças e influências políticas, sociais e econômicas (REIGOTA, 2009; DIAS, 2010; ALVES, 2013; GARRIDO e MEIRELLES, 2014). Portanto, a educação ambiental tem por objetivo o desenvolvimento crítico dos cidadãos (REIS e VAZ, 2012; MUELLER et al., 2012), para que estes possam ser atores sociais nos processos de mudanças locais, através de uma intersetorialidade que vise o desenvolvimento local (INOJOSA, 2001). Segundo a Carta de Belgrado de 1975, a educação ambiental deve ser capaz de gerar por diferentes maneiras, discernimento nas pessoas, para que estas possam solucionar os problemas ambientais, de forma espontânea, pensando no bem estar coletivo (UNESCO, 1977). Assim, as Agendas 21 Escolares são uma ferramenta para o processo de educação ambiental, que objetiva formar cidadãos críticos que lutem por melhorias locais, que sejam atores participativos nos processos de gestão social que busquem o desenvolvimento local, como observado nos estudos de Inojosa (2001), Tenório (2008), Dowbor (2013). 127 Sendo assim, Tenório (2008) e Buarque et al. (2012) afirmam que a educação é essencial para que haja o empoderamento local. Sendo a educação ambiental primordial, para que os alunos conheçam os problemas socioambientais locais à sua volta (DIAS, 2006; REIGOTA, 2009; ALVES, 2013). Carvalho (2011) afirma que não apenas a educação ambiental é importante, mas o educador ambiental, pois este precisa conseguir fazer uma relação entre o social e o ambiental, para que possa incentivar ponderações e questionamentos de seus alunos, contribuindo para a formação de atores sociais participativos nos processos que busquem o desenvolvimento local para o bem estar coletivo. Gadotti e Romão (2013), baseados na obra de Paulo Freire, afirmam que atividades coletivas são uma importante prática pedagógica. Essa prática pedagógica associada às outras atividades educativas, tais como, leituras, vídeos, pesquisas e aulas dialogadas, geram embasamento teórico, troca de experiências e percepção como descrito nos trabalhos de Figueiredo e Braga (2012), Pessoa e Braga (2012), Alves (2013) e Araújo e Quaresma (2014), que demonstraram a importância do trabalho de campo e das visitas técnicas para o desenvolvimento da educação ambiental, pois influenciam na formação da percepção socioambiental dos alunos, em relação aos processos de uso e ocupação do solo que interferem diretamente na qualidade social e ambiental de uma região. Segundo Serpe, Rosso e Camargo (2011), a percepção socioambiental só acontece quando ocorre uma relação cognitiva, entre as pessoas e o ambiente no qual estão inseridas, ou seja, o trabalho de campo e a visita técnica permitem essa relação e contribuem para a percepção socioambiental. Porém, o trabalho de campo e as visitas técnicas podem não produzir resultados efetivos ao serem realizadas em uma região frequentada cotidianamente pelos alunos, pois eles não percebem problemas e conflitos ali existentes; sendo necessário um aporte teórico para evidenciar os problemas socioambientais vividos por todos naquele local (PESSOA e BRAGA, 2012). 128 Neste aspecto é muito importante o papel do professor na formação da consciência crítica de seus alunos (ALVES, 2013), selecionando e proporcionando aos mesmos uma leitura que os levem a refletir sobre os problemas à sua volta e atividades práticas que ao integrarem teoria e prática, permitem a troca de experiências e geram novos saberes. Desta forma, os alunos contextualizam os problemas socioambientais vivenciados por eles, com a literatura, formando assim cidadãos (REIGOTA, 2009), que serão capazes de lutar por melhorias no desenvolvimento local (TENÓRIO, 2008), ou seja, os alunos deverão se tornar cidadãos participativos, com empoderamento local, que influenciem nas decisões públicas, sendo desta forma atores sociais dentro dos processos de gestão social, que buscam a participação coletiva para o desenvolvimento de uma região (INOJOSA, 2001). 3.3.3 Metodologia Inicialmente, foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre os temas: urbanização, problemas socioambientais, educação ambiental e trabalho de campo nos sites Google Acadêmico e Scielo. Em seguida, o pesquisador percorreu previamente toda a calha do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG), fazendo um levantamento dos impactos socioambientais da região. Na sequência, o pesquisador realizou com as 8 salas do Ensino Médio, diurno, da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, em Contagem (MG), as seguintes práticas formativas: aulas dialogadas com exposição de vídeos e debates sobre os temas desenvolvimento local e impactos socioambientais, com o objetivo de gerar embasamento teórico sobre estes temas e fomentar novas pesquisas a partir da curiosidade dos alunos. Após estas atividades, foram realizados trabalhos de campo na Bacia do Córrego Bom Jesus, intitulados de "Expedição Bacia do Bom Jesus" seguindo um roteiro previamente elaborado pelo professor, da nascente à foz do Córrego Bom Jesus, 129 considerando alguns de seus afluentes e pontos relevantes de impactos socioambientais (Apêndice D). Esta expedição foi realizada com quatro, das oito salas de Ensino Médio dessa instituição, escolhidas aleatoriamente. As Expedições ocorreram em dias alternados para cada uma das classes, no período de 16 a 19 de Março de 2015. Posteriormente, foram realizadas novas atividades educativas de pesquisa no laboratório de informática sobre sustentabilidade e desenvolvimento local e em sala, foram realizados debates sobre estes temas. Para o grupo focal, foram constituídos dois subgrupos com 8 alunos, um grupo com os alunos que vivenciaram o trabalho de campo e, o outro, com alunos que não participaram dessa atividade. Os alunos foram sorteados com pedras de bingo, respeitando o número de dois estudantes por sala. O roteiro para o grupo focal está descrito no Apêndice C e permitiu analisar comparativamente a percepção dos alunos participantes e não participantes do trabalho de campo em relação aos temas anteriormente abordados em sala de aula: impactos socioambientais e desenvolvimento local, observando a capacidade de correlação dessas temáticas com a Bacia do Córrego Bom Jesus. A pesquisa observou os aspectos éticos. Sendo assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, sob o n° 39195814.0.0000.5098 (Anexo A) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP - Centro Universitário UNA), conforme a Resolução nº 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos no Brasil. As pessoas participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndices E, F, G, H e I), emitido em 2 (duas) vias, sendo que uma delas ficou com o entrevistado. 3.3.4 Resultados Este tópico será estruturado na descrição do trabalho de campo e do posicionamento obtido nos depoimentos. 130 Ao sair da escola, em direção à nascente do córrego Bom Jesus, o primeiro destino era o Parque das Amendoeiras (Figura 10) situado à dois quarteirões da escola, onde se encontra a nascente do Córrego Gangorra, um dos afluentes do Córrego Bom Jesus e apresenta uma ampla praça de esportes. Figura 10 Parque municipal das Amendoeiras. Fonte: (A) Google Maps, 2015. (B) Perona, 2015. Este Parque até 2012 era apenas um terreno baldio, em que as pessoas jogavam lixo, permitindo o aumento da incidência de pragas urbanas, como ratos, escorpiões, além de proliferar os focos de mosquitos da dengue (BRASIL, 2004; PAPINI et al., 2009). Neste local, havia também um ponto de recolhimento de entulho de carroceiros, para que estes não os lançassem ao longo das margens dos córregos da região. Esta área era frequentada apenas por delinquentes, assaltantes, usuários de drogas, que reprimiam a ocupação da área como visto no trabalho de Fernandes e Ramos (2010). Após a construção da praça de esportes no Parque das Amendoeiras, foi instalado no local, um posto da Guarda Municipal de Contagem, o que inibiu a violência, atraindo os moradores para usufruírem do amplo espaço para a prática de esportes e atividades físicas e de lazer. Muitas dessas atividades são patrocinadas por 131 vereadores e comerciantes da região, que mantêm aulas de zumba, capoeira, danças e escolinhas de vôlei e futebol. Neste aspecto, os alunos puderam observar e analisar com a orientação do professor que a construção desse Parque e a parceria entre os setores público e privado geraram mudanças comportamentais em relação a esse local, pois possibilitou o empoderamento de seus habitantes, através de uma gestão pública para os aspectos sociais, propiciando melhorias na qualidade de vida de boa parte dos habitantes da região como defende Tenório (2008). Mas, continuando a caminhada rumo à nascente do Córrego Bom Jesus, poucos metros após o Parque, em um dos seus afluentes, o Córrego Amendoeiras, foi possível perceber um dos impactos da construção do parque. Para construir o Parque Amendoeiras, a Prefeitura Municipal de Contagem, precisou retirar desse local, as caçambas destinadas a entulhos e resíduos sólidos depositados pelos carroceiros. Para isso, destinou-se uma nova área para este fim, às margens do Córrego Amendoeiras também conhecido como Gangorra, atraindo para o local, algumas pragas urbanas (PAPINI et al., 2009), além de contaminar a água do Córrego, como observado na figura 11. 132 Figura 11: Depósito de lixo e entulho as margens do Córrego Amendoeiras (Gangorra). Fonte: (A) Perona, 2015. (B) Google Maps, 2015. Observou-se neste momento, indignação dos alunos com a situação do ambiente local sendo realizados comentários que demonstraram os efeitos deste impacto, depósito de lixo próximo ao leito do córrego, para os moradores próximos ao local. Como visto nas falas a seguir: - "Professor eu moro ali (apontando para uma residência do outro lado da rua), hoje tem pouco lixo, tem dia que não dá para aguentar o cheiro, tem escorpião. Tem que ver os ratos; tem cada ratão que os gatos lá de casa saem correndo. (risos) Já jogaram até um corpo aí, você lembra do marido que picou a mulher toda... Jogou foi aí." (T.S.M.M., aluno do 3o ano do Ensino Médio). - "Isso é um absurdo, o lixo cai todo no córrego. Fica esse mal cheiro. Olha o tanto de barata." (M.C.S., aluna do 1o ano do Ensino Médio). - "Professor, minha avó mora aqui na Rua Sete, para ir na casa dela tem que passar aqui. Tem dia que aqui, tem geladeira, sofá, fogão. Minha avó falou que eles jogaram uma mulher toda cortada aqui." (P.E.S., aluno 2o ano do Ensino Médio). - "Como a Prefeitura e o IBAMA permitem isso? É muito lixo perto do córrego, vai contaminar o córrego." (A.P.A., aluna do 3o ano do Ensino Médio). 133 - "Coitado de quem mora aqui perto, aguentar esse cheiro todos os dias." (B.H.J.S., aluno do 1o ano do Ensino Médio). Em direção à nascente do Córrego Bom Jesus, continuou-se a caminhada a partir da área destinada ao descarte dos resíduos sólidos, inclusive os entulhos, a Expedição encontrou vários locais em que a ocupação urbana ocorreu de forma irregular. Nestes pontos, o professor interveio fazendo uma relação entre as ocupações irregulares e os impactos ambientais causados por elas, com os temas estudados em sala de aula, referentes aos impactos socioambientais e desenvolvimento local. Observou-se que os alunos correlacionavam o estudado em sala de aula e a realidade local, como visto em alguns depoimentos: - "Professor, todas estas casas estão irregulares, não estão? Estão praticamente dentro do córrego." (A.L.V., aluna do 2o ano do Ensino Médio). - "Aquelas casas não deveriam ter sido feitas ali, no período de chuvas correm o risco de caírem." (referindo-se à moradias em uma encosta íngreme). (P.E.O.R., aluno do 2o ano do Ensino Médio). - "Olha os canos das casas, o esgoto vai para o córrego." (W.P.A., aluno do 1o do ano Ensino Médio). Após 1 hora e 20 minutos de caminhada, a Expedição chegou a uma das nascentes do Córrego Bom Jesus, situada na Fazenda Taquaril (Figura 12). A escolha desta nascente ocorreu em função da distância percorrida (4,5Km) e por não haver riscos nas vias de acesso, pois a nascente principal está afastada 2Km deste ponto, na mata fechada, o que se tornou inviável pelo tempo disponível, pela falta de preparo físico de alguns alunos, pelo risco inerente ao local, pela falta de segurança aos participantes. Entre estas duas nascentes, não há diferenças em suas características biológicas, físicas e sanitárias, pois ambas estão situadas em áreas preservadas. 134 Figura 12 Nascente do Córrego Bom Jesus na Fazenda Taquaril. Fonte: Perona, 2015. Nesta nascente, os alunos observaram os parâmetros físicos cor e odor da água, que remetem a sua pureza e a conservação da área, envolvida por matas ciliares. Toda a área preservada ao redor da nascente estava cercada com arame farpado, com o objetivo de conservá-la conforme orientado pela Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) e pela Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH), uma vez que a fazenda é especializada na criação de gado de corte. Ressalta-se que além das orientações da PNRH e PERH, a preocupação de se preservar as nascentes dos cursos hídricos podem ser observadas nos trabalhos de Carvalho et al. (2014); Garcia, Reis e Portela (2014), Silva, Ferreira Neto e Silva (2014). Ao sair deste ponto em direção à foz do Córrego Bom Jesus, toda a beleza natural começa a ser impactada pelas várias ações antrópicas. Cerca de 500 metros a nordeste, 19°50'53.9"S 44°03'03.5"W na propriedade vizinha à nascente, os alunos 135 puderam perceber o descaso com as questões ambientais, pois está ocorrendo um depósito clandestino de lixo, possibilitando a contaminação do solo e das águas desse Córrego (Figura 13). Em outra propriedade, a menos de 10 metros ao sul das margens do Córrego Bom Jesus, 19°50'45.8"S 44°02'54.6"W uma área foi desmatada, e nela estão criando equinos e bovinos com verduras, frutas e legumes oriundos de restos de um sacolão. Observa-se que com essa prática, esses resíduos são carreados para o curso d´água pela própria alimentação dos animais. Além disso, como material orgânico está disposto de maneira incorreta e pode prejudicar a qualidade não só das águas e do solo, ele não se decompõe, o que gera mau cheiro, poluição visual e contaminação do recurso hídrico, no Córrego Bom Jesus, favorecendo a propagação de vetores de doenças, tais como: ratos, baratas, escorpiões e moscas varejeiras (Figura 13). Figura 13: Poluição em área preservada do Córrego Bom Jesus. Fonte: (A) e (B) Perona, 2015. (C) Google Maps, 2015. Neste trecho, os alunos do 3o ano do Ensino Médio levantaram a questão sobre as responsabilidades e as dificuldades de fiscalização destes espaços, associando os impactos ambientais à impunidade presente no Brasil. Entretanto, o professor 136 ponderou que a responsabilidade é de toda a comunidade, dentro de um processo de gestão social, que vise o desenvolvimento local, no qual cada pessoa é um agente transformador dessa realidade, não dependendo apenas das autoridades fiscalizadoras, como visto em Dowbor (2013). Ao longo deste percurso, os alunos atravessaram um loteamento clandestino recente que integra a área do bairro Novo Horizonte (Figura 14) 19°50'43.8"S 44°02'41.6"W, observando uma infraestrutura precária: ruas não asfaltadas e sem redes de esgoto, sendo estes destinados às fossas negras ou lançados no córrego. Todas as moradias remetem a uma classe social menos favorecida. Em algumas residências, as águas de pia e de chuveiro são lançadas na rua, o que geram buracos e acúmulo de água parada, proporcionando mau cheiro e possíveis locais para proliferação do mosquito da dengue. Figura 14: Área de ocupação ilegal anterior ao Ponto Zero de Despoluição. Fonte: Google Maps, 2015. Cerca de um quilômetro após o loteamento clandestino 19°50'28.9"S 44°02'28.9"W, observa-se na Fazenda do senhor Rubens Ferreira Camargos, o Ponto Zero de 137 Despoluição do Córrego Bom Jesus, estabelecido pelo Consórcio de Recuperação da Lagoa da Pampulha juntamente com a COPASA. Neste local, os alunos com a intervenção do professor fizeram uma reflexão das condições da qualidade ambiental do Córrego Bom Jesus observadas e foram alertados de que todo o percurso realizado até aquele momento era considerado de águas limpas e sem poluição, pois quando o Consórcio de Recuperação da Bacia da Pampulha juntamente com a COPASA demarcaram aquele local, os impactos socioambientais que eles haviam percebido durante a caminhada, ainda não haviam se estabelecido nesse ponto. Neste contexto, o aluno A.C.S.A., do 2o ano do Ensino Médio indagou: - "Quando eles demarcaram este ponto como sendo o Ponto Zero de Despoluição, essas fazendas não existiam? Este ponto era muito diferente do que é hoje? Aqui tinha mata ciliar?" Com o passar do tempo, ocorreram poucas alterações nesse local em que houve a demarcação do Ponto Zero de Despoluição. Entretanto, estes questionamentos demonstram um amadurecimento crítico dos alunos, pois eles foram capazes de relacionar o estudado em sala com o vivido nessa atividade em campo. Pouco mais de 300 metros à frente 19°50'36.8"S 44°02'04.4"W, o Córrego Bom Jesus percorre o bairro de mesmo nome. Um bairro constituído por ocupações ilegais, com população de classe média baixa que se instalaram nas margens desse Córrego e nas encostas íngremes ao seu entorno (Figura 15). Várias residências despejam seu esgoto inadequadamente no Córrego, mesmo com a instalação de redes coletoras no ano de 2013. Rede esta, que em alguns pontos encontra-se diretamente dentro desse Córrego, existindo o risco de se romper e aumentar a poluição nas águas e nos solos. Situação semelhante ocorre na confluência do Córrego Bom Jesus com o seu afluente o Córrego do Banguelo, o que demostrou indignação na fala de alguns alunos: 138 - "Eu moro aqui neste bairro, e não sabia que o esgoto de muitas casas caia no córrego. Lá em casa tem fossa." (M.L.F., aluna 2o ano do Ensino Médio). - "Fala sério esse cano não pode ser a rede de esgoto, é pura irresponsabilidade. Se ele estourar!" (E.H.C., aluno do 3o ano do Ensino Médio). - "O cheiro aqui está terrível! Se agora tem rede de esgoto, por que continuam a jogar o esgoto no córrego?" (A.C.D. aluna do 3o ano do Ensino Médio). Figura 15: Córrego Bom Jesus no Bairro Bom Jesus. Fonte: (A) Google Maps, 2015. (B), (C) e (D) Perona, 2015. Na divisa com o bairro Bom Jesus, encontra-se o Bairro Vale das Orquídeas, formado pelo último desmembramento da Fazenda Gangorra (Figura 16) 19°50'47.5"S 44°01'47.0"W. Diferentemente do bairro Bom Jesus, este bairro obedece a todas as normas legais para uso e ocupação do solo proposto no Plano Diretor para o município de Contagem (CONTAGEM, 2006). 139 Figura 16: Bairro Vale das Orquídeas. Fonte: Perona, 2015. Dentro do bairro Vale das Orquídeas, os alunos tiveram a oportunidade de observar a diferença do traçado de um bairro projetado e amparado pela legislação e compará-lo com o bairro Bom Jesus que foi ocupado de maneira ilegal. Nesta área, foi realizada com os alunos, uma análise da ocupação da região comparando os critérios adotados em cada uma delas bem como a disponibilidade dos serviços públicos existentes. Neste sentido, eles puderam observar a escassez de serviços públicos na área ilegal em consonância com as observações de Prata (2011) e Motter e Batella (2013). Observem os registros a seguir. - "As ruas aqui são mais largas e não se vê canos nas ruas." (P.D.R., aluno do 1o ano do Ensino Médio). - "Os lotes são maiores, nem tem casas direito e já tem ponto de ônibus (risos)." (A.R.C., Aluno do 2o ano do Ensino Médio). - "Todas as ruas parecem ter a mesma largura." (P.D.R., aluno do 1o ano do Ensino Médio). - "Todas as ruas já possuem iluminação pública, na no Bom Jesus tem ruas que não tem." (A.C.D., aluna do 3o ano do Ensino Médio). Seguindo o percurso rumo à foz, logo após o Córrego Bom Jesus atravessar o bairro Vale das Orquídeas, ele cruza o Bairro Nacional 19°50'55.9"S 44°01'36.9"W que apresenta o maior adensamento populacional às margens do Córrego Bom Jesus e 140 seus afluentes. Neste bairro, alguns trechos desse Córrego foram canalizados, principalmente, para permitir a abertura da Avenida Nacional 19°50'52.6"S 44°01'15.2"W conforme figura 17 (obra com início em 2010 e finalizada em 2014) (COPASA, 2010; BORGES, 2014). Neste ponto, o aluno R.F.D. do 3o ano do Ensino médio ponderou: "Essa obra ficou muito boa... Alguém lembra como isso aqui era? Eu passava direto aqui com meu avô para pescar, era uma lama, cheio de lixo. Oh, nem parece o mesmo lugar." Figura 17: Obras da construção da Avenida Nacional. Fonte: (A) e (B) COPASA, 2010. (C) Perona, 2015. Verifica-se neste trecho, um aumento da poluição, principalmente por esgoto doméstico e lixo (Figura 18). Os alunos ficaram assustados com a quantidade de material espalhado pelas ruas e depositados às margens do córrego, - "Acho que é o ponto mais poluído, parece que o lixo se acumula aqui, deve ser o lixo que vem pelo córrego de todos os bairros da bacia. No período das chuvas ele deve se acumular aqui." (C.A.R., aluno do 3° ano do Ensino Médio). Neste ponto, o comércio é mais intenso e se destaca a empresa de colchões Ortobom, uma das geradoras de empregos na região. 141 Figura 18: Poluição às margens do Córrego Bom Jesus. Fonte: (A) Google Maps, 2015. (B), (C), (D) e (E) Perona, 2015. No trajeto rumo à foz, o Córrego Bom Jesus encontra-se com o Córrego Água Funda 19°51'26.4"S 44°00'40.4"W, constituindo um dos principais afluentes da Lagoa da Pampulha (IGAM, 2013) e deságua em frente ao portão principal do Jardim Zoológico de Belo Horizonte, 9°51'15.3"S 44°00'20.0"W, um dos principais cartões postais da capital mineira (Figura 19), local onde se encerrou a Expedição Bacia do Bom Jesus. Figura 19: Foz do Córrego Bom Jesus. Fonte: (A) Google Maps, 2015. (B) e (C) Perona, 2015. 142 Na foz do Córrego Bom Jesus, propôs-se uma reflexão sobre todo o trajeto da Expedição Bacia do Bom Jesus. Neste momento, os alunos puderam se expressar livremente, sobre o que mais lhes surpreenderam durante a caminhada, como pode ser observado nos depoimentos a seguir: - "É inacreditável que a água que vimos na nascente é a mesma água podre que estamos vendo..." (C.V.L., aluno do 2o Ano do Ensino Médio). - "Com essa poluição toda tem gente que ainda vem pescar na Pampulha, vão morrer (risos)." (B.B.S.L., aluna do 3o Ano do Ensino Médio). - "Se chover aquele lixo todo do Nacional vai cair no córrego e vir parar aqui." (A.L.D.F., aluno do 1o Ano do Ensino Médio). Após a realização do trabalho de campo com quatro das oito turmas, do Ensino Médio, todos os alunos dessas turmas, tiveram novas aulas dialogadas de educação ambiental e desenvolvimento local no laboratório de informática e foi possível incentivar a leitura de textos, apresentados no site significados.com.br, sobre meio ambiente, educação ambiental, ecossistemas, IBAMA, além da realização de pesquisas sobre saneamento básico e desenvolvimento local. Posteriormente, esses alunos participaram de debates e grupos focais (Figura 20) sobre os temas abordados. Figura 20: Grupo focal Fonte: Perona, 2015 143 Durante os debates e os grupos focais, o pesquisador pode observar maior interesse e participação pelos alunos que estiveram presentes nos trabalhos de campo, pois estes faziam relações e analogias entre os temas abordados e o ambiente à sua volta, o que está em consonância com os estudos de Serpe, Rosso e Camargo (2011), Figueiredo e Braga (2012), Mueller et al. (2012) e Reis e Vaz (2012) que afirmam que a educação quando tem conexão com o meio à sua volta, proporciona maior criticidade aos alunos, confirmada nas falas: - "Educação ambiental é muito importante, acredito que se as pessoas tivessem educação (informação), metade dos problemas de degradação que vimos na caminhada não teriam acontecido." (A.C.C.D., aluna do 3o Ano do Ensino Médio). - "Para ter um maior desenvolvimento na região professor, o governo tinha que multar todas as pessoas que jogam lixo nas ruas e buscar alternativas para as pessoas ganharem mais dinheiro." (N.R.S., aluna do 2o Ano do Ensino Médio). - "É uma vergonha nos dias de hoje ter pessoas jogando esgoto no córrego, assim a Pampulha nunca vai ficar limpa." (R.L.S.O., aluno do 1o Ano do Ensino Médio). - "Tem oito anos que moro aqui, e nem conhecia o córrego Bom Jesus. (...) Ano passado nós estudamos com a Grazielle (professora de Ciências), os problemas da poluição das águas no Rio das Velhas, do São Francisco (...). Ela deveria levar todo mundo para vê o córrego...". (T.R.O., aluna do 1o Ano do Ensino Médio). - "Meio ambiente é tudo a nossa volta, é o local onde vivemos, é a sala de aula, é o córrego poluído. São todos os lugares que nós interagimos." (K.F.S.D.S., aluna do 3o Ano do Ensino Médio). Tais percepções não ocorreram entre os alunos que não participaram dos trabalhos de campo. Para estes, os termos: impactos ambientais, meio ambiente, ecossistemas, poluição eram tratados de forma fria, distante, como assuntos teóricos e muito afastados da realidade de cada um deles. Eles não se colocavam como parte de um problema ambiental, ou mesmo, de um ambiente. Para alguns desses alunos, estes temas eram apenas relacionados à natureza, à vegetação e aos animais. Situação semelhante foi descrita no trabalho de Pessoa e Braga (2012). Os depoimentos dos alunos a seguir ilustram esse fato: 144 - "Meio ambiente é tudo que está relacionado com natureza. Tipo: as plantas, os animais, os rios..." (C.A.D.S.B., aluno do 2o Ano do Ensino Médio). - "Impactos ambientais é quando o homem causa um dano na natureza, tipo as mineradoras." (L.L.B., aluno do 3o Ano do Ensino Médio). - "Acho que desenvolvimento local é quando o governo investe em uma região para ela se desenvolver, com asfalto, comércio amplo, indústrias e shopping, bem diferente daqui (...) risos." (R.G.S., aluno do 2o Ano do Ensino Médio). Nesta pesquisa, ficou evidente para o pesquisador que o trabalho de campo é uma importante ferramenta nas aulas de educação ambiental, pois gerou motivação nos alunos em relação aos temas socioambientais da região. Outro aspecto a ser destacado é a maior capacidade de contextualização entre a literatura e a percepção socioambiental da região por parte dos alunos que participaram do trabalho de campo em relação aos que não participaram. Sendo assim, a educação ambiental formal utilizando o trabalho de campo é uma ferramenta importante para os quatro pilares da educação, pois possibilita uma maior integração do aluno com o ambiente em que está inserido, levando-os a refletir sobre o papel de cada um nos impactos socioambientais locais. Através do trabalho de campo e do embasamento teórico, é possível desenvolver nos alunos o sentimento de pertencimento, estimulados pelo seu desenvolvimento crítico que é essencial para o desenvolvimento local. 3.3.5 Considerações finais Este trabalho verificou a importância da ferramenta trabalho de campo para fomentar a educação ambiental, com ações que motivassem os alunos, auxiliassem no desenvolvimento do senso crítico, favorecessem maior contextualização entre o conteúdo ministrado (teoria) e o ambiente de vivência dos estudantes (aspectos práticos), contribuindo para o empoderamento local visto que esses alunos assumiram proativamente a gestão social do ambiente em que vivem, buscando melhorias para essa região. 145 É importante salientar que apenas a ferramenta trabalho de campo, não desenvolve o senso crítico dos alunos. Os alunos precisam receber outros estímulos tais como leituras, aulas dialogadas, vídeos, oportunidade de se expressarem, entre outros. Sendo assim, o trabalho de campo tem um significado relevante na percepção socioambiental favorecendo contextos apropriados para educação ambiental participativa, integrada ao cotidiano do aluno e modificadora e que ao ser subsidiada pela abordagem teórica, propicia um melhor aproveitamento dos envolvidos não só na construção do conhecimento, mas também na aplicação prática para o desenvolvimento local, propiciando melhoria na qualidade de vida daqueles indivíduos que pertencem a este local. De acordo com os resultados desta pesquisa, o trabalho de campo é uma ferramenta importante nas práticas de educação ambiental e constitui uma prática formativa que deve ser utilizada nas instituições de ensino, principalmente, em trabalhos multi ou interdisciplinares que busquem uma educação ambiental realista baseada na vivência de seus alunos. A falta de uma análise mais específica da qualidade da água em seus diferentes pontos é uma das limitações deste trabalho, que pode ser resolvida através de uma participação, a princípio multidisciplinar, com a disciplina de Química. Ressalta-se que a disciplina Biologia também poderá auxiliar na análise do ecossistema, na integração da fauna e flora na região e também nos conhecimentos referentes à saúde pública. Os conteúdos de Português podem subsidiar os resumos dos textos e os relatórios sobre a Expedição e a Matemática na construção e interpretação de tabelas e gráficos apresentados no texto ou em parceria com a Química e a Biologia, na organização e interpretação dos ensaios obtidos em campo. A disciplina História poderá a partir do trabalho de campo, resgatar a história da região através de fotos antigas, entrevistas com moradores, documentos pertinentes à ocupação da área. Inclusive, a Educação Física, na preparação desses alunos para que possam caminhar com mais tranquilidade. 146 Dessa maneira, seria possível uma visão mais ampla da educação ambiental, não mais restrita à Biologia ou à Geografia e, sim, integrando as diferentes áreas do conhecimento conforme preconiza a Política Nacional de Educação Ambiental e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, podendo assumir um caráter transversal. Fica a esperança apesar das limitações de uma pequena amostragem de uma única região, que esta pesquisa possa ser replicada, possibilitando novas perspectivas de ensino que envolvam o trabalho de campo como fomento de uma educação ambiental. Neste contexto, este trabalho assume papel importante para a elaboração da Agenda 21 Escolar, pois contribui para o desenvolvimento crítico dos alunos, que passam a perceber os impactos socioambientais de sua região e que poderão propor ações para melhoria dessa área, como cidadãos, atores participativos nos processos de gestão social para o desenvolvimento local. REFERÊNCIAS ALVES, Iara Martins Costa. Geografia e Educação Ambiental: Desafios Contemporâneos. Revista Geonorte, Manaus-AM Edição Especial 3, v.7, n.1, p.448-463, jun.2013. ARAÚJO, Glausirée Dettman; QUARESMA, Adilene Gonçalves. Visitas Guiadas e Visitas Técnicas: Tecnologia de Aprendizagem no Contexto Educacional. Revista Competência, Porto Alegre-RS, v. 7, n. 2, p. 29-51, jul./dez. 2014. BORGES, Lucas. Prefeitura entrega urbanização da avenida Nacional, no domingo. Prefeitura de Contagem. Contagem, 26 de junho 2014. Notícias on-line. Disponível em: <http://www.contagem.mg.gov.br/?materia= 273197>. Acesso: 29 jun. 2015. 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Essa proposta surgiu a partir da investigação ocorrida na região da Bacia do Córrego Bom Jesus, em Contagem/MG, através de relatos de histórias orais com os moradores mais antigos da região, questionários de percepção socioambiental, trabalhos de campo e grupos focais foram desenvolvidos com alunos do Ensino Médio das escolas públicas localizadas na região. Essas atividades reforçaram a importância do papel da Escola para o desenvolvimento local. Este guia é uma compilação de atividades aplicadas junto aos alunos do Ensino Médio e que possibilitaram a integração entre a comunidade escolar e o meio ambiente, subsidiando a construção de Agendas 21 Escolares que busquem o desenvolvimento local a partir do sentimento de pertencimento. Foram propostas atividades para sensibilização e construção de conhecimento, dentre as quais, citam-se: trabalhos de campo, jogos e dinâmicas, leituras, debates, resgate da história local, oportunidades de falar que auxiliam no desenvolvimento crítico e favorecem o empoderamento local e devem ser explorados no processo de construção das Agendas 21 Escolares. Desta forma este guia foi dividido em cinco etapas: (I) sensibilização da comunidade escolar; (II) construção do conhecimento; (III) caracterização da região; (IV) atividades educativas para reflexão e a percepção, e (V) avaliação do processo. Palavras-chave: Educação ambiental. Percepção. Desenvolvimento local. Gestão social. GUIDE ACTIVITIES TO SUBSIDIZE AGENDAS OF PREPARATION 21 SCHOOL ABSTRACT This article aims to present an activity guide and processes that will help to elaborate Agenda 21 School. This proposal came at the start of the investigation occurred in 11 Geógrafo, Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, especialista em educação ambiental, professor de geografia e educação ambiental. E-mail: [email protected]. 12 Bióloga, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]. 153 the region of the Basin Stream Bom Jesus in Contagem / MG, through reports of oral histories with the older local residents, environmental perception questionnaires, field work and focus groups were developed with high school students from public schools located in the region. These activities reinforced the important role of school for local development. This guide is a compilation of activities applied to the students of high school and that made possible the integration between the school community and the environment, supporting the construction of Agenda 21 School seeking local development from the sense of belonging. Were proposed activities to raise awareness and knowledge building, among which are cited: field trips, games and dynamics, readings, debates, recovery of local history, speaking opportunities that assist in critical development and promote local empowerment and should be explored in the Agenda 21 School building process. Thus this guide has been divided into five steps: (I) awareness of the school community; (II) construction of knowledge; (III) characterization of the region; (IV) educational activities for reflection and perception, and (V) evaluation of the process. Keywords: Environmental education. Perception. Local development. Social management. 4.1 Introdução Agenda 21 é um documento proposto em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, que cria alternativas para o desenvolvimento socioambiental sustentável das nações mundiais, o que a difere das outras conferências ambientais. Com o objetivo de nortear ações específicas, os países signatários assumiram a responsabilidade de propor Agendas 21 que respeitassem as suas peculiaridades e adotassem os processos de gestão social em sua construção. Nesse contexto, a Agenda 21 de cada país pode e deve ser subdivida em local, regional, escolar, contemplando os pontos de vista social, ambiental, cultural, político e espacial existentes, em suas diferentes práticas de gestão socioambientais que deverão ser evidenciadas nos processos de estruturação das respectivas Agendas 21. No presente trabalho, é importante compreender o papel da Agenda 21 Escolar dentro de um processo de gestão social que busque o desenvolvimento local, pois através do envolvimento da comunidade escolar em sua construção, ocorrerá o aprendizado crítico e a sensibilização para a percepção dos impactos 154 socioambientais da região, o que promoverá a união da comunidade para buscar alternativas para o desenvolvimento local. A proposta de um guia de atividades para a elaboração de Agendas 21 Escolares, como ferramenta de educação ambiental, facilita o (re)conhecimento pelo espaço em que vivem, despertando para suas potencialidades e sensibilizando para as oportunidades de melhoria, auxiliando no desenvolvimento crítico de toda a comunidade escolar, o que gera empoderamento local. Assim, a construção de Agenda 21 Escolar contribui no amadurecimento dos processos de gestão social, na preservação e conservação do ambiente, na formação de cidadãos críticos que busquem melhorias socioambientais para o local onde vivem. Essa proposta foi elaborada a partir da averiguação da importância do processo educativo para o desenvolvimento local, observados nos relatos obtidos nas histórias orais dos moradores mais antigos da região, por trabalhos de campo, grupos focais e práticas formativas diversas, realizados com alunos do Ensino Médio das escolas públicas existentes na Bacia do Córrego Bom Jesus bem como pela análise do questionário de percepção socioambiental. Durante todo o trabalho de pesquisa, fica perceptivo a necessidade de se estruturar atividades que possibilitem a elaboração de Agendas 21 Escolares, fazendo da educação um instrumento importante para o desenvolvimento local. Este artigo tem por objetivo apresentar um guia de atividades e os processos que subsidiarão a elaboração de Agendas 21 Escolares, como ferramenta educativa para desenvolver práticas de gestão social que busquem o desenvolvimento local. Ressalta-se que o Guia de atividades para elaboração de Agendas 21 Escolares, trata-se de um produto técnico que integra a dissertação no Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, tal como previsto no artigo 4º, da Portaria Normativa nº 17, de 28 de Dezembro de 2009 que dispõe sobre Mestrado Profissional no âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 155 4.2 Referencial teórico 4.2.1 - Educação ambiental e Agenda 21 para o desenvolvimento local O termo educação ambiental foi pronunciado inicialmente na Conferência de Educação, da Universidade de Keele, Grã-Bretanha, em 1965. Entretanto, os rumos da educação ambiental começaram a ser definidos na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia), em 1972, que definiu as diretrizes, para Educação e Meio Ambiente. Contudo, foi no Seminário Internacional de Educação Ambiental, em Belgrado (1975) que se estabeleceram as metas e os princípios para a educação ambiental (MMA, 2015), iniciando os primeiros Programas de Educação Ambiental no país, mas que não se importavam com as questões socioeconômicas, difundindo apenas a ideia de Ecologia e do "verde pelo verde" (DIAS, 2010). Durante a Conferência Intergovernamental para Educação Ambiental, em Tbilisi (1977), foi proposto um novo olhar para a natureza e para as questões ambientais, incentivando que o conhecimento deveria ocorrer através da interdisciplinaridade (JACOBI, 2003). No Brasil, acompanhando as tendências mundiais, em 1976, foram criados cursos de pós-graduação em Ecologia e, em 1977, após a Conferência Intergovernamental para Educação Ambiental de Tbilisi, tornou-se obrigatório nos cursos de Engenharia, a disciplina Ciências Ambientais (MEC, 2014). Em 1979, o MEC publicou uma proposta para o ensino de 1o e 2o graus sobre Ecologia, sendo que em 1985, o MEC reforça a ideia de inclusão de conteúdos ecológicos no 1o e 2o graus (MMA, 2015). Em 1987, o Congresso Internacional de Educação e Formação sediado em Moscou, destacou a importância da formação em educação ambiental (MMA, 2015) incentivada em todos os currículos escolares, garantidas na Constituição Cidadã, em 1988, em que a Educação Ambiental é uma responsabilidade do poder público, em todos os níveis de ensino (MEC, 2014). Neste contexto, em 1991, o MEC ressalta a importância de capacitar professores para trabalhar a temática educação ambiental. 156 Em 1992, foi criada durante a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO’92), as premissas da Agenda 21, documento que propõe alternativas para melhorias sociais e ambientais para o desenvolvimento no século XXI (MEC, 2014). Em 1997, o tema Meio Ambiente integra os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) como um tema transversal (MEC, 2014) o que favorece a compreensão das questões ambientais e, consequentemente, na proposição e fortalecimento das práticas para a elaboração de diferentes Agendas. A Agenda 21 proposta na Conferência RIO’92, é um documento com 40 capítulos que busca ações conjuntas entre as nações, para alinhar o desenvolvimento e o meio ambiente, de forma que as ações no presente, não comprometam a qualidade de vida no futuro (MALHEIROS; PHILIPPI JR e COUTINHO, 2008). Segundo o MMA (2014), Agenda 21 são planos e ações que devem ser adotados em todas as áreas em que a ação humana gere impactos sobre o ambiente, buscando uma alternativa para o desenvolvimento, com a participação civil e dos governos. Em 1999, foi promulgada a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei n o 9.795/1999, devendo as instituições de ensino fomentar projetos interdisciplinares de educação ambiental, com o objetivo de formar cidadãos críticos que lutem por melhorias sociais e que respeitem o meio ambiente (BRASIL, 1999). As Agendas 21 Escolares contribuem com este processo, fomentando ações participativas e interdisciplinares que visem o desenvolvimento crítico dos alunos e o desenvolvimento local. Entretanto, observa-se que muitas instituições de ensino ainda não possuem projetos com características inter ou transdisciplinares como mencionado por Barros Neta e Fonseca (2013) sendo a Agenda 21 Escolar, uma ferramenta que poderá auxiliar nesse processo. Segundo Reigota (2007), meio ambiente é o local de interação entre os elementos naturais e sociais de um determinado lugar, considerando os processos históricos de transformações do local e de seu ambiente. 157 Jacobi (2003) e Dias (2006) compartilham deste pensamento e acrescentam que os modos de vida predominantemente urbanos das sociedades modernas, geram impactos no ambiente e no ecossistema, o que torna a educação ambiental necessária para sensibilização e conscientização das pessoas e para a geração de sentimentos socioambientais, principalmente, nos centros urbanos. Esses fatos foram constatados nos estudos realizados na região da Bacia do Córrego Bom Jesus, em Contagem/MG, na qual a urbanização gerou impactos socioambientais, sendo a educação ambiental importante para a percepção do espaço local e formação crítica dos indivíduos que nele atuam. Entretanto, Reigota (2009) e Reis e Vaz (2012) alertam que educação ambiental não consiste em tratar apenas de ecologia, mas sim, formar cidadãos críticos, capazes de discussões mais profundas sobre as questões ambientais, devendo a educação ambiental ser tratada em todas as áreas de ensino escolar para que as pessoas tenham atitudes espontâneas para resolver as questões ambientais conforme proposto na Carta de Belgrado (UNESCO, 1977). Ou seja, a educação ambiental deve ser tratada de forma interdisciplinar, com a participação dos professores de várias disciplinas, buscando a integração dos alunos e demais atores sociais no entendimento das diferentes questões ambientais (JACOBI, 2003; DIAS, 2010; PESSOA e BRAGA, 2012). Este fato está em consonância com os objetivos da Agenda 21 Escolar, que deve buscar através da interdisciplinaridade, ações que desenvolvam o senso crítico dos alunos para que estes sejam atores de transformação no, do e para o ambiente, respeitando as peculiaridades locais em busca do desenvolvimento adequado para a região. Reigota (2009) afirma que a educação ambiental deve ser uma prática para as melhorias sociais, em que as pessoas possam desenvolver seu senso crítico, e sejam capazes de reivindicar melhorias sociais, políticas, econômicas e ambientais para a região em que vivem. Mesmo porque, segundo este autor, os problemas ambientais são causados pelas pessoas, e parte delas têm o desejo e a necessidade de mudar estas ações, e serão essas pessoas que irão gerar soluções. Assim, a educação ambiental poderá fomentar mudanças de hábitos e atitudes de 158 modo que as pessoas possam buscar alternativas para o desenvolvimento socioambiental desse ambiente. Sen (2010) corrobora com este pensamento ao afirmar que para ocorrer desenvolvimento é preciso que as pessoas e entidades atuem no local e trabalhem de forma conjunta, buscando o desenvolvimento de forma equilibrada, gerando um melhor aproveitamento dos recursos naturais, possibilitando uma nova maneira de viver, respeitando a natureza com novas práticas e valores sociais (JACOBI, 2003). O que reitera a importância da educação ambiental, na formação de cidadãos críticos, capazes de perceber os problemas socioambientais e que sejam capazes de buscar transformações para esta realidade (DOWBOR, 2013). Sendo assim, na tentativa de formar cidadãos críticos, é dever da educação ambiental integrar a realidade externa aos muros das escolas, para que esta possa ajudar nos processos de transformação e mudanças no agir das pessoas que propiciem o desenvolvimento local (GADOTTI e ROMÃO, 2013.) Pozza e Santos (2011) compartilham desta concepção e acrescentam que para o desenvolvimento de Agendas 21 é importante a participação de jovens nas tomadas de decisões e na implementação de programas relacionados ao desenvolvimento sustentável, pois assim garantirá o sucesso em longo prazo destas ações. Logo, a construção de Agendas 21 requer a participação ativa de diferentes atores sociais, através de uma gestão que busque atender as necessidades sociais, promovendo o desenvolvimento local, sem comprometer as questões ambientais (DOWBOR, 2013). A Agenda 21 Brasileira foi aprovada em 2002, depois de uma análise dos processos necessários para se atingir o desenvolvimento sustentável, sendo dividida em três partes: A primeira parte projeta o país para o século XXI, a segunda parte está dedicada aos temas", infraestrutura e integração regional, cidades sustentáveis, agricultura sustentável, redução das desigualdades sociais, gestão dos recursos naturais e ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável" e a terceira parte sobre como implementar (MMA, 2014), com essas temáticas estabelecidas os 159 estados e municípios ficaram responsáveis pela construção de Agendas 21 estaduais, regionais e locais. No intuito de desenvolver estas agendas, criar Agendas 21 Escolares é relevante, pois como enfatiza o texto da Agenda 21 Global, deve-se agir de forma local pensando em um desenvolvimento global, em que as ações locais irão refletir em cadeia para o desenvolvimento sustentável no planeta. Ou seja, as ações que promoverão o desenvolvimento local, estarão contribuindo para o desenvolvimento global. No capítulo 36 da Agenda Global, destaca-se o papel da Agenda 21 Escolar no processo de desenvolvimento sustentável, afirmando ser importante a participação coletiva dos diversos atores, nas tomadas de decisões e que adultos, jovens e crianças devem ser orientados com temáticas socioambientais, para que estes participem de forma crítica e transformadora nos processos de desenvolvimento da região, como visto nos trabalhos de Malheiros, Philippi Jr. e Coutinho (2008), Amaral et al. (2014), MMA (2014) e que será significativo nos processos de desenvolvimento da Bacia do Córrego Bom Jesus, pois a população terá autonomia dentro dos processos de gestão social para buscar ações que levem melhorias para a região. Estas ações só irão ocorrer através do empoderamento da região pelos seus habitantes (GOHN, 2004), ou seja, os habitantes da região precisam se sentir pertencentes ao local, sendo desta forma, a construção de Agendas 21 Escolares um mecanismo para gerar este empoderamento através da percepção, participação e criticidade. Assim, a população da Bacia do Córrego Bom Jesus buscará soluções para um desenvolvimento equilibrado da região, sem depender apenas de ações do governo ou do setor privado, como visto em Tenório (2008) e Dowbor (2013). Dallabria (2007) afirma que para o desenvolvimento de uma região é importante que ocorra a governança territorial que é a capacidade de uma sociedade gerir seu território através de uma intersotorialidade que envolva os diferentes atores sociais, como visto em Inojosa (2001), Lopes, Melo e Tenório (2012), constituindo uma forma de gestão social, que necessita do empoderamento local. Busca-se desta forma 160 alternativas para o desenvolvimento sustentável, através do desenvolvimento da região, respeitando o meio ambiente. Sendo assim, espera-se que com a aplicação das atividades propostas nesse guia, seja possível elaborar Agendas 21 Escolares, capazes de gerar um empoderamento local por parte dos estudantes e seus familiares, para que todos se sintam pertencentes ao local, possibilitando uma maior participação da comunidade escolar na busca de solução para os problemas socioambientais de cada região. Esse contexto permitirá uma melhoria na qualidade de vida e desenvolvimento local, assumindo a escola um papel importante neste desenvolvimento por gerar integração e práticas de gestão social. 4.3 Metodologia O Guia de atividades para elaboração de Agendas 21 escolares trata-se de um produto técnico em cumprimento a Portaria Normativa nº 17, de 28 de dezembro de 2009 que dispõe sobre Mestrado Profissional no âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (BRASIL, 2009). A elaboração deste Guia foi baseada nos resultados obtidos nos estudos realizados na Bacia do Córrego Bom Jesus, no qual foram realizados relatos de histórias orais com os moradores mais antigos da região, trabalhos de campo e grupos focais com alunos da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, e aplicação de questionários de percepção socioambiental, a 315 alunos do Ensino Médio, de escolas estaduais instaladas na região. Ressalta-se que todas as atividades descritas no Guia foram trabalhadas com os alunos da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves (Contagem/MG). O guia possui dimensões de 210mm x 297mm, com orientação das páginas em estilo retrato, composto por 37p. 161 A pesquisa observou os aspectos éticos. Sendo assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, sob o n° 39195814.0.0000.5098 (Anexo A) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP - Centro Universitário UNA), conforme a Resolução nº 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos no Brasil. As pessoas participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndices E, F, G, H e I), emitido em 2 (duas) vias, sendo que uma delas ficou com o entrevistado. 4.4 Resultados 4.4.1 - Proposta para Agenda 21 Escolar A Agenda 21 Escolar constitui um instrumento para o desenvolvimento local através do empoderamento e do desenvolvimento crítico dos alunos que os levam a participar efetivamente das tomadas de decisões locais. Por esse motivo, o produto técnico dessa dissertação é um Guia de atividades para subsidiar a elaboração de Agendas 21 Escolares, baseando-se em ações realizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus, no ano de 2015. Desta forma, para desenvolver uma Agenda 21 Escolar, capaz de gerar criticidade nos alunos e o empoderamento local, promovendo práticas de gestão social para o desenvolvimento local. Para isso, é preciso sensibilização da comunidade escolar; embasamento teórico; caracterização da região, desenvolvimento das atividades e avaliação. Desta forma, para se construir uma Agenda 21 Escolar, é necessário sensibilizar a comunidade escolar, para que esta conheça a importância da Agenda 21 Escolar enquanto mecanismo de gestão social, para promover a justiça social e a preservação ambiental (MMA, 2014). Se entre professores, funcionários e alunos não ficar claro o que é Agenda 21, seus objetivos e sua importância, pode haver desinteresse pela sua construção, não 162 atingindo desta forma os seus objetivos (POZZA e SANTOS, 2011), que devem gerar atitude, comprometimento e mudança de hábitos dos alunos, necessários para os processos de gestão social que promoverão o desenvolvimento local. Assim, é importante realizar reflexões, dinâmicas de grupo e trabalhar textos científicos, sobre a importância da Agenda 21 Escolar para o desenvolvimento local em seus diferentes contextos. O embasamento teórico é relevante, pois identificar na literatura trabalhos que foram bem sucedidos dentro das diferentes temáticas (educação ambiental, meio ambiente, impactos socioambientais, urbanização, desenvolvimento local, desenvolvimento sustentável, qualidade de vida), refletindo nos ambientes diferentes melhorias, é o que se pretende na elaboração das Agendas 21 Escolares. Estes temas podem estar estruturados em atividades diversas como as realizadas na Escola Estadual Presidente Tancredo Neves (Contagem/MG), em que os alunos tiveram contato com os temas ao realizar trabalhos em duplas, pesquisas no laboratório de informática, elaboração de power points, concursos de redação, histórias em quadrinhos e jogos de forca e velha. Caracterizar a região é uma forma de apresentar para os alunos a região do entorno da escola com seus problemas sociais e ambientais, cuja elaboração da Agenda 21 Escolar deverá impactar diretamente. Nesta caracterização, trabalhos interdisciplinares, histórias orais, trabalhos de campo e observação de mapas e registros fotográficos antigos e atuais são pertinentes, pois estas atividades possibilitam conhecer espacialmente a região, a sua história de ocupação e seus problemas socioambientais. Estas atividades foram realizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus, e se mostraram importantes para o desenvolvimento de Agendas 21 Escolares, pois permitiram uma relação entre teoria (embasamento teórico) e a prática no espaço de vivência dos alunos, evidenciando os quatro pilares da educação para o século XXI (DELORS, 1999). 163 Atividades são as ações que devem ser realizadas para que os alunos desenvolvam seu senso crítico e percebam os impactos socioambientais de sua região. Através dessas atividades, os alunos vivenciam a região e se conscientizam do seu papel como agente transformador dentro de um processo de gestão social, para o desenvolvimento local. Atividades como oficinas de materiais recicláveis, campanha de doação de materiais recicláveis, apresentadas na figura 21, concursos literários e de desenhos, jogos entre outras práticas formativas podem ser observadas no Guia para elaboração de Agendas 21 Escolares, e que também foram aplicadas na Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, na Bacia do Córrego Bom Jesus. 164 Figura 21:Páginas ilustrativas do Guia - parte 1. Fonte : Perona e Vasconcelos, 2015 No processo de avaliação da atividade, consideraram-se as ideias de Pozza e Santos (2011), que afirmam que os processos educativos durante a elaboração da Agenda 21 são mais importantes do que os próprios resultados, pois estes irão ajudar na formação do desenvolvimento crítico dos alunos bem como em novas atitudes e comportamentos. Neste intuito devem ser observadas as atividades que foram realizadas, enumerando os êxitos e as dificuldades. Serão observados o interesse e a participação de cada aluno, em cada etapa e, posteriormente, ressaltar possíveis melhorias socioambientais, principalmente, no ambiente escolar, evidenciando o diálogo e a oportunidade de se expressar desse aluno (Figura 22). Desta forma, a Agenda 21 Escolar é uma ferramenta da educação ambiental que contribui para os pilares da educação, sendo uma forma de gestão social, pois a sua elaboração busca ações participativas, emancipatórias, reflexivas e críticas, para formar cidadão que lute pelo desenvolvimento local. 165 Figura 22 Páginas ilustrativas do Guia – parte 2. Fonte: Perona e Vasconcelos, 2015. 4.5 Conclusão A partir da verificação da importância da educação para o desenvolvimento local, que ocorreu na região da Bacia do Córrego Bom Jesus, a proposição de um Guia com atividades para elaboração de Agendas 21 Escolares se faz pertinente. Durante a realização da pesquisa, observou-se uma maior sensibilização que refletiu em aspectos motivadores para o empoderamento local, por parte dos alunos participantes do projeto. Assim sendo, as Agendas 21 Escolares são instrumentos que incentivam a relação entre comunidade escolar e os problemas socioambientais no seu entorno. Assim, o Guia com suas atividades busca melhorar a qualidade socioambiental da região que vem sendo deteriorada pela ação humana. 166 A execução das atividades propostas nesse Guia irá contribuir com a concepção de valores, através de vivências, contribuindo assim para a formação de atores que possam lutar por melhorias locais. Apesar de suas limitações, por ter sido elaborado com base nas escolas localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus, espera-se que este trabalho possa ser replicado para outras regiões, pois esse Guia é alicerçado em uma experiência local, mas com fins globais, podendo ser aplicado em outros contextos visto o pensar global e agir local preconizado pela Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Este Guia não tem a pretensão de acabar com todos os problemas socioambientais de uma região. Entretanto, este Guia auxilia na formação crítica dos alunos através de uma qualidade de vida melhor, ajudando assim, no desenvolvimento local. REFERÊNCIAS AMARAL, Anelize Queiroz,CARNIATTO, Irene; MUXFELDT, Ana Lidia; LARA, Juliete Gomes; MIGUEL, kassina Silva; SILVA, Sadraque Caetano. Agenda 21 Escolar: sua construção por meio de uma estratégia de ensino multimodal. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), Rio Grande-RS, v. 8, n. 1, p. 10-18, jan./jun. 2014. 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Como objeto desse estudo, utilizouse a Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG) e os sujeitos da pesquisa foram alunos do Ensino Médio, e os moradores mais antigos da Região. Desta forma foi realizada revisão teórica sobre a percepção dos impactos socioambientais gerados pela expansão urbana bem como a contribuição da educação ambiental para o desenvolvimento local. Na sequência foi realizado um estudo de caso na bacia do Córrego Bom Jesus sendo este capítulo subdividido em três partes. A primeira parte analisou a percepção de moradores mais antigos da região, que vivem no local em períodos superiores há 40 anos, sobre a influência dos impactos da urbanização no desenvolvimento local dessa região. A segunta parte objetivou analisar a percepção socioambiental dos alunos do Ensino Médio das instituições de ensino localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus. A terceira parte objetivou analisar o papel do trabalho de campo, no processo de sensibilização dos alunos do Ensino Médio, para o fomento de uma educação ambiental formal na Bacia do Córrego Bom Jesus, Contagem (MG). Com intutito de socializar os resultados dessa pesquisa, foi realizado um capítulo com o objetivo de apresentar um guia de atividades e os processos que subsidiarão a elaboração de Agendas 21 Escolares, como ferramenta educativa para desenvolver práticas de gestão social que busquem o desenvolvimento local. Com base nesse estudo, fica notório que o Córrego Bom Jesus, é um dos principais afluentes da Lagoa da Pampulha, e que os impactos ambientais causados em sua bacia contribuem, para a degradação da qualidade das águas da Lagoa da Pampulha. Verificou-se que a Região da Bacia do Córrego Bom Jesus é constituída 171 principalmente por pessoas de classes sociais menos favorecidas financeiramente e que sua ocupação ocorreu predominantemente de forma irregular (PIRONI, 2009). Esse contexto favorece aos impactos socioambientais observados na região, como o descarte incorreto de resíduos sólidos e as ocupações em áreas de risco, e que podem ser encontrados nos trabalhos de Prata (2011), Rolnik, Cymbalista e Nakano (2011) e Rolnik e Klink (2011). Notou-se que a expansão urbana e a especulação imobiliária representam um problema não só para a qualidade ambiental, mas também para a qualidade de vida das pessoas, pois favorecem impactos socioambientais negativos nessas áreas. Bittencourt (2014) em seu texto “Que país é esse,” afirma que "Quem faz o país é quem mora dentro dele, somos nós os culpados pelo que há de bom e de ruim”. Assim, os moradores de um local são responsáveis por uma parte considerável dos impactos socioambientais ali instalados. O que foi constatado neste trabalho, através dos trabalhos de campo e relatos de histórias orais, é que os processos de urbanização interferiram negativamente no ambiente natural da Bacia do Córrego Bom Jesus. Entretanto, para os moradores mais antigos, a urbanização foi positiva, pois propiciou serviços públicos, tais como: luz, água e esgoto encanados, escolas, postos de saúde, asfalto e transporte público, serviços estes inexistentes no início da ocupação dessa região. Situação semelhante foi percebida nas respostas obtidas em questionários aplicados a 315 alunos do Ensino Médio, ao afirmarem que para uma região ser desenvolvida, esses serviços públicos (saúde, saneamento básico, transporte, educação, moradia) precisam estar disponíveis para a população, mesmo que para isso o meio ambiente seja penalizado. Entretanto, para que o desenvolvimento de uma região seja possível, é necessário que ele ocorra de maneira sustentável, reduzindo os impactos ambientais, sendo os alunos e moradores, atores participativos nos processos de mudanças como define a Política Nacional de Educação Ambiental e que são ressaltados nos processos de 172 gestão social por Inojosa (2001), Tenório (2008) e Dowbor (2013), diferente do que pensam vários alunos e moradores. Constatou-se nesta dissertação que a educação pode contribuir para o desenvolvimento local, principalmente, quando engajada por uma reeleitura dos quatro pilares defendidos por Delors (1999) para uma educação de mercado, formando cidadãos com ações participativas, emancipatórias, reflexivas e críticas, capazes de buscarem melhorias para o local onde vivem. Além disso, percebeu-se que a educação é ponto de partida para a transformação dos alunos, bem como da sociedade, pois os alunos que mais se envolveram com as diversas atividades propostas nesta dissertação, foram os que mostraram através de suas falas nos grupos focais, maior preocupação com o meio ambiente local. Nestas atividades ficou evidente que alunos cujo conhecimento fica restrito à sala de aula, têm dificuldades em associar o conteúdo ministrado em sala (aspectos teóricos) com a realidade do local onde vivem (aspectos práticos). Ressaltando assim que a educação tem o poder de transformar o modo de pensar e agir das pessoas, o que leva à mudança do individuo no como lidar com o meio onde vive, contribuindo para o desenvolvimento local. Neste contexto, observou-se nas respostas dos questionários aplicados aos alunos, nos relatos de histórias orais e nos grupos focais, que a maioria dos moradores da região não possuem uma percepção socioambiental crítica em relação ao local em que vivem, mas acreditam que a escola tenha um papel importante para o desenvolvimento local por ser formadora de opinião. Assim, a contribuição técnica desta dissertação, um Guia de Atividades para o Desenvolvimento de Agendas 21 Escolares, se mostrou pertinente, pois as Agendas 21 Escolares têm como objetivo formar cidadãos críticos que sejam capazes de fomentar ações para transformar a realidade socioambiental existente. Esta pesquisa evidenciou que levantar alternativas para mobilizar a comunidade escolar, objetivando um plano de ações educativas para a educação ambiental, 173 como o desenvolvimento de Agendas 21 Escolares é viável e produtivo, pois notouse a mudança de comportamento dos alunos envolvidos nas diferentes atividades realizadas durante essa pesquisa. Assim, pode-se afirmar que a educação contribui para o desenvolvimento local, ao formar alunos que serão atores dos processos de mudanças locais. 5.1Limitações da pesquisa O objetivo deste estudo foi analisar como a educação pode contribuir para promover o desenvolvimento local considerando os impactos socioambientais causados pela expansão urbana, tendo em vista a contribuição técnica e as características de inovação social. Mesmo com a percepção dos alunos observada na pesquisa quantitativa, a principal limitação deste trabalho foi ter realizado grupos focais e trabalhos de campo, com alunos de apenas uma instituição de ensino. Este fato impediu identificar possíveis gestos, semblantes e colocações que só seriam identificadas através de um contato direto entre pesquisador e pesquisado. O tempo para a realização da pesquisa foi outro fator limitador, pois impossibilitou um maior intercâmbio com professores das diferentes escolas da região. 5.2 Recomendações para pesquisas futuras Este estudo está em consonância com diversos trabalhos, entre eles os de Dowbor (2009) sobre Educação e Desenvolvimento Local; Dias (2010) sobre Educação Ambiental, princípios e práticas; Figueiredo e Braga (2012) sobre a observação de tecnologias sociais para o trabalho de campo no ensino de Geografia; Pessoa e Braga (2012) sobre o trabalho de campo como estratégia de Educação Ambiental nas escolas bem como o estudo de Araújo e Quaresma (2014) sobre visitas guiadas e visitas técnicas, tecnologia de aprendizagem no contexto educacional e do trabalho; Medeiros, Ribeiro e Ferreira (2014) sobre Meio Ambiente e Educação 174 Ambiental nas escolas públicas, ao criar possibilidades para a percepção da importância de diferentes atividades, entre elas, a Educação Ambiental, sensibilizando para o desenvolvimento e implantação das ações proposta nas Agendas 21 Escolares. Desta forma, os resultados desta pesquisa, abrem espaço para outros estudos, que busquem novas técnicas para serem aplicadas na educação ambiental, com objetivo de formar cidadãos que busquem o desenvolvimento local. Esta pesquisa também é relevante para trabalhos que busquem compreender a história de urbanização de uma região, possibilitando observar a importância das histórias orais, para se ter uma percepção do local a ser estudado, através das pessoas que ali viveram. Sugere-se também a comparação entre a percepção socioambiental dos estudantes de escolas que possuem projetos de Agenda 21 Escolar, com estudantes de instituições que não possuem estes projetos. 175 176 REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência. 21ed. São Paulo: Loyola, 2010.152p. ARAÚJO, Glausirée Dettman; QUARESMA, Adilene Gonçalves. Visitas Guiadas e Visitas Técnicas: Tecnologia de Aprendizagem no Contexto Educacional. Revista Competência, Porto Alegre-RS, v. 7, n. 2, p.29-51, jul./dez. 2014. 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Maria de Salles Ferreira Funec Pampulha E.E.Ministro Miguel Mendonça 1-Há quantos anos você mora na região? menos de 1 ano entre 5 e 10 anos entre 1 e 5 anos 2-Você gosta de morar nessa região? mais de 10 anos sim não 3-Você saberia identificar pelo nome, os córregos que se encontram na região? sim não 4-Em sua escola, você tem aulas de Educação Ambiental? sim não 5-Em qual dessas disciplinas você estuda assuntos relacionados ao meio ambiente? Educação Ambiental Português Química Geografia Biologia Outras História Matemática 6-Você já estudou ou estuda os problemas socioambientais de sua região? Como economia, desemprego, problemas ambientais, população, saneamento básico, lazer entre outros. sim não 7-Você sabe onde se localizam as nascentes dos córregos que passam pelo seu bairro? sim não 8-Qual a destinação da água após ser utilizada em sua casa? Vai para uma rede de esgoto, onde é tratado Vai para uma rede de esgoto, onde não é tratado 181 Vai para o córrego mais próximo sem tratamento Outras destinações Vai para uma fossa séptica 9-Em sua opinião, quem são os maiores responsáveis pelos impactos socioambientais de sua região? O governo O Comércio As indústrias e as empresas As escolas Você Os moradores 10-Você acredita que a poluição que ocorre em sua região poderia afetar a saúde dos moradores locais, gerando alguma doença? Não, pois os níveis de poluição da região são mínimos Não, pois os postos de saúde atendem bem a todos os moradores Sim, mas só as pessoas mais pobres Sim, toda a população corre algum risco O tipo de poluição da região não gera doenças As questões a seguir devem ser marcadas de acordo com seu grau de percepção dando notas de 1 a 5 Sendo: 1 - Ruim 2 - Regular 3 - Bom 4 - Muito Bom 5 - Excelente 11-A qualidade da água dos córregos de sua região 1 2 3 4 5 12-A qualidade ambiental das ruas e praças de sua região 1 2 3 4 5 13-A frequência que as questões ambientais locais são tratadas em sua escola. 1 2 3 4 5 14-Sua participação para evitar a poluição da região. 1 2 3 4 5 Em relação às questões sociais da região, como você considera: 15-A qualidade de estabelecimentos comerciais na região. 1 2 3 4 5 16-A quantidade de estabelecimentos comerciais na região. 1 2 3 4 5 182 17-A qualidade do transporte público da região. 1 2 3 4 5 18-O número de policiais para conter a violência e gerar segurança na região é adequado. 1 2 3 4 5 19-O número de postos de saúde e a qualidade dos mesmos atendem com eficiência a população local. 1 2 3 4 5 20-O atendimento da região com praças públicas, campos de futebol ou outro tipo de equipamento público 1 2 3 4 5 21-A qualidade de vida da região 1 2 3 4 5 22-Qual o seu grau de desejo de mudar-se para outra região. 1 2 3 4 5 Para as questões que se seguem marque: 1- Nenhum pouco 2- Muito pouco 3- Pouco 4- Bastante 5- Muito Em relação ao desenvolvimento da região 23-Você considera a região desenvolvida. 1 2 3 4 5 24-As escolas podem exercer um papel importante para o desenvolvimento da região. 1 2 3 4 5 25-Você acredita que a comunidade possui um papel fundamental para se atingir um maior grau de desenvolvimento da região. 1 2 3 4 5 183 26-O orçamento participativo tem influenciado em melhorias e desenvolvimento da região. 1 2 3 4 5 27-Nas listas abaixo marque as opções que você julga serem necessárias para que se tenha um desenvolvimento da região. o Poluição o Shopping o Casas de luxo o Lojas de grife (marcas famosas) o Escolas o Hospitais o Creches o Posto policial o Segurança o Praça o Comércio em pequena escala o Comércio em grande escala o Indústria o Participação da Comunidade o Relação entre diferentes atores sociais (escola, comunidade, governo, ONGs, etc.) o Influência dos governantes o Posto de Gasolina o Campo de Futebol o Áreas Verdes o Asfalto o Posto de Saúde o Estabelecimento da Mc Donald's o Orçamento Participativo o Respeito às decisões de comunidade o Bancos Financeiros 184 APÊNDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS MORADORES MAIS ANTIGOS DA REGIÃO NOME:_____________________________________________________________ Idade:________ Sexo: [ ]M. [ ]F. 1. Há quantos anos você é morador da região? 2. Quando você mudou para a região como era a vida por aqui? 3. Quais eram as principais fontes de renda das pessoas que moravam na região? 4. O que mais mudou na região? 5. Qual era a relação das pessoas da região com o Córrego Bom Jesus? 6. A região tem problemas? Quais são estes problemas? 7. Você poderia levantar soluções para os problemas destacados? 8. Do que você mais sente saudades? 185 APÊNDICE C ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL - Vídeo "Programa Cidades Sustentáveis". Disponível em: www.youtube.com/watch?v=5sTDik3rUug. (Duração 10 minutos). - Dinâmica rio da vida. Nesta dinâmica é feito um rio com um lado azul e outro escuro, cada aluno recebe dois peixes de cores diferentes. Nestes peixes, eles deverão escrever situações boas da região em um e, no outro, as ruins ou que precisam de atenção na região. Cada aluno cola os seus peixes no rio, relatando para o grupo suas considerações. (Duração 20 minutos). - Vídeo com histórias orais dos moradores (Duração 10 minutos) - Discussão o sobre a sustentabilidade e desenvolvimento na região da Bacia do Córrego Bom Jesus. Explique o que é sustentabilidade O que é Desenvolvimento Local? Ocorreu desenvolvimento na Bacia do Córrego Bom Jesus, desde a fundação dos primeiros loteamentos na região? Exemplifique A região apresenta problemas? Quais? É possível desenvolver a região sem gerar problemas? Qual o papel da escola para mudar estes problemas? 186 APÊNDICE D ROTEIRO PARA TRABALHO DE CAMPO Saindo da escola, ir até o Parque municipal das Amendoeiras. Explicar a construção caracterizando a região anteriormente. Descer o Córrego Amendoeiras, observando os impactos socioambientais. Parar no local em que há descarte de entulhos, fazer considerações sobre essa prática. Ir à nascente do Córrego Bom Jesus, observando no trajeto as ocupações em locais irregulares, fazendo relações com os textos estudados em sala. Caminhada de 4,5Km. Chegando à nascente, observar as características do local e os aspectos aparentes da água. Seguir Córrego Bom Jesus em direção à sua foz, na Lagoa da Pampulha. Observar no caminho os impactos ambientais e sociais ao longo da calha do córrego. Observar a ocupação clandestina em andamento, integrante ao bairro Novo Horizonte. Passar pelo marco Zero de Despoluição da Lagoa da Pampulha, na fazenda do senhor Rubens Ferreira Camargos. Explicar o porquê da escolha do local e analisar os efeitos da ocupação clandestina para este local. Passar pelo Bairro Bom Jesus, observando os impactos socioambientais do local, como rede de esgoto dentro do leito do rio. Passar pelo Bairro Vale das Orquídeas. Neste local, instigar os alunos à uma comparação entre as ocupações irregulares vistas anteriormente e as ocupações deste bairro que é legalizado (estrutura física). Continuar seguindo a calha do Córrego Bom Jesus até a Avenida Nacional. Neste ponto, fazer uma reflexão da importância dessa obra e dos impactos socioambientais gerados. Observar neste ponto os aspectos da água. Seguir o leito do rio até a foz, localizada em frente ao portão principal do Jardim Zoológico. Neste ponto, instigar os alunos a refletirem sobre o vivenciado na expedição, os aspectos positivos e negativos da realidade do local. 187 188 APÊNDICE E Guia de Atividades para construção de Agendas 21 escolares 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 ANEXOS ANEXO A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA MENORES PESQUISA: PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL As informações contidas nesta folha, fornecidas por Profª. Drª Fernanda Carla Wasner Vasconcelos e Gabriel Moreira Perona têm por objetivo firmar acordo escrito com o(a) voluntária(o) para participação da pesquisa acima referida, autorizando sua participação com pleno conhecimento da natureza dos procedimentos a que ela(e) será submetida(o). 1)Natureza da pesquisa: Esta pesquisa tem como finalidades: você está sendo convidado a participar desta pesquisa para fins acadêmicos, com a qual se pretende conhecer a percepção de moradores e alunos do papel da educação para o desenvolvimento local da Bacia do Córrego Bom Jesus em Contagem/MG. Também pretendemos perceber os impactos socioambientais que ocorreram na região a partir do inicio de sua ocupação em 1953. É esperado que a pesquisa resulte em medidas educacionais que resulte em medidas educacionais capazes de mudar o sentimento de pertencimento, levando assim a um desenvolvimento mais sustentável, diminuindo a poluição e as doenças. 2)Participantes da pesquisa: Os participantes da pesquisa serão os 10 moradores mais antigos da região e 380 alunos de instituições de ensino localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG). 3)Envolvimento na pesquisa: Envolvimento na pesquisa: Ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que o pesquisador Gabriel Moreira Perona utilize os dados obtidos, para analisar a percepção do papel da educação para o desenvolvimento local e os impactos socioambientais gerados pela expansão urbana no período de 1953 a 2014. O pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos. A sra (sr.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do 226 (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa. 4)Sobre as coletas ou entrevistas: Será aplicado questionário quantitativo utilizando o método Survey e a ferramenta Survey Monkey que é online a 380 alunos das instituições de ensino localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus. 5) Protocolo experimental: Aplicação de questionário para analisar a percepção dos alunos, sobre a participação da escola no desenvolvimento local da região. 6) Riscos e desconforto: Os procedimentos utilizados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética na Pesquisa com Seres Humanos conforme resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – Brasília – DF. Como a pesquisa será aplicada de forma online corre-se o risco de algum aluno não saber manusear equipamentos de acesso à internet. Outro desconforto pode ocorrer caso não saibam responder algum dos questionamentos. 7) Confidencialidade: Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Os dados da(o) voluntária(o) serão identificados com um código, e não com o nome. Apenas os membros da pesquisa terão conhecimento dos dados, assegurando assim sua privacidade. 8)Benefícios: Ao participar desta pesquisa a(o) sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o papel da educação no desenvolvimento local, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa resultar em medidas educacionais capazes de mudar o comportamento das pessoas para que a região possa ter um desenvolvimento socioambiental mais sustentável diminuindo a poluição e as doenças . O pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos, nas instituições de ensino. 9) Pagamento: Você não terá nenhum tipo de despesa ao autorizar sua participação nesta pesquisa, bem como nada será pago pela participação. 227 10) Liberdade de recusar ou retirar o consentimento: Você tem a liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem penalizastes. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para permitir sua participação nesta pesquisa. Portanto, preencha os itens que seguem: CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, __________________________________________, RG_________________ após a leitura e compreensão destas informações, entendo que a participação de(escrever o nome do menor)___________________________________________, sob minha responsabilidade, é voluntária, e que ele(a) pode sair a qualquer momento do estudo, sem prejuízo algum. Confiro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. _____________________, ________/_________/_________ Telefone para contato:________________________________________________ Nome do Voluntário:_________________________________________________ Assinatura do Responsável:_____________________________________________ Assinatura do Pesquisador:____________________________________________ Assinatura do pesquisador assistente:_____________________________________ Contatos: Pesquisadora Orientadora:Profª. Drª Fernanda Carla Wasner Vasconcelos (31)99584990. Pesquisador Aluno:Gabriel Moreira Perona (31) 88201478 Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar, Belo Horizonte/MG, CEP 30.180-100. Telefone do Comitê: (31)3508-9110. [email protected] 228 ANEXO B AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS Eu, ________________________________________________, ocupante do cargo de _______________________ do(a)_____________________________________ AUTORIZO a coleta de dados do projeto: PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL realizado pelo pesquisador Gabriel Moreira Perona, sob a orientação da Professora Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, para fins de pesquisa do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, nas instalações físicas da_ __________________________________após a aprovação do referido projeto pelo CEP do Centro Universitário UNA. ______________________, ______ de ____________________ de 2014. ______________________________________________ ASSINATURA CARIMBO: OBS: Autorização com modelo padrão para todas as instituições 229 230 ANEXO C TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO Nº 466/2012 Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF/MF sob o número 876.491.956-00, e Gabriel Moreira Perona brasileiro, casado, geógrafo, professor, 036.747.106-09, responsáveis pela pesquisa intitulada PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL declaramos que: Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa; Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa; O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa responsabilidade; Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação; Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de consentimento. O CEP do Centro Universitário UNA será comunicado da suspensão ou do encerramento da pesquisa, por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa; As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da pesquisa. _________________________, ____ de________de 2014 Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos CPF nº. 876.491.956-00 Gabriel Moreira Perona CPF nº. 036.747.106-09 231 ANEXO D TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS Eu ___________________________________________________________________, CPF _______________________, RG__________________________, depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, O pesquisador aluno Gabriel Moreira Perona, sob a orientação da Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, do projeto de pesquisa intitulado PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL a realizar as fotos e/ou vídeos que se façam necessárias e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes. Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos, slides e transparências), em favor do pesquisador da pesquisa acima especificada, obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei n.°10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto nº 5.296/2004). ______________________, ____ , _________ de 20___. _______________________ ______________________________ Participante da pesquisa Pesquisador responsável pelo projeto 232 ANEXO E TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Dados da pesquisa e orientações Programa: Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte/MG. Título: PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL Nome da Pesquisadora Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Nome do Pesquisador Aluno: Gabriel Moreira Perona Natureza da pesquisa: você está sendo convidado a participar desta pesquisa para fins acadêmicos, com a qual se pretende conhecer a percepção de moradores e alunos do papel da educação para o desenvolvimento local da Bacia do Córrego Bom Jesus em Contagem/MG. Também pretendemos perceber os impactos socioambientais que ocorreram na região a partir do início de sua ocupação em 1953. É esperado que a pesquisa resulte em medidas educacionais capazes de mudar o sentimento de pertencimento, levando assim a um desenvolvimento mais sustentável, diminuindo a poluição e as doenças. Participantes da pesquisa: os participantes da pesquisa serão os 10 moradores mais antigos da região e 380 alunos de instituições de ensino localizadas na Bacia do Córrego Bom Jesus (Contagem/MG). Envolvimento na pesquisa: Ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que o pesquisador Gabriel Moreira Perona utilize os dados obtidos, para analisar a percepção do papel da educação para o desenvolvimento local e os impactos socioambientais gerados pela expansão urbana no período de 1953 a 2014. O pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos. A sra (sr.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa. Sobre as entrevistas: As entrevistas serão realizadas com os 10 moradores mais antigos da 233 região. Elas seguirão o modelo de entrevista estruturada com perguntas pré-estabelecidas. As entrevistas serão agendadas e gravadas e fotos serão tiradas para comprovar a autenticidade. Todo o processo procurará evitar constrangimento. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais para nenhum participante. A pesquisa poderá gerar desconforto para algum participante por ser gravada. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais, ou seja, ficarão em segredo. Somente o pesquisador e a orientadora terão conhecimento dos dados, que não serão utilizados para nenhum outro fim. Forma de Acompanhamento e Assistência: durante a entrevista e ou aplicação do questionário, você terá orientação e assistência do pesquisador em campo. Você poderá entrar em contato com os pesquisadores ou com o Comitê de Ética da UNA, pelos telefones aqui fornecidos, sempre que necessário. Benefícios: Ao participar desta pesquisa a(o) sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o papel da educação no desenvolvimento local, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa resultar em medidas educacionais capazes de mudar o comportamento das pessoas para que a região possa ter um desenvolvimento socioambiental mais sustentável diminuindo a poluição e as doenças . O pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos. Pagamento: a (o) sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. 234 Consentimento Livre e Esclarecido Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. Assinatura do Participante da Pesquisa: ___________________________________ Nome do Participante da Pesquisa: _______________________________________ Assinatura do Pesquisador Aluno: ________________________________________ Assinatura da Pesquisadora Orientadora: ___________________________________ Contatos: Pesquisadora Orientadora: Profª. Drª Fernanda Carla Wasner Vasconcelos (31) 99584990. Pesquisador Aluno: Gabriel Moreira Perona (31) 88201478 Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar, Belo Horizonte/MG, CEP 30.180-100. Telefone do Comitê: (31) 3508-9110. [email protected] 235 ANEXO F PLATAFORMA BRASIL Título da Pesquisa: Percepções Socioambientais de alunos do Ensino Médio para Construção de Agendas 21 Escolares. Pesquisador Responsável: Gabriel Moreira Perona Área Temática: Versão: 1 CAAE: 39195814.0.0000.5098 Submetido em: 18/11/2014 Instituição Proponente: Centro Universitário UNA Situação da Versão do Projeto: Aprovado Localização atual da Versão do Projeto: Pesquisador Responsável Patrocinador Principal: Financiamento Próprio 236