ECONOMIA E DESENTOLTIHENTO ••I Él II ili u wn •in •in
Transcrição
ECONOMIA E DESENTOLTIHENTO ••I Él II ili u wn •in •in
COMISSÀO ECONOMICA PARA AMERICA LATINA E CARIBE (CEPAL) CONVENIO MPAS/CEPAL ECONOMIA E DESENTOLTIHENTO • • I É lI I i l i u wn • i n • i n PROJETO: A POLÍTICA SOCIAL EM TEMPO DE CRISE: ARTICULAQAO INSTITUCIONAL E DESCENTRALIZADO REFLEXÓES SOBRE A NATUREZA DO BEM- ESTAR Brasilia, 1989 ERRATA MINISTÉRIO DA PREVIDÉNCIA E ASSISTÈNCIA SOCIAL (MPAS) COMISSÄO ECONÒMICA PARA AMERICA LATINA E CARIBE (CEPAL) CONVÈNIO MPAS/CEPAL PROJETO: A POLÌTICA SOCIAL EM TEMPO DE CRISE: ARTICULAQÄO INSTITUCIONAL E DESCENTRALIZAQÄO VOLUME I REFLEXÓES SOBRE A NATUREZA DO BEM-ESTAR 9 0 0 0 1 4 0 2 2 - BIBLIOTECA CEPAL Brasilia, 1989 LC/BRS/L. 09 Brasilia, 1989 Tiragem: 750 exemplares Comissâo Económica para América Latina e Caribe (CEPAL) Escritorio no Brasil SBS - Edificio BNDES, 172 a n ( j a r 70.076, Brasilia, DF MINISTÉRIO DA PREVIDÉNCIA E ASSISTÈNCIA SOCIAL (MPAS) COMISSÄO ECONOMICA PARA AMERICA LATINA E CARIBE (CEPAL) CONVÈNIO MPAS/CEPAL PROJETO: A POLÌTICA SOCIAL EM TEMPO DE CRISE: ARTICULAQÄO INSTITUCINAL E DESCENTRALIZAQÄO VOLUME I REFLEXÓES SOBRE A NATUREZA DO BEM-ESTAR Brasilia, 1989 LC/BRS/L. 09 Brasilia, 1989 Tiragem: 750 exemplares . ^ ^ ^ ^ Comissáo Económica para América C I M ^ I Escritorio no Brasil SBS - Edificio BNDES, 179 andar 70.076, Brasilia, DF Este trabalho foi elaborado no ámbito do Projeto "A Política Social em Tempo de Crise: Articulagáo Institucional e Descentralizagáo", no marco do Convenio MPAS/CEPAL. As opiniòes nele expressas sao de exclusiva responsabilidade dos autores, podendo nao coincidir com as das instituigóes auspiciadoras. SUMARIO APRESENTAQÁO INTRODUQÁO 1 9 CAPÍTULO I A CRISE DA POLÍTICA SOCIAL: UMA PERSPECTIVA COMPARADA (Sulamis Dain) I. INTRODUQÁO II. TENDÉNCIAS RECENTES NA EVOLUQÁO DO GASTO SOCIAL.. III. PRINCIPAIS RESULTADOS AGREGADOS IV. FINANCIAMENTO DA POLÍTICA SOCIAL A. Financiamento fiscal ou contribuigáo direta B. Evolugáo do financiamento no pós-guerra C. Mito e realidade do financiamento da seguridade social 1. Custo da máo-de-obra, competitividade das empresas, escolha de técnicas, emprego e bases de financiamento da Seguridade Social 2. Eliminagáo do teto de contribuigáo sobre a folha de salários 3. Nati/reza do financiamento da previdencia e política económica 4. Incidencia sobre folha de salarios - contribuigáo social ou tributo 5. A protegáo social em perspectiva comparada V. A ECONOMIA POLÍTICA DAS PENSÓES VI. REFERÉNCIAS BIBLIOGRAFICAS 20 25 28 31 31 33 36 37 39 39 41 45 50 56 CAPÍTULO II A GENESE DA ORDEM (Wanderley Guilherme dos Santos) ENSAIO INTERPRETATIVO REFERÉNCIAS BIBLIOGRAFICAS 58 82 CAPÍTULO III A ESPECIFICIDADE DO "WELFARE STATE" BRASILEIRO (Liana Aureliano e Sonia Miriam Draibe) I. TEORIAS E TIPOLOGIAS SOBRE A EMERGÉNCIA E DESEN VOLVIMENTO DO "WELFARE STATE" A. As grandes correntes Interpretativas sobre origem e expansáo do Welfare State B. Modalidades estruturais e de funcionamento do Welfare 7 State v II. ^"WELFARE STATE": O CASO BRASILEIRO V JA. A historiografía da política social brasileira 1. A Política Educacional 2. A Previdencia Social 3. A Política de Atengáo á Saúde 4. A Política Habitacional 5. A Política Assistencial B. Periodizagáo e caracterizagáo do Welfare State brasileiro C. A especificidade do Welfare State brasileiro 1. A extrema centralizagáo política e financeira no nivel federal das agoes sociais do governo 2. Urna formidável fragmentagáo institucional 3. A exclusáo da participagáo social e política da populagáo .^nos processos de decisáo (4. h principio do autofinanciamento do investimento social.... 86 89 107 120 120 124 129 133 135 139 145 145 147 147 147 5. 0 principio da privatizagào D. As interpretagóes sobre as origens do Welfare State no Brasil E. A estratégia de politica social da "Nova República" F. Estrategias, obstáculos e impactos políticos da descentralizagào da política de saúde: reflexòes preliminares e provisorias 1. Antecedentes 2. As mudangas da Nova República: estratégia e movimento dos principáis atores 3. Cenários de desenvolvimento REFERÉNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 148 151 157 162 164 167 173 177 CAPÍTULO IV AJUSTAMIENTO NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO: QUEM PAGA ESSA CONTA? (Paulo Renato Costa Souza) I. INTRODUQÁO 180 II. A NATUREZA DOS DESEQUILIBRIOS ECONOMICOS RECENTES 182 A. O desequilibrio externo e a crise da divida 182 B. O desequilibrio do setor público e o endividamento interno.. 184 C. A aceleragáo inflacionária e o perigo da hiperinflagáo 188 III. A LÓGICA ECONÓMICA DAS POLÍTICAS ORTODOXAS DE AJUSTAMENTO 190 IV. OS EFEITOS DAS POLÍTICAS DE AJUSTAMENTO NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 80 193 V. AS CONSEQÜÉNCIAS DO AJUSTAMENTO EXTERNO SOBRE O DESEQUILIBRIO DO SETOR PÚBLICO 203 VI. AS CONSEQÜÉNCIAS DO AJUSTAMENTO EXTERNO E DO DESEQUILIBRIO DO SETOR PÚBLICO SOBRE AINFLAQÀO.. 210 VII. INFLAQÀO, EMPREGO E SALÁRIOS 214 Vili. CONCLUSÓES 223 REFERÉNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 227 A P O L I T I C A S O C I A L EH TEMPO D E CRISE: ARTICULACAO INSTITUCIONAL E DESCENTRALIZACAO 8/ APRE8ENTACA0 As p o l í t i c a s s o c i a i s vém c o n s t i t u i n d o um e i x o central das preocupacoes de boa parte da "inteligencia" brasileira nos últimos dez anos. F a r t a l i t e r a t u r a vem s e n d o p r o d u z i d a s o b r e as •formas de enfrentar, a partir de recursos e instituicoes públicas, a s a g u d a s d e s i g u a l d a d e s e a e x t r e m a m i s e r i a - as duas pontas m a i s v i s í v e i s do p r o c e s s o de e m p o b r e c i m e n t o que a t i n g e a populacdo 0 que n a o é de s e e s t r a n h a r , p o i s a m b a s - a p o n t a d a s desigualdades e a p o n t a da m i s e r i a - c o n s e g u i r a m e x c e d e r - s e en perversidade, n e s t e t e m p o de c r i s e , tornando-se demasiadamente gritantes, incómodas, d a d o o p r ó p r i o m o d e l o p e r v e r s o de g e r a c a o de r i q u e z a no p a í s . Agravaram-se, sem d ú v i d a , com a recessao económica do p e r í o d o 1 9 7 9 / 8 4 e s u a s c o n s e q ü é n c i a s em t e r m o s de d e s e m p r e g o e r e d u e l o do s a l a r i o r e a l ; r e p r o d u z i r a m - s e na e s p i r a l i n f l a c i o n a r i a que t e n t a t i v a s , c o m o a do P l a n o C r u z a d o , em 1 9 8 6 (e outras, posteriores e menos catadas), nao lograram debelar; sobretudo, revelaram a i n e p c i a de um i m e n s o aparelho estatal montado para lhes f a z e r face e o d e s p e r d i c i o de consideráveis r e c u r s o s e x t r a í d o s com tal f i n a l i d a d e . A recente muítip1icacao de trabalhos, investigacoes, relatórios, etc., no campo das políticas sociais, mostra a c o n t e m p o r a n e i d a d e do t e m a e n q u a n t o o b j e t o d e r e f l e x a o , bem c o m o a urgencia de seu e n c a m i n h a m e n t o p e l a v i a d e medidas concretas. E s t e t e m p o de c r i s e , nao custa lembrar, constituí, também, o momento da longa, difícil e, ainda, incompleta transicao democrática no Brasil, d u r a n t e o qual t a n t o os horizontes do pensamento e da crítica aumentaram muito, quanto as possibilidades de experimentar e mudar ficam mais próximas. Fragmentada e dispersa, a producao sobre a problemática da política social nao se origina só na Academia; judiciosos documentos, elaborados no á m b i t o de agencias governamentais, trazem á tona elementos essenciais para a compreensao do f r e q ü e n t e i n s u c e s s o de p r o p o s t a s i n o v a d o r a s e b e m i n t e n c i o n a d a s . */ A presente coletinea integra o conjunto de documentos elaborados durante a e x e c u c a o do projeto sobre políticas sociais e que s e r a o c o m p i l a d o s e p u b l i c a d o s p r ó x i m a m e n t e em tris outros v o l u m e s sob os s e g u i n t e s t í t u l o s . Volume XI Financiamento d a s P o l í t i c a s S o c i a i s no B r a s i l ; V o l u m e III Avaliacao das Políticas S o c i a i s Brasileiras; e Volume IV Brasil: indicadores sociais selecionados. Sua elaboracao e s t e v e a c a r g o d e c o n s u l t o r e s t é c n i c o s sob a c o o r d e n a c a o geral da Professora Sulamis Dain, assistida pela Professora Maria L ú c i a Uerneck V i a n n a . Adolfo Gurrieri, D i r e t o r da D i v i s a o de Desenvolvimento Social da C E P A L , c o n c e b e u a idéia original d e s t e projeto de p e s q u i s a . 2 L o n g e de se e n c o n t r a r e s g o t a d a , a q u e s t a o da p o l í t i c a social o f e r e c e , no c a s o b r a s i l e i r o - e n e s t e t e m p o de c r i s e r e n i t e n t e - , ocupado de sobra para os estudiosos. As necessidades de aprofundamento da reconstituido histórica das estruturas (financeira, administrativa, política) do s i s t e m a de protecao social e de r e v i s a o de c o n c e i t o s - c h a v e p a r a o entendimento das f u n c o e s d e s e m p e n h a d a s por ele n o d e s e n v o l v i m e n t o do país, somam-se, hoje, e x i g e n c i a s da c o n j u n t u r a . E x i g e n c i a s ao c o n h e c i m e n t o , no sentido de incorporar analiticamente mudancas em curso, algumas fundamentáis, c o m o a v i g e n c i a d e urna n o v a C o n s t i t u i d o a demandar mecanismos e regulamentos que viabilizem sua real imp1antacao. A p e s q u i s a 6 E 9 1 Í 1 Í E 3 S S E i a l g!ü t e m e s de c r i s e ^ articulacio ÍQStitUCÍQQal B desceotcalieataQ. realizada entre setembro de 1987 e n o v e m b r o de 1988, mediante convenio entre a CEPAL e o MPAS, se s i t ú a na f r o n t e i r a e n t r e e s t e s d o i s g r a n d e s objetivos-, apresentar urna a p r e c i a d o c u m u l a t i v a da área i n t e r d i s c i p 1 inar de e s t u d o s que é a p o l í t i c a social e s u g e r i r t e n d e n c i a s r e l e v a n t e s a serem examinadas por futuras invest i g a c o e s . Por apreciado cumulativa, p o d e - s e e n t e n d e r um d u p l o e s f o r c o m a p e a d o r : de r e v e r as principáis l i n h a s de i n t e r p r e t a d o e a n á l i s e das políticas s o c i a i s n o B r a s i l , p r e s e n t e s em a b o r d a g e n s h i s t ó r i c a s , e c o n ó m i c a s ou sociológicas; e de reconstruir os caminhos e efeitos de decisoes substantivas, s e j a do p o n t o de v i s t a do s i s t e m a c o m o um todo, s e j a sob o á n g u l o d a s p o l í t i c a s s e t o r i a i s . A sugestao de t e n d e n c i a s - e s p e c i a l m e n t e de d i f i c u l d a d e s n o v a s e/ou r e n o v a d a s á consecudo de políticas de Uclfarc - resultou de evidencias quanto aos inúmeros desafios suscitados pelos processos de agudizado da c r i s e de a v a n c o d e m o c r á t i c o ; d e s a f i o s nao menos veementes p a r a o i n t e l e c t u a l e m p e n h a d o em e x p l i c a r , que para o decisor interessado em formular acoes, e cuja averiguado, d e s c o r t i n a d a p e l o p r e s e n t e t r a b a l h o , d e v e r á c e r t a m e n t e c o n s t a r da a g e n d a de a m b o s d a q u i em d i a n t e . A r q u i t e t a d a em m o l d e s p o u c o o r t o d o x o s , a pesquisa mobilizou especialistas de áreas diversas, e n c a r r e g a d o s de concluir em prazos curtos e concomitantes, e n s a i o s que cobrissem aspecto c r u c i a i s do o b j e t o em p a u t a , n o i n t u i t o de c o n d e n s a r c o n h e c i m e n t o acumulado e apontar perspectivas. Quatro dimensoes ordenaran o material solicitado: a primeira, c o n s i s t i u na i d e n t i f i c a c a o de urna morfología - institucional e política - do sistema de protecao social brasileiro, capaz de explicitar a sua s i n g u l a r i d a d e e, p a r a l e l a m e n t e , p e r m i t i r a c o m p a r a d o com o u t r o s sistemas; um s e g u n d o e i x o de d i a g n ó s t i c o r e v i s i t o u a q u e s t a o do finaneíamento das políticas sociais, pretendendo elucidar as relacoes que as f o r m a s u s u a i s d e e x t r a c a o e a l o c a d o de r e c u r s o s m a n t e m com a s e s t r u t u r a s s a l a r i a l e de r e d i s t r i b u i d o de r e n d a no país; na t e r c e i r a d i m e n s a o , a t ó n i c a r e s i d i u no issue a v a l i a d o , p e r c e b i d o em s u a s i m p l i c a c o e s d i r e t a s - a a v a l i a d o de políticas e experiencias específicas - e trabalhado como f u n d o correlata á i m p l e m e n t a c a o da p o l í t i c a s o c i a l , v a l e d i z e r , b u s c o u - s e d e s c r e v e r de m o d o a b r a n g e n t e a t e o r í a e a p r á t i c a da a v a l i a d o no B r a s i l ; a quarta linha foi desenhada para enfatizar o problema da informado, através do levantamento e da sist emat i z a d o de 3 indicadores do Malfare. sociais indispensáveis a qualquer inspecao rigorosa Estas dimensoes e n c o n t r a m - s e c o n t e m p l a d a s no trabalho ora publicado. 0 volume que inicia a ed i cao reúne os ensaios de Suiamis Dain - A Grisg da Eglitica Sggialj. Uma Pgrsegetiya CaffiEacaàa -¡ de Wanderley G u i l h e r m e dos S a n t o s - A Gingse dg QcrigD! "< de Sonia Miriam Draibe e Liana Aureliano - g EsBecifieidade do Welfata State Brasileiro e de Paulo R e n a t o Costa Souza - fi-iustameato nos Eaíses era OeseayQlyimeQto. Apesar do enfoque peculiar de cada un, era todos Ká o c l a r o intento de definir marcos c o n c e i t u a i s p e r t i n e n t e s para a c a r a c t e r i z a c a o da política social num p a í s de c a p i t a l i s m o tardío p e r i f é r i c o c o m o o Brasil. Lidando com v a r i á v e i s m a c r o - p o l í t i c a s de e s t r u t u r a c a o do sistema, sem, contudo, perder de vista como se m a n i f e s t a m no cotidiano determinados movimento^ - dinimica de funeionamento, processos decisorios, módulos de i n t e r m e d i a c a o de interesses, formas de relacionamento com as clientelas -, tais estudos fornecem d i r e t r i z e s v a l i o s a s para o e n t e n d i m e n t o das conhecidas disfuncionalidades da máquina social do E s t a d o brasileiro num approach c o m p a r a t i v o . A segunda c o l e t a n e a é dedicada ao tema do f i n a n e i a m e n t o políticas sociais, englobando os textos de S u i a m i s Dain EiQaDQiiEgQts das - Q das E o l í t i c a s S o c i a i s a s S c a s i l a caractgEÍsticas EgCÍQdQ tgcgQtg - e de Adolfo F u r t a d o - L i m i t e s E s t c u t u r a i s a s EioaQciaaigQto da E r g ü i d i o c i a S o c i a l , o esteuturais g d g s g E E g Q b e Q9 elo entre estes t r a b a l h o s reside em privi 1egiar-se um ponto decisivo, mas g e r a l m e n t e o b s c u r e c i d o ñas a n á l i s e s sobre o U « l f a r e Stata brasileiro: o caráter em p r i n c i p i o n a o - r e d i s t r i b u t i v o de qualquer sistema de Uelfare, no Brasil, por forca de urna estrutura s ò c i o - e c o n ò m i c a p r o f u n d a m e n t e h e t e r o g é n e a , acaba por se expressar quase que num a n t i - r e d i s t r i b u t i v i s m o . A c o m p r e e n s a o de que política social, por si só, n a o t r a n s f o r m a os p a d r o e s de desigualdade atuantes numa sociedade, permite, por exemplo, repensar, com melhores c h a n c e s de éxito, estrategias para a d i m i n u i c a o da m i s e r i a . No conjunto que se segue - e que dà conta da terceira dimensao p e s q u i s a d a - e s t a o os t r a b a l h o s a g r e g a d o s sob a rubrica avaliaclo: D i a g n ó s t i c o e Bgseoba das E e s s y i s a s oa ó r s a da eolítica Sociale un IUCUKÜ d a s a v a l i a c o e s . de María Lúcia T. Werneck Gianna, I D T G C E C G T A C A Q g ò v a l i a e à o da E o l í t i c a S o c i a l DQ Brasili urna b i b l i Q a c a f i a COmgQtada. de Maria L ú c i a T. Werneck Vianna e Beatriz A z e r e d o ; ó o á l i s g da E 9 l í t Í C 3 dg §ang30gQte OB Brasil, de Màrcio Miller Santos e Luiz Fernando Rodrigues de Urna tìnàlise dos Programas dg SyElemeotacao SlitQgQtar o s s dgsemeeaho g formas de o r s a a i g a c l o . de Ernani Teixeíra Torres Filho e Monica E s t e v e s de Carvalho; e Eolítica Social g D e s e e n t c a l i s a c a Q j . a S H e e r i i n c i a do 8b!DES¿EIb)§QCISL E Q § : 1 2 9 § , de Paula; daos Maria Thereza Lobo. T r a t a m - s e de e n s a i o s que, embora tendo em comum o fato de r e a l i z a r e n a v a l i a c o e s , perseguem duas linhas distintas. Numa, o foco recai sobre s e t o r e s e e x p e r i e n c i a s da p o l í t i c a social b r a s i l e i r a : as áreas de s a n e a m e n t o e a l i m e n t a l o e a experiencia da descent ra 1izacao; aquí, o sentido é o de 4 contribuir positivamente para o diagnóstico de situacoes problematizadas. Na o u t r a l i n h a , é e n f o c a d a a p r ó p r i a p r á t i c a d a avaliaeao, inserindo-a no c o n t e x t o a n a l í t i c o m a i s a b r a n g e n t e da p r o d u c á n t e ó r i c a s o b r e p o l í t i c a s o c i a l no B r a s i l . Finalmente, o v o l u m e que e n c e r r a a c o l é e l o , compoe-se dos quadros, comentados, de indicadores sociais selecionados. C o o r d e n a d o por C l a u d i o S a l m e L u i z C a r l o s E i c h e n b e r g da S i l v a , o levantamento apresenta dados relativos a: 1> transido d e m o g r á f i c a e d i s t r i b u i d o e s p a c i a l da p o p u l a d o ; 5 ) i n s e r c a o no m e r c a d o de t r a b a l h o , salários, distribuicao de renda e pobreza; 3) saúde; 4) e d u c a d o ; 5) previdencia social; 6) h a b i t a d o e saneamento básico; e 7) gasto social. N e n h u m a p e s q u i s a tem a p r e t e n s a o de ser c o n c l u s i v a . Esta nao fugiu á regra. No e n t a n t o , se o b r e v e e s p a t o de um ano foi insuficiente para dar vazao ás (justificadas) ambicoes dos pesquisadores e n v o l v i d o s com o p r o j e t o , os r e s u l t a d o s garantem alentó bastante para prosseguir. LA POLITICA SOCIAL EN TIEMPO DE CRISIS: ARTICULACION INSTITUCIONAL Y DESCENTRALIZACION 8/ PRESENTACION La investigación global, que llevó por t í t u l o "La política social en tiempo de crisis: articulación institucional y descentralización", desarrollada entre septiembre de 1987 y n o v i e m b r e de 1988, resultó de un c o n v e n i o entre el M i n i s t e r i o de la Seguridad Social de Brasil y la O f i c i n a de la CEPAL en aquel pais. Con ella se p r e t e n d i ó cubrir un d o b l e objetivo: por un lado, presentar una visión a c u m u l a t i v a del área i n t e r d i s c i p 1 i n a r de la política social; por otro sugerir t e n d e n c i a s r e l e v a n t e s que se espera sean objeto de i n v e s t i g a c i o n e s futuras. El primer objetivo fue más bien m a p e a d o r , en el sentido de rever las p r i n c i p a l e s líneas de interpretación y a n a l i s i s de las políticas sociales en Brasil presentes en aproximaciones históricas, económicas o sociológicas. Asimismo, se buscó r e c o n s t r u i r los caminos y c o n s e c u e n c i a s de d e c i s i o n e s s u s t a n t i v a s , ya sea d e s d e perspectiva del sistema como un todo, ya sea d e s d e el á n g u l o de las p o l í t i c a s s e c t o r i a l e s . En c u a n t o al segundo o b j e t i v o , el de sugerir tendencias relevantes - especialmente el examen de dificultades nuevas y/o renovadas para la consecución de p o l í t i c a s de U a l f i r * - su t r a t a m i e n t o r e s u l t ó de e v i d e n c i a s s o b r e los innumerables d e s a f i o s o r i g i n a d o s en las c r i s i s del avance democrático. D e s a f i o s que se espera h a b e r puesto de m a n i f i e s t o en este trabajo, para la c o n s i d e r a c i ó n de e s t u d i o s o s del tema y de quienes tienen r e s p o n s a b i l i d a d en el p r o c e s o d e c i s o r i o . La presente Cnisis dg publicación reúne l a E o l í t i c a Secial-L los e n s a y o s de S u l a m i s Dain Urna P e c s e g Q t i y g Egmeacada; Guilherme dos S a n t o s - G é n e s i s de l a Qcdeo; Sonia Liana A u r e l i a n o - L a E s e e c i f i t i d a d d e l tíelflCE Slala Wanderley Draibe y BrasilSQQ; y P a u l o R e n a t o Costa Souza - Ó Í U S l e 60 195 E a i S B S B0 DBS3ECQ11q A d e s p e c h o de la visión p e c u l i a r de cada uno de los trabajos, hay, en todos ellos, un claro intento de definir m a r c o s conceptuales p e r t i n e n t e s para la c a r a c t e r i z a c i ó n de la política social en un pais como el Brasil, de capitalismo tardio */ Esta publicación (Libro I) reúne a l g u n o s d o c u m e n t o s e l a b o r a d o s en el c o n t e x t o de una investigación m á s amplia sobre p o l í t i c a s sociales. Los demás t r a b a j o s serán p u b l i c a d o s en tres otros libros, con los s i g u i e n t e s títulos: L i b r o II - F i n a n c i a m i e n t o de las P o l í t i c a s S o c i a l e s en el B r a s i l ; Libro III - Evaluación de las Políticas Sociales Brasileñas; y L i b r o IV - Brasil, indicadores sociales seleccionados. El desarrollo de la investigación a r t i c u l ó el a p o y o de v a r i o s c o n s u l t o r e s bajo la coordinación general de la P r o f e s o r a S u l a m i s Dain, con la asistencia de la Profesora Maria L u c i a Werneck V i a n n a . Adolfo Gurrieri, Director de la División de D e s a r r o l l o Social de la CEPAL, fue el autor de la c o n c e p c i ó n original de este p r o y e c t o de investigación. 6 p e r i f é r i c o . M a n e j a n d o v a r i a b l e s m a c r o - p o l í t i c a s de e s t r u c t u r a c i ó n del sistema, pero sin olvidar c o m o se p r e s e n t a n en el c o t i d i a n o d e t e r m i n a d o s m o v i m i e n t o s - d i n á m i c a de funcionamiento, procesos decisorios, módulos de i n t e r m e d i a c i ó n de intereses, formas de relacionamiento con determinados segmentos sociales - los t r a b a j o s aquí c o n t e n i d o s e s t a b l e c e n d i r e c t r i c e s v a l i o s a s para la comprensión de las c o n o c i d a s d i s f u n c i o n a l i d a d e s de la máquina social del estado brasileño, con un approach c o m p a r a t i v o . El s e g u n d o volumen está d e d i c a d o al t e m a del f i n a n c i a m i e n t o de las p o l í t i c a s sociales, a b a r c a n d o los t r a b a j o s de Sulamis Dain - E l ElDSDCiamigDt o d§ l.a§ P o l í t i c a s S o c i a l e s en e l Brasil^, c a r a c t e r í s t i c a s e s t r u c t u r a l e s a desenmeno en e l e e r í o d o r e c i e n t e ; a de Adolfo Furtado - L i m i t e s E s t r u c t u r a l e s a l E i a a a c i a i n i e Q t a de l a Seguridad S o c i a l . El punto de c o n v e r g e n c i a entre estos dos trabajos está en la c o n s i d e r a c i ó n p r i v i l e g i a d a de un principio decisivo, pero generalmente o l v i d a d o en los análisis sobre el Uelfare State brasileño. el carácter en principio no-redistributivo de los s i s t e m a s de U e l f a r e en Brasil, dado la estructura socio-económica profundamente heterogénea. La comprensión de que p o l í t i c a social, per se, no transforma los p a t r o n e s de desigualdad p e r m i t e repensar, con más posibilidades de éxito, e s t r a t e g i a s para la minoración de la miseria. de En el tercer libro están los t r a b a j o s a g r e g a d o s bajo el tema la evaluación: M a r i a Lucia Werneck V i a n n a - Diagnóstico a Beseña de l a s I n y e s t i a a c i o Q e s ea e l á r e a de l a E o l í t i c a Sacíala l a s evaluaciones; Maria L u c i a Werneck Vianna 3 - Intereretacián a Evaluación de l a Eolítica S o c i a l eo e l B r a s i l ^ , una b i b l i g a r a f i a comentada; Márcio Miller Santos 3 L u i z F e r n a n d o R o d r i g u e s de Paula - A n á l i s i s de l a E o l í t i c a de Saneamiento en e l B r a s i l ; Ernani Teixeira Torres Filho a Monica Esteves de Carvalho - Una ó n á l i s i s de l o s Eroaramas de S u E l e m e n t a c i ó n a l i m e n t a r i a en l o s años 82; a Maria Thereza Lobo - Eolítica Sgeiai a Descentraligaciónj. la e a E e r i e n c i a d e l BbiDES^EINSQCIAL e g s t 1285. Son e n s a a o s que, aún UQ SUtyea de Beatriz Azeredo t e n i e n d o en común el h e c h o de realizaren e v a l u a c i o n e s , persiguen dos líneas d i s t i n t a s . En una, el interés recae sobre s e c t o r e s a e x p e r i e n c i a s de la p o l í t i c a social brasileña, donde el sentido de los trabajos es el de contribuir positivamente para el diagnóstico de s i t u a c i o n e s - p r o b l e m a . En la otra, se e n f o c a la práctica misma de evaluaciones, insertándola en el marco analítico más abarcador de la producción t e ó r i c a sobre política social en el Brasil. Finalmente, el volumen que cierra el c o n j u n t o de trabajos trae c u a d r o s c o m e n t a d o s de i n d i c a d o r e s sociales seleccionados. Elaborado por Cláudio L e o p o l d o Salm a Luiz C a r l o s Eichenberg da Silva, el l e v a n t a m i e n t o p r e s e n t a d a t o s r e l a t i v o s a: transición d e m o g r á f i c a a d i s t r i b u c i ó n espacial de la p o b l a c i ó n ; inserción en el mercado de trabajo, salarios, distribución del ingreso, pobreza; salud; educación; seguridad social; vivienda a s a n e a m i e n t o básico; a g a s t o s o c i a l . S O C I A L P O L I C Y IN TIME OF C R I S I 8 : INSTITUTIONAL. F R A M E W O R K A N O D E S C E N T R A L I Z A R O N «/ PRESENTATION The research "Social Policy in Time of C r i s i s : Institutional Framework and Descent r a l i z a t i o n " , carried out between September 1987 and N o v e m b e r 1988 through an Agreement signed between E C L A C and the Ministry of Social W e l f a r e of Brazil (MPAS) had two main o b j e c t i v e s : to present a c u m u l a t i v e a p p r e c i a t i o n of the B r a z i l i a n social policy focusing the studies m a d e by different areas of knowledge and to indicate relevant issues for future research. Such c u m u l a t i v e a p p r e c i a t i o n can be u n d e r s t o o d as the review of the main a n a l y s i s on the social p o l i c i e s of Brazil, either on their h i s t o r i c a l , economical or sociological c o n c e p t s , and as the reconstruction of the paths and e f f e c t s of the substantive d e c i s i o n s made by the public sector, not only in a broad view of the social system but also in sectorial p o l i c i e s . The relevant points for future research resulted from various challenges brought about by the s i m u l t a n e o u s worsening of the economic c r i s i s and the a d v a n c e of the d e m o c r a t i z a t i o n p r o c e s s in Brazil. These challenges are not only difficult for the researcher to explain, but as well to the policy maker interested in establishing new p r o j e c t s . The i n q u i r i e s o p e n e d by this research should be part of any future work program of both of them. This book brings t o g e t h e r the following e s s a y s : Ihe Crisis by S u l a m i s Dain¡ Ibg Ceoesis of the Order, by Wanderley G u i l h e r m e d o s Santos; Ibe SESClficatiQD of tbe Brazilian Welfare §tatg> by Sonia Draibe and L i a n a A u r e l i a n o ; and of tbe Social Bolicy, Sdiustmeat id DeyelBEioa Qountries, by Paulo Renato Costa Souza. In spite of the p e c u l i a r scope of each paper, in all of them there is a clear goal to d e f i n e pertinent concepts for the c h a r a c t e r i z a t i o n of social p o l i c i e s in a developing country like Brazil. Using macro-policy variables of the social system structure, but without losing its everyday movements, these essays provide valuable directives for understanding the d i s f u n c t i o n s of the social a p p a r a t u s in the B r a z i l i a n S t a t e . */ This book is part of the collection of p a p e r s e l a b o r a t e d by the E C L A C / M P A S research project on social p o l i c y . The other three volumes will be published shortly with the following titles: Volume II - Financiarotnto das Pol it l e a * 8oclais no Brasil; Volume III - AvallacSo das Políticas Socials Brasileiras; and Volume IV - Brasil: Indicadores Sociais Selecionados. P r o f e s s o r S u l a m i s Dain w a s r e s p o n s i b l e for the general coordination of t h i s research project and she was assisted by P r o f e s s o r Maria Lucia T. Werneck V i a n n a in this task. The original idea of t h i s research project was conceived by Adolfo Gurrieri, Director of the Social Development Division of ECLAC. 8 The f i n a n c i n g of the social p o l i c i e s will be c o v e r e d by the second volume, which will c o n t a i n the e s s a y s by S u l a m i s Dain I h e E i n a n c i n g of the S o c i a l E o l i c i e s i n B r a z i l s Characteristics^ S t r u c t u r e and Becent E e r f o r m a n c e ; and by Adolfo Furtado S t r u c t u r a l L i m i t s to the E i n a n c i n g o£ the S o c i a l Welfare System. T h e link b e t w e e n t h e s e s t u d i e s is that they p r i v i l e g e a decisive point often obscured in t h e normal a n a l y s i s of the Brazilian welfare system: its n o n - r e d i s t r i b u t i v e c h a r a c t e r , b e c a u s e of the h e t e r o g e n e o u s s o c i o - e c o n o m i c s t r u c t u r e of t h e B r a z i l i a n society. The comprehension that social p o l i c i e s a l o n e are not able to c h a n g e social i n e q u a l i t i e s p e r m i t s , for e x a m p l e , to r e c o n s i d e r , with better chance for s u c e s s , s t r a t e g i e s to reduce extreme povert y. In t h e third v o l u m e t h e f o l l o w i n g e v a l u a t i o n s t u d i e s will be presented: S u r v g y of S o c i a l E o l i c a S t u d i e s by M a r i a L u c i a T. Werneck V i a n n a , X a t e r e r e t a t i Q D and E v a l u a t i o n of S o c i a l E o l i c a i a B r a z i l s 3D a n n o t a t e d b i b l i a a t a E h a by M a r i a L u c i a T. Werneck v i a n n a and B e a t r i z A z e r e d o ; a n a l y s i s of the S a n i t a t i o n E o l i c a i n Brazil, by M a r c i o M i l l e r S a n t o s and L u i z F e r n a n d o R o d r i g u e s de Paula; analysis of the Eood Erograms o r g a n i z a t i o n a l s t r u c t u r e and eerformance, in the i2S2isi by Ernani Teixeira Torres F i l h o and M o n i c a E s t e v e s de C a r v a l h o ; and S g c i g l Eolica aod D e s c e n t r a l i z a t i o m the e a e e r i e n c e of B N D E S Z E I U S Q C I 6 L since 1285, by M a r i a T h e r e z a L o b o . A l t h o u g h t h e s e p a p e r s b e a r in mind the c o m m o n point of c a r r y i n g out e v a l u a t i o n s , they follow two distinct lines. T h e first of them f o c u s e s t h e B r a z i l i a n s e c t o r i a l b a c k g r o u n d on s o c i a l p o l i c y , like s a n i t a t i o n , food p r o g r a m s , as well as descentralization i s s u e s to diagnose these problem areas. The second line d e a l s with the e x e r c i s e of evaluation itself, inserting it w i t h i n t h e theorical s t u d i e s of t h e social p o l i c i e s in B r a z i l . The last volume will be composed of a n n o t a t e d tables of selected social i n d i c a t o r s for Brazil, p r e s e n t i n g data on: 1) demographic transformation and spatial distribution of the population; 2) labor market, wages, income distribution and poverty levels; 3) health; 4 ) social w e l f a r e ; 5) housing and sanitation; and 6 ) p u b l i c e x p e n d i t u r e s on s o c i a l p r o g r a m s . This statistical effort was c o o r d i n a t e d by C l a u d i o Salm and Luiz C a r l o s E i c h e n b e r g da S i l v a . SMTO@@ܧ8@ A temática c o m u m da c r i s e -fiscal e da c r i s e da social ñas e c o n o m í a s c a p i t a l i s t a s induz a urna r e f l e x a o e s p e c i f i c i d a d e da c r i s e b r a s i l e i r a . proteçao sobre a Sob rótulos semelhantes, como a dimensSo dos déficits públicos, o "novo -federalismo", a révolta dos c o n t r i b u â t e s , e movimentos paralelos de ajuste -fiscal, descent r a l i z a d o e privâtizado, o caso brasileiro, em c o n t r a p o s i d o á referencia g é r a i , r e v e s t e - s e de urna s i n g u l a r i d a d a , que d e c o r r e , b á s i c a m e n t e , de sua h e t e r o g e n e i d a d e e c o n ó m i c a e s o c i a l . Tal h e t e r o g e n e i d a d e o particulariza, entre outros aspectos, t a n t o no que d i z r e s p e i t o aos elementos estruturais, que limitais a capacidade de financianiento do setor p ú b l i c o e sua p o s s i b i l i d a d e de e f e t u a r uma redistribuido voltada para atenuar desequilibrios sociais, setoriais e regionais, quanto ás opcoes p o l í t i c o - e c o n ó m i c a s de a j u s t e na c r i s e d a s f i n a n ç a s p ú b l i c a s . Nos países avanzados, a d e t e r i o r a d o das finanças públicas refletiu-se em tris aspectos expressivos: a multiplicado do gasto público, a i m p o r t a n t e e l e v a d o da carga tributaria e, apesar disso, a a m p l i a d o dos déficits fiscais, corroendo a c a p a c i d a d e de f i n a n c i a m e n t o do setor p ú b l i c o . N o s p a í s e s da O E C D , o forte a u m e n t o dos d é f i c i t s p ú b l i c o s m a n i f e s t o u - s e a p a r t i r da crise do petróleo em 1973 e dos efeitos dos desequilibrios externos sobre a e c o n o m i a i n t e r n a e s o b r e as contas públicas. E n t r e 1 9 7 3 e 1975, verificou-se rápida a c e l e r a d o do gasto público - em parte, como conseqíiéncia direta da crise do petróleo, e, em s e g u i d a , c o m o u m a r e s p o s t a p o l í t i c o - e c o n ó m i c a á mestna. A elevado da c a r g a t r i b u t a r i a foi insuficiente para cobrir o adicional de gastos, gerando, por conseguinte, um déficit que se a s r a v a v a , q u a n d o a d e s a c e l e r a d o do g a s t o e a conjuntura r e c e s s i v a a ela a s s o c i a d a t i n h a m reflexos negativos sobre a receita tributária. Em condiGoes de d é f i c i t , coa d e s a c e l e r a d o da receita, recorreu-se ao financiamento pela via do endividamento mobiliario. Tais d e s d o b r a m e n t o s i n d u a i r a m a um crescimento da relado entre d i v i d a p ú b l i c a e PIB e, associada á e l e v a d o da taxa de juros que a c o m p a n h o u a a t i v a d o da p o l í t i c a m o n e t a r i a , a um crescisento exponencial dos gastos de transferencia por p a g a m e n t o s de e n c a r g o s da d i v i d a . 10 A outra face da crise fiscal revelou-se nas taxas do c r e s c i m e n t o .dos gastos do UèIlare Stata. Tais gastos, que funcionan) como e s t a b i l i z a d o r e s automáticos, a m p l i a m - s e mais que proporcionalmente na e t a p a recessiva, em virtude do seguro-desemprego e de outros gastos sociais que protegen os t r a b a l h a d o r e s em c o n d i c o e s de r e t r a c a o d o crescimento. Mas, na verdade, o c í r c u l o v i r t u o s o do déficit, que se associa sos g a s t o s c o n j u n t u r a i s do U e l f a r e State, se superpoe á tendencia h i s t ó r i c a de crescimento do g a s t o social e ao d e s e m p r e g o estrutural da d é c a d a de 80, d e t e r i o r a n d o a r e l a c a o entre ativos e inativos e, portanto, a c a p a c i d a d e de a u t o - s u s t e n t a c a o deste gasto. Nos p a í s e s da OECD, entre i960 e 1988, a p a r t i c i p a c a o mèdia do gasto g o v e r n a m e n t a l em r e l a c a o ao PIB, e l e v o u - s e de para 47%, implicando num crescimento de S 3/4% a.a. 0 itera mais relevante na e x p l i c a c a o deste c r e s c i m e n t o é representado pelo crescimento dos pagamentos em transferencias. Excetuando-se, dentre estas, os p a g a m e n t o s cora juros da divida pública, os demais desembolsos referem-se a subsidios, beneficios da p r e v i d i n c i a social e d o t a c o e s p a r a a a s s i s t e n c i a social. No final do p e r í o d o , t a i s p a g a m e n t o s chegam a representar cerca de 50% do gasto público total, o b s e r v a n d o - s e uma tendencia á d i m i n u i c a o da p r o v i s a o dos g a s t o s p ú b l i c o s mais t r a d i c i o n a i s e ao aumento dos gastos r e l a c i o n á i s ao Welfsre State (saúde, educacao e manutencao de r e n d a s ) . Tais g a s t o s associam-se a beneficios apropriados de forma mais individual <vi®-á=vi® a apropriacao coletiva d o s b e n s p ú b l i c o s t r a d i c i o n a i s ) e neles os o b j e t i v o s r e d i s t r i b u t i v o s sao, por esta razao, mais fortes. 0 significado c o n c r e t o do c r e s c i m e n t o mais acelerado do g a s t o social, n o t a d a m e n t e nas p r e s t a c o e s em moeda (manutencao de renda e subsidios), expressa a transformacao de decisoes a l o c a t i v a s - funcao da d i s p o n i b i 1idade de receita orcamentária em compromisso de c o b e r t u r a , a ser m a n t i d o em circunstancias, favoráveis ou desfavoráveis da a t i v i d a d e e c o n o m i c a e de seu impacto s o b r e os o r c a m e n t o s p ú b l i c o s . C e s t a forma, a p r o t e c a o aos riscos associados a flutuacoes cíclicas, como desemprego e d e s i g u a l d a d e s na d i s t r i b u i d l o de s a l a r i o s e da renda, somam-se a velhice e a doenca, cuja r e s p o n s a b i 1idade se desloca dos i n d i v i d u o s e e m p r e s a s para o G o v e r n o . Assira, ao mesmo tempo em que o g a s t o p ú b l i c o torna-se mais d e p e n d e n t e do desempenho da economia, amplia-se sua rigidez a cortes, em funció do reconhecimento legal dos n í v e i s de c o b e r t u r a e dos grupamentos sociais a serem a m p a r a d o s no á m b i t o das p o l í t i c a s de protecao social. 0 desdobramento natural desta rigidez é, pela ótica dos orcamentos, a p e r d a de f l e x i b i l i d a d e n a s d e c i s o e s a l o c a t i v a s e a i n c a p a c i d a d e de c o m p r i m i r o d i s p e n d i o ante a r e d u c a o da receita e da expansao dos j u r o s r e l a c i o n a d o s á divida mobiliária. Sem querer reduzir o atual d e b a t e sobre a crise do U e l f a r e Stata a mera reacio a tais r e s t r i c o e s , ou d e s q u a l i f i c a r o necessàrio questionamento quanto ao mérito, necessidade, eficiincia e modalidades de g e s t a o das p o l í t i c a s públicas, de un lado, e a 11 preocupado quanto a estratésias de financiamento, natureza, abrangencia e p r o g r e s s i v i d a d e da cobertura, por outro lado, o fato é que a crise fiscal proporcionou solo fértil, sobre o qual tem f l o r e s c i d o as p e r p l e x i d a ú e s sobre a r e l a c a o público-privado no plano das p o l í t i c a s s o c i a i s e sobre a natureza do Meííaro contemporáneo, refletindo-se na reforraul a d o do próprio ideario social-democrata. Os argumentos em torno da crise do ÜQHBP® nao se restringen! a e x p l i c a d a s c o n j u n t u r a i s sobre o e x c e s s o de gasto social. Ao contrario, abrangem a r g u m e n t o s e s t r u t u r a i s sobre a natureza d o s u b f i n a n c i a m e n t o das p o l í t i c a s sociais, tanto no que d i z r e s p e i t o á natureza @ ao sif* t r i b u t a r i o - c o n t r i b u t i v o de seus recursos, como a fatores d e m o g r á f i c o s e outros, r e l a c i o n a d o s ao componente estrutural do deseraprego e ao c r e s c i m e n t o da e c o n o m í a subterránea. Tais fatores afetam a relasao entre inativos e ativos e a própria c a p a c i d a d e de t r a n s f e r e n c i a de recursos, que viabiliza a política social. Desde sua origem, os sistemas de seguridade social defrontaram-se com duas matrizes distintas de financiamento, originarias das duas formas anteriores de p r o t e d o social e dos recursos a elas a s s o c i a d o s - caixas de pensoes sucessivamente a g r e g a d a s até a f o r m a d o de s i s t e m a s n a c i o n a i s de s e g u r o social e p r e s t a c o e s n a o - c o n t r i b u t i v a s , financiadas coi r e c u r s o s da receita geral do setor público. No seguridade social contemporánea, independentemente da origen histórica e da c o n c e p c a o inicial de financiamento e beneficio, ambas as v e r t e n t e s estao p r e s e n t e s de modo c o m b i n a d o . A primeira etapa destas formas baseia-se no esquema tripartita de confcribuicoes de snpregados, empregadores e do E s t a d o e o r i g i n o u - s e no raodelo bisiiiark i ano, que inspirou varias legisladas sociais em o u t r o s países. Nao obstante, inúmeros foram os p a í s e s cujos t r a b a l h a d o r e s posicionaram-se contra o modelo contributivo, dados os baixcs níveis salaríais e a associacao de uro direito social a urna c o n t r i b u i d o direta, no qual se b a s e i a . No período e n t r e g u e r r a s , os e s t u d o s da OXT, que visavam d i s c i p l i n a r o financiamento do seguro social, inc1inarara-se pelo m o d e l o tripartite, nao por urna questao de p r i n c i p i o , e sira por urna maior g e n e r a l i s a G a o entre os p a í s e s - m e m b r o s . De outra p a r t a ; o sistema de p r e s t a e o e s n a o - c o n t r i b u t i v a s , que implica na cobertura exclusiva dos g a s t o s com financiamento associado á r e c e i t a fiscal, parte da nosao de responsabi1idade estatal pela ajuda aos mais pobres. Por esta razio, sua origem localiza-se na assistsncia social e déla se distingue pela i n t r o d u d o da n o d o do d i r e i t o aos b e n e f i c i o s . A participado no financiaraento, segundo a. co-responsabi1idade pelos riscos sociais, nao se associa á e x i s t e n c i a de c r i t e r i o s r a c i o n a i s de r e p a r t i d o dos c u s t o s . Deste 12 modo, as formulacoes adotadas, nada mais forara r a e i o n a l i z a e a o q peofeofieri da e x p e r i e n c i a c o n s a g r a d a . que a Até a Segunda G u e r r a M u n d i a l , o s i s t e m a de financiamento -Fiscal ocupou papel s e c u n d a r i o n o s sistemas de seguro social. Para isso, c o n t r i b u i u a p r ó p r i a v i s a o de t r a n s i t o r i e d a d e destess esquemas, e a suposisao de sua evolucao para o sistema diretamente contributivo. Na verdade, as duas modalidades de financiamento apresentam-se, atualmente, combinadas em sistemas mistos (contribuicoes diretas e recursos dos orcamentos gerais do Estado), o que, do p o n t o de v i s t a lógico, implica em reconhecer que o s i s t e m a de p r o t e s a o c o n t é m b e n e f i c i o s de n a t u r e z a diversa - pensoes, de um lado, e c o m p l e m e n t a r e s de renda e servieos, de o u t r o -, para os quais as m o d a l i d a d e s d i r e t a m e n t e c o n t r i b u t i v a e fiscal o o n o u sao i s o l a d a m e n t e i n s u f i c i e n t e s e/ou m a i s ou m e n o s bem aceitas. Nao o b s t a n t e , a aparente c o n v e r g e n c i a para a integracao dos esquemas de financiamento nao associa-se, necessariamente, á h o m o g e n e i z a e i o na c o n c e p c a o dos beneficios e d o s e s q u e m a s de p r o t e c a o social c o m o um todo. Nem o aporte de r e c u r s o s d o . o r n a m e n t o fiscal elimina, nos sistemas diretamente contributivos, a possibilidade de urna associacao mais próxima entre os valores de c o n t r i b u i d o e os valores-beneficios de p r e s t a c a o c o n t i n u a d a , nem o acréscimo aos sistemas fiscais de r e c u r s o s d i r e t a m e n t e c o n t r i b u t i v o s altera a concepcao dos beneficios, segundo o criterio das necessidades b á s i c a s que, g e r a l m e n t e , se a s s o c i a á s m o d a l i d a d e s p r e d o m i n a n t e s fiscais. Dado o entreíacamento e a crescente interdependencia das modalidades de recursos e a subordinacao dos gastos a determinaeoes da política macroeconomica, os sistemas de seguridade tem andado em b u s c a de fontes de financiamento d o t a d a s de maior p r o d u t i v i d a d e , que a c o m p a n h e m as t r a n s f o r m a c o e s dos sistemas industriáis modernos. Na m e d i d a em que a folha de salarios pesa cada vez menos na configurado dos custos e m p r e s a r i a i s t o t a i s e, p r i n c i p a l m e n t e , na d i s t r i b u i d o funcional da renda, alguns países e x p e r i m e n t a m captar o efeito desta mudanca, pela diversificacao das bases, combinando ou substituindo a folha de salarios pela tributado do valor adicionado ou do lucro das empresas. Estas modalidades de c a p t a d o alternativas nao eliminam, necessariamente, a v i n c u l a d o de recursos aos g a s t o s da seguridade social, representando, antes, a c e s s a o de um potencial t r i b u t a r i o m a i s dinámico, quando comparado á folha de salarios, para o r e f o r c o do núcleo central de finane iamento social. A análise comparada das s i t u a c o e s n a c i o n a i s dos países desenvolvidos fornece evidencia de que os fcJalíppo ifcafcQO encontram-se em d i f i c u l d a d e s . Os d é f i c i t s o r c a m e n t á r i o s sao a mais imediata e x p r e s s a o d e s t a s d i f i c u l d a d e s , as quais, embora decorram de problemas mais profundos, manifestam-se no plano económico como um c r e s c i m e n t o d o s custos, além da c a p a c i d a d e de 13 financiamento d o s s i s t e m a s de p r o t e c a o s o c i a l . M e s m o ignorando interpretacoes e ataques de natureza político-ideológica, as causas mais aparentes s i t u a m - s e no c r e s c i m e n t o do numero de beneficiarios, principalmente entre os idosos, aliado á melhoria d a q u a l i d a d e d o s s e r v i c o s (e n o v a l o r d a s p r e s t a c o e s ) , resultado d o s t e m p o s de a f l u e n c i a . Criou-se, também, neste periodo, urna m a i o r c e n t r a i i z a G a o (e d e p e n d e n c i a do E s t a d o ) , á qual s e a l i a urna expectativa de melhoria dos beneficios. Durante a crise, toraam corpo questionamentos sobre a progressividade ou regressividade dos beneficios recebidos e s o b r e a p r ò p r i a p o p u l a c a o - a l v o . A i n d a que i s t o n a o s i g n i f i q u e urna volta á concepGao assistencialista da protecao para os necessitados, o pròprio u n i v e r s a l isino passa a ser posto em cheque, sob a argumentaeao de que a provisao gratuita dos s e r v i c o s nao g a r a n t e a i g u a l d a d e de a c e s s o , particularmente onde b a r r e i r a s n a o - e c o n ó m i c a s tèm e x p r e s s a o . Também a necessidade de urna m a i o r r e d i s t r i b u i c a o f a z a f l o r a r o c o n f l i t o e n t r e a b u s c a da i g u a l d a d e e o d e s e j o da d i f e r e n c a e n t r e i n d i v i d u o s . Face á d i m i n u i s c o na disponibilidade de recursos, que claramente reforca o q u e s t i o n a m e n t o da e f i c a c i a das políticas, urna d a s r e s p o s t a s m a i s v i s í v e i s d o s e s t a d o s d e b e m - e s t a r tem s i d o a d e r e v e r s u a s r e s p o n s a b i l i d a d e s de g a s t o , transferindo-as aos consumidores. A s e x p e r i e n c i a s n a c i o n a i s d e m o n s t r a n que, a l é m da descent ralizaeao das responsabilidades para os aovarnos locáis, com d i m i n u i G a o d o s r e c u r s o s t r a n s f e r i d o s , h á um n o v o e s f o r c o , já expressivo c o m o t e n d e n c i a em p a í s e s c o m o I t a l i a e Suécia, para r e s t a b e l e c e r á familia sua c o n d i c i o de p r o v e d o r a de s e r v i G O S . No mesmo movimento, a p o i a d o t a n t o por liberáis como por l i b e r t a r i o s , situa-se o reforco dos esquemas comunitarios e filantrópicos e, em g e r a l , da p r i v a t i z a d o d o s s e r v i c o s s o c i a i s . Na r e a l i d a d e , tanto o diagnóstico da crise financeira como a a n á l i s e da t e n d e n c i a á p r i v a t i s a c a o d a s p o l í t i c a s d e protecao social podem i n s c r e v e r — s e n u m a p e r s p e c t i v a m a i s ampia, que s u p e r e o m a r c o da p o l a r i d a d e E s t a d o - m e r c a d o e do p r ò p r i o K o S í o t o § 6 0 6 0 , como financiador e ú n i c o a g e n t e da s o l i d a r i e d a d e n a c i o n a l . Segundo Rosenvallon, a ruptura, nesta crise, do espaGO social h o m o g é n e o s o b r e o qual baseou-se a regulaGao keynesiana das relaGoes entre o económico e o social, ñas sociedades industriáis democráticas deste pos-guerra, propicia urna nova visao das relaGoes entre Estado e sociedade, c o m o p e r s p e c t i v a de transformacao. Nesta nova visao, as lógicas univocas da e s t a t i z a c a o e da p r i v a t i z a e a o s a o s u b s t i t u i d a s p e l a socializado (desburocratizaGao), a descent ralizaGao e a autonomizaGao <transferéncia á s col et i v i d a d e s n a o - p ú b l i c a s ) , como tendencias p r e s e n t e s no r e d e s e n h o d a s p o l í t i c a s s o c i a i s em c u r s o . S o b r e a r e a l i d a d e d e s t a s p o l í t i c a s , c a b e r e g i s t r a r que, a t é agora, a r e f o r m u l a d o do g a s t o s o c i a l 1 o c a l i z o u - s e , claramente, na reduelo da p r o d u c a o de s e r v i d o s públicos, com conseqtlente mercanti 1izacao dos mesmos, e n o c o r t e d a s d e s p e s a s em p r o g r a m a s de complementaGao de renda, preservando o núcleo "duro" da 14 proteclo social, ou seja, a politica de pensées. Assim, independentemente da d i r e c â o d e c a u s a l i d a d e e n t r e c r i s e fiscal e c r i s e do Uclfarv ñ a s d e m o c r a c i a s a y a n c a d a s , o Estado-providincia n a o foi a p r o p r i a d o c o m o i n s t r u m e n t o no p r o c e s s o de c o r t e d o g a s t o p ú b l i c o e de a j u s t e r e q u e r i d o p e l a crise f i s c a l . Estas consideracöes iniciáis permitem alargar o horizonte de r e f l e x a o a r e s p e i t o d a s r e l a c o e s e n t r e c r i s e fiscal e p r o t e c a o social no Brasil, pondo em relevo os traeos de sua especificidade. A c r i s e fiscal b r a s i l e i r a , que tem s u a s o r i g e n s no i n i c i o dos a n o s 7®, agrava-se progressivamente, a partir da virtual c e s s a c â o do a p o r t e de r e c u r s o s e x t e r n o s de longo p r a z o , a s s o c i a d a aos c h o q u e s do p e t r ó l e o e á r e a g l u t i n a c i o n o c e n t r o d o s r e c u r s o s do sistema financeiro internacional. No p r o c e s s o adaptativo á crise de s u b f i n a n c i a m e n t o que e n t a o se m a n i f e s t a , as finanças públicas brasileiras assumem o papel de variável de ajuste, p e r m i t indo m a n t e r o lucro e a r e n d a do s e t o r p r i v a d o em c o n d i c o e s de perda de d i n a m i s m o do m e r c a d o i n t e r n o e de necessidade de a u m e n t o da c o m p e t i t i v i d a d e d a s e x p o r t a c o e s . A privatizacao do Estado como expressao deste ajuste implica, i n i c i a l m e n t e , na m o b i l i z a c a o da r e c e i t a t r i b u t a r i a e da receita o p e r a c i o n a l do s e t o r p ú b l i c o para s u s t e n t a c a o d o s n i v e i s de mark-up, tanto no que se r e f e r e a p r e c o s d e t e r m i n a d o s pela demanda internacional, c o m o n o m e r c a d o i n t e r n o em c o n d i c o e s de demanda cadente. A essas transferencias, via precos e subsidios diretos á producao, juntam-se aportes de crédito subsidiado, dirigidos, usualmente, aos mesmos setores priorizados pela transferencia direta de r e c e i t a t r i b u t a r i a e o p e r a c i o n a l . No p e c u l i a r a r r a n j o institucional brasileiro, as autoridades monetarias realizam operacoes de fomento, que tem como base de sustentacao ( f i n a n c i a m e n t o ) t í t u l o s da d i v i d a mobiliária,, de r e s p o n s a b i l i d a d e fiscal e g e s t a o a u t ó n o m a p e l a s a u t o r i d a d e s m o n e t a r i a s . Por esta via, r e a l i z a m - s e t r a n s f e r e n c i a s i n d i r e t a s da r e c e i t a t r i b u t a r i a , mobilizada na cobertura d o s e n c a r g o s da d i v i d a pública e de gastos fiscais fora d o e s p a c o i n s t i t u c i o n a l o r c a m e n t á r i o e do controle centralizado, tanto do E x e c u t i v o c o m o do Legislativo Federal. Nao se e s g o t a ai a a p r o p r i a c a o de r e c u r s o s f i s c a i s em nome do s e t o r e m p r e s a r i a l . Também os riscos cambiais, associados ao endividamento p r e v i o do s e t o r p r i v a d o , sao a s s u m i d o s p e l o setor p ú b l i c o , no p r o c e s s o de e s t a t i z a c a o da d i v i d a e x t e r n a , a d m i t i n d o -se, ainda, a d o l a r i z a c a o da d i v i d a m o b i l i á r i a , c o m o forma de maximizar o c u s t o de o p o r t u n i d a d e d a s aplicacoes financeiras. T a n t o a t a x a de j u r o s a s c e n d e n t e , c o m o o c r e s c i m e n t o do estoque da divida mobiliária, em s u a r e l a c a o com o PIB, espelham o processo de v a l o r i z a c a o d o c a p i t a l e do " c a p i t a l i s m o s e n risco" que tem como contrapartida a deterioracao das esferas de finaneiamento estatal - receita tributaria, receita operacional do s e t o r p ú b l i c o e d i v i d a m o b i l i á r i a . 15 No interior do setor público, o desigual poder de representado dos interesses, associados a cada urna dessas e s f e r a s de f i n n n c i a m e n t o fas d o e a p a e o fiscal urna e s f e r a d e s i g u a l de sasto e torna a "crise fiscal" expressao final do d e s e q u i l i b r i o f i n a n c e i r o do s e t o r p ú b l i c o . Fica a p a r e n t e , assira, a i m p o r t a n c i a r e d i s t r i b u í iva d o E s t a d o era favor d a s c l a s s e s m e n o s favorecidas, p o s t o que esta r e d i s t r i b u i d o i m p l i c a r í a em gastos a fundo perdido, típicos dos ornamentos viscáis hoje c o m b a l i d o s . Sera e n t r a r no m é r i t o da n a t u r e z a do p r o c e s s o inf 1 a c i o n á r i o , é ifiipossível o m i t i r o papel da i n f l a d o c o m o f o r m a de c o m p e n s a d o e de atual i z a d o de preeos para setores nao-dol arizados, corapletando-se, por e s s s via, o processo adaptativo á crise de subfinanciamento, da qual r e s u l t a a m a i s r a d i c a l s o c i a l i z a d o de prejuíaos da historia republicana. Diferentemente de momentos anteriores, como o final da d é c a d a de 5®, a inflado como m e c a n i s m o de f i n a n e i a m e n t o , tambéra nao s e r v e ao s e t o r p ú b l i c o , ño contrario, na atual a c e l e r a d o i n f l a c i o n a r i a , corrói-se ainda mais a receita tributaria, era f u n d o da d e f a s a g e m t e m p o r a l e n t r e a c o n f i g u r a d o do fato g e r a d o r e a a p r o p r i a d o d o s r e c u r s o s p e l o s cofres públicos. P a r a d o x a l ment e, corabina-se urna situado de deteriorado mocroeconoraica de carga tributaria com usa p e r c e p d o , p e l o s c o n t r i b u i n t e s , de sua e x c e s s i v a t r i b u t a d o . D á - s e r a s à o , conseqüenteraente, no p l a n o i d e o l ó g i c o , aos que apresentam como excessiva a carga tributària brasileira. Isto facilita a defesa injustificável dos setores privilegiados pela atual estrutura de t r i b u t a d o , transformando a necessidade de a r a p l i a d o da c a r s a i m p o s i t i v a en p r o p o s t a s que, de a c o r d o com as t e n d e n c i a s i n t e r n a c i o n a i s , propugnara sua r e d u e l o . Entre urna receita cadente e gastos cujo controle é relativamente i n d e p e n d e n t e de p o l í t i c a s d e r e d u e l o d a s despesas tradicionais do Estado, s a c r i f i c a - s e a á r e a fiscal p r o p r i a m e n t e dita. Esta, t a n t o p e l a via a s s i s t e n c i a l i s t a , como pela via do d i r e i t o á p r o t e d o s o c i a l , i n s t i t u c i o n a l i z a d a de forma i n c i p i e n t e na p r e v i d e n c i a s o c i a l , c o n s t i t u í o e s p a c o m a i s d e m o c r á t i c o e m a i s u n i v e r s a l de m a t e r i a l i z a d o d a s p o l í t i c a s s o c i a i s no B r a s i l . As formas usuais de manifestado da política social brasileira, nesta sociedad® onds ainda nao se consagraran) direitos sociais inqUest i o n á v e i s e a p r ó p r i a configurado dos direitos políticos e civis é recente e precaria, revestem-se de um c a r á t e r a s s i s t e n c i a l i s t a , que c o n t r a p o e - s e á s e g u r a n z a s o c i a l , no s e n t i d o da e s t á b i l i d a d e do c o m p r o m i s s o de c o b e r t u r a d o s r i s c o s sociais básicos, representada pelos beneficios p e c ú n i á r i o s da previdencia social e p o r urna a s s i s t i n c i a m é d i c a unlversalizada. Na precariedade da institucionalizado brasileira das vias políticas formáis, o assistencialisrao, que tera expressao nos gastos do G o v e r n o F e d e r a l e ñas t r a n s f e r e n c i a s negociadas aos governos estaduais e municipais, c u m p r e um p a p e l decisivo na legitimado do Governo, ao acomodar interesses e soldar um c u r i o s o e s p i r i t o f e d e r a t i v o , o n d e a t r a n s c e n d e n c i a , era n o m e de um interesse común e aaior, é substituida pela competido por recursos e p e l a adrainistracao p o l í t i c a da desconcentracao. 0 16 elientelismo, como admiravelinente bem á recursos característica expresslo desta política, prest a - s a s i t u a d o de e s c a s s e z e instabilidade de da e s f e r a fiscal. As relacoes intergovernamentais, assim c o m o a s políticas assisteneialistas, funcionan c o m o a n t e p a r o ao G o v e r n o Federal, ñ a s s i t u a c o e s o n d e o s r e c u r s o s f i s c a i s s a o a p r o p r i a d o s por o u t r a s esferas do gasto estatal, como o ornamento monetario ou as empresas estatais. Assim, a n t e s que e s t e p r o c e s s o chegasse a c o m p r o m e t e r a c a p a c i d a d e de f i n a n e i a m e n t o fiscal da U n i a o , foram sacrificadas, t a n t o a a u t o n o m í a t r i b u t a r i a , c o m o a c a p a c i d a d e do gastos nao vinculados das administracoes locáis. Nestss circunstancias, ampliou-sé a dependencia de transferencias negociadas do Governo Federal. Estas, juntamente com o endividamento interno e externo dos governos locáis, cujos limitas também sao administrados centralmente, traduzem prioridades definidas pela Uniao. Apesar desta desconcentracao c u m p r i r um papel de a c o m o d a d o p o l í t i c a e n t r e o G o v e r n o F e d e r a l e os governos subnacionais, d i f í c i l m e n t e a s f o r m a s f r a g m e n t a d a s de expressao das políticas déla resultantes podem ser adequadas, tanto na corréelo dos desequilibrios territoriais, como dos desequilibrios interpessoais, na distribuido da r e n d a e da riqueza. A lógica p o l í t i c a da a c o m o d a d o dos interesses nao garante a e f i c i e n c i a ou a e q ü i d a d e , frustrando aínda mais o já reduzido espato para correcáo de desequilibrios sociais no Brasil. A dificuldade para atenuar brasileiros nao pode ser minimizada. e s t á longe de s e r h o m o g é n e o . os desequilibrios sociais 0 espato social brasileiro Por um lado, a unidade entre o desenvolvimento económico social é obstada p e l a p o l a r i z a d o do m e r c a d o de trabalho nos setores formal e i n f o r m a l e p e l a f i x a e a o da taxa de s a l a r i o s era níveis extremamente baixos para o grau de desenvolvimento c a p i t a l i s t a já a l c a n z a d o p e l a e c o n o m í a . Por o u t r o lado, no plano das políticas, a extrema carencia da populado e seu pequeño acesso á p r o t e d o social requer o mapeamento d e s t a c l i e n t e l a e a p e r c e p d o da heterogeneidade de suas necessidades, agravada pelas desigualdades regionais. Em t a i s c i r c u n s t a n c i a s , e s t a b e l e c e - s e um c o n f l i t o latente e n t r e m o o d a l i d a d e s m a i s h o m o g é n e a s de p o i ' t i c a s o c i a l , t i p i c a m e n t e formuladas e imp1ementadas pelo Governo Federal, v o l t a d a s para a igualdade e associadas á g a r a n t í a de m í n i m o s , em termos de necessidades básicas, e f o r m a s m a i s p a r t i c u l a r e s e a u t ó n o m a s de política, r e l a c i o n a d a s a o s g o v e r n o s e s t a d u a i s e m u n i c i p a i s ou a instancias de . a d o coletiva - como sindicatos, associaeoes, etc. -, m a i s a d e q u a d a s a dar c o n t a da e s p e c i f i c i d a d e d a s d e m a n d a s na e s c a l a c o n d i z e n t e com a h e t e r o g e n e i d a d e e s p a c i a l e s e t o r i a l da e c o n o m i a e da s o c i e d a d e b r a s i l e i r a . Ao a s s i s t e n c i a l i s m o , o p o e - s e e homogeneizadora. Ao centralismo, o W e i m a r ® , c o m o p o l í t i c a geral opoe-se a autonomia estadual e 17 municipal, como -forma de democrat izacao das políticas. Entretanto, o WsStfaro requer a cent r a l i z a c a o dos recursos, como •forma de garantir a igualdade para o mínimo, enquanto a descent r a l i z a c a o , na medida em que a p r o x i m a os recursos e a formulacao de políticas das demandas locáis, consagra a heterogeneidade na prestaeao de servieos públicos. No caso b r a s i l e i r o , a c o n s t i t u i c a o , ainda que p r e c a r i a , do E s t a d o do Bem- E s t a r é c o n t e m p o r à n e a de sua crítica e s u p e r a G a o que, nos p a í s e s de capitalismo avanzado, revela-se, hoje, como tendencia e revisao c r í t i c a das r e l a e o e s E s t a d o - s o c i e d a d e , consagradas ñas ú l t i m a s quatro décadas. Nao se encerra nestas observacoes a especificidade e a i n s t a b i 1 i d a d e das p o l í t i c a s de p r o t e c a o social no Brasil. Ante o quadro da pobreza brasileira, con-figura-se a de-fesa mais radical dos interesses d a q u e l e s que conseguiram se inscrever no marco p e r m a n e n t e dos b e n e f i c i o s da pdlítica social. Esta, por sua vez, dada a crise fiscal, está cada vez mais c i r c u n s c r i t a ás acoes da s e g u r i d a d e social brasileira, p r o t e g i d a s com r e c u r s o s d i r e t a m e n t e contributivos em ornamento pròprio e, pertanto, conduzidas inexoravelmente á universalizacao. Sob a ótica do financiamento, a experiencia internacional nos e n s i n a que a p r o t e c a o social c o m b i n a , necessariamente, duas lógicas hoje soldadas: urna que associa b e n e f i c i o s a s a l a r i o s e demais rendas de c o n t r i b u i c o e s , ratificando a desigualdade do mercado, e outra voltada para as n e c e s s i d a d e s dos individuos, independentemente da c a p a c i d a d e c o n t r i b u t i v a na sua q u a l i d a d e de cidadaos. Quanto maior a d e s i g u a l d a d e no mercado, m a i s dramática a f u n d o r e d i s t r i b u t i v a da política social, que implica tanto na d i s s o c i a e a o dos v a l o r e s de contribuitilo em r e l a d o aos v a l o r e s de beneficio, como na n e c e s s i d a d e de mobil i z a d o de expressiva parcela da receita geral. Dada a crise fiscal, a infase das políticas de p r o t e c a o social no f i n a n c i a m e n t o c o n t r i b u t i v o opoe os interesses dos c o n t r i b u i n t e s aos i n t e r e s s e s dos cidadaos, diminuindo a s o l i d a r i e d a d e social, j u s t a m e n t e o n d e eia é mais n e c e s s à r i a . L e v a n d o o a r g u m e n t o a seu limite, no Brasil a p e n a s os c o n t r i b u i n t e s d i r e t o s desfrutam do direito á c i d a d a n i a . 0 traeo dominante das políticas sociais nos países desenvolvidos é seu caráter universal - conseqüincia da general i z a d o dos d i r e i t o s s o c i a i s que n e l a s se e x p r i m e m . 0 que é marginal e variável de ajuste, em s i t u a c o e s de déficit, sao as políticas assist e n e i a l i s t a s orcamentárias, que atenuam " os diferenciáis de bem-estar, c o m p l e m e n t a n d o a renda familiar a partir de testes de n e c e s s i d a d e . 0 c o r a d o das p o l í t i c a s s o c i a i s é um n ú c l e o estável de d i r e i t o s m a t e r i a l i z a d a s - que significa urna incondicional idade -, por parte do Estado, na p r o t e c a o de seus cidadaos. Deste nodo, a p o l í t i c a social nao é, em sua essencia, a política da pobreza ou do bem-estar residual, caracterizado, p r i n c i p a l m e n t e , por sua sel et ividade. No Brasil, ao c o n t r a r i o , a t e n t a t i v a de " u n i v e r s a l i z a r " o assist e n e i a l i s m o a partir da lógica i n c r e m e n t a l i s t a de a c o m o d a G a o de intereses, r a r e f a z seu impacto face ao c o n t e ú d o i n s a t i s f a t ó r i o 18 de beneficios, que r e s u l t a m da d i v i s a o de r e c u r s o s e s t á t i c o s o u decrescentes para urna p o p u l a d o crescente. Também na esfera contributiva, a eliminado de barreiras entre contribuintes e c i d a d a o s s i g n i f i c a i g u a l a r b e n e f i c i o s em um m í n i m o insuficiente, mesmo para os d e s t i t u i d o s e m u i t o m a i s para a q u e l e s d o s quais s e requer o aporte contributivo. 0 difícil e q u i l i b r i o e n t r e urna ética u n i v e r s a l i s t a e unía transido de n a t u r e z a i n c r e m e n t a l para urna c o b e r t u r a cada vez mais ampia á p o p u l a c a o b r a s i l e i r a r e f o r c a a idéia da política social como urna p o l í t i c a da p o b r e z a e de s e l e t i v a a p l i c a d o de recursos, em f r a n c a c o n t r a d i c a o com a m a r c h a i g u a l m e n t e em c u r s o em d i r e c a o á un i v e r s a l i z a c a o e á e q u a l i z a c a o . Tais tendencias revelam-se, claramente, por ocasiao da Assembléia Nacional Constituinte, no e m b a t e de posicoes que apontam para o avanco dos d i r e i t o s sociais, por um lado, e á defesa do status «¡ue, em r e l a c a o á capacidade extrativa do E s t a d o , por o u t r o . No capítulo da Ordem Social e no plano dos direitos a b s t r a t o s , o p r o j e t o de c o n s t i t u i d o a f i r m a , c o m o virt ual idade, a seguranca social a t o d o s o s c i d a d a o s , t a n t o a t r a v é s da g a r a n t i a de um salário de " c i d a d a n i a " , como também pela producao ou p r o v i s a o , p e l o E s t a d o , de b e n s e s e r v i c o s s o c i a i s " e x t r a m e r c a d o " As i m p l i c a c o e s d e s t a s d e c i s o e s s o b r e os requerimentos de financiamento do E s t a d o sao o b v i a s e e x i g i r i a m a v a n c o , na m e s m a direcao, no que t a n g e á c a p a c i d a d e e x t r a t i v a d o E s t a d o , nao só para elevar a carga tributaria, como t a m b é m para corrigir a regressividade da atual estrutura impositiva. Entretanto, as decisoes da C o n s t i t u i n t e s o b r e o f i n a n c i a m e n t o e s t a t a l , a l é m de n a o e n f r e n t a r e m e s t a s q u e s t o e s , m a n t i v e r a m a n t i g o s p r i v i l e g i o s na s o c i a l i z a d o da r e c e i t a t r i b u t á r i a . Poteneia1iza-se, assim, o conflito distributivo entre as decisoes de a r r r e c a d a c a o e de g a s t o do s e t o r público, tornando evidente o expressivo hiato que separa virtualidade e possibilidde na q u e s t a o d o s d i r e i t o s s o c i a i s , e a limitado da a c a o estatal na r e d i s t r i b u i c a o d e r e n d a n o B r a s i l . CAPITULO I A CRISE DA POLITICA SOCIAL: UMA PERSPECTIVA COMPARADA Sulamis Dain I. INTRODUCA!) A p e s a r d a d i f i c u l d a d e em g e n e r a l i z a r a p a r t i r d a s p r i n c i p á i s tendencias observadas nos estados de bem-estar modernos, a d e s a c e l e r a t a o do c r e s c i m e n t o e c o n ó m i c o e- a o c o r r e n c i a c o n t i n u a d a de d é f i c i t s o r c a m e n t á r i o s l e v a r a m v a r i o s p a í s e s a c o r t a r o gasto público e rever, c o n s e q d e n t e m e n t e , s u a s p o l í t i c a s de b e m - e s t a r s o c i a l . A e n f a s e na revisao do gasto social decorre do p e s o r e l a t i v o a m p l i a d o d e s t a m o d a l i d a d e de d i s p e n d i o na d é c a d a de 60 e até 1975, o b s e r v a d a ñ a s e s t a t i s t i c a s agregadas da OECD . Além disso, aspectos demográficos e da maturidade atuarial dos sistemas de finaneiamento previdenciário se associam a transformares na própria natureza da sociedade e de suas r e l a c o e s com o E s t a d o , d e t e r m i n a n d o t r a n s f o r m a c o e s na c o n c e p c a o , abrangencia, padrao e dimensoes do f i n a n e i a m e n t o , bem c o m o da g e s t a o do b e m - e s t a r s o c i a l . A a n á l i s e c o m p a r a d a d e m o n s t r a que em sua i m e n s a m a i o r i a , os países desenvolvidos apresentaram crescimento absoluto e relativo do g a s t o s o c i a l até m e a d o s da d é c a d a de 70, ao qual se sucedeu r á p i d o d e c l í n i o t e n d e n d o á e s t a b i l i d a d e num p a t a m a r m a i s b a i x o . A e t a p a de i n t e n s i f i c a d o d o s g a s t o s s o c i a i s 1/ se e x p l i c a por urna combinado de crescimento económico acelerado, aumento da t r i b u t a d o e, em c e r t o s c a s o s , d e c r é s c i m o d o s g a s t o s m i l i t a r e s . N o s a n o s 80, a s e v i d e n c i a s já reunidas e a n a l i s a d a s a p o n t a m na d i r e c a o de um a j u s t e e s t á v e l , em c o n t r a p o s i d o as a l e g a c o e s de i/ N o C a n a d á , e n t r e 1965 e 1976, o gasto social c r e s c e u 10 v e z e s , com expansao dos servicos e b e n e f i c i o s em d i n h e i r o referentes a aposentadorias e pensoes resultando em a m p l i a d o de seu percentuali no p a c t o p ú b l i c o de 30 para 38% e no P I B de 9 , 1 % p a r a 1 5 , 3 % no p e r í o d o . N o s E s t a d o s Unidos, entre 1960 e 1980, quintup1icaram os gastos sociais, e v o l u i n d o a p a r t i c i p a d o d e g a s t o s com b e m - e s t a r no g o v e r n o federal de 38,4% para 5 6 , 8 % . Na Italia, e n t r e 1951 e 198®, os g a s t o s s o c i a i s q u a d r u p 1 i c a r a m , ref1 et i n d o - s e em e l e v a d o da p a r t i c i p a d o de 2 4 , 8 % d o P I B para c e r c a de 45% no p e r i o d o em q u e s t a o . M o v i m e n t o s s e m e l h a n t e s p o d e m ser o b s e r v a d o s na A u s t r i a , na I n g l a t e r r a , na S u é c i a e n o Japao, e n t r e outros. V e j a - s e R. F R I E D M A N et a l i i , ed. "BsdgrD-welfare__statgs^-fi E9ffleatatÍ!¿B_yÍe!il__tEgDds_and__eEQSeecfes" New Y o r k , New York U n i v e r s i t y P r e s s , 1987. 21 desraantelamento d a s r e a l i z a ^ o e s a n t e r i o r e s no plano s o c i a l . No p e r i o d o de a j u s t e a uni c r e s c i m e n t o m a i s b a i n o , v a r i a s e s t r a t e g i a s e infases tem sido adotadas. Particularmente na I n g l a t e r r a , Suécia e C a n a d á , a i n f a s e r e c a i na b u s c a d e m a i o r i g u a l d a d e . N o s Estados Unidos prioriza-se a garantía de urna rede de p r o t e c a o m i n i n a a n t e as v i c i s s i t u d e s da e c o n o m i a de m e r c a d o . Além desta primeira clivagem das estrategias adaptativas è crise, seu detalhamento permite observar a diversidade de políticas económicas e sociais de ajuste. Na Austria, por exemplo, ante a resistencia à elevado da c a r g a t r i b u t a r i a que far—se-ía necessària para manter os níveis de beneficios, privilegiou-se o congelamento dos valores e s u a s e l e t i v i d a d o . No p l a n o da p o l í t i c a e c o n ó m i c a , p r e t e n d e u - s e e v i t a r o d e s e m p r e g o , em l u g a r de g a r a n t i r b e n e f i c i o s aos desempregados. Na S u é c i a , a l é m de eliminai—se a tradicional indexado dos subsidios à a l i m e n t a d o , a o s p r e c o s de e n e r g i a e i m p o s t e s , foram r e d u z i d o s de 65 para 5©% os percentuais sobre a renda ativa relativos a p r o g r a m a s de p e n s S e s t e m p o r a r i a s . Além d i s s o , e s t a b e l e c e u - s e urna r e l a d o entre a r e n d a do i n d i v i d u o e g a s t o s m ó d i c o s , e a c e n t u o u se a s e l e t i v i d a d e p a r a o s programas habitacionais. No b o j o de suas medidas de ajuste económico, Israel a d a p t o u s e u s g a s t o s s o c i a i s no m e s m o s e n t i d o . Guanto aos Estados Unidos, houve cortes eia p r o g r a m a s c o m o a l i m e n t a d o e s c o l a r e s u b s i d i o s a s s o c i a d o s ao eraprego, baro c o m o a d e s a c e l e r a d o d o c r e s c i m e n t o do g a s t o s o c i a l , observando-se duas vertentes do padrao de ajustamento g/: de um lado, a já mencionada d e s a c e l e r a d o associada a cortes, e de o u t r o , um crescimento inercial de g a s t o s com d e s e m p r e g o e v e l h i c e . No c a s o americano, ganha relevSncia o processo de descentralizado financeira e de encargos, do governo federal para os estados, p e r m i t i n d o m u d a n q a de i n f a s e no c o n j u n t o d a s p o l í t i c a s s o c i a i s , e tarabém a tendencia à privat i z a d o , com os mais afluentes c o n v e r g i n d o p a r a a u t i l i z a d o de servicos e redes de p r o t e d o montadas a partir de urna concepcao empresarial, cora fins 1ucrat ivos. Os cortes do gasto social na Inglaterra tarabém foram acompanhados da mudencas de concepdo na relado Estado- s o c i e d a d e , v i s a n d o ao b e m - e s t a r s o c i a l . A infase estatal resido agora mais no financiamento, planejamento, promocao, r e g u l a d o e c o o r d e n a d o d o s s e r v i d o s , do que em sua p r o d u c a o . Tal i n f a s e tera sido associada à ampliado da a d o v o l u n t a r i a e da part ic i p a d o d i r e t a da s o c i e d a d e . A ú n i c a e x c e d o e x p r e s s i v a às t e n d e n c i a s a c i m a r e s u m i d a s tera s i d o a I t a l i a , que a p r e s e n t o u c r e s c i m e n t o i n i n t e r r u p t o d o s g a s t o s s o c i a i s , ñas tres décadas d e s d e 1950. Isto nao tem i m p e d i d o o questionamento das formas de f a z e r p o l í t i c a s o c i a l , que u n e a Italia aos Estados Unidos e a Suécia na tendencia è G/ Veja-se MORRIS, cap. 3, A S D G N A - H G L Í A C G - S T A T S S , OP. cit 22 d e s c e n t r a l i z a d o que a f l o r a a p a r t i r do q u e s t i o n a m e n t o d a s f o r m a s mais globais e centralizadas de propor e implementar as p r i n c i p á i s m o d a l i d a d e s de p o l í t i c a s o c i a l . 0 denominador común das preocupacoes recentes no f i n a n e i a m e n t o da p o l í t i c a social encontra-se, con c e r t e z a , nos gastos públicos associados a p e n s S e s e a p o s e n t a d o r i a s . T a n t o en f u n d o de f a t o r e s d e m o g r á f i c o s , c o m o em f u n d o da maturidade e cobertura dos sistemas previdenciários, que tén ampliado desproporcionalmente a p a r t i c i p a d o dos idosos (e/ou i n a t i v o s ) sobre a populado ativa (contribuinte), o peso absoluto desta despesa, senpre doninante, e sua participado relativa tem-se ampliado, nelas centrando a énfase das políticas de a j u s t e voltadas para o corte do gasto. Desde a nao i n d e x a d o dos paganentos relativos a beneficios en dinheiro, a defasagens t e n p o r a i s c r e s c e n t e s e n t r e a atual i z a d o d o s v a l o r e s e a e v o l u d o dos precos, até a postergado pretendida da idade para a aposentadoria, os esquenas adaptativos propostos ou já inplementados espelhan p r o c e s s o s de r e d e f i n i d o d o s e s q u e n a s de f i n a n c i a m e n t o da p r o t e d o s o c i a l . Na c r i s e fiscal em c u r s o , o s r e c u r s o s p r ó p r i o s ( g u a n d o assin definidos os e s q u e m a s de f i n a n c i a n e n t o d o s g a s t o s d e p r e v i d e n c i a social) tém-se revelado insuficentes para dar conta da p a u t a a m p l i a d a de r e i v i n d i c a c o e s e n e c e s s i d a d e s , que t r a n s b o r d a n de una v i s S o e s t r i t a de s e g u r o social para uma c o n c e p c a o c r e s c e n t e m e n t e a b r a n g e n t e d a s p o l í t i c a s de b e m - e s t a r . A c r e s c i d a s as n e c e s s i d a d e s e d a d a a i m p o s s i b i l i d a d e de a j u s t á - l a s a uma p o l í t i c a de e m p r e g o e s a l á r i o s na e t a p a de d e s a c e l e r a d o do c r e s c i m e n t o , a o u t r a face desta condido, a crise fiscal e os déficits orcanentários c o m p r o m e t e m a d i s p o n i b i l i d a d e d e r e c u r s o s c o m p l e m e n t a r e s , que com certa tradido, complenentavam o financiamento previdenciário stricto sensu. No q u a d r o de e s c a s s e z e c o m p e t i d o r e s u l t a n t e s , p r e s s o e s por m a i o r sel et i v i d a d e , d e s c e n t r a l i z a d o , f o r m a s d e a d o c o l e t i v a e, finalmente, a própria revisao do papel do E s t a d o , c o m o p r o d u t o r direto dos servicos de cunho universal que c o m p l e m e n t a n os b e n e f i c i o s en d i n h e i r o , c o n p o e m a t ó n i c a do p e r i o d o de r e v i s a o do "estado de bem-estar", consolidado até os anos 79. Desta transido podemos projetar vários cenários, que vao desde a improvável destruido dos esquemas de protedo social já c o n s a g r a d o s , até o e s t a b e l e c i m e n t o d a s e c o n o m í a s m i s t a s de bem- e s t a r , n a i s p r o v á v e i s em p a í s e s c o m o os Estados Unidos, onde a t r a d i d o liberal e o b e m - e s t a r a b s o l u t o e r e l a t i v o da p o p u l a d o viabilizan ajustes desta natureza. 0 conjunto de complexas relacoes envolvidas ñas decisoes distributivas e redistributivas s u b j a c e n t e s a o d e s e n h o de uma e s t r a t é g i a de p r o t e d o social nao adnite solucoes t r i v i a i s . Por o u t r o lado, a s p r o j e c o e s da crise fiscal e de f i n a n c i a n e n t o da p o l í t i c a s o c i a l , da d e s a c e l e r a d o do c r e s c i m e n t o , as m a n i f e s t a c o e s d e una n o v a s o c i e d a d e d o b e m - e s t a r , que impoe a d e s c e n t r a l i z a d o , democratizado e privat i z a d o das políticas públicas, c o m o forma de m a n i f e s t a d o de sua c r e s c e n t e p a r t i c i p a d o na f o r m u l a d o , g e s t a o e c o n t r o l e dos g a s t o s sociais, 23 aliara a o d e n o m i n a d o r conura da " r e v i s S o " das p o l í t i c a s de bem- e s t a r urna n e c e s s i d a d e de compreensao mais abrangente de sua p r o b l e m á t i c a , bem c o m o UBI a p r o f u n d a m e n t o d a s a n á l i s e s de c a s o s n a c i o n a i s , e de s e u a n c a m i n h a m e n t o e s p e c i f i c o d o s t e m a s do g a s t o p ú b l i c o e do b e m - e s t a r s o c i a l . Quanto á problemática mais g e r a l , o s p r o b l e m a s de n a t u r e z a economice rebatem diretamente sobre a possibilidade de h o n r a r o s compromissos de cobertura dos riscos s o c i a i s b á s i c o s , que se e x p r i m e n n o s o r n a m e n t o s de gasto social, independentemente dos conteúdos políticos e ideológicos dos vários estados nacionais. O s d é f i c i t s o r n a m e n t a r ios d o setor p ú b l i c o a c o m p a n h a m em g r a n d e medida os a j u s t e s da e c o n o m í a m u n d i a l d e s e n c a d e a d o s a p a r t i r do p r i m e i r o c h o q u e do p e t r ó l e o . Com a r e d u n a o do nivel de emprego s a d e f i n i d o c r ó n i c a de um e x p r e s s i v o p o r c e n t u a l de d e s e m p r e g a d o s , i n c a p a z e s por s e u s p r ó p r i o s meios de prover suas necessidades básicas, amplia-se a demanda por g a s t o s a s s o c i a d o s á p r o t e d o social. A desaceleracao do crescimento afeta n e g a t i v a m e n t e os ornamentos fiscais, que haviam e x p a n d i d o n o s a n o s de b o n a n z a , t a n t o a c o b e r t u r a , c o m o os v a l o r e s d a s p r e s t a n o e s em d i n h e i r o do estado do bem-estar. A solunao m a i s imediata, no p l a n o e s t r i t o do f i n a n c i a m e n t o fiscal, tero s i d o o a u m e n t o da carga tributaria, secundariamente complementado pela diminuinao do gasto público, notadaraente social. Entretanto, na m e d i d a em que o desemprego se a m p l i a e a s s u m e urna forma m a i s e s t r u t u r a l , a c a p a c i d a d e de f i n a n e i a m e n t o associada à a m p l i a n d o dos contribuintes ativos d o s s i s t e m a s de seguridade social se r e t r a i , e n q u a n t o que os n í v e i s de p o b r e z a , associados majoritariamente aos inativos, principalmente idosos, ampi i f i c a m - s e . No plano estrito dos sistemas de s e g u r i d a d e , a l t e r a n o e s demográficas se refletem na maior expectativa de vida dos i n a t i v o s , que a m p l i a m o n ù m e r o de p e n s o e s e sua d u r a d o , ben c o m o em g a s t o s de s a ú d e m a i o r e s , d a d a a maior c o m p l e x i d a d e das d o e n n a s e as novas e mais custosas tecnologías a elas relacionadas nas faixas etarias mais avannadas. Caracterizadas as dificuldades gerais e específicas do f i n a n c i a m e n t o do g a s t o s o c i a l , a p r ò p r i a v i s a o da u n i v e r s a l i z a n a o è p o s t a em c h e q u e de duas maneiras. A primeira délas revi a p o l i t i c a de a s s o c i a n d o dos v a l o r e s aos b e n e f i c i o s , p r o p o n d o em c o n t r a p a r t i d a um v a l o r b á s i c o , a s s o c i a d o às n e c e s s i d a d e s m í n i m a s , para o conjunto da populanao. Como desdobramento, pode-se o b s e r v a r m e d i d a s de r e d u d o de v a l o r e s absolutos e r e l a t i v o s de pagamentos que afetarao tanto menos os i n a t i v o s q u a n t o mais i g u a l i t a r i a tiver s i d o a d i s t r i b u i t o d o s s a l a r i o s em a t i v i d a d e e mais satisfatórios seus níveis absolutos. A segunda tendencia c o n s u b s t a n c i a - s e na idéia de s e l e t i v i d a d e (e de c o m p e t i d o ) na concessao de beneficios, muito apoiada em evidencias de insuficiente progressividade dos gastos universais, que s i s t e m a t i c a m e n t e favorecern t o d a s as c l a s s e s ou o s m a i s a b a s t a d o s . Finalmente, a terceira, ainda incipiente, exime crescentemente o 24 E s t a d o de suas responsabilidades, r e l a t i v a m e n t e r e c e n t e s , com a p r o d u e l o e f i n a n c i a m e n t o do bem-estar social. M o v i m e n t o s desta n a t u r e z a sao mais fácilmente a c o l h i d o s em s o c i e d a d e s o p u l e n t a s , o n d e os i n d i v i d u o s , por s e u s m e i o s p r i v a d o s , e em sua v i d a ativa, sao majoritariamente capazes de prover sua protecao social presente e futura, reservando-se o Estado para as p o l í t i c a s da pobreza. 0 binSmio menor t r i b u t a c a o e menor g a s t o social (menos e s t a d o ) nao p a r e c e a m e a c a r os m a i s bem a q u i n h o a d o s em t e r m o s de renda e riqueza. Resta s a b e r , se no limiar das t r a n s f o r m a c o e s t e c n o l ó g i c a s que a f e t a r a o o e m p r e g o f u t u r o e as relacoes entre o lazer e o trabalho, tal tendencia terá condicoes de g e n e r a l i z a c a o , até m e s m o no i n t e r i o r d e s t a s s o c i e d a d e s . E m b o r a no plano ideológico, reproducoes desta temática possam encontrar r e s s o n a n c i a em s o c i e d a d e s menos desenvolvidas e dar origem a revisoes dos esquemas de p r o t e c a o s o c i a l , i n d i s c u t i v e l m e n t e , a p r e c a r i e d a d e das e s t r a t é g i a s de s o b r e v i v e n c i a , seu b a i x o grau de formalizacao, e o baixo nivel e a i n i q ü i d a d e da d i s t r i b u i c a o da r e n d a e dos salarios, torna inviável sua imp1ementacao, como solucao mais permanente na c o n s t r u c a o de urna r e d e de p r o t e c a o básica á sobrevivencia dos menos favorecidos. n . TENDENCIAS GEEINTES NA E V O L U G A O DO GASTO SOCIAL Nos p a í s e s da OECD, entre 1960 e 1988, a p a r t i c i p a d o mèdia do gasto governamental em r e l a d o ao PIB e l e v o u - s e de 50 para 47%", i m p l i c a n d o un c r e s c i m e n t o mèdio anual de 2 3/4% a. a. 0 item mais relevante na explicado deste c r e s c i m e n t o é r e p r e s e n t a d o pelo c r e s c i m e n t o dos p a g a m e n t o s em t r a n s f e r e n c i a s . E x c e t u a n d o - s e , dentre estas, os pagamentos com juros da divida pública, os demais desembolsos referem-se a subsidios, beneficios da p r e v i d e n c i a social e d o t a d e s para a assistincia social. No final do período, tais p a g a m e n t o s chegam a representar cerca de 50X do gasto público total, o b s e r v a n d o - s e urna t e n d e n c i a à d i m i n u i d o da p r o v i s a o dos gastos p ú b l i c o s mais t r a d i c i o n a i s e ao aumento dos gastos relacionados ao Ual fare State (saúde, educado e m a n u t e n d o de renda). 3/ Tais gastos se associam a beneficios apropriados de forma mais individual <vi»-à-vis a a p r o p r i a c a o c o l e t i v a dos bens públicos tradicionais) e neles os o b j e t i v o s redist ribut ivos sao, por esta razao, mais fortes. Esta e 1 e v a d o dos g a s t o s nao tem sido a c o m p a n h a d a por c r e s c i m e n t o c o n c o m i t a n t e da receita tributaria, tendo o d e s e q u i l i b r i o o r c a m e n t á r i o se o r i g i n a d o no período i m e d i a t a m e n t e posterior ao p r i m e i r o choque do petróleo, quando a e l e v a d o das d e s p e s a s dele decorrente, ou como r e f l e x o direto de p o l í t i c a s e c o n ó m i c a s ainda e x p a n s i o n i s t a s , nao se refletiu em p o l í t i c a s de a m p l i a d o da carga t r i b u t a r i a . P o s t e r i o r m e n t e , os a j u s t e s r e c e s s i v o s prejudicavam os dois lados da equacao, induzindo os E s t a d o s ao finane iamento pela via da divida pública, com c o n s e q ü S n c i a s p r e v i s í v e i s sobre o c r e s c i m e n t o dos juros. No que se refere ao gasto social, é possível analisar, de modo agregado, o c r e s c i m e n t o dos gastos em educado, saúde e m a n u t e n c a o de renda. Segundo p r o c e d i m e n t o seguido pela OECD 4/, pode-se isolar très fatores explicativos para tal c r e s c i m e n t o : fatores demográficos, ampliado da cobertura (para a p o p u l a d o d a d a ) e aumento nos níveis de prestacoes em dinheiro ou dos servidos. No caso do c r e s c i m e n t o o b s e r v a d o nos gastos de saúde e 3/ 3/ Peter S A U N D E R S e Friedrich KLAN, "The sector: courses and consequences government". Q E G S E&aaQOie. S t u Ö i B S , Spring 1985. S A U N D E R S e ¡(LAN, op. cit. role of the public of the growth of no.4, Paris, OECD, 26 v educacao, a elevacao real dos b e n e f i c i o s explica, em media, cerca de 8/3 do a u m e n t o de gasto, distribuindo-se o terco r e s t a n t e e n t r e as p r e s s S e s d e m o g r á f i c a s (aumento no n ú m e r o de e s t u d a n t e s e ,¡ de p a c i e n t e s ) e a ampliacao da cobertura. A queda v e r i f i c a d a 1 desde 1975, s i m é t r i c a m e n t e , a p ó i a - s e p r i n c i p a l m e n t e na d i m i n u i c a o ; dos valores e s e c u n d a r i a m e n t e n o s demais fatores. j 0 quadro dos gastos a s s o c i a d o s á m a n u t e n c a o da renda nao é tSo claramente decomposto de forma homogénea em relacao a o s programas principáis - pensQes por velhice; seguro-desemprego e c o m p l e m e n t a r e s (subsidios) de renda as familias - ou ao p e r í o d o analisado, o b s e r v a n d o - s e a c e l e r a c a o do g a s t o _aRás_—JL970. No caso das pens5es~i o s a u m e n t o s nos v a l o r e s des b e n e f i c i o s r e l a t i v a m e n t e ao PXB per e s p i t a prevalecem s o b r e os d e m a i s fatores; p a r a as p r e s t a f o e s . familiares, a explicacao central também reside no a u m e n t o dos v a l o r e s , v i s t o que a ligeira amp 1 i35ao..d.a_c^bexAura_é neutralizada, pela diminuicao do número de dependentes. F i n a l m e n t e , no. caso do seguro-desemprego, a taxa de c r e s c i m e n t o B o s anos 7 0 m a i s que duplica em relacao á d o s anos 60, apesar do lento ritmo de e x p a n s a o de seus valores r e l a t i v a m e n t e ao PIB per c a p i t a , em funcao do intenso d e s e m p r e g o o b s e r v a d o no periodo ma.is recente." ~ Urna a n á l i s e mais qualitativa do d e s e m p e n h o da prestacao de servicos associada ao gasto social permite avancar algumas c o n c l u s o e s de caráter e x t r e m a m e n t e geral sobre sua e f i c i e n c i a . S a b e - s e que na m a i o r i a dos p a í s e s h o u v e e l e v a c a o da p r o v i s a o par capita dos niveis de s a ú d e e e d u c a c a o . £ possível também observar, pela análise dos orcamentos públicos, que há e f e i t o ^ redistribuí ivo do g a s t o público, urna vez que, em m u i t o s casos, os / g a s t o s estao c o n c e n t r a d o s nos g r u p o s menos f a v o r e c i d o s em termosL ele renda, . ou d i s t r i b u i d o s de forma h o m o g é n e a pela p o p u í a c a o ~ c o m o um todo. iímbora em situacao de dificuldades ornamentarias t>trtsc¿ntes, o s a r g u m e n t o s que associam a maior s u f i c i e n c i a dos v a l o r e s das p e n s o e s com o d e s i n c e n t i v o ao t r a b a l h o e a poupanca recrudescam, a evidéncia empírica nao c o n f i r m a nem a d i m i n u i c a o das p o u p a n c a s a s s o c i a d a s aos s i s t e m a s de aponsentadoria privados ou o recurso indevido ao s e g u r o - d e s e m p r e g o . Quando se completam estas a v a l i a c o e s do g a s t o social com seu f i n a n e i a m e n t o , as conclusoes sofrem alguma alteracao. Dada a ^proporcionalidade do sistema tributario, quando a v a l i a d o pelo ' conjunto dos tributos, a progressividade observada no gasto social fica relativamente atenuada para as familias na média da d i s t r i b u i c S o . Nesta faixa, há um e q u i l i b r i o entre a d i m i n u i c a o da renda disponivel, por e f e i t o da tributacao, e sua a m p l i a c a o , por e f e i t o dos g a s t o s s o c i a i s . s 0 significado concreto do crescimento mais a c e l e r a d o do g a s t o social, n o t a d a m e n t e ñas p r e s t a c o e s em d i n h e i r o (manutencao de renda e s u b s i d i o s ) , t r a n s f o r m a urna d e c i s a o a l o c a t i v a - funcao da receita ornamentaria em c o m p r o m i s s o de c o b e r t u r a , a ser mantido em circunstancias favoráveis ou desfavoráveis da 27 atividade econòmica. Desta forma, os riscos associados a flutuacoes cíclicas, d e s e m p r e g o , velhice, doenca e d e s i g u a l d a d e s na distribuicao dos salarios e da renda deslocam-se dos individuos e das e m p r e s a s para o Governo. Torna-se, assim, o gasto público mais dependente do d e s e m p e n h o da economia e d o s fatores económicos, a m p l i a n d o - s e c o n c o m i t a n t e m e n t e sua rigidez a cortes, em funcao do r e c o n h e c i m e n t o legal dos n í v e i s de c o b e r t u r a e d o s g r u p a m e n t o s s o c i a i s a serení protegidos. 0 d e s d o b r a m e n t o natural desta rigidez é, pela ótica d o s ornamentos, a perda de f l e x i b i l i d a d e ñas d e c i s ó e s alocativas, e a incapacidade de c o m p r i m i r o dispendio ante a r e d u c a o da receita e da expansSo dos juros relacionados à divida mobiliarla. Sem querer reduzir o atual d e b a t e sobre a crise do U e l f a r e State à mera reacao a tais r e s t r i c o e s , ou d e s q u a l i f i c a r o q u e s t i o n a m e n t o ao mérito, n e c e s s i d a d e , eficiencia e modalidades de gestao d a s p o l í t i c a s públicas, de um lado, e a c o n c e p c a o de finaneíamento, natureza, a b r a n g i n c i a e p r o g r e s s i v i d a d e da c o b e r t u r a , por outro, o fato é que a crise fiscal proporcionou s o l o fértil sobre o qual tem florescido as p e r p l e x i d a d e s sobre a relacao público-privado no plano das políticas sociais e s o b r e a n a t u r e z a do U e l f a r e c o n t e m p o r á n e o , ref1 et indo-se na r e f o r m u l a c a o do p r ò p r i o ideario social demócrata. III. PRINCIPAIS RESULTADOS AGREGADOS Quando se observan os dados agregados, as m u d a n z a s na estrutura do dispendio público, que ilustram as o b s e r v a c o e s acima, tornan-se claras. Dividindo-se o g a s t o p ú b l i c o em t r e s g r a n d e s c a t e g o r í a s (setor t r a d i c i o n a l , W e l f a r e e e c o n o m í a mista), torna-se evidente a origem das transformacoes estruturais apontadas, definidas pelo crescimento dos setores nao t r a d i c i o n a i s do Governo. Desse modo, o W e l f a r e S t a t e , com seus g a s t o s em m a n u t e n c a o da renda e provisao de bens meritorios, explica a evolucao observada. Na e n t r a d a dos anos 80, além da e l e v a c a o d o s p e r c e n t u a i s , v e r i f i c a - s e urna c l i v a g e m dos g a s t o s em Welfare. Com percentuais menos e x p r e s s í v o s do PIB, a g r u p a m - s e Australia, Japao, Estados Unidos e Inglaterra, com p e r c e n t u a i s que v a r í a n de 18 a S 3 % . N o s e g u n d o grupo, e s t a o os d e m a i s países e u r o p e u s , c o m g a s t o s em b e m - e s t a r s i t u a d o s e n t r e 30 e 40% do PIB. Ao empreender-se a análise de sua e v o l u c a o , c o n s i d e r a n d o a p e n a s os sete maiores países da OECD e os q u a t r o maiortís programas de gasto social, entre 1960/75, o gasto social a p r e s e n t o u urna e l a s t i c i d a d e r e n d a em r e l a c a o ao P I B real em torno a 2. A participacao do g a s t o social no PIB d o b r o u e n t r e 1960 e 1975, com i n c r e m e n t o s em c a d a um dos quatro p r o g r a m a s p r i n c i p á i s . No p e r i o d o s e g u i n t e ( 1 9 7 5 / 8 1 ) , p o u c o se a l t e r o u a p a r t i c i p a c a o do g a s t o s o c i a l , d e v i d o á sua t a x a de c r e s c i m e n t o p o u c o e x p r e s s i v a . A decomposicao do gasto baseia-se em tris componentes fundamentáis. 0 g a s t o real é o p r o d u t o do t a m a n h o da p o p u l a c a o relevante para um d e t e r m i n a d o p r o g r a m a (N), da p r o p o r c a o desta populacao efetivamente b e n e f i c i a d a (C) e do b e n e f i c i o real médio r e c e b i d o (B>. 0 p r i m e i r o c o m p o n e n t e é de n a t u r e z a demográfica; o segundo reflete a e l e g i b i 1idade, bem como o e x e r c í c i o desta elegibilidade. Finalmente, o terceiro componente reflete o nivel m é d i o dos s e r v i c o s (renda real por p e n s i o n i s t a , e t c ) . 0 r e s u l t a d o d e s t a d e c o m p o s i c a o , i d e n t i f i c a os p r i n c i p á i s f a t o r e s e x p l i c a t i v o s do c r e s c i m e n t o o b s e r v a d o . Quando se passa ao comportamento individual dos países a n a l i s a d o s , s i t u a m - s e , de um lado, a Franca, a Itália, o Japao e a Inglaterra, com elevada e s u s t e n t a d a e l a s t i c i d a d e r e n d a do g a s t o s o c i a l , e, de o u t r o , o Canadá, a Alemanha e os E s t a d o s U n i d o s , que a p r e s e n t a r a m q u e d a s e x p r e s s i v a s n e s t a e l a s t i c i d a d e . 29 Mais importante como indicador de t e n d i n c i a s o b s e r v a d a s na e v o l u c a o r e c e n t e do g a s t o s o c i a l , t o r n a - s e a c o m p a r a d o e n t r e os periodos 1960/75 e 1975/01 nos p r i n c i p á i s p r o g r a m a s . De um m o d o geral, as taxas reais de crescimento dos gastos em e d u c a c a o , saúde e s e g u r o - d e s e m p r e g o foram m u i t o m e n o s i n t e n s a s no s e g u n d o período, com excedo dos programas de pensoes, onde a desacelerado é pouco expressiva. Dadas as restricoes legáis e a roaior r i g i d e z no programa de pensoes, bem como o diferente impacto dos fatores demográficos entre programas, a d e s a c e l e r a d o do gasto d e p e n d e u de m u d a n c a s na cobertura e nos gastos reais m e d i o s dos d e m a i s p r o g r a m a s . Os fatores explicativos para a d e s a c e l e r a d o variam conforme os p r o g r a m a s . Na área de educado, fatores demográficos e a d i m i n u i d o das m a t r í c u l a s a s s o c i a m - s e a p o l í t i c a s r e s t r i t i v a s de g a s t o . Tais p o l í t i c a s , a d e m a i s , r e f r e a r a m n o v o s i n v e s t i m e n t o s n o s setores educacionais, mantendo em contrapartida os gastos c o r r e n t e s . Assim, com a queda o b s e r v a d a da p o p u l a d o atendida, a r e l a d o professor/al uno manteve a a m p l i a d o do p e r í o d o a n t e r i o r até a e n t r a d a dos a n o s 80, q u a n d o c o m e t a a a p r e s e n t a r i n d i c i o s de queda. No que diz respeito à saúde, a t é m e a d o s dos a n o s 70, o m o v i m e n t o e x p a n s i v o c a r a c t e r i z a - s e pela a m p l i a d o da c o b e r t u r a da p o p u l a d o a c r e s c e n t a n d o à uní versal i z a d o p r è - e x i s t e n t e do a c e s s o á rede h o s p i t a l a r a c o b e r t u r a de outros servidos de s a ú d e . Tal movimento esgota-se p o r v o l t a de 1975, s e j a pela u n i v e r s a l i z a c a o da c o b e r t u r a a m p l i a d a , seja pelo desenvolvimento de s e g u r o de saúde privado, em países onde estes desempenhavam papel i m p o r t a n t e . A d e s a c e l e r a d o do crescimento dos g a s t o s de s a ú d e , para os países que fizeram esforcos de reduelo de g a s t o s , p r o v a v e l m e n t e , e x a g e r a o e f e i t o de t a i s p o l í t i c a s s o b r e as taxas o b s e r v a d a s . Isto porque, por um lado, o s r e s u l t a d o s da m e d i c i n a p r e v e n t i v a f r u t i f i c a r a m , j u n t a m e n t e com a m e l h o r i a das condicoes no traballio e na r e n d a dos i n d i v i d u o s , na d i m i n u i d o das d o e n c a s infecto-contagiosas. De outra parte, houve melhoria na produtividade dos servidos. Quanto ao seguro-desemprego, a combinado entre a d e s a c e l e r a c a o da t a x a de c r e s c i m e n t o do g a s t o e o a u m e n t o da taxa de desemprego de 5,2%, em 1975, para 6,7% , em 1981, s ó se explica como conseqllencia da diminuido da cobertura. Tal diminuido deve-se tanto è maior rigidez nos criterios de e l e g i b i 1idade como à mudanca na composido do desemprego (ampliado do número de jovens, mulheres casadas, desemprego e s t r u t u r a l no d e s e m p r e g o total), que aumenta o c o m p o n e n t e de inelegibi1idade no desemprego total. 0 seguro-desemprego, e n t r e t a n t o , nao p o d e ser a n a l i s a d o de forma isolada dos esquemas de protedo associados à previdencia s o c i a l . Na r e s t r i d o ao a c e s s o ao s e g u r o - d e s e m p r e g o , o r e c u r s o d o s a u x i l i o s e p e n s o e s da previdencia tende a ampliar-se, com o desi o c a m e n t o da p o p u l a d o c o r r e n t e para os esquemas alternativos de p r o t e d o social para eia d i s p o n í v e i s . 30 Como foi dito anteriormente, apenas a taxa de c r e s c i m e n t o d a s p e n s o e s p a g a s p e l a p r e v i d e n c i a social m a n t e v e - s e , a p ó s 1975, próxima aos valores observados no p e r í o d o anterior. A natureza contratual destes beneficios torna-os bastante rígidos, a menos que se a j u s t e m a s f ó r m u l a s de d e f i n i c a o dos v a l o r e s , ou que e s t e s n a o sejam i n d e x a d o s á i n f l a c a o . N a o obstante, como a manutencao do v a l o r real d o s beneficios é d e c i s i v a nos e s q u e m a s de s e g u r o social, as próprias regras contratuais pré-existentes dificultam m a n i p u l a c o e s n e s t a d i r e c a o , r e s s a l v a n d o - s e os c a s o s da A l e m a n h a e d o s E s t a d o s U n i d o s , o n d e a a t u a l i z a c a o a n t e r i o r dos v a l o r e s , que superava a c o r r o s a o i n f l a c i o n a r i a dos b e n e f i c i o s , a d m i t í a a l g u m a m a r g e m de a j u s t e . ÏM. FINANCIAMENTO 8A POLÌTICA SOCIAL A. EAaBasiBB0Q¿B_iá,SEBl_9tí_ÉBQtcibuiE5Bs_dicgtas Desde sua orisem, os sistemas de seguridade social defrontaram-se com duas matrizes distintas de f i n a n c i a m e n t o , o r i g i n a r i a s d a s d u a s forraas a n t e r i o r e s de p r o t e e S o social e dos recursos a elas associados - c a i x a s de p e n s S e s s u c e s s i v a m e n t e a g r e g a d a s a t é a f o r m a s a o de s i s t e m a s n a c i o n a i s de s e g u r o social e p r e s t a c o e s n a o - c o n t r i b u t i v a s . Na s e g u r i d a d e social c o n t e m p o r á n e a , i n d e p e n d e n t e m e n t e da origen) h i s t ó r i c a e da c o n c e p c a o inicial de financiamento e b e n e f i c i o , a m b a s as v e r t e n t e s e s t a o p r e s e n t e s de modo combinado. A p r i m e i r a d e s t a s f o r m a s b a s e i a - s e no e s q u e m a t r i p a r t i t e de contribuicoes diretas de e m p r e g a d o s , e m p r e g a d o r e s e do Estado e origina-se no modelo Bismarkiano, que inspirou varias legislacoes sociais em outros países. Nao o b s t a n t e , i n ú m e r o s foram o s p a i s e s cujos trabalhadores se posicionaram contra o modelo contributivo, dados os baixos níveis salaríais e a a s s o c i a c a o de u n d i r e i t o social a urna contribuieao direta, no qual se b a s e i a . No período entreguerras, os estudos da OIT sobre o financiamento do seguro social se inclinaran) pelo modelo t r i p a r t i t e , nao por urna q u e s t a o de p r i n c i p i o , e sim por sua m a i o r g e n e r a l i z a c a o e n t r e os p a i s e s - m e m b r o s . Aínda assim, d e s d e logo e x c e t u a v a m - s e d e s t a i n t e g r a c a o e n t r e as p a r t e s , que supunha co-responsabilidade pelos riscos sociais, o seguro associado a acidentes de trabalho, c u j o f i n a n e i a m e n t o s e m p r e foi a t r i b u i d o exclusivamente ao empregador. A participacSo no finaneiamento, segundo a co-responsabi 1idade pelos riscos sociais, nao se associa á e x i s t e n c i a de c r i t e r i o s r a c i o n a i s de r e p a r t i d o d o s c u s t o s . D e s t s modo, as f o r m u l a c o e s a d o t a d a s nada m a i s foram que r a c i o n a l i z a c a o a p o s t e r i o r ! da e x p e r i e n c i a c o n s a g r a d a . De outra p a r t e , o s i s t e m a de prestaçôes näo-contributivas, que i m p l i c a a cobertura exclusiva dos g a s t o s com f i n a n c i a m e n t o associado à receita fiscal, p a r t e da n o ç a o de r e s p o n s a b i l i d a d e 32 e s t a t a l p e l a a j u d a a o s m a i s p o b r e s . Por e s t a r a z a o , sua o r i g e m se localiza na assistencia social e déla se distingue pela i n t r o d u c a o da n o c a o do d i r e i t o a o s b e n e f i c i o s . Foi a p l i c a d a pela p r i m e i r a v e z na D i n a m a r c a , em 1 8 9 1 , q u a n d o se c r i o u um direito a p e n s a o para o c o n j u n t o da p o p u l a c a o , com b a s e na c o n f i g u r a c a o da condicao de invalidez, velhice ou perda da capacidade de m a n u t e n c a o da familia. Posteriormente, e s t e s i s t e m a de p e n s o e s , que na v i r a d a do s é c u l o e x i s t i a na A u s t r a l i a , Franca, Bélgica e Nova Zelandia, estendeu-se t a m b é m para b e n e f i c i o s a s s o c i a d o s á m a t e r n i d a d e , á a s s i s t e n c i a m é d i c a ou ao d e s e m p r e g o , i n c l u s i v e em países onde dominava a m o d a l i d a d e de f i n a n c i a m e n t o d i r e t a m e n t e cont ribut ivo. Até a Segunda Guerra Mundial, o sistema de f i n a n e i a m e n t o fiscal ocupou papel secundario n o s s i s t e m a s de s e g u r o s o c i a l . P a r a isso contribuiu a própria visao de t r a n s i t o r i e d a d e destes esquemas, cuja visao era o encaminhamento para o sistema diretamente contributivo. De fato, tal encaminhamento se concretizou nos anos imediatamente anteriores á Segunda Guerra, q u a n d o os sistemas de seguro social da Nova Zelandia e da N o r u e g a , ao mesmo tempo em que p a s s a r a m a s e r t r a t a d o s no p l a n o macroeconómico, incluiram contribuicoes diretamente realizadas pelo conjunto dos cidadaos, em funcao da sua capacidade cont ribut iva. A evolucao das duas modalidades de finaneiamneto para sistemas mistos (contribuicoes diretas e r e c u r s o s f i s c a i s dos o r c a m e n t o s g e r a i s do E s t a d o ) , i m p l i c a em r e c o n h e c e r , e m b o r a com énfases distintas, em termos da p r o p o r c a o d o s a p o r t e s de cada modalidade, que o sistema de protecao contém b e n e f i c i o s de natureza diversa pensoes, de um lado, e c o m p l e m e n t a c o e s de renda e servicos, de outro, para os quais as modalidades diretamente contributiva e fiscal s t r i c t o s e n s u sao, c a d a urna délas, insuficientes e/ou mais ou menos bem aceitas. Nao obstante, a aparente c o n v e r g e n c i a para a integracao dos esquemas de f i n a n c i a m e n t o n a o se a s s o c i a n e c e s s a r i a m e n t e á homogeneizacao na concepcao dos beneficios e d o s e s q u e m a s de p r o t e c a o social c o m o um t o d o . Nem o a p o r t e de r e c u r s o s do o r c a m e n t o fiscal e l i m i n a , nos sistemas diretamente contributivos, a possibi 1idade de urna a s s o c i a c a o m a i s p r ó x i m a e n t r e os valores de contribuicao e os valores dos b e n e f i c i o s de p r e s t a c a o c o n t i n u a d a , nem o a c r é s c i m o a o s s i s t e m a s f i s c a i s de r e c u r s o s d i r e t a m e n t e c o n t r i b u t i v o s a l t e r a a concepcao dos beneficios, segundo o c r i t é r i o de n e c e s s i d a d e s b á s i c a s , que g e r a l m e n t e se a s s o c i a as modalidades predominantes fiscais. 0 resultado concreto d e s t a d u p l i c i d a d e e s t á e s p e l h a d o ñas recomendacoes do Relatório Beveridge, de 1942, e em recomendacoes específicas da O I T , de 1944. 0 R e l a t ó r i o B e v e r i d g e p r o p S e a d u p l i c i d a d e de concepcao: o f i n a n e i a m e n t o com r e c u r s o s do Tesouro para os itens relativos à solidariedade nacionalcomo os beneficios de SUP1ementacao de renda familiar e os 33 s e r v i d o s de a s s i s t é n c i a médica d e i x a n d o o sistema de p e n s o e s a cargo dos próprios interessados, ou dos empregados e seus empregadores, na modalidade diretamente contributiva. Cabe e x c l u s i v a m e n t e ao e m p r e g a d o r o ónus dos e n c a r g o s r e s u l t a n t e s dos a c i d e n t e s de t r a b a l h o . 0 Relatório B e v e r i d g e abre espato, ainda, para excetuar d e s t e esquema os e v e n t u a i s déficits do sistema de pensoes por v e l h i c e ou por d e s e m p r e g o p r o l o n g a d o . As recomendacoes da OIT distinguem como critério, para p r o p o s i c a o de e s t r a t é g i a s de f i n a n e i a m e n t o , os servicos públicos em geral e os servidos e beneficios do seguro social, r e s p e c t i v a m e n t e f i n a n c i a d o s pela receita geral do E s t a d o e/ou por imposto específico, de um lado, e por c o n t r i b u i c o e s díretas, de outro. Nao o b s t a n t e , "a partir do momento em que o problema da s e g u r i d a d e social é colocado no c o n t e x t o de urna p o l í t i c a para o coletivo e de um mecanismo geral, a discussSo sobre as modalidades de financiamento passa a ser urna questao da o p o r t u n i d a d e e c o n ó m i c a ou p s i c o l ó g i c a de como gerar os r e c u r s o s n e c e s s á r i o s para as despesas". 5/ Assim, as c r i s e s fiscais e a n e c e s s i d a d e de r e d i s t r i b u i c a o induzem os sistemas b a s e a d o s na receita fiscal ao a p o r t e c o n t r i b u t i v o , como forma m a i s aceita de ampliar a carga t r i b u t a r i a . De outro lado, a e x t e n s a o da p r o t e c a o aos n a o - a s s o c i a d o s e á p o p u l a c a o como um todo, r o m p e o esquema de finaneiamento c o n c e b i d o para urna p o p u l a c a o a s s a l a r i a d a , induzindo á ampliacao do aporte fiscal. Naturalmente, onde a renda da p o p u l a c a o é m a i s homogénea (tanto nos salarios, como ñas d e m a i s fontes), a e s c o l h a de e s t r a t é g i a s é menos r e l e v a n t e , urna vez que seus resultados, tanto na d i s t r i b u i c a o da carga t r i b u t a r i a e n t r e individuos, como na concepcao e pagamento dos beneficios, sao, aproximadamente, equivalentes. Como foi visto na parte inicial deste trabalho, o crescimento das r e s p o n s a b i l i d a d e s de g a s t o dos e s t a d o s de b e m estar, e da própria c o n c e p c a o mais abrangente dos e s q u e m a s de protecao social, traduz-se concretamente em necessidade de recursos ampliados e no aumento da carga tributaria a ela assoc iada. B. E»glucSQ-do_{iDaDCiiBfQt.g-QD_eós=auecrB Ante a necessidade crescente de recursos, por razSes expostas na parte I deste trabalho, verificam-se, de fato, aumentos na carga tributaria associada a despesas com a s e g u r i d a d e s o c i a l . No período 1960/77, a receita gerada para cobertura de gastos sociais muítip1ica-se 2,75 vezes na 5/ P. LARO, "De l'expérience Juin 1948. L'assurance française". sociale à la s é c u r i t é sociale: Beyus lQlennaiiQaale_dU_Ica¥ail, 34 Inglaterra, 3,73 nos Estados Unidos, 4,60 na Franca, 5 , 1 0 na Suécia e 1 8 , 8 4 no J a p a o . A r e l a c a o entre t a i s r e c e i t a s e o PIB, em 1977, u l t r a p a s s a v a 15% na m a i o r i a dos p a í s e s i n d u s t r i a l i z a d o s , chegava a 80% em muitos d e l e s , e a l c a n c a v a os 30% n o s P a í s e s Baixos e na Suécia. é/ As circunstancias que e x p l i c a m tal evolucao sao de n a t u r e z a diversa. Duas d e s t a c a m - s e d e s d e logo, por seu crescimento dissociado de decisoes r e l a c i o n a d a s com mudancas na estrutura impositiva. A primeira, relacionada á receita geral, d e r i v a - s e , em sistemas tributarios progressivos, do p r ó p r i o c r e s c i m e n t o da r e c e i t a m a i s que p r o p o r c i o n a l á r e n d a . A s e g u n d a , d e r i v a d a do s i s t e m a d i r e t a m e n t e contributivo, baseado na folha de s a l a r i o s , e x p l i c a - s e p e l a e v o l u c a o d o s s a l a r i o s , cuja taxa de c r e s c i m e n t o t a m b é m s u p e r o u a do P I B . Além d e s t e s d o i s fatores, p o d e - s e o b s e r v a r de m a n e i r a geral, a elevacao progressiva das a l í q u o t a s de c o n t r i b u i c a o , que, em m u i t o s c a s o s , m a i s que d u p l i c o u da d é c a d a de 50 até o final da d é c a d a de 70. M a i s i m p o r t a n t e que isso, na a p r o x i m a c a o e n t r e as d u a s m o d a l i d a d e s de f i n a n e i a m e n t o , tém-se revelado a eliminacao do t e t o de c o n t r i b u i c o e s , e m b o r a em g e r a l , sem t a n t a r e p e r c u s s a o na r e c e i t a . A f i x a c a o d e s t e t e t o c o n t r i b u t i v o tem sua o r i g e m na v i s a o de seguro privado, da qual s u r g e m o s p r i m e i r o s r e g i m e s de s e g u r o social, e que associa valores de contribuicao a v a l o r e s de beneficio. Sua supressao, além de permitir o c r e s c i m e n t o da receita, tanto maior quanto mais concentrada for a d i s t r i b u i c a o da r e n d a e m a i o r a d i s p e r s a o e n t r e p i s o s e t e t o s de c o n t r i b u i c a o , acentúa o efeito redistributivo da s e g u r i d a d e s o c i a l , na m e d i d a em que nao seja compensado por igual ajuste nos beneficios s u p e r i o r e s . E n t r e t a n t o , tal s u p r e s s a o , já realizada nos países n ó r d i c o s e na B é l g i c a , e n c o n t r o u m a i s d i f i c u l d a d e s em p a í s e s como a Franca, onde a distribuicao dos salarios é mais heterogénea. Nos outros casos citados, de distribuicao mais homogénea, a m a i o r i a da p o p u l a c a o e s t á c o n t i d a no limite s u p e r i o r do t e t o de c o n t r i b u i c a o , s e n d o - l h e , p o r t a n t o , i n d i f e r e n t e a e l i m i n a c a o deste t e t o , em t e r m o s de e l e v a c a o de sua c a r g a t r i b u t á r i a . Q u a l q u e r que seja o c a m i n h o adotado de elevacao da carga tributária, associada principalmente á s e g u r i d a d e s o c i a l , de um lado, e a s c o n t r i b u i c o e s i n d i v i d u á i s , de outro, a a m p l i a c a o da a b r a n g é n c i a dos p r o g r a m a s s o c i a i s e d o s v a l o r e s a e l e s a s s o c i a d o s tém imposto a necessidade de diversificacao das fontes de f i n a n e i a m e n t o . Sao sobretudo os s i s t e m a s de seguro á populacao n a o - a s s a l a r i a d a ( s o b r e t u d o a g r í c o l a ) que impoem a o s s i s t e m a s de finaneiamento, nao só a combinacao da receita geral e das c o n t r i b u i c o e s d i r e t a s com a l í q u o t a s crescentes e sem l i m i t e s de contribuicao, o recurso a cotapartes de t r i b u t o s e s p e c í f i c o s (sobre o seguro de automóveis, sobre o fumo, sobre grandes fortunas, etc.) para r e c u p e r a r o e q u i l i b r i o o r c a m e n t á r i o na área 6/ Veja-se: OIT, "Sécurité Sociale: quelle méthode f i n a n c e m e n t ? Une a n a l y s e i n t e r n a t i o n a l e " . G e n e b r a , 1983. de 35 de gasto social e, sobretudo, da seguridade social. Como r e s u l t a d o de t o d o e s t e m o v i m e n t o , c o - e x i s t e m atualmente sistemas diferentes entre si, quanto à concepcao de finaneiamento e beneficios, quanto à diversidade de f o n t e s c o n t r i b u t i v a s , e até mesmo quanto ao peso r e l a t i v o da c o n t r i b u i d o de e m p r e g a d o s e empregadores. Na m a i o r i a dos países industrializados, as c o n t r i b u i e o e s profissionais (de empregados e empregadores, bem como de contribuintes individuáis) representa a forma dominante de finaneiamento da seguridade social, cobrindo c e r c a de 7 5 % do g a s t o total de p a í s e s como: a República Federal Alema, Austria, EspanHa, Estados Unidos, Finlandia, Franca, Noruega, Inglaterra, Itália, entre outros. 0 finaneiamento fiscal é d o m i n a n t e na D i n a m a r c a , o n d e r e p r e s e n t a m a i s de ?<d% d o s r e c u r s o s da s e g u r i d a d e s o c i a l , t e n d o t a m b é m c r e s c i d o na A ú s t r i a , em Israel, nos P a í s e s Baixos e na Suíca. Nestes, entretanto, o finaneiamento, via c o n t r i b u i c o e s s o c i a i s d i r e t a s , a p o r t a a tnaioria d o s r e c u r s o s . Na verdade, a partir dos déficits oreamentários registrados nos países avancados nos anos recentes, houve urna redudo da p a r t i c i p a d o fiscal, em p a í s e s c o m o a I n g l a t e r r a , a F i n l a n d i a , a Suécia, onde tradicionalmente dominava esta concepcao de finane iament o. E possivel, a partir destas observaçoes, chegar a tipificar m o d a l i d a d e s de f i n a n e i a m e n t o m a i s ou menos adequadas a certos riscos sociais. Assira, os nao-assalariados, em geral, sao candidatos ao finaneiamento fiscal (caso da Franca, onde a pluralidade dos regimes e condicSes demográficas requeren o a p o r t e de r e c e i t a s g é r a i s ) , bem c o m o às d e s p e s a s a s s o c i a d a s ao d e s e m p r e g o de natureza mais e s t r u t u r a l ( A l e m a n h a e B é l g i c a , por exemple). Também é regularmente previsto ñas legislades o f i n a n c i a m e n t o fiscal em c a s o de d é f i c i t s f i s c a i s . E s t e a p o r t e te» s i d o m a i s f r e q u e n t e , na medida em que, no pós-guerra, muitos p a i s e s foram i m p e d i d o s , pela e x p a n s a o do g a s t o , de c a p i t a l i z a r s e u lucro e formar reservas, transformando-se em s i s t e m a s de repartido simples, onde a receita geral e as contribuicoes d i r e t a s somam m a i s de 90% dos recursos totais. S o b r e t u d o em alguns países, onde os sistemas de seguro social sâo m a i s r e c e n t e s , c o m o o C a n a d á , Israel, J a p S o e S u é c i a , p r i n c i p a l m e n t e a a c u m u l a d o das reservas revela-se ainda importante, sendo neste ú l t i m o c a s o r e s p o n s á v e l por a p o r t e s de até 1 8 , 4 % d o s r e c u r s o s , em 1977, const i t u i n d o - s e na fonte m a i s i m p o r t a n t e de f o r m a d o de c a p i t a l do p a í s . Finalmente, verifica-se também urna mudanca e x p r e s s i v a na r e p a r t i d o da carga entre e m p r e g a d o s e empregadores. Observe--se u m a d i m i n u i d o r e l a t i v a da p a r t i c i p a d o d o s empregados vis-à-vis o s e m p r e g a d o r e s em um g r a n d e n ú m e r o de p a í s e s i n d u s t r i a l i z a d o s , e m e s m o no limite sua abolido, e uma diminuido dos encargos a s s o c i a d o s ao t r a b a l h a d o r i n d e p e n d e n t e . Todas estas transformacoes afastaram os sistemas dos principios do seguro privado, t a n t o na d i f e r e n c i a d o em f u n d o 36 dos r i s c o s s o c i a i s , como na p r o p o r c í o n a l i d a d e entre c o n t r i b u i c o e s e beneficios. Apesar disso, e independentemente da modalidade de financiamento dominante, manteve-se ou introduziu-se alguna relagao entre carga tributaria individual e o valor dos beneficios, de modo a reforjar m e c a n i s m o s de s o l i d a r i e d a d e social que se haviam e s g a r c a d o . Nos rumos atuais dos financiamentos á política social, podem-se observar algumas tendencias relevantes. Em primeiro lugar, urna t e n t a t i v a de retomar a separacao conceitual proposta por Beveridge para o finaneiamento de pensoes, de um lado, e demais servicos e p r e s t a e o e s em dinheiro, por outro, e na medida em que se conseguir dar um caráter mais " o r e a m e n t á r i o " a um d i r e i t o civil, social e legal, transformar um c o m p r o m i s s o de cobertura inquestionável numa concorrencia por r e c u r s o s escassos. Em segundo lugar, na m e d i d a em que se generalizou a idéia da responsabi 1idade fiscal por um mínimo social de caráter universal (tipo c o m p 1 e m e n t a c o e s de renda familiar, tickets de a l i m e n t o s e outros), o aporte de recursos fiscais tem-se revelado insuficiente, e x i g i n d o urna red istribuicao dos recursos gerados con c o n t r i b u i c o e s diretas, com beneficio dos grupos sociais mais frágeis. Dado o entre 1 a e a m e n t o e a interdependencia crescente das modalidades de recursos, e a subordinacao dos gastos a d e t e r m i n a c o e s da política m a c r o e c o n o m i c a , r e v e l o u - s e nos sistemas de seguridade a terceira c a r a c t e r í s t i c a , qual seja, a busca de novas fontes de f i n a n e i a m e n t o dotadas de maior p r o d u t i v i d a d e , na medida em que acompanham as transformacoes dos sistemas industriáis m o d e r n o s . Na medida em que a folha de s a l a r i o s pesa cada vez menos na c o n f i g u r a e a o dos custos e m p r e s a r i a i s totais e, p r i n c i p a l m e n t e , na r e p a r t i c a o funcional da renda, alguns países experimentam captar o efeito desta mudanca pela d i v e r s i f i c a d o das bases, c o m b i n a n d o (ou s u b s t i t u i n d o ) a folha de s a l a r i o s pela t r i b u t a d o do valor a d i c i o n a d o ou do lucro das e m p r e s a s . Estas m o d a l i d a d e s de c a p t a c a o a l t e r n a t i v a s nao eliminam n e c e s s a r i a m e n t e a vinculado de recursos aos gastos da seguridade social, representanto antes a cessao de um potencial t r i b u t a r i o mais dinámico, quando c o m p a r a d o á folha de salario, para o reforco do núcleo central de f i n a n e i a m e n t o social. c. Bitc_B_reBlidadB_!lQ_fiQaQciameQtQ_da_sesui:i£la!le_sQcial Todas as q u e s t o e s até aqui l e v a n t a d a s sugerem a necessidade de aprofundar a temática do finaneiamento da política social e, principalmente, da seguridade social, detalhando a pauta de discussao atual e a realidade das afirmacoes feitas para encaminhar urna ou o u t r a e s t r a t e g i a de finaneiamento. Para tal, é possível seguida a n a l i s a d o s . distinguir grandes blocos temáticos, em 37 1. C u e t o da raao-de-obra, c o m p e t i t i v i d a d e das e m p r e s a s , e s c o l h a de t é c n i c a s , « « p r e s o e b a s e s de finane i a m o n t o da s e g u r i d a d o soc ial 0 d e n o m i n a d o r c o m u m da p a u t a t e m á t i c a a c i m a e x p o s t a c o n s i s t e em atribuir ao financiamento da seguridade, baseado em contribuigoes sobre a folha de s a l a r i o , a r e s p o n s a b i l i d a d e pela e l e v a d o do c u s t o de m a o - d e - o b r a v i s - á - v i s o c a p i t a l , e por esta razio, em desestímulo á c o n t r a t a d o de n a o - d e - o b r a , s u b s t i t u i d a por c a p i t a l em opcoes tecnológicas induzidas por tais presos relat ivos. Ao contrario do que se a-firma, e n t r e t a n t o , a p a r t e das c o n t r i b u i g o e s s o c i a i s como c o m p o n e n t e do c u s t o total da m a o - d e - o b r a , nao explica as diferencas existentes nestes custos entre p a í s e s ou industrias. A comparado internacional evidencia a i n e x i s t e n c i a de c o r r e l a d o entre o c u s t o total da m a o - d e - o b r a e os e n c a r g o s trabalhistas ou previdenciários, e x p l i c a n d o - s e as d i f e r e n c a s o b s e r v a d a s p e l o s d e s n í v e i s s a l a r i a i s d i r e t o s e/ou p e l a carga tributaria global. Países como a Franca, Espanha e Itália, o n d e as c o n t r i b u i c o e s s o c i a i s a s s u m e m p o n d e r a d o e l e v a d a , n a o se d e s t a c a m entre os de custos de mao-de-obra mais e l e v a d o s . Em contrapartida, na Dinamarca, onde os e n c a r g o s s o c i a i s s o b r e a m a o - d e - o b r a sao r e d u z i d o s , seu c u s t o é r e l a t i v a m e n t e a l t o . Assim, o ato de financiar a seguridade social, com i n c i d e n c i a que r e c a i a s o b r e as f a m i l i a s e n a o s o b r e as e m p r e s a s , nao p r e s e r v a os c u s t o s de m a o - d e - o b r a c o m p r i m i d o s , d e s d e que haja um poder sindical forte e, em situagoes inf1acionárias, m e c a n i s m o s de i n d e x a c a o a d e q u a d o s . Um s e g u n d o d e s d o b r a m e n t o d e s t a t e m á t i c a c o n s i s t e na a n á l i s e dos f a t o r e s de s u b s t i t u i d o entre capital e t r a b a l h o . C o m o foi dito anteriormente, outros fatores que nao as c o n t r i b u i g o e s sociais exercem mais influencia s o b r e os c u s t o s da m a o - d e - o b r a r e l a t i v a m e n t e ao c a p i t a l . Além dos já apontados, o c u s t o do capital, por sua vez, é barateado por medidas destinadas a estimular os investimentos (incentivos, deducoes, isengoes fiscais e crediticias). Finalmente, na m e d i d a em que o a u m e n t o dos e n c a r g o s possa efetivamente influir nos c u s t o s da e m p r e s a , estes serio repassados ao índice geral de p r e c o s e r e b a t e r a o , t a m b é m , sobre os c u s t o s da p r o d u d o de b e n s de c a p i t a l . Na r e a l i d a d e , a s s u b s t i t u i g o e s c a p i t a l t r a b a l h o d e c o r r e m de mudancas tecnológicas e de pressoes da concorréncia internacional Tais pressoes dao origem á modernizado tecnológica, estimulando o poder de competido n a c i o n a l , e, p o r t a n t o , as exportacoes, protegendo também os países contra importagoes. 0 efeito, nesta h i p ó t e s e , é c e r t a m e n t e do p o n t o de v i s t a m a c r o e c o n o m i c o , favorável ao e m p r e g o . I l u s t r a este ponto a s i t u a d o da I n g l a t e r r a , o n d e c u s t o s m a i s b a r a t o s da m a o - d e - o b r a , relativamente aos demais países do Mercado Comum Europeu, combinam-se com diferencas de p r o d u t i v i d a d e d e s f a v o r á v e i s aos ingleses, e que espelham a obsolescencia de seu parque 38 i n d u s t r i a l . Isto e x p l i c a , t a m b é m , a p e n e t r a d o das i m p o r t a c o e s e o e f e i t o g l o b a l d e s f a v o r á v e l a o e m p r e g o , em que p e s e a r e l a c a o de precos "favorável" á mio-de-obra. D e n t r o da industria, a m o d e r n i z a d o , apesar de r e d u z i r o s custos diretos da mao-de-obra, amplia os servicos indiretos (manutendo, controle, preparado, o r g a n i z a d o ) e, p o r t a n t o , a q u a l i f i c a c a o da mao-de-obra, antes que sua q u a n t i d a d e . Aquí, o e f e i t o da m o d e r n i z a d o t a m p o u c o p o d e ser a s s o c i a d o a urna e v o l u c a o d e s f a v o r á v e l do e m p r e g o . Urna o u t r a q u e s t a o , m u i t o p r e s e n t e n e s t a d i s c u s s S o , r e f e r e - s e á iniqUidade da carga t r i b u t á r i a s o b r e e m p r e s a s i n t e n s i v a s em mao-de-obra, relativamente a empresas i n t e n s i v a s em capital. As recomendacoes no sentido de introdudo, no f i n a n e i a m e n t o da s e g u r i d a d e s o c i a l , de urna c o n t r i b u i d o s o b r e o valor a d i c i o n a d o , j u s t i f i c a - s e p e l o fato de que a p a r t i c i p a d o d a s e m p r e s a s sobre o v a l o r a d i c i o n a d o r e p o u s a s o b r e s e u g r a u de. m e c a n i z a d o . Na v e r d a d e , estas observacSes se aplicam de forma mais a d e q u a d a a d i f e r e n c a s e n t r e e m p r e s a s de um m e s m o setor, s e g u n d o a n a i o r ou m e n o r r e l a c a o c a p i t a l / t r a b a l h o . E n t r e setores, n a o é o peso relativo dos salários (e dos encargos) que explica a d i s c r i m i n a d o entre empresas. Em primeiro lugar, do p o n t o de vista da concorrencia, setores cujo p r o d u t o está a s s o c i a d o a t e c n o l o g í a s m a i s i n t e n s i v a s em c a p i t a l nSo concorrem con setores cujo produto é mais intensivo em m a o - d e - o b r a , v i s t o que, em p r i n c i p i o , os p r o d u t o s n a o sao c o n c o r r e n t e s . Na p e r s p e c t i v a da r e n t a b i l i d a d e e d o dinamismo empresarial, tampouco os encargos sobre a folha p a r e c e n e x e r c e r i n f l u e n c i a significativa. Evidencias empíricas, contemplando cerca de cinquenta setores da e c o n o m í a f r a n c e s a , por e x e m p l o , d e m o n s t r a n que a r e l a c a o e n t r e f o l h a de salario e v a l o r a d i c i o n a d o (tomado como indicador de discriminacao entre empresas) nao exerce i n f l u e n c i a s i g n i f i c a t i v a s o b r e a r e n t a b i l i d a d e ou a c a p a c i d a d e de a u t o f i n a n c i a m e n t o d o s d i f e r e n t e s s e t o r e s . Além disso, s e t o r e s que a p r e s e n t a m a l t a s relaccSes e n t r e encargos e valor a d i c i o n a d o nao sao necessariamente os que a p r e s e n t a m o s r e s u l t a d o s p i o r e s ; o n d e t a i s r e l a c o e s sao d é b e i s , a d e n a i s , n a o se e n c o n t r a m o s s e t o r e s de naior rentabi 1idade e dinanisno. •utros setores, a í n d a p a r a a e c o n o n i a f r a n c e s a , revelam que a s i n d u s t r i a s de nao-de-obra (definidas pela p a r t i c i p a d o dos custos do trabalho sobre o v a l o r a d i c i o n a d o ) sSo e x t r e m a m e n t e h e t e r o g é n e o s , c o n t e n d o t a n t o s e t o r e s de b a i x o s salários e grande vulnerabilidade á concorrencia, cono setores extremamente c o m p e t i t i v o s e de n 3 o - d e - o b r a extremamente qualificada, como a i n d u s t r i a de v i d r o , a m e c á n i c a e a de m a t e r i a l de t r a n s p o r t e . E possivel, em c o n t r a p a r t i d a , que d e n t r o de um m e s m o setor, onde co-existam grandes, médias e pequeñas empresas, haja uma excessiva penalizado das pequeñas e médias, em geral n a i s intensivas em mao-de-obra. Entretanto, dado que a dinámica 39 setorial é comandada pelas grandes empresas, ñ a s suas r e l a ^ o e s inter e i n t r a - s e t o r i a i s , a d i m i n u i c a o dos encargos trabalhistas nSo seria suficiente para d e s e q u i l i b r a r o poder de c o m p e t i d o pré-estabelecido, nem afetaria de modo expressivo o saprego agregado. Assira, a substituido da folha de salario, como base c o n t r i b u t i v a de seguridade, ou sua combinado com t r i b u t a d o sobre lucro ou faturaraento d a s empresas, p o d e r l a ser j u s t i f i c a d a por razSes de maior potencial de arrecadado de bases alternativas, ou de ganhos de eqüidade (na p e r s p e c t i v a das e m p r e s a s , ou d o s c o n s u m i d o r e s ) , mas nao por seu e f e i t o sobre o eraprego ou sobre a c o n c o r r S n c i a c a p i t a l i s t a . 2. EliiainagSo do toto do c o n t r i b u i d o c o b r o a folhn do salarios A existencia de um teto de c o n t r i b u i d o para o s e g u r o social teve sua origetn histórica na intencao de excluir do sistema os empregados e s e t o r e s de altos s a l á r i o s . Uraa vez que, at ual cient e, a totalidade dos assalariados está incluida no s i s t e m a de seguridade social, nao há porque, nesta p e r s p e c t i v a , manter ura sistema que resulta em incidencias e f e t i v a s injustas, tanto do p o n t o de vista dos e m p r e g a d o s como d a s e m p r e s a s s e g u n d o sua maior ou menor u t i l i z a d o de m a o - d e - o b r a . A própria n a t u r e z a das p r e s t a c o e s , se a e s t r u t u r a i m p o s i t i v a obedecesse, como principio, a adequado da carga ao t i p o de beneficio, nao justificaría o teto, ñera para pensoes que substituam salarios, nem para as que se destinara a um m í n i m o social Z/, apenas explicitando de forma mais adequada aspectos r e d i s t r i b u í i v o s do sistema. Do ponto de vista do e m p r e g o , e m b o r a este seja um a s p e c t o ainda p o u c o e x p l o r a d o pela literatura s o b r e o tema, a e l i m i n a d o do teto poderla e s t i m u l a r c o n t r a t o s de t e m p o parcial, em confronto com pagamento de horas extras e grat i f i c a d e s , que superpostas ao salério-base, atualraente, quando ultrapassam os tetos, nao representara a m p l i a d o da carga impositiva, tendo assim impacto sobre o e m p r e g o . 3. Natureza econfitaica do íinaneíaraenfce ^p@vá.á@neia e pelitiesa A falta de um p r i n c i p i o básico a nortear a c o m b i n a d o de b a s e s de finane lamento para a s e g u r i d a d e s o c i a l , as recoraendacSes da OIT privilegiara a busca de ¡aodalidadss que m e l b o r se a d a p t e n ao t i p o de s o l i d a r i e d a d e posta em prática por cada tipo de Z/ seguridade social Desde sua origen, os sistemas de de finaneiaraento. d e f r o n t a r a m - s e cora c o n c e p c o e s distintas o r i g i n á r i a s d a s duas formas a n t e r i o r a s de p r o t o d o social, e de s e g u r o , elas associados as caíxas dos r e c u r s o s a s i s t e m a s de s e g u r o social e as p r e s t a c o e s n i o agregadas em combinados na seguridade -contributivas, reasrupados e social contemporfinea. 40 beneficio. Esta clarificacao destina-se, principalmente, a delimitar fronteiras respectivas de contribuicoes e impostos, d e f i n i n d o as p r i m e i r a s c o m o c u s t o s n o r m á i s de m a o - d e - o b r a . Se as b a s e s de finaneiamento sao assim estabelecidas por c r i t é r i o s lógicos Q/, nao há mais razao para atribuir ao s i s t e m a de c o n t r i b u i c o e s um c a r á t e r i m p e d i t i v o a urna p o l í t i c a de emprego, o que nao impede os p o d e r e s p ú b l i c o s de a p o i a r c e r t a s e m p r e s a s , d i m i n u i n d o s e u s e n c a r g o s a t r a v é s de urna p o l í t i c a de s u b s i d i o s . Se a q u e s t a o da a d e q u a c a o d a s m o d a l i d a d e s de f i n a n c i a m e n t o á n a t u r e z a dos b e n e f i c i o s é ú n i c a ou d o m i n a n t e na c o n f i g u r a d o dos sistemas, sua determinado pode contrariar políticas macroeconomicas, sobretudo as de curto prazo. Acusacoes de i n i q U i d a d e da e s t r u t u r a i m p o s i t i v a , b a s e a d a em folha de salarios, atribuem ao financiamento fiscal v i r t u d e s i n t r í n s e c a s de maior progressividade, maior capacidade de protecao social e maior adesao a políticas macroeconomicas imp1icitamente reconhecidas como desejáveis. A experiencia internacional, entretanto, d e m o n s t r a que, o n d e os s i s t e m a s f i s c a i s sao p r o g r e s s i v o s , tende a ser a p r i o r i mais igualitaria a distribuido de renda e de riqueza, o que torna também mais viável a a p r o x i m a d o entre contribuicoes e beneficios, na modalidade c o n t r i b u t i v a . Mesmo nestes casos, a tentativa de a s s o c i a r a m a s s a de r e c u r s o s da p r e v i d é n c i a e a forma de i m p o s i c a o com o b j e t i v o s de e m p r e g o nao tem r e s i s t i d o a t e s t e s p r e l i m i n a r e s . Assim, m e s m o sem c o n s i d e r a r o campo normativo e a experi§ncia histórica que d e f e n d e r í a um espato orcamentário próprio e b e n e f i c i o s ( p e n s o e s ) que guardem r e l a c a o com ,o a p o r t e de r e c u r s o s , como s o l u c a o de c o n v e r g e n c i a aos sistemas m o d e r n o s ?/, é de duvidosa eficacia a e s c o l h a de alternativas de finaneiamento com objetivos associados ao emprego, ao investimento e á opcao t e c n o l ó g i c a , que ponham, ademais, em risco a consecucao dos objetivos próprios da seguridade social: garantía dos r e c u r s o s p e l a m o b i l i z a d o dos esquemas de sol i d a r i e d a d e social, eqllidade na captado e repartido e, sobretudo, nos sistemas menos estabilizados, política e económicamente, continuidade nos fluxos de receita n e c e s s á r i o s ao f i n a n e i a m e n t o da p r o t e c a o s o c i a l . 8/ C o m o as p r e s t a c o e s d e s t i n a d a s a g a r a n t i r urna r e n d a d i f e r i d a do t r a b a l h o c o m p o r t a m urna base uniforme e urna c o n t r i b u i d o relacionada ao salario, elas recorrem simultáneamente á s o l i d a r i e d a d e n a c i o n a l e á do s e g u r o . J u s t i f i c a - s e , assim, o finaneiamento misto, sendo a parte referida ao s a l á r i o f i n a n c i a d a por c o n t r i b u i c o e s d i r e t a s e a o u t r a c o b e r t a por impostos. A importancia respectiva d a s d u a s p a r t e s resulta de urna escolha política que se liga aos direitos reconhecidos aos beneficiarios, como m e m b r o s da p o p u l a d o ativa e da c o l e t i v i d a d e n a c i o n a l . 2/ Veja-se a Sedo IV d e s t e trabalho. 41 4. Incidencia tributo s o b r e folha de s a l a r i o s - contribuido social ou I n d e p e n d e n t e m e n t e da discussao sobre os p r i n c i p i o s l ó g i c o s s o b r e os quais se apóiam as modalidades de f i n a n e i a m e n t o da seguridade social, h o j e m a j o r i t a r i a m e n t e c o m b i n a d a s nos s i s t e m a s n a c i o n a i s , em proporcoes decididas por o p o r t u n i d a d e s e c o n ó m i c a s ou p o l í t i c a s , a própria base tradicional da s e g u r i d a d e s o c i a l , está também p o s t a em c h e q u e na r e f l e x a o atual s o b r e o tema. 0 ponto central sobre o qual se apóia esta d i s c u s s a o d i z respeito á c o n c e p d o de s e g u r i d a d e , a l t e r n a t i v a m e n t e a p r e s e n t a d a "como um p r o g r a m a de s e g u r o s de r e n d i m e n t o s g a n h o s (e p a g o s ) , ou c o m o um p r o g r a m a de t r a n s f e r e n c i a s v i s a n d o á a d e q u a c a o social d o s b e n e f i c i o s , i g / Urna vez que os sistemas tém ao mesmo t e m p o e l e m e n t o s de a m b a s as c o n c e p c o e s , r e f o r c a - s e a a m b i g ü i d a d e q u a n t o á c a r a c t e r i z a d o da i n c i d e n c i a s o b r e a folha de salarios como c o n t r i b u i d o ou c o m o t r i b u t o . Por c a m i n h o s d i s t i n t o s e com i n t e n c o e s d i v e r s a s , v á r i o s s a o os a u t o r e s que c o n t e s t a m a atual s i s t e m á t i c a de f i n a n e i a m e n t o da seguridade, propondo, por um lado o uso da r e c e i t a geral e, por o u t r o , urna redugao na folha de salarios. ftlguns deles como F e l d s t e i n 11/ e Friedman 12/ tem em c o m u m a énfase na d i v i s a o p ú b l i c o - p r i v a d a no s e g u r o s o c i a l . F e l d s t e i n , por e x e m p l o , e m b o r a r e c o n h e c e n d o a n e c e s s i d a d e do s e g u r o social - para c o m b a t e r a a n t i - s e l e c a o do s e g u r o p r i v a d o para formar um ú n i c o g r u p o s o c i a l , s u g e r e que, no atual m é t o d o de repartido simples formado pelas contribuicoes, nao há investimento real dos recursos, tampouco fundos de cap it al i z a d o • E n t r e t a n t o , como para a imensa maioria dos a m e r i c a n o s , o p r o g r a m a de s e g u r o social é a forma d o m i n a n t e de poupanca, isto significa, na o p i n i a o d o autor, urna r e d u c a o do e s t o q u e de r i q u e z a p r i v a d a de 40% até 1971, c a s o nao existisse a poupanca forcada. 0 impacto, segundo o autor, r e v e l a - s e na r e d u c a o da r e n d a e da a c u m u l a d o de c a p i t a l , dada a b a i x a t a x a de r e t o r n o das aplicacoes. A falha da a r g u m e n t a d o de F e d s t e i n é a de t r a t a r a m a s s a de recursos do seguro social como qualquer fundo, sem reconhecer, do lado da mobilizacao, a natureza especial do aval do Estado e, do lado das a p l i c a c o e s , os componentes redistributivos que tampouco p o d e r i a m e x i s t i r nos planos privados. Trata-se, portanto, do e q u í v o c o , r e l a t i v a m e n t e 18/ 11/ lg/ V e j a - s e E d w a r d C O W A N , " B a c k g r o u n d and h i s t o r y : the c r i s i s in public f i n a n c e and social s e c u r i t y " , in M i c h a e l B o s k i n , ed., Ihe Etisis ¿Q §5Eial_secunity San F r a n c i s c o , C a l i f o r n i a , I n s t i t u t e for C o n t e m p o r a r y S t u d i e s , 1977. Martin F E L D S T E I N , "Social S e c u r i t y " , in I h e _ E C Í S Í S _ Í Q _ S Q t Í a l SEQUEÍtS-i p r o b l e m s and p r o s p e c t s , op. cit. Milton F R I E D M A N , "Payroll Taxes, no; general r e v e n u e s , y e s , " in Ibe_Crisis_iQ_soEisl_5BEUi:ity, op. cit. 42 d i f u n d i d o , d e c o m p a r a r b a s e s de r e c u r s o s com r e g r a s de c a p t a d o d e a p l i c a d o d i s t i n t o s , e p e r t a n t o , nao c o m p a r á v e i s . e 0 aspecto ideológico antiestatizante se t o r n a a i n d a mais a p a r e n t e na a b o r d a g e m de Milton Friedman, que com p r o p r i e d a d e contesta: a) a idéia de c o n t r i b u i c o e s ; b ) a idéia d o s f u n d o s de c a p i t a l i z a d o . As f a l a c i a s por e l e a p o n t a d a s , t a m b é m r e c o n h e c i d a s p o r M u s g r a v e , c o n s i s t e m em: a) Criar nos trabalhadores a ilusSo de que é com s e u s p r ó p r i o s r e c u r s o s que s e r a o p a g o s no futuro, q u a n d o , na verdade, sao os trabalhadores desta geracao que f i n a n c i a m os a t u a i s b e n e f i c i o s . b) Criar nos trabalhadores a ilusao da c o r r e s p o n d e n c i a entre o v a l o r de c o n t r i b u i c o e s e b e n e f i c i o s . As r a z o e s para a nao correspondencia, dependem nao só do item anteriormente citado e de suas c o n s e q U è n c i a s , como também se associali ao fato de que, nos sistemas m o d e r n o s , tem crescido mais rapidamente a c o n t r i b u i d o dos empregadores, diminuindo a relacao entre c o n t r i b u i d o e b e n e f i c i o 13/ dos e m p r e g a d o s . c) A pròpria c o n t r i b u i c a o do e m p r e g a d o r , na m e d i d a em que se incorpora aos custos empresariais, é r e p a s s a d a aos p r e c o s (e ao c o n s u m i d o r f i n a l ) de f o r m a d i f e r e n c i a d a , s e g u n d o a e s t r u t u r a d e c o m p e t i d o e de m e r c a d o na qual se insere a empresa, t r a n s f o r m a n d o a m a i o r p a r c e l a de c o n t r i b u i c a o d o s s i s t e m a s de s e g u r o social num t r i b u t o indireto. Segundo Friedman, as ilusSes vendidas pelo sistema de s e g u r i d a d e social tornam o s c o n t r i b u i n t e s m a i s d i s p o s t o s a pagar, estimulando o c r e s c i m e n t o da c a r g a t r i b u t à r i a , do g a s t o do setor p ú b l i c o e do t a m a n h o do G o v e r n o . Pelo m e s m o raciocinio, Friedman se p r o n u n c i a em geral p e l a r e d u c a o d o s t r i b u t o s , c o m o ú n i c a forma de r e d u z i r o g a s t o p ú b l i c o . N e s t e c o n t e x t o , as r a z o e s p r ó p r i a s da critica ao finaneiamento e aos gastos da s e g u r i d a d e social s u b o r d i n a m - s e à o j e r i z a ao E s t a d o e à defesa i n c o n d i c i o n a l do setor privado. Se a contribuicao sobre folha de s a l a r i o s é inadequada, a diferenca deveria ser financiada pelo Orcamento Geral, desfazendo a ilusao de que se t r a t a de um s i s t e m a de s e g u r o , a s s i m c o m o o s b e n e f i c i o s d è v e r i a m ser s u b m e t i d o s ao teste de n e c e s s i d a d e . Esta c o n c e p c a o abriria caminho do s i s t e m a , p o r e x e m p l o , a reducào s i s t e m a de b e m - e s t a r c o m o um t o d o . 13/ Este p o n t o para urna r e f o r m a m a i s do seguro de saúde foi d e s e n v o l v i d o por M U S G R A V E e M U S G R A V E , e_ErátÍca_da_EQlítÍta_fÍ5tal. s.l. Campus, 19B0. ampia e do legnia 43 Joseph Pechuiari 14/, embora reconhecendo os méritos do s i s t e m a de b e n e f i c i o s , e n t r e os q u a i s o m a i o r é o d i r e i t o legal a valores dados, nao relacionados ao desempenho o r c a m e n t á r i o de c u r t o prazo, e admitindo que o t e t o de b e n e f i c i o s d e i x a e s p a c o para o s e g u r o p o l í t i c o , d e s t a c a a r e g r e s s i v i d a d e da c o n t r i b u i d o sobre a folha como argumento para justificar a r e v i s a o do sistema. Segundo o autor, mesmo aqueles individuos, reconhecidamente pobres pelo sistema tributàrio e i s e n t o s de i m p o s t o de r e n d a , c o n t r i b u e m para a previdencia social, ainda m a i s se considerarraos que a carga t r i b u t à r i a p r e v i d e n c i á r i a do e m p r e g a d o e do e m p r e g a d o r r e c a i s o b r e o p r i m e i r o . Além disso, elementos outros que o seguro social sao pesadamente financiados por esta contribuicao, agravando a r e g r e s s i v i d a d e na c a p t a d o . C a s o sejam m a n t i d a s as c o n t F i b u i e o e s sobre a folha, c o m o m é t o d o b á s i c o de f i n a n e i a m e n t o , a concessilo de créditos fiscais, isencoes e beneficios fiscais na contribuido sobre folha, aliada a eliminado dos t e t o s de c o n t r i b u i d o , d e v e r i a se s o n a r a c r e s c e n t e s a p o r t e s fiscais, p a r a aumentar a eqUidade do sistema como um t o d o . A c o n c l u s s o de Pechman aponta nesta diredo, ao sugerir a existencia de desequilibrios crescentes no s i s t e m a , p e l o e x c e s s i v o c r e s c i m e n t o dos beneficios relativamente à i n f l a d o . Como a s o l u d o implica era a c r é s c i m o de recursos, Pechman se i n c l i n a p e l o a u m e n t o da c a r g a t r i b u t a r i a g l o b a l , d o t a d a de p r o g r e s s i v i d a d e , a l e g a n d o que a è n f a s e ñ a s c o n t r i b u i c o e s s o b r e a f o l h a de s a l a r i o s r e p r e s e n t a a s o l u d o m a i s r e g r e s s i v a para a n e c e s s à r i a e l e v a d o da r e c e i t a . A análise da c o n t r i b u i d o para a previdencia social, como tributo, é a p r o f u n d a d a por G e o r g e F. Break 15/. Na m a i o r i a d o s p a í s e s a v a n z a d o s , onde é aplicado o sistema de c o n t r i b u i c o e s sobre a folha de s a l a r i o s , e s t e r e p r e s e n t a urna m a s s a de r e c u r s o s apenas inferior ao i m p o s t o de r e n d a ié/. e tem s i d o d e s t a c a d o r e c e n t e m e n t e , urna v e z que a capacidade de g e r a d o de r e c e i t a a ele a s s o c i a d a tera s i d o i n f e r i o r à d e s p e s a a e l e r e f e r i d a . A r e s t r i d o de Break ao s i s t e m a de s e g u r i d a d e diz r e s p e i t o à t e n t a t i v a de a l a v a n c a r d o i s o b j e t i v o s coni um ú n i c o i n s t r u m e n t o de f i n a n e i a m e n t o . "0 o b j e t i v o d o s e g u r o social requer finaneiamento baseado era d i r e i t o s adquiridos por c o n t r i b u i d o ao s i s t e m a . 0 objetivo da justica social requer tributado baseada na c a p a c i d a d e de p a g a m e n t o " . Ì Z / 0 a p e r f e i c o a m e n t o do f i n a n e i a m e n t o r e q u e r sua a d e q u a d o a o s o b j e t i v o s d i s t i n t o s e x i s t e n t e s . 14/ Joseph PECHMAN, "The Social Security in Ihg_ECÌSÌS_ÌD_59QÌal_5BEUCÌty, !§/ 16/ 1Z/ System: an Overview", OP. cit. George BREAK, "Social S e c u r i t y as a t a x " , in I h @ _ C t ì S Ì S _ Ì Q S Q G i s l - S B G U n i t a . OP • cit. N o s E s t a d o s U n i d o s , a c o n t r i b u i d o p a r a a p r e v i d e n c i a social r e p r e s e n t a m a i s de 2 5 % do total da r e c e i t a t r i b u t à r i a . G e o r g e B R E A K , op. cit. 44 Segundo Break, a t r a n s f o r m a d o do "seguro" social americano num sistema de "seguranza" social passou pela a m p l i a d o do espectro de beneficios, e s t e n d e n d o sua cobertura a familiares e incluindo novas m o d a l i d a d e s de e m p r e g o - até os autónomos -, além da indexacao dos beneficios á inflado. Como contrapartida, v e r i f i c a r a m - s e c o n t i n u a s e l e v a c o e s de alíquotas e o abandono da base atuarial do sistema, levando, no limite, ao e s g o t a m e n t o do fundo de reservas e a a l t e r n a t i v a s que v3o desde a ruptura com um sistema a u t o - c o n t i d o e o r e c u r s o p e r m a n e n t e á receita geral, ou a n o v a s elevacoes das c o n t r i b u i c o e s . Quanto à regressividade da tributacao sobre folha de salàrios, parece ao autor que e ste julgamento nao deve b a s e a r - s e na incidència, e sim na relacao e n t r e as contribuicoes correntes e os beneficios futuros. D e s te ponto de vista, o sistema americano é progressivo, corno também o é, na relacao entre geracoes <ativos/inativos). As recorrentes críticas sobre a regressividade da c o n t r i b u i ç â o sobre folha de sai arios e sobre a exeqdibi 1idade financeira do sistema de s e g u r o social tem alimentado discussoes sobre sua reforma, contemp lando desde sistemas puros (contribuicoes b e n e f i c i o s "ac u m u l a d o s " x t r i b u t a d o segundo a c a p a c i d a d e de p a g a m e n t o - b e n e f i c i os para os n e c e s s i t a d o s ) ou urna c o m b i n a d o dos dois sistemas seg undo p r i n c i p i o s lógicos sugeridos por Beveridge em 1942, e por doc u m e n t o s da OIT, desde entao. A conclusao de Break é que nao é n e c e s s à r i o fazer opcoes r a d i c a i s entre seguro social e b e m - e s t a r . Urna vez que os sistemas já sao mistos, bastaria reforcar seus objetivos, bem como aperfeicoar seus instrumentos. Isto significarla r e f o r c a r os e l e m e n t o s de beneficios, segundo c o n t r i b u i c o e s para rendas medias e altas, e introduzir a c a p a c i d a d e de pagamento para proteger as familias de baixa renda. Apesar de seu custo, o sistema de seguridade social alcancou ampia a c e i t a d o . "0 fato de que um programa tao oneroso seja financiado por urna t r i b u t a d o tao p e s a d a sem p r o v o c a r reacao negativa expressiva dos c o n t r i b u i n t e s deve dar margem a ampia reflexao. Certamente tal a c e i t a d o se relaciona à v i n c u l a d o dos gastos. A percepcao de que os encargos previdenciários sao um investimento pessoal no seu pròprio futuro, e m b o r a totalmente contestado pela evidencia, torna esta incidencia aceitável de urna maneira que um tributo menos oneroso, sem v i n c u l a d o , d i f í c i l m e n t e déla se a p r o x i m a r í a . Quem, senao os m a i s afluentes, concordaría em pagar tributos para financiar beneficios para os afluentes. Uma estrutura tributaria bem sucedida deve se apoiar em fé e num senso de eqllidade. Se o conceito de direitos adquiridos inspira c o n f i a n c a e transpira eqdidade, nao pode ser simplesmente abandonado como premissa básica de previdencia social sem colocar toda a estrutura em risco". 18/ 18/ George BREAK, op. cit 45 3. A protecao social era p e r s p e c t i v a conparada A análise comparada das situacoes nacionais dos países desenvolvidos fornece evidencias de que os W e l f a r e S t a t e s se e n c o n t r a m em d i f i c u l d a d e s . O s déficits orcamentários sao a oíais imediata expressao destas dificuldades, que, e m b o r a d e c o r r a m de p r o b l e m a s m a i s p r o f u n d o s , man i f e s t a m - s e no plano económico como "um crescimento dos custos dos Wclfara Statas além da sua c a p a c i d a d e de f i n a n c i a m e n t o " Mesmo ignorando interpretacSes e a t a q u e s de n a t u r e z a p o l i t i c o - i d e o l ó g i c a , as c a u s a s m a i s a p a r e n t e s se situam no crescimento do número de beneficiarios, principalmente entre os i d o s o s , aliado á m e l h o r i a da q u a l i d a d e d o s s e r v i c o s <e no v a l o r d a s p r e s t a c o e s ) , r e s u l t a d o dos t e m p o s de afluencia. Criou-se também, neste período, urna maior c e n t r a l i z a c a o (e dependencia do Estado) a qual se alia urna e x p e c t a t i v a de m e l h o r i a d o s b e n e f i c i o s . Urna s o l u c a o a v e n t a d a tem sido o a u m e n t o da t r i b u t a c a o , já implementada nos últimos anos. Entretanto, os sistemas t r i b u t a r i o s foram c o n s i d e r a d o s r e g r e s s i v o s , na I n g l a t e r r a , I t a l i a e Estados Unidos, agravando-se mais pesadamente a situagao dos menos favorecidos com o a u m e n t o da c a r g a t r i b u t a r i a . Pela ó t i c a do gasto, países como Estados Unidos e Suécia cortaram varios programas, tendo os demais sofrido desaceleracao. Nos Estados Unidos, ademais, varios programas foram congelados, tendo sido bastante utilizada em varios países a d i f e r e n c i a c a o da quantidade e q u a l i d a d e d o s s e r v i c o s , de a c o r d o com a capacidade local de finaneiamento e a d e m a n d a local, r o m p e n d o com a h o m o g e n e i d a d e n a c i o n a l . Ao déficit crescente junta-se agora um desemprego mais p e r m a n e n t e e em m a i o r e s c a l a , qua a t i n g e a p o p u l a c a o m a i s jovem, recém-ingressada na populacao ativa. 0 f e n o m e n o do d e s e m p r e g o a s s o c i a - s e ao da p o b r e z a , que a t i n g e p r i n c i p a l m e n t e os idosos, fazendo das pensoes da s e g u r i d a d e s o c i a l o item p r i n c i p a l dos gast os. Durante a crise, tomam corpo questionamentos sobre a progressividade ou regressividade dos beneficios recebidos e s o b r e a p r ò p r i a p o p u l a c a o - a l v o . A i n d a que i s s o nao s i g n i f i q u e urna volta à concepcao assistencialista da protecao para os necessitados, o pròprio universalismo passa a ser p o s t o em cheque. Le Grand 12/, por e x e m p l o , t o m a d o c o m o e x p o e n t e d e s t a v e r t e n t e c r í t i c a , e x a m i n a n d o q u a t r o g r a n d e s á r e a s de g a s t o social - saúde, e d u c a c a o , h a b i t a c a o e t r a n s p o r t e - , c o n c l u i que o g a s t o 12/ Para tratar da questao da igualdade e reconhecendo a complexidade deste conceito. Le Grand propoe cinco formulacoes alternativas e relaciona sua a n á l i s e com t o d o s os c r i t e r i o s por e l e formulados. Yeja-se J. LE G R A N D , I h e § t r a t e g a _ s f _ e a u a l i t a : r e d i s t r i b u t i o n and the social s e r v i c e , L o n d o n , Allen S U n w i n , 1982. 46 público nao tem r e d u z i d o as d e s i g u a l d a d e s , a p e s a r do g a s t o per e s p i t a ser m a i s ou m e n o s s e m e l h a n t e entre o s v a r i o s g r u p o s s ó c i o - e c o n o m i c o s . Isto se d e v e ao m a i o r grau de o r g a n i z a c a o d o s g r u p o s mais protegidos e á própria atitude dos p r o f i s s i o n a i s e n v o l v i d o s na p r e s t a c a o dos s e r v i c o s , c u j a r e f e r e n c i a de c l a s s e o s a p r o x i m a d o s g r u p o s m a i s bem c o l o c a d o s n a e s c a l a s o c i a l . A p r o v i s a o livre (ou gratuita) dos servidos nao garante i g u a l d a d e de acesso, p a r t i c u l a r m e n t e o n d e as b a r r e i r a s n a o - f i n a n c e i r a s tem e x p r e s s a o . A evidencia empírica dos estudos de Le Grand sobre os servidos educacionais, de saúde e de t r a n s p o r t e s u b u r b a n o de m a s s a , ao demonstrar a regressividade da r e d i s t r i b u i c S o , nao elimina a igualdade como d e s i d e r a t o da política social, apenas q u e s t i o n a as e s t r a t e g i a s de equalizacao hoje utilizadas. Embora isto possa servir como elemento da reflexao á e s q u e r d a , na v e r d a d e tem a l i m e n t a d o m a i s freqüentemente posicoes de direita, que questionam a igualdade entre si. Os d a d o s de Le Grand, entretanto, deven ser reíativizados, urna vez que excluem o sistema de previdencia social, para os quais o impacto redistribuíivo é grande. C o n c l u s S e s s e m e l h a n t e s A s de Le Grand foram e n c o n t r a d a s por M o r r i s 2 0 / na s u a a n á l i s e da s i t u a c a o a m e r i c a n a , onde se v e r i f i c a que v a r i o s d o s p r o g r a m a s s o c i a i s servem a p e s s o a s que e s t a o acima do nivel estabelecido de necessidade que justificaría a intervencSo social. Em face da d i m i n u i c a o na d i s p o n i b i l i d a d e d o s r e c u r s o s , que claramente reforca o q u e s t i o n a m e n t o da e f i c á c i a d a s p o l í t i c a s , urna das r e s p o s t a s m a i s v i s i v e i s dos e s t a d o s de b e m - e s t a r tem sido a de r e v e r s u a s r e s p o n s a b i l i d a d e s de g a s t o , t r a n s f e r i n d o - a s para os c o n s u m i d o r e s . As e x p e r i e n c i a s nacionais demonstram que, além da descent r a l i z a c a o das responsabilidades para os governos locáis, há um n o v o e s f o r c o já expressivo como t e n d e n c i a , para "restabelecer a familia como p r o v e d o r a de s e r v i c o s " , em p a í s e s c o m o a Italia e a S u é c i a . No m e s m o m o v i m e n t o , s i t u a - s e o reforco dos esquemas comunitarios e f i l a n t r ó p i c o s de p r i v a t i z a c a o dos servicos sociais. Aspectos particulares a cada país, adiante ¡apresentados, tem o objetivo de i l u s t r a r as o b s e r v a c o e s g e r a i s f e i t a s até a q u i . Urna primeira observacao relevante decorre do exame do d e s e m p e n h o do Walfare Stata inglés e americano, após as vitórias dos candidatos conservadores e de p o l í t i c a s e c o n ó m i c a s de corte ort o d o x o . State 22/ 0 caso inglés, por e x e m p l o , d e m o n s t r a que, e m b o r a o W e l f a r e nao t e n h a sido d e s t r u i d o , sua r e f o r m u l a c a o é i n e g á v e l . R. M O R R I S , R. " R e - t h i n k i n g w e l f a r e in the United S t a t e s : welfare state in transition" in R. F R I E D M A N et alii, tìQdenQ_Hel£ine_slafc.es. 6 ECQSEBEtS - New York, New York EQmEanatiye University view Press, the ed. Qf tceods.aQd 1987. 47 A análise de informacoes evidencia algunas das mudanzas recentes. Os cortes no p r o g r a m a de habitadlo verificam-se mais nos custos do que no v o l u m e , d e v e n d o - s e ao e f e i t o dos p r e s o s relativos (precos setoriais abaixo da mèdia de p r e s o s ) . Na d i r e d o contraria, o impacto dos presos r e l a t i v o s ñ a s á r e a s de e d u c a d o e s a ú d e foi n e g a t i v o , a e l e v a d o dos custos escondendo cortes reais nos volumes d o s p r o g r a m a s , ou no c a s o de s a ú d e , um c r e s c i m e n t o real m e n o r . Esta a v a l i a d o , e n t r e t a n t o , merece melhor qual i f i c a d o . A redudo no programa de habitado, por exemplo, deveu-se à t r a n s f e r e n c i a de r e s p o n s a b i 1 i d a d e por p a g a m e n t o de s u b s i d i o s p a r a habitado aos programas de previdencia social, onde sao acessíveis a familias de baixa renda, mediante teste de n e c e s s i d a d e e com c a r á t e r r e s i d u a l . No p r o g r a m a de p r e v i d e n c i a social, como foi p a r t e d e s t e t r a b a l h o , h o u v e a u m e n t o de gasto como p r o g r a m a s de s e g u r o - d e s e m p r e g o e o u t r o s . d i t o em o u t r a resultado dos 0 corte nos programas de e d u c a d o <em v o l u m e real ) n a o se deve a urna diminuido em gastos par capita. Ao c o n t r à r i o , m u d a n z a s d e m o g r á f i c a s e x p l i c a m a d i m i n u i d o da p o p u l a d o e s c o l a r , contemplada com aumentos reais da ordem de 10% nos g a s t o s correntes pep gapifca. As m u d a n z a s d e m o g r á f i c a s c o n t r á r i a s , que a m p l i a r a m o p e r c e n t u a l dos i d o s o s na p o p u l a d o t o t a l , e l e v a r a n os gastos com saúde e servieos sociais, tendo havido também a m p l i a d o dos subsidios destinados à cobertura das prestacoes d e s t e s s e r v i c o s , o r a do s e t o r p ú b l i c o . Este quadro de relativa c o n t e n d o do g a s t o social d i r e t o c o n t r a s t a com o c r e s c i m e n t o dos gastos tributários no p e r í o d o r e c e n t e . E n q u a n t o o s s u b s i d i o s à h a b i t a d o ( g e r a i s ou r e l a t i v o s á renda) se reduziram em 21,5% entre 1979/80 e 1983/84, as d e d u q S e s t r i b u t a r i a s por c o n t a de a p l i c a d o de r e c u r s o s em p l a n o s de s e g u r o p r i v a d o cresciam 106% e as relativas a juros por hipotecas se elevavam em 28,6% no mesmo p e r í o d o Si/, o que inegavelmente é regressivo, dada a associacao entre maior renda e fiiaior c a p a c i d a d e de poupanca - pré-condicao para a p e r c e p d o do benefíc io. Un t e r c e i r o a s p e c t o , m u i t o m a r c a n t e n o c a s o i n g l é s , tem s i d o a evoludo dos modos de provisao de servicos p ú b l i c o s . No p e n s a m e n t o l i b e r a l , a a b o r d a g e m p l u r a l i s t a tem s i d o c o n s i d e r a d a a mais adequada às c i r c u n s t a n c i a s d e s t e final de s é c u l o . P r o p o s t a s e t e n t a t i v a s de s u p e r a r o p a r a d i g m a p ó s - k e y n e s i a n o de p r o d u d o de bens e servidos públicos pelo Estado, e de r e s c i s s o da r e c e n t e ad icao aos s i s t e m a s de p r e v i d e n c i a s o c i a l , que a c r e s c e n t a r a m urna gi/ WILKINSON, citado por Ken JUDGE, in T r a n s i t i o n " in R. F R I E D M A N et states^ York, 6 EQODESEstiyg New York University visw sf Press, "The B r i t i s h a l i i , ed . Welfare State dederO-lalglfStg t c e Q d s . s D d . E c a s E e c t s • New 1987. 48 s e g u n d a p a r c e l a c o m p u l s ó r i a de c o n t r i b u i d o a s s o c i a d a á renda, já estío em curso; defendendo esquemas de s e g u r o p r i v a d o e, nos casos de manutencao do sistema público, o controle pelos e m p r e g a d o s d o s i n v e s t i m e n t o s r e a l i z a d o s com f u n d o s de p e n s a o , bem como urna pensao básica por velhice financiada pela r e c e i t a f i s c a l , c o m o p r o d u t o da c i d a d a n i a . No c a s o americano, a m a i o r p a r t e dos b e n e f i c i o s ainda obedece ao principio contributivo. Até 1983, o efeito de políticas restritivas nao se h a v i a feito s e n t i r , em p a r t e por e f e i t o da p r o t e c a o a s s o c i a d a ao desempregc a m p l i a d o na r e c e s s a o de 1 9 8 0 / 8 3 , e em p a r t e p e l a 1 i b e r a l i z a c a o a n t e r i o r de c o n d i c o e s de a c e s s o a o s p r o g r a m a s . Em 1984, comecam a se v e r i f i c a r os e f e i t o s de p o l í t i c a s r e s t r i t i v a s s o b r e as c o n d i c o e s de a c e s s o da p o p u l a c a o a o s b e n e f i c i o s da p o l í t i c a s o c i a l . Um aspecto particular do caso americano refere-se á p e c u l i a r i d a d e de seu c a r á t e r u n i v e r s a l , que i m p l i c a em a s s o c i a r t o d o s os g a s t o s f e d e r á i s e m a i s as d e s p e s a s t r i b u t á r i a s l i g a d a s a gastos sociais. N e s t a c o n c e p c a o , m e t a d e d o s g a s t o s se d e s t i n a as classes media e alta, e metade se destina as c l a s s e s menos favorecidas. Cerca de 3 5 % do v a l o r d o s b e n e f i c i o s d e s t i n a - s e aos que contribuem diretamente para o sistema, inclusive muito pobres; 55% destina-se a pagamentos associados á prova de necessidade para os pobres, e 40% é recebido por m e i o de beneficios e deducoes tributárias para o s nao m u i t o p o b r e s . Ou, d i t o de o u t r a m a n e i r a , programas universais, nao associados á p r o v a de n e c e s s i d a d e r e s p o n d i a m por 43% de t o d o o g a s t o s o c i a l em 1983, e n q u a n t o p r o g r a m a s p a r a as classes de renda m a i s baixa referiam-se a apenas 11% do gasto total. Em 1965, tais p e r c e n t u a i s eram de 5 4 , 3 % e 5 , 9 % , r e s p e c t i v a m e n t e . Apesar das intencoes do Governo Federal americano, a n u n c i a d a s em 1980 e 1984, de r e d u z i r a r e s p o n s a b i 1 i d a d e de gasto s o c i a l , i s t o a i n d a nao se r e f l e t i u na i n f l e x a o das t e n d e n c i a s de gasto. Entretanto, já estao presentes mudancas sem grande significado quantitativo. Como por exemplo, reducao da assisténcia médica em 13 e s t a d o s , c o r t e s em p r o g r a m a s de m e r e n d a e s c o l a r e n o s p r o g r a m a s de food stamps. 0 traco d o m i n a n t e da evolucào recente do gasto social é a d i m i n u i c a o das t a x a s de c r e s c i m e n t o v e r i f i c a d a s n o s ú l t i m o s 20 anos. Urna análise mais detalhada do seguro social americano permite sua caracterizacao como um sistema de beneficios associados à aposentadoria e á assisténcia médica para os aposentados, sendo relativamente menor a p r o t e c a o social c o n t r a os riscos da atividade propriamente dita ou do desemprego prolongado. Seu caráter diretamente c o n t r i b u t i v o d i r e c i o n a os esquemas de protecao mais que proporcionalmente aos que a c u m u l a r a m m a i o r e s c o n t r i b u i c o e s na sua vida a t i v a . A r e d u c a o das t a x a s de c r e s c i m e n t o do g a s t o social l o c a l i z a -se exatamente na protecao aos menos favorecidos, dado o endurecimento das condicoes de acesso ao p r o g r a m a . Na mesma 49 d i r e d o tem a t u a d o a c o n s o l i d a d o d a s transferencias vinculadas, s u p o s t a m e n t e no s e n t i d o de dar m a i o r f1exibi 1 i d a d e aos g o v e r n o s locáis para explicitar suas prioridades de gasto. Nem é verdadeira esta maior f lexib i 1 idade, nem a c o n s o l i d a d o tem representado o somatório das transferencias vinculadas anteriores. Em contrapartida, tem diminuido o número de empregados federáis com transferéncia de responsabilidades a d m i n i s t r a t i v a s para os g o v e r n o s l o c á i s . V. A E C O N O M I A P O L I T I C A DAS PENSOES Na década de 80, a r e f o r m a da s e g u r i d a d e social assumiu s i g n i f i c a d o d i s t i n t o , em dois projetos g o v e r n a m e n t a i s opostos. Enquanto Ronald Reagan propugnava cortes na s e g u r i d a d e social a m e r i c a n a , F r a n c o i s Mitterrand prometia a expansao do sistema francés, no coracao de suas r e s p e c t i v a s e s t r a t é g i a s e c o n ó m i c a s . No c a s o francés, a e x t e n s a o dos b e n e f i c i o s e a reducao idade para a p o s e n t a d o r i a faz p a r t e de um p r o j e t o de a m p l i a c a o demanda e da criacao de novos e m p r e g o s . No caso americano, contrario, a crise do Welfare era percebida como causa p r o b l e m a s e, como tal, d e v e r i a ser s o l u c i o n a d o com s u p r e s s S o g a s t o s . A m b o s os c a s o s d e m o n s t r a m a c r u c i a l i d a d e d o s p r o b l e m a s W e l f a r e <e a do sistema de p e n s o e s , seu maior c o m p o n e n t e ) f o r m u l a c o e s e c o n ó m i c a s dos c a p i t a l i s m o s m o d e r n o s . da da ao dos dos do ñas M a i s que elemento de gasto, interessa aqui recuperar a génese dos sistemas de protecao social, que marcam a d e m o c r a t i z a c a o d o s Estados l i b e r á i s e, através de sua trajetória até a crise atual, enfatizar o processo pelo qual a a s s i s t e n c i a aos riscos sociais básicos, particularmente a velhice, se transforma num "salario de cidadania". gg/ Este salário "sintetiza duas lógicas contraditórias de distribuicao e p a r t i c i p a c a o que se entrelacam no Estado liberal d e m o c r á t i c o . De sua natureza liberal, o Estado incorporou no seu sistema distributivo as desigualdades salaríais de urna economía c a p i t a l i s t a . A renda s u p r i d a ao final do ciclo de vida económico corresponde a um salário diferido, cujo valor depende das r e m u n e r a c o e s p e r c e b i d a s no m e r c a d o " . 23/ Em v i r t u d e do c o n t r o l e do E s t a d o democrático, e n t r e t a n t o , o v a l o r final d e s t e salário nao está limitado pelo m e r c a d o . Pois, em sua c a p a c i d a d e como c i d a d a o s , os t r a b a l h a d o r e s podem reclamar urna p a r t i c i p a c a o no produto social superior á sua c a p a c i d a d e como assalariados. gg/ g3/ John MYLES, Qld_aae i n t b e _ _ u e l f a L e _ _ 5 t a t e j . the economy of public p e n s i o n s . Boston, Little, 1984. John MYLES, OP. cit. political 51 0 s a l à r i o do c i d a d a o r e p r e s e n t a urna h i s t o r i a de c o n v e r g e n c i a de principios, embora com resultados práticos distintos, e urna identidad® das bases estruturais dos Wolíaro Statoo contemporáneos. 0 W e l f a r e State r e p r e s e n t a o coroamento de um p r o c e s s o de a q u i s i c l o de cidadania, que se p r o l o n g o u por tres séculos. Se o século XVIII marca a g e n e r a l i z a e a o dos d i r e i t o s civis e o século XIX, a dos d i r e i t o s políticos, somente no sécudo XX, os d i r e i t o s sociais, de p r o t e c S o dos riscos sociais b á s i c o s , se afirmara. No dizer de Marshall, c u r i o s o paradoxo, este c a s a m e n t o entre um Estado protetor e o sistema capitalista um sistema de d e s i g u a l d a d e - ou entre duas lógicas o p o s t a s de d i s t r i b u i c a o . Urna que ligava d i r e i t o s a p e s s o a s na sua c a p a c i d a d e de cidadaos; e outra que associava d i r e i t o s à p r o p r i e d a d e . A possibi1idade de acomodar e s t a s lógicas opostas, e de ser por elas tensionado, implicava em reconhecer e refletir nos sistemas de protecao social a natureza ratificadora de d e s i g u a l d a d e s do mercado; e de sua lógica de d e t e r m i n a d l o do salario. Has a lógica distributiva dos Estados democráticos, implicava em dar igualdade aos cidadaos ou em tomar como criterios a necessidade e a eqüidade, i n d e p e n d e n t e m e n t e de sua p o s i c a o do mercado. 0 resultado deste compromisso entre "as demandas do liberalismo e as da d e m o c r a c i a p r o d u z i u um s i s t e m a h í b r i d o de b e n e f i c i o s que para m u i t o s é d e s p r o v i d o de lógica ou c o n s i s t e n c i a interna. Pela direita, o sistema é c o m b a t i d o por seu a f a s t a m e n t o do p r i n c i p i o da eqllidade (a cada um s e g u n d o suas c o n t r i b u i c o e s ) e, pela esquerda, por sua r e g r e s s i v i d a d e e pelo a f a s t a m e n t o do principio de igualdade (a cada um s e g u n d o sua n e c e s s i d a d e ) " . g§/ De acordo com Marshall, esta aparente falta de c o n s i s t e n c i a incomoda a p e n a s aos que requeren do comportamento social urna lógica linear. Na verdade, o conflito de p r i n c i p i o s - parte orgánica do W e l f a r e State - é pròprio da ordem social na atual etapa de d e s e n v o l v i m e n t o da cidadania nos E s t a d o s d e m o c r á t i c o s . Na origem do processo formativo do Welfare State, entretanto, esta lógica conflitiva, hoje internalizada, representou de fato duas posigoes d i s t i n t a s , e mais que isso, duas o r i g e n s d i v e r s a s na i m p l e m e n t a c a o dos s i s t e m a s de protecao social. Em forma esquemática, ilustrara a d i v e r s i d a d e de origens h i s t ó r i c a s e de concepcoes, os processos alemao e americano, de £4/ 25/ T.H. MARSHALL, Class, citizenship and social development Chicago, U n i v e r s i t y of Chicago Press, 1964. John MYLES, Q l d _ a g e _ i o _ t h e _ H g l f a c g - s t a t E . op. cit. 52 um lado 26/, marcados pela proteggo social como mercadoria, e gZ/ os esquemas de protecao para os necessitados £8/, e s t a b e l e c i d o s na Dinamarca e Inglaterra, entre o u t r o s . 0 sistema puro de mercado, que se refletia no fundo de pensoes gerido pelo Estado, associando contribuicoes e beneficios, logo encontrou elementos de transformacao, incorporando novos principios e modalidades de protecao. Na r e c o n s t r u c a o alema do p ó s - g u e r r a , a teoria da E c o n o m i a de Mercado Social embasou o esforco para ampliar a p r o t e c a o aos idosos, financiando valores ampliados com receita geral . Em 1957, entretanto, novas reformas reforcam o principio do mercado, separando claramente o seguro social, baseado no principio contributivo, da assistencia social, de natureza nao£6/ A s i m i l i t u d e de concepcüo entre os sistemas de protecao social americano e alemao nao deve ignorar as diferencas p r e s e n t e s à sua origem. Como a Alemanha de Bismarck foi o primeiro país a adotar o sistema de pensoes, no limiar da industrializacao, a s e g u r i d a d e social a m e r i c a n a surge, com o New Dell, quando a i n d u s t r i a l i z a c a o a m e r i c a n a já havia-se verificado. Na Alemanha, o objetivo do sistema é garantir a velha ordem social e p r o v e r urna renda de subsistencia na incapacidade do trabalhador, associada à velhice, ou à familia, quando de sua morte, numa e x t e n s a o da tradicao a s s i s t e n c i a l i s t a . No New D e a l , ao c o n t r à r i o o objetivo de ajudar a restauracao da ordem social pós-crise de 30, passava pela g a r a n t i a da renda aos t r a b a l h a d o r e s idosos, retirando-os do mercado para criar espaco para os mais jovens, assim c o n t r i b u i n d o para a reducao do desemprego. Como adendo, deve-se esclarecer, para o c a s o alemao, que a posicaò do pròprio Bismark era oposta a qualquer conceito de s e g u r o no s i s t e m a de p e n s o e s , ou seja, c o n t r a r i a à sugestao de que os trabalhadores acumulavam os beneficios que r e c e b i a m . Na e s t r u t u r a c a o final do sistema alemao, Bismarck foi d e r r o t a d o pela ideologia e m e r g e n t e do mercado, cabendo- l h e apenas a incorporacao de um subsidio estatal de valor único a todos os b e n e f i c i a r i o s do sistema. John MYLES, op. cit . £Z/ De acordo com a ideología liberal, os p r o g r a m a s estatais foram concebidos com base em contribuicoes que geravam beneficios estabelecidos de acordo com o nivel das contribuicoes, reproduzindo a estrutura de distribuicao de renda no mercado. E m b o r a s u p r i d a s pelo E s t a d o , as regras do mercado eram r e s p e i t a d a s , na medida em que os servicos era» " c o m p r a d o s " por um p r e c o que refletia os v a l o r e s pagos. Originalmente, os programas estatais requerían prova de necessidade e supriam o mesmo valor de beneficio para c i d a d a o s , cujas r e n d a s fossem inferiores a um dado nivel. Tais p r o g r a m a s eram f i n a n c i a d o s pela r e c e i t a geral do Estado ou por contribuigao vinculada idèntica para todos, i n d e p e n d e n t e m e n t e do nivel de renda. Assim, o sistema era urna a l t e r n a t i v a à d i s t r i b u i c a o de renda no mercado. 28/ 53 - c o n t r i b u t i v a . Na m e d i d a em que esta s e p a r a c a o nao impede o m e s m o insuficiencia de recursos, de cidadao de baixa renda, por requerer protecào a d i c i o n a l no e s q u e m a a s s i s t e n e i a l , e n t r e l a c a m f i n a n e i a m e n t o , c o m o as - s e i n e x o r a v e l m e n t e , t a n t o o s es q u e m a s de d u a s c o n c e p t e e s de p r o t e c a o . No s i s t e m a n a c i o n a l a m e r i c a n o de p e n s o e s p r e v a l e c í a a i d é i a de " s e g u r o de g r u p o , o p e r a d o p e l o E s t a d o " , e m b o r a o p r i n c i p i o de eqUidade tenha sido, desde o inicio, v i o l a d o pela p r o v i s a o de renda segundo a necessidade, como por exemplo, para esposas e dependentes dos trabalhadores. No plano ideológico, os sistemas alemao e americano, através da p r e s e r v a c a o de um vínculo entre contribuicao e beneficio, puderam manter a ilusao de que o Estado era a p e n a s urna g r a n d e companhia de seguros e que sua relacSo com o beneficiario resumia-se a de um vendedor com um c o m p r a d o r da m e r c a d o r i a seguro. Na v e r d a d e , urna vez que o Estado internaliza este p r o c e s s o alocativo de rendas, torna-se vulnerável a teorias e pressoes o u t r a s que a m e r a r e p r o d u c a o das forcas de mercado. T a n t o na Alemanha como nos Estados U n i d o s há um c o n t i n u o t r a d e - o f f e n t r e " p e r t i n e n c i a " e " e q ü i d a d e " 22/ dos b e n e f i c i o s , tendo a indexacao dos beneficios á inflacao, a d o t a d a n o s d o i s p a í s e s , r o m p i d o m a i s fortemente o vínculo entre contribuicoes e b e n e f i c i o s . "A m e d i d a que o vínculo entre contribuicoes e b e n e f i c i o s se t o r n a v a m a i s t § n u e e o p r o g r a m a era cada vez m e n o s um p r o g r a m a de s e g u r o , m a i s seus gestores tinham de afirmar sua natureza original". 30/ Afirmar a ilusao de aderéncía ao mercado propíciava, pelo enfraquecimento das c r í t i c a s ao p r o g r a m a , a v a n c a r na d i r e e a o de a c o l h e r as d e m a n d a s da c i d a d a n i a e o p r i n c i p i o da n e c e s s i d a d e . N o o u t r o e x t r e m o , e com o a p o i o de c o n c e p c o e s p r o g r e s s i s t as e dos p a r t i d o s de e s q u e r d a , i n c l u s i v e da A l e m a n h a e d o s E s t a d o s U n i d o s , desde o inicio do s é c u l o propugnava-se a a d o c a o de um sistema de protecao social que, em t e r m o s de f i n a n e i a m e n t o , d e v e r i a d e p e n d e r d o s e m p r e g a d o r e s e da tributacao sobre os m a i s ricos e que, c o m o p r i n c i p i o de c o n c e s s a o de b e n e f i c i o , d e v e r i a a d o t a r a i g u a l d a d e e nao a e q U i d a d e . "Os b e n e f i c i o s nao d e v e r i a m r e f l e t i r as c o n t r i b u i c o e s (o p r i n c i p i o de m e r c a d o de e q U i d a d e ) e, sim, as n e c e s s i d a d e s <o principio democrático da i g u a l d a d e ) . A democracia era invocada para a materializacao do d i r e i t o da c i d a d a n i a a urna p a r c e l a igual da r i q u e z a da s o c i e d a d e " . 31/ de luta, as experiencias já Mais que mera bandeira a Dinamarca, Nova Zelandia, imp 1 e m e n t a d a s em países como s teses em d e b a t e . Na p r á t i c a , Inglaterra e Canadá reforcavam porém, multo m a i s do que a viti ria d a s forcas p r o g r e s s i s t a s , as 22/ 32/ 31/ D E R T H I C K , in John M Y L E S , OP. cit. D E R T C H I C K , in John M Y L E S , op. cit. John M Y L E S , OP. cit. 54 p r i m e i r a s v e r s S e s destas e x p e r i e n c i a s representavam o reforco de programas assist e n e i a l i s t a s (como a Lei dos Pobres na Inglaterra), nos quais a prova de necessidade prestava-se à m a n i p u l a c S o pela c l a s s e p o l í t i c a . A consciencia destes problemas transformou o ideário p r o g r e s s i s t a , tanto no s e n t i d o d a s e x i g é n c i a s de un iversalizacao dos programas, como da eliminacao de prova de n e c e s s i d a d e . Manteve-se, entretanto, o principio da igualdade, até que os fatos c o m p r o v a s s e m mais a d i a n t e que o p r i n c i p i o da igualdade se a s s o c i a v a coni frequència à igualdade na pobreza. 0 movimento e v o l u t i v o se deu na d i r e c a o da reiteracao do caráter universal dos beneficios, temperando-se seu valor pela d e s i g u a l d a d e no m e r c a d o , sob a forma de um "salario" de c i d a d a n i a . Como foi v i s t o a n t e r i o r m e n t e , o Relatório B e v e r i d g e de 1942 • já integrava duas lógicas d i s t i n t a s : a das pensoes, por um lado, e dos s e r v i c o s p ú b l i c o s e c o m p 1 e m e n t a t o e s de renda, ou do seguro e a da assisténcia social, associando-as a esquemas de financiamento distintos, A Vitoria trabalhista inglesa, em 1945, inaugurou a a p r o v a c a o dos sistemas assistenciais e de s e g u r o social integrados, justificando a d e n o m i n a d o de U e l f a r e State p a r a c a r a c t e r i z a r as n o v a s r e s p o n s a b i l i d a d e s do E s t a d o para com os c i d a d a o s . Assume-se, de um lado, o principio do d i r e i t o à protecao s o c i a l , nao c o m o urna derivatalo do assist ene ial ismo, e sim como um direito da cidadania numa sociedade d e m o c r á t i c a . De outro, a t e o r i a k e y n e s i a n a , em seu auge, j u s t i f i c a v a nao só a intervencao estatal ñ a s economías capitalistas, mas também a r e d i s t r i b u i t a o de renda, de m o d o a e s t i m u l a r o c o n s u m o (e a d e m a n d a a g r e g a d a ) em momentos de crise. "Com urna elegancia quase Hegeliana, a d i a l é t i c a do i n d i v i d u a l i s m o e do eoletivismo, do c a p i t a l i s m o e da democracia, haviam-se combinado numa nova sintese, d e n o m i n a d a U e l f a r e State 32/, o n d e os recursos para os n e c e s s i t a d o s eram essenciais à r e a t i v a c a o do c a p i t a l i s m o , e nao m a i s urna ameaca à sua s o b r e v i v é n e i a " . No m o d e l o ingles, como também na Suécia (1946), Holanda (1947) e Canadá (1951), o ideal igualitário foi m a n t i d o pela preservaeäo de um único valor de beneficios para todos. A p o s s i b i l i d a d e de r e d i s t r i b u i c ä o passou a depender do aporte de r e c u r s o s da r e c e i t a g e r a l , o b t i d o s da t r i b u t a e ä o p r o g r e s s i v a da r e n d a . Os valores dos b e n e f i c i o s assim o b t i d o s nao ameacavam o mercado, visto que r e p r e s e n t a v a m percentual p o u c o s i g n i f i c a t i v o do salàrio dos t r a b a l h a d o r e s ativos na indùstria. No período subseqüente, de evolucao das estratégias alternativas, algumas comparacoes merecem destaque. Em 1951, q u a n d o de sua i m p l a n t a c a o , o sistema canadense era m a i s universal q u a n t o à sua c o b e r t u r a que o sistema americano, e também superior 32/ John MYLES, op. cit 55 o beneficio único aos valores mínimos da protedo social americana. Previsivelmente, os valores máximos do sistema a m e r i c a n o eram bem s u p e r i o r e s ao s a l á r i o de c i d a d a n i a c a n a d e n s e . Em c o n s e q u é n c i a da a s s o c i a d o entre igualdade e pobreza, muito rápidamente tanto o s i n d i c a l i s m o , como a e s q u e r d a , nos países de b e n e f i c i o único, passaram a r e i v i n d i c a r urna segunda p a r c e l a nos b e n e f i c i o s da s e g u r i d a d e social, a s s o c i a d a aos r e n d i m e n t o s . Ate porque, quando o b e n e f i c i o único representava urna d i m i n u i d o do salário da atividade, os trabalhadores destes segmentos, u s u a l m e n t e mais bem o r g a n i z a d o s , incorporavam planos de seguro p r i v a d o aos seus c o n t r a t o s de trabalho, p r o m o v e n d o a d e s i g u a l d a d e entre os cidadaos, além de diminuir a s o l i d a r i e d a d e social sobre a qual se apóia a v i a b i l i d a d e do sistema de p r o t e d o . A b a l a v a - s e , por último, tanto o sistema de bem-estar, como seu caráter universal. Perdia-se, aínda, a possibi1idade de acentuar o caráter r e d i s t r i b u t i v o do s i s t e m a , que p o l i t i c a m e n t e tinha sua a c e i t a d o ampliada por urna gradado do plano de beneficios as c o n t r i b u i c o e s . A idéia da protedo dos destituidos foi sendo gradativamente substituida pela necessidade de g a r a n t í a de um p a d r a o de vida razoável na velhice. Para que fosse viável, o novo ideario nao podía se apoiar no sistema de s e g u r o privado, para a q u e l e s onde se fazia m a i s necessário, requerendo o patrocinio estatal . Conseqlientemente, as pensoes baseadas em valor ú n i c o foram s u b s t i t u i d a s por um salário de cidadania, um híbrido de um direito universal e de d i r e i t o s a d q u i r i d o s no m e r c a d o . 0 novo sistema manteve seu caráter redistributivo, tendo-se tambera ajustado a criterios de necessidade e adequabilidade dos b e n e f i c i o s , para p r o v i s o e s de recursos s u p 1 e m e n t a r e s em s u b s i d i o s familiares ou a g a s t o s com h a b i t a d o . Em c o n c l u s a o e segundo T i t m u s 33/, "o a b a n d o n o do b e n e f i c i o igual para t o d o s p r o p i c i o u o clima p o l í t i c o no qual o piso de beneficios foi sensivelmente ampliado, tendo urna política abertamente nao-igual it ária facilitado a consecudo de um objetivo igualitário". Aínda ñas palavras de Titmus, "em sociedades simultáneamente democráticas e c a p i t a l i s t a s , formular p o l í t i c a s c o n c r e t a s s i g n i f i c a conviver com c o n t r a d i c o e s " . 32/ John MYLES, op. cit 56 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BREAK, George. Social security as a tax. In: BOSKIN, M i c h a e l , ed. Ihe.CEisis iti 5flCÌal__secUEÌla• San F r a n c i s c o , California, Institute for Contemporary S t u d i e s , 1977. COWAN, Edward. Background and history: the c r i s i s in public finance and social security. In: BOSKIN, Michael, ed. Ihe crisis ÌQ social SECUEila San Francisco, California, Institute for Contemporary S t u d i e s , 1977. FELDSTEIN, Martin. Social s e c u r i t y . In: BOSKIN, Michael, ed. Ihe CEiiis in ssciai secatilaSan Francisco, California, Institute for Contemporary S t u d i e s , 1977. F R I E D M A N , Milton. Payroll taxes, no: general revenues, yes. In: BOSKIN, Michael, ed. Ihe CCiSiS ID SQCial SBCUEita- San Francisco, California, Institute for Contemporary Studies, 1977. F R I E D M A N , R. et alii, ed. Ö B Ö E T N MELFAEB-SLALES^.ô-CBIDEACALIYE yÌBU_B£_lEEndS_and EEBSEBCtS- New York, New York University Press, 1987. LE GRAND, J. Ihe S l E a l g 3 a _ 8 £ - S a u a l i l a : redistribution social service. London, Allen & Unwin, 1988. and the JUDGE, Ken. The British welfare state in transition. In F R I E D M A N , R. et alii, ed. Ö B d E E n _ ö e l £ aES_StatSS^-è_CB!DBaEalÌyE_yÌE!il_Bf l E B Q d S _ a n d _ E E B S B E C l S • New York, New York University Press, 1987. MARSHALL, T.H. CLASSY cilieeashiE and SBcial Chicago, University of C h i c a g o Press, 1964. dEyslaemenl M O R R I S , R. Re-thinking w e l f a r e in the United States. the welfare state in transition. In: FRIEDMAN, R. et alii, ed. ÖBdBEQ weliaEe.slales^ Ô.CBœEaEaliye yieu.af lEeQds_a0d_BC0SEBcls. New York, New York U n i v e r s i t y P r e s s , 1987. MUSGRAVE S MUSGRAVE. Campus, 1980. leorja e_erálica_da_EBlÍlÍCa_fiSCal. s.l MYLES, John, Q l d _ a a e _ i n _ l h e _ ü e l £ a E g _ s l a l e ^ Ihe_E9lilical_ecBDB0!a B f - E U b l i C - E E Q S i a n S • Boston, Little, 1984. PECHMAN, Joseph. The social security system: an o v e r v i e w . In: BOSKIN, Michael, ed. Ihe CEÌSÌS in SBCial S E C U E i l a . San Francisco, California, Institute for C o n t e m p o r a r y Studies, 1977. S A U N D E R S , Peter S KLAN Friedrich. The role of public sector. Courses and consequences of the growth of g o v e r n m e n t . QECD ECBUBIDiC-SludiES, n.4, P a r i s , OECD, Spring 1985. CAPÍTULO S I A GÉNE8E DA ORDEM W»ndarl«s Guilhtrmt doi 8»nto» EN8AI0 INTERPRETATIVO 8 0 B R E A G É N E 8 E DA ORDEM Após cerca de meio siculo de letargia economica, o continente sul-americano volta a apresentar sintomas de reativacao produtiva, a p a r t i r da década de 40 do século XIX. D u r a n t e o periodo de r e t r a c a o , as d i f i c u l d a d e s e c o n ó m i c a s haviam sido agravadas pelas guerras de independencia e pela necessidade de estabelecer as bases políticas da integrado nacional dos diversos países em formado. Na realidade, tratava-se, como se tratará d u r a n t e todo o século XIX, de delinear as fronteiras de c a d a p a í s ao m e s m o t e m p o em que se buscava finar as regras de interacao entre os micro- a g r e g a d o s sociais no interior d e s s a s fronteiras. A resposta mais frequente ao legado colonial de desorganizado favoreceu o c e n t r a l i s m o político, com a s i m u l t á n e a reduelo das insubmissoes autonomistas periféricas vide as h i s t o r i a s do Chile, da A r g e n t i n a e do Brasil, na p r i m e i r a metade do s é c u l o passado. 1/ £ possível que a r e t o m a d a da atividade económica tenha facilitado o sucesso da s o l u c a o centralista, desescalando os confiitos e tornando urgente a necessidade de que se est ab i 1izasse um centro j u r í d i c o - a d n i n i s t r a t ivo capaz de garantir, como pessoa jurídica internacional, contratos de comércio, tratados de navegado e sistemas aduaneiros. Em qualquer caso, o desapareeimento gradual dos conflitos ÍQtcanacionais disruptivos coincide com a reintegrado do c o n t i n e n t e ao fluxo de c o m é r c i o internacional, também este em convalescenca após a d e s a g r e g a d o do que se poderia denominar, em arremedo, de "sistema internacional de comércio m e r c a n t i l i s t a " . §/ 0 café no B r a s i l , depois o acucar, salitre e cobe no Chile, carne e trigo na A r g e n t i n a , peine, cobre e guano no Perú, por e x e m p l o , surgem c o m o o s r e c u r s o s l a t i n o - a m e r i c a n o s de renovado acesso á c i r c u l a d o i n t e r n a c i o n a l . 0 mundo, porém, era outro. U Cf.Claudio VELIZ, ihe Ceolnalisl IcaditiBQ ef Latía amenità, N.J., Princeton U n i v e r s i t y Press, i960, g/ Há dúvidas se o mercantilismo chega a ser um "sistema", seja doutrinário, seja econòmico nacional e, por conseqíiénc ia , i n t e r n a c i o n a l . Ver Eli HECKSHER, bBC£3QtÍlÍSII! < London, Macmillan, 1955. 59 Ao se iniciar a década de 40 do s é c u l o passado, a Inglaterra encerrava o p r i m e i r o c i c l o de sua revolucao industriai e se preparava a c e l e r a d a m e n t e para t r a n s f o r m a r quase todo o globo em um verdadeiro universo econòmico. Entre 1801 e 1841, a distribuido de seu produto nacional bruto entre os setores primàrio, secundario e terciario e v o l u i u corno segue <em '/.) : primàrio: - 10¡ secundario. + 11; t e r c i a r i o : - 1. 3/ 0 perfil ocupacional da forca de trabalho acompanhou tais m u d a n c a s de maneira igualmente significativa. A populado ocupada na agricultura diminuiu em 12 pontos p e r c e n t u a i s , no período, enquanto a forca de trabalho industrial a u m e n t a v a de 43% para 54% do total da PEA - tornando-se, p o r t a n t o , maioria. D o u t r i n a r i a m e n t e , a Inglaterra e n c a m i n h a v a - s e , enfim, para o abandono dos temores de economistas como Malthus e para a adocao integral do i m p e r i a l i s m o do 1ivre c o m e r c i o . 4/ Política e s o c i a l m e n t e , a Inglaterra a t r a v e s s a r i a a segunda metade do século passado senio de maneira t o t a l m e n t e suave, pelo menos de forma i n c o m p a r a v e l m e n t e menos instável do que outras nacoes e u r o p é i a s - Franca e Alemanha, por exeroplo -, isenta, sobretudo, de s u r t o s m i l i t a r i s t a s e de i n t e r m i t e n t e s e s a n g r e n t o s conflitos de c l a s s e em larga escala. Para isso c o n t r i b u i r a m , com certeza, os r e s u l t a d o s a l t a m e n t e f a v o r á v e i s á e c o n o m i a inglesa da i m p l a n t a d o mundial da doutrina do livre c o m e r c i o , a s s o c i a d o s á pròpria expansao econòmica interna. Tome-se, a título de indicadores, a e v o l u c a o dos salarios reais entre 1850 e 1874. Tomando-se por base um índice igual a 100 para 1859, os salarios reais evoluíram de 96, em 1850, para 131, em 1874. §/ Seria e x c e s s i v o s i m p l i s m o a t r i b u i r — s e apenas ao desempenho da economía inglesa a relativa e s t a b i l i d a d e de suas instituicoes. Processos s i m i l a r e s de rápida a c u m u l a d o e c o n ò m i c a p r o d u z i r a m , no século anterior ao XIX, e também neste mesmo século XX, antes disrupcao do que e s t a b i l i d a d e e i n s t i t u c i o n a l i z a d o . A brilhante análise e m p r e e n d i d a por T o c q u e v i l l e da queda do v e l h o regime na Franca demonstra j u s t a m e n t e que a erosao da legitimidade do sistema nao ocorreu por e m p o b r e c i m e n t o insuportável da p o p u l a d o , ou desfastio das c l a s s e s possuidoras, mas em decorrènda de a c e n t u a d o processo de c r e s c i m e n t o e c o n ò m i c o . 6/ Se é verdade que o fato da p r o p i n q ü i d a d e temporal é precàrio e n q u a n t o base para inducoes g e n e r a l i z a d o r a s , c o n f o r m e a c r i t i c a h u m a n a , o mesmo se poderá afirmar da inducào oposta, a saber, que a estabilidade política inglesa se deve ao d e s e m p e n h o e c o n ò m i c o porque se seguiu a est e. 3/ Simon KUZNETZ, ücdEED ECQnQBiE GngSSth. New Università Press, 1966, tabela 3.1, P. 88/89 e P.106. a/ Cf.Bernard SERMMEL, Ihe Bise gf Ecee Itade Haven, tabela Yale 3.2, Iraeecialism. Cambridge, C a m b r i d g e University Press, 1970. 5/ Cf. Nel vil le K I R K , i h e Bcgafch gf tígckiüa C l a s s BefgciDisn! in üid=yi£tsriaa EoslaQd. London, Croom Helm, 1985, p. 101. h/ Cf.Alexis de TOCQUEVILLE, I h e Qld Beaioie aod BeyslutieaN.Y., Doubleday, 1955. 60 Vale, no caso ingles, o aprendizado da lideranca operaría com os s u c e s s i v o s fracassos do movimento cbartista e a decisao de continuar a luta e c o n ó m i c a pela via da a p r o p r i a c a o dos recursos p o l í t i c o s existentes, antes que por sua negacao e s u p r e s s a o . Foi a aceitacao do sistema p o l í t i c o , como mediacao legitima para o p r o g r e s s o económico, por parte da lideranca operaría inglesa, que permitiu, de um lado, a i n s t i t u c i o n a l i z a c a o do sistema político inglés moderno, em formacao desde fins do século XVIII i e, de outro, que após um imobilismo de 35 anos, que se seguiu ao Ato da Reforma de 1832 (justamente o violento período de lutas de classes), sucedam-se, a intervalos razoáveis, as reformas de 1867, 1872 e 1884, afastando os obstáculos á participacao política. Quando, em 1918, se requer apenas r e s i d e n c i a para o direito de voto de h o m e n s adultos, direito finalmente estendido ás m u l h e r e s em 1928, a Inglaterra já estava em vías de construir um moderno estado de bem-estar, para além dos limites do liberalismo. £/ Visto em retrospecto, com efeito, o futuro da sociedade inglesa parece ter sido a n u n c i a d o d e l i b e r a d a m e n t e pelos Atos de 1832 e 1834, nesta ordem. 0 primeiro significando modesta diminuicao ñas barreiras á entrada no jogo político, mas indicando por quais regras o jogo seria possível. 0 segundo, o Ato da Poor Law, indicativo de que a doutrina segundo a qual o mercado seria o único m e c a n i s m o determinando a estacao da vida de cada individuo nao era para ser entendida nem aplicada com automático radicalismo. Nao obstante todo o caráter e s t i g m a t i z a n t e e cruel das razoes que a j u s t i f i c a r a m , aínda é certo que a doutrina de que a s o c i e d a d e nao pode ser literalmente indiferente ao destino de seus membros, premissa dogmática do W « l f a r » S t a t a , e n c o n t r a nela sua r a i z e origem. §/ E tal como ocorreu em relatan ao alargamento da participacao política, é só depois de integrado o sistema político, estabilizada a competicao por poder, fixada a identidade política ( r e f o r m i s t a ) do operariado e e s t a b e l e c i d o s os partidos nacionais, que surge algo novo na relacao entre a s o c i e d a d e e seus m e m b r o s c o n s t i t u t i v o s . A primeira lei de seguro compulsorio de acidente de t r a b a l h o data de 1897. Haviam-se p a s s a d o 63 anos entre a Poor Law e o inicio de urna legislaeao social i d e o l ó g i c a m e n t e fundada em concepcoes modernas, enquanto, 7/ Para evolucao do m o v i m e n t o o p e r a n o inglès e sua aceitacao das regras do jogo ver kirk, OE^Cit^. Para o movimento operarlo europeu, em geral, ver A. PRZEWORSKI e John SPRAGUE, Eaeecstones j. 6 tìistcca gf Electoral Socialism. Chicago University Press, 1986; para a evolucào da legislacao sobre p a r t i c i p a c a o eleitoral ver T h o m a s MACK IE e Richard ROSE, The Intecnatianal Almanac of Electacal tìistQca, N.Y., The Free Press, 1974 g/ Cf. Derek FRAZER, "The English The British Welfare State", Emergence London, Qf the Croom Helm, Poor Law and The in W.J. MOMMSEN Welfare State in 1981 Britain Origins of (ed.), Ihe and Germany- 61 entre o primeiro ato de reforma eleitoral (1832) e p a r t i c i p a t ó r i a moderna, p a s s a r a m - s e apenas 35 anos. a seqüencia Onze anos após a criacao do seguro de acídente de trabalho, surge o O l d Age Pension Act, em 1908, seguido pelo Nation»! Insurance A c t de 1911, p r o v e n d o seguro-saúde e s e g u r o - d e s e m p r e g o aqueles que aínda pertenciam ativamente á populacao trabalhadora. A ideología do Welfare State estava vitoriosa e seu arcabouco institucional implantado, entretanto, em momento posterior á incorporacao política de praticamente toda a populacao adulta inglesa, á excecao das mulheres. 9/ Por esta ou aquela razio, o percurso h i s t ó r i c o seguido pela Inglaterra revela que, em sequéncia á revolucao industrial, nacionaliza-se e integra-se o mercado interno e supera-se o facionalismo oligárquico das elites, após o que, em ondas sucessivas, a l a r g a m - s e as fronteiras da p a r t i c i p a c a o , com base na adesao da maioria dos s e g m e n t o s sociais ás regras de competicao política, e finalmente fincam-se os alicerces de um moderno estado de bem-estar social. As crises c r u c i a i s por que passam ou passaram todas as nacoes modernas - crises de integracio, de participacao e de d i s t r i b u i c a o - emergiam em feliz ordem de sucessao na I n g l a t e r r a . Mas, como argutamente observa Verba, essas crises nao emergem sempre na mesma ordem, nem n e c e s s a r i a m e n t e em ordem, podando ocorrer s i m u l t á n e a m e n t e . Aínda mais, tendem a ser r e c o r r e n t e s . 0 mundo moderno é um mundo em permanente reelaboracao, reelaboracao de um passado que se exprime ñas i n s t i t u i c o e s mais ou menos congeladas do presente. Impoe-se, agora, ir em busca do passado do presente. 10/ 0 mesmo p r o c e s s o de acumulacao, via comercio internacional que produzia i n t e g r a c i o nacional na Inglaterra, foi em grande parte responsável pelo e s t a b e l e c i m e n t o dos m e c a n i s m o s de p r o d u c a o de d e s i g u a l d a d e e de s e g m e n t a c a o em outras partes, por exemplo, no Brasil. A e s p e c i a l i z a c a o que afagava o café do S u d e s t e era a mesma que a p e d r e j a v a o algodao e o acucar do Nordeste. Com efeito, a p a r t i c i p a c a o percentual do acucar e do algodao ñas receitas de e x p o r t a c a o , que era de 48,9'/., no período 1821/23, passa para 28,9% e 3,2%, nos períodos 1871/73 e 1912/14, respectivamente. Nos mesmos períodos, a participacao do café passa, r e s p e c t i v a m e n t e , de 18,7% a 50,2% e a 60,4%. 11/ 9/ Para uma analise da evolucao comparativa da politica social inglesa, ver Gaston RINELINGEN, Welfare Polity and i D d u s t c i a l i z s t i Q O ID Suraee^ fimeciQa aad Bussia, N.Y., John Wiley, 1971. 18/ Cf. Sidney VERBA, " S e q u e n c e s and D e v e l o p m e n t " , in L.BINDER et alii, Ccises aod SeaueDEes ia Galitital Q e y e l s e m e Q l . N. J., Princeton University Press, 1971. 11/ Cf. N. LEFT, UadecdeyelQemeofc and Bgyglsemeot London, Allen 8 Unwin, 1982. (v.II. Reassessing to Economic D e v e l o p m e n t ) , tabela 2.1, p. 9. io the Bcasil, obstacles 62 A d e m á i s dos t e r m o s de troca terem favorecido o Sudeste, c o m p a r a t i v a m e n t e ao N o r d e s t e (as t a x a s a n u a i s de crescimento da r e n d a via t e r m o s de t r o c a foram, p a r a o a c u c a r , 2 , 3 % e - 7 , 0 % , nos e 3,6%, nos p e r i o d o s 1 8 2 2 / 7 3 e 1 8 7 4 / 1 9 1 3 , e, p a r a o c a f é , 6 , 2 % lg/), também os processos de urbanizado e mesmos períodos c r e s c i m e n t o p o p u l a c i o n a l se a c e n t u a r a m m a i s no S u d e s t e , além do d e s l o c a m e n t o para esta r e g i a o do que h a v i a da i n c i p i e n t e p r o d u c a o indust rial. A s e g m e n t a d o da e c o n o m i a e da sociedade repunha o p r o b l e m a da integraclo. Ao contrario de colaborar para sua solucao, a expanslo económica tornava-se a principal fonte g e r a d o r a do p r o b l e m a . Na a u s e n c i a de urna forte lógica de mercado, c a p a z de p r o d u z i r s o l i d a r i e d a d e s o c i a l , i n d e p e n d e n t e m e n t e da acao do g o v e r n o , a r e a c i o antidesagregadora deveria necessariamente vir de o u t r a e s f e r a , a saber, da esfera administrativa e da e s f e r a m i l i t a r . Do i n i c i o dos a n o s 40 até os a n o s 70 do século p a s s a d o , o s g a s t o s a d m i n i s t r a t i v o s e m i l i t a r e s do g o v e r n o c o m p o e m os p r i n c i p á i s itens do o r c a m e n t o do i m p è r i o . Naturalmente, como urna e s p é c i e de c o m p e n s a d o p e r v e r s a , as f o n t e s que produziam os r e c u r s o s p a r a a e x p a n s â o a d m i n i s t r a t i v a e a m a n u t e n c a o das forças militares eran justamente a exportado e a importado (a p o r c e n t a g e m m é d i a d o s i m p o s t o s s o b r e o c o m é r c i o e x t e r i o r relativa á r e c e i t a total do g o v e r n o , no p e r í o d o , foi de 75, com um máximo de 81%, no p e r í o d o 1 8 5 1 / 5 5 , e um mínimo de 7 3 % , no período 1 8 6 6 / 7 0 . 13/ Em c o n t e x t o de e s c a s s e z e l e v a d a e de t e n d e n c i a s n a t u r a i s ao centrifugismo, torna-se compreensível o estrito c o n t r o l e da p a r t i c i p a d o política. A e v o l u c a o i n s t i t u c i o n a l do império foi por demais lenta. Em certo sentido, seria mesmo possível a f i r m a r - s e que o p r o b l e m a do t r a b a l h o e s c r a v o foi e n c a m i n h a d o com m a i o r r a p i d e z do que o problema da participado ampliada. De fato, m e n c i o n a d o p e l a p r i m e i r a v e z na "Fala do T r o n o " de 1868 (com o e x p l o s i v o s i g n i f i c a d o de c o l o c a r a q u e s t a o o f i c i a l m e n t e na a g e n d a p o l í t i c a ) , foi e l e r e s o l v i d o v i n t e a n o s depois, após as r e f o r m a s p a r c i a i s da Lei dos S e x a g e n á r i o s e da Lei do Ventre L i v r e . 0 p r o b l e m a da part i c i p a d o , por o u t r o lado, a t r a v e s s a todo o império e adentra o s é c u l o XX sem a d e q u a d a s o l u c a o . A ausencia de um m e r c a d o r e l a t i v a m e n t e i n t e g r a d o a nivel nacional dificultava a coalescência de interesses em partidos políticos mais ou menos homogéneos, programáticamente bem definidos e capazes de articular interesses particulares a projetos globais. As disputas intra-elites políticas, assim, d e s e n v o l v e m - s e em t o r n o de c o i s a a l g u m a p a r a além de projetas individuáis. A a l t e r n a n c i a no p o d e r nao e v i d e n c i a , neste caso, r e o r i e n t a c o e s s i g n i f i c a t i v a s de p o l í t i c a e c o n ó m i c a (os graus de liberdade restringindo-se a maior ou menor alíquotas ñas t a x a c o e s ) , ou de política administrativa (a descent ra 1 i z a d o estava firmemente fora de questao e nem mesmo os liberáis lg/ 13/ Ibidem, Ibidem, tabela tabela 2.2, 4.6, P.9. p. 84. 63 t e n t a v a m i m p 1 e m e n t á ~ l a a sèrio, q u a n d o chamados ao poder). Os e l e v a d o s í n d i c e s de i n s t a b i 1 i d a d e ministerial contrastara assim com a e v o l u c a o l e n t i s s i m a das m o d i f i c a c o e s e c o n ó m i c a s , ifj/ A instauracào da República redefine as regras da competicao politica intra-elites e até a década de 30 nao terá ainda resolvido, nem o p r o b l e m a da i n s t i t u c i o n a l i z a r l o , nem o p r o b l e m a da p a r t i c i p a c a o s e q u e r em s u a d i m e n s a o e l e i t o r a l . Face a um f e d e r a l i s m o e s t r i t a m e n t e j u r í d i c o - p o i s a associacao das u n i d a d e s f e d e r a d a s d e c o r r i a m a i s de i n é r c i a i n s t i t u c i o n a l do que de interesses comuns entrelazados e a um m e r c a d o e c o n ò m i c o -político fragmentado, restou ao governo o reconhecimento de s a t r a p í a s de fato, n a s q u a i s mandava quem estava no poder g EEgEisaoiBDtB E S E S U B g s t a y g QQ EBdBE• A predominancia ideològica do laiasts-fairt que parece consagrada durante a República Velha nao tem v a l i d a d e nem na e c o n o m i a - a p a r t i r da i n t e r v e n u t o regulatória na e c o n o m i a c a f e e i r a -, nem na a r e n a política, na qual vige uma especie de p a c t o de celerados que regula a competicao entre aqueles que o c u p a m f o c o s de poder, mas só enquanto os ocupam, e que mantém o sistema político i m p e r t u r b a v e l m e n t e f e c h a d o ás p r e s s o e s de uma cidadania urbana e m e r g e n t e . 0 e l e i t o r a d o que c o m p a r e c e ás e l e i c o e s de P r u d e n t e de M o r á i s , em 1894, c o r r e s p o n d í a a 8,2 X da populacao da época. T r i n t a e d o i s a n o s d e p o i s , o e l e i t o r a d o que c o m p a r e c e u á eleicao de W a s h i n g t o n L u i s c o r r e s p o n d í a a i n d a a 2,3% da populacao da é p o c a . Que e s s a p o r c e n t a g e m h a j a m a i s do que duplicado quatro anos depois, em 1930, havendo atingido a 5,6% da populacao, s u g e r e a p e n a s o g r a u de r e p r e s s a o a n t e r i o r , por um lado, e as e x p e c t a t i v a s s u s c i t a d a s p e l a s e l e i c o e s d a q u e l e ano. 0 pacto oligárquico era inerentemente instável pela i m p o s s i b i 1 i d a d e de se a c o m o d a r e m , a í n d a que em r o d i z i o , t o d o s os i n t e r e s s e s p r e d a t o r i o s em c o m p e t i c a o . A regra segundo a qual m a n d a v a quem e s t a v a no poder, e justamente porque estava no poder, impunha um regime de estado natural hobbesiano aos sistemas regionais, nos quais ridiculos leviataes estaduais promoviam perseguicoes nada ridiculas áqueles eventualmente a l i j a d a s do p o d e r . Dada a ausencia do poder central como fonte g a r a n t i d o r a da lei e da o r d e m , a t e n t a c a o de a l a r g a r o e s c o p o do conflito pelo apelo a recursos extrapacto oligárquico, n o m e a d a m e n t e o r e c u r s o á s m a s s a s u r b a n a s , era f o r t e . Ao firn e ao cabo, é exatamente isso que irá ocorrer em larga escala, relativamente, quando as oposicoes nordestinas, gaúchas e mineiras rompem a p r e m i s s a b á s i c a do p a c t o e contestara pelas armas o resultado eleitoral, buscando legitimidade em convocatorias plebiscitarias ao p o v o . 1 5 / Nas Nem tudo era oligarquía, coñtudo, na República Velha. f r a n j a s do s i s t e m a , m a i s e s p e c i f i c a m e n t e n a s á r e a s u r b a n a s do 14/ Para e s t a b i l i d a d e m i n i s t e r i a l no I m p è r i o , ver C l é a SARMENTO, "Estabilidade Governamental e Rotatividade das Elites Políticas no Brasil I m p e r i a l " , Badgs, v o i . 89, no. 2 (1986). ! § / Para a m o n t a g e m e d i n à m i c a do s i s t e m a o l i g á r q u i c o , ver R e n a t o LESSA, e I n v t D c S s RgEU&lÌ£§oa. S.P., V é r t i c e / I U P E R J , 1987. 64 Rio de J a n e i r o e de Sao P a u l o , p r i n c i p a l m e n t e , i n s t a u r a - s e uma d i n á m i c a c o m p e t i t i v a , c o m p l e t a m e n t e alheia ao p a c t o oligárquico, e por este d e s c u r a d a . T r a t a - s e do c o n f l i t o d i s t r i b u t i v o entre o capital e o trabalho, talvez a única arena na qual a d o u t r i n a l a i s s e z - f a i r i a n a da livre c o m p e t i c a o - nos termos em que tal competicao foi l i v r e na Inglaterra no sáculo XIX - foi, com e f e i t o , c o n s a g r a d a no B r a s i l , a t é 1930. Se, segundo uma fonte, e n t r e 1888 e 1900, c r i a m - s e c e r c a de 7 a s s o c i a c o e s operárias na c a p i t a l de S a o P a u l o e o b s e r v a m - s e 12 g r e v e s , os n ú m e r o s para o período 1901/1914 serao, r e s p e c t i v a m e n t e , 41 associacoes e 81 g r e v e s . 16/ Pelos intersticios das estruturas oligárquicas b r o t a v a a luta social c a r a c t e r í s t i c a do c a p i t a l i s m o . Do i n i c i o da R e p ú b l i c a até a e c l o s a o da R e v o l u c a o de 1930, um s i s t e m a p o l í t i c o u r b a n o v a i - s e c o n s t i t u i n d o á vista de todos sem que, todavia, t e n h a s i d o p e r c e b i d o por todos. É uma carnada social nova que s u r g e - os operários fabris ainda sem identidade política própria e, por conseguinte, sem YQg. Sua c o n t r a p a r t e no p r o c e s s o p r o d u t i v o - o e m p r e s a r i a d o nasce, por d e f i n i c a o , d e n t r o do s i s t e m a o l i g á r q u i c o e envolvido em outro conflito distributivo: com a o l i g a r q u í a e x p o r t a d o r a , de um lado, e a b u r g u e s í a c o m p r a d o r a , de o u t r o - se p r e t e n d e - s e fazer uso de conceitos pouco precisos. 0 que i m p o r t a é que o c o n f l i t o entre e s s e s s e g m e n t o s se d e s e n r o l a v a em a r e n a bem d e f i n i d a e s e g u n d o as r e g r a s e s t a b e l e c i d a s de p r e s s a o p o l í t i c a , m a n i p u l a c a o de i m p r e n s a e t r á f i c o de i n f l u e n c i a : a política de tarifas Da política t a r i f á r i a d e p e n d i a m um a r r e m e d o de r e s e r v a de m e r c a d o , i m p o r t a c a o barata de i n s u m o s e, certamente com a ajuda de apropriada p o l í t i c a fiscal, t r a n s f e r e n c i a de recursos do setor agrícola- e x p o r t a d o r p a r a o s e t o r i n d u s t r i a l da e c o n o m í a . Nesta arena, e com t a i s atores, sabiam os empresarios industriáis mover-se c o n f o r m e a s r e g r a s , m u i t o e m b o r a os r e s u l t a d o s o b t i d o s até a I G u e r r a Mundial t e n h a m o s c i l a d o s o b r e m a n e i r a . 17/ 0 mundo do trabalho, entretanto, quero dizer, do trabalho assalariado, era um verdadeiro mundo novo. Igualmente, para os o p e r á r i o s , r e c é m - a r t e s a o s , p r e s t a d o r e s de servicos, e x - t r a b a l h a d o r e s a g r í c o l a s , o m u n d o do capital t a m b é m era um m u n d o inteiramente novo. Novo e sem formas ou regras p r e v i a m e n t e e s t a b e l e c i d a s , o m u n d o industrial capitalista é um mundo visivelmente fabricado, artefeito como resultado da t e c n o l o g í a , da o r g a n i z a c a o , da d i s c i p l i n a e do confronto total: c o n f r o n t o e c o n ó m i c o , c o n f r o n t o social e c o n f r o n t o político. Nem por isso, porém, menos racional. Um conflito só interessa enquanto seus custos forem inferiores a seus beneficios 16/ D a d o c o m p u t a d o a p a r t i r de A z i z SIMfiO, S i Q d i ç a t g e Estado, S a o Paulo, D o m i n u s , 1966. 1 7 / P a r a uma a v a l i a c a o e c o n ó m i c a do período, ver C h a r l e s M U E L L E R , Das Q l i g a r g u i a s Agrarias ao Predominio Ucbano^Industrial, R.J.,IPEA/INPES, 1983¡ para a "mobilidade e m p r e s a r i a l " na política de pressoes, ver M. Antonieta P. LEOPOLDI, Industrial Brasil, associations Oxford, 1984. < D. and Phil. Politics Thesis). in Coaleffleorata 65 r a z o a v e l m e n t e e s p e r a d o s . Este p r i n c i p i o b á s i c o de c á l c u l o o r i e n t a com lógica de ferro a e m p r e s á r i o s e a operários, associando-os inapelavelnente em urna dinàmica de c o o p e r a c a o / c o n f 1 ito soberanamente presidida pelo ditado, a n t i p r o v e r b i a l , de que q u a n d o um quer, d o i s brigar». Q u e r isto dizer que um c o n f l i t o industrial capitalista só t e r m i n a , e s q u e c e n d o - s e i n t e r v e n c o e s e x t e r n a s , q u a n d o há a c o r d o , e que só há a c o r d o q u a n d o o s b e n e f i c i o s r a z o a v e l m e n t e e s p e r a d o s sao no m á x i m o iguais aos custos incorridos para alcancá-los. A cláusula "beneficios razoavelmente esperados", por outro lado, i n d i c a o grau de indeterminacao, de julgamento subjetivo de cada ator, q u a n t o ao m o m e n t o a p r o p r i a d o de a c e i t a r um acordo e t e r m i n a r um c o n f l i t o . 0 ponto de "equilibrio" de um sistema p o l i t i c o - s o c i a l é tal c o m o o " n o u m e n o " k a n t i a n o : ele deve estar lá, m a s é i n a p r e e n s i v e l . H i s t ó r i c a m e n t e , o c o n f l i t o c a p i t a l - t r a b a l ho é g r a d a t i v a m e n t e mediado pelas instituicoes políticas liberáis já estabelecidas e e n r a i z a d a s na s o c i e d a d e i n g l e s a , a p ó s d u a s ou t r e s décadas de dinàmica hobbesiana, isto é, selvagem. No Brasil, as tris primeiras décadas deste século testemunharam o desenrolar, por assim d i z e r , natural do c o n f l i t o cap i t a l - t r a b a l ho, enquanto as i n s t i t u i c o e s o l i g á r q u i c a s e n t r a v a m em concordata, arrastando á f a l e n c i a a f a c h a d a liberal que a s r e v e s t i a . Para entender esse d e s e n r o l a r , bem c o m o os e v e n t o s que na d é c a d a de 30 lancaram as bases da e v o l u c a o institucional posterior, serao necessárias a l g u m a s c o n s i d e r a c o e s a n a l í t i c a s s o b r e d u a s o r d e n s de q u e s t o e s : a primeira refere-se ao problema da acao coletiva; a segunda s u g e r e , para e f e i t o s de o r g a n i z a c a o i n t e r p r e t a t i v a , urna t i p o l o g i a de p o l í t i c a s p ú b l i c a s . A l ó g i c a da acao c o l e t i v a t o r n a - s e problemática quando se r e c o n h e c e que um i n t e r e s s e c o m u m , p r e c i s a m e n t e p o r q u e é c o m u m , é i n s u f i c i e n t e c o m o m o t i v a c a o de c o m p o r t a m e n t o . 0 p r o b l e m a já h a v i a s i d o i d e n t i f i c a d o pelo m e n o s por Hume, q u a n d o pondera que é o fato de que a d r e n a g e m de um p a n t a n o b e n e f i c i a a t o d o s aqueles que habitam ou tem p r o p r i e d a d e ali que nenhum individuo irá i n c o r r e r nos c u s t o s da d r e n a g e m , de c u j o s b e n e f i c i o s o s d e m a i s se a p r o p r i a r i a m a c u s t o z e r o . Um bem p ú b l i c o , p o i s , d e i x a r á de ser produzido. A doutrina dos grupos de i n t e r e s s e , f o r m u l a d a por B e n t l e y , no i n i c i o do s é c u l o , e r e f o r m u l a d a por David T r u m a n , no i n i c i o da d é c a d a de 50, d e i x o u de p e r c e b e r o delicado problema que o interesse comum propoe ao comportamento humano ( e s p e c i a l m e n t e q u a n d o os h u m a n o s nao sao a r c a n j o s r o u s s e a u n i a n o s ) e e s t a b e l e c e u que a d i n à m i c a da competicao política e social das sociedades modernas, capaz inclusive de controlar saudavelmente o E s t a d o , se explicava pela muítip1icidade de grupos de interesse que se sucediam na arena política a reivindicar atencao e providincias. Os grupos sociais, ensina a doutrina, sao basicamente latentes, virtuais e seus membros nem se conhecem necessariamente. Basta, entretanto, que o interesse que lhes é comum seja a f e t a d o p a r a que se m o b i l i z e m e v e n h a m a se r e c o n h e c e r e c o n g r e g a r na arena pública. Por este mecanismo estaría afastada a possibi 1idade de que o Estado 66 democrático viesse a i n f r i n g i r s e u s limites de acao legítima, assim como a de que arbitrariedades privadas passem desapercebidas. Mancur O l s o n , Jr . , e n t r e t a n t o , e n c a r r e g o u - s e de lembrar aos p l u r a l i s t a s , na d é c a d a de ¿0, que havia um sério problema com o interesse comum. Básicamente, o argumento de Olson parte da mesma consideracao humana, ajustando a linguagem á retórica c o n t e m p o r á n e a . 0 i n t e r e s s e c o m u m p o s s u i as m e s m a s p r o p r i e d a d e s de um bem público e, por isso, s o f r e dos m e s m o s p r o b l e m a s que a producao de bens públicos mais notorios enfrenta. Nao obstante, a acao c o l e t i v a , ou seja, a acao p r o d u t o r a de bens públicos existe, e a questao converte-se em explicar essa e s t r a n h a lógica da acao c o l e t i v a . C a r a c t e r i s t i c a m e n t e , a resposta de Olson para a e x i s t e n c i a de a c a o c o l e t i v a n a o - p ú b l i c a - quer dizer, sindicatos e associacoes, em geral - é a mesma explicacao para o f u n e i o n a m e n t o do Estado, e n q u a n t o p r o d u t o r de bens públicos: coacao (impostos, no caso do Estado; closed s h o p s , no c a s o de sindicatos) e/ou incentivos seletivos. 18/ 0 escándalo causado pela (nao) lógica da acao coletiva é comensurável á importancia do problema para a moderna t e o r i a p l u r a l i s t a . Urna das b a s e s f u n d a m e n t á i s da teoría foi a f e t a d a e, com isso, r e a b r i a - s e a questao do papel do E s t a d o e de onde r e t i r a ele sua l e g i t i m i d a d e . Em b r e v e , o p r o b l e m a da acao coletiva foi r e c o d i f i c a d o c o m o "dilema do prisioneiro", m a j o r i t a r i a m e n t e t r a t a d o c o m o um p r o b l e m a t í p i c o de teoria dos jagos, e é específicamente como urna m o d a l i d a d e do d i l e m a do p r i s i o n e i r o , que a l i t e r a t u r a p e r t i n e n t e a b o r d a o p r o b l e m a . 12/ No que se segue p r o p o r e i urna s o l u c a o a l t e r n a t i v a . 2 g / A falha crucial do a r g u m e n t o de Olson s o b r e a acao coletiva consiste no suposto de que apenas a Batí. Í S Í e a t a Q envolve custos. Se a l t e r a r m o s o s u p o s t o e a d m i t i r m o s que a nao- p a r t i c i p a c a o também e n v o l v e c u s t o s , e n t a o a s o l u c a o formal do problema Olsoniano (lembrando sempre que este consiste na irracionalidade de engajar-se alguém na p r o d u c a o de um bem público) é simples: Seja X um individuo ou urna firma qualquer; Cp, os c u s t o s de p r o d u c a o de um bem público; e Cnp os c u s t o s da nao p r o d u c a o de um bem público. Dadas as definicóes, será 18/ Està é urna apresentacao muito simplificada, mas para m e u s p r o p ó s i t o s . Para a e x p o s i c a o originai da ver Mancur OLSON, JR., ite Loait ai Gsllectiae veridica teoria, StliQQ, C a m b r i d g e , Harvard U n i v e r s i t y P r e s s , 1965. 19/ Toda a e v o l u e a o do p r o b l e m a da acao coletiva e a discussao da l i t e r a t u r a a p r o p r i a d a , a t é 1981, e n c o n t r a - s e em Russell HARDIN, C a l l E C t i y e ÒCtlQQBaltimore, (Resources for the F u t u r e ) , The John H o p k i n s U n i v e r s i t y Press, 198S. § 0 / Està p a r t e do a r g u m e n t o r e p r o d u z de m o d o s u m à r i o a discussao que faco em "The Dual-logic of Collective Action", paper apresentado na Conferincla "Micro-foundations of D e m o c r a c y " , no C e n t e r for E t c h i c s , R a t i o n a l i t y and S o c i e t y , U n i v e r . de C h i c a g o , 2 9 / 0 4 a 0 1 / 0 5 / 8 8 . 67 racional para gual cjuer X incorrer nos c u s t o s da producao de um bem público s e m p r e que a s e g u i n t e c o n d i c i o formal for s a t i s f e i t a : Cnp independentemente > da e x i s t e n c i a Cp , ou nao de fricrldiri. A questao, agora, transfigura-se nesta outra: em que condicoes a c o n d i c i o Cnp > Cp o c o r r e ? A solucao p a r e c e - m e a seguinte-, Cnp será > Cp sempre que C seja o resultado da interdependencia da acao social sob sua forma conflit iva (para c o l o c a r em linguagem p r o v e r b i a l : s e m p r e que, quando um quizer, d o i s brigam). Sempre, portanto, que £ depender da interdependencia confiitiva é possível que Cnp seja maior d o que Cp. E sempre que esta condicio se der, será racional para X inician a p r o d u c a o de um bem público, i n d e p e n d e n t e da acao de o u t r o s competidores. Urna vez iniciada a p r o d u c a o do bem, contudo, é racional para X integrar todos o s demais JSS na p r o d u c a o do bem via, olsonianamente, c o a c i o e/ou incentivo seletivo, p o s t o que esta é a única forma de eliminar o problema do frt*-rid«r. De acordo com a empiria bruta, eaCEEg que só assim se garante a p r o d u c a o do bem público e dai, tal vez, o e q u í v o c o de Olson. 0 que garante a p r o d u c a o do bem público É a c o n d i c i o Cnp > CP , já explicada, o que quer dizer que a agenda e g o i s t a de X só pode ser r e a l i z a d a roediaats a p r o d u c a o de bem público. 0 que garante a eliminacio do fr*«-rid*r sao as condicoes Olsonianas. Para urna primeira aproximado esta solucao serve. Entretanto, é possível que o p r o b l e m a da e l i m i n a c i o dos fra«-rid«r« nio seja tao dramático quanto parece. Antes de apresentar urna s o l u c a o c o m p l e t a para a lógica da acao coletiva algumas c o n v e n c o e s se fazem n e c e s s á r i a s . - Diferenca essencial entre bem público e mal a) ninguém pode sen g K E l U Í d S do c o n s u m o assim o desejar; b) ninguém pode g & c l ü i t z S S assim o deseje. - Definido do consumo de i n t e r d e p e n d e n c i a do do mal conflitiva público: bem público, público, da acio aínda se que social: urna acao social é confiitivamente interdependente se, e somente se, a recusa v o l u n t á r i a ao c o n s u m o de um bem p ú b l i c o (z), implicar necessariamente c o n s u m o c o m p u l s o r i o de um mal público (y). 68 - C o n d i c o e s para bem público: a decisao individual de i n i c i a r a producio sendo de um a) quando o bem público z nao está p o r t a n t o , n a o p o d e ser c o n s u m i d o ; produzido b) quando o nao consumo de z implica o consumo de z ( c o n d i c i o da i n t e r d e p e n d e n c i a c o n f l i t i v a da acao social); c) quando o c u s t o do c o n s u m o p r o d u c i o de z. de a é s u p e r i o r ao custo e, da D a d a s as c o n d i c o e s a, 6 e £ acima, o fato de que g é um bem p ú b l i c o é i r r e l e v a n t e para a d e c i s a o do ator X em p r o d u z í - l o , já que o c r i t e r i o d e c i s o r i o , p a r a ele, é que a ú n i c a forma de evitar o seu c o n s u m o p r i v a d o de a c o n s i s t e na p r o d u c a o de z. - Vantagens comparativas a ) eia é e c o n ò m i c a , atores envolvidos b ) eia d i s p e n s a seja o ator da s o l u c i o a ser isto é, a lógica na i n t e r d e p e n d e n c i a opcoes entre premissas X e g o í s t a ou a l t r u i s t a , proposta: vale para todos conflitiva; psicológicas, a s o l u c a o será c ) eia faz da s o l u c a o olsoniana (coercao s e l e t i v o s ) c a s o s e s p e c i á i s da c o n d i c i o geral a c a o c o l e t i v a , a s a b e r : t o r n a r Cnp > Cp. ou para os isto é, a mesma; incentivos induzir a £ p o s s í v e l a g o r a m o s t r a r que o a r g u m e n t o de Olson sobre a acao coletiva nao é satisfatório quanto ao inicio da producao do bem p ú b l i c o . 0 e q u í v o c o f u n d a m e n t a l no c o n t e x t o da teoria dos grupos de i n t e r e s s e - c o n s i s t e em supor que suaiguer bem público só será Eríyadamente produzido, caso o individuo produtor seja a l t r u i s t a e, portanto, irracional de a c o r d o com a premissa maximizante. Todavia, é d e m o n s t r á v e l que um bem público pode ser i n i c i a l m e n t e produzido de forma p r i v a d a sem a i n t r o d u c a o de p r e m i s s a s p s i c o l ó g i c a s . É suficiente postular a premissa animal (biológica), indevidamente apropriada pela tradicao utilitarista, de que a regra fundamental do comportamento h u m a n o c o n s i s t e em evitar s o f r i m e n t o (perda, dor, custo) . Dado o p o s t u l a d o a n i m a l , e x p o e - s e as d u a s i n i c i o da E c o d u c a s E E i y a d g de ym feem E Ú b l Í £ 0 : condicoes para o a) Condicio de n e c e s s i d a d e R o u s s e a u n i a n a : p a r a que um bem público seja privadamente produzido é necessàrio, embora nao s u f i c i e n t e , que a a p l i c a c a o da r e g r a fundamental do c o m p o r t a m e n t o i m p l i q u e em sua p r o d u c a o . Isto é, q u a n d o bp (beneficio privado) = Bp (beneficio público). b) Condicio de suficiencia Simmeliana (Condicio i n t e r d e p e n d e n c i a c o n f l i t i v a da acao s o c i a l ) , para que bem p ú b l i c o seja p r i v a d a m e n t e p r o d u z i d o é s u f i c i e n t e de um que 69 • custo de nao aplicacao da regra fundamental do c o m p o r t a m e n t o (producao de bp) seja o c o n s u m o c u m p u l s ó r i o de um mal público ( f o r c t d - r i d « r ) . p o r t a n t e que Cnbp 4 0, e que bp = Bp . c) Condicao suficiente: se bp = Bp e se -Cbp Bp será produzido quando Cnbp > Cbp Cnbp, entao Urna vez iniciada a producao privada de Bp (bem público), recoloca-se o problema da eliminacao do fr«»-rldtr. 0 problema da atao coletiva c o n s i s t e precisamente nisto - na eliminacao do free-rider do Egn§umg de Bp - e nao na e C Q d u t i o de BP. E isto porque, dadas as c a r a c t e r í s t i c a s de BP , a única forma de eliminai" o free-rid»r c o n s i s t e em organizar a acao c o l e t i v a . 0 produtor (privado ou coletivo) de Bp pode utilizar menos cinco estrategias em relacao ao fr»«-ríd«r, buscando e l i m i n á - l o e urna c o n s i d e r á n d o l e i r r e l e v a n t g : a) e l i m i n a n d o - o . via c oacao; b) e l i m i n a n d o - o , via c) e l i m i n a n d o - o . via regulacao pelo quatro incent ivo selet ivo i d) el iminando-o, via persuasao (forma de semiprivatizar ideológica; e) d e s c o n s i d e r a n d o - o Considerando que a p r o d u c a o de Bp está a s s e g u r a d a enquanto Cnbp > Cbp, e c o n s i d e r a n d o também que as a l t e r n a t i v a s a, b, c e d acima tem custos, elas só serao u t i l i z a d a s até o limite em que Cefr (custo de eliminacao dos frt«-rid«r»> = Cbp, EQis 3Ual3Ugr Eustg a eantin daí estaría aumentandg Cbe . Em out ras palavras, se a e l i m i n a c a o dos frtt-ridtr», por um lado, diminuí Cbp, ela nao o faz de forma absoluta, mas sim como residuo da relacao entre C b p (o custo de producao de Bp que deixa de ser arcado por seus a t u a i s p r o d u t o r e s ) e o custo de eliminacao dos free-riders (Cefr). Ou seja, o novo valor de Cbp, dados os custos de eliminacao dos f r « » - r i d « r s , é dado pela funcao C2bp = Clbp (C'bp - Cefr). Quando C b p - Cefr = 0, o novo custo de C2bp (após a organizacao da acao c o l e t i v a ) torna-se igual a Clbp (o custo de producao de Bp antes de organizada a acao c o l e t i v a ) . Ora, C'bp Cefr = 0 quando Cefr = Clbp, isto é, quando os custos de organizar a acao coletiva (eliminando os f r « * - r i d « r m ) absorvem todos os custos de p r o d u c a o de Bp. Dado que Clbp = C2bp , Cefr = Clbp e q u i v a l e ao m í n i m o custo de producao de Bp, vía ataQ coletiva, que mantém a proporcao original de Cnbp > Cbp. Qualquer acréscimo em Cefr (incorporacao de novos membros á acao coletiva) apenas aumentará Cbp, tornando a p r o d u c a o de Bp, por via de acao mais c o l e t i v i z a d a , mgües g f i c i e n t e do que a producao de Bp com t o l e r a n c i a para free-riders. No limite, se Cefr torna Cnbp = Cbp , e dado que a condicao de suficiencia Simmeliana impede que Bp deixe de ser produzido, a l g u n s m e m b r o s abandonarao 70 a anSo c o l e t i v a para tornarem-se produzir BP p r i v a d a m e n t e . free-ridert, se possível, ou Assim, a e xistincia de fraa-ridara nao implica n e c e s s a r i a m e n t e que Bp será col et ivamente produzido, após o inicio da produ cao privada, nem que, se o for, a coletivizacao da ac io abarque t o d o s os seus beneficiarios. Na realidade, portanto dada a producao privada de Bp os fraa- r i d a r » serao: 1) d e s c o n s i d e r a d o s se Cefr > C'bp (caso de um duopolio em que o p r o d u t o r X de Bp incorreria em enorme Cefr, para obrigar Y a par t i c i p a r de Cbp); 2) eliminados segundo as e s t r a t e g i a s a, b, c e d, e n q u a n t o C'bp - Cefr > 0; e 3) serao p a r c i a l m e n t e descons i d e r a d o s quando C'bp - Cefr = 0 . Estas tris condicòes estabèlece m : a) a passagem de Bp ; da p r o d u c a o p r i v a d a para a b) o limite da o r g a n i z a c a o p r o d u c a o de Bp; eficiente producao coletiva da acio coletiva c) a racionalidade da convivencia coletiva e frae-ridar». pac ifica para a entre acao A t i p o l o g í a de p o l í t i c a s p ú b l i c a s deriva de sugestao de J a m e s Wilson e pode ser b r e v e m e n t e descrita. 21/ Toda política, por d e f i n i c a o d o g m á t i c a aqui, b e n e f i c i a a alguém e custa algo a alguém. B e n e f i c i o s e c u s t o s podem ser d i f u s o s ou concentrados, como é m o s t r a d o na t a b e l a a s e g u i r : labela 1 BENEFICIOS concent rados I ; concent r a d o s Cusios d i fusos T 1 B - i — i d i fusos I L D I 1 I P o l í t i c a s de tipo A e D sao de fácil identificacao e entendímento Políticas de custos e beneficios difusos (D) configuram claramente a producao de bens públicos, requerendo portanto, em condicoes democráticas normáis, visibi1idade, 21/ Cf. James WILSON MACKIE (ed.), PcedicaœeQt, , "The Social Washington, p o l i t i c s of Beseocisabilila The Brookings Regulation", aod the Institution, in James Busioess 1974. 71 n e g o c i a d o e a c o r d o no processo decisòrio. P o l í t i c a s de tipo A b e n e f i c i o s e custos c o n c e n t r a d o s - tendem a ser produzidas fora da arena visivel de governo e pela via da i n t e r m e d i a d o entre as p a r t e s interessadas e agencias b u r o c r á t i c a s g o v e r n a m e n t a i s . Isso, é claro, quando a c o n c e n t r a d o de custos incide nos grupos que deterao a concentrado dos beneficios. Caso contràrio, tratar-se-á de política de tipo B, quando c e r t o s grupos pagam por b e n e f i c i o s que alcancam pelo menos para além de seus próprios membros. No limite, urna política de tipo B penaliza alguns grupos em inteiro favor de outros caso de política redistributiva s t r i c t o sensu de renda ou social. Finalmente, quando os beneficios sao concentrados e os custos difusos, está-se n o r m a l m e n t e diante de p o l í t i c a s p o p u l i s t a s . Nao obstante o caráter e s q u e m á t i c o da tipologia - como de resto é fatal com t i p o l o g í a s -, eia se mostrará útil no e n t e n d i m e n t o de certas acoes e nao-atoes na h i s t o r i a política b r a s i l e i r a . £ tempo de, após a l g u m a s p á g i n a s de aridez, organizar evolucao da e s t r u t u r a institucional b r a s i l e i r a de acordo com nocoes recém-estabelecidas. a as A expansao da economia urbano-industrial brasileira ñas tres p r i m e í r a s décadas deste século nada teve de e s p e t a c u l a r . Ao contrario, ademais de modestas taxas a n u a i s de crescimento 4,6%, entre Í91i e 1919, e 3,9% entre 1920 e 1928 -, apresentou acentuado desequilibrio setorial. A indùstria textil, por exemplo, grande a b s o r v e d o r a de m a o - d e - o b r a , declina de urna taxa de crescimento anual de 3,7%, no p e r i o d o 1911/1919, para 1,9% ao ano no período s u b s e q u e n t e . gg/ Nao obstante, a populado ocupada na indùstria, na década de 20, era considerave1mente superior á da década de 1900 13,8% do total da populado ocupada, na década de 20, contra 3,4%, em 1900. Entre outros fatores, deve-se a m o d i f i c a d o por certo ao assai ar lamen t o de antigos empregados domésticos e de ex-artesaos recém-expropriados. Dai a substancial queda na p o p u l a d o ocupada no setor de servicos, a c o m p a n h a n d o o c r e s c i m e n t o da mao-de-obra fabril (43,2% do total da PEA, em 1900, para 16,5%, em 1920). 23/ Por mais p r e c a r i o que seja o valor d a s estatísticas para a q u e l e s períodos, é difícil acreditar que nao tenham apreendido p e l o menos a tendencia geral do processo. Ai estao, ademais, o levantamento do n ú m e r o de associacoes de t r a b a l h a d o r e s criadas na cidade de Sao Paulo, já citadas, nos períodos 1888/1900 e 1915/1929. E, além disso, o número de greves, também crescente. Seja pelo a u m e n t o s i g n i f i c a t i v o do número de operários, seja pela evolucao organizacional destes, ou ainda por ambas as razoes, a evolucao da economia urbano-industrial imporá ao empresariado a mesma dupla lógica a que está sujeito o operariado: a d i f e r e n c i a d o organi zacional de seus c o m p e t i d o r e s , 22/ Cf. Anibal CCES£Ì!!!EQTQ 23/ VILELLA da e Wilson EcQQQtDia SUZIGAN, Política Snasileica IPEA/INPES, 1973, tabela V.9, P. Ibidem, tabela B.23, P. 288. 172. - de Governo 18S2=I245, e R.J. 72 a busca do monopolio da r e p r e s e n t a c a o de interesses setoriais (como m e c a n i s m o de e l i m i n a c a o do f r « « - r i d » r ) e o confronto com o c o m p e t i d o r de classe, o qual , pela inexorável lògica do mercado, deverà compulsoriamente consumir um ¡nal eyblicQ por eie produzido, producilo esta que só pode ser evitada pela producilo a l t e r n a t i v a , por parte de um ou de alguns empresarios, de um bem c o l e t i v o a ser c o n s u m i d o por todos os e m p r e s a r i o s do setor. Nao obstante a base fragmentaria das evidencias ainda d i s p o n í v e i s , sobretudo em relacao ao movimento oper'aio, as i n f o r m a c o e s e x i s t e n t e s ilustram c o n v i n c e n t e m e n t e a p1ausibi 1idade da lógica da acao coletiva a n t e r i o r m e n t e descrita. Encorajador, sobretudo, é o fato de que, em nenhuma das fontes até aqui c o n s u l t a d a s , tenha-se e n c o n t r a d o qualquer evidencia significativa contraditória ao modelo proposto. Os parágrafos seguintes descrevem s u m a r i a m e n t e a e v o l u c a o do confi ito social, de acordo com a lógica proposta. A organizacao dos interesses económicos teve lugar imediatamente após a constitucionalizacao do jovem país independente. Em 1827, cria-se a Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional, para p r o m o v e r os interesses da agricultura, do comercio e da industria p r o p r i a m e n t e dita, nesta ordem. A Sociedade segue-se, em 1834, a AssociacSo Comercial do Rio de Janeiro, m e n o s abrangente em escopo geográfico, porém mais nítida quanto aos interesses que defenderia. A Sociedade, todavía, foi a mais i m p o r t a n t e das duas pela maior parte do século passado. Contando com o reconhecimento e respeito dos p o d e r e s públicos, a Sociedade funcionava como um corpo consultivo do Estado, estando o f i c i a l m e n t e ligada ao M i n i s t e r i o e Secretaria do Estado dos N e g o c i o s do I m p è r i o de 1833 a 1850. Após 1861, a Sociedade tornou-se um órgao do entao recentemente criado M i n i s t e r i o da A g r i c u l t u r a , C o m e r c i o e Obras Públicas. Sua funcao era a de fornecer c o n s e l h o s quanto á concessao de privilegios para i m p o r t a c a o de m a q u i n a r i a para a agricultura ou industria ou para o e s t a b e l e c i m e n t o de n o v a s industrias. A lei de patentes de 1830 contou com ativa participado da Sociedade. Por esta lei, o governo imperial podia conceder cartas patentes garantidoras, por prazo determinado, de m o n o p o l i o sobre invencoes, estabelecimento de nova indùstria ou isendo de taxas a l f a n d e g á r i a s . Entre 1850 e 1880, a Sociedade converteu-se no único órgao de julgamento de tais pedidos. Dado o conflito latente entre interesses agrícolas e industriáis, era de se esperar crescente controvèrsia em torno de suas decisoes. A segunda lei de patentes, de 1882, t r a n s f e r i u a r e s p o n s a b i 1 i d a d e exclusiva de julgar os pedidos para o g o v e r n o . A d e c a d e n c i a institucional da S o c i e d a d e se evidencia, a seguir, pela c r i a d o , em 1881, da Associacao Industrial do Rio de Janeiro e pelo s u r g i m e n t o da A s s o c i a c a o Comercial de Sao P a u l o , em 1894. Naturalmente, urna especializada Sociedade Nacional de Agricultura é fundada em 1987 . A especializado período, i n t e n s i f i c a d o organi zacional indicava, de c o n f l i t o s c o m p e t i t i v o s sobretudo no entre regioes 73 agrícolas e entre agricultores e comerciantes. Assim, já em 1874,_ fazendeiros e comerciantes da Bahía reclamavam mais atencao para a agricultura do Nordeste, enquanto um Congresso de Lavradores, Agricultores, Proprietarios e Capitalistas das Provincias do Nordeste, em 1878, defendía urna política de livre comercio contra a concessao de p r i v i l e g i o s g o v e r n a m e n t a i s á a g r i c u l t u r a do c e n t r o - s u l . A organizacao e s p e c i a l i z a d a dos i n t e r e s s e s industriáis se faz a s e g u i r . S u c e d e n d o á A s s o c i a c a o I n d u s t r i a l , c r i a - s e no Rio de J a n e i r o um C e n t r o I n d u s t r i a l , que ao longo de dois anos de vida (1890/92), fixará na agenda pública a demanda dos industrialistas contra a agricultura e contra o comercio importador: p r o t e c a o t a r i f a r i a e c r é d i t o s u b s i d i a d o . Em t o r n o do problema tarifario congregavam-se os principáis interesses económicos do país, seriadamente descritos por uma intérprete: "industriáis, buscando protecao contra manufaturados importados; importadores, que tinham melhor mercado quando as tarifas estavam baixas; industrias e s t r a n g e i r a s , que l u c r a r i a m m a i s via e x p o r t a c a o , na a u s e n c i a de barreiras alfandegárias; plantadores de café, que temiam retaliacao, caso o Brasil f i x a s s e barreiras elevadas; e o próprio Estado, que auferia renda dos impostos sobre importacoes." 24/ Sendo esses interesses com frequencia contraditórios, era natural que se organizassem especializadamente. A organizacao do s e t o r industrial mais importante do Rio de J a n e i r o á é p o c a - o s e t o r textil - se dará, entretanto, por c o n t a de m o t i v a c a o m a i s c o m p l e x a . Q u a n d o se cria o Centro da Indústria de F i a c a o e T e c e l a g e m do Rio de J a n e i r o , em 1902, seu objetivo é duplo: de um lado, t r a t a v a - s e de combater a política de estabi 1izacao de J o a q u i m Murtinho - e neste s e n t i d o c o m p e t i a c o n t r a i m p o r t a d o r e s e a g r i c u l t o r e s - , de o u t r o , c o n s t i t u i u uma r e s p o s t a á organizacao sindical e operária e c o n s e q u e n t e s g r e v e s r e i n c i d e n t e s no s e t o r . 2 g / Aprofundando-se a c r i s e e c o n ó m i c a , t o d o s os s e t o r e s i n d u s t r i á i s foram a t i n g i d o s , e nao a p e n a s o s e t o r textil - atingidos pela política do g o v e r n o e pela m o b i l i z a c a o s i n d i c a l . D i a n t e d i s s o , o C e n t r o de F i a c a o e Tecelagem combina-se com a r e m a n e s c e n t e S o c i e d a d e Auxiliadora da I n d u s t r i a N a c i o n a l e c r i a - s e , em 1904, o C e n t r o I n d u s t r i a l do Brasil (CIB) . Dois sistemas paralelos desenvolvem-se a partir daí : o das organizacoes industriáis c o m o um t o d o , de que o CIB é exemplo, e o das organizacoes setoriais. Se as organizacoes abrangentes eram i m p o r t a n t e s no confronto da indústria, como um todo, com os fazendeiros e com a burguesia compradora, as organizacoes setoriais eram f u n d a m e n t á i s no conflito com o m o v i m e n t o o p e r a r i o . Esta d i s t i n c a o é altamente r e l e v a n t e , p o i s d i s t i n g u i r á a p o s i c a o do e m p r e s a r i a d o i n d u s t r i a l , g4/ L E O P O L D I , OEi p. 68. tem c o m o base o excelente £ 5 / Ibidem, P . 35. Toda a d e s c r i c a o até a g o r a feita t r a b a l h o de M. A n t o n i e t a L e o p o l d i . 74 quando se trata de lidar com f r s e - r i d e r s no confronto com os o u t r o s s e t o r e s da classe burguesa (ele nao se importará, e ver- s e - á porque), assim como a p o s i c i o que toma quando se trata de free-riders de um mesmo setor industrial. Eis urna descrido que ilustra s i m u l t á n e a m e n t e a m o t i v a d o empresarial para a acao coletiva (evitar o consumo c o m p u l s o r i o de um nal eúfelí&a) e a necessidade de eliminar o free-rider: "em memorial enviado ao P r e s i d e n t e da República, já no ano de 1918, o Centro da Indústria de Calcados e C o m e r c i o de C o u r o s faz urna breve r e c a p i t u l a c a o dos problemas enfrentados até entao, face á acao da Liga de Operários em C a l c a d o s . Segundo o relato, a Liga, pressionando pela jornada diária de oito h o r a s de trabalho e a b a n d o n a n d o o a c o r d o firmado anteriormente, passara a executar urna espécie de plano, cujo p r o p ó s i t o era atuar em cada fábrica isoladamente, de forma que o industrial fosse o b r i g a d o a ceder. Caso contrario, sua fábrica ficaria permanentemente fechada, enquanto os grevistas seriam s u s t e n t a d o s pelos operários das fábricas que estivessem funcionando". Evidentemente, esta estrategia operária só p o d e r i a obter s u c e s s o na medida em que o e m p r e s a r i a d o estivesse desorganizado. Por outro lado, seria do interesse de cada e m p r e s á r i o em p a r t i c u l a r e n t r a r em acordo com os grevistas, ter sua fábrica funcionando e conquistar maior fatia do mercado. Por isso, segue o relatório, "esta acao tena comecado em fábricas nao filiadas ag Centro (grifo do autor), as quais, desorientadas (sic!), submeteram-se ás exigencias. A esta altura, os (demais) fabricantes de calcados procuraran! o Qentro gara urna reacio coletiva^. a ¿nica gue Egderia ser eficagj. nao SQ eata a m a n u t g n d o dg§ egQÍSS definidgs Eilg EatrgnatOj. guantg eana g 3 Q Í 9 U Í l a m g n t S da gQd§ SEgYÍSla (grifo do autor). gé/ A lógica da acao coletiva se revela ai claramente em operado. Ela se inicia, fundamentalmente, com o objetivo de evitar o c o n s u m o c o m p u l s o r i o de um mal público, mediante a producao alternativa de um bem coletivo, colocando-se posteriormente o problema de e l i m i n a d o do fr««-ridtr Em Sao Paulo, assim como no Rio de Janeiro. Outra transcricao. "Cabe ressaltar que, já neste momento (1919), o operariado a c h a - s e mais o r g a n i z a d o do que o patronato C...3. No Estado de Sao Paulo existem 49 d e s s a s associacoes, sendo 10 na Capital. No t r a n s c o r r e r da década de £0, o p a t r o n a t o aumenta o número de suas organizacoes por setor. A f o r m a d o de urna entidade de classe industrial, g e r a l m e n t e , visava á defesa dos interesses económicos mais imediatos do setor industrial nela congregado. Entretanto, a n e c e s s i d a d e de uniao do e m p r e s a r i a d o frente aos operários em greve é outro motivo forte de que resulta a criado de muitas a s s o c i a c o e s p a t r o n a i s " . 27/ g6/ A t r a n s c r i c a o faz parte do r e l a t ó r i o de 1918 da Diretoria do Centro de Indústria de C a l c a d o s e C o m e r c i o de Couros. Ver, Angela de Castro GOMES, Burguesía e Icsbalho^. Política e Legislada Sgcial og Brasil = í21Zzl23Z, R.J., Campus, 1979, p. 130. 2Z/ Cf. Mariza Saenz LEME, B n a s i l g i E B S - 1 2 1 2 Z 1 2 3 5 , R.J., S IdgQlQgia Vozes, 1978, P. das 10. Industriáis 75 Iniciada a acao c o l e t i v a , a reduelo do Í5"«®TÍáir torna-se imperiosa. Dois exemplos, um no Rio de Janeiro, o u t r o em Sao Paulo, de como a questao foi claramente colocada pelo empresariado, em 1919, Na s e q u i n c i a da C o n f e r e n c i a de Paz de Genebra, os i n d u s t r i á i s aceitam o principio das oito horas de jornada, descanso semanal, aumento salarial de 5 0%, com e q u i p a r a c i o entre h o m e n s e mulheres, e proibicao do trabalho do menor de 14 anos. Este foi o acordo firmado entre o Centro dos Industriáis de F i a c a o e Tecelagem de A l g o d a o e a Uniao dos Operarios em Fábricas de Tecidos, s e g u i d o por acordos s i m i l a r e s entre vários outros c e n t r o s e m p r e s a r i a i s e s i n d i c a t o s operarios. Neste mesmo ano, todavia, o patronato c o m e c a a sabotar o acordo, tendo em vista, de a c o r d o com sua argumentacao, as diferentes condicoes de producilo ñas d i v e r s a s r e g i o e s do país. No Rio de Janeiro, o C e n t r o da I n d u s t r i a de C a l c a d o s e C o m e r c i o de Couros, que havia solicitado a r e g u l a m e n t a c a o legal da jornada de oito horas, recua, ponderando sobre a inexeqllibilidade da medida, "eaauaatQ a i a f o s s e a c e i t a a s e todas as f á b r i c a s da c i d a d e (grifo do autor). §§/ Em Sao Paulo, o estabelecimento Pinotti Gamba, que havia concordado em conceder o a u m e n t o salarial, reserva-se "o direito de r e s t a b e l e c e r os salários anteriores, visto que, pela d e s i g u a l d a d e do preco da m a o - d e - o b r a , os s e u s produtos nao poderiam competir com os da c o n c o r r i n e i a " . g9/ Nao está o m o v i m e n t o operario isento do p r o b l e m a do fra«= - r i d « r , isto é, daquele que fura greve, que aceita e m p r e g o por salàrio menor, que se recusa a participar das associacoes. 0 inicio da acao c o l e t i v a operária d e p e n d e fundamentalmente de voz e persuasao. Desconheco teorias que diem conta das motivacoes desses abnegados, teimosos e renitentes líderes que conseguem iniciar a organizacao do movimento operário. No caso do Rio de Janeiro da década de 10, sao onze os líderes presentes e falantes em todas as a s s e m b l é i a s , responsáveis pela organizacao da poderosa Federacao Operária. 30/ Em qualquer caso, porém, a condicio para eliminar o frt«-rid«r, urna vez criada a organizacao, consiste em obter alguma forma de monopolio de representacao, pelo m e n o s em relacao a um segmento determinado de t r a b a l h a d o r e s . E tal é a demanda Eolítica fundamental do m o v i m e n t o o p e r á r i o ñas tres primeiras décadas do século. Além das r e i v i n d i c a c o e s por m e l h o r e s c o n d i c o e s de trabalho: salario, seguranca, descanso a permanente demanda por reconhecimento como interlocutor legítimo e exclusivo, quer em relacao ao e m p r e s a r i a d o , quer em relacao ao Estado. Antes da década de 30, escassa, se alguma, é a reivindicacao operária de natureza "social" moderna e a montagem do Estado de Bem-estar já estava em andamento 28/ Nao só frase entre aspas, mas praticamente todo parágrafo, á e x c e c a o dos comentarios, e n c o n t r a - s e em LEME, g e , cit . P. 102-104. 22/ Saenz LEME, BE~ cít^. P. 3®/ Cf. Maria Cecilia V e l a s c o e CRUZ, é m S E g l s g Mggrsi. dB CBSDEBEtamentS QEgEÉEiB Da B e E Ú b l i E a ygiha, IUPERJ, 1981, passim. em este Saenz Hatises mimeo, 76 praticamente todo o mundo civilizado. Fundamentalmente, a demanda é por reconhecimento da identidade p o l í t i c a do operariado, que n o Rio de J a n e i r o e em Sao P a u l o , ao final d o s a n o s 20, já a t i n g í a n ú m e r o s u p e r i o r ao n ú m e r o de e l e i t o r e s . Até 1930, esta é a dinàmica do setor urbano-industrial brasileiro. Conflitos de trabalho dando lugar á formado de o r g a n i z a c o e s d e um lado e de o u t r o , g e s t a d o de i d e n t i d a d e s c o l e t i v a s ao s a b o r d o s c i c l o s e c o n ó m i c o s . C i c l o que, na década de 20, traria violenta repressào ao movimento operario, na sequela da crise economica do período. A e r o s a o do m o d e l o o l i g á r q u i c o se i n t e n s i f i c a v a e a r e v o l u c a o , ao final da década, viria redefinir as bases da competido econòmica, política e social. E n t r e 1931 e 1934, em acelerada sucessao de decretos, sao reconhecidas, aceitas e atendidas todas as demandas do m o v i m e n t o s i n d i c a l , g e r a d a s d e s d e 1907, de tal s o r t e que a lei de s i n d i c a l i z a c a o , q u a n d o p r o m u l g a d a em julho de 1934, assegurou aos sindicatos "o d i r e i t o de lutar por seus interesses económicos e demandar, como órgao colaborador do poder público (artigo 6 o . d o d e c r e t o ) , a r e g u l a r i z a d o da j o r n a d a de trabalho, em g e r a l , e de m u l h e r e s e m e n o r e s , em p a r t i c u l a r , e em i n d ú s t r i a s insalubres (artigo 8o., i n c i s o c), a melhoria de salários, a d e m a i s da f i x a c a o do s a l à r i o m í n i m o (inciso d, mesmo artigo)". Essas d e m a n d a s nao t i n h a m m a i s objeto, estando tudo regulado sob o p a t r o c i n i o e fiscalizado do Ministerio do Trabalho, c r i a d o a p ó s a R e v o l u c a o de 30. 31/ • que há d e n o v i d a d e no d e c r e t o de s i n d i c a l i z a c a o , de no. 2 9 . 6 9 4 , de 12 de j u l h o de 1934, n a o é a consagrado legal das d e m a n d a s o p e r á r i a s , já a n t e r i o r m e n t e s a n c i o n a d a s , m a s a c g n c e s g i o do privilègio p o l í t i c o de monopolio da representado aos sindicatos únicos por c a t e g o r í a s profissionais. O objetivo político máximo do movimento sindical a conquista do monopolio da r e p r e s e n t a d o de um segmento específico era garantido pelo poder público, em troca, porém, da automonia sindical. A reacao é significativa. A organizado sindical operária, que vinha c r e s c e n d o sob a bandeira libertadora da R e v o l u c a o de 30, p e r d e o i m p e t o a p a r t i r de 1934. Com e f e i t o , sao 39 o s s i n d i c a t o s r e g i s t r a d o s em 1931, e já sao m a i s de 259 d o i s a n o s d e p o i s , em 1933; n ú m e r o s que b a i x a m p a r a 208, em 1934, e 69, em 1935. Entre 1931 e 1934, vigiam a pluralidade e a competido sindicáis; a partir de j u l h o de 1934, imperava o sindicato único, ó r g a o c o l a b o r a d o r do poder p ú b l i c o , f i s c a l i z a d o em sua p o l í t i c a e e c o n o m i a i n t e r n a s p e l o M i n i s t é r i o do T r a b a l h o . Nao obstante, as greves prosseguiam, a partir de 1931. P r e s t e s a se e s g o t a r a a g e n d a de d e m a n d a s t r a b a l h i s t a s em s e n t i d o estrito, sem reducao da a g i t a d o sindical e sem estruturas políticas estabilizadas, inicia o governo revolucionário, ás 3 1 / Para a evolucao da U . G . S A N T O S , CicJadania política trabalhista no período e J u § t i t a , R.J., C a m p u s , 19B7. ver 77 vésperas da Constituinte de 1934, o primeiro ciclo de urna politica social de governo coir a criado do Instituto de A p o s e n t a d o r i a e Pensoes dos Marítimos. A r e l a d o entre este c i c l o dos anos 30 e o processo privado iniciado na década anterior já está bem documentado. 32/ Importa qui c o n s i d e r a r que, con seu modelo tripartite de finaneiamento ( e m p r e g a d o r e s , e m p r e g a d o s e E s t a d o ) e com sua a d m i n i s t r a d o colegiada, con r e p r e s e n t a n t e s de e m p r e g a d o r e s , de empregados, mas com o presidente nomeado pelo poder público, firma-se um modelo institucional de desenvolver urna política pública, a política social, no caso, que ilustra a cela A da Tabela 1. T r a n s f e r e - s e a a d m i n i s t r a d o da política para a área invisível das burocracias do Estado e dos sindicatos p a t r o n a i s e de e m p r e g a d o s . De acordo com o mesmo modelo inaugurado pelo IAPM, seguem-se o IAPC e o IAPB, em 1934, enguanto o IAPI, o IAPETEC e o IPASE já serio criados em 1938, após o golpe ditatorial de 1937. Nio obstante, as greves persistirán! até 1936, p a r t i c u l a r m e n t e após a C o n s t i t u i d o de 1934 haver r e s t a b e l e c i d o o principio da pluralidade sindical. Entre 1931 e 1936, com efeito, a média de greves por ano no Estado de Sao Paulo é de 17, a mais elevada média de greves por ano desde o inicio do século. 33/ 0 recurso á politica social, para resolver a crise de particípacao em um contexto de escassa institucionalizado política, deixou como saldo apenas um e s t i l o de produzir essa política - o modelo burocrático - s u b t r a í d o á agenda visível de competido legítima. A retomada do crescimento económico sustentado, a partir de 1933 com taxas de c r e s c i m e n t o da producao industrial da ordem de 11,3% ao ano 34/ - nao a r r e f e c e r a o ímpeto grevista, nem a belicosidade do L e g i s l a t i v o , nem as demandas liberalizantes do e m p r e s a r i a d o . Por que, entio. 1937? Em primeiro lugar, é s a b i d o que a i n d u s t r i a l i z a d o p r o d u z o operariado, que o operariado produz greves por motivos económicos e por motivos políticos, e que só depois de resolvido o problema político - monopolio prático da representado, criado de fortes c e n t r á i s s i n d i c á i s - é que estes mesmos sindicatos, agora fortes, colaboram para o a r r e f e c i m e n t o das greves. 35/ Para que tal ocorra, e n t r e t a n t o , é necessário que o processo siga seu curso natural, tendo sido aqui d i t a t o r i a 1 m e n t e i n t e r r o m p i d o . Combalido pelo impacto das g r e v e s ininterruptas e pelo incómodo de um Legislativo independente, viu-se o governo provisorio diante dos resultados desfavoráveis das eleicoes 32/ Ibidem, passim. 33/ Cf. Luiz Werneck VIANNA, L i b g t a l i S I B Q g S ì n d i c a t s DB Btasil, R.J., Paz e Terra, 1976, p. 144. 34/ C f . V I L E L L A e SUZIGAN, Q E ^ e i t ~ . tabela VI. 1, p. 180. 35/ Cf. Geoffrey K. IGHAM, S t r i k e s and I n d u s t r i a l Conflict, London, Macmillan, 1974; G. BAIN e F. E L S H E I K H , UniQD GCQtìth and tbg B u s i n g s s C a d e . Oxford, B l a c k w e l l , 1976. 78 estaduais de 1935, ñas quais as v e l h a s o p o s i c o e s oligárquicas recuperaram o poder em várias unidades da federado. 36/ Unidades estas, a d e m a i s , que p o s s u i a m poder m i l i t a r p r ó p r i o . E, aqui, introduz-se o problema dos militares, sumariado rápidamente a seguir. A p o l í t i c a da e l i t e i m p e r i a l em r e l a c a o aos m i l i t a r e s foi a da "erradicado", como acentúa Edmundo Campos. 37/ Por erradicacáo entende-se a reducio máxima de qualquer papel político e social a t r i b u i d o ' a o s m i l i t a r e s . N a o a p e n a s o s civis desdenhavam os valores militares. M a i s do que isso, n e g a v a m - l h e s recursos, c r i a v a m um p o d e r a r m a d o p a r a l e l o - a G u a r d a Nacional, sob controle estrito da oligarquía - e impunham-1hes urna lideranca civil. Dos sessenta e t r i s m i n i s t r o s da Guerra do S e g u n d o I m p e r i o , 37 foram c i v i s e 86 m i l i t a r e s . 3 8 / Ora, n e n h u m a t o r p o l í t i c o s e c o n s t i t u í c o m o tal sem deter e x c 1 u s i v i d a d e s o b r e algum t i p o d e recurso, a i n d a que seja um voto s i n g u l a r . As i n v e s t i g a c o e s de E d m u n d o C a m p o s e de José M u r i l o de C a r v a l h o r e v e l a n c o m o , a p a r t i r da P r o c l a m a d o da República, o Exército buscou adquirir e x c l u s i v i d a d e sobre competincia bélica, vía m o d e r n i z a c a o dos recursos humanos e materiais, recursos a d e q u a d o s a urna forca a r m a d a p o l i t i c a m e n t e r e l e v a n t e , e s o b r e t u d o exclusividade quanto a recrut ament o, administrado e uso da violencia. 0 p r o b l e m a da m o d e r n i z a c a o foi encaminhado, inicialnente, p e l o e n v i ó de o f i c i á i s b r a s i l e i r o s á A l e m a n h a para estudos, ao que se s e g u i u a v i n d a de urna m i s s a o m i l i t a r francesa, já na d é c a d a de 80, q u a n d o o s t e n e n t e s e s t a v a m d e i x a n d o c l a r o que, tal c o m o a c o n t e c e r á d u r a n t e as " s a l v a c o e s " do p e r í o d o p r e s i d e n c i a l de H e r m e s da F o n s e c a , os m i l i t a r e s b r a s i l e i r o s nao se i d e n t i f i c a v a m p o l í t i c a ou i d e o l ó g i c a m e n t e c o n a s o l i g a r q u í a s (oligarquías, de resto, que detinham poder armado privado). 0 problema de exclusividade sobre a administrado da violencia foi sendo solucionado passo a passo. 0 alistamento militar obrigatório e o recrutamento por sorteio, em 1916, contribuiram significativamente para a n a c i o n a l i z a d o do Exército, enquanto o r g a n i z a d o , e a d i v u l g a d o de s e u s v a l o r e s em escala nacional. A extincao da Guarda Nacional, em 1918, a f a s t o u o penúltimo o b s t á c u l o ao m o n o p o l i o da f o r c a e, f i n a l m e n t e , com a c r i a d o da figura do Estado-maior, surge urna nova concepcao de defesa nacional, dependente do p r o g r e s s o m a t e r i a l e da m o d e r n i z a c a o do p a í s . Isto em 1980, q u a n d o o s p a r t i d o s p o l í t i c o s a i n d a e n g a t i n h a m 3 6 / Cf. Robert LEVINE, Jhe èstasi Beaime, U n i v e r s i t à Press, 1970. 3 Z / Cf. E d m u n d o C a m p o s C O E L H O , Eo Busca da Forense Universitaria, 1976. 3 8 / Ibidem, t a b e l a 11, P. 54. N.Y., Columbia IdgQtidade, R.J., 79 e nao feudos conseguem ultrapassar estaduais.32/ o horizonte de seus respectivos Maduro enquanto ator político, apostando no progresso industrial como condicio para seu pròprio engrandecimento, dotado de baixa taxa de d e s c o n t o do f u t u r o , ao contràrio do e m p r e s a r i a d o da é p o c a , e face á a m e a c a oligárquica de retomada do poder sendo a s u s t e n t a d o política civil do governo altamente p r e c à r i a - , nao custou ao E x é r c i t o p e r c e b e r que o apoio a urna ditadura liderada por V a r g a s c o m p a t i b i 1 izaria o projeto de crescimento organizacional, s o l i d à r i o ao avanco industrial do país, com a eliminado do último foco alternativo de poder armado - as milicias estaduais. Em 1921, as forcas regulares do E x é r c i t o e q u i v a l i a m ás forcas militares estaduais - 29.000 homens. Em 1932, já surge urna diferenca favorável ao E x é r c i t o <58 mil c o n t r a 3 3 mil), que se a c e n t ú a em 1937 (75 mil c o n t r a 38 m i l ) . 4 0 / Em qualquer caso, t r a t a v a - s e a i n d a de um p o d e r m i l i t a r autónomo, independente do E x é r c i t o e, c o m o tal, i n t o l e r á v e l . Sem d ú v i d a , o golpe de 1937 apaziguou os anseios de exclusividade dos militares, reduziu á impotencia a ofensiva oligárquica e disciplinou operarios e empresários, porém nao da mesma maneira. A ditadura restabeleceu a unicidade sindical - o sindicato ú n i c o -, c o m o órgao de c o l a b o r a d o com o poder p ú b l i c o , em troca do monopolio de r e p r e s e n t a c a o . No e n t a n t o , o sindicato único, c o m o c o n c e s s a o do E s t a d o , nao possuía poder coercitivo s o b r e sua clientela potencial, p o s t o que sua vida administrativa e política era controlada pelo M i n i s t e r i o do Trabalho. CsosesueDtemeDte^ tedas gs reereseotadgs dg siodicatg erara egieotiais £c9a;nidtcai dada a imegssibilidade do sindiEatg retaliar eyeotuais faltas de eartíEieacag § colaborado. E foi j u s t a m e n t e o que ocorreu, após o golpe de 1937, no movimento sindical brasileiro: enquanto o número de s i n d i c a t o s r e c o n h e c i d o s m u í t i p 1 i c a v a - s e v e r t i g i n o s a m e n t e (695 em 1936¡ 955 em 1938; 1111 em 1939), o número de associados d e c r e s c i a p a u l a t i n a m e n t e , c o m o s e g u e : 1 8 9 . 6 1 9 em 1936; 1 5 2 . 8 5 5 em 1938; 1 7 2 . 4 4 0 em 1939; 1 4 6 . 5 3 7 em 1940; e 127.871 em 1941. 4 1 / Os s i n d i c a t o s ú n i c o s , n a o o b s t a n t e o m o n o p o l i o de representado, ou m e l h o r , p r e c i s a m e n t e por isso, sem a c o r r e s p o n d e n t e c a p a c i d a d e de r e t a l i a d o , e n c a m i n h a v a m - s e para o d e s a p a r e e i m e n t o , nao fora o D e c r e t o no. 4 . 2 9 8 , de 14 de m a i o de 1942, e s t a b e l e c e n d o o i m p o s t o sindical, isto é, a c o n t r i b u i d o c o m p u l s o r i a d o e m p r e g a d o p a r a a manutencao do "seu" sindicato. Adicion almente, financiavam-se com esses recursos, c o m o se f i n a n c i a m a t é hoje, os gastos correntes do Ministério do T r a b a l h o . 39/ Toda esta p a s s a g e m está b a s e a d a em J o s é M u r i l o de CARVALHO, "As Forcas Armadas na Primeira República. 0 Poder Desestabilizador", In Histgria Geral da CiyilizaQag B r a s i l e i r a , T o m o III, 2 o . V o l u m e , S . P . , D i f e l , 1977 . 30/ Cf.LEVINE, QE* £Ít^. tabela 2, p. 157. E s s e p r o b l e m a vai r e s s u r g i r d e p o i s de 1946 e p e r m a n e c e l a t e n t e até h o j e . 3 1 / Cf. Werneck V I A N N A , g e . cit-- t a b e l a s VI e V I I , p. 2 2 8 - 9 . 80 A e v o l u c a o do s i n d i c a l i s m o empresarial é distinta a partir de episòdio e x e m p l a r . Em 1919, um grupo de industriáis de tecidos do Rio de Janeiro d i v e r g e da d i r e t o r i a do Centro Industriai do Brasil e funda urna nova e n t i d a d e setorial e regional: o Centro dos Industriáis de F i a c a o e Tecelagem de Algodao. 0 motivo aparente sao divergencias em torno da aceitacao ou nao da demanda operarla de oito horas de jornada, aumento salariai, etc., defendidas pelo p r e s i d e n t e do CIB, Jorge Street, com oposicao do g r u p o mencionado. 0 motivo real, todavia, é a d i s t r i b u i c a o do e m p r é s t i m o que o Governo Federal concede ás industrias em crise. Jorge Street é contra o e m p r é s t i m o mas, se houver, que seja e q u a n i m e m e n t e repartido entre as industrias em crise em todo o país. Contra isso punham-se os industriáis cariocas que, com maior c a p a c i d a d e de articulacao e de pressao política, podem conseguir a concessao do empréstimo sem n e c e s s i t a r da c o o p e r a c a o de o u t r a s federacoes regionais. E é isto o que de fato o c o r r e quando, r e c o r r e n d o a L e o p o l d o Bulhoes, ex- M i n i s t r o da Fazenda, o b t é m - s e o e m p r é s t i m o pretendido, repartido entre os p a r t i c i p a n t e s c a r i o c a s do grupo de pressao. 42/ 0 que o e p i s o d i o ilustra é o fato de que, d e p e n d e n d o do tipo de problema e do a m b i t o da organizacao, a apropriacao dos b e n e f i c i o s deve ser funcao do e s f o r c o feito para produzi-lo. E o ambito da o r g a n i z a c a o deve ser tanto quanto possível aproximada da m a g n i t u d e de c o l a b o r a c a o n e c e s s à r i a á p r o d u c á n do beneficio. No caso relatado, produzir o beneficio, via CIB, implicava em repartí-lo com um número de industriáis superior ao número necessàrio para produzí-lo e que, com efeito, nao precisou colaborar. E s s e s p a r t i c i p a n t e s em excesso seriam na realidade fr«»-rid«ri, tal como desejava o presidente Jorge Street. Ao c o n t r a r i o do s i n d i c a l i s m o operario, o movimento empresarial nao perdeu sua c a p a c i d a d e de controlar seus fr»«-riders. Para tanto, p r e c i s o u derrotar a p r o p o s t a oficial de sindicalizacao vertical, por ramos de atividade, análoga á s i n d i c a l i z a c a o o p e r á r i a . Tal c o m o a classe percebeu corretamente, a proposta governamental criaria compulsorios fr«t-ridtr« empresariais. A resistencia da lideranca empresarial é forte e o governo termina por recuar, aceitando a existencia de estruturas mais a m b i c i o s a s e p r ó x i m a s ao d e s e j o governamental, ao lado de organizacoes mais especializadas, com capacidade r.et al iat ór ia sobre p o t e n c i á i s fr««-rid»rt. 43/ A g r e g a d o s ou desagregados conforme a conveniencia, sao esses grupos que irao p a r t i c i p a r dos conselhos que se criam d u r a n t e o período d i t a t o r i a l , e que vao compor, juntamente com as liderancas sindicáis, as burocracias previdenciárias e trabal histas. P a r a l e l a m e n t e , o DASP, criado em 1938 para promover a reforma do Estado brasileiro, muítip1ica-se em governos e s t a d u a i s , através dos "daspinhos". Através de urna política 45/ Esse episodio e relatado em Mariza Saenz LEME, P.11-1S. 43/ Essa disputa e r e l a t a d a em S a e n z LEME, ge^ cit^., e LEOPOLDI, QE^ C i U ge^ cit^., Antonieta 81 t i p i c a m e n t e b u r o c r à t i c a , a c o m o d a d a por i n s t i t u i c o e s um tanto ou quanto di seip1inadoras, é que se forman as identidades políticas do e m p r e s a r i a d o e do o p e r a r i a d o , a v e s s o s aos partidos, habéis na p o l í t i c a de c o r r e d o r e das n e g o c i a c o e s de cúpula. Ao se restaurar o processo p o l í t i c o c o m p e t i t i v o em 1946, com o inicio da formacao de partidos n a c i o n a i s , a c a r a c t e r í s t i c a m a i s m a r c a n t e do período que vai até 1964 será j u s t a m e n t e a de c o n f r o n t o entre a política burocrático-tecnocrática, vulnerável á desigualdade na distribuitilo invisível de recursos políticos, e a política Parlamentar, de e s c a s s o poder de c o n t r o l e sobre a outra parte do sistema. Detendo, todavia, recursos c o n s t i t u c i o n a i s de instancia aprovadora ou iniciadora de políticas em certas áreas, os partidos políticos nao r e s i s t i r i o ao fascínio da aprovacao ou recusa de medidas capazes de produzir dividendos eleitorais. Incluem-se, nesse caso, a política do salário-mínimo, do vencimento do funcionalismo, do preeo dos aluguéis, das restricoes ou dos i n c e n t i v o s fiscais. Tanto o segundo governo Vargas, quanto o de Kubitschek e o de Joao Goulart experimentaran! derrotas diante do d e l i r i o p o p u l i s t a (política de Tipo C da Tabela 1), enquanto os parlamentares, por seu turno, se viam frustrados diante da arrogancia e o n i p o t e n c i a dos C o n s e l h o s e Superintendencias sobre os quais nio dispunham de nenhum poder. 33/ A magnitude da escala de t r a n s f o r m a c a o economica e social, que se operou no país d u r a n t e o período a u t o r i t à r i o , nio poderia deixar de produzir i m p a c t o s sobre as i n s t i t u i c o e s pré-64. De um lado, redefinem-se as i d e n t i d a d e s empresariais, alterando os parámetros o r g a n i z a c i o n a i s que permitam aos d i f e r e n t e s segmentos controlarem de modo eficiente possíveis fr»«-rid«r»• Dai a especial izacao e conseqllente aumento de entidades representativas. Em 1978, pesquisa nio exaustiva revelava a existencia de 67 o r g a n i z a c o e s i n d u s t r i á i s e x t r a c o r p o r a t i v a s . 4§/ De outro, r e o r g a n i z a - s e o m o v i m e n t o sindical operário, inclusive o sindicalismo rural, inédito, além das a s s o c i a c o e s p r o f i s s i o n a i s de classe mèdia, de liberáis, etc. 36/ A e x i s t e n c i a de urna s o c i e d a d e plural b a s t a n t e v i g o r o s a é inegável . Resta saber se, afinai, o processo político parlamentar e p a r t i d á r i o irá se encontrar com os segmentos sociais atuantes, competitivos, visíveis. 44/ Todo esse processo està m a g i s t r a l m e n t e descritD em Ihe Eoliti&al and IdealBaiEal Ggastcaiats to Uaoaaement io Brazils 1235=1263- D. Phil. Thesis, SOLA, 1982. 35/ Cf. Renato BOSCHI. Elites Graal, 1979, P. 19®. 36/ Cf. Renato BOSCHI, ò Ènte Vèrtice, 1987. lodystciais e da Assgciagig Lourdes EEBQBOIÌE Oxford, fleoBEraEia. R.J., no Brasil, S.P., 82 REFERENCIAS BAIN, G. & ELSHEIKH, F. Union Oxford, Blackwell, growth 1976. BOSCHI, Renato. A arte Vértice, 1987. da BIBLIOGRAFICAS and associates QS the business Brasil. cacle- Sao de Janeiro, CARVALHO, José Murilo de. As foreas armadas na R e p ú b l i c a : o poder desestab i 1izador. In: Historia Civilizacio Brasileica Säo Paulo, Difel, 1977. Tomo Primeira Seral da III, v.2. Graal, 1979. Elites industriáis e democracia• Rio Paulo, C O E L H O , E d m u n d o Campos. Em busca da identidadeForense U n i v e r s i t a r i a , 1976. Rio de CRUZ, Maria Cecilia Velasco. Amareis e Qegro: c o m p o r t a m e n t o o p e r a r i o na R e p ú b l i c a Velha. Rio IUPERJ, 1981. mimeo. Janeiro, matizes do de Janeiro, FRAZER, Derek. The English poor law and the origins of the British Welfare State. In: M O M M S E N , W.I., ed. Ibe e m e r g e n c e 9Í the welfare state in Britain and Germana- London, Croom Helm, 1981. GOMES, Angela de Castro. Burguesía e tESÖSlhS: legislacäo social no Brasil, 1917/1937, Rio Campus, 1979. HARDIN, Russell. Collective actionUniversità Press, 1982. (Resources HECKSHER, Eli. M e r c a n t i l i s m . IGHAM, Geoffrey K. M a c m i l l a n , 1974. Nel vi 11 e. ihe r ^ i c t o r i a n England- LEFT, N. LEME, Mariza Macmillan, industrial Hopkins 1955. conflict- London, growth o f w o r k i n g c l a s s r e f o r m i s m i n Croom Helm, 1985. ÜOdern mid: economic growth New Haven, Yale 1966. Underdeveloement Saenz, Baltimore, The John for the Future). London, Alien 8 Unwin, 1982. economic d e v e l o p m e n t ) . 1212¿Í2S5 and Strikes KIRK, KUZNETZ, Simon. University Press, London, politica e de Janeiro, Ò and develoement in (v.2. Reassessing Brasil- the ideologia dos industriáis Rio de Janeiro, V o z e s , 1978. London, obstacles to brasileirssx 83 LEOPOLDI, M. Antonieta. io EBDtgniEgcaca BcasilLESSA, Renato. Ô IUPERJ, 1987. LEVINE, Robert. Press, 1970. iDdUStCill AssgEiatigrjs and EgÜti&S Oxford, 1984. (D. Phil. Thesis). iQvgQglg rgeufelitgna. Ihg ü a n a a s neaifflg Sao New York, Paulo, Columbia Vèrtice/ University MACK IE, Thomas & ROSE, Richard. Ihg i Q t g E Q â t i B Q â l âlfflâQâE ElegEtBcal-tlistBEa . New York, The Free Press, 1974. MUELLER, Charles. Dgs g l i a a c a u i a s a a t à c i a s Rio de Janeiro, IPEA/INPES, rindustcial. OLSON JR., Maneur. Ihg IssÌE Bf EgllgEtìyg Harvard Università Press, 1965. ag E E e d g m Ì Q Ì B urfegng; 1983. âEtisn PRZEWORSKI, A. & SRAGUE, John. EaEgrstgnes; a electoral s o c i a l i s m . Chicago, C h i c a g o U n i v e r s i t y RINELINGEN, Gaston, yglfacg ÉUrBEE^. ÔDIgriEl äDd ß u s s i a . SANTOS, W.G. CidadäDia Cambridge, history of Press, 1986. EBliEa and iQdustnialigatißD New York, John Wilea> 1971. g Justica. Rio de Janeiro, Campus, ID 1987. The dual logic of collective action. In: OF MICRO-FOUNDATIONS OF DEMOCRACY. S9/4 a Università of Chicago. Center for Ethics, and Society, 1988. CONFERENCE 01/5/1988. Rationality SARMENTO, Cléa. Estabilidade governamental e r o t a t i v i d a d e elites p o l i t i c a s no Brasil Imperial. Dados £ 9 ( 2 ) 1 9 8 6 . SERMMEL, Bernard. Ibg rise gf free tnadg C a m b r i d g e University Press, 1970. SIMSO, Aziz. S i û d i E â t g SOLA, Lourdes. gcgogmiE g£ das ifflEEEiâlisni • C a m b r i d g e , g Estadg. Säo Paulo, Dominus, 1966. Ihg E B l i t i c a l aDd i d g g l g a i E S l c o n s t c a i o t s fcg ffianaaemeot i o Bnasilx 12â§^1263. Oxford, 1982. (D.Phil . T h e s i s ) . TOCQUEVILLE, Doubleday, Alexis de. Ihg Bid Cgaifflg and r g y g l u t Ì B D 1955. VELIZ, Claudio. Ihe centralist tradition gf Latin Jersey, Princeton U n i v e r s i t y Press, 1980. New York, Ameirica. New VERBA, Sidnea. S e q u e n c e s and d e v e l o p m e n t . In: BINDER, L. et alii. C r i s e s aDd sgauenEgs in EslitiEal dgyglBEmgDt New Jersea, Princeton Università Press, 1971. VIANNA, L u i z Uerneck. Ui&BEaliSEg Janeiro, Paz e Terra, 1976. g SiDdiEätg Dg BrâSil Rio de 84 VILELLA, Anibal S SUZIGAN, Wilson. Politics de governs e James, ed. ccesGimeato da ecooomia bcasileica* 1882^1235- Rio de Janeiro, IPEA/INPES, WILSON, James. 1973. The p o l i t i c s of regulation. In: MACK IE, Social cesEQDsabilita and tbe business ecedicameot Washington, The B r o o k i n g s Institution, 1974. CAPITULO III A E8PECIFICIDADE DO "WELFARE STATE" BRA8ILEIR0 Lian« Aurtlltno • 8oni» Mirlan Dmlb« I. T E O R I A S E TIPOLOGIAS 80BRE A E DESENVOLVIMIENTO DO " M E L F A R E EMERGENCIA STATE" A política social b r a s i l e i r a , com urna única e x c e d o 1/, nao tem sido e x a m i n a d a , em seu c o n j u n t o , sob a ótica a n a l í t i c a do W«1far» 8t»t» As n o c o e s de E s t a d o de B e m - E s t a r Social ou de E s t a d o Protetor parecem e s t r a n h a s , tanto á r e a l i d a d e brasileira, quanto ás nossas t r a d i c o e s c i e n t i f i c o - a c a d e m i c a s no campo da publie analista Mesrno semánticamente, nao dispomos de urna traducao d e s s a s e x p r e s s o e s , t a n t o assim que a forma corrente de designado da intervencao social do Estado é feita no plural - políticas sociais - e s e t o r i a l m e n t e referida: a política de previdincia, a p o l í t i c a de saúde, a política e d u c a c i o n a l , etc. Sao poucos e recentes os e s t u d o s que tem tentado tratar o conjunto das p o l í t i c a s s o c i a i s do Estado com categorías mais densas, tais como "perfil de intervencao s o c i a l " ou "sistema b r a s i l e i r o de p r o t e c a o s o c i a l " B/, indicando, a i n d a assim, urna r e s i s t e n c i a ao t r a t a m e n t o já c l á s s i c o da questao. Por o u t r o lado, nao é u n í v o c a entre os e s t u d i o s o s e polley M k c r t a d e f i n i d o d a s á r e a s c o n s t i t u t i v a s da p o l í t i c a social: se nao há muita dúvida em r e l a c i o ás áreas como previdincia e assistincia social, educado e saúde, a considerado das políticas de h a b i t a d o , s a n e a m e n t o ou t r a n s p o r t e s c o l e t i v o s já p r o d u z q u e s t i o n a m e n t o s e, mais ainda, as p o l í t i c a s salarial e de emprego, tidas c o m o p r ó p r i a s da política económica. Enfim, é muito recente no p a í s a u t i l i z a d o g e n e r a l i z a d a do c o n c e i t o de seguridade social, para e f e i t o s de urna d e s i g n a c a o positiva e a m p i a no c a m p o de m e c a n i s m o s de m a n u t e n c a o e r e i n t e g r a d o direta e indireta da renda, c o n c e i t o que p r e t e n d e superar as c o n c e p c o e s estreitas de seguro social. Obviamente, essa ausencia de densidade no Brasil do c o n c e i t o de Visitare S t a t e reflete, entre multas coisas, o perfil e características adquiridas pelas p o l í t i c a s sociais, principalmente seus reduzidos efeitos, seus 1/ Cf . Uanderley G u i l h e r m e d o s SANTOS, G l d a á a a i a 6 JuStisa: a política social na ordem b r a s i l e i r a . Rio de Janeiro, Campus, 1979, e x a m i n a a p o l í t i c a social brasileira segundo c o n c e i t o s e p a r á m e t r o s do N.S. g/ Cf. P e d r o L u i s B a r r o s S I L V A , ettacis á saúde como e q I Í L Í C S aQYEEOafflealal Campiñas, U N I C A M P , 1984. Sonia Mirian DRAIBE, "0 padrao de protecao social brasileiro: desafios á democrat i z a d o " , in S o á l i S S CSDiUDtUCal, vol.8, n e 2, p. 1319, Curitiba, IPARDES, 1986. 87 baixos graus de eficacia e e f e t i v i d a d e s o c i a i s . A-final, a noció de Estado de Bem-Estar Social é fortemente impregnada de conteúdos s o c i a l m e n t e positivos, parecendo estranho que fosse utilizada para dar conta dessa nossa realidade de miseria, pobreza, sxclusao social. Além disso, a q u e l s ausencia reflete, também, a própria a r m a d o institucional e financeira da política social: a m u í t i p l i c i d a d e d a s c o n t r i b u i d a s e fundos sociais, a f r a g m e n t a d o da m á q u i n a a d m i n i s t r a t i v a , m a r c a d a por s u p e r p o s i c o e s e pela pouca t r a n s p a r e n c i a , a opacidade d o g a s t o social - esta é urna realidade institucional-administrativa que pouco apoio e concreticidade oferece a um tratamento u n i t a r i o como o sugerido pelos c o n c e i t o s de M a l f a r a State ou profcetao s o c i a l . Também no plano simbólico, estao a u s e n t e s as n o e o e s mais integradas e mobi 1 izadoras da política social. A s u s t e n t a d o ideológica das lutas pela extensao dos d i r e i t o s sociais, pela raaior justica e eqüidade, ou pelos a s p e c t o s mais r e d i s t r i b u í i v o s da a d o social do Estado, faz-se predominantsmente de forma parcelizada e categorizada das demandas, tanto quanto d o s demandantes, mesmo quando, no período recente, essas d e m a n d a s foram um pouco mais aglutinadas e intermediadas por p r o g r a m a s e acoes político- p a r t i d á r i a s ou a t r a v é s das a g e n d a s de n e g o c i a d o sindical. Em tais c i r c u n s t a n c i a s , nao é de se e s t r a n h a r que os estudos e debates sobre as p o l í t i c a s sociais no Brasil tenham adquirido forte tonalidade negativa, r e f e r i d o s a uta o p o s t o - o U»1faro S t a t e - tomado, s u p o s t a m e n t e , como m o n o p o l i o da r e a l i d a d e nórdica e inglesa, como filho dileto da s o c i a l - d e m o c r a c i a européia e, no plano da literatura, como e s p e c i a l i d a d e a n g l o - s a x a no campo da social polley. 0 "caso b r a s i l e i r o " e as r a r e f e i t a s r e f e r e n c i a s a países da regiao latino-americana assumem, entao, as características de casos de um n a o - d e s e n v o l v i m e n t o do Estado do Bem-Estar Social ou, na melhor das hipóteses, de casos particulares, "anómalos", dotados de tal especificidade, que difícilmente poderiam ser t o m a d o s como v a r i a n t e s de tendencias gerais, ou, entao, i n t e g r a n t e s de um outro p a d r a o - entre outros históricamente constatados - de formado e implementado dos sistemas de protecao social, que tem acompanhado o d e s e n v o l v i m e n t o das s o c i e d a d e s e e c o n o m í a s modernas, assentadas sobre o trabalho a s s a l a r i a d o e sobre a d i n á m i c a c a p i t a l i s t a do mercado. Entretanto, os filoes mais ricos da hoje vasta literatura sobre o Vialfara 8tata tem a p o n t a d o exatamente para o fato de que - urna vez t r i l h a d o o fértil c a m i n h o dos e s t u d o s c o m p a r a d o s - é possível apreender o Estado Protetor menos como a concret i z a d o de programas sociais demócratas do pós-guerra, antes como importante elemento estrutural das economías capitalistas contemporáneas, urna d e t e r m i n a d a forma de a r t i c u l a d o entre o Estado e o mercado, que se m a n i f e s t a ao longo do d e s e n v o l v i m e n t o cap it a l i s t a . Por outro lado, essa mesma literatura, ao se examinar comparativamente os p r o c e s s o s h i s t ó r i c o s de f o r m a d o do Ua!fara 8tata em diversos países, cora diferentes graus de desenvolvimento, admitiu e concebeu distintos padroes, que 88 marcaran) a c o n s o l i d a c a o dos c o n t e m p o r á n e o s E s t a d o s do Bem-Estar Social. Tendencias e p a d r o e s que e x p r e s s a m r a í z e s e condicoes históricas distintas, é claro, e que se m a n i f e s t a m em v a r i a c o e s das c o m p l e x a s d i m e n s o e s da p r o t e c a o social, seja no que tange ás relacoes de i n c l u s a o / e x c l u s a o que o s s i s t e m a s abrigam, seja no que c o n c e r n e a seus a s p e c t o s r e d i s t r i b u t i v o s , seja, finalmente, no que se refere ás s u a s r e l a c o e s com o sistema político. Por isso mesmo, aquele forte componente valorativo positivo que parecería estar e m b u t i d o no p r ó p r i o c o n c e i t o de Mtlfir* Btatl pode ser reavaliado, a b r i n d o a p o s s i b i l i d a d e de se pensar em padroes mais progressistas, assim como em formas mais c o n s e r v a d o r a s de e d i f i c a d o do "Estado Social". Exatamente o que essa literatura tem mostrado é que o Welfare S t a t e pode ser m a i s u n i v e r s a l i s t a , institucionalizado e estatizado, em a l g u n s casos, ao passo que, em outros, mostra-se mais p r i v a t i s t a e residual; m a i s g e n e r o s o na cobertura, assim como na diversificacao dos beneficios e servicos sociais d i s t r i b u i d o s em uns; m a i s s e l e t i v o e a s s i s t e n e i a l i s t a em outros; mais infenso aos m e c a n i s m o s e dinámica político-partidaria e eleitoral; em certas circunstancias, mais "politizado" e c 1 i e n t e l i s t i c a m e n t e u t i l i z a d o em outras. Em d e t e r m i n a d o s casos e padroes, foi capaz de p r a t i c a m e n t e e x t i r p a r a pobreza absoluta, garantindo urna renda mínima a todos quantos nunca lograran) integral—se via mercado e salario; em outros, tem deixado relativamente a descoberto e d e s p r o t e g i d o s os bolsoes ou as carnadas m a i s p o b r e s da p o p u l a d o . No que tange ao financiamento e ao gasto social, as diferencas tampouco deixam de se manifestar. Em geral, os sistemas tendem a ser f i n a n c i a d o s por c o n t r i b u i c o e s sociais de empregados e empregadores, mas os pesos relativos dessas contribuicoes, assim como a participado do Estado no f i n a n c i a m e n t o d o sistema, variam bastante, quando se considera» d i f e r e n t e s g r u p o s de p a í s e s . Em relacao ao gasto social, é certo que t e n d e n c i a s g e r a i s de e l e v a c a o c o n t i n u a d a tem-se manifestado, desde o pós-guerra, na maioria dos casos, respondendo, principalmente, ás elevadas taxas de c r e s c i m e n t o (em número e v a l o r ) das a p o s e n t a d o r i a s , aos c r e s c e n t e s g a s t o s com a atencao á saúde (notadamente a h o s p i t a l a r ) e, mais r e c e n t e m e n t e , a elevacao dos gastos com os e s q u e m a s de seguro-desemprego. Entretanto, também nesse plano, longe estao os p a í s e s de apresentarem modelos uniformes, o que se c o n f i r m a , hoje, tanto pelos diferentes impactos que sofreram com a c r i s e e c o n ó m i c a atual, quanto pelas distintas r e a c o e s e a j u s t a m e n t o s levados a c a b o por g o v e r n o s de o r i e n t a d o política c o n s e r v a d o r a e s o c i a l i s t a e s o c i a l - d e m o c r a t a . Também no plano institucional, a montagem do aparelho burocrático-administrativo de s u s t e n t a d o das p o l í t i c a s sociais obedeceu lógicas d i v e r s a s e, por isso m e s m o , suas atuais faces sao diferentes. Se há a q u e l e s relativamente bem-organizados, leves e ágeis, g o z a n d o de alto grau de r a c i o n a l i d a d e , a realidade p r e d o m i n a n t e parece ser a de g i g a n t e s c a s máquinas, marcadas por incoeréncias, altamente burocratizadas e feudal izadas, respondendo muito m a i s a i n t e r e s s e s e b a r g a n h a s c o r p o r a t i v o s que 89 a p a r á m e t r o s m a i s g e r a i s de r a c i o n a l i d a d e e q U i d a d e soc ial . politica, de j u s t i c a e Certamente, nao se t r a t a , na l i t e r a t u r a i n t e r n a c i o n a l , de t a o - s o m e n t e i d e n t i f i c a r e c o n s t a t a r semel b a n c a s e diferencas. A t e n t a t i v a é, sobretudo, a de avanzar no c a m p o da t e o r i z a d o , de m o d o a p o s s i b i l i t a r a c o n s t r u c a o mais c o n s i s t e n t e de " m o d e l o s " ou padroes de f o r m a d o e desenvolvimento dos modernos sistemas de p r o t e c a o social r e l a c i o n a d o s com d e t e r m i n a n t e s e c o n ó m i c o s , s ó c i o -culturais e políticos, c a p a z e s de o f e r e c e r g r a u s c o n f i á v e i s de explicado para a v a r i a d o das tendencias detectadas ñas suas complexas dimensoes. Muito embora seja e s t e um e s f o r c o ainda em realizado, carente ainda de resultados mais definitivos, parece-nos permitir, ou p e l o m e n o s s u g e r i r , a p o s s i b i 1 i d a d e de r e a v a l i a r o nosso "caso". Muitas daquelas características que pareceriam compor a especificidade irredutível d o s i s t e m a brasileiro de políticas sociais podem ser repensadas, a luz dos estudos i n t e r n a c i o n a i s s o b r e p a d r o e s de f o r m a d o , d e s e n v o l v i m e n t o e c r i s e do M e l g a r e S t a t o . Em o u t r a s p a l a v r a s , p a r e c e - n o s ser possível, hoje, interrogar a literatura teórica e histórica sobre o assunto, para ai b u s c a r i n s t r u m e n t o s a n a l í t i c o s e s u g e s t o e s de como pensar um determinado padrao de desenvolvimento e c o n s o l i d a d o do ifcafce num p a í s de c a p i t a l i s m o t a r d í o c o m o o brasileiro, que m o l d o u a face mais c o m p l e t a do seu s i s t e m a de p r o t e c a o social sob a è g i d e de um r e g i m e a u t o r i t a r i o , nos q u a d r o s de um m o d e l o e c o n ó m i c o c o n c e n t r a d o r e s o c i a l m e n t e e x c l u d e n t e . Nesta sedo, b u s c a r e m o s e x a m i n a r os q u a d r o s teóricos nos quais se tem d e s e n v o l v i d o os e s t u d o s s o b r e o Melíara State. Nossos objetivos sao bastante delimitados. Em nivel dos argumentos teóricos expostos pelas diferentes correntes, tratamos de identificar o c o n j u n t o de d e t e r m i n a n t e s que p e r m i t i d o - ou nao - a f i r m a r a p e r t i n e n c i a do t r a t a m e n t o d a s p o l í t i c a s sociais brasileiras com a s c a t e g o r í a s que tém s i d o utilizadas para a compreensao do M e l g a r a Sfeafee. Em nivel de h i p ó t e s e s e relacoes mais precisas, b u s c a m o s i d e n t i f i c a r a q u e l a s que o f e r e c e m e f e t i v a ancoragem empírica para o tratamento do caso nacional. Finalmente, examinando algumas tipologías produzidas pelos estudos internacionais comparados, t r a t a r e m o s de v e r i f i c a r sua p e r t i n e n c i a para o e s t u d o do c a s o b r a s i l e i r o . t E a a á H B [email protected] i0È.GEaEQÈ.BÈ.itfaa a a t a a a Q sttesosSe de "HBÍÍBEO ifeafce" sEiase É certo que o p r ò p r i o c o n c e i t o de Wolíoro Ifcati admite variacoes, segundo as c o r r e n t e s t e ó r i c a s a que se filiam seus estudiosos. Para e f e i t o s de e c o n o m i a de e x p o s i d o , a p r e s e n t a m o s , de inicio, algumas definicoes correntes para, posteriormente, 90 e x a m i n a r m o s as v a r i a c o e s que podem contemplar, t e n d e n c i a s de i n t e r p r e t a d o . segundo distintas Para Briggs, o W e l f a r e S t a t * é "C...3 um estado no qual se usa d e l i b e r a d a m e n t e o poder o r g a n i z a d o (através da política e da administrado) num e s f o r c o p a r a modificar o dogo das forcas do mercado em pelo m e n o s tres d i r e c o e s : primeiro, garantindo aos individuos e ás familias, urna renda mínima, i n d e p e n d e n t e m e n t e do valor de m e r c a d o de seu t r a b a l h o ou de sua p r o p r i e d a d e ; segundo, restringindo o arco de inseguranca, colocando os individuos e familias em c o n d i c o e s de fazer frente a certas "contingencias sociais" (por e x e m p l o , a doenca, a velhice e a d e s o c u p a d o ) que, de outra forma, c o n d u z i r i a m a c r i s e s individuáis ou familiares; e terceiro, a s s e g u r a n d o que a t o d o s os cidadaos, sem d i s t i n t i ó de •tatú* ou classe, sejam o f e r e c i d o s os mais altos p a d r o e s de urna gama r e c o n h e c i d a de s e r v i c e s s o c i a i s " . 3/ Do ponto de vista mais s u b s t a n t i v o das p o l í t i c a s envolvidas na noció do W e l f a r e State, a t r a d i c a o anglo-saxa em geral aponta, desde Beveridge, para a q u e t a s d i r e c i o n a d a s a: 1) garantia de renda (income maintenance); 2) saúde (health); 3) educacao (education); e 4) h a b i t a c i o (housing). C o n s i d e r a n d o a seguridade social como o c o n j u n t o das a c o e s referidas á previdencia, á assistincia social e á saúde (mesmo quando nao vinculada a mecanismos contributivos), a O E C D vem a d o t a n d o urna definicao de Welfare State que inclui, além da seguridade, as políticas e s t a t a i s para a e d u c a c a o e a h a b i t a c i o . Chamando a atencao para os aspectos tendencial mente u n i v e r s a l i s t a s das p r á t i c a s de W e l f a r e , Uilenski 4/ trabalha com a seguinte d e f i n i c a o : "A essencia do W e l f a r e S t a t e é um padrao m í n i m o - g a r a n t i d o pelo Estado - de renda, alimentacio, saúde, alojamento e instrucao, a s s e g u r a d o a qualquer c i d a d i o como um direito p o l í t i c o e nio como b e n e f i c e n c i a " . 5/ Tomadas em seu conjunto, essas d e f i n i c o e s 6/ retem alguns e l e m e n t o s que valem a pena s u b l i n h a r . P r i m e i r a m e n t e , a referencia á acao estatal na o r g a n i z a c i o e imp 1ementacao d e s s a s políticas, independentemente do grau em que se efetiva a participado do Estado em cada urna délas. Em s e g u n d o lugar, e em decorrencia, está envolvida, na c o n c e p c i o do W e l f a r e 8tate, urna determinada 3/ Cf. A. BRIGGS, "The W e l f a r e State in historical in Archiygg E u r g e g g o n e s sjg Sociglggig, n.S, 1961. 3/ Cf. H.L. perspective" p.258. WILENSKI, Ihe Welfare State and Eaualita- Berkeley, U n i v e r s i t y of C a l i f o r n i a Press, 1975, p. XIII. 5/ Ibid, P . X I I I . 6/ M u i t o s sao os a u t o r e s que assinalam o caráter culturalmente comprometido das definicoes de Welfare propostas por estudiosos ingleses, as quais nio ajudariam a c o m p r e e n d e r o desenvolvimento e as características de outros tipos de E s t a d o s de B e m - E s t a r S o c i a l . Cf. N.G.S. KINI, " A p p r o a c h e s to a theory of c o m p a r a t i v e w e l f a r e policies", in S. AYAR, org. Perseecliyes gn ibe Welfare State, Bombain, Manaktalas, 1966. 91 re1 a s a o Estado-mercado, na qual o priraeiro tende a alterar o l^vjre_mpvimentq, assim como os resultados s o c i a l m e n t e a d v e r s o s do segundo. .Em terceiro lugar, está a noca o de substituido da quando esta é p e r d i d a temporaria ou p e r m a n e n t e m e n t e , d a d o s v renda, os "riscos" n o r m á i s p r ó p r i o s das e c o n o m í a s de mercado: a perda da capacidade de trabalho por condicoes de velhice, doenca, maternidade, ou a situado de desemprego. Mas, também - principalmente na tradido anglo-saxa - a manutendo ou integrado da renda, face ao patamar mínimo considerado s a t i s f a t ó r i o para a t e n d i m e n t o das n e c e s s i d a d e s s o c i a i s vitáis dos individuos e das familias: ou seja, contemp1am-se, também, aqueles que estao fora do mercado ou vinculados a ele marginalmente. Nest o acepcao, as p o l í t i c a s de M a l f a r a tém como referencial, menos o trabalhador contributivo, antes o c o n j u n t o dos cidadaos; por sua ves, este tea nelas a garantía do e x e r c i c i o de um direito e nao a expressao de urna ado benevolente do Estado. Direito social, no caso referido ás n e c e s s i d a d e s v i t á i s socialmente c o n s i d e r a d a s : a a l i m e n t a d o , a h a b i t a d o , a at ene ao á saúde, a educado - núcleo duro ou face predominante, na c o n c e p d o de Titmus Zf dos modernos E s t a d o s de Bem-Estar S o c i a l . Assim expressas, essas definieoes constituem, ainda, instrumento a n a l í t i c o s u f i c i e n t e para n o s c a p a c i t a r a tratar as políticas sociais no Brasil através da categoría de Ualfara Stata. Se, de um lado, a referencia substantiva ás atoes c o n c r e t a s do E s t a d o poderia tentar-nos afirmar sua pertinencia, a referencia ás práticas de lncona nalntananca, referidas aos direitos básicos da cidadania, parece remeter a um quadro b a s t a n t e estranho á r e a l i d a d e brasileira. Entretanto, há que se considerar que essa d i m e n s a o do U a l f a r a S t a t a nao apenas esteve ausente ao longo de toda sua historia, como parece ser um componente que caracteriza muito mais um determinado padrao, assim como t e n d e n c i a s r e c e n t e s dos E s t a d o s de Bem-Estar Social. Para examinar essa hipótese, parece-nos, entao, necessário, recuar para um plano m a i s geral de discussao, identificando, ñas grandes correntes teóricas, as solucoes que se tratou de encontrar para as s e g u i n t e s questoes: qual a natureza do Estado de Bem-Estar Social nos quadros do Estado e da economía capitalistas contemporáneos? Que razoes explicam sua e m e r g e n c i a ? Quais os p r i n c i p á i s d e t e r m i n a n t e s de sua expansao, ritmo de t r a n s f o r m a c o e s e formas r e c e n t e m e n t e a d q u i r i d a s ? P a r e c e - n o s que, de posse dessas respostas, será possível extrapolar os c o n t e ú d o s mais d e s c r i t i v o s da n o d o de Wal f are Stata, avantando em d i r e d o a d e f i n i e o e s mais u n i v e r s a i s . É bastante recente o esforco e x e r c i t a d o no c a m p o da teoria sociológica e da teoria política, visando á i n t e r p r e t a d o teórica das políticas s o c i a i s dos Estados c o n t e m p o r á n e o s . Até há bem pouco tempo, o debate científico sobre a política social foi dominado por j u r i s t a s e e c o n o m i s t a s . A i n t e r v e n d o dos s o c i ó l o g o s e c i e n t i s t a s p o l í t i c o s d i r i g i u - s e antes para influir na p r o d u d o legislativa que para avancar na c o m p r e e n s a o c i e n t í f i c a que sobre z/ Cf. R. TITMUS, Unwin, 1963. Essass SO the UelíaCK State. London, Alien & 92 ela incidem. Desde o final dos anos 70, entretanto, verifica-se, nesse ámbito, um e m p e n h o m a i s decidido, envolvendo número já s i g n i f i c a t i v o de t r a b a l h o s e p e s q u i s a s , assim como o esforco de alguns autores, tentando c a p t a r e sistematizar as tendencias teóricas que o r i e n t a m a q u e l e s t r a b a l h o s . Talvez seja de J e n s Alber a producao m a i s importante, que tratou de explicitar correntes teóricas e hipóteses de verificado empírica relacionadas á genese e á expansao do Uelfare State 8/ S e g u n d o e s s e autor, é possível identificar quatro grandes c o r r e n t e s t e ó r i c a s de i n t e r p r e t a d o do Uelfare State. A principal linha de d e m a r c a d o é a que coloca, de um lado, os modeles e l u n a l i s t a s e, de outro, os modelos m a c H i s t a s - Por sua vez, cada urna d e s s a s orientacoes, segundo Alber, divídese em dois t i p o s de a b o r d a g e m : a f U Q C I D D a l i s t a e a que opera com t B B E i a s de C B O f l l l Q < c o n f 1 i t u a l i s t a , a partir de agora). Os Elunalistas concebem a i n s t i t u i d o do U e l f a r e como um prodtlío geral dos p r o c é s s o s de c r e s c i m e n t o e diferenciado que ácompanham a modernizado da sociedade. Na sua ' vérsao fUQCÍQDaliSta, as políticas sociais sao relacionadas ás. exigencias impostas pelo aumento e generalizacao dos. riscos^ c o n s e q U e n t e s dos p r o c é s s o s de i n d u s t r i a l i z a c a o e u r b a n i z a c a o . Na sua yecteote t e m í l i t u a l i s i a , o U i l f a r e B t a t e expressa demandas crescentes, a l i m e n t a d a s p e l o s p r o c é s s o s de m o b i l i z a c a o social e política, assinalando-se o significado dos direitos de associacao, assim c o m o a d e m o c r a t i z a c a o do direito ao voto. Para os fflarxistag, a p o l í t i c a social é um produto específico do desenvolvimento capitalista, indispensável para garantir a acumulacao de capital, assim c o m o para regular os c o n f l i t o s de c l a s s e . Na sua v e r s a o fun£igr¡al¿§ta, entende-se a política social como exigencia do d e s e n v o l v i m e n t o económico, enfatizando-se a ameaca que a e x a c e r b a d o da e x p l o s a o capitalista impoe sobre a r e p r o d u c a o da forca de t r a b a l h o . Na sua t r a d u c a o conflitualist3, embora considerando as transformacoes estruturais, o d e s e n v o l v i m e n t o da p o l í t i c a social é remetido antes aos protestos c o l e t i v o s e á luta de c l a s s e s . Marxistas e pluralistas que trabalham na tradicao do conflito podem p r i v i l e g i a r as demandas o r i g i n a d a s "de baixo" isto é, a a f i r m a d o das r e i v i n d i c a c o e s do m o v i m e n t o o p e r a r i o privilegiar as iniciativas "do alto", as que expressariam o movimento das e l i t e s ou s e t o r e s dominantes na defesa do próprio poder. A partir dessas g r a n d e s linhas, Alber constrói um quadro das p r i n c i p á i s a n á l i s e s do U v l f a r * S t a t e (Ver Q u a d r o i). Como todas as c1assificacoes, esta t a m b é m admite c o n t e s t a c o e s , seja por esquematismos, seja pela c o n h e c i d a d i f i c u l d a d e de identificar, nos autores, um ú n i c o fator e x p l i c a t i v o . E n t r e t a n t o , parece-nos interessante r e p r o d u z í - 1 a, para melhor identificar os tipos de i/ Cf. J. Mu 11 no, ALBER, 1986. Dalla cacita alio stato sotiale. Bologna, II 93 euaDRO i 5/ HOCELOS FUNCIONALISTAS Exigencias s i s t e s á t i c a s da IndustrialI2ACJO ( c a p i t a l i s t a s MODELOS CONFLITUALISTAS I n t e g r a d o e Controle Social Sot> pressao da p e r i f e r i a ( P o l í t i c a Social de "baixo") Tradísao Ueberiana Tradúao Dukheiminiana Reacao ás novas foreas de vida e aos problenas gerados pela nodernizacao ( i n d u s t r i a l i z a d o , urbanizacao, oi-ferenciacao) e pelo d e d í n i o funcional dos sisteoas t r a d i c i o n a i s de seguridade ACHINGER Por i n i c i a t i v a do centro ( P o l i t i c a Social do " a l t o " ) Reatao á denocratizaclo e á o r g a n i z a d o dos trabalhadores. HARSHALL ( D i r e i t o s Sociais coso consegüencia da i n s t i t u c i o n a l i z a d o do papel do cidadao). HQDELOS PLURALISTAS HILENSKY/LEBEAUX GQLDTHORPE HE1HANH (Reacao á questio oper á r i a e á organizacáo do soviaento s o c i a l ) . (Resultante dos obj e t i v o s e dos con f l i t o s entre grupos sociais e i n d i v i duos) . GE0R6E Reacao ao d e d í n i o de l e g i o i t i d a d e das é l i t e s políticas. BAIER (Estrategia de legitima cao e controle dos grupos dominantes e de seus aparatos a d m i n i s t r a t i v o s ) . RIHLINGER (Exigencia de l e g i t i i a c a o e ideología das e l i t e s po l í t i c a s no contexto das i n s t i t u i c o e s e dos p r o b l i aas específicos da indust r i a l i z a d o e da n o b i l i z g cao). (Redefinicao dos problemas s o c i a i s em consg qlléncia do alargaoento do sufragio e do esforco do novioento o p e r a r i o ) . HODELOS INTEGRADOS - PETER FLORA Reacao á p o l i t i z a d o dos problenas da aodernizacao, variável segundo a e s t r u t u r a organizativa envolvida diversas solucoes, segundo as c a r a c t e r í s t i c a s i n s t í t u c i o n a i s e á estrutura organizativa do Estado. e aberta a 94 QUADRO I (continuado) TRADICAO NARXISTA Programas de p a c i f i c a d o e de c o n t r o l e que seguen a exasperado dos c o n f l i t o s de classe. Tutela da acuoulado c a p i t a l i s t a e t e n t a t i v a do Estado de c o r r i g i r os e f e i t o s negativos OFFE NAKR/OFFE LENHARDT/OFFE (0 Estado t u t e l a a reproducao ameacada da (orea de trabalho, regula a p a r t i c i p a d o no processo produtivo e persegue urna orden de prioridade t i p i c a do s i s tena c a p i t a l i s t a , dispensan do medidas pacificadoras de p o l í t i c a s sociais aos grupos providos de capacidade de l u t a ) . H0DE- HUtLER/HEUSQSS LOS (Operando na qua(NEQ) lidade de centro HAR - ideal do capita XIS - lismo, o Estado TAS t u t e l a a reproducao ameacada da torga de traba lho ( i s t o é, a producao de plusv a l i a ) . E estabil i z a a acumulacoes. KORPI HABERNAS/OFFE (Gradual e l i m i n a d o dos problemas de seguridade devidos á e x p l o r a d o gratas ao crescimento do poder da d a s s e operaría en conseqdéncia da organizado sindical e p o l í t i c a ; p o l í t i c a social cono resultado das relatoes de f o r t a das d a s s e s ) A assuncao e s t a t a l das tarefas sociais para enfrentar as disfuncoes do capitalismo c r i a novos modelos e legitimado que, por sua vez, impoem un naior comproaisso social . O'CONNOR (0 crescimento do setor monopolista exige a s o c i a l i z a d o dos custos do trabalho e produz excesso de capaci dade e de forca de trabalho para cuja p a c i f i c a d o torne-se necessáTía a p o l í t i c a SQ cial). Programas de q u a l i f i c a d o impostos pelos interesses do Estado. VOBRUNDA (fieado social i n t e g r a t i va necessària para a d e f j sa do poder p o l í t i c o soder bre as organizacoes dos trabalhadores; dependencia do Estado f i s c a l em r e l a d o á acumulado capitalista). PEVEN/CLOUARD ( P o l í t i c a Social cono meio de p a r t i cipacao/controle do protesto c o l e t i vo provocado pelos c i c l o s economi eos do c a p i t a l i s m o ) . GINSBURGH (Controle social dos t r a b a j a d o r e s que seguem a emergencia dos s i n d i c a tos m i l i t a n t e s e da o r g a n i z a d o p o l i t i c a de d a s s e operaría. A garantía e s t a t a l da subsistencia absolve contemporáneamente funcoes pacificado ras e d i s c i p l i n a r e s ) . HOCELOS INTEGRADOS - GOUGH (0 desenvolvínento c a p i t a l i s t a c r i a problemas e provoca c o n f l i t o s de d a s s e favorecido pela m o b i l i z a d o s i n d i c a l dos trabalhadores, pela r e l a t i v a autonomía do Estado e pela sua c e n t r a l i z a d o (en parte devido á intensidade dos c o n f l i t o s , ñas, tamben, herdada pelo absolutismo). Tudo isso torna prováveis as reacoes públicas no campo s o c i a l ) . Fonte: Jens AL8ER, OP. c i t . »/ Veja-se b i b l i o g r a f i a referente a este quadro ao f i n a l do Capitulo. 95 interpretacoes em niveis mais específicos de explicacoes. Ao fazi-lo, nosso interesse é m u i t o m e n o s o e x a m e de cada autor citado (alguns dos quais reiativamente desconhecidos), roas, antes, o exame dos argumentos desenvolvidos, de m o d o a d e s t a c a r o s e l e m e n t o s s i g n i f i c a n t e s de cada q u a d r o a n a l í t i c o P a r a os e l u r a l i § t a § f y n c i o Q a l i s t a s , b a s i c a m e n t e v i n c u l a d o s á tradicao durkheirniniana (Uilenski, Lebeaux, Accinger), as instituicoes do M a l f a r e c o n s t i t u e m o p r o d u t o de urna crescente n e c e s s i d a d e de t u t e l a s o c i a l , n a s c i d a com a i n d u s t r i a l i z a c a o e a urbanizado, que se e x p r e s s a a t r a v é s de p r o c e s s o s de m o b i l i z a c a o e organizado, os quais, ao serem respondidos, redundam em j>oteneiacao ^da burocracia estatal. Tal necessidade deriva, sobretudo, da s e p a r a d o d o s p r o d u t o r e s d o s m e i o s de p r o d u c a o , da separado entre a renda individual e a familiar e do enfraqueciroento dos vínculos de parentesco e de vizinhanca ( c o n s e q ü i n c i a da m i g r a d o i n t e r n a e da u r b a n i z a c a o ) . Por sua vez, os p r o c e s s o s de o r g a n i z a d o sao a l i m e n t a d o s p e l o a l a r g a m e n t o da oportunidade de c o m u n i c a d o e a s s o c i a r l o ñ a s g r a n d e s e m p r e s a s e cidades, ao m e s m o t e m p o em que c r e s c e o p o t e n c i a l de c o n t r o l e do Estado, apoiado na crescente m o b i l i z a c a o de recursos que o pròprio desenvolvimento econòmico possibilità. Finalmente, também a consciincia (individual e coletiva) das crescentes o p o r t u n i d a d e s de r e a l i z a d o das a s p i r a c o e s e r e i v i n d i c a c o e s r e d u z a c a p a c i d a d e de s u p o r t a r a s c a r e n c i a s m a t e r i a i s , e s t i m u l a n d o as demandas por s e g u r i d a d e social . N e s s e nivel de formulado, a teoria da m o d e r n i z a d o ve, c o m o geral e i n e x o r á v e l , o processo que c o n d u z ao s u r g i m e n t o e d e s e n v o l v i m e n t o do E s t a d o do B e m - E s t a r Social. Também os funeionalistas marxistas consideram a política social como resultante do desenvolvimento sòcio-econòmico, especificada, entretanto, como e x i g e n c i a do m o d o de producao c a p i t a l i s t a . D a d a s as c o n t r a d i c o e s e n t r e t r a b a l h o e a c u m u l a d o no processo produtivo capitalista, a i n t e r v e n c a o social do E s t a d o é inevitável e, ao m e s m o t e m p o , c o n t r a d i t o r i a m e n t e l i m i t a d a : para garantir a p r o d u c a o da m a i s - v a l i a , é n e c e s s à r i o que o Estado g a r a n t a a r e p r o d u c a o da forca de t r a b a l h o , s e m p r e que esta e s t e j a sob ameacas a d v i n d a s da i n t e n s i f i c a c a o da a t i v i d a d e produtiva. T a m b é m para a d i n a m i z a c a o d o s m e r c a d o s , os sistemas públicos de transferencia (salario indireto) funcionam como protecao á acumulacao. Esta, porém, r e q u e r , além d i s s o , a "paz s o c i a l " , o que s i g n i f i c a a i n s t i t u i c a o de um s i s t e m a de c o n t r o l e sobre as classes trabalhadoras, de m o d o a m a n t e - l a s d e n t r o dos limites toleráveis á est ab i 1 i z a c a o do movimento de acumulacao capitalista. Tal combinacao contraditória de elementos de "assisténcia social" e controle, p o r p a r t e do E s t a d o (Mili ler e Neususs), é explicitada, em O ' C o n n o r , c o m o c o n t r a d i c a o e n t r e as exigencias de acumulacao e legitimado, ñas condicoes do c a p i t a l i s m o m o n o p o l i s t a , a t r a v e s s a d o por c r i s e s de s u p e r p r o d u c a o , realizacao e pelo desemprego. Em face d e s s e s p r o c e s s o s , o E s t a d o é levado a d e s e n v o l v e r p o l í t i c a s de s u s t e n t a d o da renda e, assim, dinamizar mercados e manter graus adequados de legitimado. Mas, o crescimento do setor monopolista exige, também, a socializacao d o s c u s t o s de r e p r o d u c a o da forca de 96 trabalho, em p a r t i c u l a r de um p r o c e s s o de f o r m a c a o p r o f issijDnal, "a" p a t a m a r e s c r e s c e n t e s de q u a l i f i c a c a o , „ c o e r e n t e s com os altos, n i v e i s ' de produt i v i d à d e . Entao, além de gastos sociais. tradicionais, o setor monopolista estimula o "crescimento do capital social, a c e n t u a n d o as c o n t r a d i c o e s e n t r e a s . f u n c o e s do. Estado, que se m a n i f e s t a m c o m o c r i s e fiscal no q u a d r o , m a i s a m p i o de c r i s e do p r ò p r i o E s t a d o . . Nesse quadro analitico funeionalista, tanto os pluralistas q u a n t V ~ os marxistas nao negam, certamente, que os conflitoV •políticos atravessam o desenvolvimiento d a s políticas sociais. Entretanto, estas sio entendidas, fundamentalmente, como acao preventiva, urna quase n e c e s s i d a d e s i s t è m i c a para conservacao e desenvolvimento da sociedade, com consideráveis graus de i'nexorabil i d a d e . A i n s i s t e n c i a de a u t o r e s que t r a b a l h a m na v e r t e n t e da teoria d9 EQQÜlitS é exatamente a de nao ser possível deduzir diretamente a " r e a c a o " d o E s t a d o - no p l a n o de a c a o social - da estrutura sòcio-econòmica, muito embora esta deva ser considerada. Somente a " i n t e r p r e t a c a o " que a s o c i e d a d e faz da realidade sòcio-econòmica pode transformar as exigencias estruturais em n e c e s s i d a d e s e d e s a f i o s p o l í t i c o s que reguerem, estes sim, " urna respostá institucional. A interpretacao, a "traducao" de um p r o b l e m a social que vai p r e v a l e c e r no campo p o l í t i c o d e p e n d e do é x i t o d a s l u t a s pela p r ò p r i a d e f i n i c a o . Lutas que se p r o c e s s a m na SQCiejJadg, nao c o n c e b i d a em t e r m o s g e n é r i c o s e sim considerando as r e l a c o e s de forca entre seus varios segmentos, que p e r s e g u e ® obje' i v o s c o n f l i t i v o s ou c o n t r a d i t ò r i os (goldthorpff>. i-.. m 0 t r a b a l h o de M a r s h a l l expoe, claramente, essa tradicao c o n f 1 i t u a l i s t a . Para e s t e a u t o r , a p o l í t i c a social c o r r e s p o n d e ao ú l t i m o e s t á g i o do longo p r o c e s s o de a f i r m a c a o d o s d i r e i t o s c i v i s : a universalizacao e a institucionalizacao dos direitos civis e políticos fornecem, aos grupos menos privilegiados, urna válida plataforma para obter - g r a c a s á sua maior forca exercitada enquanto eleitores -, em primeiro lugar, a garantia de s u b s i s t e n c i a e, depois, a c o n s e r v a c a o de seu •titUl, mediante t r a n s f e r e n c i a s estatais realizada "fora" do mercado. Quando o movimento operário nega que a indigencia e a p o b r e z a sejam m e r o s r e s u l t a d o s d o a r b i t r i o d o s g o v e r n a n t e s (ou do destino) e r e d e f i n e o p r o b l e m a social a t r i b u i n d o - o a disfuncoes estruturais do sistema, p a s s a a l u t a r por n o v a s f o r m a s de acao social do E s t a d o e c o n s t i t u i - s e , assim, no p r i n c i p a l a p o i o que sustenta o desenvolvimento do Meifara S t a t o (Heimann, Mie George). No campo marxista, a orientacao conf1 i t u a l i s t a também explica a politica social pela forca crescente da classe operária. Diferente dos pluralistas, o que se Poe em primeiro plano de e x p l i c a c a o s a o a s r e l a c o e s de classe, assim como a funcao de controle sobre os conflitos sociais embutida nos s i s t e m a s de s e g u r i d a d e s o c i a l , o s quais, por o u t r o lado, reiteram 97 os m e c a n i s m o s de m e r c a d o . variacoes, modificacoes. Certamente, essa tese geral admite Por e x e m p l o , Walter Korpi, a i n d a que a t r i b u a o p r o b l e m a da seguridade social á ordem econòmica capitalista, considera a política social c o m o c a p a z de m o d i f i c a r s e u f u n c i o n a m e n t o e a e x p l i c a pelo c r e s c e n t e p o d e r da c l a s s e o p e r á r i a . Vé o E s t a d o c o m o um potencial agente de transformado social, cuja acào é determinada p e l a s r e l a c o e s de forca e n t r e a s c l a s s e s . E quanto maiores forem os recursos de p o d e r á disposicao da classe opefáriar, mai'or a p r o b a b i l i d d e de que o E s t a d o s e j a l e v a d o a agir ño s e n t i d o do i n t e r e s s e d o s t r a b a l h a d o r e s . O s r e c u r s o s de p o d e r a que se r e f e r e sao, s o b r e t u d o , a o r g a n i z a d o s i n d i c a l , assim c o m o a a s s o c i a c à o p o l í t i c a d o s t r a b a l h a d o r e s em p a r t i d o s s o c i a l i s t a s . È a t r a v é s d e l e s que, no E s t a d o , os t r a b a l h a d o r e s a v a n c a m s o b r e a f o r t a l e z a dos c a p i t a l i s t a s - a p r o p r i e d a d e p r i v a d a - i m p o n d o - l h e s limites. Também numa perspectiva "positiva", Gensburgh entende que, ao cumprir a f u n d o geral de g a r a n t i r a r e p r o d u c i o da forca de t r a b a l h o , os s i s t e m a s de s e g u r i d a d e s o c i a l , de um lado, e s t i m u l a m o t r a b a l h o e, de o u t r o , m a n t i m sob c o n t r o l e o s g r u p o s que nao participam do processo produtivo. Embora nao concebidos para promover o interesse dos trabalhadores, os sistemas de t r a n s f e r e n c i a s p ú b l i c a s nascem sob pressalo da m i l i t S n c i a s i n d i c a l e dos p a r t i d o s o p e r a r i o s , os quais t e r m i n a m por constituir-se, t a m b é m , no p r i n c i p a l foco de r e s i s t e n c i a á s t e n t a t i v a s de r e d u c a o dos g a s t o s s o c i a i s do E s t a d o . Numa outra perspectiva, Peven e C l o w a r d a r g u m e n t a m serem o s sistemas de p r o t e c a o social um forte m e c a n i s m o de c o n t r o l e , que se expandem ou se c o n t r a e m s e g u n d o as flutuacoes cíclicas da economía capitalista, completando ou substituindo as formas primarias de c o n t r o l e (as que se p r o c e s s a m no à m b i t o do pròprio processo produtivo). 0 d e s e m p r e g o é o fator que m a i s contribuí para a s u b t r a c a o de g r u p o s c a d a vez m a i s n u m e r o s o s da d i s c i p l i n a do t r a b a l h o , e l e v a n d o o grau de a g i t a d o s o c i a l ; em r e s p o s t a , o Estado é levado a c r i a r um s e g u n d o s i s t e m a de controle - os s i s t e m a s p ú b l i c o s de s e g u r i d a d e - r e a b s o r v e n d o m a s s a s e x p u l s a s d o processo produtivo e submetendo-as a formas alternativas de disciplina. N o s p e r í o d o s de e x p a n s a o , esses sistemas tornam-se' relativamente supérfluos; mas aqueles grupos mais passivos perdem seus beneficios rapidamente, a o p a s s o que sao o s m a i s c a p a z e s d e ' reagir, a t r a v é s de p r o t e s t o s c o l e t i v o s , á sua d i m i n u i d o , o s que : mais tendem a se b e n e f i c i a r das p r e s t a c o e s s o c i a i s dispensadas, pelo Estado. ' A a r g u m e n t a d o de C l a u s Offe é m a i s a b r a n g e n t e . Para este autor', a institucionalizado da s e g u r i d a d e social no sistema c a p i t a l i s t a d e v e - s e a t r e s m o t i v o s . Em p r i m e i r o lugar, a e x p a n s a o do t r a b a l h o a s s a l a r i a d o p r e s s u p o e que o a c e s s o a f o r m a s de vida n a o - m e r c a n t i s seja r e g u l a d o por lei, já que s o m e n t e se tal a c e s s o nao for v o l u n t a r i o e livre, p o d e p e r m a n e c e r v á l i d a , com e f i c a c i a e durab i 1 i d a d e , a obrígacao de vender a pròpria forca de t r a b a l h o . 0 s i s t e m a de s e g u r i d a d e r e f o r c a a q u e l a o b r i g a t o r i e d a d e . 98 Em segando lugar, tal ^sistema se faz necessáriq porque a industrializado c a p i t a l i s t a p o e em perígo a "réproduYao "da forcá de" t r a b a l h o , ao d e s a g r e g a r formas p r e t é r i t a s tradicionais dé protecao. F i n a l m e n t e , __as flutuacoes cíclicas do mercado " de trabalho impoem que os* " é x é r c i t o s de reserva", criados e recriados pela a c u m u l a d o c a p i t a l i s t a , sejam "protegidos", de modo a permanecerem garantidos, seja a reproducao, seja_ o_ "controle d a forca de t r a b a l h o , m e s m o quando esta nao é utilizada ño p r o c e s s o p r o d u t i v o . Se esse é o quadro estrutural que explica a g í n e s e d a s p o l í t i c a s s o c i a i s p a r a Offe, este autor, entretanto, distancia-se das teses funeionalistas mais estreitas, ao enfatizar o papel das reivindicacoes sindicáis operárias, sobretudo ñas primeiras fases de constituido do Uslfarc. Insiste, por outro lado, ñas funcoes legitimadoras da política social, que nao garante, tao-somente a estabilidade económica, mas r e f o r c a a lealdade das m a s s a s . Nessa perspectiva, Offe tende a se aproximar dos teóricos conf1 itualistas, que veem na . i n s t i t u c i o n a l i z a d o da política social o resultado das e x i g i n c i a s de l e g i t i m a d o das e l i t e s p o l í t i c a s dominantes. Porque parece ser e x a t a m e n t e esta a tese mais geral dos estudos t í p i c o s dos m o d e l o s c o n f 1 i t u a l i s t a s , principalmente da corrente pluralista vinculada á tradicao weberiana. Assim, o Estado assume funcoes sociais, como reacao ao déficit de 1egitimidade, que se apresenta sob diferentes modalidades, segundo as diversas fases do desenvolvimento. Na origem da política social, o p r o b l e m a a enfrentar era a integrado, no Estado burgués, do emergente movimento operario. Frente ao radicalismo das organizacoes sindicáis e políticas dos trabalhadores, as e l i t e s operaram no sentido de fragmentar sua acao, fazendo com que os m e c a n i s m o s de r e l a d o mais direta com o Estado, via p o l í t i c a social, tendessem a afrouxar seus vínculos com o r g a n i z a c o e s m i l i t a n t e s (Rimlinger). I Ñas suas variacoes, essa tese aparece, também, sob o a r g u m e n t o de que, dada a p e r m a n e n t e necessidade de legitimar todo o sistema de poder, d i a n t e da perda de f u n d o legitimadora da acao p o l í t i c a tradicional do Estado, as elites no poder encontram novas o p o r t u n i d a d e s de l e g i t i m a d o na política social, urna vez que esta pode responder aos n o v o s p r o b l e m a s sociais g e r a d o s pela i n d u s t r i a l i z a d o e pelo incremento demográfico. Com o a u x i l i o de novos aparatos burocrático-assisteneiais, naturalmente interessados na sua própria expansao, cada vez mais ampios s e t o r e s p r e v i d e n c i á r i o s vao sendo c o l o c a d o s sob a regulamentacao e administrado estatal, fazendo com que a seguridade social deixe de ser s i m p l e s i n s t r u m e n t o de tutela dos segmentos mais i n d i g e n t e s e se torne um bem escasso, destinado a todos, e nao-adquirível equanimemente, s e n a o sob a supervisao pública. Na luta distributiva, resultados mais favoráveis d e p e n d e r a o "da Tfápacidade "dos v a r i o s g r u p o s de fazer valer a ameaca de quebra do consenso, seja pela sua forca eleitoral, seja pelas posicoes E s t r a t é g i c a s que ocupám no p r o c e s s o produtivo. 0 autor que Alber examina," n e s t e caso, é'Horst Baier. 99 No campo raarxista, a versao da tese do dgficit de legitimidade aparsce em Vobiruda, Offe gT~~pr incipalmente, en Habermas. A p o l í t i c a social responde, em geral, á reacao do tTstacTo" c a p i t a l i s t a á o r g a n i z a d o e p r e s s a o do m o v i m e n t o operario, atuando no sentido da i n t e g r a d o social. Entretanto, essa mesma garantia de i n t e g r a d o altera a i n t e r d e p e n d e n c i a funcional do sistema económico: os gastos sociais do Estado aumentara a dependencia das finanzas públicas dos recursos económicos, e s t i m u l a n d o as formas de i n t e r v e n d o p o l í t i c a na economía; essa intervendo sobre setores, a n t e r i o r m e n t e autónomos, acentúa a perturbado dos delicados mecanismos de interdependencia funcional, aerando, também, novas e mais o n e r o s a s e x i g e n c i a s de l e g i t i m a d o . 0 m o v i m e n t o é, portanto, em espiral: in ic i al ment e, o Estado busca 1 e g i t i m a r - s e , a t r i b u i n d o - s e novas f u n d e s que, por sua vez, i m p u l s i o n a m novas r e i v i n d i c a c o e s s o c i a i s . Isso o obriga a buscar novos mecanismos de legitimado, multiplicando as p r e s t a c o e s sociais, o que c o n t r i b u í para a e r o s a o d a s p r e c e d e n t e s justificativas legáis e n o r m a t i v a s . M o v i m e n t o em espiral que se faz, entretanto, a t r a v é s da crise, expondo, cada vez mais, a vulnerabi 1idade do sistema. Obviamente, esse estudo c 1 a s s i f i c a t ó r i o tratou, também, de resgatar aqueles trabalhos que se afastam das tendencias privilegiadoras de e l e m e n t o s únicos de interpretado, buscando modelos mais integrados de e x p l i c a d o - o que, de fato, melhor qualifica o atual e s t á g i o dessa producao. Alber d e s t a c a , entre eles, as p r o d u c o e s de Peter Flora e de Ian Gough, autores que, segundo sua leitura, tentaran e x p l í c i t a m e n t e d e s e n v o l v e r m o d e l o s integrados, fazendo convergir, na i n t e r p r e t a d o , elementos e condicoes diversas. Peter Flora tenta conciliar elementos da teoría da m o d e r n i z a d o com a q u e l e s da teoría do d e s e n v o l v i m e n t o p o l í t i c o e organiza, para tanto, num único sistema interpretativo, tres c a t e g o r í a s de fatores: os p r o c e s s o s de m o b i l i z a c a o que estimulara solucoes políticas, as iniciativas e s t a t a i s alimentadas pela preocupado de garantir a ordera interna e a sol idar iedade política i n t e r n a c i o n a l . No centro da a n á l i s e está a c o n v i c c a o de que os problemas de m o b i l i z a c a o e m e r g e n t e s com a expansao do mercado, a t r a v é s da m e d i a d o das a s s o c i a c o e s , exercem pressoes sobre a burocracia estatal. Inspirado pelos modelos de d e s e n v o l v i m e n t o p o l í t i c o d e s c r i t o s por Stein Rokkan, Peter Flora atribuí a e m e r g e n c i a do Uelf «re ÍJSafee na s o c i e d a d e industrial aos p r o b l e m a s c o n e x o s aos p r o c e s s o s de m o d e r n i z a d o , e n f a t i z a n d o que, no p l a n o d a s inst ituicoes, as solucoes v a r i a d o s e g u n d o fases e c a r a c t e r í s t i c a s do p r o c e s s o de d e s e n v o l v i m e n t o p o l í t i c o . Ñas suas o b s e r v a c o e s s o b r e o d e s e n v o l v i m e n t o , por exeroplo, Flora entende que os p r o b l e m a s sociais p o s t o s pelos p r o c e s s o s de industrial i z a d o e mobilizacao podem encontrar, em várias medidas, r e s p o s t a s i n s t i t u c i o n a i s do tipo assistencial privado, confessional, cooperativo, que serao, a seu modo, "filtradas" pelo Governo. Visto de sua outra face, partidos e grupos de interesse "filtram" a q u e l e s processos que emergem com as novas oportunidades geradas pela c o n c e n t r a d o operária, pela máior 100 comunicacio, transformando-os em pressào política sobre a autoridade estatal. Esses dois planos de pressao dao lugar a intervencoes de governo, que variarao, segundo o grau de d e s e n v o l v i m e n t o a l c a n c a d o pelo p r o c e s s o de c o n s t r u c a o do Estado e da Nació. É, na verdade, tal d e s e n v o l v i m e n t o que determina, de um lado, a estrutura-chave para a resolucao dos conflitos e, portanto, das d i m e n s o e s e peso p o l í t i c o da "questao operária". De outro lado, define, também, o raio de acio governativa, que reflete o processo constitucional de centralizacao e de c o n c e n t r a e i o de p o d e r d e c i s ò r i o , em particular do Executivo. De posse desse quadro geral explicativo, Flora pode examinar a emergencia e d e s e n v o l v i m e n t o do Malfare *TffFal*i na*""s¥guTffré direcao: o principal o b j e t i v o d o Uelfare S t a t e era, na "origem, defensiva _dé_ i n t e g r a c a o e de est ab i 1 izacao. No seni fdò"*~ctaipnsérvicào da estrutura existente, a politica" do Uelfare permaneceu por muito tempo e é, até agora, em grande parte," defensiva. Entretanto, variaram as r e s p o s t a s ás p e r g u n t a s ~ g y e m d"eve ser i n F e g r á d o e Q gue deve ser estabilizado In ic ial'ment e, a politica de integracio era dirigida exclusivamente á classe operária, a quem se n e c e s s i t a v a limitar e canalizar a militància politica contra o sistema; o que deveria ser estabilizado era o sistema e c o n ò m i c o c a p i t a l i s t a e a ordem politica dominante. Hoje, o U e l f a r e S t a t e e s t e n d e u - s e , para cobrir outros estratos, além da classe operária, e perdeu seu caráter puramente defensivo; todavia, a i n t e g r a c a o e a est ab i 1izacio continuam a ser funcoes essenciais. ?/ No campo dos pluralistas, portanto, parece ser de Flora a t e n t a t i v a integradora em um modelo que, ainda trabalhando com e l e m e n t o s da v e r t e n t e funeionalista, considera, como veremos, nao apenas o quadro d i n à m i c o dos conflitos, mas, também, a h i s t o r i c i d a d e das s o l u c o e s institucionais. Na vertente marxista, Alber recupera o trabalho Gough, como p a r a d i g m á t i c o da t e n t a t i v a integradora de filoes teóricos. R e s u m a m o s a leitura que faz de Gough: de Ian diversos "0 desenvolvimento c a p i t a l i s t a provoca a expropriacao da forca de t r a b a l h o e ameaca sua reproducao, mas tais p r o b l e m a s nio dio lugar, necessariamente, a medidas de política social. A intervencao do E s t a d o Social v e r i f i c a - s e quando a m o b i l i z a c i o dos trabalhadores - por sua vez d e t e r m i n a d a , apenas parcialmente, pelo p r o c e s s o de a c u m u l a c i o - d e m o n s t r a - s e , na luta de classes, s u f i c i e n t e m e n t e forte para e x e r c e r pressio eficaz sobre o Estado. Por sua vez, a c a p a c i d a d e deste de realizar a política social será tanto m a i o r quanto maior for sua autonomia relativa frente aos setores da c l a s s e dominante, assim como mais elevada for sua c e n t r a l i z a c a o ' (do poder decisorio). Mas, a autonomia e a c e n t r a l i z a c a o do E s t a d a nao sio, para Gough, funcao do e s t á g i o de d e s e n v o l v i m e n t o c a p i t a l i s t a , p o i s dependem da evolucao p r e c e d e n t e da pròpria e s t r u t u r a estatal e das c o n o t a c o e s mais fortemente 2/ Cf. P. FLORA, "Soluzione o fonte di crisi? Il Uelfare State in prospectiva storica", in M. FERREIRA, org. LB SlalQ del b e n e s s e r e : una crisi senza u s c i t a ? Firenzi, Le Monnier, 1981, P. 1-2. 101 r e p r e s e n t a t i v a s ou, ao contrario, que tenham p r e v i a m e n t e a d q u i r i d o . " absolutistas e centralizadas, De posse desse quadro, é possível, entao, chamar a atencao, tanto para as d i f e r e n c a s , quanto para as s i m i 1 a r i d a d e s entre as vertentes pluralistas e m a r x i s t a s que trataran de explicar, teoricamente, as o r i g e n s do U e l f a r e S t a t e . Desde logo, cumpre a s s i n a l a r a d i f e r e n c a b á s i c a que separa, entre o s funeionalistas, a p e r s p e c t i v a p l u r a l i s t a da marxista. E n q u a n t o para os p r i m e i r o s (pluralistas), o Uelfare explica-se, sobretudo, pela tendencia geral de modernizado (industrializado, urbanizado e suas c o n s e q ü e n c i a s sociais), para os s e g u n d o s (marxistas), o Uelfare é, antes de tudo, um produto do capitalismo e, portanto, h i s t ó r i c a m e n t e datado no m u n d o o c i d e n t a l . Em a m b o s , entretanto, as r a z o e s " e s t r u t u r a i s " detèm peso principal na a r g u m e n t a d o e o argumento é, fundamentalmente, de c a r á t e r d e d u t i v i s t a , o que parece estar sendo n e g a d o p e l o s t e ó r i c o s c o n f 1 í t u a l i s t a s . _ ' 'Esses p l u r a l i s t a s ou m a r x i s t a s tratam de buscar, para além das c o n s i d e r a c o e s estruturais, os fatores p o l í t i c o s que melhor possam explicar a e m e r g e n c i a do E s t a d o do Bem-Estar Social, a q u e l e s fatores que se manifestam no c a m p o das r e l a c o e s de forca, de c o n f r o n t o de interesses diversos, etc. O b v i a m e n t e , os m o d e l o s mais i n t e r e s s a n t e s sao a q u e l e s que t e n t a r a n c o m p o r um quadro mais integrado de e x p l i c a d o (Flora e G o u g h ) e, nesse particular, chama a atencao a recente retomada de Flora na tradicáo durkeiminiana. da teoria da modernizacao: como veremos posteriormente, este a u t o r entende que, sob a s c a r a c t e r í s t i c a s c a p i t a l i s t a s das economías, sao, entretanto, os p r o c e s s o s mais gerais da m o d e r n i z a c a o que podera c o m p o r um quadro explicativo mais c o n v i n c e n t e á c o m p r e e n s a o da origem do Uelfare. Nao sao, entretanto, tais processos, senao um p o n t o de p a r t i d a para a explicado, que deve, também, contemplar outras condicoes propriamente políticas e poiítico-institucionais . Para o analista, entretanto, esse quadro de argumentado ainda é g e n é r i c o e insuficiente, s e m p r e que p r e t e n d e examiná-lo da ótica de estudos comparativos e, principalmente, se sua p r e o c u p a d o é detectar, na teoria, os e l e m e n t o s e x p l i c a t i v o s que lhe permitem analisar, ñas suas e s p e c i f i c i d a d e s , casos n a c i o n a i s diversos. Por isso mesmo, vale a pena a g o r a identificar, ñas c o r r e n t e s teóricas gerais, as h i p ó t e s e s mais p r e c i s a s que foram p r o p o s t a s e que, de fato, permitem urna a n c o r a g e m empírica mais clara. Isto é, vamos examinar as correntes de explicado, procurando destacar, nos a r g u m e n t o s gerais, as r e l a c o e s mais p r e c i s a s que ai estao c o n t e m p l a d a s e que p e r m i t i r i a m , num momento posterior, estudos e m p i r i c a m e n t e r e f o r c a d o s s o b r e a grigefQ e a eseaosao do U e l f a r e State em países e s p e c í f i c o s . Vejamos, em p r i m e i r o lugar, as h i p ó t e s e s concernentes á origen do Estado do Bem-Estar Social e verifiquemos, inicialmente, como os í U Q C i B Q a l i s t a s ( p l u r a l i s t a s ou m a r x i s t a s ) tenderiam a fatores e s t r u t u r a i s na d e t e r m i n a d o da emergencia do Uelfare State 102 Para os f U Q t i Q Q a l i s t a s e l u c a l i s t a s p o d e - s e afirmar que: - os sistemas de s e g u r i d a d e social sao introduzidos em todos os países industrializados e urbanizados, independentemente das diferencas específicas de níveis similares de u r b a n i z a d o e industrializacao; portanto, pode-se esperar, nos d i v e r s o s países, a introducao do sistema de p o l í t i c a s o c i a l ; - as variacoes, no tempo, podem ser explicadas pelos diversos inicios da i n d u s t r i a l i z a c a o : quanto mais precoce o deslanchar da industrializacao, mais precoce, provavelmente, será a introducao d o s s i s t e m a s de protecao soc ial. Posicio e s p e c í f i c a , em r e l a c a o á origem, caberia a Peter Flora: a v a n a d o , no tempo, e x p l i c a - s e , t a n t o pela v a r i a d o dos problemas sociais e p o l í t i c o s (determinados pelos processos de modernizado), quanto pelo potencial das estruturas sociais intermediárias - a introducao da política social será mais precoce quanto mais intensa a i n d u s t r i a l i z a c a o e quanto mais fraca a p o s s i b i l i d a d e de s o l u c o e s e s p o n t a n e a s e a s s o c i a t i v a s . Vejamos, agora, as h i p ó t e s e s d e s t a c á v e i s da a r g u m e n t a d o dos füQEÍQQalistas fflaE!<ͧÍ3S Dada a tese geral de que a política emerge como resposta ás e x i g e n c i a s do sistema, esse argumento g e n é r i c o se deixa t r a n s p a r e c e r , em alguns autores, na forma das s e g u i n t e s relacoes-. - a política social nasce com os primordios mesmo do capitalismo industrial; a f o r m a d o de grupos homogéneos e concentrados de assalariados exige que a p a r t i c i p a c a o / e x c 1 u s a o no m e r c a d o de t r a b a l h o seja regulada de modo v i n c u l a n t e ; - a política social e m e r g e com a necessària protecao ao desemprego, fenòmeno típico e ciclico do processo capitalista de a c u m u l a d o ; ao inst i t uc ional i zar-se , tal protecao i m p u l s i o n a o d e s d o b r a m e n t o do M a l f a r « State; - a política social é fortemente relacionada ás características do m o d o de producio capitalista, mas é consentanea á fase monopolista do capitalismo, sendo ìntroduzida e institucionalizada por exigencias da dinàmica m o n o p o l i s t a de a c u m u l a d o de capital. Vista em conjunto, a perspectiva funeionalista, tanto p l u r a l i s t a quanto m a r x i s t a , p r o d u z um reduzido campo de hipóteses que podem apoiar e s t u d o s de v e r i f i c a d o e m p í r i c a . Por outro lado, pouco auxiliam na c o m p r e e n s i o das d i f e r e n c a s entre os processos de origem do M a l f a r e S t a t e , seja no que se refere ao momento, m e s m o de o r g a n i z a d o das acoes s o c i a i s do Estado como sistema de política, seja no que tange á s d i f e r e n c a s institucionais. Ao criticar as visoes funeionalistas, muitos autores chamam a a t e n c i o para o fato de essa p e r s p e c t i v a ser incapaz de, sozinha, 103 explicar porque, na E u r o p a O c i d e n t a l , a introducto de fortes sistemas de seguridade social ocorreu era p a í s e s que nao a p r e s e n t a v a m o s m a i o r e s g r a u s de d o s e n v o l v i m e n t o c a p i t a l i s t a , de industrializacao, de u r b a n i z a c a o , etc. C o n s i d e r a r e s s a s q u e s t o e s parece ser a intencao dos autores que trabalham, levando fortemente em considerarlo a dinàmica dos conflitos sociais e políticos, para além, entao, de h i p ó t e s e s t a o - s o m e n t s de tipo est rut ural. Entre os e l U E B l i S l a S £SQÍlÍ.ty§I¿sta§, convém e x a m i n a r dois blocos de hipóteses: as e x p l i c i t a d a s p e l o s que enfatizam as pressoes advindas de "baixo" (setores subalternos, nao-privilegiados) e as que s u b l i n h a m as p r e s s o e s originadas do "alto" ( c o m p o r t a m e n t o d a s e l i t e s d o m i n a n t e s ) . No p r i m e i r o bloco, destacam-se duas hipóteses de análise: - os s i s t e m a s de s e g u r i d a d s social s u c e d e n á u n i v e r s a l i z a c a o do d i r e i t o a v o t o e q u a n t o m a i s p r e c o c e m e n t e e s t a se der, mais rapidamente tende a ser introduzida a politica soc iali - a politica social r e s u l t a da raobilizacao e orsanizacao operaria o quanto a n t e s t a i s f e n ó m e n o s ocorrerera, mais precoce tenderá a ser a emergencia dos sistemas de protecao social. No s e g u n d o b l o c o , isto é, entre o s que priorisatn as "desde o alto", as h i p ó t e s e s sobre a orisera do M a l f a r e seguintes: pressoes sao as - quanto m e n o r a l e g i t i m i d a d e d e m o c r á t i c a do r e g i m e , tanto m a i o r a d i s p o s i c a o de i n t r o d u z i r a s p o l í t i c a s em resposta á mobilizacao operaría; - quanto m a i s l i m i t a d a a i n f l u e n c i a da b u r g u e s í a industrial sobre os m e c a n i s m o s p o l í t i c o - r e p r e s e n t a t i v o s , m a i s p r e c o c e a i n t r o d u c a o dos s i s t e m a s de p r o t e c a o social em resposta (preventiva) á mobi1izacao operaria. Peter F l o r a , além de p a r t i l h a r d e s s a ú l t i m a tese, adiciona o u t r a s mais: o m a i s alto g r a u de cent r a l i z a c a o p o l i t i c a , o mais intenso envolvimento em conflitos internacionais e a menor influencia dos conflitos confessionais, técnicos e lingüísticos sao também fatores explicativos da PEior precocidade da introducao das políticas sociais. Também e n t r e os s s c B Í S k a s que t r a b a l h a m na perspectiva da teoria do conf.lito ( p r i n c i p a l m e n t e neoraarxistas) , é possível separar os que enfatizam as pressoes "de baixo" dos que privilegiara as p r e s s o e s "do a l t o " . E n t r e o s p r i m e i r o s , a h i p ó t e s e geral sobre o r i g e n é a s e g u i n t e : - sá urna forte correlacao positiva entre os graus consciéncia operária, o r g a n i z a c a o sindical e p o l í t i c a de dos 104 trabalhadores State. e a precocidade Entre os que enfatizam destacar : as p r e s s o e s da e m e r g e n c i a "desde o do Melfare alto", pode-se - dada a m o b i l i z a c a o operaría, será mais rápida a introducalo da política social quanto maior for a c o n c o r r è n c i a entre setores d o m i n a n t e s e a n e c e s s à r i a busca, pelos contendores (de c i m a ) de a l i a n c a s intere 1asses; - dada a o r g a n i z a c a o da c l a s s e operaría, m a i s rapida será a introducto do sistema de protecao social quanto mais centralizado e relativamente autonomo (em relacao aos interesses d o m i n a n t e s ) for o aparato de Estado. Examinemos, agora, as h i p ó t e s e s que podem ser extraídas dos argumentos gerais sobre o deseQVBlyiBgQlQ ou a giseansio do U e l f a r e State. Os elurali§tas funeignalista§ s i s t e m a s públicos de p r o t e c a o s o c i a l : atribuem a expansao dos - á general izacao d a s s i t u a c o e s de riscos-, cresce o número de traba 1hadores dependentes e de anciaos, enquanto diminuí o potencial assistencial das redes de grupos sociais primários (dada a diferenciacao e a maior mobilidade); V - á c r e s c e n t e dispon ibi 1idade de recursos em raaos do Estado permitida pelo pròprio grau de d e s e n v o l v i m e n t o econòmico. Para os m a c ü i s t a a f u n e i o n a l i s t a s , as r e l a c o e s m a i s ocorrem entre a e x p a n s a o do U e l f a r e State e: claras - os e f e i t o s n e g a t i v o s c r e s c e n t e s do processo p r o d u t i v o e a socialízacao c r e s c e n t e d o s custos de r e p r o d u c a o da forca de trabalho; - o crescimento do setor monopol íst ico e a conseqiiente explosio de m a o - d e - o b r a excedente, o que obriga o sistema a ampliar a p r o t e c a o s o c i a l . Em Peven e Cloward, há urna correlacao negativa: a longo prazo, o gasto social tende a cair e, assim, o M e l f a r e tende á estagnacao, dadas as depressoes cíclicas e conjunturais da economía. Entre os f u Q £ Í g n a I i s t a § , há autores p l u r a l i s t a s e m a r x i s t a s que explícam a e x p a n s a o do U e l f a r e State por um movimento de c o n v e r g e n c i a internacional, este, por sua vez, e x p l i c a d o , seja pela lógica comum do d e s e n v o l v i m e n t o capitalista, seja pelas c a r a c t e r í s t i c a s também g e r a i s do processo de m o d e r n i z a c a o . Peter Flora, ao considerar os f a t o r e s internacionais no m o v i m e n t o de expansao dos s i s t e m a s de p r o t e c a o , atenta para os p r o c e s s o s de 105 difusao que atuam no s e n t i d o de acentuar semelhancas entre os distintos países. a convergencia e Pode-se v e r i f i c a r , entao, que f u n c i o n a l i s t a s , p l u r a l i s t a s ou marxistas tendem a imputar aos aspectos comuns e gerais do processo de industrializacao (capitalista) o desenvolvimento similar dos s i s t e m a s de p r e s t a G o e s sociais p ú b l i c a s ñas e c o n o m i a s industriáis c o n t e m p o r á n e a s . É certo que os p l u r a l i s t a s assinalam urna expansáo continua, ao p a s s o que os marxistas tendem a sublinhar um d e s e n v o l v i m e n t o d e s c o n t i n u o , que tem como paño de fundo as crises c í c l i c a s d a s e c o n o m i a s c a p i t a l i s t a s . Obviamente, para as c o r r e n t e s que enfatizam os E B Q f l i t a s , as hipóteses sobre o desenvolvimento do Malíara Sfcnta sao relacionadas menos a características estruturais do desenvolvimento e c o n ó m i c o e m u i t o m a i s á d i n á m i c a dos processos políticos. Para o s B l y c a l i s t a s que enfatizam as p r e s s o e s "desde baixo", a e x p a n s a o se deve: - á institucionalizacao dos direitos da cidadania e á elevacao da "demanda por eqüidade", ancorada no p r i n c i p i o da igualdade frente á lei; - á c r e s c e n t e influencia dos s i n d i c a t o s , ao maior peso da representaGao parlamentar dos partidos operarios, á p a r t i c i p a c a o dos p a r t i d o s de esquerda no G o v e r n o . Em a m b a s as hipóteses, quanto maior o peso relativo daqueles fatores, maior deverà ser tanto o n ú m e r o de p r o t e g i d o s , os tipos de b e n e f i c i o s sociais, quanto, finalmente, o g a s t o social e s t a t a l ¡ - á c o m p e t i G a o pelo voto nos anos eleitorais. Para os pluralistas conf1itualistas que enfatizam as pressoes "desde cima", o m o v i m e n t o de e x p a n s a o do W e í í a r e SfcaSa exp1ica-se: - pela e x a u s t a o das m o d a l i d a d e s t r a d i c i o n a i s de legitimadlo e, portento, pela c o n s t a n t e introducilo de novos m e c a n i s m o s legitimadores, a e x p a n s a o da p o l í t i c a social sendo o mais corrent e ; - pela maior mobilidade de recursos possibi1 itada c r e s c i m e n t o d o s a p a r e l h o s b u r o c r á t i c o s do Estado; pelo - pela p r ó p r i a i n s t i t u i d o dos p r o g r a m a s sociais, que criam a base em que se afirmam os i n t e r e s s e s e x p a n s i ó n i s t a s das burocracias e categorías profissionais envolvidas. Para os m a r x i s t a s que privilegiam o c o n f l i t o originadas "desde baixo", as h i p ó t e s e s em relacao U«Iftre S^afcs podem ser assim exp1icitadas, d e s e n v o l v i m e n t o do W o l í o r o está r e l a c i o n a d o : e as pressoes á expansao do ou seja, o 106 ao r e f o r c o (político e organizacional> da classe operária; quanto mais forte a organizacao da classe operaría, menores as probabilidades de r e d u c a o cíclica do gasto social -, - em c o n s e q ü é n c i a , ás o n d a s de g r e v e e c o n t e s t a c a o com objetivos de integracao p o l í t i c a e controle neste caso, quanto m a i s e l e v a d o s os índices de maior o c r e s c i m e n t o d a s p r e s t a c o e s sociais; social, social; greve, - negativamente, quanto aos c i c l o s e x p a n s i v o s do sistema e c o n ò m i c o , isto é, o M a l f a r e tende a crescer ñ a s recessoes e a restringir—se ñas expansoes, devido ao p e s o inverso que, em relacao a ele, mantém o sistema primario de c o n t r o l e s o b r e o t r a b a l h o (o p r ò p r i o processo p r o d u t i v o ) . Sao e s c a s s a s as h i p ó t e s e s que sustentam v e r i f i c a c a o empírica e comparativa destacáveis da argumentacao dos marxistas que enfatizam as p r e s s 5 e s "desde o alto". Eventualmente, poder-se-ia extrair do t r a b a l h o de V o b r u d a a seguinte formulacao: quanto m e n o r e s as d i s t a n c i a s e n t r e maioria e m i n o r í a no G o v e r n o e quanto mais incerto for o r e s u l t a d o esperado das eleicoes, tanto mais forte a t e n d e n c i a á e x p r e s s a o d a s p r e s t a c o e s sociais. Enfim, no u n i v e r s o d o s "modelos c o n f 1 i t u a l i s t a s " , p a r e c e ser a forca c r e s c e n t e do m o v i m e n t o operario o motor principal que explicaría a e x p a n s a o d o s s i s t e m a s de seguridade social, seja pelas suas d e m a n d a s e s p e c í f i c a s por p r o t e c a o , seja p e l a reacio que provoca no c o m p o r t a m e n t o dos s e t o r e s dominantes. Para os pluralistas, tal reacio se manifesta através dos ciclos eleitorais; para os m a r x i s t a s , tendería a c o r r e s p o n d e r a ondas de protestos e greves. A c r e s c e - s e a isso a afirmacào, de parte dos pluralistas conf1itualistas, de que a pròpria capacidade administrativa do Estado, crescente, estimula a expansao do sistema, dados os i n t e r e s s e s p a r t i c u l a r e s das burocracias em ampliar seus r e c u r s o s de poder e sua margen de c o m p e t e n c i a . Algumas consideracoes de caráter m a i s s i n t é t i c o podem ser feitas, quando se c o n s i d e r a o c o n j u n t o dos a r g u m e n t o s t e ó r i c o s e das hipóteses e s p e c í f i c a s sobre origem e expansao do Malfare State. £ certo, c o m o afirma Ascoli 1,$/, serem m u i t o s os pontos comuns partilhados por pluralistas e marxistas, seja ñas v e r t e n t e s f u n e i o n a l i s t a s ou c o n f 1 i t u a l i s t a s . Tanto em relacao á origem quanto á expansao, a relacao entre o desenvolvimento economico e o M a l f a r e S t a t a parece inevitável. No nivel da argumentacao teórica geral - desconsideradas as diferencas específicas - os "elementos essenciais para a análise da emergencia e d e s e n v o l v i m e n t o d o s m o d e r n o s sistemas de protecao social podem ser s i n t e t i c a m e n t e indicados-, a modernizacao, a industrializacao e a urbanizacao, para uns, o desenvolvimento capitalista, para outros, trazem c o n s i g o o s i m p u l s o s b á s i c o s que 18/ Cf. U. ASCOLI, "Il sistema italiano de welfare", Welfare state alllitaliaoa. Laterza, i?84. in , org.. 1 0 7 farmo decencadear, ao final, a emergencia de un sistema nacionalmente articulado, sob a d m i n i s t r a d o e s t a t a l , de p r o t e c a o social. Para os que se afastam do mecanismo dedutivista e considera!» os conflitos sociais como núcleo dinámico desee p r o c e s s o , fundamental é a p r e s e n c a o r g a n i z a d a da c l a s s e o p e r a r i a , seja pela p r ó p r i a c a p a c i d a d e de impor s e u s o b j e t i v o s , seja p e l a s reacoes preventivas ou de e s t r a t e g i a p o l í t i c a que provocan no c o m p o r t a m e n t o d a s e l i t e s e do próprio E s t a d o . No plano das h i p ó t e s e s que possibi 1itam alguma ancoragea empírica, é verdade que nao apenas é restrito o número de relaeoes que podem ser e x t r a í d a s dos argumentos, como, neste nivel, as diferencas entre as c o r r e n t e s e filiacoes teóricas parecen perder n i t i d e z . De todo modo, a r g u m e n t o s gerais e hipóteses específicas parecem compor -uro quadro c o m p l e x o que g a n h a utilidade para a análise dos c a s o s n a c i o n a i s de emergencia e e x p a n s a o d o s m o d e r n o s sistemas de p r o t e d o e b e m - e s t a r social, etn face do forte suposto p r e s e n t e nestas teorías: o de que, i n g r e s s a n d o d e t e r m i n a d o país em estágios m a i s a v a n z a d o s do d e s e n v o l v i m e n t o c a p i t a l i s t a ou da modernizado, pode-se e s p e r a r que d e s e n v o l v a m s i s t e m a s p ú b l i c o s (ou pelo menos regulados p e l o E s t a d o ) de protedo social. As variacoes, no tempo, tanto da e m e r g e n c i a quanto da expansao desses sistemas, devem-se a razoes históricas complexas, em particular á estrutura e á dinámica do campo dos conflitos sociais, ñas suas expressoes económico-corporativas ou mais claramente políticas. Permanece, entretanto, para o analista, urna certa insatisfado, quando busca apoio e instrumental t e ó r i c o neste campo. Afinal, c o n s i d e r a d a s em seu c o n j u n t o , essas exp1icacoss estío muito fortemente r e f e r i d a s a um p a r á m e t r o ttlDEBESl« tomado como central para captar as diferencas entre os diversos p r o c e s s o s de c o n s t i t u i d o do U e l f a r e S t a t e : g y a a d o e m e r g e m ? E com que citülB a v a n c a m ? Diferencas no plano da sua g§¿rutyc§ institucional. ñas suas dioeaSBgS. ñas suas celSEQgf Eom Q sistema CQl.¿tico - estas sao a p o n t a d a s de modo m u i t o tenue ñas formulacoes que e x a m i n a m o s , mas sao, o b v i a m e n t e , c r u c i a i s para o analista interessado em m u n i i — s e de instrumental t e ó r i c o para nao somente estudar um caso n a c i o n a l , mas estudar um quadro dos padroes internacionais de montagem dos s i s t e m a s de protedo e bem-estar. Na próxima s e d o , d e s e j a m o s interrogar a literatura recente, exatamente para ampliar naquela diredo nossos instrumentos a n a l í t i c o s . B. ttodalididci E t t c u t u c a l t i d e E u n c i o n a D i o t o da HHilface Stitt" Identificar um quadro conta, tanto da emergencia de deterrainacoes que dos m o d e r n o s s i s t e m a s permita dar de Uelfare, 1 0 8 quanto das suas v a r i a c o e s s u b s t a n t i v a s e formáis, p a r e c e ser o esforco desenvolvido por Flora e Heidenheimer, em recente trabalho. 11/ Frente ás d i f e r e n t e s i n t e r p r e t a c o e s t e ó r i c a s de orientacao durkheiminiana, w e b e r i a n a ou m a r x i s t a , Flora parte da a f i r m a c a o de que é comum, aos c l á s s i c o s , a idéia de que, pelo menos no á m b i t o e u r o p e u , o c r e s c i m e n t o do m o d e r n o M e l f a r e 8t»fc® pode ser interpretado como urna resposta a dois processos fundamentáis: a e x p a n s a o do c a p i t a l i s m o , que se torna o modo de p r o d u c a o d o m i n a n t e a p ó s a r e v o l u c a o i n d u s t r i a l , e o m o v i m e n t o que vai da formacao do Estado nacional á sua transformacao em democracia de m a s s a a p a r t i r d o s ú l t i m o s d e c e n i o s do s é c u l o XIX. Instituicoes assisteneiais desenvolveram-se sob a égide dos Estados absolutistas, mas esta é, sobretudo, a p r é - h i s t ó r i a do Melfare. Seu inicio e f e t i v o d á - s e e x a t a m e n t e com a s u p e r a c a o dos absolutismo^ e a e m e r g e n c i a d a s d e m o c r a c i a s de massa e, nesse sentido, o m o d e r n o M e l l a r e pode ser i n t e r p r e t a d o , s e g u n d o Flora, como urna resposta á crescente demanda por igualdade sócio- e c o n ó m i c a ou, c o m o quer M a r s h a l l , c o m o a i n s t i t u c i o n a l i z a c a o dos I d i r e i t o s s o c i a i s em r e l a c a o ao d e s e n v o l v i m e n t o dos d i r e i t o s civis t e politicos. L" Mas o M a l f a r e é bem m a i s que um mero eCBSiytQ da democracia de m a s s a s . C o n s t i t u i - s e pela t r a n s f o r m a c a o fundamental do pròprio Estado, de"~SUa e s t r u t u r a , de s u a s funcóes e da sua legit imidade. As funcoes e s t a t a i s de g a r a n t í a de s e g u r a n c a externa, liberdade económica interna e i g u a l d a d e frente á leí sao progressivamente substituidas por urna nova r a z i o de ser: a distribuicao de servicos sociais de base securitária e as transferencias em dinheiro, segundo criterios estandartizados e de rotina, nao l i m i t a d o s á a s s i s t é n c i a de e m e r g e n c i a . Nesse sentido, o M a l f a r e é, nao só uma r e s p o s t a á demanda por igualdade s ó c i o - e c o n ó m i c a , mas, t a m b é m , uma resposta á d e m a n d a de s e g y n a n c a s ó c i o - e c o n ó m i c a . S e g u n d o a q u e l e s autores, é o p r o c e s s o de e x p a n s a o c a p i t a l i s t a que subjaz a q u e l e s movimentos políticos de t r a n s f o r m a c a o do E s t a d o . Na t r a d i c a o marxista, o Melfare, em última i n s t a n c i a , c o n s t i t u i - s e em uma resposta aos c o n f l i t o s de classe e ás c r i s e s c í c l i c a s do c a p i t a l i s m o . Por isso mesmo, sua h i s t o r i a só tem i n i c i o em fins do s é c u l o XIX, com o agravamento dos e f e i t o s do c i c l o e c o n ó m i c o s o b r e as c o n d i c ó e s de vida dos t r a b a l h a d o r e s com a i n t e n s i f i c a c a o dos conflitos de classe. Ao integrar essas perspectivas, Flora pode, agora, afirmar serem a 5SguC3DE3 e a igualdade as duas dimensoes f u n d a m e n t á i s do M a l f a r i . Entretanto, Flora deve e n f r e n t a r o s e g u i n t e problema: os estudos h i s t ó r i c o s s o b r e o M e l f a r e mostram que: a ) nao foram as sociedades européias m a i s a y a n c a d a s em termos democráticos e capitalistas que primeiro desenvolveram as instituicoes e políticas do m o d e r n o U a l f a r a 8 t t t e ; b> os E s t a d o s f a s c i s t a s que se firmaram após a P r i m e i r a G u e r r a n a o a p e n a s nao desmantelaram 11/ Cf. p. FLORA 8 A. H E I D N H E I M E R , ÍD £uroea e infìmética,F I o r e n c a , Le s^ilueeo del uelfate stale Il M u l i n o , 1984. 109 aquelas instituicoes, como, em alguma medida, até mesmo as d e s e n v o l v e r a m ¡ c ) um p a í s n a o - d e m o c r á t i c o e n a o - c a p i t a l i s t a , como a URSS pós-1971, criou instituicoes muito similares. Em suma, o tíalíar® ita^Q p a r e c e ser um f e n ò m e n o bem m a i s aerai de modernizado, nao-exc1 usivamente vinculado á sua versilo "democràtico-capitalista", ig/ Ì Será na t e o r i a ( c o m p l e x a ) de modernizado elaborada Durkheim que Flora b u s c a r á e x p l i c a d o para a generalidade f e n ò m e n o h i s t ó r i c o do Usifare. S i n t e t i z e m o s seu a r g u m e n t o . por do Em t e r m o s g e r a i s , na p e r s p e c t i v a d u r k h e i m i n i a n a , o Malfare" pode ser i n t e r p r e t a d o c o m o urna t e n t a t i v a de c r i a r n o v a forma de solidariedade em s o c i e d a d e s altamente diferenciadas, buscando resolver os problemas correlatos á divisao do trabalho. Enfraquecidas as antigas associacoes e poderes intermediários das sociedades, a m p l i a m - s e a s o p o r t u n i d a d e s de i n d i v i d u a l i z a c a o ; por outro lado, os m ú l t i p l o s p r o c e s s o s de transformacáo da vida social impoem mecanismos de centralizado. Esses processos fundamentáis se r e f l e t e m ñ a s i n s t i t u i c o e s do Mei f a r e : "C . . 3 a s burocracias públicas assumem muitas das funcoes antes , d e s e n v o l v i d a s por u n i d a d e s m e n o r e s , e n q u a n t o as t r a n s f e r e n c i a s e s e r v i c o s tendem a t o r n a i — s e c a d a vez m a i s i n d i v i d u a l i z a d o s " . 13/ — Mas, o W e l Í B P B longe e s t á , n e s s a ó t i c a , de c o n s t i t u i i — s e em urna resposta absolutamente satisfatória aos problemas fundamentáis das sociedades diferenciadas: a anomia e a d e s i g u a l d a d e . Ñas s o c i e d a d e s i n d u s t r i á i s , a a n o m i a r e f e r e - s e a um déficit de regulado, p r o d u t o do c r e s c i m e n t o da economía de m e r c a d o , que se m a n i f e s t a em i n s t a b i l i d a d e e c o n ó m i c a r e c o r r e n t e e intensificado dos conflitos industriáis. £ certo que, ao i n s t i t u i r m e c a n i s m o s de g a r a n t í a de r e n d a e p r e s t a d o de s e r v i c o s individuáis, o Uelfare pode enfrentar a questao das necessidades i n d i v i d u o s , a í n d a que nao t e n h a s i d o c a p a z de atuar v m a t e r i a i s dos na origem dessas mesmas necessidades. Foi assim limitado na tentativa de estabilizar o mercado e institucionalizar as r e l a c ó e s e c o n f l i t o s i n d u s t r i á i s . R e s p o n d e u , e n t a o , m u i t o m a i s ao problema da i n s e g u r a n c a e c o n ó m i c a que á q u e s t a o geral da anomia das sociedades modernas. E n f r e n t a r m a i s f o r t e m e n t e a q u e s t a o da anomia teria, históricamente, significado o aprofundamento da regulamentacao normativa. Na complexa tradicao cultural ocidental, tal s e r i a p o s s í v e l sernpre que " j u s t a " , isto é, s e m p r e que respeitados os ideáis de igualdade, na sua dupla e contraditória d i m e n s a o de " i g u a l d a d e de r e s u l t a d o s " e " i g u a l d a d e de o p o r t u n i d a d e s " . A i g u a l d a d e de r e s u l t a d o s s u p o e um c r i t e r i o i g u a l i t á r i o na redistribuido alocado de r e c u r s o s , p r o d u t o s e s e r v i c o s - urna seguranca económica. Ao adequada ás n e c e s s i d a d e s e refe rida á pode-se perceber r e s p o n d e r a esse t i p o de d e m a n d a por i g u a l d a d e , mínima o sentido das p o l í t i c a s d e y«l fara de g a r a n t í a de r e n d a F L O R A , op. P . 35 . c it . , p. 35. 110 (assistència aos pobres, salàrio-minimo, pensao social, instrucao obrigatória, servicos sociais, etc.), distintas de esforcos redistribuidos n o s e n t i d o e s t r i t o (o i m p o s t o p r o g r e s s i v o s o b r e a renda). Responder á demanda por igualdade de oportunidade (o exemplo mais c l a r o é o d e s e n v o l v i m e n t o da educacao secundaria compreensiva, mas, também, os programas de seguros sociais proporcionáis á renda) significou, entretanto, implicitamente, a 1 e g i t i m a c à o da d e s i g u a l d a d e : e n f a t i z a n d o o m è r i t o , r e f o r c a m - s e as bases da s u a d e f i n i c a o - a s d i f e r e n c a s d e r e n d a e de condicoes soc iais. A s d i m e n s o e s , e n t a o , de s e g u r a n c a e i g u a l d a d e , c o n s t i t u e m - s e em o b j e t i v o s c o n t r a d i t ó r i o s do U c l f a r * , m a s q u e p o d e m i n t e r a g i r e c o m p l e t a i — s e e a s r e s p o s t a s á d e m a n d a p o r s e g u r a n c a r e a f i r m a m , na sua face m e r i t o c r a t i c a , as p o s i c o e s sociais, contribuindo para a estabilizacao da desigualdade. Mas, ao faze-lo, a desigualdade pode ser atenuada, urna vez que os e s t r a t o s mais pobres da populacao sao os m a i s i n s e g u r o s e, portanto, tendencialmente, mais demandam seguranca. 0 equilibrio relativo entre esses objetivos, na edificacao e transformacao do Uvlfare, variam históricamente, assim como tem impactos d i f e r e n c i a d o s no plano institucional. 0 esquema que Flora elabora para aproximar-se dessas variacoes é apresentado a seguir. Em que medida os objetivos de seguranca sao alcancados, quais seus pesos relativos, que diferentes prioridades assumem. Estas questoes admitem respostas distintas, segundo países e fases de suas transformacoes. REDI8TRIBUICA0 Igualdade (mínimos Seguranca "Social" de result a d o s nac i o n a i s ) Seguranca Igualdade Inseguranca de D E 8 oportunidade I 0 U A L D A D e MERITOCRACIA Regulament acao dos mercados e das relacóes industriáis 111 E essas variasoes, assim como seus impactos sobre as características institucionais do Welfare, relacionam-se a fatores-chave, no plano nacional, e a ura f a t o r p o s t o n o plano internacional. Em geral, as variáveis dBSgDSBlyÍBEDtB SÓSISr rgCQÜQHIES (industrializacao e urbanizado no contexto da organizado capitalista da p r o d u c a o ) e g s & i l i s a c a B d§ £ l § § § § a e g c á c i a ( p r e s s a o verau* a c o e s d e f e n s i v a s d o s i s t e m a político através das i n s t i t u i c o e s do U e l f a r e ) e, mais próximamente, o dgggQyalyiiagDte ÍOStitUEianal «extensao do sufragio, características do regime político), produzem efeitos c o n v e r g e n t e s que explican! a e m e r g e n c i a d o s U e l f a r a , a s s i m c o m o a s características que os diferenciado entre si. No plano internacional, através do c o n c e i t o de g f g i t B de d i f u s i e * os autores dao e n f a s e ao fato de que, presentes já determinados p r o c e s s o s d e i n s t i t u c i o n a l i z a c a o d o M a l f a r * em d a d o s p a í s e s , s u a s inovacoes difundem-se sobre outros, atrasados, exercendo pressoes no mesmo sentido. Fundamental, para os autores, é a c o n s i d e r a d o da variável próxima - o desenvolvimento institucional, isto é, características dos regimes políticos, tanto no momento da emergencia do M a l f a r a , quanto ao longo de suas transformacoes, sao cruciais para a e x p l i c a d o das formas inst i t u c i o n a i s que adquire o Estado do Bem-Estar Social: o m a i o r ou m e n o r g r a u em que se a p r o x i m a r l o d o s p o l o s r e d i s t r i b u i c a o / m e r i t o c r a c i a , formas mais assistencialistas e seletivas vertu* tendencias mais universalistas na dispensa dos bens e servicos sociais, a maior ou menor fragilidade ou forca com que serao consagrados os direitos sociais, etc. 0 estudo que fazem do " a m b i e n t e constitucional" ilustra bem o tratamento dado a essa variável R e p r o d u z i m o s aquí sua a r g u m e n t a c a o e h i p ó t e s e s . europeu crucial. 0 p r i m e i r o a r g u m e n t o d i z r e s p e i t o á d i n á m i c a da c o n q u i s t a e expansao dos direitos sociais. Da m e s m a m a n e i r a q u e a c o n t e c e c o m o direíto ao voto, i s t o é, d e s d e q u e concedido a um grupo da populacao, cedo ou t a r d e o u t r o s g r u p o s p r e s s i o n a m pela e x t e n s a o desse direito - os esquemas de protecao social institucionalizados previamente para certas categorías de trabalhadores sao, posteriormente, demandados por outras, inclusive s e t o r e s de c l a s s e m e d i a . Diferente, entretanto. é o s e n t i d o d e s s e m o v i m e n t o n o c a s o d o d i r e i t o ao v o t o , o movímentó propagou-se de cima para b a i x o da e s c a l a social; no caso dos d i r e i t o s sociais, a difusao tendeu a fazer-se no s e n t i d o inverso. Por outro lado, d i f e r e n t e s tambera s a o a s r e a c o e s n e g a t i v a s do s i s t e m a p o l í t i c o , ñ a s c o n d i c o e s de c r i s e d a s s o c i e d a d e s m o d e r n a s : abolir as eleicoes pode ser um c a m i n h o para romper com as c o n d i c o e s d o s d i r e i t o s p o l í t i c o s , ñ a s i n s t i t u i c o e s do títlfmrm nao tifíi s i d o d e s m a n t e l a d a s ( a í n d a q u e p o s s a m sofrer t ransf ormacoes n o s E s t a d o s a u t o r i t a r i o s >. 0 outro a r g u m e n t o se r e f e r e á r e l a G a o sociais e o sistema político. Segundo os p r o v á v e l que a i n t r o d u c a o e o alargamiento d o entre as políticas autores, "[...3 é d i r e i t o ao v o t o , e a 112 i n t r o d u c a o legal bu de fato da responsabi 1 idade p a r l a m e n t a r criem um a m b i e n t e favorável ao d e s e n v o l v i m e n t o do U e l f & r « S t a t e , já que fazem crescer a o p o r t u n i d a d e para os g r u p o s económicamente em desvantagem de a r t i c u l a r , agregar e representar seus próprios i n t e r e s s e s e d e m a n d a s , e o b t e r , enfim, o p o d e r e x e c u t i v o " . 14/ A luz da i n t e r a c a o d e s s a s v a r i á v e i s , o s a u t o r e s fazem um estudo das distintas probabilidades e configuracoes que podem mais precisamente explicar a emergencia e características do Wolfors europeu, em fins do s é c u l o XIX e i n i c i o do s é c u l o XX. Ainda que conscientes das dificuldades de classificacao dos regimes, o p t a m por t r a b a l h a r em quatro t i p o s : d e m o c r a c i a liberal e democracia de massas (regimes parlamentares) e monarquías constitucionais de s u f r a g i o l i m i t a d o e de s u f r a g i o ampliado. 0 quadro de p o s s i b i 1 i d a d e s que c o m p o e m , entao, para pensar as relacoes entre direitos políticos, representacao parlamentar e d i r e i t o s s o c i a i s é m o s t r a d o na p á g i n a s e g u i n t e . As mgnarguias const i t u c i o n a i s corn sufráaíS liSDitado (ou representacao por "estados") tendem a desenvolver sistemas relativamente i n d i f e r e n c i a d o s e l o c a l i z a d o s de assistencia aos pobres, segundo o conceito paternalista de dever e responsabi1idade pela protecao a súditos necessitados e obedientes. É a caridade, e nao o d i r e i t o que justifica os beneficios e esses, h a b i t u a l m e n t e , sao c o n c e d i d o s sob forma nao- m o n e t á r i a s o m e n t e ás p e s s o a s i n c a p a z e s de t r a b a l h a r . Em face das crescentes necessidades sociais, esses r e g i m e s tendem a e x p a n d i r e s s e f o r m a t o de a s s i s t e n c i a , sem que n a t u r a l m e n t e se d e s d o b r e daí um outro, b a s e a d o no d i r e i t o s o c i a l . As d e m o c r a c i a s l i b e r á i s com s u f r á a Í B l i m i t S á S ' fundadas na p r o p r i e d a d e , no i m p o s t o ou no s t a t u s social t e n d e m a r e s t r i n g i r a assistencia pública no quadro mais geral da limitacao á intervencao do Estado. A s d e s p e s a s com a a s s i s t e n c i a o s c i l a m com r e l a t i v a i n d e p e n d e n c i a da c r e s c e n t e n e c e s s i d a d e s o c i a l . Em geral, mantém sistemas assisteneiais indiferenciados e localizados, d i r i g i d o s a p e s s o a s i n c a p a z e s que, nessas condicoes, p e r d e m (se antes o tiveram) seus direitos políticos. Esses regimes opoem-se aos esquemas securitários obrigatórios, muito embora possam subvencionar a s s o c i a c o e s v o l u n t á r i a s de m ú t u o s o c o r r o ou outras in ic iat ivas. As democracias de massa tèm grande p r o b a b i 1 idade de desenvolver sistemas de a s s i s t e n c i a e x t e n s o s , diferenciados e centralizados, baseados no d i r e i t o social e em contribuicoes obrigatórias. E s s a m a i o r p r o b a b i 1 i d a d e d e v e - s e ao enfrentamento com urna classe operária mais organizada e atuante através de partidos, assim como o sistema político envolve ampia c o m p e t i d o pelos votos dos grupos sociais nao-privilegiados economicamente. As v a r i a c o e s que e s t e s i s t e m a a d m i t e , no que t a n g e ao f o r m a t o da protecao social, devem-se, principalmente, ás d i f e r e n c a s nos s i s t e m a s p a r t i d á r i o s (em p a r t i c u l a r a forca e c o e s a o do m o v i m e n t o 14/ C f . P. F L O R A , op. cit., p. 67. 113 operario), assim como as d i f e r e n c a s da b u r o c r a c i a e s t a t a l . nos graus de desenvolvimento As m g n a r g y i a s £ B Q § t i t u c i o n a i s cgm s u f r a g i o a l a r g a d o tenden a desenvolver sistemas de assistencia ampios, diferenciados e centralizados, fundados no direito social e em contribuicoes obrigatórias. Tal se deve, de um lado, á forte tradicao paternalista e burocrática. De o u t r o , á reacio de defesa do Estado autoritário, que impulsiona o desenvolvimento das i n s t i t u i c o e s de a s s i s t e n c i a s o c i a l f r e n t e á s p r e s s o e s o r g a n i z a d a s da c l a s s e o p e r á r i a . H i s t ó r i c a m e n t e , a l i á s , f o r a m e s t e s os r e g i m e s que mais precocemente introduziram os sistemas públicos o b r i g a t ó r i o s , n a c i o n a l m e n t e o r g a n i z a d o s , de s e g u r i d a d e s o c i a l . Regimes Par1ament ares Regimes nao-parlamentares Democracia Liberal §SSÍst§nc¿a EÚblica como alternativa á p e r d a <ou a u s e n c i a ) de d i r e i t o s políticos e civis. Democracia de Massa Diteitgs Sgciais como corolario democrático dos direitos políticos e como conseqilénc ia de competicao eleitoral dos partidos. M o n a r q u í a s Const i t u c i o n a i s ñSSisfciQCia § g § e g Bgfflrgslar SBEÍal como bees como responsadefesa autoritária conbilidade paternalis tra a (plena) c i d a d a n i a ta em f a c e d o s " s ú política e como conse ditos" necessitados. qüencia da competicao por lealdade. Sufrágio (honous) sentacao do" . limitado ou r e p r e por "esta- Sufrágio ampliado ( h o m e n s ou u n i v e r s a l ) , É claro q u e e s t a s h i p ó t e s e s e c1 a s s i f i c a c o e s estao muito fortemente referidas ás características e ambiente político europeu; por outro lado, foram construidas para auxiliar a r e c o n s t i t u i c a o d e um m o m e n t o p a r t i c u l a r , a q u e l e d a e m e r g e n c i a do Meifare State, pretendendo dar conta de diferencas que se manifestar), principalmente, na o r i g e m . Mas sao bastante úteis, eremos nós, para ampliar a compreensüo de c1 a s s i f i c a c o e s e tipologías f e i t a s por o u t r o s a u t o r e s e que pretenderán) examinar c a r a c t e r í s t i c a s m a i s p e r m a n e n t e s d e d i f e r e n t e s m o d e l o s d e Mei f a r e State. A mais clàssica tipologia, recorrentemente estudos de caso ou c o m p a r a t i v o s sobre o Estado Social é aquela organizada por Titmus. utilizada nos do Bem-Estar 114 Em Social Cólica ~ da l a t n a d u c t i o a . numa das primeiras tentativas de estudar comparativamente o Welfare State, Titmus desenvolve urna classificacao dos varios tipos e padroes de política social, a qual passou a ser um referencial quase obrigatório dos estudos atuais. Segundo esse autor, é possível d e l i n e a r t r e s m o d e l o s de p o l í t i c a s o c i a l : - o ü g d g l Q Besisiual <Tha R e a i d u a l "Welfare" Modal of Social Pollcy); - o Modele MgcitQCrátigo-Pgrticulirista (The Aehievenent Performance Modal of 8ocial Pollcy> > Industrial - o Hodslg Institucional Bedistcibutivo <Tha Rediatributive Modal of Social Pollcy). Na b a s e d o m o d e l o cfiSÍdual. a p o l í t i c a social i n t e r v e n ex-pomt q u a n d o o s c a n a i s " n a t u r a i s " e " t r a d i c i o n a i s " de s a t i s f a c a o d a s n e c e s s i d a d e s ( f a m i l i a , r e d e de p a r e n t e s c o , m e r c a d o ) n a o estao em c o n d i c o e s de r e s o l v e r d e t e r m i n a d a s e x i g e n c i a s do i n d i v i d u o : a intervencao possui, entao, o caráter temporalmente limitado e deve cessar com a eliminado da emergencia social. As experiencias inglesas das Leis dos Pobres devem constituir, para Titmus, a base desse modelo. Contemporáneamente, residual e seletivo (porque dirigido a grupos particulares de individuos, d o t a d o s de c a r a c t e r í s t i c a s e s p e c í f i c a s ) p a r e c e ser, p a r a o autor, o Uelfare State nos Estados Unidos. f' 0 m o d e l o ¡ D g E i t o c c á t Í E B r E a c t i E U l a c i S t a i 5 / f u n d a m e n t a - s e , por sua vez, na p r e m i s s a de que c a d a um d e v e e s t a r em c o n d i c o e s de resolver suas próprias necessidades, em b a s e a séu t r a b a l h o , a seu mérito, á BlEfOEOBDCI profissional, á produtividade. A p o l í t i c a social i n t e r v é m a p e n a s p a r c i a l m e n t e , corrigindo a acao do m e r c a d o . 0 s i s t e m a de M e l f a r e , p o r i m p o r t a n t e que seja, é tao- s o m e n t e complementar ás instituicoes económicas. Em a m b o s o s m o d e l o s , o papel f u n d a m e n t a l , c o m o se ve, é o realizado pelo mercado — - No p r i m e i r o , — a política social ocupa'um espaco marginal: é dirigida exclusivamente aos estratos mais p o b r e s da p o p u l a d o , a q u e l e s que nao q u e r e m ou nao p o d e m r e s o l v e r suas necessidades através dos mecanismos do mercado. Portanto, teóricamente, a"feta—urna p e q u e ñ a p a r t e da p o p u l a d o ; a maioria, s u p o e - s e , u t i l i z a - s e d o s c a n a i s i n s t i t u c i o n a i s p r i v a d o s (seguros, sistema bancário e de crédito, esquemas privados de aposentadorias, etc.). A o E s t a d o c a b e a r e g u l a d o geral dessas instituicoes e o d e s e n v o l v i m e n t o d e um s i s t e m a d e i n c e n t i v o s á p o u p a n c a , á a q u i s i c a o de p r o p r i e d a d e s e b e n s , ao t r a b a l h o . T i t m u s chega a c h a m a r e s s e m o d e l o de A s s i s t e n c i a P ú b l i c a (Tha Public Asslstance Model). No s e g u n d o modelo - aparentemente Titmus o i§/ Utilizamos, aquí, a "traducao" que faz Ugo Ascoli da e x p r e s s a o de T i t m u s i n d u a t r l a l - a c h i e v e m e n t p e r f o r m a n c e m o d a l , p o r q u e g a n h a m e l h o r s e n t i d o em l i n g u a l a t i n a . C f . U. A S C O L I , op . cit . , p. 11. 115 aproximava das características da R e p ú b l i c a Federal Alema -, embora a e n f a s e s o b r e as v i r t u d e s e p o s s i b i l i d a d e s do mercado esteja também presente, supoe-se, entretanto, a n e c e s s i d a d e da ado corretiva e complementar do Estado e, portanto, a i n s t i t u i d o d e um s i s t e m a d e Wa 0 terceiro modelo - iQstityEÍDOBl-BgdiStri&utiyB - concebe o sistema de M a l f a r « c o m o e l e m e n t o i m p o r t a n t e e constitutivo das sociedades contemporáneas, voltado para a producao e d i s t r i b u i d o de bens e servicos sociais "extramercado", os quais sao garantidos a todos os cidadaos universalmente cobertos e protegidos. Respeitando mínimos históricamente definidos de n e c e s s i d a d e s e c o n d i c o e s de v i d a , tal s i s t e m a t e n d e á i n s t i t u i d o da renda m í n i m a e d o s m e c a n i s m o s de i n t e g r a d o de renda, assim como a c o n s t i t u i d o d e s i s t e m a s p ú b l i c o s g r a t u i t o s na prestaGao de s e r v i c o s e s s e n c i a i s , em p a r t i c u l a r o s d e s a ú d e . I n t e r n a m e n t e , em g e r a l , c o n t é m m e c a n i s m o s r e d i s t r i b u t i v o s de r e n d a e r e c u r s o s . Países escandinavos e a Inglaterra exemp1 ificaram esse modelo, que s u p ó e a i n c a p a c i d a d e do m e r c a d o d e r e a l i z a r , p o r si p r ó p r i o , urna alocado de r e c u r s o s tal q u e e l i m i n e a pobreza, atual ou fut u r a . Tal t i p o l o g í a p a d e c e , t a m b é m , d o s m a l e s do e s q u e m a t i s m o e da inevitável r e s t r i c a o do n u m e r o d e v a r i á v e i s l e v a d a s em c o n t a na sua construcao. Claramente, na classificacao de Titmus, as v a r i á v e i s sao, d e um l a d o , a r e l a c a o E s t a d o v ® r s u s m e r c a d o e, de outro, os d e s t i n a t á r i o s d a s p o l í t i c a s <se p o u c o s , s e m u i t o s , se todos), ausentes outras características que permitissem urna elaborado mais qualitativa do perfil institucional dos varios t i p o s d e W s l f a r B Bfcafea. D a d a tal r e s t r i c a o , a b e m d a v e r d a d e , n a o é tSo clara a diferenca entre os dois primeiros modelos e nao é, entao, por acaso, que o s e s t u d o s que t r a t a r a m de utilizá-la tenderam a tomá-la polarizadamente pelo primeiro e terceiro modelos. Por outro lado, o modo como, dicotomicamente, apresenta-se nesta tipología o duplo "residual" versus "institucional" (leia-se o r g a n i z a d o s institucionais públicas) nao permite captar os Hlix h i s t ó r i c o s q u e c o m p u s e r a m d i f e r e n t e m e n t e o s p e s o s relativos do Estado, do m e r c a d o e do q u e v e m s e n d o c h a m a d o o "terceiro setor" na organizado mais geral da protecao social. Por "terceiro setor", os autores tim querido designar as instituiGoes voluntárias e/ou de solidariedade, tanto as tradicionais (a familia extensa, a comunidade local, a Igreja, as a s s o c i a G o e s corporativas de corte tradicional), quanto as "modernas" <as formas contemporáneas de associativismo e cooperativismo, envolvendo associacoes de bairro, de moradores; as formas comunitárias e de v i z i n h a n c a que se a r t i c u l a m , tanto para a demanda quanto p a r a a i n t e r m e d i a d o da prestado de servicos sociais; além, é claro, da f a m i l i a nuclear, do voluntariado elitista, mas, também, o profissional-mi 1itante, etc.) - setor que, a o l o n g o d a c o n s t r u c a o e t r a n s f o r m a d o do W o l Í B r e , m o s t r o u - s e s e m p r e p r e s e n t e , t r a n s f o r m a n d o - s e , e l e p r ó p r i o , era n a t u r e z a e em r e l a c a o c o m a s i n s t i t u i c o e s e c o n ó m i c a s e p ú b l i c a s d e p r e s t a d o de servicos sociais. A sua r e c u p e r a d o a n a l í t i c a nos e s t u d o s e 116 tipologías de principalmente Protetor".16/ Welfar® tem sido sublinhada a que tem-se d e d i c a d o á suposta pela literatura, "Crise d o Estado Um outro p l a n o de d i s c u s s l o dessa t i p o l o g í a d i z respeito á sua pequeña c a p a c i d a d e de a p r e e n d e r as r e l a c o e s e n t r e o perfil da p r o t e c a o social e a d i n á m i c a do sistema de i n t e r e s s e e do sistema político. Já se viu, no nivel d o s a r g u m e n t o s t e ó r i c o s e hipóteses interpretativas gerais, a importancia que se tem dado, na compreensao do Uelfare, tanto ás características corporativas que, mesmo em s i s t e m a s m a i s u n i v e r s a l i s t a s , marcan o movimento de definicao e c o n q u i s t a de d i r e i t o s sociais, quanto á importancia do sistema partidário e dos ciclos político-eleitoráis na d i n á m i c a da e x p a n s a o dos s i s t e m a s de p r o t e c a o social. Obviamente, esses fatores provocam i m p a c t o s institucionais de monta sobre o perfil institucional que adquirem, em d i f e r e n t e s momentos, os s i s t e m a s de p o l í t i c a social, o que a tipología de T i t m u s resiste em captar. Preocupado e x a t a m e n t e com os c o m p o n e n t e s c o r p o r a t i v i s t a s e c 1 i e n t e l i s t a s que parecem c a r a c t e r i z a r certos p a d r o e s de U a l f a r e , Ugo Ascoli empreende a t e n t a t i v a de reelaborar a tipología ditada, de modo a c o n t e m p l a r a q u e l e s componentes, básicamente tratando de diferenciar o modelo meritocrático-particularista anterior. S e g u n d o sua a r g u m e n t a c a o , há sistemas - e esse parece, a seu ver, ser o c a s o italiano - que, aínda que " r e s p e i t a n d o " as principáis d i f e r e n c i a c o e s s ó c i o - e c o n ó m i c a s criadas pelo mercado (modelo meritocrático-particularista>, tendem a subordinar os principáis mecanismos p ú b l i c o s de d i s t r i b u i c a o dos recursos á lógica c l i e n t e l i s t a geral que parece regular o funeionamento do sistema político. Esse tipo, no qual os partidos tendem a monopolizar parte i m p o r t a n t e do a c e s s o aos recursos públicos, distingue-se de um outro, no qual sao, principalmente as organizacóes de interesses corporativos, que dispoem daquele "quase-monopólio". 0 esquema que propoe, entao, alterando o p r o p o s t o por T i t m u s , é o s e g u i n t e : l i e o s as A) fc)®lfare "Residual" política s e l e t i v a ) Uilfacc (caracterizado, B ) WeHarffl "Meritocrát ico-Part icularista' principalmente, pela Bi "Corporativo" BE "Clientelista" C) U e H ® r ® "Institucional-Redistributivo" (caracterizado pela política s u b s t a n c i a l m e n t e u n i v e r s a l i s t a igualitária, mais ou menos temperada pela p o l í t i c a s e l e t i v a ) Essa verificar c1 a s s i f i c a e S o m o d i f i c a d a é a que lhe p e r m i t e afirmar e a h i p ó t e s e de ser o s i s t e m a italiano de W c l f a r a do tipo Ié/~Cf. P. ROSANCALLON, Seuil, 1981. La Crigg ge l„l£kat P r o y i d e n c e . Paris, 117 particularista-C1ientELista, transforraaGoes em direcao -red ist ribut i v o " . à Z / assira a ura COQO tipo examinar suas "institucional- Finalmente, d e v e - s e a s s i n a l a r que e s s a t i p o l o g i a , i n c l u s i v a a modificacao i n t r o d u z i d a p o r A s c o l i , ' foi, por algum tempo, utilizada em t e r m o s de um e v o l u c i o n i s m o l i n e a r : nos estudos de casos, parecería que o modelo "universalista-institucinai" de forte c o n t e ú d o i g u a l i t a r i o c o n s t i t u í a , na t r a j e t ó r i a d o s p a í s e s , a superacao ou a fase mais avancada de um processo de desenvolvimiento do ÜOIIÍOFQ i è a È Q que, em p r i n c i p i o , t i n h a i n i c i o a t r a v é s do m o d e l o "rneritocrát ico-part i c u l a r i s t a " . Interpretacao linear que, nos estudos mais recentes, tem s i d o a l t e r a d a , seja, por nao corresponder multo precisamente aos movimentos i d e n t i f i c a d o s em d i f e r e n t e s p a í s e s , s e j a p o r q u e , sob o i m p a c t o da crise dos anos 8© e sob a direcao conservadora de alguns governos, muitas das características universalistas e igualitarias de s i s t e m a s m a r c a d a m e n t e do tipo "universalista-insíitueional" pareceriam estar sendo modificadas numa direcao m a i s s e l e t i v a , r e s i d u a l e, p o r t a n t o , p a r t i c u l a r i s t a . Cremos e s t a r de p o s s e , agora, de um i n s t r u m e n t a l teórico b a s t a n t e d i v e r s i f i c a d o e que p o d e p e r m i t i r urna m e l h o r a p r o x i m a c a o ao e s t u d o do p a d r a o b r a s i l e i r o de W s ü í o r a SteoÉG. Os argumentos teóricos gerais, assim como as hipóteses analíticas enumeradas, permiten), d e s d e logo, algumas opcoes para futuros estudos. Has sao p r i n c i p a l m e n t e o s e s t u d o s m a i s r e c e n t e s , aquí u t i l i z a d o s , que nos parecen mais p r o f i c u o s para a t e n t a t i v a de enfrentar as perguntas mais gerais a respeito da emergencia e das c a r a c t e r í s t i c a s do y e l d a r a n o B r a s i l , A nosso ver, o s e s t u d o s c o m p a r a t i v o s de F l o r a , H e i d e n h e i m e r e Alber, assim c o m o a t e n t a t i v a de g e n e r a l i z a c a o t e ó r i c a que dai fazem, representara um a v a n c o n o c a m p o da t e o r í a s o b r e o M a i n a r e State, por v a r i a s r a z o e s . A p r i m e i r a d é l a s - e m a i s geral - diz respeito á questao da hi.st c¡r ic iflade do Malfare Stata e ás sugestoes, explícitas ou implícitas, q u e fazem cora que esse fenómeno só p o s s a ser s e n t i d o n o q u a d r o g e r a l de transformado que o c o r r e a u m a d e t e r m i n a d a e t a p a do desenvolvimiento e c o n ó m i c o e p o l í t i c o das s o c i e d a d e s o c i d e n t a i s . 0 Bal f a r e S t a t e , na c o n c e p c a o d e s s e s a u t o r a s , é h i s t ó r i c a m e n t e d a t a d o e, p o r isso, n a o p o d e ser c o n f u n d i d o cora as i n i c i a t i v a s , m ú l t i p l a s , d e p o l í t i c a s o c i a l , que constituem a sua p r é - h i s t ó r i a . Isso p o r q u e c o r r e s p o n d e a .uiaa efetiva reestruturacao das r e l a G o e s e n t r e o E s t a d o , os grupos sociais e os individuos, que e m e r g e no q u a d r o de uma clara r u p t u r a cora a i d e o l o g i a e a o r g a n i z a G a o liberal da e c o n o m i a e da s o c i e d a d e . Reest rut u r a c a o , ou m e l h o r d i z e n d o , ogya BStCSitUEa, «¡ue supoe a intervencao económica e a regulacao social por parte do Estado, alterando, sob essa forma, principios próprios de funcionamiento e r e p r o d u c a o da e c o n o m í a c a p i t a l i s t a competitiva.^ Nesse sentido, os trabalhos nos quais n o s apoiamos permiten) superar a v i s a o l i n e a r cora que, frequentemente, se tratou a i z / Cf. U A S C O L I , "Il s i s t e m a o r g . , op. c i t . , p. 5 - 5 1 . italiano de u e l f a r e " , in U. ASCOLI, 118 historia da constituido da seguridade social, vista principalmente da ótica dos tipos de riscos e das categorías sociais e n v o l v i d a s e o m o v i m e n t o de expansao da c o b e r t u r a . Aquela seqüencia t r a d i c i o n a l m e n t e apontada - s e g u r o contra acidentes de trabalho, seguro-saúde, seguro-velhice e seguro-desemprego, assim como as categorías de trabalhadores industriáis de algumas poucas industrias <"periculosidade"), trabalhadores industriáis em geral, trabalhadores agrícolas, t r a b a l h a d o r e s independentes, total das p e s s o a s o c u p a d a s - ganha sentido, quando confrontada a esse quadro mais geral que identifica as novas r e l a c o e s e n t r e o E s t a d o e a e c o n o m í a (Estado e mercado). Mais i m p o r t a n t e aínda, esses estudos c o m p a r a t i v o s permitem avaliar melhor as "inovacoes institucionais" que ocorrem na emergencia do Uelf&re State. Trata-se, aqui, de pensar efetivamente a nova e s t r u t u r a do E s t a d o ou, se quiser, a ooya f a e n a dQ E s t a d 9 E a e i t a l i s t a < no seu p r o c e s s o de t r a n s f o r m a d o . Ou seja, d e s t a c a r - s e e e x p a n d i r - s e um a p a r e l h o social do Estado, com características de c e n t r a l i z a d o e u n i f i c a d o , ocupado por urna crescente b u r o c r a c i a que pode d e s e n v o l v e r interesses e recursos p r ó p r i o s de poder f u n d a d o s ñas s u a s p a r t i c u l a r e s relacoes com as "clientelas" ao M e l f a r e State. Essa n o v i d a d e institucional foi apreendida por esses a u t o r e s na énfase que eoloeam na e d i f i c a d o de um s i s t e m a EÚblÍEQ ebniaatÓniQ de s e g u r i d a d e social, diferente daquelas formas e práticas pretéritas patrimonialistas assistencialistas ou 1iberal-associativistas (por exemplo, sociedades de socorros mutuos e subvencoes estatais) - formas essas que nem s e m p r e d e s a p a r e c e n em termos absolutos e muito menos no mesmo ritmo, mas, sem dúvida, passaram a ser determinadas, ñas n o v a s c o n d i c o e s , pelas c o n c e p c o e s e mecanismos d o m i n a n t e s de s e g u r i d a d e s o c i a l . Finalmente, no plano teórico, esses estudos sublinham, enfáticamente, ser impossível captar a raeionalidade dessas t r a n s f o r m a c o e s se nao se levam e f e t i v a m e n t e em conta os processos p o l í t i c o s que explicam, estes sim, tanto o m o m e n t o da emergencia, quanto as v a r i a c o e s i n s t i t u c i o n a i s dos m o d e r n o s U e l f a r e States. A m e d i a d o do c o n f l i t o político, na e x p l i c a d o , diz respeito, para Alber, Flora e Heidenheimer, p r i n c i p a l m e n t e a dois planos. 0 primeiro é o que d e s t a c a a e m e r g e n c i a das o r g a n i z a c o e s sindicáis e políticas do movimento operario e os movimentos da luta política, seja o que aponta para suas c o n q u i s t a s efetivas, seja o que mostra as acoes r e a t i v a s e, até mesmo, preventivas, das élites dominantes, no sentido da i n t e g r a d o da classe operaría, da busca por 1 eg it i m a d o , etc. . 0 segundo plano é o que enfatiza as c a r a c t e r í s t i c a s do sistema e do regime político, incluindo a própria o r g a n i z a d o do Estado (graus e níveis de cent ral i z a d o , burocratizacao. etc.) nos d i f e r e n t e s m o m e n t o s do processo de const í t u i d o do U e l f a r e State. Por outro lado, o exame das c 1 a s s i f i c a c o e s e t i p o l o g í a s do Weltare, ampliadas pelas a r g u m e n t a c o e s m a i s gerais de Flora, Heidenheimer e Alber, pode constituir-se, também, num 1 ts instrumental a u x i l i a r na c a p t a c a o das c a r a c t e r í s t i c a s g e r a i s do sistema brasileiro de p o l í t i c a s sociais, assim c o m o das suas fases e expansao. Isso p o r q u e , ao e n f a t i z a r e m características p r e d o m i n a n t e s nos t r e s t i p o s indicados, abrem c a m i n K o para que se p o s s a repensar, num p l a n o m a i s global, c e r t a s m a r c a s do s i s t e m a brasileiro que, correntemente, tem sido entendidas como tao e s p e c í f i c a s , a p o n t o de i m p e d i r e m ou inibirem o seu t r a t a m e n t o em t e r m o s mais g e r a i s de U*1f a r e S t a t e . Na p r ó x i m a secao, a t í t u l o ainda e m b r i o n a r i o e tentativo, e m p r e e n d e m o s um e s t u d o do p a d r a o b r a s i l e i r o de p o l í t i c a s s o c i a i s , á luz das i n d i c a c o e s e s u g e s t o e s c o n t i d a s na l i t e r a t u r a teórica sobre o W « 1 f a r e 8 t s t e . IX - WELFARE STATE: O CASO BRABILEIRO A. ö UislficisBEifia da P o l í t i c a S o c i a l Bcailltica Nest a sedo, buscaremos destacar os historiográficos referentes á p r o d u c ä o de legislacio formado do a p a r e l h o social do Estado b r a s i l e i r o , de posteriormente, empreender um e s f o r c o de tratamento a n a l í t i c o do p r o c e s s o de c o n s t r u c i o do U a l f a r * S t a t a no element os soc ial e modo a, históri co Brasil. Em relacao ás áreas de i n t e r v e n c a o social do Estado, já vimos que parece haver urna s e q ü é n c i a relativamente comum á maioria dos países capitalistas ocidentais. A montagem de códigos, l e g i s l a c a o e r e d e s p ú b l i c a s de e d u c a d o (principalmente básica) antecedería acóes estatais ñas áreas de saúde, p r e v i d e n c i a e assisténcia social, sendo, p o s t e r i o r m e n t e , seguidas pela emergencia de esquemas (e regulacoes) concernentes á h a b i t a d o p o p u l a r . No á m b i t o do núcleo do que hoje se considera a "seguridade social, a s e q ü é n c i a mais comum p a r e c e r í a ser a que vai da legislacao e d e f i n i c á o de e s q u e m a s de s e g u r o s contra acidentes de trabalho, s e g u i d o s dos e s q u e m a s de a p o s e n t a d o r i a s e pensoes, quase concomitantes com a definicáo de seguros-saúde, para, finalmente, serem completados pela p r o t e c á o ao d e s e m p r e g o (em geral, precedidos por a l g u m a s formas de p r o t e c a o á familia). A s e q ü é n c i a no Brasil nao é m u i t o d i f e r e n t e e t e n t a r e m o s observá-la t o m a n d o as á r e a s que caracterizan! o W a l f a r e i. A P o l í t i c a Educacional A acáo do Estado b r a s i l e i r o no c a m p o da e d u c a d o t em suas o r í g e n s r e m o t a s no Estado I m p e r i a 1. A o b r i g a t o r í e d a d e da e d u c a d o primária, assim como a d i v i s a o de competencias entre Uniao, estados e municipios, em r e l a c a o á o f e r t a e montagem de redes de ensino nos tres níveis, já const am, também, da C o n s t i t u i d o de 1981. Até 1930, e n t r e t a n t o , á efe tivacao de urna p o l í t i c a nacional de e d u c a d o faltavam r e c u r s o s de d i v e r s a s ordens, em particular os r e f e r e n t e s a urna c o d i f i c a d o integrada quanto ao territorio nacional, e os r e l a t i v o s á arma cao o r g a n i z a c i o n a l do Estado de 121 suporte á política, para alero, é certo, da c l a r a i d e n t i f i c a d o e alocado de recursos financeiros adequados. Cent r a l i z a d o doutrinário-pedagógica, unificado organizacional e inst it uc ional i z a c a o parecerían!, entao, ser tarefas ainda a realizar, no à m b i t o do E s t a d o N a c i o n a l , após 1930. Vejamos os principáis momentos desse movimento. Como já a f i r m a m o s em o u t r o t r a b a l h o , a e f e t i v a c i o de uma política educacional nos Estados modernos parecería responder, simultaneamente, a t r i s processosi á d e f i n i d o dos parámetros político-ideológicos sob os quais se deve processar a " s o c i a l i z a c a o " dos c i d a d à o s , uma r e s p o s t a ás p r e s s o e s e d e m a n d a s por e x t e n s a o da c i d a d a n i a e, enfim, ás t a r e f a s de reproducao i d e o l ó g i c a de f o r m a d o t é c n i c o - p r o f i s s i o n a l da f o r c a de t r a b a l h o . "Esses t r i s a s p e c t o s , que, em o u t r o s p a d r o e s de f o r m a c a o dos E s t a d o s c a p i t a l i s t a s , se d e s d o b r a r a m ao longo de um t e m p o c o n t a d o em sáculos ou pelo menos em muitos lustros, estiveram s i m u l t a n e a m e n t e p r e s e n t e s no m o v i m e n t o de e s t r u t u r a c à o do s i s t e m a n a c i o n a l de e n s i n o b r a s i l e i r o a p a r t i r de 1 9 3 0 . Desde a criado do M i n i s t e r i o da E d u c a c a o e S a ú d e P ú b l i c a , no ano da R e v o l u c a o , até a aprovacào da Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional, em 1961, e s t r u t u r o u - s e uma área do a p a r e l h o s o c i a l do Estado que c o n f e r i u a p o i o m a t e r i a l p a r a a e l a b o r a d o da p o l í t i c a governamental da educacao. Ao mesmo tempo, equacionou-se e a m o l d o u - s e uma r e s p o s t a de c a r á t e r " c a p i t a l i s t a " ás p r e s s o e s p e l a ampliado da c i d a d a n i a e, paralelamente, foram d e l i m i t a d o s os c o n t o r n o s de uma área de i n v e s t i m e n t o p r i v a d o . Estava colocada, em 1930, uma q u e s t a o n a c i o n a l da e d u c a c a o , tanto em termos da u n i f i c a c a o do sistema educacional e do fortalecimento da Uniao, quanto dos seus conteúdos sociais, e x p r e s s o s ñas v á r i a s p l a t a f o r m a s de " e d u c a c a o p ú b l i c a e g r a t u i t a " - em r e s p o s t a a r e c l a m o s que g a n h a v a m forca d e s d e o s a n o s 20. Nessa questao educacional estavam presentes varios aspectos. Havia uma c r i t i c a ao d u a l i s m o i m p e r a n t e na P r i m e i r a República, fruto de uma d i v i s a o de c o m p e t e n c i a s e n t r e a U n i a o e os Estados, imposta pelo "extremado" federalismo vigente. Dessa dualidade d e c o r r e r i a outra, c o m o a s s i n a l a Nagle, t r a d u z i d a na c o n t r a p o s i c a o entre " e s c o l a s de e l i t e " ( s e c u n d á r i a e s u p e r i o r ) e "escolas do p o v o " ( p r i m á r i o e t é c n i c o - p r o f i s s i o n a l ) . E, para além d o s l i m i t e s pelo federalismo, configurava-se uma s i t u a d o mais geral : a natureza tradicional, dispersa e subordinada do aparelho administrativo ligado á e d u c a c a o no nivel do G o v e r n o F e d e r a l e m e s m o no da a d m i n i s t r a c á o e s t a d u a l . Entre 1930 e 1945, d e s e n c a d e o u - s e um i n t e n s o m o v i m e n t o de armado, no E x e c u t i v o F e d e r a l , de um a p a r e l h o n a c i o n a l de e n s i n o e de elaborado de códigos e "leis orgánicas", visando a e s t a b e l e c e r d i r e t r i z e s e e s t r u t u r a o r g a n i z a t i v a para os diversos r a m o s e n í v e i s da e d u c a c a o no p a í s . Do p o n t o de v i s t a do p r o c e s s o de central i z a c a o e i n t e g r a d o de um s i s t e m a n a c i o n a l de e n s i n o , v a l e l e m b r a r s e u s m o m e n t o s m a i s 122 i m p o r t a n t e s . A c r i a c a o d o M i n i s t e r i o da E d u c a c a o e S a ú d e P ú b l i c a , en 1930, s e g u i r a m - s e o C o n s e l h o Nacional de E d u c a c a o e o C o n s e i b o Consultivo do Ensino Comercial, a m b o s e s t r u t u r a d o s no á m b i t o do ministerio e t e n d o p o r a t r i b u i d o fixar d i r e t r i z e s g e r a i s para o ensino primario, secundario, superior e técnico-profissional. Essas diretrizes foram s u c e d i d a s , durante o Estado Novo e no decorrer de 1946, p e l a s L e i s O r g á n i c a s do E n s i n o - reformas e planos de caráter parcial, que a f e t a r a m cada um d o s ramos e niveis, sem estabelecer, contudo, sua a r t i c u l a d o s e g u n d o um criterio nacional de continuidade e divisao do trabalho educat ivo. A meta da c r i a c a o de um "código de d i r e t r i z e s da educacao n a c i o n a l " ( s e g u n d o e x p r e s s a o da é p o c a ) , foi p e r s e g u i d a em toda a d é c a d a d o s 3® e sob o E s t a d o Novo. E s t e v e m e s m o p r e v i s t a na Carta de 1934, q u a n d o s e d e f i n i u a c o m p e t e n c i a da U n i a o p a r a fixar o plano nacional de e d u c a c a o - c o m p r e e n s i v o de t o d o s o s graus e ramos para c o o r d e n a r e f i s c a l i z a r sua e x e c u c a o em t o d o o País. Mas, até ai, nao lograram chegar os impulsos centralistas vigentes. A Constituicáo de 1946 r e a f i r m a v a a c o m p e t e n c i a da Uniao p a r a fixar a s b a s e s e d i r e t r i z e s da e d u c a c a o n a c i o n a l e, em 1948, iniciou-se a l o n g a t r a m i t a d o do P r o j e t o de D i r e t r i z e s e Bases, que provocou acirradas discussoes, um movimento político de e n v e r g a d u r a , q u e foi t r a n s f o r m a d o em leí s o m e n t e em 1961. Um novo passo s ó s e r i a dado em 1953, quando Educacao e Cultura se d e s v i n c u l a r a m da Saúde, constituindo um ministério especifico. Cora a aprovacao das Diretrizes e Bases e a criacao do Conselho F e d e r a l de E d u c a c a o , completou-se a c e n t r a l i z a d o dos dispositivos básicos de controle estatal sobre a educacao-, c o n f o r m a r a - s e um a p a r e l h o e d u c a c i o n a l c e n t r a l i z a d o e o Executivo Federal ar-mara-se d o s i n s t r u m e n t o s l e g á i s e de um p l a n o geral de : educacao. 0 sistema nacional de e n s i n o adquiriu um formato i n t e g r a d o e, a partir dos dispositivos centráis, asseguravam-se as oargens das quais se efetivariam a descentralizado administrativa, as p r e r r o g a t i v a s do regime federativo e a relacao entre a escola pública e a escola privada. Nao b a s t a , entretanto, rastrear esse movimento tao-somente nos s e u s a s p e c t o s de c e n t r a l i z a d o , unificado e controle. A constituido do aparelho educacional integrado, no Brasil, envolveu, pelas próprias c a r a c t e r í s t i c a s da e t a p a que estamos analis'ando, Q u t r o s c o n t e ú d o s que já e s t a v a m p r e n u n c i a d o s d e s d e os anos 80, sob o s t í t u l o s m a i s g e r a i s das d e m a n d a s p e l a educacao popular, pública e gratuita. £ 0 encaminhamento da "educacao popular", no pos-30, espelharia diversidade e a transformacao da estrutura de classes no p r o c e s s o de i n d u s t r i a l i z a d o . As demandas populares pela e x t e n ^ a o da c i d a d a n i a , a e s t r u t u r a c á o m a t e r i a l e legal do aparelho de educacao respondeu com a reafirmado da 123 universalidade, g r a t u i d a d e e o b r i g a t o r i e d a d e do e n s i n o p r i m à r i o , mas, ao mesmo tempo, com a o r g a n i z a d o de urna rede paralela v o l t a d a para a e d u c a d o d a s " c l a s s e s m e n o s f a v o r e c i d a s " ; a s s i m , a " c i d a d a n i a i n c o m p l e t a " dos s e t o r e s a s s a l a r i a d o s se c o n f i g u r a v a na p r o p r i a e s t r a t i f i c a d o dual do a p a r e l h o e s c o l a r , em s i s t e m a s que articulavam diferencialmente os níveis primário-secundário e superior e, de outro lado, primário-pré-vocacional e profissionai. N o s p r i m e i r o s a n o s da d é c a d a de 30, a partir da c r i a d o do Conselho C o n s u l t i v o do E n s i n o C o m e r c i a l , foram e s t r u t u r a d a s no Ministério da Educado a I n s p e t o r i a do E n s i n o Profissionai e Técnico e a D i v i s a o do E n s i n o I n d u s t r i a l . A reforma do ensino c o m e r c i a l , em 1931, deu i n i c i o ao p r o c e s s o de a r t i c u l a d o da rede tècnico-profissional de ensino, que c u l m i n a r i a , e n t r e 1942 e 1946, com as L e i s O r g á n i c a s do E n s i n o I n d u s t r i a i e Comercial (1942 e 1943, r e s p e c t i v a m e n t e ) e com a i n s t i t u i d o do sistema SENAI-SENAC, de associacao escola-empresa, para educado e t r e i n a m e n t o dos t r a b a l h a d o r e s u r b a n o s . Se esse aspecto da o r g a n i z a d o do a p a r e l h o de ensino ja traz, na sua p r ò p r i a e s t r u t u r a c a o , a m a r c a m a i s geral do c a r á t e r de classe da e c o n o m i a e da s o c i e d a d e brasileira na fase de constituido do " c a p i t a l i s m o i n d u s t r i a l " , também a delimitado das relacoes entre a escola pública e a escola privada revelam conteúdos peculiares. As polarizacoes liberdade de ensino - m o n o p o l i o estatal s o b r e a e d u c a d o , repetidamente presente no ocidente e u r o p e u ñas d i s p u t a s por c o m p e t e n c i a e n t r e o E s t a d o e a Igreja, enredaram-se, aqui, numa outra questào: ainda que embrionariamente, tratava-se da delimitado de urna área específica de v a l o r i z a d o do c a p i t a l . Além das tensoes entre o Estado e setores sociais que competiam pela "formado das individualidades", debatia-se, também, o direito do capital p r i v a d o a um e s p a c o de i n v e r s a o na e m p r e s a e d u c a c i o n a l . " 18/ A t é certo p o n t o , a p a r t i r da Lei de D i r e t r i z e s e Bases, de 1961, está d e f i n i d a a e s t r u t u r a - c h a v e sob a qual se p r o c e s s a r á a fHEiDSle do s i s t e m a , p r i n c i p a l m e n t e no p ó s - 6 4 . A reorganizado desse sistema, e n t r e o final dos a n o s 60 e o i n i c i o da d é c a d a de 70 (reforma un i versi t ària, introducao da formado profissiofializante n o e n s i n o b á s i c o e s e c u n d á r i o ) , nao se d e s v i o u muito daquela matriz. Medida importante foi a extensao da é s c o l a r i d a d e o b r i g a t ó r i a para o i t o a n o s (ciclo b á s i c o ) , definida n o s fins de 60. I m p o s s i b i 1 i t a d o s de fazer, aqui, um e x a m e d e s s e p r o c e s s o de expansao e reorganizado, verificando seus números mais significativos, assim como algumas características I B / Cf. Sonia D R A I B E , B U E B 5 e ÖEtaiDQtfBSeS: um e s t u d o s o b r e a constituido do E s t a d o e as a l t e r n a t i v a s da indust r ial i z a d o no Brasil, 1 9 3 0 / 1 9 6 0 . Rio de J a n e i r o , Paz e T e r r a , 19B5, p. 68-72. 124 específicas i2/< assinalamos tao-somente alguns aspectos importantes, em relacao á educacao, no p e r í o d o que vai de 1964 até o i n i c i o d o s a n o s 80: - a notável expansao quantítativa global do sistema, p r a t i c a m e n t e em s e u s t r e s n í v e i s , c o n f i g u r a n d o um padrao de educacao de m a s s a b a s t a n t e a c e n t u a d o . Em termos de cobertura, entre meados dos a n o s 70, t e'or icament e se cob-reVTia oferta, 90JÍ da faixa e t á r i a c o r r e s p o n d e n t e "á educacao básica; a p o p u l a c a o u n i v e r s i t a r i a p a s s a de sua porcentagem h i s t ó r i c a d e i'/, a 3% ou 4V, da p o p u l a c a o , nos anos 80. Entretanto, os números globais escondem urna realidade, também numérica, muito perversa. Segundo algunas estimativas, no p r i n c i p i o d o s a n o s 80, a i n d a oito milhoes de c r i a n c a s em idade de estudar encontravam-se fora da e s c o l a ; a e v a s a o e s c o l a r a p ó s as d u a s primeiras s é r i e s do e n s i n o b á s i c o u l t r a p a s s a v a 50X, o que t e n d i a a afunilar a pirámide educacional desde sua base; a c o b e r t u r a do e n s i n o de s e g u n d o grau p e r m a n e c í a bem baixa; o contingente de p r o f e s s o r e s l e i g o s no e n s i n o primario, principalmente na r e g i a o N o r d e s t e , mantinha-se acima de n í v e i s t o l e r á v e i s , etc.; - praticamente em t o d o s os n í v e i s , a acelerada expansao parece ter sido acompanhada de urna tendencia muito acentuada á d e t e r i o r a c a o da q u a l i d a d e do e n s i n o , e esta está c o r r e l a c i o n a d a a um c o n j u n t o de c a u s a s que vao desde o baixo investimento público no sistema, aos baixos s a l a r i o s do m a g i s t e r i o , á c u r t a p e r m a n e n c i a dos e s t u d a n t e s ñas escolas, até quest oes" c'ürricu 1 a r e s e pedagógicas, introduzindo urna e s p e c i e de c í r c u l o v i c i o s o no sistema, bastante resistente, além de a l t o s g r a u s de ineficácia, i n o p e r á n c i a , etc.; — •7 ' - a expansao da rede p ú b l i c a foi a c o m p a n h a d a e até mesmo s u p e r a d a , em a l g u n s n í v e i s de e n s i n o e/ou r e g i o e s do país, por a c e n t u a d o c r e s c i m e n t o da rede p r i v a d a . Por o u t r o lado, também parece certo que tal e x p a n s a o o b e d e c e u muito a critérios elientelisticos de a l o c a c a o e indefinicao de p r i o r i d a d e s no s i s t e m a , além do p e s o c o r p o r a t i v o c r e s c e n t e de a l g u m a s c a t e g o r i a s p r o f i s s i o n a i s m a i s bem localizadas na barganha política, em particular o segmento de professores un i v e r s i t á r i o s ou, mais fortemente, dos s e g m e n t o s de p r o p r i e t á r i o s da rede p r i v a d a . E. A Previdencia Social - A s e q ü é n c i a a c i d e n t e s do t r a b a l h o - a p o s e n t a d o r i a s e doenca-maternidade/famí1ia-desemprego, enquanto riscos 19/ Para urna aproximacao, s i t u a c a o social do p a í s . pensoes que vao ver BRASIL 1985. R e l a t ó r i o sobre C a m p i ñ a s , U N I C A M P , 1987. V.2. a 125 paulatinamente sendo cobertos por um sistema público de seguridade social, foi, também, relativamente observada no Brasil. No que diz respeito aos beneficiarios, a seqüéncia a s s i n a l a d a p e l a l i t e r a t u r a i n t e r n a c i o n a l é, tendencialmente, de categorias profissionais vinculadas ás profissoes de risco (mineiros, por exemplo), seguida por c a t e g o r i a s (gerais) de trabalhadores industriáis urbanos, estendendo-se para profissionais independentes, trabalhadores rurais e estratos medios variados. No B r a s i l , como veremos, tal seqiiencia é bem diferente: i n i c i a - s e , é v e r d a d e , con c a t e g o r i a s p r o f i s s i o n a i s de trabalhadores ligados a servicos públicos (ferroviarios, portuarios, etc.), de um lado, e, t a r d í a m e n t e , c o m o em o u t r o s casos, inclui t r a b a l h a d o r e s r u r a i s . Foi a p e n a s com os I n s t i t u t o s de A p o s e n t a d o r i a s e P e n s o e s que teve inicio e f e t i v o , na d é c a d a de 30, a m o n t a g e m de um s i s t e m a p ú b l i c o de p r e v i d e n c i a s o c i a l , cobrindo, d e s d e logo, os r i s c o s r e l a c i o n a d o s á p e r d a da c a p a c i d a d e l a b o r a t i v a (velhice, doenca, morte, i n v a l i d e z ) , assim c o m o os s e r v i c o s de a s s i s t é n c i a m é d i c a . C o m o se sabe, a p r é - h i s t ó r i a desse m o m e n t o foi m a r c a d a pela legislado sobre acidentes de trabalho, de 1919, e a r e g u l a m e n t a c a o d a s C a i x a s de A p o s e n t a d o r i a s e P e n s o e s , segundo a Lei Eloy C h a v e s , de 1923. g0/ A Lei C h a v e s , por sua vez, c o m o já assinalaram diversos autores, t l o - s o m e n t e r e g u l a v a um contrato privado entre e m p r e g a d o s e e m p r e g a d o r e s no ámbito da empresa individual e, nesse sentido, a par das s o c i e d a d e s de socorros mútuos, etc., nao c o n f i g u r a v a , aínda, o i n i c i o da c o n s t r u c a o do s i s t e m a p ú b l i c o , c o m p u l s o r i o de p r e v i d e n c i a s o c i a l . É certo, também, que, no p e r í o d o que se a b r e em 1930, c o m o trataremos de ver, a q u e l e s i s t e m a nao se c o n s o l i d a plenamente, padecendo de límitacoes de ordem quantitativa, qualitativa, financeira e institucional, que s o m e n t e s e r a o r o m p i d a s na fase posterior. Vale a pena, nesta recompilacao histórica, assinalar a p r o d u c a o legal m a i s i m p o r t a n t e r e l a t i v a á p r o t e c á o s o c i a l . Se olharmos a cronologia do p o n t o de vista dos riscos cobertos, vale lembrar que os Institutos de A p o s e n t a d oria, criados por categorias a partir de 1933, respondiam pela c o b e r t u r a por a p o s e n t a d o r i a s ^ E e n s g e s ^ a u x j l i Q ^ d o e n g a , assim c o m o pela prestado de s e r v i d o s de a s s i g t i n c i a médica. Tendo seus p l a n o s de b e n e f i c i o s p o u c o u n i f o r m i z a d o s e n t r e si, s o m e n t e d e p o i s da Lei O r g à n i c a da P r e v i d e n c i a Social de 1961, e da efetiva i n t e g r a d o dos I n s t i t u t o s num ú n i c o o r g a n i s m o (o INPS), em 1966, é que de fato aqueles riscos passam a ser uniformemente a s s e g u r a d o s para a quase t o t a l i d a d e dos t r a b a l h a d o r e s u r b a n o s . Em 1967, o regime r e l a t i v o a a c i d e n t e s do t r a b a l h o passa a ser i n c o r p o r a d o ao INPS. Em 1974, é c r i a d o um o u t r o b e n e f i c i o - R e n d a 20/ A lei s o b r e i n d e n i z a c a o de a c i d e n t e s do t r a b a l h o ( t r a n s p o r t e , construcao e fábricas) nao p r e v i a um esquema securitário público; r e g u l a v a a o p e r a d o de e m p r e s a s p r i v a d a s de seguro do t r a b a l K o . 126 Mensal Vitalicia d e s t i n a d o a o s i d o s o s com m a i s d e 7 0 a n o s e a i n v á l i d o s que nao tenham p r e e n c h i d o os r e q u i s i t o s de c o n t r i b u i d o tipicos para aposentadoria. Em relacao aos bgQgficigs familiares, data de 1963 a i n t r o d u c a o do s a l á r i o - f a m í l i a , _e_de l 9 7 4 o s a l a r T o ^ m a t " é r n i d a d e e~ ó a u x i lJ.o-matéTfrrgadV, c o n s t i t u i n d o , até a d é c a d a de 80, os tris ú n i c o s " benefícfios ~ d e s s a espécie e exclusivos da previdencia urbana"."" Até meados dos anos 80, nao se instituiu um segungr d e s e t o e c e a g • Em 1 9 6 6 , foi c r i a d o o F u n d o d e G a r a n t i a p o r T e m p o de Servico - FGTS, o qual, voltado precipuamente para substituir a estabilidade no emprego constante das leis trabalhistas, foi i n t e r p r e t a d o p o r a l g u n s c o m o c o r r e s p o n d e n d o , t a m b é m , a um t i p o de seguro-desemprego. De fato, o primeiro esquema de seguro- d e s e m p r e g o .4,-de 1 9 8 6 , o r g a n i z a d o p e l o N i n i s t é r i o do TTabalfio" e ~ só r e c é n t e m e n t e p a r e c e e s t a r r e c e b e n d o défiriicoés" finánceiVás* e "orsTawig^eriona-is . - Do ponto de vista das c a t e s g c i a s de t x a b a l h a d g c e s . IAP vio cobrindo, entre 1933 e 1953, a maior parte dos t r a b a l h a d o r e s urbanos. 1 9 3 3 - IAP d o s m a r í t i m o s ; 1 9 3 4 - IAP d o s c o m e r c i a r l o s ; 1937/38 - IAP d o s i n d u s t r i á r i o s , dos e m p r e g a d o s de carga, dos funcionários públicos federáis - IPASE. Os ferroviários, que m a n t i v e r a m por b a s t a n t e t e m p o a e s t r u t u r a das CAP, em 1 9 5 3 , tem unificadas todas elas numa estrutura única, similar aos Institutos: a CAPFESP. Outras categorías profissionais foram incorporadas bem mais tarde, já na d é c a d a d e 7 0 . Em 1971, é criado.o PRORURAL/FUNRURAL, que e s t e n d e a l g u n s p o u c ó s b e n e f i c i o s Xse-i-5, nessa época, quando o plano urbano de beneficios já ^contava com 18) a trabalhadores rurais; as e m p r e g a d a s d o m é s t i c a s sao incorporadas em 1 9 7 2 , o s t r a b a l h a d o r e s a u t ó n o m o s em 1973, além de a l g u m a s c a t e g o r í a s e s p e c i f i c a s (religiosos, estudantes, etc . > . D o p o n t o de v i s t a d o f i n a n e i a m e n t o , e s t r u t u r a o r g a n i z a c i o n a l e gestao desse sistema, vale a pena relembrar certas características. Na seqüencia de criacao dos Institutos de Aposentadoria, montou-se, sob o controle do G o v e r n o Federal, imensa e c r e s c e n t e m á q u i n a de s e r v i c o s , e m b o r a c o m p o s t a de urna estrutura fragmentada (os I n s t i t u t o s o r g a n i z a d o s s o b forma de autarquías) e p o u c o u n i f o r m e n o que r e s p e i t a v a a o s b e n e f i c i o s e servicos distribuidos e prestados, i n d i v i d u a l i z a d o s que e r a m os Institutos por c a t e g o r í a s profissionais. Por mais de tres décadas, a historia dos Institutos de A p o s e n t a d o r i a foi m a r c a d a por t e n t a t i v a s d e u n i f i c a c a o d o s i s t e m a previdenciário, assim como pelas fortes resistencias corporativas e p o l í t i c a s q u e tal c e n t r a l i z a c á o p r o v o c a v a . Em 1 9 4 5 , c h e g o u - s e a d e c r e t a r a L e i O r g á n i c a d o s S e r v i c o s S o c i a i s no Brasil, criando um I n s t i t u t o ú n i c o ( I S S B ) e v i s a n d o u n i f i c a r t o d o s o s s e r v i c o s d e previdencia. Essa Lei, r e v o g a d a em 1 9 4 6 , foi s u c e d i d a p o r urna o u t r a t e n t a t i v a , a t r a v é s d e p r o j e t o q u e t r a m i t o u no C o n g r e s s o , de 1947 até 1961, quando, entao, foi p r o m u l g a d a a Lei O r g á n i c a da 127 Previdencia Social, que a b r a n g i a t o d o s os a s s a l a r i a d o s em r e g i m e de CLT, igualando beneficios a serení auferidos. ft LOPS, entretanto, nao foi regulamentada, mantendo-se, nos anos s u b s e q u e n t es, a diferenciacäo i n t e r n a no que se referia aos beneficios previdenciários. A t é o i n i c i o d o s a n o s 60, a u n i f i c a d o p r e t e n d i d a v i n c u l a v a -se simultáneamente a varias questoes. De um l a d o , procurava-se urna s o l u c a o que u n i f o r m i z a s s e e a m p l i a s s e b e n e f i c i o s e servicos previdenciários. De outro, t r a t a v a - s e de i m m a g i n a r s o l o a ~ o que possibi 1 itasse utilizaeao financeira mais efetiva dos fundos, f r a g m e n t a d o s e n t r e o s v a r i o s IAP, s e j a p e l o a g r a v a m e n t o " n a t u r a l " da situacao financeira destes, seja porque se percebia a alternativa de que viessem a financiar grandes projetos e c o n ó m i c o s do g o v e r n o . Além disso, a u n i f i c a c a o p o d e r i a reforcar instrumentos de controle e mobilizacao política das classes trabalhadoras. Lógicamente, pela natureza das questoes e n v o l v i d a s , e p o r s o l u c o e s , e n t a o , que c o n t r a r i a v a m f o r t e m e n t e a s articulacoes políticas existentes (a unificacao encontrou r e s i s t e n c i a s e d i v e r g e n c i a s no á m b i t o d a s b u r o c r a c i a s s i n d i c á i s e dos Institutos, mas, t a m b é m , d o s p a r t i d o s p o l í t i c o s , assim c o m o das b u r o c r a c i a s de g o v e r n o , em p a r t i c u l a r n o s e i o d o M i n i s t é r i o do Trabalho). Porque, é importante lembrar, tal "sistema" previdenciário, pelas suas r e l a c o e s coa os sindicatos, de um lado, com a s b u r o c r a c i a s do M i n i s t é r i o do T r a b a l h o , de o u t r o , e pelas conhecidas r e l a c o e s d i r e t a s da b u r o c r a c i a s i n d i c a l com o Ministério, operava a t r a v é s de f o r t e s p r o c e s s o s c1ientelistas, manipuladores e control adores das classes trabalhadoras, além, é claro, de t e r v i s t o , sob a f o r m a f r a g m e n t a d a c o m o se c o m p u s e r a m , cristalizar fortes interesses corporativos de categorías profissionais que viam na u n i f i c a c a o a m e a c a a privilegios e b e n e f i c i o s já a l c a n c a d o s . Por t o d a s e s s a s r a z o e s , a r e m o d e l a c a o e a u n i f i c a c a o só se farao no período pós-64, n u m a s i t u a c a o em que já e s t a o a f a s t a d o s e reprimidos os interesses dos trabalhadores e de suas representacoes na g e s t a o d o s I n s t i t u t o s . Permaneceu, é certo, parte da b u r o c r a c i a g e s t a d a n o s p r ó p r i o s i n s t i t u t o s e que, na s i t u a c a o a u t o r i t á r i a do PÓS-64, reorganizado, consolidando, o s i s t e m a de p r e v i d e n c i a s o c i a l , tendo podido expandir, em m u i t o , s e u s t r a e o s t e c n o c r á t i c o s e, a p a r e n t e m e n t e , a p o l í t i c o s . A p ó s a c r i a d o do I N P S em 1 9 6 6 , n o v o i m p u l s o cent r a l i z a d o r , u n i f i c a d o r e r a e i o n a l i z a d o r se f a r à s e n t i r , em 1 9 7 7 , q u a n d o , de fato, se reestruturava plenamente o organismo previdenclário, agora concebido como um único sistema, organizado segundo especia1izacoes funcionáis, incluindo acoes assistenciais e de a s s i s t è n c i a a m e n o r e s . E c r i a d o o S i s t e m a N a c i o n a l de P r e v i d e n c i a e Assistència Social - SINPAS, g e r i d o por um n o v o e específico Ministerio, o MPAS. 0 S I N P A S é c o m p o s t o por sete entidades: o INPS, o INAMPS, o IAPAS, a LBA, a FUNABEM e a DATAPREV (respect imamente : beneficios sociais; assistència médica, arrecadacào/pagadoria; assistència sociali atendo a menores a b a n d o n a d o s e i n f r a t o r e s ; e in format i z a d o ) . I 128 Desde suas origens, na d é c a d a de 30, a p r e v i d e n c i a social foi íiQaQSiada p o r um s i s t e m a t r i p a r t i t e de contribuicoes por p a r t e de e m p r e g a d o s , e m p r e g a d o r e s e o E s t a d o , o p e r a n d o em regime de repartido simples. Contribuicoes e beneficios sao relacionados á renda pretérita, o que faz com que o s beneficios previdenciários, no máximo, reponham a condicio anterior de emprego e salários, e x c l u i n d o , p o r t a n t o , t a n t o os d e s e m p r e g a d o s , quanto os que estio fora do mercado formal de trabalho, r e p r o d u z i n d o , e n t r e o s a s s a i a r i a d o s , as d i s p a r i d a d e s s a l a r i a i s da economia. .._".< ., ' Do ponto_de_ v i s t a jios a s p e c t o s EedͧlLÍfeut.Íyes, o sistema préviàeìTFTarTo^ b r a s i l e irò t a o - s o m e n t e a b r i g a transferencias de r e n d a entre os p r ó p r i o s s e g u r a d o s (e s e u s d e p e n d e n t e s ) : de"~3rtrtVBs a n i o - a t i v o s ; "de s a o s a e n f e r m o s ; e, e'm íñf"ima' 'p rbp óìr c a o T 3é 'segurados contribuintes a beneficiários nao-cont ribuintesl ( t r a b a l h a d o r e s r u r a i s e b e n e f i c i á r i o s da R e n d a Mensal V i t a l i c i a ) . Ás contribuicoes das empresas, r e p a s s a d a s aos custos direto.s, "acaban por ser a r c a d a s p e l o s c o n s u m i d o r e s ( i n d e p e n d e m e n t e , a^iás, de séu nivel de r e n d a ) . Por o u t r o lado, os t e t o s p r e v a l e c e n t e s dos rendimentos sujeitos a contribuicoes e a pequeña diferenca entre as a l í q u o t a s que i n c i d e m s o b r e a s f a i x a s salariais mais baixas, o s i s t e m a de finane i a m e n t o p r e v a l e c e n t e até m e a d o s dos a n o s 80, é m a r c a d o por r e g r e s s i v i d a d e . Em r e s u m o , o f i n a n c i a m e n t o do sistema previdenciário, tal c o m o se e s t r u t u r o u n o s a n o s 60 e 70, l i m i t o u - s e a p r o m o v e r urna r e d i s t r i b u i d o h o r i z o n t a l de renda., Sem dúvida, um certo padrao de universalizacio ocorreu d e n t r o do s i s t e m a , a partir, p r i n c i p a l m e n t e , da d é c a d a de 70. A incorporado g r a d a t i v a de c a t e g o r í a s p r o f i s s i o n a i s e funcionáis acrescentou-se, na área de assistencia médica, a medida de extensao do a t e n d i m e n t o m é d i c o de u r g e n c i a a toda a populado, i n d e p e n d e n t e m e n t e de sua c o n d i c i o de a s s e g u r a d a ou nio. Sob esse padrio, conformado c o m o s i s t e m a nos a n o s 60 e reorganizado na década seguinte, o sistema previdenciário brasileiro expandiu-se muito. Seus n ú m e r o s m a i s significativos podem ser indicados. Na metade dos anos 80, a populado previdenciária coberta alcancava a c a s a dos 100 milhSes de p e s s o a s , o que c o r r e s p o n d i a , a p r o x i m a d a m e n t e , a 75% da p o p u l a d o . A massa de contribuintes superava a casa dos 25 milhoes, equivalendo a 9 0 % da p o p u l a d o e c o n o m i c a m e n t e a t i v a (em 1963, esse percentual era da o r d e n de 23%). E, ainda assim, esse sistema seguiu, ñas c o n d i c o e s b r a s i l e i r a s , bastante excludente. Ao incluir urna r e l a c a o c o n t r a t u a l em p a r t e s i g n i f i c a t i v a de seus programas e ao e x c l u i r o p c a o do tipo fiat benefit« ou renda mínima, exclui, por e x e m p l o , no s e t o r u r b a n o , os t r a b a l h a d o r e s empregados precariamente, os d e s e m p r e g a d o s por l o n g o t e m p o ou os que nio tem c o n d i c i o de se i n c o r p o r a r c o m o autónomos, dada a elevada contribuicio requerida. 129 ssnel® Até os a n o s 30, nao e x i s t i u , proprismente, urna política nacional de s a ú d e no B r a s i l . É c e r t o que, enquanto demandas e pressoes sobre a a g e n d a do E s t a d o , a saúde da populacao, em geral, e da p o p u l a c a o t r a b a l h a d o r a , em p a r t i c u l a r , c o n s t i t u i a - s e como questao desde muito antes, principalmente impulsionada pelos p r o c e s s o s de u r b a n i z a c a o , m i g r a c a o e i m i g r a c a o , etc., ao longo do d e s e n v o l v i m e n t o da e c o n o m i a e x p o r t a d o r a c a f e e i r a . E n t r e t a n t o , até" o final da d é c a d a de 20, n e n h u m a r e s p o s t a de m o n t a , de c a r á t e r Q ü G i S Q S l e e f e t i v a t e v e c u r s o e e s s a l i m i t a c a o tem a ver, p a r a os d i v e r s o s a u t o r e s que a n a l i s a m o p r o b l e m a , f u n d a m e n t a l m e n t e , com a natureza e organizacao do Estado oligárquico. Durante sua vigencia, as a c o e s de s a ú d e p ú b l i c a e medicina previdenciária efetivam-se, de um lado, por m e d i d a s l e v a d a s a c a b o por a l g u n s estados da Federacao; de outro, por beneficios e servicos prestados por e m p r e s a s ou, n o s a n o s 20, por a l g u m a s C a i x a s de Aposentadorias e P e n s o e s - á m b i t o p r a t i c a m e n t e p r i v a d o de acao, c o m o já se a s s i n a l o u . §1/ A i n t e r v e n c a o e f e t i v a do E s t a d o no c a m p o da s a ú d e inicia-se na década de 3® e s o m a n t e vai c o n s o l i d a r perfil específico a p a r t i r de m e a d o s da d é c a d a de 6®. E n t r e 1 9 3 0 e 1966 - s e g u n d o a p e r i o d i z a c a o s u g e r i d a por José Carlos Braga -, sob os impulsos cent r a l i z a d o r e s do Estado brasileiro, define-se um m o d o de i n t e r v e n c a o e os c o n t o r n o s de urna política de s a ú d e " C . . . 3 o r g a n i z a d a centralmente em dois subsetores: o de s a ú d e p ú b l i c a e o de m e d i c i n a p r e v i d e n c i á r i a . 0 primeiro s e r á p r e d o m i n a n t e até m e a d o s de 6© e, em m u i t o s t r a e o s fundamentáis, a e s t r u t u r a e n t a o m o n t a d a v i g e até nossos dias. A l t e r n a t i v a m e n t e , o s u b s e t o r de m e d i c i n a p r e v i d e n c i á r i a a m p l i a - s e s i g n i f i c a t i v a m e n t e a p a r t i r de fins da d é c a d a de 5® e, em t e r m o s de p o l í t i c a e s t a t a l de s a ú d e , assume predominancia a partir da segunda metade dos anos 60". g g / • s u b s e t o r de s a ú d e p ú b l i c a a p r e s e n t a um m o v i m e n t o , e n t r e os anos 30 e 50, de centralizacao e especificacao da máquina administrativa federal, e diversificacao de acoes, sob a c a r a c t e r í s t i c a de um m o d e l o s a n i t a r i s t a de i n t e r v e n c a o na saúde. 0 M i n i s t e r i o da E d u c a c a o e S a ú d e , c r i a d o em 1930, já p r e v é um Departamento Nacional de S a ú d e e A s s i s t e n c i a Médico-Social, o qual, em 1937, assume a coordenacao dos departamentos estaduais de saúde, uniformizando suas estruturas internas. Campanhas s a n i t á r i a s sao l e v a d a s a c a b o p e l o M i n i s t é r i o , d e s d e 1934, e se constituirao, por sua vez, em importantes elementos de centralizacao da política. Sao apoiados pela diversificacao 2 1 / Cf. J.C. B R A G A & S e r g i o G ó e s DE P A U L A , Sgádg g £ c g X Í d Í O £ ¿ S : e s t u d o s de p o l í t i c a s o c i a l , S a o P a u l o , H U C I T E C , 1981, p. 4 1 5® . g g / Cf. J.C. B R A G A a S. G ó e s DE P A U L A , OP. cit., P . 52 . 130 i n s t i t u c i o n a l e de s e r v i c o s , tais como a c r i a d o , em 1937, do S e r v i c o N a c i o n a l da F e b r e A m a r e l a ; em 1939, o S e r v i t o de M a l à r i a do N o r d e s t e ; em 1940, o S e r v i c o de M a l à r i a da B a i x a d a F l u m i n e n s e . Em 1941, r e o r g a n i z a d o o c o r r i d a no M i n i s t e r i o leva á i n c o r p o r a d o de outros v a r i o s s e r v i c o s de c o m b a t e a e n d e m i a s , assim c o m o é assumido o c o n t r o l e da f o r m a d o de t é c n i c o s em saúde pública, além de i n s t i t u c i o n a l i z a d a s as c a m p a n h a s s a n i t a r i a s . A estrutura do M i n i s t é r i o indica, também, a s á r e a s de i n t e r v e n c a o : S e r v i c o s N a c i o n a i s de T u b e r c u l o s e , de P e s t e , de M a l a r i a , de Lepra, de ICáncer e Doencas Mentáis, de Febre Amarela, de Educado Sanitària, de Fiscalizado da M e d i c i n a , de Bioest at í st ica e B i o m e t r i a M é d i c a , além do D e p a r t a m e n t o N a c i o n a l da C r i a n c a . Outro momento importante do processo de conformado o r g a n i z a t i v a será a s e p a r a d o , em nivel m i n i s t e r i a l , d a s á r e a s de saúde e e d u c a d o , sendo criado, em 1953, o M i n i s t é r i o da Saúde; também se expande, nesses anos, o Servico Especial de Saúde Pública - SESP, o qual , sob a forma de f u n d a d o , integrará o M i n i s t é r i o , em 1960. F i n a l m e n t e , em 1956, é c r i a d o o D e p a r t a m e n t o N a c i o n a l de E n d e m i a s R u r a i s , que p a s s a a c e n t r a l i z a r os s e r v i c o s de combate ás e n f e r m i d a d e s e n d é m i c a s . Sob os impulsos desse m o v i m e n t o cent r a l i z a d o r e das c a m p a n h a s s a n i t á r i a s , organizou-se essa área da i n t e r v e n c a o do E s t a d o , t e o r i c a m e n t e e x p r e s s a n d o um m o d o u n i v e r s a l i s t a p ú b l i c o de e s t e n d e r o a t e n d i m e n t o s a n i t à r i o de m a s s a s - as c h a m a d a s m e d i d a s de s a ú d e c o l e t i v a . Entretanto, t a n t o no que d i z r e s p e i t o ao f i n a n e i a m e n t o , ao gasto,^~quanto aos resultados da p o l í t i c a de saúde pública, restricoes e limitacoes pautaram a área. A partir dos anos 60, verifica-se um" d e c l i n i o r e l a t i v o d o g a s t o em s a ú d e pública e, como dissemos, o c r e s c i m e n t o da m e d i c i n a p r e v i d e n c i á r i a . S e g u n d o J o s é - G a r l o s "Braga, d u a s h í p ó t e s e s podem ser levantadas para explicado desse movimento. Além das restricoes de ordem éstrutural, p r ó p r i a s do p e r í o d o de i n d u s t r i a l i z a d o , a primeira hipótese. é de c a r á t e r p o l í t i c o : d a d o o b a i x o grau de o r g a n i z a d o , mobilizacáo e forca política da massa da populado, principalmente seus segmentos mais pobres, eram b a i x a s , também, as pressoes sobre o governo, para que e x p a n d i s s e sua acao e efetivasse a p o l í t i c a ( u n i v e r s a l ) de s a ú d e b á s i c a , coletiva. A a c a o do g o v e r n o , no p e r í o d o , f a z - s e p r i o r i t a r i a m e n t e a t r a v é s de campanhas sanitárias, importantes, mas de pouco efeito na m o l d a g e m de s e r v i c o s p e r m a n e n t e s de a t e n c a o á s a ú d e . Obviamente, as campanhas, estas sim, resultavam em vultosos dividendos p o l í t i c o s , de c a r á t e r l e g i t i m a d o r . A outra h i p ó t e s e r e m e t e á l i m i t a d o da e s t r u t u r a t r i b u t à r i a , que, nessa etapa do desenvolvimento económico, carreava q u a n t i d a d e r e l a t i v a m e n t e p e q u e ñ a de r e c u r s o s para o E s t a d o . Como a f i r m a o a u t o r : "C . . . 3 com a c a r e n c i a de r e c u r s o s e a a u s e n c i a de pressoes políticas, a saúde pública viu-se muito pouco a q u i n h o a d a . Ao m e s m o t e m p o , o s i s t e m a p r e v i d e n c i á r i o a p r e s e n t a v a -se substancialmente auto-financiável, crescendo sua disponib 11idade f i n a n c e i r a com o a u m e n t o do e m p r e g o E ... 3. Como os o b j e t i v o s da a t e n c a o m é d i c a p r e v i d e n c i á r i a a g r e g a v a m , a d e m a i s , forcas políticas consideráveis, nao é de se e s p a n t a r que, _no.gue 131 toca á a t e n c a o m é d i c a como política social governamental, previdencia tenha sido reforcada e privilegiada". 23/ a Pois_ é verdadeiramente a medicina previdenciária que efetivará,~ da década de 6® em d i a n t e , a p o l í t i c a de s a ú d e no Brasil e foi, a t é os d i a s ' a t u a i s , no àmbito da organizacao p r e v i d e n c i á r i a , que se v e r i f i c o u a un iversal i z a c a o da p o l í t i c a de atencao á s a ú d e e e x p a n s a o e f e t i v a da c o b e r t u r a , situacao que p o d e ser e x e m p l i f i c a d a por um ú n i c o i n d i c a d o r . Em 1970, o gasto p ú b l i c o em saúde a s s i m se d i s t r i b u í a : U n i a o - 15,1355; estados e D i s t r i t o Federal - S S , 4 2 % ; m u n i c i p i o s (das c a p i t a i s ) - 2,06%; e INAMPS - 60,01%. Em 1980, o INAMPS respondía por 64,01% dos gastos públicos em saúde, sob aquelas características organi z a c i o n a i s já a s s i n a l a d a s no t ó p i c o a n t e r i o r e, sob a è g i d e dos governos autor itários, moldou-se, a t r a v é s da expansao da medicina previdenciária, um sistema de saúde marcado por c a r a c t e r í s t i c a s m u i t o p e c u l i a r e s . A s s i n a l e m o s as p r i n c i p á i s . Do ponto de v i s t a do íÍQaQ£Íaü!gQt9 do sistema de saúde - tomadas em conjunto a saúde pública e a medicina p r e v i d e n c i á r i a - o p e s o maior recai, c o m o se viu, na p a r t i c i p a c a o do INAMPS, esta f i n a n c i a d a por c o n t r i b u i c o e s d o s segurados da p r e v i d e n c i a s o c i a l , n u m a forma de a u t o - s u s t e n t a c a o f i n a n c e i r a . Os s e g u r a d o s arcam, entao, com a p a r c e l a m a i o r de f i n a n e i a m e n t o de um sistema que, por sua vez, un iversal izou p a r t e da atencao médica, teoricamente c o b r i n d o toda a p o p u l a c a o . É verdade que essa situacao n à o é e x c l u s i v a do B r a s i l . Entretanto, além de c h a m a r a a t e n c a o p e l a s s u a s p r o p o r c o e s , o r g a n i z o u - s e em c o n d i c o e s ñas quais o patamar b á s i c o de a t e n c a o em saúde coletiva é precàrio, l i m i t a d o e i n s u f i c i e n t e (com e x c e c a o de a l g u n s poucos estados da F e d e r a c a o ) . Por o u t r o lado, assim f i n a n c i a d o , esse sistema é p a r t i c u l a r m e n t e a f e t a d o pelo c o m p o r t a m e n t o financeiro do sistema previdenciário, sensível, c o m o se sabe, tanto ás crises e recessoes, quanto ás i n j u n c o e s do seu processo de "amadurecimento" natural com o c r e s c i m e n t o e s p e r a d o dos gastos com b e n e f i c i o s , em p a r t i c u l a r a p o s e n t a d o r i a s e p e n s o e s . Do p o n t o de v i s t a da g e s t a s do s i s t e m a , no que d i z r e s p e i t o a seu s e g m e n t o de m e d i c i n a p r e v i d e n c i á r i a , a e x c l u s à o Oas c l a s s e s t r a b a l h a d o r a s d a s d e c i s o e s d e s s a área p a s s a a m a r c a r , no p ó s - 6 4 , o sistema decisorio e de poder. Entretanto, a visao r a c i o n a l i z a d o r a e t e c n o c r à t i c a p r e d o m i n a n t e nào s ì g n i f i c o u , d e s d e logo, maior i m u n i d a d e do s i s t e m a a p r e s s ò e s c1ientelísticas e corporativas. Sob o regime autoritàrio, verificou-se o uso clientelistico forte do sistema, principalmente nos ciclos e l e i t o r a i s (muito e m b o r a seja a s s u n t o p o u c o p e s q u i s a d o , e v i d e n c i a empírica nunca deixou de transparecer na imprensa e em depoimentos). Por o u t r o lado, dada a p r i v i l e g i a d a relacao do sistema com o setor privado, p r e s t a d o r de servicos médicos, interesses particularistas desse segmento, articulados com interesses burocráticos, f i z e r a m - s e m u i t o p r e s e n t e s no p r o c e s s o d e c i s o r i o e de a l o c a c a o de r e c u r s o s . Por fim, principalmente a partir do fim dos anos 70, a manifestacao de interesses 23/ Cf. J.C. BRAGA & S. G ó e s DE P A U L A , OP. c i t . , P.55. 132 corporativos de profissionais ligados á área (médicos e paramédicos) foi crescentemente forte, particularmente, em questoes relacionadas a salários, alternativas e mesmo resistencias a reformas e reorganizacoes. A expansao p r o p o r c ional men t e maior da med ic ina previdenclaria em r e l a c a o á s a ú d e p ú b l i c a i n t r o d u z i u e acentuou ciistórcoes no sistema. A primeira significou o desequilibrio entre a m e d i c i n a h o s p i t a l a r - c u r a t i v a em d e t r i m e n t o da atencao Preventiva e p r í m á r i a em s a ú d e . A s e g u n d a s i g n i f i c o u uma forma particular de a r t i c u l a c a o com o setor p r i v a d o , orientando-se o s i s t e m a m e n o s para a e x p a n s a o d o s s e r v i c o s p ú b l i c o s e m a i s para a c o m p r a de s e r v i c o s j u n t o ao s e t o r p r i v a d o (hospitalar, medicina de grupo, etc.). Situacao que, ñas p a l a v r a s de um analista, significou "a maximizacao de interesses particularistas", burocráticos e e m p r e s a r i ais, com b a i x o grau de c o n t r o l e p ú b l i c o s o b r e as a t o e s do E s t a d o , e d i s t a n t e s dos i n t e r e s s e s da p o p u l a c a o c o n s u m i d o r a d o s s e r v i c o s de s a ú d e . 24/ Sob essas características, expandiu-se notavelmente, no país, o s i s t e m a de s a ú d e m o l d a d o nos a n o s 6 0 / ^ 0 . Estendeu-se a "cobertura dos s e r v i c o s , i n c o r p o r a n d o - s e um v o l u m e cada vez maior de pessoas. A evolucao do número de consultas médicas, internacoes, consultas odontológicas e exames complementares demonstram o d i n a m i s m o do c r e s c i m e n t o da p r o d u c a o d o s servicos. Entretanto, esse crescimento, marcante pelas características assinaladás, manteve e aprofundou a diferenciacao entre setores da forca de t r a b a l h o , entre o trabalhador urbano e entre as regioes do país (a despesa com assistincia médica para o~ trabalhador rural "constituía, em 1984, 1/7 da d e s p e s a com o previdenciário urbano, a d e s p e i t o da p o p u l a c a o r u r a l . s e r m a i s de 1/3 da u r b a n a ) . M a i s do que t u d o , o s i s t e m a p a s s o u r á p i d a m e n t e a i p a d e c e r de t o d o s o s m a l e s do s e u g i g a n t i s m o e d e s c o n t r o l e , o que ! levou a que, d e s d e m e a d o s da d é c a d a de 70, a d i s c u s s á o de sua r e f o r m a f o s s e m a r c a d a , s o b r e t u d o p e l a s t e s e s de í n t e a r a s i g , de um lado (dos t r e s n í v e i s de a c o e s p ú b l i c a s - federal, estadual e ; municipal), e de d e S C e D t c a l i g a E a S g dgS£gQ£eat,ra£Íg ( p o l í t i c a e * — a d m i n i s t r a t i v a ) , de o u t r o . Assim, entre 1975 e 1982/83, foram encaminhadas várias medidas, n a q u e l e s e n t i d o , a t r a v é s da lei que i n s t i t u i u o Sistema Nacional de Saúde, em 1975; o P r o g r a m a de I n t e r i o r i z a c a o das A c o e s de S a ú d e e S a n e a m e n t o - P I A S S , de 1975; o P r o g r a m a Nacional de S e r v i c o s B á s i c o s de S a ú d e - P R E V - S A Ú D E , de 1980; o Plano de Reorientacao da Assistincia á S a u d e no á m b i t o da Previdincia Social - C O N A S P , em 1982; e, f i n a l m e n t e , as A c o e s I n t e g r a d a s de S a ú d e - AIS, em 1984. A p ó s o d e s l a n c h a r da democratizacáo, em 1985, d e f i n e - s e um n o v o p r o g r a m a de i n t e g r a c a o / d e s c e n t r a l i z a c a o , em 1987 - S i s t e m a U n i f i c a d o e D e s c e n t r a l i z a d o de S a ú d e ( S U D S ) -, a t u a l m e n t e em c u r s o . 2 4 / Cf. P.l. Barros SILVA, Atengig á saúde a a v e H D a m e n t a l . C a m p i ñ a s , U N I C A M P , 1984. como eolítica 133 Por varias e complexas razoes, é apenas com as flcóes Integradas de S a ú d e que, de fato, i n i c i a - s e urna e s t r a t e g i a de 1 reorganizacao do sistema de saúde. E m _ serjL .> „tanto essa e s t r a t e g i a quanto, p o s t e r i o r m e n t e , a e n c e t a d a pelo SUDS, t i v e r a m , como horizonte mais geral, superar as características mais perversas, contraditórias e i r r a c i o n a i s da p o l í t i c a de s a ú d e no Brasil, através de m e t a s de i n t e g r a c a o d a s a c o e s públicas nos t r e s n í v e i s da F e d e r a c a o , do r e o r d e n a m e n t o da r e l a c a o com o s e t o r privado, da elevacao da c a p a c i d a d e g e r e n c i a l e o t i m i z a c a o dos r e c u r s o s f i n a n c e i r o s do s i s t e m a e da d e s e e n t r a 1 i z a c a o de d e c i s o e s e operacao, visando, t o d a s elas, a e l e v a r o g r a u de e f i c a c i a e resolutividade da p o l í t i c a e dos o r g a n i s m o s responsáveis pela e x e c u c a o da a t e n c a o á s a ú d e no p a í s . g § / As AIS tinham c o m o o b j e t i v o : a estruturacao de sistemas estaduais de saúde com alto grau de resolutividade; desenvolvimento da c a p a c i d a d e gerencial d o s s e r v i c o s em nivel local e r e g i o n a l ; i n t e g r a c a o da a l o c a c a o de r e c u r s o s o r i u n d o s de diversas fontes (federal, e s t a d u a l e m u n i c i p a l ) ; v a l o r i z a c a o dos r e c u r s o s h u m a n o s p a r t i c i p a n t e s da e q u i p e de saúde; planejamento da i n t e r v e n c a o a t r a v é s do d e s e n v o l v i m e n t o d e p a r á m e t r o s t é c n i c a e financeiramente viáveis e adaptados ás condicoes locáis; orientacáo da pesquisa e das a t i v i d a d e s das instituicoes de e n s i n o p a r a as n e c e s s i d a d e s de s a ú d e em c a d a r e g i a o . Desde logo, as AIS e n f r e n t a r a m d i v e r s a s d i f i c u l d a d e s e resistencias, seja pelas dimensoes dos problemas a resolver, seja por afetarem inúmeros interesses, seja, finalmente, pela própria concepcao e desenho, enquanto política. Assim, em 1984, já se a s s i n a l a v a m • r e t r a c a o dos r e c u r s o s d a s e s f e r a s e s t a d u a i s e locáis, alterando, na p r á t i c a , o p r i n c i p i o da r e p a r t i c a o p r o p o r c i o n a l de encargos; e x c e s s i v a h e g e m o n i a do I N A M P S , que p a s s a v a a ter forte i n g e r e n c i a ñas secretarias estaduais e l o c á i s de s a ú d e , uma vez que os repasses de recursos estavam condicionados a padroes de produt i v i d a d e p ré-f i x a d o s b a i x a r e p r e s e n t a t i v i d a d e e falta de agilidade das c o m i s s o e s de p l a n e j a m e n t o e g e s t a o dos servicos, que nao c o n s e g u i r a m e f e t i v a r - s e , até e n t a o , c o m o l a g u s real das d e c i s o e s (CLIS, CIMS, C R I S , C I S ) . 26/ As AIS foram, de fato, suplantadas, e s t r a t é g i a m a i s radical de descent r a l i z a c a o secao posterior. em 1987, que será pelo SUDS, e x a m i n a d a em & Pelit&ea HabiSoeianal Enquanto sistema territorio nacional, estatal, apoiado centralizado, em recursos referido a todo o de instituicoes g § / Para e x a m e d e t a l h a d o d o s p l a n o s e p r o g r a m a s que a n t e c e d e r a m a AIS, ver B R A S I L 1985. R e l a t ó r i o s o b r e a s i t u a c a o social do p a í s . C a m p i ñ a s , N E P P / U N I C A M P , 1986. § 6 / Cf. NEPP, OP. c i t . , p. 1 4 5 - 1 4 8 . 134 específicas, a p o l í t i c a habitacional constituí área tardía de intervencao social do Estado," somente se e f e t i v a n d o no PÓS-64, com a instituicáo do Sistema F i n a n c e i r o da H a b i t a c a o e a criacao, para operá-lo, do Banco Nacional da Habitacao. / Entretanto, a i n t r o d u c t o da política no c a m p o da habitacao popular é anterior. De fato, muitos dos Institutos de Aposentadorias e Pensoes desenvolverán, entre suas atividades, planos de f i n a n e i a m e n t o de h a b i t a c a o , en p a r t i c u l a r o IAPB, o IAPC, o IAPI, assim como aqueles aos quais se vinculam f u n c i o n a r i o s p ú b l i c o s (federáis e estaduais). Infelizmente, nao existem e s t u d o s de v e r i f i c a c a o e m p í r i c a da p r o d u c a o de moradias populares, através dos IAP, ao longo dos anos 40 e, principalmente, 50. Também, em 1946, foi criada, a nivel do Governo F e d e r a l , a F u n d a c a o da Casa Popular, cujas realizacoes p o u c o se c o n h e c e . Criados em 1964, o SFH e o BNH tiveram, como fonte de financiamento, o Fundo de G a r a n t i a por T e m p o de S e r v i c o (FGTS) e os d e p ó s i t o s em caderneta de p o u p a n c a . 0 FGTS, como já se disse, foi instituido com o o b j e t i v o de substituir o estatuto da estabilidade no emprego, c o n s t i t u i n d o p a t r i m o n i o do trabalhador para fins de habitacao, d e s e m p r e g o , etc. D i r i g i d o para financiar o SFH, sua aplicacao deveria produzir retornos financeiros, de modo a r e m u n e r a r tal p a t r i m o n i o , da mesma forma o c o r r e n d o com os recursos o r i g i n a d o s das c a d e r n e t a s de poupanca. Por o u t r o lado, em conjunto, as a p l i c a c o e s d o s recursos do SFH d e v e r i a m , também, gerar e x c e d e n t e s para v a l o r i z a r os capitais (públicos e p r i v a d o s ) que participam da i n t e r m e d i a c a o financeira no p r o c e s s o produtivo e na g e s t á o da política h a b i t a c i o n a l . Assim, "é fácil perceber que o custo desses r e c u r s o s , c o m b i n a d o á e s t r u t u r a de rendimento da popul acao^^a^iJ^xa^^Li^i^-?^ 3 -- 8 -^ 6 ^^.^^!. 3 1 ^^. desse m e c a n i s m o de 'fi'n an dTáñ^nJyjb.. Su*a inadequacao, patente ñas" conjunturas e c o n ó m i c a s favoráveis, atinge o p a r o x i s m o . d a c o n j u n t u r a recessiva do inicio dos anos 80, quando os patamares elevadíssimos alcancados pela inflacao e pela taxa de juros se s o b r e p u s e r a m á política de d e s i n d e x a c a o dos s a l á r i o s . Se, já no final dos anos 60, d e s f a z i a - s e o sonho da casa própria para os e s t r a t o s de baixa renda, na c r i s e dos a n o s 80, e s s e sonho também se d e s v a n e c e para as carnadas médias". §7/ Se a forma de f i n a n e i a m e n t o e a regra de auto-sustentacao financeira já limitavam, de inicio, a e f e t i v i d a d e social dessa política, que terminou, de fato, por b e n e f i c i a r s e t o r e s médios, outras c a r a c t e r í s t i c a s a c e n t u a r a m seus baixos e f e i t o s sociais e as perversoes que nela se instalaram, como, por exemplo: excessiva cent ralizacao do poder de decisao polí_tica e do c o n t r o l e " s o b r é ~o"s "recursos f i n a n c e i r o s e inst ituc iorTáis 7Tir~es"f era federal; e o alto grau de p r i v a t i z a c a o inserto n o s -prócessós TJecis.órios e de alocacao de recursos, dada a possib i 1 idade de qué! 'segmentaos privados "(setor-de construcao c i v i l ) e burocráticos .maxim.izassem seus interesses em detrimento de interésses "colet ivos. " - _ 27/ Cf. NEPP, op. cit . , P . 4 . 135 Concebida e i m p l e m e n t a d a sob a m a r c a a u t o r i t a r i a do regime do pós-64, essa área de i n t e r v e n c á o d o Estado talvez tenha c o n s t i t u i d o a q u e l a em que m a i s se p r o n u n c i a r a n c a r a c t e r í s t i c a s de iniquidades, irracionalidades e b a i x í s s i m o grau de efetividade social. 0 grande, moderno, caro e sofisticado Sistema Financeiro da Habitácao produziu, ao longo do p e r í o d o 1 9 6 5 / 8 4 , um total aproximado de 4,5 m i l h o e s de m o r a d i a s , das quais, entretanto, apenas 723 mil se destinaram a carnadas de baixa renda da populacao (até tres salários-mínirnos, incluindo lotes urbanizados). No mesmo período, a p e n a s 7,7% do s a l d o total de finaneiamento realizado no á m b i t o do S F H foram destinados a mutuários com r e n d a inferior a 3,5 salários-mínirnos mensais. A t a b e l a a s e g u i r m o s t r a a p r o d u c a o do SFH no p e r í o d o 1 9 6 5 / 6 8 . 0 sistema p r a t i c a m e n t e e n t r o u em c o l a p s o nos entre 1985 e 1987, a r r a s t o u - s e o p r o j e t o de sua integral, o que a p e n a s o c o r r e no inicio de 1988. anos 80 e, reordenacao £ dos anos 80, também, o crescimento de iniciativas estaduais e municipais de, através de sistemas variados (mutiroes, ajuda mutua, lotes urbanizados, etc.), avancar na producao de moradias para os setores menos aquinhoados da populacao, numa situacáo de déficit habitacional bastante crítica. D i f í c i l m e n t e se pode, já, fazer um b a l a n c o , em t e r m o s n a c i o n a i s , d o s r e s u l t a d o s de t a i s i n i c i a t i v a s , m u i t o e m b o r a todos os e s t u d o s que t r a t a r a m de e x a m i n a r e s s a s formas "alternativas" de enfrentar o problema habitacional chamen a atencao para os parcos resultados alcancados. 9. A P o l í t i c a A»»i»t«nci»l Tem s i d o difícil e s t a b e l e c e r com precisao, no Brasil, o ámbito específico de urna política em assisténcia social. Programas de assisténcia social sao muitos no país, e d e s e n v o l v i d o s por d i v e r s o s ó r g a o s p ú b l i c o s , d i s t r i b u i d o s ñas tres esferas de governo. Por o u t r o lado, dirigem-se a servicos e beneficios dos mais variados, que vao do atendimento ás n e c e s s i d a d e s de s a ú d e , alimentacao, educacao, t r a b a l h o , lazer, assisténcia jurídica, etc., procurando enfrentar, sob forma de auxilios temporários ou emergenciais, alguns dos múltiplos aspectos do q u a d r o de c a r e n c i a s que a f e t a a g r a n d e maioria da populacao brasileira. Com esse caráter fragmentado, indefinido, relativamente instável, programas de assisténcia pública vém sendo desenvolvidos no país, ao longo de toda sua h i s t o r i a . Urna dada cent r a l i z a c a o , todavia, o c o r r e u em nivel do G o v e r n o Federal e, posteriormente, em nivel d o s e s t a d o s da F e d e r a c a o , com a c r i a c a o de s e c r e t a r i a s de p r o m o c a o s o c i a l , desde m e a d o s dos a n o s 70. 136 PRODUCAO DO 8FH 1963/68 NIVEL DE RENDA UNIDADES % De 1 a 3 s a l a r i o s - m í n i m o s lotes u r b a n i z a d o s . Joao de Barro . PROMORAR De 3 a 5 De 5 a 10 1 .247.725 96.305 27,27 6,02 810.358 18,72 1 .900.878 247.424 41 , 54 5, 40 salarios-mínimos . Cooperativas Mais de 10 TOTAL 0,01 0,00 0,05 salários-minimos . COHABS . PICAM SBPE RECOM 41.901 9.760 222.140 salarios-mínimos 4.S73.992 100,00 Em nivel federal, tal processo tendeu a realizar-se em torno, primeiramente, de uma agencia criada em 1942: a Legiao Brasileira de Assistência, o r g a n i z a d a como parte do Programa Emergencial de M o b i l i z a c i o do Trabalho Civil, durante a guerra. Em 1969, a LBA foi t r a n s f o r m a d a em fundacio e vinculada ao Ministerio da P r e v i d e n c i a e A s s i s t ê n c i a Social, integrando, a partir de 1977, o SINPAS, entao organizado. Na sua órbita, foram desenvolvidos programas de assistência ao menor (creches, alimentacio, etc.), nutricio materno-infanti 1, acoes de legalizacio jurídica dos cidadios, assistência aos idosos, aos e x c e p c i o n a i s e p r o g r a m a s de e d u c a c a o para o trabalho Do ponto de v i s t a da c l i e n t e l a a que se dirige, a LBA, apesar de integrar o sistema p r e v i d e n c i á r i o , nao se d i r i g e tao-somente a segurados; em geral, a p o p u l a c a o coberta por seus programas é c o n s t i t u i d a por p e s s o a s que se encontram em. s i t u a c i o de desemprego, subemprego, as que têm poder aquisitivo insuficiente ou, ainda, apresentam condicSes reduzidas de 137 superar, por s e u s p r ó p r i o s m e i o s , a s i t u a c a o de d e s f a v o r e c i m e n t o em que se e n c o n t r a m . Do p o n t o de v i s t a de seu f i n a n e i a m e n t o , os r e c u r s o s d e s t i n a d o s á LBA o r i g i n a m - s e , principalmente, do F u n d o da P r e v i d e n c i a e A s s i s t é n c i a Social e, r e c e n t e m e n t e , de r e c u r s o s o r i u n d o s do FAS e F I N S O C I A L . Do p o n t o de v i s t a de sua o r g a n i z a c a o e operacao, a LBA opera através de núcleos e agencias distribuidas em quase todos os municipios brasileiros, indiretamente através de c o n v e n i o s com e n t i d a d e s privadas e, eventualmente, com prefeituras. Seus principáis programas vigentes t i v e r a m i n i c i o na d é c a d a de 70, a p ó s as r e o r g a n i z a c o e s i n s t i t u c i o n a i s a que n o s r e f e r i m o s . F i n a l m e n t e , do p o n t o de v i s t a da c l i e n t e l a a t i n g i d a , é m u i t o difícil estimar, ao l o n g o de sua e x i s t e n c i a , os n ú m e r o s mais significativos dos seus programas. Como a maioria das áreas s o c i a i s , essa é m a r c a d a p o r urna r e c o r r e n t e d i f i c u l d a d e de c l a r a e precisa contab i 1izacao de s e u s c l i e n t e s , em operacoes sempre marcadas por duplicidade de contagem. Por volta de 1985, afirmava-se estar, a LBA, a t e n d e n d o a c e r c a de q u a t r o m i l h o e s de beneficiários, principalmente, entre seus programas prioritarios, os dirigidos a enancas, g e s t a n t e s e n u t r i z e s da p o p u l a c a o de renda de até d o i s salários-mínirnos. Em 1987, tendo efetivamente sido verificada g r a n d e e x p a n s a o nos s e u s r e c u r s o s e atoes, a a g e n c i a a f i r m a v a ter a t e n d i d o a quase 50 m i l h o e s de brasileiros, número evidentemente exagerado. Resta, ainda, assinalar ser impossível verificar o significado d e s s e t i p o de p r o g r a m a a s s i s t e n c i a l na c o m p o s i c a o da renda f a m i l i a r das carnadas m a i s p o b r e s da p o p u l a c a o , por várias razoes, até pela mais evidente, a de que é m u i t o instável a permanencia das m e s m a s f a m i l i a s e p e s s o a s nos mesmos programas - a oferta, a inscricao, o cadastramento oscilando acentuadamente, segundo injuncoes politicas e c 1 i e n t e l isti cas, sao c a r a c t e r í s t i c a s que s e m p r e m a r c a r a m a área a s s i s t e n c i a l . A o u t r a a g e n c i a que m e r e c e r e f e r e n c i a é a FUNABEM, voltada para a atencao a menores abandonados e infratores. Criada em 1964, a Fundacao N a c i o n a l do B e m - E s t a r do M e n o r substituiu o a n t i g o S e r v i c o de A s s i s t é n c i a ao M e n o r ( c r i a d o em 1941); em 1974, é v i n c u l a d a ao M i n i s t é r i o da P r e v i d e n c i a e A s s i s t é n c i a Social e, em 1979, passa a i n t e g r a r o S I N P A S . T e ó r i c a m e n t e , esta F u n d a c a o é de c a r á t e r n o r m a t i v o , d e v e n d o a o p e r a c a o d i r e t a ser r e a l i z a d a , em nivel d o s e s t a d o s , p e l a F E B E M . A LBA e a FUNABEM deveriam, por definicao, elaborar a política n a c i o n a l de a s s i s t é n c i a social e a p o l í t i c a n a c i o n a l de atencao ao menor, t a r e f a que a m b a s , de fato, nunca lograram real izar. Finalmente, é i m p o r t a n t e a s s i n a l a r o u t r a área de política assistencial, a que se consubstancia através dos múltiplos programas de alimentacào e nutricio realizados pelo Instituto N a c i o n a l de A l i m e n t a c a o e N u t r i c i o (INAN), c r i a d o em 1972. 138 Históricamente, a política de a l i m e n t a c a o no Brasil tem suas qrjjjérís em 1940, com a c r i a c i o do primeiro p r o g r a m a federal - o Programa de' A l i m e n t a c a o de T r a b a l h a d o r e s . Durante a década de 50, forarti d e s e n v o l v i d o s mais dois programas, apoiados por doacoes internacionais de alimentos, sob os a u s p i c i o s do UNICEF: um programa de a l i m e n t a c a o de gestantes, n u t r i z e s e c r i a n c a s de zero a cinco anos e outro de a l i m e n t a c a o e s c o l a r . Apenas em 1972, entretanto, que, criado o INAN, se inaugura e f e t i v a m e n t e essa área de intervencio do Estado, obedecendo ao Programa Nacional de A l i m e n t a c a o e Nutricio, e q u a c i o n a d o para operar durante 1973/74. Desde o inicio, define-se a c l i e n t e l a - a l v o : o grupo materno-infantil; e um principio norteador:, a educacio alimentar. Seguem-se o PRONAM II, com vigencia programada para 1976/79, mas, de fato, p r o r r o g a d o até 1980. 0 INAN, através do P R D N A M , atua em tres linhas básicas: a syelenjeotacle a l Í E e o t a r (Programa de Nutricio em Saúde (PNS); P r o g r a m a Nacional de A l i m e n t a c a o Escolar (PNAE); Programa de Complementacao Alimentar e o Programa de Alimentacao do T r a b a l h a d o r (PAT)¡ a c a Q Í Q D a l i s a t a Q SlQ sistema de EEQdUtis e £BffleE£ÍalÍg3£aB d o s alimentos b á s j c g s (Projeto de Aquisicáo de Alimentos em Areas Rurais de Baixa Renda (PRÜCAB); Programa de A b a s t e c i m e n t o dos Alimentos Básicos em Areas Rurais de Baixa Renda ( P R O A B ) ; e a t i y i d a d e s de E g a e l e m e a t a t a g e aeaie (combate ás carencias nutricionais específicas, formacao de recursos h u m a n o s e r e a l i z a c a o de estudos e p e s q u i s a s ) . Os c r i t é r i o s de elegib i 1idade referentes a cada programa sao variados. se, na maioria, sao destinados á p o p u l a c i o de até dois salários-minirnos, sendo, portante, seletivos, e exigindo testes de melos, o PNAE, por e x e m p l o , distancia-se, urna vez sendo, teoricamente, d e s t i n a d o a todas as criancas m a t r i c u l a d a s na pré-escola e 1 grau (em 1985, foi estendido também aos irmios dos escolares que se encontravam fora da escola), tendo, neste sentido, caráter universal. Também há d i f e r e n c a s em relacio ao finaneiamento desses p r o g r a m a s : em geral, sio u t i l i z a d o s recursos do Orcamento da Uniao, do s i s t e m a bancàrio federal (Banco do Brasil e Banco Nacional de C r é d i t o Cooperativo), do FAS, do FINSOCIAL, etc. 0 PAT, e n t r e t a n t o , é um programa o r g a n i z a d o pelas empresas, através de i n c e n t i v o s fiscais, e o custo final de sua refeicao é dividido entre a e m p r e s a (38%), o e m p r e g a d o (20%) e o G o v e r n o (42%). Do ponto, de v i s t a da cobertura, ..o prograjna,. .mais abrangente é o PÑÁE: atualmente a merenda escolar cobre pràticamente toda a faixa etária de escolares a que se destina. Em'seguida, p o s i c i o n a - s e o PNS (em 1984, atingiu 4,3 milhoes de b e n e f i c i á r i o s ) ; os o u t r o s p r o g r a m a s sio de c o b e r t u r a reduzida. Em relacao á forma de operacio, t a m b é m variam muito os p r o g r a m a s . Em geral centralizada, principalmente no que tange á compra de alimentos, ver ificou-se, recentemente, um esforco de descentralizacio na merenda escolar, acentuadamente municípalizada nos dias atuais. Fazem-se necessárias duas palavras fináis referentes á política assistencial . Em p r i m e i r o lugar, vale lembrar que os p r o g r a m a s assist eneiais levados a cabo por estados e municipios sao também múltiplos, muito e m b o r a nao se verifique, no Brasil, a 139 tendencia de privilegiar as acoes locáis assisténcia, p r e s e n t e s em outros países. e municipais de Por outro lado, essa área de intervencao governamental tem sido r e i t e r a d a m e n t e apontada como a mais p e r n e a d a por m e c a n i s m o s c1ientelistas, assim como por ausencia de controles, o que t e n d e a torná-la fácil presa de m a n i p u l a d o e c o r r u p c a o . Na ausencia de p o l í t i c a s claras para o setor, de m e c a n i s m o s p ú b l i c o s de c o n t r o l e e de verificado,é ampio o espaco aberto para que tais características se reproduzam; por outro lado, na ausencia de clara d e f i n i d o de direitos dos c i d a d a o s em relacio áquela oferta, de bens e s e r v i c o s no Brasil, ao longo de sua historia, a política de a s s i s t é n c i a foi sempre marcada por urna concepcao assistencialista estreita, que tende a estigmatizar seus beneficiários, t o r n a n d o - o s s o l i c i t a n t e s e p e d i n t e s em face de um Estado supostamente benévolo. B. e t c l Q d l i a d B t C a r a c t c r l i a c l e -Utlfact Stals. Btitiluito és Ainda que sumaria e insuficiente, a historiografía apresentada pode apoiar o e x e r c i c i o que faremos a seguir, o de construir urna p e r i o d i z a c a o da montagem institucional do íaro State no Brasil e o de indicar, segundo a t i p o l o g í a c o m e n t a d a , as características mais g e r a i s do padrao de Estado de Bem-Estar vigente entre nós. C útil, desde logo, sublinhar, urna vez mais, a c o n c e p c a o de Welfare com a qual estamos trabalhando: a de urna transformado ñas relacoes entre o E s t a d o e a economia, que se manifesta em modificacoes na própria estrutura do E s t a d o e na emergencia de sistemas nacionais, públicos ou estatalmente regulados, de educacáo, saúde, integracáo de renda, assisténcia social e habitado popular. Concretamente, trata-se de p r o c e s s o s que se expressam na o r g a n i z a d o e p r o d u c a o de bens e s e r v i c o s públicos, na montagem de esquemas de transferencias sociais, na interferencia pública sobre a estrutura de oportunidades de acesso a bens e servicos p ú b l i c o s e privados e, finalmente, na regulado (e i n c e n t i v o ) á producao de b e n s e servicos sociais privados. Ora, nesse sentido, a p e r i o d i z a c a o que p r e t e n d e m o s indicar somente pode ter c o m o p o n t o de partida, c o m o já o disseroos, o período que se abre em 1930, considerando o conjunto de tranformacoes do Estado brasileiro e as formas de regulado social que ai tém inicio. Por outro lado, essa mesma concepcao nos obriga a e x a m i n a r , criteriosamente, entao, a natureza da p r o d u c a o legal e inovacao em políticas que transcorrem no período que vai de 1930 aos nossos días, na tentativa de evitar urna visao linear do movimento de c o n s t r u c a o e c o n s o l i d a d o do U a l f o r a §£ats ent re nós. 140 Mijitos s a o o s a u t o r e s que c h a m a r a m a a t e n c á o p a r a o fato de que, ao longo desse período, d u a s f a s e s de a c e l e r a d a producao legal se d e s t a c a m : a fase 1 9 3 0 / 4 3 e a fase 1 9 6 Ó / 7 1 , a m b a s , a l i a s , efetivadas sob regimes autoritarios, situacao que parece r e f e r e n d a r a t e s e d a s a c o e s p r e v e n t i v a s d a s e l i t e s e da b u s c a de formas de legitimacao, via política social. Essa nao é, entretanto, a discussao que a q u i nos i n t e r e s s a fazer. Antes, p a r e c e - n o s i m p o r t a n t e e x a m i n a r a t é que p o n t o e s s e s d o i s períodos se assemelham, na sua natureza, ou e x p r e s s a m f a s e s distintas d a q u e l e m o v i m e n t o g e r a l que q u e r e m o s p e r i o d i z a r . A p r o d u c a o l e g i s l a t i v a a que se r e f e r e o p e r í o d o 1 9 3 0 / 4 3 é fundamentalmente a que d i z r e s p e i t o á c r i a c a o d o s I n s t i t u t o s de Aposentadorias e Pensoes, de um lado, e, d e o u t r o , a r e l a t i v a á legislacao trabalhista, c o n s o l i d a d a em 1943. S e e s s a é, de fato, a inovacao mais importante, o período, entretanto, é, também, c o m o v i m o s , fértil em a l t e r a c o e s ñ a s á r e a s de p o l í t i c a de s a ú d e e de e d u c a c á o , o n d e se m a n i f e s t a m e l e v a d o s g r a u s d e cent r a l i z a c a o , no E x e c u t i v o Federal, de r e c u r s o s e instrumentos i n s t i t u c i o n a i s e administrativos. Por o u t r o lado, n o s q u a d r o s l i m i t a d o s do r e g i m e d e m o c r á t i c o que tem vigencia entre 1945 e 1964, simultáneamente segue o movimento de inovacao 1egal-institucional (nos campos da educacao, saúde, assisténcia social e, muito tenuemente, na h a b i t a c a o p o p u l a r ) e e x p a n d e - s e o s i s t e m a de p r o t e c a o s o c i a l nos m o l d e s e p a r á m e t r o s d e f i n i d o s p e l a s i n o v a c o e s do p e r í o d o 1 9 3 0 / 4 3 ; isto é, ao m e s m o t e m p o há a v a n c o s no p r o c e s s o de cent r a l i z a c a o institucional e de i n c o r p o r a c a o de n o v o s grupos sociais aos esquemas de p r o t e c a o , sot2 UIB eadcaQj. eotretSQtej. seletiyg ( a B ElüQQ c¡ss b§Q!ÍÍciáEÍgs¿ J . h g t g r g a É Q g g fcagtneQtadg ÍOB e l a o g s o c i a l do E s t a d g . ÍQ§titucignal <ng elano dos beneficios) e e finaQceirg) de intervencig Muito d i f e r e n t e , pela sua natureza, conteúdo e impacto social, é o período que vai d e m e a d o s da década de 60 a praticamente meados da d é c a d a s e g u i n t e , quando o conjunto de medidas legislativas compoe, em r e l a c a o ao p e r í o d o a n t e r i o r , um quadro de radical transformacao da armacao institucional e f i n a n c e i r a do s i s t e m a de p o l í t i c a s o c i a l . IraüSÍgtfflatlg Ladícal e g r a u e é e s s e g ragmeatg sw aug* g f g t i y a E g G t e J . se g r g a n i z a m gs s i s t e m a s naciorjais E Ú b U c o s ou e s t a t a l m e n t e reauladgs^. na á r g a d e bens e seryisgs sociais básicos (educa£ag.L saúde,. assistgncia S Q C i a l x E C g y i d e n c i a g h a b i t a c a a l ^ SUEerando a f o r m a f r a a n g n t a d a e socialmente seletiva anterior^ abrindo espito certas Eara tendencias un i v e r s a l i z a n t e s A masx ECINCiealmentGX eata I ifflElgIDgDtatag E g s t g r i g n de E g l í t i c a s dg m a s s a e Cglatiyaagntg aiDEla EB&entUCa.. Além dissg,. tambEEx g s s g Uü! E g r i g d g ús i n o v a t i o em E o l í t i c a s g c i a l x urna v g z aue se a b r e a i o t e r y e n c a g d ° E s t a d o em n g y g s s g t g t e s í h a b i t a t l g > x i n t r g d u z e u z s e niecanismgs Qg carneo de f g r m a t a B dg e a t r i m a n i g dos t c a b a l h a d o r e s e da assim chamada E 3 C t i c i E a C a g Q g s l u c r o s da e m e r e s a ( F G J S e P I S / P A S E P 2 gx a í n d a mantsnds f g r t e s c a r a c t e r í s t i c a s de g b c l u s a B a . g s i s t e m a de Ergtgcag social a y a n c a oa i n c i u s i g dgs t c a b a l h a d g n g s cunaiS-L 141 SSSiOB EBOOS tcabalhadscEs §e dìfergnciam ucfeauos• OS ElSDQS de bgneficios Bara É dessa forma, com as características autoritarias e t e c n o c r á t i c a s do r e g i m e que se instalou em 1964, que se c o m p l e t a o sistema de W o l í a r ® no B r a s i l . define-se o núcleo duro de i n t e r v e n c a o social do E s t a d o ; a r m a - s e o a p a r e l h o c e n t r a l i z a d o que suporta tal i n t e r v e n c a o ; sao i d e n t i f i c a d o s os f u n d o s e r e c u r s o s que a p o i a r a o f i n a n c e i r a m e n t e o sistema; d e f i n e m - s e os p r i n c i p i o s de o p e r a c a o ; e, f i n a l m e n t e , as r e g r a s da ine 1 u s a o / e x c 1 u s à o s o c i a l que marcam d e f i n i t i v a m e n t e o s i s t e m a . A e x p a n s a o m a s s i v a , que se verifica a p a r t i r de m e a d o s dos a n o s 70, f a r - s e - á sob o padrao o r g a n i z a d o d e s d e 1964 e que, já ao final d o s a n o s 70, apresenta indicios, pelos aspectos organizacionais, financeiros e sociais, de e s g o t a m e n t o e c r i s e . As c o n s i d e r a c o e s a n t e r i o r e s p e r m i t e m - n o s a v a n c a r , entao, urna p r o p o s t a de p e r i o d i z a c a o do p r o c e s s o de m o n t a g e m do M a l f a r e S t a t e brasileiro. A n o s s o ver, e com a p o i o na l i t e r a t u r a i n t e r n a c i o n a l dedicada á mesma questio, g g / é possível o b s e r v a r os seguintes cortes e características temporais: - 1930/64 - iQtrgdUElg e Exeansag a) 1930/43 - introdutao b> 1 9 4 3 / 6 4 - e x p a n s a o f r a g m e n t a d a - 1964/85 - GSQSBlídaGBB CBQsgrvaáBEa Fragmentada e seletiva lüStítucigQal a) 1964/77 - consolidacao institucional b ) 1977/81 - e x p a n s a o m a s s i v a c) 1 9 8 1 / 8 5 - r e e s t r u t u r a c a o c o n s e r v a d o r a - 1985/...- Rgg§t rut u¡:aEÍB E E B 3 C g S 5 Í 5 t a e ReestruturBE3B (tentativas) (tentativas) V a r i a s o b s e r v a c o e s d e v e m ser feitas em r e l a c a o aos c r i t e r i o s u t i l i z a d o s n e s s a t e n t a t i v a de p e r i o d i z a c a o . Em p r i m e i r o lugar, os tres grandes cortes (1930, 1964 e 1985) levam em conta, f u n d a m e n t a l m e n t e , as m u d a n c a s no p l a n o do r e g i m e p o l í t i c o e, para 1930 e 1964, as m u d a n c a s na forma do E s t a d o , m u l t o m a i s que em ocorrencias específicas no p l a n o das p r ó p r i a s instituicoes do Meifare Esse criterio nos parece indispensável, seja pela pròpria definicao m a i s geral de E s t a d o do B e m - E s t a r Social com que t r a b a l h a m o s , seja pelo fato de as c a r a c t e r í s t i c a s da p r ò p r i a protecao social, p r i n c i p a l m e n t e n o s s e u s a s p e c t o s m a i s ou menos unlversalizantes, assist e n e i a l i s t a s ou red i s t r í b u t i v i s t a s , além, é claro, da d e f i n i c a o das r e l a c o e s e n t r e a p o l í t i c a e c o n ò m i c a e a política social (tanto no nivel m a i s e s t r u t u r a l da regulacao 28/ Ver, por exemplo, as p e r i o d i z a c o e s i n d i c a d a s , para países europeus, por A L B E R , FLORA, HEIDENHEIMER, OP. cit. 0 c a s o i t a l i a n o foi bem p e r i o d i z a d o por M. F E R R E R A , H tíelfacg S t a t g ÍD Italia- B o l o g n a , II M u l i n o , 1984. 142 econòmica e social, quanto no plano d e s e n v o l v i m e n t o " e de g e s t á o da e c o n o m i a ) . dos "modelos de Em s e g u n d o lugar, os c r i t e r i o s c o n s i d e r a d o s para e s p e c i f i c a r os subperíodos sao bastante heterogéneos, o que pode, naturalmente, introduzir dificuldades. Entretanto, no estágio atual deste trabalho, n a o foi p o s s í v e l s u p e r a r p l e n a m e n t e esse risco. Por exemplo, o subperíodo 1930/43 (Introducao) remete fundamentalmente á legislacao previdenciária e trabalhista, e n q u a n t o que o u t r o s s u b p e r í o d o s , p r i n c i p a l m e n t e o da c o n s o l i d a c á o institucional (1964/77), tém c o m o r e f e r e n c i a o q u a d r o m a i s geral de acao s o c i a l do E s t a d o ( i n c l u i n d o , portante, educacao, saúde e habitacao). O b v i a m e n t e , nao sao e s t r i t a m e n t e c o n t e m p o r á n e a s as i n o v a c o e s ou m o d i f i c a c o e s de m o n t a em c a d a área ou s u b á r e a da a c a o social do E s t a d o . A opcao enfatiza, portanto, de forma seletiva, as modificacoes que parecen mais importantes na organizacao e c o m p 1 e m e n t a c a o d o n ú c l e o b á s i c o do M a l f a r e S t a t a . Também as expressoes "expansao fragmentada e seletiva" e "expansao massiva", utilizadas para denominar o modo de crescimento, avanco e cobertura da protecáo social sao insuficientes para dar c o n t a da e s p e c i f i c i d a d e do movimento em cada urna d a s s u b f a s e s . A primeira, obviamente, é p e n s a d a como fragmentada e seletiva, seja p o r q u e nem todas as áreas de intervencao social do E s t a d o o p e r a m p l e n a m e n t e , seja porque a política se d i r i g e a g r u p o s s o c i a i s que vao p a s s o a passo se i n c o r p o r a n d o ao s i s t e m a ( p r e v i d e n c i á r i o , mas, t a m b é m , em r e l a c a o a outros bens e servicos sociais coletivos). A segunda - expansao massiva - diz respeito a um momento de crescimento com c a r a c t e r í s t i c a s de p o l í t i c a de m a s s a s . 0 problema de e x p r e s s o e s d e s c r i t i v a s como e s s a s é que nao permitem captar diferencas particulares, quando se sabe que f r a g m e n t a c a o , sel e t i v i d a d e , u n i v e r s a l i s m o e a t e n c a o m a s s i v a podem p e r m e a r a m b o s os s u b p e r í o d o s de formas d i s t i n t a s . Por e x e m p l o : a e x p a n s a o m a s s i v a nao s i g n i f i c a , necessariamente, universalizacao e, p o r t a n t o , a r u p t u r a total com m o d o s s e l e t i v o s de c r e s c i m e n t o . Finalmente, há urna d i f i c u l d a d e s u p l e m e n t a r em r e l a c a o ao p e r í o d o que se i n i c i a p o r v o l t a de 1981. Rigorosamente pensado, esse p e r í o d o se e s t e n d e até n o s s o s días, urna vez que, de fato, nao ocorreu urna r e e s t r u t u r a c a o p l e n a do sistema de políticas sociais no país. Mas, é v e r d a d e que, no p l a n o das agendas governamentais, a questáo da r e e s t u t u r a c a o está colocada (na v e r d a d e d e s d e o s ú l t i m o s a n o s da d é c a d a de 7 0 ) e, ñas condicoes de crise econòmica, é acentuada. Entretanto, é possível distinguir diferencas de c o n c e p c a o e e n c a m i n h a m e n t o na pròpria f o r m u l a c à o da a g e n d a , a s s i m c o m o ñas p r o p o s t a s de r e e s t r u t u r a c a o que sio encaminhadas a i n d a sob o r e g i m e m i l i t a r e as que se e o l o e a m na ordem do dia, já com o g o v e r n o civil da Nova R e p ú b l i c a - que d e n o m i n a m o s c o n s e r v a d o r a e p r o g r e s s i s t a . 143 Tentativas ainda parciais, mas bem mais decisivas, só ocorrem, efetivamente, em 1987 e 1988 - a l g u m a s no ámbito da s a ú d e e p r e v i d e n c i a , o u t r a s no quadro d o s t r a b a l h o s c o n s t i t u i n t e s em c u r s o . D e s s a forma, ainda que i m p r e c i s a m e n t e , com os s u b c o r t e s 1981/85 e 1985/... t r a t o u - s e de c a p t a r , tanto a natureza dos encaminhamentos propostos (a reestruturacao>, quanto as d i f e r e n c a s de c o n c e p c a o e d e f i n i c a o de um n o v o perfil de Uelfare S t a t e no Brasil . Com todas essas ponderacoes, a sugestao de periodizacao parece-nos necessária. S e g u n d o os o b j e t i v o s d e s t e t r a b a l h o , ela poderá orientar e m e l h o r a p o i a r a a n á l i s e que será feita, no capitulo posterior, da morfología e funeionamento do Uelfare State brasileiro, tal como foi e r i g i d o e c o n s o l i d a d o no p ó s - 6 4 . Antes de empreende-1a, porém, vale a pena sublinhar c a r a c t e r í s t i c a s g e r a i s do p a d r á o o b e d e c i d o no Brasil ao longo d a s f a s e s de i n t r o d u c a o e c o n s o l i d a c a o . Como vimos na p r i m e i r a secáo, as tipologías de Uelfare enfatizam principalmente o binomio meritocracia-universalismo das acoes sociais do E s t a d o , assim como o a s p e c t o r e s i d u a l ou de seletividade com que a t i n g e m e/ou i n c o r p o r a n g r u p o s sociais a seus beneficios. Levando em consideracao a argumentacáo anteriormente feita, assim c o m o as c a r a c t e r í s t i c a s a p o n t a d a s na historiografía, é p o s s í v e l v e r i f i c a r que o p r i n c i p i o do mérito, entendido básicamente como a posicao ocupacional e de renda a d q u i r i d a no nivel da e s t r u t u r a p r o d u t i v a , c o n s t i t u i a base s o b r e a qual se e r g u e o s i s t e m a b r a s i l e i r o de p o l í t i c a s o c i a l . No c a s o da p r e v i d e n c i a s o c i a l , e s s e é o p r i n c i p i o v i g e n t e d e s d e a fase de introducao; na fase de c o n s o l i d a c a o , q u a n d o se d e f i n e m outros beneficios e o sistema de fundos sociais, também a relacao renda-contribuicao-beneficio segue dominante e, nesse sentido, as políticas sociais, na sua maioria, reproduzem o sistema de desigualdades predominante na sociedade. Sao escassos seus aspectos redistributivos e igualitários, teóricamente presentes tao-somente no á m b i t o da e d u c a c a o ( e d u c a c á o b á s i c a o b r i g a t ó r i a e gratuita) e no da s a ú d e ( a t e n d i m e n t o de urgéncia). Assim, a inexistencia de m í n i m o s s o c i a i s e x t e n s i v o s a t o d o s o s cidadáos, i n d e p e n d e n t e m e n t e de sua p o s i c a o no m e r c a d o de t r a b a l h o , faz com que, na r e l a c a o E s t a d o / m e r c a d o , sejam, de fato, m u i t o f r á g e i s os m e c a n i s m o s c o r r e t o r e s que, em p r i n c i p i o , d e v e r i a m o p e r a r a t r a v é s das p o l í t i c a s s o c i a i s . N a o será e s t r a n h o , entao, a f i r m a r ser o p a d r a o b r a s i l e i r o de U e l f a r e do t i p o E t n Í t 9 E c á t Í £ Q : E S C t Í E U l S C Í S t a , tal c o m o o d e f i n i u Titmus. Entretanto, sobre essa base, o sistema brasileiro adquiriu, também, ao longo d o s a n o s 70, e principalmente no subperiodo que se abre em 1981, outras características importantes. Dada a moldagem meritocrática, de um lado, e a estrutura de e m p r e g o e s a l á r i o s v i g e n t e , de outro, o sistema b r a s i l e i r o d e s e n v o l v e u um e s q u e m a a s s i s t e n c i a l d e n s o , sobreposto e/ou paralelo ao núcleo da s e g u r i d a d e (LBA e programas de alimentacao e nutricio), e s q u e m a que s i m u l t á n e a m e n t e se r e f e r e a grupos e s p e c í f i c o s - e, portanto, teóricamente residuais - mas que, em principio, se dirige á maior parte da populacao, 144 assalariada ou nao. d e f i n i d o como c r i t e r i o de e l e g i b i 1idade a renda familiar de até d o i s s a l a r i o s - m í n i m o s , de fato aqueles programas a s s i s t e n e i a i s ( n a o - c o n t r i b u t i v o s ) se relacionam, por definicao, a " g r u p o s de r i s c o " - c r i a n c a s , gestantes, nutrizes, idosos os q u a i s , entretanto, compoem a grande maioria da populacao, dada a e s t r u t u r a de renda e e m p r e g o v i g e n t e no país. Dessa forma, o a s p e c t o t e ó r i c a m e n t e s u p l e m e n t a r da p o l í t i c a de assistencia publica é menos residual e, antes, opera como substitutivo precario, é certo, de mínimos sociais (nao definidos, nem i n s t i t u c i o n a l i z a d o s ) . Obviamente, a miséria, o subemprego e o d e s e m p r e g o estao á base dessa derivacao ulterior do s i s t e m a b r a s i l e i r o , a c e n t u a d a , a l i a s , no p ó s - 8 5 . De todo modo, é i m p o r t a n t e a s s i n a l a r o fato de que, m a i s que un iversal izar—se, o sistema brasileiro de p r o t e c á o social a v a n c o u na trilha de sup1ementar-se por m e c a n i s m o s a s s i s t e n e i a i s a t u a l m e n t e bastante importantes (lembre-se, também, dos p r o g r a m a s diversificados, o p e r a d o s p e l o F I N S O C I A L , FAS, S E A C , etc >. Ñas suas relacoes com o s g r u p o s de interesse e sistema político, o Mal-faro Stata no B r a s i l , tendeu a adquirir, desde a fase de i n t r o d u c a o , conotacao £QEBQE:atÍ¥ÍSÍa> característica, alias, que freqüentemente marca os sistemas de base meritocrático-particularista. Mas, talvez, seja o caráter elientelista aquele que m a i s f o r t e m e n t e a f e t a sua dinámica. E ísso por v a r i a s e c o m p l e x a s r a z o e s . D e s d e a fase de introducao, sabe-se das relacoes privilegiadas, no caso da previdencia social, entre burocracias dos Institutos, burocracias do Ministerio do Trabalho e cúpulas partidarias (especialmente o PTB). Rompido esse padrao, no pós-64, outras formas de clientelismo se i n s e r i r a m no s i s t e m a , afetando a alocacao de r e c u r s o s , o m o v i m e n t o de e x p a n s a o e, e n f i m , t e n d e n d o a f e u d a l i z a r (sob d o m i n i o de g r u p o s , p e r s o n a l i d a d e s e/ou c ú p u l a s p a r t i d a r i a s ) áreas do organismo previdenciário e, principalmente, a d i s t r i b u i c a o de b e n e f i c i o s em p e r í o d o s e l e i t o r a i s . Desde fins dos a n o s 70 em diante, o c r e s c i m e n t o do espato a s s i s t e n c i a l de p o l í t i c a s s o c i a i s s o m e n t e v e i o r e f o r c a r o a s p e c t o elientelista; a a b e r t u r a do s i s t e m a político, pós-85', deixou transparecer, com mais nitidez, essa característica de f u n e i o n a m e n t o do s i s t e m a . E i m p o r t a n t e l e m b r a r , e n t r e t a n t o , que o c l i e n t e l i s m o nao diz r e s p e i t o t a o - s o m e n t e ao n ú c l e o da s e g u r i d a d e social. a f e t o u , d e s d e s e m p r e , a e d u c a c a o (ñas r e l a c o e s p o l í t i c a s entre as e s f e r a s da F e d e r a c a o e, no p ó s - 6 4 , principalmente no m o d o de o p e r a c a o do C o n s e l h o F e d e r a l de E d u c a c a o ) e, com fortes conteúdos corporativistas e privatistas, marcou, também, o f u n e í o n a m e n t o do S i s t e m a F i n a n c e i r o da H a b i t a c a o . £ certo, como já foi assinalado, que tendencias u n l v e r s a l i z a n t e s - em t e r m o s de c o b e r t u r a e b e n e f i c í á r i o s - foram s e n d o i n t r o d u z i d a s no s i s t e m a No c a m p o da s e g u r i d a d e s o c i a l , a u n i f i c a c a o dos IAPs, sob o INPS, c o n s t i t u i u , já, um m o v i m e n t o de h o m o g e n e i z a c a o de b e n e f i c i o s e u n i v e r s a l i z a c a o de d i r e i t o s , pelo menos a t o d o s os a s s a l a r i a d o s u r b a n o s f o r m a l m e n t e inseridos no mercado de t r a b a l h o . Em r e l a c a o á saúde, c o m o foi dito, desde fins dos anos 70, via medicina previdenciária, abre-se o 145 a t e n d i m e n t o de urgencia a toda a populacao. No caso da educacao, o nivel básico o b r i g a t ó r i o e gratuito consta, já, da primeira constituicao republicana e a extensao da obrigatoriedade para oito anos, na década de 70, amplia esse "direito" da cidadania (muito embora se saiba que é baixa a efetiva cobertura nesse ciclo, p r i n c i p a l m e n t e após a primeira serie, que apresenta t a x a s de evasao em relacáo á segunda, da ordem de 50%). Entretanto, estas tendencias universal izantes, longe estao, aínda, de conferir, ao sistema b r a s i l e i r o de W e l f a r e características do tipo " i n s t i t u c i o n a l - r e d i s t r i b u t i v o " . Feitas essas o b s e r v a c o e s sumárias, é possível elaborar o quadro m o r f o l ó g i c o do W e l f a r e State no Brasil, apresentando a seguir, tal como se manifestou a partir de meados dos anos 70. Urna avaliacao rigorosa desse quadro e n v o l v e r í a um esforco de quantificacao (de recursos, servicos oferecidos, beneficiarios) extremamente difícil de ser aquí realizado. Mas, desde logo, é possível observar que, tal como foi montado esse sistema, a maior igualdade, no sentido de urna redistribuicao vertical da renda (através das p o l í t i c a s sociais), nao constituí o b j e t i v o básico: o nivel mínimo o f e r e c i d o é bastante minguado e, tal como veremos no capítulo seguinte, o m e c a n i s m o redistríbutivo interno ao esquema de t r a n s f e r e n c i a s sociais é frágil. Em principio, o p r i m e i r o objetivo do sistema brasileiro tendería a ser, no ámbito da seguridade social, a protecao do status já a d q u i r i d o pelo trabalhador, contra riscos de declínio social (presente e futuro). Também aquí, seja pelas iniquidades que abriga, seja, finalmente, pelos baixos valores dos beneficios, a f r a g i l i d a d e se manifesta na p r o t e c a o . Essas observacoes tao-somente apontam tendencias e características muito g e n é r i c a s do U e l f a r e State no Brasil. A seguir, estudamos, com mais detalhes, sua m o r f o l o g i a e p r i n c i p i o s de funcionamento. C. 6 E u i c l í i c l d i d i do HUil£ici S t B t i - Scuiltice Nao há n e n h u m a dúvida de que a intervencao social do Estado assumiu características bastante nítidas após 1964, características que se expressam em p r i n c i p i o s de organizacao perfeitamente coerentes com o modelo e c o n ó m i c o conservador e socialmente e x c l u d e n t e . Vejamos quais sao esses p r i n c i p i o s . 1. A Extrema cent ral isacSo política 9 flnance&ra no nívol federal das acoes sociais do Ooverno E indiscutível que a cent ral izacao do poder de decisoes e dos c o n t r o l e s f i n a n c e i r o s no Governo Federal assumiu proporcoes sem precedentes. De um lado, a cent ralizacao " d e s a p r o p r i a " os estados e m u n i c i p i o s dos instrumentos de intervencao social, em 146 147 tris sentidos: ao concentrar recursos f i n a n c e i r o s no Executivo Federal; ao e s t a b e l e c e r normas gerais a p l i c á v e i s as políticas sociais; e ao submeter a a p l i c a c a o de fundos f e d e r á i s ¿s decisoes da Uniao, evitando, ao máximo, qualquer tipo de "repasse a u t o m á t i c o " de r e c u r s o s . Dco&cg d9 E B S E U t í V S E e d g C S l , Por outro lado, há urna reducao relativa da acao social da administracao direta e sua substituicao, seja por grandes complexos organizacionais (BNH, SINPAS, etc.), seja por organismos da a d m i n i s t r a c a o d e s c e n t r a l i z a d a (empresas, fundacoes, a u t a r q u í a s ) . 8. Uaa fornidával fraomantaeíe in»tituslonal Ocorreu urna m u l t i p l i c a c a o de d i f e r e n t e s formas de o r g a n i s m o s públicos, como institutos, fundacoes e, p r i n c i p a l m e n t e , e m p r e s a s públicas. £ possivel identificar as c o n s e q U i n c i a s mais graves dessa maneira " d e s c e n t r a l i z a d a " com que se e x p a n d i u o aparelho social de Estado: a) b u r o c r a t i z a c i o excessiva; b) a u t o n o m i z a c a o c r e s c e n t e desses o r g a n i s m o s em relacao ao comando central de governo; c) bloqueio á formulacao e á i m p l a n t a c a o de p l a n o s gerais para cada setor e, e v i d e n t e m e n t e , de urna p o l í t i c a social nacional ; d) ausincia de m e c a n i s m o s p ú b l i c o s de controle, que abre espaco para o livre m o v i m e n t o dos i n t e r e s s e s p r i v a d o s no aparelho de Estado; e) incrível s u p e r p o s i c a o de p r o g r a m a s e de clientelas, como expressao da d e s i n t e g r a c a o i n s t i t u c i o n a l . 3. A e x c l u s S o da p a r t i c í p e c 3 o escìa! e p e l i t I c a da ¡»opulacSa proceaao» da d e d a l o nos Q movimento de cent r a l i z a c a o e de fragmentacao de tipo burocrático e autoritario suprimiu ou evitou a p a r t i c i p a c á o de sindicatos, partidos e m o v i m e n t o s sociais em todos os dominios d a s p o l í t i c a s sociais. Isso ocorreu, já de inicio, em dominio onde estava, há muito, estabelecida a participacáo dos sindicatos: na p r e v i d e n c i a social. Os n o v o s "setores" já foram concebidos segundo essa orientacao, como, por exemplo, a habitacao. De outro lado, as diretrizes fundamentáis das políticas sociais nao foram objeto de d i s c u s s o e s no Parlamento. Foram suprimidas, portanto, todas as formas de c o n t r o l e público. E nao é por acaso que, no inicio dos a n o s 80, o sistema de p r o t e c a o social exibia todas as formas de desordem institucional, d e s o r g a n i z a c a o a d m i n i s t r a t i v a , fraudes e c o r r u p c a o . 4. 0 p r i n c i p i o do autof inane i a m a n t o ÈSO invamt í ciento modal Esse principio, além de ter s i g n i f i c a d o a c r i a c a o de fundos financeiros específicos para cada setor, r e p r e s e n t o u também a s u b m i s s a o do gasto social a c r i t e r i o s e c o n ó m i c o s e financeiros de rentabilidade privada para a a l o c a e a o de recursos. 0 melhor exemplo, eremos, é o do BNH, que p r i v i l e g i o u a h a b i t a c a o em detrimento do saneamiento e a h a b i t a c a o para a c l a s s e media sm p r e j u í z o da h a b i t a c a o popular. 148 9. O principio da prívat1SBC3O 0 p r i n c i p i o do a u t o f i n a n e i a m e n t o t r a d u z i u - s e em unta especie de regra de ouro das p o l í t i c a s sociais: os u s u a r i o s deven pagar pelo que recebem. No limite, essa regra d e s e m b o c a na p r i v a t i z a c a o dos servicos sociais, que tem d i f e r e n t e s aspectos: a) a abertura de espaco p a r a a p e n e t r a c a o dos privados no aparelho de Estado, a t r a v é s de p r e s s a o , lobbie». etc.; interesses grupos de b ) urna forma de a r t i c u l a c a o bastante e s t r u t u r a d a entre o a p a r e l h o de E s t a d o e o s e t o r privado produtor de servicos (como os h o s p i t a i s ) ou fornecedor de "produtos sociais" (como as c o n s t r u t o r a s ) . Pode-se dizer, portanto, que se estabelece urna d i v i s a o de trabalho entre Estado e setor p r i v a d o : o Estado e s t a b e l e c e regras e transfere recursos; o setor p r i v a d o e n c a r r e g a - s e da p r o d u c a o de b e n s ou da d i s t r i b u i c a o de servicos; c ) a p r i v a t i z a c a o , enfim, resultou na d i m i n u i c a o relativa da p a r t i c i p a c a o do Estado n o s setores de e d u c a c a o e saúde. Sao e s s e s os p r i n c i p i o s que estío na base da r e o r g a n i z a c a o e da reproducao do s i s t e m a b r a s i l e i r o de protecao social. Nao é necessário, aquí, que nos e s t e n d a m o s , d e m o n s t r a n d o de que maneira se manifestam c o n c r e t a m e n t e , no funeionamento efetivo do aparelho social do Estado. V a l e a pena, isto sim, mencionar algumas palavras sobre dois p o n t o s que c a r a c t e r i z a n bem as d i s t o r c o e s do nosso Malfare State. Em primeiro lugar, a questao da natureza extremamente regressiva do f i n a n e i a m e n t o do gasto social do Estado. Podemos identificar quatro tipos de r e c u r s o s que servem para financiar as políticas sociais: os r e c u r s o s fiscais, as c o n t r i b u i c o e s sociais, os fundos de tipo p a t r i m o n i a l e os fundos constituidos con contribuicao de empresas, destinados específicamente ao gasto social, como o FINSOCIAL e o s a l á r i o - e d u c a c a o . Quanto aos recursos de o r i g e m fiscal, nao é necesario enfatizar o que já é s a b i d o - o sistema t r i b u t a r i o b r a s i l e i r o é bastante r e g r e s s i v o -, nem a p o n t a r suas p r i n c i p á i s d i s t o r c o e s - a ridicula carga fiscal sobre a agricultura, o alto grau de sonegacao fiscal da p e q u e ñ a e m e d i a empresa, as injusticas do imposto de renda para p e s s o a s físicas, etc. 0 que devemos reiterar é o caráter residual do gasto social financiado con recursos fiscais, em dois s e n t i d o s : o Estado gasta diretamente urna proporcao r e l a t i v a m e n t e p e q u e ñ a do que arrecada con impostos e esse gasto é urna fracao desprezivel no conjunto do dispendio social. (Exemplo clássico: a nao-contribuicao do Estado á previdenc ia). Os o u t r o s tris tipos de r e c u r s o s sao definidos, em geral, como uma r e l a c a o entre s a l a r i o ou folha salarial e contribuicao. Os estudos sobre esse a s s u n t o demonstraram que essa forma de financiamento recai, principalmente, sobre os a s s a l a r i a d o s , con 149 p e s o maior sobre as carnadas de r e n d a m a i s b a i x a . 0 exemplo mais notável é, indiscutivelmente, o da p r e v i d e n c i a social: fixado o t e t o de 20 s a l a r i o s - m í n i m o s p a r a o c á l c u l o das c o n t r i b u i c o e s , as carnadas a s s a l a r i a d a s m a i s e l e v a d a s sao p r i v i l e g i a d a s ; assim, por exemplo, quem g a n h a e n t r e um e t r e s s a l á r i o s - m í n i m o s paga 8,5%, e n q u a n t o quem g a n h a 100 paga a p e n a s 2%. No que diz r e s p e i t o aos fundos f o r m a d o s pelas empresas, p o d e - s e a f i r m a r que, em geral, e l e s sao o p e r a d o s como se fossem impostos i n d i r e t o s e sao r e p a s s a d o s aos p r e c o s d o s produtos, o que s i g n i f i c a que sao p a g o s p e l o c o n j u n t o d o s consumidores. Nao tèm, p o r t a n t o , e f e i t o s r e d i s t r i b u t i v o s . 0 segundo ponto que m e r e c e c o m e n t á r i o é o burocratismo excessivo que caracteriza a máquina social pública. Evidentemente, essa nao é urna característica exclusiva do aparelho social do E s t a d o , s e n i o que c o n t a m i n a toda a a t i v i d a d e pública. Mas, as c o n s e q ü i n c i a s aqui sao, t a l v e z , mais t r á g i c a s . Em p r i m e i r o lugar, numa s i t u a d o de c a r e n c i a s c r ó n i c a s e de falta de recursos, nao é a d m i s s í v e l que o custo de operado das p o l í t i c a s s o c i a i s acabe c o n s u m i n d o a "parte do leao", c o m o p a r e c e indicar a observado. Em s e g u n d o lugar, o burocratismo e a i n e f i c i e n c i a a c a b a m por i n t r o d u z i r ou a c e n t u a r a p r à t i c a do favor (Exemplo: as d i f i c u l d a d e s para a aposentadoria). Em terceiro lugar, a r e l a t i v a a u t o n o m i a da b u r o c r a c i a é e f e t i v a m e n t e um fator muito importante de r e s i s t e n c i a ás t r a n s f o r m a e o e s da política social, que e x i g e m , c o m o se sabe, a s u p r e s s a o de c e r t o s ó r g a o s , o r e m a n e j a m e n t o de o u t r o s , a e x t i n c a o de p r o g r a m a s , etc. Feitas essas considerados, t o r n a - s e m a i s fácil entender porque consideramos meritocrático-particularista nosso Welfsre Na v e r d a d e , a i n t e r v e n c a o social do E s t a d o está fundada na capacidade c o n t r i b u t i v a do t r a b a l h a d o r , sancionando aquilo que podemos chamar de d i s t C i b u Í E a a E E Í B á n i a d § t e a d a Assim, por exemplo, a e x t e n s a o da rede de água e e s g o t o s o m e n t e se farà se os e s t a d o s e m u n i c i p i o s puderem servir os e m p r é s t i m o s c o n t r a t a d o s j u n t o ao ex-BNH, c o b r a n d o , aos u s u a r i o s , " t a r i f a s r e a l i s t a s " . Os e m p r é s t i m o s c o n c e d i d o s para a c o n s t r u c a o de h a b i t a c o e s p o p u l a r e s , realizados basicamente com r e c u r s o s do F u n d o de Garantía por Tempo de Servido (FGTS), requerem um valor da prestado c o m p a t í v e l com os c u s t o s do BNH e dos a g e n t e s f i n a n c e i r o s , o que resulta em urna taxa de j u r o s r e a i s em t o r n o de 10% ao ano. As tarifas dos servidos de t r a n s p o r t e s coletivos urbanos devem r e m u n e r a r os i n v e s t i m e n t o s p r i v a d o s ; os e s t u d a n t e s u n i v e r s i t á r i o s que nao encontram v a g a s no s i s t e m a p ú b l i c o de e n s i n o devem arcar com m e n s a l i d a d e s c o m p a t í v e i s com o i n v e s t i m e n t o em e d u c a d o ; os hospitais privados sao urna a p l i c a d o de capital como qualquer outra, etc., etc. Nesse quadro, c o m o já dissemos, o gasto público, f i n a n c i a d o a t r a v é s de um s i s t e m a t r i b u t à r i o r e g r e s s i v o , a s s u m e um c a r á t e r f r a n c a m e n t e r e s i d u a l , nao d e s e m p e n h a n d o nenhum papel r e d i s t r i b u t i v o que p u d e s s e a l t e r a r a d i s t r i b u i d o p r i m à r i a de renda. Isto posto, é preciso dar um passo adiante e tentar apreender melhor a e s p e c i f i d a d e do n o s s o MaSíova BfcsÈQ. E o fundamental é compreender que nosso capitalismo definiu um c a m i n h o c o n s e r v a d o r de " p r o g r e s s o " s o c i a l . 150 Q u e r e m o s dizer com isso que: a) o r á p i d o d e s e n v o l v i m e n t o econòmico p r o v o c a urna acelerada e p r o f u n d a t r a n s f o r m a c a o da estrutura social; b) essa t r a n s f o r m a c a o se t r a d u z em urna m u d a n c a da estrutura de emprego; essa criacao de empregos se expressa socialmente em um processo de mobilidade social ascendent e ; c) mas, por outro lado, vigoram b a i x o s s a l á r i o s para ampios contingentes de trabalhadores, ao m e s m o t e m p o em que milhoes permanecem subempregados ñas cidades ou i n t e i r a m e n t e marginal izados no campo. 0 p r o g r e s s o social assume, portanto, a forma de mobilidade com miseria a b s o l u t a de ampia parcela da p o p u l a c a o , de mobilidade com d e s i g u a l d a d e extrema. 0 progresso social, entre nós, realiza-se quase que p r e e n c h e n d o i n t e g r a l m e n t e os r e q u i s i t o s da "forma ideal" de d e s e n v o l v i m e n t o social do c a p i t a l i s m o - a concorrencia sem travas entre homens livres, que "seleciona" os "mais capazes". Ora, essa situacao é inteiramente distinta do quadro histórico do M a l f a r e S t a t e d o s países desenvolvidos. Como se sabe, as p o l í t i c a s s o c i a i s de bem-estar surgem simultaQeameQte á urna situacao de p l e n o - e m p r e g o que, a c o m p a n h a d a de urna subida persistente do salàrio real, eleva os níveis de vida da esmagadora maioria da populacao. Aqui, nao. Para a grande maioria, os s a l á r i o s sao b a i x o s e para urna p a r t e e x p r e s s i v a nao há emprego regular. Diante disso, há várias conseqüéncias fundament a i s : a) a pròpria base c o n t r i b u t i v a (o s a l à r i o ) per capita é relativamente estreita, se t o m a r m o s a área da seguridade social. Conseqüentemente, a qualidade dos s e r v i c o s é afetada e os beneficios sociais sao necessariamente i n s u f i c i e n t e s para as finalidades a que se destinami b) a política a s s i s t e n c i a l voltada ao c o m b a t e da miseria absoluta fica " s o b r e c a r r e g a d a " , por ter de enfrentar as c a r e n c i a s de, digamos, um terco da p o p u l a c a o ; c) mas, há outros dois tercos que, (DeS(D9 SOietggadQS S tgQgfegQdQ regularmente SSláEies, necessitam da a s s i s t e n c i a do E s t a d o para assegurar urna vida digna. Com isso, a p r ò p r i a d e f i n i c a o de p o l í t i c a assistencial fica prejudicada. Porém, de o u t r o lado, os recursos fiscais d i s p o n i v e i s para suportar as tarefas a m p l i a d a s da politica assistencial e para complementar os r e c u r s o s p r e v i d e n c i á r i o s sao parcos, porque o s i s t e m a ^ t r i b u t à r i o e x p r e s s a o "grande pacto", que engloba todas as fracoes e carnadas da c l a s s e p r o p r i e t á r i a , quer e x i m i n d o - a s da c o n t r i b u i c a o fiscal justa, quer p r i v i l e g i a n d o - a s com i n c e n t i v o s e subsidios. 151 D. ài íQttcecttica«» aabci ti BCÌBIQÌ DQ llWtlitct Statai: DB Bcaail A análise da e m e r g e n c i a e e x p a n s a o da p o l i t i c a social tem, m u i t a s vezes, p a d e c i d o da l i n e a r i d a d e de r a c i o c i n i o , p r ò p r i a aos e s q u e m a s i n t e r p r e t a t i v o s de tipo f u n e i o n a l i s t a , seja na v e r t e n t e pluralista, seja na m a r x i s t a . No p r i m e i r o caso, enfatiza-se a politica social como r e s u l t a d o d a s e x i g e n c i a s do processo de m o d e r n i z a c a o do Brasil, com seus c o n t e ú d o s de industrialìzacao, u r b a n i z a c a o , t r a n s f o r m a c a o d e m o g r á f i c a , etc. Para os m a r x i s t a s , o desenvoivimento do c a p i t a l i s m o i n t r o d u z um d e t e r m i n a d o p a d r a o de divisilo social do t r a b a l h o e p r o v o c a m e c a n i s m o s g a r a n t i d o r e s da r e p r o d u c a o da forca de t r a b a l h o , c o e r e n t e s com as e x i g e n c i a s do processo de a c u m u l a c a o . Dada a m o d e r n i z a c a o ou a n e c e s s i d a d e de r e p r o d u c a o ( a b s t r a t a ) da forca de trabalho, poder-se-ia observar um c o n t i n u u m das p r i m e i r a s m e d i d a s de p o l i t i c a social, t o m a d a s na p r i m e i r a década d e s t e século, até as mais r e c e n t e s , da década de 70, tudo se p a s s a n d o em t e r m o s de um processo permanente de expansao, seja dos b e n e f ì c i á r i o s , seja d o s t i p o s de b e n e f i c i o s , seja, enfim, dos recursos financeiros e institucionais mobilizados pelo E s t a d o . n a o p e r a c a o dos sistemas públicos de p o l i t i c a soc ial . Nesse sentido, é de se destacar a d i f e r e n c a que pode ser observada nos e s t u d o s m a r x i s t a s ou pluralistas que trabalham e n f a t i z a n d o o c a m p o das r e l a c o e s de forca e dos c o n f l i t o s s o c i a i s e políticos como determinantes, tanto da origem, quanto da e x p a n s a o dos s i s t e m a s de p o l í t i c a social. Seja porque privilegien! o m o v i m e n t o e as p r e s s o e s das c l a s s e s t r a b a l h a d o r a s , seja p o r q u e e n f a t i z e m o c o m p o r t a m e n t o d a s elites, seja, enfim, p o r q u e 1evem s e r i a m e n t e em conta a e s t r u t u r a do Estado, o sistema e o regime político. Os autores que trabalham nessa tradicao trata« o m o m e n t o de introdusaQ das p o l í t i c a s s o c i a i s , assim como as e t a p a s de sua tnansfstmacls. a partir de criterios fundamentalmente p o l í t i c o s e poi í t i c o - i n s t i t u c i o n a i s , o que, de algum modo, r o m p e com o padrao linear que a s s i n a l á v a m o s a n t e r i o r m e n t e , c o n d u z i n d o a urna periodizacao, a nosso ver, mais c o e r e n t e e sublinhando d i f e r e n c a s q u a l i t a t i v a s i m p o r t a n t e s em cada etapa. Tomemos dois trabalhos para melhor e x e m p l i f i c a r o que d i s s e m o s : Gidadaoia S JU5tlta. de W a n d e r l e y G u i l h e r m e dos S a n t o s 2 2 / e §3udg g P r e v i d e n c i a , de José C a r l o s Braga. 30/ 0 primeiro trabalho tem a vantagem de expor, muito claramente, o esquema de a n á l i s e que d i r i g e a interpretacao. Movendo-se no c a m p o das t e o r í a s das elites, análise sistèmica, teoria da m o d e r n i z a c a o , trata de i d e n t i f i c a r as v a r i á v e i s , assim como as relacoes mais típicas que permitem compreender as 29/ Cf W.G dos S A N T O S , " C i d a d a n i a e J u s t i c a : a p o l í t i c a social na ordem b r a s i l e i r a " , in C o n t r í b u i g g e s em C i g n c i a s S o c i a i s , 1, C a m p o s , Rio de J a n e i r o , 1979, 138 p. 32/ Cf. J.C. BRAGA 8 S. Góes DE PAULA, OP. cit. 152 políticas sociais. Resumidamente, p o d e r — s e - i a dizer, segundo o autor, que a d i s p o n i b i l i d a d e de r e c u r s o s ( a p r e e n d i d a a t r a v é s do conceito de e s c a s s e z , m a i s p r e c i s a m e n t e e s t r u t u r a da escassez) d e t e r m i n a m u d a n c a s no c o m p o r t a m e n t o das e l i t e s , o qual, por sua vez, provoca alteracoes no c o n t e ú d o e na qualidade das suas decisoes. Entretanto, essas relacoes sao impulsionadas por processos " n a t u r a i s " (isto é, n a o - c o n t r o l á v e i s por p o l í t i c a s de governo), t a i s c o m o a d i v i s a o social do t r a b a l h o , o crescimento populacional e a u r b a n i z a d o , os quais, por sua vez, produzem impactos em termos de diferenciado social, mediados pelas organizacoes que geram d e m a n d a s (o p r o c e s s o de diferenciacao social m a i s a m u l t i p l i c a d o o r g a n i z a c i o n a l sao c h a m a d o s , aqui, de complexificacao social). Em conjunto, atuam como variáveis intervenientes e n t r e a e s t r u t u r a da e s c a s s e z e o comportamento das elites decisorias. Sobre este último, atua, também, o conhecimento social acumulado como fonte independente de propulsao, com impactos inclusive sobre os processos de t r a n s f o r m a d o da e s t r u t u r a s o c i a l . Em geral, e s s a s v a r i á v e i s nao atuam independentemente, compoem a n t e s um q u a d r o dinámico de relacoes e i n t e r a c o e s que podem ser v i s u a l i z a d o s no esquema da p á g i n a s e g u i n t e , p r o p o s t o pelo autor. Finalmente, chama-se a a t e n c a o para o fato de as elites d e c i s o r i a s n a o operaren! o a p a r e l h o de E s t a d o ( b u r o c r a c i a s , grupos técnicos, assessorias) livremente. De fato, m a i o r e s ou menores probabilidades de encaminhamento de decisoes (mudancas ou r e s i s t e n c i a s a e l a s ) d e p e n d e r a o das d i v e r s a s f o r m a s de interacoes p o s s í v e i s e n t r e as e l i t e s p o l í t i c a s e a b u r o c r a c i a p ú b l i c a . ó e g i a d g n g s t e guadce de t e l a t S e s e i a l g c a í S e s t a u s a i s ^ . q tcafealhg gm etsame a l i e n a §gc a a l l g n a t a g oa t G E e s s i t a s dag g l i t e g ^ . AUG §G gegca gm o f a i g r e x e l i & a l i y g ECQHIES 9U§ dá c g o l a da griggin da E Q l í t i £ a s o c i a l ng S c a s i l a g Q S U a Q t g r g g y l g t i g dg ECBQgssg ECgdutiyg• Isto p o r q u e , nos e s t r e i t o s q u a d r o s dos principios de 1 a i * s a z - f « i r » , p r e d o m i n a n t e s até os a n o s 30, os processos de crescimento populacional, migracao, imigracio e conseqüente comp1exificacao social, gerando mobilizacio e demandas via movimento sindical, encontraram, por parte das elites, respostas fundamentalmente repressoras, coatoras, respostas tao-somente a l t e r a d a s pela lei de sindicalizacao de 1907 e pela Lei E l o s C h a v e s , de 1923 (Caixas de ñ p o s e n t a d o r i a s e Pensoes). Esta última, segundo o autor, marca o inicio da producalo de leis s o c i a i s e f e t i v a s no País. Sem r o m p e r plenamente com os p r i n c i p i o s " 1 a i s s e z - f a i r é a n o s " (urna vez corresponderem, a i n d a , a a c o r d o s quase p r i v a d o s entre e m p r e g a d o r e s e e m p r e g a d o s ) , expressam, entretanto, o r e c o n h e c i m e n t o do papel da forca de trabalho e da n e c e s s i d a d e de n o r m a s e s t á b i l i z a d o r a s da ordem social. Desta forma e por tais razoes, a política social c o m p e n s a t o r i a , no Brasil, p r e c e d e a p o l í t i c a social via r e g u l a d o da acumulado, que a p e n a s se i n i c i a r á a p ó s a R e v o l u c á o de 30, quando já se t o r n a r a c l a r o ser "C.. D i n d i s p e n s á v e l urna mudanca na composicao da elite, ou, pelo menos, em p a r t e déla, que permitisse a renovado do equipamento ideológico com que enfrentava o p r o b l e m a da ordem e c o n ó m i c a e social, em primeiro lugar, e, como corolário, que se a l t e r a s s e m as normas que V A R I W E I 8 E H E L A C O E 8 TIPICA» P A S POLITICA» SOCIAIS m u d a n p a s no o o n h e o l m a n t o soolal ö8peolallzado Prooessos Naturale dlvlaao soolal do trabalho; oresolmento populaolonal; urbanlzapäo complexlfloapào soolal (dlferenolapäo • organlzapäo) A - > mudanpas na peroeppäo 3 oomportamento das eli tee mudanpas no o o n t e ù do e q u a n tldadedae deolsoes polfttoas estrutura da esoassez < F O N T E : W.G. dos S a n t o « , nidarianla a Juwtlpa: e polftloa soolal na ordern b r a s l l e l r a , o p . c l t . , p. 6 7 . 154 presidiara se d a v a m " . o processo 31/ de a c u m u l a d o e as relacoes sociais que ai Em resumo e em r e l a c a o ás q u e s t o e s s o b r e a origem e o m o m e n t o da e m e r g e n c i a da p o l i t i c a social no B r a s i l , U a n d e r l e y G. dos S a n t o s e n f a t i z a , em ú l t i m a i n s t a n c i a , o c o m p o r t a m e n t o "desde o alto" de n o v a s e l i t e s , a p ó s 193®, em face de demandas de organizacoes que expressam níveis diferenciados de compiexificacao social; e a s s i n a l a um d u p l o m o m e n t o de inicio da p o l í t i c a s o c i a l : as r e g u l a m e n t a c o e s da d é c a d a de 20, d a n d o inicio á p o l í t i c a social c o m p e n s a t o r i a ; e a política econ6mico-social encetada pelo governo, p r i n c i p a l m e n t e nos q u a t r o p r i m e i r o s anos a p ó s a R e v o l u c a o de 1 9 3 0 Em r e l a c a o á m e s m a q u e s t a o , o t r a b a l h o de José C a r l o s Braga, inscrito na tradicao marxista, t r a t a de c o m p o r um quadro de d e t e r m i n a c ó e s , no qual leva em c o n s i d e r a d o , em ú l t i m a i n s t a n c i a , as n e c e s s i d a d e s de f o r m a d o e r e p r o d u c a o da forca de t r a b a l h o ñas c o n d i c o e s do c a p i t a l i s m o e, em p r i m e i r a i n s t a n c i a , o t i p o e grau de d e s e n v o l v i m e n t o c a p i t a l i s t a b r a s i l e i r o , assim c o m o a n a t u r e z a e f u n d o do E s t a d o N a c i o n a l . Ñ a s s u a s p a l a v r a s : "Neste trabalho, utiliza-se, de forma descritiva e provisoria, a n o d o de g u e s t a s s o c i a l , para a p r e e n d e r f e n ó m e n o s complexamente determinados. De um lado, a génese e a t r a n s f o r m a d o d e s s e s f e n ó m e n o s c o n s t i t u e m man i f e s t a c o e s c o n c r e t a s das f o r m a s a t r a v é s d a s q u a i s se r e p r o d u z e m as r e l a c o e s s o c i a i s de producao. De outro, manifestam-se ñas práticas políticas e ideológicas e t e n d e m a se c o n s t i t u i r em o b j e t o de políticas do Est ado. 0 desenvolvimento capitalista, nesse sentido, c o n s t i t u í em questoes sociais, entre outros, aqueles processos relacionados á f o r m a d o e á r e p r o d u c a o da f o r c a de t r a b a l h o para o c a p i t a l . Num mesmo movimento, constitui o Estado o organismo por excelencia, a regular e responder tais questoes; e ao fazi-lo, o Estado capitalista e nacional ampliam-nas, " a t r i b u i n d o - 1 h e s " um c a r á t e r geral e u n i v e r s a l . No Brasil, o c a r á t e r tard io do d e s e n v o l v i m e n t o c a p i t a l i s t a coloca precocemente, ao E s t a d o , tais problemas. Tanto porque o Estada assume práticas que "classicamente" pertenciam á i n i c i a t i v a das c l a s s e s , q u a n t o p o r q u e , m e s m o ñ a s p r i m e i r a s e t a p a s de sua f o r m a d o , deve, m i n i m a m e n te, a t u a r c o m o E s t a d o N a c i o n a l . Assim pensada a gugstao sgcigl, parece ser possível apreender diferentes processos e suas respectivas políticas de regulado, d i s t r i b u i d a s por d i f e r e n t e s p l a n o s : o da r e g u l a d o do mercado de trabalho e do p r o c e s s o de trabalho (política de imigrado, l e g i s l a d o trabalhista, política salarial, r e g u l a d o da j o r n a d a de t r a b a l h o , etc.); o da n o r m a t i z a c a o da atividade política ( o r g a n i z a d o e controle sindical, l e g i s l a d o do d i r e i t o 31/ Cf U G dos S A N T O S , op cit., p. 74. 155 de greve, etc >¡ o da composicao do consumo coletivo dos a s s a l a r i a d o s (saúde, h a b i t a c a o , e d u c a c a o , etc.), o da c o m p o s i c a o d a s "rendas do t r a b a l h o " (como, por e x e m p l o , o F u n d o de G a r a n t i a por Tempo de Servico - FGTS, o Programa de Assistencia dos S e r v i d o r e s P ú b l i c o s - PASEP)C . . .3". 3 2 / De acordo com esse quadro analítico, Braga afirma a emergencia da q u e s t a o s o c i a l (a s a ú d e e n t r e e l a s - que é a que lhe preocupa) no bojo da economía capitalista exportadora cafeeira, primeira etapa do d e s e n v o l v i m e n t o do c a p i t a l i s m o no Brasil, processo que o p e r a em d o i s n í v e i s : "C...3 reflete o avanco da d i v i s a o do t r a b a l h o a s s a l a r i a d o ; do p o n t o de vista político, assume forma, aínda que embrionaria, de política s o c i a l " . 33/ É certo, s e g u n d o o a u t o r , que m e d i d a s de p o l í t i c a social vao sendo, entao, a y a n c a d a s p e l o E s t a d o , d e s d e as p r i m e i r a s d é c a d a s do século, mas, principalmente, durante os anos 20. 35/ E n t r e t a n t o , será s o m e n t e a p a r t i r d o s a n o s 30, com a a l t e r a c a o do c a r á t e r do E s t a d o e a n e c e s s á r i a a m p l i a c á o de s u a s b a s e s s o c i a i s , que as q u e s t o e s s o c i a i s g a n h a r a o e s t a t u t o p o l í t i c o , passando a fazer p a r t e da p r o b l e m á t i c a d o p o d e r . Mais ainda, somente num segundo momento, quando a a c u m u l a c á o p a s s a a ser d o m i n a d a pelo capital i n d u s t r i a l , é que e s s e p r o c e s s o g a n h a r e s p a l d o e c o n ó m i c o . Fundamental, a seu ver, para m a r c a r esse m o m e n t o de i n f l e x a o , em relacao á o r i g e m e ao m o m e n t o de i n t r o d u c a o da p o l í t i c a social ( e n q u a n t o p o l í t i c a n a c i o n a l ) , sao " C . . . 3 a s a l t e r a c o e s de c a r á t e r p o l í t i c o e as t r a n s f o r m a c o e s da n a t u r e z a d o E s t a d o , que criara as condicoes i n i c i á i s para que as q u e s t o e s s o c i a i s em geral C...3, já p o s t a s no p e r í o d o a n t e r i o r , p u d e s s e m ser e n f r e n t a d a s através de um bloco orgánico e sistemático de políticas. 0 desenvolvimento capitalista anterior colocara urna série de problemas sociais, de alguna forma impossíveis de serem r e s o l v i d o s no q u a d r o e c o n ó m i c o e p o l í t i c o d a P r i m e i r a República. Mas, o p r o c e s s o p o l í t i c o de 1930 e, em p a r t i c u l a r , o fato de que este n o v o s i s t e m a de poder d e v e r i a c o n t e m p l a r , de algum modo, os assalariados urbanos, tornavam necessária urna definicao e tentativa de i m p l a n t a c a o de p o l í t i c a s s o c i a i s , C...3 forma de controlar, política e económicamente, a classe trabalhadora, respondendo, por vezes, a seus movimentos, mantendo a l u c r a t i v i d a d e d o s e t o r i n d u s t r i a l e sua c a p a c i d a d e de a c u m u l a c a o , mantendo níveis mínimos d e r e p r o d u c a o da forca de trabalho, mantendo sob controle a participacao política dos trabalhadores".35/ A origem e o m o m e n t o de i n t r o d u c i d da p o l í t i c a social no Brasil e s t a o r e l a c i o n a d o s a um q u a d r o c o m p l e x o de determinaGoes, que nao se reduz ao nivel das exigencias estruturais indeterminadas. Exigencias da r e p r o d u c a o da forca de trabalho, 32/ Cf. J.C. B R A G A 33/ id ibid , op. 34/ id. ibid., op . 35/ Cf. J.C BRAGA & S. G ó e s DE P A U L A , cit. cit., p. 41. 8 S. G ó e s DE P A U L A , op. cit., OP. cit. p. 41. 156 m o b i l i z a d o e demanda operária, n e c e s s i d a d e s de controle social e político dos trabalhadores sao postas desde o nascimento da economia exportadora capitalista, mas que somente encontrarao resposta de tipo orgànico e integrado (ainda que r e s t r i t o ) após a R e v o l u c a o de 1930. Nao será, de nenhuma forma, incorreto dizer que o conjunto da literatura sobre as p o l í t i c a s sociais no Brasil toma, a e x e m p l o dos dois autores que a n a l i s a m o s , a Revolucao de 1930 como o marco que dá inicio á acao social do Estado, ainda que, evidentemente, possa haver discordancia dentro dessa visio " c o n f 1 i t u a l i s t a " básica. Por e x e m p l o , Wanderley G u i l h e r m o s dos S a n t o s enfatiza, como vimos, a acao preventiva das élites; José C a r l o s Braga fala em n e c e s s i d a d e de l e g i t i m a d o , vía massas, da estrutura do poder c o n f o r m a d a pelo " c o m p r o m i s s o " entre setores agrários e urbano-indust riáis, numa situado de cnse de hegemonia Nem essa clareza, nem essa c o n c o r d a n c i a básica em r e l a d o ao inicio da política social no Brasil vamos encontrar na formado do U e l f a r e S t a t e após a "Revolucao de 1964" Durante alguns anos, foi m u i t o difícil aos que se opunham ao E s t a d o a u t o r i t à r i o abandonar a tese e s t a g n a c i o n i s t a e admitir que a "Revolucao de 1964" havia r e a l i z a d o r e f o r m a s económicas com base ñas quais foi possível vencer a crise e desencadear um vigoroso p r o c e s s o de expansao produtiva. Ao acabar rendendo-se aos fatos, as oposicoes deslocam sua crítica ao caráter excludente do desenvolvimento económico para a questio da distribuido de renda. Nessas circunstancias, admitir que as políticas sociais ganharam novo impulso e c e n t r a r a critica no cataten CQQSeCVadQi: da intervencao estatal era muito difícil, nao somente diante dos p o s s í v e i s b l o q u e i o s ideológicos, como também por causa do receio de nao ser entendido e estar enfraquecendo a crítica ao regime. Pensar entao num U e l f a r e S t a t e brasileiro, como e s t a m o s agora fazendo, era p r a t i c a m e n t e impossível, porque essa categoria tem, entre nós, urna c o n o t a c a o positiva que a associa á r e d i s t r i b u i d o de renda, direitos s o c i a i s ampios, etc. Mas, hoje, e r e m o s que é c o r r e t o dizer que havia definida, no final dos anos 50, urna questao social que admitía varios encaminhamentos, varias a l t e r n a t i v a s . E v i d e n t e m e n t e , há um eang de fUGdQ e s t r u t u r a l . E p o d e - s e pensar que estavam dadas novas necessidades de regulado social, advindas do avanco da industrializacao que completa sua última etapa (a i n d u s t r i a l i z a d o pesada, trazendo consigo o surgimento da grande empresa oligopolista moderna e a vertebrado do aparelho industrial; o a d e n s a m e n t o do a s s a i a r i a m e n t o da forca de trabalho, a unificado do mercado de t r a b a l h o e o desen vo 1 viment o da u r b a n i z a d o e da met ropol izacao ) e do aprof undament o futuro desse processo, com o evolver de urna nova etapa do desenvo1vimento capitalista Mas, a d e t e r m i n a d o das solucoes, o tipo de Uelfare State, diríamos nós agora, d e p e n d e r í a a n t e s de tudo da luta política. E foi a r e e s t r u t u r a c a o c a p i t a l i s t a conservadora que imprimiu a marca m e r i t o c r á t i c o - p a r t í c u l a r i s t a ao nosso sistema de 157 p r o t e c a o social, que tem um enorme d i n a m i s m o a d v i n d o da econòmica e, ao m e s m o tempo, é b a r b a r a m e n t e r e g r e s s i v o . expansao S. à Ssieakésin Me aalifcàRa asciai il -Ney» StBiiblici. 0 governo da Nova República identificou e comprometeu-se, oficialmente, com o resgate da assim chamada "divida social", herdada do passado autoritàrio e agravada pela crise. Ao examinarmos os dQGUtQgnfcgs g f i E i a i s dg 1285. os p r o d u z i d o s pela COPAG - Erignidadgs Sbeísííj. dg i u o b g de 85j. q I END da Nova R g e y b l i c a ti fioalfflentgo. E r i g t i d a d g s § g c i 3 i § i de 1 2 i é que acompanharam o p a c o t e t r i b u t à r i o de n o v e m b r o de 1986, é possivel identificar, tanto o d Ì a 3 Q Ó § t Ì £ g . quanto a g s t r a t É S Ì S desenhada para a intervencao social do Governo F e d e r a i . No que se refere ao diagnòstico, este se compòs pela a r t i c u l a d o de dois níveis de análise. De um lado, t r a t o u - s e de estabelecer, com os dados disponiveis, um quadro da dramática s i t u a d o social do país, p r i n c i p a l m e n t e no que se refere ás taxas de desemprego e aos graus de misèria e p o b r e z a em que vivem parcelas e x t r e m a m e n t e e l e v a d a s da p o p u l a d o b r a s i l e i r a . De o u t r o lado, aqui, talvez, com um tom menos p ú b l i c o e oficial, foram sendo gradativamente identificadas as perversoes do padrao b r a s i l e i r o de p r o t e c a o social, isto é, o perfil que, em conjunto, adquiriram as políticas públicas de corte s o c i a l . -E isso, basicamente, a partir de dois parámetros avaliados pelos criterios mais simples e consensuáis de eqdidade e justica social: o eadcag dg fiQaQEiafflgnig das p o l í t i c a s s o c i a i s (a sua regressividade; a regra do a u t o f i n a n c i a m e n t o ; a base definida por fundos vinculados; a d i s t o r c i o no destino e f e t i v a m e n t e social de fundos e recursos para tais fins arrecadados) e o eadrgo gcsaDlsacignal que veio p r e s i d i n d o a d e f i n i d o e i m p l a n t a d o das políticas da área social (a centralizado excessiva; a burocrat izacao absurda; a fragmentado institucional; a superposicao dos órgaos e programas, e suas conseqUincias conhecidas - d e m o r a s inaceitáveis no curso dos recursos, custos elevados da máquina, d e s c o n t r o l e s de todo tipo, dificuldades quase i n c o n t o r n á v e i s em se atingir as c l i e n t e l a s e s p e c í f i c a s na maior parte dos p r o g r a m a s ) . 0 diagnóstico, c o n s i d e r a n d o ambos os p a r á m e t r o s , reconhecia a dramática r e i t e r a d o e a m p l i a d o da inefet i v i d a d e e ineficácia s o c i a i s das p o l í t i c a s da área. Pelo lado i n s t i t u c i o n a l , entao, a " h e r a n c a " t r a d u z i a - s e num formidável a p a r e l h o social, complexo e o c u p a d o por grande e s o f i s t i c a d a b u r o c r a c i a , mobilizando volumes bastante significativos de recursos - aparelho, entretanto, produtor de políticas pifias, socialmente ineficazes, descontinuas no tempo, h e t e r o g é n e a s e mal c o m p o s t a s no todo, inviab11 izando, nao somente políticas sociais setoriais harmónicas, quanto qualquer d e f i n i d o de urna política social geral para o país. E isso, vale lembrar, tanto no que se refere á 158 acao junto ás p o p u l a c ó e s carentes, marginais, "vulnerareis", quanto áquelas carnadas formalmente vinculadas á atividade econòmica, detentoras, p o r t a n t o , de d i r e i t o s f o r m á i s á p r o t e c a o c o n t r a os m a i o r e s r i s c o s s o c i a i s . Finalmente, e s s e q u a d r o dizia respeito ao c o n j u n t o da i n t e r v e n c i o social - ás políticas de educacao, saúde, previdencia, habitacao, alimentacio e nutricio, t r a n s p o r t e s c o l e t i v o s , para a s s i n a l a r a p e n a s as m a i s i m p o r t a n t e s . Dado e s s e d i a g n ó s t i c o e em face das c o n d i c o e s e c o n ó m i c a s e políticas do p a í s (os v á r i o s n í v e i s de " d i f i c u l d a d e s " e c o n ó m i c a s e a s e x i g e n c i a s do p r o c e s s o m e s m o de d e m o c r a t i z a c i o ) , o governo m o n t o u urna e s t r a t e g i a ¿e i Q t e r v e n t a g social, t a m b é m o r g a n i z a d a em d o i s n í v e i s e t e m p o r a l i d a d e d i s t i n t o s de i n t e r v e n c i o . De um lado, c o n c e b e u - s e e i n i c i o u - s e a i m p l e m e n t a c a o d o s E 1 3 D Q S de E m e r g e n c i a para o combate á fome, ao d e s e m p r e g o e á miseria. Os dois p r o g r a m a s de p r i o r i d a d e s s o c i a i s - P P S - 8 5 e P P S - 8 6 - e x p r e s s a r a m , ao mesmo tempo, essa i n t e n c a o e as r e s t r i c o e s financeiras e o r g a n i z a c i o n a i s que se i m p u n h a m : foram i d e n t i f i c a d o s p r o g r a m a s na área de alimentacao e nutricio, numa tática de ativacao e consolidacio do já e x i s t e n t e , com p r i o r i d a d e s p a r a clientelas c o m p o s t a s de c r i a n c a s , gestantes, n u t r i z e s e f a i x a s de r e n d a de até dois salários-mínimos. A p e n a s tris n o v o s programas foram a n u n c i a d o s : o do L e i t e , e s t e n d e n d o sua d i s t r i b u i c i o a c r i a n c a s de até sete anos, o P r o g r a m a de A l i m e n t a c a o P o p u l a r ( P A P ) e o de Medicamentos e Imunobio1ógieos A c o p l a d a s a t a i s p r o g r a m a s , foram previstas m e d i d a s p o n t u a i s ou r e g i o n a l m e n t e d e f i n i d a s ñas áreas de abastecimento, saúde, educacao, construcio, assentamentos agrários, com algum r e b a t i m e n t o sobre o emprego, assim como estímulos á i n t e g r a c a o e n t r e a p e q u e ñ a p r o d u c i o (de a l i m e n t o s ) e p r o g r a m a s r e g i o n a i s de a l i m e n t a c a o . Do p o n t o de v i s t a da i n o v a c a o organizacional, o P r o g r a m a do L e i t e e, em m e n o r m e d i d a , o PAP, foram concebidos sob nova chave, envolvendo o primeiro a distribuicio de c u p o n s a t r a v é s de a s s o c i a c o e s c o m u n i t á r i a s e o s e g u n d o , t a m b é m com o e n v o l v i m e n t o d a q u e l a s a s s o c i a c o e s . Do ponto de vista dos r e c u r s o s , foram a l o c a d o s li t r i l h o e s de cruzeiros para o PPS-85 e 76 t r i l h o e s p a r a o P P S - 8 6 , modestos ante as necessidades, mas, teoricamente, cobrindo a ampliacao da cobertura pelo m e n o s de a l g u n s p r o g r a m a s , além do inicio dos novos. 0 o u t r o nivel de a t u a c a o e r a , e a i n d a é, o que t e o r i c a m e n t e deve encaminhar-se para a grande reformulajaB do Sistema Brasileiro de P r g t e t a g S o c i a l . A i n d a que com a c o e s p o n t u a i s já a v a n c a d a s em a l g u m a s á r e a s , n e s s e nivel, logo se d e s e n c a d e a r a m as g r a n d e s d e c i s o e s s o b r e as g r a n d e s r e f o r m a s : a da P r e v i d e n c i a , a S a n i t à r i a , a do S i s t e m a F i n a n c e i r o da H a b i t a c a o , a da E d u c a c i o , a Administrativa, a do S i s t e m a de E d u c a c i o , a T r i b u t à r i a , etc. Que esse nivel de a c i o g o v e r n a m e n t a l e n v o l v e r l a , como envolve, urna temporalidade d i s t i n t a do p r i m e i r o , n a o a p e n a s era s a b i d o como d e s e j á v e l , p e l a p r ò p r i a e x i g i n c i a de um p r o c e s s o m a i s d e m o c r á t i c o de definicao de políticas. Deveriam estar presentes, ñas discussoes e propostas, a reformulacao dos padroes de f inane íament o e de organizacao, a introducao de cntérios s o c i a l m e n t e m a i s j u s t o s na c o n c e p c i o dos p r o g r a m a s e a projecio, 159 para m è d i o e l o n g o p r a z o , do perfil sociedade brasileira deverà conviver de protesilo social no f u t u r o . com que a P o d e - s e i n f e r i r d e s s a p r o p o s t a de a c a o em d o i s n i v e i s a sua outra face, i s t o é, a de que a s p o l í t i c a s f e d e r á i s e f e t i v a s em cada área correriam "normalmente", segundo o padrao vigente, d e f i n i d a s i n c r e m e n t a l m e n t e em t e r m o s o r c a m e n t a r i o s , á e s p e r a das inovacoes p o s t e r i o r e s (com h o n r o s a s e x c e c o e s - por exemplo, o c r e s c i m e n t o do orcatnento do M i n i s t e r i o da E d u c a d o , por i m p o s i c a o da Lei Calmon). I n f e r e n c i a que s o m e n t e p o d e r i a ser confirmada pelo exame do g a s t o social a g r e g a d o e discriminado por área, c o i s a a p a r e n t e m e n t e i m p o s s í v e l até h o j e de se fazer no B r a s i l . Essa t e r i a s i d o a e s t r a t é g i a inicial d e s c o r t i n á v e l da nova intervencao social do governo. Visto mais de perto esse movimento, é possível, tambera, i d e n t i f i c a r a l g u n s p a r á m e t r o s ou principios presentes nessa estratégia, aqueles mesmos reclamados pela sociedade, desde há tempos, e que passaram a ser incorporados no d i s c u r s o o f i c i a l : a dgSEgQltaliSatae> com sua forte v e r t e n t e de m u D i s i e a l i s a t a Q ; a i D t g a c a c a s dos servicos e equipamentos s o c i a i s em nivel locali a eacticieaeaB popular nos processos de decisao, imp1ementacao e controle das políticas sociais,e, finalmente - a l g o que vera g a n h a n d o forca -, urna concepcio a l t g r n a £ i y a de o r g a n i z a r e d i s t r i b u i r b e n s e servicos sociais - alternativa, porque tem, fundamentalmente, o s i g n i f i c a d o de c o r r e r p a r a l e l a m e n t e á m á q u i n a b u r o c r á t i c a , p o r q u e sendo "desinstitucionalizadora", nesse sentido, aparece ñas sugestoes recorrentes de d i s t r i b u i c i o de cupons, de relacio direta com os usuarios, de d i s t r i b u i c i o d i r e t a de r e c u r s o s em d i n h e i r o ás f a m i l i a s ou, enfim, porque prevé a p a r t i c i p a d o de associacoes v o l u n t a r i a s dos m a i s d i v e r s o s t i p o s na i m p 1 e m e n t a c a o das poiít icas. Por fim, cabe destacar, nesta caracterizado geral da estratégia e dos principios, o peso crescente que ganhou, no discurso oficial e ñas propostas, a tese de que o lado assistencial das políticas sociais saia, definitivamente, da situado relegada em que sempre esteve, distanciando-se das concepcòes assist e n e i a l i s t a s e t u t e l a r e s que m a r c a r a n essa forma de atuacio, e que, efetivamente, g a n h e m e s t a t u t o de política r e f e r i d a aos d i r e i t o s da c i d a d a n i a . Isto, p r i n c i p a l m e n t e , no que d i z r e s p e i t o a p r o g r a m a s a s s i s t e n c i a i s e de e m e r g e n c i a , de base nio-contributiva, profetando, no longo prazo, sua plena integrado com os g r a n d e s s i s t e m a s de p o l í t i c a social ou sua g r a d a t i v a e 1 i m i n a c a o , seja pela s u p r e s s a o d o s b o l s o e s de p o b r e z a , seja p e l o r e f o r c o da p r o t e d o social e x a t a m e n t e para as carnadas mais vulneráveis da populado (por exemplo, o reforco de b e n e f i c i o s f a m i l i a r e s no à m b i t o da p r e v i d e n c i a s o c i a l ) . Essa é a e s t r a t é g i a , e s s a s as t e s e s que m a r c a r a n , a t é c o m e c o de 1987, a d e f i n i d o de p o l í t i c a social da Nova R e p ú b l i c a . Sua efetivacao, porém, haveria de o b s e r v a r d e t e r m i n a d a s cgndiefigs para que, de fato, seus resultados fossetti significativos. A p r i m e i r a délas, e a m a i s o b v i a , s e r i a a de que, efet i v a m e n t e , os programas de p r i o r i d a d e s s o c i a i s f u n c i o n a s s e m e fossem e f i c a z e s . 160 Uma estrategia que organizou como um dos seus pilares os p r o g r a m a s e m e r g e n c i a i s h a v e r i a de estar s e r i a m e n t e comprometida, se aquelas atoes que d e f i n i u como prioritarias, imediatas e inadiáveis entrassem em r i t m o de estagnacao, postergado ou desat i v a c i o . A segunda condicio, no plano das re-formas, é a de que a demora necessària nao se t r a n s f o r m a s s e em inercia e que o processo de discussao envolvesse, necessariamente, dois m e c a n i s m o s : o de dar a m p i a p u b l i c i d a d e ás t e s e s e ás p r o p o s t a s em cada área e o da compat ib i 1 i z a d o p r o g r e s s i v a entre todas as propostas, as da área s o c i a l e as o u t r a s , ern p a r t i c u l a r as r e l a t i v a s á r e f o r m a t r i b u t à r i a , á qual t o d a s e s t a o a t r e l a d a s , e á reforma administrativa, uma v e z que e n v o l v e m t o d a s as e x i g e n c i a s de r e f o r m u l a c a o do a p a r a t o i n s t i t u c i o n a l . A terceira condícao, e claramente a mais complexa, diz r e s p e i t o á e f e t i v a c o m p a t i b i 1 i z a c a o das p o l í t i a s s o c i a i s - a t u a i s e futuras - com o c o n j u n t o das políticas governamentais, em p a r t i c u l a r com a s da área e c o n ò m i c a no a m p i o s e n t i d o (isto é, as que d i r e t a m e n t e tèm que ver com e m p r e g o , salarios, distribuido de renda, d e s e n v o l v i m e n t o i n d u s t r i a l e a g r à r i o ) . Ou seja, e s t a m o s aqui nos r e f e r i n d o a um nivel de c o m p a t i b i 1 i z a c a o de políticas que assegure, em c u r t o , m è d i o e longo p r a z o s , a harmonia dos impactos mutuos atualmente previsíveis. Claramente, trata-se, aquí, de restabelecer o planejamento no país, em bases democráticas, que exprima, de fato, a vontade política e as prioridades governamentais, assegurando metas, recursos e definíndo o p a d r a o de d e s e n v o l v i m e n t o social e e c o n ò m i c o que se al mej a. Essas condicoes, a n o s s o ver, nao tèm s i d o c u m p r i d a s . Na verdade, pode-se afirmar que o p a d r a o de protecao social do Estado autoritàrio nao foi a l t e r a d o em s e u s pilares básicos, financeiros e organizacionais. Senio, vejamos. Examinemos, em primeiro lugar, o chamado Programa de P r i o r i d a d e s S o c i a i s . £ p r e c i s o s a l i e n t a r , d e s d e logo, que a idéia de p r o g r a m a de e m e r g e n c i a foi f o r m u l a d a de m a n e i r a inteiramente imprecisa, dando a e n t e n d e r que v i s a v a a atenuar os efeitos s o c i a i s da c r i s e e c o n ò m i c a . O r a , d e s d e 1984, a e c o n o m i a e s t a v a em c r e s c i m e n t o , com o a u m e n t o da p r o d u c á o , do e m p r e g o e dos s a l á r i o s reais. Sería necessàrio, isto sim, p e n s a r n a o em um p r o g r a m a de emergència mais apropriado evidentemente a países em que a p o b r e z a ou a m i s e r i a p o s s a m ser c o n s i d e r a d a s c o n j u n t u r a i s , mas em um EtQgcamg integrafo dg combatg á miséüia absoluta, que identificasse, c l a r a m e n t e , a p o p u 1 a c a o - a l vo, o c g n j u n t g de atoes sociais do Estado e o prazo de cumprimento das metas fixadas. P o d e - s e i m a g i n a r que a idéia de um p r o g r a m a i n t e g r a d o de combate á misèria absoluta tenha esbarrado, quer em dificuldades de formulado, quer, e e s p e c i a l m e n t e , em d i f i c u l d a d e s p o l í t i c a s de definido e coordenado g o v e r n a m e n t ais, que exigiriam, provavel mente, t a n t o a r e f o r m u l a c a o ou s u p r e s s a o de p r o g r a m a s já existentes, q u a n t o a r e d e f i n i c a o ou ext i n d o de ó r g a o s . Nao foi 161 p o s s í v e l , portante), m u d a r da p o l í t i c a s o c i a l . Dessa a) forma, em p r o f u n d i d a d e , é de se a d m i t i r nesse ponto, o caráter que: foi e s t e n d i d a a m e r e n d a e s c o l a r para 2 6 0 d i a s por a n o e incluidos, como beneficiarios, o s irmaos menores dos e s c o l a r e s , a i n d a que n a o m a t r i c u l a d o s . Este, sem q u a l q u e r s o m b r a de d ú v i d a , é o p r o g r a m a social m a i s b e m - s u c e d i d o , a i n d a que, e v i d e n t e m e n t e , e s t e j a m u i t o longe de f u n c i o n a r cora n í v e i s de eficiencia e cobertura que possam ser c o n s i d e r a d o s ideáis; b) o Programa de Sup1ementacio Alimentar a gestantes e nutrizes, desenvolvido pelo INAN, ainda que tenha ampliado o número de atendidos e a quantidade de alimentos distribuidos, esbarra em dificuldades operacionais quase que intransponiveis, pela simples razao de que é impossivel reunir, cjg maQgjra EgDtt§lÍ3§da. o s v a r i o s a l i m e n t o s i n t e g r a n t e s da c e s t a e d i s t r i b u í - 1 os por I s d e o B r a s i l ; c ) dos novos programas, o PAP, iniciado em 1985, nao d e s l a n c h o u e está, hoje, p r a t i c a m e n t e d e s a t i v a d o , d e v i d o mais á s d i f i c u l d a d e s d e c o r r e n t e s da p é s s i m a organizacao da COBAL e m e n o s á falta de r e c u r s o s ou á oposicáo do setor distribuidor privado. Quanto ao Programa de Medicamentos e Imunobiológicos, o d e f e i t o p a r e c e - n o s ser de concepcao. Em vez de se b a s e a r num mecanismo ágil, como, p o r e x e m p l o , r e c e i t a s a p r e s e n t á v e i s em f a r m á c i a s e pagas posteriormente pelo governo, acabou assentando-se, por pressoes do M i n i s t e r i o da Saúde, sobre a CEME, o r g a n i s m o que p a d e c e de c o n h e c i d o s m a l e s a d m i n i s t r a t i v o s . Apenas para c i t a r d o i s fatos: 1) a C E M E nao consegue gastar as disponibilidades o r c a m e n t á r i a s que lhe sao d e s t i n a d a s ; 2 ) p a r t e c o n s i d e r á v e l d o s r e m e d i o s que p r o d u z perde o p r a z o de v a l i d a d e por c a u s a d a s d i f i c u l d a d e s de distribuicao. Apenas o P r o g r a m a do L e i t e teve éxito, apesar de todos os p r o b l e m a s que tem sido apontados ( e l i e n t e l i s m o , f r a u d e s , etc.); d) r e s t a r l a urna m e n c a o aos programas administrados pelo FINSOCIAL, onde se registram importantes inovacoes (o P r o g r a m a do Lixo, por e x e m p l o ) e o n d e há um g e r e n c i a m e n t o eficiente. No entanto, c o m o se sabe, os recursos do FINSOCIAL transformaram-se em recursos orcamentários, restando relativamente pouco para ser aplicado pelo BNDES. Facamos, a g o r a , urna a v a l i a c a o s i n t é t i c a do a n d a m e n t o do que chamamos as "grandes reformas", do encaminhamento da reestruturacáo do padrao de finaneiamento e do padrao de organizacao da nossa protecao social. 0 modelo adotado para iniciar o p r o c e s s o foi o de c r i a c a o das g r a n d e s c o m i s s o e s , área por área (ou m e s m o s u b á r e a s de p o l í t i c a ) , c o m p o s t a s por membros 162 do governo e abertas a representantes da "sociedade civil", sindicatos de trabalhadores e patronais, "especialistas", "notáveis", etc. At<*aram, somente na área do Ministerio da Educacao, cerca de 1S c o m i s s o e s r e l a c i o n a d a s ás reformas do ensinoì houve comissoes d e s t i n a d a s a propor a r e f o r m u l a c a o do s i s t e m a da p r e v i d e n c i a s o c i a l , do s i s t e m a n a c i o n a l de h a b i t a c à o , da assisténcia social e da saúde (a Comissào da Reforma S a n i t à r i a ) , , do sistema tributàrio, do s i s t e m a f i n a n c e i r o e do sistema administrativo. R a s s a d o s m a i s de tres anos, p o d e - s e d i z e r que, no c a m p o do finaneiamento, é preciso salientar, de i n i c i o , que a pròpria retomada do c r e s c i m e n t o l i q u i d o u com os p r o b l e m a s conjunturais a t r a v e s s a d o s pela p r e v i d e n c i a s o c i a l e r e f o r c o u a a r r e c a d a c à o do F G T S e do P I S / P A S E P . H o u v e v a r i a s m e d i d a s que a u m e n t a r a m a carga fiscal, mas ficaram m u i t o l o n g e de c o n f i g u r a r urna a l t e r a c a o em p r o f u n d i d a d e do s i s t e m a t r i b u t à r i o . Q u a n t o a o s f u n d o s s o c i a i s , de o u t r a parte, nem se c o n s e g u i u e l e v a r a a l i q u o t a do F I N S O C I A L , nem r e m o v e r o t e t o da c o n t r i b u i c à o p r e v i d e n c i á r i a , nem d e f i n i r fonte de f i n a n c i a m e n t o p r ò p r i a para o s e g u r o - d e s e m p r e g o i n s t i t u i d o em f e v e r e i r o de Í986. A única medida a relevar, aqui, é a melKoria da eficiencia na a r r e c a d a c à o d o F I N S O C I A L e na contribuicào á previdencia. Quanto ao p a d r à o organizacional, poderiamos dizer que: a) nao houve nenhuma tentativa de l e v a r á pràtica urna reforma administrativa que sequer se restringía á melhoria da e f i c i e n c i a de organismos existentes. Nào h o u v e , t a m b é m , a p o s s i b i 1 i d a d e de c o o r d e n a r m i n i m a m e n t e o existente, quer através da r e a t i v a c a o do Conselho de Desenvolvimento Social, quer a t r a v é s da a c à o da SEPLAN. I d é i a s de um o r c a m e n t o s o c i a l e da r e e s t r u t u r a c à o e f e t i v a dos o r g a n i s m o s s o c i a i s n à o p a s s a r a m do p a p e l ; b) o Banco N a c i o n a l da H a b i t a c à o foi e x t i n t o e fundido Caixa Econòmica Federai. Mas a p o l i t i c a de h a b i t a c à o s a n e a m e n t o nào se a l t e r o u ; á e c) a ú n i c a a l t e r a c a o f u n d a m e n t a l d e u - s e na área da s a ú d e da p r e v i d e n c i a s o c i a l . C o n v é m e x a m i n á - l a d e t i d a m e n t e . e F. E i t c ì t i i i i i i ofeitáculoa i i a e i c t s i e o l í t i c o » d t i c i Q t c a l l i a c a o da e o l í t i c a di a a ú d u . ttfltHo«» ectllolaacca • eceulaóclaa da Pretendemos, agora, sintetizar algumas idéias acerca da natureza, a l c a n c e e l i m i t e s do p r o c e s s o de d e s c e n t r a l i z a c à o que vem ocorrendo no setor saúde. Procurar-se-á buscar os antecedentes dessa experiencia, de modo a caracterizar a c o n f i g u r a c à o o r g a n i z a c i o n a l e o p r o c e s s o d e c i s ò r i o que p r e v a l e c í a 163 antes da experiencia de iroplantacao • e s c e n t r a l i z a d o de S a ú d e ( S U D S ) . do Sistema Unificado e A p a r t i r d e s s e quadro, serao analisados os dois principáis movimentos de n a t u r e z a e s t r a t é g i c a que impulsionaram e deram i n i c i o ao p r o c e s s o de descent r a l i z a c a o de p a r c e l a d a s d e c i s o e s do Governo Federal para os g o v e r n o s estaduais e municipais: a r e i t e r a c a o das A c o e s I n t e g r a d a s de S a ú d e , em 1985, e o s c o n v e n i o s S U D S , em 1987. Por último, s e r á feita urna p r i m e i r a t e n t a t i v a de refletir sobre resultados visíveis das decisoes tomadas, quer p o s i t i v o s , quer negativos, ensaiando-se brevemente a elaboracao de um cenário possivel de desenvolvimiento do processo de descentralizacao dessa político setoria), era face da c o n j u n t u r a p o l í t i c o - e c o n ó m i c a de c u r t o p r a z o . É p r e c i s o ter c l a r o que o p r o c e s s o de descent r a l i z a c a o da política governamental para o s e t o r s a ú d e o c o r r e em um cenário o n d e os p r i n c i p á i s a t o r e s s a o : - os p r i n c i p á i s e s c a l o e s d e c i s o r e s d a s a g e n c i a s e s t a t a i s em nivel federal, que participara da g e s t a o d e s s a área de intervencao - ministros da Previdencia e Assistincia Social, Saúde e Educacao e sua assessoria direta; presidentes das autarquías, fundacoes e empresas ligadas a esses ministérios e o priraeiro nivel de dirigentes dessas organizacoes (INAMPS, DATAPREV, FSESP, CEME, etc.); - a Presidencia da República; - o sistema político, a t r a v é s de p a r l a m e n t a r e s ( d e p u t a d o s e senadores) com mandato federal, estadual e local, t r a d i c i o n a l m e n t e l i g a d o s á q u e s t a o da s a ú d e ; - a burocracia das organizacoes p r o g r a m a s de i n t e r v e n c a o ; que operacionalizam os - os a g e n t e s p r i v a d o s p r e s t a d o r e s de s e r v i c o , quer através de suas organizacoes de representacáo de interesses ( s i n d i c a t o s p a t r o n a i s e f e d e r a c o e s ) , quer i n d i v i d u a l m e n t e , quando possuem relevancia e recursos políticos suficientes para tanto; - as c o r p o r a c o e s - os g o v e r n o s profissionais estaduais - os agentes medicamentos. privados e dos trabalhadores do setor; locáis; fornecedores de equipamentos e De forma muito simplificada, é possivel dizer que as p r i n c i p á i s linhas de c o n f l i t o , interacao e aliancas entre esses a t o r e s sao d a d a s p e l a d i s p u t a de. 164 - distribuido dos r e c u r s o s orcamentários¡ - distribuido dos r e c u r s o s financeiros; - distribuido a u t o r i d a d e de dos credenciamentos, contratado; - distribuidlo de postos-chave b u r o c r á t i c a do setor, em geral, part icular; - capacidade de n o m e a c á o em corwinios e da de operado da máquina e da previdenciária, em geral. Nessa p e r s p e c t i v a , o p r o c e s s o de descent ral i z a d o deve ser entendido como um movimento que procura alterar, de forma significativa, as regras do jogo e a distribuido desses recursos, transformando, de m o d o importante, a capacidade de m o b í l i z a c a o de r e c u r s o s , aliancas, formas de o p e r a d o de vários desses atores. Isso tem como conseqilincia um c o m p l e x o processo de desestabilizado das c o r r e l a c o e s de forjas, que durante quase duas décadas (desde 1967, s e g u r a m e n t e ) prevaleceram na d e f i n i d o do perfil dessa p o l í t i c a e s t a t a l . A t r a n s f o r m a d o setorial que está o c o r r e n d o também nao pode ser c o m p r e e n d i d a se d e s v i n c u l a d a do c o n t e x t o político-económico do Brasil, n o t a d a m e n t e no que se refere á: - forma de c o n d u c a o da t r a n s i d o nesse processo; e democrática e papel - conjuntura económica e x t r e m a m e n t e favorável á dos r e c u r s o s p r e v i d e n c i á r i o s , dado o desempenho da massa de salários, e n t r e 1985 e 1987. 1. do PMDB ampliado favorável Antecedentes A p o l í t i c a estatal para o setor saúde caracterizou-se, no passado, por um p r o c e s s o de cent ralizacao no Governo Federal, e d e n t r o déla na P r e v i d e n c i a S o c i a l , a c o m p a n h a d a por um movimento simultàneo de f r a g m e n t a d o da c a p a c i d a d e de o p e r a c i o n a l i z a c a o da principal agencia de i m p l e m e n t a c a o de programas de acao - o INAMPS. Tal fato foi , dado o gigantismo dessa organizado, ocasionado por vários fatores, entre os quais se destacam. crescimento da c l i e n t e l a a b r a n g i d a e a conseqiiente i n c o r p o r a d o , pela Previdencia Social, de outras organizacoes que se encarregavam de p a r c e l a da p o p u l a d o c o n s i d e r a d a fora do seu raio de acao. Em conseqUincia, o quadro organizacional e a configurado do processo d e c i s o r i o no setor eram fortemente m a r c a d o s pela p r e d o m i n á n c i a do I N A M P S ante as outras organizacoes atuantes no setor e que, paulatinamente, foram sendo transformadas em agincias de prestado de servicos para a Previdencia Social. Esse fenómeno ocorreu muitas vezes em d e t r i m e n t o do e x e r c í c i o de f u n c o e s de P 1 a n e j a m e n t o , normatizacao, pesquisa, etc., que foram s e n d o a t r o f i a d a s ou r e l e g a d a s a plano 165 muito secundario, organizacoes ditas levando centráis ao " e n v e l h e c i m e n t o " progressivo de no s e t o r , c o m o o M i n i s t e r i o da S a ú d e . No p l a n o da p r e s t a d o de s e r v i c o s , o p t o u - s e , a t é 1980, c o m o já é conhecido, por urna p o l í t i c a de c o m p r a de s e r v i c o s ao s e t o r privado (filantrópico e lucrativo), que e x p e r i m e n t o u um forte desenvoivimento e crescimento. E s s a d i r e t r i z foi a c o m p a n h a d a por outra, de abandono progressivo das unidades hospitalares do pròprio INAMPS, que sofreram um p r o c e s s o de sucateamento e obsolescencia reais. Tais c a r a c t e r í s t i c a s - c e n t r a l i z a c a o d e c i s o r i a , f r a g m e n t a d o operacional e vínculo de compra e venda, como diretriz de reíacionamento com o s e t o r p r i v a d o e com o restante do setor p ú b l i c o - levaram a um r e s u l t a d o p a r a d o x a l . De um lado, c r e s c i a m os q u a n t i t a t i vos de s e r v i c o s p r e s t a d o s , o v o l u m e de r e c u r s o s e a b u r o c r a c i a de g e s t a o . De o u t r o , o a t e n d i m e n t o era c a d a vez m e n o s eficaz, a d e t e r i o r a d o de p r á t i c a s o r g a n i z a c i o n a i s r a c i o n a i s era c é l e r e e as b a s e s t é c n i c a s ( e q u i p a m e n t o s e i n s t a l a c o e s da r e d e de servicos disponível) de operado, cada vez piores. Mas é importante reafirmar a o b t e n c a o de um r e s u l t a d o efetivo pouco lembrado, ainda que d i s t a n t e da n e c e s s i d a d e de a t e n c a o á saúde dos brasileiros: a estruturado de um g i g a n t e s c o sistema de clientela, do qual se b e n e f i c i a r a m , de a l g u m a forma, quase t o d o s o s p r i n c i p á i s a t o r e s que i n t e r a g e m no s e t o r : - os e s c a l o e s d i r i g e n t e s da p o l í t i c a de a s s i s t é n c i a m é d i c o -previdenciária eram b e n e f i c i a d o s p e l o n o t á v e l v o l u m e de recursos orcamentários e financeiros autónomos ao orcamento fiscal para distribuir, a s s o c i a d o ao número, também gigantesco, de nomeacoes, credenciamentos, contratacoes, etc. a n e g o c i a r , q u e r com a P r e s i d e n c i a da R e p ú b l i c a , quer com o s i s t e m a p o l í t i c o ; - a P r e s i d e n c i a da R e p ú b l i c a b e n e f i c i a v a - s e da u t i l i z a d o de sistema de concessao de "benesses" e favores, que controlava, indiretamente, a t r a v é s do p o d e r de nomeacao dos principáis dirigentes, além de poder utilizar o desempenho quantitativo crescente como exemplo da ado fiscal de cada g e s t a o ; - o sistema político beneficiava-se através do uso corriqueiro e r o t i n e i r o de l o t e a m e n t o de c a r g o s d c i d e o nivel local, p a s s a n d o p e l o nivel e s t a d u a l , até o nivel federal da a u t a r q u í a I N A M P S e da o b t e n c a o de tratamento d i f e r e n c i a d o na r e d e de a t e n d i m e n t o . - a burocracia beneficiava-se, a i n d a que de forma p e r v e r s a para sua pròpria sobrevivencia, da r e g r a que passou a prevalecer: pouco salario, pouco trabalho e estabilidade no e m p r e g o ; - as corporacoes profissionais beneficiavam-se dos ganhos funcionáis de d e t e r m i n a d a s c a t e g o r i a s , especialmente os médicos, e da o p o r t u n i d a d e p e r m a n e n t e de ter um o b j e t o de 166 crítica e denuncia, o que a u m e n t a tanto o " e s p i r i t o de c a r g o " quanto m a s c a r a e d i l u i a s r e s p o n s a b i l i d a d e s acerca da e s p a n t o s a q u a n t i d a d e d e p r o f i s s i o n a i s mal t r e i n a d o s que saem das i n s t i t u í c o e s d e e n s i n o m é d i c o a cada ano e que sao absorvidos no m e r c a d o de trabalho, gracas a urna p o l í t i c a de a s s i s t é n c i a m é d i c a com um perfil assistencial e privatista; - os p r e s t a d o r e s de s e r v i c o s e f o r n e c e d o r e s de e q u i p a m e n t o s e medicamentos beneficiavam-se, quer da capacidade de compra sistemática, q u e r da total a u s e n c i a de c r i t é r i o s e c o n t r o l e s de q u a l i d a d e , minimamente aceitáveis e efetiva, o que, também, validou a regra surrealista da "oferta define a demanda". Mesmo aqueles s e t o r e s ou o r g a n i z a c ô e s que, em principio, eram os mais afetados pelo desempenho e perfil da política p r e v i d e n c i á r i a , d a d a sua s i t u a c a o de " m a r g i n a i i d a d e r e l a t i v a " das decisoes estratégicas e operacionais, acabarais r e c e b e n d o a l g u m a s "benesses". A política de r e p a s s e s de recursos, tanto para programas do Ministério da Saúde, quanto para os governos estaduais e locáis, sem d ú v i d a c u m p r i u papel importante para garantir, ao m e n o s , a sobrevivencia das secretarias estaduais e l o c á i s de s a ú d e e de v á r i a s o r g a n i z a c ô e s da ó r b i t a d o Ministério da S a ú d e a p a r t i r do final dos a n o s 70. 0 s i s t e m a de c l i e n t e l a , p a r a f u n c i o n a r em p l e n a c a p a c i d a d e , s e m p r e d e p e n d e u do d e s e m p e n h o da r e c e i t a p r e v i d e n c i á r i a que, nos anos 70, foi extremamente l u c r a t i v o para os interesses das faccôes e s e t o r e s que se a m a l g a m a r a m n e s s e perfil de i n t e r v e n c a o estatal. É fato c o m p r o v a d o que, á cada o s c i l a c i o do d e s e m p e n h o dos r e c u r s o s finar.ceiros a u t ó n o m a m e n t e g e r i d o s pela Previdencia Social, surgiu um movimento de contencâo de despesas e racionalizado da p r e s t a c a o de s e r v i c o s que, de alguma forma, rearranjava, em patamares suportáveis, os interesses dos d i f e r e n t e s s e t o r e s que i n t e r a g i a m no s e t o r . No bajo d e s s e s m o v i m e n t o s de a d a p t a c S o ao nivel de gasto disponível e impulsionado pelos dados alarmantes quanto ás c o n d i c o e s de s a ú d e d o s b r a s i l e i r o s é que t o m a c o r p o o denominado "movimento sanitário", v i s a n d o á r e o r d e n a c á o da p o l í t i c a estatal p a r a o s e t o r . Um d o s p i l a r e s f u n d a m e n t á i s d e s s a r e o r d e n a c â o era a d e s c e n t r a l i z a c a o d a s d e c i s o e s e da o p e r a c a o do s e t o r para e s t a d o s e municipios, a l i a d a á c r i a c i o de um s i s t e m a ú n i c o de s a ú d e e um maior controle social, d a d o que a p o p u l a c a o u s u á r i a s e m p r e se c a r a c t e r i z o u c o m o o g r a n d e a t o r a u s e n t e d a s d e c i s o e s do setor. A p a r t i r de 1980, com as f i n a n ç a s p r e v i d e n c i á r i a s em crise, i n a u g u r a - s e um m o v i m e n t o de r a c i o n a l i z a c a o da a s s i s t é n c i a médica gerida pelo INAMPS. Procuravam-se medidas de contencao de d e s p e s a s d e s n e c e s s á r i a s , que iam d e s d e o e s t a b e l e c i m e n t o de novas formas de r e m u n e r a ç a o a o s e t o r p r i v a d o (a i n t r o d u c a o do valor m è d i o do p r o c e d i m e n t o ) , a t é a i d é i a de um maior a p r o v e i t a m e n t o da rede p ú b l i c a p r e s t a d o r a de s e r v i c o s e sua i n t e g r a c i o e f e t i v a ao sistema prestador. 16 7 Comecava-se, dessa forma, a promover a i n t e g r a d o das a t o e s setoriais, á m e d i d a que as e v e n t u a i s relacoes e a s s i s t e m á t i c a s do INAMPS con as áreas de saúde dos governos e s t a d u a i s e locáis ganharam um n o v o impulso, via o que se denominou Acoes I n t e g r a d a s de Saúde (AIS) . Tal i n t e g r a d o , se deixado de lado o discurso p r o g r e s s i s t a e inovador que a justificou, teve como resultado prático a sistematizado do r e p a s s e dos recursos p r e v i d e n c i á r i o s para a área estadual e local, r e f o r c a n d o a r e l a d o de compra e venda, com p r e d o m i n a n c i a do INAMPS, na d e f i n i d o d o s v a l o r e s a serem r e p a s s a d o s e na forma de a v a l l a d o e controle. Concretamente, até 1984, o cenário a n t e r i o r m e n t e r e s u m i d o permanecía inalterado, a d a p t a n d o - s e ás c o n j u n t u r a s financeiras mais ou menos f a v o r á v e i s e m a n t e n d o , na sua esséncia, as r e l a c o e s de favoritismo, c o r p o r a t i v i s m o e clientela que foram sua marca c a r a c t e r í s t i c a n o s anos 70. a. A« mudanzas da Nova República: estratésl» a novinento dos principáis atoras Com o inicio da t r a n s i d o política b r a s i l e i r a em 1985/86 e o estabelecimento do que se convencionou chamar Nova República, algunas t r a n s f o r m a d a s i m p o r t a n t e s ocorrem no perfil da política estatal de a t e n c a o á saúde. Em primeiro lugar, reafirraa-se a estratégia das Acoes Integradas de Saúde, com a d e t e r m i n a d o de p r i v i l e g i a r o setor p ú b l i c o (próprios d o INAMPS; h o s p i t a i s u n i v e r s i t á r i o s e rede d o s g o v e r n o s estaduais e locáis)¡ d i v i d i r a pressao do setor privado, estabelecendo urna alianca diferenciada com as entidades filantrópicas e imprimir roaior r a c i o n a l i d a d e e eficiencia á g e s t a o da política de a s s i s t e n c i a médica. Em segundo lugar, a questáo da descent r a l i z a d o ganha um novo conteúdo, á m e d i d a que passa a ser e q u a c i o n a d o um conjunto de decisoes que visavam transferir parte do poder decisorio centralizado no INAMPS para os governos estaduais e locáis, especialmente ñas áreas de g e s t a o e c o n t r a t a c á o de s e r v i c o s ao setor privado e o p e r a c á o d a s u n i d a d e s próprias. Em terceiro lugar, comeca a ser estudada urna reorganizado administrativa no INAMPS, visando transformá-1o em urna o r g a n i z a d o de p 1 a n e j a m e n t o e s t r a t é g i c o , a v a l i a c a o e c o n t r o l e de a p l i c a d o de r e c u r s o s p r e v i d e n c i á r i o s no setor saúde. Procurava-se, desse modo, afastar o INAMPS de suas funcoes o p e r a c i o n a i s e gerenciais, d a n d o e s p a t o para que estas passassem a ser e x e r c i d a s pelos governos e s t a d u a i s e locáis. Preservava-se, entretanto, a pluralidade institucional em nivel federal, sem que h o u v e s s e urna definicao m a i s clara de qual o r g a n i z a d o seria, nesse nivel de governo, a p r e d o m i n a n t e na d e f i n i c a o das acoes s e t o r i a i s . A elaborado de tal e s t r a t é g i a acontecía num contexto de reativacao económica, quando as r e c e i t a s p r e v i d e n c i á r i a s ganharam 168 um impulso s i g n i f i c a t i v o . Isso fez com que fosse possivel proraover a l g u m a s a l t e r a c ô e s na c o r r e l a c â o de f o r ç a s v i g e n t e , sem contrariar, est r u t u r a l m e n t e , o s i n t e r e s s e s d o s d i f e r e n t e s atores que interagem com a politica de assistência médica previdenc iâria. Obviamente, nao e x i s t i u nem urna p e r f e i t a s i n t o n i a de idéias no i n t e r i o r da e q u i p e d i r i g e n t e do M P A S / I N A M P S q u a n t o á forma de c o n d u c a o d e s s e p r o c e s s o de f o r m u l a c a o de urna n o v a e s t r a t e g i a , nem um grau de formaiizacao e execucáo dessas etapas que fosse racionalmente pré-escolhido e determinado. Concretamente, ocorreu um maior d i s p è n d i o do I N A M P S com o s e t o r p ú b l i c o , sem que fosse p o s s i v e l e s t i m a r o s e v e n t u a i s ganhos de produtividade ou melhoria na questao do atendimento. £ possivel s u p o r que nao tenham o c o r r i d o m u d a n c a s s i g n i f i c a t i v a s no a t e n d i m e n t o por p a r t e da r e d e p ú b l i c a p r ò p r i a , e s t a d u a l ou locai. 0 e f e i t o m a i o r p a r e c e ter s i d o o e s t r e i t a m e n t o d a s r e l a c ò e s entre e s f e r a s de g o v e r n o , a p a r t i r de um d i s c u r s o e de urna p r à t i c a que, se n a o e l i m i n a v a m o c l i e n t e l i s m o da d i s t r i b u i c a o de r e c u r s o s no v a r e j o , p r o c u r a v a » , em nivel do d i s c u r s o e d a s d e c i s o e s de a m b i t o central, c a r a c t e r i z a r urna r e l a c a o de p a r c e r i a , c o - p a r t i c i p a c a o e c o - r e s p o n s a b i 1 i d a d e no e n f r e n t a m e n t o d o s p r o b l e m a s de s a ú d e . Com a eleicao dos novos governadores, as r e l a c o e s e n t r e os dirigentes da P r e v i d e n c i a Social (MPAS/INAMPS) estreitaram-se ainda mais. Procurava-se, c l a r a m e n t e , o b t e r r e s p a l d o de um ator ( g o v e r n o s e s t a d u a i s ) que, l e g i t i m a d o p e l o voto, p a s s a v a a ter um g r a n d e p o d e r de p r e s s a o e n e g o c i a c a o , em geral , d a d o s os c a m i n h o s da transido politica brasileira, podendo alterar s i g n i f i c a t i v a m e n t e a c o r r e l a c a o de forcas no s e t o r s a ú d e . Os d i r i g e n t e s da P r e v i d è n c i a Social p o s s u í a m o r e c u r s o mais importante para c o n v e n c e r n o v o s g o v e r n a d o r e s e n o v o s s e c r e t a r i o s de saúde para a necessidade premente de descentralizacao: os recursos que s e r i a m t r a n s f e r i d o s em um m o m e n t o de dificuldades p a r a as f i n a n c a s e s t a d u a i s e m u n i c i p a i s . É preciso ficar c l a r o . q u e as e v i d è n c i a s d e m o n s t r a m que a intendo dos dirigentes da P r e v i d è n c i a Social em promover a descent r a l i z a c a o acelerada, repassando f u n c ò e s do I N A M P S para o u t r a s e s f e r a s de g o v e r n o , era t e s t a r , na p r à t i c a , a a l t e r n a t i v a que p a r e c e r í a m a i s viável de m e l h o r i a da p r e s t a d o de servicos para o usuàrio Tal c a r a c t e r i s t i c a d i f e r e n c i a as g e s t o e s P i r e s e Almeida Magalhaes das anteriores, urna v e z que se tomam, pela primeira vez, decisoes que procuravam, se bem-sucedidas, desmontar a máquina previdenciárla, a l t e r a n d o as r e g r a s do jogo, de tal m a n e i r a que se p o d e r i a o b t e r urna m u d a n c a s i g n i f i c a t i v a na correlacao de forcas dos atores interessados na- p o l í t i c a do set or. Essa p o s t u r a p a r e c i a p a r t i r da c o n s t a t a c a o de que, dada a p r à t i c a de f u n e i o n a m e n t o da a s s i s t ê n c i a m é d i c a p r e v i d e n c i à r i a , a ùnica forma de p o s s i b i l i t a r que a rede de servicos se tome efetiva para a p o p u l a d o é transferir a responsabi1idade da 1 6 9 a l o c a d o de r e c u r s o s p a r a d i r i g e n t e s p o l í t i c o s que, p o r forca sua " l o c a l i z a d o " , s a o m a i s s e n s í v e i s ás p r e s s o e s p o p u l a r e s . de Inicia-se, a p a r t i r de m e a d o s de 1987, a c e l e b r a d o de uro c o n j u n t o de c o n v e n i o s com os e s t a d o s , v i s a n d o r e p a s s a r a s f u n c o e s de gerencia dos servicos e da contratado de terceiros. Procurava-se induzir, s e m p r e que p o s s í v e l , que o p r ó p r i o e s t a d o p a s s a s s e a r e a l i z a r um m o v i m e n t o c o n c o m i t a n t e de d e s c e n t r a l i z a c a o de p a r t e de s u a s f u n c o e s (já e x i s t e n t e s e r e c é m - r e c e b i d a s ) para os m u n i c i p i o s . N e s s a d i v i s a o , o s m u n i c i p i o s f i c a r i a m r e s p o n s á v e i s pelo a t e n d i m e n t o b á s i c o ( a m b u l a t o r i a l e h o s p i t a l a r ) e os e s t a d o s pelo atendimento de s e g u n d o e t e r c e i r o n í v e i s . 0 que deveria p e r m a n e c e r na ó r b i t a d o G o v e r n o Federal n u n c a foi d e l i m i t a d o com c l a r e z a . £ p o s s í v e l i n t u i r que as u n i d a d e s de r e f e r e n c i a n a c i o n a l e de m a i s alta e s p e c i a l i z a c a o d e v e r i a m p e r m a n e c e r nessa e s f e r a de governo ou terem sua g e s t a o t r a n s f e r i d a para ela, o que é especialmente problemático no segundo caso (veja-se o exemplo do E s t a d o de Sao P a u l o ) . Simultáneamente, inicia-se a reforma administrativa do INAMPS, que procurava dar inicio ao p r o c e s s o de fusao das superintendencias regionais com as secretarias estaduais de saúde, cessao de imóveis e equipamentos, transferencia de pessoal, etc. T u d o isso p r o c u r a v a forcar que o c e n t r o d e c i s o r do planejamento operacional, da g e s t a o dos s e r v i c o s , da c o n t r a t a d o e c o n t r o l e do s e t o r p r i v a d o fosse um ó r g a o e s t a d u a l , e l i m i n a n d o o duplo c o m a n d o que s e m p r e c a r a c t e r i z o u o s e t o r s a ú d e n e s s e nivel de g o v e r n o . Se levadas até as últimas conseqüincias, ter—se-ia conseguido um f o r t e a v a n c o na d e s e s t r u t u r a c a o da c o r r e l a c a o de f o r c a s e x i s t e n t e s n o setor, f a z e n d o com que l i n h a s de conflito, interacao e a l i a n c a s fossem r e f e i t a s ero n o v a s bases. Dejamos algumas hipóteses. O s d i r i g e n t e s da P r e v i d e n c i a Social (MPAS e, p r i n c i p a l m e n t e , do I N A M P S ) p e r d i a m sua c a p a c i d a d e de a l o c a r r e c u r s o s e d i s t r i b u i r facilidades no varejo, f i c a n d o com a c a p a c i d a d e de discutir, negociar e alocar, b a s e a d o s no p l a n e j a m e n t o e na p r o g r a m a d o d o s estados, ñas m e t a s f í s i c o - f i n a n c e i r a s e na q u a n t i a de r e c u r s o s a t r a n s f e r i r . Com e s s e n o v o p a p e l , o i n t e r e s s e p o l í t i c o na n o m e a c a o dos dirigentes do I N A M P S d i m i n u i r l a s e n s i v e l m e n t e , passando a existir urna o r g a n i z a d o que t e r i a sua r a z i o de existencia na avaliacao e controle das acoes estaduais e locáis. T e r - s e - i a um novo p ó l o de c o b r a n c a e f i s c a l i z a c a o , com c a r a c t e r í s t i c a s mais t é c n i c a s e sem o p o d e r de d i s t r i b u c a o c o t i d i a n a de r e c u r s o s . 0 sistema p o l í t i c o t e r i a que se rearticular passando a d e p e n d e r da c r i a d o ou da m a n u t e n c i o dos comunicado e pressao com os governos estaduais d i m i n u i n d o b a s t a n t e a i n g e r e n c i a do G o v e r n o F e d e r a l . A P r e s i d e n c i a da R e p ú b l i c a governos estaduais e locáis, t e r i a que i n c o r p o r a r , de forma d i f e r e n c i a d a totalmente, canais de e locáis, t a m b é m , os da que até 1 7 0 entao era a d o t a d a , em sua r o t a at end iment os, n o m e a c ó e s , e t c . de n e g o c i a d o e distribuido de A r e d e p r i v a d a c o n t r a t a d a teria seu d e s e m p e n h o a v a l i a d o e, p o s s i v e l m e n t e , o c o n t e ú d o da p r e s t a d o de s e r v i c o s , quer do p o n t o de vista quantitativo, quer do ponto de vista financeiro, revisto. Isto porque, seria lógico s u p o r que, nenhum estado receberia a s a t r i b u i c o e s de g e s t a o , sem a n t e s c e r t i f i c a r - s e do que e como e s t a v a a s s u m i n d o . Isso faria com que, no mínimo, a rede privada perdesse forca relativa, d a d o que s u a s i n s t i t u i c o e s de r e p r e s e n t a d o d e i n t e r e s s e s , em nivel n a c i o n a l , que até entao conduzíam as negociacóes, ficariam temporariamente fragilizadas com a troca de i n t e r l o c u t o r e s , rotinas, m e c a n i s m o s de c o n t r o l e , etc . 0 f u n c i o n a m e n t o da rede p ú b l i c a d e v e r i a melhorar, dado o esforco de inversao f i n a n c e i r a feito em 1985, 1986 e 1987, havendo, também, em r e l a c a o a eia, urna a v a l l a d o d e ' d e s e m p e n h o que r o m p e s s e com a q u e l e c í r c u l o de p o u c o s a l a r i o , pouco trabalho e completa estabi1idade. Isso porque esquemas de isonomia salarial e s t a v a m p r e v i s t o s n o s c o n v e n i o s e os g o v e r n o s e s t a d u a i s teriam como conseguir maior produtividade. Dessa forma, e a i n d a que de m a n e i r a a b r u p t a , e s t a r i a sendo forcado que os interesses fossem rearticulados ao redor das liderancas p o l í t i c a s e s t a d u a i s e locáis, o que possibi1itaria, dado o seu perfil mais progressista em alguns estados estratégicos, a obtencao de m a i o r e s p a c o para a pressao dos usuarios, compensando, em parte, o total deslocamento das d e c i s o e s no s i s t e m a em s u b s t i t u i c a o . Se a partir dai seria obtido um melhor desempenho, a constatado p a r e c e r í a ser c u r t a e l a c ó n i c a : pior do que está é impossível! Além disso, t e r - s e - i a urna d i v i s a o geográfica dos problemas, que, d e p e n d e n d o d a s o r g a n i z a c o e s de s a ú d e e x i s t e n t e s em cada estado e das complexidades dos problemas a enfrentar, poderia levar a a v a n c o s s i g n i f i c a t i v o s (o c a s o t í p i c o é o do E s t a d o de A l a g o a s ) . F i n a l m e n t e , p a s s a r i a m a e x i s t i r d o i s p o l o s de cobranca, fiscalizado e a v a l l a d o dos servicos prestados: o INAMPS transformado e a p o p u l a d o usuària. A r e a l i d a d e d e m o n s t r o u que a s d i f i c u l d a d e s de t r a n s f o r m a d o em um s i s t e m a de a t e n d i m e n t o tao c o m p l e x o sao m a i o r e s do que é p o s s í v e l i m a g i n a r . N a o h o u v e urna c o n t r a p a r t i d a s e q u e r a d e q u a d a em nivel de i m p 1 e m e n t a c á o d a s d e c i s o e s , c o m p a t í v e l com as p r e s s o e s e resistencias que c o m e c a r a m a s u r g i r . Q u a n d o o d e s e n h o final da estrategia dos S U D S p a s s o u a t o r n a r - s e m a i s transparente, dois tipos de r e s i s t e n c i a foram p a r t i c u l a r m e n t e s e n t i d o s . Um a d v i n d o d a s l i d e r a n c a s p o l í t i c a s de n a t u r e z a f i s i o l ó g i c a , no Congresso, articuladas com escaloes internos á pròpria Presidencia da República, que passaram a pressionar, fortemente, buscando obstaculizar a realizado d o s c o n v e n i o s ou a substituido de p e s s o a s n o s p o s t o s - c h a v e de c o m a n d o da e s f e r a e s t a d u a l . Isso se d e v i a ao fato de que: 171 - á medida que os p r o c e s s o s de estadualizacao ocorriarn, t o r n o u - s e e v i d e n t e que d e t e r m i n a d o s g o v e r n o s e s t a d u a i s nao alinhados com a e s t r a t e g i a do P a l a c i o d o P l a n a l t o e sua e x t e n s a o p a r l a m e n t a r e s t a v a m r e c e b e n d o r e c u r s o s de m a n e i r a autònoma e fora do campo de negociacao e sancao e s t a b e l e c i d o no nivel da P r e s i d e n c i a da R e p ú b l i c a ; - a substituicao de pessoas em postos-chave nao era acompanhada de c o m p e n s a c o e s a nivel clientelistico, ao contràrio, verificava-se o fechamento de canais de influencia e pressao, ao m e n o s s e g u n d o os trámites e procedimientos a t é e n t a o u t i l i z a d o s ; - os d i r i g e n t e s da P r e v i d e n c i a Social p a s s a r a m a m a n i f e s t a i — -se, publicamente, em relacao ás pressoes recebidas, a s s o c i a n d o tal p r à t i c a a c a r a c t e r í s t i c a s de funeíonamento do atual governo, demonstrando os obstáculos que a manutencao, entre outros, do sistaema de clientela dificultava a transicio democrática pretendida. üutro p r o b l e m a é o r i u n d o da p r ò p r i a b u r o c r a c i a do INAMPS, que também passa a p r e s s i o n a r c o n t r a r i a m e n t e a seu p r o c e s s o de transferencia para a gestao estadual e local, dificultando e boicotando a manutencao dos n í v e i s de atividade do INAMPS. Curiosamente, os prestadores privados nao pressionaram, num p r i m e i r o m o m e n t o , p a r e c e n d o a g u a r d a r o d e s f e c h o da d i s p u t a intra-burocrática e no i n t e r i o r do p r i m e i r o e s c a l i o do g o v e r n o e do Congresso Nacional. A e s f e r a estadual de g o v e r n o , para a qual se transferirán, ainda que de m a n e i r a p o u c o r e g u l a r , atribuicio e competencias, man ifest a v a - s e de m o d o d i f e r e n c i a d o . Em S a o P a u l o , procurou-se imprimir, rapidamente, regras próprias, m o l d a n d o o p r o c e s s o de estadualizacao ás diretrizes poi i t i c o - p a r t i d á r i a s do governo estadual e estabelecendo c e r t o grau de autonomia, tanto em r e l a c a o aos d i r i g e n t e s do I N A M P S do nivel c e n t r a l , c o m o ás o u t r a s s e c r e t a r i a s de saúde. Em e s t a d o s como Pará, Alagoas, R i o G r a n d e do Sul e Bahia, procurou-se atuar de m a n e i r a b a s t a n t e i n t e g r a d a com a Direcao Geral do I N A M P S , o m e s m o a c o n t e c e n d o com o R i o de Janeiro. Em outros estados, nao houve um movimento de apoio ou de autonomizacao mais explícito, d e p e n d e n d o de c a d a caso, de qual o g r u p o p o l í t i c o que o c u p a v a a S e c r e t a r i a de S a ú d e e de seu grau de a r t i c u l a c a o com a q u e l e que o c u p a v a a S u p e r i n t e n d e n c i a R e g i o n a l do INAMPS, sendo que a maioria aguardava a definicao das novas r e g r a s do j o g o , a i n d a p o u c o c l a r a s . Em outras palavras, para além do repasse de recursos inicial, nada acontecía em nivel de transformacoes mais concretas. Os dirigentes locáis sequer tiveram participacao no processo, que parecía aínda n à o ter a t i n g i d o esse nivel de governo. E s s a s i t u a c a o foi t o r n a n d o a p o s i c a o do e n t a o Ministro da Previdéncia Social cada vez mais insustentável, dada a quantidade de conflitos, atritos e pressoes daqueles 172 parlamentares e m e m b r o s das c o a l i z ò e s g o v e r n a n t e : que viam p e d i d o s nao só negados, como d e n u n c i a d o s p u b l i c a m e n t e . seus A dinàmica do movimento de descent r a l i z a c a o sofre urna primeira desaceleracao com a substituicao do Ministro da Previdencia Social, Raphael de Almeida Magalhaes. Dada a continuidade da linha mestra e s t r a t é g i c a pelo seu sucessor, é possivel afirmar que a d e s a c e l e r a c a o nao se transformou em retrocesso. Entretanto, dificuldades internas de ordem b u r o c r á t i c a , a s s o c i a d a s a o p c o e s de mudanca de rotina de trabalho na preparacao do p l a n e j a m e n t o e programacáo orcamentária, em 1988, fizeram com que o c o r r e s s e um atraso nos pagamentos em J a n e i r o e fevereiro. A c o n t i n u i d a d e da p r e s s a o dos p a r l a m e n t a r e s a r t i c u l a d o s com o Palácio do Planalto, num c o n t e n t o p o l í t i c o cada vez mais tumultuado, aliada á a p r o v a c á o do mandato de c i n c o anos para os Presidentes da República na A s s e m b l é i a Nacional Constituinte, apoiada pelos mesmos parlamentares insatisfeitos com a descentralizacao do setor, fizeram com que tal atraso servisse adequadamente como um dos p r e t e x t o s para a dispensa do entao P r e s i d e n t e do INAMPS. A nomeacao de um f u n c i o n á r i o da Previdencia Social, de estrita c o n f i a n c a do P r e s i d e n t e da República, para tal posto, p a r e c e d e f i n i r , agora sim, urna t e n t a t i v a de r e t r o c e s s o ou mudanca de rota no p r o c e s s o r e c é m - i n i c i a d o . A fragilidade, i n d e f i n i c o e s e a pouca o p e r a c i o n a l i d a d e de algumas d e c i s o e s que foram t o m a d a s para tentar garantir um certo grau de irreversibi 1idade ao processo de descent ralizacao permitem que tal t e n t a t i v a de m u d a n c a ou r e v e r s a o possa ser bem-sucedida. Em primeiro lugar, o repasse de recursos e da transferencia das a t r í b u i c o e s a p ó i a - s e num i n s t r u m e n t o jurídico limitado e de fácil r e v e r s i b i l i d a d e : os c o n v e n i o s . Em segundo lugar, a nova estrutura do I N A M P S nao foi c o m p l e t a d a e os atos para sua i m p l a n t a c a o sequer d e l i n e a d o s em sua t o t a l i d a d e . Além da rigidez das normas existentes, limitando as decisoes, a dificuldade do acerto em cada e s t a d o dos i n t e r e s s e s dos grupos políticos que apóiam a descent ralizacao levaram a nao-decisoes acerca: do controle dos recursos financeiros, do caráter a u t o m á t i c o d o s r e c u r s o s f i n a n c e i r o s e da c a p a c i d a d e de definir e contratar os prestadores de servicos, o que dificulta o desenvolvimento do processo. Em terceiro lugar, a pròpria inoperància das o r g a n i z a c o e s e s t a d u a i s e l o c á i s de saúde, elas próprias necessitando de urna reestruturacào profunda para conseguir a s s u m i r o papel de g e s t o r a s dos SUDS, c o m p l e t a o quadro de o b s t á c u l o s mais u r g e n t e s a superar. Isto se p r e t e n d e - s e dar c o n t i n u i d a d e á rota de descent r a l i z a c a o a l m e j a d a . Note-se que em nenhum m o m e n t o se tocou aqui na questao a s s i s t e n c i a l p r o p r i a m e n t e dita. Nao se trata de e s q u e c i m e n t o , mas sim da c o n v i c c a o de que a l t e r a c o e s nesse c a m p o ainda nao foram o b t i d a s em d e c o r r è n c i a do p r o c e s s o de descent r a l i z a c a o , de forma geral . Isso significa que se houve avancos, o processo de 173 descentralizado em curso pode, no máximo, ter facilitado determinadas d e c i s o e s p e l o e s t a b e l e c i m e n t o de um mecanismo que obriga a u n i f i c a d o das d e c i s o e s e, m u i t a s vezes, das redes de atendimento existentes. 3, Cenarlos Eie v&asnte Existem alguns c e n á r i o s de desenvolvimiento i m a g i n á v e i s curto prazo. Eles dependem do resultado específico a c o n t e c i m e n t o s no c a m p o p o l í t i c o e e c o n ñ m i c o . no de A principio, é preciso indagar se a articulado entre a P r e s i d e n c i a da R e p ú b l i c a e o C o n g r e s s o Nacional p r e t e n d e ou nao aproveitar—se do canal de negociado com governadores e prefeitos, com a i m p l a n t a c à o do SUDS, p a s s a n d o a controlar o repasse de recursos e passando a imprimir ao processo de d e s c e n t r a l i z a d o urna dinámica que lhes seja favorável. Para isso, é necessària a o b t e n c a o de cinco anos de m a n d a t o e a provável s u b s t i t u i d o do M i n i s t e r i o da P r e v i d e n c i a Social por alguém mais sintonizado com a c o a l i z à o g o v e r n a n t e ou a sua anuencia para com tais p r o c e d i m e n t o s . Em segundo lugar, é preciso v e r i f i c a r o peso r e l a t i v o de cada governo estadual ante o Governo Federai. Alguns governos estaduais terao seus p r o c e s s o s de descent r a l i z a c a o e repasse obstaculizados, a m e n o s que se curvem ás e x i g e n c i a s da coalizào governante, o que nào parece ser o caso. Outros governadores, entretanto, pelo apoio real que já p r e s t a n á c o a l i z à o governante, tem poder suficiente para dar continuidade ao processo de descent ralizacao, segundo seu pròprio ritmo. Isso poderia significar, em muitos casos, a p o s s i b i 1idade do uso c l i e n t e l i s t i c o da m á q u i n a p r e v i d e n c i á r i a p e l o g o v e r n o estadual ou local, em perfeita sintonia e associacào com os interesses r e g i o n a i s e locáis da c o a l i z à o g o v e r n a n t e em nivel federal. Ter— -se-ia, portanto, o a v a n c o da descent r a l i z a c a o em s e n t i d o o p o s t o ao p r e t e n d i d o no m o m e n t o inicial, e x a t a m e n t e pela ausencia de um dos c o n t r a p e s o s f i s c a l i z a d o r e s : o I N A M P S t r a n s f o r m a d o . Em terceiro lugar, é p r e c i s o analisar o c o m p o r t a m e n t o futuro da receita p r e v i d e n c i á r i a . Se a c o n j u n t u r a e c o n ò m i c a permanecer na rota recessiva, como indicam alguns a n a l i s t a s , pode ser que deixe de ser i n t e r e s s a n t e para os g o v e r n o s e s t a d u a i s e locáis, assumir a gestao, dado que os dividendos do manejo da administrado da a s s i s t é n c i a médica p r e v i d e n c i á r i a deixariam de existir, ou seriam muito p e q u e ñ o s em face da envergadura da tarefa a realizar e dos p r o b l e m a s de sua administracào num c o n t e x t o de e s c a s s e z f i n a n c e i r a . Em quarto lugar, é p r e c i s o c o n s i d e r a r os e f e i t o s que a reforma t r i b u t à r i a terá, quer no aporte adicional de recursos para estados e municipios, quer ñas responsabilidades que possivelmente e s s e s n í v e i s de g o v e r n o serio i n d u z i d o s a assumir, dentre as quais se destaca a r e s p o n s a b i 1 i d a d e pelas p o l í t i c a s de p r e s t a d o de s e r v i G o s á p o p u l a c à o . 174 O cenário m a i s p r o v á v e l no c u r t í s s i m o p r a z o é a q u e l e onde s u r g i r á urna s o l u c a o n e g o c i a d a e n t r e os d i r i g e n t e s da P r e v i d e n c i a , a coalizao governante e os g o v e r n o s m a i s sintonizados com o P l a n a l t o , f a z e n d o com que, m e d í a n t e a o b s e r v a n c i a de d e t e r m i n a d a s regras e enguanto durar o processo constituinte, medidas visando a continuidade do processo de descent ral i z a c a o possam ser tomadas. Nos estados, onde as relacoes sao confiituosas, o processo tenderá a paralisai—se, dependendo, c a d a m o v i m e n t o , de urna n e g o c i a d o específica. T u d o isso p a r t i n d o do p r e s s u p o s t o de que, a curto prazo, nao o c o r r a um d e s e q u i l i b r i o f i n a n c e i r o que i n v i a b i l i z e os r e p a s s e s . 175 BIBLIOGRAFIA ACHINGER, H. Sßgial s.ed . , 1971. QUADRO R E F E R E N T E AO Eßlitik i §1§ S g S g l l S E h a f t S Eßlitik, s.l. ALBER, Jens. H e r r s c h a f t im S o z i a l s t a a t ; auf der S u c h e n s c h e i n e m s o z i o l o g i s c h e r p a r a d i g m a d e r sozial P o l i t i k . In: VON F E R B E R S KAUFMANN. F.X. S ß s i o l a a i e und S B S i a l E S a C h Q l B a i g • Appladen, West D e u t s c h , V e r l a y , 1977 ( S o n d e r h e f t , 19). k r i s s das sfcaafces Frankfurt, Suhrkamps, A., org. I h g dgyglSEIBeQt Bf W e l f l E B 1987. GENSBURGH, M. Classa M o e n u l l a n , 1979. eaEital aod G E O R G E , V. § ß £ i a l Paul, 1973. and 0' C O N N O R , 1974. FLORA, J. Oig E i Q g Q g P. 6 HEIDENHEUMER, S t a t e ÌD E ü E Q E g and ömSEica- L o n d o n , N e w B r u n s w i c h , SgCUEita sscigta• social London, Eßlica. London, Rout l e d g e S Kegan J.H. I h g dgüglsEflignt o f s s c i a l E o l i c a i n s.l. s . e d . 1 9 6 7 (Trab, apres, no 5 H World Sociology). GOLDTHORPE, Ìi88ri2i4of GOUGH, I. McMillan, Ihe EBlitical economa of the Welfare State. 1979. HABERMAS, J. Legitimations F r a n k f u r t , L e h r k a m p , 1973. HEIMANN, 1929 . E. SoZÌ«lBtbeQEÌe KORPI, W. I h e MBE&ÌQ3 Rout ledge 8 K e g a n P a u l , EEobleme des 1978. ia ÜBEitaliSttlUS• io aelfang T.H. 1964. London, SEatkaEitalisfflus• Tubinger, caEitalism. S ß c i a l E ß l i c a and d i s t E i b u t i a o c a s i t a l i s t d g m B G E a e i S - F i r e n z e , 1980. MARSHALL, s.ed., Englands Congress canflict Nohr, London, G l a s s a c i t i s e n s h i E and s s c i a l deyglSEmBQt• . S o c i a l EQliEa. London, Hutchinson, MULLER, w. a NEUSUSS, G. aie W i d B E S E E e e t h v o n LobnaEfeeit uod (No. e s p e c i a l ) . the ia S.l., 1975. SssialstaatsileEsiaa und Kaeital. Prokia, s . d . p. OFFE, C. & LENHARDT, G. " S t a a t s t h e o r i e von F e r b e r & K a u f m a n n , F . x . , S s g i g l o a i g A p l a d e n , West D e u t s c h , V e r l a y , 1977. und und Sozialpolitik". dgE 770 In SozialEsacholoaie. 176 OFFE, C. 8 NARR, u. s t r u k t u r ECefelgE! dgs k a E i t a l i s t i c b g n Frankfurt, 8 Suhrkanp, staatg. 1972. • Wohlfahrtsstaat N i t s c h , 1976. und Eassgnlgyalitat• Köln, Keoperheur PEVEN, F. 8 CLOUARD, R.A. " R e g u l i e r u n g der armut imoviment dei poveri". In: V. RINLINGER, «glface Eolica and industrialisation io EursEBo. ò m e r i c a aod R u s s i a New York, John W i l e y , 1971. VOBRUBA, G. "Positionen der staatstheorie diskussion". Österreichische Z e i t s c h r i f t für eslitikwisseoschaft. 399-419, s.d. WILENSKI, H.L. u e l f a r e - New 8 LEBEAUX, C.N. Industriai Y o r k , F r e e P r e s s , 1965. società no 9, p. aod social 177 R E F E R E N C I A S BI6LX00RAFICA8 ALBER, J. 1986. Dalla t a c i t a a l l a Stata serials- ASCOLI, U. Il s i s t e m a italiano de Welfare. State a l l l i t a l i a o a • Laterza, 1984. Bologna, In: Il Mulino, , org. ytlfacs BRAGA, J.C. a DE PAULA, S e r g i o Góes. Sgiidg g B E e y i d i Q c i a : estudos de politica s o c i a l . Sào Paulo, HUCITEC, 1981. 826 p. (Saude em Debate). BRASIL 1985. R e l a t ó r i o sobre a s i t u a d o UNICAMP/NEPP, 1987. v.2. social do pais. Campinas, BRIGGS, A. The W e l f a r e State in hystorical p e r s p e c t i v e . EutBEéeQQgt dg S a c i a l a a i g . n.2, P . 2 2 8 , i96i. DRAIBE, Sonia. 0 p a d r ä o de protecäo social democratizado. òoàlisg CBDiUOtUEal. Curitiba, IPARDES, 1986. ÓEEhiügS brasileiro: desafios á v.8., n.2., p.13-19, gUüies g E t t a E B C f 9 S g § : um e s t u d o sobre a c o n s t i t u i d o e as a l t e r n a t i v a s da i n d u s t r i a l i z a c l o no Brasil, 1930/1960. Rio de Janeiro, P a z e Terra, 1985. FERRERA, Maurizio. Mulino, 1984. Il tíelfaEE State io Italia- Bologna, Il FLORA, P. Soluzione o fonte di c r i s i ? Il Welfare state in prospectiva storica. In. FERRERA, M., org. La Stata del benessere: una crisi senza u s c i t a ? Firenzi, Le Monnier, 1981. P . 1 - 2 . a HEIDNHEIMER, A. L.B S ü i l U E E S del W e l f a E g Statg EUEBEa e ÌQ òraeEiCa- Florenca, Il Mulino, 1986. KINI, N.G.S. Approaches to policies. In: AYAR, S., S t a t e - Bombain, M a n a k t a l a s , ROSANCALLON, 1981 . P. La a theory of comparative org. E B E S E B C t i y e s BD t h e 1966. GCiSg de 1-LÉtat E C B y i d B D E g Paris, io welfare WelfaEB Seuil, SANTOS, Wanderley G u i l h e r m e dos. Gifladania e Justina: a política social na ordern b r a s i l e i r a . Rio de Janeiro, Campus, 1979. 138 p. ( C o n t r i b u i c o e s em C i e n c i a s Sociais, 1). SILVA, Pedro Luis Barros. Aten^go ¿ sayde Qgmo eolítica aßyECQameQtalCampinas, UNICAMP. Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas. Departamento de C i e n c i a s Sociais, 1984. (Tese de M e s t r a d o ) . 178 TITMUS, 1963. R. Esssai SD the y e l f i c t W I L E N S K I , H . L . I b e Welfare C a l i f o r n i a Press, 1975. state. London, S t a t e aod e a u a l i t a P. XIII. Allen Berkeley, 8 Unwin, Univ. of e&PXTULO AJU8TAMENT0 N O S P A I S E S EM QUEM PAGA E8SA P a u l e R e n a t o sy DESENVOLWJMKNTO: CONTA? Cemfcs Saug» I. INTRODUCTO O presente trabalho procura analisar sucintamente as c o n s e c u e n c i a s sobre o e m p r e g o e, especialmente, os s a l a r i o s das políticas de ajustamento mais freqüentemente adotadas pelos países nao desenvolvidos fortemente impactados pelas crises internacionais d e s t a s d u a s ú l t i m a s décadas. 0 principal objetivo, porém, será o de identificar em que c o n d i c o e s p o d e r í a m o s combinar a eficácia das p o l í t i c a s de a j u s t a m e n t o externo e interno com a manutencao do poder de compra dos salários e de níveis aceitáveis de bem-estar para a maioria da populacáo. A experiencia a este respeito, e s p e c i a l m e n t e na A m é r i c a Latina, ensina que o custo do processo de ajustamento tende a ser muito desigualmente distribuido, com os a s s a l a r i a d o s e t r a b a l h a d o r e s em geral - em especial os de m e n o r e s r e n d i m e n t o s - suportando m a i s fortemente o onus do processo. 0 trabalho está centrado, em sua exemp1 ificacao, sobre o caso brasileiro, cujas características, por várias razoes, permitem associá-lo, nao á média da situacáo dos países nao desenvolvidos, mas a urna e s p é c i e de "caso-típico". As dimensoes do país lhe conferem um peso e s p e c i f i c o muito s i g n i f i c a t i v o no concerto das s i t u a c o e s que se quer analisar; por outro lado, a extrema g r a v i d a d e que os p r o b l e m a s tratados assumiram ou assumem, no país, c o l o c a m - n o c o m o um dos melKores casos a serem analisados e discutidos d e n t r o de urna p e r s p e c t i v a de buscar urna situacao paradigmát ica. Finalmente, é preciso d e l i m i t a r o campo de trabalho, também do ponto de vista do espectro d o s problemas que serio abordados. Interessa-nos analisar o i m p a c t o de medidas típicas de política macroeconomica s o b r e as v a r i á v e i s mais d i r e t a m e n t e a s s o c i a d a s ao bem-estar das pessoas (emprego e salários). 0 propósito é considerar as medidas usualmente associadas á política de desenvolvimento, como a política industrial, a política de d i s t r i b u i c a o de renda ou outras. T a m p o u c o é adequado dizer que o centro das preocupacoes é a p o l í t i c a de curto prazo na sua concepcao tradicional, pois várias medidas tim a ver com alteracoes estruturais na e c o n o m i a (especialmente no que diz r e s p e i t o á n a t u r e z a e c a r a c t e r í s t i c a s de sua vinculacao externa). Por estas razoes, é preferível agrupar o escopo do estudo desde o ponto de vista do objeto das políticas adotadas-. queremos analisar o conjunto das p o l í t i c a s de a j u s t a m e n t o que visam a superar os d g S g g u i l i b t i S S COaQEQg£QQQ!EÍ£SS e x t e r n o s e internos. Assim, p r o c u r a r e m o s e s t u d a r o c o n j u n t o da p o l í t i c a p r o c u r a dar c o n t a d o s s e g u i n t e s p r o b l e m a s : a) o desequilibrio externo insustentável endividamento económica que vinculado ao crescente destas economías; e b) a crise de f i n a n e i a m e n t o do setor p ú b l i c o e a c o n s e q ü e n t e e x p l o s a o do seu g r a u de e n d i v i d a m e n t o interno; c) a aceleracao da inflacao a taxas e c o n o m i a s no límiar da H i p e r i n f l a c a o . que eoloeam essas II. A N A T U R E Z A A. DOS D E S E Q U I L I B R I O S ECONOMICOS RECENTES Q ditiflullibclB latifDB • a ccin da divida O desenvolvimento e c o n ó m i c o dos p a í s e s a t r a s a d o s no pós-guerra foi m a r c a d o p o r v a r i a c o e s e x t r e m a m e n t e importantes ñas condicôes de f u n e i o n a m e n t o da e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l . Em g r a n d e medida, esse processo de c r e s c i m e n t o e diversificacâo dessas e c o n o m í a s foi b a s e a d o no f o r t a l e c i m e n t o e a m p l i a c a o d o s mercados internos dos respectivos países, sendo a substituicao de i m p o r t a c o e s e a m o n t a g e m d o s s e t o r e s i n d u s t r i á i s os m o t o r e s desse d e s e n v o l v i m e n t o . N a o o b s t a n t e , l o n g e de s i g n i f i c a r a a u t a r q u í a em relacao á economia internacional, esse p r o c e s s o c r i o u e ampliou os lacos com o exterior, de tal forma que as flutuacoes da conjuntura internacional acabaram por induzir ou permitir alteracoes p r o f u n d a s na e s t r u t u r a d e s s a s e c o n o m í a s , a l é m do seu esperado impacto conjuntural. Em t e r m o s m u i t o gérais, podemos r e l e m b r a r as e s c a s s a s p o s s i b i 1 i d a d e s de f i n a n e i a m e n t o e x t e r n o que m a r c a r a m as d é c a d a s d e 5 0 e 60. P r a t i c a m e n t e i n e x i s t i a m os f l u x o s de c a p i t a i s p r i v a d o s e o f i n a n c i a m e n t o r e s u m i a - s e ás linhas de crédito oficiáis ou d a s e n t i d a d e s m u í t i 1 a t e r a i s , como o Banco Mundial ou o BID. A balança comercial desses países mostrou-se cronicamente deficitaria nesse período, em parte devido á deterioracâo d o s t e r m o s de i n t e r c a m b i o e em p a r t e á n a t u r e z a do processo de industrializacao que introduzia novas i n f l e x i b i 1 i d a d e s na e s t r u t u r a d a s i m p o r t a c o e s . Os r e c u r s o s ao FMI eram freqüentes, mas apenas c o m o um m e c a n i s m o de acesso aos finaneiamentos compensatorios. 0 déficit c o m e r c i a l significava concretamente que e s s e s p a í s e s a c a b a v a m por absorver poupanca externa que c o m p l e m e n t a v a o e s f o r c o i n t e r n o e p e r m i t i a urna taxa de i n v e s t i m e n t o m a i o r . As condicôes c o m e c a m a a l t e r a r — s e no final dos anos 60. Nesse momento, a economia internacional viveu um qUinqüénio c o m p l e t a m e n t e diferente da s i t u a c a o anterior. E n t r e 1 9 6 8 e 1973, o mercado internacional de c a p i t a i s privados experimentou um grande auge, especialmente devido ao excesso de liquidez concentrado nos mercados europeus e motivado pela política expansionista e deficitaria da economia americana, em parte v i n c u l a d a ao s e u e s f o r c o de g u e r r a ( V i e t n a m ) . 0 chamado "mercado de euro-dólares" s i g n i f i c a v a a p o s s i b i 1 i d a d e de empréstimos a prazos relativamente longos e com t a x a s de juros flutuantes, 183 porém extremamente i n c l u s i v e , em t a x a s r e d u z i d a s (6 a 77. ao ano), reais negativas. o que implicava, Do lado c o m e r c i a l , e s s a é p o c a a s s i s t e a urna alteracao na estratégia de mercado das grandes corporacoes, que passam a incluir as suas f i l i á i s de p a í s e s do Terceiro Mundo no seu esforco de a m p l i a c á o d o s m e r c a d o s a nivel m u n d i a l . Isto i n d u z a urna r e d e f i n i c a o d a s p o s s i b i l i d a d e s de p a r t i c i p a c a o d e s s e s países no m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l de p r o d u t o s i n d u s t r i a l i z a d o s , com g r a n d e expansao das exportacóes e geracao de superávits comerciáis aprec iáveis. 0 Brasil, em p a r t i c u l a r , u s u f r u i b a s t a n t e d e s s a s i m p o r t a n t e s alteracoes conjunturais e passa a exportar manufaturas, a captar significativos volumes de empréstimos internacionais - extremamente vantajosos do ponto de vista do custo de finaneiamento - e a obter importantes saldos comerciáis. Como conseqüincia, c r e s c e a d i v i d a e, t a m b é m , os n í v e i s d a s r e s e r v a s i n t e r n a c i o n a i s do p a í s . Em fins de 1973, a d i v i d a b r a s i l e i r a era de 12 bilhoes d e d ó l a r e s e as r e s e r v a s a t i n g i r a m cerca de 7 bilhoes. A crise do petróleo, em 1973, altera radicalmente a situacao. Os s u p e r á v i t s c o m e r c i á i s t r a n s f o r m a m - s e r á p i d a m e n t e em e n o r m e s d é f i c i t s , nao a p e n a s p e l o a u m e n t o dos p r e c o s do p e t r ó l e o , mas, também, pela queda dos p r e c o s das d e m a i s e e í M e d i t & 8 B no mercado internacional, devido á crise internacional. Nao obstante, a l i q u i d e z i n t e r n a c i o n a l c o n t i n u a a l t a e em expansao, t e n d o a p e n a s t r o c a d o de m a o s . Agora, sao os " p e t r o - d ó l a r e s " que n e c e s s i t a m ser r e c i c l a d o s no m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l . Da combinacao desses dois movimentos, resulta a i m p o s s i b i 1idade de pagar a d i v i d a com s a l d o s comerciáis e a necessidade c r e s c e n t e de r e c u r s o s e x t e r n o s para c o b r i r o déficit c o m e r c i a l e para s a l d a r os c o m p r o m i s s o s v i n c e n d o s . "A d i v i d a nao deve ser paga, m a s pode ser a d m i n i s t r a d a " , s e g u n d o urna c o n c e p e á o muito em voga e n t r e os f o r m u l a d o r e s da política económica na segunda metade dos a n o s 7®. Esse período, porém, assiste á explosao das t a x a s de j u r o s no m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l , d e v i d o ás p o l í t i c a s m o n e t á r i a s dos p r i n c i p á i s p a í s e s i n d u s t r i a l i z a d o s - em especial os Estados Unidos. 0 endivídamento passa a ser crescente, a taxas exponenciais. C o m e c a a ficar e v i d e n t e que a situacao é d i n á m i c a m e n t e i n s u s t e n t á v e l a o longo do tempo. Em 1982, o p r o c e s s o vem á t o n a , com a m o r a t o r i a m e x i c a n a . A p a r t i r daí, passa a ser e v i d e n t e a t o d o s que o s i s t e m a precisa ser ajustado. Nao é mais possível sustentar a política de endividamento crescente. A quebra do sistema financeiro i n t e r n a c i o n a l a p a r e c e , p e l a p r i m e i r a vez, n o p ó s - g u e r r a , c o m o urna p o s s i b i 1idade c o n c r e t a . 0 ajuste deveria incluir um c o m p a r t i 1har de responsabilidades e custos a nivel internacional. É obvio, t é c n i c a m e n t e , que nem toda r e s p o n s a b i 1 i d a d e p o d e r i a ser a t r i b u i d a aos países devedores. As políticas monetárias dos países centráis, desde os anos 5®, criaram o mercado financeiro 184 internacional, n o s moldes que o b s e r v a m o s , e agravaram claramente a situacao, em fins dos anos 70. Por o u t r o lado, a deterioracao dos termos de i n t e r c a m b i o era um tema que d e v e r i a pelo m e n o s ser objeto de um t r a t a m e n t o c o n j u n t o entre países i n d u s t r i a l i z a d o s e p a í s e s e x p o r t a d o r e s de c o m m o d i t l « » . Do ponto de vista dos países devedores, o ajuste significava, básicamente, a adoclo de m e d i d a s que visassem á e l i m i n a c a o d o s d é f i c i t s c o m e r c i á i s e á g e r a c i o de s u p e r á v i t s que permitissem o p a g a m e n t o do s e r v i c o da d i v i d a . Essa e s t r a t é g i a , em si mesma, nao era p e r n i c i o s a ou c o n t r á r i a á continuidade do crescimento e c o n ó m i c o desses p a í s e s . Desde que o ajuste fosse comparti 1 h a d o com os países credores, as t r a n s f e r e n c i a s para o exterior nâo atingiriam v o l u m e s que c o m p r o m e t e s s e m a capacidade de poupanca e i n v e s t i m e n t o do p a í s . Na realidade, porém, o ajuste foi realizado a p e n a s pelos p a í s e s d e v e d o r e s e a transferencia líquida de r e c u r s o s para o e x t e r i o r a t i n g i u c i f r a s extremamente elevadas a partir de 1983 em t o d o s esses p a í s e s (ver T a b e l a s 1 e 2), comprometendo sua c a p a c i d a d e de p o u p a n c a e investimento, afetando especialmente as f i n a n ç a s p ú b l i c a s e contribuindo á a c e l e r a c â o do p r o c e s s o i n f 1 a c i o n á r i o . B. Q d i i t s u i l í b n i Q do u t a c e ú h l i c a i o l a d i u i d i i s t Q t Q i a t i c o a A situacao atual do s e t o r público de muitos dos países devedores r e f l e t e uma i n c a p a c i d d e quase a b s o l u t a de r e a l i z a r os investimentos necessários á criacao das condicoes para o desenvolvimento. 0 déficit p ú b l i c o vem a t i n g i n d o c i f r a s em torno ou superiores aos 5% do P r o d u t o Interno Bruto. 0 acúmulo dos déficits públicos ao longo d o s anos deu inicio e alimentou um p r o c e s s o de c r e s c e n t e e n d i v i d a m e n t o , que, e n t r e t a n t o , g a n h o u vida p r ó p r i a e passou, talvez, a explicar a p a r c e l a maior do próprio crescimento do déficit em funcao do alto peso do servico da divida. Olhando retrospectivamente, podemos identificar alguns fatores que podem e x p l i c a r esse p r o c e s s o de deterioracao das financas públicas. Em primeiro lugar, deve-se destacar a desaceleracáo geral no ritmo de c r e s c i m e n t o e c o n ó m i c o dos países latino-americanos a partir da c r i s e do p e t r ó l e o (ver Tabela 3). Deve-se ressaltar a i m p o r t a n c i a de a l g u n s períodos de franca recessáo, como, por exemplo, os p r i m e i r o s anos da presente década. Menor crescimento significou menores receitas tributárias, o que afetou especialmente os servicos de p r e v i d e n c i a social. Em segundo lugar, é i m p o r t a n t e destacar que os g o v e r n o s da r e g i a o optaram por uma e s t r a t é g i a de e n f r e n t a m e n t o da questao externa a partir de meados da década de 70, que procurava defender m i n i m a m e n t e as economías n a c i o n a i s das graves crises já m e n c i o n a d a s . Assim, a s p o l í t i c a s de c a m b i o , de precos e tarifas públicas e de a d m i n i s t r a c a o do endividamento externo passaram crescentemente a ser e x e c u t a d a s com um sentido de 185 TASELA i AMERICA LATI»! E CARIBE: ENTRABA LIQUIDA CE CHITAIS E TRANSFERENCIAS DE KCURSQ3 (US» bilHoes e percentagecisl ENTRADA LIQUIDA DE CAPITAIS ANO (1) PAGAKENTOS LIQUIDOS DE LUCROS E JUROS (21 TRANSFERENCIA DE RECURSOS (31 EXPORTACAQ DE TRANSFERENCIA DE BENS E SERHKQS RECURSOS/EXPORTÉ CAO DE BENS E SERVICOS 3/ (4) (5)=(3)/(4) (5) 1973 7.9 4.2 3.7 28.9 12.8 1974 11.4 5.9 6.4 43.6 14.7 1975 14.2 5.5 8.7 41.1 21.2 1976 17.8 6.8 11.9 47.3 23.3 1977 17.1 8.2 8.9 55.9 15.9 1978 26.1 16.2 Í5.9 61.3 25.9 1979 29.8 13.6 15.4 82.9 18.8 1989 29.5 17.9 11.6 197.6 19.8 1981 37.3 27.1 18.2 116.1 8.8 1982 19.8 38.7 -18.9 163.2 -18.3 1983 3.8 34.2 -31.2 182.4 -38.5 1984 Í0.3 36.1 -25.8 113.9 -22.7 35.1 -30.4 188.9 -28.1 1985 &/ 4.7 Fonte: CEPftL. 1986. Notas: 9/ Ei percentagens. ti/ Estiiativas preliainares sujeitas a revisao. 186 TABELA 13 ARGENTINA, BRASIL E MEXICO: DIVIDA EXTERNA DE MEDIO E P R A Z O S E P A G A M E N T O S DE J U R O S - 1 9 7 0 / 1 9 8 6 (US$ m i l h o e s 1970 5 . 171 5. 128 5 . 128 5 .966 Total da d i v i d a Argent ina Brasil Mexico Total dos j u r o s p a g o s Argent ina Brasil Mexico J u r o s p a g o s corno % do PNB Argent ina Brasil Mexico Fonte: Banco Mundial, 338 135 283 5 . 0 0 . 9 3.7 LONGO e X do 1986 43.012 97.164 97.164 91.062 3.698 7.516 7 .737 6.8 4 . 1 10.2 1988. TABELA 3 A R G E N T I N A , B R A S I L E M E X I C O : T A X A S DE C R E S C I M E N T O DO C O N S U M O E DO I N V E S T I M E N T O POR P E R I 0 D 0 8 - DO P R O D U T O , 1965/86 (Taxas p e r c e n t u a i s Taxa de c r e s c i m e n t o Argent ina Brasil Mexico C o n s u m o do g o v e r n o Argent ina Brasi 1 Mexico Consumo privado Argent ina Brasil Mexico Invest iment o Argent ina Brasil Mexico Fonte: Banco do Mundial, PNB) 1965/80 1980/86 3. 4 9 .0 6 .5 - 0 .8 2 .7 0 . 4 3. 6 7 0 8 .5 - 2 .4 0. 8 3 .0 2. 9 9 0 5 .8 0 6 2 .7 -1 .0 4 5 11 . 2 8 .5 -12 . 6 -2 . 7 -7 . 6 PIB 1988. anuais) 187 prevenir uria quebra de proporcoes do sistema produtivo. A conseqiienc ia, porém, foi a ocorrència de un processo de "socializacào de perdas", em que o E s t a d o p a s s o u a arcar com grande parte do 6 n u s da d i f í c i l s i t u a c a o g e r a d a pela economia internacional. 0 e x e m p l o da t r a n s f o r m a d o do perfil da divida e x t e r n a de m è d i o e l o n g o p r a z o d o s c a s o s do B r a s i l , entre 1973 e 1985, é e x t r e m a m e n t e i l u s t r a t i v o (ver T a b e l a 4). Finalmente, a pròpria aceleracao inflacionaria teve serias conseqüincias sobre o processo de a m p l i a c a o do déficit p ú b l i c o . 0 chamado imposto inflacionario p e r d e u s i g n i f i c a d o com a a c e l e r a c a o da ìnflacao. Por o u t r o lado, na falta de o u t r o s i n s t r u m e n t o s m a i s e f i c a z e s a curto prazo, os governos recorreram reiteradamente á pràtica de p r o c u r a r d e s a c e l e r a r a e l e v a c a o de p r e c o s , via a d m i n i s t r a c a o das tarifas dos s e r v i c o s p ú b l i c o s , alcancando alguns resultados no curto prazo, mas comprometendo, ainda mais, a. c a p a c i d a d e financeira do s e t o r p ú b l i c o , em e s p e c i a l a c a p a c i d a d e de auto- f i n a n e i a m e n t o e de i n v e s t i m e n t o d a s s u a s e m p r e s a s . TABELA BRASIL: 4 PARTICIPACAO RELATIVA DIVIDA EXTERNA BRUTA DO 8 E T 0 R P U B L I C O - 1973/85 (em ANO a/ PARTICIPACAO 52 50 53 56 60 63 68 69 68 68 74 79 82 1973 1974 1975 b/ 1976 b/ 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 Fonte. DO S E T O R BAER, 1986. Notas : <|/ S i t u a c a o b/ S i t u a c a o ao em final do e x e r c i c i o . 30 de s e t e m b r o NA percentagem) PUBLICO 188 A dinámica do endividamento público constitui-se, entretanto, na m a i o r f o n t e de a l i m e n t a c a o do " c í r c u l o déficitdivida" . A chamada "ciranda-financeira" - extremamente importante no caso b r a s i l e i r o - s i g n i f i c a v a que o E s t a d o p a s s o u a ser o grande garantidor de um processo de especulacao financeira baseado em t í t u l o s p ú b l i c o s de a l t a s r e n t a b i l i d a d e , liquidez e s e g u r a n c a , t o d a s ao m e s m o t e m p o . As t a x a s de j u r o s foram m a n t i d a s sempre elevadas e positivas - compensando folgadamente a aceleracao da i n f l a c a o e g e r a n d o um mecanismo exponencial de expansao da divida pública, e respondendo por apreciável e c r e s c e n t e p a r c e l a do déficit p ú b l i c o . Essa p r á t i c a , ao longo dos anos, acabou por inviabilizar a política monetária, enquanto m e c a n i s m o de c o n t r o l e da e x p a n s a o da b a s e , e c r i o u um n o v o tipo de ativo, totalmente líquido e rentável. Nao é de se e s t r a n h a r , neste caso, que o m e r c a d o f i n a n c e i r o e s t e j a t o t a l m e n t e baseado nos títulos públicos. 0 a j u s t a m e n t o do setor p ú b l i c o , nestas condicoes, passa a ser extremamente difícil. De um lado, o enfoque tradicional apontaria á n e c e s s i d a d e de c o r t a r gastos supérfluos, reduzir salários, cortar pessoal e privatizar importantes parcelas do setor público. Algumas dessas medidas, ou tem um alto custo político, o u t r a s sao í n v i á v e i s t é c n i c a m e n t e (por e x e m p l o , cortar pessoal já e s t á v e l ) ou sao i n o c u a s (por e x e m p l o , a privat i z a d o de algumas e m p r e s a s ou s e r v i c o s m a r g i n a i s ) . A desmontagem do m e c a n i s m o de e n d i v i d a m e n t o f i n a n c e i r o do setor p ú b l i c o é, porém, extremamente complicada, pois significaría afetar toda a estrutura do sistema financeiro privado, devendo o Estado a r b i t r a r as p e r d a s que podem s e r e x t r e m a m e n t e i m p o r t a n t e s . c . 6 a c t l a c a c a e i o í l i c í Q o á e i » • g s a c i a s da h í e a t í o f l i t S a Os países latino-americanos c o n v i v e r a m com a inflacao a taxas relativamente elevadas, d u r a n t e todo o p ó s - g u e r r a . Durante os anos 80, porém, a situado tendeu a agravar—se s i g n i f i c a t i v a m e n t e . P a í s e s , c o m o o Brasil e a A r g e n t i n a , passaram a apresentar taxas de i n f l a c a o superiores aos dois dígitos mensais, com t e n d e n c i a a s c e n d e n t e . 0 grau de i n c e r t e z a , que urna inflacao tao e l e v a d a i n t r o d u z n o s i s t e m a e c o n ó m i c o é tao grande, que t e n d e a a f e t a r as d e c i s o e s de i n v e s t i m e n t o , i n d e p e n d e n t e m e n t e de o u t r o s f a t o r e s . Por o u t r o lado, as p o s s i b i 1 i d a d e s de g r a n d e s v a r i a c o e s na massa s a l a r i a l e n o p o d e r de c o m p r a da p o p u l a d o , em geral , i n t r o d u z e m , a cada m o m e n t o , o p e r i g o da r e c e s s á o a g u d a ou, em menor medida, d o d e s c o n t r o l e por " e x c e s s o de demanda". A política salarial p a s s a a ser um e l e m e n t o crucial da política económica. Neste novo patamar, a q u e s t a o da i n f l a c a o d e i x o u de ser urna prioridade a p e n a s para os e c o n o m i s t a s o r t o d o x o s , para g a n h a r a u n a n i m i d a d e dos a n a l i s t a s , c o m o um dos t e m a s a serem p e r s e g u i d o s pela política económica. Ao m e s m o t e m p o , vários mitos foram 189 derrubados e algunas discussoes superadas. Assim, por exemplo, ficou o b v i o que os s a l a r i o s nada tinham a ver com a a c e l e r a c a o da inflacao, ao c o n t r a r i o do que a p r e g o a r a m ao longo das d é c a d a s de 60 e 70 os e c o n o m i s t a s o r t o d o x o s . Os p r ó p r i o s industriáis e c o m e r c i a n t e s p a s s a r a m a ser o s d e f e n s o r e s de p o l í t i c a s salariais náo-restritivas. Por outro lado, também ficou claro que a p o l í t i c a m o n e t a r i a t r a d i c i o n a l de c o n t r o l e de e x p a n s a o da b a s e só tende a agravar o problema, na m e d i d a em que e l e v a os j u r o s e a própria divida pública, forcando a emissao mais acelerada de títulos que possuam liquidez absoluta. Duas das medidas mais tradicionais de controle inflacionario - salarios e moeda t o r n a r a m - s e , o b v i a m e n t e , i n o c u a s nesta atual c o n j u n t u r a . O p e r a n d o com t a x a s m e n s a i s de i n f l a c a o , da o r d e m de 10 a 208 ao mes, estas e c o n o m í a s - em e s p e c i a l , a d o B r a s i l - t o r n a r a m - s e f o r t e m e n t e i n d e x a d a s , o que i n t r o d u z um n o v o c o m p o n e n t e inercial, que torna o processo rígido para reducoes na taxa, mas extremamente elástico e flexível para elevacoes. Qualquer acontecimento fortuito tende a aumentar a inflacao e a colocá-la em um novo p a t a m a r , do qual é n o v a m e n t e d i f í c i l de descer. A manutencao de t a x a s de j u r o s e l e v a d a s e positivas, necessárias para evitar a fuga de c a p i t a i s para a t i v o s reais ou para o exterior, fixa, também, urna e s p e c i e de p a t a m a r m í n i m o para a remuneracao de t o d o s os c a p i t a i s , o que i n f l u e n c i a a todos os produtores, que tém algum poder de m o n o p o l i o , a adotaren uma política de p r e c o s de sua p r o d u c a o c o r r e n t e em h a r m o n i a com e s s e e1 e v a d o pat amar. Neste contexto extremamente complexo, onde as receitas tradicionais mostraram-se inocuas, foram formuladas e implementadas d i v e r s a s e x p e r i e n c i a s de " c o n t r o l e h e t e r o d o x o " da inflacao. Em geral, t r a t a v a m - s e de e x p e r i e n c i a s de c o n t r o l e de precos e salarios baseados, i m p l í c i t a ou e x p l í c i t a m e n t e , em uma idéia de p o l í t i c a de r e n d i m e n t o s . Tais políticas, geralmente, t i v e r a m éxito num p r i m e i r o m o m e n t o , mas, na m a i o r i a d o s c a s o s , as economias v o l t a r a m m a i s ou m e n o s r á p i d a m e n t e a e x i b i r os mesmos problemas e a s m e s m a s i n f 1 e x i b i 1idades, n o que d i z r e s p e i t o ao controle inf1acionário. É interessante notar, também, que os resultados, em t e r m o s do c u s t o social d e s s a s políticas, foram e x t r e m a m e n t e v a r i á v e i s , t e n d o p r o v o c a d o r e c e s s a o e queda s a l a r i a l (Argentina - P l a n o A u s t r a l ) ou, ao c o n t r á r i o , a e x p a n s a o s a l a r i a l e a u g e e c o n ó m i c o (Brasil - P l a n o C r u z a d o ) . G e r a l m e n t e , o f r a c a s s o no controle da i n f l a c a o p a r e c e estar a s s o c i a d o á ausencia de medidas c o o p 1 e m e n t a r e s que a t a q u e n as c a u s a s ú l t i m a s g e r a d o r a s e a l i m e n t a d o r a s do p r o c e s s o i n f 1 a c i o n á r i o . M a i s e s p e c í f i c a m e n t e , os o u t r o s dois d e s e q u i l i b r i o s p e r m a n e c e m i n a l t e r a d o s , constituindo-se em elemento disruptivo dos programas de controle inflacionario, como analisaremos mais adiante I l i A LOGICA ECONOMICA DA8 POLITICAS 0 R T 0 D 0 X A 8 DE AJU8TAMENT0 A jformulacao de p o l í t i c a s m a c r o e c o n ò m i c a s de a j u s t a m e n t o , em. ger.al , é d i r i g i d a ^ join—dos- t r i s . d e s e q u i l i b r i o s que se mencionar^mr o e x t e r n o , o d o " s é t o r p u b l i c o ou o i n f l a c i o n a r i o . D e p e n d e n d o do problema a ser e n f r e n t a d o , a economia ortodoxa coloca maior ou menor infase n o s d i v e r s o s i n s t r u m e n t o s de política economica, dentro de urna c o n c e p c à o g l o b a l b a s i c a m e n t e s e m e l h a n t e para os tres tipos de desequilibrio. Os ajustes praticados ñas economías latino-americanas durante a década de 80, em geral , colocaram ènfase no r e s t a b e l e c i m e n t o do e q u i l i b r i o e x t e r n o . T r a t a v a - s e de b u s c a r urna nova estrutura do comércio exterior e da balanca comercial compatível com um nivel de f i n a n e i a m e n t o e x t e r n o já nao tao abundante q u a n t o na d é c a d a de 7 0 e f r a n c a m e n t e e s c a s s o a partir de 1982. Em e s s è n c i a , buscava-se a reduelo do gasto doméstico - consumo e investimento privados e públicos - e a geracao de "excedentes exportáveis. F o r a m t r i s os i n s t r u m e n t o s de p o l í t i c a e c o n o m i c a utilizados p r i o r i t a r i a m e n t e , p o l í t i c a m o n e t a r i a a t i v a , que p r o c u r a v a r e d u z i r o crédito dos setores privado e público; poi it i,ca JLiscai,.. ..tendente a r e d u z i r o déficit p ú b l i c o med.iante r e d u c a o n o s g a s t o s reai s ( e s p e c i a l m e n t e . inyest iment o ) ; e a desval or i z a c à o do tipo de "càmbio d i r i g i d a a a l t e r a r a c o m p o s i c à o do g a s t o e a s aplicacoes de r e c u r s o s d o s s e t o r e s p r o d u t o r e s de bens nào-transacionàveis p a r a os s e t o r e s p r o d u t o r e s de b e n s t r a n s a c i o n á v e i s . 1/ No que d i z r e s p e i t o á est ab i 1 i z a c a o de p r e c o s i n t e r n o s , esse m o d e l o s u p o e que a p o l i t i c a m o n e t à r i a t e r i a c o m o e f e i t o a r e d u c a o n a s t a x a s de i n f l a c a o . 0 nivel d e a t i v i d a d e e e m p r e g o p o d e r i a _ n a o ser afet a d o sig.nificatTvamént g, d e s d e que e s s e m o d e l o p r e v i que. jaslZéf.eit.os r e c e s s i v o s das p o l í t i c a s monetària e fiscal seriam c o m p e n s a d o s p e l o e f e i t o e x p a n s i v o da p o l i t i c a c a m b i a i . "" ~ Urna conseqüincia direta desejada dessa política é a alteracao na relacao c à m b i o / s a l à r i o s no setor produtor de bens transacionáveis. Busca-se o a u m e n t o na t a x a de r e n t a b i 1idade 1/ E s t e s c o n c e i t o s r e f e r e m - s e a o s p r o d u t o s e s e r v i c o s p o d e m s e r o b j e t o de c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l , tanto v i s t a da e x p o r t a c a o , q u a n t o d a i m p o r t a c a o . que s a o do p o n t o ou de 191 desse setor, o que implica em que os a u m e n t o s de precos, em termos de moeda nacional desses p r o d u t o s , sejam m a i o r e s que os aumentos de custo, ai c o n t e m p l a d o s e s p e c i a l m e n t e os salarios. Isto, em si, nao significa que a queda dos s a l a r i o s reais seja exatamente correspondente ás v a r i a c o e s da taxa de c a m b i o e dos salarios. 0 resultado final dependerá, também, do peso dos produtos nao-transacionáveis na cesta de consumo dos traba 1hadores e da e v o l u c a o de seus precos. Daí a importancia estratégica dos precos das tarifas p ú b l i c a s neste modelo, a que já fizemos referencia. 0 modelo admite que a renda nacional possa cair em termos reais, como c o n s e q ü e n c i a das medidas adotadas. Isto ocorreria, porém, apenas caso os países e s t i v e s s e m no passado recente gastando mais do que permitiría seu nivel real de producao e renda . Na verdade, o modelo está baseado em urna série de s u p o s t o s sobre a eficácia dos instrumentos m a c r o e c o n ó m i c o s utilizados, que d i f í c i l m e n t e e n c o n t r a - s e na realidade, e s p e c i a l m e n t e , dos p a í s e s latino-americanos. Como conseqüencia, os e f e i t o s indesej^dos, como j recessao e a queda nos s a l á r i o s e na renda per capita pódem ser muito m a i o r e s do que o m o d e l o admitiría. Esta, como v e r e m o s na secao seguinte, foi, sem dúvida, a r e a l i d a d e que os países latino-americanos - e o Brasil, em particular 'experimentaran! na primeira metade desta década. Assim, mesmo sem considerar que o modelo em si pode ser c r i t i c a d o e que outras alternativas de ajustamiento podem ser adotadas, _é importante assinalar vários p r o b l e m a s intrínsecos á o p e r a c i o n a l i z a c a o deste mbtfeTor que p r o v o c a r a m um enorme custo social em sua a p l i c a d o . _T£jiÍnej.ro_ a f e i t o .nao. desejado o c o r r e no lado da a c e l e r a d o da inflado. As desvalorizacoes cambiais geram expectativas TrvTl a c i o n á r i a s nos agentes e c o n ó m i c o s e p r e s s ó e s reais de custo em grande parte do sistema económico. Este último fator está relacionado ás c a r a c t e r í s t i c a s da pauta de importacoes, que resulta do processo de industrializacao substitutiva, onde p r e d o m i n a n c o m p l e t a m e n t e os insumos i n d u s t r i á i s de uso geral. As e x p e c t a t i v a s inf1acionárias, por outro lado, sao p r o c e s s a d a s por agentes e c o n ó m i c o s que possuem alguma c a p a c i d a d e de administrar precos, transformando-as em aumentos efetivos na taxa de inflado. A a c e l e r a d o da i n f l a d o tende a agravar a queda de salários reais e a aprofundar a recessao. 0 éxito do ajuste em r e l a d o ao c o m é r c i o internacional fica, assim, s u p e r d i m e n s i o n a d o , pois a queda ñas importacoes é explicada, pareialmente, pela própria recessao e nao apenas por mudancas na estrutura de p r o d u c a o e gasto. Em segundo lugar, o mesmo efeito r e c e s s i v o maior que o desejado - com as mesmas c o n s e q ü e n c i a s a p o n t a d a s - deriva de certas c a r a c t e r í s t i c a s da estrutura e c o n ó m i c a dos p a í s e s latino- a m e r i c a n o s que, em geral, nao sao levadas em c o n s i d e r a d o p e l o s modelos ortodoxos. Deve-se destacar a heterogeneidade da e s t r u t u r a produtiva que introduz certa i n e l a s t i c i d a d e de resposta a i n s t r u m e n t o s de política económica de caráter global. Assim é 192 difícil imaginar que alguns s e g m e n t o s p r o d u t i v o s passem a ser rápidamente exportadores, permanecendo para eles apenas os efeitos dos i n s t r u m e n t o s c o n t r a t i v o s da a t i v i d a d e interna. Se a isto somarmos um c o n t e x t o internacional também r e c e s s i v o e as características de baixa e l a s t i c i d a d e / p r e c o de g r a n d e parte das c o m m o d l t i a s que o s p a í s e s l a t i n o - a m e r i c a n o s exportam, temos urna situacao em que as d e s v a l o r i z a c o e s c a m b i a i s nao produzem os efeitos d e s e j a d o s de aumentar as e x p o r t a c o e s no ritmo requerido pelo ajustamento. Em t e r c e i r o lugar, d e v e m o s mencionar a própria m a g n i t u d e do d e s e q u i l i b r i o e x t e r n o e o prazo reduzido para sua e l i m i n a c a o . Os p r o g r a m a s de a j u s t a m e n t o foram drásticos, uti 1izando-se, porém, de i n s t r u m e n t o s que foram c o n c e b i d o s para dar conta de situacoes m e n o s agudas, r e l a c i o n a d a s com a l t e r a c o e s c í c l i c a s em b a l a n c a s de pagamentos. Certamente, seu efeito negativo teria sido consideravelmente menor se o e s f o r c o de a j u s t a m e n t o tivesse sido comparti 1 hado pelos países c r e d o r e s e pelo sistema financeiro internacional . Por último, está a própria conformacao do pacote de i n s t r u m e n t o s que sao u t i l i z a d o s . Trata-se, em geral, a p e n a s de políticas de caráter global e nao a c o m p a n h a d a s de instrumentos específicos de controle direto e quantitativo da atividade económica. Assim, por exemplo, deixaram de utilizar-se os controles s e l e t i v o s de importacoes, os r a e i o n a m e n t o s ao consumo de d e t e r m i n a d o s p r o d u t o s , os a c o r d o s n e g o c i a d o s entre p a t r o e s e empregados, etc. D e v e - s e recordar que, em s i t u a c o e s e x t r e m a m e n t e graves, em que o ajuste requerido deve ser drástico, essas m e d i d a s tiveram é x i t o em a l g u m a s e x p e r i e n c i a s históricas, g/ g/ Veja-se, a p r o p ó s i t o , a a n á l i s e sobre o a j u s t a m e n t o p r a t i c a d o pela Inglaterra, d u r a n t e a II Guerra Mundial, elaborado por Richard JOLLY, 1986. IV. 0 3 E F E I T O S D A 8 P O L I T I C A S D E A J U S T A M E N T O PRIMEIRA METADE DOS ANOS 80 NA Pudemos observar, na Tabela 1, o enorme esforcé de ajustamento externo realizado pelos países latino-americanos, na primeira metade dos anos 80, para dar conta do crescente desequilibrio e x t e r n o g e r a d o pela p o l í t i c a de e n d i v i d a m e n t o dos a n o s 70. No p e r í o d o de a p e n a s q u a t r o anos, e n t r e 1982 e 1985, a e c o n o m í a T a t i n o - a m e r i c a n a t r a n s f e r i u para o e x t e r i o r um total de 103.6 b i l h o e s de d ó l a r e s , o que r e p r e s e n t o u n a i s de um q u a r t o das exportatoes da regiao neste período. A Tabela 5 resume os principáis indicadores macroeconómicos da r e g i a o no período. Observa-se, claramente, que as e x p o r t a t o e s foram m a n t i d a s num nivel r e l a t i v a m e n t e e s t á v e l , em t o r n o d o s 90 b i l h o e s de d ó l a r e s , e n q u a n t o as i m p o r t a c o e s foram c o m p r i m i d a s drásticamente, caindo de um nivel de 9 7 . 6 b i l h o e s de d ó l a r e s , em 1981, p a r a 56 b i l h o e s , em 1983, m a n t e n d o - s e n e s s e n o v o p a t a m a r até 1985, r e s u l t a n d o em um saldo comercial significativo, que p e r m i t i u a transferencia dos recursos mencionados. 0 e f e i t o r e c e s s i v o da política de ajustamento pode ser observado ñas taxas negativas ou e x t r e m a m e n t e b a i x a s de c r e s c i m e n t o do PIB e do PIB per c a p i t a . TABELA AMERICA LATINA: I N D I C A D O R E S DO A J U S T A M E N T O (US$ b i l h o e s S a l d o em c o n t a c o r r e n t e Saldo comercial Valor das exportatoes Valor das importacoes T a x a s de c r e s c i m e n t o : • PIB PIB p a r c a p i t a P r e c o s ao c o n s u m i d o r Fonte: CEPAL, 1986 3 e taxas 1981 1982 -28 . 1 - 1 .4 89.. 1 90 5 -40 -1 95 97 -40 9 87 78 5. 3 2 .8 56.. 1 0 .4 - 1 .9 57 . .6 1980/89 5Í de c r e s c i m e n t o 1980 . 1 7 .9 . 6 - 1983 anual) 1984 1985 . 4 5 .5 . 0 - 1 .0 38.7 97.5 58.8 -4 34 91 57 -1 . .5 -2. 5 - 4 .7 -3 7 84 8 131 . 1 3.3 0.9 185.2 -7 .9 . 1 31 .4 - 8 7 .3 56 . 4 3 . 9 . 6 2 7 0. 4 274 .5 194 A Tabela 6 ilustra a situacâo brasileira, que a p r e s e n t a as mesmas c a r a c t e r í s t i c a s do c a s o gérai da A m é r i c a Latina: grande e s f o r c o d e a j u s t a m e n t o e n t r e 1981 e 1983, e s t e n d e n d o - s e até 1985, com a p r o d u c â o de g r a n d e s s u p e r á v i t s c o m e r c i á i s e transferencias ao e x t e r i o r , da o r d e m de 4 a 55$ do PIB, a p e n a s p e l o c o n c e i t o de pagamento de juros. Esta transferencia afetou especialmente a c a p a c i d a d e de i n v e s t i m e n t o do p a í s : o c o e f i c i e n t e de i n v e s t i m e n t o s o b r e o P I B r e d u z i u - s e de t a x a s v a r i á v e í s de SI a 55%, no p e r í o d o de 1977/82, para um n o v o p a t a m a r , de a p e n a s 16X, a partir de 1983. A r e d u c a o na taxa de c r e s c i m e n t o d o p r o d u t o foi i m p o r t a n t e , e n t r e 1981 e 1984. •s efeitos negativos do a j u s t a m e n t o se fizeram sentir, especialmente ñas v a r i á v e i s s o c i a i s da evolucao económica. 0 desemprego aberto, que históricamente nunca havia sido um fenómeno i m p o r t a n t e na r e g i a o - o n d e a s f o r m a s de subuti 1izacio da mào-de-obra assumiam principalmente as características de subemprego e grande i m p o r t a n c i a do s e t o r informal - passam a r e p r e s e n t a r um s è r i o d e s a f i o p a r a a p o l í t i c a e c o n ó m i c a . A Tabela 7 m o s t r a que, a p a r t i r de 1987, as t a x a s de d e s e m p r e g o passam a crescer, atingindo os dois dígitos, no período 1973-85, fato i n é d i t o na r e g i a o ñ a s ú l t i m a s d é c a d a s . As J_ab_eXas_ 8 e _ _ 9 m o s t r a m que os efeitos negativos do ajjj.st-amen-t.Q._foram...igual ment e g r a v e s na e v o l u c a o dos s a f a r l o s . As~ emun er ae o e s d o t r ab a 1 h o TètfùVirafl-seení.mé_d.I£,~ * "éñjcj~eLl2- e .18% na r e g i à g , e n t r e 1980-85," d e p e n d e n d o do t i p o de v a r i á v e l adotada para medir a evolucao salarial. Em a l g u n s países - Perù e Equador—, o salàrio-minimo c h e g o u a r e d u z i r — s e em m a i s de 40JÍ neste período mas a queda foi s i g n i f i c a t i v a t a m b é m em alguns g r a n d e s p a í s e s - c o m o o Brasil (12'/.) ou o M é x i c o (28JO. Em resumo, a a n á l i s e d o s d a d o s r e v e l a que o processo de ajustamento na r e g i a o a s s u m i u t o d a s as c a r a c t e r í s t i c a s n e g a t i v a s que a c r í t i c a ao m o d e l o o r t o d o x o p r e v i e que foram a n a l i s a d a s na secáo anterior. A queda no c r e s c i m e n t o do p r o d u t o foi muito acentuada, gerando-se um p r o c e s s o r e c e s s i v o muito agudo, com sérias conseqUencias sobre o emprego e os salários, especialmente os de m a o - d e - o b r a nao q u a l i f i c a d a . Por o u t r o lado, os r e s u l t a d o s do ajustamento no B a l a n c o de Pagamentos deveram-se, nao ao aumento ñas exportacoes, mas a urna drástica reducao ñas importacoes, associada, em grande medida, ao mesmo processo recessivo. Em g r a n d e parte, os e f e i t o s negativos, parece-ne, estâo associados á m a g n i t u d e do a j u s t a m e n t o p r a t i c a d o em um p e r í o d o de tempo extremamente reduzido. É i m p o r t a n t e a s s i n a l a r que nào foi observado o e s f o r c o c o r r e s p o n d e n t e por p a r t e dos p a í s e s c e n t r a i s ou por p a r t e das i n s t i t u i c o e s c r e d o r a s . A h i s t o r i a d o p r o c e s s o de e n d i v i dament o dos países do Terceiro Mundo requerirla, na verdade, um e s f o r c o por p a r t e d e s s a s i n s t i t u i c o e s ou por parte dos p a í s e s i n d u s t r i a l i z a d o s , p o i s nio há d ú v i d a de que a m b o s sao co-responsáveis, junto com os países devedores, pela grave situacáo gerada. 195 TASELA i BRASIL: IKDICAMRES HACROECON0HICOS - 1977/85 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 5.7 5.0 6.4 7.2 -1.6 0.9 -3.2 4.5 8.3 3.3 2.6 4.0 4.8 -3.7 -1.3 -5.3 2.2 5.9 Taxa de i n f l a c â o 38.8 40.8 77.2 110.2 95.1 99.7 210.9 223.8 235.1 Pagasento juros/exportacoes 15.2 22.3 28.4 28.9 31.0 42.5 32.5 34.0 33.6 Taxa de crescisento do PIB Taxa de cresciaento do PIB per capita Paganento juros/PIB 1.00 1.50 2.02 8.53 2.88 3.30 3.68 4.67 4.23 Balanco conta corrente »/ -4.0 -7.0 -10.7 -12.8 -11.7 -16.3 -6.8 0.0 0.3 Investiiento/PIB 25.9 25.2 22.1 22.5 21.2 21.2 16.9 16.4 16.3 Fonte: Banco Hundial, 1987. * / USt bilhôes. 196 TABELA 7 AtëRICA LATINA: TAXAS DE KSEHPK60 URBANO ASERTO - ltfl/85 PAIS Argentina 9/ B o l i v i a 6/ j l r a s i l _[/ toltati* il Costa Rica e/ Chile il Equador a/ Guatemala y Honduras i / Mexico i / Panala il Paraguai 1/ Peru s/ üruguai q/ Venezuela g/ Asèrica Latini e/ 197» 1978 1979 1988 1981 1988 1983 1984 1985 4.9 3 5 8 8 8 3 2.5 7.4 4.4 8.9 5.3 13.4 5.4 8.3 7.5 7.8 5.7 11.4 5.9 li.2 8.3 5.8 4.7 9.7 7.9 8.8 9.1 9.8 4.« 8.7 9.8 4.2 11.8 8.8 18.4 4.7 4.8 5.3 9.4 4.3 9.3 9.9 88.8 4.3 4.7 9.8 4.2 18.4 5.4 18.4 il.9 7.8 4.4 12.1 6.7 11.8 8.5 19.8 6.7 7.6 9.5 6.7 11.2 8.4 13.9 15.5 18.5 4.6 12.6 7.1 13.4 6.6 18.5 18.5 9.7 18.7 6.8 11.1 7.4 14.4 14.8 14.3 4.3 15.8 9 4 1 i 4 1 1 1 2.4 7.5 4.2 9.7 4.8 11.7 5.7 2.2 8.8 4.5 9.8 3.9 18.9 7.4 4.4 4.8 74 7.5 4.9 7.2 8.7 lt.S 19.9 il.l 6.5 18.é 3.5 4.1 4.2 7.6 18.3 i JLÌ 14.1 4.7 Ì7.8 19.4 12.9 11.7 4.8 11.5 5.2 17.4 13.1 14.3 Fonte: PREALC, 1987. Notas: ä/ Nacional urbano, sèdia de a b r i l - o u t u b r o ; &/ La Paz, 1978, 1979, 1983 e segundo s e i e s t r e de 1?B4¡ es 1968 a sèdia de saio-outubro; [ / Areas setropolitanas do Rio de Janeiro, Säo Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recite, t e d i a de 12 seses; es 1988, a sèdia de junho-dezesbro; i l Bogotá, Barranquilla, Cali e Hedellin; sèdia de «arco, junho, seteibro e dezesbro; e/ Nacional urbano, sèdia de sarco, j u l h o e novesbro; e i 1984, a sèdia de sarco-novesbro; \J Grande Santiago, sèdia de 4 t r i s e s t r e s . Metropolitana de Santiago; g/ Nacional; h/ Nacional; i / Média nacional; •J Areas Hetropolitanas da Cidade do Héxi V Nacional urbano; es i960, o Censo Populacional; 1981, 1982 e 1985 a Regiäo Metropolitana; 1/ Assuncäo, Fernando de l a More e Lasbarè e áreas urbanas de Lunque e San Lorenzo, a sèdia anual; es 1981, o p r i i e i r o s e i e s t r e ; es 1983, a sèdia de setesbro, outubro e novesbro; es 1984, a sèdia de agosto e setesbro; a/ Atividades nao-agrícolas; a/ Hontevidéu, sèdia de 4 t r i s e s t r e s ; Q/ Nacional urbano, sèdia de 2 sesestres; es 1984 e 1985, nacional; e/ Mèdia a r i t s è t i c a . 197 TASELA AMERICA LATINA: EVOLUCAO 8 DOS S A L A R I O S - 1989/85 1980-85 Salarios da industria Sal ár ios-- m í n i m o s urbanos Sal a r i o s na c o n s t r u c a o Sal a r i o s no s e t o r PREALC, civil público Sal a r i o s a g r i c o l as Fonte: manufatureira «/ 1980-83 1983-85 -12 . 2 -5 . 5 - 6 .0 -16 . 3 -9 . 3 - 7 .7 - 1 7 .8 - 6 .7 - 1 1 .9 -17 . 1 -13 8 -3. B -15 2 -10 . 2 -5 . 6 1987. «/ V a r i a c o e s e n t r e as d u a s d a t a s d a s m e d i a s s i m p l e s d e 15 p a í s e s , para s a l a r i o s i n d u s t r i á i s , 18 p a r a s a l a r i o s - m í n i m o s , 14 p a r a s a l a r i o s da c o n s t r u c a o c i v i l , 9 p a r a s a l a r i o s do s e t o r P Ú b l i c o e 16 p a r a s a l a r i o s a g r í c o l a s . 198 TASELA 9 AMERICA LATINA E CARIBE: EVOLUCAO BO SALARIO-MINIMO REAL URBANO (1988=186) PAÍS 1976 • Argentina b/ Brasil i ! Colôebia d/ Costa Rica t / Chile e/ Eguador i / El Salvador g/ 6uateiala &/ H a i t i h/ Honduras i / Héxico i / Nicaràgua k / Panaiá 1/ Paraguai | / Peru a/ República Doiinicana 164.8 k/ Uruguai g/ Venezuela e/ 1977 1978 1979 198« 77.9 86.8 -79.6 53.8 98.3 77.6 74.3 118.3 184.6 113.5 -118.5 116.1 118.1 186.8 188.5 98.8 188.6 187.3 94.8 81.8 97.7 89.5 96.8 188.7 48.1 48.3 78.8 94.i 188.8 168.6 119.8 115.7 94.8 78.3 85.3 97.5 97:5 98.5 99.8 68.4 87.7 68.5 85.8 189.8 167.8 118.7 113.6 98.4 86.8 168 168 168 168 168 168 166 166 168 186 186 166 186 166 186 171.5 78.9 94.7 113.6 68.8 185.8 184.8 68.7 188 6 168 8 186 6 99.7 75.1 79.5 67.5 68.5 188.8 85.8 114.7 73.8 8 6 6 8 8 8 6 6 6 8 8 8 8 6 6 1981 97.8 164.4 99.4 96.5 115.9 86.8 96.8 187.5 96.3 185.8 18Í.9 96.8 93.8 163.8 83.8 93.8 163.4 86.1 1988 1983 1984 97.8 184.9 163.7 85.7 116.6 75.9 86.7 167.5 168.8 164.4 98.7 74.4 89.4 161.1 77.1 136.9 93.8 188.3 99.3 93.9 63.6 76.6 188.5 94.8 96.4 76.6 56.7 87.6 93.6 79.4 163.7 . 86.6 113.1 184.5 88.8 68.8 76.9 99.1 87.1 98.1 78.3 63.6 86.8 93.4 68.3 86.3 164.6 78.6 86.8 89.6 73.9 88.8 89.9 65.8 1985 j / 187.5 88.8 118.6 118.8 76.1 59.7 66.4 89.8 71.7 99.1 53.3 94.1 Fonte: CEPAL, 1986. Notas: 8/ Cifras p r e l i i i n a r e s ; S a l á r i o - i i n i i o nacional; e i 1985, de j a n e i r o a gaio; [ / S a l á r i o - i i n i i o para a cidade do Rio de Janeiro, deflacionado pelo IPC correspondente; (t/ S a l á r i o - i i n i i o para os setores urbanos a l t o s ; e/ Renda l i n i i a ; V Reiuneraçâo l i n i i a v i t a l s e r a i ; calculada c o i base nos s a l á r i o s - i i n i i o s v i t á i s e ñas reiuneracóes legáis complementares; g/ S a l á r i o - i i n i i o para atividades nao agropecuarias e i San Salvador; h/ Diaria l i n i i a paga ñas empresas i n d u s t r i á i s ; í / S a l á r i o - i i n i i o no D i s t r i t o Central e e i San Pedro Sula, para a i n d u s t r i a l a n u f a t u r e i r a ; i / S a l á r i o - i i n i i o na cidade do Héxico, deflacionado pelo IPC correspondente; i / S a l á r i o - i i n i i o para t r a b a j a d o r e s da i n d u s t r i a no Bepartaiento de Managua; 1/ S a l á r i o - i i n i i o v á l i d o para todas as atividades, exceto a construcüo c i v i l ; • / S a l á r i o - i i n i i o e i Assunçâo e Porto Stroessner; e i 1985, de j a n e i r o a agosto, Q/ S a l á r i o - i i n i i o na área l e t r o p o l i t a n a de L i i a , para atividades nao agrícolas; e i 1985, de Janeiro a Dutubro; g/ S a l á r i o - i i n i i o nacional, para l a i o r e s de 18 anos; &/ S a l á r i o - i i n i i o nacional, para atividades nao agropecuarias. 199 Assim, tomando apenas como exemplo o caso brasileiro, observamos, na Tabela 10, que as perdas por efeito da deterioracao dos t e r m o s de i n t e r c a m b i o no p e r í o d o 1 9 7 9 / 8 6 podem ser e s t i m a d a s em cerca de 39 b i l h o e s de d ó l a r e s Por o u t r o )ado, na T a b e l a 11, c a l c u l a - s e o c u s t o da d i v i d a , c a u s a d o pelo a u m e n t o na taxa de j u r o s a c i m a dos v a l o r e s h i s t ó r i c o s que podem ser considerados "normáis" durante o pós-guerra. E n t r e 1979 e 1986, pode-se e s t i m a r que a p e n a s o a u m e n t o da taxa de j u r o s em r e l a c a o ao nivel de 1978 ( 7 . 1 % ) s i g n i f i c o u um ó n u s para o país, da ordem de 37 b i l h o e s de d ó l a r e s . Obviamente, essas estimativas sao grosseiras e nao se p r e t e n d e dizer que a divida brasileira deveria ser abatida nesses montantes assinalados. As cifras, contudo, sao s i g n i f i c a t i v a s o s u f i c i e n t e para i l u s t r a r o fato de que nao sao os p a í s e s d e v e d o r e s os ú n i c o s r e s p o n s á v e i s pela c n s e da d i v i d a . A p a r c e l a de r e s p o n s a b i 1idade dos p a í s e s c e n t r á i s , ao adotarem políticas monetarias extremamente ativas ou ao provocarem a r e c e s s a o i n t e r n a c i o n a l e a d e t e r i o r a c a o dos precos dos produtos exportados pelos países devedores, nao pode ser desprezada. Deveria, portanto, ter havido um esforco correspondente de participacao nos c u s t o s do ajustamento por p a r t e dos p a í s e s c e n t r á i s . A Tabela 12 m o s t r a que, em r e l a c a o a um dos desequilibrios - o do setor público - nao pode ser observado um e s f o r c o de a j u s t a m e n t o i m p o r t a n t e - ao c o n t r a r i o por parte de a l g u n s p a í s e s mais r i c o s do mundo capitalista, e s p e c i a l m e n t e os E s t a d o s U n i d o s . Da m e s m a forma, foi e s c a s s a o esforco de ajustamento no B a l a n c o de Pagamentos. A política monetaria e fiscal desses países continuou sendo pautada exclusivamente pelos interesses do equilibrio dos mercados financeiros dos grandes países, sem qualquer contribuicao p o s i t i v a s i g n i f i c a t i v a sobre o e s f o r c o de a j u s t a m e n t o dos países devedores. 200 TASELA 1« BRASIL: CUSIO M DETER10RACA0 DAS RELACOES K TUCA - W 7 W W Í 4 (US» ailhoes) BASEABO HAS RELACOES DE TROCA VIGENTES EN Í97B \ ! AHO EXPORTALES IHPORTACOES SALDO BANCO CEHTRftL (US* CORRES TES) CUSTO DAS R£ IACOES SE TROCA SALDO (4) (i) (2) (3)=(1M2) 1978 12.659 13.683 -1.684 -1.884 - 1979 13.864 14.914 -1.945 -8.839 1.774 198« 17.»14 14.928 2.886 -2.823 4.989 1981 26.47« 12.958 7.518 1.262 6.318 1982 18.685 11.877 6.868 788 6.688 1983 21.394 9.986 11.488 6.476 5.818 1984 26.217 9.51« 16.787 13.696 3.617 1985 27.787 9.387 18.488 18.485 5.915 1986 2B.163 0 TOTAL 186.178 13.19« i l 118.353 Fonte: Banco Central, elaboracao Conjuntura do CEBRAP. 14.913 i / 75.885 SERRA (1982). 9.527 36.068 <5>=(3H y 5.384 38.957 Atualizacäo dos dados pelo Grupo de Notas: 3/ O valor das exportacöes e iaportacöes, nos anos 1979 a 1984, é i 9 i a l ao valor corrente de 1978, l u l t i p l i c a d o pela variacáo do "quantua" exportado/iaportatfo para cada ano e i relacäo á data-base. t / Previsäo do BACEH, f e v e r e i r o de 1987. [ / A variacáo do índice de "quantua" é o valor de j u l h o / 8 4 . Coa isso, as exportacöes estäo s u p e r v a l o r a d a s e as iaportacöes subvalorizadas, devendo o saldo estar s u p e r n i or izado. 201 TASELA 11 BRASIL: CUSIO DA DIVIDA EXTERNA REGISTRADA, PROVOCADO Pao AUMENTO DA TAXA DE JUROS |/ - 1979/1983 (US» nilhoes) 6/ ANO DIVIDA DIVIDA BRUTA JUROS LIQUIDOS HIPOTETICA HEDIA (A) JUROS HIPOTETICOS (0 (B) (D) CUSIO ANUAL DO CUSTO DO ACUMUJURO ACRESCIDO LADO DO JURO ACRESCIDO (E) (F) - - 1978 37.774 2.696 1979 46.787 4.185,5 46.707 3.316,2 869,3 869,3 1984 51.876 6.311,1 51.006,7 3.621,5 2.689,6 3.558,9 1981 57.629 9.161,0 54.870,1 3.839,0 5.322,0 8.880,9 2.696 - l 1982 65.884 11.353 56.923,1 4.041,5 7.311,5 16.192,4 1983 75.758 9.555 59.565,6 4.229,2 5.325,8 21.518,2 1984 86.205 10.203 64.686,8 4.592,8 5.610,2 27.128,4 1985 93.474 9.589 66.345,6 4.710,5 4.878,5 32.006,9 1986 £/ 95.398 9.300 63.391,1 4.500,8 4.799,2 36.806,1 Fonte: Banco Central, elaboracao Conjuntura do CEBRAP. SERRA (1982). Atualizatao dos dados pelo Grupo de Notas: i / Considerou-se a lupótese de una taxa de j u r o s para o período igual á de 1978 ( 7 , I X ) , equivalente i razio entre os j u r o s líquidos e a divida externa bruta l é d i a daquele ano. &/ Dólares correntes. [ / Previsáo BACEN - Prograia Econooico do B r a s i l . Obs.: Ci = A I - F I - 1 Di = CI.8,071 Ei Bi-íi Fi = Ei=1978 202 TABELA BALANCO FISCAL NOS PAISES 1S INDUSTRIALIZADOS - GOVERNO CENTRAL (percentagem ESTADOS UNIDOS JAPAO ALEMANHA FEDERAL GRUPO do DOS 7 1979 -1 .1 -6 . 1 -1 . 9 - 2 .8 1980 - 2 .3 - 6 .2 -1 . 9 -3 . 3 1981 - 2 .4 -5 . 9 - 2 .5 -3 6 1982 -4 1 -5 9 -2 . 4 - 4 .6 1983 - 5 .6 -5 . 6 - 1 .9 - 5 .4 1984 -5 1 -4 . 7 - 1 .6 - 5 .0 1985 -5. 3 - 4 .0 -1 . 3 - 4 .9 1986 -4 8 -3 3 -1 .2 -4 . 3 1987 -3 . 4 - 3 .8 -1 . 4 -3 6 Forite: B a n c o */ C a n a d á , Estados Mundial, World Franca, Alemanha Unidos. Development Federal, Report, Italia, PNB) */ 1988. Japao, Reino Unido e W. A S C 0 N B E Q 0 É N C X A 8 8 0 A J U 8 T A M E N T 0 I N T E R N O O DESEQUILIBRIO DO S E T O R SOBRE PUBLICO A c r i s e e c o n ò m i c a que a f e t o u os p a í s e s l a t i n o - a m e r i c a n o s , em g e r a l , e o B r a s i l , em p a r t i c u l a r , na p r i m e i r a m e t a d e dos a n o s 80, como conseqüéncia do tipo de ajustamento praticado, afetou e s p e c i a l m e n t e a c a p a c i d a d e de f i n a n e i a m e n t o do s e t o r p ú b l i c o , por q u a t r o v i a s p r i n c i p á i s : (a) l e n t o c r e s c i m e n t o da b a s e t r i b u t a r i a ; (b> p e r d a de r e c e i t a p e l o i n c e n t i v o ás e x p o r t a c o e s ; (c) a u m e n t o do c u s t o d o s s u b s i d i o s a s e t o r e s s u b s t i t u i d o r e s de importacoes; (d) a u m e n t o s u b s t a n c i a l do s e r v i t o da d i v i d a p ú b l i c a interna e externa. Além d i s s o , em m u i t a s o p o r t u n i d a d e s , a a d m i n i s t r a c a o de precos d o s b e n s e s e r v i c o s p ú b l i c o s foi u t i l i z a d a com propósito anti inf1acionário - face á a c e l e r a c a o de p r e c o s p r o v o c a d a pelo ajustamento -, c o m p r o m e t e n d o a c a p a c i d a d e de f i n a n e i a m e n t o das empresas públicas. A Tabela 13 m o s t r a que a r e c e i t a real do Tesouro Federal reduziu-se em 17%, no p e r í o d o 1 9 8 0 / 8 4 ; considerando apenas a receita tributaria, a r e d u c a o foi a i n d a m a i s s i g n i f i c a t i v a : 25%. 0 G r á f i c o 1, por sua vez, indica o c r e s c i m e n t o da p a r t i c i p a c a o dos gastos com s u b s i d i o s e transferencias, especialmente no p e r í o d o de a j u s t a m e n t o . Nao o b s t a n t e e s s a s i t u a c a o real, foi p o s s í v e l p r a t i c a r um s e n s í v e l a j u s t a m e n t o do s e t o r p ú b l i c o , c o m o se o b s e r v a na T a b e l a 14. 0 déficit p ú b l i c o o p e r a c i o n a l r e d u z i u - s e de 7 3% do PIB, em 1982, para 2.7%, em 1984, m a n t e n d o - s e em n í v e i s r e l a t i v a m e n t e baixos, p e l o m e n o s até 1986. 0 a j u s t a m e n t o r e c a i u b a s i c a m e n t e na c o n t r a c a o dos s a l a r i o s e na r e d u c a o s i g n i f i c a t i v a do i n v e s t i m e n t o público. Os dois c o m p o n e n t e s do a j u s t a m e n t o f i z e r a m parte da estratégia adotada para reduzir a demanda interna para gerar crescentes "excedentes exportáveis", c o m o se a n a l i s o u na secao anterior. É interessante observar que as c i f r a s de incidencia do déficit p ú b l i c o em r e l a c a o ao PIB nao sao, em si, elevadas, no caso brasileiro, em comparacao com outros países mais desenvolvidos, A T a b e l a 15 m o s t r a c i f r a s c o m p a r á v e i s p a r a os 7 países m a i s d e s e n v o l v i d o s do m u n d o o c i d e n t a l , onde encontramos casos semelhantes ao brasileiro e alguns até mesmo bastante superiores (Italia). Nao público, obstante que, em e s s e s i n d i c a d o r e s de c o m p o r t a m e n t o principio, r e f l e t i r i a m urna s i t u a c a o do sob setor certo Gràfico 1 * pia Braall: Partlolpacio da Itana da Dlaptndloa Pùbllooa 8alaelonadoa 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 86 86 87 Fonte: Orano Consultarla, em baae da dado« oflofafa. 205 TABELA fi/ BRASIL : INDICES REAIB 13 DA R E C E I T A DO T E S O U R O FEDERAL-1988/84 (1980=100) RECEITA DD TOTAL 1980 1981 1982 1983 1984 TESOURO TRIBUTARIA 100 88 92 89 83 Fonte: 100 91 93 79 74 Banco Central, elaboracäo do G r u p o de C o n j u n t u r a do C E B R A P . */ D e f l a c i o n a d o pelo IGP. TABELA BRA8IL: 14 D E F I C I T P Ú B L I C O 0 P E R A C I 0 N A L FI/ (percentagem DEFICIT 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 Fonte. do PIB) PUBLICO/PIB 6 .0 7 . 3 4 .4 3 . 1 4 3 3. 7 5 .4 Banco Central, elaboracäo do G r u p o de C o n j u n t u r a do CEBRAP. */ C o r r e s p o n d e ao conceito de n e c e s s i d a d e s de f i n a n c i a m e n t o do setor público - conceito operac iona1 . 1981/87 206 TABELA 13 D E C E S S I D A D E 8 DE FINANCIAMENTO 0 0 6ET0R C0MPARAC0E8 I N T E R N A C I O N A L PÚBLICO'. (percentagem do PIB) PAISES 1983 1984 1985 Estados Unidos Japao Alemanha Franca Reino Unido Itália Canadá 4 .1 3 .5 2 .5 3 1 3. 7 12..4 6. 2 3 . 4 2 . .7 1.2 2 8 3. 8 13 .5 6 .3 3. 9 1 .7 1 .2 3 .3 3. 4 13 4 6 .5 Fonte: OECD, controle, o tipo ajustamento do desequilibrio do f i n a n c e i r a " . 3/ Economic Outlook, de a j u s t a m e n t o setor público, setor público, 1986. externo e a pròpria forma de acabaram por acentuar o aumentando sua "fragilidade 0 processo de a u m e n t o da f r a g i l i d a d e f i n a n c e i r a do setor p ú b l i c o v e r i f i c o u - s e a t r a v é s de d o i s c a m i n h o s p r i n c i p á i s , que se e n t r e - c r u z a v a m e se r e f o r c a v a m m u t u a m e n t e . De um lado, o a u m e n t o d o s j u r o s no m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l e do servito da divida - processos já analisados - geraram i n s t a b i l i d a d e c a m b i a l , e s t i m u l a n d o a e s p e c u l a ç a o . 0 setor p r i v a d o passou a evitar novos endividamentos externos. A r e c i c l a g e m dos e m p r é s t i m o s v e n c i d o s e o p a g a m e n t o do s e r v i t o da divida p a s s o u a d e p e n d e r e x c l u s i v a m e n t e da c a p a c i d a d e de e n d i v i d a m e n t o e x t e r n o do setor público. Todas as empresas estatais foram forcadas a c o n t r a i r e m p r é s t i m o s i n t e r n a c i o n a i s , a i n d a que a s c o r r e s p o n d e n t e s aplicacoes nao n e c e s s i t a s s e m de d i v i s a s (por e x e m p l o , operacoes externas b a n c á r i a s n ü o - o f i c i a i s para a c o n s t r u c a o de e s c o l a s ou de r o d o v i a s ) . A o m e s m o t e m p o , o setor p r i v a d o p r o c u r a v a garantir— -se contra as desval o r i z a c o e s , seja através de mecanismos 3/ Sobre e s t e c o n c e i t o , ver A. K A N D I R , (1988): "A rigor, nao há nenhum problema m a c r o e c o n o m i c o na e x i s t e n c i a de um déficit público, d e s d e que este s e j a financiável de m a n e i r a adequada. C.. D Um déficit é f i n a n c i á v e l de maneira adequada quando e x i s t i r e m f o n t e s de f i n a n e i a m e n t o em t e r m o s de d i s p o n i b i 1 i d a d e e c u s t o s que n a o i m p l i q u e m , no futuro, numa p e r s p e c t i v a de incapacidade de f i n a n e i a m e n t o ou em f i n a n e i a m e n t o a custos e l e v a d o s " . 0 p . cit., pp. 162 e 183. 207 oficiáis (Resolucäo no. 4 3 2 do B a n c o C e n t r a l do Brasil, por exemplo) ou de mec an i sinos i l e g a i s ( m e r c a d o s p a r a l e l o s ou negros de divisas). Como conseqüéncia, observamos o processo de "socializacao" da d i v i d a e x t e r n a já m e n c i o n a d o e ilustrado na T a b e l a 4. De outro lado, a política económica respondia a essas situacoes com a d e s v a l o r i z a c a o cambial e o a u m e n t o da taxa de j u r o s i n t e r n a , p a r a e v i t a r a fuga de c a p i t a i s e m a n t e r o f l u x o de financiamento do setor público. 0 aumento das taxas de juros i n t e r n a d e s e s t i m u l o u os i n v e s t i m e n t o s p r o d u t i v o s , f a z e n d o r e c a i r , a i n d a mais, no s e t o r p ú b l i c o , a r e s p o n s a b i 1 i d a d e p e l a d e m a n d a de c r é d i t o para i n v e s t i m e n t o , em geral de o r i g e n e x t e r n a . A s i t u a c a o f i n a n c e i r a do s e t o r p ú b l i c o d e t e r i o r o u - s e d a d a s as e l e v a d a s t a x a s de juros internas, em conseqiiéncia d e s s a s m e d i d a s c o n j u g a d a s de política económica. Passou a ser c r u c i a l o oferecimento de condicoes c a d a v e z m a i s f a v o r á v e i s ás a p l i c a c o e s f i n a n c e i r a s em títulos públicos, que p a s s a r a m a g o z a r de g r a n d e r e n t a b i 1 idade e liquidez, além da s e g u r a n c a m a n t i d a i n t a c t a , p e l o m e n o s até o present e. As Tabelas 16, 17 e 18 i l u s t r a m as conseqüéncias desse processo. A d i v i d a p ú b l i c a i n t e r n a em r e l a c a o ao P I B c r e s c e u de 1 4 . 8 % a 45.2%, e n t r e 1981 e 1986, e a e x t e r n a de 1 8 . 4 % a 6 2 . 7 % , no mesmo período. As d e s p e s a s f i n a n c e i r a s , que representavam 32.3% da receita das e m p r e s a s públicas em 1979, passaram a representar 59.1%, em 1 9 8 3 . Finalmente, os encargos financeiros s a l t a r a m de 9 a 15% do g a s t o do G o v e r n o F e d e r a l , em a p e n a s 3 a n o s (1983 a 1985) E s t e ú l t i m o f e n ó m e n o é p a r t i c u l a r m e n t e v i s í v e l no G r á f i c o 1, já a n a l i s a d o . TABELA BRASIL: DIVIDA 16 LIQUIDA DO SETOR PÚBLICO A O P I B - 1 9 8 0 / 8 6 §>/ EM RELACAO (percentagem ANO DIVIDA 1981 1982 1983 1984 1985 1986 Fonte: INTERNA/PIB 14 .8 18.9 35 . 8 39 . 4 40 . 4 4 5 . 2 b/ Banco Central, do C E B R A P . Notas. g/ s a l d o s em b/ j u n h o / 8 6 dezembro. elaboraçao DIVIDA do PIB) EXTERNA/PIB 18 . 4 23.8 64 . 2 60 . 6 59 .6 6 2 . 7 &/ do G r u p o de Conjuntura 208 TABELA 13 BRA8IL: PARTICIPACAO •PERACIONAL BRUTA D A 8 D E 8 P E 8 A 8 F 1 N A N C E X R A 8 NA R E C E I T A DAS SOCIEDADES ANONIMAS - 1979/83 (em EMPRESAS ESTATAIS 1979 1980 1981 1982 1983 EMPRESAS PRIVADAS ESTRANGEIRAS 32.3 25.2 35.4 43.7 59.1 Fonte-, FGV - C S Q i U Q t u n i percentagem) EMPRESAS PRIVADAS NACIONAIS 5.8 4.8 6.6 7.9 10.7 7.3 6.6 7.9 10.3 11.9 ÉQgngmita, TABELA abril, 1985. 18 BRASIL: E8TRUTURA DOS DISPENDIOS PUBLICOS DO G O V E R N O F E D E R A L - 1 9 8 3 / 8 S (em 1983 1984 1985 9 23 48 20 12 19 51 18 15 19 49 17 100 100 100 Encargos financeiros Pessoal e encargos Outras despesas correntes D e s p e s a s de c a p i t a l TOTAL Fonte: Joao percentagem) do Carino O l i v e i r a , op. cit., p. 9. A queda nos investimentos produtivos, especialmente por parte do setor privado, p r o v o c a d a por e s t e p r o c e s s o , pode ser observada na T a b e l a 19: o c o n s u m o a p a r e n t e de b e n s de capital r e d u z i u - s e em 47% em t e r m o s r e a i s , e n t r e 1980 e 1 9 8 3 e, em 1986, ainda s i t u a v a - s e 2 6 8 a b a i x o d o seu nivel no i n i c i o da d é c a d a . A r e s t r i c a o ao c r e s c i m e n t o e c o n ò m i c o que e s s a q u e d a n o i n v e s t i m e n t o retrata levou, obviamente, a reduzir a capacidade de 209 finaneiamento do setor inicialmente mencionado, p ú b l i c o pelo lado t r i b u t a r i o , na p r e s e n t e s e c a o . TABELA como foi 19 BRASIL: INDICES DE CONSUMO A P A R E N T E DE BEN8 DE CAPITAL - 1980/86 (Base ANO 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 Fonte: 1980=100) INDICE 100 79 70 52 54 61 74 .0 . 1 .3 8 .7 .0 .3 SERRA (198S). Atual i z a d o de dados pelo Grupo de Conjuntura do C E B R A P . Assim, a evolucao recente do setor público brasileiro é m a r c a d a por urna c r e s c e n t e d e b i l i d a d e f i n a n c e i r a , i n c a p a c i d a d e de geracio de recursos para investimentos a custos razoáveis, crescente parcela d o s r e c u r s o s c o m p r o m e t i d o s com a rolagem da divida interna e i n c a p a c i d a d e de u t i l i z a d o de i n s t r u m e n t o s de politica m o n e t a r i a para r e s t r i n g i r a l i q u i d e z do sistema, dado que os títulos p ú b l i c o s devem g o z a r de plena liquidez para continuar atraindo as a p l i c a c o e s f i n a n c e i r a s . 0 desdobramento dessa s i t u a d o aponta, inexoravelmente, para o colapso financeiro do setor público, num p r a z o r e l a t i v a m e n t e c u r t o - tanto menor q u a n t o m a i o r e s forem as t a x a s de i n f l a d o e, portante, de j u r o s n o m i n á i s . E s s a t e n d e n c i a , por c e r t o , é i n c o r p o r a d a c l a r a m e n t e ñas expectativas dos agentes económicos. VI, A S C 0 N 8 E Q U E N C I A S DO A J U 8 T A M E N T 0 E X T E R N O E DO DESEQUILIBRIO DO SETOR PUBLICO SOBRE A INFLACAO Todas a s t e o r í a s s o b r e a i n f l a c à o a d m i t e m um c e r t o impacto i n f l a c i o n a r i o (ao m e n o s i n i c i a l ) das p o l í t i c a s de a j u s t a m e n t o . A elevacao das taxas de c a m b i o , por exemplo, tendem a gerar aumentos de custos que terao tanto maior impacto geral na economia quanto mais generalizado for o caso de insumos importados na e s t r u t u r a i n d u s t r i a l . No t i p o de e c o n o m i a de que estamos tratando, em g e r a l , a e s t r u t u r a das i m p o r t a c o e s é típica de economias que avancaram bastante no processo de industrializacao iniciado pela via da substituicao de importacoes, ñas quais a m a i o r parte d o s p r o d u t o s t r a z i d o s do exterior é c o n s t i t u i d a de i n s u m o s i n d u s t r i á i s e s t r a t é g i c o s para seu crescimento. Nestas circunstancias, nao é desprezível o e f e i t o i n f l a c i o n a r i o d o s c h o q u e s e x t e r n o s via e l e v a c a o de precos no m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l ou desval o r i z a c o e s c a m b i a i s . Caso s i m i l a r p o d e m o s i d e n t i f i c a r no e f e i t o das e l e v a c o e s das taxas de j u r o s , que, como vimos, sao urna d a s m a i s i m p o r t a n t e s c o n s e q ü é n c i a s do t i p o de a j u s t a m e n t o e x t e r n o e i n t e r n o 'praticado nestas economias. 0 a u m e n t o d o s juros p r o v o c a a u m e n t o de custos financeiros, que t e n d e a ser r e p a s s a d o para os p r e c o s . A s i m p l e s manutencao de j u r o s e l e v a d o s p o d e , também, causar aumento nos custos financeiros, pois, ao m e n o s nos p e r í o d o s iniciáis da desaceleracao e c o n o m i c a p r o v o c a d a pelo a j u s t a m e n t o , o grau de end i v i d a m e n t o das empresas tende a aumentar. Nestes casos, aumenta a incidencia dos custos financeiros, a i n d a que o s j u r o s nao variem, s e n d o , e s s e a u m e n t o , tanto m a i o r quanto mais e l e v a d a for a taxa de j u r o s . 4/ Aquí termina a c o n c o r d a n c i a entre os e c o n o m i s t a s sobre o impacto i n f l a c i o n a r i o do a j u s t a m e n t o . Os e c o n o m i s t a s ortodoxos argumentam que a partir desse impacto inicial, a tendencia natural da e c o n o m i a s e r i a a r e d u e l o ñ a s t a x a s de inflacio. Em •geral, está por t r á s d e s s a s a n á l i s e s , o marco teórico definido pela "curva de P h i l l i p s " - em que é i d e n t i f i c a d o o trid«-off entre emprego e salários, de um lado, e e s t a b i l i d a d e de precos, 4/ E s t e d e t a l h e , ás v e z e s , 0 e s c a p a aos econ o m i s t a s o r t o d o x o s . ex-Ministro Mário Henríque Simonsen, q u a n d o ainda cer ta vez, no M i n i s t é r i o da F a z e n d a , d e c l a r o u que ap e n a s j u r o s c r e s c e n t e s e nao j u r o s elevad os p o d e r i a m causar infl a c a o . 211 de outro. Assim, para certa situacao econòmica, com dada quantidade de recursos e in f r a - e s t r u t u r a disponiveis para a producalo, quanto maior o produto e o emprego, m a i o r e s serio os salarios (basicamente p o r um e f e i t o de d e m a n d a no mercado de traballo) e maior também será a inflacao. Ao contràrio, urna reducao no e m p r e g o p r o v o c a r á q u e d a de s a l á r i o s , o que t e n d e r á a p r o v o c a r m a i o r e s t a b i l i d a d e de p r e c o s . 0 modelo explica, também, que se n a o há r e s i s t e n c i a s ( s i n d i c á i s ou d e p o l í t i c a e c o n ò m i c a ) á queda dos salários reais, a e c o n o m i a t e n d e r í a ao e q u i l i b r i o de precos, p o i s a i n f l a c a o p r o v o c a d a p o r urna e l e v a c a o do e m p r e g o e dos salários tendería a r e d u z i r o s a l à r i o real e o nivel de demanda agregada na economia, produzindo o efeito recessivo n e c e s s à r i o ao e q u i l i b r i o . 0 p o d e r e x p l i c a t i v o d e s s e m o d e l o r e s i d e na s u p o s i c a o de urna estrutura de c o n c o r r é n c i a p e r f e i t a p e l o l a d o da o f e r t a ou, pelo menos, n u m a g r a n d e f 1 e x i b i 1 i d a d e de p r e c o s , t a n t o no s e n t i d o de s u a e l e v a c a o q u a n t o de r e d u c a o . É incompatível, porém, com urna estrutura p r o d u t i v a em que se a d m i t a a e x i s t e n c i a de estruturas oligopólicas, precos administrados e p o l í t i c a s de precos das empresas. Estas outras interpretacoes ressaltam o poder das empresas na fixacao dos precos, e s p e c i a l m e n t e na i n d u s t r i a , mediante o estabelecimento de margem de lucro (mark-up> sobre custos correntes variáveis. Neste caso, a i n f l e x i b i l i d a d e dos precos para baixo impediría o funcionamento da chamada "curva de Phillips". As p r e s s o e s de c u s t o s e r i a m t r a d u z i d a s em a u m e n t o s de precos e o mecanismo das expectativas tenderia a propagar o e f e i t o i n f 1 a c i o n á r i o ao l o n g o do t e m p o . 5 / Esta vertente teórica gerou duas interpretacoes sobre as características do p r o c e s s o i n f l a c i o n á r i o que, algumas vezes, p o d e m ser até m e s m o a s s o c i a d a s . A primeira délas, m u i t o em v o g a nos anos 70, é a teoria da inflacao baseada no conflito distributivo. A capacidade de defesa dos salários dos trabalhadores f r e n t e á a c e l e r a c a o da i n f l a c a o g e r a r i a um certo movimento de aumento de custos que seria compensado pelo estabelecimento dos marN-up que propagariam o efeito inf1acionário. A segunda é a teoria da inflacao inercial, mediante a qual, urna v e z i n i c i a d o o p r o c e s s o i n f 1 a c i o n á r i o , se produziria urna tendencia á sua reproducao pelo efeito das expectativas. A existencia de m e c a n i s m o s de indexacao apenas reforcaria e consolidaría a tendencia inercial. Muitas interpretacoes baseiam-se, porém, em um suposto c r u c i a l : a e s t a b i l i d a d e d o s m a r k - u p , i n d e p e n d e n t e m e n t e da t a x a de inflacao ou do momento do ciclo económico. Algumas novas abordagens t e ó r i c a s a b a n d o n a m a i d é i a d o raark-up f i x o e mostram que ñ a s s i t u a c o e s d e a j u s t a m e n t o c o m o a s d e s c r i t a s , este tende a elevar-se, transformando-se, portanto, em um mecanismo de 5/ Sobre o papel das e x p e c t a t i v a s ñas d i v e r s a s t e o r i a s sobre a i n f l a c a o , i n c l u s i v e as de c a r á t e r o r t o d o x o , v e r K A N D I R ( 1 9 8 8 ) . 212 a c e l e r a d o inflacionaria, dos precos. e nao apenas de t r a n s m i s s á o da elevado De um lado, a e l e v a d o d o s juros e as a m p i a s possibi 1 idades de r e a l i z a d o de lucros no m e r c a d o financeiro b a s e a d o nos títulos públicos de alta liquidez significato, concretamente, um parámetro, urna e s p e c i e de "preco-farol", para a taxa de lucro desejada. Obviamente, os c a p i t a l i s t a s nao tem c o n t r o l e direto sobre a r e a l i z a d o da t a x § de lucro, mas sim sobre as m a r g e n s de lucro que sao um dos s e u s i n s t r u m e n t o s para a l c a n c a r os níveis desejados de r e m u n e r a d o sobre o capital. Assim, pode-se, em principio, esperar que a e l e v a d o dos juros induza a um aumento n o s mark-up d e s e j a d o s . 6/ 0 comportamento dos mark-up durante a j u s t a m e n t o foi a n a l i s a d o por K a n d i r <1989): o processo de "0 a u m e n t o das taxas de jur os, as i n c e r t e z a s sobre o cambio e, ainda, o impacto d e s s a s medid as sobre a f r a g i l i d a d e financeira do setor público fazem com que os e m p r e s á r i o s passem a operar seus mark-up desejados de urna maneira distinta daquela c a r a c t e r í s t i c a dos p e r í o d o s de b aixa inst ab i 1idade C...3, o que tende a levar a economia a sofrer sucessivos "choques" i n f l a c i o n á r i o s C...1". (p.160) Segundo o autor, a f r a g i l i d a d e financeira do setor público afeta a fixacáo dos m a r k - u p d o s varios setores da economía, a t r a v é s dos s e g u i n t e s m e c a n i s m o s : a) A situado de déficit com dificuldade de finaneiamento leva á e x p e c t a t i v a de juros em e l e v a d o , dado o baixo poder de b a r g a n h a do g o v e r n o em r e l a d o a seus credores; b) A necessidade de c o r t a r subsidios e elevar impostos e t a r i f a s p ú b l i c a s afeta o s precos e as p o l í t i c a s de precos de todas as e m p r e s a s que trabalham em algum ponto da malha de relacoes por onde passam os "bens públicos fiscais". 7/ Este p r o c e s s o alimenta a especulado com esses produtos, induzindo ao aumento dos mark-up d e s e j a d o s das e m p r e s a s que os utilizam, para c o m p e n s a r o a u m e n t o de seu c u s t o de uso. A isto se soma o a u m e n t o do custo de uso dos p r o d u t o s que, direta ou i n d i r e t a m e n t e , tém a ver com o comércio exterior. A necessidade de a u m e n t a r os s a l d o s c o m e r c i á i s eleva a cotacao dos p r e c o s futuros de a l g u n s p r o d u t o s , o que, por sua vez, leva a um aumento nos seus c u s t o s de uso e, portanto, nos precos dos p r o d u t o s que os utilizam c o m o insumo. 6/ Esta idéia está e s b o c a d a em C 0 U T I N H 0 e SOUZA (1981). 7/ 0 autor os d e f i n e como p r o d u t o s que tém urna elevada carga de impostos ou s u b s i d i o s , ou que sejam p r o d u z i d o s por empresas ligadas ao setor p ú b l i c o . 213 Em resumo, o ajustamento, em si, e o aprofundamento da fragilidade f i n a n c e i r a do s e t o r p ú b l i c o d e s e m p e n h a m um papel de poteneializar as incertezas, s o b r e t u d o a t r a v é s do aumento do c u s t o de uso de a l g u n s p r o d u t o s , em e s p e c i a l dos b e n s c a m b i a i s e dos b e n s p ú b l i c o s f i s c a i s . Isto p a s s a a ter um papel importante na d e t e r m i n a c a o dos m a r k - u p d e s e j a d o s , e s p e c i a l m e n t e nos s e t o r e s que u t i l i z a m i n t e n s a m e n t e t a i s p r o d u t o s . Por essa razio, o autor trabalha com um m o d e l o de d e t e r m i n a c i o da i n f l a c a o em que as expressoes para o s raark-up d e s e j a d o s e precos distingue tres tipos de insumo: b e n s púb1 i c o - f i s c a i s , bens cambiais e outros bens . "Em conseqiiéncia, em urna s i t u a c i o de a j u s t a m e n t o , os n a r k - u p desejados tendem a alterar-se diferenciadamente, conforme os distintos pesos que os b e n s c a m b i a i s e os b e n s púb1 i c o - f i s c a i s tém em cada setor. Em outras palavras, urna economia em ajustamento significa urna e c o n o m i a sob p r e s s a o de mudanca de precos relativos entre s e t o r e s com d i f e r e n t e s composicoes de i n s u m o s em t e r m o s d a q u e l e s t i p o s de b e n s . Tal p r e s s a o de m u d a n c a de p r e c o s r e l a t i v o s , n u m a e c o n o m i a onde p r e v a l e c e o m e c a n i s m o de p r o p a g a c a o b a s e a d o na t r a n s f e r e n c i a c o m p l e t a da i n f l a c a o passada para o presente, r e s u l t a em a c e l e r a c i o da inflacao que nao se e s g o t a e n q u a n t o o a j u s t a m e n t o for c o n s i d e r a d o i n c o n c l u s o " . §/ Observa-se, portanto, que o desequilibrio externo e o tratamento u t i l i z a d o para a j u s t á - l o t i v e r a m c o m o conseqíienc ia o agravamento do d e s e q u i l i b r i o do s e t o r p ú b l i c o . Ambos, junto á política adotada em r e l a c a o ao s e g u n d o , acabaram agravando o d e s e q u i l i b r i o no s i s t e m a de precos, a c e l e r a n d o e x p o n e n c i a l m e n t e a i n f l a c a o . Por o u t r o lado, já m o s t r a m o s as c o n s e q ü é n c i a s n e g a t i v a s sobre o emprego e os s a l a r i o s do ajustamento externo e do ajustamento do setor público. A secao seguinte tem dois propósitos: analisar os efeitos negativos da aceleracao inflacionaria e mostrar como o tratamento isolado do d e s e q u i l i b r i o do s i s t e m a de p r e c o s pode a g r a v a r também os outros dois desequilibrios. 8/ Cf. KANDIR (1988), p.169. VIS. INFLACAO, EMPREQO E 8ALARI0S Ñas secoes anteriores, pudemos observar a queda s i g n i f i c a t i v a no nivel dos s a l a r i o s e do e m p r e g o , p r o v o c a d a pelo ajustamento praticado ñas economías latino-americanas, na p r i m e i r a m e t a d e da d é c a d a de 80. 0 ajustamento significou, para algumas economías, como a b r a s i l e i r a , urna e s p é c i e de m u d a n c a no p a d r a o de c r e s c i m e n t o . 0 d i n a m i s m o p a s s o u a d e p e n d e r da e v o l u c a o do setor exportador. Na medida, porém, em que logrou-se estabelecer um n o v o p a d r a o de c r e s c i m e n t o , com um n o v o t i p o de relacoes interindustriáis nessas economías, o dinamismo externo passou a t r a n s m i t i r - s e aos s e t o r e s p r o d u t o r e s para o mercado interno. Esta conexao deu-se via demanda gerada pelo crescimento do e m p r e g o e dos s a l a r i o s o b s e r v a d o s a p a r t i r de 1985, a i n d a que a ritmos s e n s i v e 1mente m e n o r e s do que os padroes históricos d e s s a s e c o n o m i a s no p ó s - g u e r r a . Neste contexto, a aceleracao inflacionaria observada como c o n s e q U e n c i a do a j u s t a m e n t o , e s p e c i a l m e n t e a p a r t i r de 1984, como se analisou na s e c a o a n t e r i o r , contribuiu decisivamente para frear o r i t m o de c r e s c i m e n t o d o s s a l a r i o s e, em a l g u n s m o m e n t o s , para urna significativa queda real. A brutal aceleracao da inflacao e as m e d i d a s e r r á t i c a s que, em geral , foram sendo a d o t a d a s p a r a seu c o m b a t e , contribuíram significativamente para d e p r i m i r o nivel de i n v e s t i m e n t o s p r o d u t i v o s , atuando, portanto, em c o n j u n t o com o a u m e n t o na taxa de juros. Dado que os anos mais recentes - 1985/88 - foram relativamente favoráveis, do p o n t o de v i s t a do crescimento do mercado internacional para o s p r o d u t o s que o Brasil exporta (manufaturados, c o m m o d i t i e s e a l g u n s p r o d u t o s a g r í c o l a s ) , o novo estilo de c r e s c i m e n t o teve e f e i t o s b e n é f i c o s , a i n d a que tenues, s o b r e o d e s e m p e n h o do e m p r e g o e d o s s a l a r i o s . Estes pontos podem ser analisados no Gráfico 2. Se analisarmos o d e s e m p e n h o da i n d u s t r i a de t r a n s f o r m a c á o ao longo do p e r í o d o 1 9 8 5 / 8 8 , nao c o n s i d e r a n d o , no m o m e n t o , o p e r í o d o de marco a o u t u b r o de 1988 (Plano C r u z a d o ) , vemos exatamente uma t r a j e t ó r i a geral de um lento c r e s c i m e n t o , onde podemos observar que a aceleracao inflacionaria, em geral, tende a deprimir o crescimento da p r o d u c a o . Os s a l á r i o s m é d i o s i n d u s t r i á i s tém um comportamento similar, sendo, porém, mais diretamente afetadas p e l a a c e l e r a c a o da i n f l a c a o . 0 e m p r e g o i n d u s t r i a l , p o r é m , mostra uma notável e s t a b i l i d a d e no p e r í o d o . E n t r e j a n e i r o de 1985 e Gráfico 2 BRASILi TfcXAS MENSAIS DE INFLACAO E ÍNDICES DE PRODUQÁQ , EMPREOOS E SALARIOS NA INDUSTRIA , JAN 1»S6 a JUN 1866. INBIQM 9 0 TAXAB MENSAIS DE INFLAQÁO JFMAMJ JFMAMJ J A 8 0 N D J F M A M J J A 8 0 N D J F M A M J 1966 063: 1986 1967 (1) F o n t a : I B Q E . ¡ ( 3 ) I n d i o * Q e r a l d a P r e g o * - D l a p o n l b l l l d a d a I n t e r n a (@) F o n t a l F I E 8 P . ( 4 ) Fontal P I I S P - Datlator I 0 V - F I P G - 8 Í 0 Paulo. 1066 -FGV. 216 outubro de 1986, o crescimento é apreciável (influenciado, t a m b é m , p e l o Plano C r u z a d o ) , p a r a c a i r l e v e m e n t e d e p o i s e m a n t e r - s e estável ao longo d o s ú l t i m o s 1H m e s e s . É e x t r e m a m e n t e d i d á t i c o e x a m i n a r os e f e i t o s do P l a n o C r u z a d o como um paréntesis n e s t a e v o l u c a o geral de 1985 a 1988, com c a r a c t e r í s t i c a s t o t a l m e n t e d i s t i n t a s das que i d e n t i f i c a m o s para o p e r í o d o c o m o um t o d o . Praticou-se, naquele período, um tipo de p o l í t i c a a n t i i n f 1 a c i o n á r i a de c o r t e h e t e r o d o x o , com um c h o q u e e congelamento de p r e c o s e a d o c a o de urna p o l í t i c a de rendas, em especial em relacao aos salarios. Tratou-se, num primeiro momento, de um c o n j u n t o de m e d i d a s d e s t i n a d a s a dar conta da inflacao e que deveria ter s i d o seguido de políticas para r e d e f i n i r o d e s e q u i l i b r i o do s e t o r p ú b l i c o e do s e t o r e x t e r n o . A ausencia ou t a r d a n c a na a d o c a o dessas medidas complementares acabou deixando isolada a política apenas antiinf1acionária, levando a seu fracasso e ao agravamento dos outros dois desequilibrios. A queda abrupta da i n f l a c a o em m a r c o de 1986 pode ser v i s u a l i z a d a no m e s m o G r á f i c o 2. 0 e f e i t o das p o l í t i c a s de renda aplicadas aos s a l á r i o s o b s e r v a - s e no s i g n i f i c a t i v o aumento do salário medio industrial entre fevereiro e marco de 1986. A manutencao da i n f l a c a o a n í v e i s e x t r e m a m e n t e b a i x o s p e r m i t i u que os salários permanecessem nesse elevado nivel, até pelo menos novembro de 1986. A g r a n d e e x p a n s a o do m e r c a d o i n t e r n o induziu t a n t o ao e s p e t a c u l a r c r e s c i m e n t o da p r o d u c a o , quanto á dramática reducao do saldo c o m e r c i a l que se o b s e r v a no Gráfico 3. Esta reduelo deveu-se especialmente á queda ñas exporta;oes no p e r í o d o , c o n s e q ü e n c i a do d i r e c i o n a m e n t o p a r a o m e r c a d o i n t e r n o de parte da producao antes exportada, especialmente de produtos básicos e insumos industriáis. 0 f r a c a s s o do p l a n o comecou a r e v e l a r - s e na e s c a s s e z de p r o d u t o s i n d u s t r i á i s - e s p e c i a l m e n t e os de c o n s u m o i n t e r m e d i a r i o - na e l e v a c a o d a s t a x a s de juros, como veremos a seguir, e no á g i o e f o r m a c a o de e s t o q u e s e s p e c u l a t i v o s e s u r g i m e n t o do m e r c a d o n e g r o p a r a v á r i o s p r o d u t o s . A contencao a r t i f i c i a l do c o n g e l a m e n t o até n o v e m b r o , n e s t a s c o n d i c o e s , apenas poteneializou a explosao dos precos que se verificou especialmente em janeiro de 1987. Antes de examinarmos as conseqüénclas da retomada da i n f l a c a o s o b r e os salários e o emprego, é o p o r t u n o m e n c i o n a r as c o n s e q ü é n c i a s do P l a n o Cruzado sobre o d e s e q u i l i b r i o do s e t o r p ú b l i c o e s o b r e o desequilibrio ext erno. 0 c o n g e l a m e n t o de p r e c o s v e r i f i c o u - s e em um m o m e n t o em que a maioria dos precos e tarifas dos bens púb1 ico-fi s e á i s estava desalinhada em relacao ao conjunto de precos da economia. Esperava-se que este fator n a o t i v e s s e urna importancia muito grande sobre as financas das empresas públicas, pois este componente negativo seria compensado pela desvalorizacio da d i v i d a d e s s a s e m p r e s a s p e l a u t i l i z a c a o da t a b e l a de c o n v e r s a o dos d é b i t o s em c r u z a d o s . Na v e r d a d e , e s t e ú l t i m o e f e i t o nao foi tao grande quanto o esperado e a situacao financeira das grandes e m p r e s a s e s t a t a i s p e r m a n e c e u e x t r e m a m e n t e v u l n e r á v e l . Em r e l a c a o ao déficit p ú b l i c o p r o p r i a m e n t e d i t o , o g o v e r n o d e s f r u t o u de urna Gràfico 3 H I I H M «• DtUrea 3.6 8.4 3.3 3.2 3.1 3 2.9 BRASIL: EXPORTAQOES E IMPORTAQOES JAN 1986 - AGO 1988 EXPORTAQOES 2.8 2.7 2.8 2.6 2.4 2.3 2.2 2 . 1 2 1.9 1.8 1.7 1.8 1.6 1.4 1.3 1.2 IMPORTAQOES 1.1 1 0.9 0.8 l l l l l l I I I I 1 I » i l l l I I J FMAMJJA80NDJFMAMJJASONDJFMAMJJA80NDJFMAMJJA 1686 1980 1987 1988 218 s i t u a d o e x t r e m a m e n t e f a v o r á v e l e n t r e m a r c o - j u l h o / a g o s t o de 1986, p o i s a s e n s í v e l e l e v a d o do g r a u de m o n e t i z a c a o da e c o n o m i a que o P l a n o i n d u z i a pela r e d u c a o da v e l o c i d a d e de c i r c u l a d o da moeda, s i g n i f i c a v a a p o s s i b i 1idade de un f i n a n e i a m e n t o fácil e b a r a t o : a emissao monetária. A rolagem dos títulos públicos neste contexto verificou-se sem maiores percalcos e a taxas extremamente convenientes. A situado comecou a alterar-se radicalmente a p a r t i r de s e t e m b r o d a q u e l e ano, quando e s g o t o u - s e a p o s s i b i 1idade de finaneiamento, via elevacao do grau de monetizacao da economia. A única a l t e r n a t i v a foi a r e t o m a d a do processo de r o l a g e m dos t í t u l o s p ú b l i c o s , s e g u n d o t a x a s c r e s c e n t e s de juros, para tentar evitar a e s p e c u l a d o com e s t o q u e s ou com moeda e s t r a n g e i r a e ouro, g a r a n t i n d o um fluxo a d e q u a d o de r e c u r s o s para rolar a divida pública. De o u t r o lado, no que d i z r e s p e i t o ás c o n t a s externas, a economia passou a nao d i s p o r m a i s de saldos comerciáis que permitissem a m a n u t e n c a o do s i s t e m a de r o l a g e m da d i v i d a e que s u p u n h a urna t r a n s f e r e n c i a de r e c u r s o s para o e x t e r i o r , da ordem de 4 a 5% do PIB. Entretanto, até f e v e r e i r o de 1987, m a n t e v e - s e inalterado, em sua e s s é n c i a , o s i s t e m a p a c t u a d o de t r a t a m e n t o da divida externa. A c o n s e q ü é n c i a foi a p e r d a de r e s e r v a s até um nivel c r í t i c o inferior a 4 m i l h o e s de d ó l a r e s . A a l t e r n a t i v a foi a m o r a t o r i a d e c l a r a d a n a q u e l e mes, sem que, entretanto, o país tivesse proposto um esquema alternativo de enfrentamento da questao Já era t a r d e d e m a i s . A c o o r d e n a d o da p o l í t i c a e c o n ó m i c a já nao t i n h a a mesma e f i c á c i a , c o e r é n c i a e p o d e r que e x i b i a no i n i c i o do P l a n o C r u z a d o , para p r o p o r a l g o a c a b a d o e e f e t i v o nesta delicada matéria. Tivesse a moratoria sido declarada ainda no primeiro semestre de 1986, j u n t o com um p l a n o alternativo de enfrentamento do desequilibrio externo, certamente o Plano C r u z a d o t e r i a tido m a i s c h a n c e s de é x i t o . A ausencia de acoes concertadas com a política a n t i i n f 1 a c i o n á r i a p r o p r i a m e n t e dita na área do s e t o r p ú b l i c o e da d i v i d a e x t e r n a levou, portanto, nao só ao f r a c a s s o da política antiinf1acionária, c o m o , t a m b é m , ao a g r a v a m e n t o dos p r o b l e m a s em c a d a um d o s d e m a i s d e s e q u i l i b r i o s . ?/ O b s e r v a m o s , p o r t a n t o , que apesar de termos urna e s t r a t é g i a de combate á inflado que procurou, explícitamente, p r e s e r v a r os s a l á r i o s e o e m p r e g o , os r e s u l t a d o s f i n á i s nao d i f e r i r a m de o u t r a s e s t r a t é g i a s , j u s t a m e n t e pela ausencia de medidas complementares ñas demais áreas da p o l í t i c a e c o n ó m i c a . 10/ F r a c a s s a d o o P l a n o , a i n f l a d o r e t o m o u sua forca, com grande ímpeto, deprimindo os salários e ameacando colocar o país em severa recessao. De fato, a s i t u a d o da e c o n o m i a b r a s i l e i r a era extremamente crítica em m e a d o s de 1987, como se observa nos 9/ A a u s i n c i a de m e d i d a s de m é d i o e longo p r a z o s , v i n c u l a d a s ao finaneiamento do d e s e n v o l v i m e n t o foi advertida em artigo p u b l i c a d o em j u l h o de 1986. Ver S O U Z A (1986). 18/ Este é um ponto e x t r e m a m e n t e i m p o r t a n t e no m o m e n t o em que se d i s c u t e e se p r o c u r a i m p l e m e n t a r um " p a c t o s o c i a l " r e s t r i t o á q u e s t a o dos p r e c o s e s a l á r i o s . 219 indicadores do Gráfico 2, já referido. A perspectiva da hiperinf1acao levou á a d o c a o de m e d i d a s de c o r t e s e m i - o r t o d o x o s , com urna tentativa de o r d e n a m e n t o d o s reajustes de precos e salários. Conseguiu-se urna tregua momentánea na explosao inf1acionária, com t a x a s de a p e n a s um d í g i t o , durante 3 meses. Isto foi s u f i c i e n t e , porém, para frear a queda dos s a l á r i o s e até proporcionar um c e r t o c r e s c i m e n t o ( l e n t o ) em r e l a c a o ao ponto mais baixo de junho de 1987. 0 emprego estafai 1 i z o u - s e . A producao, entretanto, só v o l t o u a c r e s c e r a p a r t i r do final do ano, em funcao, especialmente do vertiginoso aumento das exportacoes, como se o b s e r v a no G r á f i c o 3, já mencionado. A m e d i d a em que esse p r o c e s s o a v a n c o u no tempo, observamos, mais urna vez, a c o n j u g a c a o de um c e r t o ' í p o r é m l e n t o ) c r e s c i m e n t o no e m p r e g o e nos s a l á r i o s , tal como foi o b s e r v a d o em 1985. C o m o foi a n a l i s a d o em a r t i g o r e c e n t e (ver Souza, 1988 A): "0 emprego na e c o n o m i a b r a s i l e i r a vem c r e s c e n d o a taxas relativamente modestas, mas positivas, ao longo dos últimos meses. A m a i o r i a d o s i n d i c a d o r e s a p o n t a a e x p a n s a o do e m p r e g o a t a x a s p r ó x i m a s a VA, o que é i n f e r i o r ao c r e s c i m e n t o da forca de trabalho, embora nao t e n h a s i g n i f i c a d o e l e v a c a o nos í n d i c e s de desemprego. Tanto os indicadores do IBGE, quanto os do SEADE/DIEESE/UNICAMP a p o n t a m r e l a t i v a e s t a b i l i d a d e no d e s e m p r e g o no primeiro s e m e s t r e e l i g e i r a queda nos meses recentes. Na q u e s t a o dos s a l á r i o s , o m a i s s u r p r e e n d e n t e é a m a n u t e n c a o e mesmo ligeiro crescimento do p o d e r de c o m p r a em m e i o a urna situacao inf1acionária que c o m b i n a t a x a s e l e v a d í s s i m a s ( s u p e r i o r e s a 2®Jí ao mes), com urna i n s t a b i 1idade que p r e n u n c i a , a cada momento, a explosao da h i p e r i n f 1 a c a o . Em t e r m o s f a c t u a i s , e x p l i c a - s e esse comportamento pelo fato de t e r m o s r e a j u s t e s m e n s a i s automáticos pela URP, m a i s p r ó x i m o s d a s t a x a s da i n f l a c a o nos ú l t i m o s m e s e s e por "bons acordos" celebrados ñas categorías numerosas que tiveram d i s s í d i o nos ú l t i m o s m e s e s do p r i m e i r o s e m e s t r e . Por trás de tudo, está, porém, a situacao favorável do mercado de t r a b a l h o , com c r e s c e n t e d e m a n d a de m a o - d e - o b r a . Em termos macroeconómicos, esse p e c u l i a r comportamento é e x p l i c a d o pela c o m b i n a c a o de urna s e r i e de e l e m e n t o s . Em p r i m e i r o lugar está o e l e v a d o c r e s c i m e n t o das e x p o r t a c o e s d e s d e o s e g u n d o semestre do ano p a s s a d o e, em e s p e c i a l , no c o r r e r do presente ano. E inegável que as e x p o r t a c o e s s u s t e n t a r a m o c r e s c i m e n t o do emprego e i m p e d i r a m a queda s a l a r i a l . Por o u t r o lado, tivemos duas s a f r a s a g r í c o l a s r e a l m e n t e excepc lonais, que o c o r r e r a m em meio a urna s i t u a c a o geral do m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l extremamente favorável. Nos dois últimos meses, entretanto, já podem ser i d e n t i f i c a d o s c l a r a m e n t e s i n a i s de r e c u p e r a c a o em a l g u n s itens do m e r c a d o interno, e s p e c i a l m e n t e em a l i m e n t o s , v e í c u l o s e b e b i d a s . Trata-se, c l a r a m e n t e , de um e f e i t o i n d u z i d o e d e r i v a d o , t a n t o do setor e x p o r t a d o r , q u a n t o do setor a g r í c o l a , o que s i g n i f i c a que a economia passa a ter urna c e r t a d i n á m i c a de r e a l í m e n t a c a o . " Deve-se recordar que isto foi a l c a n c a d o em meio a um p r o c e s s o de a c e l e r a c a o i n f l a c i o n a r i a sem p r e c e d e n t e s na h i s t o r i a , o que, certamente, deve ter inibido fortemente um maior crescimento dos salários. Esta aceleracao está associada á 220 crescente vulnerabi1idade do s e t o r p ú b l i c o face á r e t o m a d a dos padroes t r a d i c i o n a i s de n e g o c i a d o da d i v i d a e x t e r n a . Na atual conjuntura, os efeitos d e l e t é r i o s do p a g a m e n t o do servito da divida sobre as contas públicas e sobre a administrado da politica monetaria foram acrescidos dos efeitos nocivos dos esquemas de "conversao informal" da divida externa em investimentos. Este processo que, na pràtica, significa a antecipacáo do pagamento do principal da divida acaba introduzindo um forte movimento especulativo com moeda estrangeira, além de comprometer seriamente a execucao da politica monetaria, f o r c a n d o o l a n c a m e n t o de t í t u l o s cada vez m a i s a t r a e n t e s aos i n v e s t i d o r e s . Um o u t r o a s p e c t o i m p o r t a n t e á a c o n s i d e r a d o d o s e f e i t o s do a j u s t a m e n t o s o b r e a d i s t r i b u i d o de s a l a r i o s . Os d a d o s do G r á f i c o 4 s a o c o m p a t i v e i s com o u t r o s já a n a l i s a d o s , r e f e r i n d o - s e , porém, ao conjunto dos a s s a l a r i a d o s da Grande Sao Paulo. A massa salarial t e v e seu p o n t o m á x i m o em o u t u b r o de 1986, impulsionada p e l a e x p a n s a o do e m p r e g o . De fato, os s a l á r i o s por faixa de renda nao c r e s c e r a m na m e s m a p r o p o r c a o d u r a n t e a q u e l e s m e s e s de 1986 (ver G r á f i c o 5). Isto s u g e r e que o a u m e n t o do e m p r e g o d e u - s e em t o d a s as f a i x a s de renda, ocorrendo, provavelmente, um rápido processo de ascendo do c o n j u n t o d o s t r a b a l h a d o r e s dentro da escala salarial. Os m e s m o s G r á f i c o s 4 e 5 c o n f i r m a m que a c r i s e i n i c i a d a em o u t u b r o de 1986 nao se t r a d u z i u em queda no e m p r e g o , m a s sim numa deteriorado geral d o s s a l á r i o s dos v á r i o s g r u p o s de renda em proporcoes similares, na faixa d o s 30 a 35%, até j u n h o de 1988 (ver S o u z a , 1 9 8 8 B>. A p o l i t i c a de s a l á r i o - m i n i m o s e g u i d a n e s s e p e r í o d o p r o c u r o u tirar r e a j u s t e s m a i o r e s que o s g a r a n t i d o s aos demais salários, sem, c o n t u d o , l o g r a r e l e v a r seu v a l o r real, face á a c e l e r a d o da inflado. 0 G r á f i c o 5 m o s t r a urna c e r t a e s t a b i l i d a d e no salário-mínimo ao l o n g o d o s ú l t i m o s 15 m e s e s , o que permitiu manter estável o valor dos salários baixos no mesmo período. A diferenciado na p o l í t i c a de r e a j u s t e do salário-minimo parece ser, pois, um importante fator p a r a i m p e d i r urna deteriorado a i n d a m a i o r no p o d e r de c o m p r a d o s s a l á r i o s b a i x o s , o que seria i m a g i n á v e l o c o r r e r , no atual p e r í o d o de quase h i p e r i n f 1 a c a o . Gràfico 4 S i n d « B i o Pauloi Indio«« Trlin««trala do Emprago do Randlmanto Mèdio Raal • da M I M I Salariai R«al do« Aaaalarladoa (1) - 1086 a 1988 I I I I M I I B U t i a a W H M / l M - 1 4 - 1«a) N u n « a l a r l t i Raa! •alérla I U I « «aal ro ro Trlmaatroa JASOND Fonta:8EADE/DIEE8E/UNIOAMP.Paa(|Ulaa da Emprago a Daaamprago. (1) Inflator utlllzado - 10V do D I E E S E . Nota: Inolul oa Aaaalarladoa qua nao tlvaram ramunaraeSo no maa. 222 VIII. C0NCLU8ÜE8 Ao longo do p r e s e n t e t r a b a l h o , procuramos desenvolver um m o d e l o para a n a l i s a r a p o l í t i c a e c o n ó m i c a n o s p a í s e s endividados nao desenvolvidos, b a s e a d o na e x i s t e n c i a de t r e s d e s e q u i l i b r i o s macroeconomicos básicos: o externo, o do setor público e o i n f l a c i o n a r i o . A o r t o d o x i a e c o n ó m i c a vi, n o s t r i s d e s e q u i l i b r i o s , a m a n i f e s t a c a o de um ú n i c o p r o b l e m a : o e x c e s s o de d e m a n d a ou de gasto frente a urna dada e s t r u t u r a de o f e r t a . Este excesso de g a s t o p o d e ter o c o r r i d o no p a s s a d o e g e r a d o , a g o r a , o p r o b l e m a do s e r v i c o da d i v i d a , ou p o d e ser a t u a l , man i f e s t a n d o - s e num e x c e s s o de gasto do setor público, gerando, com ísso, inflacao. Identificado o problema causador dos desequilibrios, o receituário ortodoxo é coerente, adotando solucoes básicamente s i m i l a r e s nos t r e s c a s o s , m e d i d a s p a r a r e d u z i r os g a s t o s i n t e r n o s públicos e privados e aumentar a receita de divisas. As conseqüincias sobre o crescimento económico e principalmente sobre seus aspectos sociais, vale mencionar o emprego e os salários, tem sido extremamente negativas, como se teve o p o r t u n i d a d e de a n a l i s a r . Na maioria das vezes, as p o l í t i c a s a d o t a d a s procuran dar conta de a p e n a s um d o s t r e s d e s e q u i l i b r i o s - o que é m a i s agudo em d e t e r m i n a d o m o m e n t o , r e l e g a n d o - s e a um s e g u n d o p l a n o os o u t r o s dois, ou pelo m e n o s um d e l e s . Isto, claramente. ocorreu no a j u s t a m e n t o e x t e r n o em d e t r i m e n t o do a j u s t a m e n t o do setor p ú b l i c o e, principalmente, do combate á inflacao. Esta prática tem c o n d u z i d o i n ú m e r a s v e z e s ao a g r a v a m e n t o d o s o u t r o s d e s e q u i l i b r i o s - tal como o c o r r e u no e x e m p l o m e n c i o n a d o - introduzindo novos g r a u s de i n f 1 e x i b 1 1 i d a d e na p o l í t i c a e c o n ó m i c a . A c o n t i n u i d a d e da a p l i c a c a o das m e d i d a s o r t o d o x a s de p o l í t i c a e c o n ó m i c a t e n d e r í a a criar um c i r c u i t o de e f e i t o s n o c i v o s n o s t r e s d e s e q u i l i b r i o s , que perpetua urna situacao de l e n t o c r e s c i m e n t o do produto e do emprego e salários deprimidos. Na v e r d a d e , p o r é m , e s t a nao é urna trajetória linear, tendem a suceder-se períodos de franca recessao - os momentos de ajuste - e períodos de lento crescimento nestas variáveis mencionadas £ extremamente interessante observar que, mesmo quando explícitamente se t e n t o u urna p o l í t i c a de c o m b a t e á i n f l a c a o que preservasse o e m p r e g o e os s a l á r i o s , fugindo pois á ortodoxia, observamos efeitos positivos, p o r é m e f é m e r o s , d a d o que os o u t r o s dois desequilibrios nao foram a t a c a d o s em sua essincia. Essa situacao, ilustrada particularmente durante o Plano Cruzado em 224 1986, no Brasil, r e f o r c a a i n d a m a i s a idéia da i m p o r t a n c i a das interrelacoes entre os très desequilibrios. Os problemas d e r i v a d o s d o s d e s e q u i l i b r i o s n a o c o n s i d e r a d o s a c a b a r a m por impor-se, anulando os efeitos benéficos da politica heterodoxa, reinstalando um e l e v a d o grau de i n f 1 e x i b i 1 i d a d e na conjuntura económica. Nestas circunstancias, é preciso voltar inicialmente posta neste trabalho: como formular e urna política de a j u s t a m e n t o en que as dimensoes crescimento económico sejam preservadas? á questao implementar sociais do A primeira observado refere-se exatamente ao ponto mencionado. nao há panacéia na atual conjuntura dos países endividados. N e n h u m a m e d i d a i s o l a d a c o n s e g u i r á dar c o n t a do seu objetivo especifico se o conjunto dos desequilibrios m a c r o e c o n ó m i c o s n a o for a t a c a d o . £ necessàrio, p o r é m , e l e g e r um dos desequilibrios como o centro, o e i x o da p o l í t i c a económica. Na atual c o n j u n t u r a d o s p a í s e s - t i p o que se a n a l i s a r a m no p r e s e n t e trabalho, parece-me inegável que o e i x o deva ser a política antiinflacionária. 0 e s s e n c i a l na p o l í t i c a anti i n f 1 a c i o n á r i a é a d e f i n i c á o de urna p o l í t i c a de r e n d i m e n t o s , e s p e c i a l m e n t e p r e c o s e s a l á r i o s , de s o r t e a p r e s e r v a r o p o d e r de c o m p r a da m a i o r i a da p o p u l a d o . Vale dizer, a p o l í t i c a d e v e ser D e u t n a em r e l a c a o a o s salários. 11/ O b v i a m e n t e , urna p o l í t i c a de p r e c o s e s a l á r i o s deve ter um caráter bastante limitado no tempo, sendo essencial, nos primeiros momentos do ajustamento, que se m a n t e n h a um r í g i d o c o n t r o l e de precos, tendendo p a u l a t i n a m e n t e á flexibi 1 i z a c a o e r e i n t r o d u c a o d o s m e c a n i s m o s de m e r c a d o e i n s t i t u c i o n a l . A i n d a a s s i m , m e s m o no período inicial do ajuste, urna excedo deve ser feita á neutralidade dos s a l á r i o s : é preciso constantemente promover a d e f e s a e a v a l o r i z a d o real d o s s a l á r i o s m a i s b a i x o s , a t r a v é s da política de salários-mínirnos. £ e s s e n c i a l que a política de precos e s a l á r i o s n a s c a de urna c o n c e r t a d o social mais ampia possível e qque s u a s b a s e s sejam permanentemente reavaliadas. Algumas experiencias em o u t r o s países (Israel, por exemplo) avalizam a viabilidde desses pactos. Nao deve ser descartada, inclusive, a p o s s i b i 1 i d a d e de a p o l í t i c a de r e n d i m e n t o s incluir, num primeiro momento, m e d i d a s de l i m i t a c o e s quantitativas ao consumo durante períodos muito curtos, ou algum g r a u de s u b s i d i o ou incentivos fiscais, especialmente para produtos sazonais d u r a n t e o p e r í o d o de e n t r e s s a f r a . certo Urna p o l í t i c a .anti i n f 1 a c i o n á r i a deve poder grau de l i b e r d a d e na p o l í t i c a de c o m é r c i o contar com um exterior, tanto 11/ Nao é o p r o p ó s i t o d e s t e t r a b a l h o d i s c u t i r os detalhes dos possíveis m e c a n i s m o s de p o l í t i c a e c o n ó m i c a . A neutralidade dos salários num primeiro momento pode ser alcancada de diversas maneiras, dependendo do tipo de ajuste a ser praticado, via congelamento de precos ou critérios de i n d e x a c a o geral e h o m o g é n e a . 225 do p o n t o de v i s t a de e v e n t u a i s r e d u c o e s ñ a s e x p o r t a c o e s , quanto de a u m e n t o s de a l g u n s itens de i m p o r t a c a o . £ preciso, portanto, concomitantemente concertar urna nova sistemática de e n f r e n t a n t a m e n t o do d e s e q u i l i b r i o e x t e r n o , que d i m i n u a os a t u a i s requisitos de transferencias de r e c u r s o s para o exterior e permita níveis mais b a i x o s de saldos comerciáis. Há vários mecanismos que p e r m i t i r i a m a l c a n c a r esse o b j e t i v o e que tem s i d o freqUentemente mencionados no debate sobre a divida externa brasileira. Pode-se pensar em b u s c a r um a m p i o acordo com os p a í s e s e b a n c o s c r e d o r e s , e s t a b e l e c e n d o l i m i t e s ás t r a n s f e r e n c i a s para o e x t e r i o r , seja a t r a v é s de p a t a m a r e s m á x i m o s de j u r o s ou de participacao no total do P I B ou das e x p o r t a c o e s ; pode-se pensar em m e d i d a s p o n t u a i s , como, por e x e m p l o , a p o l í t i c a de c o n v e r s a o em i n v e s t i m e n t o s d a s p a r c e l a s de j u r o s v i n c e n d o s . Junto a isto d e v e r i a m ser implantadas as medidas para equacionar o desequilibrio do setor público. 0 o b j e t i v o central das medidas nesta área d e v e r i a ser o estancamento do atual processo de endividamento em e s p i r a l . É preciso garantir ao conjunto dos agentes e c o n ó m i c o s que o Estado será capaz de financiar adequadamente seus gastos. 0 e n f r e n t a m e n t o da q u e s t a o do d e s e q u i l i b r i o do setor p ú b l i c o p o d e ter urna s o l u c a o s i m p l i s t a e de alto c u s t o s o c i a l e que passa pela reducao d r á s t i c a nos i n v e s t i m e n t o s p ú b l i c o s e cortes nos gastos de p e s s o a l , via r e d u c a o do s a l á r i o real d o s f u n c i o n á r i o s públicos. Como vimos, esse tipo de p o l í t i c a p r o v o c a a recessao p r o f u n d a com e f e i t o s n e g a t i v o s s o b r e o c o n j u n t o da e c o n o m i a . Mais importante que isso, essa estrategia nao atinge os principáis m e c a n i s m o s de a l i m e n t a c a o q u a s e a u t o m á t i c a d o d é f i c i t p ú b l i c o : os subsidios, que em geral sao urna p a r t e i m p o r t a n t e da p o l í t i c a de a j u s t e e x t e r n o , e, p r i n c i p a l m e n t e , os j u r o s da d i v i d a p ú b l i c a 0 equacionamento destes dois problemas é crucial e difícil. No caso dos s u b s i d i o s , t r a t a v a - s e de eliminar privilégios e definir perdas, o que, em geral, sofre urna oposicao intransponivel de g r u p o s que e s t á o p r o f u n d a m e n t e vinculadas ao poder dominante. N o c a s o do s e r v i c o da d i v i d a p ú b l i c a , pode-se considerar desde medidas fiscais específicas sobre o mercado financeiro, até a r e d e f i n i c a o c o m p l e t a d o s c o n c e i t o s de l i q u i d e z e r e n t a b i l i d a d e d o s t í t u l o s p ú b l i c o s . Q u a l q u e r m e d i d a n e s t a área, porém, reveste-se de um caráter extremamente delicado e importante pelos efeitos i m e d i a t o s sobre toda a estrutura do mercado financeiro, que, c o m o já se m e n c i o n o u , está totalmente f u n d a d o em t í t u l o s p ú b l i c o s . De qualquer forma, essas medidas podem e devem ser c o m p l e m e n t a d a s com o u t r a s de c o r t e m a i s t r a d i c i o n a l , c o m o a u m e n t o de i m p o s t o s , e l i m i n a c a o de g a s t o s d e s n e c e s s á r i o s e a u m e n t o geral na eficiéncia do s e t o r p ú b l i c o . Nestes dois últimos aspectos, deve-se considerar una e s t r a t é g i a de privatizacao de várias empresas e s e r v i c o s que nao sao e s s e n c i a i s ao papel do Estado, como promotor do desenvolvimento, e que podem atrair os investidores particulares. 0 p r ó p r i o t r a t a m e n t o da questao da divida interna poderia ser combinado com a estratégia de 226 privatizado. Na questao e s p e c í f i c a do a u m e n t o de eficiencia estao as práticas de descentralizado e subcontratado dos servicos públicos. l g / Na q u e s t a o dos i m p o s t e s , o fundamental seria lograr o a u m e n t o real da receita do Estado, através da a m p l i a d o da b a s e t r i b u t a r i a , m e d i a n t e a r e d e f i n i c a o dos impostos existentes ou e s t a b e 1 e c i m e n t o de n o v o s i m p o s t o s que a u m e n t e n a c o n t r i b u i d o dos g r u p o s de maior poder a q u i s i t i v o . C o m o é sabido, a e s t r u t u r a t r i b u t a r i a dos p a í s e s l a t i n o - a m e r i c a n o s é, em geral, altamente regressiva e a carga tributaria nao é elevada em c o m p a r a d o com os p a í s e s m a i s a d i a n t a d o s . Urna estrategia compreensiva de abordagem dos tres desequilibrios m a c r o e c o n ó m i c o s supoe, obviamente, um p o d e r de coordenado da p o l í t i c a e c o n ó m i c a que s o m e n t e pode ser a l c a n z a d o em a l g u n s m o m e n t o s da h i s t o r i a p o l í t i c a d e s s e s p a í s e s . Por ísso é tao difícil e s p e r a r que a s u p e r a d o dos a t u a i s p r o b l e m a s se de sem um e l e v a d o c u s t o p a r a g r a n d e s s e g m e n t o s da p o p u l a d o . 12/ Para a n á l i s e do i m p a c t o e c o n ó m i c o de urna e x p e r i e n c i a c o n c r e t a de descent ral i z a c a o no g a s t o p ú b l i c o em e d u c a d o no E s t a d o de Sao P a u l o , ver S O U Z A ( 1 9 8 8 C). 227 REFERENCIA8 BAER, M. Uozes, A intermediasäo 1986. BIBLIOGRAFICAS finançeira no B r a s i l . BANCO MUNDIAL. B r a z i l . Ö œaCEBgEBQBiDiE elao- W a s h i n g t o n , D . C . , 1987. Press, WQEld 1988. DeyelBEQieQt BeEQEt Rio gvaluatißQ 1288- de Sf the Oxford CEBRAP/Secretaria de Planejamento de Sao EBQÍUQtSiEa g E a Q B B i E a . V á r i o s n ú m e r o s . Janeiro, ELUSâdB Università Paulo. Soálise de CEPAL. E C Í S i s e c Q Q Q m i E a s a E B l i t i c a S de ajustg^. g s t a b i l i g a E i B Q G E S E Í ü i g ü t Q . S a n t i a g o de C h i l e , 1986. ( L C / G . 1 4 0 8 ) COUTINHO, debate. a L. 8 SOUZA, P.R. Inflacao: anotacoes críticas para o R g y i s t a de EEQQsniia P o l í t i c a , 1 ( 4 ) : 1 2 7 - 1 4 5 , d e z . 1 9 8 1 . JOLLY, R. 1986. El KANDIR, A. Economia, OIT/PREALC. Ginebra, ajuste con rostro humano. BesaEEQllB- Inflacao acelerada. Campiñas, 1988. (Tese de D o u t o r a d o ) Siuste 1987. • Más allá a deuda SBEÍal: de la E E Í S Í S - un Ginebra, ( 2 - 3 ) •. 5 7 - 6 5 , UNICAMP/Instituto enfoque de estructural. 1985. OLIVEIRA, J.C. Béfiçits dQS BE£3S!en T a s EÚb Ü E B 5 QQ Brasili G Q D C e i t B S e ÍBEfflaS de ¡neOSUCaclQ. Brasilia, S E P L A N / U n B , s.d. mimeo. SEADE/DIEESE. Principáis SERRA, nov. Eggguisaj. gQjEEgaa e d e s e m E r e a o na G r a n d e R e s u l t a d o s , n . 4 5 , Sao P a u l o , 1988. J. A Economia 1982. Constrangida. fciBüSS Paulo, A e n c r u z i l h a d a do c r u z a d o , 2 de j u l h o de 1986. et gfeita sabre 1988. mimeo. Paulo. E s t u d a s CEBBÔE, SOUZA, P.R. Disparidades salariais e distribuicoes J S E O a l dQ B r a s i l , Rio de J a n e i r o , 17 de o u t u b r o de E m p r e g o s e s a l á r i o s na c r i s e . de J a n e i r o , 3 de o u t u b r o de 1988 (A). Sio Jornal Eelha de renda, 1988. (B) do B r a s i l , de gao n.4, Paulo, Rio Sio alii, ô d e s E g n t r a i i g a c i s da a a s t s E Ú b l i e e g §gu a a e n a t ä s dg e m e r e g o e r g n d a . Campinas, UNICAMP, ( T r a b a l h o e l a b o r a d o para o P R E A L C ) . (C). h f i Ü [dirotta ÇRÀBCA E forolrro M A . »21 -7181 - 225-0526 ( s a k ptópRÍA) SIC/SUL-QUADRA 3-BL"C"-N« 72-BRASLUADF. B 3 H foi» \ \