açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
talvez a revista mais
doce da madeira
açúcar 04 | Suplemento que não pode ser vendido separadamente do jornal | design açúcar + lustração capa ricardo atdeu barros
O PALCO E O TRONO
Norberto Gomes entrevista
Sílvia Vasconcelos
Entre a música clássica
e a política
P. 3
“mulher furacão”
valéria carvalho
BOCA DOCE
16 perguntas a
Marco Gil
P. 15
NA RUA
A ‘boa onda’ de
Mónica Viveiros
P. 9
fundada 2015
04
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o coração na boca
As memórias
que nos
salvam
Não sei que
memórias os
meus filhos
vão lembrar
no futuro nem
as que irei
eu guardar a
partir de agora
mas sei que
as que tenho
me aquecem
nos dias mais
difíceis.
CRÓNICA
Patrícia Lencastre
[email protected]
www.shortstoryblog.com
s
e fechar os olhos ainda hoje
viajo com facilidade para
a cozinha da minha avó
materna e vejo-me sentada
na cadeira de madeira, com o
queixo apoiado na mesa com
tampo de mármore, à espera
que saiam do lume as tor-
radas que me prepara. Sinto
o cheiro do pão torrado e o
aroma da cevada quente na
chávena ao meu lado.
Por algum motivo que não
consigo decifrar, o avançar
do tempo é proporcional à
importância cada vez maior
que dou a estas minhas
memórias. As memórias
felizes que me preenchem e
que quero que os meus filhos
um dia tenham. Dos laços que
criei, das brincadeiras que fiz,
das refeições ou dos amizades
que me marcaram.
Pensei muito sobre a importância destes pequenos
tesouros que são de cada um
de nós e que ninguém nos
pode roubar, depois de ler um
testemunho de uma sobrevivente dos atentados terroristas recentes que contava
que enquanto estava estendida no chão sem saber que
mercê lhe guardava o destino,
pensava em todas as coisas
boas que tinha vivido e nas
pessoas que mais a tinham
feito feliz até aquele momento
mas que em nenhum momento o seu pensamento ficou
ali, nem nas pessoas que lhes
faziam aquilo.
E pensei que são as memórias
que nos seguram muitas
vezes. Tantas vezes. Que nos
ajudam a mantermo-nos erguidos nos dias mais difíceis,
que nos dão alento para os
desafios que surgem ao virar
de um qualquer momento. As
memórias boas que guardamos num sítio profundo e de
que nos socorremos. Aquelas
que nos fazem sorrir em
silêncio. Podem roubar-nos
quase tudo mas as sensações
vívidas que a nossa memória
nos faz sentir – os cheiros e
aromas, o brilho nos olhos e
no sorriso – são nossas para
sempre. Mesmo quando nos
esquecermos delas porque
mesmo assim, estarão lá
gravadas como uma espécie
de impressão digital que nos
molda para sermos quem
somos.
Penso nisso em momentos
soltos. Olho para os meus
filhos e questiono-me sobre
o que se recordarão de
determinado dia. Será que
irão lembrar-se como eu me
lembro, das refeições com o
meu pai, em Coimbra, numa
mesa de madeira, com a louça
transparente quando tinha
3 anos. Ou do pão doce que
comprávamos os três ao fim
de semana no mercado local.
Ainda hoje tenho saudades
desse pão, já te disse pai?
Não sei que memórias os
meus filhos vão lembrar no
futuro nem as que irei eu
guardar a partir de agora
mas sei que as que tenho
me aquecem nos dias mais
difíceis. Sei que se fechar os
olhos ouço a voz da minha
mãe tão nítida como se a
tivesse escutado ontem. Ou há
cinco minutos. E isso, nunca,
ninguém me vai tirar.
a
monóculo por Susana de Figueiredo
P
orto Santo, a “jóia de
Portugal” eternizada na
canção de Max, atrevese a ser ilha crescida na
rectidão das planícies que tudo
põem a nu, com o despudor próprio
de quem nada tem a esconder e
com uma altivez que se empertiga,
desprovida de complexos, para
ver atiçar a inveja daqueles que,
sem o saberem, se vão diminuindo
às frias mãos do desencanto.
Porto seguro, santo, porto de
abrigo de quem te descobre e se
comove no teu corpo esculpido
em deslumbre. Terra de homens e
mulheres fertilizados de sonhos e
desejo, que transformam a aridez
dos solos em sede desenfreada de
tudo, em sentimento permeável e
denso, irrequieto disto e daquilo,
no amparo do sossego que,
equivocadamente, se atribui
aos tolos. a
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o palco e o trono
norberto gomes e sílvia vasconcelos
Sílvia Vasconcelos e Norberto Gomes foram duplamente políticos e artistas por uns minutos.
edição
Cláudia Sousa
[email protected]
d
esta feita, o Palco e o Trono
reuniu o Diretor Artístico
da Orquestra Clássica da
Madeira, Norberto Gomes,
e a deputada do PCP, Sílvia
Vasconcelos.
Esta foi uma conversa autêntica, que fluiu com naturalidade, sobre o exercício
político e o mundo das artes.
Norberto Gomes (NG) - O que a
conduziu à atividade política?
Sílvia Vasconcelos (SV) – Todos
nós somos políticos.
NG – Eu costumo dizer que
também somos todos artistas, mas muitas vezes, não o
sabemos
SV – É verdade. A minha atividade política começou muito
cedo. Talvez não a atividade em
si, mas a consciência. Começou
com a literatura, que abracei
desde cedo, e pelo teatro. Nós
somos responsáveis, todos os
cidadãos, pela nossa própria
vida e pela dos outros. Não
nos devemos abster da prática
política. Não procurei a minha
atividade. Surgiu, embora
sempre tenha sido uma ativista
política.
NG – Quando prepara um
discurso, fá-lo da mesma
forma que um músico prepara
uma apresentação. Como é
que elabora formalmente um
discurso?
SV - Gosto muito de me dedicar
ao estudo e cada vez que
preparo um diploma parece
que estou a fazer a minha tese
de mestrado outra vez. Leio
muito, passo os fins de semana
a trabalhar.
NG– Acha que a sociedade
[madeirense] está bem servida
com os profissionais que estão
na política?
SV – Acho que a política é uma
entrega, é uma missão. Não se
pode estar nisto para ganhar
dinheiro, nem por interesses,
nem lobbies. Tem de ser uma
entrega, e é assim que eu a
encaro. Atualmente acho que
estamos mais bem servidos por
todos os quadrantes políticos.
Até porque os cidadãos são
mais exigentes, embora devessem ser mais críticos.
NG – A nível nacional acha que
Sílvia
Vasconcelos
garante que os
profissionais
da medicina
veterinária são
de qualidade,
na Região,
principalmente
os mais novos
que estão muito
sensibilizados
para a causa
animal.
Noberto
Gomes foi um
entrevistador
pungente, que
esteve à altura
do desafio
lançado pela
Açúcar.
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Sílvia Vasconcelos
é licenciada em
medicina veterinária.
Tem uma paixão
“visceral por animais.”
Considera-se uma
pessoa privilegiada
por ser formada
naquilo que mais
gosta.
temos pessoas com o perfil de
estadistas?
mente sincero, não consigo
fazer teatro na vida real.
SV – A nível nacional acho
que não. A política dos últimos
anos não é uma política social,
não é voltada para as pessoas.
Foi uma política ao serviço
dos mercados. E os mercados
e a economia devem servir as
pessoas e não o contrário.
NG – Quais são as fragilidades
que vê na atividade artística da
Região?
NG – Sei que tem uma paixão
pelo teatro. Alguma vez precisou de recorrer às suas técnicas
de atriz para dar ênfase a um
determinado discurso, para
convencer melhor quem a
estava a ouvir?
SV - Não, mesmo. Muitas vezes
dizem que tenho uma voz teatral, que é boa para a política. O
teatro é uma arma política mas
se a política for teatralizada
é uma coisa muito feia e má.
Tenho um discurso extrema-
Norberto Gomes
diz que “somos
todos artistas, mas
muitas vezes não
sabemos”.
SV – Temos projetos dentro da
música e no teatro extremamente valorosos. Mas temos
uma fraca política de apoio
às artes e à cultura na nossa
região.
NG - Quais são as mais valias
de uma oferta cultural diversificada para a sociedade?
SV – A cultura traz um
exercício democrático e traz a
capacidade de consciencialização. Traz a possibilidade de
sensibilização para as matérias
que se desenvolvem no dia-a-dia.
NG - Se pudesse escolher um
museu, em qualquer parte,
para viver qual escolheria?
SV– Escolhia o museu Hermitage. Nunca lá fui, mas hei de
ir um dia.
NG – Qual a criação artística
individual que mais a emocionou?
SV – O livro mais transformador da minha vida foi a “Cabana do pai Tomás”. A obra que
eu vi que mais me arrebatou foi
a Pietà.
NG - Sei que a sua formação
é na área da veterinária, que
espaço ocupa a medicina veterinária na sua vida?
SV– Atualmente não é o meu
‘ganha pão’, mas é a minha paixão. Sou uma daquelas pessoas
privilegiadas que se formou na
sua área de paixão.
NG – Vemos na nossa sociedade muitas vezes maus tratos
a animais, achas que isso é
uma questão de formação ou
cultural?
SV – As duas coisas. A nossa
história cultural secundarizava
os animais. Ou eram para trabalho ou eram para subsistência. Os animais sempre foram
vistos como inferiores, subalternos ao espécime humano.
Mas as mentalidades têm vindo a transformar-se, embora
ainda haja muito a fazer.
NG – Se fosse convidada,
durante uma semana, para ser
a diretora artística da nossa
orquestra, quais as obras ou
compositores que gostaria de
programar?
SV – Eu gostaria de programar
Liszt ou Chopin, no piano.
Agrada-me imenso o piano,
tanto no estilo clássico como no
jazz.
a
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Um furacão
chamado
Valéria
Carvalho
A artista deixou o Brasil aos 21 anos e veio para Portugal sem nada, apenas com sonhos. Começou como
bailarina, mas o “boom” da sua carreira deu-se quando aceitou interpretar a personagem Juraci, da
série de comédia “Não Há Pai”. Ficou com o rótulo de comediante, mas não se sentia à vontade com isso
e decidiu ir mais além. Foi na música que encontrou o seu verdadeiro “eu” e agora, com 47 anos, tem em
“manga” um rol de projetos que a deixam de bem com a vida e com o mundo.
ENTREVISTA
Sandra S. Gonçalves
p
[email protected]
orque um artista quer-se é
no seu “habitat natural”, a
Açúcar levou Valéria Carvalho para um camarim do
Teatro Municipal Baltazar
Dias, onde a cantora, atriz
e dançarina “descortinou”
a sua vida, numa conversa
com muito humor à mistura, ou não tivesse dado vida
a uma das personagens mais
mediáticas do país na série
“Não Há Pai”: Juraci, a empregada brasileira.
Apesar de ter sido esta a personagem que a catapultou
para as “luzes da ribalta” em
apenas uma semana, antes
disso, deixou o Brasil para
trás e aos 21 anos rumou
para Portugal sem dinheiro,
com uma mochila às costas,
uma pena de papagaio na
orelha e o cabelo comprido,
estilo «Gabriela, cravo e canela».
Começou a sua carreira
artística como bailarina e
participou em diversos programas de televisão bem conhecidos dos telespetadores,
como o “Chuva de Estrelas”
e o “Sábado à Noite”, mas
aos 34 anos sentiu que estava «morrendo artisticamente» e que precisava de “respirar outros ares”. Foi quando
decidiu aceitar o desafio de
participar nas telenovelas
“Ganância” e “Olhar da Serpente”. «Nesta última telenovela, tive várias cenas fantásticas de improviso e foi
aí que me convidaram para
participar na série “Não Há
Pai”, onde fiquei famosa do
dia para a noite».
Valéria Carvalho sempre
trabalhou em televisão e já
estava habituada àquelas
“andanças”, tanto que não
teve dificuldade em se adaptar. A experiência de fazer
parte do elenco daquela série foi gratificante, mas trabalhou arduamente durante
o tempo que esteve “no ar”.
«Lembro-me que gravei uma
semana sem conviver com
ninguém na rua, porque
aquilo era puxado, entrava
muito cedo no estúdio e saía
bastante tarde», relembrou.
Um dia teve de ir à bomba
de gasolina e ao McDonald’s
e foi aí que “caiu a ficha” e
percebeu que tinha deixado
de ser a bailarina que “passava despercebida” para ser
a atriz comediante que todos reconheciam na rua e
«Na telenovela
“Olhar da
Serpente”, tive
várias cenas
fantásticas de
improviso e
foi aí que me
convidaram para
participar na
série “Não Há
Pai”, onde fiquei
famosa do dia
para a noite»
6 | açúcar | SÁB 28 NOV 2015
A artista regressa para o ano à Região com um espetáculo de teatro, intitulado “O Sofá, a Mamã e Eu”,
onde irá partilhar o palco com o filho.
a quem pediam autógrafos.
«Lembro-me que um dia
fui à bomba de gasolina, tal
como fazia habitualmente,
e reparei que as pessoas comentavam que estava ali a
Juraci. A situação repetiu-se
no McDonald’s, num dia em
que lá fui com o meu filho e
parou tudo para pedir autógrafos, incluindo os empregados. Foi nessa altura que
percebi o que estava a acontecer».
Mas a fama tem o seu preço
e não é fácil, porque muda
os artistas e as pessoas que
estão em seu redor. «Quando
eu era bailarina, trabalhava com pessoas conhecidas
que, na altura, nem olhavam
para a minha cara e quando
passei a ser famosa, de repente já toda a gente me conhecia, incluindo essas que
nem reparavam que estava
ali. Até os meus amigos mais
íntimos faziam “cerimónia”
para falar comigo e, muitas
vezes, tive de lhes dizer que
eu era a mesma pessoa apesar de ser famosa, o que era
estranho».
Apesar de ter tido muito
sucesso, chegando mesmo
a ser das poucas mulheres
que participou no programa de comédia “Levanta-te
e Ri”, sentiu que não estava
feliz, porque tinha ficado
com o «rótulo de comediante» quando, na realidade, era
uma artista versátil que conseguia interpretar qualquer
papel. E não só.
«Comecei a recusar convites
para fazer comédia e fui para
uma Companhia de Teatro,
onde permaneci oito anos e
fiz tudo o que queria, inclusive desenvolvi um trabalho
social, dando aulas de teatro
«Lembro-me
que um dia fui
à bomba de
gasolina, tal
como fazia
habitualmente,
e reparei que
as pessoas
comentavam
que estava ali a
Juraci».
para as comunidades africanas e ciganas. Desenvolvi
também o projeto de teatro
“Recriando”, onde fui trabalhar com mulheres para
a prisão de Tires que, para
mim, foi uma lição de vida
que me abriu as portas para
a humanidade».
Além da dança e do teatro,
a brasileira, de gargalhada
fácil, sempre teve um fascínio pela música. Uma paixão
que nasceu no Brasil, onde
tocava muitas vezes à janela do seu quarto que «tinha
vista para um enorme prédio branco que parecia uma
tela». E como a artista é uma
mulher dos “sete ofícios”,
agora dedica-se de corpo e
alma à música, embora as
outras artes estejam sempre
presentes na sua vida, direta
ou indiretamente.
Pelo caminho teve alguns
contratempos, inclusive este
ano que, conforme disse, foi
«o ano da revolução» em que
o filho, com quem vivia, decidiu sair de casa. Valéria Carvalho entrou em depressão.
«Passei 20 anos da minha
vida em função do meu filho
e, de repente, ele ganha a sua
independência e sai de casa,
foi aí que percebi o vazio que
era a minha vida antes do
João nascer... Nesse mesmo
dia voltei a sentir esse vazio»,
recordou com as lágrimas
nos olhos.
Sem vontade de fazer nada,
deixou muita coisa para trás,
incluindo projetos, porque
não se sentia bem. O furacão
que tinha dentro de si adormeceu e só renasceu com o
violão. «A única coisa que me
dava alento era o violão, bem
dita hora em que aprendi a
tocar aquele instrumento, já
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A brasileira foi convidada para gravar, na Praia dos Anjos, na Ponta do Sol, o videoclipe da música
“Todo o Tempo do Mundo” que é a sua preferida.
agora aconselho a todas as
pessoas, independentemente
da idade, que estejam ou não
a passar por uma fase complicada, que aprendam a tocar violão, porque é o melhor
antidepressivo de todos».
Nessa altura, começou a
compor músicas e mostrou-as a Rui Veloso, por quem
nutre um carinho especial,
não só como músico, mas
também como amigo. «Mostrei os originais ao Rui, que é
uma pessoa que me diz sempre tudo de forma frontal.
Nesse dia, aconselhou-me a
avançar com o projeto antes
do disco “Rui Veloso, em jeito de Bossa”, mas achei que
não era a altura certa», revelou.
Valéria Carvalho trouxe à
Região, no passado dia 20
de novembro, no Teatro Municipal Baltazar Dias, um
espetáculo com o mesmo
nome do seu primeiro álbum
que será lançado no próximo ano, onde a artista deu a
conhecer os seus dotes: voz,
dança e teatro.
A brasileira foi convidada
para gravar, na Praia dos
Anjos, na Ponta do Sol, o videoclip da música “Todo o
Tempo do Mundo” que é a
sua preferida. As gravações
arrancaram, no passado
domingo, e a ideia surgiu
a convite de João Santos,
da Filmon (realização) e
de Rúben Silva (produção),
com o apoio da Associação
Avesso.
Um convite que a deixou feliz, porque a Madeira tem
um «encanto especial», não
só porque já esteve cá mais
do que uma vez, mas também por causa da «paisagem
encantadora» e, por isso, é o
«Quando eu
era bailarina,
trabalhava
com pessoas
conhecidas que,
na altura, nem
olhavam para
a minha cara e
quando passei
a ser famosa,
de repente já
toda a gente me
conhecia».
sítio certo para gravar o segundo videoclip do álbum.
«Numa conversa com as pessoas da Associação Avesso
sobre o videoclipe, em que
não sabia o que fazer, fizeram-me a proposta de gravar
cá, onde me foi dado um pequeno resumo do que pretendiam, e aceitei».
Agora com mais tempo para
se dedicar à sua carreira,
Valéria Carvalho, de 47
anos, adiantou que regressa para o ano à Região com
um espetáculo de teatro,
intitulado “O Sofá, a Mamã
e Eu”, onde irá partilhar o
palco com o filho. A artista
não quis adiantar mais pormenores sobre este novo
projeto, até porque «ainda
é segredo», tendo apenas
dito que irá se apresentar
ao público com uma outra
linguagem.
É também com uma outra
linguagem que irá lançar o
seu primeiro trabalho discográfico de originais, ainda
sem data prevista. «Tenho
quatro músicas que são super românticas em Bossa
Nova, mas as outras são uma
mistura de linguagens, que
vão mais de encontro ao meu
“eu”».
Na sua opinião, este é o momento certo para «fazer as
coisas», porque, ao longo
da vida, as pessoas andam
sempre a dizer que «quando
forem grandes querem ser
isto ou aquilo» e de repente
«a idade chega e o futuro é
agora». «Se tivesse me deixado levar pela crítica e pelos
medos não teria feito o que
fiz até hoje e, como esse futuro chegou, é tempo de ser
feliz», atirou, em jeito de
conclusão.
a
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perfil
“Redescobri-me no trabalho”
Anna Carolina Galvão
sobre o Bordado Madeira
é uma luso-descendente de
origem madeirense. Vive em
Niterói, Brasil, e esta foi a sétima vez que esteve na Ilha.
Esta jovem, de apenas 21 anos,
realizou um trabalho de fim
de curso sobre o Bordado
Madeira, sendo que, obteve a
nota máxima da sua turma.
Cláudia Sousa
[email protected]
d
e pele alva e com cabelos
escuros, com a aura açucarada típica dos brasileiros,
esta jovem esteve a contar
os detalhes do seu trabalho à
Açúcar.
A ideia de fazer um trabalho
sobre o Bordado Madeira
surgiu quando notou que a
sua avó, bordadeira, estava a
perder clientes no Brasil.
Um designer é, por excelência, uma pessoa que tenta
resolver problemas. Anna
achou que pegar na situação
da sua avó seria o problema
ideal para o trabalho que
tinha de desenvolver para o
seu curso.
Ainda para mais, no Rio
de Janeiro, ninguém tinha
abordado o tema do bordado
Madeira.
No entanto, enquanto criativa
de moda, Anna não se deixou
ficar apenas pelo Bordado
Madeira.
O que o seu trabalho teve de
particular foi que esta jovem
desenhou a reinvenção para
uma “menina carioca, jovem,
entre os 15 e os 35 anos.”
O objetivo de Anna foi inovar,
visto que, o Bordado Madeira
ao longo dos seus 400 anos foi
sempre feito da mesma maneira, com os mesmos passos.
“Eram sempre os mesmos
desenhos, e eu quis fazê-lo
mais geométrico, com menos
‘voltinhas’, mais simples, e ao
mesmo tempo mais abstrato”.
E o facto é que a ideia de
Anna foi recebida com muito
sucesso, principalmente
pelo público alvo que o seu
trabalho pretendia atingir.
“Foi interessante porque as
minhas amigas descobriram
que tinham em casa bordado
madeira e aí eu fiquei muito
feliz. Elas começaram a conhecer aquilo, e nem sabiam
que tinham em casa”.
A jovem disse que para a
elaboração do seu trabalho
teve de ir até São Paulo,
Santos, e Madeira. Anna conta
que “foram muitas viagens,
conversas e anotações”.
No entanto, toda esta ‘trabalheira’ não foi em vão, foi uma
maneira de conhecer uma
nova realidade do mundo da
moda. “Redescobri-me no trabalho, até porque para além
da parte estética eu gosto
muito da parte da pesquisa.”
A Açúcar questionou a designer de moda sobre o estado
atual do Bordado Madeira, ao
que Anna respondeu que “é
preciso fazer algo sobre isso
porque as coisas estão muito
feias”.
Na sua pesquisa, um dos
dados que a surpreendeu
foi o facto de no auge desta
tradição a Madeira ter cerca
de 300 bordadeiras ativas, e
neste momento só tem 5.
Anna explicou este fenómeno
pelo facto de a maior parte
das bordadeiras não passar
esta tradição para as filhas.
“As bordadeiras sempre foram
mal pagas pelo seu trabalho e
o bordado é uma coisa muito
delicada e não é valorizado. As
mulheres recebiam um feed-
back negativo e aquilo já fazia
parte do psicológico, já nem
queriam saber mais daquilo.”
“Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades, já dizia o poeta”. As mulheres hoje
em dia optam por estudar e
ter outros tipos de trabalho.
A avó de Anna fazia bordado
Madeira e a mãe dela não teve
interesse em aprender essa
arte.
A designer de moda apresentou uma solução: unir o design com o bordado. A jovem
diz que esta estratégia poderia
“dar muito certo”. Além do
mais, para promover esta arte
Anna apontou como uma “boa
ideia criar workshops” que
dessem a conhecer às gerações mais novas o Bordado
Madeira.
Em tempos de crise como
aquele que atravessamos as
pessoas “viram-se para o artesanato”, por isso Anna considera que esta é uma boa altura
para promover esta arte que
está a desaparecer.
a
SÁB 28 NOV 2015 | açúcar | 9
no mar
mónica viveiros, 36 anos, bodyboarder
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com
Susana de Figueiredo
[email protected]
m
ónica Viveiros dedicou 20
anos da sua vida ao voleibol, até ao dia em que decidiu abandonar a competição; quando o prazer
de jogar se transformou
numa espécie de ditadura
de tudo ou nada, onde só
havia espaço para a obsessão da vitória. Desis-
tiu de competir para que
o desporto tornasse a ser
uma das suas principais
fontes de prazer, sendo
neste capítulo que surge o
bodyboard. Entrou na onda
há seis anos e, depois de
experimentar a sensação,
teve a certeza que “não
queria outra coisa”.
Trabalhou durante dez
anos num escritório, e,
quando ficou desempregada, viu na sua nova condição uma oportunidade
para regressar ao mercado de trabalho, de uma
maneira
completamente
diferente e sem depender
de um patrão - “Recordo-
me de ter pensado: por que
não tentar viver de algo
que, realmente, me apaixona? Por que não tentar
estar onde gosto de estar?”
Do desejo, e da tentativa,
até à concretização o processo não foi simples, mas
Mónica estava demasiado
determinada para recuar.
Candidatou-se a um dos
programas para desempregados disponibilizados
pelo governo e, paralelamente, ingressou no curso
de treinador desportivo,
na Universidade da Madeira. Foram três anos
muito produtivos, que, em
julho deste ano, resulta-
ram na abertura da MadSea - Bodyboard & More,
uma empresa de animação
turística que oferece experiências de bodyboard
a locais e estrangeiros. O
conceito é único na Região
e tem um enorme potencial, garante a bodyboarder, que, inclusive, acaba
de firmar parcerias com
grandes empresas internacionais. Ainda no ‘segredo dos deuses’ está um
projeto, também de âmbito
internacional, que visa promover a Madeira enquanto
destino para a prática da
modalidade – “Se tudo correr bem, os bodyboarders
10 | açúcar | SÁB 28 NOV 2015
Do escritório
para o mar, ou
o mar como
escritório.
Qualquer um
dos introitos nos
remete, certeiro,
para o percurso
de Mónica
Viveiros. A exatleta de voleibol
deu a volta ao
desemprego e
é atualmente
empresária
da sua própria
paixão.
Misturar prazer
com trabalho
pode, afinal, ser
uma fórmula que
resulta.
madeirenses vão ter uma
grande surpresa em 2016.
E mais não posso dizer.”
Quando o trabalho se
mistura com o prazer
parece ser muito mais fácil
‘apanhar a onda’. E, para
quem gosta de surfar como
Mónica Viveiros, ter 24
horas por dia disponíveis
para se fazer ao mar, é, não
como negá-lo, um enorme
privilégio – “É fantástico…
No mar, sinto-me em paz,
sinto-me livre, abstraída
de todas as preocupações,
depois, há aquela adrenalina indescritível de apanhar uma onda… Quando
entro no mar com os meus
clientes, consigo sempre
roubar-lhes uma ou outra
(risos).”
Dentro e fora de água, o
bodyboard
assume,
há
quatro meses (desde o
nascimento da MadSea),
o papel principal na vida
de Mónica. Na pele de
praticante e empresária, a
paixão exacerba-se, trazendo à superfície uma ânsia
permanente de partilha,
uma urgência quotidiana
de contagiar os outros das
suas próprias sensações
– “Acho que tenho conseguido isso, porque vejo os
sorrisos nos rostos das pessoas que levo para dentro
de água, vejo o brilho com
que regressam do mar e
adoro quando me dizem:
‘Isto é espetacular! Para a
semana estou aqui outra
vez.”
Este ‘aqui’ pode ser, no
caso dos iniciantes, as
praias da Alagoa ou da
Maiata, a nordeste da ilha,
no Porto da Cruz, a praia
de Machico (quando há
ondulação) ou a praia do
Seixal, na costa norte. Já
os mais experientes podem
aventurar-se em lugares de
difícil acesso, onde o mar
apresenta outros desafios,
como a Fajã de Areia, em
São Vicente, o Paúl do Mar
e o Jardim do Mar, na costa sudoeste. Há também
aqueles recantos que só os
locais conhecem, refúgios
reservados como a Ribeira
da Janela ou a Ponta do
Pargo.
“O bodyboard é uma modalidade bastante exigente,
temos de ser bons em
muita coisa, na força, no
equilíbrio, na flexibilidade,
na resistência. No entanto,
para quem está a começar,
acaba por ser mais fácil
que o surf. É muito provável que saiamos das primeiras aulas de surf muito
frustrados, pois a exigência ao nível do equilíbrio
é maior. Já no bodyboard,
a posição deitado facilita
muito as coisas e, mesmo
sem experiência, o prati-
cante consegue divertir-se
ao primeiro contacto com
as ondas.” A diversão e o
convívio são, aliás, outros
dos pontos fortes do bodyboard. Diz quem experimenta que as conversas
dentro de água transportam para um mundo diferente, que a concentração e
a adrenalina estimulam o
corpo e a mente. Isto para
não falar nas amizades,
que acontecem quase sem
querer, e no espírito de
camaradagem que motiva
cada regresso em busca da
próxima onda.
Mais do que nunca, Mónica Viveiros sente que está
exatamente onde e como
quer estar, provando que,
apesar de tudo, ainda é
possível viver cem por cento ancorado numa paixão.
Do escritório para o mar…
Com amor. E muito sucesso.
a
SÁB 28 NOV 2015 | açúcar | 11
horas vagas [ livro, filme, música]
Sandra Sousa
https://estrelasnocolo.wordpress.com/
C
olleen Hoover é uma
autora americana na
área do romance YA
(Young - Adult) ou
romance para jovens adultos. Tem o dom de nos maravilhar com as histórias que
escreve, não por serem extraordinárias ou por serem
totalmente diferentes, mas
simplesmente porque consegue transformar narrativas
em personagens que se tornam realmente reais na imaginação dos leitores.
livro [ top seler ]
Amor Cruel de Collen Hoover
A forma como capta os sentimentos dos personagens é
brilhante e o leitor sente que
está mesmo dentro da história. Fica triste e alegre juntamente com eles e quando o
livro chega ao fim fica cheio
de saudades.
Nesta história o que mais me
fascinou foi a dedicação que
deu ao personagem masculino. Miles é taciturno e não é
de trato fácil. Quando conhece Tate algo se quebra dentro
dele e é a partir dessa ínfima
esperança que se construirá
alguma coisa.
Ao longo do livro esperamos
sempre o melhor, esperamos
que afinal Miles seja boa pessoa e que não tenha sofrido
muito. Mas sofreu e acreditem que os leitores vão sofrer
com ele assim como eu sofri.
Quando, já perto do fim, nos
deparamos com o que aconteceu a Miles, mal queremos
acreditar no que estamos a
ler…porque simplesmente é
demasiado CRUEL…
Amor Cruel é um romance
simples e no fundo muito
profundo e rico em emoções que despertará muitos
sentimentos ao leitor. Com
uma escrita simples sem
quaisquer artifícios, esta é
uma leitura viciante e muito
emocionante. Mais um livro
que ficará guardado na minha memória e no meu coração. Adoro esta autora! Tenho a certeza que este livro
não vos irá desiludir! Muito
bom.
A Ponte dos
Espiões
a
Virgílio Jesus
[email protected]
cinema & televisão
m facto evidente
em toda a indústria
de cinema americano é que ninguém
iguala Steven Spielberg. Mestre de A Lista de Schindler
e da recente biografia de
(Abraham) Lincoln, Spielberg
expõe em A Ponte dos Espiões os princípios do sistema
de convenções narrativas de
Hollywood, através do género
que lhe mais próprio - o melodrama. A história foca-se
num espião americano obrigado a negociar a libertação
de um piloto americano que
se encontra detido na União
Soviética, em plena Guerra
Fria (1945-1991). Na verdade,
este é thriller que faz das suas
repetições e excessos, críticas
a ambos os países desesperados por informação, os EUA
e a URSS. A escolha de Tom
Hanks para protagonista não
poderia ser mais adequada,
porque é talvez o melhor ator
de cinema de Hollywood, revelando a insistência de qualquer ser humano honesto em
lutar pela paz, que tanto falta
neste mundo.
enhuma produtora
melhor que a Walt
Disney
consegue
criar histórias humanas mesmo que não sejam filmes de animação. Este
exemplo que está prestes a
comemorar o 10º aniversário desde a sua estreia, é direcionado a toda a família e
faz (re)viver aquele espírito
de amizade que temos com
os animais domésticos mais
fiéis. Baseado numa história
verídica (japonesa, que data
de 1958), conhecemos o guia
de uma expedição cientifica
Jerry (o já lamentavelmente
falecido Paul Walker) quando
forçado a deixar os seus cães
para sobreviver a uma horrível tempestade na Antárctida.
Mesmo em situações adversas, e com ajuda dos seus
colegas, o protagonista fará
de tudo para se reencontrar
com os oito animais. Bruce Greenwood (Star Trek) e
Jason Biggs (American Pie)
completam esta história humilde e despretensiosa, mas
recheada de muita ternura
canina.
U
N
Diogo Freitas
[email protected].
Galgo – EP5, Mira, 2015
RP Boo - Fingers, Bank Pads & Shoe Prints
Planet Mu, 2015
N
os passados dias 22,
23, 24, 30 e 31 de
Outubro realizou-se
o Jameson Urban
Routes, no Musicbox Lisboa.
Com sons que foram do rock
dos Galgo, que abriram o festival, ao genial footwork de
RP Boo, que o encerrou, Pedro
Azevedo (brilhante, diga-se)
programou um evento que
nos levou pelos caminhos do
futuro da música, bem orientado pelo passado.
a
a
Data de estreia 26 de novembro
Realizador Steven Spielberg
Elenco Tom Hanks, Mark Rylance, Meg
Ryan, Billy Magnussen e Alan Alda
Género Drama/ Biografia/ História
Antárctida
Da Sobrevivência
ao Resgate
Domingo dia 29 / 18:05 / Canal Hollywood
Realizador Frank Marshall
Elenco Paul Walker, Jason Biggs, Bruce
Greenwood, Gerrard Plunkett
Género Aventura/ Drama/ Família
música
Pelos caminhos do futuro da música
É complicado fazer um balanço
da música ouvida e vista, sendo
algo tão sensorial e subjectivo,
mas podemos observar e retirar ensinamentos. Nenhum
destes artistas foi premiado
pelas melhores publicações da
especialidade ou está no hall of
fame de qualquer género musical. Nem precisam. Criam e
produzem sem que esse seja
o seu objectivo, pois, de igual
modo, não é esse o critério do
seu sucesso. As novas sensa-
ções provocadas nos milhares
de fãs que os descobrem mundo fora é tudo do que precisam.
Cumprindo com o seu dever
pedagógico, enquanto promotor cultural, Pedro Azevedo
mostrou que a música evolui
com a sociedade, educando-se
e moldando-se mutuamente.
Veja-se o caso dos Suuns & Jerusalem In My Heart.
Pessoalmente, não conhecia
uma única das bandas que vi,
a não ser uma ou outra cujas
músicas ouvi ocasionalmente.
Posso, por isso, afirmar com
certeza que saí mais educado,
consciente do que se faz nas
mais diferentes realidades,
tendo sentido uma comunhão
quase instantânea com tudo
o que ouvi. Entendo que deve
ser isto, a música. Obrigado ao
Musicbox e toda a equipa!
Entretanto, aqui ficam algumas sugestões, retiradas do
Jameson Urban Routes:
a
12 | açúcar | SÁB 28 NOV 2015
na moda
Minimalismo
Laura Capontes
[email protected]
foto ©Laura Capontes
C
ores neutras? Preto, branco,
cinza? Ausência de padrões?
Se antes falar nestas características para criar um look
parecia aborrecido e desinteressante, hoje em dia é bem
diferente, tornando-se uma
característica marcante do
estilo minimalista. Regresse
aos básicos sem perder a originalidade e gosto pessoal.
Podemos ter um armário
cheio de roupa, continuar a
querer e a ter tudo, muitas
vezes isso acontece porque
nem sabemos bem qual o
nosso estilo pessoal e acabamos por nos ir adaptando a
vários estilos e comprar de
tudo um pouco e ao mesmo
tempo ter a sensação que
nunca temos nada. Todas
já tivemos essa sensação e
eu não fui exceção, até que
decidi renovar o guarda-roupa e excluir aquilo com
que já não me identificava
(roupa de estilos que não me
diziam nada, cores, tecidos,
padrões). Decidi investir em
roupa mais básica, clássica, minimalista e consegui
encontrar o estilo que realmente me definia. Porque,
sim, até podemos andar
de “uniforme” e conseguir
realçar a nossa essência, no
fundo, demonstrar a nossa
personalidade através do
que vestimos.
Minimalismo é mais que
um estilo, é uma atitude,
um modo de ser e estar, e
foi esse o estilo com que me
identifiquei há já algum tempo. Este estilo tem por base
o eliminar o desnecessário, o
menos é mais e, ao contrá-
rio do que se possa pensar,
quem opta por este estilo não
passa a ter um armário vazio,
deixa de ir às compras ou é
“contra” a moda, simplesmente passa só a comprar
peças com que se identifica,
que sejam funcionais, e não
se deixa levar pelo impulso,
mantém apenas o suficiente
para que consiga expressar
o estilo pessoal e ser feliz. O
truque é simples, abdicar da
quantidade, dando mais valor
à qualidade.
Este é um estilo de fim-de-semana impossível de adaptar
para a semana de trabalho?
Não! Com este estilo consegue ter a versão mais prática,
como também a mais formal,
nas duas mantém sempre a
elegância e sofisticação tão
marcadas no minimalismo.
Ter um estilo minimalista
não é sinónimo de ter um
estilo básico! É ser simples,
sim, mas marcar pela diferença nos pequenos detalhes. Aposte na qualidade, no
corte, na forma e na diversidade dos materiais para que
consiga manter as peças por
muito tempo e para várias
estações.
Já aqui tinha falado da
importância dos básicos, de
como são intemporais, do facto de nunca saírem de moda
e de serem sempre uma boa
aposta. Para este estilo são
fundamentais, tornando-se
mesmo nas peças essenciais.
Por isso, invista numa boa
camisa branca, em t-shirts,
malhas de qualidade e num
bom casaco de corte direito,
vai ver que esse investimento
compensa, porque vai usá-los
inúmeras vezes e perdurarão
de estação em estação. Não
se esqueça que neste estilo o
que importa é que volte à sua
verdadeira essência, ao seu
verdadeiro eu, livre de toda a
informação desnecessária.
Simples, mas não simplista, o
minimalismo assume grande
protagonismo nesta estação,
inspire-se!
a
SÁB 28 NOV 2015 | açúcar | 13
feliz com menos
Deixa-me ser pequenino:
a pressa de fazer crescer
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
O
lho para os meus
filhos a brincar, bebo desse
momento como
se de água pura
e fresca, num dia de muito
sol, se tratasse. Reparo
naqueles pequenos dedos
que testam a durabilidade
dos brinquedos, naqueles
pequenos pés que ainda agora aprenderam a caminhar
e ainda se atropelam um
ao outro. Que fazem eles?
Vivem o agora, descobrem o
mundo com os seus próprios mecanismos. Não têm
pressa. Não sentem pressa
(a não ser que intervenhamos) de mostrar ao mundo
aquilo que sabem fazer.
Na nossa sociedade, ser
melhor que o outro é quase
imperativo e, para conseguir tal proeza, há que
começar cedo. Mal nascem
(se calhar antes, quando os
inscrevemos nas melhores
creches ou compramos
os melhores brinquedos),
os nossos bebés entram,
querendo ou não, na corrida
pelo tal sucesso. Queremos
que as nossas crianças
ingressem cedo na escola,
já sabendo ler e escrever,
claro! Se por lapso não o
fizeram antes, devem iniciar
nesta altura a aprendizagem
de duas línguas estrangeiras
e as aulas de piano, violino,
natação, judo e balé. Seria
ainda, mais que bem visto,
pela maioria dos pais, passar diretamente do 2.º para
o 4.º ano ou outro qualquer,
desde que se ganhe tempo
no futuro. Olho agora para
aqueles pequeninos bem
na minha frente e penso:
tempo, que tempo? O tempo
que está a ser roubado
agora? O tempo de brincar,
de rir, de ser livre, de ser
cuidado?
Apressamos as coisas de
maneira a que os nossos rebentos cresçam quase sem
experimentar o sabor da infância. A liberdade da irresponsabilidade é esquecida
e, na constante pressão para
crescer, as crianças logo
devem aprender muitas coisas, preferencialmente mais
depressa do que as crianças
dos outros. Devem ainda
ser responsáveis e saber,
desde tenra idade, que, ao
longo do seu crescimento,
o cenário não vai melhorar.
No final do meu 1.º Ciclo
apercebi-me de uma frase
que era proferida ano após
ano. Algo similar a “se este
ano é difícil, para o ano
será muito pior”. A descoberta de tal artimanha tão
cedo permitiu-me ter uma
outra abordagem perante
a pressão exercida pelos
docentes. Rapidamente
compreendi que se seguiriam apenas novas etapas,
com outras caraterísticas,
porém não necessariamente mais difíceis, já que,
a par disso, se dava o desenvolvimento das minhas
aptidões que se adaptavam
com naturalidade aos novos
desafios.
Embora abominemos o
trabalho infantil e não queiramos trabalhar nem mais
cinco minutos que o estipulado, exigimos que as nossas
crianças o façam. Trabalham mais horas que a maioria dos adultos. Têm um dia
inteiro preenchido e ainda
trabalho extra em casa. Eles
vão crescendo, têm cada vez
mais afazeres e fica em nós
a saudade daqueles pequenos seres. Fica também
neles a nostalgia, de ser
cuidado, daqueles poucos
momentos em que somente
foram seres pequeninos,
dependentes e sem responsabilidade nenhuma.
a
saúde
Medicamento Genérico
Bruno Olim,
Farmacêutico
[email protected]
P
ersiste ainda na
sociedade uma
grande desconfiança no medicamento genérico.
Esta desconfiança assenta
num infundado receio de
menor qualidade, pelo facto
de o medicamento genérico
ser muito mais barato que
o medicamento original
(mínimo 50%).
Sendo o medicamento
genérico um medicamento,
obedece a todas as premissas constantes da definição
de medicamento, estando
sujeito a um apertado controlo de qualidade, desde
o fabrico até à utilização,
pelas autoridades competentes. O medicamento
genérico é um medicamento
com a mesma composição
qualitativa e quantitativa
em substâncias activas, a
mesma forma farmacêutica,
e cuja bioequivalência com
o medicamento de referência tenha sido demonstrada
por estudos de biodisponi-
bilidade apropriados, com
a mesma indicação terapêutica que o medicamento
original, de marca, que
serviu de referência.
O intervalo de aceitação associado aos ensaios de bioequivalência gera sempre
grande controvérsia, por
apresentar como extremos
80%-125% (conceito em
vigor desde a década de 70
pela FDA, por estar demonstrado cientificamente que
esta variabilidade é imperceptível do ponto de vista
clínico, ou seja, do efeito).
No entanto, não existem
aprovações nos extremos
do intervalo, e os estudos
retrospectivos indicam
que os genéricos diferem
dos medicamentos origi-
nais +3,56 a -2,85% quanto
à extensão de absorção e
+4,35 a -3,54% em termos
de velocidade de absorção.
Note-se que diferentes lotes
do mesmo medicamento são
aceites com variações +-5%
a +-10%, diferença esta sem
relevância clinica.
Não existem estudos clínicos que demonstrem superioridade clínica dos medicamentos de marca sobre
os Genéricos respectivos.
A qualidade, segurança e
eficácia são garantidas pelas
autoridades competentes
Infarmed (nacional) e EMA
(europeu).
A grande vantagem da
utilização do medicamento
genérico é a poupança,
para o Estado e para o
utente. Entre 2011 e 2014,
a poupança resultante da
utilização de genéricos
ofereceu um ano inteiro de
medicação a doentes e contribuintes: 1,7 mil milhões
de euros. A maior acessibilidade à terapêutica medicamentosa permite doentes
mais controlados, mais saudáveis, logo, menores gastos
em saúde. Sabendo que os
recursos financeiros do
Estado, para além de finitos,
são escassos, a utilização
de genéricos permite uma
folga financeira que pode
ser alocada a medicamentos inovadores em áreas
tão importantes como a da
Oncologia.
Medicamento Genérico, eu
Confio!
a
14 | açúcar | SÁB 28 NOV 2015
mais açúcar
Octávio Freitas
Cremada De Queijo Invertida
FourViews | Funchal
BISCOITO
Executive Chef
[email protected]
Ingredientes (p/ 5 pessoas)
140 g broas de mel
55 g manteiga mole
55 g miolo de pinhões tostados
RECHEIO
Ingredientes (p/ 5 pessoas)
230 g requeijão
230 g queijo Mascarpone
5 c. sopa natas azedas
175 ml mel de cana
4 ovos
1 c. sopa de farinha Maizena
Preparação BISCOITO
• Numa trituradora coloque
as broas de mel, amanteiga
e os pinhões, triture.
• Coloque a mistura espalhada
num tabuleiro e leve ao frigorífico durante 30 minutos.
Preparação RECHEIO
• Aqueça o forno a 170 Cº.
• Unte as formas com 20 cm,
bata o requeijão com o Mascarpone até obter um preparado cremoso.
Chef pasteleira
Bolo De Coco
[email protected]
Ingredientes
Joana Gonçalves
Eleven | Lisboa
5 claras
120 ml leite
340gr de farinha
470gr açúcar
4 colheres de chá
de fermento em pó
Uma pitada de sal
225gr de manteiga
235ml de leite de coco
Modo de preparação
Bater a farinha com o
açúcar, fermento e leite.
Adicionar a manteiga
derretida e o leite de coco.
Envolver as claras em
castelo com um salazar.
Colocar a massa numa
forma untada e levar a forno
pré-aquecido a 180° durante
cerca de 35/40 minutos.
• Adicione as natas, o mel e a
farinha Maisena (dissolva em
1c. chá de água fria), de seguida adicione os ovos um a um
e mexa tudo muito bem.
• Forre as formas com papel
de alumínio e coloque o recheio nas formas
• Leve ao forno a cozer em
banho maria durante 1h e
25 minutos.
• Deixe arrefecer antes de desenformar e leve ao frigorifico durante 12 horas.
Creme de mascarpone
e limão
200gr de natas batidas
250gr de mascarpone
50gr de açúcar em pó
Raspa de 1 limão
Bater as natas com o mascarpone e açúcar. Adicionar a
raspa de limão.
Cobrir e rechear o bolo depois de completamente arrefecido. Decorar com lascas
de coco tostadas.Voltar a
colocar no forno por mais 5
minutos.
a
Comer Fora D`horas… por António Janela
É
angustiante, se não
mesmo
frustrante, tentar comer na
zona mais turística
do Funchal, zona do Lido,
depois das 21:30 aos dias de
semana. A principal razão é
que a esmagadora maioria
das cozinhas fecham às 21:30,
depois dessa hora não há praticamente nada aberto para
se poder jantar. Esta triste
constatação é ainda mais bizarra se atendermos ao cosmopolitismo propagandeado
da cidade do Funchal.
Uma cidade cosmopolita
onde, aos dias de semana,
não se come depois das 21:30
é surreal.
A última vez que me aconteceu querer jantar nesta
zona fui a cinco, sim está
correcto caro leitor, cinco
restaurantes e todos eles deram a mesma resposta, neste particular até parece que
existe uma cartelização nos
argumentos, “a cozinha fecha às 21:30”. Presumem os
leitores que quereria jantar
tardíssimo para obter estas
respostas?
Sim, o meu pecado foi querer
jantar às 21:35 numa das zonas com mais concentração
de restaurantes por metro
quadro da cidade. Depois de circular por cinco
restaurantes em que infrutiferamente tentei jantar, e já
num estado de fúria incontida, eis que me lembrei do
Fora D´Horas. Em boa hora
me lembrei , depois deste episódio já lá voltei por quatro
ocasiões, e ele lá estava, com
a cozinha aberta até às 24:00.
Em relação ao restaurante
em si, um espaço despojado
com uma esplanada “cool”,
um serviço simpático e
atento a que se junta uma
ementa
verdadeiramente
global, Italiana, Indiana e
Portuguesa, com muitas opções de bifes, passando pelas pizzas e terminando com
umas chamuças.
Agora já sabe, se pretender
jantar depois das 21:30, naquela zona, não perca muito tempo, vá directo ao Fora
D`Horas e, certamente, o
Ricardo ou o Gil e a restante
equipa vão recebê-lo de braços abertos para um jantar
ou até mesmo para uma jantarada
a
SÁB 28 NOV 2015 | açúcar | 15
boca doce
marco gil cabral
1
Monumental Fitness Club (Club Manager)
Four Views Hotels (Diretor de animação artística)
Que opinião tem dos
madeirenses que escondem o sotaque?
Cada um sabe de si.
Três características da
sua personalidade que
melhor o definem?
Positivo, bem disposto,
confiante 14
2
A crítica mais construtiva que já lhe fizeram? E a mais injusta
ou absurda?
“Sê tu próprio, não imites ninguém” (Sérgio Borges)
As que dizem pelas costas, adoro (risos)
3
A decisão mais
importante que teve
de tomar?
“Não vais chegar lá”. Ter
que abandonar o palco
enquanto bailarino. Doeu,
mas um dia ia ter que ser
4
A sua dúvida mais
persistente?
Quem é que manda nisto
tudo?
13
10
5
Um arrependimento?
Ter deixado de falar com
um amigo muito especial,
mas tenho esperança que
um dia ainda vamos tirar
isto a limpo “Ft” 6
Um ato de coragem?
Não ter emigrado
7
Uma atitude imperdoável?
Algumas, mas nenhuma
que se partilhe.
Quem são os seus
heróis na vida real?
Muito sinceramente não tenho heróis.
8
A companhia ideal
para uma conversa
metafísica?
Benedict Fitzgerald –
“Paixão de Cristo”
9
Qual é a sua maior
extravagância?
Carros e motas
11
Uma doce memória da
infância?
Os fins de semana em família e com amigos na casa de
campo da Camacha 12
O que distingue um
madeirense de um
continental
(além do sotaque)?
Estarmos rodeados de mar.
Que expressões madeirenses usa com maior
frequência?
Apazz ... E rio-me sempre, adoro
15
A quem gostaria de
pagar uma poncha?
Ao tal amigo para a tal
conversa 16
5 Segredos da ilha…
Local: gosto muito da
zona do Santo/Poiso
Hotel: Four Views Hotels
Restaurante: churrascaria «O Viola» Atividade ao ar livre:
várias, mas a melhor,
sem dúvida, passear com
o meu filho e a minha
mulher
Loja: Fnac
Somos cada vez mais
na rede móvel da NOS
Entra neste movimento. Neste Natal, todos
os smartphones desbloqueados e com o dobro da net
no telemóvel, durante um ano. Há mais em nós.
Campanha válida na compra de smartphones até 31 de dezembro 2015.
Condições de adesão à campanha de oferta do dobro da internet e de desbloqueio dos smartphones em nos.pt
Samsung
Grand Prime
€170,99
Desbloqueado
Liga
16130
vai a uma loja

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