FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
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FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL INSTITUTO GUGA KUERTEN CÉLIA DIVA RENCK HOEFELMANN Pesquisadora EDUCAÇÃO CONDUTIVA EM SANTA CATARINA: AVALIAÇÃO DE UM PROJETO FLORIANÓPOLIS (SC) 2007 FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL INSTITUTO GUGA KUERTEN CÉLIA DIVA RENCK HOEFELMANN EDUCAÇÃO CONDUTIVA EM SANTA CATARINA: AVALIAÇÃO DE UM PROJETO Relatório de pesquisa para apresentar os resultados do Projeto de Educação Condutiva desenvolvido com crianças e adolescentes com paralisia cerebral em serviços de atendimento especializado e articulado com a formação contínua dos profissionais. FLORIANÓPOLIS (SC) 2007 Dedico este trabalho aos profissionais que buscam qualificar sua formação para promover a aprendizagem do aluno com paralisia cerebral. INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES Instituto Guga Kuerten Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Balneário Camboriú – Escola Especial Tempo Feliz Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Camboriú – Escola Especial Alegria de Viver Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Itajaí – Escola Especial Vale da Esperança Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Florianópolis – Instituto de Educação Especial Professor Manoel Boaventura Feijó Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Porto Belo – Escola Especial Ensina-me a Viver Associação Beneficente Pássaros da Luz de Itajaí – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva AGRADECIMENTOS À Fundação Catarinense de Educação Especial e ao Instituto Guga Kuerten, pela promoção desta pesquisa. Às APAEs de Balneário Camboriú, Camboriú, Itajaí, Florianópolis e Porto Belo e ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, pela participação e apoio incondicional neste trabalho. Aos alunos, que nos ensinaram muito neste ano. Aos seus familiares, pelo apoio durante o percurso. Aos fisioterapeutas Dionísia, Bernardo, Jussara, Luís, Michel, Renata, Roberta e Sheila, por esta longa caminhada e nem sempre muito tranqüila. Aos professores e fonoaudiólogos participantes dos grupos, por compartilhar os momentos preciosos que vivemos ao longo deste ano. À Alice, pelo apoio, pelas contribuições e pelo acompanhamento deste trabalho. À Raquel, pelos momentos de aprendizagem, pela disponibilidade incondicional, enfim, pelos momentos compartilhados. À Gracia, pela colaboração e apoio nesta pesquisa. À Maria Nilza, Neusa, Edite e Márcia, companheiras em algumas discussões. Ao Sérgio, pelas orientações com a escrita do texto. À Mauricéa, pelas valiosas contribuições. À Sandra Mara, por sempre estar disposta a atender os meus pedidos. Para refletir: Mais do que abordar a Educação Condutiva, discuto, neste trabalho, a importância da formação profissional. Durante alguns meses, os papéis se inverteram: fomos alunos, corremos atrás do desafio, negamos o mesmo desafio, sentimo-nos ameaçados, arrancados do nosso pedestal, destituídos da nossa segurança, e aí veio a crise... Que fazer? Resistir, negar, ter medo ou buscar criar o novo, que custava tanto a nascer? Com certeza o nosso grande companheiro de jornada foi o desafio diário... E a cada desafio superado, outros surgiam! Por que algo tão simples pode ser tão complexo? Ah, essa Educação Condutiva... Mas o que queremos com ela? Queremos ensinar nossos alunos a fazer movimentos para serem mais independentes. É isso? É isso, responde a condutora. Então, queremos ensinar nossos alunos... E por que nos custa tanto aprender? RESUMO Este relatório tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa que avaliou as contribuições da Educação Condutiva para crianças e adolescentes com paralisia cerebral em programas de atendimento especializado, vinculando-as à formação contínua dos profissionais envolvidos e às possibilidades de implantação da proposta em outras instituições especializadas no Estado de Santa Catarina. Participaram desta pesquisa as seguintes instituições: Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, Fundação Catarinense de Educação Especial e APAEs de Balneário Camboriú, Camboriú, Itajaí, Florianópolis e Porto Belo. A Educação Condutiva é uma abordagem pedagógico-terapêutica desenvolvida pelo húngaro András Petö e que entende a paralisia cerebral não como um problema médico ou terapêutico, mas como um problema de aprendizagem. Ela é orientada por um profissional com formação multidisciplinar, o condutor. As instituições contaram, durante o segundo semestre deste ano, com a assessoria de uma condutora. Os resultados desta pesquisa apontam para a complexidade da Educação Condutiva e as dificuldades dos profissionais em se apropriarem de sua essência. Entretanto, mesmo com os profissionais ainda em processo de aprendizagem, os alunos já refletem resultados positivos. A condutora esteve à frente do grupo no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, que foi o grupo que desenvolveu a abordagem na sua essência e nele foram percebidos vários avanços. Pela complexidade da Educação Condutiva, não é possível implantá-la em outras instituições sem a assessoria/presença de um condutor. Mesmo os profissionais participantes desta pesquisa ainda precisam desta forma de apoio, pois a sua aprendizagem não se encontra consolidada. Palavras-chave: Educação Condutiva. Paralisia Cerebral. Formação Contínua. Aprendizagem. Condutor. CONCEITOS EDUCAÇÃO CONDUTIVA: É uma abordagem pedagógico-terapêutica, desenvolvida pelo médico e pedagogo húngaro András Petö (1893-1967). Destina-se a pessoas com alterações motoras como a paralisia cerebral, enfermidades degenerativas (Mal de Parkinson, escleroses múltiplas) e também para aquelas que sofreram dano cerebral por acidente. Esta abordagem consiste em estimular integralmente as pessoas sobre a base de sua própria criatividade e entorno cotidiano, proporcionando a conexão entre as ações e o significado destas ações. A expressão “Educação Condutiva” está viciada por um viés ideológico, que lembra concepções behavioristas, entretanto, não está se falando a partir desta perspectiva. A Educação Condutiva faz referência a um processo de aprendizagem, no qual se estabelece uma sociedade entre o profissional (condutor) e os alunos para criar as circunstâncias propícias para aprender. É uma abordagem de natureza educativa e não um tratamento ou terapia. Podese afirmar que o embasamento teórico desta abordagem é bastante complexo, assim como suas práticas, e por isto a implantação e o desenvolvimento de propostas de Educação Condutiva requerem um profissional com uma formação multidisciplinar, que é o condutor. CONDUTOR: O profissional responsável pelos programas é o condutor, que é formado para exercer a ação de educar pelas estratégias práticas e teóricas da abordagem Petö. Ele recebe formação acadêmica de quatro anos nos Centros de Educação Condutiva (Hungria e Inglaterra), estruturando seu fazer multidisciplinar com conhecimentos de fisiologia, psicologia, pedagogia, neuropsicologia, logopedia, música e de outras disciplinas. O condutor apresenta ao aluno o entorno sócio-cultural e se ocupa em criar um ambiente que promova a independência e, sobretudo, a vontade e o desejo de aprender, buscando a funcionalidade ativa, ou seja, a ortofunção. Responsabiliza-se, também, pelo planejamento, execução e acompanhamento constante do processo educativo. ORTOFUNÇÃO: É a funcionalidade ativa. O critério da ortofunção é a atividade, é a capacidade de atuar, a habilidade para se adaptar a novas situações e desenvolver estratégias para resolver situações-problemas. PROGRAMA: O atendimento na Educação Condutiva é organizado por programas com características e qualidades específicas e bem definidas: programa deitado, programa sentado, programa preparatório para em pé, programa em pé, programa individual e programa manipulativo. FACILITAÇÃO: A facilitação compreende todos os fatores que ajudam o aluno a atingir um objetivo. A facilitação aparece em todas as tarefas com o aluno. Ela tem um sentido pedagógico amplo. Este termo já era referido na literatura, mas teve o seu significado redimensionado com a “facilitação condutiva” de Petö. FACILITADOR: Refere-se ao profissional que atua com os alunos, possibilitando a estes as ajudas necessárias. Enquanto o condutor é responsável pela condução dos programas junto ao grupo, o facilitador se ocupa, geralmente, com um dos alunos. O termo facilitador (como profissional) não existe na abordagem Petö, pois na Hungria todos os que trabalham nos programas são condutores. Na realidade do México e Brasil, com poucos condutores, torna-se necessário o papel do facilitador. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................10 2 EDUCAÇÃO CONDUTIVA ..............................................................................................16 2.1 O papel da aprendizagem ................................................................................................20 2.2 Elementos essenciais .........................................................................................................22 2.2.1 O condutor .......................................................................................................................22 2.2.2 O programa ......................................................................................................................23 2.2.3 A série de tarefas .............................................................................................................25 2.2.4 Intenção rítmica ...............................................................................................................26 2.2.5 O grupo ............................................................................................................................26 2.3 Princípios básicos da educação condutiva......................................................................27 3 PERCURSO METODOLÓGICO .....................................................................................31 3.1 Descrição da realidade .....................................................................................................36 3.2 Crítica da realidade ..........................................................................................................40 3.2.2 Formação contínua ..........................................................................................................44 3.3 Criação coletiva.................................................................................................................52 4 CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO CONDUTIVA: PEQUENOS / GRANDES AVANÇOS...............................................................................................................................60 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................64 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................67 10 1 INTRODUÇÃO O presente relatório tem como objetivo apresentar os resultados do Projeto de Pesquisa que buscou avaliar as contribuições da Educação Condutiva1 para crianças e adolescentes com paralisia cerebral em serviços de atendimento especializado. Convém salientar que a Educação Condutiva já é consagrada em diferentes países e a avaliação, neste Projeto, está intrinsecamente associada à formação contínua dos profissionais envolvidos e se orienta na perspectiva de viabilizar a implantação da proposta em outras instituições especializadas no Estado de Santa Catarina. Esta pesquisa foi decorrente de uma parceira entre a Fundação Catarinense de Educação Especial e o Instituto Guga Kuerten e contou com a participação de alunos e profissionais das seguintes instituições: Escola Especial Tempo Feliz (APAE Balneário Camboriú), Escola Especial Alegria de Viver (APAE de Camboriú), Escola Especial Vale da Esperança (APAE de Itajaí), Instituto de Educação Especial Professor Manoel Boaventura Feijó (APAE de Florianópolis)2, Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE – São José) e Associação Beneficente Pássaros da Luz (Itajaí). A Educação Condutiva é uma abordagem3 pedagógico-terapêutica, desenvolvida pelo médico húngaro András Petö (1893-1967) para pessoas com alterações motoras, principalmente com paralisia cerebral. Trata-se de uma pedagogia do movimento, que tem por objetivo melhorar o desenvolvimento motor e incrementar a independência nos diversos aspectos da vida cotidiana. É considerada uma abordagem de natureza educativa e não um tratamento ou terapia. Assim, pode-se afirmar que o embasamento teórico desta abordagem é bastante complexo e requer a presença de um profissional com uma formação diferenciada, que é o condutor. 1 É importante alertar o leitor que o nome Educação Condutiva está viciado por um viés ideológico, que lembra concepções behavioristas, entretanto, aqui se está falando a partir de outra perspectiva. Esta abordagem faz referência a um processo de aprendizagem que envolve uma sociedade entre o profissional (condutor) e os alunos para criar as circunstâncias propícias para aprender. 2 A partir deste momento, usar-se-á o termo APAE para padronizar a escrita em substituição aos nomes das escolas especiais: Escola Especial Tempo Feliz (APAE de Balneário Camboriú), Escola Especial Alegria de Viver (APAE de Camboriú), Escola Especial Vale da Esperança (APAE de Itajaí) e Instituto de Educação Especial Professor Manoel Boaventura Feijó (APAE de Florianópolis). 3 A literatura fala em “sistema”, porém, a pesquisadora optou por usar o termo “abordagem” no texto por entender que é mais coerente, uma vez que o conceito de sistema, no contexto educacional brasileiro, denota uma estrutura muito mais ampla. 11 O condutor é o profissional responsável pelos programas4, formado para exercer a função de educar pelas estratégias práticas e teóricas da abordagem Petö. Ele recebe orientação acadêmica multidisciplinar de quatro anos em Centros de Educação Condutiva da Hungria ou da Inglaterra. O condutor apresenta ao aluno o entorno sócio-cultural e se ocupa em criar um ambiente que promova a independência e, sobretudo, a vontade e o desejo de aprender, buscando a funcionalidade ativa, ou seja, a ortofunção. Responsabiliza-se, também, pelo planejamento, execução e acompanhamento constante do processo educativo. Como a Educação Condutiva requer a presença de um condutor, para desenvolver esta pesquisa foi fundamental unificar as instituições envolvidas em um só Projeto, de forma a viabilizar a participação de um profissional com esta formação específica. Neste sentido, por intermédio de parcerias entre Fundação Catarinense de Educação Especial, Instituto Guga Kuerten e Secretaria Municipal de Educação de Itajaí, contou-se com a assessoria da condutora neuro-reabilitadora mexicana Evangelina Raquel Labastida Del Toro5 durante o segundo semestre de 2007. A condutora veio ao Brasil especialmente para este trabalho. Convém salientar que sua assessoria foi possível somente no segundo semestre – e não durante todo o ano letivo de 2007, conforme estava previsto no projeto inicial –, devido a dificuldades na liberação do seu visto de entrada e permanência no país. Com exceção da Fundação Catarinense de Educação Especial, as demais instituições já vinham adotando estratégias relacionadas à Educação Condutiva, mas estavam impossibilitadas de desenvolver um projeto integral neste sentido porque ainda não tinham um condutor em seu quadro de profissionais e também, obviamente, por não dominarem os pressupostos desta abordagem pedagógica-terapêutica. Devido a este fato, cada instituição optou por um nome específico para o seu atendimento: Educação Ativa (APAE de Itajaí), Educação e Movimento (APAE de Balneário Camboriú), Educação Dinâmica (APAE de Camboriú), Educação pelo Movimento (APAE de Florianópolis) e Educação e Motivação (FCEE). 4 Programa se refere à organização do atendimento, que é dividido em: programa deitado, programa sentado, programa preparatório para em pé, programa em pé, programa individual e programa manipulativo, cada um com objetivos bem específicos. 5 Evangelina Raquel Labastida Del Toro tem graduação em Comunicação Humana pela Universidade Autônoma de Morelos (Cuernavaca/México) e Mestrado em Educação Condutiva pela Universidade Pública de Navarra/Espanha, este organizado pela Fundação Universidade-Sociedade e realizado em conjunto pelo Instituto Petö de Budapeste – Hungria (Petö András Institute for Conductive Education of the Motor Disabled and Conductor’s College) e pelo Instituto Español de Educación Conductiva/Centro Neurorrehabilitador/Fundación Aspace Navarra. 12 A Associação Beneficente Pássaros da Luz de Itajaí, por sua vez, desenvolveu a Educação Condutiva, pois contou com a presença direta da condutora como líder do grupo, passando este a ser chamado “grupo referência”. O espaço da Associação, denominado Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, serviu como local para estágios de observação e prática. A iniciativa da implantação das estratégias nas instituições foi decorrente da participação de alguns profissionais da região do Vale do Itajaí em curso na Instituição Con Nos/Otr@s, A.C. Desarrollando la Educación Conductiva en México (julho/2005)6 e cursos intensivos oferecidos aos profissionais7 no Brasil. Pelo relato destes profissionais, a proposta tem contribuído muito para o desenvolvimento8 dos alunos participantes dos programas. Em âmbito estadual, surgiu um interesse entre os profissionais da Educação Especial de outras instituições (até porque a Educação Condutiva foi divulgada no XXII Congresso Estadual das APAEs, realizado em agosto de 2006 pela APAE de Balneário Camboriú e pela Federação Estadual das APAEs de Santa Catarina), desencadeando solicitações de cursos e de estágios nas instituições que desenvolvem a abordagem. Neste sentido, antes de uma maior propagação pelo Estado, para se ter clareza dos pressupostos, exigências e benefícios envolvidos, a Fundação Catarinense de Educação Especial e o Instituto Guga Kuerten resolveram desenvolver esta pesquisa para avaliar as contribuições da Educação Condutiva, analisando aspectos relativos à formação dos profissionais e às implicações para implantação da proposta em outros centros especializados. Assim, os resultados deste estudo também fornecem informações relevantes quanto à viabilidade e aos possíveis desdobramentos do processo de estruturação da Educação Condutiva como política estadual de atendimento especializado para pessoas com alterações motoras, principalmente com paralisia cerebral. 6 Os seguintes profissionais participaram deste curso: Célia Diva Renck Hoefelmann (pesquisadora e autora deste trabalho), Emília Mendes, Gracia Maria Nascimento Corrêa (coordenadora da Associação Beneficente Pássaros da Luz), Mauricéa L. Machado (diretora da Escola Especial Vale da Esperança – APAE de Itajaí) e Roberta N. Werner (funcionária da Associação Beneficente Pássaros da Luz). 7 O Instituto Guga Kuerten promoveu dois cursos de Educação Condutiva: em janeiro de 2006, contando com o apoio da APAE de Itajaí e coordenado pela MSc. Gracia Maria Nascimento Corrêa; e em agosto 2006, com o apoio da APAE de Florianópolis e coordenado pela MSc. Célia Diva Renck Hoefelmann. O condutor responsável pelos dois cursos foi Irving Ortiz Ávila da Instituição Con Nos/Otr@s, A.C. Desarrollando la Educación Conductiva en México. Participaram, destes cursos crianças, adolescentes e jovens com alterações motoras e profissionais representantes das instituições. 8 Entende-se por desenvolvimento, nesta pesquisa, o processo de domínio, no sentido de maior independência para estabelecer uma melhor relação com o mundo físico e social. 13 Para viabilizar a pesquisa, foram realizadas parcerias entre as seguintes instituições: FCEE, Instituto Guga Kuerten, Secretaria Municipal de Educação de Itajaí, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva e APAEs9 de Balneário Camboriú, Camboriú, Itajaí e Florianópolis e houve um significativo investimento de recursos humanos e financeiros, incluindo pagamento de serviços prestados pela condutora e por outros profissionais, aquisição de equipamentos específicos para Educação Condutiva, passagens áreas México-Brasil-México, além de despesas relativas ao deslocamento para as assessorias. Como a avaliação não ficou desvinculada da formação contínua dos profissionais envolvidos e das implicações desta na ação com os alunos participantes do programa, inclusive porque é uma proposta que está sendo construída, a formação foi um dos focos principais. Neste contexto, a pesquisadora assumiu papéis relevantes no sentido de auxiliar na estruturação dos programas, colaborar com a implantação da proposta na FCEE, organizar e coordenar a formação dos profissionais, assessorar e participar da avaliação dos programas. A partir do segundo semestre, este trabalho foi qualificado com a presença da condutora, que inicialmente deu prioridade à organização de seu grupo de atendimento (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva) e depois passou a acompanhar a pesquisadora nas assessorias nas demais instituições. Cabe salientar que a Educação Especial reivindica práticas que contribuam de maneira mais eficaz para a aprendizagem do aluno com paralisia cerebral. Este fato torna-se mais relevante quanto este aluno tem histórico também de deficiência mental, que constitui critério para matrícula na Escola Especial/APAE. Em muitas situações, há uma dificuldade muito grande em estabelecer, entre o aluno e o profissional, uma forma de comunicação, que é requisito fundamental para qualquer processo educacional. Este é um consenso entre a maioria dos profissionais da Educação Especial e que, provavelmente, motivou o interesse pela Educação Condutiva. 9 De forma indireta, também houve a parceria de outras instituições vinculadas às APAEs, como, por exemplo, o município de Balneário Camboriú, que cede o fisioterapeuta e alguns professores para a Instituição, além de ter auxiliado para a aquisição dos equipamentos Petö. 14 Importa ainda ressaltar que a Educação Condutiva é uma proposta direcionada para alunos com qualquer alteração motora, entretanto, para fins desta pesquisa, foram acompanhados os alunos com paralisia cerebral10, participantes dos programas. Assim, para elucidar a temática “Educação Condutiva como possibilidade de atendimento especializado para alunos com paralisia cerebral”, foram articuladas ações para estruturar um projeto que fornecesse subsídios para responder as seguintes questões de pesquisa: a) Quais as contribuições da Educação Condutiva para o desenvolvimento de crianças e adolescentes com paralisia cerebral em programas de atendimento especializado? b) Quais as implicações na implantação da Educação Condutiva em outras instituições especializadas como política de atendimento especializado? c) A formação contínua oferecida aos profissionais envolvidos na proposta tem contribuído para que eles desenvolvam práticas condizentes com os pressupostos da Educação Condutiva? A busca por respostas a estas questões indicou como objetivo geral da pesquisa: avaliar as contribuições da Educação Condutiva para crianças e adolescentes com paralisia cerebral em programas de atendimento especializado, vinculando-as à formação contínua dos profissionais envolvidos e às possibilidades de implantação da proposta em outras instituições especializadas no Estado de Santa Catarina. Para a concretização deste objetivo, foram definidos como objetivos específicos: a) Analisar os benefícios da Educação Condutiva para crianças e adolescentes com paralisia cerebral durante e após a participação em programas estruturados durante o ano letivo de 2007. b) Acompanhar os resultados de grupos de Educação Condutiva do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, da FCEE e das APAEs de Balneário Camboriú, 10 A paralisia cerebral é o termo utilizado para definir um conjunto de distúrbios motores decorrentes de lesão no cérebro durante os primeiros estágios de desenvolvimento humano. Pode ocorrer também alteração mental, visual, auditiva, da linguagem e do comportamento. A lesão é estática: não muda e não se agrava, ou seja, o quadro não é progressivo. No entanto, algumas características podem mudar com o tempo. 15 Camboriú, Itajaí, Florianópolis, todos com diferentes organizações de tempo e intensidade e com variações no tocante à assessoria da condutora. c) Subsidiar a formação dos profissionais no tocante à Educação Condutiva, articulando teoria e prática. d) Estudar a viabilidade de implantar a Educação Condutiva em outros centros educacionais especializados do Estado de Santa Catarina, como política de atendimento a crianças e adolescentes com paralisia cerebral. Para responder às questões de pesquisa, a pesquisadora organizou este trabalho da seguinte forma: O segundo capítulo apresenta a fundamentação teórica sobre a Educação Condutiva, sendo relevante, na medida em que se propõe a esclarecer ao leitor aspectos relacionados a esta abordagem. Para escrever sobre a Educação Condutiva, a pesquisadora buscou suporte em fontes bibliográficas especializadas, mas principalmente nas ações e falas da condutora Raquel, uma vez que o aprendizado desta abordagem se efetiva, em grande parte, no entrelaçamento da teoria e da prática. O terceiro capítulo descreve o percurso metodológico da pesquisa, que foi desenvolvida a partir de uma abordagem qualitativa e de uma metodologia que se apóia nos fundamentos da avaliação de programa proposta por Saul (1999). Esta metodologia estabelece três momentos de investigação: descrição da realidade, crítica da realidade e criação coletiva, que muitas vezes se interpenetram ou se sobrepõem. Este capítulo também discorre sobre a análise dos dados e foca especialmente na formação dos profissionais em relação à Educação Condutiva. O quarto capítulo discute as contribuições da Educação Condutiva para os alunos com paralisa cerebral, principalmente a partir do grupo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva. O último capítulo apresenta os resultados da pesquisa e os possíveis encaminhamentos para dar continuidade ao trabalho de Educação Condutiva em Santa Catarina. 16 2 EDUCAÇÃO CONDUTIVA A origem da Educação Condutiva remonta ao ano de 1945, em Budapeste (Hungria), e foi desenvolvida pelo húngaro András Petö, que tinha conhecimentos de neurologia, ortopedia e educação e que, insatisfeito com as práticas tradicionais aplicadas às pessoas com alterações motoras, delineou um novo caminho a partir de um olhar educacional. A abordagem se destina a pessoas com alterações motoras como a paralisia cerebral, enfermidades degenerativas (Mal de Parkinson, escleroses múltiplas) e também para aquelas que sofreram dano cerebral por acidente. Petö (1893-1967) nasceu em Szombathely, Hungria, cidade situada na fronteira com a Áustria e os Alpes. A condutora Raquel citou dois aspectos da vida pessoal de Petö que sugerem motivos para a estruturação da Educação Condutiva: a referência de sua mãe, que era professora e tinha uma vida muito organizada, e o fato de seu pai ter o Mal de Parkinson e ser usuário de cadeira de rodas. Raquel valorizou estes fatos porque, segundo ela, “a Educação Condutiva pede as coisas bem pontuais, sistemáticas, com estrutura organizada; este era o perfil da mãe de Petö, e ele tinha conhecimento das dificuldades de quem tem uma seqüela motora, como era o caso de seu pai”. Em 1911, Petö estudou Medicina em Viena (Áustria), que era, na época, importante centro intelectual europeu, e teve a oportunidade de conviver com Freud11 e Moreno12. Naquela época, fez teatro improvisado com Moreno, o que, provavelmente, contribuiu para alicerçar sua teoria sobre o trabalho em grupo. Desenvolveu suas primeiras experiências profissionais em vários hospitais na Áustria. Depois foi líder de várias clínicas e institutos austríacos de saúde. Nunca aceitou dinheiro de seus pacientes e buscou financiamento com empresas. Inclusive, produzia um periódico e vivia dos créditos de suas publicações sobre outros temas que não a Educação Condutiva. É muito provável que também tenha escrito alguns artigos com pseudônimos para se proteger da perseguição política empreendida pelos nazistas contra aqueles que, como Petö, tinham origem judaica. 11 12 Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista judeu-austríaco foi o fundador da Psicanálise. Jacob Levy Moreno (1889-1974) é o criador do Psicodrama. 17 Com a ditadura de Hitler, ele foi morar para Paris e ali começou a delinear sua teoria. Em 1938, voltou a Budapeste e se refugiou em um sótão na casa de amigos. A filha do casal que o acolheu tinha paralisia cerebral e Petö passava a maior parte de seu tempo trabalhando e brincando com ela. Com o término da Segunda Guerra Mundial, começou a trabalhar com crianças com paralisia cerebral, fazendo germinar a Educação Condutiva. Em 1950 foi construído o primeiro Instituto de Educação Condutiva na Hungria, vinculado ao Ministério da Saúde daquele país até o início dos anos 1960, quando a Educação Condutiva passou a ser entendida como parte do sistema educacional e o Instituto passou então à gerência do Ministério da Educação. Petö se concentrou na formação de profissionais para trabalhar com crianças com paralisa cerebral. Ensinou aos profissionais que há formas de educar uma pessoa com dano cerebral, quando se encontram estratégias para a reabilitação e, a partir desta premissa, criou a categoria profissional de condutor. Em 1965 foi aprovada oficialmente a formação específica de condutor, ou seja, do profissional que se dedica a ensinar os alunos a mover o seu corpo. Atualmente, esta formação tem duração de quatro anos e é considerada uma graduação. Com a morte de András Petö em 19 de setembro de 1967, a doutora Maria Hári13, seus colegas e estudantes deram continuidade ao trabalho por ele desenvolvido. Em 1970, o Instituto abriu suas portas para o atendimento de crianças procedentes de outros países e em 1985 foi concluída a construção do segundo edifício, que é sede atual do Instituto Petö e serve para atender e albergar pessoas com alterações motoras. Com a queda da Cortina de Ferro14 em 1989, o governo húngaro criou a Fundação Internacional András Petö com o objetivo de difundir a Educação Condutiva pelo mundo. Nessa mesma década, Ester Cotton e Andrew Sutton15 fundaram uma escola de Educação Condutiva em Birmingham, na Inglaterra, que no início atendia pessoas com seqüelas motoras e atualmente funciona também como centro de formação de condutores. Salienta-se que esta associação de atividades é necessária, já que o aprendizado da Educação Condutiva requer prática e, neste sentido, torna-se fundamental a estruturação dos atendimentos. Foram as duas instituições, a húngara e a inglesa, que promoveram a internacionalização da Educação Condutiva. 13 Maria Hári trabalhou com Petö e deu continuidade ao seu trabalho, inclusive escrevendo artigos sobre Educação Condutiva. Também foi diretora do Instituto Petö. Faleceu em 06 de outubro de 2001. 14 Cortina de Ferro é a expressão cunhada por Winston Churchill para descrever uma linha imaginária que dividia o mundo entre o capitalismo e socialismo. 15 Andrew Sutton é atualmente o diretor da Escola de Educação Condutiva em Birmingham, Inglaterra. 18 Atualmente, há Centros de Educação Condutiva na Hungria, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Espanha, Israel, Alemanha, Japão, Austrália, Noruega, Nova Zelândia e México. No Brasil, há iniciativas em São Paulo16 e nas Instituições participantes desta pesquisa. Em Florianópolis, o “Projeto Educação Condutiva com Amor” iniciou o atendimento a crianças com paralisia cerebral no início deste ano. Duas condutoras, uma húngara e outra inglesa, conduzem os programas. Aliás, a idealizadora deste Projeto, Leticia Búrigo Tomelin Kuerten, publica muitas informações sobre a Educação Condutiva em seu blog17, o qual se constitui em uma importante fonte de referência para os profissionais e familiares que buscam conhecer mais sobre a abordagem. No contexto brasileiro, a literatura disponível – composta principalmente por textos traduzidos de outros idiomas – já trazia informações superficiais sobre esta abordagem, usando nomes como Educação Orientadora e Educação Guiada, mas sem chamar a atenção dos leitores brasileiros. O termo Educação Guiada, por exemplo, é apresentado brevemente por Shepherd (1996), em um dos capítulos de seu livro “Fisioterapia em Pediatria”, o qual se destina a apresentar resultados da eficácia dos diversos métodos de fisioterapia relacionados à abordagem Petö. De acordo com o trabalho publicado por Robsinson e Cols (1989), aproximadamente 12% das crianças submetidas à educação guiada no Instituto Petö de Budapeste, durante o período de 4 anos, de 1985 a 1988, conseguiram atender escolas normais, após receberem alta do Instituto. Os resultados preliminares de pesquisa realizada na Inglaterra, em 8 crianças com PC, mostram que elas conseguiram algum progresso em relação à independência dos movimentos, à fala e aos cuidados pessoais (SHEPHERD, 1996, p. 125-126). Em outro capítulo, este mesmo autor discute a deficiência mental e a fisioterapia, fazendo o seguinte comentário: A Educação Guiada, mantida pelo prazo de 22 meses, em pesquisa publicada por Cottam e Sutton (1995), não se revelou mais eficaz que as aulas convencionais em um grupo de crianças de mais de 4 anos que apresentavam retardo mental profundo (SHEPHERD, 1996, p.171). 16 17 Para mais informações, acessar o site: http://www.grhau.com.br Consultar o site: http://educacaocondutiva.blogspot.com 19 A discussão sobre a utilização da abordagem para pessoas com deficiência mental é bastante polêmica e, por este motivo, carece de uma análise específica, o que será feito no decorrer deste relatório. Discorrer sobre a Educação Condutiva constitui uma tarefa árdua, pois se tem pouca produção teórica sobre o tema na língua portuguesa. Conforme já mencionado anteriormente, Petö não deixou material escrito sobre o método, cabendo a seus seguidores sistematizá-lo teoricamente. Geralmente, os textos traduzidos para o português simplificam a teoria e a apresentam de maneira fragmentada e superficial, muitas vezes dando margem para o entendimento equivocado de que se trata de uma abordagem muito simples. Mas, ao contrário, por ter um enfoque multidisciplinar, a Educação Condutiva abrange uma diversidade de aspectos que se relacionam, como se compusessem uma grande rede. E compreender toda esta complexidade somente é possível articulando a teoria com a prática. Estas constatações foram confirmadas pela condutora Raquel que, em um dos encontros com os participantes da pesquisa, comentou que “sobre a Educação Condutiva não há muitas coisas escritas; não se pode buscar em bibliotecas, como outra teoria; então, para aprender, vocês precisam me questionar mais”. A pesquisadora seguiu este caminho, tentando tecer um referencial teórico que fornecesse sustentação à prática, a partir das falas e ações da condutora, sem desconsiderar as informações coletadas na literatura e as obtidas por intermédio dos cursos de Educação Condutiva apoiados pelo Instituto Guga Kuerten. A fim de evitar possíveis distorções teóricas, o produto final deste capítulo passou pelo crivo da condutora Raquel e foram feitas as alterações sugeridas por ela. Mesmo assim, este referencial não é considerado como algo pronto, acabado, mas ainda em um processo de construção. Garimpando também os materiais escritos, a pesquisadora teve acesso a um artigo apresentado por Anita Tatlow em um congresso internacional realizado na cidade de Jerusalém em outubro de 1997. A autora faz uma analogia entre a teoria de Vygotsky/Luria18 e a abordagem de Petö. Em trabalhos futuros seria interessante fazer a interlocução entre as duas teorias. Lev Semionovitch Vygotsky (1896-1934), psicólogo bielo-russo, e Alexander Romanovich Luria (1902-1977) neuropsicólogo russo, desenvolveram um novo tipo de Psicologia, relacionando os processos psicológicos com aspectos culturais, históricos e instrumentais, com ênfase no papel fundamental da linguagem. 20 Aliás, há um movimento tentando fazer aproximações da Educação Condutiva também com a teoria da Modificabilidade Cognitiva de Reuven Feuerstein19. Para exemplificar, pode-se citar Jo Lebeer (1995)20, que dá ênfase ao papel da mediação e aproxima as duas abordagens. Andrew Sutton, por sua vez, divulga em seu blog a realização de conferência internacional para a comemoração, em dezembro deste ano, do vigésimo aniversário da Tsad Kadima21 – instituição israelense que trabalha com Educação Condutiva–, colocando em evidência a presença de Feuerstein, convidado para participar e falar sobre “como unir as duas teorias a fim de criar mais que a soma das partes22”. Em um pequeno texto publicado no mesmo blog, Feuerstein relata que conheceu Maria Hári e teve com ela uma longa discussão sobre a temática, afirmando que ficou impressionado com a estreita afinidade entre a Educação Condutiva e a Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural. Percebe-se que a busca por estabelecer relações teóricas da Educação Condutiva com outras abordagens é uma questão muito atual e está apenas no seu começo. Possivelmente, após o evento em Israel, novas discussões sobre esta questão se farão presentes nos contextos de formação e estudo sobre a Educação Condutiva. 2.1 O papel da aprendizagem A Educação Condutiva é uma pedagogia do movimento, baseada no fato de que o cérebro, mesmo lesado, não cessa de aprender. Contrariamente à idéia de que os danos do sistema nervoso central são irreversíveis, a Educação Condutiva defende que a aprendizagem é possível quando se apresentam objetivos funcionais que respondem às necessidades reais e que exigem do cérebro a busca de soluções, obviamente em condições ambientais e psicológicas apropriadas a este processo. 19 Reuven Feuerstein nasceu na Romênia em 1921 e graduou-se em Psicologia. Trabalhou com crianças provenientes dos campos de concentração do holocausto judeu. Desenvolveu a Teoria da Modificabilidade Cognitiva em Israel. 20 Jo Lebeer faz parte do Departamento de Medicina Geral e é professor de Aperfeiçoamento de Aprendizagem, da Universidade de Antwerp, Universiteitsplein (Bélgica) e publicou o artigo A Educação Condutiva e a Teoria da Experiência Mediada de Feuerstein (1995). 21 Tsad Kadima é uma expressão hebraica que significa “um passo à frente” – nome sugestivo para uma instituição que atende crianças, adolescentes e jovens adultos com paralisia cerebral e problemas neuromotores. 22 Fonte: <http://andrew-sutton.blogspot.com>. Este evento está previsto para o período de 07 a 10 de dezembro de 2007. 21 Petö entende que as funções alteradas ou não desenvolvidas, graças à plasticidade neuronal, podem se reestruturar e se reorganizar por meio da aprendizagem. A plasticidade neuronal refere-se à capacidade do sistema nervoso de se readaptar e suprir funções alteradas. E para que isto ocorra são estabelecidos programas de aprendizagem com finalidades específicas e que se integram na rotina diária do sujeito. Portanto, o objetivo maior da abordagem é desenvolver a funcionalidade motora de forma ativa e conseguir a máxima independência do sujeito com paralisia cerebral, para que este possa ter uma melhor relação com o mundo físico e social. Uma vez que a Educação Condutiva preconiza que as alterações motoras podem ser modificadas, mediante a aprendizagem ativa de estratégias a fim de conseguir soluções funcionais para determinadas dificuldades, torna-se muito importante o papel da educação na reabilitação do sujeito. A Educação Condutiva incorpora todos os níveis de aprendizado: físico, emocional e intelectual, em uma aprendizagem integral. As atividades são realizadas em grupo, levando em conta que as relações sociais são vitais para desenvolver o sentimento de pertencer a uma comunidade, como um sujeito ativo. A abordagem não controla e estabiliza o quadro motor do aluno de forma passiva, muito pelo contrário, busca sempre a funcionalidade ativa, ou seja, a “ortofunção” – termo criado por Petö para designar a habilidade que o sujeito tem de atuar, de resolver problemas para se tornar uma pessoa ativa. A Educação Condutiva consiste em estimular integralmente o sujeito sobre a base de sua própria atividade e do seu entorno cotidiano, proporcionando a conexão entre as ações realizadas por ele e o sentido destas ações. Esta é a essência da Educação Condutiva, como pode ser percebido no conceito proposto por Maria Hári (1988, p. 1): “Por definição teleológica23, é um sistema de educação cujo propósito central é o restabelecimento ortofuncional de formas de desorganização das funções humanas, em particular, das pessoas com disfunções motoras”. Para Hári (1988), o restabelecimento ortofuncional significar a capacidade de trabalhar e atingir um propósito, ser capaz de mostrar interesse em diversas coisas e ser produtivo, mesmo quando existe uma lesão cerebral. A autora afirma que a Educação Condutiva se 23 Teleologia (do grego télos = fim) é o estudo das finalidades, metas e objetivos, tanto humanos quanto naturais, enquanto elementos motivadores ou impulsionadores do comportamento evolutivo das consciências e das transformações do universo. 22 baseia nas qualidades humanas24 e que elas existem ainda quando há um sério dano no sistema nervoso. Tais qualidades se formam em interação com o contexto social, com o outro. Tudo o que se compreende e aprende neste contexto não é cópia, mas uma construção nova. A imagem recém-criada transforma a original e se converte em um todo coerente, uma entidade completa na mente da pessoa. A Educação Condutiva não entende a aprendizagem como cópia mecânica dos movimentos. Ao contrário, preconiza a aprendizagem ativa consciente. É muito importante que a pessoa que está aprendendo a fazer o movimento tenha uma clara percepção do que se trata e abandonar a passividade, reconstruindo o conteúdo implícito de uma ação. Mas esta reconstrução não finaliza com a soma dos fragmentos da ação, pois envolve também a possibilidade de a pessoa antecipar a meta final da ação e, assim, manter-se motivada. 2.2 Elementos essenciais Para desenvolver o processo de aprendizagem ativa consciente, a Educação Condutiva reúne cinco elementos principais: o condutor, o programa, a série de tarefas, a intenção rítmica e o grupo, a seguir descritos separadamente. 2.2.1 O condutor O condutor é o profissional formado em Educação Condutiva. A formação é em nível universitário com a duração de quatro anos e pode ser realizada na Hungria ou na Inglaterra. Também há a alternativa de pós-graduação (dois anos), como no caso da condutora que assessora este projeto de pesquisa. Esta formação é multidisciplinar, englobando conteúdos de diversas áreas como fisiologia, psicologia, pedagogia, neurologia, fonoaudiologia e música, entre outras. 24 Como a autora fala que estas qualidades humanas diferem em essência das qualidades dos animais, citando a linguagem, a pesquisadora acredita que ela esteja se referindo às funções mentais. 23 O condutor cria as condições adequadas para a aprendizagem. É o profissional responsável pela elaboração e execução dos programas que, mesmo que sejam desenvolvidos em grupo, devem contemplar as necessidades individuais dos alunos. Ele deve possibilitar, ao aluno, condições de resolver com êxito e esforço suas tarefas, dando segurança e um sentido para as ações que este vai empreender. A observação pedagógica25, segundo a condutora Raquel, é muito valorizada e necessária na Educação Condutiva, pois permite ao condutor conhecer de forma global cada aluno e também o grupo para desenvolver o processo educativo. Há três tipos de observação: a observação operativa, que envolve o ensino e as formas de facilitação; a observação progressiva, centrada no processo de desenvolvimento do aluno (quando este domina um movimento, aumenta-se a complexidade); e observação comparativa, que fornece subsídios para formar os grupos e agrupamentos de alunos (no caso de estarem no mesmo grupo). 2.2.2 O programa Uma meta fundamental da Educação Condutiva é ensinar a viver de maneira normal26. Para isso, o programa incorpora todas as atividades diárias (de acordo com a idade cronológica) baseadas no ritmo do cotidiano. Para o aluno com paralisia cerebral, é importante um programa estruturado e real. Cada dia de atendimento corresponde a um programa realizado por partes que se conciliam a um objetivo geral. Em outras palavras, trata-se de uma série de tarefas articuladas para dar sentido ao mesmo programa. O grande desafio é criar um contexto, o mais próximo da vida da pessoa, no qual toda a ação tenha um sentido. Sobre esta questão, Hári (1988, p. 08) assevera: O programa de resolver problemas só funcionará dentro de um contexto, o contexto de vida diária de uma pessoa. Cada parte do dia fará referência ao resto do dia, terá influência no todo, modificará outras partes e será igualmente modificada por elas. 25 26 É uma estratégia usada para a percepção consciente, a partir de critérios bem definidos. O termo “normal” se refere à vida cotidiana. 24 Para a autora, o programa é amplo e articulado e deve ser vigiado constantemente para que se mantenha o mais próximo da realidade cotidiana do aluno, caso contrário, corre o risco de se converter em exercícios áridos, dissociados da complexidade humana. O programa, ou seja, a rotina de trabalho contém todos os elementos variados que contribuem ao que se entende por “vida normal”. As atividades funcionais incorporadas em um programa são os meios, o veículo para manter o fluxo, o ritmo e o propósito do aluno de se movimentar de forma ativa, educativa e independente. A rotina de trabalho se divide em diferentes programas: programa deitado; programa sentado; programa preparatório para em pé; programa em pé; programa manipulativo e programa individual. Cada um tem características e qualidades específicas e bem definidas que permitem o desenvolvimento dos alunos. O programa deitado permite ao aluno aprender todos os movimentos e transferências que levam a uma independência motriz na postura deitado. Facilita manter a simetria do eixo postural em decúbito supino-prono. É uma postura fácil para realizar movimentos ativos com as extremidades superiores e inferiores. O programa sentado ensina a manter uma postura sentada e desenvolver tarefas de controle cefálico, axial (cabeça, tronco), estimulando também tarefas de coordenação, manipulação, equilíbrio, movimentos ativos com as extremidades superiores e inferiores. O programa preparatório para em pé investe em todas as tarefas que preparam o aluno para a postura de pé e futura marcha, como deslocamentos no solo, arrasto frontal ou fisiológico, giro contínuo e transferências (mudanças de postura). O programa manipulativo tem como foco o desenvolvimento da motricidade fina e do contato viso-manual e também ajuda o aluno a ter uma autonomia nas atividades de vida diária (comer, pentear os cabelos, escovar os dentes...). Convém considerar a importância do desenvolvimento da funcionalidade das mãos, pois estas permitem uma maior independência. O programa individual investe nas necessidades específicas de cada aluno, buscando valorizar a sua ortofuncionalidade. No início de cada programa, o condutor estabelece um objetivo para cada aluno e, ao final, o aluno é avaliado e também realiza a sua auto-avaliação. 25 2.2.3 A série de tarefas A série de tarefas é parte estruturada do programa diário, uma ferramenta para o movimento e não uma seqüência de exercícios. Importa ressaltar que para a Educação Condutiva há uma grande diferença entre exercício e tarefa. Exercícios físicos são movimentos que servem para habilitar um músculo. São movimentos perfeitos, tanto dinâmicos como lentos. Já as tarefas são pequenos movimentos naturais que juntos constroem um movimento completo, de forma algorítmica. A característica da tarefa é que o aluno a realiza para alcançar um objetivo. Um grande movimento, por exemplo, pegar um objeto que está sobre a mesa, é “quebrado” e feito por etapas, como se fosse em câmera lenta, e dirigido mediante a intenção rítmica: esticar o braço à frente, abrir a mão, pegar o objeto, fechar a mão, olhar para o objeto, entregar o objeto para o condutor. Neste momento, o condutor ensina o aluno a fazer cada tarefa, estimulando o movimento ativo e dando somente a ajuda necessária (facilitação). O grande objetivo da tarefa é buscar a funcionalidade do aluno. Neste momento, evidencia-se o aspecto pedagógico, ou seja, o ensinar a fazer o movimento. Primeiro o aluno vive a experiência do movimento completo, com todas as ajudas necessárias, depois aprende a fazer cada parte (tarefa) deste grande movimento e as ajudas vão sendo diminuídas assim que o aluno começar a fazer o movimento. Quando o aluno consegue fazer uma vez sozinho, é indício de que poderá fazer outras vezes. As tarefas precisam ser repetidas para se alcançar os objetivos e devem se tornar sempre mais complexas. É importante aplicar o que já foi aprendido, para que aquilo que, em princípio, era pensamento, possa ir se automatizando. Quando o aluno apresentar uma boa funcionalidade motriz, não precisará mais realizar a mesma seqüência, pois já estará dominando o movimento completo. 26 2.2.4 Intenção rítmica A intenção rítmica é a forma pela qual o aluno, a partir da linguagem do outro (condutor ou facilitador), elabora seu discurso interior27 e, então, expressa uma intenção seguida pelo movimento, que se realiza ritmicamente. O uso da fala do outro e do discurso interior facilita a expressão motora, regula o ato motor, centra a atenção no movimento, levando o aluno a controlar a velocidade e o ritmo do movimento. Com a intenção rítmica, o aluno aprende a fazer movimentos novos de maneira consciente. Segunda Raquel, muitas vezes o aluno com paralisia cerebral tem uma falsa imagem do movimento, assim, a intenção rítmica ajuda a formar a imagem correta. Afirmar, cantar ou contar (depende da idade do aluno) para realizar os movimentos auxilia para que a atividade seja consciente, porque define o que o aluno precisa fazer. Exemplo: Estico meu braço à frente, o estico, o estico, o estico...; ou Estou sentado reto, reto, reto.... O condutor, ao formular sempre a meta na primeira pessoa, conduz o aluno a percebê-la como se fosse seu próprio desejo. Também ao falar, contar ou cantar, o condutor dá tempo para o aluno realizar sua tarefa. Enfatiza-se a importância da motivação neste processo, considerando que ela é a base para uma atividade verdadeira, a força que impulsiona a pessoa a atingir um objetivo. Esta motivação inicialmente é externa, vem do outro, para depois o aluno incorporá-la e transformá-la em uma vontade sua. 2.2.5 O grupo O grupo é a unidade básica do trabalho e deve ser formado considerando a faixa etária aproximada dos alunos. Estes não aprendem somente com o condutor, mas com todas as pessoas que integram o grupo. As relações grupais são vitais para desenvolver o sentimento de pertencer a uma comunidade e para se alcançar sucesso. É importante que cada um tenha um papel ativo e se sinta importante no grupo, de forma a estabelecer uma atmosfera de valorização e 27 Em relação à linguagem, observa-se uma grande identificação como os pressupostos de Vygotsky. 27 reconhecimento mútuo. Entretanto, cada um tem seus objetivos e passa a assumir a responsabilidade por si mesmo. 2.3 Princípios básicos da educação condutiva A Educação Condutiva tem três princípios fundamentais: a facilitação, a intenção rítmica e a rotina. A facilitação (manual, verbal, social, instrumental e uso do princípio da gravidade) compreende todos os fatores que ajudam o aluno a atingir um objetivo. Ela aparece em todas as atividades com o aluno e tem um sentido pedagógico amplo. O termo “facilitação” – entendido como o processo de se conduzir um grupo na aprendizagem ou na mudança, de forma a incentivar todos os membros a participar – teve seu significado redimensionado com a “facilitação condutiva” de Petö. Por esta abordagem, as facilitações se dividem em: • Facilitação pedagógica: envolve a personalidade do condutor, o papel do grupo, a motivação e a prevenção de soluções inadequadas. • Facilitação neurofisiológica: movimentos das extremidades superiores ajudam as extremidades inferiores e produzem um efeito sucessivo; isto significa seguir uma seqüência natural de movimentos corretos. • Facilitações mecânicas: unidade da tríplice flexão, ou seja, flexionar tornozelo, joelho e quadril ajudam a controlar a espasticidade28 e assim permitem com mais facilidade a realização de movimentos com as extremidades superiores. • Gravidade: usada como meio de facilitação que permite a relaxação das extremidades. O princípio da gravidade contribui para a quebra de padrão (isto é, tônus muscular aumentado), principalmente do aluno espástico. Um exemplo desta forma de facilitação é inclinar bem a cadeira para acomodar o aluno, quando este entra em padrão e fica difícil A espasticidade é uma alteração do tônus muscular (a quantidade de tensão ou resistência ao movimento em um músculo) que compromete a movimentação. A condição chamada de paralisia cerebral espástica ocorre quando a lesão está localizada na área responsável pelo início dos movimentos voluntários (trato piramidal), então, o tônus muscular é aumentado, isto é, os músculos são tensos e os reflexos tendinosos são exacerbados. Mais informações no site: http://www.sarah.br/paginas/doencas/po/p_01_paralisia_cerebral.htm. 28 sentá-lo. A posição inclinada faz com que o corpo relaxe rapidamente, sem que seja necessário muito esforço, por parte tanto do aluno quanto do condutor. Como a preocupação da Educação Condutiva é que o aluno aprenda a fazer o movimento, a facilitação manual deve ser de acordo com a necessidade do aluno, buscando sempre a intencionalidade que se apóia na intenção rítmica. Caso o aluno não consiga fazer de maneira independente, aí entra a facilitação manual. O condutor deve buscar o equilíbrio entre todas as formas de facilitação e o movimento ativo. Outra forma de facilitação é o uso de instrumentos. Os móveis e equipamentos, como as cadeiras mostradas na figura 1, foram desenvolvidos para atender a muitas funções. Figura 1 – Cadeiras do mobiliário Petö Fonte: Instituição Con Nos/Otr@s, A.C. Desarrollando la Educación Conductiva en México Em um primeiro momento, os equipamentos chegam a chocar o observador leigo, pois parecem um tanto “primitivos”. Entretanto, acompanhando a prática, a sua funcionalidade surpreende. Segundo a condutora Raquel, se os móveis fossem mais confortáveis, proporcionariam relaxamento e o que se pretende é justamente o contrário, ou seja, o movimento ativo. O equipamento chama para a atividade (ver figura 2, a seguir). Obviamente, coloca-se proteção para evitar que o aluno se machuque. 29 Figura 2 – Peças do mobiliário Petö Fonte: Instituição Con Nos/Otr@s, A.C. Desarrollando la Educación Conductiva en México Outro fator importante é que a Educação Condutiva tem como objetivo a independência do aluno, portanto, quanto mais ele usar os equipamentos, maiores serão as possibilidades de atingir este objetivo, pois vai precisar menos da ajuda de outra pessoa. Usar os materiais é uma atividade mais complexa e possibilita maior independência, comparativamente à facilitação manual. As características específicas dos móveis permitem isto. Por exemplo, uma cadeira Petö pode servir também como um apoio para andar. Entretanto, dependendo das características dos alunos, é preciso pensar na alternativa de usar alguns materiais, como, por exemplo, a mesa Petö. O princípio da intenção rítmica, por sua vez, tem como meta estabelecer diferentes ritmos conforme o tipo de paralisia cerebral: • Um aluno com quadro de espasticidade, dependendo de sua funcionalidade, pode precisar até de cinco tempos para fazer o movimento: Estico meu braço à frente, o estico, o estico, o estico ou Estico meu braço à frente, um, dois, três, quatro e cinco. • Para o aluno com quadro discinético29, o movimento deve ser em um tempo e manter a posição dois, três, quatro e cinco; isto porque ele tem o movimento, mas não há qualidade neste movimento. O mesmo ritmo serve também para casos de quadros atáxicos30. 29 Esta forma menos comum (aproximadamente 20%) de paralisia cerebral é caracterizada por movimentos involuntários da face, tronco e membros que freqüentemente interferem com a fala e a alimentação. Os sintomas 30 • O aluno com hipotonia31 precisa de um movimento mais dinâmico e com impacto, entretanto, com poucas repetições para evitar sobrecarga nas articulações. Não se deve deixar de buscar a intenção do movimento. A complexidade da Educação Condutiva é estabelecer os ritmos para os alunos, sem perder a referência do grupo, principalmente quando estes têm quadros diferentes – por exemplo, o aluno espástico vai ter um ritmo e o discinético outro – e estão em um mesmo grupo. Outro princípio importante é o da rotina, que se relaciona com o programa de um dia de Educação Condutiva, o qual é dividido em programas menores: programa deitado; programa sentado; programa preparatório para em pé; programa em pé; programa manipulativo e programa individual, cujas características e qualidades já foram descritas anteriormente. podem piorar em situações de tensão emocional e podem ir embora durante o sono. Os movimentos podem ser rápidos e aos trancos (coréia) ou serem distorcidos (atetose) ou ainda, podem envolver a permanência em uma posição anormal (distonia). Fonte: http://www.policlin.com.br/drpoli/130/. 30 A paralisia cerebral atáxica está relacionada com lesões cerebelares ou das vias cerebelares. Como a função principal do cerebelo é controlar o equilíbrio e coordenar os movimentos, o aluno com lesão cerebelar apresenta ataxia, ou seja, marcha cambaleante por causa da deficiência de equilíbrio, e apresenta, ainda, incoordenação dos movimentos com incapacidade para realizar movimentos alternados rápidos e dificuldade para atingir um alvo. Fonte: http://www.sarah.br/paginas/doencas/po/p_01_paralisia_cerebral.htm. 31 A hipotonia é uma condição na qual o tônus muscular está anormalmente baixo, geralmente envolvendo redução da força muscular. 31 3 PERCURSO METODOLÓGICO A educação de alunos com paralisia cerebral, principalmente com histórico de deficiência mental associada, sempre foi um desafio para muitos profissionais da Educação Especial. Há um consenso entre os profissionais das instituições participantes desta pesquisa quanto às dificuldades em oferecer mais qualidade no atendimento a estes alunos. Em muitos casos, até mesmo a comunicação, entendida como a base para qualquer processo educacional, é ineficaz – aqui estão envolvidas as dificuldades do aluno e, principalmente, aquelas encontradas pelos profissionais na busca de estratégias adequadas. Os fisioterapeutas (e também outros profissionais da saúde), por sua vez, desenvolviam atendimentos em sessões de quarenta minutos de uma a duas vezes por semana, conforme o caso. Muitas vezes, estes atendimentos serviam mais para manter a postura do aluno e para evitar deformidades do que para possibilitar a melhora do quadro. É importante frisar que o atendimento fisioterápico é muito importante, e não se pretende negar o seu papel, mas sim discutir a Educação Condutiva, cujo foco principal é ensinar os alunos a fazer o movimento. No cotidiano das instituições, a proposta de trabalho voltada para estes alunos geralmente era fragmentada e não havia uma troca efetiva de experiências e conhecimentos entre os profissionais de diferentes áreas para qualificar o atendimento. Neste contexto, a Educação Condutiva surgiu como algo distante, desconhecido, mas que causou interesse porque veio com a proposta, ainda obscura, de superar este dilema. Instigava saber o como fazer. A divulgação da abordagem começou após a participação dos cinco profissionais, inclusive a pesquisadora, no Curso Teórico-Prático de Educação Condutiva realizado no México em 2005. Como coordenadora da Escola Especial Tempo Feliz (APAE de Balneário Camboriú) e com o apoio da direção e dos profissionais, em poucos dias, a pesquisadora iniciou atendimento na instituição, usando algumas das estratégias da Educação Condutiva. A diretora da Escola Especial Vale da Esperança (APAE de Itajaí), também participante do curso, fez o mesmo. O interesse dos profissionais envolvidos pela abordagem aumentava, pois eles começavam a perceber que esta forma de trabalho, que alia educação e reabilitação, pode 32 preencher as lacunas, já mencionadas anteriormente, em relação ao trabalho dos alunos com paralisia cerebral (e outras alterações motoras). Assim, a partir desta percepção, foi desenvolvido o I Curso de Educação Condutiva em janeiro e fevereiro de 2006 na APAE de Itajaí, com apoio do Instituto Guga Kuerten. Sob coordenação da professora MSc. Gracia Maria Nascimento Corrêa, o curso foi ministrado por Irving Ortiz Ávila da Instituição Con Nos/Otr@s, A.C. Desarrollando la Educación Conductiva en México. Esta atividade possibilitou a participação de alunos com paralisia cerebral em curso intensivo de Educação Condutiva e oportunizou conhecimentos sobre a abordagem para profissionais de instituições especializadas. Assim, foi adotada uma dinâmica que aliou teoria e prática, numa associação indispensável para a compreensão da proposta. Em agosto do mesmo ano, atendendo a novas solicitações dos profissionais, o Instituto Guga Kuerten promoveu o II Curso de Educação Condutiva na APAE de Florianópolis, também ministrado por Irving Ortiz Ávila e coordenado pela pesquisadora. Participaram deste curso dois grupos de alunos (um de crianças e outro de adolescentes) e também os profissionais da grande Florianópolis. Durante os dois cursos, os profissionais que haviam participado de curso anterior atuavam como facilitadores e, assim, aprimoravam seus conhecimentos, ao mesmo tempo em que auxiliavam o condutor. Em decorrência dos cursos e do trabalho desenvolvido nas instituições (nesse momento também com iniciativas da Educação Condutiva nas APAEs de Camboriú e Florianópolis), alguns resultados do uso das estratégias da abordagem começaram a ser divulgados, o que aumentou o interesse de várias instituições especializadas do Estado sobre a Educação Condutiva. Diante desse panorama, a FCEE e as instituições que vinham adotando a abordagem passaram a discutir a importância de realizar uma pesquisa para avaliar a contribuição da Educação Condutiva no atendimento a alunos com paralisia cerebral, a relevância da formação contínua dos profissionais e a viabilidade de expandir a proposta para mais instituições especializadas no Estado de Santa Catarina. Nesse momento, a pesquisadora assumiu a responsabilidade pelo Projeto e delineou os encaminhamentos. Os objetivos começaram a ser definidos e era preciso buscar um caminho para concretizá-los – tarefa que se constituiu num desafio em função da multiplicidade de 33 fatores envolvidos. Após refletir sobre as possibilidades de encaminhando do estudo, a pesquisadora optou pela abordagem qualitativa, por entender que ela “exige que o mundo seja examinado com a idéia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 49). Nesta perspectiva, o pesquisador freqüenta os locais de estudo porque se preocupa com o contexto, pois considera que as ações podem ter uma compreensão melhor quando são observadas em seu ambiente habitual de ocorrência. Para o percurso metodológico foi escolhido o paradigma da avaliação emancipatória proposto por Saul (1999), que se caracteriza como um processo que envolve a descrição, análise e crítica da realidade, visando transformá-la, cujo compromisso principal é permitir que as pessoas direta ou indiretamente envolvidas com o projeto escrevam a sua própria história e gerem as próprias alternativas de ação. Nesse contexto, a pesquisadora assumiu os papéis de coordenadora dos trabalhos avaliativos e orientadora dessas ações, com a função de promover situações e/ou propor tarefas que favorecessem o diálogo, a discussão, a busca de informações e a análise crítica sobre o funcionamento real do projeto. Sua ação seguinte foi a de estimular a iniciativa do grupo na reformulação e condução dos trabalhos. Cabe salientar que, segundo Saul (1999), a avaliação emancipatória tem dois objetivos básicos: 1. Iluminar o caminho da transformação: esta avaliação está comprometida com o futuro, com o que se pretende transformar, a partir do autoconhecimento crítico do concreto, do real, que possibilita a clarificação de alternativas para a revisão desse real. 2. Beneficiar as audiências no sentido de torná-las autodeterminadas: busca-se a emancipação, acreditando que o homem, através da consciência crítica, imprima uma direção às suas ações nos contextos em que se situa, de acordo com valores que elege e com os quais se compromete no decurso de sua historicidade. Apoiada nos princípios da pesquisa participante, a autora estabeleceu, como pressupostos metodológicos para esta abordagem, o antidogmatismo, a autenticidade e o compromisso, a restituição sistemática, o ritmo e o equilíbrio da ação-reflexão. 34 O antidogmatismo consiste em evitar, na pesquisa, o uso de idéias preestabelecidas ou princípios ideológicos. A autenticidade e o compromisso implicam que o pesquisador demonstre honestamente o seu compromisso, contribuindo com a causa em questão. Já a restituição sistemática consiste no retorno de informação aos grupos de base, de forma sistemática e organizada. O princípio do ritmo e equilíbrio de ação-reflexão propõe que se mantenha uma sincronização permanente de reflexão e ação no trabalho de campo, como um ato de pensamento intelectual. O conhecimento é recebido e processado na base; a informação é sintetizada em primeiro nível e a reflexão se dá em um nível mais geral e válido. Em seguida, os dados são restituídos às bases, de uma forma mais consistente e ordenada, e estudam-se as conseqüências desta restituição, em um processo contínuo. Ainda de acordo com Saul (1999), esta forma de avaliação elege como conceitos básicos: a emancipação, a decisão democrática, a transformação e crítica educativa, sendo que o primeiro prevê que a consciência crítica da situação e a proposição de alternativa de solução para a mesma constituam elementos de luta transformadora para todos os envolvidos. A decisão democrática exige que haja um envolvimento responsável e compartilhado dos sujeitos participantes na tomada de decisão, tanto no delineamento da proposta avaliativa quanto nos rumos do programa educacional. A transformação, por sua vez, faz referência às alterações substanciais, geradas pelas pessoas envolvidas, com base na análise crítica do processo e nos compromissos sociais e políticos assumidos pelo grupo. A crítica educativa propõe uma análise valorativa do programa educacional na perspectiva de cada um dos participantes. Foca a dimensão do processo, mas sem desconsiderar os produtos. A crítica visa à reorganização do programa educacional. Estes conceitos delinearam o percurso da pesquisa, desenvolvida em três momentos: a descrição da realidade, a crítica da realidade e a criação coletiva. Ressalta-se que essas etapas não aconteceram de forma estanque; muito pelo contrário, por vezes elas se imbricaram fortemente, constituindo-se em partes de um mesmo e articulado movimento. Em consonância com a abordagem qualitativa, esses momentos se materializaram por métodos dialógicos e participantes, predominando a observação participante, o uso de entrevistas, filmagens e análise documental. A pesquisadora realizou a observação participante durante todo o processo, no período de fevereiro a dezembro de 2007. As observações foram organizadas em relatório e 35 compuseram material para análise dos dados. Buscou-se sempre um olhar dinâmico, ou seja, ver, na ação com o aluno, os resultados da formação do profissional e perceber, na dificuldade durante a atuação com o aluno, a motivação para a sua aprendizagem. Foram feitas filmagens para registrar episódios que evidenciassem o desempenho dos alunos e, concomitantemente, a atuação dos profissionais. Ao todo, foram mais de trinta horas de vídeo, incluindo o acompanhamento de programas realizados antes da assessoria da condutora e de atividades desenvolvidas no decorrer e ao final do Projeto. Em fase da finalização do Projeto, também foram realizadas entrevistas, com os fisioterapeutas responsáveis pelos programas e também com os professores (um representante de cada instituição), que auxiliaram na triangulação dos dados. Os programas elaborados e os registros da condutora sobre os grupos também foram usados como fonte de informações. A análise dos dados se deu a partir da análise de conteúdo que, segundo Bardin (2000), é um conjunto de técnicas de análise das comunicações para obter indicadores que permitam identificar as condições de produção/recepção do conteúdo das mensagens. Esta análise foi sendo realizada no decorrer dos acontecimentos e cada nova ação foi desencadeada a partir dela. Cada movimento direcionava as próximas ações da pesquisadora e, em grande parte, também da condutora, bem como de todos os profissionais envolvidos. Retomando a discussão anterior, em relação aos três momentos que configuraram a pesquisa, eles foram assim constituídos: • A descrição da realidade envolveu discussão sobre os programas realizados nas instituições ao início do Projeto. • A crítica da realidade se caracterizou por um recuo crítico do grupo, que passou a assumir a crítica de sua própria ação, por meio da reflexão sobre a sua prática. Esse recuo crítico se efetivou a partir da tomada de consciência, pelos grupos, das distâncias entre as propostas e as ações dos programas, pelos obstáculos existentes e pelas contradições entre as pessoas que constituem os grupos. • A criação coletiva focou o delineamento de alterações sugeridas pelos próprios grupos. Cada um desses momentos será discutido separadamente a seguir, mas, como já foi dito, em muitas ocasiões eles se inter-relacionaram. 36 3.1 Descrição da realidade Ao iniciar este Projeto, em fevereiro de 2007, as APAEs de Balneário Camboriú, Camboriú, Itajaí e Florianópolis já vinham desenvolvendo estratégias da Educação Condutiva em programas estruturados, ainda que com diferentes formas de organização quanto ao tempo, periodicidade e número de alunos atendidos, como mostrado no quadro 01. Nº de grupos Carga horária Periodicidade semanal Baln. Camboriú 04 04 horas 02 vezes Camboriú 04 04 horas 02 vezes Itajaí 04 02 horas 05 vezes Florianópolis 02 01h30min 02 vezes APAE Quadro 01 – Constituição dos grupos das APAEs Fonte: Organizado pela pesquisadora Segundo relatos dos profissionais destas instituições, os programas desenvolvidos apresentavam uma diferença qualitativa em relação aos atendimentos anteriores, que eram realizados por sessão (atendimento clínico/fisioterápico) e na sala de aula (atendimento pedagógico). Havia um consenso de que esta dinâmica de trabalho, aliando educação e reabilitação, trazia muitos benefícios para crianças e adolescentes com alterações motoras. Junto a estes grupos, a pesquisadora se fez presente, observando os programas e dando algumas sugestões em termos gerais, pois os fisioterapeutas (com exceção de um) já haviam participado de cursos sobre a Educação Condutiva e não tinham muitas dúvidas sobre o trabalho que estavam desenvolvendo. O fisioterapeuta que não tinha participado dos cursos, mas havia recebido algumas informações, desenvolvia um trabalho voltado para a área motora em grupo, ainda sem relação com a Educação Condutiva32. Neste caso, a pesquisadora sugeriu que ele observasse o trabalho de um grupo de outra instituição para que pudesse compreender melhor a abordagem. Depois desta observação e de orientações mais específicas, inclusive de profissionais da instituição, bem como de leituras, seu trabalho foi incorporando algumas estratégias da Educação Condutiva. 32 Este é um fato que pode ocorrer se instituições especializadas começarem a usar a abordagem sem o conhecimento da essência da Educação Condutiva. 37 A APAE de Florianópolis teve dificuldade em aumentar o tempo dos programas e o número de alunos nos dois grupos, devido ao pouco tempo disponível dos fisioterapeutas. A pesquisadora insistiu neste aspecto e a direção prometeu rever a situação para o segundo semestre. Durante os meses iniciais, a pesquisadora percebeu que não houve grandes dificuldades nas APAEs em relação ao andamento dos programas; apenas algumas informações foram necessárias. Entretanto, após alguns meses, com a mudança de programas33, muitas dúvidas começaram a aparecer. Então, a pesquisadora articulou momentos de observação, pelos profissionais, dos programas realizados nas outras instituições participantes, para que pudessem aprender com outros grupos e mesmo fazer uma análise crítica do seu trabalho e dos demais grupos. A estratégia da pesquisadora teve resultados positivos, pois os profissionais fizeram uma autocrítica, aprenderam novas estratégias e também observaram situações com as quais não concordavam. Enfim, eles perceberam aspectos positivos e negativos em seus programas e nos programas das outras instituições, o que contribuiu para qualificar o próprio atendimento. A pesquisadora também escolheu três textos sobre a Educação Condutiva, os encaminhou para a tradução e disponibilizou para todas as instituições, como recurso para estudo em seus grupos. Em relação à FCEE, o atendimento estava previsto para começar quando a condutora fosse iniciar a assessoria, visto que nenhum dos profissionais do grupo havia realizado cursos de Educação Condutiva. Assim, os profissionais da FCEE constituíram um grupo de alunos para participar do Projeto e, enquanto aguardavam a vinda da condutora, participavam de outras formas de atendimento. A pesquisadora se preocupou com o perfil dos alunos ao verificar que eles tinham sérios comprometimentos (deformidades ósseas, luxações de quadril, dificuldades para respirar...) e poderiam ter prejuízos com o trabalho intensivo previsto na Educação Condutiva. Para não tomar nenhuma atitude inadequada, a pesquisadora solicitou a um dos fisioterapeutas (condutor)34 que avaliasse os alunos e a sua posição foi a mesma da 33 Na Educação Condutiva, o mesmo programa é realizado durante um campo (período de aproximadamente quatro semanas). Nas APAEs, houve uma substituição dos programas a partir do mês de maio. 34 O termo “condutor” não poderia ser usado pelo fisioterapeuta, por este não ter a formação em Educação Condutiva, mas, em alguns momentos, é usado em situações práticas para designar o líder do programa. Existe a clareza sobre esta distinção entre os profissionais envolvidos. 38 pesquisadora, ou seja, de que poderiam ter melhores benefícios no atendimento individual, por uma questão de saúde. Então, foi solicitado à Instituição que reorganizasse o grupo, substituindo os alunos. Durante esse período, a pesquisadora viabilizou momentos de estágio para os profissionais da FCEE em outras instituições. E, ao final do mês de maio, o grupo foi reorganizado e passaram a fazer parte alunos sem problemas de saúde, mas com um quadro de deficiência mental acentuada. Depois, com o atraso da vinda da condutora, optou-se por iniciar o trabalho e a pesquisadora auxiliou a implantar o atendimento. Também nesse período, os profissionais de todas as instituições envolvidas realizaram reuniões com os pais e responsáveis para explicar sobre o Projeto, pedir autorização para o (a) filho(a) participar e também assinar um termo de compromisso. A pesquisadora participou da maioria desses encontros. Nas reuniões, evidenciou-se que a família também busca novas possibilidades para os filhos e que a proteção excessiva (o inverso também ocorre) interfere negativamente no desenvolvimento deles. Sabe-se que as instituições orientam as famílias, mas também é consenso que, em muitos casos, as orientações não produzem as alterações qualitativas desejadas. Na seqüência, foram acompanhados atendimentos fisioterápicos individuais com alunos com paralisia cerebral na APAE de Porto Belo, sendo que nem esses, nem o fisioterapeuta haviam tido contato com a Educação Condutiva. Este acompanhamento ocorreu somente em dois momentos e teve como propósito elucidar questões sobre o atendimento ali prestado. Confirmou-se que o modo como ele ocorre é muito similar ao de outros centros especializados, ou seja, de um a dois atendimentos semanais, em sessões de quarenta e cinco minutos cada. Em relação ao desenvolvimento dos alunos, o fisioterapeuta 05 comentou que “existem aquisições, mas, muitas vezes, o atendimento serve mais para manter a situação do aluno”. A Associação Beneficente Pássaros de Luz de Itajaí, conhecida como Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, por sua vez, já vinha desenvolvendo um trabalho desde 2006. Entretanto, a pesquisadora optou por acompanhar este grupo somente depois da vinda da condutora, considerando que o atendimento seria organizado de acordo com os pressupostos da Educação Condutiva e que este seria o “grupo referência”. Finalmente, no mês de julho, a condutora conseguiu a liberação do seu visto e iniciou o atendimento no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva. Naquele 39 momento, a prioridade foi constituir o grupo de alunos (já previamente selecionados) e profissionais – estes só foram contratados quando iniciou o trabalho com a condutora, com exceção de uma fonoaudióloga e de uma pedagoga que já atuavam no Centro. A Secretaria Municipal de Educação de Itajaí cedeu dois professores de Educação Física para atuar no Projeto e os pedagogos foram contratados pela FCEE. Foi difícil, naquele mês, selecionar os profissionais, pois, na época, a maioria já se encontrava empregada. A pesquisadora participou do grupo, atuando como facilitadora durante um mês. Este procedimento ocorreu por dois motivos: para aprender mais sobre Educação Condutiva e para auxiliar a estruturar o grupo. Como não houve tempo para formação prévia, os profissionais do grupo estavam aprendendo na ação com o aluno, a partir da experiência e das orientações da condutora. Entretanto, muitos iniciavam e não permaneciam, por não se adaptarem ao trabalho. Esta oscilação perdurou por quase um mês. Quando o grupo de profissionais ficou completo, a pesquisadora se afastou da prática direta e continuou a fazer a observação participante. Somente depois do grupo completo, a condutora passou a assessorar as demais instituições, junto com a pesquisadora. Com mais este grupo constituído, pôde-se fazer a caracterização dos alunos participantes do projeto de pesquisa35, conforme apresentado no quadro 02. NÚMERO DE ALUNOS INSTITUIÇÃO COM PARALISIA CEREBRAL COM OUTRA ALTERAÇÃO MOTORA TOTAL Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva 07 - 07 FCEE 04 - 04 APAE Baln. Camboriú 17 06 23 APAE Camboriú 21 02 23 APAE Itajaí 20 04 24 APAE Florianópolis 06 - 06 TOTAL DE ALUNOS 75 12 87 Quadro 02 – Caracterização dos alunos Fonte: Organizado pela pesquisadora 35 O número de alunos sofreu alterações durante o ano, na mesma proporção em que ocorreram transferências e novas matrículas nas instituições. 40 Os profissionais que participaram efetivamente da proposta da Educação Condutiva e/ou fizeram uso das estratégias também foram assim caracterizados, como mostra o quadro 03. INSTITUIÇÕES FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS TOTAL FISIOTERAPEUTA PEDAGOGO FONOAUDIÓLOGO OUTRA - 04 01 02 07 FCEE 01 04 - - 05 APAE Baln. Camboriú 01 04 - 02 07 APAE Camboriú 01 06 01 - 08 - - 08 Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva36 37 APAE Itajaí 02 06 APAE Florianópolis 02 05 01 - 08 APAE Porto Belo 01 - - - 01 TOTAL PROFISSIONAIS 44 Quadro 03 – Caracterização dos profissionais Fonte: Organizado pela pesquisadora 3.2 Crítica da realidade Após a estruturação do “grupo referência” (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva), a condutora iniciou sua assessoria nas demais instituições, junto com a pesquisadora, que já assessorava as instituições desde o mês de fevereiro. Em seu grupo, a condutora conduziu os programas de segunda a quinta-feira, destinando a sexta-feira para reunião com os profissionais e com os pais e também para assessoria às instituições. Os grupos das demais instituições passaram a contar com a assessoria da condutora no período da tarde e esporadicamente na sexta-feira pela manhã. Durante a semana, eram realizadas de três a quatro assessorias. Como, a princípio, eram cinco instituições, a assessoria nem sempre foi semanal. A dinâmica inicial da condutora foi a de observar os programas e, ao término, conversar com o fisioterapeuta responsável pelo grupo. Estas conversas sempre foram muito 36 37 Inicialmente, este grupo ocupou as dependências da APAE de Itajaí e atualmente tem uma sede própria. Nesta Instituição houve uma rotatividade intencional dos profissionais. 41 claras e pontuais. Segundo a condutora, “se estamos tratando da Educação Condutiva, vamos fazer o mais próximo da Educação Condutiva”. Ela sempre fazia uma análise do que havia observado, pontuava os aspectos que precisavam ser qualificados; também esclarecia as dúvidas dos profissionais38 e demonstrava muitas tarefas na prática. Esses momentos se constituíam em importantes espaços para a formação. Também, nos momentos iniciais, a condutora afirmou que era necessário incluir um programa cognitivo. Qualificar os programas e elaborar programas cognitivos implicava tempo para estudo, troca entre os profissionais (educação e reabilitação), organização das atividades, preparação do material e outros procedimentos. Tudo isso exigia uma reorganização das instituições, principalmente no que dizia respeito ao fator tempo. Logo de início, a condutora pontuou para todos os profissionais que os atendimentos que estavam sendo realizados nas instituições “ainda estavam muito distantes de ser Educação Condutiva” e afirmava que muitos aspectos precisavam ser modificados. A segurança inicial e a certeza dos profissionais de que estavam desenvolvendo programas próximos da essência da Educação Condutiva começou a se desfazer. E aí vieram as crises. A primeira crise aconteceu em uma das instituições, que tinha destinado apenas o tempo do programa para desenvolvimento da abordagem e depois, consciente de todos os fatores envolvidos para qualificar o atendimento (e esta foi a meta da condutora e da pesquisadora o tempo todo), chamou a pesquisadora para expor suas angústias. Durante a conversa entre direção, fisioterapeutas (sendo um responsável pelo programa no período matutino e outro no vespertino) e pesquisadora, a instituição pediu para se afastar do Projeto. O fisioterapeuta 02 justificou, argumentando: “não estamos saindo pela negação da proposta, mas muito pelo contrário, pelo reconhecimento de sua complexidade, da necessidade de muito tempo para estudo, para orientação aos professores, participação no grupo de estudo e estágios, e não temos este tempo”. Uma das queixas destes profissionais também foi a de que, ao fazerem um dos cursos de Educação Condutiva, não sabiam que estavam assumindo o compromisso de desenvolver a abordagem em sua instituição e que, de certa forma, isto foi imposto a eles. 38 Todos esses momentos de assessoria foram acompanhados pela pesquisadora, inclusive as conversas em separado com os fisioterapeutas. Grande parte do capítulo teórico sobre a Educação Condutiva teve origem nesses momentos. 42 Este é um fato muito importante, porque a Educação Condutiva requer um trabalho muito intensivo e o seu desenvolvimento deve ser uma opção do profissional, pois implica mudar sua forma de trabalho e assumir funções que vão além da sua formação acadêmica, por exemplo, a formação dos professores. Essa instituição já apresentava algumas dificuldades em relação à composição dos grupos, além da falta de professores e do pouco tempo para os programas, e no momento em que foram colocadas as exigências para qualificar os programas, todas estas questões vieram à tona. Analisando este fato, a pesquisadora considerou um fator negativo para os alunos a interrupção do atendimento, mas, por outro lado, representava um dado importante para a análise das implicações para implantar a abordagem em outras instituições especializadas. A Educação Condutiva não pode ser imposta, deve ser uma opção dos grupos, porque é complexa, exige muito estudo, tempo, disposição, flexibilidade, ainda mais quando é um processo em construção, como no caso deste Projeto e, segundo a condutora, “a aprendizagem é voluntária, não pode ser forçada”. Como esse grupo estava ainda em fase de estruturação dos atendimentos, provavelmente, as exigências da condutora para “fazer o mais próximo da Educação Condutiva” influenciaram na decisão de abandonar o Projeto. Esse primeiro momento de crise alertou a pesquisadora para outros fatos que também começavam a ocorrer em outras APAEs. Depois das primeiras assessorias com a condutora, durante as quais ela foi analisando, com os profissionais (principalmente com os fisioterapeutas responsáveis pelos programas), aspectos que precisavam ser modificados e na medida em que eles foram tomando consciência das muitas mudanças que precisariam fazer em seus grupos, evidenciou-se certa resistência. Seguiram-se pedidos de adiamento da assessoria por alguns dias e propostas de somente fazer as alterações no próximo ano. Isso aconteceu em duas APAEs, com apenas um mês e meio de assessoria. A pesquisadora ficou preocupada e conversou com os profissionais para entender o que estava acontecendo. Nesses momentos, sempre houve um consenso de que as análises da condutora eram pertinentes, com exceção de alguns pequenos detalhes, principalmente em relação a algumas posturas dos alunos. 43 Assim, ficou evidenciado que não havia uma recusa da teoria39, mas sim interferência de outros aspectos ligados à formação profissional, como ficou claro na fala da fisioterapeuta 06: “Concordo com as orientações da Raquel, mas preciso de mais tempo para conseguir promover as mudanças”. Também se constatou que o Projeto da Educação Condutiva estava restrito aos profissionais já envolvidos com a abordagem e estes sentiam a falta de um envolvimento maior, principalmente da coordenação pedagógica da instituição. Atenta a essas questões e preocupada com os rumos do Projeto, a pesquisadora solicitou uma reunião com as duas instituições (em momentos separados). Estiveram presentes nas reuniões, a condutora, direção, fisioterapeuta, coordenação pedagógica e a pesquisadora e foram abordados assuntos pertinentes a cada grupo. A condutora deu seu parecer real sobre os programas, afirmando que seriam necessárias muitas mudanças para qualificá-los. A pesquisadora, por sua vez, falou da necessidade de fazer as mudanças ainda neste ano, pois tais ações iriam nortear os encaminhamentos futuros sobre a Educação Condutiva. Depois dessas reuniões, houve uma maior participação da direção e da coordenação pedagógica nas instituições. A Educação Condutiva, ou o uso de suas estratégias, não pode somente acontecer em um espaço restrito, é preciso que, nos demais espaços da escola, o aluno possa aplicar o que aprendeu nos programas. Como o objetivo é que ele se torne mais independente, espera-se que seja mais ativo em todos os espaços. Neste sentido, a coordenação pedagógica tem um papel importante. A postura da condutora e da pesquisadora sempre foi a de fazer uma análise real dos fatos e todos os envolvidos estavam cientes de que o atendimento que vinha sendo realizado nas APAEs ainda estava muito distante dos pressupostos da Educação Condutiva. Então, surgiu a crise da pesquisadora. A questão era: como avaliar as contribuições da Educação Condutiva para os alunos com paralisia cerebral que participavam dos programas, se estes programas não ofereciam ainda Educação Condutiva? Analisando todos os aspectos envolvidos, um tanto surpresa com os acontecimentos, mas consciente das dificuldades em relação à formação contínua, a pesquisadora reorganizou seu percurso metodológico e passou a focar mais a formação profissional nos grupos das 39 Aliás, durante toda a pesquisa, não houve uma recusa da teoria. Foi unânime a posição dos profissionais envolvidos de que ela é muito complexa, mas que contribui para o desenvolvimento do aluno com alterações motoras. Também é comum haver um certo descrédito da teoria por parte de profissionais que têm apenas um contato superficial com a Educação Condutiva. 44 instituições (APAEs e FCEE) e a avaliar os alunos do grupo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (grupo sob a responsabilidade da condutora), pois estes, pela lógica, estavam participando de programas reais de Educação Condutiva. Assim, a formação contínua dos profissionais ficou sendo o coração da pesquisa, pois, para avaliar resultados, era preciso ter espaços consolidados de prática da Educação Condutiva. A avaliação dos alunos estava articulada com os benefícios da abordagem, mas esta era ainda tão incipiente... 3.2.2 Formação contínua Como a formação em Educação Condutiva é multidisciplinar, importa compreender as dificuldades dos profissionais envolvidos no Projeto, uma vez que a sua formação é específica em uma área. No desenho deste Projeto, o fisioterapeuta40 assume o papel de condutor, responsável pelo grupo, e os professores, as funções de facilitadores, cada um direcionando a atuação geralmente para um só aluno. O programa é desenvolvido em grupo, mas cada facilitador personaliza a tarefa para seu aluno de acordo com suas necessidades. Estas adaptações não são aleatórias, estão previstas nos programas elaborados pelos condutores. Em termos gerais, o fisioterapeuta líder tem várias atribuições: • Considera as características do seu grupo e de cada aluno para elaborar os programas. • Assume a função de ensinar, aos professores, questões de anatomia, ensinando como mover os alunos, posições, formas de prevenção... • Conduz um grupo de maneira dinâmica: fala, canta, mantém um ritmo. • Estimula o desenvolvimento dos alunos. 40 A pesquisadora sempre orientou para que os programas que usam as estratégias da Educação Condutiva fossem conduzidos por um fisioterapeuta, por terem conhecimento de anatomia e por melhor saberem como mover o aluno com paralisia cerebral. 45 O professor, por sua vez, assume outras funções: • Elabora programas cognitivos. • Fornece subsídios para pensar em aspectos pedagógicos para vincular com as tarefas. • Atua como facilitador com o aluno, mantendo um equilíbrio entre as formas de facilitação. • Ensina ao fisioterapeuta as questões da educação. • Promove a aprendizagem integral dos alunos. É preciso pensar que todos estes aspectos devem estar presentes durante o programa, ao mesmo tempo, para entender a complexidade da Educação Condutiva. Para melhor compreensão das dificuldades encontradas nos grupos, serão apresentados os aspectos mais relevantes percebidos durante as assessorias: 1. Cópia dos programas: os programas desenvolvidos não passavam de cópia dos programas dos cursos anteriores de Educação Condutiva. Não havia diferenciação dos ritmos para os alunos. Cabe enfatizar que para cada quadro de paralisa (espástica, atáxica, discinética, hipotonia) há uma intenção rítmica. O uso do ritmo inadequado pode interferir na funcionalidade do aluno. Existia um fazer, mas sem uma base teórica consistente. Com a necessidade de elaborar os programas, contemplando todos os aspectos envolvidos, surgiam as dúvidas. 2. Desarticulação entre objetivo e tarefa: para a elaboração dos programas, primeiro era pensada a tarefa (que era cópia), para depois pensar nos objetivos. As atividades eram as mesmas para todos, sem diferenciação, tanto para aqueles que já dominavam o movimento quanto para os que estavam aprendendo a fazê-lo. Na maioria das vezes, não havia uma relação entre objetivo e tarefa. 3. Programas unificados: cada programa (deitado, sentado, preparatório para em pé, em pé, manipulativo, individual) tem características e qualidades próprias. Com exceção de um fisioterapeuta, que tinha a clareza da diferença entre eles, os demais unificaram todos estes programas em um só. Infere-se que tal prática é decorrente da rotina do trabalho desses profissionais, pois uma sessão de fisioterapia tradicional segue este caminho. Por exemplo, em uma sessão de quarenta e cinco minutos são feitas as transferências desde a posição deitada até ficar em pé. Este procedimento é apoiado no desenvolvimento físico 46 da criança, que acontece no sentido encéfalo-caudal e próximo-distal, isto é, a criança desenvolve, em um sentido, o controle do pescoço, depois do tronco, pernas e pés. Em outro sentido, desenvolve primeiro o controle dos membros superiores, do braço, das mãos e dos dedos das mãos. A Educação Condutiva também entende desta forma o desenvolvimento, só que, como investe na aprendizagem destes movimentos, preconiza que sejam feitos em programas específicos. Então, a orientação da condutora foi para refazer todos os programas41. 4. Distinção entre exercício e tarefa: investia-se nos exercícios. Existe uma diferença muito importante entre exercício e tarefa. Exercícios físicos servem para habilitar um músculo e tarefas são pequenos movimentos naturais que, juntos, formam um movimento completo. Se o foco é ensinar o aluno a fazer um movimento que não domina, “quebra-se” este movimento em pequenos movimentos (tarefas) para que ele possa aprender, obviamente com as facilitações necessárias. Fazer o exercício não possibilita esta aprendizagem. É a tarefa que caracteriza o pedagógico. 5. Estabelecimento de objetivos: antes de cada programa era preciso estabelecer objetivos reais para o aluno, que estivessem de acordo com a sua funcionalidade, pois as tarefas devem levar a um propósito. Em muitos momentos, o objetivo não estava na funcionalidade do aluno ou não existia. 6. Correção de posturas: Após cada transferência de postura é importante fazer a correção para manter a simetria corporal. Adota-se a correção de postura para que o aluno tenha consciência do seu corpo e também para unificar o grupo. Nos grupos, a correção de postura nem sempre acontecia nos momentos indicados. 7. Massagem: a massagem era igual para todos, entretanto, esta deve contemplar as necessidades de cada aluno. Por exemplo, um aluno com hipotonia não necessita de uma massagem relaxante, enquanto que para um aluno com espasticidade, ela é fundamental e, neste caso, também há necessidade de alongamentos. A condutora solicitou que a massagem fosse mais orientada pelos fisioterapeutas, pois em muitos momentos era feita aleatoriamente pelos professores. 8. Rotina de trabalho: a Educação Condutiva exige uma rotina de trabalho muito organizada. O tempo não pode ser desperdiçado; deve-se ter um cronograma com todas as 41 Para cada grupo são elaborados, em média, três programas e como em algumas instituições são quatro grupos, os profissionais de cada instituição refizeram doze programas, os quais eram alterados a cada novo campo (período de mais ou menos quatro semanas). 47 tarefas do dia e segui-lo à risca. Em muitos momentos, esta orientação não era observada pelas instituições, pois o tempo, geralmente, não era bem aproveitado. 9. Uso dos móveis Petö: como os móveis eram pouco aproveitados, a condutora orientou para o uso mais constante e de maneira mais intensa. A utilização destes móveis proporciona mais independência que a facilitação manual. “Usar mais os instrumentos do que a facilitação manual é um nível superior, é mais complexo”, ressaltou a condutora. Destaca-se que, no uso dos equipamentos, deve ser considerada a funcionalidade de cada aluno. 10. Equilíbrio entre as partes pedagógica e motora: no início da assessoria, os programas focavam mais na parte motora. Depois, com as orientações, eles ficaram excessivamente pedagógicos, deixando a área motora em segundo plano. Então, foi preciso reorganizar mais uma vez, a partir do entendimento de que encontrar o equilíbrio entre as duas partes é algo bastante complexo. 11. Condução dos grupos: é muito difícil encontrar o ritmo certo para conduzir o grupo, dar o tempo de cada aluno fazer o movimento, mas sem perder a noção do grupo, estar atento às facilitações dos professores (que também estão em um processo de aprendizagem) para evitar movimentos incorretos. 12. Usar mais os termos pedagógicos: a condutora afirmou que, como é uma abordagem pedagógica, os termos usados também precisam ser pedagógicos e orientou para que se fizessem algumas substituições, como, por exemplo, de coluna para costas e de quadril para bumbum. Muitas vezes, as orientações da condutora para um caso específico, eram tomadas como regra, o que causava alguns equívocos, que eram novamente sinalizados e corrigidos pela condutora. Para não falar somente das dificuldades encontradas no processo, pode-se também mencionar algumas facilidades. Foi importante já ter os grupos constituídos, com o mobiliário Petö, assim como o fato de muitos profissionais terem noções básicas sobre a Educação Condutiva. Constatou-se que havia harmonia entre os profissionais de alguns grupos, mas, principalmente, o desejo de aprender. Para esses grupos, a assessoria da condutora contemplou três etapas: primeiro, a observação; depois, a observação para acompanhar as alterações sugeridas por ela; por último, 48 a intervenção na prática, para mostrar como fazer. Após esses momentos, sempre houve a conversa entre ela, o líder do programa e a pesquisadora, o que proporcionou uma importante oportunidade de aprendizado. Entretanto, este aprender foi bastante intenso e exigiu muito dos profissionais, desencadeando situações de crise. Mas sempre houve a transparência nesse processo e foram realizadas muitas ações para superar estas crises. Porém, antes de discutir esta questão, é preciso falar do grupo da FCEE, já com o grupo de alunos reorganizado. A assessoria da condutora aconteceu de forma diferenciada neste caso, devido ao quadro de comprometimento mental dos alunos. Após assistir ao programa, que foi cansativo para os alunos e profissionais, a condutora pontuou alguns aspectos: • Não é necessário fazer a massagem, pois os alunos já estão bem relaxados. • O problema dos alunos não é motor, mas cognitivo. • O pedagógico deve dar funcionalidade ao movimento. • O ritmo precisa ser bem lento e as canções mais suaves. • Seria importante realizar um programa sentado, com facilitação firme. Por exemplo: explorar as partes do corpo (figura e um rosto na mesa), tocando com as mãos, fazendo movimentos naturais. Como os profissionais não haviam participado de nenhum dos cursos e o grupo dos alunos tinha características bem diferentes dos demais grupos das APAEs, no sentido de ter um maior comprometimento mental, a condutora se prontificou a fazer um modelo de programa para o grupo. Para isso, solicitou que os profissionais selecionassem os temas/conceitos a serem trabalhados. A proposta foi aceita. Assim, a condutora elaborou os programas (um cognitivo e outro motor) e os colocou em prática junto com os profissionais. Assim, esse grupo somente desenvolveu os programas prontos, fazendo algumas alterações ao longo do processo, mas sem alterar a essência, e promovendo também várias adaptações, inclusive com materiais. Existe uma grande dúvida quanto à indicação da Educação Condutiva para alunos com alterações motoras e deficiência mental associada. Segundo a condutora, a Educação 49 Condutiva pode beneficiar todas as crianças menores como uma estimulação essencial, buscando sempre o movimento consciente. Entretanto, com crianças maiores e adolescentes, é indicada quando estes têm um bom nível de compreensão. Isto porque a Educação Condutiva tem como objetivo a independência do aluno e estabelece um processo de aprendizagem por meio do desenvolvimento de tarefas e também objetivando o movimento consciente. Quando a compreensão é muito limitada, este objetivo se perde e o aluno pode se beneficiar mais de um atendimento que dê mais ênfase ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Outro fator pontuado pela condutora é que quando não há um bom nível de compreensão, o aluno colabora menos e precisa haver um esforço muito maior por parte do facilitador. Por ser intensivo, com o tempo o trabalho pode interferir negativamente na postura do próprio aluno e também do profissional. Neste caso, é mais indicada a participação em atendimentos realizados de forma mais passiva. Uma grande parcela dos alunos participantes dos programas das instituições especializadas tem diagnóstico de deficiência física e também de deficiência mental e a maioria apresenta um nível de compreensão que permite aplicação da Educação Condutiva, com exceção dos alunos da FCEE que desenvolvem um programa adaptado. Fica uma grande pergunta: o que se entende por deficiência mental, principalmente em relação a estes alunos que o contexto social limita tanto? É importante aprofundar esta questão em trabalho futuros que, mais que analisar diagnósticos de deficiência mental, devem observar o contexto social das pessoas com diagnóstico qualquer deficiência, dando ênfase às suas relações com o mundo físico e com as pessoas que as cercam. Nesta perspectiva, é preciso entender que “o defeito em si não é, contudo, uma tragédia. É somente o pretexto e o motivo para que surja a tragédia” (VYGOTSKI, 1997, p. 199). O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva teve uma dinâmica de trabalho diferente, por se constituir em um espaço legitimado para a aprendizagem da Educação Condutiva, tanto para os alunos participantes dos programas quanto para os profissionais que estiveram em contato diário com a condutora. Fizeram parte desse grupo sete alunos – duas crianças (nove anos) e cinco adolescentes – com significativa diferença de idade entre eles. Embora a Educação Condutiva estabeleça que os grupos devem ser constituídos de acordo com a idade, pois a dinâmica de trabalho é diferenciada para crianças e adolescentes, optou-se, neste caso, por atender a uma 50 demanda voluntária, levando-se em consideração o interesse de alguns pais, que já fazem parte da Associação Beneficente Pássaros de Luz e estão envolvidos com o Projeto, em oportunizar a participação do(a) filho(a). Obviamente, este fator deve ser considerado na análise dos resultados. Por participar de programas conduzidos pela condutora, esse grupo de alunos passou a ser acompanhado pela pesquisadora para avaliar as contribuições da Educação Condutiva. A formação dos profissionais que atuaram como facilitadores nesse grupo teve relação direta com o processo de aprendizagem dos alunos. Para estes profissionais, o Projeto foi um grande desafio, principalmente pela oportunidade de participar do trabalho em companhia da condutora. Convém ressaltar que muitos deles não tinham experiência com a Educação Especial. Apenas dois profissionais do grupo haviam participado de cursos sobre Educação Condutiva; os demais tiveram os primeiros contatos com a abordagem quando da atuação direta com os alunos. Infelizmente, com a vinda da condutora somente em julho, não foi possível organizar momentos prévios de estudos sobre a abordagem, uma vez que os profissionais só foram contratados com a chegada dela. Então, o grande desafio foi aprender na ação cotidiana. Os programas foram elaborados pela condutora, que ensinava aos profissionais as formas de facilitação. Em algumas sextas-feiras – muitas eram destinadas para reuniões com pais, realização de cursos ou para assessoria nas APAEs –, o grupo tinha um tempo para conversar com a condutora, esclarecer dúvidas, questionar... Entretanto, na dinâmica da constituição do grupo (como de qualquer grupo) surgiam muitas questões que envolviam as relações grupais e grande parte do tempo que seria destinado para o estudo da teoria (que já era limitado) acabou sendo ocupado pela discussão destas questões. A rotina de um dia de Educação Condutiva neste grupo foi assim organizada: • Das 09h00min às 09h50min: massagem e alongamento • Das 09h50min às 10h05min: programa cognitivo • Das 10h05min às 10h50min: programa deitado • Das 10h50min às 11h00min: momento para suco/higiene 51 • Das 11h00min às 11h50min: programa preparatório para em pé (2ª e 4ª) ou programa sentado (3ª e 5ª feira) Inicialmente, a condutora elaborou um programa cognitivo e o executou, denominando este programa de “motivação pedagógica”, e depois solicitou que os professores dessem continuidade ao processo. Assim, cada mês deveria ter um grande tema e deveria ser organizado diariamente um programa articulado com este tema. O tempo do programa era de quinze minutos e deveria incluir uma parte para o grupo e outra para o atendimento individual, com adaptações/flexibilizações de acordo com cada aluno. Um dos professores realizava o programa atendendo ao grupo, enquanto cada facilitador fazia a mediação com o seu aluno. Ao término, realizava-se uma avaliação de cada aluno. Talvez o nome “motivação pedagógica” tenha influenciado, mas o fato é que esses programas focalizavam em demasia aspectos lúdicos e concretos. A condutora pontuou que era necessário investir no desenvolvimento das funções mentais. Mas o grupo teve dificuldades em relação a esta questão, talvez pela própria trajetória da Educação Especial, que investe mais na concretude do que no desenvolvimento das funções abstratas, conforme já pontuado por Vygotsky: Demonstrou-se que o sistema de ensino baseado somente no concreto – um sistema que elimina do ensino tudo aquilo que está associado ao pensamento abstrato – falha em ajudar crianças retardadas a superarem as suas deficiências inatas, além de reforçar essas deficiências, acostumando as crianças exclusivamente ao pensamento concreto e suprimindo, assim, os rudimentos de qualquer pensamento abstrato que essas crianças ainda possam ter. Precisamente porque as crianças retardadas, quando deixadas a si mesmas, nunca atingirão formas bem elaboradas de pensamento abstrato, é que a escola deveria fazer todo o esforço para empurrá-las nesta direção, para desenvolver nelas o que está intrinsecamente faltando no seu próprio desenvolvimento (VYGOTSKY, 1998, p. 116). Ainda segundo o autor, o concreto deve ser visto somente como um ponto de apoio necessário e inevitável para o desenvolvimento do pensamento abstrato, ou seja, como um meio e não como um fim em si mesmo. O grupo foi instigado a buscar estratégias para promover o desenvolvimento das funções abstratas e teve muitas dificuldades nesse processo. Em um momento de discussão, a condutora afirmou para o grupo: “Eu não vim ensinar pedagogia, mas Educação Condutiva” e desafiou os professores a encontrar o caminho. 52 Infelizmente, o sistema educacional brasileiro tem falhado muito em relação à Educação Especial e o episódio acontecido com esse grupo reflete o cotidiano de muitas instituições especializadas42. Como as dificuldades eram muitas, a condutora resolveu atribuir a responsabilidade do programa somente aos pedagogos, enquanto que os demais profissionais (fonoaudióloga e professores de Educação Física) assumiram a responsabilidade pelas formas de facilitação. Aos poucos, os pedagogos qualificaram um pouco mais o programa e os resultados começaram a ter reflexos positivos na aprendizagem dos alunos. Segundo a condutora, esse grupo sempre se manteve sob a sua supervisão para assegurar o correto processo de aprendizagem dos alunos. A aprendizagem dos profissionais estava dirigida para: • Começar o processo de aprendizagem do método da Educação Condutiva, a partir do conhecimento teórico para beneficiar a aprendizagem e o trabalho como facilitador. • Aprender a rotina de trabalho para trabalhar dentro dela. • Aprender formas de facilitação, sempre orientadas pela condutora do programa, para trabalhar diretamente com os alunos. • Começar o processo de aprendizagem do programa cognitivo para desenvolvê-lo com a orientação da condutora. 3.3 Criação coletiva Este texto se destina a apresentar a “criação coletiva” de cada instituição. Depois de viver muitos desafios, conflitos e crises, tornou-se instigante acompanhar os movimentos de cada espaço na busca da qualificação de seus atendimentos. Inicialmente é preciso apresentar as ações organizadas pela pesquisadora e pela condutora para dar suporte aos profissionais. Ainda no primeiro semestre, a pesquisadora 42 É importante lembrar que a FCEE e as APAEs vêm desenvolvendo um trabalho para alunos com deficiência mental, cujo foco é o desenvolvimento/ampliação das funções mentais, mas ainda existem muitas dificuldades na compreensão deste processo. 53 disponibilizou três artigos traduzidos sobre Educação Condutiva. Nesse mesmo tempo, ela organizou estágios de observações entre os profissionais das instituições. Depois, com a vinda da condutora e com seu grupo consolidado, foram organizados, em parceria com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, momentos de estágio neste Centro para todos os profissionais envolvidos. Também foram realizados encontros mensais, na APAE de Itajaí, reunindo todos os profissionais atuantes no Projeto para estudar a Educação Condutiva. Cada encontro teve a duração de quatro horas/aula. Os conteúdos desses encontros foram selecionados com base nas dificuldades observadas pela condutora e pela pesquisadora durante as assessorias. O quadro 4, a seguir, apresenta a dos conteúdos trabalhados e as respectivas cargas horárias. ENCONTRO DE ESTUDOS SOBRE EDUCAÇÃO CONDUTIVA CONTEÚDOS CARGA HORÁRIA 1 Histórico da Educação Condutiva 02 horas 2 Educação Condutiva: 2.1 Condutor 2.2 Programas 2.3 Ortofunção 2.4 Série de tarefas 2.5 Intenção rítmica 2.6 O grupo 2.7 Motivação 2.8 Observação pedagógica 05 horas 3 Metas da Educação Condutiva 3.1 Ensino de um estilo de vida normal 3.2 Estimula a personalidade integral do indivíduo (áreas motora, cognitiva, social, atividades de vida diária) 3.3 Método que constrói um novo modelo de funcionamento Estrutura da Educação Condutiva: princípio de rotina, princípio de facilitação, princípio de atividade 05 horas 4 Elaboração e execução de um programa 08 horas Carga horária total 20 horas Quadro 4 – Conteúdos e cargas horárias dos encontros de estudos sobre Educação Condutiva Fonte: Organizado pela pesquisadora A ênfase maior destes encontros foi em relação aos programas, incluindo questões teóricas e práticas. Os profissionais, em grupo, receberam as tarefas de elaborar programas de acordo com determinado perfil de alunos e executar na prática. Ao término, a condutora fazia uma análise com o grupo. Esta foi uma excelente dinâmica, pois permitiu perceber não só as dificuldades, mas também a forma correta para desenvolver o trabalho. 54 Entretanto, era preciso mais discussão sobre o tema. Assim, por sugestão da pesquisadora, foi organizado mais um encontro, desta vez somente com os fisioterapeutas das APAEs, para aprofundar estudos sobre os programas, a partir da análise das produções desses profissionais. A fisioterapeuta de uma das APAEs, alegando motivos particulares, não participou dos Encontros de Estudos sobre Educação Condutiva e do estágio de observação no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva. Esteve presente apenas no encontro com os fisioterapeutas. Ela já havia participado dos dois cursos anteriores e, durante o mês de julho, atuou como facilitadora no Projeto Educação Condutiva com Amor (Florianópolis). O fato de ter tido contato com vários condutores que, algumas vezes, abordaram a teoria de modo diferente, fez com que seu trabalho precisasse de um tempo para ser reorganizado. Aos poucos, as orientações da condutora foram sendo incorporadas e os programas começaram a ter maior qualidade. Muitos aspectos, antes considerados complexos, tornaramse simples, como pode ser percebido na fala da fisioterapeuta 08, referindo-se ao uso de um instrumento: “Isso é óbvio! Como eu não havia me dado conta?” Entretanto, ainda havia muitas dificuldades. A condutora sugeriu aos grupos das APAEs que fizessem um programa nos moldes da Educação Condutiva, incorporando os aspectos aprendidos durante o ano. Os profissionais concordam e, no início de dezembro, cada instituição elaborou e executou um programa, que foi avaliado pela condutora. Para a FCEE não foi solicitado um programa final, pois os profissionais apenas estavam desenvolvendo programas elaborados pela condutora por causa do perfil dos alunos. Na mesma época do programa final, a pesquisadora entrevistou os fisioterapeutas e um pedagogo de cada grupo para se certificar de que não havia nenhuma incoerência nos resultados que já vinham se delineando. E não houve novidades, porque todo o processo sempre foi transparente e altamente dialógico. Os resultados do programa final e de todo o movimento de cada grupo serão apresentados na seqüência, porém, antes, algumas considerações se fazem necessárias. A primeira consideração é que somente pode avaliar um programa quem conhece a essência da Educação Condutiva. Ao olhar de uma pessoa leiga, um determinado programa pode ser ótimo, mas na visão um condutor, pode não contemplar nenhuma estratégia da Educação Condutiva. 55 A pesquisadora, ao se dar conta deste fato, buscou qualificar sua “observação pedagógica”, estabelecendo critérios para tal prática. A condutora forneceu muitas informações para auxiliar nesse processo, mas, mesmo assim, a avaliação dos programas deveria ser feita pela condutora. Desta forma, os resultados de cada grupo foram profundamente discutidos entre condutora e pesquisadora e também com os grupos, na análise com cada um deles e no último encontro de estudos para o grande grupo, quando foram passadas imagens de vídeo dos programas desenvolvidos nas instituições. A partir da avaliação de todo o processo desencadeado em cada instituição, verificaram-se algumas características que estão presentes nas três APAEs: • Todos compreendem que a Educação Condutiva está dirigida para crianças com paralisia cerebral com bom nível cognitivo e o porquê. • Compreendem as qualidades que cada programa oferece. • Estão em processo de aprendizagem para manter um equilíbrio entre programa motriz e programa cognitivo. • Facilitadores estão em processo de aprendizagem para estimular a criança e despertar a intenção do movimento. Um grande avanço dos grupos foi a compreensão das qualidades de cada programa. Inicialmente, os programas eram “misturados” e não havia a clareza dos seus objetivos. Mas quanto à intenção do movimento – um dos principais focos da Educação Condutiva –, os profissionais ainda estavam em processo de aprendizagem. Apesar das similaridades, cada instituição apresentou alguns aspectos diferenciados na dinâmica de trabalho, condizentes com seu grupo e com a organização interna. A seguir, descreve-se a avaliação de cada grupo, sem a necessidade de identificar a instituição: APAE 01: O fisioterapeuta responsável pela condução dos programas não participou dos encontros de estudo que ocorreram durante os cinco meses, mas teve cursos com diferentes condutores, o que provocou nele certa confusão com a teoria e prática. Ele participou das orientações que a condutora oferecia nas visitas ao grupo. Os facilitadores 56 deste grupo nunca faltaram aos encontros de estudo e participaram efetivamente das dinâmicas. A condutora sinalizou os seguintes aspectos: • A aprendizagem do fisioterapeuta/condutor está num processo entre dirigir um programa e orientar as facilitações para os facilitadores. • Ele está em processo de aprendizagem para a condução do trabalho em grupo. • O grupo tem que continuar a estudar as teorias da aprendizagem para elaborar com mais qualidade os programas cognitivos. • O grupo está em processo de aprendizagem para manter uma rotina de trabalho sem interrupções. • Os profissionais estão em processo para aprender a diferença entre tarefa e exercício físico. O grupo ainda apresenta algumas dificuldades relativas à condução dos programas, com interrupções desnecessárias que interferem na dinâmica de trabalho. Atenta a este fato e preocupada com os encaminhamentos futuros, a pesquisadora insistiu com a instituição para envolver a coordenação pedagógica, mas o envolvimento não aconteceu, sob a alegação de falta de tempo. APAE 02: O grupo de profissionais estava bem organizado e sintonizado com as características da Educação Condutiva, muito em função da presença da fisioterapeuta/condutora, que participou dos cursos. Um ponto positivo é que os profissionais trabalharam de forma associativa, mas assumem tarefas específicas: o fisioterapeuta dirigiu os diferentes programas, o fonoaudiólogo fez um programa específico para a área da linguagem, o pedagogo dirigiu um programa cognitivo e os demais se concentraram na facilitação. Isto garantiu maior qualidade aos procedimentos, sem prejudicar o trabalho coletivo. Este grupo de profissionais está em processo de aprendizagem e utiliza os princípios da Educação Condutiva. A condutora pontuou as seguintes características dos componentes do grupo: • Compreendem os princípios da Educação Condutiva. • Têm compreensão dos princípios da parte cognitiva. • Compreendem o princípio da rotina. 57 • Estão em processo de aprender a dirigir um programa, buscando equilíbrio entre a direção do programa e a orientação das facilitações. • Estão em processo de aprendizagem sobre a diferença entre tarefa e exercício físico e suas aplicações. Observou-se um entrosamento muito grande entre os profissionais deste grupo. A condutora e a pesquisadora foram constantemente solicitadas para esclarecer dúvidas e compartilhar resultados. Foi o único grupo que compreendeu e elaborou programas cognitivos de acordo com a abordagem. APAE 03: O fisioterapeuta responsável pela condução dos programas começou a atuar sem ter um curso prévio com um condutor. Sua formação aconteceu durante os cinco meses do Projeto. Este grupo está iniciando o processo de aprendizagem da Educação Condutiva. Mantém harmonia e união grupal, além de demonstrar criatividade na elaboração de canções que favorecem os diferentes programas. Os profissionais apresentam ainda as seguintes características: • Compreendem a diferença entre tarefa e exercício físico. • Boa aprendizagem em dirigir e orientar os facilitadores. • Estão em processo de aprendizagem para manter uma rotina de trabalho. • Precisam continuar aprendendo sobre as teorias da aprendizagem para dar maior qualidade à parte cognitiva. A grande conquista deste grupo foi a compreensão da diferença entre exercício e tarefa, evidenciada nos últimos dias da pesquisa, notadamente na ação com os alunos. Os demais grupos não chegaram a esta compreensão. É importante salientar a participação da coordenação pedagógica no trabalho, depois de ter sido solicitada pela pesquisadora. Em relação ao grupo da FCEE, a condutora Raquel pontuou que ele é constituído por alunos com dificuldades na compreensão, por isso a aprendizagem dos profissionais em relação à Educação Condutiva nunca foi posta realmente em prática. Segundo ela, o trabalho que desenvolvem se dirige essencialmente a reabilitar e estimular a parte cognitiva dos alunos, usando estratégias da Educação Condutiva para despertar a consciência do ser em todos os âmbitos: social, cognitivo, motriz e emocional. 58 Ao se referir às necessidades dos profissionais da FCEE, a condutora destacou que eles estão iniciando o processo de aprendizagem e compreendem que a Educação Condutiva está dirigida para pessoas com bom nível cognitivo, em função de toda a dinâmica prevista no método pedagógico-terapêutica, pelo qual o aluno aprende a mover seu corpo. O grupo mostrou disposição e motivação para continuar o trabalho, entendeu a linha de trabalho voltada às necessidades dos adolescentes e complementou o programa oferecido pela condutora, conferindo-lhe variedade, sem se afastar da essência da abordagem. Recomenda-se a estes profissionais, se têm interesse em continuar a aprendizagem da Educação Condutiva, que busquem um grupo de alunos que pode ser beneficiado diretamente com o método. A condutora salientou que os profissionais precisam continuar com as pautas de trabalho recomendadas para otimizar a reabilitação do grupo e dar prosseguimento à sua aprendizagem, apoiando-se nas premissas da Educação Condutiva. Também sugeriu a eles: • Organizar o tempo de trabalho. • Dirigir temas cognitivos dentro do esquema de trabalho orientado. • Considerar a rotina de trabalho sem interrupções. A aprendizagem de todos os grupos cresceu muito em relação à Educação Condutiva, principalmente durante a elaboração do programa final, momento em que todos os profissionais de cada instituição sentaram, mais uma vez, para discutir e tomar decisões com o grupo. E aí se manifestou a criação coletiva, tecida por muitas mãos... Entretanto, ainda há muitos aspectos a serem qualificados. Tem-se a impressão de um processo interrompido. Os cinco meses foram insuficientes para tantas aprendizagens! A condutora também avaliou o grupo de profissionais do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação, sob sua orientação, quanto ao processo de aprendizagem. Segundo ela, o grupo está iniciando um processo de aprendizagem que precisa se consolidar para atender às demandas do grupo. É preciso considerar que, para ter uma melhor aprendizagem e poder continuar como facilitador no grupo, é necessário: • Ter maior conhecimento teórico para beneficiar o trabalho como facilitador e conhecer as exigências da Educação Condutiva. • Aprender com maior insistência as formas de facilitação e poder estimular o movimento ativo de cada aluno. 59 • Ter maior conhecimento sobre as teorias da aprendizagem para beneficiar o programa cognitivo. A condutora frisou que, neste caso, a aprendizagem é um processo individual, movido pela vontade, pela constância e pelo interesse de cada um. Cumpre mencionar que as divergências entre os membros do grupo criaram dificuldades que se mantiveram ao longo dos cincos campos43 da Educação Condutiva. Os profissionais receberam todas as orientações necessárias para manter o foco no grupo de alunos e superar as dificuldades, mas este processo nem sempre foi tranqüilo. Segundo a condutora, o trabalho em grupo é difícil porque implica encontrar equilíbrio entre os participantes, conhecer o papel que cada um tem dentro do grupo e desempenhá-lo com profissionalismo. É preciso considerar também que a formação de um grupo de Educação Condutiva tem como regra básica a aprendizagem. O profissional que participa do programa assume o compromisso inicial de aprender a abordagem, pois ela é estruturada para se trabalhar diretamente com a complexidade do ser humano. Este grupo não elaborou programas, uma vez que esta função coube à condutora, mas os profissionais tiveram uma formação intensiva, atuando como facilitadores durante três horas diariamente. Conviveram o tempo todo com o duplo desafio: aprender e ensinar. 43 O termo “campo” se refere ao período de desenvolvimento dos programas. Neste grupo, cada campo durou quatro semanas. Ao término do campo, a condutora elabora novos programas, considerando os avanços do grupo. 60 4 CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO CONDUTIVA: PEQUENOS / GRANDES AVANÇOS Este capítulo é reservado para discutir as contribuições da Educação Condutiva para alunos com paralisia cerebral, participantes do grupo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva. Como já mencionado anteriormente, seria incoerente avaliar as contribuições da Educação Condutiva com os alunos das demais instituições, pois o trabalho nelas desenvolvido estava muito distante da essência da abordagem. Mesmo assim, a pesquisadora ousa falar dos grandes avanços percebidos nos alunos destes grupos em relação aos atendimentos dos anos anteriores. Eles foram mais significativos no que diz respeito às aquisições motoras, desenvolvimento da linguagem, compreensão, atenção e alimentação. As famílias também relataram importantes evoluções. Interessa, neste momento, enfatizar as contribuições da Educação Condutiva a partir do “grupo referência” do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, que foi monitorado diretamente da condutora. O grupo de alunos se beneficiou pela dinâmica positiva e estruturada que oferece a Educação Condutiva. Todos apresentaram mudanças importantes, representadas por conquistas motoras, cognitivas e afetivas, associadas na configuração de uma personalidade ortofuncional que permite a eles uma maior independência no contexto de sua funcionalidade. Há que se considerar que a maioria dos integrantes deste grupo é adolescente com sérios comprometimentos motores e muitas posturas erradas. Geralmente, para um grupo com este perfil, a prioridade é manter uma postura correta, sem deixar de estimular a intenção de movimentos. O trabalho com este grupo iniciou com uma avaliação realizada pela condutora e com a presença de um familiar. A pesquisadora filmou esses momentos. A rotina de trabalho foi de três horas diárias e envolvia a massagem, programa cognitivo, programa deitado, programa sentado e programa preparatório para em pé, além de um momento para tomar um suco e fazer higiene pessoal. 61 A massagem foi muito intensa e tinha a duração de cinqüenta minutos, com o objetivo de relaxamento e alongamentos, necessários para atender o perfil deste grupo. Um dos alunos, devido ao quadro de hipotonia, teve a massagem diferenciada, com movimentos mais dinâmicos e com impacto. Os programas levaram em conta os objetivos específicos de cada aluno e também os objetivos grupais, bem como objetivos para curto e longo prazo. A cada novo programa a complexidade ia aumentando. Durante o trabalho inicial, a preocupação maior foi preparar o corpo para depois fazer o movimento ativo. Em determinado momento, a condutora afirmou: “Não buscamos o movimento perfeito, mas a intencionalidade. Quando o aluno tem muitas dificuldades, eu faço por ele para, no futuro, ele ter uma intenção”. De forma progressiva no decorrer dos programas, os alunos foram sendo desafiados para dar respostas ativas. E esta resposta veio principalmente dos alunos com melhor nível de compreensão. A seguir, a pesquisadora apresenta alguns resultados observados, que foram discutidos e analisados com a condutora: Aluno 01: O aluno alcançou todos os objetivos previstos, inclusive a estabilização da lordose44, que era um objetivo em longo prazo. A maior relaxação dos membros superiores e inferiores permitiu que ele fizesse o movimento ativo. Pelo seu bom nível de compreensão, entendeu a expectativa do grupo e se esforçou para atingir os objetivos. Começou a realizar todos os movimentos que faziam parte dos programas de maneira ativa e com pouca facilitação manual. Teve conquistas em todas as trocas de posturas e transferências. Passou a se comunicar mais e com maior segurança. Aluno 02: Aluno com bom nível cognitivo, mas com personalidade passiva que o impedia que mostrasse tudo o que podia fazer tanto na área motora como cognitiva. Era um mero expectador do seu contexto. Com a mudança de personalidade passiva para ortofuncional, as conquistas motrizes começaram a surgir e ele passou a ter maior independência motriz com seus membros superiores e inferiores, evidenciada por troca de postura e manutenção de postura sentada no solo e em banco com apoio frontal. Começou a produzir sons como resposta a uma interação de linguagem. 44 Lordose é um termo médico usado para designar o aumento anormal da curvatura lombar ou cervical da coluna vertebral, 62 Aluno 03: Aluno com grande comprometimento motriz, mas com bom nível cognitivo que lhe permitiu aprender e se adaptar à rotina de trabalho da Educação Condutiva. Teve avanços na área motriz: relaxamento corporal, de costas, pescoço, membros superiores e inferiores. Demonstrou intenção do movimento com seus braços e pernas e também intenção de troca de posturas. Quanto à linguagem, procurou manter uma comunicação, por meio de palavras e outros sons, durante os programas. Aluno 04: Demonstrou ter funcionalidade motriz que lhe permite uma independência, além de bom nível cognitivo que favoreceu a compreensão e a aprendizagem da rotina de trabalho. Sua grande evolução foi aprender a mover seu corpo de modo correto e de forma ativa. Realizou todos os programas de maneira independente, somente ouvindo a condutora, e manteve a postura em pé por poucos minutos, sem facilitação. Fez transferência da postura sentada para em pé sem facilitação (manual ou instrumental). Na linguagem, produziu mais sons. Aluno 05: Aluno com características autistas, mas com nível cognitivo que lhe permitiu aprender a rotina do programa. Apresentou melhor adaptação de conduta que favoreceu sua participação dos programas de forma ativa e com facilitação. Manteve posturas sem movimentos estereotipados. Aluno 06: A maior conquista do aluno foi aceitar posturas adequadas em todas as posições e deixar guiar seu corpo mediante a facilitação manual. Teve maior intenção em segurar objetos e instrumentos, com diminuição da facilitação. Apesar de seu grande comprometimento cognitivo, apresentou indícios de melhora na atenção. Aluno 07: O resultado mais importante foi a adaptação da conduta deste aluno, o que favoreceu movimentos ativos dentro da rotina de trabalho. Sua dificuldade de pensamento lógico dificultou a ele encontrar o sentido da tarefa. Seu estado motriz se beneficiou pelas massagens e alongamentos, mas são mudanças mínimas, pois, conforme se constatou, ele não relaxa manualmente e precisa de facilitação instrumental. Estes resultados podem ser analisados a partir de dois ângulos: podem ser considerados como pequenas conquistas dentro de um contexto maior e como grandes conquistas em relação à diferença que fazem na vida do aluno. Para exemplificar, a pesquisadora traz um momento do programa que envolveu o aluno 03: a facilitadora dobrou a perna do aluno (ele não conseguia fazer isso sozinho) e a condutora pediu que ele esticasse a 63 perna, dando início a um esforço muito grande por parte do aluno, com o corpo todo. A condutora o incentivou e, minutos depois, em um só impulso, ele esticou a perna. O grupo comemorou muito. Esticar a perna não foi a ação mais significativa. O mais importante é que ele teve a intenção do movimento, fez o movimento consciente. E se ele conseguiu fazer uma vez, é indício de que poderá continuar fazendo. E aí entra novamente o papel do condutor de ir aumentando o nível de complexidade. Por isso a facilitação correta do professor é imprescindível, pois se o aluno tem a intenção do movimento e o professor faz por ele, rompe o processo. A aprendizagem do aluno está diretamente ligada à qualidade da facilitação. Assim, é preciso considerar que os professores deste grupo estavam também em situação de aprendizagem e, provavelmente, este fato teve reflexos no desempenho dos alunos. Entretanto, a supervisão constante da condutora foi fundamental para que as facilitações acontecessem com qualidade cada vez maior. A partir destes resultados, percebe-se que a Educação Condutiva traz muitas contribuições para os alunos com paralisia cerebral e se configura como uma abordagem complexa, mas que pode abrir novas perspectivas para estes alunos. Esta é uma justificativa mais que suficiente para dar continuidade ao trabalho desenvolvido nesses cinco meses. 64 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados desta pesquisa apontam que a Educação Condutiva traz muitas contribuições para os alunos com paralisia cerebral, pois busca sempre o movimento ativo e consciente. Entretanto, os resultados são mais evidentes quando o aluno consegue compreender e aprender a rotina de trabalho. Em relação ao trabalho desenvolvido nas APAEs, ainda se configurando como uma abordagem em construção, há muitos resultados significativos com os alunos, principalmente no que diz respeito às aquisições motoras, desenvolvimento da linguagem, compreensão, atenção e alimentação. Pelo relato dos profissionais, a qualidade dos atendimentos oferecidos a estes alunos com base na Educação Condutiva é superior à verificada em propostas de trabalhos anteriores. Como nas instituições participantes, os profissionais ainda estão em processo de aprendizagem, não se estabeleceu relações entre a periodicidade e a duração dos atendimentos nos grupos com os alunos. Pelo que foi observado, o grande diferencial foi a organização e a qualidade deste atendimento e não exatamente o fator tempo. Em relação aos alunos do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva, todos tiveram conquistas importantes, principalmente nos aspectos motores, cognitivos e afetivos e agora mostram uma personalidade ortofuncional que permite a eles ter uma maior independência no contexto de sua funcionalidade. São mudanças pequenas, mas significativas e ocorridas em curto espaço de tempo, ou seja, de julho a dezembro de 2007. Para que estas aquisições sejam mantidas e ampliadas é necessária a continuidade do trabalho. A formação do profissional, na perspectiva desta pesquisa, foi um aspecto muito importante. A Educação Condutiva, que a princípio era entendida como uma abordagem de fácil compreensão, revelou ao grupo, inclusive à pesquisadora, toda a sua complexidade. Em um processo muito intenso de aprender e ensinar, muitas crises apareceram, mas foram amenizando aos poucos, na medida em que aumentou o entendimento sobre a teoria. Contudo, cabe ponderar que o processo de aprendizagem dos profissionais ainda não está consolidado, mas em processo de elaboração. Este é um consenso entre os participantes. 65 O término deste Projeto dá a impressão de que se está interrompendo o processo. Foram poucos meses para um aprendizado tão intenso. O atraso da condutora, devido a problemas com o visto, prejudicou a organização dos trabalhos, neste sentido. Há um consenso entre fisioterapeutas, professores e demais profissionais no que se refere à qualidade desta abordagem. Os fisioterapeutas, que atuaram como líderes dos programas, compararam seu trabalho anterior à pesquisa com o atual e indicaram preferência por este. Os professores, por sua vez, mencionaram a importância do aprendizado deste ano. Em se tratando dos professores, é importante que tenham um papel mais ativo neste processo, que reflitam sobre a sua prática e que possam contribuir mais com as questões da Educação. Não se deve negar as teorias da aprendizagem já conhecidas, mas apoiar-se nelas para entender a Educação Condutiva. Nos contextos onde o professor se fez presente ativamente, os resultados foram melhores. A pesquisa demonstrou a relevância da formação profissional e do trabalho coletivo – cabe lembrar que todas as ações ocorriam nos grupos: os estudos, as discussões, assim como os desabafos, enfim, todos os momentos vividos... Contrariando a expectativa inicial, a pesquisa revelou que não é possível implantar a Educação Condutiva em outros centros educacionais especializados do Estado de Santa Catarina sem a presença ou assessoria direta de um condutor. Este fato se deve à complexidade da abordagem. Mesmo os profissionais que participaram dos cursos e deste Projeto ainda não dominam todos os pressupostos desta abordagem. Esta conclusão é compartilhada por todos os fisioterapeutas e demais profissionais envolvidos no Projeto. Até mesmo nas instituições que já desenvolvem estratégias da Educação Condutiva, se não houver a assessoria de um condutor, o processo de aprendizagem dos profissionais poderá estabilizar ou, muito provavelmente, retroceder. Houve um grande investimento de recursos humanos e materiais por parte das instituições, do Instituto Guga Kuerten e da Fundação Catarinense de Educação Especial. Hoje se tem a certeza de que estes recursos foram investidos em uma abordagem que realmente oferece novas possibilidades para os alunos com paralisia cerebral. Cientes deste fato, todos os profissionais e instituições ficam apreensivos com relação aos desdobramentos da Educação Condutiva no Estado, pois este Projeto e as demais ações relacionadas se encerram no término deste ano e, a partir de então, cada instituição se responsabilizará pelos encaminhamentos em seu espaço. A principal preocupação está 66 concentrada na necessidade de alguma forma de assessoria, uma vez que a aprendizagem dos profissionais ainda está em construção. Uma estratégia viável, sugerida pela pesquisadora e discutida nos grupos, é a consolidação de espaços que desenvolvam a Educação Condutiva em sua essência, com a presença de condutores, para que, em um futuro próximo, possa se oferecer um curso de especialização em Educação Condutiva no Estado, buscando estabelecer parcerias com instituições da Hungria ou da Inglaterra. Este procedimento é necessário, pois a aprendizagem da Educação Condutiva necessita da prática. Para construir esses espaços com qualidade, é imprescindível a presença de facilitadores motivados para aprender. Conscientes de suas necessidades, as APAEs participantes deste Projeto discutem as possibilidades de contratar um condutor e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Condutiva já está contratando um condutor para continuar o trabalho. Diante deste panorama, torna-se fundamental a manutenção do convênio com a FCEE, a fim de garantir a cedência de professores para atuar como facilitadores, bem como o empenho de todas as instituições envolvidas com este Projeto no sentido de sua continuidade. Aliás, até mesmo por uma questão de ética, não se pode interromper um processo que mostrou tantas possibilidades para os alunos com paralisia cerebral. Foi criada uma expectativa para eles e esta deve ser mantida. Para finalizar, pode-se afirmar que a Educação Condutiva surpreendeu pela sua complexidade, pelas exigências, pelos resultados e também pela intensidade do envolvimento dos profissionais com estudos, reflexões, discussões, mudanças, crises..., mas, acima de tudo, pelo grande desejo dos profissionais de desenvolver um trabalho que promovesse o desenvolvimento pleno do aluno com paralisia cerebral. 67 REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa/Portugal: Edições 70, 2000. BOGDAN, Roberto C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação. Portugal: Porto Editora, 1994. CONDUCTIVE EDUCATION AND FEUERSTEIN. Disponível em: <http://andrewsutton.blogspot.com/>. Acesso em: 21 nov. 2007. HÁRI, Maria. The human principle in conductive education. Budapest: International Petö Institute, 1988. LEBEER, Jo. Conductive education and the mediated learning experience theory of Feuerstein. European Journal of Special Needs Education, v. 10, n. 2, p. 124-137, 1995. PARALISIA CEREBRAL. Departamento de Informática Médica – Hospital Policlin. Disponível em: <http://www.policlin.com.br/drpoli/130>. Acesso em: 14 dez. 2007. PARALISIA CEREBRAL. Disponível em: <http://www.sarah.br/paginas/doencas/po/p_01_paralisia_cerebral.htm> Acesso em: 10 dez. 2007. SAUL, Ana Maria. Avaliação emancipatória: desafios à teoria e à prática de avaliação e reformulação de currículo. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1999. SHEPHERD, Roberta. Fisioterapia em pediatria. Tradução: Hildegard Thiemann Buckup. 3. ed. (em português). São Paulo: Santos Livraria Editora, 1996. TATLOW, A. Analogias entre a teoria de Vigotski/Luria e a abordagem de Petö. In: Congresso Internacional de Jerusalém, 1997. Digitado. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ______. Obras escogidas. Visor: Madrid, 1997.
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