ARTE PARÁ ANO 33
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ARTE PARÁ ANO 33
Curador Paulo Herkenhoff ARTE PARÁ ANO 33 Museu do Estado do Pará Espaço Cultural Casa das Onze Janelas Museu Paraense Emílio Goeldi FUNDAÇÃO ROMULO MAIORANA 9 de outubro a 9 de dezembro de 2014 Belém-PA 2015 O Arte Pará supera as fronteiras e unifica o público Dentro de seu formato, o Salão Arte Pará tem sido o apoio dos nossos patrocinadores: Supermercados Romulo Nazaré, Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), Maiorana ter se mantido viva no decorrer de seus trinta e Banco da Amazônia (Lei Rouanet) e Vale, que se integram três anos, aliada à história do Arte Pará, é uma conquista à Fundação Romulo Maiorana nesta 33ª Edição, com notável. determinação, na busca de fortalecer as relações entre muito bem-sucedido. O fato de a Fundação Além disso, o Arte Pará se converteu em uma meta artista e público, e entre educação e arte. prioritária e em um ponto de referência para artistas, Por fim, agradecemos aos artistas que superam educadores, curadores, pesquisadores de Belém e de todo as fronteiras e unificam o público, sem coibir a sua o Brasil. criatividade. E, para tanto, mais do que formar uma Esta é uma conquista relevante e, cada vez mais, o equipe integrada de educadores, artistas, curadores, projeto propõe um processo que permite uma maior pesquisadores e público em geral, todos os segmentos interatividade com o público. Essa premissa modesta inicia da Fundação Romulo Maiorana, absolutamente todos, uma direção para o futuro promissor da instituição: ter a trabalham na mesma direção educação como um processo pedagógico. É, portanto, uma instituição viva e contínua, que funciona dinamicamente, dedicada à educação da arte. Agradecemos ao Curador Geral, Paulo Herkenhoff, pela sua dedicação por mais de uma década. Agradecemos Lucidéa Maiorana Presidente da Fundação Romulo Maiorana Salão em trânsito Arte Pará: comunhão dialógica Há 33 anos, o ato de ousadia – aliás, dizer isto de seus indiscutíveis méritos, mas, também, da sua natural O Arte Pará completa 33 anos e, cada vez mais, vem quem me refiro é pura redundância – de um sonhador superação em alguns aspectos. Tenho conhecimento, aprendendo com a linguagem artística contemporânea, trazia à vida cultural de Belém um sopro inovador: o inclusive, de que o seu novo formato já está sendo urdido e com o propósito de alcançar, todos os anos, novos olhares. Todo o processo de construção deste projeto é realizado Arte Pará. Depois do Romulo, a filha Roberta não só reconstruído com o vigor que os novos tempos estimulam, A cada edição, expandimos ao público apreciações, graças ao apoio imensurável dos nossos patrocinadores: deu continuidade ao Salão, mas o ampliou. E com muito para continuar sendo, no cenário atual, um espaço de convergentes ou não, de artistas de todo o Brasil. Supermercados empenho e a mesma inspiração apaixonada do pai, grande visibilidade e prestigio na vida cultural do Brasil. credenciou-o como um dos melhores do país. A cada ano, experimentando novas ideias e, portanto, novas ousadias, Na expectativa das transformações, desejo sucesso no seu renascimento e vida longa ao Arte Pará. afirmou-o como um evento de referência nacional. Todavia, como só acontece nos salões que têm longa Paulo Chaves Fernandes duração, há que se fazer, a partir desta tão simbólica Secretário de Cultura do Estado do Pará data para o cristianismo, uma rigorosa avaliação dos Este ano, tivemos quase 700 inscritos, vindos de todo o país. Esta troca é importante para que os nossos visitantes, da arte, para que novos aprendizes – sejam crianças, jovens ou adultos – possam se aventurar no universo das artes. Nazaré, Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), Banco da Amazônia (Lei Rouanet) e Vale, em conjunto com a Fundação Romulo Maiorana (FRM). estudantes e os próprios artistas percebam esse desenho Desta forma, conseguimos chegar à 33° edição num convergente que a própria mostra delineia, ao aproximar esforço coletivo, em busca de novos caminhos para a os eixos do país numa comunhão dialógica nos espaços formação artística. expositivos. Assim, nós da equipe da FRM desejamos contribuir com O curador Paulo Herkenhoff desenha os espaços as instituições e empresas parceiras, para que as ações do expositivos e transmite para o espectador os vários sentidos Arte Pará promovam, cada vez mais e melhor, o ensino que a arte provoca ao congregar artistas geograficamente e o conhecimento da arte, não sendo apenas um polo heterogêneos e tão próximos na maneira de comungar difusor da produção artística, mas um fórum permanente processos artisticos. Pois, nas suas diferenças e contradições, de discussões e um lugar aberto a novas experiências do integram-se ao espaço social da arte. público com a arte. Ressaltamos as ações educativas, que têm um papel importante para a inclusão de todos na construção de Roberta Maiorana relações humanizadoras, promovendo o acesso ao mundo Diretora Executiva da Fundação Romulo Maiorana Percursos no Arte Pará A iniciativa da Fundação Romulo Maiorana, com d) A experimentação de um modelo espacial, Este Arte Pará homenageia o artista Guy Veloso, com O Arte Pará também homenageia o Soldado da o apoio primordial das Oranizações Romulo Maiorana e que leva em consideração a complexidade das sua obra dedicada aos encontros da fé. Sua câmera é Borracha, Paulo Sampaio, recentemente falecido, que aos com o inestimável patrocínio de: Supermercados Nazaré, demandas da arte contemporânea. tenaz na busca por imagens da rica diversidade religiosa 90 anos encontrou na pintura uma forma para registrar Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), Banco Em 2014, o Arte Pará continua sendo o termômetro da brasileira, das suas diferenças e convergências. Num tempo o sacrifício e os tempos árduos dos seringueiros, que da Amazônia (Lei Rouanet) e Vale, é um exemplo de excelência da arte paraense, como ocorre há três gerações de insidiosa intolerância das doutrinas fundamentalistas durante a 2° Guerra Mundial embrenharam-se pela cooperação contemporânea entre a iniciativa privada de artistas. Deve-se também apontar a qualidade de suas no Brasil e no mundo, Guy Veloso aposta na arte como floresta amazônica em busca do látex, tão necessário aos e orgãos públicos, publicações e o aprimoramento da sua produção através lugar de diálogo e de entendimento para a consolidação países aliados no combate ao nazismo. da equipe liderada por Daniela Sequeira. do respeito devido por todos a cada um. o que garante uma continuidade produtiva. Para 2015, Roberta Maiorana propõe um Arte Pará O Arte Pará desenvolve um programa de Arte- Nessa compreensão podem estar as soluções para a Educação que tem alcançado reconhecimento nacional humanidade. A fotografia de Guy Veloso recorda que a a) O reconhecimento do artista paraense, que através da Bienal de São Paulo, do Museu de Arte do origem etmológica da palavra “religião” surge do verbo sempre teve em nosso salão o mais antigo e estável Rio (MAR) e da Universidade de São Paulo (USP). Com latino “religare”, isto é, traz o significado de religar Paulo Herkenhoff mecanismo de estímulo no estado do Pará. a colaboração da Universidade Federal do Pará (UFPA) e as pessoas. Veloso trouxe ainda fotografias de Pierre Curador do Arte Pará Poucos salões estaduais têm essa continuidade e apoio decisivo de Carmem Peixoto e da empresa Setrans- Verger, de cerimônias das religiões afro-amazônicas e persistência no trabalho. Bel, o programa educacional do Arte Pará atende 20.000 indumentárias sacras solenes dos orixás da Casa Ilê Asé crianças da rede pública de ensino, que são recebidas por Agaro Níle. Em sua 33° edição, o Arte Pará continuará abraçando novos objetivos, que em 2014 incluem: b) A consolidação de seu porte nacional, ao tornarse um dos portais de encontro entre a Amazônia mediadores, sob a direção da professora Vânia Leal. e o restante do país. O recorde de inscrições, de A edição do material infantil, O Liberalzinho, encartado 700 artistas oriundos do Pará, Minas Gerais, Rio na edição do Jornal O Liberal no domingo do Círio, leva de Janeiro, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul, o Arte Pará para outras dezenas e milhares de crianças. atesta essa vocação. A Fundação Romulo Maiorana entende que a educação c) A introdução de um novo formato da Sala Especial, com a mostra “Amazônia Ciclos de Modernidade”, com patrocínio da Petrobras. e a cultura são necessidades políticas e espirituais para a construção de uma cidadania emancipada. que prime pela inovação nos modelos curatoriais, no diálogo com a crítica e na forma de apresentar a arte. O dois mil e quatorze do Arte Pará O que aponta o dois mil e quatorze do Arte Pará, oficial feito de prata ou ferro, usado para marcar os negros localizados entre o espaço e o nada – a reverberação de um texto literário e um ensaio fotográfico. No texto após trinta e dois anos de existência? Existências do corpo. na condição de escravos no momento do embarque, no do nada. Davylim Dourado traz uma questão. Fruto de literário, o verbo “lembrar” torna-se recorrente na fala de Resistências do corpo. Existências-resistências? Sim, sim, ato da cobrança dos direitos de exportação. Feridas ainda quatro anos de pesquisa, Davylim reúne 450 imagens dos um sujeito oculto. Lembrar, lembrar e lembrar. No ensaio certamente resistências-existências. O estar no mundo, abertas no seio do nosso país. Mariana Marcassa aponta para moradores da cidade de Borá (SP), considerado o menor fotográfico, o álbum de família é revisitado, refotografado. atravessado pela sensibilidade dos artistas aqui presentes, esses corpos que sofrem de Banzo – um estado melancólico município do Brasil, com 805 habitantes. Mais da metade A diluição da memória atinge todos aqueles corpos, num que se oferecem em Holocausto para a reflexão e tomada que acometia os negros africanos nas senzalas brasilieiras. de seus habitantes compõe uma única imagem que ato de reconfiguração da desmemoria. Lembrar e lembrar de decisão de todos nós, diante de um mundo prenhe de A artista assinala que traz para o seu corpo, em registro de sobrepõe os seus corpos. O que emana da sobreposição de é construir eternamente a memória. contradições e significados. As obras e os artistas como performance, este sentido da dor, expresso também em olhos que nos observam, potencializados em uma única pontas de lança a instigar as consciências e contingências palavras – palavras-dor: “dor em relação àquilo que já não imagem? No arco de compreensão oposto e complementar, do corpo – corpo individual, social e político – plástico mais se pode ser, onde o ‘eu’ já não pode ser o mesmo. Mais do particular para o coletivo, Andréa Barreiro apresenta e expressivo. que isso, onde o ‘eu’ já não pode se redesenhar frente às o projeto Estudo para uma memória – vol. 1, constituído Cabelos longos, longuíssimos, protegem aquele corpo, a poeira se alevanta e cobre este mesmo corpo na forças que o assolam, levando-o ao suicídio forçado”. Cor, impossibilidade e dor. curva de piçarra. Luciana Magno está em toda e qualquer Em “Pequeno Compêndio dos Mares, do Compêndio rodovia que rasga a mata-floresta. Eis um dos vídeos da das Tormentas”, fotogravuras e fotografias apropriadas série “Orgânicos” – estratégias afetivas natas ao corpo da internet, Flora Assumpção redimensiona o horror do do cartógrafo performático. O corpo que protege pode homem à imensidão tormentosa do mar. O pequeno sangrar. Paul Setúbal asperge o seu próprio sangue no formato em que as obras são apresentadas instiga o olhar trípico Res Non Verba (Fatos e não palavras, em latim), a devanear errático em seus azuis profundos – um corpo constituindo constelações sentimentais de dor, do fato de líquido, movente. Raquel Uendi desestabiliza o estatuto “estar vivo”, do corpo que habita o plano político e social, desse corpo fotográfico, propondo nos trabalhos “A Boa e que não sai ileso. Onda”, “Tons” e “Impacto”, que forma e conteúdo covivam São estes os mesmos corpos que podem ser marcados em pé de igualdade, fazendo com que o material perca a a ferro em brasa. Através da série de fotografias Karimu, sua funcionalidade tradicional –, uma fotografia matérica imagens do pós-guerra em Angola, Edu Simões nos conclama na investigação de seus elementos constitutivos. Desenhos a defrontar-nos com um espelho ancestral –, a África. aparentemente saídos de uma prancheta técnica revelam Segundo ele, um espelho ainda enturvado pelo tempo. o universo particular de Henrique César. Desenhos em Continente-mãe, confundido com a história da colonização suspensão, universos ocultos. Corpos que vagam no nas Américas. De Karimu advêm o termo Karimbo, ferrete vazio da existência – um mundo de ponta-cabeça. Corpos Memórias reconfiguradas também são a matéria-corpo de Dirnei Prates. Armando Queiroz Curador Adjunto Museu do Estado do Pará Sala Expositiva Antônio Parreiras 10 11 12 13 paul setÚbal Artista Premiado Apresento três trabalhos que têm em comum o uso ao desenho de uma arma de fogo – uma metralhadora do meu próprio sangue como pigmento. Isso porque, que aparece fragmentada. É uma espécie de constelação além de um pigmento natural do próprio corpo, visceral estrelar feita de sangue, que carrega em si algumas por sua própria significância, o sangue aparece no meu conexões. De toda sorte, a expressão Ad Nauseam (até a trabalho em resposta ao meu afetamento nas relações náusea) é usada quando uma situação ou argumentação é com o mundo: não saio ileso diante do contexto social; levada a situações extremas, que chegam a causar náuseas. sou afetado pelas imagens e coisas do mundo, e elas me É uma náusea política, uma náusea da vida social. pedem que a preciosidade do sangue, enquanto elemento Aparecida de Goiânia-GO Ad nausean Habeas corpus Res non verba Desenho | 2014 14 No trabalho Abeas Corpus utilizo o mesmo fundamental para o corpo humano, seja transformado em procedimento de Ad Nauseam: o gotejamento, a sugestão elemento poético. Neste sentido, quando uso o sangue de conexões e o questionamento político. Há uma linha falo da vida, falo da morte, falo da dor – viver dói. tênue de sangue que liga e divide, ao mesmo tempo, as No trabalho Res Non Verba (Fatos e não palavras, em palavras Abeas Corpus (que tenhas o teu corpo). É certo latim), um tríptico, expresso as relações entre o corpo, no nosso cotidiano o uso deste termo jurídico, que muitas asferramentas e as palavras. São aproximações de situações vezes representa a impunidade, nos casos em que a noção que retratam justamente a dificuldade e a dor pelo fato de de justiça pode ser questionada. Isso me leva a refletir “estar vivo”; do corpo que habita o plano político e social, sobre a expressão latina usada com frequência em nossa e que não sai ileso. sociedade, em relação ao corpo social. No trabalho Ad Nauseam, em meio aos gotejamentos de sangue há uma linha que liga a palavra Ad Nauseam 15 dIRNEI PRATES Artista Selecionado Porto Alegre-RS O sacrifício de Isaac – Série Júpiter, Netuno e Plutão Deposição – Série Júpiter, Netuno e Plutão Repouso na fuga para o Egito – Série Júpiter, Netuno e Plutão Fotografia | 2014 16 Júpiter, Netuno e Plutão. Desde 2007 venho utilizando instaurando nas imagens, uma aura de brutalidade e apropriações nos meus trabalhos em vídeo e fotografia. redenção que aproxima os retratados dos anônimos, Nestas imagens, absorvidas quase sempre do meu entorno quase sempre marginais, reinventados nas pinturas de imediato, procuro alguns padrões que evidenciem Caravaggio. A dualidade no tratamento dado ao trabalho suas contradições, suas possibilidades de subleituras e se complementa com os títulos propostos, que, a partir interpretações pessoais. As associações entre fotografia e desta lógica, utiliza nomes bíblicos e citações inerentes ao pintura, recorrente em meu processo de criação, apresenta- campo sacro, extraídos e recontextualizados dos trabalhos se, neste caso, sob a forma de contrastes e tenebrismos que do pintor barroco. No projeto, capturo imagens na tela do tangenciam imagens/conceitos do período barroco, porém computador, oriundas de sites de encontro, onde, através reafirmam o corpo em detrimento da face. As fotografias de webcam, seus usuários podem se exibir e conversar resultantes do projeto, feitas a partir de pessoas comuns, com os pretensos parceiros, numa encenação, em que, o procuram corroborar a ambigüidade que mescla o gesto que está em jogo é o compartilhamento de uma fantasia aparentemente mundano e carregado de urgência, com momentânea e sem culpa. a naturalidade e a inocência do desejo não reprimido, 17 FLORA ASSUMPÇÃO Artista Selecionada São Paulo-SP Pequeno compêndio dos mares III, IV e V Do Compêndio das Tormentas. 2014 Fotografia | 2014 18 A artista propõe uma reflexão visual de aspectos da Flora trabalha sobre imagens do sublime, aquelas que relação do homem com a natureza, sempre pautada submetem a humanidade à sorte dos fenômenos mais pela interferência, poder e dominação. A série ‘Pequeno intensos e destrutivos da natureza. Nestas fotogravuras Compêndio dos Mares’, composta por imagens produzidas e fotografias a artista se apropria de imagens capturadas em fotogravura (técnica do século XIX, que combina da internet e tensiona com o conteúdo sublime das fotografia e gravura em metal) e originada de fotografias de tempestades, dos maremotos, editando e manipulando as domínio público, apropriadas da internet, selecionadas, imagens. Flora retira as imagens de sua condição pública manipuladas, alteradas e editadas, e que evocam a e as sequestra para o seu laboratório, submetendo-as ao grandiosidade e o caráter incontrolável da natureza. Estas processo artesanal, longo e delicado, como gravar uma obras combinam uma atitude da arte contemporânea fotografia em camadas, corroendo o metal. Lado a lado, de apropriação com uma técnica tradicional e antiga. as ondas gigantescas e as nuvens parecem sugerir que a A atmosfera destas imagens é fortemente inspirada pela grandiosidade e a violência desses fenômenos possuem literatura de Gabriel Garcia Márquez, em seus escritos sobre uma dimensão intimista, privada, secreta, como se fosse o mar, especialmente o conto ‘O Mar do Tempo Perdido’. possível reduzir a sua fúria e estudá-la detalhe por detalhe, “Em ‘Pequeno Compêndio dos Mares, do Compêndio das como uma célula ou um sistema filosófico.”1 Tormentas’, a artista reelabora a combinação que talvez seja a mais forte de sua trajetória: a estética funcional da máquina da natureza e o imaginário fantástico. 1 Trecho de texto crítico de Lucas Oliveira (artista e curador independente, educador do MAM-SP). 19 EDU SIMÕES Artista Selecionado Karimu - Estas imagens foram feitas durante a minha ferro, esquentado em brasa, usado para marcar os negros terceira e mais demorada visita a Angola. Foram 15 dias no momento do embarque, no ato da cobrança dos direitos de convivência, que me remeteram fortemente à primeira de exportação. Era um ritual macabro de legalização viagem para fora do meu estado, no final dos anos 1970, e inclusão do escravo no sistema comercial europeu. quando visitei Salvador e o interior da Bahia. O poeta Karimbo ou carimbo, derivado da palavra karimu, significa angolano Arlindo Barbeitos diz que “O brasileiro que marca em quimbundo (a língua principal falada em Angola conhece a história de África conhece um pouco a sua ainda hoje, depois do português): Ka = prefixo diminutivo; história/.../ porque ela é uma parte do passado, também rimu = marca.21 Carimbo e marca são duas palavras muito do seu país”. Nós brasileiros devemos visitar estas instigantes e significativas para se pensar a constituição imagens como se estivéssemos diante de um espelho africana na identidade do povo brasileiro, ou seja, a minha ancestral, ainda que enturvado pelo tempo. Da mesma (nossa) própria identidade, por mais branca que pareça forma, os angolanos e africanos em geral, e também o a minha (nossa) pele. Essa pele negra, marcada a ferro resto do mundo, somos praticamente todos filhos do quente, chegou ao continente americano para se misturar tráfico negreiro. Essa terrível prática transformou o mundo à pele indígena nativa, e ambas ao europeu português, na como um todo, a partir da segunda metade do século maioria das vezes, através do estupro. Somos todos pretos XV, e no Brasil perdurou até 1888. Por esta prática foram e índios, indistintamente. travadas inúmeras guerras. Por esta prática foram tecidas retóricas filosóficas e religiosas. No contexto do tráfico negreiro, Karimbo era o ferrete oficial feito de prata ou 20 2 Luiz Felipe de Alencastro. O Trato dos Viventes, Companhia das Letras. São Paulo-SP Vendedor de macaco (díptico 1) Nelinho (díptico 2) Januário Francisco (díptico 3) Fotografia | 2014 21 PEDRO DAVID Artista Selecionado Belo Horizonte-MG Sem Título – Tríptico da série Impureza Fotografia | 2014 22 A discussão acerca do avanço do “progresso” sobre pelo marketing industrial e seus materiais mais baratos, a natureza é um tema crucial para a continuidade da dinâmicos e descartáveis, que passam a povoar os desejos vida no planeta. Todos os dias temos notícias sobre os e a habitar a paisagem. Ao mostrar, através de fotografias, impactos nefastos da poluição, sobre a dificuldade de o impacto gerado pela ocupação humana em ambientes aprovação de planos de contenção da destruição causada onde ela não é tão óbvia e tão dominante como nos pelas indústrias com as emissões de gases e dejetos. Com grandes centros, pretendo levar o expectador a refletir Impureza pretendo lançar um olhar para as mudanças que sobre este impacto e adotar uma postura conservacionista, o homem do interior enfrenta hoje, mas ainda não está tão ainda que tardia. Impureza, ainda que tenha sido realizada transformado quando o ser urbano. Pretendo investigar a (até o momento) somente no Brasil, conecta as zonas transformação dos hábitos e do ambiente, da arquitetura, rurais de todo o mundo, pois a globalização irrefutável a profusão de cores dos novos tecidos, das imagens por que passamos na contemporaneidade deixa marcas de televisivas e impressas pela publicidade, a substituição do sua presença em todo o mundo. modelo tradicional de vida pelas novidades apresentadas 23 luciana magno Artista Selecionada As ações performáticas de “Orgânicos” buscam uma Por meio de estratégias afetivas inatas ao corpo do apropriação do espaço vegetal e da relação deste corpo cartógrafo performático é possível a construção de outra que é composto em sua base por moléculas de carbono geografia que se expande aos limites das geografias física e e hidrogênio, encontradas na constituição de qualquer humana – uma geografia difusa que comunga a invenção matéria viva. A simbiose inicia na organicidade, no de um outro espaço/corpo. sentido que estes dois elementos, corpo e vegetação, são Belém-PA Pedra do Sol Performance direcionada para vídeo | 2014 24 compostos pela mesma matéria, organizada de formas distintas pela formação celular. 25 RAQUEL UENDI Artista Selecionada Os trabalhos “A Boa Onda”, “Tons” e “Impacto” são a sua função tradicional de proteção do objeto (como resultantes da pesquisa em que a artista Raquel Uendi a moldura), dando-lhe outro estatuto, tornando-o uma pontua uma síntese básica em sua prática: a harmonia ferramenta para edição de algum sentido escamoteado entre imagem e forma. “embaixo” das imagens. Quanto às fotografias, a artista se Para tal, vale-se de diversos materiais. No caso das três obras, utiliza o vidro, fazendo com que o material perca 26 utiliza de diversos tipos de ampliação, impressão e papéis, num processo livre e variável. São Paulo-SP A Boa Onda Tons Impacto Objeto | 2014 27 JOSÉ VIANA Artista Selecionado S11D (ou projeto para Salvaguardar Pedras), 2014. José Viana em colaboração com Camila Fialho faz uso de Pará, em áreas mapeadas para a mineração, no contexto de implementação do próximo grande projeto estruturas do sistema das artes – linguagem, plataforma S11D, localizado na Serra Sul, corpo mineral 11, expositiva e acervo – para salvaguardar um pequeno bloco D. Sobre o processo, visite o site: projetopara conjunto de pedras com alta concentração de ferro, que salvaguardarpedras.tumblr.com/ foram coletadas na Floresta Nacional de Carajás, no sul do 28 Belém-PA S11D (ou projeto para salvaguardar pedras) Tapete Carajás Fotografia | 2014 29 melissa barbery Artista Selecionada Expressar o que é a intimidade pode ser complexo, podendo ser diferente de um relacionamento para outro, Belém-PA #íntimogrãoColeção01 Fotografia | 2014 30 através da Hashtag #íntimogrão, alocada no aplicativo Instagram. ou mudando com o passar do tempo, em um mesmo A compilação que aqui se apresenta recebe o título relacionamento. Para algumas pessoas a intimidade está de #íntimogrãoColeção01, e consiste numa extensão do conectada às relações sexuais, para outras a intimidade trabalho acima citado, das possibilidades de combinação é o que permeia a relação em momentos convividos e recombinação de imagens veiculadas nas mídias sociais, entre dores e alegrias. Seja como for, a intimidade está ampliando a concepção expressiva em uma proposição pautada em sentimentos e afetos entre parceiros em um que convida o expectador a vivenciar uma experiência relacionamento. Para mim, neste momento se traduz em ativa, propondo ao visitante que produza a sua própria imagens que se agrupam em um acervo que se materializa compilação do #íntimogrão. 31 COSTA & BRITO Artistas Premiados 32 33 COSTA & BRITO Artistas Premiados O vídeo apresenta ações realizadas pela dupla COSTA & BRITO em ambientes extra-artísticos, onde desenvolveram soluções – através do corpo – com os ATIVIDADE Nº 4. Nesta atividade foram utilizadas duas materiais encontrados no contexto de cada atividade tábuas, dispostas na arquitetura local de forma que fosse ATIVIDADE Nº 2. A atividade consiste em equilibrar dois possível sustentar e percorrer esta nova estrutura. Para cavaletes de bloqueio de acesso, dispostos ao lado do isso, enquanto um corpo cumpria a função de manter esse posto de segurança da Polícia Civil, na estação de metrô arranjo, o outro caminhava sobre este patamar construído Palmeiras- Barra Funda (São Paulo-SP). O trabalho dialoga temporariamente. A atividade é encerrada quando esta entre uma atividade relativamente simples, mas realizada estrutura torna-se uma rampa, justamente para a descida em um local restrito, criando, assim, um ambiente de quem já percorreu toda a sua extensão. problematiza (e proíbe) a atividade. 34 suas relações estruturais (disposição desses objetos). 31 tenso entre os elementos equilibrados e um espaço que São Paulo-SP “Atividades” Vídeo | 2014 experiência travada com o corpo, e conseguida através de ATIVIDADE Nº 5. A partir de um poste cilíndrico de metal, chumbado na lateral de um pátio, a ação é iniciada ATIVIDADE Nº 3. Ação baseada na utilização de com o equilíbrio de um caibro de madeira sobre o poste materiais encontrados no local de trabalho, segundo através do peso e contrapeso provocado pela dupla as suas funções primárias e de modo sincrônico. Desta na realização dos movimentos básicos de locomoção maneira, a atividade está concentrada na solução para (braquiação e elevação). Equilibra-se a estrutura (caibro uma escada e uma cadeira (objetos utilizados) naquele sobre espaço. A funcionalidade de cada objeto se dá na coordenados. poste) através de deslocamentos corporais 3 Com execução da atividade nº 2, todas as ações foram realizadas nas imediações do Instituto de Artes da Unesp (São Paulo-SP) 35 vitor mizael Artista Selecionado São Paulo-SP Sem Título – Série Diorama Interferência | 2014 36 Quais os limites existentes entre as necessidades envolvem as dinâmicas museológicas o material necessário de salvaguarda museológica e as políticas às quais para provocar um debate, levantar questionamentos e essas necessidades estão subordinadas? Quais são os propor diálogos. Mais que um “objeto” finalizado, a obra mecanismos envolvidos na eleição daquilo que é tomado se corporifica num processo dialógico e provocativo. como necessário ao registro da nossa memória? Existe o Inicialmente buscou-se um diálogo com o Museu arquivo como mecanismo necessário à salvaguarda da Paraense Emílio Goeldi, visando entender quais valores nossa cultura – ou como exploração fetichista de um simbólicos são atribuídos ao seu acervo de animais sistema cujo propósito é difuso e sem direcionamento taxidermizados. Essa conversa inicial repousava sobre a claro? Há um pensamento museológico que vai além das solicitação de empréstimo desse acervo e sua exibição especificidades de cada museu e permeia os interesses no Arte Pará, numa montagem claramente diferenciada conservacionistas e de exibição em várias vertentes? Quais daquela em que os animais se encontram no Museu. A os diálogos possíveis de serem estabelecidos entre um negativa do empréstimo era uma potencialidade desde o Museu de Ciências Naturais e uma instituição dedicada início. Contudo, mais que a posse dos objetos, estavam às Artes? em jogo os ditames burocráticos e conceituais envolvidos O trabalho aqui apresentado configura-se como nesse processo. Desse modo, não eram as respostas que uma metáfora das situações que envolvem os arquivos importavam, mas sim as questões surgidas a partir do que contemporâneos e busca na observação das situações que foi observado. 37 HENRIQUE CÉSAR Artista Selecionado São Paulo-SP Frota Desenho | 2014 38 Procuro pistas para acessar um universo oculto. Não uma pintura. A linguagem do desenho se faz presente no penso nos códigos dificilmente decifráveis, mas nas ponto de partida para a materialização de cada ideia que situações quase óbvias do mundo, escondidas dos olhos surge. Para concluir a breve partilha do meu processo de humanos, frequentemente nus ou despreparados. Me trabalho, penso que se o dia a dia e a cultura são notados utilizo de diversas mídias para devolver ao mundo o que dentro de um espaço e tempo comuns, não resta outra se apresenta na minha percepção. No entanto, geralmente alternativa para a arte, a não ser acessar outro lugar, é por meio do desenho que começo a pensar o que será invisível, porém elétrico, localizado entre o vácuo e o produzido, seja o trabalho final um vídeo, um objeto ou nada. 39 ricardo villa Artista Selecionado São Paulo-SP Espaço Revelado #4 e #5 Fotografia | 2014 40 Espaço Revelado é uma série de ações que consiste histórico e atual, trazendo à tona o seu soterramento no transporte de um aparato de luz composto por uma temporal e apresentando-o como referência sociocultural, lâmpada fluorescente e uma bateria de carro. Esse aparato especulando outras dimensões simbólicas dos processos é instalado em lugares que se encontram em estado de de configuração das cidades, e como uma operação que abandono, e com condições mínimas de luminosidade. articula duas realidades: a realidade material do espaço O dispositivo é montado nesse lugar-resíduo, com o ocupado e a realidade sensível do espaço percebido ou objetivo de fazer surgir/revelar/iluminar o lugar em transformado. questão, visando confrontar, subjetivamente, os contextos 41 42 43 ANDRÉA BARREIRO Artista Selecionada São Paulo-SP Sem título – da série Estudo para uma memória – vol 1. Fotografia | 2014 44 O projeto Estudo para uma memória - vol 1 é se mostra líquida, e os vestígios que sobram transgridem o constituído de um texto literário e um ensaio fotográfico. sentido de origem, de congelamento de um determinado Na instância do texto, um sujeito oculto está presente em instante. Os índices que permanecem: a composição, os frases curtas e insiste na repetição do verbo “lembrar”. A gestos e luzes, ativam uma memória coletiva dividida/ linguagem utilizada evidencia um aspecto circular, como construída/partilhada na cultura. O legado individual uma ladainha. Na descrição de situações cotidianas, ele se se dissolve. Rompem esta fluidez imagens de aparência esforça para construir recordações. “sólida”, com foco definido e contornos evidentes. Em Na esfera visual, o álbum de família é readquirido pelo um mundo limítrofe onde imaginação e realidade se ato de refotografar as imagens guardadas. Documentos de confundem, estas cenas tencionam o espaço visual e uma época, de suporte sólido, papel fosco, e densidade reafirmam ficções. O instante contido no ontem, no hoje do preto e branco, essas imagens são manipuladas até e no agora está no que acabamos de lembrar, no que perderem a rigidez, por meio de interferências e distorções. acabamos de esquecer, no que criamos. No gesto da autora “desmancham-se” as bordas, contornos e superfícies. A imagem se dilui como uma memória que 45 rodrigo arruda Artista Selecionado Se há um ponto em comum entre os meus trabalhos sua vez, apresenta-se paradoxalmente dotada de massa e nesta exposição, afirmo que todos são vulneráveis ao de volume. De modo igualmente contraditório, o prego contato com o público, não apenas no que diz respeito de vidro (ou seria vidro em forma de prego?) resiste ao à possibilidade de serem destruídos, mas frágeis e consentir a função de pregar, como se questionasse sua suscetíveis ao olhar desatento. Trata-se de obras discretas, própria razão de existir. Já 1g de ar, com uma amostra de sutis -- por vezes invisíveis? Ao mesmo tempo são ar paralisada e isolada, ressalta um caráter que me parece concisas, simples, precisas e, curiosamente, são a negação importante neste conjunto: são trabalhos que partem do delas mesmas. A argila reluta em tornar-se linha. Esta, por mínimo e funcionam enquanto unidade. 46 São Paulo-SP Sem título 1g de ar Sem título Objeto | 2014 47 Davilym dourado Artista Selecionado Borá é o resultado da sobreposição de 450 imagens longo dos anos os objetivos iniciais foram se transformando, dos moradores de Borá-SP, considerado o menor à medida que entrava em contato com os moradores em município do Brasil, com população de 805 habitantes, suas singularidades. Distanciando-me da perspectiva de segundo o censo de 2010. Borá é retratado através de seus retratá-los em seus afazeres cotidianos, as singularidades moradores, em uma única imagem, deixando no ar uma deram lugar à multiplicidade, e a partir da técnica de interrogação: é possível materializar a multiplicidade de sobreposição foram utilizados 450 retratos para se chegar rostos em um único retrato? A partir da experiência da a esta imagem fantasmagórica, múltipla, indiscernível, que metrópole, Davilym Dourado iniciou o seu percurso de provoca o olhar, deslocando-nos de um lugar confortável pesquisa para entender o modo de vida dos boraenses, para um turbilhão, uma espécie de redemoinho que cuja população inteira caberia em qualquer condomínio coloca a imagem em movimento, revelando as camadas de uma grande cidade. A imagem que encontramos é fruto processadas na justaposição caleidoscópica. A exposição de um processo de quatro anos de pesquisa imagética possibilita uma experiência psicodélica – termo de origem através de viagens, conversas, estabelecimento de uma grega, que articula a psique e o delos, ou seja, a alma rede de contatos. O projeto inicial era de retratar todos e a manifestação. A partir do retrato, o que vemos é a os habitantes – uma espécie de censo de imagens, mas ao manifestação da existência para além da visualidade. 48 São Paulo-SP Borá Fotografia | 2014 49 50 51 luciana magno Artista Premiada Belém-PA Trans Amazônica Performance direcionada para vídeo | 2014 52 Cabelos longos, longuíssimos, protegem o corpo, a expande aos limites das geografias física e humana – poeira levanta e cobre este mesmo corpo na curva de uma geografia difusa que comunga a invenção de um piçarra. Luciana Magno está em toda e qualquer rodovia outro espaço/corpo. A artista intriga as consciências do que rasga a mata-floresta. O vídeo da série “Orgânicos” corpo. Corpo este individual, social, político, plástico e revela estratégias afetivas natas ao corpo do cartógrafo expressivo. performático e constrói uma outra geografia que se 53 54 55 JULIANA NOTARI Artista Premiada Ao lado do edifício em que eu morava em Belém havia do órgão municipal responsável pelo cemitério e recolhi um antigo cemitério abandonado chamado Soledade, no próprio cemitério, com a ajuda de Mineiro, um dos que foi construído por volta de 1850 e funcionou apenas funcionários encarregados da manutenção do cemitério, por 30 anos. Sempre gostei de visitar cemitérios, onde é o material para a limpeza. Vestida de branco como uma possível ter contato com um ambiente de paz. O “campo enfermeira, juntamente com a equipe iniciamos a filmagem santo” é um local de conciliação ou de confronto com a às 5h da manhã e terminamos às 16h. Foi um trabalho morte. exaustivo e de muita paciência. Eu estava fisicamente O Soledade, no entanto, não é um cemitério debilitada, como se meu corpo também precisasse abandonado. Muito pelo contrário, é o cemitério mais estar “limpo”. Para realizar este trabalho passei um mês vivo que já visitei. A cultura religiosa de Belém devolveu sem comer proteína animal. Ao término da limpeza do a vida ao cemitério abandonado: apesar de ser tombado mausoléu eu me senti transformada em uma escultura de pelo IPHAN, continua desprezado pelo poder público. mármore. A minha roupa branca ficou muito suja e o limo Mesmo sentindo certo pesar pelo descaso público, fui verde que estava no mármore passou para a minha pele. tomada por uma sensação de felicidade. Durante a a visita As esculturas que estavam sujas ficaram brancas após a fiquei intrigada com um mausoléu que aparentava ser o limpeza. Mesmo tentando organizar e limpar a morte maior e o mais bonito de todos. Assim que suas portas se (tão presente no mausoléu), senti que de alguma forma abriram percebi que tinha encontrado um local para o meu ela retornou a mim através da sujeira do mármore. Tive a trabalho. Passaram-se alguns dias, e em outra visita me dei sensação de que dei um pouco de vida ao mausoléu e ele conta de que o trabalho seria uma performance, em que me deu um pouco de morte. eu executaria uma limpeza do local. Consegui autorização 56 Rio de Janeiro-RJ Soledad Performance direcionada para vídeo | 2014 57 mariana marcassa Artista Selecionada Banzo é o nome que se dá ao estado em que os negros Mas se entendêssemos o Banzo como um campo africanos ficavam nas senzalas brasileiras. Era uma espécie expandido? Ou como uma sensação que surge com o de tristeza profunda que se manifestava nos escravos, por tráfico Atlântico, desenrola-se sinuosamente ao longo das estarem longe da sua terra natal. Um escravo com banzo histórias e produz múltiplos efeitos? Ou algo que assola ficava em profundo silêncio, sentia muito fastio, dores e a a invenção do Brasil, e com ela todo um percurso de liberdade abortada, sofrimento continuado pela aspereza massacres, dores e esmagamentos de corpos e vozes que com que o tratavam. Era uma espécie de melancolia não ganharam espaço ao longo da história? Se pensássemos aguda, um absoluto desgosto da vida. Sentia dor em no Banzo como um afeto que, especialmente por ser relação àquilo que já não mais poderia, onde o ‘eu’ já não de um silenciamento de vozes minoritárias, insiste na podia ser o mesmo. Mais que isso, onde o ‘eu’ já não pode urgência de se expressar aqui e acolá através de diferentes se redesenhar frente às forças que o assolaram, levando-o modos de vida? ao suicídio forçado. 58 São Paulo-SP Banzo 1 Performance | 2014 59 luísa nóbrega Artista Selecionada São Paulo-SP Eject, rewind Cântico Eco ou reescrita: nunca te disse que ia durar Ação Performance | 2014 60 61 luísa nóbrega Artista Selecionada As três ações de Luísa Nóbrega exploram uma mesma Janeiro, no dia 21 de dezembro de 2012, data prevista zona de ambivalência: a boca, que acumula funções tão para o fim do mundo, Luísa permanece quase imóvel complexas quanto falar, morder e engolir. Trata-se de sobre uma cadeira durante o tempo que leva para um um órgão peculiar, híbrido, que transcende a fronteira copo se encher de saliva. Em Eject, rewind, a artista entre o sujeito e o mundo, entre o corpo e a linguagem, descobre que o tempo que se leva para engolir uma fita a biologia e a cultura. Cabe a ela fazer a mediação entre magnética é aproximadamente o mesmo tempo que se dois espaços imprevisíveis: a zona úmida das vísceras, leva para reproduzir uma fita cassete. Em Eco ou reescrita, onde os tecidos se movem, se devoram e se regeneram, por fim, as 24 horas do dia são divididas pelos 60 minutos e o tabuleiro de xadrez da linguagem, onde aquilo que em que uma mesma fita cassete reproduz a voz da artista falamos necessariamente se distorce, ganhando sentidos continuamente, enquanto ela grava e escuta os lados A múltiplos e imprevisíveis. Em cântico, realizada na parte e B alternadamente, e num ciclo repetitivo, cada nova de trás de uma igreja no Morro da Conceição, no Rio de gravação apaga a anterior. 62 São Paulo-SP Eject, rewind Cântico Eco ou reescrita: nunca te disse que ia durar Ação Performance | 2014 63 Amazônia – Ciclos de Modernidade Sala Especial Salas Expositivas 64 65 Cláudia anduja Artista Convidada 66 67 guy veloso Artista Homenageado pierre verger Artista Convidado (1902-1996) Casa das Onze Janelas Sala Waldir Sarubbi Projeções de Guy Veloso e Pierre Verger 68 69 guy veloso Artista Homenageado Este ano Arte Pará homenageia o artista Guy Veloso, Brasil e no mundo, Guy Veloso aposta na arte como um com sua obra dedicada aos encontros da fé. Sua câmera lugar de diálogo e de entendimento, para a consolidação do é tenaz na busca por imagen da rica diversidade religiosa respeito devido por todos a cada um. Nessa compreenção Belém-PA brasileira, com suas diferenças e convergências. Um tempo podem estar as soluções para a humanidade. Devota faz oferenda, Festival de Iemanjá em Icoaraci, de insidiosa intolerância das doutrinas fundamentalistas no 70 Paulo Herkenhoff distrito de Belém-PA, 2013. Digital. Festival de Iemanjá em Icoaraci, distrito de Belém-PA, 2013. Digital. Fotografia | 2014 71 Belém-PA Ritual de iniciação, Candomblé Ilê Asé Iya Oguntè Oguntè, Ananindeua-PA, 2014. Digital. Fotografia | 2014 72 73 Esta sala especial objetiva traçar um paralelo entre corpo sua entidade de “cabeça”, fotografá-los; tudo ganha a produção destes dois fotógrafos, evidenciando suas horizontalidade em importância humana. É o humano particularidades, assim como a sua complementaridade. que vê, fotografa e participa; é o humano que “baila” Pierre Verger e Guy Veloso, parceiros devocionais? e participa; é o humano em contato com o divino que A complexidade dos ritos afro-amazônicos, pontuados participa. É o desejo humano que se estabelece e busca nos vértices de um arco temporal extenso, compreendido compreender-se através deste jogo de cena imagético, num hiato de quase 70 anos, desdobra-se nestes olhares repleto de significados, muitas vezes imperceptíveis atentos que percebem e se sensibilizam, cada um ao seu ou acintosamente ocultados neste panorama da rica modo, na minúcia dos gestos transcendentes. experiência de ocupação da Amazônia. O transe, o movimento do corpo, a movimentação Esta mesma Amazônia que traz em si o contraditório, do grupo de onde a cena emerge, e rapidamente imerge, o revelador, naquilo que a fotografia vocaciona explicitar o ato social. Tudo é motivo de atenta investigação que do que hoje é chão, terra firme, multiplamente habitada, ultrapassa o mero documentar. Verger e Guy, observadores grão. Verger e Guy, mensageiros devocionais? participantes devocionais? Tomar uma cuia de mingau de açaí com arroz na Armando Queiroz beirada do mercado do Ver-o-Peso, receber em seu Curador Assistente 74 Belém-PA Dia de Exu, Terreiro de Mina do Rei Sebastião e Toya Jarina, Belém-PA, 2013. Digital. Fotografia | 2014 75 Belém-PA Belém-PA Mulher em transe, festa de Exu, Terreiro de Mina do Rei Sebastião e Toya Jarina, Belém-PA, 2013. Digital. Festa da Negrita, Manso Mamsubando Keke Neta Nangetu, Belém-PA, 2013. Digital. Fotografia | 2014 Fotografia | 2014 76 77 Belém-PA Ritual para Exu, Terreiro de Mina do Rei Sebastião e Toya Jarina, Belém-PA, 2013. Digital. Ciganos na Festa da Negrita, Manso Mamsubando Keke Neta Nangetu, Belém-PA, 2013. Digital. Fotografia | 2014 78 "A palavra religião vem do verbo latino religare, que ideia sobre o outro. E ao mesmo tempo pensar que a tarefa significa religar os homens. Então, se essa palavra, se essa dos que querem um mundo mais democrático é não só força, se essa junção, se essa crença que é a fé pode trazer trazer essas religiões afrodescendentes à visibilidade, mas paz às pessoas, que voltemos à sua origem etmológica compreender que elas – como Verger e Rubens Valentim no sentido de conectar e não de separar as pessoas, e compreenderam – não estão no campo do folclore; nem ao mesmo tempo insistir que todos devemos respeitar a no campo da superstição, mas estão no campo dos valores, religião de cada um. No caso das religiões afro-brasileiras, os mesmos que ligam as pessoas". esta violência exacerbada é algo que remonta a momentos obscuros da sociedade ocidental, de se impor através de Paulo Herkenhoff métodos, sejam eles psíquicos, políticos, físicos etc., uma 79 pierre verger Artista Convidado (1902-1996) 80 81 82 83 84 85 eLAINE ARRUDA Artista Selecionada O trabalho apresentado é uma gravura em metal, com no visitante uma reação contemplativa. Para o Arte Pará dimensões de 12m x 1,20m, produzidas a partir do meu proponho o inverso: uma sensação de enclausuramento, interesse pela paisagem. O encontro do corpo com a ao ocupar integralmente a sala com o conjunto de 10 imensidão das grandes escalas sempre me atraiu sensorial estampas de 1,20m a 3m. Dessa forma, ao entrar no e processualmente. Estes trabalhos foram produzidos em ambiente o visitante vai se envolver com o trabalho. 2013, como parte do processo de pesquisa com apoio da Essa disposição espacial muda a relação do corpo com o Bolsa Funarte de estímulo à produção em Artes Visuais. As espaço, a escala, portanto, com as sensações que o mesmo obras foram apresentadas em situações expositivas onde a evoca. imensidão era a questão central do trabalho, que provoca 86 Belém-PA Outras Paisagens Gravura/Instalação | 2014 87 edivania andrade Artista Convidada INDUMENTÁRIAS Osum foi o nome dado a um rio na Nigéria, em Ijexá. Deusa do ouro, riqueza e do amor, Osum pertence Figurinos de divindades do candomblé que exibem a ao ventre da mulher, e ao mesmo tempo controla a exuberância da cultura afro-brasileira. São indumentárias fecundidade, por isso as crianças lhe pertencem. Dona dos de três orixás, criadas pela artista plástica e estilista rios e cachoeiras, gosta de usar colares, jóias, perfumes e paraense Edivânia Câmara (Yiatundê). tudo relacionado à vaidade feminina. Osum é destemida Com esta exposição, pretende-se mostrar a marcante diante das dificuldades enfrentadas pelos seus. Ela usa a presença dos africanos na cultura brasileira, seja na sua sensualidade para salvar a sua comunidade da morte. linguagem, na culinária, na música, na dança, nas artes Dança com seus lenços e o véu, seduzindo todos à sua plásticas, nos rituais e na religiosidade. Para compor os volta. figurinos dos orixás, que são as divindades do candomblé, a Enfrenta o perigo quando Olodumare, Deus supremo, artista utilizou elementos da cultura africana, empregando ofendido pela rebeldia dos orixás, prende a chuva no uma grande variedade de materiais como tecidos de Orum (Céu), deixando que a seca e a fome se abatam sobre várias texturas e cores, contas (colares de miçangas), o aiê (a Terra). Transformada em pavão, Oxum voa até búzios, correntes de metal, flores, cabaça e espelho. Vale o Deus maior para suplicar ajuda. Yabá (Orixá feminino) destacar a adequação do figurino às características de cada não tolera o que considera injusto. Da beleza à destreza, divindade representada. da fragilidade à força, com toque feminino de bondade, é A exposição não tem nenhuma intenção religiosa. assim o jeito dessa deusa-heroína chamada Osum. Apesar de as indumentárias expostas representarem a Assim, Osum se torna senhora do jogo de búzios. religião afro-brasileira, o que se pretende é promover um Beleza, agilidade e astúcia são ingredientes do sucesso encontro com um capítulo da história do Brasil, escrito deste orixá. No amor, Osum é ardorosa, de tão formosa pelas culturas africanas, através da estética, das formas e quente que é. Osum luta para conquistar o amor do seu plásticas da arte. amado, e quando consegue é capaz de gastar toda a sua riqueza para mantê-lo. Afinal, Oxum quer ser amada, e OSUM, “SENHORA DAS RIQUEZAS” Na aurora de sua civilização, o povo africano, possivelmente conhecido pelo nome de Iorubá, acreditava todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas finas, joias e boa comida – tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá do amor. que forças sobrenaturais impessoais, espíritos ou entidades Com suas jóias, espelhos e roupas finas, Osum satisfaz estavam presentes nos objetos e nas forças da natureza. o seu gosto pelo luxo. Ambiciosa, ela é capaz de geniais Muitos desses espíritos passaram a ser cultuados como estratagemas para conseguir êxito na vida. E assim Oxum divindades, mais tarde designados Orixás, detentores do torna-se “senhora de tanta riqueza, como nenhuma outra poder de governar aspectos do mundo natural, como o Yabá (Orixá feminino) jamais o fora”. trovão, o raio e a fertilidade da terra, enquanto outros foram cultuados como guardiões de montanhas, cursos d’água, árvores e florestas. 88 Salão das Artes Belém-PA OŞUM. IYEMANJÁ. NÀNÁ Cenografia e figurino: Edivânia Câmara Iyatunde Indumentárias ritualísticas pertencentes ao templo Ilê Asé Agaro Níle. Instalação | 2014 89 YEMONJÁ, “RAINHA DE TODAS AS ÁGUAS” O abebé (leque prateado em forma de peixe, com o cabo a partir da cauda) é uma insígnia real que lhe Yemanjá, a Rainha do Mar, mãe de quase todos os orixás, é exaltada por negros e brancos. Possui vários nomes: sereia do mar, princesa do mar, rainha do mar, Inaé, Mucunã, Janaína, Princesa de Aiocá, Sereia e Maria. “Afrodite brasileira”, Yemanjá é a padroeira dos amores e muito solicitada em casos de desafetos, paixões conflituosas, desejos de vinganças, tudo pode ser conseguido caso ela consinta. Yemanjá exerce um fascínio nos homens, sendo o estereótipo da beleza feminina. Ela tem poderes sobre todos aqueles que entram em seu domínio, e é venerada e respeitada por todos. Segundo a lenda, é ela quem decide o destino das pessoas que adentram seu império: enseadas, golfos e baías. Dona de grandes poderes, a tranquilidade do mar ou as tempestades estão sob o seu domínio. Em cada lugar do Brasil Yemonjá é festejada em datas diferentes, variando de um lugar para outro, quando os devotos entregam suas oferendas como velas, espelhos, pentes, flores, sabonetes e perfumes, na esperança de que ela leve todas as tristezas, problemas e aflições para o fundo do mar e traga dias melhores. Yemonjá também é conhecida como a deusa lunar. Ela rege os ciclos da natureza que estão ligados à água e caracteriza a “Mudança”, à qual toda mulher é submetida devido à influência dos ciclos da lua. Com o casamento de Obatalá, o Céu, com Odudua, a Terra, iniciam as peripécias dos deuses africanos. Dessa união nasceram Aganju, a Terra, e Yemonjá (yeye ma ajá – mãe cujos filhos são peixes), a Água. Como em outras antigas mitologias a terra e a água se unem, com Yemanjá vieram mais dois orixás yorubanos: Osum e Nanamburucu. Durante os milhões de anos que se seguiram, antigas e novas divindades foram e unindo ao famoso Orixá das águas, como foi o caso de Omolu, que era filho de Nanã, mas foi criado por Yemanjá. Antes disso, Yemanjá dedicava-se à criação de peixes e ornamentos aquáticos, conferiu amplo poder de atuar sobre todos os rios, mares, vivendo em um rio que levava seu nome e banhava as mais vaidosa, em nome da qual desprezou o seu filho terras da nação de Egbá. primogênito com Osalá, Omulu, por ter nascido com 90 e oceanos e também dos leitos onde as massas de águas se assentam e se acomodam. Na África, a origem de Yemanjá também é um rio que desemboca no mar. De tanto chorar o rompimento com seu filho, Oxóssi, que a abandonou e foi viver escondido na mata. Yemonjá se derreteu, transformando-se num rio. É a mãe de quase todos os orixás de origem Iorubá. Apesar dos preceitos tradicionais relacionarem tanto Oxum como Yemanjá à função da maternidade, cada uma domina a maternidade num momento diferente. Mãe de quase todos os Órisa é a deusa da compaixão, do perdão e do amor incondicional. NÁNÀ, “SENHORA DA MORTE E DA VIDA” No início dos tempos, os pântanos cobriam quase toda a terra. Faziam parte do reino de Nánà Buruquê e ela tomava conta de tudo, como boa soberana que era. Era Nánà com sua majestosa figura matriarcal que não admitia contrariedades – para passar sobre o seu território, tem que pedir licença – ou pede licença ou não passa. Julgava os homens, sendo muito respeitada pelas mulheres que eram consideradas deusas. Ela morava numa bela casa com jardim. Quando alguém apresentava alguma reclamação sobre seus maridos, ela amarrava numa árvore e pedia aos Eguns para assustá-los. Nánà não era rainha de nenhum povo, e tinha poder sobre os mortos. Conta a lenda que Nánà só julgava os homens, pois ela colocava as mulheres acima do julgamento humano. Considerada a deusa das chuvas, Nánà, senhora da morte, é responsável pelo portais de entrada (reencarnação) e saída (desencarne). Em sua passagem pela Terra, foi a primeira yabá e a várias doenças de pele. Não admitindo cuidar de uma Nánà era considerada como a grande justiceira. criança assim, acabou abandonando-o no pântano. Nánà Qualquer problema que ocorria em seu reino os habitantes tornou-se uma das yabás mais temidas, tanto que em a procuravam para ser a juíza das causas. No entanto, algumas tribos, quando seu nome era pronunciado todos Nánà era conhecida como aquela que sempre castigava se jogavam ao chão. mais os homens, perdoando as mulheres. Ora perigosa e vingativa, ora praticamente desprovida Protetora dos idosos, desabrigados, doentes e de seus maiores poderes, relegada a um segundo plano deficientes visuais, Nánà Buruku é a divindade das águas, amargo e sofrido, principalmente ressentido, Nánà possui a mais antiga de todas, muito velha e arredia, dona das não dois lados, como tantos orixás, mas sim um orixá águas paradas, das lagoas e dos pântanos. dentro do outro, um conceito que foi sendo gradativamente substituído por outro, dando margem a muita confusão e contestação na forma de defini-la. 91 A selva, a borracha e o soldado Museu Paraense Emílio Goeldi Em tempos de guerra, costuma-se chamar de “frente descortina. E é um mundo bem diverso do que muitos doméstica” o trabalho de civis que, em seus respectivos esperam, de artistas autoditatas de traço naïf: não há lugar países, contribuem para a indústria militar ou o suprimento para sentimentalismo, bucolismo ou comprazimento. Ao de meios, víveres e apoio moral para seus soldados na contrário, em Paulo impera a realidade de um interminável frente de combate. Durante a Segunda Guerra Mundial, conflito: a selva verde a cercar o homem por todos os lados, o Brasil estava geograficamente distante do palco dos a hostilidade das feras da mata, dos índios belicosos e do conflitos na Europa, e portanto a salvo das bombas e isolamento; a dura labuta diária; as armas e instrumentos morteiros inimigos. Entretanto, uma parte pouco conhecida de enfrentamento. da nossa frente doméstica viveu condições de adversidade Em termos de riscos à vida e aflições d’alma, Paulo comparáveis a dos pracinhas da Força Expedicionária mostra que os seringais do Pará nada deviam a Monte Brasileira, sofrendo, no entanto, um número de baixas dez Castello ou Montese. Tomara tenha ele tido a satisfação de vezes maior. saber que a borracha que recolheu tão penosamente tenha Passadas várias décadas do fim da guerra, o sacrifício dos Soldados da Borracha continua sem exaltação ou contribuído para salvar uma vida ou aliviar um pouco o sofrimento nos rincões longínquos da Europa. mesmo lembrança. A injustiça da memória pública, a O último trabalho de Paulo, “Transamazônica”, traição das promessas oficiais e a angústia de um dever permanece inacabado. Oportunamente realizado sobre cumprido, mas não reconhecido, deve ter instilado Paulo tecido encauchado, o mesmo material que ele contribuiu Sampaio, um desses heróis dos Batalhões da Borracha, a para produzir na labuta da selva, a sua inconclusão é se expressar através dos pinceis no ocaso da vida. de uma trágica pertinência. Pois, tanto o quadro como Seu amigo Margalho Açu apresenta as obras do a estrada que ilustra ou a luta pelo reconhecimento dos Caríssimo Paulo, forçando o visitante a passar por uma Soldados da Borracha, continuam ainda no aguardo de tenda de campanha, semelhante àquelas em que o um desfecho. seringueiro alistado passou infindáveis noites na selva: 92 é apenas atravessando o umbral do mosquiteiro que Horácio Higuchi o mundo dos Soldados da Borracha literalmente se Coordenador de Museologia do MPEG 93 94 95 PAULO SAMPAIO Artista Homenageado (1923-2014) Caríssimo: Soldado da Borracha construir de memória os objetos que tinha utilizado nas matas. Agora utilizava esses objetos “de forma diferente”, O caríssimo Paulo Sampaio foi um dos Soldados da Borracha, que atendeu à convocação do governo brasileiro Começou com desenhos (2009, 2010 e 2011, quando para alistar-se no “Batalhão da Borracha” e entrar nas expôs no Museu da UFPA); depois pintou em suportes matas brasileiras em busca do látex. de madeira e duratex (2012 e 2013), quando expôs no Com o fim da segunda guerra, esses soldados foram ArtePará e no Banco da Amazônia. Paralelamente passou abandonados. Paulo passou a reivindicar reparos, e só a pintar em tecidos encauchados com borracha natural conseguiu benefícios a partir da Constituição de 1988. (2013), e em 2014 pintou apenas nesses encauches. Em 2011, o governo brasileiro reconheceu os soldados da borracha como “Heróis Nacionais”. Marabá-PA Soldado da Borracha Instalação | 2014 96 como vivências nas florestas em forma de arte. Suas pinturas são “grafitadas” sobre um misterioso suporte branco que vaza entre as pinceladas – mesmo Após escrever um livro, passou a desenhar e pintar que o branco seja leitoso de látex. Sua última obra, sobre o tema. Contudo, suas inquietações estéticas o “Transamazônica”, ficou inacabada: metáfora daquela por levaram a experimentar várias fases em pouco tempo: onde andou. tudo era urgente, pelo avanço da idade. Gostava de Margalho Açu 97 98 99 100 101 102 103 Ação Educativa Aproximação para a Arte/Arte para aproximação: o Arte Pará é propício para educação? A edição do Projeto Educativo Arte Pará traz uma discutido. A importância da presença do mediador como reflexão importante como plataforma de trabalho, com catalizador junto à obra de arte e o público desfez a ideia o seguinte questionamento: os espaços do Arte Pará são modernista da “autonomia” da obra de arte, que muitas propícios para a educação? Com esse propósito, planejamos vezes é determinante na arte contemporânea. as ações pedagógicas para alcançar o objetivo desejado nessa direção. 104 Outra questão relevante foi sempre colocar o público como principal agente de questionamentos e a construção Em primeiro lugar, fomos buscar na história e memória junto com ele – para além de uma apreciação banal, de um do projeto Arte Pará a comunicação com o grande público, encontro superficial, do conhecido. Assim, nos imbuímos e constatamos que uma parte da resposta está relacionada da ideia de colocar a arte como amiga do público e o ao circuito de arte contemporânea em Belém. Em nenhum público como amigo da arte. momento da história o projeto adotou o modelo bienal. Diante de forças conjuntas, consideramos o que Paulo Dessa forma, a comunicação com o grande público Freire nos disse acerca de considerarmos sempre o olhar sempre se direcionou para um projeto cultural ao longo do outro, que traz informações que está atrás dele e o olhar dos seus 33 anos. que está à frente dele. A partir daí, provocar o público O retorno para o público e para os parceiros que acerca da memória afetiva e cognitiva que atravessa os mais o apoiam é interessante, pois tem promovido agentes diferenciados campos do conhecimentos para agregar valor multiplicadores no campo da educação, pesquisa, com o contato íntimo e prazeroso com as obras dos artistas. curadoria e na formação de artistas, que iniciam a sua Tais questões foram importantes porque o nosso trajetória no projeto como forma de legitimação e impulso educador convidado, Paulo Portella, fez um jogo para prosseguirem na pesquisa em arte. interessante com os mediadores: contou uma experiência O grande desafio a partir dessa reflexão consiste em vivida no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand transformar o processo de formação com os mediadores em (MASP) sobre um transeunte que ficava em frente ao museu, encontros de se “prestar atenção” em como e onde essa e vivia à margem, ali na rua. Paulo convidou o sujeito para comunicação pode acontecer. visitar o museu. Ao entrar no museu, o sujeito fez uma Uma questão pontual foi colocar os espaços expositivos pergunta ao Paulo. Essa pergunta, Paulo solicitou para o como motivadores da comunicação, onde obra de arte grupo de mediadores escreverem o que supostamente ele e público caminham juntos. A partir dessa convicção, tinha perguntado. Várias perguntas foram elaboradas: “De a importância do papel do mediador foi amplamente quem é tudo isso?” “Como faço para trabalhar aqui?” entre 105 várias outras. Porém, Paulo revelou a pergunta que tinha sido feita pelo transeunte, e que veio a afirmar o quanto não devemos subestimar o olhar do outro. A pergunta foi: “Onde encontro a obra de Sandro Botticelli?” Diante desse relato, houve um desdobramento interessante e tocante sobre como se dirigir ao público, como aproximá-lo sem distinção e compreender arte como um processo pedagógico em si. Não se trata de uma explicação da obra, mas sim um convite para pensarmos as obras dos artistas como um processo, um problema para dar indicativos de várias questões, dentre elas: o pensamento crítico como um terceiro lugar, a partir das dualidades geradas no mundo como: “esquerda/direita” ou “social/formal” dentre outras. Assim, o pensamento crítico seria para criar esse lugar dialógico, sem reducionismos. É fácil criar essa metáfora para falar com o público? Existe uma fórmula pronta e acabada? É lógico que não, pois sempre a experiência será renovada – estamos falando de diálogo ativo e não de transmissão passiva. Colocar em prática o que é teorizado através da filosofia de Foucault e de tantos outros, que o expectador é também autor é sempre um grande desafio, e assim lançamos vários caminhos para ter essa experiência renovada a cada encontro com o público. Pensar e executar a comunicação entre público e artista é fundamentalmente uma possibilidade temporária, ativa, crítica e, portanto, pedagógica. Os desenhos do artista goiano Paul Setúbal podem ser compreendidos como uma forma de retratar o esforço individual que cada um de nós precisa empenhar no dia a dia. Ao fazer uso do sangue, fluido, vital, como a tinta de seus desenhos, o artista acaba criando uma espécie de metáfora, chamando atenção para esse esforço dedicado a pequenas ou grandes atividades, que de tão rotineiras acabam perdendo o reconhecimento e se tornando vítimas de uma suposta banalidade criada inconscientemente pelo próprio ser humano? Nesse caso, o sangue pode representar a individualidade e os limites de cada um. Por outro lado, é muito mais fácil perceber o quanto afetamos e somos afetados pelo mundo, quando essa 106 doação foge dos padrões rotineiros dos limites e da ordem, como o que acontece nos vídeos da série “Atividades”, dos AÇÕES COMUNICATIVAS artistas Costa e Brito. Em vez de sangue, os artistas doam a sua força física, sua concentração, sua mente. Seus próprios corpos se tornam pesos que somam e anulam forças, com a intenção de encontrar o equilíbrio em plena rotina apressada do cotidiano. É possível questionar esse equilíbrio que a dupla paulista tanto busca durante as quatro atividades apresentadas no vídeo. Afinal, que equilíbrio é esse? Simplesmente o equilíbrio físico? Um ideal a ser alcançado por um conjunto de indivíduos apressados e aprisionados em diversas outras atividades que aparentemente exigiriam doses menores de equilíbrio e dedicação? Se o corpo e a mente estão juntos no dia a dia, a memória ocupa um papel de destaque na sistematização das atividades. E vai além: é ela que nos torna únicos. A artista Andréa Barreiro vai buscar imagens do seu álbum de família e as mistura com fotos de outras pessoas, criando uma memória nova. As fotos foram propositalmente borradas durante o processo de revelação para que se tornassem enevoadas como uma lembrança. Dessa forma, as três obras se complementam e conversam especialmente entre si, como se constituíssem um tripé de corpo, mente e memória. Um ligado ao outro e todos ligados diretamente às nossas experiências e aos modos de nos relacionarmos com o nosso exterior e interior. Nessa tríade, a educadora Márcia Pontes elaborou a oficina do corpo junto com os mediadores, para o público visitante. O trabalho desenvolvido teve como base as obras dos três artistas, iniciando o percurso de visitação na sala Antônio Parreiras, onde se encontravam as obras, sendo que no primeiro momento foi feita a mediação, considerando as vivências do espectador fazendo uma conexão entre as obras dos artistas com o acervo do museu. Em seguida, ocorreu a experimentação de jogos corporais, considerando a arte como jogo, utilizando materiais simples, como cabo de vassoura, livros, entre outros, desenvolvendo a força e o equilíbrio. 107 108 109 Os participantes formaram duplas ou trios, que criaram foi um espaço entre ambos, e que a comunicação foi gerada e apresentaram ações e propostas performáticas. A terceira nesse espaço que não sabemos precisar, pois nos pareceu etapa teve como ponto principal a memória e a criação vazio. de estratégias, por meio de jogos lúdicos, como dominó, A obra e o espectador ficam numa margem, e ambos vareta, blocos de encaixe etc. Ao final havia a roda de precisam ser reconhecidos e considerados para favorecer conversa e o relato das experiências corporais vivenciadas a criação e criar a terceira margem citada acima: a crítica pelos participantes, fazendo um contraponto com as obras ativa. Assim, as experiências vivenciadas nos deram o dos artistas. seguinte indicativo: O Arte Pará é propício para educação. Observou-se que nossas experiências ultrapassaram É, portanto, intrinsecamente pedagógico! questões acerca de: Onde está o conteúdo? Onde está a obra? Onde está o artista?, pois constatamos que não são as Assim seja! obras que necessitam do espectador, e nem o expectador Vania Leal Machado* que precisa das obras para criar e elaborar. O que sentimos Curadora do Educativo * Professora, pesquisadora e coordenadora do Projeto Educativo Arte Pará. Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/9022053484802566 110 111 Mediação com a arte contemporânea no Arte Pará A perenidade do Salão Arte Pará nos conduz a ao articular as relações sociais com o meio ambiente e a pensar sobre a função social que vem desempenhando, subjetividade cultural (GUATTARI, 1990); e metodológica, primordialmente, no aspecto que se refere à apropriação ao propor a mediação por meio da intervenção dialógica e cultural da arte pela sociedade, representada pelo público da experiência estética. que o frequenta. Participando da formação dos mediadores culturais qual arte estamos falando. Trata-se de uma exposição de desse importante evento há alguns anos, entendo que arte contemporânea, e esta se desenha conceitualmente a função social do Arte Pará se cumpre na experiência na esfera das relações construídas entre o ser humano, o educativa concreta: inclusão cultural, difusão da arte seu contexto social e o mundo, que, conforme Bourriaud contemporânea e formação de público para a arte, museus (2009), inverte radicalmente a concepção de objeto e espaços culturais. estético, cultural e político postulado pela arte moderna. É no processo educativo que ocorrem as relações Contudo, apesar dessa relação tão próxima com as coi- interpretativas e propositivas com a arte, no qual estão sas do mundo, muitas vezes o que o público espera encon- envolvidos o educador mediador e o público. Cada trar numa exposição de arte são obras que lhes permitam educador mediador opera uma curadoria educativa contemplação e entendimento imediato, frustrando-se dian- ao eleger obras de arte numa exposição para realizar o te de objetos e imagens que lhes causam estranhamento. seu percurso, ao organizar o pensamento e a ação para recepcionar o público. 112 Epistemologicamente, é necessário esclarecer de Em muitos exemplos de arte contemporânea ocorre um processo de (des)linguagem, ou seja, de decomposição À medida que as interações e o diálogo entre o público, ou desconstrução dos códigos de linguagem usados na o mediador e as obras vão acontecendo, o percurso previsto arte modernista. Noutros, retomam-se esses códigos, vai naturalmente sendo alterado. Isto acontece quando todos porém numa visão contemporânea sobre o passado, com estão envolvidos na experiência estética. outros postulados. O objetivo da curadoria educativa é, portanto: “[...] Há ainda processos de desestetização na arte explorar a potência da arte como veículo de ação cultural. contemporânea, quando se observa que “[...] o repúdio da [...] constituindo-se como uma proposta de dinamização estética sugere a eliminação total do objeto de arte e a sua de experiências estéticas junto ao objeto artístico exposto substituição pela ideia de um trabalho ou pelo rumor de perante um público diversificado” (VERGARA apud que aquele foi consumido – como na ‘arte conceitual’”. MARTINS; PICOSQUE, 2012, p. 63). (ROSEMBERG, 1986, p. 217-218). Assim, compreendo que um programa educativo Ao adentrar num salão de arte contemporânea o dessa natureza ancora-se nas dimensões: epistemológica, público se depara com objetos, instalações e imagens por entender a arte como conhecimento; ética-política, imersas em: complexidade, ecletismo, contradição, 113 hibridismo, ambiguidade, simulacro, virtualidade, e com Nessa experiência estética colocam-se os conceitos e outras tantas características propositivas inesperadas à sua ideias em ação, num exercício perceptivo das múltiplas compreensão do que seja arte. formas e dos diferentes conceitos apresentados nas obras Então, aquela leitura imediata se torna impossível e o espectador precisa deixar a postura passiva para participar contemporâneas, com as quais se constroem teias de significados. ativamente da obra. O medo de deixar a confortável É preciso, portanto, estar atento aos percursos que vão posição de espectador o impede de compreendê-la, e se construindo a cada mediação, pois estamos a elaborar nesse momento o mediador exerce o papel de deflagrar uma cartografia de consumações estéticas (DEWEY, o desejo e a coragem de rompê-lo, ampliando o campo 2010), um imenso mapa (DELEUZE; GUATTARI, 1995) perceptivo, tornando-se ambos, enfim, sujeitos da ação, de significados, sempre pronto a se modificar. ao compartilharem a experiência estética. Vale salientar que o mediador cultural comumente é REFERÊNCIAS estudante de artes visuais, arquitetura, comunicação social BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins ou de áreas afins, de modo que está ali complementando Fontes, 2009. a sua formação e vivenciando uma singular experiência DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs. São Paulo: Ed. com a arte. 34, v. 1,1995. O acesso a arte contemporânea vem cada vez mais DEWEY, J. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, ocorrendo por meio da frequentação dos estudantes com 2010. seus professores aos museus e outros espaços culturais. GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990. O Salão Arte Pará tornou-se, ao longo dos anos, uma oportunidade ímpar para os estudantes entrarem em contato com a arte contemporânea diretamente na fonte e, desta forma, romperem o medo e o preconceito cultural. A intervenção dialógica e a experiência estética compõem a dimensão metodológica dos percursos exercitados na exposição. Numa intervenção dialógica ROSEMBERG, Harold. Desestetização. In: BATTCOCK, Gregory. A nova arte. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1986. p. 215 - 224. VERGARA, Luiz Guilherme; FARIAS, Agnaldo; DESGRANGES, Flávio; SCARASSATTI, Marco. Entre a potência da arte e sua ativação cultural: curadoria educativa. In: MARTINS, Míriam Celeste et al. Mediando (com)tatos com a arte e cultura. São Paulo: UNESP, v. 1, nº 1, novembro, 2007, p. 66-95. articula-se a leitura dos objetos, imagens e palavras com a leitura do mundo, considerando tanto o contexto da obra como também o de quem está vivendo a experiência. Janice Shirley Souza Lima* Coordenadora do Curso de Artes Visuais e Tecnologia da Imagem da Unama * Professora, pesquisadora e coordenadora do curso de Artes Visuais e Tecnologia da Imagem, na Universidade da Amazônia. Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/9710362875158495 114 115 116 117 ARTISTAS HOMENAGEADOS, CONVIDADOS E SELECIONADOS MUSEU DO ESTADO DO PARÁ - MEP ANDREA BARREIRO Artista selecionada São Paulo-SP [email protected] Sem título – da série Estudo para uma memória – vol. 1. Fotografia [2014] COSTA & BRITO Artista premiado São Paulo-SP [email protected] “Atividades” Vídeo [2014] DAVILYM DOURADO Artista selecionado São Paulo-SP [email protected] Borá Fotografia [2014] DIRNEI PRATES Artista selecionado Porto Alegre-RS [email protected] O sacrifício de Isaac – Série Júpiter, Netuno e Plutão Deposição – Série Júpiter, Netuno e Plutão Repouso na fuga para o Egito – Série Júpiter, Netuno e Plutão Fotografia [2014] EDU SIMÕES Artista selecionado São Paulo-SP [email protected] Vendedor de macaco (díptico 01) Januário Francisco (díptico 03) Fotografia [2014] FLORA ASSUMPÇÃO Artista Selecionada São Paulo-SP [email protected] Pequeno compêndio dos mares III, IV e V, Do Compêndio das Tormentas. 2014 Fotografia [2014] HENRIQUE CÉSAR Artista Selecionado São Paulo-SP [email protected] Frota Desenho [2014] 118 JOSÉ VIANA JÚNIOR Artista Selecionado Belém-PA [email protected] Tapete Carajás S11D (ou projeto para salvaguardar pedras) Instalação [2014] Agradecimentos: IMCBio/Carajás - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. JULIANA NOTARI Artista Premiada Rio de Janeiro-RJ [email protected] Soledad Performance direcionada para vídeo [2014] LUCIANA MAGNO Artista Premiada Belém-PA [email protected] Trans Amazônica Pedra do Sol Performance direcionada para vídeo [2014] LUÍSA NÓBREGA Artista Selecionada São Paulo-SP [email protected] Eject, rewind Cântico Eco ou reescrita: nunca te disse que ia durar Ação Performance [2014] MARIANA MARCASSA Artista Selecionada São Paulo-SP [email protected] Banzo 1 Performance [2014] PEDRO DAVID Artista Selecionado Belo Horizonte-MG [email protected] Sem Título – Tríptico da série Impureza Fotografia [2014] RAQUEL UENDI Artista Selecionada São Paulo-SP [email protected] A Boa Onda Tons Impacto Objeto [2014] RICARDO VILLA Artista Selecionado São Paulo-SP [email protected] Espaço Revelado #4 e #5 Fotografia [2014] RODRIGO ARRUDA Artista Selecionado São Paulo-SP [email protected] Sem Título 1g de ar Sem título Objeto [2014] VITOR MIZAEL Artista Selecionado São Paulo-SP [email protected] Sem Título – Série Diorama Interferência [2014] MELISSA BARBERY Artista Selecionada Belém-PA [email protected] #íntimogrãoColeção01 Fotografia [2014] PAUL SETÚBAL Artista Premiado Aparecida de Goiânia-GO [email protected] Habeas corpus Ad nausean Res non verba Desenho [2014] 119 AMAZÔNIA Ciclos de Modernidade Sobre o título: O artista Emmanuel Nassar construiu a Amazônia como forma de escritura de sua diversidade: elementos da natureza, a cultura cabocla e o gosto vernacular e mesmo a serra eletrica, instrumento e simbolo do desmatamento. A obra foi especialmente concebida para ser o título da exposição Amazonia ciclos de modernidade. A exposição apresenta dois períodos de modernidade: O Iluminismo e O Ciclo da Borracha (1860 – 1910). Na primeira sala da exposição: A Conquista da Amazônia e a noção de antropologia. -Antônio Parreiras (A Conquista da Amazônia) - Rodrigo Braga (Mentira Repetida) -Sala dos Quadros: - Benedito Calixto, Os Flaquejadores, 1904, oleo sobre tela – acervo Museu Histórico do Pará - Armando Queiroz – vídeo - Ymá Nhandehetama - Antigamente fomos muitos. - Octávio Cardoso - Sem título, da série Lugares imaginários Na sala Atelier: O Ilumisnismo, irá tratar de assuntos relativos a Ciência, Antropologia e Arquitetura. A expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira (1756 - 1815) e seus desenhistas botânicos, nomeado pela Rainha D. Maria I como “o primeiro naturalista português” e encarregado da expedição científica denominada “Viagem Filosófica” (que complementou a Comissão de Demarcação de Limites entre as fronteiras dos domínios de Portugal na América), indubitavelmente o maior empreendimento científico realizado no Brasil pela Coroa Portuguesa em todo nosso período colonial. E a arquitetura de Antônio José Landi (1713 – 1791). Do Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - RJ Desenhos originais que ilustram a Expedição Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira. - António Landi (arquitetura/outras gravuras) - Desenhos: Botânica e Zoologia. Do Acervo do Museu Naval - RJ - Maquetes de embarcação: Canoa Meia Coberta - Séc XX, Canoa Coberta - Séc XX, Canoa Coberta - Séc XIX. Sala Landi: Fotografias – Esquecimento e Visibilidade O Ciclo da Borracha (1860 – 1910) Fotografia: Felipe Augusto Fidanza (1847 - 1903), o principal fotógrafo a atuar em Belém (PA) na segunda metade do século XIX e no início do século XX, George Huebner (1862 - 1935), fotógrafo alemão que se estabeleceu em Manaus no final do século XIX, abrangeu em sua obra todas as possibilidades técnicas e representacionais daquele meio. Aproximandose da ciência européia; especialmente a botânica e a emergente etnologia alemã; Huebner dirigiu seu olhar também para os indígenas da Amazônia; fotografando-os tanto no campo como em seu estúdio. Fotógrafos: - Felipe Augusto Fidanza, Col. IMS (Instituto |Moreira Sales) - George Huebner, Col. IMS - Marcel Gautherot, Col. IMS ; - Pierre Verger, Col. MABE; 120 Pinturas do sec. XIX e XX: Hélio Melo (pintura - o universo do seringalista. Col. Fundação Elias Mansour – Governo do Acre; Antonieta Santos Feio, Vendedora de Cheiro, 1947, óleo sobre tela, col MABE. Manoel Santiago Iara, óleo sobre tela, acervo Pinacoteca Amazonas. Manoel Santiago, A Cobra Grande, óleo s/tela acervo Pinacoteca Amazonas. Artistas contemporâneos: Paulo Sampaio (Soldado da Borracha); Emmanuel Nassar; Margalho Açu; Alexandre Sequeira; Claudia Leão; Elza Lima; Guy Veloso; Luiz Braga; Marcone Moreira; Miguel Chiakaoka; Orlando Maneschy; Osmar Pinheiro; Paula Sampaio; Walda Marques; Ronaldo Moraes Rego (col. Casa das Onze Janelas. (Belém-PA); Jair Jacqmont; Otoni Mesquita; Sergio Cardoso; Oscar Ramos; Turenko Beça (Manaus-AM); Grupo Urucum. (Macapá-AP) Fotografias e vídeo - Claudia Andujar (fotografia - Galeria Vermelho - SP), (o trabalho com os Yanomâmis, seu universo simbólico e lutas política); - Roberto Evangelista (vídeo), (mito e ancestralidade). CASA DAS ONZE JANELAS ELAINE ARRUDA Artista selecionada Belém-PA [email protected] Outras Paisagens Gravura/Instalação [2014] GUY VELOSO Artista Homenageado Belém-PA [email protected] Casas de Axé fotografadas (e aqui homenageadas): Abêmanjá Gbadé, Ilê Asé Agaro Níle, Ilê Asé Oba Okuta Ayara Yntile, Manso Mamsubando Keke Neta Nangetu, Ilê Asé Odé Ibô Nilê, Ilê Asé Iya Omi Olokun, Casa Grande de Mina Jêjê Nagô de Toy Lissá e Abê Manjá Huevy, Ilê Asé Iya Oguntè Oguntè, Ilê Axé Apará Omi Akalewi,Terreiro de Rei Sebastião e Toya Jarina. Pesquisa (Veloso): Deize Melo, Edivânia Câmara Iyatunde e o autor. Som ambiente: Edivânia Câmara Iya Tunde (voz) e gravação direta de Guy Veloso. Agradecimentos: Alex Leovan Alex Trindade Bàbá Ígbin Nilê Baba Tayando Daniela Sequeira Darlene Santos Eliana Palheta Iya Nare Pai Elivaldo Santos Elvira do Vale (Akalewi) Erica Nascimento Yalorishá Elvira do Valle Akalewi Fabricia Sember Fundação Pierre Verger HuevyOnan De Vodun Olissasa Pai Ismael Novais Jéssica Rabelo João Duarte Josino Leandro Souza Jr Joyce Nabiça Juliana Flores Ayará Kijinan Karla Aires de Obaluaê Luis Laguna MABE – Museu de Arte de Belém Mam’etu Nangetu Maria do Carmo Ferreira Miltom Soeiro Neia de Oxumare Osvaldo lobato Pai Orunko Oba Ytan (Luciano Teixeira) Roberta Maiorana Rosa Arraes Yalorisá Riso Odé Ibô Yalorisá Rosângela de Abê Acossú Babalorisá Dr.Walmir da Luz Fernandes Agaro Níle Yalorisá Rita Iyajite Ogunte, Mãe Rita e Mãe Zenaide. www.pierreverger.org www.guyveloso.com PIERRE VERGER Artista Convidado (1902-1996) Fotos Pierre Verger © Fundação Pierre Verger Edivânia Câmara Iyatunde Artista Convidada Belém-PA email: OŞUM. IYEMONJÁ. NÀNÁ Cenografia e figurino: Edivânia Câmara Iyatunde Indumentárias ritualísticas pertencentes ao templo Ilê Asé Agaro Níle. Instalação | 2014 Agradecimentos: Armando Queiroz Babalorisá Agaro Níle (Dr. Walmir da Luz Fernandes) Bruno Farias Ebione Alves (Alaye) Ilê Asé Agaro Níle João Duarte Luis Laguna Miltom Soeiro Paulo Herkenhoff Roberta Maiorana 121 MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI EXPOSIÇÃO CATÁLOGO PAULO SAMPAIO Artista Homenageado (1923-2014) Marabá-PA Soldado da borracha Instalação [2014] Concepção e Curadoria Paulo Herkenhoff Curadoria Geral do Arte Pará Ano 33 Paulo Herkenhoff Curadoria Adjunta Armando Queiroz Curadoria Adjunta Arte Pará Ano 33 Armando Queiroz Curadoria Educacional Vânia Leal Machado Coordenação Geral Roberta Maiorana Daniela Sequeira Coordenação Geral Roberta Maiorana Daniela Sequeira Coordenação Editorial Vânia Leal Machado Agradecimentos: Antonio Sampaio Neto Bianca da Costa Lima Cacy Elza Neiva Sampaio Carolina Lima da Silva Crácio Rodrigues Cavalcante Daniel Antonio Sampaio Silva Edilson Raimundo de Carvalho Silva e Elcio Fernando Sampaio Lima Joao Arthur Lima da Silva Karina Maria Sampaio Silva Larissa Silva Maneschi Laura Sampaio Cavalcante Leonardo Silva Maneschi Leonel Lobato Gentil Sampaio Luciana Lobato Gentil Sampaio Marina Maria Silva de Oliveira Nazare das Gracas Lavareda Sampaio Paloma Sampaio Paola Lobato Gentil Sampaio Paulo Sergio Sampaio Pietro Gentil Sampaio Brandão Sandra Maria Neiva Sampaio Sandra Maria Neiva Sampaio Silvana Maria Sampaio Lima Silvana Sampaio Lima Surama Sampaio Cavalcante Thais Lavareda Sampaio Vanessa Maria Sampaio Silva Maneschi Yan Sampaio Albuquerque Assistente de Coordenação e Assessoria de Imprensa Fabricia Sember Júri de seleção e Premiação Armando Queiroz Eder Chiodetto Ernani Chaves Paulo Herkenhoff Projeto de Montagem Roberta Maiorana Montagem Geral Luis Laguna Equipe de Montagem MEP Arte RP (Kiko) Segurança Security Amazon Serviços Gerais Service Amazon Elétrica Araújo Abreu Engenharia Equipe de Montagem MPEG Carlota Brito Horácio Higuchi Karol Gillet Soares Margalho Açu Martha Carvalho Motorista Aureliano Lins David Dantas Projeto Gráfico Daniela Sequeira Ficha Catalográfica Cleide Oliveira Editoração Eletrônica Ezequiel Noronha Jr. Fotografias Catálogo Walda Marques e arquivo dos artistas Fotografias Educativo Otávio Tsuyoshi Iwabuchi Fotografias sala especial Amazônia Ciclos de Modernidade Raoni Arraes Tratamento de Imagens High Pass Premedia Textos Armando Queiroz Janice Lima Lucidéa Maiorana Paulo Chaves Fernandes Paulo Herkenhoff Roberta Maiorana Vânia Leal Machado Revisão de textos Iraneide Silva Impressão RM Graph Todas as imagens e informações contidas nos textos são de inteira responsabilidade de seus autores. Equipe de Montagem Casa Onze Janelas Arte RP (Kiko) Criação Logomarca Arte Pará 2014 – 33 anos Daniela Sequeira /Lucas Melo Programação Visual Maria Alice Penna Plotagem L.P.D’Avila Filho 122 123 CURADORIA EDUCACIONAL EDUCADORES Curadora Adjunta Luana Leal Machado Museu do Estado do Pará Amanda Mártires Medeiros Carlos Henrique Araújo Ferreira Brito Erica de Fátima Almeida Oliveira Gianne Regina Conceição dos Santos Renan de Sousa Furtado Tacio Roberto Moraes Fonseca AGRADECIMENTOS Conversa aproximada do artista no espaço expositivo Andréa Barreiro (SP) Guy Veloso (PA) Juliana Notari (RJ) Luciana Magno (PA) Paul Cezzane (GO) Rodrigo Arruda (SP) Curadores e júri de seleção: Paulo Herkenhoff, Armando Queiroz, Ernani Chaves, Eder Chiodetto PROGRAMAÇÃO DO NÚCLEO DE OFICINAS Oficinas sistemáticas no Museu do Estado do Pará Espaço Cultural Casa das Onze Janelas Ana Carolina Reis Farias Monah Brilhante Oruzu Coordenação do Núcleo oficina Márcia Helena Pontes Museu Paraense Emílio Goeldi Alexandre Iran Lopes Leonel Bruna Renata do Carmo Favacho Felipe Samir Tavares Damasceno Tamirys Amélia de Almeida Cunha. Educadores ministrantes das oficinas Carlos Henrique Araújo Ferreira Brito Erica de Fátima Almeida Oliveira Gianne Regina Conceição dos Santos Renan de Sousa Furtado Tacio Roberto Moraes Fonseca Seminário de Educação e Arte 33ª Edição Arte Pará 2014 Seminário Arte Educação “Reflexões e instrumentalização na Arte Contemporânea Arte Pará 2014 para professores da rede Estadual e Municipal de Ensino. Vânia Leal Apresentação do Projeto Arte Pará e ações educativas que vão integrar a edição Ano 2014 Vânia Leal Arte contemporânea em espaços culturais: apresentação dos espaços expositivos Arte Pará e Sistema Integrado de Museus Zenaide Paiva Conversa aproximada com o público do curador da Sala Especial Paulo Sampaio no Museu Paraense Emílio Goeldi “Processos Curatoriais sobre a sala do artista “Paulo Sampaio”, Margalho açu Governo do Estado do Pará Secretaria Executiva de Cultura - SECULT Secretaria Executiva de Educação - SEDUC Secretaria de Estado de Obras Públicas - SEOP Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belém – SETRANSBEL Sistema Integrado de Museus e Memoriais – SIM Coordenação de Educação e Extensão do SIM Coordenação de Montagem e Curadoria do SIM Espaço Cultural Casa das Onze Janelas Museu Histórico do Estado do Pará – MHEP Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG Prefeitura Municipal de Belém Círculo Engenharia Mendes Comunicação RM Graph Projeto O Liberal na Escola Sol Informática Restaurante Remanso do Bosque Restaurante Pomme D’or Universidade Federal do Pará Faculdade de Estudos Avançados do Pará – FEAPA Fundação Pierre Verger Escola Superior Madre Celeste – ESMAC Universidade da Amazônia – UNAMA Fundação Biblioteca Nacional – RJ A Mediação Cultural na Arte Contemporânea e A linguagem da Arte Contemporânea. Vânia Leal Museu Naval – RJ Processos curatoriais no Arte Pará Armando Queiroz Galeria Vermelho – SP Mediação para a Arte Contemporânea: possibilidades metodológicas Janice Lima Tintas Veloz Instituto Moreira Sales – RJ Fundação Elias Mansour – AC Pinacoteca Amazonas, Manaus - AM L.P.D’Avila Filho Poética de Artista Guy Veloso Nas dobras da Amazônia, mundo, Brasil Marisa Mokarzel Ética na Mediação/Tipos de público e ações nos espaços expositivos Luana Leal A todos os artistas selecionados e convidados, pesquisadores, curadores, fotógrafos, colaboradores e a equipe das ORM, que contribuíram para a realização deste projeto. Percursos da Arte na Educação Paulo Portella e Vânia Leal Mediação: Ângela Barros 124 125 AGRADECIMENTOS Ademar Queiroz Junior Nelson Rodrigues Sanjad Alison Borges Nilson Damasceno Antonio Eutálio Correa Nilson Gabas Junior Alessandra Corrêa Norberto Tavares Ferreira Armando Queiroz Oswaldo Forte Brenda Carneiro Oswaldo Mendes Filho Carmem Cal Paulo Chaves Fernandes Carmem Peixoto Paulo Herkenhoff Carol Abreu Paulo Roberto Santi Carlota Brito Padre Ronaldo Menezes Cleber Farias Ravy Bassalo Edilene Portilho Raimundo Amilson Pinheiro Fagner Monteiro Reginaldo Kenedy Alves Felipe Castanho Roberta Rodrigues Gilberto Massoud Ronald Leonan V. de Paula Glenn Harvey Shepard Jr Sérgio Mello Haroldo Tuma Suely Nascimento Horácio Higuchi Thays Adriele Silva Ian Ferreira Thiago Castanho Íris Letiere Thiago Leite José Maria Vilhena Tomé Coelho Mendes Juliana Barroso Wanda Okada Juliana Macêdo Zenaide Pereira de Paiva Juliana Barros Karol Gillet Soares Leandro Cruz Luciana Akim Luciano Dias Luana Couto Luís Peixoto Luiz Brasil Margalho Açu Márcia Helena Pontes Marcio Campos Lucidéa Maiorana Presidente Roberta Maiorana Diretora Executiva Daniela Sequeira Assessora Geral Fabrícia Sember Assistente Executiva Aureliano Lins Estrutura da FRM Fundação Romulo Maiorana Av. Romulo Maiorana, 2. 473 – Marco – CEP: 66.093-055 Fones: (91) 3216.1142 e 3216.1125 – Fax: (91) 3216.1125 E.mail: [email protected] Telegramas: jornal O Liberal. Belém – Pará – Brasil Website: www.frmaiorana.org.br Marcio Rolim Maria Simone Silva Gomes Barbosa Maria Emília Sales Maria Filomena F. V. Secco Mário Martins Martha Carvalho Milena Claudino Milton Soeiro Milton Meira 126 127 Diretora Executiva Roberta Maiorana Organização Editorial Vânia Leal Machado Coordenação Daniela Sequeira Curadoria Paulo Herkenhoff Curadoria Adjunta Armando Queiroz Ficha Catalógráfica Cleide Oliveira CRB: 1130 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Cleide Oliveira - CRB-1130 A 786 Arte Pará 2014: ano 33. – Belém: Fundação Romulo Maiorana, 2015. 124 p. il.. ISBN: 978-85-62494-10-9 1. Arte. 2.Artes Plásticas. I. Título. 4. Machado, Vânia Leal. I. Título. CDD 730.81 Este catálogo foi impresso pela RM Graph, no papel Couchê fosco 150 g/m2 para o miolo e no papel Cartão Supremo Duodesign 350g/m2 para a capa. Foi utilizada a tipologia CG Omega. A tiragem inicial foi de 700 exemplares.