Sem título-6
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Sem título-6
5 Capítulo Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 1. Introdução .................................................................... 156 2. Conceito de exigência nutricional ........................................ 156 3. Método dose-resposta ....................................................... 158 3.1. Interpretação da resposta dos animais em ensaios dose-resposta ................................................................. 159 3.2. Aplicação dos modelos para determinar exigências nutricionais ................................................................... 170 4. Métodos para determinar exigências dos aminoácidos .............. 179 4.1. Conceito de proteína ideal ........................................... 181 4.2 Métodos para determinar o Perfil Ideal de Aminoácidos ......... 182 4.3. Critérios respostas para definir as exigências dos aminoácidos 184 4.5. Protocolo proposto para determinar o nível ótimo de lisina em dietas formuladas com base na proteína ideal ......................... 186 5. Protocolo proposto para determinar exigências de minerais - método dose-resposta ....................................................... 190 6. Referências bibliográficas ................................................. 192 Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais Capítulo 5 1. Introdução Os métodos usados para determinar as exigências nutricionais dos animais monogástricos têm sido: o método dose-resposta, o qual determina as exigências com base na resposta do desempenho dos animais alimentados com dietas contendo níveis crescentes do nutriente estudado; e o fatorial, baseado no princípio de que o animal necessita de nutrientes para a manutenção dos processos vitais e atividades, crescimento e/ou produção. O método tradicionalmente utilizado para definir as exigências dos monogástricos tem sido o dose-resposta, por ser prático e mais fácil de ser executado. Entretanto, fatores como ambiente, clima e genética afetam a determinação das exigências, dificultando o estabelecimento dos níveis nutricionais, sendo necessário repetir as pesquisas em várias condições para melhor definição das exigências. As Tabelas de Exigências Nutricionais de Aves e Suínos têm estabelecido as recomendações nutricionais na maioria dos estudos realizados com base no método dose-resposta (NRC, 1994 e Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos, 2005). Por outro lado, as recomendações nutricionais para suínos pelo NRC (1998) são baseadas em modelos para o crescimento e reprodução. Esses modelos foram elaborados pelo método fatorial, nos quais as exigências são estimadas pela soma dos nutrientes utilizados para cada função (mantença, acréscimo de proteína e produção). Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os principais aspectos a serem considerados ao aplicar o método dose-resposta para determinar as exigências dos animais monogástricos. 2. Conceito de exigência nutricional A exigência de um nutriente pode ser definida pela quantidade do mesmo a ser fornecida na dieta para atender as necessidades de um animal em condições de um ambiente compatível com a boa saúde do animal. As necessidades do animal podem ser interpretadas como sendo as quantidades de um nutriente para atender um determinado nível de produção. MétodosMétodos de pesquisa de pesquisa em nutrição em nutrição de monogástricos de monogástricos Figura 1 - Resposta linear no desempenho (Ganho de Peso) de acordo com o consumo do nutriente. (Adaptado de Larbier e Leclercq, 1992). Os autores comentam que o modelo linear assume que todos indivíduos são iguais e possuem a mesma exigência. Entretanto, existe variabilidade entre os indivíduos de uma população, e o problema é determinar as necessidades que atendam a todos os indivíduos, evitando excessos para aqueles que possuem menores exigências. Recomendam usar as técnicas biométricas, tais como o modelo polinomial, exponencial, hiperbólico e de Reading, que descrevem melhor as respostas dos animais e proporcionam formulações mais econômicas. Segundo Pack (1996), o termo exigência muitas vezes é usado indevidamente, em parte porque não é definido corretamente. O autor menciona que não há exigência de um nutriente para um dado lote de animais. A questão é entender como o animal ou grupo de animais respondem ao aumento dos níveis de um nutriente e, para a decisão do nível ótimo do mesmo, deve ser considerada a avaliação econômica. Apesar de parecer óbvio, muitos pesquisadores não levam em consideração essa linha de pensamento. As exigências nutricionais dos animais são definidas em termos de um valor absoluto (quantidade mínima do nutriente por animal ou unidade de produção) ou quantidade relativa (concentração do nutriente na dieta). Na prática, o objetivo é formular para uma certa quantidade de dieta, por exemplo 100 kg. Dessa forma, os nutrientes são definidos em níveis percentuais, assumindo que o consumo diário de ração seja conhecido. No entanto, fatores como temperatura e concentração de energia da dieta alteram o consumo e, conseqüentemente, as especificações nutricionais. Portanto, é mais racional expressar as necessidades dos nutrientes em termos absolutos do que relativos à dieta. Para os animais que recebem alimentação ad libitum, o consumo varia principalmente com o nivel de energia. Nesse caso, os níveis nutricionais devem ser estabelecidos de acordo com o nível de energia metabolizável, expressos em porcentagem por 1.000 kcal de EM da ração. Para aves e suínos reprodutores, as exigências são estabelecidas em quantidades de nutrientes por dia por animal. Conhecendo-se o consumo de ração diário dos animais, calcula-se a porcentagem dos nutrientes da dieta. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 157 Larbier e Leclercq (1992) definem a exigência mínima de um nutriente como sendo a quantidade do mesmo à partir da qual não haverá resposta no desempenho animal. Segundo esses autores, a resposta no desempenho é uma função linear do consumo do nutriente (Figura 1). A inclinação da reta representa a exigência para o crescimento, isto é, a quantidade de nutriente necessária por unidade de ganho; e a intersecção da reta no eixo x representa a exigência de mantença, isto é, a quantidade do nutriente somente para manutenção quando o ganho de peso do animal for nulo. Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 158 3. Método dose-resposta O método dose-resposta é baseado na resposta do animal ao aumento na ingestão de um determinado nutriente. Segundo Euclydes e Rostagno (2001), a adição de um nutriente limitante na ração, mantendo níveis adequados dos demais nutrientes, promove crescimento do animal até que sua exigência seja atendida. A partir daí, existirá uma faixa de estabilização no crescimento e, em seguida, dependendo do nutriente, poderá ocorrer uma perda de peso do animal (Figura 2). O fenômeno resultante do acréscimo de um nutriente na ração, partindo de níveis baixos até níveis elevados, pode ser descrito em quatro fases distintas: a) inicial – nessa fase, o acréscimo do nutriente garante apenas a sobrevivência do animal (mantença), pois os níveis são insuficientes para permitir o crescimento; b) resposta – os animais começam a apresentar crescimento, melhor eficiência alimentar, até um nível no qual estabiliza a produção; c) estável - nessa fase, os níveis do nutriente não apresentam resposta à produção ou toxidez proveniente do excesso. Embora para o animal possa ser considerada uma fase ótima, do ponto de vista econômico esses níveis não são recomendáveis; d) tóxico – o nível elevado do nutriente pode causar redução na produção em conseqüência de efeitos, tais como interação, antagonismos, etc. Figura 2 - Resposta do animal à adição de um nutriente limitante na ração. Os modelos utilizados para determinar os níveis ótimos dos nutrientes na dieta são aplicáveis quando os tratamentos são estabelecidos nas fases Resposta e Estável. Se os níveis forem avaliados somente no começo da fase Resposta, o nível ideal do nutriente não poderá ser determinado. Se os níveis compreenderem o início e o decorrer da fase Estável, pode-se concluir que o nutriente em estudo não é essencial ou está acima da exigência. Caso os níveis estudados se situem na fase Tóxico, o resultado mostrará o efeito nocivo do nutriente (Figura 2). O método dose-resposta é aplicado em ensaios de alimentação, nos quais são avaliados o desempenho do animal. Para a condução dos ensaios, são necessários conhecimentos relacionados ao delineamento experimental, dietas, variáveis avaliadas e análises dos dados. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos A definição dos níveis dos nutrientes a serem avaliados é fundamental para obter a resposta no desempenho animal. As dietas experimentais devem ser formuladas conforme critérios que permitam isolar apenas o efeito do nutriente avaliado. Uma dieta basal é formulada para atender as exigências nutricionais de todos nutrientes, com exceção daquele estudado. O nutriente estudado é suplementado na dieta basal. Os níveis de suplementação devem ser definidos para promover resposta crescente no desempenho até atingir um platô, podendo alcançar níveis que proporcionem queda no desempenho. Para determinar os níveis nutricionais em ensaios de alimentação, Morris (1989) estabeleceu os seguintes critérios: Primeiro, deve-se assumir que todos os dados provenientes dos ensaios foram obtidos de um delineamento experimental adequado. Entretanto, muitos ensaios têm sido realizados com poucas repetições e tratamentos para ter a resposta esperada para a questão formulada. Segundo, as escalas usadas para medir doses e respostas devem ser consideradas. Por exemplo, em estudos para investigar as respostas dos aminoácidos com animais alimentados à vontade, deve-se considerar o consumo de aminoácidos ao invés da concentração. Terceiro, deve-se assumir que não se estima a exigência de um dado nutriente, porque o termo exigência não é definido corretamente. Na prática, o que o nutricionista precisa saber é a taxa que um animal, num contexto de nutrição e ambiente bem definido, irá responder aos aumentos do consumo de um dado nutriente. Com essa informação, e sabendo o custo marginal do incremento na produção, pode-se calcular a dose ótima. 3.1. Interpretação da resposta dos animais em ensaios dose-resposta A maioria dos trabalhos realizados para definir os níveis nutricionais das dietas para os monogástricos utiliza o método dose-resposta; entretanto, os pesquisadores têm usado diferentes critérios para interpretar os resultados, levando a variações nas conclusões dos níveis recomendados. A seguir serão apresentadas as opções para analisar os dados obtidos em ensaios dose-resposta, bem como serão discutidas as vantagens e limitações de cada procedimento. Para ilustrar, serão mostrados exemplos de experimentos com aves alimentadas com dietas contendo diferentes níveis de aminoácidos; entretanto, os modelos matemáticos podem ser usados para avaliar níveis de minerais, vitaminas ou drogas promotoras do crescimento com qualquer espécie animal. 3.1.1. Comparação das médias dos tratamentos Um dos procedimentos utililizados para analisar os dados tem sido a análise Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 159 No estabelecimento do delineamento experimental, devem ser levados em conta os aspectos mencionados no Capítulo 1 (Planejamento dos experimentos), como as diferenças entre os animais, as condições das instalações experimentais e o número de animais disponíveis. É importante controlar todas as fontes de variação, definir um número adequado de repetições e animais por repetição estabelecendo um delineamento adequado para isolar as fontes de variação e detectar os possíveis efeitos dos tratamentos. Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 160 de variância seguida de um teste de comparação de médias. Conforme mencionado no Capítulo 1, há vários testes que podem ser utilizados, como Teste t, Scheffe, Duncan, Student-Newman-Keuls e Tukey. Contudo, há uma série de restrições ao uso destes testes quando aplicados em dados provenientes de ensaios dose-resposta. Morris (1989), em sua revisão sobre os procedimentos usados para interpretar os resultados em ensaios de alimentação, considera inadequado o teste de comparação múltipla por dois motivos: primeiro porque não deve ser usado quando os tratamentos são de natureza quantitativa; e segundo, porque o uso convencional de 5% de probabilidade é inapropriado para estimar o melhor ponto. Por outro lado, é necessário um alto grau de confiança quando não se obtém uma grande diferença entre as doses avaliadas. Pack (1996) também menciona que esses testes, quando aplicados ao nível convencional de 5% de probabilidade, são bastante conservadores para detectar pequenas diferenças. Por exemplo, diferenças de 0,02 a 0,03 pontos na conversão alimentar, importante do ponto de vista econômico, não são detectadas pelos testes de média, conforme pode ser constatado na Figura 3. Figura 3 - Teste de Student-Newman-Keuls aplicado à conversão alimentar de frangos de 14 a 34 dias (Dados de Schutte e Pack (1995), apresentados por Pack, 1996). Considerando os dados apresentados na Figura 3, Euclides e Rostagno (2001) comentam a dificuldade de eleger o nível ótimo de metionina usando o teste de médias. Constata-se diferença apenas entre o nível 0,75% e 0,88%, 0,91% e 0,95%. Os níveis 0,77%, 0,79%, 0,82% e 0,85% são estatisticamente iguais a 0,75% e 0,95%. Dessa forma, é impossível definir o nível ótimo de nutrientes usando testes de médias como recurso estatístico. Segundo esses autores, dois aspectos estatísticos devem ser considerados quando se aplica o teste de médias para definir o nível ótimo. O primeiro é a significância do teste F. Considerando-se um exemplo hipotético apresentado na Tabela 1, existem 7 graus de liberdade (gl) para o efeito de nível de metionina (oito níveis), o quadrado médio (QM) para o efeito de metionina é obtido pela divisão da soma de quadrados pelos 7 gl. A divisão do QM do efeito da metionina pelo QM residual fornece o F para avaliação da significância. Se o valor de F não apresentar significância, nenhum teste de média precisa ser aplicado. Estes 7 gl podem ter efeitos significativos de regressões lineares, quadráticas que são ignorados se os gl não são decompostos. No segundo aspecto para aplicação do teste de médias, a pressuposição básica é a independência entre os níveis ou Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Tabela 1 - Exemplo hipotético de uma análise de variância com teste F e decomposição dos graus de liberdade dos tratamentos em polinômios ortogonais. Fontes de GL Soma de Quadrado F Significância Variação Quadrados Médio Blocos 4 12.000 3.000 Níveis 7 7.000 1.000 1,00 NS Linear 1 1.000 1.000 1,00 NS Quadrático 1 5.000 5.000 5,00 1% Falta de ajuste 5 1.000 200 0,20 NS Resíduo 28 28.000 1.000 Dados apresentados por Euclides e Rostagno (2001). 3.1.2. Modelo Linear Response Plateau (LRP) ou Broken Line O modelo LRP tem como princípio a Lei de Liebig que se baseia na idéia de que a produção pode ser inibida devido a um elemento limitante. Com um comportamento ascendente, o crescimento abruptamente se estabiliza, representado por uma paralela ao eixo das abscissas. Dessa forma, a Lei de Liebig é uma função formada por dois conjuntos de dados: um compõe a parte ascendente da curva, e o outro reúne os dados que mantém o crescimento estável (Braga, 1983). De acordo com o autor, os critérios para o ajustamento do modelo LRP aos dados são: a inclinação da reta pode ser determinada por dois ou mais pontos; o platô é representado pela média aritmética dos pontos que o compõe; o nível ótimo é determinado pelo ponto de intersecção entre a reta e o platô; o melhor modelo é aquele cuja soma dos quadrados dos desvios é a menor. Com base nesses critérios, o autor recomenda um procedimento para o ajustamento do LRP aos dados obtidos em ensaios dose-resposta (ver Braga, 1983). No entanto, uma maneira mais fácil e rápida para ajustar os dados ao modelo é por meio de Softwares SAS (SAS Institute, 1996) pelo procedimento PROC NLIN ou SAEG (Universidade Federal de Viçosa, 1997) segundo o procedimento Regressões (Linear Response Plateau). A Figura 4 ilustra esse modelo baseado no aumento linear do ganho de peso das aves com o acréscimo do nível de metionina+cistina da ração até alcançar um ponto em que não há resposta adicional, isto é, atinge um platô. O nível otimo é definido pelo ponto de quebra, onde a reta encontra-se com o platô (0,645%). Morris (1989) critica este modelo por levar a falsas deduções sobre o nível ótimo. Conforme o autor, a resposta individual do animal corresponde ao modelo broken line e tem o mesmo princípio para calcular a exigência de um nutriente pelo método fatorial, Y = aW + bP; em que Y é a exigência; aW é a exigência Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 161 tratamentos. Nos ensaios dose-resposta não é possível considerar essa independência, uma vez que a resposta esperada é a observada no nível anterior, acrescida ou reduzida de um valor. Portanto, os testes de média não se aplicam para esse tipo de ensaio. para manutenção proporcional ao peso corporal e bP é para a produção proporcional ao ganho de peso. Assim, o modelo só é válido desde que seja possível medir a produção (ganho de peso) de um mesmo animal sob as mesmas condições fisiológicas para ter uma definição precisa da resposta individual. Contudo, se o Nível de Met+cis digestível (%) modelo for aplicado a todos os Figura 4 - Resposta do ganho de peso das aves indivíduos da população, serão (machos Isa Label de 1 a 28 dias) alimentadas com obtidas diversas respostas, e níveis crescentes de metionina+cistina (M) na ração. a curva que representa a (Dados da Dissertação de Mestrado, UNESP- população é mostrada na Jaboticabal, Nascimento, 2007). Figura 5. A integração de uma série de respostas pelo modelo broken line, no qual há uma variação individual no desempenho máximo, proporciona uma curva com redução gradativa do desempenho animal ao aumento das doses; e atinge um platô no qual o indivíduo com exigência mais elevada pára de responder. Portanto, nos ensaios de alimentação em que são utilizados vários animais, a resposta real é curvilínea e mostra redução na resposta com o aumento da dose. Esse é o princípio do Modelo de Reading descrito por Fisher, Morris e Jennings (1973). Ganho de peso (g) Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 162 Pack (1996) menciona que, embora o modelo broken line tenha um bom ajuste estatístico, não considera os aspectos fisiológicos do animal e a lei de redução dos retornos e, portanto, em muitos casos, subestima a dose ótima. Apesar do modelo broken line estimar o nível ótimo, não considera os aumentos que poderiam justificar melhorias adicionais no desempenho. O autor recomenda um modelo não linear (exponencial) que pode descrever melhor as Figura 5 -Relação entre consumo do nutriente e pequenas melhorias no resposta na produção para uma população, em que as desempenho animal com respostas individuais dos animais ajustam-se ao modelo os incrementos das doses. broken line ( Adaptado de Morris, 1989). Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos 3.1.3. Modelo Quadrático O Modelo Quadrático é expresso pela função: Y = a X2 + bX + c A Figura 6 mostra a relação do ganho de peso das aves em função dos níveis de metionina + cistina da ração, em que a resposta máxima é obtida ao nível de 0,765% de metionina + cistina. Ganho de peso (g) Onde X é a dose do nutriente e Y a reposta, o modelo tem o desenvolvimento de uma parábola, no qual o nível ótimo é determinado pelo ponto de máxima da equação, que é definido matematicamente igualando-se à derivada da função a zero (0=2aX+b). O modelo quadrático que, aparentemente, apresenta vantagem no cálculo da exigência nutricional por possibilitar a estimativa do Nível de Met+cis digestível (%) ganho máximo possível, Figura 6 - Relação do ganho de peso das aves apresenta dois problemas na (machos Isa Label de 1 a 28 dias) em função aos descrição do fenômeno. níveis de metionina+ cistina da ração (M), em que Primeiro, em decorrência do a resposta máxima é obtida ao nível de 0,765% de fato do modelo assumir metionina + cistina. (Dados da Dissertação de simetria bilateral da resposta Mestrado, UNESP-Jaboticabal, Nascimento, 2007). ao incremento do nutriente, ou seja, o modelo quadrático descreve a queda da produção na mesma intensidade do acréscimo; e segundo, a função quadrática é muito sensível à diferença entre os níveis estudados tendendo a estimar os valores ótimos no intervalo dos níveis (Euclydes e Rostagno, 2001). Para evitar o possível problema de superestimar a exigência do nutriente, alguns pesquisadores optaram por aplicar o intervalo de confiança de 95% do nível máximo (ou mínimo) do nutriente, estimado pela equação quadrática. No caso da exigência de metionina + cistina de 0,765%, mostrada na Figura 6, aplicando esse critério de 95%, o nível recomendado seria de 0,727%. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 163 Em um estudo para determinar exigência de lisina para suínos, Coelho et al. (1987) mostraram que, quando os níveis crescentes desse aminoácido promoveram crescimento linear até um platô, o modelo descontínuo LRP foi vantajoso para estimar as exigências. Entretanto, quando a configuração dos dados foi do tipo contínuo côncavo ou convexo, a exigência de lisina foi subestimada pelo modelo. As respostas que apresentam essa configuração, em virtude do complexo sistema fisiológico do animal, devem usar outros modelos para estimar as exigências de um nutriente. Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 164 Segundo Morris (1989), um dos problemas do modelo quadrático é que este prediz a redução na resposta além da dose ótima, proporcionando um falso ajuste aos dados. Isso ocorre quando determinados nutrientes reduzem a produção quando fornecidos em excesso, mas há uma faixa em que o nutriente pode ser fornecido em excesso sem causar prejuízo no desempenho. Além disso, a Figura 7 - Modelos quadráticos ajustados aos dados forma da curva quadrática pode obtidos por Morris e Blackburn (1982). Uma curva variar com as doses escolhidas. foi ajustada com os 10 níveis e a outra curva com Ao escolher uma faixa restrita apenas 6 níveis de met+cist (Adaptado de Morris, de dietas, o pesquisador pode 1989). ter uma parábola evitando um platô mais estendido. Isso pode ser um argumento para justificar o modelo, mas perigoso, porque pressupõe que o pesquisador tenha uma idéia de onde o nível otimo irá ocorrer. Assim, a forma da curva quadrática varia de acordo com a faixa dos níveis selecionados. Como pode ser observado na Figura 7, a curva estimada com apenas 6 pontos proporciona a dose ótima de 776 mg met+cist para máxima produção de ovos, inferior à dose ótima (900 mg met+cist) estimada a partir da curva obtida com todos os pontos. 3.1.4. Modelos não lineares O modelo assintótico ou hiperbólico baseia-se no conceito de que a resposta animal reduz à medida que se aproxima do máximo desempenho ou mínimo no caso da conversão alimentar. Esse modelo não prevê o efeito do excesso do nutriente, sendo importante considerar a amplitude dos níveis a serem estudados quando se pretende usá-lo. Há várias maneiras de expressar a função exponencial, a mais usada é representada pela equação: Y = a + b (1-e-c(x-d)) Em que Y é a produção; x é a dose do nutriente; a representa o desempenho ao nível do nutriente da dieta basal; b a diferença entre a mínima e máxima resposta à adição do nutriente; c a inclinação da curva; e d o nível do nutriente da dieta basal. Apesar do modelo exponencial proporcionar um excelente ajuste às respostas biológicas do animal, apresenta a dificuldade no estabelecimento do nível ótimo. Por definição, a curva exponencial nunca atinge o ponto assintótico, a medida que se aumentam os níveis do nutriente (X), a resposta (Y) tende a estabilizar. Para definir o nível ótimo, é atribuída uma porcentagem da resposta assintótica que, segundo a literatura, tem variado de 95% a 99%. Dessa forma, considerandose 95%, a dose ótima pode ser calculada: (ln0,05/-c) + d, em que c é a inclinação da curva e d é o nível do nutriente da basal. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Para ilustrar a aplicação do modelo exponencial na definição do melhor nível de metionina + cistina do ponto de vista econômico, será utilizada a equação exponencial ajustada para a CA de aves Isa Label, no período de 1 a 28 dias de idade, de acordo com os níveis de metionina+cistina da dieta (Figura 9). Conversão alimentar (g/g) De acordo com Pack (1996), a função exponencial ajusta-se bem aos dados Nível de Met+cis digestível (%) obtidos de ensaios doseresposta. O autor recomenda Figura 8 - Modelo exponencial aplicado ao ganho o uso da exponencial para de peso das aves (machos Isa label de 1 a 28 dias) determinar o nível ótimo de alimentadas com dietas com níveis crescentes de aminoácidos pelo fato do metionina + cistina. (Dados da Dissertação de Mestrado, UNESP-Jaboticabal, Nascimento, 2007). modelo explicar biologicamente a redução das respostas do animal ao aumento da ingestão dos aminoácidos. Além disso, o modelo é capaz de detectar pequenas diferenças no desempenho que são economicamente importantes. E, por fim, permite calcular o lucro marginal em conformidade com o custo marginal para determinar o nível mais viável economicamente. ^ = 2,123 - 0,250 (1-e-12,914*(M-0,53) (R2=0,98) CA Nível de Met+cis digestível (%) Figura 9 - Modelo exponencial ajustado para a conversão alimentar das aves (machos Isa label A Figura 10 ilustra a de 1 a 28 dias), alimentadas com níveis crescentes variação do custo do alimento de metionina + cistina nas dietas. (Dados da por kg de ganho de peso e a Dissertação de Mestrado, UNESP-Jaboticabal, variação da margem bruta, Nascimento, 2007). calculadas com base na equação exponencial, no custo do alimento e no preço do frango. O custo do alimento por kg de GP foi obtido somando-se o custo da dieta basal (sem DLmetionina) com o custo da quantidade de DL-metionina suplementada e multiplicando-se esse valor pela CA estimada para aquele nível de suplementação. A margem bruta foi calculada pela diferença entre o preço do kg do frango e o custo do alimento por kg de GP. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais Ganho de peso (g) 165 A relação do ganho de peso das aves em função do nível de metionina + cistina, conforme o modelo exponencial, é apresentada na Figura 8, em que o nível ótimo é definido por 95% da resposta assintótica. 166 Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. Assumindo os preços de R$0,55/kg de ração, R$4,50/kg de DL-metionina e R$1,20 o preço obtido por kg de frango produzido, o nível de metionina + cistina na ração que proporciona o mínimo custo por kg de GP (R$1,05) e a maior margem bruta (R$0,15) é de 0,77%, conforme demonstrado na Figura 10. Figura 10 - Representação gráfica do nível ótimo de metionina + cistina na dieta do ponto de vista econômico, com base no custo do alimento/kg de ganho de peso e na margem bruta para as aves Isa Label de 1 a 28 dias (Análises realizadas pelo pósgraduando, UNESP-Jaboticabal. Jefferson Costa de Siqueira). Outros modelos não lineares têm sido usados para explicar a resposta animal, como as funções polinômio inverso ou logística. Morris (1989) menciona que os modelos exponenciais e hiperbólicos ajustam-se bem aos dados pelo método dos quadrados médios residual. As curvas também predizem pequenas respostas na região na qual gera dúvida se qualquer resposta ocorre e, assim, ambos superestimam a dose ótima. Isto particularmente ocorre quando se avalia metionina ou antibiótico, cujo custo marginal é muito pequeno em relação ao valor produzido, assim o ótimo econômico é próximo à produção máxima. Com produtos mais caros, como biotina ou triptofano, a função hiperbólica leva uma estimativa satisfatória da dose ótima. De acordo com o autor, a vantagem desses modelos, quando comparados com o quadrático, é que, os coeficientes das equações tem significado biológico, como a taxa de declínio na produção, sendo possível estimar curvas respostas para populações com características de produção diferentes daquelas observadas nos experimentos. Contudo, a tendência dessas funções em superestimar a dose ótima é um sério problema. D’Mello e Lewis (1970) recomendam para ajuste dos dados ao modelo assintótico a escolha de um valor arbitrário de 95% da dose que maximiza a produção. Um outro modelo não linear é o Modelo de Reading, descrito por Fisher, Morris e Jennings (1973). Baseia-se no princípio de que a resposta individual de um animal é descrita pelo modelo broken line, resultando numa série de respostas broken line para os animais de um lote. Considerando-se que as respostas máximas são diferentes entre os indivíduos, a curva resposta da população baseada nos desvios padrão da produção não é linear, conforme pode ser observado na Figura 5. A curva resposta da população é ajustada baseada em equações propostas por Curnow (1973). Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Entretanto, a principal desvantagem do modelo é que ele assume que a produção individual dos animais é normalmente distribuída em torno da média, e isso requer uma estimativa da média de peso corporal. Essas condições são possíveis em ensaios de curta duração. Em ensaios longos, em que os pesos e produção variam durante o ensaio, essas variáveis não são normalmente distribuídas ao redor da média. Por outro lado, Pack (1996) relata que o modelo permite calcular a dose ótima econômica baseada nos preços do nutriente e da produção. A limitação do modelo, além da complexidade matemática, é a dificuldade de considerar as respostas de conversão alimentar, características de carcaça e também de combinar mais de um parâmetro para o cálculo econômico. Outros procedimentos têm sido descritos com a finalidade de determinar com precisão o nível ótimo com dados provenientes de ensaios dose-resposta. Robbins et al. (1979) descreveram a regressão segmentada de duas inclinações que consiste em definir a dose ótima pela intersecção de duas retas. Para realizar essa análise, necessita-se da inclinação da reta (u) que relaciona os níveis (x) que proporcionam respostas ascendentes (y); e a inclinação da reta (v) que relaciona os níveis (x) que proporcionam respostas decrescentes (y). A dose recomendada para máxima resposta (l=141) é obtida pela intersecção das retas (r= 102), como pode ser observado na Figura 11. Laberson e Firman (2002) compararam o modelo quadrático com a regressão segmentada, usando dados de um ensaio com perus alimentados com nove dietas Figura 11 - Parâmetros necessários para a estimativa da exigência pelo procedimento da regressão segmentada (Adaptado de Laberson e Firman, 2002). Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 167 A vantagem desse modelo é que a curva leva em consideração a variabilidade entre os animais, além disso não muda entre os experimentos e independe dos tratamentos experimentais (Morris, 1989). Assim, ao ajustar o Modelo de Reading com apenas alguns níveis avaliados, ele proporciona a mesma dose ótima quando aplicado com todos os níveis avaliados. O contrário ocorre quando se ajustam os dados ao modelo quadrático. No Modelo de Reading, os coeficientes das equações representam as eficiências de utilização dos nutrientes para mantença e produção. Conseqüentemente, esse modelo apresenta três vantagens: a) o modelo gerado com os animais experimentais pode ser extrapolado para estimar a curva resposta de outro grupo de animais com diferentes potenciais de produção; b) é possível aplicar o modelo em uma série de dados de diversos experimentos e estimar melhor os coeficientes; c) pode-se obter as eficiências de utilização dos nutrientes com dados de um ensaio de alimentação. com níveis de um nutriente variando de 80% a 120% do recomendado. As exigências foram determinadas pela intersecção das retas no modelo de duas inclinações, considerando-se 95% e 90% da dose máxima pela regressão quadrática. A exigência média determinada foi 99,42%, e as preditas pelos modelos foram: 102,14 ± 0,61 para 90% da quadrática, 107,81± 0,61 para 95% da quadrática e 99,59 ± 0,61 para a regressão segmentada. Segundo os autores, a quadrática superestimou a exigência, e a regressão segmentada proporcionou resultado mais próximo da exigência real, sendo mais precisa para estimar as exigências. Um outro procedimento foi descrito por Euclydes e Rostagno (2001) e Baker et al. (2002) para determinar as exigências de aminoácidos em ensaios doseresposta realizados com animais em crescimento. Uma equação quadrática e o modelo broken line são ajustados aos dados, seguindo os procedimentos relatados anteriomente. A exigência é estimada objetivamente, estabelecendo-se o primeiro ponto de intersecção da curva quadrática com o platô do broken line. O valor do intercepto x é calculado, igualando-se a equação quadrática com o valor do platô (y) estabelecido pelo broken line. O nível ótimo é estimado com objetividade porque é determinado pela intersecção da curva quadrática com o platô do modelo broken line devidamente ajustado. A vantagem do uso da equação quadrática associada ao platô é que o nível ótimo encontrado não é alto como aquele geralmente estimado pela derivação da função quadrática, nem baixo como normalmente é observado no modelo LRP (Euclydes e Rostagno, 2001). Ganho de peso (g) Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 168 Nível de Met+cis digestível (%) Figura 12 - Representação gráfica da estimativa da exigência de metionina + cistina digestível para GP, por meio do primeiro intercepto da equação quadrática com o platô do LRP. (Dados da Dissertação de Mestrado-UNESP/Jaboticabal, Nascimento, 2007). Na Figura 12, é apresentado uma representação gráfica do procedimento que associa o modelo quadrático com o LRP, usando-se os dados de ganho de peso obtidos pelo aumento dos níveis de metionina + cistina na dieta em ensaio realizado na UNESP-Jaboticabal. Considerando-se os exemplos mencionados, ajustados com os dados obtidos em pesquisa realizada na UNESPJaboticabal para determinar o nível ótimo de metionina + cistina para aves de corte de crescimento lento (Isa label) na fase de 1 a 28 dias, o modelo LRP estimou o menor nível (0,645%), enquanto o quadrático, o maior nível (0,765%). Aplicando-se o critério de 95% do nível estimado pelo modelo quadrático (0,765% x 0,95), obtém-se o nível Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Para realizar uma comparação mais apurada das diferentes metodologias, Euclydes e Rostagno (2001) juntaram os dados de cinco experimentos com seis níveis de lisina digestível de duas teses de doutorado da Universidade Federal de Viçosa. Barboza (1998) e Costa (2000) utilizaram frangos de corte machos, na fase de 15 ou 22 a 40 dias de idade, provenientes das empresas Hubbard (2 experimentos) e Ross (3 experimentos). As variáveis analisadas foram: ganho de peso, conversão alimentar e peito com osso. As regressões foram ajustadas para as variáveis de desempenho em função dos níveis de lisina digestível, como apresentado na Tabela 2. Tabela 2 - Médias de resultados de desempenho de 5 experimentos com frangos de corte e estimativas das exigências de lisina digestível por diferentes modelos. Lisina Ganho de Conversão Peito com Digestível (%) Peso (g) Alimentar Osso (%) 0,772 1.362,9 1,94 28,58 0,832 1.428,9 1,87 29,43 0,892 1.500,1 1,81 29,96 0,952 1.525,3 1,77* 30,57* 1,012 1.528,9* 1,78 30,51 1,072 1.507,0 1,78 30,47 Modelos Aplicados Exigência de Lisina Digestível (%) Melhor nível numérico* 1,012 0,952 0,952 LRP Linear response plateau 0,915 0,915 0,935 Equação quadrática com platô 0,910 0,916 0,943 Equação quadrática 0,992 1,002 1,015 95 % da Equação quadrática 0,942 0,952 0,964 Exponencial + Bom senso 0,980 0,950 0,960 Adaptado de Euclydes e Rostagno (2001). Com a aplicação de todas as metodologias propostas, a porcentagem de lisina digestível recomendada na formulação de rações para frangos de corte machos, apresentou pouca variação: 0,910% a 0,992%, 0,915% a 1,002% e 0,935% a 1,015%, para ganho de peso, conversão alimentar e peito com osso, respectivamente. O LRP mostrou tendência a subestimar e o quadrático a superestimar as exigências de lisina. Como comentado anteriormente, a aplicação e escolha dos modelos dependerão da relação entre os níveis do nutriente em estudo e a resposta aos mesmos. O pesquisador deve conhecer os modelos, saber as suas vantagens e limitações. Deve analisar seus dados, aplicar os modelos disponíveis e optar por aquele que melhor ajustar aos dados obtidos, para definir o nível ótimo do nutriente, conforme objetivo da pesquisa. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 169 de 0,727%. Os modelos quadrático com platô e o exponencial estimaram exigências semelhantes (0,665 e 0,666%, respectivamente). Tendo em vista que todos os modelos proporcionaram ajustes adequados aos dados, recomenda-se nesse caso, os dois últimos modelos para definir o nível ótimo de metionina + cistina. Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 170 3.2. Aplicação dos modelos para determinar exigências nutricionais Para exemplificar a aplicação dos modelos apresentados, serão usados os dados obtidos em uma dissertação de mestrado realizada na UNESP-Jaboticabal para determinar o nível ótimo de lisina para aves de crescimento lento criadas em sistema semiconfinado. Nesse ensaio, 480 pintos de um dia Isa Label foram distribuídos em um delineamento inteiramente ao acaso com os tratamentos arranjados em esquema fatorial 4x2, 4 níveis de lisina (0,85%, 0,97%, 1,09% e 1,21%) em ambos os sexos, 3 repetições de 20 aves por repetição. As dietas foram formuladas com base no conceito de proteína ideal, mantendo a relação aminoácidos:lisina, conforme as recomendações de Rostagno et al. (2005). Os dados de ganho de peso (GP) e conversão alimentar (CA) de aves da linhagem Isa Label, de ambos os sexos, alimentadas com diferentes níveis de lisina digestível, no período de 1 a 28 dias de idade, são apresentados na Tabela 3. Tabela 3 - Desempenho de machos e fêmeas da linhagem Isa Label recebendo rações com diferentes níveis de lisina digestível, no período de 1 a 28 dias de idade. Níveis de Lisina Sexo Digestível (%) Machos Fêmeas Média Ganho de Peso (g) 0,85 587,97# 529,17 558,57 0,97 621,85 571,67 596,76 1,09 648,09 566,88 607,49 1,21 633,73 575,15 604,44 Média 622,91 560,72 Conversão Alimentar (g/g) 0,85 1,835 1,960 1,898 0,97 1,804 1,884 1,844 1,09 1,661 1,699 1,680 1,21 1,803 1,869 1,836 Média 1,776 1,853 Médias oriundas de três observações.Dados provenientes da Dissertação de Mestrado (Nascimento, 2007). # A seguir, serão descritos os procedimentos adotados para realizar a análise estatística dos dados, assim como os modelos adotados para estimar as exigências de lisina. Inicialmente, os efeitos do nível de lisina digestível da ração, do sexo e da interação lisina x sexo, foram testados pelo teste F da análise de variância. O modelo estatístico utilizado foi: Yij = µ + Lisi + Sj + Lis x Sij + eijk; em que: Yij = µ= valor observado para a variável de desempenho (GP ou CA) para o i-ésimo nível de lisina digestível oferecido ao j-ésimo sexo; média geral da variável de desempenho (GP ou CA); Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos efeito do i-ésimo nível de lisina digestível da ração, sendo i = 1, 2, 3, 4 níveis de lisina; Sj = efeito do j-ésimo sexo, sendo j = 1,2 sexos; Lis x Sij = efeito da interação entre o i-ésimo nível de lisina digestível da ração e o j-ésimo sexo. eijk = erro associado a unidade experimental, do j-ésimo sexo, recebendo o i-ésimo nível de lisina digestível, i=1,2,3,4, e j=1,2. Nas Tabelas 4 e 5, encontram-se as respectivas análises de variância referentes ao ganho de peso (GP) e à conversão alimentar (CA). A interação entre os níveis de lisina digestível e o sexo não foi significativa para as variáveis GP e CA, indicando que o padrão de respostas aos diferentes níveis de lisina da ração é semelhante para machos e fêmeas. Com base nessa informação, observou-se que, apesar da magnitude das respostas terem sido diferenciadas, o nível de lisina digestível que proporciona o máximo desempenho é o mesmo para frangos machos e fêmeas. Tabela 4 - Análise de variância para a variável ganho de peso. Fontes de Graus de Soma de Quadrados F Variação Liberdade Quadrados médios calculado Lisina 3 9.208,020 3.069,340 8,265 Sexo 1 23.707,850 23.207,850 62,490 Sexo x lisina 3 795,267 265,089 0,714 Resíduo 16 5.942,121 371,383 Total 23 39.653,258 Probab. 0,00151 0,00001 NS CV = 3,256 % NS= não significativo (P>0,05). Tabela 5 - Análise de variância para a variável Fontes de Graus de Soma de Variação Liberdade Quadrados Lisina 3 0,1572251 Sexo 1 0,0358562 Sexo x lisina 3 0,0058495 Resíduo 16 0,0745157 Total 23 0,2734465 conversão alimentar Quadrados F médios calculado 0,0524084 11,253 0,0358562 7,699 0,0019498 0,419 0,0046572 Probab. 0,00237 0,01353 NS CV = 3,761 % NS= não significativo (P>0,05). 3.2.1. Ajuste dos dados pelo modelo quadrático Tendo em vista que modelos lineares e não lineares são os mais indicados para ajustar os dados obtidos em ensaios dose-resposta, o próximo procedimento foi a análise de variância com o desdobramento dos 3 graus de liberdade dos tratamentos em polinômios de primeiro, segundo e terceiro graus. Os resultados indicaram que os níveis de lisina proporcionaram respostas quadráticas para as duas variáveis (Tabelas 6 e 7). Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 171 Lisi = Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 172 Tabela 6 -Desdobramento dos GL de tratamento para ganho de peso. Graus de Soma de Quadrados F Fontes de R2 Variação Liberdade Quadrados médios calculado Lisina 3 9.208,020 3.069,340 8,265 Linear 0,72 1 6.602,094 6.602,094 17,777 Quadrat. 0,99 1 2.549,690 2.549,690 6,865 Cúbico 1,00 1 56,235 56,235 0,151 Sexo 1 23.707,850 23.207,850 62,490 Sexo x lisina 3 795,267 265,089 0,714 Resíduo 16 5.942,121 371,383 Total 23 39.653,258 Probab. 0,00151 0,00066 0,01856 NS 0,00001 NS NS= não significativo (P>0,05). Tabela 7 - Desdobramento dos GL de tratamento para conversão alimentar. Fontes de R2 Graus de Soma de Quadrados F Variação Liberdade Quadrados médios calculado Probab. Lisina 3 0,1572251 0,0524084 11,253 0,00237 Linear 0,23 1 0,0362982 0,0362982 7,794 0,01306 Quadrat. 0,65 1 0,0656941 0,0656941 14,106 0,00173 Cúbico 1,00 1 0,0552328 0,0552328 11,860 0,00334 Sexo 1 0,0358562 0,0358562 7,699 0,01353 Sexo x lisina 3 0,0058495 0,0019498 0,419 NS Resíduo 16 0,0745157 0,0046572 Total 23 0,2734465 NS= não significativo (P>0,05). Assim, as variáveis GP e CA foram ajustadas pelo modelo quadrático, utilizando-se todos os dados provenientes de machos e fêmeas. O modelo utilizado foi: Y = β0 + β1Lis + β2Lis2 + e em que: Y = β0 = β1 = β2 = Lis= e = valor da variável dependente (GP ou CA); constante da regressão (intercepto da reta com o eixo Y); coeficiente de regressão do componente linear; coeficiente de regressão do componente quadrático; níveis de lisina digestível da ração; erro ou desvio associado à distância entre o valor observado Y e o ^ da equação de regressão ajustada. valor estimado Y A relação entre a variável dependente (GP) e a variável independente (Lis) foi estabelecida pela equação: ^ = -281,998 + 1598,12 Lis – 715,774 Lis2 (R2=0,99); GP ^ = ganho de peso estimado e Lis = nível de lisina digestível da ração. GP Contudo, o estabelecimento dessa relação funcional não garante que a variável dependente (GP) seja influenciada pela variável independente (Lis), sendo necessário realizar a análise de variância da regressão para confirmar se a variável Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Na Tabela 8, é apresentada a análise de variância da regressão do GP em função com os níveis de Lis para as aves de ambos os sexos. Tabela 8 - Análise de variância da regressão do GP em função dos níveis de Lis. Fontes de Graus de Soma de Quadrados F Variação Liberdade Quadrados médios calculado Probab. Devido à Regressão 2 9.151,783 4.575,892 3,20 0,0611 Resíduo 21 30.001,480 1.428,642 Com base na ANOVA, observa-se que a resposta de ganho de peso é explicada (P=0,0611) pela equação de regressão (modelo quadrático), ajustada para os dados de ganho de peso de ambos os sexos. O coeficiente de determinação (R2) foi calculado pela razão entre a soma dos quadrados da regressão (SQReg) e a soma dos quadrados dos tratamentos (SQTrat), representando a proporção da variação entre tratamentos que é explicada pela equação de regressão (SQReg/SQTrat). ^ = -281,998 + 1598,12 LisPor meio da primeira derivada da equação (GP ^ = 1598,12 - 1431,548 Lis, que, 715,774 Lis2), obteve-se a equação linear GP igualada a zero, forneceu a estimativa da exigência de lisina digestível para maximizar o GP (1,116% de lisina digestível da ração). A representação gráfica é apresentada na Figura 13. Os procedimentos relativos à ANOVA, ao ajuste do modelo para os dados, e à estimativa do nível de lisina digestível para minimizar a CA, foram os mesmos utilizados para analisar o GP. Na Tabela 9, é apresentada a análise de variância da regressão para a CA em função dos níveis de Lis e, na Figura 14, a representação gráfica da estimativa do nível de lisina digestível adequado para minimizar a CA das aves (1,070% Lis). Considerando-se 95% da máxima resposta estimada pelo modelo quadrático, obtém-se a exigência de lisina digestível de 1,060% Figura 13 - Representação gráfica do modelo quadrático para estimar o nível de lisina digestível para ganho e de 1,016% para (Lis) adequado para maximizar o ganho de peso CA. (GP) das aves. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 173 Lis influencia de fato, a variável GP. Outra alternativa é testar os coeficientes β’s da equação de regressão, separadamente, pelo teste T. Optou-se por analisar a equação de regressão por meio da análise de variância (Teste F). Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 174 Tabela 9 - Análise de variância da regressão da CA em função do nível de Lisina. Fontes de Graus de Soma de Quadrados F Variação Liberdade Quadrados médios calculado Probab. Devido a Regressão 2 0,1019919 0,050995940 6,25 0,0074 Resíduo 21 0,1714541 0,008164548 Com base na ANOVA, observa-se que a resposta da CA é explicada (P=0,0074) pela equação de regressão (modelo quadrático) ajustada para as aves de ambos os sexos. 3.2.2. Ajuste dos dados pelo modelo Linear Response Plateau – (LRP) Figura 14 – Representação gráfica do modelo O modelo LRP foi quadrático e da estimativa do nível de lisina ajustado separando-se as digestível (Lis) adequado para minimizar a médias observadas de cada conversão alimentar (CA) das aves. tratamento em dois componentes, um conjunto de dados para ajustar a reta e outro para o platô, sendo estimado o nível de lisina pelo intercepto da reta com o platô, considerando-se a opção que representa o melhor ajuste dos dados. ^ =^ ^ =β ^ ±β ^ Lis para estimar a reta e Y Os modelos usados foram: Y β2 para i 0 1 i i ^ o platô; em que: β2 = estimativa do valor máximo ou mínimo para GP ou CA, respectivamente. O ponto de intersecção das retas (break-point ou ponto de ^ - ^ ^. quebra), foi obtido por: Lis = (β β0)/ β 2 1 No desenvolvimento do modelo, foram feitas várias regressões e platôs usandose diferentes combinações dos pontos, sendo a combinação que melhor se ajustou às médias dos tratamentos definida como aquela que forneceu a menor soma de quadrado dos desvios (Tabela 10). Tabela 10 - Resultado das possíveis combinações de retas e platôs para ajustar os dados de GP das aves, pelo modelo LRP. Nº de ptos Nº de ptos Soma de Quadrados Intercepto Coeficiente Platô na equação no platô dos Desvios 2 3 61,1338348 288,0728 318,2321 602,8954 2 2 4,6246305 288,0728 318,2321 605,9644 3 2 130,2989807 389,9078 203,8109 605,9644 3 1 125,6743469 389,9078 203,8109 604,4437 4 1 434,3201904 464,4827 123,6228 604,4437 Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Tabela 11 - Somas de quadrados dos desvios da reta e do platô, soma de quadrados dos desvios total para o modelo que proporcionou o melhor ajuste para o GP. Intercepto Coeficiente Dados Soma de Quadrados SQD dos desvios Total Reta 288,0728 318,232 2 0,0000 4,6246 Platô 605,9644 0,000 2 4,6246 Os procedimentos relativos ao ajuste do modelo LRP para os dados de CA e à estimativa do nível de lisina digestível que minimiza a CA foram os mesmos utilizados para analisar o GP. Na Tabela 12, são apresentados os resultados das possíveis combinações de retas e platôs para ajustar os dados de CA. Na Tabela 13, são apre-sentadas as somas de Figura 15 – Representação gráfica da estimativa quadrados dos desvios da do nível de lisina digestível (Lis) adequado para reta e do platô, assim como maximizar o ganho de peso (GP) das aves pelo a soma de quadrados dos modelo LRP. desvios totais para o modelo que proporcionou o melhor ajuste para a CA. Na Figura 16, encontra-se a representação gráfica da estimativa do nível de lisina digestível (Lis) que minimiza a CA de acordo com o modelo LRP. Tabela 12 - Resultado das possíveis combinações de retas para ajustar os dados de CA. Nº de ptos Nº de ptos Soma de Quadrados Intercepto Coeficiente Platô na equação no platô dos Desvios 2 3 0,0170097 2,277123 -0,44672 1,787 2 2 0,0121165 2,277123 -0,44672 1,758 3 2 0,0141296 2,684671 -0,90464 1,758 3 1 0,0020131 2,684671 -0,90464 1,836 4 1 0,0201545 2,112932 -0,28987 1,836 Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos 175 Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais ^ = 288,0728 + 318,2321 Lis (R2=1,00) é válida para o intervalo A equação GP compreendido entre 0,85% e 0,999% de lisina digestível na ração, sendo que, para níveis de lisina superiores ao ponto de quebra (0,999%), o GP estimado permanece constante (605,96g). O coeficiente de determinação (R2) refere-se à equação determinada pela regressão e, nesse caso, foi igual a 1,00 pelo fato da soma de quadrados dos desvios da reta ajustada ter sido igual a zero. Na Tabela 11, são apresentadas as somas de quadrados dos desvios da reta e do platô, assim como a soma de quadrados dos desvios total para a opção que proporcionou o melhor ajuste para o GP. A Figura 15 ilustra a estimativa do nível de lisina digestível na ração, adequado para maximizar o GP pelo modelo LRP. Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 176 Tabela 13 - Somas de quadrados dos desvios da reta e do platô, soma de quadrados dos desvios totais para o modelo que proporcionou o melhor ajuste para o CA. Intercepto Coeficiente Dados Soma de Quadrados SQD dos desvios Total Reta 2,6847 -0,905 3 0,0020 0,0020 Platô 1,8360 1 0,0000 Pela análise da Figura 16, observa-se que a equação que forneceu a menor soma de quadrados dos desvios não possibilitou um ajuste adequado dos dados de CA. 3.2.3. Ajuste dos dados pelo modelo quadrático associado ao platô do LRP Por esse método, as Figura 16 – Representação gráfica da estimativa exigências são determinadas do nível de lisina digestível (Lis) para minimizar como sendo o primeiro ponto a conversão alimentar (CA) das aves pelo modelo em que a resposta quadrática LRP. intercepta o platô do LRP. Esse ponto pode ser definido matematicamente, igualando-se a equação quadrática ao valor da variável de desempenho (GP ou CA) estabelecido pelo platô do LRP. Considerando-se a equação quadrática como: Y= ax2 + bx + c, os pontos de intersecção (exigência) do platô com a curva são calculados pela equação: X= − b ± b 2 − 4a(c − y) 2a O nível ótimo de lisina foi definido por meio das respectivas equações: Ganho de peso: 605,9644 = -281,998+1598,12 Lis-715,774 Lis2 Conversão alimentar: 1,836 = 5,90205 – 7,77436 Lis + 3,63325Lis2 Aplicando-se a fórmula citada acima para obter as intercecções das equações quadráticas com o platô, determinou-se a exigência de lisina digestível para GP pelo primeiro intercepto (1,041%) (Figura 17). Para CA, conforme observado na Figura 18, não foi possível determinar o nível de lisina por esse modelo, uma vez que não houve intercepto da quadrática com o platô do LRP. Isso ocorreu em razão da falta de ajuste do LRP aos dados de CA. Apesar do modelo não proporcionar bom ajuste para CA, para o ganho de peso teve um excelente ajuste, o nível ótimo foi intermediário aos níveis proporcionados pelo LRP e quadrático. Isso demonstra a coerência do modelo, uma vez que o LRP subestima e o quadrático superestima o nível ótimo. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos ^ Figura 17 – Representação gráfica da estimativa da exigência de lisina digestível para GP, por meio do primeiro intercepto da equação quadrática com o platô do LRP. Figura 18 – Representação gráfica da equação quadrática e LRP para CA, em que não foi possível determinar o intercepto da quadrática com o platô do LRP. 3.2.4. Ajuste dos dados pelo modelo exponencial O modelo utilizado para o ajuste dos dados foi Y = a + b ( 1- e – c (Lis - d)), em que Y é variável dependente; Lis é o nível de lisina digestível da ração; a representa a resposta com o menor nível de lisina na dieta; b é a diferença entre a mínima e máxima resposta à adição do nutriente; c a inclinação da curva; e d o nível do nutriente na dieta basal. As equações exponenciais ajustadas para os dados de GP e CA são apresentadas nas Figuras 19 e 20. O nível ótimo de lisina na dieta foi definido como sendo aquele correspondente a 95% da resposta máxima da variável dependente estimada por esse modelo, matematicamente definida pela expressão: (ln 0,05) / -13,88 + 0,85 = 1,066% de lisina digestível na ração (Figura 19 ). Considerando-se os dados de CA tem-se: (ln 0,05) / -10,95 + 0,85 = 1,124% de lisina digestível na ração (Figura 20). 3.2.5. Resumo dos resultados obtidos pela aplicação dos modelos Na Tabela 14 e Figuras 21 e 22, são apresentados todos os modelos e as exigências determinadas pela sua aplicação para o ganho de peso e conversão alimentar. Para o ganho de peso, todos os modelos tiveram bom ajuste indicado pelos coeficientes de regressão (R2) e também pelas SQD. O LRP subestimou e o quadrático superestimou o nível de lisina. Os níveis estimados pelo modelo exponencial e pela intersecção da quadrática no platô do LRP foram intermediários. Com base nesses resultados, os melhores modelos para estimar as exigências de lisina foram o quadrático + platô e o exponencial. Para a conversão alimentar, não houve bom ajuste dos procedimentos LRP, quadrático + platô e modelo exponencial. Como o modelo quadrático foi o que melhor se ajustou aos dados, este foi o mais indicado para determinar o nível ideal de lisina para minimizar a CA das aves. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 177 Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 178 Figura 19 – Modelo exponencial ajustado aos dados de ganho de peso das aves alimentadas com diferentes níveis de lisina. Figura 20 – Modelo exponencial ajustado aos dados de conversão alimentar das aves alimentadas com diferentes níveis de lisina. Tabela 14 - Resumo dos resultados obtidos pela aplicação dos modelos. Modelo Equação Nível ótimo Ganho de peso LRP GP = 288,0728 + 318,232 Lis 0,999 Quadrático GP = - 281,998 + 1598,12 Lis – 715,774 Lis 2 1,116 95% Quad. 1,060* Exponencial GP = 558,503 + 48,132 (1 – e – 13,88 * (Lis – 0,85)) 1,066 Quad + Platô 605,9644 = -281,998+1598,12Lis-715,774Lis2 1,041 Conversão alimentar LRP CA = 2,68467 – 0,904639 Lis 0,938 Quadrático CA = 5,90205 – 7,77436 Lis + 3,63325 Lis2 1,070 95% Quad. 1,016* Exponencial CA = 1,902 – 0,1328 (1 – e – 10,95 * (Lis– 0,85)) 1,124 Quad + Platô 1,836 = 5,90205 – 7,77436Lis + 3,63325Lis2 0,910 R2 1,00 0,99 0,99 —— 0,92 0,65 0,41 —— * Exigência considerando 95% do modelo quadrático. Figura 21 – Representação gráfica de todos os modelos aplicados simultaneamente para o GP. Figura 22 –Representação gráfica de todos os modelos aplicados para a CA. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Dentre os métodos utilizados para determinar as exigências dos aminoácidos destacam-se o dose-resposta e o fatorial. O método fatorial será discutido posteriormente. O método baseado na resposta do animal, mediante variação na concentração de um determinado aminoácido na dieta, tem sido o mais usado pelos pesquisadores, para definir os níveis dos aminoácidos recomendados em formulações práticas. A técnica da suplementação do aminoácido teste na dieta basal tem sido a mais usada para formulação das dietas experimentais. Uma dieta basal é formulada para atender as exigências nutricionais de energia, minerais, vitaminas e dos demais aminoácidos essenciais, com exceção daquele a ser estudado. Este é suplementado na dieta basal na forma de aminoácido cristalino, e as doses devem promover desde uma limitação no crescimento até atingir o máximo desempenho. Quando o aminoácido avaliado tem relações antagônicas com outro, os dois devem ser suplementados para evitar esse efeito. O nível ótimo é definido com base na resposta animal. A técnica da suplementação tem sido criticada por vários pequisadores (Fisher e Morris, 1970, Gous, 1980, D’Mello, 2003 e Moughan e Fuller, 2003). Primeiro, porque para formular uma dieta basal adequada em todos os nutrientes, supõese que as exigências nutricionais estejam bem estabelecidas. Entretanto, muitas vezes, as dietas são formuladas com excesso de alguns nutrientes levando ao “imbalanço” dos mesmos, podendo afetar a resposta animal. Além disso, para várias espécies animais, as exigências ainda não estão estabelecidas. Por exemplo, para algumas espécies de peixes, ainda não estão definidas as exigências de todos os aminoácidos, dificultando a formulação da dieta basal que atenda a todas as necessidades nutricionais, com exceção do aminoácido em estudo. Segundo, porque o aumento sucessivo do aminoácido limitante leva ao desbalanceamento dos demais aminoácidos que pode afetar a resposta animal. Terceiro, em altos níveis de suplementação do primeiro aminoácido limitante, a resposta a esse aminoácido poderia depender de um segundo aminoácido limitante. Quarto, existe a dificuldade de se conseguir uma dieta basal deficiente no aminoácido limitante que permita a suplementação de altas doses do mesmo. Quinto, refere-se ao modelo aplicado para definir a dose ótima, o broken line, que, além de subestimar a dose não é adequado para ajustar a resposta de grupos de animais. Além disso, alguns modelos definem a dose baseado na resposta máxima, superestimando a dose; e outros estabelecem o nível baseados no nível mínimo que não difere estatisticamente da resposta máxima, subestimando a exigência. Uma crítica final refere-se ao alto custo dos aminoácidos sintéticos que podem onerar os ensaios. Apesar de todas as dificuldades para formular as dietas e críticas, o método dose-resposta continua sendo o mais utilizado para determinar as exigências dos aminoácidos e dos nutrientes em geral, por ser de fácil execução, barato, e os resultados dos experimentos correspondem razoavelmente bem com os dados de campo observados pela indústria de rações. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 179 4. Métodos para determinar exigências dos aminoácidos Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 180 Fisher e Morris (1970) propuseram uma técnica alternativa para avaliar aminoácidos denominada Técnica de Diluição da Dieta. Este método consiste em diluir seqüencialmente uma dieta alta em proteína com uma dieta isoenergética, livre de proteína. Gous (1980) descreve a técnica como um método melhorado, baseando-se no princípio de que essa técnica proporciona resultados mais válidos do que a técnica de suplementação. D’Mello (1982), usando dados obtidos por Gous (1980) pela técnica da diluição da dieta e dados oriundos da técnica de suplementação por Boomgaardt e Baker (1973), constatou que a resposta no crescimento dos animais com o aumento na ingestão de lisina foi semelhante entre as duas técnicas. O autor concluiu que não se justificava o argumento de que a técnica de diluição seria uma melhor alternativa em razão das deficiências da técnica de suplementação. D’Mello (2003) menciona que as duas técnicas tem suas limitações, mas podem ser usadas para determinar o nível ótimo dos aminoácidos. Ressalta que, apesar das duas técnicas proporcionarem respostas compatíveis com o crescimento animal, a técnica da diluição promove diferenças nos níveis de proteína das dietas diluídas. Alguns trabalhos têm demonstrado que as diferenças nos níveis protéicos têm refletido nas exigências dos aminoácidos (Morris et al., 1987 e Vieira et al., 2004). A redução da utilização do aminoácido limitante com o aumento da proteína das dietas ocorre por causa do imbalanço dos aminoácidos. Por outro lado, o autor relata, conforme dados do estudo de D’Mello (1990) empregando a técnica de suplementação, que o “imbalanço” moderado e o severo não afetaram a utilização do primeiro aminoácido limitante. A base bioquímica do efeito da proteína sobre as respostas dos aminoácidos no crescimento das aves ainda não está esclarecida. Resultados de algumas pesquisas realizadas com as duas técnicas, diluição e suplementação, indicam que a variação na concentração de um aminoácido afeta a deposição de gordura na carcaça das aves. Segundo D’Mello (2003), uma série de fatores, como temperatura ambiente, estresse imunológico, sexo, idade, espécie e outros fatores da dieta podem afetar a resposta das aves com a variação de um aminoácido na dieta. O autor menciona que alguns fatores podem afetar o consumo e outros a eficiência de utilização do aminoácido avaliado. Fatores relacionados à dieta, como energia e “imbalanço” dos aminoácidos, afetam o consumo; outros, como antagonismos entre os aminoácidos de cadeia ramificada ou entre os básicos, como lisina e arginina, afetam a utilização dos aminoácidos. Para isolar esses fatores, recomenda-se avaliar as respostas em função do consumo do aminoácido e não da sua concentração na dieta. Fatores que reduzem a eficiência de utilização desse nutriente podem ser verificados se a resposta é avaliada em função da ingestão do aminoácido e também pelo comportamento das curvas respostas. Considerando-se as limitações e críticas ao método dose-resposta, outros conceitos e métodos têm sido propostos para estudar os aminoácidos, tendo como base o conceito de proteína ideal. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos O conceito da proteína ideal é bastante antigo, proposto inicialmente por Mitchel (1964) para otimizar a utilização da proteína da dieta (relação entre retenção e consumo de proteína) e minimizar a excreção de nitrogênio. Naquele momento foi um conceito mais teórico do que prático. Hoje, com o avanço tecnológico na área de produção de aminoácidos sintéticos, o conceito tem sido de grande interesse. A proteína ideal pode ser definida como o balanço exato, sem excessos ou deficiências, de todos os aminoácidos necessários para a manutenção animal e máxima deposição protéica. Isso reduz o uso de aminoácidos como fonte de energia e diminui a excreção de nitrogênio. O aminoácido lisina foi eleito pelos pesquisadores como referência (Standard = 100) pelas seguintes razões: a lisina é o primeiro aminoácido limitante na maioria das dietas para suínos e o segundo, depois dos aminoácidos sulfurosos, na maioria das dietas para aves. Este aminoácido encontra-se economicamente disponível na forma cristalina para ser utilizado nas rações práticas dos animais. Diferentemente dos aminoácidos sulfurosos, sua análise laboratorial é simples e direta e também possui metabolismo orientado principalmente para deposição de proteína corporal. E, por fim, existe grande quantidade de publicações referentes aos requerimentos de lisina em aves e suínos sob diferentes condições nutricionais, ambientais e de composição corporal. Atualmente, é recomendado formular rações com base na proteína ideal. Ainda que as necessidades dos aminoácidos sejam diferentes, a relação entre eles é afetada apenas pela idade do animal, pois, de acordo com o peso (mantença) e com o ganho diário de peso (deposição de proteína), tem-se a proteína ideal ajustada para cada idade (Rostagno et al., 2002). Teoricamente, deveria existir uma proteína ideal para cada dia de idade do animal, o que só seria possível com a aplicação de equações para predizer as exigências diárias para mantença e ganho de peso de cada aminoácido. Do ponto de vista prático, são publicadas as relações dos aminoácidos com a lisina para 2 ou 3 fases da vida do animal, ou seja, para a fase inicial, crescimento e final. Conforme a proteína dietética é reduzida com a suplementação de aminoácidos industriais, o ajuste da ótima relação ideal desses componentes se torna cada vez mais importante. A ordem de limitação dos aminoácidos nas dietas é que especifica quais aminoácidos industriais são necessários suplementar, para manter o ótimo balanço. A idéia básica desse conceito é que os animais necessitam de aminoácidos em quantidades balanceadas para se obter uma ótima performance. Os aminoácidos absorvidos que estão em excesso em relação ao primeiro limitante são oxidados e excretados como compostos nitrogenados. Segundo MacLeod (1997), a degradação do excesso de aminoácidos na ração tem alto custo energético para os animais. Dietas com alto conteúdo protéico proporcionam menor conteúdo de energia líquida do que dietas com baixo nível de proteína, formuladas com base na proteína ideal. Portanto, ajustando-se os aminoácidos da dieta conforme a proteína ideal, ocorre a maximização da utilização do nitrogênio da dieta e redução da excreção. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 181 4.1. Conceito de proteína ideal Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 182 A razão para o uso desse conceito nas formulações para os animais é fundamentada no fato de que a relação entre a lisina e os outros aminoácidos essenciais permanece inalterada, em grande parte, apesar de uma série de fatores dietéticos, ambientais e genéticos poderem afetar as exigências dos aminoácidos (Baker e Han, 1994). Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 184 Lis = Intervalo linear Lis = Nivelamento Lis = Platô Figura 24 - Efeito do nível de lisina na dieta controle sobre inclinação das respostas. (Adaptado de Lemme, 2003). 4.3. Critérios respostas para definir as exigências dos aminoácidos A escolha das variáveis utilizadas como critério de avaliação é fundamental para definir as exigências dos aminoácidos e as relações ideais. A maioria dos trabalhos publicados consideram o ganho de peso e a conversão alimentar para estabelecer os níveis dos aminoácidos. Em estudo realizado na UFV, Paez (2007), com o objetivo de atualizar a relação metionina + cistina digestível / lisina digestível de frangos de corte, avaliou 5 relações variando de 64% a 80% em dietas deficientes em lisina digestível (1,03%) e comparou com uma ração controle com 1,10% de lisina digestível e 0,880% de metionina + cistina digestível (80% da relação). As variáveis consideradas foram a conversão alimentar e rendimento de filé de peito na fase de 22 a 35 dias de idade dos machos Cobb (Tabela 15). Observa-se que a conversão alimentar permitiu estimar adequadamente a relação metionina + cistina digestível / lisina digestível dos machos Cobb, que variou de 72,6% para o modelo LRP a 77% para o modelo quadrático, sendo os modelos, 95% do quadrático e o quadrático + platô, intermediários, 73,2% e 73,9%, respectivamente. Para ótimo rendimento de Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Tabela 15 - Efeito da relação met. + cis. dig. / lis. dig. sobre a conversão alimentar e rendimento de filé de peito em frangos de corte Cobb machos de 22 a 35 dias de idade. M+C / Lis (%) Conversão (g/g) Rendimento de Filé (%) 64 (0,659)1 1,788 23,74 68 (0,700) 1,742 24,14 72 (0,742) 1,690 24,05 76 (0,783) 1,690 24,26 80 (0,824) 1,689 24,38 1,665 24,33 Controle positivo2 CV (%) 1,61 3,58 Modelos Relação M+C/Lis (%) Quadrático 77,0 ns 95% da resposta quadrática 73,2 — Quadrático + Platô 73,9 — LRP 72,6 — Relação M+C dig. / Lis. dig. e conteúdo (%) de M+C dig. entre parênteses e Lis. dig. da dieta (1,03%). 2Controle positivo contendo M+C dig. (0,880%) e Lis dig. (1,10%) .(Paez, 2007). 1 Outros critérios podem ser usados para definir os níveis ideais de aminoácidos. Os primeiros trabalhos publicados, utilizando a excreção de uréia pelos suínos e de ácido úrico pelas aves para avaliar qualidade da proteína ou níveis nutricionais de aminoácidos, foram publicados por Brown e Cline (1974) e por Miles e Featheston (1976). A metodologia é baseada no aumento da produção destes compostos quando ocorre deficiência ou “imbalanço” dos aminoácidos. A suplementação do primeiro aminoácido limitante, promovendo melhor balanceamento, aumenta a síntese de proteína e reduz o catabolismo dos demais aminoácidos não limitantes, havendo redução na excreção de uréia ou ácido úrico que são os produtos finais do catabolismo dos aminoácidos. Dessa forma, a excreção de uréia nos mamíferos ou ácido úrico nas aves, podem ser utilizadas para determinar os níveis nutricionais do primeiro aminoácido limitante. A uréia pode ser determinada também no sangue, sendo recomendado um jejum de 5 horas após a alimentação a fim de coletar o sangue para maximização do teor de uréia no sangue. Entretanto, Rodrigueiro et al. (2000) indicam que a determinação da concentração de ácido úrico como forma de estudar o metabolismo dos aminoácidos pode esbarrar no alto coeficiente de variação, sendo, portanto, considerado um fator limitante para a tomada de decisões quanto às estimativas de exigências nutricionais. O mesmo princípio se aplica para a determinação da concentração do aminoácido limitante no plasma dos animais. Em vários trabalhos, foi verificado que a adição de um aminoácido na dieta, em níveis abaixo da exigência do animal, não ocasiona alteração significativa na concentração do aminoácido no plasma, mas, quando a adição é compatível com a exigência ou em excesso, Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 185 filé de peito, os níveis de metionina + cistina na dieta recomendados foram menores que para conversão alimentar, pois não houve efeito dos níveis de metionina+cistina digestível sobre o rendimento de filé de peito dos frangos de corte. Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 186 o nível plasmático aumenta bruscamente. Pode-se concluir que, quando o nível plasmático do aminoácido em estudo começa a aumentar, este pode ser estabelecido para definir a sua exigência dietética. Esses critérios foram utilizados por Pinheiro et al. (1986) para determinar a exigência de lisina de porcas lactantes. Os autores forneceram 5 níveis de lisina a porcas em lactação por dois períodos de 4 dias e determinaram, no último dia de cada período, os níveis de lisina e uréia no plasma e a excreção de uréia na urina nas últimas 24 horas. A Tabela 16, mostra os níveis recomendados de lisina total nas dietas de porcas em lactação com base nos resultados obtidos de uréia no plasma e na urina e de lisina plasmática. As metodologias laboratoriais facilitam sobremaneira as pesquisas com animais adultos, pois, para realizar medidas do desempenho, seria necessário um grande número de porcas por longos períodos, o que dificultaria a realização de outras pesquisas em uma granja experimental de suínos. Tabela 16 - Efeito do nível dietético de lisina total sobre a uréia e lisina plasmática e excreção urinária de uréia em porcas em lactação. Dieta Lisina Uréia Plasmática Uréia Lisina Plasmática Total (%) (mg/100mL) Urinária (g/dia) (mg/100mL) 0,566 32,78 ab 40,14 ab 1,26 c 0,646 25,83 c* 34,41 b 1,21 c 0,726 30,51 b 24,68 c* 1,52 bc* 0,806 29,48 bc 24,68 c 1,77 b 0,886 32,22 ab 32,29 bc 2,06 a * Exigência recomendada para cada parâmetro. Pinheiro et al. (1986). Fontes et al. (2000) alimentaram leitoas (60 a 95 kg) com dietas contendo diferentes níveis de lisina e avaliaram parâmetros de desempenho, de carcaça e a uréia no soro. Os autores verificaram que a exigência de lisina estimada com a conversão alimentar e uréia no soro foram similares, entretanto a estimativa do nível de lisina na dieta para menor deposição de gordura na carcaça foi 15% superior (Tabela 17). Os coeficientes de variação dos diferentes parâmetros usados para estimar as exigências nutricionais das leitoas mostram que a conversão alimentar apresentou o menor coeficiente, e os de deposição de proteína e de gordura na carcaça os maiores valores, sendo intermediária a variação da uréia no soro. Esses resultados sugerem que, nos estudos realizados para definir níveis nutricionais para melhoria da deposição protéica e redução na deposição de gordura, as repetições e o número de animais por repetição deve ser aumentado para poder detectar as diferenças entre os tratamentos experimentais. 4.5. Protocolo proposto para determinar o nível ótimo de lisina em dietas formuladas com base na proteína ideal Delineamento experimental O número de repetições, animais por repetição e distribuição dos animais devem seguir os princípios apresentados no Capítulo 1 para cada espécie animal. A definição dos tratamentos depende do método a ser empregado. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos 1 Efeito Quadrático (P<0,01). 2ns. 3Efeito Linear (P<0,01). Fontes et al. (2000). Dietas experimentais As dietas podem ser formuladas pela técnica da suplementação ou da diluição. Pela técnica da suplementação, é formulada uma dieta basal deficiente em lisina, mas deve atender as exigências nutricionais de energia, vitaminas e minerais. Os demais aminoácidos devem estar em proporções adequadas para manter as relações ideais com a lisina. A basal é suplementada com lisina e os demais aminoácidos para manter a relação ideal. Na Tabela 18, são apresentados exemplos de suplementação da lisina e demais aminoácidos na dieta basal. Entretanto, em dietas práticas, há uma certa dificuldade em manter a mesma relação ideal dos aminoácidos em todas as dietas. Conforme exemplo apresentado, à medida que os níveis de lisina das rações são aumentados, os aminoácidos que se tornam limitantes devem ser suplementados por fontes sintéticas, de forma que as relações ideais propostas por Rostagno et al. (2005) sejam atendidas. Por esse método de formulação, observa-se que as dietas com os níveis mais elevados são aquelas que mais se aproximam das relações exatas, pela necessidade de suplementação da maior parte dos aminoácidos, enquanto os primeiros níveis são aqueles que mais extrapolam as relações ideais. As formulações pela técnica da diluição consistem em formular uma dieta com alto nível de lisina e, conseqüentemente, dos demais aminoácidos que são estabelecidos conforme o perfil ideal; e outra dieta de diluição com os mesmos teores de energia, minerais e vitaminas, mas isenta de proteína e aminoácidos (Tabela 19). A mistura das duas dietas em proporções adequadas fornece os níveis de lisina a serem avaliados, mantendo as mesmas relações dos aminoácidos em todas as dietas. Essa técnica permite manter o mesmo perfil dos aminoácidos em todas as dietas, como pode ser verificado no exemplo de formulação apresentado na Tabela 20. Entretanto, a restrição dessa técnica é a variação dos níveis de proteína da dieta que variam conforme as diluições. Isso pode ser amenizado com a inclusão, na dieta isenta de aminoácidos (diluente), de uma fonte de nitrogênio, como o ácido glutâmico. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 187 Tabela 17 - Efeito do nível de lisina dietética sobre variáveis, medidas em leitoas de 60 a 95 kg. Lisina na Dieta, Conversão Uréia no Deposição, g/dia Soro1 mg/dL Proteína2 Gordura3 % Alimentar1 0,75 2,73 35,80 153,9 232,1 0,85 2,55 33,67 156,0 238,6 0,95 2,42 30,32 153,8 226,4 1,05 2,46 27,80 156,8 161,6 1,15 2,53 32,82 161,8 182,5 Exigência de Lis 1,00 1,00 0,75 1,15 CV, % 4,02 6,40 14,06 14,12 Sakomura, N.K. & Rostagno, H.S. 188 Tabela 18 - Dietas experimentais formuladas pela técnica da suplementação para avaliar os níveis de lisina, mantendo a relação ideal dos aminoácidos para frangos de corte na fase inicial. Rações isoenergéticas e isoprotéicas com os aminoácidos na proporção ideal. Ingredientes (%) Níveis de lisina digestível (%) 0,85 0,97 1,09 1,21 Basal 91,932 91,932 91,932 91,932 L-lisina HCl ———0,153 0,306 0,459 DL- metionina 0,105 0,193 0,282 0,370 L-treonina ———0,027 0,106 0,187 L- valina ——————0,064 0,155 L- Arginina ——————0,022 0,149 Ácido glutâmico 7,932 7,570 6,975 5,992 Amido 0,031 0,125 0,313 0,756 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 Aminoácidos digestíveis aa/lis aa/lis aa/lis aa/lis Lisina, % (100)1 0,850 1,00 0,970 1,00 1,090 1,00 1,210 1,00 Metionina+cistina,% (72) 0,612 0,72 0,698 0,72 0,785 0,72 0,871 0,72 Triptofano,% (16) 0,195 0,23 0,195 0,20 0,195 0,18 0,195 0,16 Treonina,% (65) 0,605 0,71 0,631 0,65 0,709 0,65 0,787 0,65 Arginina,% (105) 1,123 1,32 1,123 1,16 1,145 1,05 1,271 1,05 Valina,% (75) 0,754 0,89 0,754 0,78 0,818 0,75 0,908 0,75 Fenilalanina,% (63) 0,823 0,97 0,823 0,85 0,823 0,76 0,823 0,68 Composição basal (%): milho = 58,100; Farelo de soja = 28,549; Fosfato bicálcico = 1,741; Calcário = 1,113; Sal = 0,437; Óleo de soja = 1,722; Premix mineral e vitamínico = 0,200; Cloreto de colina (70%) = 0,070. Composição Nutricional (%): EM (kcal/kg) = 3.000; PB (%) = 22,50; Ca (%) = 0,940; Pd (%) = 0,42; Na (%) = 0,190. 1Proteína Ideal recomendada por Rostagno et al. (2005). Tabela 19 - Rações formuladas para obter as dietas com níveis crescentes de lisina aplicando-se a técnica da diluição. Ingredientes Rações a serem misturadas Concentrada (1,21% de lisina) Isenta (diluente) Milho 54,755 ——— Farelo de soja 38,348 ——— Óleo Soja 2,970 ——— Calcário 1,106 0,999 Fosfato bicálcico 1,660 2,270 Sal comum 0,434 0,481 DL- metionina 0,270 ——— L-lisina HCl 0,149 ——— L-treonina 0,038 ——— L- valina ——— ——— L- Arginina ——— ——— Premix mineral 0,100 0,100 Premix vitamínico 0,100 0,100 Cloreto de colina 70% 0,070 0,070 Amido ——— 82,689 Inerte ——— 13,291 Total 100,00 100,00 Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Composição: EM (kcal/kg) = 3.000; Ca (%) = 0,940; Pd (%) = 0,42; Na (%) = 0,190. 1 Proteína Ideal recomendada por Rostagno et al. (2005). Critérios respostas As respostas em ensaios dose-resposta são baseadas no desempenho animal. Para os animais em crescimento, as características mais avaliadas são o ganho de peso e a conversão alimentar. Para frangos de corte, um parâmetro de importância econômica é o rendimento de peito; no caso de suínos em crescimento, o rendimento de carcaça, a espessura de toucinho e a área de olho de lombo são variáveis importantes. A excreção de ácido úrico em aves ou uréia nos suínos, assim como a deposição protéica, são também utilizadas para estimar as exigências dos aminoácidos. A deposição protéica corporal é determinada pela técnica do abate comparativo. Um grupo de animais é abatido para medir a composição corporal inicial e, no final, um grupo de animais alimentados conforme os tratamentos são abatidos para determinar a composição corporal final. Pela diferença entre a composição protéica final e inicial, calcula-se a deposição protéica. Análises dos dados O primeiro procedimento é a análise de variância com a decomposição dos tratamentos em regressão polinomial. Se for detectada a significância para a regressão, os dados podem ser ajustados pelos modelos quadrático, exponencial e LRP (linear response plateau). Na escolha do modelo, deve ser considerado o ajuste dos dados e os aspectos mencionados sobre os modelos (ver 3.1. Interpretação da resposta dos animais nos ensaios dose-resposta). Depois de definir o modelo, o critério para determinar o nível ótimo depende do modelo utilizado. Para o LRP, é o ponto de intersecção da reta com o platô. Para o modelo quadrático, o nível ótimo é estabelecido como sendo aquele que promover a máxima resposta. Pode tambem usar o critério de 95% do nível que proporcionou a máxima resposta pelo modelo quadrático. Para o exponencial, um valor arbitrário de 95% a 99% da máxima resposta tem sido usado como Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos Método dose-resposta para determinar exigências nutricionais 189 Tabela 20 - Dietas experimentais formuladas pela técnica da diluição usando-se as dietas da Tabela 19 para avaliar os níveis de lisina, mantendo a relação ideal dos aminoácidos. Rações isoenergéticas variando os níveis de PBl. Ingredientes (%) Nível de lisina digestível (%) 0,85 0,97 1,09 1,21 Concentrada 70,248 80,138 90,083 100,000 Isenta 29,752 19,862 9,917 ——— Total 100,00 100,00 100,00 100,00 Aminoácidos digestíveis AA/lis. AA/lis. AA/lis. AA/lis. Proteína Bruta (%) 15,932 18,110 20,301 22,486 Lisina,% (100)1 0,850 1,00 0,970 1,00 1,090 1,00 1,210 1,00 Metionina+cistina,% (72) 0,612 0,72 0,698 0,72 0,785 0,72 0,871 0,72 Triptofano ,% (16) 0,174 0,20 0,198 0,20 0,223 0,20 0,247 0,20 Treonina,% (65) 0,553 0,65 0,631 0,65 0,709 0,65 0,787 0,65 Arginina,% (105) 1,001 1,18 1,142 1,18 1,283 1,18 1,425 1,18 Valina,% (75) 0,655 0,77 0,747 0,77 0,840 0,77 0,932 0,77 Fenilalanina,% (63) 0,716 0,84 0,817 0,84 0,919 0,84 1,020 0,84 critério na definição do nível ótimo do aminoácido. O primeiro ponto de intersecção da curva quadrática no platô do LRP também pode definir a dose ótima objetivamente. Exemplo de procedimento da análise dos dados (ver 3.2. Aplicação dos modelos para determinar exigências nutricionais).