manual do piscicultor produção de tilápia em tanque-rede

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manual do piscicultor produção de tilápia em tanque-rede
MANUAL DO PISCICULTOR
PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
CONSULTORES:
José Milton Moreira Carriço - Engº de Pesca (MSc. Gestão e Política Ambiental)
Luís Inácio Toshio Nakanishi - Zootecnista (MSc. em Aqüicultura)
Marcelo Acácio Chammas - Engº de Pesca (Especialista em Piscicultura)
DEZEMBRO 2008
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
2
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO.......................................................................................................... 4
2. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 4
3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA PRODUÇÃO EM TANQUE-REDE..................
6
4. CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO EM GAIOLAS OU TANQUE-REDE.................
7
5. INFRA-ESTRUTURA NECESSÁRIA..................................................................................12
6. LOCAL DE INSTALAÇÃO............................................................................................. 16
7. AMBIENTE DE CULTIVO................................................................................................ 16
7.1. CULTIVO EM RIOS............................................................................................ 17
7.2. CULTIVO EM RESERVATÓRIOS DE BARRAGENS.......................................... 17
7.3. CULTIVO EM LAGOAS NATURAIS.................................................................. 17
7.4. CULTIVO EM AÇUDES......................................................................................18
7.5. CULTIVO EM ESTUÁRIOS................................................................................. 19
8. ETAPAS DE PRODUÇÃO.............................................................................................. 21
8.1. TRANSPORTE DE ALEVINOS E POVOAMENTO............................................. 22
8.2. ETAPA DE RECRIA............................................................................................ 25
8.3. SELEÇÃO E TRANSFERÊNCIA DOS PEIXES PARA A ENGORDA..................
25
8.4. ETAPA DE ENGORDA.......................................................................................27
9. ALIMENTAÇÃO............................................................................................................ 27
10. ACOMPANHAMENTO DO CULTIVO........................................................................ 31
11. DESPESCA FINAL........................................................................................................33
12. APURAÇÃO DOS RESULTADOS................................................................................ 33
12.1. Resultados Técnicos.................................................................................... 34
12.2. Resultados Econômicos.............................................................................. 35
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
13. BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS............................................................................... 36
14. ANEXOS..................................................................................................................... 36
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MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
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1. APRESENTAÇÃO
O SEBRAE, através do Programa de Gestão Estratégica Orientada para
Resultados (GEOR), atuou durante os anos de 2006 a 2008 na Região Centro Sul
Sergipano, procurando dar suporte a atividade da piscicultura para viabilizar o
acesso a novas tecnologias de cultivo e para promover o desenvolvimento
sustentável do negócio aqüícola a partir da realidade encontrada. Como resultado
deste Programa foi elaborado um Manual do Piscicultor focado na Produção de
Tilápia em Tanque-rede que apresenta o passo a passo das práticas de manejo,
procedimentos e recomendações para auxiliar o piscicultor a obter melhores
resultados técnicos e econômicos, de modo a se tornar mais competitivo no
mercado do aquanegócio.
2. INTRODUÇÃO
O
Brasil
reúne
condições
extremamente
favoráveis
à
aqüicultura,
apresentando grande potencial de mercado, clima favorável, boa disponibilidade
de áreas para a produção, disponibilidade de grãos para a fabricação de ração
animal e invejável potencial hídrico. São 5,3 milhões de hectares de água doce em
reservatórios naturais e artificiais, 8.000 km de zona costeira, além de uma extensa
rede hidrográfica, que pode ser potencialmente aproveitada na produção de
organismos aquáticos.
A prática da piscicultura de espécies de água doce em tanques-rede ou
gaiolas pode ser realizada em ambientes como rios, reservatórios de usinas, lagoas
e açudes, e mais recentemente temos visto o cultivo da tilápia em áreas estuarinas
como podemos ver na Foto 1 abaixo, cuja água chega a apresentar uma
salinidade de até 25 ‰, ou seja, cerca de 70% do teor de sal encontrado na água
do mar.
Cabe destacar que, independente do ambiente de cultivo, é necessário
buscar orientação de um profissional da área para orientar o produtor tanto no
planejamento do projeto como nos processos de registros e licenciamentos junto a
SEAP (Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca) e demais órgãos ambientais
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responsáveis pelo corpo d’água onde o projeto pretende ser implantado. Outro
aspecto fundamental é a realização de capacitação da mão de obra, contando
sempre com o acompanhamento de um profissional experiente no assunto.
Foto 1 - Produção de Tilápia em estuário (Indiaroba – SE).
O cultivo de peixes em tanque-rede e gaiolas é uma alternativa de
investimento de relativo baixo custo e maior rapidez de implantação em relação ao
sistema convencional (viveiros escavados), e este sistema de produção possibilita
um adequado aproveitamento dos recursos hídricos e a rápida expansão da
piscicultura industrial no país.
O sistema de criação de peixes em tanques-rede ou gaiolas é um sistema
com renovação de água contínua, sendo considerado como uma das formas mais
intensivas de criação atualmente praticadas. A alta taxa de renovação de água
visa manter a qualidade da água dentro dos tanques-rede e remover os
metabólitos e dejetos produzidos pelos peixes.
Este sistema tem se tornado popular devido à facilidade no manejo e o
rápido retorno do investimento, além de ser uma excelente alternativa para a
produção de peixes em corpos d’água onde a prática da piscicultura
convencional não é viável.
Dentre as espécies produzidas neste sistema, a tilápia (Foto 2) é a que mais
tem se destacado devido a suas características favoráveis como:
•
rusticidade;
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•
resistência ao manejo;
•
precocidade;
•
adaptação a elevadas densidades de estocagem;
•
boa aceitação pelo mercado;
•
tolerância a águas salobras;
•
grande oferta de alevinos.
6
Dentre os aspectos importantes a serem considerados na piscicultura em
tanque-rede ou gaiola destacamos: qualidade genética do peixe, sistema de
produção (n° de etapas de cultivo), qualidade do alimento, manejo da
alimentação, condições ambientais (qualidade da água) e a mão de obra
capacitada. Todos estes fatores é que determinarão a velocidade de crescimento,
a eficiência na conversão alimentar, a produtividade e o custo de produção.
Foto 2 - Exemplar de Tilápia.
3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA PRODUÇÃO EM TANQUE-REDE
O sistema de criação de peixes em tanque-rede e gaiolas apresenta as
seguintes vantagens:
-
Aproveitamento de grandes corpos de água como rios, lagoas,
reservatórios, açudes e estuários;
-
Menor investimento inicial (50 a 70% em relação a viveiros escavados);
-
Praticidade e rapidez em sua implantação;
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-
Produtividade elevada;
-
Permite a produção escalonada num mesmo corpo d’água;
-
Dificulta a ação de predadores, permitindo maior controle da população;
-
Menor variação dos parâmetros físico-químicos da água durante a
criação;
-
Facilidade de observação dos peixes;
-
Possibilita a separação em lotes homogêneos;
-
Facilidade na captura dos peixes para monitoramento e despesca;
-
Facilita o controle da alimentação, minimizando perdas e melhorando o
aproveitamento da ração.
Apesar de este sistema apresentar suas vantagens, exige acompanhamento
diário e rigor na alimentação, que deve ser de qualidade e fornecido na
quantidade ideal, pois os peixes dependem exclusivamente da ração, apesar de
existir raras situações de açudes e reservatórios em que haja disponibilidade de
água rica em alimento natural (fito e zooplâncton).
Dentre as desvantagens deste sistema de produção podemos citar:
- Maior condição de estresse devido à elevada densidade de estocagem;
- Maior susceptibilidade a patologias;
- Facilita a disseminação de doenças;
- Maior custo de produção quanto à alimentação, que deve ser completa,
pois neste caso, os peixes não têm acesso à alimentação natural como no sistema
de cultivo em viveiros escavados.
4. CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO EM GAIOLAS OU TANQUE-REDE
A piscicultura em tanque-rede possibilita o aproveitamento de ambientes
aquáticos já existentes (oceanos, áreas estuarinas, rios, grandes reservatórios, lagoas
e açudes). A denominação de tanques-rede é conferida às unidades de cultivo
formadas por uma estrutura que confere o formato, podendo esta estrutura ser de
madeira, ferro galvanizado ou alumínio e para a contenção dos peixes geralmente
são usados redes de multifilamento revestidos ou não de PVC, com malhas de
abertura diversas, com ou sem nós, ou outros materiais resistentes à corrosão, como
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telas de alumínio ou inox, ou mesmo de arame galvanizado com revestimento de
PVC, trançadas no formato de alambrado, que podem apresentar comportamento
retrátil como uma rede (Foto 3).
Já as gaiolas apresentam formato fixo, apresentando uma armação que
pode ser de madeira, barras de ferro ou alumínio (Foto 4). O fechamento lateral e
do fundo é feito com material de contenção rígido, geralmente telas de aço inox
ou ferro galvanizado, revestidas ou não de PVC, sendo utilizadas também telas de
polietileno apropriadas para este fim.
Foto 3 - Modelo de tanque-rede.
Foto 4 - Modelo de gaiola.
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Os materiais utilizados nas malhas e estruturas de sustentação e flutuação dos
tanques-rede e gaiolas devem apresentar as seguintes características:
•
boa resistência ao esforço mecânico e à corrosão;
•
resistência mínima à passagem de água;
•
material deve ser o mais leve possível e de baixo custo;
•
material não abrasivo e que não cause injúrias aos peixes;
•
fácil manuseio e reparos.
Em relação ao espaçamento entre as gaiolas, no caso de gaiolas ou
tanques-redes que apresentam um volume útil entre 4 e 8 m3, como é o caso da
grande maioria dos projetos, o ideal é que a distância entre uma gaiola e outra seja
de pelo menos 3m de distância. A linha de tanques-redes ou gaiolas deve ser
posicionada perpendicularmente ao sentido do vento predominante e do fluxo da
água, de modo a garantir condição adequada de troca da água para todas as
gaiolas (Figura 1). Quanto ao espaçamento entre uma linha de tanques e outra,
esta deve ter uma distância mínima de 10 m. Em relação à profundidade, é
recomendável que a distância entre o fundo da gaiola ou tanque-rede e o fundo
da lagoa (ou outro corpo d’água) seja de pelo menos 2 m, de modo que, quanto
menor a troca de água promovida por correntes ou vento, maior deve ser a
profundidade.
Figura 1 - Posicionamento dos tanques-redes em relação ao vento.
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O papel fundamental dos tanques-rede é confinar os peixes possibilitando a
troca de água com o ambiente à sua volta. A eficiência desta troca é influenciada
principalmente pelo volume do tanque-rede, seu formato, o material utilizado em
sua construção e o local onde o tanque-rede ou gaiola será instalada.
Quanto ao formato, os tanques-rede empregados geralmente apresentam a
área superficial quadrada ou retangular, podendo, no entanto, ser circulares ou
hexagonais. O tamanho dos tanques-rede e gaiolas podem variar desde 1 a 100m³
(Foto 5), entretanto, as estruturas mais empregadas apresentam geralmente um
volume útil entre 4 e 18 m³, com profundidades variando entre 1 e 2m. A
produtividade média geralmente oscila entre 100 e 200 kg/m3, podendo também
atingir produtividades maiores, dependendo neste caso, principalmente das
condições ambientais onde os tanques-rede são instalados.
Foto 5 - Tanque-rede de 100m³ (5 x 5 x 4 m de profundidade).
Em relação à abertura de malhas da gaiola, quanto maior for esta abertura,
melhor a renovação de água no interior dos tanques-rede. Aberturas de malhas
muito pequenas facilitam o processo de colmatação (entupimento pela deposição
de material orgânico, crescimento de algas e outros organismos sobre a malha). O
uso de abertura de malhas inferiores que 13 mm favorece a colmatação, exigindo
limpezas periódicas ou a transferência dos peixes.
Para a flutuação dos tanques ou gaiolas são empregadas estruturas como
tubos de PVC, bombonas plásticas ou flutuadores de fibra de vidro. Para evitar que
os peixes pulem fora da gaiola ou tanque-rede, bem como para evitar a ação de
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predadores (pássaros, morcegos, etc.), estes devem ser cobertos com uma tampa
geralmente confeccionada com telas de multifilamento ou arame galvanizado
revestidos com PVC ou telas de polietileno com proteção contra raios ultravioleta.
Em casos em que a água apresenta uma transparência muito elevada, estas
devem ser cobertas parcialmente (em torno de 75%) com tampa ou sombrite (Fotos
6 e 7) para evitar queimaduras no dorso dos peixes, além de reduzir o estresse
causado pela presença de pássaros e outros animais sobre os tanques-rede.
Foto 6 - Sombrite sobre tanque-rede circular.
Foto 7 – Tampa sobre tanque-rede.
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5. INFRA-ESTRUTURA NECESSÁRIA
Neste sistema de produção, as gaiolas ou tanques-rede geralmente são
fixados em um cabo de aço ou corda (Foto 8), que por sua vez são esticadas
atravessando de um lado a outro o corpo d’água para sua fixação em terra firme,
ou através de poitas no fundo do corpo d’água. Existe também casos em que os
tanques-redes são acoplados em plataformas podendo estas ser fixas ou flutuantes
(Foto 9), próximo da terra firme ou não, conforme a condição da profundidade.
No caso de cultivo em áreas estuarinas, há necessidade de uma infraestrutura para aclimatação dos alevinos (filhotes de peixes), pois estes são
provenientes de uma condição de água doce e deverão ser aclimatados à nova
condição da água com salinidade. Esta aclimatação pode ser realizada em caixas
d’água providas de sopradores para promover aeração, onde se aumenta
gradativamente a salinidade da água nas caixas (Foto 10). Quanto ao cultivo dos
peixes em tanques-rede em áreas estuarinas ou outro ambiente onde haja
constante variação do nível de água, há necessidade de se empregar bóias
(flutuadores) antes das poitas para buscar manter este cabo principal sempre
esticado conforme mostra a Figura 2 abaixo.
Foto 8 – Tanques-rede fixados em corda.
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Foto 9 – Tanques-rede acoplados em plataforma flutuante.
Foto 10 - Caixas com aeração para aclimatação de
alevinos a água salobra.
Figura 2 – Uso de bóias para fixação dos tanques-rede.
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Para realizar o manejo de captura é necessário um puçá (passaguá) cuja
abertura da malha depende do tamanho do peixe. Para peixes que estão na fase
inicial pode-se empregar um puçá com malha entre 5 e 10mm, já para peixes
maiores, podemos empregar um puçá com abertura de malha entre 15 e 25mm
(Foto 11). Quanto à estrutura e cabo do puçá, esta pode ser em alumínio, ferro ou
madeira.
Foto 11 – Puçá para captura dos peixes.
Para a alimentação dos peixes será necessário um transporte que pode ser
desde uma canoa comum até uma balsa de fibra de vidro, conforme demonstrado
na Foto 12.
Para a realização de manejos como transferência de peixes e despescas fazse necessário o emprego de uma plataforma de manejo o que facilita muito a
execução destes manejos. Esta plataforma pode ser montada em madeira ou
chapas de aço, podendo ser fixa ou móvel (balsa) para se deslocar até as gaiolas
(Fotos 13 e 14).
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Foto 11 - Balsa de fibra para alimentação.
Foto 12 – Balsa em estrutura de ferro para manejo.
Foto 13 – Balsa em madeira para manejo.
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Para o armazenamento de rações e equipamentos é necessário um abrigo
apropriado que proporcione boa ventilação e proteção contra a ação de chuvas
e animais (roedores, aves, etc.) e que seja localizado preferencialmente próximo ao
cultivo.
6. LOCAL DE INSTALAÇÃO
Na seleção da área para instalação dos tanques-rede algumas condições
devem ser criteriosamente analisadas ou até mesmo evitadas, como:
¾ Áreas de conflito de interesse com outras atividades (pesca, turismo e
navegação);
¾ Áreas protegidas da ação dos ventos e das correntezas, como enseadas e
baías, e áreas que não promovam boa circulação de água;
¾ Áreas de pouca profundidade (inferior a 3m);
¾ Áreas com a capacidade de suporte do ambiente reduzida devido a fatores
como excesso de peixes soltos, renovação de água restrita e excesso de
matéria orgânica em decomposição;
¾ Áreas com riscos de contaminação da água por produtos tóxicos como
indústrias que lançam efluentes em corpos d’água, matadouros, áreas de
agricultura e fruticultura que utilizam pesticidas e herbicidas.
7. AMBIENTE DE CULTIVO
Os cuidados quanto à instalação dos tanques-rede ou gaiolas e até mesmo
alguns procedimentos durante o cultivo podem variar a depender do ambiente em
que será implantado o cultivo, sendo necessários cuidados específicos. Podemos
classificar estes ambientes nas seguintes categorias:
•
Rios;
•
Reservatórios de barragens;
•
Lagoas naturais;
•
Açudes;
•
Estuários.
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7.1. CULTIVO EM RIOS
Os cuidados quanto à instalação de tanques-rede em rios se devem ao risco
de fluxo muito intenso, principalmente em períodos de chuvas, podendo arrastar os
tanques-rede, além de poder causar danos nos mesmos através de sujeiras e
troncos que podem ser carregados pelas correntes. Neste caso os tanques-rede
devem ser instalados em locais de remanso, afastados do leito principal, onde haja
circulação de água, porém onde fluxo de água não seja tão intenso.
7.2. CULTIVO EM RESERVATÓRIOS DE BARRAGENS
Os cuidados quanto à instalação de tanques-rede em reservatórios de usinas
hidrelétricas se devem aos riscos de áreas muito abertas onde haja ação de
grandes marolas (ondas) que dificultam tanto o acesso de embarcações como a
alimentação dos peixes.
Nestes reservatórios existe também o risco de mortalidade de peixes em
situações em que haja um acúmulo muito grande de água no reservatório e este é
descarregado com muita pressão quando as comportas são abertas, podendo
provocar tanto a suspensão do sedimento e matéria em decomposição do fundo
do reservatório como a incorporação de gases provocando a supersaturação
destes na água, que podem provocar mortalidades massivas por embolia gasosa,
fato este já ocorrido em mais de uma oportunidade nos reservatórios das regiões de
Paulo Afonso – BA e Xingó – AL.
Experiências nestas regiões demonstraram que cultivos em tanques-rede ou
gaiolas com maior profundidade (superior a 1,5 m), a ocorrência de mortalidade
durante estes eventos são menores.
7.3. CULTIVO EM LAGOAS NATURAIS
Os cuidados quanto à instalação de tanques-rede em lagoas se devem
principalmente quanto ao risco da presença de piranhas e pirambebas que podem
cortar a tela a depender do material empregado. Outro cuidado deve ser quanto
à quantidade de tanques-rede instalados numa área de pouca troca de água e
em lagoas em que a profundidade reduz significativamente no período seco,
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podendo ocorrer limitação de oxigênio. Outro aspecto que pode ocorrer neste tipo
de ambiente é quanto à possibilidade de surgimento de determinadas algas
quando há um acúmulo de matéria orgânica no ambiente. Certas espécies de
algas ao serem ingeridas pelos peixes provocam um gosto de terra na carne, sendo
necessário nesta ocasião, realizar um processo chamado depuração dos peixes, ou
seja, estes os peixes antes de serem comercializados para o consumo devem ser
transferidos para um tanque (azulejado ou revestido) com água limpa sob
constante aeração e troca de água durante 24 a 72 horas, a depender do caso,
para eliminar este gosto desagradável.
7.4. CULTIVO EM AÇUDES
No cultivo em açudes há necessidade de um dimensionamento prévio da
capacidade produtiva do mesmo, levando-se em conta a estimativa de biomassa
(peso total) dos peixes soltos no mesmo. O ideal é procurar retirar os peixes soltos no
açude, pois quanto maior a quantidade de peixes soltos, menor é a capacidade
de produção de peixes em tanques-rede.
Um risco comum em açudes é a mortalidade provocada pela inversão
térmica devido a mudanças climáticas. Este evento geralmente ocorre em açudes
e lagoas estratificadas, ou seja, que apresentam uma faixa da coluna d’água
superficial com temperatura mais elevada, e logo abaixo desta faixa (cerca de 2 m
abaixo) apresenta outra faixa com temperaturas reduzidas e baixos níveis de
oxigênio. O problema ocorre em determinada época do ano que apresenta
elevadas temperaturas durante o dia com queda acentuada de temperatura
durante a noite. Esta inversão térmica repentina provoca um deslocamento da
água de superfície para o fundo, em função do esfriamento desta camada
superficial, levando à superfície a água do fundo pobre em oxigênio e rico em
gases tóxicos aos peixes provocando assim a mortalidade, pois os peixes por
estarem confinados acabam respirando esta água de baixa qualidade.
Para maior segurança é recomendável o uso de aeradores tanto para
garantir níveis adequados de oxigênio como para homogeneizar a temperatura da
água ao longo da coluna, reduzindo assim o problema da estratificação térmica e
os problemas provocados pela inversão térmica.
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7.5. CULTIVO EM ESTUÁRIOS
No caso de cultivos em áreas estuarinas, por serem áreas que sofrem
influência das marés, estão constantemente submetidas tanto a variações de nível
como de salinidade, sendo necessário neste caso, realizar uma aclimatação dos
alevinos
à
água
salobra,
de
modo
que
os
alevinos
sejam
adaptados
gradativamente da água doce para uma água salobra, podendo esta ter uma
salinidade de até 25 ‰. Antes da implantação do cultivo há necessidade de se
conhecer a faixa de variação de salinidade ao longo do ano no local que se
pretende implantar a piscicultura. No caso da Tilápia, o ideal para o cultivo seria
que a água apresentasse uma salinidade de até 15 ‰, podendo, no entanto,
tolerar salinidades até 25 ‰, porém com redução de desempenho, pois em
salinidades elevadas há um gasto energético do peixe para esta adaptação.
A aclimatação é feita em caixas d’água com sistema de circulação
fechada, provida de constante aeração via soprador (Foto 10). Inicialmente os
alevinos são colocados nas caixas com água doce numa densidade de 1 a 3
alevinos/L, dependendo do tamanho do alevino e condição de aeração. No
primeiro dia, os alevinos devem permanecem em jejum na água doce. A partir do
segundo dia, aumenta-se a salinidade dos tanques gradativamente numa
proporção máxima de 5 ‰/dia, até que se atinja a salinidade máxima do local
onde os peixes serão povoados. Durante este período, os peixes devem ser
alimentados numa proporção de 2 a 3% da biomassa/dia, devendo-se realizar a
limpeza dos tanques diariamente pela manhã e ao final da tarde, a fim de eliminar
sobras de ração e acúmulo de fezes. Após atingir a salinidade similar ao do
ambiente estuarino de cultivo, recomenda-se que os alevinos permaneçam nesta
salinidade durante um período de dois a três dias e a partir daí realiza-se o
povoamento.
O cultivo em áreas estuarinas apresenta outro inconveniente que é a fixação
de algas, cracas, moluscos, entre outros organismos nas telas (Fotos 14 e 15), sendo
necessária constante limpeza e até mesmo transferência dos peixes para outro
tanque-rede limpo, pois estas incrustações acabam prejudicando a circulação de
água e conseqüentemente a oxigenação dentro do tanque-rede, podendo levar
os peixes à morte.
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Foto 14 – Tela de tanque-rede impregnada de algas e sururu.
Foto 15 – Tela de tanque-rede impregnada de algas e sururu.
8. ETAPAS DE PRODUÇÃO
Para a produção de tilápia em tanques-rede é recomendado que o cultivo
seja realizado em pelo menos três etapas (cultivo trifásico), sendo mais
recomendado, no entanto, o cultivo em quatro etapas. Este número deve ser
definido em função da disponibilidade de recurso, mão de obra e conveniência
para o produtor. Os Quadros 1 e 2, abaixo indicam a abertura de malha e
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quantidade de peixes a estocar conforme a faixa de peso dos peixes para cultivos
em três e quatro etapas.
Quadro 1 – Cultivo de tilápia em tanque-rede em três etapas.
Etapas de cultivo Faixa de peso dos peixes Abertura da malha Estocagem* N° de peixes/m³ 1 1 a 30g 4 a 5 mm 750 a 1.250 2 30 a 200g 15 a 20 mm 300 a 400 3 200 a 1.000g 20 a 25 mm 150 a 250 * Número de peixes maior em condições ambientais mais favoráveis.
Quadro 2 – Cultivo de tilápia em tanque-rede em quatro etapas.
Etapas de cultivo Faixa de peso dos peixes Abertura da malha Estocagem* N° de peixes/m³ 1 1 a 10g 4 a 5 mm 750 a 1.250 2 10 a 50g 10 a 12 mm 500 a 700 3 50 a 200g 20 a 25 mm 300 a 400 4 200 a 1.000g 20 a 25 mm 150 a 250 * Número de peixes maior em condições ambientais mais favoráveis.
Vale destacar que os alevinos geralmente são comercializados com um
tamanho variando entre 2 a 4 cm, cujo peso varia entre 0,3 a 1g, e neste caso o
tempo de cultivo varia entre cinco a seis meses para despesca de peixes com peso
médio entre 600 a 800g. Recomendamos sempre adquirir alevinos maiores, pois
apesar de mais caros, geralmente apresentam melhor resultado de sobrevivência.
8.1. TRANSPORTE DE ALEVINOS E POVOAMENTO
Os alevinos geralmente são transportados de duas formas: em bolsas
plásticas (Foto16) ou em caixas de transporte específicas para este fim, conforme
demonstrado na Foto 17. Em ambos os casos recomenda-se que o transporte e
povoamento dos alevinos sejam realizados preferencialmente no início da manhã.
Dentre os cuidados na compra e recepção dos alevinos, destacamos a
necessidade de observar os seguintes aspectos:
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•
Uniformidade no tamanho dos alevinos;
•
Verificar aparência geral dos alevinos;
•
Embalagem (sacola) deve chegar estufada (cheia de oxigênio);
•
Alevinos devem se apresentar ativos dentro da sacola ou caixa de
transporte;
•
Checar se não existem alevinos de outras espécies misturadas;
•
Realizar a contagem de alevinos de pelo menos duas bolsas;
•
Realizar aclimatação na soltura dos peixes.
Foto 16 – Caixa para transporte de alevinos.
Foto 17 – Bolsa para transporte de alevinos.
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Para a aclimatação dos alevinos no momento da soltura recomendamos os
seguintes procedimentos:
•
Colocar as bolsas ainda fechadas dentro dos tanques-rede e deixá-las flutuar
durante 10 a 20 minutos, para que a temperatura da água da bolsa fique
próxima a do local de cultivo;
•
Abrir a bolsa e colocar pequenas porções de água do tanque-rede dentro da
bolsa de modo a igualar lentamente outras características das águas como o
pH (acidez da água) e a dureza. Realizar esta operação até completar o saco;
•
Após concluir a operação anterior mergulhar o saco aberto no interior do
tanque-rede para que os alevinos possam sair lentamente por si mesmos;
•
Após o povoamento, o tanque-rede deve ser coberto com uma rede ou tela
anti-pássaro (malha 10 mm) para proteger contra predadores como o bem-tevi, garça, socó, martim-pescador, e morcego, que podem causar perdas de
mais de 50% do lote povoado.
No caso do transporte em caixas (Transfish), a aclimatação deve ser
realizada na própria caixa esgotando 50 a 60% da água do transporte e
completando lentamente (15 a 20 minutos) com a água de onde os alevinos serão
povoados. A contagem deve ser realizada através do método volumétrico
empregando-se uma peneira como a da Foto 18. Para se estimar a quantidade de
alevinos da caixa de transporte e para facilitar a contagem para o povoamento
dos tanques-rede deve-se contar efetivamente a quantidade de alevinos que a
peneira comporta, valor este determinado através de uma média de 4 a 5
amostragens. A partir do número médio de alevinos que cabem na peneira, é
possível estimar a quantidade de alevinos transportada (N° médio de alevinos que
cabem na peneira X N° de peneiras), bem como determinar o número de medidas
(peneira) necessárias para o povoamento em cada tanque-rede.
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Foto 18 – Peneira para estimar a quantidade de alevinos.
Em regiões onde existe a oferta de juvenis já com peso médio de 30 a 50g,
desde que haja qualidade e preços justos, o produtor pode praticar seu cultivo em
apenas uma ou duas etapas, facilitando o manejo e aproveitando sua infraestrutura somente para a fase de engorda. Neste caso o tempo de cultivo pode
durar cerca de 3 a 4 meses, a depender do peso médio de despesca, o que
possibilita uma maior produtividade (kg/ha/ano).
8.2. ETAPA DE RECRIA
A primeira etapa do cultivo popularmente chamada de “recria” geralmente
é realizada em bolsões, ou seja, tanques-rede com abertura de malha menor (4 a 5
mm). Este bolsão geralmente é instalado dentro de uma gaiola ou tanque-rede de
engorda que protege o bolsão contra os predadores como piranhas, pirambebas,
traíras, etc. Os materiais geralmente empregados em bolsões são telas de
polietileno, multifilamento ou multifilamento revestido com PVC, cuja abertura da
malha recomendada é de 5 mm, conforme indicado no Quadros 1 e 2, podendo
esta ser maior ou menor, dependendo do tamanho dos alevinos/juvenis adquiridos.
A malha de 5 mm é recomendada para alevinos com tamanho superior a 2 cm ou
0,5 g.
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25
Nesta fase inicial, a densidade de estocagem recomendada é de 750 a
1.250 alevinos/m3 podendo permanecer nesta estrutura durante um período de 30 a
60 dias, quando os peixes já devem atingir tamanho suficiente para serem
transferidos para a etapa seguinte.
8.3. SELEÇÃO E TRANSFERÊNCIA DOS PEIXES PARA A ENGORDA
Após a fase de recria, geralmente encontramos certa desigualdade quanto
ao tamanho dos juvenis, sendo então recomendado que se faça uma classificação
por tamanho dividindo em pelo menos dois lotes (peixes maiores e menores), de
modo a se povoar lotes uniformes nos tanques-rede de engorda.
Para o processo de classificação devemos empregar equipamentos
apropriados para tal, de modo a facilitar o manejo podendo empregar para isto
equipamentos como grades, gaiolas e mesas classificadoras conforme mostram as
Fotos 19, 20 e 21.
Durante a transferência de peixes de um lugar para outro, é importante
avaliar as características da água (temperatura e pH) de origem e destino, pois
estas, caso haja diferença, devem ser homogeneizadas gradativamente antes da
transferência.
Foto 19 - Grade classificadora de peixes.
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26
Foto 20 - Gaiola classificadora de peixes.
Foto 21 - Mesa para classificação de peixes.
8.4. ETAPA DE ENGORDA
Na etapa de engorda a abertura da malha geralmente utilizada varia entre
20 e 25 mm. A densidade de estocagem recomendada é de 150 a 250 peixes/m3,
densidade esta em que os peixes permanecem até o tamanho de abate. Caso a
fase de engorda seja realizada em duas etapas, na primeira etapa podemos
trabalhar com uma densidade em torno de 300 a 400 peixes/m3 para peixes
iniciando com aproximadamente 30 a 50g e concluindo com cerca de 200g, para
posteriormente ser povoado na densidade final (150 a 250 peixes/m3). O tempo de
cultivo para esta(s) etapa(s) é da ordem de 100 a 120 dias, considerando despesca
de peixes com peso médio de 600 a 800 g.
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
27
9. ALIMENTAÇÃO
A tabela de alimentação (Tabela 1) indica a quantidade de ração
recomendada para cada 1.000 peixes, conforme a faixa de peso, o nível de
proteína, o tamanho dos grânulos (peletes) de ração e o número de refeições,
servindo como referência para a alimentação.
A quantidade de ração a ser fornecida deve ser ajustada semanalmente em
função do crescimento dos peixes, no entanto, o tratador deve acompanhar e
realizar os eventuais ajustes necessários, pois são muitos os fatores que podem
interferir no consumo de ração como as condições climáticas (dias nublados,
chuva, calor excessivo), qualidade da água (temperatura, nível de oxigênio
dissolvido, etc.) e patologias (doenças e parasitas).
A ração fornecida deve ser consumida num prazo máximo de 15 minutos.
Caso se presencie sobras de ração, é importante realizar os ajustes na quantidade a
ser fornecida para evitar desperdícios. Estas sobras acabam sujando os comedouros
e a tela, favorecendo a proliferação de organismos indesejáveis (protozoários,
fungos e bactérias entre outros), podendo provocar doenças. Outro aspecto
negativo do excesso de sobras de ração é o aumento no custo de produção.
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
28
Tabela 1 - Tabela referencial para alimentação de tilápia tailandesa cultivada em tanquerede. Quantidade de ração para 1.000 peixes.
Idade
semana (dias)
Peso
(grama)
Ração
recomendada
Taxa de
aliment.
(%PV)
(kg/dia)
1º dia
0,5
55% PB pó
25,0
0,125
0,875
6x
---
1 (7 dias)
1,8
55% PB pó
13,4
0,241
1,690
6x
0,19
2 (14 dias)
4
55% PB pó
10,2
0,409
2,860
6x
0,31
3 (21 dias)
8
40 % PB - 1 a 2mm
9,3
0,743
5,200
6x
0,57
4 (28 dias)
14
40 % PB - 1 a 2mm
8,6
1,200
8,400
6x
0,86
5 (35 dias)
23
40 % PB - 1 a 2mm
8,4
1,929
13,500
6x
1,29
6 (42 dias)
36
40 % PB - 2 a 4 mm
7,7
2,786
19,500
4x
1,86
7 (49 dias)
53
40 % PB - 2 a 4 mm
6,9
3,643
25,500
4x
2,43
8 (56 dias)
74
40 % PB - 2 a 4 mm
6,1
4,500
31,500
4x
3,00
9 (63 dias)
98
40 % PB - 2 a 4 mm
5,6
5,486
38,400
4x
3,43
10 (70 dias)
125
36 % PB - 4 a 6 mm
4,9
6,171
43,200
4x
3,86
11 (77 dias)
154
36 % PB - 4 a 6 mm
4,3
6,629
46,400
4x
4,14
12 (84 dias)
185
36 % PB - 4 a 6 mm
3,8
7,086
49,600
4x
4,43
13 (91 dias)
218
36 % PB - 4 a 6 mm
3,6
7,779
54,450
4x
4,71
14 (98 dias)
253
36 % PB - 4 a 6 mm
3,3
8,250
57,750
4x
5,00
15 (105 dias)
289
32 % PB - 6 a 8 mm
2,9
8,486
59,400
4x
5,14
16 (112 dias)
326
32 % PB - 6 a 8 mm
2,7
8,721
61,050
3x
5,29
17 (119 dias)
365
32 % PB - 6 a 8 mm
2,5
9,193
64,350
3x
5,57
18 (126 dias)
406
32 % PB - 6 a 8 mm
2,4
9,664
67,650
3x
5,86
19 (133 dias)
449
32 % PB - 6 a 8 mm
2,3
10,136
70,950
3x
6,14
20 (140 dias)
494
32 % PB - 6 a 8 mm
2,1
10,607
74,250
3x
6,43
21 (147 dias)
541
32 % PB - 6 a 8 mm
2,0
11,079
77,550
3x
6,71
22 (154 dias)
590
32 % PB - 6 a 8 mm
2,0
11,550
80,850
3x
7,00
23 (161 dias)
642
32 % PB - 6 a 8 mm
2,0
12,629
88,400
3x
7,43
24 (168 dias)
697
32 % PB - 6 a 8 mm
1,9
13,357
93,500
3x
7,86
25 (175 dias)
753
32 % PB - 6 a 8 mm
1,9
14,400
100,800
2x
8,00
26 (182 dias)
809
32 % PB - 6 a 8 mm
1,8
14,400
100,800
2x
8,00
27 (189 dias)
864
32 % PB - 6 a 8 mm
1,7
14,929
104,500
2x
7,86
28 (196 dias)
918
32 % PB - 6 a 8 mm
1,6
14,657
102,600
2x
7,71
29 (203 dias)
970
32 % PB - 6 a 8 mm
1,5
14,114
98,800
2x
7,43
30 (210 dias)
1.020
32 % PB - 6 a 8 mm
1,3
13,571
95,000
2x
7,14
Faixa de
temperatura
Consumo
(%)
18 a 22°C
50%
23 a 25°C
75%
26 a 30°C
100%
31 a 32°C
75%
Consumo de Ração
Freqüência
(kg/semana) (tratos/dia)
Ganho
diário
(g/dia)
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
29
Quanto ao tamanho dos grânulos de ração, este varia durante o cultivo em
função do tamanho dos peixes, sendo recomendável obedecer às seguintes
proporções indicadas na Foto 22 para um melhor aproveitamento do alimento
pelos peixes.
Durante a fase inicial de cultivo, a ração fornecida aos alevinos é na forma
farelada (pó fino), sendo necessário o uso de comedouros de lona plástica ou
material similar, de modo a evitar que a ração que flutua saia pela, malha do
tanque-rede (Foto 23). Outra opção é comprar um bolsão que já apresente o
comedouro anexo conforme mostra a Foto 24.
Foto 22 – Tamanho de peletes em função do peso do peixe.
Para minimizar a competição pelo alimento, a dimensão deste comedouro
deve ter no mínimo 50% da área superficial do bolsão de modo a proporcionar
condição de alimentação adequada para todos os peixes, ou seja, em um bolsão
de 2 x 2m (4m2), o comedouro deve ter no mínimo 1,4 x 1,4m (2 m2) tendo este uma
profundidade de 20 a 30 cm, permanecendo 10 cm fora da água. A ração
farelada lançada dentro deste comedouro minimizará desperdícios de ração
principalmente nas condições de muito vento e correntes.
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
30
Foto 23 – Comedouro circular para alevinos.
Foto 24 – Comedouro anexo ao bolsão para alevinos.
A partir da segunda etapa de cultivo os comedouros podem ser de tela e
devem ter uma abertura de malha de 1 a 2 mm para conter rações a partir deste
tamanho e uma altura de 40 a 60 cm, sendo que 10 a 15 cm ficam fora da água.
Quanto maior o peixe, maior deve ser a profundidade do comedouro para evitar
perdas de ração que podem sair por baixo deste comedouro devido ao
comportamento enérgico dos peixes no momento da alimentação. Os comedouros
podem ser fixos na tela ou tampa do tanque-rede ou dispostos internamente
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
31
afastados da lateral (Foto 25), podendo apresentar um formato quadrado,
retangular ou circular.
Foto 25 - Comedouro para tanque-rede.
10. ACOMPANHAMENTO DO CULTIVO
Durante todo o cultivo é importante realizar amostragens periódicas (a cada
2 semanas) dos peixes. Esta prática é conhecida como biometria onde se realiza
uma amostragem da população dos peixes para avaliar a condição geral dos
mesmos, realizar a pesagem (Foto 26) para verificar o crescimento e o
aproveitamento da alimentação fornecida.
Durante a biometria também é importante observar alguns aspectos como: a
presença de muco, coloração dos peixes, aparência dos olhos, nadadeiras e
brânquias, presença de ferimentos e/ou parasitas, etc. Todas as características fora
do padrão normal devem ser anotadas e informadas a um técnico para que este
possa recomendar exames complementares ou as providências necessárias.
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
32
Foto 26 – Pesagem de uma amostra de peixes.
A pesagem obtida na biometria permite realizar o ajuste na quantidade de
ração a ser fornecido conforme a tabela de alimentação citada anteriormente.
Sugerimos o uso de uma planilha de biometria (Anexo), para anotar as informações
de campo para um maior controle do cultivo. Para a captura desta amostra de
peixes pode-se utilizar um puçá (passaguá). No caso de peixes com peso médio
abaixo de 100g deve-se pesar em torno de 50 a 100 peixes e no caso de peixes
maiores, em torno de 20 a 30 peixes, buscando sempre capturar aleatoriamente, ou
seja, sem escolher os peixes a serem pesados.
Os peixes devem ser colocados em um recipiente (balde ou similar) a seco
ou com água, pesados e contados. O peso total de peixes (descontando-se o peso
do recipiente e da água, se houver) deve ser dividido pelo total de peixes pesados,
obtendo assim o peso médio do lote amostrado.
Dentre os controles necessários destacamos o consumo diário de ração e o
monitoramento da qualidade da água onde são avaliados os parâmetros da água
como: temperatura, transparência e oxigênio dissolvido. Periodicamente é
recomendável avaliar os níveis de pH, alcalinidade, dureza total e amônia.
Anexos seguem alguns modelos de planilhas para o monitoramento e
controle da produção.
Para a obtenção de um desempenho satisfatório e
minimizar perdas é importante que o produtor seja devidamente orientado por um
profissional competente.
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
33
11. DESPESCA FINAL
Antes de capturar os peixes, estes devem permanecer em jejum por pelo
menos 24 horas para eliminar o conteúdo do trato digestivo, o ideal seriam 48 horas.
Para auxiliar na despesca devemos contar com uma estrutura que permita
suspender parcialmente um dos lados do tanque-rede o que facilita a captura dos
peixes (Foto 27), além de puçás, baldes, balança, etc.
Figura 27 – Tanque-rede suspenso para a despesca.
Durante a despesca, seja ela parcial ou total, deve-se realizar a
contabilidade, ou seja, a anotação das pesagens, a contagem do número de
peixes, e o(s) preço(s) praticado(s) para que se possa calcular o resultado do
cultivo. Quando for difícil realizar uma contagem total, esta pode ser estimada por
amostragem dividindo o peso total despescado pelo peso médio de pelo menos
três amostragens pesadas e contadas durante toda a despesca (início, meio e fim).
12. APURAÇÃO DOS RESULTADOS
Após a despesca total de um lote cultivado, o piscicultor deve apurar os resultados
técnicos e econômicos. Para isso ele precisará recorrer a suas anotações e realizar
os seguintes cálculos:
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
34
12.1. Resultados Técnicos
a.) Taxa de sobrevivência = (N° total de peixes despescados / N° de alevinos
povoados) x 100
Exemplo:
N° total de peixes despescados = 6.570
N° de alevinos povoados = 10.000
Taxa de sobrevivência = (6.570/ 10.000) x 100 = 66%
b.) Peso médio = Produção total da despesca / N° total de peixes despescados
Exemplo:
Produção total da despesca = 4.600 kg
N° total de peixes despescados = 6.570
Peso médio = (4.600 / 6.570) = 0,700 kg (700 g)
c.) Fator de conversão alimentar (FCA) = Consumo de ração (kg) / Ganho de
peso no viveiro (kg)
Exemplo:
Consumo total de ração = 7.000 kg de ração
Ganho de peso total = Produção total da despesca - Peso inicial
(kg de alevinos) = 4.600 - (10.000 alevinos x 1g) = 4.590
Fator de conversão alimentar = 7.000 / 4.590 = 1,53
Obs.: Este valor de FCA indica que para cada 1 kg de peixe produzido neste
exemplo foi gasto 1,53 kg de ração.
Temos verificado que em condições adequadas de cultivo na região o FCA pode
variar entre 1,4 a 1,6, ou seja, para cada 1.000 kg de tilápias produzidas tem-se um
consumo de 1.400 a 1.600 kg de ração. No caso de despesca de peixes maiores
(acima de 700g) a tendência é que o valor do FCA seja maior, pois a medida que
os peixes crescem há uma perda na eficiência de aproveitamento do alimento.
d.) Ganho médio de peso diário = Ganho médio de peso / Dias de cultivo
Exemplo:
Ganho médio de peso = Peso médio final - Peso médio inicial
(alevino) = 700 g - 1 g = 699 g
Dias de cultivo = 165 dias (5,5 meses)
Ganho médio de peso diário = 699 / 165 = 4,24 g/dia
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
35
Obs.: Este valor indica que durante os 165 dias de cultivo, cada peixe ganhou
em média 4,24 gramas por dia, o que estaria dentro da faixa ideal para a
região (4,0 a 5,0 g/dia).
e.) Produtividade = Produção total por tanque-rede (kg) / Volume útil do
tanque-rede (m³)
Exemplo:
Produção total do tanque-rede = 460 kg
Volume útil do tanque-rede = 4 m³
Produtividade = 460 kg / 4 m³ = 115 kg/m³
= 115 kg/m³/ciclo ou 460 kg/tanque-rede/ciclo
Obs.: Este valor indica que em um ciclo de cultivo, a produção obtida para
cada m³ foi de 115 kg, valor este dentro da faixa esperada para a região
(100 a 150 kg/m³/ciclo).
12.2. Resultados Econômicos
a.) Custo de produção = Total de custos (R$) / Produção total (kg)
Exemplo: Total de custos = R$ 9.000,00 (rações) + R$ 650,00 (alevinos) +
R$ 2.500,00 (mão de obra) + R$ 300,00 (diaristas)= R$ 12.450,00
Produção total = 4.600 kg (10 tanques-rede)
Custo de produção = 12.450 / 4.600 = R$ 2,71 / kg
b.) Receita líquida = Margem de lucro (R$/kg) x Produção total (kg)
Exemplo: Margem de lucro = Preço de venda – Custo de produção =
R$ 4,00 – R$ 2,71 = R$ 1,29 / kg
Produção total = 4.600 kg
Receita líquida = 1,29 x 4.600= R$ 5.934,00
= R$ 5.934,00 / 10 tanques-rede / ciclo
Cabe destacar que estes são apenas alguns dos parâmetros técnicos e
econômicos que o produtor pode determinar para avaliação de seu cultivo. Estas
avaliações são fundamentais para que o produtor conheça a realidade de cada
lote de seu cultivo, podendo assim auxiliá-lo na tomada de decisões quanto a
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
36
procedimentos do cultivo, necessidade de mudança de insumos, ampliação do
projeto entre outros.
13. BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS
BOYD, C. E. Water and bottom soil quality management in freshwater aquaculture
ponds. In: Aqüicultura Brasil, 1, Recife, 1998. Anais... p. 303 – 311.
CYRINO, J. E. P.; URBINATI, E. C.; FRACALOSSI, D. M.; CASTAGNOLLI, N. Tópicos
Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva. São Paulo. Sociedade
Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática, 2004, 533 p.
MAINARDES-PINTO, C. S. R.; PAIVA, P.; TALMELLI, E. F. A.; VERANI, J. R.; SILVA, A. L.
Viability of thailand tilapia culture - Oreochromis niloticus – raised in small net-cages
placed in populated ponds. In: WORLD AQUACULTURE, 1, Salvador, 2003. Book
Abstract. p. 442.
PEZZATO, L. E. Qualidade dos ingredientes, processamento e eficiência alimentar em
aqüicultura. In: Simpósio Brasileiro de Aqüicultura, 12, Goiânia. Anais... Goiânia:
ABRAq, 2002. p. 62 – 75.
TSADIK, G. G. and KUTTY, M. N. Influence of ambient oxygen on feeding and growth
of the tilapia, Oreochromis niloticus (Linnaeus). Nigeria, 1987.16p. Establishment of an
African Regional Aquaculture Centre. United Nations Development Programme Food
and Agriculture Organization of United Nations Nigerian Institute for Oceanography
and Marine Research Project RAF/82/009.
VINATEA, L. A. Princípios químicos de qualidade da água em aqüicultura.
Florianópolis: Editora da UFSC, 1997, 166p.
14. ANEXOS
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
37
CONTROLE DIÁRIO DE ALIMENTAÇÃO E MORTALIDADE
Lote N°:
Gaiolas N°:
Data
Quantidade de
ração por
refeição (kg)
N° de
refeições/
dia
Tipo de ração
(%PB e mm)
Fabricante
N° de peixes
mortos
MANUAL DO PISCICULTOR – PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE
38
MONITORAMENTO - QUALIDADE DA ÁGUA
Produtor:_________________________
Município:__________________________
Mês / ano:________________________
Data
Temperatura (ºC)
manhã
tarde
Informações adicionais:
Salinidade Transparência
(‰)
(cm)
Oxigênio
(mg/L)
pH
Observações
(condições do tempo)
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PLANILHA DE BIOMETRIA
N° da gaiola
N° de peixes inicial
Preço juvenis (R$/mil)
Peso médio inicial (g)
Amostragem
Povoamento
Biometria 1
Biometria 2
Biometria 3
Biometria 4
Biometria 5
Biometria 6
Biometria 7
Biometria 8
Biometria 9
Biometria 10
Biometria 11
Biometria 12
Biometria 13
Biometria 14
Biometria 15
TOTAL
Data
Peso médio
(g)
Consumo de
ração no
período (kg)
Mortalidade
no período
Observação

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