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PROJECTO
PASSEIOS PRESIDENCIAIS
Recuperação e restauro dos veículos
afectos ao Comboio Presidencial
Relatório técnico de conservação e restauro
Fundação Museu Nacional Ferroviário
ARMANDO GINESTAL MACHADO
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Descrevem-se as principais acções de conservação e restauro dos veículos afectos ao
Comboio Presidencial, realizadas entre Outubro de 2010 e Junho de 2013, num projecto
co-financiado pelo Programa MaisCentro e pelo Turismo de Portugal.
NOTA INTRODUTÓRIA
O
projecto “Passeios Presidenciais” resulta de uma candidatura bemsucedida ao QREN - Programa MaisCentro, no âmbito do 8.º Aviso
do Concurso do Regulamento Específico Política de Cidades – Redes
Urbanas para a Competitividade e Inovação, e ao PIT - Programa de
Intervenção no Turismo, do Turismo de Portugal.
Trata-se do primeiro grande projecto de restauro integral de veículos ferroviários
efectuado pela Fundação Museu Nacional Ferroviário e a sua concretização só foi
possível com a obtenção de co-financiamento e com o empenho e dedicação de todos
os elementos que directa e indirectamente nele participaram.
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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EQUIPA DE PROJECTO
Preparação de candidatura: Maria José Teixeira (FMNF)
Gestão de projecto: Maria José Teixeira (FMNF)
Gestão financeira e administrativa: Maria José Filipe (FMNF)
Coordenação do restauro: Carlos Machado (EMEF)
Coordenação do restauro do património integrado: Judite Roque (FMNF),
Ana Teresa Silveira Viana (FMNF) integra a equipa em 18 de Fevereiro de 2013,
tendo tratado da última fase do projecto.
Investigação: Jorge Custódio (FMNF) c/ colaboração: Judite Roque (FMNF), Ricardo Cardoso (FMNF),
Ana Torrejais (FMNF), Carla Serapicos Silvério (FMNF), Carlos Machado (EMEF).
RELATÓRIO
Autor: Judite Gonçalves Roque c/ colaboração: Maria José Teixeira, Ana Teresa Silveira Viana, Carlos
Machado, Mário Eugénio e Carla Serapicos Silvério
Revisão de textos: Carla Serapicos Silvério
Intervenientes directos na intervenção de conservação e Restauro do Comboio Presidencial:
FMNF – Judite Roque e Ana Teresa Silveira Viana
EMEF Contumil – Coordenação de Carlos Machado
Subcontratação FMNF:
–Lucerna - [email protected] – vidros, apliques e saboneteiras
– Mário Alegrete - [email protected] – Loiças sanitárias
–Alcova Mobiliário - [email protected] – Móveis e ferragens
– Gierlings Velpor S.A - [email protected] – Fornecedor do veludo para os sofás dos salões Sy3 e Sy4
–Ana Pinto – [email protected] – Filme documental do restauro do Comboio Presidencial
– Maria Aurora Marques de Sá – Redeira que fez à mão as redes bagageiras
Subcontratação EMEF:
–Consorcio entre Inovar – Criações, lda e Araújo e Trigo Lda – Construção da carruagem Ayf 704
–Somaia – Transformação de madeiras, S.A. – Construção da carruagem e alguns móveis do salão Sy3
–Tricana, S.A. – Alcatifa
– Monte Meão – Veludos e estofos
– Fundição – Fesico, lda.
SITE:
www.fmnf.pt/
FACEBOOK:
www.facebook.com/Fundacao.Museu.Nacional.Ferroviario
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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Indice
Introdução5
1.O Projecto
“Passeios Presidenciais – Conservação e Restauro do Comboio Presidencial”
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2. Identificação
6
3. Breve descrição
7
4. Dados históricos do Comboio Presidencial
8
5. Levantamento do estado de Conservação
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6. Intervenções anteriores
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7. Tratamento realizado - 2010/2013
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7.1 Intervenção de restauro das redes bagageiras
dos veículos do Comboio Presidencial 31
8. Ensaios com vista à homologação dos veículos
34
Conclusão35
Anexo 36
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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Introdução
Este relatório pretende dar conta da intervenção de Conservação e Restauro,
levada a cabo entre os meses de Outubro de 2010 e Junho de 2013, no Comboio
Presidencial Português.
Estes trabalhos decorreram, de um modo geral, nas oficinas da EMEF, Parque
Oficinal Norte (Contumil), e foi realizado por pessoal da EMEF ou subcontratado.
Os trabalhos de pintura foram executados, na sua maioria, na oficina de Guifões.
Alguns componentes (alguns móveis, candeeiros etc.) foram restaurados ou limpos
na oficina de Conservação e Restauro do Museu Nacional Ferroviário (MNF), e
outros foram reproduzidos por pessoal especializado, subcontratado pelo MNF.
Foi um trabalho extremamente interessante mas bastante complexo, desde a
montagem do projecto e aprovação de candidaturas para obtenção de financiamento,
passando pela junção dos seis veículos, a investigação, a execução efectiva dos
trabalhos e, por fim, os ensaios com vista à homologação da composição.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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1. O Projecto
“Passeios Presidenciais – Conservação e Restauro
do Comboio Presidencial”
A preparação deste projecto teve início em 2009, sob responsabilidade da Fundação Museu Nacional Ferroviário. Foram apresentadas duas candidaturas, ao PIT (programa de Intervenção do Turismo de
Portugal) e ao QREN (ProgramaMaisCentro/Redes para a Competitividade e Inovação), tendo ambas sido
aprovadas e os contratos de financiamento assinados em 2010 e 2011, respectivamente.
O objectivo deste projecto foi o restauro integral dos seis veículos que compõem o Comboio Presidencial, do ponto de visto estrutural, mecânico, eléctrico, técnico e patrimonial, com vista à circulação nas
linhas da rede ferroviária nacional e à realização de vários passeios turístico-culturais a várias regiões do
país, em cooperação com outras entidades parceiras da FMNF, e claro, também para ser exposto e fruído no
Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.
2. Identificação
Designação: Comboio Presidencial Português
Categoria: Material Circulante
Número de Inventário: FMNF/ENT/000001 1
Composição:
Veículo
Designação
Ano de construção
Construtor
SRyf 2
Syf 3
Salão Restaurante
Salão da Comitiva e Segurança
1890
1890
Désouches David & Cie, França
Désouches David & Cie, França
Syf 4
Salão dos Ministros
1890
Désouches David & Cie, França
Syf 5
Salão do Chefe de Estado
1930
Linke-Hofmann Busch, Brauschweig, Alemanha
A7yf 704
Dyf 408
Carruagem dos Jornalistas
Furgão
1930
1930
Nicaise&Delcuve, Bruges, Bélgica
Baume &Marpent, Hainaut, Bélgica
Proveniência (imediatamente antes do restauro em Contumil - 2010):
SRyf 2
Syf 3
Extinto núcleo museológico de Estremoz
Armazém das Madeiras – Entroncamento
Syf 4
EMEF (POE)
Syf 5
Museu Nacional Ferroviário
A 704
Dyf 408
Armazém das Madeiras – Entroncamento
Armazém das Madeiras Entroncamento
7yf
Dimensões2:
Veículo
Dimensão
Tara
SRyf2
18540 x 3260 x 3985
34T
Carga
1T
Syf3
18540 x 3260 x 3985
36T
1T
Syf4
18540 x 3260 x 3985
35,8T
1T
Syf5
21720 x 3260 x 3993
52T
1T
A7yf 704
20200 x 3200 x 3990
37T
4T
Dyf408
14010 x 3880 x 2863
28T
10T
Materiais: Ferro, aço, madeira, vidro, bronze dourado, cobre, pedra; têxteis; acrílico, etc.
Este número de inventário refere-se apenas ao Salão Presidencial Sy5
Comprimento x Largura x Altura (em milímetros)
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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3. Breve descrição
O Comboio Presidencial Português é composto por seis veículos: Salão Restaurante (SRyf2), Salão da
Comitiva e Segurança (Syf3), Salão dos Ministros (Syf4), Salão do Chefe de Estado (Syf5), Carruagem dos
Jornalistas (A7yf704) e Furgão (Dyf408).
O Salão Restaurante (SRyf2) é uma carruagem dividida interiormente em diversos compartimentos: de um
lado a cozinha apetrechada com fogão, balcões, armários, lava-louça, equipamentos de restauração (tachos,
panelas, bilhas etc.); ao lado da cozinha um corredor com um móvel de apoio a que se segue o salão com 8
mesas verdes fixas (mas amovíveis) à estrutura da carruagem; no compartimento seguinte (muito pequeno)
tem mais 2 mesas. Estes dois compartimentos têm um total de 44 cadeiras estofadas a veludo verde e diversos candeeiros de mesa e de parede. Tem também uma mesa de apoio e mais duas pequenas mesas de apoio
dobráveis. No seguimento, existe um compartimento com armários de prateleiras e, ao lado, a casa de banho.
A cor dos tectos, paredes e móveis é o bege, e as paredes são forradas de madeira envernizada (possivelmente mogno), no salão tem dois espelhos e uma ventoinha em cada topo. O chão é todo forrado a alcatifa
verde e bege (motivos geométricos), excepto a casa de banho (tem no chão uma grelha de metal) e cozinha
(o chão é escuro mas tem uma grelha de madeira).
O Salão da Comitiva e Segurança (Syf3) é dividido interiormente em salão, 4 compartimentos e casa de
banho. O salão e compartimentos têm paredes em folha de madeira (mogno) envernizada e tectos pintados
em cor bege. Tem uma mesa3, dois sofás e 8 cadeirões em veludo verde reproduzido à semelhança dos modelos encontrados. Este salão tem ainda um móvel escrivaninha, um móvel louceiro de apoio, com suporte
para rádio/TV. Cada um dos compartimentos tem um sofá/cama estofado em veludo listado vermelho e
bege e um móvel sanitário (lavatório reproduzido conforme modelos existentes). Ao lado destes compartimentos existe um corredor que dá acesso ao salão e, de um lado, mais um pequeno móvel de apoio.
O chão do salão e compartimentos é em alcatifa verde e bege e a casa de banho em mosaico verde com
uma lista amarela.
O Salão dos Ministros (Syf4) é “gémeo” do anterior, apenas diferindo nalgum mobiliário de apoio. Os
compartimentos têm beliches, ao contrário do anterior, o salão não tem mesa, tem 12 cadeirões em veludo
verde, um móvel escrivaninha, um móvel louceiro maior e, no outro topo, um móvel louceiro mais pequeno. Tem também um pequeno móvel de apoio no início (ou fim) do corredor, tal como o Sy3.
O Salão do Chefe de Estado (Syf5) foi adquirido em 1930 para transportar o Chefe de Estado, à semelhança do qual os dois anteriormente referidos foram transformados uma década depois.
Este salão é dividido em salão de refeição/convívio, 4 compartimentos (um deles com casa de banho de
apoio), cozinha e casa de banho.
O salão é especialmente isolado contra variações de temperatura, tem uma divisão em metal e vidro que,
quando isolada com cortinas, ficava independente do salão. Quando era necessário estender a enorme mesa,
era aberta esta divisão e o salão automaticamente se alongava. As paredes do salão são de madeira de cedro, a
mobília em pau-rosa e as cadeiras estofadas a pele verde marinho. Neste momento, o salão tem seis cadeirões
e a antecâmara de entrada tem um, todos da mesma tipologia. Teria uma mesa extensível (da qual não se sabe
o paradeiro) e uma secretária que se fecha para reduzir o espaço. A iluminação é feita através de apliques laterais, ligados entre si, em vidro opalino e mais 4 apliques em meia-lua, também em vidro opalino. O primeiro
compartimento a seguir ao salão é o mais luxuoso, tendo uma cama, uma pequena mesa e casa de banho
privativa. Os outros três compartimentos são semelhantes mas, em vez de casa de banho, têm apenas um
móvel sanitário. A cozinha é bastante completa, com todos os equipamentos necessários (fogão, lava-loiças,
armários, etc.). Tem ainda um corredor ao lado dos compartimentos e, por fim, uma casa de banho.
Tanto o tecto como o chão são semelhantes aos salões anteriormente descritos, bem como o tecido das camas.
A Carruagem dos Jornalistas (A7yf704) é uma carruagem de 1ª classe, adaptada para este fim, simples,
com uma casa de banho em cada topo, 7 compartimentos e um corredor. Os compartimentos têm os bancos
estofados triplos, um de cada lado, e portas de correr. O corredor tem também alguns bancos de madeira rebatíveis. As paredes e tectos são pintados de cor verde-clara e o chão é semelhante às carruagens anteriores.
O Furgão (Dyf408) servia para transportar as bagagens. É todo em madeira no interior, tem portas laterais deslizantes, uma divisória a meio e, em cada um dos lados, uma série de prateleiras e armários fixos.
Tem uma casa de banho e está todo pintado de bege.
Exteriormente, todos os veículos têm as mesmas cores: azul com tejadilho e leito em prateado e três
listas vermelhas. Todos têm igualmente canalização e luz eléctrica.
A mesa deste salão esteve por motivos desconhecidos (provavelmente para substituir a desaparecida mesa do Sy5 e dado que este salão
estava em muito melhores condições que o Sy3), até 2010, no salão do Chefe de Estado (Sy5), mas regressa agora ao salão de origem.
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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4. Dados históricos do Comboio Presidencial
A investigação sobre o Comboio Presidencial, do ponto de vista histórico, ainda decorre e muito mais
haveria para referir, no entanto, e dado o carácter deste documento, faremos aqui apenas um resumo.
Data da segunda metade do século XIX a criação de um tipo de carruagens designadas por “trens reais”,
composições especiais preparadas e destinadas para o uso dos reis e imperadores no exercício das suas
funções de Estado.
Em 1898, o trem real português era constituído por três Salões: o Salão Real, o Salão dos Ministros e
o Salão Restaurante, construídos em 1890 pela empresa Désouches David. Dispunha ainda de um Furgão
para colocar as bagagens e era rebocado por uma locomotiva a vapor.
Com a implantação da República Portuguesa, em 1910, é reformulada a designação da composição
destinada ao Chefe de Estado que, frequentemente, passa a utilizar o Comboio Presidencial nas suas deslocações, dada a crescente importância dos caminhos-de-ferro no sector dos transportes.
Entre 1910 e 1930, o Comboio Presidencial não deverá ter sofrido grandes alterações, mantendo os três
Salões herdados da composição anterior. Mas, em 1930, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses
adquire um novo veículo para o Comboio Presidencial, encomendado à empresa Linke-Hoffmann Busch,
para servir de Salão do Chefe de Estado. Dez anos mais tarde, em 1940, e por ocasião das Comemorações
Centenárias da Fundação de Portugal, o Comboio Presidencial é remodelado e os três antigos salões Désouches David são transformados, interna e externamente, para o formato do salão Linke-Hoffmann Busch,
a fim de se constituir uma composição mais uniforme. Talvez na mesma época ser-lhe-ia incorporado um
Furgão, destinado ao transporte de bagagens, e uma Carruagem de 1ª Classe, adaptada às funções públicas
superiormente exigidas, a qual viria a ser designada por Carruagem dos Jornalistas. Destinava-se à comitiva
convidada para acompanhar o Chefe de Estado e os Ministros nas suas deslocações, porventura constituída
por repórteres e jornalistas dos principais periódicos nacionais e estrangeiros. Pertencia a uma série de três
carruagens, todas elas semelhantes, construídas em 1930 pela empresa Nicaise & Delcuve.
Este comboio renovado manteve-se em actividade entre 1940 e 1970, tendo servido vários Presidentes
da República. Ainda que a grande maioria das viagens se fizesse entre Lisboa e o Porto, apenas com uma
breve paragem em Coimbra, esta composição especial era utilizada pela Casa Civil sempre que se tornava
necessário presidir a sessões comemorativas ou a actos inaugurais longe da Capital. O Comboio Presidencial serviria igualmente os interesses do Ministério dos Negócios Estrangeiros, acolhendo as comitivas
governamentais dos Chefes de Estado de outros países, durante as suas viagens a Portugal.
Quando o Comboio Presidencial deixou de servir o Chefe de Estado, a composição foi desagregada e as
carruagens guardadas em armazéns. Alguns dos veículos do comboio, tais como o salão do Chefe de Estado, o Salão da Comitiva e Segurança e o dos Ministros, terão igualmente servido, a partir dos finais dos anos
70, o Comboio Sazonal efectuado entre Lisboa e o Algarve, dada a necessidade de camas nesta composição.
Antes do reagrupamento dos 6 veículos para o restauro em Contumil, até finais de 2010, estes encontravam-se em locais diversos, para onde foram levados na sequência da actividade museológica de Armado
Ginestal Machado: O Sy2 encontrava-se resguardado no antigo núcleo museológico de Estremoz; o Sy3 estava no complexo ferroviário do Entroncamento, no chamado Armazém das Madeiras; o Sy4 esteve durante
mais de 20 anos, até aos primeiros meses de 2011, afecto ao Comboio Socorro do Entroncamento (EMEF);
o Sy5, depois de muitos anos no núcleo museológico de Santarém, foi trazido para o Entroncamento, onde
se encontrava em exposição na Rotunda das Locomotivas; a A7yf 704 estava também no Armazém das Madeiras, bem como o Furgão Dyf408 (os veículos parqueados neste Armazém eram os que se encontravam
em piores condições).
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5. Levantamento do estado de Conservação
Salão restaurante (SRyf2)
Este era um dos salões que se encontrava em melhor estado de conservação, pois foi resguardado em
tempo útil em local com boas condições.
Além de alguma sujidade, de alguns danos, tais como riscos e destacamento na pintura entre outros,
oxidação dos metais, quer nas mesas, cadeiras e paredes, não há danos graves a referir. A carruagem encontrava-se praticamente completa no que respeita a mobiliário.
Aspecto da casa de banho
Tecto casa de banho
Pormenores da cozinha
Pormenor pequeno compartimento com mesa
Aspecto exterior da carruagem
Vista geral da cozinha
Vista geral do salão
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Salão da Comitiva e Segurança (Syf3)
Este salão, por ter estado anos a fio sem resguardo das intempéries e sujeito a todo o tipo de vandalismo,
encontrava-se num estado de quase total destruição. As paredes, tectos e chão de madeira estavam apodrecidos e, em parte, soltos, os poucos móveis existentes extremamente danificados, os estofos destruídos,
enfim, toda a carroçaria e recheio sem aproveitamento possível.
Corredor após remoção do “entulho”
Aspecto exterior do veículo
Interior do salão
Interior do salão após remoção do “entulho”
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O Salão dos Ministros (Syf4)
Este salão, como já foi referido, esteve ao serviço da EMEF no Entroncamento, durante mais de duas
décadas, até se juntar aos outros veículos, em Contumil em 2011. Para servir as funções, foi desvirtuado
da sua imagem original, quer no interior quer no exterior. Não estava de modo nenhum em tão mau estado
como o seu gémeo Sy3, mas acabou por verificar-se, já em Contumil durante o restauro, que a sua estrutura, camuflada pela chapa exterior, escondia um estado preocupante, pois uma boa parte da madeira que a
constituía encontrava-se num estado de grande fragilidade. Em termos de mobiliário, faltava quase tudo o
que o identificava como veículo do Comboio Presidencial e tinha outras tantas coisas a mais (por exemplo
uma “cozinha” adaptada e uns cacifos, num dos compartimentos).
Imagem de um lado do salão na mesma situação
Imagem de um dos compartimentos quando ainda estava ao serviço da EMEF
Exterior do veículo quando ao serviço no Comboio Socorro
Imagem do outro lado do salão
Imagem do corredor
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O Salão do Chefe de Estado (Syf5)
Este salão, tal como o salão restaurante, também se encontrava em bom estado de conservação, pois
foi igualmente resguardado em tempo útil, neste caso na cocheira da estação de Santarém. Ainda assim,
chegou-se à conclusão que faltavam algumas peças de mobiliário, tais como 6 cadeiras e a mesa, e também
que tinha algumas peças de mobiliário (cadeiras) que lhe tinham sido adicionadas, sem pertencerem ao
recheio original.
Como o salão estava em exposição na Rotunda de Locomotivas do MNF, também não apresentava
sujidade excessiva, apenas alguma sujidade não concrecionada, oxidação, problemas de pintura (interior e
exterior etc.).
Aspecto do salão ainda em exposição no MNF
Imagem exterior do veículo
Compartimento - pormenor
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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A Carruagem dos Jornalistas (A7yf704)
A Carruagem dos Jornalistas era o veículo que se encontrava em pior estado de conservação. Estava no
Armazém das Madeiras, completamente destruído, apodrecido e vandalizado, como as imagens ilustram.
Interior de dois dos sete compartimentos
Uma das casas de banho
O exterior da carruagem
O corredor
Pormenor de um topo
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O Furgão (Dyf408)
O furgão, tal como os outros dois veículos que estavam no mesmo local, encontrava-se também num
estado de conservação que deixava muito a desejar quer no interior, quer no exterior, pois toda a estrutura
estava muito frágil.
Três imagens do interior do furgão
Exterior do furgão
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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6. Intervenções anteriores
As intervenções conhecidas nestes veículos começam em 1940/41 nas oficinas do Barreiro, quando
os três salões Désouches David, de 1890, foram transformados interna e externamente à imagem do salão
do Chefe de Estado, adquirido 10 anos antes à Linke-Hoffmamm Busch.
Pode ser também considerada intervenção, por esta altura (uma vez que se refere, não a uma unidade,
mas a toda a composição do Comboio Presidencial), a incorporação da Carruagem dos Jornalistas e do
Furgão para as bagagens.
Em 1957, os veículos afectos ao Comboio Presidencial foram novamente melhorados. Os trabalhos
ocorreram nas Oficinas Gerais de Campolide em Lisboa. Terá sido por esta altura ou uns anos mais tarde
que se deu uma das intervenções mais marcantes, que foi a alteração do esquema de pintura de verde e
branco para azul com listas vermelhas.
Além destas intervenções, são óbvias outras nalguns veículos, que persistiram até à data do início do
restauro em Contumil:
No Sy2 – A alcatifa dos topos terá sido substituído por outra, pois provavelmente estaria danificada;
Alcatifa que terá substituído a anterior
No Sy4 – Já foi referido que este salão esteve, até 2011, afecto ao Comboio Socorro da EMEF. As transformações mais óbvias que daí advieram foram a adaptação de uma “cozinha” no salão (fotos no capítulo
anterior) e a presença duns cacifos num dos compartimentos. De resto, a mesa e bancos adicionados nem se
considera intervenção anterior, pois são perfeitamente amovíveis, e as anteriores acabaram por ser também.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Imagem que nos chegou do interior do salão
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Imagem original do salão (com a mesa)
No Sy5 – A alcatifa que nos chegou deste salão é acastanhada. Esta alcatifa será uma intervenção de
que se desconhece a data, nem se foi colocada no salão quando ainda fazia serviço como salão do Chefe
de Estado, ou se terá sido quando circulou afecto ao comboio sazonal, ou se terá sido posterior. O mesmo
se passa com os apliques dos candeeiros do salão e do primeiro compartimento (6 no total). Todos eram
originalmente em vidro opalino, quer os 4 fixos nas paredes do salão (localizados entre as janelas) e 2 no 1º
compartimento, quer os superiores todos interligados. Os que nos chegaram são de acrílico (estes últimos)
e os outros em metal (simulando folhas de acanto).
Durante o restauro, já em Contumil, verificou-se que na casa de banho do 1.º compartimento, sob a
pintura branca estava a cor verde.
Ainda na casa de banho, foram aplicados utensílios em plástico, obviamente descontextualizados (por
exemplo as saboneteiras).
Imagem de 1957 do salão Sy3 (após os melhoramentos em Campolide), onde se pode ver a mesa
Deve também referir-se a troca da mesa do salão pela mesa que pertenceria ao Sy3. A mesa original
deste salão seria da mesma madeira (provavelmente o pau rosa) que as cadeiras (em castanho escuro muito
polido) e terá desaparecido, desconhecendo-se o seu paradeiro. Para colmatar esta falha foi aqui colocada
a mesa que conhecemos através dos desenhos técnicos e até de uma fotografia, que pertencia, sem dúvida,
ao Sy3.
Quanto aos restantes veículos (Sy3, A7yf704 e Dyf408), por se encontrarem em tão mau estado, não se
consegue perceber quaisquer intervenções anteriores.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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7. Tratamento realizado - 2010/2013
Preparação dos veículos
Em Outubro de 2010 foram iniciados os trabalhos preparatórios para o restauro. Estes trabalhos incluíram a remoção dos três veículos que se encontravam no armazém das madeiras no Entroncamento, trabalho
extremamente complexo e moroso, executado pela EMEF/PON com o apoio da EMEF/POE.
Deslocação de três veículos para o interior das instalações do museu
Já nas instalações do museu, teve lugar a preparação destes veículos (Sy3, A7yf704 e Dyf408), aos quais se
juntou o Salão do Chefe de Estado (Sy5), que rumaram a Contumil numa marcha nocturna, em Novembro.
Já em 2011, juntaram-se-lhes em Contumil o Salão dos Ministros (Sy4)4 e, mais tarde, vindo de Estremoz, o Salão Restaurante (SRyf2)5.
Do processo de preparação devem também referir-se os métodos complementares de exame e análise,
tais como exame de Ultra-som e reperfilamento dos rodados, de acordo com as normas técnicas adoptadas
para o material circulante.
Procedimentos de restauro
O restauro do Comboio Presidencial teve como finalidade a restituição da última imagem dos veículos
nesta função, que teve lugar, como registámos, nos anos 70 do século XX.
Salão Restaurante (SRyf2)
Dos seis veículos, era este o que se encontrava mais completo e em melhor estado. Ainda assim, a intervenção de restauro é relativamente profunda.
Um dos objectivos do restauro do comboio é, não só a exposição no Museu Nacional Ferroviário, mas,
mais do que isso, levar a cabo o Projecto dos Passeios Presidenciais. Para tal, todos os componentes - parte
eléctrica e mecânica - que contribuem para o funcionamento da carruagem têm de ser revistos e, nalguns
4
Houve necessidade por parte da EMEF/POE de aguardar que este veículo (que estava afecto ao comboio socorro) fosse substituído por
um furgão inox e, por isso, demorou mais a seguir para Contumil.
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Este veículo, pela localização e complexa logística para o retirar da cocheira de Estremoz e trazê-lo para Contumil, foi o último a seguir para
o local de restauro.
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casos, fabricados. Assim, entre os elementos a rever estão os bogies, órgãos de freio, tracção e choque, as
tubagens de água e lubrificação, os tensores de engate, os ganchos de tracção, os cilindros de freio, os rodados, as molas de suspensão, a instalação eléctrica, a iluminação, as baterias e outros.
Além disto, houve necessidade de rever portas, janelas, estores, passadiços de intercomunicação, tratar
os metais, remoção da corrosão nas estruturas do veículo, decapagem e pintura do leito, pintura do interior,
tratamento da chapa e madeiras e pintura da carruagem entre outros.
Quanto a património integrado, a carruagem está aparentemente completa, foi apenas necessária uma
pequena intervenção de limpeza nos candeeiros e nas cadeiras, as 12 mesas foram pintadas, decapado parte
do verniz e envernizadas. Foi restaurado um móvel de apoio, uma mesa de apoio e mais duas pequenas
mesas dobráveis. Foram ainda restauradas duas malas de madeira, que tinham 3 gavetas cada, cheias de
utensílios têxteis.
Os utensílios de cozinha foram apenas lavados, pois considerou-se que se se avançasse para um tratamento mais profundo (o polimento dos metais), isso retiraria, em parte, o valor histórico desses utensílios
que têm a marca do uso, e que em nada isso contribuiria para a sua conservação. Estas intervenções no
património integrado e, mais tarde, a limpeza geral da carruagem foram realizadas pelo serviço de Conservação e Restauro do MNF.
A alcatifa foi limpa por uma empresa de limpeza do Entroncamento, poucos dias antes de um passeio
especial na Linha de Cascais, em Junho de 2012. A alcatifa viria a ser substituída no início de 2013 aquando
da montagem de nova alcatifa nos restantes veículos.
Interior do salão durante o restauro em Contumil
Exterior do Salão
Preparação para a pintura das mesas do salão
Mesa de apoio após intervenção
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Antes e depois da intervenção no móvel de apoio do corredor
O móvel antes e após a intervenção
Imagem do interior do salão durante a limpeza da alcatifa e após a montagem dos móveis
Exterior do salão após o restauro
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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Salão da Comitiva e Segurança (Syf3)
Este veículo era dos mais fustigados pelas condições meteorológicas e pelas condições de parqueamento e vandalismo, ao longo dos anos.
Neste caso, podemos falar numa reconstrução total da carruagem, no que diz respeito à estrutura (carroçaria).
Os bogies, rodados, leito, longarinas e outros órgãos mantêm-se os originais, bem como a maior parte da
chapa. Toda a caixa de madeira da estrutura foi reconstruída, aplicada madeira nova no pavimento, tejadilho
e “paredes” da carruagem. Foram construídas portas, janelas, passadiços de intercomunicação, divisórias
interiores, condutas de freio de vácuo, sinalética, passadiços de intercomunicação, alcatifas e outros. Todos
os órgãos originais foram revistos, bem como a parte mecânica e eléctrica, o leito decapado, a corrosão removida, os metais polidos e protegidos, o tejadilho revestido com linóleo, entre outros procedimentos. Para
os compartimentos, foram construídos os sofás/camas e porta bagagens. A respeito dos porta-bagagens, as
estruturas metálicas são réplicas feitas a partir dos modelos existentes (por exemplo no Sy4). Já as redes
bagageiras, tanto para esta carruagem como para a dos ministros e a dos jornalistas, foram feitas à mão por
uma redeira, com fio de pesca de algodão de 3 milímetros e tonalizadas posteriormente. O relato do procedimento é descrito mais à frente (ver índice).
Para a construção do património integrado desta carruagem, tal como para todo o comboio, foi feita
uma investigação que assentou principalmente na análise do diagrama e ficha técnica do veículo. De referir
que, para a construção do mobiliário, foi levada a cabo uma pesquisa que nos permitiu recuperar algumas
peças que inicialmente se julgavam desaparecidas e outras que eram desconhecidas. Foram recolhidos
numa sala do extinto núcleo museológico de Estremoz, dois sofás grandes e um sofá individual em veludo
verde, mais dois sofás individuais que também foram descobertos num armazém no Entroncamento. Só
após uma análise cuidada destas peças se chegou à conclusão que pertenciam ao Comboio Presidencial,
especificamente a este salão, sendo que alguns deles (os individuais) poderão ter pertencido a este ou ao
salão dos ministros, que eram iguais.
Os restantes móveis, apesar de muitíssimo degradados, estavam ainda na carruagem, quer os do salão,
quer os dos compartimentos.
Assim sendo, foram restaurados os sofás encontrados em Estremoz e no Entroncamento e feitas réplicas
dos sofás individuais (no total este salão tem 2 sofás grandes e 8 sofás individuais, todos em veludo verde).
A mesa que estava, até 2010, no Sy5 regressou a este salão Sy3, e foram feitas réplicas de 3 móveis
existentes em péssimo estado no salão: um móvel escrivaninha; um móvel louceiro (com suporte para TV/
rádio) e um pequeno móvel de apoio, situado ao lado da casa de banho.
Nos quatro compartimentos existiam 4 móveis sanitários completamente destruídos, tendo sido construídas réplicas. Estes móveis não tinham contudo as duas peças em cerâmica (uma bacia e uma “arrastadeira”) que foram copiadas por um móvel que se encontrou da carruagem gémea, o Sy4.
As loiças sanitárias (lavatório, bacias e arrastadeiras) foram feitas através de molde pelos modelos existentes, e a sanita restaurada.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Sequência de imagens do exterior do salão durante o restauro
Sequência de imagens do interior do salão durante o restauro
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Imagens do corredor do salão e um dos compartimentos durante o restauro
Réplicas dos sofás
para os salões Sy3 e Sy4
Salão Sy3 em Maio de 2013
Com a sua mesa original e total dos cadeirões.
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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O Salão dos Ministros (Syf4)
Esta carruagem revelou-se uma má surpresa, pois encontrava-se em pior estado do que o inicialmente
suposto, sendo o seu restauro bastante profundo.
Ao retirar-se a chapa e pondo-se a caixa de madeira a descoberto, verificou-se que a madeira estava, em
muitas áreas, bastante deteriorada e fragilizada, pelo que foi necessário efectuar pontualmente a substituição dessa madeira, principalmente nos topos.
Esta carruagem foi bastante alterada para servir o Comboio Socorro durante mais de vinte anos, pelo
que essas alterações tiveram de ser revertidas. Os trabalhos incluíram (em todos os veículos) a revisão de
toda a estrutura, a parte mecânica e eléctrica, as tubagens, os órgãos e todos os trabalhos de superfície já
mencionados anteriormente tais como: a remoção da corrosão, o polimento e protecção dos metais, a decapagem e pintura da carruagem, a remoção do revestimento do tejadilho e substituição por linóleo, a construção de vários órgãos, o polimento e tratamento das madeiras do interior e compartimentos, a fabricação
e aplicação de bancos e beliches, alcatifa etc.
Parte do património integrado original desta carruagem está disperso outro está desaparecido e outro
danificado. Foram feitas réplicas dos sofás individuais que neste salão são 12, foi restaurado um móvel
sanitário (que recuperámos de casa de um particular) e feitas 3 réplicas deste móvel, incluindo as loiças.
Foram feitas também réplicas de mais 4 móveis: 2 móveis louceiros (um maior, outro mais pequeno), um
móvel escrivaninha e um pequeno móvel de apoio (localizado perto da casa de banho).
Sequência de imagens do exterior
do salão durante o restauro
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Imagens do interior do salão durante o restauro
Imagens do interior do salão, de um compartimento e do corredor
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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O Salão do Chefe de Estado (Syf5)
Esta carruagem encontrava-se exposta na Rotunda de Locomotivas, no MNF, num estado de conservação bastante bom. Ainda assim, a sua intervenção é semelhante à descrita para o Salão Restaurante, em que
toda a parte eléctrica e mecânica foi revista.
A pintura foi decapada e aplicada nova pintura, os metais polidos e protegidos, o interior em madeira
tratado, uma das casas de banho devolvida à sua cor original (verde), as portas e janelas reparadas, a alcatifa
substituída.
Quanto ao património integrado, esta carruagem encontrava-se quase completa, tendo-se verificado
a falta de 6 cadeiras de pele verde, que foram reproduzidas, e foram substituídos por apliques de vidro os
4 apliques de metal do salão e 1º compartimento. A mesa que aqui estava até à data do restauro, como já
registámos, não pertencia a este salão, pelo que regressou ao salão de origem, e para aqui foi construída uma
mesa num tom igual aos das cadeiras, mas que não é extensível como a original. Depois de muitas diligências, que incluíram o recurso ao museu da Linke-Hoffmann Busch (sem sucesso), não se conseguiu apurar
como terá sido a mesa extensível (como era a feita a extensão), que estendida media mais de 4 metros (portanto enorme). A mesa iria estar sempre na posição recolhida após o restauro. Comparámos então as medidas da mesa do Sy3 (Comprimento: 1600mm, Largura: 670mm) com as medidas que conseguimos apurar
através do desenho técnico da carruagem, ou seja, aproximadamente 1598mm x 650 mm (estas medidas
poderão ter uma margem de erro). As medidas da mesa do Sy3 são muito semelhantes às medidas a que
chegámos através de cálculos do que seria a mesa original (recolhida) do Sy5. Cremos que, à semelhança da
transformação exterior e interior do salão Sy3 em 1940/41, também algumas peças foram copiadas tal como
a mesa. O que quer dizer que a mesa do Sy3 é uma cópia da mesa em posição recolhida da mesa original do
Sy5. Por isto, decidiu-se não “inventar” uma extensão que não sabemos como seria (dadas as dimensões da
mesa) e optou-se por reproduzir uma mesa, para este salão, à imagem da única fotografia parcial que temos
da mesa original e da mesa do Sy3, reduzindo assim as probabilidades de erro.
Quanto aos vidros em acrílico do salão, que originalmente seriam em vidro opalino, houve uma tentativa de os substituir por vidros. No entanto, chegámos à conclusão que o melhor era deixar os acrílicos. Provavelmente nos primórdios da carruagem, estes vidros terão começado a partir, não só devido à fragilidade
do material, mas também à trepidação do comboio em andamento. Assim, com certeza já há muito tempo,
substituíram-se os vidros por acrílicos, mais resistentes, e assim vai continuar.
Salão Sy5 em Maio de 2013 com a mesa réplica e as cadeiras estofadas.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Interior do salão durante a intervenção
Interior de um compartimento durante a intervenção
Casa de banho durante a remoção
da tinta que cobria a verde original
O Salão durante e após a intervenção
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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A Carruagem dos Jornalistas (A7yf704)
A Carruagem dos Jornalistas é uma carruagem de 1ª classe, com 7 compartimentos, que se encontrava
num estado de deterioração próximo do Salão Sy3, pelas mesmas razões. O seu grau de destruição era de tal
maneira elevado que, também aqui, podemos falar numa reconstrução. Aliás, o tipo de intervenção é muito
semelhante ao do Salão Sy3, em que foi necessário remover toda a caixa de madeira e construir nova caixa
e estrutura. Apenas a chapa, alguns órgãos como os bogies, os rodados, as molas de suspensão e os tensores
de engate foram aproveitados e tratados. De resto todo o procedimento é semelhante ao tido no Sy3. Há no
entanto uma grande diferença, pois foram recolocados no exterior os varões em metal nas janelas, que lhe
tinham sido suprimidos.
Sequência de imagens do exterior da carruagem durante o restauro
Imagens do corredor durante o restauro
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Imagem de um compartimento durante o restauro
Compartimento dos sanitários após conclusão do restauro
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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O Furgão (Dyf408)
Sendo um dos três veículos que estavam no Armazém das Madeiras, o furgão estava também em muito
mau estado, e o seu restauro foi também bastante profundo.
Assim, toda a madeira do pavimento, laterais, divisórias interiores, armários de apoio e tejadilho foi
substituída, todos os órgãos desmontados e reparados, as tubagens, a parte eléctrica e a mecânica revistas,
os metais polidos e protegidos, a chapa tratada e reaproveitada e, de um modo geral, todos os procedimentos seguidos para os outros veículos foram seguidos aqui (com excepção da parte relativa ao mobiliário e
alcatifa que o furgão não tem, tendo apenas umas prateleiras e armários integrados).
Sequência de imagens do exterior do furgão durante o restauro
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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Interior do furgão durante o restauro
Apenas alguns apontamentos que, por serem comuns à maior parte dos veículos, serão aqui referidos.
Algumas das peças (fechaduras, freios manuais, tensores de engate entre outros) foram retiradas de
alguns veículos parqueados no armazém das madeiras no Entroncamento; a alcatifa será comum a todos os
veículos (excepto o furgão). Decidiu-se reproduzir o padrão do salão restaurante porque comprovadamente
é o único padrão, que podemos afirmar com segurança, que fez parte do comboio enquanto presidencial,
não na origem mas talvez pelo menos a partir das alterações de 19576;
Há pormenores em que, apesar da pesquisa, desconhecemos o original. É o caso das cortinas. Neste
caso, optámos por um tom neutro que combina com os restantes tecidos das carruagens, quer com o tecido
dos estofos, quer da alcatifa.
A reconstrução dos elementos tiveram em conta sempre que possível os materiais e perfis originais.
6
Ver neste documento a imagem do capítulo “intervenções anteriores” parte do Sy3
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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7.1 Intervenção de restauro das redes bagageiras dos veículos do Comboio Presidencial
Parte integrante e fundamental dos utilitários à disposição dos passageiros nas carruagens é a rede bagageira; tal como o nome indica, serve para depositar os pequenos bens transportáveis dos passageiros nos
compartimentos.
Das redes bagageiras originais da composição do Comboio Presidencial, apenas restam 3 redes, que
apresentam relativo bom estado de conservação. Estão na carruagem Sy5. Foram mantidas e preservadas.
A trama destas redes apresenta Nó Direito usando 2 fios paralelos.
Rede bagageira original Sy5
Rede bagageira nova A7yf
As novas redes bagageiras, que foram colocadas nas restantes 3 carruagens têm fio único a compor a
malha da rede. O fio de rede é de mistura algodão e nylon e foi elaborado em trama cruzada, com nó do tipo
Nó de Escota ou Tecelão.
Houve uma dificuldade extrema em encontrar-se uma empresa fornecedora para realizar esta encomenda. Foi um trabalho incansável até se conseguir encontrar, no Norte de Portugal, uma redeira, que aceitou
a encomenda para execução de 29 redes semelhantes às redes bagageiras originais; 22 redes de maior
dimensão (presentes na carruagem dos jornalistas, na Sy3 e Sy4); 4 redes de pequena dimensão e outras 3
de formato quadrangular - estas últimas que deslizam em corrediças de couro (todas na carruagem Sy4).
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Imagem redes bagageiras
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Quantidade
Veículos
Estado de Conservação
14
A7yF
Novas - excelente
4
Sy3
Novas - excelente
11 (4+4+3)
Sy4
Novas - excelente
3
Sy5
Originais – médio bom
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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Para fixação de todas as redes aos suportes metálicos foram gastas 8 meadas de fio/Linha de pesca algodão 3 mm. Após terem sido tonalizadas nas Oficinas de Conservação e Restauro do MNF – Entroncamento
e enviadas para Contumil, foi executada a fixação das redes bagageiras aos suportes, pelos técnicos da
EMEF, os mesmos responsáveis pelo restauro das carruagens do Comboio Presidencial.
Apenas a tonalização e protecção das redes ficou a cargo da responsável actual do Serviço de Conservação e Restauro do MNF.
As redes vieram da empresa fornecedora em tom branco cru.
Tendo por base o tom das redes originais que existem nos 3 compartimentos da carruagem Sy5, optou-se
por tonalizar as novas em aproximação com essa cor. Assemelha-se a um ocre dourado (optamos por um
sub-tom da cor original, pois o fio de rede antigo já está escurecido pela acção do tempo).
Ficamos restringidos na opção de escolha do material para dar cor às redes brancas. Qualquer tinta
plástica ou de outra qualidade foi logo posta de parte pois não permitia manter a maciez do fio, além de que
seria um trabalho extremamente moroso e sem garantias de bom resultado, relativamente à aproximação
da cor pretendida.
A decisão final recaiu sobre a utilização de anilinas solúveis em água (3 cores - ocre, vermelho e Siena
queimada). Com essa mistura obteve-se o tom necessário que permitiu o tingimento, de uma só vez, de
várias redes.
Foi preparada uma cuba de grande dimensão, com 100 litros de água e com a proporção ideal dos três
pigmentos solúveis. Aqueceu-se a água, que esteve a uma temperatura constante próxima dos 80 graus durante o processo de tingimento (nunca chegando aos 100 graus). O processo é eficaz e muito rápido, apenas
tivemos que repetir o processo com 3 redes e as meadas de fio. Quando em água aquecida, a fixação ao
material de suporte é boa.
Seguidamente, as redes e meadas ficaram estendidas, por um período médio de 24 horas, para garantir
boa secagem.
A aplicação de produto protector, à base de resina acrílica transparente, inerte e reversível, ficou para
uma fase final. Por motivos alheios à nossa vontade e que se relacionaram com a data da deslocação da
composição do Comboio Presidencial (aquando da marcha de Contumil para o complexo do FMNF), foi
imperativo fixar as redes aos suportes dos compartimentos antes de levarem a protecção final. Assim, esse
processo ficou para a última fase de intervenção nas redes bagageiras. Concluindo assim o procedimento.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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8. Ensaios com vista à homologação dos veículos
No dia 20 de Dezembro de 2012 tiveram lugar, entre Contumil e Valença (Linha do Minho), os ensaios
em via aberta à exploração, com vista à preparação da homologação dos seis veículos do Comboio Presidencial, acompanhados por técnicos da EMEF, CP, REFER e FMNF. Os ensaios serviram para confirmar o
comportamento dinâmico das carruagens e efectuar ensaios do sistema de freio automático da composição.
Considerando o propósito de fazer a composição circular na Rede Ferroviária Nacional, cada um dos
veículos do comboio presidencial teve que ser objecto de registo e de autorização individual de circulação,
concedida pelo Instituto da Mobilidade Terrestre (IMT).
Este registo e autorização de circulação implicou a aprovação prévia, pelo IMT, dos seguintes documentos referenciais para a avaliação da conformidade dos veículos:
1) Consistência do restauro e relatórios de ensaios estáticos e dinâmicos efectuados;
2) Ciclo de manutenção da composição;
3) Plano de manutenção dos veículos;
4) Planos de controlo do processo de manutenção;
5) Identificação dos equipamentos rastreáveis relevantes para a segurança;
6) Identificação da empresa e estabelecimento oficinal envolvido no processo de manutenção.
A autorização de circulação do comboio traduziu-se na emissão da ICS 31/13, documento regulamentar
emitido pelo IMT, com entrada em vigor no dia 12 de Dezembro de 2013, no qual estão descritas as características técnicas e metrológicas de cada um dos veículos da composição e estabelecidos os procedimentos
regulamentares complementares aos aplicáveis à circulação dos comboios na Rede Ferroviária Nacional, de
Via Larga, a observar na circulação de comboios com esta composição presidencial.
Durante os ensaios em Durrães (foto de Carlos Pinto)
O percurso natural e necessário deste projecto, tal como foi desenhado desde o início, culmina precisamente com a apresentação pública do Comboio Presidencial, a 12 de Dezembro de 2013, que contou com a
presença do Secretário de Estado das Infra-Estruturas, Transportes e Comunicações. A viagem inaugural entre
a estação de Santa Apolónia, em Lisboa, e o Entroncamento materializou todos os esforços que foram desenvolvidos desde 2009 para devolver a integridade, em todas as suas vertentes, a este ex libris do património
ferroviário português e para o colocar à disposição de todos, tanto enquanto estiver em exposição no futuro
Museu, como durante os passeios turístico-culturais organizados e abertos ao público em geral.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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Conclusão
O Processo de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial Português foi demorado e difícil
mas extremamente compensador.
Para muita gente conhecedora deste meio, é um milagre termos conseguido “ressuscitar” uma composição histórica com tanta importância, mas ao mesmo tempo tão desconhecida para a maioria das pessoas e
que parecia irremediavelmente perdida.
Este foi sem dúvida, até agora, para a FMNF, o maior projecto de restauro concretizado, com a dificuldade acrescida de acontecer em simultâneo com o grande projecto de reformulação e abertura do próprio
Museu. Foi de facto um trabalho difícil, por ser o primeiro do género, e com certeza que para os projectos
seguintes beneficiarão da experiência acumulada. Por vários motivos, é um orgulho muito grande ter participado neste projecto inédito.
Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Anexo
Ficha técnica do Salão Restaurante
Ficha técnica do Salão da Comitiva e Segurança
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
Ficha técnica do Salão dos Ministros
Ficha técnica do Salão do Chefe de Estado
Ficha técnica carruagem dos Jornalistas
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Relatório da intervenção de Conservação e Restauro do Comboio Presidencial 2010-2013
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AGRADECIMENTOS
Um agradecimento às seguintes pessoas e empresas que, entre muitas outras, cola­
boraram neste projecto: Marsipel (de Alcanena), que nos ofereceu a pele verde para
forrar as cadeiras do salão Sy5; às várias associações dos amigos dos comboios, entre
elas destaque para a APAC Norte, Dr. Carlos Pinto; Dr. Hélder Bonifácio, Sr. Mário­
Miguel, Sr. Eduardo Guimarães, Eng.º Pedro Mêda e Dr. Adriano Azevedo, pelas
dicas e acompanhamento; Eng.º Pato das Neves; o falecido Sr. Manuel Silveiro.
Um agradecimento, ainda, ao Eng.º Carlos Machado e a toda a sua equipa, que com
grande profissionalismo ultrapassou os vários constrangimentos que foram surgindo
no decurso do projecto.
Para além dos co-financiamentos obtidos junto do QREN/ Programa MaisCentro
e do Turismo de Portugal/ Programa de Intervenção do Turismo, este projecto só foi
possível graças ao profissionalismo, empenho e know-how de todos quantos nele
participaram, da EMEF- Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, da
CP- Comboios de Portugal, E.P.E., e da REFER- Rede Ferroviária Nacional, E.P.E..
É igualmente incontornável o acompanhamento e orientação do IMT- Instituto da
Mobilidade e dos Transportes, I.P., e a ajuda de muitos outros colegas e entusiastas
dos comboios.
A todos, Muito obrigado.
O Presidente do Conselho de Administração da Fundação Museu Nacional
Ferroviário­­.­
Fevereiro de 2014 © FMNF
Jaime Ramos
Fundação Museu Nacional Ferroviário
ARMANDO GINESTAL MACHADO

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