a vegetação no pátio escolar um estudo para as

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a vegetação no pátio escolar um estudo para as
III ENECS - ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
A VEGETAÇÃO NO PÁTIO ESCOLAR: UM ESTUDO PARA AS CONDIÇÕES DAS
ESCOLAS MUNICIPAIS DE PORTO ALEGRE –RS
Beatriz Fedrizzi ([email protected]) Eng. Agr., PhD/ Núcleo Orientado para a Inovação da
Edificação - NORIE / UFRGS
Sérgio Luiz V. Tomasini ([email protected]) Eng. Agr., MS/ Núcleo Orientado para a
Inovação da Edificação - NORIE / UFRGS
Luciano Moro Cardoso ([email protected]) Bolsista de Iniciação Científica FAPERGS/ Núcleo
Orientado para a Inovação da Edificação - NORIE / UFRGS
RESUMO
A presente pesquisa teve por objetivo avaliar as condições vigentes nos pátios das escolas municipais de Porto
Alegre, quanto à presença e qualidade da vegetação disponível. Foram visitadas aleatoriamente 15 escolas de ensino
fundamental, distribuídas na zona urbana do município. Para cada escola, foram avaliados a quantidade, o tipo
(quanto ao porte e quanto à função) e o estado de conservação da vegetação presente no pátio. Partindo-se da
realidade encontrada junto às escolas e tomando-se por base os critérios anteriormente mencionados em relação à
vegetação disponível, desenvolveu-se um sistema de classificação dos pátios, estruturado nas seguintes categorias:
Classe I - pátio com boa vegetação; Classe II - pátio com relativa vegetação (ou vegetação regular); Classe III - pátio
com vegetação ruim; e Classe IV - pátio árido, ou sem vegetação. Aplicando-se este sistema de classificação às
escolas visitadas, os resultados sugerem um panorama predominantemente negativo quanto à presença e qualidade
dos elementos vegetais nos pátios das escolas do município. Dentre as escolas estudadas, 7 foram classificadas como
áridas, 6 com vegetação ruim, e apenas 2 escolas foram classificadas como tendo vegetação regular ou boa. Os
resultados deste estudo servirão de base para outra pesquisa a ser realizada futuramente, a qual será dedicada à
investigação da percepção de alunos e professores mediante diferentes condições de vegetação disponível nos pátios
das escolas.
Palavras-chave: pátios escolares, vegetação
VEGETATION IN THE SCHOOLYARD: A STUDY ON THE CONDITIONS OF THE
PUBLIC SCHOOLS OF PORTO ALEGRE – RS
ABSTRACT
This study aimed at assessing the current conditions of the yards of public schools of Porto Alegre regarding the
presence and the quality of vegetation available. Fifteen elementary schools were randomly visited. The schools were
located in the urban zone of the city. Quantity, types (regarding size and function), and conservation status of the
vegetation in the yards were analyzed in each school. Based on the reality verified in the schools and taking into
consideration the criteria mentioned above regarding the vegetation available, a classification system of the yards
was designed. This system was organized according to the following categories: Class I – yard with good vegetation;
Class II – yard with fair vegetation (or regular vegetation); Class III – yard with poor vegetation; and Class IV – arid
yard, or with no vegetation. This classification system was applied to the schools. The results suggest a
predominantly negative overview regarding the presence and the quality of vegetation in the yards of the public
schools of Porto Alegre. Among the schools included in this study, seven were classified as arid, six presented poor
vegetation, and only two schools were considered as having regular or good vegetation. The results of this study will
be used as the basis of another study to be carried out in the future, which will investigate the point of view of
students and teachers regarding different conditions of vegetation available in schoolyards.
Keywords: schoolyards, vegetation
1. INTRODUÇÃO
A melhoria da qualidade dos pátios escolares constitui uma importante alternativa no sentido de
tornar as escolas locais mais atrativos e aprazíveis para a comunidade escolar como um todo. A
vegetação bem planejada é um dos elementos que mais colabora para melhorar a qualidade destes
espaços, agregando valores estéticos aos mesmos, melhorando suas condições de conforto e,
ainda, servindo como uma valiosa ferramenta de apoio ao trabalho de educação ambiental.
Pesquisas têm demonstrado que o espaço físico influencia o comportamento das crianças. As
crianças gastam uma importante parte da sua vida na escola. “Uma vez que a criança começa a
freqüentar a escola, sua vida muda consideravelmente. Uma grande parte do seu dia é gasto na
escola, muito mais do que nas vizinhanças” (PROSHANSKY & FABIAN, 1987). Desta forma, o
ambiente escolar tem uma considerável importância no desenvolvimento da criança.
Nos últimos anos, observa-se que o interesse pelos pátios escolares tem crescido a nível mundial,
e isso pode estar relacionado a dois fatores: primeiro, o espaço disponível para brincar vem
diminuindo devido ao crescimento do tráfego, ao aumento da criminalidade nas grandes cidades e
ao fato de que as crianças estão mais atarefadas com atividades que as mantêm dentro de
instituições. O segundo fator seria o interesse em favorecer o conhecimento ecológico,
interagindo as crianças com o espaço aberto.
O contato com elementos naturais é muito importante para o ser humano. Mesmo insignificantes
sinais da natureza em áreas urbanas afetam seus usuários. Kaplan & Kaplan (1989) em suas
pesquisas, explicam que o ambiente natural é influente, e vivenciá-lo é uma experiência
profundamente restauradora, no que se relaciona à fadiga mental (estresse). Outros estudos
identificaram que ambientes naturais são eficientes em trazer à tona mudanças no estado
emocional entre indivíduos estressados e não estressados. Estas descobertas associam-se aos
resultados da pesquisa da ciência cognitiva, que sugere a hipótese plausível de que a exposição a
ambientes naturais aumenta a criatividade e a organização funcional cognitiva em geral
(ULRICH, 1993).
Vegetação e natureza no pátio da escola podem ter uma influência benéfica no sistema
educacional. As crianças podem visualizar os assuntos ensinados teoricamente em sala de aula.
De acordo com Piaget (apud DATTNER, 1969), a inteligência é uma forma especial de
adaptação, que consiste em uma interação criativa e contínua entre o organismo e o meio. A vida,
desta forma, é vista como um processo onde se criam estruturas cada vez mais complexas de
comportamento. Nem o organismo nem o meio existem sozinhos, mas apenas quando interagem
entre si.
Pátios escolares atrativos podem até mesmo criar oportunidades para o desenvolvimento cultural
e tendem a fazer a comunidade escolar sentir-se orgulhosa (FEDRIZZI, 1991). Um pátio escolar
com vegetação e ambientes naturais pode relembrar as pessoas de que elas são parte de um
ecossistema muito delicado. Neste tipo de ambiente, as crianças podem aprender como cultivar
alimentos de alta qualidade e ficarão bem informadas sobre a possibilidade de suprir seus
próprios problemas nutricionais (FEDRIZZI, 1997).
Grahn (1994) afirma que crianças em pré-escolas, escolas e hospitais mostram comportamento
mais harmonioso e têm uma melhor relação com os funcionários quando estas podem passar mais
tempo em contato com a natureza. Ele explica também que elas brincam melhor, fantasiam mais,
e têm uma melhor percepção do espaço em que vivem. No mesmo trabalho, o autor identificou
que nas escolas com mais vegetação, as crianças ficam menos doentes. É fundamental entender
melhor de que forma a vegetação colabora positivamente para o desenvolvimento saudável das
crianças. Os resultados podem representar uma grande economia, uma vez que a saúde das
crianças poderá melhorar significativamente.
Em uma pesquisa realizada em escolas inglesas, Titman (1994) observou que as crianças, de
maneira geral, preferem e valorizam mais ambientes naturais do que ambientes construídos. Para
a pesquisadora, ambientes externos naturais significam oportunidades para uma gama de coisas
que as crianças desejam e necessitam, e que não podem ser encontradas nos espaços internos da
escola.
Em sua pesquisa, Titman (1994) ainda faz algumas constatações sobre a percepção das crianças a
cerca de diferentes elementos vegetais presentes nos pátios escolares. Segundo a autora, entre
estes elementos, para as crianças, a grama é tida como símbolo de um espaço macio para
brincadeiras, ao contrário de pisos pavimentados os quais consideram duros e perigosos em caso
de queda. Relacionam este elemento com o desenvolvimento de jogos e outras atividades. Para
elas, a grama serve para sentar, deitar e rolar e não apenas ficar olhando para ela. As árvores, por
sua vez, são vistas essencialmente como um elemento que permite escaladas. Segundo a autora,
o valor das árvores para as escaladas, reside no desafio que ela proporciona, sendo que as
crianças consideram a experiência de subir em árvores bem diferente daquela proporcionada por
equipamentos de brinquedo. As crianças ainda apreciam as árvores por estas proporcionarem
sombra, abrigo e, ainda, pedaços ou partes (como flores, frutos, folhas, etc.) que podem coletar e
com as quais podem fazer alguma coisa. Já as flores normalmente estão associadas a valores
estéticos para as crianças. As flores simbolizam para a criança, o grau de cuidado que a escola
dedica ao pátio. Além disso, onde as crianças são envolvidas no plantio e cuidado de flores, seu
senso de orgulho e posse torna-se símbolo de sua relação com a escola como um todo. Arbustos,
por outro lado, não têm um valor estético muito significativo para as crianças, porém são muito
apreciados em brincadeiras como locais que servem de esconderijo.
Outro aspecto importante de ser abordado quanto à presença da vegetação no pátio escolar são os
benefícios térmicos da mesma, que podem ser sentidos tanto pelos usuários do pátio, quanto
pelos usuários das edificações, uma vez que a vegetação pode interagir beneficamente com as
mesmas, melhorando as condições de conforto vigente em seu interior, especialmente nos
períodos mais quentes do ano.
Tendo em vista os aspectos acima discutidos a cerca da importância da vegetação junto aos
espaços externos das escolas, esta pesquisa procurou verificar as condições vigentes junto às
escolas da rede municipal de ensino de Porto Alegre, quanto à presença e qualidade da vegetação
existente em seus pátios. A pesquisa procurou levar em conta os diversos níveis de vegetação
possíveis de ser encontrados em um pátio escolar, partindo do pressuposto de que a maior
diversidade possibilita agregar um maior valor estético à paisagem vigente nos espaços externos,
bem como permite uma maior interação destes espaços com seus usuários. A metodologia
utilizada por este estudo, seus resultados e conclusões serão apresentados a seguir.
2. METODOLOGIA
Conforme comentado anteriormente, a presente pesquisa focou apenas escolas municipais de
ensino fundamental. Desta forma, estudou-se uma amostra composta de 15 escolas escolhidas
aleatoriamente dentre um total de 44 escolas de ensino fundamental existentes junto à rede
municipal de ensino. A distribuição desta amostra pode ser visualizada junto à Figura 1.
*Regiões de Porto Alegre:
1-Humaitá/Navegantes/Ilhas;
2-Noroeste;
3-Leste;
4-Lomba do Pinheiro;
5-Norte;
6-Nordeste;
7-Partenon;
8- Restinga;
9-Glória;
10-Cruzeiro;
11-Cristal;
12- Centro Sul;
13- Extremo Sul;
14-Eixo Baltazar;
15-Sul;
16- Centro.
Figura 1: Distribuição da amostra para diferentes regiões de Porto Alegre*
Foram realizadas visitas a cada uma destas escolas com o objetivo de avaliar seus pátios em
relação à vegetação existente. Para proceder nesta avaliação, desenvolveu-se um método que leva
em consideração a presença, a quantidade e a qualidade da vegetação presente nestes espaços.
O método utilizado consistiu basicamente de uma avaliação visual da vegetação presente nos
pátios, realizada por ocasião das visitas às escolas. Esta avaliação era realizada levando em
conta diferentes níveis ou tipos de vegetação (quanto ao porte e à função) que podem ser
encontrados nos pátios das escolas. São eles: a)árvores; b)arbustos; c)forrações (principalmente
canteiros de flores ou outras espécies herbáceas de uso ornamental); d)grama; e)local para cultivo
(horta ou outro espaço dedicado ao cultivo de plantas pelas crianças); f)vegetação do entorno
(acessada pelas crianças a partir do pátio somente por meio visual). Desta forma, para cada
escola visitada era atribuída uma nota para cada um dos referidos níveis de vegetação acima
citados. Essa nota, por sua vez, foi atribuída baseada em uma escala de valores que leva em
conta a presença, a quantidade e a qualidade do nível de vegetação avaliado (Tabela 1). Cabe
salientar ainda, que a atribuição das referidas notas aos pátios avaliados partiu da experiência
anterior dos pesquisadores envolvidos na pesquisa, procurando-se sempre atingir um consenso
entre os mesmos. A soma destas notas multiplicadas pelo peso relativo de cada nível de
vegetação determina o escore final do pátio avaliado quanto à vegetação existente. Com exceção
dos níveis árvore e grama, que receberam peso 3 devido ao maior impacto visual que produzem
no pátio das escolas, os demais níveis de vegetação receberam peso 1. Baseado nos escores
finais obtidos, as escolas foram agrupadas nas seguintes categorias: Classe I - pátio com boa
vegetação; Classe II - pátio com relativa vegetação (ou vegetação regular); Classe III - pátio com
vegetação ruim; e Classe IV - pátio árido, ou sem vegetação (Tabela 2). Na Figura 2, pode-se
observar, ainda, uma ilustração que representa aproximadamente as características encontradas
em cada classe de pátio segundo o método utilizado por esta pesquisa.
Tabela 1: Conceitos e notas atribuídas aos níveis de vegetação existentes no pátio
Conceito
Nota
Condições observadas
Inexistente
0
Insuficiente ou ruim
1
Regular ou médio
2
Bom
3
Muito Bom
4
quando o nível de vegetação avaliado não está
disponível no pátio
quando se verifica a presença do nível de
vegetação avaliado, porém em quantidades
muito pequenas e/ou condições muito ruins
quando se verifica a presença do nível de
vegetação avaliado em quantidades e/ou
condições razoáveis
quando se verifica a presença do nível de
vegetação avaliado em quantidades e/ou
condições relativamente boas
quando se verifica a presença do nível de
vegetação avaliado em quantidades e/ou
condições muito boas
Tabela 2: Classes de pátio quanto à vegetação existente em função da pontuação obtida
Classe
Pontuação final
Conceito
I
II
III
IV
de 31 a 40 pontos
de 21 a 30 pontos
de 11 a 20 pontos
de 0 a 10 pontos
pátio com boa vegetação
pátio com relativa vegetação
pátio semi-árido ou com vegetação ruim/insuficiente
pátio árido, com vegetação muito ruim ou
praticamente inexistente
Figura 2: Características das diferentes classes de pátio quanto à vegetação existente
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Aplicando-se o sistema de classificação anteriormente descrito à amostra estudada, obteve-se a
seguinte distribuição das escolas visitadas: 7 foram classificadas como áridas (classe IV), 6 com
vegetação ruim/insuficiente (classe III), e apenas 2 escolas foram classificadas como tendo
vegetação regular ou boa (classes II e I, respectivamente). Esta distribuição, na forma de
freqüências percentuais, pode ser visualizada no gráfico da Figura 3.
7%
Classe I
7%
Classe II
46%
Classe III
40%
Classe IV
Figura 3: Freqüências percentuais observadas para cada classe de pátio quanto à vegetação
existente
Como pode-se observar no gráfico acima, a classe de pátio mais freqüente observada pela
pesquisa foi a classe IV, ou seja, aquela que corresponde aos pátios considerados áridos. As
escolas visitadas que foram classificadas como áridas pela pesquisa são bastante variáveis quanto
às formas e tamanhos de seus pátios, no entanto apresentam como característica comum
paisagens bastante desoladoras e a presença muito escassa de vegetação (quando não ocorre a sua
total ausência). É comum encontrar-se nos pátios dessas escolas a predominância quase total de
áreas pavimentadas ou revestidas com areião (Figura 4), raramente sendo encontrada alguma
parcela da superfície revestida por vegetação rasteira como gramíneas. Na maioria das escolas
deste grupo, foi verificada a presença de árvores, porém em quantidades muito reduzidas e/ou
muito mal conservadas (Figura 5). A presença de vegetação em outros níveis avaliados pela
pesquisa, como arbustos, forrações e local para cultivo, não ocorre na maior parte das escolas que
foram classificadas neste grupo.
A vegetação do entorno varia desde vistas amplas para
vegetação nativa (que certamente ajuda a amenizar a aridez presente no pátio) até vistas bastante
opressivas, onde praticamente não se pode visualizar elementos naturais (Figura 6). Em geral,
portanto, os pátios destas escolas são muito pouco atrativos visualmente, oferecem poucos
elementos e oportunidades para que as crianças criem brincadeiras e ainda apresentam péssimas
condições de conforto térmico devido à ausência quase total de áreas sombreadas.
Figura 4: Ausência total de vegetação no pátio da escola
Figura 5: Os poucos exemplares de árvores encontrados no pátio desta escola encontram-se em
péssimo estado de conservação
Figura 6: Entorno marcado pela presença de conjuntos habitacionais aumenta a aridez visual do
pátio da escola.
Os pátios das escolas que foram classificados na classe III (a segunda classe de pátio mais
freqüente observada pela pesquisa), diferem dos pátios áridos descritos anteriormente
principalmente pela presença mais significativa de árvores no pátio. As árvores existentes nos
pátios destas escolas, no entanto, apresentam-se ainda em pequena quantidade, de forma muito
esparsa e, freqüentemente, mal posicionadas em relação às áreas de uso mais comum entre os
alunos. Mesmo assim, nestas escolas, já se pode observar algum grau de interação entre os
usuários do pátio e a vegetação existente, principalmente através de pequenas áreas sombreadas
que servem de refúgio nos dias quentes. Outros níveis de vegetação ocorrem apenas em poucas
das escolas que foram classificadas neste grupo e de forma pouco significativa. Na Figura 7,
pode-se observar uma imagem comum aos pátios de classe III, onde a presença de algumas
árvores garante alguma sombra, no entanto, estas árvores estão localizadas em apenas uma
pequena porção do pátio, enquanto o restante da área é marcado pela ausência de vegetação.
Figura 7: Presença de vegetação arbórea ameniza a aridez do pátio.
Somente uma das escolas visitadas foi classificada como classe II (com vegetação regular). Um
aspecto interessante é que esta escola, por ser relativamente nova, não possui vegetação arbórea
desenvolvida, estando a presença deste nível de vegetação restrita a mudas recentemente
plantadas. Apesar da quase ausência deste importante nível de vegetação no pátio, a paisagem da
escola está longe de apresentar uma aridez visual. Isto ocorre porque outros níveis de vegetação
estão presentes de forma bastante significativa. Através de um trabalho de paisagismo
desenvolvido pela escola envolvendo toda a comunidade escolar, sob a supervisão de um
profissional da área, foi realizado o plantio de grama, de diversas espécies de arbustos, além da
construção de canteiros para o cultivo de espécies floríferas de ciclo anual (forrações). A
presença destes níveis de vegetação é reforçada pelo entorno da escola, situada ao lado de um
morro coberto por mata nativa, o que confere à paisagem da escola uma aparência bastante
“verde” apesar da ausência de vegetação arbórea significativa. Na Figura 8, pode-se observar
algumas crianças brincando sobre a superfície gramada de uma determinada parte do pátio. O
revestimento das superfícies com grama permite com que as crianças interajam de forma
diferente com as áreas livres do pátio do que o fariam mediante a presença de superfícies
pavimentadas.
Figura 8: Presença de grama permite realização de brincadeiras que não seriam possíveis em
superfícies pavimentadas.
Finalmente, uma das escolas visitadas pôde ser classificada como classe I (pátio com boa
vegetação), de acordo com os critérios da pesquisa. Realmente, o pátio desta escola apresentouse muito próximo ao pátio ideal quanto à vegetação existente, tomando-se por base o referencial
teórico que suporta a pesquisa. Nesta escola, todos os níveis de vegetação previstos encontramse presentes, em quantidades significativas e distribuídos pelo pátio de forma plenamente
integrada, o que permite muitas possibilidades de interação entre os usuários do pátio e as plantas
(Figura 9). Conforme relatado por professores, a atual configuração do pátio é resultado de um
constante trabalho de educação ambiental que envolve a comunidade escolar como um todo
desde a fundação da escola. A vegetação arbórea é extremamente diversificada, com o amplo
emprego de espécies nativas estaduais, todas devidamente identificadas pelos nomes populares
através de placas penduradas junto ao tronco. Além de desempenharem um papel importante ao
projetarem sombra sobre as edificações dada sua posição em relação às mesmas, muitas árvores
configuram áreas de lazer ao abrigarem sob suas copas diversos recantos e trilhas que servem de
refúgio e locais de brincadeira para as crianças. A presença de árvores frutíferas serve de atrativo
para as crianças e para muitos pássaros que freqüentam o pátio da escola. Praticamente toda a
superfície livre do pátio da escola é revestida com gramíneas, com exceção de alguns caminhos e
áreas destinadas às quadras esportivas, que são pavimentadas. Plenamente integradas à
vegetação arbórea, pode-se encontrar diversas espécies de plantas arbustivas e forrações, muitas
das quais apresentando flores, escoltando trilhas ou simplesmente plantadas ao acaso em
determinados pontos do pátio. Estas espécies dão um toque de cor no pátio além de interagirem
de diversas formas com as crianças, servindo de material didático ou incentivando a criatividade
e a realização de brincadeiras (Figura 10). A presença de uma área destinada à horta e a canteiros
de plantas medicinais (Figura 11) e diversas floreiras dispostas próximas às salas de aula, garante
a alunos, professores, funcionários e pais de alunos, locais onde podem desenvolver o cultivo de
plantas junto ao pátio da escola. Toda esta abundante presença de vegetação ainda é reforçada
pela presença de mata nativa em frente e dos dois lados da escola, dando a impressão de se estar
envolto pela natureza.
Figura 9: Presença de diversos níveis de vegetação permite muitas possibilidades de interação
entre os usuários do pátio e as plantas.
Figura 10: Presença de arbustos permite a realização de brincadeiras.
Figura 11: Canteiro de plantas medicinais cultivado pelos alunos.
4. CONCLUSÕES
Aplicando-se o sistema de classificação utilizado pela pesquisa, os resultados sugerem um
panorama predominantemente negativo quanto à presença e qualidade dos elementos vegetais nos
pátios das escolas do município. Mesmo sendo esta a realidade dominante entre as escolas
visitadas, duas escolas apresentaram níveis satisfatórios de vegetação no pátio, sendo que uma
delas apresentou-se muito próximo ao ideal preconizado por esta pesquisa.
Embora as escolas visitadas sejam bastante diferentes em termos de localização, área física
disponível, número de alunos, entre outros aspectos, a variação encontrada entre os pátios no que
diz respeito à presença e qualidade da vegetação existente é extremamente acentuada quando se
consideram as piores e as melhores situações verificadas pela pesquisa. Esta marcante diferença
encontrada pela pesquisa talvez esteja associada às diferentes políticas das escolas em relação ao
uso do pátio. De fato, as duas escolas que foram melhor classificadas pela pesquisa quanto à
vegetação existente passaram (e ainda passam) por um trabalho de conscientização e
envolvimento da comunidade escolar para a transformação do pátio da escola. Observou-se,
ainda, que, nestas escolas, o pátio está bastante vinculado ao desenvolvimento de atividades
pedagógicas, principalmente relacionadas à educação ambiental.
A partir da realidade encontrada nas escolas participantes da pesquisa, pôde-se observar também
que a vegetação no pátio parece ter um efeito muito positivo na percepção de alunos, professores,
funcionários e pais sobre a escola como um todo. A influência da vegetação sobre esta percepção
será o alvo de uma pesquisa que dará seqüência a este trabalho, a qual buscará investigar a
percepção de alunos e professores mediante diferentes condições de vegetação disponível nos
pátios das escolas.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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