Desenvolvimento inicial de mudas de Passiflora alata e Citrus x
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Desenvolvimento inicial de mudas de Passiflora alata e Citrus x
Desenvolvimento inicial de mudas de Passiflora alata e Citrus x limon em substrato contendo lodo de esgoto(1) Paula Wellen Barbosa Gonçalves(2); Paulo Henrique Silveira Cardoso (3); Anarelly Costa Alvarenga (4); Agda Loureiro Gonçalves de Oliveira(3); Daniela Aparecida Freitas (5); Regynaldo Arruda Sampaio(6). (1) Trabalho executado com recursos da - Fapemig. Estudante de Agronomia; Universidade Federal de Minas Gerais; Montes Claros; Minas Gerais; [email protected]; (3) Estudantes de graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental da UFMG; (4) Estudante de Doutorado em Produção Vegetal; Universidade Federal do Espírito Santo; (5) Estudante de graduação em Engenharia Florestal da UFMG; (6) Professor Associado 4 da Universidade Federal de Minas Gerais; Montes Claros – MG (2) RESUMO: Objetivou neste trabalho avaliar o desenvolvimento inicial de mudas de duas espécies frutíferas (Passiflora alata e Citrus x limon) em substratos contendo diferentes doses de lodo de esgoto. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, em delineamento inteiramente Casualizado (DIC), com 6 tratamentos e 10 repetições, durante de fevereiro a julho de 2014. Os tratamentos utilizados nas 2 espécies consistiram no uso de substrato comercial puro (testemunha) e substrato + doses de lodo esgoto (10, 20, 30, 40 e 50 %). Os seguintes parâmetros foram avaliados: (i) taxa de emergência aos 15 dias, (ii) altura da planta, (iii) diâmetro do coleto (iv) matéria seca total aos 90 dias após a germinação. Não houve diferença na taxa de emergência nas duas espécies nos diferentes tratamentos. Após 45 dias de emergência foi constatado que as mudas das testemunhas apresentavam folhas amarelas, sintoma visual típico de deficiência de N. A adição de até 30 % de lodo de esgoto ao substrato proporcionou melhores resultados com relação ao altura e massa seca total das mudas de P. alata e C. x limon. No entanto, para essa última espécie a dose de 50 % mostrou-se mais eficiente na obtenção de massa seca total. Esses resultados relatam a relevância agronômica da utilização do lodo de esgoto na produção de mudas. Termos de indexação: Nutrição de plantas, biossólido, elementos essenciais. INTRODUÇÃO Embora algumas cidades brasileiras gerenciem e tratem adequadamente o esgoto gerado, muitas ainda depositam esse material diretamente nos cursos hídricos sem nenhum tratamento preliminar. Diante disso, como forma de preservação dos recursos naturais em especial os recursos hídricos, adotou-se políticas de incentivo ao saneamento básico, por meio da criação de Estações de Tratamento de Esgoto - ETEs, para que as águas residuárias sejam coletadas e tratadas antes da devolução aos mananciais (Bettiol e Camargo, 2006; Saito, 2007). Na região do norte de Minas Gerais, por exemplo, mais de 40 estações de tratamento de esgotos (ETEs) já foram ou estão sendo implantadas. O tratamento primário e secundário do esgoto gera um sub-produto de composição altamente complexa, denominado lodo de esgoto. O grande volume gerado desse resíduo eleva os custos de descarte para as empresas de saneamento. Além disso, a disposição inadequada desse pode causar graves transtornos ambientais. Dentre as forma e disposição final do lodo a utilização na agricultura se destaca, em virtude dos benefícios econômicos e ambientais. Além disso, este resíduo pode ser utilizado como complemento de fertilizante e condicionador de solo, por possui elevado teor de material orgânico, bem como nutrientes essenciais as plantas, melhorando as propriedades químicas, físicas, biológicas do solo e a produtividade agrícola (Saito, 2007). 1 Uma das estratégias para reutilização deste resíduo é como componente formulação de substratos para produção de espécie frutíferas. Conduto, faltam estudos, que comprove a eficiência do lodo de esgoto da ETE Montes Claros na produção de mudas frutíferas. Nessa perspectiva, esse estudo tem como objetivo, avaliar o desenvolvimento inicial de duas espécies frutíferas, a Passiflora alata e Citrus x limon, em substratos contendo diferentes doses de lodo de esgoto. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em casa de vegetação, não climatizada, no período de fevereiro a julho de 2014 no Instituto de Ciências agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, Localizado em Montes Claros - MG. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado (DIC), com 6 tratamentos e 10 repetições. Utilizou-se duas espécies de frutífera P. alata e Citrus x limon. Os tratamentos consistiram no uso de substrato comercial puro, plantimax, (testemunha) e substrato + doses de lodo esgoto, nas seguintes proporções (v:v): 100:0 (T1), 90:10 (T2), 80:20 (T3), 70:30 (T4), 60:40 (T5) e 50:50 (T6). Os materiais utilizados para a mistura foram medidos utilizando proveta graduada de 1.000,0 mL. Procedeu-se o revolvimento manual de cada tratamento por inúmeras vezes, com intuito de se obter uma formulação com total homogeneidade de componentes. O lodo de esgoto utilizado foi coletado durante o mês de fevereiro de 2014. Apresentando os seguintes atributos: matéria orgânica = 45 dag kg-¹; pH em água = 6,0; P2O5 (total) = 24 g dm-3; K2O = 3,1 g dm-3; N (total) = 37,3 g dm-3; Ca = 75 g dm-³; Mg = 26 g dm-3; S = 10,1 g dm³; Cu = 142 mg dm-3; Zn = 602 mg dm-3. O substrato comercial utilizado foi da marca comercial Plantmax®, mistura de casca de pinus e turfa enriquecida, possuindo as seguintes características químicas segundo o fabricante: P2O5 = 1,2 g dm-3; K2O = 1,7 g dm-3; N (total) = 5,1 g dm-3; Ca = 4,1 g dm-³; Mg = 9,2 g dm3; Cu = 0 mg dm-3; Zn = 13,2 g mg -3. Cada parcela experimental era constituída de um tubete cilindro-cônico, com capacidade volumétrica de 53,0 cm³, no qual foram alocados os diferentes substratos, de acordo com cada tratamento. Após esse processo foi feito o plantio de 3 sementes de acordo com o tratamento em cada unidade. Durante todo período de cultivo as mudas foram irrigadas diariamente, no período da manhã e tarde. Sete dias após a semeadura foi avaliada a velocidade e taxa de emergência em todos os tratamentos, através de contagem direta. Quando as mudas apresentavam em torno de 8,0 cm, realizou-se o desbaste, deixando apenas uma planta de melhor vigor vegetativo. Aos 30 e 100 dias após a semeadura, foram mensuradas as seguintes características das mudas: diâmetro do coleto (DC), obtido com um paquímetro digital, a medição foi rente ao nível do substrato; A altura (A), mensurada utilizando régua milimetrada, tomando-se, como padrão o meristema apical. Na última avaliação, aos 100 dias, as mudas foram retiradas do substrato, para mensuração da massa seca (MS) produzida. Após o processo de coleta, as plantas foram lavadas e alocadas em sacos de papel furado e identificados. Permanecendo em estufa com circulação forçada de ar a 65 ºC, por um período de aproximadamente, 72 horas, então procedeu-se a determinação da MS em balança analítica. Optou-se por não realizar a adição de fertilizantes aos substratos, adubação com micronutrientes e adubação de cobertura, com intuito de verificar se o lodo de esgoto é capaz de suprir a demanda inicial de nutrientes pelas mudas e ou definir qual é o elemento que deve ser adicionado ao substrato. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (p < 0,05) e regressão, utilizando o programa estatístico SAEG, formulação com total homogeneidade de componentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve diferença estatística significativa na velocidade e taxa de emergência em nenhum dos tratamentos. Demonstrando que adição do resíduo, mesmo em diferentes concentrações ao substrato não afetou o processo germinativos de nenhumas das duas espécies estudadas. A 2 velocidade de emergência das sementes é um dos fatores determinante para se garantir a uniformidade de um lote de mudas. Também não houve diferença estatística na altura e diâmetro do coleto entre nenhum tratamento, na avaliação feita aos 30 dias. No entanto observou-se que as folhas mais velhas da testemunha, tanto de P. alata e Citrus x limon, apresentavam coloração verde-claro, seguida de amarelecimento e senescência (Figura 1). De acordo com Silveira et al. (2002), os sintomas citados acima são característicos de deficiência de nitrogênio. Nos tratamentos no qual foi utilizado lodo de esgoto esse fato não foi observado, visto que o lodo de esgoto apresenta alta concentração do referido nutriente quando comparadas as concentrações presente no substrato comercial. Bovi et al. (2007) relatam que durante o processo de cultivo de mudas em substratos contendo lodo de esgoto ocorre a mineralização do N orgânico presente no resíduo, suprindo a necessidade de N dos vegetais. FIGURA-1 Mudas de P. alata testemunha (a esquerda) apresentando sintomas de deficiência em N e o tratamento 30 % do resíduo (a direita). Avaliação feita aos 100 dias após a germinação demonstrou que as mudas da espécie P. alata que se desenvolveram no substrato com adição de 30% de lodo de esgoto apresentaram maior altura e massa seca. Já para diâmetro do coleto não houve diferença estatística entre os diferentes tratamentos (TABELA-1). Bonnet et al. (2002) ressalta a relevância da utilização do lodo de esgoto na produção de mudas. Segundo esses autores o resíduo em estudo é um excelente componente de substratos, resultados expressivos são observados utilizando percentuais de entre 30 e 60% de lodo de esgoto adicionado ao substrato. A avaliação do Citrus x limon aos 120 dias, demonstram que mudas que se desenvolveram no tratamento contendo 30% de lodo apresentaram maior altura e diâmetro do coleto, quando comparadas aos demais tratamentos. Já para matéria seca houve resposta linear, ou seja, plantas que se desenvolveram no tratamento contendo a maior dose de lodo apresentaram maior produção de massa vegetal (TABELA-1). Esses resultados estão de acordo com os relatados por Gomes et al. (2013), segundo eles, mudas que se desenvolveram em substratos contendo lodo de esgoto apresentaram maior desenvolvimento inicial, quando comparadas a testemunha. As altas concentrações de macro e micronutrientes, geralmente presentes na composição do lodo de esgoto, podem ser os responsáveis pelos efeitos positivos observados. Altas doses, 40 e 50 % do resíduo no substrato comercial, causou o decréscimo de quase todos parâmetros avaliados. Esses resultados podem estar relacionados ao aumento da concentração de alguns micronutrientes como Zn e Cu, que se encontravam em elevadas concentrações no lodo de esgoto utilizado. Como esses são requeridos em ínfimas quantidades para nutrição de plantas, o aumento desses para além das necessidades pode causar efeitos fitótoxicos nos vegetais. 3 Tabela 1: Equações de regressão referentes ao desenvolvimento inicial de P. alata e C. x limon em substrato comercial contendo doses crescentes de lodo de esgoto. PM. avaliados A DC MS Espécies P. alata C. x limon P. alata C. x limon P. alata C. x limon Equações Y = 10,3504 + 0,58734X – 0,00983259X2 Y = 4,64286 + 0,308036X - 0,00312500X2 Y = M= 0,9 Y = 1,6613 + 0,029617X – 0,00046584X2 Y = 0,422366 + 0,0496719X – 0,000702X2 Y = 0,184464 + 0,0101214X R2 0,99 0,87 DLR 30 % 30 % 0,87 0,77 0,95 30 % 30 % 50 % Notas: PM = parâmetros avaliados; A= altura (cm); DC= diâmetro do coleto (cm); MS= massa seca (g); DLR= Dose de lodo recomendada. CONCLUSÕES Através desse trabalho podemos inferir sobre a relevância da utilização do lodo de esgoto em sistemas de produção de mudas. Dessa forma, dando uma destinação economicamente viável e ambientalmente correta para disposição final do lodo de esgoto. AGRADECIMENTOS À Fapemig, ao CNPq, à CAPES pelo apoio financeiro e a Copasa pela disponibilização do lodo de esgoto. REFERÊNCIAS BONNET, B. R. P. et al. Effects of substracts composed of biosolids on the production of Eucalyptus viminalis,Schinus terebinthifolius and Mimosa scabrella seedlings and on the nutritional status of Schinus terebinthifoliusseedlings. Water Science and Technology, v.46, n.10, p.239-246, 2002. BOVI, M. L. A.; JÚNIOR, G. G.; COSTA, E. A. D. et al. Lodo de esgoto e produção de palmito em pupunheira. Revista Brasileira Ciência do Solo, 31: 153- 166, 2007. GOMES, D. R; CALDEIRA, M. V. W; DELARMELINA, W. M; GONÇALVES, E. O; TRAZZ, P. A. Lodo de esgoto como substrato para produção de mudas de Tectona grandis L.. Cerne. 2013, vol.19, n.1, p. 123131. BETTIOL, W.; CAMARGO, O. A., A disposição de lodo de esgoto em solo agrícola. In BETTIOL, W.; CAMARGO, O. A., Lodo de esgoto: Impactos ambientais na agricultura. Jaguariuna: Embrapa Meio Ambiente, p.349, 2006. SAITO, M. L. O uso do lodo de esgoto na agricultura: precauções com os contaminantes orgânicos – Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, p.35, 2007. 4
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