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na Igreja e no mundo A segunda visita pastoral de Bento XVI à África O continente africano, “pulmão” espiritual da humanidade Reflexões do cardeal Robert Sarah Suplemento: uma meditação sobre o Natal In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie Diretor: Giulio Andreotti Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. ANO XXIX - N.10 - 2011 R$ 15,00 - € 5 nella Chiesa e nel mondo ano XXIX N. Sumário 1 0 ano 2011 Na capa: uma jovem africana em oração EDITORIAL Dom Giussani e a presença do laicado na Igreja 4 — por Giulio Andreotti CAPA A SEGUNDA VISITA PASTORAL DE BENTO XVI À ÁFRICA p. 4 O continente africano “pulmão” espiritual da humanidade — pelo cardeal Robert Sarah Editorial Giulio Andreotti recorda Dom Luigi Giussani 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo 22 NESTE NÚMERO ANO DA FÉ 2012-2013 Um dom, não uma posse Entrevista com o cardeal Walter Kasper 30 — por G. Valente Diretor Giulio Andreotti IGREJAS ORIENTAIS REDAÇÃO Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected] Vice-Diretores Roberto Rotondo - [email protected] Giovanni Cubeddu - [email protected] Secretaria de redação [email protected] 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo é uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993 n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250 Redação Alessandra Francioni - [email protected] Davide Malacaria - [email protected] Paolo Mattei - [email protected] Massimo Quattrucci [email protected] Gianni Valente - [email protected] SOCIEDADE EDITORA Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Gráfica Marco Pigliapoco - [email protected] Vincenzo Scicolone - [email protected] Marco Viola - [email protected] Conselho de Administração Giampaolo Frezza (presidente), Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei, Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente Imagens Paolo Galosi - [email protected] Colaboradores Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet, Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale, Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi Diretor responsável Roberto Rotondo “Nossa fé é a dos apóstolos, transmitida por São Tomé” Entrevista com George Alencherry, arcebispo-mor da Igreja siro-malabar — por R. Rotondo e G. Valente COLÉGIOS ECLESIÁSTICOS DE ROMA A Índia que fica no coração de Roma 48 — por P. Baglioni REFLEXÕES DE UM POLÍTICO ALEMÃO O Papa continua fiel a si mesmo: deem seu testemunho de fé Tipografia Arti Grafiche La Moderna Via di Tor Cervara, 171 - Roma — por Hans-Gert Pöttering ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃO Via Vincenzo Manzini, 45 - 00173 Roma Tel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 E-mail: [email protected] De segunda a sexta-feira das 9h às 18h e-mail: [email protected] RELATOS DAS MISSÕES Colaboraram neste número Hans-Gert Pöttering Cardeal Robert Sarah Este número foi concluído na redação dia 7 de novembro de 2011 Escritório Legal Davide Ramazzotti - [email protected] Impressão concluída no mês de novembro de 2011 54 Da Valtellina aos Andes 58 — por G. Ricciardi LIVROS Lealdade dos cristãos e tolerância de Roma 65 — por L. Bianchi CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Godong/Corbis: Capa; Per gentil concessão de padre Marko Ivan Rupnik: p.7; Fototeca Messaggero di SantʼAntonio: p.15; Foto Scala, Firenze: p.17; Osservatore Romano: pp.22,30,33,36,42,54-55,56; M.Merletto/Nigrizia: p.23; Paolo Galosi: pp.23,24,46,48,49,50,51,52; Associated Press/LaPresse: pp.25,40,41,57; AFP/Getty Images: pp.25,26,27,29,43,47,55,57; Pepi Merisio: p.28; Foto Felici: p.29; Romano Siciliani: pp.30,40,41; Franco Cosimo Panini Editore su licenza Fratelli Alinari: pp.31,32,35; Per gentil concessão de Sua Beatitude George Alencherry: p.44; National Geographic/Getty Images: p.39; Reuters/Contrasto: p.39; Per gentil concessão de padre Varghese Kurisuthara, reitor do Pontificio Istituto San Giovanni Damasceno: p.49; Michael Horowitz/Anzenberger/Contrasto: p.52; James Estrin/Redux/Contrasto: p.52-53; Shobha/Contrasto: p.53; Per gentil concessão de padre Mirko Santandrea, Postulação da causa de beatificação e canonização do Servo de Deus Daniele Badiali: pp.58,59,60,61,62; LaPresse: p.65. 42 SEÇÕES CARTAS DO MUNDO TODO 10 LEITURA ESPIRITUAL 14 30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 36 30DIAS Nº 10 - 2011 3 Editorial Dom Giussani e a presença do laicado na Igreja por Giulio Andreotti O meu conhecimento pessoal com Dom Luigi Giussani remonta ao período entre os anos Oitenta e Noventa, porém há muito tempo eu já o conhecia de nome, principalmente pela impressão positiva que me causara ao saber que, de modo particular em Milão, nas universidades finalmente alguém tinha reagido a um certo clima ideológico. Na época tínhamos a sensação de uma Milão fortemente contestativa e com expressões políticas de nível ínfimo. Havia muito medo devido às atividades das Brigadas Dom Giussani e Rose Busingye 4 30DIAS Nº 10 - 2011 Vermelhas, aos atentados e crimes, mas também na direita havia fermentos inquietadores. Nas instituições havia a ilusão de que o método democrático, ao qual éramos ligados e do qual não queríamos absolutamente sair, em definitiva pudesse combater por si mesmo o comunismo, mas, talvez, naquele momento não era mais suficiente, e quando os violentos pensaram que podiam dominar, começou por meio de Dom Giussani e dos que o seguiam a retomada. Na realidade, Dom Giussani proporcionou uma espécie de virada, de retorno: não mais a aquiescência à ideologia dominante mas nem mesmo a reação oposta, ou seja, a oposição visceral ao comunismo. Porém, antes de falar de Dom Luigi gostaria de esclarecer um ponto: de maneira incorreta a experiência de Dom Giussani foi vista por muitos como uma concorrência à Ação Católica daqueles anos. Desde aquela época sempre pensei que não fosse uma leitura correta, justamente porque, pela minha intuição externa, Giussani nunca partia de uma oposição a alguma coisa mas de algo positivo. A Ação católica sempre contou com uma organização formada por homens, mulheres, jovens, aspirantes, crianças e dois movimentos: os graduados e os universitários (a Fuci). Durante o período fascista esta forma de organização tinha funcionado muito bem porque consentia aquela míni- Giulio Andreotti e Dom Luigi Giussani ma autonomia e orgulho de diversidade sem criar dificuldades. E foi importante que tenha sido realizada naquela forma detalhada, quase “regimentada”. Lembro que durante uma das celebrações das jovens da Ação Católica (os “boinas marrons”) no Fóro Mussolini, o socialista Saragat disse: “Quero ir para ver”, e ficou bem impressionado. A justa intuição de Pio XI foi a de criar os movimentos e as ramificações, mas deixando que a base continuasse sendo paroquial. Depois com o tempo percebeu-se um certo esgotamento. Isso não queria dizer que a experiência das paróquias não fosse mais válida, mas se tinha interrompido o fio da formação. Cerca de dez anos atrás, no centenário da Fuci, quase fiquei escandalizado porque se manifestava esta característica de base: “Que fique claro que nós não somos um movimento de formação, mas de busca”. Mas para nós, crescidos na Fuci, não era assim! Para nós, os objetivos principais eram justamente os formativos: a liturgia, o estudo do Antigo e do Novo Testamento, uma presença corajosa nas universidades, uma colaboração atenta com os outros estudantes e com os professores – dos quais devíamos ser apreciados em termos qualitativos –, também a ligação internacional através “Pax Romana” e uma sensibilidade social cultivada com as missões assistenciais na Conferência de São Vicente. A este propósito, recordo frequentemente que devo às famílias pobres de Pietralata – onde íamos com a São Vicente – algumas das mais importantes lições de vida que aprendi. ¬ Antes de falar de Dom Luigi gostaria de esclarecer um ponto: de maneira incorreta a experiência de Dom Giussani foi vista em muitas situações como uma concorrência à Ação Católica daqueles anos. Desde aquela época sempre pensei que não fosse uma leitura correta, justamente porque, pela minha intuição externa, Giussani nunca partia de uma oposição a alguma coisa mas de algo positivo 30DIAS Nº 10 - 2011 5 Editorial Nos anos mais gloriosos da Ação Católica, como pode testemunhar o cardeal Angelini, as manifestações de massa tinham mostrado também uma certa força e eram úteis, mas eram ligadas a um momento histórico: a própria mobilização dos comitês civis em 1948 tinha um fim específico, e colocava juntos terciários franciscanos, professores universitários e donas-de-casa. Mas essas manifestações, mesmo positivas, se estivessem fora do contexto, eram uma espécie de antídoto, e o risco era que o único critério apreciado fosse o número, a massa, considerada um todo, enquanto o indivíduo, segundo os ditames da ideologia extra-católica da época, não era considerado de nenhum modo. Dom Giussani, eu dizia, dava o sentido da não aquiescência, de não ter medo. Dava a sensação de que se pudesse reagir, mesmo ideologicamente, levando ideias, formação, atualização. Considerando também o catolicismo em outros países e o que estava acontecendo no mundo. Dom Giussani inovou com uma sua linha que, creio, tivesse clara desde o início, mas que introduziu gradualmente porque, talvez, uma pregação imediata, direta, como a que eu tive oportunidade de ouvir, poderia sem dúvida causar fascínio, mas precisava também de preparação. E uma certa evolução aconteceu. Um outro ponto: Dom Giussani, as obras da Comunhão e Libertação, a presença dos leigos católicos na sociedade. Permito-me uma comparação: pensem em Marta e Maria no Evangelho. Maria ouvia Jesus e, se Marta não se dedicasse à cozinha – mesmo se ninguém tivesse morrido de fome naquela noite porque Jesus estava com eles –, algum problema teria acontecido, porque alguém devia necessariamente preparar a comida. Uma das primeiras vezes que assisti a um encontro entre os quadros da Comunhão e Libertação e Dom Giussani, recordeime deste episódio do Evangelho, porque mesmo impressionado pela atmosfera do encontro e pelo que se dizia, pareceu-me ter percebido uma distinção, uma diferença entre Dom Giussani e as obras, 6 30DIAS Nº 10 - 2011 a Companhia das Obras. Estas eram belíssimas e positivas, mas me parecia que ele se reconhecesse mais na figura de Maria. Portanto era sensato e positivo que alguém se dedicasse aos aspectos organizativos, porém a ele interessavam outras coisas. Em uma ocasião ouvi um seu discurso sobre o conceito de obra que, se não for enraizada e sustentada por grandes ideias, esteriliza, murcha e morre. Impressionou-me o ponto central desta sua observação que não era absolutamente uma crítica às obras. Porém dizia: “Atenção, não devemos ser interessados apenas na materialidade”. Este tema hoje volta a ser de atualidade pois encontramos um certo “abatimento” nas universidades – mas também em outros âmbitos da vida cotidiana – e uma certa vivacidade foi novamente perdida. Um terceiro elemento: Giussani tinha uma capacidade comunicativa particular, mas no início eu não conseguia captar seu espírito. Consegui com o tempo, porque no início era como se falasse uma língua diferente da minha: dizia coisas muito lindas, que ficavam no coração, mas eu não tinha a chave de leitura destas coisas. Tinha uma expressão carismática, isso sim, via-se que era diferente, e havia algo diferente nele; se tivesse que compará-lo a alguém, diria a Mazzolari, mas também a padre Gnocchi. Neles havia alguma coisa diferente, agiam sempre com um horizonte mais amplo. Ao invés, eu sou de outra natureza, um burocrata, levado a apreciar a normal administração. Sempre pensei que os ministros mais merecedores sejam os que ao invés de angustiarem-se por mais uma reforma tentam fazer funcionar, com humildade, os mecanismos que já existem. ¬ Jesus com Marta e Maria, detalhe do mosaico Mesa de Betânia, Marko Ivan Rupnik, refeitório do Centro Aletti, Roma 30DIAS Nº 10 - 2011 7 Editorial O cardeal Joseph Ratzinger, durante a homilia por ocasião do funeral de Dom Giussani, Catedral de Milão, 24 de fevereiro de 2005 E para entender integralmente Dom Giussani foram-me úteis duas coisas. A primeira foi ouvir a homilia feita por Ratzinger na sua missa fúnebre. Fiquei muito impressionado porque o então cardeal Ratzinger fez uma fotografia exata de Dom Giussani. Não era apenas um sermão fúnebre, via-se que sentia muito o que estava dizendo e na minha opinião, também algumas linhas de seu pontificado são reconhecíveis naquele modelo de apostolado que indicava Dom Giussani. Pelo modo como falou na missa fúnebre e em outras ocasiões, intui-se que não era apenas admiração ou sentido de amizade que o ligava a Giussani, mas também concordância com o modelo de vida cristã a ser pregado. Apenas uma nota a este propósito: para mim Ratzinger é um papa autenticamente moderno e a crítica que justamente faz à falsa ideia de modernidade que hoje impera, acredito que seja a mesma que ensinava Giussani. A nossa geração não estava preparada para enfrentar a ideia de que a modernidade consistisse somente em não ter regras. Enquanto que no plano econômico e social estávamos bem preparados – penso no código de Camaldoli, penso na modernidade da reforma agrária –, em outras frentes aderimos a de- terminadas coisas porque pareciam sinal de modernidade, sem intuir suas consequências a longo prazo. Penso, por exemplo, na modificação do Código dos artigos sobre o matrimônio, em que o conceito de pai de família, a autoridade, desaparece. Aceitamo-la para não parecermos pouco modernos. Sim, Giussani e Ratzinger são personalidades que sabem indicar um caminho. E não todas as grandes figuras do catolicismo, além da sua fé pessoal, têm este dom. Por exemplo Lazzati, que certamente está no paraíso, eu o vi algumas vezes à missa, de manhã cedo, na igreja de Jesus, e parecia realmente em êxtase, porém – afirmo isso com a consciência de fé de um ro- E para entender integralmente Dom Giussani foram-me úteis duas coisas. A primeira foi ouvir a homilia feita por Ratzinger na sua missa fúnebre. Fiquei muito impressionado porque o então cardeal Ratzinger fez uma fotografia exata de Dom Giussani. Não era apenas um sermão fúnebre, via-se que sentia muito o que estava dizendo e na minha opinião, também algumas linhas de seu pontificado são reconhecíveis naquele modelo de apostolado que indicava Dom Giussani 8 30DIAS Nº 10 - 2011 Mas, voltando a Dom Giussani, a outra coisa que me permitiu entendê-lo melhor foi participar, muitas vezes nestes anos, à missa na Basílica de São Lourenço fora dos Muros celebrada pelo padre Giacomo Tantardini, um sacerdote que sempre manifestou admiração e devoção a Dom Giussani; apresentando-o sempre como ponto de referência ao qual seguir A capa de 30Jours, n. 1 - 2008; padre Giacomo Tantardini e Dom Giussani na Praça de São Pedro, Domingo de Ramos, Ano Santo, 23 de março de 1975 mano do povo como sou – não diria que tenha conseguido dar um direcionamento à Universidade Católica. Mas, voltando a Dom Giussani, a outra coisa que me permitiu entendê-lo melhor foi participar, muitas vezes nestes anos, à missa na Basílica de São Lourenço fora dos Muros celebrada pelo padre Giacomo Tantardini, um sacerdote que sempre manifestou admiração e devoção a Dom Giussani; apresentando-o sempre como ponto de referência ao qual seguir. Desde que sou diretor de 30Dias, tive muitas vezes a oportunidade de participar a essas missas no sábado à noite, a batismos, a crismas, e todas as vezes vi algo único: estudan- tes e trabalhadores, jovens casais com crianças de mãos dadas que vão receber a comunhão, uma coisa realmente paradisíaca. Perguntei-me, também graças a uma bela capa de 30Dias de 2008 dedicada a Lourdes, se não seria esse o futuro do cristianismo, o modelo do laicado para os próximos anos. Certamente me permitiu compreender e entrar em maior sintonia com as palavras ouvidas no passado por Dom Giussani. (Discurso para o XV Congresso Internacional sobre o Rosto Santo, realizado na Pontifícia Universidade Urbaniana, dias 22 e 23 de outubro de 2011) 30DIAS Nº 10 - 2011 9 Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca H á algum tempo chegam à redação de 30Dias cartas provenientes não apenas dos mosteiros de clausura, das missões, dos seminários, mas também de bispos e sacerdotes, de religiosos e religiosas, de simples fiéis de todas as partes da terra. Portanto, consideramos oportuno chamar essa seção “Cartas do mundo todo”, marcando-a com a imagem de Jesus com os apóstolos Pedro, Tiago e João extraída da Última Ceia, um dos novos mosaicos da fachada da Basílica do Rosário, em Lourdes, realizados pelo padre Marko Ivan Rupnik S.J., por ocasião do sesquicentenário das aparições de Nossa Senhora a Bernadete. A escolha da imagem de Jesus com os discípulos prediletos na Última Ceia, quer sugerir como também essas cartas são um pequeno sinal do grande mosaico de comunidades eucarísticas nas quais se torna presente o sacrifício de amor de Jesus, como dizia o Papa Bento XVI, na quarta-feira, dia 26 de outubro. As cartas que chegam todos os meses à redação são numerosas. Sentimos não poder publicá-las todas e desculpamo-nos com os interessados. Mas fazemos questão de garantir que todas são lidas e a todas tentamos responder, e sempre que possível, realizar os eventuais pedidos que são feitos. 10 30DIAS Nº 10 - 2011 MÉXICO ADORADORAS PERPÉTUAS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO La Paz, Baixa Califórnia do Sul, México Ficamos entusiasmadas por retomar o canto gregoriano, principalmente nas solenidades La Paz, 4 de agosto de 2011 Estimado senhor diretor, seja louvado o Santíssimo Sacramento! Receba uma afetuosa saudação dessas longínquas ter- artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • As imagens que ilustram as páginas das “Cartas do mundo todo” e as da “Leitura espiritual” são dos afrescos da basílica de Santo Antônio de Pádua. Aqui acima, Crucifixão, Altichiero, capela de São Tiago ras da Baixa Califórnia do Sul, onde recebemos mensalmente a sua bela revista 30Dias, graças à qual podemos saber das notícias mais variadas da Igreja e do mundo. Por isso agradecemos ao senhor e a todos os que trabalham na redação. Queremos agradecer-lhe também pelo livro “El Hijo no puede hacer nada por su cuenta”, e pelo CD com os cantos gregorianos, que nos deu entusiasmo para retomar o canto gregoriano principalmente nas solenidades. Somos uma comunidade de 21 irmãs; no ano passado voltaram à Casa do Pai a fundadora da comunidade, a reverenda madre María Angélica e irmã María de San José, de modo que, a 46 anos da fundação, na comunidade permanece apenas uma das fundadoras. Despedimo-nos garantindo as nossas orações e parabenizando-o pela revista, a madre superiora Luísa Beltrán C. 30DIAS Nº 10 - 2011 11 Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca MALÁUI IRMÃS SACRAMENTINAS DE NTCHEU Ntcheu, Maláui Pedimos uma contribuição para construir um abrigo para jovens órfãs ou pobres Ntcheu, 22 de agosto de 2011 Caríssimo senhor Andreotti, quando estava na Itália por um breve período, tive a sorte de encontrar e ler a sua belíssima revista 30Giorni e de apreciar os seus conteúdos. Quanto precisaríamos, nós que residimos em terra de missão, onde as notícias nunca chegam na perspectiva real, poder conhecer as chaves de leitura do que acontece no mundo e saber o que acontece de belo também no mundo da Igreja! É por isso que me permito dirigir-me ao senhor para poder receber também na minha comunidade um exemplar da sua revista, que considero um importante meio não só de informação mas também de formação! Além disso, gostaria de fazer-lhe um outro pedido: na nossa missão dedicamo-nos à educação, com a certeza de que oferecer instrução e educação seja o meio melhor para ajudar um país a crescer rumo a um progresso lento mas respeitador da dignidade do homem. Queremos construir ao lado da nossa escola do grande bairro de Nsumbi (na diocese de Mangochi) um abrigo para uma centenas de jovens órfãs ou muito pobres, para assim dar-lhes a possibilidade de frequentar regularmente a escola e dedicar algum tempo ao estudo, o que raramente é possível em seus vilarejos. Estamos nos empenhando na construção de um abrigo para poder hospedá-las todo o ano, seriam dormitórios e uma cozinha com refeitório, para que encontrem um ambiente essencial para uma vida digna e serena. Na África, tudo está ficando cada vez mais difícil, ainda mais nestes tempos em que parece que as injustiças sobre os mais fracos se multiplicam, a ponto de 12 30DIAS Nº 10 - 2011 que o nosso projeto encontra a todo momento sempre novos obstáculos! Apenas a certeza da necessidade dessa obra em favor das mulheres da África nos dá coragem para não desistir mesmo se as despesas se multiplicam além dos orçamentos previstos. Pedimos, se possível, uma contribuição para levar adiante pelo menos no essencial este trabalho grande que ainda devemos realizar. Para qualquer informação, podemos nos manter em contato por meio do correio eletrônico neste endereço: [email protected]. Desde já agradecemos-lhes o que conseguirem realizar por nós e contem com a nossa recordação diante do Santíssimo Sacramento na nossa adoração cotidiana. Com muita estima e reconhecimento, irmã Ornella Sala e as irmãs sacramentinas de Ntcheu PORTUGAL FRATERNIDADE DOS IRMÃOZINHOS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS Beja, Portugal Somos uma fraternidade franciscana que vive no sul de Portugal Beja, 7 de setembro de 2011 Paz e bem! Pelas mãos de um amigo chegou-me uma revista 30Dias, a qual li e reli várias vezes. Confesso que gostei imenso da vossa revista, pois dá uma visão da vida da Igreja no mundo muito completa. Parabéns pela vossa revista. Louvado seja Deus pela vossa Obra de Evangelização. Somos uma Fraternidade Franciscana que vive no sul de Portugal numa das Diocese mais pobres do nosso país, a Diocese de Beja. Gostaríamos muito de receber a vossa revista, que nos seria muito útil para a nossa missão e para a formação dos jovens irmãos da nossa comunidade, mas não temos meios económicos para isso. A nossa comunidade dedica-se essencialmente à Evangelização em terras do Alentejo. Gostaríamos muito de receber um exemplar para cada Irmão do livrinho Quem reza se salva, mas fica um pouco caro para a nossa comunidade que é forma- artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Imago Pietatis, Altichiero, capela de São Tiago da por oito jovens consagrados que na pobreza e na alegria anunciam o Evangelho da paz e do bem! Despeço-me deixando a certeza da nossa oração por toda a equipa de redacção desta revista que é um instrumento valioso para a igreja. Abraço fraterno, ir. Ricardo Borges Beja, 19 de setembro de 2011 Paz e Bem! Queremos agradecer o envio que nos fizeram dos livrinhos Quem reza se salva. O livro de orações está muito bem preparado, vai ser muito útil para o nosso apostolado de Evangelização. ¬ continua na p. 18 30DIAS Nº 10 - 2011 13 Leitura espiritual • Leitura espiritual • Le Confiança! É a mão de Jesus que tudo conduz... Santa Teresa do Menino Jesus Convite à oração A redação de 30Dias convida a todos, em particular às pessoas consagradas dos mosteiros de clausura, a rezarem por padre Giacomo Tantardini. Há alguns meses ele vem-se tratando de um câncer no pulmão. Que o Senhor nos conceda pedir com confiança o milagre da cura. Aos sacerdotes que estimam e querem bem a 30Giorni pedimos que celebrem a santa missa segundo essa intenção. Aos pais pedimos a caridade de fazerem seus filhos rezar. Não nos cansemos de rezar. A confiança faz milagres. Santa Teresa do Menino Jesus 14 30DIAS Nº 10 - 2011 eitura espiritual • Leitura espiritual • Leitura espiritual • Leitura Stefano da Ferrara, Nossa Senhora do Pilar “Nos humildes a graça resplandece mais” Pádua, Basílica do Santo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011, santa missa pelo 33º aniversário da morte do papa João Paulo I homilia de padre Giacomo Tantardini empre me conforta o trecho do Evangelho que ouvimos (Lc 9,57-62), que, no fundo, sob diversos pontos de vista, diz uma coisa só: que a iniciativa de seguir a Jesus não nasce do homem, mas é de Jesus. Ninguém pode tomar por si mesmo a iniciativa de segui-Lo. “Não fostes vós que me es- S colhestes; fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). A iniciativa é do Senhor. É em primeiro lugar Sua. O homem pode-se deixar atrair, mas não pode tomar por si mesmo a iniciativa. Isso, nas poucas e belas pregações de quarta-feira do papa Luciani, foi como um refrão que ele ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 15 Leitura espiritual • Leitura espiritual • Le repetiu várias vezes. Na pregação sobre a fé, depois de ter lido em dialeto romanesco uma poesia de Trilussa, ele diz: “Esta poesia é boa como poesia, mas defeituosa como catecismo”, pois, explica o Papa, a fé não nasce do homem. A fé é dom de Jesus. Tanto assim, que Jesus disse: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair” (Jo 6,44.65). Ninguém pode ir a Jesus, se Jesus não o atrai. A fé é graça do Senhor. E na pregação sobre a caridade João Paulo I diz justamente isto: “Eu não dou um passo, se Deus não toma primeiro a iniciativa”. Nós, sozinhos, não damos um passo; sozinhos, não tomamos nenhuma iniciativa. A iniciativa é do Senhor. Se Ele não começa, nós não damos o primeiro passo. Se Ele não atrai, nós não O seguimos. É como um refrão, naquelas quatro fantásticas pregações, a afirmação de que a vida cristã é graça, é iniciativa da graça, e de que a nossa resposta é a correspondência a essa atração. Mas, relendo essas pregações de quarta-feira, o que mais me impressionou, agora, foi ver que o Papa diz várias vezes: “Rezem por este pobre Papa”. Ele usa a expressão “pobre Papa”: “Quem sabe o Espírito Santo ajuda este pobre Papa...”. “Quando o pobre Papa, quando os bispos, os sacerdotes propõem a doutrina...”. E ainda: “Vejo aqui, perto de mim, alguns irmãos bispos, e com eles este pobre Papa”. Como é bela a expressão “pobre Papa”! Entendo talvez agora por que o bom cardeal Gantin, comentando o conclave que elegeu o papa Luciani, disse simplesmente: “Ficamos todos muito contentes!”. Não foi uma surpresa a eleição de Luciani, era algo previsível, mas todos ficaram muito contentes, pois uma pessoa pobre, uma pessoa humilde tinha sido eleita bispo da Igreja de Roma. A uma Igreja pobre, a uma Igreja humilde, a uma Igreja pequeno rebanho, tinha sido dado um Papa pobre, um Papa humilde e, portanto, ficaram todos muito contentes. Pois, como diz Santo Ambrósio: “Nos humildes resplandece 16 30DIAS Nº 10 - 2011 mais a graça / In humilibus magis elucet gratia”. Nos pobres, nos humildes, a graça resplandece mais. E quando a graça resplandece ficamos todos contentes. Quando resplandece o que o Senhor faz, ficamos todos contentes. É assim que lembramos esse pobre Papa trinta e três anos depois da sua morte repentina. Celebramos a lembrança desse pobre Papa. Desse “pobre Papa”, pobre e portanto grande aos olhos do Senhor e aos olhos de seus santos. Nós o celebramos aqui em Pádua, na Basílica de Santo Antônio. “Si quaeris miracula / Se queres obter milagres”, diz o canto, “reza a Santo Antônio”. Assim, ao lado do papa Luciani, ao lado dos nossos amigos no paraíso, de todos os santos do paraíso, rezamos particularmente a Santo Antônio pelos milagres, por todos os milagres. Hoje, no breviário, nas vésperas, havia esta frase de São Pedro: “Lançai sobre o Senhor toda a vossa preocupação, pois ele é quem cuida de vós” (1Pd 5,7). É preciso pedir todos os milagres. É preciso pedir todas as graças. Nestes meses – e eu o digo pelo afeto e pela amizade que nos liga – muitas vezes, talvez quando o medo e a angústia se apresentaram, eu repeti esta frase: “Jesus, te ofereço; Jesus, curame; Jesus, torna-me humilde”. É preciso pedir todos os milagres, por exemplo o milagre da cura. Todos os milagres. Mas a imagem de Santo Antônio com o menino Jesus nos braços sugere que todos os milagres são pedidos dentro desse abraço. “Fora de ti, ninguém mais desejo sobre a terra” (Sl 73,25). Fora desse abraço de Jesus, fora do abraço de Jesus, fora da ternura de Jesus, a pessoa nada pede. Dentro dessa ternura – como quando Antônio tinha o menino Jesus nos braços –, a pessoa pode pedir tudo. Como a criança pequena, que pede tudo ao pai e à mãe. Dentro dessa ternura, dentro desse abraço: “Fora de ti, ninguém mais desejo sobre a terra”. Então, a primeira coisa a pedir é essa familiaridade mais que maravilhosa com Jesus. E a ternura da comunhão com Jesus. “É fiel o Deus que vos chamou à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Cor 1,9). Como é doce essa comunhão! Santo Antônio carrega o menino Jesus nos braços, mas é Jesus quem carrega Antônio. Quantas vezes depois da comunhão repito esta oração de eitura espiritual • Leitura espiritual • Leitura espiritual • Leitura Nossa Senhora no trono, Giusto de’ Menabuoi Santo Ambrósio: “Veni, Domine Iesu, / Vem, Senhor Jesus, / ad me veni, / vem a mim, / quaere me, / busca-me, / inveni me, / encontra-me, / suscipe me, / toma-me nos braços, / porta me / me leva”. Quando somos carregados pelo Senhor, então pedimos tudo. Assim, nestes últimos tempos da minha vida, lembrei-me de uma jaculatória do Cântico dos Cânticos (2,16), da época em que, pequeno, entrei no seminário, que diz: “Dilectus meus mihi et ego illi qui pascitur inter lilia / O meu amado está comigo...”. O meu amado, porque amado do coração é o Senhor Jesus. O meu amado está comigo; e nós também, pobres pecadores, por renovada graça, podemos dizer: “E nós com Ele, que é um pastor entre os lírios”. Com Ele, que é o único santo, o único Senhor. Tu solus sanctus, Tu solus Dominus. O único que nos ama com um amor tão doce, tão terno, a ponto de o amor do pai e da mãe ser uma pequena imagem desse amor. Peçamos aos santos, peçamos ao papa Luciani, peçamos a Santo Antônio, peçamos a Dom Giussani, peçamos aos santos do paraíso que nos façam experimentar também neste mundo a ternura de sermos amados por Jesus e, dentro dessa ternura, peçamos todos os milagres. Todos os milagres de que precisamos para preservar e viver a fé. q 30DIAS Nº 10 - 2011 17 Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca O Anjo anunciador, capela de São Tiago segue da p. 13 Ficamos a aguardar algum exemplar da vossa revista, que tiveram a generosidade de nos oferecer uma assinatura. Só Deus poderá dar a recompensa pela vossa tão grande generosidade. Despedimo-nos com a certeza da nossa oração por vós, ir. Ricardo Borges CHILE MISSIONÁRIOS SALESIANOS Catemu, Chile Um obrigado da Terra do Fogo Catemu, 8 de setembro de 2011 Estimadíssimos redatores de 30Giorni, sou um assíduo leitor desta revista. Recebo-a pontualmente e considero que seja bem feita, útil e que nos mantenha unidos à Igreja. Desejo que o Senhor vos abençoe pelo trabalho feito em benefício dos leitores, especialmente dos que estão longe. Sou salesiano e encontro-me no Chile, na Terra do Fogo. Parabéns pelo CD com os cantos tradicionais para a missa em latim, acompanhado pelo livrinho com os textos: formidável! Lembro-me com certa nostalgia dos anos da minha juventude, quando se usava muito o latim na liturgia. 18 30DIAS Nº 10 - 2011 Então, para aproveitar ao máximo o conteúdo da revista, peço-vos o favor de enviá-la em língua espanhola, porque assim posso passá-la para outras pessoas, pois em italiano só eu posso lê-la. Aqui chega um só exemplar destinado a Giuseppe De Marchi (que já voltou definitivamente para a Itália). Faço-lhes votos de prosseguimento deste trabalho, e para vocês a minha recordação nas orações, e cordiais saudações. Ardiccio Fusi artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • A Virgem anunciada, capela de São Tiago COLÔMBIA CLARISSAS DO MOSTEIRO DE BELLO Bello, Colômbia Obrigada por Quien reza se salva Bello, 24 de setembro de 2011 Estimado senhor Giulio Andreotti, receba a nossa saudação fraterna de paz e bem, com abundantes bênçãos do Senhor pelo maravilhoso trabalho de evangelização que o senhor leva adiante por meio da revista 30Días. Alguns dias atrás recebemos dez exemplares do livrinho Quien reza se salva. O senhor não pode imaginar a nossa alegria ao ver as principais orações do cristianismo reunidas em um livrinho, que partilharemos com as novas religiosas e os fiéis que nos acompanham durante as celebrações litúrgicas do nosso mosteiro. Com a nossa sincera lembrança na oração lhe acompanhamos de perto, compartilhando com o senhor e os seus colaboradores os tesouros espirituais que recebemos do Senhor. Esperamos receber logo a revista 30Días porque a consideramos um precioso instrumento espiritual que nos ajuda a crescer na fé e na resposta vocacional que damos a Deus da vida contemplativa que nos une. Deus os abençoe e a Virgem Santíssima lhes dê coragem e conforto sempre com a força do Espírito Santo de Deus. Com renovado afeto e gratidão, a abadessa irmã Margarita María del Sagrado Corazón, OSC, e comunidade COREIA DO SUL CAPUCHINHOS DA CUSTÓDIA DA COREIA DO SUL Seul, Coreia do Sul Dos frades capuchinhos da Coreia Seul, 27 de setembro de 2011 Pax et Bonum. Primeiramente, obrigado pelos dois exemplares gratuitos da revista 30Days. Os nossos frades estão muito felizes pela possibilidade de ler a revista. ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 19 Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca Eu me chamo Anthony Choi, frade capuchinho da Custódia da Coreia. Sou um seminarista e estudo para me tornar sacerdote. Aqui no nosso convento, onde aloja os seminaristas, há três frades seminaristas coreanos e um sacerdote irlandês. A nossa Custódia foi fundada pela província irlandesa em 1986 e este ano festejamos o jubileu de prata. Na nossa Custódia contamos com dezesseis frades e dois postulantes. Gostaríamos de receber, se possível, a revista 30Days gratuitamente, os nossos frades ficariam muito contentes. Caso não seja possível, não tem problema. Compreendemos a situação de vocês. Recordarei suas famílias e seus amigos nas minhas orações. Pedimos para que recordem dos frades capuchinhos na Coreia. Deus os abençoe, Anthony Choi ITÁLIA Nós moramos a vinte metros da igrejinha onde estão os restos mortais do beato padre Serafino Morazzone Chiuso di Lecco, 7 de outubro de 2011 Há muitos anos sou assinante desta belíssima e importante revista da qual me “nutro” de cultura eclesial, política e muito mais! Hoje, quando chegou o número 7/8, li na página 70 o artigo escrito por Giovanni Ricciardi intitulado “A grandeza da pequenez”, sobre a figura do beato padre Serafino Morazzone, citado por Manzoni em Os Noivos (Fermo e Lucia). 20 30DIAS Nº 10 - 2011 Que surpresa! Nós moramos a vinte metros da igrejinha dedicada a São João Batista no distrito de Chiuso di Lecco, onde estão os restos mortais do beato! Além disso, pensando em dar a possibilidade aos que vêm em peregrinação de encontrar um ponto de descanso e pernoite, abrimos um bed and breakfast do qual me permito enviar à redação o endereço internet www.bebtralagoemonti.it. Renovando os meus votos para que 30Giorni possa ser cada vez mais uma revista de sucesso, cordiais saudações. Maria Assunta Anghileri Aurelio Brusadelli FRANÇA DOMINICANAS DO MOSTEIRO NOTRE-DAME DE CHALAIS Chalais, França Garanto-lhe a minha oração e a da minha comunidade Chalais, 8 de outubro de 2011 Prezado senhor, agradecemos-lhe pela 30Jours! É magnífica e é uma alegria receber notícias sobre o Santo Padre e sobre o que acontece na Itália. Sou uma irmã dominicana. Minha família é proveniente de Roma e da região de Abruzzo. Não falo italiano, mesmo se o meu nome é Domenica Benzi, Dominique em francês. Obrigada por nos enviarem a revista. Garantolhe a minha oração e a da minha comunidade, em nome da qual estou escrevendo. Rezo pelo senhor e por todos os que trabalham nesta revista de que eu gosto muito. Renovando meus agradecimentos, irmã Dominique, O.P. Coroação de Maria, Giusto de’ Menabuoi artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • 30DIAS Nº 10 - 2011 21 C A PA A segunda visita pastoral de Bento XVI à África O continente africano, “pulmão” espiritual da humanidade Bento XVI durante a viagem a Camarões e Angola, em março de 2009; o Papa retorna ao continente africano em viagem apostólica ao Benim, de 18 a 20 de novembro de 2011 pelo cardeal Robert Sarah presidente do Pontifício Conselho “Cor Unum” África se sente realmente honrada por esta segunda visita pastoral do Santo Padre, o papa Bento XVI, que logo irá ao Benim. Essa visita pastoral, sem a menor dúvida, deverá encorajar o continente africano a tomar nas mãos, de modo responsável, o seu destino, deverá encorajá-lo enquanto atravessa tantas provações, consolidar a fé dos cristãos e chamar a atenção da Igreja para a sua tarefa missio- A 22 30DIAS Nº 10 - 2011 nária. A África está plenamente aberta a Cristo. Deu um grande passo na direção de Jesus Cristo. No início do século XX não havia mais que dois milhões de católicos em toda a África. Hoje o continente possui 147 milhões deles, com uma quantidade impressionante de vocações à vida sacerdotal e religiosa, e muitas conversões ao cristianismo. Mas amplas regiões não conhecem ainda “o Evangelho de Deus” (Mc 1,14). O primeiro Sínodo, sobre “A Igreja na África e sua missão evangelizadora”, e o segundo Sínodo do continente, sobre “A Igreja na África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz”, enfrentaram com muita seriedade e trabalho as questões básicas que preocupam e atormentam toda a Igreja e os povos africanos: a evangelização; a inculturação; a Igreja “família de Deus”; o diálogo como “forma de ser do cristão dentro de sua co- ¬ Biografia do cardeal Robert Sarah R obert Sarah nasceu em Ourous, na arquidiocese de Conakry, na Guiné, em 15 de junho de 1945. Ordenado sacerdote em 20 de julho de 1969, foi depois enviado a Roma, onde obteve o mestrado em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Em Roma enriqueceu sua formação cultural no Pontifício Instituto Bíblico, aprofundando-a, em seguida, com um período de estudos no Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém. De volta à pátria, foi pároco e depois reitor do seminário menor de Kindia. Nomeado arcebispo de Conakry em 13 de agosto de 1979, foi consagrado em 8 de dezembro do mesmo ano. Em seguida, foi administrador apostólico de Kankan, presidente da Conferência Episcopal da Guiné e presidente da Conferência Episcopal Regional da África Ocidental Francófona (Cerao). Em outubro de 2001 foi nomeado secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos, ofício que desenvolveu por nove anos, até 7 de outubro de 2010, quando Bento XVI o designou presidente do Pontifício Conselho “Cor Unum”. Foi criado cardeal por Bento XVI no consistório de 20 de novembro de 2010. D. M. 30DIAS Nº 10 - 2011 23 C A PA A cerimônia de abertura da 2ª Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Basílica de São Pedro, 4 de outubro de 2009 munidade, como também com os outros crentes”; a justiça e a paz; a reconciliação; a influência maciça e poderosa da mídia na evolução cultural, antropológica, ética e religiosa das nossas sociedades. Essas questões importantes foram estudadas e discutidas num clima de fé e oração, examinadas com humilde obediência à Palavra de Deus e sob a luz sempre acesa do Espírito, que nos acompanha ao longo da história. Tenho confiança de que com a paciência, a determinação, a força da fé, e com a ajuda de Deus, o continente africano conhecerá a paz, a reconciliação, uma maior justiça social, e poderá contribuir para reencontrar os valores humanos, religiosos e éticos, a sacralidade e o respeito à vida desde a concepção até a morte natural, a grandeza do matrimônio entre homem e mulher, o significado e a nobreza da família, que as sociedades modernas – sobretudo ocidentais, enfraquecidas pela “apostasia silenciosa” – “desconstroem” e tornam desfocados e inconsistentes. Poderá contribuir para reencontrar a Deus, o senti24 30DIAS Nº 10 - 2011 do do sagrado e a realidade do pecado, em suas formas individuais e sociais. Além de seus fabulosos recursos naturais, o continente africano possui uma extraordinária riqueza humana. Sua população é jovem e em constante crescimento. A África é uma terra fecunda em vida humana. Infelizmente, apesar das riquezas naturais e humanas, é tragicamente ferida pela pobreza, pela instabilidade e por desordens políticas e econômicas. Conhece ainda os efeitos da dominação, do desprezo, do colonialismo, um fenômeno que – embora aparentemente concluído no plano político – não está extinto de modo algum: hoje é mais sutil e dominante do que nunca. Em razão das fraquezas tecnológicas, econômicas e financeiras da África, os poderosos e astutos especialistas do mundo econômico organizaram o saque e a exploração anárquica de suas riquezas naturais, sem nenhum benefício para os povos do continente. A África é pobre e sem dinheiro, mas compra armas com seus recursos naturais para iniciar guerras fomen- tadas com a cumplicidade de certos líderes africanos corruptos, desonestos e que não se importam com os atrozes sofrimentos de seus povos, continuamente refugiados e em fuga diante da violência, dos conflitos sanguinolentos e da insegurança. É preciso, todavia, agradecer a Deus. Hoje a África, em seu conjunto, parece viver uma certa calma em comparação com as agudas tensões que marcaram o continente nas últimas duas décadas. Ainda que em alguns lugares a paz e a segurança das populações continuem ainda frágeis e ameaçadas, é perceptível uma evolução real para a pacificação. Uma vez ter minada – ou quase – a guerra, é preciso agora empreender o caminho da reconciliação. O segundo Sínodo sobre a África chegou no momento certo para recordar aos cristãos que eles devem ser artífices de paz e de reconciliação. Para ajudar a África a enfrentar esse imenso desafio e essa difícil batalha contra a pobreza, pelo desenvolvimento econômico e por uma existência humanamente mais digna e mais feliz em que a Igreja deve colaborar com outras instituições, o Santo Padre, papa Bento XVI, volta à África com o objetivo de reafirmar aos africanos toda a sua confiança em sua capacidade de sair autonomamente dessa longa e penosa crise socioeconômica e política por meio do trabalho, da unidade e da comunhão de intenções, e lembrar aos cristãos da África que Deus nos reconciliou com Ele por intermédio de Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação (cf. 2Cor 5,18). O Santo Padre estimulará as energias do continente africano e, como um pai, estimulará os africanos a sair da “reserva” e a entrar nos grandes circuitos mundiais para afirmar-se e manifestar publicamente os valores culturais e as inestimáveis qualidades humanas e espirituais que podem oferecer à Igreja e a toda a humanidade. É claro que hoje a maior parte da África está fora dos grandes circuitos mundiais. É facilmente deixada de lado, marginalizada. A África é um elo negligenciável da BENIM. A segunda visita pastoral de Bento XVI à África corrente mundial, diante de um mundo totalmente controlado pelas nações ricas e poderosas dos pontos de vista econômico, tecnológico e militar. Todos os exércitos dos países ocidentais estão alinhados quase inteiramente nos países pobres da Ásia e da África, para bombardear e destruir edifícios, milhares e milhares de vidas humanas inocentes, para – dizem – manter a paz e promover a democracia. O Iraque e a sua população estão destruídos e Saddam Hussein foi morto. Bin Laden foi assassinado e lançado no mar. Muammar Kadafi foi simplesmente eliminado com outros membros de sua família, e fizeram desaparecer sua lembrança entre as areias do deserto. A Costa do Marfim era um país em boas condições do ponto de vista econômico. Agora foi quebrado em dois e destruído... Não quero defender esses personagens e suas ações, que certamente devem ser execrados e condenados mil vezes. Mas é bárbaro e imperdoável que potências civis se aliem e tratem assim seres humanos criados à imagem de Deus. E, se essas pessoas foram bandidos e ditadores para seus povos, por que temer que seus túmulos se tornem lugares de peregrinação? O mesmo destino talvez espere outros chefes de Estado! Não sei o que Deus pensa, em seu silêncio, de tanta crueldade. O Seu coração, provavelmente, se entristece. Desculpem-me este parêntese. Deve deixar de acontecer que o dinheiro e o poder se tornem os deuses do mundo e que a eles sejam oferecidas vidas humanas em sacrifício. A verdade terá de triunfar. Só Deus é a primeira e a maior verdade. Sem verdade, o homem não pode ¬ Acima, crianças congolesas e ruandesas recebem alimentos dos soldados das Nações Unidas perto da aldeia de Kimua, no Congo Oriental; à esquerda, milicianos em Pekanhouebli, na fronteira entre a Libéria e Costa do Marfim, abril de 2011 30DIAS Nº 10 - 2011 25 C A PA perceber o sentido da vida; deixa então campo aberto para o mais forte (cf. Bento XVI, Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém à Ressurreição). A lei do mais forte, a violência e as guerras deste mundo são o grande problema e a grande ferida da nossa humanidade nos dias de hoje! O continente africano foi esquecido dos homens, mas não de Deus, que prefere de modo evidente os pequenos, os pobres e os fracos. Já o papa João Paulo II disse, em 1995, que “a África atual pode ser comparada àquele homem que descia de Jerusalém para Jericó; ele cai nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancada, o abandonaram, deixando-o meio morto (cf. Lc 10,30-37). A África é um continente onde inumeráveis seres humanos – homens e mulheres, crianças e jovens – jazem, de algum modo, prostrados à margem da estrada, doentes, feridos, indefesos, marginalizados e abandonados. Têm extrema necessidade de bons samaritanos que venham em sua ajuda” (Ecclesia in Africa, nº 41). Por isso, fortalecidos por sua fé em Jesus Cristo, os bispos da África confiaram seu continente a Cristo Senhor, o verdadeiro Bom Samaritano, convencidos de que só Ele, por meio do seu Evangelho e da sua Igreja, pode salvar a África de suas dificuldades atuais e curá-la de seus muitos males. Jesus Cristo, o seu Evangelho e a sua Igreja são a esperança da África, e a África é o futuro do mundo. Os últimos papas pensam nela dessa forma, na interpretação que dou de suas palavras. E creio que seu ponto de vista mereça crédito, pois assim se expressaram no exercício de sua função profética. No Antigo Testamento, os profetas tinham por missão ler, interpretar e comentar a história e os eventos sociopolíticos e religiosos, não só do povo de Israel, mas também dos povos vizinhos. Certamente hoje os papas, sucessores de Pedro, continuam esse ministério profético para ler, analisar e interpretar a história da Igreja e as vicissitudes humanas, religiosas e sociopolíticas do mundo. 26 30DIAS Nº 10 - 2011 E o que dizem da África os últimos papas? Expressam com clareza o que é a África aos olhos de Deus e a sua missão presente e futura no mundo. Como declarou Paulo VI em Campala, em julho de 1969: “Nova Patria Christi, Africa. A nova Pátria de Cristo é a África”. Deus sempre teve uma atenção especial à África, fazendo-a participar da salvação do mundo. De fato, foi o continente africano que “acolheu o Salvador do mundo quando era menino e teve de se refugiar com José e Maria no Egito para salvar a vida da perseguição do rei Herodes” (cf. Bento XVI, Homilia na Santa Missa para a conclusão da 2ª Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, 25 de outubro de 2009). E depois foi um africano, um certo Simão originário de Cirene, o pai de Alexandre e Rufo, que ajudou Jesus a carregar a Cruz (cf. Mc 15,21). Em 1995, o beato papa João Paulo II escrevia na Ecclesia in Africa: “‘Eis que eu te gravei nas palmas das minhas mãos’ (Is 49,15-16). Sim, nas palmas das mãos de Cristo, trespassadas pelos cravos da crucifixão! O nome de cada um de vós, africanos, está escrito nestas mãos” (Ecclesia in Africa, nº 143). E Bento XVI, em sua homilia de abertura da 2ª Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, em 4 de outubro de 2009, diz: “A África é depositária de um tesouro inestimável para o mundo inteiro: o seu profundo sentido de Deus [...]. A África representa um imenso ‘pulmão’ espiritual para esta humanidade em crise de fé e de esperança. Mas este pulmão também pode adoecer. E atualmente pelo menos duas perigosas patologias estão a ameaçá-lo: antes de tudo, uma doença já comum no Ocidente, isto é, o materialismo prático, aliado ao pensamento relativista e niilista”. BENIM. A segunda visita pastoral de Bento XVI à África oração e encontros frequentes e pessoais com Deus, deverá ser promovida e fortalecida. Para chegar a isso, temos a ajuda, o apoio e o encorajamento dos modelos africanos de santidade que somos chamados a imitar: os mártires São Carlos Lwanga e companheiros, o beato Cipriano Miguel Tansi, Santa Josefina Bakhita, Santa Clementina Anuarite, mártir, etc. Mas temos também um outro grande modelo cristão e um grande africano que acaba de À esquerda, a cidade de Falluja, no Iraque, atingida pelos pesados bombardeios de novembro de 2004; abaixo, a catedral siro-católica de Bagdá, local de um atentado violento em outubro de 2010 Daí a importância e a urgência de uma mais profunda evangelização das mentalidades, dos costumes e das culturas africanas, um trabalho intenso de aprofundamento e apropriação da fé e dos mistérios cristãos. A formação do coração, que permite estabelecer laços de íntima amizade com Cristo e favorece uma intensa vida de voltar para a casa do Pai: o venerado cardeal Bernardin Gantin. Era um homem de Deus, um grande homem de oração, atento a Deus e aos homens, e de uma delicada humildade. Eis o que recomendava: “Sejam ordenados os seus dias, unindo o repouso ao trabalho; ouçam o Senhor e também os homens, e depois rezem. Rezem sobretudo por meio do sinal vivo da Eucaristia, que é o momento divino do maior amor de Deus pela humanidade” (homilia para uma ordenação sacerdotal, 19 de novembro de 2005). A oração era o eixo da sua vida. Disse um dia a um jovem padre: “Meu filho, temos de rezar muito. Temos de rezar pedindo perdão por tudo o que poderíamos ter feito, mas não pudemos realizar. [...] Oração, oração; sim, oração antes de mais nada e unicamente. [...] À medida que aumentam as tarefas e as responsabilidades, a oração deverá fazer-se mais intensa, mais longa, mais insistente”. Ela deve-nos unir mais a Deus, que age por meio das nossas pessoas. E, já no fim da vida, o cardeal o testemunhou, dizendo: “Prometi ao papa João Paulo II consagrar o tempo da minha aposentadoria ao recolhimento, à escuta e à oração” (bodas de ouro episcopais, Ouidah, 3 de fevereiro de 2007). O cardeal Ber nardin Gantin era um fiel e afetuoso servidor de Deus, da Igreja e do Papa. Um homem de grande fé, totalmente embebido do Amor de Cristo. Submissão, fidelidade e amor pela Igreja e pelo Papa, era assim que vivia o seu dom e o seu humilde serviço a Deus, que lhe concedera a graça do sacerdócio. Como cardeal, definiu desta forma essa honra e esse privilégio: “O que é um cardeal da Igreja, senão um servidor, ministro do Papa, disponível, semelhante à dobradiça de uma porta, segundo a definição de seu étimo latino ‘cardo’, sempre feliz e grato por ter sido escolhido unicamente para servir” (homilia pelos trinta anos de cardinalato, Cotonou, 27 de junho de 2007). E acrescentava: “Todo o meu amor cristão se resume nestas simples palavras: Deus, Jesus Cristo, o Papa, a ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 27 C A PA Virgem. Realidades supremas q u e R o m a m e f e z d e s c o b r i r, amar e servir. Por isso, jamais poderemos agradecer o bastante ao Senhor”. O cardeal Bernardin Gantin foi, assim, também um grande africano. Apesar dos seus trinta anos a serviço da Igreja universal, em Roma, continuou sendo imperturbavelmente um africano autêntico, simples, humilde, respeitador de todos, sem pompa, desejoso sobretudo de aprofundar a cada dia o seu amor e a sua amizade com Cristo e de tornar seu serviço à Igreja e ao Papa cada vez mais verdadeiro, total e humilde. Foi uma ponte sólida e segura entre a África e a Santa Sé. Foi um digno filho da Igreja. Foi um digno e nobre representante da África diante dos outros continentes e povos do mundo. Eis o que Bento XVI disse dele: “A sua personalidade, humana e sacerdotal, constituía uma síntese maravilhosa das características da alma africana com as que são próprias do espírito cristão, da cultura e da identidade africana com os valores evangélicos. Foi o primeiro eclesiástico africano que ocupou À esquerda, Paulo VI diante do monumento aos mártires ugandenses, Namugongo, 2 de agosto de 1969. Montini foi o primeiro papa a visitar a África; abaixo, o cardeal Bernardin Gantin em visita ao seminário de Ouidah, no Benim, seu país natal, no qual voltou a viver em 2002 depois de deixar o cargo de decano do Sacro Colégio 28 30DIAS Nº 10 - 2011 BENIM. A segunda visita pastoral de Bento XVI à África morrer, dá logo um grande número de rebentos que tomam o seu lugar. Eis o meu rebento”. Reconheço que diante das imensas qualidades do cardeal eu não sou mais que um rebento amarrotado, pobre e sem grande valor. Mas tenho orgulho de tê-lo tido como pai e que ele tenha-me considerado seu filho espiritual. Dirigindo-se ao Benim, Bento XVI faz uma visita à África inteira, para confirmar sua fé, despertar sua esperança e a confiança em seu futuro, um futuro luminoso porque está nas mãos de Deus. O Santo Padre dará à Igreja que está na África um novo impulso missionário e um dinamismo novo a serviço do Evangelho, da reconciliação, da justiça e da paz. Mas, se vai ao Benim, é também o cardeal Gantin, esse homem “cheio de espírito e sabedoria”, esse grande servidor de Deus, da Igreja e do papa, que Bento XVI desejará venerar, indo recolher-se por alguns momenGantin com João Paulo I, em 28 de setembro de 1978 cargos de altíssima responsabilidade na Cúria Romana, e desempenhou-os sempre com aquele típico estilo humilde e simples” (Homilia na missa em sufrágio pelo cardeal Bernardin Gantin, 23 de maio de 2008). Tive o privilégio de conhecer o cardeal Gantin em 1971. Ele era então secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide). E eu, estudante em Roma. O meu bispo, sua excelência dom RaymondMarie Tchidimbo, arcebispo de Conakry, na Guiné, estava na prisão. A Igreja da Guiné atravessava a tormenta da perseguição sob o regime revolucionário de Sékou Touré. Eu, portanto, já não tinha bispo e perdera todos os contatos com o meu país e a minha família. Assim, dom Bernardin, na época, era para mim bispo, pai, conselheiro. A sua humildade, a sua simplicidade e a sua delicadeza me marcaram profundamente. Tinha um afeto imenso por mim e eu por ele. Considerava-me como João Paulo II em Dacar, durante a viagem apostólica ao Senegal, à Gâmbia e à Guiné, em fevereiro de 1992 seu filho, seu prosseguimento, seu rebento. Um dia, durante uma recepção na embaixada de Senegal na Santa Sé, organizada em sua homenagem por ocasião de sua volta definitiva ao Benim, disse falando de mim: “Eu hoje sou como uma bananeira. A bananeira, depois que deu fruto, é cortada e morre. Mas, antes de tos diante de seu túmulo. Merece a amizade e a atenção do Papa. Que esta segunda visita pastoral do Santo Padre possa reforçar e tornar mais filial e mais afetuosa a devoção e a fidelidade de toda a Igreja da África ao Sucessor de Pedro, como foi a devoção e a fidelidade do venerado cardeal Bernardin Gantin. q 30DIAS Nº 10 - 2011 29 ANO DA FÉ 2012-2013 Para descer à cripta e venerar o túmulo de Francisco, Banto XVI atravessa a Basílica Inferior de São Francisco com alguns líderes e representantes das Igrejas, das Comunidades eclesiais e das religiões do mundo, durante o Encontro de Assis, em 27 de outubro de 2011 A fé tem a característica de um dom que sobrevém, que não pode ser deduzido nem “produzido”. Não se trata de uma conquista nossa. Entrevista com o cardeal Walter Kasper Um dom, não uma posse por Gianni Valente 30 30DIAS Nº 10 - 2011 É Deus quem mantém a porta da fé aberta, para nós e para todos. Por isso, o início da fé é sempre possível. O Papa, no Encontro de Assis, disse que os agnósticos ajudam os crentes a não considerar Deus sua propriedade... Em meio à secularização, Deus tem seus caminhos para tocar o coração de cada homem. O coração daqueles que buscam e também o daqueles que não buscam. E são caminhos que nós não conhecemos Nestas páginas, afrescos de Pietro Lorenzetti na Basílica Inferior de São Francisco, em Assis. À direita, A última ceia m “ano da fé”, um “tempo de particular reflexão” convocado a exemplo do que fez Paulo VI em 1967, com a intenção de promover “uma conversão a Deus cada vez mais completa, para fortalecer a nossa fé nEle e para O anunciar com alegria ao homem do nosso tempo”. A proposta de Bento XVI a toda a Igreja, antecipada na homilia de 16 de outubro e explicada na carta apostólica Porta fidei, encon- U tra-se ainda na fase germinal do anúncio e se concretizará apenas daqui a onze meses, a partir de outubro de 2012, quando serão celebrados os cinquenta anos do início do Concílio Ecumênico Vaticano II e os vinte da publicação do Catecismo da Igreja Católica. No entanto, desde as preliminares – observou padre Federico Lombardi, diretor da Rádio Vaticana e da Assessoria de Imprensa Vaticana –, a iniciativa anunciada pelo papa Ratzinger pode ser considerada uma daquelas que caracterizarão este pontificado. Já as primeiras menções e a Carta apostólica de proclamação são atravessadas por vários convites discretos e reconfortantes a deixar de lado “eclesiocentrismos” autorreferenciais e a pedir tudo a Jesus Cristo, “autor e consumador da fé”. “O que de mais importante nos deveria dizer o pastor do povo ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 31 ANO DA FÉ 2012-2013 de Deus em caminho?”, comentou padre Lombardi. 30Dias repassou a questão ao cardeal Walter Kasper, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Bento XVI proclamou um ano da fé. Paulo VI fez o mesmo, em 1967. Naquela época, tanto o senhor como Joseph Ratzinger eram jovens teólogos na flor da idade. Que lembranças o senhor tem daquela decisão do papa Montini? WALTER KASPER: Aqueles eram os anos logo após o Concílio. Passado o grande entusiasmo, parecia que estávamos vivendo uma espécie de colapso na Igreja. Parecia que a fé estava desfalecendo, justamente quando nos ambientes eclesiásticos eram discutidas reformas necessárias à Igreja, para reapresentar o anúncio cristão na realidade do nosso tempo. Ratzinger escreveu naquela época a Introdução ao cristianismo. Eu escrevi a Introdução à fé. Naquele contexto, Paulo VI teve a intuição de promulgar o ano da fé, que se concluiu com a proclamação do Credo do povo de Deus. Ele queria indicar a todos que o coração de tudo é a fé. Até mesmo as reformas são úteis e necessárias quando promovem a vida da fé e a salvação de todos os fiéis. Nos últimos dias reli Bernardo de Claraval: sua grande reforma também era apenas uma retomada da fé. Como escrevia Yves Congar, “as reformas bem-sucedidas na Igreja são aquelas que são feitas para atender às necessidades concretas das pessoas”. Por que proclamar um ano da fé justamente agora? Vivemos uma crise. É visível sobretudo na Europa. É evidente na Alemanha. Mas, se eu conversar com os bispos italianos, eles me contarão as mesmas coisas. Muitos dos jovens, sobretudo, não têm nenhum contato real com a vida da Igreja e com os sacramentos. Se falamos em nova evangelização, não podemos deixar de toA Crucifixão, detalhe 32 30DIAS Nº 10 - 2011 mar consciência disso. Do contrário, acabamos por fazer coisas acadêmicas. No entanto, Bento XVI começa a Carta de promulgação deste ano particular dizendo que “a porta da fé está sempre aberta para nós”. O que indica esse incipit? É Deus quem mantém a porta da fé aberta, para nós e para todos. Não somos nós que podemos ou devemos nos preocupar em abri-la. Por isso, o início da fé é sempre possível. Não se trata de uma conquista nossa. A fé tem a característica de um dom que sobrevém, que não pode ser deduzido, que não O dom da fé não é uma espécie de impulso, um empurrão que alguém nos dá no início, e depois prosseguimos sozinhos. Assemelha-se muito mais a uma lanterna que carregamos na mão, e se move conosco iluminando o breve trecho de caminho que temos à nossa frente. A sua luz é necessária e suficiente para dar o próximo passo ENTREVISTA COM O CARDEAL WALTER KASPER Bento XVI em oração diante do túmulo de Francisco na cripta da Basílica Inferior com alguns líderes e representantes das Igrejas, das Comunidades eclesiais e das religiões do mundo pode ser “produzido”. Também por isso foi importante o convite que o Papa dirigiu aos agnósticos no recente Encontro de Assis. Em meio à secularização, Deus tem seus caminhos para tocar o coração de cada homem. O coração daqueles que buscam e também o daqueles que não buscam. E são caminhos que nós não conhecemos. Em Assis, Bento XVI falou dos agnósticos em termos que certamente não são de confronto. O Papa disse que os agnósticos ajudam os crentes “a não considerar Deus sua propriedade”. Deus não é uma posse de quem crê. Não podemos dizer a respeito da fé: eu a possuo, outros não... Os crentes, que receberam o dom da fé, também estão em peregrinação. E nunca podemos pretender antecipar esse dom, como a com- preensão que tenhamos de um saber conceitual. Às vezes, na Igreja, diante da incredulidade e do agnosticismo, as pessoas acabam por se entrincheirar e dão a impressão de considerar a fé como uma posse. Como se o problema fosse disputar e lutar com quem não crê... Quase perdem de vista que Cristo morreu por todos. Nas primeiras linhas da Porta fidei é salientado que muitas vezes mesmo na Igreja prevalece a preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas do engajamento dos cristãos, continuando a pensar na fé “como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. O senhor também nota esse modo de entender a fé como algo óbvio? Em primeiro lugar, a fé é uma relação pessoal com Deus, que se expressa na oração e na confiança de sermos carregados nos braços por Deus em qualquer situação, ou, como Jesus diz: amar a Deus de todo o coração. Os teólogos falam de uma virtude teologal. Porém, nesse primeiro mandamento o amor de Deus está imediatamente conectado com o amor ao próximo como a nós mesmos. Assim, a fé tem consequências sociais, culturais e políticas sem as quais não seria sincera. Por outro lado, essas consequências devem ser animadas e motivadas pelo amor a Deus, senão se tornam uma forma de ideologia humanista, que fica sem fundamento firme. Penso na pregação nas igrejas, no domingo. Nenhuma outra realidade humana tem essa oportunidade de alcançar tantas pessoas que vêm ouvir espontaneamente. Mas às vezes as homilias parecem apenas instruções sobre o que os cristãos devem e não devem fazer em nível moral, cultural, político; falta frequentemente a mensagem cheia de alegria de que Deus sempre nos precede com a sua graça. Há quem diga: hoje é preciso apostar mais na fé e menos nas obras sociais. Essa é a “solução”? Não podemos contrapor fé e caridade. Seria um intelectualismo ou uma espécie de misticismo ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 33 ANO DA FÉ 2012-2013 mal interpretado. São Paulo disse que a fé se torna operante na caridade. E sempre se expressou nas obras de misericórdia corporal e espiritual: ajudar os pobres, os encarcerados, os oprimidos, os doentes... Essa é simplesmente a vida cristã. Pessoalmente, vi os testemunhos mais convincentes da fé justamente nas viagens que fazia quando era responsável na Igreja alemã pela ajuda às Igrejas dos países em via de desenvolvimento. Nós íamos a esses países levando alguns recursos materiais para ajudar aquelas pessoas a sobreviverem e, na miséria das al- Pois o Credo expressa os artigos fundamentais da fé, que são comuns a todos os cristãos e correspondem às promessas batismais. Portanto, são constitutivos para a existência cristã. Mas me parece importante o fato de a simples confissão de fé não exprimir uma pretensão de posse conceitual da verdade. Muitas vezes cantamos o Credo durante a missa dominical. Um sistema dogmático-conceitual não pode ser cantado. Mas nós cantamos o Credo, e o cantamos como oração. É uma doxologia, um louvor e um reconhecimento que dá graças. ras. A fé permanece aberta a reconhecer a realidade viva que essas palavras indicam. E para Tomás a “res” é o próprio Deus. É ele que age, não somos nós que temos de “demonstrá-lo”. Além disso, o Credo é também a síntese da fé das outras gerações. Na fé não estamos só diante de Deus. Estamos numa comunhão que abraça todos os séculos. Em tempos como os nossos, percebemos ainda mais o quanto é importante encontrar conforto e gozar na companhia dos santos e dos Padres da Igreja, e de todas as grandes testemunhas que nos precederam. No Credo nós confessamos crer em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, mas não confessamos ter fé na Igreja. A Igreja não é termo de fé. Talvez seja útil recordar que os Padres da Igreja não sentiram a necessidade de elaborar nenhuma eclesiologia sistemática. Refletir sobre a Igreja não era um problema para eles; bastava uma ou outra menção. O cerne de seus interesses e de suas preocupações não era certamente a instituição eclesiástica Paulo VI pronuncia o Credo do povo de Deus, na praça de São Pedro, domingo, 30 de junho de 1968 deias e das favelas, nos deparávamos com a alegria e a confiança de uma vida escolhida e consolada pelo Senhor. O mesmo me aconteceu olhando para a fé de muitos irmãos que encontrei no diálogo ecumênico. Por meio de relações fraternais, damos testemunho da fé católica. Agora que o Ano da Fé foi proclamado, o que é preciso fazer? Bento XVI pediu apenas que refletíssemos sobre o Credo em todas as dioceses. Não basta rezálo, é preciso conhecê-lo e compreendê-lo em sua profundidade. 34 30DIAS Nº 10 - 2011 Há quem diga que é preciso fazer mais para tornar crível a visão antr opológica cristã. Sim, sem dúvida isso também é importante. A fé não é apenas um ato intelectual, mas um modo de ser e de viver nas mãos de Deus e sob a sua providência. Isso implica também a bem entendida liberdade cristã. A confissão de fé é oração porque pedido a Deus que revele seu mistério. Como dizia Santo Tomás, actus fidei non terminatur ad enuntiabile, sed ad rem. O ato de fé não termina na repetição verbal de fórmulas verdadei- “Os crentes fortificam-se acreditando”, escreve o Papa, citando Santo Agostinho. Como as pessoas crescem e progridem no caminho da fé? Na fé, as pessoas são levadas, quer no início, quer ao longo do caminho da vida. Nas experiências da vida descobrimos cada vez mais as riquezas da fé. Não somos nós que conservamos a fé, como uma propriedade adquirida. Nós somos preservados na fé. Escreveu Santo Tomás: “A graça cria a fé não apenas quando a fé nasce numa pessoa, mas por todo o ENTREVISTA COM O CARDEAL WALTER KASPER A Ressurreição tempo que a fé dura”. Usamos essa definição no quadro do acordo com os luteranos, quando reconhecemos a identidade fundamental existente entre a teologia de Lutero sobre a justificação pela fé e aspectos essenciais da doutrina do Concílio de Trento definida no decreto De iustificatione. Isso significa que o dom da fé não é uma espécie de impulso, um empurrão que alguém nos dá no início, e depois prosseguimos sozinhos. E também não é como os sistemas de iluminação das pistas dos aeroportos: luzes cimentadas no asfalto para iluminar todo o percurso. A fé se assemelha muito mais a uma lanterna que carrega- mos na mão, e se move conosco iluminando o breve trecho de caminho que temos à nossa frente. A sua luz é necessária e suficiente para dar o próximo passo. Se a fé, no início e em cada passo, é um dom e um reconhecimento da obra gratuita do Senhor, o que é a Igreja? A Igreja é – como diz uma antiga definição – a comunhão dos fiéis. Tertuliano disse: Unus christianus, nullus christianus. Um só cristão, nenhum cristão. Como cristãos, nunca estamos sozinhos, mas sempre numa comunidade de fiéis de todos os tempos e de todos os lugares. Todavia, a Igreja não é termo de fé. A Igreja é sacramento, ou seja, sinal e instrumento. No Credo nós confessamos crer em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, mas não confessamos ter fé na Igreja. Cremos em Deus, e é ele que nos revela a Igreja como Corpo de Cristo e como Seu povo. A Igreja é como a lua, que não tem luz própria mas reflete apenas a luz do sol, que é Cristo. Se não remete a Cristo, não manifesta nenhuma beleza própria. A beleza que se encontra nela – por exemplo, nas liturgias – é apenas um reflexo da glória de Deus. No entanto, às vezes parece que a Igreja quer ocupar a cena, pensando que dessa forma dá testemunho do Senhor. Talvez seja útil recordar que os Padres da Igreja não sentiram a necessidade de elaborar nenhuma eclesiologia sistemática. Refletir sobre a Igreja não era um problema para eles; bastava uma ou outra menção. O cerne de seus interesses e de suas preocupações não era certamente a instituição eclesiástica. A eclesiologia começa apenas no final da Idade Média, em reação ao conciliarismo e, depois, a Lutero. E, como disse Yves Congar, começa como “hierarcologia”, para expor as razões teológico-doutrinais da função e da supremacia das hierarquias na estrutura eclesial. Dali partiu também a tentação e a armadilha de um certo “eclesiocentrismo”. O Concílio Vaticano II, com seu ressourcement nos Padres, retomou também a imagem usada por muitos deles sobre a Igreja como simples reflexo da luz e da obra de Cristo, o que se encontra também no título da constituição sobre a Igreja do Concílio Vaticano II: Lumen gentium. A propósito de hierarcologia, também hoje, ao menos na mídia, fala-se muito dos bispos e dos cardeais. É claro que os bispos e os cardeais têm seu papel na vida da Igreja. Mas Bento XVI não para de repetir que a questão central não é a Igreja, mas Deus. Se a fé em Deus se enfraquece, podemos até deixar a Igreja de lado e esquecê-la. q 30DIAS Nº 10 - 2011 35 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN PAPA/1 PAPA/2 Ano da fé 2012-2013 Três novos santos Bento XVI, na homilia da santa missa celebrada na Basílica de São Pedro, domingo 16 de outubro, anunciou a proclamação de um Ano da Fé, que começará no dia 11 de outubro de 2012, dia do 50º aniversário da inauguração do Concílio Vaticano II e ter minará a 24 de novembro de 2013, solenidade de Cristo Rei. No dia 17 de outubro foi publicado o motu proprio Porta fidei com o qual o Papa for malizou e explicou a sua decisão. No dia 23 de outubro Bento XVI canonizou o bispo Guido Maria Conforti, o sacerdote Luís Guanella e a religiosa espanhola Bonifácia Rodríguez de Castro. Na homilia o Papa disse: “Três novos santos, que se deixaram transformar pela caridade divina modelando nela toda a sua existência”. PAPA/3 “Deus não é propriedade dos que creem” “Deus não é uma ‘propriedade’ dos que creem. Bento XVI fala aos trezentos representantes de várias religiões do mundo que convidou a Assis, vinte e cinco anos depois do primeiro encontro organizado por Wojtyla”. Este é o incipit de um artigo de Gian Guido Vecchi, publicado no Corriere della Sera de 28 de outubro, dedicado ao “Dia de reflexão, diálogo e oração pela paz e a justiça no mundo” realizado em Assis a 27 de outubro. Continua o artigo: “Bento XVI faz um elogio aos agnósticos que refletem, os que ‘procuram a verdade’ e com o seu exemplo tiram dos ‘ateus combativos’ a sua ‘falsa certeza’, mas ao mesmo tempo ‘chamam em causa’ todos os que creem: para que ‘não considerem Deus como uma propriedade’. Se as pessoas que procuram a verdade ‘não encontram Deus’, depende ‘também, dos que creem’ que têm uma imagem estreita ou mesmo deturpada de Deus’. Assim os agnósticos têm um papel importante contra a ‘decadência do homem e do humanismo’. Vecchi conclui: “Como foi anunciado não houve um momento comum de oração. Ainda assim era de ver todos juntos, quando no final desceram à cripta sob a Basílica para prestar homenagem ao túmulo de São Francisco”. Título do artigo: O Papa elogia os agnósticos: “Uma ajuda para os que creem”. ¬ À esquerda, Paulo VI pronuncia o Credo do povo de Deus, domingo, 30 de junho de 1968, no final do Ano da Fé À direita, para descer à cripta e venerar o túmulo de Francisco, Bento XVI atravessa a Basílica inferior de São Francisco com alguns chefes e representantes das Igrejas, das Comunidades eclesiais e das religiões de todo o mundo, por ocasião do Encontro de Assis, dia 27 de outubro de 2011 36 30DIAS Nº 10 - 2011 urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO ANO DA FÉ 2012-2013 O cristianismo está nas palavras: “Jesus ressuscitou” O jornal Corriere della Sera de 17 de outubro publicou amplos trechos do discurso de Vittorio Messori ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Este foi o incipit: “Devemos voltar a nos conscientizar de que aquilo que cremos, aquilo do qual todo o resto provém, está contido (ensina-nos São Paulo) somente nas palavras: ‘Jesus ressuscitou’. A partir disso deram-se todas as consequências: ‘Portanto Jesus é o Cristo anunciado pelos profetas e esperado por Israel’. Isso é o que os primeiros cristãos chamavam kérygma, ou seja, o grito do arauto que – pelas ruas e praças – anunciava ao povo as novidades mais ur gentes. Creio que a reevangelização do Ocidente, solicitada a nós por João Paulo II e Bento XVI, não seja nada mais do que isso: nada de doutrinas complicadas, mas sim o reconhecimento do kérygma, a base sobre a qual tudo se sustenta. Voltar a proclamar um simples e ao mesmo tempo escandaloso: Iesùs estì Kyrios, Jesus é o Senhor”. Depois, recordando os tempos do Concílio Vaticano II, Messori continua: “Debatia-se sobre a organização da instituição eclesial, sobre o papel do papa, dos bispos, dos padres, dos leigos, das mulheres, da liturgia. Não se falava de fé, e menos ainda das suas razões, isso era considerado como um dado óbvio, assumido, enquanto se batalhava sobre como devia ser para os católicos: a ética, o compromisso político, social, econômico, cultural. Mas estas não eram nada mais que as consequências de uma causa primeira, o sim à verdade do Credo, que ninguém se dedicava a examinar e verificar”. Messori conclui: “Não se pode deixar uma marca na sociedade ou na cultura repropondo a perspectiva evangélica, se não se enfrenta antes o problema de Cristo e da verdade do seu evangelho. Os problemas com os quais os católicos de hoje devem confrontar-se muitas vezes têm uma raiz não declarada ou mesmo dramática: a diminuição da fé, a redução de Jesus a um mestre de moral, do Novo Testamento a obscuro pasticho de judaísmo e de paganismo, do milagre a mito, da esperança escatológica a compromisso secular. Bem antes de qualquer reforma institucional e de toda a pregação moral ou social, devemos reencontrar o Credo, o que recitamos na Missa, no seu sentido mais pleno”. 30DIAS Nº 10 - 2011 37 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN MILAGRE E MARTÍRIO “Como cordeiros para o meio de lobos”. A espada de São Paulo “No trecho do Evangelho que ouvimos, Jesus envia setenta e dois discípulos para a grande colheita que é o mundo, convidando-os a pedir ao Senhor da colheita, a fim de que nunca faltem trabalhadores para a sua colheita (cf. Lc 10, 1-3); e não os envia com meios poderosos, mas sim ‘como cordeiros para o meio de lobos’ (v. 3), sem bolsa, nem alforje, nem sandálias (cf. v. 4). Numa das suas Homilias, São João Crisóstomo comenta: ‘Enquanto formos cordeiros, venceremos e, mesmo que sejamos circundados por numerosos lobos, conseguiremos superá-los. Mas se nos tornarmos lobos, seremos derrotados, porque ficaremos desprovidos da ajuda do pastor’ (Homilia 33, 1: PG 57, 389). Os cristãos jamais devem ceder à tentação de se tornar lobos no meio dos lobos; não é com o poder, com a força e a violência que o reino de paz de Cristo se difunde, mas com o dom de si, com o amor levado ao extremo, também aos inimigos. Jesus não vence o mundo com a força das armas, mas com a força da Cruz, que é a verdadeira garantia da vitória. E isto, para quem quer ser discípulo do Senhor, seu enviado, tem como consequência o estar pronto também à pai- xão e ao martírio, a perder a própria vida por Ele, para que no mundo triunfem o bem, o amor e a paz. Esta é a condição para poder dizer, entrando em cada realidade: ‘A paz esteja nesta casa!’ (Lc 10, 5). Diante da Basílica de São Pedro encontram-se duas estátuas grandes dos santos Pedro e Paulo, facilmente identificáveis: São Pedro está com as chaves na mão, e São Paulo, ao contrário, tem nas mãos uma espada. Para quem não conhece a história deste último, poderia pensar que se São Paulo trata de um grande comandante que guiou exércitos poderosos e com a espada submeteu povos e nações, alcançando fama e riqueza com o sangue alheio. No entanto, é exatamente o contrário: a espada que ele tem nas mãos é o instrumento com que Paulo foi morto, com que padeceu o martírio e derramou o seu próprio sangue. A sua batalha não foi a da violência, da guerra, mas a do martírio por Cristo. A sua única arma foi precisamente o anúncio de ‘Jesus Cristo, e Cristo crucificado’ (1Cor 2, 2). A sua pregação não se fundou ‘em discursos persuasivos da sabedoria, mas na manifestação do Espírito e do poder divino’ (v. 4)”. [...] “Esta mesma lógica é válida também para nós, se quisermos ser portadores do reino de paz anunciado pelo profeta Zacarias e realizado por Cristo: devemos estar dispostos a pagar pessoalmente, a padecer em primeira pessoa a incompreensão, a rejeição e a perseguição. Não é a espada do conquistador que constrói a paz, mas a espada do sofredor, de quem sabe entregar a própria vida”. Palavras do Papa Bento XVI durante a audiência geral da quarta-feira, 26 de outubro de 2011. “Membra Christi et corpus sumus omnes simul; non qui hoc loco tantum sumus, sed et per universam terram; nec qui tantum hoc tempore, sed quid dicam? Ex Abel iusto usque in finem saeculi / Todos juntos somos membros e corpo de Cristo: não somente nós que nos encontramos aqui neste lugar, mas todos nós em toda a terra. E não somente nós que vivemos neste tempo, mas que dizer? desde o justo Abel até o fim do mundo”, Agostinho, Sermones 341, 9, 11; cf. Lumen gentium, n. 2. Abel e Caim, Capela Palatina, Palermo 38 30DIAS Nº 10 - 2011 urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO IGREJA/1 Tettamanzi: o livro da vida é Jesus “‘O livro da vida’, diz São Bernardo, ‘é Jesus; bem-aventurado o que tem a possibilidade de ler neste livro’: para ele haverá grande alegria e paz”. É a conclusão de um discurso do cardeal Dionigi Tettamanzi no Corriere della Sera de 2 de novembro por ocasião da publicação do novo Evangeliário ambrosiano. SAGRADO COLÉGIO/1 Os oitenta anos de Law No dia 4 de novembro o cardeal norte-americano Bernard Francis Law, arcipreste da Basílica papal de Santa Maria Maior, completou 80 anos. Na data o Colégio cardinalício resulta composto por 193 purpurados dos quais 112 eleitores. IGREJA/2 SAGRADO COLÉGIO/2 Martini e os movimentos As demissões de Rosales “Os movimentos podem dar muito à Igreja como se vê no movimento ecumênico e no movimento bíblico. Mas quando nestes predominam as dinâmicas do poder e do lucro a Graça pode ser perdida e a Igreja ao invés de se enriquecer de nova energia espiritual, sofre de hemorragias debilitantes”. São palavras do cardeal Carlo Maria Martini publicadas no Corriere della Sera de domingo, 30 de outubro, ao responder a uma leitora na coluna que o cardeal publica todos os meses no jornal. No dia 13 de outubro o Papa acolheu as demissões do cardeal Gaudencio Borbon Rosales, 79 anos, do cargo de arcebispo de Manila, nas Filipinas. Para substituí-lo foi nomeado Luis Antonio Tagle, 54 anos, desde 2001 bispo de Imus. RÚSSIA/1 Os dons do Espírito ou uma inexpressiva percussão de tambores “O mundo não precisa de uma ‘Igreja política’. A redu- Batismo em Moscou ção da Igreja de Cristo nos últimos séculos levou ao afastamento em massa das pessoas. [...] Se os cristãos não se preocuparem em conseguir os autênticos dons do Espírito, e em primeiro lugar a santidade, a sua pregação se reduzirá a uma inexpressiva percussão de tambores”. É uma passagem do discurso do diretor da revista do Patriarcado de Moscou, Sergej Capnin, em SÍNODO Wuerl relator geral Em vista da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que será realizada de 7 a 28 de outubro de 2012, sobre o tema “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”, no dia 22 de outubro o Papa nomeou como relator geral o cardeal Donald William Wuerl, 71 anos, desde 2006 arcebispo de Washington, e secretário especial o arcebispo de Montpellier, na França, PierreMarie Joseph Carré, 64 anos. O cardeal Donald William Wuerl um congresso organizado pela Fundação Rússia Cristã em Milão, junto à Universidade Católica do Sagrado Coração e publicado no L’Osservatore Romano de 4 de novembro. RÚSSIA/2 Medvedev e o milagre da fé “Se falarmos do que aconteceu nos últimos vinte anos, em termos da minha experiência de cristão ortodoxo, é um milagre. Francamente não poderia imaginar, 15 ou 20 anos atrás, que a recuperação, o reencontro da fé por parte de um número tão grande de cidadãos teria sido tão rápido”. Palavras do presidente da Federação Russa Dmitrj Medvedev em um discurso em um congresso no qual participavam também o patriarca de Moscou, Kirill, e outros importantes expoentes da Igreja Ortodoxa. As palavras do presidente russo foram também publicadas no blog San ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 39 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN Pietro e dintorni, do vaticanista Marco Tosatti, em 7 de novembro. ITÁLIA tam as funções religiosas uma vez por mês ou menos) a cota dos favoráveis a um maior engajamento organizado dos católicos é ainda mais inferior (22%)”. Para a maioria dos católicos um partido católico seria danoso ORIENTE MÉDIO /1 No Corriere della Sera de 23 de outubro o noto especialista em pesquisa de opinião Renato Mannheimer analisou qual seria a posição dos católicos italianos sobre a hipótese do nascimento de um novo partido católico. Eis as suas conclusões: “Somente pouco mais de um quarto (26%) dos praticantes (quer dizer, na nossa tipologia, os que vão à missa ao menos duas vezes por mês) declara apreciar um reforçamento da presença política dos católicos em quanto tal no nosso país. Chega a 44% a porcentagem dos que consideram danosa ou de todo modo não oportuna uma tal escolha. E entre os ‘esporádicos’ (os que frequen- O ataque ao Irã causaria desastres por um século Israel está pronto para bombardear o Irã. Essas indiscrições filtradas na imprensa foram confirmadas pelo presidente israelense Shimon Peres que, em várias ocasiões públicas, confirmou a existência de um plano militar para evitar a produção de armas atômicas iranianas. Um artigo do Corriere della Sera de 5 de novembro, depois de comentar que a hipótese de um ataque contra as estruturas nucleares iranianas “divide o governo” israelense, continua assim: “Foram três os ex chefes de serviço secreto – Efraim Levy, Yuval Diskin Gilad Shalit e Meir Dagan [...] – que desaconselharam abertamente: o Irã ainda não é uma ameaça, Ahmadinejad não é Saddam e nem mesmo Assad, os bombardeios a surpresa desta vez ‘causariam desastres por um século’”. ORIENTE MÉDIO /2 Segev: Shalit e a histórica negociação com o Hamas Fiéis em uma missa dominical na paróquia 40 30DIAS Nº 10 - 2011 “A grande novidade histórica é que o Hamas e Israel fizeram um acordo. E no dia seguinte o mundo não caiu. Fizeram um pacto com o diabo e o sol nasceu do mesmo jeito. As duas partes deram-se conta de que raciocinar ao redor de uma mesa é possível. Este pequeno passo pode levar a um pouco de racionalidade e a algo diferente, no futuro. Não acontecerá amanhã. Mas depois de amanhã, quem sabe”. Palavras do historiador israelense Tom Segev, entrevistado pelo Corriere della Sera um dia depois da libertação do soldado de Tsahal Gilad Shalit por parte do Hamas em troca de 1.027 prisioneiros palestinos. ORIENTE MÉDIO /3 A Unesco reconhece o Estado palestino “Vamos esclarecer! Se os palestinos se armam, todos reclamam que a violência é um obstáculo à paz. Se os palestinos tentam forçar a via diplomática, como fizeram ontem, todos reclamam que estas iniciativas ‘unilaterais’ são um obstáculo à paz. Então gostaríamos de saber – particularmente de Israel, Estados Unidos e Itália – exatamente o que os palestinos deveriam fazer, com exceção de desaparecer entre as nuvens, como no filme Milagre em Milão. Ontem a Palestina foi admitida à Unesco. É uma história antiga – todos os anos os palestinos regularmente pedem para serem admitidos –, novo resultado: 107 contra 14, com 52 abstenções. A aprovação chegou, graças principalmente ao consen- urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO della Sera de 27 de outubro comentando as eleições tunisianas realizadas no final de outubro e vencidas pelo partido de inspiração islâmica Ennahda, cujo líder é Rachid Ghannouchi. so da nova frente que guia o desenvolvimento mundial, os países do Brics, Brasil, Índia, os países africanos, árabes, a China, a Rússia e alguns países europeus relevantes como a França e a Bélgica”. Texto de Lucia Annunziata publicado no La Stampa de 1º de novembro. DIPLOMACIA/2 Novos embaixadores junto à Santa Sé TUNÍSIA O partido islâmico como a Democracia Cristã de Aldo Moro “Ennahda é comparável à Democracia Cristã nos tempos de Aldo Moro. Não existe um só islã como não existia um só comunismo. Não podemos colocar no mesmo plano os extremistas radicais e os islâmicos moderados. Seria como considerar do mesmo mo- Rachid Ghannouchi, líder do partido islâmico Ennahda do Pol Pot e Berlinguer”. É uma declaração de Moncef Marzouki, líder do CPR (Congresso para a República), publicada no Corriere No dia 9 de setembro Bento XVI recebeu as cartas credenciais do novo embaixador da Grã-Bretanha junto à Santa Sé. Trata-se de Nigel Marcus Baker, 45 anos, diplomata de carreira, que nos últimos quatro anos foi chefe de missão na Bolívia. No dia 21 de outubro foi a vez do novo representante dos Países Baixos, Joseph Weterings, 62 anos, diplomata de carreira, que já foi embaixador na Líbia e em Zimbábue. No dia 31 de outubro foi a vez do novo representante do Brasil, Almir Franco de Sá Barbuda, 68 anos, diplomata de carreira, nos últimos anos embaixador na Bélgica e depois cônsul geral em Washington. Em 4 de novembro foi recebido o novo embaixador da Costa do Marfim, Joseph Tebah-Klah, 63 anos, diplomata de carreira, que entre 2003 e 2006 foi conselheiro e encarregado de negócios ad interim na embaixada junto à Santa Sé. Enfim, em 7 de novembro foi a vez do novo embaixador da Alemanha, Reinhard Schweppe, 62 anos, diplomata de carreira, antes chefe de missão em Varsóvia e por último representante junto à sede da ONU em Genebra. q DIPLOMACIA Novos núncios na República Tcheca, Peru, EUA e Antilhas No dia 15 de setembro o Papa nomeou o arcebispo siciliano Giuseppe Leanza, 68 anos, novo núncio na República Tcheca; desde 2008 era núncio na Irlanda. No dia 15 de outubro nomeou também o arcebispo americano James Patrick Green, 61 anos, novo núncio apostólico no Peru; desde 2006 era núncio na África do Sul, Namíbia, Suazilândia e Lesoto e a partir de 2009 também primeiro núncio em Botsuana. No dia 19 de outubro o arcebispo Carlo Maria Viganò, 70 anos, foi nomeado novo núncio apostólico nos Estados Unidos; desde julho de 2009 era secretário-geral do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. No dia 29 de outubro o arcebispo Nicola Girasoli, 54 anos, foi nomeado núncio apostólico em Antígua e Barbuda, Bahamas, Dominica, Jamaica, Granada, Saint Kitts e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Grenadinas, Suriname, República Cooperativista da Guiana e, enfim, delegado apostólico nas Antilhas; desde 2006 era representante pontifício na Zâmbia e Maláui. Carlo Maria Viganò 30DIAS Nº 10 - 2011 41 Igrejas orientais “Nossa fé é a dos apóstolos, transmitida por São Tomé” Bento XVI com sua beatitude George Alencherry, na audiência com a delegação da Igreja siro-malabar, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, em 17 de outubro de 2011 A origem apostólica. A fidelidade às suas tradições. As relações com os hindus e um florescimento de vida que não conhece fronteiras. As relações com Roma. Entrevista com George Alencherry, arcebispo-mor da Igreja siro-malabar, durante sua visita ao papa Bento XVI por Roberto Rotondo e Gianni Valente oma fica longe de Malabar. Mas, se quisermos perceber o que realmente significa a proximidade que caracteriza e expressa a Communio Ecclesia- R 42 30DIAS Nº 10 - 2011 rum, basta olhar para o fio de gratidão gratuita e recíproca que une a Igreja de Roma e a Igreja siromalabar. Duas realidades que por quase dez séculos não comparti- lharam nenhum tipo de vínculo jurídico-institucional. George Alencherry, eleito em maio passado arcebispo-mor dessa Igreja indiana de rito oriental que nasceu da pre- ÍNDIA. Os siro-malabares gação do apóstolo São Tomé, encontrou em outubro o Sucessor de Pedro em sua sé apostólica. Durante sua passagem por Roma, o chefe da comunidade católica de rito oriental mais numerosa e relevante depois dos greco-católicos ucranianos aceitou encontrar-se também com 30Dias. A entrevista foi feita na Domus Romana Sacerdotalis, na via della Traspontina. Beatitude, conte-nos sobre seu encontro com o Santo Padre. G E O R G E A L E N C H E R RY: Fui eleito arcebispo-mor pelo Sínodo da Igreja siro-malabar em maio, e mais tarde o Papa confirmou minha eleição. Foi a primeira vez que esse procedimento foi aplicado: os dois arcebispos-mores que me antecederam foram escolhidos diretamente pela Santa Sé. A eleição ocorreu em 24 de maio, e no dia 29 me instalei como arcebispo-mor e arcebispo da diocese de Ernakulam-Angamaly. A visita de outubro foi a primeira que fiz ao Papa como arcebispo-mor, ao lado do Sínodo Permanente dos nossos bispos. Foi a oportunidade para renovar a minha declaração de lealdade e obediência ao sucessor de Pedro. Durante a viagem, visitei também outros organismos da Santa Sé, particularmente a Congregação para as Igrejas Orientais. De que assuntos vocês trataram em seus encontros no Vaticano? Falamos muito dos problemas de jurisdição que criam obstáculos à nossa obra pastoral. A Igreja siro-malabar tem cerca de quatro milhões de fiéis, dos quais 3 milhões e 400 mil vivem nas vinte e oito dioceses que existem na Índia. Dessas dioceses, dezoito se encontram em território próprio da Igreja siro-malabar (Kerala, parte do Tamil Nadu e Karnataka). Nós temos jurisdição territorial apenas nessas dezoito dioceses, mas gostaríamos de ter uma jurisdição territorial que cobrisse todo o território da Índia: esse é um dos nossos apelos ao Santo Padre, e para nós é uma exigência importante. Acreditamos que seja um direito nosso. Antes da chegada dos missionários ocidentais – os portugueses chegaram lá no século XVI – a jurisdição dos “cristãos de São Tomé” se estendia por toda a Índia. Depois, os missionários ocidentais, por influência dos soberanos europeus, tomaram a jurisdição da Índia, restringindo a nossa às áreas em que estávamos mais concentrados. Fiéis em oração durante uma missa na igreja de Nossa Senhora da Saúde, em Hyderabad, no estado de Andhra Pradesh Seu pedido pode parecer a reivindicação de direitos passados, já sepultados pela história... Não, é uma questão relacionada ao presente, em termos muito concretos. Tem crescido o número de nossos fiéis, e eles se espalham por outras regiões. E o que acontece é que nesses lugares o nosso povo não encontra um atendimento pastoral adequado, em continuidade com a sua tradição, e sofre por isso. Nossos fiéis estão acostumados à nossa liturgia, nossos costumes, nossas formas de oração e de participação dos leigos na administração das paróquias. O papel dos leigos na vida das paróquias e na catequese é uma peculiaridade da Igreja siro-malabar. Em muitas grandes cidades há grandes concentrações de fiéis siro-malabares: setenta mil em Delhi, cinquenta mil em Chennai e Bangalore, cerca de vinte mil em Hyderabad. Gostaríamos de poder estabelecer dioceses ao menos nesses grandes centros urbanos. E o que lhes responderam? A Santa Sé nos disse que em princípio temos direito à jurisdição. Mas, visto que a Igreja latina se instalou nas outras regiões, é preciso estabelecer algum tipo de entendimento negociado com os latinos. O Santo Padre compreende as nossas necessidades e nos explicou que será necessário dar um passo por vez. Lembrounos as palavras do Concílio Vaticano II, que diz que cada Igreja sui iuris tem direito a poder viver com autonomia. Há uma anomalia histórica que precisa ser corrigida. Nós somos pacientes, mas não é justo que as coisas continuem assim. Quais foram as objeções feitas ao seu pedido? As Igrejas siro-malabar, siromalancar e latina já possuem hoje dioceses que se sobrepõem em nosso território histórico. Porém, alguns bispos acham que pode haver dificuldades se estendermos nossa jurisdição a territórios que caem em suas dioceses. Vocês precisam entender que em algumas dioceses latinas, atualmente, os siro-malabares representam ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 43 Igrejas orientais a maior parte dos fiéis atendidos pelos sacerdotes latinos. Se estendêssemos a jurisdição, em algumas dessas dioceses latinas poderiam restar pouquíssimos fiéis de rito latino. Outro temor está ligado aos padres siro-malabares que aprenderam o rito latino e trabalham nas dioceses latinas. Há mais de trinta bispos de origem siro-malabar que trabalham como bispos latinos nas dioceses do norte. E fora da Índia, como andam as coisas? Há um grande número de fiéis siro-malabares fora da Índia. Nos Estados Unidos, são cerca de cem mil, e foi instituída para eles uma diocese com centro em Chicago. A maior parte dos fiéis no exterior se concentra no Golfo Pérsico. Na Arábia Saudita, são mais de oitenta mil, quase todos trabalhadores que se transferiram para lá de maneira permanente. O Papa nomeou dois vigários apostólicos e um núncio, mas os sacerdotes que foram encarregados de atender a esses fiéis, mesmo sendo de origem siro-malabar, aderiram às congregações latinas e são latinos como formação. A ausência de sacerdotes do nosso rito criou uma certa tensão nesses países. É um outro problema que comunicamos à Santa Sé; esperamos que nos ouçam. Como vai a colaboração entre as diversas Igrejas católicas na Índia? As três Igrejas, latina, siro-malabar e siro-malancar, são parte da George Alencherry crisma uma criança única Igreja universal, e temos uma conferência episcopal formada pelos bispos das três Igrejas. Nessa conferência, trabalhamos juntos sem nenhum problema. A Igreja Católica é comunhão de diversas Igrejas particulares: há vinte e duas Igrejas orientais, que, com a latina, compõem a Igreja universal. Só a partir dessa teologia é possível o ecumenismo: se os greco-ortodoxos percebessem a existência dessa comunhão, se uniriam aos católicos. Ecumenis- mo não é levar a Igreja Ortodoxa a ser administrada pela latina. Nós, de dentro, pedimos um ecumenismo real. Os ortodoxos o pedem de fora. Mas alguns dos latinos não compreendem isso. E as relações com os hindus? De modo geral, o hinduísmo é uma religião que promove a paz e a harmonia. A maior parte das pessoas nos vê com simpatia, e trabalhamos juntos. Mas, como vocês sabem, no passado recente O primeiro arcebispo-mor eleito pelo Sínodo G eorge Alencherry nasceu em 1945. Tem dois irmãos sacerdotes e uma irmã religiosa. Estudou no Saint Josephʼs Pontifical Seminary de Alwaye e cresceu na arquidiocese de Changanacherry, onde ocupou vários cargos de responsabilidade antes e depois dos períodos de pósgraduação na França (doutorado em Catequética no Institut Catholique de Paris e doutorado em Teologia Bíblica na Sorbonne). Em 1996 foi nomeado primeiro bispo de Thuckalay, diocese que nasceu da subdivisão da arquidiocese de Changanacherry. Quarenta e seis bispos do Sínodo o elegeram arcebispo-mor da Igreja siro-malabar em 24 de maio de 2011, garantindo-lhe a maioria exigida de dois terços na segunda votação. Dois dias depois, Bento XVI confirmou a eleição. O mote episcopal de mar George Alencherry é: “Serviço em diálogo de verdade e amor”. G.V. 44 30DIAS Nº 10 - 2011 George Alencherry com o Sínodo que o elegeu arcebispo-mor, em 24 de maio de 2011 ÍNDIA. Os siro-malabares A nossa fé é a dos apóstolos, transmitida por São Tomé. São Tomé não poderia ter começado uma nova Igreja por suas próprias forças. Mesmo na Índia, ele fez apenas o que Jesus lhe ordenou. Pelo mesmo motivo, Tomé e todos aqueles que dele receberam o anúncio evangélico estão em comunhão com Pedro, e isso é garantia da nossa fé Uma procissão durante a “dukhrana”, a celebração de São Tomé, perto da igreja de São Tomé, em Palayur, no estado de Kerala houve grupos de fundamentalistas que criaram problemas. Em todos os países, por um motivo ou outro, existem fundamentalistas. Assim como existem extremistas políticos, que chamamos terroristas. Na Índia existem grupos extremistas dentro do hinduísmo: quem acredita no autêntico hinduísmo não gosta deles, mas esses grupos criam problemas sobretudo para os cristãos. Eles temem que os cristãos, por meio das conversões, tomem o controle do país. Mas é um medo sem fundamento, e os cristãos, por sinal, não reagem com violência aos seus ataques. O governo sabe disso e nos está ajudando. A Igreja siro-malabar conservou-se na fé dos apóstolos vivendo no meio de uma cultura arraigada a outros pressupostos religiosos. Esse é um esplêndido testemunho de que a Igreja é de Jesus Cristo (Ecclesiam Suam, como escreveu Paulo VI). O que a história dos cristãos siromalabar es pode sugerir à cristandade inteira? A herança que carregamos é o resultado de vinte séculos de testemunho da fé católica, à qual sempre nos mantivemos fiéis, mesmo quando fomos seriamente incompreendidos pelos missionários estrangeiros. A nossa Igreja tem um estilo único de catequese: nas famílias, nas paróquias e nas escolas, em todos esses três níveis, ensinamos as crianças a preservar a fé. Aqui, em Roma, há cerca de seis mil fiéis siro-malabares: em 16 de outubro celebramos uma bela liturgia na Basílica de Latrão. A basílica estava cheia. A Igreja siro-malabar confirmou a comunhão com Roma depois de séculos de ausência de contatos. É o sinal de que a comunhão da Igreja não é em primeiro lugar o resultado de relações jurídicas... A nossa fé é a dos apóstolos, transmitida por São Tomé. São Tomé não poderia ter começado uma nova Igreja por suas próprias forças. Mesmo na Índia, ele fez apenas o que Jesus lhe ordenou. Pelo mesmo motivo, Tomé e todos aqueles que dele receberam o anúncio evangélico estão em comunhão com Pedro, e isso é garantia da nossa fé. A lealdade ao Papa vem da nossa experiência de fé: rezamos pelo Papa na celebração eucarística, consideramos na liturgia os santos de todas as Igrejas particulares, tanto quanto os nossos. Doutrinalmente, preservamos o que recebemos do Credo de Niceia. A eucaristia e os outros sacramentos, por dom do Espírito Santo, nos unem na Igreja una, santa e apostólica. O senhor pode nos falar da devoção que vocês têm a São Tomé? Depois das festas de Nosso Senhor, desde o Natal até a Páscoa, e das festas da Bem-Aventurada Virgem Maria – Imaculada Conceição, Natividade e Assunção –, a festa mais solene na Igreja siro-malabar é a “duchrana”, ou comemoração de São Tomé. Nós a celebramos no mundo inteiro; mesmo na Arábia Saudita, onde não pode haver celebrações oficiais, mais de trezentos fiéis se reuniram num espaço particular e me telefonaram, pedindo uma bênção. Segundo a tradição, Tomé fundou sete comunidades na Índia. Todos esses lugares se tornaram metas de peregrinação. E no primeiro domingo depois da Páscoa celebra-se a festa de São Tomé tocando o lado de Jesus. É uma grande festa, da qual participam muitos hindus. O cardeal Levada, no último Sínodo das Igrejas ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 45 Igrejas orientais orientais, anunciou que consultaria os patriarcas orientais sobre uma possível reforma do exercício do ministério petrino. O que sugere, particularmente a respeito das relações com as Igrejas orientais? A Igreja Católica, por meio do Conselho para a Unidade dos Cristãos, já começou um diálogo sobre o primado. Acho que devemos prosseguir nesse diálogo e procurar um acordo comum com as Igrejas do Oriente, como havia nos primeiros quatro séculos da cristandade. Naquela época havia uma compreensão comum do primado. Hoje a Igreja Ortodoxa objeta que é impossível voltar à teologia precedente ao Concílio de Calcedônia, pois não possuímos nenhum documento daquela época. Mas creio que mesmo a partir dos documentos e dos pronunciamentos posteriores à época de Calcedônia seja possível um diálogo e um acordo em torno do ministério petrino. Pois existe a expressão primus inter pares. Nós todos precisamos de um ministério petrino que seja referência de unidade para todas as Igrejas. Eu tenho a esperança de que encontremos um ponto no meio do caminho em que a Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas possam encontrar-se na plena comunhão da Igreja de Cristo. Por séculos, a Igreja de vocês teve de lidar com os processos de “latinização” a que foi submetida. Houve quem os considerasse heréticos ou cismáticos por que tinham suas orações e suas liturgias e não falavam latim. Hoje ainda se veem em circulação resíduos dessa mentalidade? O modo de pensar mudou muito, mesmo na Igreja latina. Entre os teólogos, entre a maioria dos bispos e na Sé Apostólica. Padre Placid Podipara, C.M.I., um teólogo e historiador muito renomado da nossa Igreja, disse que a Igreja siro-malabar é cristã por fé, hindu por cultura e oriental no culto. Infelizmente, os missionários que chegaram no século XVI não compreenderam isso. Não tinham más intenções, era a atitude da época. 46 30DIAS Nº 10 - 2011 Mas hoje o que eles pensaram que era errado pode ser restaurado. Isso é o que diz o Concílio Vaticano II. Muito mudou, mas onde não houve essa mudança há problemas. E isso acontece com a mentalidade de alguns bispos latinos. Eu disse isso também ao Papa: “Santidade, há muitos bispos latinos que compreendem corretamente a eclesiologia de comunhão, mas há outros...”. A liturgia teve um papel central para a continuidade histórica da sua Igreja. Como o senhor vê a importância que o magistério do Papa atual dá à liturgia? O magistério do Papa atual está realmente salvando a Igreja de nosso tempo. Muitas aberrações estavam penetrando na Igreja, às vezes em nome do Concílio Vaticano II. Alguns interpretaram mal esse Concílio, detendo-se nas coisas acidentais e perdendo de vista o essencial. O Papa quer seguir o que o Vaticano II realmente quis dizer. E quando ele, pouco a pouco, conseguir que essas coisas sejam admitidas, a Igreja estará realmente unida. A dissipação e a mundanização da Igreja são realmente extensas, especialmente na Europa, e será preciso tempo para que a Igreja se recomponha. Mas essa é a intenção do Papa, e a Igreja siro-malabar está com ele. No entanto, houve também na Igreja siro-malabar controvérsias acirradas entre aqueles que defendem a recuperação integral do patrimônio litúrgico tradicional e os que julgam que isso é uma forma de esteticismo tradicionalista. Entre “caldeizantes” e “latinizantes”... Eu lhes digo: se uma coisa é caldeia, ou europeia, ou de qualquer outro lugar, o que é válido é válido. Mas alguns, em conse- Muitos parecem não entender que se a Igreja siro-malabar florescer e prosperar a Igreja universal florescerá também. Pois toda Igreja particular existe para a Igreja universal. E a Igreja latina também é uma Igreja particular Sua beatitude George Alencherry durante a entrevista com os jornalistas de 30Dias, em 17 de outubro de 2011 ÍNDIA. Os siro-malabares Devoção mariana em Srinagar, no estado de Jammu e Kashmir quência da latinização, se convenceram de que o que pertence à cultura ocidental é bom e o que vem do Oriente não é. É uma impressão criada pela latinização a que fomos submetidos durante três séculos. Embora a Igreja universal, com o Concílio Vaticano II, nos tenha restituído a liberdade de recuperar os elementos válidos do nosso patrimônio, boa parte da Igreja os esqueceu e não sente a exigência dessa recuperação. Dizem: continuamos a caminhar com o que temos hoje, e se precisarmos de outras coisas as pegaremos da Igreja latina. Essa é a sua atitude. Outros respondem que para continuar a ser o que somos devemos antes de mais nada recuperar o que nos foi tirado e perdemos. Eu, em meu ofício, tentarei criar mais unidade e também uma certa uniformidade nas celebrações litúrgicas. Não uma uniformidade integral, mas uma unidade em torno do essencial. Que deve ser realizada aos poucos. Gradualmente. Por exemplo, já houve gente na Igreja latina que dizia que nós celebramos olhando para a parede. Mas olhar para o leste não é ter a cara enfiada na parede. É olhar para a direção de onde vem o Senhor. Na teologia da nossa Igreja, o povo e o celebrante oferecem juntos o sacrifício a Deus Pai, voltados para o Oriente. A Índia está-se tornando uma espécie de superpotência geoeconômica. Surgem novos problemas. Como é que esses processos interferem no seu trabalho pastoral? O mundo, ao mudar, muda-nos também. Nossos fiéis migram, para estudar ou trabalhar. Só um terço deles vive nas dioceses originárias. Cerca de dois terços estão fora, nas grandes cidades. Nos Estados Unidos e na Europa existem médicos, empresários, comerciantes siro-malabares que estão subindo na escala social. Se nos for reconhecida a jurisdição universal sobre nossos fiéis, poderemos realmente promover essa energia, de modo que sua força esteja a serviço da Igreja universal. Do contrário, o que perdermos a Igreja universal também perderá. E, se nossos fiéis encontrarem dificuldades para continuar em contato com seu patrimônio espiritual, procurarão o sentido espiritual nos grupos pentecostais ou em realidades semelhantes. Isso já está acontecendo. Nós estamos perdendo nossos fiéis. Eles vão da Índia para o Ocidente e encontram alguém que lhes diz: por que você precisa ir às igrejas dos latinos? Venha conosco, rezemos juntos. Perdemos muitos assim. Estamos angustiados com isso e expressamos nossa angústia aos organismos vaticanos. Todos parecem compreender o que dizemos, mas depois não tomam decisões. Precisam consultar uma série de pessoas, e o tempo passa. E as coisas pioram. Muitos parecem não entender que se a Igreja siro-malabar florescer e prosperar a Igreja universal florescerá também. Pois toda Igreja particular existe para a Igreja universal. E a Igreja latina também é uma Igreja particular. Ao passo que na cabeça de alguns universal coincide com latino. Essa obviamente não é a doutrina oficial. Não é o pensamento de nenhum teólogo sério. Mas continua a ser uma mentalidade muito difundida, e gera atrasos. Nos últimos dias, houve um importante congresso internacional sobre a chamada Anáfora de Addai e Mari, na Pontifícia Universidade Gregoriana. Por que essa anáfora tem uma importância especial do ponto de vista ecumênico e litúrgico? A Anáfora de Addai e Mari é a mais antiga da Igreja universal. Nela vemos a mais simples teologia dos Evangelhos, a mais germinal compreensão do mistério de Cristo, sem as formulações doutrinais que vieram depois. Tal como o Evangelho de São Marcos é o Evangelho mais simples, a liturgia de Addai e Mari é a mais simples de todas. Assim, quando a celebramos, experimentamos intensamente a presença de Jesus conosco. Até mesmo as expectativas e as súplicas da Igreja são muito bem integradas na Anáfora. Ela contém as orações pelos fracos, pelos oprimidos, pelos martirizados, pelos pobres, pelos refugiados. Enfim, tem a beleza da simplicidade. A Anáfora de Addai e Mari é usada pela Igreja assíria do Oriente, e tem a característica de não conter de maneira explícita as palavras da instituição, pronunciadas por Jesus na Última Ceia (“Tomai e comei, este é o meu corpo. [...] Tomai e bebei, este é o meu sangue. [...] Fazei isto em memória de mim”). A Igreja siro-malabar também usou a forma tradicional dessa anáfora até o século XVI, sem interpolações. Mas os teólogos latinos afirmavam que sem as palavras da instituição não havia verdadeira consagração, e por isso não consideravam válida a Anáfora de Addai e Mari. Em 2001, o Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, com o consenso da Congregação para a Doutrina da Fé, reconheceu a validade dessa anáfora, usada desde tempos imemoriais também em nosso Qurbana, o sacrifício eucarístico segundo o rito malabar. q 30DIAS Nº 10 - 2011 47 Colégios eclesiásticos A capela do Pontifício Instituto São João Damasceno, decorada com ícones pintados por padre Jacob Kooroth; ao centro, um mosaico de Marko Ivan Rupnik PONTIFÍCIO INSTITUTO SÃO JOÃO DAMASCENO A Índia que fica no coração de Roma O Instituto foi criado por Pio XII e hoje hospeda quarenta sacerdotes de rito siro-malabar e de rito siro-malancar. Nossa visita é uma oportunidade para conhecer mais de perto esses dois ritos, que, ao lado do latino, constituem a Igreja Católica indiana, uma das mais florescentes da cristandade por Pina Baglioni 48 30DIAS Nº 10 - 2011 Acima, os estudantes do espira-se um clima de grande letícia no Instituto Pontifício São João Damasceno, a morada de quarenta sacerdotes indianos que passam uma temporada em Roma para aperfeiçoar seus estudos. São os filhos da Igreja de São Tomé, fundada, segundo a tradição, pelo apóstolo do Senhor no extremo sul da Índia, o atual estado federal de Kerala: trinta e um deles pertencem à Igreja Católica siro-malabar. Os outros nove, à Igreja Católica siro-malancar. Todos os quarenta têm entre trinta e trinta e cinco anos, com vários anos de sacerdócio. Quem os guia é o padre Varghese Kurisuthara: é siro-malabar e vem de Kerala. Dirige o São João Damasceno há quatro anos, depois de ter passado nove como vice-reitor. Depois dos estudos e da ordenação sacerdotal na Índia, obteve na Academia Alfonsiana o doutorado em Teologia Moral, disciplina que hoje leciona no Teresianum, a Faculdade Teológica do Colégio Internacional dos Carmelitas Descalços de Santa Teresa de Jesus e de São João da Cruz. Padre Varghese pertence à província de Malabar da ordem dos carmelitas descalços. “O papel dos carmelitas foi extremamente importante na história dos cristãos de São Tomé”, explica o reitor. “Foram enviados pelo papa Alexandre VII sob a jurisdição da Congregação de Propaganda R Pontifício Instituto São João Damasceno com o cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, por ocasião da bênção da iconostase, em 4 de outubro de 2010 Abaixo, São Tomé num ícone conservado no átrio do instituto Fide, em meados do século XVII, com a finalidade de reunir os fiéis e levar a paz aos constantes conflitos entre os missionários portugueses e os cristãos de São Tomé. Foram tão estimados pelos cristãos indianos, sobretudo em Kerala, que inspiraram até mesmo congregações carmelitas locais”. Entre os sacerdotes hóspedes do São João Damasceno há estudantes da Congregação Missionária do Santíssimo Sacramento, da Congregação Vicentina, da Congregação de Santa Teresa, da Sociedade dos Oblatos do Sagrado Coração, da Ordem da Imitação de Cristo e da Sociedade Missionária de São Tomé Apóstolo. Todos os quarenta sacerdotes chegaram a Roma graças às bolsas de estudo concedidas pela Congregação para as Igrejas Orientais. Alguns, para obter o mestrado; a maior parte, para obter o doutorado: treze frequentam os cursos de Direito Canônico e de Liturgia Oriental no Pontifício Instituto Oriental. Os outros estudam sobretudo teologia e filosofia nas outras universidades pontifícias. “Este instituto, inaugurado em 4 de dezembro de 1940, foi fortemente desejado pelo papa Pio XII, quer para os sacerdotes provenientes das Igrejas orientais que não tinham casas de formação próprias, quer para aqueles que desejavam exercer seu ministério sacerdotal no Oriente. Na época, não havia nenhum indiano”, conta padre Varghese. “O Papa quis dar-lhe o título de João Damasceno pela afeição do santo ao papado e por sua devoção particular à Mãe de Deus”. Naqueles anos, os seminaristas e os sacerdotes indianos se alojavam numa ala do Pontifício Colégio Russicum. Em seguida, foram instalados no Colégio Pio Romeno, pois o regime comunista proibia aos sacerdotes romenos ir a Roma. Depois, em 1993, o insti- ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 49 Colégios eclesiásticos de Roma tuto foi transferido para a sede atual, uma ex-clínica, incrustada numa densa rede de ruas entre as basílicas de São João de Latrão e da Santa Cruz de Jerusalém, adquirida pela Congregação para as Igrejas Orientais e completamente reformada. O São João Damasceno responde diretamente ao prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o cardeal Leonardo Sandri. E, desde o ano acadêmico 1996-1997, é reservado exclusivamente aos alunos pertencentes à Igreja Católica siro-malabar e à Igreja Católica siro-malancar. Um instituto para duas Igrejas A rotina do instituto, explica-nos o reitor, começa com a missa da manhã, às 6h30. É celebrada nos dois ritos, nas respectivas capelas: na maior, os malabares, no rito siro-malabar; na menor, os malancares, no rito siro-antioqueno. “Depois celebram também a missa em rito latino, todos juntos. Uma espécie de ‘exercício’ para quando vão celebrar a missa, no domingo, nas paróquias romanas, ou também no Natal e na Páscoa. Ou ainda no verão, quando os sacerdotes indianos vão dar uma ajuda em muitas paróquias na Itália e na Alemanha”. Além disso, por testemunho direto desta que escreve, é possível 50 30DIAS Nº 10 - 2011 O reitor do Instituto, padre Varghese Kurisuthara Santa missa em rito siro-malabar celebrada na igreja romana de Santa Maria do Pórtico, em Campitelli dizer que no instituto se goza de uma excelente arte culinária: duas vezes por semana, os pratos são de origem indiana; no outros dias, italiana. Perguntamos a padre Varghese o que farão esses sacerdotes, quando voltarem à Índia. “Uma parte deles vai lecionar nos seminários, outra será empregada na cúria episcopal, na pastoral da juventude e na catequese diocesana. Outros serão párocos”. Em Kerala, os siro-malabares e os siro-malancares dirigem várias escolas católicas, de toda ordem e grau, onde desenvolvem os currículos normais definidos pelo Estado. “E as despesas ficam em grande parte a cargo das Igrejas. Além dos católicos, essas escolas são frequentadas também por um grande número de estudantes hindus, pelo altíssimo nível de educação que é oferecido. Graças às escolas católicas, Kerala é o estado mais instruído da Índia”. Na Índia, os católicos – de rito latino, siromalabar e siro-malancar – são no total 17 milhões: menos de 2% da população indiana. As três Igrejas, juntas, administram vinte e cinco mil escolas. Sem contar milhares de casas para viúvas e órfãos, abrigos para leprosos e doentes de Aids, hospitais e casas de repouso. Em Kerala, onde os cristãos são 22% da população, a educação, também entre as mulheres, ostenta os níveis mais altos de toda a Índia. É também o estado com os mais elevados índices de leitura. Desde 2008 é impressa em malayalam, a língua local, uma edição semanal do L’Osservatore Romano, administrada pelos car melitas descalços da província de Malabar. Além disso, Kerala é o estado em que se encontra a mais alta taxa de pluralismo religioso: enfim, um exemplo vivo de convivência. “Nas escolas católicas, abertas a todos, são desenvolvidos os programas escolares previstos pelas leis do Estado. Há ainda cursos específicos para os estudantes cristãos, que incluem doutrina, ética e moral”. Qual é o motivo da grande vitalidade da Igreja siro-malabar, que, com mais de quatro milhões de À esquerda, os estudantes do Instituto no refeitório Abaixo, São João Damasceno num ícone pintado por Lauretta Viscardi, conservado no átrio do instituto fiéis, representa a Igreja oriental mais vigorosa e em rápido crescimento de toda a cristandade? Sozinha, é responsável por quase 70% das 120 mil vocações de toda a Índia católica. Nesse estado, quase todas as dioceses têm um seminário menor, e essa é uma das poucas regiões capazes de “exportar” sacerdotes e freiras. “Tudo deriva das famílias, em que o apego à oração do ângelus, ao santo rosário e à santa missa é fortíssimo, comovente”, revela o reitor. “Os pais e as mães, mas também os avós, ensinam às crianças, desde bem pequenas, o sinal da cruz e as primeiras orações. Enfim, elas aprendem tudo isso com o leite materno. Consequentemente, a família é um ambiente que favorece o aparecimento de vocações sacerdotais, que são tidas em grande consideração pelas famílias”. A diocese de Adilabad: uma Igreja florescente Os sacerdotes católicos siro-malabares vivem uma situação paradoxal: sua Igreja está entre as mais florescentes de toda a cristandade, mas fora de Kerala eles se veem em terra de missão. “Para exercer melhor a nossa missão e formar os fiéis segundo as nossas tradições, precisaríamos de eparquias nossas. É por isso que há muito tempo pedimos ao Santo Padre uma jurisdição maior, fora de Kerala”, diz-nos padre Prince Panengadan Devassy, que está em Roma para obter o mestrado em Teologia Bíblica na Universidade Urbaniana. Ele vem da cidade de Thrissur, onde frequentou os ensinos fundamental e médio; depois, fez dois anos de seminário em Bangalore, no estado de Karnataka, para estudar filosofia. “Em seguida, fui em missão para a eparquia de Adilabad, no estado de Andhra Pradesh, na Índia centrooriental”. Adilabad é uma das mais jovens eparquias da Índia, criada pelo papa João Paulo II em 23 de junho de 1999. Antes disso, fazia parte da diocese de Chanda, que se estendia pelos estados de Maharashtra e Andhra Pradesh, com duas línguas e duas culturas diferentes. Os primeiros sacerdotes siromalabares chegaram a Adilabad em 1962. Lá, fundaram escolas para promover o acesso das crianças mais pobres à educação. Nas aldeias, depois, os missionários trabalharam intensamente para melhorar as condições sociais do povo. Especialmente no âmbito da saúde e da alimentação. E mui- tas pessoas, atraídas pelo esplêndido testemunho dos missionários, escolheram a vida cristã. Hoje, a Igreja de Adilabad conta com 15 mil católicos, com sessenta sacerdotes todos indianos, vinte e quatro dos quais diocesanos, e com sete vocações locais. Padre Prince é testemunha ocular de tanta beleza. “Para poder-me comunicar com essa gente tive de estudar a língua deles. Em Kerala, falamos o malayalam. No estado de Andhra Pradesh, o telugu. Até a escrita é completamente diferente”, conta. Depois dos anos que passou em Adilabad, padre Prince teve ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 51 Colégios eclesiásticos em Roma de ir para o norte, para Madhya Pradesh, para estudar teologia durante quatro anos. Depois foi ordenado sacerdote e de novo voltou a Adilabad por mais dois anos. Perguntamos a ele, agora, o que significa fazer missão em meio a um oceano de hindus e a um grande número de muçulma- lhadas pelas grandes áreas rurais habitadas por pequenos agricultores e criadores de gado. Não dizemos nada de Jesus e do Evangelho, mas assistimos os doentes e ajudamos os mais pobres. Depois perguntamos aos pais se querem deixar seus filhos conosco para que estudem gratuitamente. Qua- se todos permitem. E então levamos as crianças para as nossas escolas, onde ensinamos as matérias curriculares. É essa a primeira fase da missão. Ou seja, aquela em que buscamos construir uma relação forte com as pessoas por meio de ajuda a suas necessidades. Muitos missionários não mediram esforços para levar eletricidade e água para os vilarejos isolados”. “Em seguida, só quando se estabeleceu uma relação de confiança mútua, procuramos tornáAcima, crianças na escola católica de Champakulam, em Kerala, durante o almoço; à direita, A Última ceia, ícone pintado por padre Jacob Kooroth, conservado no refeitório do Instituto nos. “É a maravilha da nossa cultura indiana. A Índia deu origem a diversas religiões e acolheu todas as religiões do mundo. Os indianos são tolerantes, pacíficos e acolhem a todos. Respeitar as outras religiões e acolher o bem de braços abertos, de onde quer que ele venha, é a característica da cultura indiana. Cada um tem a liberdade de crer na religião que prefere”, acrescenta o jovem sacerdote. “Para nós, fazer missão significa em primeiro lugar ir simplesmente visitar as aldeias espa52 30DIAS Nº 10 - 2011 À esquerda, estudantes do seminário menor Saint Paul, na diocese de Irinjalakuda, em Kerala Abaixo, o batismo na igreja de Saint Alex, em Calangute, no estado de Goa los conscientes da dignidade da vida e dos direitos humanos. Às vezes colaboramos para emancipá-los da exploração e da injustiça”, diz ainda padre Prince Panengadan Devassy. “Depois de algum tempo de serviço nos vilarejos e nas escolas, acontece, com muita frequência, que as pessoas nos perguntam a respeito da nossa religião e do nosso Deus. Nessa altura nós falamos explicitamente de Jesus. Não pregamos Jesus com a força e não procuramos converter ninguém com incentivos. Mas procuramos dar testemunho de Jesus por meio da nossa vida, amando todas as pessoas sem nenhuma distinção. Esse nosso modo de viver atrai as pessoas, que são impelidas a nos perguntar de onde vem a nossa capacidade de acolher a todos, ricos e pobres, quem é realmente Jesus e o que é o Evangelho. Para facilitar a compreensão da nossa fé, às vezes projetamos filmes sobre a vida do Senhor em alguma sala ou no espaço público do vilarejo, já que quase ninguém possui aparelho de televisão. A coisa mais bonita é que muitas dessas pessoas, sobretudo as crianças, fazem experiência pessoal de Jesus. Porque, graças à oração e à relação pessoal com Ele, veem uma correspondência na sua vida, têm uma resposta às suas perguntas, como nunca lhes acontecera antes. É claro que muitos não querem saber de Cristo. Mas aqueles que dizem “sim” recebem uma fé fortíssima. Enfim, nós não convertemos ninguém, mas as próprias pessoas se convertem sob a ação da graça divina. É uma escolha delas. E nesse contexto o Estado garante a liberdade de crer na religião escolhida por cada um. Essa é a terceira fase da missão”, conclui padre Prince. “É compreensível que todas as pessoas que servimos e ajudamos não cheguem ao mesmo ponto. Muitas ficam na primeira ou segunda fase. Apesar disso, não deixamos de desenvolver o minis- tério. Continuamos a servir essa gente, pois as nossas atividades não visam a conversão, que é obra do Espírito Santo, mas a proposta respeitosa e livre”. Nesse meio-tempo, Benedict Kurian, da Igreja Católica siromalancar, vem fazer parte da conversa. Ele é originário da eparquia de Mavelikara, sufragânea da arquieparquia de Trivandrum. Ordenado em 2002, foi pároco por quatro anos em Amburi, no estado de Kerala. Em Roma desde 2007, está para obter o doutorado em Direito Canônico Oriental com uma tese sobre os direitos e os deveres dos leigos. “Gosto muito de Roma. Até porque na Índia, na escola, estudamos a história do Império Romano em profundidade”, conta. Perguntamos a ele o que têm de tão particular os católicos siro-malancares, que voltaram à comunhão com Roma apenas em 1930. “A diferença em relação aos nossos irmãos malabares está apenas na liturgia; a nossa é siro-antioquena. A da Igreja siro-malabar provém da tradição caldeia. Uma das particularidades da nossa liturgia é o fato de celebrarmos a missa com o sacerdote voltado sempre para o altar, e os nossos fiéis são muito apegados à nossa tradição litúrgica”, explica padre Benedict. “A reunificação com o sucessor de Pedro, o papa, foi realizada por cinco pessoas. Hoje somos 500 mil. E em nossa Igreja nasceram também duas congregações femininas – denominadas Sisters of the Imitation of Christ e Daughters of Mary – e uma congregação masculina, Order of Imitation of Christ. Nós, siro-malancares, temos a mesma tradição apostólica, a mesma origem dos siro-malabares. Somos também herdeiros dos cristãos de São Tomé. E nós também, como os nossos irmãos malabares, pedimos à Santa Madre Igreja de Roma que nos ajude, que estenda a nossa jurisdição”. q 30DIAS Nº 10 - 2011 53 Viagem apostólica à Alemanha O Papa continua fiel a si mesmo: deem seu testemunho de fé Abaixo, Bento XVI durante a visita ao Bundestag, em Berlim, dia 22 de setembro de 2011; abaixo, à direita, por ocasião do encontro com os católicos comprometidos na Igreja e na sociedade, no Konzerthaus de Freiburg, dia 25 de setembro As palavras do Papa Bento XVI na sua terra natal podem ser lidas como um caloroso apelo para voltar ao essencial e viver as suas consequências. Palavras de Hans-Gert Pöttering, ex-presidente do Parlamento Europeu por Hans-Gert Pöttering 54 30DIAS Nº 10 - 2011 REFLEXÕES DE UM POLÍTICO visita de Bento XVI foi um evento comovedor. Um papa alemão veio à sua terra natal. Trouxe uma mensagem profundamente teológica: a renovação da Igreja pode acontecer somente com a disponibilidade à conversão e por uma fé renovada. Ele falou de modo tão apaixonado e convincente de Deus, a ponto de ser surpreendente para A um teólogo sucessor de Pedro como Bento XVI. O seu discurso no Bundestag alemão no início da sua viagem a Berlim foi particularmente significativo. Na ocasião questionou-se sobre a essência da atividade política, sobre o fundamento do direito e sobre a distinção entre o bem e o mal. Colocou as suas reflexões dentro do grande contexto das tradições do pensamento europeu: a filosofia grega, o direito romano e a fé em Deus judaico-bíblica, que formam a “identidade profunda da Europa”. Na busca de um fundamento comum para a construção do próprio direito a Europa não deveria limitar-se a uma pura visão positivista. Isso é redutivo ante a realidade total do homem. Ele comparou uma tal limitação a um edifício de cimento sem janelas. Excluído de tudo o que acontece fora, o homem se atrofia. Ao invés, com uma visão global, poderia colher todos os influxos. Aqui entra em jogo “a ecologia do homem” como na encíclica Caritas in veritate. O aparecimento do movimento ecologista foi uma “invocação de ar fresco” que não se podia deixar de ouvir. O homem deveria ouvir a linguagem da natureza. Se ele presta atenção nela e acolhe-a como algo que não é produzido por ele mesmo, a liberdade do homem encontra cumprimento. Porém, dado que as normas podem derivar somente da vontade, essas pressupõem o reconhecimento da “razão criadora” de Deus. E, questionou Bento XVI de modo quase provocatório: “É verdadei- ramente desprovido de sentido refletir se a razão objetiva, que se manifesta na natureza, não pressuponha uma razão criadora, um Creator Spiritus?”. O Papa insistiu particularmente com os políticos no exemplo do rei Salomão, que tinha desejado um “coração dócil” para buscar o verdadeiro direito, para servir a justiça e a paz. Considerando que o discurso do Papa no Bundestag foi principalmente teológico e de princípio, na ocasião ele não falou sobre as concretas exigências da Igreja alemã embora isso fosse previsto e esperado por muitos. Bem diferente foi o discurso no Konzerthaus de Freiburg, que chegou a irritar alguns. Ali, dirigiu-se principalmente à Igreja alemã. Convidou a concentrar-se no essencial, prescindindo de qualquer raciocínio de caráter institucional. O conceito de “mundanização” poderia ser mal-entendido, mas para Bento XVI estes pensamentos não são novos. Ele já os havia manifestado no final da década de 1960. Exprimem uma visão de fundo, autocrítica sobre toda a Igreja. Ele julga-a em perspectiva histórica e chamou a atenção sobre o fato de que o testemunho da Igreja seria muito mais límpido se fosse livre “dos fardos materiais e políticos”. Neste caso, ela poderia dedicar-se melhor aos verdadeiros valores cristãos no mundo inteiro, ser verdadeiramente aberta ao mundo. A Igreja seria tão mais crível quanto mais se concentrasse no próprio âmbito, na sua mensagem central. O Papa concebeu tudo isso, como disse ele mesmo, não como uma nova tática para obter maior consideração pela Igreja, mas como a vontade de procurar “a plena sinceridade, que não reprime nada da verdade do nosso hoje, mas realiza plenamente a fé no hoje”. Justamente os alemães, como revelou o arcebispo de Freiburg im Breisgau, Robert Zollitsch, não deveriam se deixar dissuadir, por meio de seu zelante organizar, estruturar e reformar, desta busca de Deus. Todavia, como o Papa não deu outras indicações ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 55 Viagem apostólica à Alemanha À esquerda, Bento XVI no encontro com os católicos comprometidos na Igreja e na sociedade, no Konzerthaus de Freiburg, dia 25 de setembro; acima, durante o encontro com os representantes das comunidades muçulmanas presentes na Alemanha, na Nunciatura de Berlim, dia 23 de setembro; abaixo, no final da missa celebrada na Praça da Catedral de Erfurt, dia 24 de setembro práticas sobre o que ele entenda por “fardos mundanos”, precisase de mais debates e discussões sobre quais sejam as consequências a serem extraídas para promover a fé como o Papa indicou. Poderá ser visto nos próximos meses se se deve compreender como uma rejeição do sistema alemão aos impostos para o culto e à comprovada relação EstadoIgreja, como alguns interpretaram ousando muito, ou se o seu discurso não tenha sido principalmente um caloroso apelo para voltar ao essencial e viver as suas consequências. Este seu convite a concentrarse no essencial da mensagem bíblica não foi dirigido somente aos católicos na Alemanha, o seu olhar dirigiu-se também à Europa. Nesse âmbito as condições da convivência de Igreja e Estado desenvolveram-se de modo muito diferente no decorrer dos séculos. A este propósito deve-se recordar que o artigo 17 do Tratado de Lisboa garante a cada país europeu a manutenção da sua tradicional relação entre Estado e Igreja. É decisivo manter ativo o diálogo com as Igrejas e levar à nossa política as solicitações que o Papa deu-nos justamente na Alemanha. Trata-se da realização dos valores cristãos na prática política. Com efeito, Bento XVI promoveu justamente isso nas suas homilias: a fé em Deus não deveria permanecer como algo privado, 56 30DIAS Nº 10 - 2011 mas deveria se manifestar na sociedade. Encorajou os cristãos a comprometerem-se com frutos na sociedade e serem fermentos. Trata-se de imprimir os valores cristãos no discurso social, mas também acolher as preocupações do homem e sustentá-las. Isso foi dito pelo Papa na sua homilia em Freiburg, a cidade da Cáritas. Na homilia agradeceu explicitamente a todos os que se dedicam ao próximo nas creches e nas escolas, mas também os que se dedicam aos carentes e aos deficientes nas muitas instituições sociais e caritativas na Alemanha e no mundo. Este é um estímulo muito importante principalmente para os políticos. A fé tem consequências pa- ra a nossa vida social e para o nosso agir público. Por isso é necessário de agora em diante que os católicos se empenhem na política, na economia, na sociedade e também nos serviços sociais com ajuda concreta. Neste sentido, em Erfurt louvou o empenho dos cristãos que na base da fé se opuseram ao regime totalitário da RDA. Apesar das circunstâncias adversas, eles permaneceram fiéis a Cristo. Ainda hoje na Alemanha Oriental procuram-se novas vias para a promover a fé cristã em um ambiente muito distante da fé e para falar exatamente aos que buscam orientação e respostas às questões cruciais. REFLEXÕES DE UM POLÍTICO À esquerda, Bento XVI com Nikolaus Schneider, presidente do Conselho da Igreja evangélica na Alemanha, no convento dos Agostinianos, em Erfurt, dia 23 de setembro; acima, a partir da esquerda, o presidente da República Federal Alemã Christian Wulff e esposa, o ministro da Defesa Thomas de Maizière (na segunda fila), o presidente do Bundestag Norbert Lammert, e a chanceler Angela Merkel, assistem à missa celebrada por Bento XVI no Estádio Olímpico de Berlim, dia 22 de setembro de 2011 Também a ponte que Bento XVI lançou aos muçulmanos no encontro em Berlim demonstra que o Pontífice coloca-se justamente como “construtor de pontes” para a prática pública da religião. Ele disse muito claramente que gostaria que os muçulmanos também contribuíssem ao bem comum a partir da sua religião, e que portanto a partir da sua fé defendessem a causa de uma convivência pacífica na sociedade. Aqui também se reflete o reconhecimento do nosso tipo de relação entre Estado e religião, que deve ser aberta também aos muçulmanos. Como esta viagem, para o Papa, tratou-se principalmente de um aprofundamento da fé, o desejo de rápidas mudanças concretas inevitavelmente não era esperado. E isso vale também para a questão do ecumenismo com a Igreja evangélica na Alemanha. Um sinal importante, sem dúvida, um acontecimento de nível histórico, foi o Papa ter encontrado no convento dos agostinianos de Erfurt os repre- sentantes da Igreja evangélica. É um lugar de grande importância simbólica para os protestantes alemães. Ali viveu e atuou Martinho Lutero. Por isso tal gesto já é um sinal de abertura. Com insistência e com o olhar dirigido para o futuro, o Papa citou Lutero na sua busca de um Deus misericordioso. Aqui pôde perceber grandes afinidades entre as confissões com relação ao mundo secularizado: as grandes Igrejas devem cuidar juntas da questão de Deus e devem manter esta questão de Deus no mundo secularizado. Para Bento interessavam os fundamentos da fé cristã em resposta às questões existenciais “de onde viemos” e “para onde vamos”. No entanto muitos esperavam do Papa um “passo inequivocável para a superação da divisão entre as Igrejas”, como disse Norbert Lammert, presidente do Bundestag. Na realidade – segundo as palavras do arcebispo Robert Zollitsch – é preciso referir-se à Conferência Episcopal alemã para traduzir as reflexões fundamentais do Papa e, junto com os representantes da Igreja evangélica na Alemanha, encontrar vias para um aprofundamento do ecumenismo. Nikolaus Schneider, presidente do “Conselho para a Igreja evangélica na Alemanha”, falou de um “ecumenismo de dons” e propôs as- sim uma via para prosseguir um caminho comum. Espera-se que os problemas dos matrimônios e das famílias formadas por membros de diferentes confissões cristãs com relação à comum vida de fé, mas também as limitações para os divorciados casados novamente, possam ser repensados depois da visita do Papa e que possam ser feitos realísticos passos de reconciliação. São muitas as questões abertas: certamente é muito cedo para fazer um balanço. Os resultados dos múltiplos e intensos encontros com o Papa, os estímulos e as solicitações que ele ofereceu serão elaborados nas discussões e nos debates das próximas semanas e dos próximos meses. Assim se poderá ver como poderá subsistir a Igreja na Alemanha no tempo presente e como os fiéis individualmente poderão ser testemunhas da fé em seu ambiente. Para mim, como político e como católico, permanece o convite para refletir sobre os princípios da minha política à luz das solicitações que o Papa fez na sua visita. Bento XVI com a sua mensagem nem sempre fácil, nem sempre cômoda, levou nós alemães a refletir. Devemos-lhe uma profunda gratidão pelas suas palavras, pelo seu encorajamento a viver a fé, pela visita na sua terra natal. q 30DIAS Nº 10 - 2011 57 Relatos das missões Da Valtellina aos Andes “Sempre desejei ver com os meus olhos como era o oratório de Valdocco quando Dom Bosco vivia ali. Meu desejo foi respondido aqui, aos pés dos Andes”. Foi o que disse o cardeal Martini ao visitar a missão do salesiano Ugo de Censi, iniciador da Operação Mato Grosso. Contamos sua história por Giovanni Ricciardi 58 30DIAS Nº 10 - 2011 Operação Mato Grosso P adre Ugo de Censi tem hoje oitenta e sete anos, sessenta de sacerdócio na congregação salesiana. Desde 1976, vive em Chacas, uma cidadezinha perdida no leste do Peru, aos pés da Cordilheira dos Andes, que lembram a ele, em sua majestosidade, as montanhas de sua Valtellina. Um lugar em que a vida é precária, os meios de sustento devem ser arrancados todos os dias da montanha e a pobreza é a condição de todos. “Con los pobres de la tierra quiero yo mi suerte echar”, canta uma das mais famosas canções latino-americanas, Guantanamera; um verso que resume, na sua beleza, a beleza da experiência missionária de padre Ugo: “Com os pobres da terra quero lançar minha sorte”. Lançar a sorte, apostar, semear uma semente que em Chacas deu um fruto excepcionalmente abundante, tanto que o cardeal Martini, quando visitou a missão para inaugurar uma casa doada pela diocese de Milão, disse: “Sempre desejei ver com os meus olhos como era o oratório de Valdocco quando Dom Bosco vivia ali. O meu desejo foi respondido aqui, aos pés dos Andes”. Padre Ugo volta de vez em quando à Itália para encontrar os grupos de voluntários que há muitos anos o ajudam recolhendo todos os meses gêneros alimentícios e roupas e trabalhando gratuitamente para enviar dinheiro à missão: uma experiência aconfessional, sem uma identidade jurídica na Igreja, em que são acolhidos todos aqueles que têm vontade de ajudar. Desde a década de 1970, seu nome não mudou: chama-se Operação Mato Grosso. Padre Ugo prega retiros para quem deseja um momento mais destacadamente católico dentro do movimento. As fórmulas são simples, rezam segundo a tradição da Igreja, ficam de joelhos, até para se confessar. São muitas pessoas, que em silêncio tomam notas ditadas pelo padre, como um professor do primário, acrescentando pouco oralmente. Este ano o tema foi: “Bernadete e Aqueró”. Objetivo do retiro: “Aprender a fazer bem o sinal da cruz”. A referência a Lourdes não é casual, mas lembra uma etapa fundamental na vida desse salesiano “vivo, alegre e contestador”, como o definiam seus superiores. Mas também de saúde frágil. A espondilite tubercular que lhe foi diagnosticada no seminário o manteve internado por três anos no hospital. E a fístula aberta que o obrigou a tanto tempo de cama só se fechou diante da gruta de Massabielle. Assim padre Ugo, finalmente restabelecido, pôde ser ordenado padre em 1951 pelo cardeal Schuster, na Catedral de Milão. “Mas os superiores”, conta, “me consideravam uma pessoa irrequieta. E assim, para ‘fazer passar a vontade de brincar’ que eu tinha, deram-me o cargo de diretor espiritual de um reformatório masculino em Arese”. Ali ficou por nada menos que vinte anos: “E ali aprendi que as palavras religiosas não servem para nada. Os jovens que ouviam meus sermões se viravam para o outro lado. E no final, diante da minha decepção, alguns diziam: ‘Mas você olhou para si mesmo? Não vê a cara que você tem? Procure pelo menos gostar um pouco de mim’”. E assim, no final da década de 1960, comovido pelos relatos dos confrades missionários que falavam da pobreza e das imensas exigências das missões, começou a viajar para a América do Sul e a organizar ajudas para essas obras salesianas. Até que, em 1976, aos 52 anos, tomou a decisão de ir viver estavelmente no Peru, em Chacas. Foram com ele alguns jovens que tinham saído do reformatório de Arese. “Eu tinha perdido muito da exterioridade da religião. Mas em Chacas voltei a ser criança. E descobri outra vez as coisas simples da fé: a vida de Jesus e a devoção, cantar bem na igreja, ter as mãos unidas ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 Na página ao lado, padre Ugo de Censi com padre Daniele Badiali, em Yanama, no Peru, em 1992 O santuário de Pomallucay, no Peru (no qual, em 1992, nasceu o seminário da diocese de Huari), projetado e construído pelos voluntários da Operação Mato Grosso 59 Relatos das missões Acima, a nova igreja de San Luis, no Peru, inaugurada em 18 de março de 2007; no alto, à direita, trabalhando para a decoração do coral da igreja, os jovens da escola profissionalizante para entalhadores de madeira fundada por padre Ugo 60 em oração. Essas coisas eu retomei com os jovens da missão”. “Agora eu sou padre”, escrevia nos primeiros meses de sua permanência nos Andes: “Chacas tem uma igreja enorme, que no domingo se enche de gente, todos em silêncio. Eu me sinto em casa, sinto que são o meu povo. Gosto de fazê-los cantar. Sinto que me querem bem, gostaria de conhecer um por um”. E ainda: “Acredito que aqui vou ser padre como antigamente: catecismo, canto, visitar os doentes, missas... com esta gente que precisa de pão, estradas, trabalho, higiene. Os jovens da Operação que vierem vão me ajudar a encontrar solução para estas necessidades”. E isso aconteceu, nos anos seguintes. Com a ajuda dos voluntários da Operação Mato Grosso, padre Ugo realizou um número impressionante de obras de caridade: escolas profissionalizantes para entalhadores de madeira, enfermeiras e professoras de instrução primária, um hospital em Chacas, casas para crianças órfãs ou abandonadas, reparo e construção de pontes e estradas, e até a construção de uma central hidrelétrica que fornece energia para a cidade. Todas essas obras levam os nomes de Dom Bosco ou de Maria Auxiliadora, na mais genuína tradição salesiana. E naturalmente não poderia faltar o oratório para milhares de crianças e jovens, que o enchem nos domingos. 30DIAS Nº 10 - 2011 “Vocês deveriam ir a Chacas”, escreve sobre padre Ugo um confrade e colaborador salesiano, “para conhecer a casa dele, para que possam descobrir a riqueza de um coração livre como o dele, um coração do qual é fácil se apaixonar. Vocês vão descobrir que a casa do padre Ugo é uma praça sem paredes, sem portas, não porque não existam, mas porque foram derrubadas pelas pessoas que se amontoam na porta para entrar na casa. Um pouco como diz o Salmo: ‘Foram derrubadas as cercas da vinha do Senhor e todo peregrino faz a vindima’”. Nestes anos, centenas de voluntários italianos fizeram a experiência de dedicar alguns meses para ajudar padre Ugo em sua missão. Alguns ficaram por mais de um ano, outros decidiram ficar para sempre. Outros, ainda, movidos pelo exemplo do padre, sentiram o desejo de seguilo no caminho do sacerdócio. Padre Ugo fundou assim um seminário para aspirantes ao sacerdócio que depois são “doados” às diversas dioceses do Peru, já que a Operação Mato Grosso não tem um enquadramento jurídico na Igreja. Entre eles, houve um jovem padre italiano, padre Daniele Badiali, que concluiu sua existência terrena em 1997, assassinado por um grupo de bandidos que o sequestraram para pedir um alto resgate. Padre Daniele amadureceu sua vocação na Operação Mato Grosso. Dois anos de voluntariado em Chacas, de 1984 a 1986, levaram-no a tomar a decisão definitiva. Voltou a Faenza, estudou no seminário regional de Bolonha e, logo depois de sua ordenação para a diocese de Faenza-Modigliana, foi enviado como sacerdote fidei donum à diocese de Huari, no Peru, para ajudar padre Ugo em sua missão, tomando como encargo, em 1º de setembro de Operação Mato Grosso 1991, a paróquia de San Luis, na Cordilheira Blanca: um território vasto, com mais de sessenta lugarejos espalhados pelas montanhas, aos quais se chega a pé ou a cavalo. Padre Daniele procurava ir a todas as comunidades, até as mais distantes, e sua casa paroquial se tornou um ponto de referência para muitas necessidades dos pobres. Numa carta, descreve essa condição: “Para escrever, roubei este tempo às pessoas que não param de bater à minha porta para pedir comida, para pedir remédios, para pedir, para pedir, para pedir... Estou atônito com esses assaltos constantes, é difícil sair de casa, logo vejo correrem atrás de mim para me cercar, para pedir. Não sei o que fazer... Eu fugiria diante de tudo isso, porque não sei dizer sim e sinto que não posso negar-lhes ajuda... Sou chamado a dar tudo, sabendo que amanhã recomeço do princípio e tenho de dar tudo de novo. Os pobres me cravam um espinho e é uma dor contínua que gostaria de acalmar, mas não depende de mim. É meio-dia, vou almoçar com os jovens do taller [oficina, ndr], uma velhinha está na porta de casa. Ela não fala, mas há outros que suplicam até cansar você. Seu silêncio chegou ao meu coração, fecho os olhos, vou lá embaixo pegar uma tigela de sopa, o macarrão é italiano: dou a ela, me envergonho, é ela que deve implorar a Jesus a graça de me salvar. Agradece-me com um sorriso que me parece extremamente doce. E se atrás dessa velhinha tão suja estiver mesmo Jesus?”. Começa o trabalho do oratório com as crianças. Em março de 1992, prepara quatrocentos para a primeira comunhão. Em outubro desse mesmo ano, um voluntário e amigo de Daniele, Giulio Rocca, que estava amadurecendo também a vocação ao sacerdócio, é morto por um grupo de terroristas. Daniele escreve assim sobre a sua morte: “Giulio morreu como um mártir, não escolheu, a situação o levou a morrer de uma morte violenta, semelhante à dos mártires. Agora fica claro também para mim o caminho da Operação Mato Grosso: perder a vida até o martírio. Tudo isso me assusta, mas ao mesmo tempo sinto uma paz dentro de mim...”. Nos anos seguintes, fora alguma volta à Itália por motivos de saúde, dedica-se de corpo e alma ao trabalho da missão. Constrói um refúgio andino com seus jovens, para acolher montanhistas e turistas e conseguir, com os ganhos, ajudar economicamente os mais pobres. Em 1997, mesmo tendo programado uma volta à Itália, decide ficar no Peru para assumir também as atividades de padre Ugo, que fora à Itália pregar os retiros aos voluntários. Passa oito semanas na cidade de Yanama para levar oitocentas crianças à crisma. Todas as sextas-feiras prepara a confissão; é o momento mais importante para padre Daniele, que nesse último ano de sua vida o descreve assim: “Hoje é o dia da Paixão. Não tenho palavras, gostaria só de chorar. Senti frio. Desejava uma ajuda dos meninos; não pedia que viessem no meu lugar, só que me dessem uma mão. Que significa dar a mão a alguém que sofre? Eu tinha de falar da morte de Jesus, não podia falar dela como uma fábula. A distração dos jovens voltava diretamente ao meu coração como os risos do diabo: ‘Por que se preocupa, por que se agita, é tudo inútil...’ Ao menos deveriam rezar ou manter as mãos jun- ¬ 30DIAS Nº 10 - 2011 Padre Ugo e padre Daniele durante uma procissão Padre Daniele durante uma confissão 61 Relatos das missões tas. Mas não podemos pretender, precisamos apenas dar... perdoar. Senti-me um de Yanama, em 1992 condenado, a mesma cena da Paixão se repetia aqui. Recebia todos os golpes. Tive de aceitá-los todos, seria um erro não querê-los. Espero apenas que este sofrimento sirva para alguém. Eu o ofereço. Deus meu, só de Ti desejava falar aos meninos”. Na sua volta à paróquia de San Luis, em 10 de março de 1997, começa a preparação para a comunhão de quinhentas crianças: duas semanas de intensa partilha, dividida entre catecismo, oração e brincadeiras, até a Quinta-Feira Santa em que receberiam Jesus pela primeira vez. Padre Daniele trabalha incansavelmente e ao mesmo tempo espera a volta de padre Ugo da Itália. Naqueles dias, escreve: “Vejo-me incapaz de me abandonar, de deixar Deus conduzir todas as coisas: embora me pareça dar tudo, vejo que ainda devo apostar a favor de Deus. Ser servo inútil é realmente chamar o patrão, deixar tudo em suas mãos, não querer conduzir nada. Ser servo de Jesus é realmente invocá-lo com suas mesmas armas: a bondade, o perdão, o abandono, a paciênPARA SABER MAIS cia, um sorriso... a morte”. Operação Mato Grosso Seis dias depois, em 16 de março, um domingo, depois de É possível fazer contato pelo e-mail ter celebrado a missa da noite na [email protected]. cidadezinha de Yauya, encontra Para informações a respeito da Operade repente a estrada bloqueada ção Mato Grosso, dos grupos de trabalho na Itália, dos campos de trabalho de por pedras. Aparece um bandido verão e sobre como ajudar a Operação armado que pede uma pessoa Mato Grosso, pode-se entrar em contacomo refém. Uma voluntária itato diretamente pelo e-mail info@operaliana, Rosamaria, está para deszionematogrosso.it ou visitar o site cer do jipe, mas Daniele a detém: www.operazionematogrosso.it. “Vou eu, você fica”. Num bilhete para padre Ugo, é feito um pediPara contribuir para o processo de do de resgate pelo prisioneiro. beatificação e canonização de paMas dois dias depois, em 18 de dre Daniele Badiali (dando um testemunho sobre padre Daniele, levando março, o corpo de padre Daniele cartas escritas por ele, fornecendo reé encontrado numa escarpa pelatos de eventos milagrosos atribuídos dregosa. Dias antes, quando ainà sua intercessão), dirija-se a padre Alda estava em liberdade, escreveberto Luccaroni, juiz delegado. Para ra a um amigo na Itália, a propóreceber informações e publicações sosito da “boa batalha” da fé: “Sobre padre Daniele, entre em contato bretudo nos damos conta de que com padre Mirko Santandrea, vicea batalha em favor de Deus já espostulador. Para outra informações, visite o site tá perdida... devemos morrer no www.padredanielebadiali.it. campo de batalha para que Deus entre para vencer o inimigo, o Padre Daniele com os jovens do oratório 62 30DIAS Nº 10 - 2011 diabo. Nós devemos apenas preparar a vinda de Deus. Custa muito, porque devemos dar a vida por um Deus que conta sempre menos na vida dos homens. Você vai perceber logo que esse Deus a quem deseja servir não é tão buscado e benquisto pelos homens. E quanto mais avançar, mais lhe parecerá que esse Deus desaparece da vida dos homens, até da nossa. Ele o deixa sozinho para representá-lo no campo de batalha. Você vai se perguntar muitas vezes: ‘Mas quando é que o Senhor vai chegar?’ Não ouvirá nenhuma resposta, você mesmo terá de dar a resposta com a sua vida. O general entrará quando e como quiser... Não conhecemos nem o momento, nem a hora... A única coisa certa são as disposições deixadas para combater o inimigo: ‘Vai, vende o que tens e o dá aos pobres... Se quiseres ser meu discípulo, toma a minha cruz e segue-me...’ Seu companheiro de batalha, padre Daniele”. Hoje, na diocese de Faenza-Modigliana, iniciouse o seu processo de beatificação. O martírio de padre Daniele fez florescerem vocações na Operação Mato Grosso. Hoje o seminário da diocese de Huari tem cerca de quarenta aspirantes ao sacerdócio e a missão de padre Ugo é mais ativa e próspera do que nunca. Mesmo que ele, com quase noventa anos de idade, não queira saber de nomear um sucessor, nem de dar uma regra para a sua obra: “Se é obra de Deus”, repete sempre, “continuará. Do contrário, é melhor que acabe”. Na sua veneranda idade, parece realmente que voltou a ser criança: “Deus não é o que eu tenho”, diz, “mas o que me falta e que mais desejo. Não sei fazer outra coisa a não ser reconhecer a minha incredulidade. Ser pecador, ser incapaz de viver de Deus, ser um pobre coitado que precisa apenas da misericórdia de Deus, precisa de Deus. Que Deus me tome e faça de mim o que Ele quiser. Mas que me tome”. q Um patrimônio que une arte, cultura e espiritualidade na maravilhosa paisagem natu ral dos Montes “Simbruini” O patrimônio artístico e cultural desta região é fascinante. Os Mosteiros são jóias de inestimável valor pelas suas elaboradas arquiteturas, seus raros afrescos e o exclusivo patrimônio bibliográfico e de museus. A ESTRUTURA OFERECE HOSPITALIDADE INDIVIDUALMENTE E PARA GRUPOS E DISPÕE DE: u Quartos com 1 a 4 camas com banheiro autônomo, telefone, capacidade total para 65 pessoas. u Sala Aabadia de Santa Escolástica, situada a poucos passos de Subiaco, foi fundada por S. Bento no século VI. São de particular interesse histórico o campanário românico, construído no século XI, os três claustros (renascentista, gótico e cosmatesco) e a bela igreja neoclássica de Quarenghi. Bar e TV Sat 2000. u Restaurante com capacidade para 500 pessoas. 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In memoria por Lorenzo Bianchi di Marta Sordi, Marietti 1820, Gênova – Milão 2011, 96 p. pequeno e recente livro de Ilaria Ramelli, filóloga e historiadora, estudiosa do cristianismo antigo, contém, como ela mesmo indica no prefácio, uma seleção de breves artigos de divulgação publicados nos anos de 2009 e 2010 no jornal Avvenire. Porém não se trata, como se poderia pensar, de uma simples reedição de artigos agregados por afinidade de argumentação, nem de uma simples antologia, mas de um detalhado e denso resumo, que ilustra com extrema síntese, mas sem omitir nada de necessário ou fundamental, os resultados dos estudos sobre o primeiro cristianismo realizados pela autora, com rigorosa metodologia científica (em particular no que se refere à análise filológica dos textos e à avaliação das fontes históricas), nos últimos vinte anos. Portanto, mesmo dirigindo-se principalmente a leitores não especializados na matéria, o livro resulta de grande utilidade também para estudiosos, para os quais se configura – e isso é particular mérito da autora e a preciosidade da obra – como um extenso índice lógico, que ordena e sistematiza uma vasta produção (há sempre a indicação, no lugar oportuno, de todas as necessárias indicações bibliográficas), e da qual emerge o fio condutor da pesquisa, coerente e unitária mesmo se “dispersa” em várias revistas científicas especializadas. O 64 30DIAS Nº 10 - 2011 Considerando a estrutura da obra, não é possível, em uma recensão, assinalar todos os assuntos tratados, a não ser fazendo uma longa lista: o que não queremos fazer, limitando-nos a indicar as temáticas que parecem mais originais e significativas. Inicialmente diremos que o livro se articula em quatro distintas seções. Na primeira, a que trata da figura de Jesus nas fontes não cristãs do século I, evidenciam-se dois textos dos quais se demonstra a autenticidade, que se colocam em um período bem anterior às conhecidas passagens de Tácito: a carta de Mara Bar Serapion, um estoico pagão, escrita por volta do ano 73, e uma passagem da Antichità giudaiche (XVII, 63-64) do historiador José Flávio, fariseu que escreve logo depois da queda de Jerusalém (ocorrida no ano 70); “justamente a estraneidade das duas fontes ao cristianismo”, escreve a autora (p. 10), “fazem de Mara Bar e José Flávio testemunhas preciosas e não ‘suspeitas’ da figura histórica de Jesus: e mesmo se estes não acreditam na ressurreição física, testemunham sobre a fé que têm os cristãos ‘porque apareceu-lhes novamente vivo, depois de três dias’” (Antichità giudaiche XVII, 64). Mais adiante, na terceira seção, será evidenciada a presença de uma série de evocações ao cristianismo nos romances e nas sátiras pagãs dos séculos I-II: o Satíricon de Petrônio, As Aventuras de Quereas e Caliroe de Caritão de Afrodisía, Metamorfoses de Apuleio, obras nas quais se encontram alusões, às vezes evidentes, aos fatos narrados pelos Evangelhos. E na quarta faz-se a busca dos indícios históricos da primeira difusão do cristianismo do Oriente Próximo à Índia: em particular as vicissitudes do rei Abgar de Edessa (sobre o qual parece fundamentada a relação com o imperador Tibério), a evangelização de Edessa por obra de Addai (nome sírio de Tadeu, um dos setenta discípulos de Jesus, enviado pelo apóstolo Tomé), a da Mesopotâmia por obra de Mari (discípulo de Tadeu, pelo qual foi convertido), a menção de mandylion (a imagem aquiropita de Jesus comparável ao Sudário), a missão de Panteno na Índia (realizada pelo filósofo estoico, convertido ao cristianismo e mestre de Orígenes e Clemente Alexandrino, entre 180 e 190). Mas queremos nos deter mais exatamente na segunda seção, a que trata do primeiro cristianismo em Roma. Nesta seção a autora demonstra que o cristianismo logo ficou conhecido em Roma: o testemunho disso é dado pela notícia da Consulta ao Senado do ano 35, relatada por Tertuliano, com a qual o Senado recusou a proposta do imperador Tibério de dar legitimidade ao credo cristão. Considerada muito duvidosa por muitos, Ilaria Ramelli confirma esta como histórica com novos argumentos acrescentados aos que já tinham apresentados por Marta Sordi e por Carsten Thiede, e em particular, baseada em um fragmento do filósofo neoplatônico Porfírio (233-305), que certamente não pode ser suspeitado de propósitos apologéticos como, ao invés, Tertuliano. Ao recusar a ressurreição de Jesus, Porfírio afirma que, se tivesse realmente ressuscitado, não deveria aparecer a pessoas obscuras (como eram os apóstolos), mas “a muitos homens contemporâneos e dignos de fé, e principalmente ao Senado e ao povo de Roma, onde estes, impressionados pelos seus prodígios, não pudessem, com uma Consulta ao Senado unânime, emitir sentença de morte, sob a acusação de impiedade, contra os que lhe eram obedientes”. A legislação anticristã de Roma deveu-se ao Senado, mas Tibério não aplicou as acusações, e até o ano 62, os cristãos não foram condenados por nenhuma autoridade romana como tais. O comportamento de tolerância do ambiente da corte imperial para com os cristãos é testemunhado também pela correspondência entre São Paulo e Sêneca, que chegou até nós por um caminho diferente daquela do corpus paulino. Precipitadamente deixada de lado como apócrifa na vulgata da crítica moderna, aqui ao invés, é revalorizada, com base em novas e abundantes considerações filológicas e lexicais particularmente convincentes, como provavelmente autêntica, ao menos na maior parte das cartas (ou melhor, breves bilhetes) que chegara até nós, com datas dos anos 58 e 59. São os anos nos quais (se se aceita a cronologia alta) Paulo tinha chegado há pouco a Roma para ser submetido ao juízo do imperador, e, na espera do processo, gozava da custódia militar benévola e era livre para pregar, difundindo o cristianismo mesmo no pretório (“em todo o pretório e em toda a parte, ficou-se sabendo que eu estou na prisão por causa de Cristo”, Fl 1, 13) e na corte imperial (“todos os santos vos saúdam, sobretudo os que são da casa imperial”, Fl 4, 22). A relação de tolerância, ou mesmo de benevolência do poder imperial romano para com os primeiros cristãos – ao menos até a virada autoritária neroniana em 62 e o desencadear-se da perseguição depois do incêndio de Roma que estourou em 19 de julho de 64 (perseguição que, como nos transmitiram Tácito, Anais XV, 44, e Clemente Romano, Carta aos Coríntios V,37 – VI, 1, foi alimentada pela inveja e a denúncia de cristãos) –, descrito por Ilaria Ramelli na segunda se- atenta das fontes históricas, assim como a ideia de fundo: ou seja, que a oposição, que as perseguições sem qualquer dúvida demonstram, entre os que administravam o poder romano e os cristãos, não foi o resultado, ao menos nas suas raízes mais profundas, de um choque político ou de uma luta de classes, como afirma um preconceito ainda muito difuso, mas teve outras causas, causas ligadas principalmente à esfera religiosa. São os próprios documentos históricos que demonstram que a atitude dos cristãos nos primeiros séculos para com o poder imperial foi sempre marcada, desde o início, pela lealdade e pelo respeito da sua autoridade. Portanto é historicamente errado ver no império romano uma encarnação particularmente maligna do poder e o inimigo da Igreja; aliás, ao contrário – nós acrescentamos –, foi justamente o império romano, como sugere a interpretação Acima, São João Crisóstomo (cerca de 344-407); à direita, o Coliseu ção, transporta-nos diretamente ao título do seu livro. Com efeito, neste a autora retoma literalmente o título de uma obra fundamental da sua mestra, Marta Sordi, que por mais de duas décadas foi titular da cátedra de História Antiga na Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão (I cristiani e l’impero romano, publicada em 1984, que segue, sintetiza e atualiza o livro anterior Il cristianesimo e Roma, publicado em 1965). Ilaria Ramelli dá prosseguimento ao trabalho de sua mestra com um método de avaliação rigorosa, analítica e que São João Crisóstomo (IV Homilia, Sobre a II Carta aos Tessalonicenses, PG 62, 485) deu às palavras de São Paulo, é o que parece interpor-se como obstáculo ao verdadeiro inimigo da Igreja, o anticristo: “E sabeis o que atualmente retém o Adversário [o anticristo], de maneira que ele se revele somente na hora devida. Pois o mistério da iniquidade já está em ação. Basta que o obstáculo atual seja afastado” (2 Ts 2, 6-7). O que, ou quem, retém o mistério da iniquidade, segundo São João Crisóstomo, é o poder imperial de Roma. q 30DIAS Nº 10 - 2011 65 ASSINATURAS COMO ASSINAR Enviar o formulário ao endereço do escritório de assinaturas escrito abaixo Destinação Período de assinatura 1 ano 2 anos Preço (€) Brasil, África 25,00 Itália 45,00 Europa 60,00 Resto do mundo 70,00 Brasil, África 40,00 Itália 80,00 Europa 110,00 Resto do mundo 125,00 é a revista mensal internacional mais informada sobre a vida da Igreja. Nas suas páginas estão presentes os acontecimentos políticos e eclesiásticos mais importantes comentados pelos protagonistas. Em cada número, reconstruções históricas, reportagens e serviços especiais de todo o mundo, eventos literários e artísticos, inéditos. 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Elas nos acompanham durante todas as vicissitudes da nossa vida e nos ajudam a celebrar a liturgia da Igreja rezando. Faço votos de que este pequeno livro possa se tornar um companheiro de viagem para muitos cristãos. da apresentação do cardeal Joseph Ratzinger (eleito Papa em 19 de abril de 2005 com o nome de Bento XVI) QUEM REZA SE SALVA O livrinho Quem reza se salva que 30Dias já distribuiu centenas de milhares de exemplares, contém as orações mais simples da vida cristã como as da manhã e da noite, e tudo o que ajuda para uma boa confissão. CUSTA APENAS 1€ o exemplar mais despesas de expedição. AS OUTRAS EDIÇÕES EM LÍNGUA ITALIANA, FRANCESA, ESPANHOLA, INGLESA, ALEMÃ E CINESA É possível solicitar exemplares de todas as edições (a edição italiana apresenta-se em dois formatos, grande e pequeno), escrevendo a 30GIORNI via Vincenzo Manzini,45 - 00173 Roma Ou ao endereço e-mail: [email protected]