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ISOFORMAS DA ADENOSINA DESAMINASE (ADA) EM UM MODELO DE PERITONITE INFECCIOSA EM RATOS Núbia M.M. Luna1; Cid F. Cavalcante1; Yacy M. Almeida2; Marcus R. Vale1 * 1 LAB. FARMACOLOGIA-BIOQUÍMICA - DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA LABORATÓRIO DE PARASITOLOGIA - DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL FACULDADE DE MEDICINA - UFC. * [email protected], Rua Cel. Nunes de Melo, 1127, CEP 60430-270 – Rodolfo Teófilo - Fortaleza-Ceará 2 Adenosine deaminase (ADA) isoforms in a model of infectious peritonitis in rats Infectious peritonitis induced by perforation of caecum was used to study adenosine deaminase (ADA) and its isoenzymes in acute inflammatory process. Sham-operated rats (SO) did not present variation in ADA activity both in blood and in the peritoneal wash, in spite of the increase in total and relative number of PMN at 12 and 24 hours. The experimental group (EG) presented leucopoenia up to 24 hours (due to migration of PMN to peritoneum) and ADA increase in blood and in peritoneal wash. In liver and spleen the total activity of ADA was augmented (peak at 12 hours). Peritoneal wash showed two isoforms: 91kD (human ADA2-like) and 35kD (human free ADA1-like) with similar levels. In liver and spleen the increased levels of ADA were due to 95kD isoform but at 12 and 24 hours (in liver) and 24 and 48 hours (in spleen) it was detected low activity of 35kD isoform which could be explained by leakage from tissues during the process. Much should be studied to find about the role of ADA in acute inflammation, which seems to vary from species to species. Introdução A adenosina (Ad) é um nucleosídeo purínico que age como sinal extracelular mediando uma grande número de respostas via interação com seus receptores de membrana (Rodwell, 1998). Sua ação antiinflamatória já está bem estabelecida. Bloqueia a adesão de neutrófilos (Cronstein et al, 1986), maturação e quimiotaxia de monócitos (Fischer et al, 1985), produção de íons superóxido pelos neutrófilos (Cronstein et al, 1985), citotoxicidade das células “killers” e “natural killers” (Grever et al, 1982), liberação de citocinas (Bouma et al, 1996), inibição da síntese de LTB4 (Krump et al, 1996) e a liberação de histamina pelos basófilos (Marone et al, 1979). A adenosina desaminase (ADA) que catalisa a desaminação da adenosina e 2’deoxi-adenosina tem um papel reconhecidamente crítico no desenvolvimento e funções do sistema imunológico, como por exemplo na maturação dos monócitos (Fischer, et al., 1976). Já está muito bem estabelecido, em número relevante de publicações, que a ADA tem sua atividade aumentada em inúmeras doenças infecciosas tais como hepatite e tuberculose (Krawczynski et al., 1965; Raczynska et al., 1966; Goldberg et al., 1966; Nishikawa et al, 1986; Pushpakon, 1990) e alguns tipos de câncer (Durak et al., 1994a; Durak et al, 1994b; Namiot et al., 1994). No Homem, a ADA é encontrada sob duas formas: uma tissular (ADA1) e outra sérica (ADA2) (Gakis et al., 1989; Van der Weyden & Kelley, 1976). Gakis et al., (1989) formularam a hipótese de que os altos níveis de ADA sérica poderiam ser o reflexo de sua liberação pelo sistema monocítico-macrofágico nas doenças causadas por microorganismos intracelulares. Em algumas patologias onde há aumento da atividade da ADA, uma isoforma pode ser mais representativa do que outra, como na tuberculose onde a ADA2 é a que contribui essencialmente para o aumento da atividade da ADA total. Nosso laboratório desenvolve diversos estudos dentro desta linha de pesquisa (Rodrigues et al.1999, Rodrigues et al. 2000, Vale et al. 1998). Partindo destes dados, surgiu o interesse de investigar o comportamento da ADA e suas possíveis isoformas no processo de peritonite infecciosa em ratos. Sabe-se que esta desencadeia uma extensa ativação das células de defesa a nível focal e sistêmico (Vasconcelos, 1998). Resta saber se a proliferação dessas células e seu afluxo para o foco da infecção modificam os níveis de atividade da adenosina desaminase (ADA) nos fluidos e tecidos envolvidos na infecção, como também caracterizar e discriminar o papel de cada isoforma neste processo . Experimental Animais: ratas Wistar pesando entre 150 e 200g. Indução da peritonite: os animais do Grupo Peritonite (GP) foram submetidos à laparotomia, tiveram o apêndice exposto e o mesoceco seccionado. Após a ordenha das fezes para o apêndice este foi ligado e perfurado com agulha 21G. Após sutura, os animais foram hidratados e confinados, em jejum, mas com água ad libitum. O Grupo Operado (GO) teve o mesmo protocolo exceto a ligadura e perfuração do apêndice. O Grupo Controle (GC) não sofreu qualquer intervenção cirúrgica. Coleta de material: após 6, 12, 24, 48h da indução da peritonite foi coletado sangue do plexo retro-orbital e, após o sacrifício, líquido ascítico diluído em 3ml de salina heparinizada. O material foi usado para contagem total e diferencial das células e, após a centrifugação, os sobrenadantes foram usados para o ensaio da enzima. Ensaio da ADA: O ensaio da enzima está baseado na determinação da concentração de amônia produzida na desaminação da adenosina, pela formação de azul de indofenol, que é analisado espectrofotometricamente (628nm). Filtração molecular: foi utilizada uma coluna (Sephadex G200) de 30cm x 3cm, equilibrada em tampão de ensaio, com fluxo 0,5ml/min. Frações de 2ml eram coletadas e 100µl de cada fração era utilizada para análise da ADA. Resultados e Discussão No GP observou-se uma leucopenia e aumento da celularidade na cavidade peritoneal ( lavado peritoneal ), com grande aumento no percentual de polimorfonucleares (PMN) com pico às 12h (tabela 1), denunciando um processo agudo de migração celular. A literatura tem afirmado que a leucopenia é conseqüência da remoção rápida dos leucócitos do sangue circulante para um tecido que sofreu intensa agressão. A atividade da ADA aumentou acompanhando a elevação do percentual de PMN no lavado peritoneal, atingindo pico às 12h também. O GO não sofreu alteração significante na contagem total e diferencial de células nem na atividade da ADA no plasma e lavado peritoneal em relação ao GC. Tabela 1 – Associação entre a atividade da ADA e o percentual de PMN no lavado peritoneal 6h 12h 24h 48h ADA 27.99± 3.5 48.76± 4.7 22.81± 2.3 12.38± 1.0 (U/L) PMN 34.45± 2.1 71.36± 0.8 63.61± 0.7 28.42± 0.8 (%) GC: 6.96± 0.5 U/L e 9.13± 0.9 % O aumento significativo da atividade da ADA (figura 1) é sugestivo de que, durante o processo infeccioso e/ou inflamatório focal grave, a ADA apresenta intensa atividade e parece ser uma enzima importante para manter a imunidade mediada por células. Vários trabalhos afirmam que a adenosina é produzida em grande quantidade durante isquemia e injúria tecidual e que, em altas concentrações, passa a inibir a resposta celular e humoral se os seus níveis não forem modulados. A ADA é a enzima chave desse processo. Nosso trabalho mostra que a elevação dos níveis de ADA no lavado peritoneal acompanha temporalmente o aumento percentual de PMN, sugerindo um envolvimento dessas células com a atividade da enzima. (Figura 2C) as atividades de F1 e F2 foram equivalentes. É sabido que em exsudatos peritoneais tuberculosos, entre outros, ocorre alta atividade de ADA2 ao passo que os níveis de ADA1 estão mais baixos. Os presentes resultados mostram, que neste caso, ambas as isoformas estão envolvidas no processo. Não foi possível coletar líquido peritoneal suficiente para estudar o perfil de um animal normal 5 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Frações 5 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Frações Controle P-6h P-12h P-24h P-48 *** U/L 50 *** *** 25 η p 75 5 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Frações *** 0 Controle P-6h P-12h P-24h P-48 Figura 1 – Atividade da adenosina desaminase no lavado peritoneal de ratos com peritonite O exame do perfil cromatográfico do exsudato peritoneal às 6 horas (Figura 2A) mostrou a presença de 2 isoformas: F1 similar à ADA1 livre (35.000D) e F2 à ADA2 (91.000D) humanas, (pesos moleculares aparentes padronizados pelo nosso laboratório). A partir de 12h (Figura 2B) a atividade apresentou um pico com predominância de F1. Às 24h Figura 2 – Perfil cromatográfico da atividade da ADA no exsudato peritoneal de ratos após 6h (A), 12h (B) e 24h (C) de indução da peritonite As atividades específicas da ADA nos homogenatos de fígado e baço no GP também mostraram pico às 12h. (tabela 2). O GO não apresentou diferença significante O estudo do perfil cromatográfico do fígado às 12h de indução da peritonite (Figura 3), onde houve maior atividade, mostrou a presença de F2 e traços de F1. Em todos os períodos de indução da peritonite o perfil comporta-se com o mesmo padrão: predominância evidente da isoforma F2. Sabe-se que em humanos a ADA2 é sintetizada pelo sistema monocíticomacrofágico. O fígado possui representante celular desse sistema, que são as células de Kupffer. Contudo fica o questionamento se atividade tão significantemente alta é devida somente a esta população celular. Mais interessante ainda é a presença de pequena atividade de ADA na região correspondente à F1 (ADA1 livre humana símile), principalmente após 12 horas de indução da peritonite. Esperava-se obter alta atividade dessa isoforma em relação a F2. 200 Atividade da ADA η moles de NH3 175 150 125 100 75 50 25 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Frações Figura 3 - Perfil cromatográfico da atividade da ADA no homogenato de fígado de ratos após 12h de indução da peritonite O estudo do perfil cromatográfico do baço mostrou a presença apenas da isoforma F2 que foi responsável pelo pico às 12h de indução.(figura 6). Os outros períodos mostraram mesmo perfil. 200 η moles de NH3 Tabela 2- Atividade específica da ADA em homogenatos de fígado e baço em nmoles\mg prot.\min 6h 12h 24h 48h Fígado 17.32±0.6 22.52±1.3 14.26± 0.8 12.02± 0.6 Baço 21.57± 1.4 101.20±3.8 77.86± 3.3 21.56± 1.4 GC: 11.07±0.4 (Fígado), 15.05±0.4(Baço) Atividade da ADA 175 150 125 100 75 50 25 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Frações Figura 6 - Perfil cromatográfico da atividade da ADA no homogenato de baço de ratos após 12h de indução da peritonite Conclusões • O modelo de infecção utilizado no nosso trabalho está bem estabelecido e caracterizado; • O aumento da atividade da ADA no lavado peritoneal na peritonite induzida acompanha a elevação de PMN; • Na peritonite experimental em ratos Wistar a ADA parece exercer importante papel; • Os perfis cromatográficos dos exsudatos peritoneais revelaram a presença de duas isoformas de pesos moleculares compatíveis com a ADA1 livre e ADA2 humanas; • O perfil cromatográfico do fígado mostrou forte presença de uma isoforma com peso molecular compatível com ADA2 humana, o que levanta o questionamento se em rato essa isoenzima seja exclusivamente sintetizada pelo sistema monocíticomacrofágico. • O perfil cromatográfico do fígado também é sugestivo da presença de ADA com peso molecular correspondente à ADA1 livre humana, contudo apresentando atividade muito abaixo do esperado. • O perfil cromatográfico do baço mostrou a presença de apenas uma isoforma com peso molecular compatível com ADA2 humana. • As duas isoformas parecem participar do processo infeccioso em contradição com as observações em humanos, onde a ADA2 apresenta-se mais elevada em líquidos infectados. Agradecimentos CNPq Referencias Bibliográficas Bouma, M. G.; Van den Wildenberg; F. A. J. M.; Buurman, W. A. - Adenosine inhibits cytokine release and expression of adhesion molecules by activated human endothelial cells. J. Physiol., 270: c522-c529, 1996. Cronstein, N. B., Levin, R. I., Belanoff, J., Weissmann, G.; Hirschhorn, R. - Adenosine: An endogenous inhibitor of neutrophil-mediated injury to endothelial cells. J. Clin. Invest., 78: 760-770, 1986. Cronstein, N. B., Rosenstein, E. D., Kramer, B., Weissman, G.; Hirschhorn, R. - Adenosine physiological modulator of superoxide anion generation by human neutrophils. Adenosine acts via an a2 receptor on human neutrophils. J. Immunol., 135: 1366-1371, 1985. Durak I, Cetin R, Cambolat O et al (1994a) - Adenosine deaminase, 5’nucleotidase, guanase and citidine deaminase activities in gastric tissues from patients with gastric cancer. Cancer Lett. 84:199-202. 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