Depoimento de José Antônio Ferreira (Dedé) Carla

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Depoimento de José Antônio Ferreira (Dedé) Carla
Ação Moradia
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Depoimento de José Antônio Ferreira (Dedé)
Carla- Dedé , bom dia.
Dedé- Bom dia, Carla.
Carla- Eu queria que você me falasse primeiro o seu nome completo a sua data de nascimento
e o local onde você nasceu.
Dedé- Tá certo, Carla, meu nome é José Antônio Ferreira, eu nasci, tenho o privilégio de ter
nascido no dia 31 de dezembro de 1962 e foi lá em Ituiutaba, nasci né, numa família ... né,
pobre, mas tinha muita riqueza de carinho de meus pais que -- meu pai eu recebi, meu pai é
semi analfabeto, quer dizer meu pai sabe assinar o nome mal, minha mãe tadinha não sabe
nada -- eu aprendi a rezar a Ave Maria com a minha mãe e meu pai, deitado no braço do meu
pai, eu fui caçula até 14 anos -- por isso que eles são assim muito ligados comigo -- até os 14
anos eu era o filho único, mas de uma família bem simplesinha, e aí a gente foi né, fui
crescendo. Meu pai muito trabalhador, graças a Deus, minha mãe não sai de casa, é isso que
ocês vê. E fui né, e foi... a gente foi crescendo, eu estudei, não estudei mais, meu pai me
ofereceu até a condição que ele podia, mas eu vi que eu precisava de trabalhar, desisti da
escola e fui por ai, trabalhar, servi o exército, graças a Deus, aprendi muito, acho até que
meus filhos não serviram, mas eu acho que eles perderam com isso, e fui trabalhando até
conhecer a Suzy, trabalhando com ela numa empresa de calçados, agente era amigos de
trabalho, agente saía conversava a gente não, agente pensávamos que seríamos amigos
eternamente, (...) e um belo dia nóis, conversa vai, conversa vem começamos a namorar e
agente ainda morando em Ituiutaba.
((corte))
Carla- Dedé me conta então, você começou a trabalhar na sapataria e foi lá que se você
conheceu a Suzy, sua esposa.
Dedé- É sim, Carla, a gente trabalhava junto, era na verdade era uma, tem uma loja né de
calçados, e a gente, nos conhecemos lá trabalhando juntos, lá em Ituitutaba. Que depois disso,
eu até, contado um pouco da minha história profissional, minha primeira profissão foi
sapateiro mexendo com esta loja tinha uma parte de fábrica de calçados também, determinado
momento eu fui trabalhar de sapateiro eu tinha uma fabriqueta de calçados femininos ai, nos
casamos.
Carla- E aí vocês descobriram que não eram só amigos?
Dedé- É descobrimos, quando agente começamos a namorar, um longo tempo depois de
sermos amigos, eu até pensava que ia namorar com uma amiga dela -- ((sussurrou)) ela fica
brava com isso -- e agente nos descobrimos que a gente né, queríamos era ficar juntos,
namoramos, noivamos aí teve um período difícil na minha vida, eu fiquei noivo numa sextafeira, no sábado seguinte eu bati de moto, tava com ela, era um feriado, um dia de finados até,
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eu bati de moto e fui parar, vim parar aqui em Uberlândia na Medicina ((hospital de clínicas))
com 15% de chance de sobrevivência, aí (), quando né depois desses 45 dias que eu fiquei
aqui, depois de ter ficado 17 dias em UTI, que voltei pra Ituiutaba eu tive que reaprender a
minha vida. Porque eu tinha perdido, sofri amnésia né, esqueci até que tinha ficado noivo,
nossa história dá, dá um livro, aí né não me lembrava. E agente foi um ano depois nos
casamos. Aí, início de vida né, trabalhando, ela saiu do serviço dela e a gente, aí nasceu a
Gilcelaine, lá em Ituiutaba, aí agente vendo que a vida tava ficando muito difícil lá, trabalho
lá muito difícil, resolvemos a vir embora pra Uberlândia, trouxemos a Gil com 5 meses de
idade.
Carla-Vocês tinha alguma expectativa aqui em Uberlândia, alguma...?
Dedé- Carla, eu vim de lá pensando em trabalhar em sapataria aqui, que é o que até então, na
verdade até já tinha tido uma certa experiência com obra, com carpintaria, mais eu pensava
que viria pra Uberlândia trabalhar em sapataria, porque tinha um mercado interessante, umas
empresas aqui que eu até cheguei a ir lá, inscrevi currículo, fui aceito pela empresa, o dia que
era pra começar, eu não comecei na sapataria e fui pra construção civil. Até porque né,
dinheiro.
Carla- E você foi trabalhar onde?
Dedé- Aí voltei pra construção e fui em várias obras por aí, ( ) fui trabalhar na Comil, entrei
como carpinteiro, trabalhei só 2 meses, passei a encarregado de carpinteiro. Aí teve uma
época, essa empresa é a empreiteira, subempreiteira da Simão, construtora na época muito,
bastante forte aqui em Uberlândia e CCO, e apareceu os cursos do SEBRAE pra capacitação
profissional, aí eu mais que rápido né, eu fiz esses cursos, aí eu conheci aqui já saindo do
bairro que eu morava aqui em Uberlândia que a gente morou lá no Patrimônio, apareceu
oportunidade da gente comprar, adquirir um lote aqui no bairro aqui no bairro Seringueiras, e
eu, junto lá ao Fundo Municipal de Desenvolvimento lá de construção, na época lá, até com
que não lembro agora, quem era o político, sei que o cara foi que me ajudou bastante, e eu
conseguiu este lote aqui, aí aqui eu vim pra cá, eu, mais um monte de famílias que precisavam
de casa para morar e mais um outro monte de gente que vinham dos acampamentos do dom
Almir e Joana D´Arc. Aí aqui eu fui conhecendo né, todo mundo, lutando para construir essa
casa. E aí aqui com um belo dia, a Suzy né, diz que alguém teria chamado ela pra ajudar na
Igreja, né e a partir daí começou a amizade com a Ação Moradia, acho que conheci primeiro a
Dona Eliana.
Carla- E quando vocês vieram aqui pro Seringueiras, vocês vieram morar em casa, em
acampamento, como é que é?
Dedé- É Carla, eu né, foi uma casa pequena, como na época, como eu já te falei essa história
antes, eu sou bem mais velho de que meus irmãos e meu pai também conseguiu um lote aqui,
meus irmãos eram pequenos tinham parece 16, 15 anos e eu tinha minha filha Gilcelaine de,
já tinha um ano, perdão já tinha, já tinha passado, já tinha um pouquinho mais, já tava
grandinha já, parece que tinha 3 anos. A Suzy tava grávida do Henrique. Aí o que eu fiz, eu
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tinha umas telhas que eu né, desde de tempo, já vinha guardando algum material em casa para
que um dia que houvesse oportunidade fazer uma casinha para mim. Aí na hora, a gente
juntou eu e meu pai, não vamos fazer uma, depois a gente faz a outra, o que nós fizemos,
juntamos o esforço que eu tinha com o esforço que meu pai tinha, com meus irmãos, até né,
jovenzinhos e fizemos uma casa maior, na casa do meu pai. Uma casinha maior, cobrimos e
moramos juntos acho que uns 2 ou 3 meses, minha mulher me disse, a Suzy grávida do
Henrique, carregando tijolo, pra construir essa casa. Aí a gente, daí um tempo depois fazendo
essa casa e era só final de semana. Essa casa minha foi feita só final de semana, graças a
Deus. Aí a gente final de semana vinha fazendo a minha, aí quando tava na altura de 2 metros
e 70 veio um vento e derrubou. Agente colocou para cima, ficou em pé de novo. Aí nesse
momento, um dia, o padre Baltazar, a Suzy já tava envolvida com o pessoal da comunidade
vieram celebrar uma missa aqui, no fundo dessa então minha casa que era 3 cômodos só, acho
que nesse dia foi que conversei um pouco mais com a Eliana aqui, aí depois teve uma outra
festa ali no armazém de cima, a gente chamava de Bar do Seu Augusto, acho que era um dia
das crianças que tinha um evento então proposto pela então a Pastoral da Ação Moradia que a
Eliana era coordenadora e vieram conversar comigo né, essa história que a Eliana falou, eu
gosto que ela fale, eu não gosto de falar. Aí, a partir daí começou, a Ação Moradia começou a
fazer parte da minha vida.
Carla – Aí você começou a trabalhar com a comunidade?
Dedé- É aí a Eliana me fez essa pergunta e eu vi que, é se eu conhecia a minha comunidade,
se eu conhecia o bairro, eu queria até, tava até me envolvendo com Sr. Augusto na
comunidade, na associação de moradores do bairro, quando a Eliana me perguntou eu falei
“oh, não conheço” e durante a semana né eu conheci alguns casos e a partir daí eu comecei a
ajudar as famílias do bairro, então foi com ajuda, ajudando a Ação Moradia a ajudar quantas
pessoas que vinham na minha casa, eu lembro de uma história Carla, Oswaldo e Eliana, que
até hoje eu não me esqueço, eu tava aqui na porta da minha casa, minha casa eu tinha posto
uma cerquinha, até para os meninos não saírem, assim de arrame, aí, parou na porta da minha
casa um moço com uma camionete F4000 com umas telhas, uma cama, umas coisinhas e
falou assim “é aqui que mora o Dedé?”, eu falei “é”, ele falou assim “olha moço, disse uma
senhora, me avisaram que eu fui despejada da minha casa no Santa Mônica -- não sei dá
vontade de chorar quando eu falo nisso -- e me falaram que se eu viesse aqui cê me ajudava a
fazer a minha casa”, isso era umas três horas da tarde num domingo, eu fui nois montou uma
casinha pra ela, eu chamei o Odilon, que é um antigo morador, já não mora mais no bairro,
nós fomos lá e montamos uma barraquinha pra ela, aí eu acho que vi né, que eu tinha que
tentar ajudar as pessoas com o que eu podia, sempre fui né, muito chato, um dia alguém veio
aqui me chamar pra trocar uma porta, que aquela primeira que a gente tinha colocado já tava
velha, a situação melhorou e ele veio para mim trocar a porta, porque sabia que eu era um
excelente colocador de porta, eu falei “eu vou e coloco pra você, mas amanhã, que aí o meu
preço é tal”, “há mas...”, eu falei “não, aquela que quando você precisava eu coloquei de
graça, essa agora você quer um luxo aí você tem me pagar”, que essa função eu exerço pra
cuidar da minha família né. Aí assim foi. Aí eu ajudei um tempo aqui e um certo dia...
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Eliana – Eram muitas famílias aqui?
Dedé- Ah era, era mil, primeiro era novecentas e setenta famílias aqui no Seringueiras I, que
foi a parte mais difícil do bairro e todo aquele pessoal e era barraco aqui, barraco ali, era uma
dificuldade danada. Aí depois que começou o Seringueiras II já tava um pouco, já tinha mais
ajuda da própria, do próprio poder do município né, já tinha mais ajuda. Teve uma história
que um dia aqui com então Vereador Batista Pereira, e o Ferolla, Prefeito, ali, nessa avenida
Serra da Mantiqueira, aqui ainda era um poeirão só eles falaram que tinham entregado,
fazendo propaganda política, disse que tinha entregado esses lotes urbanizados, “mas não tá
mesmo”, eu falei, gritei no meio do povo, mas não tava mesmo. Falei “ah, mas pô, vamo lá na
minha casa, que lá tem fossa”, porque não tem rede de esgoto e realmente eu tinha uma fossa
alí, aí o povo né, pá uns ... aí pronto. Então essa é a minha vida, e foi assim a minha história
aqui no Seringueiras. Até um dia, a então Ação Moradia já tinha, agente já tinha construído o
Centro Comunitário Dom Estevão que eu a... antes ...
Carla – Como que era lá?
Dedé- Foi... antes ... antes.. bom...
Carla- Como que vocês construíram?
Dedé- Nossa... eh..
Carla – O centro de formação?
Dedé- Nossa Carla, essa ligação de ... tá certo é de Ação Moradia e meu conhecimento até o
dia que me ser apresentando um projeto de construção de um Centro Comunitário Dom
Estevão que era muito chique, um projeto muito bonito, né? E aí por não ter ... esse projeto
não foi nem até aceito pela Diocese e precisava de uma ajuda para mudar aquele projeto pra
por aquilo em prática. E, eu, aquela hora achava que seria essencial pro bairro, até em reunião
anterior, tinham me perguntado o que era melhor construir uma igreja ... até agora não te
entendi, Oswaldo.
Dedé- Construir uma igreja ...
Oswaldo – Não, é que a Suzy tava atrás tó pedindo para ela sair.
Dedé- Ah tá ... é.. ah... é... Quando saiu esse projeto foi perguntando assim: o que era que era
um projeto de igreja com um centro comunitário. Lembro até hoje, lá no ... Travessa Cristo
Rei, teve esse projeto e era a primeira igreja em Uberlândia, e até hoje eu não vi em nenhum
outro lugar, a primeira igreja que tinha junto um.. um... um centro comunitário. E esse foi um
projeto e veio pra uma ... isso provocou uma primeira reunião de moradores aqui no bairro e
nessa reunião no bairro, quando foi perguntado o que fazer primeiro, já que os recursos eram
poucos, a igreja ou o centro comunitário ou igreja que serviria de centro comunitário por
enquanto até construir suas dependências, né, os cômodos, as salas, ou faria assim um centro
comunitário para que ... se servisse como centro comunitário e poderia se celebrar, fazer as
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celebrações lá dentro, e eu não sei se isso, até que ponto isso foi favorável, mas o meu voto
foi que fizesse primeiro o centro comunitário.
E- ( )
Dedé- É, e a comunidade poderia emprestar o espaço pra celebrações religiosas e eu via que o
espaço religioso pra servir como centro comunitário ia gerar polêmica e foi definido e agente
começou aí eu já não era, fui voluntário nesse centro comunitário entre aspas durante os dias
que eu fui pago pra estar executando esse serviço, final de semana era voluntário sim, mas
durante a primeira etapa de construção do centro comunitário eu fui remunerado pra isso. E aí
acho que se eu tiver pulando alguma parte, agente parou um tempo. Aí então a Ação Moradia,
que nem era Ação Moradia ainda, era Pastoral da Moradia, devolveu as dependências pro
bairro de origem, pra paróquia de origem, a então igreja, que nem era igreja ainda, era só o
centro de formação. E a Pastoral da Moradia partiu para outro lugar na cidade. E eu fiquei
aqui. A gente sempre em contato, até um dia o Oswaldo me ligou me perguntando o que eu
taria fazendo que teria descoberto um projeto, que tinha passado na televisão, por
coincidência eu também tinha visto, daquela maquininha de fazer tijolo ecológico e eu falei
né, eu já gosto de ajudar de graça, se for para ajudar “pago” vamo lá. E aí, aconteceu isso, aí
eu fiquei mais, e a partir desse momento na minha vida eu fiquei mais ligado ainda com a
Ação Moradia.
Oswaldo – Naquela época aqui no bairro só fazia ... só fez o Centro comunitário?
Dedé- Não, Oswaldo, lógico que não. Até a gente fazer o centro comunitário, a gente fez
várias casas, né, pra várias famílias, né? Foi uma, ali foi uma luta eu acho que até pode ser
maior, mas igual a que é empreendida hoje. Fazer com aquelas famílias, aquelas casas, eu
acho que, eu tive a honra de tá assim no meio né, das diferenças sociais, eu ficava do lado da
população, que é uma população, que eu morava, meus vizinhos e por outro lado recebendo
aqui aquelas pessoas que deram mais sorte um pouco na vida, e queriam ajudar, e eu né, se
brincar aqui em casa terminou sendo o centro de atenção do bairro. Tanto que quando
precisava o pessoal que era Ação Moradia, “Dedé aqui ...”, “Dedé que que eu compro pra casa
de fulano...”, “vê se é verdade...”, aí em seguida, a Rosário foi pra lá, elas tiveram quase que
uma ligação da comunidade com a pastoral que depois se tornou essa ligação da comunidade
também religiosa, da paróquia da catedral. Talvez o meu telefone, sem sombra de dúvida é
Carla, foi o primeiro telefone a ser instalado no bairro. Até hoje esse povo não deixa de ligar
aqui a cobrar, até hoje. ((risos)). Sabe às vezes, que vem caro, eu pago caro, sabe eu sinto se
eu tiver, se eu der conta de pagar Eliana, 10 mil reais de telefone por mês, que liguem, sabe.
Até hoje eles ligam. Fazer o quê? Acho que cada um tem seu carma, né, seu destino.
Carla- Dedé o que esse trabalho aqui em parceria com a pastoral da moradia e essa
comunidade que era tão carente na época. E vocês estavam sempre juntos?
Dedé- Ah.. foi isso era um aprendizado, né, Carla. A gente vê que eu pedia os materiais
durante a semana e esse material vinha e a gente às vezes colocava no final de semana e o
pessoal colocava e tá tentando, aí veio onde aquela minha, que começou aquela ideia de
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profissionalizar as pessoas, a minha, a fé da minha primeira palavra quando conheci a Eliana,
“esse povo precisa de trabalho!”, “esse pessoal precisa aprender a trabalhar que é pra
conseguir a suas coisas”, e agente via que agente trazia os materiais pras pessoas, e daí uns
dias, esses materiais eram vendidos pras pessoas comerem, claro! Que que é melhor, cagar no
mato e comer, ou cagar no vaso e não ter o que comer? Não tem nem o que cagá, para que que
eu quero vazo, pra vender. Claro! Infelizmente eu aprendi outra coisa, muita gente não teve a
honra de nascer numa casa de parede, Carla, isso eu aprendi aqui... muita gente. Tem uma
Dona Sebastiana alí, que Deus a tenha, que já morreu né. A casa dela, depois que a casa tava
ficando pronta, ela “olha, Dedé eu nunca tive uma casa de parede”, porque a gente conseguiu
ajudar esse povo. Se eles vendiam as telhas, se os filhos vendiam as torneira ... acho que era
de menos né, a gente conseguiu andar, pelo menos um dia ta morando numa casa, tem acho a
primeira casa que eu ajudei. Foi a de seu Francisco, que não entrou na casa, não entrou na
casa, cê lembra Eliana? Aquele senhor, com mutirão, foi o... acho que foi a primeira, a
primeira também que eu trabalhei junto com o Oswaldo. E a partir daí graças a Deus, né
Oswaldo, agente fizemos muita coisa e ...
((Interferências ....))
Dedé- Oi? Não, é que primeiro eu conheci a Eliana trabalhando, o Oswaldo foi um processo
depois. É, oi, acho que foi um processo depois, o Oswaldo. Eu conheci primeiro a Eliana ...
Oswaldo – O seu Francisco, ele não entrou na casa?
Dedé- O seu Francisco não entrou na casa porque ele faleceu, Oswaldo. Por isso é que eu
digo, e foi ali, foi feita no mutirão, eu ajudando mais..., o grupo de jovens daqui, incentivados
pelo grupo de jovens lá, eu acho, não lembro se bem que seus filhos também vieram e eu me
lembro que no sábados e eles já começando a participar, então motivado pelo Padre Baltazar
nas missas, né. E eu já avisava no final da missa, “olha amanhã vai ter mutirão na casa do seu
Francisco”, aí esse pessoal ia e tava terminando a casa, e o ... faleceu. E olha o que serviu
essas amizades que a gente foi adquirindo, né, esses filhos de Deus. Que não tinha nem como
ser enterrado. Tão diferente, tadinho, me lembro até hoje que ... não sei se eu liguei pro
Oswaldo, isso eu não me lembro, se foi pro diácono Geraldo Magela, sei que alguém me deu
o telefone do Ângelo Cunha ((funerária)), do Ângelo Cunha, e eu liguei pro Ângelo Cunha,
dono da funerária, pra fazer o sepultamento dele. E como é que eu ia, tava começando a
comunidade, era um líder, mas também que não sabia nada, quer dizer, eu não sei nem se eu
era líder, ou o quê que eu era, né, e tava eu começando, mas não sabia eu queria ajudar, né. E
eu liguei pra esse moço, e graças a Deus, fui muito bem atendido, teve na hora mandou o
pessoal, e fez um, se tem velório bonito, né, não sei se tem, mas foi feito com todas as honras.
Carla- E sua família é envolvida também nesse trabalho comunitário, Dedé?
Dedé- Sim né, a Suzy, começou primeiro que eu, como eu disse, e os meninos, né, foi um
processo, seguinte, meus filhos eram mais difícil um pouquinho, mais arredios, mas, eles
ajudaram muito e eu acho que a educação deles, né, deve muito a isso, a esse convívio com
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essas famílias. Até tá vendo o que servia e o que não serve nessa vida. Me ajudou na
formação de meus filhos, foi por aí.
Oswaldo – E como vocês conseguiam material para fazer os mutirões?
Dedé- Ah, os mutirões, eram é, tinha eh, o pessoal da paróquia da catedral, que teria aquela.
Bom, começando a história já então da Ação Moradia, o que eu sei, e isso foi até 2 anos antes,
né, em 1993, que começou, que tinha a Campanha da Fraternidade “Onde moras, quem és?”
tinha uma catequista da paróquia da Catedral. Naquela missa ... no final da campanha da
fraternidade, tem eu creio que é, me perdi a palavra, me ajuda ... o gesto concreto, e essa
catequista convidou os alunos a conhecer uma comunidade pobre, e levou esses meninos a
conhecer a comunidade do Dom Almir, que grande parte dessa comunidade, veio pro
Seringueiras que a partir daí, incentivou esses menin... esses catequizandos a estarem
ajudando essas famílias, eram motivados e a partir daí cada um começou a se doar, foi onde
surgiu, não sei se já nesse ano ou se foi no processo seguinte as festas juninas. Eu não sei se
comecei na primeira ou se foi na segunda, na segunda e ... a partir, foi assim, eu me lembro
que depois uma moradora do nosso bairro aqui, né, ela foi trabalhar com a Ação Moradia,
perto de um casal, né, que eu acho que foi quem ... ficou sempre a frente ali da Ação Moradia,
incentivando essas famílias, essas pessoas. E se doou de grande parte até do seu
desprendimento de patrimônio e de tempo pra essa Pastoral da Moradia e colocou essa então
moradora do bairro a trabalhar junto com eles pra no outro dia, com o tempinho que eles
tinham, tá colocando essa pessoas para trabalhar em prol da comunidade, não sei de onde que
vinha o recurso pra pagar essa moça, sei que ela era funcionária e que trabalhava em prol
dessa comunidade e a partir daí, que começou, “Dedé o que precisa pra casa da senhora, do
seu Francisco, ou pra casa da dona Sebastiana?” E eu no meu tempinho de folga ia passando
essas coordenadas e final de semana agente se juntava e eu mais um anjo pessoal dessa
pastoral, voluntários e foi assim que foi surgindo essa, essas casas fizemos acho que 14 casas
aqui, 14.
Carla- E como que foi, Dedé ? Quando a pastoral da moradia saiu daqui do bairro?
Dedé- É a pastoral da moradia, saiu aqui do bairro, depois de pronto o centro de formação,
tava quase que terminando o processo de construção já da igreja, eles diz que o bairro já tinha
evoluído bastante e que tinha outro bairro necessitando tanto ou mais, e, sem nenhuma ajuda
humanitária, eles foram pra lá, e deixou a comunidade responsável por este centro de
formação.
Carla- E lá no outro bairro, você foi junto?
Dedé- A princípio, não. Eu conhecia o projeto, até ai já ficava distante, né pra ficar
conciliando essa ajuda de voluntário e essa, e a minha vida particular, o meu trabalho, e eu
acho que ajudei uma ou 2 vezes ainda nas barraquinhas e mesmo depois que o pessoal da
Ação Moradia, já não tava mais no bairro Seringueiras, me lembro de ser convidado para
ajudar na festa junina. E um belo dia, foi o convite do Oswaldo e com essa saída da Pastoral
da Moradia aqui da nossa comunidade, ficando, como eu disse, a comunidade responsável, e
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mais outras pessoas que ficaram com um pouco demais, que era a Dona Lúcia, a irmã do Sr.
Zé Lelis, que eu não me lembro o nome dela, e essas pessoas, também voluntárias, estariam
vindo aqui e auxiliando ... as senhoras aqui nesse clube de mães e já começou aí, uma maneira
de um recurso de fazerem os bordados e pinturas e foi evoluindo a comunidade.
Carla- E como que foi e ai a Pastoral da Moradia saiu ...
Dedé- Ai, a pastoral da moradia saiu.
Carla- E foi pra um outro bairro ...
Dedé- Foi pra outro bairro.
Carla- E como que era lá? Você foi junto?
Dedé- Não, aí ... só fechando aqui, Carla. A comunidade aqui continuou por..., aí a prefeitura
o então programa de saúde na família. Que tava recém-inserida aqui no município é..., foi
tomar conta do então centro comunitário, já porque lá tinha salas de médico e salas de
dentista. Talvez o primeiro programa de saúde da família da cidade de Uberlândia, que eles
não falam, a ter toda uma estrutura na mão, pra ser feito foi aqui. Tinha o Dr. Fausto que veio
pra cá, que seguindo os entendidos, é o melhor da região, em saúde da família. Que seria até o
coordenador do programa na cidade de Uberlândia. E ele próprio chefiou essa equipe aqui,
mas que durou pouco tempo, infelizmente. Não sei porque essa parceria entre Diocese e
Prefeitura, não foi, não pode ser selada e continuada. E parou com um projeto que a Pastoral
da Moradia, deixou pronto, montado para o bem da comunidade. E infelizmente perdeu-se
aparelho de dentista, a cadeira, que me lembro muito bem, hoje em dia pra montar é muito
caro, cê sabe disso, perdeu. Hoje, se você entrar naquela sala você vê diversos materiais de
médicos e dentistas, jogado. Infelizmente pro nosso bairro. E aí foram pro bairro Dom Almir,
que eu tive algum contato esporádico. Até um dia, fui convidado, o Oswaldo ligou na minha
casa, e perguntou se eu não queria trabalhar com a comunidade, desenvolver um projeto com
tijolo ecológico.
Carla- E ai?
Dedé- Nossa, aí foi tudo de bom, né? Aí eu já tinha visto na televisão também umas
reportagens, umas propagandas e foi. Eu fui convidado e eu me sentei lá com a diretoria da
Ação Moradia e com esse casal, né, que desde o começo eu tenho falado que é o Oswaldo,
Seu Oswaldo e a Dona Eliana, que agente nos tornamos amigos né, e são corpo e alma dessa
Ação Moradia. Da Pastoral da Moradia.
Carla- E como que era esse trabalho com o tijolo ecológico? Que que cês pensaram em fazer?
Qual que era a proposta?
Dedé- Carla, eh, tinha de ser, agente tinha descoberto aqui a dificuldade de se construir na
metodologia convencional, a dificuldade de se construir uma casa, se você não fosse um
profissional apto e que a mão de obra seria talvez 50 a 60% da construção dessa casa, até
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então os matérias, tinha até essa possibilidade de conseguir. Mas quando chegava na mão de
obra, precisava de dinheiro pra pagar. Quando descobriu se esse tijolo ecológico seria um, a
salvação de tudo por que seria uma metodologia mais barata, mais barata em si, e que ia
permitir as próprias famílias fazerem o tijolo e construírem as casas e de se profissionalizarem
pra adquirirem então o sustento para sustentar essa bendita casa, que seria para essas famílias
e ai a gente foi. Eu fui pra Sacramento, que era uma cidade que desenvolvia o Projeto Crescer,
com essa metodologia, eu fui pra lá, acho que fiquei uma semana ou duas. Voltamos, a Ação
Moradia, adquiriu uma máquina, uma prensa, lembro da... já aceitação do seu Zé Lélis. Da
ação do Zé Lélis, que até então a gente tinha é... a gente não tinha se dado bem em
determinado tempo das nossas caminhadas de trabalho, e que pra voltar pra Ação Moradia,
deveria, deveríamos um aceitar o outro, e graças a Deus, eu, a gente conversamos e ficamos
de novo amigos e, pra realizar o trabalho.
Carla- Como que seria o trabalho, como que era o trabalho ... de produção de tijolos?
Dedé- Bom, aí, né, após adquirir essa máquina e até porque acho que a liberação de recursos
da ONG Moradia e Cidadania, a primeira máquina que foi conseguida, a gente construímos
um barracão, meia boca lá, eu mais um serralheiro. E a gente, começamos aí a prensar os
tijolos, todo mundo com seus medos e dúvidas, mas com a vontade de fazer, aí me
apresentaram as primeiras famílias lá do bairro Dom Almir, não me esqueço, o Donizete e a...
o Donizete que não aceitava ninguém era um... aí tinha o Arli, Darli mais a esposa, ... o outro
Oswaldo? Ajuda, os três casais primeiros...
Oswaldo- Fernando...
Dedé- Não, não é o Fernando. Bom, os três casais primeiros e a partir daí ...
Oswaldo – ( )
Dedé- Não é o outro, e a partir daí, nois começamos.
Oswaldo- Antônio...
Dedé- É, não, aí ... essa parte dai começamos a fazer tijolo, pra fazer a primeira casa que foi
construída, que foi a da Antônia. Meu envolvimento era tanto com essas famílias na Ação
Moradia, que um dia, o então dessa Antônia, a primeira casa, um dia eu, o marido da Antônia,
foi lá bravo porque, ele não ajudava em nada no processo da casa, nunca ajudou.
Carla- Só ela...
Dedé- E a mulher, né, desse tamanhozinho, todo dia prensando, cheia de filho pequeno, e ela
trabalhando, agente trabalhando dia de domingo, o nosso começo alí foi bravo a gente
pensava tijolo até no domingo, e um belo domingo, 2 horas da tarde, ele chegou lá querendo
saber quem que era o Dedé. Porque chegava em casa, a noite, a mulher só falava em Dedé, os
filhos só falava em Dedé. Então ele queria saber quem que esse cara que tava fazendo que, na
casa dele ... falei assim, “é o cara que vai ajudar a fazer a casa para você morar”. E... foi assim
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... e a partir daí ... foi essas primeiras famílias, né, lá da ... da Antônia, depois foi a do
Ronaíldo, do Donizette.
Carla- Cê lembra quantas casas que vocês fizeram lá na Ação Moradia e como que era o
trabalho? E o relacionamento com as famílias?
Dedé- Ah, Carla, o relacionamento sempre foi muito bom, né, a gente enquanto, tem alguma
coisa pra oferecer fica fácil, sempre que tem uma coisa pra oferecer pra alguém tá fácil, agora
quando é a hora de você receber alguma coisa, aí fica mais difícil, né. Quer dizer, quando
chegava com os materiais ou quando a própria cesta, era muito fácil. Agora na hora de trazer
eles pra cá, pra trabalhar, aí tinha um pouquinho de dificuldade, mas não que não se
conseguisse pra trabalhar. Aí a gente vai se metendo no meio deles, fazendo amizades com
eles e a gente vai conseguindo.
Carla- E ia família inteira Dedé, como que ia, só a mulher?
Dedé- A maioria as mulheres né Carla, porque é ... poucos casos é que os homens já chegam
pra trabalhar assim direto. Primeiro as mulheres, pelo fato de que ... não sei se por causa das
dificuldade. A mulher é que tá mais em casa, a preocupação maior dela. O homem saí fora ...
a gente trabalhava mais com as mulheres com certeza.
Oswaldo – Houve alguma outra instituição que ajudou nesse momento inicial? Em compra de
prensa que ajudou a fábrica.
Dedé- Ah, a ONG Ação e Cidadania
Oswaldo – Alguma outra mais?
Dedé- Tá aí apartir daí, a gente recebeu ... a Monsanto Found,né, que foi quem liberou os
recurso pra construir o Centro de Formação e a BrazilFoundation que tava sempre aportando
recursos para essa fábrica e essa construção de casas pras famílias. Não me lembro do nome
do projeto, mas eu me lembro que a BrazilFoundation tava sempre aportando recursos pra
ajudar nessas atividades.
Carla- E o que mudou na sua vida, Dedé, depois que você entrou na Ação Moradia?
Dedé- Ah, Carla, né, eu fui crescendo, o meu crescimento ... -- tá, eu vou chegar lá-- aí,
depois de fazer essas primeiras casas, agente fomos ... nós fomos aprendendo né, a trabalhar
com esse tijolo, com essa metodologia e agente foi crescendo, eu para mim profissionalmente,
eu já era até então, encarregado de obras, mas de solo-cimento, pra executar uma construção,
e olha que a gente teve é ... é ... apresentar uma metodologia, um tijolo feito de terra, a
rejeição da sociedade em si, a primeira vez que a gente recebeu um, uma visita dum professor
da Universidade Federal, da área de materiais lá na Ação Moradia, foi uma coisa -- o
camarada, chegou lá, num barracão, rodeado de terra, rua de terra, sem asfalto, cara chegou lá,
num carro preto, bem polidinho e tinha até uma gravatinha borboleta o cara – e o cara veio
olhar, analisar aquilo lá, pra dá uma ajuda dele, ele com seus receios, com toda a sua
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sabedoria, foi ... fez o primeiro laudo e a gente fomos insistindo e fomos crescendo, voltamos
a Sacramento então, até provocado por esta instituição de ensino, desse professor que foi lá, a
gente voltamos pra ver os defeitos, após construídas essas casas em Sacramento. E a gente foi
melhorando, ele mandou o primeiro laudo, a gente pensou “poh, não sabemos nada”, claro,
tava começando, e voltamos, e a partir dai a gente insistindo e até hoje, até a gente ter a total
liberdade nessa Universidade Federal de Uberlândia de entrar dentro do laboratório e ensaiar
os materiais e conseguir até então, um ensaio do material, que desse a certeza de que o
material poderia ser construído casas, as 50 casas no bairro Campo Alegre. E a partir do
ensaio desse material, que deu uma resistência que pedia a norma. Que até então tinha que ser
de uma, até descobrir essa norma, penamos bastante também, mas graças a Deus, a ajuda
desse professor que chegou de gravatinha borboleta, que nos tornamos amigos, que é o
professor João Fernando, foi, né, até eu e ele topou, que se eu quisesse ele ia arrumar um meio
de que eu fizesse um curso técnico pela Universidade Federal de Uberlândia, cê sabe essa
história, Oswaldo? Ele chegou a falar pra mim, que se eu quisesse, ele ia dar um jeito de
arrumar um curso técnico pra mim na Universidade, eu falei, “eu não quero, eu não quero,
que eu vou ter que parar, eu vou ter que estudar e eu não tenho mais tempo pra isso”. Então
veio aí meu conhecimento, eu fui investindo e até porque precisava de trabalhar, e tava ali do
lado de amigos, fazendo uma coisa que gostava e que eu poderia crescer junto. E foi, aí foi
pleiteado pela entidade, que aí já era a ONG Ação Moradia, precisou–se criar essa
denominação, essa ferramenta como eu sempre ouvi o Oswaldo e a Eliana falar, dessa
pastoral pra poder pedir recursos ao governo federal, pra fazer uma quantidade de casas que
seria necessária pras famílias que tavam aí sem um teto, aí foi entrado nesse programa do
Imóvel na Planta. Assim cheguei até a ir em Brasília, no Ministério das Cidades, conheci um
monte ... botei até terno para ir lá, né? Conversei com Ministro de Estado quer dizer e para
mim, foi só, né, foi só alegria profissional e o ego mesmo crescendo.
Oswaldo – E aí qual seria o processo das 50 casas? E qual era a sua atuação?
Dedé- Aí nessas 50 casas, aí foi bom na época que eu ia, tinha 50 famílias, com 50 casas a
serem construídas, ora com 50 mulheres, ora com 10, ora com ... e nós fomos...tentar fazer
isso tudo no mutirão, e chegamos a construir essas 50 casas com muita dificuldade né, me
lembro dos voluntários que tinha, me lembro do próprio Oswaldo Setti, com soquete na mão,
tenho essa foto guardada como relíquia, Oswaldo, cê socando terra...
Carla- Eu quero essa foto.
Dedé- Oswaldo socando terra, tá lá, e a gente pedindo, e indo em televisão e foi um ano
cansativo, mas prazeroso né, pra construir essas 50 casas e conseguimos, com dúvidas, muita
gente duvidando, “como que cês vão construir 50 casas?”, casa feita de terra, casa feito disso
e a gente foi, provamos que é verdade, que tá ai 50 famílias beneficiadas com que foi e saiu
do... debaixo dos barracos.
Oswaldo – E apareceu alguma outra instituição ajudando a construir essas 50 casas ? Tem
mais algum acordo?
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Dedé- Bom, a parceria que foi de fundamental importância na construção dessas 50 casas, foi
a parceria... com a Prefeitura, né?, que se não fosse ela ter cedido os terrenos, as máquinas que
até então, nos ajudou bastante, teria sido impossível né? Mas a ajuda dela foi, poderia ter sido
melhor, mas conseguimos fazer.
Carla- Que cê mais gostava no trabalho da Ação Moradia, Dedé?
Dedé- Como? Carla.
Carla- Que cê mais gostava do trabalho lá na Ação Moradia?
Dedé- Ah eu acho que tudo lá foi bom, né? A Ação Moradia para mim foi conhecimento, eu
melhorei a minha vida, porque a partir do momento que se melhora profissional, você
consegue uma vida melhor, eu consegui muita amizade, certo? Graças a Deus, isso é de
fundamental importância pra hoje, até hoje, não tem como eu tirar, essa parte da Ação
Moradia da minha vida, não tem, porque todo mundo que sabe, se eu hoje, trabalho com isso
daqui, com a metodologia, com tijolos ecológicos, tudo foi começado na Ação Moradia, não
tem como fugir, tudo, eu acho que aprendi muito é tanto, tudo que cê pensar é processo de
vida, tanto quanto espiritualmente, é profissionalmente, economicamente. Essa casinha que eu
te disse, voltando cá no princípio da Ação Moradia, essa casa que era só até 3 cômodos, que
eu tinha feito primeiro, ela não tinha piso, eu me lembro que o piso, que tinha sobrado um
piso, desse então Centro de Formação, lá, e tinha sobrado, uma sobra de piso, e eu negociei
com a Eliana, negociei com então, penso com os diretores da Ação Moradia que me
repassaram esse piso a um preço bem inferior, certo? Que eu não ia pagar ainda, que eu não
tinha dinheiro, mas essa vida da gente, essas coisas são e a gente vai crescendo e vai
aprendendo, não tem como você esquecer essa parte, então e aí foi, eu fiquei acho que 7 anos,
conseguimos fazer as 50 casas, conseguimos fazer o Centro de Formação, ajudei a Ação
Moradia? Creio que sim, mas fui ajudado de mais da conta, não sei se eu não tivesse entrado
na Ação Moradia, não tivesse aceito essa proposta que foi, que me fizeram de encarar essa
metodologia, esse serviço, eu não sei se eu teria crescido profissional que eu cresci,
claro.Carla- E você ficou quanto tempo na Ação Moradia?
Dedé- Há Carla, acho que uns 6 ou 7 anos, por aí. Bom, eu não fiquei... eu tó na Ação
Moradia, só que ...
Oswaldo – Essa construção do Centro de Formação e depois a fábrica de tijolos, o que foi
esse negócio?
Dedé – Bom aí, daí, depois desse período, né? Que eu fui fazer talvez quase que um estágio
em Sacramento ((cidade vizinha)) poderia ser dito, nós voltamos com essas famílias,
conseguimos, começamos a fazer os tijolos das casas e junto aos tijolos do Centro de
Formação, porque essas famílias iam fazer os tijolos pra suas casas e também ali faziam os
tijolos do Centro de Formação, e nós começamos e a... Monsanto liberou recurso pra
construção desse centro de formação que teria que ser construído com o tijolo, já que foi se
decidido em reunião, se as casas das famílias, iam ser feitas com o tijolo ecológico, nada mais
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justo que o centro de formação também, e isso foi, aí isso também foi uma história de muito
debate, de muitas conversas, de eu ir parar até em Hotel Presidente com o Oswaldo, e
conversando com aqueles né? Com o pessoal do Rotary Club, com o pessoal da Monsanto
também, e ia diretor da Monsanto sim, e pra tá definindo a fazer, lembro que seu Oswaldo
Guimarães, chato pra caramba, que não queria o tijolo, que fizesse com o tijolo ecológico, que
ia cair e terminou com ele ajudando, né. E conseguiu, e conseguimos a fazer esse Centro de
Formação, com toda dificuldade, todo mundo em dúvida, todo mundo em dúvida, olha que foi
eu, contratado pela Ação Moradia, e foi dado o Centro Formação para uma outra empresa,
que não poderão os trabalhos dessa outra empresa, quer dizer, olha eu de novo no meio, das
duas ... de duas espadas, tinha a Dreste Construtora e a tinha a Ação Moradia, não podia
prejudicar a Dreste mas de maneira nenhuma a Ação Moradia, e todo mundo com dúvida e
me colavam com um engenheiro novato e eu sabia pouco do tijolo ecológico e me colocam
um engenheiro, responsável técnico pela obra, que não sabia nada e mais uns 10 ali, com essa
ânsia, cada um querendo né, e conseguimos fazer, deixar pronto aquilo lá.
Oswaldo – Quantos tijolos vocês fizeram daquele Centro de Formação?
Dedé- Oswaldo, de princípio, a primeira fase, foi 60 mil tijolos, e quando eu saí da Ação
Moradia, agente já tava com 100 mil, por causa das ampliações de tudo né? Mas o projeto
inicial foi 60 mil tijolos.
Oswaldo - Depois a fábrica, foi o que aconteceu com ela?
Dedé- A fábrica né, como tudo na Ação Moradia, foi crescendo rápido né? E foi mudando aí
em seguida tinha uma fábrica, ai com essa ida em Sacramento, esse tempo que eu fiquei lá,
agente fez umas amizades, ai descobrimos que eles estariam mudando estas máquinas, que até
então eram manuais, pra máquinas hidráulicas. E aí... um dia agente conversando, eu e o
Oswaldo “vamo ligar em Sacramento? Vamos tentar essas máquinas?”, “vamo!”, e o Oswaldo
sempre disse né, “vai lá, liga né”. E eu consegui ligar lá, né, assim que nós ligamos eu
conversei com o Biro, que era então prefeito, é fica fácil gravar o nome Dedé, ele não
esqueceu do nome Dedé, e terminou que eles inventou um leilão, e esse leilão já foi designado
essas máquinas para a Ação Moradia, 12 máquinas acabadas, quebradas, mas que tinham feito
tijolos pra já quase que 100 casas. Nós buscamos essas máquinas lá, manuais, buscamos essas
máquinas manuais, recuperamos aqui em Uberlândia, e com essas máquinas foi que fizemos
os tijolos pras 50 casas, não com todas, que algumas né, tivemos que desmanchar uma pra
fazer outra, mas foi de grande ajuda essas máquinas, que sobrou até 2 máquinas que foram
emprestadas pra entidade Lua Nova, de Sorocaba, aí nossa, eu, embarcamos essas máquinas
aqui, foi lá pra Sorocaba, pra uma entidade lá, que trabalha com meninas, mães de rua, pra lá
começarem um projeto também com o tijolo, fui pra lá, fiquei um determinado período, pra
ensinar lá essa metodologia, e que hoje eles já tão né, também cooperativa lá.
Carla- Quando cê saiu da Ação Moradia, é...
proposta?
cê saiu porque você recebeu uma outra
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Dedé- Quando eu deixei a Ação Moradia, foi... parece que há 3 anos, é... eu acho que a gente
tem que deixar espaço, pra outros, e acho que as minhas asas já estavam muito grandes e eu
queria voar... se cortar minhas asas eu volto.
Carla- E como que tava a fábrica de tijolos?
Dedé- Uai, quando eu saí, a fábrica, agente tava então, como a gente já tinha uma experiência
de ter trabalhado só com mulheres em produção de tijolo, nos últimos dias meus ainda na
Ação Moradia, comentando, conversando com o Oswaldo, “Oswaldo, eu acho que nós
estamos vacilando”, a gente tinha lido uma reportagem da Lua Nova, e que as meninas lá
estavam de vento em popa produzindo tijolo e a gente né, ora ia bem, ora tinha um retrocesso,
ora bem, ora retrocesso, “vamo trabalhar só com mulher”. E isso tinha ficado, já nos dias que
eu taria deixando a Ação Moradia, já tinha ficado previamente decidido. A gente já tinha
adquirido uma prensa hidráulica, que já tava em funcionamento, em meio as dependências
ainda, não tão como agora, mas já tava numa dependência feita de eucalipto já com telha
ecológica, a gente já tava levando um lado, já melhorando bem o espaço da fábrica.
Carla- E como você que você vê o futuro da Ação Moradia, Dedé?
Dedé- Ah, eu vejo, que assim ... o futuro da Ação Moradia Carla, cê sabe que eu não vejo um
futuro da Ação Moradia, sabe. Eu vejo o futuro das famílias que são beneficiadas pela Ação
Moradia, porque a Ação Moradia, eu acho que assim a gente né, agente fala crescer a Ação
Moradia, acho que quem cresce não é a Ação Moradia, quem cresce é as famílias, entendeu.
Que acho que sempre vai ter alguém que vai tá aportando recursos, sempre vai ter gente que
tá querendo doar alguma coisa, precisa saber é aonde, isso eu aprendi nesses anos trabalhando
lá, sempre tem alguém pra doar alguma coisa, precisa sabe onde, e alguém pra indicar. Então,
eu acho que, é a primeira vez que vou falar isso, melhor coisa que existiu para a Ação
Moradia, uma das melhores talvez, que a primeira foi a criação, a segunda coisa que
aconteceu na Ação Moradia de melhor, foi o Oswaldo ficar definitivo na Ação Moradia. Foi o
Oswaldo, porque a Eliana tá com o tempo todo, o tempo dela já fica todo pra isso. Ela sonha,
mas precisava de alguém lá, precisava de alguém lá, várias vezes eu fiz essa parte de ficar, de
tentar resolver algumas coisas, mas acho que a melhor coisa por que eu acho que a Ação,
mesmo não estando lá, como não tenho ido tanto, eu tenho visto, tenho lido, tô procurando me
entender e precisava disso, claro. Aquelas famílias não é bem, e muda tão pouco a minha
conversa, não é a Ação Moradia, é as famílias precisam de vocês lá, claro. Cê, né, fico sua ...
cê é muito esperto, já te falei isso, né? A sua sabedoria, cê sabe os caminhos, cê é o cara, né,
de ficar na Ação Moradia.
Oswaldo – Você ensinou as meninas da Lua Nova a fazer tijolos ai você ensinou mais
alguém, nessa caminhada sua?
Dedé- Hum..., eu só não consegui ensinar uns loucos, Oswaldo, que cê queria, mais o resto,
mas a gente ensinou as meninas da Ação Moradia, teve aquela parceria com os presos né?
Casa penitenciária que a gente andou ensinando um monte de gente. E a gente, né, eu acho
que nessa caminhada aí... eu ensinei muita coisa pra muita gente, aprendi, tenho a maior
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certeza que eu aprendi mais do que, aprendi mais do que ensinei, mais ... (suspiro) é um muita
gente, Oswaldo. Talvez eu não lembre.
Oswaldo – Viajou mais pra algum lugar?
Dedé- Ahha, tá. Não, a gente se viajava, viajei muito né, teve a Arte Ideias, do morro São
Benedito, um outro projeto que a gente foi lá, nossa, que também, foi né, a sede do Banco
Bem, que é aquele banco solidário deles lá e pra fazer a casa, num barranco, a primeira casa,
fazer aquilo lá e a alegria daquele povo, quer dizer, e foi, que também, e, que em seguida, esse
pessoal, é, a gente foi pra lá pra ensinar pra eles a metodologia e no processo seguinte de um
ano, entramos nós, Ação Moradia e essa entidade num prêmio. E eles passaram a gente. Quer
dizer, né, foi sei que agente foi lá pra ... o que aprendeu de graça, passa de graça, então, que
venha os prêmios, e teve um movimento sem terra, e teve um monte gente né, que a gente
andou indo e ensinando.
Carla- Dedé, como que foi participar dessa entrevista?
Dedé- Certo, foi bom, foi bom. Eu acho que eu lembrei de um monte de coisa que, e falei de
um monte de coisa que é presente na minha vida, sabe. Eu fico feliz, quando falo dessas
coisas que eu falei, com certeza. ((suspiro)).
Carla- Dedé, eu gostaria de agradecer e a Ação Moradia agradece a sua participação. De você
compartilhar conosco a sua memória, a sua história, tá, é muito importante pra agente. Muito
obrigada.
Dedé- Beleza Carla, pro que precisar estamos aí. ((suspiro))
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