Pensamento do Dia Pensamento do Dia

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Pensamento do Dia Pensamento do Dia
Pensamento do Dia
Economistas analisam a Economia, o Brasil
e o mundo,
mundo, na mídia diária 15 04 2010
------------------------------------------------------------------Valor Econômico - 15/04/2010
Não culpem a mãe natureza
Otaviano Canuto
As exportações de commodities primárias continuam cruciais para a maioria dos países
em desenvolvimento. Entre 2003 e 2007, levando em conta uma média simples dos
países em desenvolvimento (ou seja, com cada país recebendo um peso igual), as
commodities ainda foram responsáveis por mais de 60% das mercadorias exportadas,
sendo que metade apresentou uma dependência superior a 70% em relação às
commodities exportadas.
Portanto, as perspectivas para a maioria dos países em desenvolvimento durante a atual
crise variaram de acordo com a evolução dos preços das commodities. A onda de alta de
preços iniciada no segundo trimestre de 2009 chegou antes e com mais força do que
muitos esperavam, mesmo levando em conta o fato de a intensidade da variação
negativa que a precedeu ter sido tão acentuada que já levava a supor uma forte
valorização quando a recuperação estivesse em andamento.
Da mesma forma que com outros ativos de risco, as commodities se beneficiaram da
percepção de que a pior fase da recessão já havia ficado para trás, como resultado das
amplas respostas do setor público ao alto nível de incertezas e riscos sistêmicos. O papel
de liderança desempenhado pelos países emergentes da Ásia também motivou previsões
otimistas sobre a demanda por commodities. Além disso, as fontes disponíveis para
conseguir financiamento e estoques de proteção continuaram abundantes e baratas,
como consequência das políticas "reflacionárias" adotadas nos países desenvolvidos.
Mas e quanto ao horizonte além do futuro imediato? Primeiramente, não se deve perder
de vista as trajetórias diferentes dos preços das commodities. Tudo depende de como
será o aumento de longo prazo da produtividade de cada commodity em relação ao dos
setores que não são de commodities, assim como da "elasticidade-renda da demanda" e
de barreiras políticas e técnicas à ampliação da capacidade de produção. Quanto mais
fortes são as restrições ao investimento e ao aumento da oferta e quanto maior é a
alavancagem à demanda dos mercados emergentes, mais forte vem sendo a recuperação
nesses últimos 12 meses e mais luminosas são as perspectivas para o futuro próximo.
No longo prazo, há poucos motivos para prever que os preços reais das commodities
tenham uma tendência para cima ou para baixo. Para os preços das commodities, é
perfeitamente possível recuar ou subir de forma considerável em períodos significativos,
mesmo na ausência de uma tendência ou corrente de longo prazo. Por outro lado, como
atributo geral esperado para a maioria das commodities, a demanda relativa
provavelmente subirá no médio prazo já que o crescimento mundial pós-crise financeira
é mais dependente dos países em desenvolvimento e a demanda nesses países requer
maior uso de commodities do que em outros lugares. Há fatores tanto de oferta como de
demanda que poderiam sustentar o nível atual, relativamente alto, dos preços reais das
commodities, embora esses fatores tenham tendência a dissipar-se a longo prazo.
Será que perspectivas de preços elevados durante algum tempo é uma bênção - ou uma
maldição - para os países dependentes de commodities? A resposta é... depende, tanto
de especificidades das commodities como da qualidade das políticas públicas e de
governança.
Mesmo presumindo que o impacto de preços mais altos de algumas commodities nas
famílias locais de baixa renda seja compensado, há muitas maneiras desses preços
prejudicarem uma economia dependente de commodities.
Por exemplo: os já conhecidos efeitos da doença holandesa. O aumento da renda ligado
às commodities pode levar a um excesso de demanda - e aumentos de preços - de bens
e serviços não comercializáveis e, portanto, acabar levando a uma valorização cambial
real. O país, então, pode acabar, no longo prazo, em uma situação pior, se os setores da
economia com maior capacidade de sustentar o crescimento e a inclusão social forem
afetados de forma negativa.
Além disso, os preços das commodities são voláteis e a maior dependência desses
produtos pode significar mais instabilidade das receitas fiscais e/ou das taxas de câmbio,
com a incerteza resultante prejudicando os investimentos. Os efeitos nocivos dessa
volatilidade são maiores se as ondas de alta dos preços forem acompanhadas de excesso
de captações de empréstimos domésticas ou externas.
Por último, mas não menos importante, dependendo das características da apropriação e
uso da renda gerada pelo aumento no valor dos recursos naturais, o comportamento de
"caçador de renda" (em vez de um comportamento de busca de maior eficiência) pode
tornar-se a norma na sociedade local.
Vale fazer distinções entre commodities. Petróleo e minerais - recursos encontrados de
forma concentrada, de "fontes pontuais", podem tornar-se facilmente objeto de
"caçadores de renda" (rent-seeking, em inglês) e de disputas de redistribuição (incluindo
conflitos armados). São mais propensos a gerar os problemas da doença holandesa e do
comportamento de "caçador de renda" do que, por exemplo, commodities agrícolas, mais
abertas e competitivas.
Seja qual for o caso, o alcance real da doença holandesa - volatilidade, excesso de
captação de empréstimos, etc. - pode ser minimizado com políticas macroeconômicas
cautelosas que moderem as pressões de demanda agregada, aliviem os efeitos da
volatilidade nos orçamentos governamentais e restrinjam o excesso de captações. A
criação de fundos soberanos e anticíclicos pode, além de também tornar possível a
preservação do patrimônio líquido do país, à medida que recursos exauríveis forem se
esgotando.
A boa governança e políticas fiscais responsáveis podem fazer muito para evitar a
predominância do comportamento de "caçador de renda". Em relação à primeira, o papel
e influência desempenhados pelos investidores internacionais são obviamente vitais.
Conclusão: a mãe natureza não abençoa nem amaldiçoa. O que importa são as políticas
e instituições - tanto locais como internacionais.
Otaviano Canuto é vice-presidente do Banco Mundial, responsável pela rede
política econômica e redução da pobreza.
-------------------------O Estado de S.Paulo - 15/04/2010
A era Meirelles
Alkimar Moura
Após algumas idas e vindas, Henrique Meirelles anunciou que não deixaria o cargo de
presidente do Banco Central (BC) para se dedicar à carreira política, devendo, portanto,
permanecer à frente do BC até o final do mandato do presidente Lula. Com essa decisão,
Meirelles provavelmente terá exercido o mais longo mandato como presidente daquela
instituição, desde a sua criação, em 1964, pois nem mesmo durante a ditadura militar
aquele cargo esteve tanto tempo nas mãos de uma única pessoa. É um bom indicador da
estabilidade institucional alcançada pelo BC e isso deve ser creditado ao governo petista
que, apesar de toda sua retórica contra a independência da autoridade monetária,
conferiu, de fato, a autonomia operacional que o BC necessitava para implementar suas
decisões de política monetária. Os resultados alcançados até agora confirmam que
Meirelles e sua diretoria fizeram bom uso dessa autonomia.
De fato, sem pretender fazer um balanço completo da administração Meirelles, (o que
seria fora de propósito, por várias razões), o comportamento de duas variáveis, no início
e no término de sua gestão, pode resumir, mesmo que grosseiramente, seu desempenho
à frente do BC: a taxa de inflação, medida pelo IPCA, que estava em 9,3% em 2003,
deve terminar 2010 em 5,3% (segundo o último indicador da expectativa de mercado do
relatório Focus de 9/4/2010). No mesmo período, o crescimento do PIB deve saltar de
1,1%, ocorrido em 2003, para uma taxa esperada de 5,6 %, em 2010. Em outras
palavras, crescimento robusto do PIB e queda na taxa de inflação constituem resultados
auspiciosos para bancos centrais. Além disso, há que se considerar ainda o notável
crescimento das reservas internacionais, a elevação do País a grau de investimento e a
solidez revelada pelo sistema bancário brasileiro ante as turbulências provocadas pela
crise financeira internacional.
O desempenho recente do BC convida à comparação com a gestão de Alan Greenspan
nos seus 19 anos à frente da Junta de Governadores do Federal Reserve System, de
1987 a 2006. Apesar de várias crises durante seu mandato, seus últimos anos à frente
do Federal Reserve foram saudados como sendo um longo período de estabilidade
monetária e crescimento econômico conhecido como A Grande Moderação. Esse
resultado deu a Greenspan um reconhecimento não apenas no rarefeito círculo de
banqueiros centrais, executivos de instituições financeiras multilaterais e banqueiros de
Wall Street, mas também no conjunto da sociedade norte-americana, uma fama quase
equivalente à de um popstar (e não pelas suas habilidades como saxofonista). Esse
período foi denominado de a era Greenspan por banqueiros centrais, acadêmicos de
renome, executivos de bancos internacionais, que se reúnem no tradicional simpósio
anual do Federal Reserve de Kansas, em Jackson Hole, cujo principal tema, em 2005, foi
dedicado à celebração dos resultados alcançados por Greenspan à frente do banco
central norte-americano. Lamentavelmente, após deixar o cargo, a sua reputação foi
mortalmente corroída pelos ativos tóxicos, cuja desintegração provocou a mais
devastadora crise financeira das últimas décadas, a qual teve, entre suas possíveis
causas, a política monetária extremamente expansionista conduzida por Greenspan.
Pode-se, por analogia, falar em uma era Meirelles à frente do BC brasileiro a partir de
2003? Os resultados das políticas monetária e cambial nos anos precedentes, bem como
a atuação do BC na crise financeira, justificariam claramente tal denominação tão
honrosa quanto cheia de significado e de responsabilidade. Isso em um momento
particularmente desafiador, quando a expansão de demanda ? sustentada pelos gastos
públicos e pelo crédito bancário ? provoca os aumentos da taxa de inflação, do nível de
atividade econômica e do desequilíbrio externo. A atuação do BC nos próximos meses
será crucial para a consolidação dos ganhos macroeconômicos da era Meirelles e para
não repetir a melancólica trajetória da era Greenspan.
--------------------------------Folha de S.Paulo - 15/04/2010
A provinha Brasil dos candidatos
Vinicius Torres Freire
DILMA ROUSSEFF insultou os exilados de 1964? Pisou na bola ao festejar o candidato
tucano ao governo de Minas? José Serra deve começar a pré-campanha no Nordeste ou
no Sudeste? A cor da gravata de Aécio Neves indica que ele será o vice tucano? Serra
deve treinar o sorriso? Dilma, o "rebolation"? E assim divisamos mais uma campanha
eleitoral, plena de polêmicas sobre isso mesmo, sobre campanha apenas, "mode
d"emploi" e modus operandi, politicagem e marquetagem.
A fim de acompanhar a moda de clichês da temporada, lá vamos os colunistas nos
queixarmos do torpor do enfado que provocam essas pendengas. Fazer o quê? Desistir?
Mesmo na pátria do marketing, os Estados Unidos, a conversa de campanha é de melhor
nível. Ou ao menos os candidatos são incomodados com perguntas mais, enfim,
incômodas. O que fazer? Incomodar.
O que os candidatos acham do reajuste das aposentadorias, em debate no Congresso,
sob ameaça de veto de Lula? O governo deve ceder, dar mais que 6,14%? E para os
anos que vêm, as aposentadorias devem ter reajustes acima da inflação? Ou acham que
o governo deve conter gastos com benefícios e salários, no nível atual, a fim de investir
mais em infraestrutura?
Ou acham que tal contenção de gastos pode criar meios necessários para reduzir os
impostos sobre a folha de salários das empresas? O que os aspirantes ao Planalto
pensam do trem-bala? Haveria outros usos para os R$ 36 bilhões de investimento público
e privado?
Os candidatos sabem qual o número relativo de cientistas no Brasil? O que fariam para
formar mais doutores em ciência e engenharia, em nível parecido com o de países
civilizados? São a favor de cotas "raciais" ou sociais em universidades? São a favor da lei
das "fichas limpas", que impediria malandros de ficha suja demais se candidatarem? São
a favor de o governo subsidiar consumidores e teles a fim de expandir o acesso à
internet rápida?
O que acham das leis do petróleo? Não devem mudar? Ou são a favor do modelo
proposto pelo governo Lula (criação de estatal nova, trocar o modelo de concessão pelo
de partilha)? O que acham da distribuição regional do dinheiro arrecadado pelo petróleo
(tanto royalties como outros fundos)? São a favor de que o dinheiro vá para um fundo
central, federal? Acham que deve haver a picotagem dos recursos pelo país?
Quase todo candidato gosta de dizer que "não vai mexer na autonomia do Banco
Central". Mesmo? Quem quer mexer em câmbio mexerá no BC. Que tipo de direção do
BC imaginam nomear? Aliada de unha e carne do governo? Ou um tipo bem distante e
diferente? Acham que o governo deve subsidiar fusões e aquisições de empresas, a fim
de criar "grandes multinacionais brasileiras"? O que acham do apoio brasileiro ao Irã? Da
omissão sobre o Sudão?
De o país ser levado na conversa comercial pela China? O que têm a dizer sobre os
mensaleiros dos seus partidos e de partidos aliados? Os candidatos têm algo a dizer além
de autoelogios, intrigas de centro acadêmico, pegadinhas e coisas assim?
--------------------------------Correio Braziliense - 15/04/2010
A bela e a fera
Antônio Machado
Crescimento da economia no ano poderá ser o maior desde 1986, mesmo que o
BC arreganhe os dentes
O volume de vendas do comércio em fevereiro, conforme a pesquisa mensal do IBGE,
reforça a convicção de que o crescimento econômico este ano será brilhante, superando
as expectativas mais otimistas.
As assessorias econômicas de instituições privadas que conseguem com razoável
precisão simular o modelo usado pelo IBGE para apurar o Produto Interno Bruto (PIB) já
encontram taxas de crescimento de arrepiar para 2010, comparadas a 2009, quando
houve queda de 0,2%.
O desempenho corrente do comércio vitamina tal cenário. As vendas em fevereiro do
chamado varejo ampliado, que inclui carros, peças e materiais de construção, cresceram
2,1% sobre janeiro, bem acima das previsões. Sobre fevereiro de 2009, o aumento
chegou a 13,6%.
Na medida mais restrita, que capta melhor o ambiente do varejo, o aumento no mês
também foi convincente: 1,6%. E de 12,3% em relação a fevereiro de 2009. “Esse
resultado reforça a percepção de que a atividade segue em ritmo forte no início de 2010
— e dá força à parcela do mercado que acredita em elevação mais rápida da Selic”, diz a
análise da consultoria LCA. E não só: do PIB também.
No modelo do economista Fernando Montero, da Convenção, o PIB já aponta para um
crescimento de 7,1%, com destaque, segundo a ótica da oferta, para a indústria. De
retração de 5,5% no ano passado, a indústria tende a uma expansão acima de 11%, a
maior desde 1991.
Ele não está só nessa avaliação. O Departamento Econômico do Itaú também projeta
expansão do PIB superior a 7%, caso o Banco Central demore a relançar a Selic. O expresidente do BC Affonso Pastore, muito ouvido pelo mercado financeiro, acha que passa
de 8%.
Hoje, no mundo, crescimento com tal magnitude só é exibido pelas economias da China
e da Índia. Nos países desenvolvidos, a maioria saiu da pasmaceira, mas continua
desfibrada, mais a Europa do euro e Japão que os EUA, a única economia desenvolvida
com algum pique.
O crescimento acelerado do PIB, porém, não é evento neutro. Ele tem consequências.
Boas ou más, dependendo da qualidade do terreno em que se assenta. No Brasil,
crescimento chinês provoca preocupação.
O último recorde se deu em 1986, quando, impulsionado pelo Plano Cruzado, que sustou
a inflação com congelamento de preços e ateou fogo no consumo com aumento de
salários, o PIB cresceu 7,5% sobre 1985, conforme a metodologia antiga do IBGE. O PIB
só voltou a se aproximar desse número em 2006, com a marca de 6,1%.
Da euforia à ressaca
Nos dois momentos, à euforia se seguiu a ressaca, mas entre eles há grandes diferenças.
O Plano Cruzado foi o primeiro experimento contra a inflação endêmica e fracassou.
Depois, vieram outros. Só na quinta versão, a do Plano Real, em 1994, a inflação cedeu.
Ainda assim, houve três grandes falhas. A do câmbio semifixo foi superada em 1999 com
o regime flutuante. O fraco controle do gasto público implicou aumento desmedido da
carga tributária. Teria sido pior sem a Lei de Responsabilidade Fiscal. O governo Lula
manteve esses dois pilares das reformas do período FH. Mas permanece sem solução a
terceira falha: a desindexação só parcial da economia.
Real está incompleto
A política econômica entre o segundo governo FH e os dois de Lula reage mais aos
impasses das reformas incompletas do Plano Real que às crises antigas, todas
provocadas pela asfixia cambial.
A maxidesvalorização do real no inicio de 1999 e o bônus da forte expansão da economia
global depois de 2003, que inflou o preço das commodities e da formação de reservas
pelo BC, permitiram ao país livrar-se da dependência externa. Ficou a dependência do
para-anda do crescimento — consequência da arremetida da inflação sempre que a
economia converge para o pleno emprego. O subproduto da situação da oferta vir atrás
da demanda é a taxa de juros recorde no mundo.
Arapuca da indexação
Esse é o enrosco a desatar, pois ao Brasil demanda não falta, a oferta é que não
corresponde ao cenário de pleno emprego. Vem daí a preocupação com o
supercrescimento do PIB previsto para o ano. Ele traz a semente do aumento da
capacidade de produção, expressa pelo volume de investimentos, mas traz, em seu
curso, o que alimenta a inflação: o desequilíbrio entre a oferta e o consumo.
Um pouco de inflação como a que desponta, da ordem de 5,5%, acima da meta anual de
4,5% que cabe ao BC realizar, não seria um drama, se ficasse por aí. Mas não. Pela
indexação, que vai de tarifas aos salários e impostos, a inflação ganha peso fácil e só
volta ao que deveria ser sob a dieta do arrocho. Assim estamos, e assim será.
O sapo da história
O tratamento contra a inflação é dolorido como picada de injeção. Ninguém gosta. Mas,
às vezes, não há jeito. Dói menos quanto mais eficaz ele for. Pegue-se o que aconteceu
em 2009, o ano da crise global. O PIB murchou 0,2%, mas a inflação só baixou de 5,9%
em 2008 para 4,3%, e isso com a Selic a 8,75%, ainda a maior do mundo.
A inflação deveria ter desabado. No mundo, houve deflação.
É cômodo praguejar contra os juros. Difícil é achar o valente que diga como se faz,
mantendo a inflação controlada. Alguns falam em cortar gasto público, mas não dizem o
que cortar. De desindexação, ninguém fala. Mas chove quem pede real desvalorizado e
juro amigo, omitindo do distinto público o que os acompanha: a perda de poder de
compra do salário. E engula-se o BC, o sapo da nossa história.
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Valor Econômico - 15/04/2010
Comprado em juro futuro alimenta alta
Edurado Campos
As posições compradas em juros futuros aumentam sucessivamente desde a reunião do
Comitê de Política Monetária (Copom) realizada em março, e esse movimento se
acentuou agora em abril. O resultado é visível na curva futura, que marcou novo pregão
de alta na quarta-feira. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento para
janeiro de 2011, referência de mercado, subiu 0,09 ponto percentual, para 10,66%,
maior taxa desde março de 2009.
Tomando com base um modelo quantitativo que consegue captar as posições dos
grandes agentes de mercado, o sócio da consultoria Wagner Investimentos Ltda, Milton
Wagner, aponta que o posicionamento em contratos de DI já se aproxima do ponto de
estiramento, ou seja, começa a indicar sobrecompra. O perigo aqui é que ocorra uma
"surpresa" na reunião de abril do Copom, como na reunião de março, o que pegaria os
comprados no pé contrário. Vale lembrar que, no mês passado os investidores também
foram divididos para a decisão, com apostas entre estabilidade e alta de 0,5 ponto
percentual. Naquela ocasião os comprados (aposta de meio ponto) acabaram perdendo
dinheiro, mesmo com uma súbita mudança de posição na quarta-feira, dia da decisão. "O
mercado está construindo um castelo de cartas parecido com o observado antes da
reunião de março e pode ter uma nova decepção", alerta Wagner.
Segundo o especialista, os agentes se apoiam em dados fortes de atividade, como as
vendas no varejo que cresceram 1,6% em fevereiro, e na piora nas expectativas de
inflação para precificar um aumento mais acentuado de juros. "Mas creio que o melhor é
ficar cautelosamente posicionado para o 0,5 ponto, mesmo que não seja isso que o
mercado esteja precificando", diz Wagner.
O especialista pondera, no entanto, que dado o intervalo de tempo até a reunião, esse
posicionamento pode mudar. A questão é observar o comportamento dos dados que
ainda serão divulgados até o dia 28 de abril. Se o Caged e o IPCA-15 não consolidarem
de forma plena a necessidade de aperto mais forte do que o previamente planejado,
poderemos ver uma corrida para zeragem desse exagero de compras no dia 29 de abril.
Passando agora para o câmbio, o mercado testou governo e Banco Central e levou o
dólar comercial para baixo de R$ 1,75, o que não acontecia desde 12 de janeiro. Para o
analista de câmbio da BGC Liquidez, Mário Paiva, como o preço já bateu no que antes era
um piso técnico e psicológico e nada aconteceu, os agentes venderam moeda, ainda mais
com um cenário interno e externo favorecendo o real. No entanto, mais que o próprio BC
ou mesmo a possibilidade atuação do Fundo Soberano, o próprio mercado se mostrou
como um limitador de baixa. O diretor da Pioneer Corretora, João Medeiros, constatou
forte demanda por dólares quando a moeda se aproximou de R$ 1,74, mínima intradia
testada na quarta-feira.
-----------------------------------O Estado de S.Paulo - 15/04/2010
A reinvenção da pólvora
Celso Ming
Amanhã será realizada em Brasília a segunda reunião de cúpula dos Brics. Não se trata
aqui de montar um arsenal de decisões econômicas e políticas com consequência para o
resto das nossas vidas. Trata-se apenas da retomada de um processo de entendimento
que pode, sim, um dia, ter algum significado estratégico que, no momento, ninguém
prevê.
Esta é a primeira vez que uma sigla montada sem nenhum conteúdo especial ganha
importância pelo sentido que no futuro poderá ter. Bric é um acrônimo. É uma palavra
formada com as iniciais de quatro países afastados entre si: Brasil, Rússia, Índia e China.
Foi criado em 2001 por Jim O"Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, para designar
os quatro países emergentes com mais probabilidade de se transformar em potência
econômica.
Bric não estabelece nem mesmo uma ordem entre as letras. Podia ser Cirb, Crib ou Birc.
Ficou sendo Bric aparentemente porque lembra tijolo em inglês (brick).
Quando o Financial Times criou o termo Pigs (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), pelo
menos referia-se a certa unidade geográfica (os quatro são da União Europeia) e a uma
característica comum: potenciais maus pagadores. Nem mesmo isso pode ser encontrado
nos Brics.
Os quatro detêm uma população de 2,9 bilhões de habitantes (43% do mundo), um PIB
conjunto de US$ 8,7 trilhões (17% do mundo), exportações de US$ 1,8 trilhão (12%) e
reservas externas de US$ 3,4 trilhões (38% do total). No entanto, não apresentam
nenhuma unidade, nem política nem geográfica nem econômica.
Não mantêm entre si alianças estratégicas, nem permanentes nem episódicas. Ao
contrário, entre eles há notáveis divergências. China e Índia, por exemplo, procuram
empurrar produtos fabricados em seus países a preços que muitas vezes são
considerados dumping (vendidos abaixo do custo) no Brasil. Apesar dos esforços do
ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, de que se construa a sua
bombinha, o Brasil é o único que não faz parte do seleto clube nuclear e isso, por si só, o
deixa estranho no ninho.
Mas o fato relevante é que Bric foi uma designação que pegou. Todo o mundo a conhece
e a toma como referência em qualquer fórum econômico quando se quer designar um
conjunto de países que se notabiliza pela atual e, sobretudo, potencial energia
econômica, especialmente quando a ele se compara o que hoje acontece nos países de
alta renda.
Pó de carvão, enxofre e salitre são materiais que isoladamente não dizem muita coisa.
Quando um chinês desconhecido os misturou, inventou a maravilha dos fogos de artifício.
Séculos mais tarde, os portugueses viram aquilo a que deram o nome de pólvora e lhe
deram outro uso.
Deve ser a expectativa de que um dia aconteça alguma coisa parecida com os Brics que
chama atenção para essa reunião. O simples fato de que seus líderes estão agora se
falando sugere que o novo agrupamento pode ganhar consistência e, quem sabe, tornarse um bloco coeso.
Se isso acontecer, será a primeira vez que um exercício despretensioso de um
economista ganhará significado.
Escorregando
As cotações do dólar voltaram ao patamar do início de janeiro. De lá para cá, as reservas
externas cresceram 2,6%. O Banco Central comprou cerca de US$ 6 bilhões em moeda
estrangeira nesse período. Mesmo assim, as cotações do dólar continuam escorregando
no câmbio. Em abril (até ontem), a baixa acumulada é de 1,9% e em 12 meses, de
20,4%.
Mostrando o muque
"A força dos quatro" é o título do artigo sobre os Brics que saiu ontem no Times of India.
Assina o presidente russo Dmitri Medvedev.
----------------------------O Globo - 15/04/2010
Monte de riscos
Míriam Leitão
Uma liminar pode ser cassada, mas as dúvidas permanecerão. O espantoso no leilão da
hidrelétrica de Belo Monte é que as dúvidas e incertezas estão em todos os pontos. Os
fundos de pensão, que estão sendo empurrados para participar, acham que o retorno
não garante nem suas obrigações atuariais. As empresas estão pressionando por
mudanças na engenharia financeira.
Pode-se recorrer da liminar da Justiça do Pará que suspendeu o leilão de terça-feira, mas
não dá para tapar com a peneira os enormes riscos de todos os tipos que essa obra
representa.
As empreiteiras que desistiram de participar podem voltar. As negociações estão
intensas. Querem condições de financiamentos ainda melhores, isenção de impostos,
tudo que aumente o retorno do empreendimento. Na pior das hipóteses, aceitam
participar depois como construtoras. Mas até os fundos de pensão estão dizendo que o
retorno, com a energia a R$83 o megawatt, não lhes atende. Se participarem, vai ser
uma decisão política, uma imposição governamental.
Quem vê a questão apenas do ponto de vista ambiental acha que os riscos são grandes
demais, até porque, como disse aqui, pareceres do Ibama não garantiram viabilidade
ambiental do empreendimento, e mesmo assim foi dada a licença prévia.
Quem vê apenas do ponto de vista econômico-financeiro considera que as concessões
ambientais tornaram o empreendimento arriscado demais. É que para não fazer um
grande lago, como sempre se fez nas hidrelétricas tradicionais, a usina vai operar a fio
d"água, com tecnologia de turbinas bulbo. Haverá alagamento, mas de uma área menor.
Mesmo assim é uma área considerável: 516 km serão alagados. Seria um lago três vezes
maior. Essa "concessão" de redução da área alagada fará com em três meses por ano a
usina possa estar produzindo apenas 1 mil MW, dos seus 11 mil MW potencial. A energia
firme não deve passar de 4 mil MW, segundo todos os técnicos que ouvi. Da perspectiva
do empreendedor, mais seguro seria fazer um grande lago, usar as turbinas tradicionais
e ter uma energia firme mais alta. Eles dizem que abrir mão dessa possibilidade foi uma
grande concessão feita às preocupações ambientais.
Da perspectiva dos ambientalistas, mesmo essa opção da nova tecnologia não é
suficiente para tornar o impacto aceitável, já que será reduzido fortemente o fluxo da
água do leito tradicional do rio, para desviar esse fluxo para a usina, e isso causará um
impacto de dimensões ainda não calculadas. O governo não respondeu às inúmeras
dúvidas levantadas por ambientalistas, índios, ribeirinhos, ONGs, mas principalmente
pelos técnicos do Ibama.
Há um ponto levantado como problema pelos dois lados, por razões diversas: a
complexidade da obra. Terão que ser escavados canais de 30 quilômetros de extensão; o
volume da escavação será de cerca de 230 milhões de m, maior do que o Canal do
Panamá, mobilizando três mil equipamentos pesados. Terão que ser construídos 260
quilômetros de estradas de acesso aos vários pontos do canteiro.
Os empreendedores, ou potenciais participantes do leilão, veem essa complexidade como
custo e incerteza econômico-financeira. Os ambientalistas veem como impacto ambiental
intolerável. O problema dos empreendedores é fácil resolver: querem preço. Ou um
preço maior para a energia que lhe dê, segundo ouvi ontem, um "colchão" de segurança
para as surpresas de uma construção dessa complexidade, e para os riscos de
paralisações, bloqueios e ações do Ministério Público; ou concessões fiscais e financeiras.
Os ambientalistas acham que a única coisa razoável a fazer é desistir da obra. O
Ministério Público invoca o princípio da precaução e diz que com tamanha incerteza é
preferível se interromper o processo agora, corrigir os vícios, responder às dúvidas, antes
de se fazer o leilão.
O presidente Lula disse ontem que "eles já destruíram a floresta deles" e agora querem
se intrometer na nossa. Tenta acender com esse lugar comum o sentimento nacionalista
pelo fato de dois artistas de Hollywood terem falado contra o projeto. Ninguém vai tomar
uma decisão dessa importância pela opinião de qualquer celebridade do showbiz. As
dúvidas são brasileiras.
Há um temor que ouvi de técnicos e de procuradores: o de que mesmo essa concessão
de se fazer uma usina a fio d"água seja revertida mais tarde. Que diante da constatação,
mais tarde, de que o projeto não é lucrativo, eles tentem fazer novas usinas. O governo
nega que haja esse risco. Mas empreendedores me disseram, com todas as letras, que,
sim, se pensa que no futuro pode até ser feita uma usina tradicional de grande
alagamento para que o projeto seja mais econômico.
Há uma enorme incerteza geológica que assusta tanto um lado quanto o outro. A
escavação será feita num terreno que não foi suficientemente estudado. Como é uma
área muito grande e o tempo era curto, o estudo foi feito por amostragem e tomou-se
como boa a hipótese de que aquelas amostras representam toda a área. Vai se começar
a escavar uma área que não se sabe até que ponto é rocha, até que ponto é terra.
Seja qual for o ponto de vista, a obra traz incertezas demais. O BNDES se prepara para
amanhã afogar as dúvidas dos empreendedores, oferecendo um canal de dinheiro público
que vai aumentar o subsídio ao financiamento. Assim, o governo poderá dizer que
conseguiu fazer um leilão por um preço baixo da energia, e uma parte enorme do custo
será escondido nas condições de financiamento que ficarão abaixo, muito abaixo, do
custo que o próprio governo consegue para rolar a sua dívida. Faltam três dias úteis para
o leilão e as incertezas são insanáveis.
---------------------------------Estadão Online – 14/04/2010
O segredo do sucesso dos bancos
Paul Krugman
No início de 2009 manifestei meu ceticismo em relação à capacidade dos principais
bancos de conseguir uma recapitalização por meio dos lucros. Mas parece que eu estava
errado. Eis o porquê:
FONTE: ESCRITÓRIO DE ANÁLISE ECONÔMICA
Os lucros da indústria financeira aumentaram muito, provavelmente porque os bancos
que podem solicitar empréstimos a custos baixos – porque contam com uma garantia
federal implícita – são máquinas de dinheiro mais ou menos infalíveis a não ser que
façam algo estúpido; e a estupidez bruta foi temporariamente contida.
Isso foi bom para o TARP, o Programa de Alívio para Ativos Problemáticos, que não
perderá muito dinheiro.
Mas, afora esse dado pontual, considero o presente quadro ameaçador. Chegamos ao
caos atual porque tínhamos uma economia na qual a indústria financeira era responsável
por uma parcela dos lucros totalmente desproporcional à sua verdadeira contribuição
para a economia. Uma situação que agora voltooooou.
--------------------------Estadão Online – 14/04/2010
Investimentos diretos: você tem certeza de
que são destinados à produção?
José Paulo Kupfer
Abalado na sua antiga função de “gendarme das finanças internacionais”, o FMI tem
promovido uma série de revisões de conceitos. Chegou a vez agora dos investimentos
estrangeiros ditos diretos. As novas recomendações da instituição – às vezes o avesso
das velhas – estão produzindo frissons e incômodos nos difusores do pensamento
ortodoxo, até então aliados incondicionais das ideias propagadas pelo FMI.
O mundo gira, a lusitana roda e o FMI propõe agora, aos países emergentes, cuidados
especiais com o afluxo de capitais externos, incluídos os diretos “na produção” – e, por
conseqüência, de “longo prazo”. O risco apontado é o da formação de bolhas
desestabilizadoras nos preços de ativos e o da valorização em excesso as moedas locais,
aumentado os riscos de crises cambiais. Restrições e controles desses capitais, inclusive
os diretos, ditos “não especulativos”, fazem parte do novo receituário da instituição. Eles
acabam de ser colocados em letra de forma no mais recente “Relatório sobre a
estabilidade global”, divulgado nesta terça-feira (veja aqui um resumo, em inglês)
Como, de fato, o mundo gira, economistas ortodoxos, sempre dispostos a coonestar os
ditames do FMI agora tentam desqualificar o guru decaído. De onde antes exarava a
verdade econômica incontestável, agora, na visão deles, brotam enganosas
recomendações, camuflagem teórica de interesses políticos inconfessáveis.
Economistas traídos em sua fé na auto-regulação dos mercados passam a repelir as
homilias que antes incorporavam com contrição. Segundo eles, parece haver interesse
dos países desenvolvidos, que controlam o FMI, em segurar esses capitais em seus
próprios mercados.
É uma maravilha. Na longa e tenebrosa noite em que o FMI impôs os caminhos da
redenção neoliberal aos países em desenvolvimento, o pensamento ortodoxo jamais
aceitou a hipótese de que tudo aquilo era do interesse dos países desenvolvidos,
controladores da instituição. A denúncia do fato, que hoje abraçam e disseminam, nada
mais expressava então do que o esperneio de heterodoxos (ou “keynesianos”) aloprados.
***
A adesão cega ao caráter produtivo e de longo prazo dos IEDs pode configurar, nos dias
de hoje, mais um exemplo do imenso poder das ideias erradas. Não há engenharia
financeira capaz de abrir os olhos do pessoal para a possível transformação dos
investimentos diretos em criaturas diferentes daquelas que, com o mesmo nome,
habitavam um mundo muito mais rústico em termos financeiros, há algumas décadas.
Não é de hoje que os benefícios incondicionais dos IEDs, sinônimo de capitais de longo
prazo destinados a incrementar a produção, são contestados. Já nos anos 80,
economistas como o respeitado pós-keynesiano Jan Kregel, então na Unctad, apontavam
o possível caráter de curto prazo que os investimentos diretos assumindo, a partir de
operações financeiras estruturadas.
A separação dos IEDs em participação no capital e em empréstimos intercompanhia –
coisas, de fato, muito diferentes –, a partir dos anos 90, foi um passo na direção de
rever o caráter de aplicação produtiva e de longo prazo de que eles se revestiam. Tal
separação, adotada também pelo banco central brasileiro, deveria ser entendido como
um sinal de que o convencional, no mundo dos IEDs, estava em mutação.
Mas, a possível mutação não mereceu novas e mais aprofundadas reflexões. Nem mesmo
com a intensificação do movimento de globalização financeira, que foi acompanhada do
desenvolvimento de mecanismos ultra-sofisticados de formação e alavancagem de
ativos, a questão ganhou espaços no debate econômico. Aqueles que tentaram colocá-lo
no foco foram devidamente desqualificados pelos detentores da “ciência” econômica.
Recentemente, em artigo no “Valor” publicado em fevereiro, o economista e consultor
Silvio Figer analisou a trajetória dos IEDs no Brasil, a partir de 2003. Ele observou que,
de 2003 a 2007, o volume de remessas de lucros e dividendos foi equivalente, em
média, por ano, a mais de 50% do IED declarado como destinado à participação no
capital, com um pico de 80,5%, em 2006. Já em 2008 e 2009, a média das remessas se
eleva a mais de 90% do IED – participação no capital.
Ao comparar o volume de IED com o das remessas de lucros e dividendos, o economista
observou que se, entre 2003 e 2007, a cada período de menos de dois anos, o IED
contabilizado como participação no capital era anulado, exigindo reposição, nos últimos
dois anos, a velocidade aumentou para pouco mais de um ano. Sua conclusão:
“Tal comportamento descaracteriza um movimento de investimento não
financeiro. É essencialmente um movimento financeiro. O que está ocorrendo é
que o BC classifica os capitais entrados como deve ser, por seu destinatário:
indústria A, ou rede varejista B. O que é muito diferente de controlar o que a
tesouraria dessas empresas faz com esses capitais. Os movimentos indicam que
destinam-se, prioritariamente, à geração de lucros financeiros e não de lucros
operacionais. Aí está embutida uma operação de arbitragem de juros além de um
eventual ganho cambial pela expressiva valorização do real.”
***
São razoáveis os motivos para dar como incertas, principalmente nos dias de hoje, as
certezas de que os IEDs expressam, sem qualificações, aplicações de recursos na
produção e por prazo longo. Tais recursos podem não ser exigíveis a prazo certo como as
dívidas com origem em financiamentos externos, mas não é possível afirmar que sempre
se destinariam à produção, sem falar que seu comportamento pode ter o mesmo impacto
de dívidas.
Não custa nada desconfiar do convencional caráter não especulativo dos IEDs
contemporâneos. Se é verdade, como querem os defensores de uma política
macroeconômica mais restritiva, que a economia brasileira, por causa sobretudo de seus
déficits fiscais, começa a fazer água – tanto que pressões inflacionárias generalizadas
estão a exigir reação forte do BC na determinação dos juros básicos –, que diabos
estariam levando investidores de fora a enterrar na produção local dinheiro de longo
prazo?
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ECONOMIA & OUTRAS NOTÍCIAS
Valor Econômico - 15/04/2010
Economia cresce e já aponta para PIB
recorde em 24 anos
A economia brasileira manteve no primeiro trimestre do ano o ritmo acelerado com que
encerrou 2009. O crescimento expressivo da produção industrial e do varejo em
fevereiro, segundo analistas, indica que o Produto Interno Bruto (PIB) no período
avançou 2%, equivalente a uma taxa anualizada de 8,4%. Dessa forma, as previsões
sobre o comportamento do PIB no ano estão sendo constantemente elevadas e agora já
chegam a ultrapassar os 7%. Se a previsão se confirmar, será o maior crescimento
desde os 7,49% de 1986, na vigência do Plano Cruzado.
Os dados de vendas no comércio varejista em fevereiro superaram de longe a
expectativa do mercado, que trabalhava com uma expansão inferior a 1% sobre janeiro,
mas viu uma alta de 1,6%. O próprio número de janeiro foi revisado para cima, de 2,7%
para 3%. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, diz que
"todos os dados vieram acima das projeções", o crescimento foi disseminado e sua
aceleração é "inequívoca".
PIB pode crescer mais de 7% em 2010
Sergio Lamucci e João Villaverde, de São Paulo
A economia brasileira mostrou grande vitalidade no primeiro trimestre, com destaque
para o crescimento expressivo das vendas no varejo e da produção industrial. Divulgado
ontem, o resultado do comércio varejista de fevereiro confirmou o forte ritmo de
expansão da atividade, ao subir 1,6% em relação a janeiro, feito o ajuste sazonal,
impulsionado pela força do mercado de trabalho e pela ampla oferta de crédito. Boa
parte dos analistas estima que, no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB)
cresceu cerca de 2% sobre o anterior, o que equivale a uma uma taxa anualizada de
8,4%. No quarto trimestre de 2009, a economia avançou os mesmos 2% nessa base de
comparação.
Nesse cenário, está em curso uma onda de revisão das previsões para o desempenho do
PIB em 2010. Há quem projete expansão superior a 7%, como o economista-chefe da
corretora Convenção, Fernando Montero, que aposta em alta de 7,1%. O país não cresce
mais de 7% desde os 7,5% de 1986, ano do Plano Cruzado. Em consequência da
atividade firme, ganha força a aposta numa elevação da taxa Selic de 0,75 ponto
percentual na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom).
Indicadores divulgados nas últimas semanas não corroboraram a expectativa de que
haveria uma desaceleração da economia nos primeiros meses de 2010, em função de
uma possível antecipação de consumo em 2009, dadas as desonerações tributárias que
beneficiaram produtos como veículos e eletrodomésticos da linha branca. Os dados de
vendas no varejo em fevereiro superaram de longe a expectativa do mercado, que
trabalhava com uma expansão inferior a 1% sobre janeiro, mas viu uma alta de 1,6%.
Esse crescimento ganha relevância quando se leva em conta que o número de janeiro foi
revisado para cima, de 2,7% para 3%.
O economista-chefe do Banco Fator e professor da Universidade de São Paulo (USP),
José Francisco de Lima Gonçalves, diz que a surpresa foi "geral", uma vez que o
crescimento foi disseminado e "todos os dados vieram acima das projeções". No caso do
varejo ampliado, que inclui veículos e motos, partes e peças e material de construção, a
alta foi de 2,1% sobre janeiro. Tudo indica que, em março, as vendas no varejo de
veículos tiveram novo aumento expressivo, já que houve muitas compras motivadas pela
perspectiva do fim da vigência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido
para veículos. O licenciamento de veículos e comerciais leves em março subiu 18,6%
sobre fevereiro, na série com ajuste sazonal calculada pela LCA Consultores. "Não resta
muita dúvida que o PIB nos primeiros três meses teve elevação forte, na faixa dos 2%
sobre o trimestre anterior", diz Gonçalves.
Montero projeta um crescimento de 2,2% no primeiro trimestre, vendo um ciclo
extremamente favorável para impulsionar a atividade. Segundo ele, o consumo forte
estimula o aumento dos investimentos, dos estoques e do emprego industrial, o que leva
a um crescimento da ocupação e da renda, implicando mais confiança e mais consumo. A
inadimplência cai, os bancos aumentam a oferta de crédito e crescem as receitas do
governo, garantindo o espaço para gastos públicos elevados. Para ele, a economia vai
crescer 7,1% neste ano, mesmo com um ciclo de alta de juros já encomendado, que
deve totalizar 3 pontos percentuais.
Os analistas também acreditam que a indústria foi muito bem em março. Indicadores
importantes como a produção de automóveis, a expedição de papelão ondulado e o fluxo
de veículos pesados nas estradas apontam para um crescimento da produção industrial
no mês passado que pode superar o nível de fevereiro, acredita o economista-chefe do J.
P. Morgan, Fábio Akira. "No primeiro trimestre, o PIB deve ter crescido mais de 2%",
estima ele, que vai revisar a sua projeção para o crescimento em 2010 de 6,2% para
mais de 6,5%. Akira e Montero destacam ainda que o nível de estoques na indústria
ainda é baixo, o que sugere que o movimento de recomposição de inventários ganhará
força nos próximos meses, impulsionando a produção. O bom momento do mercado de
trabalho, com forte geração de empregos formais e desemprego baixo para padrões
brasileiros, também são fundamentais para o otimismo.
O economista Fernando de Paula Rocha, da JGP Gestão de Recursos, calcula que se o
país não crescer mais nada até o fim do ano, apenas com o registrado neste primeiro
trimestre e o que herdou do ano passado, a atividade terá avanço de 4,8% sobre 2009.
"Isso, é claro, não vai acontecer", diz Rocha. "Se o crescimento recuar de 2% no
primeiro trimestre, como eu prevejo, para 1% no segundo e oscilar nessa faixa até
dezembro, o PIB terá avanço de 6,4% no ano. Uma alta superior a 6% é muito fácil de
ser alcançada."
Mas há entre os analistas quem trabalhe com um PIB inferior a 6%. É o caso do
economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, que estima crescimento de 5,8% no ano. Ele
espera uma desaceleração razoável a partir do segundo trimestre. Borges diz que os
números atuais "ainda estão influenciados pelas corridas às lojas para aproveitar a
derradeira redução de IPI para linha branca e automóveis", além de contar com o efeito
restritivo da política econômica: os gastos do governo como percentual do PIB recuaram
desde dezembro, a elevação dos compulsórios equivaleu, segundo ele, a uma alta de 1,4
ponto da Selic, e haverá um aumento da taxa a partir deste mês. Ele espera uma
elevação de 2,5 pontos até o fim do ano, enquanto Akira aposta em 3,5 pontos.
A maior parte dos analistas mostra preocupação quanto ao impacto da atividade sobre os
preços. Para José Júlio Senna, ex-diretor do BC e sócio da MCM Consultores, a
desaceleração da atividade no começo de ano, "que era esperada devido à alta forte
ocorrida no fim do ano passado", não se verificou e, por isso, "deixa um ônus muito
grande nas costas do BC, que vai ter de agir com firmeza para evitar descontrole".
Senna, porém, não prevê que a elevação da Selic será concentrada, mas diluída ao longo
deste e do próximo ano. "Fazer todo o aumento de uma vez não faz sentido. Isso pode
dar um tranco na economia e prejudicar seriamente o crescimento."
-----------------------------UOL - 15/04/2010 - 01h07
PIB da China sobe 11,9% no primeiro
trimestre
Pequim, 15 (EFE).- O Produto Interno Bruto (PIB) da China aumentou em 11,9% no
primeiro trimestre de 2010 em comparação com o mesmo período de 2009, ficando em
8,05 trilhões de iuanes (cerca de US$ 1 trilhão), informou o Escritório Nacional de
Estatísticas.
Segundo o porta-voz do Escritório, Li Xiaochao, o crescimento no primeiro trimestre foi
5,7 pontos superior ao de janeiro a março de 2009, quando o país sofria as piores
consequências da crise financeira mundial e registrou seu pior índice de crescimento
desde 1992, 6,2%.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), principal indicador da inflação, aumentou 2,2%
no trimestre, 2,4% somente em março, quando foi 0,7 pontos menor que em em
fevereiro.
O Índice de Preços à produção (IPP), também importante na inflação, registrou aumento
anualizado em março de 5,9%, enquanto o aumento trimestral foi de 5,2%.
O porta-voz do organismo oficial que distribui os números econômicos na China destacou
que a produção industrial chinesa aumentou de janeiro a março de 2010 em 19,6%, 14,5
pontos percentuais a mais que o mesmo período de 2009.
--------------------------------------Correio Braziliense - 15/04/2010
Bric debate o futuro em Brasília
Chefes de Estado e de Governo de Brasil, Rússia, Índia e China (Bric), além da
África do Sul, discutem a partir de hoje, no Palácio do Itamaraty, a ampliação do
comércio e a responsabilidade ambiental. Encontro provocará mudanças no
trânsito da Esplanada dos Ministérios.
INTERNACIONAL
Emergentes em busca de mais poder
Reunidos em Brasília, líderes terão que mostrar mais compromisso com
parcerias do que disposição para competir
Luciano Pires
Nações emergentes que evitaram a bancarrota global durante a crise econômica do ano
passado discutem a partir de hoje, em Brasília, como ampliar o comércio entre si e os
países desenvolvidos, de que modo podem conjugar progresso com responsabilidade
ambiental e em que proporção os mais pobres serão beneficiados. Organizados em siglas
que nos últimos tempos ganharam status de blocos, Brasil, Rússia, Índia e China (Bric) e
Índia, Brasil e África do Sul (Ibas) acreditam que têm condições de impor um novo ritmo
às relações internacionais. Ainda que os interesses não sejam os mesmos o tempo todo.
Os países que compõem o Bric e o Ibas têm na inigualável capacidade de consumir e de
produzir seu principal trunfo. Até 2014, eles serão responsáveis por 61% do crescimento
do mundo. Quando se veem obrigados a negociar com os blocos tradicionais, como a
União Europeia (UE), e com potências como os Estados Unidos, os líderes dos
emergentes fazem questão de mostrar a força que têm. O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, anfitrião do encontro e das reuniões paralelas que vão acontecer até amanhã no
Palácio do Itamaraty, aposta em uma ordem mundial bem mais favorável nas próximas
décadas.
Parte do otimismo de Lula repercute na maioria dos fóruns internacionais porque o
cenário pós-recessão praticamente empurrou o mundo para discussões mais
aprofundadas. Ricardo Sennes, cientista político e diretor da consultoria Prospectiva,
explica que Bric e Ibas ganharam importância quase que de maneira inevitável. Virou a
moeda. Não dá para fazer nenhum acordo de equilíbrio sem esses países. Eles ganharam
peso, sem dúvida. Houve uma mudança qualitativa, completa.
Os emergentes se recuperaram antes de todos os demais que acabaram atingidos pelo
estouro da bolha imobiliária norte-americana. Isso aumentou o poder de barganha e
elevou esses países à condição de locomotivas da recuperação econômica. Sem ter para
quem vender ou de quem comprar, as nações ricas acabaram forçadas a inverter suas
prioridades. Para Sennes, isso vai marcar as relações entre os países por muitos anos.
Ruídos
Mas nem só de convergências vivem o Bric e o Ibas. O primeiro ministro da Índia,
Manmohan Singh, e os presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, da China, Hu Jintao, da
África do Sul, Jacob Zuma, e Lula divergem profundamente sobre temas considerados
vitais nas pretensões de qualquer país que deseja integrar um bloco econômico. Na raiz,
essas nações estão mais dispostas a competir do que a colaborar. O fato de todos terem
ganhado peso relativo não significa que tenham uma agenda comum. Há desencontros,
claro, adverte Sennes.
A agenda financeira, por exemplo, opõe radicalmente brasileiros, russos e chineses.
Temas relacionados à governança e ao meio ambiente também causam ruídos entre
todos. Na questão agrícola, as diferenças são gritantes entre a China e o Brasil. O
mesmo vale para assuntos ligados a armas, segurança nacional, políticas protecionistas e
propostas de regulação do mercado financeiro e bancário. Dependendo das
circunstâncias, tem sido cada vez mais comum Bric e Ibas se dissolverem e se
associarem a países ricos rivais para pura e simplesmente preservarem seus próprios
interesses.
Ainda que eventualmente em lados opostos, o ministro das Relações Exteriores, Celso
Amorim, crê em avanços do Bric e do Ibas. Ontem, no Rio de Janeiro, ele previu ganhos
recordes no comércio entre esses países. Segundo Amorim, a intenção não é criar uma
aristocracia dos emergentes, mas dar voz aos mais pobres. De acordo com o especialista
Ricardo Sennes, a união, mesmo que não seja sólida e frequente, está sendo útil. Eles
sinalizam para o mundo que são um bloco, ameaçam agir como um bloco. Como discurso
geral, isso tem efeito importante. Mas o fato é que, na prática, o Bric e o Ibas são uma
promessa de aliança política, justifica.
-------------------------------O Estado de S.Paulo - 15/04/2010
Justiça suspende leilão da hidrelétrica de
Belo Monte
Liminar alega risco de "dano irreparável" à região do Xingu; BNDES vai abrir
crédito para até 70% da obra
Carlos Mendes, Renée Pereira e Renato Andrade - O Estado de S.Paulo
BELÉM, ALTAMIRA E BRASÍLIA
O juiz da Vara Federal de Altamira, Antonio Carlos Almeida Campelo, determinou ontem
a suspensão da licença prévia da Hidrelétrica de Belo Monte e também o cancelamento
do leilão, marcado para terça-feira, 20 de abril, para escolher as empresas responsáveis
pela obra. A Advocacia-Geral da União (AGU) já informou que vai recorrer da decisão.
Segundo Campelo, que concedeu liminar em antecipação de tutela em duas ações civis
públicas impetradas por seis procuradores da República no Pará, "há perigo de dano
irreparável" na licitação. Ele também fixou multa de R$ 1 milhão contra o Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), caso não cumpram a decisão.
Nesse caso, o dinheiro seria revertido aos povos indígenas que serão afetados pela
construção da usina. Para Campelo, as empresas que participarão do leilão, a Aneel e o
Ibama devem tomar ciência de que, enquanto o mérito da questão não for julgado,
poderão responder a processo por crime ambiental caso não respeitem a decisão.
Licença e edital. No despacho, comemorado por entidades ambientalistas e tribos do
Xingu, o juiz diz ter sido provado, de forma inequívoca, que a obra "explorará potencial
de energia hidráulica em áreas ocupadas por indígenas que serão diretamente afetadas
pela construção e desenvolvimento do projeto".
Ele também concordou com outras medidas solicitadas pelo Ministério Público Federal,
determinando que o Ibama "se abstenha de emitir nova licença e que a Aneel não faça
novo edital", e sejam notificados o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e as empresas Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Vale, J
Malucelli Seguradora, Fator Seguradora e a UBF Seguros.
Os procuradores da República em Belém informaram ao Estado que aguardam o
julgamento de outro processo em que questionam irregularidades ambientais na licença.
Aplausos
Em Altamira, uma das principais cidades a serem atingidas pela obra, a notícia foi
recebida com aplausos e gritos por um grupo contrário à construção da usina. A
informação foi divulgada no momento em que o diretor de cinema James Cameron
recebia uma pequena homenagem de ambientalistas, moradores e organizações não
governamentais (ONGs).
Depois de viajar pelo País, Cameron deixou Altamira prometendo divulgar mundo afora a
luta dos povos indígenas contra Belo Monte. Para reforçar a luta, ele leva para os Estados
Unidos uma carta assinada por 61 lideranças indígenas, resultado de dois dias de
reuniões na Aldeia Moritjam, na Volta Grande do Xingu. No documento, os índios
ameaçam o governo de "guerra". "Não Queremos Belo Monte. Já alertamos que, se essa
barragem acontecer, vai ter guerra."
-------------------------------Agência Brasil – 15/04/2010
AGU trabalha para reverter na Justiça
suspensão do leilão de Usina de Belo Monte
Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Advocacia-Geral da União (AGU) informou hoje (15) que já trabalha para
reverter a decisão da Justiça Federal do Pará que suspendeu o leilão da Usina Hidrelétrica
de Belo Monte, no Rio Xingu (PA).
De acordo com a assessoria de imprensa da AGU, o órgão aguarda apenas ser informado
oficialmente da decisão para tomar as primeiras providências. A expectativa é que ocorra
ainda hoje.
O leilão para selecionar a empresa construtora da usina foi suspenso na tarde de ontem
(14), pelo juiz federal Antônio Carlos Almeida Campelo, da Subseção de Altamira (PA). A
disputa estava marcada para a próxima terça-feira (20).
O juiz concedeu a liminar ao analisar uma das duas ações civis públicas ajuizadas pelo
Ministério Público Federal (MPF), que argumenta que a construção viola vários
dispositivos da legislação ambiental e que faltam dados conclusivos. A decisão é passível
de recurso a ser apresentado ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.