Após a Grécia, Chipre afunda

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Após a Grécia, Chipre afunda
Após a Grécia, Chipre afunda
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UNIÃO EUROPEIA
LONGA ESPERA - Correntistas aguardam a abertura do banco em Nicósia, capital de Chipre, em 29 de março,
após doze dias de portas fechadas
Crédito: Bogdan Cristel/REUTERS
Em junho de 2013, o presidente da França, o social-democrata François Hollande, anunciou a investidores
japoneses que a crise econômica na Europa havia passado e que faltava apenas colocar a casa em ordem. A crise
deflagrada em 2008 deu sinais de alívio, mas o cenário é muito instável. Quase todos os 17 países da zona do euro
(que adotam o euro como moeda) ainda estão em recessão. O produto interno bruto de todos encolhe, e o
desemprego bate recordes: em maio, segundo dados oficiais, havia 26 milhões de desempregados na União
Europeia (UE).
Dois meses antes da declaração de Hollande, o comitê formado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu
e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a chamada “troika”, fechou um empréstimo de 10 bilhões de euros a
Chipre, pequeno país europeu localizado em uma ilha no Mar Mediterrâneo. Chipre é o quinto país a acertar ajuda
com a “troika” para manter funcionando sua economia. Antes, a Espanha recebera um aporte de 100 bilhões de
euros; Portugal, 78 bilhões; Irlanda, 85 bilhões; e a Grécia, dois pacotes somando 380 bilhões de euros. Para
esses países, os acordos significam engolir uma receita terrivelmente amarga: o corte a fundo nos gastos públicos
– com privatizações, queda de salários e aposentadorias, demissões e redução de benefícios sociais – e a injeção
de recursos e a redução do sistema bancário.
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País em ilha
Chipre fica num ponto estratégico do Mediterrâneo, entre Grécia e Turquia. Após uma longa história de ocupações,
desde a Antiguidade, o território é ainda local de disputa. A ilha se divide em dois estados: a República de Chipre,
integrante da UE, ocupa a porção sul e possui população majoritária de origem grega; e a República Turca do Norte
do Chipre, controlada pela Turquia e sem reconhecimento internacional. A ONU intermedeia, desde 1980,
negociações de unificação do país, mas está difícil.
Chipre entrou para a UE em 2004 e para a zona do euro em 2008. O PIB do país representa só 0,2% da economia
da zona do euro, mas, desde 2004, a economia cresceu. A entrada no bloco europeu alavancou o mercado
financeiro, o turismo e os negócios imobiliários. Os produtos importados – máquinas, equipamentos e combustíveis
– provêm, na maior parte, da UE, principalmente de Grécia, Reino Unido e Alemanha. Os europeus são também os
principais compradores dos produtos do país, basicamente medicamentos e alimentos.
A força do bloco facilitou as transações financeiras internacionais e Chipre transformou-se num paraíso para
investidores e especuladores em bolsas, principalmente russos e britânicos, ao manter uma fiscalização frouxa
sobre a origem dos capitais e dar taxas de retorno muito acima do mercado.
A riqueza nacional aumentou. Segundo a Comissão Europeia, em 2008, o PIB per capita era 36% maior do que o
de 2003. Mas nada disso era sólido. Em 2009, os ventos começaram a mudar, e o PIB cipriota, a encolher. Em
2012, a riqueza tinha caído 2,4% em relação a 2011, e o desemprego atingia 12% da população economicamente
ativa. O déficit orçamentário (saldo negativo entre receitas e despesas do governo) equivalia a mais de 6% do PIB,
muito além do limite tolerado pela UE, de 3%. E a dívida pública chegou a 86% do valor do PIB, também acima do
limite permitido aos países-membros, de 60%.
Crise econômica
Agora, o país foi duramente atingido pela crise na Europa, ela mesma uma expressão das turbulências que afetam
o mundo. O mergulho de Chipre na crise tem relação direta com a Grécia. Em 2012, a economia grega encolheu
6,5%. Com altíssimo endividamento público, a Grécia fez dois acordos com a “troika” e teve de aumentar impostos,
privatizar empresas, cortar direitos trabalhistas e demitir funcionários públicos. O país explodiu em greves e
protestos. De quebra, a Grécia exportou a crise para Chipre por meio do sistema bancário.
Os bancos gregos têm presença forte em Chipre. Os bancos cipriotas estão entre os maiores possuidores de
títulos do governo grego. Em 2011, os investimentos de Chipre em títulos gregos eram 30% do PIB cipriota. Com a
bancarrota, a Grécia ficou sem condições de pagar os títulos, afundando as instituições financeiras de Chipre.
Em 2013, depois de um ano de negociações, a “troika” liberou 10 bilhões de euros ao país. Apesar de representar
mais da metade do PIB cipriota, o valor é insuficiente. Além de recapitalizar os bancos, Chipre precisa levantar 6
bilhões de euros como garantia do empréstimo. De onde tirar esse dinheiro extra? Ao longo das negociações,
aventou-se a hipótese de o governo cipriota impor altas taxas a todos os depósitos, e até de confiscar dinheiro de
correntistas e investidores. A ideia causou pânico e revolta, e as pessoas foram para as ruas. Os bancos ficaram
fechados por doze dias, e o presidente do Banco de Chipre e o ministro das Finanças perderam os cargos.
No final de março, chegou-se a um acordo definitivo. Pelo compromisso, o Banco Laiki, segundo maior do país,
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seria fechado. Os depósitos abaixo de 100 mil euros ficavam garantidos. Acima de 100 mil euros, não sendo
assegurados pelas regras da UE, seriam congelados e parte deles usada para sanar as dívidas do Laiki e
recapitalizar o Banco de Chipre. Os maiores perdedores foram os grandes investidores russos. Mas a economia
desabou: a previsão para este ano é que ela encolha quase 9%.
Saiu na imprensa
Resgate do Chipre evidencia o problema dos bancos ‘grandes demais’
O resgate do Chipre trouxe novamente à tona o debate sobre qual é o tamanho adequado do sistema financeiro em
relação ao Produto Interno Bruto de um país. (...) No caso do Chipre (...), o sistema financeiro era 7,1 vezes maior
que a economia nacional. O mesmo cenário se repete na também resgatada Irlanda. Esses números demonstram
que ambos os países apostaram a sorte na boa gestão por parte dos banqueiros – e perderam. O mesmo ocorreu
com a Islândia, cujo sistema financeiro era 11 vezes maior que a economia. (...)
Quando o sistema bancário é muito grande, a única forma de corrigi-lo é reduzindo o tamanho das entidades,
defende reportagem do jornal espanhol “El País” — especialmente se elas forem poucas. Nos EUA, por exemplo,
há três entidades principais: JPMorgan, Citigroup e Bank of America, que concentram 40% do PIB. (...)
Resumo
União Europeia
Crise Afetados pela crise internacional, em 2008, os países europeus recorreram aos cofres públicos para salvar
instituições financeiras e empresas à beira da falência, o que elevou muito a dívida pública. A crise afetou mais
fortemente economias mais frágeis, como Portugal e Grécia, mas também atingiu Espanha e Itália. Entre 2010 e
2012, cinco países recorreram a empréstimos da União Europeia (UE): Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Chipre.
Grécia e Chipre A Grécia entrou em colapso em 2009. O país acertou dois planos de resgate em troca de duras
ações de austeridade, que envolvem demissões e redução de salários de funcionários públicos, privatizações e
aumento dos impostos. A forte relação da Grécia com Chipre fez com que a crise se transferisse para a ilha em
2012. Os bancos cipriotas estão cheios de títulos do governo grego.
Resgate de Chipre Em março de 2013, a UE e o FMI fecham com Chipre um empréstimo de 10 bilhões de euros.
Em troca, o país tem de fechar o segundo maior banco do país e empregar os depósitos em contas correntes
acima de 100 mil euros para capitalizar o sistema bancário e garantir o empréstimo.
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