Anais Nestle Adolescência
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55 ANAIS NESTLÉ VOLUME 55 1998 ANAIS NESTLÉ Adolescência Adolescência NESTLÉ NUTRITION SERVICES NESTLÉ NUTRITION SERVICES INFORMAÇÃO DESTINADA EXCLUSIVAMENTE AO PROFISSIONAL DE SAÚDE IMPRESSO NO BRASIL OC/LU T. 993.64.10.03 NESTLÉ NUTRITION SERVICES Revista editada por uma comissão internacional de pediatras e publicada por Nestlé Indl. e Coml. Ltda. Endereço para correspondência: Av. das Nações Unidas, 12.495 CEP 04578-902, São Paulo, Brasil e-mail: [email protected] ANAIS NESTLÉ 55 Adolescência NESTLÉ NUTRITION SERVICES ©1995 NESTEC Ltd., Avenue Nestlé 55, CH-1800 Vevey, Suíça Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em memória ou transmitida seja qual for o meio utilizado (eletrônico, mecânico, por fotocópia ou outro qualquer) sem a autorização escrita do editor. 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Maloney ....................................... 18 Nutrição na adolescência, Marc S. Jacobson .............................................................................................. 24 RESUMOS DE ARTIGOS ESCOLHIDOS NA LITERATURA RECENTE SOBRE A ADOLESCÊNCIA Consumo de alimentos ................................................................................................................................ 34 Hábitos alimentares e estado nutricional ..................................................................................................... 38 Obesidade, hipertensão e doença cardiovascular ........................................................................................ 40 Nutrição e esportes na adolescência ............................................................................................................ 40 Anticoncepcionais e gravidez na adolescência ............................................................................................ 41 Álcool, drogas e fumo entre adolescentes ................................................................................................... 42 Doenças sexualmente transmissíveis ........................................................................................................... 43 Diversos ....................................................................................................................................................... 48 iii Editorial Do ponto de vista físico e psicológico, a adolescência é uma das mais dinâmicas fases experimentadas pelo seres humanos. Entretanto, conforme lembrado por César Bergada neste número dos Anais da Nestlé, embora o interesse pela medicina dos adolescentes tenha começado no início deste século, pouco havia sido feito, até o começo da década de 50, em favor dos adolescentes pelos pediatras que costumam atender as crianças até a época em que ingressam na puberdade. A fisiologia da puberdade é aqui claramente demonstrada e são discutidas as dificuldades dos adolescentes que sofrem atrasos na puberdade, bem como alguns problemas sociais e nutricionais vivenciados pelos jovens, tais como fumo, álcool, uso excessivo de drogas, obesidade e doenças sexualmente transmissíveis (DST). A regulação nutricional e hormonal do crescimento e a mineralização do esqueleto durante a puberdade e a adolescência formam o assunto de uma outra excelente revisão. Antônio Carrascosa e Miguel Gussinyé destacam os respectivos papéis do hormônio do crescimento (GH), do fator de crescimento insulino-mimético do tipo I (IGF-I) e da secreção de esteróides gonadais em tecidos alvos durante a puberdade, explicando como a nutrição desempenha um duplo papel em todo o processo. Ela interage com certos hormônios, tais como gonadotrofinas e GH na regulação dos esteróides gonadais e dos níveis de IGF-I e proporciona a energia e nutrientes necessários para o crescimento e mineralização do esqueleto. Também discutem o papel crítico da adolescência para o desenvolvimento de uma massa óssea suficiente e como a puberdade e a adolescência podem ser períodos de risco para o desenvolvimento de osteopenia. Efetivamente, a adolescência é um período de grande desenvolvimento físico e emocional. Portanto, não é surpreendente o fato de que a maioria dos adolescentes fiquem preocupados com sua aparência. Empregando critérios clínicos rigorosos, Michael Maloney nos dá informações precisas sobre a predominância de transtornos no comportamento alimentar durante a adolescência, seus diagnósticos, complicações médicas e seu tratamento. Ele ressalta, com razão, que um plano de tratamento bem sucedido deve incluir tanto cuidados médicos quanto psiquiátricos e que, embora os adolescentes, em sua maioria, possam ser tratados como pacientes ambulatoriais, alguns requerem hospitalização. Com determinação e cooperação, pode-se esperar uma recuperação total, embora o processo de tratamento possa levar anos. Por outro lado, conforme explicado por Marc Jacobson, a adolescência é um período crítico para as intervenções preventivas, particularmente para aumentar a consciência, o conhecimento, as habilidades e a motivação do indivíduo no sentido de escolhas dietéticas saudáveis. As necessidades nutricionais são expostas e apresentadas de tal modo que poderão ser ensinadas a todos os adolescentes: a necessidade de uma alimentação diversificada, compreendendo frutas, verduras e legumes, bem como grãos integrais; a escolha de uma dieta com baixo teor de gordura saturada e colesterol e a manutenção de um peso saudável, equilibrando a ingestão e o dispêndio de energia. Uma ampla revisão de trabalhos selecionados da literatura recente informa o leitor sobre os hábitos alimentares dos adolescentes em diferentes países da Europa e América do Norte. Também esclarece a relação entre os hábitos alimentares e o estado nutricional e entre o álcool, drogas, fumo e o comportamento sexual. Finalmente, uma grande quantidade de informações é fornecida sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DST) na adolescência, sua incidência e os fatores de risco, bem como suas seqüelas ginecológicas e psicológicas. Anais Nestlé Comissão Editorial iv Anais Nestlé 1998;55:iv A puberdade e a medicina do adolescente César Bergada División de Endocrinologia e Centro de Pesquisas Endocrinológicas (CEDIE), Hospital de Niños “Dr. Ricardo Gutiérrez”, Gallo, 1330, Buenos Aires (1425), Argentina Introdução Diretores, professores e médicos de internatos particulares para meninos em Londres têm estado preocupados, desde o final do Século XIX, com os problemas de saúde que surgem durante a adolescência. Em 1885 um grupo de médicos fundou a Medical Officers of School Association e publicou um código de normas para administrar e evitar a disseminação de certas doenças entre meninos adolescentes, em internatos. Desde então, médicos ingleses e americanos de tais instituições têm dispensado uma atenção crescente aos problemas físicos, psicológicos e outros problemas relacionados com a saúde, associados com a adolescência [1]. História da medicina do adolescente O primeiro tratado sobre a adolescência: “Adolescence: Its Psychology and its relationship to Physiology, Anthropology, Sociology, Sex, Crime, Religion and Education” (Adolescência: sua psicologia e relação com fisiologia, antropologia, sociologia, sexo, crime, religião e educação) foi publicado em 1904 por G.S. Hall [2]. Após um ano, seguiu-se “The Natural History of Adolescence” (A História Natural da Adolescência) de J. Jastrow [3]. A partir deste início, os aspectos psicológicos dos adolescentes [3, 5], bem como doenças primárias e secundárias associadas com a adolescência foram objeto de interesse crescente [6, 7]. A primeira descrição de um departamento médico especificamente devotado aos cuidados com adolescentes é o trabalho de Amelia Gates; ela ressaltou quão importante é para Anais Nestlé 1998;55:1-8 os médicos de adolescentes tratar tanto os males físicos como os problemas educacionais, sociológicos e psicológicos deste período de transição [8]. Até 1927, 11 trabalhos e 6 comunicações breves sobre a adolescência foram publicados abordando a obesidade na puberdade, a influência das glândulas endócrinas sobre o desenvolvimento muscular antes e após a puberdade, a psicopatologia da puberdade, o desajuste de garotas que abandonam a escola a fim de conseguir trabalho etc., e em 1930, o número subia para mais de 45 trabalhos que abordavam distúrbios do desenvolvimento e/ou problemas do crescimento enquanto quinze dedicavam-se aos aspectos psicológicos da adolescência [1]. Dorfman, Greulich e Salomon [9] publicaram, em 1937, dados importantes sobre a excreção urinária de substâncias androgênicas e estrogênicas por crianças e adolescentes. Estas observações demonstraram a grande variação dos níveis de esteróides e sua relação com o grau de desenvolvimento sexual dos adolescentes que serve de base à classificação das fases da puberdade de meninos e meninas de Greulich, Dorfman e Catchpole [10], posteriormente modificada por Tanner em 1962 [11]. As necessidades nutricionais de garotas adolescentes foram publicadas pela primeira vez por Wait e Roberts em 1932 [12]. Em 1937, Curran organizou uma unidade para jovens com problemas psiquiátricos no Hospital Bellevue de New York. No início da década de 40, a Academia Americana de Pediatria organizou dois simpósios sobre medicina dos adolescentes em New Haven, Connecticut, e Chicago, Illinois [13]. Finalmente, a primeira clínica geral para adolescentes foi fundada em 1952 por J. Roswell Gallagher 1 César Bergada no Hospital Infantil de Boston, Massachusetts e o primeiro programa de formação em medicina do adolescente foi iniciado neste centro [14]. A Society of Adolescent Medicine (Sociedade de Medicina do Adolescente) foi fundada em Washington, D.C. em 1968 e The Journal of Adolescent Health Care (A Revista dos Cuidados com a Saúde dos Adolescentes) se tornou, em 1980, a publicação oficial da sociedade. Alguns países organizaram, mais tarde, suas próprias sociedades nacionais de Medicina do Adolescente e a Associação Internacional para a Saúde dos Adolescentes (IAAH) foi fundada em 1970. Desde sua fundação, a IAAH tem organizado congressos internacionais a cada quatro anos em Helsinki (1974), Washington (1979), Jerusalém (1983), Sydney (1987), Montreux (1991) e em Vancouver (1995) e mantém seus associados periodicamente informados através da IAAH Newsletter. Fisiologia da puberdade Do ponto de vista físico e psicológico, a adolescência é uma das fases mais dinâmicas que os seres humanos experimentam na vida. O eixo hipotalâmicopituitário-gonadal encontra-se ativo em todos os estágios da vida. Sua atividade começa precocemente na vida fetal. Diminui durante a infância para sofrer reativação na puberdade, quando aumenta a secreção das gonadotrofinas e esteróides sexuais gonadais, induzindo ao desenvolvimento sexual [15]. Regulação hormonal do desenvolvimento sexual Durante a diferenciação embriônica precoce, as células que serão responsáveis pela secreção do hormônio que libera gonadotrofinas (Gn-RH), migram da placa olfativa para o hipotálamo anterior [16]. Aproximadamente na 10a semana de idade fetal, as Gn-RH estimulam a pituitária. Em resposta, ela libera LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio estimulador de folículos), que, por sua vez, induzem à secreção de esteróides gonadais. A função máxima da pituitária é observada na metade da vida fetal seguida de uma inibição acentuada por esteróides placentários logo antes do nascimento. Há um leve aumento na função da pituitária, imediatamente após o parto, quando os efeitos inibitórios dos esteróides 2 placentários cessam. As gonadotrofinas em circulação aumentam, subseqüentemente, durante os primeiros 6 meses, aproximadamente, da vida pósnatal em meninos e 2 anos em meninas. A partir dessas idades, o eixo hipotalâmico-pituitário-gonadal é regulado em sentido descendente por um mecanismo inibidor intrínseco do sistema nervoso central até que fatores neuro-endócrinos e metabólicos não identificados deslanchem o início da puberdade pela ativação do eixo hipotalâmicopituitário-gonadal [17]. O primeiro sinal bioquímico de ativação é o aumento noturno de pulsos de LH. A maior pulsatilidade de LH induz alterações endócrinas que levam ao surgimento dos primeiros sinais clínicos do começo da puberdade, isto é, o desenvolvimento de pêlos púbicos e seios em meninas e o aumento do volume testicular em meninos. A elevação dos níveis de circulação de esteróides sexuais, portanto, ocorre antes do aparecimento das características sexuais externas. Isto é de interesse porque algumas das atitudes comportamentais iniciais associadas com a puberdade, tais como alterações em caráter, atitudes, desejos, motivações etc., que são costumeiramente atribuídas a alterações na imagem do corpo, podem ser causadas pela secreção incrementada de esteróide sexual, especialmente testosterona. Alguns pesquisadores acreditam que a inquietação acentuada e as atitudes e comportamentos sociais e até sexuais incontroláveis observados em meninos sexualmente precoces (< 9 anos) podem ser explicados por níveis elevados de testosterona no sangue [18]. No meio do período da puberdade, os testículos e ovários normalmente segregam androgênios e estrogênios em taxas variáveis. Um aumento de androgênios, mesmo dentro da faixa normal, está associado com o desenvolvimento de acne e hirsutismo brando em meninas, enquanto que um aumento de estrogênios pode causar ginecomastia em meninos. Alguns médicos clínicos acreditam que o desequilíbrio na secreção hormonal esteja associada a papéis sexuais divergentes na adolescência, os quais, se não tratados oportunamente, serão difíceis de se tratar em estágios posteriores. Este período tem sido considerado por alguns como um período homossexual transitório durante a adolescência. Todavia, o comportamento sexual durante este peAnais Nestlé 1998;55:1-8 A puberdade e a medicina do adolescente ríodo não prevê a orientação sexual futura. Embora, em certos casos, a etiologia da homossexualidade permaneça pouco clara, considera-se que a identidade sexual de um adolescente também poderia ser determinada, em parte, pelo ambiente familiar e tornada evidente na puberdade. A identidade homossexual pode causar sérios problemas psicológicos a alguns adolescentes como resultado de falta de informação e insegurança pessoal. Muitos jovens “gays” e lésbicas têm consciência de sua sexualidade, pela primeira vez, durante a adolescência. A insegurança associada à adolescência é, freqüentemente, agravada pela rejeição social ou hostilidade dos adolescentes heterossexuais contra os homossexuais. De modo semelhante, muitos adolescentes heterossexuais sentem-se desconfortáveis com as novas sensações sexuais por não compreenderem as alterações físicas normais e/ou uma estrutura social que não oferece nenhum apoio. Portanto, os pediatras que se interessam pelos adolescentes devem estar conscientes de que muitos adolescentes se preocupam seriamente com seu desenvolvimento sexual. Como muitas pessoas jovens se tornam sexualmente ativas durante a adolescência, devem receber informações em tempo oportuno, precisas e corretas relativamente à vida sexual e sua relação com a sua saúde e bem-estar [19]. Retardamento constitucional da puberdade O retardamento constitucional do início da puberdade é uma razão muito freqüente de consulta por parte do adolescente (14 e 16 anos de idade) e de seus pais. Embora a idade do início da puberdade varie, o início retardado das mudanças da puberdade e do impulso de crescimento preocupa, freqüentemente, um grande número de adolescentes, especialmente os meninos, por causa da dimensão social dos retardamentos percebidos. Alguns dos que percebem que seu desenvolvimento é anormal começam a ter problemas na escola, param de participar dos esportes, não desejam mais participar de eventos sociais etc. Os pediatras e médicos da família devem ter consciência das causas e conseqüências dos “retardamentos reais e/ou percebidos”. Se forem incapazes de cuidar desses casos, os adolescentes deverão ser encaminhados a um endocrinologista pediatra ou a Anais Nestlé 1998;55:1-8 um especialista em medicina do adolescente, capaz de avaliar o desenvolvimento da puberdade do paciente, explicar os mecanismos fisiológicos da puberdade e descrever sua variação normal. A maioria dos pacientes que sofre de retardamento do início da puberdade aparece na clínica com a mãe, pai ou com ambos. Entretanto, o médico deve ter uma entrevista com o adolescente. Com a altura e peso efetivos projetados em gráficos de crescimento e peso e com os raios-x da idade óssea nas mãos, será mais fácil dar ao adolescente todas as informações necessárias e fazer o prognóstico do início do desenvolvimento sexual, da idade provável da menarca para as meninas e, o que é mais importante, indicar um tempo aproximado para o impulso de crescimento, bem como a altura aproximada de adulto. A maioria das meninas com puberdade retardada aceita a explicação oferecida, especialmente quando se pode dar datas aproximadas de quando tais processos começarão a ocorrer. Inversamente, os meninos são mais difíceis de se levar, porque a maioria deles fica bastante perturbada com o seu infantilismo sexual e baixa estatura. Comumente, os meninos procuram ajuda clínica porque a velocidade do seu crescimento não aumentou significativamente, enquanto seus companheiros estão crescendo mais rápido do que eles. Freqüentemente, os meninos mostram uma considerável diferença na altura de um ano para o outro. Habitualmente, não mencionam sua principal preocupação, isto é, o fato de serem mais baixos do que os colegas de escola e de serem ridicularizados , muitas vezes pelos companheiros que os chamam de “anões” ou “pigmeus”. Deve-se assegurar a tais pacientes de que a presente situação é temporária. Deve-se dar a eles uma data aproximada para o início do seu impulso de crescimento com base no volume testicular e idade óssea e uma estimativa da altura final de adulto. Alguns meninos com puberdade retardada também se preocupam bastante com seu infantilismo sexual. Esta preocupação, muitas vezes, leva-os a abandonar as atividades esportivas porque não querem se despir na presença de companheiros sexualmente mais maduros. Além do mais, eles freqüentemente se retraem de muitas atividades sociais, tais como dançar, por causa de sua baixa estatura e rosto e voz menos maduros. Novamente, 3 César Bergada devem ser informados que estas condições são temporárias e que uma altura final normal pode depender de um desenvolvimento sexual mais vagaroso do que o de seus companheiros. Muitos desses meninos relatam excelentes habilidades atléticas, todavia, como conseqüência de seu desenvolvimento retardado, se vêem menores e mais fracos do que seus companheiros de time e, portanto, decidem parar com as atividades atléticas. Alguns reagem fazendo esforços para obter um melhor desenvolvimento físico. Fazem exercícios estrênuos no ginásio, duas a três horas por dia, empregando pesos pesados para estimular o desenvolvimento muscular. Os médicos devem informá-los que tais esforços terão resultados muito limitados devido a uma falta transitória de testosterona suficiente para estimular o crescimento da massa muscular. Uma metáfora útil é comparar seus esforços a um homem que deseja movimentar um carro empurrando-o sem que o carro tenha gasolina; ele será capaz de movimentar o carro, mas vagarosamente. Ligar o motor seria melhor, mas isto é impossível sem gasolina e de certo modo, a testosterona é a gasolina requerida pelos músculos para que se desenvolvam quando estimulados pelo exercício. O mecanismo hormonal do surto de crescimento pubertário Rose et al. [20] e Martha et al. [21] mostraram que a secreção do hormônio do crescimento (GH) aumenta durante a puberdade mais cedo nas meninas do que nos meninos. O aumento na secreção de GH na puberdade depende dos esteróides sexuais, porém, ambos os esteróides sexuais e o GH são determinantes importantes do impulso de crescimento do adolescente. O GH desempenha um papel direto no estímulo do crescimento ósseo. Todavia, a maioria dos efeitos do GH no desenvolvimento ósseo e crescimento linear é mediada pelo estímulo na produção e secreção do fator de crescimento insulino-mimético do tipo I (IGF-I), basicamente sintetizado no fígado. O IGF-I aumenta significativamente durante o desenvolvimento pubertário [22]. Meninos com puberdade retardada constitucional e baixa estatura secretam baixos níveis de GH enquanto for baixa a velocidade do crescimento [23]. 4 A administração de testosterona exógena aumenta a secreção de GH [24], os níveis de soro de IGF-I [25] e a taxa de crescimento [26]. Além disso, Stanhope et al. [27] demonstraram o efeito da testosterona endógena na secreção de GH aplicando uma injeção ritmada de Gn-RH a pacientes hipogonadais hipogonadotrópicos com desenvolvimento testicular insuficiente. A secreção de gonadotrofina foi aumentada e, subseqüentemente, também aumentou o tamanho dos testículos com uma elevação progressiva na testosterona do soro, que, por sua vez, induziu a produção de GH e, por fim, a aceleração da taxa de crescimento. Uma outra demonstração do papel do IGF-I é oferecida pelo estudo de Merimee et al. sobre pigmeus, que não são capazes de produzir IGF-I . Quando meninos pigmeus atingem a idade da puberdade, eles têm um desenvolvimento sexual normal com níveis séricos adequados de testosterona que estimulam a secreção de GH, porém, o impulso de crescimento próprio da puberdade não ocorre porque não têm nenhum IGF-I para estimular o crescimento; conseqüentemente, sua estatura final se mantém reduzida[28]. Os médicos que tratam de adolescentes devem compreender o mecanismo hormonal do impulso de crescimento próprio da puberdade e ser capazes de explicá-lo aos meninos com puberdade retardada e baixa estatura e aos seus pais. Eles devem convencer esses meninos de que o seu desenvolvimento é uma variante da normalidade e que eles começarão o seu desenvolvimento sexual mais tarde e crescerão normalmente. Deve-se assegurar aos pacientes que atingirão a altura de seus amigos e que, provavelmente, a ultrapassarão e terminarão com uma altura final normal. A maioria aceita a explicação, todavia, aqueles que estão muito preocupados com a sua aparência física não querem esperar e exigem um tratamento urgente. Demonstramos, recentemente, que o tratamento com doses baixas de testosterona em meninos com retardamento constitucional de crescimento e puberdade é útil para melhorar a sua velocidade de crescimento e desenvolvimento sexual sem prejuízo da altura final prevista [29]. Em todos os casos, é importante considerar os problemas sociais, econômicos, culturais e de saúde apresentados Anais Nestlé 1998;55:1-8 A puberdade e a medicina do adolescente por cada paciente e administrá-los da maneira apropriada. Pediatras e a medicina do adolescente Até a metade deste século pouca coisa foi feita para os adolescentes pelos pediatras que costumavam tratar crianças até a ocasião em que iniciavam a puberdade. Por outro lado, os médicos de adultos sabiam muito pouco sobre a adolescência e a maioria não queria tratar meninos e meninas. A situação era pior para as meninas na puberdade que precisassem de exame ginecológico. Os adolescentes, na verdade, não pertenciam a ninguém e os hospitais infantis, até cerca de trinta anos atrás, não os admitiam. Como consultor da Organização Pan-americana de Saúde em 1974, visitei, pessoalmente, alguns hospitais infantis na América Latina e constatei que, em alguns, os médicos tratavam pacientes somente até a idade de 12 anos e, em outros, até a idade de 14 anos. A criação de clínicas para adolescentes em hospitais infantis nos Estados Unidos, no início da década de 50 e alguns anos mais tarde, no México, Argentina e Peru, rapidamente comprovou a necessidade de se desenvolver uma nova especialidade representada pela medicina do adolescente. Embora a maioria dos pediatras, naqueles anos, tratasse apenas de crianças na pré-puberdade, alguns passaram a se interessar pela medicina do adolescente. Freqüentemente é mais fácil para os pediatras do que para os clínicos gerais tratar os adolescentes porque, na maioria dos casos, os pediatras conhecem melhor a situação familiar e ao iniciar a puberdade dos seus pacientes, compreendem os problemas anteriores e detectam os novos que podem afetar os seus pacientes. À medida em que a medicina do adolescente se aprimorava, um número crescente de pediatras se conscientizava da sua importância. Conseqüentemente, clínicas para adolescentes nas áreas da psicopatologia, ginecologia, nutrição etc. foram fundadas, não apenas em hospitais infantis, mas também em departamentos de adolescentes em hospitais infantis. Por esta razão, o tratamento médico do adolescente portador de doenças crônicas ou agudas é agora controlado razoavelmente bem por especialistas em medicina do adolescente. Anais Nestlé 1998;55:1-8 Problemas sociais na adolescência Durante os últimos anos, a medicina do adolescente começou a lidar com alguns problemas sociais enfrentados pelos jovens, tais como o fumo, álcool e consumo de drogas, resistência inadequada ao “stress” e adversidade, bem como doenças transmitidas sexualmente. Todos esses problemas se tornaram cada vez mais importantes praticamente em todo lugar [30, 32]. Nos Estados Unidos, tais problemas têm recebido maior atenção nos últimos anos. De fato, o álcool é a droga psicoativa mais amplamente usada entre os adolescentes [32] e o início do uso de cigarro (nas idades ≤ 11) tem aumentado rapidamente, especialmente entre as meninas. Quase a metade dos adolescentes já consumiu uma droga ilícita antes de concluir a escola secundária e 25% não se contentaram apenas com a maconha [30]. Além do mais, aproximadamente metade dos acidentes fatais com veículos motorizados e homicídios, bem como uma proporção substancial de suicídios entre adolescentes, estão associadas com o consumo de álcool e outras drogas [33]. A elevada incidência de adolescentes afetados por doenças transmitidas sexualmente também foi ressaltada. Um total estimado de 3 a 6 milhões de casos dessas doenças ocorre em adolescentes a cada ano nos Estados Unidos. Intervenções preventivas que abordem as necessidades específicas de cuidados com a saúde, educacionais e de redução de risco dos adolescentes são de importância básica. As recentes Diretrizes da Associação Médica Americana (AMA) para Medicina Preventiva dos Adolescentes (GAPS): Recomendações e Análise Racional oferecem sugestões práticas para a condução desses e outros aspectos dos cuidados com a saúde dos adolescentes [34]. Um assunto médico bem comum, tal como a nutrição adequada para um crescimento e desenvolvimento da puberdade apropriados, tornou-se um problema obsessivo para muitos adolescentes, cuja maior consciência de sua aparência física causa insatisfação com o peso e a imagem física do seu corpo [35, 36]. Em 1989 um relatório da Saúde do Jovem da América [37] mencionou que 61% das meninas adolescentes e 28% dos meninos adolescentes se submetem a um regime. Um regime excessivo e perda de peso inapropriada em meninas geralmente 5 César Bergada interferem no crescimento normal e nos ciclos menstruais. A maioria de tais adolescentes não tem um peso excessivo. Muitos deles se preocupam com a localização de gordura subcutânea em seus quadris, coxas, cintura e nádegas. A maioria das meninas com tais preocupações fazem regime sem supervisão médica. Elas começam dispensando o café da manhã ou o almoço, prolongando o jejum. Muitas vezes, tomam diurético, laxativos e supressores do apetite e acabam tendo inesperados problemas de saúde secundários. Uma preocupação inapropriada com o peso e regimes deficientes podem ser fatores que criam uma predisposição para distúrbios alimentares mais sérios, tais como a anorexia nervosa e a bulimia, com todas as seqüelas psicológicas, ginecológicas e metabólicas associadas a tais condições [38]. Os médicos também têm de lidar com um outro transtorno do comportamento alimentar bem comum, isto é, algumas formas de obesidade. Um peso excessivo em meninos e meninas na puberdade não apenas causa problemas psicológicos importantes que afetam as atividades sociais, educacionais e esportivas, mas também é um fator de predisposição para a hipertensão e nível de colesterol elevado com um risco maior de doenças cardiovasculares mais tarde na idade adulta [39, 40]. A ingestão excessiva de alimentos, modos de vida sedentários, tempo excessivo consagrado à televisão e atividades físicas insuficientes encontram-se entre as principais causas da obesidade na infância e adolescência. Os pediatras devem ter consciência dessa situação e educar as crianças quanto às necessidades nutricionais. Devem ajudar as crianças com excesso de peso a administrar o seu peso antes do início da puberdade. Um peso excessivo que permaneça após a idade de 12 anos aumenta, substancialmente, as chances de obesidade na idade adulta [41]. A relação entre o peso excessivo durante a adolescência e as realizações educacionais subsequentes, estado civil, renda familiar e auto-estima em 370 pacientes obesos com idades de 16 a 24 anos foram estudadas por Gortmaker et al. [42]. Estes autores concluíram, após um acompanhamento de sete anos, que esta condição teve importante impacto negativo tanto social quanto econômico, muito su6 perior ao da maioria de outras doenças crônicas. Praticamente, todos os adolescentes são muito sensíveis quanto à imagem corporal e os adolescentes gordos são especialmente vulneráveis à discriminação social [36]. Os médicos devem ver e falar com esses adolescentes sem a presença de seus pais, conduzindo um diálogo privado, mesmo nas idades de 10 anos ou menos. Comumente, quando sozinhas, as crianças se tornam mais amigáveis, abertas, receptivas e cooperativas do que na presença de seus pais. Um aconselhamento adequado e um regime corretamente balanceado, e não regimes comerciais mirabolantes, devem ser prescritos, com uma verificação periódica do peso. Não se deve administrar nenhuma droga para a redução de peso. Esses pacientes devem ser informados que ao modificarem o corpo para atingirem a forma física final na puberdade estarão desenvolvendo a personalidade, a autoconfiança e o autocontrole. Por conseguinte, seus esforços não são apenas direcionados aos aspectos físicos mas também à formação da própria personalidade [43]. Conseqüentemente, é importante formar os pediatras em medicina do adolescente, restruturar as estratégias educacionais tradicionais para que atinjam seu objetivo e criar clínicas interdisciplinares especializadas em medicina para o adolescente, seja para pacientes hospitalizados, seja para pacientes ambulatoriais, ampliando para 16 anos a idade da hospitalização em tais clínicas e até 19 anos para os pacientes que queiram fazer consultas. 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Anais Nestlé 1998;55:1-8 Crescimento e mineralização do esqueleto durante a puberdade e a adolescência: regulação nutricional e hormonal Antonio Carrascosa, Miguel Gussinyé Pediatric Service, Hospital Universitário Materno-Infantil Vall d’Hebron Autonomous University of Barcelona, Barcelona, Espanha Introdução O crescimento e mineralização do tecido esquelético são dois processos que têm lugar durante o desenvolvimento humano fetal e pós-natal. A cartilagem de crescimento e o osso são os alvos de tais processos, em cuja regulação os fatores genéticos [1-3], racial [4-7], hormonal (endócrino e autócrino) [1, 812] e nutricional [1, 13-16] desempenham papéis importantes. A cartilagem de crescimento, em estreito contato com o osso mineralizado é responsável pelo crescimento ósseo através do processo de ossificação endocondral. A cartilagem praticamente desaparece quando os adolescentes atingem as idades ósseas de, aproximadamente, 16 anos em meninas e 18 anos em meninos. O osso, ao contrário de outros tecidos, possui diversos mecanismos enzimáticos que permitem a mineralização de sua matriz celular e sua transformação em uma estrutura dura, firme e adequada para suportar o organismo. O osso também desempenha um papel metabólico importante na regulação e homeostase do cálcio plasmático e de outros elementos inorgânicos, bem como aloja a medula óssea, o local principal dos elementos formadores do sangue. O desempenho e a manutenção dessas funções requerem a interação adequada entre os diferentes tipos de células ósseas no processo da neoformação e mineralização subseqüente da matriz extracelular Anais Nestlé 1998;55:9-17 que está sujeita à remodelagem constante devido ao equilíbrio entre a aposição e a reabsorção ósseas. O resultado do equilíbrio desses processos é a quantidade de mineral depositado na matriz extracelular [8]. A mineralização da matriz começa na vida fetal e continua durante a infância e adolescência e o processo se estabiliza na idade adulta por volta de 21-25 anos. O conteúdo total de cálcio no esqueleto do corpo passa de 30 gramas no neonato para 1.200 gramas no adulto e o fósforo aumenta de 17 gramas para 700 gramas [17]. A relação entre o teor total de minerais dos ossos e a osteoporose tem suscitado um interesse crescente no estudo do crescimento do esqueleto e das taxas de mineralização durante a infância e a adolescência, uma vez que estes são os períodos da vida em que a maior parte da massa óssea se acumula. Conseqüentemente, o conhecimento dos padrões normais de mineralização em crianças e adolescentes é necessário para a identificação precoce das populações pediátricas de risco e elaboração de protocolos terapêuticos para evitar o desenvolvimento ulterior da osteoporose [18]. O esqueleto não é homogêneo. Dois componentes bem diferenciados podem ser distinguidos: (i) o osso cortical mais compacto, que representa 80% da massa óssea total e (ii) o osso trabecular ou esponjoso, que constitui os 20% restantes. O osso trabecular está localizado, principalmente, no esqueleto axial. Como sua renovação é mais rápida, ele é mais sensível às 9 Antonio Carrascosa, Miguel Gussinyé alterações do teor de minerais do que o osso cortical [19]. Assim, estudos não invasivos do teor de minerais dos ossos se concentram em ossos como os corpos vertebrais, constituídos principalmente de ossos trabeculares. Características do crescimento pubertário Os fatores nutricionais, hormonais e fatores de crescimento locais são os principais agentes reguladores do crescimento do esqueleto e da mineralização óssea ao longo de toda a vida. Durante o desenvolvimento na puberdade e coincidindo com o aumento na secreção de esteróides gonadais, ela mesma secundária à alteração no padrão de secreção de gonadotrofina, a taxa de desenvolvimento prépuberal altera-se de forma impressionante. Ela se acelera durante o primeiro ano e metade da puberdade e, em seguida, diminui a velocidade progressivamente, pelos três anos seguintes, dando origem ao assim chamado surto de crescimento pubertário. A velocidade máxima do crescimento pubertário varia amplamente entre os indivíduos durante um breve período de tempo de seis meses aproximadamente, com uma média de 9,5 cm/ano nos meninos e 8,5 cm/ ano nas meninas. Durante a fase de aceleração do surto de crescimento pubertário, os meninos ganham de 13 a 15 cm em altura e as meninas, 11 cm. O aumento de altura restante, aproximadamente 1315 cm nos meninos e 14 cm nas meninas, ocorre no curso dos três anos subseqüentes de desaceleração progressiva do crescimento [20]. O surto de crescimento pubertário está relacionado com a secreção de esteróides gonadais. Nos meninos, ele começa quando o volume testicular atinge cerca de 4 ml, sendo que o pico de crescimento é atingido quando o volume testicular atinge cerca de 15 ml e o desenvolvimento genital se encontra entre os estágios III e IV de Tanner. Nas meninas, tem início logo antes do surgimento dos seios, e o pico do crescimento pubertário é atingido no estágio III do desenvolvimento mamário [11, 20] (Figura 1). O crescimento do esqueleto se faz pela ossificação endocondral da cartilagem do crescimento através da ossificação endocondral. Requer a proliferação celular, a síntese da matriz e sua mineralização. O crescimento 10 G1 G2 G3 G4 G5 Estágios da puberdade nos meninos. Valores relativos IGF-I GH Testosterona S1 S2 S3 S4 S5 Estágios da puberdade nas meninas. Valores relativos IGF-I GH Estradiol Figura 1 – Relação entre a velocidade do crescimento (cm/ ano), estágios de maturação de Tanner e níveis plasmáticos de GH, IGF-I e esteróides gonadais (em relação aos valores máximos atingidos) durante o desenvolvimento normal da puberdade. ósseo resulta da progressão harmoniosa desses três processos. A proliferação celular e a síntese da matriz predominam durante a fase de aceleração do crescimento pubertário. Durante a fase de desaceleração e particularmente quando se aproxima o fim do crescimento, a proliferação celular e a síntese da matriz diminuem progressivamente e a mineralização da matriz aumenta até que a cartilagem de crescimento tenha desaparecido [11, 12]. Anais Nestlé 1998;55:9-17 Crescimento e mineralização do esqueleto durante a puberdade e a adolescência: regulação nutricional e hormonal Regulação hormonal do crescimento pubertário As alterações no padrão de resposta da cartilagem de crescimento durante o desenvolvimento pubertário estão relacionadas com as alterações iniciadas pela secreção aumentada de gonadotrofinas. As modificações endócrinas induzidas pelo aumento em gonadotrofinas afetam principalmente a secreção do hormônio do crescimento (GH) e dos esteróides gonadais. Também têm sido descritas alterações menos importantes na secreção de hormônios tireóideos juntamente com um aumento nos níveis plasmáticos de 1,25-(OH)2 vitamina D. Hormônio do crescimento e fator de crescimento insulino-mimético do tipo I Um aumento na quantidade de GH circulante coincide com o início do desenvolvimento pubertário. Este processo está relacionado com um aumento na intensidade dos impulsos secretórios e não do seu número. Os valores máximos de GH em circulação no plasma são atingidos nos estágios III-IV do desenvolvimento pubertário de Tanner e diminuem mais tarde para níveis ainda mais baixos do que os que ocorrem durante o desenvolvimento pré-puberal [21, 22]. Desde que Daughaday postulou em 1956 a existência de um mensageiro peptídeo [23], aceitou-se que o GH não age diretamente sobre a cartilagem do crescimento para promover o crescimento, mas age através de um fator chamado somatomedina que é sintetizado principalmente no fígado. Este peptídio foi caracterizado e denominado fator de crescimento insulino-mimético do tipo I (IGF-I). O IGF-I é sintetizado em numerosos tecidos, inclusive na cartilagem do crescimento e no osso onde exerce seus efeitos biológicos [23, 29]. Simultaneamente, Isaksson et al. mostraram que o hormônio do crescimento age diretamente sobre a cartilagem do crescimento onde, entre outros efeitos, promove a síntese local de IGF-I [24]. Conseqüentemente, o IGF-I é um fator de secreção endócrino e autócrino, embora a contribuição de cada mecanismo na promoção do crescimento puAnais Nestlé 1998;55:9-17 bertário ainda tenha que ser definido. [23]. O aumento dos níveis plasmáticos de GH implica em aumento dos níveis de IGF-I do plasma (Figura 1) e de uma de suas proteínas de ligação conhecida como IGFBP-3 [25]. Entretanto, não foram relatadas quaisquer diferenças nos níveis plasmáticos da proteína de ligação do GH durante o desenvolvimento pubertário [25, 26]. Isto sugere maior biodisponibilidade de GH e IGF-I nos tecidos alvos durante a puberdade [23, 24, 27, 28]. Esteróides Gonadais Um evento que marca o início do desenvolvimento pubertário é, sem dúvida, o aumento progressivo da secreção de esteróides gonadais como conseqüência da maturação gonadal sob o efeito da gonadotrofina. Efetivamente, os baixos níveis plasmáticos dos esteróides gonadais – testosterona em meninos e estradiol em meninas – característicos do desenvolvimento pré-puberal, aumentam constante e continuamente durante a puberdade até que sejam atingidos os níveis adultos. Nos meninos estes valores são atingidos no final do processo de crescimento e nas meninas no começo da menarca, quando a maior parte da altura da idade adulta foi alcançada. O padrão de secreção dos esteróides gonadais difere daquele do GH e do IGF-I. Os valores plasmáticos baixos coincidem com a aceleração do crescimento pubertário e os valores plasmáticos elevados com a desaceleração progressiva [11]. Cartilagem do crescimento, um órgão alvo para a ação hormonal Nos últimos anos, estudos experimentais in vivo e culturas de células in vitro mostraram que a cartilagem do crescimento é um alvo para vários hormônios e fatores de crescimento. O GH estimula a cartilagem do crescimento, a proliferação e diferenciação celular e a síntese da matriz extracelular [12, 14], juntamente com a síntese de IGF-I [23, 24]. Os condrócitos humanos fetais e pós-natais sintetizam múltiplos fatores de crescimento, inclusive a proteína IGFBP-3 [27, 28]. Estes fatores, particularmente o IGF-I, estimulam a proliferação e diferenciação 11 Antonio Carrascosa, Miguel Gussinyé celular [27, 29]. Pesquisas estão em curso para tentar descobrir se a maior biodisponibilidade do GH na cartilagem do crescimento induz a um aumento dos níveis locais de IGF-I e IGFBP-3 e se estas alterações, juntamente com outros fatores desconhecidos, são responsáveis pelo aumento na taxa da proliferação e diferenciação celular durante a puberdade. A este respeito, uma estreita relação foi observada entre os níveis plasmáticos aumentados de GH e IGF-I, sua maior biodisponibilidade na cartilagem do crescimento e a aceleração do crescimento pubertário. Inversamente, a diminuição de seus níveis plasmáticos e menor biodisponibilidade ao nível da cartilagem do crescimento correspondem à fase de desaceleração do crescimento pubertário. A cartilagem do crescimento também é um alvo para a ação dos esteróides gonadais. Os androgênios estimulam a proliferação, a diferenciação e a mineralização da matriz [30, 31]. Os estrogênios, ao contrário, estimulam a diferenciação e a mineralização da matriz [31] mas inibem a proliferação celular [33]. Os androgênios estimulam principalmente o crescimento da cartilagem e os estrogênios, sua mineralização. Ambos são mais agentes estimulantes da maturação do que estimuladores do crescimento. Implicações clínicas das alterações nas secreções hormonais no curso do desenvolvimento pubertário Os esteróides gonadais, o GH e o IGF-I desempenham papéis complementares na regulação do crescimento pubertário, uma vez que existe um ”tempo” para a sua ação sinérgica no processo da ossificação endocondral, acelerando, primeiramente, a proliferação celular e a síntese da matriz e, em seguida, estimulando a mineralização da matriz. O crescimento pubertário adequado requer, pois, um equilíbrio “no tempo” do GH, IGF-I e ação dos esteróides gonadais, o que sugere que um retardamento do crescimento no curso do desenvolvimento pubertário poderia ser conseqüência de um desequilibro na sincronização da ação desses fatores hormonais. 12 De fato, Aynsley-Green et al. reconheceram, em 1976, que a altura ganha durante o crescimento pubertário diminuiu em crianças com déficit isolado de GH nas quais o tratamento com GH havia sido suspenso devido à falta do hormônio [34]. Uma resistência periférica ao hormônio do crescimento, como na síndrome de Laron [35], tem a mesma conseqüência. Uma secreção de GH insuficiente durante o desenvolvimento precoce da puberdade [36, 37] ou o déficit de IGF-I na puberdade observado em pigmeus [38] também resulta em um ganho de altura reduzido na puberdade. Similarmente, o uso de doses excessivas de esteróides gonadais nos hipogonadismos também pode ser responsável por uma diminuição do ganho de altura durante a adolescência. Ao contrário, o tratamento com hormônio do crescimento de um déficit isolado de GH durante o desenvolvimento pubertário permite a recuperação do crescimento e um ganho normal de altura na puberdade [39]. Mineralização do esqueleto durante o desenvolvimento pubertário e adolescência A neoformação do osso é iniciada pela cartilagem do crescimento e seguida da ossificação endocondral. De fato, como os outros tecidos, o osso possui células altamente diferenciadas, mas deles difere em sua capacidade acentuada de mineralizar sua matriz. Os osteoblastos e osteoclastos são células ósseas responsáveis pela mineralização, um processo contínuo resultante do equilíbrio entre aposição e reabsorção. Este equilíbrio favorece claramente a aposição precoce na infância, durante a puberdade e a adolescência. Subseqüentemente, este processo de aposição e de reabsorção equilibra-se até que, finalmente, a reabsorção predomina, particularmente em mulheres após a menopausa. Nos últimos anos, o desenvolvimento de diferentes técnicas de densitometria óssea, cintilográficas ou radiológicas, tem facilitado a quantificação não-invasiva da massa óssea e a determinação precisa do teor de minerais do osso [18]. A absorciometria bifotônica por raios-X é a técnica de escolha em crianças devido à exposição mínima à radiação Anais Nestlé 1998;55:9-17 Crescimento e mineralização do esqueleto durante a puberdade e a adolescência: regulação nutricional e hormonal ionizante e ao tempo mais curto necessário para a realização do exame. Além disso, a absorciometria por raios-X permite o estudo dos ossos com maior teor trabecular os quais, a exemplo dos corpos vertebrais, são mais sensíveis às alterações metabólicas [18, 19]. Nas crianças, o teor mineral dos ossos dos corpos vertebrais está relacionado com o volume do corpo vertebral (isto é, com a altura do indivíduo) e a quantidade de mineral depositado na matriz. O teor de minerais dos ossos em crianças não é, portanto, um parâmetro que reflete apenas a mineralização da matriz óssea. O valor corrigido do teor mineral do osso em função do volume do corpo vertebral seria um parâmetro muito mais apropriado da mineralização da matriz. Todavia, devido à dificuldade em se avaliar corretamente o volume do corpo vertebral, o teor mineral dos ossos é corrigido segundo a superfície óssea explorada e os resultados são expressos como densidade mineral óssea em gramas de hidroxiapatita por cm2. Na prática clínica, é utilizado o teor mineral total dos ossos dos corpos vertebrais L2-L4 que é avaliado e corrigido em função da área da superfície medida [40-47]. 1.4 1.2 Hidroxiapatita (g/cm2) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 mineral ocorre na matriz do tecido ósseo durante os primeiros anos de vida e durante o desenvolvimento pubertário. Os valores da densidade mineral óssea nos corpos vertebrais L2-L4 são semelhantes em ambos os sexos, diferindo na puberdade apenas devido a um início mais precoce nas meninas; todavia, nenhuma diferença é observada quando ambos os sexos são comparados de acordo com os estágios de Tanner [40, 45-47] (Figura 2). Em segundo lugar, e isto é muito importante, o processo de mineralização do esqueleto continua além do final do aumento da altura, durante o período avançado da adolescência e até a idade de 21-25 anos. Cinqüenta por cento (50%) do aumento total da densidade mineral óssea dos corpos vertebrais L2L4 ocorrem entre os primeiros meses da vida e o início do desenvolvimento pubertário; 30% ocorrem durante o desenvolvimento pubertário e cerca de 20% entre o período avançado da adolescência e 21-25 anos, bem depois de ter cessado aumento do crescimento. [42]. Portanto, aumentos quantitativamente importantes na densidade mineral óssea ocorrem durante a transição entre os estágios maturativos III a IV de Tanner e o estágio IV de Tanner e a idade adulta [44, 45, 47] (Figura 3). 1234 1234 1234 1234 1234 1234 3 meses 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 Tanner II Tanner III Tanner IV 21 anos 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 Tanner I (10 anos) Meninos N=256 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 1234 Meninas N=215 Idades 2 0.25 Hidroxiapatita (g/cm ) 0.2 0.15 0.1 N = 26 0.05 0 123456 123456 123456 123456 123456 Tanner I-II N = 28 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 N = 23 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 Tanner II-III Tanner III-IV 1234 1234 Meninas Meninos 1234 N = 66 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 Tanner IV21 anos Figura 2 – Densidade mineral óssea (expressa em gramas de hidroxiapatita/cm2) no âmbito das vértebras lombares L2-L4 em crianças e adolescentes de ambos os sexos, em relação à idade e aos estágios da maturação de Tanner. Figura 3 - aumento da densidade mineral óssea (em gramas de hidroxiapatita/cm2) entre os diferentes estágios de maturação segundo Tanner e à idade adulta. Estas técnicas melhoraram nossa compreensão da mineralização óssea. Em primeiro lugar, o processo de mineralização do esqueleto se dá paralelamente ao aumento da altura, quando uma maior aposição Fatores de regulação da mineralização óssea Anais Nestlé 1998;55:9-17 O osso é um tecido alvo para numerosos hormônios que desempenham um papel importante na regula13 Antonio Carrascosa, Miguel Gussinyé ção da mineralização da matriz óssea. Alguns, tais como os metabólitos da vitamina D, o hormônio paratireóideo (PTH) e a calcitonina, também regulam o metabolismo fosfocálcico. Outros, tais como o hormônio do crescimento, a insulina, os hormônios tireóideos, os androgênios, estrogênios e os glicocorticóides são hormônios sistêmicos que afetam numerosas células [48-50]. Em sinergia com estes hormônios, fatores locais de crescimento identificados recentemente regulam o metabolismo das células ósseas e são responsáveis pela mineralização da matriz [51-53]. A síntese de alguns deles, tais como o IGF-I, é claramente regulada por hormônios. Entretanto, a regulação de outros, tais como o IGF-II, o fator de crescimento beta, o fator de crescimento de fibroblastos, o fator de crescimento de plaquetas, as prostaglandinas, as endotelinas e mesmo certos fatores sintetizados pelas células sangüíneas (citocinas e linfocinas) ainda não é bem conhecida. A insulina, o GH, os hormônios tireóideos, os metabólitos da vitamina D e os esteróides gonadais, juntamente com os fatores de crescimento IGF-I, IGF-II e o fator de crescimento beta, favorecem, geralmente, a neoformação óssea. O paratormônio tem um efeito duplo, favorecendo, simultaneamente, a aposição e a reabsorção ósseas. Níveis elevados de hormônios tireóideos, glicocorticóides, linfocinas, prostaglandinas e endotelinas promovem reabsorção óssea. Finalmente, os glicocorticóides inibem a neoformação óssea e a calcitonina inibe a reabsorção [48-53]. Nutrição como um fator regulador do crescimento do esqueleto e da mineralização A ingestão adequada de nutrientes durante o desenvolvimento pubertário e a adolescência é um fator essencial da expressão fenotípica do potencial genético do crescimento e mineralização do tecido ósseo. A nutrição desempenha um papel duplo. Ela interage com certos hormônios, tais como as gonadotrofinas e o GH na regulação dos esteróides gonadais e dos níveis de IGF-I, respectivamente. Por outro lado, ela proporciona a energia e nutrientes necessários ao crescimento e à mineralização do esqueleto. 14 Uma ingestão de nutrientes insuficiente inibe a secreção de gonadotrofinas e esteróides gonadais, impedindo ou retardando o início do desenvolvimento pubertário e até determinando um menor ganho de altura durante este período da vida. Observamos este fato em dois pacientes com anorexia nervosa, além de se tratar de um processo bem conhecido em adolescentes com problemas de comportamento alimentar [54]. O mesmo ocorre com as deficiências nutricionais secundárias devidas à mucoviscidose, à doença celíaca, à doença inflamatória crônica dos intestinos, e até em casos de deficiências de minerais ou oligoelementos [13, 55]. A nutrição também desempenha um papel no crescimento e mineralização do esqueleto, fornecendo a energia e os nutrientes necessários, dentre os quais, o cálcio, o fósforo e a vitamina D [14-16, 56-59]. Ingestões apropriadas de cálcio são particularmente essenciais durante as duas primeiras décadas da vida. Numerosos estudos mostraram que uma ingestão dietética suplementar de cálcio aumenta as depósitos minerais nos ossos. Uma incidência mais baixa de osteoporose na idade adulta foi relacionada com ingestão adequada de cálcio e fósforo durante a infância [56]. Mais ainda, dados obtidos com animais de experiência e em estudos clínicos em homens, mostraram que a falta de cálcio, fósforo, vitamina D e oligoelementos diminuiu a resistência óssea e aumentou a fragilidade do esqueleto [56-61]. Entretanto, o inverso permanece controvertido, isto é, não há evidência convincente de que o aumento das ingestões de cálcio além das ingestões cotidianas recomendadas confira qualquer benefício ao desenvolvimento do esqueleto. A aceleração secular do crescimento observada no curso deste século nas populações dos países desenvolvidos, sem dúvida, é devida não apenas à melhora nas condições gerais de vida, mas também à uma ingestão aprimorada de nutrientes. A diminuição progressiva da idade do início da puberdade em muitas populações é explicada da mesma maneira. A nutrição, os hormônios e os fatores locais de crescimento são os agentes reguladores sinérgicos do potencial genético do crescimento e da mineralização durante a puberdade e adolescência. Anais Nestlé 1998;55:9-17 Crescimento e mineralização do esqueleto durante a puberdade e a adolescência: regulação nutricional e hormonal A puberdade e a adolescência podem ser períodos de risco para o desenvolvimento da osteopenia? Modos de vida Busca de uma imagem corporal extremamente magra, particularmente por garotas adolescentes A osteoporose é considerada uma doença do adulto. Todavia, conforme já vimos, é no decorrer da infância e da adolescência que o capital mineral ósseo se constitui. Conseqüentemente, as deficiências nutricionais crônicas da infância e da adolescência favorecem o desenvolvimento de uma osteopenia e aceleram o aparecimento precoce da osteoporose na idade adulta. Nós e outros grupos documentamos esta osteopenia no curso da mucoviscidose [62, 63], da doença celíaca [64], da anorexia nervosa [65-69] e nos casos de utilização prolongada e indiscriminada de regimes de emagrecimento deficientes em nutrientes [70]. Uma osteopenia pode ainda ocorrer como conseqüência de necessidades nutricionais maiores não atendidas, tais como as que ocorrem no aleitamento por mães adolescentes [71, 72]. Tratamentos prolongados com corticosteróides empregados em doenças crônicas, tais como nefropatias, asma e leucemias agudas, também podem causar alterações no conteúdo mineral ósseo [73-75] e, em outras endocrinopatias, como por exemplo, o diabetes mellitus, hipogonadismos e deficiência de GH [63, 69, 76-82]. Além disso, modos de vida, tais como excesso de exercício físico, podem modificar o conteúdo mineral ósseo [83] (Tabela I). Idiopatias Displasias esqueléticas Osteoporose idiopática Imobilização prolongada Tabela I: Grupos em risco de desenvolverem osteopenia durante a puberdade e a adolescência.. Distúrbios nutricionais Síndromes de malabsorção Mucoviscidose Transtornos do comportamento alimentar (anorexia nervosa e bulimia) Regimes carentes utilizados para o tratamento ou por “medo” da obesidade Aleitamento na adolescência Distúrbios hormonais Terapia por corticóides prolongada Hipogonadismos Diabetes mellitus Deficiência de hormônio do crescimento Anais Nestlé 1998;55:9-17 Referências 1. Kaplan SA. Growth and growth hormone. In., Kaplan SA, ed. Clinical pediatric endocrinology. Philadelphia: W. B. Saunders 1990:1-62. 2. Seeman E, Hopper JL, Bach L, et al. Reduced bone mass in daughters of women with osteoperosis. N Engl J Med 1989;320:554-8. 3. Ortiz 0, Russell M, Daley TL, Baumgartner RN. Differences in skeletal muscle and bone mineral mass between black and white females and their relevance to estimates of body composition. Am J Clin Nutr 1992;55:8-13. 4. Luckey MM, Meier D, Mandeli J, et al. 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Empregando critérios estritamente clínicos [1], a predominância, entre meninas adolescentes, da anorexia nervosa é de 1% e da bulimia, 5%. A morbidez crônica desses transtornos requer que os médicos se mantenham informados sobre os avanços do seu tratamento médico e psiquiátrico. [2]. Noventa e cinco por cento (95%) dos anoréxicos são mulheres. Os critérios do diagnóstico para a anorexia nervosa incluem amenorréia, perda de peso de 15% através de regime, medo irracional da obesidade e uma distorção da imagem corporal tão acentuada que a jovem se considera gorda a despeito da sua emaciação [1]. A família poderá observar fadiga, síncopes, irritabilidade, hipotermia no paciente, além de um excesso de exercício. Alguns anoréxicos provocam o vômito. Freqüentemente, os pacientes são estudantes perfeccionistas que também procuram ser os melhores na dança ou atletismo e que competem com êxito tanto no âmbito local quanto no nacional, em ginástica, natação, mergulho, tênis ou corrida sobre pista ou “cross-country”. A maioria dos pacientes anoréxicos nega que tenha um problema. Discutem com os parentes ou médicos que os julgam magros demais. Os garotos com anorexia nervosa apresentam sintomas muito semelhantes aos das meninas, embora jamais admitam que querem perder peso. Algumas vezes, os meninos anoréxicos (e meninas na prépuberdade) vêm aos médicos queixando-se de dores abdominais como uma razão para não comer e através de um interrogatório sobre sua imagem corporal e medo de engordar é que se chega a um diagnóstico logo no início desse transtorno do comportamento alimentar subjacente. Anorexia nervosa A anorexia nervosa estendeu-se da classe média à classe trabalhadora na maioria das culturas. Está atingindo os americanos de origem africana, os hispânicos e os asiáticos. Têm sido registrados relatórios de casos de pacientes da África, Oriente Médio, Extremo Oriente, Índia e em países de língua espanhola [3]. O clínico deve não apenas levar em conta os fatores culturais, mas ter consciência que a anorexia nervosa pode aparecer em qualquer grupo etário e que as crianças de 9-10 anos podem apresentar preocupações dietéticas e vômitos autoprovocados [4, 5]. 18 Anais Nestlé 1998;55:18-23 Transtornos do comportamento alimentar na adolescência Os exames de laboratório podem mostrar baixa concentração de zinco no soro, hipercolesterolemia, hipercarotinemia, aumento da uréia no sangue, aumentos dos níveis de cortisol e de hormônio do crescimento, anemia ou leucopenia [2]. Quando do exame físico, nota-se perda da gordura subcutânea, uma penugem cutânea fina, hipotermia com intolerância ao frio, constipação, hipotensão e bradicardia. O cálculo do índice de massa corporal específico para a idade, definido como a relação entre o peso em quilos e a estatura em metros ao quadrado (P/T2) é a melhor maneira de avaliar o grau do emagrecimento. Diretrizes terapêuticas Depois de diagnosticar uma anorexia nervosa, o médico deve engajar-se na explicação aos pais e ao paciente sobre os componentes médicos e psiquiátricos da doença. É de crucial importância desenvolver uma relação de trabalho bem estreita com os pais porque a maior parte dos pacientes resiste aos tratamentos. Um plano terapêutico eficaz requer pesagens regulares e um apoio médico e psiquiátrico. Embora a maioria possa ser tratada como paciente ambulatorial, alguns requerem hospitalização. A gravidade das complicações médicas que ameaçam a vida ou comprometem a saúde pode tornar impossível o tratamento ambulatorial. Estas complicações médicas são secundárias à má nutrição proteíno-energética quando a perda de peso ultrapassa 25% do peso habitual do adolescente, dando-lhe uma aparência emaciada e caquética. Vertigens, síncopes ou episódios hipoglicêmicos podem ocorrer, com risco de desequilíbrios hidreletrolíticos com grave desidratação e arritmia cardíaca. Vômitos contínuos, bradicardia, hipotensão, hipotermia e um alongamento do intervalo QT no eletrocardiograma podem complicar o quadro [6]. Estes pacientes seriamente emaciados devem ser reequilibrados, primeiramente, em uma unidade pediátrica ou médica antes de serem transferidos para uma unidade psiquiátrica. Durante a hospitalização, é importante conquistar a confiança da família e obter sua adesão ao tratamento. Portanto, um levantamento completo sobre o uso de diuréticos, laxativos e suplementos dietéticos deve ser conduzido pela Anais Nestlé 1998;55:18-23 equipe encarregada de cuidar do adolescente que compreende, habitualmente, um clínico geral, enfermeiras, um nutricionista e um psiquiatra. O objetivo inicial é corrigir o desequilíbrio eletrolítico e a desidratação. Um plano prudente de realimentação deve ser instituído a fim de evitar uma hipofosfatemia, que poderia provocar uma “síndrome da realimentação”, algumas vezes mortal. Uma reidratação demasiado rápida pode também provocar edemas. Um ensaio clínico recente de suplementação de zinco mostrou que o aumento do índice de massa corporal foi duas vezes mais rápido em pacientes suplementados do que no grupo placebo [7]. O peso deve ser medido a cada manhã, nas mesmas condições. Se o paciente não ganhou peso após dois dias, a equipe pode recorrer a medidas mais severas e/ou a uma alimentação entérica. Mesmo com alimentação entérica, o ganho de peso pode não ser regular. O dispêndio energético de um anoréxico em repouso e em jejum é difícil de se determinar e durante a realimentação, as necessidades energéticas podem ser maiores do que o previsto [8-9]. Um regime hipercalórico pode ser necessário para que se obtenha um aumento regular de peso. As necessidades vitamínicas, de caroteno e minerais no decorrer da realimentação foram determinadas com precisão em revisões recentes [10-11]. Todo protocolo de reabilitação nutricional deve fazer parte de um plano terapêutico completo, compreendendo tratamento médico e psiquiátrico, bem como a colaboração da família. Tratamento farmacológico Recentemente foram feitos progressos no tratamento psicofarmacológico de pacientes emagrecidos, durante sua reabilitação nutricional. Os antidepressivos podem diminuir os receios do paciente de engordar, reduzir suas práticas rituais e tratar sua depressão subjacente. Os medicamentos não podem, todavia, substituir a terapêutica individual e familiar. Em compensação, os antidepressivos podem auxiliar o paciente a aceitar um aumento de peso progressivo [12, 13]. Os inibidores seletivos da reabsorção da serotonina (fluoxetina, sertralina e paroxetina) parecem produzir o menor grau de efeitos secundários nestes 19 Michael J. Maloney pacientes. Estas drogas diminuem as obsessões por alimentos, os rituais que envolvem os exercícios e a depressão. Logo no início do tratamento hospitalar, um objetivo para o peso deve ser fixado e os suplementos alimentares devem ser interrompidos antes da alta hospitalar, devendo o paciente ser capaz de se alimentar, normalmente, alguns dias antes da alta. Idealmente, o paciente deveria ser capaz de comer sem alimentações suplementares durante alguns dias antes de sua saída. A família deve consentir neste projeto terapêutico, compreendendo as pesagens regulares, bem como encontros para uma psicoterapia individual e familiar. Os critérios de re-hospitalização devem ficar claros para o paciente, a família e a equipe médica. Tratamento ambulatorial bem sucedido Os anoréxicos (e sua família) precisam de um tratamento ambulatorial intensivo, sendo que a mortalidade chega a 15% neste distúrbio, segundo estatísticas recentes. Pesagens freqüentes e sessões semanais de psicoterapia são necessárias. Os pais precisam de conselhos para a organização das refeições de seu filho para decidir sobre o momento em que poderá voltar aos exercícios. No começo, também será necessário limitar os exercícios físicos a um máximo de 30 minutos por dia, até que a restauração do peso permita à equipe médica autorizar o adolescente a retomar normalmente os esportes. Entretanto, a maior parte dos anoréxicos aceita mal este retorno progressivo a uma atividade física normal, não sendo raro ouvi-los dizer: “Não cabe a você me dizer quanto exercício devo fazer.” Na verdade, é papel e responsabilidade da família e da equipe médica fixar os limites da atividade e da alimentação. Estes aspectos do tratamento devem ser bem explicados aos pacientes, principalmente o fato de que é perigoso fazer duas horas por dia de exercício físico imediatamente após a saída do hospital. Certos pais têm dificuldades em se opor à filha anoréxica porque não querem contrariá-la. A equipe médica deve ajudá-los para que eles não pensem que são maus pais. Estabelecendo, antecipadamente, o peso a ser atingido antes de um retorno a um exercício físico normal, a equipe médica pode ajudar os pais hesitantes a fazê20 lo. Decididamente, o tratamento da anorexia nervosa é um processo freqüentemente longo e frustrante. Alguns pacientes requerem uma re-hospitalização, sendo importante que a equipe médica permaneça, do começo até o fim, disponível e atenta aos pacientes e suas famílias. Com determinação e coordenação, uma recuperação completa é possível, mesmo que o tratamento leve anos. Bulimia Bulimia significa, literalmente, “fome de boi”. Esta síndrome (algumas vezes denominada bulimia nervosa) compreende episódios repetidos de ingestões excessivas de alimentos, contrabalançados por vômitos, abuso de laxativos, diuréticos, ipeca ou de uma atividade física intensa. Pode-se observar flutuações do peso, mas os pacientes têm, habitualmente, um peso normal. É útil pensar nesta síndrome como “bulimia de peso normal”, já que estes pacientes não apresentam perda de peso nem distorção da imagem corporal como na anorexia nervosa. A bulimia é mais freqüente do que a anorexia, com uma predominância próxima de 5% nos estudantes [14], 90% dos quais do sexo feminino. Em comparação com os anoréxicos, que são grandes perfeccionistas, os que sofrem de bulimia apresentam, freqüentemente, comportamentos impulsivos, compreendendo o consumo de álcool e drogas, a prática de furtos e as tentativas de suicídio. As jovens que sofrem de bulimia são mais extrovertidas, habitualmente têm namorados e são sexualmente ativas. Além disso, tendem a melhor expressar seus problemas durante as sessões de psicoterapia. Observamos que algumas pacientes iniciam com uma anorexia nervosa e desenvolvem, em seguida, uma bulimia. Outras começam com bulimia e passam, em seguida, para a anorexia nervosa. Fatores genéticos O estudo de gêmeos sugeriu um certo papel da hereditariedade na origem dos problemas do comportamento alimentar. As taxas de concordância são muito mais elevadas em gêmeos monozigóticos do que em gêmeos dizigóticos [15, 16]. Além disso, Anais Nestlé 1998;55:18-23 Transtornos do comportamento alimentar na adolescência encontram-se em curso pesquisas sobre a relação entre os transtornos do comportamento alimentar e os estados depressivos, principalmente sobre as possibilidades da passagem de um estado para o outro. A incidência de depressões é, com efeito, elevada nos pacientes que sofrem de bulimia e anorexia, se bem que, até hoje, não se comprovou qualquer elo causal. Abusos sexuais na infância e consumo de drogas Os pacientes que sofrem de bulimia reconhecem, voluntariamente, que fazem uso de drogas leves e que abusam do álcool. Em um artigo recente, mostrou-se uma relação mais forte entre a bulimia e o uso de drogas do que entre a bulimia e o abuso dessas drogas, tendo os pacientes com bulimia tendência a usar e não a abusar das drogas leves. Da mesma maneira, os anoréxicos que vomitam usam drogas mais freqüentemente do que os que se restrigem [18]. A estimativa da freqüência ou até mesmo da ocorrência real de abusos sexuais na infância de pacientes com bulimia situa-se num campo ainda vago da pesquisa. As pesquisas padecem, na realidade, da imprecisão das definições do abuso sexual de crianças e da dificuldade de se medir sua gravidade. Por exemplo, certos estudos não determinam com precisão se a vítima sofreu abuso por um membro da família, nem o grau de parentesco do culpado. Um estudo recente que empregou critérios rigorosos permitiu, todavia, demonstrar uma associação significativa entre a bulimia, os abusos sexuais e um ambiente familiar caótico [19]. A aplicação dessas pesquisas à prática clínica permanece discutível. Certas unidades especializadas no tratamento dos problemas do comportamento alimentar consideram que os pacientes com bulimia têm, freqüentemente, uma tendência a não reconhecer que foram vítimas de abusos sexuais. Por conseguinte, a maior parte dos estudos mostra que a maioria desses pacientes não sofreu abuso sexual na infância, embora haja uma maior predominância de histórias de abuso sexual em pacientes com bulimia do que em pacientes com outras doenças. Os clínicos que trataram de pacientes com problemas de comportamento alimentar devem estar alertas para reconhecer a possibilidade de que qualquer paciente possa ter Anais Nestlé 1998;55:18-23 sofrido abuso sexual. Entretanto, nem os psicoterapeutas e nem as equipes encarregadas do tratamento devem exercer pressões sobre o paciente para que ele o admita. Uma síndrome de “memória falsa” poderia resultar de tais abordagens. Além disso, os pacientes poderiam não se sentir aceitos e apoiados se fossem forçados a enfrentar essas questões antes de estarem preparados para revelar tais abusos. O paciente deve, ele próprio, estabelecer a agenda para tais revelações. Complicações Têm sido relatados casos de pacientes com bulimia que usam a ipeca para induzir o vômito e um número muito significativo de pacientes que sofrem de transtornos do comportamento alimentar que admitem já a terem usado [20]. Este medicamento de venda livre não traz nenhuma advertência sobre sua eventual toxicidade cardíaca, principalmente no caso de uso repetido e prolongado. Os médicos devem conhecer esses riscos e advertir os pacientes quanto ao risco de parada cardíaca com a ipeca. As lesões dentárias na bulimia são induzidas pelos vômitos e pela acidez que deles resulta. Observam-se erosões do esmalte, lesões gengivais e cáries, que levam à colocação de próteses em numerosos dentes [21]. Tratamento Os pacientes devem ser hospitalizados em casos de hipocaliemia, desidratação, arritmia cardíaca, síncopes ou cardiomiopatia secundária à intoxicação pela ipeca, e quando o estado do paciente se deteriora. Neste caso há, com efeito, um risco de depressão e suicídio, o que requer a hospitalização em ambiente psiquiátrico. Muitos pacientes podem, neste caso, abandonar o ciclo de voracidade/vômitos e recomeçar a comer normalmente. Reuniões com os pais são essenciais para obter informações suficientes sobre os antecedentes do adolescente e para assegurar sua colaboração. Apenas quando o paciente está estabilizado é que se pode prosseguir com o tratamento ambulatorial, sabendo-se que os adolescentes têm necessidade de uma psicoterapia individual e familiar e de um acompanhamento médico constante. O médico de família deverá pesar o paciente regular21 Michael J. Maloney mente e verificar, de tempos em tempos, a pressão arterial e a taxa de seus eletrólitos plasmáticos. Os antidepressivos foram objeto de numerosos ensaios controlados por placebo para diminuir os acessos de bulimia e os vômitos que os sucedem. Os antidepressivos tricíclicos, imipramina e amitriptilina, foram particularmente testados [24]. A disponibilidade recente de inibidores seletivos da reabsorção da serotonina, cujos efeitos secundários são menores do que aqueles dos antidepressivos tricíclicos, levou os clínicos a utilizá-los mais amplamente. Estes medicamentos podem também melhorar as depressões subjacentes desses pacientes. Conclusões Para ser eficaz, o tratamento da bulimia deve apoiarse em uma equipe multidisciplinar que leve em conta o conjunto dos problemas médicos, psiquiátricos e familiares; estes últimos devem ser resolvidos para permitir a reabilitação completa de tais pacientes [25]. Os pais dos pacientes que têm problemas de comportamento alimentar precisam de aconselhamento, tanto mais se considerarmos que esses pacientes não admitem que precisam de ajuda. Os pais, o cônjuge ou o empregador devem freqüentemente forçar tais pacientes ao tratamento [26, 27]. Os estados depressivos podem favorecer todos esses transtornos ou surgir no decorrer do tratamento, exigindo uma estratégia terapêutica particular [17]. O tratamento médico e psiquiátrico dos problemas do comportamento alimentar são um desafio [28], mas gratificante, uma vez que a recuperação completa é possível [29]. Porém, a mortalidade na anorexia nervosa e na bulimia permanece elevada [30], fazendo com que seu diagnóstico precoce [31] e sua prevenção [32] sejam uma prioridade nas pesquisas. Referências 1. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders, 4th ed. Washington DC: American Psychiatric Association Press, 1994;53950. 2. Herzog DB. Eating disorders. In: Jellinek M, Herzog DB, eds. A psychiatric manual for pediatric house offi- 22 cers. New York: Harper and Row, 1990;181-90. 3. Pate JE, Pumariega AJ, Hester C, Garner DM. Crosscultural patterns in eating disorders: A review. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1992;31:802-9. 4. 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O exame nutricional faz referência à avaliação das ingestões alimentares do adolescente em relação às suas necessidades, levando em conta o estado do seu crescimento e do seu desenvolvimento, bem como os fatores de risco específicos. Este processo implica no conhecimento das necessidades nutricionais no momento da aceleração do crescimento pubertário e das deficiências, as mais freqüentes, neste grupo etário e no meio do qual o adolescente faz parte. O crescimento se dá na adolescência a uma velocidade espantosa, a mais rápida de qualquer momento da vida pós-natal (o aumento de peso médio é de 16 g/dia nas meninas e 19 g/dia nos meninos no pico de crescimento da adolescência). Também é na adolescência e no começo da idade adulta que o acréscimo mineral ósseo se completa, sendo que o pico da massa óssea é de importância crítica absoluta por sua relação com o possível desenvolvimento ulterior de uma osteoporose. As lesões de aterosclerose começam também a aparecer nesta idade, que é, por outro lado, aquela em que a anorexia nervosa e a bulimia apresentam incidência mais elevada. Além 24 disso, o excesso de peso e a obesidade que se desenvolvem na adolescência podem ter efeitos desfavoráveis sobre a saúde muitas décadas mais tarde. Enfim, os hábitos alimentares, que se criam na ocasião em que o adolescente valoriza cada vez mais a sua independência e se torna responsável pelas suas próprias ingestões alimentares, aparentemente persistem na idade adulta, o que torna a adolescência um momento privilegiado para se colocar em prática medidas preventivas neste sentido. Avaliação de ingestões alimentares As ferramentas de que se dispõe para avaliar as ingestões alimentares são os formulários onde as ingestões são anotadas durante três ou sete dias, os questionários sobre a freqüência de consumo dos alimentos, bem como dados relativos às últimas 24 horas. Cada uma tem suas vantagens e seus inconvenientes. Os dados relativos às últimas 24 horas fornecem uma estimativa bastante boa das ingestões energéticas, podem ser facilmente utilizados na ocasião da consulta, mas não oferecem, evidentemente, informação sobre a variedade de um dia para o outro e dependem da capacidade de recordar dos que são interrogados e da habilidade do avaliador. A complementação dessa recordação por uma verificação da freqüência de consumo dos alimentos resolve alguns desses problemas. O diário alimentar referente a três ou sete dias permite coletar informações de maneira prospectiva, mas leva muito tempo, tanto para quem o preenche (o paciente) como para quem o analisa (o médico). A motivação é um Anais Nestlé 1998;55:24-33 Nutrição na adolescência elemento essencial da confiabilidade dos dados e um tempo deve ser dedicado para explicar ao adolescente ou aos seus pais a maneira de preencher corretamente os formulários. Às vezes, muitas tentativas são necessárias antes que se obtenham dados utilizáveis. Antropometria Medições cuidadosas que empreguem técnicas aprovadas e a comparação das medidas obtidas no decorrer do tempo com as normas apropriadas constituem a melhor maneira de avaliar o estado nutricional dos adolescentes e a progressão do seu crescimento. A avaliação da maturidade sexual e/ou da idade óssea também deve ser levada em conta para se aferir, com precisão, a situação de um adolescente comparada com aquela de seus pares. A altura deve ser medida com uma toesa fixa ou uma régua rígida de aço a 90 graus em relação ao piso. O adolescente deve ficar de pé, sem sapatos, tão reto quanto possível, com os olhos e as orelhas alinhados horizontalmente. Uma prancheta fazendo um ângulo de 90 graus com a toesa deve ser colocada firmemente sobre a cabeça do paciente, enquanto o examinador exerce uma pressão suave de baixo para cima sobre o seu queixo e lembra a ele que deve manter seus calcanhares sobre o piso. A altura deve ser anotada até o milímetro ou o oitavo de polegada mais próximos e comparada com a de indivíduos de mesma origem, sexo e idade (medida em anos e meses), levando-se em conta o grau de maturidade sexual do adolescente e a altura de seus pais. O peso deve ser registrado até o quarto de libra ou o quilograma mais próximos em uma balança de braço tarada e “zerada” ou em uma balança eletrônica, com o paciente vestido com roupas leves ou camisola. Os valores devem ser anotados ponto a ponto sobre um gráfico apropriado, conforme o população da qual é procedente e os percentis assim obtidos devem ser comparados com os anteriores. Comparações também devem ser feitas sempre que forem possíveis, analisando-se o peso em relação à idade e o peso em relação à altura, em particular para os adolescentes que estão nas extremidades dos percentis de peso. O ajuste do peso em relação à altura Anais Nestlé 1998;55:24-33 pode ser realizado através de diferentes métodos, mas o método mais amplamente aceito é o cálculo do índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso em quilos pela altura em metros ao quadrado (kg/m2) ou aferido em um normograma. Os percentis do IMC segundo a idade de crianças e adolescentes americanos foram publicados recentemente [1]. A dobra cutânea do tríceps e a circunferência braquial permitem avaliar, em seguida, relativamente aos padrões da população, o percentual de massa adiposa e massa magra do indivíduo. Estas medidas simples, quando são feitas por pessoas treinadas, dão estimativas suficientemente confiáveis da composição do organismo para se poder acompanhar, posteriormente, os efeitos do aconselhamento nutricional e dos tratamentos recomendados. Fatores de risco nutricionais Muitas situações freqüentes entre os adolescentes podem afetar o estado nutricional: 1) ingestões inadequadas; 2) pobreza; 3) doenças relacionadas com a nutrição; 4) fatores psicossociais; e 5) modo de vida. Nenhuma avaliação nutricional estará completa sem uma exploração aprofundada desses fatores. Ingestões inadequadas podem resultar de jejuns freqüentes, refeições dispensadas, regimes monótonos, uso excessivo de lanches mal escolhidos e uso imoderado de complementos alimentares. Essas situações sobrevêm à medida em que os adolescentes escapam, progressivamente da supervisão dos pais na organização das refeições, nas compras dos alimentos e, finalmente, do que comem. A pobreza agrava esses problemas e acrescenta outros, notadamente a disponibilidade de alimentos inadequados, ausência de refrigeração e de instalações para cozinhar os alimentos. As doenças que têm ligação com a nutrição são, entre outras, as anemias por deficiência de ferro, as hiperlipidemias, a subnutrição, o excesso de peso e a obesidade, o diabetes, as doenças inflamatórias do intestino, a insuficiência renal e a mucoviscidose. Fatores psicossociais associados a um divórcio, por exemplo, um vegetarianismo rigoroso, uma gravidez, uma depressão, problemas do comportamento alimentar e relativos 25 Marc S. Jacobson à imagem corporal, também podem ter um impacto negativo sobre o estado nutricional, como o abuso de álcool e do fumo e um modo de vida sedentário. Por conseguinte, devem ser levados em conta. Educação e aconselhamento nutricional Os objetivos da educação e do aconselhamento nutricional são os de aumentar a conscientização, os conhecimentos, a capacidade e a motivação de cada indivíduo para que possa adotar uma alimentação que seja favorável à sua saúde. Este processo educacional depende, evidentemente, tanto dos conhecimentos do clínico geral em matéria de crescimento e de desenvolvimento dos adolescentes, como de sua compreensão dos modelos de consumo alimentar, dos riscos da subnutrição e do estado daqueles que sofrem de uma doença crônica. Linhas gerais para a alimentação As linhas gerais em matéria de alimentação são uma série de princípios que repousam sobre um conhecimento teórico e prático das necessidades nutricionais e que podem ser traduzidos em termos compreensíveis para os adolescentes. Enquanto os médicos devem ter conhecimentos sobre os nutrientes necessários, os adolescentes devem conhecer os alimentos e as práticas culinárias que garantem ingestões adequadas desses nutrientes. Os princípios básicos de uma boa nutrição estão indicados a seguir. Uma alimentação variada. Esta recomendação é importante, pois menos da metade dos nutrientes essenciais ao homem foi estudada de maneira suficientemente detalhada para compor uma base científica para as Ingestões Diárias Recomendadas - IDR = (“Recommended Dietary Allowances” - RDA) pelo “Food and Nutrition Board” do “National Research Council” dos Estados Unidos. A melhor defesa contra as carências e os excessos nutricionais está em variar a ingestão mediante escolha entre os numerosos alimentos pertencentes aos diversos grupos. Manter um peso ideal, equilibrando as ingestões e os dispêndios energéticos. Trata-se da tarefa mais difícil para os adolescentes em matéria de nutrição. A predominância da obesidade aumenta, de maneira alarmante, entre os adolescentes americanos. A 26 subnutrição secundária às doenças crônicas também é preocupante nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo. No decorrer dos últimos quatro decênios, a atividade física de crianças e adolescentes diminuiu, enquanto as ingestões energéticas permaneceram inalteradas, tendo como conseqüência inevitável o aumento da predominância do excesso de peso e da obesidade. A densidade nutricional dos alimentos, por outro lado, declinou à medida que os alimentos ricos em açúcares e gordura tornaram-se mais disponíveis. A restrição das ingestões, portanto, não pode ser a solução, a não ser com prudência de modo a assegurar que ingestões nutricionais apropriadas sejam preservadas. A promoção das atividades físicas é essencial para a manutenção de um peso conveniente e uma composição corporal satisfatória. Um regime pobre em gorduras, em gorduras saturadas e em colesterol. Este princípio tem implicações importantes para a prevenção de doenças crônicas na idade adulta e do excesso de peso na adolescência. O ateroma é a primeira causa de morte nos Estados Unidos e em muitos países industrializados. Seus antecedentes se encontram, claramente, na adolescência, sendo conveniente preocuparse com eles logo no início. Comer frutas, legumes e cereais integrais para manter a densidade nutricional do regime, evitar alimentos ricos em gorduras e assegurar um bom trânsito intestinal. A pirâmide dos alimentos é um meio simples de ensinar boas práticas alimentares. Consiste na classificação dos alimentos em grupos inteligíveis e em recomendações sobre o número de porções necessárias de cada para atender aos objetivos mencionados acima. O manual da pirâmide recomenda, assim, 6-11 porções por dia de pão, cereais e massas, 3-5 porções de legumes, 2-4 porções de frutas, 2-3 porções de lacticínios, 2-3 porções de carne, aves, peixes e legumes e, no topo da pirâmide, para consumir com moderação: as gorduras, os óleos e os açúcares. A estratégia do aconselhamento aos adolescentes baseia-se nos seguintes princípios: utilizar uma abordagem não categórica e não crítica; recomendar pequenas modificações de atitudes; apelar para um sistema de barganhas e incentivos; empregar termos simples, culturalmente compreensíveis; considerar os alimentos, e não os nutrientes; discutir as escolhas Anais Nestlé 1998;55:24-33 Nutrição na adolescência de alimentos, as quantidades e as maneiras de preparálos; apoiar-se nos aspectos positivos do regime em andamento; explicar que todos os alimentos são bons sob a condição de serem consumidos com moderação; abordar os obstáculos a serem vencidos; estar atento aos fatores culturais, sócio-econômicos e psicológicos e proporcionar aos adolescentes o apoio e o encorajamento de que necessitam. Nutrição e crescimento do adolescente A avaliação de um retardamento do crescimento ou, ao contrário, de um excesso de peso de um adolescente implica compreender a cronologia normal do desenvolvimento e como essa cronologia depende da velocidade do crescimento e do dimorfismo sexual. Existem grandes diferenças individuais na maneira em que se desenrola a puberdade e, conseqüentemente, o impulso do crescimento na adolescência. Os primeiros sinais clínicos da puberdade podem ocorrer em uma idade tão precoce quanto 8 anos na menina e 10 anos no menino, embora o início da puberdade antes de 12 a 15 anos ainda seja a norma. A idade do desenvolvimento, tal como avaliado pelo grau pelo grau de maturidade sexual e/ou idade óssea, constitui, assim, uma base mais precisa do que a idade cronológica para estimar a evolução das necessidades nutricionais. Um grupo de meninas normais de 12 anos ou um grupo de meninos normais de 14 anos podem, definitivamente, apresentar todos os graus de maturação sexual, do mais imaturo ao mais completo. As meninas, em média, iniciam a puberdade mais cedo do que os meninos e sua velocidade máxima de crescimento em altura ocorre, em média, mais cedo, no curso do seu desenvolvimento pubertário; no seu máximo, esta velocidade, no entanto, é menor do que nos meninos. Nos dois sexos, a puberdade é acompanhada de um acréscimo de massa magra e de massa adiposa. Todavia, se os meninos e as meninas iniciarem o seu desenvolvimento pubertário com percentagens semelhantes de gordura e massa celular ativa, a massa adiposa representa, em geral, 25% do peso do corpo nas meninas na puberdade, enquanto que só chega a constituir, em média, 18% nos meninos, que acumularam mais massa magra do Anais Nestlé 1998;55:24-33 que as meninas, tanto em valor absoluto como em relação ao seu peso. Como o valor energético de um grama de gordura é superior ao de um grama de proteínas, pode-se pensar que as necessidades energéticas das meninas são mais elevadas na adolescência do que as dos meninos. Na verdade, os meninos ganham mais peso do que as meninas, sabendo-se que os custos da manutenção da massa magra são mais elevados do que os do tecido adiposo. As necessidades energéticas dos meninos, portanto, são maiores, tanto mais se lembrarmos que tendem a ser mais ativos do que as meninas. Necessidades nutricionais dos adolescentes saudáveis Temos uma necessidade premente de dados científicos sobre as necessidades nutricionais dos adolescentes. A maior parte das recomendações resultam tanto de interpolações de dados obtidos no menino e no adulto como de extrapolações do animal para o homem. Isto, freqüentemente, só nos deixa uma possibilidade: a de utilizar as informações sobre as ingestões habituais de uma população que também compreende os adolescentes e “considerada saudável, no seu todo”. Isto também requer que exercitemos o nosso bom senso clínico para afirmar se um adolescente está ou não corretamente alimentado. As ingestões recomendadas por diferentes comissões nacionais e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) estão resumidas nos apêndices A2-10 do livro de Shils et al. [2]. A utilização dessas tabelas deve ser ponderada, levando-se em conta as variações interindividuais do crescimento pubertário e como tais variações afetam as necessidades nutricionais. Energia A necessidade de aportes energéticos suficientes para fazer face às exigências associadas ao aumento da atividade física e à aceleração do crescimento é fundamental na análise do comportamento alimentar e das exigências nutricionais dos adolescentes. Segundo Gong e Heald, a melhor maneira de estimar as necessidades energéticas segundo a idade e o sexo dos adolescentes está em expressá-las em kcal/ 27 Marc S. Jacobson cm. Esta abordagem tem o mérito de levar em conta a aceleração da velocidade do crescimento no estabelecimento de tais necessidades [3]. Proteínas Em sendo suficientes as ingestões energéticas, as ingestões protéicas tornam-se, então, o elemento limitador. As necessidades protéicas também podem ser expressas segundo o sexo e a altura dos adolescentes, conforme indicado na Tabela I. O pico da necessidade protéica coincide, provavelmente, com o pico da necessidade energética e para simplificar pode-se considerar que as proteínas devem representar de 12 a 14% da ingestão energética. No conjunto, a ingestão protéica média dos adolescentes americanos é muito superior às ingestões recomendadas. Os únicos grupos com risco de carência são os adolescentes submetidos a regimes extremamente pobres em energia, seja com a intenção de perder peso ou por transtornos do comportamento alimentar. Tabela I : Necessidades protéicas dos adolescentes e dos adultos jovens Idade (anos) Meninos 11-14 15-18 19-24 Meninas 11-14 15-18 19-24 Aportes diários de proteína (g/cm) 0,29 0,34 0,33 0,29 0,27 0,28 Gorduras As gorduras são uma fonte concentrada de energia (9 kcal/g), o veículo das vitaminas lipossolúveis e fonte de ácidos graxos essenciais. Como fonte de energia, as gorduras são tanto uma benção quanto uma maldição. No pico do seu crescimento o adolescente tem tanta necessidade de energia que, sem alimentos ricos em gorduras, a sua alimentação seria tão volumosa e tão pouco palatável que ele teria dificuldade em satisfazer suas necessidades energéticas. Por outro lado, uma disponibilidade muito 28 grande de lanches ricos em gorduras e o modo de vida sedentário das sociedades afluentes estão manifestamente ligados ao caráter “epidêmico” da obesidade e do ateroma freqüente. A redução do teor de gorduras totais e de gorduras saturadas da dieta dos adolescentes tem, além disso, efeitos favoráveis sobre o perfil lipídico e a composição do seu organismo [4]. A carência de ácidos graxos essenciais pode manifestar-se por diferentes indicações clínicas. Os sinais clássicos são a taxa reduzida do crescimento, pele seca e esterilidade. Mais tarde, tais carências podem ser responsáveis por necrose papilar renal, inchação das mitocôndrias hepáticas, redução da contratilidade do miocárdio ou manifestarem-se por sinais hematológicos (fragilidade aumentada dos glóbulos vermelhos e hemólise). Todas estas manifestações são reversíveis em alguns dias através da suplementação de ácido linoléico. As deficiências de compostos eicosânicos podem ser observadas, às vezes, na mucoviscidose, nas síndromes pós-traumáticas, nos queimados e nos pacientes que sofrem de esclerose em placas e de doença vascular periférica. Hidratos de carbono Os hidratos de carbono são a principal fonte de energia para os adolescentes. Devem constituir cerca de 55% das ingestões energéticas, principalmente sob a forma de hidratos de carbono complexos (cereais integrais, pão e massas), que também são uma importante fonte de fibras. Além disso, têm poder edulcorante e são um elemento importante da característica organoléptica dos alimentos. Minerais A estimativa da necessidade de cálcio na adolescência é objeto de controvérsia. Reveste-se, no entanto, da maior importância se considerarmos os dados sempre mais numerosos sobre os efeitos dos regimes de emagrecimento, da amenorréia e das competições atléticas na mineralização óssea e no desenvolvimento ulterior de uma osteoporose. Noventa e sete por cento (97%) do cálcio do organismo estão concentrados na massa esquelética, cujo crescimento na adolescência é muito importante. As ingestões de Anais Nestlé 1998;55:24-33 Nutrição na adolescência cálcio devem, pois, ser aumentadas nesta fase para satisfazer essas necessidades. A anorexia nervosa é, neste sentido, particularmente preocupante, conforme mostram os estudos recentes sobre a densidade óssea dos adolescentes que sofrem de tais distúrbios do comportamento alimentar - a amenorréia e os distúrbios endocrinológicos resultantes da restrição das ingestões energéticas - que contribuem igualmente para o desenvolvimento de osteopenia. As carências de zinco responsáveis pelo nanismo e retardamentos puberais, reversíveis através de uma suplementação de zinco, foram descritas entre os adolescentes, particularmente no Oriente Médio. A exploração das modificações do estado zíncico mostrou que este variava com os estágios da puberdade, mas nenhuma deficiência ostensiva foi evidenciada entre os adolescentes estudados [5]. As necessidades de ferro serão discutidas mais adiante de maneira aprofundada. Vitaminas Os dados sobre os quais se baseiam as necessidades vitamínicas são ainda mais limitados do que os dos minerais. Levando-se em conta a aceleração do crescimento na adolescência, pode-se pensar que a necessidade de vitaminas envolvidas no anabolismo e no metabolismo energético sejam maiores. A atividade física, a gravidez, os anticoncepcionais orais e as doenças crônicas também modificam as necessidades. Todavia, as ingestões de vitamina A, cujas necessidades, provavelmente, são maiores em razão do seu papel na proliferação e na divisão celular são, freqüentemente, baixas na adolescência. As vitaminas do grupo B, notadamente a piridoxina, a riboflavina, a niacina e a tiamina, têm, por outro lado, um papel importante no metabolismo energético celular, sendo importantes durante o crescimento. A vitamina C é igualmente essencial para a síntese do colágeno e suas necessidades devem aumentar paralelamente ao impulso do crescimento; as frutas e os legumes frescos que são as principais fontes da referida vitamina estão, infelizmente, ausentes da alimentação dos adolescentes. A vitamina D é necessária para a absorção do cálcio e para a mineralização do osso e o ácido fólico, para a síntese do DNA. Todos os dois são de Anais Nestlé 1998;55:24-33 importância essencial para os adolescentes. Um suplemento de ácido fólico deve ser prescrito, sistematicamente, para as adolescentes grávidas e além disso, as meninas adolescentes dos meios desfavorecidos também poderiam beneficiar-se de um suplemento de ácido fólico. Anemia por carência em ferro A anemia é definida por uma taxa de hemoglobina inferior a um valor limite fixado pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos segundo raça, idade e sexo [6] (Tabela II). Afora a primeira infância, a adolescência é a fase na qual a predominância da carência em ferro é mais elevada na maior parte das populações do mundo. A aceleração do crescimento da massa magra resulta, com efeito, no aumento da demanda de ferro para a síntese da mioglobina. O aumento da produção de androgênios nos meninos estimula, por outro lado, a eritropoietina, o que resulta no aumento das taxas de hemoglobina com o avanço da puberdade. Em compensação, nas meninas, o aparecimento da menstruação traduz-se nas perdas regulares de sangue, que nem sempre são compensadas pelas ingestões de ferro. O teor médio de ferro na alimentação nos Estados Unidos é de 6 mg/1000 kcal, de maneira que uma adolescente que consuma menos de 2000 kcal por dia tem poucas chances de receber a dose cotidiana recomendada de 15 mg. Os sintomas da carência de ferro são sutis e inespecíficos. Podem ser uma fadiga aguda, cefaléias, vertigens, palpitações, sensação de falta de ar curta, diminuição do desempenho físicos, maior suscetibilidade às infecções, dificuldades escolares ou problemas do comportamento. Conseqüentemente, recomenda-se a busca de uma anemia por carência de ferro, pelo menos uma vez nos adolescentes isentos de um risco específico. Este exame deve ser repetido anualmente nos casos de gravidez, de perdas menstruais abundantes ou de outras perdas de sangue ou ainda, nos adolescentes que tenham adotado um regime vegetariano rigoroso, que tenham hábitos alimentares particulares ou que façam um treinamento físico intenso. Diferentes testes permitem detectar uma carência em ferro antes que se instale 29 Marc S. Jacobson a anemia, principalmente a medida do volume corpuscular médio (MCM), o índice de distribuição das hemácias e a ferritinemia. O tratamento consiste, primeiramente, no aumento das ingestões de alimentos ricos em ferro hemínico e em assegurar que as ingestões de vitamina C sejam adequadas. Suplementos de sulfato ferroso (100 mg de ferro elementar por dia, via oral) devem ser prescritos, evitando-se que o ferro seja ingerido simultaneamente com produtos lácteos ou outros alimentos ricos em cálcio ou com café, chá ou farelo. A contagem dos reticulócitos deve aumentar rapidamente, com um pico em 10 dias a 2 semanas após a instituição do tratamento. A hemoglobina deve responder em cerca de um mês. Se nenhum efeito for constatado, deve-se suspeitar que o adolescente não está seguindo o tratamento e, se estiver, deve-se investigar outra causa para a sua anemia. Tabela II : Critérios diagnósticos da anemia por carência de ferro Idade (anos) Hemoglobina* (g/100 ml) Meninos 10-11 12-14 15-17 18+ 11,6 12,3 12,6 13,6 Meninas 10-11 12-14 15-17 18+ 11,6 11,8 12,0 12,0 * O valor limite reduz-se para 0,8 g/100 ml nas pessoas da raça negra. Hipercolesterolemia O risco de ateroma aumenta paralelamente à colesterolemia total e às taxas do LDL-colesterol (LDL-C). Os indivíduos que têm uma taxa de HDLcolesterol baixa também correm o risco de doença cardiovascular. A classificação do risco em função da taxa do LDL-colesterol está indicada na Tabela III. 30 Tabela III : Classificação do risco em função das taxas de LDL-colesterol Risco LDL-colesterol (g/l) Aceitável Limite Elevado < 1,10 1,10-1,30 > 1,30 As complicações do ateroma são responsáveis por metade da mortalidade de adultos nos Estados Unidos e em numerosos outros países desenvolvidos. Na Ásia e no Mediterrâneo, onde os modelos tradicionais de alimentação estão modificando-se rapidamente, assiste-se a uma elevação concomitante da colesterolemia. Um dos objetivos importantes da medicina da adolescência é reconhecer os fatores de risco para as doenças que predominam na idade adulta e intervir para evitá-las. O ateroma é, nesse sentido, um alvo excelente. O exame dos fatores de risco para o ateroma na adolescência é geralmente realizado nos Estados Unidos e em outros países onde é elevada a incidência de doenças cardiovasculares. A maioria das autoridades considera que os antecedentes familiares devem ser os primeiros a serem investigados. Se um pai ou um avô tiver tido um enfarte do miocárdio, um acidente vascular cerebral ou outra complicação ateromatosa antes dos 55 anos ou se apresentou colesterolemia total superior a 2,40 g/l, dois perfis lipídicos devem ser obtidos do adolescente. A média das taxas de LDL-colesterol deve ser calculada e o risco determinado conforme indicado na Tabela III. Recomenda-se repetir o teste em cinco anos para aqueles cujas taxas de LDL-colesterol estiverem dentro dos limites aceitáveis, pois sabe-se que o LDL-colesterol aumenta com a idade. A constatação de um valor intermediário deve conduzir a uma análise dos fatores de risco, principalmente os alimentares e as dosagens devem ser controladas no curso de um ano para que se avalie eficácia das eventuais modificações no modo de vida. Deve-se aconselhar que seja evitado o fumo e verificada, anualmente, a pressão arterial. Além disso é recomendada a prática regular de exercícios e a manutenção de um peso ideal para a altura. O aconselhamento dietético deve consistir em que sejam seguidas as recomendações Anais Nestlé 1998;55:24-33 Nutrição na adolescência do “National Cholesterol Expert Panel” (Painel Nacional de Especialistas em Colesterol) (NCEP), primeiramente segundo a Etapa 1 e se necessário a Etapa 2. como indicado na Tabela IV. Tabela IV : Características dos regimes 1 e 2 propostos para reduzir a colesterolemia. Nutrientes Ingestões Recomendadas Etapa 1 Etapa 2 Gorduras totais Menos de 30% da Idem energia total Ácidos graxos Menos de 10% da Menos 7% saturados energia total Ácidos graxos poli- Até 10% da Idem insaturados energia total Ácidos graxos mono- O resto da energia Idem insaturados fornecida pelas gorduras Colesterol Menos de Menos de 300 mg/dia 200 mg/dia Hidratos de carbono Cerca de 55% Idem da energia total Proteínas Cerca de 15-20% Idem da energia total Energia Para permitir um Idem crescimento e um desenvolvimento normais e para atingir ou manter o peso desejável. O tratamento farmacológico da hipercolesterolemia é indicado quando todos os itens abaixo estiverem presentes: (i) grupo etário do adolescente ou acima; (ii) LDL-colesterol >99º percentil; (iii) histórico familiar de graves complicações ateromatosas (por exemplo, a morte por enfarte precoce) e (iv) falha em atingir um declínio de 15% no LDL-colesterol após, pelo menos, um ano de de regime supervisionado. Os objetivos do tratamento dietético são duplos: 1) reduzir as ingestões de gordura total e as ingestões de gorduras saturadas; (2) diminuir o teor de colesterol do regime. Os detalhes do nosso programa são descritos por Schebendach e Beseler [8]. Em resumo, começa-se por pedir ao paciente e à sua família que Anais Nestlé 1998;55:24-33 anotem a alimentação, durante três dias, que é analisada em termos dos macro- e micro-nutrientes, com atenção particular à ingestão de gorduras totais e saturadas. Os tipos de alimentos preferidos pelo paciente são determinados, em seguida, com precisão através de entrevistas. Os objetivos são definidos com o adolescente e sua família, insistindo-se nos problemas identificados e tornando as modificações a serem realizadas tão transparentes quanto possível para o adolescente. Habitualmente, não mais de quatro objetivos específicos são considerados de cada vez. As visitas de acompanhamento prendemse a objetivos específicos estabelecidos nas visitas anteriores e apoio é dado na medida em que os objetivos são alcançados. Um exemplo poderia ser a substituição dos “pretzels” por “potato chips”, pois ambos têm consistência crocante, mas diferem significativamente quanto ao teor de gorduras. Os adolescentes são ensinados a comer de maneira saudável, propondo-se a eles possíveis escolhas de alimentos. Insistimos na leitura de rótulos para que identifiquem os alimentos com alto teor de gordura e encontrem substitutos razoáveis. É ressaltado o papel dos outros membros da família como modelos para uma boa alimentação e boa atividade física. Em nossa experiência, reduzir o teor de colesterol do regime não é um problema para a maior parte dos pacientes; muitos chegam, sem dificuldade, aos 100 mg por 1000 kcal recomendados ou mesmo a ingestões inferiores, reduzindo as porções de carnes magras, escolhendo produtos lácteos pobres em gordura e evitando as gemas de ovos. Diminuir as ingestões da gordura total e da saturada é mais complicado e difícil, exigindo mais aconselhamento e acompanhamento. Os adolescentes são, freqüentemente, apreciadores de lanches ricos em gordura e muitos esforços são necessários para ajudá-los a encontrar substitutos aceitáveis. Excesso de peso e obesidade As definições do excesso de peso e da obesidade deveriam basear-se, idealmente, em critérios de saúde, notadamente nas estatísticas de morbidez e mortalidade. Infelizmente, poucos dados encontram-se disponíveis a este respeito. Não nos resta senão utilizar as definições sobre as quais os especialistas 31 Marc S. Jacobson estão de acordo neste domínio. Segundo um artigo recente de Himes e Dietz [9], um IMC compreendido entre o 85º e o 95º percentis constitui um “nível de risco” para a obesidade, enquanto um IMC superior ou igual ao 95º percentil é sinônimo de obesidade. O 95º percentil dos adolescentes corresponde, aproximadamente, à soma da idade (em anos) + 13 para os meninos e a idade (em anos) + 14 para as meninas. As conseqüências da obesidade na adolescência são tanto psicológicas quanto biológicas. Compreendem o estigma social associado à pecha de falta de autocontrole, desleixo ou falta de atrativos e aos riscos médicos de longo prazo associados a doenças cardiovasculares, hipertensão, hiperlipidemia e diabete. Para os morbidamente obesos, a displasia de quadril, as apnéias do sono, a síndrome de Pickwick e a doença policística dos ovários são igualmente objeto de preocupação imediata. O histórico familiar é importante, pois o risco de obesidade será de 30% se um dos pais for obeso e de 70% se os dois pais o forem. O peso e a altura devem ser medidos anualmente, atribuindo-se importância a todo aumento rápido do peso ou do IMC. A importância do exame precoce na adolescência está na identificação precoce do indivíduo em risco que poderá ser salvo do aumento de peso que terá de perder posteriormente. Por outro lado, intervindo, espera-se evitar o círculo vicioso de menor participação nos esportes o que leva a uma menor atividade física e a uma taxa metabólica mais baixa que, por sua vez, facilita o ganho de peso. Este tipo de círculo vicioso também conduz ao isolamento social, à estigmatização e à redução das oportunidades para os exercícios e até mesmo à depressão, tornando as intervenções posteriores mais difíceis. Uma intervenção deve ser oferecida a todo adolescente que tenha antecedentes familiares de obesidade, ganho de peso rápido ou modificação do IMC, fatores de risco cardiovasculares, diabetes ou outra importante razão de preocupação. A perda de peso não deve ser o primeiro objetivo da intervenção. Antes de mais nada, deve-se buscar o aumento estatural, procurando manter o peso atual, melhorando hábitos alimentares e aumentando a atividade física. O teor de gorduras do regime deve ser limitado segundo o princípio da substituição por alimentos pobres em gorduras recomendados para o 32 tratamento de hiperlipidemias [9]. A intervenção requer uma avaliação nutricional para assegurar que as ingestões básicas de nutrientes sejam adequadas e evitar os excessos ou, inversamente, que se trate de regimes demasiado restritivos. A capacidade para fazer exercícios também deve ser avaliada, especialmente pelo autocontrole do ritmo cardíaco e pela realização de exercícios adaptados às capacidades físicas atuais do adolescente. Também devem ser definidos os objetivos de aumento progressivo da duração e da intensidade dos esforços físicos requeridos. A restrição excessiva das ingestões alimentares conduz a uma diminuição do metabolismo basal e a uma redução da massa magra. Tais modificações são contrárias à meta desejada e podem originar uma situação de prejuízo para o adolescente que deseja perder peso. Toda intervenção deve, pois, ser precedida por uma avaliação dos componentes psicossociais do adolescente e de sua família. Neste sentido, o apoio psicológico e as técnicas de modificação comportamental podem ser uma grande ajuda. Estes apoios podem ser dados por quaisquer membros da equipe, seja o médico, o nutricionista ou o psicoterapeuta, na medida em que sejam competentes e interessados. É preciso assegurar, igualmente, a ausência de um estado depressivo e tratá-lo em caso de necessidade. Os excessos alimentares e a utilização de purgativos devem ser especificamente investigados e tratados. Os acontecimentos suscetíveis de causar uma alteração de comportamento do paciente devem, igualmente, ser identificados no início do tratamento e atualizados regularmente. O objetivo básico do tratamento é dar ao adolescente melhores hábitos alimentares e um gosto pelos exercícios que possam ser levados adiante ao longo de toda sua vida. A perda de peso per se é secundária. O adolescente e sua família devem compreender isto. Do contrário, o tratamento estará condenado ao fracasso e não poderá resultar senão em mudanças incessantes de médicos, na prática de regimes extravagantes, no recurso à automedicação, em variações cíclicas do peso e em transtornos do comportamento alimentar. O estabelecimento de objetivos razoáveis e atingíveis é a pedra angular do sucesso de um tratamento individualizado. Embora importante considerar os desejos do paciente, o médico Anais Nestlé 1998;55:24-33 Nutrição na adolescência não deve ceder à sua pressão para fixar um objetivo não realista baseado em sua própria definição do normal. Objetivos não realistas devem ser recusados e a criança e sua família devem saber, definitivamente, qual resultado é passível de ser atingido. Um acompanhamento regular é necessário a fim de manter e reforçar as modificações do modo de vida que o adolescente e sua família aceitaram para alcançar os objetivos definidos e para avaliar as conseqüências psicológicas das alterações nutricionais, físicas e comportamentais que foram iniciadas. Acompanhamentos a cada uma ou duas semanas são necessários no começo do tratamento. Sessões em grupo podem ser uma ajuda preciosa assim que o plano básico tenha sido estabelecido. Consultas especializadas com um nutricionista são, freqüentemente, necessárias para avaliar as ingestões e fazer propostas de refeições. Um psicoterapeuta é necessário quando sinais de depressão ou outros problemas psicológicos se manifestarem. Distúrbios do comportamento alimentar A anorexia nervosa e a bulimia têm, em comum, certas características próprias dos distúrbios do comportamento alimentar: a distorção da imagem corporal e o medo de engordar. Convém atribuir importância, na adolescência, a toda alteração recente da imagem corporal com perda de peso, com ou sem amenorréia, e considerar, cuidadosamente, os hábitos alimentares, as obsessões com o peso, os sinais de depressão e os que indicam enchimento e esvaziamento gástricos patológicos. A hipertrofia das parótidas, a perda do esmalte dentário ou calosidade na junta metacarpofalangiana (sinal de Russell) sinalizam o hábito dos adolescentes de provocarem o vômito. A realimentação é o primeiro objetivo do tratamento inicial, enquanto a psicoterapia é útil posteriormente. A ração energética deve depender do dispêndio energético em repouso se tiver sido medida ou tiver sido calculada segundo as equações de Schebendach et al. [10]. Um aumento progressivo das ingestões energéticas deve ser prescrito para se obter um ganho de peso adequado e evitar os edemas de uma nutrição excessiva e as complicações cardíacas e gastrintestinais [11]. Anais Nestlé 1998;55:24-33 Agradecimentos O Centro para a Prevenção da Aterosclerose agradece ao Sr. Irving Schneider pelo apoio generoso dado às suas atividades de pesquisa. Referências 1. Hammer LD, Kraemer HC, Wilson DM, et al. Standardized percentile curves for body-mass index for children and adolescents. Am J Dis Child 1991;145:259-63. 2. Shils ME, Olson JA, Shike M. Modern nutrition in health and disease. 8th ed. Philadelphia: Lea mid Febiger, 1994. 3. Gong EJ, Heald FP. Diet nutrition and adolescence. In: Shils ME, Olson JA, Shike M. Modern nutrition in health and disease. 8th cd, Philadelphia: Lea and Febiger, 1994. 4. Jacobson MS, Copperman N, Haas T, et al. Adolescent obesity and cardiovascular risk: a rational approach to management. Ann N Y Acad Sci 1993;699:220-9. 5. Thompson P, Roseborough R, Russek E. et at. Zinc status and sexual development in adolescent girls. J Am Diet Ass 1986;86:892-7. 6. CDC criteria for anemia in children and childbearing aged women. Morb Mortal Wkly Rep 1989; 38:400-4. 7. Lipid research. Clinics population studies data book US Dept. Health and Human Services. National Institutes of Health, 1982. 8. Himes JH. Dietz WH. Guidelines for overweight in adolescent preventative services: recommendations from an expert committee. Am Jclin Nutr 1994: 59:307 16. 9. Schebendach J. In: Jacobson MS. Atherosclerosis prevention: finding and treating the child with high cholesterol. Monographs in clinical pediatrics. Chur: Harwood, 1992. 10. Schebendach J, Golden NH, Jacobson MS, et at Indirect calorimetry in the nutritional management of eating disorders. Int J Eat Disord 1995; 17:59-66. 11. Solanto MV, Jacobson MS, Heller L, et al. Rate of weight gain of inpatients with anorexia nervosa under two behavioral contracts. Pediatrics, 1994:93:989-91. Bibliografia Para uma leitura mais aprofundada 1. A referência 3 é uma excelente revisão sobre a nutrição do adolescente. 2. Alton I, Story M. Guidelines for adolescent nutrition. DHHS US Public Health Service, September 1993. Tratase de um manual bem escrito e pensado, repleto de informações úteis e de conselhos clínicos. 3. Mahan KL, Rees JM. Nutrition in adolescence. St. Louis: Mosby, 1984, trata-se de uma obra detalhada, consagrada ao assunto. 33 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência Consumo de alimentos Um questionário auto-administrado sobre a freqüência do consumo de diferentes alimentos foi desenvolvido por FRANK et al. [1] para determinar com precisão o consumo semanal de 64 alimentos por 1108 adolescentes norte-americanos. As freqüências obtidas pela soma de sete lembranças consecutivas de 24 horas foram comparadas com as tiradas desse questionário. Uma concordância média de 50% foi encontrada, tanto para a freqüência como para as quantidades de alimentos consumidos. O cálculo das médias geométricas evidenciou as diferenças no número médio de alimentos protéicos por idade do adolescente, mas a única diferença significativa foi para as ingestões de carne de vaca pelos adolescentes de 15 anos. As crianças da raça branca disseram que consumiam mais porções de carne de vaca, de queijo e de legumes do que as crianças da raça negra. Ao contrário, estas últimas indicaram que comiam mais ovos, salsicharia, carne de porco e aves do que as crianças da raça branca e que suas ingestões protéicas totais eram mais elevadas. Por outro lado, os meninos consumiam, com freqüência maior do que as meninas, alimentos protéicos, especialmente ovos, leite e aves. Uma correlação significativa foi encontrada entre o colesterol ligado às proteínas de baixa densidade (LDL-C) e os consumo de ovo e de salsicharia. JOHNSON et al. [2] estudaram as relações entre as ingestões alimentares e fatores sociodemográficos em uma amostra de 933 adolescentes norte-americanos com idades de 11 a 18 anos. A amostra compreendia 79% de brancos, 14% de negros e 7% de “outros” originários de quatro diferentes áreas geográficas e com um grau variado de urbanização (18% de cidades 34 centrais, 49% de áreas suburbanas e 33% de áreas não metropolitanas). Os adolescentes masculinos que residiam em lares cujo chefe de família era um homem ingeriam percentagem mais elevada de calorias de origem lipídica (40,5%), em comparação com outros lares. No total da amostra, a principal percentagem das calorias totais oriundas da gordura foi de 37% para meninos e meninas conjuntamente, dos quais 14% a partir da gordura saturada. Meninas adolescentes que residiam com um chefe de família homem apresentaram o percentual total mais baixo de calorias provenientes de gordura (31%) em comparação com outros lares. A região de origem afetou as ingestões de sódio: os meninos sulistas apresentaram ingestão de sódio mais elevada (3.987 mg por dia) e os do oeste a mais baixa (3.543 mg). No total, a amostra apresentou padrões de comportamento alimentar associados a numerosos riscos para a saúde. As baixas quantidades de magnésio consumidas por meninos negros podem ser um reflexo de ingestões menores de carne de vaca, leite e produtos preparados com grãos integrais. Os meninos negros e brancos e as meninas negras apresentaram ingestão média mais elevada de colesterol. As meninas negras e meninos de “outras” raças consumiam níveis mais elevados de sódio do que os outros grupos raciais dentro de seu respectivo sexo. Como um grupo, as meninas apresentavam maior probabilidade de baixas ingestões de vitaminas e minerais essenciais do que os meninos. Em média, os meninos adolescentes comem quantidades maiores de alimentos do que as meninas adolescentes. Esta ingestão de energia mais baixa pelas meninas requer que elas selecionem os alimentos cuidadosamente a fim de preencher as Ingestões Diárias Recomendadas (IDR=RDA) de vitaminas e Anais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência minerais. Os resultados do estudo indicaram que, na maioria das vezes, a qualidade do regime não variou com o nível de renda. A vitamina A, vitamina E, cálcio, magnésio e zinco foram os nutrientes cujo consumo, mais freqüentemente, encontrava-se abaixo dos níveis recomendados. Além disso, as meninas consumiam baixos níveis de fósforo e ferro. As meninas apresentavam maior probabilidade de atender às recomendações relativas ao colesterol do que os meninos. Alterações dietéticas entre adolescentes suecos foram relatadas por BERGSTRÖM et al. [3]. Uma pesquisa dietética realizada em escolas, empregando registros de sete dias, foi realizada em dois grupos de adolescentes suecos, com idade de 14 e 17 anos, compreendendo 366 meninos e 365 meninas. As ingestões médias de energia no grupo de 14 anos foi de 8,9 MJ para os meninos e 7,1 MJ para as meninas e, no grupo de 17 anos, de 10,5 MJ para os meninos e 7,1 MJ para as meninas. A ingestão de energia relativamente mais elevada pelos meninos foi explicada por diferenças na quantidade de alimento consumida e não na composição dos alimentos. A gordura respondeu por 33% e uma ingestão relativamente elevada de hidratos de carbono por 52% dos aportes energéticos. Em média, ácidos graxos saturados, mono- e poliinsaturados constituíram 15, 12 e 4 %E, respectivamente. A ingestão média de sacarose constituiu 10 %E. Considerando a ausência de diferenças regionais em estudos anteriores, os autores acreditam que os resultados deste estudo provavelmente representam hábitos alimentares e aportes atuais de nutrientes pelos adolescentes suecos em geral. A ingestão média de energia neste estudo apresentou-se abaixo das atuais recomendações internacionais e nacionais e mostra uma diminuição no teor de gordura e aumento correspondente no teor de hidratos de carbono dos alimentos e uma ingestão de proteínas bem acima dos níveis recomendados. Eventuais efeitos prejudiciais são incertos, embora tenha sido sugerida uma associação entre a elevada ingestão de proteínas e a ocorrência de diabetes mellitus juvenil, bem como uma esclerose glomerular do rim. De acordo com recomendações suecas atuais relativas à distribuição da ingestão de energia durante o dia, cerca de 25% devem ser conAnais Nestlé 1998;55:34-49 sumidos no café da manhã, 33% no almoço, 33% no jantar e os 9% restantes em uma ou duas refeições leves. Neste estudo, os autores constataram uma ingestão de energia mais baixa no café da manhã e no almoço, enquanto que uma elevada proporção de energia originou-se de refeições leves. Refeições leves são, freqüentemente, consideradas como tendo uma qualidade nutricional mais baixa do que as refeições principais. Isto foi comprovado com relação ao elevado teor de sacarose, porém, o teor de gordura foi inferior em comparação com o almoço ou jantar. As exigências de vitaminas e minerais estavam bem atendidas, com exceção do selênio. A ingestão de sal através da dieta situou-se dentro do objetivo intermediário estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (7- 8 g de NaCl por dia) para os meninos de 14 anos e meninas de 14 e 17 anos, enquanto que os rapazes de 17 anos apresentaram ingestão acima deste objetivo (9,0 g de NaCl por dia). Os aportes de ferro pelas meninas representavam, no conjunto, apenas 70% das recomendações suecas e 90% das Ingestões Diárias Recomendadas pela academia americana de Ciências. Em conclusão, este estudo mostra uma mudança no padrão dos hábitos alimentares e ingestão de nutrientes por adolescentes suecos durante décadas recentes. O pão e outros produtos de cereais se tornaram a fonte quantitativamente mais importante tanto de energia quanto de diversos outros nutrientes, enquanto que a ingestão de gorduras e óleos declinou. O consumo de alimentos e os hábitos alimentares dos adolescentes da Nova Zelândia foram relatados por WORSLEY et al. [4]. Seiscentos e sessenta e sete adolescentes de 15 anos preencheram um questionário sobre a freqüência de consumo de alimentos e sobre seus hábitos dietéticos. Deve-se observar a relativa popularidade das coberturas de gordura e da adição de gordura, sal e açúcar aos alimentos no cozimento ou antes do consumo e a predominância moderada do pão branco e da suplementação alimentar. Houve uma importante contribuição das coberturas de gordura para a ingestão total de gordura. Houve um consumo mais freqüente de diversas frutas e verduras e legumes por meninas, consistente com outros estudos em várias culturas. A maior preferência dos meninos por certos lanches com alto teor em gordura e açúcar 35 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência também é consistente com outros estudos de adultos. Basicamente, parece que mais crianças de famílias de renda elevada e média consumiam carnes caras e outros alimentos dispendiosos. Ao contrário, mais adolescentes de famílias de baixa renda comiam carnes mais baratas, tais como salsichas. O estudo confirmou diferenças de ingestão de alimentos, segundo o sexo, que haviam sido observadas, anteriormente entre os adultos. Os hábitos alimentares e ingestões de nutrientes de 481 adolescentes franceses foram relatados por MICHAUD e BAUDIER [5]. A qualidade do café da manhã foi estudada, mostrando que, respectivamente para 32% e 45% de meninos de 13-15 anos e 16-19 anos, era inadequada e, para 47% e 62% de meninas de 13-15 anos e 16-19 anos, também era inadequada. O café da manhã representa 16% da ingestão diária de energia. A percentagem de ingestões de lipídios foi de 36,9% e 40,5% da ingestão total por meninos e de 34,2% e 41% por meninas, nas diferentes áreas geográficas estudadas. Os hábitos alimentares de 1318 adolescentes suíços (57% de meninos e 43% de meninas com uma idade média de 17,8±1,6 anos) foram relatados por CAVADINI et al. [6]. Uma quarta parte da amostra não tomava o café da manhã e as razões apontadas foram a falta de hábito, falta de apetite e falta de tempo. Lanches consistindo de sanduíches, biscoitos, “chips”, chocolate, leite e frutas, eram feitos, pelo menos, três vezes ao dia, por dois terços da amostra estudada. As meninas consumiam duas vezes mais frutas e bebidas não adoçadas do que os meninos. ANDERSON et al. [7] estudaram o padrão das refeições dos adolescentes e o hábito de “beliscar” no oeste da Escócia, ficando clara a preocupação quanto aos jovens que estão, cada vez mais, substituindo as refeições apropriadas pelo hábito de “beliscar”. Um total de 1009 adolescentes de 15 anos de idade foi interrogado sobre os seus padrões de comportamento alimentar. Relataram que comiam em média 5,5 vezes por dia (2,7 refeições principais e 2,8 lanches), sendo que as ocasiões concentravam-se no final do dia. Mais de 40% disse que comia “chips”, doces ou biscoitos, pelo menos, uma vez por dia, uma proporção mais elevada do que num grupo de indivíduos de 35 anos do mesmo estudo. Individual36 mente, os lanches têm um impacto reduzido na dieta britânica. Sugeriu-se todavia que, coletivamente, podem ser responsáveis por cerca de 25% da energia total e 19% da gordura total (em sua maior parte na forma saturada) ingeridas por este grupo etário, proporcionando, ao mesmo tempo, somente quantidades muito pequenas de outros nutrientes, razão de alguns adolescentes não estarem ingerindo dietas balanceadas. Provavelmente, os lanches contribuem, substancialmente, para os 81,4% de sal na dieta que se originam dos alimentos processados. Entre esses adolescentes 68% tomavam o café da manhã enquanto apenas 62% dos escolares escoceses o tomavam. Os lanches das 10 horas, que substituem o café da manhã, podem ser comprados em mercearias locais ou nas cantinas das escolas, onde as guloseimas com alto teor de açúcar e gordura e bebidas açucaradas são mais acessíveis e consideravelmente mais baratas do que os alimentos “completos”. O chá e o café são menos comuns neste grupo mais jovem e essas bebidas quentes foram parcialmente substituídas por bebidas enlatadas ou engarrafadas. Se for verdade que “beliscar” é mais comum entre os adolescentes hoje em dia do que na geração dos seus pais, a questão a esclarecer é se manterão este padrão à medida que forem aproximando-se da idade adulta ou se adotarão padrões de comportamento alimentar mais semelhantes aos de seus pais. CRAWLEY [8] relatou as ingestões de energia, nutrientes e alimentos de adolescentes com idades de 16 a 17 anos na Grã Bretanha, especialmente quanto aos macronutrientes e polissacarídios nãoamiláceos. Os aportes alimentares não pesados foram anotados durante 4 dias em formulários distribuídos nas escolas e devolvidos pelo correio por 4760 adolescentes, 2.006 meninos e 2.754 meninas. Informações também foram obtidas sobre hábitos familiares e modo de vida. A ingestão média de energia (±DPM) foi de 2.714±14,7 kcal em meninos e 2.117±10,1 kcal em meninas, com um percentual de energia proveniente de gordura de 41,4 e 41,6, respectivamente, nível substancialmente mais elevado do que as recomendações atuais. Mesmo admitindo que a adolescência é uma fase de experimentação e rebelião contra os hábitos alimentares, caso a “dieta do adolescente” prossiga na idade adulta, esses aporAnais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência tes elevados de gordura serão certamente um motivo de inquietação. Como uma percentagem da gorduras total ingerida tanto por meninos quanto por meninas, no presente estudo, provém do consumo de carne e produtos da carne (24,2% paras meninos e 22,1% para meninas) e do leite e laticínios, (12,6% para meninos e 11,9% para meninas), pode-se deduzir que as ingestões de gordura saturada também serão, provavelmente, mais elevadas do que as recomendadas. O exame das ingestões dos que responderam à pesquisa afirmando que ingeriam menos de 33% da energia total sob a forma de gordura comprova que esta reduzida percentagem raramente é atingida pelos adolescentes e que, nestes casos, associa-se a maiores ingestões de açúcares e álcool. O álcool foi consumido por 43,9% dos meninos e 42,5% das meninas durante o período de 4 dias estudado e contribuiu, em média, com menos de 2% das ingestões diárias de energia. Um outro estudo sobre adolescentes de 15-17 anos, em quatro áreas da Grã Bretanha mostrou que 44% tomavam álcool aos 17 anos, o que é comparável com os dados deste estudo. Os adolescentes neste estudo tiveram uma percentagem mais baixa de açúcares provenientes do leite e de lacticínios em comparação com os adultos e uma percentagem mais elevada proveniente de bebidas, açúcar, doces e frutas. Como os açúcares da alimentação constituem uma causa das cáries dentárias, as ingestões mais elevadas de bebidas adocicadas pelos adolescentes são alvo de uma preocupação especial. BULL e PHIL [9] também estudaram os hábitos alimentares e o consumo de alimentos durante a adolescência e concluíram que fatos recentes da prática alimentar ocidental tornavam os adolescentes mais vulneráveis e o maior consumo de lanches reduzia seus aportes energéticos e de certos nutrientes. A ingestão média diária de energia e gordura por jovens com idade aproximada de 13-15 anos mostra que a percentagem de energia proveniente da gordura foi, nos meninos, de 40% na França, EUA e Finlândia, 38% no Reino Unido e Austrália, 37% na Suécia, 36% no Canadá, e nas meninas, 40% na França e EUA, 39% na Austrália e Reino Unido e 36% na Suécia, Finlândia e Canadá. O Estudo do Ministério Britânico de Agricultura, Pesca e Alimentos (MAFF) em indivíduos de 15-25 anos mostra que o consumo de chocolate e outros doces apresenAnais Nestlé 1998;55:34-49 ta uma tendência para diminuir com a idade, que o consumo de “chips” e lanches semelhantes atingia uma média de 15 g por dia, mas alcançava até 105 g por dia, que 18% dos participantes da pesquisa relataram que nunca tomavam o café da manhã e apenas 58% disseram que tomavam o café da manhã todos os dias. Frango era a carne mais popular, seguido de hambúrgueres e carne de vaca. Tortas de carne, carne de porco, “bacon” e salsichas também foram citados de maneira significativa. Segundo outra importante pesquisa britânica, as ingestões médias de ferro pelas meninas estavam abaixo das Ingestões Diárias Recomendadas (IDR=RDA) e as ingestões médias de riboflavina pelas meninas mais velhas também estavam abaixo dos IDR. Os meninos consumiam mais “chips”, leite, cereais matinais e feijões brancos. As meninas registraram mais frutas e sucos de frutas. Os autores apoiam a necessidade de uma educação alimentar mais efetiva para os adolescentes e para as crianças em geral. Referências 1. Frank GC, Nicklas TA, Webber LS, et al, A food frequency questionnaire for adolescents: defining eating patterns. J Am Diet Assoc 1992;92:313-8. 2. Johnson RK, Johnson DG, Min Qi Wang, et al. Characterizing nutrient intakes of adolescents by sociodemographic factors. J Adolsc Health 1994; 15: 149-54. 3. Bergström E, Hernell 0, Persson LA. Dietary changes in Swedish adolescents. Acta Paediatr 1993;82:472-80. 4. Worsley A, Worsley AJ, McConnon S, et al. Reported food consumption and dietary habits of New Zealand adolescents. J Paediatr Child Health 1993;29:209-14. 5. Michaud C, Baudier F. Habitudes et consummations alimentaires des adolescents français. Synthèse d’enquêtes récentes, Arch Fr Pediatr 1991;48:475-9. 6. Cavadini, Gyger M, Narring F, et al. Habitudes alimentaires des adolescents en Suisse. Nestlé Research Centre, 1994. 7. Anderson AS, Macintyre S, West P. Adolescent meal patterns: grazing habits in the West of Scotland. Health Bull 1993;51:158-65. 8. Crawley HF. The energy, nutrient and food intakes of teenagers aged 16-17 years in Britain. 1. Energy, macronutrients and non-starch polysaccharides. Br J Nutr 1993;70:15-26. 9. Bull NL, Phil M. Dietary habits, food consumption, and nutrient intake during adolescence. J Adolesc Health 1992; 13:384-8. 37 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência Hábitos alimentares e estado nutricional A comparação entre as taxas de hemoglobina e de ferritina sérica de um lado e os aportes de ferro de outro, permitiram que NELSON e cols. [10] mostrassem que a prevalência da anemia era de 14,5% entre os adolescentes britânicos com 12 a 14 anos de idade e cujos aportes de ferro e vitamina C eram reduzidos enquanto era de apenas 2,3% num grupo cujos aportes de ferro e vitamina C eram elevados. A anemia era três vezes mais comum entre os vegetarianos do que entre os onívoros (25 versus 9%) e nas meninas que tinham tentado perder peso no último ano em comparação com as que não tinham (22 versus 7%). Os autores enfatizam que o risco de anemia entre as meninas está fortemente associado à intenção de perder peso e ao vegetarianismo e sugerem que a deficiência de ferro pode ser comum em crianças brancas da classe média aparentemente saudáveis. A relação entre a ingestão de vitamina C e a concentração de ácido ascórbico plasmático foi investigada em um grupo de 61 adolescentes britânicos com 13-14 anos por FINGLAS et al. [11]. Ingestões alimentares foram avaliadas empregando-se um método de registro e peso dos alimentos durante 7 dias. As ingestões de vitamina C calculadas a partir de tabelas de composição de alimentos foram comparadas com valores obtidos mediante análise direta de reproduções das dietas. Existem poucas informações recentes sobre o nível de vitamina C na adolescência, quando os indivíduos começando um período de rápido crescimento e quando as necessidades podem ser maiores. Os métodos mais comumente empregados para a avaliação da condição relativa à vitamina C são a concentração de leucócitos e de ácido ascórbico no soro/plasma. As concentrações de leucócitos são consideradas como refletindo as reservas do corpo, enquanto que o nível plasmático é mais facilmente influenciado pela ingestão alimentar recente. Entretanto, dentro da faixa usual de ingestões, o nível plasmático é geralmente proporcional às reservas do corpo contanto que as amostras de sangue sejam colhidas após um período de jejum adequado. No presente estudo, a concentração de plasma medida em amostras de sangue em jejum foi utilizada como um índice da condição relativa ao ácido ascórbico. Com exceção 38 de dois indivíduos, a ingestão calculada de vitamina C foi superior aos últimos “aportes nutricionais de referência” de 40 mg e todas as concentrações plasmáticas de ácido ascórbico estiveram bem acima dos indicadores de risco moderado de deficiência. Uma relação entre a ingestão de vitamina C e níveis plasmáticos foi observada tanto para meninos como para meninas. Todavia, a relação foi muito mais forte para os meninos que apresentaram uma faixa mais ampla de valores tanto de ingestão como de ácido ascórbico plasmático. A relação entre a ingestão de gordura alimentar e níveis de lipídios plasmáticos em jejum foi avaliada em 35 meninas adolescentes e 19 meninos adolescentes recrutados em Norwich, Reino Unido, por L UND et al. [12]. Ingestões alimentares foram avaliadas empregando-se um método de registro alimentar e pesagem de 7 dias. As ingestões de colesterol foram maiores para os meninos (470±20 mg/dia) do que para as meninas (340±29 mg/dia). Isto foi principalmente devido à maior ingestão total de alimentos. Estas ingestões são mais baixas do que as descritas no estudo de Framingham para adultos saudáveis, mas semelhantes às encontradas em Porto Rico. Uma correlação negativa significativa foi observada entre as lipoproteínas plasmáticas de alta densidade (HDL) em meninos e a ingestão total de lipídios, ácidos graxos totais, C16:0, C20:0 e gorduras saturadas totais. BUCHTA et al. [13] fornecem dados concernentes ao nível plasmático de carnitina total dos meninos e meninas adolescentes normais, norte-americanos, em relação à idade e estado pubertário. A carnitina total no plasma foi de 43,2 a 55,9 mmol/l e era, virtualmente, só de carnitina livre. Havia tendência à diminuição da carnitina livre com o estágio de Tanner crescente. Entre as meninas, havia correlação estatisticamente significativa tanto com a idade como com o estágio de Tanner, o que sugere a possibilidade de influências hormonais femininas associadas com a puberdade. O papel dos hormônios sexuais na regulação das concentrações plasmáticas de carnitina já havia sido sugerido. Ao contrário, os dados para os meninos não indicaram nenhuma correlação estatisticamente significativa. LLOYD et al. [14] avaliaram o efeito da suplementação de cálcio sobre a mineralização óssea em Anais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência meninas brancas adolescentes norte-americanas. Participaram noventa e quatro meninas com idade média de 11,9±0,5 anos. Uma suplementação de cálcio de 500 mg/dia na forma de malato e de citrato de cálcio foi administrada e os controles receberam pílulas de placebo. A densidade mineral óssea e o teor mineral ósseo das vértebras lombares e do conjunto do esqueleto foram estudados através de absorciometria biofotônica por raios-X e na excreção de cálcio de amostras de urina de 24 horas. A ingestão de cálcio de fontes alimentares foi em média de 960 mg/dia para todo o grupo do estudo. O grupo suplementado comparado com o grupo placebo apresentou aumentos mais elevados de densidade e do conteúdo mineral lombar, na densidade mineral total do esqueleto e na excreção de cálcio urinário de 24 horas. O aumento de 24 g por ano no grupo suplementado representa um aumento anual de 1,3% adicional da massa esquelética durante a adolescência que proporciona uma proteção contra futuras fraturas osteoporóticas. A condição do iodo em 300 adolescentes indianos foi avaliada através de exame clínico e testes bioquímicos realizados por DODD e GODHIA [15]. O exame clínico revelou a taxa de bócio total como sendo de 65,2% entre os meninos e de 69,6% entre as meninas. A taxa de bócio visível era de 17,7% entre os meninos e de 21,1% entre as meninas. O estado nutricional de todos os adolescentes foi considerado deficiente e com base na razão iodo urinário/creatinina constatou-se que 38% dos adolescentes sofriam de ligeira deficiência de iodo. Verificou-se moderada deficiência de iodo (50 mg de iodo/g de creatinina) em 12,4% dos adolescentes. Deficiência ligeiras e moderadas de iodo podem ser controladas pela ingestão de sal iodado em concentrações de 10-25 e 25-40 mg/kg, respectivamente. STEPNICK GROPPER et al. [16] relataram um estudo sobre a adequação das ingestões de nutrientes por adolescentes portadores ou não de fenilcetonúria. As ingestões diárias de todos os nutrientes foram superiores a dois terços das Ingestões Diárias Recomendadas (IDR) à exceção de selênio (Se) cuja ingestão pelos adolescentes fenilcetonúricos era, em média, de 27,8µg. Para os adolescentes portadores de fenilcetonuria, mais de 50% dos IDR eram Anais Nestlé 1998;55:34-49 proporcionados por misturas de aminoácidos ou hidrolisados protéicos, exceto no caso da vitamina A em crianças com idade de 11-15 anos e Se em jovens de 11-18 anos. Mostrou-se que a ingestão diária de um suplemento que forneça 45-100 µg de Se melhorou o nível de Se em crianças fenilcetonúricas. A alternativa está em aumentar o teor de Se nos alimentos com finalidade terapêutica para 80% dos IDR ou fornecer cerca de 0,9-1,25µg de Se/g de proteína, dependendo da idade do indivíduo para quem o produto é recomendado. O problema da deficiência de ferro também foi estudado em adolescentes grávidas por BEARD [17]. O estudo compreende 88 mulheres jovens com menos de 20 anos de idade. A visita inicial na clínica pré-natal ocorreu entre a 11a e a 16a semana da gestação. Aproximadamente 70% dos casos apresentavam reservas de ferro esgotadas no início do estudo. Esta tendência persistiu através da gravidez apesar dos suplementos de ferro prescritos. No final do primeiro trimestre, 7,4% da amostra apresentavam anemia por deficiência de ferro e um total adicional de 3,6% tinha anemia, mas não por deficiência em ferro. A predominância estimada da anemia por deficiência de ferro aumentou para 55% nas 2 semanas post-partum. A predominância da anemia sem sinais de deficiência de ferro ficou em torno de 20%. A análise do grupo até esta data mostra que 8% de bebês nasceram pesando menos de 2.500 g. Todos esses bebês nasceram de mães que eram deficientes de ferro entre 11-16 semanas de idade da gestação. A elevada incidência de deficiência em ferro nos adolescentes sugere um desequilíbrio entre ingestões de ferro e necessidades de ferro neste grupo etário. Referências 10. Nelson M, White J, Rhodes C. Haemoglobin, ferritin and iron intakes in British children aged 12-14 years: a preliminary investigation. Br J Nutr 1993;70:147-55. 11. Finglas PM, Bailey A, Walker A, et al. Vitamin C intake and plasma ascorbic acid concentration in adolescents. Br J Nutr 1993;69:563-76. 12. Lund EK, Lee-Finglas WE, Southon S, et al. Dietary fat intake and plasma lipid levels in adolescents. Eur J Clin Nutr 1992;46:857-64. 13. Buchta R, Nyhan MT, Broock R, Schragg P. Carnitine in adolescents. J Adolesc Health 1993; 14: 440-1. 39 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência 14. Lloyd T, Andon MB, Rollings N, et al. Calcium supplementation and bone mineral density in adolescent girls. JAMA 1993;270:841-4. 15. Dodd NS, Godhia ML. Prevalence of iodine deficiency disorders in adolescents. Indian J Pediatr 1992;59:595-91. 16. Stepnick Gropper S, Naglak MC, Nardelia M, et al. Nutrient intakes of adolescents with phenylketonuria and infants and children with maple syrup urine disease on semisynthetic diets, J Am Col Nutr 1993;12:108-14. 17. Beard JL. Iron deficiency: assessment during pregnancy and its importance in pregnant adolescents. Am J Clin Nutr 1994;59(suppl):502-10S. Os aspectos nutricionais e a incidência da obesidade e hipertensão num grupo de 230 adolescentes italianos foram estudados por MENGHETTI et al. [19]. Ocorre ingestão excessiva de gorduras especialmente em detrimento dos hidratos de carbono e dos amidos. A incidência da obesidade (6,9%) e da hipertensão (6%) não é particularmente elevada, provavelmente devido ao fato de os jovens, nesta idade, “olharem-se bastante no espelho”, preocupados com a imagem do seu corpo. Referências Obesidade, hipertensão e doença cardiovascular As diretrizes para o exame de populações quanto à hipercolesterolemia são controversas. Em pacientes pediátricos, o exame tem sido direcionado para os portadores de histórico familiar de hipercolesterolemia ou enfarte precoce do miocárdio. Uma vez que não foram desenvolvidas diretrizes específicas para adolescentes GAGLIANO et al. [18] realizaram um estudo sobre o exame de colesterol de 224 adolescentes, recrutados consecutivamente, com idade de 1120 anos e idade média de 14,8±2,2. Neste estudo, 14,7% dos adolescentes tinham níveis de colesterol acima de 185 mg/dl, em um terço dos casos era positivo o histórico familiar para enfarte precoce do miocárdio ou de hiperlipoproteinemia. Registros clínicos obtidos dos adolescentes ou de seus pais oferecem uma previsão deficiente dos níveis de colesterol no soro. Mesmo em pacientes de alto risco, com perfis anormais de jejum, o histórico familiar oferecia uma previsão deficiente. A análise dos antecedentes familiais é conseqüentemente um meio de detecção da hipercolesterolemia em uma população adolescente. A raça, o consumo de cigarro e o índice de massa corporal não forneceram elementos de previsão dos níveis de colesterol neste estudo. Entretanto, o consumo de cigarro e a obesidade são fatores de risco independentes para a doença cardiovascular. A pressão sistólica, mas não a diastólica, forneceu um elemento de previsão do nível de colesterol. O exame direcionado aos adolescentes pode reduzir um pouco a controvérsia atual sobre o exame em massa na infância. 40 18. Gagliano NJ, Emans SJ, Woods ER, et aL Cholesterol screening in the adolescent. J Adolesc Health 1993;14: 104-8. 19. Menghetti E, Ambruzzi AM, Marulli P, et aL Aspetti nutrizionali ed incidenza di obesità ed ipertensione in un gruppo di adolescenti romani. Minerva Pediatr 1993:45: 177-80. Nutrição e esportes na adolescência JOBIN et al [20] estudaram a nutrição de jovens atletas de alto nível. Constataram que este grupo de adolescentes está, freqüentemente, sujeito a deficiências cuja origem mais freqüente é de natureza alimentar. Os líquidos devem ser controlados quando o exercício ocorre em uma atmosfera quente porque os atletas jovens são rapidamente expostos à desidratação. A osmolaridade das bebidas selecionadas deve situar-se abaixo de 250 mosm/l. As proteínas, glicídios e lipídios devem representar, aproximadamente, 12, 60 e 28% da ingestão energética diária, respectivamente. As ingestões minerais diárias estão estimadas em 10 mg para o ferro, 5 mg para o zinco e 1 mg para o cobre. A deficiência em magnésio (Mg) pode ser estimada monitorando-se o magnésio no sangue e, especialmente, nos glóbulos vermelhos. A deficiência de magnésio pode ser compensada pelo consumo de chocolate (100 g de chocolate = 8 mEq de Mg). A gordura alimentar e a atividade esportiva podem ser determinantes para a idade na menarca. MERZENICH et al. [21] realizaram um estudo prospectivo de 6 anos para avaliar estes aspectos em um grupo de 261 meninas com idade de 8-15 anos. Todas as meninas que não menstruavam na fase inicial do Anais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência estudo foram observadas durante 2 anos ou até o evento da menarca. No final do período de acompanhamento, 79% das meninas tinham experimentado a menarca. Sabe-se que a subnutrição e a anorexia nervosa retardam o desenvolvimento sexual e o início das menstruações. Em estudos anteriores, foram identificados alguns fatores nutricionais que aceleram ou retardam o início da menstruação. Os resultados salientaram a ingestão energética, as fibras nos alimentos ou a alimentação vegetariana. Os dados deste estudo prospectivo sugerem uma associação entre o consumo total de gordura e a idade em que ocorre a menarca. As dançarinas de balé e as atletas apresentaram um início retardado da menstruação e uma elevada incidência de ciclos irregulares e amenorréia. Uma menarca retardada, relacionada com treinamento intensivo, foi atribuída ao elevado dispêndio de energia, diminuição da gordura corporal e estresse psicológico, que perturbam a liberação do hormônio liberador de gonadotrofina pulsátil hipotalâmica. Os dados do questionário mostraram que um retardamento da menarca é devido não apenas ao treinamento intensivo, mas também à atividade esportiva moderada. Os resultados deste estudo confirmaram a associação entre o peso crescente do corpo e um início precoce da menarca. Como o peso do corpo é influenciado pela altura do indivíduo, um fator mais importante que afeta a menarca pode ser a adiposidade do corpo. A proporção de gordura corporal aumenta rapidamente nas meninas antes da menarca. A conversão de androgênio em estrogênio ocorre no tecido adiposo, que é uma importante fonte de estrogênio extragonadal. Referências 20. Jobin C, Duhanbel JF, Sesboue S, et al. L’alimentation de I’enfant et de l’adolescent sportifs de haut niveau. Pediatrie 1993;48:109-17. 21. Merzenich H, Boeing H, Wahrendorf 1. Dietary fat and sports activity as determinants for age at menarche. Am J Epidemiol 1993;138:217-24. Anticoncepcionais e gravidez na adolescência RIMPELÄ et al. [22] realizaram um estudo nacional sobre a utilização de anticoncepcionais de uso oral Anais Nestlé 1998;55:34-49 entre os adolescentes finlandeses durante 10 anos (1981-1991). O dimensão da amostra variou de 1.249 a 3.887 e o índice de utilização de 85 a 94%. A proporção de adolescentes que tomavam anticoncepcionais pela via oral aumentou constantemente. Em 1991, a percentagem entre 14, 16 e 18 anos de idade foi de 2%, 18% e 41% em comparação com 0,2%, 7% e 22% em 1981. Até 1989, as taxas de aborto tinham caído de 12/1000 para 9,3/1000 em jovens de 16 anos e de 25% para 19,2% em jovens de 18 anos. As taxas de fertilidade tinham caído de 4,5/1000 para 2,3/1000 e de 23,5/1000 para 15/ 1000, respectivamente. O maior uso de anticoncepcionais orais é a explicação mais provável para a queda nas taxas de aborto e fertilidade entre adolescentes. Os dados obtidos nesta pesquisa não confirmaram a hipótese de que o aumento do emprego de anticoncepcionais de uso oral aumentaria a incidência de doenças transmitidas sexualmente. POPE et al. [23] entrevistaram adolescentes no terceiro trimestre da gravidez e um ano depois do parto a fim de avaliar os desejos e aversões, as crenças a respeito dos desejos alimentares e como tais fatores influenciam a ingestão de alimentos. O estudo de 97 adolescentes grávidas mostrou que 86% relataram desejos, pelo menos, de um alimento, em alguma ocasião, durante a gravidez; metade das meninas desejaram dois ou mais alimentos e mais de 10% desejaram mais de cinco. Os alimentos desejados mais freqüentemente foram doces, especialmente o chocolate, frutas e sucos de frutas, pratos principais de alto valor protéico, “pickles”, sorvete e pizza. Desejos foram relatados em todos os estágios da gravidez. Cerca de 41% ocorreram durante as primeiras doze semanas e 86%, no final do segundo trimestre. Um número significativamente menor de desejos foi relatado durante o último trimestre. Um ano após o parto, 64 adolescentes foram questionadas e um total de 75 desejos foi relatado. Os alimentos desejados mais freqüentemente durante o período pós-parto foram chocolate, pizza, sodas, sorvetes, batatas fritas e carne de vaca. Aversões a alimentos apreciados anteriormente foram relatadas por 66% de 97 adolescentes grávidas. As mais comuns aversões associadas com a gravidez foram à carne e ovos. Em geral, as aversões presentes durante a gravidez desapareceram após o parto. As aversões a pratos 41 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência principais de alto valor protéico, leite e ovos, podem persistir em algumas ocasiões. Os registros médicos de todas as adolescentes hospitalizadas com idades de 12-19 anos, durante 3 anos, vítimas de “overdose” em uma tentativa de suicídio foram revistos por SEIGEL et al. [24]. Havia quatrocentos e um gráficos disponíveis. Os resultados das entrevistas de acompanhamento revelaram que, das 251 pacientes que negaram um histórico de gravidez anterior, 76,8% tiveram uma gravidez não intencional no curso dos dois anos posteriores à tentativa de suicídio; em 66,8% dos casos, a gravidez foi interrompida e em 33,2% chegou a termo. Segundo o Departamento de Saúde da Cidade de Nova Iorque, 6,9% (11.363 de um total de 163.076 jovens com 12-19 anos) ficaram grávidas no Brooklin. Nesta população, a percentagem de gravidez não intencional após uma tentativa de suicídio foi significativamente mais elevada do que entre as jovens em geral. As adolescentes com histórico de “overdose” de droga em uma tentativa de suicídio podem persistir em seus comportamentos autodestrutivos, sendo a gravidez não intencional uma de suas manifestações. Referências 22. Rimpelä AH, Rimpelä MK, Kosunen EAL. Use of oral contraceptives by adolescents and its consequences in Finland 1981-91. BMJ 1992;305:1053-7. 23. Pope JE, Skinner JD, Carruth BR. Cravings and aversions of pregnant adolescents. J Am Diet Assoc 1992;92: 1479-82. 24. Seigel WM, Castro JA, Governo ED. Suicide attempt as an antecedent of teen pregnancy. J Adolesc Health 1994; 15:76. Álcool, drogas e fumo entre adolescentes STRUNIN e HINGSON [25] estudaram a relação entre o álcool, as drogas e o comportamento sexual dos adolescentes. O álcool e as drogas podem interferir com o prazer sexual e o orgasmo, particularmente no caso de utilização de preservativos. O álcool e as drogas podem reduzir a sensibilidade de uma pessoa relativamente ao desejo da outra de se usar preservativo ou se um parceiro bebeu, o outro pode achar que não será suficientemente persuasivo quanto à necessida42 de de usá-lo. Dezessete por cento (17%) dos adolescentes relataram que usavam preservativos menos freqüentemente quando bebiam e 74% afirmaram que usavam preservativos com igual freqüência quer bebessem ou estivessem sóbrios e 10% relataram uso mais freqüente depois de beberem. Os adolescentes que tiveram sua primeira relação sexual em idade precoce e os que perguntavam aos parceiros se injetavam drogas encontravam-se, mais freqüentemente, no grupo que menos usavam preservativos depois de beber. Inversamente, o uso de drogas seguido de relação sexual tinha pouca influência sobre o uso ou não de preservativos pelos adolescentes; 7% relataram que usavam preservativos mais freqüentemente após o uso de drogas, 83% informaram que usavam preservativos com igual freqüência e 9% informaram uso menos freqüente após usar drogas. Sessenta e quatro por cento (64%) dos adolescentes sexualmente ativos tinham relação sexual após beber, em comparação com apenas 15% após o uso de drogas. O tráfico de drogas é um comportamento “de risco” freqüente entre os adolescentes com diversas conseqüências negativas para a saúde. STANTON e GALBRAITH [26] estudaram os problemas do tráfico de drogas entre os jovens adolescentes norteamericanos de origem africana. Os dados existentes indicam que cerca de 10% dos meninos adolescentes norte-americanos de origem africana, urbanos, relatam envolvimento no tráfico de drogas e uma percentagem ainda mais elevada informou que pediu para vender drogas e/ou indicou que esperava envolver-se no tráfico de drogas. As taxas aumentam com o avanço da idade. O tráfico de drogas está associado com maior mortalidade. Em alguns estudos responde por um terço até a metade dos homicídios. O tráfico de drogas pode ser o responsável por mais de um terço de todos os homicídios e ter implicações maiores, especialmente entre adolescentes norte-americanos de origem africana. Assim, por exemplo, das 13.043 mortes por homicídio entre adolescentes e adultos jovens de 1979 a 1988, até 6.000 podem ter resultado do tráfico de drogas. Os homicídios são, atualmente, a principal causa de morte de norte-americanos de origem africana entre as idades de 15 e 34 anos e a segunda causa mais comum de morte entre jovens norte-americanos de origem africana com idades de Anais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência 10 a 14 anos. Para identificar o impacto sobre as jovens de 10 a 20 anos da propaganda especificamente dirigida às mulheres, PIERCE e cols. utilizaram os dados da “National Health Interview Surveys” americana relativos à idade em que as jovens começaram a fumar entre 1944 e a metade da década de 80. As informações foram colhidas em 102.626 entrevistas. Entre as mulheres com 18 a 20 anos, as taxas da iniciação apresentaram um pico no começo da década de 60 e diminuíram constantemente após aquele período. Entre moças com menos de 18 anos, a iniciação no uso de cigarros aumentou abruptamente por volta de 1967 quando foi introduzida a propaganda de cigarro destinada a vender marcas específicas para as mulheres. Este aumento foi particularmente acentuado nas mulheres que nunca freqüentaram a faculdade. As taxas de iniciação para meninos com menos de 16 anos mostraram pouca alteração durante todo o período do estudo. Os achados da pesquisa contribuem para evidenciar que a propaganda do cigarro desempenha um importante papel no encorajamento dos jovens a começarem este vício que as torna dependentes antes que tenham idade suficiente para avaliar integralmente seus riscos de longo prazo para a saúde. GOTTLIEB et al. [28] estudaram uma amostra de 2.018 adolescentes norte-americanos, dos quais 55% eram meninas e 76% brancos; 25% fumavam e 12% consumiam fumo de mascar. O consumo de fumo de mascar associava-se a fumar cigarros, ao consumo de álcool e ao abuso de drogas pesadas por via intravenosa. O consumo de álcool pelo adolescente associava-se a uma probabilidade 4 vezes maior de consumo de fumo de mascar. O consumo de fumo de mascar era maior nas áreas rurais e muitos acreditam que mascar fumo é menos perigoso do que fumar cigarros mas os perigos desta prática deveriam ser assinalados em sua propaganda tanto quanto na dos cigarros. Estima-se que até 250.000 estudantes norteamericanos da escola secundária já consumiram esteróides anabólicos e que o consumo de esteróides anabólicos pelos adolescentes está aumentando. DURANT et al. [29] testaram a durabilidade da relação entre o consumo de esteróides anabólicos e o consumo de múltiplas drogas entre 1.422 adolescentes num Anais Nestlé 1998;55:34-49 período de quatro meses; 4,7% dos meninos e 2,9% das meninas relataram que consomem esteróides anabólicos sem receita médica. A freqüência do consumo de esteróides anabólicos estava significativamente associada com a freqüência do consumo, nos últimos 30 dias, de cocaína, drogas injetáveis, álcool, maconha, cigarros e fumo de mascar. Muitos desses adolescentes estão nos estágios iniciais do desenvolvimento pubertário e podem estar impacientes com o seu desenvolvimento muscular. Como resultado, podem sentir-se menores do que seus pares. Esta preocupação com a aparência física pode motivá-los a consumir esteróides anabólicos como um atalho para aumentar o tamanho e a resistência muscular. Nas mulheres, é possível que o consumo seja para intensificar o desempenho atlético. Os achados sustentam a hipótese de os adolescentes consumidores de esteróides anabólicos provavelmente consumirem outras drogas e de envolvimento no uso compartilhado de agulhas de injeção. Referências 25. Strunin L, Hingson R, Alcohol, drugs and adolescent sexual behaviour. Int J Addictions 1992;27:129-46. 26. Stanton B, Galbraith J. 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A recente pesquisa do Centro de Controle das Doenças sobre o comportamento “de risco” dos adolescentes comprovou que, 43 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência dentre 11.631 estudantes, 4% da escola secundária relataram uma DST. A proporção real de adolescentes infectados por DST pode ser mais elevada porque estes dados não levam em conta adolescentes não escolarizados, os quais, em geral, têm um risco mais elevado de DST. YARBER e PARRILLO [30] relataram que a atividade sexual é considerada o fator de risco maior para contrair DST. Os comportamentos de risco relacionados com a sexualidade compreendem a idade do primeiro coito, número de parceiros sexuais atual e durante a vida, contato com parceiros sexuais ocasionais, freqüência e tipo de coito, padrões de comportamento sexual e o uso de preservativos. A idade média relatada do coito inicial era de 16,1 e 19,9 anos para meninos e meninas que estudavam em escolas secundárias, respectivamente. Cerca de um terço dos estudantes homens e um quinto das estudantes mulheres tiveram sua primeira relação sexual antes da idade de 15 anos. Os adolescentes de 1988 que tiveram relação sexual mais cedo relataram número maior de parceiros sexuais. Para os que iniciaram vida sexual antes da idade de 18 anos, 75% relataram que tinham dois ou mais parceiros e 45% informaram que tinham quatro ou mais parceiros. As pessoas que têm diversos parceiros em um curto período de tempo, em alguns meses, por exemplo, correm um risco maior de contrair gonorréia, sífilis, clamídia e cancróide. MORRIS et al. [31] estudaram as conseqüências das DST. A taxa mais elevada de DSTs entre todos os subgrupos populacionais foi encontrada entre meninos e meninas adolescentes que estavam encarcerados, grávidas ou tinham baixa renda. Os adolescentes, fisicamente, correm maior risco de contrair DST do que as pessoas em outros grupos etários por duas razões. Em primeiro lugar, durante a adolescência, o epitélio cilíndrico do colo encontra-se mais exposto do que na idade adulta. Tanto a clamídia como a gonorréia têm predileção por este tecido. Em segundo lugar, os adolescentes geralmente foram menos expostos às DST do que pessoas mais idosas e por isso seu sistema imunológico foi menos estimulado. As infecções por clamídia e gonorréia não tratadas podem evoluir para doença inflamatória pélvica (DIP). Anualmente, mais de 1 milhão de mulheres norte-americanas têm um episódio de DIP. 44 As taxas de DIP específicas para a idade são mais elevadas para meninas adolescentes. Cerca de 16 a 20% dos casos ocorrem entre adolescentes. A DIP aguda causa mais morbidez entre adolescentes do que todas as outras infecções graves combinadas. Estima-se que o risco de DIP entre as mulheres de 15 anos sexualmente ativas seja de 1 em 8. As mulheres que têm DIP correm um risco maior de DIP recorrente, dores pélvicas crônicas, esterilidade e gravidez ectópica. Entre os adolescentes, o risco de esterilidade involuntária estende-se de 9% após um episódio de DIP até 52% após três episódios. Relate-se, finalmente, que trinta por cento (30%) dos bebês com sífilis congênita nascem de mães com menos de 20 anos. O risco de contrair uma infecção por C. trachomatis após uma agressão sexual foi de 3-16%. A doença inflamatória pélvica foi detectada em 11% das 76 vítimas estudadas. Uma infecção bacteriana da vagina foi diagnosticada em 38 mulheres, 8 das quais, pelo menos, pareciam ter sido infectadas durante a agressão. A tricomoníase foi constatada em 22%. GLASER et al. [32], ao estudarem as DSTs em mulheres pós-pubertárias vítimas de estupro, declararam que, em vista das altas taxas de infecções e de acompanhamento deficiente, todas as vítimas de agressão sexual pós-pubertária devem receber tratamento com “ceftriaxona” (250 mg por via intramuscular) e em seguida, 100 mg de “doxiciclina” e 500 mg de metronidazol oral, diariamente, durante 7 dias. Um estudo de TYDEN et al. [33] sobre as DSTs nos estudantes da Universidade de Uppsala, Suécia, demonstrou que a evolução de suas práticas sexuais e as de outros estudantes em decorrência da epidemia de AIDS não estava de acordo com suas próprias declarações. Embora o consumo de anticoncepcionais fosse elevado, o uso de preservativos com mudanças de parceiros não era freqüente. O álcool desempenhava um papel significativo na deterioração da capacidade de julgamento. A despeito de um conhecimento razoavelmente sólido das DST, os estudantes revelaram um alto grau de comportamento “de risco”. Foi notável a falta de percepção entre os estudantes universitários de seu próprio risco de contrair DSTs. Dos 323 estudantes adolescentes, 94% eram sexualmente ativos com uma idade média, quando da sua primeira relação sexual, de 17,7±2,3 Anais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência anos. Oitenta e um estudantes tinham tido experiência pessoal de uma DST, sendo a clamídia o agente mais freqüentemente responsável, seguido do papilomavírus (HPV). FITZPATRICK et al. [34] estudaram o perfil sóciosexual de 32 meninas adolescentes que freqüentavam uma clínica de DST em Dublin, Irlanda. A idade média do primeiro coito fora de 16,1 anos; 43,8% nunca tinham usado anticoncepcionais. Das que tinham relações sexuais sem preservativos, nenhuma se considerou em risco de contrair HIV do seu parceiro atual. O diagnóstico mais comum foi de condiloma acuminado ano-genital em 18,8%, seguido de clamídia em 6.3% e Neisseria gonorrhoea em 3.1%. Três espécies de clamídia responsáveis por um amplo espectro de doenças são reconhecidas atualmente: C. trachomatis, que pode ser transmitida sexualmente, C. psittaci e C. pneumoniae. Há, pelo menos, 15 sorotipos de C. trachomatis. Os sorotipos D a K causam infecções oculogenitais e doenças correlatas e sorotipos L1-3 causam linfogranuloma venereum (LGV), constatado, principalmente, em adolescentes. Segundo GOH e FORSTER [35], os adolescentes são o grupo sexualmente ativo com maior risco de contraírem infecção por clamídia. A prevalência em meninos adolescentes foi estimada em 9 a 35% e em mulheres não grávidas, em 8 a 25%. A infecção assintomática é comum, os meninos adolescentes apresentam uretrite não-gonocócica queixando-se de descarga uretral e micturição dolorosa. A C. trachomatis é responsável por até 50% dos casos de uretrite não-gonocócica. O cérvix é o local mais comum da infecção em meninas adolescentes. A complicação mais importante é a salpingite, que pode levar à dor pélvica crônica, gravidez ectópica e esterilidade. A linfadenopatia inguinal e a proctite são as doenças mais comuns em crianças prépubertárias com LGV. Adolescentes sexualmente ativos com LGV podem apresentar uma lesão primária que se manifesta como uma pequena úlcera genital transitória dentro de 5 semanas do contato, porém, costumeiramente, entre 2 e 5 dias. Esta é seguida de linfadenopatia inguinal, geralmente unilateral, que pode ser multiloculada. BLYTHE et al. [36] estudaram a taxa de recorrência das infecções de clamídia examinando uretra Anais Nestlé 1998;55:34-49 e endocervix de uma população urbana de 1308 meninas adolescentes sexualmente ativas. A infecção por clamídia foi documentada mediante cultura de tecido em 31,1% e dentre elas, 38,4 tinham infecção recorrente, a maioria no curso de 9 meses da infecção inicial. Infecções recorrentes com o mesmo sorotipo eram freqüentes, sugerindo uma reinfecção por parceiros não tratados ou possível recidiva da infecção inicial. A alta taxa de infecção recorrente sugere que as meninas adolescentes devem ser reexaminadas, freqüentemente, quanto a infecções genito-urinárias por clamídia. A maioria das mulheres infectadas por clamídia são assintomáticas e podem, portanto, fácil e inadvertidamente, contaminar ainda mais a população. BRÄNNSTRÖM et al. [37] estudaram a prevalência da infecção por C. trachomatis genital entre mulheres jovens com idade entre 15 e 34 anos, que freqüentavam um centro sueco de cuidados básicos com a saúde. Amostras foram colhidas tanto da uretra como do cérvix de todas as mulheres participantes que foram analisadas através de imuno-ensaio enzimático primário e teste confirmatório direto de imunofluorescência. Um total de 374 mulheres participaram, das quais 2,7% apresentaram resultados positivos em relação à clamídia. A uretrite assintomática por C. trachomatis em adolescentes foi relatada por KIM OH et al. [38]. Em um período de 26 meses, 1618 adolescentes sexualmente experientes, com uma idade média de 15,7±1,3 anos, foram examinados. Os critérios de inclusão foram um histórico de relações sexuais e concordância em se submeter a um exame genital para a coleta de amostras. As características comportamentais dos adolescentes foram a idade quando da primeira relação sexual de12,3±2,1 anos; o número de parceiros durante toda a vida de 13,2±18,9 (mediana 9, faixa de 1 a 200). A infecção pelo C. trachomatis foi identificada por métodos de cultura de tecido em 6% dos exames de triagem; 90,2% dessas infecções foram assintomáticas e 9,2% tinham disuria ou descarga uretral. As taxas de gonorréia e sífilis foram de 3,9% e 0,6%, respectivamente. JOHNSON et al. [39] avaliaram o valor das tiras urinárias impregnadas de esterase leucocitária (LE) para o diagnóstico de infecção por gonococos e/ou 45 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência clamídia em meninos sexualmente ativos que procuram uma clínica para adolescentes. O teste por meio da tira de esterase leucocitária é realizado com urina fresca e depois são realizadas as colheitas uretrais para a pesquisa de uma gonococcia e culturas de clamídia. Cem pacientes (idade média de 19,2 anos) estavam assintomáticos; 50 pacientes (idade média de 19 anos) apresentavam sintomas de uretrite. Em cada grupo de pacientes, a tira LE foi mais sensível na detecção e predição de cultura positiva para a gonorréia do que para a clamídia. Os autores concluíram que as tiras LE são o único instrumento de exame não invasivo disponível para a infecção uretral assintomática. Podem ser utilizadas para identificar meninos adolescentes sexualmente ativos, assintomáticos, para os quais a cultura para DST é apropriada. O comportamento sexual e a prevalência de DST entre 159 meninas de 13-16 anos que se tratavam em uma clínica especializada em doenças genito-urinárias em Birmingham, Reino Unido, foram estudados por OPANEYE e WILLMOTT [40]. Os achados mais comuns foram 22,5% de infecção vaginal bacteriana e 19,4% de infecções por levedura, enquanto que verrugas e infecções por levedura genitais eram as mais comuns entre as pacientes de controle da clínica. Quarenta e nove por cento (49%) das meninas não estavam usando nenhuma forma de anticoncepcionais e nenhuma tinha histórico de prostituição. Estas adolescentes relacionavam-se com homens mais velhos com muitas parceiras sexuais e taxa de infecções muito elevada. FISHER et al. [41] pesquisaram a incidência e os fatores de risco para a infecção genital por papilomavírus humano (HPV) em adolescentes brancos norte-americanos de classe média. Estudaram 107 meninas que estavam submetendo-se ao exame pélvico em um centro de saúde para adolescentes localizado em um subúrbio da cidade de Nova Iorque. Amostras do HPV foram colhidas por lavagem cérvico-vaginal e o DNA do HPV foi analisado segundo o método de Southern. O tipo de DNA foi classificado como não caracterizado em 47% dos casos; em duas pacientes (3%) foi identificado mais de um tipo de HPV. O HPV foi detectado em 32% dos casos. Constatou-se que diversos fatores demográficos e comportamentais específicos esta46 vam associados com a presença do HPV, incluindo mais de dois parceiros desde que se tornaram sexualmente ativas, mais de 2 anos desde a iniciação das relações sexuais, menarca antes dos 12 anos de idade e histórico anterior de uma DST. Este estudo demonstrou que o HPV atua como uma DST na população adolescente. Um estudo das características epidemiológicas do HPV na adolescência foi importante na tentativa de se determinar se os fatores de risco para o câncer cervical e a infecção do HPV estão relacionados. Atualmente, não se dispõe de nenhum tratamento para meninas e mulheres que têm infecção pelo HPV. A detecção pelo exame de Papanicolau de esfregaços semi-anuais e o uso de preservativos são recomendados para as adolescentes nas quais o HPV foi detectado. Em um outro estudo, STAFFORD et al. [42] fizeram exames para o HPV em jovens de faculdades norte-americanas que freqüentavam um acampamento de férias de verão. Um total de 332 mulheres participaram do projeto. A presença do DNA específico do HPV foi detectada mediante eletroforese em gel, sondagem quimioluminescente de oligonucleótidos e métodos de hibridização de DNARNA em seguida à amplificação da reação em cadeia de polimerase (PCR). A infecção pelo HPV confirmava-se quando há concordância entre pelo menos duas das técnicas empregadas. O exame de HPV resultou em 9,1% de positivos. Os esfregaços de papanicolaou (Pap) indicaram 7,8% de resultados anormais. Dos Paps anormais verificados por colposcopia, 62% foram de HPV positivo. Dos esfregaços de Pap negativos, 5,6% foram de HPV positivo. A técnica de amplificação de DNA realmente intensificou a taxa global de detecção do HPV. O citomegalovírus (CMV) pode ser transmitido através do contato sexual. O vírus é lançado na saliva, no sêmen e nas secreções cervicais. Para determinar se a atividade sexual está associada com a infecção de CMV em meninas adolescentes, SOHN et al. [43] estudaram 254 meninas norte-americanas com idade de 12-18 anos. Sessenta e oito por cento (68%) tinham anticorpos no soro contra o CMV. As meninas soropositivas tinham mais indicadores de risco, tais como anos de atividade sexual e número de parceiros no curso de sua vida sexual, do que as soronegativas. O uso de anticoncepcionais orais pareceu ter uma Anais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência correlação negativa com a infecção de CMV. Neste estudo, é notável que, em uma população jovem com experiência sexual relativamente limitada, a correlação entre a infecção de CMV e a atividade sexual tenha sido tão evidente. COX et al. [44] avaliaram os fatores de risco em potencial para a sífilis em uma clínica de um bairro pobre de Washington, DC, que proporcionava cuidados básicos a uma população de adolescentes, em sua maioria, norte-americanos de origem africana. Cinqüenta e nove adolescentes com idade de 12-19 anos (14 do sexo masculino e 45 do sexo feminino) com sífilis e 111 controles de sexo correspondente foram estudados. Quarenta e seis por cento (46%) dos pacientes estavam assintomáticos e apenas 24% foram diagnosticados na visita inicial. Somente 44% das mulheres, em comparação com 86% dos homens, proporcionaram achados sugestivos de sífilis, como, por exemplo, cancro, exantema ou adenopatia. Além disso, das 26 pacientes examinadas quanto ao HIV, 4 casos, ou 15% das testadas, foram positivas. As adolescentes com sífilis apresentavam, aproximadamente, 5 vezes mais probabilidade de ter um histórico de abuso de drogas e, aproximadamente, 4 vezes mais probabilidade de ter tido, anteriormente, uma DST do que os controles. Adolescentes sexualmente ativas de baixa condição socioeconômica têm taxas de DST substancialmente mais elevadas do que as mulheres adultas e comprovou-se relação entre DST materna e concepto medíocre. A identificação e o tratamento da DST logo no início pode reduzir, assim, o número de partos prematuros, de bebês de baixo peso ao nascer e de mortes neonatais. O estudo realizado por MATSON et al. [45] avaliou a prevalência de DST em 168 meninas adolescentes norte-americanas, de baixa condição socioeconômica, que se apresentaram em uma clínica de cuidados pediátricos básicos para o diagnóstico de gravidez. Dentre as pacientes nas quais foi descoberta uma DST por ocasião do diagnóstico de gravidez, 29% eram portadoras de infecções gonocócicas, pela clamídia ou ambas. A prevalência de DST em todos as pacientes que se apresentaram ao centro de cuidados pré-natais foi de 32%. A doença inflamatória pélvica (DIP) é a segunda conseqüência mais séria da DST que ocorre entre os Anais Nestlé 1998;55:34-49 adolescentes desde meados da década de 60. A DIP é definida como uma síndrome clínica aguda causada pela disseminação ascendente de microorganismos, do trato genital inferior para o superior. WALD [46] fez um estudo completo do problema. A idade é um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento da DIP. Em meninas sexualmente ativas com idade entre 15 e 19 anos, a probabilidade da DIP é de 1 em 8, em comparação com, aproximadamente, 1 em 80 para mulheres com idades entre 25 e 29 anos. O diagnóstico para a DIP é caracterizado por sensibilidade no baixo ventre, sensibilidade bilateral dos apêndices uterinos, sensibilidade cervical ao movimento, secreção cervical ou vaginal anormal, aumento da temperatura, taxa elevada de sedimentação de eritrócitos, evidência direta ou por cultura de infeção cervical pelas N. gonorrhoeae ou C. trachomatis, evidência por imagem ou clínica de massa adnexal e material purulento proveniente da cavidade peritoneal através de culdocentese ou laparoscopia. Embora a laparoscopia represente a maior contribuição para o diagnóstico de DIP e possa ser empregada para se obter uma cultura de fluido peritoneal e secreção tubária, o procedimento é considerado demasiado invasivo para ser feito rotineiramente em todo caso de suspeita de DIP. A ultra-sonografia é útil no estudo de DIP aguda, especialmente quando os pacientes não respondem à terapia médica. LITTLEWOOD e CHRESTMAN SHARE [47] estudaram o valor da ultra-sonografia da pélvis feminina na infância e adolescência no diagnóstico diferencial da doença pélvica. BIRO e ROSENTHAL [48] estudaram as seqüelas psicológicas de DST em adolescentes. Consideram que os esforços para a prevenção da DIP situam-se em três níveis. Basicamente, a literatura concentrase na prevenção da transmissão inicial do HIV. A prevenção secundária das DST, do ponto de vista psicológico, envolve métodos de exame para melhorar o cumprimento da terapia. Isto inclui um acompanhamento das infecções de gonorréia e clamídia e, paralelamente, a observância do uso de anticoncepcionais por adolescentes. A prevenção terciária está em compreender as seqüelas psicológicas e o estabelecimento de programas destinados a reduzir os episódios recidivantes de DST. As seqüelas 47 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência psicológicas das DST não são bem compreendidas, freqüentemente não são reconhecidas e são tratadas inadequadamente a despeito de sua prevalência entre pacientes de DST. O uso combinado de preservativos com outros anticoncepcionais e os riscos para DST são relatados por SANTELLI et al. [49]. As adolescentes relataram o uso mais freqüente de preservativos (41%) e que a esta precaução acrescentam o uso de anticoncepcionais orais. Entre os adolescentes, 28% relataram um ou mais fatores de risco pessoal para o HIV e 11% informaram fatores de risco para o parceiro principal. Percentagens similares foram relatadas por mulheres adultas. Referências 30. Yarber WL, Parrillo AV. Adolescents and sexually transmitted diseases. J School Health 1992;62:331-8. 31. Morris L, Warren CW, Aral SO. Measuring adolescent sexual behaviors and related health outcomes. Public Health Report 1993; 108:31-6. 32. 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Na análise multivariável, os únicos agentes ou tratamentos terapêuticos independentemente associados com a concentração de prolactina foram a cisplatina e a citarabina. Uma associação entre prolactina elevada e dificuldades no relacionamento com o sexo oposto, juntamente com outros dados sobre o distúrbios do desenvolvimento psicossexual, sugerem que mesmo uma pequena elevação da prolactinemia pode ter reflexos nesta área. Adolescentes com grave retardamento do crescimento após transplante renal foram tratados com hormônio de crescimento biossintético (GH), durante dois anos, por H OKKEN -KOELEGA et al. [51]. Dezoito casos com uma idade média de 15,6 anos foram estudados. A prednisona é considerada como sendo a principal responsável pelo retardamento do crescimento após o transplante de rim. Constatou-se que o tratamento com prednisona em dias alternaAnais Nestlé 1998;55:34-49 Resumos de artigos escolhidos na literatura recente sobre a adolescência dos reduz, mas não elimina o retardamento do crescimento. A inibição da expressão local do gene do IGF-I e da secreção de GH induzida pela prednisona poderiam ser os mecanismos de retardamento do crescimento. O crescimento significativamente melhorado durante o tratamento com GH pode ter sido devido ao efeito positivo do GH sobre o IGF-I juntamente com o efeito direto sobre os tecidos-alvo. A administração, durante 2 anos, de 4 ou 8 U.I./m2/dia de hormônio do crescimento melhora o crescimento Anais Nestlé 1998;55:34-49 estatural desses pacientes púberes de maneira significativa e prolongada. Referências 50. Siimes MA, Ropponen P, Aalberg V, et al. Prolactinemia in adolescent males surviving malignancies in childhood: impaired dating activity. J Adolesc Health 1993;14:543-7. 51. Hokken-Koelega ACS, Stijnen T, de Ridder MAJ, et al. Growth hormone treatment in growth retarded adolescents after renal transplant. Lancet 1994; 343:1313-7. 49 55 ANAIS NESTLÉ VOLUME 55 1998 ANAIS NESTLÉ Adolescência Adolescência NESTLÉ NUTRITION SERVICES NESTLÉ NUTRITION SERVICES INFORMAÇÃO DESTINADA EXCLUSIVAMENTE AO PROFISSIONAL DE SAÚDE IMPRESSO NO BRASIL OC/LU T. 993.64.10.03 NESTLÉ NUTRITION SERVICES