Linhas de Empenho Europeias: "A criação: dom de amor, dom para

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Linhas de Empenho Europeias: "A criação: dom de amor, dom para
Linhas de Empenho Europeias:
"A criação: dom de amor, dom para amar, dom para curar"
Fátima, 19 de Maio de 2011
A criação: dom de amor, dom para amar, dom para cuidar 2
Mons. Domenico Sigalini
Seremos absolutamente míopes, incompletos e ideológicos se não puséssemos no centro desta criação o
homem e a sua constituição decididamente relacional. Ele é o cume do dom de amor, do dom para amar e do dom para
cuidar; das suas traições e das suas involuções que devem ser sempre levadas à luz do sonho originário, do “princípio”
ainda queremos contemplar na criação do homem e da mulher, do dúplice Adam criado como rei do universo (Gn 1,
26-31: Gn 2, 4b-25).
O casal humano é certamente a obra mais perfeita da criação. Deus lhes abençoa, torna-os fecundos, e
confere-lhes uma espécie de primado e de domínio responsável no interior da criação, porque são feitos à imagem do
mesmo Deus.
O que é esta imagem? Seguramente não é a fotocópia. Deus e o homem não são iguais, não existe a paridade
que poderia existir entre protótipo e imagem. Deus é o absolutamente Outro, é o criador, é o eterno, mas dentro do
homem tem a marca de Deus, há um fascínio que nenhuma criatura possui, há uma vocação única na criação, uma luz
original que Deus inscreve neste pedacinho de adamah, de terra, que é o homem.
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Eis a lista dos descendentes de Adão. Quando Deus criou o homem, o fez à semelhança de Deus. 2 Criou-os
homem e mulher e os abençoou. E, ao criá-los, Deus os chamou “Homem”. (Gn 5, 1-2)
Aqui está a criação de Adam que é um ser em dois sexos, que por ser imagem de Deus que é um e único, é
chamado a tornar-se um por comunhão, como Deus é único por natureza. Isto no final significa que cada indivíduo
humano em particular não é ainda uma imagem adequada de Deus, já cumprida antes que na sua liberdade, não no seu
instinto, no seu projeto absolutamente original e livre, consinta à comunhão e ao amor. A imagem, portanto, não
emerge de modo automático, mecanicista, antes que entre em jogo a liberdade da pessoa. Imagem genuína de Deus
não é o Adam capaz de liberdade, mas o Adam que usa esta liberdade santamente, no viver comunhão. A plena
imagem de Deus, então, torna-se uma tarefa que todo ser humano deve realizar; imagem de Deus é a inteira
humanidade que se tornou comunidade humana.
Pensemos em quantas consequências tem este projeto, esta grande dignidade da pessoa humana, esta
perspectiva que vem ajudada a realizar-se precisamente a partir do ser macho e fêmea.
Conseguimos entender que coisa é a igreja desde este ponto de vista. A igreja é desde hoje, um frágil, mas
seguro sacramento, isto é, sinal desta comunhão, um sinal pobre, mas uma clara profecia.
A unidade do casal humano, vista como tarefa, como uma vocação para realizar, permite-nos ver a criação não
tanto como um criar do nada, quanto como um fazer belo um caos, separando, ordenando, chamando todos a
cooperarem com o seu modo para a unidade, para o cumprimento da criação. Deus nos deu nas mãos um mundo, um
dom para desenvolver. Deus não criou o homem e a mulher para mantê-los separados, para controlá-los melhor
dividindo-os, mas criou-os distintos com uma consistência própria, destinada e chamada a tornar possível uma unidade
que desabrocha de um amor pessoal e livre, não certamente de uma união obrigatória, instintiva, impulsiva, feita na
confusão e na desordem. Deus quis dois Adam que não devem querer ser um como o outro, ou dois Adam que se
revezem, que nutram complexos de inferioridade entre eles. Uma verdadeira comunhão exige pessoas distintas
segundo a verdade, cada uma segundo o próprio nome e o próprio rosto.
O segundo afresco bíblico da Criação (Gn 2,4b-25)
4b No dia em que o Senhor Deus fez a terra e o céu, 5 ainda não havia nenhum arbusto do campo sobre a terra e a
vegetação ainda não tinha brotado, porque o Senhor Deus ainda não fizera chover sobre a terra nem havia homem
para cultivar o solo, 6 extrair os mananciais da terra e irrigar a superfície do solo. 7 Então o Senhor Deus formou o
homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou ser vivo.
8 Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. 9 E o
Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e saborosas ao paladar, a árvore da vida
no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
10 De Éden nascia um rio que irrigava o jardim e de lá se dividia em quatro braços. 11 O primeiro se chamava
Fison; ele banha todo o país de Hévila, onde se encontra o ouro, 12 um ouro muito puro. Lá também se encontra o
bdélio e a pedra de ônix. 13 O nome do segundo rio é Geon, o rio que banha todo o país de Cuch. 14 O nome do
terceiro rio é Tigre. Corre ao oriente da Assíria. E o quarto rio é o Eufrates.
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15 O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e guardar. 16 O Senhor Deus
deu ao homem uma ordem, dizendo: “Podes comer de todas as árvores do jardim. 17 Mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque no dia em que o fizeres serás condenado a morrer”. 18
E o Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou-lhe fazer uma auxiliar que lhe corresponda”19
Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem
para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. 20 E o homem deu nomes a
todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens. Mas entre todos eles não havia para
o homem uma auxiliar que lhe correspondesse. 21 Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre o
homem e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. 22 Depois, da costela tirada do
homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou ao homem. 23 E o homem exclamou:
“Desta vez sim, é osso dos meus ossos
e carne da minha carne!
Chamar-se-á ‘mulher’
porque foi tirada do homem”.
24 Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e se tornarão uma só carne.
25 Ambos estavam nus, o homem e a mulher, mas não se envergonhavam.
Junto a este modo de narrar a criação, a bíblia encosta um outro, que poderia parecer completamente diverso,
mas que é só um outro afresco que nos põe diante o mesmo fato da criação, mas usa cores diversas, cenas diversas. É
um afresco mais livre, menos técnico, mais narrativo, menos ligado a um mecanicismo, mais atento às imagens,
poético e simbólico, ainda menos para interpretar literalmente. Os modos antropoformes são transbordantes. Não é a
continuação do primeiro capítulo, mas como a segunda parte do versículo de um salmo: diz a mesma coisa, mas usas
outras imagens, outros registros. Por exemplo, o salmo 49, 14
Se tivesse fome a ti não o direi, meu é o mundo e quanto contém
Comerei talvez as carnes dos toros, beberei talvez o sangue das cabras?
Ou então do salmo 72, 10
Os reis de Társis e das ilhas lhe enviem presentes, os reis de Sabá e Seba lhe paguem tributo,
todos os reis se prostrem diante dele.
O segundo versículo diz em substância quanto exprime o primeiro, mas de formas diversas, com imagens mais
explícitas ou mais amplas.
Na primeira versão havia uma distribuição cronológica nos vários dias, aqui há uma concentração
antropológica. O mundo é construído em redor do Adam, assim como a terra prometida será preparada para Israel.
Nesta visão o Adam está no centro do jardim, que é a criação, um oásis hospital, de sonho. O trabalho, a técnica, a
custódia inteligente do ambiente, que Deus por primeiro começou a ordenar, constituem uma primeira dimensão
específica, estrutural, não secundária ou aleatória do Adam. Ele é superior às coisas, é uma espécie de vizir de Deus
no mundo. É uma qualidade que recebe de Deus, como José será encarregado pelo faraó de gerir as questões do Egito
“Serás tu quem governarás o meu palácio e a teu comando todo o povo se moverá. Só pelo trono serei maior do que
tu” (Gn 41, 40).
A missão da qual está investido no jardim não é uma conquista ecológica ou uma volta ao paganismo, à deusa
terra, a fanatismos que põem os animais acima dos homens e o homem acima de Deus, mas revela ao Adam uma sua
nova e mais fundamental relação, aquela com o Senhor Deus, do qual ele recebe a tarefa, a vida e o ser e com o qual
lhe é pedido sintonizar a sua liberdade. Se tiremos esta relação de respeito, de adoração, de estar no próprio lugar com
dignidade, mas com adoração, significaria mutilar o Adam e a sua atividade. O que quer dizer que não só o trabalho, a
técnica, o cuidado operosos, inteligentes, criativo das coisas, deverão dar lugar à adoração, mas devem fazer-se eles
mesmos adoração, no conformar-se com o plano de Deus e com a vontade de Deus. Só o temor de Deus será um fator
de humanização do mundo. Diz o salmo 127, 1:
Se o Senhor não construir a casa, inútil será o trabalho dos construtores;
se o Senhor não guardar a cidade, inútil será a vigilância da sentinela.
A ulterior relação estrutural:
Deus, então, está acima de Adam e o Adam está acima das terra e das outras criaturas terrestres. A estas duas
relações estruturais, o texto acrescenta uma terceira. Na primeira narração dizia-se que Adam, macho e fêmea, foram
criados simultaneamente, como destinados a formar um único Adam como vocação determinante da vida da
humanidade; aqui, ao invés, avizinhamo-nos do mistério da sexualidade de modo mais sugestivo e poético.
A finalidade da procriação é suposta como óbvia. A dimensão vertical do Adam com Elohim é também clara.
Clara ainda é a realeza do Adam sobre as criaturas. Aqui preocupa-se do seu estar em solidão, só, nesta relação com os
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inferiores, preocupa-se que Adam torne-se humanidade proporcionada a trabalhar e guardar a terra. O problema é
encontrar um companheira. Antes, porém, Deus lhe faz desfilar diante todas as criaturas para que ele lhes dê o nome.
Para a bíblia, dar o nome significa dominar e interpretar, ser superior, exercitar um poder, pôr em luz o significado e a
verdade profunda daquilo ao qual se dá o nome, designar um sentido e um destino. O fato que Deus dê ao Adam o
poder de impor nomes a uma parte de criaturas que Deus já começou a criar, significa que Deus confere ao homem um
certo domínio sobre elas, ao mesmo tempo confia-lhe a tarefa de levar a cabo, descobrir o sentido ainda oculto. Não
significa dar ao homem um poder arbitrário e despótico, mas contemplar responsavelmente a criação, segundo o
sentido com o qual foi começada pelo Criador. O homem deve humanizar o mundo, mas dentro do plano de Deus, de
outra forma arruina-o e violenta-o, porque não age segundo a natureza e segundo verdade, mas introduz uma sua nova
ordem que não está inscrita no dom recebido. É sempre dom de amor, dom para amar e dom para cuidar.
Nenhuma das criaturas, porém, que desfilam diante dele, é capaz de vencer a solidão do Adam, nenhuma é
capaz de estar diante dele ou ao seu lado como companheira. Ocorre um ser que não lhe seja superior, como Deus,
nem inferior, como as outras criaturas viventes. Ocorre um outro como ele, mas, ao mesmo tempo, não idêntico. Esta
vontade do criador de dar uma companhia, um companheiro a Adam é sinal de grandeza, humildade e transcendência
do Criador. Deus não se propõe como companheiro, não lhe diz: o que procuras ainda? Existo eu! Talvez não te basto?
Mas Deus é o totalmente outro, não é interno à criação, não é um seu componente. Daqui uma pequena observação:
atenção a absolutizar com ligeireza que nos basta só Deus para satisfazer a solidão de um homem ou de uma mulher.
Pode enganar-nos e sobretudo envilecer a transcendência de Deus. Ao invés, é precisamente Deus quem oferece a
esposa ao esposo.
Entendemos também, porém, quanto foi grande o projeto de mandar o seu Filho a fazer-se homem, a colocarse como igual. “Cristo Jesus mesmo sendo de natureza divina não considerou um tesouro ciumento a sua igualdade
com Deus, mas despiu-se a si mesmo…”.
Aqui começa o grande mistério: o torpor de Adam (esta palavra tardemah significa algo que está entre o coma
e o êxtase místico). Utilizando a linguagem da costela, Deus cria o outro de mim com uma parte de mim, finalmente é
criatura que está diante de mim no mesmo plano. Aqui há aquela belíssima passagem do singular ao plural:
Deus criou Adam à sua imagem
à imagem de Deus o criou
macho e fêmea os criou (Gn 1, 27).
Pela primeira vez o nome homem (ish) e mulher (ishshah) aparecem na narração bíblica associados entre si de
modo igualitário.
Este modo de escrever parece excluir a interpretação de um Adam originário, já unicamente masculino, que
precederia, ainda que adormentado, uma criação da mulher, tirada da própria costela. Nem se deve falar de um Adam
hermafrodita, nem macho nem fêmea. Pode-se dizer que até o versículo 21, o Adam não parece sexuado, porque a
sexualização acontece para ambos no sono profundo e místico, depois do qual ish e ishshah contemplam-se extasiados
e cantam o primeiro canto de amor.
Tenho uma grande alegria no coração, descobrimo-nos criados como presente um para o outro, tu és como
eu e eu como tu, mas somos feitos diversamente, reconheço e exulto pela nossa comum identidade, do momento que
provimos da mesma raiz. Na nossa diferença destinada a fazer-se unidade, livremente escolhida, eu canto a nossa
vocação a tornarmo-nos imagem o mais possível semelhante ao criador, o Senhor Deus.
A operação misteriosa, portanto, não concerne só à criação da mulher, mas também do homem, que provêm
do Adam. Segundo esta interpretação, pode-se pensar na origem simultânea dos dois sexos, como dizia-se na primeira
narração. A mulher, portanto, mão é artífice de uma decadência, devida a uma punição divina, mas um verdadeiro bem
e um progresso humano para o Senhor Deus.
Não se pode pensar que a mulher foi criada para o homem, mas que macho e fêmea foram criados para
remediar à solidão da humanidade que foi criada por Deus, para a solidão do Adam que foi criado para o Senhor.
Olhando a criação, devemos pôr em evidência a vida e a alegria de existir do homem-mulher e,
frequentemente, a nossa relação com ela é errada, egoísta, muda-se de dom de amor a mina vagante, porque
consumamos entre nós todas as energias num Máximo de egoísmo, de exploração, de controle, de opressão, de
servidão de um sobre a outra ou vice-versa.
Posso fazer excelentemente a ecologia e ter uma relação errada no casal ou com as pessoas. Quem é que,
então, pode dar certificado de dom a tudo aquilo que existe, se o primeiro dom para o qual somos chamados, que é a
relação interpessoal ou a relação ligada à atração sexual está viciada na raiz?
Com efeito, cada um de nós, homem e mulher, experimenta, antes ainda de toda escolha de liberdade, a força
e a importância da atração sexual.
“O torpor-êxtase da criação do homem-mulher para nós se traduz naquilo que provamos entre nós: macho ou
fêmea, eu descubro e sinto em mim um dinamismo sexual, genital e afetivo, que me orienta para os seres humanos de
sexo diverso. É um dinamismo que, originariamente, me transcende e com o qual deverei livremente ter a que ver, sem
poder-me permitir ignorá-lo ou cancelá-lo. É um mistério de atração e de ímpeto, de curiosidade e de interesse, de
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encanto e de medo, de repulsão, de olhares furtivos, de alusões irônicas ou delicadas, de fugas e de orgulho, de
ciúmes, de competições e de rivalidades, de tormentos e de alegrias, de desejo e de esperança, de sorriso e de pranto,
de ternura e de sonho. Os dois sexos, as duas edições do Adam estão orientados um para o outro por uma
reciprocidade exultante e pasmada” (cf. Rossi-De Gasperis, Sentieri di vita, Ed. Paoline, 2005-2011. É uma obra em
quatro volume dos quais foi tirada boa parte destas considerações)
A bissexualidade humana não é a simples complementaridade do reino animal. É um mistério, que nos habita
ainda antes que o queremos; a bíblia diz-nos que esta habitação vem de Deus, para que nos tornemos sinal do seu
amor por nós. O outro é testemunha da minha vocação à comunhão e, ao mesmo tempo, da minha pobreza e não autosuficiência. A bíblia conta-nos, na maneira de uma história passada, o que devemos continuamente recriar, assim
como de resto toda a criação, toda a natureza.
Pensando a quanto foi escrito no versículo 24, percebemos a grandeza do assunto. Era um tempo e o é também
hoje, no qual a mulher era considerada quase nada, era subordinada, era escrava, objeto de comércio, como acontece
também hoje. A beleza do desenlace da família de origem, é ainda um sonho hoje e faz ver a intenção belíssima do
criador e a dureza da mente humana, corrompida. O pecado tem a sua responsabilidade.
A procriação segue como consequência da união.
A nudez é isenta da vergonha porque há uma calma harmoniosa e, sobretudo, a confiança total com a qual um
apresenta-se ao outro, aprecia-o, deseja-o, oferece-se a ele como companhia, entrega-se a ele livremente no amor. Na
base há uma consciência de uma vocação comum à unidade, à completude, à alegria da vida. Não existem embustes,
seduções violentas, opressão, engano, egoísmo mascarado, vontade de tomar à força, vontade de embutir… nenhum
dos dois é um ser sobre o qual exercitar um domínio físico ou psicológico, uma escravidão do corpo ou da alma. É
uma perfeita reciprocidade, que decide o tipo de comportamento em toda a capacidade do homem e da mulher de
reportar-se à criação.
Desta relação apaziguada nasce o cuidado criação. Eis porque nós cristãos não podemos olhar a natureza sem
pensá-la como dom, não como conquista ou como golpe de sorte ou grande casualidade.
Se mesmo fosse o caso ou a evolução que modelou este nosso mundo, há sempre, também atrás do mesmo
caso, um Deus que no-lo doou e um torpor-êxtase que escavou, misteriosamente, no nosso coração, a beleza do dom.
Esta é uma maneira interpretativa do mundo no qual vivemos.
Não nos ocorrem faróis apontados, mas luz Jo 12, 44-50
44 Então Jesus falou em voz alta: “Quem crê em mim, não crê em mim mas naquele que me enviou. 45 Quem me
vê, vê aquele que me enviou. 46 Eu vim como a luz do mundo, para que quem crê em mim não fique na escuridão.
47 Se alguém escuta as minhas palavras e não as guarda, eu não o condeno, porque não vim para condenar o
mundo, mas para o salvar.
Nunca o mundo conheceu uma potência de iluminação como o nosso, temos capacidade de transformar toda
energia em energia luminosa. As nossos cidades não nos permitem mais olhar as estrelas, as nossas luzes confundemnos. Estamos sobre o palco da vida com um farol apontado nos olhos, não vemos nada mais, tudo em redor está nas
trevas e experimentamos solidão; não vemos nada, enquanto todos vêem nós, a luz ofusca-nos e não nos permite olhar
a vida. Temos olhos, temos coisas, existe a natureza ainda bela, uma criação maravilhosa, mas não a sabemos mais
ver, porque não há a luz justa que a ilumina. É como se tivéssemos roubado as cores do arco-íris. Ao invés de homens
e mulheres, vemos fantasmas, fotografamos os seus pedaços para vendê-los. Vemos só aquilo que aparece, não
sabemos ir além, penetrar o mistério da vida.
Jesus é a luz verdadeira. veio ao mundo precisamente como luz para que não existam mais trevas. Ele não nos
cega, ele não nos ofusca; a sua luz colora cada criatura da sua beleza, permite-nos andar em profundidade, escolher o
ponto de vista mais justo, mais capaz de fazer ver o bem.
As vicissitudes da vida precisam da luz justa para serem saboreadas e entendidas. É como quando vamos
comprar um terno; não confiamos nas cores da loja, saímos na rua para ver a realidade, não uma ficção. É assim
também com a vida. Só Jesus nos dá as cores justas, todas aquelas que servem, também aquelas que nos fazem
entender o mal, aquilo que nós somos, para sentir-nos necessitados da sua misericórdia e aquilo que mora no coração
dos outros, para que amemo-lhes igualmente, perdoemo-lhes, ajudemo-lhes a vencê-lo, sejamos para eles uma ajuda
segura.
Se uma luz ilumina-te, sabes encontrar a estrada da vida, sabes percorrê-la, entendes quando estás errando.
Jesus é sempre esta luz da vida. E, com a luz, doa também a sua palavra. É uma palavra de consolação e nunca de
condenação, é uma salvação, um sustento e nunca um juízo. Não trevas, nem condenações, mas luz e força, vida plena
e céu aberto sobre nós, nas nossas estradas desnorteadas. Aqui em Fátima, temos a ajuda para seguir esta luz em
Maria, a mãe de Jesus, a simples mulher que não ofusca, mas esclarece; não confunde, mas faz saborear; não engana,
mas educa so reconhecimento. Aqui o Beato João Paulo II veio para reconhecer que a luz dos seus olhos, da sua vida,
foi-lhe guardada precisamente por Maria, que o tirou da escuridão da morte naquele 13 de maio de 1981. Maria, levanos sempre à luz da vida que é Jesus e sê tu a nossa guia carinhosa!
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