Vida em Marte: Os conceitos espíritas ante as pesquisas

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Vida em Marte: Os conceitos espíritas ante as pesquisas
Vida em Marte:
Os conceitos espíritas ante as pesquisas espaciais
Marcelo Henrique (*)
O paradigma espírita, apoiado nas próprias declarações de Jesus, acentua:
“Há muitas moradas na Casa de meu Pai” (Jo; 14:2), axioma que, na
filosofia espírita, aponta para o princípio da Pluralidade dos Mundos
Habitados.
O desejo humano de alçar vôo ao espaço, em astronaves (pilotadas ou não),
e descobrir outros planos onde existissem seres similares a nós, povoou os
livros de ficção científica e cristalizou-se nas chamadas expedições e viagens
espaciais. Na esteira da conquista intelectual e tecnológica dos terráqueos,
chega-nos agora a notícia de que a aeronave Spirit, um robô de exploração
norte-americano, pousou em Marte, o Planeta Vermelho. Foram sete meses
de viagem, totalizando 487 milhões de km, e a sonda, após vencer as
dificuldades de aterrissagem, poucas horas depois do pouso, abriu seus
painéis solares e antenas de comunicação, para, enfim, transmitir as
primeiras imagens da superfície marciana, conforme noticiaram as agências
internacionais de comunicação, baseadas em informes da NASA.
Enquanto a atenção dos cientistas, pesquisadores, estudiosos e, é claro, dos
curiosos de plantão se debruça sobre as notícias e aponta para conjecturas
ou probabilidades, o que nos afiança a ciência e a filosofia espíritas? Em
essência, o que haverá, espiritualmente, em Marte? Como serão seus
habitantes e qual a característica fundamental do planeta, na hierarquia dos
mundos?
Recordemos, inicialmente, a teoria espiritista para a catalogação dos
mundos: primitivos, provas e expiações, regeneradores, felizes (ou ditosos)
e celestes (ou divinos). Partindo da premissa de que a Terra ainda acha-se
adstrita à condição espiritual de provações/expiações, quais as referências
espíritas/espiritualistas sobre a questão do grau de evolução de Marte?
Buscando, primordialmente, a própria Codificação, resgatemos que Allan
Kardec (codinome do Professor francês Hippolyté León Denizard Rivail, cujo
bicentenário completa-se em 2004), ao tratar do tópico “Encarnação nos
diferentes mundos”, no capítulo IV (Da Pluralidade das Existências), da
segunda parte de O livro dos espíritos (abril de 1857), em nota de rodapé à
questão n. 188, pontuou: “Segundo os Espíritos, de todos os mundos que
compõe o nosso sistema planetário, a Terra é dos de habitantes menos
adiantados, física e moralmente. Marte lhe estaria ainda abaixo, sendo-lhe
Júpiter superior de muito, a todos os respeitos.” Corrobora tal afirmação a
manifestação de Kardec, com base no ensino dos Espíritos, em texto contido
na Revista espírita, edição de março de 1858, no tópico “Júpiter e Alguns
Outros Mundos”, assim aposto: “Segundo os Espíritos, o planeta Marte seria
ainda menos avançado do que a Terra; os Espíritos que nele estão
encarnados pareceriam pertencer, quase exclusivamente, à nona classe, a
dos Espíritos impuros, de sorte que o primeiro quadro, que demos acima,
seria a imagem desse mundo. Vários outros pequenos globos, estão, com
algumas nuanças, na mesma categoria. A Terra viria em seguida; [...]”.
Ainda nesta obra, em número posterior, de outubro de 1860, o espírito
Georges assim se pronuncia: “Marte é um planeta inferior à Terra da qual é
um esboço grosseiro; não é necessário habitá-lo”. Marte é a primeira
encarnação dos demônios mais grosseiros; os seres que o habitam são
rudimentares; têm a forma humana, mas sem nenhuma beleza; têm todos
os instintos do homem sem o enobrecimento da bondade.
[...]
Neste planeta a terra é árida; pouca verdura; uma folhagem sombria que a
primavera não rejuvenesce; um dia igual e cinza; o sol, apenas aparente,
nunca prodigaliza as suas festas; o tempo escoa monótono, sem as
alternativas e as esperanças das estações novas; não há inverno, não há
verão. O dia, mais curto, não se mede do mesmo modo; a noite reina mais
longa [...]; o mar furioso separa os continentes sem navegação possível; o
vento ruge e curva as árvores até o solo. As águas submergem as terras
ingratas que elas não fecundam. O terreno não oferece as mesmas
condições geológicas da Terra; o fogo não esquenta; os vulcões são ali
desconhecidos; as montanhas, apenas elevadas, não oferecem nenhuma
beleza; elas cansam o olhar e desencorajam a exploração; por toda a parte,
enfim, monotonia e violência; por toda a parte, a flor sem a cor e o
perfume, por toda a parte, homens sem previdência, matando para viver.”
Há, é bem verdade, nas outras obras da codificação e na própria Revue,
alguns outros detalhes sobre a pluralidade dos mundos, nos quais Kardec,
prudentemente, teceu comentários ou reproduziu mensagens mediúnicas,
de maneira genérica, com anteparo em expressões nada categóricas,
utilizando-se, por vezes, de formatações verbais em tempos condicionais e
imperfeitos, tal a imprecisão dos dados físicos, não configurando, amiúde,
postulados ou princípios doutrinários. De outra sorte, a preocupação maior
do mestre lionês foi a caracterização moral-espiritual dos habitantes das
diversas categorias de mundos, apresentando, apenas, alguns traços da
constituição físico-material dos mundos, conforme os Espíritos lhe
apresentaram, sem maiores acréscimos.
Secundariamente, podemos aqui resgatar, também, outras manifestações
de origem espiritual, apostas em livros posteriores à Codificação, que, em
diversas ocasiões, apresentaram Marte como um planeta superior à Terra e,
portanto, contradizendo os informes contidos naquela. É o caso das
seguintes obras (e autores): Cartas de uma morta (Maria João de Deus –
espírito; 1935); Emmanuel (Emmanuel/Francisco Cândido Xavier, 1938);
Novas mensagens (Humberto de Campos/ Francisco Cândido Xavier, 1939);
A vida no planeta Marte (Ramatís/Hercílio Maes, 1955); e, Urânia (Camille
Flammarion, 1864/1951 – 1ª edição brasileira).
Em face da aparente (ou, em alguns casos, pontual) contradição entre os
ensinos de diferentes espíritos e/ou entre estes e as conclusões de autores
encarnados, como o astrônomo francês Flammarion, devemos nos apoiar no
axioma da valorização primordial da Codificação sobre quaisquer outros
considerandos, tendo em vista que a obra dirigida pelo Professor Rivail
acha-se em posição superior às demais, pela utilização dos conhecidos
lógica e bom-senso kardequianos, calcado no princípio da “universalidade do
ensino dos espíritos”, cuja metodologia encarta a recepção e seleção
objetiva de diversas mensagens, em épocas e locais distintos, através de
fidedignos e diferentes médiuns. Efetivamente, acatando a possibilidade da
ocorrência de novas “revelações” espirituais aos homens, entendemos que o
posicionamento de um ou outro autor, contrário ao contido nos postulados
da Doutrina Espírita, há que merecer acurado estudo de nossa parte, sendo
referendado, se for o caso, por manifestos espirituais constantes e
sucessivos, com base nos mesmos critérios, denotando a perspectiva da
revisão do trabalho do preceptor francês, o que, em essência, ainda não foi
intentado.
Em paralelo, atentemos, ainda, para a afirmação sobejamente repetida e
creditada a Emmanuel (o mentor de Francisco Cândido Xavier), no sentido
de que, na hipótese de constatação de contradições entre o teor de
mensagens mediúnicas e o texto original codificado, que ficássemos com o
segundo.
Aquilo que conhecemos das pesquisas espaciais, baseados primordialmente
em fotos ou análises geológicas à distância, permitem, até o momento,
certa correlação com os informes espirituais que estiveram sobre a
supervisão de Allan Kardec, sobretudo aqueles assinados pelo espírito
Georges. Não sabemos, entretanto, se todas as especificidades trazidas por
este, mormente no que concerne à vegetação e à vida animal estarão sendo
confirmados nos próximos dias – ou anos – de pesquisa.
E, em verdade, não podemos olvidar o próprio ensino dos espíritos, no que
concerne à possibilidade da marcha do progresso humano-científico superar
as informações espirituais reveladas ao Codificador, calcado na assertiva de
que “se o progresso da Ciência superar os princípios e postulados espíritas,
que fiquemos com a Ciência”, na seqüência do que o próprio Kardec
assinalou: “fé inabalável só o é aquela que pode encarar a razão, frente a
frente, em todas as épocas da Humanidade”.
Deste modo, cumpre-nos concluir:
1) Os argumentos espirituais apostos na Codificação permanecem, a priori,
válidos e irretocáveis, no que concerne à configuração planetário-espiritual
de Marte;
2) As informações espirituais/espíritas posteriores à Codificação, algumas
até contrárias, salvo melhor juízo e comprovação, devem ser encaradas
como opinião pessoal de espíritos e médiuns, servindo de fonte para estudos
comparativos e complementares, por parte dos espiritistas, não devendo ser
aceitas como postulados espíritas, uma vez que não foram submetidas aos
mesmos critérios metodológicos de pesquisa do trabalho kardequiano;
3) As pesquisas e descobertas científicas até o momento convergem no
sentido das informações trazidas pelo Espírito de Verdade, na reunião dos
ensinos por parte de Kardec; e,
4) Permaneçamos atentos para os estudos e a conclusão das pesquisas
espaciais, que poderão confirmar totalmente a hipótese da tese espírita
sobre a constituição e categoria espiritual do planeta Marte, ou, talvez,
possam demonstrar, na prática, que os ensinos espirituais e/ou a recepção
humana destes estavam equivocados, razão pela qual, ante a prova
científica, devamos, caso isto ocorra, ficar com esta, abandonando os
ensinos originários.
De nossa parte, acreditando no teor das mensagens espíritas que integram
a Codificação e, acompanhando os resultados científicos, dentro em breve,
estaremos diante de mais uma circunstância fática de comprovação das
teses espíritas em nossos tempos. Em outras provas, será a Ciência, uma
vez mais, atestando aquilo que o Espiritismo já nos demonstrou desde
meados do século XIX, antecipando, portanto o progresso.
Quem viver, verá!
-- xx -(*) Diretor de Política e Metodologias de Comunicação, da Associação
Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) e Delegado da
Confederação Pan-Americana (CEPA) para a Grande Florianópolis.

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